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2020
Nome da obra: Império Perigoso – Poder & Honra 1

Revisão: Dani Smith Books

Diagramação: Mavlis Editorial

Capa: Mavlis Editorial

Nome do autor: Mari Cardoso

http://www.maricardoso.com.br/

Copyright © 2020 por Mariana Cardoso

INFORMAÇÕES

Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida

ou fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico

e mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos


de citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais

permitidos na lei de direitos autorais.

Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens,

alguns lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da


imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou

mortas, ou eventos reais é apenas espelho da realidade ou mera


coincidência.

 
Sumário
Ordem das séries
SINOPSE
Dedicatória
Prólogo | Giovanna.
01 | Gio.
02 | Gio.
03 | Damon.
04 | Gio.
05 | Gio.
06 | Damon.
07 | Gio.
08 | Gio.
09 | Damon.
10 | Gio.
11 | Gio.
12 | Damon.
13 | Gio.
14 | Gio.
15 | Damon.
16 | Gio.
17 | Gio.
18 | Damon.
19 | Gio.
20 | Gio.
21 | Damon.
22 | Gio.
23 | Damon.
24 | Damon.
25 | Damon.
26 | Gio.
27 | Gio.
28 | Damon.
29 | Gio.
30 | Gio.
31 | Damon.
32 | Gio.
33 | Gio.
34 | Damon.
35 | Gio.
36 | Gio.
Epílogo | Damon.
 
Ordem das séries
 

Este livro pertence a série Poder & Honra, originada da Elite de


Nova Iorque. Confira a ordem abaixo:
SINOPSE
O que vem primeiro?

Poder, honra ou amor?

Giovanna dada a ele como um pagamento de uma dívida aos

quinze anos. Seu pai era um homem que não fez boas apostas,
muito menos soube como guardar o dinheiro e perdeu tudo que

tinha. Ao se dar conta disso, decidiu roubar o seu chefe, o poderoso

Damon Galattore. 

Em troca de um perdão, para não ser morto pelo chefe da

famiglia de Chicago, entregou sua única filha ao chefe que todos


temiam. Enviada para um colégio interno até os seus dezoito anos,

quando saiu, foi levada diretamente para o futuro marido.

Para firmar a aliança com Nova Iorque, Damon reivindica a

garota que foi o seu pagamento anos antes. Ele precisava de um

casamento, assegurar sua posição, principalmente quando seu

principal aliado em Nova Iorque morre misteriosamente e sua

esposa assume o lugar. 

Em Nova Iorque as coisas podiam estar confusas, mas ele sabia

que com os avanços dos russos no país, ele tinha que ser uma mão
dura e manter a tradição de Chicago e na Sicília, para onde ele foi
levado como chefe.

ESTE LIVRO CONTÉM:

Cenas de sexo, violência e gatilhos emocionais.

Para maiores de 18 anos.

 
 

 
Dedicatória

 
Para todas as leitoras que acompanham a série desde o começo e

me ajudaram a construir essa história com apoio e empolgação.

Sem vocês, nada seria possível. Esta história é para vocês!

 
Prólogo | Giovanna. 

                      O barulho dos meus saltos contra o piso de madeira

ecoava junto ao som das rodinhas das malas que empurrava ao

meu lado. Olhei para trás e acenei para as amigas, que ainda

estavam aguardando suas famílias ou a data dos seus voos. Era

estranho estar quase fora dos portões depois de três anos vivendo

na escola. 

Passei algumas festas de fim de ano em casa e tive a minha

festa de noivado, quase um ano atrás, mas não fui para casa nem

mesmo nas férias.

         Estava com medo do mundo lá fora e ansiosa sobre tudo

que iria acontecer nas próximas semanas, sem saber exatamente o

que esperar. 

         Nasci na região de Palermo, na Itália. Pertencia a uma

intensa e tradicional família italiana bem no seio da máfia. Meu pai

era chefe dos cassinos e, viciado em jogos, fez negócios realmente

ruins, mesmo sabendo que a banca sempre vencia – principalmente

a banca da máfia italiana. Ao invés de assumir os erros, ele resolveu

fazer algo ainda pior: roubar.


         Devido à sua posição de prestígio e por ele ser fiel à família,
Francesco Galattore, o nosso chefe, decidiu que ele poderia pagar a

dívida. Sem dinheiro e sem alternativas, meu pai teve a incrível ideia

de me dar como pagamento. Eu tinha quinze anos quando a minha

mãe entrou na nossa biblioteca, magoada, contando que papai

praticamente me embrulhou para o futuro chefe.

         Damon Galattore.

         Quando eu tinha quinze anos, ele me assustava até a morte.

Era misterioso, irritado, o perfeito bad boy da alta sociedade. Sendo

oito anos mais velho que eu, já era um homem quando eu ainda era

uma menina, mas essa diferença de idade, no nosso mundo, era

nada. Era sorte meu pai não ter arrumado um marido trinta anos
mais velho, como a minha prima Bia, que foi obrigada a casar com o

pai de uma das nossas melhores amigas.

         No nosso noivado, ele foi polido e distante, ficando próximo

apenas o socialmente aceitável e eu não podia decifrar se ele


estava feliz, satisfeito ou apenas resignado. E agora... ele era o

homem mais importante da nossa família. Com o repentino

desaparecimento do chefe de todos os chefes e a ascensão de sua


esposa, em um momento de caos e confusão, Damon era o homem

no poder. 

         Em algumas semanas... eu me tornaria sua esposa.

         Os portões se abriram e ele estava do lado de fora, próximo


a um carro esportivo de luxo e havia uma SUV escura, também

muito luxuosa, com dois homens familiares ao lado, vestidos de


preto. Damon deu um passo à frente, pronto para me levar

definitivamente para a sua vida.

         Pronto para me fazer sua mulher.

 
  01 | Gio. 

                      Damon deu um passo à frente. Pensei que ele fosse

pegar uma das minhas malas, então, nervosa, acabei dando um

passo para trás. Ele esticou a mão firme, tirando os óculos escuros.

Mordi o lábio ao me dar conta do que ele queria. Sem graça,

coloquei o meu cabelo atrás da orelha e segurei a sua mão. Estava

quente e ele me puxou com cuidado. Assim que me afastei das

malas, os outros dois homens pegaram as bagagens e levaram para

a SUV.

             Meu futuro marido me deu um sorriso enigmático, abriu a


porta de seu carro cinza chumbo e me ajudou a entrar. Eu estava

usando um macaquinho branco, com sandálias plataforma bem


altas e ainda assim, ele ficou bem mais alto que eu. Deveria ter um

pouco mais de um metro e noventa. 

Damon era muito bonito, moreno, forte, tatuado, usava o


cabelo castanho cortado e uma barba sempre a fazer. Seus olhos

eram escuros e pareciam carregar uma escuridão assustadora. 

Estava me sentindo muito intimidada para falar qualquer


coisa, agradeci sua ajuda, ele deu ordens em italiano para os
homens seguirem diretamente para o hotel e fiquei um pouco

confusa. Não ia embora para minha casa e ficaria com os meus pais
até o casamento?

Damon deu a volta, entrou no lado do motorista e me deu um

olhar.

         — Coloque o cinto, Giovanna — ordenou. Assenti, mas tive


dificuldade de encontrar o local certo. Com cuidado, ele puxou a tira

de pano enquanto eu tirava o meu cabelo do caminho. — É assim,

só pressionar. 

— Obrigada. — Empurrei o conector e ele ainda ficou com a

mão em cima da minha por mais um tempo, o que estranhei, pois


costumava evitar me tocar.

         Não havia um local para enfiar a chave, ele apertou um

botão e o carro soltou um ronco alto. Olhei pela última vez para o

lugar que foi o meu lar nos últimos anos e a escola rapidamente
desapareceu de vista, porque o carro estava em alta velocidade

pela estrada. Não levou muito tempo para o lago Michigan surgir no

meu lado direito. 

Damon ficou em silêncio e eu também, apenas observando a

paisagem e matando saudades da cidade. Após o trânsito meio


chatinho em algumas avenidas, estacionamos em frente a um lugar
com uma entrada sofisticada, tapetes vermelhos e correntes

douradas.

         Ele saiu do carro com toda a sua elegância e classe.

Reparei que algumas pessoas pararam para olhar, não só para

admirar o carro em seu design único, mas para ver o homem bonito
que o contornava. A família Galattore era famosa, havia sempre um

fotógrafo ou outro tirando fotos deles. Damon, como dono da maior

parte dos clubes adultos e noturnos da cidade, era muito conhecido

e queridinho por ser um bad boy. 

         Nos últimos anos, ele desfilou com uma quantidade insana

de mulheres enquanto fiquei reclusa em uma escola católica para


meninas. Deu uma boa diminuída quando o nosso noivado foi

anunciado ano passado, mas as suas “traições” estamparam muitas

revistas, enquanto meu perfil nas redes sociais era controlado por

ele, mantendo a imagem de mulher doce e agradável. 

Fiz algumas sessões de fotos ao longo do último ano por

ordem dele, para manter as redes sociais alimentadas, mas eram

sempre no meu quarto, pelo jardim ou em algum lugar próximo.

         Ele abriu a minha porta e me ajudou a sair.


O carro foi com o manobrista e Damon ficou segurando a

minha mão, andando decidido até o elevador, sem nenhuma pausa.


Ele apertou o vigésimo andar. Estávamos no The Langham, um dos

hotéis mais caros da cidade e após passarmos por um corredor


amplo, percebi que tirou um cartão-chave do bolso. 

Deu um aceno, cumprimentando um dos seus homens que


estava do lado de fora do quarto e entramos. Duas mulheres ficaram

de pé imediatamente. Elas estavam próximas de algumas araras de


roupa e sorriram, mostrando a ansiedade em agradar.

— Só um minuto, senhoras. — Ele foi todo sedutor. Franzi o

cenho e olhei em sua direção, irritada, elas imediatamente pararam


de sorrir. Damon me levou para o quarto e fechou a porta. — Aqui

será a sua casa até o casamento.

— Pensei que fosse ficar com os meus pais. — Olhei ao


redor. Era um quarto muito bonito, luxuoso e aquela cama parecia
um sonho comparada à cama de solteira do quarto que dividia com

uma amiga no internato. 

         Damon me encarou friamente.

— Não. Você não é mais responsabilidade deles. — Em


outras palavras, eu não pertencia mais à minha família. — Para
preservar a sua reputação, não é adequado que se mude

imediatamente para a minha casa. 

A sociedade hipócrita que eu fazia parte se importava com


isso...

— Quem são aquelas mulheres lá fora? — Inclinei a minha

cabeça para o lado, analisando-o e pensando que se dependesse


dos meus sentimentos naquele segundo, o casamento seria um

completo fracasso.

— Você vai precisar de algumas roupas adequadas para os

eventos dos próximos dias. Sei que tem a prova do vestido, a


aprovação do cardápio do casamento e outros compromissos para

me acompanhar. Elas trouxeram algumas coisas até que você


possa fazer compras para si mesma...

         Arqueei a sobrancelha, me perguntando como ele poderia


dizer se meu estilo era adequado ou não, se mal saía da escola e se
mal o vi em um ano (e antes disso). 

— Seu aparelho de telefone? — pediu e fui até a minha

pequena bolsa, pegando e ele esticou a mão. — Quando voltar,


retornarei com seu novo aparelho e número de telefone. Nós vamos
ao médico e à noite temos um jantar para comparecermos como
casal. Volto em duas horas. 

         Assim, ele simplesmente saiu e ainda levou o meu telefone.

         Não encontraria com os meus pais até o casamento? 

         Voltei para a sala e as mulheres avançaram em mim,


dizendo que só tínhamos uma hora e meia para escolhermos roupas

e elas possuíam uma lista dos eventos que eu tinha que comparecer
e não sabia. Ignorei a maior parte do que me foi oferecido, não me

interessava o quanto a família era tradicional em relação às


mulheres e a minha posição com o casamento, me vestiria do jeito
que eu gostava e dentro da minha idade.

Escolhi a maior parte dos vestidos de verão coloridos, os


mais justos, shorts curtos, saias plissadas longas e curtas,

camisetas, blusas diversas e quase todas as calças jeans.

         Entre as milhares de roupas adequadas para a minha mãe,

encontrei alguns conjuntos sociais e vestidos com cortes mais


sofisticados que ficaram bons em mim. Os sapatos escolhi alguns

scarpins, sandálias de salto fino e dois outros modelos um pouco


diferentes, em tons de nude. Apesar de ser apenas o começo do
verão, peguei dois casacos, porque Chicago era uma caixinha de
surpresas quando se tratava de ter ventos fortes. 

Quando elas foram embora, arrumei as roupas no closet do


quarto.

         Estava na Regent Suite Master e era um quarto lindo. O


banheiro era todo em branco, com um pé de flor de cerejeira que

precisei tocar para saber se era verdadeiro, de tão perfeito. Todas


as paredes eram de vidro, a banheira dava frente a uma visão

incrível da cidade. Impressionante. 

         Aproveitei o tempo sozinha para desfazer as malas,

guardando minhas coisas pessoais de higiene no banheiro e as


roupas no closet. Estava quase terminando quando ouvi uma batida

suave na porta, abri e me deparei com o garçom, empurrando o

carrinho com meu almoço. 

Deixei entrar e ele arrumou a mesa, o tempo todo sem olhar


para mim e agindo de maneira quase calculada sob o olhar atento

do meu segurança.

— Srta. Vacchiano, se precisar de algo mais, por favor, me

avise. Sou Enrico.


         Eu o conhecia de vista, de todas as vezes que me buscou

no colégio ou levou o fotógrafo até lá. Ele foi criado por Francesco
Galattore e havia a fofoca de que era um filho bastardo. Para ser

bem sincera, não acreditava. Ele era loiro de olhos claros, o oposto

perfeito de Damon e a sua irmã, Sandra.

— Obrigada.

         Sem o meu telefone para me distrair, fiquei me perguntando

se Damon conseguiria desbloquear e ler todas as minhas

mensagens, esperando que não o fizesse. Não que tivesse falado


mal dele, mas também não falei muito bem e fiz alguns deboches

com as minhas amigas sobre o casamento. Nas fotos, tinha uma

coleção completa de nudes, fotos de calcinha e outras sensuais que

eu nunca enviei, mas adorava tirar. 

Seria realmente constrangedor se ele visse aquelas fotos...

         Comi o meu almoço, um delicioso salmão grelhado, com um

mix de legumes também grelhados com queijo e creme de leite. As

batatas coradas estavam uma delícia. Comi tudo, faminta e logo fui
escovar os dentes. Estava no banheiro, terminando de me lavar,

quando ouvi passos dentro do quarto. Damon apareceu na porta,

com a mesma roupa de antes. 


— Terminei de comer agora, só vou buscar a minha bolsa.

Que médico nós iremos? — Sequei a minha boca e passei um gloss

clarinho.

— Ginecologista. Quero que faça exames pré-nupciais para


evitar o constrangimento dos lençóis vermelhos no dia seguinte.

Quero que ela passe um método contraceptivo — explicou e levou

tudo de mim para não revirar os olhos.

— Ela? O que aconteceu com o Dr. Ferrari? 

— Você não vai ser atendida por um homem — falou em tom

decisivo. Minha expressão me traiu, porque ele me deu um olhar

duro. — Alguma preferência pelo Dr. Ferrari?

— Sempre foi o médico da família, apenas isso. — Encolhi os


ombros.

— Sua família agora é a Galattore e o Dr. Ferrari atende a

outros tipos de ferimentos. Está na hora, precisamos sair. 

         Segui-o para fora do quarto, peguei a minha bolsa e andei


calmamente atrás, por todo o corredor. Fiquei ao seu lado no

elevador, saindo em uma garagem onde havia alguns manobristas. 


O SUV estava lá e ao invés de dirigir seu carro luxuoso, abriu

a porta do carro grande e preto, com vidros tão escuros quanto a


noite. Enrico e outro soldado, que eu não sabia o nome, ocuparam

os bancos da frente. 

— Seu novo telefone. — Me entregou o aparelho. Ainda

estava com a película, provavelmente foi tirado da caixa no mesmo


dia, era maior e uma versão bem mais recente do meu. Não achava

necessário trocar. — Fotos interessantes que você mantém na sua

galeria. — Seu olhar era tão intenso que senti o peso em mim.
Minha pele ficou arrepiada. — Acho que não preciso te lembrar... 

— Nunca foram enviadas. — Cortei sua frase ao meio. —

Eram minhas e particulares, você não deveria ter mexido no meu

telefone sem o meu consentimento.

— Sem o seu consentimento? — Damon arqueou a

sobrancelha e me deu um sorriso muito debochado. — Eu fui

atualizar a sua conta, elas surgiram bem na tela do meu computador

e fiquei surpreso.

— Surpreso? Por quê?

— Você tem esse jeitinho tão angelical... — Ainda estava

sendo meio irônico, mas ao mesmo tempo, parecia querer colher o


máximo da minha reação.

— Nunca se deu o trabalho de me conhecer, não tem o direito

de ficar surpreso e, para eventos futuros, não mexa no meu telefone

sem a minha autorização. Não importa se você pagou por ele. —


Guardei o aparelho na minha bolsa e virei o rosto para a janela,

encerrando o assunto. Por sorte, ele ficou quieto.

Chegamos à clínica médica feminina de luxo, o ambiente era

muito requintado, todo decorado em tons pastéis com sofás rosa-


chá de couro e almofadas brancas. A Dra. De Luca era a filha mais

velha do subchefe de Naperville, uma das poucas mulheres solteiras

que tinham permissão para trabalhar. 

Talvez por ser uma profissão importante no nosso meio e,


certamente, a famiglia bancou aquela clínica.

         Fomos servidos com caffè espresso e biscoitos de manteiga

enquanto aguardávamos. Meu nome foi chamado e fiquei de pé, a


Dra. De Luca estava com uma enfermeira, me deu um sorriso

profissional e eu olhei para Damon. Ele iria entrar no consultório

comigo? Não mesmo.

— Sr. Galattore. — A Dra. De Luca o parou. — Nós iremos


começar pelos exames e em seguida, nos encontramos no
consultório. Devido ao status da Srta. Vacchiano, a enfermeira irá

nos acompanhar. — Ela me ganhou com a coragem de colocar


Damon para fora da sala. 

Olhei para ele e abri um sorrisinho, mordendo meu lábio para

tentar suprimir a satisfação. A expressão dura dele foi o indicativo

de que não gostou muito.

         Dentro da sala, coloquei uma camisola hospitalar e me senti

muito bem com a Dra. De Luca porque ela foi franca, do tipo que

não tinha tempo para perder e ao mesmo tempo, não foi grosseira.

Em posse de um arquivo com meus exames antigos, do verão


anterior, discutimos sobre os métodos contraceptivos. 

Não falei abertamente que estava apavorada com a noite de

núpcias e, se tivesse a opção, não faria sexo com Damon até se

tornar inevitável, porque eu não o conhecia e não queria perder a


minha virgindade sem intimidade.

         Eu não queria filhos imediatamente, na verdade, não tão

cedo e o quanto pudesse evitar. Ser autorizada a tomar pílulas me


ajudaria com as cólicas e evitaria bebês. A Dra. De Luca deixou

claro que a minha próxima menstruação seria possível que ainda


sofresse um pouco, mas conforme o meu corpo se ajustasse com os
hormônios, sentiria alívio. 

Após passar alguns exames de imagem necessários, voltei a

me vestir e já saí do consultório com as receitas na mão.

— Terminou? — Damon ficou de pé e pela maneira que


estava sentado, parecia impaciente. — E a consulta?

— Já terminamos. A Dra. De Luca é maravilhosa. — Sorri

cheia de indulgência. — Vamos? Eu preciso de um tempo para me

arrumar para o evento desta noite. — Passei por ele sem dar tempo
de discussão. Sabia que estava me seguindo porque parecia um

touro, bufando. 

Enrico chamou o elevador e parei, dobrando as receitas e


colocando na bolsa. 

— Que método contraceptivo escolheu? — Damon


questionou.

— Castidade. 

— Giovanna... — Respirou fundo.

         Ergui o meu olhar e sorri. Pelo reflexo, Enrico parecia lutar
com a risada.
— Anticoncepcional.

— E vai lembrar de tomá-lo? 

— Claro que sim. Não vou precisar de uma babá para isso. 

         Damon não falou mais nada comigo e eu não puxei assunto,

estava um pouco cansada. Acordei muito cedo para terminar de


arrumar as minhas coisas, participar do meu café da manhã de
despedida e em seguida, lutei contra a ansiedade sobre quem iria

me buscar e o que iria fazer. Acabei cochilando no carro e acordei


com um toque suave no meu rosto, pisquei e cobri a minha boca
para bocejar.

— Nós já chegamos... — Damon arrastou o indicador por

minha bochecha até os meus lábios. — Está cansada?

— Só um pouco, estou bem agora.

— Venho te buscar em algumas horas.

Ele saiu do carro para abrir a minha porta, ajeitei o short do

meu macaquinho que estava meio embolado e dois homens mais ou


menos da idade dele saíram de um carro esportivo, rindo um para o
outro. Sorri para o meu futuro marido e fui andando. 
Minhas amigas diziam que meu andar era muito bonito, que
eu tinha o catwalk que a maioria das modelos gostariam de ter e eu
não sabia exatamente de onde havia tirado o gingado nos quadris,

mas era italiana e eu tinha um quadril, assim como bunda, apesar


de ser uma garota magra com seios. 

         Amava os meus genes italianos e não negava.

        Atraí atenção dos homens e vi o olhar de Damon pelo reflexo


das portas. A aproximação de Enrico não impediu que os caras
olhassem para a minha bunda. Fiquei séria porque não queria dar a

impressão errada, mas, gostei que Damon parecia arder, cruzando


os braços. Os homens iam entrar no elevador comigo, mas Enrico
impediu. 

— Você é linda, garota. — Um deles disse quando as portas


estavam centímetros de fechar, impedindo Enrico de sair e avançar
neles.

                  Vi que ele digitou uma mensagem, não li o conteúdo e me

perguntei o que realmente aconteceria com os caras que eram


bonitinhos, porém, sem amor à vida. Era preciso coragem para
mexer com a noivinha da máfia. Cresci naquele meio, sabia como
os homens eram controladores e possessivos. O meu próprio pai
me criou em uma gaiola dourada. 

Eu podia ter absolutamente tudo que queria, mas não tinha


autorização para sair desacompanhada e sequer pude ir em uma

rede de fast food. 

         Sendo filha de um chefe de região já era extremamente

protegida, podia imaginar que, sendo a esposa do chefe, a minha


vida seria cercada de muita segurança. 

Garotas comuns eram extremamente sortudas, sabiam o que


era ter liberdade.

 
02 | Gio. 

O jantar que iria acompanhar Damon não era nada além do

noivado de uma prima distante, filha da prima do meu pai, que se


casaria com um dos soldados mais bem conceituados da família.
Ele deveria ter um pouco mais de trinta anos e ela, uns vinte e

poucos. 

Madalena era muito bonita, umas das meninas solteiras mais


lindas na minha opinião. Era muito gentil. Foi ela quem me explicou
para que serviam as camisinhas que encontrei nas coisas do meu

pai e me deu uma aula completa sobre sexualidade, com paciência


e carinho.

         Minha mãe era muito amorosa e eu tinha lindas lembranças

ao seu lado, sentia saudades, mas era extremamente submissa ao


meu pai e nós não conversávamos sobre sexo. Nunca. Quando

fiquei noiva, uma professora sentou-se comigo e conversou o

aspecto científico, mas eu já tinha lido milhares de livros eróticos e


conversado com as minhas amigas que não eram nada virgens. 

A maioria delas eram da famiglia ou de associados. Filhas de


sócios não faziam parte do nosso círculo tradicional, algumas não

faziam ideia de quem éramos. Outras garotas como eu sabiam que


uma moça não virgem seria cruelmente castigada em seu

casamento e traria muita vergonha para a família.

         Achava uma tremenda palhaçada. Mesmo que quisesse


perder a minha virgindade com qualquer outra pessoa que não

fosse Damon, seria impossível. Não podia dar um mísero passo

sem ser acompanhada e eu só tinha privacidade dentro do meu


quarto – e às vezes, apenas no banheiro. 

***

         Como o meu cabelo estava lavado e bem seco, passei um

mousse do meio para as pontas, enrolando com firmeza no topo da

minha cabeça e prendendo, criando ondas. Abri a minha nécessaire,


tirando alguns produtos de tratamento para pele que gostava de

usar antes de me maquiar. 

Lavei o meu rosto para tirar a maquiagem do dia e comecei o

processo de esfoliação, em seguida, apliquei a máscara de argila


rosa. Fiquei parada na frente do espelho, me encarando. 

Eu era uma garota bonita. Meus cabelos eram castanhos

claros, longos e lisos até a altura do meu sutiã. Meu nariz era

arrebitado como de uma boneca e eu tinha lábios bem preenchidos,

olhos castanhos, cílios naturalmente atraentes. 


As maçãs do meu rosto eram proeminentes, fazendo com o
que meu rosto tivesse um formato harmonioso. Tinha um jeitinho de

menina, devido ao conjunto da obra, mas não era exatamente um

rosto infantil.

Meu falecido sogro me escolheu pela beleza, mas ela não me

faria sobreviver como esposa do chefe. Precisaria me impor para


ser respeitada.

Precisava ficar com a máscara uns vinte minutos, ajeitei as

minhas unhas e peguei o cardápio, com vontade de comer um

docinho, mas foi o cardápio de vinhos que atraiu a minha atenção. 

Liguei para o serviço de quarto, pedi uma garrafa de vinho

rosê e um pedaço de torta de chocolate belga.

         A parte excelente de estar em um hotel de luxo era a

agilidade que eles atendiam os seus hóspedes, com isso, não levou

dez minutos para o meu pedido chegar. Abri a porta enrolada no

roupão e o rapaz uniformizado olhou para o chão. 

Enrico estava se aproximando para averiguar o meu pedido

e, antes que ele tomasse a garrafa de vinho, puxei o carrinho para

dentro e bati a porta, bloqueando a leitura digital por dentro.


         A garrafa estava aberta, servi na taça e bebi quase tudo de

uma vez só, a segunda fui mais devagar, voltando para o banheiro. 

Peguei o meu telefone e dei uma olhada nas fotos, parecia

tudo igual – os mesmos aplicativos, as fotos e as redes sociais que


eu não tinha acesso antes. Com isso, troquei os e-mails e as senhas

de acesso. Apaguei algumas fotos, deixei todas as que tinha com


Damon e achei impressionante que ele teve a cara de pau de

bloquear os comentários mais engraçadinhos que me chamavam de


corna.

         Tirei a máscara, liguei a torneira da banheira e preparei o

banho de princesa que eu merecia. Me fotografei de frente para o


espelho que ia do teto ao chão, usando apenas um roupão, meu

cabelo enrolado e o rosto limpo. Postei no stories, bebi mais um


pouco de vinho, enchi a taça novamente e entrei na banheira. 

Me permiti relaxar, aproveitando a privacidade, o silêncio, o


vinho e tirei foto das minhas pernas apoiadas na banheira cheia de

espuma.

         Meu telefone começou a tocar e era Damon. Rejeitei a

chamada, porque estava ocupada e olhei a sua visualização na


minha conta do Instagram. Mordi o lábio enquanto ria, abri o
aplicativo de mensagens e mandei a foto que tirei anteriormente.

Não mostrava nada além da metade das minhas coxas para as


pernas, meus pés e a água coberta por espuma. 

         Ele visualizou e levou um tempo para escrever.

         “Cuidado com as fotos”

         Revirei os olhos e o ignorei por horas enquanto me

arrumava para o evento. Era o primeiro depois do meu noivado.


Meu vestido foi escolhido pela minha mãe e eu me senti uma
senhora de sessenta anos. Não era bem assim que gostava e a

minha escolha da noite era a prova disso.

         Mantive o meu cabelo solto, passei spray nos cachos para

fixar e prendi um lado com uma presilha de pedrinhas coloridas.


Escolhi um par de brincos de diamantes em forma de gota, muito

discreto, que Damon me deu no meu aniversário de dezoito anos. 

Não coloquei nenhum cordão porque o meu vestido era de

cetim azul marinho, sem decote, de alças com um longo decote em


V nas costas. Ele delineava o meu quadril até os joelhos e minha

bunda ficava perfeita dentro dele.

         Pronta, me olhei com cuidado e parecia tudo certo. Estava


sem sutiã, porque o vestido não permitia um, mas os meus mamilos
ficaram a salvo com o tecido grosso na região dos seios. Eles eram
de pequenos a médios, então, não chamava muita atenção. Meu
bumbum era uma história totalmente diferente e eu gostava muito

disso. 

O vestido já era ousado o suficiente, então, a minha


maquiagem estava mais discreta: batom matte rosa do tom dos
meus lábios, um delineado bem-feito, cílios marcados com rímel e

um blush rosadinho.

— Giovanna! — Ouvi Damon me chamar e bater à porta. —

Abre a porta!

Tão educado...

Liberei a entrada e parei, consumida com sua beleza. Ele


estava todo de preto. Terno, camisa, calças e sapatos. Não havia

nenhuma cor. As tatuagens apareciam em seu pescoço e a barba


estava feita. Cheiroso, me comeu com os olhos, sem nem disfarçar. 

Sorri e dei espaço para passar.

— Você bebeu? — Olhou para a garrafa.

— Não o suficiente. — Andei até o quarto e ouvi um barulho


estranho. — O que foi? — Parei, confusa. O que ele tinha?
— Nada. Está pronta? — Seu olhar era intenso.

         Fui até a caixinha de joias, colocando a minha aliança de

noivado. Não costumava usar todos os dias na escola porque não


tinha a mínima necessidade e chamava muita atenção. No entanto,

não podia comparecer a um evento da família sem ela. Com a


minha carteira nude, preenchida com o meu celular, batom e
documentos, calcei os meus sapatos scarpin louboutin nude.

         Damon estava acertando o seu relógio quando retornei,

abriu a porta novamente e me permitiu passar. Por algum motivo,

senti seu olhar sobre minhas costas e andei na sua frente, ciente

que estava me seguindo com a atenção fixa em meus quadris. 

Chamei o elevador. Enrico estava um pouco mais atrás, meio

ao lado de um outro que eu ainda não sabia o nome, mas estava o

tempo todo com Damon.

Nós ficamos lado a lado, em silêncio, e saímos na garagem.


A SUV estava estacionada bem próximo, entrei com cuidado e ele

deu a volta, entrando com rapidez. Tirei da minha carteira um

pacotinho de balas de menta, coloquei uma na boca e o ofereci. Ele


olhou e aceitou.
         Damon esticou a mão, passou o polegar no meu pescoço,

com o olhar no meu rosto, na minha boca e o encarei, admirando


sua beleza realmente espetacular. 

— Você está muito linda. — Seu polegar desceu do meu

pescoço para o meu colo.

— Obrigada, você também. 

— Todos os olhos estarão em você, não na noiva. — Sorriu

torto e me senti corar. Ele pegou uma mecha do meu cabelo,

enrolando em seu dedo e quando dei por mim, vi que estava

inclinada na sua direção, aceitando seu carinho com muita


facilidade. — Você trocou todas as senhas, mas sabe que isso seria

facilmente recuperado por mim, não sabe?

— Por que você não me deixa controlar as minhas redes


sociais? O que acha que vou fazer?

— Postar fotos como as que postou hoje.

— Eu só postei uma foto e a outra eu te enviei. A maioria das

minhas fotos é com você, ao contrário do seu perfil. Não precisa


marcar o território, todo mundo sabe que seu nome está

praticamente escrito na minha bunda. — Rebati meio mal-

humorada.
— Não seria uma má ideia, considerando o quanto a sua

bunda está chamativa nesse vestido. — Sorriu torto e o olhei

irritada. — Não faça essa carinha. Você pode ficar com suas redes
sociais, mas é sério, tenha consciência do que vai postar — alertou

e senti muita vontade de bufar, mas ainda estava presa no que falou

sobre a minha bunda.

         Damon segurou meu queixo com delicadeza e colocou seus

lábios nos meus. Era a terceira ou quarta vez que ele me beijava,
apenas selinhos rápidos, mas aquele foi mais... intenso. Chegamos

mais perto um do outro e apesar do meu batom, nada o impediu de

aprofundar o beijo. Segurando a minha cintura, senti que ele estava


tomando certo cuidado, como se eu fosse uma bonequinha de

porcelana preciosa entre seus braços. 

Era o meu primeiro beijo de língua e foi gostoso, calmo...


explorativo. Toquei seu rosto, levando a minha mão para o seu

cabelo, amando ser beijada daquele jeito. Ele desceu a mão da

minha cintura para o meu quadril, me pegando firme e puxando-me

para ainda mais perto. 

Me senti um pouco envergonhada com o gemido que

escapou dos meus lábios e ele sorriu.


— Não sinta vergonha por reagir a mim — falou baixinho e

percebi que o carro havia parado. — Nos deem um minuto. —


Enrico e o guarda-costas saíram do carro e arregalei meus olhos ao

lembrar da existência deles. Caramba... e ainda me ouviram gemer.

— Não se preocupe.

         Assenti e peguei o meu batom, retocando e ajeitando a


minha maquiagem. Damon saiu primeiro, dando a volta e falou

alguma coisa bem baixo com seus homens. Enrico retrucou algo

que fez Damon reagir, ambos riram. 

Fiquei curiosa, mas eles se dispersaram e então, Damon

abriu a minha porta, me ajudando a sair. Ele colocou a mão nas

minhas costas, seria um gesto normal, mas nós dois estremecemos

com o contato direto na minha pele.

         Não podia ficar arrepiada cada maldita vez que ele me

tocasse. O homem que me beijou no carro ficou lá dentro, aquele

em pé ao meu lado estava sério, possessivo, com extremo controle

de si mesmo e ciente que era o verdadeiro poder no meio daquelas


pessoas. 

Andamos até a porta, ele tocou a campainha por educação,

mas os pais da noiva já deveriam saber que ele estava chegando,


tanto que abriram a porta dois segundos depois.

         Os homens se cumprimentaram com um aperto de mão

firme. A Sra. Rossi me deu um abraço muito contido e o Sr. Rossi

beijou a minha mão, que eu lutei com o desejo de limpar. Ele era um
dos nojentos que acompanhavam o meu pai nos clubes de mulheres

e traía a esposa com a governanta – tinha até um filho com ela. 

         Passamos pelos anfitriões e fomos cumprimentar os noivos.

Madah abriu um sorriso imenso ao me ver e nosso abraço foi


apertado, feliz. Ficamos mais tempo que o aceitável juntas. 

— Olha só para você! Está linda! — Madah sorriu. Ela que

estava linda. Ao contrário de mim, era alta, loira, bem magra e

parecia uma modelo de passarela. — Como cresceu. — Se inclinou


e cochichou. — Que vestido maravilhoso, você está muito gostosa! 

         Soltei uma risada que atraiu atenção dos nossos noivos e de

quem mais estava ao redor. Damon colocou a mão na minha cintura


e nos desculpamos, saindo de perto para não manipular a atenção

dos noivos e porque Damon precisava permitir que outras pessoas

se aproximassem e o cumprimentassem. 

Era impressionante o quanto havia respeito e reverência em


quem falava com ele. Recebi um pouco mais de atenção e eu sabia
que estavam falando sobre o meu vestido, a minha aparência e

sobre como Damon não me deixou respirar a meio passo longe dele
pelos primeiros quarenta minutos do evento.

         Quando Madah me puxou para uma roda de mulheres, ele

quase disse que não, mas a atenção do seu conselheiro o impediu.

Encontrei minha prima Bianca e fazia tempo que não nos víamos,
falamos pelos cotovelos. Aceitei uma taça de vinho, bebendo

socialmente, mas logo pedi água porque não queria ficar bêbada. 

         Houve uma batida constrangedora quando os meus pais

chegaram. Minha mãe parecia abatida. Ela usava um vestido


magenta muito fechado que não lhe favorecia em nada e seus

cabelos estavam presos, em um coque que lhe fazia parecer com

setenta anos, quando mal tinha passado dos quarenta. Meu pai
estava ao seu lado, em sua pose arrogante por ser pai da futura

esposa do chefe.

         Na verdade, ele perdeu o prestígio e as pessoas sabiam que

se não fosse o interesse do pai de Damon em mim, na beleza que


os seus possíveis futuros netos teriam, ele já estaria morto, a minha

mãe arruinada e eu... teria sorte se um soldado me quisesse em

casamento para me proteger. 


O olhar da minha mãe se iluminou quando me viu e sorriu
amorosamente. Andei até ela, atravessando a sala e a abracei

apertado, morrendo de saudades. Reparei que estava usando muita

maquiagem, principalmente em um lado do rosto e eu sabia o que


aquilo significava. 

— Está tudo bem, mia bambola. Está tão linda... fale com seu

pai. — Deu um passo para trás e ele estufou o peito, esperando

uma espécie de reverência. Antes que precisasse falar com ele,


com toda atenção que os grupos estavam nos dando, Damon tocou

a base das minhas costas. — Damon, querido.

— Lucinda. Você está linda... — Damon beijou a mão da


minha mãe e eu gostava que ele a tratasse com carinho. —

Vacchiano — falou secamente. — Os homens vão se reunir na


biblioteca agora, venha comigo. — Foi uma ordem direta.

         Meu pai se afastou sem falar nada. A sala ficou mais leve
sem os homens, a mulherada começou a falar sem parar,

arrulhando sobre os anéis de noivados e sobre o meu casamento


que aconteceria em duas semanas. 

Era o evento mais esperado e eu sabia que havia muitas


mães insatisfeitas, porque suas filhas eram perfeitas e
principalmente, não filhas de um ladrão. Damon não parecia
inclinado em escolher outra noiva e sua irmã foi a pessoa
intermediária na organização do nosso casamento. 

         Escolhi tudo. Absolutamente tudo. Só precisava enviar o que


eu queria que Sandra fazia acontecer. Os quatro vestidos para o
final de semana do meu casamento, toda a parte de papelaria,

flores, velas, tecidos... era provavelmente o casamento mais caro


que Chicago ouviria falar.

Damon me ganhou de bandeja em troca de uma dívida e não


tive a mínima escolha sobre isso. Ele ia perder muito mais do que o

meu pai roubou.

         Pedi licença para ir ao banheiro após o delicioso jantar.


Andei com calma pelo corredor, não querendo errar a porta e

encontrei meu pai fumando na varanda dos fundos. 

— Oi, pai. — Me aproximei com cuidado e ele soltou a


fumaça, me olhando. — Reparei que a mamãe está usando um
pouco mais de maquiagem do que deveria... e eu espero que você

ouça bem o que vou falar: não encoste um dedo na minha mãe...
nunca mais.
— Ou o quê, bambola? — Abriu um pequeno sorriso atrevido,
mas prestando atenção nas minhas palavras.

         — Ou ela se tornará viúva. 

         Meu pai ficou sério, sentindo o peso das minhas palavras.

Eu não permitiria que ele continuasse agredindo minha mãe, não


importando o quanto o amava como pai. Ele não tinha o direito de

machucá-la física e emocionalmente.

— Giovanna! — Damon apareceu no fim do corredor. —


Vamos embora.

         Olhei para o meu pai uma última vez antes de sair andando

na direção do meu futuro marido. Ele segurou a minha mão bem


firme, me mantendo ao seu lado e não parei para encarar quem nos
observava sair, mantendo a minha cabeça erguida. 

         Sempre aceitei que um dia me tornaria uma mulher como


muitas dessa família e levei três anos para me preparar para ser a
esposa do chefe. Agora eu ia agir como uma.

 
03 | Damon. 

                      Recostei no sofá, olhando a garota nua dançar no

poste e ela abriu bem as pernas, ciente que meus olhos estavam

sobre ela. Meu telefone vibrou e era uma mensagem de Enrico,

avisando que estava de volta com Giovanna em seu quarto de hotel.

Ela fez compras, foi ao mercado, teve a última prova dos vestidos

do casamento e à noite, nós iríamos jantar. 

         Nosso casamento estava marcado para o final da semana e

a cada dia parecia que ela tinha mais coisas a fazer no meio dos
preparativos. Tudo que eu tinha que fazer era estar lá, de cabelo
cortado e barbeado.

Desde que saiu do internato, Giovanna mostrou que tinha

algumas asinhas presas e um gênio um tanto terrível. Jamais

imaginaria que gostasse tanto de se exibir. Sempre foi muito tímida

ao meu redor, bochechas coradas e um olhar assustado. Mal falava


comigo e eu entendia que sentisse intimidação e medo. 

Nunca soube como quebrar o gelo entre nós e enquanto ela


estava na escola, não me preocupei em fazer tal coisa, vivendo a
minha vida normalmente até que meu pai me pressionou para

colocar um anel no dedo dela e fazer o anúncio formal do noivado.

         Giovanna nasceu no nosso meio e foi muito bem-criada. A


mãe era uma das poucas mulheres da família que mereciam a

minha completa admiração. Sempre foi uma boa mãe e mulher.

Vacchiano não merecia a esposa e a filha que tinha, suas atitudes


eram deploráveis, mas eu não me metia porque não me

interessava. 

Sabia que me casar com ela não seria o fim do mundo, afinal,
ela foi educada para ser uma boa esposa. 

         Aos quinze anos, meu pai a tomou como pagamento de uma
dívida e a colocou dentro de um colégio interno. Giovanna foi

preparada para ser a minha esposa. Educada para gerir bons

eventos, receber pessoas, ser uma mulher que soubesse se portar

com evidência. 

Sua beleza era de tirar o fôlego desde jovem, mas quando a

vi um ano depois do nosso noivado, eu sabia que, definitivamente,

não seria um sacrifício. Nós nunca fomos íntimos, de nenhuma

maneira, mas eu não resisti ao impulso de beijá-la intensamente no

carro e beijei outras vezes.


         Giovanna era uma caixinha de surpresas porque
correspondia meus beijos com prazer e tinha impulsos carinhosos

adoráveis. Era uma experiência nova para nós dois.

         Tomei um susto ao ver as fotografias em seu telefone. O

motivo pelo qual peguei o aparelho, era porque precisava dar a ela

um que eu pudesse rastrear e controlar os aplicativos, apenas por


questões de segurança, evitando que sua linha fosse grampeada

pela polícia ou que seus aplicativos bancários fossem hackeados. 

Nunca ia imaginar que existia uma coleção de fotos sensuais

em sua galeria e fiquei de pau duro como um maldito adolescente

em meu escritório.

         Minha futura mulher era gostosa pra caralho. Um sentimento

de posse explodiu nas minhas veias que não conseguia me

controlar e depois que a beijei, enfeitiçado com aquele vestidinho

que deixava as suas costas nuas e a bunda em evidência, não havia

nada na minha mente a não ser ela. 

         Ela seria a minha esposa em alguns dias. Caralho. Era difícil

pensar que me tornaria um homem casado. 

         Saí do meu lugar, subindo a escada para o escritório e olhei

a hora. A boate iria abrir em alguns minutos. Parei de frente à


janela, olhando a cidade e contemplei a beleza de Chicago à noite.

Meu telefone vibrou e atendi a chamada.

         — Damon.

         — Oi, Juliana[1]. 

         — A carga foi roubada a caminho daí — falou e respirei


fundo. Porra. — Segundo nossas fontes, foi um dos MC’s.

Eliminaram os transportadores, sem testemunhas. 

         — Certo. 

         — A segunda remessa chegará de trem em algumas horas,


não vai atrasar. — Sua voz era firme, mas distante. 

Juliana Rafaelli era uma mulher que muitos subestimavam e


tudo o que ela via na sua frente era um intenso desejo de morte. 

         — O prejuízo será recuperado, mesmo que seja com


sangue. Alguma notícia? 

         Juliana suspirou.

         — Nada. 

         — Algo que possa fazer?


         — Ainda não... em breve, sim. Estarei aí na próxima

semana. 

         — Não precisa vir.

               — Vão entender que nosso relacionamento está


enfraquecido, nesse momento, não preciso de mais empecilhos. —

Juliana parou de falar por um momento. 

— Ele virá e eu prefiro não te expor. Não importa o que a


família pensa. 

— As coisas na Itália estão tensas. Giovanni está mantendo o

controle de danos, mas não está fazendo muito efeito — concluiu.

         — Estarei lá em uma semana e colocarei ordem na casa. 

         — Obrigada por tudo, Damon.

         — Nós somos uma família acima da família. Cumprimos os


nossos deveres a favor do nosso sangue. 

         — Se Enzo estivesse aqui, ele soltaria uma risada


zombeteira... 

         — Quando ele esteve aqui, a última coisa que me disse foi
que em um casamento, não há espaço para medo e violência. 
         Juliana ficou quieta.

         — Siga esse conselho. — Encerrou a chamada.

         Guardei o telefone no bolso e saí da sala, ativando a


fechadura digital atrás de mim. Giacomo levantou de seu lugar e me

deu um aceno. Avisei que a remessa chegaria atrasada e que ele


deveria ficar até verificar, mas que era para servir o estoque apenas
na sala vip e vender o que tinha no primeiro andar. 

Balançando as minhas chaves entre os dedos, desativei o

alarme do carro e dei a partida, andando em alta velocidade até o


hotel e não levei dez minutos para chegar. Entreguei as chaves para
o manobrista e ele parecia muito feliz em pegar o meu carro, mesmo

que fosse para levar para a entrada do estacionamento bem ao


lado. 

         Quando entrei no hotel, a recepcionista piscou, mordendo a


ponta da caneta e sorri. Ela achava que aquilo era sexy. 

Seria muito mais prático se Giovanna já estivesse instalada


no meu apartamento, no local que nós viveríamos depois do

casamento enquanto estivéssemos nos Estados Unidos, mas, ela


tinha uma reputação e eu não queria que absolutamente ninguém

falasse sobre ela. 


         A família exigia provas de que as noivas eram virgens e eu
não queria que ninguém duvidasse de sua virgindade. 

         Enrico estava sentado em uma cadeira no corredor, porque


só assim ele poderia impedir a chegada das garrafas de vinho que

Giovanna pedia. Ainda assim, ela conseguia pegar algumas. 

Como uma boa italiana, ela amava bons vinhos e sabia

exatamente o que pedir no cardápio. Não era sobre o valor e muito


menos sobre beber, mas ela estava sozinha em um quarto de hotel

e não era uma boa ideia ficar bêbada. 

         Entrei em seu quarto sem aviso e ela se assustou, deixando

cair o telefone. Fechei a porta, olhando-a de calcinha azul de renda


que parecia um shortinho, camisetinha preta, sem sutiã e com os

cabelos presos. Apesar de ser uma suíte grande, podia sentir o

cheiro do seu sabonete em todo lugar.

         — Acabou de sair do banho?

         — Você não ia me avisar quando estivesse chegando? —

Pegou o telefone do chão. Como havia um espelho ali, estava

tirando fotos. Joguei a minha chave na mesa, tirando a jaqueta e

sapatos.

         — Esqueci — menti.


         — Hum. — Deu de ombros e foi até o closet, pegando uma

calça e, infelizmente, vestindo.

         — Você poderia continuar do mesmo jeito — comentei,

tirando o meu relógio. — Como foram os preparativos finais do

casamento?

         — Deve ser muito fácil para você, que só precisa estar lá no
dia. — Retrucou de forma seca. — Foi bem, está tudo pronto e

levou um ano para chegar até aqui, até parece mentira.  

             — Eu fui a todos os compromissos que me cabiam como

noivo, mas a minha irmã deixou claro que o casamento é sobre a


noiva. Não serei eu a estar com um vestido lá e sendo a pessoa

mais esperada do evento. — Sorri, olhando para a sua bunda o

tempo inteiro. 

         Giovanna virou e me deu um olhar engraçado. 

         — Você ficaria muito bonito com uma saia de tule bem

volumosa. 

         — Engraçadinha. — Me aproximei com calma e ela ergueu


o rosto para olhar em meus olhos. Segurei sua cintura, abraçando-a

e ela ainda tinha uma enorme resistência entre ceder para a timidez

e o medo. 
Não queria que a minha mulher tivesse medo de mim. Fazia

coisas realmente fodidas lá fora, mas não com ela. Não com a

minha esposa. 

Beijei sua bochecha primeiro, em seguida, a pontinha do nariz


e mordi de leve o seu lábio inferior, avançando em um beijo calmo,

chupando a língua deliciosa. Gio ficou na ponta dos pés. Desci as

minhas mãos para a sua bunda, apertando as nádegas e ela gemeu

baixinho contra a minha boca.

Ela beijava tão bem... meu sangue fervia com a sua boca na

minha.

— Agora sim... — Suspirei e me sentei na cama, colocando-a

entre as minhas pernas. 

Ainda tímida, passou as mãos por meu pescoço, puxando

meu cabelo e abaixou o rosto novamente, beijando a minha boca

mais uma vez. Era a primeira vez que ela tomava a iniciativa. Queria
que quebrasse o receio de me tocar. 

Apesar de não parecer, eu não queria que Giovanna fosse

como a minha mãe e a minha madrasta foram. Esperava que

existisse muito respeito entre nós, que soubesse exatamente


quando e onde poderíamos conversar, mas não que se encolhesse

completamente, morrendo de medo de mim. 

Desci minhas mãos para a parte de trás dos seus joelhos e fiz

com que montasse em meu colo. A calça que usava era larga, com

o movimento, sua bunda ficou exposta com aquela calcinha linda.

As palmas das minhas mãos coçaram para dar um apertão que


aquele par de nádegas perfeitas mereciam. 

— Minha calcinha está aparecendo — falou baixinho.

— Está com vergonha?

Mordeu o lábio, parecendo indecisa.

— Não sei. Nós vamos nos casar... é estranho estar tão


exposta. Além das meninas da escola e médicos de modo geral,

nunca fiquei nua na frente de alguém. — Sorriu com as bochechas

vermelhas. Passei o meu polegar em seu queixo, ela tinha uma pele
muito perfeita. — Embora, em algum momento, isso irá acontecer

entre nós.

— Não precisa ter vergonha de mim, nunca, para nada, não


importa o que seja. — Beijei o pescoço. — O que quer comer?
— Ainda não estou com fome. Podemos pedir pizza mais

tarde?

Giovanna saiu do meu colo e engatinhou na cama. Foi um

movimento inocente, ela não tinha noção do quanto a sua bunda


mexia comigo. Tirei a camisa e as meias, ela não disfarçou o olhar

quando apoiei minha arma e o coldre em cima da mesa.  

Puxei a faca da minha calça. As cortinas estavam fechadas,

todas elas, o que nos dava bastante privacidade. 

Liguei a televisão e procurei um filme, para passar algumas

horas com ela. Quando dormisse, voltaria para a boate porque tinha

trabalho a fazer e umas pestes para caçar. 

Verifiquei o meu telefone, enviando todos os detalhes que


Juliana tinha sobre os bastardos que roubaram nossa carga e

mandei para os meus caçadores. Nova Iorque tinha uma aliança

forte com os dominadores do território de Los Angeles, mas isso


estava irritando alguns motoclubes ambiciosos que ficavam na rota. 

Com a expansão dos territórios, mesmo que não concordasse

com essa sociedade, porque não eram pessoas da família, admitia

que meu primo foi muito esperto, isso inibiu os nossos inimigos e
nos deu rentabilidade. Com a confusão atual, eu era o único
segurando as pontas do tradicionalismo e mantendo a nossa família

com os mesmos elos. 

Não prestei atenção na porra do filme que Giovanna


escolheu, estava mais interessado nos beijos que ela estava

disposta a dar. Precisava lembrar que ela tinha dezoito anos e

estava com os hormônios à flor da pele, o peso de ser responsável


estava todo sobre os meus ombros e não importava a pressão que

ela tinha em me dar herdeiros, eu não queria filhos no momento.

Não estava pronto para ser pai. 

Se acontecesse, encararia a responsabilidade, mas ela era


muito jovem e esperava aproveitar um bom casamento juntos antes

de inserir crianças. Foi por isso que fui exigente sobre os

contraceptivos. Nada de filhos nos próximos cinco anos ou mais. De


preferência, mais. 

De repente, Giovanna parou de me beijar.

— O que foi?

— Isso é você... — Olhou para baixo e estava confuso. Ela se

moveu e arregalou os olhos, o que me fez rir e ganhar um tapa. — É


que você nunca... Sempre tomou cuidado em não...
— Não queria te assustar, mas agora estava empolgado
demais para lembrar. E sim, isso é o meu pau duro. 

— E fica assim só com uns beijos? É que os livros dão a

entender...

— Não existe uma regra. Eu posso demorar a ficar excitado


ou posso ficar com ele bem duro só vendo algumas fotos bem

safadinhas que a minha noiva tem no telefone. Depende da mente,

do corpo, da pessoa e sim, os seus beijos me deixam excitado. 

Giovanna sorriu satisfeita. 

— Você não está? — questionei. 

Suas bochechas ficaram muito vermelhas antes de

responder.

— Sim... eu estou sentindo.

Porra.

— Sentindo o quê? 

— Sabe... molhado. — Chupou o lábio e a minha mente


entrou em queda livre. — Como você teve muita experiência e não

disfarçou isso, pensei que precisaria de um pouco mais para estar


excitado. — Deu de ombros.
Não queria falar de todas as mulheres que eu fodi até
algumas muitas semanas atrás, porque eram apenas fodas. Nunca
estive em um relacionamento ou com qualquer mulher que não

soubesse exatamente o que era para mim. Todas sabiam que a


posição de primeira-dama da minha vida era de Giovanna. 

Eu não ia pedir desculpas por não ter bancado o monge, meu

pai decidiu que minha noiva-bebê ficaria no internato até ter idade
para o casamento.

— Então você está molhadinha... — Pressionei o meu pau


contra ela, que fechou os olhos e suspirou. Foi um suspiro muito

bom. 

Não fazia uma transa seca desde que tinha treze anos,
quando ainda era virgem. Havia esquecido do quanto aquilo era

bom e muito melhor que nada, mas não ia gozar na minha cueca. 

Me dediquei a dar prazer, para que tivesse a certeza de que


tudo entre nós seria muito bom. Ela afundou as unhas nos meus
braços, estremecendo e apesar de contido, sabia que tinha gozado.

Beijei a sua boca com tanto tesão que estava tonto. Giovanna se
acalmou e eu precisava ir ao banheiro... logo.
— O que foi? — Ela estava muito bonita, com os lábios
inchados e o cabelo bagunçado. Seus mamilos marcando a blusa
eram a minha tentação. 

— Peça a pizza... eu já volto. 

Entrei no banheiro e não levou dois segundos de punheta


para gozar. Respirei fundo, olhando para o meu pau. Era oficial: me

tornei um punheteiro por causa do meu casamento. A ironia não


passava despercebida. 

 
04 | Gio.

Parada em frente à parede de vidro do meu quarto de hotel,

meu lar nas últimas semanas, segurava a minha caneca cheia de


café e podia ouvir o zumbido baixo das conversas. Madah e Bianca,
minhas primas e amigas mais próximas, foram autorizadas a passar

o dia comigo. Eu estava muito feliz, não queria ficar sozinha. 

Pelo reflexo, vi  Damon se aproximar e ele parou atrás de


mim, bem próximo e passou o braço por minha cintura. As meninas
estavam em outro cômodo e não podiam ver a sua proximidade. Ele

plantou um beijo em meu pescoço e automaticamente dei mais


espaço para que continuasse. 

Estava me odiando por gostar de tudo o que ele fazia, dos

seus beijos e suas mãos poderosas me pegando com firmeza.


Quase todas as noites passávamos um tempo juntos,

conversávamos um pouco, coisas bem banais porque ele nunca –

nunca mesmo – respondia minhas perguntas sobre a família e suas


decisões. 

Sempre ia embora depois que eu dormia, não sabia se era


para respeitar o nosso casamento ou se seria assim depois

também.
         Logo cedo, ele mandou entregar flores e achei bem

romântico e inesperado, apesar de clichê. Ele poderia não fazer


porque não havia exatamente motivos para me conquistar – já era

dele. Não haveria nada que pudesse mudar isso. 

Após receber a notícia que as minhas primas poderiam ficar

comigo durante a minha arrumação para nosso segundo ensaio


fotográfico de casamento, ele chegou sem nenhum motivo

aparente. 

         Sua mão subiu por dentro da minha blusa e parou antes que
tocasse o meu peito. Além da minha bunda, ele era bem contido em

seus toques e embora os amassos fossem muito gostosos para

mim, sabia que era pouco para ele e não tinha ideia de quanto
tempo iria aguentar. 

Não estava pronta para o sexo. Por mais que tudo aquilo

fosse gostoso, estava muito nervosa. Ainda sentia vergonha e


queria um tempinho para me acostumar com o toque dele e a sua

presença.

— Encontrarei com você no local das fotos. 

— O que veio fazer aqui? — Ergui o rosto e me deparei com

seu queixo e pescoço. Plantei um beijo ali, sentindo a pele quente,


sua pulsação e o perfume maravilhoso. 

Damon me deu um beijo intenso que quase deixei a minha

caneca cair. Ele se afastou com um sorriso satisfeito.

— Te ver. — E foi embora.

         Balancei a minha cabeça para sair daquela névoa sedutora,

fui ao banheiro usar um enxaguante bucal para tirar o gostinho do

café da língua e passei um gloss. Ajeitei a minha aparência, pronta

para sair. Estava com uma calça clochard caramelo, uma blusinha

preta de alças finas por dentro da calça e meus sapatos nudes

favoritos. 

Meu cabelo estava solto, propositalmente desgrenhado e

sem nenhuma maquiagem porque estava saindo para o salão de

beleza.

         Estava bem arrumada porque cada vez que aparecia com
Damon, mais as nossas imagens surgiam pelos sites. Vários títulos

e matérias meio tendenciosas, algumas até favoreciam o nosso

relacionamento, mas a maioria relembrava que estávamos noivos

há um ano e que meu noivo não era necessariamente fiel. 

Era muito irritante. 


Com os meus vestidos dentro das capas, seguros e nos

braços de Enrico, carreguei as caixas de sapatos e minhas primas


se encarregaram de levar todas as bolsas com tudo que poderia

precisar.

         Na tarde anterior, Damon e eu fomos a um estúdio

fotográfico fazer algumas fotografias pré-casamento para enfeitar a


nossa casa. O fotógrafo me enviou quase todas as fotos naquela

manhã e estavam muito bonitas, consegui relaxar depois de alguns


incentivos e copos de vinho, e, como o noivo também entrou na

brincadeira, o resultado ficou maravilhoso. A imprensa sabia que o


nosso casamento aconteceria no final de semana e eu estava muito
ansiosa.

         Chegamos ao salão de beleza, como já estava sendo


esperada, logo fui atendida. Reservamos uma sala vip, onde faria

meus cabelos, as unhas e me prepararia para as fotos na praia e no


parque, retornaria e me arrumaria para o nosso jantar de ensaio. Na
verdade, não iríamos ensaiar nada, seria apenas um jantar com as

nossas famílias e alguns convidados.

Foi muito divertido me arrumar com as meninas, era bom ter


outras mulheres ao redor para falar todas as besteiras do mundo
sem controle.

— Quando você chegou no meu jantar de noivado, eu sabia

que todo mundo ia falar do seu vestido. As matriarcas estavam


chocadas! Eu adorei! — Madah sorriu do seu lugar no sofá
enquanto escovavam o meu cabelo. — Todo mundo espera que

você vá seguir os passos das suas antecessoras.

— Nada contra, mas não. — Fiz uma careta. A mãe de

Damon faleceu quando eu era criança, mas lembrava bem dela. 

Não levou um ano para que o pai dele se casasse novamente

e não com a amante de longa data, mas sim com a filha de um de


seus chefes. Ela não era muito jovem, mas também não era da

idade dele. Francesco fora assassinado há alguns meses e Damon


não quis cancelar o casamento, porque ele havia se tornado o chefe

e precisava estar casado o mais rápido possível. 

As duas mulheres de Francesco eram quietas, reservadas e


na minha opinião, apagadas. Estavam sempre um passo atrás,

fazendo de tudo para serem discretas para que ele ficasse em


evidência. Damon já tinha evidência e mulheres demais, estava na

hora de dividir um pouco de sua atenção com uma bela esposa ao


lado.
Para o ensaio, meu cabelo ficaria solto, cheio de cachos
feitos e com muito fixador para não desmancharem. As presilhas
foram colocadas com cuidado, eram de diamantes e pertenceram à

avó do Damon. Estavam na família há séculos e Sandra me enviou


para que pudesse fazer parte das joias do casamento. 

Não economizei um centavo e ela fez exatamente tudo o que


eu queria. Damon não reclamou, mas não estava sendo um

casamento barato.

Meu vestido do pré-Wedding era bordado com rendas e feito

à mão, então, custou uma pequena fortuna. Era lindo e eu sonhei


com aquelas fotos. Enviei tantas inspirações para o fotógrafo que
estava ansiosa e, ao ficar pronta, me senti muito perto de tudo o que

idealizei. 

Desci as escadas do salão com cuidado, minhas primas iriam


continuar fazendo as unhas e cabelos para mais tarde – adiantando

parte dos processos de arrumação para o dia seguinte, o dia oficial.

Enrico ficou surpreso ao me ver e desviou o olhar, abrindo a


porta do carro. Imaginei que seria muito para ele me elogiar. Entrei

com cuidado e com o meu telefone na mão, enquanto ele dirigia até
o ponto de encontro, abri o meu aplicativo do Instagram e postei
uma foto que havia tirado durante a arrumação. 

Coloquei uma de mais cedo no stories e vi a atualização da


conta de Damon. Ele sempre postava fotografias das boates, dos

empreendimentos, das apresentações e poucas de si mesmo.


Fiquei muito surpresa ao ver que tinha selecionado uma fotografia
do ensaio anterior. 

Ele estava de camisa preta, calça jeans, sentado no

banquinho e eu estava de pé entre suas pernas, com as mãos em

seus ombros. Enquanto olhava para mim, eu estava diretamente

focada na câmera, com um sorriso contido.

Não tinha legenda.

Curti a foto e comentei com um coração. Havia milhares de

comentários e para o bem da minha sanidade, decidi não ler.

Enrico estacionou e Damon já estava lá, de óculos escuros,


encostado em seu carro e usando a roupa que escolhi. Não saí do

carro até o fotógrafo terminar de arrumar o material e Damon ficou

olhando fixamente para a minha janela. 

Quando Enrico abriu  minha porta, reuni meu vestido todo


para cima e coloquei os pés para fora primeiro, fiquei de pé e
mantive a saia reunida para não sujar. Damon desencostou de seu

carro, tirou os óculos e me deu um olhar muito apreciativo. 

— Gio...bella. Você está de tirar o fôlego. — Seu sorriso me

deu um arrepio.

— Grazie. — Minhas bochechas coraram, dei uma boa

olhada nele e ele arqueou as sobrancelhas, me fazendo rir. — Você


está gostoso.

— Eu te chamo de linda e você me chama de gostoso? —

Mordeu o lábio, contendo a risada e me deu um beijo tranquilo, para

não me borrar.

Nós começamos o ensaio e nas primeiras fotos foi inevitável

não ficar travada, mas fluiu muito bem e eu estava feliz que Damon

não estava negando os meus desejos. A maioria dos casamentos


na família eram extremamente tradicionais e muito fechados, sem

nada bonito para alegrar. 

A maioria das noivas não ficavam muito felizes no dia dos

seus casamentos obrigados. 

Me acostumei com o meu destino. Três anos me preparando

intensamente para esse dia, parecia surreal acreditar que estava

acontecendo.
Terminamos o ensaio e voltei sozinha, com o vestido

molhado, mas valeu a pena. Bianca me ajudou no banho, porque

estava cheia de grama e areia nas pernas. A equipe precisou


refazer o meu cabelo em tempo recorde e fiquei seriamente

atrasada para o jantar. Meu telefone não parava de tocar e as

minhas primas tiveram que ir embora para se arrumar e encontrar

com suas famílias.

— Gio? — Sandra, minha cunhada, entrou no salão. — Sei


que é comum a noiva atrasar, mas não no jantar e sim no

casamento. 

Estava com o cabelo feito e a maquiagem, mas não


conseguia entrar no vestido sozinha. Ela me pegou de calcinha e

sem sutiã, com uma das meninas do salão me auxiliando. 

Sandra era bonita como o irmão. Era do tipo dona de casa

sofisticada, seu marido era um dos homens mais bonitos do alto


escalão e tinha uma cara de safado, mas nunca ouvi rumores sobre

ser um traidor. Se tivesse uma amante, a fofoca já estaria rolando

há tempos.

Sandra tinha o cabelo longo, liso, sempre escovado e

comportado, mas usava roupas mais adequadas para a idade. Seu


nome era Alessandra, como o da avó, não era um nome comum,

por isso todos a chamavam de Sandra. Foi a princesinha da máfia


até o nascimento do irmão e agora, estava passando a coroa para

mim com prazer.

— Uau! Damon vai esquecer o atraso e desmaiar. — Sandra

me olhou pronta. —Você vai mudar algumas coisas nessa família. 

Sorri de nervoso e saímos porque não havia tempo para

conversa.

Damon estava me ligando e eu preferi não atender porque

não queria ouvir o seu piti. Enrico parecia aliviado quando me viu
pronta, provavelmente porque o irmão estava enchendo o saco. Ele

dirigiu em alta velocidade até a casa de Sandra, que era a anfitriã do

nosso jantar. 

O ideal seria que os meus pais oferecessem, mas Damon

afirmou que não entraria na casa do meu pai como convidado, a não

ser que fosse inevitável.

Foi a última gota de esperança de que um dia teria jantares


de família com os meus pais e o meu marido. Damon não suportava

o meu pai e eu ficaria no meio daquela guerra. Meu pai querendo

ser próximo e o meu marido querendo distância.


Pela quantidade de carros, muitos convidados já estavam na

casa, até que era bom, todos iriam ficar de queixo caído de uma vez

só. Sandra me ajudou a sair do carro dentro da garagem e Enrico

me deu equilíbrio na escada, mantendo uma distância de quase um


metro com medo de estar perto demais. 

Passei pelo corredor e Damon virou a esquina, puto da vida,

mas a sua expressão mudou quando me viu. Ele estancou no lugar,

deixando que Enrico e Sandra fossem para a sala. 

— Realmente… — Suas mãos correram pela minha cintura,

sentindo o tecido e passando para a minha bunda. Soltei uma risada

porque era um toque muito possessivo. — Porra, Giovanna. Não


tinha um decote menor? Um tecido mais largo?

— Não. — Fiz um pequeno beicinho.

Meu vestido era branco, justo, com um decote em V profundo

nos seios. Estava com os meus cabelos soltos, com o par de


brincos que ele me deu e o colar que a minha mãe me presenteou

quando criança. O pingente pendurava entre os meus seios como

um brilho suave ali. 

O zíper era escondido nas costas, exibindo o meu corpo.


Estava chamativa e ao mesmo tempo sendo a noiva mais linda que
a sociedade de Chicago já viu.

— Temos que entrar, noivinho. Está pronto para me exibir por

aí? — Não sabia de onde estava tirando coragem para debochar


dele, mas estava tão irritado que não conseguia me conter. Ele riu

da minha ousadia e me beijou.

Damon me segurou possessivamente ao seu lado e nós


entramos na sala. Ri das expressões surpresas. A maioria das

noivas escolhiam um modelo mais tranquilo para o jantar de ensaio

e tentavam não atrair cobiça para si mesmas. 

Fiquei muito incomodada com os olhares de alguns dos


homens, os mais velhos e casados eram porcos, porque não

podiam se conter e sabia que deviam disfarçar muito bem quando

Damon estava por perto.

Abracei minha mãe bem apertado, ela não estava com o rosto
excessivamente maquiado e parecia mais relaxada. Fiquei feliz que

meu aviso ao meu pai fez efeito. Descobri que era altamente capaz

de fazer um inferno na cabeça de Damon para que ele odiasse


ainda mais o meu pai.

Conversei com as mulheres e as mais velhas não

esconderam as críticas sutis sobre a minha escolha de vestimenta,


porém, eu não estava interessada no que elas pensavam.

Bianca me pediu uma voltinha e, só para provocar, eu dei.

Minha mãe suspirou, me dando um olhar severo e só isso me fez

parar. Ainda tinha medo da mamãe. Ela nunca me bateu, muito

menos o meu pai – para falar a verdade, eu discordava da maneira


que meu pai era como marido e o vício no jogo, mas ele me tratava

como uma princesa e nunca brigou comigo. 

Mamãe era mais severa, mas nunca chegou aos extremos.


Ela sempre soube como impor respeito.

Exceto com o marido.

— Você está adorando o showzinho — Damon cochichou no

meu ouvido quando Sandra nos levou para o jardim para fazermos
as fotografias da noite.

— Espere só até ver o meu vestido de noiva principal. — Sorri


para a fotografia.

— Giovanna...

Após o jantar, me preparei para ir embora e Damon disse que


passaria no meu quarto em duas horas, mas eu disse que não. Ele
não podia me ver até o casamento e ao chegar no quarto, fiz
questão de bloquear por dentro, no painel digital. Soltei um palavrão
ao perceber que não conseguia tirar o vestido sozinha.

Estava louca para tomar um banho e tirar todo creme,

maquiagem e gosma do meu cabelo.

Quando Damon tentou acesso ao quarto, a porta apitou e,


resignada, abri. Ele sorriu, achando que eu havia falado da boca
para fora, mas na verdade eu só precisava de ajuda. Não ia pedir

para Enrico abrir o meu vestido e muito menos ligaria para a


recepção do hotel para isso. 

— O que foi?

— Preciso que abra o meu vestido. 

Damon fechou a porta na hora.

— Essas palavras são as que eu mais gosto de ouvir, mas


podemos fazer algumas coisas sem precisar tirar o vestido. — Seu
sorriso sacana me fez revirar os olhos.

— É sério. Eu preciso fazer xixi — reclamei e virei de costas,


engolindo em seco e ele deslizou o zíper para baixo. 

Estava sem sutiã, então, tirei as alças do vestido e ele


escorregou pelo meu corpo. Minha calcinha era fio dental, fiquei
quente de vergonha. 

Minha prima Bianca passou o dia inteiro me aconselhando a

relaxar. Seu marido era muito mais velho e esperou até que ela
estivesse menos nervosa, que sem a mãe para aconselhar,
aprendeu tudo sobre sexo com o marido. Ela parecia feliz com ele.

Era segredo de amigas e eu jamais poderia contar para um homem


ou a reputação do marido dela seria arruinada.

Já sem minha sandália, tentei não correr para o banheiro,


mas mantive meus braços cobrindo meus seios. 

O banheiro não tinha porta, mas a área do sanitário era


reservada em uma cabine. Aliviei a minha bexiga, lavei as mãos e
liguei a torneira da banheira preparando o meu banho. Damon

estava na cama, sentado, me olhando fixamente andar de um lado


ao outro. Ele não ia sair. Legalmente, já era o meu marido. E eu...
não estava me sentindo mal com aquele olhar. Era desejoso e

intenso, me fazia sentir gostosa.

Quando a banheira encheu, joguei o meu sabonete líquido e


alguns sais, tirando a minha calcinha logo em seguida. As cortinas
estavam levantadas e eu, nua diante de uma parede de vidro. Elas

começaram a descer e entrei na banheira, ciente que meu


espectador não queria compartilhar a sua visão com mais ninguém.
Afundei na água, relaxando e deitei a minha cabeça no suporte. 

Olhei para o lado e ele não estava na cama. Entrou no


banheiro, sem o terno, com a camisa aberta e segurando uma taça

de vinho bem cheia. Ele a apoiou no suporte e se inclinou, beijando


a minha boca. 

— Eu vou embora porque isso é tentação demais para um


homem. — Seu beijo se aprofundou e meus mamilos ficaram tão
arrepiados que endureceram. — Até amanhã, noiva. 

— Até amanhã, noivo. 

Damon saiu xingando e eu ri, porque ele ainda ficaria


xingando por mais algum tempinho. Esperava que ele não morresse
de combustão e se buscasse alívio em qualquer lugar, nunca mais

encostaria em mim. Eu não iria perdoar traição. 

 
05 | Gio.

O dia do meu casamento amanheceu lindo.

Acordei com o nascer do sol e fiquei impressionada pela

beleza que eu nunca tinha visto, já que raramente acordava ao


amanhecer. Eu tinha um dia inteiro pela frente, para me tornar a

noiva mais bonita que Chicago já ouviu falar. Alguns paparazzi


haviam fotografado o pré-Wedding no dia anterior, as fotos vazaram
na mídia como água. 

Damon postou uma foto nossa do jantar. Eu estava de lado,

com a mão em seu peito, ele tinha o braço na minha cintura e a mão
na minha bunda possessivamente. Sua outra mão estava com uma
taça de espumante. A foto estava muito bonita.

No meu, postei uma mais romântica, mas aquela foto definia


bem que nunca fizemos sexo, além de definir o idiota possessivo

que meu marido era.  Depois da primeira vez, tinha certeza que me

manteria algemada ao seu lado. Era ele quem pulava a cerca


enquanto eu estava presa em uma escola católica. 

Não queria soar hipócrita, mas nosso relacionamento era

fantasioso, nós nunca havíamos ficado juntos até poucos dias atrás

e era aquilo o que eu considerava.


Pedi o meu café da manhã, enrolando na cama e me levantei

quando ouvi uma suave batida na porta. Dei espaço para os


funcionários do hotel entrarem com os itens necessários para o meu

dia da noiva.

         Quando o café da manhã chegou junto com a equipe de

beleza, eu me perdi totalmente, uma hora me levavam para uma


massagem e em seguida para uma limpeza de pele. Quando a

depiladora me perguntou como gostaria das minhas partes íntimas,

escolhi tirar tudo. Não era a primeira vez porque costumava tirar
com a gilete, mas na cera doeu muito. 

O resultado era muito melhor, mas puta merda, chorei e não

escondi.

Levei um tempo na massagem, relaxando e quando fui

liberada para comer, Damon me enviou uma mensagem dizendo

que seu primeiro presente de casamento estava a caminho. Era


comum na tradição italiana que o noivo enviasse presentes para a

noiva, assim como escolhesse o buquê e o tom das alianças, mas

nós ignoramos algumas porque eu quis escolher o meu próprio

buquê.
         Uma batida soou firme e pensei ser Enrico. Abri a porta
enrolada no roupão e gritei ao ver minha mãe parada, com uma

pequena bolsa, seu vestido dentro da capa e um sorriso. Me joguei

em seus braços, morrendo de amor e alegria que poderia

compartilhar o meu dia da noiva com ela. Não cheguei a pedir para

Damon porque entendia que a família tinha regras e eu não queria

atropelar todas elas.

— Mamma! Eu vou me casar!

         — Ah, mia bambola!

Mamãe segurou meu rosto e apertou minhas bochechas,


dando-me um sorriso amoroso. Levei suas coisas para o quarto e

pedi que incluíssem a minha mãe no tratamento de beleza do dia.

Terminei de comer e a minha mãe estava na limpeza de pele. 

Conforme o dia passava, mais me sentia com os nervos à flor

da pele, louca de curiosidade para ver como o salão do hotel estava

com a decoração. 

         Sandra me enviou algumas fotografias, me garantiu que

estava tudo bem e correndo conforme o planejamento. Meu

casamento estava marcado para começar às quatro da tarde e


Damon exigiu que não houvesse atrasos, porque uma da manhã

nós estaríamos fora da festa.

Minha maquiagem e cabelo ficaram prontos na hora e minha

mãe ficou pronta antes de mim. 

— Gio! Hora de se vestir! —  A organizadora animadinha me

chamou e parou, levando as mãos ao rosto. — Você está linda! Uma


noiva maravilhosa! 

— Obrigada. 

         Meu vestido finalmente foi revelado e minha mãe arregalou

os olhos. Era um modelo de princesa, porque eu era uma, a parte


de cima rendada, com um decote seguindo a mesma linha das

mangas até o meio dos meus seios. Meus ombros e pescoço


estavam livres do vestido. A saia era volumosa, mas não bufante. 

Por baixo, usava um espartilho branco sem alças e uma calcinha de


babados branca, junto com as meias da liga para usar com meus

sapatos brancos rendados.

— Seu marido vai ter um pequeno ataque com essa renda.

— Não dá para ver nada. — Rebati e ela seguiu fechando os


botões. — Sorria para as fotos, mamãe.
— Não seja uma esposa petulante, Giovanna. Seu pai e eu

observamos o seu crescimento e conhecemos sua personalidade,


sei que você nunca escondeu o desagrado com algumas... rotinas

dos homens da família. — Mamãe me encarou pelo espelho. —


Damon é o homem mais importante e precisa ter uma esposa firme,

resiliente e que o apoie em casa. Se ele te trair, você precisa


ignorar. 

— Traição e violência não devem ser rotinas dentro de um


casamento, mamãe. Eu não me importo com o que Damon faz, isso

é sobre a família, e todos precisam dele, mas ele não será o chefe
quando estiver comigo. Ele será meu marido e vai me tratar com
respeito, do contrário, não terá o meu. — Rebati sem desviar o

olhar. — E por favor, sorria. Não quero estragar as fotos. Eu amo


você. Amo muito, mas não vai me convencer a ser uma esposa

oprimida.

— Cuide-se, mia bambola. — Mamãe me deu um beijo e

voltou a fechar a minha roupa. 

Nós falamos o tempo inteiro em italiano, mas a fotógrafa

percebeu que o assunto era tenso e voltou a fotografar quando


sinalizei.
         Fiquei admirada comigo mesma. Estava absurdamente linda
como noiva. Com calma e cuidado, a fotógrafa me levou para
algumas áreas do hotel para me fotografar sozinha, em seguida com

os meus pais e com as minhas damas, que eram as lindas


sobrinhas de Damon. 

