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Copyright © 2022 Maria Amanda Dantas

UM BEBÊ INESPERADO PARA O BILIONÁRIO

1ª edição | Criado no Brasil


Edição digital

Autora: Maria Amanda Dantas


Revisão: Luana Souza
Diagramação: Luana Souza
Imagens: Hórus Editorial
Capa: T.V. Designer

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL DESTA OBRA, DE QUALQUER


FORMA OU POR QUALQUER MEIO ELETRÔNICO OU MECÂNICO, INCLUSIVE POR MEIO
DE PROCESSOS XEROGRÁFICOS, INCLUINDO AINDA O USO DA INTERNET, SEM A
PERMISSÃO EXPRESSA DA AUTORA (LEI 9.610 DE 19/02/1998).
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LUGARES E
ACONTECIMENTOS DESCRITOS SÃO PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DA AUTORA.
QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENTOS REAIS É MERA
COINCIDÊNCIA. TODOS OS DIREITOS DESTA EDIÇÃO SÃO RESERVADOS PELA AUTORA.
SUMÁRIO

Sumário
Nota da autora
Dedicatória
Agradecimentos
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo
Meu chefe CEO viúvo
Série “Máfia Smirnov”
Série “Família Grego”
Duologia “Cretino irresistível”
Vendida para Hakan
Louis - Um contrato de amor
Sob o domínio do sheik
A obssessão do CEO
A babá virgem da filha do CEO
Comprada pelo CEO misterioso
Oliver: o monstro
Sobre a autora
Redes sociais
NOTA DA AUTORA
Olá, amores da MAD. Tudo bem com vocês? Então, passando aqui nesta
notinha rápida para explicar algumas coisas. Prometo que vai ser rápido e que
vocês poderão ler o livro em seguida.
Primeiro, venho dizer que este livro é um spin-off de “Meu chefe CEO
viúvo”. O casal abordado nesta obra é Kauã, o irmão do Viktor, protagonista
do livro que acabei de citar, e a Micaella, nossa mocinha, irmã de criação de
Giulia e a melhor amiga dela.
“Amanda, para ler Um bebê inesperado para o bilionário é necessário
ler Meu chefe CEO viúvo?”. Não, não é necessário, meus amores. Mas, caso
vocês gostem de histórias com viúvo ferido, mocinha inocente e criança fofa,
aconselho-os a lê-la após finalizar “Um bebê inesperado para o bilionário”.
Este livro é único, independente. E espero, do fundo do meu coração, que
vocês gostem dele.
Não se esqueçam de recomendá-lo para as amigas e o avaliar. Beijos!
DEDICATÓRIA
Este livro é dedicado a todas as mães solos, que são guerreiras e sempre
fazem de tudo pelo filho. Dedico, principalmente, à minha irmã Ângela, por
amar tanto o seu bebê, o pequeno Gael Lohan, que, inclusive, é o nome do
bebê do livro.
AGRADECIMENTOS

Não existe autor sem leitores. Vocês são os responsáveis pelas minhas
loucuras e surtos. Agradeço imensamente por poder levar minhas histórias
para vocês, meus queridos leitores.
Também agradeço à responsável pela revisão e diagramação:
@luanarevisora; à minha equipe de capistas: @t.vdesigner e @isdesigner01; à
linda @horuseditorial, pelas artes dos capítulos; e às meninas que fazem meus
banners: @mbbanners, @cr_banners, @afbanners_, @vic_designer_ e
@taystiktok.
Obrigada, meninas do meu grupo de WhatsApp e todas as minhas
parceiras.
SINOPSE

Kauã Avillar sempre teve tudo aos seus pés: dinheiro, mulheres e uma
vida regada a luxo e diversão. No passado, ele se apaixonou pela esposa do
seu irmão Viktor, quando ambos ainda eram namorados. Kauã nunca o perdoou
por ter se casado com a única mulher que ele amou.
Os anos se passaram e ele, agora, está envolvido com outros prazeres. O
homem é bonito, sedutor, o cafajeste perfeito. E, em uma certa noite, acaba
tendo um encontro casual, sob a luz da lua, com uma mulher misteriosa, que
desperta seu lado predador.
A jovem Micaella nem sempre teve a vida fácil. Ela e a mãe nunca
deixaram de batalhar para se sustentarem. A moça é querida, amada pela sua
mãe, encantadora e não tem medo de se arriscar. Ao se esbarrar com o belo e
sedutor Kauã, sente-se atraída, e um sentimento arrebatador surge em seu
coração. Quando se entrega ao bilionário, vive uma paixão intensa e
arrebatadora.
O que Micaella não poderia imaginar era que o seu amor iria embora e
que ela não receberia mais notícias do homem que a enganou. Dias depois, ela
descobre que está grávida. Aflita, não sabe o que fazer, e se vê perdida para
enfrentar a vida sozinha. Ela jurou nunca mais entregar o seu coração a homem
algum.
Mas, e se meses depois, ela encontrasse o pai do seu bebê, mesmo que
sem querer, teria coragem de contá-lo que eles tiveram um filho?
CAPÍTULO 1

Sabe aqueles dias em que você está deitado, o despertador acaba de


tocar, sua alma ainda não retornou para o seu corpo e o sono te domina? Hoje
é um desses dias. Deveria ser minha folga, mas escolhi trabalhar para ganhar
por horas extras. Minha mãe está precisando fazer seu exame de vista e eu
quero ajudá-la. Vivemos em João Pessoa, Paraíba, na maior cidade do estado,
em uma área considerada de periferia em comparação aos bairros mais
elegantes. E é em um desses lugares onde trabalho. Sou camareira, e às vezes
fico na recepção. Também faço horas extras no restaurante do hotel. Tudo por
um dinheiro a mais no fim do mês.
Sempre fomos apenas eu e minha mãe. Meu pai nos abandonou quando eu
era uma bebê e nunca mais apareceu. O que é bom, pois, assim, nunca precisei
chorar e implorar pelo seu amor. Somos felizes, e agora temos a Giulia, minha
melhor amiga, que passou a morar conosco depois que perdeu a sua mãe. Essa
foi uma época difícil para todas nós. Eu estou acostumada a viver momentos
difíceis. Conseguimos superar isso juntas e hoje vivemos em paz. Temos umas
às outras. Sinto-me completa e abençoada por ter as duas mulheres mais
maravilhosas do mundo ao meu lado.
Ainda preciso despertar totalmente. Até o meu serviço, terei que pegar
duas conduções. É bastante puxada a minha rotina, porém já estou adaptada.
Minha mãe diz que eu deveria estar na faculdade. Eu irei, mas, no momento,
prefiro trabalhar e ajudar com as contas do fim do mês.
Giulia ainda fica dormindo quando eu saio do quarto. O bico onde farei é
em um hotel próximo ao que eu trabalho. Na verdade, organizarei e trabalharei
em uma festa onde pessoas da alta sociedade irão beber e fazer merdas. No
dia seguinte, vamos limpar toda a bagunça. Mariza me convidou para fazer
parte da equipe para ganhar um extra, e na hora eu topei, mesmo ela sendo a
chefe mais arrogante que alguém poderia ter. Como preciso de dinheiro,
submeto-me a esse emprego e tolero todo tipo de humilhação, sempre
pensando no dia de amanhã.
O uniforme é algo elegante: calça social preta, camiseta branca, de
botões, e um laço vermelho no pescoço, que o aperta e me deixa um pouco
sem ar. O tipo de festa é algo com negócios e mulheres de biquínis na piscina.
Haverá quartos sensuais para os convidados usar se desejarem.
Recebemos um treinamento por cerca de quase uma hora, e depois
partimos para a organização.
— Micaella, cuidado com os copos. — A voz irritante de Mariza me faz
querer jogar todos os copos nela. — Se quebrá-los, será descontado do seu
salário.
— Eu não vou quebrar nada, sou muito boa em equilibrar bandejas. —
falei, paciente.
Apesar do meu jeito de maluquinha em determinados momentos e
situações da vida, sou bastante centrada e responsável com os meus deveres.
— Acho bom mesmo, ou então assinarei sua demissão na segunda. —
Sorri, cheia de audácia
Mulherzinha irritante! Ela é chata com todo mundo e nunca trata os
funcionários bem, exceto o seu namorado vinte anos mais jovem, quem ela faz
questão de colocar no céu como se fosse o próprio dono do hotel. Um tempo
atrás, o belo namorado que ela tanto se orgulha de ter, paquerou a minha
melhor amiga, Giulia, e desde então Mariza vive fazendo de tudo para
infernizar a vida dela. Somos fortes porque precisamos deste emprego, mas à
noite descontamos toda a nossa raiva em fofocas e imitações dessa mulher.
Volto minha concentração para as instruções que me foram dadas. Meu
Deus! Quanta exposição ao sexo. Estátuas nas quais os órgãos masculino e
feminino são expostos como se fossem obras primas, além dos tons de
vermelho que decoram o ambiente com um toque sexual. Posso imaginar o tipo
de pessoas que virá aqui: pessoas ricas e mimadas, que se sentem as donas do
mundo. Já consigo imaginar a trabalheira que teremos mais tarde, quando
todos estiverem bêbados.
— O que está achando da decoração? — uma colega que conheço de
outros trabalhos me perguntou.
— Está tudo muito sensual.
— Eu iria amar se um bilionário me chamasse para o quarto do prazer.
Está tudo muito sensual. Eu não me importaria se fosse um velho barrigudo,
contanto que tivesse muito dinheiro.
— Credo! Você não disse isso.
— Claro que disse. Não seja boba, ficar rica é o meu sonho.
— O meu também, mas não espero por um homem para ter o que não é
meu.
— Então, boa sorte. Aposte na loteria. Quem sabe você tenha a sorte
grande. — debochou. — Querida, o mundo é dos mais fortes. Não seja
bobinha, ou será enganada facilmente pelos mais espertos.
— Eu sei me cuidar. Faço isso há bastante tempo.
— Então, tome isso. — Ela me entrega duas camisinhas e eu arregalo os
olhos, surpresa.
— Para que eu quero preservativos?
— Para o caso de algum bilionário querer você. — Pisca para mim.
— Eu vim aqui para trabalhar, e não para fazer sexo.
— Eu vim para os dois. Que a sorte sorria para mim, Mica.
— Boa sorte, então.
Ela acena para mim e volta a organizar os doces sobre a mesa.
O que eu vou fazer com essas camisinhas? Enfio-as no bolso da minha
calça. Mirian é maluquinha. Imagina só eu me entregar para um estranho só
porque ele tem dinheiro. Graças à Deus minha mãe me ensinou a ter caráter e a
não me aproximar das pessoas somente pelo que elas têm a me oferecer,
principalmente tratando-se de dinheiro. No dia que eu entregar meu corpo a
um homem será por amor. Diferentemente do que muitas pessoas pensam, eu
sou virgem, nunca tive relação sexual com nenhum homem, apenas beijei dois
garotos na época da escola, e isso já faz algum tempo. Mas, ainda assim, não
estou desesperada a ponto de ficar com qualquer um. Mamãe me ensinou que
devo me entregar apenas a quem eu ame. Sei que esses pensamentos são
ultrapassados para a minha geração Z, a geração da modernidade, porém,
quem disse que temos que seguir os padrões impostos pela sociedade? Tenho
os meus princípios e sigo o que meu coração acredita que seja o melhor.
As horas vão se passando, a noite começa a cair e o sereno traz um pouco
de ar frio. Os convidados vão chegando, homens e mulheres elegantes, e o
palco já está montado. Terá show ao vivo, uma atração internacional. Enrique
Iglesias em João Pessoa, Paraíba, é a realização de um sonho. Tudo bem... Eu
confesso que aceitei trabalhar nessa festa principalmente porque meu cantor
preferido estará cantando. Essa é uma chance única de vê-lo, mesmo que seja
de longe.
Estou pronta para começar a servir. Já há bastante pessoas, sendo que
cerca de duzentas estarão presentes. Eu me pergunto quanto esses riquinhos
pagaram para ter um cantor tão famoso em um evento como esse. O som
começa a ser passado e Enrique se apresentará dentro de alguns minutos. Meu
coração está palpitando. Paro por alguns instantes quando o vejo no palco, e
algumas pessoas ficam próximas para o ver melhor. Neste momento, a grande
maioria delas está concentrada na abertura do show, então não preciso ficar
servindo por agora.
— Buenas noches, amigos. Mi nombre és Enrique Iglesias, y les
prometo que esta noche será inolvidable (Boa noite, amigos. Me chamo
Enrique Iglesias, e prometo que esta noite será inesquecível).
O meu espanhol não é fluente, mas me fez compreender o que o meu
cantor preferido disse. Ele começa tocando sua música de mais sucesso:
“Bailando”. Como eu queria estar dançando e aplaudindo de pé, como uma
convidada, só que não posso, devo me conformar e aceitar vê-lo de longe.
Ainda assim é a realização de um sonho. Aproveito este momento para filmar
um pouco do show. Seguro a bandeja vazia abaixo do meu braço e gravo uma
das minhas canções favoritas.
— Tú me miras y me llevas a otra dimensión. Estoy en outra dimensión.
Tus latidos aceleran a mi corazón...
O impacto da mão pesada de Mariza, que arranca de uma maneira brutal
o celular das minhas mãos, assusta-me. Ela está com cara de poucos amigos,
furiosa, bufando pelo nariz e liberando faíscas.
— O que está fazendo, garota? Por acaso você é alguma madame, para
não estar trabalhando?
— Eu...
— Você é paga para trabalhar, não para se sentir uma convidada e filmar
o evento.
— Desculpe. Eu me empolguei porque sou muito fã do cantor e...
— Não quero saber se é fã ou se o odeia, você está aqui para servir as
pessoas. Se não quiser perder suas horas extras, volte a servir, garota folgada.
— Eu vou servir. Devolva meu celular.
Ela me entrega o meu aparelho, eu o guardo no bolso e volto a servir de
mesa em mesa. Poucas pessoas querem beber e algumas pegam duas taças
para se esbaldar de whisky. No momento em que estou passando perto do
palco, sou hipnotizada pela voz de Enrique cantando “El perdedor”.
— No, no vayas presumiendo, no, que me has robado el corazón y no
me queda nada más. Sí, prefiero ser el perdedor que te lo ha dado todo, y
no...
Esbarro-me em uma pessoa forte próxima à piscina, que me faz
desequilibrar e derrubar toda a bandeja com as bebidas no chão. Ao menos foi
isso que pensei.
— Ai! — Tomada pelo susto, arregalo os olhos ao notar que derramei as
bebidas em um homem.
Encaro o indivíduo musculoso, forte, de olhos azul-escuros e profundos.
Há um verdadeiro deus grego diante de mim. Ele é realmente o homem mais
bonito que já vi em toda a minha vida. Falta-me o ar quando ele me olha em
um primeiro momento, intrigado com tudo que está acontecendo. Foi muito
repentino. Eu manchei o seu terno com bebida. Como poderei pagar?
— Meu Deus! Mil perdões vezes mil. Eu sinto muito, senhor. —
Nervosa, começo a passar as mãos sobre seu peitoral, em uma tentativa de
enxugar o molhado. Como ele é forte, musculoso...
Afasto minhas mãos rapidamente ao me dar conta da besteira que estou
fazendo. Pela maneira como ele me olha, parece que está irritado e
controlando sua raiva para não me xingar. Agora, sim, perderei minhas horas
extras, com esse acidente.
— Eu sinto muito, de verdade. — mais uma vez tentei me desculpar,
diante do seu silêncio.
— Calada! — Sem a menor educação, ele ergue a mão para que eu pare
de falar. Grosseiro. — Você não olha por onde caminha? Tem ideia de que
acabou de manchar um terno de um milhão de reais? Não tinha ideia. Nem
pode pagar por isso, certo?
— Não, mas eu posso lavar, se quiser...
— A bebida o afetou. Fique tranquilo, foi um acidente. — a mulher que
está ao seu lado foi gentil ao dizer tais palavras, diferentemente do homem
arrogante. — Talvez a moça esteja querendo chamar a atenção. — ela
sussurrou, mas eu consegui ouvir.
Chamar a atenção? O que diabos ela quis dizer com isso? Os dois estão
tentando me humilhar? É evidente que eles estão querendo debochar de mim.
Não sei se são arrogantes assim o tempo todo ou se estão alcoolizados, o que
eu sei é que ninguém pisa em mim.
— Senhorita, eu não sei o que quis dizer com isso, mas eu não estou
tentando chamar atenção alguma, foi um acidente. Eu errei e não posso pagar
por esse terno. Realmente sinto muito e peço desculpa.
— Preste atenção por onde anda, garota bonita. — Ele foi arrogante e
depois me elogiou? Ou é demente ou se finge.
Estou indignada. É hora de eu sair daqui
— Senhor, eu já pedi desculpa. Peço licença...
— Calma. Não fuja, minha linda. Peço perdão se exageramos. Foi uma
brincadeirinha, meu bem. Venha, saia de perto deste vidro. — A mulher segura
meu braço e me faz parar ao seu lado.
Estou com medo da reação de Mariza. Droga! Ela está vindo em minha
direção, furiosa como um touro. Querendo fugir dessa situação, dou um passo
para trás e acabo me desequilibrando, caindo dentro da piscina. O choque com
a água aquecida seria maravilhoso se eu estivesse em uma parte rasa e
soubesse nadar. Começo a me debater, desesperada, gritando por ajuda.
— Socorro! — Engulo água. — Alguém me ajuda! Socorro! Eu não sei
nadar! — Todas as vezes que peço por ajuda, entra água pelo meu nariz.
Estou sentindo o peso da água sobre o meu peito. Eu não aprendi a nadar,
e isso é uma droga neste momento. Parece que ninguém virá me ajudar. Sinto o
ar faltar em meus pulmões, sufocando-me, e os meus braços estão cansados.
Eu vou morrer de uma maneira tão trágica. Começo a pensar na minha mãe e
em como ela ficará triste com a minha partida precoce. Meus sentidos estão
sumindo, e o barulho da música já não consigo mais ouvir.
Triste fim. — pensei.
Estou imaginando coisas ou alguém me agarrou pela cintura, trazendo-me
para cima? Meu corpo está boiando graças a quem está me segurando.
— Respire fundo e fique tranquila. Vamos sair daqui. — A voz rouca foi
sensual para os meus ouvidos e eu a associo à de um anjo, por ele estar me
salvando.
Com a ajuda de mais algumas pessoas, sou colocada para fora da piscina
e deitada sobre o chão frio. O ar está pouco em meus pulmões.
— Ela está morta? — alguém perguntou.
— Alguém sabe fazer respiração boca a boca?
— Eu faço.
Minha visão está turva, então não consigo ver, com clareza, quem faz
respiração boca a boca em mim. Meu nariz é tapado por uma mão forte,
grande, e uma pessoa enche meus pulmões de ar uma, duas, três vezes, até que
eu consigo respirar com mais calma. Sou tomada em braços fortes e levada
para algum lugar, longe de toda a barulheira. Estou me sentindo cansada. Sou
deitada sobre uma cama confortável. Meus olhos estão fechados. Sempre que
fico assustada, não consigo mantê-los abertos.
— Respire fundo. O doutor virá examinar você.
Falta-me voz. Começo a chorar, apavorada. Toda essa situação me
deixou com muito medo.
— Tranquila, tranquila... — Alguém segura a minha mão fortemente. Pela
voz grossa, é um homem.
Quem está me ajudando?
Como me falta forças para ficar acordada, acabo me entregando a uma
profunda escuridão.
CAPÍTULO 2

Memórias é tudo o que me resta dela. Como eu poderia me esquecer de


todos os lindos momentos que tivemos juntos, de todas as vezes que
caminhávamos pelos corredores da faculdade e da sua risada contagiante?
Sofia era a mulher mais bonita que eu já havia conhecido, com lindos olhos
azuis e uma docilidade na voz. Tudo me encantava nela. Ela era bela dos pés à
cabeça, ela era minha. Seria minha se Viktor não tivesse entrado em nossos
caminhos. Meu próprio irmão, tendo conhecimento dos meus sentimentos por
Sofia, teve a audácia de conquistá-la. Foi ele quem a desposou, que a levou
para o altar e para a cama. Enquanto eles eram felizes, eu precisava reprimir o
meu amor. Ele se deitava todas as noites com ela, e eu ficava bebendo,
sofrendo por uma mulher que nunca seria minha.
Éramos jovens e eu me deixava levar pelos meus sentimentos. O que era
um erro. Eu amei Sofia intensamente, de corpo e alma, e a única coisa que ela
foi capaz de me dar foi um beijo arrebatador que me fez agir como um bobo
apaixonado. Ela brincou com os meus sentimentos e me traiu da pior maneira
possível, com o meu irmão mais velho. Nunca perdoei Viktor por isso. Anos
se passaram e ainda existem mágoas em meu coração. Minha relação com ele
não é uma das melhores que existe e eu o vejo como um traidor. Todas as
vezes que encaro sua face, recordo-me do passado distante. Ele se casou com
a mulher que eu amava, não se importou com os meus sentimentos.
Quando eu soube que Sofia estava grávida, todas as minhas esperanças
de um futuro ao seu lado foram aniquiladas. Durante o período do casamento e
do nascimento da minha sobrinha, eu estive afastado de todos, mantendo
contato apenas com a minha mãe. Era melhor assim. Eu não queria fazer
besteira, algo pelo qual eu poderia me arrepender futuramente. Havia lhe
perdido para sempre. E foi nesse dia que decidi nunca beber uma gota de
álcool por ela, que mataria o meu amor por ela.
Eu estava em Milão, era uma noite chuvosa, com muitos raios e trovões,
quando minha mãe me ligou, avisando-me do acidente de Sofia. Fiquei sem
chão naquele momento e não tinha esperança alguma de vê-la retornar à vida.
E o pior aconteceu tempos depois. Sua morte não foi nenhum choque para
mim. Pobre Bia, tão pequena e sem mãe. Eu ainda não conhecia a minha
sobrinha quando sua mãe partiu, e nesse momento decidi que voltaria para o
Brasil depois de anos. Precisava ficar ao lado da Bia e da minha mãe.
Viktor sofria, eu via. Ele nunca se recuperou totalmente da perda da sua
esposa. Não somos melhores amigos, mas também não quero ser mais seu
inimigo. Não o vejo como alguém em quem eu possa confiar e conversamos
somente o necessário. Ele nunca me proibiu de estar com sua filha, que, aliás,
é a cara da mãe. Sofia está presente em cada partícula de Bia; ambas possuem
o mesmo olhar e sorriso.
Desde então, vivo a minha vida viajando, curtindo e trabalhando. Eu não
tinha interesse pelos negócios, até decidir fazer parte do conselho da empresa
do papai e abrir a minha própria empresa de construção. Adoro construir
hotéis, como Viktor. É um legado de família que deve ser honrado.
Um Avillar possui um dilema: “Uma mulher bonita sempre é uma mulher
bonita”. E isso é independentemente de como ela estiver vestida. Se estiver
nua, melhor ainda para os meus olhos. Elas são como um colírio à visão
humana. Confesso que sou completamente viciado em bocetas, que esse é o
meu maior vício. Gosto de uma mulher diferente na minha cama a cada noite,
do jogo da conquista, de tê-las rendidas e de ouvir os gemidos muitas vezes
escandalosos.
Sou um bilionário renomado, respeitado no mundo dos negócios e
implacável entre quatro paredes. Minha maior diversão é beber whisky e
admirar belas mulheres loucas para me dar. Sou atraente, bonito, desperto a
atenção de todas que cruzam o meu caminho e nunca perdi uma oportunidade
de levar uma delas para a cama. Claro... Sempre me prevenindo para evitar
surpresas indesejadas.
O maior sonho da minha mãe é ver eu e meu irmão casados. Viktor já
passou por essa experiência, mas desde que perdeu sua esposa, nunca mais
voltou a se relacionar sério com nenhuma mulher. Já eu passo longe de um
altar. Mulheres são para se divertir. Casamentos existem somente para causar
dores de cabeça, como dizem meus amigos casados. Todos obedecem às
esposas como se elas fossem suas mães. Duvido que, algum dia, uma mulher
consiga mandar em mim. Não nasci para receber ordens, e sim para dar
ordens.
Algumas delas me chamam de cachorro, safado, ordinário, devasso,
arrasador de corações, entre outros adjetivos, pelo simples fato de eu nunca
levar ninguém a sério, não assumir nenhum relacionamento. Tenho, sim, noção
de quantos corações eu já parti ao longo da vida. Foram muitos. Porém, todas
as mulheres que passaram pela minha cama, entregaram-se a mim por livre e
espontânea vontade. Nunca precisei obrigar nenhuma a se entregar a mim,
todas estiveram comigo porque desejaram.
Os anos se passaram e nossas vidas continuam a mesma coisa. Meu
coração nunca mais permitiu que uma mulher invadisse as barreiras do meu
corpo. Já tive uma experiência com o amor, e ela não foi proveitosa. Jurei
para mim mesmo que jamais amaria de novo. Amar não é para os fracos, e sim
para quem não tem lucidez. Esse sentimento nos deixa vulneráveis a ponto de
nos fazer cometer loucuras em nome de um amor que, muitas vezes, não é para
sempre. Prefiro ter uma aventura nova a cada noite a me ver vulnerável a uma
mulher. Cheguei à conclusão de que a curtição é melhor que o amor. Uma
moça linda a cada noite é melhor do que estar vivendo preso às correntes
desse sentimento; correntes que machucam a alma.
Quando eu soube que Viktor viria para João Pessoa no próximo mês,
organizei uma viagem de última hora, ciente de que haveria uma grande
inauguração de um hotel seu. Vim conhecer a área, pois pretendo expandir
meus negócios no litoral paraibano. Contratei os melhores especialistas de
marketing para planejarmos uma grande inauguração daqui a alguns meses.
Pretendo construir não apenas um hotel, e sim o melhor resort à beira-mar de
todo o estado, de todo o Nordeste, elevando o grau da minha empresa para
uma categoria máxima. O lugar mais alto do pódio será meu. Ganhar do meu
irmão é sempre uma grande satisfação. Nossa rivalidade é algo divertido para
ambos.
Viktor não é nenhum santinho. O viúvo também encontrou prazer em
desafiar seu irmão mais novo. Poderíamos ser a dupla perfeita, mas prefiro
caminhar e vencer sozinho.
— Ao longo dos últimos cinco anos fizemos tantas viagens, que não sei
dizer qual lugar que visitamos é o mais bonito. — Paola se aproxima de mim,
usando um biquíni minúsculo. O bronzeado artificial a deixa ainda mais sexy.
— Você está ficando mal-acostumada a sempre estar comigo. — Bebo
uma dose de champanhe.
— Fazer o que, se você roda, roda, mas sempre volta para mim no final?
— Convencida, ela se senta em meu colo, fazendo movimentos de vai e vem
sobre o meu pau.
Comer Paola é um passatempo divertido, porém ela não passa de uma
amante e uma boa acompanhante em viagens. Não é sempre que a levo para
cama, pois há viagens em que estamos juntos e ela sai com quem desperta a
sua atenção, e eu do mesmo modo. Nunca nos prendemos. Eu sei que ela sente
bastante atração por mim, no entanto a considero apenas como uma amiga.
Nossa amizade é colorida, sem compromissos, sem cobranças. Talvez seja por
isso que eu a tolere. Ela é uma herdeira, filha única, mimada; uma patricinha
de olhos castanhos, pele moreno-clara, lábios carnudos e corpo modelado. É
gostosa para caralho. Contudo, por mais que seja prazeroso comer sua boceta,
ela não passa de uma amiga.
— Não me provoque, Paola. Sabe que não vamos ter nenhuma relação
sexual nesta viagem. Concordamos com isso, lembra?
— Você está com medo de se apaixonar por mim. — Ri.
— Querida, é mais fácil um raio cair sobre a minha cabeça do que eu,
Kauã Avillar, me apaixonar por você ou por qualquer outra mulher.
— Insensível! — Finge estar irritada.
Sei que é um jogo, então não irei cair.
— Aconselho você a se arrumar. A festa será daqui a algumas horas. E se
deseja ser minha acompanhante, é melhor estar pronta na hora certa.
— Tem razão, querido. Nos vemos mais tarde. — Sai rebolando sua
bunda grande siliconada.
Paz é tudo o que desejo. A rotina cansativa de trabalho no mundo dos
negócios consegue esgotar todas as minhas forças. Até então, amo o que faço.
Um dos meus maiores prazeres é me tornar um homem mais rico a cada minuto
que passa e meus negócios são sucessos sempre.
Ligação da minha mãe. Já é a terceira vez que ela me liga em dez
minutos. Acho melhor eu retornar e saber o que deseja. Acredito que esteja
preocupada, pois há alguns dias não dou notícias.
— Mãe?
— Kauã Avillar! O que deu em você, filho, para não dar notícias à sua
mãe? Hoje faz doze dias que você não me diz nem se está vivo. Querido, eu
fico preocupada.
— Desculpe, mãe. Prometo que não farei mais isso.
— Acho bom. Diga-me onde está. Viajando?
— Sim. Estou fora do Brasil.
— E quando volta para casa, filho? A Bia está com muita saudade.
— Também estou com saudade dela. Dentro de alguns dias estarei em
casa. — menti.
No momento, ninguém da minha família precisa saber do meu novo
projeto. Prefiro que eles saibam quando tudo já estiver acertado. Por isso não
quero a imprensa na minha festa, e a recepção será apenas para fecharmos o
negócio. Eu trouxe uma atração internacional para deixar o ambiente com mais
cara de luxo, e espero que funcione, que tudo ocorra bem.
Observo o belo pôr do sol, da piscina, sentado em uma cadeira de praia.
Gosto de lugares afrodisíacos. Não é à toa que escolhi um tema mais sensual
para o evento, algo extravagante que despertará a atenção de todos.
Afrouxo um pouco o nó da minha gravata, encaro-me diante do espelho e
repito para mim mesmo que sou um vencedor, que tudo vai dar certo e que
nada estragará a minha noite. Dito isso, caminho até o local da festa. Tudo está
como imaginei: a piscina com água quente e a ornamentação com uma pegada
sexual, nada casual para um encontro de negócios. Aprendi uma coisa nesta
vida: se você quer convencer investidores, surpreenda-os. E é isso o que farei
nesta noite, primeiro com uma apresentação ao vivo do cantor Enrique
Iglesias. Meus investidores possuem descendência espanhola, portanto
planejei um show de um conterrâneo para os impressionar.
Cumprimento os demais convidados, pessoas importantes e amigos de
faculdade. A noite promete ser esplêndida. Apresento o plano para o senhor e
a senhora Maldonado, que gostam bastante da ideia e se mostram animados.
Quando o cantor surge no palco, a esposa do senhor Maldonado fica
bastante animada e entusiasmada para ouvir algumas canções românticas. As
músicas de letras fortes e marcantes cantadas por uma voz original e afinada
são ótimas para o relaxamento depois de um dia longo, para algumas pessoas.
Estou perto da piscina, quando Paola se aproxima.
— Estou bonita? Passei horas me arrumando. Um elogio seu e ganho o
meu dia.
— Está bonita, como sempre.
Ela abre um sorriso provocador e eu vejo o quanto está louca para me
dar.
— Você está muito bonito. Diga-me qual será sua caça nesta noite, seu
novo brinquedinho.
— Nenhuma mulher chamou a minha atenção.
— Ninguém nunca é bom o bastante para você, senhor perfeição. —
Paola adora me provocar, e quando está ingerindo bebidas alcoólicas, fica
mais atrevida que o normal.
— Preciso falar com meus investidores. — mudei de assunto, na
esperança de ela me deixar em paz.
— Eu te desafio.
— Me desafia?
— Sim. Você se acha o gostosão. E, droga, realmente é. Mas eu te desafio
a conquistar a mulher menos improvável de se apaixonar por você. Todas
sempre se apaixonam. Eu te desafio a pedir uma garota em namoro.
— Você está me desafiando a destroçar o coração de uma moça?
— Essa será uma consequência inevitável, no entanto será engraçado.
Você tem medo de se apaixonar novamente, medo de ser trocado, por isso não
assume nenhum relacionamento. Se conquistar uma mulher e a pedir em
namoro, eu te passo a escritura da minha casa de praia.
— Tentador. Você sabe que sou louco pela sua casa de praia. Aquela
propriedade possui a vista mais bela de todo o país.
— O que me diz? Te desafio a ficar com a mesma garota por um mês,
sem ter outras mulheres.
— Não gosto desses jogos.
— Você é mesmo um covarde. Tem medo de se apaixonar, Kauã Avillar?
Ninguém debocha assim de mim. Eu não tenho medo de me apaixonar, só
prefiro ter várias em vez de uma. Não sei se estou tomado pela irritação,
porém mostrarei a ela que não irei me apaixonar.
— Eu aceito. E quem seria essa garota?
— Tem que ser uma moradora desta região, pois ficaremos um pouco
mais de um mês neste lugar. Será divertido vê-lo brincar de namoradinho fiel.
— E quem seria essa moça?
Sinto um choque sobre meu corpo. Em seguida, algo gelado molha minha
camisa e meu terno caríssimo. Droga! Quem diabos está querendo estragar a
minha noite? Furioso, encaro a garçonete que está me olhando com cara de
choro. Ela é cega, por acaso? Não me viu, para esbarrar em mim?
— Meu Deus! Mil perdões vezes mil. Eu sinto muito, senhor. — sua voz
doce, suave, nervosa e tomada pelo temor soaram como canções para os meus
ouvidos.
A menina está muito assustada, a ponto de tentar enxugar o molhado do
meu terno com suas mãos pequenas e delicadas. O que diabos ela está
fazendo? Por acaso não vê que isso só está piorando a situação e não está
ajudando em nada? Que mulher imbecil. Será que alguém a enviou aqui para
arruinar minha noite? Parece um castigo ela ter surgido de repente, estragando
o meu terno. O visual de um empresário é muito importante.
— Eu sinto muito, de verdade. — mais uma vez tentou se desculpar,
diante do meu silêncio.
Estou me controlando para não a xingar. Se eu descobrir que isso tem
alguma relação com o meu irmão... Ele pode ter descoberto algo sobre meu
possível negócio e estar dando um jeito de estragá-lo.
Furioso, falo sem pensar:
— Calada! — Sem a menor educação, ergo a mão para que ela pare de
falar. — Você não olha por onde caminha? Tem ideia de que acabou de
manchar um terno de um milhão de reais? Não tinha ideia. Nem pode pagar
por isso, certo?
— Não. Mas eu posso lavar, se quiser...
Lavar? Fala sério!
— A bebida o afetou. Fique tranquilo, foi um acidente. — Paola pediu,
calma. Seu lado gentil é algo que desconheço. — Talvez a moça esteja
querendo chamar a atenção. — sussurrou.
Chamar a atenção? Certamente. Está querendo estragar a minha noite.
Maldição!
— Senhorita, eu não sei o que quis dizer com isso, mas eu não estou
tentando chamar atenção alguma, foi um acidente. Eu errei e não posso pagar
por esse terno. Realmente sinto muito e peço desculpa.
Analiso bem toda a situação. Não é possível que seja algo relacionado
ao meu irmão; e caso seja, posso inverter esse jogo, usando a mulher para lhe
dar o troco. Respiro fundo. Pensando bem, estou agindo como um completo
idiota, falando de valores com alguém que não pode nem pagar por um
apartamento simples. Não é do meu feitio falar essas bobagens.
A moça possui olhos azuis lindos, os mais belos que já vi em toda a
minha vida. Inclusive, são mais bonitos que os de Sofia. Não pode ser. Como
é possível que alguém seja tão bonita, mesmo estando vestida com este
uniforme de garçonete? Seja lá qual for o seu nome, ela deveria se chamar
“linda”, pela sua beleza tão rara, aparentemente sem nenhum botox ou cirurgia;
tudo natural. Há muito tempo eu não contemplava uma beleza assim. O rosto é
angelical e a carinha é de bebê inocente.
O que está acontecendo? Meu pau está duro por ela? Essa desconhecida
nem parece ter dezoito anos. Se muito tiver, é dezessete. Não sinto atração por
crianças. Ela é uma bebê e está me deixando louco, em chamas.
— Preste atenção por onde anda, garota bonita. — mudei meu tom de
voz. Ela não merece desaforo.
Eu a deixei sem reação. — pensei.
Logo em seguida, sua expressão dura me encara. Ela é um anjo que caiu
do céu, não tenho dúvida.
— Senhor, eu já pedi desculpa. Peço licença...
— Calma. Não fuja, minha linda. Peço perdão se exageramos. Foi uma
brincadeirinha, meu bem. Venha, saia de perto deste vidro. — Paola a puxa
pelo braço.
Se essa moça se cortar aqui haverá problemas para nós, principalmente
para mim caso ela faça um escândalo
Estou hipnotizado. Parece que as portas do céu se abriram e a deixaram
sair. Um anjo inocente está diante de mim, exalando o perfume das flores mais
lindas. Ela é tão bonita, que eu poderia admirar sua beleza por horas, sem
reclamar. É o tipo de mulher com quem eu passaria a noite inteira acordado,
devorando seus lábios rosados. Rosto de bebê e corpo de mulherão. Suas
pernas grossas me deixam loucos, e a bunda grande, empinada, faz eu ter
delírios, imaginando-a rebolando em meu pau. Pergunto-me se ela já fez sexo.
Se não fez, adoraria ensiná-la.
Em questão de segundos, a menina cai dentro da piscina. Parecia
assustada ao recuar para trás e se chocar contra a água. Observando-a, vejo
que ela parece não saber nadar.
— Socorro! Alguém me ajuda! Socorro! Eu não sei nadar! — ela gritou
por ajuda.
Sem pensar duas vezes, pulo na piscina, sentindo uma necessidade grande
de ajudá-la depressa. Sua beleza me atrairia até para o fundo do mar. Sou um
ótimo nadador, pois fiz aulas de natação. Nadar é um hobby para mim.
Ela se debate, assustada e cansada. Já engoliu tanta água, que está sem
fôlego. Consigo pegá-la.
— Respire fundo e fique tranquila. Vamos sair daqui.
Agarro-a firmemente e, com a ajuda de algumas pessoas, consigo tirá-la
da piscina. Vejo que o ar está pouco em seus pulmões e que ela precisa de uma
respiração boca a boca, de um médico.
— Ela está morta? — Paola perguntou.
— Alguém sabe fazer respiração boca a boca? — outra mulher
questionou.
— Eu faço. — respondi.
Seu nariz é tapado pelas minhas mãos e eu encho seus pulmões de ar uma,
duas, três vezes, até que ela consegue respirar com mais calma. O anjo que
estava desfalecendo, está voltando à vida.
— Ela está bem. — disseram.
— Chame um médico. Vou levá-la para a minha suíte. — pedi.
Não sei por que estou preocupado dessa maneira. Tomo-a em meus
braços, levo-a para a suíte e a deito sobre a cama. Tem algo estranho
acontecendo com ela; talvez seja por conta do medo ou alguma coisa
relacionada.
— Respire fundo. O doutor virá examinar você.
Seus olhos estão fechados e lhe falta voz. Ela começa a chorar,
apavorada. Toda essa situação a deixou com muito medo. Não me canso de
olhar para o seu lindo rosto angelical. Mesmo chorando, continua mais linda
do que nunca.
— Tranquila, tranquila... — Seguro sua mão fortemente, e o choque que
tenho me faz lembrar de algo do passado.
O que está acontecendo? Essa mulher que eu nunca havia visto na vida
está me deixando com sensações estranhas que há muito tempo eu não tinha.
A porta do quarto é aberta e Paola entra, curiosa. Solto a mão da menina
rapidamente.
— O doutor chegou. — Ela me chama com o olhar para irmos até a
sacada e eu a acompanho, mesmo querendo ficar ao lado da garota, segurando
a sua mão. Que diabos está acontecendo comigo? — É impressão minha ou
você estava segurando a mão da garçonete?
— Você deve ter visto errado.
— Kauã Avillar, você está todo tenso, preocupado com aquela garota. O
que está acontecendo com você, querido? Por acaso está apaixonado? Não me
diga que é paixão à primeira vista. — enciumada e tomada por um rancor que
nunca vi antes, Paola me provocou.
Ela só pode estar louca, acreditando que estou apaixonado por uma
garota que acabei de conhecer.
— Parece que foi você que caiu na piscina e bateu a cabeça. Está
pirando.
— Olha só, querido, eu sei o que vejo, não sou maluca. Mas se você está
tão confiante assim, por que não elege ela para ser a garota da nossa aposta?
Claro... Se você for capaz de fazer isso. Se parece já estar apaixonado com
um simples olhar, quem dirá quando a levar para a cama.
— Em primeiro lugar, eu nunca irei me apaixonar por mulher alguma.
Não sou frouxo a esse ponto. E se você duvida, posso te provar. Aceito o seu
desafio.
Olho para trás e vejo a garota sentada sobre a cama, sendo examinada
pelo médico. Seus cabelos molhados e as roupas encharcadas me fazem sentir
a necessidade de conseguir vestimentas novas para ela não resfriar.
Encaro Paola.
— Busque uma roupa sua para a moça.
— Você tem ideia de quanto custa minhas roupas? — Revira os olhos e
sai para a buscar.
As duas têm o mesmo perfil de corpo, ou quase, sendo a moça misteriosa
mais bela.
Suspiro, pronto para retornar ao quarto. Ela me olha receosa. Não é para
menos. Como pude ser grosseiro com uma menina linda, tão delicada? Seu
olhar doce pairado sobre mim, transmite-me um misto de sentimentos que há
muito tempo eu não tinha. Quando eu a olho, sinto que estou no paraíso. Ela
consegue me passar paz, algo que eu precisava.
Ah, doce garota, você acabou de se tornar a minha mais nova obsessão.
CAPÍTULO 3

