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PERIGOSA

TENTAÇÃO

2020
1º EDIÇÃO
© M.C Mari Cardoso
Informações
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
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sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de citações, resenhas e
alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais é
apenas espelho da realidade ou mera coincidência.

Capa: Mariana Cardoso.


Imagem licenciada pela Adobe.
Título da obra: Perigosa Tentação.

Copyright © 2020 por Mariana Cardoso


Prólogo
Luna.
Meus joelhos estavam doendo, mas eu mantive os meus braços
segurando os meus seios, cobrindo a vergonha que sentia de estar nua,
ajoelhada em um punhado de feijão, controlando a respiração para não
grunhir de raiva, dor e humilhação. A toalha molhada atingiu as minhas
costas mais uma vez e me encolhi, murmurando uma oração muito baixa,
pedindo que aquilo acabasse logo.
Eu a odiava tanto.
— Peça perdão a Deus por ter feito um homem correto pecar. —
Minha tia bateu com a toalha nas minhas costas mais uma vez e murmurei. —
Não ouvi, Luna. — Bateu-me mais uma vez. Fechei os meus olhos,
humilhada. Eu não fiz nada, por que tinha que pedir perdão?
Foi o marido dela que saiu e voltou cheirando a outra mulher. Eu não
fiz nada.
— Perdão, Deus. Não tive a intenção de fazer um bom homem
pecar. — Falei baixo e respirei fundo. Homem bom? Meu tio era um
assassino da máfia, como ele poderia ser um homem bom ? Ele não tirava os
olhos de mim se usasse qualquer roupa minimamente reveladora. Era um
tarado pedófilo com tendências incestuosas.
Definitivamente não era do tipo bom.
— Nunca mais use aquelas roupas de prostituta. Eu queimei todas e
espero que use apenas as que separei para você. — Ela puxou o meu cabelo
de um jeito doloroso. — Não vou dividir o meu marido com você. Me
agradeça, eu te protejo de algo pior, então, não faça nada. — Sussurrou e
assenti, eu não queria fazer nada. Era óbvio. Eu tinha nojo do meu tio e muito
medo, eu não queria o seu toque e contava os segundos para sair de casa.
Minha tia saiu, fechando a porta silenciosamente e trancou. Ela nunca
agia com violência. Era silenciosa como uma cobra, maldosa e ciumenta. Ela
não me recebeu muito bem, foi obrigada a me aceitar em sua casa a pedido da
antiga esposa do chefe , a Amber Rafaelli. Quando os meus pais morreram na
Itália, eu tinha oito anos, a Sra. Rafaelli me trouxe pessoalmente e pediu com
muito carinho que os meus tios cuidassem de mim.
Meu pai foi um subchefe muito bem conceituado. Lembrava da noite
que eles morreram, saíram para jantar e na volta, sofreram um acidente de
carro e não sobreviveram. Meu tio me aceitou na ânsia de talvez assumir o
lugar do meu pai ou atingir uma boa posição em Nova Iorque. Ele realmente
ganhou um punhado de soldados para comandar e a posição na Itália foi
assumida por outra pessoa. Minha tia tinha uma filha pequena e ela
claramente se ressentia por ter que cuidar de mim.
Me levantei do chão e acariciei os meus joelhos. Me olhei no espelho e
chorei, ressentida com a minha própria imagem. Vesti a minha calcinha e o
sutiã, passando a camisola de mangas longas pela cabeça. Tia Selma trancava
a porta do meu quarto toda noite e abria pela manhã, quando me acordava
para começar a limpar e cozinhar.
Me joguei na cama, abraçando o meu travesseiro, com os olhos
cheios de lágrimas e elas escaparam sem que tivesse controle. Não sabia
quanto tempo poderia suportar. Só um marido poderia me tirar de casa e eu
não sabia se seria uma liberdade ou mais uma prisão.
Não me importava que fosse outra prisão contanto que saísse da casa
dos meus tios.
Na Itália
meses antes.
Enrico.
Fui treinado para não demonstrar emoções, não lembrava se chorei
alguma vez na minha vida e definitivamente não tinha problemas em sentir
dor. Cresci na máfia, sabia que a violência corria nas minhas veias e não me
importava, porque eu gostava dela. A dor que estava sentindo naquele
momento... Não era nada boa. Senti a mão da Giovanna no meu ombro e ela
encostou a cabeça em mim, querendo me abraçar. Passei o braço pelos seus
ombros e ela me agarrou, com o rosto molhado de lágrimas.
— Está tudo bem, Gio. — Garanti porque ela estava derretendo ao
meu lado.
Damon estava segurando a mão da minha mãe e olhando fixamente
para ela. Seu peito subia e descia devagar com a ajuda dos aparelhos. Ele
beijou a sua mão pálida e a minha mãe abriu os olhos. Um sorriso cresceu
lentamente em seus lábios e os seus dedos acariciaram o rosto do Damon com
carinho. Ela o criou. Ela nos criou .
— Enrico? — Me chamou baixo.
Giovanna me empurrou para frente tão bruscamente que fiquei
surpreso sobre o quanto ela era forte. Parei ao lado da cama da minha mãe e
peguei a sua outra mão, beijando em seguida. Observei a sua mão pequena e
delicada contra a minha pele tão clara quanto a sua, cheia de tatuagens e a sua
outra mão, contra a pele morena e toda pintada do Damon. Sentei-me na
cadeira e seu rosto virou contra o meu.
— Meu filho...
— Poupe as suas forças, mãe.
— Case-se, ame a sua esposa, cuide bem dela e tenha filhos. Tenha a
família que nós não tivemos... — Tossiu e as máquinas apitaram.
— Mamma , por favor...
— Me prometa. — Ela insistiu. — Vocês dois, me prometam agora
que independente de tudo, terão uma família. — Pediu com toda a sua força.
— Eu prometo, mamma . — Damon foi firme, me dando um olhar
para prometer logo. Ele queria o quê? Para ele era fácil, era casado e tinha a
obrigação de ter filhos para continuar a sua linhagem. Não queria me casar e
ter filhos.
A minha mãe não podia morrer sem a paz de espírito. Se ela queria
uma promessa, eu poderia dar. Se iria cumprir, era uma história
completamente diferente.
— Prometo, mamma .
— Amo vocês, fiquem sempre juntos, protejam um ao outro e sejam
uma família. E você, Gio, minha doce menina... — Giovanna se aproximou
da cama. — Não chore, minha princesa. Cuide desses meninos.
— Eu vou cuidar e nós sempre ficaremos juntos, não importa o quê.
— Giovanna garantiu. Ela parou ao lado do Damon, que com sua mão livre,
segurou a dela e em seguida, Gio esticou a mão para a minha.
Minha mãe estava muito fraca, respirando com dificuldade e não levou
muito tempo até que seus olhos se fecharam e ela finalmente descansou a sua
dor de uma vida sofrida.
01
Luna.
A pequena biblioteca da antiga casa dos meus tios era o meu lugar
favorito. Ninguém entrava ali, exceto se houvesse convidados para o jantar e
o meu tio costumava trazer os homens para fumar charutos. Os livros eram
velhos e desatualizados, ninguém lia em casa. Exceto eu e eu já tinha lido
todos. A companhia silenciosa e o não julgamento dos livros era o que me
trazia paz. Costumava ficar escondida atrás de algumas estantes. Era o meu
refúgio. Obviamente, eu só tinha autorização para ficar ali depois de limpar e
cozinhar.
Meu aparelho celular era muito antigo e não havia muito para me
entreter, então, eu desenvolvi excelentes habilidades em costurar e bordar.
Sabendo disso, a minha tia me dava milhares de roupas para acertar, toalhas e
colchas para bordar. Ela dava de presente para as suas amigas como se
tivesse feito tal coisa e em todos os jantares, se vangloriava das suas
habilidades na cozinha.
Acho que ela não cozinhava desde os meus dez anos.
— Luna? — Minha priminha abriu a porta devagar. — Está aqui? —
Olhou ao redor. Ela não podia me ver do meu lugar.
— Estou aqui, Mia. — Falei baixo, desanimada e concentrada no
bordado a minha frente. Ela subiu a escada e sua cabeleira escura apareceu.
Sua mãe odiava que seus cabelos fossem cacheados, beirando a crespos e as
sobrancelhas grossas, enquanto eu era loira, de grandes olhos verdes e lábios
preenchidos. Nós duas compartilhamos o mesmo tom dos olhos e o corpo
com curvas, fora isso, éramos totalmente diferentes. Mia era linda, sua beleza
seria exuberante quando se tornasse uma mulher adulta, mas não era páreo
com a obsessão da sua mãe por mim. — O que foi?
Seus lábios tremeram.
— Eles vão te casar! — Gritou e se jogou em mim. — Não quero ficar
sozinha nessa casa! — Me abraçou apertado.
— O que você está falando?
— O chefe está vindo jantar essa noite. Ele e a sua esposa estão vindo
falar sobre um casamento com um homem importante da família de Chicago.
— Seus olhos estavam cheios de lágrimas. — O papai está furioso, ele não
queria te casar e a mamãe está preocupada sobre um possível casamento para
mim, porque você está indo embora com um homem de grande importância.
Ela acha que ele deveria ser prometido a mim e você deveria se casar com um
soldado.
— Irei me casar?
— É o que parece.
Não importava com quem iria me casar, eu estava desesperada para
sair dessa casa e não sabia quanto tempo poderia aguentar.
— Vai ficar tudo bem, Mia. — Acariciei o seu cabelo. Eu a amava,
mas eles eram os pais dela e queriam o melhor exclusivamente para ela.
Mesmo que seu pai fosse um idiota e a sua mãe narcisista demais, precisava
pensar em mim mesma e quanto mais velha ficava, mais riscos corria.
Não levou dois minutos para minha tia aparecer e falar bem baixo que
eu deveria me arrumar e ela escolheu a minha roupa, deixando separada em
cima da cama. Ela ordenou que a Mia me soltasse e a seguisse. Esperei que
elas saíssem antes de sair do meu lugar e recolher os meus bordados, dobrei
com cuidado e coloquei na caixa, empurrando na última fileira.
Andei com calma para o meu quarto e peguei o vestido bege claro,
longo e de mangas três quartos. Ele era horrível, tinha cor de merda e me
fazia parecer uma senhorinha apagada. Tomei banho, lavei o meu cabelo,
sequei e desejei ter um pouco de maquiagem, mas eu não era autorizada a
usar nenhuma. Me vesti com ódio e calcei as sapatilhas pretas, o meu único
par bom o suficiente para sair.
Saí do meu quarto e andei pelo corredor, descendo a escada e minha tia
estava ajeitando a gravata do meu tio, ele olhava para qualquer lugar, menos
para ela, que tentou dar-lhe um beijo e foi rejeitada. Mia usava um lindíssimo
vestido azul claro, sapatilhas rosas e seu cabelo estava domado com uma
trança espinha de peixe muito bem feita. Mia tinha apenas quatorze anos e
seu rosto era de uma menininha.
Parei atrás dela, com o meu olhar treinado para o chão e não levou
muito tempo para a campainha tocar. Meu tio abriu a porta todo pomposo e
um homem alto entrou. Ele era o chefe . Enzo Rafaelli. Foi impossível conter
o arrepio de medo que desceu pela minha espinha. Engoli seco e atrás dele
entrou a sua esposa. Juliana . Respirei fundo ao ver a sua beleza e classe,
usava branco e os cabelos estavam presos de maneira elegante. Com pouca
maquiagem e joias discretas, quase aplaudi o olhar de profundo desprezo que
deu à minha tia.
Juliana era poderosa. Uma mulher que tinha beleza, poder e muito
domínio sobre a nossa sociedade. Ela era o tipo de mulher que eu nunca seria,
mas, admirava com cada fibra do meu ser.
Enzo e o meu tio se afastaram para a biblioteca, sem dar satisfações,
porque eles eram homens e não precisavam. Eu queria entender por que um
pênis lhe dava poder. Tia Selma nos conduziu para a sala, apresentando
apenas a Mia com todo orgulho e pompa. Juliana foi simpática, mas o seu
olhar encontrou o meu.
— Você deve ser a Luna. — Juliana segurou as minhas mãos. — Feliz
em te conhecer. — Me deu um abraço e não consegui esconder a surpresa. —
Imagino que a sua tia tenha lhe falado o motivo dessa visita?
— Pensei que ainda seria feito um acordo. — Tia Selma falou meio
desajeitada. — Me pareceu que ainda haveria uma escolha. Mia ainda não
está na idade de se casar, mas podemos fazer um belíssimo acordo. Afinal de
contas, tenho certeza de que o noivo ficará feliz em não se casar agora.
— Se ele não quisesse casar-se agora, não existiria o porquê de uma
visita e a sua filha tem apenas quatorze anos e não está na idade adequada
para essa conversa. — Juliana virou-se lentamente e o seu olhar me deixou
assustada. Tia Selma ficou muda. — Luna é filha de um subchefe e a posição
do Enrico na família de Chicago é adequada para uma mulher da linhagem
dela. Não existirá qualquer outro acordo além desse, fui clara?
— Perfeitamente, senhora.
— Ótimo! — Juliana sorriu como se não tivesse feito uma ameaça
velada. — Então, Luna. Animada com o casamento? Sei que você só tem
dezessete anos, mas o noivado pode se estender até o seu aniversário de
dezoito ou dezenove.
— Eu ainda estou envolvendo a minha mente ao redor disso tudo, mas
será uma honra fazer o meu papel. — Falei a primeira coisa que veio à
minha mente. Podia sentir o olhar da minha tia me fulminando e fitei o chão,
ficando quieta. Eu não queria apanhar essa noite.
Quando os homens voltaram para a sala, foi anunciado que o meu
jantar de noivado seria na próxima semana e conheceria o meu noivo. Minha
tia recebeu elogios do jantar e não abri a minha boca. Comi em silêncio e
quando senti o peso de um olhar em mim, ergui o rosto e me deparei com os
olhos frios e avaliadores do homem mais poderoso que conhecia. Enzo estava
me observando com cuidado.
Seu olhar pesou e senti vergonha. Ele não estava me olhando com
prazer pervertido, apenas encarando e era muito assustador. Servi a
sobremesa com a minha prima e fiquei afastada, ouvindo a conversa até que o
Enzo ficou de pé, sua esposa em seguida e o seu olhar estava em mim mais
uma vez.
— O acordo foi selado com Chicago, em uma semana, a Luna estará
com a aliança de um membro do alto escalão da família nos dedos. Ela é um
dos símbolos da nossa aliança e particularmente, será mulher do homem de
confiança do meu primo, o segundo no comando, o que significa, que ele
também é da minha confiança e está no meu comando. — Enzo falou
diretamente com o meu tio. — Mantenha-a viva e segura. Nenhum fio do
cabelo fora do lugar.
— Nós sempre cuidamos dela como se fosse nossa filha. — Meu tio
garantiu.
Me esforcei para não bufar e olhei fixamente para os padrões
esquisitos do tapete horrível da sala para não esboçar nenhuma reação.
— Não é suficiente. — Enzo saiu com a sua esposa.
Lavei toda a louça, sequei e guardei. Minha tia me autorizou comer a
sobremesa no meu quarto e poderia lavar o prato no dia seguinte, quando ela
trancou a fechadura sem me bater, respirei aliviada e me joguei na cama com
o coração martelando no peito em me tornar esposa de um homem tão
poderoso. Nunca imaginei que seria tão valiosa para um casamento, o
máximo que almejava era um soldado de outra cidade, que pudesse me tirar
daqui.
Um homem de posição alta na família significava que tinha
visibilidade e dinheiro. Era tudo que a minha tia não queria para mim e
apenas para a sua filha. Eu entendia. Não era nada dela. Meu pai era irmão
mais velho do seu marido. Ela era apaixonada pelo meu tio e ele queria se
casar com a minha mãe... mas, a minha mãe foi dada ao meu pai e o Tio
Silvio foi obrigado a casar com a Tia Selma.
Um casamento de conveniência que não tinha amor. Tia Selma era
extremamente ciumenta e insegura. Ela me punia ao invés de punir o marido.
Ela me batia quando ele chegava cheirando a outra mulher. Era ele quem me
olhava com desejo, não o contrário e eu tinha dezessete anos, quem iria me
proteger?
Por uma semana, me fiz de invisível. Sempre desaparecia quando o
meu tio chegava e se eu não me fizesse presente, minha tia não ficava irritada
e eu dormia ilesa. Na manhã do meu noivado, ela me deu um batom quase no
fim e um dos seus vestidos mais velhos. Tentei costurar e fazer com que
parecesse algo remotamente mais jovem, mas não tive tempo o suficiente.
Deixei o meu cabelo solto e seco, passei um pouquinho de batom na
boca, não era bem uma cor que eu escolheria e meu rosto estava limpo de
qualquer maquiagem. Minha pele era bonita, quase não tive espinhas e
cravos, apesar de ter o meu corpo fora dos padrões esperados, eu sabia que
ele era muito bonito.
Minhas amigas da escola morriam com o meu corpo, ficavam
dizendo que eu era uma boneca pin up viva, com a cinturinha fina, uma
bunda grande e coxas que mulheres se matavam na academia para ter. Meus
seios eram de tamanho médio. Não era muito alta, tinha um metro e sessenta
e dois, cabelos loiros e olhos claros como a minha mãe. Meu pai era moreno,
alto, típico italiano sedutor e muito bonito.
Me arrumei com a Mia andando atrás de mim, ansiosa e querendo
saber se poderia passar as suas maquiagens, mas eu não queria atrair a fúria
da sua mãe para mim. Minha tia bateu na porta, avisando para descer e eu
podia sentir o meu estômago embrulhado de tamanha ansiedade.
Mia desceu na minha frente animada, sem entender que os homens
naquela sala eram letais e podiam causar um banho de sangue em um piscar
de olhos. No primeiro degrau pude ver meus tios, parados e forçando
expressão de orgulho. Me senti extremamente inadequada ao olhar para as
duas mulheres, esposas dos homens mais poderosas do nosso mundo. Juliana
usava um conjunto social azul escuro, seu cabelo preso de uma maneira
elegante e brincos que pareciam muito caros.
Sua maquiagem era básica, como se só tivesse saído da cama e
vestido aquela roupa incrível para vir jantar aqui em casa. Já a outra mulher
era mais ousada. Estava com uma saia branca social, de cintura alta, uma
blusa preta e um terninho rosa que ia até altura da sua saia. Suas pernas
estavam de fora. Era muito bonita, longos cabelos castanhos, um olhar
simpático, bem mais maquiada e exibia mais pele que a maioria das mulheres
costumavam (ou tinham autorização).
Seu marido estava ao seu lado, segurando-a de um jeito bem
possessivo. Alto, moreno, com uma expressão dura e olhos escuros que
pareciam ler a minha alma. Enzo estava me olhando também e então, separei
os meus lábios surpresa ao ver o homem que seria o meu marido. Ele era tudo
o que eu não esperava. Não fazia ideia porquê imaginei que o meu marido
seria velho e assustador. Na verdade, ele tinha um cabelo loiro escuro, uma
barba para fazer e os braços tomados de tatuagens, assim como as suas mãos.
Podia ver que algumas apareciam no seu pescoço.
Ele era muito bonito. Bem mais alto que eu, musculoso e
provavelmente deixava as mulheres derretendo suas calcinhas. Aquele
homem seria o meu marido. Eu estava... fascinada e apavorada.
Meus tios me apresentaram e tudo que ouvia eram as batidas
frenéticas do meu coração e a minha respiração. Quando ele pediu um
momento a sós na biblioteca, pensei que fosse desmaiar. Andei com calma na
sua frente e abri a porta, relaxando um pouco mais por estar no meu
lugarzinho favorito.
— Você gosta daqui. — Sua voz me fez pular. Ele tinha uma
expressão que era impossível de ler e seus olhos não revelavam nada.
— É o meu lugar favorito da casa. Costumo bordar aqui. — Ofereci
a informação e senti as minhas bochechas corarem.
— Você quer esse casamento?
— Sim, é uma honra. — Falei baixinho.
— A partir do segundo que deslizar a aliança em seu dedo, não
poderá voltar atrás. Será minha. Irei cuidar e proteger você.
Assenti porque havia perdido a minha voz.
— Preciso ouvir as palavras.
— Sim, eu entendi. — Falei baixo.
Ele enfiou a mão no bolso, tirou uma caixinha de veludo e abriu.
Meus olhos arregalaram com a ostentosa aliança acomodada entre as
almofadas. Era linda. Parecia de uma princesa. Fiquei hipnotizada, ele tirou e
pediu a minha mão. Estava tremendo e não conseguia controlar. Firmando os
meus dedos, deslizou a aliança e coube perfeitamente.
— Ela é linda, obrigada.
— Você tem um número de telefone?
— Sim, não está comigo.
— Irei te enviar uma mensagem, sempre que falar com você, me
responda.
— Sim... eu irei. — Balancei a cabeça de acordo.
— Quando deseja se casar? Se quiser esperar atingir uma idade...
— Dezoito está bom. — Corei pela maneira que o cortei. — Sinto
muito. Aceitarei a data que achar melhor.
— Se você quiser se casar depois do seu aniversário de dezoito anos,
assim será. — Ele falou calmamente, mas não parecia haver emoção na sua
voz. Era um casamento político e não por amor, eu não podia esperar mais do
que já estava ganhando e estava no lucro. — Marcaremos a data para o
primeiro final de semana após o seu aniversário.
— Obrigada. — Estava desesperada para sair daquela casa.
Ao voltar para a sala, o olhar da minha tia para a minha aliança foi
cômico e ela quase caiu no chão. Meu tio não me olhou, o que foi bom, mas
ele vacilou quando Enrico disse que teria um guarda-costas de Chicago
comigo o tempo inteiro, me levaria onde precisasse e me daria o que fosse
necessário, além de me proteger. Quase chorei de emoção. Não que ele
pudesse ver o que acontecia no silêncio do meu quarto, mas inibiria os
ataques ciumentos da minha tia.
Pela primeira vez, a minha tia assumiu que eu cozinhei todo o jantar
e a sobremesa. De repente, ela pareceu muito ansiosa em fazer um currículo
agradável sobre mim e eu não sabia qual era o seu jogo, mas não baixaria a
guarda porque não era de confiança. Mais de uma vez tentou sugerir que a
Mia estava pronta para ser prometida a um homem e precisei segurar a mão
da minha prima para que não reagisse. Não ia acontecer. Não enquanto eu
pudesse ter uma escolha sobre isso e quando me casasse, iria protegê-la no
que pudesse, mesmo à distância.
Minha vida estava prestes a mudar e eu estava muito ansiosa por
isso.
02
Luna .
Os meses se passaram em uma lentidão exagerada, gostaria que o
tempo colaborasse com a minha ansiedade e corresse como o meu sangue
corria acelerado de medo, sobre tudo do que poderia acontecer comigo se
permanecesse naquela casa por mais tempo. Minha tia odiava tanto que
estava me casando com um homem rico que me proibiu de aceitar quaisquer
presentes, o máximo que eu estava autorizada era permitir que o guarda-
costas de Chicago me levasse e buscasse na escola.
Faltavam dois meses para o casamento e eu estava cansada da minha
vida. As provas de vestido e saídas com a Sra. Rafaelli para resolver
pequenas coisas do casamento ou as chamadas de vídeo com a Sra. Galattore
eram os meus momentos favoritos, porque eu podia sonhar um pouco e
deixar a minha mente voar longe.
Em breve, faltava pouco.
Eu me fiz de invisível, jantando junto com a preparação do jantar,
limpando a casa com rapidez e me escondendo na biblioteca com as milhares
de roupas que a minha tia despejava em mim para consertar antes de ir
embora.
Estava fazendo porque eu precisava de uma ocupação, um tempo longe
e quando acabava, me encolhia na cama com a minha coleção muito surrada
de Crepúsculo. Eu amava os livros. Por muito tempo sonhei com um herói
entrando pela minha janela a noite, salvando a minha vida e me tirando de
casa. Na minha vida não existiam heróis, apenas monstros e estava tudo bem,
contanto que a minha porta não abrisse no meio da noite e meu tio não
cumprisse tudo que prometia com o olhar, ficaria tudo bem.
A minha aliança parecia ofender a minha tia, mas eu nunca a tirei. Eu
me orgulhava dela. Era linda, tão chique, algo completamente inatingível
para mim. Me apeguei a ela. Era a chave mágica que me tiraria daquela casa.
Uma noite antes de sair de casa, estava arrumando a mala quando a
minha tia entrou e pegou a maioria das minhas roupas, dizendo que eram
dela, que me emprestou e não me deu. Fiquei calada, se eu falasse, iria
explodir, então, me calar era a saída mais inteligente. No final, a minha mala
tinha mais livros do que roupas.
— Seja uma boa esposa, Luna. Seu marido tem direitos sobre o seu
corpo, deite-se na cama e deixe-o fazer o que achar melhor sem reclamar.
Não peça nada, apenas sirva e não envergonhe o nome dessa família. — Saiu
do meu quarto, dessa vez, batendo a porta.
Quis dizer que ao sair daquela casa, aquela família não seria mais a
minha. Desde que fiquei noiva, minha prima não estava mais autorizada a
ficar perto de mim e nós quase não podíamos conversar sem a sua mãe pairar
sobre nós como uma mãe galinha irritante.
Acordei na manhã seguinte bem cedo. Eu ia viajar no jato privado
que o meu futuro marido compartilhava com o seu irmão de criação. Meus
tios iriam de voo comercial, ganharam passagens na primeira classe como um
sinal de boa relação do Sr. Rafaelli e a sua esposa. Acho que eles não se
importavam se os meus tios viajariam em uma caixa de sapatos, só fizeram
porque tinham muitos olhos do público em nós.
Escolhi a minha melhor roupa, que era tão feia quanto todas, mal via
a hora de vestir algo decente. Passei um pouco de batom nos lábios. Mia me
deu escondido, era bem clarinho. Passei uma escovinha de sobrancelhas no
meu sabonete orgânico e escovei as minhas sobrancelhas loirinhas.
Com a falta de maquiagens e recursos, me tornei adepta a
tratamentos naturais, com coisas simples que tinha em casa e na cozinha.
Dei uma última olhada no meu quarto e percebi que não sentiria falta
de absolutamente nada. Com duas malas e uma mochila surrada, que
pertenceu a minha prima antes de ser dada a mim, desci a escada. Antonio, o
meu guarda-costas, estava na entrada me aguardando com a mão na sua arma
e o dedo no gatilho. Meu tio estava próximo, olhando-o desconfiado. Meu
guarda-costas não gostava do meu tio e eu me perguntava quem gostava.
— Nos vemos mais tarde, bambina . — Tio Silvio tentou me abraçar e
o Antonio ergueu a mão. Eu me encolhi no lugar, com medo da proximidade
do meu tio e do movimento brusco
— Não se aproxime.
— Ela é a minha sobrinha. — Tio Silvio levantou o tom da voz,
tentando assustar o Antonio. Odiei o tremor que senti, isso fez o Antonio
ficar ainda mais arisco e me levar para trás dele.
— Ela é noiva do Enrico di Fabrizzi e ele disse que nenhum homem
além dele tocará na sua noiva, não importa quem seja. Então, não encoste
nela.
Tio Silvio crispou os lábios, não falou nada, mas ele pareceu ter medo
do meu noivo e eu gostei disso. Nós saímos e o Antonio levou as minhas
malas para o carro e olhei para a porta, esperando que a Mia pudesse se
despedir de mim.
— Olhe para cima. — Antonio falou discretamente. Ergui o meu olhar
e na janela de um quarto de hóspedes, Mia estava acenando, chorando e colou
um papel que me amava. Meu coração partiu pela maneira que ela parecia
devastada e tudo que eu queria era envolvê-la em meus braços e prometer que
tudo ficaria bem.
— Eu te amo também, por favor, se cuide!
Mia precisava ficar segura. Eu ia fazer o que pudesse para mantê-la
segura, mesmo que isso significasse continuar vivendo com seus pais
horríveis.
Antonio abriu a porta e eu entrei, agarrada com a minha mochila e
temerosa. Sem um telefone para me distrair, peguei Eclipse, que era o que
estava relendo no momento. A viagem até o aeroporto foi silenciosa, ele
parou o carro em um lugar e deu a chave a um homem que deveria ser da
família de Nova Iorque, eles trocaram poucas palavras. Saí do carro quando
ele empilhou minhas coisas em um carrinho, ele tinha apenas uma mala
pequena e me perguntei se despachou as suas coisas antes.
O jatinho que nos aguardava era particular e de luxo. Seu interior era
como nos filmes. O avião do Christian Grey era nada comparado aquilo. Me
acomodei em um banco e Antonio sentou-se ao fundo. Uma comissária
simpática me ofereceu um monte de coisas e eu neguei, porque eu não tinha
dinheiro para pagar nada daquilo e não queria chegar constrangida,
precisando do meu futuro marido para quitar a minha dívida de voo.
Não aceitei nem água.
Li o voo inteiro, concentrada e mal vi a hora passar. Antonio me
avisou para colocar o cinto novamente, foi quando percebi as luzes e a voz do
piloto. Rapidamente me afivelei e o processo de pouso foi menos assustador
que a decolagem.
Esperei que as portas se abrissem para sair do meu lugar. Antonio
desceu primeiro e eu franzi o olhar com o tempo em Chicago. O céu ali
estava azul, diferente do tempo chuvoso de Nova Iorque.
Antonio foi direto cumprimentar o meu noivo. Ele estava parado
próximo a uma SUV, engoli seco, ele estava muito bonito usando uma calça
jeans preta, uma camisa branca ajustada, suas tatuagens chamavam ainda
mais atenção e seu cabelo loiro estava penteado para trás. Ele estava com
uma barba um pouco maior.
Seu olhar encontrou o meu e respirei fundo, nervosa. A porta de um
dos carros se abriu e a Sra. Galattore saiu, animada, praticamente pulando no
lugar e acenando como se fosse impossível não vê-la naquele short jeans
curto, tênis e uma camisa vermelha berrante, com o seu nome em amarelo
neon. Ela não era normal.
— Você chegou! — Gritou empolgada e veio saltando na minha
direção, mas tropeçou e o Enrico a segurou em um reflexo rápido. Ele a tocou
com familiaridade e definitivamente, não a machucou. Ela não se encolheu
com o seu toque e isso me fez sentir ciúmes. — Ops!
— Olá, Sra. Galattore.
— Pelo amor de Deus, não! A bruxa da madrasta do meu marido está
aqui em algum lugar? — Me provocou. — Já te falei, me chame de Giovanna
ou Gio. Ninguém além dos paspalhões ali me chamam assim. — Apontou
para os seus guardas e eles riram. Caramba. — Então... como foi a viagem?
Você vai ficar na minha casa e eu preparei um dos quartos para o seu dia da
noiva. Reservei tudo o que uma garota precisa ter no seu dia especial e se
quiser algo mais, é só me falar.
— Nossa, obrigada. — Aquilo era inesperado e um alívio, porque
estava preocupada em como iria me arrumar. Meu vestido e algumas coisas
do casamento foram entregues à Sra. Rafaelli e ela traria para a cidade.
— Ah, você quer falar com ele? — Apontou com o polegar para o
Enrico, literalmente zombando. Ou ela não tinha amor à vida ou todos eles
morriam de medo do seu marido. Apostava a segunda opção.
— Giovanna, espere no carro. — Enrico falou firme, ela revirou os
olhos e foi para o carro. Um olhar se passou entre eles, como se houvesse
uma conexão e eu senti... inveja. — Seja bem-vinda, Luna. — Olhei para o
seu rosto e quis olhar em seus olhos, mas ele estava protegido pelos óculos
escuros.
— Obrigada. — Murmurei segurando a minha mochila contra o meu
corpo.
— Como a Giovanna disse, ficará hospedada na casa dela e será
preparada para o casamento lá. A minha casa é na mesma propriedade e um
pouco mais distante da área principal.
Hum, eles moravam todos juntos? Isso era confuso e interessante.
— Tudo bem.
Sem falar mais nada, abriu a porta do carro e eu entrei. Giovanna
estava digitando freneticamente no seu telefone celular. Antonio entrou no
banco do carona e o Enrico no do motorista. Giovanna colocou o cinto e eu
fiz o mesmo, mas nenhum dos dois na frente fizeram isso e o meu futuro
marido dirigiu em alta velocidade.
Não foi uma viagem silenciosa porque a Giovanna não parava de falar.
Ela era muito divertida e parecia uma tremenda bola de energia, apesar de
estar me sentindo muito oprimida e confusa com tudo que estava acontecendo
porque eles agiam de maneira muito diferente da que fui criada. Giovanna,
obviamente, ultrapassava todas as linhas com o Enrico.
Ao chegarmos na propriedade, a primeira coisa que reparei era que era
um terreno enorme. Me controlei para não arfar com a mansão que estava
à minha frente. Haviam outras casas, uma era da segurança, outra era dos
guardas, haviam alguns arbustos e, no rápido tour que a Giovanna me deu,
mostrou o seu lindo jardim , a piscina da sua casa e apontou a direção que
ficava a minha casa, que da dela, não dava para ver.
— Enrico sempre foi muito reservado, antes era um descampado
imenso e eu imaginei que mesmo sendo uma família, nós poderíamos
apreciar um pouco de intimidade ao redor das nossas casas. — Comentou
comigo e pegou a minha mochila, colocando em uma mesa da sua varanda.
— Vem, estou louca para mostrar a sua casa. Duvido muito que o Enrico fará
a apresentação adequada ao trabalho que foi.
— Trabalho?
— Ah, não era que a casa era feia, mas precisava de alguns cuidados e
imaginei que você amaria ter a sua própria casa. — Sorriu e depois ficou
séria. — Espero que você goste, ele ainda não confiscou a minha chave, mas
não sei se já mudou o código do alarme.
— Ainda estou confusa.
— Ah... O Enrico cresceu nessa propriedade, mas ele se mudou
quando o meu marido se mudou e desde então, eles vivem juntos onde quer
que fosse. Desde que nos casamos, viemos morar aqui e o Enrico voltou para
a casa que era da sua mãe.
— Ele tem uma mãe? — Me apavorei com a ideia de ter uma sogra. A
mãe da minha tia era um pesadelo e eu não fiquei triste quando faleceu.
Giovanna ficou triste.
— Não, ela faleceu há alguns meses e foi muito triste. Os meninos não
vão assumir, mas eles ficaram muito abalados. Era uma mulher muito boa e
gentil, você iria adorá-la.
Nós paramos em frente a uma casa de dois andares que parecia a cópia
perfeita de uma casa de boneca italiana no meio de algumas árvores e
arbustos, era possível ouvir o som da água. Giovanna mostrou que eu tinha o
meu próprio jardim e a minha piscina, era tão bonita e privada quanto a sua.
Não havia visão externa da propriedade e eu me senti em um cantinho
aconchegante e bem privado.
Os tijolinhos, o telhado e os arcos me fizeram sentir na minha casa na
Itália, que eu nunca mais pisei desde que os meus pais faleceram. A porta era
de madeira escura, os tijolos ornavam perfeitamente e as janelas eram
grandes e provavelmente havia muita claridade dentro da casa. Os degraus
eram bonitos, de mármore e nós subimos. Ela enfiou a chave na porta, girou e
um alarme suave disparou logo que abrimos. Era bem baixo. Giovanna
digitou e respirou aliviada quando parou.
Não podia acreditar que aquela casa era minha. Era um sonho. O meu
sonho. A sala era espaçosa, tinha um sofá grande, em formato de L, era de
couro preto e almofadas coloridas que eu fiquei apaixonada.
— Enrico quase me afogou quando eu coloquei as almofadas
coloridas, mas ele escolhia tudo cinza, preto ou branco, essa casa iria parecer
um mausoléu. Você me disse que gostava de coisas coloridas e eu fuxiquei o
seu Pinterest. — As bochechas dela ficaram vermelhas por confessar que deu
uma olhada nas minhas preferências. — Deixei as paredes sem nada para que
você possa decorar do jeito que quiser. Enrico tinha quase nada de cozinha e
eu comprei as coisas iguais a minha, mas se você quiser trocar tudo, podemos
doar para alguém e comprar tudo novo.
Deveria ser muito bom ter dinheiro. Giovanna era alguém que cresceu
muito bem cuidada, ela falava bem, tinha postura, seu cabelo era perfeito e o
seu rosto de uma mulher que sabia se cuidar. Ela era bonita, em forma,
cheirosa e chamava muita atenção. Eu não tive a mesma criação que ela.
Passamos pela sala de jantar, a mesa de madeira pura era até bem
moderna e parecia muito pesada. Giovanna explicou que a ideia de layout
aberto da sala de jantar com a cozinha foi para manter um bom espaço ou
ambos os ambientes ficariam muito pequenos. Ela cuidou de toda a reforma e
podia dizer que tinha um bom gosto, tudo era muito bonito, muito caro e
remetia muito à Itália. A minha cozinha era luxuosa e eu tinha um forno a
lenha na varanda, ao lado da churrasqueira, uma mesa em um pátio coberto e
então, vinha o jardim e a piscina.
O escritório do Enrico estava fechado e ela não abriu, então, eu
também não o fiz. O escritório dos homens da família era um lugar muito
reservado e eu não queria ser intrometida.
— Não tinha muito espaço para fazer uma biblioteca, sempre que
quiser ler ou ficar em uma, você é muito bem vinda na minha casa. Costumo
passar as tardes lendo ou tentando fazer alguma arte. Descobri que não sou
boa com a pintura, com argila, nada que precise de coordenação motora ou
muita atenção porque a minha mente voa longe. E ah, o jardineiro odeia que
futuque as plantas dele, eu tentei e ele reclamou com o meu marido e tive que
parar. — Explicou e eu ri. — Estou casada há anos e eu ainda não sei
exatamente no que sou boa. Eu cozinho muita comida, acabo alimentando a
propriedade inteira. Enrico costumava jantar conosco toda noite ou pegar um
prato de comida e sumir. Com você aqui, vou sentir falta disso.
— Espero que possamos jantar juntas muitas vezes.
— Eu também! Às vezes eu fico muito sozinha, principalmente aqui
em Chicago. Lá na Itália eles passam muito tempo na propriedade e eu fico
andando atrás. Aqui eu não tenho saco, porque é muito cansativo ficar a noite
inteira acordada e eu amo dormir.
Soltei uma risada, achando graça.
— Espero que goste. Eu queria que você amasse a casa, então... —
Giovanna empurrou a porta. — Enrico me disse que a biblioteca era o seu
lugar favorito na casa dos seus tios, logo, eu coloquei essas estantes do chão
ao teto para dar espaço a muitos livros. A escada é firme, pode subir, eu
coloquei todos os homens mais pesados para testar. Damon e Enrico ficaram
fazendo estripulias nela para ver se quebrava, ela aguentou, então é seguro
para você. — Explicou e eu fiquei parada. Era um espaço relativamente
pequeno, mas era o suficiente para mim. A parede do fundo era a estante de
livros, a da frente uma janela, com um móvel branco de ponta a ponta com
muitas gavetas e o que me fez quase chorar foi a mesa de costura. — Ah, ele
disse que você bordava. Na prova de vestidos, subornei a sua priminha para
me contar o que você gostava sem que sua tia ouvisse, desculpa, mas ela não
deixava você falar e eu estava desesperada para saber mais.
— Não tem problema, a Mia é um amorzinho mesmo.
— Ela me contou que você é muito boa em costuras e que gostava, que
tinha o sonho de criar suas próprias roupas. Acho que exagerei e o Enrico
disse para que você escolhesse um manequim, se precisar de um vivo, estou a
sua disposição. Preenchi as gavetas com tudo que encontrei sobre costura e
bordado. — Ela abriu e eu fiquei muito... sem palavras. — Alguns tecidos
comprei em Paris e outros em Milão, mas eu não entendo nada. Alguns
encomendei na internet.
— Giovanna... isso é incrível. — Minha voz saiu até estrangulada de
tamanha a minha emoção. — Muito obrigada!
— Ah, que isso. — Sorriu desfazendo. — Espere para ver o seu
closet!
Meu Deus, ela era maluca!
E por algum motivo muito insano, eu finalmente me vi em casa.
Casa.
Eu tinha a minha própria casa.
03
Enrico.
— Qual foi a parte que eu disse para a Giovanna não levar a Luna na
minha casa que ela não entendeu? — Bufei para o Damon, olhando pelo
aplicativo do meu celular e as duas estavam andando pela casa. Recebi o
alerta logo que elas se aproximaram da entrada. Damon riu da sua cadeira,
com os pés para o alto e jogou um dardo no painel.
— Eu disse a você para não dar a chave da sua casa e o código de
entrada para a Giovanna.
— Ela jogou na minha cara que eu tenho acesso a casa de vocês e
que faz bolinhos de amêndoas para mim.
Damon soltou uma risada e eu quis socar a cara dele.
— Os bolinhos de amêndoa são os favoritos dela. Ela faz porque ela
gosta de comer e não tem nada a ver com você. Caiu em um beicinho. —
Sorriu torto. — Qual o maldito problema? Ela estava tão ansiosa com a
chegada da Luna que não dormiu. Eu tive que fingir que estava roncando
para ela calar a boca.
— Não sei qual é o problema.
— Então não reclama, dor na bunda. Hoje à noite vamos ao clube?
— Não quero uma despedida de solteiro.
— Foda-se, vai ter. Vão te chamar de bucetinha por não ter uma, não
foi isso que você me disse?
— Sabia que ia jogar na minha cara. Você ficou bêbado pra caralho,
não sei como não morreu. — Soltei uma risada com a lembrança.
— Meu fígado me ama. — Piscou e ignorei. — Se não quiser ficar
muito tempo, apenas dê um olá e some. Finge que está fodendo alguém. Enzo
vai estar na cidade e eu quero que ele irrite algumas pessoas, assim posso
matá-las por estar defendendo o meu primo. Entendeu?
— Vocês dois são psicopatas. E se vão se divertir matando um, eu
quero. Essa é a despedida de solteiro adequada para mim.
Os olhos do Damon brilharam.
— Vamos invadir o acampamento dos merdinhas em Indiana, o que
acha?
— Agora você está me agradando.
— Apesar de gostar de olhar para a sua cara, eu prefiro a da minha
esposa e já que irei sair à noite, eu preciso tentar engravidar a minha mulher
agora a tarde.
— Buceta.
— Olha quem fala. — Debochou e foi embora.
Continuei jogado no sofá do escritório e quando teve um problema
para resolver na entrega de bebidas, eu fui, apenas para não ficar em casa
ocioso e pensando na porra do casamento no dia seguinte. Giovanna estava
fazendo um circo, ela queria que a Luna e eu tivéssemos um grande dia, mas
eu não fazia ideia do motivo já que a minha noiva mal conseguia ficar do
meu lado sem tremer.
Não queria que ela tivesse medo de mim, mas eu nunca precisei
apaziguar uma mulher. Todas elas eram para foder. Sexo rude, sexo violento,
apenas sexo. Eu queria que elas se sentassem no meu pau, abrissem as suas
pernas e não as suas bocas. Cresci com a Sandra, ela era mais velha e nos
enxotava de perto o tempo todo, quando crescemos, ela agia como uma mãe
galinha comigo até que isso despertou o ciúme do seu marido e então, ela se
afastou.
Em seguida, veio a Giovanna.
Ela não calava a boca e me irritava ao nível extremo, com o tempo,
me afeiçoei à sua presença irritante. Daria a minha vida por ela por ser esposa
do meu melhor amigo, agora, daria a minha vida por ela... por ser ela. Era
como a minha irmãzinha caçula. Uma pentelha muito chata, intrometida, que
não parava de fazer perguntas, mas era boa e tinha todo mundo enrolado no
seu dedo mindinho. Podia imaginar que ela nos enlouqueceria no segundo
que se descobrisse grávida.
Não podia entender o que aqueles dois estavam sentindo para querer
ter filhos. Eles se amavam e essa era uma emoção completamente
desconhecida para mim. Não podia imaginar porque eles queriam formar uma
família, era completamente insano. Damon pai? Ele queria. Não parava de
falar dessa merda desde que a Giovanna disse que queria tentar. Ela quase
nos matou do coração nas suas idas misteriosas ao médico e até os seus
guardas estavam ansiosos.
Todo mundo gostava da Giovanna.
Ela nos obrigava a gostar dela.
E agora, tinha a Luna. Diferente da Gio e da Sandra, a Luna seria a
minha esposa. Minha mulher. Eu não tinha a mínima noção de como fazer
um casamento acontecer. Eu podia ir e vir ou sair e não voltar. Eu tinha uma
vida louca, passava a maior parte das noites na boate e não tinha uma rotina.
Como ter uma rotina com uma esposa?
Como fazê-la parar de tremer da cabeça aos pés quando ficasse perto
de mim?
Luna era bonita, mas eu não conseguia enxergá-la perfeitamente, não
com as suas roupas largas, apagadas e a sua timidez. Era uma garota
extremamente protegida, com uma criação muito rígida e que não parecia ser
feliz como a Giovanna era. Luna lembrava a infelicidade da minha mãe e da
minha madrinha, a Sra. Galattore, mãe do Damon. Ela se encolhia quando
homens chegavam perto e mantinha o olhar treinado no chão, em uma
posição de submissão que me enervava.
Entrei em casa e eu podia sentir o perfume feminino ali. Era diferente.
Não era o perfume da Giovanna. Subi a escada para o meu quarto, empurrei a
porta e eu vi as roupas femininas alinhadas. Eram poucas. Três cabides. Uma
gaveta de calcinha. Peguei uma e eram enormes... Porra, ia me casar com
uma freira. Devolvi as coisas para o lugar e eu fui até o banheiro... Não tinha
nada.
Ela não tinha produtos femininos? Talvez tivesse apenas o que
precisaria usar. Tomei banho e me arrumei para sair, entrei na pequena sala
que a Giovanna criou para Luna. Ali dentro tinha alguns livros surrados,
todos de romance e ficção. Ela tinha uma coleção de Crepúsculo e eu sabia o
que era porque a Sandra me fez levá-la ao cinema para assistir todos os
lançamentos, já que o Frank se recusava a pisar em uma sala de cinema para
ver um vampiro que brilhava no sol.
Na época eu era o único obrigado a obedecer. Hoje em dia, Frank
estava abaixo de mim na cadeia de comando. Eu faria qualquer coisa pela
Sandra, porque crescemos juntos, mas ela era do seu marido e não minha
responsabilidade. Giovanna costumava torturar os seus guardas com idas
infinitas ao shopping e para fazer coisas de menina.
Como a Luna seria nesse quesito?
— Você pode acreditar? — Damon entrou na minha casa sem bater.
— Parece muito irritado para quem passou a tarde fodendo.
— Giovanna queria contratar strippers.
— Nem fodendo que o primeiro homem nu que a minha mulher vai ver
será um stripper filho da puta!
— Eu disse o mesmo, mas...
— Talvez seja melhor dizer aos guardas que devem verificar qualquer
pacote grande o suficiente para caber um homem que entrar nessa residência.
— Ainda mais que a maluca da Juliana está na cidade. Enzo não tem
controle nenhum sobre a mulher. — Damon reclamou. Como se ele tivesse...
Giovanna fazia o que bem entendia e ainda ria quando ele reclamava.
Nós saímos de casa pouco depois das nove da noite. Havia um grupo
de homens nos aguardando para aparecer na boate, com um monte de puta e
dançarinas nuas. Nunca gostei de dividir minhas mulheres, muito menos de
foder com companhia e não seria na minha despedida de solteiro que eu faria.
Fui conduzido para o lado oposto. Enzo e o Damon estavam quase dançando
na minha frente, andando animados e cheios de expectativas até um pequeno
acampamento de motos próximo à fronteira do nosso território.
— É para assustar? Ou para brincar? — Enzo chegou a estalar o
pescoço.
— Fodido doente. — Murmurei.
— Ele sempre vai fingir que não gosta disso? — Enzo resmungou para
o Damon.
— É uma mocinha.
Chutei a sua canela e ele quase caiu, rindo e tentou me socar, mas
desviei rápido o bastante. Começamos uma espécie de luta idiota contra o
outro, mas batendo forte o suficiente para deixar marcas.
— Não acerta o rosto dele, não quero explicar para a Juliana por que o
noivo apareceu na igreja com o olho roxo. Ela está ansiosa e quer que esse
casamento seja perfeito. — Enzo falou do seu lugar no chão, bebendo uma
cerveja.
A minha despedida de solteiro teve tudo que um homem gosta: mulher
(sem sexo e nudez completa), suor, muita bebida e briga. Os dois filhos da
puta me embebedaram até que eu não tinha a mínima noção do que estava
acontecendo, exatamente como fiz com o Damon e ele tinha a sorte que eu
confiava a minha vida nas mãos dele ou eu poderia matá-lo logo que
melhorasse.
Damon me jogou na minha cama e foi embora, eu não podia ver a
minha noiva até o casamento e eu estava curioso sobre como seria o seu
vestido, se ela estaria toda coberta como costumava se vestir. Não dormi a
noite inteira, pensativo, comi um pouco de macarrão para quebrar a bebida e
duas latas de Coca-Cola. Perto do amanhecer, percebi que estava quase fora
de controle devido a minha ansiedade.
Tirei a minha roupa e me joguei na piscina, nadando de um lado ao
outro, pensando no quanto eu quis matar a Giovanna quando vi os
empreiteiros cavando o meu quintal. Não fazia ideia porque a maluca quis
construir uma piscina, mas, ela deu de ombros e disse que entenderia quando
me casasse. Ainda não fazia nenhum sentido, mas era aquecida e em uma
área reservada, então, eu podia nadar pelado sem nenhuma interrupção.
— Corno, vem aqui! — Damon gritou da minha casa e saí da piscina
nu. Ele olhou para o meu pau e riu. — Ainda parece o mesmo que você tinha
aos cinco anos. Coitada da sua mulher. Um dedo mindinho faria mais sentido.
Insuportável.
— Alguém já te mandou tomar no cú hoje?
— Não. Eu vim aqui para te irritar e te levar ao salão. Giovanna
mandou você cortar o cabelo e fazer a barba. Vá se vestir, anda.
— Desde quando Giovanna manda em mim?
— Tudo bem. — Ele deu de ombros e pegou o telefone. — Bella ,
ele não quer ir.
— Deixe-me falar com ele! — Estremeci com o gritinho.
— Foda-se, vou me vestir.
— Ele mudou de ideia. — Damon murmurou com um sorriso e
encerrou a chamada. Dois idiotas. — Sorria, é o dia do seu casamento.
— Damon?
— Sim, noivo?
— Vai se foder.
Ele apenas riu como o demônio irritante que era. Damon me levou
pela cidade para fazermos a barba e o cabelo, íamos no mesmo lugar desde
criança e o estabelecimento era protegido por nós e frequentado por membros
da família. O velho Joe era o único que ficava com uma lâmina próxima ao
meu rosto e sobrevivia para contar a história. Após isso, nós tivemos que
buscar milhares de coisas que a Giovanna pediu, como ela não amanheceu
sentindo-se bem, Damon não queria que ela saísse e eu estava ansioso demais
para ficar sentado esperando o casamento acontecer.
Em casa, me arrumei sozinho, parei na frente do espelho e foi a
primeira vez que senti algo estranho. Nunca fui de sentir falta da minha
família. Naquele dia, queria que a minha mãe estivesse lá. Era um casamento
político, mas ela ficaria muito feliz. Raramente existia casamentos por amor
na família, não entre as mais altas posições. Damon estava certo de que a
relutância ao casamento estava me fazendo parecer fraco.
Um homem honrado não tem medo da sua esposa.
Queria dizer que o casamento não era só sobre a esposa, mas não
podia discutir sobre isso. Me olhei no espelho, com o cabelo penteado para
trás, um conjunto de terno de três peças cinza claro, sapatos marrons claro e
pendurei o relógio de bolso que Damon usou no seu casamento e me entregou
no dia anterior à tarde sem palavras. Ele era a minha família. Minha mãe foi
uma mulher maravilhosa, mas ela ficou doente muito rápido e seria egoísmo
da minha parte desejar que ela estivesse aqui.
O meu pai, eventualmente, eu o mataria. Ele teve a sorte que morreu
antes que eu soubesse como segurar uma arma.
Damon entrou na minha casa e parou na porta, em silêncio, vestido
com a sua roupa de padrinho. Anos atrás, estive no lugar que ele estaria hoje.
A diferença era que eu também fui responsável por levar a noiva até o local,
porque ele não confiava em ninguém para levá-la. Dessa vez, iríamos sair em
uma comitiva.
Luna disse que não se importava em esperar alguns minutos no carro
para entrar na igreja e achamos mais seguro estarmos todos juntos, porque se
algo acontecesse, eu ia matar quem não a protegesse.
— Devo dizer, parece até o Coringa arrumadinho. — Damon sorriu
torto.
— Obrigado pelo elogio, babaca.
— Agora vai a parte mais legal, os meus muitos sábios conselhos
matrimoniais. Estou com a Giovanna há quatro anos e eu tenho algumas
coisas para dizer.
— Até parece...
— Não vale a pena discutir quando elas surtam. Deixe-a surtar,
balance a cabeça e saia o mais rápido possível. Elas gostam de falar, encontre
um lugar na sua cabeça para se refugiar, acene de tempos em tempos e nunca,
em hipótese nenhuma, suje o que ela acabou de limpar. Se você acha que viu
coisas assustadoras, vai mudar de ideia rapidinho.
— E o que mais, gênio?