Nunca o vi interagindo com elas, mas eram muito fofas e eu


morria de vontade de morder as bochechas. Ambas estavam lindas

com os seus vestidos brancos e laços da cor lilás.

         Enrico me levou para a igreja sozinha e aproveitei o tempo

para colocar os meus nervos para descansar ou iria surtar antes de


passar pelo tapete vermelho. Me casar na capela de Saint James
era o meu sonho de menininha e tentei não chorar por realizar. A

data que eu quis não estava disponível, mas Sandra fez acontecer. 

Afinal, o que era negado à família?

         Meu pai estava me aguardando e arrumaram as minhas


saias, segurei o braço dele e seu olhar para mim era de um pai

emocionado ao levar a filha ao altar. Na mente dele, me dar em


troca de uma dívida foi a melhor saída e quem eu queria enganar?

Foi a minha salvação ou maldição. Meus pais estavam vivos e eu,


dentro da nossa sociedade muito machista, com um excelente
casamento. 

         As portas se abriram e havia cerca de trezentas pessoas de


pé, me olhando, esperando minha entrada. Respirei fundo, seguindo

pelo corredor com meu pai até Damon. Ele estava tão bonito com
seu smoking creme, a barba feita, o cabelo penteado e o sorrisinho
sacana enfeitando o rosto. 

Não agradeceu o meu pai pela minha mão, simplesmente me

tomou com um sorriso, tirou o meu véu do rosto e me deu um beijo

na testa antes de me levar até o padre. 

A nossa cerimônia foi toda em italiano, se os convidados


americanos não estavam entendendo não era exatamente um

problema nosso. Tivemos todos os ritos tradicionais católicos e

como nos casamos no civil no começo da semana, foi um pouco

mais curto quando só precisamos assinar os documentos da igreja.

         Após a benção, fomos declarados marido e mulher. Damon

teve autorização para me beijar. Pensei que o bastardo fosse fazer

algum showzinho, mas só me deu um beijo calmo e longo o


suficiente para que as pessoas aplaudissem. 
         Saímos juntos, sob uma chuva de arroz e pétalas de rosas.

Os carros estavam buzinando, fazendo bastante barulho para


afastar as energias negativas durante a nossa chuva de amor e

fertilidade. 

Enrico abriu a porta do carro, para nos levar pela cidade

enquanto os convidados seguiam para a festa. Foi um pouco chato


acomodar toda a minha saia, levamos vários minutos e no final, ele

ficou sem espaço para sentar. Damon riu quando a porta fechou,

passando as mãos por baixo delas, tentando sentir as minhas


pernas, mas bati nele.

— Não me bagunce.

— Só você para usar a porra de um vestido transparente no

nosso casamento. — Trilhou as bordas da renda pelo meu braço,


seguindo para a barriga e arrastou o polegar nos meus seios onde

deveria estar os meus mamilos, mas o tecido era bem grosso. —

Quase tive um AVC quando te vi entrar. Esse seu decote... —

Chegou mais perto e parou com o nariz bem pertinho do meu. — A


noiva mais linda do mundo inteiro, Gio. Perfeição é insuficiente para

te descrever... — Me deu um beijo e o segurei perto. 


Damon me assustava de muitas maneiras porque sabia do

que era capaz de fazer, as histórias não fugiam de nós e ele tinha

muitas, por ter começado essa vida muito cedo. Ele me atraía
fisicamente e por tantos anos ciente desse casamento, já nutria

afeição, ciúme e um tanto de expectativas.

— Você está lindo, obrigada por não ir contra as minhas

escolhas.

— Sabia que ficaria bonito. Você parece ter um prazer por me


ver bem gostoso. — Sorriu e mordeu o meu lábio. — Esse

casamento está sendo o mais caro que os Estados Unidos já ouviu

falar. Acredite em mim, eu pesquisei. Não vencemos na Europa por


causa de um príncipe árabe qualquer.

— Não sabia que era uma competição. Só quis o melhor.

Além do mais, a nossa sociedade tem o costume de ter casamentos

bem medíocres porque a maioria dos pais são meio mão de vaca.
— Fui sincera e ele sorriu torto. — O que isso te faz como chefe?

— Isso faz com que os pais comecem a competir sobre o

casamento mais caro, pode ser que eles fiquem mais ambiciosos
com os seus negócios e deixem de ser preguiçosos. Vão me fazer

ainda mais rico. 


         De repente, me veio um pensamento ruim.

— Ei, o que foi?

— E se eles virem o casamento como uma exibição

desmedida e tentarem fazer a sua imagem de fraco? 

         Damon abriu um sorriso.

— Então eles vão saber quem sairá fraco no final e isso não

deve ser a sua preocupação. A minha é mimar a minha esposa. —


Segurou o meu rosto e me deu um beijo. — Não quero que se

preocupe.

         Enrico avisou que estávamos chegando e eu tentei arrumar

o meu vestido para sair com mais facilidade. Damon brincou que me
puxaria pelos braços, mas ele deu um jeito de segurar o tecido, sair

e ainda conseguir me tirar. 

Meus pais já estavam nos aguardando, provavelmente


demos mais voltas para dar tempo e a minha mãe conseguiu

arrumar a minha roupa novamente.

O jardim do hotel foi aberto exclusivamente para nós. Era o

lugar mais bonito que já havia pisado e entendia porque era privado
dos demais hóspedes. Era perfeito. 
— Você vai amar o jardim de casa... — Damon passou o

indicador no meu pescoço, sabendo que me deixava arrepiada. A

casa na qual ele se referia, sabia que era a da Itália, onde

passaríamos um mês ou mais. Não tinha detalhes, só não podia


ignorar a sensação de que não era uma lua-de-mel.

Meu marido estava indo para colocar algumas coisas em seu

devido lugar. 

Terminamos com as fotografias, ele me pegou no colo para


passar pelo portal de entrada e quando me colocou no chão, me

deu um beijo bem rude, marcando seu território e domínio sobre

mim. Me desafiou com o olhar quando tentei abrir um sorriso


zombeteiro e não segui em frente porque não queria causar uma

cena e muito menos desmoralizá-lo perante todos. 

         Nós seguimos para o dever matrimonial em receber abraços

e cumprimentos dos nossos convidados. Levou uma eternidade.


Alguns fiquei realmente feliz, outros não conhecia e a maioria

retribuí por educação. 

         O jantar foi servido e meu marido me levou para a mesa

principal. Estava linda e decorada como quis. 


A parte mais alta estava com duas cadeiras destinadas a nós

dois e a mais baixa, com quatro cadeiras, para Sandra e o marido


de um lado e os meus pais do outro. Devido a inimizade de Sandra

com a madrasta, ela não estava na mesa conosco.

Damon me explicou que eles não eram próximos e por isso

não fez questão nenhuma da presença dela. Apenas aceitei, não ia


me intrometer em briga de família, além dela sempre ter me tratado

de maneira desprezível.

         Todo o cardápio do casamento era italiano, nas mesas

foram servidos os bolinhos de arroz recheados, antipasti variados e


havia uma ilha imensa com todo tipo de massa e acompanhamentos

para que os convidados pudessem montar conforme quisessem. 

O jantar era variado, havia risotto al limone, brodetto, sopa de

polenta e cordeiro cozido. Como estava faminta, não neguei


nenhum dos pratos, porque a história de não comer direito o dia

inteiro não era para mim. 

— Alguém está com fome — Damon me provocou e limpei


minha boca, todos estavam comendo, aquilo era a prática favorita

dos italianos. 
Havia muita comida e uma sala inteira cheia de barris de
vinho, assim como muitas garrafas de vinho Villa Valentinni,

presente de casamento de Juliana e Enzo. 

         Ela não veio ao casamento e entendia muito bem. Ninguém

sabia que Enzo havia sofrido um acidente de carro e morreu


carbonizado há um mês. Sabia disso porque conversei com Damon

sobre adiar a data do casamento. Não fazia cinco meses que o pai

dele havia falecido, seria uma interpretação de mal gosto, mas, ele
optou por me contar que as coisas não estavam muito agradáveis e

ele precisava estar casado.

O casamento na vida de um chefe também era uma


afirmação de poder.

         O fato de ele ser tão jovem era um incômodo para a maioria,

mas Enzo assumiu e dominou muitos territórios ainda novo,


contudo, perdeu um pouco do respeito por não ser casado,
recuperando-se bem rápido após a aliança com os napolitanos

através do casamento. Juliana entrou na vida dele para dar-lhe mais


força como chefe de todos.

         Damon não podia ficar atrás, na nossa família, ser jovem
significava fraqueza. Ser jovem, não casado e chefe, era sinônimo
de uma família suscetível a ataques. 

         Meu noivo e eu não interagimos muito durante o casamento,


ele mantinha a clara posição de ter o domínio sobre mim, ao meu

corpo, mas também manteve a sua postura impecável, fria, distante,


calculista e estava de olho em todo mundo. 

Durante a nossa dança, seu olhar saiu do meu rosto diversas


vezes e discretamente, apontou coisas para Enrico ou para

Giacomo. Àquela altura da festa, já tinha muita gente bêbada. 

         Dancei com meu pai e como não havia um momento para
dançar com o pai de Damon, Sandra e eu decidimos colocar a foto

de Francesco Galattore no telão, em forma de respeito pela sua


vida. Engoli meu desprezo dançando com o tio de Damon por parte
de pai, chefe da cidade de Chicago. 

O avô materno dele era muito velho e assustador, não

cheguei perto dele além do necessário e Enrico não deixou que


nenhum dos homens que o acompanhavam chegassem perto de
mim.

         Meu marido me encontrou quando consegui chegar perto


das minhas amigas e ficar sozinha com elas. Droga.
— É hora de trocar de roupa — Damon cochichou no meu
ouvido. Achei bem estranho, mas não discuti. Estava realmente no
momento ideal para liberar a pista de dança para as músicas mais

agitadas. Olhei para a minha prima.

— Bia, pode me ajudar? — Reuni minha saia para andar

melhor.

— Não precisa, vamos sozinhos. — Damon não deu tempo


para discutir, me levando para os elevadores junto a Enrico e
Giacomo. Entramos no quarto e ele olhou ao redor, voltando para a

saída. — Volto em dez minutos. — Fechou a porta e fiquei puta,


porque não existia a possibilidade de trocar de roupa sozinha. Eram
muitos botões, por isso havia requisitado a presença da minha

prima. 

Tentei sair, mas a porta estava travada. Procurei o meu


telefone e decidi que antes de pedir para Bianca subir, mandaria

uma mensagem para ele. 

“Ok. Me espere voltar e não chame qualquer pessoa”.

O que ele estava armando no dia do nosso casamento?

 
 

 
06 | Damon. 

                      Enrolei as mangas da minha camisa e sentei-me no

banquinho, olhando para o homem amarrado na cadeira. Ele estava

suado, o cabelo desgrenhado e colado de sangue porque meus

caçadores se empolgaram um pouco na hora de pegá-lo, rastejando

como uma cobra. Me traindo no dia do meu casamento. 

         — Interessante... Esposito. — Peguei a minha faca, olhando


a lâmina perfeita brilhando com a luz difusa acima de nós. —
Pensou que a presença do meu avô te ajudaria em alguma coisa?
Acreditou que a porra daquele velho decrépito tem algum poder?

Ele está vivo porque eu quero — voltei a fitar a minha faca. —


Sabe... achei interessante. Enzo está fora do país e vocês, ratos
nojentos de porão, pensaram que poderiam criar um motim

começando bem na porra do meu casamento? — Cravei a faca em

sua coxa e ele gritou alto, esgoelando como uma garotinha. — Ah,
porra. Era com esse gritinho que você queria tomar o meu lugar? 

         Meus homens riram atrás de mim.

         — Você traiu o seu juramento — furei o outro lado de sua

perna. — Você beijou a minha mão — bati com meu anel em seu
rosto. — E será o primeiro a pagar pela traição. E a sua esposa... —

passei a minha língua nos lábios. 

         Ele cuspiu sangue.

         — Eles sabem que Enzo está morto e não vão permitir que

Juliana controle a família. Sabem que você está segurando as

ações dela e das empresas. — Abriu um sorriso. — Não vai


demorar muito para que esse império moderno que vocês querem

implantar caia. Eu não sou o único.

         Soltei uma risada e foi a última coisa que ele viu, porque

rindo, abri um belo sorriso em sua garganta, ficando todo sujo de

sangue. 

         — Limpe essa bagunça — pedi a Giacomo e olhei para os

meus caçadores. — Peguem o restante que ouvimos nas

gravações, não façam alarde e não deixem rastro. Não quero a

família de nenhum deles fora do radar. 

         Os quatro assentiram e saíram. Enrico surgiu no fim do

corredor e porra, Giovanna estava mais de vinte minutos fora da

festa. Andei até ele, entrei em um banheiro, lavei o meu rosto, tirei a

camisa suja de sangue e coloquei uma limpa, que ele me entregou. 


Estava sem o meu terno do smoking desde o jantar, só
coloquei para a dança e não usei mais. Entramos no elevador e

desbloqueei a entrada do quarto com o código primário que peguei

do sistema do hotel.

         Giovanna estava na cama, comendo chocolate, com o

vestido todo espalhado e a cena era um tanto engraçada. Ela não


parava de comer. Os bombons eram da caixa que mandei entregar

cedo, junto com um buquê de flores e o bracelete de diamantes que

pertenceu à minha mãe e ela estava usando. 

         — Graças a Deus. Foi um desastre tentar fazer xixi com

esse monte de tecido aqui. Estou apertadíssima! — reclamou e

comecei a rir. Ela me fez esquecer a porra do ódio que corria nas
minhas veias em segundos. Quicando no lugar, parecia uma bola

com o vestido todo bagunçado.

Não tinha palavras para descrever o quanto ela estava linda,

de tirar o fôlego. Seu vestido era romântico e ao mesmo tempo,


sensual. Uma combinação que só ela conseguiu com maestria.

Pensei que iria despi-la de um jeito mais interessante e não às

pressas, porque ela queria ir ao banheiro. Assim que se viu livre do

vestido, minha mente entrou em parafuso.


Giovanna usava o conjuntinho de espartilho e liga mais sexy

do mundo, aquela calcinha de babados seria a minha morte. Foda-


se se queriam derrubar o meu poder na minha festa de casamento,

ela ia me matar mesmo.

         Ela foi para o banheiro e joguei o seu vestido na cama. Ouvi

o barulho da descarga e ela não voltou para o quarto, então, fui


atrás dela. Vi que estava soltando o cabelo, peguei as presilhas e

levei para o cofre, pois eram safiras verdadeiras. Ao voltar, seu


cabelo já estava solto e a abracei por trás, cheio de tesão. 

         A bunda da minha mulher naquela calcinha estava incrível.

         — Não vem, Romeu. Você sumiu por vinte minutos e os

convidados devem pensar que estamos adiantando a noite de


núpcias. — Me empurrou e voltou para o quarto. Ela tirou o

espartilho, puxando os laços e o zíper. 

Mordi o meu lábio, apreciando a visão e demorei a entender


que ela precisava de ajuda para fechar o top que colocou. Em

seguida, veio outra saia, mas não era um vestido. Era uma saia
justa, com um lascado que ia até a marca da calcinha.

         — Caralho... Giovanna! Não! Você não vai sair do quarto


com essa roupa! 
         — Claro que vou! Foi feito para o meu casamento! — Me

deu um olhar como se eu fosse um idiota.

         — Esse lascado dá para ver a sua buceta!

         Ela colocou as mãos na cintura, indignada.

         — Não dá não! A minha calcinha é grande, como um


shortinho! Além do mais, você tem que tirar a minha liga. Estamos

em cima da hora, eu quero dançar! — Bateu o pé, irritada.

         — Vou tirar a liga e você vai subir para colocar outra roupa
— ordenei. Com os olhos arregalados, ela assentiu. Foda-se a

minha vida, puta que pariu. 

         Puto pra caralho, andei atrás dela. Voltamos para a festa
sob os aplausos incitados pelo DJ e os gritos pedindo para nos

beijarmos. Pétalas de rosas foram jogadas em nós e Giovanna


sorriu, louca para dançar, mas eu fiz a pausa dramática para tirar a
liga, que Enrico pegou. 

Joguei na direção dele porque era o meu irmão, melhor


amigo e não deixaria nenhum idiota segurar as meias da minha

mulher. 
         Giovanna pegou o buquê e a mulherada se reuniu atrás
dela. Fez um monte de brincadeiras antes de jogar e uma prima
dela, muito jovem, pegou e pareceu animada. Seu pai tirou o lenço

do bolso e secou o suor. Ele era chefe de um dos meus cassinos,


mas não parecia muito animado com a ideia de ter a filha se

casando. Isso me fez rir. 

Adorava captar as fraquezas dos meus homens bem

aleatoriamente.

         Minha mulher começou a dançar com a minha irmã, amigas

e primas. Fiquei à beira da pista, olhando o quanto era linda e


estava muito gostosa. Sinalizei que era hora de subir e tirar a porra
daquela saia. Giovanna virou de costas e começou a rebolar. 

A minha vontade era jogá-la sobre os meus ombros e levá-la

à força para colocar uma calça que cobrisse aquelas pernas


torneadas muito bonitas.

         Giacomo apareceu no meu campo de visão e vi o momento

em que o meu avô, o bastardo filho de uma puta, saiu de fininho


com seus capangas.

Andei até Giacomo.


         — Matem todos os capangas e coloque meu avô no avião
para a Itália. Só soltem ele quando chegar dentro de casa. Leve a
sua equipe, nos encontramos lá em alguns dias. Assim que

pousarem, Giovanni estará com reforços — falei baixo em seu


ouvido, ele assentiu e saiu.

         Passei o polegar em meu lábio, esquadrinhando o ambiente.


Os filhos da puta... avisei a Enrico. Haveria uma reunião com todos
os chefes, subchefes e soldados às duas da manhã. Não daria

tempo para os babacas pensarem que tinham uma vantagem contra

mim. 

Eles sabiam que eu gostava de sangue, mas agora veriam o


banho que eu era capaz de fazer. Os homens não duvidavam nem

um pouco da minha capacidade, mas eu era jovem e recém-

casado. 

Juliana estava retendo o que, tecnicamente, era dela por


direito, e apesar de Nova Iorque permitir que mulheres tivessem

posições de poder, não era aceitável uma mulher no topo da cadeia

de comando. Juliana não iria ficar. Ela não queria ficar e eu sabia o
porquê, mas não sairia até descobrir quem havia matado o marido. 
         Para mim, não era somente importante apoiá-la naquele

momento, não estava interessado em lutar sozinho contra a


organização, os russos, os malditos orientais e a porra da minha

própria família. Nova Iorque tinha uma rede potente de aliados – e

eles estavam do meu lado. Não era tão idiota e sabia com quem
podia lutar e quem podia me fazer ganhar mais poder. 

Além do mais, estava muito interessado em saber quem

havia sido o filho da puta traidor que estava brincando de cavalo de

Tróia dentro da família.

         Se era só Tio Alonzo, o meu avô ou todos eles... A luz do

entendimento precisava chegar e para isso, eles iam entender quem

eu era. 

         Depois daquela noite, nunca mais me julgariam por ser


jovem. 

         Enquanto Giovanna dançava na pista e bebia com suas

amigas, alguns homens sentiram a tensão no ambiente. Outros

sabiam que alguns planos deram errado. Eu assisti o desenrolar do


meu lugar no alto, sentindo a porra de uma satisfação doentia. Cada

minuto que passava era como um novo riscar de fósforo,


aumentando a fogueira dentro de mim. Estava me sentindo a própria

peste. 

         — Hora de partir o bolo, maninho. — Sandra se aproximou

com um sorriso e logo fechou a expressão. — Hoje não, Dammie. É


o seu casamento. 

         — Não se preocupe com isso. — Virei o meu copo de

bebida. 

         — Dammie, por favor. — Ela tocou o meu braço.

         — Baby, deixe o seu irmão. — Frank se aproximou e tocou o

ombro dela. Sandra saiu de perto de mim, meio emburrada, mas

disfarçou quando Giovanna se afastou do meio das amigas e andou

até a mim. 

         Agarrei minha esposa e beijei-lhe a boca, descendo minha

mão para o seu quadril. Ela me deu um olhar esquisito, mas logo

ficou empolgada com o bolo, esquecendo-se completamente de

mim.

Partimos o tradicional bolo italiano e o bolo americano já

estava sendo cortado e servido. Aquilo significava o fim da festa.

Giovanna foi cumprimentar umas pessoas com a mãe enquanto o


pai estava no canto, fumando um charuto.
         Me aproximei dele, que me olhou com cautela.

         — Não pense nem por um segundo que sua vida está a
salvo porque você é pai da minha mulher. Eu ouvi o seu nome nas

conversas e parece que disse a eles que tinha informações

importantes. Sabemos que não sabe de porra nenhuma e eu

entendo, um homem tem que se manter no jogo. — Inclinei a minha


cabeça para o lado. Ele soltou a fumaça. — Só vou perguntar uma

vez: o que tem para mim?

         — A rota foi entregue no cassino e é tudo que eu sei. Uma


das meninas ouviu, eles perceberam e me procuraram.

         Batia com o que ouvi na escuta. Meu sogro apagou o

charuto.

         — Acredito que você saiba do que estavam falando...

         — Vá para casa. 

         — Não preciso estar na reunião?

         — Se você pensa que pode trair essa família, pode ir. Caso

contrário, vá para casa com a minha sogra. Não quero que

Giovanna saia de uma festa de casamento para os preparativos de


um velório, fui claro? 
         Vacchiano me encarou bem sério.

         — Eu roubei, mas não traí e nunca trairia. Esse é o sangue

que corre nas minhas veias e será até o dia da minha morte. 

         Roubar era uma forma de traição. Olhando em seus olhos,


ergui a minha mão.

Ele beijou o meu anel sem pestanejar. 

         — Damon? Papa? — Gio se aproximou. — Está tudo bem?

         Os olhos dele amoleceram para a filha, porém, de uma

maneira distorcida. Ele a amava, mas não mais do que a si mesmo.


Um pai que realmente amava a filha não a trocaria pela sua vida.

Ele não era esse tipo de pai.

         — Claro que sim, mia bambola. Você estava deslumbrante!


A noiva mais linda que esse mundo já viu. — Ele cantou para ela,

fazendo-a rir como uma menininha. — Ti amo, mia bambola.

Preciosa. Seja feliz com o seu marido. — Deu um beijo na testa de

Giovanna e se afastou em direção à mãe dela, que estava


conversando com a organizadora do nosso casamento.

         — Sobrou muita coisa e tem a caixa dos noivos, mas não

acho que seria ideal levar para o quarto. — Gio se aproximou.


         — Enrico levará para o apartamento. Não precisamos de

muita comida em casa, distribua entre os funcionários do buffet e


mande levar para a nossa casa o que quiser. — Segurei seu queixo

e beijei a boca.

         Giovanna se ocupou com o fim da festa e aproveitei sua

distração para enviar algumas ordens e fazer ligações. Não levou


muito tempo para o salão ficar vazio, os funcionários começaram a

recolher as louças, retirando a decoração e eu fui até minha mulher. 

Minha irmã me viu se aproximando e avisou a ela, então,

mudaram de assunto. Espertas.

         — Agora você é minha. — Sorri e a peguei no colo.

Giovanna soltou um gritinho, segurando-se em mim. Acenei para

minha irmã e carreguei minha esposa para o elevador. Ela apertou o

botão do nosso andar e riu, me pedindo para não a derrubar. — Não


vou te deixar cair. Nunca. — Era uma promessa. 

         — Que bom... 

         Entramos no quarto e a coloquei no chão. Sabia que estava

nervosa, porque nem disfarçava, mas infelizmente, não poderia ter a


minha noite de núpcias porque tinha uns filhos da puta querendo me

foder acreditando que o casamento seria a minha distração. Ela


tirou os sapatos, soltando um suspiro de prazer e fui até ela,
ajudando a sair da roupa complicada. 

         Seu rosto estava vermelho.

         — Gio, fica calma. — Beijei a sua boca. — Por que não vai

tomar um banho para relaxar? Sei que está cansada. 

         Assentindo, saiu de perto e entrou no banheiro, optando

pelo chuveiro ao invés da banheira. Seu nervosismo era bonitinho e

apesar de ser um idiota, não queria que a primeira vez fosse

apressada, sem contar que jamais a deixaria sozinha depois do


sexo. Ela só precisava ficar calma e eu decidi deixar a minha

esposa relaxada. 

Tirei a minha roupa e entrei nu no banheiro. Ela estava de


costas, lavando o cabelo e a sua silhueta era perfeita. Tive

pensamentos profanos, me imaginei segurando aquele quadril


enquanto a comia firme por trás. 

         — Damon... — ela falou baixo.

         — Acalme-se, posso ouvir as suas batidas do coração


daqui. — Abracei-a por trás. — Isso é só um banho. — Eu precisava
vê-la nua. — Você é linda, perfeita... — Eu ia continuar, mas ela

soltou uma risada sentindo cosquinha com minhas mãos em suas


costelas. Passei a mão de novo e ela guinchou, tentando fugir. —
Vou parar. Só quero ficar com você um pouco antes de sair —
confessei e ela ficou tensa entre os meus braços. Devagar, virou e

me encarou.

         — É a nossa noite de núpcias. — Havia uma pitada de


chateação em sua voz, mas ela não estava reclamando. 

Giovanna sabia das consequências de se casar comigo. Ela

se preparou por três anos e teve todo o conselho da minha irmã,


que como filha de um chefe e esposa de um conselheiro, tinha muito
a dizer.

         — Eu sei, bella. Coisas precisam ser resolvidas. 

         Ela ficou na ponta dos pés e me abraçou. Não passou


despercebido que ignorou a nossa nudez, desejando apenas ficar
peito-a-peito comigo. Passou a mão por meu rosto, me olhando e a

segurei bem perto de mim, sentindo seus mamilos intumescidos


contra o meu peito. 

         — É melhor você voltar... não me faça uma mulher viúva na

noite de núpcias. — Fechou os olhos e me deu um beijinho tímido.


— Volte para mim.

         Pela primeira vez na minha vida eu tinha alguém para voltar.
                     

                     

                       

                     

                     

                       

 
07 | Gio. 

                      De todos os cenários da minha noite de núpcias,

passar a noite sozinha não estava entre as opções. Ele não faria

isso se não fosse inevitável. Era a nossa primeira noite, mesmo que

estivesse muito nervosa com a história do sexo, ele iria querer fazer

alguma coisa interessante – e eu não negaria, porque queria sentir

uma conexão com ele. 

Se não sentisse uma ligação, nunca me sentiria à vontade

para o sexo.

         Damon saiu após o nosso banho. Eu não reparei muito em


sua nudez, estava nervosa e não era mais sobre o sexo, era sobre
ele se machucar. Demorei a dormir porque fiquei preocupada. Comi

milhares de docinhos, assisti dois filmes, ataquei a caixa de

salgadinhos e apaguei quando estava amanhecendo. 

Acordei sozinha, sem nenhuma mensagem e comecei a

arrumar as minhas coisas. Minhas malas estavam prontas, faltavam

apenas os itens espalhados pelo quarto e não levou duas horas


para terminar tudo.
         Abri a porta pensando que encontraria outro soldado, mas

Enrico estava no corredor, jogado no sofázinho e ficou de pé. Pensei


que ele estivesse com Damon. Ele desceu com as bagagens

primeiro e esperei no quarto, verificando as mensagens no meu

telefone e salvando algumas fotos do casamento. Quando retornou,


avisou que podíamos sair.

Enrico estava todo de preto e era muito bonito, chamava

atenção de quem passava. Andei ao seu lado usando uma calça de

moletom cinza, tênis preto, uma camisetinha branca e sem o casaco


do conjunto. Minha mochila de couro preta estava com meus

documentos e as minhas coisas do dia a dia. 

A SUV estava estacionada na frente do hotel com o


manobrista aguardando e Enrico abriu a porta de trás. Não vi porquê

não podíamos sentar lado a lado, mas ele era muito quieto.

— Está tudo bem com ele? — perguntei baixinho no carro.


Enrico me olhou pelo retrovisor. 

— Ele sabe se cuidar. — Foi sucinto e mordi o lábio,

preocupada. — Em breve estará em casa com você.

         Balancei a cabeça e olhei para a janela, observando a

cidade em um dia comum de verão, ensolarado. 


Enrico nos conduziu para um dos bairros próximos à praia, vi
um prédio novo, luxuoso, ligou a seta e entrou em uma garagem

escura, subindo algumas rampas antes de parar em uma garagem

onde reconheci o carro de Damon. 

Havia outras SUVs muito parecidas com a que estava e mais

alguns soldados conversando. Uma sala estava aberta e deu para


ver uma parede de telas, parecia mostrar diversas partes do prédio.

Eles fecharam a porta quando nos viram.

         Enquanto eles se dividiam carregando as minhas coisas em

um elevador de serviço, entrei no elevador social com Enrico. Era a

primeira vez que estava ali e não fazia ideia qual seria o andar, qual

apartamento, então, a minha alternativa era seguir o meu quase


cunhado. 

Enrico abriu a porta digitando um código, revelando um hall

de entrada bem claro, com um aparador bege, um vaso para as

chaves, uma orquídea e na parede, um quadro imenso com uma


foto minha. 

         Aquilo me deixou chocada.

         Segui-o para dentro, o apartamento era todo claro, com

paredes de vidro revezando com colunas. Não havia divisórias,


apenas uma parede de tijolos para a lareira e no fundo, a escada.

Na minha frente estava uma parede de vidro, com duas poltronas de


couro caramelo, almofadas brancas e uma colcha. Para a direita,

havia o balcão da cozinha, todo em mármore branco, com seis


banquinhos de couro preto. 

Esse balcão era espaçoso, com um cooktop e atrás, os


armários planejados, brancos, com pia, forno e micro-ondas. Os

lustres eram lindos, com lâmpadas amarelas que eu amava.

         A cozinha era muito bonita e por ser tão clara, não parecia
algo que Damon escolheria. Ainda para a direita, após a cozinha,

tinha um conjunto de sofás cinza, um tapete branco, uma poltrona


da mesma cor caramelo que as outras duas à  minha frente. O

corredor dava para a escada e abaixo dela, duas portas que


estavam fechadas. 

Para a minha esquerda, próximo às poltronas, havia uma


mesa redonda preta com seis cadeiras, em cima de um tapete

redondo bege escuro. Depois da mesa, vinha o que seria a sala de


televisão, com um sofá branco, uma mesinha de centro quadrada

preta, duas poltronas brancas e um tapete cinza lindo. 


Os sofás tinham almofadas pretas, marfins e a mesinha

algumas revistas.

Deixei a minha mochila no sofá e fui para a varanda enquanto


eles subiam a escada com as minhas coisas. Me apoiei no parapeito
e nem na ponta dos pés conseguia olhar para baixo. Estávamos na

cobertura. Era muito alto. Enrico me avisou que eles tinham


terminado de carregar tudo e explicou que morava no apartamento

ao lado.

Esperei que saísse para fuxicar o resto do lugar.

Abri a geladeira, estava repleta de comida e com muita coisa


do casamento. Peguei uma garrafa de água, fechei e abri as portas

de um pequeno corredor. Havia um lavabo bem amplo e me


perguntei a necessidade de algo tão grande, tinha até uma

poltroninha. 

Abri a outra porta, era um quarto que funcionava como


armário das coisas da casa, como roupas de cama, toalhas, panos

de prato e coisas chatas. Achei a lavanderia e era completa, muito


bonita. Tinha roupas dele dentro da secadora...

Hum... ele lavava as próprias roupas? 


Sabia lavar, cozinhar e passar porque no internato cada um
cuidava das suas próprias coisas. Mamãe sempre me ensinou a
cuidar da casa, principalmente a cozinhar, algo que eu gostava

muito mais que todas as coisas de limpar. 

Em casa sempre tivemos empregadas e cozinheira, porém,


minha mãe tomava conta de tudo. Esperava que Damon não
quisesse que limpasse essa casa sozinha porque eu não iria fazer.

Ele tinha dinheiro para pagar por uma empresa.

Voltei para as portas próximas à escada, uma estava

bloqueada com uma fechadura digital e a outra tinha duas


fechaduras. Porra, ia morrer de curiosidade até conseguir olhar o
que tinha dentro. Dei um chutinho na porta, para ver se abria, mas o

alarme disparou e subi a escada correndo.

Encontrei três portas, duas eram de quartos de hóspedes e a


última era do quarto principal, muito espaçoso. Minhas coisas

estavam ali dentro. 

A cama estava centralizada, com um edredom cinza escuro e


as fronhas pretas, travesseiros e almofadas escuras. Na parede em

cima da cama tinha um quadro de montanhas e oceanos, era muito


bonito. Em cada lado havia pequenos móveis aparadores com duas
gavetas e uma chaise long de couro preta. As paredes e portas
eram só de vidro. 

Havia uma porta para o banheiro e era lindo, a banheira e o


chuveiro ficavam do mesmo lado. Ao fundo, o espelho e, do outro

lado, as pias, com mais um espelho e um armário com portas e


gavetas.

Me vi tirando milhares de fotos naquele espelho, que ocupava


a parede inteira.

Os mármores rajados da pia e as portas brancas do armário,

tornaram aquele banheiro a minha parte favorita da casa, isso, até

eu abrir a porta do closet. Ah, que lindo! Era muito maior que o meu
na casa dos meus pais. Sempre quis um closet daqueles. 

Empolgada, aproveitei para arrumar as minhas roupas e o

lado bom de ter ficado em um hotel, era que a maior parte delas

estavam limpas. 

Gastei o meu tempo dentro do closet e quando acabei, já

passava da hora do almoço. Meu estômago faminto me alertou que

se não comesse logo, iria comer a geladeira inteira. Com as roupas

sujas nos braços, coloquei no cesto dentro da lavanderia e em


seguida, abri a geladeira, pegando uma das caixas do casamento.
Esquentei um pouco de risoto, comi, lavei a louça, peguei a

minha mochila e voltei para o quarto porque ainda tinha muito o que
fazer.

Guardei os meus produtos íntimos e maquiagens nas gavetas

vazias, mexendo nas coisas de Damon e achei um monte de

camisinha em sua gaveta ao lado da cama. Esperava que aquele


quarto não fosse o seu abatedouro. Os lençóis pareciam limpos e

bem cheirosos. 

Tomei banho, vesti um pijaminha rosa e me deitei na cama


com o meu telefone. Enviei uma mensagem, apenas um emoji com

a boquinha para baixo. Ele havia ficado online uma hora atrás, mas

não me sinalizou nada.

Conversei com a minha mãe por um tempo e peguei no sono


no meio da conversa. Abracei o travesseiro, ainda exausta,

pensando no quanto meu casamento tinha sido perfeito, mas o

desaparecimento de Damon no momento que fui trocar de roupa, a

tensão de alguns homens e os cochichos quando o avô dele foi


embora com seus soldados foi bem estranho. 

A ausência dele só me deu a certeza de que algo grave havia

acontecido.
Senti um par de mãos na minha cintura e abri os olhos,

virando-me na cama. Damon estava deitando atrás de mim e me

puxando contra o seu peito. Enfiou a mão na minha blusa, deu um


beijo no meu pescoço e virei o meu rosto. Ele beijou a minha boca

sem falar nada, avançando no beijo, nas mãos e eu estava tentando

acompanhar.

— Damon? — chamei baixinho, sentindo que ele não estava

em seu estado normal. Havia uma energia pesada sobre ele e


apesar de estar sempre alerta, não era assim. — O que aconteceu?

— Coloquei a minha mão em cima de seu coração.

— Eu voltei.

— Estou feliz por isso. Está tudo bem agora? — Olhei em


seus olhos, passei a mão por seus cabelos, que estavam molhados.

Não o ouvi tomar banho e ao sentir suas pernas nuas, percebi que

não estava usando uma calça, nem uma bermuda, mas também não
estava nu. 

— Sim.

— Vai me falar o que aconteceu?

— Resumidamente, digamos que coloquei algumas coisas


em seus devidos lugares, fiz uma pequena limpa e agora, todos
sabem quem é que manda e não estão mais preocupados com as

minhas supostas fraquezas. 

— Você não dormiu? — Suas olheiras não estavam nada

discretas.

— Cheguei agora, tomei banho lá embaixo e subi, peguei

uma cueca e vim te acordar. Não resisti, estava muito bonita


dormindo e eu precisava te tocar. — Voltou a me beijar. Ele avançou

em mim, ficando por cima e me levando para o meio da cama sem

parar de me atacar. 

Senti-lo tão intenso me fez tremer e corresponder a seu beijo.


Afastei as minhas pernas e ele pressionou em mim de uma maneira

tão deliciosa que gemi. Damon enfiou as mãos na minha blusa,

subindo para os meus seios e acariciando os mamilos. 

Tímida, segurei a barra da minha camisetinha e puxei. Ele se

afastou para me dar espaço para tirar e eu mal encostei minhas

costas na cama quando ele agarrou meu peito, apertando e

descendo a boca, chupando.

Uau! Agarrei os lençóis, surpresa e empurrei o meu quadril

para cima. Damon gemeu contra meu bico, segurando o meu quadril
e literalmente se esfregando em mim. Seu pau estava muito duro e

fiquei nervosa, porque iria doer e eu não queria que doesse. 

Sentindo a minha tensão, voltou a me beijar com calma, me

tocou com cuidado e me perguntei se ele queria sexo


imediatamente. Como aquilo iria acontecer assim?

— Gio? — Damon mordeu o meu lábio e acariciou meu

braço. — Calma... Nós não vamos pular para o sexo. 

— Não? — O alívio ficou evidente no meu tom de voz.

— Gio, bella... Você precisa estar mais relaxada e eu acho

que precisaria conhecer algumas coisas antes.

— Coisas? — falei baixo, meio gemendo, porque ele voltou a

chupar o meu peito. — Que tipo?

Damon mordeu o lábio e me deu um sorriso muito maldoso.

— Quero chupar a sua buceta, ver a sua boquinha engolindo

o meu pau, te fazer gozar até ver estrelas e acariciar essa bucetinha

até escorrer... Ver você implorando por mim. Quero esse olharzinho
safadinho no meu pau quando gozar em você. E aí sim, nós vamos

fazer um amor bem gostoso... — Deu uma boa lambida no bico e


pressionou seu pau ainda mais duro em mim. — E quando você se

acostumar, nós vamos foder muito gostoso. Entendeu?

Balancei a cabeça com a garganta seca. Para falar a


verdade, meu cérebro deu um giro de 360º completo. Lambi os

meus lábios, meio ansiosa com a ideia de experimentar algo com

ele. 

— E o que nós vamos fazer agora? — Minha voz era um

sussurro.

— Tudo o que você quiser. O que quer que eu faça? — Meu

coração acelerou e as bochechas esquentaram. — Ou eu posso


começar chupando essa bucetinha linda?

Caramba! Olhei em seus olhos e apenas balancei a cabeça,

bem, por que não? Damon não conseguia esconder a satisfação.

Pensei que ele fosse direto lá embaixo, mas na verdade, ele voltou
a me beijar e nos rolou de modo a me deixar por cima. 

Dobrei as minhas pernas e montei em seu colo. Apesar das

mãos na minha bunda, ele ficou apenas me olhando por um tempo

antes de subir as mãos pelas minhas costas, passeando pelos


braços, ombros e descendo para os meus seios.

— Sua pele é perfeita...


Minhas mãos estavam apoiadas em seu peito. Damon tinha
muitas tatuagens, algumas orações escritas em italiano, o símbolo

dos Galattore, alguns números que não fazia ideia e ele não

respondeu quando perguntei. Havia cruzes, caveiras, terços... 

Eram muitas tatuagens e de uma maneira distorcida, eram


bonitas. Seu peitoral era firme, todos os músculos eram trabalhados

– da cabeça aos pés. Ele não era do tipo forte em cima e magro

embaixo, era proporcional e alto. 

Damon poderia ser um jogador de futebol americano se

quisesse. Era chamativo. A sua pele era bem morena comparada à

minha, mas eu era do tipo que ficava bronzeada fácil e logo não
haveria diferenças entre nós. 

Havia marcas de cicatrizes em seu peito e na barriga, duas

delas eram claramente por ferimento a bala. Eu sabia como era,


porque meu pai tinha três e lembrava o quanto a mamãe cuidou
dele. Me inclinei sobre seu peito e beijei uma das cicatrizes. 

Subi beijos pelo pescoço, mais ousados, provocantes, como


ele fazia em mim com uma pitada de instinto. Parecia dar certo,

porque ele segurou a minha bunda e soltou uma respiração pesada,


mas eu não ia parar até arrancar um gemido. 
Merecia saber se o afetava ao ponto de perder o controle.
Chupei o lóbulo de sua orelha, devagar e rebolei contra a sua
ereção. Não era algo que eu sabia fazer com maestria, precisava

vencer o medo dentro da minha cabeça, mas era gostoso.

Não ganhei um gemido, mas ganhei uma virada brusca na


cama. Caí deitada e soltei uma risadinha nervosa. Ele engatou os

dedos no meu short e puxou pelas minhas pernas junto com a


minha calcinha, jogando por cima dos seus ombros. Caiu longe. 

— Você é tão linda, tão perfeita... 

Mordi o meu lábio e olhei para sua cueca.

— Pode tirar? — Apontei discretamente.

— Quer que eu fique nu? — Arqueou a sobrancelha e


assenti. 

Estava nua e não queria me sentir estranha por isso, até


porque a única oportunidade que tive foi durante o nosso banho e

eu estava tensa demais para poder reparar tudo. Damon tirou a


cueca e eu não desviei os olhos do seu pênis. Me apoiei pelos
cotovelos, olhando, estava muito duro, com a ponta brilhando e as

veias salientes... 
— Quer tocar? Meu corpo é seu, Gio. Você sempre pode me
tocar, sou seu marido. Não precisa ficar tímida, não comigo. — Olhei
em seus olhos e senti segurança nas palavras, sentei e segurei seu

pênis com calma. Queria sentir como era e ele fechou os olhos,
arrepiado. 

Pensei que fosse me deixar explorar mais, porém, voltei a


deitar na cama. Percebi que estava mais calma, as batidas do meu
coração estavam aceleradas pela excitação que corria nas minhas

veias e não por medo. Damon não iria me machucar como muitos
maridos faziam com suas esposas na noite de núpcias. Ele estava
sendo calmo e gentil – do jeito dele.

Descendo beijos pela minha barriga, ele propositalmente

beijou as minhas costelas e sorri, tremendo e ficando arrepiada. Ele


afastou os meus joelhos, se encaixou entre as minhas pernas,
lambeu meu umbigo e deu uma suave mordidinha na minha pele.

Ergueu o rosto e mordeu o lábio.

— Afaste esses lábios para mim — pediu e eu pensei que


minha circulação sanguínea fosse explodir. Ele ia me matar. Desci

minha mão e afastei meus grandes lábios, sentindo a umidade. —


Linda pra caralho... — Caramba, eu estava pulsando. 
Damon me lambeu, olhando em meus olhos e tudo o que um
dia pensei sobre como era o sexo oral, ficou esquecido no fundo da

minha mente. Era uma sensação totalmente nova, energizante,


intensa. Agarrei os lençóis, com a mente em branco, incapaz de
formar qualquer frase coerente com aquela sensação borbulhante

crescendo em mim. 

Já havia me masturbado milhares de vezes, mas era diferente

e a língua dele... Era como ele me beijava, intenso, avassalador,


explorando meu clitóris com prazer.

Coloquei a minha mão em seu cabelo quando senti que


estava demais, mas era só uma coisa louca que me fazia contorcer.

Ele tocou a minha entrada, brincando, quando empurrou dentro, foi


desconfortável, mas não foi fundo e não causou muita dor. Era muito
mais prazer do que dor. 

O quarto estava preenchido com meus gemidos e os sons da


boca dele em mim, acho que as paredes tremeram quando gozei.
Foi muito mais intenso que todas as outras vezes durante nossos

amassos.

— Caramba... — Suspirei e ele estava parado, me olhando,


mas seu dedinho safado ainda brincava com o meu clitóris. — Por
que está me olhando assim?

— Você gozando é uma delícia. E agora, vou gozar em você. 

Eu estava, literalmente, com as minhas pernas bem abertas e


ele entre elas, inclinado sobre mim, apoiado com uma mão e a
outra, segurando o seu pau. Damon esfregou em mim, usando a

cabeça para espalhar a minha umidade, soltei um gemido e ele


também, o que foi a coisa mais sexy e erótica que ouvi na minha
vida. 

Observá-lo tocando uma punheta, e em seguida gozando, foi


único. 

Ele mirou para gozar bem em cima, como seria se fosse o


resultado de uma transa com penetração. Eu sabia que ele daria um

jeitinho de me marcar como dele. 


08 | Gio.

Balancei as minhas pernas, sentada no balcão da cozinha,

comendo algumas uvas enquanto Damon, vestido apenas com uma

calça de pijama, estava enfiado dentro da geladeira, procurando

algumas coisas para comermos. 

O apartamento estava praticamente todo escuro, nós


descemos depois que meu estômago quase me comeu por dentro.
Ficamos na cama por um tempo e ele me fez gozar mais uma vez,
ainda não querendo terminar o nosso momento. 

Estava com uma camisola que deveria ter usado na minha

noite de núpcias, então, decidi que seria um desperdício deixá-la


guardada para outro momento porque merecia me sentir bonita na

noite que eu quisesse. 

Damon colocou alguns queijos no balcão, já tinha tirado a

caixa do nosso casamento e eu estava atacando o que tinha ali. Ele

foi até a despensa e pegou pães, mel e mostarda lacradas.

— Quer vinho?
— Sim, por favor. — Cruzei as minhas pernas e tentei cortar

um pedaço do queijo, mas aquele era muito duro, então, peguei


uma fatia do brie, joguei mel em cima e enfiei na boca. Delicioso.

Damon serviu vinho nas taças, me entregando uma e pegou uma

faca maior, cortando o queijo que não consegui com muita


facilidade. — Eu quero um pedaço! — Ao invés de comer o que

cortou, me entregou e pegou outro para si. Não gostava muito

daquele queijo, era rançoso, mas eu estava com fome. — Obrigada.


— Beijei os seus lábios e ele me deu um sorriso raro.

Nós comemos um monte de besteira, bebi tanto vinho que já

estava soltando risadinhas por qualquer besteira. Damon parou na


minha frente, tentando não rir de mim e  passei as minhas pernas
por sua cintura quando me puxou para si. Arrastei minhas mãos por

seu peitoral nu e beijei-lhe a boca, toda animadinha. Apertei a sua

bunda e ele saltou, surpreso.

— Você está muito soltinha.

— Culpa do vinho.

— Estou percebendo. — Provocou e voltou a me beijar.

Puxei-o muito bruscamente e quase derrubei a taça, mas

deixei cair algumas facas e torradas. Damon se afastou, riu e olhou


a bagunça. Ignorando o que caiu, me pegou no colo e subiu a
escada. Me jogou na cama e deitou por cima, voltando a me beijar e

depois, rolou para o lado, puxando o edredom sobre nós porque o

quarto estava na climatização perfeita para dormir. Com o tanto de

vinho que ingeri, acabei dormindo sem nenhuma ajuda.

Era estranho acordar com outra pessoa na cama. Damon

estava dormindo com um braço atrás da cabeça e outro estendido, a


sua mão descansando na barriga. Estava todo descoberto e olhei

para o volume em sua calça. Estendi a mão até lá e toquei. Ele abriu

os olhos lentamente, como se já estivesse acordado e sorriu, com

uma expressão sonolenta. Colocou a mão em cima da minha e deu

um aperto. 

Com a minha palma, explorei seu comprimento, sentindo-o

crescer ainda mais com o meu toque. Beijei-lhe o ombro e ele virou,

ficando de frente e me dando um beijo calmo, agarrando meu

bumbum. Eu sabia que, definitivamente, aquela área era a fraqueza

do meu marido. Não conseguia manter as mãos longe. 

Ele ergueu a minha perna, colocando-a ao redor de sua


cintura e me apresentou o que eu apelidei de versão favorita de bom

dia.
Infelizmente, não me casei com um homem qualquer e ele

precisou sair logo após o nosso café-da-manhã, surpreso com as


minhas habilidades na cozinha. Conheci Marcela, a mulher que

cuidava do apartamento com auxílio de duas outras mulheres, que


não iriam naquela semana. Ela também cuidaria das refeições. 

Damon não queria nenhuma empregada fixa e muito menos


morando conosco até que tivéssemos filhos, o que para nós dois,

não aconteceria tão cedo. 

Marcela deveria ter a idade da minha mãe, era bem baixinha,


gordinha, usava os cabelos presos e tinha um sorriso fácil. Mal falou
comigo em inglês e deveria ser uma das muitas mulheres

extremamente tradicionais em manter a nossa língua ativa entre


nós. 

Eu não era americana, nasci na Itália e vivi lá até os meus

quatro anos, quando meu pai foi convidado para uma posição de
respeito aqui em Chicago. As irmãs da minha mãe foram enviadas
para se casar com homens que já estavam aqui, era por isso que

tinha alguns parentes na cidade.

Meus pais tiveram um filho antes de mim, mas ele faleceu ao


nascer, com uma doença cardíaca grave. Seu coração era muito
grande para o seu corpinho e apesar de todo tratamento, ele não

resistiu. Minha mãe levou anos para considerar a ideia de


engravidar novamente, na verdade, havia uma pressão para que

eles tivessem filhos. Então, eu nasci. Uma menininha.

Marcela falava pelos cotovelos e eu percebi que estava muito


curiosa sobre mim, falou sobre o meu corpo porque estava de short
jeans curtinho e uma camiseta, o que me deixou desconfortável

durante o almoço. Enrico entrou para me entregar uma caixa e


mandou que ela parasse de me fazer perguntas e ir trabalhar, que

Damon não teria dificuldade de trocá-la por outra pessoa. 

Continuei comendo, fingindo que eles não estavam lá e subi


as escadas com a minha caixa, para fazer as malas. Sentei-me no
chão do closet, abrindo a caixa e havia um bilhete da minha mãe

dizendo que estava me enviando umas coisas do meu quarto que


eu poderia sentir falta. 

Peguei a minha caixinha de joias, olhando alguns cordões e

anéis que adorava usar, meus cadernos, canetas coloridas e um


monte de livrinhos que eu amava quando criança. Ela deixou os
meus ursinhos e bonecas, acho que a minha mãe não teve tempo

para se despedir e lidar com a minha ausência em casa. Fui tirada


dela.
Esperava que Damon não se incomodasse que eu fosse visitá-
la de vez em quando. Entendia a sua resistência com o meu pai, eu
também tinha, mas a minha mãe era uma mulher como muitas do

nosso meio: extremamente submissa e às vezes, omissa. 

Guardei as minhas coisas e comecei a arrumar minha mala.


Damon me pediu para preparar uma mala pequena, porque era
necessário comprar roupas e itens pessoais para ficar na Itália, já

que estaríamos indo e vindo muitas vezes nos próximos meses.


Escolhi roupas para os primeiros dias, olhando a previsão do tempo

de lá e me organizei para ir às compras em Milão, porque eu era


mimada e obrigaria Damon a continuar me mimando. 

Enviei uma mensagem e ele respondeu “ok, poderemos


passar dois dias em Milão e então, iremos para casa”. Quase gritei

de alegria. Só por isso, banquei a boa esposinha e arrumei a mala


dele. Fui um pouco chata, enviando algumas mensagens para ter

certeza que estava tudo certo, não queria que ele ficasse sem as
coisas que gostava de usar. Estava sendo boba e preocupada,

talvez já estivesse me tornando o tipo de esposa idiota.

Deixei as malas arrumadas no canto, organizei a minha mala

de mão e a minha bolsa. Meus documentos e passaporte ele levou


bem cedo, meu sobrenome havia mudado, não era mais uma
Vacchiano, e sim, Giovanna Maria Di Galattore, mas os documentos
novos chegariam em dez dias e seriam enviados diretamente para a
Itália. 

Meu sobrenome não tinha tradução para o inglês e não

tínhamos um nome americano. A imprensa costumava chamar o


meu marido apenas de Damon Galattore, mas a escrita e pronúncia

correta era Damon Francesco Di Galattore. Quando a minha família


se mudou, a famiglia já existia com muitas conexões e o processo

para imigrantes era muito mais rígido para países da américa central
ou sul.

Meu telefone tocou e era Bianca, minha prima. 

— Oi, noivinha. — Sua voz estava calma.

— Como você está?

— Enjoada ainda. Giulio acredita que devo fazer um teste,

mas não quero. É simplesmente frustrante ter tantos negativos. Sei

que para ele não faz diferença, porque já tem dois filhos e a sua
filha já lhe deu um neto, mas eu não tenho filhos e sempre quis... —

reclamou um pouco e me solidarizei por um tempo, mas eu não

tinha ideia do que dizer. Bianca era mais velha que eu apenas por
dois anos e se casou com a minha idade. Não podia imaginar a
ideia de ter filhos. — Pensei que fosse te ver hoje no velório. Foi

bem triste. A Sra. Marrone estava desolada... Ouvi Giulio dizer que
as coisas ficariam mais calmas agora, mas eu não entendi nada.

Marrone se matou, mas Esposito desapareceu e Catarina não

atende o telefone. Meu pai me disse para dar um tempo... Esposito


traiu a família. Me perguntei se o Sr. Marrone se matou mesmo... —

Bianca tagarelou sem parar. — Encontrei com o seu marido no

velório e ele disse que você estava indisposta, por isso liguei. Está

tudo bem?

Não sabia que o Sr. Marrone havia morrido. Ele era irritante,

mas gostava da esposa dele. Por que Damon não me disse que o
homem morreu? Houve traição na família. Então, se o velório foi

hoje, o homem deve ter morrido ontem ou... na noite do meu

casamento, após a festa, porque eles estavam lá. 

— Sim, acordei me sentindo mal. Acho que exagerei em tudo

que comi no casamento e toda ansiedade dos preparativos. Damon

optou por me deixar descansando para que não me vissem abatida.


— Menti meio confusa, ainda não sabia por que ele escolheu não

me levar e muito menos  não me contar. Pior de tudo, não podia

dizer que Bianca me contou ou ele poderia dar um jeito de inibir o


nosso contato.
— Faz um chá e descansa, você parecia uma pilha antes e

durante a festa, eu não tive metade da sua criatividade e disposição.

Foi um casamento memorável, todos estão falando muito bem, até


as matriarcas mais chatas, dizendo que finalmente a família teve

uma festa onde todos puderam se divertir, sem esquecer da nossa

tradição e que Damon foi muito generoso como marido, permitindo

que os convidados saíssem com tantas coisas... — Bianca era muito


cabeça de vento. Sim, Damon permitiu que os convidados levassem

muita coisa, mas aparentemente alguns também saíram sem a vida.

— Claro que os seus vestidos deram o que falar. Soltei muita risada
com a mamãe fazendo sinal da cruz sobre o quanto você estava

sensual. Ela disse que Tia Lucinda te prendeu demais e quando

você ficou solta, quis logo mostrar o corpo.

Dei uma risada alta, que ecoou no quarto e olhei para a porta.

Damon estava encostado na soleira, divertido e curioso. Como ele

usava preto o tempo todo, não sabia se era pelo velório ou a sua
roupa do dia a dia. 

— Bia, meu marido acabou de chegar. Nos falamos depois,

tá? Te amo, beijos! — Encerrei a chamada e olhei para ele. — Tudo


bem?

— Era Bianca?
— Sim. Estávamos falando sobre o casamento, a fofocada

toda, os comentários sobre os meus vestidos e enfim, aquele


feedback de festa. — Fiquei de pé na sua frente.

— Só isso? — Conferiu. Ele estava preocupado que eu


soubesse o que aconteceu?

— Sim, papo de mulher. Nossas coisas estão prontas,

quando iremos viajar? — Desviei o assunto para a nossa lua-de-


mel. 

Damon sorriu e colocou meu cabelo atrás da minha orelha,


me dando um beijo suave nos lábios. Abracei-o, derretida com o seu

toque e ele enfiou as mãos nos bolsos traseiros do meu short.

— Minha linda esposa quer fazer compras  na cidade da


moda, então, nós teremos que sair um pouco mais cedo. Sairemos

essa noite, vamos passar dois dias em Milão e em seguida, vamos

para a Sicília. 

— Tenho o melhor marido do mundo. — Brinquei e fiquei na

ponta dos pés, beijando os seus lábios — Ansiosa para voltar para a

Itália, faz tantos anos! Tenho tantos lugares para ir... — Suspirei,
empolgada e olhei. — O que fez o dia todo?

Damon ainda estava me avaliando.


— Trabalhei. — Me deu um sorrisinho torto e um tapa na

bunda. — Trouxe algo para você. Vem ver. 

Na nossa cama tinha uma caixa preta enorme, com um laço


dourado e, animada, porque eu amava ganhar presentes, pulei na

cama e puxei a tampa. Tirei os papéis de seda, que revelaram uma

bolsa Chanel linda e uma caixinha de veludo, com um colar. Soltei


uma risada ao ver que o pingente era o nome dele, com várias

pedrinhas.

— Não seria melhor uma tatuagem? — Olhei-o meio


exasperada.

— Não quero nenhuma marca sobre a sua pele perfeita, mas


eu adoraria que usasse algo com o meu nome. — Seu sorriso era

até diplomático.

Só faltava me puxar pelos cabelos enquanto batia no peito


gritando MINHA MULHER, de um jeito bem homem das cavernas. 

— E o que você usaria com o meu nome? — Coloquei as


minhas mãos na cintura. Ele era tão engraçadinho.

Damon abriu um sorriso zombeteiro, abrindo a calça. Ele tirou

o cinto e abaixou o zíper. Me perguntei se iria simplesmente colocar


o pênis para fora, mas, puxou a camisa de dentro da calça, abriu os
botões e o idiota estava fazendo suspense só porque eu estava

atenta. Não disfarcei o meu olhar de prazer com seu peitoral, mas
um curativo me deixou preocupada. Ele se machucou? Que diabos

estava acontecendo? 

Foi quando ele puxou o esparadrapo e revelou uma


tatuagem...

— Damon! 

— Eu só te pedi para usar um colar. — Sorriu e bati em seu

braço, admirada com o meu nome. Ele escreveu “GIO” em letras

maiúsculas e cada uma tinha flores de cerejeira envolvidas. Apenas


as flores eram coloridas, em um rosa muito suave e apesar de não

ser muito grande, ornou perfeitamente com as tatuagens ao redor.

— Gostou?

— Claro que sim, estava seriamente preocupada em como

marcar você, se bem que essas mulherzinhas que trabalham e

frequentam os seus clubes não se importam com nada. 

Damon soltou uma risada alta e bati exatamente onde estava

a tatuagem. Ele continuou rindo e me derrubou na cama com um


único movimento. Prendeu as minhas mãos em cima da minha

cabeça e imobilizou as minhas pernas. Não estava me machucando


e não fiquei assustada, só não era justo. Ele desceu a boca no meu
pescoço, me provocando e sorriu, mordendo minha blusa, puxando

para baixo até o meu peito ficar exposto. Chupou meu mamilo por

cima do sutiã de renda, balançando a língua de um lado ao outro. 

— Você é ciumenta, Gio? — Chupou meu peito e soltou com

um estalo.

Um gemido escapou dos meus lábios e abri os meus olhos.

— Sim. E eu não sou como a maioria das mulheres dessa


família. Se você me trair, se tiver uma amante e filhos fora do

casamento... ou o seu pau, a sua boca e as suas mãos tocarem

outra mulher, eu vou te matar. Irei me casar de novo e ainda o farei


novo chefe.

Damon me olhou incrédulo por um momento e depois soltou


uma gargalhada, sentando-se na cama. Cruzei meus braços,

cobrindo os seios. Fiquei séria para que ele entendesse que por
mais que não tivesse tamanho e nem peso para fazer tais coisas,
estava falando muito sério.

— Entendi, bella. Nada de mulheres... — Esfregou o nariz no


meu. — Apenas você, mia belíssima moglie. 
— Acho bom e não se ache por isso, porque não faz mais que
a sua obrigação. — Sorri e peguei a minha caixa de presente. —
Obrigada pelos presentes, eu adorei. — Beijei sua boca e saí da

cama, deixando-o com as sobrancelhas arqueadas e o olhar


surpreso para trás. 

 
09 | Damon.

Desviei o olhar do homem sentado à minha frente, para Gio,

que andava próxima ao parapeito do bar que estávamos. Ela

lambeu a bola de sorvete, aproveitando o sol e se inclinou para

olhar para baixo. Seus cabelos estavam presos no alto, embolados

e a franja caída no rosto. 

Estava linda, com uma blusa branca, justa e eu sabia que

não havia sutiã porque a vi se vestir naquela manhã. A saia rosa era
cheia de flores, que ia de sua cinturinha fina até os pés, como
sempre, com um lascado até o meio da coxa. De rasteirinhas, ficou

na ponta dos pés para ver algo que lhe chamou atenção no
horizonte.

Nós passamos dois dias em Milão fazendo compras e eu

pensei que ela nunca teria o suficiente de roupas. Tentei


acompanhá-la, mas em alguns momentos precisei me afastar para

verificar como andavam os negócios na cidade. Me reuni com

associados para o jantar enquanto ela ficou no hotel descansando, e


quando cheguei, estava dormindo tão pesado que não acordou até

o telefone despertar para tomar seu anticoncepcional.


 Ela ficou feliz em me ver ao lado e isso compensava a porra

do estresse que a reunião me causou.

Nós viajamos para a Sicília e Giovanna ficou encantada com a

casa da minha família, apaixonada pelo nosso quarto e se dedicou


em arrumar as milhares de coisas que comprou, isso porque ainda

havia uma quantidade que encomendou pela internet. A casa

passou por uma reforma intensa no último ano e levou alguns


meses, porque precisava de cuidados extremos. 

O lado externo estava muito bonito, bem cuidado, com um

jardim charmoso e a piscina estava ainda melhor.

Ela ficou em casa na última semana, sem me acompanhar na

rua, mas chegou ao seu limite de tédio e como os meus


compromissos do dia eram tranquilos, deixei que me

acompanhasse. Enrico a levou para passear em pontos turísticos e

nos encontramos para almoçar. 

Passeei com ela por duas praças e me submeti a todas as


fotografias que ela quis, porque Giovanna era até bem calma, não

ficava me ligando, mandando mensagens ou sendo grudenta. Ela se

distraía muito bem sozinha.

Voltei a minha atenção para o homem na minha frente. 


— Tio... Eu amo e respeito o senhor. — Bebi a minha água. —
Mas eu não poderia dar as costas a essa família nesse momento.

Trair Juliana seria dar as costas. Parece que o senhor esqueceu

que boa parte do nosso dinheiro está relacionado com a Villa

Valentinni. 

— Eu amo a minha nora, mas ela é uma mulher. Mulheres não

mandam em nossas famílias... elas nos dão filhos! — Ele fechou a


mão em punhos. — E tudo que ela quer fazer...

— E daí? O senhor trouxe estrangeiros para a nossa família!

Se associou a um psicopata que nos expôs no passado e ainda por

cima, fez negócios com Oliver King, nosso inimigo por anos! Você

abriu precedente para as mudanças e meu primo fez acontecer, mas


sem perder nossa cadeia de comando! — Empurrei a minha taça,

porque aquela conversa estava terminando. — E eu vou deixar uma

coisa muito clara... espero que nenhum de vocês esteja por trás de

tudo isso. Ou não vai sobrar pedra sobre pedra. 

— Não arquitetaria para matar o meu filho.

— Nós dois sabemos que não é bem assim. E se fosse para

Juliana estar naquele carro? — Coloquei uma nota em cima da

mesa. 
— Seria a mesma coisa. Enzo e Juliana eram um só... 

Não falei nada e simplesmente saí da mesa. Enzo desconfiava

do pai, mas não tinha como provar. Até o momento, nenhum de nós

tinha. Meu tio Lorenzo não se aposentou por livre e espontânea


vontade. Ele foi aposentado à força, porque trouxe para a família

associados que sabiam demais. 

Enzo assumiu o controle de danos e apesar de ter mantido


todas as sociedades e transformado em um negócio muito lucrativo,

a maneira como meu tio fez foi perigosa para todos nós. Meu avô e
meus tios não esconderam que estavam irritados e insatisfeitos com
Enzo. Era extremamente normal em uma família como a nossa ter

um monte de peste ambiciosa querendo o poder, traições eram


comuns apesar de irritantes. 

Só era fodido estar nesse meio e parecia que tudo que meu

avô e os meus tios queriam era nos manter brigando. Eu tinha a


desconfiança de que havia uma sujeira grande que eles queriam
esconder.  Seja lá o que realmente fosse, não fazia a mínima

diferença agora e era o momento de eliminar a ameaça: meu tio


Alonzo. 
Talvez assim, meus tios ficassem na deles e entendessem os

seus devidos lugares. O tempo deles havia acabado. Ou eu poderia


muito bem esquecer que havia laços de sangue entre nós e eliminar

um a um. Não tinha a paciência e a diplomacia de Nova Iorque.

Meu tio saiu do bar com um guarda-costas. Por segurança,


meus tios e avô estavam sendo monitorados. Juliana e eu
decidimos investir pesado em tecnologia para manter a velha

guarda venenosa em rédea curta. 

Na noite do meu casamento, ao invés de estar na cama com a


minha esposa, eu tive que fazer os meus soldados sangrarem para

prometerem lealdade a mim. Fui obrigado a fazer com que chefes


se matassem por pensar em me trair. Tive que matar alguns filhos
da puta por darem corda para as ideias malucas de tirar o meu

poder. Foi necessário lembrar à famiglia que eu não me intimidava


com a morte. 

Eu gostava dela. 

Apesar de não ter um pingo de paciência com torturas, não me


importava em manter alguns filhos da puta gotejando sangue até

abrir a boca e falar o que precisava ouvir. Foi uma noite intensa e
como estava muito puto por perder Giovanna em sua roupinha de
núpcias, que era o meu maldito direito como marido, passei muito
tempo com muito macho chorando e implorando pela vida.

Era o momento de ajustar os negócios na Itália, reafirmar o


poder, colocar alguns associados abusados em seus devidos

lugares e mostrar para a famiglia que apesar de termos uma mulher


controlando o dinheiro, eu estava no topo da cadeia de comando, a
lei era minha. Não dela, não de Enzo, mas sim, minha. 

Passei a mão em meu pescoço e olhei para a beleza da minha

mulher, imediatamente me acalmando.

Giovanna ainda estava apoiada no parapeito, olhando para a


cidade e lambendo a sua bola de sorvete. Parei atrás dela,
abraçando o seu corpo e ela me olhou, sorridente, com a boca suja.

Lambi o seu lábio, chupando um pouco do sorvete e a safadinha


encheu a língua, empurrando na minha boca. Aquela era uma

excelente maneira de chupar um sorvete de baunilha.

— Vamos embora?

Gio me deu um olhar animado.

— Podemos ir à praia? Só nós dois?

— Sim, podemos. — Beijei a sua bochecha e me afastei,

segurando sua mão.


Nós andamos até o carro com Giacomo e Enrico. Meu irmão
me deu um aceno que tudo estava bem e seguimos para a minha
casa, que ficava bem afastada da cidade. Nós morávamos em um

dos lados mais altos, próximo ao mar, mas não das praias
principais. Dava para ver o oceano do nosso quarto, porém, era uma

caminhada longa e não tinha acesso de carro. 

— Quando criança, costumava tomar banho em uma


pequena enseada que se criava entre as pedras em uma das trilhas.

Andava por trinta minutos, mas era muito divertido.

— E você ia sozinho?

— Na verdade foi Sandra que me mostrou o caminho. Ela era


divertida naquela época, depois ficou insuportável e intrometida.

Giovanna me deu um tapinha na perna, rindo.

— Deixa a sua irmã, ela é adorável.

— Se isso significa ser intrometida... 

Chegamos em casa e Nina, a governanta, nos recebeu com

alegria, dizendo que o jantar ficaria pronto às nove, como Giovanna


havia pedido. Não sabia que a minha esposa tinha solicitado um

horário específico para o jantar, mas eu não ia me meter naquilo.


Enquanto ela se vestia para a praia, fiquei no escritório olhando os

meus e-mails. Giovanna me gritou e bateu o sino. 

Inacreditável. 

Apareci no corredor e ela riu, parando de tocar.

— Só terei poucas horas na praia, vá trocar de roupa! —

Apontou para a escada.

— O sino é para anunciar as refeições ou incêndios. 

— Eu vou incendiar a casa se não for à praia. — Sorriu.

Subi a escada, entrei no closet e tirei a minha roupa. Vesti a

sunga, uma bermuda e enfiei uma faca atrás, a arma no coldre e


separei um rolo de dinheiro. Embora fôssemos em uma praia

deserta bem próxima, eu poderia levá-la para comer alguma coisa

se fosse necessário. Desci a escada e ela estava ficando na ponta


dos pés para tocar de novo.

— Te peguei! — falei alto, ela pulou e quase caiu na varanda.

— Engraçadinha.

— Só para te apressar. — Andou em minha direção,

praticamente pulando em seu vestidinho azul. Então pegou a bolsa.


— Dai, dai! 
Puxei as chaves do carro e ela entrou no banco da frente,

colocando a sua bolsa nos pés, prendendo o cinto e colocando a

perna para cima. Não levei muito tempo para cair na estrada que
levava a uma das praias mais vazias da cidade e como era dia de

semana, poderia estar bem deserta. 

Não era um pedaço de areia grande e por isso, não ficava na


rota da maioria dos turistas, na verdade, só alguns moradores dos

vilarejos locais que conheciam bem.

Estacionei bem próximo da descida e ela suspirou, encantada

com a beleza e o sol, que ainda estava firme naquele lado da pedra.

Nós poderíamos assistir ao pôr do sol antes de irmos embora. Sabia

que aquilo poderia ser uma coisa bem romântica e eu precisava me


esforçar para ser mais atencioso. Não entendia nada daquilo. 

Giovanna sequer me esperou sair do carro, pulando para o


lado de fora e eu fui atrás, apavorado que ela rolasse no barranco,

de tão rápido que chegou na areia.  Ela tirou duas toalhas de praia

da bolsa, forrando lado a lado, pegou um frasco de protetor solar e

me deu um sorrisinho, pedindo para tirar a minha roupa.

— Sério mesmo que vai ficar armado aqui? Não tem

ninguém... apenas nós dois.


Olhei ao redor.

— Sim.

— Não vai entrar no mar comigo? — Arqueou a sobrancelha.

— Vou guardar na sua bolsa quando for a hora.

— E como vou passar protetor solar em você? — Questionou e


respirei fundo. Tirei a blusa, guardei a arma e a faca na bolsa dela,

ainda desconfiado e me sentindo desconfortável. Me livrei da

bermuda e fiquei de sunga. Ela se aproximou e me lambuzou de


protetor solar, como se eu fosse uma criança. A minha própria mãe

nunca havia passado protetor solar em mim. Quando terminou, me

deu um beijinho nos lábios. — Minha vez!

Prendeu os cabelos usando um elástico que estava no pulso,

embolando todo no alto e tirou o vestidinho. Minha boca ficou cheia

de água. A parte de cima era um tomara que caia verde escuro com
bolinhas brancas e a calcinha, de tiras muito finas. Estava justinho

na frente. Peguei o frasco, enchendo a minha mão e espalhei com

cuidado nos braços, ombros, peito e barriga. 

Abaixei à sua frente, para espalhar nas coxas e pernas. Não

queria que ficasse vermelha e ardendo. Ela virou de costas e ficou

com a bunda bem na reta do meu rosto. Aquilo não era um biquíni,
era uma calcinha fio dental enterrada entre aquelas nádegas

redondas perfeitas e ainda bem que estávamos sozinhos ou eu ia

atirar em quem olhasse para ela. 

Passei protetor solar da sua cintura para baixo e dei um beijo

em cada lado. Espalhei nas suas costas, até o pescoço. 

Joguei o frasco na toalha e ela virou, me abraçando. 

Giovanna quis tirar algumas fotos e ela era muito chata com

aquilo, puta que pariu. Foi exigente sobre o ângulo, o lado que
favorecia a luz e fez milhares de poses. Com aquele micro biquíni,

aquelas fotos não iriam para as redes sociais e me ignorou quando

disse que não era para postar. Ela foi para o mar primeiro, soltando
um gritinho com a temperatura, mas mergulhou de cabeça, nadando

de um lado ao outro, aproveitando o oceano naquela pequena praia.

Quando emergiu, eu fiquei hipnotizado. Levantei do meu lugar


e dei mais uma olhada ao redor antes de entrar no mar e ir até ela.

Sorrindo, me recebeu de braços abertos. Abaixei o suficiente para

que montasse no meu colo, fazendo com que prendesse as suas


pernas em minha cintura. Naquela profundidade, podia ficar de

joelhos e virei, de modo que podia ver qualquer aproximação e

dependendo do qual fosse, seria fácil afundá-la. 


— Esse lugar é lindo. — Ela suspirou, agarradinha em mim.

— Não tanto quanto você. 

— Que clichê, marido.

— Você gosta... — Beijei seu pescoço, minhas mãos

espalmadas em sua bunda. 

Giovanna me deixava maluco. Nós ainda não havíamos

transado e eu estava louco para estourar aquela cereja, sentindo

uma falta do caralho de sexo, mas, ela era tão virgem quanto uma

freira. Apesar de ter uma noção básica sobre relações sexuais, não
tinha nenhuma experiência. 

Seria um hipócrita se quisesse que ela tivesse experiência, só


a ideia me fazia querer cometer um assassinato. Nos últimos dias,

avançamos para algumas bases orais, ela ainda não, mas estava

quase lá. Cada vez mais sentia que ela estava mais à vontade. Ela

não sentia medo ou rejeitava o meu toque. Gostava… e muito.

Começamos a nos beijar, entrando em uma pegação

desenfreada dentro do mar, meu pau ficou duro e cheguei a puxar o


seu top porque não podia resistir aos seus peitos. Giovanna estava

muito excitada e mal pensando direito. Parei antes que perdesse a

cabeça, voltamos para a areia e ela ficou deitada, com a bunda para
o alto, se bronzeando. Peguei o meu telefone e tirei uma foto dela e
outra, com a minha mão em sua bunda. Enviei a foto para o telefone

dela, só para provocar. 

Giovanna ficava maluca com a minha possessividade.

Virando de barriga para cima, me deu um olharzinho antes de


tirar a parte de cima do biquíni e atirou na bolsa, com um sorriso

satisfeito.

— Giovanna! — Peguei a minha blusa e joguei por cima dela.

— Estamos sozinhos! — reclamou e devolveu, jogando-a em

mim. — Não gosto de marca de biquíni em cima, ou eu vou fazer


isso aqui com você ou eu vou fazer na piscina de casa com seus

soldados andando por todo lugar. 

— Ou não vai fazer em porra de lugar nenhum! — Cobri os


seus seios.

Irritada, engatinhou na minha direção e sentou-se na minha

frente, encostando em meu peito, ainda com a minha camisa.


Estava tão puto que queria quebrar alguma coisa, mas esperei que
ela se acomodasse para ver o que iria fazer. 

— E se ficarmos assim? Eu vou estar com você, seu corpo me


protege da visão lá de cima e ainda posso me bronzear só um
pouquinho antes de irmos embora. Qualquer coisa, as suas mãos
são bem ágeis em me cobrir. — Fez um pequeno beicinho. Maldita
manipuladora com aquela vozinha doce, sendo manhosa. 

Giovanna era extremamente mimada, ela amava ser

idolatrada, receber presentes e elogios. Os pais a criaram com todo


mimo excessivo, mesmo que o pai fosse um merda, ele foi o típico

pai de menina – até ter o seu rabo como alvo.

Ela tirou a minha camisa de cima dela bem devagar e eu não


falei nada. Deitada em cima de mim, ficou só com a calcinha do
biquíni, os seios em plena exposição até que o sol foi embora, o

vento frio chegou e ela estremeceu, vestindo a minha camisa e se


embolando em mim. Fotografou o pôr-do-sol e montou em meu colo,

me beijando e tirando uma foto.

Decidimos ir embora quando o mar estava subindo e os


mosquitos atacando. Andei em alta velocidade pela estrada porque
estava muito escura e eu não queria ficar passeando. Giovanna não

reclamou sobre estar sem camisa, sem cinto e com a arma entre as
minhas pernas por todo o caminho até em casa. Ficou editando
fotos no celular e bocejando. 
Chegamos em casa e Nina já tinha se recolhido, deixando o
jantar pronto. Subimos para o nosso quarto, ela foi tomar banho e
quando entrei no banheiro, a primeira coisa que eu vi foi a

marquinha na bunda. Ela se bronzeava muito rápido. Tirei a minha


sunga, entrando no espaço e pelo jeito letárgico que estava agindo,

minha mulher estava caindo de sono. 

Comemos um delicioso spaghetti ai gamberi com vinho


branco na varanda do segundo andar. Dividimos uma sobremesa,
lavamos a louça, a deixando para secar e voltamos para o quarto.

— Você está com muito sono. — Empurrei-a suavemente para


a cama.

— Estou. — Bocejou e deu uma longa piscada.

— Deita... eu vou logo, prometo. — Beijei seus lábios.

Giovanna trocou de roupa, vestiu uma camisola tentadora e se


jogou por cima dos lençóis, abraçando um travesseiro e fechando os
olhos. Sorri e saí do quarto para a varanda, pegando o meu

telefone. Fiz uma ligação importante.