O doutor acabou de me dizer que tudo não passou de um susto e que não
devo me preocupar, pois estou bem. Confesso que pensei que morreria
afogada. Um final trágico. Seria uma morte horrível e dolorosa para aqueles
que iriam me perder, principalmente a minha mãe. Se ela sonhar com esse
pequeno acidente, é capaz de enlouquecer somente por imaginar as graves
consequências que ele causaria. Pensando bem, é melhor eu não contar para
ela, nem para Giulia. As duas ficariam enlouquecidas.
Respiro fundo, fazendo os exercícios de respiração que o doutor me
ensinou. Estou apreensiva com Mariza. Ela vai me matar e não vai se esquecer
desse acidente. Provavelmente, irá querer descontar do meu dinheiro. Isso se
não descontar todo de uma vez, sem se importar com o bom serviço que
apresentei até o momento em que caí na piscina.
— Qualquer coisa, basta entrar em contato comigo. Este é o meu cartão.
— Muito gentilmente, o médico se levanta, indo na direção do belo homem de
olhos azuis, que foi arrogante comigo. Somente agora percebi a sua presença
no quarto.
Parece que estou mais sem fôlego neste instante do que quando estava na
piscina, tentando não me afogar. Esse homem possui a beleza dos deuses
gregos. Eu diria que é o mais bonito que já vi em toda a minha vida. Seus
olhos azuis são penetrantes, de uma tonalidade profunda, escuros como o
fundo do mar, misteriosos e sensuais; são de fazer cair o queixo. Estou
praticamente babando com toda essa beleza exuberante. Ele é como o sol
parado diante de mim e não consigo ver nada além ao seu redor, somente sua
beleza, os ombros largos e os braços fortes, malhados. Oh, céus! Ele deve ter
um tanquinho maravilhoso.
Observo-o apertar a mão do médico em agradecimento. É inevitável não
estar presa ao seu olhar sedutor e devasso que está me fazendo ter sensações
estranhas e, até então, desconhecidas. Eu já tive muitas paixões ao longo da
minha vida, como o garoto do terceiro ano, que tinha uma tatuagem no braço
esquerdo, outro que vi de passagem no shopping e os muitos maridos literários
que conheci, mas nada se compara ao que estou sentindo agora. É possível que
eu tenha me apaixonado à primeira vista por alguém que foi arrogante comigo
e nada gentil? Deve ter entrado água em meu cérebro ou algo do tipo, porque
não é possível que meu coração esteja batendo acelerado por causa destes
olhos azuis que estão fitando os meus.
Sinto um choque, uma corrente elétrica passar pelas minhas veias, que
pulsam freneticamente, queimando-me de uma maneira brutal. Engulo em seco
quando o homem caminha e fica o mais próximo possível de mim. Não
desviaria meu olhar do seu nem se um meteoro caísse dentro deste quarto
agora. Ele está molhado, assim como eu, inclusive seus cabelos lisos, loiro-
claros, e o terno caríssimo que ele fez questão de me dizer que eu nunca
poderia pagar. Cretino, ousado! Será que ele pulou na piscina para me salvar?
Foi ele quem fez respiração boca a boca em mim?
O doutor me disse que os primeiros socorros foram prestados com muita
agilidade. Ou seja, se não fosse por esse homem, que me tirou da piscina,
talvez eu teria morrido, pois nenhuma daquelas pessoas tinha notado que eu
estava me debatendo e me afogando. Se ele realmente me salvou, meu coração
se enche de gratidão pelo seu ato. Apesar de tudo, mostrou-se ser muito
generoso. Só de imaginar que estes lábios sedutores fizeram respiração boca a
boca em mim, chamas se acendem, queimando todo o meu ser.
— O doutor me disse que você está bem. — A sua voz possui um grave
rouco muito sensual, que me causa arrepios.
Jesus amado! Ele é realmente incrível, exala poder e soberania. Seja lá
quem for, eu queria saber ao menos o seu nome. Poderia lhe stalkear em um
piscar de olhos e descobrir se é casado. Se bem que não está usando aliança e
não há marca ou sinal de que uma já esteve em seu dedo anelar. Contudo, os
casais de hoje em dia são mais modernos e não usam alianças o tempo todo,
sendo que outros nem sequer a usam. O compromisso não está nesse objeto, e
sim baseado no amor e no respeito.
Um leve grau de esperança me invade. Se ele não é casado, é mais um
homem bonito dando o ar da graça por onde passa. Tem cara de pegador.
Posso estar enganada, mas algo me diz que ele tem um beijo vagabundo,
daqueles de tirar o fôlego, uma pegada sensual e envolvente. É tão bonito, que
aposto que muitas mulheres se jogam aos seus pés, querendo estar na sua
cama. E, com certeza, ele leva todas lá para fazer safadezas. Não nega ser um
sedutor nato. Mesmo assim, eu adoraria passar pela sua cama também.
Droga! Que pensamentos são esses? Quem já se viu? Como se eu tivesse
coragem de me envolver com alguém que não conheço e por quem não sinto
nada. Oh, céus! Estou ficando doidinha. Para estar com um homem, entregue
de corpo e alma, eu tenho que estar muito apaixonada e confiar plenamente
nesse parceiro. O meu cérebro congelou, por isso estou pensando em tantas
besteiras.
— Sim, eu me sinto bem. Tão bem, que preciso voltar para o trabalho. —
Fico sentada sobre a cama com os pés tocando no chão, que está gelado.
— Trabalhar? Não, você vai para casa descansar.
— Não posso. Eu preciso terminar de servir na festa.
— Como você quer trabalhar, se nem consegue tocar no chão direito?
Espere. Está com frio. Pedi uma roupa fresca para você, pois não quero que
fique doente.
— Como se você se importasse. Foi tão grosseiro comigo, que não sei
por que está aqui, e ainda pediu uma roupa seca para mim. Não precisa. —
Não perdi a chance de lhe dizer tudo que estava entalado na minha garganta.
Ele foi grosso, então mereceu ouvir isso, por mais lindo e sexy que seja.
Não consigo controlar a minha língua.
— Pois saiba que eu me importo. — Ele me deixou completamente sem
resposta. Tenho certeza de que não sou a única que ele deixa assim. — Eu
estou responsável por garantir que nada de errado aconteça nesta festa, ou os
meus superiores poderão me jogar no olho da rua. Você me entende?
— Essa parte de ser demitido, sim. Digamos que minha superior vive
sonhando com o dia em que eu falhe, para me demitir por justa causa. Por isso
devo voltar às minhas funções logo. — Minhas sapatilhas estão molhadas,
mas, mesmo assim, calço-as e me coloco de pé.
— Peço desculpa se fui grosseiro.
Tomada pela surpresa, arregalo os olhos. Estou acostumada com as
pessoas sempre pisando em mim, mas nunca se desculpando pelas grosserias.
— Tem água demais no meu ouvido? Ou eu escutei um pedido de
desculpa? — Cruzo os braços.
Ele esboça um sorriso modesto, porém muito lindo e safado.
— Escutou bem. Estou pedindo desculpa. Como eu disse, fui grosseiro
devido à tensão que estava à minha volta. Meus superiores são muito
exigentes.
— Entendo. E, desculpa aceita.
Ele conseguiu derrubar minhas estruturas. Não posso evitar o tremor que
estou sentindo agora. Alerta vermelho! Minha mãe sempre me alertou sobre
homens, para que eu nunca me deixasse levar por sorrisos bonitos e olhos
azuis. E agora estou hipnotizada por um par de olhos azuis. Ele é muito bonito,
como um fogo que se espalha pelo meu corpo. Minha querida mãe é marcada
pela dor do abandono, porque o meu pai a abandonou grávida. Nunca o
perdoamos. Essa é uma traição dolorosa.
— Se eu puder fazer algo para a compensar por esse imprevisto... —
Vendo que não estou compreendendo aonde ele quer chegar, ele sorri de lado
mais uma vez. Que tentação, meu Deus! — Os meus chefes querem evitar
qualquer escândalo pelo incidente da piscina.
— Por acaso eles pensam que eu vou armar um barraco e pedir uma
indenização porque tropecei e caí em uma piscina? — acabei sendo
debochada. Essa gente pensa que todo pobre é interesseiro.
— Sabe como é esse pessoal que vive de mídia.
— Posso imaginar. Mas diga aos seus chefes, seja lá quantos forem, que
não precisam se preocupar comigo. Agradeço por terem me trazido um
médico, mas caí porque tropecei sozinha. Então, não foi culpa de ninguém
além de mim. Eu me responsabilizo pelos meus atos. Eles podem dormir
tranquilos, porque não vai haver nenhum escândalo.
O homem parece surpreso com o que acabei de dizer e insiste, ainda
preocupado:
— Um bônus será acrescentado ao seu pagamento.
— Olha, cara, eu estou muito a fim de ganhar uma boa grana, mas não do
jeito errado. Já falei para não se preocuparem, não vai haver escândalos.
Que irritante. Por que eles pensam que sempre há alguém querendo
chamar a atenção? Será que foi por causa do que a acompanhante dele disse
de mim sobre isso?
— Se foi pelo que sua acompanhante, namorada, ou esposa disse sobre
eu estar querendo chamar a atenção, não tem nada a ver com um escândalo, eu
apenas não levo desaforo para casa, principalmente de pessoas que são
arrogantes. — mais uma vez dei uma patada nele. Nunca perco a chance.
Sei que nunca mais o verei, por isso quero deixar minha marca. Se ele
conseguir se lembrar de mim algum dia, que seja por eu ter lhe dito tudo que
estou pensando em relação a ele.
— Você não vai me perdoar, nunca, pelo que eu disse, não é mesmo?
— Eu disse que aceitei suas desculpas.
— Por favor, ignore o que Paola falou sobre você. Ela só estava
assustada. E, a propósito, ela não é minha esposa, nem minha namorada, é a
minha irmã.
— Irmã? — acabei falando mais alto do que pensei. Droga! — Longe de
mim ser preconceituosa, eu só quero dizer que vocês são diferentes. Mas isso
não significa que não possam ser irmãos.
— Mães diferentes. A mãe dela era baiana e meu pai se apaixonou por
ela. Sabe como é. Paola é minha única irmã. — Agora ele está me falando
sobre sua família.
— Interessante. Deve ser legal ter uma irmã.
— Filha única? — mostrou-se interessado.
— Filha única. Somos apenas eu e minha mãe.
— Sinto muito pelo seu pai.
— Não sinta. Ele não está morto, é só um sem-vergonha que abandonou a
minha mãe grávida e nunca mais apareceu. O que é ótimo, pois ele poderia vir
coberto de ouro, implorando pelo meu perdão, que eu não aceitaria. —
expressei todo o meu ódio.
É errado odiar o próprio pai? Se você fizer essa pergunta a algum
religioso, ele vai dizer que sim e que devemos perdoar; mas se a fizer para
mim, direi que não é errado. Errado é um pai abandonar um filho e o
desprezar como se ele fosse algo descartável.
— Olha eu te enchendo com meus problemas. Desculpa.
— Pode expressar tudo que está sentindo. De alguma forma, estou lhe
devendo, por ter sido arrogante com uma menina tão linda.
Essa foi a segunda vez que ele disse que sou linda. Meu coração acelera
como nunca antes e eu tento salivar, porém não consigo. Minha garganta secou
de repente. Se o seu propósito era me deixar sem jeito, conseguiu.
— Você não está em dívida comigo. Se foi a pessoa que me tirou do
fundo da piscina, eu que estou em débito com você.
— Sim, eu fui esse homem. E, a propósito, sou Kauã.
— Micaella. Mas todo mundo me chama de Mica. — Por que eu lhe
disse meu apelido? Agora estou perturbada. Tenho certeza de que estou.
Meu Deus! Preciso sair daqui antes que me atire em seus braços.
— Um nome tão bonito quanto a pessoa que o carrega. Você é muito
bonita, Micaella. Sabia disso?
Abro a boca por uns instantes. Ele só pode estar zombando da minha
pessoa. Não é possível que eu esteja passando por isso. É inacreditável o dom
que as pessoas têm de ferir as outras sem se importar com os sentimentos
delas. Nunca tinham ido tão longe, como ele está indo agora. Desta vez não
tem perdão. Eu não admito ser motivo de chacota para ele, nem para ninguém.
E eu acreditando na sua boa educação repentina. Iludida.
— Meu Deus! Agora você está tirando onda com minha cara. Diga-me o
que eu fiz para merecer primeiro sua arrogância e, agora, ouvir seus deboches.
— Uma lágrima solitária escorre pela minha face.
Nem ele, nem ninguém tem o direito de debochar de mim. Não mereço
tamanha ofensa. Ora! Como se ele fosse encontrar beleza em mim, vestida
como garçonete, diante de tantas mulheres lindas, cobertas por joias, na festa.
— O quê? Micaella, eu não estou ridicularizando você. Pelo contrário.
Estou enaltecendo a sua beleza. Perdão se falei algo que não gostou, apenas
não pude me conter diante de tanta beleza. Eu não quero ser arrogante, só
estou hipnotizado pelos seus olhos azuis.
Kauã não parece estar mentindo. Não há ar de deboche em sua face.
Como eu pude ser tão tonta, a ponto de ele estar precisando me dar
explicações? Ou ele é muito bom com as palavras e em me convencer de que
está sempre certo ou eu sou muito tola e burra para cair no seu joguinho. Se é
que há um jogo por trás disso. Quisera eu poder saber de tudo. Mas,
infelizmente, nós, mortais, nunca sabemos de nada.
— Por favor, pare de brincadeiras. — agora ele me fez gaguejar.
Ninguém nunca me fez isso antes, nenhum dos garotos de quem já gostei.
— Eu não sou homem para brincadeiras, Mica. — chamou-me pelo meu
apelido, deixando meu coração derretido com o seu modo de falar. — Quando
digo que estou hipnotizado pelos seus olhos azuis, não estou mentindo. E não é
somente eles que estou apreciando. — O que mais ele está apreciando? A
resposta vem em seguida. — Eu gostaria de poder beijar os seus lábios
rosados.
Kauã quer me beijar? Como ele quer me beijar? Acabamos de nos
conhecer.
Engulo em seco pela milésima vez somente depois de ter passado alguns
minutos em sua companhia. Minha respiração está fora do ritmo,
descompassada. Mais uma vez, ele me deixou sem resposta, paralisada diante
de sua exuberância e do vigor de sua postura, exalando uma beleza fascinante,
a qual estou tendo o privilégio de estar controlando.
Tenho a sensação de que ele se aproximou mais de mim com o intuito de
me beijar. E agora? O que farei?
— E, então, Micaella... Eu posso beijar você? — perguntou, ficando a
poucos centímetros de mim. Arregalo os olhos, que já são grandes, agora
assustados. — Você quer ser beijada? — Sua mão grande e macia toca em
minha bochecha.
Engulo em seco. Nunca me tocaram com tanta intensidade, como ele.
— Eu...
— Acho que sua resposta é “sim”. — ele disse, convencido, diante do
meu silêncio. Não estou conseguindo falar devido ao nervosismo que se
apodera de mim.
Seus lábios sedutores parecem possuir alguma espécie de ímã, que
puxam os meus para junto deles. Ao menos essa é a sensação que tenho.
Primeiro sinto como se estivesse em um sonho, depois sinto que estou
despertando aos poucos. Não sei dizer o que mudou. Como posso permitir que
sua boca tome a minha? Um beijo avassalador aniquila todas as minhas
defesas e eu me mantenho segura do que estou fazendo. Sua língua é bastante
habilidosa, invadindo toda a minha boca. Eu nem sei o que estou fazendo ao
certo, no começo fico meio perdida. Como eu disse, já beijei garotos, mas
nunca com a volúpia de agora.
Solto um gemido abafado pelos seus lábios. Caramba! Como ele tem um
hálito gostoso, com cheiro de menta e whisky. Seu perfume é amadeirado, no
entanto não é forte; tudo é na medida certa. Kauã me deixa sem ar, e suas mãos
em volta da minha cintura apertam meus quadris com muito desejo. É um
menino levado, que sabe onde me tocar e consegue me fazer gostar disso,
permitindo que ele me tome nesse beijo arrebatador e gostoso.
Eu nunca tinha sido beijada assim. É delicioso e me faz sentir um calor
na minha intimidade. Nenhum homem jamais tinha me feito sentir calor lá.
Mérito para Kauã. Ele é safado e vai descendo suas mãos grandes, querendo
apertar meu bumbum. O beijo até permito, mas ele pegar na minha bunda
assim, logo de cara? Quem pensa que eu sou? Uma vadia? Sem afastar nossos
lábios, faço-o subir as mãos novamente e pegar apenas na minha cintura.
— Que beijo gostoso, linda. — sussurrou antes de morder meus lábios.
“Linda”. Esse é meu novo apelido?
Sua língua continua enlaçando a minha. Como ele pode ser tão gostoso
assim e me levar à loucura a ponto de me fazer imaginar nós dois sem roupas
sobre esta cama, amando-nos com nossos corpos molhados. Isso está
começando a ficar insano demais, devo me afastar.
Tento me afastar dele, porém ele me segura com mais firmeza.
— Não pare, está delicioso demais. — ele sussurrou e engoliu minha
língua.
O calor do seu corpo aquece o meu e eu posso sentir algo duro na altura
do meu umbigo, querendo me rasgar. É seu pênis rígido tomando forma?
Caralho! Ele está excitado! Eu o deixei assim! Esta é a primeira vez que deixo
um homem duro.
O som da porta sendo aberta nos faz parar o beijo. Olho, envergonhada,
para a entrada. É a irmã dele. Como ele disse que era o nome dela? Paola,
lembrei-me. Minhas bochechas estão coradas e meu rosto deve estar igual a
um tomate vermelho por eu ter sido tomada pela vergonha dela nos flagrando.
Posso encontrar um misto de raiva e indignação em sua face. Ela é muito
bonita. Observando-a, noto que ambos não têm nada parecido. Kauã possui
olhos azuis e cabelos loiro-claros, já Paola é morena, de olhos castanho-mel.
São diferentes.
— Irmã, trouxe a roupa que pedi?
Ela olha para Kauã de uma maneira estranha, sorrindo sem graça.
— Sim, eu trouxe a roupa, meu irmão. — Ambos estão agindo de forma
diferente. Talvez seja a forma de eles se tratarem. — Será que você pode sair,
para a moça se trocar?
— Não há necessidade, eu já estou de saída. — respondi.
— Não, querida. Eu trouxe a roupa. Vista-se. Meu irmãozinho vai sair
por alguns instantes.
Kauã olha para mim e eu quero enfiar a cabeça em um buraco para
esconder a timidez. Se sua irmã não tivesse entrado neste quarto, eu nem sei o
que teria acontecido entre nós dois. Provavelmente, eu já não seria mais
virgem.
— Com licença. — Ele sai naturalmente, como se nada tivesse
acontecido.
A mulher permanece no quarto, a irmã dele. Ela cruza os braços depois
de colocar a sacola com a vestimenta sobre a cama.
— Meu irmão é rápido. — disse baixinho.
Eu não compreendi o que ela falou.
— O que disse?
— Nada, querida. Eu estava pensando alto. Pode se vestir. Eu já falei
com sua superior, e você está dispensada. Irá receber pela noite trabalhada e
também irá ganhar um bônus a mais.
— Eu disse ao seu irmão que não é necessário.
— É sim. Agora, troque-se. E não precisa devolver o que eu trouxe,
cunhada. — Pisca para mim.
Não sei dizer se ela está feliz ou debochando de mim. A segunda opção
parece ser a mais relevante.
Só aceitei a vestimenta porque estou tremendo de frio. Depois peço para
a minha colega pegar minhas coisas e me entregar na saída. Quero sair deste
lugar e não ter que ver esses irmãos, nunca mais. Mesmo que o irmão seja um
gato que beija super gostoso, não quero me encontrar com eles novamente.
Algo neles me deixa receosa. Posso estar ficando maluca, não sei dizer.
Troco-me rápido, rezando para eles não estarem no corredor. Deus
atendeu as minhas preces. Estou no quinto andar. Pego o elevador até a
recepção, por onde passo despercebida até a saída, e encontro minha colega,
que me entrega minhas coisas, minha mochila, que estava no armário.
Agradeço-a e vou embora o mais depressa que consigo.
Saber que nunca mais o verei me deixa desanimada sem motivos. Preciso
parar de pensar nele.
Estou passando pelo calçadão, pela orla mais bela de João Pessoa. Os
coqueiros balançam suas folhas por conta da friagem. Estou usando um vestido
até a altura dos joelhos. Achei que ele ficou um pouco apertado, entretanto é
melhor do que minhas roupas molhadas.
Caminho depressa, quando ouço alguém chamar pelo meu nome.
— Micaella!
Será que é assalto? Ando quase correndo. Um bandido não chamaria pelo
meu nome. A menos que fosse uma assombração. Contudo, eu não acredito
nessas coisas. Mas, ainda assim, estou quase correndo. Quando escuto meu
nome pela segunda vez, um anjo se coloca na minha frente, fazendo-me parar
de caminhar. É Kauã, lindo e imponente. O que ele veio fazer atrás de mim?
— Espera, espera! — Encaro seus olhos azuis. Ele correu para me
alcançar. — Por que saiu assim, apressada, sem se despedir?
— Oi? Acabamos de nos conhecer. O que você quer que eu faça? Que
saia por aí te procurando para dar tchau?
— Calma. Não precisa ser grosseira. Eu fiz algo que a irritou?
— Não, cara, você não fez nada. Olha... Já é tarde, eu preciso ir para
casa.
— Eu te levo para casa. — ofereceu.
— Você tá louco? Eu não vou chegar em casa com um homem. Você pode
ser perigoso, um assassino, um maníaco.
Eu não havia pensado nisso até agora. E se ele estiver querendo me
machucar? Não há ninguém por quem eu possa gritar.
— Se eu fosse alguém perigoso, já teria obrigado você a vir comigo.
Estamos somente nós dois, sozinhos. Estou sendo apenas gentil. Quero te levar
para casa.
— Não, obrigada. Eu já estou quase chegando ao ponto de ônibus.
Se ele fosse perigoso, já teria me machucado.
— Deixe-me te acompanhar até o ponto.
— Não. — falei na defensiva.
— Está fugindo de mim? Não gostou do nosso beijo?
— Gostei. Digo... Eu... — Nervosa, pigarreio. — Está tarde. Tchau.
— Eu vou encontrá-la, Micaella, nem adianta fugir. Você ainda será
minha namorada. — gritou a última parte.
Já estou longe o suficiente para sorrir como uma boba. Ele quer namorar
comigo?
Estava tão no mundo da lua, que não notei quando ele me alcançou,
apenas notei quando se colocou em minha frente, deixando-me sem reação, e
me tomou em um beijo quente e provocador. Desta vez Kauã me faz imaginar
nós dois transando sobre a areia do mar, no silêncio da noite. Ele me deixa
embriagada com seu perfume e está me ganhando somente no beijo. E que
beijo, Brasil. Rendo-me em seus braços. Essa batalha já está perdida.
Esse homem sabe como me levar para o céu. Não posso permitir que me
tome assim.
Eu me afasto dele, e o seu sorriso é safado ao me encarar. É um devasso.
— Eu preciso ir, ou perderei o ônibus.
— Me passa o seu número.
— Você não disse que me encontraria? Boa sorte.
Posso estar cometendo a maior loucura deste mundo, mas se ele
realmente tiver boas intenções comigo, fará de tudo para me encontrar. Olho
para trás mais uma vez antes de subir no ônibus. Ele fica parado, de longe,
observando-me. O sabor da sua boca ainda está na minha e levará algum
tempo para sair dela, principalmente da minha cabeça. Kauã me deixou
marcada de um jeito que não sei se serei capaz de esquecê-lo.
O homem está mesmo a fim de mim? Nós nos vimos uma única vez para
bastar que os nossos corações queiram um ao outro? Espero não me
arrepender disso.
CAPÍTULO 4

Abro a porta da sala e a tranco. Estou toda boba, sorrindo à toa, como se
tivesse visto um passarinho branco. Ao menos seria isso que minha avó diria
se ainda estivesse conosco. Toco em meus lábios com os dedos. Ele me beijou
duas vezes. Fui beijada por um estranho duas vezes na mesma noite. Fecho os
olhos, e é como se ele estivesse aqui, comigo, tocando-me daquela maneira
ousada e intensa. O sabor de hortelã acompanhado de uma boa dose de whisky
agora é o meu aroma preferido.
— Querida. — Ouço a voz da minha mãe e me recomponho, tentando não
parecer uma boba encantada por um desconhecido.
— Mamãe, ainda está acordada?
Ela me olha como se soubesse de tudo que aconteceu hoje e eu engulo em
seco. Talvez esteja enlouquecendo. Não é possível que ela saiba de algo. Eu
estou completamente fora de mim, e tudo por culpa de Kauã.
Kauã! Que nome lindo. Eu nunca tinha conhecido alguém tão bonito como
ele, que fosse capaz de me roubar o ar com um simples olhar. Ele é
envolvente, sexy, muito gostoso e me faz ter pensamentos insanos, impuros,
para uma garota virgem.
— Eu estava esperando por você. Sabe como me preocupo quando volta
tarde do trabalho. Ocorreu tudo bem hoje? — ela perguntou, desconfiada.
— Sim, tudo bem.
— E este vestido? Ele não é seu. Micaella, seus cabelos estão molhados.
Tem certeza de que está tudo bem?
— Eu peguei com uma amiga. Foi uma longa história. Amanhã eu conto.
— Longa história? Nem pensar, mocinha. Começou, agora termine.
— No final da festa todo mundo aproveitou para tomar banho de piscina
e eu não tinha levado roupa além do meu uniforme. Uma amiga me emprestou a
dela.
— Por sinal, o tecido desse vestido é muito sofisticado. Você tem certeza
de que foi isso, Mica?
— Claro que tenho, mamãe. Eu estou com sono. — Bocejo para ela ver
que estou sonolenta e lhe dou um beijo na bochecha.
Mães e seus instintos. Ela desconfia de que aconteceu alguma coisa.
Precisei mentir para não a preocupar. Se ela soubesse que caí na piscina,
quase me afoguei, fui examinada por um médico, beijada por um desconhecido
arrogante, que depois se redimiu e me beijou mais uma vez... Beijos
envolventes que teriam me feito parar na sua cama se tivéssemos passado mais
tempo juntos.
Não vejo mal em mentir pelo menos desta vez, pois, provavelmente,
nunca mais verei aquele homem.
— Boa noite, princesa.
— Boa noite, mamãe. Até amanhã.
— Não esqueça de ir amanhã comigo ao shopping.
— Vou colocar o celular para despertar às nove. Beijos. — Jogo beijos
para ela.
Não tenho o hábito de mentir para a minha mãe e me sinto mal por ter
feito isso. Sempre prometemos ser honestas entre nós, já que somos tudo o que
temos uma à outra, para todas as coisas. Mas como, provavelmente, não verei
Kauã outra vez, essa mentira foi para um bem maior. Assim, evitei preocupá-
la à toa.
Se mamãe soubesse que beijei um desconhecido duas vezes,
enlouqueceria. Ela não é destas mães controladoras, passa muito longe disso,
e sempre me sinto livre para fazer minhas escolhas. A única coisa que ela
sempre fez foi me alertar sobre os homens. O fato do meu pai a ter
abandonado grávida a fez se tornar uma mãe protetora. Ela sempre me diz que
o amor às vezes pode ser traiçoeiro, que eu posso sair machucada. E está
certa. No entanto, até hoje nunca conheci um cara que quisesse namorar sério
comigo. Eu sempre era motivo de piadas, a garota bruta que nunca dava uma
chance para ninguém. Já virei até aposta no hotel onde trabalho. Eu e Giu não
somos fáceis, por isso somos alvos de piadinhas idiotas.
Subo para o nosso quarto e deito a cabeça sobre o travesseiro fofo e
macio. Não se compara com onde eu estava deitada quando o médico me
examinava, mas, ainda assim, é muito confortável. Estou no beliche de cima, a
cama na qual sempre durmo. Giulia está ressonando. Ainda bem que não a
acordei. Digamos que ela costuma ficar brava quando eu a acordo assim, no
meio da noite. Ela é um doce de pessoa quando não está com sono.
Viro-me de um lado para o outro na cama. Não consigo dormir, só pensar
nele e no seu beijo quente, molhado, que me deixou com tesão e com vontade
de me tocar pela primeira vez na vida. Minha intimidade está em chamas e
meu coração está quente. O que está acontecendo comigo? Um cara que
conheci há poucas horas não pode estar mexendo com o meu psicológico
dessa maneira. Agora minha garganta está seca, só que a preguiça me faz ficar
deitada. Não quero me levantar para beber água na cozinha.
Amanhã será um novo dia. Irei sair com mamãe e Giu para o shopping,
onde haverá exposição de artes em um stand. A minha mãe é apaixonada por
artes. Todo quadro que tem flores e pinturas do campo é a sua maior paixão.
Os outros também chamam a sua atenção, mas esses são os seus preferidos. A
feira será exposta em um shopping do Altiplano, um dos melhores bairros da
cidade. O local é elegante e sofisticado. Fui lá duas vezes com Giu quando
trabalhamos cobrindo as férias de uma amiga nossa e de outra funcionária.
Muitas pessoas ricas frequentam o lugar. Como o espaço é aberto para todos
os públicos, terá bastante gente, por se tratar de um domingo agitado na
capital.
Adormeço com os pensamentos naquele lindo homem de olhos azuis
profundos. É capaz que eu até sonhe com eles, de tão intensas que estão as
lembranças em meu coração.