— Não sei se vai ser com você, mas o sexo... Não é nada difícil ser
fiel. Não existe outra mulher capaz de me deixar maluco e com tanto tesão
quanto a minha mulher, porque ela é minha e, sim, vai nascer uma buceta na
minha testa ao confessar isso, se eu tivesse noção do quanto seria incrível ter
essa conexão com a minha esposa, eu teria me guardado. — Damon parecia
falar sério e aquilo me assustou. Uma buceta para sempre? Parecia
impossível. Damon não traiu a Giovanna. Ele só tinha olhos para ela e até o
psicopata do Enzo sequer olhava para as putas do clube. — Espero que você
seja feliz no casamento tanto quanto eu sou. Não existe medo dentro dele, se
você souber como se abrir, talvez vocês dois possam ter uma boa vida
juntos.
Aquelas palavras trouxeram um aperto ao meu coração.
Coração. Eu não o sentia a tempos.
— Definitivamente tem uma buceta nascendo na sua testa.
— Babaca, vamos. Elas estão no carro.
O caminho para a igreja foi feito em silêncio. Passei direto para o
meu lugar, sem querer cumprimentar quem estava no caminho. Parei no altar
e o Damon no seu, olhando o seu relógio. Luna entraria com o seu tio e eu
não conseguia entender por que essa merda me deixava maluco. Quando as
sobrinhas do Damon passaram como as damas de honra, Giovanna entrou
com um sorriso bonito e ela estava agradável com um vestido verde claro.
Olhei para a porta, ansioso e então, a Luna estava vindo até mim.
Seus passos eram ritmados com a marcha nupcial e o seu olhar estava
escondido pela camada de véu. Seu tio estava com o peito estufado e o olhei
fixamente, pensando no meu desejo de enfiar a minha faca na sua garganta.
Por algum motivo, ele me irritava muito. Luna estava segurando o seu braço,
andando ao seu lado, mas não estava próxima e quando ele a entregou a mim,
olhei nos seus olhos, mandando desaparecer da minha frente.
Segurei a ponta do véu e puxei para cima, revelando o seu rosto...
Luna parecia um anjo. Seu cabelo loiro estava ornamentado com milhares de
pedrinhas de diamantes, seus olhos verdes encontraram-se com os meus e eu
vi o brilho ansioso lá. Luna era um anjo e foi entregue de bandeja para um
demônio. Havia muita luz na sua vida... e a minha era só escuridão.
04
Luna.
Não podia acreditar no meu reflexo no espelho. Toquei o meu cabelo
e nunca vi o meu loiro tão brilhante, estava tão macio, meus dedos
deslizavam entre as mechas de maneira suave, era como um lençol de seda e
em seguida, passei a mão nas minhas sobrancelhas feitas. Antes parecia que
nem tinha, com os fios tão ralos e loiros, mas, a esteticista me disse que havia
uma maneira de transformá-la e o meu rosto ganhou um formato diferente.
Minha pele estava diferente depois da limpeza profunda que tiraram
todos os cravos, em seguida a massagem e a máscara que deixou o meu rosto
hidratado. Não foi só o meu rosto que passou por uma completa
transformação e sim o meu corpo inteiro. Fiz uma depilação a cera nas pernas
– tinha poucos pelos, eu não tinha autorização para me depilar. Eu fiz uma
depilação íntima, não quis tirar tudo, deixei um pequeno triângulo bem
aparado e a depiladora riu dos meus pelos pubianos loiros e ralos.
Enrolada no roupão, sentei-me no lugar indicado e ri da Giovanna
cheia de máscara facial, os cabelos para o alto, as pernas sendo depiladas e as
unhas secando. Depois de ontem à noite, eu podia dizer que ela e a Juliana
eram loucas e me ajudaram muito. Adorei os presentes nupciais, o meu dia da
noiva e todos os conselhos. Assisti os filmes que me indicaram e apesar de
não ter me tocado, entendi a mecânica do sexo e até fiquei... molhada. Não o
suficiente para tentar.
— Está tudo bem? Quer uma taça de vinho para acalmar os nervos?
— Giovanna me encarou do outro lado do quarto.
Não queria ter um ataque histérico, mas estava a beira de um.
— Acho que sim.
Alguém me deu uma taça de vinho e eu bebi quase a metade de uma
vez só. Aceitei ser servida um pouco mais e aos pouquinhos, me senti relaxar.
Mudei de lugar para a maquiagem e terminarem o meu cabelo, fiquei quieta e
ao abrir os olhos, não tinha palavras para me descrever.
— Uau. — Giovanna parou atrás de mim. — Essas pedras fazem
parecer que você é um anjo. Tão iluminada.
— São verdadeiras? — Perguntei baixinho, assustada.
— Claro que sim. Presente de casamento meu e do Damon. Nós
queremos que você tenha algo seu, muito especial, para dar sorte. — Sorriu e
me entregou uma caixinha. — Algo azul veio da Juliana e Enzo. — Era um
colar com uma pedra azul. — Algo velho é de nós duas... hum, a sua tia não
tinha algo interessante a oferecer e eu tirei. Mas se quiser usar a dela, eu
guardei.
— O que?
— A liga... para ser tirada. — Explicou e assenti.
— Ah.
— São as minhas meias e a liga da Juliana.
— Obrigada por tudo que você está fazendo por mim no dia do meu
casamento. Nunca esperei algo tão bonito e grandioso.
— Toda garota merece ter um dia grandioso. — Garantiu e eu vi as
fotos do casamento dela na revista. Foi falado por meses e ainda era
referência nas revistas de moda e noivas.
Após colocar as joias e as minhas roupas íntimas nupciais, Giovanna já
estava vestida e pronta, me ajudando a entrar no meu vestido. Era lindo.
Definitivamente o que escolheria para mim e não o que a minha tia escolheu,
um modelo bufante e que me esconderia completamente. Estava tão feliz que
ela não foi autorizada a fazer parte da minha arrumação, porque eu não podia
aguentar a sua negatividade.
Giovanna prendeu a presilha e o véu, nós testamos para saber se estava
bem firme e me arrumou com calma.
Escolhi ser uma noiva romântica, não importava o quanto esse
casamento era político. Existia a grande possibilidade que fosse o único da
minha vida e mesmo que me casasse novamente, não seria do mesmo jeito.
Não existiam divórcios na máfia. Existia... viuvez. Enquanto ambos
estivermos vivos, haverá casamento e eu esperava que o Enrico fosse um
bom marido. Não ajudava em nada ter pensamentos negativos.
Giovanna não falou nada, seu olhar dizia tudo. Seus olhos brilhavam e
o seu vestido era perfeito, exatamente do tom e no modelo que eu escolhi.
Nós andamos com cuidado na sua casa, ela segurando o meu vestido e o
Antonio não demonstrou nada quando me viu, abrindo a porta e Giovanna me
ajudou a entrar. Nós ficamos no carro e tive um vislumbre do Enrico com o
Damon, eles estavam rindo e caramba... com um sorriso no rosto, ficava
ainda mais bonito.
Ficamos paradas dentro do carro na porta da igreja por meia hora antes de
sairmos para o cortejo oficial. Mia apareceu e ficou congelada ao me ver de
noiva. Minha tia crispou os lábios e odiei o olhar do meu tio no decote do
meu vestido. Giovanna limpou a garganta rudemente, olhando-o com
ferocidade.
— Você é a noiva mais bonita do mundo. — Mia me abraçou com
cuidado.
— Obrigada, florzinha. Eu te amo.
— Eu te amo mais. — Ficamos abraçadas por mais um tempo.
Tia Selma e a Mia foram para os seus lugares. Giovanna e a Sandra,
irmã do Damon, arrumaram as damas e elas entraram primeiro. Giovanna me
deu um olhar encorajador antes de entrar e a Sandra instruiu como segurar no
braço do meu tio.
— Não precisa ficar tão próximo. — Sandra instruiu. — Assim,
perfeito.
Discretamente, me afastei ainda mais. Não olhei para o meu tio em
momento nenhum, embora ele tenha tentado atrair a minha atenção, segui por
todo o tapete, com meu coração acelerado e o nervosismo me consumindo.
Mantive o meu olhar treinado na frente, com cuidado para não tropeçar em
meus próprios pés e o véu dificultava um pouco a minha visão. Paramos no
final do tapete, o Enrico desceu as escadas do altar e me encontrou.
Meu tio se afastou e não virei, concentrada na expressão dura do
Enrico. Se seus olhos fossem raios laser, meu tio estaria morto.
Meu noivo puxou o meu véu e eu fui tomada pelo seu olhar intenso.
Sua mão tocou a minha, senti uma eletricidade e eu sorri. Ah... tão clichê. O
meu próprio mocinho, que estava muito mais para vilão. O meu sorriso
chamou a sua atenção. Seu olhar indecifrável encontrou o meu e foi
inevitável não tremer. Como seríamos marido e mulher se ele era tão
inacessível?
Entreguei o meu buquê de peônias para a Giovanna e subi o altar
com o meu futuro marido. A cerimônia foi bem bonita, considerando que as
palavras do Padre eram para um casal que encontraria o amor e seriam
resilientes. A mão do Enrico seguiu firme na minha, ele não vacilou ou
afrouxou o seu aperto. Isso me fez entender que ele era um homem que
segurava seus compromissos até o fim.
Nós aceitamos a benção, ele deslizou a aliança no meu dedo com um
olhar atento às minhas emoções e eu deslizei a sua aliança. Parecia estranho
no seu dedo todo tatuado. Enrico olhou em meus olhos e vagamente ouvi o
Padre dizer que ele podia me beijar. Meu coração acelerou e mesmo toda
maquiagem não podia disfarçar o meu intenso rubor.
Sua mão pousou firme na minha cintura e me puxou para frente, arfei e
ergui o meu rosto, sua boca veio de encontro a minha e fechei os meus olhos.
Segurei o seu braço, sem conseguir conter a sensação aquecida que escorreu
pelo meu interior e se alojou no meu ventre. Era uma experiência nova ter um
corpo tão firme, quente e uma boca macia contra a minha.
Ele se afastou e as pessoas estavam aplaudindo. Desviei o meu olhar
para o público ansioso e eu vi o Damon entregar um lenço para Giovanna
secar as lágrimas. Ela me devolveu o buquê e segurei o braço do meu marido,
saindo no cortejo da igreja para a chuva de arroz com pétalas de rosas que
jogaram em nós.
Antonio abriu a porta do carro e eu parei, precisando reunir a minha
saia para entrar no carro. Enrico pegou o meu buquê e entregou para Antonio,
que colocou com cuidado no banco da frente. Abaixou para puxar a minha
saia e o véu, sua mão quente encontrou a minha pele na parte nua das minhas
costas e eu senti o seu polegar se arrastar lentamente, como se apreciasse a
textura da minha pele arrepiada.
Entrei no carro com cuidado e ele em seguida, fechando a porta.
Ajeitei o meu véu, a maneira que estava sentada fazia pesar e puxava o meu
cabelo. Enrico puxou a presilha sem nenhuma dificuldade, tirando o véu de
vez e eu embolei todo do outro lado. Seu olhar estava no meu rosto e eu
pensei na sua boca macia na minha e o quanto beijar parecia ser algo muito
bom.
— Você está muito bonita. — Falou baixo, com o olhar correndo
pelo meu corpo.
— Obrigada. Você também está muito bonito. — Estiquei a mão
para ajeitar a sua gravata borboleta e ele observou com cuidado. Coloquei no
lugar e voltei com a minha mão para o meu colo.
Enrico ficou em silêncio, me observando e eu estava muito consciente
de mim mesma para reagir. Será que havia algo errado comigo? Ele disse que
estava bonita, mas podia ser por educação. Antes de irmos para a área da
festa, Giovanna e Damon nos levaram para uma área do jardim que estava
arrumada para a fotografia.
Foi divertido e ficaram bem bonitas, claro que teve um monte de atuação
porque eu nunca tinha trocado mais que algumas palavras com o meu marido,
mas eu amei as prévias que a fotógrafa mostrou. Quando terminamos, era
hora de entrar na festa. Juliana e Giovanna escolheram um arco de flores para
a nossa entrada, sem o meu buquê, Enrico me pegou no colo, como era a
tradição.
— Ai meu Deus!
— Está tudo bem, eu nunca vou te deixar cair. — Garantiu e passei o
meu braço no seu pescoço. Os convidados aplaudiram e eu ri da Giovanna
pulando no lugar. Seu marido a olhou com calma e paciência, me perguntei
se ela era sempre assim.
— Obrigada. — Sorri timidamente conforme me colocou no chão.
De família em família, recebemos diversos cumprimentos. Fui pega de
surpresa quando a Tia Selma me abraçou, acabei dando um passo para trás,
meu salto afundando na grama e bati com a minha bunda na virilha do meu
marido. Minha tia nunca me abraçou na vida, nem quando fiquei doente e nas
noites em que eu chorava até dormir, morrendo de saudade dos meus pais.
Enrico passou o braço na minha cintura e colou as minhas costas no
seu peito. Sua mão estava perigosamente perto do meu seio, se ele quisesse,
era um centímetro para agarrar e eu vi o olhar do Tio Silvio franzir como se
aquilo fosse uma ofensa. Enrico era o meu marido e apesar de me assustar
totalmente com a ideia, ele tinha direitos ao meu corpo. Eu disse sim no
altar.
Seja lá como o Enrico olhou para o meu tio, isso o fez se afastar com
um aceno. Entendi que a minha tia me abraçou por causa das fotografias e
porque ela ainda tinha esperanças de que o Tio Silvio alcançasse uma boa
posição na família. Não tinha certeza se isso iria acontecer.
— Relaxe... respire. — Enrico falou baixo e eu percebi que estava
tensa. Soltei o ar e tentei me concentrar em coisas boas, como a decoração da
festa e na comida, porque tudo estava muito bonito.
Os cumprimentos acabaram e nós fomos jantar. Havia tanta comida,
mas eu fiquei meio incerta sobre comer, bebendo vinho para acalmar os meus
nervos e quem sabe, parar de tremer. Juliana empurrou um prato com queijos
e frutas, era muito mais leve que as massas e me deu um sorriso, ciente que
eu estava uma pilha. Na minha quinta taça de vinho, Enrico trocou para
refrigerante.
— Você não gostou do jantar? — Enrico perguntou baixo e coloquei
o meu cabelo para o lado.
— Estou um pouco ansiosa para comer. Tem muita gente aqui... e
está meio quente. — Podia sentir o meu rosto meio molhado. Ele tirou um
lenço do bolso e me entregou, discretamente me sequei, usando o reflexo da
taça para me ajeitar.
— É a hora da dança...
Enrico levantou, deu espaço para que eu pudesse levantar e me
conduziu para a pista de dança. Tradicionalmente, as noivas escolhiam
músicas italianas, mas eu escolhi uma música americana e da trilha sonora
dos meus filmes favoritos. A letra dizia sobre uma criatura improvável que
encontrava o amor e estava disposto a se ferir por ela. Enrico segurou a
minha mão e colocou a outra nas minhas costas. Sua palma espalmada me
dava a sensação que estava segurando o meu coração.
Seu olhar era intenso demais para sustentar e optei por encostar a
minha cabeça no seu peito e ouvir as batidas do seu coração. Fiquei surpresa
em encontrar um ritmo acelerado. Seria a minha aproximação? O que poderia
deixá-lo nervoso em uma festa de casamento?
A música suavemente trocou para Stand By Me versão acústica que
encontrei na internet e meu tio estava ao lado, porque era a vez de dançar
com ele como a minha figura paterna. Engoli seco e ao contrário da
proximidade do Enrico, mantive uma boa distância entre nós. Quando ele me
puxou para frente, pisei no seu pé, nervosa com o contato. Olhei para o lado,
não encontrando o seu olhar e o Enrico dançando com a minha tia foi uma
visão engraçada. Ele parecia querer atirar em sua cabeça.
Ainda havia mais uma volta da música para dançar com o meu tio, mas
eu vi a Juliana indo até o Enrico, provavelmente para salvar a vida de alguém
e o Enzo pegou a minha mão, me tirando dos braços do meu tio sem pedir
licença. Ele não precisava. Enzo não pedia nada a ninguém. Encontrei o seu
olhar e ele parecia me fazer milhares de perguntas por segundo, mas apenas
me mantive quieta.
— Você está uma noiva muito bonita, Luna. — Enzo falou baixo e
tocou o meu queixo, erguendo o meu olhar. — E faz parte da realeza agora.
Não abaixe a cabeça para mais ninguém. — Piscou e o Damon tocou o meu
cotovelo. Enrico estava dançando com a Giovanna e ele deu a ela o sorriso
que eu queria ganhar.
— Não precisa se preocupar. — Damon garantiu e me rodopiou de
um jeito engraçado, que me fez rir. Enrico imediatamente olhou para mim. —
A revanche. — Damon piscou, o que me fez rir ainda mais. Ele estava sendo
engraçado porque sabia que tinha medo dele. — A relação deles é de pura
amizade.
— Se o senhor não está preocupado...
— Puta que pariu, me chamar de senhor é um chute nas bolas. —
Reclamou e eu ri mais ainda. — Apenas Damon.
— Eu vou precisar me acostumar ainda, mas irei me policiar.
— Você é a esposa do meu irmão, não precisa me chamar de senhor.
Vivemos no mesmo lugar, está tudo bem.
Era surreal acreditar que estava diretamente relacionada ao Boss de
Chicago e Nova Iorque pelo casamento.
Enrico voltou para o meu lado dando um olhar ameaçador para o
Damon. Giovanna agarrou o seu marido, querendo dançar e me concentrei no
meu marido.
— O que o Damon falou com você? — Quis saber e mordi o meu
lábio. — Ele tem a tendência a ser bem irritante.
— Eu o chamei de senhor. — Expliquei e para a minha surpresa,
Enrico sorriu e então, ele riu abertamente. — Acho que ele ficou meio
ofendido e pediu para chamá-lo pelo nome.
— Ele vai superar. — Garantiu e os gritos para nos beijarmos
encheram o quintal. Algumas pessoas até bateram palmas para dar força ao
coro.
Enrico desceu o rosto, equiparando a nossa altura e segurou o meu
queixo, dando um beijo calmo, mas intenso e ele passou o braço na minha
cintura, prendendo-me bem firme de uma maneira extremamente possessiva.
Seu beijo não foi calmo como na igreja. Sua língua tocou a minha,
provocante e eu podia imaginar que todas aquelas pessoas nos assistindo só
podiam entender uma única coisa: eu era dele.
05
Luna.
Minha festa de casamento durou até às dez da noite. Me despedi da
Mia com um abraço muito apertado, já sentindo a sua ausência na minha vida
e eu não tinha certeza se a minha tia permitiria um contato. Não tinha um
telefone celular, para começo de conversa. Me despedi da Juliana com um
abraço, não sabia quando a veria novamente, mas eu sabia que não demoraria
muito. Giovanna me deu um olhar cheio de expectativas e ergueu os
polegares me incentivando e a Juliana levou a mão na testa, fingindo
desmaiar. Aquelas duas estavam me deixando ainda mais nervosa.
Soltei uma risada com as insinuações sexuais que faziam por trás dos
seus maridos. Enrico virou para olhar e elas imediatamente pararam, uma
começou a olhar a unha e a outra fingiu que nada estava acontecendo, com
um olhar vago. Enrico me encarou, querendo entender e encolhi os ombros,
andando ao seu lado pela trilha de pedras até a nossa casa.
Cada vez que olhava a casa, o meu coração aquecia. Até parei um
pouco, precisando admirar o quanto ficava bonita, mesmo na escuridão e com
poucas luzes acesas no jardim e na varanda da casa.
— O que foi?
— Nada, desculpe. Eu adoro olhar a casa. — Me abaixei para reunir as
saias e então, ele me pegou no colo. — Hum, o que você está fazendo?
— Passando com você no colo pela porta de casa. — Respondeu como
se não fosse nada demais.
— Isso é para dar sorte. — Falei baixinho.
— Então, estamos fazendo o certo. — Retrucou e concordei com a
cabeça, mordendo o lábio.
Enrico passou pela porta e não parecia cansado me segurando, e ainda
subiu as escadas. Hum, ele foi direto para o quarto e me colocou no chão.
Minha cabeça deu um giro completo e eu não sabia o que fazer, estava
tremendo e pensando que se ele tomasse a iniciativa logo, acabaria com a
minha tortura.
Ele estava parado próximo a porta, encostou na parede e enfiou as
mãos no bolso. Joguei o meu véu no chão e tirei os meus sapatos, colocando
no canto. Levei a minha mão até as costas... E eu sequer conseguia alcançar
os botões. Respirei fundo, preferindo me afogar a pedir sua ajuda, porque iria
parecer que era uma atirada.
— Precisa de ajuda?
— Hm, sim. Acho que eu deveria tomar um banho...
Virei de costas para ele, tirei o meu cabelo do caminho e ele começou
a abrir os botões, da parte de cima e então, foi para os da cintura, o vestido
ficou frouxo e eu o deixei cair no chão. Enrico exalou uma respiração atrás de
mim e tremi com a pontinha dos seus dedos tocando as minhas costas, passou
as costas da mão na minha nádega e meus mamilos arrepiaram, cruzei os
meus braços, sem entender as reações do meu corpo.
Enrico chegou ainda mais perto, pressionando o seu peito nas minhas
costas e eu respirei fundo, ansiando por mais toques e ao mesmo tempo,
confusa e sem saber o que fazer. Eu deveria deitar e deixar que ele
conduzisse? Deveria reagir como as mulheres no vídeo? Deveria dizer que
não estava tomando pílulas? Minha mente estava rodando em milhares de
perguntas sem resposta.
Tirando o meu cabelo do caminho, seu nariz tocou a minha bochecha e
fechei os meus olhos com o beijo no meu pescoço e a mão firme na minha
cintura, que me virou bruscamente para ele. Sua boca chegou a minha tão
rápido que eu mal processei o beijo. Agarrei os seus braços, um pouco mais
firme, com medo de cair e suas mãos foram para minha bunda dando um
aperto generoso.
Enrico me tirou da confusão do vestido aos meus pés e quase me
pressionou contra parede. Não tinha ideia do que fazer e nem sabia como
corresponder o seu beijo. Eu não sabia beijar. Travei no lugar e ele se afastou.
Meus lábios estavam doloridos com a força do seu beijo e imediatamente
senti falta do seu gosto na minha boca. Meu peito estava arfando e olhei em
seus olhos, havia uma tempestade lá e seus cabelos estavam até bagunçados.
Estava pronta para falar quando ele me cortou.
— Já deve estar familiarizada com o banheiro...
Balancei a cabeça, escorrendo de frustração e confusão. Recolhi o meu
vestido e levei para o closet, o tempo todo me sentindo consciente do seu
olhar em mim. Meu conjunto de núpcias não era nada além de uma calcinha
de renda branca e um sutiã com o mesmo padrão, sem bojo e transparente.
Nunca estive tão exposta na frente de um homem antes e isso me deixou
meio surtada.
Entrei no banheiro, encostei a porta e liguei o chuveiro, tirei todas as
pedrinhas de diamante do meu cabelo e alinhei tudo em um cantinho, fiquei
nua e me lavei com calma, tirando a maquiagem, lavando o cabelo que estava
cheio de goma para fixar os cachos. Meu rosto estava um pouco manchado de
maquiagem e eu precisei esfregar o lenço removedor com um pouco mais de
força, me deixando vermelha em vários lugares.
Droga.
Parecia que eu tinha me batido ou arranhado toda. Que saco! Enxuguei
o meu cabelo, tentando secá-lo ao máximo e vesti a minha segunda opção de
calcinha de núpcias, um sutiã e a camisola azul de cetim que a Juliana me deu
de presente. Contei todos os diamantes e senti alívio ao vê-los ali, sem perder
nenhum. Não fazia ideia do que faria se tivesse perdido um presente que a
Giovanna e o Damon me deram.
Giovanna me deu um vidrinho que parecia de esmalte, mas era o tal do
Lip Tint , apliquei um pouco nos lábios para ficarem vermelhinhos e
atraentes.
Saí do banheiro e o Enrico estava sem a sua roupa do casamento,
usando só uma cueca e eu engoli seco ao vê-lo de pé, com os cabelos
molhados, bagunçados e a sua pele... toda tatuada. Havia poucos espaços sem
desenhos. Seus braços e pernas eram marcados com desenhos que ainda não
podia distinguir.
Seu corpo era malhado.
Todo malhado.
Seus músculos eram marcados e de uma forma natural, como se ele
sempre tivesse praticado exercícios para desenvolvê-los e sendo da família,
provavelmente começou aos onze ou doze anos. A cueca preta lhe caía bem e
desviei o olhar para não ser pega encarando.
— Hum… eu preciso de um lugar para guardar isso. — Abri a palma
da minha mão.
— Certo. É um presente para você.
— Eu sei, poderia usá-las em outro momento, mas eu não tenho uma
caixa de joias ou algo do tipo. Essas coisas foram as primeiras que ganhei...
Enrico franziu o cenho, mas assentiu.
— Tenho um cofre. — Andou até o closet e eu fui atrás.
Umas das muitas portas do armário revelou um cofre. Enrico colocou a
sua digital e a porta abriu. Virei as presilhas na sua mão e ele colocou em um
saquinho, em seguida lhe dei o colar e os brincos. Ali dentro tinha muito
dinheiro. Muito dinheiro mesmo. Algo que nunca vi na vida e para ele,
parecia perfeitamente normal.
— Se precisar, é só me falar. Irei encontrar algo que possa guardar as
suas joias e depois veremos...
— Tudo bem.
Com sede, dei as costas e desci a escada, eu não sabia como controlar
os meus nervos e o que aconteceria a seguir. Tomei banho, estava com uma
camisola de núpcias e ele parecia dentro da sua própria concha novamente. O
pior de tudo, estava exausta. Não dormi muito na noite anterior, além de ter
ficado até o meio da madrugada bebendo vinho e falando besteira com a
Giovanna e a Juliana, em seguida, assistindo milhares de vídeos com o
estômago torcido de ansiedade.
Giovanna bateu na porta do meu quarto cedo, ela parecia uma merda,
enjoada, com os olhos fundos, mas nós precisávamos começar a preparação.
Damon serviu duas canecas de café quentinho e dois croissants de queijo que
estavam uma delícia. Fiquei realmente surpresa que o Boss de Chicago tinha
um lado doméstico.
Todo preparativo, casamento, festa e bebidas... estava com sono. Quão
humilhante era estar morrendo de sono na sua noite de núpcias?
— Luna? — Enrico desceu a escada e abri os meus olhos. — Você
estava dormindo em pé aí?
Fechei a geladeira, segurando a garrafa de água e um bocejo escapou
da minha boca. Foi uma péssima ideia tomar banho.
— Desculpe, estou cansada. — Assumi com derrota. Enrico sorriu, não
mostrou os dentes, mas foi um sorriso. — Sei que ainda...
— Vem. — Comandou firme e pegou a minha mão.
Subimos a escada para o segundo andar e ele passou direto pelas portas
dos outros quartos para o seu, que ficava nos fundos, com uma bela visão
para os jardins dos fundos, a piscina e o pátio com a churrasqueira. Ele
desligou as luzes principais, deixando apenas duas lâmpadas que eram
embutidas no teto, com um amarelo suave.
O clima era aconchegante... Para núpcias e para dormir.
Nós nos deitamos na cama espaçosa que provavelmente caberia mais
uma pessoa entre nós, bem confortável e olhei para o teto.
— Luna... — Enrico falou baixo.
— Oi? — Meu pulso chegou a acelerar.
— Durma... Está muito cansada, descanse. — Acariciou o meu cabelo
e os meus olhos fecharam sem dificuldade.
Acordei assustada com a claridade, ainda morrendo de sono e sentei-
me na cama, tentando abrir os olhos e entender que horas eram. Minha boca
estava dolorida, toquei e senti dor.
— Luna? Sua boca está muito inchada.
— Tenho que me levantar para cozinhar as linguiças do café-da-manhã
e colocar as roupas para lavar. — Murmurei confusa. — Minha boca está
doendo.
— Luna! — Abri os olhos e me deparei com o Enrico na minha frente
e então, percebi o quarto e todos os últimos acontecimentos vieram a minha
mente. Meu marido, nosso quarto e a nossa primeira manhã como casados. —
O que você comeu ontem? Não lembro de ter comido mais que algumas
frutas e queijos... Está com uma reação alérgica. — Tocou os meus lábios e
estremeci, estavam sensíveis.
— Não comi nada que eu saiba que tenha alergia, está muito ruim?
— Estão inchados.
— Muito inchados? — Meus olhos arregalaram. Tentei sair da cama,
me atrapalhando com os lençóis e fiquei de pé, passando por ele e entrei no
banheiro. Ele veio atrás de mim, me inclinei para olhar de perto. Minha boca
parecia um investimento barato para imitar a Angelina Jolie. Eu era a única
mulher que acordava com a boca daquele jeito na primeira noite dormindo
com o marido.
— O que você comeu? — Enrico se inclinou também, mas ele não
conseguiu ver direito e me virou, se inclinando sobre mim.
— Não sei o que pode ter sido. Eu nunca fui de usar maquiagem,
muitos dos tratamentos que fiz ontem foi a primeira vez...
Enrico me encarou.
— Nunca fez todas essas coisas femininas?
— Não era autorizada. — Encolhi os ombros.
Enrico franziu o olhar, mas não falou nada.
— Volte para a cama, é muito cedo e eu vou buscar um remédio.
Quando acordar novamente, seus lábios devem estar de volta ao normal. —
Falou e saiu do banheiro. Respirei fundo, tentando não pensar no maldito
desastre que era acordar com a boca daquele jeito na minha manhã de
núpcias.
Escorreguei de volta para a cama e ele voltou para o quarto com um
copo de água e abriu a mão, revelando um remédio pequeno e branco. Bebi
certinho e me recostei na cabeceira estofada, olhando-o beber o que sobrou.
Desci o meu olhar do seu rosto, para o seu corpo esculpido e parei por um
momento no volume nada discreto na cueca e desci para as suas coxas com
tatuagens realmente assustadoras. Nunca gostei de homem tatuado, achava
que eles eram assustadores e sujos, mas ele...
— Nós iremos viajar essa noite.
— Giovanna comentou... deixei uma mala pronta. — Eu não tinha
muitas roupas mesmo. — Faz alguns anos que não vou à Itália.
— Vai enjoar de ir lá porque costumo ir e vir muitas vezes, espero que
me acompanhe. Se não quiser ir em algum momento, é só me falar.
Balancei a cabeça e bocejei, sentindo sono e não sei como acabei
deitada, quando acordei, o dia estava indo embora. Estava sozinha na cama,
toda espalhada e a boca babada. Nojento. Com calor, saí da cama e decidi que
o Enrico já tinha me visto bagunçada demais e tomei um banho caprichado.
Não tinha uma noção da hora, mas eu achei melhor ficar pronta para a
viagem logo, porque eu não tinha ideia que horas realmente iríamos sair.
Peguei a minha pequena mala e minha mochilinha com os meus livros
para a viagem, descendo a escada e deixei alinhada em um canto. Enrico
estava na cozinha, todo suado, usando apenas uma bermuda e bebendo água.
Seu olhar encontrou o meu e sorri. Meus lábios estavam visivelmente
inchados, mas não se comparavam ao que estava mais cedo.
— Vou tomar banho e nós iremos.
O casamento no civil foi feito por procuração há algumas semanas e eu
nem sabia se isso era legal, mas eu não podia discutir e o meu sobrenome
mudou assim como todos os meus documentos. Me joguei no sofá,
encolhendo as pernas e odiando o vestido azul escuro que estava usando. Era
um dos muitos extremamente conservadores que a minha tia mandava usar e
eu não tinha outras roupas.
Enrico desceu as escadas rapidamente, usando preto e estava muito
cheiroso. Ele tinha uma mochila nas costas, abaixou e pegou a minha
pequena mala, franzindo o cenho e eu fiquei de pé. Suas mãos estavam
bastante ocupadas e então, segui atrás dele, pelo caminho de pedras até a
garagem. Giovanna estava soltando uma risada alta e seu marido parecia
muito sério.
— Entre no carro, agora. — Damon comandou e ela riu, sem se
importar.
Giovanna não precisava de incentivo para falar, ela tomava conta dos
assuntos e do ambiente, me fazendo rir, mas eu ainda não conseguia relaxar
totalmente na frente do Damon e do Enrico. Se estivéssemos sozinhas,
certamente estaria lhe respondendo um pouco mais empolgada. Passei muito
tempo reprimindo as minhas emoções e as minhas reações para simplesmente
explodir assim tão rápido.
Enrico foi dirigindo, ele e o Damon falavam bem baixo, era quase
impossível de ouvir enquanto a Giovanna alegremente me mostrava as fotos
que tirou do casamento. Eu tinha contas nas redes sociais, todas eram
privadas e escondidas, porque a minha tia não podia sonhar em saber.
Costumava olhar na escola, com as minhas amigas e elas tiravam fotografias,
com meu uniforme escolar, conseguimos fazer muitas fotos legais ou durante
as aulas de educação física e natação. Com elas, eu podia ser eu mesma.
Todas nós éramos meninas frutos da máfia que tinham liberdade fora de casa.
Chegamos ao aeroporto. Giovanna ligou seu braço ao meu, estava
escuro e subimos a escada do avião juntas.
— O que aconteceu com a sua boca?
— Tive uma reação alérgica a algum produto usado ontem, para a
minha felicidade, na minha manhã de núpcias. — Falei baixinho.
— Caramba! O que será que foi?
— Não sei.
— E se foi o lip tint? Você usou?
— Hum, faz sentido. Eu usei antes de dormir...
Enrico e Damon entraram no avião e a comissária ficou nervosa, com
os olhos arregalados e me senti menos anormal por não ser a única que tremia
no lugar. Eles ocuparam os assentos à nossa frente. Antonio e mais três
guardas entraram e foram para os fundos, sequer olhando na nossa direção e a
comissária foi até o meio do caminho, fechando as portas e os isolando lá.
Era como duas classes dentro daquele avião de porte médio, exceto que toda
a aeronave era simplesmente confortável e muito luxuosa.
A mulher vestida de vermelho nos deu um sorriso e um menu.
— Hum, eu vou querer... salmão! — Giovanna comemorou. — Ou
bife. Caramba. Difícil escolher. Damon, o que você vai querer? — Ela
perguntou e ele se inclinou sobre ela, primeiro beijando a sua boca e depois
discutindo o que comeriam. Olhei para o cardápio, não tinha preço e eu não
tinha ideia...
— Escolha o que quiser. — Enrico atraiu a minha atenção. — Precisa
comer alguma coisa. Dormiu o dia inteiro.
— O que você vai comer?
— Um hambúrguer. Eles pegam a maioria das coisas nos restaurantes
que nós gostamos e montam o cardápio para a viagem.
— Ah... — Voltei a olhar o cardápio.
— Escolhe. É de graça, quer dizer, eles pagam por isso, mas não tem
que pagar a conta. Entende o que quero dizer? — Giovanna cochichou, com o
cardápio cobrindo nossos rostos.
— O que as mocinhas estão falando muito baixo aí? — Damon
perguntou, nós abaixamos o cardápio, olhamos para os dois e rimos, voltando
a nos esconder.
— O bife é gostoso, bem macio, mas o hambúrguer é surrealmente
gostoso, porém, eu não aguento comer todo. Podemos pedir um e dividir, o
que acha?
— Tudo bem, quero provar.
— Coca-Cola?
— Giovanna... — Damon bufou.
— O que foi? Precisava de privacidade para falar com ela e não tenho
culpa que seu ouvido canino falhou.
Na real, ela estava falando muito baixo e eu só entendi por que estava
olhando para os seus lábios. Talvez ela soubesse que eles eram treinados para
ouvir bem o ambiente, extremamente observadores. Ela fez os nossos pedidos
e eu acrescentei água, com um pouco de sede. A viagem seguiu muito
tranquila, nós comemos, eles conversaram um pouco e eu acabei me
encolhendo, com frio, quase pegando no sono.
Enrico pegou um cobertor em um armário, me cobrindo e abri os
olhos, agradeci e voltei a dormir.
06
Enrico .
O interior do avião estava todo escuro. Giovanna dormia jogada em
cima do Damon na outra poltrona e a Luna estava ao meu lado, toda
encolhida, com a cabeça apoiada no pequeno travesseiro e coberta com a
colcha de pelúcia vermelha do avião. Seus lábios pareciam menores, de volta
ao normal, mesmo sem maquiagem, tinham uma cor adorável e convidativa.
Eu conhecia o sabor daquela boca e queria mais.
Porra, era tudo tão confuso.
Ela estava linda em seu vestido de noiva, era a porra de um sonho, um
anjo perfeito e eu tinha que admitir, foi uma boa festa de casamento. Não me
diverti, porque estava tenso e alerta, mas foi agradável. Sabia que a Luna era
virgem e não existia exatamente uma obrigação de romper a sua virgindade
na nossa noite de núpcias, mas, quando ela pediu ajuda para tirar o seu
vestido, me perdi.
Por baixo de todas aquelas roupas largas e longas, tinha um corpo
maravilhoso. Ela era linda e muito gostosa. A sua bunda era um sonho.
Redonda, durinha, a calcinha era de renda, enterrada entre as suas nádegas e
meu pau ficou tão duro que não pude me conter. Avancei nela, beijando e
atacando como um homem faminto. Acostumado com mulheres que sabiam o
que fazer, demorei a perceber que ela estava assustada e tentando me
acompanhar.
Nunca me senti tão merda e abusador em toda a minha vida.
Ela era linda, mas era inocente e eu não ia foder com isso na nossa
primeira noite de casados. Eu tinha que ser mais humano. Luna pareceu
confusa inicialmente, depois aparentou cansaço. Após o banho, ela mal
conseguia manter os olhos abertos e por um tempo foi engraçado vê-la
lutando contra o sono, preocupada e um pouco ansiosa. Foi preciso colocá-la
na cama e eu a observei dormir por um longo tempo.
Ela era linda.
Seu cabelo loiro era muito claro, as sardinhas eram salpicadas em
algumas partes, bem claras e se concentravam no narizinho pequeno. Seus
lábios eram adoráveis, pareciam um pouco mais vermelhos que o normal,
mas a boca era macia e preenchida. A boca perfeita para beijar.
Não tinha a mínima ideia do que fazer.
Luna era uma incógnita. Ela me olhava com intensidade quando
achava que eu não estava percebendo. Ela sentia desejo, havia fogo lá, mas se
eu lhe desse atenção, se encolhia e agia como a perfeita garota submissa.
Nossa vida seria mortalmente insuportável se agisse de maneira contida todo
maldito tempo.
As luzes do avião acenderam e levantei a cortina da janelinha para ver
o dia nascendo. Luna se mexeu ao meu lado e virei o rosto, observando com
fascinação os seus olhos se abrindo. A mulher era linda pra caralho. Suas
sobrancelhas franziram, confusa, seus pelos tão loiros e seu olhar se atraiu
para a janela. Seus lábios separaram de surpresa.
— Isso é lindo. — Falou baixinho, sonolenta e dessa vez, estava
consciente. Guardei a sua confissão sobre acordar para limpar e cozinhar para
outro momento. Eu sabia que as mulheres da família eram ensinadas a cuidar
de suas próprias casas, principalmente para aprender a cozinhar e um dia, ter
o seu próprio marido. Mas a maneira em que ela pareceu desesperada para
não perder a hora, me fez entender que a Luna era como uma empregadinha
particular da sua tia.
E isso me incomodava. Não gostava dos tios dela. Fantasiei sobre
matá-lo diversas vezes na minha mente durante a festa de casamento e o
bastardo não conseguia agir com um orgulho paternal, pelo contrário, ele
parecia ser como um dos muitos homens na festa, querendo um pedaço da
minha mulher. Não era bem assim que um homem tinha que agir com a
garotinha que ele criou, caralho. Isso era doentio.
— Quer ver melhor? — Ofereci e ela se inclinou para frente. Sua
cabeça estava no meu peito e o seu olhar concentrado nas cores hipnotizantes
do nascer do sol.
— É tão lindo... — Suspirou e o seu perfume suave era muito gostoso.
Luna ficou olhando pela janela tempo o suficiente para me dar vontade
de tocar o seu cabelo macio, mas eu não fiz, porque não queria que ela se
afastasse. Ou tremesse de medo. Quando o piloto informou que iríamos
pousar em breve, ela voltou para o seu lugar, afivelando o cinto. Giovanna
não acordou e nós rimos da maneira que o Damon a colocou sentada e presa
no cinto de segurança.
Ela pulou assustada quando o avião encostou no chão e nos deu um
olhar muito irritado por rir, prendendo o cabelo.
A viagem era sempre muito cansativa, porque apesar de fazermos com
frequência, não deixava de ser irritante as descidas para nova autorização de
voo e abastecimento do avião. Luna e Giovanna acordaram apenas na
primeira, as demais, elas dormiram. Damon e eu comemos e jogamos, até
bebemos, quando finalmente pousamos em Palermo, estava louco para pisar
em terra firme.
— O ar perfeito da Itália. — Giovanna saiu do avião com energia de
sobra.
— Foda-se, ela dormiu o voo inteiro. Não vai dormir tão cedo. —
Damon resmungou. Luna ficou parada, incerta e a olhei.
— Vem, é seguro.
— Tudo bem. — Murmurou e passou por mim.
Aquele vestido era horrível e escondia a sua beleza completamente.
Damon gostava de dirigir como um maluco e no meio do caminho, a
Giovanna ficou irritada e eles começaram a discutir. Luna sorriu
discretamente, achando graça e eu chutei o banco deles, para calarem a boca
e o Damon finalmente diminuiu a velocidade.
Luna ficou concentrada no caminho, admirando a paisagem e eu queria
jogar a mochila que usava fora, mas não queria ofendê-la. Talvez a Giovanna
pudesse lhe dar alguns conselhos de moda. Dinheiro não era problema. Não
nasci rico como o Damon, mas eu fiz o meu próprio e eu não tive com o que
gastar ao longo dos anos. O máximo que comprei foram alguns carros e
motos, no mais, sempre fui desapegado dessas coisas.
Meu padrinho me deixou dinheiro, estava guardado.
Chegamos na villa e como sempre, movimentado, os cachorros
enlouquecidos querendo atenção. Zeus e Apolo pularam em cima de mim,
querendo carinho, sacudindo os seus rabos e grunhindo, correram até o
Damon, voltaram e ajoelhei para Diana vir falar comigo, mas ela estava
parada, olhando desconfiada para a Luna.
— Vem aqui, se aproxime devagar e estique a mão para que ela possa
cheirar. Você tem medo? — Olhei-a sobre os meus ombros.
— Não sei, nunca cheguei perto de um. — Aproximou-se devagar.
Giovanna foi a única a convencer a Diana a se aproximar da Luna e
não levou cinco minutos para que ela fosse derrubada pelos três cachorros,
sorrindo, sem conseguir dar atenção a todos. Zeus e Apolo não conseguiam
se conter. Diana se afastou quando a Giovanna saiu de perto. Diana era da
Giovanna.
Zeus e Apolo eram meus e do o Damon.
— Estou toda suja de cachorro. — Luna sorriu, seus olhos brilhavam e
a prova que não existia um osso maldoso em seu corpo era porque eles
estavam derretidos por ela. Zeus e Apolo não eram muito sociáveis. Eles
aceitavam brincar com a Giovanna, mas eles sempre agiam de maneira muito
bruta e no começo, ela tinha medo. Agora eles a obedeciam igualmente.
— Vem, vou te mostrar a nossa casa. — Era estranho falar algo no
plural por alguém. Damon encheu o meu saco para sair da pequena casinha
que eu costumava ficar perto do armazém, porque agora eu tinha uma esposa
e ela merecia ter uma casa maior. Escolhi a casa de hóspedes, mas ele me deu
a segunda casa maior da propriedade. Ela era maior até que a minha casa em
Chicago.
Gostava que ficava distante, após o armazém da piscina aquecida e
tinha uma entrada mais fechada, dando uma sensação de privacidade. Ela
tinha a sua própria piscina e eu precisei que alguém cuidasse da casa antes do
casamento, fazendo alguns reparos, limpando e enchendo a piscina, acertando
o jardim e entre outras coisas. Giovanna cuidou de todos os móveis e
utensílios que uma casa poderia precisar. Era bom que do meu quarto eu
tinha uma visão agradável para o oceano e podia monitorar toda a ilha.
— Aqui é tudo bem espaçoso e claro, muito bonito. É legal que
preservaram a arquitetura antiga da villa. — Luna olhou ao redor.
Era uma casa de dois andares, o primeiro piso tinha a sala de estar,
jantar, o escritório e um pequeno espaço arejado, como um jardim interno
que levava para a cozinha, varanda na frente e atrás, nas laterais era rodeado
de muito espaço que os cachorros estavam adorando explorar. No segundo
piso, vinha os quartos, a maioria deles estavam vazios porque não havia ainda
a mínima necessidade em preenchê-los se havia uma casa para visitantes.
Deixei a pequena mala da Luna no closet e ela olhou as minhas roupas,
finalmente soltando aquela mochila. Mostrei onde ficavam as roupas de
cama, toalhas de banho e pegando uma, foi até o banheiro. Tirei os meus
sapatos e me joguei na cama, olhando o meu telefone celular. Aquele deveria
ser o começo da nossa lua-de-mel, mas... O que poderíamos fazer? Talvez
levá-la para conhecer a villa e alguns lugares próximos.
Jogando na cama, observei atentamente o momento que ela abriu a
porta. Seu cabelo estava preso no alto e estava apenas enrolada na toalha.
— Pensei que tivesse saído e eu esqueci de pegar algumas roupas. —
Mordeu o lábio. Sorri torto... Porque era uma bela visão vê-la molhada, com
uma toalha branca cobrindo o que eu estava louco para ver.
— Sabe que pode ficar à vontade... Esse é o nosso quarto.
— Ok.
Olhei para as suas coxas molhadas até o momento que desapareceu
dentro do closet, ouvi os barulhos suaves da sua troca de roupa. Voltou para o
quarto, com os cabelos soltos e o vestido atual era ainda pior. Mesmo assim,
ele não eclipsava a beleza do seu rosto.
— Você gostaria de um tour pela villa ? Eu posso te mostrar onde
ficam as áreas de lazer, as de segurança...
— Eu adoraria, obrigada. — Sorriu timidamente.
Coloquei os meus sapatos de volta e saímos da minha, quer dizer,
nossa casa, devagar com os dois cachorros nos seguindo. Peguei um galho e
fiquei brincando de arremessar, levando-os pelo tour. A villa era uma das
mais antigas da região e uma das poucas que ainda conservavam um pouco
da arquitetura tradicional, mas não trabalhava mais como um vinhedo há
muitas décadas.
Luna era uma aprendiz silenciosa, sempre observando tudo, brincando
com os cachorros e andando ao meu lado em silêncio. Acostumado com a
Giovanna falando sem parar e a Sandra querendo se meter na minha vida,
aquele silêncio deveria ser bom, mas era enervante. Ao voltarmos, Giovanna
simplesmente a pegou pela mão e foi mostrar a sua casa.
Damon se aproximou de mim com uma cerveja para mim e já aberta.
— Eu te dei uma noite de núpcias, mas amanhã precisamos sair. Tem
um merdinha fazendo bosta e eu quero ter uma conversa com o pai dele para
deixar algumas coisas claras.
— Aquele garoto aprontou algo de novo?
— As garotas estão reclamando que ele gosta de uma merda muito
violenta e elas ficam desconfortáveis. E os seguranças odeiam a bagunça que
ele faz quando o irmão mais velho não está por perto para controlar. Eu não
gosto dessa porcaria diplomática, se fosse qualquer garoto, já estaria na mala
do meu carro para um passeio. — Bebeu metade da sua garrafa.
— Tudo bem, vamos sair cedo. A viagem é longa até lá.
— Giovanna pediu para ir a enseada amanhã e é provável que convide
a sua mulher, mas não tem sinal de celular e isso me incomoda. Ainda tem
aqueles rádios por satélite? Não quero dizer para não ir ou ela vai ficar puta.
— Sim, vou procurar e carregar. Por mim, a Luna pode ir. Ela vai ficar
entediada se ficar em casa o tempo inteiro.
— Certo...
— Não fala nada.
— Não vou falar. — Damon sorriu, terminei a minha cerveja e o deixei
sozinho, sem saco para o seu humor. Com os cachorros me seguindo, entrei
no depósito e procurei os telefones via satélite, coloquei para carregar e
fechei a sala.
Não sabia se a Luna sabia cozinhar direito, se ela queria e não tinha
nada na geladeira para preparar uma comida decente. Preparar o jantar não
era bem a minha especialidade. Nina havia cozinhado para os guardas, então
eu peguei comida o suficiente para dois e algumas garrafas de vinho da
adega. Arrumei os pratos na cozinha, esquentando no micro-ondas e servi os
vinhos nas taças.
Luna entrou em casa devagar, parecendo meio incerta.
— Perdi a noção do tempo com a Giovanna. Ela estava me mostrando
a sua casa... E algumas das suas tentativas de fazer vasos.
— Não tem problema. Jantar?
— Sim, obrigada. — Sua voz falhou um pouco e lhe entreguei uma
taça de vinho.
— Não cozinhei isso, caso esteja se perguntando. — Empurrei o seu
prato até ela. — A Nina é a governanta da propriedade. Ela cozinha para os
guardas...
— Está ótimo, obrigada.
Mais uma vez, os nervos e a ansiedade por todo lado. Comemos em
silêncio e com um sorriso tímido, começou a lavar a louça, organizando toda
a cozinha como se precisasse bater um ponto, sei lá. Me deu um olhar antes
de sair da cozinha e suspirei. Jantar 1 = fracasso total. Talvez devesse levá-la
em um encontro? Algum restaurante legal... Quando voltar da Catânia,
pensaria em algo.
Mais uma vez passei a maior parte da noite observando-a dormir. Ela
usava a camisola azul e era bonita, eu me perguntava se ela tinha mais coisas
como aquela ao invés dos vestidos feios. Não era ligado em moda feminina,
mas, aquilo era realmente ruim. Saí da cama antes que pudesse acordar, fui
até o meu escritório, pegando as coisas que comprei para ela e deixei em
cima do balcão com um bilhete. Um novo aparelho celular, um notebook e
um tablet.
Escrevi no bilhete, avisando que era dela e poderia usar à vontade.
Preparei o seu café da manhã, porque eu duvidava que fosse comer qualquer
coisa sem que estivesse por perto para autorizar. Isso era esquisito. Que tipo
de vida ela tinha? Deveria ser horrível viver em um lugar onde precisasse
pedir autorização para tudo. Eu era o filho da empregada e tive milhares de
regalias, porque era afilhado do Boss, mesmo assim, eles nunca me fizeram
sentir como o garoto das sobras. Meus padrinhos nunca me trataram diferente
do Damon.
Damon e eu precisamos resolver algumas coisas e visitar
estabelecimentos na cidade antes de pegarmos a estrada para Catânia. Após o
almoço, estávamos no carro, eu estava dirigindo e o telefone dele tocou.
— Oi, bella . Ele está dirigindo... Claro. — Damon parecia confuso. —
Giovana quer falar com você. — Avisou e assenti, sem desviar os olhos da
estrada. — Oi, Enrico! Tenho que falar rápido... Não sei se você percebeu, a
Luna tem pouquíssimas roupas e precisa comprar algumas roupas e outras
coisas muito essenciais. Ela está insegura, eu disse a ela que pediria
autorização a vocês para sairmos, você pode mandar uma mensagem
dizendo que está tudo bem e que ela pode comprar o que quiser?
— Claro. Fabiano, Antonio, Sandro e Mauro vão com vocês.
— Para que isso tudo? — Giovanna reclamou.
— Eles ou nada. — Damon murmurou.
— Tá bom. Beijos, meninos. Se comportem! — Alegremente encerrou
a chamada.
Damon ficou me olhando e felizmente escolheu ficar quieto. Eu não
queria comentar as escolhas de vestimenta da minha esposa e estava
secretamente aliviado que ela estava disposta a se libertar daquelas coisas
esquisitas. Peguei o meu telefone e enviei uma mensagem avisando que
estava tudo bem que ela saísse e fizesse compras. Luna visualizou quase que
imediatamente, mandou um texto agradecendo os presentes eletrônicos e
avisou que iria se arrumar para sair.
07
Luna.
Parei no meio de uma loja de roupas femininas e congelei com tantas
opções. Fabiano e Antonio já seguravam algumas coisas que Giovanna me
ajudou a comprar, que até então, foram roupas íntimas – eu precisava de
calcinhas novas de todos os tipos com urgência – e biquínis de todos os
tamanhos, cores, modelos e até alguns maiôs cavados e outros mais
comportados. Em seguida, ela me levou para uma loja de maquiagem no qual
fomos submetidas a um curso básico de auto maquiagem. Foi divertido,
depois pudemos maquiar uma a outra.
Giovanna voltou com a vendedora e eu ignorei o olhar de crítica para a
minha roupa. Era a última vez. Eu sequer sairia daquela loja vestindo aquele
tenebroso vestido verde esquisito que me fazia parecer trinta vezes maior do
que realmente era. Em italiano, respondi as muitas perguntas da vendedora,
nós abrimos o Pinterest e mostrei todas as referências de estilo que eu
gostaria de usar. A partir daí, fiquei apenas no provador, vestindo milhares e
milhares de roupas.
Escolhi a maioria. Quando pensava em pegar algo mais longo ou mais
comportado, ainda com muito medo do julgamento, a Giovanna arrancava
das minhas mãos e jogava longe, dizendo que a loja de roupas conservadoras
ou para eventos da família ficariam por último, que ainda faríamos muitas
compras em Chicago. Ela estava montando um armário para ficar aqui e
outro seria montado lá.