— Está tudo pronto? — Juliana atendeu ansiosa. — Ele


mordeu a isca. Assim que saiu do seu encontro, foi direto para a

casa do Cosimo e lá ficou por duas horas. Uma hora depois,


Giovanni percebeu uma movimentação dos carros indo em direção
ao aeroporto. Deve voltar para a Toscana.

— Seja como for, estou pronto. 

— Tem certeza de que vai dar certo? — Ela parecia meio


aflita. 

— Você quer descobrir quem matou o seu marido ou não? Eu

quero e com isso, foder com o filho da puta que matou o meu pai. 

— Fique seguro.

— Você também.

Encerrei a chamada e me perguntei se Giovanna sentiria

tamanha devastação com a minha morte como Juliana estava. A


mulher não estava apenas triste, ela estava tomada por desejo de
ódio e vingança. Entendia e apoiava, porque quanto mais furiosa

ficasse, mais a banda podre desapareceria e  mais seguros


ficaríamos com os nossos negócios. 

Juliana estava grávida e sairia de cena logo que descobrisse

quem matou o marido – ou quando não pudesse esconder a


gravidez. 

Ela ficaria segura em um lugar que apenas três pessoas

sabiam: uma estava morta e em breve, eu faria as novas


identidades de Giovanna. A mulher de um chefe se torna um alvo

quando ele morre ou é preso. Minha esposa merecia a chance de


ter uma vida fora desse mundinho. Meu primo garantiu isso para a
mulher dele e na época, precisou da minha ajuda, porque não podia

confiar em ninguém.

Mais do que nunca, podia entender o sentimento.

Eu tinha pouco mais de uma semana de casado e já estava...

preocupado.

 
10 | Gio.

Ouvi o som dos pássaros cantando próximo à janela e abri os

olhos, já sorrindo. Joguei as cobertas para o lado, saindo da cama e

estava sozinha, mas isso não era um problema porque em duas

semanas de casada, eu sabia que Damon acordava muito cedo e

dormia muito pouco, com um sono extremamente leve. 

Era muito comum entre os homens da família, em específico

aos que foram iniciados tão cedo quanto ele. Estava aprendendo a
tomar cuidado com alguns barulhos dentro do quarto para não o
assustar.

Parei na porta que dava para a varanda, admirando a beleza.

Era um monte de verde, começando pelo jardim muito bem cuidado


da propriedade, algumas árvores que marcavam o fim do terreno, aí

vinha um descampado verde, alguns pés de uvas bem desenhados


e eu podia ver até o fim do azul do mar se juntando ao céu. 

Era perfeito. 

Encostei-me na porta, respirando o ar puro e ainda mais


apaixonada por aquele lugar. Não me importaria de morar ali, era
muita paz e tranquilidade.

Fui ao banheiro, seguindo a minha rotina matinal e escolhi um

par de biquíni porque ficaria na piscina e sairia para explorar ao

redor mais tarde. Vesti um short jeans e uma camisa de praia que
parecia social, mas era bem larga, havia comprado em uma lojinha

na beira da praia. 

Arrumei a minha bolsa com tudo que iria precisar e entre as


muitas mensagens não lidas, tinha uma do meu marido, me

desejando um bom dia e mais uma vez, pedindo para que não

saísse de casa. Desci a escada e fui direto para a cozinha. 

A casa era enorme, antiga e preservava a arquitetura antiga

da Itália. Era um casarão de seis quartos, todos suítes, milhares de


salas, uma capela, um armazém de vinhos e um subsolo de

produção que atualmente servia para outras coisas... eu era proibida

de pisar lá. Damon usou exatamente aquelas palavras, mesmo

assim, nem que eu tentasse, as entradas eram protegidas com

senhas. 

O escritório tinha a mesma entrada bloqueada como na

cobertura, mas Damon costumava deixar a porta aberta sempre que

eu podia entrar. Quando estava fechada, era para mandar uma


mensagem porque ele poderia estar com alguns dos soldados lá
dentro, em alguma conversa que não era do meu interesse. 

— Bom dia, Nina! — Entrei na cozinha animada.

— Bom dia, bambina. — Sorriu e estava com um peixe enorme

em uma travessa. — É para o jantar. Seu café da manhã foi servido

na mesa do quintal, onde você tem gostado de comer.

— Obrigada, Nina. 

Sentei-me para comer, dividindo minha atenção com as

mensagens, respondi todas que estavam pendentes e olhei minhas

redes sociais. As minhas fotos do casamento estavam recebendo

muitas curtidas e comentários. Decidi que já havia postado o


suficiente, então, poderia começar a postar algumas que estava

tirando na Itália. Postei no stories as fotos de quando fui à praia com

Damon e a última, era minha deitada, a mão dele cobrindo a minha

bunda. 

Escrevi assim “imagina se eu não teria um marido possessivo”,

só para ser engraçadinha. Terminei de comer, recolhi as coisas e


Nina ficou brigando comigo sobre lavar a louça, mas eu ficava me

enchendo de coisas para fazer porque senão ficaria entediada.

Redecorei a casa, troquei móveis de lugar, usei a impressora do


escritório para imprimir um monte de fotos e ainda me dei o trabalho

de colocar películas em cada uma delas para durar mais ao ficarem


expostas ao sol.

— Vou ficar na piscina.

— Eu te chamo para almoçar, você demora muito a comer e


isso não faz bem. E aqui, congelei essa garrafa de água. 

Nina estava comigo há apenas alguns dias e já sabia que

bebia pouca água, simplesmente esquecia, lembrava quando sentia


sede. Peguei a garrafa congelada e levei para a área da piscina.
Devido à minha ameaça – que eu jamais iria cumprir – sobre tirar o

biquíni na piscina, os soldados não circulavam por lá quando eu


aparecia. Enrico sinalizava e eles saíam. 

Tirei a minha roupa e me deitei na espreguiçadeira, sem

passar o bloqueador. Soltei as tiras, ficando de bruços e fiquei um


tempo pegando sol, nadando de um lado ao outro, me sentindo
entediada. 

Damon me contou sobre uma enseada que costumava

brincar quando criança e pensei que seria impossível me perder, se


o casarão era o único na região e não deveria ser perigoso se, ele

quando criança andava por ali. Meu telefone estava carregando, fui
à cozinha, inventei que estava com fome, fiz um sanduíche, peguei

mais água e algumas frutas.

Enfiei tudo na bolsa, me vesti e calcei os chinelos, saindo


pelos fundos. Não foi difícil encontrar a trilha, mas ela não parecia

ter fim e na metade dela, fiquei sem sinal. Considerei voltar, mas
porra, já tinha andado muito para desistir no meio do caminho.
Deveria pelo menos chegar até lá, tirar uma foto, dar um mergulho,

recarregar as energias para voltar. 

Minhas coxas estavam queimando, meus ombros ardendo e o


suor escorria pelas minhas costas. Comecei a sentir fraqueza e me

escorei em uma árvore, precisando de uma sombra. Por que escolhi


um dia tão quente? Respirei fundo, molhei o meu rosto, a nuca e
voltei a andar. 

Quando cheguei no alto da colina, fiquei maravilhada. Era

uma enseada realmente pequena, porque não caberia dez pessoas,


mas a água era tão cristalina, apenas com algumas marolas, um

local perfeito para brincar de mergulhar sem parar. Desci as pedras


com muito cuidado, mas quase no fim, escorreguei e caí. Ardeu
muito, soltei um palavrão tão alto que os pássaros saíram voando

com o eco. 
Joguei a minha bolsa no canto, tirando a minha roupa e fui
correndo para a água, nadando como um peixinho de um lado ao
outro. O oceano estava delicioso... calmo e bom para nadar. Minha

perna não ficou ardendo com o ralado nas pedras. Saí um pouco,
bebendo água, comendo algumas frutas e voltei para a água.

Como demorava uma vida inteira para voltar e já estava mais


de uma hora ali, decidi sair antes que perdesse a noção e

escurecesse. Subir foi muito ruim e voltar todo o caminho foi


extremamente cansativo. Demorei muito mais que na ida, ia pedir a

Damon para comprar um carrinho que aguentasse a trilha ou uma


moto daquelas de competição. 

Quando avistei a casa, senti um alívio sem tamanho.

Passei pelo portãozinho dos fundos, atravessando o jardim e vi


um soldado falar algo em seu comunicador, ignorei porque estava

muito cansada. Ouvi algumas vozes e uma gritaria, mas subi a


escada, querendo tirar a roupa, tomar um banho e dormir um pouco

até Damon chegar em casa. 

Meu telefone ficou enlouquecido com o sinal, entrando

milhares de mensagens que olharia com calma depois do banho.


Entrei no quarto já tirando a roupa, deixando uma trilha de roupas
no chão e abri o chuveiro no gelado mesmo, com a minha pele
fritando. 

— ONDE VOCÊ ESTAVA, PORRA? — Saltei de susto com o


grito e o estrondo da porta. Virei no box e tentei tirar o sabão do

meu olho.

— Você está gritando com quem? — Me atrapalhei com o meu


cabelo e cuspi água. Senti as mãos de Damon me puxando contra

ele e o empurrei, sem entender, mas ele insistiu e pude sentir as


batidas frenéticas de seu coração. — Damon, o que aconteceu?

— Você sumiu, caralho! Foi isso que aconteceu! 

Ele ligou o chuveirinho e lavou o meu rosto, puxei meu cabelo

molhado para trás. Olhei em seus olhos e mordi o lábio, ele estava

tão transtornado, cabelos desgrenhados e os seus olhos eram


selvagens. Eu tinha que tomar muito cuidado com o que iria falar,

porque realmente não avisei ninguém sobre onde iria, mas não foi

exatamente por maldade. 

Apenas não queria que me impedissem e não faria Enrico me

seguir na distância que eu queria andar. Se eu soubesse que era

tão longe, talvez não fosse, mas não iria acreditar se ele me
dissesse. 
— Qual a parte que eu mandei você não sair de casa que você

não entendeu?

— Eu não fui à cidade... fui à praia.

— Que praia, porra? — Damon parecia que ia explodir em

segundos.

— Para a enseada que você me contou... — falei bem


baixinho.

Senti o tremor em suas mãos.

— Giovanna... — Damon sussurrou. — Você andou pela trilha

sozinha? Tem noção que você poderia cair nas pedras e eu nunca

te encontraria?

— Não achei tão perigoso, você ia quando criança, então eu

pensei...

— Não achou perigoso, caralho? Tem gente tentando me

matar para tomar o meu lugar, porra! Tudo é perigoso! Causar um

acidente em si mesma também é muito perigoso! Você está


maluca? — gritou e eu pensei em dar uma joelhada em suas bolas,

porque eu odiava que gritassem comigo. 

Fiquei quieta. Metade daquela explosão era pelos problemas

externos e não exatamente porque eu havia sumido. Se eu


soubesse que as coisas estavam tão tensas, provavelmente não me

arriscaria tanto. Damon saiu do banheiro sem falar nada, batendo a

porta do quarto com tanta força que ouvi as janelas tremerem. 

Terminei o meu banho, passei bastante creme hidratante e

recolhi as minhas roupas, jogando no cesto de roupa suja. Não iria

atrás dele naquele momento, porque queria jogar algo na direção


dele e optei por dormir, minha cabeça estava explodindo e a minha

pele ardendo.

Não liguei o ar-condicionado e acabei acordando com muito

calor. Abri os olhos e me deparei com o meu marido sentado em

uma das poltronas do quarto, ela estava mais perto da cama que o

costume e ele bebia um copo cheio de uísque. A garrafa ao seu lado


me dizia que não era o primeiro copo, mas não estava totalmente

vazia. 

Ele ainda parecia estar no modo putinho e eu, com fome,

bufei e dei as costas, me levantando da cama e indo para o closet.

Vesti a minha calcinha e ele apareceu logo atrás de mim.

— Então você está irritada comigo? 

— Por que não estaria? — Olhei-o enquanto procurava um


sutiã.
— Foi você que sumiu e me fez pensar em todas as piores

coisas.

— Foi você que chegou do nada, gritando feito um babaca

como se eu soubesse que porra está acontecendo com essa família


e os negócios. Você não me falou nada além de ficar em casa, mas

como poderia saber se era um cuidado, uma preocupação ou

apenas você sendo possessivo querendo me manter em casa? —

Coloquei uma mão na cintura. — Foi você que não me contou que
Esposito e Marrone morreram na noite do nosso casamento... Eu só

fui à praia. Não tive a mínima intenção de te causar uma

preocupação, não foi para chamar sua atenção, apenas estava em


casa, entediada e procurei alguma coisa para fazer. Não pensei que

existiria algum perigo daqui até lá, essa região é dominada pela

família... e se eu soubesse que a própria família está causando

problemas, eu ficaria em casa! 

Desisti de encontrar um sutiã, peguei o vestido e passei pela

minha cabeça. Estava morrendo de fome e não queria ter aquela


conversa. Damon continuou quieto e era muito melhor quando ele

explodia do que quando ficava fervendo as palavras dentro de sua

cabeça. 
Saí do quarto e ele estava me seguindo, a casa estava

escura no primeiro andar e a cozinha apenas com uma luz acesa.

Acendi todo o restante, já levantando as tampas e hum, o peixe

estava assado e cheirava deliciosamente.

Peguei um prato, me servi com bastante comida porque havia

gastado muita energia na trilha. Deixei meu prato na mesa, abri a


geladeira à procura de um vinho, enchi a taça até a boca e fui para o

pátio. Damon não me acompanhou no jantar e o ouvi jogar o copo

de qualquer jeito na pia, mas não quebrou. 

Comi tudo e bebi o meu vinho, lavei a louça e me servi com

mais vinho, peguei o livro que estava lendo na sala e procurei um

cantinho fresco para ficar lendo e apreciando a noite. Li por um


tempo, mas o meu sangue quente estava me implorando para ir

atrás do meu marido e xingá-lo um pouco mais. 

Quando eu gritava de volta, ele ficava quieto? Que ódio!


Coloquei a minha taça quase vazia na mesinha.

— Você quer mais? — Me assustei com a voz dele.

— Há quanto tempo está me observando como um idiota?

— Tempo o suficiente para dizer que você é linda e que eu fui


um imbecil. Você pode me desculpar? — Damon se aproximou e
sentou-se na outra ponta do sofá em que estava deitada. — Não é

uma desculpa, mas eu fiquei apavorado. Nunca me senti apavorado


desse jeito... — falou olhando para frente. — Cheguei em casa,

perguntei por você e Nina disse que estava na piscina, então, você

não estava... em lugar nenhum. Enrico se concentrou em uma tarefa

que eu dei, nem podia matá-lo por perder você, não que fosse me
impedir se de fato... tivesse perdido. Não gostei do que senti, não

pude controlar. Sei que nós nos casamos agora, que pouco nos

conhecemos, mas eu não quero o seu mal e não quero te perder. 

— Não me faça sentir peninha de você quando está sendo um

idiota — reclamei, me arrastando até ele, tirei seu braço do caminho


e subi em seu colo. 

Damon ensaiou um beicinho que me fez soltar uma risada alta.

— Você de beicinho... Isso tudo por um pedido de desculpas?

— É algo totalmente novo, acredite em mim. Eu nunca peço

desculpas, mas reconheço que passei dos limites. Mas por favor,
quando pedir para não fazer uma coisa, por favor, não faça. Pode

ser que seja pelo meu gigante ciúme, mas, existe a grande

possibilidade que será por algo muito maior. — Segurou o meu rosto
e me deu um beijo firme, gostoso e quase desesperado. — Não
contei sobre os acontecimentos porque não queria manchar a noite
do nosso casamento com coisas ruins e eu... não vou te envolver

diretamente nos negócios. O que eu puder te preservar para ter uma

vida tranquila, eu farei.

— Isso é meio estúpido, se você ficar me poupando, posso

acabar ignorando um problema real e cometendo um deslize como


hoje. Se não quiser entrar em detalhes, tudo bem. Só me diga a

verdade de uma maneira que eu possa entender... — Me movi em

seu colo e fiz uma careta de dor. 

— O que foi? Está machucada?

— Talvez não seja um bom momento para dizer que eu


escorreguei nas pedras, caí e me ralei um pouco... — Abri um

sorrisinho.

— Porra, Giovanna!

— Só está ardendo, não foi nada demais e estou meio dolorida


porque nunca ia imaginar que era tão longe! Minhas coxas e
panturrilhas estão queimando e a minha pele... Suei como um

sorvete fora da geladeira, mas lá é tão lindo e tão gostoso! É


incrível! Sabe o que você poderia fazer?

— Te amarrar em casa?
— Hum, em casa não. Mas eu gostei quando você me
imobilizou para me beijar e entre outras coisinhas, talvez eu deixe
você me amarrar na cama. — Damon soltou uma risada, incrédulo

comigo. — O que eu ia dizer era que você poderia comprar uma


moto de trilha. Eu poderia aprender e não chegaria lá tão cansada!

Ele segurou o meu rosto, me obrigando a olhar em seus olhos.

— Me prometa que você nunca mais irá lá sozinha, não

importa se o clima na família melhorar ou não. É perigoso,


Giovanna. Se você cair, bater com a cabeça e parar no mar, eu
nunca vou te encontrar — pediu bem sério e achei meio exagerado,

parecia a minha mãe brigando comigo, falando que se eu saísse


sem casaco iria morrer de pneumonia. 

Quanto exagero!

— Ai, credo. Se eu não posso ir sozinha, você vai ter que me


levar. Se não quiser me carregar, dê um jeito de fazer o trajeto
agradável e nessas condições, eu prometo. Ah, salvo se lembrar

algumas, porque estou cansada e bebi duas taças de vinho...

— Cristo, cale a boca. — Me beijou, encerrando de vez a


nossa conversa.

 
11 | Gio.

Abri os olhos por causa da claridade e bocejei, me

espreguiçando na cama. Rolei para o lado, aproveitando o espaço

porque estava sozinha. Fiquei surpresa com a silhueta de Damon,

sentado em uma poltrona, com os pés para o alto e uma caneca de

café saindo fumacinha. Ele parecia calmo, seus ombros não

estavam tensos como na noite anterior, que mesmo após a nossa

conversa no sofá, não relaxou totalmente. Me trouxe para a cama

porque estava com dor, com vinho nas ideias e cansada.

Nós não tivemos nenhum momento em comunhão e eu me


perguntei se o sexo iria aliviar o seu estresse. Com tudo que

aconteceu, eu estava sentindo falta. Apenas uma noite sem


intimidade e eu já sentia saudades de ficar com ele, rolar aos beijos

na cama e ter o meu corpo explorado por sua boca. Era inegável o
quanto era gostoso. 

Me levantei de fininho, fui ao banheiro, fiz xixi, me lavei, usei


o enxaguante bucal, lavei o meu rosto e escovei o meu cabelo

rapidamente.
Voltei para o quarto e andei até ele, passando os meus braços

por seus ombros e deitei a minha cabeça, beijando o seu pescoço.


Ele segurou o meu pulso, subindo as mãos pelos meus braços, me

acariciando e senti certo friozinho, não sabia como estava

aguentando ficar do lado de fora sem camisa com a revoada de


vento. O céu estava escuro no horizonte e iria chover em algum

momento.

— Buongiorno, amore mio — falei baixinho.

— Buongiorno, mia bella. — A voz dele estava rouca. Me deu

um beijo e aprofundei porque, apesar da minha irritação com ele,


não conseguia ficar longe e naquele momento, eu o queria. Damon

captou a minha intenção, segurando a minha nuca e


correspondendo. Me afastei um pouco e ele sorriu. — Que belo

beijo de bom dia.

— Vem para cama comigo. — Convidei descaradamente. Ele

sorriu e ficou de pé. Me afastei e tirei a camisola, jogando no chão.

Damon empurrou as portas fechadas porque eu fiquei toda


arrepiada com o vento. 

— O tempo vai fechar dentro e fora do quarto... — Sorriu torto

e fiquei na ponta dos pés, beijando sua boca. Damon se entregou


aos beijos com intensidade, do jeito que eu precisava e não me
senti tímida porque realmente precisava daquilo. — Dio, Giovanna.

Porra... que beijo gostoso.

— Odiei tudo o que aconteceu ontem e eu quero sentir que

estamos bem, quero sentir você — choraminguei e senti as suas

mãos mais firmes na minha cintura, me puxando para cima. Me

pegou em seu colo, agarrando a minha bunda com vontade e me


pressionou contra a parede ao invés de me levar para a cama. 

— Nós estamos bem. — Atacou meu pescoço com beijos,

beliscando os meus mamilos e chupou, com força, vontade e tesão.

— Sempre vamos ficar bem — grunhiu e arranhei as suas costas, o

levando à borda da loucura. Me derrubou na cama e sorri quando


Damon puxou a minha calcinha e a jogou longe. — Sorte a minha

de ter uma mulher tão perfeita...

Sentei-me na cama e puxei a sua calça para baixo. Não foi

nenhuma surpresa ele estar sem cueca, porque na mente dele, era

um ou outro. Parado na minha frente, me deu um olhar cheio de

expectativas. Nos últimos dias aprendi como tocar um homem e


como ele gostava de ser tocado, então, segurei a base de seu pênis

e dei um beijinho na cabeça. Damon gemeu, ansioso e usando todo


o meu conhecimento baseado em pesquisas e gifs eróticos, levei

seu pau à boca com cuidado.

Percebendo a minha insegurança, foi me dando instruções

calmas e tranquilas, mas logo ele estava perdido, segurando o meu


cabelo e parecendo se controlar para não foder a minha boca de

forma rude. A sensação de chupar não era ruim, a conexão e poder


sobre ele era simplesmente incrível. 

Meu marido parecia completamente fora de si e se afastou,

dizendo que não queria gozar na minha boca.

— Por que não? — Fiz um pequeno beicinho. — Eu gostei de

fazer isso...

— Estou ao seu dispor. — Piscou, mordendo o lábio e me


beijando, me colocando na cama, acariciando e levou a mão entre

as minhas pernas. Gemi em sua boca e já sabia que o caminho de


beijos iria parar onde ele mais gostava de ficar. Damon me fazia
sentir que me levaria à lua... segurei o seu cabelo e gemi, quanto

mais ele me chupava, mais me sentia perto da explosão. — Damon!


Eu quero... quero você. 

— O quê, bella? O que você quer? — Me incitou, empurrando

seu dedo de maneira suave na minha entrada, fazendo um


movimento circular muito gostoso. Não conseguia pensar direito. —

Você me quer aqui, esposa? — Pressionou meu clitóris com a


língua e em seguida, chupou.

— SIM! 

— Não vou perguntar se tem certeza de novo...

— Damon, cala a boca! 

Não precisava que ele me deixasse nervosa ou com medo, se


eu queria, dane-se. Eu queria. Ele sorriu muito satisfeito e pairou

sobre mim, me beijando com o meu gosto explodindo em minha


língua. Senti um pouco de tensão com o seu pau passeando pela
minha buceta, mas estava apenas acariciando, brincando comigo. 

Sua boca ainda estava na minha quando acomodou sua

ereção e pressionou apenas um pouco. Treinei a minha mente para


relaxar. Parei de beijá-lo, respirando fundo, ele olhou em meus olhos

e foi, lentamente, empurrando e caramba, aquilo era como ser


rasgada por dentro. 

Enfiei as minhas unhas em seus braços, fechando os olhos e


ele parou por um momento, me ajeitando e mesmo sem se mover,

beijou diversas partes do meu rosto. Dobrei as minhas pernas,


encontrando uma posição que não doesse tanto. Ele voltou a se
mexer e as primeiras vezes foram simplesmente... dolorosas. 

Damon parecia no céu e aos poucos, apesar da dor ao fundo,


podia imaginar aquilo ficando bom no futuro. Consegui relaxar e

aproveitar o momento, amando a sensação de conexão, eu nunca


poderia sentir aquilo tão avassalador com nenhum outro homem
além de Damon. Parecia ser algo tão nosso, tão perfeito e seus

beijos me fizeram sentir a mulher mais incrível e mais preciosa do


mundo. Ele repetia que era linda, perfeita, a mais gostosa e a cada

gemido me deixava completamente louca.

— Gio, eu vou gozar... 

Sabia que não ia conseguir gozar e não estava chateada por

isso, porque foi a minha primeira vez e já estava emocionada só por


passar por ela. Senti-o gozar, seu gemido me fez querer gravar.

Rolando para o lado, me levou junto, me mantendo em seus braços


e mesmo ainda recuperando o fôlego, tomou a minha boca e me

tocou intensamente até que estava me contorcendo sem conseguir


controlar o orgasmo. 

— Você está bem? — Damon tirou os meus cabelos molhados


de suor, que estavam grudados no pescoço. 
Apesar da dor entre as minhas pernas, estava me sentindo
muito bem.

— Estou me sentindo ótima. — Suspirei e ele me abraçou


apertadinho.

— Foi perfeito... você é perfeita. — Beijou a minha bochecha.

Nós saímos da cama para tomar banho e percebi que de pé,

sentia muito mais as nossas atividades e após o nosso banho, tomei


um remédio. Nina preparou um almoço leve, quase não

almoçávamos juntos, então, foi muito bom estar com ele. Bebemos

uma garrafa de vinho, rindo e conversando. 

Eu estava usando um vestido verde longo e com as minhas

pernas dobradas na cadeira. Damon estava todo jogado na cadeira,

com as pernas esticadas, contando de uma noite que ele decidiu


pregar peças em todas as pessoas da casa. 

Começando pela irmã até o pai, como ele tinha costume de

aprontar terrivelmente quando era mais novo, seu pai não saiu do
quarto atirando quando os alarmes da casa dispararam e já foi atrás

dele, escondido no escritório, rindo de se acabar dos soldados

correndo pela propriedade, tentando entender os gritos de Sandra


toda molhada em seu quarto.
— Meu pai me bateu naquela noite, me deixou de castigo por

vários dias, mas eu fiz outra merda mesmo de castigo. Meu papa
precisou gastar um pouco de tempo tentando me corrigir e fazer um

homem. Enrico não ficava atrás, mas ele, normalmente, era mais

obediente. Queridinho da minha mãe. — Soltou uma risada e ficou


melancólico. — Apesar de tudo, de algumas situações fodidas para

me tornar um homem pronto para ser um chefe um dia, ele foi um

bom pai. Claro que eu e Enrico não fomos excessivamente mimados

como a minha irmã, mas tivemos bons momentos.

Ele virou o que tinha na taça e me inclinei sobre as nossas

cadeiras, beijando-o. Seu telefone vibrou e precisou se afastar para


atender, se refugiando no escritório. Peguei um pouco de sorvete

para aplacar um pouco o vinho. Sentei-me na cozinha com Nina,

aprendi a fazer gremolata, que acompanharia o ossobuco com risoto


de limão do jantar. 

— Não vai experimentar a piscina aquecida do armazém? Seu

marido pediu para preparar depois que vocês chegaram, sei que
adora ficar lá fora, mas está ventando e vai chover, hoje é um bom

dia para usá-la — Nina me incentivou a sair da cozinha, estava

enchendo o saco e ela gostava de cozinhar sozinha.


O armazém da piscina aquecida não ficava muito longe. Vesti

um biquíni preto, me enrolei em um dos roupões de Damon, peguei

duas toalhas grandes, o meu telefone para ouvir música e saí de


casa. Enviei uma mensagem para o meu marido, avisando onde

estava para ele não dar outro ataque. 

A porta era muito pesada, acendi a luz e logo senti o


quentinho da piscina. A luz azul estava acesa, deixando o ambiente

climatizado e puxei uma espreguiçadeira, em um tom mais escuro

que as do lado de fora. Estendi a minha toalha, deixei o roupão


pendurado e peguei o meu telefone, conectando no aplicativo de

música e procurando uma lista de reprodução mais lenta, sensual,

porque estava no clima. 

Queria ligar para as minhas amigas e contar que finalmente

não era mais virgem, mas elas pensavam que isso já tinha

acontecido e não podia revelar que o meu marido esperou semanas


para tirar a minha virgindade e finalmente consumar o nosso

casamento.

Não tínhamos previsão para retornamos a Chicago. Podia ser


a qualquer momento ou não. Dependia de muitas coisas, por mim

estava tudo bem tirar esse tempo fora. Damon me prometeu que

nós ainda teríamos uma lua-de-mel totalmente privada, sem a


interferência de ninguém e seria logo que as coisas se

acalmassem. 

Até o momento, estava amando estar na Itália, porque fazia

muitos anos e queria aproveitar. Minha mãe perguntou se eu iria


visitar minha avó paterna, ela não foi ao meu casamento por causa

do meu avô que já era bem idoso e eles estavam com muita

vergonha do comportamento do meu pai. Não dei certeza, os dois

moravam muito longe e não havia falado com Damon. Já os pais da


minha mãe faleceram quando eu era pequena. 

Mergulhei na piscina, que estava quentinha, agradável e nadei


de um lado ao outro, fazendo diversos tipos de nado. Fiquei

boiando, ouvindo música e quando começou a tocar uma playlist de

músicas animadas, passei a dançar, rebolando e erguendo os

braços. 

Damon entrou no armazém bem mais silencioso que eu, com

muito mais força e agilidade na porta pesada. Continuei dançando e


fiz sinal para ele vir até a mim. Ele tirou a calça, ficando nu... Por

que fiquei surpresa? Meu marido tinha um problema com cuecas.

Me segurando pelo quadril, foi me empurrando para dentro, até


que a água ficou na minha cintura. Já que ele estava nu, puxei o
laço no meu pescoço, depois atrás e joguei o biquíni na borda. Ele

tirou a lateral da parte debaixo e soltei a outra, me livrando da peça.

Ele jogou ainda mais longe. 

— Aqui eu posso fazer topless? — Provoquei e o abracei,

pulando em seu colo. Damon riu, chupou o meu peito e me manteve

em seus braços. 

— Só pode comigo. Se fizer sol amanhã, vamos sair cedo para

a praia. Não choveu até agora, talvez o vento esteja levando a

chuva para longe.

— Espero que faça muito sol porque eu amo ir à praia. — Dei

um beijinho em seu queixo e me inclinei para trás, para boiar, com


as minhas pernas bem firmes em sua cintura. Ele me deu apoio, só

me olhando e quando a música trocou para My Boo, uma muito

antiga do cantor Usher, ele me puxou de volta, me beijando e me

pressionando na beirada. Foi quando começou a dançar.

Duro, se movia contra mim e dancei de volta, com meus

cotovelos apoiados em seus ombros, segurei o seu cabelo e não


parei de beijá-lo. Agarrando minha bunda, investiu contra mim e

levei a mão entre nós, tocando-o. Damon me empurrou para cima e

me afastei. Ele saiu da piscina pela lateral e foi realmente sexy vê-lo
com seu corpo perfeito, o pau duro e um mundo de gotas

escorrendo pelo seu peitoral. 

Paramos na espreguiçadeira, aos beijos, a música tocando e

meu marido me pegando de um jeito no meio do amasso que até

esqueci o meu nome. Estava dolorida, mas, com o efeito do remédio


e da água quente, meu corpo estava relaxado e desejoso, pronto

para ele. Damon olhou em meus olhos enquanto empurrava para

dentro devagar e soltei um gemido, meio de dor e meio de prazer. 

Nós transamos ali mesmo, no meio do armazém reformado,

com a piscina emanando calor e foi muito dolorido e gostoso, não

consegui gozar porque ainda existia uma dor incômoda, mas ele me
levou até o orgasmo sem penetração.

— Vou precisar me controlar para não te atacar o tempo


inteiro — ele gemeu e com o indicador, brincou com o sêmen que

escorria de dentro de mim. — Não sabe o quanto isso é incrível...

você é minha.

— O que falei sobre as tendências de homem das cavernas?

— Ergui a minha mão e me dei conta que estava sem as alianças.

— Cadê as suas alianças? — Damon franziu o cenho.


— Sempre tiro para entrar na piscina, tenho medo de perder.
— Sentei-me e estremeci. — Hoje foi demais. Acho que não vou

andar amanhã.

Ele mordeu o lábio com um olhar que dizia que não tinha

nenhum arrependimento. Me enrolei no roupão e ele na toalha,

soltei um espirro logo que saímos da área aquecida. Tomei um


banho, me sentindo pegajosa de cloro e com as outras atividades.

Lavei o meu cabelo e ele foi tomar banho quando me sentei em um

banquinho para ligar o secador e escovar o meu cabelo, porque não

ia descer com ele molhado. 

Observei-o andar nu de um lado ao outro, muito mais à

vontade com sua nudez na minha frente do que antes. Terminei de


secar o meu cabelo, procurei uma calça de pijama nas minhas

coisas e uma camisa de manga longa, fiquei sem sutiã e sem


calcinha, porque não estava a fim de roupas. Como ficamos na
piscina, não lanchamos e ao descer, estava faminta para jantar

logo. 

Nina sempre nos dava privacidade e até foi embora mais


cedo, servimos nossos pratos e comemos na cozinha, porque

estava ventando do lado de fora e a mesa da sala de jantar era


muito grande.
— A Nina cozinha tão bem... — gemi com a carne desfazendo
em minha boca. Comi muito rápido, terminando o meu prato em
uma velocidade impressionante. — Meu Deus, eu quero mais. —

Roubei um pouco da comida dele, ainda com fome.

— Alguém está uma traça... — Damon me provocou, servindo


um pouco mais de ossobuco, risoto e salada. — Ainda tem a

sobremesa. Pedi para Nina fazer torta de sorvete com chocolate.

— Essa coisa toda de nadar e sexo gasta muita energia, pode


deixar que vai ter muito espaço para a sobremesa. — Bebi um
pouco do meu vinho.

Terminei o meu segundo prato e servimos a sobremesa,


comendo na sala. Fiquei apaixonada por aquela torta e proibi
Damon de comer toda. Ele dormia muito pouco, às vezes, acordava

de madrugada ou saía para resolver algum problema, quando


voltava, comia o que encontrava na geladeira – inclusive o que Nina
guardava para mim. Ele comeu todos os docinhos do casamento

que eu trouxe em uma só noite.

Ele e Enrico, o cunhado que a vida me deu e que esvaziava a


geladeira.
Damon me fez ir para a cama depois de duas horas, dizendo
que eu ficava irritante quando estava com sono e era melhor ficar
quieta. De brincadeira, me deu uns tapinhas na bunda, cansado da

minha tagarelice na sua cabeça, querendo saber o significado de


cada uma das tatuagens ou como ele ganhou as cicatrizes. Minha

garganta estava doendo, talvez de tanto falar, mas achava que eu


era a única mulher a ficar gripada ao perder a virgindade.

 
12 | Damon.

— Você não deveria estar na cama? — falei assim que vi

Giovanna sair do quarto com uma aparência melhor, ainda assim,


parecendo doente.

— Estou em Nova Iorque, o que te faz pensar que ficarei na

cama? — A voz ainda era de alguém muito gripada. 

— Se você não descansar, não vai melhorar. Além do mais,


eu te avisei que não viemos a passeio. Você vai ficar aqui dentro e
não vai sair, não importa o que aconteça, a não ser que...

— Que haja um incêndio. — Ela terminou por mim, com um


revirar de olhos. 

— Não seja debochada.

— Não estou sendo, apenas mostrando que memorizei o que


você repetiu no voo até aqui e pelas últimas três horas. — Abriu um

sorrisinho. Meu telefone tocou e ela ficou séria. — É ela?

— Sim. Preciso encontrá-la em uma hora. — Apaguei a tela

do meu telefone. — Enrico vai ficar aqui com você e Giacomo lá

fora, na vigilância.
— E quem vai com você?

— Não podemos ir com muitas pessoas...

Giovanna sentou-se na mesa e cruzou os braços.

— Quem vai te proteger?

— Eu não preciso de proteção — retruquei, firme. Era um


momento que não precisava de testemunhas. Estávamos

quebrando o código de honra da família. Íamos fazer uma troca...

Cosimo pela Tia Amber. Íamos finalizar a história com os russos.

Parecia injusto fazer uma troca, mas foi Cosimo quem começou, ao
roubar os filhos de Kátia Rostov e criá-los como seus. 

Apesar das atitudes ruins dos meus tios, Amber era mãe de
Enzo, foi pega pelos russos e graças a isso, Lorenzo abriu a boca e

contou absolutamente tudo. 

Em uma das muitas disputas no passado, Tio Cosimo

descobriu que a filha do chefe da Bratva havia acabado de dar à luz.


Ele invadiu o local onde ela estava e roubou seus filhos gêmeos.

Um menino e uma menina. Levou para a Itália e criou como os seus

filhos, tendo para si um tesouro roubado de uma mulher. Kátia,

obviamente, jurou vingança e esperou por anos. Ela realizou

milhares de ataques, causou muitas mortes. 


Quando Enzo morreu, ela encontrou diversas fraquezas na
nossa defesa e sequestrou Amber.

Alonzo estava por trás de tudo, jogando com as nossas vidas

como jogava xadrez. Ele era um homem muito bem treinado, tinha o

óbvio plano de eliminar toda a família em vingança ao pai, ao que

aconteceu no passado e por ter a mente fodida e distorcida numa

versão de certo ou errado. 

Ele matou o meu pai – com o apoio dos irmãos, que, até o

sequestro da Amber, acreditavam que Alonzo só queria vingança

por tudo o que aconteceu com a aposentadoria forçada que Enzo

causou ao seu pai. Ainda tinha minhas dúvidas de que eles

realmente não sabiam sobre os planos de Alonzo matar Enzo, para


eles, o plano era matar Juliana, assim, a nossa família herdaria a

Villa Valentinni.

Mesmo assim, não fazia sentido. Alonzo vendeu a localização

de Enzo quando o babaca do Jack [2]a manteve em seu computador

particular, pronto para armar para a famiglia. 

Meu pai não aceitou fazer parte daquilo e na manhã que ele

iria me contar tudo, foi assassinado em seu jardim. As imagens das


câmeras de segurança foram deletadas, mas um bilhete deixou

claro quem havia sido o autor. 

Estava contando os segundos para fazê-lo pagar. Se achava

que todas as torturas que meu avô lhe aplicou durante a vida foram
dolorosas e lhe deixaram traumatizado, não fazia ideia de tudo que

iria fazer com ele. 

— Tenho que ir, bella. Volta para a cama, você precisa


melhorar. 

— Volta para mim. — Giovanna me segurou pela camisa. —


Vou ficar aqui te esperando. — Beijou a minha boca e eu não me

importei que ela estava gripada até o seu último fio de cabelo,
devido à nossa aventura na piscina aquecida e em seguida,

passando pelo vento gelado para irmos para casa. 

— Voltarei.

Era uma promessa.

Sinalizei para que Enrico entrasse e antes de sair, ele bateu o

punho contra o meu, sua maneira silenciosa de me dizer para ficar


bem. Enrico e eu crescemos juntos, a mãe dele foi governanta da

nossa casa, até que passou a morar conosco definitivamente, então,


nós brincamos juntos, fomos iniciados juntos e ele já protegeu as

minhas costas. Era o irmão que a vida me deu. 

Bati de volta e ele sabia que era a ele por Giovanna. Enrico
era o único além de mim que daria a vida ela, quando ele tivesse

uma esposa, seria o mesmo para mim.

Nós dois não compartilhávamos o mesmo DNA, mas éramos

sangue pelo sangue. 

Entrei no elevador, apertei o relógio marcando o horário e


efetivamente contando os minutos para voltar. Peguei o carro, um

sedan de luxo aparentemente comum e segui para um galpão fora


da cidade, quase chegando na Filadélfia. 

Juliana estava encostada em um carro, de braços cruzados,


usando jeans, camiseta e uma jaqueta. Ângelo estava um pouco

atrás, sua irmã, Ilaria olhando fixamente para a tela de um


computador. Marcus, marido dela, fechou a porta do galpão quando

estacionei o carro.

— Seremos apenas nós essa noite. Emerson ficou com a

segurança de Carina e está vigiando os passos de Lorenzo. —


Juliana se afastou do carro. 
— Quanto menos, melhor. Já estamos fodidos o suficiente.
Cadê ele?

— No porta-malas — Ângelo respondeu. — Quer falar com


ele? Não abriu a porra da boca para nada. 

— Ele não me interessa e é melhor que Kátia cumpra a parte

dela, ou eu vou matá-la sem me importar que a Rússia inteira esteja


aqui amanhã. 

— Estarei com você — Ilaria resmungou.

Juliana olhou em seu relógio e verifiquei o meu.

— Precisamos nos separar. — Apontei para o carro. —


Ângelo e Juliana irão com a carga preciosa. Vocês dois se dividam.
É só uma troca, mas qualquer sinal de perigo, atirem para recuar.

Algo além acontecendo, voltaremos para cá para realinhar. 

— É melhor todos vocês saírem de lá inteiros — Juliana


afirmou antes de sairmos. 

Voltei para o meu carro, saindo de ré em alta velocidade.


Estava com uma arma entre as minhas coxas, uma no tornozelo,

mais uma nas costas e outra no peito. Uma faca em cada lado,
pronto para o que viesse. Era meio da madrugada e nós

precisaríamos esperar o avião da troca pousar. 


Estacionei no meu ponto, na escuridão e resisti ao impulso de
pegar o telefone e ligar para minha mulher, pela primeira vez,
preocupado sobre não voltar para casa. A tensão estava dominando

os meus ombros e sentia desejo de morte. Quarenta minutos mais


tarde, o avião apareceu no horizonte e as luzes automáticas do

aeroporto começaram a piscar. 

Peguei o meu binóculo de luz noturna e olhei o carro da


troca. Juliana estava no volante, Ângelo deveria ter saído do carro

para a sua posição. 

Esperei o avião pousar e saí do carro, me escondendo atrás

de uma pedra, com a mira certa. A porta desceu e Juliana ligou o

carro, aproximando-se devagar. Ela abriu a porta e ficou em pé


atrás, usando a blindagem de escudo... Apenas Kátia saiu, nada da

minha tia. Filha da puta do caralho. Me aproximei devagar, me

escondendo atrás de alguns latões de sinalização e me arrastei o


mais próximo que consegui.

Juliana seguia no mesmo lugar. Ela sabia que não deveria

sair de trás da proteção, não importava o que fosse acontecer. Não


era a vida dela pela da Amber e todos sabiam disso. 
Não conseguia ouvir o que Juliana falou, porque estava muito

longe e o meu telefone vibrando me fodeu a atenção. Era um


número desconhecido que não parava de ligar e por um  segundo,

me ocorreu que poderia ser algo realmente importante.

— Quem é? — Atendi baixo.

— DAMON, É UMA ARMADILHA. MINHA MÃE ESTÁ

COMIGO, PORRA. TIRE A JULIANA DAÍ! — Ouvi a voz masculina


gritando. — TIRA MINHA MULHER DAÍ, PORRA!

— Enzo?

— CARALHO, ELES VÃO PEGAR A MINHA MULHER, TIRA

ELA DAÍ! 

— Porra, filho da puta! Me prova que é você! 

— VOCÊ TEM UMA MARCA DE NASCENÇA NA NUCA


COM O FORMATO DA ITÁLIA. VOCÊ NASCEU NO DIA VINTE E

DOIS E FOI REGISTRADO DOZE DIAS DEPOIS PORQUE O SEU

PAI NÃO QUERIA QUE NINGUÉM SOUBESSE DO SEU

NASCIMENTO! — Ele continuou gritando coisas que apenas


pessoas muito próximas poderiam saber. — 21 42 28 48. 

Merda. Enzo estava vivo!

— É melhor ser você, filho da puta ou eu vou te matar.


Encerrei a chamada e quando os homens estavam perto de

Juliana, eu atirei na cabeça de um e depois na do outro. Com o meu

tiro, Juliana entrou dentro do carro. Ângelo ou Ilaria, não sabia


quem, atirou contra Kátia, mas ela recuou dentro do avião e mais

carros surgiram da escuridão. 

Eles não estavam sozinhos. 

Voltei correndo para o meu carro, ligando e invadi a pista,

atirando para dar a oportunidade para ela sair dali o mais rápido
possível. Juliana travou o carro, atirando, dando cobertura para

Ângelo ir até ela, porque ele estava no meio do fogo cruzado. 

Peguei o meu telefone e liguei para Ilaria, pedindo para entrar


em cobertura, mas ela estava surtada gritando comigo que Enzo

estava vivo e com a Amber. Minha mente estava em completo

parafuso, mas era preciso procurar um local seguro. 

Segui atrás de Juliana, mas um filho da puta estava atirando

sem parar no meu carro. Eu precisava dar espaço para que ela

pudesse fugir com Cosimo na mala. Travei a pista, atirando nas


rodas e na cabeça do motorista, então, um utilitário comum veio por

uma estrada de terra, bem na direção do nosso galpão e pelas

piscadas de faróis ritmadas, era alguém do nosso lado. Uma pessoa


correndo no meio da mata atraiu a minha atenção e era o marido de

Ilaria.

Destravei a porta para ele e atirei para dar-lhe cobertura. O

utilitário passou por mim e eu fiquei chocado por dois segundos. Era
Enzo e ele seguia em alta velocidade atrás do carro de Juliana.

— Eu vou atrás! — Marcus gritou.

— Tem uma automática aí atrás, sobe aqui. — Apertei o

botão para abrir o teto solar. Ele se enfiou, atirando sem parar e

impedindo que nos seguissem. 

— O avião está decolando, a piranha russa está fugindo. Que

porra aconteceu?

— Enzo está vivo! A Tia Amber está com ele, caralho! Não

faço a mínima ideia! — gritei, estressado e vi Juliana bater no

utilitário que Enzo estava conduzindo, jogando-o para fora da


estrada e acelerando até quase sumir. — Se segura! — Apaguei os

faróis e segui na escuridão da estrada em alta velocidade até o

galpão.

No momento que entrei, Juliana estava, literalmente, enfiando

a porrada em Enzo. Era inacreditável vê-lo. Ilaria estava ferida,

caída no chão e seu  irmão estava pressionando a ferida. Seu


marido saiu do carro, correndo até ela e eu segurei Juliana pela

cintura, afastando-a dos golpes. Ela se debateu e me mordeu,

coloquei-a dentro do carro e fechei a porta.

— QUE CARALHO FOI ESSE? — Olhei para Enzo. Ele

estava tão magro, o cabelo muito curto, como se tivesse raspado a

cabeça e com várias bandagens pelos braços. — Filho da puta! —


Puxei-o para um abraço. O alívio era tão grande que só podia

abraçá-lo. — Quem fez isso com você?

— É muito pior do que a gente imagina. Os russos me


pegaram e depois pegaram a minha mãe. Acho que foi Alonzo em

acordo com Kátia. Eu consegui fugir com a minha mãe, mas nós

precisamos sair daqui com urgência. Coloquei a minha mãe em um


lugar seguro, mas Alonzo sabe demais e estamos em perigo. —

Enzo segurou os meus ombros. 

Ele tinha razão, era hora de sair.

— Circulando, agora! Tem muitos corpos na estrada, vamos

sair daqui agora.

— E a carga? — Ângelo levantou a irmã do chão e Marcus a

pegou no colo.
— A decisão é sua — falei enquanto Enzo assumia a direção

da SUV que Juliana estava. Ela abriu a porta e vomitou. Ao mesmo


tempo, Ângelo olhou para a irmã e abriu a mala, atirando duas

vezes e fechando novamente. — Você precisa de alguma coisa? —

perguntei diretamente a Juliana. Ignorei o olhar fuzilante do meu

primo, mas quando ele soubesse que seria pai em alguns meses,
entenderia. Juliana negou e fechou a porta, parecendo se recusar a

sair dali. 

— Vamos para a cobertura.

Meu telefone vibrou, era uma chamada desconhecida e ergui

o telefone. Enzo saiu do carro, parando ao meu lado. Juliana saiu


mais devagar. Atendi a chamada.

— Sim.

— A sua esposa é muito linda. Sentadinha no sofá... com

uma camisetinha branca, um shortinho curto e as pernas muito

bonitas esticadas à sua frente. Ela está doente? Parece gripada. —


Ouvi a voz de Alonzo e senti um arrepio. — Você deveria ter ficado

fora dessa, Damon. Essa é a sua última chance. 

Ele encerrou a chamada.

— Filho da puta! — Corri até o meu carro.


— Se livra da carga. — Juliana jogou as chaves para Ângelo.
— Leve Ilaria para a cobertura, o médico vai até lá!

Enzo entrou no lado do carona do meu carro, Juliana atrás.


Ela recarregou as armas enquanto eu corria pela estrada com o dia

amanhecendo. Liguei para Enrico, chamando até cair, em seguida

para Giacomo e por fim, para Giovanna.

— Damon? — A vozinha dela estava muito baixa e a

respiração ofegante. — Você está vindo? Estou com medo. — Ela

chorou. — A cabeça do Giacomo explodiu. — Fechei os meus


olhos. — E Enrico está perdendo muito sangue...  dói muito.

— Você está ferida?

— Na barriga... dói muito. Você está vindo?

— Gio, fica comigo. O que aconteceu?

— Os tiros vieram de fora... Enrico está em cima de mim, ele


desmaiou. Ele se jogou em cima de mim quando tudo aconteceu.

Sinto a respiração dele, mas ele não acorda. Mandou segurar a


arma... Damon, estou com medo.

Porra.

— Estou chegando, bella. Fica acordada, aguenta firme, por


favor, estou chegando. Eu prometo.
— Eu preciso que vocês levem médico e reforços para a
cobertura de Damon agora mesmo! — Ouvi Juliana falar comigo.

— Nós vamos chegar, primo. Estamos chegando — Enzo


falou baixo. Meu coração estava disparado no peito.

— Gio?

— Estou aqui. Damon... 

— Vai ficar tudo bem, bella. Estou chegando e vou fazer a dor
passar... Eu prometo. Estou chegando, amor. 

— Eu acredito em você.

Fechei os meus olhos e rezei, implorando para que a


Giovanna ficasse viva.

 
13 | Gio.

Olhei para o prédio da frente, sentindo uma angústia tão

grande que sequer conseguia dormir. Damon saiu no começo da

madrugada para encontrar Juliana. Ontem estávamos na Itália e

amanhecemos em Nova Iorque. Soubemos que Amber, uma mulher

que eu não conhecia pessoalmente, mas sabia quem era, foi

sequestrada pelos russos. 

Essa era a única informação que me foi dita e meu marido


passou o voo inteiro reforçando a extrema necessidade de que eu

não deveria sair do apartamento até que ele voltasse.

Seu apartamento em Nova Iorque era pequeno, apenas um


quarto, sala, cozinha e banheiro. Ele disse que não era interessante
ter algo maior na cidade porque ele quase não passava por ali. Era

território do primo e ele era um mero convidado. 

Fiquei muito gripada nos últimos dias, com febre, dor na

garganta e mais grogue do que acordada.

A viagem foi horrível para mim, meu nariz congestionado, a

pressão do avião, minha cabeça doendo e o corpo. Assim que


chegamos, fui examinada por um médico que  me passou um

remédio para sinusite, para gripe e outro para febre. Tomei e dormi o
dia inteiro, precisava de um repouso para melhorar e quando

acordei, me sentei na cama com desespero de ele ter saído e fiquei

aliviada ao vê-lo na sala.

Damon me prometeu que iria voltar e eu fiquei vagando pelo

apartamento com Enrico. Ele fez uma macarronada, chamei


Giacomo para comer, jantamos juntos e me refugiei no sofá,

ansiosa, observando os dois para ter uma noção de quando Damon

voltaria, porque não pretendia dormir até ele voltar. 

Enrico estava jogando, perguntou se eu queria aprender e

concordei, ouvindo as suas instruções para matar o tempo. 

Não sabia quanto tempo havia se passado quando de

repente, o vidro da sala quebrou e a cabeça do Giacomo

simplesmente explodiu, voando sangue nos meus olhos, boca e me

molhando toda. Não tive tempo de reagir, de repente, Enrico se

jogou em mim e me derrubou do sofá. Senti uma dor aguda e fui


ficando gosmenta, sem entender o que estava me molhando. 

— Enrico... está doendo.


— Não se mova. É um franco atirador, ele vai atirar novamente
se nos movermos — falou bem baixo. — Fui ferido, estou perdendo

sangue e não sei quanto tempo vou manter a lucidez. Você

consegue pegar o seu telefone ali? — Apontou e dentro da minha

confusão, achei o meu telefone. — Você é menor que eu... mova-se

devagar. — Orientou e eu fui me esticando, não só pelo pavor, mas

pela dor dilacerante nas minhas costas. Quando toquei no meu


telefone e consegui puxar, Enrico estava muito pesado. Ele não

estava mais acordado e o sangue dele escorria tanto que me sentia

ensopada.

O telefone vibrou na minha mão e a foto de Damon olhando

para mim, na minha entrada do nosso casamento, apareceu na tela.

Arrastei para o lado, falei com ele, mas não conseguia ficar
coerente. Minha mente ficava indo e vindo. Não sei quanto tempo se

passou até eu ouvir a porta ser aberta e olhei para Damon.

— Bella, estou aqui. — Ele me segurou.

— Ela está com um ferimento atrás. Deve ter caído em cima

dos vidros. — Ouvi uma voz feminina. — Precisamos sair daqui, não
é um lugar seguro e alguém vai vir fazer a limpeza, mas temos que

sair antes que a polícia consiga entrar. — Essa mesma mulher falou.
Enquanto eu continuava confusa com as vozes, alguém tirou

Enrico de cima de mim. Damon me pegou no colo e soltei um grito,


mas ele me embalou em seu peito.

— Não deixe o Enrico — pedi baixo, com a minha boca seca.

— Não vou deixar, Enzo está levando-o — Damon respondeu


e fechei os meus olhos, confusa. Enzo não estava morto? — Vai

ficar tudo bem, Gio. 

— Você voltou — murmurei e ele beijou a minha testa.

— Melhor deitá-la de bruços, eu vou tentar mantê-la imóvel. —


A mulher estava falando enquanto estávamos em movimento, um
solavanco causou uma dor estrondosa e me senti escorregando

para a escuridão.

Acordei assustada, deitada de bruços. Minha cabeça estava


pesada, mas, reconheci uma bandeja cirúrgica, alguns itens e um
suporte para soro. Meus olhos ardiam, a boca seca. Tentei olhar ao

redor e um braço me impediu. Fiquei assustada, mas reconheci o


toque.

— Ei, está tudo bem. — Damon se aproximou e beijou o topo

da minha cabeça, virei o meu rosto em sua direção e nos


aconchegamos juntos. Lembrei de Giacomo, a cabeça dele

explodindo e comecei a chorar. — Shh, bella. Estou aqui, Gio. 

— Enrico está bem?

— Está sim, já acordou e até saiu da cama. Foi um tiro limpo,


não atingiu nenhum órgão. Ele perdeu bastante sangue e por isso
desmaiou. Você caiu em cima de um vaso quebrado, a força do

impacto te causou um ferimento, perdeu um pouco de sangue, foi


um corte profundo e levou alguns pontos, mas está tudo bem — me

explicou e eu continuei chorando.

— Foi horrível. 

— Posso imaginar, sinto muito.

— Vai me contar o que aconteceu?

— Eu vou, mas não agora. Você precisa comer alguma coisa...

— Damon desviou o olhar e eu sabia que ele iria me falar


resumidamente. Estava com vontade de fazer xixi, minhas costas
estavam doloridas e fiquei de quatro na cama, tentando levantar.

Damon me ajudou com calma e muito cuidado. 

— Que lugar é esse?

— É a casa do meu primo em Hampton, no momento, é o lugar


mais seguro para ficarmos. — Entrou no banheiro comigo e devido à
minha tontura, me ajudou a sentar no sanitário e me apoiou para
fazer xixi. Me limpei e ele me levantou, depois lavei as minhas
mãos. — Nós recebemos uma pista muito boa e vamos sair para

fazer um ataque. 

— Damon, por favor.

— Eu tenho que ir, Giovanna. Nós não poderemos voltar para


casa até que...

Não queria discutir com ele.

— Tudo bem. — Suspirei e ele me abraçou apertado. — Só


volte para mim. — Meus olhos encheram-se de lágrimas. 

Damon beijou a pontinha do meu nariz e os meus lábios.


Minha cabeça estava muito pesada, me deram algum remédio para

cavalos, porque me sentia completamente tonta.

De mãos dadas, saímos do quarto e na escada, precisei me


segurar nele porque estava sem entender onde pisar, os degraus
parecendo mais perto do que realmente eram. Havia algumas

pessoas na sala e parei sem graça, me sentindo um lixo, dolorida. Vi


Juliana levantar-se de seu lugar ao lado de uma mulher loira, vindo

na minha direção.

— Oi, Giovanna. Está se sentindo melhor?


— Um pouco confusa. Minha cabeça dói. — Lambi os meus
lábios secos.

— É assim mesmo, você precisa comer algo e descansar, vai


ficar melhor. — Acariciou o meu ombro. — Não sei se você vai ter

cabeça, mas aquela é minha amiga, Linda. — Apontou para a


mulher loira. — Minha cunhada, Carina. — A garota da minha idade

me deu um aceno. Ela era morena, mas tinha os cabelos loiros


escuros e um sorriso que lembrava toda a família. — Emerson, meu

cunhado. O casal ao fundo, Ilaria e Marcus. 

Damon me apoiou quando oscilei.

— Vem, Enzo e Enrico acordaram agora e estão comendo.

Damon me levou para outro lugar e eu fiquei mortalmente

zonza ao ver Enzo, de pé, no meio da cozinha. Olhei para Damon,


mas ele estava puxando uma cadeira para mim e virei para Juliana.

— É, ele está vivo — resmungou de forma seca.

— Olá, Giovanna — Enzo falou comigo. — Espero que esteja

melhor. Você deixou o meu priminho bastante preocupado. Bem no

tipo chorão.

Damon soltou uma risada debochada.


— Vá se foder, Sr. “DAMON, SALVE A MINHA MULHER.” —

Meu marido debochou, imitando uma vozinha fina. Soltei uma risada
que saiu bem engraçada. Juliana revirou os olhos e sentei com

cuidado. 

Senti a pele esticar onde estava costurado e doeu um

pouquinho. Juliana sentou-se ao meu lado e me ajudou a firmar no

lugar enquanto Damon servia alguma sopa em uma vasilha. 

— Não sei se ela vai conseguir comer sozinha, mas o Dr.

Erinch disse que ela precisava comer logo — Juliana falou ao meu

lado, puxando a cestinha de pães. Olhei para Enrico e ele estava


andando devagar, mas parecia bem.  Me deu uma piscada e um

sorriso. Caramba... Ele pulou na frente para me salvar.

Damon me deu comida na boca como uma criança. Pensei


que não conseguiria comer, mas ao sentir o quentinho da sopa, foi

agradável e acalmou a ânsia do meu estômago. Comi duas torradas

e quase a sopa toda. Deitei minha cabeça em Damon e ele ficou


escovando o meu cabelo. Senti Juliana mexendo na minha camisa,

erguendo e olhando o meu corte.

— Está perfeito, mas acho que deveria continuar deitada de


bruços...
— Quero voltar para a cama — murmurei, sentindo tanto sono

que queria me deitar naquela mesa e dormir, ao mesmo tempo, a

cozinha parecia girar. 

Damon me pediu para tomar dois remédios e beber um

pouco de água, em seguida me levou de volta para o quarto, onde

nós nos deitamos e eu só o abracei, usando seu peito como


travesseiro. 

Acordei sozinha na cama, suada, no quarto todo escuro. Eram


três da manhã e estava de barriga para cima. Sentei-me com

cuidado, não estava mais tonta e muito menos enjoada, me sentindo

mil vezes melhor que a primeira vez que acordei. Meu telefone

estava na cabeceira e eu o peguei, olhando as mensagens, pulando


todas e indo direto para a de Damon, dizendo que voltaria logo e

esperava retornar antes que eu acordasse. 

Fui ao banheiro e tomei um banho cuidadoso para não molhar

os pontos. Virei de costas, olhando o machucado e não parecia um

corte pequeno. Não era largo, mas era extenso. Tinha mais de nove

pontos ali. Estava vermelho em toda região ao redor e ao voltar para


o quarto, encontrei as nossas malas e bolsas, que estavam no outro

apartamento onde aconteceu aquele caos. 


Peguei uma roupa limpa, uma calça de pijama minha e uma

blusa de Damon, que ficava bem grande em mim.  Saí do quarto,


com sede e tentei adivinhar para onde ir. Encontrei a escada, desci

devagar, me apoiando no corrimão. Um homem na sala ergueu o

rosto. 

— Oi. 

— Olá, está tudo bem?

— Estou com sede — falei baixo, preocupada e meio

envergonhada com a presença dele. 

— Eu sou Emerson, irmão de Enzo. 

— Onde estão todos?

— A maioria saiu. Minha irmã Carina está dormindo com

Juliana, minha namorada, Linda, foi ao banheiro. Ilaria estava


acordada até alguns minutos atrás... 

— Meu marido saiu também? E Enrico?

— Eles saíram com o meu irmão e a maioria dos homens. 

Olhei ao redor e era uma casa muito grande e muito bonita.

— Por que você ficou?


— Tomando conta das mocinhas. — Sorriu torto e desci os

últimos degraus. Ele manteve uma distância muito segura e

respeitosa, afinal, eu era mulher de um chefe de outra família. Um

toque errado causaria uma guerra. — Vem, eu vou te mostrar onde


fica a cozinha. 

— Pode deixar que eu mostro, baby. — Uma mulher loira virou


o corredor. — É que ele não deve sair do lugar dele — me explicou.

— Eu sou a Linda.

— Eu sou Giovanna... Di Galattore.

— Você é a rainha da outra metade do país.

— Ah... — O que eu ia dizer?

Segui Linda até a cozinha, não estava com fome, apenas com

muita sede. Bebi duas garrafas de água e ela me ofereceu um chá.


Como estava sendo muito prestativa, fiquei sem graça de negar.

Acabei aceitando e ficamos na cozinha, conversando amenidades e

então, Juliana apareceu. Ela estava emburrada.

— Aquele figlio di una putana voltou hoje e me mandou ficar

em casa! — Puxou um banquinho e sentou-se. — Olha, Giovanna.

Corte as asinhas do seu marido, porque até depois de morto eles


ficam impossíveis. 
— Não está feliz que ele está vivo? — Olhei em seus olhos.

— Estou confusa. Quando o vi, sei lá, senti raiva, ódio, amor e

uma felicidade quase impossível, mas ainda é difícil com tudo o que

lidei e senti com a morte dele. Saber que ele planejou isso... é muito

difícil de perdoar. — Juliana pegou a minha caneca de chá e deu um


gole. — Eu sei que eu deveria simplesmente ficar feliz, mas eu... fiz

coisas que sempre condenei para vingar a morte dele.

— Ele fez de propósito? 

Juliana me encarou e mordeu o lábio.

— Não exatamente. Ele me disse que estava planejando fazer

algo comigo, que me incluísse e eu não sei até onde você está

inserida nas informações dessa parte. — Seu olhar foi intenso e eu


percebi que mesmo que Linda fosse amiga, aquele assunto era algo

íntimo. 

— Tente perdoá-lo, a nossa vida já é muito violenta para


vivermos em guerra com quem amamos. Tente entender os motivos

dele, o que realmente aconteceu e tire isso do seu casamento, afinal

de contas, vocês têm um futuro chegando...

Juliana sorriu. Linda parecia confusa e com sono, não

exatamente entendendo o que estávamos falando.


— Você é muito jovem para ser tão sábia.

— Na verdade, eu só repeti o que minha mãe diria. 

Ela soltou uma risada.

— E o que você faria? — Juliana questionou, curiosa.

— Castração química, talvez. — Brinquei e rimos juntas.

Ouvi uma risadinha masculina e olhamos para trás. Enzo


estava encostado na porta, sua arma bem visível e um sorriso cínico

nos lábios. Damon estava ao seu lado, com a sobrancelha arqueada

e meu coração explodiu de alívio ao vê-lo tão bem, inteiro e

divertido. 

— Você está fodido, primo. — Enzo brincou e se aproximou de

Juliana com cautela. Ela girou no banquinho e o encarou. — A


senhora gostaria de um relatório agora?

— Está muito cedo para começarmos essa merda, Enzo. O


que aconteceu? — Juliana explodiu e soltei uma risadinha. Ela era

muito esquentada.

— Os seus amigos conseguiram encontrar as contas, os


associados e quem estava ajudando tio Alonzo nessa bagunça. Nós

achamos três esconderijos em terra e dois navios, as equipes estão


lidando com isso com a ajuda dos homens dos King. — Damon se
aproximou de mim e me abraçou. — Ele está sem dinheiro, sem
apoio e sem meios para agir tão cedo.

— Ky colocou o rosto dele como um dos mais procurados e


será difícil se esconder, ou ter associados, já que as agências

federais também o terão como alvo — Enzo falou com Juliana e


deitei minha cabeça no peito do meu marido, entendendo em parte

o que estava acontecendo.

— Sem recursos e apoio, ele não deve ir longe, certo? — ela


murmurou, ainda com certo receio, o que era totalmente
compreensível.

— Enzo fodeu com os planos, conseguindo fugir e explodindo


o local que os homens dele estavam se preparando para atacar. —
O peito de Damon vibrou com a sua voz.

— E Kátia? O que faremos com ela? Sabe que ela virá atrás
de mim e eu... — Juliana mordeu o lábio. Enzo passou o braço pelo
ombro dela e senti que Damon estava tranquilo. Quando se tratava

de uma ameaça, seu corpo sempre ficava tenso.

— Esse é um assunto que eu já encerrei essa noite, em breve


eles irão levantar outro líder, mas até lá, estaremos mais fortes. Por

hora, nosso foco é o Alonzo. — Enzo lhe deu um beijo na testa e ela
pareceu aceitar com amor. Damon me abraçou apertado e fechei os
meus olhos, me sentindo segura.

 
14 | Gio.

Damon estava encostado na parede do consultório, olhando

fixamente para o médico atrás de mim e mordi o lábio para sufocar a

risada. Sua expressão emburrada era fofa. Finalmente entendi o

motivo de tanta implicância com o Dr. Ferrari. Não era o mesmo

homem, já senhor de idade, que me atendia quando criança e sim o

filho, que era muito bonito e gostoso.

Para a retirada dos meus pontos precisamos vir ao consultório


dele, minha blusa estava levantada nas costas e o médico mal me

tocava, tirando os pontos da ferida que finalmente havia cicatrizado. 

Levei alguns dias para me recuperar, além da gripe, os pontos


doeram muito. Damon passou diversas noites fora de casa e minha
mãe foi autorizada a ficar comigo, cuidando de mim com todos os

seus remédios caseiros e comidas gostosas. 

Mesmo com o amor da minha mãe e até um mimo do meu

pai, toda noite acordava suada e assustada, sem conseguir parar de

chorar. Estava tão apavorada que não conseguia dormir, sempre


sonhando que em algum momento um disparo seria feito e me
mataria, mas os piores pesadelos eram... quando eu acordava,

Damon que estava morto ao meu lado.

Exatamente como Giacomo.

  — Pronto, Sra. Di Galattore. — Dr. Ferrari se afastou. — Parece


que não terá nenhuma marca forte, os pontos foram muito bem-

feitos e a sua cicatrização foi muito boa. Vou receitar uma pomada

caso tenha alguma coceira ou reação. 

Abaixei a minha blusa antes que o meu marido fizesse.

— Todas as medicações para dor, já pode parar. Converse


com a Dra. De Luca sobre o efeito do seu método contraceptivo —

orientou e arregalei os olhos, assentindo. Ainda bem que nós não

tínhamos feito sexo naquele período ou eu ficaria completamente


surtada. 

Como fiquei bem doente nas últimas três semanas, não tive

muito clima, nem cabeça, ele estava estressado, indo e vindo de

Nova Iorque e foi à Itália duas vezes sem mim, para que eu pudesse
me recuperar. 

— Obrigada. — Peguei a receita.

Damon e ele trocaram apenas um aceno e assim que virei de

costas, revirei os olhos. Meu marido me segurou ao seu lado e me


manteve em seus braços no elevador. Ergui o meu rosto e beijei-o
nos lábios, aproveitando que estávamos sozinhos. 

De mãos dadas, saímos do prédio e o manobrista devolveu o

carro com um sorriso profissional. O homem que me casei gostava

de pisar no acelerador e parecia se divertir com aquilo. Tirei uma

foto dele, parecendo um bad boy safado com óculos escuros.

Enviei uma mensagem para a Dra. De Luca e ela me orientou

sobre relações sexuais pelos próximos dias, até a minha pílula voltar

a fazer efeito. 

— Pode manter a sua mente aberta? — Damon me cutucou e

percebi que não estávamos na direção do apartamento.

— Nasci nessa família, se isso não é ter mente aberta, eu não

sei mais o que pode ser. — Abri um sorrisinho.

— Estamos engraçadinhas, não é? Ainda bem que você

melhorou, doente é a porra de uma dor na bunda manhosa pra

cacete. — Sorriu e quis bater nele, mas fiz um beicinho. — Linda.

— Idiota. Então, no que tenho que manter a mente aberta? —

Coloquei a minha mão em sua coxa, acariciando e subindo até o

volume no meio das pernas, só para provocar. 


Apesar de saber que o sexo ainda seria desconfortável por

um tempo, eu queria um pouco de sacanagem. 

— Você vai ver, mãozinha safada.

— Eu posso ter a mãozinha safada em você. — Rebati com


uma piscadinha marota. 

Ele pegou a mão que estava em sua coxa e colocou bem em


cima de seu pau, me fazendo rir. Decidi que poderia deixá-lo duro e

desconfortável enquanto dirigia. Damon nos conduziu para um


bairro residencial de luxo no sul da cidade, bem próximo de onde a
irmã dele morava. 

— O que estamos fazendo aqui?

Sem falar nada, meu marido foi seguindo por casas e mais

casas, até nos depararmos com uma parte da estrada realmente


vazia. Algumas famílias muito ricas da famiglia moravam por ali. Ele
diminuiu a velocidade em frente a uma mansão imensa que tinha a

placa: Villa Bella. 

Deu a volta no chafariz, parou na frente e saiu do carro.


Curiosa, fui atrás, olhando para o alto. Era linda, de pedras

mármore, uma mistura típica da arquitetura contemporânea de


Chicago com muitos detalhes das clássicas casas italianas.
— Que lugar é esse?

— Nossa casa. Herdei algumas coisas quando meu pai morreu

e essa foi uma delas.

— Por que tenho a sensação de que a conheço? — Virei para


a rua, olhando ao redor. 

Era uma vizinhança muito tranquila, com casarões de luxo


como aquele, mas os terrenos eram muito grandes para que as

casas fossem perto uma da outra. A frente era murada, protegida


por um portão de ferro grande, pesado, com uma placa na entrada.

Era enorme, com mais de uma casa e me perguntei qual seria o


tamanho real.

— Deve ter vindo aqui quando pequena. Nós moramos aqui


até a morte da minha mãe, depois, nos mudamos. Eu fui morar com

a minha irmã e o meu pai se casou novamente. — Damon foi até a


porta, pressionou a digital e ela abriu. Fiquei parada, sem reação e

ele esticou a mão, me convidando para entrar. — Sei que é uma


casa muito grande para nós dois, mas, haverá momentos que
precisaremos ser anfitriões de festas e jantares. Além do mais, a

casa tem dois quartos do pânico, um porão com um túnel que leva
diretamente ao outro lado da rua... Acho que vai se sentir mais
segura aqui.

— Ah, Damon... — suspirei, encantada que ele estava


buscando uma solução pelo meu pavor de ficar na cobertura

sozinha.

Pulei nele, bem ali no hall da entrada e o abracei, beijando-lhe


a boca. Aceitei fazer o tour pelo lugar, que estava mobiliado e
parecia muito limpo. Alguns móveis eram lindos, antigos e outros

aparentavam ser bem novos e modernos. 

Damon contou que havia passado as últimas duas semanas


organizando a casa com a irmã. Sandra achou que eu amaria a
surpresa e quis ajudar. Minha cunhada era muito legal.

A casa era enorme, mas estava muito bonita, conservada e

restaurada em diversos lugares. Todas as paredes eram brancas,


piso de madeira e as portas também, de madeira escura. Como ele

sabia que eu não gostava de ambientes escuros, clareou os móveis


planejados da casa inteira, deixando apenas alguns com móveis
antigos que eram únicos.

Dois mil e seiscentos hectares de terreno, três andares de

casa ou quatro, se contasse com o porão. Da entrada, passava por


um hall espaçoso, com o teto redondo e vitrais como uma igreja,
que eram iguais aos vitrais da casa na Itália e achei a conexão
muito bonita. 

Para a direita, havia a sala de estar com sofás brancos,

poltronas cinza, tapetes felpudos em bege escuro e almofadas na


mesma paleta de cores.

O lustre era lindo, a lareira imensa e os janelões que

mostravam a entrada eram imensos, de vidro, com grades pretas e


redondas nas pontas. A sala de estar era em formato de L e tinha

um piano. Damon não sabia tocar, muito menos eu, sempre fui a

garota zero ritmo, mas a mãe dele tocava e ele não quis se desfazer

por ser um símbolo dela.

Após a sala de estar, tinha um corredor muito discreto que

levava para a biblioteca e para a sala de televisão. Damon explicou


que equiparia a biblioteca para receber os homens em eventos, mas

que faria em outro lugar da casa o seu escritório privado.

No mesmo corredor, saímos em uma porta debaixo da escada


que se dividia em duas no hall de entrada, dali, fomos para a sala de

jantar, que na minha opinião, poderia ser chamada de salão. Era

muito grande e a mesa de madeira, com mais de quinze cadeiras,


ocupava bem o espaço, com aparadores, poltronas... lembrei de

correr entre as pessoas em uma festa ali. 

Fazia todo sentido a casa ser tão grande. Foi construída para

receber muitas pessoas.

Voltamos para o hall e na outra porta debaixo da escada, em

frente à que saímos anteriormente, havia um corredor com um

quarto e outro espaço vazio. Dentro desse quarto tinha um closet,


onde ficava o quarto do pânico. 

Damon abriu outra porta e mostrou que o suposto banheiro


dava para uma escada, que saía dentro do closet de um dos quartos

em cima. Era uma espécie de rota para um lugar seguro. 

No espaço vazio, ele faria o seu escritório privado. O


escritório da cobertura era bloqueado e só entrei lá algumas vezes,

porém, apesar de coisas típicas de escritório, havia um armário com

todo tipo de arma, faca e até granadas... Nunca mais abri as portas.

A curiosidade ali dentro poderia matar um gato de verdade. 

A cozinha era bem espaçosa, com a ilha dos meus sonhos,


dois fornos, um cooktop, armários do chão ao teto e duas pias em

um balcão de mármore. A mesa era redonda, com um aparador de

madeira bem no centro, que girava. Era de seis lugares, de vidro,


com cadeiras acolchoadas em creme e um vaso de cerâmica com o

nome das sobrinhas dele, provavelmente Sandra havia colocado

ali. 

A porta para a escada do porão era bem discreta. A adega

era linda. Estava vazia, mas era questão de tempo para Damon

encher de vinhos. Ele me mostrou o caminho do túnel, mas me


recusei a passar por ele, mesmo que devesse, porque era

assustador e escuro.

Voltamos para a entrada e subimos a escada, dei uma olhada

nos quartos e ele me mostrou o antigo quarto que dividia com

Enrico, além do da irmã. Ambos eram bem pertinho da suíte

principal e achei uma coisa muito fofa que os pais dele, apesar da
aparência externa de frios e assustadores, mantinham os filhos por

perto durante o crescimento. 

No futuro, ali seria o quarto dos nossos filhos. 

A suíte principal era linda e tinha dois closets, um era

tipicamente feminino, com uma penteadeira antiga e um espelho


maravilhoso que me deixou quase histérica.

— Acho que te ganhei. — Ele riu da minha empolgação. Abri


as gavetas vazias, querendo olhar tudo e já podia imaginar as
minhas coisas ali.

— Você me ganhou no momento que passamos pela entrada.

Damon me olhou confuso.

— Villa Bella. Você me chama de bella do amanhecer ao

anoitecer, se essa casa fosse um casebre, seria a nossa casa só

por isso. — Sorri e ele ficou meio tímido. — Ai que fofo! — Me joguei
nele. Damon não queria ser fofo, porque ele me pegou bruscamente

e me colocou em cima da penteadeira, ficando entre as minhas

pernas e me beijando do jeito que não fez nas últimas semanas. 

— Vou te lembrar do quanto sou fofo mais tarde. Vem, ainda

quero te mostrar a melhor parte e onde a minha irmã quase me

matou uma vez. — Sorriu torto e me puxou.

Antes de sairmos da casa, apontou onde era sótão

brevemente, que tinha prateleiras para ser o armário geral da casa. 

A varanda principal do segundo andar tinha uma escada e

nós descemos por ali, seguindo pela lateral da casa até os fundos.

Havia um espaço agradável que eu poderia dizer que era gourmet,


com móveis específicos para eventos do lado de fora, uma

churrasqueira e fogão a lenha. 


O pátio próximo à cozinha tinha uma mesa de pedra mármore

e cadeiras de ferro como nos jardins dos filmes antigos.

A piscina foi construída em uma área bem reservada e após


ela, as pedras no chão marcavam o caminho para o jardim, que

precisava de uns cuidados para ter flores, mas tinha um gazebo

fofo, um aviário e um gramadinho para belas tardes de piquenique. 

Damon mostrou a casa de Enrico, do outro lado da

propriedade.

A parte mais charmosa era a praia privada. Foi ali que a irmã

dele o afogou em um dia em que estava particularmente irritante e

jogou alguma coisa gosmenta nela. 

— Vamos nos mudar quando? — Parei no deck e tirei as

minhas sandálias, sentindo a areia gelada. Quando fui para a água,

Damon me pegou. — Ei!

— Você acabou de melhorar. — Me colocou na grama e tentei

voltar, mas ele abaixou, pegou as minhas sandálias e me segurou,


jogando sobre os ombros. Ainda me deu um tapa na bunda,

mandando parar de gritar, mas só conseguia rir com o sangue todo

concentrado na minha cabeça.