(...)

O cheiro fraco de pão caseiro invade minhas narinas. O despertador


tocou às nove horas e Giu já não estava mais na cama. Ela desperta depois das
oito e meia no domingo e sai para caminhar uma hora antes do café. O que eu
também faço quando não passo a noite anterior trabalhando. Esse é o melhor
dia da semana, para mim, pois não trabalho e sempre acordo tarde.
Espreguiço-me, ainda deitada. Que coisa boa é dormir bem. Desço do beliche,
vou ao banheiro, faço minhas necessidades matinais, escovo os dentes e desço
para tomar meu café.
Giu acabou de chegar, toda suada, e se senta ao meu lado.
— Como foi a festa? Nada de interessante aconteceu?
Parece que todo mundo espera por algo interessante. Se elas soubessem...
— Nada interessante. — Bebo um gole de café.
Minha mãe me olha como se desconfiasse de algo, mas nada diz. Ela é
uma super mãe, que sempre sabe quando estou me comportando estranhamente.
— Este pão está delicioso. — Giulia sempre elogia a comida dela.
Confesso que já tive muito ciúme do carinho que mamãe dá a ela. Sempre
fomos apenas nós duas, e depois Giu chegou em nossas vidas. No começo foi
estranho ter que dividir as coisas com ela, mas depois de tudo que se passou,
apeguei-me a ela, e hoje a considero uma irmã, minha melhor amiga. Somos
confidentes e irmãs. Por esse motivo, estou me controlando para não lhe
contar o que vivi ontem à noite. Se ela souber, vai surtar e imaginar mil e uma
possibilidades perigosas. Ela é nervosa e mais inexperiente do que eu. Não
sei quem de nós duas é mais atrasada quando o assunto é homens. Ao menos
eu já havia dado selinhos, e acho que nem isso a minha amiga fez. Agora sou
mais experiente, porque depois daqueles beijos arrebatadores, meio que dei
um passo à frente no caminho para perder a virgindade primeiro que ela.
— Veja só, Micaella, alguém sabe reconhecer meu tempero. — Mamãe
não perde uma chance de jogar na minha cara que minha amiga é perfeita.
— Eu pensei que a senhora tinha comprado na padaria. — Pisco para
Giu, que começa a rir. — Está delicioso, mamãe, como tudo que a senhora faz.
— Nós ainda vamos à exposição? — minha amiga perguntou.
— Sim. Inclusive, vou me arrumar, garotas. Vocês também vão, quando
terminarem a refeição. — Minha mãe nos deixa a sós.
Giulia está me fitando de maneira estranha. Ela realmente me conhece,
portanto pode estar procurando alguma coisa diferente em mim.
— Você está bem? — questionou-me.
— Claro que estou. E muito animada para ver as artes pintadas por uma
mulher paraibana. Agora, vamos trocar de roupas. E você precisa de um
banho.
Ela ri, sem graça, e revira os olhos ao mesmo tempo.
Pelo menos eu escapei dos seus interrogatórios nesta manhã. A
desvantagem de uma família unida é que eles sempre sabem tudo sobre você.
Até se sorrir diferente já é motivo para questionamentos. Se eu não as amasse
tanto, teria dito que não desejo falar sobre o que aconteceu; mas, neste caso, é
melhor frear esse assunto, encerrá-lo antes que eu desça precipício a baixo.
Troco-me em questão de minutos. Visto uma calça preta social,
combinando-a com tênis brancos, e na parte de cima coloco uma blusa mais
despojada, deixando o look descontraído. Bem a minha cara. Já mamãe e Giu
estão muito elegantes, ambas de vestidos longos e bolsas pequenas; enquanto
eu estou levando uma pequena mochila. Não prendo meus cabelos, como elas
fizeram. São elas que parecem a mãe e a filha, e estão muito bonitas.
Pegamos um ônibus até a metade do caminho, e na outra metade, para ser
mais rápido, pedimos um carro por aplicativo. Chegamos bem depressa. Este
lugar parece estar mais bonito do que na última vez em que estive aqui. Agora
entrarei como apreciadora de arte, e não como uma garçonete. Não que eu me
envergonhe do meu trabalho, que é digno, e é dele que consigo o meu salário
do mês. Falando em dinheiro, foram pagos a mim dois mil reais pelo serviço
prestado ontem. Eu deveria ter ganhado somente trezentos. Não estou
reclamando e me sinto até feliz. Agora poderei comprar roupas novas e
guardar a outra parte. Realmente aqueles riquinhos estavam com medo de que
eu fizesse um barraco e chamasse a imprensa.
Será que serei admitida em outros serviços como aquele? Amanhã não
quero nem imaginar com que cara Mariza me receberá depois do incidente de
ontem. Já posso cavar minha cova, pois ela vai me enterrar viva.
Pensei que a exposição seria em um stand pequeno e apertado, mas me
surpreendo ao ver que ele toma um espaço gigantesco, praticamente toda a
área do térreo. São muitas obras de arte. Os olhos da minha mãe brilham como
a luz do sol.
— Estou em um sonho. — ela comentou. — Veja, meu amor, quantos
quadros lindos. Passaremos horas admirando todas essas maravilhas. —
Agarra meu braço.
Peço socorro à Giu com o olhar. Não quero passar horas olhando para
quadros, por mais belos que sejam.
— São todos muito lindos. — disse minha amiga.
— Alguém quer água? Já que vamos passar horas aqui, vamos beber
muita água. Precisamos ficar hidratadas. — sugeri.
— Tem razão, filha. Vá comprar água para nós e volte depressa.
— Talvez eu demore um pouco. Olhe em volta, tem muitas pessoas aqui.
O lugar está lotado de tanta gente, que ficará difícil eu me encontrar com
elas. Peço para Giu ficar de olho no celular. Comprarei as garrafinhas de
água, mas antes quero ver tudo do alto. Subo em uma escada rolante para
observar a exposição de cima e fico maravilhada com a vista. Sou apaixonada
por tudo que é alto e que se pode ser admirado da altitude. O campo de visão
se torna mais bonito e interessante aos meus olhos.
Eu também precisava sair daquela multidão toda, costumo ficar sufocada
em lugares muito cheios. Minha melhor amiga vai distrair minha mãe por
tempo o suficiente para eu poder ficar aqui em cima sem fazer nada. É uma
pena eu ter esquecido meus fones de ouvido em casa. Tudo com música fica
mais emocionante e divertido.
Encosto as mãos no parapeito e respiro fundo. Ainda estou cansada pela
noite passada. Bocejo. Eu deveria ter ficado em casa, porém, se eu não tivesse
vindo, minha mãe ficaria triste. Ela adora sair comigo, e como quase nunca
fazemos isso, por causa do meu trabalho e, também, pelas despesas
financeiras, eu não quis dizer um “não”. Seus olhos brilharam ao ver tantas
artes. Olhar quadros de plantas é seu passatempo predileto.
Talvez já esteja na hora de eu retornar para junto delas e levar a água. Eu
farei isso. Procuro o dinheiro na minha mochila e guardo uma nota de vinte
reais no bolso da minha calça, quando, de repente, sinto mãos grandes me
puxarem na direção de um paredão de músculos. Tomo um susto inicialmente,
acreditando ser um assalto, e quase grito. Teria feito isso se não fosse pelo
choque de seus lábios nos meus. Ele me deu um selinho. Oh, céus! Este sabor
de hortelã, eu conheço bem. Só pode ser uma pessoa.
Não me enganei. Ao fitar os lindos olhos azuis, tomo um susto. Como ele
me encontrou aqui? Parece haver um GPS em mim, para ele ter me localizado
no meio de tantas pessoas, justamente neste shopping. Ou Kauã tem muito
interesse por artes ou estava me seguindo. Mas, como? Não é possível. Ou é
possível?
Ainda tomada pelo choque, dou um sorriso sem graça. Ele chegou me
beijando como se fossemos íntimos. Eu gostei e não gostei, é confuso. Se a
minha mãe nos visse, eu não quero nem imaginar.
O loiro abre um sorriso provocador. Ele me deixa sem ar todas as vezes
que me encara dessa maneira.
— Eu lhe disse que encontraria você.
— O que deu em você, para chegar me beijando? Minha mãe está aqui,
seu louco. — Olho em volta, temendo que ela esteja por perto.
— Pensei que não dava mais satisfações para a sua mãe.
— Pensou errado. Quando se é filha única, mulher, e ainda vive com a
mãe, as coisas costumam ser diferentes.
— Micaella, você tem mais de dezoito anos, certo? — indagou, curioso.
— Sim, eu tenho. Qual é? Acha que eu sou uma criança?
— Claro que não. Você é uma mulher bastante interessante. Sabia que eu
não pude dormir, pensando em você e em como lhe encontraria?
Sério? Ele pensou em mim? Eu também pensei muito nele, mas não lhe
direi isso. Ele não precisa saber. Não agora pelo menos.
— Aposto que passou a noite inteira dormindo como um bebê e que nem
se lembrou de mim. Portanto, não tente me enganar. — desafiei-o.
— Engana-se. Veja as minhas olheiras, são por culpa sua. O gosto dos
seus lábios ainda está impregnado nos meus. Você me deixou muito excitado,
garota. — Ele fala assim, na cara de pau, como se fosse um assunto comum e
natural.
De alguma maneira, ele encheu o meu ego. Eu o deixei de pau duro.
Interessante.
— Que pena. Infelizmente, não posso fazer nada para mudar isso. Não
mandei você perder o sono por minha culpa, muito menos não controlar o seu
“amiguinho”. — Sorrio, debochada. Adoro provocá-lo. — Acho melhor eu ir.
A minha mãe deve estar me procurando.
— Ir embora? Sem antes me dar um beijo? Nem pensar, linda.
Quando ele me chama de linda, arrepia toda a minha pele e me causa
sensações poderosas que nunca estiveram presentes em mim antes.
Meu coração acelera assim que suas mãos tocam em minha cintura e ele
aperta a região, possessivo e cheio de tesão. O desejo está presente em sua
face. Como ele está lindo, vestido de uma maneira mais casual, com os
cabelos lisos e loiro-claros alinhados, sem tanta formalidade como ontem à
noite.
É muita coincidência termos nos encontrado novamente neste lugar.
— Antes me diga: como me encontrou?
— Eu gostaria de dizer que encontrei você com meus próprios méritos,
mas não vou mentir. Nem queria ter vindo a esta exposição. Se não fosse por
minha irmã ter insistido, teria perdido essa chance de te encontrar. Desde que
colocou os pés nesse lugar, eu a vi. Estava esperando o momento mais
apropriado para estar com você e poder beijar seus lábios doces, linda. —
Sem perder mais tempo, suga meus lábios com paixão, sem pressa.
Nosso beijo é tranquilo e cheio de sentimentos. Ao menos para mim. Ele
beija tão gostoso, que me deixa perdida, sem ação para mais nada que não
seja beijá-lo.
Eu sinto que nossas almas se unem quando estamos juntos. Sei que foram
apenas dois encontros, mas quem disse que não existe amor à primeira vista?
Estou completamente apaixonada por esses beijos suculentos, cheios de
paixão e desejos. Sua língua habilidosa dança em perfeita sintonia com a
minha, instigando-me e me levando à loucura. Ele me faz acreditar que nada
mais importa à nossa volta e que estamos apenas nós dois aqui.
Ninguém nunca tinha feito eu me sentir assim, desejada, e, acima de tudo,
interessante. Custa-me acreditar que um homem tão bonito possa estar
interessado em mim. E, ainda pior, eu não sei nada sobre ele. Não posso me
entregar, como uma vadia, em seus braços todas as vezes que ele me toma.
Encerro o nosso beijo, atordoada e com dúvida se quero dizer mesmo
isso.
— Quem disse que pode me beijar quando bem entender?
Ele estranha meu posicionamento como se eu tivesse falado algo
inapropriado. É impressão minha ou Kauã não está acostumado a ouvir “não”?
— Os seus olhos dizem isso, e seus lábios correspondem a todas as
vezes que a beijo. Por acaso fiz algo que não aprovou?
— Sim, você fez. — Ele arregala os olhos, em surpresa, sem acreditar no
que eu disse. — É tão absurdo para você que uma mulher diga que está
errado?
— Não. Eu só pensei que você estava gostando.
— Gostando? Eu nem sei quem é você. Não sei nada sobre você, só o seu
nome. Portanto, não pode me tomar em um beijo como bem entender, na hora
que desejar, sem se importar com quem está à nossa volta. Eu não sou
nenhuma vadia.
— Claro que não é. E eu jamais te comparei a uma. Me desculpe se não
consigo me controlar diante de você. A verdade é que eu nem sei explicar o
que estou sentindo, Micaella. Estou confuso em relação aos meus sentimentos.
— confessou. — A única certeza que tenho é de que quero conquistar você.
Quero que seja minha, e de mais ninguém.
Kauã me quer como sua! Sinto minhas pernas bambearem por ter ouvido
suas palavras.
Seu olhar sedutor consegue me deixar sem fala mais uma vez. Ele tem o
dom de me desestabilizar por completo. Meu peito sobe e desce, e sou tomada
pelo nervosismo que ele me faz ter com sua aproximação.
— Eu quero te conhecer melhor. — ele disse de um jeito que me deixou
completamente desestabilizada.
Eu não sei se devo acreditar. Kauã é bastante convincente, e talvez o seu
charme o ajude. Droga! Minha intimidade está em chamas, querendo um
contato mais íntimo entre nós.
— Me conhecer?
— Sim. Eu preciso ter certeza de que você é a mulher da minha vida,
pois estou completamente apaixonado e envolvido desde a primeira vez que te
vi. Você não sai da minha mente, linda.
— Eu...
— Não diga nada, apenas deixe acontecer. Sei que tudo é muito recente,
mas quero que saiba que você está me enlouquecendo com tanta beleza. Vamos
fazer assim: deixa acontecer naturalmente. Eu não preciso que me dê seu
número, sei que vamos nos encontrar novamente
— Como pode ter tanta certeza?
— Apenas tenho. Nunca costumo falhar.
— Você é louco, isso sim.
— Louco por você. — Controla-se para não me beijar mais uma vez. —
Vamos fazer assim: desta vez não vou beijá-la, a menos que me peça para
fazer isso, mas, caso voltemos a nos encontrar, te darei quantos beijos eu
quiser. Concorda?
— Concordo, porque sei que não nos veremos outra vez. — falei,
convencida.
— Faça suas apostas, linda. Até breve. — Enfia as mãos nos bolsos da
calça.
Essa é a última imagem que tenho sua. Um sorriso safado se abre em sua
face e, depois, ele se mistura à multidão, desaparecendo e me deixando com
vontade de ir atrás dele.
— Se segura, mulher! — pedi para mim mesma.
Que a sorte esteja ao seu lado. Se for para acontecer, será, apesar de algo
me dizer que nunca mais nos veremos.
Volto para junto de mainha e Giulia.
— Você foi buscar essa água direto da fonte?
Giulia ri com o que minha mãe falou, preocupada.
— Tinha muitas pessoas na minha frente.
Ela finge que engoliu minha resposta e continuamos a apreciar as
exposições. Posso estar errada, no entanto tenho a impressão de que estou
sendo observada.
CAPÍTULO 5

Quando eu disse que tinha a plena certeza de que nunca mais me


encontraria com Kauã, estava certa. Hoje faz quatro dias que não o vejo, que
não sei nada sobre ele. O fato de não termos trocado os números de celular
dificulta a nossa aproximação, o que não sei dizer se é bom ou ruim. A única
coisa que posso afirmar, com certeza, é que está sendo difícil para mim
permanecer longe dele. Meu coração acelera só de eu imaginar a
possibilidade de nos encontrarmos novamente. Algo que parece impossível
agora.
Kauã me deixou completamente dependente do seu beijo ardente,
molhado e voluptuoso. Mordo os lábios, imaginando nós dois juntos, e acabo
me machucando muitas vezes.
— Mica, se continuar mordendo os lábios deste modo, eles ficarão
totalmente inchados. — Giu disse, para a minha segurança.
— Eu sei. Acontece que peguei essa mania e não consigo mais parar.
— Posso saber como você pegou tal mania?
— Não, não pode.
Ela arregala os olhos, surpresa. Eu não costumo esconder nada dela, por
isso tal reação com minha resposta. Acabei falando sem pensar, movida pelo
medo de acabar comentando algo que não deveria.
— Porque nem eu sei como isso foi acontecer. Agora, vamos voltar ao
trabalho. O chefe, o senhor Viktor Avillar, irá chegar dentro de alguns dias; e
ele, com certeza, é daqueles chefes que vai inspecionar tudo à nossa volta
para saber se estamos trabalhando bem. Se ele já não estiver nos vendo agora,
através das câmeras. — brinquei.
Giulia ri, sem graça.
— Como se o senhor Avillar fosse perder seu tempo observando nós
duas. Me poupe de suas paranoias, Mica.
— Ué! Ele pode, muito bem, se interessar por uma de nós duas. Ele e
qualquer outro homem deste planeta, porque somos bonitas e inteligentes.
Características que homens da alta sociedade admiram em moças como nós.
— Você está lendo muita fanfic. É melhor dar uma pausa na leitura,
amiga. Já não raciocina bem, como antes. — debochou da minha cara. — Veja
só! O Justin Bieber acabou de entrar e está vindo na sua direção!
— Ah, meu Deus! Onde?! — Olho para trás e me frustro. Eu deveria
saber que ela estava brincando comigo.
Como ela sabe que um dos meus pontos mais fracos é o cantor canadense,
prega-me peças a todo momento.
— Um dia verá que eu tenho razão quando digo que homens bonitos e de
uma boa posição social podem se apaixonar pela gente.
— Refere-se ao senhor Avillar? Ele não tem, tipo, uns sessenta anos?
— Eu não sei dizer. E, mesmo que tenha, eu aceito tudo.
Ela gargalha e ameaça me furar com uma caneta.
Desde que Mariza assumiu a administração do hotel, ninguém tem função
certa aqui. Um dia estamos como garçonetes, e, no outro, na recepção,
cobrindo as meninas que tiram folga. É sempre uma desordem aqui por causa
de sua ganância. Ela costuma colocar para ganhar mais quem está do seu lado,
como as amigas cobras e o namorado que tem idade para ser seu neto.
Volto à minha rotina e logo completo mais um dia de serviço com muita
energia e motivação. Hoje é dia de pagamento. Não há nada mais satisfatório
do que ver o dinheiro na conta. Penso em, daqui a alguns meses, fazer
faculdade. Ainda não contei nada para a minha mãe, nem para Giulia, mas
venho guardando dinheiro há algum tempo para fazer um curso online ou onde
as aulas comecem à noite, de preferência, pois trabalho sempre durante o dia.
O sonho da minha mãe é me ver formada, com um diploma em mãos, e
trabalhando em um lugar onde eu seja valorizada. Farei essa surpresa para
todos em breve. Tenho certeza de que ela ficará muito feliz. As duas ficarão.
No final do expediente, pego o ônibus de ir para casa junto com Giu.
Vamos ouvindo músicas, compartilhando os fones de ouvido. Por um instante
consigo tirar Kauã da minha cabeça. Quatro dias sem vê-lo está me deixando
louca. Quando eu poderia imaginar que ficaria dependente de um homem na
minha vida? Logo eu, que sempre fui pé no chão e nunca dou um passo antes
de analisar a situação. Talvez seja a sua beleza ou a maneira como ele sorri;
ou, pior, seu beijo sedutor me prendendo a sentimentos intensos.
— Mica, está na hora de descer. Venha.
— O que disse?
— Você está no mundo da lua. Eu falei que já chegamos. Vamos descer,
menina.
Realmente estou no mundo da lua. Não consigo me concentrar em muita
coisa, que logo a imagem daquele homem invade meus pensamentos. Eu sou
uma idiota. Ele nem em mim está pensando. Com certeza está trabalhando,
focado em outros assuntos, ou, quem sabe, até com outras mulheres. E eu toda
boba, apaixonada, pensando nele vinte e quatro horas por dia. Preciso
esquecê-lo de uma vez, pois nunca mais o verei. Culpa minha, por não ter lhe
dado o meu número de celular quando me pediu. Sou a culpada por não
estarmos juntos hoje.
Se não era para ser, não será. Assim dizia a minha avó. Mas eu queria
que fosse.
Devo aceitar a minha realidade. João Pessoa é uma cidade grande, com
mais de oitocentos mil habitantes. Encontrar-me não é uma tarefa fácil, a
menos que ele seja um detetive particular misterioso. Isso, sim, seria
interessante. Eu nem sei o seu sobrenome, sua idade, sua profissão, o nome da
sua mãe... Aqui, na minha cidade, você é conhecido por “filho de seu João”,
“filha de dona Maria”; meio que não tem identidade. Depois que casa é a
“esposa de fulano”, e assim vai.
Eu não havia pensado na possibilidade de Kauã não ser paraibano, pode
ser de outro estado deste Brasil gigantesco. Talvez tenha ido embora. A única
coisa que sei é que ele trabalha para pessoas importantes, que é um
funcionário de uma grande empresa. Acho até melhor. Assim, não há tanta
diferença financeira entre nós. Se ele fosse alguém com muito dinheiro nem
sequer olharia para mim.
— Meninas, o jantar será servido em dez minutos. Preparei lasanha. —
mamãe disse, animada.
— Meu prato preferido. — Sorrio.
— O meu também — Giu também sorri, entusiasmada.
Tomo banho o mais depressa possível e troco de roupas para comer.
Estou faminta, com o estômago vazio. Preciso me alimentar. Só agora percebi
que não comi praticamente nada o dia inteiro. Se isso não é amor, o que será?
Eu preciso matar esse amor, que me faz ficar desleixada. Nunca fui assim,
sempre cuidei de mim e jamais agi como uma louca.
— Filha, aconteceu alguma coisa, para você estar comendo
desesperadamente? Querida, o prato não vai sumir da mesa.
Eu nem havia me dado conta de que estava comendo como uma louca.
Vivo dando índices de que algo diferente está acontecendo comigo. Tento
disfarçar e dou um sorriso amarelo.
— Pois é. A senhora cozinha tão divinamente, que nem me dei conta de
que estava comendo como um leão.
— Tenha modos à mesa, meu amor.
— Desculpa, gente. — Limpo a boca com o guardanapo e volto a comer
com mais educação.
Há momentos em que sinto que vou enlouquecer. Preciso esfriar a
cabeça.
Como uma boa caminhada ajuda a relaxar, depois do jantar faço isso e
aproveito para me exercitar. Giu veio junto comigo e está mais focada que eu.
Na segunda volta já estou sentindo dores abdominais. Estou muito sedentária,
preciso beber mais água e mudar minha alimentação. Também estou comendo
muita massa e comidas sem nutrientes necessários.
Quando encosto a cabeça no travesseiro, viro de um lado para o outro na
cama. Nunca tive insônia antes. Preciso ocupar minha mente com alguma
coisa, ou enlouquecerei.

(...)

Pela manhã, mais um dia da minha rotina cansativa começa. Com a


chegada do senhor Avillar dentro de alguns dias, tudo está uma agitação total.
Verei tudo à minha volta desmoronar se não me desdobrar em dez para fazer o
meu serviço.
— Deveriam contratar mais funcionários. — comentei.
— Reclame menos e trabalhe mais. — Giu pisca para mim, rindo.
Não é ela que está carregando peso nas costas, como eu estou. Tudo bem
que costumo exagerar, mas passar o dia inteiro em pé, olhando quem entra e
quem sai, é muito cansativo.
Eu mostro a língua para a minha melhor amiga e ela fica irritada. Ela é
muito certinha. Não que eu seja errada. Pelo contrário. Somos garotas
tranquilas, que têm medo de se arriscar, mas caso algum risco apareça diante
de nossas vidas, eu sou a mais corajosa para estar diante de tais problemas.
O meu sonho é poder viajar pelo mundo, conhecer novas pessoas e
culturas, porém, para isso me falta grana e oportunidades.
— Meninas, balada hoje?
— Hoje é terça-feira, Cris. — respondi, um pouco entusiasmada.
— E daí? Eu ganhei três ingressos para uma boate no centro. Eu só tenho
duas amigas, que são vocês. Por favor, não me digam um “não”. — Faz
biquinho.
Cris é uma colega de trabalho. Ela não é bem uma amiga, e sim uma
colega que, de vez em quando, lembra da minha existência e de Giu.
— Sinto muito, Cris, eu não vou. Amanhã trabalho. — Giulia descartou
logo a ideia.
Também direi o mesmo. Não posso curtir balada se amanhã trabalho
cedo.
— Sinto muito, eu...
Cris segura firmemente meu braço, como se precisasse sair comigo a
todo custo.
— Eu prometo que será maravilhoso. Basta vir comigo agora mesmo.
— Você tá louca? Como eu vou sair vestida com meu uniforme?
— Não se preocupe, eu já pensei nisso também.
Ela me leva até o banheiro dos funcionários, onde dá para trocar de
roupas. Olho receosa para o vestido lindo que ela tem e para a bolsa da loja,
que é uma das mais caras da cidade. Eu não estou entendendo nada. Onde ela
comprou o vestido? Pela sua expressão, nitidamente, está confusa e tentando
manter uma personagem. Começo a desconfiar de que ela pode estar me
enganando. É melhor me dizer a verdade antes que eu fique irritada.
— O que está acontecendo aqui?
— Não tem balada. — Disso, eu já desconfiava. — Eu chamei a Giulia
porque sabia que ela não iria aceitar mesmo sair, por ser sempre certinha e
tudo mais.
— Eu não admito que fale mal da Giu. Agora, desembuche. Me diga tudo,
que estou curiosa. Por acaso você roubou esse vestido?
— Não, sua tonta. E ir para a cadeia por algo tão bobo? Preste atenção.
Uma mulher morena me entregou estas flores. — Dá o buquê em minhas mãos.
— E me disse que você a conhece.
— Uma morena?
— Sim. Olhos esverdeados, bonita, atraente, olhar marcante... Ela disse
que se chama Paola.
Paola. Minha espinha dorsal tremeu quando Cris disse esse nome, porque
se Paola está por trás dessas flores, significa uma coisa: Kauã me encontrou,
como disse que aconteceria. Solto um grunhido baixinho de alegria. Meu peito
se estufa do mesmo sentimento e um sorriso largo estampa a minha face. Sinto
o perfume das rosas vermelhas, que é delicioso, e noto que há um cartão.
Imediatamente começo a lê-lo. Está escrito:

“Passei todos esses dias pensando em você. O sabor do seu beijo ainda
está nos meus lábios. Eu gostaria de encontrá-la nesta noite. Aceita sair
para jantar comigo?
Kauã!
Ps: Paola a espera em um carro, em frente ao seu trabalho.”

Ele pensou em mim por todos esses dias! Essas foram suas palavras.
Estou radiante. Essa foi a primeira vez que recebi flores de um homem e um
convite para jantar. Nada me parece mais romântico e misterioso. Kauã
mandou este vestido para mim? Estou sem acreditar em todos os esforços que
ele está fazendo para me rever. Será que eu vou resistir a tanta paixão? Isto é
indiscutível: Kauã é galã, sabe ser romântico e, acima de tudo, como
conquistar uma mulher. Seria isso experiência ou apenas um modo educado
seu de ser?
Respiro fundo para não acabar tendo um treco de tanta ansiedade.
Um convite para jantar. É formidável. Ainda estou sem acreditar que ele
realmente me encontrou. Recordo-me de suas palavras. Ele disse que estava
apaixonado e que precisava ter a certeza de que eu sou a mulher da sua vida.
Essas palavras não saem da minha cabeça, assim como a sua promessa de me
beijar quantas vezes desejar. Eu concordei com isso, e agora não poderei fazer
nada se ele ainda se lembrar desse nosso acordo.
— Então, Mica... Quem é este admirador secreto? — Curiosa, como
sempre, e inconveniente.
Busco uma resposta para a deixar de língua muda.
— Não é ele, e sim ela. Não viu como a morena é linda? — Pisco para
ela, que está de boca aberta. — Agora, deixe-me trocar de roupa. E vê se não
conta o meu segredo
— Seu segredo está guardado comigo. Ela até me pagou para eu me
manter de bico fechado. Boa sorte com sua gata. — Realmente Cris acreditou
na minha história.
Por sorte, sempre trago toalha e sabonete comigo. Tomo um banho,
perfumo-me e envio uma mensagem para Giulia, falando que vou fazer um
serviço extra. Ela pensará que irei à festa. Em outro momento me explico.
O vestido que ele me mandou também tem um cartão escrito.

“Te imagino vestida nele. Sinceramente, imagino você de todas as


formas. Contando os minutos para estar junto de você, linda!
Kauã!”

Respire fundo, Mica!


Eu nem o vi ainda e já estou sem ar. Meus cabelos, prendo em um rabo de
cavalo, e passo mais perfume. Meus tênis combinaram com o vestido colado
na cintura e soltinho nas pernas, vindo quase na altura dos joelhos. Não é curto
demais, nem longo, é do jeitinho que eu gosto.
Guardo meu uniforme na mochila que levo nas costas para onde quer que
eu vá. Ela já faz parte dos meus looks sempre. Pego minhas flores e encontro
Paola parada em frente a um carro, esperando-me com cara de poucos amigos.
Acredito que esse seja seu jeito natural de dizer que tudo está bem.
Abro um sorriso acolhedor para ela, radiante, assim como eu estou por
dentro.
— Oi. Tudo bem? — perguntei.
— Meu irmão a espera no Linux Restaurante.
O Linux é somente o restaurante mais caro de toda a cidade. Kauã está se
mostrando ser um homem de muitas posses, isso sim. Para um funcionário de
uma empresa, está gastando mais que o esperado. Talvez seja para me
impressionar. Se ele soubesse que não precisa de nada disso, que somente seu
olhar já me impressiona e me faz perder o sono...
— Paola, obrigada por tudo. — referi-me a ela ter vindo até meu
emprego me buscar.
— Eu sempre faço de tudo pelo meu Kauã. — ela foi possessiva ao dizer
“meu”.
— Eu quero que você saiba que pode contar comigo para o que precisar.
Sou boa em muitas coisas.
Ela nunca mostra um sorriso para mim, sempre está com cara de quem
não gosta de me ver e tem um ar de superior. O que relevo por enquanto, pois
ninguém me olha dessa maneira sem ouvir tudo que eu tenho para dizer.
— Um conselho, querida: seja difícil, não se entregue ao meu irmão no
primeiro encontro. — Ela falou isso para me ajudar ou está com ciúme?
— Não se preocupe. O que eu faço com meu corpo é problema meu,
cunhada. — Pisco para ela.
— Foi apenas um conselho de cunhada.
— Se conselho fosse realmente bom, seria vendido, não dado. — Faço
um biquinho em sua direção.
— Depois nos encontramos, e você poderá me dizer o que achou desse
encontro. Levarei lenços ou bebida. — De uma maneira provocativa, pisca
para mim.
Entro no carro e bato a porta. O motorista começa a me levar até o
restaurante. Durante todo o trajeto, não paro de pensar no que Paola me disse.
Por que ela sente tanto ciúme do irmão? Essa relação de ambos não parece ser
nada saudável. Imagina só uma irmã dando palpites no que eu devo ou não
fazer com o irmão dela. Espero que eu a tenha deixado irritada, pois ela
conseguiu me irritar profundamente ao me dizer para não ser fácil. Sou dona
do meu nariz. O que faço ou não só diz respeito a mim. E, como assim ela me
levará lenços ou bebida? É inconveniente demais, para o meu gosto.
— Senhorita, chegamos. — o motorista me avisou.
— Quanto te devo?
— Nada. O senhor Monteiro já acertou tudo comigo.
Monteiro. Kauã Monteiro! Que nome lindo.
— Obrigada, então. Tenha uma boa noite.
— A senhorita também.
Desço do carro. A fachada do Linux é algo grandioso. Há uns cinco anos
ele foi inaugurado, e dizem que há ouro no piso, pois o local é no estilo árabe,
como um palácio; serve comida árabe, e também brasileira. Na verdade,
encontra-se muitas variedades aqui. Nunca pensei que jantaria em um lugar tão
elegante. Eu nem sei se estou apropriada para o estabelecimento. Será que foi
por isso que Kauã me mandou este vestido? Por vergonha de que eu não
tivesse nada adequado para vestir? Começo a pensar coisas que me deixam
triste. O modo como sua irmã me olhou, de cima para baixo, faz eu ter esses
pensamentos.
Não vou deixar aquela mulher acabar com a minha noite. O seu ciúme de
irmã não vai me atrapalhar no meu propósito, que é ter um jantar divertido e
interessante.
Adentro o local, digo que estou com o senhor Monteiro e um homem me
acompanha para me levar até a mesa. Subimos alguns degraus de escada. O
espaço onde jantarei é mais reservado. Meus olhos se perdem diante de tanta
beleza. A arquitetura moderna é incrível, e há tantos quadros aqui, que minha
mãe enlouqueceria.
Quanto mais me aproximo dele, mais nervosa fico. Posso vê-lo de longe.
Suas írises azuis me fitam intensamente e eu me sinto como se ele pudesse ver
por baixo da minha roupa. Seu olhar queima o meu corpo; Kauã me devora
com os olhos. Ele se levanta quando chego e sei que minhas pernas vão
bambear. Que homem lindo! Meu coração paralisa quando ele sorri.
CAPÍTULO 6