Acho que o Enrico ficaria meio chateado por ter autorizado as compras
depois de tanto dinheiro gasto. Logo que ele me enviou uma mensagem,
autorizando a minha saída, Antonio me entregou um cartão de crédito e disse
que poderia usar a vontade devido as ordens do meu marido. Isso não era
dificuldade para Giovanna. Ela não tinha limites e nem o marido dela
conseguia controlar. Era muito divertido de assistir.
— O que acha desse? — Coloquei um vestido azul escuro na minha
frente.
— Ele é fofo e super curto, o que chamo de fofo e safado. — Giovanna
bateu palmas, empolgada. — Eu nunca amei tanto fazer compras com
alguém. Eu odiava cada peça de roupa que você usava, me desculpa, eu quero
queimar todos os seus vestidos.
— Não eram minhas escolhas. — Confessei e virei para o espelho.
— Imaginava que você não escolheria algo assim mediante a sua real
preferência. Por que você usava?
— Minha tia me obrigava... Posso te contar uma coisa? Por favor, não
conte a ninguém.
— Ei, já te considero minha amiga. Você é a única pessoa que sabe do
bebê. Você e o Enrico são a minha família. — Giovanna me tranquilizou.
— Minha tia me batia com toalha molhada quase todas as noites desde
que eu ganhei um corpo mais feminino... Quando eu era criança, ela me
beliscava, me deixava de castigo sem motivo. — Sentei-me em um
banquinho. — Ela me culpava pelo meu tio não gostar dela. Ele tinha muitas
amantes e não escondia, apesar de ser proibido por lá. Ele era apaixonado
pela minha mãe...
— E a sua mãe foi dada ao seu pai. — Giovanna concluiu e assenti. —
Então, ele foi obrigado a casar com a sua tia? Isso é bem comum.
— Exceto que ele não a procurou muitas vezes... Conforme fui
crescendo, ele foi me olhando diferente, sempre elogiando o quanto parecia
com a minha mãe e se ver alguma foto dela, vai pensar que sou eu. — Sorri
brevemente, sentindo o conhecido aperto de saudade da minha mãe. — Isso
me assustava muito e enfurecia a minha tia. Ganhei corpo rápido, para a
minha completa infelicidade.
— Ele já tentou alguma coisa? — Giovanna estava com um olhar
assassino.
— Nunca. Ela passou a me trancar no quarto toda noite ou em dias que
ele chegava bêbado. De uma forma distorcida, me protegeu. Não era a sua
intenção, na verdade, era ciúme. Ela me punia por algo que eu não tinha
culpa, nunca fiz nada para que ele pudesse pensar que gostaria daquilo. Ele é
meu tio, poxa vida. — As lágrimas caíram dos meus olhos antes que eu
tivesse controle. — As roupas eram coisa dela, para esconder o meu corpo e
ela me fazia pedir perdão por tentar homens decentes. Por que era a minha
culpa?
— Nunca foi sua culpa, Luna. Eles deveriam te amar e proteger. Saiba
que agora está segura. Enrico vai matar qualquer um que tentar te machucar.
— Talvez eu não devesse contar isso a ele, não é?
Giovanna ficou quieta.
— Enquanto eu adoraria colocar lenha na fogueira, não seria ideal
arriscar a boa relação com Nova Iorque. Enzo e o Damon estão lutando muito
para manter a paz entre os territórios, os homens temem e obedecem, mas o
Enzo vai parecer fraco se o Enrico entrar no território dele e matar um dos
seus soldados de alta patente. — Refletiu e então sorriu. — A não ser que a
gente conte para a Juliana e ela vai resolver isso. Ela manda nele mesmo.
— Não quero uma guerra, Gio. E a Mia não pode ficar sem os pais. Sei
que uma mãe narcisista e um pai ausente é ruim, mas o que vai acontecer com
ela?
— É verdade. Se a Mia ficar sem o pai, a mãe será enviada para os
parentes e talvez ela não consiga um bom casamento no futuro. Eu adoraria
poder dizer que você poderia cuidar dela, mas eu não tenho certeza,
principalmente que a sua tia tem uma família grande. — Ela me deu um
sorriso triste. Eu faria qualquer coisa pela Mia. Ela merecia uma vida feliz e
mesmo que isso só acontecesse no futuro, eu não seria responsável por
destruir as suas chances. — Pelo menos você não tem mais que viver com
eles. E vem, vamos comprar todas as mais lindas roupas do mundo.
Depois de um dia exaustivo de compras, ela cismou de irmos ao salão.
Queria que ela maneirasse um pouco, não fazia dois dias que havia
descoberto que estava grávida e não sossegava. Ela iria em uma consulta
médica em alguns dias, aproveitei e agendei uma para mim. Não tomava
pílulas e apesar de parecer que sexo seria algo inexistente no meu casamento
porque o meu marido sequer me olhava ou tentou me tocar, me beijar... ou
qualquer outra coisa, eu precisava ir ao médico.
Não fiz exames pré-nupciais, nunca fiz exames íntimos, femininos... A
minha tia sequer me levava ao médico. E as pílulas era porque se alguma vez
acontecesse o sexo, eu não queria engravidar. Não teria filhos com esse clima
estranho entre nós dois.
Estava certa de que ele me achava uma garota bonita, pelo menos, eu
gostava de pensar que sim. Eu tinha que mudar o estilo de senhora de setenta
anos para quem sabe atrair um pouco mais de atenção e antes de tudo isso,
estava louca para finalmente me vestir do jeito que eu gostava.
Ao chegarmos em casa, ela me ajudou a arrumar o closet, haviam
tantas e tantas roupas novas que eu estava apaixonada. Metade do closet
estava colorido, com sapatos, sandálias e tênis e a outra metade... Preto,
branco e cinza. Borrifei meu novo perfume nas roupas, Giovanna recolheu
todas as minhas roupas antigas e eu fui atrás, confusa. Comecei a rir ao ver o
caminho que estava fazendo até a fogueira que ficava na parte de trás de um
armazém que os guardas acendiam nos dias muito frios.
Me senti meio mal por invadir a área de lazer deles, mas não falaram
nada, só observaram. Ela jogou todas as minhas roupas ali, incluindo a
mochila velha que eu usava.
— Essa é uma cerimônia de renascimento, alguém pode trazer um
refrigerante e uma garrafa de espumante? — Olhou ao redor. — Ah, como
acende esse negócio?
Fabiano se aproximou com um fósforo e um pano úmido, jogou os dois
e pegou fogo. Simples. Sandro entregou a ela uma latinha de refrigerante
sprite e uma garrafa de espumante, ela pediu para ele abrir e estourou. Nós
brindamos e bebi um gole, olhando o meu passado queimar, senti uma
satisfação quase doentia com aquilo.
— Eu estou querendo fazer um jantarzinho mais elaborado, topa? —
Nós saímos de lá quando o fogo ficou alto demais. — Eles só vão voltar
amanhã mesmo, podemos comer o que quisermos.
Enrico e Damon estavam em Catânia pela segunda vez desde que
chegamos na Itália e eu nunca sabia onde meu marido estava, porque ele não
me dizia. Não conseguia relaxar ao lado dele, não me sentia em perigo,
apenas insegura sobre mim mesma, a minha aparência e sobre ele estar
comigo por obrigação. Era muito difícil não me encolher e querer fugir,
porque eu não sabia como conquistá-lo e queria muito.
Eu sabia que existia um lado dele que era capaz de se afeiçoar. Ele era
amoroso com a Giovanna, não de um jeito romântico, ele sorria e brincava
com os cachorros. Então ele podia se afeiçoar a mim. Esse casamento seria
mais fácil se tivéssemos um carinho pelo outro. Não sabia se homens como
ele eram capazes de amar.
Após o jantar, andei até a minha casa com o meu conjuntinho de short
azul de alfaiataria, uma blusinha branca e sandálias plataformas. Minhas
pernas estavam completamente nuas e ninguém estava me olhando com falta
de respeito. Estava cercada de homens que estavam me protegendo desses
olhares e porque eles tinham medo do meu marido. E dos cachorros que me
seguiam como dois discípulos apaixonados.
Enrico não me disse nada sobre eles dormirem dentro de casa, mas
com a ausência dele, me sentia mais segura. Apolo gostava de dormir na
varanda do quarto e Zeus do meu lado da cama. Troquei de roupa, usando o
conjuntinho rosa claro de dormir, que era uma blusinha leve e um short como
uma cuequinha que ficava muito indecente, mas ele não estava em casa e eu
acordaria antes que chegasse. Só queria dormir sem roupas pesadas me
pinicando.
Abracei um travesseiro, dormindo com as portas da varanda bem
abertas e a janela, deixando a brisa tocar a minha pele como a carícia suave
que eu ansiava receber. Meu corpo estava quente, eu queria... Um beijo como
o da nossa noite de núpcias, uma pegada como quando ele viu a minha bunda
pela primeira vez e só de pensar, senti um leve latejar entre as minhas pernas,
sozinha, levei a mão devagarzinho para dentro do meu short e comecei a me
tocar.
Pela primeira vez senti algo mais que intensa vergonha. Senti prazer.
Um prazer gostoso que fez um arrepio descer pela minha espinha. Me
esfreguei, pressionando o meu clitóris e rebolando contra o travesseiro entre
as minhas pernas. Meu coração estava martelando firme no peito e eu senti o
prazer me consumir. Gozei, enfiando o meu rosto no travesseiro para
esconder os meus gemidos.
Relaxei e até me senti mais leve, fechando os olhos e caí no sono.
Acordei com um corpo quente atrás de mim. A minha bunda estava
encostada em alguém e me estiquei, olhando por cima dos meus ombros.
Enrico estava deitado de barriga para cima na cama, espalhado e a minha
bunda estava na sua coxa. Virei, ainda com sono, ficando de bruços, mas eu
queria espiá-lo. Meus olhos ainda ardiam de sono.
Meu cabelo estava um pouco espalhado no meu rosto, o que me deu
a oportunidade de espiar sem ser pega. Ele estava com os olhos fechados,
parecia dormir, mas eu não tinha certeza. Fechei os meus olhos quando ele
moveu o rosto para me olhar. Tirou o cabelo do meu rosto e ao invés de
voltar a mão para a sua barriga, colocou na minha bunda e eu quase soltei
fogos por dentro. Era um toque. Um bom toque. Ele tinha receio de me tocar
quando estava acordada?
Precisava aprender a relaxar na presença dele e confiar mais em mim
mesma, mas era muito difícil. Pelo menos eu sabia que ele não resistia ao
meu corpo. E agora, eu precisava seguir para a fase dois do plano: ganhá-lo
pelo estômago. Fiquei cochilando e acordando por quase uma hora até que
minha bexiga exigiu uma ida ao banheiro.
Virei na cama e ele estava acordado, me olhou e deu um olhar que
eu poderia dizer como suave.
— Bom dia... Você está de volta. — Murmurei sonolenta.
— Voltei no meio da madrugada.
— Cadê os cachorros? — Olhei ao redor e joguei o meu cabelo para
o lado.
— Eles queriam sair. Ainda está com sono?
— Hm, sim. Eu bebi espumante e duas taças de vinho no jantar.
— Espumante? Aconteceu alguma comemoração enquanto
estivemos fora?
— Sim, fizemos uma cerimônia. Preciso ir ao banheiro, desculpe. —
Minha bexiga tinha que me foder quando eu estava conseguindo manter uma
conversa com o Enrico.
Sai do banheiro e ele não estava mais no quarto. Entrei no closet,
tirei a minha roupinha de dormir e peguei um vestido cinza que parava no
meio das minhas coxas. Era de alças finas, larguinho, mas curto o suficiente.
Escovei o meu cabelo e fiquei com o rosto bem ao natural mesmo, porque
achava muito falso me encher de maquiagem se não tivesse um compromisso
para ir.
Desci a escada com cuidado e logo o vi na cozinha, fazendo café e
pelo cheiro, bem forte. Seu olhar encontrou o meu e desceu para os meus
seios – estava sem sutiã, não dava para usar com aquele vestido. Em seguida,
demoradamente, desceu para as minhas pernas.
— Bom dia, quer panquecas? — Ofereci não querendo ficar parada
com o seu olhar tão intenso em mim. — Não sei exatamente o que gosta no
café da manhã.
— Panquecas está bom.
— Tudo bem. — Mordi o lábio, começando a preparar panquecas,
ovos, lavei algumas frutas e arrumei o balcão mesmo porque era apenas nós
dois. Ele colocou os pratos e os talheres. Sentamos e comecei a comer. —
Posso te fazer uma pergunta? — Queria entendê-lo. Enrico não me tocou
mais depois do casamento, exceto essa interação pela manhã, mas, ele podia
ter alguém fixo. No caso, seria uma amante, mas na verdade, ela poderia ser a
eleita do seu coração.
— Sim, faça.
— Você dorme com outra mulher?
— O quê? — Ele quase engasgou com o café.
— Sei que o nosso casamento foi por política e eu só queria saber se
você tem amantes. Quer dizer, dormir não seria o termo, seria... sexo. Se você
tem sexo com outra mulher desde o nosso compromisso ou...
— Isso não é da sua conta. — Enrico falou bruscamente e calei a
minha boca.
— Tudo bem. — E não falei mais nada.
Não era da minha conta? Ele que se danasse. Terminei o meu café-
da-manhã e propositalmente o evitei por alguns dias. Mal falava ou respondia
suas perguntas. Me dei o direito de não interagir e quando voltamos para
Chicago, gastei o meu tempo dando atenção à Giovanna e em seguida, lendo.
Enrico apenas me olhava, como se estivesse confuso comigo ou não soubesse
o que fazer. Eu não me importava. Estava com raiva.
Em Chicago, Giovanna tinha toda razão ao dizer que eles mal
apareciam em casa, normalmente, ele chegava muito tarde e eu já estava
dormindo há horas. Nós aproveitamos a companhia da outra, fizemos
compras pela internet, fomos ao shopping, dentista e quando ela teve a sua
primeira consulta da gravidez, eu tive a minha consulta com a ginecologista.
Giovanna me acompanhou na maioria dos exames que precisei fazer, eu
nunca dizia ao Enrico, ela era quem avisava ao seu marido.
Se ele não me avisava onde estava indo, eu não falava nada e
provavelmente pensava que estava acompanhando-a em exames. Os guardas
ficavam do lado de fora, nunca entravam, então, eles não sabiam quem estava
sendo examinada. Voltei na Dra. De Luca com os resultados que saíram e
comprei a minha pílula, aliviada que eu estava perfeitamente saudável.
— Minha próxima consulta será uma ultrassonografia. — Giovanna
estava falando muito ansiosa durante o jantar. Enrico e Damon sorriram. —
Você vai comigo?
— Claro que sim. — Damon sorriu, mas franziu o cenho. — E todos
esses exames?
— Não era para mim. — Gio me deu um olhar cuidadoso. —
Acompanhei a Luna em algumas idas ao médico, fizemos compras
necessárias... — Sua fala ainda era calma. Continuei comendo, sem falar nada
e ela estava confusa. Damon não falou nada e eu podia sentir o olhar do
Enrico em mim. Quando eles saíram para beber uísque na sala, ficamos na
cozinha. — Não falou com o seu marido que ia ao médico, sua doida?
— Não. Ele mal fala comigo, por que me daria o trabalho? — Dei de
ombros.
— Nunca ia imaginar que ele seria tão idiota. Eu posso chutar as
bolas dele, estou grávida, ninguém pode me parar.
Ri da sua bobeira e depois de quase uma hora de conversa, me
despedi e fui para casa. Não avisei ao Enrico. Estava sedenta por um pouco
de doce e decidi preparar bolinhos para o café da manhã. A melhor parte de
ter a minha casa era que eu podia fazer absolutamente tudo que eu queria – e
eu nem precisava limpar. Havia funcionários para isso. Cozinhar era uma das
minhas paixões, ainda não tive tempo para acostumar, mas eu seguia
cozinhando porque amava.
Eu estava mexendo a massa dos bolinhos quando Enrico entrou em
casa. Ele tirou os sapatos na entrada, porque a casa estava recém-faxinada.
Segui batendo a massa, parei e pesei os chocolates em gotas quando ele parou
do outro lado do balcão.
— Não me falou que foi ao médico. — Seu cenho estava franzido.
— Não era da sua conta. — Encolhi os ombros.
Enrico saiu da cozinha sem falar nada e eu não fui atrás.
08
Luna.
Terminei os bolinhos, guardando em potes para ficarem protegidos até
o dia seguinte, apaguei as luzes da cozinha e subi a escada para o meu quarto.
Enrico estava na cama, o que era uma tremenda surpresa. Peguei a minha
camisola e fui para o banheiro, tomar o meu banho caprichado do dia e
porque amava dormir cheirosa. Passei creme hidratante e perfume, usando
uma calcinha pequena sem costura, que era extremamente confortável.
Voltei para o quarto, ainda esfregando os meus braços com creme e fui
para o meu lado da cama. Damon me deu um kindle, Giovanna disse que era
para quebrar o clima gelado entre nós dois e para que eu não tivesse medo.
Talvez relaxasse um pouco mais ao seu lado, mas não deixaria de ter medo.
Era impossível. Ele era um marido amoroso e parecia ser um amigo irritante,
no mais, era assustador. Damon não era o meu marido e muito menos meu
amigo, então, sobrava o assustador. Fiquei feliz pelo presente e eu amava ter
tantos livros disponíveis.
Peguei o aparelho, me aninhando no canto e começando a ler.
— Luna.
— Sim? — Não desviei os olhos por um momento.
— Podemos falar por um instante?
— Claro. — Virei o meu rosto ligeiramente.
— Sua ida ao médico é da minha conta, porque você é a minha esposa
e eu preciso saber se está bem ou não. — Começou a falar, veio na ponta da
minha língua retrucar e mordi. — Assim como saber se estou fodendo outra
mulher fora de casa... — O termo foder aqueceu o meu sangue. — É da sua
conta. Eu estava errado. — Ele não pediu desculpas. — Não estou com
ninguém e já tem alguns meses.
Meses? Ele foi fiel ao nosso compromisso? Eu não seria, então, não o
julgaria se ele não fosse até o casamento. Se eu fosse homem, já não era
virgem há muito tempo.
— Tudo bem. Eu apenas queria saber, se talvez você tivesse alguém
fixo, porque não é incomum homens com amantes e talvez você não me
achasse bonita o suficiente para sentir atração. — Não sabia o que dizer.
Voltei a ler, ignorando-o.
— Vai continuar me ignorando?
— E você, por algum acaso percebeu que eu estava te ignorando? —
Arqueei a minha sobrancelha sem esconder a minha diversão.
— Já não nos falamos muito, ultimamente você tem optado pelo
silêncio. Eu só preciso saber se você prefere que eu me afaste.
NÃO, QUERO QUE VOCÊ SE APROXIME, SEU IDIOTA! Gritei na
minha cabeça. Apenas suspirei.
— Não quero que você se afaste. — Mordi o meu lábio.
— Tudo bem.
Enrico apagou a sua luz do seu lado e escorregou mais na cama. Senti
a proximidade do seu corpo, mas não me movi. Desisti de ler, desconcentrada
e coloquei o meu kindle na mesinha ao lado. Me ajeitei na coberta e ficamos
ainda mais próximos. Enrico virou na cama e fiquei arrepiada só de sentir o
seu peito próximo de tocas as minhas costas. Sua mão tocou a minha,
devagar e fechei os olhos.
— Posso te abraçar? — Perguntou baixinho.
— Sim... — Minha voz saiu apenas um sussurro.
Ele quase tocou o meu ombro com os lábios.
— Posso beijar aqui?
— Sim...
— Você está nervosa?
— Não agora... — Meu coração estava acelerado, mas eu queria aquela
proximidade como nunca quis algo na minha vida. Enrico beijou meu ombro
e eu fiquei arrepiada. — Posso beijar o seu pescoço?
— Sim, você pode. — Foi como um suspiro.
Enrico beijou o meu pescoço e o meu ombro mais vezes, mas ele não
foi além disso e eu estava muito satisfeita em dormir nos seus braços.
Acordei sozinha na cama, o que não era uma novidade, mas foi a primeira
vez que acordei com esperanças de que as coisas entre nós fluíssem melhor.
Escolhi uma saia plissada xadrez, uma blusinha branca e
suspensórios. Coloquei um par de meias até os joelhos e desci as escadas,
comendo alguns bolinhos com café, me distraindo na sala de costura, estava
tentando fazer um vestido e aprendendo por tutoriais no youtube. Queria
fazer um curso presencial de corte e costura, mas eu não pesquisei por
nenhum e nem conversei com o Enrico sobre isso.
— Oi, você já almoçou? — Enrico entrou em casa com um saco. —
Trouxe uns cannolis. — Apontou para o saco.
— Hum, eu fiz bolinhos com gotas de chocolate. Você gosta?
— Eu roubei uns três antes de sair. — Sorriu torto e olhou para a
minha roupa. Eu vi o seu pomo de adão subir e descer, mas foi a única reação
que ele demonstrou.
— Eu comi tarde, ainda não estou com fome.
— Tudo bem, vou treinar. — Falou e saiu de casa bem rápido.
Giovanna me chamou para a piscina e eu topei, mudando de roupa
rapidamente. Escolhi um biquíni razoavelmente comportado porque ainda
sentia vergonha de ficar com a minha bunda exposta na frente de outro
homem. Giovanna estava linda de tanta felicidade em mostrar o vídeo do
bebê e falar sobre a sua consulta.
Ela e o Damon iriam para a Itália e ela não voltaria mais, ficando lá até
o nascimento do bebê. Sentiria a sua falta, mas eu sabia que nos veríamos nas
temporadas que obviamente, Enrico e eu iremos passar na Itália. Ele não
costumava ficar longe do Damon por muito tempo e se ele me perguntasse,
eu preferia ficar lá com ela do que sozinha em Chicago.
Nós ficamos na piscina mesmo com o ventinho gelado. Com um pouco
de frio, tomei um banho quentinho, coloquei as meias pretas e um vestido
cinza de mangas, mas ele terminava no topo das minhas coxas. Sequei e
escovei os meus cabelos, fazendo um pequeno tratamento facial e ao
terminar, cozinhei o jantar. Preparei legumes no vapor, frango grelhado e um
purê de batata.
Deixei pronto e achei um pirulito na geladeira, querendo um doce
antes de jantar. Me joguei no sofá, colocando as pernas para o alto e apoiando
na parede, chupando o pirulito de morango e pensando no quanto gostei do
corpo dele no meu, no seu beijo e sua respiração quente no meu pescoço.
Aquilo foi excitante. Com tesão, com o pirulito na boca, levei a minha mão
para a minha calcinha.
Comecei a me tocar, uma mão entre as pernas, apertei o meu peito e
tirei o pirulito da boca. Soltei um gemido e mordi o lábio, toda arrepiada
quando ouvi uma respiração além da minha. Abri os olhos e caí do sofá,
soltando um gritinho ao ver o Enrico congelado na porta da sala para o
corredor. Fiquei de joelhos no chão, escorregando um pouco, de pé, meu
coração faltava sair pela boca.
Meu marido lambeu os lábios e me olhou como um homem faminto.
— Luna...
— Podemos fingir… que isso não aconteceu?
— Porra nenhuma. — Ele rosnou e me encurralou contra a parede. —
Dio , Luna! Que cena maravilhosa... Eu poderia viver olhando a sua mão
safada na sua buceta. — Mordeu o meu pescoço e eu gemi. — Você queria
gozar?
— Sim...
— O que estava pensando?
— Em você, ontem à noite e no dia das nossas núpcias. — Murmurei e
sua boca devorou a minha, agarrando a minha bunda.
— Você me queria esse tempo todo?
Afastei o meu rosto.
— Claro que sim. — Fui enfática. — Eu queria te conhecer,
experimentar coisas... Finalmente estava livre e queria ser uma boa esposa em
todos os sentidos.
— Você ficava muito nervosa e sempre com um olhar assustado. —
Enrico estava tão confuso que me perguntei se era normal um homem ser tão
limitado. Talvez fosse da genética masculina ser tão sem noção.
— Eu nunca beijei um homem na vida e todos me reprimiam por causa
do meu corpo, então, você não parecia interessado. — Falei enquanto ele
simplesmente beijava o meu pescoço.
— Pensei que estivesse com medo, não queria abusar de você.
Soltei um gemido.
— Quero ser a sua mulher. — Falei baixinho. — Quero ser livre,
Enrico. Dona de mim mesma, dona de tudo...
— Porra, mulher. — E me beijou intensamente. Dessa vez, não tive
medo de retribuir. Eu o beijei de volta com tudo que sentia. — Estou todo
suado...
— Não me importo.
— Vem tomar banho comigo... Topa?
Seu olhar continha um brilho safado que era tudo que eu queria.
— Eu topo.
Estava tremendo da cabeça aos pés, mas eu não me importava. Enrico me
levou escada acima, sem tirar a boca do meu corpo e me colocou sentada na
pia, puxando as minhas meias, reuni coragem e tirei o meu vestido, jogando
no chão do banheiro e ele olhou para os meus mamilos com adoração. Ele
abriu o chuveiro, tirou a calça e a cueca. Foi inevitável não arregalar os olhos
porque era o primeiro pênis que eu via na vida.
— Luna? Isso é rápido demais?
Engoli seco.
— Hm, é o primeiro que eu vejo... Então, eu quero olhar? — Terminei
meio como uma pergunta, sem graça, curiosa e querendo ser honesta. — Não
tenho medo de você, nem estou assustada com você, eu realmente quero
experimentar tudo que eu puder... Você é o meu marido e eu pensei...
— Pensou certo, vai experimentar absolutamente tudo comigo.
— Não sei fazer nada. Sou totalmente ignorante e inexperiente. Tudo
que eu vi foi nos filmes pornôs que a Giovanna...
— O quê? — Enrico me cortou e entendi que falei demais.
— Estou um pouco nervosa, por isso estou falando muito, você pode,
sei lá... voltar a me beijar? — Respirei fundo, precisando me acalmar e ele
sorriu, foi um tipo de sorriso torto, muito convencido, com o olhar brilhante e
me pegou pelas coxas, puxando para frente.
Ele não tirou a minha calcinha, eu também não, mas me pressionou
contra a parede, me beijando de verdade e com muito mais intensidade que
no dia do nosso casamento. Aquele beijo me deixou incendiada. A água
quente caía sobre nós, meu cabelo estava todo molhado e o que sentia entre
as minhas pernas estava com um tipo de molhado diferente .
— Posso fazer você gozar como você se tocou no sofá?
— Sim... — Gemi e ainda me mantendo no colo, chegou a minha
calcinha para o lado. Joguei a minha cabeça para trás, com o meu gemido
ecoando no banheiro sentindo tantas emoções diferentes e o meu corpo
parecia tomado, possuído por uma onda de prazer que eu sequer tinha
coragem de sentir vergonha.
O olhar do Enrico estava em mim, nas emoções no meu rosto e ele me
beijou, levando os meus gemidos, chupando a minha língua, com os seus
dedos fazendo mágica entre as minhas pernas. Empurrei as minhas unhas nos
seus braços quando ele chupou o meu peito.
Gozei nos seus dedos. Gozei de verdade. Minhas coxas até arderam.
— Que bela visão, porra. — Ele gemeu, chupando o meu peito.
— Ah...
Saímos do banheiro aos tropeços e beijos. Eu não queria parar. Não
conseguia parar. Queria tudo que ele poderia me dar. Parecia até um sonho
que finalmente estava sendo melhor. Caí na cama de costas, toda molhada e
ele pairou sobre mim, com um sorriso e um olhar diferente, que não consegui
decifrar...
— Você é tão linda e perfeita... Um anjo muito sedutor. — Falou
baixo, chupando o meu lábio inferior. — Quero tudo de você, Luna.
Seu telefone começou a tocar, ele ignorou, me beijando e explorando
meu corpo com as mãos. Fora do chuveiro e da escuridão do banheiro,
comecei a me sentir bastante consciente do meu corpo. Queria saber o que
fazer e como tocá-lo de volta, mas o seu telefone tocando quebrou a minha
névoa sexual e estava cada vez mais tensa. Enrico bufou, afastando a boca da
minha e pegou o aparelho.
— O que é, caralho? Ah, foda-se. Ok. — Arremessou o telefone longe
na cama.
— O que aconteceu?
— Precisaremos ir para a Itália e sem previsão de volta.
— Tudo bem. — Ergui a minha mão e timidamente acariciei o seu
rosto, sentindo a textura da sua barba e passei o polegar na sua boca.
— Me beija.
Era quase uma ordem.
— Me beija você. — Falei tímida, querendo bancar a ousada.
— Acho que não quero mais parar...
Quase pedi que ele, por favor, não parasse. Infelizmente, precisávamos
nos arrumar para sair. O avião iria decolar em uma hora. Não daria tempo
para secar o meu cabelo e desembaracei às pressas. Enrico ficou no escritório
pegando algumas coisas enquanto eu me vestia, escolhi uma calça de
moletom, um cropped azul escuro e peguei o casaco da calça.
— Não vai usar um sutiã? — Ele entrou no closet olhando os meus
mamilos atiçados e marcando na blusinha.
— Muito tempo de viagem.
Terminei de me arrumar, guardei a comida na geladeira e nós saímos.
Giovanna estava calada, o que era um milagre, então, havia acontecido algo
realmente tenso. Em silêncio, Enrico dirigiu até o aeroporto e estávamos em
uma comitiva de carros. Os mesmos guardas de sempre iriam conosco. Era
um círculo de confiança que eles mantinham e não parecia quebrar. Damon
sabia como fazer com que os seus soldados fossem letais e valorizados.
A vaidade faz o homem, isso não era novidade.
Estava faminta quando embarcamos e ao invés de comer o hambúrguer
monstro, pedi uma salada verde com salmão grelhado. Cada vez que o Enrico
me olhava, sentia que o meu rosto ficava vermelho e um calor intenso me
dominava. Evitava olhar de volta, não tinha certeza se não me inclinaria e o
beijaria como os meus lábios formigavam de vontade.
Como o voo era longo, sempre dormíamos, ao invés de se embolar na
poltrona, Giovanna puxou uma cama, armou e se deitou. Não levou cinco
minutos para o Damon deitar-se com ela. Ele nem disfarçava o dengo com a
sua barriguinha linda. Enricou puxou a poltrona para mim, transformando em
uma cama e eu me aninhei, tirando os sapatos e fiquei surpresa quando ele
deitou-se. Senti a sua arma ao passar o braço na sua cintura, então, levei a
minha mão um pouco para cima.
Deslizando o zíper do meu casaco bem devagar, sua mão quente tocou
a minha barriga e subiu por dentro da minha blusa, alcançando o meu seio e
nos beijamos. Ele torceu o meu mamilo e senti uma onda de choque percorrer
todo o meu corpo. Sem parar de nos beijar, minha boca estava quase dolorida
quando senti um solavanco no banco.
— Sem sexo no avião! — Damon gritou e eu quase me sufoquei de
vergonha.
— Cala a boca, Damon! — Giovanna reclamou com ele.
— Ignore-os. — Enrico falou baixo e me cobriu ainda mais, me
protegendo da visão externa, mas sem tirar as mãos de mim.
Esperava que ele nunca tirasse as mãos de mim porque eu estava
necessitada por mais. Era a minha vez de viver e eu estava tão sedenta por
experimentar tudo que não considerava a possibilidade de ir devagar.
09
Enrico .
— Estamos sendo seguidos? — Damon conferiu no espelho
retrovisor.
— Não. — Bufei. Como se eles ousassem…
— Foi uma ameaça vazia. — Enzo falou do banco de trás.
— Vamos chegar em uma hora, vocês vão avisar? — Olhei o
relógio, conferindo a hora e o tempo. Estava longe de casa há uma semana e
justamente quando a Luna e eu rompemos nossas barreiras, aconteceu uma
merda gigantesca e precisei me afastar.
Para piorar o meu estado de nervos, a villa quase foi atacada. Porra.
Luna deve ter ficado tão assustada! Eu não conseguia parar de pensar nela, no
quanto precisava ver se estava inteira. E o foda que não havia um vivo para
descontar o meu ódio se ela estivesse com um arranhão.
— Você não avisa a sua esposa quando sai? — Enzo conferiu como
quem não quer nada.
— Não. — Encolhi os ombros.
— Dá um desconto, ele se casou ontem. — Damon riu de um jeito
irritante.
— Por que? Tem que avisar? — Olhei para os dois. — Não sei se é
uma boa ideia relacionar a Luna com informações que fazemos na rua…
— Hum... — Enzo cantarolou.
— Vai falar ou não, caralho? — Explodi, sem nenhuma paciência.
— Não. Eu tive que me foder, Damon teve que se foder e agora você
vai se foder também. Quando acontecer, pode nos procurar que iremos
explicar. — Ele rebateu, todo engraçadinho e decidi ignorar. Não dava para
levar os dois a sério.
Continuei dirigindo em alta velocidade e nós sequer fomos parados,
porque a polícia sabia que estávamos em uma semana tensa. Eles estavam em
uma folha de pagamento tão antiga que provavelmente já estava desbotando.
A polícia na Itália era menos pé no saco do que a polícia em Chicago.
Aproveitei que a estrada estava vazia para acelerar porque nós três
gostávamos de fazer muitas coisas juntos, principalmente o que fizemos na
última semana, mas era óbvio que gostaríamos de voltar para casa.
Os dois patetas não avisaram para suas esposas que estávamos
chegando. Estacionei o carro no meio da villa, os guardas voltaram um pouco
mais cedo, mas eles não fariam alarde sobre isso. Em silêncio, passamos por
dentro da casa do Damon para encontrá-las na piscina. Juliana, como sempre,
estava falando alguma merda que deixaria o Enzo maluco, mas eu ouvi o
murmúrio baixo da Luna sobre eu ter visto alguma coisa e a nossa presença a
deixou roxa.
— O que elas estão falando? — Damon perguntou bem baixo.
— Ouço bem, mas nem tanto. — Enzo resmungou.
Amália correu até o seu pai, querendo colo e Damon imediatamente foi
até a Giovanna. Luna entregou a Anna para Juliana, assim eles poderiam se
reunir em família. Me aproximei da piscina e quase desfaleci ao vê-la sair da
água, com um minúsculo biquíni vermelho. A água escorrendo no seu corpo
quase me deixou tonto. Peguei uma toalha e a envolvi, foda-se que eles eram
casados, eu não a queria exposta.
Abandonamos os casais porque eu não queria socializar. Luna estava o
tempo todo me olhando enquanto praticamente a rebocava para a nossa casa.
Zeus e Apolo estavam quase derrubando o portão do canil, mas eu ainda iria
falar com eles. Fechei a porta atrás de mim com um estrondo e a puxei pela
toalha.
— Você está bem? — Olhei para o seu rosto.
— Ué, sim. Por que? Aconteceu alguma coisa? Vai acontecer mais
alguma coisa? — Seus olhos se arregalaram comicamente e sorri.
— Não. Estou falando sobre o que aconteceu semana passada, nós
só nos falamos por telefone rapidamente.
— Ah, sim. Na hora foi meio assustador, mas eu demorei a entender
o que estava acontecendo, além do sono porque eu tinha bebido muito vinho,
não dava para ouvir nada. Acho que sou extremamente desatenta quando se
trata dessas questões. Juliana impediu que qualquer ataque chegasse à casa e
os guardas foram muito eficientes. — Mordeu o lábio. — E passamos a
semana muito bem. — Então as bochechas ficaram coradas. — Senti a sua
falta.
Não consegui não sorrir. Ela era boa e inocente demais. Cheguei mais
perto, segurei o seu rosto e a beijei. Precisava beijá-la. Sua boca começou
tímida e com um pouco de incentivo, acompanhou meu ritmo. Passei o meu
braço na sua cintura, tomando cuidado em posicioná-la corretamente no meu
colo e a levei para a sala. Luna estava com o rosto vermelho de acompanhar o
meu beijo, minha barba deixou o seu rosto um pouco irritado.
— Oi. Uau. — Ela suspirou e olhou em meus olhos.
Não podia acreditar que essa garota perfeita me queria.
— Você dormiu bem? Comeu alguma coisa? — Seu olhar
preocupado encontrou o meu e sorri. Não tinha dormido e muito menos
comido muito bem. Eu poderia dormir um pouco, mas só se ela ficasse na
cama e eu definitivamente estava querendo comer... não a comida. — Quer
subir e descansar um pouco?
— Sim, mas antes quero retomar onde paramos semana passada, se
você estiver confortável.
— Tudo bem. — Assentiu e pareceu meio incerta. — Como você
gosta?
— Do que?
— A depilação, como você gosta?
— Hum... — Nunca pensei nessa merda. Pelos não iam me impedir
de devorá-la, isso era certo. — Por que? — Eu precisava entendê-la primeiro,
porque algo na minha mente alertava que podia ser uma pegadinha. Não
queria que ela se irritasse e se afastasse.
— Acho que preciso conhecer você, os seus gostos…
— Luna, eu não sei como falar isso sem ser grosso, mas porra, os
seus gostos também importam. Não sei que tipo de criação você teve, nem
quero opinar sobre isso, porque vou ofender seus familiares, mas eu quero
que a gente tenha muito respeito pelo outro, que você entenda que existem
partes do meu trabalho que não poderei compartilhar e nem sempre falarei
sobre o que você quer, principalmente se isso for te colocar em perigo. —
Ergui o seu rosto. — Não precisa abaixar o olhar, espero que tudo entre nós
seja muito bom e gostoso, mas porque nós queremos. Você pode se depilar
do jeito que quiser, isso não vai me afastar de você.
— Entendi... Você se depila?
— Sim. Eu não gosto, espero que não te incomode.
— Acho que está tudo bem por mim. — Encolheu os ombros de um
jeito adorável.
Beijei o seu pescoço só para deixá-la arrepiada. Luna suspirou, do seu
jeitinho gostoso e puxei a sua toalha só para ver a reação se estendendo por
todo o seu corpo. Seu olhar encontrou o meu e nossas bocas se encontraram
como se tivéssemos um imã. Agarrei a sua coxa, com as mãos coçando para
dar um aperto na sua bunda e lembrei do quão gostosa ela estava no sofá, se
masturbando, chupando um pirulito e apertando o seio. Quase gozei nas
calças sem nenhuma porra de ajuda.
Luna ficou de pé e eu estava hipnotizado, como se o seu corpo
entoasse um tipo de canto de sereia. Eu a seguiria para qualquer lugar como
um babão naquele biquíni enterrado na bunda. Puxei um laço e fiz uma
expressão de “ops”. Ela riu e eu puxei o outro. Puxei a peça de entre as suas
pernas, jogando longe. Ela tinha os pelos pubianos bem clarinhos, mantinha
aparado e depilava os lábios que eu estava louco para lamber.
Subi minhas mãos da sua cinturinha para a sua barriga, apertando os
seus seios e puxei o laço atrás, soltando e ela terminou de tirar. Nua, era uma
deusa. Beijei a sua barriga, passando a minha língua provocativamente nas
suas costelas e olhando em seus olhos, lambi o seu biquinho rosado
arrebitado. Se fosse qualquer outra mulher, eu já estaria avançando como um
louco, mas eu estava treinando a minha mente para ir devagar com ela. Luna
era tão doce e confiava em mim.
Mereceria toda a sua confiança como seu homem.
Como o seu marido.
Agarrei a sua bunda, querendo que voltasse para o meu colo, mas eu mudei
de ideia. O sofá ainda não. Era uma das suas muitas primeiras vezes e eu não
queria que fosse no sofá, embora tivesse algumas fantasias com ela agarrando
o couro enquanto a fodia por trás. Isso seria excelente em outro momento.
Dei um tapa estalado na sua nádega e sorri com sua puladinha.
— Vem, vamos subir. — Ela ia abaixar para recolher a bagunça. —
Luna... Essa é a nossa casa. Pode ficar bagunçada, depois nós arrumamos.
Talvez fosse muito mais difícil para ela relaxar quando a sua mente
estava profundamente condicionada a servir o tempo inteiro. Eu ia ensiná-la
que ela era servida. Adorada. Seu olhar de anjo merecia a porra de um tapete
vermelho com milhares de pessoas ajoelhando em adoração. Incluindo os
seus tios.
No quarto, tirei a minha camisa, a calça, chutando as meias e os
sapatos para longe. Precisava tomar um banho e eu queria fazer isso com ela.
Não queria dar tempo para a sua mente encher de inseguranças e fechar-se
novamente. Uma chuveirada iria ajudar e ela não reclamou, pareceu ansiosa e
curiosa quando lhe dei o sabonete líquido.
— Hum... Você quer que eu te lave?
— Sim... Porque irei fazer o mesmo, mas acho que não vai pensar
muito quando terminar com você. — Provoquei e ela esfregou as mãos uma
na outra, criando espuma e achei muito adorável que começou pelo meu
pescoço, descendo pelos ombros, levou um tempo na minha barriga e parou
próximo ao meu pau... Seu olhar era até cômico. — Pode tocar... Acho que
deveria se familiarizar com ele e espero que sejam melhores amigos. — Sorri
e seu rosto corou.
Luna parecia incerta, tocou com cuidado, sentindo, apreciando e
quando lambeu os lábios, minha mente era pura putaria. Queria a sua boca no
meu pau a qualquer custo.
— Me ensina como tocar? — Seus olhos verdes eram tão penetrantes que
sentia na minha alma, mas aquele olhar ansioso e safado esquentava o meu
sangue.
Agarrei o meu pau e mostrei, não foi preciso muitas vezes, logo ela
estava me tocando com afeição, curiosidade e eu estava realmente com tanto
tesão que poderia gozar na sua barriga. Luna me deu um olhar engraçado,
pegou o chuveirinho e tirou a espuma e lentamente, se ajoelhou.
— Luna... — Grunhi, quase trincando os dentes.
— Você não gosta? — Sua voz era baixinha.
— Porra, eu adoro, mas eu pensei... — Minha voz morreu com o seu
rosto lindo tão próximo ao meu pau. Luna assoprou. Porra.
— Então me ensina... Andei assistindo a uns vídeos e fiquei muito
curiosa. É bem duro, tem uma textura... Quero sentir na boca. Estou sendo
atirada? Posso falar isso com você, certo?
— Você deve ser atirada comigo o quanto quiser, caralho. — Não
conseguia mais ser delicado. — Se você quer, eu não vou negar, mas não faça
isso por obrigação. — Odiava a porra da ideia de abusá-la de alguma
maneira. Chegava a doer.
— Já disse que eu quero. — Confirmou e as suas bochechas não
podiam estar mais vermelhas.
Luna não me esperou dizer mais nada, provavelmente tomada por uma
injeção de curiosidade, lambeu a cabeça do meu pau. A combinação da sua
timidez, a nossa primeira vez e o fato de estar ensinando o seu primeiro
boquete me deixou com tanto tesão que a minha mente estava em branco e
tudo que pensava era nos seus lábios rosados perfeitos, me engolindo,
chupando, seguindo atentamente as minhas instruções. Aprendiz rápida ou
muitos vídeos pornôs, agarrei o seu cabelo, perdido.
— Não, não, solta... — Gemi e ela soltou com um estalo, foi o
suficiente para o primeiro jato de porra bater no seu queixo. — Caralho,
porra. — Bati minha mão na parede, gozando tão forte que só ouvia as
batidas do meu coração. Além de punhetas nos últimos meses, aquela era a
primeira vez que gozava com uma mulher após um longo tempo.
Coloquei-a de pé e limpei o seu rosto.
— Desculpa, eu não consegui segurar.
— Isso significa que foi bom?
— Isso significa que foi incrível. — Me inclinei para beijá-la e ela
ficou tensa. — O que foi?
— Hm, eu acabei... — Apontou para baixo.
— Luna, eu vou te beijar pra caralho, mesmo com o meu gosto na
sua boca assim como eu vou chupar a sua língua depois de te chupar todinha.
Isso é nosso, sobre nós dois e não tem vergonha ou nojinho.
Seu sorriso foi safado, como se a ideia de existir algo sobre nós fosse
maravilhosa na sua mente e eu senti que era exatamente isso que ela queria.
Conexão. O sentimento de pertencer a alguém. Luna era a órfã que vivia com
tios que não a tratavam como filha.
— Você é minha, Luna. — Agarrei o seu cabelo, beijando a sua
boca com toda minha fome. Ela gemeu e terminei o nosso banho, porque eu
ia mostrar a ela o quão boas as coisas poderiam ficar entre nós.
Molhados, joguei-a na cama, eu gostava um pouco de brutalidade e
queria mostrar a ela, mas eu também poderia ser mais suave. Por ela. Por ser
a minha esposa, minha mulher e para sempre. Passei muito tempo comendo
putas, pegava a mulher que eu queria, comia contra a parede do banheiro, um
corredor, dentro do meu carro ou usava as garotas do clube que eu tivesse
vontade. Mas quando fiquei noivo... mudou.
Não sabia o que esperar, não sabia o que pensar, era um casamento
político, mas cada vez que fodia uma mulher, me sentia sujo e indigno dela.
Da mulher que estava pura, sendo guardada para mim, esperando
ansiosamente o momento que fosse minha. Eu não podia manchar isso. Não
queria e então, eu parei. Não falei para ninguém, não precisava que me
enchessem o saco sobre isso e no momento, com a Luna na minha cama, tão
cheia de expectativa, com um olhar brilhante e intenso...
Não conseguia não me sentir o homem mais sortudo do mundo.
Luna era uma tentação.
E no meu mundo... tentações eram muito perigosas.
10
Luna.
Estava vivendo um sonho. Ou pelo menos, uma realidade alternativa.
Deitada na cama com o meu marido, nua, aninhada em seus braços, com o
meu nariz tocando a pele quente do seu pescoço e embriagada com o seu
cheiro masculino. Ainda estava envolvendo a minha mente ao redor de tudo
que aconteceu nas últimas horas e tudo que conseguia fazer era sorrir. Um
sorriso que me enchia de orgulho.
Podia parecer estranho ou o que fosse, eu não me importava. Cresci
precisando me esconder. Me proteger. E agora eu tinha alguém, que por mais
que não houvesse amor, estava disposto a compartilhar a vida e me fazer uma
mulher de verdade. Sua mulher em todos os sentidos da palavra. Embora
Enrico fosse muito difícil, ainda havia um longo caminho pela frente, ele não
estava fugindo de mim. Foi tudo... um desencontro. Ele achava que me tocar
seria um abuso porque acreditava que eu tinha medo. O idiota só não levou
em conta que era tudo novo para mim.
E ser um marido também era novo para ele.
Ainda assim... Caramba! Tudo que aconteceu no chuveiro e nessa
cama. Nós não tivemos nenhuma penetração. Bem, retiro o que disse, ele
penetrou seu dedo, só um pouco, me provocando e me fazendo ansiar uma
penetração real. Eu não queria esperar mais. Estava louca para dar tudo de
mim logo. Meu marido me levou ao orgasmo várias vezes, a última vez foi
tão intensa que cheguei a dar uma leve apagada. E eu o fiz gozar três vezes –
duas com a minha boca. Até que gostei dessa coisa de chupar... E eu amei ser
chupada. Dio , não sairia mais dessa cama.
A nossa família tinha outras ideias.
— Eu sei que vocês estão tirando o atraso! — Damon socou a porta da
frente. — Parem com isso e venham comer! Eu quero ficar bêbado logo!
— Porra, ele é insuportável. — Enrico resmungou e sorri. — Não acho
engraçado, eu não fui tão empata foda assim, puta que pariu.
— Faz parte do humor dele.
— Desde sempre. — Seu comentário foi meio azedo, mas eu sabia que
eles não se desgrudavam. Mesmo com raiva do outro.
Escorreguei para fora da cama e me cobri, consciente demais da minha
nudez e o Enrico puxou os meus braços, deixando os meus peitos expostos e
sentou-se na cama, me colocando entre as suas pernas.
— Não se esconda de mim. — Pediu baixinho e corei. — Nunca se
esconda de mim. Aqui dentro… é a nossa casa. — E beijou cada um dos
meus peitos, me fazendo rir. — Acho melhor você se vestir ou não vamos
sair daqui...
— Não me oponho.
Enrico sorriu e cada vez que ele sorria, meu coração palpitava. Ele
tinha toda pinta de bad boy , um verdadeiro gângster, tatuagens assustadoras,
um olhar afiado e um sorriso perigoso, mas aquele tipo de sorriso era único.
Um sorriso fácil, feliz... Um sorriso bom. Um sorriso para mim. Para quem
nunca teve nada, ter um sorriso era mais valioso que pedras de diamante.
Precisei tomar outro banho, dessa vez de verdade e eu tentava não
corar como uma boba quando ele andava nu entre o banheiro e o quarto. Me
sequei, parei na frente do espelho e sequei o meu cabelo com o secador. O
vento estava muito gelado e não precisava ficar gripada. Corada de sol, passei
um pouco de rímel e um gloss vermelhinho, fiz um pequeno biquinho, dando
batidinhas com o indicador para não ficar todo molhado, ele parou com a
toalha no cabelo me olhando.
— O que foi?
— Não foi essas coisas aí que te deixou com alergia? — Apontou com
o queixo.
— Foi outra coisa.
Enrico era observador, ele só não tinha falado nada antes porque ele
não quis. Saí do banheiro e escolhi um macacãozinho curto, salmão e uma
blusinha verde claro, era um mix de cores que não parecia combinar muito,
mas ficavam bem juntos. Foi uma das roupas que comprei sem experimentar,
olhei de costas e estava perigosamente próximo à popa da minha bunda e
como estava bonito... não troquei de roupa. Peguei um casaquinho cardigan
branco e separei, caso sentisse frio.
Me inclinei para fechar as sandálias rasteiras douradas no momento
que ele entrou no closet, ainda nu, pegou uma cueca e ficou me olhando,
analisando e eu pensei que fosse reclamar da minha roupa.
— O que foi? — Não conseguia não perguntar.
— Por que antes você usava aquelas roupas... — Ele não sabia como
classificar.
— Feias? — Sugeri e não falou nada. Não queria se comprometer. —
Não era bem a minha opção. — Minimizei, lembrando que eu não podia falar
muito sobre os meus tios.
— A Gio costuma usar esse tipo de roupa muito curta... Isso é a sua
opção também?
— Hum, sim. Te incomoda?
— Na verdade, eu vou ficar meio enciumado quando não estiver
comigo, mas se é a sua opção, tudo bem. Gostaria que você deixasse o que
outros querem que você faça de lado, entendeu? — Ele estava tentando
conversar comigo sem soar grosseiro. — Olha, você é a minha mulher, você
vai se vestir do jeito que quiser, se eu tiver algo a dizer, vou dizer e foda-se
isso, entendeu? Não quero ninguém te dizendo o que fazer. Damon é o boss,
mas fora de casa. Dentro, somos família e a Gio...
— Ela não me disse o que vestir, me deu dicas e me ajudou muito. Está
tudo bem, entendi o que quer dizer. — Apaziguei a sua confusão.
— Conheço a Gio, ela nunca te imporia nada, mas eu precisava ter
certeza. — Encolheu os ombros, começando a se vestir e voltei a fechar a
sandália. Peguei o meu creme hidratante e me distraí, porque eu gostava do
momento em que eu cuidava de mim mesma. Na casa da minha tia, eu não
podia me perfumar e muito menos cuidar da minha pele. Em épocas mais
frias, costumava fazer uma misturinha de óleo de cozinha com sabonete
líquido, para manter minha pele saudável.
Quando dei por mim, Enrico estava pronto, de bermuda, descalço e
uma camisa branca. Ele estava armado. Ele nunca deixaria de estar armado e
não era pela nossa família. Era porque em uma vida como a nossa, andar
desarmado significa a morte. Comecei a recolher a nossa bagunça, mas ele
simplesmente pegou a minha mão e começou a me puxar pelo corredor,
descendo a escada e saímos de casa.
Juliana e Giovanna estavam na cozinha. Damon e Enzo estavam na
varanda que dava para a piscina, com as três meninas acordadas e o Enrico só
me deu um olhar antes de seguir na direção deles.
— Onde precisam de ajuda? — Me ofereci já lavando as mãos.
Giovanna me deu um sorriso enquanto mexia uma panela enorme de molho
de tomate e Juliana ralava o queijo parmesão, também rindo. — O que deu
em vocês?
— Sua pele está brilhando... — Giovanna murmurou do fogão.
— Finalmente viu a criatura de pé? — Juliana soltou fazendo com que
Giovanna gargalhasse. — Viu tudinho?
— Hum... Sim, eu vi. Toquei e...
— Chupou? Safada! — Eu ri, felizmente a Juliana não estava falando
alto.
— Precisamos brindar a isso... Enrico finalmente se deu conta da
mulher que ele tem! — Giovanna pegou a sua taça com água, Juliana me
serviu com vinho branco da Villa Valentinni e nós brindamos. — A todos os
dias de sexo alucinante e chupadas que deixam os nossos homens de joelhos!
— Batemos as nossas taças juntas e bebi quase metade da minha taça. —
Bem que esperma podia ter gosto de vinho, não é? — Giovanna, como
sempre, soltou um pensamento aleatório.
Pulverizei o meu vinho, rindo, pensando no gosto e a Juliana começou
a rir alto. Os três olharam para nós do lado de fora, curiosos e ela
simplesmente fechou a porta da cozinha que dava para o corredor. Enquanto
eles ficavam lá fora, nós cozinhamos e contei a elas que o Enrico estava
relutante porque achava que eu não queria. Juliana riu e disse que o Enzo
nem lhe deu espaço para pensar e Giovanna concordou que o Damon estava
ansioso para estourar a sua cereja, mas levou algumas semanas para fazer.
Elas não me julgaram quando confessei que não queria esperar.