Fomos embora para casa e estava muito empolgada em fazer

a mudança. Como não seria preciso levar os móveis, não demoraria


muito então mergulhei naquela tarefa por toda a semana, levando

nossas coisas pessoais, habitando a casa, tomando conta de toda

parte funcional em escolher funcionárias (decidi não manter

mulheres da família além de Marcela), contratando empresas de


limpeza e de cuidados com o jardim. 

Alinhei tudo com Enrico, que se mudaria conosco e moraria


na casa dele na propriedade.

A parte de transportar tudo era muito cansativa. Enrico era

muito paciente e não reclamava de nada. Damon tentou ajudar na


tarefa, mas eu me estressei com ele e mandei voltar ao trabalho.

Era melhor lidar com tudo sozinha fazendo as coisas do meu jeito

do que estar com ele no meu caminho, me atrapalhando.

Enrico me levou para casa com algumas caixas e queria

conhecê-lo melhor, afinal, era praticamente o meu cunhado. Ele


falava muito com Damon, quando era comigo, quase não abria a

boca.  

— Você vai se casar? — Andei atrás de Enrico, que carregava


umas caixas pela escada, levando para a suíte.
— Ainda não encontrei a eleita. — Foi conciso. Arrancar uma
informação pessoal dele era um sacrifício. Damon me pediu para

não encher o saco, mas eu era curiosa. — Aqui está bom?

— Está procurando?

Me deu um olhar impaciente.

— Não. —  Mal-humorado, soltou as caixas no chão e saiu.

Ignorei-o, olhei ao redor e parecia que a minha parte havia


acabado. As roupas de Damon estavam arrumadas, as minhas

também e nossas coisas pessoais em seus devidos lugares. 

A biblioteca estava meio vazia e eu tirei um tempo para


arrumar o que a madrasta de Damon havia mandado entregar,

muitas coisas que eram do pai, livros, fotografias e outras coisas

pessoais. Perto do piano, coloquei o quadro da mãe dele. Foi uma


mulher linda. Lembrava dela, muito pouco, porém, Damon gostou de

ter a foto da mãe dele na nossa sala e me agradeceu com um beijo.

Voltei para o apartamento, só para supervisionar se faltava


alguma coisa. Vivi pouco ali para sentir falta e estava muito ansiosa
em começar uma vida com Damon em outro lugar. Não tive uma

noite de sono desde que voltamos para Chicago, porém,


aquela última semana não foi exatamente por pesadelos. 
Meu marido quis mostrar a todo custo que não era nada
fofinho. Cada vez que a gente transava, percebia que era muito crua
e tinha muito que aprender. 

De modo geral, a penetração ainda era bem desconfortável,

melhorava a cada vez e acabava ficando bem gostoso, mesmo que


as preliminares fossem a minha parte favorita. Na parte de fazer um

boquete, ainda era uma aprendiz, ele dizia gostar e ao seguir suas
dicas ou o meu próprio instinto, ele gozava mais rápido. 

Fechei o apartamento e Enrico me levou para a Villa Bella. Ele


foi para a casa dele e eu entrei sozinha, subindo para o meu novo

quarto. Liguei para minha cunhada, combinamos um jantar – ela me


ajudou e eu queria cozinhar em forma de agradecimento. Queria ver

as suas filhas, porque eu adorava as meninas e elas eram tão


fofas! 

Em seguida, liguei para minha mãe para saber do que


estavam falando sobre o meu casamento. Não teve uma fofoca

sobre a mudança porque eu explicitamente ameacei Marcela sobre


não falar.

Ela entendeu o recado, podia ser jovem e ter cara de boba,

mas eu não ia tolerar fofocas sobre a minha vida. Comuniquei a


Damon que não sentia a necessidade de termos alguém fixo. Fiz um
cronograma: ela poderia me auxiliar na organização e nos dias em
que a empresa de limpeza estava agendada. 

Fora isso, pretendia manter a nossa casa e principalmente a


nossa vida, o mais privada possível. 

Apesar da minha alegria, senti que minha mãe estava meio

triste. Pensei em ir até lá, mas teria que chamar Enrico e Damon iria
encher o meu saco se fosse dirigindo. 

Fechei a porta do quarto, tirei a minha roupa e tomei banho.

Levei um tempo cuidando de mim mesma, apesar de ter feito


depilação, o cabelo e a sobrancelha no dia anterior, gostava de
manter a minha pele hidratada. 

Entrei no closet, peguei uma calcinha preta, pequena, vesti e

me olhei no espelho. Meu cabelo estava preso e reparei que havia


emagrecido um pouco. As semanas que passei doente me deram

zero apetite, mesmo com a minha mãe empurrando a comida na


minha boca a cada duas horas. 

Não gostava de ficar muito magra, perdia o volume nos seios


e no quadril, mas, com a garganta inflamada, um corte de dez
centímetros nas costas, e as lembranças de tudo o que tinha
acontecido, era impossível ter vontade de comer.

Ouvi a porta do quarto ser bruscamente aberta e Damon


passou direto para o banheiro. Fui atrás dele, que tirou a roupa,
colocando as duas armas em cima da pia e pelo baque pesado das

peças eu sabia que estavam molhadas...

Ao entrar no chuveiro, olhei para a tonalidade da água e dei


meia volta. Voltei para o meu armário, procurando algo confortável

para vestir e pelo barulho, ele estava no dele. 

Não resisti à curiosidade e devagar, entrei em seu closet.


Damon estava nu, pegando uma cueca e encostei na porta. Ele me

viu pelo reflexo do espelho com a expressão bem fechada, mas o


olhar para mim foi bem aquecido.

— Está tudo bem? 

Desistindo da cueca, virou e andou em minha direção, abaixou

o rosto e me beijou. Apesar do seu beijo firme e mão no meu


cabelo, senti o polegar passar bem de leve na cicatriz em minhas
costas. Nos afastamos sem ar, ele encostou a testa na minha de

olhos fechados e em seguida, me abraçou bem apertado, com o


rosto escondido no meu pescoço. 
Acariciei as suas costas, beijando onde podia alcançar. 

— Damon, o que foi? 

— Eu sinto muito, Gio.

— Por quê? O que houve? — Tentei me afastar e ele não


deixou. — Damon Francesco, você está me assustando. — Seu

olhar para o meu foi pesaroso. — O que aconteceu?

— Seu pai... Ele morreu, bella. Sinto muito, cheguei tarde


demais... — Não fazia sentido, tentei empurrá-lo, precisando de um

espaço. — Atacaram o cassino. Seu pai estava no escritório... ele e


Leonardo tentaram se defender, quando cheguei, já estavam
mortos. Sinto muito. 

Damon me abraçou apertado quando comecei a chorar,


finalmente entendendo o que tinha acontecido. Meu pai... Ele se foi
e eu nem sabia o que pensar, mas sabia que estava doendo

muito.             

 
15 | Damon.

Estava frio, garoando. Um dia cinza, como se soubesse que a

família estava reunida para o velório do Vacchiano. Eu não gostava

dele, nunca gostei. Achava que era um homem soberbo, que

escorregava feito sabonete e muito ambicioso. 

Apesar do seu vício no jogo e do roubo, meu pai tinha razão


em uma coisa: ele deu o sangue pela família, nunca nos traiu de
maneira grave e mesmo sendo um idiota, morreu lutando. 

       Vacchiano e Leonardo perceberam o ataque e foram defender o


nosso território, como todos os homens iniciados na famiglia foram

treinados. Apesar do sucesso em eliminar quem invadiu, foram


gravemente feridos e quando cheguei, era tarde demais. 

Imediatamente, reuni a minha equipe e fui até onde estavam


os ratos do novo motoclube, que estavam tentando crescer na

cidade. Sangue por sangue, eles não me conheciam, eu não

esperava para atacar.

Não tinha um método. Ninguém nunca sabia quando ia reagir.


Podia ser de cabeça quente, de cabeça fria, com ou sem vontade.
Além de ter explodido o lugar, mandei as cabeças dos corpos mais

inteiros de volta, com um recado: No meu território eles não iam


entrar. 

Os associados e chefes contra-atacaram em pontos que


sabíamos que estavam crescendo pelo país. Foi um ataque no meu

cassino – e eu devolvi em vários. Era assim que eu respondia.

Enzo pediu para que eu fosse com calma, porque os federais


estavam na nossa cola desde a merda que foi em Nova Iorque –

muitos corpos russos espalhados pela cidade em três dias.

Tentamos limpar a bagunça, mas sempre ficava um ou outro para


trás. 

Não gostava de ter calma e ignorei o pedido. Ele que lidasse


com a bagunça.

Giovanna estava ao meu lado, usando preto da cabeça aos

pés, com um casaco longo, chapéu e óculos escuros. Segurava

meu braço enquanto a outra mão estava no ombro da mãe. Ambas


estavam abatidas. 

Na noite anterior, minha esposa confessou que não gostava

de muitas atitudes do pai, recriminava abertamente, eles batiam

muito de frente. Ela lhe fez ameaças sobre as constantes agressões


à sua mãe e tinha um óbvio ressentimento por ter sido dada em
troca de um perdão, como se fosse uma mercadoria.

Giovanna é uma das mulheres mais bonitas da família. Se o

pai não tivesse feito esse acordo com o meu pai, seria muito

disputada pelo casamento – e ele até enriqueceria. 

Ela era uma opção de casamento, mesmo sem o acordo.


Preenchia todos os requisitos: era italiana (não somente

descendente). Cresceu no seio do alto escalão da família, sabia se

portar em público — embora tentasse me causar um AVC com as

roupas que usava — era muito gentil com todos e até então, seu

pai tinha uma posição de muito respeito.

Giovanna estava destinada a ser minha. Ela era uma princesa,

criada para ser a rainha e se tornou a minha senhora soberana.

No final do funeral, Lucinda foi embora sozinha. Ela não queria


que Giovanna a acompanhasse, porque deveria seguir comigo para

a recepção fúnebre. Mesmo de luto, a mulher não abria mão das

tradições da família. Seguimos em uma comitiva de carros até a

casa onde a minha mulher cresceu. 

Foi preparado um jantar para todos e a sala espaçosa ficou

com um vai e vem de pessoas, conversas baixas, preenchendo o


livro de condolências e falando sobre momentos com o falecido.

Giovanna ficou com a mãe o tempo todo, além de algumas tias

e primas. 

Eu ainda estava com raiva. Coisas assim aconteciam, mas


não queria dizer que eu não achava uma tremenda falta de respeito.
Frank, meu cunhado e conselheiro, parou do meu lado e olhou na

mesma direção que eu. Sandra estava tentando convencer


Giovanna a comer alguma coisa, que não comia direito há dois dias

e quem a conhecia, sabia que era um feito e tanto. 

Giovanna amava comer, mas perdia o apetite muito fácil em

situações extremas.

— Ele era um homem esquisito, mas sempre foi leal à família. 

— Sim, não gostava dele, mas não era exatamente pessoal.


Não gosto da maioria deles. — Bebi o meu vinho. — Preciso de algo
mais forte que isso.

— Sei que é de péssimo gosto, mas precisamos de um

substituto. A reforma vai acabar em três dias, não podemos ficar


muito tempo fechados e eu já molhei as mãos certas para tirar o faro

daquele policial insuportável do que aconteceu. 

— Eu vou pensar em alguém. Alguma sugestão?


— Tenho avaliado bem o Santini. O pai dele deve se

aposentar em breve, mas ele pode preencher a vaga enquanto outro


nome não surge, bom que podemos saber seus posicionamentos

antes de ele virar o subchefe de Northbrook.

— Faremos isso — concordei e olhei para Gio. Ela estava


cochichando com a prima cabeça de vento, Bianca, e sorriu de um
jeito traquina. Fiquei curioso sobre o que poderiam estar falando.

Percebi que Frank não tirava os olhos da minha irmã. — Já se


casou com ela.

— Nunca vai deixar de ser um pirralho ciumento? — Me

provocou. 

Sorri, lembrando que fiquei com muito ciúme da minha irmã

quando eles começaram a namorar. Enchi muito o saco. Eles já


estavam juntos há dez anos, significava que eu era um adolescente

quando começaram o romance. 

— Sua irmã quer outro bebê... 

— Se nascer outra menina, vou te matar, não vou ter

soldados o suficiente para protegê-las — resmunguei. 

Minhas sobrinhas eram as meninas mais lindas do mundo


inteiro. Elas cheiravam a morango, tinham risadinhas suaves e eram
perfeitas da cabeça aos pés. Minha irmã era tão chata, não sabia
como foi capaz de dar à luz a dois anjinhos.

— Já decidi que irei trancá-las na Itália. — Frank sorriu. Ele


odiava a ideia de que elas cresceriam um dia e teriam homens atrás

delas. Para falar a verdade, a ideia me irritava também.

— É uma ótima ideia.

Giovanna não quis comer nada, ficou o tempo todo rejeitando

o que era oferecido. Já havia entendido que quando ficava


emocionalmente abalada, não era de chorar, de dar crises, apenas

ficava quieta e não tinha apetite. 

Eu queria ir embora, mas esperei a sala esvaziar. Minha


sogra teria a companhia da tia de Gio para passar a noite. Ela
queria ficar sozinha, mas ninguém estava respeitando sua vontade.

— Gio? Precisamos ir, bella.

— Tudo bem... — Ela fez um pequeno beicinho. — Mamma…

— Giovanna, minha filha. Vá embora. — Lucinda se

estressou. — Eu quero tomar um remédio e dormir. Sei que o meu


casamento com seu pai não foi perfeito, mas ele foi a pessoa com

quem eu passei vinte e cinco anos da minha vida. Só quero ter um


tempinho sozinha para assimilar tudo, prometo que não quero fazer
nenhuma besteira, está bem? Vá para sua casa com o seu marido
— ordenou e Giovanna mordeu o lábio. — Você lembra do que
sempre te digo?

— A vida continua e tudo vai ficar bem.

— É exatamente isso. Seu pai se foi, mas a vida continua e

nós vamos ficar bem. — As duas se abraçaram. Lucinda virou-se


para mim. — Obrigada por tudo, Damon. Sua gentileza e carinho

comigo e com minha filha nesse momento foi muito especial. Você é
um genro maravilhoso. — Me deu um beijo maternal na bochecha e

foi para a escada.

Giovanna segurou minha mão e saímos da casa. Estávamos


morando a uns bons quarenta minutos do centro da cidade, mas

aquilo não era um problema, porque a tranquilidade do lugar que

cresci era muito melhor que a do apartamento. 

Não considerava voltar a morar na casa, até chegar ao ponto

de Giovanna não conseguir ficar no apartamento. Encontrei-a um

dia comendo no chão atrás de um móvel, noutro, assistindo


televisão sentada no tapete ao invés de no sofá. Ela manteve todas

as cortinas fechadas e tinha pesadelos a cada maldita noite. 


Minha mulher ficou insuportavelmente doente, com febres

altas, precisei da ajuda da minha sogra, do contrário não


conseguiria colocar a nossa vida em ordem. 

Herdei a casa do meu pai, mas, ela era grande demais para
um casal. Já achava que era grande para a minha família, porém, o

lugar já era equipado com um esquema de segurança que só

precisava de uns ajustes. 

Não adiantava nada mantê-la em casa se não se sentia bem

ao ponto de não conseguir deitar na cama e dormir em paz. 

Estacionei o carro dentro da garagem e entramos pelos

fundos. Ela foi direto para a lavanderia e tirou o casaco, as meias e

o sapato. Passou o vestido preto pela cabeça, arrancando a

calcinha e o sutiã, jogando no cesto de roupa suja. Apoiou os


sapatos na pia, pois estavam sujos da igreja, em seguida da capela

e por fim, do cemitério. 

Segui seu exemplo, tirando com mais calma e pegamos os

roupões do lavabo que ficava próximo. Eram roupões para piscina,

mas serviriam naquele momento.

Giovanna subiu na minha frente, passei no escritório e acionei

os alarmes noturnos da propriedade. Enrico estava na casa dele e


tinha os próprios alarmes se precisasse sair. Havia sensores de

movimento, câmeras em pontos específicos e alarmes em todas as

portas e janelas. 

Não estava com cabeça para fazer mais nada, precisava

tomar um banho, comer alguma coisa e dormir.

Ela já estava no chuveiro quando entrei no banheiro. Tirei o

meu roupão e invadi o espaço. A temperatura da água estava

quente o suficiente para cozinhar legumes. Seu cabelo molhado


escorria nas costas, peguei a esponja da sua mão. 

Recostando no meu peito, me permitiu passar a esponja

macia por seus braços, tomei com cuidado os seios e virilha. Eu


amava ter minhas mãos pelo corpo da minha mulher.

Virando-se, tomou a esponja e começou a me lavar. 

Nós estávamos cheios de espuma e mãos bobas. Ela soltou

uma risadinha e me empurrou quando passei a mão por sua bunda,

querendo atingir a minha parte favorita por trás. Beijei-a, distraindo


sua atenção e a empurrei contra a parede, erguendo a coxa,

tocando onde queria.

Meu pau adorou a atenção, mas eu não queria sexo ali.

Levei-a para debaixo do jato de água e nos enxaguamos. 


Peguei a toalha e Giovanna apenas tirou o excesso de água

do cabelo antes de me puxar e me beijar. 

Ela foi me conduzindo para o quarto, sem parar o ataque e eu

deixei, não queria que ficasse inibida. Aos poucos, estava se


soltando, relaxando com a penetração, que ainda era bem

apertada. 

A primeira vez foi quase impossível mas a cada vez ela se


descobria mais, eu não perdia a oportunidade de ensinar todas as

putarias do mundo. Em algumas ela ainda ficava toda vermelhinha

de vergonha, mas não negava.

De quatro ainda não era uma posição que gostava, entendia

que era muito invasivo, não ficava 100% confortável com a

penetração. Ela adorava que fizéssemos de lado pela manhã, e eu


estava ficando mal-acostumado em acordar com aquela deliciosa

bunda pressionada no meu pau. 

Às vezes ela já começava a rebolar devagarzinho contra

mim, na maioria das vezes era eu quem começava.

Ficamos sem sexo enquanto estava se recuperando, quando


melhorou, foi outra história. Eu era um babaca, mas não faria sexo
com a minha mulher doente. Fui um bom enfermeiro, fazendo todas

as suas vontades.

— Gio... — Ela montou em mim, molhadinha e tentou me


encaixar, mas não tinha certeza se ia gostar daquele jeito.

— Quero tentar, me ajuda, por favor. — Ela ia me matar com


aquela vozinha manhosa, cheia de tesão. Apoiei suas mãos e deixei

que testasse, sentando devagar no meu pau. Fechei meus olhos

com a sensação. A maneira como estava me engolindo lentamente

era a tortura mais gostosa do mundo. — Ah!

— Porra... 

— É assim? — Rebolou meio incerta, olhando nos meus

olhos.

— Está confortável?

— Sim... — Soltou um gemido diferente, que quase me fez

gozar. Segurei sua bunda, incentivando-a a repetir os mesmos


movimentos, sabendo que estava tocando o ponto G. — Damon...

— Por outro lado, ela parecia confusa, porque certamente estava

sentindo um prazer que nunca havia sentido antes. 

Nunca forcei o orgasmo através da penetração. Ela precisava

se conhecer e não queria machucá-la. Giovanna era virgem em


muitos sentidos e esperava que gostasse de transar tanto quanto

eu, por isso, não tinha pressa. Em breve, estaria mais à vontade e
nós dois teríamos a vida inteira para ter um ao outro.

— É assim mesmo... 

Passei a mão por sua barriga, beliscando o mamilo,

maravilhado com o seu corpo tomando o controle da situação em

busca do próprio prazer. Meu pau estava tão duro que parecia que
ia explodir. 

Minha bella estava rebolando gostoso, gemendo, soube

exatamente quando encontrou o próprio orgasmo. Foi a melhor


visão da minha vida, tê-la se contorcendo de prazer em cima de

mim. 

— Que delícia, bella.

— Como isso aconteceu? — Seu olhar surpreso me fez rir.

Sentei-me e a mantive pertinho, ainda todo enterrado dentro. —


Uau... — Fechou os olhos.

— Quer deixar ainda mais intenso? — Encostei a minha


bochecha na dela. Sorrindo, apenas balançou a cabeça e seguiu as

minhas instruções. 
Fiz com que montasse em mim de costas, me dando a bela
visão de sua bunda. Gio gemeu muito gostoso ao sentar de novo.

Só que dessa vez, minhas pernas estavam dando-lhe apoio. Agarrei

sua bunda, intensificando seus movimentos, bem rude e a cada


rebolada, esfregava seu clitóris na minha coxa. 

Giovanna gozou de novo, muito mais intenso que a primeira e


dessa vez, gozei junto. Puta que pariu... Era tão bom. Minha mente

entrou em apagão completo por um tempo enquanto acariciava suas

costas. 

Estiquei as minhas pernas e sentei, abraçando-a e saindo de

dentro. Deitamos juntos, de lado. Ela se encolheu, virando de

barriga para cima, respirando pesado e jogando as pernas em cima


de mim.

De lado, não conseguia desviar o olhar de seu rosto, beijei

sua boca repetidas vezes até prolongar o beijo, de um jeito calmo.


Não paramos de nos beijar – ela gostava disso. Antes dela, não fui

um homem de beijos, tudo era sobre foder, não sobre ser carinhoso,
ou ter um momento de intimidade. Era sexo cru. 

Com Giovanna, era diferente. Eu precisava dos beijos dela


como precisava respirar. Não levou muito tempo para estar dentro
dela de novo, de ladinho, foi bem devagar. Queria que gozasse mais
uma vez e ao conseguir, me deixei levar. 

Não fazia ideia do motivo de estarmos tão necessitados.


Ficamos abraçados na cama e minhas mãos tinham vida própria,

não conseguia parar de tocá-la, amando que sempre que chegava


perto dos seus mamilos, ela se arrepiava. 

Seu olhar para o meu era o mais bonito, o mais puro e era

tão incrível a sensação de estar profundamente conectado a outra


pessoa... Conhecia seu cheiro, seu gosto e o seu corpo respondia
ao meu. Era tão intenso!

De repente, seu rosto fechou e ela começou a chorar. Cobriu


com as mãos e me assustei, pensando que estava sentindo dor, que
talvez tivéssemos exagerado e por um momento, fiquei em pânico.

— Gio, bella. O que foi, amore mio? — Tirei suas mãos do


rosto e beijei o dedo anelar, com as alianças.

— Não quero que você morra, por favor, não me deixe. —

Soluçou baixinho, escondendo o rosto no meu peito. — Não quero


te perder. Não quero te ver dentro de um caixão... por favor, não
faça isso comigo.
Mesmo que fosse humanamente impossível prometer algo
como aquilo, Giovanna viu a mãe perder o marido. Mesmo que não
gostasse do casamento dos pais, sabia que era uma dor, que ao

estar casada podia compreender. 

Beijei seu rosto, acalmando o choro. Mesmo com os lábios


inchados, a pontinha do nariz vermelha, os cílios e os olhos

molhados, era a criatura mais bonita do mundo inteiro.

— Não vou te deixar, mia bella. Serei para sempre seu e nós
vamos envelhecer juntos, provavelmente vou estar usando bengala

antes de você. Espero que não me deixe por um homem mais


jovem. — Brinquei para ganhar um sorriso.

— Você não é tão mais velho que eu assim, seu bobo. —

Secou o rosto, rindo. — Além do mais, você é capaz de matar o


homem a bengaladas.

— Isso é verdade. Serei sempre um idiota possessivo. —

Provoquei e ela revirou os olhos. 

Giovanna tentava conversar comigo todos os dias sobre ser


possessivo, e aí, ela saía de casa com um short que dava para ver
seu útero e a bunda que não era nada pequena, além de ter a
população masculina torcendo o pescoço para acompanhar o seu
andar. Era impossível não ser ciumento.

— Quantas vezes teremos que conversar sobre isso? —


Fingiu brigar comigo. Dei um beijo de boca aberta em seu ouvido,
fazendo um barulho alto. — Caramba! Eu já te falei que odeio isso!

— Eu sabia, por isso fiz. Sorri e ela bufou, enfiando o dedo na boca
e para minha surpresa, enfiando em meu ouvido. 

Sandra fazia aquilo comigo desde que eu era um moleque, e

eu odiava.

— Você está proibida de falar com a minha irmã! — Sacudi a


cabeça, todo arrepiado, odiava aquela merda. 

Giovanna tinha um sorriso muito feliz no rosto. Ataquei suas

costelas e seu gritinho provavelmente acordou os cães em um raio


de dez quilômetros, mas nem por isso parei, até que ela prometeu
que faria o meu prato favorito uma vez por semana. 

— Idiota. Eu vou tomar banho. — Me empurrou, puta e saiu


batendo o pé. Fui atrás dela, rindo, sabendo que seu senso de
humor mimado não aguentava muita brincadeira. — Não vai tomar

banho comigo!
— Vou sim, quem manda nessa casa sou eu — falei com a

voz grossa, só para ecoar no banheiro. Giovanna virou como se


fosse a mulher do filme O Exorcista. — É isso mesmo que você
ouviu. Eu mando nessa casa e em você. — Só faltou sair fumaça de

seus ouvidos. Ela pegou o frasco do xampu e arremessou em mim.


Tamanha a força, o vidro quebrou, explodindo xampu pelo banheiro.

Caralho... Ela tinha muita força quando estava com raiva.

Voltei a rir, o que a deixou ainda mais furiosa e sem querer que me
aproximasse. 

Ah, Giovanna...

 
16 | Gio.

Sonhar com sexo no meio de um chá para mulheres era a

minha ruína. Estava sonhando com um sexo incrível com meu

marido. Desejava estar com ele.

Minha cunhada me cutucou ao perceber minha expressão


muito entediada. 

Estava tentando ser doce, paciente e muito simpática, mas


aquele evento me dava sono e eu queria estar em casa, dormindo a

tarde inteira. Como esposa do chefe, precisava comparecer a quase


todos os eventos inventados pelas matriarcas e aquele chá, sem
nenhum motivo aparente, estava muito chato. 

Ajeitei a gola da minha blusa de seda rosê e puxei um pouco

da minha saia de paetê rosa clarinho, cruzando as pernas.

Comi um biscoitinho e dei um gole do chá, que já estava frio.

Minha mãe parecia feliz por finalmente sair de casa, depois de mais

de um mês do falecimento do meu pai. Vestida toda de preto,


achava muito blasé essa roupa, mas estava se irritando à toa

comigo, quase ranzinza. Eu sabia que era uma das fases do luto e

estava respeitando. 
Não queria estar naquele evento, era o aniversário de vinte e

sete anos do meu marido e eu estava ansiosa para comemorar.

Enrico apareceu na sala e discretamente sinalizou para o seu

telefone. Entendi que era para pegar o meu e olhei, havia milhares
de mensagens de Damon. Já estava esquentadinho porque eu não

estava respondendo, avisei que o telefone não ficava colado na

minha mão. 

Porém, de alguma forma, meu marido estressadinho estava

me salvando de permanecer mais uma hora naquele evento. Fui até

a anfitriã, me despedi e nem ofereci uma desculpa, porque era


aniversário dele e ninguém iria questionar. 

Não precisava dar satisfação a ninguém.

Dentro do carro, tirei os sapatos e suspirei, balançando os

meus dedinhos. Enrico riu, me chamando de maluca por usar

aquele modelo, me deu um bombom e me levou para casa,

estacionando na garagem, onde saí descalça mesmo. 

Encontrei Damon na cozinha, parecendo que havia acabado

de chegar, virando uma garrafa de água e me dando um olhar

intenso. Era sempre assim quando me via pela primeira vez no dia. 
Ele havia saído quando eu ainda estava dormindo, então,
pulei em cima dele.

— FELIZ ANIVERSÁRIO, MARIDO! — gritei e ele me pegou a

tempo. Por sorte, se apoiou no balcão.

— Você é maluca! — Sorriu enquanto beijei sua boca. Ele

enfiou as mãos dentro da minha saia. — Que calcinha pequena,


esposa. Não tinha uma saia mais curta?

— Estou toda tapada em cima, tinha que compensar embaixo.

Estou linda, bem romântica e jovem.

— Essa calcinha não parece nada romântica — comentou

contra a minha boca. O safado queria sexo aquela hora do dia?


Bem... era aniversário dele. Eu estava pronta para mostrar a minha

calcinha quando seu telefone tocou. Damon ficou sério. — Tenho

que atender. — Me colocou no chão e saiu, com o telefone no

ouvido.

— Santo cazzo — murmurei meio frustrada.

Peguei minha bolsa e fui para o nosso quarto. Pensei que

fosse subir, mas ele apenas me enviou uma mensagem, dizendo

que precisava sair e nós nos veríamos à noite. 


Respondi com uma carinha brava. Eu tinha um monte de

paciência com a nossa vida, mas era o primeiro aniversário dele


como casados – no ano anterior, saímos para jantar com a sua

família e eu mal fiquei perto dele, mas pelo menos estava lá. 

Mesmo se estivéssemos namorando dentro dos padrões

normais, não poderíamos ficar juntos. 

Deitei para tirar um cochilo, mas pensei no último mês da


minha vida. Perder meu pai foi um choque, fiquei meio sem saber o

que pensar, me senti muito mal e uma péssima pessoa por não ter
sofrido como uma filha decente sofreria. 

Ainda tinha muita mágoa do meu pai que, com o tempo, fez
com que meu amor por ele fosse soterrado. Não confiava a minha

vida ao meu pai, ele já havia provado que trocaria a minha pela dele
facilmente. 

A morte dele me abriu os olhos para a intensidade do elo de


um casamento: meus pais, apesar de tudo, passaram por muita

coisa juntos. 

Minha mãe viveu muito mais tempo com o marido do que


com os pais. Isso me fez pensar em Damon. Nosso casamento era
tão jovem, estávamos apenas a poucos meses juntos... e eu já não

me enxergava sem ele. 

Tudo que pensava era em nós. 

Damon me mimava tanto, das coisas mais bobas às mais


importantes. Obviamente, ele era insuportável, queria poder sair
mais com as minhas amigas, ter tardes de besteiras, sair para

praticar exercícios físicos – e ele não deixava. Dizia que era só por
enquanto, até que Alonzo deixasse de ser uma ameaça, mas eu

ainda tinha minhas dúvidas. 

Damon era ciumento, como eu também era. Estava tentando


me controlar para não cobrar tanto dele, mas era muito difícil, com
as visitas frequentes às casas noturnas, na maioria das vezes até o

amanhecer. Ele dizia que não estava lá para curtir, porém, a maior
parte dos empreendimentos eram de entretenimento adulto.

Ficava sem dormir quando avisava que estava no C Sex, um

clube de sexo – legal – que oferecia festa de Swing, shows com


mulheres nuas, encenações de BDSM... minha mente era muito
fértil. Saber que ele estava lá quase sempre me causava uma

síncope. Mas eu tinha que amadurecer e encarar aquilo como um


trabalho.
***

Nos reunimos para comemorar o aniversário de Damon em um

dos seus clubes de dança. Era uma boate realmente luxuosa e


muito disputada na cidade. Convidamos algumas pessoas

agradáveis e jovens. Damon me avisou que a festa teria drogas e


muita bebida, eu não deveria beber absolutamente nada fora do que
ele ou Enrico me entregasse. 

Sabia que meu marido mataria qualquer um que conversasse

demais e planejava ficar quietinha, mas isso não significava que não
sairia de casa pronta para parar o trânsito. 

Levantei na hora de me arrumar e caprichei no cabelo,


deixando ondulado e bastante spray. Fiz uma maquiagem bem

básica: base, corretivo, blush, iluminador, delineador bem fino,


apenas para realçar o olhar, e bastante rímel nos cílios. Nos lábios,

um gloss de cereja, que tinha um gostinho bom. 

Passei um hidratante perolado no corpo, meu perfume


favorito e o meu vestido...

Meu vestido era rosê para dourado, de alças finas, com um


decote agradável e apesar de ser um pouquinho maior atrás, ia até

o meio das minhas coxas. Coloquei o colar escrito DAMON, minhas


alianças, brincos pequenos e minhas pulseiras de coração favoritas,
que eram bem discretas, já que meu vestido era muito chamativo. 

Sentei na cama com cuidado, colocando minhas sandálias


brancas, de tira. Fiz algumas fotos na frente do espelho e uma selfie

onde meu cabelo escondia a roupa que eu estava vestindo.

Avisei a Enrico que estava pronta e fui para a garagem.

— Você quer que ele cometa um assassinato essa noite? —


Enrico bufou.

— Essa é a sua maneira de dizer que estou linda? —

Provoquei e ele ficou vermelho. — Relaxa, meu marido vai gostar.


Além do mais, enviei uma foto — menti. Enviei a selfie, não a foto de

corpo inteiro. Damon respondeu que estava linda, pediu uma de

corpo inteiro e não visualizei para não ter que responder. 

Eram quase onze horas quando cheguei ao clube. Enrico

parou, outro soldado levou o carro e alguns abriram caminho para

mim na multidão. A fila estava enorme. 

Não olhei para o lado, segurando nas costas de Enrico e,

dentro da boate, fomos para um elevador privado, ao invés de


seguirmos para a escada que estava lotada. 
Saímos em um andar mais vazio, o terceiro da boate. O

primeiro e o segundo estavam cheios, mas o terceiro tinha apenas


os convidados do aniversário de Damon. 

Madah não foi autorizada a vir porque não era casada, mas
Bianca sim. Minha prima e cunhada estavam muito bonitas, mas

ambas usavam calças e blusas decotadas, no estilo de uma balada. 

Bianca cuspiu o espumante quando me viu e Sandra soltou


uma gargalhada, pedindo para dar uma voltinha. 

Rodopiei até elas, abraçando as duas ao mesmo tempo.


Acenei para os homens conhecidos e mal olhei para os

desconhecidos. O único que realmente falei foi Frank, porque ele

era meu cunhado e me olhava como se fosse sua irmã. Até o

marido de Bianca escorregava nos sorrisos e olhava demais, mas


ele fazia isso com todo mundo.

— Cadê meu marido? — perguntei para a Sandra.

— Desceu para fazer não sei o quê, estava na pista. 

— Já avisou que cheguei? — Olhei para Enrico e ele assentiu. 

Me debrucei no parapeito, olhando para baixo e um grupo de

caras começaram a gritar, querendo chamar a minha atenção.


Enrico apontou para onde Damon estava e parecia cercado. Havia

uma garota pendurada em seu ombro, cochichando em seu ouvido.

— Pede para ele olhar para cima. — Cutuquei o Enrico, ele


respirou fundo e chamou no comunicador. 

Damon apertou um dedo no ouvido e olhou para o alto. Seu


olhar encontrou o meu. Nós ficamos sérios. Ele por ver a minha

roupa e eu por ter que presenciar uma sem noção tentando se

pendurar nele. Damon falou algo no comunicador de volta.

— Ele pediu para te levar para o escritório.

Assenti, emburrada e Enrico percebeu que eu estava fervendo.


Andei atrás dele, ereta, passamos por um corredor muito gelado e

por fim, abriu uma porta depois de digitar o código. Ele não entrou

comigo, fechou a porta atrás dele. 

Queria fazer a cabeça de Damon explodir. Sem pensar

direito, tirei a minha calcinha e embolei todinha na mão. Escondi na

primeira gaveta da mesa que abriu, preservando a parte íntima para


não tocar em nada. Me sentei em sua mesa e cruzei as pernas.

Não levou dois minutos para ele entrar na sala e fechar a porta
com força.

— Que porra é essa que está usando?


Arqueei a sobrancelha.

— Quem era a vadia? — Rebati no mesmo segundo.

Damon sorriu maldoso.

— Uma bêbada.

— Parecia gostar do que ela estava falando.

Ele puxou o cabelo, me olhando com fogo nos olhos.

— Fique de pé.

Sorri, colocando o meu cabelo atrás da minha orelha.

— Não. 

— Não? — Ele estava surpreso. — Giovanna, você acha que

estou brincando? Eu odeio essas roupas curtas, porra! Vi sua


calcinha lá de baixo! — berrou e soltei uma risada irônica, que

provavelmente o levou à beira da insanidade.

— Que calcinha? — Descruzei a minha perna e apoiei na

cadeira à minha frente. 

Meu coração estava martelando furiosamente no peito. 

Damon atravessou a sala tão rápido quanto um raio, parando

entre as minhas pernas e agarrou as minhas coxas, puxando para

si. Arquejei com o impacto. Ele agarrou o meu cabelo e quando ia


falar alguma gracinha possessiva, arranhei a sua nuca todinha,

puxando-o pelo cabelo e diferente dele, foi para doer. Fechou os

olhos, todo arrepiado enquanto eu mordia seu lábio inferior.

— Você é meu marido. Meu marido — falei contra sua boca.

— Ciumenta do caralho — rosnou, me beijando e agarrando a


minha bunda, me pressionando de um jeito delicioso. Ele se afastou

o suficiente para enfiar a mão entre as minhas pernas. — Filha da

mãe! Você está sem calcinha, Giovanna!

— Você saiu quando estava prestes a ganhar sexo de

aniversário, me deixou em casa, doidinha por você e literalmente,

chupando o dedo — sussurrei manhosa, tentando abrir a calça dele,


que me empurrou.

— Quem vai chupar agora sou eu... a sala não é a prova de

som — disse, colocando a boca em mim, me chupando


deliciosamente. 

Tentei me apoiar na mesa, segurei o seu cabelo e os meus


saltos estavam arranhando sua jaqueta. Damon ficou de pé, tirando

a jaqueta e com pressa, abriu a calça, abaixando a cueca e me

pegando, metendo de uma vez só.


Vi estrelas com mais de uma sensação ao mesmo tempo. Foi o

sexo mais quente, cru e violento que tivemos. Percebi o quanto ele
se segurava, mesmo nas noites que tínhamos um ritmo mais

frenético. Apesar da experiência nova, acabei gozando, mordendo o

seu braço. 

— Desce! — Uau, eu o empurrei demais. Desci da mesa e ele

me virou, levantando o meu vestido. — Curto demais... — Deu um

tapa firme na minha bunda e me inclinou para frente. Senti-o


entrando por trás e puta que pariu. — Caralho... Giovanna! —

Segurou na minha cintura, metendo firme e me puxou pelo cabelo.

Caramba, precisava irritá-lo mais vezes. — Você é minha! —


Mordeu o meu pescoço. — Minha mulher! Gostosa! — Fechei os

meus olhos, gozando de novo. Que porra estava acontecendo? —

Isso, bella. Goza gostoso... — gemeu e tombei a minha testa na

mesa, me sentindo fora do mundo. Quando ele gozou, senti seus


impulsos dentro de mim, aquela posição me deixando incrivelmente

sensível.

Damon me puxou para a cadeira, aninhando-me em seu colo e

comecei a rir.

— Olha só... meu marido ficou louco. — Brinquei e beijei sua


boca.
— Você me deixa maluco... — ele grunhiu, me abraçando. —
Sou louco por você, Giovanna. Não importa quantas mulheres

apareçam na minha frente, tudo que penso é em você. 

— Eu também, Damon. Eu me visto assim porque me sinto

bem, gosto de te provocar, sua reação é a única que importa. E

digamos que, a de hoje foi melhor do que esperava. Caramba...


gozei sem que você me tocasse lá. Foi tão... Quando podemos fazer

de novo?

— Puta que pariu! — Ele começou a rir. — É só continuar


assim que vai ter mais. — Sorri e segurou o meu rosto, me beijando

de um jeito bem doce. — Você está linda — falou com sinceridade.

— Muito gostosa... — Abaixou o meu decote e chupou o meu peito.


— Deliciosa... Eu te comeria mil vezes com essa sainha

balançando, brincando de pique esconde com a sua bunda, mas por


favor, não tente me matar no meu aniversário.

— Vou tentar, prometo.

Damon me levou para um banheiro, riu quando tirei a minha

calcinha de sua gaveta e ficou aliviado quando percebeu que era


uma tipo cuequinha que cobria quase toda a minha bunda. 
Me ajeitei o máximo que consegui, mas com meus lábios
inchados, o cabelo desgrenhado e o estado desalinhado que me
encontrava, ficou muito óbvio para todo mundo que nós estávamos

transando ao invés de brigando.

— Amo ver meu irmão comendo na sua mão. — Sandra bateu


a taça na minha. Eu ri, porque ela adorava perturbá-lo. Damon

estava no sofá, bebendo e falando com um homem que eu não


conhecia bem e não tirava os olhos de mim. Pisquei e soprei um
beijinho, seu olhar brilhou e ganhei um sorriso lindo de volta. —

Assim vocês me matam!

Damon não ficou de palhaçada como achei que ficaria, todo o


sexo selvagem acalmou os seus ânimos, porque dancei com as

meninas, bebi, tirei fotos e ele ficou o tempo todo de olho. 

Sabia que não ficaríamos a noite toda, porque ele queria ficar
sozinho comigo, então, uma e meia da manhã, saímos pelos fundos
onde estava o seu Lamborghini Huracán azul escuro, que tinha um

brilho apaixonante. 

— Você está com fome? — Deu a partida no carro, o ronco


deixando um rastro na noite da cidade. — Quero te levar em um

lugar, é um pouco longe e acho que só vamos sair de lá de manhã.


— Então é melhor comprar algum lanche... — Encolhi os
ombros.

Paramos em um Burger King, depois ele seguiu em alta

velocidade pela noite escura, com a música alta no carro e pela


primeira vez, vi o quanto ele estava sendo apenas jovem, um pouco
inconsequente, se divertindo como um homem da sua idade e fiquei

muito feliz de ter insistido em comemorar o seu aniversário. 

Nós saímos de Illinois e entramos na região oceânica de


Indiana. Não passou uma hora de viagem e ele diminuiu a

velocidade consideravelmente, ao passarmos por um bairro


residencial. Então, chegamos a uma estreita estrada que não dava
para ver absolutamente nada em ambos os lados, foi quando ele fez

uma curva e parou no alto da praia. 

Era possível ouvir o mar e ver a espuma branca na


rebentação das ondas. A lua iluminava o suficiente para ver que era

uma praia grande, com algumas casas bem distantes, estávamos


em um lado deserto.

— Costumava vir aqui quando era criança e pensei que fosse

gostar. — Enfiou a mão atrás do meu banco e pegou uma garrafa de


vinho e do porta luva, dois copos plásticos. 
— Isso que chamo de homem preparado. — Segurei os copos,
que ele serviu até a metade de cada e deixou a garrafa no console.

Puxou seu banco para trás e bateu na coxa, querendo que me


sentasse em seu colo, que claro, fui com prazer.

Nós passamos a noite bebendo vinho, aos beijos, conversando

e quando estava quase amanhecendo, saímos do carro. 

Sentei no capô para admirar o nascer do sol, mas... eu nunca


imaginei que um dia, na minha vida de casada, faria sexo em cima

de um carro de luxo, com o sol nascendo e meu marido me


mostrando mil e uma maneiras de termos uma vida louca, intensa e
apaixonada... juntos.
17 | Gio.

Damon parou ao meu lado e colocou a mão em minha

cintura, efetivamente marcando a sua presença e intimidando o


homem que tinha idade para ser o meu pai, que, descaradamente,

não sabia se portar na presença de uma mulher bonita. Era o típico


que só respeitava com o marido por perto. 

No caso, o meu marido poderia atirar bem no meio da testa


dele que não me importaria, só por causa de tanto comentário
nojento disfarçado de elogio e risadas engraçadas.

Respirei fundo e bebi mais um pouco do meu espumante,

saindo de perto logo que Damon tomou controle da situação. Se eu


reclamasse com minha mãe ou qualquer outra mulher, elas
colocariam a culpa em mim, porque estava usando um lindíssimo

vestido vermelho. 

Sempre era culpa da mulher.

Não tinha culpa de ter casado quando mal saí das fraldas, não
ia me vestir como se tivesse quarenta anos. Minha prima Bianca se

vestia bem, mas parecia uma freira, querendo equiparar a sua

vestimenta com a idade do seu marido.


Definitivamente não era para mim.

Sorri para algumas pessoas no meu caminho e parei na mesa

do buffet, olhando se estava tudo certo. Minha cunhada parou ao

meu lado.

— Está tudo bem? 

— Sim, seu irmão me salvou de cometer um assassinato no


jantar de aniversário dele. Seria um desastre logo no meu primeiro

evento como matriarca. — Olhei para o salão e as pessoas

pareciam satisfeitas. 

— Não fica chateada, eles são uns abutres. 

— Pensei que fosse dizer que a culpa é minha por estar bem-
vestida. 

— Sabe que não sou esse tipo de pessoa, Giovanna. Você é

linda e é jovem, tem a mente muito mais aberta que a maioria das

mulheres e convenhamos, culhões para enfrentar o seu marido. Até


porque, sabe o mato que tira lenha. — Piscou e pegou uma taça de

espumante para mim, porque a minha estava quase vazia. —

Relaxa, está tudo perfeito! Você arrasa! 

Minha cunhada saiu de perto e foi conversar com algumas

mulheres, uma das mais chatas das amigas da minha mãe se


aproximou, com seu sorriso puxado por botox. Olhei para Damon do
outro lado da sala e era melhor ele estar comigo em dois segundos.

Deus... eu não era boa com pessoas. 

Meu marido não podia ser um contador muito antissocial?

Não aguentaria ser casada com um cara sem graça, mas pelo

menos não me encheria o saco ter que ser simpática com tanta

gente irritante.

Para melhorar, ela era esposa do homem que estava me

irritando.

— Você cresceu e se tornou uma mulher tão linda —

comentou, bebendo o seu vinho de um jeito bem elegante. — Está

magnífica nesse vestido lindo... 

— Obrigada, Sra. Lombardi. 

— Vocês dois formam um casal lindo... — seu tom começou

a ficar ácido. — Desejo que tenham uma vida plena e longa juntos,

afinal, seria realmente terrível uma mulher tão jovem se tornar viúva

e ser obrigada a se casar novamente. 

Virei de frente para ela bem devagar e apoiei minha taça na

mesa ao meu lado. Seus olhos se arregalaram quando me inclinei.


— Cuidado, Sra. Lombardi. Seria uma pena se o seu marido

ficasse viúvo e se casasse com uma mulher muito mais jovem e


tivesse seu tão sonhado herdeiro. — Peguei um Martini que o

garçom parou para nos servir. Enfiei a azeitona na boca. — Vida


longa a vocês dois! — Ergui a minha taça, dei um gole e saí de
perto. 

Passei direto para a cozinha e virei toda a minha bebida de

uma vez só. Os garçons estavam arrumando as bandejas com


alguns salgados finos, peguei um pratinho, uma taça de vinho e saí

pelos fundos.

Precisava de um tempinho sozinha. Me escondi no gazebo,

para comer em paz e poder beber sem ter milhares de pessoas


contabilizando quantas taças havia bebido. Mordi uma quiche e

gemi, merda, por que era tão bom? Toda comida estava deliciosa. 

Tirei as minhas sandálias, esticando as pernas no banco-


balanço, coloquei o pratinho no chão e cheguei à conclusão de que
poderia facilmente ficar ali até terminar de beber.

Voltei para a festa e me comportei como uma mocinha

educada. Damon me olhou algumas vezes, querendo saber se


estava tudo bem, mas não correspondia aos seus olhares e mantive

a minha cabeça erguida até o último convidado sair. 

Quando Enrico sinalizou que iria vasculhar a propriedade


para verificar se estava tudo fechado corretamente, dei as costas

para os dois e subi as escadas. Entrei no quarto, fechei a porta,


joguei as sandálias no fundo do closet, arranquei o vestido, tomei
um banho rápido e me joguei na cama.

Senti Damon me abraçar quando deitou, mas estava mais

dormindo do que consciente. Quando acordei na manhã seguinte,


ele já tinha saído. Era uma sexta-feira, então, ele tinha muito que

fazer na rua. 

Me arrumei para minha consulta médica e em seguida, faria

compras de mercado. Como ficava muito tempo em casa, acabava


comendo muita besteira de delivery e precisávamos de comida de

verdade. Fazia um tempo que dispensava o auxílio de Marcela,


vistoriando e ajudando a limpeza da casa sozinha.

Escolhi um macaquinho jeans, uma camisetinha cinza escura e


meu par de tênis all star favoritos. Arrumei a minha bolsa e desci a

escada com a minha pasta de exames nos braços. Mandei uma


mensagem para Enrico, avisando que precisava sair e não demorou
dois minutos para que ele aparecesse na cozinha.

— Não sabia que iria sair. — Ele estava com o cenho


franzido.

— Tenho que ir à Dra. De Luca, estou com hora marcada.

Desculpa por não avisar antes. Vai poder me levar?

— Claro. Está tudo bem? 

Sua preocupação me deixou confusa.

— Vou saber quando chegar lá. — Sorri, pegando um

pacotinho de pop-tarts e uma garrafinha de iogurte. 

Saímos de casa depois de alguns minutinhos e fui comendo no

caminho, não levou muito tempo para chegarmos ao consultório.


Enrico me acompanhou na recepção, mas não entrou comigo na

consulta 

A Dra. De Luca leu todos os meus laudos, estava tudo bem


com os exames de imagens e nós falamos sobre o quanto eu ficava
insuportável no meu período menstrual, exatamente como estava

naquela semana. 

Devido ao anticoncepcional, nem todo mês a minha


menstruação descia, quando vinha, era muito pouco e não tive mais
cólicas, exceto: dor nos seios, na cabeça, enjoo e um mal humor
que não me aguentava.

Rindo dos meus relatos assassinos, ela me receitou um


calmante natural para manter o equilíbrio e me aconselhou a não

descontar na comida, ou o enjoo não iria passar. Fazia todo sentido


ficar enjoada se eu não parava de comer doces... 

Ao terminar, Enrico estava em pé do lado de fora da porta, de

braços cruzados, olhando emburrado para a mulherada e eu vi uma


delas olhando-o de um jeito engraçado.

— Ah, vi que fez sucesso.

— Podemos ir embora?

— Claro, vamos sair daqui antes que alguma delas decida


ficar com você. — Provoquei e ele saiu sem olhar para trás. 

Saímos do prédio comercial e apenas na metade do caminho

ele me avisou que Damon queria que fosse para seu escritório.
Olhei a hora e suspirei, dormi a manhã inteira, acordei quase na

hora do almoço e levei tempo demais na consulta. 

Ainda precisava fazer algumas coisas, Damon não podia

estalar os dedos e me querer na sua frente. Já ficava muitos dias

completamente à sua disposição.


— Não vai dar, Enrico. Tenho que ir ao mercado e depois,

preciso levar algumas coisas para minha mãe. Vai ficar tarde. Me
leva ao mercado primeiro, por favor.

Avisei a Damon que não poderia passar no escritório, me


distraí procurando a lista e ao chegar no mercado, esqueci de olhar

se ele havia respondido. 

Mercado era um evento que me estressava, metade do meu


cérebro pedia para ser responsável e a outra metade enchia o

carrinho de besteira. Comprei frango, peixes e pacotes de massas

italianas tradicionais porque eu tinha muita preguiça de fazer do


zero.

— Enrico? Qual carne é mole? — Parei em frente ao freezer

de carnes. — Tudo parece igual e sangrento, como vou saber?

— Essa para ossobuco, essa para costela na panela de

pressão e essa serve para bifes, você pode assar que vai ficar muito
bom. Essa aqui para fazer ensopado... — Ele foi apontando e eu fui

jogando no carrinho. 

Peguei alguns temperos e empurrando o carrinho para pegar


chocolates, encontrei uma sessão de sementes e coisas para

jardinagem. 
Fiquei um tempão escolhendo sementes, cheguei a sentar no

chão, pedi informação e comprei um monte de coisa para plantar. Já

que ficava muito tempo em casa, tentei encontrar algum interesse


para estudar. Não ficando empolgada com nada além de passar

horas e horas rodando na internet, decidi que tentaria a jardinagem. 

Poucas mulheres da família eram autorizadas a fazer uma


faculdade, até o internato, fui educada em casa. 

Mesmo que me formasse em algo, não poderia exercer a


profissão devido a posição de Damon. Como sua esposa, era

esperado que ficasse livre para acompanhá-lo e convenhamos, não

queria deixar de ir atrás dele porque eu amava viajar. Já estava com

saudades da Itália e esperava um retorno em breve. 

Damon me prometeu que da próxima vez, poderíamos esticar

alguns dias em Paris, que era o meu sonho conhecer.

Só que, quando estávamos em Chicago, ficava boa parte do

dia desocupada, pensando merda, obcecada por cada matéria que

saía o nome dele. 

Poucos dias antes do seu aniversário, dei uma crise de ciúme

realmente histérica com a capa de uma revista em que ele estava


muito próximo de uma modelo, dançando e falando algo que eu
sabia que era sacana. O que o salvou foi Enrico, que estava poucos

passos atrás e careca. E a modelo estava fora do país. 

Fiquei um pouco envergonhada com a minha crise e me senti

a criatura mais imatura do universo, pedi desculpas e não falei mais


sobre isso. 

***

Ao chegarmos em casa, estava exausta. Minha mãe falou

tanto na minha cabeça, assuntos tão diferentes que no final eu não

fazia ideia qual era o assunto de fato. Deixei as frutas que pediu e
vim embora. 

Guardei as compras, tirei meus tênis e pensei em fazer um

ravioli ao sugo com molho de tomate caseiro fresquinho que a


minha mãe havia me dado. Com tanto tempo livre, ela estava com

potes e potes de molhos na geladeira. Peguei dois de cada, optando

naquela noite por deixar o pesto congelado para outro jantar.

— Algo cheira muito bem aqui, hum... — Damon entrou na

cozinha e ergui o meu olhar da panela.

— Não te ouvi chegar. — Franzi o cenho. 

Ele parou e enfiou as mãos no bolso, ficando sério.


— Cheguei há dois minutos e entrei pela frente, passei no

escritório e vim aqui. Está bem? 

— Claro... Normalmente você não vem em casa nas sextas-


feiras. 

— Estou de folga. Vou ficar em casa até segunda-feira à


noite, quando vou precisar olhar a contabilidade do final de semana.

Só vou sair com você ou se acontecer algo extraordinário... 

Não consegui esconder minha alegria. Final de semana era


muito difícil vê-lo em casa, ele passava o tempo todo na rua e eu

não tinha pique para ficar indo atrás dele na boate. Ele também não

gostava que eu ficasse tão exposta, nesse quesito, tinha razão. Era
um risco que corria desnecessariamente. 

Damon sorriu e relaxou com a minha reação, deu a volta no

balcão e me abraçou, beijando a minha bochecha. Tentei não tirar a


minha atenção da panela, não podia parar de mexer ou a massa iria

grudar uma na outra.

— Está tudo bem com você? Tenho te achado muito

estranha... ainda está chateada com a revista? Foi uma armação de

um idiota e eu já resolvi. Hoje foi ao médico, não sabia que tinha


uma consulta, o que está acontecendo? — Enfiou as mãos dentro

do meu macaquinho jeans e cruzou na minha barriga. 

— Não foi nada demais, apenas uma consulta de rotina para

mostrar exames, esqueci de avisar. Não estou chateada, acho que

estou meio carente. Estou feliz que vai ficar em casa. — Beijei seus
lábios. 

— Se você estiver doente, promete que vai me contar? —


perguntou bem baixinho. — Não importa o que for, me conta e nós

vamos passar por tudo juntos. 

— Estou bem. Ela só pediu para comer menos doces no


período menstrual que vai aliviar o enjoo e me receitou um calmante

natural para não dar uma crise como aquela. — Sorri para aliviar o

clima e ele queria que eu dissesse as palavras. — Eu prometo, que


se um dia ficar doente, irei te contar. 

— Obrigado. Ainda preciso fazer uma ligação para Nova

Iorque.

— O jantar vai estar pronto em trinta minutos. 

Assim que ele saiu, escorri o ravioli, lavei, deixei na travessa

com o molho ainda na panela. Cortei o queijo provolone e encaixei


no ralador, arrumei a mesa da cozinha mesmo, com a minha louça
de porcelana específica para a receita, taças de água e vinho. 

Desci para a adega, procurando um merlot, que era leve e


com boa acidez para acompanhar o molho de tomate. Deixei tudo

prontinho e subi para o meu quarto, tirando a minha roupa. Tomei

banho, vesti um conjunto de roupas íntimas bem sexy que ganhei da


minha cunhada e meu roupão de cetim.

Sexy e casual.

Desci a escada e ouvi a voz dele, estava subindo a escada por

dentro do quarto em frente ao seu escritório.

— Não sei realmente o que você vai fazer, mas essas são as

duas opções. Tenho que ir agora, nos vemos em alguns dias. —

Sua voz foi sumindo e liguei o fogo para voltar a aquecer o molho. 

Damon entrou na cozinha usando uma calça de pijama,

cheiroso e com o cabelo molhado, exibindo o seu peitoral muito


bonito. Terminei de montar os nossos pratos, decorando com uma
folhinha de manjericão. 

— Ouvi o finalzinho da sua conversa, estava falando com

quem? — Coloquei os pratos na mesa. Damon deveria estar com


fome porque mal tirava os olhos da comida. — Abra o vinho, por
favor.

— Estava falando com o meu primo. — Puxou a rolha, serviu


um pouco em cada taça, cheirou e bebeu. — Nós vamos para a

Itália ou para Nova Iorque em alguns dias.

— É mesmo? Algum evento em especial? — Me animei,


porque eu não conhecia a cidade e queria ter a oportunidade de ir lá

para passear. 

— Sim. Um velório. 

Fiquei confusa, mas não quis saber quem iria morrer. Não

queria assuntos tensos e nem ter informações demais no nosso final


de semana de folga. Aquele momento era sobre nós dois e não a
família, deixaria para me preocupar com quem iria morrer quando a

pessoa morresse. 

— Nossa, Giovanna. Está maravilhoso... — Damon não


parava de comer. — Seu molho de tomate está muito gostoso. A

massa bem fina. — Mordi o lábio, ainda bem que tinha jogado fora a
embalagem que comprei do mercado, deixei ele pensar que era a
massa caseira que fiz semanas atrás. 
Ainda bem que a do mercado estava tão boa quanto a minha.
Não mencionei que o molho havia sido feito por minha mãe porque
tinha vontade de dormir só de pensar em escolher trezentos tomates

e passar dois dias cozinhando. 

Aceitei os elogios e não falei mais nada, ele não precisava


saber de todos os meus truques.

 
18 | Damon.

O sol estava brilhando lá fora, mas não seria um dia quente.

Deixamos as portas da varanda abertas durante a noite, porque ao

entrarmos, pensar em fechar foi a última coisa que passou por

minha cabeça. 

Foi uma noite fresca, muito bonita e não precisamos ligar o


ventilador ou o ar-condicionado. Afinal, estava chegando a época
mais fria do ano. Olhei para o lado e observei o rosto sereno,
adormecido e lindo da minha esposa. 

Giovanna parecia mais relaxada e feliz do que na semana

anterior e eu estava me sentindo mal por passar tanto tempo longe.

Ela ficava muito tempo sozinha. Frank me disse para termos

filhos logo ou dar a ela cachorros, porque precisava se ocupar com


algo ou começaria a fazer besteira. 

A mente dela era uma oficina de fazer merda. 

Me deixava maluco com os seus beicinhos sobre qualquer


mulher em um raio de 500km. A maior parte de seu ciúme vinha do
fato que o pai traía muito a mãe. E provavelmente, isso era algo que

machucava as duas.

Traições e amantes eram comuns na família, a maioria dos

homens tinham prazer em ter duas mulheres. Para ser honesto, eu


não entendia. Giovanna me deixava maluco, ela parecia ter

personalidades o suficiente para trinta mulheres, não podia me

imaginar aguentando mais uma no dia a dia e quanto ao sexo, a


minha mulher era incrível em todos os sentidos da palavra. 

Sorri para a maneira que ela fez um beicinho e se mexeu na

cama, descobrindo-se e expondo seus seios perfeitos, que ficaram


arrepiados. Ela suspirou, agitando os cílios e abriu os olhos. 

Seu olhar parecia meio perdido por um tempo, a mente ainda


acordando e então, sua mão veio para o meu peito, subindo assim

como o seu olhar, que ao encontrar com o meu, pareceu muito feliz

em me ver. 

Amava receber aquele olhar. Era um dos meus favoritos e


não perdia para o olhar depois de gozar.

Giovanna ficou feliz em me ver, porque normalmente acordava

tarde e eu já não estava ao seu lado há muito tempo.

— Buongiorno, bella.
— Hum... Você está na cama. É muito cedo? — Se aproximou
e deitou a cabeça no meu peito. Sua voz estava baixa e rouca,

cheia de sono. 

Não dormimos muito. Estava acostumado a dormir pouco,

nunca fui de ter sono, quando pequeno era agitado demais e depois

de iniciado, dormir significava estar de guarda baixa. 

— Não, estava te esperando acordar. — Beijei sua testa e ela

colocou a perna em cima da minha, tomando consciência que

estávamos nus. 

Ela apagou depois de todo o vinho e sexo, tomou banho já

meio letárgica e simplesmente deitou, dormindo dois segundos

depois. 

— Eu gosto disso. — Beijou o meu peito. Peguei sua mão e

beijei a palma, escorregando na cama para o meu rosto estar

próximo. — Amo acordar com você. — seu sorrisinho dizia que ela

amava sexo pela manhã. 

Beijei sua boca, nos rolando na cama e fiquei por cima.


Giovanna era fogo e eu a gasolina, um toque e tudo explodia. Não

levou muito tempo para estarmos incendiando a cama, batendo


contra a parede e fazendo um barulho de um casal que gostava

muito de sexo.

Estar dentro dela era o meu paraíso. Segurei a cabeceira,

mantendo um ritmo muito gostoso, quase gozando e me perdi


completamente quando olhou nos meus olhos e mordeu o lábio. 

Gozei forte e deitei a minha cabeça entre os seus seios, ela

passou a mão em meu cabelo, recuperando a respiração e seu


corpo ainda estava estremecendo... Sentei só para vê-la descer de

seu orgasmo e parecer satisfeita. 

Sua bucetinha estava gotejando o meu esperma, beijei-a no

joelho e ganhei um sorriso amoroso de volta.

Ficamos na cama por horas, conversando. 

Minha mulher era dona das ideias mais loucas e histórias


sem fundamento, mesmo assim, gostava de ouvi-la. Essa era uma
das coisas que me assustava antes do casamento, porque nunca fui

de falar muito. Meu contato com o sexo feminino era com um


propósito e eu nunca precisei conversar para foder. 

Casado era outra história e eu não tinha problemas em manter

um diálogo com Gio. Ela tinha os seus momentos, que gostava de


ficar na dela, ouvindo música, assistindo um monte de série chata

ou filmes de romance.

— Juro que se você rir de mim, eu vou te morder. — Ameaçou


e a olhei, divertido, esperando a bomba que viria a seguir. — Sua

irmã foi me visitar uns dias antes de fazer a minha prova para tirar a
habilitação. Ela me disse: vamos dar uma volta no meu carro novo.
Eu fui toda empolgada... 

— Sandra deixou você dirigir o carro dela sem habilitação?

Que responsável! — Ironizei.

— Eu tinha a autorização provisória, bobo. — Revirou os


olhos. — Nós ficamos em uma estradinha perto da escola mesmo,
de repente, um esquilo atravessou a ruazinha correndo e em

seguida, o carro fez um solavanco como se a roda tivesse passado


por cima de algo. Comecei a gritar, ela sem entender gritou também,

esqueci da direção e nós caímos em uma vala. Os soldados que


estavam fazendo a segurança dela saíram do carro de trás, já com a

arma em punho e eu dei uma crise de choro porque tinha matado


um esquilo. Na verdade, passei em cima de uma pedra e quase nos
matei por causa disso.
— É por isso que não te deixo dirigir. — Provoquei, ela
suspirou dramaticamente e mordeu meu braço. As mordidas dela
doíam muito. — Bruta. — Bati firme em sua bunda.

— Eu vou tomar banho para irmos explorar ao redor. — Então,

ficou séria. — Será de mal gosto fazer isso?

— Acho que quem está de luto, não está na propriedade.

— Tudo bem! — Sorriu e foi empolgada para o chuveiro. 

Vesti uma calça e fui para a varanda. Fiquei admirado com os

campos de uvas, bem desenhados, com pessoas andando entre


eles. 

Giovanna e eu desembarcamos na Itália no dia anterior pela


manhã. Ela foi direto para a residência principal da Villa Valentinni,

ficar com Juliana e com muitos soldados que estavam fazendo a


segurança de ambas. 

Eu fui direto para a capela, para o velório de meu tio Lorenzo.


Ocupei o meu lugar ao lado de Enzo e do meu avô, Vicenzo Di

Rafaelli. 

Era o terceiro filho que ele enterrava, começando pela minha


mãe, sua única filha e caçula, no mês anterior havia sido Cosimo,

sendo ele o único presente, já que ninguém queria estar no enterro


dele. E agora, Lorenzo, que se suicidou há três dias em sua casa na
Toscana. 

Enzo e eu chegamos a um acordo: as coisas estavam uma


completa bagunça e não gostava disso, não queria entrar em uma

guerra com o meu próprio sangue. Em diversos momentos na nossa


vida, apesar de sermos de ligações diferentes da máfia italiana,

pudemos contar um com o outro. 

O acordo de paz foi feito com o casamento dos meus pais e


eu não queria ser aquele a quebrar, então, alguma atitude precisava

ser tomada. Pressionei Enzo em relação ao pai e não me

arrependia.

Lorenzo ajudou seu irmão Alonzo em planos que iam contra o

maior juramento de sangue da família. Arquitetou o assassinato do

meu pai por não ter concordado com os planos e estava perto de
contar para mim e para Enzo. Lorenzo também sabia que Alonzo

tinha planos de matar Juliana, sua nora, e no final, soube que

Alonzo vendeu a morte de Enzo. 

Nós estávamos muito felizes que o meu primo estava vivo,

mas eu o conhecia muito bem. Enzo poderia estar mais calmo, mas

a besta ainda vivia dentro dele. 


Não precisávamos de mais problemas, apenas soluções. Para

tirar-lhe o peso, dei a ele duas opções: ou o pai dele tirava a própria
vida ou eu iria tirá-la. Lorenzo escolheu tirar a própria vida. 

O velório não foi exatamente triste. Enzo estava bem, com seu
clássico sorrisinho irônico no rosto. Meu avô nunca demonstrava

nada, sua cara enrugada era dura e irritante. Tia Amber estava

serena, como quem já sabia que aquilo iria acontecer. 

Minha prima Carina estava lá apenas de corpo, sua mente

parecia longe e Emerson, aparentava não se importar. Esse era o

resultado de ser um pai de merda. 

Fizemos toda a cerimônia fúnebre tradicional e ele foi

enterrado no cemitério da famiglia. Juliana não foi ao enterro e à

noite, Enzo e eu voltamos para o vinhedo. Decidimos que podíamos


conversar no dia seguinte, ambos ansiosos para ficarmos com

nossas esposas. 

Giovanna estava na casa que nos foi oferecida, meu primo

disse que entendia que éramos recém-casados e quis nos dar toda

a privacidade. 

O vinhedo era um lugar lindo e podia entender porque Gio

estava louca para sair.


Voltei para o quarto quando ouvi umas batidas de uma música

familiar. Entrei no banheiro e Giovanna estava dançando no

chuveiro. Seu quadril movia com perfeição, rebolando. De costas,


ela não via que estava quase babando ao vê-la descer as mãos pelo

corpo, cantando a música. Ela gostava de ritmos sensuais, músicas

que falavam de sexo explícito e a sua lista de reprodução era

sempre para maiores de idade.

— Não vou me importar se dançar assim para mim. —

Encostei-me na pia.

Giovanna virou e sorriu.

— Vem tomar banho, porquinho.

— Quando você sair. Se entrar aí, vou te comer de novo.

Ela arqueou a sobrancelha.

— Tá com medinho de não aguentar? — Desafiou e tirei a

minha calça, foda-se. Casei com uma espertinha. — Calma, era


brincadeirinha. — Parou de rir quando beijei a sua boca,

pressionando-a contra a parede. 

— Quem não vai aguentar agora?

Quando nós finalmente saímos da casa, andamos de mãos

dadas até o casarão principal, passando pelas milhares de pessoas


que viviam ali. Era uma comunidade intensa. 

Enrico estava desconfortável, sabia que para ele e para os

meus soldados era muito difícil ficar entre tantas pessoas que eles

não confiavam, mas, até aquele momento estávamos do mesmo


lado. 

Com a morte de quase todos os patriarcas principais da

família (faltando Alonzo), era o momento de desenhar novas linhas.

Era o momento de um novo acordo de sangue ou repartição

total.

Entramos pelos fundos e encontramos Enzo e Juliana na mesa

da cozinha. Ele estava rindo e ela emburrada, parecendo ignorá-lo.

— Grazie a Dio! Alguém para distrair essa criatura irritante!  —

Juliana puxou a cadeira ao seu lado, para Giovanna sentar. — Tira o

seu primo de perto de mim — pediu e pelo rosto vermelho, parecia


estar irritada de verdade.

— Você casou com ele. — Encolhi os ombros.

— São os hormônios que estão em fúria. — Enzo continuava

rindo. Sabia que ele não tinha amor à vida mesmo, não era

novidade. — Dormiram bem, pombinhos? Pela hora, imagino que


não tenham dormido muito. 
— Dormimos bem — Giovanna respondeu, tímida com as

insinuações.

— Dormiram? Esse lado ele puxou da família do pai dele, esse


Galattore... — Enzo suspirou e ignorei, ele era chato assim desde

pequeno.

— Cala a boca, Enzo. — Juliana bateu nele. — Ignore. Ele

gosta de deixar todo mundo sem graça com suas insinuações

sexuais. 

— Vocês estão comendo agora, imagino que não dormiram

muito. — Provoquei e ele bufou. Juliana lhe deu um olhar de crítica.

— Gostaria de ter sido pelo mesmo motivo pelo qual a sua

pele está brilhando, mas a Amália odeia dormir — reclamou e eu ri.

— Essa é a paternidade — debochei.

— Quando o bebê nascer, sei que nunca mais irei dormir. —

Juliana grunhiu e nós rimos. — Ela chorou a noite toda... só dormiu


quando a levamos para o quarto conosco, mas aí ela parece uma

lutadora de karatê. Chuta para todo lado, vira como uma estrela…

como uma coisinha pequena é capaz de ocupar a cama inteira? 

— Um espirro de gente muito espaçosa. — Enzo serviu-se

com mais café. — Aproveitem. 


— Hum... Espero que a gente aproveite bastante. — Giovanna

não parecia disposta a perder o seu precioso sono e eu agradecia


por aquilo. Definitivamente não estava pronto para ser pai. 

— Tenham um cachorro antes... nós caímos de paraquedas

nessa — Juliana comentou e passamos a refeição falando sobre o


quanto a vida deles havia mudado com a chegada da Amália. 

Falando nela, a menininha de cabelos em pé e grandes olhos


castanhos apareceu na cozinha, chorando no colo de uma senhora

que Juliana apresentou como sua tia.

As mulheres saíram, foram para o quartinho da menina.


Giovanna estava louca para brincar com a pequena. Ela gostava de

crianças, só não queria ter filhos nos próximos anos. 

Aquilo era um problema para muitos, principalmente para

mim, que tinha que assegurar um herdeiro, mas não estava

preocupado e não traria uma criança ao mundo somente por isso.

— Já decidiram sobre ela? — perguntei a Enzo, referindo-me a

Amália.

— Entramos com o processo de adoção e falei com as

pessoas certas, não vai levar muito tempo para que seja oficial. A

coisinha é chorona e não gosta de dormir, mas é bonitinha.


— Só você mesmo para chamar a sua própria filha de
coisinha. 

Enzo ficou em silêncio.

— É hora de começar um novo ciclo nessa família. 

— Concordo plenamente. — Recostei na cadeira, olhando-o.

— “Morrer” me deu uma visão diferente da vida, se é que me

entende. A minha ausência me fez abrir os olhos para muitas


coisas, sobre o impacto da nossa vida nas nossas mulheres, o

futuro dos filhos, minha irmã... Fomos traídos pelo nosso sangue.

Somos acostumados a ser traídos por muitos, menos por aqueles


que temos uma ligação genética. 

— E o que vai ser agora?

— Você esteve ao lado da minha mulher mais do que qualquer

pessoa, se arriscou para salvar a vida da minha mãe e apesar do


nosso parentesco, poderia não se envolver e aproveitar o momento

de fraqueza. Você se mostrou minha verdadeira família, Damon.


Com isso, eu proponho uma nova aliança, diferente da que foi feita
com o casamento dos seus pais. — Ele tirou um canivete do bolso,

tirei o meu. Nós colocamos nossas armas na mesa. — Seremos a


mesma família. Prometo proteger a sua mulher e os seus filhos com
a minha vida assim como você protegeu a minha mulher e as
minhas filhas com a sua.

Arqueei a sobrancelha surpreso.

— O bebê é uma menina? 

Enzo abriu um sorrisão.

— É, homem. Vou construir um forte. — Brincou e abriu o


canivete. — Aprendi que não posso fazer isso sozinho e não quero
renunciar à minha vida. Seremos dois ao invés de lutarmos um com

o outro para sermos um. — Enzo cortou a palma da sua mão e


apoiou o cotovelo na mesa. — Queimarei no inferno se trair esse

juramento de sangue.

Peguei o meu canivete e abri, cortando a minha palma.

— Família em primeiro lugar. — E nós apertamos nossas


mãos, sem desviar o olhar um do outro.

— Que bonitinho, vocês vão se beijar agora? — Juliana voltou


para a cozinha com Amália em seu colo. Enzo grunhiu e eu ri. Ela
encontrou o momento perfeito para debochar. — Guardem isso. É

aqui que nós comemos e eu vou dar o almoço de Amália agora. —


Castigou e ri mais ainda. 
Giovanna me abraçou, em pé atrás de mim e pegou a minha
arma, enfiando na minha calça. Enzo fez o mesmo, meio
emburrado, mas sorriu quando sua esposa colocou a garotinha

recém-banhada em seu colo. 

— Já falou com ele?

— Acabamos de trocar fluídos sanguíneos, o que mais você

quer? — Provoquei meu primo, que não tirava os olhos da


menininha e beijou a cabecinha dela. Juliana pegou um pote da
geladeira e em seguida, uma panela. Enzo sorriu para a filha e para

mim.

— Para firmar ainda mais essa nova aliança, gostaríamos de


saber se vocês dois aceitam ser padrinhos da Amália. Ela será

batizada na capela que nós nos casamos, aqui mesmo, logo que
seu nome mudar para Maria Amália Di Rafaelli. O Maria é em
homenagem à Giovanna, se ela aceitar.

Na dica, minha mulher olhou para mim e exibiu um sorrisinho


muito bonito. Amália olhou para minha esposa, esticando os
bracinhos.

— Gio! — chamou, querendo colo. Ela não hesitou em pegá-la

e pela primeira vez, senti uma felicidade no peito ao vê-la segurando


uma criança com tanto carinho. 

— Acho que não vai demorar muito para a Giovanna... — Enzo

começou e chutei a perna dele, para calar a porra da boca. —


Engravidar. — Continuou sem se abalar e Gio ficou vermelha,
saindo de perto com a menina.

— Nós aceitamos, é uma honra — falei com a mão no meu


coração.

 
19 | Gio.

Encostada na soleira da porta da varanda do meu quarto,

olhando o dia se despedir, senti um friozinho. Bebi meu chá, ouvindo

barulhos de carros. Na ponta dos pés, fui para a varanda, porque o

chão estava muito gelado. Ali conseguia ver parte da garagem, onde

ficava a piscina aquecida e o telhado do armazém, que tinha uma

descida para o subsolo. 

Era lá que havia algumas coisas da família e as portas eram


bloqueadas...

Sandro, um dos soldados que ficava bem próximo à casa,

estava com um homem apagado no ombro. Enrico e Mário andavam


na frente, falando e rindo. Damon estava atrás, mais devagar,
brincando com o telefone e cruzei meus braços. Ele olhou para cima

e me viu, dei as costas na mesma hora, fechei as portas e as

cortinas. 

Terminei meu chá, tirei minha roupa e tomei um banho bem

quentinho. 
Estávamos na Itália para o Natal. Na verdade, estávamos aqui

há três semanas, fiquei uns quatro dias com a minha afilhada


Amália e Juliana enquanto Enzo e Damon viajavam juntos para

mostrar a nova aliança da família para os subchefes espalhados

pelo território italiano e associados. 

Após a morte do avô deles, o velho asqueroso, eles

anunciaram a nova estrutura. Não fui ao velório, porque Damon não


quis. Juliana, Amália e eu fomos levadas para uma casa segura.

Ficamos três dias lá até tudo ficar bem para voltarmos às nossas

vidas.

Enzo não estava mais no topo da cadeia de comando sozinho.

Damon estava ao seu lado, elevando a famiglia a um poder sério em


locais que eram apenas convidados, por associação, parceria e

agora… era tudo um só. 

Casamentos foram organizados para que os laços ficassem

ainda mais estreitos. Pelas conversas que capturei, o território

estava igualmente dividido, mas, na ausência de um, a ordem era


do outro. Exatamente como foi na “morte” de Enzo. 

Eles tinham a promessa de sangue e Amália era a nossa

afilhada. 
Ela era tão doce e cheirosa. Amava cada segundinho ao lado
dela, sua risada e tagarelice. Amália tinha todos na palma da mão,

até mesmo Damon. Ela falava muito e deixava pai e o padrinho

tontos em poucos minutos, era bem engraçado de se ver. 