Meu coração dispara quando ele encara os meus olhos. Tudo à minha
volta está em uma completa escuridão, apenas ele, à minha frente, possui
iluminação para me atrair e fazer eu me sentir como um vagalume em busca da
luz. Salivo com dificuldade. Kauã está ainda mais bonito do que na última vez
em que o vi. A beleza de um deus grego é sua principal característica. Se esse
homem me deixa com as pernas bambas com apenas um olhar, imagino-o me
beijando calorosamente enquanto tira as minhas roupas lentamente. Vai me
enlouquecer.
Por que todas as vezes em que estamos próximos, ele me deixa sem ar? A
dificuldade para me concentrar é gigantesca.
Seu sorriso safado é lindo e ele é um devasso; conheço um pelo olhar.
Seus olhos percorrem todo o meu corpo. Eu gostaria de saber o que está se
passando na sua cabeça neste momento; se bem que posso imaginar que é algo
insano que não possa ser conversado em uma mesa de jantar.
— Boa noite, linda. — Sua voz rouca causa arrepios por toda a minha
pele.
— Boa noite. — Eu o chamaria de lindo se não fosse por conta da minha
timidez.
— Você não sabe o quanto ansiei por esse encontro. — confessou. — Por
favor, sente-se. — Ele vem na minha direção, fica atrás de mim e suas mãos
passam ao lado da minha cintura. Consigo sentir o calor delas ao puxarem a
cadeira para que eu me sente.
Galanteador, Kauã me faz paralisar. Milésimos de centímetros nos
separam e eu engulo em seco. A maneira sensual como ele age não me
incomoda, deixa-me louca pelo seu toque. Suplico que ele me toque. O calor
da sua respiração faz eu me sentir única. Quando ele me chama de linda,
deliro, imaginando nós dois juntos. Parece que o homem sabe como sua
aproximação me deixa. Posso estar errada, porém acredito que tenha essa
noção.
Sento-me na cadeira que foi puxada.
— Obrigada.
Vejo-o se sentar na minha frente. Seu camisete branco, com os dois
primeiros botões abertos, permite-me ver um pouco da pele por baixo dele.
Nenhum pelo nessa região. Provavelmente, ele é muito gostoso.
Controlo minha respiração para não parecer uma desesperada que nunca
viu homem.
— A roupa lhe serviu muito bem, caiu como uma luva.
— Adorei o vestido, mas algo está martelando na minha cabeça. — Se eu
não perguntar, a dúvida me matará.
— O que seria?
— Por que me mandou um vestido? Por acaso você tem vergonha das
roupas que uso, por não serem tão sofisticadas como as suas e da sua irmã?
— Aposto que Paola lhe deixou pensando bobagens dela. A minha irmã
me ama muito, ela é protetora em relação a mim.
— Acredito que você já esteja bem crescido para mandar no seu próprio
nariz. — desafiei-o.
— Ignore minha irmã. Logo verá que vocês serão melhores amigas.
Quando ela perceber que você é a mulher perfeita para mim, logo te aceitará
como se fosse uma irmã para ela.
Kauã consegue ser tão convincente, que me faz repensar sobre Paola.
Será que ela me vê como uma vigarista?
— Então, não sente vergonha de mim? Eu pensei que esse vestido tivesse
alguma relação com... — Ele me corta e sua expressão muda para uma muito
séria.
— Micaella, o vestido foi um presente. Eu jamais sentiria vergonha de
você. Como poderia? Nunca conheci uma mulher tão bela quanto você em toda
a minha vida.
— Isso pode até ser verdade, mas eu também tenho certeza de que você
já conheceu muitas mulheres.
— Talvez, mas nenhuma nunca como você.
O garçom atrapalha a química intensa entre nós dois.
Aquele fogo só aumenta no meio das minhas pernas. Já estou um poço de
suor, em chamas por esse homem de olhos azuis.
— Boa noite, senhor e senhora. Já sabem o que vão pedir?
— Eu vou querer quinoto de camarão e espuma de limão siciliano.
Não faço a menor ideia do que seja isso. Meus olhos estão chocados com
os preços deste lugar e o garçom espera pela minha resposta.
— Em dúvida?
— Sim, muita. Pelos nomes, eu não sei quase nada do que tem aqui, e
estes preços são absurdos.
— Escolha o que desejar.
— Eu vou querer o mesmo que ele. Obrigada.
O homem se retira em seguida. Céus! Quanto absurdo!
— Você tem certeza de que gosta deste restaurante? Poderíamos ter ido
para um mais barato.
— Não se preocupe com os preços, eu posso pagar.
— Seu trabalho deve ser muito bem remunerado.
— Sou um homem solteiro, minhas despesas não são extravagantes, a
menos quando desejo conquistar uma bela mulher de olhos azuis e cabelos
loiros da cor do sol.
— Então, confessa que está querendo me conquistar?
— Você ainda não havia se dado conta das minhas intenções? Pensei que
meus beijos tinham deixado muito claro o que eu quero. Talvez eu possa
demonstrar novamente o que estou sentindo, em um lugar mais apropriado.
— Eu não sou mulher de uma noite. — deixei esclarecido, caso ele
pensasse algo assim.
— Você é uma mulher para a vida toda. Exatamente o que eu busco.
— E você não pode sair me beijando quando bem entender. Estamos nos
conhecendo e eu não lhe dou tal liberdade.
Seus olhos estão cobertos de tesão, diferentes de tudo que já vi antes. Ele
me deixa sem ar, completamente envolvida e presa a esse olhar.
— Peço perdão se não consigo controlar meus desejos perto de você.
— A gente acabou de se conhecer, não sabemos quase nada um do outro.
— Meu nome é Kauã, tenho vinte e nove anos, sou funcionário de uma
grande empresa de construção, sou solteiro, em busca de um amor. — Pisca
para mim, fazendo-me rir. — Moro em São Paulo. Nasci lá, porém passarei
muitos meses em João Pessoa a trabalho; e se as coisas forem para o caminho
que desejo, pretendo permanecer nesse lugar por muito mais tempo que o
previsto. — Ele consegue arrancar um sorriso meu, é incrível.
— Interessante.
— Agora, me fale mais de você. Quero saber exatamente tudo.
— Não há nada de interessante na minha vida, mas vamos lá. Me chamo
Micaella Borges, filha única, moro com a minha mãe e minha melhor amiga,
que é como uma irmã para mim, trabalho no hotel mais elegante de toda a
cidade...
— Qual hotel? — mostrou muito interesse.
— Hotel Avillar Resort.
— Você trabalha para Viktor Avillar?
— Trabalho no hotel dele, mas nunca o vi pessoalmente. Dizem que ele é
até charmoso, o viúvo mais cobiçado de toda a São Paulo. Que triste perder
um amor. — lamentei.
— Muito triste. Ele ficou arrasado quando perdeu a esposa. — Parece se
lembrar de tal incidente.
— Você o conhece?
— Trabalhei para ele há alguns anos. Mas, esqueçamos esse assunto.
Continue me falando mais sobre você.
Realmente, foi estranha essa parte de falar sobre meu chefe que eu nunca
vi.
— Vejamos... Tenho dezenove anos. E isso é tudo.
— Eu sempre soube que você era uma bebê.
— Não se engane, essa bebê já é dona de si.
O garçom começa a servir a bebida escolhida por Kauã, um vinho branco
caríssimo. Fiquei estarrecida com os preços deste restaurante, todavia, como
ele mesmo disse que pode pagar, eu não vou reclamar, nem dizer mais nada.
Ao menos as regras de etiqueta, eu sei. Não sou uma das melhores, porém sei
comer de garfo e faca sem passar vergonha em lugares elegantes.
Kauã, a todo momento, está com os olhos fixos em mim. Chega a ser
intimidante. Ninguém nunca me olhou como ele.
O nosso jantar é servido e eu degusto o prato saboroso. A comida está
ótima, entretanto o tempero da minha mãe é melhor.
— Está gostando da comida? — ele me perguntou.
— Lhe garanto que o tempero da minha mãe é mais gostoso.
— Adoraria provar o tempero da minha sogra em um futuro mais
próximo.
Ele chega a ser tão cara de pau, que me faz achar engraçado toda a
confiança que apresenta diante da hipótese de chegarmos a namorar. O que o
faz ter toda essa autoestima é impressionante. Talvez ele tenha noção da sua
beleza grega extraordinária. É o homem mais bonito que já conheci em toda a
minha vida. Kauã me deixa sem ar, faz eu querer me jogar em seus braços
fortes e o imaginar sem roupas. Estou me tornando uma safada cheia de más
intenções.
— O que te faz pensar que serei sua namorada?
— O fato de eu estar apaixonado por você não conta?
— Paixão passa. — Sorrio com sarcasmo.
— Paixão vira amor, sabia? — retrucou.
— Você já amou? — Percebo que ele muda seu semblante por alguns
instantes. Parece que algo do seu passado o deixou assim. O que poderia ser?
Ou eu estou enlouquecendo na presença desse homem? — Digo... Você já se
apaixonou?
Ele parece buscar a resposta certa. Tenho certeza de que já teve um amor
no passado, e pela sua expressão, nitidamente, não teve uma boa experiência.
— Sim, eu já amei. Mas faz muito tempo. — esclareceu. — Ficou no
passado. — Parece que esse amor lhe deixou com sequelas. — E você já
amou? — essa pergunta foi profunda.
— “Amor”. Essa é uma palavra muito forte. — Respiro fundo. — Acho
que a única pessoa que eu amo nesta vida é a minha mãe e a minha irmã.
— Vai me dizer que nunca se apaixonou por um namorado? — Ergue uma
sobrancelha, em desafio.
— Eu nunca tive um namorado.
— Então, eu serei o primeiro? — Há faíscas em seus olhos. Ele,
claramente, clama por uma afirmação minha.
— Digamos que você pode tentar. Sonhar é gratuito, não é mesmo?
Ele sorri de lado e volta a comer.
Tudo está delicioso. Kauã é um pouco engraçado e o seu jeito
descontraído me chama bastante a atenção. Realmente, ele se mostra ser um
cara inteligente, extrovertido e, acima de tudo, legal. As horas ao lado dele
parecem passar muito depressa. Gostaria de parar o tempo para podermos
ficar juntos.
Não me canso de ouvi-lo falar sobre as viagens a trabalho que já fez:
Itália, França, Nova York... É fascinante tudo que seu emprego oferece.
— O seu trabalho, definitivamente, é o melhor do mundo, lhe permite
viajar com tudo pago para tantos lugares maravilhosos. O meu sonho é
conhecer o mundo, viajar para conhecer a Disney e usar as orelhas do Mickey,
gritar bem alto, de cima da torre Eiffel, patinar no gelo, em Nova York...
— Você sabe patinar? Que legal.
— Não sei. Eu disse que gostaria de patinar, não que eu sei. —
Gargalhamos ao mesmo tempo. Estamos em sintonia. — Sabe... Alguns têm
bastante sorte de trabalhar naquilo que ama. Você deve se sentir realizado.
— Sim, eu me sinto. Um dia você também encontrará um emprego dos
sonhos. Isso se já não estiver casada comigo até lá.
— O que o faz pensar que eu me casaria com você? E, dois: eu não
deixaria de trabalhar só porque estou casada.
— Mulher minha terá uma vida de princesa. Não quero vê-la chegar em
casa cansada. Pelo contrário. Quero vê-la relaxada, esperando por mim para
saciarmos os nossos desejos.
— Poderíamos trabalhar os dois e, ainda assim, saciar os nossos desejos.
— Droga! O que eu disse foi estúpido. — Eu quero dizer com “nós” que
qualquer um pode conciliar os dois. Me entende? — Meu rosto está ardendo,
queimando de vergonha.
— Poderíamos dar um passeio pela orla? — convidou-me, cheio de
pretensões.
— Não sei se é seguro sair sozinha com você. — Putz! Falei em voz alta.
Mordo os lábios. A questão é ser seguro para mim, pois não sei se
conseguirei controlar meus desejos.
— Garanto que não farei nada que não queira. — deu sua palavra de
honra.
— Aceito, então.
— Depois da sobremesa podemos ir?
— Não quero sobremesa, não gosto de doces.
— Intrigante. Nunca poderei mandar bombons para você.
— A Giulia come por mim, ou a minha mãe.
Eu pego a minha mochila de costas e Kauã paga a conta pelo PIX. O que
eu achei super prático. Nunca tinha saído para pagar nada assim, e ver alguém
pagando para mim acabou se tornando algo inusitado. Deixamos o
estabelecimento em seguida. Logo à nossa frente já consigo sentir a brisa fria
vindo do mar. Eu amo tudo que envolve praia, por sempre trabalhar em um
hotel à beira-mar. Tudo sobre essa beleza exótica me atrai.
Kauã segura a minha mão como se fossemos um casal apaixonado de
namorados caminhando pelo calçadão. As palmeiras em volta balançam suas
folhas, o céu está estrelado e a luz brilha sobre nossas cabeças. O clima está
perfeito para o amor. Meu coração palpita muito rápido, em um ritmo
descompassado. Exalo o seu perfume amadeirado delicioso, e a bela visão
dos seus cabelos ao balançar no ar me deixa deslumbrada.
— Estou apaixonado por esta cidade. — ele confessou. — Praias
lindíssimas me ajudam a relaxar no meu trabalho.
— Esse lugar é incrível mesmo. O mar acalma. Acho que é por isso que
ainda tenho paciência para tolerar meus colegas de trabalho.
— Algum te irrita? Se for o caso, posso ter uma conversa muito séria
com seja lá quem ele for.
— Você é engraçado.
Nós paramos de caminhar e ele se coloca em minha frente, agarrando-me
pela cintura.
— Eu estou apaixonado por você. — suas palavras me pegaram
desprevenida.
A seriedade de quem busca compromisso está em seu olhar. Devo
acreditar? Ou desmaiar neste momento?
— Não minta...
— Eu não estou. Você é muito especial. De alguma maneira, consegue
quebrar todas as barreiras do meu coração.
— Barreiras que a mulher do seu passado criou?
— Sim. E que foram destruídas por você. Quando digo que estou
apaixonado, não estou mentindo. Eu tentei lutar contra esse sentimento, mas
agora já não é possível.
Não posso confiar. Seria possível alguém se apaixonar em um período
tão curto? Eu sei que estou apaixonada, só que durante toda a vida fui bobinha
para esses assuntos. Ele é um homem viajado, bem-sucedido e experiente. Por
que se apaixonaria por mim?
— Eu não sou brinquedo de ninguém. Kauã, eu...
Suas mãos tocam em minha face com carinho e eu fecho os olhos por
breves segundos. A percepção que tenho é de que estou à mercê dele para o
que quiser, e isso não pode ser assim. Ele não pode me ganhar em uma
bandeja em nosso primeiro encontro.
Neste momento, quando o coração fala mais que a razão, estou à mercê
de seus caprichos.
— Eu sei disso. Eu quero amar você, linda.
— Kauã... — Arfo assim que seus lábios beijam o meu pescoço.
Ele é incrivelmente sedutor, é bom além da conta.
— Micaella, lembra da promessa que me fez naquele dia em que nos
vimos no shopping?
— Qual promessa? — fingi não me recordar.
— Vou refrescar sua memória assim. — Seus lábios colam nos meus e
sua língua macia e habilidosa pede passagem para explorar minha boca com
prontidão.
Eu desejo isso tanto quanto ele. Entrego-me ao desejo ardente de nossas
bocas devorando uma à outra com paixão, irradiando esse sentimento intenso
que assola os nossos corpos totalmente, e enlaço as mãos em volta do seu
pescoço quente. Tudo nesse homem incendeia. Seus lábios devoram os meus e
o calor abrasador de nossas peles faz todo o frio desaparecer. Entrego-me à
volúpia de suas carícias e deixo escapar um gemido abafado de minha boca. O
que o deixa ainda mais convencido de que estou gostando.
Suas mãos atrevidas vão da minha nuca, causando-me arrepios intensos,
até a cintura. Quando percebo que ele está querendo apalpar meu bumbum,
seguro elas, que são firmes. Kauã me enlouquece e faz eu me imaginar nua em
seus braços.
Este calor por dentro queima tanto, que me leva a me afastar dele.
Perigo! Ligo meu alerta vermelho.
— Eu preciso ir, meu horário já deu.
— Não irei permitir que vá embora, me deixando neste estado. Olhe para
mim e veja como você me deixou, garota.
Atrevo-me a encarar o enorme volume no meio das suas pernas,
impressionada com o tamanho do seu pacote. Tento salivar, contudo a minha
garganta está seca, impedindo-me. Busco ar para os meus pulmões.
Estou em chamas, assim como ele. A única diferença é que ele já fez sexo
e não sente receio algum em relação a isso, enquanto eu sou boba e
inexperiente.
Engulo em seco. Ele está assim por mim! Minhas bochechas estão
coradas, e espero que não dê para notar.
Kauã se aproxima novamente, agarrando-me pela cintura. Posso sentir o
seu pênis roçar sobre a minha barriga, parecendo que vai atravessá-la.
Imagine isso rasgando o meu canal vaginal, rompendo a barreira da minha
virgindade. Causaria um estrago, de fato. Meu corpo treme comigo imaginando
essa possibilidade.
Sensacional!
Extravagante!
Apaixonante!
Essas três palavras definiriam o momento se eu fosse até o final com ele.
— Você me prometeu todos os beijos que eu quisesse, lembra?
— Eu prometi. — assumi. — Mas já é tarde para que estejamos no meio
da rua.
— Venha comigo. — Segura a minha mão e sai me levando para algum
lugar.
— Aonde vamos?
— Vou tirar você do meio da rua e a levar para o meu quarto. — ele
disse assim, descaradamente.
De imediato, paro de caminhar, e ele me olha de um jeito estranho.
— Eu não posso...
— Linda, só faremos o que você quiser. Não se preocupe com nada.
Prometo que me contentaria somente em dormir ao seu lado, sentindo o seu
perfume doce. Não me negue isso, eu te peço.
Dormir juntos. Somente dormir me parece algo bom.
— Apenas dormir. Eu não quero nada além disso. — deixei claro.
Kauã me leva até o seu quarto. Ele está hospedado próximo ao
restaurante onde jantamos.
Meu estômago ainda não digeriu toda aquela comida, por isso estou
sentindo borboletas nele. Pegamos um elevador e saímos dentro do ambiente.
Meus olhos fitam a enorme cama box no centro do quarto, lençóis brancos e,
aparentemente, travesseiros macios. Eu dormiria feliz aqui.
Olho para trás e o vejo tirando a camisa, mostrando o abdômen sarado
que me deixa sem ar. Ele percebe que eu estou olhando-o. Na verdade,
babando. Literalmente. Nem consigo disfarçar.
— Gosta do que vê, linda?
— É interessante.
Ele abre um sorriso provocador e, então, abaixa a calça. Tenho uma
visão rápida da sua boxer branca, que demarca todo o território inimigo, muito
volumoso.
Viro-me de lado enquanto ele parece se trocar. Já vi homens de sunga nas
praias, mas nunca um tão lindo e sexy como ele.
— Não precisa ter medo. Me desculpe se eu não lhe disse este detalhe
antes: não consigo dormir vestido. — O calor da sua voz está bem atrás de
mim.
Arregalo os olhos. Ele está nu?
— Você está sem roupa alguma? — perguntei, temerosa.
— Não, estou usando uma cueca boxer. Pode constatar com os seus
olhos. — desafiou-me.
Não quero parecer uma menina assustada, ser motivo de chacota. Viro-
me e encaro seus olhos. Eu nunca estive tão nervosa como agora. O que deu
em mim, para estar agindo assim? Acredito que ele não me forçará a nada.
Enlouqueci, por ter aceitado vir parar aqui. Oh, céus! Minha mãe me mataria
se soubesse onde estou, diria que estou louca e que preciso de tratamento.
Giulia a mesma coisa.
— Talvez seja melhor eu ir embora.
— A sua mãe pensa que está trabalhando agora. Não precisa chegar
cedo.
— Eu sei, mas amanhã eu trabalho.
— Ótimo. Posso te deixar no seu trabalho.
— Não precisa, de verdade. A gente se vê depois. Tchau.
Ele não me impede de caminhar até a porta, porém quando toco na
maçaneta, chama por mim.
— Linda, não precisa sair correndo. Eu vesti uma bermuda, veja só.
Ele estava mesmo vestido. Meu medo não deixou que eu notasse esse
detalhe.
— Dorme comigo nesta noite? Somente dormir.
Eu tenho certeza de que me arrependerei disso para sempre, mas nunca
saberei se não ficar.
CAPÍTULO 7

Esta foi a melhor noite da minha vida, sem sombra de dúvidas. Estar nos
braços largos, protetores e quentes de Kauã me trouxe uma sensação boa de
preenchimento. Eu nunca havia sentido tudo isso em toda a minha vida.
Por sorte, tenho o costume de levantar cedo. Hoje acordei mais cedo do
que geralmente, quando o relógio marcava quatro e meia. Assim, dará tempo
de eu chegar em casa e me arrumar para o trabalho.
Não há nenhuma ligação perdida de casa. Avisei à minha mãe que
chegaria muito tarde, e ela apenas perguntou que horário. Eu lhe disse que não
tinha noção. Torço para que as encontre dormindo quando chegar. Se elas
descobrirem onde passei a noite, estarei encrencada. Espero que não vire
hábito mentir para a minha família.
Deixei-me levar pelo momento e passei a noite inteira dormindo nos
braços de Kauã. Fui levada pela paixão e pelo desejo ardente de permanecer
aqui. Muitos não acreditariam se eu dissesse que não fizemos nada além de
fechar os olhos e dormir.
Com bastante cuidado, para não o acordar, pego as minhas coisas. Meu
corpo ainda está quente pelo contato de horas com o dele. Observo-o dormir.
Ele é uma representação realista de um deus grego. Mantenho meus olhos fixos
nele por alguns minutos.
Dessa vez apenas dormimos, só que em nosso próximo encontro já não
posso garantir mais nada. Não consigo ter controle sobre mim quando estamos
juntos. Meu corpo queima pelo seu e meus lábios suplicam pelos seus beijos
molhados e sensuais. Reviro os olhos com o poder incrível que eu tenho de ter
pensamentos insanos com esse homem. Daqui a pouco me tornarei uma mulher
pervertida.
A maneira como Kauã foi respeitoso me faz acreditar ainda mais na sua
imagem de bom moço. Se ele realmente desejasse apenas sexo, já teria
desistido de mim? Ou toda a sua insistência é em busca de um prêmio maior?
Isso que dá nunca ter namorado na vida. Não sei quando um homem está
apaixonado de verdade. A maior experiência que tive foi ouvindo a minha mãe
contar quando foi enganada pelo meu pai. Ele fez de tudo para a conquistar e
depois desapareceu, sem nunca mais dar resposta.
Deixo o quarto luxuoso nas pontas dos pés e passo pela recepção. A
mulher me olha como se eu fosse uma prostituta. Ao menos essa é a impressão
que tenho. Aproximo-me para perguntar se ela sabe onde tem um ponto de
ônibus mais próximo, e ela também estranha a pergunta.
— A duas ruas daqui, virando à direita.
— Obrigada. E, moça, eu não sou prostituta, se é isso que está
imaginando a meu respeito. Não que a sua opinião importe.
Primeiramente, ela se sente envergonhada por ter pensado mal de mim, e
depois abre um sorriso peculiar.
— Acredito em você. Todas sempre dizem a mesma coisa, mas se você
fosse uma prostituta, não iria embora para casa de madrugada, sem antes
aproveitar o café da manhã.
— Tenha um bom dia. — Dou-lhe as costas e deixo o local, indo até o
ponto de ônibus.
Como não há trânsito neste horário, chego em casa antes da hora em que
despertaria para ir ao serviço. Ouço passos vindo da escada, deito-me
apressadamente sobre o sofá e finjo estar dormindo. Certamente, é a minha
mãe. Espero convencê-la de que não cheguei em casa quase às cinco da
manhã. Como não tenho mais tempo para dormir, apenas passo mais alguns
minutos deitada e vou para o quarto me trocar.
Giulia já está de pé e não desconfia de nada. Ótimo. Assim, não preciso
mentir para ela.
— Como foi a festa?
— Cansativa. Pronta para mais um dia de trabalho?
— Sim, estou. Também estou faminta. — Abre um sorriso contagiante.
À mesa, tomamos nosso dejejum.
Mamãe está tranquila e parece não ter desconfiado de nada. Posso
respirar aliviada.
A velha rotina do meu trabalho se repete mais uma vez. Minha chefe vive
para infernizar a minha vida e a de Giu. Não vejo o momento de sair desse
emprego; já não suporto mais tantas injustiças cometidas nesse lugar. Cogitei a
ideia de contar tudo para o senhor Avillar, contudo, obviamente, ele não terá
tempo para prestar atenção em uma funcionária revoltada.
— Micaella, venha cá. — Mariza me chamou.
— Pois não? O que deseja?
— Algo está me deixando bastante curiosa. Naquele dia da festa, em que
você deu todo aquele vexame, caindo na piscina...
— O que você quer saber?
— O que fez para sair ilesa? Digo... Eu soube que até um médico foi lhe
atender.
— Aonde você quer chegar? Eu caí na piscina sim, e era dever dos
organizadores prestar socorro a mim.
— Muito atrevida você. Isso que dá as leis miseráveis deste país fazerem
gente como você pensar que tem direitos. Estes políticos não fazem nada que
preste.
Essa mulher tem o dom de consumir todas as minhas energias, deixando-
me na lama. Como ela pode ser tão ignorante e mal-educada? Sempre está no
meu pé, como uma pedra em meu sapato.
— Lembre-me de nunca mais levá-la para nenhum evento. Você me
causou uma enorme dor de cabeça naquela noite. Fui advertida, pois escolhi
uma moça não qualificada para um evento daquele porte.
— Então, na próxima vez, faça uma seletiva melhor, porque para mim já
deu. Você pensa que é maior que todas nós, mas não é. Agora, se me dá
licença, fique se alimentando do seu ódio, pois você não pode me demitir sem
justa causa.
— Veremos o que posso. Você irá se arrepender por ter a língua tão
afiada e grande. — ameaçou-me.
Há cerca de dois anos ela vem com essas ameaças, desde que seu
namorado, que tem idade para ser o seu filho, paquerou a Giulia e lançou
algumas cantadas para mim. É claro que não demos atenção a ele, porém, foi
apenas Mariza descobrir isso, que passou a pegar no nosso pé. Essa mulher
consegue terminar com o meu dia, sugando toda a minha energia positiva.
No fim da tarde, quando estou saindo do trabalho com Giulia, vejo Paola
parada em frente ao hotel. Ela sinaliza para que eu vá até ela.
— Quem é aquela mulher te chamando?
— É a responsável por um evento que haverá hoje à noite. Ela quer que
eu trabalhe nessa festa, mas estou cansada. Eu vou lá falar com ela. Já volto.
— Deixo minha amiga para trás.
Paola me olha como se estivesse sendo obrigada a estar aqui. Isso me
irrita. Tudo nessa mulher me estressa por algum motivo. Ela sempre está com
essa cara de poucos amigos, como se nada nunca a deixasse satisfeita. Me
parece que não é feliz.
— Oi — falei, na força da educação que minha mãe me deu.
— Kauã pediu que eu viesse buscar você.
— Fale para o seu irmão que eu não vou poder sair. Tenho que trabalhar
nesta noite.
— Trabalhar? Você não está dando um bolo no meu irmão?
— Na verdade, estou. — Para que mentir? Estou cansada, preciso relaxar
a minha mente. — Hoje não posso ver o seu irmão.
— Tem certeza disso? Depois não vá se arrepender.
— Eu não vou. — Dou-lhe as costas e volto a ir com Giulia até nossa
casa.
Posso ter tomado a pior decisão da minha vida, rejeitando sair com
Kauã, no entanto preciso testá-lo. Se ele realmente se diz apaixonado, irá
entender.
Após o jantar, sento-me em um banquinho, na varanda de nossa casa.
Minha mãe se junta a mim, trazendo nosso chá. Sempre o tomamos depois da
janta. Ela, de fato, sabe quando não estou nada bem.
— Querida, conte para mim tudo que você está guardando somente para
si.
— São tantas coisas, mamãe. Às vezes eu me pergunto por que o meu pai
não quis me conhecer, por que trabalho com pessoas insuportáveis e se sou
uma boa filha.
— Micaella Borges, de onde você tirou que não é uma boa filha? Você é
a minha vida. Não pense essas bobagens, meu amor. E, quanto ao seu pai, foi
ele quem perdeu. — Abre um sorriso radiante. — Estou pensando seriamente
em ir até seu emprego e dar umas bofetadas nesta Mariza irritante.
Gargalho alto. Minha mãe nunca fala em bater em alguém. Pelo contrário.
Sempre me ensinou a ter paciência e a nunca apelar para a agressão.
Ela me abraça carinhosamente. Nesse abraço, sinto que nada pode me
abalar e fico segura. Era para esse abraço que eu sempre vinha quando
criança, ao sentir medo de algo. Ela sempre estava aqui para me proteger e me
dar o seu amor.
— Mamãe! — eu a repreendi. — Violência nunca leva ninguém a lugar
nenhum. — Sempre a quis dizer isso.
— Tem razão, meu amor.
Não existe ninguém mais calma e paciente que mamãe. Ela costuma ter as
palavras corretas para me dizer no momento certo.
Passamos algumas horas conversando do lado de fora, até ela ir se deitar.
Hoje, mais cedo, ela saiu para fazer as compras do mês; e quando sai assim,
geralmente fica com dor de cabeça.
Observo algumas estrelas que se pode ver no céu. A minha rua é
silenciosa e tranquila; nunca acontece nada perigoso aqui, graças a Deus. A
calmaria reina tanto, que estranho quando vejo um carro preto de um modelo
que não conheço. Baseando-me no meu vasto conhecimento sobre carros de
luxo, sei que esse custa mais do que todas as casas da minha rua. Os faróis são
apagados. Será que é assalto? Mas, por que bandidos viriam em um automóvel
de luxo assaltar um lugar pobre como esse? Estranho.
Meu celular vibra em minhas mãos. É um número que não está na minha
agenda. Recuso a primeira chamada, acreditando que seja trote, só que, mais
uma vez, ele insiste em me ligar. Atendo, por meio das dúvidas, pronta para
fazer meu discurso de ódio. Sempre números desconhecidos me ligam,
oferecendo-me cartões de créditos ou falando que sou a princesa herdeira de
Génova. Ou seja, tudo não passa de golpes.
— Olha só, eu...
— Micaella! — Ouço a sua voz rouca pelo celular. Ficou ainda mais
bonita. — Boa noite, linda.
É Kauã. Como ele conseguiu meu número?
— Kauã?
— Não pude conter minha saudade de você. Não depois de termos
passado a noite inteira juntos. Seu perfume ainda está impregnado nas
minhas narinas. Não pude permanecer longe de você.
Kauã consegue ser romântico e safado ao mesmo tempo. Meu coração
palpita mais forte.
— Como pegou o meu número? Eu não te dei ele. — minha voz saiu doce
e suave. Estou maravilhada em como ele consegue descobrir tudo.
— Um verdadeiro mágico nunca revela seus truques.
— E agora você é um mágico?
— Quer ver eu fazer uma mágica incrível?
— Que mágica, senhor Oz?
— Aparecer na rua da sua casa e te levar para darmos uma volta?
— Impossível, mas não custa tentar. — Debochada, sorrio.
— Olhe para a frente. O que vê?
— Um carro parado na calçada, de frente para a minha casa.
— Em três, dois, um o vidro irá descer e... voalà! Aqui estou.
Arregalo os olhos quando o vejo colocar a cabeça para fora do veículo.
Quase tenho um treco, de tanta surpresa. O que ele está fazendo em frente à
minha casa? Kauã consegue me deixar nervosa. Se a minha mãe o vir aqui, ou
até mesmo Giu, elas me farão mil perguntas.
Dou um pulo, em sobressalto, ainda em choque com a revelação que
acabei de ter.
— E, então... Eu sou um bom mágico?
— Meu Deus! Eu vou matar você!
— Venha me matar dentro do carro, linda. Estou louco para beijar esta
sua boquinha sexy e morder seus lábios rosados, atraentes, enquanto você
tenta me matar. — provocou-me.
— Eu deveria ir aí mesmo, mas não posso. Não quero que ninguém me
veja entrando no seu carro. Acredite: há vizinhas que estão observando tudo
neste momento, sem que a gente as veja.
Ele ri baixinho e suspira pesadamente.
— Eu preciso beijar você. Não me negue um beijo, linda. Eu posso ir
mais para a frente e você me encontra?
— Eu acho melhor não.
— Se você não vier, serei obrigado a bater na porta da sua casa e pedir
autorização para a sua mãe. Então... O que prefere?
— Isso é golpe baixo. E você não teria essa coragem.
Ele abre a porta do automóvel, colocando uma perna para fora. O que faz
meu coração parar por alguns segundos. Que doido!
— Nem pense em fazer isso, Kauã! Volte para o carro! Eu vou até você.
Me dê cinco minutos, é tudo que preciso.
— Estarei te esperando.
Encerro a ligação e entro em casa. Mamãe está vendo novela.
Estou nervosa com o susto que tive. Por pouco elas não o viram.
— Eu vou caminhar um pouco. — comentei.
— Filha, está tarde.
— É só por aqui, pela rua. — avisei.
— Eu vou com você. — Giulia se ofereceu.
— Não, pode ficar. Você adora esta novela, não a perca por mim. Eu levo
meu celular; qualquer coisa ligo.
— Não demore, meu amor. — mamãe me pediu.
Respiro fundo. Essa foi por pouco.
Caminho até Kauã, que está dentro do veículo. Com o retrovisor baixo,
vê quando eu chego. Ele destrava a porta para que eu entre e me sente ao seu
lado. Antes que eu possa falar alguma coisa, suas mãos envolvem meu
pescoço e sua língua ataca a minha boca, pedindo passagem para um beijo
molhado e arrebatador. Sinto arrepios intensos percorrerem todo o meu ser.
Ele me deixa sem ar e refém do seu toque.
— Espera... — pedi entre o beijo.
— Depois...
Continuo beijando-o. É instigante, prazeroso.
Ele reclina o meu banco e consegue vir para cima de mim. Os vidros
pretos fechados, o ar ligado... O clima é perfeito para nos entregarmos à
luxúria que nos domina. Gemo baixinho quando suas mãos descem pela minha
cintura.
— Você é muito deliciosa, linda. Eu estou louco por ti.
— Eu também estou assim. — admiti.
— Micaella, você me enlouquece. — Não para o nosso beijo.
Kauã me provoca. Sua boca sabe onde me tocar, levando-me à loucura, a
querer perder a razão e a deixar o calor do momento me dominar.
— Seja minha. — suplicou.
Ele está me pedindo para que eu seja sua. É no sentido que estou
imaginando? Quer sexo comigo?
— Me deixe amar você. — Kauã já não tem mais controle sobre si, e eu
muito menos.
— Aqui?
— Não. Você merece algo mais especial...
— Eu acho melhor não. Não posso demorar muito. — Empurro-o de
volta para o seu banco, do motorista.
Meu corpo está em chamas, soltando faíscas, assim como o dele. Seus
olhos azuis profundos como o oceano buscam o autocontrole.
Oh, céus! Ele quer fazer sexo comigo.
— Perdão se eu excedi meus limites. Já não posso mais me controlar
diante de você.
— Você é bem rápido quando está querendo sexo. — falei, um pouco
mexida.
— Eu já entendi que você quer ir mais devagar. Não se preocupe, não
irei exceder mais.
— Não me peça perdão. Eu quero também, porém acho que este não é o
momento.
Seus olhos voltam a brilhar. Ele me deseja tanto quanto eu o desejo.
Nunca havia me sentido pronta para ter qualquer tipo de relacionamento
amoroso com algum homem, esta é a primeira vez que tenho a necessidade de
me sentir amada assim, tocada. Saber que sou desejada por Kauã me instiga de
uma maneira insana.
— Você quer ser minha, linda? — sua pergunta foi direta e me deixou
sem ar.
— Sim, eu quero. — respondi, sem receio. — Mas você precisa ter um
pouco mais de paciência comigo.
— Espero o tempo que for para a ter em meus braços. — Ele percebe
meu receio e me faz uma pergunta. — Tem algo a mais que você queira me
falar? Micaella, para isso dar certo, preciso que seja franca comigo.
— Eu sou virgem. — revelei de uma vez, olhando para o lado.
Não sei qual foi sua reação ao descobrir minha falta de experiência. Ser
virgem no mundo de hoje é algo sem noção, visto como uma fragilidade
feminina. Jamais me senti envergonhada por nunca ter feito sexo; até hoje não
fiz por opção minha.
— Disse “virgem”?
Balanço a cabeça positivamente, sem olhá-lo. Sou uma garota tímida
escondida dentro de uma personagem, sempre me mostrando ser alguém que
nunca tem medo de nada. Mas, adivinha. Eu tenho, e sou bastante insegura.
Sua mão toca em meu queixo, fazendo-me encará-lo. Há um misto de
sensações nele que não sei descrever bem, todavia eu diria que está tranquilo
com minha afirmação. Ele não parece ter tomado um choque ou ficado bravo,
chateado. Pelo contrário. Está se mostrando um cavalheiro. Primeiro beija a
minha testa.
— Você é muito especial. Prometo que esperarei o tempo que precisar e
se sentir segura para ser minha. Será uma honra para mim lhe mostrar o que é
o amor.
Meu coração palpita, acelerado. Ele consegue ser fofo e romântico. Se
não estiver apaixonado por mim, não sei descrever o que sente.
— Obrigada por me entender.
— Podemos nos encontrar amanhã? E todos os dias em diante? Já não
consigo me manter afastado de você.
— Sim. De preferência à noite, quando eu sair do trabalho.
— Pode falar para a sua mãe que fará horas extras? Ou algo assim?
— Posso. Só que não farei isso todas as noites.
— Eu quero conhecer a sua mãe. — ele disse, para a minha surpresa. —
Mas entendo que é melhor esperarmos um pouco mais.
— Você tem razão. — Sorrio de lado.
Ele me toma em um beijo suave. Por hoje o nosso encontro termina aqui.
Confesso que estou caminhando sobre nuvens depois desta noite.
Tento sair do carro, entretanto Kauã me segura pela mão e a beija
suavemente, absorvendo meu perfume. Ele se mostra dependente dele, um
viciado em meu cheiro.
— Espera. Eu preciso te perguntar uma coisa antes.
— Pode perguntar.
— Você aceita namorar comigo? Quero que seja completamente minha.
Abro um sorriso largo, ainda sem acreditar no seu pedido. Esta é a
primeira vez que alguém me pede em namoro.
— Eu aceito ser sua namorada, ser sua em todos os sentidos.
— Eu estou me apaixonando por você.
Ao ouvir suas palavras, tive certeza de que ele disse a verdade.
— Eu também estou apaixonada. — confessei.
Kauã abre um sorriso convincente. As covinhas que aparecem quando ele
ri são lindas. Agora sou sua namorada.
CAPÍTULO 8