Se não fizesse parte dessa família, com uma criação extremamente
rígida, se fosse uma garota normal, já não seria virgem há muito tempo. Não
fazia sentido na minha cabeça romantizar o sexo. Eu já tinha tudo que queria:
a minha própria casa, a minha vida e estava fora do domínio dos meus tios.
Nunca mais voltaria para a casa deles.
E como toda família tradicional italiana, nos reunimos ao redor de uma
grande mesa, espalhamos uma quantidade insana de massas, molhos
variados, diversos tipos de queijo e muita bebida. Juliana deixou que as
meninas comessem à vontade, o que significava que elas sujaram com massa
e molho de tomate tudo que estava ao alcance. Aria até me deu uns pedaços
de queijo mastigado. Ela era tão fofa.
Enrico serviu mais vinho na minha taça quando me levantei para
empilhar os pratos e liberar mais espaço na mesa, ao invés de me deixar
voltar para o meu lugar, me puxou para o seu colo. Nunca fiquei tão perto
dele na frente de outras pessoas. Damon ia soltar uma piada, mas a Giovanna
foi rápida em beliscá-lo. Enzo apenas riu. Ignorei os dois e me concentrei na
felicidade em estar próxima do meu marido.
No meio da madrugada, voltamos para a nossa casa e eu andei na sua
frente, o tempo todo me sentindo consciente do seu olhar. Estava andando em
zigue-zague e ri disso, parando, tentando me concentrar em andar em linha
reta, sem conseguir conter a risadinha por estar meio bêbada. Quase errei o
portão, o que me fez rir mais ainda.
— É por aqui, senhora. — Enrico me colocou no lugar certo. Ele abriu
a porta e fechou atrás dele, abaixei para tirar as sandálias e por um milagre
não caí de bunda no chão. Ele estava bebendo água, me olhando quando eu
passei por ele, abrindo a geladeira e achei pirulitos.
— Você comprou?
— Sim... Parece gostar.
Abri um e enfiei na boca. Chupei, fazendo um estalo e sorri,
saboreando com a minha língua, de um lado ao outro, arrastando pelos lábios
e ele colocou sua garrafa de água para baixo, me beijando, chupando o meu
lábio. Enfiei o pirulito na sua boca, bebi um pouco de água e ele me pegou no
colo, apertando a minha bunda com prazer e me beijou de novo. O gostinho
de cereja ficava ainda melhor na sua boca.
— Vamos para a cama. — Falou baixo, com tesão.
— Oba! — E ri.
— Para dormir, você está bêbada.
— Ah...Estou apenas muito feliz.
— Eu vi a sua felicidade, abraçada com a garrafa de vinho e comendo
sorvete. — Sorriu torto e me colocou na cama.
— Amo sorvete, a última vez que comi eu era criança e morava com os
meus pais. Sorvete só se eu fosse uma boa menina e eu nunca era uma boa
menina, porque eu era bonita. A Mia, coitada, amava chocolate. Eu dava a
escondido, shhh — O riso borbulhou e não consegui conter. — Estou tonta.
— O que você está falando, Luna?
— Amo sorvete. — Fechei os meus olhos.
— E o que mais? — A voz dele estava distante.
— Meninas bonitas como eu não são boas... elas são más. — Coloquei
o meu dedo na boca. — Shh... Meninas bonitas fazem bons homens cometer
o pecado...
— Que pecado?
— Do sorvete.
— É mesmo? — Senti a sua mão na minha. — O que acontece quando
elas não ganham sorvete? — Sua voz era suave e estava sentindo sono... Que
saudades da Mia. — Luna, me responde.
Soltei um bocejo e adormeci.
Acordei assustada, com calor, minha cabeça doendo e sem roupa.
Enrico estava do meu lado e acordado. Parecia que o meu movimento súbito
o acordou. Saí da cama, precisando fazer xixi, nem olhei para trás, fechei a
porta, usei o banheiro, escovei o dente e usei o enxaguante bucal para tirar o
terrível gosto da língua. Me enrolei no roupão de banho e prendi o meu
cabelo.
— Vem aqui, donna vino . — Engatinhei na cama e me deitei em cima
dele conforme queria. Beijei o seu peito e ele me abraçou. — Está de ressaca?
— Se me sentir um lixo com a cabeça explodindo se chama ressaca,
sim.
— Você bebeu quase nada.
— Não estou acostumada a beber, mas eu adoro vinho branco, ainda
mais se for suave. — Comentei e ele acariciou as minhas costas, quase me
fazendo dormir novamente.
— Mandei comprar o seu sorvete favorito.
— Sério?
— Por que nunca comprou antes?
— Não quis abusar, comprei apenas comida.
— Abusar? — Ele bufou. — Luna, você pode comprar o que quiser.
— Obrigada. — Beijei o seu queixo.
— Luna... Alguém já tocou você? — A voz dele era muito baixa.
— O que você quer dizer? — Ganhei tempo, querendo ter certeza do
que estava falando. Mesmo que ninguém além dele tivesse me tocado, essa
pergunta poderia ser uma armadilha para uma próxima.
— Não me enrola, apenas responda. É bem simples.
— Ninguém além de você.
— E já foi castigada por ser bonita. Não minta.
Merda. O que eu falei bêbada?
— Luna, não minta. Não precisa de muito para pensar.
— Hum... Por que estamos falando sobre isso?
— Porque eu quero saber. — Seu tom foi definitivo.
— Se é só por isso, não precisamos falar. — Dei de ombros.
— Luna. — Falou severamente.
Respirei fundo e mordi o meu lábio.
— Enrico... — Me movi e fiquei montada em seu colo. — O que isso
importa agora? Já passou, estou aqui e não estou mais lá.
Ele ficou me olhando... Sua mente estava calculando e eu não queria
falar ou pensar nos meus tios e em tudo que a minha tia fez comigo. Não
precisava mais, aquele tempo finalmente terminou. Soltei o meu cabelo e me
inclinei sobre ele, parei a minha boca bem próximo à sua e não o beijei.
Arrastei a pontinha da minha língua no seu lábio inferior e me deliciei com o
seu arrepiar. Enrico sorriu e segurou a minha nuca, me beijando e soltei a sua
mão, era a minha vez de explorar.
Rindo, sem me impedir de tocá-lo, descansou as duas mãos na minha
bunda nua. Distribui beijos pelo seu rosto, pescoço, provoquei a sua orelha,
descendo beijos pelo seu peitoral, belisquei o seu mamilo e mordi a pele da
sua barriga, admirada pela maneira que ela era totalmente pintada, em cores
diferentes e no espaço de pele sem desenho chupei, para deixar marca.
— Porra... Um chupão. — Enrico gemeu, enfiando a mão no meu
cabelo. — Você quer me marcar?
— Claro, por que não? — sorri e desci ainda mais, fazendo com que
ele esquecesse de fazer perguntas sobre o passado e se interessasse pelo
nosso presente.
11
Luna.
Giovanna estava jogada no sofá, me encarando e eu estava tentando
não rir.
— Isso é muita maldade, sabia? Deu ou não deu?
— Quase. — Sorri torto. — Damon ligou na hora que estávamos quase
lá.
— Meu marido é um empata foda de carteirinha.
— Ele é... Mas está tudo bem, estou aproveitando esse avanço. Algo
me diz que quando finalmente estourar a cereja, não vou ficar muito à
vontade.
— Ficou desconfortável por um tempo, a minha única dica é relaxar e
aproveitar as preliminares. Damon e eu fazíamos em algumas posições que
estimulava o meu ponto G, assim mesmo sentindo desconforto, gozava feito
louca. Felizmente, isso passa e depois é só diversão. — Sorriu torto.
— E o bebê?
— Ai, Luna. Estou amando tudo isso, mais do que nunca tenho a
certeza de que fiz certo em esperar o meu tempo, porque agora, tudo que
sinto é felicidade e um pouquinho de ansiedade.
— Adoraria bordar o enxoval do seu bebê.
Giovanna ficou com os olhos marejados.
— Jura? Eu quero, ah... vai ser lindo. — Levou as mãos ao coração.
— Seus hormônios estão te deixando uma bagunça.
— Sim, estão. Damon está ficando maluco, é tão divertido vê-lo
desesperado por isso. É muito provável que ele enlouqueça de vez nos
próximos meses. — Giovanna me deu um sorriso traquina. — Já conversou
com o Enrico sobre filhos?
— Não... Estou com medo de que ele queira filhos imediatamente.
— Duvido muito, eles fogem de crianças como se elas fossem uma
praga. Deveriam conversar, acredite em mim, já é difícil o suficiente com
muita conversa, imagina sem.
— É muito estranho ver um relacionamento assim... Cresci em um
ambiente no qual a esposa se sujeitava a tudo. Enquanto eu sinto que vá
enlouquecer se o Enrico encontrar uma amante, eu não sei o que poderia
fazer. Essa coisa toda de ter voz é muito nova para mim. — Encolhi as
minhas pernas e me abracei.
— Se ele tiver uma amante, você não tem que aceitar. Sei que não
existem divórcios na nossa vida, mas existe morte e para mim, é a mesma
coisa. — Deu de ombros. — Sou muito ciumenta, melhorei um pouco com o
tempo, tem coisas que não me incomodam mais e eu confio no Damon, mas
ele sabe que se me trair... eu vou matá-lo e eleger um novo marido e um novo
boss.
Soltei uma risada e puxei a colcha sobre as minhas pernas, sentindo um
pouco de frio. Era mais um dia que eles chegariam tarde e eu já estava com
sono. Não ia conseguir esperá-lo acordada. Quando a Giovanna dormiu
pesado, a cobri e deixei a Diana deitada na sala. Saí pela cozinha, acionando
o alarme e atravessei o pátio com Zeus e Apolo no encalço.
Comi uma salada de fruta e os dois ficaram me olhando, pedindo e
dividi uma banana entre eles, nunca vi cães com apetite para tudo. Eles me
seguiram até o quarto. Enrico não ligava que ficassem dentro de casa, porque
eram treinados para fazer suas necessidades do lado de fora. Nós dois iremos
embora no dia seguinte. Juliana e o Enzo partiram logo cedo, para a
residência deles na Itália e onde passavam a maior parte do tempo. As
meninas não costumavam ir para Nova Iorque e não deveriam até que
ficassem maiores.
Giovanna não ia voltar para Chicago até o nascimento do bebê. Ela
gostaria que ele nascesse aqui e em casa, pediu ao Enrico para que eu ficasse
no final da gestação com ela, porque não tinha certeza se não enlouqueceria
com sua mãe. Enrico garantiu que nós estaremos aqui definitivamente até o
bebê nascer. Ele e o Damon não ficavam separados e agora, seria preciso que
intercalassem as idas à Chicago.
Damon era o boss de todo o centro-oeste e sul, já o Enrico era o
subchefe da cidade de Chicago, o chefe de maior território e isso o colocava
no topo das outras cidades. Ele tinha um comando extenso e poderoso, mas
todos sabiam que ele e o Damon eram quase uma única pessoa. Enquanto os
dois ficassem vivos e seguros, não me importava com mais nada. Enzo tinha
o Alessio, agora seu cunhado e antes, primo da Juliana. Os poderes estavam
se ajustando.
A família que comandava a Calábria e alguns territórios espaçados
estava começando a ficar inquieta com a união.
Tomei banho depois de brincar com os cachorros, fiquei toda
arranhada e babada. Eles eram brutos, mas cheios de amor. Vesti minha
camisolinha verde clara e me joguei na cama, sonolenta, mas o meu telefone
vibrou. Acreditando ser o Enrico, fiquei surpresa ao ver um número com o
código de área da Villa Valentinni.
— Alô?
— Luna? — Era uma voz feminina. — Oi, a gente estudava na mesma
escola. Eu sou Carina, irmã do Enzo. Tudo bem?
— Sim, tudo e você? — Sentei-me na cama, preocupada.
— Desculpa te ligar tão tarde... A sua prima, a Mia, me mandou uma
mensagem tem alguns dias. Eu não vi porque quase não abro as solicitações
de mensagens do instagram. Ela fez um perfil fake e me pediu ajuda para ter
o seu número... Pedi para o meu marido verificar e é realmente dela, porque
o acesso é sempre na rede wifi da nossa antiga escola.
— Me passa o perfil, eu vou entrar em contato com ela. Eu não sei se
ela me enviou alguma coisa, porque o meu é privado e não costumo olhar as
mensagens também.
— Fiquei preocupada pela maneira que ela insistiu, não sei, apenas
me deu alguma coisa. — Carina confessou.
— Obrigada por me ligar.
— Se precisar de alguma coisa, só me falar.
— Obrigada, de coração.
Carina me passou o perfil, agradeci mais uma vez e dei uma olhada nas
minhas solicitações, encontrando o perfil indicado. Poderia ser a Mia assim
como poderia ser qualquer garota da escola. Aceitei a solicitação e enviei
uma mensagem, fazendo uma pergunta que só a Mia poderia responder. O
tom da sua mensagem era desesperado, me deixou com o coração na mão e o
pior de tudo... era final de semana e eu estaria viajando a maior parte dos
próximos dias.
Se ela só acessava na escola, significava que sua mãe estava
monitorando o seu telefone. Ela deveria excluir o aplicativo a cada final de
aula, para não ser pega. Eu fazia isso e a ensinei. Preocupada, não consegui
mais pegar no sono e até saí da cama, me enrolando na colcha e desci a
escada com cuidado para não escorregar. Abri a porta dos fundos e me
aninhei na chaise long da piscina, abraçada com uma almofada e pulei
surpresa com o Apolo subindo e deitando atrás de mim.
Zeus deitou-se na minha frente, fiquei acariciando seu pelo escuro e
senti que a paz da noite me faria dormir. Eu tinha que ir para cama, mas ali
estava muito gostoso.
Abri os olhos ao sentir um par de mãos em mim e sorri com os lábios
do Enrico encontrando-se aos meus. Ele colocou o meu braço atrás do seu
pescoço e passou seu braço por baixo das minhas pernas, me erguendo em
seu colo junto com a colcha. Entrou em casa e imediatamente senti a
diferença de temperatura, estremecendo, beijei o seu pescoço e ele estava
cheirando a cigarro e outro tipo de perfume.
— Onde você estava? — Abri os olhos com dificuldade e esfreguei o
meu rosto.
— Na boate. Estou fedendo? — Sorriu torto e seus olhos brilhavam
com diversão.
— Sim. O que estava fazendo lá?
— Trabalhando. — Me deu um beijo nos lábios e tirou a camisa,
jogando no chão. — Por que estava lá fora?
— Perdi o sono, gosto de me deitar lá. — Murmurei e olhei a hora.
Três da manhã.
— Vou tomar banho, já volto. — Avisou e assenti, me arrastando na
cama para o meu lugar, ele apagou a luz e mesmo consciente dos seus
barulhos no banheiro, acabei pegando no sono. Quando acordei de novo, ele
estava do meu lado, parecia dormir e cheguei um pouco mais perto, deitando
a minha cabeça no seu peito e minha perna em cima da sua. — Por que está
inquieta? Normalmente você nem acorda...
— Não é como se você dormisse comigo a vida toda.
— Ainda não, mas um dia será como se fosse a vida toda.
Passei a minha perna pela sua cintura e montei em seu colo. Enrico
puxou a minha camisola, dando a entender que eu tirasse e tirei, estando
apenas com a minha calcinha preta. Ele ficou parado, como se só me
admirasse e só depois subiu as mãos das minhas coxas, me dando os toques
que eu realmente precisava. Seus beijos me deixaram aquecida, excitada e eu
não queria que fosse apenas uma sessão de preliminares. Eu queria muito
mais.
Enrico puxou a minha calcinha, separando as minhas pernas e
começou a me chupar bem gostoso. Relaxei na cama, gemendo e segurei o
seu cabelo, sentindo que poderia enlouquecer. Enrico me deixou pronta,
relaxada e pegou uma camisinha na gaveta. Por que ele pegou uma
camisinha?
— Tem certeza? — Olhou em meus olhos.
— Sim... Eu tenho certeza. — Falei baixo, com o coração explodindo
de receio e ansiedade.
Agarrei os lençóis e trinquei os dentes, era uma dor excruciante. Enrico
parou, com o rosto amassado e me olhou preocupado.
— Não quero que você pare, por favor. — Agarrei os seus ombros.
— Luna...
— Não. Não pare, sabíamos que ia doer. Você ainda quer isso, certo?
— Sei que está sentindo dor, mas eu estou com muito tesão porque é
você, a sua primeira vez e você é minha. — Me beijou e mesmo com os meus
joelhos dobrados, ele estava metendo devagar, num ritmo que deveria ser
punitivo para ele, mas para mim era como ir ao céu e voltar. Não em um bom
sentido.
Sabia que ia doer, mas nós dois não estávamos preparados. Doeu muito
para mim e imaginava que estivesse desconfortável para ele, mesmo assim,
foi capaz de gozar. No final estava satisfeita por ter atravessado a ponte da
virgindade e era uma mulher. Enrico tirou a camisinha e saiu da cama, para
jogar fora e eu me senti estranha de novo. Não queria falar sobre isso e estava
dolorida demais para pensar.
Aceitei o seu abraço, necessitada por estar em seus braços depois de
tudo. Não coloquei outra roupa ou sai da cama, o latejar entre as minhas
pernas quase me tirou o sono e me rendi ao analgésico perto do amanhecer,
finalmente capotando. Enrico me acordou com cuidado, distribuindo beijos as
minhas costas e pescoço.
— Bom dia, dolcezza . — Falou baixinho no meu ouvido e sorri. —
Temos que sair... — Beijou o meu ombro mais uma vez. — Te deixei dormir
bastante. — Deu um tapinha na minha bunda.
— Tudo bem, eu vou me levantar. — Resmunguei com sono.
Deveria estar quase explodindo de felicidade, por ouvir o seu apelido
carinhoso, mas... Eu não conseguia parar de pensar no fato que ele usou
camisinha. Por que essa barreira entre nós? Havia algo mais? Me arrumei,
pensativa e deixei a minha mochila organizada. Era bom não ter que fazer as
malas.
— Vou sentir sua falta. — Giovanna me abraçou com um beicinho. —
Está tudo bem? — Olhou em meus olhos.
— Conversamos depois, tá?
Enrico e Damon estavam prestando atenção em nós e eu não queria
fazer alarde. Abracei-a mais uma vez, prometendo voltar em breve e ri do
aperto de mão maluco que o Damon me atraiu para se despedir. Enrico abriu
a porta para mim e saímos da villa. Sempre me sentia estranhamente
nostálgica saindo de lá, apesar de amar a minha casa em Chicago. Para uma
garota que não tinha casa nenhuma, eu tinha muitas agora.
Ele colocou a mão na minha coxa, atraindo o meu olhar para ele e
sorri. Meu marido era um homem lindo e me tirava o fôlego. Sorrindo,
coloquei a minha mão no seu rosto, arrastando o meu polegar sobre os seus
lábios e ele beijou. Chupei o meu lábio inferior, querendo beijá-lo, mas no
trânsito não era uma boa ideia.
Fabiano e Antonio ajudaram no embarque, Enrico ficou para trás
falando com o piloto e eu me acomodei em uma das maiores poltronas.
Encolhi as minhas pernas, esperando-o entrar e não levou meia hora para
decolarmos. Peguei o meu kindle, começando a ler e me desconcentrando
toda hora porque sabia que o Enrico estava me olhando. Abaixei o aparelho e
o encarei.
— O que foi? Está me olhando direto.
— Você ficou estranha. — Seu cenho franziu. — Te machuquei
demais? — Seu olhar era quase desesperado.
— Não acho que tenha me machucado, doeu sim, mas agora, por
exemplo, estou apenas sensível.
— Então por que você ficou estranha? — Inclinou-se para frente.
— Você usou camisinha...
Enrico olhou em meus olhos.
— Você quer engravidar?
— O quê? Claro que não! — Percebi que fui muito veemente. — Quer
dizer, eu quero ter um bebê, sempre sonhei em ser mãe, ter um marido, a
minha própria casa e... — Respirei fundo, me acalmando. — Não quero ter
filhos agora.
— Também não, por isso usei a camisinha. Confesso que foi no
automático, mas eu pensei apenas no fato que poderíamos acabar tendo um
bebê na nossa primeira vez. — Suas mãos encontraram as minhas.
— Eu tomo pílula.
— Você toma? Por que nunca me falou sobre isso?
— Ah... Eu meio que pensei que você fosse ficar chateado porque não
conversamos sobre essa decisão. Em minha defesa, na época, você nem
encostava em mim. — Mordi o meu lábio. Enrico soltou o seu cinto e me
puxou bruscamente para frente, ficando ajoelhado entre as minhas pernas e
debruçando-se sobre mim.
— Então você está tomando pílulas e eu louco para enterrar o meu pau
nessa buceta gostosa e enchê-la com a minha porra. — Mordeu o lóbulo da
minha orelha, me deixando toda arrepiada. — Se eu soubesse disso... E se
você não estivesse tão dolorida agora, Luna.
— Não está chateado?
— Não quero que esconda as coisas de mim, mas eu posso deixar
passar por ser uma época meio estranha. Estamos aprendendo a lidar com o
outro e podemos concluir que precisamos simplesmente falar tudo, com o
tempo vai ser confortável, eu acho.
— Eu também acho. Não estou acostumada a me abrir muito, eu me
sinto confortável em fazer isso com a Giovanna, mas ela é mulher e
considero minha amiga.
— Sou seu marido, Luna.
— Eu sei... Só que nós somos criadas para servir os maridos, não para
tê-los como amigos também e isso... é diferente.
— Fui criado por uma mulher que só sabia servir e eu não quero uma
esposa assim. Você é a rainha de Chicago, Luna. A minha rainha... Todos
devem te servir, fui claro?
— Muito claro.
— Eu preciso voltar para o meu lugar ou eu vou te arrastar para o
banheiro. — Falou baixinho contra a minha boca, ao invés de deixá-lo sair,
cruzei as minhas pernas na sua cintura e beijei a sua boca, provocando-o com
a minha língua do jeito que já sabia que ele ficava maluco. Seu gemido me
deu gás para continuar, arranhando o seu braço, afinal, dessa vez não tinha
ninguém ali para nos mandar parar.
12
Enrico.
Luna me deu um olhar assustado, segurando a minha mão e olhando
atentamente para a agulha fazendo um desenho na minha pele. Sentada ao
meu lado, estava torcendo os seus próprios dedos e eu dei um gole da minha
cerveja, achando graça da sua aflição. Ela estava entediada de ficar em casa e
a convidei para vir comigo, já que eu faria coisas realmente leves e que ela
poderia estar presente. A noite, iremos à boate e ela terá a sua estreia em um
dos nossos lugares como a minha esposa.
Carlo terminou a tatuagem e passou o pano, dando uma olhada. Luna
estava quase batendo nele, mas eu já estava tão acostumado a fazê-las que
quase não sentia mais. Ele limpou e me deu um espelho, para dar uma olhada.
Ela cobriu a boca quando finalmente viu o que estava tatuando.
Uma lua crescente com uma garota loira sentada na ponta, com os
cabelos esvoaçantes, usando um vestido azul e as coxas aparecendo. Minha
Luna.
— Quero tatuar você também. — Ela soltou, empolgada e o brilho
do seu olhar me deixou em alerta e o pau muito feliz. — Podemos ir embora
para casa?
Saímos do estúdio de tatuagem e eu sabia que a minha moto era
muito assustadora, mas ela adorava a velocidade e grudava em mim como
uma louca. Arranhando o meu braço, gritando para ir devagar e sem esconder
a excitação na sua voz. Na volta não foi diferente. Ela pulou fora da moto,
soltando o capacete e bateu com ele no meu peito.
— Você gostou.
— Não a última curva! — Soltou um gritinho e ri. Ela era fofa até
furiosa.
— Foi você quem quis vir para casa. — Apontei e seu olhar tímido
encontrou o meu.
— Pensei que talvez pudéssemos tentar de novo? — Mordeu o lábio,
com suas bochechas corando. Caralho... Ela era tão perfeita.
Desde a primeira vez, tentamos mais duas vezes e foi extremamente
doloroso para ela. Na última, terminamos de outro jeito, indo rápido e com
muita sede ao pote. Luna adorava as preliminares. E era realmente incrível
com um boquete. Amava ser chupada e eu estava viciado em tê-la se
contorcendo na cama. Sentindo prazer, não havia um osso tímido no seu
corpo.
— Se você estiver sentindo-se bem. — Saí da moto e peguei a sua
mão. Eu não conseguia transar com ela sentindo dor. — Podemos tentar
quantas e quantas vezes você quiser. — Abraçando-a por trás, fomos andando
até a nossa casa e abaixei o meu rosto para o seu ouvido. — Sabe que estou
me tornando um tremendo viciado?
— É mesmo? Em que?
— Em te lamber todinha... Ter a minha língua o tempo todo
chupando essa...
— Enrico! — Ela arfou, reagindo tímida a toda putaria. Era um
pouco engraçado que ela não negava nada e quando estava nublada de prazer,
até respondia. Desci minhas mãos para os seus peitos e apertei, pressionando-
a contra mim. — Ah...
— Você quer?
— Quero.
— Vai ter que dizer... — Brinquei, querendo levá-la para fora da sua
concha. Luna gostava do sexo, de tudo que fazíamos, era curiosa e me
surpreendia a cada vez, mas ela ainda tinha aquela pressão sobre ser a esposa
perfeita durante a luz do dia e ser contida na cama. — Diga, minha mulher.
Diga...
— Quero que você me chupe...
— Você gosta disso, confessa. — Agarrei o seu pescoço com a
minha boca e ela deu uma empinada com a bunda, esfregando-se em mim. —
Vou te comer aqui contra a porta, só para que todo mundo ouça o quão você
gosta disso.
— Dio!
— Deus não tem nada a ver com isso. — Soltei o laço da sua calça
de moletom e enfiei a minha mão dentro, apertando a sua buceta. Sua
calcinha estava ensopada. — Porra, você está pronta para mim. — Coloquei a
sua calcinha para o lado, começando a esfregar o seu clitóris e mordi o seu
pescoço. Luna gemeu alto, finalmente deixando de se preocupar com o
mundo externo e focando apenas em nós. Ela até esqueceu que estávamos
contra a nossa porta. — Agora sim... Vamos entrar.
— Vou te matar, Enrico. — Luna respirou fundo, toda bagunçada e
eu só enfiei na boca o dedo que segundos antes, estava explorando dentro
dela. — Meu Deus.
— Entra... e tira a roupa. Agora!
Abri a porta e ela passou na minha frente, primeiro tirando os tênis,
as meias e depois as calças, expondo aquela bunda perfeita com uma calcinha
rosa fio dental. Tirou a camisa e casaco de uma vez só, sem sutiã, dei um tapa
na sua bunda e apontei para a sala. Eu amava o rebolar do seu quadril, era
como um pêndulo, me hipnotizando e literalmente fazendo a cobra subir.
— Se inclina no sofá... Quero tirar a sua calcinha.
Sua bunda era a minha perdição.
Puxei a sua calcinha, salivando com a sua buceta molhada, seus
lábios gordinhos implorando por mim. Ajoelhei atrás dela, acariciando sua
bunda, afastando as suas nádegas, ela guinchou, mas calou a boca com a boa
lambida que dei, de ponta a ponta. Luna estava tão molhada que chegava
criar um fio de ligação, chupei a sua boceta com prazer, alimentado por um
tesão que nunca senti por mulher nenhuma. Só a Luna me tinha daquela
forma e ela me teria para sempre.
Luna gozou, estremecendo e quase escorregando no sofá. Fiquei de
pé atrás dela, lambendo sua bunda, joguei a minha camisa longe, abrindo a
calça e ela me olhou sobre os ombros.
— Podemos tentar assim? — Mordeu o lábio, com seu olhar
brilhando de tesão.
— Tem certeza?
Luna era tão apertada que parecia que ia estrangular o meu pau. Ela
sangrou todas as vezes que tentamos e foi uma merda, eu não queria
machucá-la, mas precisávamos passar por isso ou nunca conseguiríamos
transar do jeito que realmente queríamos. Empurrei lentamente, sendo
engolido de tão molhada e apertada, agarrei a sua bunda, me controlando para
manter tudo devagar. Ela gemeu, colocando a cabeça no encosto, mas
empurrou o quadril para trás, empinando-se ainda mais.
— Como você está se sentindo, principessa ?
— Bem... cheia.
— Cheia? — Empurrei um pouco mais.
— Dio, Enrico! Se mexe! — Gritou comigo e sorri.
— Você quem pediu.
Apertei as suas nádegas, estocando com vontade, perdido e
ganhando os gemidos mais gostosos. Arrastei minhas mãos pelas suas costas,
agarrando seu cabelo loiro entre os meus dedos e ergui o seu rosto,
obrigando-a a se empinar ainda mais. Luna gemeu de um jeito tão gostoso
que eu poderia gozar naquele minuto. Toquei seu clitóris, levando a mais um
orgasmo gostoso e segurei o seu quadril, gozando dentro.
Puxei só para ver o meu esperma escorrendo. Era uma novidade
transar sem camisinha. Eu não achei o meu pau no lixo e cuidava bem dele,
não importava o quanto a mulher fosse gostosa, sempre usava camisinha.
Minha mulher ficou profundamente ofendida quando transamos pela primeira
vez e usamos, mas eu pensei apenas em nos prevenir de bebês. Eu estava
cercado de caras empolgados com isso, mas eu ainda estava muito feliz em
ser o tio da rodada.
— Dessa vez... foi incrível. — Luna caiu contra mim e sorri.
Finalmente. — Agora eu quero experimentar de lado.
— Você tem uma lista de posições?
— Baixei um livro, estava começando a ficar preocupada que tinha
um problema comigo por querer tanto transar e sentir dor. — Fez um
pequeno beicinho.
— Vem, gostosa.
Levantei-me do sofá e subimos a escada até o nosso banheiro.
Entramos no chuveiro juntos. Ela me fez ajoelhar para lavar o meu cabelo e
eu aproveitei a posição muito próxima, para chupar seus peitos maravilhosos
e apertar a sua bunda. Dei um beijo estalado entre os seus seios, empurrando
os meus dedos entre as suas dobras e dando uma atenção especial ao seu
clitóris.
Ela me afogou no chuveiro, o que foi engraçado, quase escorregando
e caindo de bunda. Comecei a rir e ganhei diversos tapas, mas calei a sua
tentativa nada sutil de fugir de mim e fizemos sexo muito gostoso dentro da
banheira vazia. Eu descobri que a Luna tinha uma elasticidade incrível e
podia levantar a sua perna bem alta.
— Onde você aprendeu essa porra?
— Eu fazia ioga na escola.
— Sério?
— Sei fazer todas as posições, era uma boa aluna e o meu professor
dizia que o meu talento era natural.
— Seu professor? — Eu ia matar o filho da puta.
— Sim, o que tem? — Ela estava confusa. — Agora eu preciso
tomar um banho de verdade e um analgésico. — Sorriu meio sonolenta. —
Talvez um cochilo antes de sair com você.
Terminamos de tomar banho e ela se jogou na cama, usando um
pijaminha tentador e eu precisei sair do quarto ou ela nunca descansaria.
Deixei o quarto escuro, sem nenhuma luz externa e desci a escada para o meu
escritório. Essa noite precisava fazer uma aparição em uma das nossas
maiores boates. Como underboss da cidade de Chicago, era esperado um
pouco de política da minha parte.
Nunca imaginei que um dia seria um underboss . Não era segredo
para ninguém que eu era filho de um ninguém, um soldado de baixo escalão e
pouco notado. Minha mãe era uma empregada, mas eu era afilhado do Boss.
O único garoto que ele aceitou apadrinhar. Ele me educou e cuidou
de mim como o seu filho. Eu estava bem em viver a minha posição, até
pensei que seria um capitão ou responsável pelas armas, mas eu nunca
imaginei que com o casamento, Damon decidisse aposentar o underboss de
Chicago (seu tio por parte de pai) e me colocar no lugar.
O homem não teve filhos homens, sua filha era muito jovem, porque
ele só engravidou a sua terceira esposa e a menina estava longe de estar na
idade do casamento. A linhagem do seu tio morreu ali e a minha estava
começando. Eu odiava o meu sobrenome, porque odiava o meu pai, mas
dessa vez era diferente. O meu filho teria orgulho de mim e herdaria algo
mais que memórias ruins.
Meu telefone vibrou em cima da mesa.
— Fala.
— Com saudades de mim?
— Nem fodendo.
— Se liga... Enzo recebeu uma ligação do tio da Luna.
— Ah, caralho. O que foi agora?
— Além dele estar querendo uma posição maior? — Damon riu. —
Isso fez com que o Enzo desse uma olhada nos acessos wifi da casa. Luna
tem conversado com a prima, elas se ligam de vez em quando, porém, o que
preocupou foi que a menina tem pesquisado “como fugir de casa” e preços
de passagens para Chicago.
Luna não me falou que estava conversando com a sua prima,
caralho.
— Enquanto eu imagino que os tios da Luna sejam dois pedaços de
merda, uma garota que foge de casa tem a sua reputação arruinada e se a
Luna estiver incentivando, teremos um gigante problema político para
resolver. Descubra o que está acontecendo e me fala, vamos chegar a uma
conclusão juntos .
— Certo.
— Diga que me ama . — Damon riu e Giovanna o mandou parar,
reclamando e parecendo bem irritada. Ele deveria estar com um humor
insuportável.
— Quando eu tiver uma buceta. — Encerrei a chamada.
Girei a minha cadeira e rodei diversas vezes. Subi a escada e peguei
o telefone da Luna. Eu poderia ler todas as suas mensagens, mas eu odiava a
sensação de invadir a sua privacidade mesmo que, aparentemente, não havia
segredos entre nós. Estava puto que por algum motivo, suas conversas
poderiam estar incentivando a sua prima a fugir de casa e eu esperava que
não fosse o caso.
Não peguei o seu telefone, devolvendo ao lugar, decidindo dar uma
chance à verdade mesmo que a partir do segundo que ela mentisse para mim,
não poderia mais agir como um marido e sim como um homem da famiglia .
Voltei para o meu escritório, mandando liberar uma quantia de
drogas para degustação na festa, reservando algumas garotas para
entretenimento. Mandei que preparassem o camarote para a Luna e esperava
que ainda pudéssemos ter uma noite agradável mesmo que fosse a merda de
uma festa.
Ouvi um barulho suave na escada, ela era tão leve que os seus passos
eram como um sussurro no chão. Sem olhar para o escritório, ainda usava o
short curto enfiado na bunda, seu top e os cabelos presos. Abriu a geladeira,
pegou um pote de manteiga de amendoim, uma colher na gaveta, abriu e se
serviu, enfiando na boca enquanto espiava tudo que tinha dentro da
geladeira.
— Com fome? — Parei e me encostei na pilastra.
— Com vontade de comer doce. — Sorriu e seu olhar estava leve.
Ela era tão perfeita que me deixava tonto. — Quer comer alguma coisa antes
de sair? — Arqueei a sobrancelha, ela riu. — Sem ser eu, engraçadinho.
— Não estou com fome, vamos jantar antes de ir à boate. Te devo
muitos encontros. — Cruzei os meus braços e fiquei sério. — Você tem
falado com a sua prima?
— Sim. Ela criou um perfil fake para me mandar uma mensagem,
quando eu não vi, falou até com a irmã do Enzo. — Luna subiu em um
banquinho, parecendo procurar algo entre os potes e quase caiu, corri até ela,
equilibrando seu peso. — Ops! — Sorriu sem graça. — Achei. — Pegou um
pote com biscoitos. — Tive que esconder ou eu comeria tudo.
— A sua prima?
— Aconteceu alguma coisa? — Seu olhar encontrou o meu e parou
de passar manteiga de amendoim no biscoito.
— Preciso saber o que tem falado com ela.
— Aceitei a mensagem e primeiro tive a certeza de que era ela...
— Nunca te proibi de falar com os seus tios.
Luna percebeu que falou demais.
— Eu sei, mas eu não queria falar com eles.
— Se o seu tio te ligasse, por que você não atenderia? — Questionei
e ela tentou colocar uma distância entre nós. — Luna!
— Eles são pessoas... que eu não quero contato. Estou feliz em não
ter que falar com eles. Infelizmente a Mia não tem essa opção. A minha tia é
muito narcisista e sem a minha presença lá, o foco é ela.
— O que tem conversado com a sua prima?
— Na verdade, nada demais. — Encolheu os ombros. — Ela está em
problemas por causa disso? Você pode ouvir todas as minhas gravações, não
falamos nada demais.
— Por que gravou as conversas?
Luna mordeu o lábio.
— A Mia não pode falar comigo, a sua mãe proibiu e eu achei que
seria seguro gravar caso a minha tia me acusasse de fazer algo que não fiz.
Foi só intuição, a Tia Selma é muito ciumenta e ela tem paranoias realmente
complicadas de lidar. Eu fiz algo errado? — Seus olhos arregalaram.
— Luna... Em algum momento incentivou a sua prima a fugir?
— A MIA FUGIU? — Gritou completamente surpresa. — E agora?
Alguém já sabe? Ai meu Deus, o que essa menina está fazendo com a sua
reputação? O que nós podemos fazer?
— Em primeiro lugar, se acalme. A Mia ainda não fugiu, mas ela
está planejando. — Fui honesto. — Enzo viu a ligação entre vocês.
— Não incentivei e não sabia, eu juro. Você pode ouvir as ligações...
Ela nunca deu a entender que faria tal coisa. E como conseguiria dinheiro? —
Mordeu o lábio.
— Tudo bem, eu vou ouvir para tentar entender. Talvez você não
perceba, mas alguém de fora sim. E Luna, eu preciso saber o que o seu tio fez
para que você não quisesse manter uma relação nem por educação. — Olhei
em seus olhos. — O que ele fez com você?
— Ele não fez nada. — Era mentira.
— Luna...
Minha paciência estava por um fio. Seus olhos se encheram de
lágrimas.
— Por favor, Enrico. Eu não quero problemas. — Choramingou e
continuei encarando-a. — Ele me olhava como um tio não deveria olhar... A
minha tia tinha ciúme disso. — Segui calado, olhando em seus olhos. Eu ia
pressioná-la até falar. — Promete que isso vai ficar aqui?
— Não prometo. Se ele tocou em você, irei matá-lo.
— Nunca tocou, eu juro. Mas ele olhava... Isso enfurecia a minha
tia, ela nunca gostou de mim, não queria me criar e não queria cuidar de mim.
— Luna se inclinou no balcão. — Eu era como a sua empregada, limpava,
cozinhava, costurava suas roupas e tinha que fazer o que ela queria. —
Engoliu seco. — Aprendi a ser invisível, para não ter atenção dela e muito
menos dele. Por favor, Enrico. Enzo não vai aceitar que você faça algo e a
Mia não pode sofrer as consequências disso, por favor.
Isso era verdade. Enzo e o Damon eram dois alfas muito teimosos
que estavam aprendendo a lidar com o poder juntos. Damon ficaria ao meu
lado, eu não queria ter que ser o causador de uma divisão, mas eu colocaria
alguns limites. O tio da Luna não colheria frutos do nosso casamento e se ele
fizesse qualquer merda, eu iria matá-lo como desculpa.
— Jura que ele nunca te tocou?
— Nunca. — E eu acreditei.
— Seu tio nunca mais pode chegar perto de você, falar com você,
olhar para você ou fazer qualquer mínimo movimento na sua direção. Eu vou
matá-lo.
Luna assentiu, sem falar mais nada.
— E a sua tia...
— Enrico, por favor.
— Está avisado. E até então, a Mia não fugiu, está pesquisando
como vir a Chicago. Sabe por que?
— Além de querer me ver? Eu só quero que a Mia tenha uma vida
feliz. Ela não pode vir morar conosco, acredite em mim, pensei em várias
alternativas. — Luna se moveu na minha direção. — Ela é só uma menina.
— Não se preocupe, vou descobrir e veremos o que podemos fazer
para mantê-la segura. — Dei a volta no balcão e beijei a sua bochecha. —
Luna, por favor, nunca minta para mim. Não importa o que seja, sempre me
conte a verdade.
— Eu prometo, me desculpe por tudo isso. Eu não incentivaria a Mia
a fugir, sei que nós não podemos sair do nosso círculo e que sair sem
autorização dos pais, é perder as chances de ter uma vida... Espero que fique
tudo bem.
Eu não tinha tanta certeza.
13
Luna.
Apesar de ter prometido não mentir para o Enrico, não sabia se
esconder coisas do meu passado estava na equação. Eu não queria que ele
descobrisse e isso causasse uma ruptura entre nós, então, antes de entregar o
meu telefone para ouvir as minhas conversas com a Mia, me sentei no meio
da cama e cruzei as minhas pernas.
— O que foi? — Enrico me deu um olhar intenso.
— A Tia Selma costumava me punir por qualquer coisa. Ela me
colocava ajoelhada em algum tipo de grão e me batia com toalha molhada,
para não deixar marcas.
Não contei o real motivo, por qualquer coisa englobava me bater por
que o seu marido queria algo que não deveria com a sua sobrinha, certo? Não
consegui decifrar o olhar dele, apenas senti medo, não por mim... Por quem
merecesse ter aquele olhar. Mordi o meu lábio, ansiosa e ele ficou apenas
ouvindo as conversas. Algumas até repetiu, mas não falou nada. Mia estava
triste, sentindo-se solitária, sendo punida desnecessariamente e sofrendo
ataques da sua mãe ciumenta por qualquer mísera atenção que ganhasse do
seu pai, mesmo sem realmente querer.
— É muito sutil a maneira que ela parece idolatrar a sua vida aqui. —
Enrico falou baixo, ouvindo a Mia suspirar sobre a minha vida. — Ela parece
querer exatamente isso... Uma vida bem longe dos pais. É como a sua versão
de contos de fadas e temos que levar em consideração que ela tem quinze
anos e está no auge do sonho adolescente.
— É minha culpa, não é? Eu não deveria falar tanto sobre mim, só
queria dar esperança a ela que um dia, poderia ter o mesmo que eu. —
Encolhi as minhas pernas e me abracei. — Só queria que ela tivesse algo a se
apegar nos próximos anos. Ela merece ser feliz.
— Não é culpa sua. — Enrico me deu um beijo, o que me relaxou
totalmente. Não queria perder o clima entre nós. — Preciso resolver isso
antes de sairmos.
— Está bem... Eu vou me arrumar. — Suspirei e o observei sair.
Levei um tempo escovando o meu cabelo, deixando arrumado e fiz
um penteado com um coque elegante, meio frouxo, com uns fios soltos e pela
primeira vez, fiz uma maquiagem completa com base, corretivo, blush,
iluminador e bastante rímel para usar um batom vermelho vivo com efeito
matte. Escolhi um conjunto de joias bem delicadas porque o meu vestido já
era chamativo o suficiente.
A loira fatal usando vermelho. De alças finas, em cetim, justo até o
joelho, com um lascado que abria até o meio da coxa. Meus seios ficaram
marcados e precisei usar fita dupla face, um pedaço de algodão e costurar as
laterais para não pagar peitinho. Usei um creme hidratante perolado para dar
um efeito de brilho na pele e vesti as sandálias de tiras pretas. Parei na frente
do espelho, me encarando, tirei uma foto e enviei para Giovanna.
— Porra. — Enrico entrou no closet e derrubou umas caixas de
sapatos.
— Porra bom ou porra ruim? — Olhei-o através do espelho.
— Porra… gostosa. — Parou atrás de mim e desceu as mãos pelo meu
corpo, sentindo o vestido e tentou tirar a alça, bati na sua mão, rindo. — Ops!
— Vá se vestir, não me bagunce. — Me desvencilhei dos seus braços
porque eu sabia que ele me deixaria maluca em segundos.
Pronta, desci a escada com cuidado para não escorregar e me servi com
um pouco de vinho para relaxar os meus nervos de estar em público com o
Enrico pela primeira vez. Nós não saímos muito depois do casamento e eu
realmente queria ter mais momentos ao seu lado, principalmente na rua, para
que todos soubessem que agora ele era meu. Um homem comprometido. Meu
marido.
Estava finalmente satisfeita que conseguimos fazer sexo. Ainda havia
um desconforto, mas foi tão bom, estava tão excitada, desejosa, que o meu
corpo parecia em chamas e o Enrico finalmente se soltou, ele ficava tão
nervoso de me machucar que a coisa toda não estava andando para frente.
Vê-lo fazendo uma tatuagem era agoniante, mas ao ver o desenho, meu
coração explodiu e eu queria atacá-lo ali mesmo por me colocar de maneira
permanente na sua pele.
Enrico desceu as escadas, cheiroso, todo de preto, com o cabelo
penteado para trás e com um relógio de ouro bem chamativo. Ele usava o seu
anel de underboss. Caramba, ele estava tão sexy...
— Aprovado?
— Com toda certeza. — Sorri e com muito cuidado, beijei os seus
lábios. Na minha bolsa tinha o meu batom, celular e o Enrico me deu um
maço de dinheiro dobrado, preso com um clipe de ouro. Dez notas de cem
dólares.
Saímos de casa de mãos dadas e andei com cuidado pela trilha de
pedras, o carro estava do lado de fora e dessa vez, ele estava com uma
chamativa Ferrari vermelha.
— Não sabia que usaria essa cor hoje, posso trocar...
— Quero tirar uma foto no capô do carro, posso? — Sorri empolgada,
me sentindo uma criança de tamanha excitação e me acomodei no capô,
cruzando as pernas e deixei o meu lascado bastante evidente. Enrico tirou a
foto e me olhou do jeito que eu sabia que ele me comeria ali mesmo. Por
algum motivo, eu gostei disso. Escorreguei de volta com cuidado, olhei a foto
e gostei.
— Me manda. — Pediu enquanto abria a porta.
Não levamos cinco minutos saindo do bairro, o carro era pesado e
tinha um motor potente, mas era bonito por dentro e gritava luxo. Editei a
foto e enviei para ele, guardando o meu telefone na bolsa e coloquei a minha
mão na sua coxa. Ele pegou a minha mão e beijou. Gostava muito da versão
carinhosa, me fazia sentir as borboletas completamente enlouquecidas no
estômago.
Nós jantamos em um bistrô muito agradável, meio pequeno e eu sabia
que o estabelecimento era muito antigo e pertencia à família. Meu fettuccine
Alfredo estava muito gostoso e ainda provei o gnocchi a bolonhesa do
Enrico, que estava com uma aparência divina e no ponto certo. Gostei do
nosso encontro, foi doce e romântico na medida certa. Ele prometeu que
teríamos mais tempo juntos.
A boate era enorme e havia uma fila de dar a volta no quarteirão.
Enrico parou o carro bem na frente, Fabiano se aproximou para levar até o
estacionamento, Antonio abriu a porta para mim e me ajudou a sair, mas
imediatamente fui tomada pelo meu marido. Estava um pouco frio e isso me
fez arrepiar. Os seguranças abriram o cordão para que pudéssemos passar e
eu estava tentando manter a cabeça erguida com tantos olhares e cochichos.
Enrico me levou para um elevador, as portas se fecharam e o elevador
panorâmico acendeu em vermelho, me fazendo sorrir e metade dos dançantes
olharam para cima. Meu marido estava muito sério, com a mão descansando
na minha bunda e sequer escondia que debaixo do seu paletó, havia duas
armas. A festa estava acontecendo no segundo andar, apesar de ele não
querer que ficasse nela, não queria ficar em um camarote sozinha.
Antonio e Fabiano ficariam comigo e ele só pareceu relaxar quando viu que
outras esposas estavam presentes. Entre elas, reconheci uma prima da
Giovanna. Nós nos conhecemos no meu casamento, mas a Gio parecia falar
muito bem dela. Cumprimentei-a e fui apresentada às demais, que estavam
em um canto reservado, bebendo e conversando.
Não era muito comum maridos saírem com suas esposas, Giovanna
me contou que a maioria gostava de sair sozinho e ela deduzia que os de
casamentos de conveniência e muitos tradicionais saíam sozinhos e os que
eram realmente casados, de vez em quando tiravam um tempo para se divertir
com suas mulheres, sem estar nas boates a trabalho.
Enrico ficou conversando com os homens, o seu olhar o tempo inteiro em
mim e o camarote foi ficando muito cheio. As meninas começaram a ficar
desconfortáveis com a quantidade de pessoas e nós subimos para o meu
camarote. Havia o meu nome em dourado de um lado e da Giovanna do
outro. As luzes eram rosa neon e uma dançarina estava ali, mas virada para a
multidão. Ela sorriu e continuou dançando com sua curtinha roupa amarela
neon.
Fabiano trouxe bebidas e deixou o garçom entrar com mini
hambúrgueres, batatas fritas e eu me sentei em um banquinho alto, olhando
para a dançarina com fascinação porque ela tinha um molejo invejável. Eu
queria rodar naquele poste do mesmo jeito. Antonio me serviu mais
champanhe e comi algumas batatas, começando a reproduzir a coreografia
dela, rindo e a Madah juntou-se a mim, as outras ficaram rindo e eu fiquei
surpresa que conseguia rebolar até o chão sem cair.
Ganhando confiança na dança, me deixei levar pela música e a Madah
me cutucou quando a dançarina sinalizou para subirmos no palco. Nós
olhamos uma para outra e uma vozinha me disse que talvez não fosse uma
boa ideia, mas eu ignorei, subindo as escadinhas e parei ao lado da mulher, da
qual a coxa era tão torneada que precisei cutucar para saber se era real.
A garota soltou uma risada alta e falou alguma coisa do meu corpo,
mas a música estava muito alta para entender. Ela mostrou os primeiros
passos da coreografia, éramos cinco em cima do palco, tentando imitar e cada
uma agarrou um poste, fiquei concentrada na primeira tentativa, a segunda fui
no embalo, rindo. Era divertido, só não podia imaginar em levar aquilo como
a minha profissão. Em duas voltas, a minha coxa já estava ardendo, na
terceira, me deparei com o meu marido de braços cruzados no fim do palco.
Enrico não parecia muito divertido e eu me dei conta que noventa e
nove por cento dos homens da boate estavam nos olhando, gritando... por
nós. Mordi o meu lábio, sorrindo sem graça e dancei de novo. Pensei que ele
ficaria mais calmo, mas tudo que fez foi agarrar as minhas pernas e me jogar
sobre os seus ombros, me tirando do palco. Rindo, acenei para as meninas.
Não adiantava nada me debater. Eu não sabia o que iria encontrar quando ele
me colocasse no chão.
Fabiano me entregou a minha bolsa e sorri para ele também, que
discretamente, me deu um sorriso divertido, mas parecia preocupado. Enrico
estava andando rápido, muito firme e empurrou uma porta pesada com um
estrondo. Me colocou no chão, fiquei um pouco tonta com o sangue voltando
ao lugar junto com todo álcool, o corredor claro deu uma breve girada e me
apoiei nos braços dele.
Enrico agarrou o meu cabelo, bagunçando o meu coque e me pressionou
contra parede, soltei um gemido, meio de dor, meio de prazer intenso com o
arrepio de sentir o seu corpo firme contra o meu.
— Você só vai dançar para mim, Luna. Essa bunda só vai rebolar
para os meus olhos e para o meu prazer, caralho! — Rosnou e mesmo o seu
olhar me deixou louca de tesão.
— Gostou? — Mordi o seu lábio e sorri, provocante.
— Quero a porra de um poste no nosso quarto, mas eu não quero
ninguém te olhando, desejando intensamente o que é meu. — Grunhiu e
arranhei seu braço, levantando a minha perna e ele agarrou a minha coxa,
enfiando a mão na minha bunda por baixo do vestido. Segurei o seu rosto e
beijei o seu pescoço, sugando a pele sem parar. — Luna...
Soltei com um estalo, além do vermelho do meu batom, sua pele
estava vermelha.
— Sua safada, acabou de me dar um chupão?
— Se eu só posso rebolar em casa, você só circula por aí devidamente
marcado.
— Eu te tenho no meu peito, mulher. — Ele riu e pressionou sua
excitação em mim, mordi o meu lábio, fechando os olhos e me esfreguei de
volta. — Quer dançar mais?
— Quero...
— Só que dessa vez você terá apenas um expectador...
— Só você que importa, Enrico.
Sorrindo, me levou através do longo corredor, saímos do outro lado da
boate, descemos alguns lances de escada e eu virei o rosto ao ver um grupo
de homens compartilhando mulheres e algumas carreiras de cocaína. Segurei
a mão dele firme, mas eu sabia que ele jamais me deixaria sozinha ali. Eu não
precisava de guarda-costas quando ele estava comigo.
Passamos por umas salas onde garotas nuas dançavam, só para homens
ou para grupos, a maioria delas estavam nuas. Um segurança tirou a corrente
quando Enrico se aproximou e aquele lado era infinitamente mais luxuoso.
Descemos uma escadinha que o chão era de carpete vermelho, não sabia se
eram as luzes ou se estava extremamente limpo. Digitou o código em uma
sala e entramos em um lugar que era...
— Uau, isso é tipo...
— Para todos os tipos de gostos. — Enrico completou.
Haviam correntes, cruzes, uma cama, um sofá em formato de C com
um poste no meio, todo escuro, com luzes rosas e vermelhas nos cantos. Ele
foi até o painel e digitou algumas coisas, deixei a minha bolsa no sofá e soltei
o meu cabelo de uma vez. Uma batida sensual começou na sala, sorri e ele
abriu a porta para uma bandeja de bebidas, estourou o champanhe, servindo
na taça e eu deveria parar de beber.
— Preciso de água... e um doce.
— Seu sorvete favorito?