Mesmo com essa proximidade gostosa com ela, meu lado

maternal seguia adormecido, quase em coma. Meu útero não

coçava nem um pouco quando via bebês e só de conversar sobre


as “dores e delícias” de uma gestação com Juliana, acreditava que

era melhor não transar, só para não correr riscos.

É claro que essa “demora” em engravidar já estava causando

rumores na família, ainda não falavam muito porque meu casamento

não havia completado um ano, mas a maioria das mulheres da


família engravidavam nos primeiros meses. Quando isso não

acontecia, começava a fofocada, dizendo que não éramos férteis o

suficiente. 

Sentia medo de não poder engravidar, mas isso era uma

preocupação para o momento que começasse a tentar. Me tiraram

todas as minhas escolhas, mas não me tirariam o direito de decidir o


momento em que teria filhos. 
Damon e eu não estávamos preparados para sermos pais. Ele

mal ficava em casa e eu mal havia completado dezenove anos. 

Após meu banho, fiz todo processo de beleza e hidratação,

deixando a maquiagem de lado. Com meu cabelo seco e escovado,


entrei no closet e peguei uma calcinha azul escura, fio dental e de

algodão, sem costura, para não marcar a minha roupa. 

Na frente do espelho da penteadeira, me inclinei para frente


para passar o meu hidratante labial, porque o tempo estava

deixando todo ressecado.

Ouvi o barulho de Damon entrando no quarto e logo estava no

closet. Costumava fechar as portas, para poder ouvi-lo ou ele


sempre me surpreendia, sendo silencioso. Aprendi a criar

empecilhos de barulhos pela casa, mudando um móvel de lugar ou


coisas barulhentas como sinos e tapetes. 

— É assim que gosto de encontrar a minha mulher. — Brincou


e o encarei, séria. — Giovanna...

— É natal. 

— Eu sei, amor.

— O que eu te pedi sobre o Natal, Damon?


— Nada de visitantes embaixo da terra e a minha atenção

exclusiva. Sinto muito, bella. Tem um rato precisando de uma


correção por falar demais por aí. E agora estou aqui, só para você,

te dando toda atenção especial do mundo. — Abriu um sorrisinho.

— Quando foi que você ficou tão cínico?

— Quando me casei, é uma tática de sobrevivência quando a

sua esposa quer te matar. Eu vou tomar um banho, já volto. —


Soprou um beijo. Ele não chegava perto quando estava sujo das

suas atividades. 

Me vesti e olhei meu vestido azul para a ceia de Natal. Não era
o primeiro ano que não passava com a minha mãe, mas estava
particularmente chateada por ela ter escolhido viajar com a minha

tia ao invés de passar a noite comigo. 

O jatinho iria buscá-la, não haveria nenhum estresse.


Entendia que passou muito tempo presa, com meu pai ditando o

que podia ou não fazer. Só pensei que seria o primeiro ano que
poderíamos fazer o que bem entendêssemos juntas.

Para minha mãe, Damon era a minha família e tinha que ser a
minha prioridade. Sandra e Frank ficaram nos Estados Unidos e

passariam a noite com a família de Frank. 


Aquele era o meu primeiro natal com Damon, dispensei Nina
para que pudesse ficar com a sua família. Enrico iria para a casa da
mãe, aqui pertinho, e eu ficaria sozinha com o meu marido. Nós

iríamos visitá-la após a missa no dia seguinte e ficar para o almoço. 

Deixei-o sozinho no banho e saí do quarto, descendo direto


para a cozinha e encontrei Enrico fuxicando tudo que eu havia
preparado para o jantar.

— Você vai ficar?

— Sim. Os planos mudaram. — Ele roubou umas uvas.

Porra, Damon estragou o Natal de todo mundo.

— Vai jantar conosco?

— Não... vou estar ocupado. — Apontou com a cabeça para


fora.

— Vou deixar umas coisas para dividir com os rapazes.

Enrico saiu da cozinha e terminei de arrumar a mesa,


aquecendo o que precisava. Quando estava terminando, meu

marido desceu as escadas, muito cheiroso, descalço, com uma


calça jeans e uma camisa azul clara. Franzi o olhar na sua direção e

ele me agarrou antes que pudesse fugir. 


— Hoje é um dia especial, é proibido por lei ficar chateada com
o seu marido.

— Quem disse?

— A pessoa que criou a lei. 

Suspirei, porque lá vinha gracinha.

— E quem criou a lei, marido?

— Eu. — Sorriu e me abraçou apertado, beijando o meu

pescoço e avançando até me jogar no sofá. Caí, rindo, com o meu

vestido todo levantado e o meu cabelo preso entre as almofadas do


encosto. Uma bagunça. Para me fazer rir, começou um ataque de

cosquinhas e bati nele. — Um beijo, amor. 

— Acha que está merecendo beijos?

— Eu vivo pelos seus. 

O malandro me tinha nas mãos. Segurei seu rosto e beijei sua

boca com toda a minha paixão. Ah, como era apaixonada por

Damon. Todos esses meses de casados, apesar dos estresses,


algumas boas brigas – e foram muitas, viagens perigosas, noites

que não dormi morrendo de medo que ele não voltasse para casa,

meu coração era dele. 


Nós nos divertíamos juntos, não só no sexo. Como casal,

conversávamos, implicávamos muito um com o outro. Ele sempre


dava um jeitinho de, no meio da nossa vida muito louca, fugirmos e

sermos um casal jovem despreocupado.

Damon parou de me beijar e olhou em meus olhos.

— Sei que você está sentindo falta da sua mãe e que essa

data é especial para estar com a família, mas eu quero que saiba
que sou especialmente grato por você estar sempre ao meu lado,

não importa a data e onde estejamos. Para mim, como marido e

como pessoa, é muito importante ter a sua companhia. Obrigado por


ser uma esposa tão companheira. — Sua fala suave me deixou

mole e com algumas lágrimas emocionadas nos olhos. — Não

chora, bella.

— Estarei com você para sempre, atravessarei o fogo e a

escuridão. Você é meu e eu sou sua. — Abracei-o bem apertado. 

Damon sorriu como se ouvir aquelas palavras fosse o maior

presente do mundo. Ficamos abraçados no sofá, sem falar nada,

apenas trocando beijos e algumas mãos bobas. Empurrei-o antes

de nos empolgarmos, porque havia me esforçado muito para


preparar tudo. Antes de jantarmos, fiz com que levasse comida para

seus homens e quando voltou, parou próximo a mesa. 

— Parece tudo delicioso, eles agradeceram de coração.

Segui as tradições, não deixando as massas de fora, mas sem

carne vermelha. A casa inteirinha estava decorada com luzes, uma


enorme árvore, presentes, um presépio e panetone. As decorações

foram todas compradas nas feirinhas da cidade.

Nós jantamos pouco antes da meia-noite, só saímos da mesa


com as garrafas de vinho vazias e nos sentamos no chão da sala

para a troca de presentes. 

Damon me deu um sapato Manolo Blahnik preto, maravilhoso,

junto a uma bolsa da Chanel que eu havia escolhido e mandei o link

para que comprasse, como quem não queria nada. 

Damon também me deu um espartilho muito pequeno.

— Sem noção. — Ergui uma meia que não passaria pelas


minhas coxas de nenhuma maneira. Havia engordado alguns

quilinhos, meu corpo mudou, estava com um pouco mais de seios –

nada realmente expressivo – uma bunda chamativa e coxas


grossas. 
Minha mãe me disse que todo mundo engordava depois do

casamento e era verdade. Damon e eu vivíamos comendo, era


impossível não engordar. Se estávamos em casa atoa, era comendo

besteira e assistindo televisão.

Algumas das minhas roupas não davam mais em mim e

Damon estava cada dia mais fissurado com a minha bunda,

enciumado com as minhas roupas e biquínis. Quanto mais

intimidade tínhamos, mais tesão e mais intenso ficava nosso sexo.


Nós já tínhamos transado em vários lugares... cada vez foi

realmente incrível e eu nunca esqueceria. 

— Quer mais vinho? — Me ofereceu, concordei e puxei os

meus presentes. 

— Eu não te dei cuecas apertadinhas, mas, comprei algumas


coisas realmente legais. — Empurrei a primeira caixa, muito

ansiosa.

— Uau! Giovanna! Você é uma trapaceira bem malandra, disse

que não era para te dar nada muito caro.

— Não queria ofuscar o meu presente. — Sorri, porque passei


noites choramingando que só queria a bolsa e o sapato. 
— Filha da mãe... — Ele estava maravilhado com o punhal de

prata pura com a insígnia da família desenhada a ouro na lâmina, o

nome dele no cabo e algumas pedras de diamante decorando.

Mandei fazer e foi muito caro. — É muito lindo! Obrigado, bella. Eu


amei. — Me deu um beijo doce nos lábios. Em seguida, abriu a

caixa do relógio. — Hum, adoro relógios e principalmente aqueles

que tem a foto da minha esposa no fundo.

— Para não esquecer de mim. 

— Isso é impossível. Você é tudo o que está na minha mente o


tempo todo. — Segurou o meu rosto e me deu um longo beijo.

— Ah, e tem rastreio gps junto com essa pulseira que eu me


dei de presente com o seu nome. Tudo isso porque sou sócia-

proprietária de uma empresa de tecnologia. — Estava muito

orgulhosa de mim mesma. 

Damon e Enzo compraram uma empresa de tecnologia

chamada B-Tech, que era muito famosa nos Estados Unidos.

Embora eles tivessem dissolvido em muitas e colocado vários CEOs


no comando, não ligados à famiglia, a empresa era minha e de

Juliana.
Eu tinha um rendimento que era depositado mensalmente na

minha conta e mesmo que meu marido tivesse controle sobre o meu
dinheiro, tinha muita autonomia para fazer gastos, ele só me

perguntava quando o valor era muito alto. Quando paguei umas

coisas da casa da minha mãe sem falar com ele, foi um valor que o

assustou.

Minha mãe relutou muito em aceitar minha ajuda. Meu pai

morreu e a deixou sem nada para seguir a vida, apenas um dinheiro


curto. Foi preciso que Damon conversasse com ela como o chefe

para a teimosa aceitar. Se eu tinha um marido rico, minha mãe

viveria no luxo. 

— Eu comprei outra coisa para você... 

Damon me levou para a garagem e puxou a capa de um


quadriciclo ATV. Soltei um gritinho empolgado, pulando nele por ter

um meio de transporte para chegar à nossa enseada favorita.

Fomos algumas vezes, apenas para olhar, estava muito gelado para
mergulhar, mas o caminho era cansativo e eu vivia reclamando. Ele

havia lembrado e comprou o que pedi há meses. 

Ah, era impossível não me apaixonar.

 
20 | Gio.

— Giovanna, mais devagar! — Enrico segurou no painel. —

Você vai nos matar! É por isso que Damon não te deixa dirigir! —
Meu cunhado berrou e comecei a rir, fazendo uma curva bem

acentuada e mantendo a velocidade, ignorando-o. 

Assim que entramos na parte mais movimentada da cidade,


diminuímos e o ronco do motor chamou atenção. 

Nunca cheguei no centro da cidade tão rápido. 

Peguei um dos carros potentes do meu marido para dar uma


voltinha e fazer uma visitinha surpresa no trabalho. Quando
ficávamos na Itália, eu o tinha em casa por mais tempo, mesmo

trabalhando no escritório. Quando estávamos em Chicago, quase


precisava marcar hora na agenda. Para ser bem sincera, se não
fosse minha mãe, estaria começando a odiar Chicago.

Gostaria que tudo fosse como na Itália.

Estacionei em frente ao novo escritório de Damon, que ficava


em um prédio comercial de luxo com algumas empresas que sabia

que também eram nossas. Saí do carro, com minha calça preta

justa, botas de cano médio e saltos quadrados bem altos, um


casaco creme e uma blusa de lã de gola alta por baixo. Meu cabelo

estava preso em um rabo de cavalo simples. 

Enrico estava andando ao meu lado e no saguão, vi uma

mulher de preto e um homem saindo do canto se aproximando.


Ignorei-os até que eles bloquearam o meu caminho.

— Sra. Galattore? — A mulher ergueu a carteira e mostrou

um distintivo. — Gostaríamos de fazer algumas perguntas.

— Você tem um mandado? — Enrico se adiantou e eu só

olhei, mantendo minha expressão simpática no rosto.

— São apenas algumas perguntas, por que ela não poderia

responder? — O homem insistiu, com um sorriso cínico no rosto. Ele

me deu arrepios.

Enrico sorriu friamente.

— Porque ela não é obrigada, então, saiam da frente. 

— Algo a temer, cão de guarda? — A mulher provocou. 

Se ela soubesse quem ele era de verdade, ficaria calada.

Enrico era milionário. Eu vi os documentos de sua conta bancária.

Filho biológico ou não, herdou a fortuna do meu sogro igual aos

filhos biológicos. Ele era sócio de Damon em muitas propriedades e

empresas.
Enrico era quieto, mas não era um homem qualquer. Ele
podia fazer a minha segurança, mas sabia que era o executor da

família. No passado, esse papel era do meu tio, mas ele morreu. Na

família de Nova Iorque, esse papel era de Alessio. Antes, de Alonzo.

— Se vocês tivessem um mandato ou uma causa provável,

nós estaríamos tendo essa conversa bem aqui e ao contrário do que

possa parecer, essa é uma propriedade privada. Então, se não resta


mais nada... — Enrico apontou para a saída com um sorrisinho

cínico.

A mulher decidiu apelar para mim no lado sentimental.

— Você é muito jovem e não precisa ficar nessa vida. Eu

posso te ajudar... me liga. — Esticou um cartão, que eu olhei como


se não estivesse entendendo sobre o que estava falando e os

seguranças do prédio se aproximaram. 

Continuei andando com Enrico até o elevador, sentindo os

olhos da mulher, que mesmo do lado de fora, não parava de me

encarar.

— Ela vai ficar me perseguindo?

— Não se for inteligente, mas não aparenta ser. Damon vai

lidar com isso.


— Por que eles querem fazer perguntas, Enrico?

Ele ficou quieto por um tempo.

— Faça essa pergunta ao Damon. — Encolheu os ombros.

Revirei os olhos para sua típica resposta e saímos no andar do


escritório. Damon tinha uma sala muito profissional, com uma

assistente e várias pessoas trabalhando nos negócios “legais”. A


assistente dele ficou de pé quando me viu, ela era uma mulher de

mais de quarenta, que havia ficado viúva pouco antes do nosso


casamento, muito simpática.

— Olá, esposa. — Damon saiu de sua sala, com um sorriso


muito contido. Odiava estarmos em público.

— Olá, marido. Tem um minuto? 

— Até dois.

Entramos em sua sala, ele fechou a porta e as persianas.


Assim que estávamos livres da visão de seus funcionários, sua boca

estava na minha, pressionando meu corpo contra a parede em uma


urgência que nem parecia que tínhamos dormido juntos, embora ele

tivesse saído muito cedo. 

— Por que a polícia está fazendo acampamento no saguão


do prédio?
— Porque eles são chatos e novatos, daqui a pouco entram

no sistema. — Sorriu contra os meus lábios. — Soube que veio


dirigindo. Enrico está bem?

— Provavelmente tomando um remédio para náusea.

Ele sorriu.

— A que devo a honra da visita?

— Nada em especial, apenas te ver, desde que voltamos o


tempo que passamos juntos está ainda menor. E sair um pouco de

casa... — me afastei dele e me sentei em sua mesa. — Damon, eu


preciso fazer alguma coisa! Comprei mil coisas de jardinagem e o
jardineiro pediu para não cutucar mais a terra e agora está nevando.

Na Itália, ainda consigo me ocupar um pouco mais que aqui, sempre


tem algo a fazer, um evento, uma viagem para ver Amália. Aqui, fico

o tempo todo sozinha e a minha mãe fica brigando comigo porque


diz que eu tenho que ficar com você. E você…

— Estou o tempo todo ocupado. — Terminou por mim.

— Não estou reclamando dessa parte, casei ciente que era


muito ocupado e por isso valorizo cada minuto do nosso tempo. Mas

eu preciso fazer algo! Estou enlouquecendo... e se você falar que


quando tivermos filhos, estarei ocupada, eu vou te matar — avisei
bem séria.

— E que tal cachorros? Baby, se você quiser se ocupar com


um bebê, podemos começar a treinar agora mesmo. — Damon

estava me provocando, porque sabia que estava recebendo pressão


por todo lado para termos um bebê. Além de não estar pronta, não
queria ter um filho para viver reclusa dentro de uma casa como

Juliana estava vivendo até que Alonzo aparecesse. 

— E se eu trabalhar? Sabe, deve ter alguma coisa muito fácil


que ocupe o meu tempo e que não exija uma universidade. Pode

ser algo bem simples, como tirar xerox e grampear documentos.


Ou... 

— Eu te dei dezenas de empresas para que tenha o seu


próprio rendimento.

— Você usou o meu nome para lavar dinheiro. — Rebati,

irritada.

Damon riu.

— Também, mas o ponto é que você não precisa trabalhar.

Tem a mim, dinheiro, uma casa enorme e podemos ter cachorros. É


isso, vem, pega a sua bolsa!
— O quê? Eu não quero cachorros! — falei entre dentes para
não gritar.

— Não sei o que você pode fazer! Como que eu vou te


manter em segurança na rua o tempo todo? — Ele estava perto de

perder a paciência porque aquele assunto era irritante para nós


dois, mas o que eu podia fazer? 

— Tudo bem... — Respirei fundo. — Na segunda-feira que

vem é o aniversário da Amália e... — parei para pensar um pouco.


— Com ou sem você, estarei embarcando para a Itália no sábado.

Não quero perder o aniversário dela, ainda mais o primeiro como

sua madrinha. 

— Gio... — Damon suspirou.

— Não precisamos voltar em um assunto que não tem como


mudar, sou eu que preciso lidar com isso e pela primeira vez,

entendo porque todas as mulheres da família engravidam tanto. —

Saí de sua mesa e peguei a minha bolsa. — O tédio enlouquece. Te

vejo quando você puder ir para casa.

— Giovanna... — Damon não queria encerrar o assunto.

— Não vamos falar mais disso. — Abri um sorriso e logo saí

da sala, assim, ele não faria uma cena.


Enrico conduziu na volta, perguntando umas trinta vezes se eu

queria passear no shopping e cada vez que o seu telefone tocava,


mesmo dirigindo, olhava e me oferecia algo. Ignorei quando

começou a me irritar. Ao chegar em casa, entrei direto e Damon me

ligou muitas vezes e mandou mensagens. Respondi que estava


tudo bem, que definitivamente não precisávamos falar sobre aquilo. 

Tirei minha roupa da rua, coloquei um pijama de pelúcia, me

enrolei no roupão e fiz um chá.

Parei de olhar o meu telefone ao dizer para Damon que estava

dormindo. Obviamente, menti. Fiquei na cozinha fazendo um chá,


minha mãe disse que estava com potes de molhos e massas

frescas para mim, agradeci avisando que mandaria alguém buscar e

coloquei o meu aparelho no silencioso. Enfiei dois saquinhos de chá

de camomila na caneca, bastante açúcar e peguei um bloquinho,


começando a escrever algumas coisinhas que gostaria da rua.

A porta dos fundos abriu e Enrico me olhou surpreso.

— Damon disse que estava dormindo. Vim abrir a porta da

frente para uma encomenda — explicou, ao me ver com os olhos

inchados e o rosto todo vermelho. 


— Para todos os efeitos, estou dormindo. Só fingir que não

estou aqui e isso é bem fácil. — Encolhi os ombros, bebi meu chá e

finalizei a lista. Enrico passou de volta e eu o parei. — Preciso que


alguém busque umas coisas na casa da minha mãe e compre isso

aqui, por favor. 

Ele assentiu, pegou a lista e saiu. Não levou dois minutos


para Damon voltar a me ligar. O dedo duro do Enrico deve ter dito

que não estava dormindo. Como havia feito as sobrancelhas, unhas

e depilação no salão no dia anterior, fiz uma esfoliação com argila


rosa e depois, coloquei a máscara, enchendo o meu cabelo de óleo

de coco. Embolei bem no alto, sentindo que estava longo demais e

deveria cortar.

Fiquei no sofá, fazendo tratamentos faciais e quando os

molhos chegaram, estava com uma máscara de pepino para

finalizar o meu tratamento. Mário e Enrico me olharam esquisito,


colocaram tudo no balcão e saíram bem rápido. Guardei tudo que

era de geladeira e peguei uma barra de chocolate, um saco de balas

e as outras besteiras que pedi para comprar, assistindo Uma Linda

Mulher pela milésima vez.

Entre uma mordida de chocolate e outra, fui escorregando no

sofá, sentindo sono. Deveria comer algo mais saudável que um


monte de doces e salgadinhos de pacote, mas, estava com preguiça

e provavelmente pediria delivery para o jantar. Talvez pizza. Ou


algum sanduíche. Com sono, adormeci e acordei com um toque

suave na ponta do meu nariz, abri os olhos e Damon estava

sorrindo.

— Tem algo muito verde no seu rosto. 

— Droga, esqueci de tirar a máscara — resmunguei


sonolenta e olhei para a janela. 

Estava escuro lá fora e outra coisa passava na televisão. Me


desvencilhei dele, catando minha bagunça, desligando a televisão e

fui com o lixo para a cozinha. Peguei meu telefone, tinha tanta

notificação que chegou a demorar quando apertei para limpar a

tela. 

Subi a escada, enquanto ele me seguia devagar, com o

cenho franzido como se não soubesse lidar comigo. Entrei no


chuveiro, não poderia deitar na cama com o cabelo ensebado e com

uma máscara facial. Me sequei e vesti o mesmo pijama. Damon

entrou no banheiro nu, direto para o chuveiro, parecia cansado e

mesmo tomando banho, seu olhar estava no meu, na pia,


escovando os dentes. 
Não gostava de dormir de cabelo molhado, normalmente

acordava meio congestionada, mas eu estava com preguiça de

secar. Fiquei no meu lugarzinho na cama e ele voltou para o quarto,

apagando as luzes só de cueca. Cada um ficou de um lado da


cama, meio emburrados e sonolentos. Ele foi o primeiro a romper o

silêncio.

— Gio? — Tocou a minha cintura. — Posso te abraçar?

— É claro que sim! — Me exaltei. 

Eu não estava repelindo o toque dele, era tudo o que eu mais

queria. Senti suas mãos em mim e fui de bom grado para os seus

braços. Em Chicago, esse era o horário que ele costumava chegar,


a maioria das vezes acordava e o recebia com todo meu amor, ou

com toda vontade do mundo de fazer putarias. Beijei o seu braço,

passando as mãos por seus músculos torneados que com o tempo,

pareciam ficar maiores. 

— Você voltou a malhar?

— Voltei a intensificar os treinos de luta pela manhã, com as

viagens excessivas no último ano, me afastei da academia e lutar

me acalma. Assim como ficar com você... — Beijou a minha

bochecha. — Sei que você não quer falar sobre isso...


— Não adianta falar sobre o que não será possível resolver.

Cresci sabendo que um dia seria a esposa de alguém da família e


qual seria o meu lugar. Eu me preparei por três anos para ser a sua

mulher... — Damon ia falar algo e impedi. — Vou soar terrivelmente

mimada e carente agora, mas sinto sua falta. Estou me sentindo

solitária, essa é a palavra. Quando solteira, tinha amigas na escola


e autorização para vê-las. Casada não posso vê-las, tudo depende

de um esquema de segurança imenso e a maioria das mulheres

dessa família são fofoqueiras. Bianca está muito ocupada tentando


engravidar e Madah descobriu que sexo é bom e não quer soltar o

marido.

— Não a julgue, você também ficou assim — Damon falou

rindo e dei uma cotovelada nele. 

— Devido à minha intensa vontade de ficar com você o


tempo todo, acho que ainda estou nessa fase. — Não resisti e

acabei rindo. — Foi só um dia de chateação e não queria ficar

falando sobre isso porque você tem um dia importante, é muito


trabalho e não precisa gerir meus rompantes mimados.

— É isso que me incomoda, eu sei que meu tempo quando

estamos aqui é muito curto, não quer dizer que você é menos
importante que tudo. E se nós não conversarmos, como vamos
resolver nossos problemas? Não tem que ficar quieta, com medo de
me incomodar, porque você é a minha mulher. — Puxou o meu

cabelo para o alto. — Você não deveria dormir de cabelo molhado.

— Tenho uma ideia.

— Não vou secar o seu cabelo, tenha misericórdia de mim —


resmungou, porque às vezes, pedia que ele secasse e ele fazia, nas

primeiras mal sabia segurar um secador. 

— Na verdade... pensei que eu não precisava dormir


enquanto ele estivesse molhado, mas você está cansado demais...

— bufei e ele me virou bruscamente, rindo e me deu um beijo

molhado, reclamando que estava muito vestida e aquele pijama era


muito inconveniente. 

Nós começamos a fazer amor muito gostoso, amava ficar por


cima, porque ele ficava tão louco, cheio de tesão e cada vez que

rebolava, fechava os olhos, tensionando o abdômen e gemendo


bem gostoso. 

— Cristo... Eu amo os seus peitos. — Torceu os meus

mamilos, me deixando louca e pertinho de gozar. — Ah... Dio,


Giovanna! — Gozei, caindo sobre o seu peito e ele agarrou a minha
bunda, metendo sem parar até gozar. — Você é tudo para mim.
Ficamos abraçados por um tempo e nós não dormimos
aquela noite. Gastamos toda a madrugada sobre nós, sobre
reconectar e vimos o dia amanhecer. Deitamos em uma das salas,

com vinho, chocolate, sem roupa e ele até saiu mais tarde, depois
que preparei um café da manhã caprichado.

Enrico entrou na cozinha e eu estava vestida, ele me deu um

sorrisinho sonolento e perguntou se tinha café.

— Posso te fazer uma pergunta? — Puxei um banquinho e


me sentei. Ele desviou o olhar de sua caneca e me olhou com a
sobrancelha arqueada. — Se você fosse casado, o que esperaria da

sua esposa nessa vida muito louca que nós fomos criados?

— É complicado... minha esposa provavelmente não teria


permissão para trabalhar em um dos empreendimentos da família.

Imagino que na sua posição, deve ser um saco ficar presa aqui o
tempo todo. — Enrico bebeu o café sem açúcar e estremeci, de jeito
nenhum aquilo podia ser bom. — Essa casa é o lugar mais seguro

que você pode ficar, entende? Se eu me casar, minha casa será o


lugar mais seguro para a minha esposa.

Damon me contou que um dia, Enrico assumiria o segundo

lugar de comando em Chicago, mas por enquanto, ele agia como


um soldado do alto escalão.

— Sim, eu sei. Só sinto que não estou sabendo de tudo.

— Olha, eu gosto de você e não me coloque em problemas.

As mudanças não estão agradando a todos, não da nossa família e


muito menos de Nova Iorque, a carga ficou aliviada, mas essa
aliança muito mais forte que antes, irritou a família de Las Vegas e a

da Calábria. Os russos estão com sede de vingança pela morte da


líder deles e há um novo movimento por parte da polícia local,
alguns federais. Temos uns na nossa folha de pagamento, mas é

diferente — Enrico me explicou e assenti — Damon e Enzo estão se


desdobrando para alinhar a nova ordem, tranquilizar ou eliminar os
associados e lidar com essas ameaças enquanto Alonzo ainda

representa perigo. Tudo que ele realmente quer é que você fique
segura.

— Caramba...

— E ainda tem a Yakuza, invadindo o continente com uma


força preocupante. Não é porque ele não quer estar em casa, mas
porque ele quer deixar esse lugar seguro para você. Damon não

quer te isolar na Itália, aqui, pelo menos, vocês se veem à noite. 


Peguei um bolinho e enfiei na boca, pensativa e me sentindo
péssima por ter feito tanto beicinho quando ele tinha muito mais a

fazer e preocupações na cabeça. Podia lidar com o meu tédio e a


falta do que fazer em casa. Damon deveria ter me dito, mas ele
tinha muito cuidado com o que falava para mim porque não gostava

de me deixar preocupada. Ele sabia que não dormia quando


acabava descobrindo que ele iria, especificamente, fazer algo muito

perigoso.

— Obrigada por me contar, Enrico. — Sorri e pedi licença,


saindo da cozinha.

Procurei o meu telefone e o achei entre os travesseiros do

quarto. Mandei uma mensagem romântica para o meu marido e a


noite não dormida cobrou o seu preço, o problema era que eu
adorava dormir.

— Giovanna! — Damon estava me gritando pela casa e tomei


um susto. — Você estava dormindo? — Entrou no quarto rindo e
parecendo incrédulo. — Estamos muito atrasados para o jantar de

aniversário da Sandra e ela já estava ligando, sendo insuportável.


Não adianta de porra nenhuma ser o chefe dessa família se a sua
irmã ainda te trata como uma criança pentelha — reclamou e revirei

os olhos. Ele e Sandra brigavam o tempo todo. 


Além de mim, ela era a única que não tinha medo dele e não

se importava com as explosões. Damon dava cada ataque que no


começo, ainda me deixava meio abalada, depois, não ouvia mais.
Levantei para me arrumar e ele ficou andando atrás de mim, falando

sem parar e cheguei até a esquecer que tivemos uma noite


maravilhosa, querendo enfiar o meu rímel no olho dele.

Vesti uma calça preta, uma blusa preta com riscos brancos,

um trench coat azul marinho com grandes botões pretos e uma bota
até os joelhos, de salto fino. Meu cabelo estava todo bagunçado e
fiz uma trança para fazer um coque baixo, passando uma chapinha

na franja e uma maquiagem bem básica com um batom escuro. 

Damon estava de preto, o que não era novidade, mas ele


sempre ficava lindo com uma camisa de manga longa, puxada até o

cotovelo, calça jeans e sua jaqueta de couro muito pesada.


Escolheu o Jeep, com Sandro e Enrico nos seguindo no carro atrás.
Seu telefone tocou e seja lá o que ouviu, o fez acelerar pela rua

escura e bati na sua coxa por estar correndo demais. 

— Estou ficando enjoada, Damon — reclamei, segurando o


cinto.
— Sinto muito, bella. Estamos sendo seguidos e Enrico não
conseguiu descobrir de quem é a placa. É falsa — explicou com
uma voz calma. — Vai ficar tudo bem, os outros carros vão nos

encontrar na próxima esquina e bloquear o caminho. 

Assenti, com o olhar atento na estrada e quando passamos


por um cruzamento, quatro SUVs da família fecharam o caminho.

Sandro passou em alta velocidade por nós, entrando na nossa


frente e olhei para trás, vendo que estávamos cercados por carros
da família, seguindo no mesmo ritmo e velocidade. 

Quem estava nos seguindo, não conseguiu passar por aquela


barreira. Respirei aliviada e senti que minhas coxas até ficaram
doloridas de tanto que havia tensionado. 

Damon saiu do carro com rapidez e entrou na casa da sua

irmã, dando ordens curtas aos seus homens para descobrirem


quem era até o fim do jantar. Depois, ele abriu a minha porta, com o
mesmo sorriso lindo que me deu antes de sairmos de casa.

 
21 | Damon.

— Segura bem a cabecinha. Isso, assim... devagar, seu

bruto. — Giovanna me orientou e a menininha soltou um pequeno


estalo, abrindo a boca. — Olha só como ela é linda... — falou bem

baixo. Seu olhar apaixonado encontrou o meu e sorrimos.

Voltei a encarar a pequena enrolada em uma manta, com um


gorrinho de pelúcia na cabeça. Ela cheirava muito bem.

— É claro que puxou a mãe — comentei e Enzo bufou atrás


de mim, contrariado. — Se fosse como o pai, não seria tão bonita.
Esse gorro ficou legal. 

— Só Giovanna para colocar algo assim na minha filha —

Juliana comentou do seu lugar no sofá, com Amália dormindo em


seu colo. 

— É óbvio que ela se parece comigo. — Enzo ainda estava


preso em com quem ela parecia. — Olha só a perfeição. E o cabelo

dela é tão escuro quanto o meu.

— Esse rostinho perfeito? Só pode ter puxado a mãe. —

Rebati, ciente que levaria segundos para que ele explodisse sobre

eu ter elogiado a sua mulher.


— Se você falar que a minha mulher é linda mais uma vez,

eu vou te bater. 

— Ignore seu pai, Anna. Tio Damon vai te contar

absolutamente tudo sobre ele... — falei com a bebezinha, que


estava com os olhos fechados e abriu a boca, mostrando a língua.

Giovanna não conseguia desviar os olhos, hipnotizada e

apaixonada. — Quer uma, amor?

— Não agora, espertinho. — Riu com as bochechas coradas.

— Acho que deveriam fazer como nós... duas de uma vez só.
— Enzo passeou pela sala e pegou Amália adormecida no colo. —

Vou levá-la para cama. 

— Ela vai enlouquecer ao acordar com vocês aqui. — Juliana


sorriu e entreguei o bebê para a tia dela, que estava ansiosa em

tomá-la dos meus braços. — Aqui em casa está uma disputa sobre

quem segura as meninas por mais tempo. Elas nunca irão se

acostumar com o berço. Amália dormiu comigo nesse finalzinho da


gestação, principalmente quando Enzo não estava aqui. Com o

bebê, ela não quer sair de cima. 

— Como foi o parto? — Giovanna sentou ao lado de Juliana

e aquele assunto não me interessava, então pedi licença e fui até o


bar na outra sala. Alessio, primo de Juliana, estava se servindo com
um copo de uísque e me entregou, fazendo outro para si.

Enzo voltou e fez uma careta ao ouvir a palavra “minha vagina

ficou enorme, sabe?”. Fiquei arrepiado e Giovanna parecia que ia

vomitar com o relato do parto. Definitivamente, nada pronta para ser

mãe. Enzo começou a rir das duas e fechou a porta, virei a minha

bebida de uma vez só, para esquecer a imagem mental e o pavor


que subiu pelas minhas veias.

— Se você acha que não se assusta com nada, espera só a

sua mulher gritar por horas... — Enzo murmurou, enchendo o copo

até a boca. — Foram as horas mais longas da minha vida. Nós

passamos pela banheira, pelo chuveiro, pela estúpida bola que eu


quis furar com o meu canivete e pela cama. Teve gelo, teve cantigas

e uma louca aqui da villa falando um monte de poema sobre

fertilidade. Foi estressante pra caralho. 

— E por que participou? 

Normalmente, quando as mulheres da família tinham seus


partos em casa, os homens não participavam. No hospital, ficava a

critério dos médicos ou do casal. O que no mundo chamava-se


parto humanizado, feito em casa com doulas, na presença da

maioria das mulheres, era muito comum. 

— Espere a Sra. Castração Química engravidar e você

saberá. — Enzo ergueu o copo e bebeu a metade. — Em um mês,


Anna mostra que é minha filha. Dorme o dia todo... e a noite fica

bem acordada.

— Um brinde às suas meninas. — Batemos nossos copos


juntos. — Vou construir um forte, colocar as minhas sobrinhas e as

suas filhas.

— Minhas filhas nunca irão namorar. — Enzo era muito idiota.

— Nunca.

— Apoiado. — Alessio sorriu.

Nós bebemos algumas garrafas de uísque enquanto as


mulheres estavam pela casa. Enzo e eu nunca falávamos sobre
negócios dentro dos cômodos comuns. Mesmo que Alessio fosse

seu homem de confiança, Juliana tinha algumas regras e eu


respeitava. A casa de um chefe, nunca seria dele e sim da esposa.

Minha mãe também tinha regras e mesmo que meu pai fosse muito
controlador, ele respeitava.
Giovanna estabeleceu algumas regras em casa, na Itália, nada

de homens debaixo da terra – era como ela se referia ao local de


tortura – quando estávamos com convidados e em datas

comemorativas. Refeições sempre à mesa, sem telefones, sem


interrupções e nada de sapatos sujos no quarto. 

Ela até deixava na sala, mas normalmente, eu precisava tirar


meus sapatos na lavanderia. Se minha roupa estivesse suja de

sangue então, não podia passar da escada, tinha que tirar, jogar
fora ou colocar para lavar.

Aquela visita não era sobre negócios, falávamos sobre aquilo

quase o tempo todo, era sobre o aniversário de três anos de


Amália. 

Giovanna era louca pela nossa afilhada, compramos tantos


presentes que foi difícil colocar em um único carro quando

aterrissamos. Para falar a verdade, Amália era uma criança linda e


eu tinha muita afeição e carinho por ela, o papel de ser o seu

padrinho era sério no meu coração. 

Esperava ter o privilégio de fazer parte da vida dela, que

Deus me conservasse em saúde.


No dia seguinte, no final da tarde, cantamos parabéns para a
menina. Ela pulava em cima de uma cadeira, rodeada pelos pais e
ansiosa para assoprar as velas. Amália tinha a família inteira na

palma da mão, inclusive, a mim. Após os parabéns e o bolo, correu


pela sala, ganhando presentes e chamando atenção para si mesma.

— Dindinho! — Esticou os braços e a peguei.

— Oi mia dolcezza. 

— Quero seu bolo. — Apontou e peguei o meu garfo,


cortando um pedaço que ela aceitou, mastigando com prazer. —

Outro — pediu, em seu jeito autoritário. 

Giovanna estava do outro lado da cozinha, conversando com


minha prima Carina, e me deu um olhar apaixonado.

— É o seu quinto pedaço de bolo, Amália! — Enzo limpou a


boca dela e a tirou de mim. — Você vai explodir, bambina.

Giovanna deu a volta na mesa, parando ao meu lado e me deu


um beijo na bochecha, me abraçando. Ela estava feliz. Seu humor

era muito diferente quando estávamos na Itália. Eu sabia que não


era fácil viver presa em casa em Chicago, mas lá era uma fortaleza

e o único lugar que eu sabia que, se acontecesse algo, ela tinha


muitas chances de fugir. 
Aqui na Itália, a nossa casa era em uma região muito isolada
e apesar de não confiar totalmente, vivíamos cercados de familiares,
além de que a amplitude, distância e todo solo dificultava qualquer

ataque. Me facilitava porque conhecia cada canto e elevação, já


nossos inimigos, não sabiam.

Ficamos mais dois dias aproveitando Amália. Giovanna a

levou para passear ao redor, fazendo um piquenique e passou horas


brincando de boneca. Acompanhei de longe, me dividindo entre

resolver negócios pendentes locais e dar a elas toda a minha


atenção. Me senti ridículo sentado para tomar chá de mentirinha,

mas nós fomos obrigados. 

Amália conseguia tudo o que queria.

Quando voamos para a Sicília, minha mulher estava

sorridente, com os olhos brilhando e eu pensei no quanto a


felicidade dela era muito importante para mim. Gostava do ritmo da

Itália, os negócios eram mais tradicionais e mais letais, não era

nada sobre a política irritante dos Estados Unidos, em manter as

aparências e a porra do controle sobre tudo o tempo todo.

Nós compramos três cachorros da última vez que estivemos ali

e Giovanna ganhou uma cadela fiel que era apaixonada por ela.
Enrico e eu ficamos com os machos, os três estavam sendo

treinados para proteger a propriedade e principalmente, proteger


Giovanna. Cresceram muito rápido desde a última visita. 

Gio tinha um pouco de medo dos machos, mas ela adorava a


Diana. Com o tempo frio, era gostoso estar em casa, ainda mais

com os filhotes crescendo e querendo brincar o tempo todo.

— Damon! — Giovanna gritou do quarto. — Traz água para


mim!

— Oi. — Enrico apareceu na sala. — Temos um problema.

Abaixei o jornal que estava lendo.

— O que aconteceu? 

— Uma das garotas está grávida. É a Talia — respondeu e

não sabia exatamente qual era o problema, porque as meninas não


trabalhavam mais com sexo. Elas não eram prostitutas, na reforma

dos negócios, seguimos o padrão de quebrar a prostituição nos

bordéis e mudar algumas meninas para agências de luxo que

possuíamos ou para se tornarem garçonetes nos nossos bares.

— Marido! — Giovanna gritou de novo.

— Um minuto, Gio! — Rebati e olhei para Enrico.


— O que ela quer fazer? — Suspirei, chateado em ter que

resolver. 

Não queria uma criança nascendo e vivendo em meus


clubes. Enricou enfiou as mãos no bolso da calça jeans.

— Ela está dizendo para todo mundo que o filho é seu. 

— O filho é de quem? — Giovanna parou na metade da

escada. Foda-se. — O que está acontecendo? Quem está grávida?

Enrico ficou quieto.

— Gio, depois falo com você sobre isso.

Ela terminou de descer as escadas e cruzou os braços. 

— Quem está grávida, Damon? Por que nesse mundo está


dizendo que o filho é seu? Quem é Talia? 

Sinalizei para Enrico sair, porque Giovanna não ia parar e se


eu deixasse com a mente fervilhando, ela iria inventar muita merda. 

— Talia é uma das meninas de um clube de luxo que eu

tenho na cidade e ela era uma das fixas que eu ficava antes do
nosso casamento. 

Giovanna respirou de um jeito, parecendo que estava


machucada e deu um passo para trás. 
— Gio, eu vou ficar profundamente ofendido se você

considerar a possibilidade — avisei, estressado com o ataque


histérico que ela poderia dar por algo que era impossível. — Eu não

engravidei ninguém, não dormi com nenhuma mulher além de você.

— Desde quando? — Seus olhos já estavam cheios de

lágrimas.

— Desde o nosso casamento!

— Sabe o que é engraçado? Estamos juntos há quatro anos!

Ficamos noivos há exatos dois anos e tudo que você considera


como fidelidade foi a partir do dia do nosso casamento. Eu engoli

isso, deixei passar porque nós nunca ficamos sozinhos, nunca nos

tocamos e não foi bem um relacionamento convencional. — Ergueu

a mão e apontou para mim. — Não vou tolerar isso.

— Gio, você entendeu errado. Nós não tivemos um

relacionamento, era um compromisso e eu não ficaria no celibato


apenas porque...

— Eu não fiquei? — Ela gritou completamente furiosa. — Eu

fui trancafiada na porra de um internato, longe da minha família e


amigos e você foi o único homem que tocou em mim. Por três anos,

eu fui educada e preparada para ser a sua esposa. E você? Sequer


se preparou para ser o meu marido! Você viveu a sua vidinha de

playboy milionário com o maior prazer! 

— Eu não te traí! 

— Talvez não nesse momento, mas antes foi traição sim! Eu

deixei para lá, porque não éramos casados, mas agora é muito
diferente. Eu não quero fofocas ou rumores, não quero cochichos

nas festas e não quero que exista a mínima possibilidade dessa

merda ir parar nos jornais! Resolva isso, Damon! E resolva direito!

— Seus olhos estavam cheios de lágrimas, deu as costas e voltou


para as escadas, subindo rapidamente. Depois, a porta do quarto

bateu com tanta força que os lustres tremeram. 

Irritado, apareci no pátio e Enrico estava me esperando contra

o carro. Obviamente, Giovanna não estava pensando se seria

ouvida em um raio de 500km ou não. 

— Traga a mulher aqui e coloque lá embaixo, não precisa ser

carinhoso. Quero ter uma conversinha pessoalmente e é melhor que

não tenha nenhuma escuta ou câmera. 

— Claro. — Enrico saiu.

Se Talia estava querendo chamar atenção para me ver, ela


conseguiria, mas não ficaria muito feliz por isso. Logo que parei de
aparecer, andou perguntando por mim para alguns soldados. Todos

sabiam que eu estava noivo. 

Todo mundo sabia que um dia, me casaria com Giovanna.

Meu pai não escondia que queria Giovanna como nora, ele sequer

disfarçava a óbvia afeição por ela. De tanto querer, passou por cima
da traição de Vacchiano, que nas nossas leis significava a morte,

para ter Gio na família. 

Desde novo, ouço do meu pai que Giovanna era a menina

mais bonita da nossa família e me daria filhos perfeitos.

Nunca fui contra, não só porque eu sabia que um dia meu pai
escolheria minha esposa, mas eu nunca me apaixonei por ninguém,

não me aproximei de mulheres para isso. Talia era uma buceta e

fim. Assim como existiam muitas outras nos outros lugares, comia
quem eu queria e agora, a minha vida girava em torno de

Giovanna. 

Eu a amava, mesmo com seus rompantes.

Subi a escada devagar e empurrei a porta do quarto, ela

estava na varanda, enrolada no edredom e me deu um olharzinho


irado antes de desviar. 
— Eu sei que errei em não respeitar o nosso compromisso,
em não o levar a sério quando você tinha uma vida privada para ser

minha. Confesso que levou bastante tempo para que o casamento

caísse a ficha para mim, foi depois da morte do meu pai que eu me
dei conta, que só tinha você, minha irmã e Enrico na vida. Um dia

antes do meu pai morrer, foi a última vez que eu fiz sexo com outra

mulher. — Giovanna virou o rosto para mim, confusa. — Sei que


foram apenas alguns meses de fidelidade enquanto você viveu para

mim por anos. O nosso casamento foi um dos momentos mais

incríveis e  importantes da minha vida e tudo que jurei ali, é

verdadeiro para mim. Eu te amo, Giovanna. Eu honro você como


minha mulher e não vou te trair.

Seu olhar encontrou o meu e um sorriso tímido pintou os seus


lábios.

— Amor no nosso mundo é um ponto fraco e um alvo. Eu não


deveria te amar se quiser te proteger. Não deveria deixar que as

pessoas percebessem o quanto você é tudo para mim. 

Ela saiu do casulo que criou com o edredom.

— Amar você é um perigo e eu não me importo. Não sei o


que essa mulher quer, sei que você tem muito ciúme, assim como
eu também tenho e entendo que sou muito mais insuportável. No
seu lugar, a casa estaria no chão, mas preciso que tenha a certeza
que meu amor por você...

Ficando na ponta dos pés, colocou o dedo nos meus lábios e a

abracei.

— Eu te amo, Damon. Amo muito. Acredito nas suas palavras


e o que passou antes do nosso casamento, não tem que ser uma

briga agora. — Me deu um beijo nos lábios e se afastou. — Acredito


que o filho não seja seu, que não tocou naquela mulher fazendo a
sua obrigação em respeitar os votos do nosso casamento, mas eu já

tenho fama de corna o suficiente. Sei que pode parecer realmente


bobo ou infantil da minha parte, mas isso me machuca e não quero

ter que aturar isso. 

Segurei as suas mãos e apertei, beijando cada um dos seus


dedos.

— Eu vou resolver e eu prometo que isso nunca mais vai

acontecer. 

— Obrigada, amor. — Sorriu e voltou para o seu lugar, se


cobrindo, ficando embolada como em um casulo novamente. 
Deixei-a sozinha e desci, indo para o subsolo com bastante
calma. O lugar tinha um cheiro específico: madeira, terra batida,
vinho e morte. Ali, há muitos e muitos anos, era o local das

respostas, dos últimos suspiros e das dores mais intensas. 

Conhecia cada canto como a palma da minha mão. Quando


Talia chegou, não estava irritado, espumando ou furioso. Estava

com um sentimento horrível que as minhas atitudes no passado ou


a falta delas, machucavam Giovanna a tal ponto. 

Enrico a colocou sentada e já chorando, começou a pedir

desculpas.

— Quem te mandou dizer isso? Não me faça perder o tempo


que o seu cérebro de azeitona foi burro o suficiente para pensar que

eu acreditaria em uma gravidez, quando na verdade, não te vejo há


meses. — Abaixei  e apertei o seu queixo com muita força, ela se
debateu, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Não sei o nome dele, mas ele disse que você saberia
quem ele é! — Talia gritou.

Então era isso. Alonzo estava muito perto.


22 | Gio.

                      Damon estava há muito tempo dentro do armazém

ruim e estava começando a me sentir agoniada. Os cachorros

estavam latindo, querendo sair e Mauro abriu o portão, que dava

para a campina. Eles saíram em disparada. Raramente chegava

perto dos três, eram enormes e me assustavam, sempre pediam

muito carinho quando me viam, o problema era que quase me

derrubavam. 

         Fiquei vigiando os cachorros, porque eles não pareciam


estar brincando um com o outro, na verdade, pareciam perseguir

algo. Zeus e Apolo pareciam furiosos, quando Diana, em


homenagem à mulher-maravilha, parecia rosnar sem controle, mas

na direção da minha sacada.

— Diana, vem aqui! — chamei de cima e ela sacudiu o rabo,

mesmo com os pelos todos ouriçados. — Vem aqui, menina. — Bati

na minha coxa e ela disparou para dentro de casa. 

Não deu dois segundos para ouvir suas patas pesadas contra

o piso de madeira. Damon não gostava muito que ficassem dentro


de casa, porque eles eram meio voláteis devido ao treinamento para

atacar, mas nunca agiam de maneira estranha comigo.

         Diana era fêmea e elas costumavam proteger a casa.

Agachei na varanda, esperando o seu contato e veio trotando. Ela


me cheirou e permitiu que tocasse o seu pelo, mas ao ouvir o latido

furioso de Apolo, ficou arisca. Diana seguia tensa ao meu lado,

acariciei suas orelhas, com seu pelo negro ainda de pé e o olhar


atento. 

Damon começou a treinar com eles logo que os comprou,

cresceram em pouquíssimos meses e eram letais, mas costumavam


dormir com alguma peça de roupa minha para ter sempre o meu

cheiro. 

Tentei enxergar o que eles tanto perseguiam na mata e não

parecia ser bom.

— Mauro! Eles não estão brincando! — Apontei e na

verdade, o meu medo era que eles matassem algum bichinho. —


Chame-os de volta, por favor! 

         Ele assentiu, saindo pelos fundos e Sandro subiu no muro,

gritando para que eles voltassem, então, Mauro sacou a arma e


disparou. Sandro viu o que ele estava vendo e atirou também. Da
minha posição, nada fazia sentido. 

— Entra, entra! Agora! — Sandro gritou para mim do muro e

falou em seu rádio. 

         Fiquei congelada no lugar. Enrico saiu correndo do

armazém, sinalizando para entrar de maneira desesperada. Dei


alguns passos para trás e fechei as portas, meu coração

retumbando no peito e minhas têmporas latejando, mas andei até o

quarto seguro, abri a porta e não entrei.

Queria ir atrás de Damon. Não podia ficar segura sem ele.

Diana cutucou minhas pernas com o focinho, como se me

incentivasse a entrar.

Não, Giovanna. Damon vai te matar se você sair no fogo

cruzado atrás dele. 

Me sentindo uma covarde, segui para o closet e coloquei a

minha digital. A porta rolou para o lado e entrei, esperando que

Diana entrasse comigo, mas ela se recusou, sentando-se na porta


de costas para mim, olhando fixamente para o corredor. O alarme

disparou e a porta acabou travando sozinha. Escorreguei para o


chão com as pernas bambas e fiquei sentada, com a cabeça

escondida entre os meus joelhos, rezando sem parar.

Não conseguia ouvir nada do lado de fora e isso me deixava

muito mais assustada do que ouvir. Fiquei no chão, não sei por
quanto tempo, mas o suficiente para a minha bunda doer e a minha

cabeça começar a latejar sem parar. Ouvi o barulho das travas. 

Não tinha forças nas pernas para levantar, porque estava


tremendo e com a adrenalina a mil. A porta rolou e Damon

apareceu, suado, um pouco sujo de terra, com um corte no braço.


Ajoelhou-se na minha frente e Diana passou por ele, me dando uma
olhada e indo logo embora ao ouvir o assobio de comando de

Enrico. 

— Está tudo bem, bella. — Meu marido me abraçou


apertado. Levou tudo de mim para não chorar e estava me

segurando por um fio. O alívio de vê-lo era tão forte que me deixava
tonta. — Passou... estou aqui, está tudo bem.

— O que aconteceu? Quem era?

— Olheiros enviados por Alonzo, na certa, testando as


defesas. 
— E as novas defesas deram certo? — Olhei em seus olhos

para capturar a verdade. Damon costumava diminuir os fatos. 

Custou muitos milhões criar as defesas de segurança digitais


e o treinamento dos soldados para manter a região segura. Ainda

estava em processo, mas Damon estava investindo pesado. Fiquei


aliviada que mesmo incompleto, deu certo.

— Deram. Apesar de que foram os cachorros que farejaram o


perigo e capturaram dois dos homens. Mauro matou três e Sandro

dois, mas, sobrou um para abrir a boca. Eu vou ter uma conversinha
com ele daqui a pouco. — Beijou a pontinha do meu nariz.

— É o Alonzo mesmo? — Meu coração chegava a disparar.

— Sim. Ele não deve estar com recursos para ter bons
homens, são mercenários e dos mais porcos. — Damon acariciou o

meu rosto. — Você fez o certo. Sempre se proteja.

         Meu rosto aqueceu de vergonha.

— Quase fui atrás de você — confessei e ele ficou sério.

— Nunca, em hipótese nenhuma, faça isso. Eu sei me cuidar,

fui treinado para isso. Não estou te subestimando, sei que vai saber
se virar se for necessário, mas você não precisa me proteger.
Proteja a si mesma e fique viva. — Beijou a minha boca com
carinho.

         Não parecia certo para mim, mas não valia a pena discutir
com ele, não quando via a escuridão em seu olhar. Naquele

momento, ele não estava rasgando o homem que sobreviveu


porque precisava me ver antes, mas sabia que havia ondas de raiva
e desejo de morte correndo por baixo de sua pele marcada com a

nossa vida. 

Cresci entre homens como ele, meu pai chegou em casa


transtornado muitas e muitas vezes. A maneira como ele olhava

para nós, era como se fôssemos animais enjaulados e ele o nosso


captor. Às vezes, era como se fosse o predador e nós a presa. Em
quase todas, minha mãe era sua própria presa à mercê.

Saímos do chão e fomos para o nosso quarto. Ajudei-o com o

ferimento, que havia sido o corte de uma árvore e só precisou de


uma limpeza. Descemos de mãos dadas e na minha sala, estava a

mulher que foi usada como isca. Ela me deu um olhar desafiador,
não me levando a sério como a maioria das mulheres ao meu redor
e apenas a encarei.
— Tirem essa mulher da minha sala e joguem a poltrona fora.
— Enrico e Mauro ficaram surpresos com meu rompante porque
normalmente, eu era brincalhona e simpática, principalmente com

os três soldados que mais ficavam conosco. — Agora!

Mauro assentiu e Enrico arqueou a sobrancelha divertido,


pegando a mulher pelo braço e arrastando-a. Ela tropeçou um

pouco e choramingou, mas meu cunhado não parou de puxá-la.


Damon não falou nada e era melhor assim. 

Eu não a julgava pela vida que levava e muito menos a

culpava por ter dormido com o meu marido, nem criticaria se ainda

fosse apaixonada por ele. Não a conhecia, mas eu não era obrigada

a aturar o seu deboche e muito menos passaria a impressão que


abaixaria a cabeça para qualquer pessoa.

         Todo mundo elogiava a minha simpatia e beleza. Juliana


ficava implicando que ela era conhecida como a selvagem, nojenta

e perigosa e eu ficava com as flores e os elogios. Na verdade, nós

duas éramos falsas com noventa por cento das mulheres da família.

Ela conseguia disfarçar menos do que eu e o fato de não esconder


que mandava, irritava muita gente.
— O que vai ser feito agora? — Esfreguei os meus braços e

vi Sandro recompensar os cachorros com petiscos, levando-os de


volta para o canil.

— Eu tenho isso. — Damon mostrou um telefone. — Enrico já


tem a localização de Alonzo. Ele sequer está na ilha no momento,

ou, apenas brincando conosco.

— Esse homem não comete uma falha?

— Cresceu aprendendo a ser invisível, sendo ignorado

enquanto seus irmãos recebiam mais atenção e mais poder. Ele é


um Rafaelli e eles não gostam de ser ignorados. — Damon

encostou-se na parede. — Dizem que o meu avô fez de tudo para

que ele perdesse o que tinha de humanidade. — Contou e puxei

uma cadeira, me sentando. — Eu não sei se é verdade, mas, as


mulheres mais antigas da villa disseram para Enzo que o nosso avô

fez o Alonzo escolher entre a família e a mulher que amava. Vicenzo

o torturou até que ele a matasse, porque ela era de uma família
rival. — Não consegui esconder o meu horror. Era muito sério.

Vicenzo praticou terrorismo com o próprio filho. — Enzo teve mais

contato, conhece Alonzo muito mais do que eu e...


— Ele fez o filho matar a própria mulher? — Eu estava além

do pavor.

— Sim. Foi como parte do treinamento para fazê-lo escolher.


— Damon engoliu seco. — Eu não teria coragem. Ou ele não a

amava o suficiente ou a sua realidade estava muito distorcida no

momento, o que não é uma ocorrência incomum em jogos mentais.


Meu avô era mestre nisso. — Ele me deu um beijo. — Eu te amo

muito, me mataria no seu lugar. Sempre minha vida pela sua.

— Sei disso, Damon. Eu jamais duvidaria do seu amor e

proteção. — Segurei as suas mãos. — Só estou chocada com o

quão cruel essa vida pode ser. — Meus olhos se encheram de

lágrimas. — É por isso que ele se voltou contra a família?

— Em D.C... a ordem era executar cada membro da família

que estivesse envolvido com os negócios, principalmente Alonzo,


que não se importou com toda a exposição. Enzo quase foi preso,

na época, ninguém sabia que Alonzo estava por trás das

informações vazadas junto com outra pessoa. Nicola Biancchi

executou pessoalmente cada um que poderia nos complicar —


Damon me explicou. — A minha teoria é que ele soube que seu

irmão mandou executá-lo, por associação ao Enzo, que aposentou o

pai à força. Alonzo deve ter se sentido traído. Dentro dessa família
tão desleal, ele teve que fazer o seu próprio jogo e eu penso que

terminar com tudo, explodindo nossos negócios de dentro para fora


virou o seu foco até se tornar uma obsessão.

— Não é impossível de compreender. Ele sempre foi


ignorado, jogado, julgado, não estou passando a mão nas atitudes

dele, mas sim enxergando a raiz de tanta escuridão. Ele não nos

odeia, ele odeia a famiglia e vai acabar com isso. Dessa vez, ele

não vai aceitar ser ignorado. — Refleti, com o coração cheio de


preocupação.

Damon sentou-se ao meu lado.

— É isso que eu vou fazer. Ignorá-lo vai levá-lo à exaustão,

não tem conseguido aliados, estamos recebendo informações das

suas tentativas e ninguém quer mexer conosco agora, não com toda
mudança na gestão financeira e pelo alcance do nosso poder. —

Damon explicou e foi exatamente assim que ele e Juliana

controlaram tudo na ausência do Enzo. 

Os plenos poderes de um chefe eram o que assegurava a

ordem.

— Eu sei, mas ele é um homem sedento por vingança.

Parem de subestimá-lo. Não quero ficar sem você... — avisei


severamente.

— Não estamos subestimando, eu prometo. Não vou seguir o

jogo dele. Agora, ele vai seguir o meu jogo. Confie em mim. —
Beijou os meus lábios.

Ouvi barulhos de carros do lado de fora e o encarei.

— Vai sair?

— Não da propriedade. Isso é uma surpresinha para você. —


Damon sorriu.

         Pela porta da frente, Zara e Chiara, filhas de Sandra e


minhas sobrinhas pelo casamento, entraram correndo. Elas abriram

os braços, felizes.

— Tia Gio! Tia Gio! — Agachei e agarrei as duas ao mesmo


tempo. — Ahhh! — gritaram com as minhas cócegas. — Surpresa!

— Zara, a mais velha, de seis anos, sorriu. Chiara me deu um olhar

engraçado antes de correr até Damon.

— Olá, família. — Sandra parecia tensa e colocou a bolsa em

cima da mesa. — Está tudo bem agora?

— Tivemos uma pequena visitinha, mas está tudo resolvido e

a casa de hóspedes está pronta para vocês. — Damon falou com a

irmã.
— Por que a casa de hóspedes? Temos espaço o suficiente

aqui. — Fiquei de pé e abracei Sandra, em seguida, Frank entrou


em casa. Ele trocou um olhar com Damon, com certa tensão por

parte de ambos e então, sorriu de sua maneira agradável para mim.

— As meninas fazem uma zona sem fim e aqui tem muitas


escadas, sacadas sem proteção... não quero correr atrás delas o

tempo todo. — Sandra explicou e fazia todo sentido. — Como você

está?

         Com a presença de Sandra e Frank, Damon ficava um

pouco mais emocionalmente distante e seja lá o que o Frank estava

falando com ele, o deixou tenso e um pouco irritado. Levei minha


cunhada e as meninas para a cozinha, oferecendo um lanche e

propus prepararmos o jantar juntas. Por mais curiosa que estivesse,

não era o meu dever questionar Damon na frente de sua família. 

         Mesmo que Frank fosse da família, ele era o conselheiro e a

ordem precisava ser mantida. 

A doçura das meninas eclipsou um pouco a minha

preocupação. Enrico fechou as portas, deixando apenas as janelas

abertas e manteve os cachorros soltos. Diana queria entrar, ela não


conhecia Sandra e estava desconfortável, mas eu não sabia como
poderia reagir perto de crianças e não queria arriscar. Ela não era
exatamente domesticada.

         Minha cunhada era uma mulher fácil de conversar, mas


Damon e Enrico tinham razão quando diziam que ela se metia em

tudo de maneira maternal.

— Como estão as coisas entre vocês dois? — Sandra

colocou a lasanha no forno. As meninas estavam na sala, assistindo

desenhos no iPad e brincando com bonecas. De vez em quando a

briga rolava e a mãe precisava ir lá e separar.

— Estamos bem, Sandra. Seu irmão é um bom marido e ele

me faz feliz. — Servi vinho branco para nós duas. 

— Fico aliviada... sempre me preocupei. Damon é um tanto

volátil, mas nunca foi de extrema violência. Apesar de tudo que


aconteceu com o casamento dos nossos pais, minha mãe nunca

sofreu violência, mas ela era ignorada e queria mais atenção do que
o papai estava disposto a dar. Para ele, era sua mulher, uma peça
bonita e era nítido o quanto ele se importava apenas conosco. —

Bebeu um pouco do vinho. — Quando comecei a preparar você


para o casamento, ficava me perguntando se o meu irmão seria um
marido presente.
Meu pai agredia minha mãe. Era um péssimo marido. Eu
sabia que Damon jamais me machucaria e se fizesse, estávamos
acabados. 

— Entendo a nossa vida e a ausência dele com o trabalho,

nem sempre é fácil, mas ele se esforça para estar comigo. Quando
estamos juntos, cada momento de sacrifício vale a pena —

comentei, me perguntando se deveria me abrir demais e por algum


motivo, não quis. — Nós nos amamos.

— Fico feliz em ouvir isso, mas você ainda parece tão doce,
tão menina e mimada. Isso me preocupa, Gio. Não estou falando

mal, estou apenas querendo dizer que você precisa sair do seu
casulo perfeito. Damon te mima excessivamente, faz tudo o que

quer e isso é bom, mas em alguns momentos da nossa vida, é ruim.


— Sandra falou em tom maternal e sorri.

— Escolho as batalhas pelas quais lutar. — E a imagem que


eu queria passar. — Eu tenho dezenove anos, como poderia

parecer mais? Isso vai levar tempo.

         Sandra percebeu que eu não estava me abrindo. Meu


casamento era sagrado. Eu a amava, foi a minha principal

companhia e a minha maior incentivadora nos três anos em que


fiquei longe da minha família. Ela me ensinou tudo que eu precisava
saber para me tornar uma Di Galattore e principalmente, como ser a
matriarca principal dessa família, mesmo tão jovem. Mas... tudo

sobre Damon e eu, gostava de manter entre nós.

         A lasanha ficou pronta e jantamos. Não chamei ou liguei


para Damon, respeitando que ele estava fora. As meninas amaram

a comida e repetiram. Ajudei minha cunhada na hora do banho, a ler


histórias e me vi sendo a tia boba com canções para dormir. 

Enquanto elas dormiam seguras no quarto da casa de

hóspedes, Sandra e eu nos sentamos na sala que eu mal havia


pisado nos últimos meses.

         Ouvimos o barulho dos carros entrando em alta velocidade

na propriedade, os cachorros se agitaram e as vozes masculinas


eram altas. Fiquei arrepiada da cabeça aos pés com o tom de voz
sombrio do meu marido. 

         Frank entrou em casa e ele estava suado, com uma


expressão muito irritada.

— Oi, Gio. — Me deu um sorriso tenso. — Oi, amor. — Beijou


Sandra. — Giovanna... Acho melhor...
         Ele não conseguiu falar porque ouvimos o som horripilante
de coisas quebrando.

— Talvez você deva dormir aqui enquanto… — Frank me deu


um olhar preocupado.

— O que aconteceu, querido? — Sandra colocou a mão em

seu peito que, mesmo de longe, eu podia ver subindo e descendo.

— Damon está daquele jeito. — Frank estava irritado. — Foi


difícil segurá-lo. 

— O que catalisou? — Sandra parecia preocupada e então,

as portas de ferro da cozinha bateram tão forte que Diana rosnou.

         Frank não respondeu e Damon apareceu na porta da sala.


Ele estava banhado em sangue. Seu rosto tinha marcas de dedos

ensanguentados e o olhar era selvageria crua, ódio e morte. Seus


olhos eram castanhos escuros, mas havia um brilho sombrio, uma
vermelhidão e meu coração bateu rápido, enchendo-se de pavor. 

Não por mim, mas sim pelo pandemônio e a monstruosidade


que ser um homem iniciado causava no meu marido. 

— Vem, agora! — Seu rosto era puro desafio. Eu conhecia


Damon, ele estava com raiva, queria brigar, queria um motivo para

explodir e destruir tudo ao redor. Ele estava tomado pelos horrores


daquela noite. Não foi algo “simples”. Foi intenso ao ponto de ser

um catalisador. E pela quantidade de sangue em suas roupas... —


Eu quero que você venha agora.

— Tudo bem — falei com calma. 

Damon não me machucaria, mas eu estava com medo de

que ele se machucasse. Mais de uma vez, vi o meu pai surtar ao


ponto de querer atirar na própria cabeça. Minha mãe tentava

esconder tudo de mim, não só para não me assustar, mas porque


papai não gostava que o visse violento.

— Gio... Fique aqui. — Sandra me pediu, aflita.

— Não se mete! — Damon vociferou para a irmã. Frank deu

um passo protetor e possessivo, como se fosse me puxar para ele.


— Não ouse encostar na minha mulher. Eu vou te matar...

         Ergui a minha mão para Frank parar. Eu sabia que o meu

tamanho me fazia parecer um cordeirinho indo para o abate.

— Está tudo bem, boa noite. Nos vemos amanhã — garanti


para Sandra com um sorriso tranquilizador. — Você precisa sair da

porta para que eu possa passar, amor. — Mantive meu tom de voz
calmo.
         Damon soltou as dobradiças, elas estavam amassadas com
os seus dedos e manchadas de sangue. Passei por ele, com calma
e andei decidida até em casa. Diana fungou na minha mão e rosnou

para Damon. Para ela, ele era a minha ameaça. Meu marido passou
por mim e eu senti vontade de matá-lo ao ver a cristaleira da sala de
visitas quebrada em milhares de pedaços no chão, com cacos de

vidro por todo lado. 

         Em silêncio, ele parecia um touro, bufando, tomado por uma


fúria que ao entrar no quarto, ele derrubou milhares de coisas. Saltei

de susto quando a porta do banheiro bateu contra parede e eu


fechei a porta do nosso quarto, trancando com a chave. Ele não ia
sair dali para lugar nenhum e destruir mais nada na minha casa ou

eu seria obrigada a machucá-lo. 

         Damon arrancou as roupas, querendo sair delas, banhadas


em sangue e eu cobri a minha boca ao ver os cortes em sua pele.

Dois deles certamente precisariam de pontos. Parei na varanda,


para fechar as portas e vi Enrico, olhando para cima. Ele estava
preocupado. Todos estavam. 

Nunca vi Damon daquele jeito e entendi porquê ele não


voltava para casa imediatamente quando coisas como aquela
aconteciam. Era por isso que ele desaparecia em Chicago. Meu
marido escolhia me poupar porque tinha medo de si mesmo.

         Bem, eu não tinha medo dele. 

         Com o quarto fechado, liguei o ar-condicionado para deixar


a climatização suave e pulei as suas roupas molhadas no chão.
Fiquei em silêncio, ouvindo a sua respiração pesada e ele ligou o

chuveiro. A água escorria em um tom de marrom com vermelho,


uma mistura de terra e sangue que pintava a noite. 

Damon ficou parado de costas para mim, as tatuagens sobre

a família pareciam gritar comigo. Seus músculos estavam tensos,


olhei para a bunda firme, admirando o seu corpo e senti meu
coração partir com a maneira que a cabeça estava baixa, a

respiração ofegante. 

         Tirei minha roupa, parei na frente do espelho e prendi o meu


cabelo. Com cuidado para não escorregar, pisei na área do box e

parei atrás dele. Toquei suas costas, com calma e mesmo assim, ele
reagiu bruscamente. Ainda de costas, beijei seus ombros, seus
bíceps e onde mais podia alcançar, envolvendo-o com os meus

braços. 
Deixei que meus seios encostassem nas suas costas e na
ponta dos pés, beijei a sua nuca.

— Eu te amo, te amo muito, te amo mais que tudo...

         Damon soltou um som estrangulado, como um gemido de


dor e virou, me colocando entre ele e a parede. Encurralada, olhei

em seus olhos, havia uma expressão torturada que me quebrou em


milhares de pedaços. Sua humanidade lutava com a
monstruosidade que os demônios da família lhe causavam.

Toquei seu rosto e ele fechou os olhos, aproveitei o momento


para beijar-lhe a boca. Foi como um novo catalisador, porque ele
avançou em mim com tudo. Não havia nada o segurando. Arfei pela

maneira brusca que minhas costas bateram no azulejo frio, com ele
chupando partes diferentes do meu pescoço e colo. 

Damon agarrou meus peitos, chupando o meu mamilo com

força e deu uma mordida no meu biquinho, que me fez sentir dor e
prazer.

         Suas mãos apertaram minha bunda com brusquidão, então,


deu um tapa. Ardeu e não de uma maneira ruim. Estava tão

excitada que puxei seu cabelo, arranhando o couro cabeludo. Seu


pênis já estava duro contra a minha barriga e agarrei, bombeando,
fazendo o que ele gostava, arrancando gemidos fortes e intensos de

sua boca maravilhosa. Ele me olhou tão intensamente que senti o


seu desejo no coração.  

— Me chupa.

         Escorreguei, ficando de joelhos enquanto pressionava a


cabeça de seu pau na minha boca. Lambi, sentindo o gosto salgado
e logo enfiei quase tudo. Damon queria foder a minha boca, a

maneira como ele estava trincando os dentes era o indicativo que


sua violência estava pela borda, mas não queria me machucar.
Seus olhos em mim eram puro fogo e paixão.

— Eu amo o meu pau na sua boca. — Rosnou e chupei as


suas bolas. — Eu amo você, caralho. Quero gozar na sua boca e
ver a minha porra na sua língua.

         Minhas bochechas não tinham mais a decência de corar

porque já tinha feito aquilo algumas vezes. Nem sempre eu engolia,


nem sempre ele gozava no boquete, querendo logo me foder, mas

naquele momento, estava disposto. Quando ele chegou ao ápice


naquela noite, tomei tudo e mostrei minha língua, ignorando o gosto,
mas vendo o seu olhar de posse. 

                
 

                
23 | Damon.

Giovanna estava na cama à minha frente, vermelha, com os

pés apoiados no meu peito e as mãos agarrando os lençóis,

gemendo alto e com a buceta engolindo o meu pau. Estoquei firme,

explodindo de tesão, com a minha pélvis batendo contra a sua

bunda. O quarto estava preenchido com o som das nossas carnes

se chocando, o cheiro de sexo, seus gemidos e os peitos perfeitos

sacudindo. 

Sua expressão delirante de prazer me fez sair lentamente do


caos, da escuridão, do ódio, da vontade de matar e do desejo de

sangue. Ela gritou, gozando e estrangulando o meu pau, se


contorcendo na cama, puxando o ar. Abri suas pernas, deitando-me

sobre ela, sem parar de meter e beijando a boca. Senti suas unhas

nas minhas costas, me arranhando quando impulsionou seu quadril


de encontro com o meu. 

Ela mordeu o meu lábio bem forte e sorriu com o meu


gemido. Giovanna sabia que eu queria sentir dor e não estava me

poupando.
— Te amo pra caralho, minha mulher.  — Mordi seu pescoço.

— Goza, amor. — Ela olhou em meus olhos. — Está tudo

bem agora, estou com você, nós estamos bem.

Foda-se. 

Sua voz suave e confiante me atingiu como uma tonelada.

Me liberei dentro dela, forte e meu corpo inteiro estremeceu. 

Ficamos abraçados na cama, suados, mas ainda não tinha

acabado. Ainda precisava dela. Ainda queria que perdesse os

sentidos de tanto gozar e não poupei seu corpo, levando-a ao


orgasmo mais uma vez. Virei-a de quatro, que ainda trêmula e

confusa, me deu um olhar quente, excitado.

Empurrei o meu pau devagar, bem devagarinho, ela ficou

toda arrepiada, gemendo. Apertei suas nádegas, dando tapas

firmes, desci a minha mão por suas costas perfeitas, louco com a

visão deliciosa de sua bunda redonda, cheia e a cinturinha fina.

Agarrei seus seios, empurrando tão fundo quanto podia. Seus gritos
de prazer encheram os meus ouvidos, eram como música. 

Esfreguei o seu clitóris, mantendo o ritmo punitivo que fazia

com que minhas bolas batessem firmemente nela. 

Giovanna voltou a estremecer.


— Damon, baby. Damon... amor. Ah, Damon! — Cantarolou,
perdendo-se em si mesma. Meus músculos estavam queimando. 

Todo o meu corpo parecia uma bola de incêndio. Giovanna

gozou e eu fui em seguida, tremendo, me sentindo vivo. Seu corpo

ficou mole e com cuidado, deitei-a na cama, ela estava apagada,

com um sorriso nos lábios. Acariciei seu rosto.

— Você apagou.

— Apaguei — gemeu e me abraçou, ficamos quietos e meu

coração ainda parecia explodir no peito. Ela ouviu. — Damon?

— Não quero perder você. — Fechei meus olhos. — Não

posso te perder, Giovanna. 

— Você não vai.

— Preciso te proteger e não sei como fazer isso

perfeitamente. Eles chegaram perto demais e não quero que você

seja tão manchada e machucada com os horrores que os homens

podem fazer com você. 

Giovanna me deu um olhar confiante.

— Sei que você vai conseguir. — Me tranquilizou. — Confio

na sua capacidade, inteligência e liderança. Confio no seu amor por

mim, serei protegida, mas sou forte. Não vou quebrar tão fácil. Nasci
para ser sua mulher, eu te amo e você não precisa temer por mim,

porque... 

— Você vai atravessar o fogo e a escuridão comigo.

— Para sempre, Damon. 

— Você é a minha vida. — Beijei a sua boca, com todo meu

amor e ficamos juntinhos pelo resto da noite. Eu não sairia dali. 

De manhã, desceria para interrogar o meu convidado. No


momento, Enrico estava mantendo-o vivo após algumas rodadas

com os meus homens e eu precisava de Giovanna para me manter


são, ou eu iria matá-lo e cortar em pequenos pedaços para dar para
os meus cães.

Odiei quando o dia amanheceu. Odiei romper minha conexão

com Giovanna e isso me deixou puto logo que abri os olhos.


Levantei para tomar um banho e ela me acompanhou, mas cada um
de um lado. Me vesti, me equipei e observei-a andar pelo quarto de

calcinha, escolhendo uma calça de moletom, uma blusinha verde e


prendendo o cabelo em um rabo de cavalo.

Saímos do quarto juntos e antes de descermos, ela parou na

escada, onde ninguém poderia nos ver ainda e me abraçou


apertado. Não precisava dizer nada, era só um recado: ela me
amava, estava comigo e me esperaria voltar. Beijei sua testa e

descemos. Nina estava no fogão fazendo algo cheiroso. Ela me deu


um aceno contido.

Sandra me olhou com cautela, mas não disfarçou o olhar de

alívio ao ver Giovanna bem. Dei a ela um sorriso provocante, bem


perverso. O que ela pensou? Que ia matar a pessoa mais
importante da minha vida? Frank me deu um olhar de aviso, sendo

protetor com a esposa e eu bufei, que tentasse. Nós dois sabíamos


que ele nunca poderia contra mim e era por isso que era a porra do

meu conselheiro e só.

Giovanna serviu meu café da manhã, não porque era minha


esposa e tinha o costume de fazer tal coisa. Ela fez como uma
forma muito sutil e educada de mandar o recado que era melhor que

eu descesse bem alimentado.  Comi rápido e logo saí sem falar


nada. Frank me acompanhou, o tempo todo me olhando, esperando

que eu virasse e gritasse como um louco. 

A tensão rolava em mim em ondas. Antes que pudesse


digitar o código para entrar no armazém, ele bloqueou o caminho.

— Você está consciente?

— Claro que sim, porra. 


— Damon, você lembra o que fez ontem? — Frank arqueou a
sobrancelha. — Parecia um completo animal, caralho. Foi um banho
de sangue e ninguém te controlava, nós precisávamos daquelas

informações.

— Em primeiro lugar, aqueles ratos acharam que podiam me


roubar, organizar um ataque na minha casa, ameaçar a minha
esposa, dizer que foderiam a bunda dela e tudo por uma merda

entregue pelo Alonzo? — Coloquei a minha mão na porta. — Eu


tinha que me acalmar? Não preciso de informações. Segui o

joguinho do Alonzo quando ele estava brincando com Enzo e agora,


ele vai seguir o meu joguinho. Vou quebrar esse filho da puta, sua

arrogância, seu ego e vou fodê-lo com seu desejo de vingança.