Sua língua saborosa devora a minha, cheia de tesão. O combate amoroso


travado por nossas bocas é intenso a ponto de me deixar completamente
molhadinha. Quando ele passa a ponta da língua na minha orelha, causando-me
arrepios por toda a pele, faz eu querer subir pelas paredes. Tento me
controlar, só que está cada vez mais difícil. Nossos encontros vêm
acontecendo com mais frequência.
A volúpia me consome, e o calor abrasador de nossos corpos unidos
através do beijo vem se tornando cada vez mais instigante. Eu preciso sentir
esse homem me amando.
A música alta em nossos ouvidos, o forró de “Aviões do Forró”, é
dançante, contagiante, e o paredão é de estrondar os tímpanos. O local é
aberto, porém não há tantas pessoas, como eu imaginava que teria. Kauã tem a
missão de transformar minhas noites pacatas em noites divertidas e
apaixonantes ao seu lado. Quando não saímos para jantar, estamos curtindo
juntos. Ele é, literalmente, um cara bom de papo. A cada dia que passa me
sinto mais apaixonada. Esse homem é o motivo dos meus sorrisos mais lindos.
— Até que você dança bem forró, para alguém que diz nunca ter dançado.
— elogiei-o.
Sua coxa sarrando na minha é algo tão provocador. Posso sentir seu
membro duro perfurar minha barriga.
— Você é uma ótima professora, principalmente por me deixar sempre de
pau duro. — sussurrou ao meu ouvido.
— Kauã! — eu o repreendi.
— Desculpe, linda, mas não consigo me controlar. Você é muito gostosa,
apetitosa. Minha língua quer beijar as partes mais secretas do seu corpo
esculpido à mão e meu pau quer sentir você rebolando esta bocetinha linda
que tem, sobre ele.
— Você nunca me viu sem roupas. Como sabe se é bonita ou não? —
provoquei-o, desafiando-o.
— Eu a imagino nua todo o tempo, seu corpo nu sobre o meu. Com
certeza você tem lindos seios rosados e uma bocetinha apertada que me fará
salivar, querendo beijá-la e chupar cada extensão dela até que goze na minha
boca.
— Você está muito safadinho, Kauã Monteiro. — Ele me deixa
completamente desconcertada, fazendo a minha timidez vir à tona.
— Não fique vermelhinha, linda, ou serei obrigado a levá-la até meu
carro e chupar a sua bocetinha.
Ele não está falando sério. Dou uma risada e ergo uma sobrancelha,
duvidando que poderia tomar uma atitude assim. Estamos em um local aberto e
seu automóvel está estacionado a uma pequena distância daqui.
— É melhor continuarmos dançando. — sugeri.
— Venha comigo. — Ele segura a minha mão e saímos caminhando
juntos.
Pensei que Kauã gostaria de respirar um ar mais fresco, sem todas as
pessoas à nossa volta, entretanto percebo que estamos indo em direção ao seu
carro. Arregalo os olhos, temendo o que ele pode fazer comigo. Eu não
deveria ter erguido a sobrancelha, deveria ter ficado calada. Sei quão
insaciável ele é, está sempre buscando o autocontrole. Também sei que adora
sexo, pois toda vez que pode, está insinuando o quanto me deseja e vem se
controlando para não me possuir.
Eu o desejo, porém também não posso me entregar ao primeiro que
aparecer, sem ter certeza de que é isso que quero. Eu não sou arcaica. Pelo
contrário. Apenas não desejo sofrer e quebrar a cara com decisões erradas.
Talvez ele tenha esquecido alguma coisa no carro. — pensei.
— Kauã, o que viemos fazer aqui? Ainda não está na hora de eu voltar
para casa.
Ele destrava as portas do veículo, abre a do passageiro e inclina o banco
para trás o máximo que pode. Depois me encara com os olhos em chamas.
Parece alguém fora de si, completamente possesso, dominador e provocador.
— Eu quero provar você, linda... Sentir o seu gosto.
Engulo em seco. Ele quer me sentir?
— Goze na minha boca nesta noite. — A proposta audaciosa me
desconcerta ainda mais.
Ele está esperando pelo meu consentimento. Em um primeiro instante,
não sei como reagir, porém sou tomada pelo desejo crescente dentro de mim.
Explodirei se não for tocada por ele hoje.
Os seus olhos azuis, em chamas, queimam todo o meu corpo de uma
maneira abrasadora. Já não tenho mais controle sobre meus atos.
— E, então, linda? Deixe-me fazê-la relaxar enquanto goza na minha
boca.
Respiro fundo. Eu preciso de uma experiência como essa. Como mulher,
necessito ser tocada. Entro no carro, deito-me sobre o banco e encosto a
cabeça no estofado macio. Kauã se coloca entre minhas pernas, eu tremo com
esse contato mais quente, intenso, suas mãos apertam minhas coxas e ele liga o
ar potente do automóvel.
As portas fechadas e os vidros fumê fazem parecer que não há ninguém
dentro do veículo. Seu corpo cai sobre o meu, beijando-me com ferocidade. É
recíproco o desejo ardente em nós. Sua língua trava uma batalha com a minha
e eu respiro entre o beijo com dificuldade.
Ele tem o dom de me deixar sem ar.
Suas mãos deslizam pela minha cintura, por cima do vestido, e eu arfo
com esse toque caloroso. Uma delas para por cima da minha intimidade.
Encaro seus olhos quando seus dedos hábeis me invadem por baixo do tecido
da calcinha.
Sua expressão muda ao sentir que estou excitada.
— Que bocetinha molhadinha, linda. Tudo isso é para mim?
— Sim. — Balanço a cabeça positivamente.
Ele abre um sorriso safado que me faz ficar vermelha.
— Agora, abra as suas pernas ao máximo para mim. Hoje eu vou foder
sua bocetinha com a língua. — Suas palavras me causam um calor arrepiante.
Kauã me enlouquece até falando. Esse homem é a minha maior loucura.
Ele se livra da minha calcinha e a cheira. Pela sua expressão, é como se
fosse o melhor perfume do mundo.
— Gostosa para caralho, linda! Toda minha! — Mais uma vez, coloca-se
entre minhas pernas, desta vez agarrando minhas coxas como se não quisesse
me soltar, nunca mais.
Posso sentir o calor dos seus lábios se aproximando da minha intimidade.
Meu corpo treme incontrolavelmente e sua boca gulosa engole minha boceta
sem nenhum pudor. A sensação que tenho é de que estou prestes a passar por
uma experiência incrível.
Fecho os olhos ao ser preenchida por algo delicioso. Correntes de
choque me fazem soltar gemidos muitas vezes abafados, por conta da minha
timidez até certo ponto. Uau! Kauã sabe como introduzir sua língua lá em
baixo. Ele disse que me foderia com ela, e está fazendo isso. Cada lambida me
faz querer subir pelas paredes. Eu nunca havia sentido algo tão gostoso assim.
A intensidade com a qual ele devora a minha boceta é incrível. Sabe
fazer isso como ninguém. Algo que me faz pensar no quanto ele é experiente.
Porém, quero que esse fato vá para o inferno. A partir de agora existe apenas
eu em sua vida. E no que depender de mim, isso vai durar.
Contorço-me cada vez mais com a deliciosa sensação. Parece que estou
sentindo um fogo imenso aumentar gradativamente, incendiando cada partícula
do meu ser. Lânguida pelo prazer, apenas deixo que tudo fique mais intenso
quando um de seus dedos hábeis me invade. Ele sabe que sou virgem, portanto
não vai além do que pode.
Tudo ficou ainda mais gostoso. Labaredas de um fogo abrasador me
envolvem mais e mais.
Sua boca gulosa chupa meu clitóris com bastante apetite; ele me janta
como se eu fosse uma refeição deliciosa. Minhas coxas tremem, sua língua
desliza suavemente pelo meu clitóris e ele me observa enquanto faz isso, com
a intenção de que eu peça mais. Mordo os meus lábios até sentir o gosto do
sangue.
A sensação de preenchimento é delirante. Estou lambuzada. É assim que
me encontro. A sua sucção atrevida é deliciosa.
— Não pare. — pedi. — Eu quero gozar. — supliquei.
— Goze, anjo. Despeje seu delicioso néctar dos deuses na minha boca.
Suas palavras pecaminosas me estimularam, fazendo-me gritar seu nome
ao sentir meu corpo ser invadido por aquela deliciosa sensação de gozar pela
primeira vez.
— Kauã! — um grito de prazer me levou à loucura.
O clímax ao qual ele me trouxe é extremo, prazeroso e me faz tremer dos
pés à cabeça; desta vez sem medo, apenas inebriada pelo prazer ardente que
me consome. Estou pisando em nuvens, e ele certamente sabe disso. Essa
gozada foi maravilhosa.
— Você é deliciosa, linda. Que gosto incrível que tem.
Minhas bochechas estão vermelhas como um pimentão, coradas. Agora,
que a ficha da realidade recaiu sobre mim, sei que cometi uma loucura da qual
não me arrependo.
Seu corpo pesa sobre o meu e ele me beija suavemente, com a mão
aquecendo minha intimidade. Sinto o meu gosto na sua boca, e o cheiro
também. Ele gostou do que fez.
— Se você já ficou assim, bebê, imagine quando for o meu pau te
proporcionando todo esse prazer.
Eu sei que é loucura, mas eu queria muito passar a noite em seus braços,
sendo amada. Posso me arrepender do que estou prestes a dizer, no entanto
não será hoje.
— Quero que faça amor comigo, Kauã Monteiro. — Decidida, não irei
voltar atrás.
— Você tem certeza disso?
— Absoluta. Eu quero ser sua mulher nesta noite. Foda comigo aqui,
nesse carro, agora. — supliquei.
— Seu pedido é uma ordem, linda, mas não será aqui que irei te fazer
minha. Iremos para o quarto onde estou hospedado. Você merece algo
grandioso.
Meu coração bate rapidamente dentro do peito. A cada acelerada que o
carro dá, em alta velocidade, em direção ao hotel onde Kauã está hospedado,
mais nervosa e ansiosa fico. Um sorriso bobo surge nos meus lábios quando
ele segura minha mão fria e gelada. Ele percebe que estou nervosa, e é fofo da
sua parte tentar me acalmar.
Solto uma respiração suave, buscando me controlar. Estou segura da
minha decisão, portanto não há porque ficar nervosa. Ao menos é o que penso,
até o elevador abrir e meus olhos irem de encontro à cama grande no centro do
quarto.
Kauã segura a minha mão novamente e me leva até a área da pequena
adega que há no cômodo.
— Vinho branco ajuda a relaxar. — Serve uma dose para mim.
Não sou fã de bebidas alcoólicas, então recuso. Ele a bebe de uma única
vez.
— Micaella, eu não quero pressionar você a nada. — Suas írises azuis
penetrantes enxergam através da minha alma. — Quero que esteja segura da
sua decisão.
— Eu estou segura. Eu quero você.
Quando suas mãos tocam em minha face, tremores percorrem toda a
extremidade do meu corpo. Choques em forma de arrepios fazem todos os
meus pelos eriçarem assim que sua língua molhada desliza pelo meu pescoço.
Um fogo se acende dentro de mim, queimando o meu ser e se irradiando por
todo o quarto.
Nesta noite serei sua, e ele será meu. Um encontro de almas unidas
através do sentimento dominador do sexo. Meu corpo queima pelo seu, e ele
sabe disso. Quando estou ao seu lado, sinto que estou no paraíso, em um verão
radiante e sem frio, com apenas calor e paixão.
Kauã é um homem experiente. Assim que ele tira a sua camisa, posso
contemplar todos os gomos musculosos do seu abdômen de tanquinho. Como
diz minhas amigas, dá para lavar muita roupa nesse abdômen definido. Além
disso, é viril e forte. Eu já tinha visto isso na outra noite em que tivemos
juntos. Ele é realmente atraente como homem, depravado e safado.
Meu namorado me faz levantar os braços, e quando menos espero, meu
vestido é arrancado de mim. A lingerie cor de celeste é tudo que fica à mostra.
Pelo menos parte dela, já que estou sem calcinha.
Seus olhos me comem.
— Você é perfeita, princesa. — essa foi a primeira vez que ele se referiu
a mim assim.
Mostro um sorriso tímido e me pergunto como é possível estar
apaixonada por alguém de quem sei tão pouco, apesar de nossas conversas
serem bastante detalhadas. Sinto que ele é sincero comigo. Não dá para julgar
as pessoas pela cara, e as atitudes dele são muitos sinceras.
Estou em chamas. Sua língua mergulha na minha boca, buscando a minha.
O beijo incendeia ainda mais os nossos corpos. Desejo ser sua, minha mente
grita isso.
Toda a tensão desaparece quando ele segura minhas mãos, conseguindo
me trazer tranquilidade.
— Minha princesa, tão apetitosa e minha. — sussurrou entre o beijo mais
para si mesmo do que para eu ouvir.
O fecho do meu sutiã é aberto e, imediatamente, ele para o beijo para dar
atenção à região. Como eu nunca vi antes, há fascinação em seu olhar.
— Não me canso de repetir o quanto você é bonita, bebê. Perfeita.
— Hum! — soltei um gemido quando seus lábios beijaram ao redor dos
meus seios, fazendo-me sentir ainda mais prazer.
Quando penso que já experimentei de tudo, ele me mostra que ainda há
outros caminhos a serem percorridos. Eu nunca quis tanto conhecer os
caminhos do prazer como agora; nunca pensei que um homem pudesse fazer
minhas pernas tremerem tanto. Contraio-as, querendo que ele me toque.
Fico assustada quando Kauã se livra de sua calça e cueca. O tamanho do
seu pau é desproporcional para a realidade, é muito grande e grosso, faz
minha garganta secar.
O loiro volta a me beijar com ardência, deitando-me sobre a cama. Sua
boca engole os meus seios, chupando os biquinhos como se estivesse
mastigando-os em sua boca. Reviro os olhos, tomada pelo desejo, e ele leva
seus dedos grandes ao redor do meu canal, depois massageia meu clitóris até
sentir que estou clamando por mais. Ao se levantar da cama, mexe na gaveta.
Que bumbum empinado e gostoso ele tem. Estou me tornando uma pervertida
por causa do meu namorado devasso.
Kauã pega uma camisinha e, também, um frasco de gel lubrificante. Vejo-
o colocar o produto em seus dedos e largar o preservativo de lado. Não
vamos usá-lo?
Novamente, ele introduz seus dedos, agora com o gel lubrificante, na
minha vagina, para facilitar melhor o processo de tirar a minha virgindade.
Mergulhou dois deles para saber a intensidade da minha dor. Até agora não foi
nenhum bicho de sete cabeças. Depois de verificar que estou pronta para ele,
o peso do seu corpo recai sobre o meu e a sua boca devora a minha com
volúpia.
Quando a cabeça robusta do seu pau invade meu canal vaginal, arfo pela
surpresa. É quente ao mesmo tempo que arde.
— Relaxe, amor. Eu vou cuidar de você. — essa foi a primeira vez que
ele me chamou de amor. Meu coração palpita mais forte.
Kauã estoca cada vez mais fundo na minha intimidade, fazendo-me
esquecer de que deveríamos usar camisinha. A única coisa que ele me faz
sentir é uma necessidade enorme de ser preenchida por todo o seu tamanho
robusto, avantajado. Minha boceta engole o seu pênis, e toda a queimação
dolorosa não se compara em nada com o desejo que estou sentindo. A maneira
como ele me olha, deixa-me esquecer completamente do mundo à nossa volta.
Apenas me concentro no prazer iminente que irradia pelo meu corpo.
— Caralho! Você é muito apertada, princesa. Que gostoso estar dentro de
você, amor. — mais uma vez, ele me chamou de amor.
Meu coração explode, assim como meu corpo, quando Kauã começa a se
mexer dentro de mim. Estou muito lubrificada e seu membro não encontra tanta
dificuldade para se mover. Fecho os olhos, sentindo toda a volúpia que se
forma, querendo explodir como um balão que vai ficando cheio de ar. É insano
tudo que ele me faz sentir. A minha mãe enlouqueceria se soubesse o que a
filha dela está fazendo neste momento.
— Gostosa! Minha Mica! Eu vou foder sua bocetinha a noite toda. —
Essa é uma promessa, pelo que estou vendo.
Sua boca intercala entre um seio meu e outro, sugando-os com
intensidade. Ergo os quadris para que ele possa se mexer com mais precisão,
e é o que o safado faz. Um sorriso devasso sai de sua boca com minha atitude.
Kauã usa um dedo para massagear meu clitóris, e uma vibração prazerosa se
intensifica quando suas arremetidas precisas me levam a uma entrega total, a
ponto de gritar o seu nome em voz alta, sem me importar com mais nada,
sentindo meu corpo despencar, chegando ao clímax mais intenso que já tive em
toda a minha vida.
Nada o faz parar de estocar na minha boceta, nem mesmo quando seus
jatos quentes são despejados dentro de mim. A irracionalidade do momento
me faz esquecer de todas as preocupações e consequências que este momento
pode vir a ter.
— Deliciosa, amor! Você foi sensacional.
— Isso foi incrível.
Seu pau ainda está duro dentro de mim.
Kauã beija a minha testa suavemente, levando-me a um relaxamento
espetacular.
— Como você está? Encontra-se dolorida, amor?
— Um pouco, mas eu quero mais. — admiti, provocando-o.
Seus olhos em chamas me queimam ainda mais.
— Eu te amarei a noite toda, bebê.
Ele fará isso, e eu adorarei, certamente, pelo fato de saber que um homem
me deseja. Esta noite será ainda mais maravilhosa.
(...)

Seu pau entra e sai do meu canal sem pressa alguma. É deliciosa a
maneira como ele me possui. É suave e, ao mesmo tempo, instigante, levando-
me a delirar em seus braços. Kauã foi gentil até agora em não exigir de mim
aquilo que não posso fazer. Estamos buscando as posições que mais nos deixa
confortável, como a de agora.
Reviro os olhos quando chego ao clímax. O loiro me fita com veneração
e os movimentos precisos me levam à loucura. Confesso que estou cansada,
porém, sempre que tento parar, ele faz ficar mais gostoso. É tão pervertido.
Suas estocadas firmes me deixam choramingando ao sentir todo o prazer se
espalhar pelo meu corpo.
Quando penso que o homem, finalmente, irá me permitir descansar, sou
surpreendida quando me faz ficar de quatro sobre a cama e dá um tapa forte na
minha bunda. A ardência é instigante.
— Abra bem as pernas para mim, gostosa, para que eu possa ver sua
bocetinha enquanto a como.
Minhas bochechas coram. O meu namorado não me dá tempo algum para
respirar e já introduz seu pau na minha entrada, estocando-me com desespero.
Sobe um calor para a minha cabeça. Isso é delicioso demais.
— Agora é minha vez, princesa, de gozar nesta bocetinha apertada e
somente minha.
Ele ruge como um leão furioso, suas mãos ágeis beliscam meus seios e eu
posso sentir meus músculos se contraírem mais uma vez. Esse homem é
gostoso demais. Cada vez mais intensifica a penetração. Seu pau robusto entra
e sai da minha boceta molhada.
— Você nunca vai dar esta bocetinha para nenhum outro homem, ela é
somente minha. — disse com posse, como se estivesse me dando uma ordem
severa.
Logo sinto seus jatos quentes em mim mais uma vez.
A noite está sendo muito incrível.
Quando ele para de urrar feito um lobo, deita-se novamente ao meu lado.
Sua mão toca em minha face e eu me movo, ficando com a cabeça em seu
peito, enquanto minhas pernas ficam cruzadas com as suas, com nossos pés se
tocando e o calor dos nossos corpos suados deixando o cheiro do sexo
dominar todo o ambiente do quarto.
Fecho os olhos, focando apenas no calor do seu abraço.
Kauã é a minha perdição. Ele me deixa sem ar, completamente fora de
mim. Quando estamos juntos, sinto que nada importa além de nós dois.
— Você foi perfeita, linda. — sussurrou ao meu ouvido.
Ele me abraça fortemente, como se nunca mais desejasse me soltar. Ao
menos essa é a impressão que me dá.
Adormeço em seus braços depois de relembrar toda a nossa noite juntos,
várias e várias vezes, até me render ao cansaço. Ele me deixou destruída.
CAPÍTULO 9

A mulher dorme em meus braços tranquilamente, sentindo-se acolhida e


ressonando baixinho, instigando-me. Micaella é sensual, bonita e diferente das
demais mulheres que já conheci. Seu sorriso e olhos grandes inocentes sempre
buscam incertezas em meu olhar.
Brincar com os sentimentos de uma garota, magoá-la, não é do meu feitio.
Eu não posso seguir adiante com esta aposta. Nunca deixei que nenhuma
mulher entrasse em meu coração por todos esses anos. Minha racionalidade
me diz para ir embora, para a esquecer, no entanto estou relutando para partir
depois da noite intensa de sexo que tivemos. Sua doce entrega foi o estopim
para desencadear tudo de uma única vez.
Ela dorme serenamente, como uma bebê inocente que nada sabe sobre o
mundo. Sei quão inocente ela é. Pergunto-me como é possível que uma menina
tão bonita e atraente tenha se mantido virgem por todo esse tempo. Ela é
jovem, muito sensual, então muitos homens se jogariam aos seus pés,
suplicariam para ser seu namorado.
Eu posso me considerar privilegiado por ter tido a honra de me tornar o
seu primeiro. Confesso que meu desejo por Micaella aumentou depois que ela
me revelou nunca ter feito sexo. Sua virgindade se tornou algo importante para
mim, eu sentia a necessidade de ensiná-la o que é o verdadeiro sexo prazeroso
e não permitir que nenhum filho da puta se colocasse no meu caminho e a
fizesse passar por uma experiência dolorosa, sem prazer. Quando penso que
outro homem pode tê-la, sinto uma raiva sem explicação crescer dentro de
mim, sinto-me na obrigação de não deixar; um sentimento de posse invade meu
ser, fazendo-me acreditar que tenho esse direito.
Eu nunca quis uma garota só para mim como a quero e não posso
controlar os meus instintos quando estou ao seu lado. O que começou como
uma brincadeira, uma aposta divertida, está se tornando algo que não está mais
sob meu controle. Tê-la em meus braços se tornou minha maior obsessão.
Talvez seja apenas obsessão ou algo embutido que não quero sequer pensar ou
mencionar. A última vez que me senti assim foi quando conheci Sofia; depois
todas se tornaram apenas “cama”, com nada além de uma noite regada a sexo.
Agora, tenho a necessidade de cuidar dela como nunca cuidei de nenhuma
outra antes.
Quando seus olhos grandes e inocentes me fitam, fazem-me caminhar pelo
céu, mesmo estando na terra; o aroma suave em sua pele se tornou o meu vício
incontrolável; e as noites que passei sem ela, imaginando-a nua em meus
braços, tornaram-se um verdadeiro tormento. Ela é uma feiticeira que está
usando de toda a sua sedução para me conquistar, mesmo que inocentemente e
sem malícia. Ela conseguiu fazer o que nenhuma outra fez em tantos anos:
deixar-me completamente envolvido pela sua ingenuidade, a ponto de querer
repensar sobre as minhas ações.
Estou precisando respirar ar fresco. Levanto-me da cama com cuidado,
para não a acordar, visto um short folgado, caminho até a varanda e observo o
mar escuro à minha frente. Tudo sempre foi trevas na minha vida desde a
perda do meu pai, a doença da minha mãe, que vem preocupando a mim e ao
meu irmão, a perda de Sofia e o tempo que passei longe de casa. Na realidade,
eu sempre fugi de tudo isso para não encarar pessoalmente todas as
atribulações.
Nem sempre costumo ir pelo caminho correto, muitas vezes me desvio
para o mau caminho, ou, como alguns dizem, eu sou o próprio mau. Um
playboy egoísta que sempre abominou o amor e nunca quis entregar seu
coração a nenhuma mulher. Agora me vejo confuso e muito preocupado com os
últimos acontecimentos. Os últimos dias com Micaella me trouxeram tanta
leveza, que jamais pensei que poderia relaxar tanto, inclusive me permitir
dormir tranquilamente todas as noites após pensar bastante nela e, muitas
vezes, precisar aliviar meu amigão com um banho de água fria. Ela me instiga.
Nunca imaginei que pudesse sentir tanta paz interior. Nem mesmo Paola,
Viktor ou os negócios conseguem roubá-la.
O gosto da minha garota está forte na minha boca. Apetitosa. Seu cheiro
também está impregnado nos meus dedos. Gostosa para caralho! Meu pau já
está duro só por eu a olhar deitada sobre a cama, completamente nua. Regulo o
ar e a cubro com o lençol para que não resfrie. Que tentação de mulher! Ela
me faz querer acordá-la e comer sua bocetinha novamente até o dia amanhecer.
Se bem que não falta muito para isso acontecer.
Meu celular vibra sobre o criado-mudo. É mensagem de Paola, às três e
meia da manhã, dizendo que precisamos conversar. Mando-a se foder. A
última coisa que quero é ver a cara dela. Ela é chata e irritante, sempre está no
meu pé, exigindo mais do que eu posso oferecer.
Desligo o celular e pego uma bebida quente para aliviar meus
pensamentos. Estou me controlando ao máximo para não acordar Micaella e
fazer amor com ela até que desmaie em meus braços. Porra! Que mulher
gostosa! Sento-me na poltrona confortável e reclinável. Irei para a cama
somente mais tarde, por ora quero apreciá-la enquanto dorme, linda e
majestosa, como uma princesa. Venerá-la é um passatempo para mim.
Quando saio de uma reunião exaustiva, costumo dirigir até em frente ao
hotel onde ela trabalha. Algumas vezes consigo vê-la, em outras me frustro e
passo raiva. Como posso estar viciado nessa garota que conheço há pouco
mais de um mês? Era para eu ter voltado para São Paulo três dias atrás, porém
me vejo preso na Paraíba, com receio de ir embora e nunca mais vê-la ou que
outro a tome.
Micaella é minha! Fico possesso de ciúme quando a vejo sorrir para
outro homem, mesmo que seja um colega de trabalho ou até o motorista do
ônibus, quem ela cumprimenta por educação. Ela é minha; e se eu pudesse,
impediria todos de olhá-la. Isso é insano demais para mim. Nem com Sofia, eu
agia assim; talvez por ela nunca ter sido minha, como Micaella já é.
Meus pensamentos são interrompidos pelo som do elevador se abrindo.
Meus olhos vão de encontro à mulher furiosa que adentra meu quarto. Porra! O
que Paola está fazendo aqui? Eu deixei bem claro que não queria conversar
com ela, principalmente agora, que estou acompanhado.
Ela caminha na minha direção, ficando próxima a mim, irritada, soltando
faíscas pelos olhos. Ao olhar para Mica deitada sobre a cama, dormindo, abre
um sorriso satisfatório e bate palmas sem fazer barulho.
Irrita-me o fato de ela invadir minha privacidade dessa maneira.
— Agora, que já levou a pobretona para a cama, pode dar um pé na
bunda dela. — Paola está ansiosa por isso, acreditando que algum dia eu
possa me interessar por ela. Sente ciúme de todas as mulheres com quem me
envolvo, pois alimenta o sonho de se tornar minha esposa.
— Depois conversamos. Saia daqui antes que Micaella desperte.
— Por que tanta preocupação? Você já conseguiu o que queria dela
mesmo.
Ela vai acabar acordando Micaella, e eu não desejo que faça isso, para
que Mica não escute nada indesejado. Esta não é a hora mais apropriada para
termos esse tipo de conversa.
— Eu já disse para ir embora.
— Homem nenhum me diz o que fazer, nem mesmo você, amor. — Sorri,
vitoriosa.
Seguro firmemente seu braço, levo-a até o elevador, entro lá junto com
ela após pegar uma camisa, fecho a porta e aperto um botão que nos leva até o
quarto dela. Paola está séria e com os braços cruzados, demonstrando raiva.
Eu sei que tudo não passa de um teatro seu e muito ciúme. Estou ciente de
como deixá-la menos irritada.
— Agora, que está entregue, pode ir dormir e também me deixar dormir.
— falei assim que entramos em seu quarto.
— Eu quero dormir em seus braços, Kauã. — Toda oferecida, insinua-se
para mim.
— Por Deus, mulher! Tenha mais amor próprio. Acabei de transar com
outra, e você se sujeita a esse papel ridículo? Valorize-se, ou apenas finja que
pode fazer isso.
— Eu não me importo se dormiu com outra, posso fazer você esquecer
aquela ratazana de esgoto vinda da pobreza.
— Não fale assim de Micaella, eu não permito. — Quando percebi, já
estava defendendo-a. Estranho minha atitude, assim como Paola. Senti a
necessidade de defendê-la.
— Qual o problema, Kauã? Vai me dizer que está apaixonadinho pela
rata de esgoto? É isso?
— Eu já disse para que não se refira a ela desse modo. Micaella nunca
ofendeu você, portanto merece ser respeitada.
— Desde quando se importa com essa suburbana? O que ela fez para
merecer todo o seu apreço? Só porque lhe entregou a virgindade dela? Agora
vai me dizer que quer se casar com ela?
Seu ciúme está sobrepassando todos os meus limites de paciência. Paola
nunca apresentou uma crise como essa.
— Micaella é o tipo de mulher que faz um homem querer levá-la para o
altar. Ela não é vulgar, muito menos oferecida; soube se guardar para aquele
em quem confiasse, diferente de muitas que conheço. — A carapuça serve
para ela.
— Vejo que aquela garotinha tola foi capaz de enfeitiçar você, Kauã
Monteiro Avillar. Estou impressionada. Está comendo na mão dela, ou melhor,
na boceta da vadia.
— Eu não vou ficar ouvindo suas bobagens.
— Você vai sim, porque se me deixar sozinha, eu vou fazer um escândalo.
Irei gritar bem alto, para que sua namoradinha ouça o que fez com ela: o nosso
plano, a aposta e todas as mentiras que você a contou.
— Vá em frente. Eu não cedo a ameaças.
Vendo que suas ameaças não me abalaram em nada, Paola apela para
algo baixo: livra-se do vestido, revelando seu corpo nu. Ela não está usando
sutiã, e a calcinha é tão minúscula, que parece que está sem. O corpo sexy e
atraente dela não me chama a atenção como antes.
— Você acha mesmo que vou deixar uma linda mulher como Micaella
para me enfiar em você? Você é louca, Paola. — Eu lhe dou as costas e ela se
coloca na minha frente, fazendo-me parar.
— Você vai se arrepender, Kauã Avillar, por ter recusado a mim e
preferido aquela suburbana.
— Tenha uma boa noite, Paola, querida irmã.
Volto para o meu quarto. Micaella ainda dorme serenamente e não
percebeu que saí. É bom assim. Amanhã será outro dia e toda a fúria de Paola
já terá desaparecido. É sempre dessa forma. Suas chantagens nunca me fazem
efeito algum, porque ela é completamente apaixonada por mim e jamais faria
algo para que pudesse perder a minha amizade.

(...)