— Eu adoraria. — Sorri com as minhas borboletas no estômago
alvoroçadas por ele simplesmente mandar um dos soldados se virar para
comprar o meu sorvete favorito. Poucos meses atrás eu assistia a minha tia
comer um pote inteiro, bem na minha frente, sem me oferecer nada enquanto
esfregava as roupas sujas na pia da lavanderia.
Bebi um pouco de champanhe e ainda no ritmo da música, subi no
pequeno palco, rodando e rebolando, um pouco timidamente no começo e
quando ele sentou, mordendo o lábio, com o olhar em mim, eu virei de
costas, dançando, subindo um pouco o meu vestido e tirei a minha calcinha,
jogando nele.
Enrico pegou, riu e desci a escada devagar, achando graça de toda
aquela encenação. Só estava relaxada porque estávamos sozinhos e porque
estava meio alegrinha. Sentei-me em seu colo, imediatamente fui atacada por
ele, sua boca e mãos em todo lugar, quando seus dedos encontraram o ápice
entre as minhas pernas bem molhado, soltei um gemido alto. Rebolei contra o
seu dedo, cheia de tesão e olhei em seus olhos.
— Aqui, gostosa?
— Sim, bem aqui... Mas eu nunca fiquei por cima.
— Não tem problema, eu vou te ajudar. — Enrico estava com o olhar
nublado de tesão, lambeu o seu dedo e soltou um gemido como se o meu
gosto fosse tudo que ele mais gostava na vida. — Abre a minha calça. — Seu
tom de comando me deixava maluca. Meus dedos estavam tremendo ao soltar
o botão e puxar o zíper. Seu pau estava duro, puxei a cueca para baixo, com
cuidado, tocando o pau, estimulando... — Não precisa de mais nada, só de
você.
Apoiei minha mãos no seu ombro, sozinhos, na sala, fechei os meus
olhos sentindo a cabeça do seu pau aninhar na minha entrada e com cuidado,
desci, mas eu estava tão molhada que deslizou com facilidade e o desconforto
estava lá, no fundinho, era como se ele estivesse duas vezes maior.
— Porra...
Testei o movimento com os quadris, sentindo certa tensão com seu pau
todo dentro de mim e ele agarrou a minha cintura, mostrando como rebolar.
— Ah, cristo.
Aquilo era bom. Muito bom. Enrico gemeu... diferente. E eu realmente
quis testar o quanto poderia fazê-lo gemer daquele jeito até gozar. Ganhei
confiança, parte porque estava com muito tesão, surpresa que o meu corpo
era capaz de atingir tanto prazer e mesmo quando gozei, meu marido me
segurou no lugar, metendo sem parar como nunca havia feito antes. Não tinha
certeza se conseguiria sair andando direito daquela sala, a única certeza era
que eu não sairia a mesma mulher que entrei.
14
Luna.
Acordei e ergui o meu rosto, sentindo a minha cabeça latejar. Soltei
um gemido e peguei o meu telefone que não parava de vibrar. Rolei de lado,
com os olhos ardendo e tinha algumas ligações perdidas da Giovanna,
mensagens e um monte de notificação. Primeiro precisava ir ao banheiro e
me sentir humana, depois entenderia que diabos estava acontecendo no
mundo. Usei o sanitário, tomei banho, lavei o meu cabelo que estava nojento
e escolhi um vestidinho azul escuro, curtinho e coloquei meias, porque estava
meio friozinho.
Desci a escada meio de ressaca, meio com fome e precisando urgente
de um café preto bem forte. Joguei o meu aparelho no balcão, preparando um
café fresco e abri a geladeira, tirando bacon, ovos e peguei o pacote do pão,
fazendo torradas para acompanhar a minha comilança.
Enrico abriu a porta, suado da academia, sem camisa e com uma calça
de moletom preta. Ele estava com a arma jogada na frente, trancou a porta e
acionou o alarme, provavelmente não precisaria sair tão cedo se estava nos
isolando do mundo externo. Ele me deu um beijo estalado, foi até o quintal
dos fundos, mexendo em algumas coisas e subiu a escada avisando que ia
tomar banho.
Preparei nosso café da manhã, estava comendo a primeira torrada
quando ele desceu usando só uma cueca branca. Peguei o meu telefone,
olhando as mensagens e quase cuspi o meu café ao ver as matérias. Estava
em uma capa de revista. Giovanna estava surtada, comentando em todas as
fotos e eu estava confusa, mas tudo começou com a postagem do Enrico no
instagram:
Enrico Fabrizzi, novo bilionário, exibe carro de luxo com a sua esposa,
Luna Fabrizzi.
A foto era a que eu estava em cima do capô do carro. Em várias
matérias tinham fotos da boate, fotos minhas, dele, a festa, algumas fotos do
nosso casamento. Era muita coisa e muita exposição.
— Você é um bilionário?
— Eles que estão dizendo. — Enrico comeu a sua torrada com um
olhar divertido.
— O quão rico você é?
— Rico o suficiente. Eu tive a minha cota de lucros ao longo dos anos
de trabalho e agora, tenho a participação de lucros da cidade, como
underboss . A mídia tem interesse por pessoas ricas e elas já perseguem o
Damon há anos, obviamente, elas estão em cima de nós agora. De vez em
quando eles ficam atrás, mas eles só publicam o que nós permitimos. Eles me
enviaram as fotos e eu aprovei. — Explicou e assenti, aliviada que eles
tinham um controle sobre isso. — Você estava linda ontem. — Me deu um
beijo na bochecha.
— Linda e louca.
— Você se arrepende?
— Claro que não, foi gostoso e eu me diverti muito. Só estou
destruída. — Comi um pedaço de bacon. — Esse café-da-manhã tipicamente
americano e cheio de gordura vai curar a minha ressaca.
— Chegamos a uma conclusão sobre a sua prima.
— É mesmo? O quê?
— A menina está claramente insatisfeita, embora não tenha provas
de que ela está sendo diretamente abusada, Juliana se ofereceu para conversar
com ela e alertar os riscos que ela corre ao tentar fugir. Não vamos envolver
os pais, para que ela não tenha nenhuma retaliação.
— Por que não posso conversar com a Mia? Ela é a minha prima.
— A Mia precisa temer essa conversa. Juliana não vai feri-la, mas ela
é a esposa do Boss e vai fazer a Mia entender. Não acho prudente que você
alimente sonhos na Mia, não agora. Ela parece estar sensível, Luna. Uma
adolescente vulnerável pode fazer muitas besteiras irreversíveis.
Odiava que ele tivesse razão nesse caso. Não tinha muitas alternativas
para a Mia, ela só precisava aguentar mais alguns anos para sair de casa. Fiz
um pequeno beicinho, porque não estava totalmente satisfeita. Terminei de
comer e comecei a lavar a louça. Enrico ficou me observando, como se eu
fosse fazer alguma besteira e ignorei, não ia falar nada. Não colocaria a Mia
em risco, ela poderia não entender agora, mas entenderia um dia. Meu
principal objetivo era mantê-la segura enquanto não pudesse tirá-la da sua
casa.
Conversei com a Giovanna por chamada de vídeo por quase uma hora
enquanto arrumava o meu armário, minhas roupas estavam todas bagunçadas.
Ela estava reclamando que ficar muito tempo com o Damon era irritante, mas
eu sabia que eram os seus hormônios. Ela se irritava à toa e dois segundos
depois, ela estava derretendo de amor ou chorando. Esperava não ficar tão
bagunçada assim quando chegasse a minha vez de engravidar.
Desci a escada à procura do Enrico, ele estava muito quieto. Não era
como se ele fosse barulhento, mas desde que nos aproximamos, costumamos
ficar perto. Andei pelo quintal dos fundos, ouvindo um barulhinho suave de
água e eu o vi descansar em um dos degraus da piscina completamente nu.
— Demorou. Tira a roupa e vem aqui... — Sorriu preguiçosamente.
— O que é isso? Deve estar muito gelada…
— Liguei o aquecedor e está quentinha, estou relaxando.
Olhei ao redor e nosso quintal era extremamente reservado. Ele nunca
diria para ficar nua se existisse o risco de sermos vistos. Tirei as minhas
meias, joguei na espreguiçadeira que tinha um cobertor, duas toalhas e
roupões. Ele planejou tudo, espertinho. Arranquei o meu vestido e andei com
calma porque eu não precisava escorregar e cair toda aberta, estando nua.
Minha cota de micos na frente dele já estava quase transbordando.
Enrico me pegou com cuidado e me levou para a parte funda, a água
quentinha estava uma delícia e eu simplesmente me entreguei à tranquilidade,
ao silêncio, o som dos pássaros cantando e os beijos suaves do homem a
quem estava me entregando de alma e coração. Meu corpo já era totalmente
dele.
Os meses se passaram com tranquilidade. Era o meu primeiro natal
com o Enrico e nós estávamos arrumando as nossas coisas para uma
temporada longa na Itália. Nós não voltamos depois do casamento, porque
Enrico ficou ocupado e enquanto eu amava a Giovanna e sentia a sua falta, eu
não conseguia suportar a ideia de ficar longe do Enrico.
Nós ainda estávamos nos ajustando, a comunicação era uma falha
constante e vivíamos nos desentendendo por coisas bobas. E com o passar
dos meses, alguns desses desentendimentos geravam grandes brigas. Enrico
não tinha paciência e eu era o tipo de mulher que chorava quando estava com
raiva. Isso fazia com que ele ficasse ainda mais nervoso – por achar que
estava me magoando ou irritado que as lágrimas eram para sensibilizá-lo.
Enrico era irritante.
O sexo estava cada vez melhor, isso se era possível, mas a conexão
era incrível e eu não conseguia sequer esconder o quanto estava apaixonada
por ele. Enrico tinha muitos defeitos, mas ele me idolatrava e fazia
absolutamente tudo por mim, do jeito que eu queria e realizava os meus
sonhos mais bobos. Ele me fazia feliz.
Nossa vida tinha muita ostentação e luxo para o mundo externo, mas
eu valorizava os momentos na nossa casa, trancados, aproveitando o jardim,
cozinhando, transando e conversando sobre qualquer besteira. Nós quase não
assistimos televisão, ele costumava jogar ao meu lado, de fones de ouvido,
xingando e se debatendo como se tivesse no jogo e eu ficava lendo, rindo
dele ou irritada por não sossegar.
Ele trabalhava horas no escritório e eu costurava, criei diversas roupas,
gorros, colchas e faltava alguns lençóis e toalhas para completar o enxoval do
bebê da Giovanna. Sabíamos que era um menino, mas eles ainda não haviam
escolhido o nome e não definiram um tema para os quartos, apenas uma
paleta de cores, o que facilitava bastante. Criei alguns vestidos para
Giovanna, esperava que ela gostasse, porque eu não conseguia criar roupas
para mim mesma.
— Está pronta? — Enrico bateu na porta antes de entrar, ainda todo
cuidadoso ao meu redor. — Ainda chateada comigo?
— O que você acha? — Fechei a mala, conferi tudo duas vezes e
não faltava nada.
— Acho que eu já pedi desculpas.
— E pedir desculpas é fazer com que a minha chateação suma
magicamente? Você tirou a sua aliança, Enrico. Não importa o quanto peça
desculpas, eu ainda não entendi porque você achou que era necessário sair
sem a droga da sua aliança.
— É só um anel, o que importa sou eu…
— Sei que é um anel, então, já que é só isso... — Comecei a tirar as
minhas alianças e ele segurou a minha mão. — O que é agora? Eu não posso
e você pode?
— Não tira. — Pediu baixinho. — Não é só um anel e eu não tirei
porque fiz algo... Ou porque não me importo. — Olhou em meus olhos. —
Estamos com problemas com os federais devido aos cassinos, alguém vazou
a localização de um dos principais e tem um policial em especial que é muito
arrogante e agressivo. Damon ainda está tentando gerenciar isso de uma
maneira política, mas eu não gosto da maneira que ele fala sobre você para
ter uma reação e eu percebi que ele fala de você cada vez que olha a minha
aliança. Ainda não tenho autorização para matá-lo, mas eu irei.
— Ele está fazendo seu trabalho e você o seu.
— Ele pode fazer o trabalho dele sem dizer que você é uma
tentação. — Enrico rosnou e coloquei as minhas mãos no seu peito.
— Isso é só provocação, não entra nessa. Pode ser uma armadilha,
por isso que o Damon está agindo politicamente. Ele é tão cabeça quente
quanto você, mas parece que assim como ele é incapaz de pensar quando
envolve a Giovanna, você também fica cego quando me envolve. — Beijei os
seus lábios. — Sendo esse o motivo, eu te desculpo, mas lembre-se de
colocar imediatamente. Para mim é importante que você use a sua aliança.
Ficar sem ela cria um monte de inseguranças e eu sinto ciúme, não consigo
evitar.
Enrico sorriu, segurando o meu rosto e me beijou.
— Só existe você, mia dolce Luna .
Com um clima infinitamente melhor, reunimos as nossas coisas e
fomos embora para o aeroporto. O tempo não parecia muito bom, mas o
piloto garantiu que poderíamos voar tranquilamente. Após a segunda parada
– Em Nova Iorque -, tivemos uma turbulência em cima do oceano. Não foi
uma simples turbulência, foi um sacolejar maluco de cair as máscaras de
oxigênio e apesar do Enrico não ter alterado um músculo, chorei sem parar e
tive um pequeno ataque de pânico, sem conseguir respirar de tamanho medo.
Em algum momento acabei desmaiando, porque acordei e já
tínhamos pousado e o Enrico estava falando com Antonio, pedindo que
descarregasse as malas. Ele estava acariciando os meus cabelos, como se
ainda precisasse me acalmar e me olhou com ternura.
— Sinto muito.
— Não peça desculpas por isso, foi realmente assustador.
— Você parecia no controle.
— Dificilmente me verá sem controle... Exceto quando estou
enterrado em você, aí, eu não sei o meu nome. — Cochichou e fiquei
vermelha, porque o piloto e a comissária estavam nos aguardando. — Vem,
vamos para casa. Tenho certeza de que a Giovanna está quase parindo de
ansiedade com a sua chegada.
— Imagino que sim.
A viagem para casa foi tranquila e eu estava tão feliz em ver a minha
casa, os cachorros e a Giovanna que nós duas não paramos de falar por horas.
Espalhamos o enxoval, todas as coisas que bordei, os gorrinhos, sapatinhos e
até Damon ergueu o pagãozinho que eu fiz, em tom de azul marinho, bordado
com o “Damon Baby” . A barriga dela estava enorme, fiquei impressionada o
quanto cresceu e o bebê estava previsto para fevereiro, o que era só dois
meses a partir de agora.
— Você é tão talentosa, Luna.
— Ela está treinando para fazer o enxoval dela. — Damon adicionou
secamente atrás de mim e ri. Enrico revirou os olhos.
— É bom que o seu bebê pode herdar tudo. — Giovanna começou a
dobrar as roupinhas com todo cuidado.
— Do jeito que ela está comprando coisas, os bebês da vizinhança
terão coisas para usar. — Damon murmurou. — O quarto do bebê está
explodindo em roupas.
— Eu li que recém-nascidos perdem muita roupa, além de sujar toda
hora, então, tem que ter bastante. E não fui eu a pessoa enlouquecida na
farmácia que acabou com o estoque de lenços umedecidos e fraldas. — Ela
retrucou e ri. Os dois nunca iam mudar. — Não tem espaço para enfiar fralda
nessa casa, mas a minha mãe disse que era bom, porque bebês usam muito.
Principalmente no começo.
Definitivamente, não estava pronta para aquilo, embora achasse fofo,
sabia que ia gastar o meu lado maternal paparicando o bebê deles.
— Está mexendo, quer sentir? — Giovanna perguntou ao Enrico.
Ele franziu o cenho, largou o seu copo de bebida e esticou a mão, tocando
meio hesitante, mas a Gio pressionou no lugar. A reação do Enrico foi
cômica. — Legal, não é? Ele está te chutando.
— Isso aí, filho. Desde pequeno chutando o Tio Enrico. — Damon
engoliu o seu uísque antes de ganhar um chute do Enrico.
— Ei, não comecem! — Briguei, porque eles iam acabar me
acertando.
— Olha só, a ninfa bebê reagindo... — Damon riu e virei o meu
rosto.
— Ninfa bebê?
— Apelido carinhoso. — Piscou e revirei os olhos, sem acreditar
nele.
— Vem, vamos deixar esses idiotas aqui. Tem um monte de
decoração de natal para montar, vai querer montar alguma coisa na sua casa
ou podemos montar tudo no pátio que interliga nossas casas? — Giovanna
precisou de ajuda para sair do seu lugar. — Estou tentando não gingar como
um pato, mas é difícil. — Bufou e entramos na cozinha. — Mãe, está fazendo
comida para quantas pessoas? Tem muita comida aqui. — Olhou as panelas.
Giovanna e sua mãe eram muito parecidas, a diferença estava na
altura e peso. A mãe era baixinha e gordinha, já a filha era mais alta e no
momento, não tão magra. A barriga estava enorme, esticada à frente e até me
dava um pouco de agonia.
— Enrico e Damon estão muito magros, eles malham muito, não tem
uma barriga... Precisam engordar. — Lucinda disse e eu ri. Enrico comia
muito. Fazia compras a cada quinze dias, porque ele era um trator de dispensa
e um devorador da madrugada. Se ela soubesse que fazia comida para quatro
pessoas, sendo apenas dois em casa, não diria que eles estavam magrinhos
por falta de alimentação. Giovanna revirou olhos, rindo.
— Mãe... Damon é o motivo pelo qual o mercado local nunca vai
quebrar. — Provocou e me servi com vinho. — Enrico costumava comer
muito, ele nitidamente ganhou peso do casamento. Ele só está malhando
mais...
— Não sei o quanto ele comia antes, mas agora, tem dias que me
irrita.
— Andei algumas semanas comendo separada do Damon, só o
barulho da mastigação dele me fazia imaginar a minha faca na sua garganta.
Podia imaginar que as oscilações de humor dela devem ter deixado o
ritmo da casa bastante instável. Ela já não era muito fácil de lidar sem a
gravidez.
— E você, Luna? Vai seguir o exemplo da Giovanna e me fazer
esperar cinco anos por um bebezinho ou vai engravidar logo? — Lucinda me
perguntou.
— Nada de bebês por enquanto, não tenho uma data definida, só...
não é o momento ainda. Vou aproveitar o bebê dela, aprender tudo que eu
puder para quando chegar a minha vez.
— É uma boa tática. — Lucinda riu. — Vocês são muito modernas,
meninas. No meu tempo, a esposa de um boss e de um underboss precisava
engravidar logo para mostrar fertilidade.
— Ainda bem que os tempos mudaram! Um brinde a isso! —
Giovanna bateu com a sua taça de água na minha de vinho. — Já pensou
você tem uma menina? Eles vão namorar no futuro! Será tão fofo!
— Minha filha não vai namorar o seu filho. — Enrico bufou e
Damon riu.
— Ah vai sim. Meu filho é um partido e tanto! — Damon defendeu
e eles começaram a discutir sobre uma menina que sequer existia. Eu não
podia acreditar neles.
15
Enrico.
Damon enfiou um gorro na minha cabeça e eu quase tirei e joguei
longe, mas vi o olhar satisfeito da Luna e como estava pisando na ponta dos
pés ao redor dela, decidi ficar. Esperava que ninguém descobrisse o quanto
aquela mulher me tinha nas mãos. Ela estava puta da vida que Damon e eu
bebemos ontem a noite até o dia raiar e não colocamos as caixas de
decorações natalinas que me pediu.
Giovanna nem estava olhando na nossa direção. Assim que a ressaca
passou, fiz tudo que pediram e calado. Giovanna estava assustadora.
— Elas ainda estão chateadas. — Damon riu.
— Acho que ainda preciso me acostumar com essa coisa.
— Você nunca vai deixar de se importar quando ela ficar chateada,
mas vai saber lidar melhor. No começo, a Gio me deixava tonto. Agora
grávida me faz sentir o pior pai do mundo e o bebê nem nasceu. — Pegou
uma cerveja e me entregou, abri e bebi.
— Ansioso?
— Um pouco.
Olhei para a Giovanna meio jogada em uma cadeira, com um prato de
biscoitos apoiado na barriga como se fosse a sua mesa particular. O bebê
mexeu e o prato quase caiu, Giovanna brigou com a sua própria barriga.
— Você está me fazendo sentir fome, então, não derrube o meu
lanchinho!
— Esse moleque puxou você. — Comentei dando um gole da minha
bebida.
— Ao que parece, sim. — Sorriu torto e esticou as pernas em uma
cadeira na frente. — Então, você pensa em ter filhos?
— Antes da Luna, não. Sei que ela quer muito ter filhos, então eu
vou ter filhos com ela. Acho que vou ficar feliz em qualquer momento que
vier, não é como se eu tivesse vinte anos para me cagar de medo disso... —
Encolhi os ombros.
— Isso é verdade. Quando me casei, eu não podia ouvir falar de
filhos ou coisa parecida. É diferente agora. Eu quis antes da Giovanna, o que
é bastante compreensível com a diferença de idade. Já a Luna é
extremamente maternal, ela adora cuidar de todo mundo e certificar que as
pessoas estão bem e felizes. É bem provável que vocês dois tenham a casa
cheia... — Deu um gole da sua cerveja.
— Elas são diferentes.
— Das nossas mães? Sem comparação. É por isso que eu quis filhos
com a Giovanna. Ela nunca vai permitir ser anulada, atrai o holofote para si
mesma sem nenhuma dificuldade.
Luna não era de chamar atenção por querer, era tímida e muito
angelical. Giovanna era diferente. Ambas atraíam muita atenção por onde
passavam, mas a Luna era como uma fruta tentadora. Eu via os olhares dos
homens para ela. A Luna era a maçã do paraíso, porque a sua beleza, seus
olhares suaves e a sua boca levavam homens que cagavam de medo de mim,
olharem para ela com desejo quando pensavam que eu não estava
observando.
Era um erro acreditar que eu não poderia estar observando.
— Esse silêncio me incomoda.
— Silêncio? Os federais estão na nossa cola. Não há nada que a
Kyra possa fazer de Nova Iorque e eu realmente estou muito puto com essa
merda.
— Ainda temos que agir politicamente?
— Vou dar a minha última cartada. Um dos associados da
Philadelphia ficou de me estourar um podre sobre esse agente merdinha,
então, a Kyra vai poder mobilizar a atenção dele para outro lugar.
— Não entendo, sinto que a motivação dele é pessoal. Não é
simplesmente... um acaso. O FBI está cansado de saber sobre nós, a maioria
deles se beneficia com os nossos negócios e devido o acordo com o governo,
eles sequer mexem conosco e nós não mexemos com eles. Que diabos esse
homem quer?
— Não sei. Não encontrei nada sobre ele, parece que é um homem
comum, cresceu, estudou, entrou para a polícia, em seguida para o FBI e se
mudou para Chicago após alguns anos. Se é pessoal, não deve ser
diretamente com a nossa família. — Damon olhou para o céu. — É verdade,
essa calmaria não parece um bom presságio.
Enviei uma ordem aos homens em Chicago, para que os convidados
do cassino fossem verificados duas vezes mais que o normal, que não ia
tolerar erros e mandei uma ordem aos executores, qualquer situação estranha,
qualquer dúvida sobre um homem ser federal ou convidado, era para
executar. Eu não queria qualquer chance de sucesso por partes deles. Todos
deveriam estar em alerta.
— Atirem primeiro e perguntem depois, legal. — Damon murmurou
ao ler a mensagem. — Sinto falta de Chicago, gosto do caos.
— Caos porque lá é uma dor na bunda, aqui você pode fazer o que
bem entende.
— A polícia tem tanto medo de mim que quase faz reverência. É
entediante.
Vi Luna soltar as luzes de natal, parecendo satisfeita e ajudou a
Giovanna a levantar, as duas riram de alguma coisa. Giovanna estava
andando de um lado ao outro, balançando com o peso da sua barriga e logo
caiu no colo do Damon. A mão dele parou imediatamente na barriga, onde
havia uma ondulação. Coloquei a minha mão, era muito esquisito. Luna
beijou o outro lado da barriga, falando com o bebê e isso fez com que ele
chutasse muito forte.
— Ele adora a voz da Luna, ainda agora estava dormindo e aí ela
começou a cantar uma música natalina, ele chutou muito, parecia feliz. Será
um bebê da titia. — Giovanna sorriu. Luna parecia na lua sobre isso, mas fez
uma careta. — Você deveria colocar gelo no seu tornozelo, isso vai ficar feio.
— O que aconteceu com o seu tornozelo?
— Torci ontem. — Luna sentou-se no meu colo e me abraçou. Ergui
a sua perna e vi que estava inchado.
— Quando?
— Vocês dois estavam bêbados demais para dar conta quando a
Luna caiu da escada ontem a noite. — Giovanna falou acidamente.
— Não foi nada demais. — Luna sorriu porque sabia que a
Giovanna ainda estava irritada. — Está doendo um pouco, depende do modo
que piso... — Soltou um grunhido com o meu aperto. — Assim doeria
mesmo sem ter machucado. — Reclamou.
— Vou pegar o gelo. — Damon colocou a Giovanna na
espreguiçadeira e se levantou, indo até a cozinha.
— Adoro o meu marido sendo gentil. — Gio sorriu e olhou para o
Damon. — A bunda dele é tão bonita.
Luna virou o rosto para olhar e minha cabeça quase explodiu.
— Eu prefiro a do meu marido, é redondinha, branquinha e durinha.
— Falou como se eu não tivesse ali. Giovanna torceu o nariz.
— Sabe o que dizem de caras brancos, pinto pequeno.
— Nada disso... É algo como... — Luna ia exemplificar com as
mãos.
— Vocês estão de sacanagem comigo? — Explodi e elas caíram na
gargalhada. — Que porra foi essa?
— Relaxa, estamos brincando. — Giovanna riu bem na minha cara.
Luna estava vermelha com os olhos lacrimejando, beijou a minha boca
repetidas vezes. — Nós apostamos se você ia explodir a cabeça e foi quase
isso.
— Que engraçadinhas... — Beijei o pescoço da Luna, sorrindo para
o seu bom humor e o Damon voltou com um saco de gelo. Acomodei a perna
da Luna para que pudesse ficar elevada, fazendo a compressa de gelo de
tempos em tempos e isso gerou uma discussão inútil entre nós quatro sobre o
que era certo e errado em uma torsão.
Damon e eu fomos para a universidade, apenas porque ter um diploma
fazia com que algumas pessoas te respeitassem mais. Na verdade, nos tornava
um tipo de réu mais atraente para a justiça. Damon tinha uma aplicação para
Direito, quase como uma piadinha do destino, mas ele nunca terminou porque
achou muito chato. Já eu me formei em ciências biológicas e eu não fazia
ideia como. Paguei a maior parte dos trabalhos e mal aparecia nas aulas.
No final da noite, nós voltamos para casa e eu nunca me importei
com o natal. Desde que me tornei um homem iniciado, não passei o natal em
casa, com ceia ou coisa do tipo. Não me importava. Desde que o Damon se
casou, a Giovanna praticamente nos obrigava a sentar para ceia além de
trocar presentes e fazer toda aquela coisa vermelha e verde de natal. Com a
Luna, percebi que era diferente.
Queria passar essa data com ela.
Foi o primeiro ano que me dediquei a comprar presentes para todos,
principalmente para ela. Comprei presentes para ficar aqui e presentes para
Chicago. Estava realmente empolgado porque queria que ela ficasse feliz e se
sentisse mimada. Fiquei parte da noite atento a Chicago e ao mesmo tempo,
observando-a. Dormi pouco. Logo que o dia nasceu, a claridade invadiu o
quarto, apesar das portas da varanda estarem fechadas e a janela também, o
quarto nunca ficava escuro.
Era raro.
Luna tinha medo do escuro. Só de pensar que ela ficava trancada no
quarto escuro todas as noites até que a sua tia abrisse a porta novamente, me
dava uma raiva, que sentia vontade de cometer um atentado especificamente
na casa deles.
Ela nunca trancava as portas, não importava o que estivesse
acontecendo, as portas ficavam sempre abertas. Ela odiava a ideia de sentir-se
presa.
Seus olhos se agitaram e esperei que abrisse, assim que o fez, sorriu e
virei de lado, abraçando-a e nos cobrindo. Criando um casulo gostosinho,
quentinho e beijei o seu ombro. Luna gemeu baixinho, se aconchegou,
segurando a minha mão e beijou os nós dos meus dedos.
— É manhã de véspera de natal. — Murmurou sonolenta, sua voz
era sempre suave pela manhã, era como se todos os dias, ela acordasse em
paz e renovada. Cantarolei de acordo. — O que você costuma fazer nessa
data? — Questionou e eu pensei em todos os anos que passei fodendo
mulheres aleatórias e matando pessoas.
— Nunca fui de me importar com o natal, sempre passei
trabalhando, nos últimos anos, em família. Eu passei a manhã de natal com a
minha mãe, ano passado, porque ela estava morrendo.
— Sinto muito.
— Não sinta, ela ficou doente muito rápido. Não acredito que um
dia tenha se cuidado. Ela não era muito atenta a essas coisas.
— Vocês eram próximos?
Nem fodendo.
— Não muito. Desde que cresci, optou por ficar na dela e me
respeitar como um homem feito.
Luna cantarolou, como se estivesse pensando em algo.
— Por que você nunca fala dos seus pais? Da sua infância?
Não gostava de lembrar.
— Porque não.
— Enrico... Nós já atravessamos a ponte das respostas curtas e
ríspidas, então, elabore melhor. Quero conhecer tudo sobre você e só falta
isso... Sei o que gosta de comer, como gosta de dormir, seus cheiros
favoritos, cores e conheço os seus sorrisos, olhares, seus toques e ainda
preciso saber sobre a sua infância. É algo importante.
— Luna…
— Você sabe tudo que aconteceu comigo, que eu tenho medo do
escuro, que não gosto muito de azeitonas, que odeio quando você solta um
pum na coberta e me prende debaixo dela. — Soltei uma risada. Ela ficava
furiosa. Era uma coisa muito idiota de fazer, mas eu adorava irritá-la. Luna
era calma e fofa a maior parte do tempo, mas tinha fogo e personalidade por
baixo dessa camada suave. Com raiva, era uma fera. — Então...
Soltei um suspiro, era melhor falar logo ao invés de aturar uma longa
conversa sobre a importância de sermos transparentes com o outro.
— Meu pai era um pedaço de merda que espancava a minha mãe.
Ele batia muito nela. Muito. Ele... era o tipo de pessoa ruim e não era pela
nossa vida, era porque ele nasceu do lado errado. Era do avesso. — Luna
acariciou as minhas mãos, para me acalmar e percebi que estava tenso. —
Minha mãe trabalhava para a família do Damon e eles nos deram aquela casa,
foi assim que meu pai diminuiu as surras, mas ele tinha uma amante e por
causa dessa mulher, quando a minha mãe ficou grávida novamente, ele a fez
abortar. Acordei um dia, saí da cama e no corredor, patinei em uma piscina
de sangue. Minha mãe estava abortando e com uma hemorragia severa, eu
lembro de correr descalço pela grama, todo ensanguentado, pedindo por
ajuda. Era uma criança e estava com medo. Foi a primeira vez que vi muito
sangue na minha vida.
— O que aconteceu?
— Minha madrinha estava na cozinha e ela socorreu a minha mãe.
Damon ficou do meu lado quando eu vi a ambulância saindo do nosso
quintal. Minha mãe ficou internada alguns dias, quando voltou para casa, me
abraçou e pediu desculpas por me assustar, que eu fui um bom menino. Meu
pai apareceu como um cão arrependido, choramingando, talvez porque ficou
muito feio para toda a família e porque meu padrinho ainda o assustava.
— Eles ainda continuaram casados?
— Não, meu pai morreu.
— Como? Foi um ataque dos russos? Lembro de algo assim, não
tenho certeza.
Se ela soubesse…
— Perguntei à minha mãe porque ela aguentava aquilo e ela disse
que não existiam divórcios na família. Uma mulher só ficava livre com a
morte do marido. Eu pedi ao meu padrinho para tornar a minha mãe uma
mulher viúva, para que ela ficasse livre e ele só me olhou, deu as costas e
saiu. Dois dias depois, meu pai foi morto com a sua amante e o filho dela. —
Luna ficou tensa nos meus braços. — Meu padrinho não os matou, muito
menos ordenou que alguém da família fizesse, mas ele pode ter deixado vazar
a localização de um membro da família com sua amante e filho para os
russos. Na época, estávamos em uma guerra sangrenta. Após isso, minha mãe
e eu continuamos vivendo na propriedade, exceto que eu me mudei para a
casa do Damon. Dividimos o mesmo quarto, íamos para a mesma escola e
fazíamos tudo juntos... como é até hoje. Não levou muito tempo para sermos
iniciados.
— Quando você matou pela primeira vez?
— Luna... — Ela ia me matar com toda essa curiosidade. — Quando
fui iniciado. Ao contrário dos demais, eu fui um tanto protegido quanto
Damon era. Nós aprendemos a lutar, ter força física e fazíamos um monte de
esporte radical, que nos ajudava no reflexo e nas habilidades mentais.
Comparado aos outros, fomos iniciados bem tarde, mas éramos muito
violentos e descontrolados. Levou um bom tempo para que o padrinho
confiasse que não faríamos merda na rua.
Luna ficou em silêncio e beijei o seu ombro, querendo entender os seus
pensamentos.
— O que foi?
— Estou aqui pensando... Nos últimos anos da minha vida, eu
cozinhei e lavei o dia todo, mal podia aproveitar a ceia e eu sequer tinha
ânimo para o espírito natalino. Esse ano, estou sentindo muita vontade de
aproveitar o que eu puder da magia do natal. — Virou um pouco de lado e me
olhou nos olhos, com um sorrisinho doce. — Acho que precisamos criar a
nossa tradição de natal. Algo que será da nossa família e que poderemos
reproduzir com nossos futuros filhos, exceto essa primeira parte.
— Que primeira parte? — A confusão era evidente e ela riu.
— Essa é a primeira parte, algo só nosso, que no futuro será algo do
papai e da mamãe. — Me empurrou e montou na minha cintura, se inclinando
e me beijando.
— Gosto muito da primeira parte. Me parece que poderíamos
manter essa tradição todas as manhãs. — Rolei-nos na cama, ficando por
cima e abaixei a sua camisola, expondo seus peitos perfeitos. Nós
começamos uma sessão de amasso muito gostoso e logo estávamos prontos
para a melhor versão de sexo matinal.
— Tão gostoso... — Gemeu no meu ouvido. — Dio! Eu vou gozar...
Ah, Enrico!
— Feliz natal, amor.
Luna gozou e eu me senti mergulhado na incrível magia de natal.
16
Luna.
Era a primeira manhã de véspera de natal que eu estava realmente
feliz. Após fazer amor com o Enrico duas vezes, nós saímos da cama e eu
decidi preparar bolinhos de chocolate, pães de canela com açúcar e dei uma
olhadinha no meu peru enorme, assando na lenha, enrolado em alumínio para
ficar muito macio e faria farofa com bacon para rechear, acompanhado de
uma salada de legumes em conserva.
Enrico foi treinar com o Damon, preparei um chocolate quente e ouvi
uma batida na porta. Abri e me deparei com a Giovanna, com uma calça de
moletom, enrolada em um roupão bem grosso e um gorro vermelho. A
pontinha do seu nariz estava vermelha e passou por mim, tremendo. A
ventania estava até levantando as folhas.
— Senti o cheiro de algo doce e eu vim comer.
— Ainda está assando, eu ia te acordar quando ficasse pronto. — Sorri
para sua empolgação, enfiando uma colher na panela de chocolate derretido e
enfiando na boca.
— Ai, que delícia. — Gemeu e olhou para a minha caneca de
chocolate quente. — Perdeu, mocinha. — Sorriu torto. — Estou grávida,
tenho prioridades.
— Eu vou fazer mais. Dormiu bem? — Me aproximei do balcão,
pegando outra barra e comecei a fazer um pouco mais.
— Tanto quanto esse garoto permitiu. — Deu um tapinha na barriga.
— Estou sem posição para dormir, fico sem ar de um jeito, dolorida de outro
e acabo ficando sentada, o que me faz sair da cama para comer. Mal vejo a
hora do parto... — Mordeu o lábio e bebeu o seu chocolate quente. — Sei que
não vou dormir depois que ele nascer, mas pelo menos quando conseguir
dormir, não vou ficar sem ar. Ou ter a minha bexiga chutada. — Olhou para a
sua barriga. — Ele tinha que puxar o pai?
— Como se você fosse quieta.
Tirei os bolinhos do forno e preenchi com o recheio, derramando a
cobertura. Giovanna mal esperou que arrumasse no prato, fritei ovos e bacon,
porque queria comer algo salgado. Olhei o meu peru girando na coisa que o
Enrico montou e voltei para dentro, cristalizando o açúcar para colocar nos
pães de canela. Espalhei toda a comida pelo balcão e nós ficamos comendo,
conversando e rindo, porque de alguma maneira, só falávamos besteiras.
Enrico e Damon passaram pela porta, suados, com seus casacos
abertos e as calças cinzas, tiraram os sapatos e literalmente atacaram a
comida.
— Vocês vão mastigar? — Giovanna provocou.
— Preciso de gelo, seu marido me deu um soco no olho. — Damon
resmungou de boca cheia e peguei uma bolsa de gelo que já ficava no
congelador por causa dos hematomas que eles viviam provocando no outro.
— Provavelmente você mereceu. — Giovanna debruçou-se sobre o
balcão.
— Obrigada, bella . — Murmurou secamente, colocando a bolsa de
gelo no olho.
Enrico sorriu, parecendo muito satisfeito consigo mesmo e encheu a
sua torrada com ovos, enfiando na boca e mastigou, acariciando a barriga
definida que era a minha completa perdição. Os pães de canela estavam
finalmente frios para comer e coloquei no centro da mesa, sendo
imediatamente atacado por todos. Estavam uma delícia e eu podia imaginar o
resto da minha vida com manhãs de natal assim.
A diferença que no próximo ano, teríamos o bebê entre nós e depois,
sabia que teríamos muito mais.
Damon levou a Giovanna para casa, para tirarem um cochilo enquanto
Lucinda preparava boa parte da ceia. Esse ano, ela estava fora dos
preparativos porque não aguentava ficar muito tempo na cozinha, então, eu
preparei quase todos os doces. Fiz uma torta de limão, um pudim e pesquisei
na internet costumes e diferentes tradições de natal pelo mundo, preparando
algumas receitas pela primeira vez.
Minhas rabanadas ficaram deliciosas, eram comuns no café da manhã
em alguns países, inclusive nos Estados Unidos e eu não sabia de onde
surgiu, mas era uma tradição natalina em muitos lugares. Separei morangos e
banana para comer com ela, creme de avelã e geleia, apenas para variar.
— Somos cinco pessoas ou cinco famílias? — Enrico provocou ao ver
a quantidade de comida que arrumei na mesa principal. As demais coloquei
no aparador, principalmente as que precisavam ficar aquecidas. — Já
terminou?
— Sim, eu vou cobrir tudo. Estou cansada, acho que vou tirar um
cochilo.
— É uma excelente ideia. — Beijou o meu pescoço. — Você é tão
cheirosa...
— Vem, se você me levar para casa no colo, vou te deixar tirar a
minha roupa.
Enrico me pegou no colo e o abracei, sendo carregada até a nossa casa.
Ainda precisava lavar a louça, mas eu me deixei ser levada para cama. Enrico
não queria tirar um cochilo, ele queria namorar e eu não neguei. Adormeci
depois do nosso interlúdio, quase perdendo a hora e ao descer assustada, a
cozinha estava limpa e o chão também. Enrico estava jogado no sofá e fiz um
beicinho.
— Por que você não deitou comigo?
— Porque não ia te deixar dormir. A magia do natal está me deixando
de pau duro o dia inteiro. — Sorriu torto e apontou para o seu pau, havia um
volume ali. — Tentei ficar do seu lado, mas a sua bunda ficou me atentando.
Aí eu resolvi me ocupar limpando a casa.
Cruzei os meus braços e sorri.
— Alguém ficou muito empolgado com as minhas sugestões de natal,
não é?
— Sexo o tempo inteiro? Amor... Com você eu quero.
Amor. Era a segunda vez no dia que ele me chamava de amor e eu
estava tentando não pular no lugar, explodir de alegria e soltar fogos. O
homem que me casei era frio e introspectivo, irritante, continuava sendo
todas essas coisas, exceto que ele estava disposto a se abrir comigo e a me
chamar de amor.
— Se eu fosse você, viria atrás de mim. Pensei em uma espécie de
banho natalino, que envolve nudez, muita espuma, um pouco das minhas
velas aromáticas malucas, sais de banho... — Sugeri e ele ficou de pé antes
que terminasse, me puxando escada acima com ansiedade.
Giovanna estava ansiosa para comer e me ligou a cada dois minutos
para chegarmos logo, porque o Damon não a deixava comer. Eles não
paravam de ligar e eu não parava de gemer e rir, porque a situação era
cômica. Enrico estava muito concentrado em continuar em cima de mim na
cama, metendo muito gostoso e eu já não tinha ideia onde meu telefone
estava, só sentia vibrar.
— Ai meu Deus, ele escorregou para a minha bunda! — Comecei a rir.
— Estou sentindo vibrar nas minhas bolas, foda-se. — Gemeu e
passou o braço por trás do meu joelho, ergueu a minha perna e estocando
ainda mais forte. — Ai caralho...
Enrico chupou o meu pescoço, enfiei as unhas nos seus braços,
gozando e até esquecendo do telefone. Ele gozou em seguida e o beijei
apaixonadamente, estávamos suados, ofegantes e sorrimos como dois bobos.
Eu estava me sentindo muito boba. Tomamos banhos juntos, para economizar
tempo e me vesti realmente rápido, escolhendo um vestido verde até os
joelhos, de mangas longas e quentinho, junto com meias pretas e uma bota de
cano curto, sem saltos. Sequei o meu cabelo e não usei maquiagem, porque
continuava não usando.
Ele escolheu calça jeans, tênis, uma camisa preta e um casaco bege
escuro, forrado com um tecido de pelúcia que era muito gostosinho de sentir.
Entramos na casa deles e o Damon arregalou os olhos, irritado.
— Vocês precisavam foder como coelhos na noite que a Giovanna está
reencarnando o Grinch? — Reclamou e eu ri. — Eu tive que dar alguns
bolinhos de batata para ficar quieta, preciso beber.
— Quero vinho branco suave, por favor. — Pedi ao Enrico.
— É claro, amor. — Me deu um beijo firme e muito gostoso.
— Hum, amor ... — Damon cantarolou e revirei os olhos, saindo da
cozinha.
— Cala boca, bella . — Enrico retrucou e passei para a sala.
— Aleluia! Antes de sentar, pega aquele prato de salame ali. —
Giovanna tentou se mover, mas a sua barriga tornava quase impossível sair
rapidamente. — Droga.
— Você não pode comer salame. — Franzi o cenho e lhe dei uma
vasilha de salada verde com queijo, vários tipos de presunto e legumes
ralados bem fresquinhos.
— Pelo tempo que demorou, o mínimo seria me acobertar com um
pouco de salame. Eu segurei o Damon aqui, porque ele estava quase indo lá.
— Damon ia precisar de um guindaste para tirar o Enrico de cima de
mim. — Sorri descaradamente. Lucinda entrou na sala no mesmo instante e
fiquei vermelha de vergonha. — Desculpa.
— Luna, safadinha! — Giovanna riu alto e sua mãe deu meia volta. —
Não liga para a velha guarda. — Provocou a sua mãe. — Ai que saudade de
transar loucamente assim. — Fez um pequeno beicinho.
— Está difícil?
— Depende muito da posição e nem sempre estou confortável, às
vezes eu quero muito e não consigo ficar bem. Acaba sendo frustrante. —
Bufou e se abanou. — O mundo inteiro com frio e eu com calor. Estou te
apavorando, não é? Desculpa. Não é intencional, só é impossível não
reclamar.
— Acho que entendo... Isso não me assusta porque eu meio que sei
que é impossível ser tudo perfeito. Além do mais, você reclama com amor...
— Toquei a sua barriga e me aproximei. — Oi, meu amor. Titia te ama
tanto!
— Deus, Luna! — Giovanna grunhiu com o chute que ele deu. — Esse
garoto vai nascer apaixonado por você.
— Eu já sou apaixonada por ele. — Beijei a barriga que se
movimentou de maneira brusca. Ele se mexia muito. — Quem sabe aproveite
bastante esse neném e depois encomende o meu.
— Enrico tem falado sobre filhos? — Giovanna perguntou baixinho.
— Acho que ele diz que quer filhos porque ele quer me fazer feliz, não
exatamente porque a sua mente está pedindo por isso. Ainda é cedo, em todo
caso, sei que ele não vai me desamparar se acontecer fora do planejamento.
— Isso é bom... Tenho certeza de que mesmo com toda parede de gelo
no coração dele, você está dentro e bem aquecida. O bebê também estará.
Enrico e Damon entraram na sala, eles estavam rindo e se empurrando,
quase derrubaram o meu vinho e o suco da Giovanna. Eternas crianças. Me
perguntei como era durante a infância e adolescência deles, porque era uma
ligação muito forte. Não conseguia imaginar o que já tinham vivido juntos.
Mesmo com a mãe da Giovanna conosco, os meninos não conseguiam
conter suas bocas, palavrões, as piadas sexuais e toda baixaria que
costumavam falar, que no começo, me fazia sufocar de vergonha. Percebi a
minha evolução quando estava rindo e não querendo me esconder, sem
conseguir desviar os olhos do chão e com as bochechas coradas.
— Ninfa bebê! Isso está muito bom! — Damon balançou a cabeça,
provando meu peru assado com farofa e salada.
— Eu vou te dar um soco. — Enrico bufou.
— Ah, para. Eu descobri esse ano que você me chamava de demoníaca
pelas costas! Cara de pau! — Giovanna deu um chute no meu marido, que
sorriu com todo o seu charme.
— Não tenta seduzir a minha mulher, ela é imune a você porque eu sou
mais bonito e mais gostoso. — Damon falou de boca cheia.
— Nesse momento, com a sua boca cheia de farofa, eu não tenho tanta
certeza. — Enrico estava rindo feito uma peste e o Damon simplesmente
assoprou farofa nele, me sujando toda. Entrou farofa nos meus olhos e na
minha boca.
— Que nojo, Damon! — Giovanna bateu nele, repetidas vezes. —
Tem dias que você acorda terrível.
— Ele sempre foi assim. — Enrico me ajudou a limpar o rosto.
— Sua mulher tem a minha saliva na boca dela.
— Eu vou te matar até o final da noite. — Enrico retrucou e eu o
empurrei.
— Vou ter que lembrar as regras do natal? — Briguei com os dois.
— Não tem ninguém debaixo da terra, estamos usando as roupas que
vocês pediram, passamos o dia inteiro em casa... — Enrico foi erguendo os
dedos conforme lembrava as regras do natal. Damon estava ocupado demais
comendo.
— E não podem ameaçar matar ao outro na noite do natal, amanhã
estaremos na igreja e eu não sei como a fonte de água benta não ferve com a
presença de vocês dois. — Revirei os olhos e Giovanna me cutucou,
apontando discretamente para a sua mãe. — Acho que a senhora nunca viu
esses dois sendo uns monstros, não é?
— Mamma vai se acostumar, ainda mais agora que ela vai morar
conosco. — Damon sorriu do seu jeito encantador.
— Garoto, eu já disse que eu não vou morar com vocês, eu vou ficar
um tempo para ajudar a Giovanna nos primeiros cuidados com o bebê. —
Lucinda retrucou.
— E quem vai tomar conta do bebê quando a senhora for embora?
— Vocês. — Ela bufou.
Giovanna revirou os olhos para as perturbações do Damon e eu
recostei no peito do Enrico, sendo abraçada por ele. Era o nosso primeiro
natal e eu estava tão feliz porque nós dois ganhamos a chance de reescrever a
nossa história e construir a nossa tradição familiar.
De manhã cedinho saí da cama ansiosa para a troca dos presentes.
Giovanna amava tanto esse momento que não dormiu direito. Damon tentou
nos colocar sentadas para começar a distribuir, mas eu não conseguia ficar
quieta porque eu não lembrava a última vez que ganhei presentes de natal. Eu
via a Mia receber milhares de coisas todo ano, seus pais faziam questão de
ostentar para as fotografias que enviava para seus amigos do nosso meio.
Giovanna me deu sapatos, bolsas e um monte de coisa colorida que eu
amei no mesmo segundo. Damon me deu uma caixa de velas aromáticas,
incensos, tapetes de ioga – porque eu estava tentando voltar à prática e me
deu uma pulseira colorida com várias pedrinhas preciosas. Giovanna também
ganhou uma e os pingentes eram as nossas letras iniciais. Ele disse que nós
éramos como ele e o Enrico.
— Ser pai está amolecendo você. — Enrico provocou.
— Quer ver quem está mole? Vamos treinar agora. — Damon rebateu.
— Não antes dos meus presentes.
Enrico nos levou para a garagem, então, eu estava muito curiosa.
— Esse é seu, babaca. — Descobriu uma moto perigosa e brilhante
como as que ele tinha. — Tem uma em Chicago para você também.
— Filho da puta! — Giovanna grunhiu.
Damon parecia criança, acariciando o banco e sorriu.
— Vamos dar uma volta?
— Esse aqui é para o carinha. A mulher me disse que era um dos
melhores. — Descobriu uma caixa de um carrinho que parecia super
moderno, branco e se transformava em milhares de coisas.
— Ai que fofo, Enrico. Era exatamente o que eu queria... Obrigada! —
Giovanna o abraçou. — E o que é aquilo ali?
— É para a Luna. — Enrico me encarou um pouco nervoso. — Você
me disse que sempre quis ter um, como está grande demais para ter o de
brinquedo... comprei um de verdade. — Puxou a capa cinza. — O maldito
carro da barbie que vocês tanto falam! Não tinha rosa, só azul e ele ainda
precisa de uns reparos, mas talvez até o verão vocês possam passear por aí.
Pulei nele, não me aguentei, porque aquilo era demais e atencioso até
para mim. Giovanna e eu infernizamos um pouco falando sobre o carro da
barbie, a diferença era que ela teve vários de brinquedo ao longo da vida e eu
nunca tive. Damon brincou que precisávamos crescer. Enrico me deu um,
porque ele realizava todos os meus sonhos.
17
Luna.
— Me explica mais uma vez porque estou vendada? — Reclamei,
esticando as mãos a frente e ele abaixou. — Enrico?
— Confia em mim. — Falou baixinho e beijou a minha boca... Foi o
beijo que sempre me deixava super excitada. — Mais calma agora?
— E excitada. — Fiz um beicinho.
— Bom. — Foi tudo que ele disse.
Me conduzindo pelo corredor de casa, parou e fiquei mudando o meu
peso de um pé para o outro. Ouvi o barulho de uma porta sendo destrancada e
me perguntei qual dos quartos ele estava abrindo. Segurando a minha mão,
me puxou para dentro, senti o cheiro de tinta fresca e uma brisa gelada me
deixou arrepiada. Enrico parou atrás de mim e tirou a venda.
— Em Chicago você não tem tanto espaço para ter o seu ateliê, então,
eu montei um aqui. — Apontou para o quarto e eu estava tão chocada que
não conseguia me mover. Havia manequins, rolos de tecidos, máquinas de
costura e tudo que uma aspirante à costureira como eu poderia precisar. As
paredes estavam pintadas de um azul claro muito bonito e umas bonecas,
comuns em croquis, desenhadas na parede e então, um quadro lindo com uma
garota loira de cabelos esvoaçantes, costurando no meio de uma relva. — O
quadro... Eu mandei uma foto sua para um artista local. Giovanna me ajudou
com tudo isso.
— Obrigada... Amor, muito obrigada. — Abracei-o apertado. — Você
é tão perfeito.
— Perfeito, Luna? Esqueceu o que eu faço para viver? — Ironizou,
não aceitando o meu carinho. — Não sou perfeito, mas eu quero que você
seja feliz e tenha tudo que quiser. Você é a minha rainha e eu vou te dar o
mundo.
— É por isso que você é perfeito. É o meu marido e eu não poderia ter
um melhor. — Segurei o seu rosto, fiquei na ponta dos pés e beijei os seus
lábios repetidamente. — Esse é o melhor presente de natal de toda a minha
vida.
— Tudo por você.
Me espalhei no quarto, olhando tudo, achando graça pela maneira que
eles pensaram em tudo e fizeram uma pesquisa intensa. Havia tanta felicidade
em mim que não cabia no meu peito. Dei ao Enrico um presente simbólico,
porque eu precisava da ajuda do Damon para dar o presente que idealizei.
Quando ele precisou sair para fazer um favor armado pelo Damon, me
arrumei rapidamente e fui até o armazém da piscina aquecida, onde uma
tatuadora e Giovanna me esperavam.
— Você vai segurar a minha mão, certo? — Pedi a Giovanna.
— É uma tatuagem relativamente pequena, não vou levar muito tempo
e só vai arder um pouco. — A tatuadora garantiu.
Damon encostou na parede no fundo e Giovanna sentou-se ao meu
lado. A mulher, chamada Catarina, colocou um suporte para me cobrir da
cintura para baixo. Ela levantou a minha saia e abaixou um pouco a minha
calcinha, marcando o lugar que eu queria a tatuagem. Ela tirou uma foto,
mostrou com espelho e a Giovanna deu a sua opinião, então, autorizei. A
tatuagem não era nada além da assinatura do Enrico na minha virilha.