Alonzo vai descobrir que o sangue Rafaelli que corre nas minhas
veias não é a minha pior parte.

— Guarde a besta para o momento certo. Giovanna tem mais

proteção que a própria realeza, ele não vai chegar perto dela. Nós
não vamos deixar. — Frank me agarrou pelo colarinho. — Eu não

vou deixar que você escorregue para a escuridão novamente. Da


última vez, quase foi pego e foi difícil limpar a bagunça de sangue. E
o que aconteceu em Nova Iorque, com você e o psicopata do Enzo
juntos, ainda está sendo uma dor na minha bunda. Se concentra,
caralho. 

Entendia o estresse, afinal, ele era o único lidando com a


polícia. 

— Aquele agente do FBI não vai descansar. Ouvi que ele

quer fundar uma força tarefa para nos derrubar. Não importa o
quanto nosso acordo com o governo seja válido, precisamos ter

cuidado. Combinado? — Me olhou nos olhos.

— Combinado, meu amado conselheiro.

— Não me faça te dar um soco. — Frank bufou, me soltando.

Desbloqueei a porta e respirei fundo.

— Ah, o cheiro da morte! — Cantarolei alto, descendo a

rampa com a minha arma na mão. Enrico saiu da escuridão e olhou

para o homem amarrado, a transfusão de sangue estava quase

acabando, ele estava lúcido, arrebentado e chorando. — Acabei de


chegar para a festinha e você já está implorando? Não me

decepcione...

— É só fazer “buh” que ele desmaia. — Enrico riu e me

agachei na frente dele.


— Ninguém te avisou na porra desse país a nunca mexer

comigo, caralho? — Puxei seu cabelo, querendo ver seus olhos e


sorri a dor que emanava deles. 

— Ele disse que não seria tão difícil quanto o outro lugar.

Merda. Villa Valentinni. Olhei para Frank e ele saiu.

— É mesmo... — Torci o meu punho e sua cabeça foi para


trás, ele gritou. — O que mais? — Ele foi tão fácil de quebrar. Uma

noite com Enrico e já tinha se mijado. 

— Eu não sei, tudo que ele disse foi que era para nos dividir,

pegar as mulheres e crianças da casa principal! — gritou e o meu

sangue gelou com a possibilidade de o monstro do Alonzo colocar

as mãos nas minhas afilhadas. Tirei o meu canivete e furei sua


coxa.

— ONDE ELE ESTÁ, CARALHO?

— Eu não sei!

— Eu vou te servir com o seu pau se você não me disser...


ONDE ELE ESTÁ? — Furei sua coxa repetidas vezes até que ele

me disse o que queria ouvir. Ofegante, sorri. — Não podíamos ter

resolvido isso antes de uma forma mais civilizada? Poxa vida. —


Fiquei de pé e sequei o meu rosto sujo de sangue. — Termine com
ele. — Apontei para Sandro. — Vem comigo — chamei Enrico e

saímos do galpão. — Vá até a minha casa e pegue roupas limpas.

Vou usar a sua casa porque a minha irmã está na casa de


hóspedes. 

Entrei com Enrico na casa dele. Era muito limpa e organizada,

como se uma mulher morasse ali. Meu irmão era maluco e muito
quieto. Ninguém sabia a besta que era e a curta paciência que tinha.

Só Deus sabia como Giovanna não havia atentado o juízo dele de

maneira permanente. Eles se gostavam por um milagre. 

Entrei em seu banheiro, tirei a roupa e tomei um banho

rápido. Ele entrou com novas roupas e parou ao fundo.

— Vamos sair hoje?

— Sim. 

— Vamos deixar a Gio aqui? — Enrico parecia incerto.

Ergui o meu olhar.

— O que sugere? O que está sentindo? 

— Eu não confio nesse filho da puta, ele gosta de brincar, de


fazer uma caçada doentia e o problema dele é com Enzo. Com o

sucessor da família Rafaelli. — Enrico inclinou a cabeça para o lado.

— Ele me subestima, isso é um fato. 


— Não significa que ele não vá usar Giovanna como moeda

de troca, uma isca ou qualquer merda. Ele sabe do juramento de


sangue, sabe que Enzo agora é um homem capaz de fazer qualquer

coisa pela família. Giovanna é família. Ela é madrinha das  filhas

dele — Enrico falou sério. — Ele te subestimar é a nossa vantagem.


É o elemento surpresa; de tão focado em Enzo, não te percebeu.

Você se escondeu por anos atrás da fachada fria e distante da

nossa família enquanto Enzo fez questão de exibir a besta que é.

— Ter os meus monstros escondidos não quer dizer que ele

não vá usar Giovanna. — Entendi seu pensamento.

— Exatamente. — Enrico estava pensativo. — E se ele pegar

Giovanna e exigir algo de Enzo, que ele venha a negar e então,

causar uma ruptura em vocês? É uma intenção bem barata de

conseguir. Quebrar o elo seria quebrar a força.

Enrico tinha razão e eu precisava tirar Giovanna do radar.

— Ela vai para o local seguro e vocês vão ficar lá até que eu

volte. Preciso fazer algumas ligações, descanse um pouco e faça as

malas. 

Enrico assentiu e eu saí de sua casa direto para a minha.

Frank estava vindo ao meu encontro.


— Mande preparar o avião, você precisa estar em Chicago

ainda hoje, no mais tardar amanhã. — Tirei o meu telefone do bolso

e fiz uma ligação. — Enzo.

— Já estou sabendo, seu conselheiro me ligou. Vou te

encontrar lá — falou e parecia fumar. — Elas vão.

— Sim.

— Ok. Até mais.

Estalei o meu pescoço, pensando em como pedir a Giovanna

para fazer as malas e ir para um lugar que não diria onde, além de

não saber quanto tempo ficaríamos separados. Entrei em meu


escritório, pegando documentos e dinheiro. Saí e minha esposa

estava na cozinha com as minhas sobrinhas. Nina estava fazendo o

almoço, cantarolando.

— Cadê Sandra? — Parei na soleira.

— Frank precisou conversar com ela em particular e me


ofereci para ajudar as meninas a decorar os cupcakes do lanche. —

Giovanna me respondeu e capturou meu olhar. — Meninas, eu já

volto. Nina, você pode olhar as duas, por favor?

— Claro. — Nina sorriu.


Minha esposa andou na minha direção e segurei sua mão,

subindo a escada e nos conduzindo para o quarto. Fechei a porta


atrás de mim.

— Por que não estou gostando da sua expressão? —

Giovanna sentou na cama. Ela segurou as minhas mãos e beijei


seus dedos. 

— Amor, nós precisamos ficar separados por um tempo.


Dessa vez, a caçada é real e eu temo que Alonzo te use como isca

ou moeda de troca. Ele deixou claro a intenção de pegar vocês e as

meninas. Então, vocês vão para um lugar seguro até que isso

acabe.

— Quanto tempo? — Sua voz saiu baixinho.

— Não sei, bella. — Fui honesto e as lágrimas escorreram

por seu rosto. — Prometo dar o meu melhor para voltar para você o

mais rápido possível. A essa altura, não confio em ninguém. 

— E onde é esse lugar? — Seu olhar marejado encontrou o

meu.

— Você vai saber quando chegar lá. — Beijei seu rosto. —

Precisa começar a arrumar as suas coisas. Nós vamos fazer um

esquema de distração para o seu voo. Enrico irá com você.


— Não, Damon. Eu não quero ir. — Giovanna me segurou. —
Não.

— Amore... Mia bella. 

— Por favor, Damon. — Ela chorou forte contra o meu peito.

— Por favor.

Giovanna me beijou, subindo em cima de mim e nós rolamos

na cama, começando a fazer amor com gosto de despedida. Era um

até breve. Meu coração estava fodido com suas lágrimas enquanto
tomava banho e arrumava uma mala. Não a deixei sozinha,

resolvendo o que podia por telefone e nos despedimos da minha

irmã, que ficou agarrada em mim por mais tempo.

— Volte para casa, seu merdinha. — Sandra sussurrou no

meu ouvido e se afastou com o marido e filhas.

Giovanna ficou pronta com uma mochila, uma mala e uma

bolsa pequena. Usava jeans, camiseta e tênis de corrida, minha


garota esperta e preparada. Dei a ela uma bolsa de dinheiro, ela
não precisaria usar onde estaria, mas precisava estar preparada se

coisas acontecessem no caminho.  Ela implorou para Nina cuidar


dos cachorros e nem gostava muito deles, sempre tinha medo, mas
ela e Diana pareciam ter uma ligação especial. 
Diana era treinada única e exclusivamente para proteger
Giovanna. 

Entramos no carro e dei um beijo em sua boca, um bem


intenso, apaixonado. Meu coração retumbava no peito enquanto

seguíamos em um comboio de treze carros pela cidade, em alta


velocidade, se dispersando em muitos caminhos, para que ninguém

nos seguisse e ela embarcasse em segurança. 

Chegamos ao aeroporto clandestino e dois aviões nos


aguardavam. Um abriu a porta, onde Enzo saiu com Juliana e as
duas filhas. Alessio saiu em seguida. Enrico levou as malas para o

avião. Juliana e Enzo se despediram e olhei para a minha esposa.


Seus olhos vermelhos encontraram os meus.

— Não morra — falou bem baixo. — Volte para mim. —

Agarrou a minha camisa. — Não posso e não quero viver sem


você. 

— Você não vai viver sem mim, eu te amo mais que tudo

nesse mundo.

— Eu te amo! — Giovanna chorou e Enrico sinalizou que era


hora de ir. Levei-a até as escadas do avião e segurei a mão do meu

irmão da vida. Ele apertou e nossas tatuagens se tocaram. Ele


sabia. Não eram preciso palavras. Enzo e eu nos afastamos para
que o avião pudesse decolar.

— Eu prometi à Juliana que depois daquilo, nós nunca

ficaríamos separados e por causa desse filho da puta, de novo,


estou vendo a minha mulher e filhas saírem. — Enzo afundou o
punho no capô do carro. — Quero ele morto.

Meu olhar estava preso no avião sumindo na imensidão. Minha


Giovanna longe de mim e eu não sabia se podia lidar com aquilo.

 
24 | Damon.

                      Enzo dirigia por uma estrada de chão batido. No lado

do motorista havia um descampado e do meu lado, uma praia. Meu

primo estava em silêncio e eu, com o pensamento em Giovanna.

Uma semana longe e eu estava louco de saudade, sem nenhuma

previsão de quando poderia voltar a vê-la. 

Para melhorar, estávamos fingindo que nada estava


acontecendo, não só publicamente como para a nossa família. Não
era seguro e não confiávamos em ninguém.

         — Acha que ele vai nos ajudar?

         — O filho da puta basicamente me matou, ele me deve. —

Enzo rosnou. Estava com um humor horrível desde que o avião


decolou e nós já havíamos rolado no soco mil vezes em apenas

sete dias.

         — Não confio nele.

         — Caralho! Já entendi, mas precisamos de um hacker e eu

não vou envolver mais ninguém nessa história! — ele berrou no

volante.
         — Só avisando, que se der merda, eu vou dizer “eu te

avisei”. — Encolhi os ombros e ele quase bateu com o carro para


me dar um soco, mas eu segurei seu punho antes. — Não adianta

ficar putinho.

             Ele revirou os olhos e voltou com o carro para a estrada,

entrando em uma fazenda próxima à praia na minúscula cidade em


que Jackson Bernard nasceu e foi criado. Havia um menino

correndo com uns cachorros, que parecia com o imbecil do Jack e

era pré-adolescente ou um pouco mais velho que isso. Ele entrou


correndo quando nos viu e não levou dois segundos para uma

mulher muito bonita sair.

         — Oi, Alice. — Enzo saiu do carro. Ela estava séria.

         — Oi, Enzo — falou desconfiada.

         — Quero falar com ele. — Enzo foi direto ao ponto. —

Relaxa, é só falar. — Ele sorriu torto e ela ainda parecia tensa.

         — Ele está no galpão, cuidando dos cavalos. — Apontou

para um celeiro.

         Eu estava puto de ter que andar em um local de espaço

aberto e indo me encontrar com um homem que eu não gostava.


Dei o benefício da dúvida para Enzo. Ele me disse que Jack tinha
amor à vida e prezava por sua família, então, eu estava seguindo o
jogo dele porque por toda a semana que havia passado, ele seguiu

o meu próprio.

         — Quem é vivo sempre aparece — Jack cantarolou,

escovando os pelos de um cavalo e o meu dedo coçou no gatilho.

Piadinha idiota. — Relaxa, Damon. Escovar cavalos é terapêutico,


que tal pegar uma escova e me ajudar?

         — Só se for para escovar a sua cara. — Rebati, sem

paciência.

         — As mocinhas discutem depois, preciso da sua ajuda e vou


pagar pelo serviço. — Enzo inclinou a cabeça para o lado e sorriu.

         — Não está preocupado com o que poderei fazer com a

informação? — Jack desafiou.

         — Lindo lugar. — Enzo olhou ao redor. — Fácil de explodir.

         Jack jogou a escova em um balde de ferro, que fez um

estrondo e assustou os cavalos.

         — Eu não tenho computadores em casa... só coisa comum.

— Jack rebateu e eu estava surpreso. — Faz parte da minha nova


reabilitação de vício. O que vocês precisam?
         — Descobrimos que Alonzo teve uma mulher no passado e

que possivelmente, o homem que foi morto no meu lugar, é um


parente. A amostra não conseguiu definir o grau de parentesco, não

sei se é mais um irmão bastardo, um primo e enfim, pagamos por


essa informação, mas precisamos que alguém decifre os códigos.

         — Certo. — Jack ficou pensativo. — Tem algum


computador?

         — No meu carro tem.

         — Vou tentar, mas não vou sair daqui, então, se eu não

conseguir, não vou para outro lugar, não importa o quanto implore.
— Jack passou por nós e eu olhei para Enzo, louco para dar um tiro

nas pernas daquele abusado.

         Seguindo-o pelo quintal, podia ver Alice observando da

varanda e ela bateu a porta com um estrondo quando Enzo


entregou a Jack um notebook zerado. Compramos antes de decidir
procurá-lo. Ele enfiou o chip no lugar certo e uma tela preta abriu.

Jack ficou concentrado, digitando, tamborilando os dedos no capô


do carro e então, várias imagens e arquivos escaneados

apareceram na tela.
         — Tem algumas informações sobre uma mulher que foi

assassinada. — Jack virou o computador e nós olhamos. Fazia mais


de trinta anos que uma mulher foi encontrada morta, em uma praça

não muito longe da Villa Rafaelli, na Toscana. Eram reportagens que


descreviam a maneira brutal na qual ela foi assassinada.

         O pai dela era um famoso contraventor e eu ouvi falar sobre


aquela família. Eles não existiam mais, foram eliminados pelo

executor da família que, na época, era Alonzo. No mesmo arquivo,


havia fotos de um casamento e era do próprio com a mulher. Aquele

casamento deveria ser simbólico, porque não havia registros dele


ter se casado oficialmente um dia. Era verdade que foi obrigado a
assassinar a mulher que amava.

         Ele matou a própria esposa por lealdade à família e foi


traído pelos próprios irmãos.

         — Obrigado, Jack. — Enzo deu a ele um rolo de dinheiro.

         — Vocês deveriam tomar cuidado. — Jack avisou e eu

ignorei, entrando no carro. — Fiquem longe, eu não quero esse


monstro me perseguindo porque ajudei vocês.

         Enzo deu a ele o dedo médio e saiu de ré em alta


velocidade.
         — Será que eles tiveram filhos? — Continuei analisando os
arquivos. — Ele é nosso tio biológico, não seria estranho o DNA dar
positivo.

         — Só existe uma maneira de descobrir, testando com

Emerson e com outra pessoa. Eu vou fazer umas ligações assim


que chegarmos em D.C.

         — Essa tal de Sienna [3]é confiável? — Continuei lendo os


jornais da época.

         — É ela quem faz parecer que a nossa vida é


completamente normal e cria a nossa imagem de maneira perfeita.

Quando eu estava morto, ela ajudou Juliana a criar todas aquelas


histórias falsas e fez pessoas falarem com as revistas que me viram
em determinados lugares — comentou enquanto olhava para frente.

— Sienna é uma associada valiosa e leal. Ela já teve motivos para


nos trair e não o fez.

         — Ela que era relacionada com Nicola Biancchi?[4]

         — Ela mesma.

         — Ok.
         Nós chegamos na cidade, devolvemos o carro que
alugamos com uma identidade falsa e pegamos outro carro em
outro lugar, dirigindo até Boston por algumas horas. Enzo precisava

parar em um lugar para falar com um associado local. Estacionou no


centro, próximo a um estacionamento e ficamos na escuridão. Um

homem se aproximou com as mãos enfiadas no bolso e entrou no


banco de trás.

         — Oi, Callum[5]. — Enzo estava tranquilo com ele, mas eu


não o conhecia pessoalmente. — Esse é o meu primo, Damon. —

Apontou e dei uma olhada desinteressada. O tal do Callum tirou um

envelope pardo do casaco e entregou a Enzo.

         — Não consegui muito, não tive tempo, mas encontrei essas

transações da época que o meu pai estava vivo. Bate com o que

vocês encontraram...

         Enzo me deu um olhar exasperado. Quanto mais


cavávamos a história da nossa família, mais parecíamos santos ao

lado dos nossos antecessores. Callum nos entregou documentos,

que provavam que o pai dele financiou Lorenzo pouco tempo depois

de sua aposentadoria forçada. 


Callum saiu do carro após uma rápida despedida e nós

continuamos parados no mesmo lugar.

         — Será que ele achou que Alonzo havia concordado com a

aposentadoria?

         — Não era como se eu tivesse dado opções. Alonzo era um

executor e ele fazia o que era ordenado. — Enzo deu de ombros. —


Talvez o meu pai tenha achado que o irmão o traiu, na verdade,

Alonzo era leal à família até que percebeu que a família não era leal

a ele.

         — Faz todo sentido ele querer nos matar. Ele quer destruir a
família, o que ela significa e a traição que ele sentiu.

         Enzo me entregou as folhas e ligou o carro. Nós tínhamos

longas horas na estrada até D.C. Estávamos evitando aviões e ficar


muito tempo no radar. Era importante se ausentar por um tempo.

Enzo e eu tínhamos planos e dinheiro à disposição para acabar com

aquilo o mais rápido possível e voltar para as nossas esposas. Ele

estava mordido de ficar tão longe e eu não conseguia descrever a


minha saudade de Giovanna.

             Paramos em um motel no meio do caminho e ficamos no

mesmo quarto. Cada um deitou em uma cama, olhando para o alto


e ele pegou um cigarro, considerando fumar, mas não fumou. Só

ficou olhando. Tirei minha aliança, rodando em meus dedos e tentei

cochilar, mas com a cabeça tão cheia, não conseguia. Decidimos


sair antes do amanhecer, desta vez, dirigi e paramos no local

combinado poucos minutos antes.

         Kyra Bryant [6]saiu de um carro todo preto e entrou no

nosso.

         — Você tem algo? — Enzo virou no banco.

         — Ele está tentando rastrear a localização delas a todo

custo. Já descobriu que não estão na Itália e muito menos aqui, o

que me faz pensar que alguém contou.

         — Pode ser qualquer pessoa estúpida da villa. Eles sempre


contam quando Juliana viaja — Enzo grunhiu. — Ele pegou

qualquer dica da localização delas?

         — Não. Elas estão seguras — Kyra garantiu. — Eu usei

todas as minhas fontes e contatos. Ele está na lista de mais


procurados, mas não está em evidência.

         — Colocar o rosto dele em todos os noticiários?


         — Sienna acredita que pode fazê-lo aparecer nos jornais em

algumas horas e eu posso forjar milhares de atentados, colocando a


culpa nele.

         — O problema de ele estar nos mais procurados é a mínima

possibilidade de alguma agência realmente encontrá-lo e levá-lo em

proteção por todas as informações que ele sabe. — Cruzei meus


braços e ficaram em silêncio. — Alguma coisa a mais?

         — Um antigo associado do meu pai disse que Alonzo o

procurou em Berlin na última semana. Ele realmente está fora da


América. Não descarto nenhuma possibilidade que Alonzo consiga

entrar no país clandestinamente, porém, ele quer as mulheres e

deve achar que elas estão em algum lugar na Europa, então está

procurando associados que possam acatar os seus planos. — Ela


enfiou a cabeça entre os dois bancos. — Posso estar em Londres

na próxima semana e tem um amigo no MI6 me devendo um favor.

         — O que você vai querer em troca? — Enzo arqueou a

sobrancelha.

         — Esse homem morto até amanhã. — Nos entregou uma

foto.

         — Eu devo perguntar quem é ele ou...


         — Ele está no caminho dos nossos planos políticos.

         — Tudo bem. — Dei de ombros.

         — Vejo vocês em Londres. — Kyra saiu do carro.

         Liguei o carro novamente e chegamos a um centro

comercial. Havia um prédio de tijolos com uma placa elegante


escrito Biancchi, Miller e Associados. Parei em uma vaga para

visitantes e saímos do carro. 

Puxei o capuz e mantive a minha arma escondida. Entramos


no local que parecia um escritório comum de advogados. Um

homem alto, irlandês maldito, nos olhou bem sério e protetor quando

uma mulher baixinha com saltos enormes desceu as escadas.

         — Enzo, seja bem-vindo. — Ela apertou a mão do meu


primo e me olhou. — É um prazer conhecê-lo, Sr. Di Galattore.

         Ela sabia pronunciar o meu sobrenome corretamente.

         — Lamento por sua perda — falei em menção à morte de

Nicola Biancchi, seu sócio e pelo que meu primo havia me contado,
melhor amigo.

         — Obrigada. Eu sinto muito pela maneira que perdeu o seu

pai também. — Ela foi gentil e abriu um sorriso profissional. —


Vamos nos reunir?

         Sienna era responsável por equilibrar nossa imagem. Como

nós ficaríamos desaparecidos por um tempo, precisava alinhar


perfeitamente o que seria publicado. Entregamos milhares de

fotografias e situações que poderiam ser criadas. Ela gerenciaria as

redes sociais e faria parecer que estávamos vivendo normalmente,


criando álibis para a nossa viagem.

         — Boa sorte. — Ela nos desejou sinceramente e olhou em

meus olhos. — Dê um olá especial a ele por mim.

         — Pode deixar — prometi.

***

         Eu sabia que não seria fácil ficar longe de Giovanna, mas a

realidade era muito pior. Passar tanto tempo com Enzo me deixava

à beira da insanidade. Nós quase nos matamos, o primeiro mês foi o


pior de todos, afinal, éramos dois homens alfa precisando trabalhar

juntos, sozinhos, sem reforços e lidando com situações estressantes

e de muito risco.

         Cada maldito segundo longe de casa, passando por países


com culturas e temperaturas diferentes, era o meu pior tipo de
tortura. Não podia entrar em contato com Giovanna e muito menos
com Enrico, porque não queria correr riscos desnecessários. 

Alonzo estava viajando pelo mundo reunindo o que podia, se

associando a quem ainda tinha coragem, mas não era o suficiente

contra nós, que com dinheiro e disposição, comprávamos quem


encontrávamos no caminho.

         Quando completou um mês e duas semanas longe de casa,

eu estava farto.

         — Anna deve estar enorme. — Enzo refletiu, olhando para a


janela.

         — Amália deve estar deixando todo mundo enlouquecido —

murmurei, pensando em minha mulher, que deveria estar tão


deprimida quanto eu me sentia.

Só estava em paz com a sua segurança porque sabia que


Enrico jamais permitiria que ela se machucasse, e parte do motivo

pelo qual pedi que ele ficasse, era que se algo acontecesse comigo,
ele assumiria o meu lugar. Biológico ou não, era o segundo filho do

meu pai e merecia a cadeira de comando na minha ausência.

         — Ky. Está na hora — Enzo falou em seu telefone. — Jogue

a merda no ventilador. — Ele jogou o celular na cama. — Agora é a


hora. Ou vencemos essa corrida para encontrá-lo ou ele vai nos
entregar.

         Olhei para o meu primo e assenti. Era a nossa chance de

vida ou morte.

         A nossa vida... e a morte dele.

            

            
25 | Damon.

A televisão estava ligada e sintonizada em um canal de

noticiário, que mostrava o rosto de Alonzo como o responsável pelo

atentado à bomba em D.C. Ele foi classificado como um mercenário,

pago para espalhar bombas nos eventos dos fuzileiros. 

A família Vaughn não estava feliz em ter o caso exposto


novamente, não tão perto das eleições, mas eles aceitaram e
entenderam o quão necessário era pegar o homem que, de fato,
estava por trás do ataque.

O problema era que havíamos entrado na corrida contra

milhares de agências, principalmente Sienna, para fazer política em


nome dos Vaughn e pelo desejo de vingança, ofereceu milhões em

recompensa pela caçada. Já sabíamos que havia milhares de

agentes pela Europa caçando o desgraçado e eu ia ficar muito puto


se o filho da puta fosse morto por outra pessoa e, pior ainda,

capturado com a proposta de imunidade e proteção para revelar a


nossa família ao mundo.

Nesse ritmo, Giovanna fixaria residência na ilha e eu nunca

mais veria minha mulher, precisando comprar todo mundo para não
ser preso. 

— Você está pronto? — Enzo saiu do banheiro, secando o

cabelo, com a toalha enrolada na cintura. — Que menino

obediente. 

— Vai se foder! — Ele estava me irritando tanto que queria

matá-lo.

Terminei de limpar as facas e espalhei nosso equipamento na

mesa, todas as pistolas limpas e carregadas. Organizei conforme os

nossos gostos, já estava de saco cheio e queria buscar a minha


mulher no fim do mundo, voltar para as nossas vidas. Aguentar

alguém como Enzo era um saco. Juliana merecia um prêmio.

Enzo disse que ia fazer a barba, que estava tão grande quanto
a minha, mas eu não estava com saco para me barbear. Seu

telefone começou a vibrar em cima da cama. 

— Atende aí! 

Estiquei a mão.

— O que é? — murmurei sem vontade de falar com ninguém.

— Ele foi visto. — Kyra mencionou com tranquilidade. — Ele

quis ser visto. Andou pelo centro da cidade normalmente e olhou

para todas as câmeras de trânsito. 


— Ele quer nos atrair para uma armadilha.

— Ele está na Villa Rafaelli. 

— Ok. 

Encerrei a chamada e Enzo apareceu no quarto, de calça

jeans, sem camisa e a barba feita. Ele me encarou sem dizer nada.
Não era preciso palavras. Alonzo estava onde tudo começou.

— Ele está assumindo que perdeu ou tem um plano fodido, em

todo caso, quer um encerramento no local de sua escolha. — Enzo

enfiou as mãos nos bolsos.

— Não vai ser assim. — Fiquei de pé. — Ele gosta de brincar


com fogo, se não sair de lá, vai queimar. 

— Você quer queimar a casa principal?

— Lá é perfeito para uma armadilha e faz anos que não

pisamos naquele lugar direito. Ele tem a vantagem e estou cansado

disso. 

Uma batida na porta interrompeu o que iria fazer e Enzo pegou

sua pistola, indo até a porta. Me posicionei, pronto para atirar, mas

meu primo relaxou e abriu a porta. Kyra passeou para dentro do

quarto com o marido e mais um, que eu conhecia apenas de vista. 


— Nós não íamos ficar de fora da festinha. — Ela sorriu para

Enzo e me deu um aceno hesitante, porque sabia que não gostava


de nenhum deles. Não confiava. 

— Oi, prazer em te conhecer, cara. — O grandão esticou a

mão. — Dominic King. [7]— Eu apertei, aceitando o cumprimento. —


Enzo fala muito de você.

— Sei que fala mal, não precisa disfarçar. — Provoquei.

— Estamos planejando o que fazer, porque certamente é uma


armadilha. — Enzo fechou a porta. — Damon acha que teremos

mais vantagem se o expulsarmos do local.

Enzo puxou o notebook e conectou na planta baixa da casa


principal do nosso avô, pontuando os lugares que conhecíamos
como de tortura. Havia muitas possibilidades. Após a morte de todos

os Rafaelli, o local foi ficando vazio, mantivemos apenas uma família


cuidando dos jardins e da casa, mas eles não viviam lá dentro.

Todas as residências estavam vazias. 

Algumas famílias foram abrigadas no meu território e outras,


levadas por Enzo para lugares estratégicos. Acolhi alguns homens
que poderiam alimentar uma revolta, principalmente na Catânia, o

território com um subchefe que me engolia e não me respeitava. Era


questão de tempo até que colocasse as asinhas de fora ou entrasse

de vez no meu jogo.

— Podemos resolver isso com gás. Não vai sobrar um dentro


de casa. — Alex olhou pensativo para a planta que estava na tela do

computador. — Para onde o levaremos?

— Vamos matar qualquer pessoa que estiver com ele e vamos

levá-lo para minha gaiola, na minha casa. Vou precisar de reforços


da minha família. 

Dominic esfregou as mãos, parecendo muito ansioso para

torcer alguns pescoços. Gostei dele. Nos arrumamos no quarto e


me perguntei como Alex podia lidar com a sua mulher indo em
direção à uma situação perigosa sem surtar. Estaria em pânico se

fosse Giovanna e sabia que Enzo quase arrancava a cueca pela


cabeça cada vez que Juliana dava uma de gângster. 

Kyra era uma mulher muito pequena, com o corpo magro

torneado. Estava vestida de preto. Na escuridão ao redor da villa,


era quase impossível vê-la. Se não fossem os nossos binóculos de
visão noturna, seria desafiador encontrá-la. Seus passos eram como

sussurros, tão baixos que até o vento soava mais alto.

— Vamos disparar no três — Alex falou baixinho.


Kyra arremessou as bombas de gás pelas janelas e correu,
fora da nossa mira. Não levou muito tempo para que homens
saíssem atirando para todos os lados. Nos separamos, pois apesar

de Alonzo ser um alvo, eu não queria correr o risco que fosse morto
na troca de tiros. Me aproximei da casa, puxando a máscara de

oxigênio que a louca da Kyra tinha em seu carro. Eles viajaram


prontos para uma guerra. Enzo me disse que era comum na rotina
deles.

Um casal bem atípico. Enquanto eu viajava cheio de bolsas de

grifes e sapatos, Alex tinha uma esposa que carregava granadas.


Interessante.

Entrei na casa por um lado e Enzo por outro. Ele gritou, mas
fui atingido na coxa de raspão e mesmo assim, doeu pra caralho.

Matei o filho da puta, descendo a escada para o porão, mas estava


vazio. Alguém gritou que Alonzo estava saindo. Ele preparou um

grande circo, porque alguns galpões explodiram enquanto corríamos


atrás dele. 

De repente, um vulto o derrubou no chão.

Enzo arrancou a máscara.


— Essa é a porra da vantagem de andar com um jogador de
futebol americano. — Tirei a minha máscara e me aproximei.
Dominic estava o imobilizando e ainda parecia completamente

surreal que ele estava ali, de cara para a terra, se debatendo contra
o aperto firme que Dominic dava a ele. Alex o prendeu e o ergueu.

— Oi, tio. É um prazer finalmente te encontrar. 

Alonzo não falou nada e assim continuou até que entramos na


Villa Valentinni. O silêncio dele era proposital, para nos enervar. Meu

coração estava batendo forte no peito e com o gosto amargo por ele
praticamente ter se entregado. Ele cansou e se rendeu, mas não

antes de tentar nos matar uma última vez. 

Enzo parou o carro nos fundos da residência e seu homem


de confiança, Giovanni, abriu a porta de trás, pegando Alonzo com

brusquidão.

Duas senhoras saíram da cozinha, agitadas. Reconheci a tia

de Juliana e a governanta. Carina correu na nossa direção, me

abraçando apertado e em seguida, pulou no irmão, dando-lhe um

beijo.

— Vocês pegaram o idiota? — Ela arregalou os olhos. —

Alessio vai poder voltar para casa? — cochichou.


— O que você está fazendo aqui, sua peste? — Enzo

reclamou.

— Eu cansei da casa segura. — Carina sorriu. — Acaba com

isso logo. — Deu um beijo no irmão e voltou para dentro de casa.

— Enquanto a minha saudade me faz querer matá-lo bem

rápido, eu não vou dar esse prazer a ele. — Enzo foi andando na

frente. Resisti à vontade de ligar para Enrico, mas eu estava


sangrando e precisando cuidar do machucado. 

Desci a rampa do armazém de tortura da Villa Valentinni.


Peguei a caixa com o kit de primeiros socorros, sentei em uma

mesa e rasguei a minha calça no local onde estava ferido. Não foi

bem um tiro de raspão, eu tinha que tirar a porra da bala. Dominic

se aproximou sem falar nada, sujo e suado. Abriu uma pequena


garrafa de vodca, vestiu luvas cirúrgicas, me entregou a garrafa e

dei uns bons goles antes de ele jogar o líquido na minha ferida,

limpar e tirar com uma pinça.

— Não parece ter se fragmentado, mutante. Sabe-se lá como

você está andando...

— Não é o primeiro tiro que eu levo. — Bebi mais vodca. 


— Certo. — Ele não falou mais nada enquanto continuava a

limpar e terminava o curativo. 

— Obrigado.

— Não é o primeiro que cuido.

Alonzo estava sentado em uma cadeira, com os braços e

pernas bem amarrados. Ele não estava vendado e não tão

machucado quanto eu gostaria. Seu rosto tinha marcas nada sutis

de sua vida. Muitas cicatrizes, rugas de expressão, uma mancha de


queimadura que impedia um dos olhos de abrir corretamente. Era

como se alguém tivesse ateado fogo em seu rosto.

Tudo que sentia por ele era ódio.

Com ou sem fundamento, era o fim para ele e para nós.

Puxei uma cadeira lentamente e parei na sua frente, sentando-

me. Ele me encarou com um sorriso frio. 

— O pequeno Damon não é tão frágil quanto o papai fazia

parecer — falou baixo e me senti à beira da ruptura por ele

mencionar o meu pai. Segurei um alicate cirúrgico. — Vocês são


otários por ainda permitir que isso aconteça. Essa família vai matar

todas as pessoas que vocês amam.


— Você matou pessoas que nós amamos, não foi a família. —

Agarrei o seu dedo e puxei a unha. — Foi você, seu fodido doente.

Alonzo trincou os dentes para não gritar.

— Eu sei o que vocês vão fazer. — Ele riu, ignorando o dedo

sangrando. — Me torturar por semanas, me manter vivo com ajuda

dos médicos e depois, me matar. Fiz isso por tantos anos e fui eu

quem ensinou a vocês como fazer parte dessa família.

— Não me importo com o que você acha, vou fazer o que eu

quero.

— Devo admitir, Damon. Seu joguinho nos trouxe até aqui. —

Arranquei outra unha. — Realmente não dei o crédito que você

merecia. — Sorriu torto e dei um soco em sua boca, quebrando um


dos dentes. Ele começou a rir, delirando de dor. — Tudo que fiz por

essa família foi por acreditar nela. Matei Cara porque Lorenzo

queria... — E ele listou umas mil mortes, falando sem parar, mas eu
ainda estava preso no fato de que ele havia matado a mãe da

Juliana.

Com toda a história de Marcus ser irmão de Juliana e de Enzo,


ficou óbvio que a relação não foi consensual. Além de tê-la

estuprado apenas porque foi prometida a outro homem, ele a matou


porque quis. Lorenzo tinha a sorte de estar morto. Sorte de ser pai

de Enzo, só assim teve uma morte tão tranquila. Para o azar de

Alonzo, torturá-lo não era mais sobre ele sentir dor, era sobre me

satisfazer tomando muito tempo destruindo-o pedaço por pedaço.

Enzo e eu revezamos por dias, levando-o à exaustão, fazendo

acreditar que em algum momento ele finalmente iria morrer, mas


nós simplesmente parávamos e o deixávamos se fortalecer, até que

percebemos que ele estava desistindo de lutar pela vida. Alonzo não

ia escolher quando ia morrer ou não. Ele já tinha feito demais. 

Suas últimas palavras antes de fechar os olhos foram que um

dia, outra pessoa como ele se levantaria e tiraria de mim o que eu

mais amava. 

Nós atiramos ao mesmo tempo. Enzo mirou na testa e eu no

peito.

Ninguém esperava que fôssemos os mocinhos. Nascemos no

lado obscuro da vida, fomos criados no pecado, com as mãos

manchadas de sangue. Nós não esperávamos a capa de heróis,


éramos contraventores e ganhávamos muito dinheiro com a nossa

vida avessa. Eu não ia pedir desculpa por fazer o que fazia. Não me

arrependia de ser quem eu era. 


Alonzo podia ter perdido a sua humanidade por milhares de

motivos. Se ele queria derrubar a família por isso, era um problema


dele. 

— Eu tenho algo. — Kyra desceu a rampa. — Descobri quem

era o corpo queimado. 

Enzo e eu olhamos para Alonzo uma última vez e demos as

costas. Estava me sentindo tão esgotado que poderia cair no chão a


qualquer momento. Minha perna doía mesmo no processo de

cicatrização, não conseguia dormir longe de Giovanna e estava

extremamente estressado. Cobri meus olhos ao sair na claridade e

segui a pequena mulher até uma mesa no pátio da vila.

— O corpo no carro é do Patrick Miller. — Apontou para uma

foto — Ele foi entregue para adoção na Espanha para um casal de


americanos e, ao recuperar dados de DNA, deu positivo com

Alonzo. Ele é primo de vocês e Kátia o pegou... — Kyra abriu um

vídeo. — Saindo do trabalho em Seattle.

— Ele realmente tinha uma família e abriu mão dela por

acreditar nessa família. — Enzo se inclinou. — Kátia arrancou a

cabeça dele para que não fosse analisada a arcada dentária. 


— Eu fiz o teste simples, é minha culpa. Não pensei em mais
nada quando vi o seu carro por satélite. — Kyra parecia derrotada.

— Não foi sua culpa. — Enzo passou o braço pelos ombros


dela. — Acabou esse capítulo. Nós vencemos isso, levou anos, mas

vencemos. — Ele deu um beijo na cabeça dela. — Agora eu vou

buscar a minha família.

Não romantizava a nossa vida e não esperava que Alonzo

seria o único a se levantar contra nós. Eu ainda era jovem e

existiriam muitos homens sedentos para nos derrubar ou ocupar os


nossos lugares. Só esperava que fosse a primeira e última vez que

eu seria obrigado a ficar tão longe de Giovanna. Ela era a minha

paz, meu sopro de esperança, o meu coração fora do corpo e viver


tantas semanas longe me fez crer o quanto eu a amava

intensamente.

Estava na hora de buscar a minha mulher.

 
26 | Gio.

                                          Olhei para a janela do avião e sequei o rosto,

molhado de lágrimas. Esfreguei meus braços e ouvi um suave

resmungar, virei e Anna estava acordando. Juliana se debruçou no

pequeno bercinho acoplado ao banco e sorriu. Amália ainda estava

adormecida e eu não fazia ideia por quanto tempo. 

Já tinha perdido a noção de quanto tempo estávamos no voo,


porque estávamos há horas dentro do avião e o piloto só se
comunicava com Enrico ou Alessio. Eles eram os únicos que em
caso de tortura, jamais revelariam o lugar.

         — Nós vamos pousar para o reabastecimento — Enrico


informou. Juliana me deu um sorriso, estava quieta como eu,
provavelmente tão triste e chateada quanto, mas tinha filhas para

pensar.

         Recoloquei o cinto e verifiquei se Amália estava bem presa

em seu lugar, mesmo deitada no banco com uma colcha sobre ela.
O pouso foi um pouco tenso e saímos da aeronave para esticar as

pernas, mas estávamos em um aeroporto vazio, que parecia ser no


meio do nada e eu nem podia ler o que estava escrito, porque não

fazia ideia de que língua era aquela. 

Enrico nos comprou água, sanduíches e alguns biscoitos.

         Comemos do lado de fora, sentados no chão, tirei meu

casaco, começando a suar pelo local quente. Amália correu ao redor

e eu estava tão triste, que a inocência dela, sem ter ideia do que
estava acontecendo, me deixou com o coração mais leve. 

Anna ficou acordada no colo da mãe, atenta, com seu cabelo

muito escuro escorrido e os olhos como os de Juliana, avaliando do

jeito que Enzo costumava avaliar.

         Nós embarcamos novamente e voamos por longas horas.

Dormi e acordei milhares de vezes, senti enjoo e o meu estômago

estava torcido de medo. Minha cabeça não parava de criar os piores

cenários sobre não mais ver Damon e nunca mais ter a minha vida

do mesmo jeito.

         Só a ideia de perdê-lo paralisava as minhas pernas.

         Amália me deixou maluca nas últimas três horas de voo. No

começo ainda estava com paciência, mas manter uma criança de

três anos dentro de um avião sem muitas coisas para distraí-la era
impossível. Quando Alessio saiu do banheiro e informou que iríamos
aterrissar em breve, quase ajoelhei e agradeci. Prendi o cinto e
convenci Amália a fazer o mesmo, dando um tempo para Juliana

que mantinha Anna nos seios, para aliviar a pressão da cabine.

         Foi um sacrifício fazer aquela viagem e quando saímos do

avião, meu coração explodiu no peito. Era um lugar lindo e

provavelmente, muito longe de casa, do outro lado do mundo. 

Meu telefone estava sem sinal.

         — Damon deve ter desligado o seu número — Enrico

avisou, parando ao meu lado.

         — Que lugar é esse?

         — Bem-vinda à Polinésia Francesa. — Alessio passou por

nós. — Temos uma parte de hidroavião que não vai ser longa. É

uma promessa. — Ele apaziguou o olhar furioso de Juliana.

         — Amália vai derrubar o avião! — Juliana deu um pequeno


piti.

             — Tudo bem, vamos lá. — Enrico não tinha um pingo de

paciência e me perguntei como seria lidar com duas crianças

pequenas.
         A última parte da viagem me fez passar mal. Quando o

avião pousou na água e flutuou pelas ondas até o píer, estava verde
e a primeira coisa que fiz ao pisar em terra firme foi vomitar. Juliana

me deu um apoio, segurando o meu cabelo e acariciando as minhas


costas. 

Amália saiu correndo do píer direto para o mar, de roupa e


tudo. Alessio tentou correr atrás dela, mas ele segurava Anna,

então, Enrico entrou na água e pegou a menina, que se contorcia e


gritava de prazer.

         Ergui o meu rosto, um pouco zonza e aceitei o lenço para

limpar a minha boca.

         — Por favor, não me diga que você está grávida logo
quando os filhos da puta nos prenderam no fim do mundo! —

Juliana estava com os olhos arregalados. — Merda, eu amamentei


por horas e os meus peitos estão vazando — reclamou, enquanto
olhávamos ao nosso redor.

         O oceano era de um azul cristalino que parecia uma piscina.


O mar era calmo, uma coisa vista apenas na televisão e a areia tão

branquinha que refletia o sol. Na nossa frente, tinha uma construção


grande, que lembrava muito as Maldivas. Era um lugar grande e
espaçoso; quando entramos, estava limpo e reformado. Claramente

foi um hotel no passado, devido à disposição dos quartos, a cozinha


industrial, o restaurante, o saguão e ainda tinha muitos móveis

bonitos, arrumados.

         — Quem mantém esse lugar? — perguntei curiosa, ao

perceber que havia comida, roupa de cama limpa e estava tudo


limpo, cheiroso.

         — Damon paga alguém da região para vir aqui. Do outro


lado tem habitantes, que trabalham na ilha principal do arquipélago.

Eles vão continuar nos ajudando com o abastecimento de comida e


com a limpeza — Enrico me explicou. — Juliana deveria ficar com o
quarto aqui embaixo, é como um apartamento, tem dois quartos e

as portas são travadas. As sacadas em cima podem ser um perigo


para Amália.

         — Obrigada, Enrico.

         — Eu vou ficar com o quarto de serviço próximo delas. —

Alessio avisou e eles foram para um lado. Enrico me levou para as


escadas.

         — Os elevadores estão desligados, só tem cinco andares,


não precisamos ligar. — Enricou me levou para um quarto muito
espaçoso. — Vou ficar no quarto ao lado.

         — Tudo bem, obrigada.

         Ele parou antes de sair e me olhou.

         — Damon é incapaz de pensar friamente com você por

perto, se fosse qualquer outra ameaça, isso seria bom. Mas quando
se trata da sua segurança, isso não é bom. Ele precisa agir

friamente para proteger você e cuidar de si mesmo. Alonzo é uma


ferida aberta muito perigosa, porque o consome. — Parou na porta.

— Primeiro sua mãe e depois o pai dele. Somando com tudo que
aconteceu em Nova Iorque. Apesar do foco de Alonzo ter sido Enzo
o tempo todo, ele feriu e machucou Damon de muitas maneiras.

         — O que aconteceu com a mãe do Damon? Ela não morreu


de câncer?

         — Sim. Ela estava com câncer e muito debilitada, porém,


escondeu de todo mundo. Ela optou por um suicídio assistido, mas

de maneira ilegal. — Enrico enfiou as mãos no bolso.

         — Alonzo fez isso.

         — Sim.
         Algumas coisas faziam ainda mais sentido. Não queria
chorar e desmoronar na frente de Enrico, ele pareceu entender,
então saiu, me deixando sozinha com as malas. Não sabia se

Damon receberia ou não, mas enviei uma mensagem, dizendo que


estava bem, que o amava muito e que precisava dele mais do que

nunca.

             Por quinze dias, minha vida seguiu um ritmo melancólico.


Acordava cedo, preparava o café da manhã, ajudava Juliana com as

meninas e observei o crescimento de Anna bem diante dos nossos

olhos. Ficávamos na praia, brincando, pegando sol, e nos dias que

choviam, usávamos as coisas do hotel que estavam guardadas. 

Não havia acesso à internet ou para telefonemas, todos os

dias escrevia longas mensagens para Damon.

         Algumas eram de raiva, outras de puro e intenso amor e

outras de tristeza, tomada por uma saudade sufocante que não me


deixava falar. Quando bateu trinta e dois dias na ilha, estava pronta

para enlouquecer. Juliana parecia muito melhor que eu, seu controle

mental era focado nas meninas e no quanto elas precisavam estar


seguras, saudáveis e felizes, mesmo com o papai longe e sem

notícias.
         À noite, precisava tomar uma taça de vinho (ou quatro) para

dormir, ou era uma intensa madrugada de choro, suor e pesadelos.


Não havia ar-condicionado, não podia gastar muita energia e às

vezes o ventilador não dava conta. Tubos e tubos de repelentes

foram gastos, estava bronzeada, o meu cabelo um completo cocô,


meus lábios rachados e a minha cabeça longe da sanidade.

         Sentia falta de Chicago, da minha mãe, da Itália, dos

cachorros, da nossa casa e principalmente, sentia falta dele, de

senti-lo a noite e de abraçá-lo quando precisava. Apesar de


tentarmos ser companhia uns para os outros, estávamos

enlouquecendo na ilha. Era um lugar seguro, calmo, muito bonito e

uma visão esplêndida do amanhecer ao anoitecer. 

Ainda assim, eu preferia estar no inferno se significasse estar


com Damon e com toda a nossa família.

         — Enzo deve estar se odiando — Juliana comentou,

olhando para Amália construindo um castelo de areia com Alessio.

Era o final do dia, um ventinho suave batia em nós. — Ele está


perdendo tanto das meninas. Anna já está erguendo a cabecinha de

bruços e a Amália falando tanto, fazendo tantas coisas e tão

esperta. Era para ser o nosso final feliz. A nossa vidinha perfeita. Eu
sequer me importava se viveríamos na ponte aérea entre Nova

Iorque e a Itália.

         — Não pode ser um final feliz. Nossa vida não acabou. —

Segurei sua mão e apertei.

         — Eu sei, mas acreditei que depois que ele supostamente

morreu, jamais ficaríamos separados de novo.

         — Sinto tanta falta de Damon. — Suspirei, querendo não

chorar.

         — Não chore, Gio. Vocês ainda têm a vida inteira juntos,

eles não quebram facilmente. Não será tão simples. — Juliana me

consolou e bateu palmas para o castelo de Amália. — Eles são dois

homens criados para serem monstros, com sangue de psicopatia


correndo nas veias e alimentam suas bestas com prazer. Não

existem muitas partes boas. O Alonzo criou o seu próprio caminho...

         — Ele vai pagar por tudo que fez. — Finalizei e abri os meus

braços para minha florzinha mais linda me dar um abraço, toda


molhada. — Você é tão incrível. Será que teremos uma arquiteta na

família?

         — Eu quero ser médica.


         — Uma médica? — Fiz uma expressão surpresa muito

exagerada. — Por quê?

         — Porque eu quero furar pessoas e o papai disse que só

posso fazer isso se for médica — Amália explicou. — Ele falou que

serei dona da porra toda mesmo. — Juliana pulverizou o suco,

olhando para a filha.

         — Seu pai tem razão, mas não fale palavrão, você é muito

jovem. — Beijei a pontinha de seu nariz. — Dindinha te ama muito.

— Abracei-a bem apertado.

         A vida na ilha era muito tranquila. À noite, era um completo


tédio, depois que brinquei com Anna e ajudei Juliana a fazer as

meninas dormirem, andei pela beira da praia, deixando o mar

lamber os meus pés. A lua estava muito bonita, brilhando no


oceano. Meu coração estava apertado, fechei os olhos, rezando

para o meu marido estar bem. Tudo que eu mais queria era vê-lo

novamente e me refugiar em seus braços.

Se ele pudesse, me ligaria e o fato de não poder me deixava


muito preocupada. O que estava acontecendo no mundo lá fora?

         Mais um mês se passou e eu estava no mesmo lugar,

parada, olhando para o oceano fixamente, querendo que aquele mar


me desse alguma resposta.

         Tudo o que eu queria era uma porra de uma resposta.

         Ouvi passos se aproximando.

         — Estou bem, Enrico — falei antes que me perguntasse.

         — Não parece bem e eu não quero que você entre nesse
oceano e se afogue. — Parou ao meu lado. — Eu teria que entrar e

você sabe que isso vai me irritar. Já basta todas as vezes que tenho

que correr atrás da pestinha da sua afilhada. Isso me faria falhar e o


meu irmão precisaria me matar.

         — Estou desesperada, Enrico. E se ele estiver morto? Como

vamos saber se ele está vivo ou morto? — Meus olhos encheram-se

de lágrimas.

         — Ele não está morto.

         — Como você pode saber? Como tem certeza?

         — Eu simplesmente sei.

         — Pare de joguinhos! Já estamos aqui, o que vamos fazer?

Como será a ligação? O que está acontecendo?


         — Vai ficar tudo bem. — Enrico me garantiu e saiu de perto.

— Não se afogue, é sério — avisou severamente e senti vontade de


me jogar no oceano só para contrariar.

         — Claro que vai ficar tudo bem. — Bufei, irritada.

         Sentei-me na beira, longe da espuma e abracei minhas

pernas, só olhando para o horizonte. Ouvi um gritinho no hotel, mas


não olhei. Alessio costumava encher o saco de Juliana por pura

diversão. Ele estava entediado e implicar com ela de diversas

maneiras o deixava muito feliz.

         Ouvi alguns passos na areia e suspirei.

         — Caramba, Enrico! Eu não vou me matar! Não sem saber

se o meu marido está vivo ou não, dá para você me dar... — Virei,

pronta para gritar com ele e congelei. — Damon. — Respirei fundo,

me enrolando para me levantar e escorreguei na areia gelada.

         — Oi, bella. — Ele sorriu torto, com os dedos encaixados

nos bolsos de sua calça jeans. Corri sem parar e rindo, me pegou a

tempo. Pulei nele, precisando tocá-lo em todo lugar para ter certeza

de que era real. — É tão bom segurar você, meu amor. — Era ele.
Seu cheiro, seu corpo e ah, beijei-o por todo rosto. — Eu senti tanto

a sua falta, Giovanna!


         Comecei a chorar, com tanto alívio, amor e saudade que
não sabia o que fazer.

         — Eu te amo. — Chorei. Damon me beijou profundamente.

— Você voltou para mim. — Era inacreditável.

         — Sim, bella. Estou aqui.

         Me afastei e olhei em seus olhos. Ele parecia bem, inteiro,

saudável, mais forte ou era a sua camisa apertadinha. Passei

minhas mãos por seu corpo, ergui a sua camisa, procurando por

ferimentos e ele riu, não me impedindo.

         — Acabou? — Olhei em seus olhos.

         — Alonzo está morto. — Damon me garantiu e os meus

olhos encheram-se de lágrimas de alívio. — Vamos voltar para casa.

— Me segurou e apertou os meus braços. — Meu Deus, você está


tão magra! — Esfregou os meus braços. — Posso ver a marca dos
seus ossos... 

         — Comer não foi uma diversão nas últimas semanas. —

Ofereci um sorriso sem graça. — Será mais fácil engordar com


você.
         — Eu vou te alimentar e te engordar de novo. — Sorriu torto
e o abracei muito apertado. — Dio, seu cheiro é tão bom! —
Suspirou e desceu as mãos para a minha bunda. — Cada segundo

longe de você foi como viver em uma escuridão eterna. Você é a


minha melhor parte. Minha verdadeira luz.

         Nós ouvimos risadas e olhamos para o hotel.

         — Acho que o meu primo está se reconectando com a

esposa. — Damon sorriu e eu ri, envergonhada e o olhei. — Ele não


será o único.

         — Quero saber tudo...

         — Amanhã, hoje eu só quero você.

         — Sou sua para sempre.

         Era a mais pura verdade.

Damon me tinha de corpo, alma, mente e coração.

 
27 | Gio.

Dois anos depois...

Peguei uma garrafinha de água e joguei nas minhas costas,


me esfriando e gemendo com o alívio. Damon, de óculos escuros,

tirou os olhos do seu telefone, tão sexy com sua sunga vermelha
que a minha boca enchia de água. Sabia que estava me olhando
com diversão. Ele deu um aperto na minha bunda, dando tapinhas e

me estiquei tentando alcançar seus lábios. 

Recebi um beijo muito gostoso, ele beliscou meus mamilos e


suspirei.

Estávamos na nossa enseada favorita, deitados em grandes


toalhas de praia, pegando sol e deveríamos ir embora a qualquer

momento. Chegamos bem cedinho e tirei a parte de cima do meu

biquíni logo que o sol esquentou. Pedi para o meu atencioso marido
me besuntar de óleo bronzeador e não me encher o saco por estar

com os peitos de fora e com um fio dental enterrado na bunda. 

— Esse biquíni é muito pequeno. — Damon enfiou o dedo na


tirinha na minha bunda e em seguida, deu um tapa firme na minha

nádega.
— Você gosta do resultado. — Revirei os olhos. Era a mesma

ladainha sempre.

— Quando estamos no quarto e a sua bunda bem na minha

frente, mas definitivamente, não gosto do processo. — Fez uma leve


careta. Ignorei. Não me importava com as birrinhas.

— Três anos de casados e você ainda está com essa merda? 

— Você sabe que sou cheio de merda. — Sorriu torto. 

Olhei a hora e o meu estômago faminto soltou um ronco

altíssimo.

— Vamos embora? — Ele riu com o meu ronco. — Estou

morrendo de fome também e quero aquela lasanha de três queijos


do jantar. Sobrou alguma coisa? — Verificou o seu telefone.

— Tudo depende se Enrico não comeu tudo. — Damon fez

outra careta e sorri. Enrico devorava a nossa geladeira. 

Me vesti, não coloquei a parte de cima do biquíni de volta,

apenas o vestidinho vermelho. Recolhemos nossas coisas e ele

carregou a maior parte do peso, olhando para a minha bunda

inclinada na sua frente, me chamando de gostosa. Damon sabia

como alimentar o meu ego. 

Ele distribuiu o peso no ATV e montamos. 


Meu marido gostava de dirigir aquela coisa como se fosse um
dos seus carros, correndo pela estradinha de terra e fazendo zigue-

zague entre os buracos, com uma diversão mal contida e um desejo

de morte, porque sempre ficava com raiva. Assim que chegamos,

Sandro e Mauro saíram dos fundos com um aceno, indo para a sala

de descanso tirar um tempo, já que estávamos em casa. 

A área da piscina era reservada e com o passar dos anos, os


jardineiros plantaram arbustos que Zeus e Apolo adoravam cavar.

— Eu vou dar um mergulho... — apontei para a piscina, ainda

morrendo de calor.

— Eu vou soltar os cachorros e aquecer o almoço. Você quer

beber algo em especial? — Ele tirou as nossas coisas do ATV e


colocou em cima de uma das mesas da área da piscina.

— Preciso de água e quero um copo de Coca-Cola gelada,

com três pedras de gelo, cinquenta ml de rum e duas rodelas de

limão — pedi docemente.

— Você tem sorte de ser bonita. — Me deu um olharzinho


irritado. — Não sou seu barman particular — avisou severo e fiz um

pequeno beicinho, puxando o vestido e jogando longe, ficando com

os peitos de fora e a minha calcinha pequena.


Damon olhou ao redor e eu podia ver as suas veias

incendiando, junto à vontade possessiva de me jogar pelos ombros


e me levar para dentro de casa. Antes que me afastasse pelos

cabelos, mergulhei na piscina como um peixinho. Ele diria aos seus


homens para não saírem de suas casas. 

Nadei de um lado ao outro, me refrescando, brincando um


pouco ao emergir. Percebi que Zeus e o irmão Apolo estavam me

encarando, com as línguas para fora e olhares felizes. Diana estava


próxima às minhas coisas, deitada em cima do meu vestido. Não

conseguiria vesti-lo novamente antes de lavar, ela enchia as minhas


roupas de pelo.

Meu marido voltou para a área externa com uma bandeja e


precisei afundar, ou iria rir na cara dele, por parecer tão doméstico e

obediente. Ao emergir, a expressão dele era emburrada. Jogou-se


na cadeira confortável e ficou esparramado, com seu abdômen

malhado, bronzeado e pintado com a sunga exibindo o seu volume


nada discreto. Ele estava excitado. 

Abri um sorriso doce, saindo da piscina. Ele esticou sua


camiseta em minha direção e vesti sem questionar para não lhe

causar um infarto. Bebi toda a garrafa de água e ao invés de me


sentar em uma cadeira, escorreguei para o seu colo.
Suas mãos posicionaram a minha bunda bem onde queria e

antes de dar um gole no meu drink, dei uma breve rebolada,


olhando-o sobre os ombros para encontrá-lo erguendo a minha

blusa e olhando a minha bunda, mordendo o lábio. Meu safado


favorito. 

Alimentei-o e comi alguns pedaços, saciando a fome e


bebemos os nossos drinks, apreciando a tarde na piscina. Já estava

meio alegrinha quando subimos, fizemos sexo muito gostoso e


desmaiei após o banho.

Senti um aperto suave na minha bunda e um beijo na minha

nuca.

— Estou saindo, bella. — Damon arrastou os lábios pela minha

orelha. Suspirei, ficando toda arrepiada. — Vai ficar dormindo?


Disse que gostaria de sair hoje.

— Por que nesse mundo você se arrumou sem me acordar? —

Virei de barriga para cima, meio emburrada e mal-humorada de


sono. 

— Porque eu faço o que eu quero. — Ele me atirou um olhar


brincalhão. — Ia sair cedo de todo jeito e Enrico te levaria mais

tarde. Ele está de folga e gostaria de curtir um pouco. Sandro e


Mauro estão de plantão — explicou e assenti, me espreguiçando.
Damon abaixou o rosto, beijou os meus lábios de uma maneira
doce, apertando o meu seio e em seguida, chupou meus mamilos,

dando uma atenção especial para cada um, me aquecendo e me


deixando excitada. — Ou... nós podemos sair juntos mais tarde.

— Você não tem um compromisso sério? 

— Apenas trabalho. Você é mais importante. — Mordeu meu


queixo, levando sua mão entre minhas pernas, me acariciando,

espalhando minha umidade. — Gostosa. Minha gostosa.

— Umazinha antes de sair? — Sorriu torto com a minha


pergunta sem fôlego, bombeando seus dedos e lambi os meus
lábios.

Seu pau pressionava o jeans e abriu o cinto, saindo das calças

com pressa e vindo para cima de mim, onde já estava pronta para
recebê-lo. 

Três anos casados, quatro anos com a sua aliança no meu


dedo e seis ao todo como a sua prometida, mas nunca me senti tão

importante, tão amada e tão incluída na sua vida como nos últimos
dois anos, principalmente desde os meses que fiquei na ilha com

Juliana. 
Depois da ilha, eu parei de me sentir insegura, de ter ciúme
por qualquer coisa e de tentar desafiar o tempo. Cada minuto era
precioso. Nunca mais queria ficar longe dele. O período fora trouxe

um ajuste ao nosso casamento, mais conversa, mais tempo juntos –


e ele parou com a obsessão em me manter em casa o tempo todo.

Talvez porque não havia mais um perigo tão iminente.

Nós gozamos e tomamos banho juntos, ele se jogou na cama

de cueca, mexendo em seu telefone e eu me ocupei me arrumando.


A festa iria atrair bastante atenção da mídia, haveria um tapete

vermelho, alguns famosos locais e estrangeiros. A organização

levou um tempo porque era uma nova inauguração, mostrando a

reforma que acompanhei de perto e queria estar presente.

Escolhi um lindo vestido vermelho sangue porque Damon

ficava louco quando usava aquele tom. Ele ia até o meio das minhas
lindas coxas bronzeadas. O decote estava mais preenchido que da

última vez que o usei e fiquei meio alerta. Apesar de todas as

fofocas que eu era incapaz de conceber, já que Juliana e Enzo

estavam com três meninas, eu sabia a verdade e estava bem com


aquilo.
No começo, era muito cedo, nem Damon queria. Nós

aceitaríamos com amor, mas não queríamos de verdade. Dois anos


depois, sentia que Damon estava começando a escorregar quando

nos perguntavam. Antes ele era firme em dizer que não era a hora e

agora ele dizia em breve. 

Quando seria em breve? Porque apesar de começar a sentir

cócegas no útero ao ver as roupinhas de bebê e ficar com a minha

terceira afilhada – a linda e adorada Aria, eu realmente não


conseguia pensar nos peitos doendo, nas noites sem dormir, a

minha barriga esticando e ter um bebê chorando sem parar sem

poder entregar para a mãe.

Pronta, dei uma voltinha quando meu marido pediu e sorri. Ele

se vestiu novamente e saímos de casa. Enrico estava puxando a

sua moto barulhenta sem ligar. Ele era maluco em montar naquela
máquina da morte. Damon ficou surtado querendo uma também e

eu sabia que ele compraria, mesmo com as minhas ameaças. 

Ajustei meu vestido para entrar no Maserati e os dois foram

competindo como idiotas, quem corria mais com Sandro e Mauro no

carro atrás.
Vinte e cinco minutos mais tarde, paramos em frente à boate

lotada.

— Quer entrar pelos fundos? — Damon sabia que eu evitava a


imprensa. Apesar de ter as minhas fotos nas redes sociais e nas

revistas, a fama de corna me deixou traumatizada. Não falavam

mais sobre isso, mas eu não tinha esquecido.

A mídia era atraída por empresários ricos, bonitos e Damon

usava a imprensa para se manter em evidência e desviar o foco das


suas verdadeiras atividades. Ele era conhecido sim, como toda

família rica que ostentava por aí, mas tudo era absolutamente

calculado e arquitetado. Sempre que alguém falava mais do que

devia, conhecia o peso da máfia sobre ele...

— Podemos entrar pela frente. Sei que é importante para

você. 

Nós saímos de mãos dadas e ele amava me exibir, era um

lembrete claro que eu era linda, podia chamar atenção se quisesse,

mas era dele. O colar com seu nome brilhava no meu pescoço e ri
de alguns gritos com elogios. Aceitamos tirar algumas fotos e

cercados pelos nossos soldados, entramos na boate. Estava

realmente lotada. 
Convites foram disparados, apenas a bebida do bar seria

vendida, mas toda comida – e drogas – eram souvenir, bastava falar


com as pessoas certas.

Nos últimos três anos, nunca vi um homem honrado da família


usar drogas. Eles vendiam, mas não usavam. Em hipótese

nenhuma. Na verdade, costumavam deixar as pessoas ao redor

muito loucas e era por isso que eu tinha um camarote privado.

Como Enrico estava de folga, ele ficou comigo.

Era questão de tempo para ele arrastar alguma mulher para o

banheiro ou, se ela valesse a pena nos seus padrões, a levaria para
casa. Não a dele, mas sim a casa que levava mulheres para foder.

Damon tinha uma antes do casamento e eu simplesmente avisei

que se soubesse que ele estava lá, iria queimá-lo vivo.

Damon estava começando a alertar que ele escolheria uma

esposa para Enrico. Não que meu cunhado estivesse preparado e

muito menos quisesse.  

— Quero um vinho rosê e duas garrafas de água — pedi para

Enrico e ele avisou a Sandro, incluindo os seus pedidos. — Está

lotado aqui hoje. — Olhei para Damon cumprimentando algumas


pessoas e percebi que sua expressão ficou muito perigosa com a
proximidade de um garoto, que deveria regular a minha idade, junto

com alguns homens. — Quem é ele?

Enrico olhou na direção que eu estava apontando.

— Ele é filho caçula de um dos nossos chefes aqui da Sicília.

O moleque é problema sobre pernas. Cabeça quente, explosivo e


definitivamente não confiável. Damon não cortou a garganta dele

porque o pai é um subchefe muito forte e cuida do território com

ferocidade. — Enrico parecia pronto para pular do nosso camarote e

matar o garoto. — Só não sabe controlar o filho caçula.

— É o único herdeiro?

— Não. O mais velho é um soldado leal e letal, nem de longe

parece que tem um merdinha como irmão. 

— O que Damon vai fazer se ele continuar dando problemas?

— Damon poderia lidar com o moleque em dois tempos, mas

não quer arriscar um problema com o pai dele. Provavelmente, vai


pressionar o velho para controlar o filho. O irmão dele acabou de

chegar. — Apontou e olhei, era um homem bonito e parecia regular

com a idade de Damon. Os dois se cumprimentaram com mais

familiaridade e menos tensão. 


Me distraí com a festa, dancei e bebi, fiquei sozinha em alguns

momentos e outros com Enrico. Ele saiu diversas vezes e eu pude


vê-lo beijando algumas garotas pela boate, sumindo e voltando. Não

era preciso ser um gênio matemático para saber o que ele estava

fazendo.

Quando Damon se libertou de suas funções de anfitrião,

finalmente se juntou a mim e o recebi com uma dancinha. Ele me

abraçou, dando um aperto nada discreto na minha bunda e algumas


pessoas no andar debaixo gritaram. Fez de propósito e todo o vinho

me fez rir, porque normalmente tentaria dar um chute nas suas

bolas. 

Fiquei um pouquinho bêbada, dançando, me esfregando nele,

que precisou sair do camarote pouco antes de irmos embora. Me

recostei no parapeito, olhando a multidão e então, o moleque


causador de problemas estava olhando fixamente para cima. Enrico

estava do meu lado, bem sério. 

Enrico era como um irmão mais velho meu e ao longo dos

anos, nós desenvolvemos uma amizade muito sólida. Ele fazia

absolutamente tudo por mim e aprendi a lidar e aceitar seu vínculo

com Damon. Em alguns momentos sentia muito ciúme, mas eles


cresceram juntos, foram criados como irmãos. Francesco não fazia
diferença entre os dois, eles se protegiam e cuidavam um do outro. 

Damon daria a vida por Enrico e a recíproca era verdadeira.


Com o tempo, fui incluída e para ser honesta, também daria a minha

vida pelos dois e rezava que a esposa dele chegasse para

completar e não nos dividir.

O garoto ergueu o copo e isso atraiu a minha atenção, ele

gesticulou que eu era gostosa e me afastei do parapeito. 

Enrico me deu um olhar e nada sóbrio, riu.

— Agora ele assinou a sentença de morte dele. 

Ele ia sair do camarote, pronto para fazer uma besteira.

— Enrico, vá arrumar alguém para... — Limpei a minha


garganta. — Você sabe, e esquece isso. Estão todos bêbados e

pelas carreiras que o garoto puxou, não tem noção do que faz com
a própria vida.

— É melhor que não chegue perto de você.

— Ele não vai. Damon e eu vamos embora — garanti.

Damon voltou para o camarote e Enrico não falou nada, muito


mais consciente que eu estava depois de tanta bebida. Ele sabia

que Damon mataria o garoto só por me chamar de gostosa, então,


optou por manter-se quieto por causa do pai do menino. Por
enquanto. Se o garoto continuasse chamando atenção demais,
Damon eliminaria a ameaça. Era assim que ele lidava com os

negócios agora. Sem conversa.

Depois de Alonzo, ainda tivemos diversos episódios que ele


chegou em casa sem controle. Sabia que ele me permitia ver aquele

momento, porque estava sofrendo e por precisar de mim. Existia


uma parte de Damon que gostava da morte. Eu não podia ignorar
que nós nascemos manchados com o pecado dos nossos pais e

fomos criados nesse meio, sem questionar. 

Quando ele perdia o controle, causava o caos que conflitava


com suas emoções cruas e assassinas. Mesmo que Enrico ficasse

por perto, Damon encontrava em mim o seu refúgio para voltar ao


estado normal. Cada vez que isso acontecia, me assustava, porque
tinha medo por ele. 

Nós passamos por alguns altos e baixos, nada realmente

relevante ou complicado. Uma coisa era certa: meu marido era um


homem letal e não fazia mais joguinhos. 

— Podemos ir embora? — Beijei seu pescoço.

Damon me deu um sorriso maldoso.


— Sim, vamos.

Fiquei aliviada que ele iria embora para casa comigo. Ainda
sentia aflição e preocupação cada vez que saía, podendo não voltar.

Enrico iria ficar, porque estava de folga e era solteiro. Descemos as


escadas de mãos dadas, passamos pelo segundo andar e eu não
encarei o garoto atrevido. Seu irmão me deu um aceno muito

respeitoso, se afastando e fazendo com que os seus homens


abrissem o caminho para mim.

Damon olhou para o garoto com arrogância e poder. Ele podia.

Ele era o dono de tudo e inclusive, do direito do menino de viver ou


não. Senti um peso no estômago. Meu filho, quando nascesse,
precisaria ser como o pai. Um dia precisaria dar herdeiros e de

preferência do sexo masculino, já que Enzo e Juliana tiveram três


meninas e não queriam ter mais. 

O dever estava em mim e eu estava apavorada. 

Amália, Anna e Aria nunca poderiam herdar a posição do pai.


Se eu só tivesse meninas como Juliana, apenas os maridos das
nossas filhas mais velhas poderiam herdar e isso, no nosso mundo,

era perigoso. Seria uma conspiração política de poder e eu não


queria que as meninas precisassem se preocupar com os maridos
que seus pais escolheriam. 

No carro, a caminho de casa, olhei para Damon. Eu o amava e


queria ter filhos. 

— Damon, você quer ter um bebê agora?

Ele desviou o olhar da estrada e sorriu.

— Sim... e não. Eu quero um filho, mas eu não sei como é a


coisa toda de um bebê. Em algum momento precisaremos pensar
nessa logística porque a nossa vida toda vai mudar. — Segurou a

minha mão. — E você, está pronta?

Essa era a pergunta de um milhão de cada moeda existente no


mundo.

 
28 | Damon.

— Eu me sinto um fodido pedófilo. — Enrico puxou a gola da

camisa, como se ela o sufocasse. — Ela tem dezessete anos,

cacete.

— Ela só vai ser a sua esposa com dezenove, fique feliz com
isso porque os tios pareciam ansiosos em se livrar dela, mas eu não
aceitei um casamento com uma menor de idade. — Retruquei,

tentando não rir. 

Giovanna estava com sua expressão doce, de esposa troféu.


Ela conversava com Juliana e Enzo só observava enquanto
aguardávamos a descida da noiva do Enrico.

A fofoca sobre a minha incapacidade de domar minha esposa

e o meu segundo homem no comando se alastrou de maneira a me


deixar irritado. O fato de Giovanna ainda não ter engravidado

chamava atenção, mas Enrico não ser casado, era ainda pior. Ele
precisava constituir família para manter a sua posição. Não que os

homens, soldados de ação, estivessem remotamente preocupados

com isso, mas os tradicionais eram insuportáveis. 


A tradição era algo que não podia ser quebrada. Enrico aceitou

o casamento, porque ele obedecia, mas não estava feliz que a noiva
era uma menina de dezessete anos. As opções não eram muitas,

não era minha culpa.

Em Chicago só havia meninas jovens demais e fora da idade

do casamento e eu não ia prometê-lo em casamento para alguém

no qual ele teria que esperar muitos anos, mesmo que fosse a sua
opção. Havia senhoras viúvas, a maioria com filhos e não ficava de

bom tom para o primeiro casamento de Enrico. 

Em Nova Iorque tinha um punhado de meninas solteiras, as


negociações foram extensas. Antes de qualquer coisa, esse

casamento era político. Após muitas reuniões e conversas, Enzo e


eu chegamos a um acordo e em seguida, um acordo com os tios da

menina. Os pais dela faleceram quando era jovem. 

A prima era mais jovem ainda, a primeira opção dos pais, que

não disfarçaram o desagrado com a escolha de Enzo, mas não

falaram nada. Não eram malucos. Ter a sobrinha se casando com


um homem de tamanha importância como Enrico era uma

honra. Eles aceitaram com um sorriso muito falso.


A Sra. Maceratta apareceu ansiosa e todos olhamos para a
escada. A primeira a descer foi uma menina que não deveria passar

de quatorze anos e eu senti o meu estômago apertar com a ideia de

que os pais queriam casá-la imediatamente. Olhei para Enzo, sem

esconder a minha raiva e ele acenou, entendendo o sentimento. 

Juliana colocou a mão no braço dele e Giovanna deslizou os

dedos nos meus. Olhei em sua direção e, discretamente, ela me


mostrou o seu desagrado.

Olhamos para cima e uma jovem de cabelos loiros, vestida

com algo que deveria ser da tia, desceu a escada devagar. Ela não

parecia ter dezessete anos, não com aquelas roupas, mas eu não

podia expressar a minha opinião em voz alta.

— Foda-se, eu vou te matar — Enrico rosnou.

— Sorria — falei baixo.

— É um prazer apresentar a minha sobrinha, Luna. — Sr.

Maceratta era um homem louco para subir em posição, aqui ou em

Chicago. — Ela é uma beleza, não é?

Babaca.

— Sim, é claro. — Enrico foi conciso. 


Se ele não sorrisse, a garota não ia parar de tremer. Passou

um minuto com os tios falando todas as qualidades dela como se


fosse uma mercadoria em exposição e ele deu um passo à frente,

cortando o assunto. 

— Gostaria de falar com ela a sós. 

A Sra. Maceratta ficou um pouco incomodada, mas como o

marido autorizou, então, ficou quieta. Enrico seguiu o Sr. Maceratta


até a biblioteca com a noiva. Juliana e Enzo se aproximaram.  Nós

apenas trocamos um olhar, sem falar nada. 

Havia uma tensão de fazer uma conversa simpática e não era

exatamente a minha praia. Giovanna era muito melhor nisso do que


eu, porque era doce e paciente. Uma boa atriz, porque sabia que ela

estava irritada com a Sra. Maceratta.

Enrico retornou com a noiva, e ao julgar pela aliança no dedo


da garota, deu tudo certo. Ele me deu um aceno. Estava quase
explodindo e isso me fez querer rir da cara dele.  Lembrei

exatamente o quanto riu da minha ansiedade com o casamento e


finalmente chegou a minha revanche.

— O casamento será após o seu aniversário de dezoito anos.

— Enrico anunciou em tom final. Muito mais cedo do que eu


esperava e eu não sabia por que ele havia tomado aquela decisão.

— Ela ficará com um guarda-costas de Chicago, para a sua


proteção.

A veia possessiva já estava pulsando. 

— Então, vamos jantar. — Enzo finalizou. Ele não aguentava


mais aquele circo tanto quanto eu. 

O jantar foi realmente gostoso, a Sra. Maceratta elogiou a

sobrinha, porque foi ela quem preparou e eu pensei que Enrico


estava feito com uma esposa que sabia cozinhar. A garota parecia

muito contida e eu não podia imaginá-la ao lado dele, porque sua


aparência frágil mostrava que seria engolida pelo jeito bruto e
reservado de Enrico. 

Giovanna se dedicou a quebrar os muros dele e havia muito

respeito entre ambos. Enrico jamais olharia para a minha esposa de


outra maneira.

Saímos de Nova Iorque no mesmo dia. Giovanna queria voltar


para casa imediatamente porque estava cheia de compromissos e

não queria se enrolar.  No avião, a comissária nos serviu com


bebidas e observei minha mulher sair do banheiro sem a roupa
pomposa de antes, usando uma calça confortável e uma camisa
minha, que pegou para usar. 

— Então, vocês vão ficar se encarando como se estivessem


prestes a pular um no outro? — Giovanna sentou ao meu lado.

— Enrico quer pular em mim. — Sorri e bebi meu uísque. —

Ele ainda tem um ano para o casamento e já está suando frio. —


Zombei.

— Deixa de ser chato, o casamento funcionou para nós dois.


— Gio bateu no meu braço. — Ela é muito bonita, Enrico. A comida

estava maravilhosa. Acho que uma reforma deveria ser feita em sua
casa. 

Nós dois a encaramos.

— Por quê? O que tem de errado com a minha casa?

Enrico vivia em uma das casas dentro da Villa Bella. 