Quando os primeiros raios de sol surgem, sinto Micaella se mexer em


meus braços, buscando uma maneira de sair do meu abraço sem que me
acorde. Finjo dormir e ouço seus passos pelo quarto. Está tentando encontrar
suas roupas.
— Onde estão minhas roupas? — resmungou baixinho.
Hoje é o seu dia de folga no trabalho, mas ontem ela disse para a mãe
que iria trabalhar em um evento por dois dias. O que nos dará bastante tempo
para ficar juntos. Na verdade, eu enviei a mensagem para a mãe dela, que
acreditou em cada palavra. Se a minha sogrinha soubesse onde a filhinha dela
está sentando, deixaria ela de castigo. O que me faria raptá-la só para mim.
Mica vai até o banheiro e, por lá, demora alguns minutos. Logo sai
enrolada em um roupão branco que encontrou na gaveta, ainda procurando
pelas roupas. A única coisa que encontra é uma camiseta minha. Eu escondi
suas vestimentas para que não saísse sem se despedir de mim. Como ela não
sabe da mensagem que enviei à sua mãe, está sem entender nada.
— Como podem ter desaparecido? Putz!
Enquanto minha mulher está de costas, levanto-me nas pontas dos pés e a
agarro pela cintura. Meu nariz sente o perfume delicioso do seu aroma de
menina, beijo o seu pescoço lisinho e vejo toda a sua pele se arrepiar.
— Bom dia, princesa. — minha voz saiu rouca.
— Bom dia, Kauã. — Sua voz doce é como o canto dos anjos em meus
ouvidos.
Abraço o seu corpo pequeno, que é engolido pelo meu grande e forte. Ela
é tão pequena, delicada e sensível, que sempre preciso tomar bastante cuidado
para não a quebrar, no entanto ontem se mostrou uma menina corajosa ao
enfrentar minha anaconda. Não são todas as mulheres que têm essa coragem.
— Aonde pensou que ia assim? Pensando em ir embora?
— Eu passei a noite fora de casa. A minha mãe já deve estar me
procurando no hospital ou até mesmo no IML.
— Não se preocupe. — Beijo seu ouvido e mordo o lóbulo da sua
orelha. Suas pernas tremem como gelatinas.
Adoro vê-la assim, tremendo por mim, rendendo-se.
— Você diz isso porque não conhece a minha mãe.
— Eu ousei pegar o seu celular e enviar uma mensagem para ela. —
Mica se vira rapidamente, fitando-me com seus olhos arregalados. — Eu
poderia ter dito que estamos juntos, mas não disse, apenas falei que você
estará em um evento por dois dias.
— Se a minha mãe desconfiar, seu doido... — Ela soca meu ombro e eu
apenas rio com seu nervosismo. — Onde está meu celular e as minhas roupas?
— A única coisa que irá encontrar neste quarto hoje será café da manhã e
muito sexo.
Suas bochechas estão vermelhas como um pimentão. É muito charmosa a
tonalidade avermelhada do seu rosto quando está envergonhada com alguma
coisa.
— Você é louco.
— Louco por você, linda. Agora, venha aqui e me beije ardentemente. —
Puxo-a contra o meu corpo. Minhas mãos estão em volta da sua cintura.
Estou viciado no seu cheiro. Sua pele é macia e saborosa.
— Eu a desejo tanto, linda. Não precisa ficar tímida quando estamos
juntos. Memorizei cada parte do seu lindo corpo ontem à noite; poderia fazer
um mapa. Você é deliciosa, princesa.
Micaella tem olhos lindos. Ela é o meu ponto fraco, não tenho dúvida.
— Eu quero saber tantas coisas sobre você. — comentei.
— Eu também quero saber tantas coisas sobre você.
— Conversaremos tudo durante o café da manhã. Agora, vamos tomar um
banho juntos. Não se preocupe, não iremos fazer nada. Você precisa descansar
pelo menos até depois do café.
Meus dedos tocam em seu canal vaginal. Tentei não a tocar, só que foi
impossível, vendo-a despida na minha frente, na banheira. Sua cabeça está
deitada sobre meu peito enquanto massageio toda a sua região sensível. Sua
doce entrega me encanta e me leva a agir como um pervertido fora de controle.
Ela anseia pelos meus toques, isso é evidente. A outra mão livre, que
acariciava sua face, agora vai de encontro a um mamilo seu rosado e
delicioso. Minha boca saliva por ele, mas me contento apenas em saciá-la.
Mica estremece em meus braços, tomada pela sensação prazerosa de gozar em
meus dedos. Manhosa, espreguiça-se. Eu beijo a região mais sensível do seu
pescoço e a ouço soltar um gemido dengoso.
— Minha gatinha manhosa, se gemer assim mais uma vez, serei obrigado
a comer sua bocetinha com meu pau.
— Eu estava esperando que fizesse isso. — Safadinha!
— Minha menina está muito safada.
Para a minha surpresa, ela se levanta e se senta sobre meu pau duro como
uma rocha. Seu olhar inocente me desestabiliza.
— Me ensine a cavalgar.
Um fogo dominador irradia por todo o meu corpo. Essa gatinha safada
merece uma surra de pau. Pacientemente, ensino-a como subir e descer. Ela é
inteligente e uma boa aluna, logo aprende sua lição. Sabe que sou insaciável e
se esforça o máximo para mim, com prazer.
Tomo-a em um beijo escaldante. Desejos profanos me fazem querer
dominá-la, todavia sou cuidadoso para não sugar todas as suas forças. É
inevitável toda a química de milhões que possuímos, nossos corpos se
entendem perfeitamente. Essa garota é perfeita.
Rebolando esta bunda gostosa sobre o meu pênis, ela me permite ver
estrelas e, ao mesmo tempo, queima o meu coração.
Estou perdidamente envolvido por Micaella.
CAPÍTULO 10

Eu perdi minha virgindade! Respiro fundo ao encarar minha face no


espelho pela milésima vez. É como se eu buscasse alguma coisa diferente em
mim; talvez até tenha mudado algo, como o meu sorriso, que está mais largo. O
amor floresce dentro do meu coração. Esta é a primeira vez que me apaixono.
Sorrio feito uma boba. Ao menos é isso que todos à minha volta estão dizendo.
Ao mesmo tempo em que estou feliz, pergunto-me como fui capaz de ser
tão safada e dar para o primeiro cara que apareceu, em poucos dias de
namoro. Talvez tenha um mês completo e dois dias. Nunca pensei que poderia
perder o controle da maneira como perdi com Kauã. Ele me instiga e me faz
perder minha racionalidade. Torno-me refém em seus braços, e quando seus
lábios me beijam, todo o meu corpo treme, ansiando pelo seu toque. Como
neste momento.
Meu coração acelera. Eu quero muito sentir todos os prazeres da noite
passada. A mensagem em meu celular dizia:
“Não é legal sair e me deixar sozinho. Você será castigada pela sua
rebeldia.”
Voltei para casa mais cedo, logo depois que ele dormiu. Não poderia
passar dois dias fora, porque minha mãe iria desconfiar. O fato de eu estar
escondendo essas coisas dela me deixa triste só por saber que estou fazendo o
mesmo que ela fez com a vovó: mentindo. Desde que mamãe foi abandonada
pelo meu pai, sente pavor de mentiras. Esganaria a mim se soubesse aonde
estou indo todas as noites.
Aproveito para dormir bastante e relaxar. Após uma noite intensa de
sexo, estou quebrada e enfadada.

(...)

Tive um dia conturbado no meu emprego. Preciso saber se minha melhor


amiga está bem, porque hoje não foi nada fácil para ela.
Chego em casa no horário de sempre e fico em choque quando Giulia me
diz que nosso chefe, Viktor, veio até a nossa casa, junto com a filha, propor a
ela uma vaga de emprego em São Paulo. Estamos jantando.
— Você está pensando em ir? — perguntei-a, temendo a resposta.
— Claro que não. Eu não me acostumaria a ficar longe de vocês duas.
— Muito menos nós de vocês. — minha mãe disse.
Só o fato de pensar em viver longe dela me deixa completamente
desconcertada. Acostumei-me a chamá-la de irmã e sempre tê-la por perto, ao
meu lado.
— Estou um pouco enjoada. Desculpe. Preciso ir ao banheiro. —
Levanto-me rapidamente e me retiro, deixando-as preocupadas.
O que está acontecendo comigo? Passando mal dessa maneira e
vomitando? Talvez seja por minhas emoções à flor da pele. Tudo aconteceu
tão rápido. Ver Giulia algemada daquela maneira, acusada de ter raptado a
filha do patrão, por uma maldade de Mariza, por uma mentira, fez eu
despencar. Não naquele momento, mas agora. Por sorte, tudo foi resolvido e
minha melhor amiga está bem, segura. Ao menos é isso que penso.
Limpo a minha boca rapidamente, lavando-a com enxaguante bucal, para
não demonstrar que vomitei e não gerar ainda mais preocupação na minha
mãe. Eu lhe direi que estou cansada e ela acreditará.
Ouço vozes altas, como se estivesse acontecendo uma briga. Vou
rapidamente para a sala e encontro a minha mãe ao lado de Giulia, que está
com uma arma em mãos.
Meu Deus!
Giu desmorona no choro e mamãe toma a arma da mão dela.
Por Deus! O que houve?
— Mariza tentou matar Giulia. — minha mãe disse.
Eu também choro, preocupada. Ela quase foi morta por aquela maluca.
— Já passou, querida. Já passou. — Mamãe lhe faz um chá.
Eu só consigo chorar. Como pode? Alguém quis acabar com a vida de
Giu. Ela nunca fez mal a um inseto, quem dirá a pessoas.
— Precisamos ir à polícia imediatamente. Temos a prova do crime em
mãos: a arma. — sugeri.
— Você precisa ir a um médico. Continua pálida. — ela apontou,
preocupada comigo.
— Não mais do que você. Estou assim por causa dos pastéis que comi
hoje. — menti. — Vamos agora mesmo à delegacia.
Apreensiva, minha mãe diz:
— Filha, vamos! Até prenderem aquela mulher, não ficaremos em paz. O
melhor que podemos fazer para garantir sua segurança é você aceitar a oferta
de emprego do senhor Avillar como babá da filha dele.
Neste momento, eu queria ser egoísta e dizer que ela não deveria ir, mas
não consigo. Sua segurança vem em primeiro lugar.
— Mamãe tem razão. Vivendo com eles, você estará cercada de
seguranças.
— Eu não sei...
— Filha, essa é a melhor solução.
— Não quero deixá-las.
— Você não vai. Tenho uma prima em São Paulo. Desde que o marido
dela faleceu, ela se sente sozinha e, há alguns meses, tenta me convencer a ir
viver lá. Fomos criadas como irmãs na infância. Tenho certeza de que
encontraremos um bom emprego para Micaella.
São Paulo? Será que a minha mãe está falando sério? Animo-me com a
ideia, pois Kauã vive lá. Caso nos mudemos, será ótimo. Tento não
demonstrar toda a minha felicidade, porque mamãe pode estar falando tudo
isso somente para Giu aceitar a proposta e estar segura, vivendo na casa dos
Avillar. Ela me contou sobre o quanto está encantada pela filha do nosso
chefe.
— Com certeza. Vou adorar viver em São Paulo. — Eu comemoro e Giu
sorri.
Ela presta queixa na polícia e o delegado a aconselha a ir para São Paulo
até Mariza ser presa. Para a sua proteção e por amar tanto aquela garotinha,
aceitará o emprego de babá.

(...)

A notícia é ótima, Giulia terá segurança, contudo estou muito triste por
saber que ela já irá embora. Não fui trabalhar hoje, para aproveitar todo o
tempo ao seu lado. Não costumo faltar, nunca, no trabalho, mas faltei, mesmo
que possa ser demitida, pois queria estar com ela. Enviei mensagem para
Kauã, avisando-o que não poderia vê-lo, e não olhei mais o celular. Giu já
partirá hoje, e isso me deixou arruinada.
— Eu nunca iria contar nada à sua mãe. Não sem a sua permissão. Me
desculpe se fui chata nos últimos dias. Tudo que faço é por me preocupar com
você e a amar muito. — ela me disse.
— Confie em mim, eu saberia se estivesse correndo perigo. Preciso te
contar uma coisa: perdi minha virgindade.
— Sério? Meu Deus! Como você está?
— Bem. Muito bem, acredite. — Abro um sorriso largo que ela veria se
não estivesse tudo escuro.
— Avise para esse cara que eu o mato caso ele te faça sofrer algum dia.
— Vou sentir sua falta. Promete que sempre vai conversar comigo e que
nunca vai me esquecer por nenhuma outra amiga?
— Você sempre será minha melhor amiga. Sempre.
Fazemos o nosso juramento de dedinhos.
Quando Giulia embarca naquele jatinho particular, sinto que uma parte de
mim foi arrancada. Abraço, com força, a minha mãe, que também está
chorando.
— Quem sabe um dia vamos todas para São Paulo? — Quando mamãe
diz algo assim, pode-se esperar, que vem notícias em breve.
Retornamos para casa. Eu estou quebrada emocionalmente. Por culpa de
uma maluca, precisei ver minha amiga ir embora. Depois que fomos à polícia
registrar um boletim, o próprio delegado alertou sobre ela precisar deixar a
cidade ao menos por alguns dias. E foi exatamente o que fez: foi embora,
levando meu coração em suas mãos. A selva de pedra a aguarda. Sentirei
saudade dela, apesar de saber que iremos nos falar todos os dias.

(...)

Há três ligações perdidas do meu namorado no meu celular e uma


mensagem.
“Estou no final da sua rua, venha me encontrar.”
Minha mãe tomou um remédio para dor de cabeça e apagou logo em
seguida. Saio de casa sem fazer barulho, acreditando que ela não notará minha
ausência. Quando me aproximo do carro dele, ele abre a porta e eu entro.
Depois me beija desesperadamente. Eu retribuo, porém sem todo o gás de
antes. E percebendo isso, ele para.
— Algum problema?
— Minha melhor amiga foi embora hoje. — Uma lágrima solitária
escorre pela minha face.
Logo ele pega um lenço do bolso do terno e a enxuga.
— Você pode ir visitá-la. Lhe garanto que haverá uma hospedagem na
minha casa para ti.
— A minha mãe teria que ir junto. Eu não poderia deixá-la para trás,
nunca.
— E como será quando casarmos? Sua mãe irá viver conosco? — Ergue
uma sobrancelha.
Casamento? Kauã só pode estar querendo me fazer sorrir. E ele
conseguiu abrir um sorriso largo em minha face. Por alguns instantes, até
consigo me ver de noiva e o esperando voltar do trabalho, cansado, pronto
para me amar pelo restante da noite. Como Giu diria, eu sou bastante
emocionada. Até que a ideia foi do meu agrado.
— Se realmente me amar, aceitará minha mãe vivendo conosco.
— Ótimo. Então, você também aceitaria a minha?
— Se a sua mãe não for nenhuma daquelas sogras intrometidas, eu
adoraria que viesse conosco. Sempre quis ter uma família grande. Mas a sua
irmã eu não iria querer. — deixei explícito.
— Não se preocupe com Paola. Vamos dar uma volta? Você precisa
esfriar a cabeça.
— Seria ótimo. — Viro o meu rosto de lado.
— Eu sei que sou um egoísta, mas não consigo mais controlar meus
desejos. Talvez você precise relaxar em meus braços nesta noite. Micaella, eu
não paro de pensar em você. Todo o tempo me vem à mente você nua,
rebolando esta bocetinha gostosa em cima do meu pau.
Ele é um devasso, safado, cachorro e sem-vergonha alguma. Suas mãos
tocam em minha face e minhas bochechas coram violentamente.
— Não precisa sentir timidez. Não depois do que fez comigo. Minha
boca saliva pela sua boceta quente. Você é muito deliciosa, linda, muito
apetitosa, melhor do que qualquer sobremesa. — Sua língua saborosa trava
uma batalha ardente com a minha. Basta ele me tocar, que nossos corpos
entram em chamas, queimando tudo à nossa volta.
— Eu não posso demorar. — resmunguei entre o beijo.
O banco é reclinado até o ponto de nos deixar livres para fazer
movimentos mais intensos, e a agilidade de suas mãos para tirar minha
calcinha é fascinante. Não contente por me ver ainda com meu vestido, mesmo
eu falando que ele não precisa tirá-lo, ele diz:
— Gosto de fazer amor com você completamente sem roupa.
Sua boca gulosa engole meus seios. Ele chupa o biquinho com tanta
satisfação, que me faz soltar um gritinho alto. Seus dedos hábeis estão
acariciando meu clitóris, deixando-me muito molhadinha. Mas nenhuma
sensação é tão intensa quanto a de ter sua boca devorando minha intimidade.
Seus lábios quentes me chupando lá embaixo me levam à loucura. Kauã me faz
delirar sem estar febril. Talvez me deixe febril.
Cheia de volúpia, sinto minhas pernas tremerem e um calor imenso
explodir em mim. Essa é uma das melhores formas de gozar, sem dúvida.
Agora ele introduz a cabeça do seu membro na minha entrada. Seus olhos
fitam os meus intensamente.
— Eu quero que me olhe enquanto meu pau esmaga sua boceta.
Seus quadris se movem lentamente para não me causar nenhum
desconforto. Ele é atencioso e preocupado. Se soubesse que tudo o que mais
desejo é ser esmagada pela sua potência, não me trataria como se eu fosse uma
bebê.
— Parece que minha garota está querendo algo mais selvagem. — Ele
sabe ler meus pensamentos, não é possível.
— Eu quero que me faça gozar de novo.
— Se falar mais uma vez assim comigo, serei obrigado a levá-la para o
meu quarto e nunca mais deixar que saia de lá, minha menina safada.
Seu pau invade todo o meu canal. É gratificante saber que consigo
aguentar tudo isso dentro de mim e ainda sentir prazer. A atenção que ele dá
para os meus seios também é muito gostosa. Meu namorado sabe todos os
pontos que me dão prazer, inclusive quando suas mãos apertam meu pescoço e
ele me dá um tapinha no rosto. Quando eu ouvia minhas colegas falarem sobre
apanhar na hora do sexo, achava uma coisa absurda, mas agora estou gostando
para caralho disso, deixa-me mais excitada.
Os nossos beijos pecaminosos me fazem ter o deleite mais prazeroso que
já tive na minha vida.
— Kauã! — choraminguei ao sentir todos os meus ossos se contraírem e
uma sensação dominadora me invadir. O que o deixa muito satisfeito.
— Micaella, você é uma bruxa e lançou seu feitiço sobre mim. Que
bocetinha deliciosa! — Ele consegue dar um tapa na minha bunda. Algo que
arde e me faz soltar faíscas pelos olhos, só que, desta vez, de tesão.
Kauã deixa o banco mais levantado e me coloca sentada sobre o seu pau.
Sua boca engole o meu seio e ele me ajuda a cavalgar sobre seu membro
robusto. Acredito que me sairia bem montando em um cavalo, devido à minha
experiência neste banco de carro.
Sinto que o loiro está muito próximo de gozar. Massageio os seus cabelos
enquanto suas mãos estão agarradas à minha bunda e meus peitos se esfregam,
a todo instante, na sua face. Ele urra, feroz, como um leão satisfeito depois de
pegar a sua presa.
— O que você está fazendo comigo, garota? — Brinca com meus
cabelos.
— Talvez você esteja apaixonado. — joguei verde para colher maduro.
— Você é envolvente e sexy. Talvez esteja me deixando mal-acostumado,
dependente desta bocetinha linda e deliciosa.
— Talvez você esteja me deixando mal-acostumada. — Ergo uma
sobrancelha.
— Você não pode passar dois dias sem me ver. Eu quase enlouqueci sem
sua presença.
— Eu já expliquei o motivo.
— Prometa-me que nunca mais fará isso. Caso você descumpra, sofrerá
as consequências, menina atrevida. — Sua língua lambe meu seio esquerdo e
me faz soltar um gemido abafado pelo seu beijo quente logo em seguida.
— Amanhã eu realmente tenho um evento para ir trabalhar. Não poderei
te ver.
— Posso te buscar no tal evento? Depois você dorme comigo.
— Não posso deixar minha mãe sozinha tantas noites.
— Fale para ela que agora sou eu quem te coloco para dormir.
Balanço a cabeça negativamente, sorrindo.
Kauã me faz delirar em seus braços e sempre querer mais e mais. Esse
homem me instiga. Eu não sei explicar tudo que sinto, sei apenas que estou
apaixonada e que não há nada tão intenso quanto estar com ele.
Antes de eu ir para casa, ele me beija loucamente. É difícil sair dos seus
braços.
— Eu realmente preciso ir. Agora, me devolva a minha calcinha.
— Ela é minha a partir de agora.
— Se todas as vezes que nos encontrarmos, você roubar uma calcinha
minha, ficarei sem.
— A única solução para não perder todas as suas calcinhas é vir sem;
somente de vestido, para facilitar as coisas.
— Seu pervertido!
Ele ri.
Abro a porta da sala e quase grito ao ver minha mãe parada próxima à
escadinha. Que susto!
— Mãezinha, que medo! — Levo as mãos ao coração. — A senhora
quase me mata agora.
— Onde você estava?
— Fui dar uma volta. A senhora sabe que gosto de caminhar à noite.
— Não faça mais isso, meu amor. Não com aquela mulher perigosa solta
por aí. Não quero que ela faça nenhum mal a você. Se eu te perdesse,
Micaella, minha vida não teria mais sentido.
Ela ficou muito emocional com a partida de Giulia.
Dou-lhe um abraço forte.
— Está tudo bem. Vamos dormir.
— Não saia mais sozinha à noite, meu amor. É perigoso.
Como dizia minha avó querida: “Sempre escute a sua mãe, ela sempre
sabe de todas as coisas”.

(...)

Sem Giulia, minha vida se tornou um pouco apagada. Ela é a minha


melhor amiga, minha confidente. Não existe Mica sem Giu. Respirei fundo ao
despertar nesta manhã e ver que ela não estava no quarto. Sua partida me fez
passar mal durante o jantar da sua despedida. Creio que o fato de ela ter ido
embora, sem previsão de retorno, tenha me deixado mais sensível e
vulnerável.
Hoje não poderei sair com Kauã. Após um evento cheio e cansativo, não
vejo a hora de chegar em casa. Estou no ponto de ônibus, quando um carro
muito parecido com o dele para diante de mim. Até penso que seja ele, mas
me decepciono ao ver que se trata de Paola.
— Meu irmão não pôde vir. Ele me pediu que te levasse para casa.
Minha cunhada está muito interessada em me oferecer carona. Kauã não
me disse nada sobre sua irmã aparecer para me levar. Estranho.
— Obrigada, eu vou de ônibus.
— O que está acontecendo entre nós duas? Deveríamos sair para fazer
compras. O que acha?
— Minha rotina é intensa.
— Imagino que principalmente à noite. O meu irmão sabe como fazer
uma mulher consumir seu tempo, não é mesmo? — insinuou.
— Paola, o que você tem a ver com minha vida e a do seu irmão? Chega!
Parece que sempre está tentando atrapalhar. Acha que não percebo todos os
olhares? Você parece me odiar.
Ela desce do carro, ficando diante de mim. O seu olhar soberbo, as
muitas joias que usa, as roupas de marcas... Ela age como se sempre fosse
superior a mim, somente por andar mais bem vestida.
— Eu não odeio você, eu odeio o Kauã e o que ele faz com as mulheres.
Você precisa saber tudo que ele já aprontou.
— Eu não preciso saber nada. O passado do seu irmão não me interessa,
principalmente se ele mudou. Se, algum dia, ele resolver me contar, eu
escutarei. Não quero saber nada pela irmã dele. — deixei bem claro.
— Não seja boba, não se iluda dessa maneira. Você acha que Kauã vai
pedi-la em casamento? Sente e espere, meu amor. Ele só está te enganando, e
eu posso provar. Veja só. Escute esta gravação.
— Me deixe em paz! Eu não quero ouvir nada. Respeito você, por ser
irmã dele, mas não irei suportar mais a sua presença se continuar agindo dessa
maneira. O seu irmão é adulto o suficiente para tomar suas decisões.
— Você acha que estou com ciúme?
— Eu não sei, Paola. Seja lá o que for, quero que me deixe em paz.
Para a sua sorte, meu ônibus acabou de chegar, ou então ela ouviria muito
de mim. Que garota insuportável, está me levando ao meu extremo. Não será
bom para ela despertar a minha ignorância.
— Você não é especial. Quando ele te abandonar, eu estarei assistindo da
primeira fila, vadia.
— Vadia é você! — xinguei-a de volta.
Ela sai no carro em alta velocidade.
Ninguém me chama de vadia.
Respiro fundo ao entrar no ônibus para retornar para casa. Paola não
perde por esperar. Em nosso próximo encontro, ela irá me ouvir com atenção.
Lhe direi poucas e boas. Que, desta vez, prepare-se para escutar tudo que está
engasgado dentro de mim. E o fato de ela ser irmã do meu namorado não me
significa mais nada. Se eu fosse ela, rezaria para não passar na mesma rua que
eu. Não herdei a paciência da minha mãe, talvez tenha herdado a brutalidade
do meu pai.
CAPÍTULO 11

Sua boca devora a minha boceta, que está tremendo de prazer ao alcançar
o ápice de um orgasmo. Solto um gritinho satisfeito. Sua língua faz círculos em
torno do meu clitóris, levando-me à loucura. As vibrações sobre meu corpo
são como correntes elétricas. Kauã me deixa delirando sem estar febril.
— Que sabor maravilhoso que tem, linda. — Lambe seus lábios
sedutores.
Meu namorado me faz erguer os quadris ao máximo e a cabeça do seu
pau entra na minha vagina molhada e quente. Seu olhar tempestuoso lançado
sobre mim absorve todo o meu ar, deixando-me à mercê da sensação
prazerosa de ser devorada por um homem tão sexy e bom de cama. Ele volta a
lamber meus seios, e agora seu membro entra e sai da minha boceta, estocando
cada parte dela com precisão. Gemidos são abafados ora pelos beijos, ora
pelos seus dedos em minha boca. É muito tentador a maneira sagaz como ele
me fita, comendo-me com os olhos e com o pau.
A volúpia dos nossos beijos me faz choramingar quando ele intensifica
os movimentos e eu gozo deliciosamente sobre o seu membro. Como ele me
faz ver estrelas durante o dia?
— Minha menina, goze gostoso para o seu homem.
Sinto um relaxamento invadir meu ser após gozar prazerosamente. Ele
também chega ao clímax depois de me colocar de quatro sobre a cama e me
comer, batendo forte na minha bunda. A marca das suas mãos fica nela como
um carimbo demarcando quem manda nessa região.
O calor dos nossos corpos suados, unidos através do sentimento forte e
dominador da paixão, faz-nos refém das emoções e sensações deliciosas que
nos invadem. A cada dia que passa, sei que estou me apaixonando mais e
mais. É tão forte o desejo, que não sei descrever tudo que sinto realmente. O
amor é um sentimento avassalador que não se pode ser explicado em um
papel, nem mesmo com as mais belas palavras; o amor apenas se sente.
— Está pensativa, Micaella. Tem alguma coisa para me dizer?
Kauã sabe quando estou tensa com algo. Faz uma semana desde que tive
aquela conversa desagradável com Paola. Eu tentei não trazer para o nosso
relacionamento o que não tem importância, mas já não consigo controlar.
Nesta manhã, quando passei por ela, a mulher me olhou cheia de desdém,
como se eu fosse um lixo, descartável.
— A sua irmã me procurou para conversarmos. — Ele me olha de forma
tensa. — Ela se mostrou bastante incomodada com a nossa relação, me disse
que sou uma boba por acreditar em você e, que quando eu menos esperar, você
me deixará.
Tentei não dar importância para as palavras dela, no entanto confesso que
minhas emoções falaram mais alto. Meu estado hormonal está me deixando
muito sensível nestes dias.
— Paola e eu nos desentendemos por conta de negócios. A minha irmã
costuma misturar o trabalho com a nossa relação de irmãos. Eu a relevo mais
do que merece. Seja lá o que ela tenha lhe dito, a ignore, assim como eu.
— Acredita que ela me chamou de vadia?
— Terei uma conversa séria com ela. Não irei tolerar que Paola
desrespeite minha namorada.
— Eu não quero que discutam por minha causa...
— Ninguém ofende a minha mulher.
— Sua mulher? — indaguei, sem conseguir esconder a alegria.
— Sim, minha e de mais ninguém. Nunca esqueça isso Micaella: eu sou o
seu homem e você é a minha mulher.
Ele me beija suavemente e, em seguida, sai para trabalhar, deixando-me
sozinha no seu imenso quarto. Daqui a pouco dará o meu horário. Entrarei
mais tarde no serviço hoje; serviço para o qual já estou sem cabeça. Tomara
que minha mãe decida ir mesmo para São Paulo. Não vejo a hora de contar
essa notícia para Kauã e ver a sua reação. Giulia está animada, acreditando
que realmente vamos, só que a minha mãe nada confirma.
Passo em casa para me arrumar para o trabalho, e quando vou saindo do
meu quarto, dou de cara com ela.
— Falei com nossa prima. Ela ficará muito feliz em nos receber na sua
casa.
— Sério, mamãe? Vamos mesmo morar em São Paulo?
— Primeiro vamos ver se iremos nos habituar com a nova cidade. Caso
gostemos, iremos morar com nossa prima.
Abraço-a, animada, e ela me olha sem entender toda a minha alegria.
— Estou ansiosa para contar para Giulia. Te amo, mamãe. — Beijo sua
face e vou para o meu emprego.
Kauã precisa saber que iremos nos ver com mais frequência. Ainda sei
pouco sobre seu retorno para São Paulo, pois a única coisa que ele me disse é
que passaria muito tempo em João Pessoa. O que não era problema algum para
mim, até saber que minha mãe tem planos de se mudar.
Aproveito para falar com o meu chefe, o senhor Rubens, e o aviso sobre
minha saída. Já estou trabalhando com aviso prévio.
À noite estou exausta, contente com a ideia de irmos para a cidade
paulista. Irei me encontrar com Kauã para lhe contar tudo. Anseio pela sua
resposta. Vejo-o no local onde marcamos, no calçadão próximo ao meu
trabalho. Ele afrouxa o nó da gravata e, entusiasmado, toma-me nos braços,
sem se importar com as poucas pessoas que transitam à nossa volta.
— Seu louco! Me ponha de volta no chão.
— Hoje à noite vamos fazer amor sob a luz do luar.
— Luz do luar? Isso soa tão romântico.
— Confia em mim?
— Sim. — Balanço a cabeça positivamente, entusiasmada.
Ele me mostra uma venda vermelha e eu respiro fundo, puxando o ar. O
que pretende fazer?
— Por acaso está pensando em me raptar?
— Digamos que sim. Venha comigo e te prometo que terá a melhor noite
da sua vida, princesa. Confia em mim?
— Eu já lhe disse que sim. Com você, eu vou para qualquer lugar.
Vamos, coloque essa venda de uma vez em mim.
Eu me viro de costas e ele coloca a venda sobre meus olhos. Depois
sinto o calor das suas mãos ao tocar nas minhas.
— Estamos perto do lugar para onde vou te levar.
Kauã me auxilia. Cada passo que dou é sob seu comando de direção.
Estou pisando na areia, essa é a sensação que tenho ao afundar a cada vez que
ando. Não faço ideia de para onde meu namorado possa estar me levando, mas
tudo indica que hoje teremos uma noite especial e que ele está disposto a me
proporcionar um momento romântico. O que me faz suspirar ainda mais por
esse homem viril, de olhos azuis.
A cada passo, mais acelerada se tornam as batidas do meu coração. Ele é
o único que consegue me deixar assim, completamente fora de mim, pensando
somente em nós dois. Durante todo o dia, todos os meus pensamentos são
sobre ele, uma base de noventa por cento, enquanto os outros dez por cento me
levam a ele de algum modo.
Kauã faz amor comigo de uma maneira que eu jamais poderia imaginar
que seria tão esplêndida e magnifica, pela forma como ele faz eu me sentir.
Amigas minhas casadas há dez anos nunca chegaram a ter um orgasmo, e isso é
algo sério, a ser pensado. Quando se ama, o casal deve fazer de tudo um pelo
outro; inclusive, um homem deve deixar de ser egoísta e estimular sua parceira
até que ela chegue ao clímax. Eu poderia dar aulas para casais, com a vasta
experiência que possuo com orgasmos intensos e avassaladores.
O perfume amadeirado inconfundível está impregnado nas minhas
narinas. Sua língua escorrega pela minha orelha, onde ele mordisca e sussurra.
— Chegamos, princesa. — de uma maneira sexy, ele pronunciou
“princesa”, molhando toda a minha calcinha.
— Já posso tirar a venda?
— Permita-me fazer isso por você. — Ele desata o nó que deu.
Logo os meus olhos podem contemplar a bela imagem à minha frente.
Estou maravilhada com tudo que vejo. Parece que estou em um filme de
romance no qual o homem está prestes a pedir a mocinha em casamento. Há
um tapete vermelho rodeado de pétalas de rosas. Meus olhos nem piscam
diante de tanta beleza. Mais adiante há uma espécie de tenda muito segura, que
nos permite ter um ambiente mais amplo e confortável, e por cima da areia há
muitos travesseiros e cobertores macios sobre o colchão confortável, além de
velas acesas que ajudam a iluminar tudo ao nosso redor. Há também uma
pequena mesa com comidas. Mas, quem liga para comida agora? Ao menos
minha fome é de outra coisa. As pétalas vermelhas nos travesseiros são lindas.
Esta é a primeira vez que vejo algo tão lindo e romântico diante da minha
visão.
Minhas veias pulsam a todo o vapor quando sinto o calor dos seus dedos
tocar em minha face. Kauã ainda está por trás de mim e seu membro duro
denota o quanto ele está excitado.
Tem um pouco de emoção transparecendo em lágrimas solitárias, que
insistem em sair. Enxugo-as antes que ele possa as ver.
— Isso é tão lindo. — falei baixinho.
— Eu não mereço você, Micaella. Sou sortudo demais por ter o seu
coração. Considero-me um miserável, por ser tão desprezível.
Estranhei a maneira como ele usou as palavras e encaro os seus olhos
azuis, que estão escondendo algo que, talvez, ele desejasse me contar neste
momento, mas não consegue devido a alguma coisa, que suponho que seja o
seu orgulho masculino.
— Por que está me dizendo essas coisas? Você não é desprezível.
Aconteceu algo no trabalho que o deixou irritado?
— Não aconteceu nada. — Suas mãos tocam em minha face com posse,
como nunca antes. — Deixe-me olhar para você, contemplar sua beleza rara,
que é como um colírio para os meus olhos. Você é perfeita, Micaella. Nunca
se esqueça disso.
— Você está muito estranho hoje. Que tal eu te ajudar a relaxar? —
propus, tirando minha pequena mochila das costas e a jogando sobre a areia.
— Você tem certeza de que ninguém irá se aproximar?
— Não quando se paga para ter um pedaço da praia exclusivamente para
nós.
— Você pagou?! — Arregalo os olhos. Isso deve ter custado um rim. —
Tem certeza de que vale a pena? Podemos ir para qualquer outro lugar.
— Vale cada centavo. E eu pagaria tudo de novo, somente para ver este
sorriso lindo que tem, menina.
Sorrio timidamente depois desse elogio, que me faz ficar vermelha. Ele
tem o dom de consumir todas as minhas forças. Minhas pernas estão moles.
Seu olhar devorador de boceta quase me faz perder o equilíbrio.
— Está quente aqui, não acha? — provoquei-o, tirando a blusa do
uniforme e ficando apenas de sutiã e calça.
Seu olhar está em mim, e o meu fixo no seu. Abano-me com as mãos. Ele
já está abrindo os botões da sua camisa branca, que está com as mangas
dobradas, mostrando seus braços fortes.
— Sabe... Quando saio do trabalho, não vejo a hora de poder me livrar
de todas estas roupas quentes e sufocantes. Esta calça está ficando cada vez
mais apertada. — Pisco e abro os botões até tirá-la por completo, ficando
apenas de lingerie, que, aliás, é branca.
Kauã joga sua camisa no chão. Ele ainda está de sapatos, sendo que
poderia estar pisando na areia. Convenço-o do quanto essa sensação é ótima e
ele acaba aproveitando para tirar tudo de uma vez, ficando completamente nu.
Meus olhos podem admirar a beleza de seu corpo nu, viril e musculoso.
Suas mãos escorregam fortemente pela lateral do meu corpo, apertando
principalmente as minhas coxas e a bunda. Sua boca distribui beijos entre a
curva do meu ombro e pescoço até o colo dos meus seios. A tensão sexual
travada pelos nossos olhares é imbatível. Ele é o meu primeiro amor, especial
e verdadeiro. Não tenho dúvida.
Logo Kauã abre o fecho do meu sutiã, deixando-me exposta. Sempre me
senti insegura com essa região, mas, a todo momento, ele faz questão de
demonstrar o quanto tudo em mim o atrai. A atenção que o loiro dá para os
meus seios é fora do normal. Sempre que estamos juntos, é como se me
venerasse.
Gemo ao sentir a ponta da sua língua tocar em meu mamilo sensível. Ele
o suga com tanto desejo, que isso transparece em seus olhos. Nunca o tinha
visto tão obcecado como agora. Há obsessão em seu olhar, e ele já não pode
mais controlar, muito menos esconder. Enlouqueço a cada chupada, mordida e
lambida na área sensível dos meus seios. Que gostoso! Contorço-me,
esfregando minhas coxas uma na outra. Ainda estou vestida somente pela
calcinha, que logo é tirada de mim. Como sempre, Kauã sente o aroma da peça
e se mostra satisfeito. Sua atitude toda vez cora as minhas bochechas.
Ele me toma em seus braços e me leva até o colchão macio. Minhas
costas sentem toda a maciez, enquanto minha boca sente a maciez da sua. O
hálito com sabor de menta refrescante indica que ele veio preparado para a
noite.
Meu namorado me faz voar sem que eu esteja em um avião. Ele é o
combustível da minha alma.
— Você é deliciosa, amor.
Em todas as vezes que ele se refere a mim como “amor”, deixa-me
emocionada. Não nos declaramos a ponto de dizer “eu te amo”, porém
sabemos que nutrimos o mesmo sentimento um pelo outro, é recíproco. O que
nossos lábios não são capazes de falar, nossos corpos sedentos um pelo outro
respondem.
Seus beijos queimam o meu corpo. Estou em chamas pelas suas
investidas, precisando sentir, com muita urgência, o seu pau entrar e sair da
minha boceta, que, neste momento, está molhada. Seus dedos deslizam ao me
tocarem.
— Tudo isso é para mim, amor? Está pingando pelo seu homem, e eu nem
comi você ainda.
Reviro os olhos, tomada pelo prazer iminente, ao sentir seus dedos
hábeis em torno do meu clitóris, massageando-o. Sem mais demora, ele
introduz a cabeça enorme do seu pau na minha entrada e começa a se mover
com desespero, louco de tesão, assim como eu, que facilito, movendo-me
meus quadris o máximo que posso. É insano, delicioso, fazer amor sob o olhar
das estrelas, iluminadas pela luz da lua.
— Perfeita! Somente minha! Por você, eu seria capaz de cometer uma
loucura, apenas para ter o prazer de beijar estes lábios carnudos mais uma
vez. — Beija-me suavemente e depois volta a falar. — Você é a melhor coisa
que me aconteceu em anos. Jamais poderia imaginar que algo tão bom poderia
acontecer comigo.
— Você é muito especial para mim, é o meu primeiro amor. — confessei.
Ele para de se movimentar somente para me ouvir. Tomo coragem e digo
de uma vez, antes que minha timidez me impeça:
— Eu amo você, Kauã, com todo o meu coração.
Ele parece mexido ao mesmo tempo em que tenta processar toda a
informação que o dei. Na verdade, eu me declarei, e agora estou esperando
que ele faça o mesmo.
Kauã respira fundo e, sem pensar duas vezes, diz:
— Você também é muito especial para mim. Toda mulher deve saber que
nós, homens, temos dificuldade para nos declarar, mas eu quero que você
saiba que eu te amo, Micaella. Amo. Sinta todo o meu amor por você. —
Estoca-me desta vez sem a necessidade de sucumbir somente os seus desejos.
É algo tão intenso, que me faz sentir todo o amor que ele diz ter por mim.
A noite, que estava fria, torna-se quente quando o calor de nossos corpos
colados invadem todo o meu ser. Kauã me instiga, inspira-me confiança e,
acima de tudo, faz eu acreditar no quão sexy e sedutora posso ser.
Minha boca sedenta por beijos tem os gemidos abafados por conta do
beijo avassalador que toca a minha alma e acende os meus desejos mais
profundos. Ele não perde tempo e, com as mãos, aperta meus mamilos. Todos
os meus músculos se contraem diante do tesão que me leva ao orgasmo mais
profundo que já tive. Meu namorado não para de me devorar, nem mesmo
quando escuta meu grito prazeroso. Isso o deixa mais instigado, levando-o a
me colocar de quatro para me socar todo o seu pênis grosso, engolindo meu
canal lubrificado, até o seu gozo ser despejado completamente em mim.
— Porra! Que gostosa, amor! Rebole esta bunda em cima de mim! — Ele
se deita e me faz ficar por cima dele.
Seu membro continua duro, mesmo após ter gozado, e ele está suado,
assim como eu.
Assim que minha boceta desliza sobre seu pau guloso, encaixa-se
perfeitamente. Ele sente mais tesão quando eu tomo a atitude e me remexo
sobre seu corpo. Mesmo cansada, encontro forças para me deleitar de todo o
prazer iminente que abrange cada parte do meu corpo. Meu coração está
acelerado. Ele é o único que me deixa assim.
— Minha gostosa! Safada!
— Meu gostoso! Safado! — retruquei.
O seu sorriso safado é como uma medalha para coroar a minha noite.
Kauã sabe que não posso ficar a noite inteira com ele, devido à
preocupação da minha mãe. Ele não sabe o que aconteceu com minha melhor
amiga, eu apenas lhe disse que ela foi embora, e nem sequer comentei sobre a
possibilidade de eu também ir. Tenho certeza de que essa notícia o deixaria
feliz, assim como me deixa. Meu engenheiro agora terá sua namorada vivendo
na mesma cidade que a sua.
Rebolo loucamente, apaixonada, sobre seu pênis grosso e duro. Não me
canso, até que gozamos quase que ao mesmo tempo. Ele mal sai de dentro de
mim e sua boca já aquece minha intimidade, lambendo meu clitóris, enquanto
um de seus dedos entra no meu canal, fazendo-me pirar. É tanto desejo e
prazer que sinto, que não sou capaz de administrar. Por um instante acreditei
que iria desfalecer sobre este colchão. O cheiro do nosso sexo está presente
nas minhas narinas.
— Minha garota! Somente minha! — Ele repete isso várias vezes, até que
ele mesmo se convença.
Esta noite jamais será esquecida por ambas as partes. Ela foi satisfatória
e apaixonante. Trocamos juras de amor e nossas almas se encontraram em uma
perfeita sintonia. Eu o amo como nunca amei antes. Ele é aquele amor que vem
uma vez na vida, disso tenho certeza.