Ficava escondida no biquíni, só o meu marido veria e ele iria
enlouquecer. O motivo de ser uma tatuadora era óbvio. Enrico ia surtar se um
homem visse aquela parte do meu corpo e eu queria que ele gostasse do meu
presente e não tivesse um ataque. Ardeu bastante e doeu muito mais do que
imaginei, mas foi realmente rápido e o resultado ficou incrível. Era como se o
meu marido tivesse assinado em mim.
— Eu quero também! — Giovanna choramingou.
— Depois que você parar de amamentar, só me chamar. — Catarina
falou com ela e o Damon bufou do seu lugar. A tatuadora limpou e colocou
um curativo, me ajeitei, louca para olhar no espelho.
— Enrico é rápido e sorrateiro, o filha da puta já está na entrada da
villa. — Damon olhou em seu telefone. — Vai lá, eu resolvo aqui. —
Apontou para a porta.
Giovanna e eu andamos de volta para o pátio. Ele acenou do carro,
andando em alta velocidade para o armazém que funcionava como garagem.
Sentei-me meio desconfortável, primeiro pelo curativo colado e pela ardência
na minha pele. Como eles conseguiam fazer um monte de tatuagem e agir
normalmente estava longe da minha concepção. Tomei um analgésico, um
copo de vinho e depois do almoço nós dois andamos de mãos dadas para
casa.
— Você está andando estranho, o que foi?
— Nada. Foi tudo bem na rua? — Fiz conversa porque precisava de
uma distração ou ia acabar me entregando. — Foi bem rápido.
— Damon é um idiota. — Foi tudo que o Enrico disse. — Tem certeza
de que está bem? Está suando. — Me olhou com cuidado. — Está sentindo-se
bem?
— Sim, é claro. Quer um pouco de café?
Me distraí na cozinha e só respirei aliviada quando ele começou a
jogar. Silenciosamente subi as escadas, entrei no quarto e me tranquei no
closet. Tirei a minha roupa e puxei o curativo, olhando a tatuagem sem
acreditar que tive coragem de cometer tal loucura. Não estava arrependida,
apenas surpresa.
— Luna? Por que a porta está trancada? — Enrico tentou entrar.
— Só um minuto. — Gritei, rodopiando e joguei um vestido pela
cabeça, toda esbaforida e abri a porta. — O que foi?
— Você está estranha. Me conta o que é... Minha imaginação está
correndo solta e eu não estou gostando disso. — Tocou os meus ombros e
mordi o meu lábio, pensativa. — Algo está errado?
— Hum... Eu ia te mostrar só a noite, mas você é muito chato e
ansioso. — Reclamei e voltei para o quarto. — Senta aí na cama! — Apontei
com firmeza.
— É uma ordem? — Arqueou a sobrancelha.
— Sim. Sente-se na cama agora mesmo! — Reforcei a minha ordem.
— Tudo bem. — Deu de ombros e se jogou na cama. Tirei o meu
vestido e ele ficou atento. — Você se machucou?
— Achou mesmo que o meu presente de natal seria um porta retrato e
uma camiseta com o nosso nome? Aquilo foi para te distrair. — Sorri e tirei o
curativo devagar.
— Puta que pariu, Luna Elena Fabrizzi! — Enrico ficou de pé e eu
sorri. Ele estava tão surtado que me pegou de qualquer jeito e jogou na cama,
debruçando-se sobre a minha virilha. Passou o polegar para ver se era real e
eu tremi, sensível e dolorida. — Caralho... Você...
— Feliz natal? — Me bateu uma insegurança infernal que ele poderia
não ter gostado. — Não gostou? — Minha voz tremeu.
— Você tatuou o meu nome. — Seu olhar era puro fogo.
— Eu sou sua.
— Sim, você é. Eu também sou seu... Todo seu. — Deu um beijinho
em cima. — Estou fascinado e surpreso, estou... Porra, quero você agora.
— Talvez se não tiver muito atrito aí, eu realmente quero muito você.
— Não vai... Quero olhar para isso o tempo todo.
Enrico amou tanto a tatuagem que nós mal saímos de casa nos dias
seguintes. Cada vez que ele via, era um beijo ou uma sessão de sexo
alucinante. Trabalhei no meu ateliê em novas roupinhas para o bebê,
terminando o enxoval e ajudando na decoração final do quartinho, embora
Giovanna quisesse que o bebê dormisse com ela, sua mãe achava melhor
deixá-lo em seu quarto em algumas noites para que eles pudessem dormir.
Giovanna era muito intensa e o mês de janeiro foi gasto em fazê-la se
acalmar, não surtar de ansiedade e ela só descia a escada uma vez no dia e a
noite era carregada pelo Damon ou pelo Enrico. Nós vimos na internet umas
fotografias de parto e nos apaixonamos, então, eu pedi para o meu marido
comprar uma câmera fotográfica e várias lentes, fiz um curso online e
aproveitei para colocar em prática fazendo diversas fotografias dela como os
ensaios gestantes que vimos.
Me apaixonei pela fotografia e sabia que me tornaria a fotógrafa oficial
da nossa pequena família. Juliana e as meninas vieram nos visitar e ficaram
por uma semana enquanto o Enzo estava em Nova Iorque com o Damon,
fazendo uma reunião importante com alguns políticos e eu sabia que tinha
tudo a ver com a equipe do FBI que estava investigando a nossa vida em
Chicago.
Parecia surreal acreditar que o governo americano tinha um acordo
com a família, mas existia e era real. Na verdade, Enzo e Damon davam
informações, propinas e até faziam alguns serviços sujos para o governo. Ao
longo dos anos, Enzo criou laços necessários para manter os negócios e em
Chicago, a maioria dos políticos eram sustentados pela família e tinham as
suas campanhas feitas por nós. Um apoio sutil valia muito.
Enrico ficou conosco, porque eles não confiavam mais em sair os três
juntos mesmo que a Juliana fosse mais louca que os três.
Juliana se comprometeu em voltar assim que o bebê nascesse e
felizmente Damon chegou a tempo, porque duas semanas depois, Giovanna
entrou em trabalho de parto à noite. Ele me acordou assustado, Enrico e eu
saímos as pressas, peguei o equipamento e fiquei no quarto junto com a
Lucinda, duas enfermeiras, a Dra. De Luca e o Damon. Foi uma noite
alucinante. Uma das experiências mais intensas da minha vida e eu não podia
imaginar algo mais mágico.
— Ele é tão lindo... — Falei baixinho, segurando o pacotinho em meus
braços. — Tanto cabelo... — Acariciei a seu cabelo escuro como do Damon.
— Estou esgotada. — Giovanna falou da cama. — Obrigada por me
ajudar.
— Eu amei. Foi uma das melhores noites da minha vida. — Meus
olhos não paravam de sair lágrimas. — Foi tão incrível.
— A dor não foi nada incrível, mas eu juro para você, quando olhei
para ele eu soube que faria isso umas mil vezes. — Sorriu e recostou na
cama.
— Por que você não dorme um pouco? Sua mãe acordou, então, eu e
ela vamos revezar até que ele precise mamar novamente. — Ofereci e seu
olhar foi conflituoso. — Vai ficar tudo bem. — Garanti, achando graça da
sua ansiedade.
— Realmente preciso dormir um pouco, mas... Por favor, me chama.
Saí com o bebê nos braços e desci a escada, com ele acordado, mas
quase adormecendo porque tinha acabado de mamar. Giovanna sofreu e me
perguntei se eu conseguiria, porque sentia muita sensibilidade nos seios e a
amamentação parecia ser algo extremamente doloroso. Não fiquei com o
bebê no quarto porque era muito próximo da Giovanna, se ele chorasse, ela
não ia dormir. Seria ideal que ela dormisse por pelo menos duas horas.
Coloquei-o no berço Moisés que montamos na sala. Deixei-o aquecido
e não conseguia desviar o olhar. Era uma criatura perfeita. Esculpida por
Deus.
— Você vai afogar o meu filho em baba. — Damon parou do meu
lado. — Ela finalmente dormiu?
— Sim e é melhor você tirar esse cheiro de charuto e uísque antes de
deitar-se ao lado dela, porque você tem uma hora e trinta minutos para
descansar antes de ele chorar.
— Sim senhora, ninfa-bebê.
Um dia iria dar um tapa na cabeça dele por me chamar assim. Damon
saiu da sala, olhando umas trinta vezes para o bebê e me sentei no sofá, me
enrolando na colcha. Enrico entrou na sala devagar e olhou para o Nino.
Nosso sobrinho. Seu sorriso carinhoso me deixou derretida. A maneira como
os seus olhos brilharam para o bebê fez o meu útero revirar e eu quase tive
um ataque causado pelos meus ovários quando ele o segurou pela manhã,
logo após o nascimento.
— Pensando em ter um? — Provoquei e ele sorriu.
— Talvez... — Piscou me fazendo rir. — Quer um agora?
— Não, seu bobo. Ainda vamos completar um ano de casados...
— E eu não te levei para fazer o seu tour pelas praias da Itália como é
o seu sonho. Damon e eu estamos comprando um iate.
— Vocês são malucos.
— É um investimento. Tem muito dinheiro na conta, sabe que não
pode. — Falou divertido. — É a nossa vez de ficar de guarda?
— Não é ficar de guarda, é ficar de babá. — Bati no assento ao meu
lado. — Quando ele acordar, nós vamos dormir. Precisamos ajudá-los, eles
estão nessa de primeira.
— Como se a gente tivesse qualquer experiência com bebês. —
Encostei minha cabeça no seu braço e bocejei. Estava exausta.
— Será bom, vamos aprender para a nossa vez.
— Eu duvido muito que a gente consiga fazer qualquer coisa como se
não fosse a primeira vez com o nosso bebê. Parece ser assustador o
suficiente, olha o tamanho dele, eu tive mais medo de segurá-lo do que
quando segurei uma granada pela primeira vez. — Meditou e sorri. — Ele é
tão pequeno, molinho e cabeludo. E é a cara do Damon.
— Ainda pode mudar. Ele pode parecer com o pai e ter muito da mãe.
— Espero que o nosso bebê pareça com você.
— O DNA de vocês é a coisa mais louca do mundo. Por que você diz
isso?
— Porque eu pareço com meu pai e não gosto disso. Não quero que o
meu filho tenha qualquer semelhança com ele. — Falou baixinho e meu
coração apertou.
— Gostaria que o nosso bebê parecesse com você, porque além de
lindo, ele vai ter orgulho de ter semelhança com o pai incrível dele. Você não
tem nada do seu pai. — Falei com veemência e ele bufou. — Nunca me
machucou, sempre me respeitou e teve medo de encostar em mim quando
acreditava que eu tinha medo de você. Sou a mulher mais bem cuidada e
mimada do universo e coloco a mão no fogo que os nossos filhos também
serão.
Enrico sorriu, foi bem tímido, com as bochechas quase corando e beijei
os seus lábios porque não importava o que ele pensava de si mesmo. Eu tinha
fé e confiança. Eu o amava muito.
18
Enrico.
Olhei para as perninhas me chutando, tão pequenas, delicadas, mas
tinham uma força surpreendente. Passei o meu dedo na sua barriguinha, rindo
da reação dele, mostrando um sorriso desdentado. Passei o meu polegar em
seu queixo, ele sorriu fechando os olhos. Não podia acreditar que aquele
moleque era real. Damon tinha a sua própria cópia. Nino usava uma das
roupinhas que a Luna fez para ele.
— Tudo bem por aqui? — Giovanna apareceu na sala, me olhando
com cuidado e abriu um sorriso. — Cadê o pai dessa criança?
— Fugiu. — Menti.
— Ele largou o garoto com você? — Colocou as mãos na cintura.
— Fui esquentar a mamadeira. — Damon entrou na sala com uma
mamadeira na mão e uma toalha de bebê nos ombros. Nino se agitou com a
voz da mãe, querendo virar o rosto para onde ela estava. — Vem aqui,
garoto. — Soltou a mamadeira na mesinha e pegou o seu filho, aninhando no
peito, mas ele não aceitou o bico. — Parece que meu pequeno filhote tem um
faro canino, porque segue sentindo o seu cheiro. Que tal você ir tomar seu
banho logo?
Giovanna sorriu.
— Tudo bem, não vou demorar. — Saiu da sala e foi para as escadas.
— Cadê a Luna? — Damon franziu o cenho.
— Está em casa, costurando. Ela se perde naquele quarto. — Olhei o
meu relógio.
Nino mamou tudo e adormeceu, era o seu ciclo, mamar, cagar e
dormir. Às vezes ele invertia a ordem. Ficamos com ele na sala até que a
Giovanna desceu para levá-lo para o quarto. Damon e eu fomos para a
academia, ter o nosso treino do dia. Ficamos separados pegando peso, em
silêncio, curtindo o som alto e quando chegou a hora de lutarmos, a porta foi
aberta e Luna enfiou a cabeça dentro.
— Fabiano pode me levar à loja de linhas? Acabou o azul marinho e
estou quase terminando o vestido para o aniversário da Gio.
— Eu te levo.
— Vai ser rapidinho, você ainda vai ter que treinar, prometo que será ir
na loja e voltar. Fabiano vai me proteger. — Garantiu.
— Tudo bem, me liga se precisar de alguma coisa. — Falei e mesmo
assim, não me senti confortável.
Comecei a lutar contra o Damon, a gente não tinha um roteiro e
tentávamos surpreender ao outro, porque nunca sabíamos como o nosso
inimigo iria reagir. Nós dois éramos faixa preta em jiu-jitsu e judô, mas na
hora da luta real, não tinha regras, era porradaria para todo lado. Era por isso
que treinávamos muitas horas no dia e após a primeira hora, Damon me
jogou no chão porque, de repente, me senti fraco. Foi como um arrepio
intenso correndo pelo meu corpo.
— O que houve? Caiu feito banana podre. — Damon se inclinou e
esticou a mão.
— Tem alguma coisa errada. — Falei sentindo o meu coração
retumbar no peito.
— Está sentindo-se mal? Enrico, sua respiração está me assustando.
— Não comigo. Tem algo errado. — Levantei-me do chão e peguei o
meu telefone.
Liguei para a Luna, chamou até cair. Liguei de novo. Parei e liguei
para o Fabiano. Chamou até cair. Senti um pânico crescendo pelas minhas
pernas, minhas mãos tremiam e voltei a ligar. Antes que pudesse explicar o
que estava acontecendo, o grito da Giovanna cortou o céu. Foi horripilante.
Damon e eu agarramos nossas armas e atravessamos o quintal, olhando
ao redor e não havia nada errado além dos nossos próprios guardas correndo
até a casa principal. Damon empurrou a porta e a Giovanna estava caída no
chão, segurando uma caixa, seu corpo inteiro tremia de forma violenta e
quando o seu olhar encontrou o meu, eu soube. Luna.
Me aproximei devagar e dentro da caixa havia uma língua cortada em
cima de um telefone. O telefone da Luna. Toda caixa estava forrada com um
tipo de papel à prova d’água. O sangue acumulava ali, o aparelho acendeu a
tela diversas vezes. Damon pegou uma caneta e jogou a língua para o lado.
Havia uma mensagem na tela. A mensagem que fez o mundo inteiro tremer
para mim.
Estou com ela.
Giovanna parou de gritar. Nós três ficamos em silêncio, olhando
para a caixa sem acreditar. Antonio falou que a caixa foi entregue por um
serviço particular de entregas, endereçado à Giovanna e não fazia dez
minutos. Eu sequer parei, corri até a garagem, vagamente ciente que o
Damon estava comigo e nós aceleramos pela rua, seguindo o GPS do carro
que o Fabiano usou.
— Marcas de pneu na rua. — Mandei o Damon parar uma quadra
antes da loja de linhas e tecidos que a Luna gostava de fazer compras. Eu a
levava ali o tempo todo. — Antonio, pegue as imagens das câmeras de
segurança! — Gritei da janela do meu carro e segui adiante, percebendo que
vários carros de guardas nos seguiam e o Damon berrava ordens no seu
telefone.
Nós dirigimos até uma parte do lago que era deserta e eu vi o carro
parado. Estava ali, como se estivesse estacionado para admirar a paisagem.
Pulei fora do carro e corri até ele. Estava vazio no banco de trás e no carona
Fabiano estava morto, um tiro no meio da testa, sinais óbvios de luta corporal
e sua língua cortada. Meu corpo estava tremendo como se eu fosse entrar em
erupção.
— Consegui imagens! — Antonio gritou do seu carro.
— Cuidem disso... Levem o corpo dele para o nosso necrotério e não
avisem a família ainda. — Damon ordenou e andou atrás de mim. — Mostre.
Antonio reproduziu em seu telefone o momento em que quatro
carros pretos cercaram o carro do Fabiano. Ele agiu dentro dos protocolos,
protegeu a Luna com seu próprio corpo e eu apoiei minhas mãos no carro ao
vê-la tão desesperada, lutando com todas as suas forças, mordendo e
chutando, sendo arrastada para a mala de um carro. Jogaram a minha mulher
dentro da mala de um carro fodido como se fosse um lixo. Meu punho
afundou no teto do carro repetidas vezes.
— Eu quero essa cidade ABAIXO. ENCONTREM A MINHA
MULHER! EU QUERO TODO MUNDO NA RUA PROCURANDO A
LUNA! — Berrei aos quatro ventos, com a minha voz ecoando no espaço
vazio.
Voltei para o carro, incapaz de ficar parado, indo de galpão em
galpão, olhando todos os malditos lugares, procurando em câmeras de
trânsito e eu ia destruir quem ousou tocar nela. O telefone do Damon tocou
pela milésima vez e eu já não sabia quantas horas haviam se passado, estava
escuro, minha cabeça doía e o meu corpo parecia tão quente como se eu
estivesse pegando fogo.
— Oi. O quê? Estamos voltando agora mesmo.
— O que foi? — Olhei para o lado, ele deu a volta bruscamente.
— Chegou um vídeo. — Foi tudo que Damon disse, acelerando até a
nossa casa.
Pulei do carro antes que estivesse parado totalmente. Giovanna
estava na sala, sentada sozinha e com um computador na sua frente. Ela
recebeu o link por sms e nos ligou imediatamente ao perceber o que era, não
conseguindo assistir sozinha.
QUINZE MILHÕES E TERÁ A SUA ESPOSA DE VOLTA.
Foi a primeira mensagem que apareceu na tela. Em seguida,
lentamente, a imagem da Luna foi surgindo. Seu cabelo estava molhado de
sangue, havia um corte na sua testa como se alguém tivesse lhe acertado ali e
uma contusão se formando na sua bochecha. Ela estava nua e molhada,
sentada no meio de um lugar escuro com uma luz forte iluminando o seu
corpo. Seu olhar para a câmera era desfocado e um homem todo de preto,
encapuzado, andou até ela, segurando seu braço e aplicou algo com uma
seringa.
ENQUANTO ISSO ELA VAI PROVAR O QUE VOCÊS
POSSUEM DE MELHOR.
Afundei no sofá, levando as minhas mãos ao cabelo. Pela primeira
vez na vida eu estava perdido. Sentindo uma desolação e um medo que não
conseguia controlar. Era um desespero cru que me impedia de ouvir o que
estava acontecendo. As batidas do meu coração e a minha respiração eram as
únicas coisas que ecoavam no meu corpo.
— Comecem a preparar o dinheiro. — Falei baixo. — Eu vou pagar,
não importa quem seja e não importa o preço.
— Claro que iremos. — Damon tocou o meu ombro. — Nós vamos
tê-la de volta, nem que eu incendeie toda essa cidade.
— Quero que cada um dos nossos associados, estabelecimentos,
chefes e subchefes entendam que eu vou estripar um a um que estiver
envolvido com isso. Quero sangue e respostas. — Ergui o meu olhar para o
Damon. — E eu quero agora.
Giovanna colocou a mão na minha perna e em seguida segurou a
minha mão, apertando firme. Devolvi o seu aperto. Eu precisava da Luna.
Fechei os meus olhos e a imagem dela tão machucada e vulnerável estava
pintada na minha mente. A minha doce e tão inocente mulher. Luna nasceu
nessa vida, mas ela nunca sequer viu uma pessoa morta na sua frente. Ela
nunca viu sangue. Não conhecia a profundidade do caos.
Damon e eu saímos novamente, rodamos a madrugada inteira,
ampliamos nossa busca nas cidades vizinhas, chegando à fronteira do estado
quando Giovanna ligou dizendo que outro vídeo foi enviado. Pegamos o
helicóptero para voar de volta, pousando no nosso quintal. A Gio estava na
porta, abraçada consigo mesma, com um olhar vazio.
— Você assistiu? — Damon esfregou os seus braços.
— Não consigo sem vocês. — Ela falou baixo.
— Gio, você deveria se deitar. — Damon a abraçou e ela chorou.
— Ele tem razão, o Nino precisa de você. — Parei ao seu lado.
— Não consigo... Eu fecho os meus olhos... — Sua voz morreu. Eu
entendia.
Deixei Damon sozinho com a sua esposa e fui para a sala. Dei play
no vídeo.
Estava tudo escuro, só havia a forma do corpo da Luna no chão.
— Não adianta me procurar pela cidade. Eu sei que vocês estão
sendo vocês mesmos, monstrinhos criados que pensam que são a porra da
realeza, aterrorizando e assustando seus inimigos, prováveis suspeitos e eu
estou assistindo com atenção enquanto desfruto dessa fruta preciosa e
tentadora... — A voz falou robótica.
— Por que ele não diz quando entregar o resgate? — Giovanna
chorou.
— Não é sobre o dinheiro. É para brincar conosco. — Respondi
baixo. — É um jogo. Ele quer brincar de caçada conosco.
— É alguém que nós caçamos? Não estaria vivo para contar uma
história.
“Fruta preciosa e tentadora”.
— É alguém que você não me deixou matar para fazer política com
o Enzo. — Olhei-o com acusação, sem conseguir conter a minha fúria e
mágoa. — Ele pode usar quantos mecanismos quiser para esconder a sua voz,
mas nunca vai apagar o que disse. Eu o vi dizer isso mil vezes e jamais
esqueceria a maneira que se referiu à Luna. Ele disse que ela era como a
maçã do éden, uma fruta preciosa e tentadora.
Giovanna se afastou do Damon e se jogou em uma poltrona.
— Nós fizemos com que a força tarefa fosse desmembrada e ele
demitido, mas não o matamos e agora, ele está com a minha mulher. — Não
desviei o olhar do Damon. — Essa é a política. Não matar a família da Luna e
não matar esse desgraçado. Essa é a porra da consequência de fazer política.
Saí da casa, batendo a porta e eu sabia que era inútil ter esperanças,
embora ela estivesse viva no meu coração. Precisava pensar. Ser frio. Ainda
tinha tempo para resgatar a minha mulher com vida, porque eu sabia que a
história do resgate era mentira. Era tempo para que ele brincasse comigo,
com o meu desespero e com os meus sentimentos. Estava sentindo dor. Se a
Luna não resistisse... Não existiria mais nada para mim.
Ouvi passos se aproximando e não virei para olhar.
— Eu sinto muito. Falhei com você, não só como o seu boss , mas
principalmente como o seu irmão. — Damon falou atrás de mim. — Não
importa o que aconteça nessa vida, sempre será eu e você. Eu daria a minha
vida pela Luna como você já deu o seu sangue pela Giovanna. Sei que daria a
sua por ela e pelo Nino.
Senti o meu rosto molhado, meu peito parecia rasgado ao meio.
Luna tão vulnerável, exposta, machucada e eu ali, sem ter a mínima de ideia
para onde seguir.
— Se ela estiver morta, acabou para mim. — Falei baixo.
— Enrico...
— Não posso viver sem ela. — E eu chorei.
Damon me abraçou apertado. Eu nunca chorei. Não lembrava a
última vez que havia chorado na vida, mas a dor era dilacerante.
— Não vai. Nós iremos encontrá-la. — Damon prometeu, mas ele
sabia tanto quanto eu que era uma promessa que ele não podia fazer.
Damon me arrastou para casa e me jogou no sofá. Eu não tinha ideia
do tempo, alguém colocou um copo de água na minha mão e eu ouvi o Nino
chorar. Giovanna subiu a escada e continuei olhando fixamente para frente.
Nas horas seguintes, saí e voltei umas trinta vezes, nenhum outro vídeo foi
enviado, nenhuma localização, nenhum maldito sinal de internet, computador
ou telefone celular. Nada.
— Estou aqui, Enrico. — Enzo apareceu na minha frente. — Trouxe
o dinheiro em pequenas notas não rastreáveis como foi pedido.
— Tudo bem.
— Iremos encontrá-la. — Juliana segurou o meu ombro. Havia uma
mulher com eles. — Essa é a Kyra, ela veio ajudar.
— Obrigado. — Eu não estava interessado em quem ela era, se
estava ali para ajudar, eu só podia agradecer.
Kyra instalou uma série de computadores na sala, tablets e a Juliana
esteve com ela, andando de um lado ao outro. Damon falou, falou e falou.
Enzo estava quieto, encostado na parede, me olhando. Giovanna voltou para
a sala e ela cheirava ao Nino. Seus olhos estavam fundos e parecia muito
mais pálida que o usual. Parou ao meu lado e segurou a minha mão.
— Outra mensagem, dessa vez, com instruções de entrega do
dinheiro. — Kyra sinalizou. — Consegui triangular a localização, eles ainda
estão na cidade, mas é como se usassem um tipo de celular muito antigo que
não tem acesso à nuvem. É quase impossível de rastrear a localização exata.
— O que seria tão antigo que não acessaria a nuvem? A maioria dos
aparelhos antigos que não são atualizados, não funcionam. — Damon puxou
os cabelos.
— Ele está enviando sms sem usar uma operadora, ele não precisa
de um telefone atualizado, só de um que envie mensagens de textos da
maneira mais antiga e arcaica. O endereço de IP dos vídeos está com um
VPN criptografado. — Kyra olhou para o Enzo. — Coisa do governo.
Com tantas horas, minha agonia só aumentava.
— Pague o resgate. — Falei sem desviar os olhos da janela.
Damon sinalizou para o Antonio. Enzo iria com ele, fazer o
pagamento e eu esperei, com a ansiedade me consumindo. Quarenta e oito
horas desde a última vez que eu vi o sorriso da Luna. Nunca mais ignoraria o
meu instinto. Se eu tivesse ido com ela, seria diferente. Luna estaria a salvo
mesmo que eu desse a minha vida no seu lugar. Os minutos se passaram e eu
mal conseguia respirar.
— Eles enviaram uma localização. O dinheiro foi entregue. —
Damon gritou e nós saímos correndo. Ele precisou dirigir porque as minhas
mãos tremiam. Avançou pelas ruas, indo para uma das áreas mais pobres da
cidade, onde só havia lixo e apesar de termos passado por ali, nós nunca
encontraríamos aquele lugar, porque era abaixo do solo. Era uma antiga
estação de tratamento de água.
O local estava escuro e muito frio, nós estávamos armados e nos
espalhamos em grupos com lanternas, procurando sala por sala. Mas eu a vi
primeiro e corri, afundando no chão e tocando seu corpo tão frio, molhado,
mole.
— Não, não... Luna. Não. — Falei baixo e o Damon tocou sua
pulsação, tirei a minha segunda blusa, envolvendo-a.
— Tem pulsação e está fraca, vamos.
Ergui a Luna no meu colo, seus olhos estavam fechados e eu não
conseguia sentir a sua respiração. Estava tão fria quanto uma pessoa morta e
eu só a aninhei contra mim, realizando mais uma coisa pela primeira vez: eu
rezei.
19
Enrico.
Luna estava tremendo violentamente contra mim. Damon estava
gritando no telefone com a Dra. De Luca e dirigindo como um louco pelas
ruas, cortando os carros, e eu gritei quando ela convulsionou em meus braços,
se debatendo com tanta força que podia ouvir os seus dentes e a pressionei
ainda mais contra mim. Ele entrou no subsolo do estacionamento da clínica
da Dra. De Luca e ela já estava ali com uma maca e duas enfermeiras.
— Ela convulsionou no carro! — Damon saiu gritando.
— Segure a cabeça dela para mim. — Dra. De Luca falou comigo,
abrindo os olhos da Luna, usando uma lanterna e a minha mulher parecia sem
vida. — Muito bem, vamos colocá-la na maca. Com cuidado.
Coloquei a Luna deitada, as enfermeiras se aproximaram e colocaram
nela milhares de coisas que de repente, começaram a apitar. Quando ouvi
“parada cardíaca”, Damon me segurou, passando os braços ao meu redor e
me segurando no lugar. Usaram um desfibrilador duas vezes, quando ela
aparentemente voltou, a Dra. De Luca subiu na maca, pedindo que Antonio
ajudasse as enfermeiras a empurrarem a maca até o elevador.
Nós subimos e eu fiquei andando no corredor de um lado ao outro.
Giovanna e Juliana chegaram junto com Enzo e a mulher, Kyra. Nós ficamos
reunidos em uma sala, mas eu não podia suportar a presença deles e me
afastei, ficando sozinho em um corredor e encostei minha testa na parede.
Rezei para Luna ficar bem. Rezei para que ela ficasse viva. Não podia viver
sem a minha mulher.
Fiquei rodando a aliança no meu dedo, rezando baixo quando ouvi
passos femininos.
— O que você quer?
— Bons ouvidos. Parece que os meninos de Chicago são bem
treinados. — A tal da Kyra falou atrás de mim. — Estou rastreando o
dinheiro.
— Você está?
— Não pelo dinheiro, imaginei que você gostaria de ter o cara. —
Arqueou a sobrancelha. — Enzo colocou um dos dispositivos que rastreamos
as drogas em uma das rotas sem acompanhamento. Tecnicamente, eu teria
que entregar o nosso suposto suspeito em Langley nos próximos dias. —
Esticou um papel na minha direção. — Faça essas perguntas. Não posso estar
lá.
Peguei o papel e olhei.
— A não ser que queira me entregá-lo com vida. — Inclinou a cabeça.
— Isso não vai acontecer. — Rosnei.
— Ótimo, obrigada. — Voltou para a sala com os demais. Eu não
sabia quem aquela mulher era e eu não me importava.
Continuei no corredor, batendo os meus dedos na parede e respirei
fundo milhares de vezes, me concentrando, tentando controlar a minha mente
porque naquele momento, eu precisava me concentrar na Luna.
— Enrico? — Gio se aproximou devagar. — A médica quer falar
conosco. — Virei e ela esticou a mão, peguei e voltamos para a sala.
A Dra. De Luca respirou fundo quando saiu, tirando uma touca da sua
cabeça.
— A situação não é boa. Não vou conseguir adoçar isso para vocês.
Temos o suficiente para tratar a Luna, entrei em contato com especialistas e
espero a autorização para que eles possam vê-la. — Olhou para mim e assenti
ansiosamente, a enfermeira saiu correndo. — Ela foi drogada. Muito drogada.
Há um dano cerebral causado pela pancada, mas ela deu negativo para abuso
sexual. Não há indícios de relações sexuais, está intacta. A questão é que não
tem como saber como ela irá acordar. Em algum momento, ela vai acordar.
— Ela fez uma pausa. — Vocês precisam se preparar para o fato que a Luna
que vocês conheceram pode não ser a que vai acordar. Precisamos nos
preparar porque não dá para saber a extensão dos danos físicos e emocionais.
— Quando poderei vê-la?
— Iremos fazer mais alguns exames e em seguida, a levarei para um
dos nossos quartos. Eu vou fechar essa parte da clínica, esses dois elevadores
vão ficar travados para vocês e darei o código. Tem café e outras máquinas
na lanchonete. — Apontou para o final do corredor. — Volto em alguns
minutos.
Giovanna esfregou meu braço.
— A Luna vai acordar bem, ela é forte.
— Eu sei. — Suspirei e continuei olhando fixamente para a porta.
Enzo e Damon falavam baixo no canto. Kyra estava sozinha de um
lado da sala. Juliana e Giovanna me cercavam como se eu fosse sair correndo
e invadir a área dos exames para ver a minha mulher e talvez estivesse
considerando a possibilidade. Vinte minutos depois, eu a vi sendo empurrada.
Usava um respirador e estava tão pálida. Parecia quase cinza.
Entrei no quarto devagar, me aproximando da cama e toquei a sua
mão. Estava quentinha, bem diferente de quando a encontrei. Sentei-me ao
seu lado, beijando os nós dos seus dedos. Giovanna entrou devagar, em
seguida a Juliana. Damon e o Enzo ficaram no fundo, em silêncio. A máquina
fazia um barulho suave e ela estava completamente apagada.
Damon andou até onde estava e colocou a mão no meu ombro.
— Temos que ir.
Olhei para a Luna.
— Pode ir tranquilo, Enrico. Kyra e eu vamos fazer a segurança. —
Juliana afirmou. — Eu vou ligar se acontecer qualquer coisa.
Me levantei da cadeira, dando mais um olhar para a minha esposa e saí
do quarto. Enzo e Damon estavam me seguindo de perto.
— É ele? — Perguntei aos dois.
— Ao que parece, sim. — Enzo murmurou.
— Onde estão? — Continuei.
— Em meia hora daqui, bem próximo da praia e já enviamos carros na
frente. Eles não vão agir até a nossa chegada, mas vão impedir se eles
tentarem sair. — Damon respondeu dessa vez.
— Sem impedir, apenas seguir. Não quero que nada aconteça. Ele é
meu. — Tirei o papel do meu bolso e estiquei para o Enzo. — A sua garota
me deu uma lista de perguntas, faça você. Não tenho paciência para essa
merda.
— Ela não é minha garota. — Enzo reclamou.
— Não. Só uma fodida agente da CIA entre nós. — Damon bufou.
— Não vamos falar sobre isso de novo.
Ignorei os dois, me sentando no banco do carona e era a primeira vez
que o Damon estava dirigindo que eu queria que ele fosse mais rápido.
Diminuiu a velocidade quando chegamos em um pacato bairro residencial,
muito cristão e de classe média, onde nós quase não tínhamos problemas. Ali
era um bairro que os irlandeses costumavam dizer que era o seu território,
mas eles não tinham porra nenhuma na minha cidade.
Saí do carro, armado e fiz sinal para cada um ir para um lado. Sandro e
Antonio ficariam na porta da frente, olhando a rua e tomando cuidado para
que a nossa visitinha não atraísse muitos curiosos. Abri a porta dos fundos
devagar, a leitura mostrava que havia dois homens na casa e alguém em um
lugar no porão. Pela posição, estava sentado. Damon pulou a janela
silenciosamente, mas os filhos da puta treinados nos ouviram antes.
Eu atirei em um, Enzo em outro e o Damon derrubou com o corpo
quem nós realmente queríamos.
— Agente Especial de Merda. — Coloquei o meu pé na sua garganta.
— Thomas Sullivan.
Seu olhar de ódio encontrou o meu.
— O dinheiro está aqui. — Enzo falou de algum lugar atrás de mim.
— E tem uma mulher acorrentada no porão.
— Eu disse para você pegar essa sua cara feia e a sua bunda inútil e
sair da minha cidade. Não pense nem por um segundo que isso vai acabar em
você. Vai começar com você... Terminar na sua mãe, irmã ou esposa... Ainda
estou decidindo a ordem. — Seu olhar brilhou e eu seguia pressionando a sua
garganta, então, ele não conseguia falar. — O quê? Pensou que eu não sabia
absolutamente nada sobre a sua família perfeita? Fez um bom trabalho
tentando escondê-las.
Antonio e Sandro entraram.
— Levem-no para a gaiola, se divirtam. Não o matem...
Os dois arrastaram o corpo pesado, sangrando, porque o atingi nas
pernas. Os outros dois estavam mortos. Damon pediu a equipe de limpeza.
Enzo estava na sala com uma mulher, ela usava roupas hospitalares e estava
molhada. Seus olhos se arregalaram quando me viu.
— Quem é ela?
— Segundo ela, uma médica que eles pegaram na saída do seu turno.
Eles estão com seu bebê de dois anos. Pedi que verificassem a história. —
Enzo me olhou.
— Levem-na para a gaiola até sabermos a história.
Esperamos que a equipe de limpeza chegasse e deixasse a casa como
se ela nunca tivesse sido usada. Dirigi até a gaiola, pensativo. A nossa gaiola
ficava no subsolo de uma fábrica de tintas. Ouvi os sons dos socos antes que
terminasse de descer a escada. O médico da família estava preparando as suas
coisas, para manter o meu convidado vivo até que estivesse satisfeito. A
mulher foi jogada em uma das salas e eu não estava preocupado com ela.
— Você está muito calmo. — Enzo encostou na parede ao meu lado.
— Já não faço ideia do que sentir.
— Entendo. Uma vez, encurralaram a Juliana em um shopping. Ela
estava grávida do nosso primeiro bebê e os russos fizeram com que ela
precisasse lutar pela própria vida. — Enfiou as mãos no bolso. — Foi um
dos dias mais assustadores da minha vida. Infelizmente, ela perdeu o bebê e
teve uma hemorragia grave. Quando encontrei os homens que organizaram o
ataque por ordem da sua líder, eu já não sabia o que sentir.
— É como se eu estivesse oco. Há um vazio. Quando estou com raiva,
pelo menos eu tenho um norte. Uma emoção me conduzindo.
— Eu sei. Você vai descobrir que o vazio é muito pior que a raiva.
Enzo me deixou sozinho, arregaçou as mangas da sua camisa e entrou
na sala, puxando um banquinho para arrancar as informações que a Kyra
precisava. Damon se aproximou e parou do meu lado.
— A história da mulher é verídica. Foi dada como desaparecida há
uma semana, ela tem uma filha de dois anos e ninguém sabe o paradeiro. Vou
fazer algumas perguntas, você quer fazer?
— Não.
Damon saiu sem falar nada e entrou na sala, para falar com a mulher.
No final, ela foi sequestrada para fazer com que a Luna sobrevivesse durante
as aplicações de drogas para que ela não tivesse uma overdose. Ela manteve a
Luna minimamente hidratada para sobreviver. Enzo arrancou a informação de
onde estava a filha da mulher, então, deixei que o Damon lidasse com aquilo.
— Não é muito resistente. O FBI deveria treiná-los melhor. — Enzo
saiu da sala com a sua camisa toda suja de sangue. — Dê um tempo para ele
se recuperar ou não vai aguentar por muito tempo.
— Estou bem. Tenho todo tempo do mundo...
Havia uma calmaria dentro de mim que era assustadora.
20
Luna.
Que droga, a minha cabeça estava doendo tanto. Me movi, com um
pouco de dificuldade. Será que estava gripada? Quanta dor no corpo. Ergui a
minha mão e senti cabelos, mas não eram meus porque estavam na minha
cintura. Abri os olhos e a claridade me fez gemer.
— Está tudo bem. — Ouvi a voz suave da Giovanna.
O que aconteceu?
— Ela está acordando? — Ouvi a voz esperançosa do Damon.
— Acho que sim. Abriu os olhos e soltou um gemido de dor. Chame a
Dra. De Luca. — Giovanna parecia urgente.
Ouvi um outro barulho e mexi a minha mão de novo. Tentei levar ao
meu rosto, mas eu não conseguia. Abri os olhos, tudo estava turvo, confuso e
parecia girar. Lambi os meus lábios e tentei erguer as minhas mãos mais uma
vez. Giovanna entrou no meu campo de visão, seu cabelo solto, mas ela
estava turva. Pisquei algumas vezes, tentando enxergá-la direito, começando
a me sentir nervosa com a minha incapacidade de vê-la.
— Não fique nervosa, está tudo bem. — Senti o seu toque na minha
mão e entendi que sequer havia movido. — A médica está vindo.
Estava doente? Por que estava no médico?
Fiquei confusa com a movimentação ao meu redor. Senti uma pressão
em vários lugares, com dor, com a mente girando e a garganta seca. Meu
coração parecia acelerado e eu senti meu corpo inteiro dando choques.
— Ai meu Deus! Faça isso parar! — Giovanna gritou ao fundo,
chorando.
Alguém pediu que ela se afastasse e me pressionou, gritando que eu
estava em convulsão e então, voltei a dormir. A dor sumiu. Tudo sumiu. A
minha mente era como um lugar vazio, escuro e eu odiava o escuro.
Estava tudo escuro e molhado... Uma luz forte. Um homem.
Abri os meus olhos e me assustei com a luz, era uma lanterna nos meus
olhos e eu respirei fundo, assustada com a Dra. De Luca em cima de mim, me
olhando atentamente e devagar, eu fui sentada, como se fosse empurrada para
cima. Olhei para o lado e a cama estava se movendo. Definitivamente uma
cama hospitalar. Atrás dela estavam o Enrico, Giovanna e o Damon. Eles me
olhavam com um misto de aflição e alívio.
Olhei para o meu marido, sério, muito preocupado e voltei para a
médica. Ela falava comigo. Concentrei nos seus lábios, mas tudo que ouvia
era confuso. Fechei os meus olhos, me concentrando e foi como se estivesse
emergindo após ficar muito tempo no fundo da piscina. Os sons faziam
sentido.
— Eu sou a Dra. De Luca, você lembra de mim? — Ela olhou em
meus olhos e balancei a cabeça. Sim, eu lembrava. Era a minha médica. —
Sabe quem são as pessoas atrás de nós? — Olhei para a minha família e
assenti. — Pode dizer o nome deles?
Enrico, Giovanna e Damon.
A doutora continuou me olhando.
— E o seu nome?
Luna Elena di Fabrizzi.
Eles pareciam com expectativas. Não estavam me ouvindo? Aquilo só
podia ser um sonho. Olhei para a janela, ao redor do quarto e estiquei a minha
mão para o Enrico. Ele respirou aliviado e finalmente me segurou, beijando a
minha mão repetidas vezes. Acariciei o seu rosto, sua barba estava grande e
parecia que não havia dormido muito. Beijou a minha palma e sorriu. Seus
olhos brilhavam como se as lágrimas pudessem cair a qualquer momento.
— Quantos anos você tem? — A Dra. De Luca insistiu.
Olhei para as minhas mãos. Quantos anos eu tinha? Dezoito? Não.
Quase dezenove. Ou já dezenove. Será que não ia fazer vinte? Não sabia
dizer. Contei em meus dedos, olhando as minhas unhas e eu não sabia
quantos anos eu tinha. Olhei para o Enrico, mostrando o meu desespero e o
meu coração estava acelerando.
— Acalme-se, Luna. Está tudo bem... — Ela me garantiu. — Quer
tentar falar agora?
Falar? Eu não estava falando?
— Vamos, amor. Estou ansioso para ouvir a sua voz. — Enrico me
incentivou.
Tomei fôlego e saiu um som esquisito dos meus lábios quando eu quis
dizer que estava falando. Não estava. Era como se a minha língua estivesse
enrolada. As palavras não faziam sentido.
— Quer tentar escrever? — A Dra. De Luca me deu duas coisas que eu
conhecia, mas não lembrava seus nomes e nem como segurá-las. — Caneta.
— Ergueu o objeto fino. Sim. Caneta. — Bloco de papel. — Ergueu o
conjunto de papel pequeno, colado juntos. — Você sabia o que era isso?
Neguei, porque apesar de ser familiar, não lembrava os seus nomes. O
que aconteceu comigo? Tive um derrame? Um acidente de carro?
— Luna, sei que está confusa e nós iremos te explicar o que aconteceu.
Gostaria de um pouco de água? Sua garganta dói? — Balancei a cabeça e ela
segurou um copo com um canudo nos meus lábios. Eu não tinha muita força
para puxar. — Tudo bem, devagar. — Quando senti a água, finalmente tive
um alívio na minha garganta.
Foi uma delícia e eu bebi quase tudo, me sentindo refrescada. A Dra.
De Luca se afastou e olhei para o Enrico.
— Amor, eu sinto muito.
Por que ele estava me pedindo desculpas?
— Infelizmente você foi vítima de um sequestro e por quarenta e oito
horas, foi drogada. Nós pagamos o resgate e conseguimos a sua localização.
Eu sinto muito, amor. Não te encontrei antes. — Beijou a minha mão. — Me
perdoa.
O que ele estava falando?
— Você passou a última semana em coma induzido, havia um dano
cerebral a ser tratado devido a uma pancada. Em seguida, entrou em processo
de desintoxicação de todas as drogas que foram injetadas. — A Dra. De Luca
explicou. — Você lembra de alguma coisa?
Neguei.
Fui sequestrada, drogada e eu... Coloquei a mão no meu ventre. Fui
abusada? Fechei os meus olhos, lembrando de um homem encapuzado em
cima de mim, rasgando as minhas roupas enquanto eu lutava, gritava e me
debatia. Ouvi vagamente a Dra. De Luca garantir que não havia sinais de
estupro ou relações sexuais. Ela poderia ter certeza? Eu não tinha. Não
lembrava. Não parecia real.
Estava cansada e queria dormir de novo.
Enrico voltou a segurar a minha mão e apertou. Beijou os nós dos
meus dedos. Giovanna se aproximou e eu a puxei para um abraço, nós nos
abraçamos apertado e eu senti a dor do seu desespero. O que a minha família
passou nos últimos dias? Só de pensar, chorei com o meu rosto escondido nos
seus cabelos.
— Estou feliz que você está aqui. Te amo, Luna. Você é a minha irmã.
— Giovanna choramingou.
— Ninfa bebê. — Foi tudo que o Damon falou. A voz dele estava mais
grossa, como se ele precisasse esconder as suas emoções. — Gio, bella .
Vamos deixá-los sozinhos. — Ele olhou para a Dra. De Luca. — Ela pode
comer algo?
— Depende dela. Você comeria uma sopa de frango?
Balancei a cabeça bem ansiosa. Seria bom comer algo.
Eles saíram e voltei o meu olhar para o Enrico. Ele abaixou a proteção
da cama, sentando-se ainda mais perto e sorri.
— Como, depois de tudo, você ainda tem esse sorriso tão angelical? —
Ele acariciou o meu rosto, me olhando com carinho. — Tão perfeita. — Seu
rosto amassou. — Sinto muito ter falhado com você.
Você nunca poderia ter falhado comigo.
— Deveria ter te protegido, cuidado e eu falhei com a minha promessa
que você sempre ficaria segura ao meu lado.
Não falhou, amor. Não diga isso.
— Me perdoa, Luna.
Ele precisava me ouvir.
— Ammaaaaaaaaao . — Saiu um som totalmente estranho. Respirei
fundo, frustrada. — Enmunnnn . — Tentei de novo.
— Não se esforça, você acordou agora. Não tenha medo, nós
contratamos os melhores profissionais do país e você vai ter o melhor
tratamento. A Dra. De Luca explicou que pela quantidade de droga que
injetaram em você, haveria sequelas e que era possível que a maioria delas
fossem tratadas. — Enrico segurou o meu rosto. — Pensei que perderia você
para sempre. Para mim, a minha vida tinha acabado ali. Eu te amo, Luna. Não
posso viver sem você.
Meus olhos encheram-se de lágrimas e comecei a chorar, dilacerada
com a dor, sem poder me expressar, cansada e só o abracei apertado, beijando
a sua boca com todo meu amor. Fiquei grudada nele, ouvindo a sua voz suave
me contar sobre o Nino e ainda mostrou um vídeo no seu celular, dele usando
um macacãozinho com uma lua na frente, em homenagem a mim. Cobri a
boca do Enrico quando ele me pediu perdão mais uma vez. Não precisava do
seu perdão.
Sabia que o Enrico fez o impossível para me encontrar e que ele ia se
tornar um anjo vingador quando encontrasse quem me machucou, isso se já
não estivesse, considerando o tempo em que eu fiquei apagada. Estava
quase dormindo quando a porta foi aberta de maneira suave e tentei virar,
mas isso fazia a minha cabeça doer. Giovanna estava segurando um saco de
papel e o Damon uma bandeja de madeira. A Dra. De Luca ajustou a cama e
armaram toda uma maneira para que pudesse comer confortável.
A sopa parecia deliciosa, o cheiro me fez sentir fome, mas eu não tinha
ideia sobre como comer. Aquilo me fez entender a profundidade da minha
limitação, ao olhar para objetos que eu via a minha vida inteira e não
conseguir comandar o meu cérebro para fazer tal coisa. Olhei para a sopa por
muito tempo e ergui o meu olhar, com meu lábio inferior tremendo de
tamanha a minha ansiedade.
— Colher. — Dra. De Luca me deu um sorriso calmo. — É assim... —
Exemplificou como segurar e fez todo sentido. Ela me entregou e levei algum
tempo para conseguir segurar corretamente.
Tentei pegar a sopa, tentei segurar a colher, mas os meus braços
pareciam gelatinas. Fiquei olhando e percebi que não conseguiria comer
porque ia me sujar toda e não queria lidar com aquele tipo de frustração.
— Olha... Por que vocês não me deixam sozinha com a Luna por um
tempinho? — Giovanna deu um passo à frente e ergui o meu rosto, olhando-
os. — Pelo menos enquanto ela come e talvez ela queira vestir alguma das
suas roupas favoritas, para se sentir confortável, não é? — Me olhou e
assenti.
— Estarei aqui fora, no corredor. — Enrico me deu um beijo na testa e
o Damon apertou o meu pé.
— Provavelmente você não queria tentar na frente do seu marido e se
sujar, eu entendo, mas eu preciso avaliar os seus movimentos e eu te prometo
que não tem julgamento. — Dra. De Luca sentou-se na beirinha da cama.
Giovanna deu a volta e sentou-se do outro lado. — Iremos realizar alguns
testes ao longo dos próximos dias, está bem?
Balancei a cabeça e meus dedos demoraram a colaborar com o que eu
queria fazer. Peguei a colher e coloquei um pouco de sopa, mas parecia um
movimento impossível de fazer. Ela não me forçou, só me orientou, mesmo
assim, na terceira vez eu queria me deitar e dormir. Giovanna pegou a colher
e me deu na boca como uma criança, contando sobre a vez que Enrico levou
um tiro por ela e mesmo assim, caíram sobre cacos de vidros. Ela se feriu e
ficou meio dopada, principalmente após perder sangue.
Me senti melhor por não ser a única em um momento vulnerável na
família. A sopa de galinha com batata me fez sentir ainda melhor, aquecida e
as duas me ajudaram com uma higiene básica, uma troca de roupa, eu
consegui ficar sentada, mas quase caí ao ficar de pé.
De pijama, cheirosa e alimentada, meus olhos estavam lutando para
ficar abertos. Uma enfermeira entrou no meu quarto, a Dra. De Luca aplicou
uma medicação e o Enrico voltou. Giovanna se despediu, soprando um beijo
e prometendo que voltaria logo cedo no dia seguinte. Damon beijou os meus
cabelos e passou o polegar na minha bochecha, saindo com a sua mulher e eu
olhei para o meu marido. Dei um tapinha na minha cama, ele abaixou a
proteção de novo, tirou os sapatos e deitou-se.
Enrico me abraçou apertado, beijei o seu pescoço e sua mão acariciou
o meu braço, me aquecendo e ergui o meu rosto e ele abaixou o seu no
mesmo instante, me abraçando mais firme e me beijando. Ter a sua boca na
minha me fez sentir viva. Inteira. Fechei os meus olhos, adormecendo segura
em seus braços.
Acordei no dia seguinte, assustada e estava sozinha na cama.
Giovanna estava lendo um livro ao meu lado.
— Oi. — Falei baixinho.
— Luna! Oi! — Saltou da sua cadeira.
— Gio. — Minha fala ainda saiu estranha, mas pelo menos estava
falando alguma coisa.
— Eu sabia que você só precisava de um tempo. — Sorriu emocionada
e segurou as minhas mãos. — Enrico e Damon precisaram sair... Eles vão
estar aqui na hora do almoço. Quer o seu café da manhã?
— Água. — Minha garganta estava seca.
— Tudo bem, só vou avisar que você acordou. — Saiu rapidamente do
quarto e me ajustei o máximo que consegui na cama.
Duas enfermeiras entraram no quarto. Uma segurava meu café da
manhã e a outra, medicação. Elas eram simpáticas e cuidadosas. Eu não fazia
ideia de que diabos estava acontecendo e onde estava, mas eu tinha tempo
para entender. Só precisava me recuperar e voltar a me sentir humana, dona
de todas as minhas faculdades mentais e do meu corpo, para compreender o
que aconteceu.
Giovanna me ajudou a comer minha salada de frutas, na qual os
pedaços eram bem grandes e facilitavam furar com o garfo, algo que eu
lembrei como usar e me deixou feliz, mas quando segurei a toalha, eu levei
um tempo para achar a minha própria boca para limpar e ainda por cima, sem
tremer.
— Nino?
— Ele está bem e morrendo de saudades da loira favorita dele. —
Giovanna recolheu a minha comida e colocou em uma mesa. — Deveria
parar de ficar te olhando tanto, mas eu não consigo. Você é minha amiga, a
minha irmã e eu estou muito grata por estarmos juntas.
— Você vai me contar o que aconteceu? — Falei bem devagar para
soar compreensível aos nossos ouvidos. Sabia que o Enrico não iria me
contar tudo.
— Não lembra de nada? — Neguei. — O que você lembra?
— Estar no meu quarto de costura... Fazendo o seu vestido. — Franzi o
cenho. — Por que eu saí de casa?
— Em outro momento eu prometo que vou te contar tudo com todos os
detalhes, mas antes, você precisa ficar boa. — Gio me deu um abraço de leve.
Balancei a cabeça de acordo. Aceitei aquilo porque eu não tinha
certeza se queria saber tudo. Estava assustada com os flashes de memória que
piscavam na minha mente e eu não sabia se eram reais ou a minha
imaginação. De todas as coisas confusas que estavam rondando a minha
mente, toda a minha dificuldade em me locomover e o meu cérebro não
colaborando comigo, era certo que o meu corpo precisava de um tempo para
se curar.