— Ela é a sobrinha, não a filha. Vocês viram o quanto os pais


não deixavam de elogiar a filha mesmo que o foco devesse ser da
noiva? — Gio cruzou os braços. — Espero que Enzo não autorize

que os dois casem a menina antes dos dezoito anos ou eles já


teriam feito isso com o maior prazer.  A menina parecia

desconfortável com os elogios e mais de uma vez, percebi que as


primas deram as mãos para dar forças uma à outra. Algo acontece
ali.

— E o que isso tem a ver com a minha casa? — Enrico era


extremamente impaciente, isso não era novidade, mas ele merecia

um prêmio por nunca alterar seu tom de voz. 

— Ela é a sobrinha que está acostumada com restos. A


roupa dela era de alguém, seu cabelo estava preso de uma maneira

que ela parecia desconfortável. Pelo que vi nas redes sociais, não
gosta muito de se vestir assim. Ter uma casa bonita será uma boa

maneira de esfregar na cara dos tios o quanto ela se deu bem. —

Giovanna sorriu. — Você é um partidão, Enrico. Vou adorar ficar

responsável pela reforma e decoração. 

Enrico pensou por um momento.

— Que rede social? Eu pesquisei e os tios dela disseram que

ela não tinha uma. — Seu cenho franziu.

— Ah, eu pedi o Instagram dela e ela me deu. Disse que


deveríamos ser amigas, já que vamos morar no mesmo lugar e

passar muito tempo uma com a outra.

Giovanna estava tão ansiosa para ter uma amiga que não

estava pensando em mais nada. Sorri para sua excitação e ela não
deu o usuário da menina, apagou e enviou apenas as fotos. Eu

pude entender o motivo que elas se afeiçoaram rapidamente. A


garotinha com cara de santa era uma ninfa bebê. Comecei a rir e

não parei mais, quanto mais a veia de Enrico ficava saliente, mais a

risada rasgava no meu peito.

— Pare de rir, Damon. Ela é adorável. — Giovanna me bateu

suavemente.

— É melhor que ela não use a porra dessas roupas em

público. — O rosto de Enrico amassou em raiva.

— Já possessivo? — Provoquei. — Qual o problema de um

pouco de exibição?

— Eu vou te dar um soco. — Enrico rosnou.

— Para de provocar. Vocês dois são duas crianças! —

Giovanna se estressou.

Deixei Enrico quieto o restante do voo. Não levei três minutos

para descobrir o usuário da menina. Era uma conta privada e se ela

mantinha assim, tudo bem. Enrico iria monitorar. As contas das


redes sociais de Giovanna foram monitoradas por mim até o

casamento. Ela nunca me pareceu inconsequente, mas não queria


que a minha irmã a influenciasse a ter qualquer atitude para me

chamar atenção. Sandra era a imprudente da equação.

Giovanna seguia mantendo a sua conta com fotos que eu


gostaria de queimar, mas ela não mostrava nudez ou qualquer coisa

ofensiva. Precisava lidar que minha esposa era linda de qualquer

jeito. 

Olhei para ela e beijei a sua mão, sorrindo. Quando dormiu,

Enrico continuou emburrado comigo, de braços cruzados e não


abriu a boca até chegarmos em casa.  Estava tarde e eu não iria

trabalhar, seguindo atrás da minha mulher com prazer para encher o

seu saco. Giovanna estava tão cansada que não me deu confiança. 

Nós dormimos e no dia seguinte, acordou cedo e montou em

mim.

— Recarreguei as energias, o que você queria conversar

ontem? — Me deu um sorrisinho sonolento. 

Seu cabelo estava mais curto do que quando nos casamos.


Antes ia até a cinturinha, agora, batia nos ombros. Ela cortou e

quase surtei, porque amava o seu cabelo longo. Seu corpo mudou.

Estava mais adulta. Ganhou peso, o que definitivamente não era um


problema, sua bunda estava ainda mais incrível e os peitos também.
Mostrei exatamente que tipo de conversa matinal gostaria de

ter com minha linda mulher. Deixei-a dormindo mais um pouco


enquanto me arrumava para sair. Precisava passar nas boates e

manter um olho ativo nos negócios. Enrico sairia comigo, então, ele

estava na minha cozinha, fuçando a minha geladeira. 

— Fala para a Gio que eu levei as minhas coisas para o

quartinho em cima da sala de segurança, para ela procurar um

arquiteto e fazer toda a coisa feminina. — Tentei não rir, mas falhei.
— Foda-se você.

— Não vou pedir desculpas, esse casamento é para o bem


de todos. — Ele me deu um olhar desconfiado. — Talvez a diferença

de idade seja um pequeno problema, porque eu tinha vinte e seis e

a Gio dezoito, ela se preparou para ser a minha esposa e nós

acabamos por ter muitos gostos em comum. Mas não é impossível


se afeiçoar. 

Enrico ficou em silêncio.

— Não quero ser um marido como o meu pai — falou

olhando para o seu café. — Eu não quero ser como o seu pai. Ele

me criou como filho e eu sou muito grato, pela proteção e por nunca
deixar a minha mãe desamparada.
— Mas ele foi um marido de merda. — Terminei a sua

sentença.

Não estava ofendido. Meu pai nos deu tudo, ele foi duro
quando precisava, nos punia sempre e nos amou mesmo quando

fomos homens iniciados bem violentos. Ele nos treinou como

homens que um dia teriam um bom lugar na família. 

O pai de Enrico era um soldado leal, mas não era de alto

escalão. Sua mãe trabalhava na minha casa e por isso o meu pai

assumiu a criação dele, quando o pai morreu após um ataque da


Bratva, enquanto estava com sua amante e o filho bastardo. Os três

morreram. A Bratva não perdoava o sangue italiano, não importava

se eram mulheres ou crianças.

A mãe de Enrico, assim como a minha, sofria em silêncio,

dividida entre amor e o medo pelo marido. Me perguntava como a

minha mãe era capaz de amar um homem que mal a olhava.  Meu
pai sempre teve amantes, mas ele tomava muito cuidado porque só

descobri quando adulto, depois que minha mãe morreu. 

— Eu sei que sou um marido melhor que o meu pai e por isso

sei que você também vai ser. 


Enrico me deu um aceno e dei as costas, indo para o meu

escritório por um momento. Antes de ligar o meu computador, olhei


para a foto de Giovanna tirada na ilha. Eu a tinha bem na minha

mesa para lembrar que nós nunca mais ficaríamos separados. 

Foram os dois meses mais longos, mais loucos e mais


violentos da minha vida. Dois meses andando pelo mundo, cuidando

dos negócios, da famiglia, assegurando minha cadeia de poder e

não podia contar quantas vezes Enzo e eu, literalmente, caímos na


porrada, tentando matar um ao outro, tomados pelo estresse e a

raiva.

Nós nos provocávamos intencionalmente, dois homens com


atitudes de liderança, putos, separados da família, perseguindo um

psicopata. Queríamos matá-lo e fizemos isso juntos. Foi na casa de

infância da minha mãe que nós o encontramos. Ele estava lá porque


cansou de fugir, não tinha abrigo e apoio em lugar nenhum do

mundo. Gastamos rios e rios de dinheiro, comprando quase todas

as pessoas no caminho. 

Alonzo não esperava que eu estivesse lá e eu vi a surpresa

conforme a vida ia esvaindo dos seus olhos. Fiz questão de mantê-

lo vivo por uma semana. Não queria um fim rápido. Ele não merecia.
Sua força e concentração estavam todas em Enzo, seu ódio
enraizado no próximo Rafaelli. Ele sempre subestimou a minha
família, desprezou o nosso modo de viver e as tradições. 

Para ele, nós éramos fracos e o pai, ao invés de fazer uma


aliança de casamento para selar a paz, tinha que nos destruir.

Nunca conseguiriam. Meu avô sabia disso. Ele preferiu nos ter
ao lado. Ele já tinha perdido muito território com o rompimento do

Valentinni e as demais famílias, desejando desertar. Eles eram

fracos. E ficaram fracos por muitos anos. Até Enzo assumir, as

defesas da família estavam baixas, seus homens desconfiados e a


qualidade das drogas caindo. A minha família era quem tinha

laboratórios e a porra do dinheiro.

Alonzo tirou a vida da minha mãe e do meu pai. Eu tirei a vida

dele. Na sua caçada a Enzo, ele colocou em risco a vida de muitas


pessoas do meu território, ameaçou a minha esposa e afilhadas. Ele

teve o gostinho de ter subestimado o homem que sempre ignorou. 

Foi bom matá-lo. Me fez muito bem. Me deu um encerramento


e a oportunidade de me concentrar contra inimigos que não

paravam de proliferar. Matava dez e aparecia mais vinte. Estava


acostumado a não relaxar, porque o time que está ganhando atrai
muita atenção. Ultimamente, a corrida parecia bem louca, mas nada
que não pudesse controlar. 

Peguei as chaves do meu carro e saí.

Eu tinha um território para comandar.

Alonzo estava no passado. Era o fim dele e que viessem novos


inimigos.

Eu estava pronto.

 
29 | Gio.

Me senti satisfeita ao olhar a sala de jantar perfeitamente

decorada, pronta para receber algumas mulheres da minha família e

mais duas senhoras para um almoço. Minha mãe estava insistindo

muito e queria fazer um pouco de cena para as amigas. Damon

achava que era muito bom receber as damas e estreitar laços. Ele

costumava reunir os homens em um dos clubes. 

Guardei o meu comentário sobre isso para outro momento e


seria bem breve.

Conferi minha lista, preparei um antipasto com queijos, frutas,

azeitonas, azeite, pães e mel. Estava perfeitamente decorado com


tomates, flores e alguns potes de massa. Para o primeiro prato,
preparei um delicioso gnocchi alla genovese, para o segundo prato

minha nova receita favorita, ossobuco alla gremolata acompanhado

de uma salada de queijos, tomates, mix de folhas verdes e


azeitonas. Para a sobremesa, três tipos de gelattos com frutas

frescas.
Deixei os vinhos para Damon escolher, já que havia passado a

manhã inteira andando atrás de mim, querendo minha comida,


provando tudo, me irritando e ficando no meu caminho. Quando

Enrico o chamou para treinar na academia, dei graças a Deus. Ele

era lindo, mas quando cismava de ficar em cima, era muito irritante. 

Com tudo pronto, subi para tomar um banho caprichado, fiz o

meu preparo de pele, passei uma maquiagem básica e pronta, me


olhei no espelho.

Meu rosto estava mais maduro, não tão mais de menina e eu

gostava da minha versão com mais de vinte anos. Meu cabelo curto
me deu um ar de maturidade e o meu corpo mais robusto, de

mulher, ficava ainda mais bonito com as minhas roupinhas. 

Meu vestido era branco, justo, parecido com o que Audrey

Hepburn usou no filme A Bonequinha de Luxo. De frente, parecia a

perfeita dona de casa e as costas nuas mostravam que não era uma

mulher tão “fechada”.

Separei as sandálias altas de salto quadrado mais confortáveis

que tinha para vestir pouco antes das convidadas chegarem. Minha

cunhada também viria, mas sem as meninas, o que era uma pena.

Estava com saudades. Marcella e mais duas senhoras estavam na


cozinha para me auxiliar com o almoço. Precisei pedir ajuda nessa
parte ou não conseguiria dar conta. 

De chinelos, atravessei o gramado e empurrei a porta da

academia. Os sons de luta e o cheiro de suor me fizeram torcer o

nariz. Damon estava avançando em Enrico, eles se batiam com

muita força. Qualquer pessoa poderia acreditar que era real e não

um treinamento. 

Um rock pesado explodia nos altos falantes e fui até o som,

desligando. Eles caíram no chão, sem parar e de alguma maneira,

Damon rolou de costas, passando o braço no pescoço de Enrico.

Pensei que Enrico fosse bater para acabar, mas ele não fez, foi

ficando vermelho e se movimentando para buscar uma saída.


Damon soltou quando Enrico ficou mole.

— Você quer matá-lo? — Coloquei as minhas mãos na

cintura.

Damon me deu um olhar de não se mete e eu arquivei. Ele ia

levar cada uma das suas gracinhas de volta bem no meio do focinho
quando menos esperasse.

— Posso te ajudar? — Ele foi irônico.


— Sim. Eu gostaria que você não aparecesse na minha

reunião. Não quero que as senhoras te vejam desalinhado e suado.


Muito menos bonito e arrumado. Então, use as escadas do quarto

de hóspedes. — Apontei e ele jogou água no rosto de Enrico, que


ao acordar, deu um soco no ombro do meu marido. Eles voltaram a
lutar como se eu não estivesse ali. — Então, quando os strippers

que contratei chegarem, por favor, não estraguem a festa — falei


bem alto e dei as costas.

Saí da academia ouvindo os passos firmes de Damon atrás de

mim e a risada caricata do Enrico – que era muito rara de ouvir.


Olhei sobre meus ombros, sorri ironicamente e entrei na nossa
casa, passando pela cozinha com muita classe e subindo as

escadas. Sentei na cama, cruzando as pernas e ele fechou a porta


atrás dele. Suado, sem camisa, com uma calça de moletom cinza

que não escondia o quanto era gostoso.

— Strippers?

— Por que não? Você se reúne com os homens nos clubes

com um monte delas. — Encolhi os ombros. Ele veio para cima de


mim e coloquei o meu pé em seu peito molhado. — Estou pronta

para receber as visitas, não vá me bagunçar. Espero que de homem


suado, sejam os bonitões que eu contratei.
— Giovanna... se tiver homem aqui... — Damon avisou

severamente.

— Vai fazer o quê? — Arqueei a sobrancelha, mas a


campainha tocou.

— Conversaremos mais tarde. — Agarrou meu rosto e me


deu um beijo duro. Fiquei toda arrepiada. — O único homem suado

que vai tocar em você sou eu, porque vou te foder tanto a noite que
vai implorar por um pouco de misericórdia.

— Você sabe que eu vou implorar... é por mais. — Dei uma

bitoquinha em seus lábios e saí do quarto. 

Calcei minhas sandálias rapidamente e abri a porta. Minha

mãe e minha tia Catarina foram as primeiras a chegar. Levei-as para


a sala de estar enquanto aguardava Sandra, minha tia Maria e as

minhas primas Madah e Bianca. Em menos de quarenta minutos,


todas nós estávamos reunidas ao redor da mesa da sala de jantar. 

Sandra estava contando a última arte das meninas e as mais


velhas dando conselhos maternais não solicitados. Eu sabia que

aquele assunto ia chegar em mim e não demorou muito tempo.

— E você, está fazendo algum tratamento, querida? Nós


entendemos que vocês dois quiseram manter a infertilidade em
privado, mas somos a sua família. — Tia Catarina me olhou com
interesse. — Parece ser algo em comum da família, infelizmente. —
A acidez escorreu para Bianca. 

Em todos esses anos de casada, ela foi incapaz de conceber

e para piorar, seu marido encontrou uma amante fixa que lhe deu
um bebê. Uma menina. Mesmo que não fosse um herdeiro – e
nunca seria por ser bastardo, para Bianca foi o estopim.

Ela estava sofrendo, tomando milhares de remédios e

hormônios que lhe faziam emagrecer e engordar em um efeito


sanfona sem fim. Estava visivelmente miserável. Sentia tristeza por

ela, por não saber o que fazer ou como apoiá-la. 

— Damon e eu não tivemos filhos ainda porque não

quisemos. Não foi por um problema de saúde, apenas queríamos


ser um casal antes dos filhos — expliquei calmamente. As

expressões de choque por saberem que o chefe optou por não ter
filhos para aproveitar a vida com a sua esposa parecia um absurdo.

— Nós estamos conversando sobre isso. Em breve, quem sabe? —


abri um sorriso e olhei para Bianca, me desculpando. 

— Está tudo bem. — Bianca segurou a minha mão e apertou.


— Será maravilhoso se tiver um menino. Com Nova Iorque
produzindo meninas, o seu filho será a criança mais importante do
mundo. — Tia Maria comemorou.

Odiava quando desmereciam as minhas afilhadas. Elas não

eram menos importantes porque não herdariam a cadeira de


comando do pai. Eu não queria que a minha filha fosse menos

importante para a nossa sociedade, mas infelizmente, era assim que


eles funcionavam e pareciam não se importar. A expressão azeda

da minha cunhada me deixou ciente de que ela sabia muito bem


como era o sentimento, afinal, por anos, foi filha única.

Ao fim do almoço, achei Bianca estranha. Eu sabia que

estava mal, mas a maneira como me abraçou antes de entrar


no carro com seu guarda-costas fez o meu coração apertar. 

— Podemos sair juntas amanhã? — Segurei sua mão antes


de entrar no carro. Ela me deu um sorriso lindo.

— É claro. — E foi embora.

Fiquei ocupada com a limpeza, guardando as minhas louças

caras, que não queria que Damon enfiasse no micro-ondas com

qualquer besteira. Ele era dono de beber qualquer coisa no que


encontrasse primeiro ao invés de pegar um copo do uso diário. Não
podia computar quantas louças lindas quebrou nos últimos anos e

aprendi minha lição de usar e guardar logo.

Fiz o pagamento das funcionárias, agradeci e terminei sozinha,

deixando a cozinha limpa. Já estava escurecendo quando subi,


deixei Damon trabalhando e ao tirar a roupa, eu não conseguia não

pensar em Bianca. Não tomei banho para tirar a maquiagem, peguei

uma calça jeans, tênis e camiseta, descendo com meu celular no

bolso e bati na porta do escritório dele.

— Está muito ocupado? — Espiei dentro.

— Um pouco. O que precisa? — Ele franziu o cenho. — Vai

sair?

— Acho que Bianca não está muito bem. — Mordi o meu


lábio.

— O marido dela deve estar em casa, não é um bom


momento para ir lá. — Damon conferiu o relógio.

— Eu sei, vai ser rápido.

— E se você atrapalhar a rotina do jantar?

— Damon? — Eu estava incrédula. — Ele tem uma amante e


a minha prima está sofrendo, estou pouco me fodendo com o jantar

sagrado dele! — Perdi a minha paciência.


— Eu sei, Gio. Calma. Estou apenas te lembrando que

existem certas...

Pelo meu olhar, ele calou a boca.

— Eu vou te levar lá e não importa o quanto ofereçam, não

iremos ficar muito tempo. — avisou severamente e ignorei. 

Sempre ignorava quando ele falava comigo como chefe. Ele

era o meu marido antes de qualquer coisa e Damon estava cada

vez mais estoico e dentro do seu papel.

Nós saímos de casa e por algum motivo, senti a necessidade

de segurá-lo o tempo todo. Bianca e seu marido, Giulio Raffael,


moravam em um bairro de classe média onde noventa e nove por

cento dos habitantes pertenciam à família. Damon estacionou do

outro lado da rua e saí do carro sem esperar por ele, que precisou
correr para me alcançar. Empurrei o dedo na campainha. 

Não levou muito tempo para a porta abrir e o marido de

Bianca parecer confuso, mas respeitoso.

— Sr. e Sra. Galattore. Aconteceu alguma coisa?

— Minha esposa precisa  falar com a sua, Raffael. — O tom

de Damon foi cortante, sem espaço para discussão. Ele era o chefe,
se ele dissesse que eu queria a Bianca, seu marido poderia não

gostar, mas obedeceria. 

— É claro. Bia está no quarto, descansando, mas acho que

ela vai ficar feliz em te ver. Chegou cheia de elogios do almoço. —


Ele foi até simpático e precisei engolir o meu desprezo. — A

senhora se importa em subir?

— Claro que não, vai ser rápido. — Sorri e olhei para Damon.
— Já volto.

Dei uma olhada entre os dois e subi as escadas. Eu conhecia


o caminho para o quarto dela. Bati na porta três vezes, a última um

pouco mais forte. Ela não respondeu. Respirei fundo e abri com

cuidado, não querendo perturbar o sono. Deitada na cama, achei

esquisita a maneira que estava posicionada. Quem tirava um cochilo


daquele jeito?

— Bia? Bianca? — Chamei suavemente, me aproximando. —


Acorda. — Toquei a sua mão e me afastei assustada por estar fria.

Um pavor me dominou. — Bianca? — Sacudi seu corpo e a sua

cabeça caiu para o lado. — BIANCA! SOCORRO! ALGUÉM ME

AJUDA! SOCORRO! — gritei, sentindo a histeria borbulhar no meu


peito. — Bia, acorda! Bianca! — Ouvi passos firmes e apressados.
Damon explodiu a porta com a sua arma em punho. — Ela não

acorda! 

Giulio empurrou Damon, se jogando na cama, sacudindo a


esposa e entrando em  desespero. Eu não sabia o que havia

acontecido, mas Damon me puxou pela cintura, enquanto me

debatia, chorando e não querendo ficar longe dela quando


acordasse. Então, eu me dei conta. 

Ela não iria acordar.

— O QUE VOCÊ FEZ? — Me soltei e avancei em Giulio. Bati

com meus punhos no peito dele, que não revidou, só se esquivou.

— O QUE VOCÊ FEZ? É SUA CULPA!

Um soldado pressionou Giulio contra a parede e outro me

manteve no lugar. Damon assumiu o controle, tocou o pulso de

Bianca e eu não conseguia ouvir nada, com minha respiração


errática e o meu coração retumbando no peito. O tempo parecia

algo completamente letárgico. Era vazio. 

O corpo imóvel da minha prima na cama me deixou

nauseada e eu virei para o lado, vomitando nos sapatos de quem

me segurava. Não lembrava o nome dele. Damon me tirou do quarto


e estávamos descendo a escada quando Enrico entrava na casa

com Mauro e Sandro.

— Levem a Giovanna para casa — ordenou.

— Não...

— Sim, você vai. — Era uma ordem definitiva.

Mauro dirigiu em silêncio enquanto Sandro me olhava de

tempos em tempos. Ao chegar em casa, eu estava... sem chão. Não

sabia o que pensar e muito menos o que fazer, apenas tomei um

banho automático e fiquei na cama, chorando, sem entender. 

O que diabos tinha acontecido? 

Queria que Damon me desse notícias, mas ele não estava

atendendo as minhas ligações e levou horas para dizer que estava

chegando em casa. Minha mãe estava inconsolável e eu não

conseguia dizer nada.

Absolutamente nada.

Como alguém tão jovem quanto Bianca poderia morrer assim?

Desci a escada no momento que Damon estava arrancando a

sua roupa. Ele parecia meio nervoso e me pegou em um abraço


antes que pudesse dizer algo.
— Eu não vou me importar se nunca tivermos filhos. —
Segurou o meu rosto. — Você nunca vai ser insuficiente ou menos

amada por mim por isso.

Meu coração quebrou, não pelas palavras, mas pela

realização...

— Bianca se matou?

— Sim. Ela encomendou um remédio controlado e tomou

vinte cápsulas após a reunião aqui. Raffael chegou do trabalho e


jura que a encontrou dormindo, ela poderia estar desmaiada e ele

sequer percebeu, deixando-a no quarto. Nós chegamos uma hora

depois. — Damon me levou para o sofá.

— Ele nem a acordou para dizer que chegou? — Minha voz

era um sussurro quebrado. Estava me sentindo moída.

— O casamento deles não estava muito bom, Gio. Raffael

jurou e mesmo após algumas perguntas bem persuasivas, não


mudou a versão. Além do mais, Bianca deixou uma carta dentro da
gaveta. Ela só pedia desculpas por falhar no seu papel de mulher.

— Suspirou e eu endureci em seu colo. — Parece que o estopim foi


quando Raffael levou a amante e a filha para viverem na casa dos
fundos...
— Está de brincadeira comigo? Ele vai ser punido por isso?

Damon franziu o cenho.

— Não me diga que o filho da puta vai sair impune depois de


esfregar a amante e filha na cara da esposa? — Saí de seu colo e

ele me puxou de volta.

— Não posso dizer aos meus homens como eles devem gerir
suas casas. Ele era o marido dela, a decisão era dele. Não

concordo, mas era a casa dele. E isso não é exatamente uma


prática incomum...

— Foda-se! Quantas esposas vão precisar se matar para que

vocês tirem a cabeça da bunda? — Meu tom brusco o fez me liberar


de seu aperto. — Sabe o que vai acontecer? Em meses, ele vai
pedir autorização para se casar com a amante e criar a filha,

podendo até ter o seu tão sonhado herdeiro! E a minha prima? A


mulher fraca que não era capaz de conceber! — Voltei a chorar, me
afastando cada vez mais. — Ela era incrível, uma mulher

maravilhosa e essa vida a destruiu. Vocês a mataram! Todos vocês


com essa pressão e regras estúpidas sobre ter filhos, sobre o
casamento e sobre todo restante! Vocês são hipócritas! Exigem de
todas as mulheres da família uma perfeição, fidelidade, virgindade e
recato, enquanto vivem rodeados de putas!

— Giovanna...

— Nada que você me disser agora vai aplacar a dor que


estou sentindo. Homens nessa família são autorizados a ter
amantes, a esfregar na cara das suas esposas, mas se uma mulher

tiver um amante, ela é punida com a morte. 

Damon suspirou e me pegou novamente.

— Eu sei, sinto muito e eu te amo. — Beijou o topo da minha


cabeça. 

— Isso tudo é real?

— Infelizmente, sim. Eu realmente sinto muito. — Me beijou


novamente, me encolhi em seu colo, tentando controlar a fúria e a

dor que crescia no meu peito, mas elas estavam me vencendo.

Não tinha forças para lutar contra tanto ódio e desalento.

 
30 | Gio.

O funeral de Bianca foi um dos momentos mais tristes da

minha vida. Tentei ser imparcial, mas todos estavam percebendo

meu ódio ao viúvo. Fui incapaz de estar ao seu lado, assim como eu

não consegui falar com Tia Catarina. 

Se ela tivesse sido mais compreensiva e menos preocupada


sobre o que os outros poderiam pensar, se não exigisse tanto de
Bianca, talvez a minha prima fizesse um tratamento. Talvez ela
pudesse aceitar que não era imperfeita por não ser capaz de

conceber.

Foi doloroso ver o seu caixão descer. Não tinha mais lágrimas,
mas sentia uma dor de cabeça quase impossível de lidar e por

quase dois dias, mal conseguia trocar uma palavra com Damon.

Estava ressentida. Ele não podia fazer muito sem arriscar que
quase todos os subchefes ficassem descontentes, levando a uma

ruptura no seu poder e enfraquecendo a sua imagem.

Em Nova Iorque, era proibido que as esposas soubessem

sobre as amantes e eles definitivamente não podiam ter a esposa e

a amante no mesmo ambiente.


Na recepção fúnebre, minha tia estava no canto, chorosa e eu

não conseguia encarar ninguém. Madah se aproximou com cuidado.


Nós ficamos abraçadas por um longo tempo e lutei para não

desmoronar. Ela teve um bebê no primeiro ano do seu casamento e

estava grávida do segundo, ela e o marido queriam ter quatro filhos


e não escondiam o orgulho da fertilidade. 

Não estava magoada com Madah, mas sentia que engravidar


nos próximos meses seria de completo mal gosto e um insulto à

memória de Bianca. 

Damon me encarou do outro lado da sala e eu queria ir


embora. Assentindo minimamente, me despedi da minha mãe com

um beijo na bochecha. Ela sussurrou que seria de péssimo gosto ir


embora tão cedo, porque fazíamos parte da família, mas, eu era a

esposa do chefe e precisava tirar alguma vantagem disso.

— Você está bem? — Damon quebrou o silêncio do carro.

— Tão bem quanto poderia estar. — Dei de ombros.

Ao chegarmos em casa, tirei as roupas do funeral e coloquei

para lavar diretamente, tomei um banho quentinho, me enrolando no

roupão e me joguei na cama, sem ânimo para nada. Damon subiu

depois, tomou banho e deitou atrás de mim. Não consegui ficar


longe dos seus braços, virei, beijando seu peito nu e ele me
abraçou, acariciando as minhas costas.

— Convoquei uma reunião. A partir de hoje, os homens estão

proibidos de levar suas amantes para dentro de casa, para o lar de

suas esposas e reforcei a importância em respeitar a casa da

família. A maioria apoiou, porque gostam de manter a capa do

tradicionalismo ou não faria sentido tantas cobranças. Não posso


proibir os homens de trair, muitas esposas não gostam dos seus

maridos e o sexo... é inexistente. A maioria dos casamentos é por

conveniência. Ter uma amante para a maioria das mulheres é até

um alívio — Damon falou baixinho e eu discordava, mas de certo

modo, ele tinha razão. Minha tia admitia não fazer sexo com seu

marido há mais de uma década. A questão era que se ela tivesse


um amante, sequer estaria viva. — Raffael está ciente que ele não

tem autorização para se casar com a sua amante nos próximos dois

anos. Eu não posso impedi-lo de se casar novamente, mas eu

duvido muito que ele irá se casar com ela. 

Não era bem a punição que eu queria, mas não podia ser

exigente. Raffael seria falado por um tempo e isso me satisfazia,


embora, com o passar dos anos, a culpa seria de Bianca. Não tinha

certeza se a minha tia estava sofrendo pela morte da filha ou pela


vergonha de que teve uma filha infértil que tirou a própria vida. Não

podia julgar Bianca. Não sabia se lidaria com a pressão, somada


com as milhares de tentativas. Eu não a julgava como fraca.

***

Os meses seguintes passaram em uma lentidão irritante.


Eventualmente, voltei ao meu normal, embora ainda estivesse triste

e com saudades. Se não tivesse me comprometido com a reforma


da casa de Enrico e o preparativo do casamento, que aconteceria

no quintal da nossa casa, teria me escondido na Itália. Foi bom estar


tão envolvida, porque ocupei a minha mente e quando ia dormir,
estava exausta. 

Fizemos um jantar privado para o aniversário de Damon,

porque no meu fizemos uma grande festa, mas no dele, achamos


que não havia clima. Ele estava muito estressado com um agente

do FBI que estava na cola da nossa família e quando estava em


casa, ficava apenas comigo.  

A família passou por problemas sérios e ataques brutais da


Bratva. Meu marido fez novos acordos e precisou viajar pelo

território por um tempo, dando um aperto firme aos seus chefes e


mantendo um olhar vivo nos negócios. 
Viajei a Nova Iorque para ver as minhas afilhadas e resolver

questões do casamento de Enrico, já que a tia da noiva estava


acreditando que era um casamento da realeza. Precisei ser aquela

a impor alguns limites. Não que os noivos não merecessem, mas


uma estátua de gelo e garçons vestidos de prata era brega demais.

Perguntei à Luna o que ela realmente queria e ela me mostrou


algumas inspirações. Com o olhar recriminador da tia, mal abriu a

boca. Foi a primeira vez que eu quis que Enrico estivesse


participando da conversa, assim a tia dela não seria tão abusada e

eu não seria obrigada a ser tão “esposa do chefe”. 

Manter minha cabeça nisso me ajudou a curar a ânsia e a


divisão na minha cabeça. Não tinha certeza se estava preparada
para ser mãe, mas duelava com o meu senso de dever e ao mesmo

tempo me rebelava, porque não devia nada a ninguém. Estava farta.


Queria um bebê por amor. 

Quando pensava em uma gestação sendo fruto do meu amor

por Damon e o dele por mim, me dava vontade de chorar e um


sorriso involuntário crescia nos meus lábios. Eu podia ter um bebê
nesses termos. Não podia me sentir na obrigação de ter um filho

que o sangue já fervia. 


Damon acreditava que enquanto pensasse assim, não
deveríamos ter um bebê. Ele tinha medo que me ressentisse ainda
mais e acabasse me afastando dele. Meu marido preferia não ter

filhos se isso significava a minha infelicidade e uma ruptura no


nosso casamento. 

Não tinha problemas com Damon, apesar de ele não ter sido
fiel ao nosso compromisso antes do nosso casamento, ele foi

obrigado a aceitar esse relacionamento. Ele jurava que me


escolheria para ser a sua mulher mesmo que não fosse obrigado,

mas eu duvidava que ele fizesse isso antes dos seus quarenta anos
e no nosso mundo, significava que eu já estaria casada com outra

pessoa há muito tempo. 

Fui tirada de casa aos quinze anos, casada aos dezoito e eu

tinha a sorte de ter um marido que idolatrava o chão que eu pisava e


me amava incondicionalmente. Podia não ser assim. Damon e eu

tínhamos muitos rompantes, mas nós nos entendíamos e sempre


estávamos juntos. Era por isso que me sentia no direito de escolher

o tempo que teria filhos.

Quando voltei de Nova Iorque, Damon estava no aeroporto me

esperando.
— Você nunca mais vai viajar e passar uma semana longe, fui
claro? — falou alto, bancando o estúpido e tirando onda de alfa na
frente dos soldados. Tudo porque eu disse que ele não mandava em

mim e nem no próprio nariz, mas eu aceitava ser mandada na cama.

— Sim, amor — falei baixinho, toda submissa. Ele sorriu


discretamente para a nossa brincadeirinha. 

No carro, a tensão entre nós era tão grande que podia sentir o

ar pesado. Apertei a protuberância de sua calça, deixando-o duro,


maluco e ele quase bateu com o carro quando enfiei minha mão na

calcinha. Ao entrar em casa, não passamos da sala, morrendo de

saudades um do outro e desesperados por uma conexão. 

— Essa casa não é a mesma sem você. — Damon beijou o

meu pescoço.

— Sentiu a minha falta? — Não consegui esconder a minha

diversão.

— Cada maldito segundo. Sabia que a casa ficou silenciosa


também? Eu trabalhei o dobro que o costume desde que nos

casamos e isso me faz pensar que você é espaçosa na minha

agenda. — Seu sorrisinho torto me deixava maluca. 

— Cazzo.
— Não estou reclamando. Senti a sua falta. 

Do jeito que ele me comeu contra a parede e o sofá, deu pra

perceber o quanto realmente havia sentido a minha falta. Beijei sua

boca e me levantei, recolhendo as nossas coisas e fomos para o


quarto. Damon tirou a noite para ficar comigo e eu pensei que ficaria

sozinha, então, não escondi a minha felicidade. 

Pedimos comida, assistimos a um filme que foi ignorado na


metade porque eu decidi que precisava montar nele.

— Seus peitos estão maiores. — Ele agarrou, dando uma


sacudida. Imbecil.

— Eu vou menstruar, seria legal se parasse de apertar. —

Revirei os olhos.

— Ah, desculpe. — Abriu um sorrisinho. 

— Então... Você chegou a pensar na possibilidade de uma

gravidez? — Precisava ter essa conversa novamente, porque

deixamos de falar sobre isso após a morte de Bianca. Damon não

desviou o olhar, o que me deu muita confiança.

— Talvez. — Assim ele me matava. Nunca era sim ou não,

apenas talvez, o que me dava a sensação de que era mais sim do


que não.
— Você vai amar o nosso bebê independente do sexo? —

Arqueei minha sobrancelha e ele se sentou bruscamente. Nossos

rostos ficaram próximos.

— Vou ficar muito assustado, porque eu não sou o exemplo

americano de homem, sou um assassino e trabalho vendendo

drogas, mantendo clubes de sexo, lavando dinheiro e sonegando


imposto. Vou amar o nosso bebê pra caralho. Talvez fique muito

nervoso sobre como segurá-lo, você viu o tamanho que Anna e Aria

nasceram, elas eram minúsculas. — Refletiu e mordi o lábio,


achando graça de seu medo bobo. — Sendo menina, menino e o

que for... Eu vou amar e ser feliz. Será a nossa família. Eu te

prometo que não quero um bebê porque as pessoas esperam que

tenhamos herdeiros. Eu quero um bebê porque eu te amo.

Meus olhos se encheram de lágrimas e o abracei. Era por isso

que eu queria ser mãe: pelo nosso amor. 

— Tudo bem. Eu vou conversar com o médico, porque eu não

sei se faço ideia se é só suspender o remédio... 

— Ei, ei. Não é sobre a minha vontade. Gio, você precisa

querer. Será o seu corpo em uma completa transformação. Já te

falei que vou esperar o tempo que for preciso, somos jovens.
— Você nem tanto. — Impliquei.

— A mocinha acha que ainda tem a idade que nos casamos?

Espertinha.

— Eu quero e ao mesmo tempo, não quero. Mas não é o

mesmo pavor que eu tinha no passado, já consigo sorrir ao pensar

em um bebezinho crescendo no meu ventre. — Damon

compartilhou um sorriso doce. Era tão raro que beijei os seus lábios
macios. — As noites de choros, trocas de fralda e as dores nos

mamilos ainda parecem um bicho de sete cabeças, mas não é

impossível aos meus olhos. Só que o meu lado rebelde entra em


convulsão ao pensar na satisfação que as pessoas terão com a

minha gravidez.

— A nossa família é mais importante que a opinião do


restante. Passamos quase quatro anos de casamento ignorando

completamente as opiniões, eu considero que fomos felizes mesmo

com os dias de problemas. Viajamos, conhecemos novos lugares,


transamos por aí, curtimos muita praia e eu definitivamente não

acho que será o fim. — Beijou a pontinha do meu nariz. — Não tem

que tomar uma decisão agora.


— Eu vou marcar uma consulta e tirar algumas dúvidas,

depois, podemos conversar novamente. 

— Sempre irei proteger você e ao nosso bebê. 

Conversar com Damon acalmou os meus ânimos, até dormi

tranquila. Não marquei a consulta imediatamente, protelando por


insegurança, falta de tempo e um pouco de teimosia mesmo.

Damon não me pressionou, ele nunca faria isso. Às vezes havia um

monte de compromissos para comparecer que isso era deixado de

lado. 

No Dia de Ação de Graças, fomos convidados para o jantar do

prefeito. Todo ano éramos convidados e Damon sempre negava o


convite, do nada, decidiu aceitar e eu não sabia o que estava

armando. Ele não me envolveria se fosse um evento perigoso. 

— Por que nós vamos? — Coloquei o meu brinco e ele estava


pegando os seus sapatos. — Todo ano você diz que ele é

insuportável. — Me olhei no espelho. — Damon?

Ele suspirou, meio mal-humorado.

— Ele pediu apoio na eleição e eu vou dar. Então, terá uma

foto comigo no jornal caso esqueça com quem está se envolvendo.


Só um registro sutil e nada inocente. — Seu sorriso foi seco.
— Por que está com esse humor? — Conferi através do

espelho e ele revirou os olhos como uma criança. 

— Eu odeio esses eventos!

Soltei uma risada e ele me deu um olhar irritadinho, parei na


sua frente e beijei os seus lábios repetidamente. Damon desceu a

mão para a minha bunda, apertando e me virou de lado para

conferir se o meu vestido era justo, e era. Seus apertos estavam me


fazendo rir. 

— Sabe que esposa nenhuma tem uma bunda como essa, não

sabe? Aqueles putos velhos vão querer conferir a sua e serei


obrigado a enfiar a minha faca em seus olhos. — Deu um tapão

forte. 

— Não seja rude.

— As americanas costumam não ter bunda — comentou

aleatoriamente.

— Deixa de ser absurdo, Damon. E é uma coisa horrível de se

dizer. — Bati em seu braço e me afastei. — Você estará no seu


melhor comportamento — falei severamente.

Escolhi um vestido vinho escuro, transpassado na parte

superior, bem-marcado na cintura e com uma saia plissada midi,


sapatos pretos, salto fino e uma clutch cinza escuro. Deixei os meus
cabelos soltos, jogados para um lado só, brincos discretos, um colar

de correntinha fininha e um pingente de diamante em forma de

coração. Minha maquiagem era bem básica nos olhos, apesar da


pele bem-feita, optei por um batom vermelho escuro quase do tom

do vestido.

Tirei uma selfie com Damon e pedi que ele tirasse algumas

fotografias porque estava muito bonita para deixar passar. Enrico iria

conosco, como convidado, afinal, a nova posição dele era de muito

prestígio. Ao invés de ir em um carro sozinho, iria conosco, com


Sandro e Mauro em um carro para segurança. 

— Recebi uma foto de Luna na prova do vestido e ela estava


deslumbrante — comentei no carro e olhei para o banco de trás. —

Você vai ficar sem fôlego.

Enrico só me encarou sem demonstrar nenhuma reação, até


que seu olhar amoleceu um pouco. Ele sabia que não adiantava

bancar o espertinho comigo.

— E eu poderei ver? — Me desafiou. Ele estava querendo


ignorar o casamento e eu estava forçando a barra. 
— Não pode ver, dá azar e eu quero que você seja feliz no
casamento. 

Damon soltou uma risada ao meu lado e bati em seu braço.


Enrico ficou encarando a janela. Esperava que ele não fosse tão

seco, distante e emocionalmente retraído em seu casamento. Ele


me tratava como a irmãzinha caçula muito irritante, mas havia

carinho e um bom relacionamento. Ele e Damon eram das risadas


aos socos em segundos e já estava acostumada. 

— Você envia mensagens para ela? — conferi e ele... deu um


mínimo aceno. — Como?

— Isso é meio privado, Gio. — Damon tentou entrar no


assunto.

— Tudo bem, desculpe. — Dei um olhar irritado para Damon.

Eu não podia forçar a barra, mas ele sim e não me ajudava em


nada.

— Ela responde “sim”, “não” e “talvez”. 

Não falei mais nada porque podia imaginar as perguntas que

Enrico enviava, sem puxar um assunto ou criar um vínculo. Ele não


podia fazer nada, qualquer movimento além disso, a reputação de
Luna estaria arruinada e causaria um atrito direto entre Enzo e
Damon. 

Esperava que Enrico entendesse que estava tudo bem em ser

um bom marido. Não queria outra garota com a vida perdida e sem
um amor de verdade só porque nascemos na máfia. Não era justo
com nenhuma de nós.

 
31 | Damon.

Olhei para o homem morto na minha frente e permaneci em

silêncio. Não sabia dizer o que estava sentindo, era agonizante e

me fazia tremer. Fechei os olhos e suspirei. Sinalizei para o médico

da família cobrir o corpo, me afastando. Enrico estava no fundo da

sala, encostado na parede e seu olhar era um reflexo do meu. 

Vingança estava pintada em sangue na minha mente. 

— Vamos fazê-lo suar. Eles vão pagar por isso lentamente e

será doloroso. Dessa vez, eu não quero frieza. Quero estratégia e


destruição — falei com Frank. — Elabore isso. Eu vou visitar a
família — avisei e saí, batendo a porta atrás de mim com um

estrondo. 

Dirigi para casa em alta velocidade e passei pelos portões com

um estrondo. Giovanna estava fazendo um boneco de neve e me


deu um olhar estranho quando o carro derrapou antes da garagem.

Saí, bati a porta e afundei minhas botas na neve. Ela estava com o

nariz vermelho, uma toca branca, os cabelos soltos, usando um


conjunto de roupa de inverno azul escuro. 
Parecia um anjo na imensidão branca.

— Não quero que fique resfriada.

— Não podia perder a oportunidade de fazer um boneco. Você

saiu muito cedo, o que aconteceu? Não atendeu nenhuma das


minhas ligações. 

— Sua mãe deve te ligar a qualquer momento, mas... Gian


morreu. — Dei a notícia com pesar e Giovanna ficou de pé.

— Nossa... ele tinha a minha idade — murmurou e me

abraçou. — Foi...

— Ele estava de guarda em um dos nossos armazéns no limite

do território. Tentaram invadir, conseguiram conter e ele foi o único


ferido. Não resistiu.

— A mãe dele vai ficar arrasada. Podemos vê-los mais tarde?

— Giovanna tocou o meu peito. Ela conhecia o garoto desde nova,

eram vizinhos e alguns até brincavam que eles seriam um casal. Era
um soldado leal, dedicado e trabalhava muito bem. 

— Vamos entrar. — Puxei-a para dentro de casa, tiramos as

roupas de frio e ela foi para a cozinha. 

— Quer um pouco de chá ou prefere café?

— Café. Preciso fazer algumas ligações.


— Tudo bem. — Me deu um sorriso e pegou duas canecas e
as cápsulas, para fazer um café fresquinho. Precisava de uma

bebida, mas queria ficar bêbado e faria isso mais tarde. Cafeína

serviria pelo momento.

Entrei no escritório e fiz algumas ligações para uns chefes,

reajustando a segurança, mudando as entregas. Havia uma nova

remessa chegando nas ruas naquela semana e nada poderia dar


errado. Apesar do inverno, as vendas continuavam e os clubes

lotavam ainda mais que no verão. Fiquei vinte minutos no telefone e

voltei para a cozinha, mas antes de aparecer, parei ao ouvir a voz

de Giovanna.

— Você pode assumir a minha segurança essa semana e


talvez em alguns dias depois? — ela perguntou a Enrico.

— Por quê? Algum problema com os seus guarda-costas? —

Enrico respondeu, sério. — Se eles fizeram qualquer coisa, você

tem que me falar agora. 

— Não! Eles são ótimos, não é isso. — Giovanna se apressou.


— São extremamente respeitosos, eu juro. É que se eu for a um

lugar e não contar a Damon, eles vão contar e eu preciso de um

tempo... para falar isso.


— Não tenho segredos com Damon. — Enrico foi enfático. O

que Giovanna estava aprontando? — Você quer fazer alguma


surpresa para ele? Algo do tipo? Se for, é só dizer que é uma

surpresa e ele vai respeitar. 

Nós três sabíamos que era mentira, mas ele quis tentar. 

— Preciso ir ao médico, não estou preparada para conversar

com ele sobre isso ainda e não sei como vai reagir. Preciso de um
tempo para assimilar o que está acontecendo... 

Enrico me viu e eu fiz sinal para ficar em silêncio, tirando o


meu telefone do bolso. O que Giovanna estava escondendo de

mim?

— Está doente? — ele perguntou conforme pedi por


mensagem.

— Não vou te falar porque não quero que ele fique chateado
com você, mas preciso que me leve ao médico essa semana e nas

próximas consultas sem contar a ele. — Giovanna parecia firme em


sua decisão e eu estava fervendo pelo fato de que ela queria

esconder algo de mim, quando prometeu que sempre me contaria.


Enviei uma mensagem para Enrico concordar e queria saber até

quando isso duraria.


— Não gosto disso, mas sim. Me envie os detalhes por

mensagens. — Enrico pegou sua caneca de café e saiu da cozinha. 

Me movi devagar no corredor e a vi, olhando para o balcão


com uma expressão triste. Esfregou o rosto e parecia solitária. Odiei

aquilo. Odiei que ela estava escolhendo sofrer sozinha. 

Fiz um barulho proposital na porta antes de entrar na cozinha

e ela se endireitou, virando de costas.

— E o meu café? Ainda tem?

Giovanna me olhou com um sorriso.

— Sim, é claro. — Serviu na caneca e me entregou.

— Obrigado, bella. Está tudo bem? — Sondei despreocupado

e ela me deu seu sorriso lindo, apaixonado, dizendo que sim,


porque eu estava em casa com ela. Sentou no banquinho e me

puxou, desejando ficar perto e aquilo era um alerta muito sutil sobre
seu estado de espírito e pelo que estava tentando esconder.

Após o café, me desculpei e disse que falaria rapidamente com


os guardas. 

— Eu vou para o quarto assistir a um filme, se tiver tempo,

junte-se a mim e a noite sairemos. Pensei em pedir pizza mais


tarde, se ainda tiver clima, podemos pegar uma bem grande na
Romana. — Sugeriu e beijei seus lábios, um pouco mais demorado
do que um selinho e ela suspirou, com os olhos fechados. Minha
preocupação só cresceu.

Saí pelos fundos, atravessando o quintal e entrei na casa de

segurança. Os guardas se levantaram rapidamente, sinalizei que


não era com eles e subi as escadas, entrando no quarto de Enrico. 

A casa dele ainda estava em reforma. Giovanna estava


fazendo uma grande construção e não estava disfarçando o seu

prazer. Ainda bem que Enrico tinha dinheiro de sobra ou ele iria à
falência com a minha esposa em posse de seu cartão de crédito.

— Não começa. — ele falou de seu lugar na cama, com as


pernas esticadas.

— Não começar o quê?

— Não tenho segredos com a sua mulher, ela é uma dor na

bunda irritante, mas nunca me pediu para esconder algo de você.

— É bom mesmo, mas não é isso. O que poderia ser? 

— Será que está grávida? — Sugeriu com um encolher de

ombros.

— Não. A menstruação dela veio esses dias... — Refleti,


preocupado.
— O que quer que eu faça?

— Seja sutil e tente descobrir o que é, sei que não é do seu

feitio fazer perguntas, ela vai estranhar se você fizer muitas, mas
preciso de uma resposta.

— Claro. Conte comigo. Estou curioso, ela parecia

preocupada. — Enrico ficou ainda mais sério. — Será que é grave?

— Não quero nem pensar nessa possibilidade.

— Tudo bem, seja o que for, daremos um jeito. — Aquele era o

seu jeito de me consolar. — Por que jogou nas costas do Frank o

atentado desta noite?

— Porque eu posso. 

De vez em quando era bom fazer os meus homens suarem e

borrarem a cueca. Meu estado de espírito era sobre causar uma

carnificina e no momento, precisava agir de maneira mais

diplomática, embora cada segundo fosse como chupar limão. Eu


odiava ser diplomático. 

— Frank é família ou é apenas da família? Existe uma óbvia


diferença. — Enrico mostrou sua tatuagem. Apenas eu, ele e Enzo

tínhamos. Ainda estávamos decidindo se Alessio teria uma. 


— Não sei. Você sabe, se qualquer coisa acontecer comigo,

ele não vai hesitar em sentar-se na minha cadeira e não vai chorar
por isso. — Virei para a janela, olhando o quintal imenso cheio de

neve. — Embora seja perfeitamente normal, não é algo que me faz

relaxar. Ele andou reclamando com a minha irmã que eu estava


volátil demais, ela me ligou toda histérica dizendo que sou jovem

para morrer e ela não quer ficar sozinha. Achei escroto ficar

deixando Sandra preocupada. Sabe o que ela fez? Ligou para

Giovanna e o inferno começou.

— Não gosto disso. — Enrico era enfático.

— Eu sei.

— Não gosto dele. — Deixou claro. Ele nunca gostou, mas

não falava nada. Eu o conhecia desde que podia me lembrar, então,


sempre soube que Enrico nunca foi com a cara de Frank. 

— Fique de olhos bem abertos, nunca se sabe quando


alguém quer colocar uma faca nas minhas costas. — Brinquei, mas

ele levou a sério. Assentiu e pegou o canivete, arremessando rápido

na minha direção. Desviei e ri. — Idiota. E a sua noivinha ninfa

bebê?

— Pare de chamá-la assim.


— Por quê?

— Eu não quero que você a chame assim.

— Já está todo tomado? Você chamava a Gio de pequeno

demônio o tempo todo.

— Giovanna não calava a boca! Ela ainda tem dificuldades de

ficar quieta. Parece um pássaro piando no ouvido! E vai se foder, a

garota tremia da cabeça aos pés do meu lado. Quando coloquei a

aliança em seu dedo, pensei que fosse desmaiar. Você tem sorte
que Giovanna te conhece desde nova, ela te conhecia a um nível

um pouco mais elevado e ainda teve Sandra como ponte. — Enrico

suspirou. — Minha garota está em Nova Iorque com aqueles tios


malucos.

— Você deveria ser mais gentil, assim ela não vai desmaiar na
noite de núpcias. Para elas, é algo realmente tenso e se aceitar um

conselho, não vá com sede ao pote ou ela nunca vai gostar de sexo

com você. A não ser que você queira um casamento de

conveniência. 

Enrico assentiu e seu telefone tocou.

— Giovanna me enviou informações da consulta médica.

— Certo.
Semanas se passaram e eu ainda não conseguia saber o que

Giovanna tanto escondia. Ela foi a três especialistas ginecológicos,


o que me deixou apavorado. Tentei encontrar os exames feitos, mas

ela escondeu muito bem. Enrico seguiu fingindo que eu não sabia

de nada e ela nunca permitia que ele passasse da porta do


consultório. 

Sua mãe lhe acompanhou em algumas consultas, na maioria

ela saiu com os olhos vermelhos, provavelmente de choro, com


isso, todas as minhas suposições eram as piores.

Tivemos a nossa festa de Natal e recebemos mais de


cinquenta pessoas. Ela estava linda em um longo vestido vermelho,

sorridente, recebendo a todos com sua graça e perfeição. Giovanna

mudou muito ao longo dos anos. Ela deixou de ser vista como uma

mulher bonita ao meu lado, um mero troféu. Conquistou o seu


próprio poder e brilho. Sabia como ser doce e como ser perigosa. 

As mulheres a respeitavam, tinham até certo medo e eu


sentia muito orgulho pela maneira que erguia o seu lindo rosto com

poder e autoridade.

Ela era dona de tudo.


Era a minha dona, mas eu só deixava que tivesse esse poder

na cama. Adorava quando assumia o controle. 

Seu olhar encontrou o meu do outro lado da sala e sorriu


contida, sem demonstrar os sentimentos por mim em público, como

eu nunca fazia por ela. Giovanna ficava magoada no começo, agora

entendia e aprendeu a não demonstrar também. Sem plateia, seu


olhar de amor me fazia muito feliz. 

Quando o último convidado foi embora, ela se despediu da

mãe com um abraço apertado. Pude captar o final da conversa, pois


elas achavam que eu ainda estava na biblioteca.

— Recebi os resultados, mamãe — Giovanna falou baixinho.

— E o que é? Seja o que for, vamos superar juntas — Lucinda

falou com carinho.

— Está tudo bem... nada de câncer, nada de infertilidade,

nenhum nódulo. Eu só preciso tomar alguns indutores. Foi um

alarme falso, mamãe. Estou tão aliviada! — Giovanna chorou e sua


mãe imediatamente lhe abraçou apertado.

— Você já contou a Damon?

— Vou contar hoje à noite. Eu não queria esconder, mas não

sei se ele lidaria com isso muito bem. 


— Não crie o hábito de esconder coisas do seu marido, fique

bem. Estou ansiosa para ser vovó. Feliz natal, mia bambola! Eu te
amo!

— Te amo, obrigada por tudo!

Quando Lucinda saiu, entrei na sala e me servi com um grande

copo de uísque. Estava com tanta raiva de Giovanna que não queria

vê-la. Como ela teve coragem de esconder tamanha preocupação


de mim? 

Ela levou um tempo para aparecer, estava com o cabelo

preso no alto, meio embolado e os pés descalços. Parou ao meu


lado e serviu um pouco de uísque em outro copo, bebendo um

golinho e me olhando. Me conhecendo como conhecia muito bem,

sabia que estava explodindo.

— Aconteceu alguma coisa? — Conferiu, me olhando com

preocupação.

— Não sei, diga-me você. — Coloquei o meu copo no balcão.

— Temos que conversar. — Deu um gole e fez uma careta


pela ardência do líquido. — Hum, há algumas semanas eu fui na

Dra. De Luca e fiz um exame, ela conversou comigo sobre a

necessidade de fazer mais alguns para verificar minha contagem de


bons folículos, minha ovulação e em um dos exames de imagem,
pareceu que havia um nódulo. Isso me deixou meio assustada.

— Por que você não me falou?

Giovanna percebeu o tamanho da minha ira só no meu tom de

voz.

— Queria ter certeza do que estava acontecendo antes de

trazer mais uma preocupação para o seu colo. Tem acontecido

muitas coisas e você está ocupado...

— Você me prometeu.

— Não quebrei a promessa, eu ia te contar, como estou


fazendo agora.

— Você prometeu que nunca esconderia qualquer coisa


referente a sua saúde. Eu disse a você, não importa o que fosse,

iremos passar por isso juntos. Você pediu a Enrico para mentir e
contou para sua mãe. Não para mim. Eu sou o seu marido. — Bati

com meu punho no balcão, querendo explodir. — Isso era para ser
sobre nós dois. 

— Enrico te contou? — Giovanna perguntou baixinho.

— Achou que ele esconderia qualquer coisa de mim? Ao


contrário de você...
— Damon, para. — Ela me enfrentou. — Não escondi de
propósito, eu omiti porque precisava de um tempo. Não queria ser
mais um peso de preocupação com os russos atacando as

fronteiras, vários soldados morrendo e quando eu pensei em contar,


você passou a noite fora com um problema no clube de sexo. —
Mordeu o lábio.

— Isso não é desculpa.

— O quê? — Ela se afastou. — Acha que estou me


desculpando? Claro que não! Eu tenho direito de decidir o que fazer
da minha vida, não sou sua propriedade e definitivamente não sou

obrigada a correr para você toda vez que tiver um problema. Tentei
ser compreensiva, ciente que você tinha muito nas mãos e poderia

não ser nada demais. Quis lidar com o que pudesse sozinha, porque
sou adulta e responsável por mim mesma.

— Você é a minha mulher, o que acontece com você é mais


importante que todo o restante. Se não é uma desculpa, você

deveria pensar bem no que me promete.

Giovanna deu alguns passos atrás, parecendo ferida.

— Eu não sou a sua mãe. Você guarda segredos de mim o

tempo todo e eu não fico te infernizando porque é o meu marido.


Você me jogou em uma ilha sem explicações e faz coisas sem
desculpas, nem por isso te cobro quando você quebra as suas
promessas. 

— Sempre é para te proteger. Quando você vai me perdoar por


causa da ilha?

— EU SEI! Só você pode me proteger? Eu não posso fazer o

mesmo por você? Sei que eu não sou a poderosa fodona que sabe
lutar, atirar e é cheia de dons de tortura. Sou sua mulher e eu te
protegi de um possível problema! — gritou apontando o dedo —

Você não saberia lidar com um nódulo! Imagina com uma possível
infertilidade? Não saberia! 

— Não me diga o que posso ou não lidar. Não quando se trata

de você! Não é sobre Enrico ou sobre a sua mãe, isso é sobre nós
dois! 

— E o que fiz para ferir a nós dois? Hum? Nada. Como sua

esposa, eu compartilhei o problema no momento que achei


adequado, assim como você faz comigo o tempo inteiro e eu aceito.

— Estou com raiva de você, Giovanna. Como vou confiar que


não vai esconder coisas de mim? E se já não tem outras coisas? 

Incrédula, colocou as mãos na cintura.


— É o que você acha? Que escondo as coisas de você
aleatoriamente? Se é, você não me conhece, o que é uma pena,

com quatro anos de casados nas costas. Eu não posso fazer nada,
lide com isso. — Deu as costas e foi subindo as escadas.

— Giovanna! Não terminamos de conversar! 

— Eu não sou os seus soldados, Damon. Grite o quanto


quiser, não me importo. —  Foi embora para o quarto, batendo a
porta.

Subi as escadas em um átimo e abri a porta em seguida. Ela

estava tirando o vestido e puxei seu braço. Nossos corpos se


chocaram. Eu a abracei bem apertado, com meu coração

explodindo no peito e cheio das memórias terríveis de minha mãe


morrendo em uma cama, tomada pelo câncer. 

— Me promete que você está bem — pedi baixinho.

— Não preciso prometer. Estou bem, foi um susto, me deixou

nervosa e triste, mas passou e eu estou feliz em não ter te alertado


tanto porque agora tudo que precisamos fazer é praticar bastante.
— Ela sorriu e beijei seus lábios, ainda segurando-a tão apertado

que ela pulou em mim — Eu te protegi de ter esse olhar no rosto.


Sei que está assustado.
— Estou e muito. — Não neguei, não fazia sentido. Estava

apavorado.

— Estou bem e perfeitamente saudável para o nosso bebê.

— Porra, eu te amo. — Pressionei seu corpo contra a parede e


a beijei tanto que seus lábios ficaram inchados, vermelhos. Ela me

deu um sorriso sexy. — Não precisa me proteger. 

— Não vai me impedir de te proteger quando achar


necessário. Eu te amo muito, Damon. Se o diagnóstico fosse

diferente, nesse momento estaria te contando e certa de que você


me daria todo apoio do mundo. — Esfregou o nariz no meu e beijou
a minha bochecha suavemente, para em seguida lamber meus

lábios e morder, dando uma chupada. — Vamos comemorar os bons


resultados.

— Não antes de saber o que está acontecendo. 

— Está tudo bem, confie em mim. Eu já parei o


anticoncepcional, vamos brincar de roleta russa nas próximas
semanas e talvez, se não acontecer, devemos tomar um indutor. Eu

não quero tomar até que seja inevitável, porque acredito que
seremos lindamente abençoados nos próximos meses... 
— Então... — Beijei-lhe a bochecha e parei com a minha boca
próxima ao seu ouvido. —  As próximas vezes que fizermos amor ou
fodermos feito coelhos pela casa, vai ser para fazer o nosso bebê?

— Sim, seu idiota.

— Um idiota que te ama muito.

— Eu não duvido, agora, me chupa. — Sorriu toda


malandrinha e mordi o seu ombro, levando-a para cama.

 
32 | Gio.

Sufoquei a risada, correndo de Damon pela casa e derrapei no

corredor. Bati na parede, ri quando ele quase me pegou e desviei

para a escada. Pulei os degraus, dando a volta na sala, mas ele era

tão rápido e forte que não consegui ir muito longe. Me pegou pela

cintura e me jogou no sofá. 

Sem dó e muito menos piedade da amada esposa, atacou as

minhas costelas com cosquinhas. A maneira que ele prendia as


minhas pernas me impedia de me debater como gostaria.

— Diga que eu sou gostoso e tudo que você mais ama no


mundo que eu paro. — Damon deu uma pausa e eu respirei fundo,

mordendo o lábio. — Diga que sou gostoso e fodo muito bem. —


Neguei e ele voltou com as cócegas. Gritei, ficando sem fôlego e

quase fazendo xixi. 

— TUDO BEM!

— Vai falar?

— Humpf. Foda-me. — Me recusava a ceder.


— Ah, eu vou te foder… depois que você falar. — Seus dedos

me tocaram e comecei a rir histericamente. — Última chance,


Giovanna. 

Estava tão sensível que ele mal tocou em mim e já gritei.

— Você é gostoso e fode muito bem — falei baixinho.

— Não ouvi, bella.

— Você é gostoso e fode muito bem — falei um pouquinho

mais alto.

— Ainda não estou satisfeito. — Alertou e para minha

surpresa, rasgou a minha blusa. — Giovanna Maria...

Arranhei o seu peitoral e puxei a sua nuca para baixo. Ele veio

sem dificuldade e beijei a boca. Damon mudou de posição,

deitando-se por cima e passei as minhas unhas nas suas costas,

aproximando os meus lábios de sua orelha.

— Você é gostoso e fode muito bem — sussurrei e chupei o

lóbulo molinho, provocando com a minha língua e ele pressionou a

sua ereção contra mim, descendo a boca e chupando os meus

mamilos. Soltei um gemido e agarrei seus cabelos. Conforme

descia, beijava e empurrava a minha saia para cima. Nem parecia


que o chamei de babaca escroto antes de sair correndo. — Ah,
hum... Estamos na sala.

— Ninguém vai vir aqui.

— Sossega, esqueci que temos hóspedes! — Empurrei-o e me

ajeitei, me enrolando no que sobrou da minha blusa e voltei

correndo para o quarto. 

Damon veio atrás de mim rindo e eu esperava que a nossa

hóspede estivesse dormindo. Não que a minha gritaria tivesse

ajudado qualquer coisa. A pobre coitada deveria estar assustada.

Damon completou a barulheira batendo a porta e avançou em mim. 

Caímos na cama aos tropeços e o meu relógio despertou.

— Estou na hora certa — murmurei e ele riu.

— Nenhum problema… esse bebê será feito hoje. — Tirou a

calça.

Nós fizemos sexo gostoso por toda tarde, nas posições


certeiras para a concepção. Ainda ficamos na cama, de preguiça,

namorando... amava quando Damon tirava um tempo para mim. Ele

só estava “desocupado” porque o casamento de Enrico aconteceria

no dia seguinte e estávamos recebendo a noiva em nossa casa. 


Damon e muito menos Enrico confiavam nos tios de Luna,

então, foram hospedados em uma das casas da família com


funcionários à disposição. Não haveria um jantar pré-casamento,

normalmente, essa tradição era abolida quando não tinha muitos


familiares. Perguntei a Enrico e ele disse que a família dele se
resumia a Damon e eu. 

Como o noivo não estava com disposição de ficar na mesma

sala que a família da noiva sem enfiar uma faca no crânio de


alguém, achei melhor pular essa parte. Os tios dela deixaram

Damon e Enrico com muitos sinais de alerta e a noiva


completamente nervosa. 

Enzo não gostou nada dos comentários tratando a menina


como uma mercadoria barata, parecia que queria colocar uma bala

na cabeça de seu próprio homem. Como não queria sangue no meu


tapete, acabei com a ideia de uma reunião, informando que Luna

era a minha convidada de honra.

— Farei uma despedida de solteira com Luna. O que fará com

Enrico?

— É esperado que ele vá a um dos clubes. Os homens irão se


reunir lá.
— E o que vai acontecer? — Arqueei a sobrancelha.

— Nada demais, não comece a se estressar — Damon avisou.

Ele já ficava todo na defensiva quando se tratava dos clubes. 

No começo, eu tinha vergonha de entrar nas boates ou no


clube de sexo, principalmente porque as dançarinas ficavam nuas.
Achava que era invasivo. Já elas, não ligavam em nada, uma até

me ensinou a forma de colar os mamilos para usar blusa decotada e


de costas nuas. 

Não me importava mais e gostava de falar na cabeça dele só

para encher o saco. Ele me irritava de graça, reclamando das


minhas roupas e dos meus biquínis pequenos, então porque eu não
podia fazer o mesmo?

— Haverá mulheres nuas?

— É um clube, o que você acha? — Damon rebateu, se

achando muito espertinho. Dei um soco em sua barriga. — Seria


ideal que vocês descansassem, para ficar com a pele boa. — Deu
um tapinha na minha bunda e eu quis bater nele de novo. 

Mordi o meu lábio, pensativa.

— Que tal reservar um camarote para que possa sair com

Luna e Juliana? Nós não voltaremos tarde. 


— Não sei se Enzo vai querer que Juliana fique exposta em
um território desconhecido e se Enrico quer a noiva dele passeando
por aí antes do casamento. E antes que grite que é um absurdo, um

verdadeiro ato de machismo, não vou prender o noivo em casa e


como ele me deu uma festa de despedida, darei o mesmo a ele. —

Sorriu torto e quis chutá-lo. — Te amo, bella.

Babaca.

Ele correu da cama antes que o acertasse com a minha perna,

balancei a cabeça resignada e rindo. Damon ficava impossível de


bom humor. Todo sexo alucinante para dar o tiro certeiro estava

deixando-o muito feliz. Estávamos na produção de um bebê, porque


decidimos começar a tentar de verdade. 

Após nossa pequena briga, levamos um tempo sem fazer


nada, não tomei a medicação e muito menos fiz o tratamento. Até

que um dia, simplesmente acordamos e decidimos fazer. Estávamos


nas primeiras semanas de tentativa e o meu ciclo estaria

oficialmente atrasado a partir do dia seguinte. O indutor era uma


coisa de louco.

Organizei um calendário que calculava os melhores momentos


para o sexo e Damon sincronizou com o dele, então, ele estava
misteriosamente em casa cinco minutos antes do alarme tocar. No
meu período de ovulação, ele estava em casa antes do jantar toda
noite. Definitivamente não foi um sacrifício as primeiras tentativas e

esperava que não se tornasse um estresse. 

Assim que ele saiu, me arrumei para ficar em casa. Apesar de


querer sair, eu não sabia se a noiva estaria confortável. Por mim e

por Juliana, estaríamos na rua, cheias de fogo no rabo, mas não era
o nosso casamento. Escolhi um vestido azul escuro, sem

maquiagem, com os meus cabelos soltos e timidamente bati na


porta do quarto de Luna. Eu não queria encher o saco ficando em

cima, mas também não queria que ela pensasse que precisava ficar

sozinha.

— Oi, está tudo bem? — Abriu a porta assustada.

— Sim, é claro. Eu... hum, sinto muito se atrapalhei seu


descanso mais cedo. Damon e eu não estamos habituados com

outra pessoa em casa. Ele saiu com Enrico e pensei que podíamos

comer alguma besteira e beber um bom vinho, o que acha? —

Ofereci e seus olhos se iluminaram.

Luna era tão linda que eu queria colocá-la em um potinho. 


Descemos a escada e fomos para a cozinha. Ela usava um

vestido longo, todo fechado e parecia que a intenção era esconder o


corpo. Esperava que ela encontrasse um pouco mais de liberdade

depois do casamento, porque se vestir como uma freira não

combinava muito com o rosto bonito e todo seu jeitinho. Algo me


dizia que ela estava assustada e retraída, mas não era realmente

tímida.

Luna demonstrava um óbvio medo de Damon e eu entendia,


se eu não o conhecesse, também sentiria. Os rumores do que ele

era capaz não ajudava em nada. Estava preocupada que ela

surtasse com Enrico, mas sabia que ele jamais a machucaria. Não
intencionalmente. 

Enrico não demonstrava ser fácil de lidar intimamente. Como

meu cunhado, ele era intragável em alguns momentos, podia


imaginar que seria emocionalmente retraído como marido.

Escolhi algumas garrafas de vinho, pedi pizza e um monte de


besteira. Luna arregalou os olhos ao me ver derretendo chocolate

para comer com algumas frutas.

— Eu não sei se deveria comer algo assim antes do


casamento... 
— Você gostaria de uma salada? Eu comi pizza na minha

despedida de solteira, então, pensei que fosse gostar. Me desculpe.

Que salada gostaria?

— Não! É que eu não tenho autorização para comer pizzas e

carboidratos de modo geral. Fiz uma dieta restrita desde o noivado,

porque a minha tia disse que o meu noivo estava insatisfeito com o
meu peso.

— Isso é mentira! — Soltei completamente ultrajada. — Ele


nunca pediu que fizesse dieta e você pode comer o que quiser, bem,

não sei como vai ser na casa de vocês... — Então eu sorri. — A

casa será sua. Ninguém poderá te dizer o que você pode ou não

fazer. — Peguei as taças e abri o vinho, servindo generosamente. —


Ao seu casamento.

— Ao meu casamento. — Ela soou tímida. Brindamos e


sorrimos.

Avisei aos guardas que havia feito alguns pedidos e dei a lista

completa. O meu telefone tocou e era Damon, avisando que Juliana


saiu da casa segura sozinha com o guarda-costas e não estava

atendendo a Enzo. Quando um carro parou no portão da minha

casa, já sabia que era ela. 


Juliana saiu do carro e devolveu o telefone para o guarda-

costas, que parecia muito irritado. 

— Em todos esses anos de casados, o meu marido ainda não

aprendeu que nada me segura. — Revirou os olhos. — Trouxe


vinhos e presentes! Eu queria chamar strippers, mas acho que eles

não vão conseguir passar da porta, então eu baixei Magic Mike e

milhares de vídeos de homens seminus dançando. — Sorriu e eu

gritei de alegria enquanto Luna parecia meio receosa. — Relaxa,


você vai se acostumar conosco. 

Entramos em casa e Juliana espalhou tudo que trouxe,


montando o seu iPad em cima do balcão. Ela conectou com o painel

de som central da casa e uma música suave começou a tocar. Servi

mais vinho para Luna e peguei uma taça limpa para Juliana. 

Não bebi novamente porque o primeiro gole desceu mal. Elas

não fizeram perguntas quando peguei uma garrafa de suco na

geladeira. Juliana compartilhou um sorriso adorável e brindamos.


Peguei uma caixa no escritório de Damon e voltei para a cozinha,

empolgada.

— Espero que não fique chateada, mas eu comprei um


presente. Minha cunhada me deu e eu adorei, então, pensei em
fazer o mesmo com você. — Entreguei-lhe a grande caixa. — Não

sei se a sua tia conversou com você sobre a noite de núpcias. —

Luna abriu a caixa e sorriu para as lingeries finas ali dentro. —

Comprei um monte... na prova do vestido percebi que suas roupas


íntimas são bem recatadas. Eu gosto de roupas sexys e no dia a dia

fico à vontade em usar o que quero. Quando se vestir de noiva, vai

gostar de ter por baixo um conjunto legal.

— Gosto de calcinhas assim, mas a minha tia não deixava. Ela

dizia que uma mulher não pode faltar o respeito desse jeito. — Luna

comentou e troquei um olhar com Juliana. Se eu pudesse,


atropelava a tia dela e não me arrependeria.

Achei bem estranho e concluí que havia algo mais e queria


descobrir.

— É mesmo? Então esse estilo de senhora não é o seu feitio?

— Não! Dio, não! — Alguns goles de vinho e ela estava mais

relaxada. — Minha tia começou com isso quando ganhei corpo. Ela

é alta e magra. Meu corpo é mais cheio, com mais formas e isso
parecia irritá-la. Eu obedecia, precisava viver com eles e ela tinha

um pouco de ciúme do meu tio.

Juliana fez uma careta. O tio dela era horripilante.


— Espero que goste. — Não queria ofender os seus familiares.

— Eu adorei, com certeza vou usar. Obrigada. 

Juliana deu a ela uma camisola de núpcias muito linda e Luna

ficou empolgadíssima com os presentes. Eu não fazia ideia se


Enrico iria consumar seu casamento na primeira noite, mas, ela

parecia completamente aterrorizada com as núpcias. Decidi deixá-la

beber um pouco mais para acalmar os nervos. 

Apesar da minha “prisão” no internato, eu tinha amigas e

acesso à internet. Luna parecia que foi muito vigiada, vivendo com

uma tia extremamente conservadora e ciumenta para orientá-la


sobre sexo.

— Alguém pode me dizer onde posso comprar um homem


como esse? — Juliana estava hipnotizada no dançarino de algum

vídeo de apresentação em Las Vegas. — Antes do meu casamento,

lá era território da minha família, mas foi perdido. Adoraria ir lá e ver

esse pacote pessoalmente. 

— Eu duvido muito que eles recuperem apenas para que

possamos aproveitar essas belezinhas ao vivo. — Mordi o meu


lábio, pensando se Damon poderia dançar daquele jeito. Meu

marido era bonito, mas tinha dois pés esquerdos. 


— Uau. — Foi tudo o que Luna conseguiu dizer com as
bochechas vermelhas.

Juliana sequer desviava os olhos.

— Senhor... Esse homem é tudo. Se Enzo me ver babando por

um dançarino assim, ele surta, mas, quem se importa? — Brincou e


eu abaixei um pouco o volume para poder conversar com Luna

sobre sexo.

— Então... alguém conversou com você sobre a sua noite de


núpcias? 

Luna me deu um olhar hesitante.

— Minha tia disse para deitar e deixar o meu marido fazer o

que achar melhor. Eu vi alguns vídeos escondidos no celular de uma

amiga na escola e sei a mecânica, confesso que estou apavorada


com as histórias que minha tia falou. Estou com medo de que possa

desmaiar na hora. 

— Sei que deve estar sendo assustador para você, a primeira


vez vai doer sim e algumas vezes depois será bastante dolorido,
mas vai passar. Definitivamente não vai doer para sempre — garanti

e ela continuou nervosa. — Eu conheço meu marido desde


pequena. Passei dois anos prometida a ele, em seguida, um ano de
noivado e então, o casamento. Só que... Damon já era o chefe e ele
fazia as próprias regras, embora tenha casado virgem, não me casei
tão perdida. Nós trabalhamos no meu corpo para que eu pudesse

conhecer a interação íntima e mesmo que tenha doído na primeira


vez, a ideia ficou confortável na minha mente e eu fiz por prazer,
porque eu queria.

— Me casei não-virgem. — Juliana soltou. — Enzo estava


pouco se fodendo para as regras tradicionais. Como eu não fazia
ideia de que vida nós tínhamos, achei que estava tudo bem, eu até

queria casar virgem, depois desisti. Afinal, eu vivi no mundo normal,


aleatoriamente ignorante que era uma princesinha da máfia e que
todos ao redor protegiam a minha pureza. A primeira coisa que

Enzo fez ao chegar na Itália foi garantir que a minha pureza fosse
jogada pela janela. Claro que fizemos coisas antes do ato em si e
isso ajuda muito a familiaridade com o sexo. Se estiver com medo,

por favor, fale com o seu marido.

— O quê? — Luna quase gritou. — Tenho que cumprir o meu


dever matrimonial.

— Não, você não tem que fazer nada obrigada. Eventualmente

irão transar, mas a sua primeira vez cheia de medo e tensão não
será uma boa ideia. Você precisa estar relaxada e querendo.
— E se ele não aceitar?

— Desmaie! — Juliana soltou.

— JULIANA! — gritei, rindo. — Não desmaie. Olha, eu não

posso dizer como o Enrico será como marido, mas use o seu poder
como esposa e como mulher. Acalme-o, aproveite os beijos, tente
se conectar, mas se você sentir que não pode fazer nada disso e

que precisa de um tempo, diga que não. Eu duvido muito que Enrico
irá forçar. Ele não te estupraria. — Ele já estava muito perturbado
por ela ser mais jovem que ele.

— Ele será o meu marido, não vai ser estupro.

— Nunca deixa de ser estupro. — Juliana foi bem firme. —


Seu não é não para qualquer pessoa, inclusive para o seu marido.

— Eu até penso que posso enfrentar as núpcias. Me assusta,

mas eu acho que pode ser um alívio fazer logo e acabar com o
medo. Acho que não vou suportar se ele me rejeitar, não me achar
bonita... 

— O quê? Você é linda! Precisa parar de se esconder nessas


roupas que nem a minha avó usaria. — Juliana falou bruscamente e
a empurrei.
— Olha, já assistiu pornô? Já se masturbou? Se você não tiver
um telefone, posso emprestar o meu iPad e aí você pode assistir

alguns. Pega os mais românticos, tem uns para mulheres que são
mais calmos para você ver o que é. E ao se tocar, vai descobrir o
seu próprio corpo, onde está o seu prazer, não precisa imaginar

Enrico porque ele não te deu material para isso... — Aconselhei na


maior cara de pau e esperava que ela não ficasse chateada.