(...)
Seus lábios me beijam como se ele estivesse se despedindo. Ao menos
essa é a sensação que tenho. Encaro seus olhos azuis, que insistem, mais uma
vez, em ele me levar para casa.
— Não precisa, o ônibus chega em dez minutos e há pessoas aqui,
esperando. Pode ir para casa, não se preocupe comigo.
Ainda estou dentro do seu carro, prestes a abrir a porta, quando ele me
puxa para mais um beijo envolvente e apaixonado, permitindo que todo o peso
das minhas costas desapareça em questão de segundos, como em um passe de
mágica.
— Até amanhã. — despedi-me.
— Micaella, nunca se esqueça: você é minha, somente minha.
— Que namorado possessivo que tenho. — falei, sorridente.
Porém, ele parece apreensivo. Eu diria que está agindo estranhamente.
— Gostaria que esta noite se repetisse mais vezes.
— Podemos sair da rotina sempre que quiser.
— Tome bastante cuidado, linda. Não confie em todo mundo que se
aproxima de você.
— Falando assim, até parece que esta é a última vez que nos vemos. —
brinquei.
Ele não sorri, como de costume.
Ao descer do carro, uma sensação estranha me abate. Fecho a porta, o
vidro desce e eu avisto a sua face preocupada. Talvez ele só esteja cansado do
trabalho. O que me faz sorrir. Ele parece não querer ir embora e eu o vejo
fazer algo muito estranho: soca o volante e, em seguida, dá partida.
Sinto uma pontada forte no peito. É como se isso realmente fosse uma
despedida.
Tenho estado muito emotiva nos últimos dias, principalmente na última
semana. Desde que Giulia foi embora, sinto-me sozinha e abatida. Talvez seja
por isso que eu chore até com uma cena de um filme de ação.
Regulo a alça da minha mochila nas costas e me sento para esperar o
ônibus. Há duas mulheres próximas a mim e um homem. Coloco meus fones de
ouvido, quando sou interrompida pela presença inoportuna de Paola. Mais
uma vez essa mulher insiste em cruzar o meu caminho. Não sei o que serei
capaz de fazer se ela ousar me desrespeitar novamente. Para a sua sorte, meu
ônibus chegou. Já estou quase entrando nele, quando sou puxada pelo braço
fortemente.
— Espera! Você vai me ouvir, Micaella. Eu vim em missão de paz.
— Paola, eu estou cansada. Não quero conversar com você depois de ter
me ofendido daquela maneira.
— Me escute, Micaella. Você pode tirar suas próprias conclusões depois
que me ouvir.
Parece sério o que ela tem para me dizer, no entanto esse é o último
ônibus que pode me levar para casa. Respiro fundo. Acho que para Paola me
procurar depois de tudo, algo importante tem para me falar.
Alguma coisa me diz que essa conversa vai longe.
CAPÍTULO 12

As palavras ditas por Kauã na gravação que Paola me mostra pela


segunda vez ecoam na minha cabeça. É a voz dele no áudio. Em um tom alto e
claro, ele diz:
“Micaella é apenas uma diversão para mim.”
Logo em seguida, ela me mostra um vídeo que fez dele da varanda do
quarto onde ele está hospedado. Kauã está muito bem à vontade, sem camisa, e
não percebeu quando Paola colocou o celular no ponto em que filma ambos.
Ela o abraça por trás e depois pergunta:
— Não me diga que a pobretona está causando um alvoroço em seu
coração.
— Mulher nenhuma é capaz de causar algo assim em mim. — ele disse
de uma maneira dura.
— Micaella?
— Você sabe que eu estou ganhando a aposta. A garota já aceitou ser
minha namorada, e agora só está faltando se entregar a mim. O que está
muito próximo de acontecer, visto que ela está completamente rendida.
Eles dão risada e fazem um brinde em seguida. São tão sem escrúpulos,
doentes e desprezíveis. A maneira ousada como ela o abraça me faz levantar
suspeitas. Não é comum que dois irmãos ajam dessa maneira. Estou incrédula
diante desta cena e minha mente tenta compreender tudo que está acontecendo.
Paola me trouxe até o restaurante do hotel onde ela está hospedada com o
irmão, ou seja lá o que ele for dela. Agora já não sei mais de nada.
— Eu te disse que ele te enganou. Tentei te alertar de todos os modos,
bobinha, porém você não me deu ouvidos.
Como se ela se preocupasse comigo. Fez parte da aposta.
Eu fui uma aposta?
Algumas lágrimas escorrem pela minha face, inundando a minha vista.
Kauã não passa de um traidor?
— Kauã é um filho da mãe da pior qualidade. Ele está acostumado a
jogar com as mulheres. Primeiro as ilude, e depois que consegue sexo delas,
as abandona, as descarta como se fossem lixo. — O prazer que ela sentiu ao
me contar isso foi imenso.
Derramo algumas lágrimas. O que está mais doendo é o meu coração, que
sangra, tomado pela decepção. Com o vídeo, é nítido que Paola não fez
nenhuma montagem. E ela também não tinha a necessidade de projetar uma.
— Querida, ele partiu o seu coração, mas vai passar. Vamos! Levante o
queixo e esqueça esse homem. Agora, que você já sabe quem ele é, não
precisa mais viver em meio a essa mentira.
— O seu irmão é o pior homem do mundo! — esbravejei.
— Corrigindo: eu sou filha única. Kauã não é meu irmão, e sim um velho
amigo, se é que você me entende.
Ele mentiu para mim também sobre ter uma irmã. É inacreditável até
onde uma pessoa ruim é capaz de chegar para magoar o próximo, sem se
importar com a dor que aquele ato irá causar.
— Vocês não são irmãos?
— Não. Irmãos não fariam o que fazemos entre quatro paredes. Eu vou
abrir todo o jogo para você: eu e Kauã temos um lance há alguns anos,
mantemos um relacionamento aberto. Quando estamos caindo na rotina, tanto
ele, como eu, aproveitamos para conhecer outras pessoas nesse meio tempo.
E, adivinhe: ele não a escolheu somente por ser bonitinha, e sim porque eu o
desafiei a conquistá-la na noite em que você caiu na piscina. — contou até os
meros detalhes do seu plano. — Não acreditou que era especial para ele, não
é?
O pior é que eu acreditei. Mais que tudo neste mundo, eu acreditei, eu
confiei, eu me entreguei. Eu amei! Amei tanto, que me chegou a faltar o ar.
Como ele pôde ter me traído dessa maneira?
— Diga-me: ele também te chamava de linda? — Como ela sabe do
apelido carinhoso com o qual ele se referia somente a mim. Ao menos foi
nisso que acreditei. Quer dizer que ele também chamava as outras de linda?
Como dói. Eu não sabia que o amor machucava com essa intensidade.
— Meu Deus, ele chamava! — ela constatou por meio da minha reação.
— E você foi muito bobinha. Mas ninguém pode te julgar, afinal de contas,
meu Kauã é um homem acima da média, em todos os sentidos. Espero, de
verdade, que você possa seguir em frente.
— Não pode estar falando a verdade. Kauã me ama. Ele... — Custa-me
acreditar que o juramento de amor que fizemos instantes atrás foi mentira. Ele
não pode ser um bom mentiroso, deve haver alguma falha nessa matrix. Não
pode ser real.
— Queridinha, o Kauã é um bilionário. Acha mesmo que ele estaria com
uma garota de classe inferior como você? Ele é um herdeiro, assim como eu.
Pertencemos a famílias distintas, não nos relacionamos com pessoas do seu
nível, a menos quando queremos diversão. E isso, vocês sabem nos
proporcionar divinamente.
Como ela consegue ser tão cruel?
Bilionário? Ele também mentiu para mim sobre trabalhar para uma
grande empresa. Respiro fundo. São muitas informações para processar. Ele é
realmente bom com as palavras, com todos os olhares convincentes. Eu
confiei naquele homem e o entreguei não somente o meu corpo, como também
o meu amor. E ele jogou tudo no lixo, desperdiçou o meu sentimento. Eu
acreditei em tudo, jurava que o conhecia. Eu disse que o amava, e ele também
disse que me amava. Seus lábios devoravam os meus de um jeito amoroso.
Aquilo tudo que vivemos não pode ter sido somente desejo carnal. Nunca
houve amor? Eu fui a única a pensar que sim, quando, na verdade, ele estava
rindo de mim com uma mulher que me fez acreditar ser a sua irmã. O pior de
tudo não é descobrir que fui enganada, e sim o fato de eu ter sido burra, de
nunca ter percebido.
— Kauã é um bilionário?
— Ele não te contou? — Ela parece surpresa com isso. — Bem... Deve
ter sido por pena de você. Ele me contou sobre a sua casa, sobre o lugar em
que você mora. Se bem que as roupas que usa, já diz tudo. Por que acha que
ele pediu para que eu comprasse aquele vestido caro para você usar? Foi para
o caso de ele encontrar algum amigo da alta sociedade, você estar
apresentável e digna de estar ao lado dele.
Enxugo minhas lágrimas e puxo o ar para os pulmões. Por eu ser
branquinha, minha face deve estar avermelhada e logo irá parecer que levei
um murro. Na verdade, meu coração foi esmurrado diversas vezes.
— Se isso é tudo que tem a me dizer, eu já ouvi o que tanto queria. —
Ponho-me de pé, completamente abalada.
É como se o resto do mundo à minha volta não existisse. Eu não poderia
ouvir nada bom desta história, na qual um casal sádico sai por aí se
aproveitando das pessoas, seduzindo-as como se isso fosse algo delicioso e
vantajoso para ambos, somente para alimentar a relação deles. Se eles mantêm
um relacionamento aberto, problema dos dois. O que eu não irei mais permitir
é fazer parte desse joguinho insano, sujo, e, acima de tudo, desleal.
— Creio que eu já lhe disse tudo. Micaella, você estava realmente
apaixonada? Acredito que por ele ser o seu primeiro, possa ter contribuído. É
uma pena que tenha sido feita de tola. Mas não se preocupe, o vídeo da sua
primeira vez nunca será exposto. Kauã costuma ser um pouco sádico, gosta de
filmar todas as suas relações sexuais e as guardar em uma pasta, na nuvem,
para contar vitória para os amigos. Eu não me importo, pois somos iguais em
muitas coisas e nos damos bem acima de tudo.
Vídeos? Ele filmava as nossas relações sexuais? Isso é tão abominável.
Eu sabia que ele poderia ser um conquistador. Essa sua versão, já consigo
engolir. Agora... Ser tão desleal, a ponto de sair expondo as mulheres com
quem se relaciona? Eu não fui a única, nem serei a última que ele irá enganar
dessa maneira.
O amor machuca e rasga a alma.
— Vocês são loucos, isso sim. São seres desprezíveis que não se
importam com os sentimentos dos outros.
— Você não pode reclamar. Ninguém a forçou a nada, deu porque quis e
gostou. Não é mesmo, sua piranha?
O sangue ferve em minha cabeça, e meus nervos, que já estão à flor da
pele, fazem-me agir no impulso, tomada pela raiva crescente em meu coração.
Ela me ofendeu uma vez, e eu nada a fiz, só que desta vez não perco a
oportunidade de acertar um tapa digno de um Oscar na sua face. O estalar dos
meus dedos em seu rosto deixa a marca expressiva de toda a minha
indignação. Um tapa foi pouco para toda a dor e sofrimento que eles me
causaram.
Eu juro que os dois vão me pagar caro por cada lágrima que me fizeram
derramar. Minha mente repete isso a cada instante, a cada respiração minha.
Meu coração dispara, mas agora é de ódio, por tudo que eles me fizeram
passar e acreditar.
— Sua vadia! — Ela levanta a mão para acertar minha face, porém sou
mais rápida. Seguro firmemente o braço da infeliz pelo pulso.
— Quem é você para pensar que pode sequer tocar em um fio de cabelo
meu? Não ouse, nunca mais, levantar a porra desta mão para mim. O tapa que
lhe dei foi mais que merecido. Se você ousar tocar esta sua mão suja no meu
rosto, eu juro que o que virá em seguida irá doer mais que esse tapa.
Eu sou boa quando estou calma, mas quando estou possessa de ódio, sou
melhor ainda. Ela escolheu a pessoa errada para pisar e querer ser superior
somente por usar roupas de grifes e ser de uma família rica.
— Como se atreve, sua...?
— Cale a boca, Paola! — Eu solto o seu braço e ela leva a mão ao rosto.
— A única vadia aqui é você, sua piranha.
— Ao menos Kauã voltará para mim, enquanto você foi somente mais
uma na sua cama.
— Prefiro ter sido mais uma na sua cama a ser a mulher corna que o
espera com um sorriso, em casa, após ele ter enfiado o pau em outra. Como
pode ser feliz, se sempre está pegando resto de outras? Coitada. Eu também
tenho pena de você, sabe?
— Ora mais! Era só o que me faltava, você sentir pena de mim.
— Você não se valoriza como mulher. Eu posso ter sido enganada,
humilhada, mas ao menos sei o que é ter amor próprio. Tanto que não preciso
ir até Kauã para me rastejar e implorar pelo seu amor. — Enxugo, mais uma
vez, as minhas lágrimas. E antes que eu me esqueça, volto a falar. — Já que
você tem tanto dinheiro, deveria pagar uma terapia. Talvez ela te ensine um
pouco mais sobre amor próprio. Ou, talvez, o dinheiro não possa comprar isso
para você. — Lhe dou as costas.
A infeliz ainda ousa me chamar.
— Micaella! — Encaro-a pela última vez, disso tenho certeza. — Você
nos proporcionou uma diversão fabulosa. É uma pena que não tenha durado.
Até que nós três poderíamos ter tido uma noite quente como trisal. —
debochou. — Mas, no final, você se saiu muito bem. Obrigada por ter
satisfeito o meu homem. Assim, ele voltará com mais gás para os meus braços.
— A vadia sorri como se essa fosse uma vantagem.
O desejo que sinto é de matá-la, contudo eu não faria isso. Não em um
lugar cercado de câmeras. Minha mãe não teria esse desgosto.
— Vão para o inferno você e o seu homem! — cuspi as palavras sobre
ela, que não se mostrou nada incomodada.
— Pelo contrário. Retornaremos para as nossas vidas. Você continuará na
lama em que vive, enquanto eu estarei feliz e me satisfazendo com o homem
que amo. Eu compraria uma caixa de lenços para você, mas já está tarde.
Toda a soberba presente em seu olhar de mulher desvalorizada chega a
me causar uma certa pena. Ao menos eu caí na laia do cachorro por não o
conhecer bem, mas ela sabe quem ele é e ainda continua se sujeitando a uma
situação desprezível.
Eu brinquei com fogo, porém tenho a certeza de que nunca mais irei me
sujeitar a algo assim. Kauã morreu para mim nesta noite.
Ao sair do restaurante e passar pela recepção, pareço mais um zumbi
caminhando, sem vida, à mercê da dor e do holocausto que está a minha vida
agora. De repente sou dominada por um sentimento de ira. Preciso esbofetear
o rosto daquele infeliz, olhar em seus olhos azuis profundos mais uma vez e
dizer que o odeio.
Aviso, na recepção, que estou subindo, apenas por protocolo, pois
possuo o cartão do quarto.
— Senhorita, espere. — Encaro a mulher. — A reserva deste quarto foi
fechada nesta tarde. O senhor Monteiro não está mais hospedado neste hotel.
— Disse que ele não está mais hospedado?
— Sim. A reserva foi fechada hoje à tarde.
— Obrigada.
Ele foi embora? Como Paola disse, eles retornarão para as suas vidas e
se esquecerão de mim.
Abro a minha bolsa, procurando pelo meu celular, e não o encontro em
parte alguma. Droga! Eu me esqueci dele no carro do infeliz quando me
abaixei para amarrar meus tênis. Coloquei-o sobre o para-brisas e não me
lembrei de pegá-lo.
Enganada, iludida e ainda fiquei sem meu celular. Como vou chegar em
casa, tarde da noite, se nem ao menos um carro por aplicativo posso pedir?
Droga! Sento-me na calçada, em frente ao hotel luxuoso, abatida e cansada.
Entrego-me ao choro até soluçar e não sentir mais forças.
Eu não merecia ter sido enganada. Fui uma aposta vencida para ele.
Como o infeliz pode olhar em meus olhos, fazendo amor comigo, e jurar me
amar? Não é possível que só eu amei. Amei por nós dois. Antes ele tivesse me
usado, mesmo que tenha sido dessa maneira sórdida, mas nunca tivesse me
jurado amor. O que mais me doeu foi isso. Seria menos doloroso se após a
nossa primeira noite, ele tivesse ido embora sem ter dado explicações e não
me procurado mais. Não teríamos criado laços que nos uniriam mais vezes. Se
tudo foi apenas sexo, por que ele conseguiu me convencer do contrário? Eu
devo ser muito burra mesmo. A esta altura, Kauã já deve estar muito longe.
Fugiu como um covarde. E a sua mulher, certamente, irá logo se encontrar com
ele. Os dois se merecem, são da mesma laia.
Como mulher, eu jamais me submeteria a ver o meu homem se
envolvendo com outras. Não sou aberta a relacionamentos superficiais, muito
menos à covardia. O que eles fizeram comigo foi pior que a morte. Eu jamais
pensei que pudesse existir pessoas tão traíras como esses dois.
Esta, sem dúvida é a pior dor de todas: ser traída pela pessoa que você
mais ama nesta vida. Eu entreguei meu coração em suas mãos, e ele pisou
nele, dilacerou a minha alma, sem se importar se isso me deixaria arrasada.
Eu tenho certeza de apenas uma coisa: esta será a última vez que derramarei
lágrimas por Kauã. Eu sofrerei e levarei algum tempo para o esquecer, só que
jamais chorarei por ele novamente. Nenhum homem merece que uma mulher
sofra por ele na medida em que estou sofrendo.
Devo aceitar o meu destino. Fui enganada, entretanto tenho que seguir em
frente, pois tenho certeza de que nunca mais o verei. E ele que reze para não
cruzar mais o meu caminho, pois eu seria capaz de matá-lo. A única coisa que
me conforta é saber que não o verei de novo. O ódio domina o meu coração.
Eu acreditava no amor, e Kauã me fez acreditar ainda mais quando nos
conhecemos e nos relacionamos, contudo, com a mesma proporção que ele me
fez acreditar, também selou todas as portas do meu coração. Se existe amor
entre um homem e uma mulher, eu já não acredito mais. Sou descrente desse
amor e testemunha da desilusão e da decepção.
Eles estão rindo de você.
Encho-me de ódio imaginando a cena.
Cadeados acabaram de fechar o meu coração de uma vez por todas. Eu
nunca mais vou me entregar dessa maneira a ninguém.
Culpa sua, Kauã! Cretino!
Eu o odeio com todas as minhas forças. As imagens dele rindo de mim
não saem da minha cabeça.
Completamente arrasada, abraço o meu corpo e sinto pingos de água
molharem minha cabeça. Vai chover, então preciso me refugiar em algum
lugar.
Eu fui uma aposta!
Você foi uma aposta!
Tola!
Boba!
Iludida!
Minha mente me castiga.
Seguro firmemente as lágrimas que querem vir e reforço a promessa:
nunca mais vou chorar por ele. Depois faço outra promessa, uma mais séria e
carregada de ódio:
— Você pagará por tudo que me fez, Kauã. — Repito inúmeras vezes.
Um dia ele vai sofrer o dobro do que me fez sofrer; e quando esse dia
chegar, estarei na primeira fila, para o ver arruinado. Desejo, do fundo do meu
coração, que ele pague na mesma moeda o que fez comigo. Irá se arrepender
por tudo que me fez sentir. As mentiras e as falsas promessas o castigarão de
alguma forma.
Kauã vai se arrepender do que me fez passar. Ah, ele pagará!
Fecho os olhos, respiro fundo e me refugio no ponto de ônibus, que é
coberto. Já não há mais ônibus neste horário, então, assim que a chuva passar,
irei para casa caminhando.
Hoje eu tenho certeza do quanto o amor machuca. Nada machuca mais.
Ter o coração partido por um cretino é uma dor sem explicação. Eu sei que
algum dia irá passar, que eu não irei me lembrar mais dele. E assim espero.
Mas estou ciente de que somente o amor pode machucar assim.
CAPÍTULO 13

É verídico aquele ditado que diz: “A verdade dói”. Ele não somente dói,
como machuca, deixando raízes muito bem profundas no coração.
Por que ele brincou comigo? Partiu o meu coração somente por diversão
e devastou tudo de bom que eu tinha sobre ele. Confesso que está sendo
bastante sofrido conviver com a dor da enganação. Pergunto-me, a todo
momento, o que fiz para merecer algo assim. Encontrei a resposta mais óbvia:
pessoas como ele não se importam com o tamanho do sofrimento que são
capazes de causar em outras pessoas.
Em quantas mentiras eu acreditei? Quantas vezes meu coração palpitou
por ele? Por um momento nosso juntos? Eu me apaixonei, e isso não foi
errado.
Outro ditado que revela mais uma verdade, diz: “Quem vê cara, não vê
coração”.
Eu me deixei levar pela beleza de um homem que sabe como seduzir uma
mulher. Só que isso não vai mais acontecer.
Por mais que eu esteja triste, fique desanimada, a vida continua. Preciso
engolir o choro e trabalhar. Ontem à noite, quando cheguei em casa, abatida,
encontrei minha mãe dormindo no sofá, esperando-me. Pobrezinha... Sempre
se preocupando comigo. Peguei um cobertor para a aquecer e fui para a cama.
Pensei que teria mais problemas em sentir falta de sono, todavia dormi tanto,
que até perdi o horário, acordando dez minutos mais tarde. Ou seja, chegarei
atrasada ao serviço.
— Filha, vai sair sem tomar café? — mamãe gritou quando eu já estava
chegando à porta.
— Eu como no serviço. — respondi sem encará-la.
Meus olhos estão vermelhos, e a maquiagem não pode ser passada dentro
deles, somente ao redor.
— Espere, filha. Chegou tarde ontem. Micaella, está tudo bem?
— Sim, mamãe. — Engulo o choro. Eu jurei nunca mais derramar uma
lágrima por ele.
Se a minha mãe me vir assim, com este olhar abatido, irá me fazer mil e
uma perguntas. E a última coisa que quero é falar sobre Kauã. Decidi passar
uma borracha no passado, e começarei hoje.
Ontem foi um dia bastante doloroso, e hoje não será diferente. Quando se
ama alguém com a mesma intensidade com a qual amei, não se esquece disso
do dia para a noite. Eu sei que doerá muito mais. O amor costuma machucar
quando não é correspondido; e, no meu caso, amei por nós dois. Sofrerei para
o esquecer, no entanto estou convencida de que não será algo impossível de
acontecer.
O que mais me dói foi ele ter me jurado amor, a maneira carinhosa como
nos amávamos, todos os beijos doces e apaixonados... Não será fácil esquecer
que um dia ele fez parte da minha vida, porém eu decidi que sou madura
suficientemente para seguir em frente. Além do mais, sou jovem, ainda nem
completei vinte anos, tenho uma vida toda pela frente. Não vai ser a decepção
do meu primeiro amor que irá destruir todos os meus sonhos.
Ele pode ter feito todas as minhas defesas desmoronarem quando decidiu
pisar no meu coração como se ele fosse uma barata sem importância, mas
jamais irei me esquecer de todas as palavras ditas, de todos os beijos
memoráveis e encontros calorosos. Afinal de contas, toda primeira vez é
inesquecível. E a minha foi mágica. Havia admiração entre ambas as partes.
Ao menos ele me fez acreditar que existia da dele.
Triste engano!
Passar o dia em pé na recepção, esperando pessoas entrarem e saírem a
todo momento, acaba se tornando cansativo. Quando Mariza foi demitida e
todos os cargos se reestabeleceram, eu fiquei aqui. E agora estou cumprindo
meu aviso prévio, por já estar de partida para um outro estado. O mesmo
estado que ele! A chance de nos encontrarmos em São Paulo é praticamente
nula, pois lá vivem milhões de pessoas. Não é possível que possamos nos ver
novamente. Não sinto esperança alguma de revê-lo e não desejo que isso
aconteça, nunca.
Quando estou deitada no silêncio da noite, a dor parece não ter fim. Viro-
me de um lado para o outro na cama. Estou em desespero por não conseguir
controlar minhas emoções, e chorar está completamente fora de cogitação.
Abraço o travesseiro fortemente ao mesmo tempo em que fecho os olhos
e desejo, de todo o meu coração, que os próximos dias sejam melhores. As
lágrimas que insisto em prender, queimam as minhas pupilas. Jamais irei
chorar por aquele traidor.
Se eu tivesse escutado Giulia em todas as vezes que ela me alertou, visto
todos os sinais que ela me avisou... Mas, como eu duvidaria, se o cara tinha
uma atuação digna de um prêmio Oscar? Entre todos os Dons Juans que
existem na face da terra, o melhor, sem sombra de dúvidas, é o cretino do
Kauã Monteiro. Se é que esse realmente é o sobrenome dele. Ele mentiu tanto,
que já não sei se alguma coisa dita por ele foi verídica. Talvez nem seu nome
verdadeiro seja Kauã. E, talvez, ele nem more em São Paulo, como disse. O
que será melhor ainda se for verdade.
Paola me disse que esse homem é um bilionário muito renomado e
praticamente casado com ela. Eu jamais poderia suspeitar de nenhuma das
duas informações. Por que ele mentiu para mim, dizendo ser um funcionário de
uma empresa? Se não tinha planos de me assumir, por que inventar isso?
Esconder sobre sua esposa era algo que lhe convinha, e sobre a questão do
dinheiro, ele devia imaginar que eu fosse uma interesseira. Mais uma ofensa
para eu anotar.
Eu deveria ter notado pelas suas roupas e pelo seu carro. Como uma
empresa poderia oferecer tudo isso a um funcionário?
Mas o pior de tudo foi ele ter mentido para mim, dizendo que Paola era
sua irmã, quando, na verdade, era a sua mulher. A maneira estranha como
ambos mantêm a relação pode ser considerada algo normal para eles, já que
parecem viver bem com isso, mas eu jamais me submeteria a dividir meu
homem com outras mulheres. E acredito que ele também deveria se sentir
incomodado com esse fato. O que não aparentava. Enquanto eu a chamava de
cunhada, eles riam de mim, possivelmente, quando estavam juntos em
momentos íntimos.
A mesma boca que me beijou intensamente e me fez pisar em nuvens é a
mesma que beijava outra; o mesmo corpo suado sobre o meu após termos feito
amor também estava fazendo amor com outra.
Sinto um aperto em meu peito. Tudo isso é tão doloroso.
Às vezes eu gostaria de ligar para Giulia e lhe contar tudo, desabafar
com uma amiga de verdade, a única que possuo. Mas eu não quero incomodá-
la com os meus problemas; ela já vive cheia de preocupações com o emprego
e com a nova rotina. Giu está se saindo muito bem trabalhando para o chefe
CEO viúvo. Possivelmente, posso conseguir um emprego na casa do senhor
Avillar.
(...)

Duas semanas se passaram e a tormenta da desilusão ainda está presente


na minha vida. Sinto meu peito doer todas as vezes que me lembro dele.
Acontece que o fato de Kauã ter ido embora sem dizer uma palavra foi um ato
covarde. O que eu já deveria esperar, sabendo quem ele realmente é. Paola
tinha razão: ambos voltaram para as suas vidas e ninguém se lembrará de mim.
Se ao menos eu não tivesse esquecido meu celular em seu carro, ainda teria o
número dele para o xingar. Mas, por outro lado, assim não posso agir com
infantilidade, enviando-o mensagens, quando, sinceramente, eu queria
esbofetear a sua face até me sentir aliviada por lhe causar dor. Se bem que a
dor não seria a mesma que ele me causou.
É de madrugada quando desperto, ainda sonolenta, com fortes dores no
estômago. Creio que comi algo que não me fez bem. A sopa de mamãe estava
apimentada, deve ter sido isso.
Na outra semana atribuí minha ânsia de vômito ao pão de alho que comi.
Já está se tornando frequente eu acordar no meio da noite me sentindo mal.
Não considerei isso algo preocupante, até correr desesperadamente até o
banheiro e vomitar pela primeira vez depois da partida de Giulia. Naquela
noite culpei a alimentação e a dor da saudade por perder minha melhor amiga,
mas hoje não sei como justificar o que aconteceu.
Eu tentei não fazer barulho, só que foi em vão. Minha mãe já está
preparando o chá para me dar. Sempre que passo mal, ela faz um para aliviar
o sintoma. Porém, desta vez, ao sentir o cheiro forte da camomila, eu não
consigo beber nada. Quando mamãe dá as costas, jogo tudo na pia e finjo ter
bebido.
— Querida, levarei você ao médico amanhã.
— Não, mamãe. Amanhã é o último dia de trabalho, não quero faltar.
Estão preparando uma despedida para mim. — Isso é verdade, eu não quero
perder a despedida.
Como iremos em breve para São Paulo, gostaria de me despedir do meu
emprego em grande estilo. Trabalhei por cinco anos naquele hotel, e agora
estou saindo do meu primeiro e único serviço.
— Não pode trabalhar doente, meu bem.
— Eu não estou doente, mamãe. Foi apenas um mal-estar bobo. Já
passou. Com certeza comi algo que não me fez muito bem.
— Certamente. Mas, como a mãe preocupada que sou, preciso ter a
confirmação de que está tudo bem.
— Mamãe, não exagere. Eu estou bem.
— Um dia, quando for mãe, querida, irá entender todas as minhas
preocupações.
— Faremos assim, então: se eu voltar a me sentir mal, iremos ao médico
juntas.
— Fique sabendo que levarei você no mesmo instante caso se sinta mal
novamente. — Acaricia a minha mão.
Minha mãe é a pessoa que mais me ama nesta vida, e eu me sinto a pior
pessoa do mundo por ter mentido para ela. Como pude ter agido mal com a
pessoa que mais me ama no mundo? Mentir por causa de um homem que me
iludiu? Eu não queria apresentá-lo para a minha família, pelo fato de nunca ter
passado por uma experiência amorosa. Eu tinha receio de me precipitar. Os
quase dois meses que passei com Kauã me fizeram agir diferente: eu saía
escondido e mentia que iria trabalhar, quando, na verdade, estava em seus
braços, permitindo-me cair na sua lábia de conquistador barato.