— Estamos gratos que você está viva e bem. — Giovanna parecia
quase melancólica. — Seu marido enlouqueceu. Enrico ficou... transtornado.
Ele te ama muito, Luna. É um amor intenso e talvez a única parte pura do seu
coração.
21
Luna .
Nunca olhei a cidade de cima e parecia muito bonita. Meus ouvidos
estavam protegidos com o fone e a mão do Enrico estava firme na minha. O
piloto seguia para a nossa casa e pela primeira vez, eu vi o H desenhado em
um círculo em uma parte do terreno. Era o meu primeiro dia fora do hospital,
duas semanas depois que acordei, três semanas depois que fui encontrada e
internada. Quase um mês fora de casa.
A aterrissagem foi tranquila. Enrico saiu primeiro, esticou os braços
e me tirou, segurando a minha cintura e fiquei nervosa, agarrando-me a ele.
— Ei, calma. Estou aqui. — Me abraçou e me afastou daquela coisa
que era incrível lá em cima, mas assustadora. Nos afastamos pelo gramado.
As minhas coisas foram enviadas de carro, mas eu meio que travei antes de
entrar em um. Ainda não lembrava de nada, mas, eu senti medo ao ver o
carro.
Eu tinha borrões de estar no escuro, de ter uma luz forte contra mim,
de me sentir molhada e com frio. Seguia tendo pesadelos de ter a minha
roupa rasgada enquanto lutava, no mais, parecia tudo como um sonho. A
última lembrança vívida que eu tinha, era estar costurando o meu vestido e o
da Giovanna para o seu aniversário. Nós faríamos uma festa, porque fazia
tempo que não oferecemos nenhum evento estrondoso para a família.
O batizado do Nino seria em alguns meses, então, a família estava
começando a ficar inquieta além do fato que Enrico assumiu a posição de
underboss e não tinha uma casa sede como a do Damon para oferecer
eventos. Nós não queríamos nos mudar. Não era uma questão de não poder
comprar uma casa, amávamos morar juntos e era mais seguro para Giovanna
e eu ficarmos juntas.
Enrico nos levou para nossa casa e assim que abriu a porta, respirei
fundo, sentindo o cheirinho de lavanda das minhas velas aromáticas da sala,
passei a mão no sofá, sentando, olhando ao redor e comecei a chorar, aliviada
por estar na minha casa e muito grata por estar viva. Enrico afundou ao meu
lado e escondi meu rosto no seu peito, sentindo tanto amor e gratidão que só
consegui chorar.
Andei pela minha casa, mexendo em tudo, tocando as minhas coisas,
minhas costuras e quando entrei no meu quarto, me joguei na minha cama,
abraçando o meu travesseiro e dei um tapinha para Enrico deitar-se ao meu
lado. Meu corpo ainda estava se recuperando, embora não houvesse
comparação o quão forte me sentia desde a primeira vez que acordei.
— Nossa cama deve ter sentido a nossa falta. — Enrico refletiu e
sorriu.
— Não dormiu aqui?
— Não desde a última noite que você dormiu. Fiquei no hospital
mesmo nas noites que a Giovanna quis dormir com você. — Acariciou o meu
rosto.
— Estou feliz de dormir na nossa cama.
— Não faz ideia o que estou sentindo em dormir com você. — Me
puxou para os seus braços e beijou a minha bochecha, em seguida a pontinha
do meu nariz e os meus lábios. — Eu te amo e eu nunca mais vou ficar sem te
dizer essas palavras. — Falou bem baixinho no meu ouvido e sorri.
— Por que a Dra. De Luca ainda não nos liberou para o sexo?
— Porque você ainda está fraca devido aos episódios da
desintoxicação. E você, safadinha, pode esperar. — Sorriu e ergui o meu
rosto depois de ganhar um tapinha na bunda.
— Não é isso... Estou aliviada que não fui... Eu só queria sentir você
dessa forma, para me sentir sua.
— Nunca deixaria de te amar e me sentir conectado a você por isso,
Luna. Você estar viva era tudo que me importava.
— Eu deixaria de me amar. Sabe o quão ruim é viver eternamente na
ameaça que alguém pode tocar em mim sem o meu consentimento? Antes era
o meu tio e depois foi esse sequestro... Me dei a você porque quis, porque te
queria como homem, para você me fazer mulher, porque é o que eu sou. A
sua mulher. — Toquei o seu peito. — Se outro homem tivesse me tirado isso,
eu me odiaria. Não me sentiria mais eu mesma.
— Nada mudaria porque não seria sua culpa.
— Eu sei...
— Em breve nós estaremos fazendo dessa cama e do restante da casa o
nosso palácio do sexo particular, até lá, concentre-se em ficar saudável,
porque linda e gostosa você sempre será. — Me deu um beijo nos lábios e o
seu telefone apitou. — Giovanna está em cólicas. Damon disse que ela
passou a noite cozinhando todas as suas comidas favoritas e decorou a sala de
jantar.
Tentei me levantar empolgada, com saudades do Nino, de boa comida
e de ter um momento com a minha família, mas o mesmo esforço de levantar,
foi o mesmo que quase me levou ao chão como uma bananinha podre. Enrico
me segurou e me manteve de pé.
— Estou bem. — Era só o efeito colateral de quarenta e oito horas
ininterruptas de heroína no meu sistema. O estúpido agente federal quis se
vingar da venda de drogas da família sendo que além de eu não ser usuária de
drogas, a família não vendia heroína. Isso era coisa dos russos. — Vem,
vamos ver o nosso menino e comer. Estou com saudades de comida.
Enrico sabia que eu estava sendo alto astral, bancando a positiva,
porque não queria preocupá-lo. Eu precisava manter a positividade ou eu iria
enlouquecer. De mãos dadas, atravessamos o quintal e entramos pelos
fundos. A cozinha estava silenciosa e vazia, apenas muito cheirosa. Enrico
sorriu quando me puxou pelo corredor. Giovanna explodiu serpentinas em
mim e soprou línguas de sogra. Damon segurava o Nino, que estava um
rapazinho de três meses e meio, balançando os braços e as perninhas.
Havia balões coloridos, uma faixa enorme com SEJA BEM-VINDA
DE VOLTA e muita comida na mesa. Não estava liberada para beber e ela
estava amamentando, então, nós dividimos as garrafas de suco de uva
integral. Meu prato mal ficou vazio, porque senti muita falta de comer, ter a
liberdade de segurar o garfo e força para comer sozinha. Enrico me alimentou
nas últimas semanas e eu tentei comer sozinha algumas vezes, mas era ruim
errar a boca e me sujar toda.
— Posso segurá-lo um pouco? — Apontei para o Nino.
— Claro que sim, ele está te olhando já tem um tempinho. —
Giovanna o pegou e colocou no meu colo.
— Ele estava pensando “essa mulher peculiar veio aqui e está
comendo tudo?”. — Damon me deu um sorrisinho antes de piscar.
— Mentira, ele é apaixonado pela Luna. — Gio sorriu e beijei a
cabecinha cheirosa do bebê. Estava louca de saudades dele. Nino agarrou os
meus cabelos, esfreguei meu nariz no dele e sorri.
— Ai meu Deus! — Nino estava sorrindo para mim, me olhando
com fixação. — Ele está sorrindo. Agora parece mais um sorriso do que uma
reação nervosa.
— Ele está gritando também. — Damon comentou. — Toda noite,
quando pensa que tem silêncio demais nessa casa, solta um grito estridente e
se sacode, sorrindo. Ele sabe que se gritar, nós iremos vê-lo.
— Ontem à noite estávamos muito cansados, a minha mãe voltou
para sua casa tem uma semana e eu confesso que estou sentindo falta. Com
sono, pedi para o Damon arrumar uma cama mais alta para o Nino dormir
entre nós. — Gio cruzou as pernas. — Ele mamou até que eu caí no sono, o
Damon me acordou e colocamos ele na caminha, cada um deitado de um
lado. Estava começando aquele silêncio, um soninho gostoso e aí... ele gritou.
Foi tão estridente que me sentei na cama.
— Você é um pestinha, garoto. — Enrico acariciou a cabeleira
escura do Nino.
— Adora ser o centro das atenções.
— É meu filho, fazer o quê? — Damon sorriu. — Estamos em
família e eu posso falar isso. Pela primeira vez eu apaguei de roncar.
Giovanna nunca me ouviu roncar. Vamos completar seis anos dormindo
juntos e ela nunca me ouviu roncar.
— Não posso dizer o mesmo. — Enrico comentou secamente. — A
gente dividiu o mesmo quarto e depois a mesma casa por anos, otário. Só
depois que fomos iniciados que passamos a entender o que é dormir pesado.
— Confesso que foi o sono que renovou a minha vida ou eu ia matar
um. Um bebê pequeno fode a sua cabeça.
— Somando todo estresse das últimas semanas, entendo o cansaço.
Não tenho palavras para descrever a minha gratidão e amor pelo apoio nas
últimas semanas. Eu amo a nossa família. Obrigada. — Ergui a minha taça.
Damon me deu um sorriso torto, ele ia falar alguma merda. Giovanna até se
virou para olhar para o seu marido.
— Não poderíamos viver sem você, ninfa-bebê. Quem eu iria encher
o saco? — Sorriu torto. Olhei para o Enrico e ele sorria para o Damon. —
Falando sério. Não sou um homem de expressar os meus sentimentos. Enrico
é o meu irmão, acima de qualquer coisa. Sei que não somos ligados pelo
sangue, é algo além disso. Você é a mulher dele, então, para mim, você é
minha irmã. Falhei com você. Falhei em te proteger e espero que me perdoe.
— Assim como eu disse para o Enrico, você não precisa me pedir
perdão. A culpa é daquele homem, que se dizia ser da lei, mas se perdeu entre
os seus princípios, o que me faz crer que ele não estava acima do bem e do
mal como costumava acreditar. Ele escolheu se vingar em mim porque sabia
que doeria em vocês. — Olhei para o Nino. — E acabou. Estou aqui, ainda
não estou cem por cento, apesar de confundir algumas palavras e me sentir
cansada, estou aqui e é isso que importa.
Nino sorriu para mim e eu senti que era um novo começo para todos
nós.
As semanas seguintes passaram com tranquilidade. Não saí mais de
casa embora o Enrico tenha saído diversas vezes para trabalhar, chegando a
passar a noite fora em uma festa no clube de sexo. Giovanna e eu fizemos
uma festinha do pijama, meio spa e com um pouco de comida. Nino mal
dormiu aquela noite, ficando acordado entre nós duas e sendo modelo para
nossas fotos. No dia seguinte, quando nossos maridos chegaram, dormimos o
dia inteiro.
Fiz algumas sessões de fisioterapia, fono, conversei bastante com a
Dra. De Luca e quando fui liberada para voltar a praticar ioga e
obrigatoriamente, um pouco de esteira e exercícios leves, também fui liberada
para o sexo. Enrico e eu nem pensamos em preparar algo especial, eu o
queria tanto que fizemos amor logo que chegamos da minha consulta, a
primeira vez que saí de casa depois da alta.
A Dra. De Luca acreditava que bloqueei os eventos do sequestro,
que a minha falta de memória tinha a ver com o fato de que eu estava
inconsciente a maior parte do tempo e por algum motivo, isso me fez grata,
porque eu não queria lembrar de nada. Queria esquecer as poucas coisas que
vinham na minha mente.
Enrico e eu gastamos um final de semana nos reconectando
sexualmente porque emocionalmente não sabia se era possível estarmos mais
conectados. Nós apenas olhamos para o outro para entender, conversar ou
decifrar sentimentos. Minha vida estava voltando ao normal e eu estava me
sentindo feliz. Era uma mulher diferente, me sentia mais forte, mais madura.
Meu aniversário quis comemorar de maneira privada. Giovanna e eu
tínhamos apenas duas semanas entre nossos aniversários, mas eu não queria
uma festa pública. Fizemos um jantar, bolo de sobremesa e como estava
liberada para beber, Giovanna tirou leite o suficiente para Nino mamar até o
dia seguinte. Nós ficamos loucas. Nunca bebi gin ou outras bebidas
destiladas, mas nossos maridos bancaram os barmans.
Me arrependi no dia seguinte, mas valeu a experiência.
— Ei, vem aqui! — Giovanna chamou da área da piscina. Nino
estava no carrinho sem roupa. — Você está bem?
— Dormi muito hoje, me dei o direito de ser preguiçosa. — Me
inclinei e beijei a barriguinha dele. — Oi gostoso! Peladão no banho de sol!
— Eu imaginei. Sorte a sua. Esse mocinho aí me deu meia hora de
sono. Felizmente Damon ficou com ele para que eu pudesse dormir até a hora
que eles precisavam sair. — Giovanna sorriu para o sapeca do seu filho.
— Já fez as malas? Vamos sair poucas horas depois da festa. — Me
joguei na poltrona, colocando as minhas pernas em uma cadeira.
— Ainda não e você? — Ela fez um beicinho.
— Não vou levar muita coisa, só as costuras que estou trabalhando
agora.
— Estive pensando... E se fizermos uma imensa reforma na nossa
casa? Damon me procurou para mostrar um projeto de uma casa que na
verdade, são duas. É uma mansão com alas bem divididas e eu pensei que
deveríamos fazer algo assim, uma única enorme casa, dentro dela, haverá
três: as nossas em cada lado e a do meio, a de hóspedes, onde iremos receber
convidados, festas, a biblioteca para as noites de charutos dos homens e por
dentro, as nossas casas teriam os quartos dos nossos filhos e nossas coisas, do
nosso jeito. — Explicou e mostrou no seu telefone. — É muito comum em
grandes famílias e a nossa não será pequena para sempre. Não queremos nos
separar e ao mesmo tempo, Enrico precisa ter uma grande casa para eventos.
Isso vai resolver todos os problemas.
— Será uma construção enorme.
— Eu sei, mas eles se viram com a parte financeira e teremos a
desculpa perfeita para ficarmos na Itália por um longo tempo... Quem sabe
assim você ganha confiança de sair de casa novamente e eu paro de ouvir
todos os conselhos maternais não solicitados.
— Eu concordo...
— E o melhor de tudo, poderemos fazer tudo a distância.
Nós ficamos no solzinho da tarde, ela amamentou e colocou a fralda
no Nino. Peguei-o, deitando-o em cima de mim. Sua cabecinha ficou
aninhada entre os meus seios e sua mãozinha segurando uma mecha generosa
do meu cabelo. Acariciei seus cabelos e sua bochechinha, com a boquinha
cheia de leitinho e um cheirinho que revirava os meus ovários.
— Seria muita loucura ter um agora? — Beijei a cabecinha do Nino
e olhei para Giovanna.
— Você é quem decide, Luna. Ninguém deve te dizer o que fazer,
mas eu acho que o Nino faz qualquer pessoa querer ter filhos, principalmente
aqueles que nunca quiseram. Esse garoto é uma perfeição divina e às vezes
fico parada olhando-o sem acreditar que fui eu que fiz! — Babou e eu
suspirei, esse menino estava mexendo com a minha cabeça. — Um fruto de
amor. Se você quiser ter filhos, é isso.
— Não vai me contar qual é a surpresa do Enrico para mim?
— Não. — Ela sorriu muito orgulhosa de si mesma. — É algo lindo.
— Estou muito curiosa.
— Eu sei, mas vai amar. E eu vou te ajudar a arrumar as suas malas
assim que chegarmos na Itália, fiz até uma lista, assim não vai ficar faltando
nada.
— Não é justo, nós não temos segredos. — Fiz um pequeno
beicinho.
— Esse você vai me agradecer por guardar.
Voltei a olhar o Nino e ele estava dormindo em mim, mas não era
um sono profundo, porque ele resmungava cada vez que parava de bater
suavemente no seu bumbum. Enrico e Damon apareceram rindo, empurrando
o outro e tentando se derrubar, trocando mata-leão e Giovanna me olhou,
divertida.
— Se você tiver um menino, será a segunda versão daquilo ali. —
Apontou e eles se aproximaram, cada um se inclinando para beijar suas
esposas. Enrico segurou os meus lábios por mais tempo, era sempre assim
quando chegava ou saía. Um beijo longo e gostoso que me dizia que me
amava. — Se for uma menina, eles vão ser melhores amigos do mesmo jeito.
— Damon se inclinou e beijou as costas do filho, sem tirar do meu colo e
sorriu para o Enrico.
— Nossos filhos serão melhores amigos porque irão se casar um dia.
E melhor ainda, não vão ter dúvidas, porque irão se amar. Acho que
deveríamos fazer um acordo de casamento agora mesmo.
Enrico revirou os olhos. Foi algo inédito, porque eu nunca o vi
revirar os olhos ou agir de forma debochada tão explicitamente.
— Minha filha não vai se casar com o seu filho. A minha filha nunca
vai se casar, ela será uma princesinha e homens não chegarão perto dela. —
Foi enfático.
Giovanna e eu trocamos um olhar e começamos a rir. Damon não
estava satisfeito.
— Cara... não viaja. Quem vai ser melhor marido para sua filha que
o meu filho?
22
Enrico.
Desci as escadas para a gaiola ouvindo os sons do vídeo que o nosso
convidado estava assistindo. Damon estava encostado na parede, olhando
para a sala e ele já estava de saco cheio, preocupado e um tanto estressado
que iríamos sair do país. Mas ele admitiu que meu circo foi perfeito. Nós
tínhamos álibis em todas as possíveis suspeitas que poderiam ter contra nós.
— Isso acaba hoje.
— Bom. Não queria sair do país com esse pacote ali. — Damon me
olhou. — Nunca te vi indo tão longe com uma tortura. Um mês, Enrico.
— Quando a sua mulher acordar em um hospital sem saber quantos
anos tem ou como segurar uma colher, voltamos a conversar sobre ir longe
demais ou não. — Rebati secamente.
— Não estou falando quanto a isso, estou falando sobre o tempo.
Nunca levamos tanto tempo e nunca fizemos algo como isso.
— A menina do Enzo ajudou. — Encolhi os ombros.
— Ele fica puto com isso, porque aquela mulher é casada e é mãe.
— Sorriu torto. — E a Juliana já o seguiu, deu a maior merda.
— Então eu vou continuar, ele me dedurou para a Luna sobre a festa
no clube semana passada e ela ficou puta.
Empurrei a porta da sala e olhei para o meu convidado.
— Como foi assistir o seu velório? — Sentei-me na sua frente. Ele
estava mudo. Cansou de implorar, de tentar fugir, de lutar contra as amarras e
contra os meus homens. — Sabe o que é engraçado, Tommy? Você tinha um
problema com a organização, mas você escolheu ferir uma pessoa inocente,
culpada apenas por associação. Você fez uma escolha ruim... Essa mulher
que você humilhou e drogou por dias me pediu para não o matar, não me
vingar e não te ferir. Mesmo depois de ter fodido com a sua mente e ela ter
quase morrido de tanta droga no seu sistema, ela ainda teve compaixão por
você.
Seu olhar desanimado encontrou o meu.
— Quebrar a sua arrogância e prepotência foi a minha vingança. Te
quebrar ao meio foi prazeroso. Me deixou feliz, porque talvez tenha
aprendido antes de morrer, que a vida não é sobre mocinhos ou vilões. Não é
sobre sermos os caras maus. Existem outros lá fora, com ou sem a nossa
organização. E a pedido da minha esposa, eu não vou te matar. Vou deixar a
sua família em paz, elas já se despediram de você. — Seu olhar se encheu de
esperanças. — Foi um prazer te conhecer, Thomas.
Saí da sala e o olhar do Damon encontrou o meu.
— Não vai matá-lo? Nós fizemos a porra de um funeral, o idiota ali
está morto com honras e um monte de palhaçada para não virem atrás de nós.
— Prometi à Luna que não iria matá-lo. — Encolhi os ombros. —
Mas você é o meu irmão.
— Certo. Vou acabar logo com isso.
— Te espero no carro, tenho que ligar para a Luna.
Subi as escadas em passos rápidos e entrei no carro dele, colocando as
minhas pernas para o alto. Luna finalmente tirou a sua habilitação e ela estava
louca por uma SUV Lamborghini amarelo canário, como o carro que estava,
a diferença era que o Damon comprou um cinza chumbo. Peguei o meu
telefone no bolso e liguei para ela.
— Hey, amor. Foi tudo bem?
— Sim... — A voz dela estava baixa e amuada. — Chegaram os
toxicológicos.
— O quê? Espera para abrir comigo…
— Desculpa, eu fiz isso com a Dra. De Luca porque eu estava muito
ansiosa, não aguentei e pedi para ela dar uma olhada. Segundo suas
pesquisas, ele usou em mim um tipo raro de heroína que pode causar danos
cerebrais irreversíveis. — Fungou um pouco. — Talvez eu nunca pare de
chamar a caneca de cabelo. — Tentou brincar. — O que mais me deixou
chateada é que... Talvez eu possa passar alguma limitação ao nosso futuro
bebê. Enrico, estou devastada. — Soluçou.
— Não chore quando não estou aí para te abraçar. Onde você está?
— Ainda no consultório. Estou esperando para fazer uma
ultrassonografia. Giovanna está aqui, eu vou ficar bem e tem um total de seis
guardas.
— Estou chegando. Quero conversar com a sua médica também.
A Dra. De Luca era boa, mas ela não adoçava absolutamente nada.
Falava um A e a Luna chorava, ficava puto com essa merda. Damon saiu da
gaiola, passando álcool em gel nas mãos e entrou no carro. Ele não perguntou
quando avisei que precisávamos ir até a clínica médica e chegamos lá uns
vinte minutos depois.
Luna e Giovanna aguardavam em uma sala. Nino estava acordado e
gritando, sacudindo os seus braços e seu pai imediatamente o pegou. Luna
levantou-se da poltrona e veio na minha direção, se enfiando em meus
braços. Giovanna me deu um olhar avisando que a minha mulher estava mais
triste do que estava deixando transparecer. Luna foi chamada para o exame
quase no mesmo instante, então, não pudemos conversar.
— Tudo perfeito com você, Luna. Está pensando em engravidar nos
próximos meses? — A Dra. De Luca nos deu um olhar.
— Não estamos planejando, mas eu fiquei bem abalada com a
possibilidade de não ter bebês saudáveis. Não é justo.
— Sei que não é justo, Luna. O que aconteceu não é sua culpa e por
isso, entenda, você é jovem, aconteceu há poucas semanas e eu tenho certeza
de que não vai ter efeitos colaterais a longo prazo. Você não conseguia pegar
uma colher no primeiro dia, mas evoluiu muito rápido. Tenha fé.
Luna secou o rosto e me deu um olhar, abaixei e beijei a sua testa, sem
me importar com a Dra. De Luca.
— Antes de saírem, posso ter uma conversa com o senhor? — Ela se
referiu a mim com seriedade e aparentava certo receio. Me chamar de senhor
significava que estava querendo falar comigo como o underboss de Chicago.
— Precisa que eu saia? — Luna percebeu a mesma coisa.
— Não. É simples, na verdade, meu pai faleceu há seis meses, como
vocês sabem e desde então, vivo sozinha. Como sou mulher e uma das
poucas não casadas na família, eu queria saber se eu poderia ter proteção? Os
guardas foram designados a outro chefe…
— Pensei que fosse viver com os seus tios…
— Sim, mas quando eles começaram a organizar acordos de
casamento, eu recuei. Entenda, eu sei que não é comum ter mulheres que
trabalham e na minha idade, não casadas, mas eu não vou me casar com um
homem de sessenta anos apenas porque eu tenho trinta. — Seu rosto ficou um
pouco vermelho.
— Tudo bem, você terá proteção. Entenda que como uma mulher
solteira, vivendo sozinha, pessoas podem falar. Você gostaria que eu
gerenciasse algum acordo de casamento?
— Meu pai tinha planos com uma família, mas eu não sei
exatamente qual. Ele nunca me disse.
— Você quer se casar? — A Luna perguntou baixinho.
— A medicina sempre foi a minha vida, mas desde que o meu pai
morreu, finalmente entendi a importância de constituir família. Só não será
fácil um homem entender os meus horários de trabalho. — Encolheu os
ombros.
— Vou pensar sobre o casamento, mas saiba que estará segura.
— Obrigada.
Luna e eu saímos do consultório e encontramos com Damon e a
Giovanna na garagem. Eles foram no carro com os guardas e eu levei a SUV,
mas seguimos em comboio. As meninas ficaram na cozinha, para receber o
buffet e olhar a decoração do aniversário da Giovanna. Lucinda, mãe da
Giovanna, chegou para tomar conta do Nino. Não vi mais a Luna pelo
restante do dia porque ela estava se arrumando para a festa.
Nós completaremos um ano de casamento no próximo mês e eu estava
planejando uma viagem surpresa para a Luna. Ela merecia se divertir e tirar a
cabeça de todos os problemas. Ainda se preocupava com a sua prima Mia e
ainda tinha pesadelos que a faziam acordar suada e choramingando no meio
da noite. E ela nunca lembrava quando acordava. As memórias estavam no
seu subconsciente.
Luna tinha o sonho de fazer uma viagem pelas praias da Itália. Damon
e eu compramos um iate, parte da viagem será apenas sobre a Luna e eu, no
final, Giovanna e Damon se juntarão a nós, para um outro momento que as
meninas sonhavam e decidimos sermos os bons maridos que as nossas
esposas mereciam.
Percebi que não tinha a mínima vergonha de idolatrar a Luna. Ela era
uma esposa incrível, uma mulher maravilhosa, amiga, companheira, cheia de
compaixão, ideias malucas, algumas coisas esquisitas sobre mapa astral e eu
me perguntava porque eu teria que ter vergonha de me esforçar em ser bom
para ela sendo que ela jamais teve vergonha de mim?
Me arrumei sozinho, em seguida, ajudei Damon a vestir o Nino, já que
a sua sogra estava fazendo o cabelo e Giovanna se recusou a ser vista antes
da hora.
— Ele não vai parar as pernas para você colocar a fralda? — Nino
não parava de se sacudir.
— Não. Ele gosta de dificultar as coisas comigo. Com a Giovanna
ou com a Luna, ele age como um santo. — Damon reclamou e eu ri, tomando
o seu lugar. Nino parou de se mexer, me olhando de um jeito bastante
curioso. Eu vi que ele estava prestes a fazer xixi em mim e joguei uma toalha,
impedindo que me sujasse.
— Não dessa vez, moleque. — Sorri e com as instruções do Damon,
consegui colocar a fralda e o vestimos com uma roupinha azul marinho que
incluía um suspensório e um tênis adidas.
Já haviam alguns convidados circulando pela festa quando descemos.
Fiquei com o Nino para que o Damon pudesse ser o anfitrião e quando a
Lucinda desceu, ela o pegou de mim para exibir para as suas amigas. Ela
adorava tripudiar que Giovanna teve um menino, principalmente depois das
fofocas que a Gio era incapaz de conceber. Já existia alguns rumores, mas a
Luna não estava sofrendo tanta pressão porque a Giovanna empurrou isso de
lado, mostrando que as mulheres não eram obrigadas a engravidar de
primeira.
A maioria dos casamentos eram de conveniência e eu não podia
imaginar a loucura de ter um filho imediatamente com uma mulher que você
mal conhecia. Não importava a porra da obrigação nesse momento. Era
importante que o casamento tivesse uma base sólida, que o casal realmente
pudesse se conhecer com profundidade.
Luna apareceu no topo da escada e eu fiquei sem ar. Ela estava
linda. Toda de branco, usando uma calça muito bonita, um body de renda
branco, que parecia transparente e usava um terninho feminino ajustado,
muito bonito. Seus cabelos estavam presos de uma maneira bem elegante,
que exibia o seu pescoço lindo. De saltos, desceu as escadas devagar e pegou
a minha mão.
Beijei os nós dos seus dedos e em seguida a sua boca. Ela me deu um
sorriso bobo. Se inclinou e beijou os meus lábios.
— Não sei mensurar o quanto você está linda. — Cochichei no seu
ouvido.
— Obrigada. — Ela corou. — Você está gostoso.
— Tire proveito o quanto quiser.
Luna sorriu, mas se conteve quando a festa ficou cheia e nós tínhamos
que fazer nossos papéis. Ela se afastou e se reuniu com as mulheres, junto
com a Giovanna e eu fiquei conversando com os homens, ouvindo alguns
pedidos, fingindo aceitar sugestões e mantendo a minha mente longe do fato
de que eu não gostava da maioria deles e gostaria de sair atirando sem pensar
nas consequências.
Em algum momento, Luna e Giovanna desapareceram da festa. Me
perguntei se a Luna ficou nervosa com alguma coisa ou se estava passando
mal, mas as duas só estavam comendo e bebendo escondidas no jardim, rindo
como duas adolescentes ao serem pegas no flagra.
— Vocês deveriam ter vergonha. — Damon suspirou, fingindo estar
decepcionado. — As duas mulheres mais importantes dessa família…
— Elas são chatas. — Luna soltou um soluço, meio bêbada.
— Não posso discordar, mas parece que as mocinhas precisam parar
de beber. — Olhei a hora. — Iremos embarcar em três horas e vai ser uma
merda ter as duas passando mal.
Elas não pareciam nem um pouco arrependidas.
— Vamos parar. — Giovanna prometeu.
— Amor, tem sorvete? — Luna perguntou do nada. Damon
começou a rir.
— Sorvete com biscoitos! — E saíram do jardim praticamente
correndo para a cozinha, deixando suas bebidas e os pratos de comida para
trás.
— O quanto elas beberam? — Damon recolheu as coisas do chão.
— A festa deve estar mais chata do que imaginamos. — Dei de
ombros. Estava muito chata mesmo. As nossas festinhas privadas eram muito
mais divertidas.
Quando a festa acabou, nós não esperamos muito tempo para sair
para não atrasar o plano de voo. Luna e Giovanna trocaram de roupas,
carregamos os carros e seguimos para o aeroporto privado que o nosso avião
ficava estacionado. Nino chorou um pouco e mamou durante a decolagem,
mas ele voltou a dormir e a sua mãe não levou trinta segundos para capotar.
Luna levou mais tempo, comendo batatas fritas e eu nunca desejei tanto que
ela dormisse logo.
Luna bêbada era muito chata e eu a amava mesmo assim.
23
Luna .
Enrico me conduziu até a beira do iate e me olhou, me provocando
sobre ser corajosa o suficiente para dar um mergulho. Era o nosso primeiro
dia de lua-de-mel para comemorar nosso primeiro ano juntos e ele preparou a
minha viagem dos sonhos. Iríamos navegar pelas praias e cidades da costa
italiana por vários dias. Em seguida, iríamos para Nice, encontrar com
Giovanna e Damon, fazendo uma viagem de família pela França, finalizando
em Paris.
Olhei para o mar azul espirrando firme contra o barco, respirei
fundo, soltei a mão dele e saltei. Fui recebida por uma parede de gelo e fui
mais fundo do que imaginei, mas consegui emergir e ele pulou em seguida.
Nadou ao meu redor e sorri, sendo erguida pela cintura. O mar estava gelado,
era fundo, mas o calor estava quase insuportável, então, aquilo era
maravilhoso.
— Nunca, em um milhão de anos, imaginei viver algo assim. —
Abracei-o bem apertado. — Melhor que a nossa primeira lua-de-mel. —
Beijei a sua boca, ele bateu as pernas e sorriu, jogando o cabelo para trás. —
Lindo.
— Olha quem fala... Seu cabelo parece ainda mais loiro, está
brilhando…
— Estou borrifando chá de camomila nele todos os dias, para realçar
a cor natural sem usar química.
Enrico não me julgava por optar por coisas naturais, chás, alimentos e
até tratamentos. Químicas eram necessárias até certo ponto, mas não quer
dizer que o uso excessivo faria bem. Passaria um mês pegando sol, então, iria
clarear meu cabelo naturalmente e fazendo muita hidratação devido aos
banhos excessivos no oceano. Nós nadamos ao redor do barco, voltamos para
almoçar e eu estava realmente cansada, por não termos dormido muito e por
todo o nado.
Deitei-me em uma das espreguiçadeiras da popa, olhando o oceano,
coberta e passei um pouco de hidratante labial, caindo em uma soneca
gostosa e bastante revitalizadora. Acordei com o Enrico ao meu lado, jogando
em seu telefone e joguei a minha perna na sua coxa, nos cobrindo com o
cobertor grosso para proteger do vento frio da praia. Ele estava quentinho,
devido a todo sol e mesmo tendo besuntado de protetor solar, suas bochechas
tinham um tom agradável de vermelho.
Hum... Ele era tão gostoso que não conseguia não o atacar. E eu podia
fazer isso a hora que bem entendia porque ele era o meu marido.
Beijei a sua barriga, soltando o laço da sua bermuda e escorreguei
ainda mais para baixo, dando-lhe um sorrisinho safado ao rolar para entre as
suas pernas, me cobrir e puxar a sua bermuda para baixo. Enrico mordeu o
lábio, me olhando com expectativa. Dei uma boa lambida, fazendo-o gemer
ainda mais ao levá-lo completamente à minha boca, chupando deliciosamente
enquanto ele mantinha o cobertor me protegendo e segurando meu cabelo,
lutando para não induzir meus movimentos. Ele se perdeu de vez, fodendo a
minha boca, empurrando o quadril para cima repetidas vezes até gozar na
minha garganta.
— As definições de lua-de-mel foram atualizadas com sucesso. —
Me puxou para cima e com cuidado, me colocou de lado, soltando os
lacinhos do meu biquíni já que na parte de cima, estava com um casaquinho
de lã sem sutiã e embaixo, apenas a calcinha do biquíni porque estávamos em
um iate, cercado de água e com uma tripulação bastante reduzida.
Com beijos aquecidos e duas mãos mágicas, ele me deixou pronta e
sedenta por ele. Com o cobertor nos cobrindo, ficou por cima e subiu o meu
casaco, chupando meus peitos antes de lentamente começar a me foder bem
ali, na área externa do barco, em plena luz do fim do dia. Arranhei os seus
braços, chupando o seu pescoço e mordi o seu ombro para a tripulação não
ouvir o meu grito ao atingir o orgasmo.
— Definitivamente... a melhor lua-de-mel. — Segurei o seu rosto e
beijei os seus lábios. — Te amo tanto, Enrico.
— Eu te amo muito mais, pode apostar. E sinta-se à vontade para me
atacar assim quando e onde quiser.
— Acho que deveríamos fazer sexo no salão de jantar. Aqueles
espelhos devem dar uma visão incrível de cada lado... — Comentei e ele
ergueu o rosto da minha barriga, todo suado. — O que foi?
— Sua safada... Observei o seu olhar ontem a noite, mas não
imaginei que você estivesse pensando em sexo. — Beijou o vale entre os
meus seios, agarrando os dois ao mesmo tempo, provocando os meus
mamilos. — Falta muito tempo para o jantar. — Lambeu o meu peito.
— Me leva para o quarto. Dessa vez, eu quero estar completamente
nua e ficar por cima. — Puxei o seu cabelo.
— Minha mulher anda bastante exigente... Quer cavalgar no meu
pau, amor?
— O que você acha? — Arqueei a minha sobrancelha, brincando.
Nossa lua-de-mel em alto mar e alguns dias em terra foram as semanas
mais incríveis da minha vida. Ganhei peso, me bronzeei, meu cabelo ganhou
uma nova tonalidade e eu me apaixonei ainda mais pelo homem que me
casei. Nos encontramos com o restante da nossa família, levando duas
semanas em uma viagem inesquecível pela França, voando de volta para
nossa casa na Sicília para passarmos o restante dos meses do ano.
Enrico e Damon revezariam nas idas para Chicago enquanto a nossa
casa estivesse em uma gigante construção. Giovanna e eu tínhamos gostos
muito parecidos e não queríamos perder o estilo atual das nossas casas, então,
haveria muito espaço aberto, portais decorados com folhagens, muito jardim
e uma disposição de cômodos confortáveis para todos. Decidimos sobre a
casa do meio, que basicamente seria falsa para os eventos e visitas sociais e
as laterais serão as nossas alas.
O projeto em 3D ficou particularmente lindo e seria um gasto
milionário, mas, os nossos maridos iriam ampliar o subsolo, criando uma
garagem subterrânea, uma adega maior e armários. Para cuidar de uma casa
tão grande, seria montada uma equipe para trabalhar conosco, mas não todos
os dias, porque ainda queríamos manter a nossa privacidade. Costumava
manter a limpeza da minha casa todos os dias. Enrico fazia a sua parte, que
era aspirar todos os tapetes, lavar os banheiros e arrastar móveis, mas com
uma casa tão grande seria preciso ajuda.
— Gostaria de levar o Nino na enseada amanhã cedinho, pegar o sol
da manhã e apresentá-lo à praia. Quer vir comigo? — Giovanna colocou o
bebê no chão, de bruços e alguns brinquedos ao redor para atrair a sua
atenção. Nino esticou os bracinhos para tentar pegar uma bola colorida.
Diana estava deitada na ponta do tapete, olhando-o. Zeus e Apolo estavam
deitados atrás de mim.
— Claro que sim, não quero perder nenhuma das suas primeiras
vezes. Eu vou preparar o equipamento para levar.
— Todas as fotografias da viagem ficaram incríveis, você tem uma
veia artística maravilhosa. Tentei fazer ioga essa manhã, que desastre. Como
você consegue?
— Me concentrando. Só consigo sozinha agora. Enrico faz muito
barulho e fica me perturbando com as posições, isso quando não reclama das
músicas, do cheiro dos incensos e fica pedindo para repetir alguns
movimentos. — Balancei as sobrancelhas, rindo.
— Só queria ter um pouco mais de elasticidade.
— Tipo assim? — Ergui a minha perna e cheguei a encostar no meu
ouvido.
— Filha da mãe... — Giovanna me bateu e eu abri minhas duas
pernas, em espacate, ela avançou em mim, quase me derrubando no chão e
comecei rir. Giovanna tentou enfiar o dedo molhado no meu ouvido, mas eu
desviei.
Nino começou a rir de nós, interessado na briga.
— Normalmente esse tipo de briga envolve um pouco de gelatina.
— Damon comentou da porta e nós duas nos afastamos.
— Um pouco menos de roupa. — Enrico completou.
— Idiotas. — Murmurei ajeitando a minha blusa.
— Presenciou a primeira briga de meninas, filho? — Damon se
deitou no chão e beijou a barriga do Nino de maneira barulhenta. — Papai vai
te levar a muitas. Ai, caralho! — Gritou com o chute brusco da Giovanna.
— Papai vai encontrar os punhos da mamãe. — Ela sorriu
docemente.
— Só preciso mostrar o caminho para o moleque, relaxa.
— Nada disso, deixa de ser machista. Você vai ensinar o nosso filho
a se guardar pela mulher que ele vai se casar exatamente como a menina que
ele irá se casar será guardada pela sua família. — Giovanna cruzou os braços.
— É assim que você quer que o Nino se case com a minha filha,
Damon? — Cruzei os meus braços também, olhando-o bem séria.
— Agora você se fodeu. — Enrico chegou a se jogar no sofá,
esfregando a barriga com diversão. — Estou com fome, senhoras. O que tem
para comer?
Giovanna me olhou e encolhemos os ombros ao mesmo tempo.
— Por que nós saberíamos? Vocês podem cozinhar também, afinal,
vocês dispensaram a Nina essa semana. — Enfatizei arqueando a
sobrancelha.
— Essas mulheres... — Damon esfregou o nariz na barriga do Nino
e o bebê gritou com risadas. — Vamos mostrar a elas que sabemos cozinhar
muito bem? Chama o tio Enrico para cozinhar conosco!
— Você só me quer lá porque não sabe ligar o fogão, otário.
— Não quero saber como vocês vão se virar, Luna e eu vamos subir,
fazer máscaras faciais e hidratação no cabelo, nos chamem quando tudo ficar
pronto. — Giovanna levantou-se do chão, deu um beijo nos lábios do seu
marido e outro na bochecha do filho. Levantei devagar e beijei a boca macia
do Enrico e dei a língua para o Damon, ele riu, mas era merecido. Estava me
enchendo o saco desde cedo.
Pegamos uma garrafa de vinho, taças e escolhemos um dos quartos
para fazer os nossos cuidados de beleza, ouvindo os palavrões e os gritinhos
do Nino na cozinha. Esperava que eles cozinhassem algo bom porque o
delivery poderia demorar demais. Giovanna depilou as minhas pernas e eu as
dela, não ousamos depilar as partes íntimas porque era doloroso e nenhuma
das duas tinham experiência na área.
— É a minha vez de tirar o creme agora. — Levantei-me da cama,
meio oscilando com a quantidade de vinho com estômago vazio. — É melhor
que tenha comida mesmo, estou morrendo de fome.
— Comida vai ter, se vai estar comestível é outra história.
Deveríamos ter pedido pizza... O cheiro está bom, mas isso não quer dizer
muita coisa.
— Caralho, Damon! — Ouvi o Enrico gritar e a risada sardônica do
Damon ecoar da cozinha até o quarto.
— Isso se eles não se matarem. — Sorri porque aquele tipo de briga
era comum. Entendia perfeitamente porquê a Sandra não suportava ficar
perto dos dois conforme cresciam. — Espero que não façam o Nino chorar.
Entrei no banheiro e tirei o meu roupão, abri a torneira e esperei a
água sair. Quando o jato de água bateu em mim, me assustei porque me fez
lembrar.
— Você vai matá-la, pare com isso! — Ouvi a voz de uma mulher.
— Por favor, me ajude . — Falei baixinho, sentindo frio, molhada e
escorregadia.
— Ela está acordando, drogue-a de novo. — Uma voz masculina
falou ao fundo.
— Ela precisa de um tempo, por favor, não façam isso. Apenas a
mantenham vendada, remédios para dormir é muito melhor que essa droga,
por favor.
— Cala a boca, mulher. Dio, que insuportável. — O homem
resmungou. — Ela é tão gostosa... — Um beliscão no meu mamilo. A voz
dele era familiar. — Talvez...
— Por favor, não, por favor. — Choraminguei tentando erguer a
minha cabeça e senti uma dor.
— Não! Ela precisa de cuidados médicos! — A mulher implorou.
— Já falei para não tocar nela . — Outra voz mais grossa. — Não
vai tocar nela e é uma ordem. — Afirmou. — E drogue-a de novo, ela não
pode reconhecer nenhum de nós.
— Ela não vai sobreviver para me reconhecer.
Bati com as costas no vidro do box e fez um estrondo. Aquela voz eu
conhecia, as outras duas não. A mulher deveria ser a médica que foi
sequestrada para cuidar de mim, já o outro homem deveria ser o agente
federal, Thomas. Eu não fazia ideia quem era o segundo homem, mas ele era
italiano, seu sotaque em inglês era comum entre nós, principalmente entre os
que falavam italiano de maneira fluente.
— Luna? — Gio entrou no banheiro.
— Tem um traidor. — Sussurrei olhando para as minhas mãos
molhadas.
— O quê? Você está bem? — Ela entrou na área do chuveiro.
— Tem um traidor. — Repeti, confusa, olhando ao redor. — Chama
o Enrico. — Minha cabeça estava girando. — As luzes... está tudo molhado.
— Falei baixo.
— Luna, acalme-se. — Giovanna me pegou antes que eu caísse. —
Está tudo bem, você não está mais lá, eu estou aqui. — Sussurrou e me
cobriu com uma toalha. — ENRICO, VEM AQUI! — Ela gritou e deitou a
minha cabeça no seu peito. — Está tudo bem...
— As luzes. — Reclamei e ela apagou as luzes do banheiro e do
espelho. — Estava tudo molhado, escuro, mas com uma luz forte. Tinha uma
mulher ajoelhada ao meu lado e um homem... Ele pegou no meu peito, queria
me tocar, mas o outro não deixou. Ele disse para me drogar de novo porque
eu estava acordando e eu não podia reconhecê-lo, então, o outro disse que
não iria sobreviver para reconhecer. Ele é italiano... Ele é um de nós. Cadê o
Enrico?
— Estou aqui, amor. — Abri os olhos e ele estava sentado ao meu
lado. — Ouvi tudo. — Me garantiu e passou os braços para me pegar no colo.
— Vou te colocar na cama. — Me ergueu e andou até o quarto. Giovanna me
prendeu com o roupão, me cobrindo. — Está tudo bem.
Minha cabeça estava doendo, como se eu tivesse bebido muito
somando com uma enxaqueca infernal. Não conseguia me livrar da sensação
que ainda estava jogada em um chão frio, molhada, presa por uma algema
com os braços esticados e as pernas encolhidas.
— Me seca, por favor. — Pedi, desesperada para me sentir aquecida.
— Me abraça. Está frio.
— Você não está mais lá, está seca e aquecida. — Enrico esfregou a
toalha nas minhas pernas e me envolveu em um cobertor. — Estou aqui e está
segura.
Ele se deitou atrás de mim, deixando o quarto escuro, mantendo-se
tão próximo quanto possível. Acabei adormecendo, exausta mentalmente e
acordei assustada com um baque suave próximo a mim. Enrico voltou a me
segurar e virei o meu rosto, olhando-o. Meu estômago roncou muito alto, o
que foi engraçado e constrangedor.
— Sinto muito.
— Pelo ronco? Vou te alimentar, mulher.
— Não, pelo surto.
— Não peça desculpas por isso. Damon já está correndo atrás, então,
iremos descobrir. Sua lembrança, por mais perturbadora que seja, foi
reveladora. — Beijou a minha testa. — O jantar deve estar pronto, você não
dormiu por muito tempo.
Vesti as minhas calças de ioga, mantendo o roupão bem firme e
desci a escada com o Enrico. Giovanna estava na cozinha, arrumando a mesa,
Nino estava no carrinho chupando as mãos e me deu um sorriso espetacular
quando me viu, sacudindo as pernas. Ele era tão perfeito que só explodia
amor e felicidade. Damon estava do lado de fora, andando de um lado ao
outro, falando ao telefone e parecia irritado.
— Eles fizeram spaghetti ai frutti di mare e parece bom, então, o
vinho será o seu favorito. Está melhor? — Giovanna me deu um abraço.
— Parece bom? Eu fiz sozinho, Damon me atrapalhou, então, ele só
terminou de cozinhar a massa. Deixei tudo encaminhado. — Enrico
reclamou.
Giovanna o olhou e fez uma expressão nojenta. Damon voltou e deu
um aceno para o Enrico, mas eles não falaram nada. Nós nos sentamos para
comer e não foi falado absolutamente nada sobre o meu episódio, eles apenas
me fizeram sorrir e me sentir feliz como a garota mais sortuda do mundo,
exatamente como estava me sentindo antes.
24
Luna.
Rolei na cama, fazendo um pequeno beicinho ao sentir os lençóis frios
no lado que o Enrico dormia, abri os olhos e ainda estava escuro. Saí da
cama, as cabeças do Zeus e Apolo se levantaram e para eles estarem dentro
de casa, significava que o Enrico ainda não tinha voltado da rua. Estava me
sentindo molhada e com cólica, só podia significar que a minha menstruação
havia descido sem aviso prévio.
Fui ao banheiro, me lavando, colocando um enorme absorvente
noturno e uma calcinha grande, para que ele não saísse do lugar. Meu ventre
estava inchado e dolorido, seria um período daqueles. Ao voltar para o
quarto, reparei que os lençóis sujaram de sangue e grunhi em ter que trocá-
los. A cama era grande e pesada, eu nunca conseguia trocar os lençóis sem a
ajuda do Enrico.
Fiz um esforço sozinha, lutando contra o lençol de elástico e ficando
muito irritada. Levei quase meia hora, devido às pegadinhas da própria cama
não colaborando e a cólica que só aumentava. Muito irritada, as lágrimas
escorriam no rosto sem ajuda e eu sabia que meu humor estava perigoso há
uns dias, só me ocupei com os preparativos do batizado e mantive a minha
cabeça em mantras positivos. Enrico me irritou tanto que fiquei preocupada,
nunca fui de ficar tão insuportável e sensível.
Desci a escada para preparar uma bolsa térmica e pegar um remedinho,
do jeito que estava doendo só a bolsa não faria efeito nenhum. Voltei para a
cama, me acomodando e levou um tempo para o remédio fazer efeito,
enquanto não fazia, cheguei a rolar na cama de dor. Estava quase pegando no
sono quando ouvi o Enrico entrar no quarto. Ele estava sem sapatos, tirando a
camisa e jogou no chão, abriu a calça e ficou de cueca, escorregando para
cama.
— Está tudo bem? — Me abraçou e beijou a minha bochecha, testa,
nariz, queixo e por fim, um longo e gostoso beijo nos lábios.
— Estou com cólica... Está passando.
— Minha inimiga mensal desceu? — Fez uma expressão de horror
muito engraçada e bati no seu braço repetidas vezes. — Meu pobre bebê. Está
muito ruim?
— O pior passou. Desceu, vazou e sujou a cama. Tive que lutar com
esse lençol estúpido e cuidar de mim mesma. — Fiz um pequeno charme.
— Coitadinha de você. — Debochou e sorri. — Quer ficar com a bolsa
quente nas costas? Eu fico de conchinha, mas é melhor essa coisa não assar o
meu pau. — Colocou a bolsa nas minhas costas, me aninhando perfeitamente
e finalmente voltei a dormir com tranquilidade. A cólica passou, acordei mais
leve, porém, com o incômodo natural do período e passei os dias seguintes
meio que de cama, fazendo um extenso drama e sendo paparicada
terrivelmente pelo Enrico.
Um dia antes do batizado do Nino, fiquei da minha varanda
observando os poucos convidados se acomodarem nas casas de visitantes e
receberem as cestas de queijos e vinhos que Giovanna mandou preparar. Não
haveria muitas pessoas, no máximo vinte, mas eles precisavam convidar a
família “próxima” do Damon e a família próxima da Giovanna. O tio do
Damon chegou acompanhado do seu afilhado e eu ficava meio receosa com o
velho, afinal, ele foi aposentado para o Enrico assumir.
Não que o tio do Damon estivesse lúcido, afinal, tinha mais de oitenta
anos e aparentava estar surdo e meio cego. Encostei na soleira da porta,
olhando para o pátio e eu senti um arrepio quando o afilhado dele olhou para
cima. Enrico parou atrás de mim e beijou o meu pescoço, ergui o meu rosto e
beijei os seus lábios.
— O que está olhando?
— Os convidados.
— Hum... Isso não é nada interessante. — Me puxou para dentro,
fechou as portas de vidro, descendo o blackout e fechando as cortinas.
Chutou a porta do nosso quarto e tirou a camisa. — Isso vai ser interessante.
— Apontou para a cama e eu ri. Minha menstruação foi embora e eu não
podia culpá-lo por estar meio desesperado, porque levei um tempo editando
as fotografias nuas que Giovanna tirou de mim, nua, no jardim da minha casa
e enviei uma por dia.
Além de milhares de mensagens picantes. Enrico adorou as fotos, caiu
como um patinho nas minhas mensagens e a noite, o beijava, esfregando a
minha mão na sua ereção e sem lhe dar nenhum alívio. Não sei o que deu em
mim. Só queria levá-lo ao delírio e agora, ele estava querendo me deixar
maluca. Me jogando na cama, pairou em cima de mim e me beijou
intensamente.
Nós fizemos amor a tarde inteira, sorrindo, felizes e recebemos a
mensagem que a Juliana e o Enzo estavam chegando. Tomei um banho
caprichado, parando na frente do espelho para passar todos os meus cremes
hidratantes. Enrico saiu do chuveiro, molhado, nu e parou atrás de mim,
beijando o meu pescoço.
— Posso te pedir uma coisa? — Perguntou baixinho.
— Sabe que sim...
— Pare de tomar o remédio.
Franzi o meu cenho, confusa e o encarei pelo espelho.
— O anticoncepcional.
Abri um sorriso lento.
— Tem certeza?
— Sim, eu tenho.
Virei-me de frente para ele, passei os meus braços no seu pescoço e
fiquei na ponta dos pés, beijando os seus lábios repetidas vezes, sem esconder
a minha felicidade.
— Eu te amo. — Agarrou a minha bunda.
— Eu te amo mais.
Rindo da minha felicidade, deu um tapinha na minha bunda e corri
para me vestir. Vesti uma calça pantalona confortável, uma camisetinha
branca e peguei um casaquinho leve só para me proteger do sereno. Saímos
de casa encontrando Juliana e Enzo tirando as meninas do carro, que
correram em direção para a Giovanna com alegria. Assim que elas me viram,
ganhei beijos e abraços com cheiro de morango do gloss que Amália
segurava nas mãos. Ela estava tão grande, bonita e tinha um sorriso adorável.
Abracei a Juliana, sempre elegante, com seu sorriso de Monalisa e seu
cabelo perfeitamente alinhado. Enzo me deu um sorriso, a última vez que nos
vimos, estava em uma cama de hospital e eu mal conseguia falar direito. Ele
levou a mulher que conseguiu me encontrar, então, eu estava grata.
Não levou vinte minutos para os homens ficarem na sala, conversando,
as meninas correndo e Nino engatinhando atrás, soltando gritos de raiva
quando não conseguia alcançá-las com a mesma rapidez que elas corriam.
Giovanna e eu adiantamos várias pizzas pela manhã e espalhamos na mesa da
cozinha após assadas, com vinho e não fizemos questão da presença dos
nossos maridos porque queríamos conversar sem eles.
— Tenho um assunto meio chato para trazer em meio disso tudo. —
Juliana cruzou as pernas e me deu um olhar.
— Comigo? Eu não fiz nada.