— Tentei uma vez, mas não consegui. Fiquei meio perdida. —

Suas bochechas ficaram vermelhas. — Fiquei com medo da minha


tia descobrir. 

— Sorte a sua que ela não está aqui e só vai te ver na igreja. 

— Um brinde à masturbação! — Juliana ergueu a taça. —


Caramba. Será que conseguiríamos um vibrador delivery agora? 

A partir daí, não paramos de dar conselhos sexuais para Luna,


que se pudesse, anotaria tudo em um caderninho. Ela aceitou o

meu iPad porque a tia havia tomado seu telefone e ela não tinha
mais um aparelho. 

Para ajudá-la, buscamos alguns filmes e salvamos alguns

links que achamos interessantes, que seria bom para iniciar. Dei a
ela o meu fone, para não ficar constrangida com os gemidos ou

pensar que eu poderia ouvir com Damon no nosso quarto.

Elas estavam bebendo e eu no suco, ficamos discutindo


tamanhos e falamos dos equipamentos dos atores pornô, para Luna

ter uma noção do que esperar. 

Ouvimos a porta abrir e desligamos os vídeos. Por um


momento, pensei que eles pudessem ter ouvido os gemidos.

Ficamos em silêncio até que Damon apareceu na cozinha e atrás


dele estava Enzo, olhando bem sério para a esposa, que estava
para lá de bêbada. Nós três trocamos um olhar e não conseguimos

conter a risada. Se eles soubessem... 

— As senhoras não deveriam estar descansando com


máscaras no rosto e pepino nos olhos? — Enzo perguntou, olhando

para a esposa. — As mulheres modernas comem pizza e se


entopem de vinho.

— E strippers! — Juliana bêbada gritou com alegria.

Senti o olhar de Damon em mim e tentei conter o riso. Nós três

caímos na gargalhada. Luna bebeu seu vinho, evitando contato


visual e eu não conseguia parar de rir. Enzo pegou a esposa, ela
reclamou que não queria ir embora, então, ele a jogou por cima dos
ombros. Ela acenou, rindo e ele bateu a porta da frente.

— O que as mocinhas aprontaram? — Damon se aproximou.

— Nada. — Sorri docemente.

 
33 | Gio.

Um casamento no nosso meio não era nada além de política e

um bom relacionamento. Fui muito abençoada com um marido que

me amava, mesmo com a posição que tinha. Amor era uma

fraqueza entre tantas relações perigosas. A única fraqueza que os

homens iniciados poderiam ter. 

Enquanto via Luna entrar, esplêndida com seu vestido de

noiva, só podia desejar que ela tivesse amor. Seu olhar era igual ao
de um cordeiro indo para o abate. No meu lugar no altar, via que
Enrico não demonstrava absolutamente nada. Estaria em pânico por

receber tanta indiferença. Ele me deu um olhar e sinalizei para


sorrir. Ele assentiu e abriu um meio sorriso forçado. 

Damon disfarçou a sua risada com uma tosse.

Luna estava linda, seu vestido não era bufante como de uma
princesa e evidenciava suas belas curvas. O cabelo loiro estava

solto de maneira elegante e brilhante devido às presilhas com

diamantes que Damon e eu lhe demos de presente. Seu véu era


longo e usava joias discretas. 
Adorei acompanhá-la no dia da noiva, foi muito mais divertido

sem toda a minha ansiedade e nervosismo. Me encarreguei de


transformar o dia dela em um momento feliz, não só porque Enrico

me pediu, mas porque estava começando a gostar dela e esperava

que fôssemos amigas.

Damon me deu um olhar penetrante do outro lado do altar e

abri um sorriso discreto. Desviei o meu olhar para o buquê de flores


e prestei atenção na cerimônia. Na hora de beijar a noiva, Enrico

cuidadosamente removeu o véu e se aproximou de Luna,

inclinando-se e a beijando de verdade. Uau! Bati palmas,

emocionada e Damon me deu o mesmo olhar exasperado desde


que comecei a organizar o casamento. 

A igreja estava cheia, alguns convidados do alto escalão de

Nova Iorque estavam de um lado e a maioria de Chicago do outro.

Saímos da igreja em um cortejo, sem parar para cumprimentar os

convidados porque faltava pouco tempo para a recepção. 

Estávamos em um comboio de quatro carros. Os noivos, em


um atrás de nós. Eu queria chegar antes dos convidados, mas já

estava tudo pronto, o quintal decorado com as cores da bandeira da

Itália e o resultado ficou muito lindo.


Luna queria um casamento ao ar livre e a minha casa era um
dos lugares mais seguros para aquilo. Realizei o desejo, afinal,

eram mais de dois mil hectares de terreno, grama verde, beirando

ao lago e com uma bela visão de água sem fim, até a imensidão

azul do céu.

— A ninfa bebê está uma noiva bonita — Damon comentou,

me ajudando a sair do carro. — Não mais bonita que você, claro.

— Até que me deu vontade de casar de novo. 

— Dio, não. Quase abri falência aquela vez. 

— Foi lindo.

— Foi sim, mas só porque você estava linda e maravilhosa.

— Me deu um beijo discreto — Vamos. Estou ansioso para deixar

Enrico perto de um AVC hoje.

— Não quero brigas, é o dia de Luna e se ela tiver sorte, vai

ter o marido depois da festa. Eu tive que esperar o dia seguinte.

— Ouch. 

Nunca me senti tão orgulhosa com uma festa de casamento.

Foi linda, com comidas deliciosas, bebidas ao extremo e alguns

convidados literalmente perdendo a linha. Me diverti, comi, bebi e

desmaiei de cansaço quando Damon me levou para a cama. Só


acordei no dia seguinte, no final da tarde, para me despedir de

Juliana e de Enzo, enviando milhares de presentes para as


meninas. Estava morrendo de saudades.

Descansei bastante, até o momento que Damon me acordou


para viajarmos para nossa casa na Itália. Enrico e Luna nos

acompanhariam, para que pudessem ter uma espécie de lua de mel


e eu estava feliz por ter uma companhia feminina.  A viagem foi

muito tranquila, dormi na maior parte e eles ficaram me zoando que


eu mal fiquei acordada.

Mostrei para Luna a minha casa porque estava ansiosa para


ficarmos sozinhas. Ela ainda era muito tímida ao meu redor,

principalmente se Damon estivesse por perto. Nós tínhamos


autorização para sair se tivéssemos uma comitiva de guardas,

duvidava que a família real de Mônaco precisasse de tanto. 

Felizmente, podíamos ir sozinhas na enseada, já que ela


ficava dentro da propriedade. Como o sinal de telefone celular não
pegava direito, Enrico nos deu um rádio para nos comunicar se

fosse necessário. 

— Você não tem um biquíni? — questionei a Luna quando a


chamei para irmos à enseada.
— Não era uma prioridade. — Encolheu os ombros e aquele

vestido verde longo de gola alta estava me irritando. 

— Eu vou te emprestar um, mas eu só tenho modelos


pequenos na bunda. Estaremos sozinhas, não vai ser um problema

— garanti e fui até o meu quarto, com ela atrás de mim, parando na
porta, toda tímida. — Pode entrar, Damon só vai chegar à noite. Ele
e Enrico foram para outra cidade. 

— Ele te diz aonde vai? — Luna parecia confusa.

— Se ele tem amor à vida, sim. Fica calma, você só tem uns

dias de casada. Enrico não está acostumado a dar satisfações, com


o tempo, você vai sutilmente cobrando uma explicação. — Peguei
um par vermelho que ficaria lindo. — Aqui, está limpo e só usei uma

vez. 

— Obrigada.

— Quinze minutos é o suficiente? Se a gente demorar muito,


o mar vai subindo e a faixa de areia fica bem curtinha. Quero
aproveitar o sol! 

Vinte minutos mais tarde, Diana nos acompanhou até metade

do caminho e acelerei o ATV com a bolsa cheia de biscoito, água,


suco e sanduíches. Além de protetor solar. Descemos para a
enseada, arrumei as toalhas e tirei o meu vestido, avisando por
rádio que estávamos bem.

Luna tirou a sua roupa timidamente.

— Porra, garota! Que corpo! — Soltei sem dó. Luna era linda.

— Obrigada. — Suas bochechas coraram e ela me deu um


olhar lisonjeado.

— Acho que Enrico não teve problemas em não te achar


bonita. — Comecei a borrifar o bronzeador em mim. — Ele falou

algo?

— Falar? Não. Mas olhou e por míseros segundos, pareceu


gostar. Só que ele é como uma pedra! Não consigo saber se está
gostando, se está bom ou ruim. O único beijo que trocamos foi no

quarto, depois do casamento, mas eu estava muito nervosa e ele se


afastou. — Luna mordeu o lábio. — Essas roupas ridículas não

ajudam em nada e quando ele chega, fico tão ansiosa que não
consigo me aproximar. Ele fala comigo, fico toda nervosa, querendo
agradar, acabo saindo toda atrapalhada e gaguejando. É uma

tragédia! 

— Primeiro de tudo: você precisa ficar calma. E segundo...


precisamos ir às compras. Enrico adora comer, ele gosta mesmo de
comida, sabe cozinhar?

— Sei sim, mas ele sempre chega com a comida. Acho que

nem temos mantimentos em casa...

Damon deu de presente de casamento para Enrico a segunda


casa principal, que tinha três quartos e antigamente, pertencia ao

chefe do vinhedo. Ela foi reformada junto com a casa principal.


Sandra tinha a sua própria residência aqui na Itália e por ser mulher,

ela não herdou nada, afinal, a sua família era a do marido. 

— Faremos compras de mercado. Nina costuma cuidar disso,

mas ela não vai fazer se Enrico não pedir. Ele sempre foi reservado

com as coisas dele. — Refleti. — Você vai ter que ganhar o homem
pelo estômago. Acho que deveria falar com ele sobre fazer compras

de roupas. Ele te deu um celular, certo?

— Sim, junto com um computador e um tablet parecido com o

seu. Eu não sei como pedir a ele para gastar dinheiro. Não tenho

nada.

— E daí? Ele tem que te bancar e sem reclamar, se não

temos autorização para trabalhar, ele que se vire! 

— Você é ousada. — Luna aceitou o bronzeador. — Gosto de

roupas mais bonitas, saias curtas, vestidos... sapatos altos —


comentou e eu gostei que estava se abrindo. Tirei a parte de cima

do meu biquíni e ela arregalou os olhos — O que você está


fazendo?

— Eu odeio a marca, você é mulher e tem seios. Será um


segredo nosso... Damon vai ter um ataque se souber que tirei o

biquíni sem ele.

— Seu marido te deixa fazer topless na praia?

— Na mente dele só com ele e somente aqui. — Encolhi os

ombros. — Mas eu faço onde eu quero, se for seguro. Juliana e eu


fizemos em Ibiza. Nossos maridos quase surtaram, mas foi tudo

bem.

— Posso tirar também? — Seus olhos estavam arregalados e


brilhando.

— Luna... não sou sua dona, se você é adulta para se casar,


é adulta para ficar com os peitos de fora!

Luna soltou o biquíni e deitou-se ao meu lado, fechando os

olhos. Formulei um plano para fazer Enrico perceber que ela


precisava de coisas. Iria falar com ele de um jeito sutil e assim, ele

poderia entender quando ela pedisse.  Eu tinha autonomia de


comprar roupas para ela, mas, não queria que Enrico ficasse

ofendido. 

Era complicado me intrometer no relacionamento de outra


pessoa quando ele nunca meteu o nariz no meu. A diferença era

que eu nunca fui tímida para pedir o que precisava. Damon se

virava para me dar o que eu queria. 

Minha mãe e a irmã dele ficavam irritadas pela maneira que eu

continuava sendo excessivamente mimada e eu não me importava. 

Apesar de amar a companhia de Damon na praia, Luna era

mais divertida e nós até dançamos. Perto da hora do almoço,

comecei a me sentir mal e fiquei preocupada. Talvez fosse fome.


Decidimos voltar para almoçar, guardamos tudo e subimos a

rampa. 

Minha cabeça estava doendo e conduzi o ATV bem devagar

para casa. Parei próximo à garagem e ao ficar de pé, a vertigem foi

forte o suficiente para as minhas pernas cederem.

— Giovanna! — Luna largou as bolsas no chão e me

segurou. — O que você tem?

— Acho que preciso comer e fazer um teste de gravidez. 

Ela ficou adoravelmente confusa.


— Ah... Ok! 

Luna me ajudou a chegar na cozinha e Nina ficou toda agitada,

me dando água, colocando um prato enorme de comida na minha

frente. Comer me fez bem, mas me deixou bem enjoada. Luna ficou
o tempo todo comigo, preocupada e Nina estava sorridente. Eu

estava meio que feliz, mas sem querer demonstrar qualquer

felicidade ou esperança porque não tinha um teste em casa. 

Em Chicago, minha gaveta estava cheia. Não porque eu

comprei, mas Damon achou que seria bom ter aos montes. Se ele

pudesse, faria xixi no palitinho por mim.

Convenci Luna a assistirmos um filme no cinema da cidade.

Ela ainda ficava meio preocupada de sair sem Enrico, mas Sandro

concordou em nos levar e assistir ao filme que quiséssemos.


Cinema era uma coisa que a maioria dos soldados se recusavam,

mas os meus eram muito atenciosos e faziam o que eu queria. 

Me arrumei animada para sair, porque Damon não era muito

fã de filmes, agitado demais para ficar quieto e genioso demais para

ficar em uma sala escura. Escolhi um look confortável com calças

jeans, tênis e uma camisa listrada, renunciei usar maquiagem por


causa do meu bronzeado.
Dei à Luna um vestido mais jovial, mais aberto e com um

decote. Ela era da minha altura e tinha mais bunda. Ficou um pouco

justo atrás e ela pareceu feliz com o meu presente. 

Com quatro guardas, entramos em um pequeno shopping

comercial que tinha várias lojinhas. Aproveitei o tempo antes do

filme e fiz algumas comprinhas de maquiagens para nós duas e


ensinei por alto truques básicos, me comprometendo em ensiná-la

melhor nos dias a seguir.

Entrei em uma farmácia e comprei dois testes de gravidez,


escondendo na bolsa. Luna me deu um sorriso empolgado e

compartilhamos esse olhar até que um grupo de meninos parou na

nossa frente. Alguns deles imediatamente se afastaram, assumindo


uma posição respeitosa. 

Um ficou e me encarou. O moleque merdinha.

— Giovanna Di Galattore... que belo prazer. — Ele torceu a

boca. — As honras, sou Giovanni Savoia.

— Eu sei quem é você — falei friamente, odiando o seu olhar

em nós. Quem estava com ele, cutucou e disse para saírem.  O

garoto insistiu em olhar para os seios de Luna e ela ficou tensa,


dando um passo para trás e se escondendo atrás de mim. O olhar

dele me deixou enojada.

Sandro parou casualmente ao nosso lado, ele estava por

perto.

— Se não quiser sair daqui com a língua no bolso como um

recado ao seu pai por falar demais, é melhor se afastar. — Ele

puxou um canivete e parecia muito afiado. 

Luna segurou o meu braço, com medo e eu não me movi. Ela

não estava acostumada, mas era uma questão de tempo. Eu era a

mulher do chefe, aquele garoto não tinha o direito de me insultar.

— Não posso falar com a nossa senhora e muito menos com

a nova Sra. Fabrizzi? Ouvi dizer que era bela e é verdade. Ela é
uma tentação.

Filho da puta!

— Você pediu por isso. — Sandro apontou e nos tirou de

perto. 

Cochichei com Sandro que o pai dele poderia causar uma

guerra contra Damon. Eu não deveria falar nada, mas não queria

que fosse punido por tomar uma decisão explosiva e arriscar a

política da família. Irritado, enviou uma mensagem para o meu


marido. Não sabia o que foi decidido, mas pelo menos Damon
estava ciente e qualquer decisão que fosse tomada não pesaria nas

costas de Sandro, que só estava fazendo o seu trabalho em me

proteger.

— O que esse menino tem? — Luna perguntou quando nos

acomodamos dentro do cinema.

— Ele é muito abusado. Não sei exatamente qual é o

problema dele, mas parece querer desafiar a ordem. O pior de tudo

é que ele sabe que o pai tem uma excelente posição. Não sei que
atitude Damon irá tomar... 

— Pipoca, senhoras. — Fabiano, um dos novos guardas, me


deu um pote enorme. — Os refrigerantes e as balas. — Entregou as

latas e o saquinho com doces.

— Muito obrigada. — Sorri e ele acenou e foi para o seu

lugar.

— Ele deve ter a nossa idade — Luna sussurrou.

— Damon me contou que foi iniciado aos quatorze anos e é


muito bom. — Enchi a minha boca de pipoca. — Maravilhoso... bem

amanteigada. 
— Dio... Esqueci como comer besteira é bom. — Luna estava
deliciada com o refrigerante. — Não sei se a minha mente pode lidar
com tanto açúcar.

— Não vai dormir, isso é certo! 

O filme não foi nada além de um romance bobo, sem sentido,


mas doce o suficiente para nos fazer chorar. Paramos em uma
cantina muito badalada e comemos uma pizza deliciosamente

tradicional. Dividimos alguns cannolis no carro até em casa.

— Foi um dia muito divertido, obrigada pelos presentes. —


Luna me deu um abraço apertado.  Eu estava muito feliz por

finalmente ter uma amiga. Uma irmã.

— Espero que possamos nos divertir ainda mais. De vez em


quando a nossa vida fica meio maluca, ocupada com um monte de

evento chato, mas tem coisas legais que podemos fazer juntas. —
Devolvi o abraço.

Ela foi andando sozinha para casa e, junto aos cachorros,

esperei que entrasse para que eu pudesse entrar com Diana me


seguindo. Precisei dar toda atenção que ela precisava ou não
pararia de me cutucar com seu focinho gelado, ansiosa por carinhos

que não recebeu durante o dia. Ela me deixou cheia de pelos,


babada e um pouco suada. Tomei banho depois de levá-la para
fora. 

Voltei para o meu quarto e olhei os testes. Me perguntei se

aquela era uma boa hora para fazer. Não custava nada fazer logo.
Estava com alguns sintomas simples, seios meio doloridos,
inchados, mas eu estava colocando como uma opção para a minha

menstruação atrasada e não exatamente por uma possível gravidez.


Não queria ter esperanças e me frustrar. 

Fiz o teste com ansiedade, meu coração chegava a pular no

peito e esperei o resultado andando de um lado ao outro. Quando


duas listrinhas apareceram, pulei no lugar diversas vezes, soltando
gritinhos contidos. Puta merda! Estava grávida! Transbordava

felicidade. Coloquei minhas mãos na minha barriga e suspirei.

— Oi bebê! Você está aí, caramba! — falei sozinha, melhor


dizendo, com o meu bebezinho. Deveria ter comprado o teste com a

indicação de semanas, assim o meu marido ficaria maluco. 

Vesti uma camisola, deitei na cama e peguei o meu livro, não


querendo dormir para poder contar a Damon. Ele poderia surtar se

contasse amanhã, já que ainda estava muito ressentido por ter


escondido o suposto problema de fertilidade.
Assumia o meu erro em tirar dele a chance de estar ao meu
lado, mas eu não me arrependia de protegê-lo. Damon podia não

assumir, porque um homem como ele “não tinha traumas”, mas a


morte da mãe deixou marcas. A maneira como a mãe dele morreu o
deixou com medo da morte. Medo de amar alguém e perdê-la. Ele

me amava e não queria me perder. 

Se ele fosse uma pessoa que soubesse lidar com


sentimentos de uma maneira normal, até seria mais fácil. Ele era o

Damon. Fácil não fazia parte de seu vocabulário e pensando nele,


sorri ao vê-lo entrar no quarto, sempre tão silencioso que nem o ouvi
chegar em casa.

— Pensei que já estivesse dormindo. — Inclinou-se na cama


e me deu um beijo. — Preciso ir ao banheiro e tomar um banho, já
volto. Não durma — pediu e foi arrancando a roupa. Me mantive no

lugar, me consumindo em ansiedade. — Foi um dia do caralho. 

— Posso imaginar. Está muito cansado? 

— Com disposição para muitas coisas. — Se jogou na cama

e me agarrou, jogando o meu livro bem longe. 

— Calma, espertinho. — Empurrei-o e abri a gavetinha ao


meu lado, tirando o teste. — Parabéns, papai — falei baixinho.
— Sério? — Ele agarrou o teste. — Sério mesmo, porra? —

Sacudiu como se o resultado fosse mudar. — Caralho! — Ele me


beijou. Comecei a rir, porque sua reação não poderia ser mais boca
suja e divertida. Retribui o beijo com todo meu amor. — Eu te amo,

Giovanna. Obrigado por me dar o melhor presente da minha vida!

— Eu te amo, marido e o presente é nosso. Fizemos juntos e


com amor, não por obrigação. 

— Definitivamente teve muito prazer no processo... —


Balançou as sobrancelhas e levantou a minha camisola. — Oi,
bebê! Papai aqui tem a boca suja, mas se você for um menininho,

sua mãe vai arrancar a sua língua se repetir sem estar com a idade
adequada. Agora, se for uma menininha, o papai vai tentar segurar
a boca. — Beijou repetidas vezes o meu ventre.

— Machista.

— Tente me parar. — Sorriu torto.

— Não vou te parar. — Sinalizei com o meu indicador e ele


se arrastou por cima de mim. — Chega desse assunto... faça amor

comigo. 

— Sempre, bella. Somos três agora, que insano! 


Era o começo da nossa família e eu não poderia estar mais
feliz. 

 
34 | Damon.

Tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum.

Aquele som era o mais importante da minha vida. Meus olhos

estavam grudados na tela, onde a médica mostrava o nosso


bebezinho. Meu filho, caralho. Era um menino. Giovanna estava

com os olhos cheios de lágrimas, porque era a segunda vez que


fazíamos exame de imagens, agora com três meses, fizemos um
exame de sangue para descobrir o sexo. 

Descobrimos a gravidez com quase dez semanas, ela sequer


teve um sintoma forte.

— Ele é tão perfeito. — Giovanna chorou, segurando a minha

mão.

— Ele é sim. — Meu coração estava explodindo no peito.

— Está tudo perfeito, Giovanna. — Dra. De Luca nos garantiu.

— É um menininho muito saudável. Parabéns. — Era visível que a

Dra. De Luca estava feliz por Gio. 

— Estou tão apaixonada. Você viu o formatinho do narizinho

dele? — Minha esposa me olhou e eu podia me derreter ali. Valeu a


pena esperar a sua felicidade em ser mãe. Ela respeitou o corpo e a
mente, era uma mulher tão forte e consciente que o meu coração se

enchia de orgulho.

— Acho que o nariz dele será igual ao seu. — Dei um beijinho

na pontinha. 

Giovanna se vestiu novamente e finalizamos a consulta, com

os exames impressos. Eu estava com um sorriso colado no rosto.

Saímos escondidos do prédio comercial porque eu não queria que


soubessem da gravidez até que fosse inevitável. Nós decidimos que

o bebê nasceria na Itália e viemos até a Dra. De Luca que,

prontamente, concordou em ir até lá para o parto e se comunicaria


com a médica que iria nos atender nas próximas consultas.

Giovanna esperava ter o bebê em casa, embora discordasse


completamente, ela não queria um parto no hospital. Esperava

mudar a sua cabeça até lá. Essa ideia de humanizado me parecia

uma completa loucura. Entramos no carro e seguimos para casa.

Era um dia quente de verão e eu sabia que ela ficaria com pouca

roupa em casa.

— Você quer que a sua mãe vá conosco para a Itália?

Giovanna desviou o olhar de seu telefone. Pela foto, estava

conversando com Luna. Apenas ela e Enrico sabiam da gravidez,


ainda não havíamos contado para os guardas mais próximos e só o
faríamos na Itália. 

— Não sei. Ela não vai guardar segredo, não importa o quanto

implore e vai sentir a necessidade de tripudiar das minhas tias

porque estou grávida e é um menino — comentou e voltou a digitar.

— Podemos comer pizza?

— Não. 

O beicinho apareceu. 

Entrei em casa em alta velocidade, parando o carro na

garagem e ela saiu emburrada, entrando pela cozinha e indo direto

para a geladeira. Seu apetite me deixava impressionado, entre


alguns dias de enjoos e tonturas, ela estava comendo o dobro. Tirou

mil coisas da geladeira, lavou as mãos e preparou um sanduíche

com pão de centeio, maionese, mostarda, folhas de alface, três tipos

de queijo em fatia, presunto e salame. 

— Caramba. 

— Cale a sua boca. — Rebateu, puta da vida. Ela estava

ficando irritada com as minhas piadinhas sobre o seu apetite voraz.

— Eu só tomei café-da-manhã antes da consulta e levamos horas


lá, está na hora de um lanchinho. Ainda acho que poderia almoçar

um pedaço de pizza. 

— Não. Já te avisei que não quero que coma fora de horário. A

Dra. De Luca já te chamou atenção sobre isso. 

— Blá blá — murmurou de boca cheia e levou muito para não


rir, mas eu tinha que manter a expressão séria. Giovanna já era um

pesadelo, grávida, estava com um humor cruel. 

Parei atrás dela, abraçando-a enquanto comia e coloquei as


minhas mãos em sua barriga, por dentro da blusa. Apesar de termos
vencido o primeiro trimestre, ela estava visivelmente grávida. Pelo

menos dava para reparar o formato oval em seu ventre e eu nunca


pensei que poderia ficar ainda mais apaixonado por ela, por seu

corpo se transformando bem diante dos meus olhos ao carregar o


nosso menino.

— Você vai arrumar as malas hoje?

— Sim, estará tudo pronto para o nosso voo noturno.

— Enrico e Luna irão conosco?

— Não agora. Eles precisam ficar aqui para cuidar das coisas.
Não esqueça que ele é um homem casado. Tem a sua própria
família para cuidar. — Dei um beijo em sua boca e me afastei, indo

para o escritório.

Precisava deixar algumas coisas organizadas e fiz ligações


importantes para os meus contatos na polícia, querendo saber do

reflexo dos eventos da noite passada. Uns abatedores de um


motoclube que estava tentando se estabelecer bem perto da minha
fronteira, tentaram interceptar a minha carga, tiveram motos e partes

de corpos espalhadas na estrada enquanto meus homens


simplesmente passaram por cima. Os novos carros eram muito

bons.

Giovanna e Luna ficaram na piscina por toda a tarde enquanto


treinava com Enrico. Percebi que ele estava distraído e me
preocupei.

— Está acontecendo alguma coisa que precise saber? —

Empurrei-o contra a parede, ele estava suado e escorregou fácil do


meu aperto.

— Nada relevante. É Luna.

— O que tem? A ninfa bebê está torrando o seu juízo? —


Provoquei e ele me chutou com muita raiva. 
— Quero foder aquela mulher! — Explodiu e me deu um soco
no rosto. Tão surpreso, não consegui revidar e me afastei. — Ela
está me enlouquecendo! — Puxou os cabelos e me sentei no chão,

rolando de rir. Enrico se jogou em mim, tentando me socar e me


defendi, sem conter a risada. Travei as minhas pernas nas dele e o

coloquei de guarda, imobilizado. — Desde que Gio a levou às


compras, a garota tem usado todo tipo de roupa curta na minha
frente, que me faz sentir um sujo tarado. E quando ela coloca umas

saias xadrez, parecendo uma colegial? Caralho!

— Sabe que Luna tem um atrativo de uma irmãzinha para mim


e apesar de gaguejar até a morte na minha frente, acho que é uma

mulher adorável. Giovanna a adora, ela é a sua esposa, então, ela


tem que te atormentar. Se ela souber o poder que tem sobre você... 

— Esse é o problema, porra. Ela não faz ideia! Sabe o que me


disse ontem? Que eu não acho que ela é bonita. — Joguei a cabeça

em seu queixo, ele gritou de dor. — Filho da puta!

— E você tem problemas em achar a sua mulher bonita? 

— Claro que não, porra! Ela é gostosa pra cacete! Só que eu

sinto medo de machucá-la, ela é inexperiente e fica nervosa. E pelo


visto, tem um monte de complexos que não tenho a mínima
paciência para lidar. 

Suspirei e me afastei.

— Enrico, eu nunca pensei que fosse dizer isso. Ao chegar em


casa essa noite, assim que encontrar a sua mulher, agarre-a e beije-

a. Faz ela gozar, ver estrelas, mostra para ela que você é bom nisso
e que vocês podem ser bons juntos. O que já fizeram?

Enrico sentou-se, com o peito arfando.

— Nada.

— Caralho... Você está casado com a versão pornô de uma pin

up e não fez nada? Você gosta de mulher? — Queria irritá-lo e deu

certo. Ele se jogou em mim com tudo. 

— Claro que gosto, escroto. Não quero machucá-la, pensei em

nos conhecermos um pouco, mas eu sou péssimo nisso. O assunto

não rende, ela é tímida e parece que foi educada para não abrir a
boca. Giovanna tentou falar comigo sobre isso, elas foram às

compras e a Luna até pareceu mais feliz, eu só... caralho, nunca

precisei conversar com uma mulher. 

Abri um sorrisinho.
— Bem-vindo ao casamento! Você vai descobrir que elas

amam conversar. Tem dias que Giovanna me espera acordada e


não é para sexo. É para falar até que eu deseje arrancar as minhas

orelhas e ela me faz milhares de perguntas no mesmo minuto. Esse

é o casamento. E, ah! Tem as brigas, quando Gio está disposta, é


bastante eloquente. — Revirei os olhos.

— Gostaria que Luna fosse do tipo tagarela, acho que

facilitaria.

Olhei em direção à piscina e Giovanna estava de lado,

mostrando a barriguinha. Luna tirava uma foto. 

— Então... você ouviu o coração?

— Sim. É o som mais bonito do mundo.

— Tomara que o moleque puxe a mãe. Se ele sair um atentado

como você, à segunda potência, será um caos. 

— É foda. Espero que ele seja feliz... cresça saudável e que eu

consiga mantê-lo seguro. — Desviei o olhar de Giovanna.

— Ele ficará seguro, nós cuidaremos dele.

— Você poderia fazer um filho logo e eles poderiam crescer


como nós dois.
— Idiota. Isso foi muito sentimental e eu vou embora antes que

cresça uma buceta na minha testa. — Enrico ficou de pé e dei uma

banda, ele caiu quase de cara no chão, mas seu reflexo ajudou e
virou, me chutando.

— Só assim você veria uma buceta. 

— Filho da puta! — Nós voltamos a lutar disparadamente,

derrubando alguns pesos e aparelhos da academia. Ficamos cada

vez mais agressivos e com mais força. 

Paramos quando Sandro entrou na academia, sinalizando que

havia uma ligação esperando por mim. Enrico foi para sua casa

tomar banho, entrei na minha casa, suado, precisando beber água e


a ligação era importante, mas era apenas Frank sendo insuportável

com seus conselhos sobre não fazer tanta bagunça em casa.

Giovanna passeou pela cozinha, usando um pequeno biquíni

preto e mordeu o lábio, me encarando... ela sorriu e apontou para a

escada.

— Já para cima. 

— É uma ordem?

— Sim. É que você está aí todo suado, inchado de praticar

exercícios e tão gostoso... — comentou e cutucou o meu abdômen.


— Quero você, mas eu não vou te chupar todo suado assim. Vai

tomar banho.

Peguei a sua mão e literalmente a arrastei escada acima.

Entrando no banheiro, liguei o chuveiro, arrancando a minha calça


de moletom e o seu biquíni. Ela soltou uma risada com as minhas

tentativas inúteis de puxar o lacinho da calcinha, mas era falso e me

atrapalhei ao puxar pelas pernas. Como de costume, dei um beijinho

na barriga, meu bebê estava ali dentro e eu não conseguia parar de


idolatrar a sua barriga.

Não me importava que a maioria dos homens se afastavam


das esposas quando engravidavam, não me interessava que seria

uma fraqueza no meu mundo amar o meu filho. Isso era sobre

Giovanna e eu. Sobre uma história que tinha tudo para dar errado,

em tragédias e nós lutamos para estar ali. Eu podia matar milhares


de pessoas e destruir a vida de outra metade, mas não me

arrependia de amar a minha família. 

Morreria por eles. 

Quando anoiteceu, ela estava na cama, com a boca inchada –

um presente da gravidez –, e me olhando jogar algumas peças de


roupa na mala pequena, porque nós tínhamos um armário e muitas

coisas na Itália. 

— Eu pensei em pedir para Luna me ajudar com o quartinho


do bebê aqui. Precisaremos de tudo em dobro...

— Quando ele nascer, voltaremos para casa e ele pode dormir


conosco aqui no quarto até resolver.

— Quando ele nascer, eu não vou querer montar porcaria

nenhuma. Vou estar muito ocupada descobrindo como ser mãe. —


Revirou os olhos como se eu fosse um idiota em pensar que

gostaria de montar o quarto do nosso bebê. 

Ainda não escolhemos o nome e por isso, não havia muitas

coisas. Giovanna comprou apenas algumas coisinhas, nada mais,

porque já pretendia ter a gestação longe dos olhos do público. 

— Ok. Se Luna puder... — Algo me dizia que ela ficaria

bastante ocupada quando Enrico tirasse a cabeça da bunda.

— Ela já aceitou.

— Por que está falando comigo se já acertaram tudo? 

—  Só para você se sentir incluído nos planos. — Encolheu os

ombros.

— Megera.
— Seu amor, não se esqueça.

Meu telefone tocou e era Enzo. Ele estava ligando de seu

número da Itália.

— Chupa.

— Foda-se, você não vai gostar. — Enzo começou com a voz

rouca. 

— Você vai morrer fumando assim.

— Não estou fumando, só comendo pra caralho e estou


gripado. 

— O que eu não vou gostar?

— Matei o merdinha encrenqueiro sem saber que era o

merdinha encrenqueiro. 

Fechei os meus olhos, lívido.

— Por quê? — Trinquei os dentes.

— Ele andou passando em alta velocidade aqui pelas

estradas. Me irritou pra caralho que alguém estava me provocando

no lugar onde crio as minhas filhas. Não satisfeito, andou fazendo


uma arruaça no restaurante da Tia Malia.

— Que porra ele estava fazendo aí?


— Antes de morrer, ele disse que em breve, tudo aqui será da
família dele. Só depois que atirei que lembrei que você comentou

sobre um merdinha encrenqueiro — Enzo falou como se fosse nada

demais.

Saí do quarto, pensativo e me apoiei na varanda, olhando para

o quintal dos fundos. Aquilo não soava nada bem.

— Sabe o que isso significa aos meus ouvidos? Conspiração.

O filho da puta do pai dele está armando algo, achando-se grande

demais. Ah, caralho. Estarei em casa amanhã, vá me encontrar.

— Não vou deixar Juliana sozinha aqui, nem fodendo.

Giovanni está nos Estados Unidos e Alessio está em lua de mel com
a minha irmã — Enzo reclamou.

— Giovanna está grávida e ela está com mais segurança que


o papa. Esteja lá em casa amanhã ou eu vou resolver essa merda

sozinho. — Minhas têmporas estavam doendo só de imaginar o


problema que estaria me aguardando na Itália. De nenhuma
maneira deixaria Giovanna em casa.

— Finalmente colocou o bolo no forno. Estarei lá, até.

Joguei o meu telefone na cama e suspirei. Giovanna


conseguiu sair do quarto e voltar com um pote de sorvete sem que
eu percebesse.

— Um problema sério, amor? — Sua boca estava cheia.

— Sim, mas a notícia é boa: Enrico vai precisar ir comigo,


então, você terá a companhia de Luna... e Juliana chegará com as

meninas amanhã. Enzo, Enrico e eu precisaremos fazer uma


viagem — murmurei e ela me ofereceu uma colher.

— Será que você pode se estressar com isso só amanhã?

— Impossível.

— É mesmo? — Então, virou a colher de sorvete no colo dos


seios. 

Foda-se. Ela sabia como tirar completamente o meu foco do

lugar e atrair para si. Eu a amava.

 
35 | Gio.

Damon estava arrumando a bolsa de facas, concentrado e

fiquei encostada na soleira da porta, pensativa. Chegamos na nossa


casa na Itália no começo da manhã e ele já iria sair. Algo estava

acontecendo e era grave, então, optei por pegar todos os detalhes


com Juliana porque meu marido iria me enrolar e decidi não me
desgastar com ele. 

— Você vai ter um filho — falei atrás dele. — Não seja


inconsequente. 

— Não sou inconsequente há anos, desde que tenho uma

esposa bonita para voltar. — Fechou a mala. — Eu vou ficar bem,


eu te amo.

— Prometa.

— Eu prometo. 

Ficamos abraçados por um tempo até que Enrico e Luna

entraram em casa. Eles estavam de mãos dadas e eu não consegui


esconder o meu sorriso feliz com aquilo. Enrico estava sendo mais

difícil do que todas nós pudemos imaginar, mas de alguma maneira,

achava que o bloqueio dele era emocional. 


Luna e eu demos as nossas mãos, assistindo-os arrumar as

malas quando uma comitiva de carros entrou na propriedade. Enzo


saiu primeiro, ele sempre fazia meu coração parar uma batida

porque era muito bonito. Ele veio na nossa direção e me deu um

rápido abraço, um aceno a Luna e voltou para o carro para ajudar a


tirar as meninas. 

As três estavam adormecidas, então, peguei Anna enquanto


ele tirava Amália. Juliana saiu com cuidado com Aria e parecia

exausta. Eu podia imaginar o cansaço que foi viajar com três

pequenas garotas e toda tensão pelo motivo.

Entramos e deixamos os homens do lado de fora, resolvendo

as questões de segurança, se arrumando para sair. Separei um


quarto para Juliana e outro para as meninas, embora duvidasse que

ela fosse dormir sem elas ao alcance dos olhos. Luna e eu

montamos dois berços portáteis e Amália dormiria na cama de casal

com a mãe, mas esperava tirar uma casquinha das minhas

princesas.

Acariciei o cabelo loirinho de Aria. Ela puxou o tom de loiro

escuro da mãe, que provavelmente escureceria. Seu narizinho era

lindo, porém, ela era muito parecida com Enzo. Os olhos verdes que
se fixavam intensamente, o semblante sempre sério e quando
sorria, era de um jeito zombeteiro. 

Anna era mais simpática, sorridente, quase uma miss

simpatia. 

Amália não era parecida fisicamente com os dois, ela se

encaixava com as meninas por causa do cabelo e os olhos


castanhos como os de Juliana. A personalidade, no entanto, era

toda de Enzo. Autoritária, cheia de si e aprontava sem pensar.

Adorava mandar e não escondia a sua satisfação em ser

obedecida. 

Era perfeita da cabeça aos pés.

Com a babá eletrônica nas mãos, descemos as escadas e os

nossos maridos estavam na sala. Damon abaixou na minha frente,

ergueu a minha blusa e beijou o meu ventre várias vezes e em

seguida, me deu um beijo intenso, apaixonado, que me deixou

quente, sem fôlego e excitada. Era maldade me deixar tão louca

com gostinho de quero mais. Ele me abraçou apertado e não falou


mais nada quando saiu.

— Ei, Luna, me acompanha no vinho? — Juliana sorriu

simpaticamente.
— É claro. Preciso de uma bebida. — Luna saiu da sala, indo

até a adega da casa, que ficava do outro lado da cozinha.

— Vem aqui, garota. — Juliana me abraçou do nada. —

Parabéns por esse bebê. Você está feliz?

— Muito. Mal consigo me conter. Ele é tão lindo!

Juliana arregalou os olhos.

— Ele? Caramba. Um menino? Ai que felicidade! — Me


abraçou de novo. Eu quis chorar, preocupada com Damon e

sentindo os meus nervos à flor da pele. — Ei, nada de ficar tensa.


Eles vão voltar, isso é nada diante de tudo que já nos assustaram no
passado. Eu vim com Enzo perturbando Amália de lá até aqui, Anna

querendo brincar o tempo todo e Aria chorando, dando aquele olhar


que ela é boa demais para estar conosco. Sinto que elas serão três

meninas geniosas que vão rolar como cães e gatos no segundo que
as duas menores começarem a andar direito.

— Enzo não deixa as meninas quietas, não é?

— Aprenda isso, enquanto eu solto um suspiro de alívio


quando elas dormem, ele fica angustiado querendo que elas

acordem logo. Tem tanta energia quanto elas, é impressionante.


— Vem, vamos para a cozinha. Não existe lugar mais

reconfortante que um bom lugar para comer e eu estou louca por


uma boa pizza.

— Hum, eu também. Vamos fazer? Tenho evitado comer

besteiras, assim as meninas nos veem comendo legumes e acabam


aceitando comer também. É mais fácil. Amália questiona tudo e ela
faz menos perguntas se o nosso prato for igual ao dela. — Revirou

os olhos. Luna apareceu com os braços cheios de vinho.

Peguei três taças e para mim, uma garrafa de suco de


laranja. Me distraiu a mente preparar pizzas do zero, nós gastamos

uma quantidade imensa de material e conseguimos assar no forno a


lenha nove pizzas, distribuindo entre os soldados e espalhando o
que sobrou na cozinha entre nós. 

Amália e Anna ficaram tomadas de molho de tomate e queijo,

mastigando com felicidade.

— Vocês vão ter que me ajudar com essas criaturas! Em


casa, tenho a minha tia que é uma avó maravilhosa assim como
Martina, que mesmo com a idade avançada, cuida das meninas

comigo. Minha sogra ainda age muito timidamente ao meu redor, ela
se culpa pelo marido ter tentado me matar. Talvez seja uma avó
mais presente quando Carina engravidar, o que para a minha
cunhada, será no dia de São Nunca. — Juliana não tinha filtro
nenhum.

Luna arregalou os olhos, chocada e eu ri. Nós a atualizamos

sobre a história maluca da vida de Juliana. Para Luna e eu, era um


completo absurdo que o pai de Juliana tenha conseguido criá-la
como uma garota normal, super protegida, mas normal. Luna e eu

nascemos neste mundo e sabíamos desde... não lembrava se


existia algum momento em que não sabia quem nós éramos. 

As crianças da máfia são educadas em uma bolha e para ser

honesta, entendia porquê tínhamos tantas regras. Eram elas que


protegiam nossos pequenos de ataques externos. Era bom para que
não fossem inocentes e confiassem em qualquer um e muito menos

se colocassem em posição de se tornar uma moeda de troca muito


eficaz entre qualquer pessoa que quisesse atingir a máfia.

Afinal, havia muitos loucos lá fora. Não apenas nós.

— Anna! Não! — Juliana impediu a filha de jogar um dos


vasinhos de vidro, que deveria ser um cinzeiro, mas coloquei uma

suculenta dentro. — Oh, garotinha. — Beijou a pontinha do nariz. —


Vá com a sua madrinha. — Apontou na minha direção e a minha
sapequinha veio correndo, com os braços abertos, toda suja. — Ela
precisa de um banho.

— Okay! — Beijei a sua bochecha suja de molho.

— E você vai com a Tia Luna enquanto mamãe dá banho em


Aria e a mamadeira para ela dormir. Depois a mamãe é toda sua. —

Juliana conversou com Amália, que aceitou subir com Luna.

Com Anna nos braços, decidi que o chuveiro seria melhor


que a banheira. Tirei as nossas roupas e levei um tempo esfregando

as marcas de canetinha, limpando o que estava sujo de comida,

lavando o seu cabelo. Juliana entrou no banheiro no momento que

estava enxaguando o xampu. Ela tirou uma foto nossa, que ficou
divertida.

Ela disse que Aria dormiu no meio da mamadeira, a coitada


deveria estar esgotada com toda a mudança.

Após o meu banho, pedi que Luna dormisse em um dos

quartos da casa. Seria melhor ficarmos juntas. Coloquei Diana para


dentro, fechei todas as portas e janelas, acionando o alarme porque

não sairíamos mais e interfonei para a casa dos guardas, avisando

que iríamos dormir. Dei boa noite para todo mundo e com Diana
atrás de mim, entrei no quarto. Ela subiu em um sofá, deitando e me

encarando com expectativa.

Me joguei na cama, exausta, com a barriga cheia e sentindo

a ausência de Damon ao meu lado. Peguei o meu telefone e enviei


uma mensagem, mandando a foto do meu banho com Anna. Não

mostrava nenhuma nudez, porque os meus braços cobriam os meus

seios e as suas partes. De lado, aparecia as suas pernas gordinhas

e a formação da minha barriguinha. 

Estava quase dormindo quando o meu telefone vibrou ao

meu lado.

“Me faz querer ter uma menininha também, pare com isso”. 

Sorri apaixonada. Só Damon para brigar comigo por lhe dar


vontade de ter uma filha. Dei uma resposta engraçadinha e fechei

os olhos, adormecendo profundamente. 

Acordei assustada com o rosnado baixo de Diana em direção

à porta. Uma batida muito baixa soou.

— Giovanna! Acorda! — Sandro falou meio alto. Sai da cama,


desconfiada. 

— Não abra a porta, Giovanna. — Ouvi Juliana falar.


— Sra. Rafaelli, eu sou fiel a Damon, darei a minha vida por

Giovanna e nós vamos sofrer um ataque em alguns minutos.

Preciso levá-las para o quarto seguro imediatamente. 

— Vire-se contra a parede e não tente nenhuma gracinha, eu

costumo atirar primeiro e perguntar depois. — Juliana continuou

falando baixo e então, a maçaneta girou. Ela estava de costas para


mim, com a arma apontada para a testa dele e a outra na mão. —

Eu sei que você tem uma faca na cintura e outra dessa aqui —

Sinalizou para a 9mm — no tornozelo. Se você piscar, eu vou te


matar. 

— Preciso levá-las para o quarto seguro. — Sandro insistiu e

me olhou, quase implorando para acreditar.

Ergui o meu olhar e o alarme silencioso estava piscando.

— O alarme está piscando. — Apontei e ela mal pareceu se

mexer.

— Vou te dar o benefício da dúvida. — Abaixou a arma. —


Não gosto de homens que rastejam pela escuridão em uma casa

cheia de mulheres.

— Sinto muito, mas se eu fosse um perigo, Diana estaria me

atacando. — Sandro apontou e minha cadela parecia decidir se o


atacaria ou não. — Os sensores detectaram a aproximação de vinte

homens em lados diferentes da propriedade. Os homens estão se


preparando para a defesa — Sandro explicou. — Giovanna precisa

entrar no quarto seguro.

— Tudo bem, nós vamos Mas você precisa ficar lá embaixo,

entre a escada e o corredor. Tem que impedir qualquer um de subir,

fui clara? Eu vou matar você se algo acontecer com as minhas

filhas. — Ela foi severa. — E onde posso conectar com a defesa da


casa?

— Meu tablet tem o aplicativo. — Corri de volta para o quarto,


ligando meu aparelho e logo conectando.

— Porra. — Juliana grunhiu. — O que está acontecendo em

Catânia é mera distração para tirá-los de casa. Ou é um golpe,


eliminam eles lá e eliminam as esposas aqui. Com o bônus dos

herdeiros — murmurou. De surpresa, jogou o tablet em mim e

pressionou Sandro contra a parede, abatendo-o pelo joelho, em


seguida, agarrando as suas bolas. — Se eu arrancar o seu dedo

agora, você vai jurar fidelidade? Eu posso alimentar você com o seu

pau antes que morra de tanta dor. 


— Você pode me matar e sempre serei fiel a essa família. —

Sandro grunhiu, controlando a dor. 

— Ótimo. Você vai me dar cobertura. — Juliana se afastou e


ele agarrou as bolas. 

— Cobertura? Todas vocês para o quarto do pânico agora! —


Sandro rugiu.

— Você é louco? Eles esperam que atacar pelo chão e eu

vou atacar pelo alto. Ou você sabe como usar um rifle a longa
distância? — Ela arqueou a sobrancelha.

— E como a senhora saberia?

— Eu sou Juliana Rafaelli, meu querido. Sou a chefe, embora

meu marido tenha uma opinião diferente sobre isso. — Virou-se

para mim. — Gio, onde Damon guarda as armas boas? Eu sei que
ele não seria burro de manter tudo no escritório. — Ela olhou para

Sandro. — E você aí, mande mais um entrar aqui. 

Sandro saiu silenciosamente, acordamos Luna e eu abri o

esconderijo de armas de Damon. Eu sabia a senha por saber,

porque não costumava mexer. Juliana pegou um rifle com

familiaridade, recarregando e montando como se estivesse vestindo


uma calcinha. 
Luna estava muito assustada e eu não queria pensar ou iria

desmaiar. Era hora de agir e como uma de nós sabia o que estava
fazendo, eu ia seguir o comando. Sandro me deu um roupão e eu

reparei que estava com uma minúscula camisola, agradeci com as

bochechas pegando fogo.

— Por favor, vá para o quarto com Luna e as crianças. —

Sandro me segurou antes de seguir Juliana para o sótão.

— Não posso deixá-la sozinha e o sótão é tão seguro quanto

o quarto, por favor, deixe Mauro com Luna e as meninas. Venha

conosco.

Sandro parecia conflituoso, mas Juliana sabia mesmo o que

estava fazendo. Ela montou o equipamento exatamente quando

ouvimos o primeiro disparo. Meu coração estava explodindo no


peito. Ela estava com um binóculo de visão noturna acoplado ao

rifle, Sandro agachou ao lado dela e eu saltei no lugar com o

primeiro disparo. 

Olhei para as cápsulas caindo no chão e me encolhi no

cantinho. Diana estava comigo, sem se abalar com o barulho e

colocou o focinho no meu ombro.


Parecia que era muito distante, não conseguia enxergar
nada, mas a agitação no pátio da villa mostrava que não era coisa

da nossa cabeça.

— Eles não estão conseguindo avançar em nenhum lado. —

Sandro sussurrou no rádio. — Tem um grupo à esquerda.

— Dois parecem rastejar pela trilha para o desfiladeiro, eu

vejo o movimento, mas não tenho mira — Juliana comentou e deu

mais dois disparos.

Abracei os meus joelhos, incrédula e assustada. Ela era

astuta e com um sangue muito frio. Juliana era trinta vezes mais

perigosa que o marido, só não demonstrava. Fechei os meus olhos,


me concentrando na respiração ofegante de Diana e no “tec, tec,

tec” das cápsulas caindo contra o piso de madeira do sótão. 

Estiquei a mão quando ela pediu mais munição, mas por um

momento, houve silêncio. Os guardas estavam vasculhando o


terreno, que não era pequeno e reforços da cidade chegaram. Em
pouco tempo, meu quintal estava cheio de homens e eu podia ouvir

a voz de Damon explodindo nos altos falantes dos seus rádios. 

— Eu não acredito que as meninas dormiram com tudo


aquilo. — Juliana suspirou, com a babá eletrônica ligada.
— Não deu para ouvir muito — Luna comentou e olhou para
os homens. — Eles estão me deixando nervosa.

— Eu sei, nada vai acontecer. Eles são fiéis. — Segurei sua


mão.

— Você está bem? Sentindo qualquer coisa? — Juliana


parou do meu lado.

— Fiquei bem nervosa, mas, não foi como em Nova Iorque...

— Meu lábio tremeu. — Não sou como você, Juliana. Não sou fria
e... calculista.

— Quando Enzo “morreu”, eu me tornei o que sempre tive

medo, então, por favor, não seja como eu. Você vai encontrar o seu
próprio caminho e a força para se proteger e manter os seus filhos a
salvo. Você tem homens que são leais a você e não somente a

Damon, isso é muito mais do que eu tive quando Enzo foi


sequestrado. — Juliana olhou para os meus guarda-costas parados
dentro da cozinha, olhando para o quintal com desconfiança. Pela

primeira vez, homens de Chicago trabalharam com os de Nova


Iorque.

— Espero que sim.


— Espere só até empurrar a cabeça gigante dessa criança
pela sua vagina que você vai ver as loucuras que será capaz de
fazer. — Me provocou, querendo arrancar um sorriso e conseguiu.

— Além do mais, eu só me meti porque vi que eles estavam longe,


cerca de um quilômetro da casa e isso foi uma vantagem enorme.

Fez valer a pena o custo desse sistema de defesa, caso contrário,


eu mataria Enzo por investir nisso.

Meu telefone vibrou em cima do balcão e era Damon me


ligando em chamada de vídeo. O telefone de Luna vibrou também,

assim como o de Juliana. Cada uma foi para um lado para ter
privacidade para atender. Sentei em um dos sofás na sala,

aceitando a chamada.

— Você está bem? — Damon parecia estar dirigindo em alta


velocidade. Eu podia ouvir Enrico e Enzo falando baixo também.

— Estou perfeita e estamos seguras.

— Ok. 

Ele encerrou e eu sabia que havia ligado para me ver e ouvir


a minha voz, tendo a certeza de que estava bem, porque não
acreditaria se fosse por mensagem. Na frente dos companheiros,

ele jamais seria tão doce e romântico como era, por hora, estava
bem. Nós ficaríamos bem. Aquele era o resultado de uma vida como
a nossa.

— Eu não sei vocês, mas vou voltar a dormir. — Juliana falou


como se tivéssemos acabado de lidar com uma infestação de ratos
e não uma quase invasão. Luna me olhou meio incerta sobre a

sanidade mental da nossa companheira e sorri. Afinal, quem era


realmente são entre nós?

 
36 | Gio.

Uma semana após o ataque, a minha casa ainda estava

dominada por mulheres. As meninas eram o centro do nosso

universo. Não aconteceu absolutamente mais nada e todos

descobriram que a família que comandava a Catânia estava com

planos bastante ambiciosos em tomar toda a ilha da Sicília. 

Como se isso fosse possível com o poder que Damon exercia

no território... A primeira estupidez foi contar para o filho caçula e a


segunda foi achar que o filho mais velho concordaria.

O subchefe da Catânia foi traído pelo próprio filho mais velho,


que juntou os soldados que não concordavam com a traição e deu o

golpe no pai. Quando Damon chegou lá, havia um caos


generalizado na cidade e o velho, sem saber que o filho caçula

havia morrido em Nápoles dois dias antes, ordenou um ataque


silencioso ao casarão, ciente que existiam defesas, mas não sabiam

quais. O plano era surpreender e matar Damon. 

Até que foi bem arquitetado, só não foi bem-sucedido.

Damon ainda estava por lá, junto com Enrico e Enzo. 


Com a casa sem os homens, nós aproveitamos bastante a

dominância feminina. Os dias foram repletos de sol, muita comida e


brincadeiras com as meninas. Amália nadava como um peixinho

porque o pai lhe ensinou e Anna não tinha medo da água, então, o

cuidado era redobrado. 

— Você demorou uma vida para colocar um biquíni, o que

foi? Dormiu? — Provoquei Juliana, que desfilou para fora com seu
corpão. Ela nem parecia que havia parido duas crianças em um

curto espaço de tempo entre elas.

— Estava me depilando. Poderia me perder ao tentar achar o


meu clitóris — murmurou e eu ri. Luna revirou os olhos de seu lugar

na piscina, segurando Anna na boia e vigiando Amália com as


bonecas na parte rasa.

— Eu me depilei antes de vir, está tudo tranquilo por aqui.

— Vocês se depilam por que gostam ou por que os maridos

de vocês pedem? — Luna estava curiosa. Juliana bufou e eu ri. Se


Luna soubesse...

— Enzo que se depile se ele não gosta de pelos, faço isso

quando estou a fim. Prefiro sem, não totalmente sem, mas bem

aparada, lábios depilados e as vezes vario entre um retângulo fino


como uma pista de pouso ou um triângulo. No começo do meu
casamento eu ainda me preocupava, mas depois... — Sorriu torto.

— Ele que se dane. É engraçado o quanto a gente casa cheia de

ideias. Eu tive uma criação de que o meu corpo era para agradar o

meu marido. Era muito paranoica com a minha imagem e o meu

peso, hoje em dia é a última coisa que eu penso. Coitado de Enzo

se fizer qualquer comentário.

— Damon nunca me pediu nada. Nunca falamos sobre isso.

Acho que ele sabe que eu vou depilar a bunda dele com cera

quente se exigir que esteja depilada. Gosto sem, mas se não fizer

por estar ocupada ou com preguiça, ele nunca disse um a sobre o

assunto. Tenho costume de me depilar, mas eu já fiquei semanas

sem por pura preguiça e ele nem ligou. Por que? Enrico pediu para
depilar?

— Como se ele tivesse visto algo lá. — Luna revirou os olhos.

— Só para saber. Eu não tenho nenhum parâmetro de como agir,

fico perdida. Se ele me pedir, o que vou dizer? Ele é o meu marido.

Juliana bufou e disse:

— Mande-o chupar um...

— PAPAI! — Amália gritou. 


Olhei para trás e os três estavam parados na porta. Enzo

abaixou para pegar a filha toda molhada e Aria ergueu o rostinho


sonolento de entre os meus seios, olhando para o pai, bocejou e

voltou a dormir. Eu amava essa menina. 

— Silenciosos filhos da puta — Juliana falou baixinho, me

fazendo rir. Luna estava de costas e a cutuquei com o pé, para


relaxar. 

— Mandar chupar o quê, Juliana? — Enzo se aproximou,

olhando para a esposa como se ela sentisse medo dele. Enrico


estava com o cenho franzido, olhando para Luna, que fingia que ele
não existia. Damon parecia prestes a falar merda e lhe dei um olhar

de aviso. Ajoelhando-se ao meu lado, me deu um beijo doce nos


lábios.

— Assunto de senhoras não é da conta de senhores. —

Juliana rebateu sem se abalar. — Oi, marido.

— Oi, esposa. — Enzo estava com as duas filhas no colo.

Aria não estava inclinada em acordar para falar com o pai. — Essa
aí puxou a mãe. Pensei que fosse chegar e ter a minha esposa

correndo para os meus braços... — Suspirou todo dramático. 


— Você é tão chato. — Juliana estava se fazendo de difícil

porque o joguinho funcionava para os dois. Eu estava mais que feliz


em estar nos braços de Damon. 

— Ei, principessa. Você não vai acordar? — Damon acariciou

a cabecinha cabeluda de Aria. Ela abriu os olhos, tomada de sono e


foi um dos momentos mais doces da minha vida. Se possível,
estava ainda mais apaixonada. — Tão perfeita. — Damon cheirou a

sua cabecinha. — E o nosso príncipe?

— Perfeito aqui dentro. — Sorri contra os seus lábios. — Está


tudo bem agora?

— Tudo no lugar certo.

Juliana e Enzo foram para o quarto com as meninas e eu


quase sufoquei para não rir quando Luna saiu da piscina e Enrico se

deu conta do biquíni minúsculo que ela usava. Damon fingiu beijar o
meu pescoço, mas estava rindo das veias salientes do irmão. 

Enrico pegou uma toalha e ofereceu para a esposa,


envolvendo-a de maneira possessiva e a levou para casa. Hum...

Ele iria surtar até que a barreira entre os dois se rompesse de vez. 

Meu marido se afastou e olhei para os seus olhos. Estavam


brilhando. Seja lá o que tivesse acontecido, agora ele estava bem,
feliz e eu imaginava o quanto o coitado do Enrico sofreu, preso entre
os dois primos idiotas que tinham um senso de humor distorcido e
pioravam ainda mais em situações extremas. 

Damon se inclinou e me deu um beijo. Estava surpresa que

ele não me cobriu na frente dos dois homens, mas parecia


orgulhoso em me exibir. 

O retorno dos nossos maridos foi celebrado com muita


comida, bebida, conversas e risadas que não parecia possível no

nosso meio. Sentada no colo de Damon, observei as meninas


brincando em um cobertor no chão. Pizzas e outros tipos de massa

espalhadas na mesa com garrafas de vinho, taças, sucos, frutas e


muito queijo. Podia imaginar muitas noites como aquela e no futuro,
o meu bebê estaria nos meus braços.

***

Damon me prometeu uma gestação tranquila e ele cumpriu.

Foram as trinta e oito semanas mais tranquilas da minha vida.


Fiquei um pouco estressada quando finalmente contei para a minha
mãe sobre a gravidez e ela imediatamente pegou um avião,

chegando com malas e todas as suas manias maternais antigas. 


Minha mãe nos deixou malucos, mas a chegada dela foi
divertida. Damon tinha mais alguém para encher o saco e eu para
descontar o meu humor esquisito.

Fiquei apaixonada por mim mesma na gestação, porque me

senti linda e toda a minha percepção de vida mudou. Quanto mais a


minha barriga crescia e o bebê mexia, mais Damon oscilava entre

um sentimento de proteção intenso, ciúme e uma paixão


arrebatadora. 

Quando a notícia que estávamos esperando um menino

vazou – porque até então, minha mãe conseguiu guardar segredo –

eu estava com oito meses, uma barriga enorme, pés inchados, um

humor de cadela e as pessoas corriam de mim.

O único que aguentava com amor era Damon. Ele aceitava os

meus rompantes com uma risadinha insolente que me dava muita


raiva. 

Quando ele ficava longe, precisando estar em Chicago, eu

morria de saudades, meus hormônios me faziam acreditar que a


vida estava acabando, mas quando ele voltava, era um dia só de

paz e amor. Logo ele começava a implicar, me chamando de

adorável mamute, porque eu fiquei enorme ou de linda hipopótama,


porque estava muito bruta e pesada. Não era brincadeira quando

dizia que fiquei enorme. 

Enrico adorava sentir o bebê mexer, mas ele morria de

nervoso da minha barriga esticada. Ele e a Luna levaram um longo


tempo, mas eu podia dizer que ele amava a mulher mais do que

tudo e nós havíamos formado uma família singular muito bonita.

Por tradição, Enzo e Juliana eram os padrinhos do meu bebê e


eu não me importava que fosse visto como algo político, porque eles

me deram os três presentes mais lindos do mundo e eu tinha o amor

daquelas meninas.  

— Ei, bella. — Damon deitou-se na cama. — Como está se

sentindo hoje? Adoravelmente grande, irritada ou apenas bem?

— Adoravelmente planejando a morte do meu marido —

murmurei sonolenta.

Ele riu atrás de mim e me deu um beijo no braço, deitando-se

e colocando a mão na minha barriga esticada. Já não usava mais

roupas de dormir, apenas um top de ginástica e calcinha, porque era

inútil manter roupas que me incomodavam e me deixavam


calorenta, mesmo com o tempo frio. 
O bebê se mexeu com o pai falando sem parar com ele,

pressionando onde chutava e estava vendo estrelas a cada

movimento.

Não estava me sentindo muito bem, estava com uma

sensação de cansaço, uma dorzinha nas costas e passei o dia

inteiro deitada. Eu ameacei a vida de Damon se ele não estivesse


presente no nascimento do nosso bebê, podia perdoar a noite de

núpcias, o nascimento do bebê não. 

Eu o queria ao meu lado no parto, não me importava que

estava cheia de exigências, apenas não queria passar pelo parto

sozinha.

Adormeci com seu carinho e acordei com uma sensação

dolorosa na barriga. Fiquei quieta, esperando o que ia acontecer e

quando senti uma contração e a minha calcinha muito molhada,


assim como a cama, sabia que era o meu trabalho de parto

começando.

— Damon... 

— Oi, bella. — Ele acordou. Nunca fui tão grata por meu

marido ter o sono leve. — A cama está molhada? 


— A bolsa rompeu — falei baixinho, sentindo que a dorzinha

estava se transformando em uma bola de neve que estava quase


me engolindo. — Preciso de uma toalha, me ajude a sentar, ligue

para a Dra. De Luca e por fim, acorde a minha mãe e Luna porque

elas querem passar o trabalho de parto comigo. 

— Pode levar horas.

— Pode não levar e pelo que estou sentindo, por favor,


vamos rezar que não leve horas... — grunhi e apertei o lençol. Cristo

Jesus, o que era aquilo? — Meu Deus.

Damon agiu rápido, correndo para o lado com agilidade e eu

registrei Luna entrando no meu quarto, toda descabelada, enrolada

em um roupão e ajeitando os travesseiros atrás de mim. Minha mãe

chegou com toalhas, bacias, garrafas de água e sentia que ia do


céu ao inferno, consciente do que estava acontecendo ao meu

redor, mas confiante em todas as pessoas no quarto. 

Tomei um banho para me refrescar e acalmar, fui amparada

por Damon e, nua, ele me segurou na bola, porque parecia ridículo,

mas aquilo ajudava mesmo. 

— A próxima vai ser cesárea — reclamei com lágrimas

escorrendo nos olhos.


— Você não vai querer. — A Dra. De Luca brincou. — Esse

momento, por mais doloroso que seja, é único. 

Eu não podia discordar. Era mágico o meu corpo em completa


transformação para o nascimento do meu filho. Damon me abraçou,

me beijando e eu lembrei do nosso primeiro beijo. Cinco anos

compartilhando a vida em todos os sentidos práticos da palavra. 

Ajoelhado na minha frente, com as mãos me equilibrando,

usando toda a sua força física e mental para me dar apoio, olhei em

seus olhos e apenas chorei. 

— Eu te amo tanto... — gritei de dor. — Ai meu Deus!

Damon me deu um olhar apaixonado que renovou as minhas

forças. 

— Você é tão forte, isso é tão incrível... — Ele não estava


chorando, mas eu podia sentir a emoção na voz. — Você me enche

de orgulho. Eu te amo, Giovanna — falou muito baixo, mal consegui

ouvir e sorri. — Em pouco tempo estaremos com ele em nossos


braços.

Voltei para a cama para ver a minha dilatação e estava pronta

para empurrar. Escolhi uma posição meio sentada, meio de cócoras,


com Damon me segurando atrás. Luna estava responsável por
fotografar todo o parto, porque eu gostaria de relembrar os

momentos com calma e escrever no meu diário de gravidez toda a


minha experiência. 

Minha mãe ficou de lado, me dando apoio e a Dra. De Luca,

assim como duas enfermeiras-parteiras, estavam no quarto. 

Damon contratou duas ambulâncias, uma neonatal e outra

comum, de ponta, com todos os equipamentos necessários para


salvar a mim ou ao bebê se fosse necessário. Ele também insistiu

em um ambiente esterilizado, que seria dentro da ambulância, para

um pediatra – que já deveria estar aguardando o nascimento –

examinar o nosso menino assim que nascesse. 

Não sabia de onde estava tirando forças para empurrar, mas

eu conseguia cada vez que era necessário, com Damon


sussurrando palavras de incentivo e me segurando tão próximo que

poderíamos ser confundidos com um só. Naquele momento ele não

era o homem capaz de matar todas aquelas pessoas em um piscar


de olhos. Ele era um marido e um pai.

— Só mais uma vez. — A Dra. De Luca incentivou, empurrei

com tudo que tinha e senti uma pressão esquisita na barriga até que
ouvi o choro estridente do meu filho. 
Não podia acreditar na criança que foi colocada em cima de
mim. Ele estava todo gosmento, tinha tanto cabelo que me deixou

surpresa e até aquele momento, me fazia lembrar do pai. Sua boca

estava aberta, gritando e consternado.

— Oi, meu amor — chorei segurando. — A mamãe está

aqui... sempre estarei aqui, meu filho. — Segurei a sua mãozinha.


— Você é tão perfeito! — Meus olhos não paravam de escorrer

lágrimas.

Olhei para Damon e ele estava congelado. Seu olhar era


intenso na criança em cima de mim e então, ele sorriu. O sorriso

que me dizia “eu te amo” sem palavras, que me fazia sentir a mulher

mais incrível e poderosa do mundo. Nós dois sorrimos para o fruto


do amor tão intenso que construímos ao longo dos anos.

Dra. De Luca precisou terminar comigo e eu pedi para Damon

acompanhar o nosso bebê na consulta, então minha mãe assumiu o


seu lugar. Estava exausta, mas a dor não existia mais, só um

gigante desconforto. Os lençóis foram trocados, a cama arrumada e


eu tomei um banho com apoio, me sentindo incerta. 

Minha obstetra me deu uma medicação e soro, alegremente


satisfeita que eu estava me sentindo tão bem quanto poderia estar
após horas de trabalho de parto. 

— Está tudo bem com o bebê? — perguntei para a Luna.

— Até onde sei, sim. Eles te avisariam se algo estivesse


errado. — Me confortou e assenti, me sentindo ansiosa por estar

longe.

— Teremos que ir ao hospital? — questionei a minha médica.

  — Não por mim, você está sem hemorragia, reagindo


perfeitamente bem e lúcida. Vou te observar nas próximas horas e

agora, tudo o que você precisa é do seu bebê. 

Nina e outras mulheres da família entraram para abrir o quarto


e fiquei chocada que estava de dia. Enquanto me concentrava no

parto, não vi a hora passar. Elas limparam tudo, sem fazer parecer
que houve um nascimento ali. Estava quase levantando quando
Damon voltou com o nosso menino, limpo e calmo, envolvido em

uma manta azul escura.

— Ele foi pesado, examinado, lavado e cutucado, mas como


é um Galattore, é forte como um touro... — Sorriu de um jeito

traquina. — E tem um pau enorme. — Me provocou e revirei os


olhos, esticando os braços. Todos saíram para nos dar privacidade.
— Giovanna...
Damon colocou o nosso menino em meus braços.

— Não tenho palavras para dizer o quanto essa experiência


foi única e avassaladora. Nunca mais vou duvidar o quanto você é

forte, corajosa e apaixonada. Obrigado por dar à luz ao meu filho. Te


amo muito. — Me beijou e minhas lágrimas voltaram a cair como
cachoeira. — Olhe só para ele...

— É tão perfeito. — Segurei a sua mãozinha.

— Ele é... assim como o pai. — Soltou e fiquei bem séria. —


Tá bom, como a mãe. — Bati em seu braço.

— Meu filho... vai se acostumando, seu papai tem um humor

muito estranho. — Beijei a sua cabeça. — Quanto cabelo...

— E então? Qual vai ser o nome, você ficou de me dizer a


sua escolha quando ele nascesse... — Me olhou, cheio de

expectativas. Damon e eu separamos milhares de nomes,


brincamos com a grafia e a pronúncia. Chegamos a duas opções
que ele gostava muito e eu fiquei com o desempate.

— Nino Francesco Di Galattore.

— Eu vou te ensinar a pegar garotas e a chutar bundas. —


Damon se inclinou e pegou o pezinho de Nino, que estava
acordado, mas calmo. Ele abriu os olhos, para o nosso deleite. —
Sabia que ia gostar de ouvir isso.

— A mamãe vai te ensinar a não ouvir o seu pai.

Aquele era só o começo de muitos momentos da nossa


família. A verdadeira família.

 
Epílogo | Damon.
 

A risada infantil e gorgolejante do meu filho me fez desviar os

olhos do oceano para a sua forma minúscula, andando de um

jeitinho engraçado, com as mãos sujas de areia e as pernas

gordinhas afundando. Ele era um menino robusto, mas bem

grandinho para sua idade. 

Com pouco mais de um ano, Nino mostrava a sua

personalidade extremamente exigente, o humor volátil e o sorriso

fácil. Ele tinha muito de mim, o que era assustador e irritante. Mais
do que nunca entendia o motivo pelo qual os meus pais eram tão

estressados.

Meu filho era parecido comigo, mas tinha os olhos da mãe.

Seus cabelos eram escuros e a pele morena, mas o castanho era


mais claro que o meu, como o dela. Ele tinha poucos momentos de

gentileza, a sua natureza era bruta e tinha a mãe como objeto de

adoração. Por mim, estava tudo bem. 

Giovanna era o meu objeto de adoração também. 


Além dela, ele idolatrava a Tia Una e era apaixonado pelo Tio
Ico. Mesmo pequeno, ele entendia a nossa conexão familiar e era

amado por todos.

Nino sorriu, pegando uma concha e quis enfiar na boca.

Giovanna falou um não firme, bem baixo, abaixando a mãozinha

dele. Com raiva, jogou a concha longe. Suspirei. Oh criatura, que

mal tinha nascido e tinha um gênio. Giovanna me encarou com a


sobrancelha arqueada e encolhi os ombros. 

Ela estava linda, com seu biquíni azul escuro e seu corpo

maravilhoso. 

Giovanna emagreceu muito rápido após a gestação. Todo

processo de amamentação, noites sem dormir e a falta de


habilidade com um bebê recém-nascido, fez com que perdesse

muito peso, ao ponto de deixar a médica preocupada. Minha mulher

era a criatura mais teimosa do universo, a maternidade a deixou

intensa, extremamente ansiosa e isso fez mal à dinâmica da nossa

casa. 

Não que Nino não nos fez ser intensos. Nós não dormimos os

primeiros meses. Ele era o bebezinho mais lindo do mundo e a

coisinha mais terrível também. Todas as técnicas pareciam não dar


certo e era como se ele zombasse da nossa cara, dizendo

“pensaram que ia ser fácil?”. 

Giovanna não lidava bem com a frustração e a privação de

sono a transformou em um monstrinho. Ainda bem que a mãe dela


veio ao nosso socorro e todas as vezes que precisamos, Luna

tomou conta do bebê com amor. Minha cunhadinha ninfa bebê era
uma parceira e tanto nas noites sem dormir. Até a minha irmã

bancou a babá para que pudéssemos dormir.

Sabia que um homem não derrubaria o meu comando, mas


um bebê sim. Nino me deixou tão estressado que eu estava muito
volátil no trabalho. Quando ele começou a dormir a noite toda,

começou o inferno dos dentes coçando. Cada vez que superávamos


uma fase que não parecia ter fim, aparecia outra. 

Felizmente, com o tempo, Giovanna voltou a engordar,

alcançou o peso ideal e ficou mais segura com a maternidade. 

Superamos tanto que estávamos pensando em mais um.

Tínhamos sérios problemas porque com Luna quase parindo, seria


loucura ter outra criança, mas quem se importava?

Nino gritou de alegria quando uma onda estourou e saiu

correndo para o mar. Sua mãe o puxou de volta pela sunga


recheada de fralda. Ele protestou, batendo as pernas e virou para

ela com um olhar irritado. Giovanna o agarrou e espremeu nos


braços, enchendo-o de beijos que ele não fazia outra coisa a não

ser rir e se deleitar de amor. 

Amor.

Pensei que essa palavra me levaria ao caixão, mas ela me

deu vida e muita força. Por amor a eles, eu me tornei um homem


diferente, um homem capaz de dar a vida pela família e fazer

sacrifícios inimagináveis. 

Entre alguns ataques aqui e ali, nós estávamos sobrevivendo,


mantendo o nosso território e os nossos negócios em
funcionamento. Cada dia que passava, me tornava mais forte e eu

sabia que essa força vinha de um pequeno serzinho, que


atualmente tentava correr da mãe para o oceano que ele tanto

amava.

A pequena enseada era o nosso lugar favorito do mundo.

Nino amava o mar e eu lembrava a primeira vez que entrei

com ele, com Giovanna quase morrendo na areia, querendo


arrancar a criança dos meus braços e sair correndo, mas ela confiou

em mim. A minha leoa.


Giovanna se tornou ainda mais feroz depois do nascimento
de Nino.

Diana ergueu a cabeça do canto, na sombra. Ela passou a


nos seguir, logo que descobriu o caminho. Não importava a

distância, ela ficava onde Giovanna ficava. A conexão era


impressionante. 

Alguns dos soldados relataram que ela ficou muito agitada


durante o trabalho de parto de Giovanna e a cadela era tão forte,

que protegia Nino. Zeus e Apolo chegavam perto dele apenas com o
aval dela. Qualquer soldado que se aproximasse de Nino sem

acariciar Diana primeiro, ela avançava.

Ou Giovanna avançava. A mordida das duas doía.

Olhei a hora e peguei o pote com a papinha de frutas dele.

— Vem aqui, Nino — chamei e ao ver a comida, correu,

caindo de joelhos. Logo se levantou, jogando-se em mim. 

— Papai! 

— Oi, bambino.

— Ida.

— É, comida. — Enchi a colher e lhe dei. Meu pequeno

aceitou de bom grado, mastigando os pequenos pedaços e sorriu,


logo que engoliu. 

Giovanna suspirou, toda apaixonada e olhei em seus olhos.

— Não importa quanto tempo passe, sempre vou amar vocês

dois assim. — Sorriu e ergueu o rosto, apreciando o sol. 

— Não importa o quanto o tempo passe... eu sempre vou te


amar. 

Ela se inclinou sobre mim e me deu um beijo.

— Para sempre.

 
FIM
Continua em Perigosa Tentação.

 
 

S O B R E   A   A U T O R A

Mari Cardoso, é como se chama a autora nascida no litoral


fluminense, no início dos anos 90. Com a mãe professora Mari
sempre teve aguçado o amor pelos livros. Em 2019 iniciou sua

carreira como autora profissional, hoje possui duas séries em


destaque; Elite de Nova Iorque e Poder e Honra.

Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o romance


Perigoso Amor.

Ela possui algumas histórias publicadas na Amazon.

Suas redes sociais:

http://www.instagram.com/autoramaricardoso

http://www.twitter.com/eumariautora

http://www.maricardoso.com.br/

 
AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda

profissional da revisora Dani Smith, da betagem sensível da


Augusta Pacheco e Paula Guizi. Agradeço imensamente o apoio
destas mulheres no período de construção dessa história assim

como a força e incentivo da minha amiga Gabrielly Moretti. Não


poderia deixar de fora a torcida das minhas leitoras em nossos
grupos de contato e o carinho excepcional (e paciência) da minha

amada mãe nos dias de muito trabalho.

Gratidão eterna.
NOTAS

[1] Juliana Rafaelli – Perigoso Amor.


[2] Jackson Bernard – Curvas do Destino
[3] Sienna é personagem da série Elite de Nova Iorque.
[4] Mais detalhes sobre o personagem, em Perigoso Amor e Coração

Perigoso.
[5] Callum personagem do livro Diga Que Me Ama.
[6] Personagem da Série Elite de Nova Iorque.
[7] Personagem da Série Elite de Nova Iorque.

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