— Claro que não, boba. — Sorriu e apoiou a sua taça na mesa. Nino
ficou em pé entre as minhas pernas e lhe dei outra colher cheia de comida. —
É sobre a sua família em Nova Iorque. Seu tio acabou ficando um pouco
ousado, se envolvendo com negócios que não aprovamos e ainda desafiou o
Enzo. Ultimamente a política lá tem sido bem intolerante, principalmente
depois do seu sequestro, não queremos que ninguém pense que podem nos
ferir. Dentro ou fora da família.
Engoli seco.
— O que vai acontecer com a minha prima?
— Sabe que ao espalhar que o seu tio desafiou o Enzo, elas se tornarão
uma pária. O underboss de D.C está disposto a proteger a Mia por uma
promessa de casamento com seu filho mais novo. Ele acabou de completar
dezesseis, dezessete anos, ou dezoito anos, não lembro, mas é jovem como a
Mia e o pai espera que ele se case cedo, constitua família e se prepare para
assumir o lugar no futuro. Enzo e eu achamos que é a melhor ideia.
— Eles são bons? — Mordi o meu lábio, meio ansiosa pela Mia.
— Tão bons quanto podem ser no nosso meio. São meio tradicionais e
parecem ser o tipo de família que mantém os filhos por perto. As duas filhas
mais velhas são casadas e vivem na mesma mansão que os pais. — Juliana
me deu um olhar tranquilo. — Eles são muito importantes, mantém as
tradições, são leais e ainda fazem todo o trabalho sujo na cidade quando
precisamos e melhor ainda, sem questionar.
— Ela não pode vir morar comigo?
— Não com tios mais velhos vivos. E a mãe dela, não tivemos causa
provável, ela aceitou tudo que aconteceu com uma mesada e uma vida
silenciosa.
— Então parece a melhor saída.
— Deixei escapar que a Mia precisava de uma educação adequada e
sua futura sogra se dispôs a levá-la para a melhor escola para meninas da
Inglaterra pelos próximos três anos.
— Isso me parece familiar. — Giovanna grunhiu. — Sério?
— Gio, a sua mãe não te fazia querer cortar os pulsos por não se sentir
o suficiente. Estou preocupada que a Mia vá fazer alguma besteira e se ela
não pode ficar comigo ainda, é melhor que fique na escola, mas eu faço
questão de pagar pela educação e todos os cuidados da Mia. — Garanti.
Enrico não iria se opor.
— Isso é verdade, apesar do meu pai não ser exatamente um alecrim
dourado, eles me amavam. — Giovanna lamentou.
— Mia deve embarcar para a Inglaterra na próxima semana. O acordo
foi firmado, eu vou avisar a eles sobre a responsabilidade financeira pela Mia.
Em todo caso, ter a chance de ter uma educação adequada pode ajudar a Mia
no futuro. Ela é da nova geração, poderá ir a faculdade se quiser. Enzo ficou
muito empolgado com o possível casamento, ele gosta do Dante porque o
moleque é irritante como ele.
— Obrigada por considerarem o futuro da Mia. A última vez que
conseguimos conversar, ela estava muito chateada com o seu cabelo e
sobrancelhas, querendo arrancar tudo. A maneira como falou que me deixou
tensa. Ela aceitou o casamento?
— Parecia aliviada. Ela vai ficar bem.
Juliana sorriu e nós brindamos. Nino bateu na minha coxa, querendo
mais comida e nós rimos. Ele era exigente como o seu pai. Quanto mais
crescia, mais mostrava a sua personalidade e estava cada vez mais parecido
com o Damon. Giovanna brincava que assim que ele completasse um ano, ela
iria engravidar novamente para tentar uma menininha.
— Enrico me pediu para parar com as pílulas. — Contei e elas
gritaram.
— Ai que lindo, finalmente outro bebezinho para cheirar. — Juliana se
derreteu. — Você quer isso?
— Sempre quis ser mãe, mas eu queria ter um relacionamento mais
sólido com o meu marido. Claro que nunca imaginei que seria tão amada,
mimada e bem cuidada. E agora, ele é quem quer começar uma família.
— Um brinde ao mais novo futuro bebê da nossa família. — Giovanna
ergueu a sua taça e brindamos. — A nossa vida é maluca e confusa, mas
somos garotas extremamente sortudas no nosso meio em ter bons maridos.
Juliana olhou para o Enzo e sorriu.
— Chega me dar melancolia pela maneira que tudo isso começou na
minha vida, quase oito anos de casamento, três filhas e um império. Acho que
me saí bem.
— Nós fomos jogadas em casamentos com homens importantes sem
nenhum preparo, querida, nós nos saímos muito bem. — Giovanna bufou. —
A nós, senhoras, verdadeiras donas da porra toda !
Rimos e brindamos mais uma vez. Nossa gargalhada atraiu a atenção
dos nossos maridos. Eles não aguentaram de curiosidade e se juntaram a nós,
querendo saber o que tanto ríamos. Obviamente não falamos nada e ficamos
quase a noite toda conversando e bebendo vinho. Foi uma péssima ideia já
que o batismo era bem cedo e eu precisei usar alguns quilos de maquiagem
para esconder as olheiras e a cara de ressaca.
Giovanna me pediu para fotografar o batizado, do jeitinho que
pesquisamos e eu arrumei o equipamento antes de sair da minha casa com o
Enrico, andando até a pequena capela da villa . As tias da Giovanna me
abraçaram apertado, felizes em me ver e em seguida cumprimentei a família
do Damon. Sandra me pediu ajuda para prender laços nos cabelos das suas
filhas, que estavam revirando os olhos para a mãe.
— Quanto mais elas crescem, mais exasperadas ficam. De repente, são
elas que não tem paciência para nada. O que diria sobre a minha paciência
aturando todas essas birras? — Sandra colocou as mãos na cintura e eu sorri.
O batizado foi lindo. Chorei um pouco embora o Nino não tenha
gostado nada de ter a sua cabeça molhada e ser inclinado quando ele
claramente queria ficar sentado encarando todas as pessoas com a sua
expressão emburrada. Ele se debateu e ficou zangado, olhando do seu jeito
estressado para os pais. Enzo o pegou no colo, beijando o seu cabelo e o
menino parecia satisfeito que alguém fez o que ele queria.
— Garoto teimoso, me fez xingar na frente de um padre. — Giovanna
bufou ao ver o Nino sorrir para o pai.
— Não se preocupe, as fotos ficaram boas. — Bati o meu ombro no
seu. — Seu vestido está muito bonito. Acho que deveríamos fotografar
melhor.
— Metida, foi você que fez. — Giovanna riu.
Juliana atravessou o pequeno salão.
— Recebi tantos elogios desse meu elegante vestido branco de
madrinha. — Deu uma voltinha. — Luna, você deveria abrir uma loja com as
suas roupas. Elas vestem bem e é impressionante o quanto esse vestido
abraçou as minhas curvas.
Nós três saímos do salão para a entrada, para fazer algumas
fotografias. Gostava de ter registros das minhas criações e a ideia de ter uma
marca, criar uma coleção e até comercializar havia passado na minha cabeça,
mas eu me sentia um pouco insegura e não fui a frente. Enzo nos chamou de
volta e entramos, meu salto prendeu no piso antigo e quase fui para frente,
segurei a barra do meu vestido verde claro para não rasgar e um par de mãos
me segurou.
— Opa, não caia. — Um homem falou comigo. Ergui o meu rosto e
me afastei. Era o afilhado do tio do Damon. Enzo passou o braço no meu
ombro. — Só a impedi de cair. — Explicou e o Enzo não falou nada, me
puxando para longe. A voz dele... — Sinto muito.
Estava com a sensação de que havia algo rastejando na minha pele.
— Você está bem?
— Não. Eu não gosto dele. — Murmurei e parei ao lado das meninas.
Giovanna encontrou o meu olhar e eu franzi o cenho, lutando contra a
vontade de virar o meu rosto. Ele estava próximo, rindo de algo que Damon
falava, exibindo o Nino para o seu tio idoso.
A risada dele me deu vontade de vomitar. Fechei os meus olhos para
controlar a minha náusea e no fundo da minha mente, foi crescendo a
imagem.
— Shh, finja que está dormindo. Eles vão querer que eu te drogue
novamente e seu corpo precisa de uma pausa . — A voz feminina sussurrou
na cabeça, ecoando milhares de vezes. — Fica calma, por favor .
Ao fundo, a risada caricata crescia ainda mais. Vi o seu rosto. Ele
estava rindo com um homem de costas para mim.
Soltei a minha taça na mesa, abrindo os olhos e entreguei a câmera
para Juliana. Enrico estava do outro lado do salão e me olhou, preocupado.
Pela primeira vez após todo o sequestro, senti raiva. Meu sangue estava
fervendo. Girei nos meus saltos e cutuquei o homem bem no seu ombro,
empurrando a minha unha contra a sua roupa, para que sentisse dor. Ele
virou, ainda rindo e ao perceber o meu olhar eu vi o medo, mas ele disfarçou
com arrogância.
— O que foi, querida? Precisa de ajuda mais uma vez?
Armei o meu punho e soquei o seu nariz. Sua cabeça caiu para trás, ele
deu um passo e me olhou com raiva.
— Seu desgraçado miserável. Meu marido vai te picar em milhares de
pedaços e dar para os nossos cães. — Rosnei e ele me olhou com horror. —
É, eu lembrei de você lá. — Trinquei os meus dentes.
Enzo passou por mim com calma.
— Não corre. — Falou baixinho.
Enrico estava atrás dele e me deu um olhar intenso, apoiando as mãos
no ombro do homem que eu sequer sabia o nome. Dei um passo ao lado e bati
com os meus joelhos nas bolas dele, aproveitando que meu marido estava
segurando-o.
— Isso foi pelas suas mãos nojentas em mim. — Pisei no seu pé com
força. — Por me humilhar e me drogar. — E mais uma vez, bati entre as suas
pernas. — Babaca.
Damon parou na minha frente e senti as mãos da Giovanna nos meus
ombros.
— A festa acabou. — Ele anunciou. — Eu vou continuar outro tipo de
festa que tenho certeza de que a maioria aqui não tem estômago para
aguentar.
Pouco a pouco as pessoas foram saindo, inclusive o tio dele, que não
falou nada. Será que ele sabia? Que fez parte de tudo?
— Jethro. Você tocou na minha mulher? — Enrico o colocou de
joelhos.
Ele não disse nada. Não confirmou e muito menos negou, ainda assim,
ele olhou para cima abrindo um sorriso cheio de lascívia. Sabia que ia morrer
e não se importava mais. Quando Enrico me disse que iria se vingar do
agente que me sequestrou, eu pensei que queria paz e um fim. Mas aquele
homem... teve a coragem de entrar no meu próprio lugar e ainda vir até a
Itália, falar comigo como se não tivesse feito nada.
Se não fosse a médica e o agente, que deixou claro que não queria me
machucar daquela forma, apenas se vingar do Enrico pelo seu emprego e sua
investigação, aquele homem teria me torturado, estuprado e me drogado
ainda mais. Ele teria me destruído e eu só podia imaginar que o seu motivo
era o Enrico ser o underboss no seu lugar.
— Você não precisa assistir a isso, Luna. — Juliana segurou a minha
mão.
Estava chorando, mas era de raiva. Muita raiva.
— Espero que você sofra. — Falei entredentes.
Olhei para o Enrico e sua expressão era nova. Ele nunca me olhou
daquele jeito, porque... Nunca alvo do seu profundo e intenso ódio. Ele não
estava olhando para mim e sim para o homem que me machucou. Meu
marido cuidaria disso. Dei as costas, com Giovanna e Juliana ao meu lado e
ao sair, ouvi o primeiro gemido.
— Estraguei o batizado do Nino, me desculpa.
— O batizado já acabou, aquilo era só uma confraternização e já estava
no fim. — Giovanna me acalmou. — Você é mais importante.
— Acabou, Luna. — Juliana me consolou.
Olhei para o pequeno salão próximo à capela, pensando no quanto
divindade e devassidão fazia parte das nossas vidas separadas por uma linha
fina. Era a primeira vez que eu não me importava, segurei as mãos das
minhas amigas e nós três andamos em direção à casa principal, onde as
crianças estavam seguras e nos esperavam cheias de amor. No final, a nossa
família era a única coisa que me importava.
25
Enrico.
Encostado no carro, enfiei minhas mãos no bolso do meu casaco,
olhando a Luna e sua prima conversarem animadamente. Elas já haviam
passado da fase do choro, estavam apenas se atualizando. Mia estava
oficialmente em Londres há um mês e a família do seu futuro noivo autorizou
que ela passasse o final de semana conosco. Luna não dormiu por dias,
ansiosa pelo reencontro e ela parecia tão feliz que não me importava de estar
praticamente sozinho em Londres.
O assunto feminino estava me enlouquecendo, dei a desculpa que
precisava dar uns telefonemas, verificar os negócios em Chicago. Luna
passou as últimas duas semanas sozinha com a Giovanna na Itália e assim
que voltássemos para a Itália, ficaria uma semana em casa, em seguida
voltaria para Chicago. Ainda haveria longos meses com a casa em obras e eu
só voltaria para o aniversário de um ano do Nino em três semanas.
Felizmente, os três dias passaram bem rápido considerando que
bancamos os turistas e as meninas quiseram conhecer pontos turísticos, além
da Luna insistir em levar a sua prima ao salão de beleza e fazer compras.
Demos a Mia tudo que ela quis e mais um pouco, podia ver o seu olhar de
felicidade e adoração para os seus presentes, mas ela era muito tímida ao meu
lado.
Mia era uma menina que foi impossível não me afeiçoar. Ela era doce
como a Luna, que ficava com as bochechas vermelhas e um olhar feliz pela
mais simples coisa. Quando as levei para sorveteria, as duas mal conseguiram
se conter. Eu não queria que a Mia ficasse na Inglaterra e muito menos se
casasse. Estava tentando desfazer o acordo, mas reconhecia que aquela era
uma das melhores escolas do mundo e ela tinha chances de ter um futuro
maravilhoso.
— Obrigada por esse final de semana, amor. Estava com saudades
da Mia e estou feliz que ela está segura aqui. — Luna me deu um beijo assim
que decolamos.
— Você sabe que faço tudo por você.
— Eu sei. — Sorriu convencida e eu estava grato em ver aquele
sorriso.
Luna finalmente entendeu o seu lugar. Ela era a protagonista e não a
coadjuvante. Ela tinha luz e autenticidade. Quase dois anos após o nosso
casamento, parecia outra mulher. Estava mais segura com seu próprio corpo,
à vontade para falar o que bem entendia e não tinha medo de nada. Depois
que ela socou o traidor, não duvidava do que era capaz de fazer.
Meses atrás, no batizado do Nino, ela reconheceu o último homem que
faltava. Era o Jethro e para ser bem honesto, mal lembrava da sua existência.
Era afilhado do tio do Damon, como não éramos próximos e ele sequer
ocupava uma posição dentro da família, além de gastar rios de dinheiro nos
clubes, tomava conta de um dos nossos restaurantes. Ele nunca seria
underboss de Chicago mesmo que eu não ocupasse o lugar.
Luna dormiu a viagem inteira e me deixou trabalhando em alguns
documentos de uma boate nova que o Enzo queria abrir. Seria um gasto
exorbitante, mas o projeto parecia muito bom. Escrevi as minhas notas nos
rodapés e a intenção era ter uma como aquela em cada território nosso, as
atrações seriam tantas que não seria preciso lavar dinheiro. Desliguei o meu
notebook quando pousamos. Antonio e Sandro saíram primeiro, indo para os
carros e acordei a minha dorminhoca.
— Nós já chegamos? — Bocejou e se espreguiçou, me abraçando
apertado. — Dormi muito.
— Você não dormiu muito nos últimos dois dias. — Acariciei o seu
rosto perfeito. — Vem, vamos para casa. Precisamos sair.
Luna estava com sono e ficou quieta o caminho inteiro para casa.
Estacionei o carro na garagem, atravessamos o pátio de mãos dadas enquanto
puxava a nossa mala de roupas. Giovanna saiu de casa com Nino nos braços,
sorrindo e o nosso garotinho esticou os braços para a sua Una . Ele falava
algumas coisas complicadas, outras só ele entendia, mas as melhores palavras
eram: Mama, Papa, Una e Ico .
— Oi, meu amorzinho. — Luna o encheu de beijos. — Você se
comportou com a mamãe e o papai?
— O que você acha? — Giovanna bufou. — Fizeram boa viagem?
— Sim, foi perfeito.
— Vou levar a mala para casa e procurar o Damon. — Avisei as
senhoras. Giovanna disse que o Damon estava malhando. Deixei a mala em
casa e troquei de roupa, de longe podia vê-las no jardim, próximo à piscina,
agasalhadas e brincando com o Nino. Atravessei o pátio e empurrei a porta
do armazém.
— Olha quem voltou para casa. — Damon estava socando um saco
de areia. — Foi tudo bem em Londres?
— Legal. — Resmunguei e comecei a me aquecer.
— Luna ficou feliz?
— Só por isso valeu a pena.
— Ela e a Giovanna estão de segredinho. — Comentou e secou o
suor. — Giovanna deletou toda a conversa com a Luna quando perguntei com
quem estava falando. Ela ficou muito preocupada que lesse a conversa.
— O que você acha que é? — Comecei a fazer flexões.
— Sei lá. A última vez que elas ficaram de segredinho um Porsche
911 foi entregue aqui em casa. — Deu de ombros.
— Que não seja outro carro de luxo. — Murmurei e sentei-me.
— Termina logo essa merda e vem aqui lutar. Estou sedento para
bater em alguém.
— Você é quem vai apanhar, idiota. Passei três dias com os nervos à
flor da pele, estou cheio de energia e preciso enfiar a porrada em alguém. —
Larguei os pesos e pulei dentro do tatame, não lhe dando tempo para reagir,
apenas me joguei nele, enchendo-o de socos. — Acho que a Luna está
grávida.
— Sério? — Damon falou sufocado.
— Dormindo muito, a menstruação dela não desceu e sei que não
está tomando pílulas, enjoada no café-da-manhã e comendo o triplo no
almoço. — Passei as minhas pernas nas suas e o travei.
— Minha nora finalmente está à caminho.
Damon sabia que essa merda me deixava puto. Minha filha não iria se
casar com o Nino. E eu nem tinha certeza se a Luna estava grávida ou não.
Pedi a ela, antes do batizado do Nino, que parasse de tomar pílulas e eu não
sabia se ela fez imediatamente ou deixou para depois da sua consulta. Sua
menstruação ainda veio algumas vezes, Nino foi batizado em setembro e
estávamos em janeiro, então, eu sabia que em dezembro seu período não
desceu.
— Ok. O tempo dirá. — Ele rolou para cima de mim, tentando me
enforcar.
— Serão criados como irmãos e não vai ser assim, como um
romance.
— Não serão não.
O sorriso no rosto dele me irritava. Explodi em cima dele, dando
cotoveladas e rolamos de um lado, saindo do tatame e rimos. Dei a ele o dedo
do meio antes de batermos de frente novamente. Nós lutamos por quase uma
hora antes de ficarmos completamente molhados de suor. Encostamos na
parede com garrafas de Gatorade, para repor as energias.
— Damon, vem aqui! — Giovanna gritou estridente.
Nós nos levantamos correndo e saímos da academia, derrapando
quando vimos o Nino andar com os bracinhos esticados na frente, sorrindo
feito um maluquinho para a Luna. Eram os primeiros passinhos dele. Até
então, ele andava segurando nossas mãos ou apoiando nos móveis. Diana
estava do seu lugar, olhando, sempre vigiando o Nino como se fosse a sua
própria cria.
Luna incentivou os passos do Nino e olhei para o Damon,
observando o seu rosto tomado por emoção. Comecei a rir, porque aquilo era
exatamente o que sempre disse que o seu coração não tinha capacidade de
sentir. Eu duvidava que eu pudesse amar alguém, chorar, sentir a verdadeira
vontade de ter filhos até a Luna. E eu nem queria me casar com ela, devido ao
seu medo, a nossa diferença de idade e todo aspecto que ser um marido
significava.
— Temos que fazer de novo para filmar. — Giovanna estava
chorando.
— Eu duvido muito que ele irá parar de andar. — Damon sentou-se
no chão. — Vem com o papai, Nino. — Abriu os braços e o Nino riu, saindo
dos braços da Luna e andando até o pai, todo desengonçado e de um jeito até
bem engraçado. — Muito bem, garoto. — Nós batemos palma.
Nino amava atenção, cada vez que ele andava, queria que batêssemos
palmas e as meninas não paravam de fotografar e filmar. Luna me deu um
olhar emocionado e eu simplesmente soube que ela estava grávida, mas eu
não fazia ideia porque não me falou nada. Decidi deixar estar, porque ela
podia estar armando alguma coisa secretamente. Sorri de volta e soprou um
beijo.
Nossa semana passou rápido e eu fiquei meio preocupado sobre voar
para Chicago e deixá-la sozinha com o Damon e Giovanna. E se acontecesse
alguma coisa?
— Você vai ficar bem? — Segurei o seu rosto, olhando em seus
olhos.
Luna abriu o sorriso que deixaria qualquer pessoa doente de amor.
— Eu vou ficar perfeita. — Ficou na ponta dos pés e me deu um
beijo.
— Luna... — Grunhi e ela colocou a mão na minha boca.
— Vai e volta logo.
— Duas semanas.
— Será perfeito. — Piscou e beijei a sua boca com intensidade. —
Eu te amo muito. Fique seguro e volte para mim.
Voar sem a Luna era ruim. Chegar na nossa casa em construção e
lidar com aquilo era pior ainda. As duas eram tudo sobre suas exigências,
pisos e cores. Era um inferno estar lidando com tudo, mesmo que o propósito
fosse construir o nosso lar, ainda mais privado, seguro, como a nossa
fortaleza particular.
O lugar que criaria os meus filhos.
Isso me fez pensar no meu pai. Por muito tempo, tudo que me movia
era não ser como ele. Não permitir que de alguma maneira, minha esposa se
tornasse uma sombra infeliz como a minha mãe foi. Luna sempre acreditou
em mim, mesmo quando eu não podia imaginar um futuro diferente já que o
DNA dele corria nas minhas veias.
Se ele tivesse vivido um pouco mais, a minha mãe estaria morta e
então, o que eu teria me tornado?
Nunca neguei que foi melhor ele ter morrido.
Ou eu o teria matado.
Não mudava o fato que eu estava destinado a ser um assassino. Nasci
nessa família, o sangue que corria em mim era o próprio pecado e ao longo
dos anos, criei os meus próprios. Existia redenção para homens como nós?
Duas semanas longe da Luna eram como dois meses. O tempo parecia
se arrastar muito mais do que quando fiquei preso com a Giovanna, Juliana,
as meninas e o Alessio naquela ilha. Aqueles meses foram como anos,
enquanto eu sabia que não havia um perigo iminente ali, fiquei preocupado
que a Giovanna não pudesse suportar se acontecesse algo grave com o
Damon. Ela parou de comer e de interagir. Quando a Luna foi sequestrada,
Giovanna perdeu o apetite novamente e perdeu muitos quilos.
Esperava que a Luna não precisasse passar por algo como aquilo, ela já
teve a pior prova de fogo de ser envolvida com um homem como eu. O
sequestro deixou marcas profundas na sua alma e mesmo assim, ela seguia
sendo a pessoa mais amorosa, sorridente, espirituosa – às vezes até demais -,
apaixonada e ela era como o sol. Todos nós acabamos gravitando ao seu
redor, dependendo da sua luz e energia para viver. Ela nos enrolou em torno
do seu dedo mindinho.
Eu estava na palma da sua mão e não me importava.
No voo de volta para a Itália, estava sozinho, com os pés para o alto,
ansioso para estar em casa. Luna andou chorando nas nossas últimas ligações
e apesar de me garantir que estava bem, que era apenas saudade, a minha
mente estava correndo em milhares de cenários. E se ela não estivesse bem de
verdade?
Antonio estava me esperando no aeroporto. Ele sabia de algo e não
me falou. Poderia obrigá-lo a me falar, mas esperaria encontrar com a Luna e
dar a chance de me dizer a verdade. Talvez fosse apenas exagero da minha
mente. Mulheres costumavam ser sensíveis e choravam por qualquer coisa.
Luna teve os seus momentos de sensibilidade e muitos deles eu não tinha
ideia do que fazer.
A villa estava silenciosa. Giovanna e Damon não estavam no pátio
quando cheguei, o que era bem incomum. Luna sabia que estava chegando e
não apareceu na porta. Muito menos Zeus e Apolo, mas eles costumavam
andar atrás dela o tempo todo. Abri a porta de casa, jogando a minha mochila
no chão e me surpreendi com o que encontrei, começando a rir, meio de
nervoso, com um misto de emoção e definitivamente gargalhando da ironia
da vida.
Havia balões rosa por toda parte, velas, pedaços de papéis em tom de
rosa. Zeus e Apolo usavam camisas rosa claro, sacudindo o rabo em
felicidade, como se eles soubessem o que aquilo tudo significava. Eu sabia.
Luna apareceu no fim do corredor, mordendo o lábio, usando um top
branco e um short rosa. Sua barriga estava pintada. Uma mandala em formato
de coração, com o número dez e um pequeno bebê desenhado no seu ventre.
Andei devagar até ela, precisando entender e controlar o turbilhão que
explodia dentro de mim de uma só vez. Segurei o seu rosto molhado, beijei
cada lágrima e por fim, seus lábios macios. Caí de joelhos na sua frente,
olhando atentamente para o desenho. Ela estava grávida de dez semanas da
nossa filha.
Uma menininha.
Damon ia fazer uma festa sobre isso.
— Obrigado. — Beijei a sua barriga. — Obrigado por sempre
acreditar que eu seria um bom homem para você, um bom marido e agora,
por me dar o maior presente deste mundo. Você me fez melhor, Luna. Se
alguém me dissesse tudo que seria capaz de sentir antes do nosso casamento,
eu ia rir ou talvez dar um soco. Jamais acreditaria tanto em mim como você
sempre acreditou.
— Não fui eu que fiz isso, foi o amor. E agora o nosso amor... Deu
frutos.
— Já sabe faz tempo, não é?
— Sim, mas eu queria te contar quando fizesse o exame da sexagem
fetal.
— Todos sabem que é uma menina?
— Apenas Antonio, Gio e o Damon. Precisei da ajuda deles. Está
chateado?
— Não. — Fiquei de pé. — Apenas me preparando para o que vai
vir.
Luna riu e chorou, envolvi os meus braços ao seu redor, o que a fez rir
mais ainda. Agarrou a minha blusa e me beijou com brusquidão. Meu corpo
não tinha resistência nenhuma contra ela, mesmo que parte do meu cérebro
me alertasse para tomar todo cuidado do mundo porque ela estava carregando
o nosso bebê, Luna tinha o dom de me deixar incendiando e sabia que estava
preocupado em machucá-la.
— Não vou quebrar e a nossa menininha está bem, mas não se
preocupe, tudo que quero é fazer amor com o homem da minha vida.
Peguei-a no colo no estilo noiva, subindo a escada até o nosso quarto.
Estava escuro, com uma meia luz sensual e a olhei, rindo que preparou tudo
aquilo com más intenções. Coloquei-a na cama com cuidado e olhei em seus
olhos.
— Nunca vai existir alguém que te ame mais do que eu te amo.
— Vai sim. Em alguns meses vai nascer alguém que nós vamos
amar mais do que tudo e que vai nos amar incondicionalmente de volta e está
tudo bem por isso, porque é assim que famílias tem que ser. Nós dois criamos
a nossa própria família sem laços de sangue e agora fomos abençoados.
Não importava o que fosse acontecer na minha vida, se a Luna e a
nossa filha estivessem sempre comigo, seria eternamente o homem mais feliz
do mundo.
Essa era uma emoção que eu jamais abriria mão.
26
Luna .
Empurrei a primeira arara de roupas organizada para o canto, puxando
a segunda, conferindo os cabides, as peças costuradas e ouvi o Nino me
gritar. Giovanna apareceu na porta usando um vestido longo com o seu bebê
aninhado no quadril. Ele sorriu e o peguei, beijando sua bochecha e
cheirando sua cabecinha.
— Saiu do banho agora, meu docinho?
— Una , amor.
— Amor saiu, ele volta já.
Nino começou a chamar o Ico (Enrico) de amor e de vez em quando
ele chamava a Giovanna de bella , assim como o seu pai a chamava. Ele
estava repetindo absolutamente tudo que falávamos com frequência,
principalmente merda, porra, puta que pariu e de vez em quando ele soltava
um “calalo”. Estávamos reduzindo o uso de palavrões ao redor da pequena
esponja morena e gordinha.
— Já catalogou aquelas peças? — Giovanna conferiu a arara. —
Luna... você fez tudo isso muito rápido.
— Fiquei empolgada com as inspirações. — Encolhi os ombros.
— A maternidade te deixou inspirada porque você não conseguia fazer
roupas para si mesma. — Ela sorriu, conferindo de perto. — Quer ajuda com
o quê?
— Vou terminar de etiquetar cada uma das peças. Estou exausta, para
ser bem sincera. Terminei ontem à noite.
Levei um mês criando uma coleção mamãe e bebê. Desde que descobri
a gravidez, com sete semanas, me senti explodindo em criatividade,
felicidade e amor. Tudo ao meu redor estava diferente, mais bonito, mais
intenso e eu guardei segredo do Enrico sobre o bebê por três semanas. Contei
ao Damon por último, porque ele estava ficando insuportável com tanta
curiosidade.
Damon explodiu de felicidade, principalmente quando a Giovanna não
aguentou e soltou que era uma menina. Eu queria fazer uma surpresa para o
Enrico, porque ele quem deu a iniciativa de sermos pais. Foi muito difícil
esconder quando ele me ligava e insistia saber se estava tudo bem, só depois
que contei que ele me disse que já sabia, porque eu estava dormindo muito,
sensível e sentiu falta do meu período no mês de dezembro.
Enrico teve a melhor reação, ficou emocionado e ainda mais
apaixonado. Na mesma noite, depois que fizemos amor, adormeci e sonhei
com uma menininha de cabelos loiros, usando um vestidinho branco
miniatura do meu. Acordei com fome e enquanto Enrico preparava um lanche
para mim, comecei a desenhar peças de roupas. Levei uma semana
aprimorando os meus desenhos, porque não era exatamente uma arte que eu
dominava e mais uma semana escolhendo milhares de tecidos e estampas.
Giovanna me ajudou na ideia, ficamos intensamente nisso por dias,
fomos à Milão, fizemos compras e mais compras. Enrico ficou maluco
comigo, com milhares de caixas chegando pelo correio e a casa ficando
tomada por manequins, araras e eu trabalhando intensamente nisso,
explorando o novo sentimento e criatividade enquanto ele queria que ficasse
de cama.
— Deveríamos contratar um fotógrafo profissional. Acho que não
daremos conta de fotografar a outra e ainda lidar com a energia do Nino no
ensaio. Espero que a minha mãe possa vir nos ajudar por algum tempo...
— E se não vendermos nada? — Me bateu uma insegurança estranha.
— Claro que iremos vender, Luna. É o primeiro negócio legal que essa
família tem, precisamos ser um pouco mais positivas.
Luanna era a nossa nova marca. Luna com Giovanna. Embora ela diga
que fiquei com a maior parte do trabalho, eu não poderia ter feito sem ela.
Giovanna acreditava que não tinha nenhum talento, mas a mulher podia
convencer qualquer santo a pecar e ainda por cima, lhe dar descontos.
Costumava brincar que ela dominava a parte burocrática como ninguém e eu
a parte criativa. Cada uma tinha a sua função e decidíamos absolutamente
tudo juntas.
— Queria ter essa barriguinha aos quatro meses. — Giovanna tocou a
minha barriga. — Já estava enorme, parecia que estava esperando gêmeos. —
Agachou na minha frente. — Oi amor da dindinha.
— Você é a mulher que mais tem afilhados nessa vida. — Provoquei.
Gio era madrinha das três filhas da Juliana. Apesar do estreito laço de
amizade entre elas, o batismo era por aliança política entre as famílias. No
meu caso, a escolha da Giovanna e Damon para apadrinhar a minha
menininha era óbvia: eles a criariam como a sua própria filha se algo
acontecesse comigo ou com o pai dela.
— Eu só tenho menininhas.
— Isso é verdade. O Nino está cercado por mulheres. — Sorri e me
olhei de lado. A minha barriga estava tímida. Não parecia que estava grávida
embora meus seios estivessem enormes e a minha bunda estava ficando justa
nas minhas roupas.
— Giovanna? Luna? — Damon chamou da sala.
— Papai! — Nino gritou, ficando de pé e quase saindo do quarto. Sua
mãe o alcançou a tempo. — Papai!
— Estamos vestidas, pode subir. — Giovanna avisou. Damon surgiu
no quarto e pegou o Nino, beijando a bochecha dele. — As senhoras estão
bem? E a minha futura nora? — Tocou na minha barriga.
— Estamos bem e famintas, vocês poderiam nos levar para jantar fora
hoje. — Sugeri na maior cara de pau.
— Excelente ideia, estou louca para sair. — Giovanna ficou feliz.
— Amor? — Ouvi o Enrico chamar e logo entrou no quarto. — É uma
reunião? — Sorriu e me deu um beijo.
— Elas querem sair para jantar.
— Podemos ir ao novo estabelecimento, está cedo, vamos conseguir
ficar em uma boa área para o Nino brincar. — Enrico olhou em seu relógio e
em seguida colocou a mão na minha barriga. — Como está a minha filha?
— A minha nora está perfeita. — Damon respondeu por mim, ciente
que isso iria irritar o Enrico. Giovanna o empurrou para fora do quarto,
dizendo que ia começar a se arrumar.
Meu marido me abraçou, me beijando com carinho e desceu as mãos
para a minha bunda. Suspirei contra ele, me afastando um pouco e olhei em
seus olhos. Esfreguei os seus braços sentindo as ondulações dos seus
músculos. Ele saiu essa manhã e parecia que foi há mil horas, tamanha a
minha saudade e o meu desejo por ele. A minha médica me avisou sobre o
tesão extra, mas o que eu andava sentindo era intenso. Eu o queria o tempo
todo.
— Conheço esse olhar... — Me provocou e beijou o meu pescoço.
— Não sei do que está falando... — Suspirei com seus beijos
exploratórios.
— Certo. — Se afastou e choraminguei. — Você foi muito rápida com
tudo isso. — Olhou ao redor, mudando de assunto e quis bater nele. — Já vão
começar a catalogar? O contador entrou em contato comigo. Logo a empresa
de vocês estará liberada para o funcionamento.
Ele estava falando sério? Eu não queria falar sobre a empresa. Queria
pular nele. Mordi meu lábio, pensando e não ia cair no seu joguinho, respondi
a sua conversa com entusiasmo, ciente que a protuberância na sua calça
indicava que ele me queria. Eu estava usando um vestido azul que ia até o
meio das minhas coxas e um par de meias coloridas acima dos joelhos,
porque tirei algumas fotografias para registrar o quarto mês de gestação.
Saí do meu ateliê e andei calmamente até o meu quarto. Giovanna
costumava levar o dobro do tempo para se arrumar, então eu sabia que tinha
no mínimo uma hora. Até ela dar banho no Nino, lavar o seu cabelo, secar e
encontrar uma roupa que o Damon explodisse as veias – depois que ela teve o
bebê, ela emagreceu muito e agora estava com um corpo muito bonito, cheio
de curvas que não tinha antes. Damon estava consumido de ciúmes e quanto
mais ele resmungava, mais curtas as suas roupas ficavam. Nossos maridos
eram muito ciumentos.
— Vou descansar um pouco antes de sairmos. — Comentei inocente,
tirei a minha calcinha e engatinhei na cama, empinando toda a minha bunda
na direção do Enrico. Recostei nos travesseiros, afastando os meus joelhos e
ele me olhava com intensidade, passando o polegar no lábio inferior.
— Descansar?
— Hum, hum... — Cantarolei explorando minhas coxas com as minhas
mãos e lentamente levei para entre as minhas pernas. Enrico tirou a camisa,
abriu a calça e ficou apenas de cueca. — Vai descansar também? — Me fiz
de sonsa, soltei um suspiro ao rodear meu clitóris com meu dedo.
— Descansar? — Ele ficou de joelhos entre as minhas pernas,
observando meus dedos com muita atenção. — Nós não vamos descansar
porra nenhuma, você sabe que te ver assim me deixa maluco. — Grunhiu e
abaixou a cueca, expondo seu pau, lambi meus lábios. Hum... Eu podia
chupá-lo e me tocar ao mesmo tempo. Ou ele poderia me chupar também...
me tocar. Caramba, eu queria tudo.
— Isso te lembra alguma coisa?
— Sim... O dia que percebi que era muito idiota por não estar fodendo
a minha mulher muito gostosa. — Falou todo rouco. Empurrei um dedo
dentro de mim, brincando com as minhas dobras, espalhando a minha
umidade. Enrico estava ficando vermelho, tocando a si mesmo, seu pau cada
vez mais inchado. — Fica pelada.
Tirei o meu vestido, mas deixei as meias coloridas.
Enrico deitou-se de bruços, dando beijos quentes e molhados pelas
minhas coxas, chegando até a minha virilha, pegou a minha mão lambendo os
meus dedos, provando o meu sabor e começou a me chupar deliciosamente.
Me contorci na cama, tonta de prazer, agarrada ao seu cabelo e gozei forte,
caindo sobre a cama e me preparando para recebê-lo com todo meu amor.
Mais tarde nós saímos em família e passeamos pela orla da praia,
tomando sorvete e observando o Nino correr pela areia, querendo entrar no
oceano mesmo à noite. Nossa comitiva tinha mais seguranças que a realeza,
mas eu não me importava com mais nada em relação a isso. A gravidez me
fez entender a necessidade de estar segura e proteger o meu bebê.
Conforme a minha gestação avançava, a minha barriga começou a
aparecer e deixar de ser tão tímida. Minha filha se mexia como nunca. Talvez
pela minha barriga ser pequena que seus movimentos eram bruscos e
deixavam qualquer pessoa ao meu redor bem nervosa. Ela não podia ouvir a
voz do seu pai, os gritos do Nino e a minha própria voz para começar a se
agitar.
Giovanna e eu lançamos a nossa marca, Luanna, quando completei
sete meses; a essa altura todas as roupas tinham réplicas em grande escala,
principalmente pela procura e por termos contratado um time de costureiras.
Todas as peças foram idealizadas por nós duas e como éramos mães, nos
tornamos garotas propagandas.
Da garota que não tinha muito, para uma estilista e empresária.
A festa de inauguração foi em um dos nossos clubes em Palermo,
durante o dia e recebemos milhares de mulheres e a imprensa. Por educação,
minha Tia Selma foi convidada. Eu sabia que ela estava vivendo na Sicília
novamente, junto com uma tia, fugida de Nova Iorque pela vergonha de ser
viúva de um pedófilo já que o meu tio foi punido – com a morte – por aliciar
menores de idade a um dos clubes de sexo.
A maioria das garotas eram loiras de olhos bem claros. A coincidência
me deixou doente por vários dias.
Nunca imaginei que ela fosse comparecer. Ela estava no meio de
algumas mulheres, falando sem parar e quando me viu, ergueu a sua taça em
um pequeno gesto. Eu estava muito grávida e sensível, me recusei a chegar
perto dela. De longe, mantive o meu olhar. Mia estava segura na Inglaterra e
ela só não estava na festa porque estava em semana de provas e o seu noivo
iria visitá-la com a mãe dele.
Apesar de não pensar mais na minha tia, ela me machucou muito de
inúmeras maneiras e tê-la em um dia tão importante me fez ver o quanto
cresci. Ela me impedia de vestir boas roupas, me dava sobras, me punia por
algo que eu não tinha controle e me odiava por uma história que aconteceu
antes do meu nascimento. Ela estava ali no lançamento da minha coleção de
roupas coloridas, ousadas, que valorizavam as curvas e a beleza de cada
mulher.
Enrico se aproximou de mim e gentilmente colocou as mãos na minha
barriga, sentindo a nossa filha mexer. Damon riu, com o Nino no colo e
apoiou sua mão também. Eles começaram a eterna brincadeira sobre qual
motivo ela estava tão agitada. Joguei que não era por nenhum deles, porque
tinha comido dois bombons com morango. Chocolate deixava as crianças
enlouquecidas, mesmo na barriga.
O olhar da minha tia foi intenso, não pude definir, mas eu sabia que
tinha tudo que ela nunca desejou para mim. Ela não podia tirar o meu
casamento maravilhoso e a minha família incrível. Seu rancor não podia me
destruir mais e não era porque vivia em Chicago e ela em Nova Iorque, ou no
caso da Itália, ela de um lado da ilha da Sicília e eu em outro.
Depois do lançamento, me preparei para receber a minha filha,
curtindo a gravidez, suportando o lado ruim com calma e paciência. Minha
barriga ficou enorme no final e eu um pouco cansada, sempre com
dificuldade de me mover e sentindo dores horríveis nas costas. Queria um
parto natural e tudo garantia que sim. Ainda existia o medo de que a minha
filha não nascesse perfeita, iria amá-la de todo jeito, porque eu já a amava
muito, mas eu tinha preocupações normais sobre a vida que ela poderia ter se
nascesse com quaisquer sequelas.
Felizmente, já não sentia nada. Não trocava as palavras e estava como
era antes do sequestro e isso me dava fé que a minha filha não sofreria
consequências de algo que não era a sua culpa.
— Você está bem? — Enrico acariciou as minhas costas.
— Acho que todo o sexo a deixou agitada. — Reclamei dos empurrões
que ela dava. Já virada, às vezes tinha a sensação de que ela queria chutar o
meu coração. — E a mamãe cansada. — Bocejei e sorri para a mão dele
acariciando a minha barriga. Estava nua, deitada de lado e ele encaixado atrás
de mim.
— Suas costas doem?
— Um pouco.
Enrico suspirou e revirei os olhos com antecedência.
— Não deveríamos ter feito...
— Eu queria. — Na verdade, precisava. Para o sexo, não houve uma
única vez pelo qual me senti desconfortável. Giovanna me odiava. Ela e o
Damon ficaram meses sem nenhuma atividade porque ela não conseguia e
isso só reforçava que cada mulher tinha um tempo, seu próprio biotipo e uma
reação à maternidade.
Peguei no sono, mas eu simplesmente sabia que entraria em trabalho
de parto. De manhã cedo, acordei e tomei um banho, olhando a minha barriga
esticada, meus lábios inchados, o nariz e as bochechas, presente da gravidez.
Me admirei com o meu coração informando que era as minhas últimas horas
com aquele barrigão.
Enrico foi malhar e eu me acomodei na sala com a Giovanna, ficava
andando atrás de mim como se fosse a minha babá.
— Bebê. — Nino beijou a minha barriga. — Mamãe, bebê. —
Apontou para a Giovanna e sorrimos. — Amor. — Me beijou de novo. Ele
era uma pestinha e sabia ser fofo no momento certo.
Senti uma pequena dor no ventre e grunhi.
— Se você entrar em trabalho de parto hoje eu nunca mais vou duvidar
da sua palavra. — Giovanna sorriu e eu recostei no sofá. Ela tirou o Nino do
meu colo, que gritou por isso. — Tia Luna precisa de um tempo, amor.
Nino ficou de pé, me olhando sério como um rapazinho e eu apertei o
sofá quando senti uma contração tão intensa que foi até a planta dos meus
pés. Minha barriga estava completamente dura.
— Eu vou avisar a Dra. De Luca e aos cabeçudos... — Sorriu e mordi
o meu lábio, sufocando a vontade de gritar para não assustar o Nino.
Não levou muito tempo para Enrico invadir nossa casa, todo suado e
segurou a minha mão quando grunhi. Lucinda entrou e pegou o Nino porque
a Giovanna queria ficar comigo. Enrico tomou um banho, descendo com uma
camisa escura e uma bermuda de moletom, eu queria um parto em casa,
exatamente como o Nino nasceu. Preparamos o quarto de hóspedes, a
banheira e tudo o que era necessário.
Vi as ambulâncias chegando, a Dra. De Luca e minha bolsa rompeu no
final da tarde. Suada, tomei um banho e fui para o quarto, o tempo todo sendo
assegurada pela equipe. Enrico estava comigo, segurando a minha mão, me
dando o seu corpo como apoio, dizendo coisas boas e seguindo as instruções
com paciência. As contrações eram fortes e chegou um momento que pensei
que não ia conseguir, porque doía muito e a pressão deixava tudo ainda mais
desconfortável.
Felizmente ela não demorou a sair. Bastou alguns empurrões e tudo
passou. Seu choro tornou tudo melhor. Meu coração explodiu em amor. Ela
foi colocada em cima de mim, toda gosmenta, chorando, vermelha e se
mexendo. Minhas mãos tremiam quando a segurei, admirada. Olhei para o
Enrico e ele estava com aquela expressão de que se pudesse, choraria. Era a
nossa menina.
— Vem, papai. — A Dra. De Luca chamou o Enrico para cortar o
cordão. O pediatra entrou, mas eles ficaram do outro lado do quarto. Minha
filha ainda chorava enquanto eu entregava a minha placenta e a médica
terminava comigo.
Apesar de dolorida e muito cansada, tive forças para tomar um banho
após toda confusão que o parto me causou. Um tremor me deixou assustada,
mas eu sabia que era uma reação comum e por isso não fiz nenhum alarde.
Enrico voltou com a nossa menininha nos braços. Giovanna estava
pendurada nele, chorando sem parar e sorrindo. Ela esteve ao meu lado assim
como a sua mãe, mas eu mal registrei cada uma delas. Gio ficou responsável
pelas fotos e eu estava ansiosa para ver, quando conseguisse tirar os olhos da
minha filha. Era perfeita. Suas mãozinhas pequenas se moviam, assim como
as pernas e a boquinha rosada.
Olhei para o meu marido e chorei.
— Não existe mais perfeita. — Enrico beijou a cabecinha dela, cheia
de uma penugem loira ralinha. Ela não abriu os olhos, mas estava acordada,
se mexendo tanto quanto se mexia na minha barriga. — Obrigada por ser tão
forte e corajosa, vê-la dando à luz a nossa filha me deixou ainda mais
apaixonado e admirado com a sua força. Eu te amo, Luna.
— Nós amamos você. — Beijei os seus lábios e voltei a olhar para a
minha menina. — Laura e eu somos extremamente sortudas por ter você
como pai e marido.
Enrico abraçou a nós duas ao mesmo tempo. Laura soltou um
resmungo, segura em meus braços com o olhar atento de um pai apaixonado.
Ele costumava dizer que eu era como um sol, mas segurar a nossa menina,
Laura Maria di Fabrizzi, eu soube que ela era o nosso sol, o nosso amor mais
puro.
Epílogo
Enrico.
— Nino, não! — Mia correu atrás do Nino e o pegou a tempo de
arremessar um bolo na piscina. — Dio , menino. O que a sua mãe te dá?
— Ele é um chumbinho. — Damon pegou o Nino da Mia e beijou a
bochecha dele. — Sossega, moleque. — Ordenou e o colocou sentado em
uma cadeira alta de bebê, que o Nino odiava ficar, mas a Laura, a minha
princesinha perfeita, lhe ofereceu um pedaço de bolo azul escuro com a mão.
Nino sorriu e aceitou. — Eles vão se casar.
— Não vão. — Murmurei. Nino e a Laura até brincavam juntos, mas
eles brigavam mais do que qualquer coisa. Eram como cão e gato o tempo
todo. Eu pensei que a minha filha seria um anjinho como a mãe, mas, os dois
eram uma versão minha e do Damon quando crianças.
Dante saiu da cozinha carregando uma caixa de vinhos. Mia foi até ele,
sorridente e assim que ele colocou a caixa onde a Giovanna indicou, ele
abraçou a sua esposa. Era engraçado e um pouco estranho ver duas pessoas
tão jovens casadas, mas eles estavam e pareciam um casalzinho de
namorados, apaixonadinhos e muito felizes em estar juntos. Eu tentei
cancelar o casamento.
Passei anos implicando com essa merda e enchendo o saco do Enzo
sobre isso, mas os Biancchi estavam insistindo. Relaxei com o casamento
apenas alguns dias antes, quando o próprio Dante declarou que escolhia casar
com a Mia e estava disposto a passar por cima de quem fosse, inclusive,
ameaçando fugir para Vegas. Eu fiquei ainda mais surpreso quando a Mia
parecia feliz, esperançosa e apaixonada.
Gostava dela como se fosse a minha filha. Nos últimos anos,
estreitamos laços. Ela passou férias e longas temporadas comigo e com a
Luna. As duas mereciam felicidade e mimo. Dante parecia gostar tanto que
não conseguia disfarçar e eu estava preocupado que os seus sentimentos tão
evidentes colocassem a Mia em perigo.
A Mia era importante para todos nós, ela conquistou cada um, mas a
Luna era o seu laço mais importante. Se qualquer coisa acontecesse com a
Mia, para nós, seria como se qualquer coisa acontecesse com a Laura.
— Está tudo bem, papai de dois? — Luna sentou-se no meu colo e me
ofereceu uma colher do bolo. — Mia está arrasando nos bolos. Se ela abrir
uma confeitaria, eu certamente vou apoiar. — Sorriu e limpei a sua boca. —
Não acredito que teremos um menino nos próximos meses.
— A Laura parece estar destinada a ser uma princesinha entre todos.
— Sorri para a minha filha jogando bolo no seu padrinho e rindo. Giovanna
fingia comer o bracinho dela, que gritava de prazer. — A não ser que na
próxima, venha uma menina.
— Próxima? — Luna arregalou os olhos. — Eu te amo, mas podemos
conversar sobre uma possível gravidez depois que eu passar por essa?
— Claro, amor. — Beijei a sua bochecha.
— Ai, Dante! — Mia gritou e riu, ele estava mordendo o braço dela.
— Seu bruto! — Bateu nele e rimos.
— Eu quero tanto que ela seja feliz. — Luna suspirou.
— Ela parece ser feliz, mas a vida deles está apenas começando, são
jovens e vão passar por muita coisa. — Refleti e olhei para o rosto perfeito da
minha mulher. — Você é feliz, Luna?
Ela sorriu e me deu o beijo que me deixava maluco. Eu amava cada um
dos seus beijos, mesmo os rápidos e frios quando ela estava puta ou os que
ela aproveitava para me morder. Eu a amava tanto que um dia, eu tive
dúvidas se tinha um coração, mas eu tinha um e esse pertencia às minhas
meninas.
— Sou a mulher mais feliz do mundo inteiro, Enrico. Você é um
marido maravilhoso, eu te amo por todas as mil vezes que me fez sentir
única, as milhares que me fez sentir a mais especial e todas as bilhões de
vezes que você fez parecer que tudo que passei valeu a pena só para ter essa
vida incrível que temos juntos. — Esfregou o narizinho no meu. — Eu te
amo por me incentivar, me apoiar e me amar mesmo nos dias mais difíceis.
Te amo pela nossa família linda e te amo ainda mais por ter acolhido a minha
prima debaixo das suas asas. Você é gentil e apaixonado, um dia me disse
que era um homem ruim, eu não duvido de nada que seja capaz de fazer, mas
para a nossa família, você é perfeito.
Um nó se formou na minha garganta e respirei fundo, beijando-a
intensamente.
— Isso aí, sogro! — Dante gritou do outro lado. Me afastei da Luna e
dei-lhe o dedo médio, voltando a beijar a minha mulher. — Eles vão
encomendar outro bebê.
— Cala boca, Dante. — Mia brigou com ele.
Ignorei a risada do Damon e a Giovanna mandando parar. Segurei o
rosto da Luna com uma mão e a outra coloquei na sua barriguinha, nosso
menino estava crescendo ali. Laura saiu do seu lugar e veio correndo, com a
expressão irritada, fazendo queixa que o Nino e o seu padrinho comeram o
seu bolo. Luna riu e a pegou, colocando em seu colo.
— Papai vai brigar com o dindinho. — Beijei a sua cabecinha.
— Viu, dindo! Papai vai brigar! — Ela gritou, toda poderosa.
Damon riu e revirou os olhos.
Sabia que a nossa família incomodava muita gente. Era singular, mas
era única. A nossa força estava bem ali e eu não os trocava por nada no
mundo. Ainda havia muita coisa para acontecer, nós ainda tínhamos muitos
planos, desejos e muito território para conquistar. A nova era estava apenas
começando e eu estava pronto para tudo o que poderia se levantar.
Fim.
|Agradecimentos|

Cada história leva um pouco de mim, porém, Perigoso Amor levou


tudo de mim. O maior livro que escrevi na minha vida e uma relação que
começou quando esses personagens ainda faziam parte de uma fanfic. Eles
cresceram, amadureceram e evoluíram exatamente como nesses anos. De
bônus, gerou três histórias spin e mais um monte que completam essa série!
Perigosa Tentação foi um caso de amor e eu sou apaixonada por esse livro.
Acredito que valeu a pena a espera e agradeço a todas as minhas leitoras que
torceram e esperaram ansiosamente por esse lançamento.
|Sobre a autora|

Mari Cardoso tem 28 anos, nasceu em Cabo Frio e


atualmente mora no Rio de Janeiro com sua mãe, uma gata e um
cachorro. Formada em fotografia, trabalha como fotografa e design
gráfico, possui uma loja de papelaria personalizada.
Até o momento, tem algumas histórias publicadas na Amazon
e estas são:
Em Outra Vida
A Valentia do Amor
Caminhos do Coração
Legalmente Apaixonados
Bem Me Quer
Uma Segunda Chance Para o Amor
O Melhor Presente
Apenas Entre Nós
Curvas do Destino
Alguém Como Você
Diga Que Me Ama
Perigoso Amor
Império Perigoso
Perigosa Tentação.
Suas redes sociais:
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