(...)

Nunca tinha me apaixonado antes, e justo na vez que meu coração decidiu
encarar o amor, descobri que meu dedo é podre para homens. Talvez eu deva
viver sozinha e nunca mais sequer olhar para alguém novamente.
O meu lado dramático amanheceu a todo vapor nesta manhã. Até pensei
na ideia de viver com as freiras em um convento. Então me lembrei de que não
sou paciente e bondosa. Seria expulsa no primeiro dia. Aliás, nem seria
aceita. Deus manda amar o próximo, mas eu odeio duas pessoas que foram
próximas a mim. Sinto tanto ódio, que chego a ficar sufocada de verdade.
Ultimamente, tenho sentido muito calor. Às vezes penso que já estou
entrando na menopausa. Se eu não fosse jovem demais para isso, começaria a
me preocupar.
A despedida no meu emprego foi divertida. Teve bolo, tiramos fotos e
todos os meus ex-companheiros de trabalho me desejaram muita sorte na
minha nova empreitada.
Alguns dias atrás, a ideia de eu ir para São Paulo encheu o meu coração
de esperança. Saber que estaria mais perto do homem que eu amava, deixou-
me animada. Não tive chance de dizê-lo que minha mãe e eu iríamos para lá
em breve. E foi melhor assim. Nunca mais quero ouvir o seu nome, e também
desejo que ele jamais mencione o meu. E se Kauã realmente tiver um vídeo
nosso, torna-se ainda mais desprezível para mim. Filmar um ato tão íntimo
como esse é para moleques. Um homem de verdade nunca agiria desse modo.
Eu desejo, do fundo do meu coração, que ele nunca mais faça nenhuma
outra garota de trouxa, assim como me fez. E se houver mesmo um vídeo,
espero que ele assista e reveja quando disse que me amava. Tomara que haja
um enorme peso na sua consciência medíocre e que seu coração se aperte até
lhe causar arrependimento.

(...)

— Falei com a nossa prima. Ela está ansiosa com a nossa chegada. —
Minha mãe acabou de entrar em meu quarto.
Desde que saí do emprego, há duas semanas, passo a maior parte do meu
tempo vivendo a base de doces e água, e várias vezes ao dia indo ao banheiro.
Isso se deve ao fato da minha menstruação estar atrasada. O que é comum para
mim, visto que passo meses sem menstruar, devido a alterações de hormônios
que enfrentei aos quinze anos. Fiz um longo tratamento. Segundo a minha
médica, é normal ela se atrasar.
— Estou ansiosa para rever nossa prima e, principalmente, a Giulia.
— São Paulo nos aguarda, querida.
— Mamãe, ainda falta um pouco mais de um mês para irmos.
— Sabe como sou ansiosa. Já estou arrumando a mala, e você deveria
fazer isso, meu amor.
— Claro. — falei sem animação.
— Micaella, querida, você parece triste e abatida. Me conte o motivo.
Você não quer ir para São Paulo? É isso? — Senta-se na cama, ao meu lado.
Sinto vontade de chorar e desabafar, mas não farei isso. Chorar jamais.
— Estou animada.
— Você vive trancada neste quarto, meu amor.
— Estou aproveitando ao máximo meus últimos dias nesta casa. Eu não
sei quando retornaremos, ou se faremos isso algum dia. E também sinto falta
da Giu.
— Você logo a verá, meu amor. Agora, venha, me ajude com o jantar.
Chega de filmes e sorvete, você está engordando.
Engordando? Depois que ela sai, vou para a frente do espelho. Eu não
estou gorda, talvez com uma pequena camada de gordura na barriga, mas nada
alarmante. Sempre cuidei bem do meu corpo por uma questão de saúde. Se eu
estiver fora de forma por estar comendo bobagens, devo parar e deixar de
lado todos os meus sentimentos melancólicos, deprimentes. Afinal de contas,
já se passou um mês desde que Kauã foi embora e eu descobri toda a verdade
sobre suas mentiras.
— Eu vou te esquecer, Kauã. — repeti em frente ao espelho.
Chega de viver comendo bobagens e assistindo a filmes! Preciso agilizar
tudo para a viagem. Acredito que São Paulo me trará novos ares, que
conhecerei novas pessoas e me habitarei ao lugar. Quando eu estiver com
minha mente focada em outros assuntos mais importantes, já não irei mais me
lembrar do loiro de olhos azuis e olhar sedutor. Serei muito feliz na minha
nova vida.
CAPÍTULO 14

Pelas minhas contas, eu já deveria ter esquecido aquele traste. Por mais
que eu tente, todas as vezes que fecho os olhos, vem a lembrança dos
momentos intensos que vivemos juntos. O que mais me tortura é o nosso último
encontro, no qual ele me fez juras de amor. Como é possível que tudo aquilo
tenha sido mentira? Um traidor sabe como manipular uma mulher, e eu caí no
seu jogo, nas suas armadilhas. Machucou, e ainda dói.
É difícil esquecer o meu primeiro. Apesar de ele ter sido um miserável,
sempre foi bastante cuidadoso e carinhoso comigo, pensou em meu prazer. O
que me faz odiá-lo ainda mais. Por que ele pensava em mim, se pretendia me
largar? Antes tivesse sido apenas aquele cara arrogante que me fez cair na
piscina, antes não tivesse vindo ver como eu estava. Então, a maldita aposta
entre ele e Paola não começaria. Nego-me a aceitar que ambos riram de mim.
O desejo de me vingar é maior que eu. Mas, como posso me vingar de
alguém que não sei onde vive? Ele pode ter mentido sobre seu nome, e nada
do que me disse pode ser verdadeiro, depois da covardia de ter me deixado.
Amanhã viajarei para São Paulo. Preciso comprar algumas coisas na
farmácia, como remédio para enjoos e dores de cabeça. Minha mãe costuma
ficar nervosa quando precisa viajar de avião.
Os dias passaram muito rápido, no entanto, por que tenho a sensação de
que não saio do lugar? Sinto como se nunca mais fosse evoluir da fase na qual
fico triste.
Como as roupas se tornaram apertadas? Quando eu engordei? Na
verdade, os meus quadris estão mais largos, só que a minha barriga não está
grande. Eu diria que ela não cresceu quase nada. É fruto do bolo de chocolate
e do refrigerante todas as quartas à noite.
Estou procurando pelos remédios, quando, de repente, sou tomada por
uma sensação de desmaio. Provavelmente, estou tendo uma outra queda de
pressão, pela segunda vez na semana. A primeira vez foi quando estava vendo
TV no meu quarto. Eu pensei que fosse morrer, mas me mantive calma e logo
me recuperei. Se a minha mãe souber que estou passando mal com mais
frequência, irá me internar e só me deixar sair quando completar um ano.
O que está acontecendo comigo? Será que estou realmente doente?
Mamãe tem razão? Devo procurar um médico? Costumo ser bastante relaxada
quando o assunto é esse. Hospitais me deixam nervosa e assustada. Talvez o
medo de Giu tenha passado para mim. Quando ela perdeu os pais, e depois sua
avó, eu pude sentir sua dor. Não sei o que seria de mim sem a minha mãe, ela
é tudo de mais precioso que possuo nessa vida.
Percebendo que não estou bem, a moça que trabalha na farmácia me
ampara. Se não fosse por ela, eu desmaiaria. Ela me ajuda a sentar em uma
cadeira. Tudo à minha volta está girando; talvez seja por eu ter insistido em
vestir esta calça apertada. Não entendo, essa peça costumava me vestir tão
bem. Meus seios também estão mais inchados, entretanto eles já ficaram assim
antes por conta do meu problema hormonal e da minha menstruação, que
costuma ser irregular. Contudo, eu nunca senti tanta tontura e enjoos como
agora. Um calafrio percorre toda a minha espinha.
— Tudo bem? Precisa que eu chame a emergência?
— Não, eu estou bem. — Mantenho a calma. Realmente já está passando.
— Ultimamente, eu venho me sentindo assim. Creio que minha pressão esteja
irregular.
— Sugiro que procure um médico. Há quanto tempo está assim? Talvez
eu possa ajudar, sou farmacêutica.
— Há mais ou menos um mês e meio ou dois. — Para ser sincera, eu já
não sei mais.
— Você sente enjoos e tontura? — Ela parece ter pisado na tecla certa.
— Sim, eu sinto.
— Enjoos a comidas que você adorava comer e a perfumes fortes?
— Sim. É estranho, pois quase tudo que eu como, me faz querer vomitar.
— Sua menstruação? Está atrasada?
— Sim. Mas isso é normal devido ao problema hormonal que tenho. Já
passei até três meses sem menstruar.
— Tudo bem, eu vou ser mais específica. A sua vida sexual... Ela está
ativa? Caso esteja, você toma algum remédio anticoncepcional ou costuma
usar camisinha? Ou outros métodos para se prevenir?
Minha vida sexual? O que ela está querendo insinuar com isso? Engulo
em seco. A minha vida sexual está parada. A última vez que fiz sexo com
aquele idiota já faz algum tempo. E não, nós nunca usamos nenhum método
contraceptivo.
Por um momento meu cérebro congela e meu coração para de bater por
breves milésimos de segundos. O que a doutora está querendo dizer? Que eu
posso estar grávida? O impacto dessa possibilidade me faz saltar da cadeira e
todo o meu corpo entra em alerta. Sinto um tremor percorrer cada nervo meu,
respiro fundo e puxo o ar, porém ele não vem.
Deus amado! Não pode ser!
— A senhora está querendo dizer que... Que...? — Não consigo
completar a frase.
Grávida! Não posso estar grávida! Um medo fora do comum absorve
cada partícula minha.
— Veja bem... É uma possibilidade. Pode começar fazendo um teste de
farmácia e, depois, um de sangue, para ter mais certeza. — Ela pega um na
prateleira para mim.
Eu, que estava com uma cestinha, vou enchendo-o sem contar, ao certo,
quantos testes pego. A farmacêutica ri de mim, do meu nervosismo.
— Não sinta medo. Comigo também foi assim. Eu me achei incapaz no
momento em que descobri que estava grávida, mas logo percebi que cada
batida que meu coração dava era pela minha filha.
— Eu não sei o que falar. Preciso tirar minhas dúvidas. Obrigada por
tudo, doutora.
Depois que passo as coisas no caixa, vou para casa. Estou atordoada.
Não posso estar grávida. Eu nem sei como segurar um bebê ou trocar fraldas.
E se eu o deixar ficar assado? Ou, pior, se ele se engasgar por minha culpa? E
se eu o derrubar no chão? Não posso estar grávida!
Preciso manter a calma. Ainda nem fiz o teste e já estou imaginando mil e
um acidentes que podem acontecer. Ainda sou jovem demais para me tornar
mãe. Bebês são lindos e fofos, porém nos braços de outras pessoas. Perco até
a noção de espaço, encurralada pelo medo.
A verdade é que não estou pronta para me tornar mãe. Eu não sou
suficientemente boa para cuidar de uma criança, estou sem emprego e indo
morar de favor na casa de uma prima. Não posso estar grávida. Como irei
trabalhar se estiver grávida? Preciso tirar essa dúvida da minha cabeça.
Estou parada no meio da sala, segurando minhas compras em mãos,
quando escuto a voz de mamãe.
— Filha, trouxe os remédios que pedi?
Eita! Eu esqueci! Com o choque causado pela mulher, acabei me
esquecendo de comprar.
— Eu esqueci.
— E o que tem aí?
— Comprei algumas coisas que estavam faltando.
— Filha, não é possível que tenha se esquecido dos remédios. Eu irei
comprar. Você termina o almoço?
Concordo sem entender o que ela me pediu. Estou fora de mim. Corro
para o banheiro, tranco-me dentro dele e leio todas as instruções antes de
fazer o primeiro teste. Espero cerca de cinco minutos para ver o resultado.
Uma risca é “negativo”, duas é “positivo”.
Arregalo os olhos. Duas riscas aparecem diante deles. Respiro fundo,
buscando não perder o controle, e tento me convencer de que o resultado pode
estar errado. Já ouvi falar que esses testes podem dar alteração. Na bula diz
que cerca de 99% dos resultados são verídicos, mas eu posso estar encaixada
no 1% que pode dar errado.
O nervosismo me faz rir. De duas, uma: ou vou enlouquecer ou vou ter um
ataque. Faço o segundo teste, o terceiro... Até parar no oitavo. Sim, eu fiz oito
testes. E, adivinhe: em todos apareceram duas riscas, indicando que estou
grávida.
Lágrimas inundam a minha face. Eu sei que prometi não chorar mais, mas
como não chorar? Como esquecer tudo que um homem desprezível fez comigo
e que, ainda por cima, deixou-me grávida?
Grávida! Essa palavra ecoa na minha cabeça.
Sinto-me impotente neste momento. Não posso fazer nada além de me
sentar no chão e chorar.
Tento me convencer de que em oito testes pode ter dado erro, porém já
seria sorte demais. E eu não costumo ter tanta sorte assim. Não estou dizendo
que um bebê não seja uma benção. Pelo contrário. Eu sei que é. Contudo, não
consigo enxergar nada além dos meus receios e medos. A minha mãe nem sabe
que conheci um cara. O que dirá quando souber que estou grávida?
Respiro fundo. Não quero que o bebezinho sinta medo. Dizem que eles
sentem todas as emoções da mãe. Fora isso, eu não sei nada sobre bebês.
Tensa, nervosa, tento me controlar. Eu estou com muito medo. Não terei
coragem o suficiente para contar à minha mãe que estou grávida. Mas, por
mais assustada que eu esteja, em nenhum momento a possibilidade de um
aborto passa pela minha cabeça. Eu sou contra esse ato. Uma vida inocente
está sendo gerada no meu ventre, e eu jamais seria capaz de matá-la.
Giulia! Eu queria ligar para ela neste momento e lhe contar tudo, mas não
conseguiria fazer isso pelo celular. Eu nem conseguiria discar nenhum número
neste momento.
Não posso acreditar que terei um filho do homem que me enganou. Não
culpo a criança por nada, porque é o único ser inocente. Eu sou a maior
culpada, por ter acreditado em Kauã e nas suas mentiras. Agora estou refém
das consequências que me acometeram. Se eu tivesse insistido para ele usar
camisinha ou se tivesse tomado anticoncepcionais, não teria engravidado. Na
época em que fiz aquele tratamento, a médica me disse que caso eu desejasse
engravidar, seria bem difícil, só que oito testes na minha frente me dizem o
contrário. Aconteceu algo praticamente impossível. Um milagre? Eu não sou
tão especial assim. Acredito que ainda pode haver um engano, no entanto
todos esses “positivos” me mostram o contrário.
— Micaella, filha, você deixou o arroz queimar. Toda a casa iria pegar
fogo se eu demorasse mais cinco minutos para chegar. — minha mãe gritou
atrás da porta.
Então, ela me pediu para terminar de fazer o almoço. Não prestei atenção
devido ao choque em que ainda me encontro.
Como não suspeitei antes que já estava grávida?
— Filha, você está bem?
— Eu estou com dor de barriga, mãe. — gritei.
Ela responde:
— Se precisar de alguma coisa, me chame. Vou fazer um chá.
Não posso beber chá!
Preciso de um médico!
Se eu tivesse pensado na possibilidade, na ideia de estar grávida, desde
o começo eu já teria ido a um médico. Provavelmente, pelas minhas contas, eu
estou com uns dois meses de gravidez. Por isso os seios inchados, as roupas
apertadas e a necessidade de fazer xixi a cada dois minutos. Acreditei que
tudo isso era emocional. Agora sei que não é nada disso. Tudo se deve a um
bebezinho inocente sendo gerado dentro da minha barriga.
Abro um sorriso bobo. Eu queria ser mãe algum dia, só não imaginava
que seria tão jovem. Poderia estar cursando uma faculdade, porém meus
planos serão adiados mais uma vez. Agora só preciso de uma coisa: fazer uma
boa viagem, acima de tudo, e, quando estiver em São Paulo, procurar uma
clínica para fazer exame de sangue e descobrir se está tudo bem com o meu
bebezinho. Há também algo que decidi que só farei quando chegarmos lá.
Respiro fundo. Irei contar para a minha mãe que estou grávida, e Giulia me
ajudará. Eu sei que ela vai estar ao meu lado, mesmo eu não a tendo dado
ouvidos quando deveria. Ela jamais esfregaria na minha cara que estava certa
e eu errada. É generosa demais para fazer isso. Também, a madrinha do meu
neném jamais agiria assim comigo.
Por outro lado, temo a reação da minha mãe.
Quem diria que o destino voltaria a se repetir quase vinte anos depois?
Nossas histórias são parecidas. Assim como ela, que foi abandonada grávida
pelo meu pai, eu também fui enganada e agora me vejo sozinha e grávida.
Como eu, o meu bebezinho nunca irá conhecer o pai. O que não faz mal. Claro
que sou a favor da família, todavia, quando um homem engana uma mulher da
maneira como Kauã me enganou, não merece perdão. E por mais que ele não
saiba da minha gravidez, não preciso me preocupar. Jamais voltarei a vê-lo.
De agora em diante seremos apenas eu e meu bebê.
CAPÍTULO 15

Estou perdida em uma nuvem na qual os meus pensamentos me condenam


por ter sido tola, porém nervosa e, principalmente, com o corpo cheio de
adrenalina, por estar andando de avião pela primeira vez. Dizem que esse é o
meio de transporte mais seguro do mundo. Vendo as coisas daqui de cima,
tudo parece tão pequeno e belo.
Em mais de três horas de voo, não dormi nem por um segundo. Observo a
tudo atentamente. Essa experiência é incrível. Antes eu pensava que sentiria
mais medo, porém estou me mantendo tranquila, ou pelo menos tentando. Acho
que o meu bebê pode sentir o quanto a mãe dele está se esforçando.
Eu não me aguentei esperar chegar em São Paulo para fazer o exame de
gravidez. Ontem à tarde fui a uma clínica, paguei por ele e recebi o resultado
em poucos minutos.
Eu estou grávida! Há um bebezinho crescendo na minha barriga. Se ontem
eu estava preocupada e aflita, hoje tenho certeza de que serei a melhor mãe do
mundo para esse bebê, pois irei me esforçar, assim como a minha mãe se
esforçou e deu sua vida por mim. Ela poderia ter aberto mão de mim, e tinha
seus motivos: estava sozinha, sem o apoio da família e grávida. Mas, ainda
assim, escolheu-me quando eu estava em seu ventre. Como eu poderia fazer
diferente diante de um gesto tão lindo como esse, que tenho presente na minha
vida?
Estou decidida a contar tudo para Giulia. Ela vai me ajudar a falar para
mamãe.
São Paulo. Desembarcamos no aeroporto de Guarulhos. Nossa prima
Clarice nos espera com um sorriso largo e encantador. Ela ligava para a minha
mãe todos os dias, ansiosa pela nossa chegada. Na última vez que a vi, eu era
uma criança. Lamento por ela ter perdido o seu marido. A solidão é algo que
conheço bem. Apesar do lindo sorriso, ainda há uma marca de dor e tristeza
em seus olhos. É difícil seguir em frente quando se perde um grande amor.
— Prima, como eu senti sua falta. — Ela abraça mamãe.
As duas são como irmãs. Nossa prima foi a única que ficou do lado dela.
— Meu Deus, prima! Você está muito bonita. — Minha mãe sempre tem
as palavras certas a dizer.
As duas estão muito contentes por estarem juntas novamente.
— Passou muito tempo desde a última vez que nos vimos. — Seus olhos
pairam sobre os meus. — Veja só, Micaella já é uma mulher feita, bonita e
atraente.
— Como vai, prima? — Abraço-a.
— Não tão bem quanto você. Vou te contar, prima: você está de parabéns
por ter parido uma loira linda como essa. Não há outra igual. Os homens
devem brigar por você. — Ela é bastante divertida.
Mamãe trata de dizer:
— Micaella nunca teve um namorado. Pelo menos nunca me apresentou
um.
Senti um peso na consciência quando ela disse isso. Mal sabe que estou
grávida de um homem que não faço a menor ideia de onde possa estar. E
mesmo que eu soubesse, jamais iria atrás dele novamente.
— Prima, nem se preocupe, aqui há muitos homens lindos, a começar
pelo nosso vizinho.
A última coisa que desejo nesta vida é conhecer um cara. A minha única
prioridade de agora em diante será exclusivamente o meu filho. Às vezes
penso que tudo não passa de um sonho. Não sei dizer. Nunca me imaginei
grávida tão jovem, porém essa agora é a minha realidade.
Giulia envia uma mensagem, avisando que está a caminho. Ela não
conseguiria esperar mais nem um dia para nos encontrarmos, assim como eu e
mamãe.
Clarice preparou um verdadeiro banquete para a nossa recepção. Há
tantas comidas gostosas. Não posso resistir a um delicioso bolo de cenoura,
um dos meus preferidos. Mamãe também come dois pedaços dele.
Chegamos cedo. Viajamos de madrugada para estarmos às seis horas
pousando.
Alguém bate na porta. É Giulia. Minha mãe é a primeira a abraçá-la e
ambas choram de emoção, assim como eu. Todo esse tempo longe da minha
melhor amiga me deixou sensível.
— Giu!
— Mica! — Ela me abraça fortemente.
Estou muito emocionada. Tenho chorado até com cena de luta e ação. Se
antes já chorava por qualquer coisa, agora nem se fala.
— Eu senti muito a sua falta. — confessei.
— Eu também. Mas que estranho você confessar isso. Logo você. a
durona. — brincou.
— Eu espero que você não tenha feito nenhuma outra melhor amiga. Esta
tal de Flora, de quem me falou pelo celular, espero que tenha sido somente
uma distração, porque eu cheguei para ocupar o primeiro lugar no seu
coração.
Se eu já era dramática, agora estou ainda pior. Todas riem.
— Ninguém nunca tomará seu primeiro lugar.
Nossa prima cumprimenta Giulia e a faz comer muito. Conversamos
todas juntas em volta da mesa. Clarice não tem filhos, mas tem uma mesa com
seis cadeiras. Ela adora receber visitas em casa, pelo que nos conta.
— Como é trabalhar para um homem tão rico como o senhor Avillar,
Giulia? — Clarice perguntou, curiosa.
— É bastante corrido. A filha dele sempre tem muitas coisas para fazer e
eu devo ficar de olho na sua agenda.
— Eu pesquisei umas fotos dele na internet. Que gato, Giulia! Você tem
sorte de ver um homem bonito todos os dias. — Nossa prima nos faz rir. Ela é
muito engraçada.
— Ele parece ser um homem educado. No dia em que foi à nossa casa,
simpatizei com sua pessoa. — mamãe acrescentou.
O meu humor mudou repentinamente. Ver todas rindo me faz pensar no
quanto sou sortuda. Contudo, o meu bebê precisa da mãe dele descansada.
— Eu vou dormir, estou cansada. — Vou depressa para o quarto que
minha prima arrumou para mim.
Com a proximidade, escuto minha mãe falar, preocupada:
— Essa menina está estranha há dias. Tudo que come, joga fora no
instante seguinte.
— Ela está mais gordinha do que eu me lembrava. — Clarice comentou.
— Giulia, querida, vê se consegue falar com ela. — minha mãe pediu.
— Vou tentar. Licença.
Finjo não ter ouvido nada e fico em pé, de costas para a entrada do
quarto. Eu sabia que se saísse, Giulia viria até mim. E eu preciso muito
desabafar, contar para ela tudo o que estou passando. Ela é a pessoa que mais
me entende, depois de mamãe.
— Mica, você não imagina a saudade que eu estava sentindo de você...
— Seu sorriso morre quando eu me viro na sua direção, chorando, com os
olhos tomados pelas lágrimas, que molham minha face. — Mica! O que
houve?
Eu jurei não chorar, só que neste momento não consigo evitar.
— Giulia... — Coloco a mão sobre a boca para prender o choro e lhe
dou um abraço forte.
— Calma. Estou aqui. Fique tranquila, amiga.
Ela não faz ideia do que aconteceu. Mesmo assim, espera o meu tempo
para que eu fale.
— Vem. Sente aqui, na cama. — pediu. — Conte o que houve. —
Preocupada, acomoda-se ao meu lado.
— Eu... Eu... Meu Deus! Como vou falar isso? Eu fui tão inocente, Giu.
Sou muito boba.
— Você não é boba. Calma. Conta de uma vez o porquê desse choro.
Eu decidi que não vou mais enrolar e direi tudo de uma vez.
— Estou grávida. — revelei, chorando sem parar.
Em um primeiro momento, ela fica sem reação.
— Você tem certeza?
— Sim, eu tenho. Fiz oito testes de farmácia, e todos deram positivo. Fui
ao médico também, para ter certeza com um exame de sangue, que confirmou a
minha gravidez. Devo estar com mais de um mês, não sei. Meu Deus! Minha
mãe vai me matar.
— Ela não vai. Ela te ama e vai te apoiar. — assegurou-me, confiante. —
Você contou para o pai do bebê?
— Ele sumiu sem me dar notícias. Eu fui ao hotel onde ele estava
hospedado e me falaram que ele foi embora sem deixar nenhum contato. Liguei
várias vezes para o seu número, mas só deu caixa postal. O cara não quer mais
saber de mim. — menti sobre as ligações. Eu não o liguei. No entanto, não lhe
contarei de cara o plano dele e da esposa.
— Ele não sabe do bebê?
— Não tive tempo de contá-lo. Mas agora não importa. Você tinha razão:
esse homem só queria me enganar. Como fui ingênua. O cara nunca quis tirar
fotos comigo, nem ser apresentado à minha família. — Ele mencionou isso
uma única vez, e creio que não foi sério.
Minha amiga me dá colo. Bastante assustada e chorando, adormeço.

(...)

Pela manhã combinamos de irmos ao médico para saber mais sobre o


bebê. Pesquisamos uma clínica na cidade próxima e vamos até lá. Eu estou
nervosa.
Na ultrassonografia é confirmado o tempo de gestação: oito semanas. Eu
engravidei de Kauã em nossa primeira relação sexual, pelas minhas contas.
A médica me explica muitas coisas sobre a gestação.
No caminho de volta para casa, no ônibus, peço à Giulia algo que a deixa
nervosa.
— Por que eu? — questionou.
— Você é melhor com as palavras. Por favor! — supliquei.
— É você quem deve contar para a sua mãe. Eu estarei ao seu lado,
segurando sua mão.
— Promete segurar minha mão?
— Prometo.
O momento é agora. Não posso mais esconder da minha mãe que estou
grávida. Aproveito que nossa prima foi ao mercado, para lhe contar.
Aproveito também o pouco de coragem que minha melhor amiga me passou.
— Assim vocês me deixam nervosa, meninas. O que está acontecendo?
— Gisela, eu levei Micaella ao médico hoje...
Minha mãe corta Giulia, nervosa, e leva as mãos ao peito.
— Minha filha está doente? Eu sabia que havia algo de errado, Jesus
todo-poderoso.
Respiro fundo.
— Calma, mamãe. Eu não estou doente. — Encaro minha amiga, que está
segurando minha mão com firmeza, prendo o choro e falo. — Eu não queria,
jamais, decepcionar a senhora, mãe. Eu... — Arfo. — Mamãe, há mais de dois
meses conheci um cara e me envolvi com ele. Eu estava completamente
apaixonada. Amei tanto ele, que acreditei em todas as suas palavras,
principalmente nas juras de amor. Eu me entreguei para ele em nome do nosso
amor e descobri que ele não valia nada, que só me enganou. — Ela está atenta
a cada palavra minha. — Ele foi embora e eu decidi esquecê-lo, seguir em
frente com a minha vida. E eu estou fazendo isso. Só que agora descobri que
estou grávida e não sei o que fazer. Nem tenho emprego. Não queria
decepcionar a senhora. Entenderei se não quiser mais falar comigo ou se me
desprezar. — Solto um grito aliviado de choro. Falei tudo que estava
engasgado, contando minha real situação.
Mamãe chorou junto comigo a cada palavra minha.
Sua reação é diferente de tudo que já imaginei: ela corre na minha
direção para me abraçar.
— Eu jamais vou virar as costas para você, filha. É a minha vida, o meu
maior tesouro. Você e Giulia são as minhas meninas.
— Mãe, eu não quero ser um peso para a senhora, muito menos para a
nossa prima.
— Filha, você é a minha vida, e agora este bebê em seu ventre também.
Eu sou sua mãe e irei cuidar de você.
— Obrigada, mãe. Eu te amo.
— Querida, você nunca será motivo de decepção para mim. Nunca.
Entenda isso. Você é a razão da minha vida. — Enxuga as minhas lágrimas.
Giulia está tensa. Eu a encaro, e minha mãe também.
— Vou me casar. — ela disse de uma única vez.
Nós a olhamos, em choque, sem acreditar. Giulia vai se casar?!
— É uma piada? — perguntei.
— Não, é verdade.
Estou chocada, assim como mamãe. Duas notícias fortes ao mesmo
tempo.
— Casar? Com quem, minha filha? Você também tem um namorado
secreto? — minha mãe questionou, quase me fazendo rir.
— Não. Não é isso. Vou me casar com alguém que vocês já conhecem.
— E quem seria?
— Viktor Avillar.
— Ela está brincando. — Rio.
— Não estou, é verdade. Ele me pediu em casamento.
— Onde está o anel? — indaguei.
Talvez ela só queira nos fazer rir.
— Ainda não oficializamos, mas é sério o nosso namoro.
Mamãe cai sentada sobre a cama, pálida e preocupada.
— Giulia, você conquistou o coração do chefe? — Estou animada e
criando uma fanfic na minha cabeça. — Estou acostumada a me referir a ele
desta maneira, mas agora será meu cunhado. Conte tudo! É por isso que ele foi
à nossa casa? Já estava amando você?
— E quando vocês se casam?
— Daqui a alguns meses. Como a mãe dele está doente, estamos
esperando a recuperação dela.
— Eu tenho uma filha grávida e outra que vai se casar. Pergunto-me
quando vocês cresceram.
Nós rimos da minha mãe. Ela nos ama e se preocupa com o nosso bem-
estar.
Sinto meu coração aliviado por ter contado tudo sobre a minha gravidez e
Giulia sobre o casamento.
Mamãe precisa fazer um chá para se acalmar e minha amiga fica comigo
no quarto; dormirá aqui hoje.
— Seu chefe, sua safadinha. Me conte tudo. Como começou isso?
— Eu nem sei explicar.
— Você está agindo de um jeito estranho.
— Não estou.
Ah, ela está sim. Eu a conheço bem para saber que está escondendo algo.
— Giulia, futura senhora Avillar, eu sou sua melhor amiga. Confie em
mim.
— Confie em mim e me conte o que realmente aconteceu com o seu
namorado, que eu lhe conto sobre meu casamento.
— Combinado. Eu começo.
Conto-lhe sobre Paola e sobre Kauã ter fingido que ela era a sua irmã,
quando, na verdade, era sua mulher. Giulia está em choque. Acredito que só eu
a superei quando descobri.
— Ele é bilionário, casado e lhe enganou? A esposa sabe e, ainda, o
perdoou?
— Eles têm um relacionamento aberto. Eu fui muito idiota. —
choraminguei.
— Você não teve culpa, ele soube te envolver. Sua inocência a levou a
entrar nesse jogo.
— Criarei meu bebê sozinha, sem ele.
— Eu te ajudarei no que for preciso.
— Obrigada, madrinha do meu bebê.
— Será uma honra para mim.
— Agora, me conte de Viktor.
Ela respira fundo e me conta sobre o contrato entre ambos para que a mãe
de Viktor possa fazer a cirurgia. É como se fosse o último pedido dela.
— Seu chefe te ama, ele só não se deu conta ainda.
— Você acha mesmo?
— Sim. Ao menos você estará casada e será feliz. Eu lhe asseguro.
Ela me abraça novamente.
Passamos a noite fofocando sobre nossas vidas. Nossas histórias dariam
um belo enredo.

(...)

Nesta manhã minha prima veio me felicitar.


Precisando de um momento com minha mãe, aproveito para ir até seu
quarto. Ela está dobrando roupas.
— Filha, precisamos pensar no nome do seu bebê, e também nas
roupinhas, no enxoval...
— Mãe, eu ainda não sei o sexo do bebê.
— Micaella, eu já havia escolhido o seu nome sem nem saber o seu sexo.
Micaella se fosse menina e Micael se fosse menino.
Sorrio. Minha mãe não está triste, nem decepcionada, ela me apoia. E
isso enche o meu coração de alegria.
— A senhora é a melhor mãe do mundo.
— Eu amo você, minha menina linda. E também tenho certeza de que será
uma ótima mãe.
— Espero ser tão boa quanto a senhora.
— Você me enche de orgulho.
— Mesmo tendo um bebê de um homem que desapareceu?
— O seu pai fez o mesmo, e isso nunca foi motivo de vergonha para mim.
Meu amor, o homem com quem se envolveu sabe que você está grávida?
— Não. Eu só descobri depois que ele foi embora.
— Sei o quanto isso é doloroso para você. A vida não será fácil, mas
daremos um jeito. Não se preocupe. Mamãe está aqui com você e sempre
estará. — Ela me abraça. Somente nesse abraço me sinto segura e acolhida.
Eu tenho a família mais maravilhosa do mundo ao meu lado e nada me
importa além deles.
CAPÍTULO 16

Muitas coisas aconteceram ao longo dos meses que se passaram.


Inclusive, logo vai haver o casamento de Giulia e Viktor.
Agora estamos apenas eu e ela no quarto.
— Você é a noiva mais bonita que eu já vi em toda a minha vida.
— E você é a grávida mais linda que já conheci.
— Você será muito feliz, Giu. Eu tenho certeza. — Pisco para ela.
Neste momento mamãe entra e conversamos por alguns instantes. Eu já
usei uma caixa de lenços. Eu e ela choramos, emocionadas.
A sogra da minha amiga é uma mulher culta e elegante; já a linda Bia está
perfeita, com um vestido rodado. Ela é uma criança linda e tem os olhos azuis,
assim como o pai e a avó. É uma característica da família.
— Giulia, esta é a sua amiga? Micaella? — A pequena é muito esperta.
— Me lembro de você quando estive em João Pessoa. Você é muito bonita e
está grávida. — Sorri ao ver o tamanho da minha barriga.
— Sim. O meu bebê está com seis meses.
— E você já sabe o sexo?
— Sim, é um menino.
Sua avó se apresenta.
— Desejo que ele nasça com saúde. Giulia me contou sobre você, do
quanto são amigas.
— É um prazer conhecê-la. Giulia também me falou muito sobre a
senhora.
— Pode me chamar de Cristina. — Sorri.
— Qual o nome do seu bebê?
— Gael Lohan.
— Quando ele nascer, quero visitá-lo. Posso? — Bia pediu.
— Claro que pode, princesa.
Ela sorri, sapeca.
— Vou comprar muitos brinquedos para ele e, também, ensiná-lo a jogar
bola.
— Giulia me falou que você foi campeã de um torneio. Meus parabéns.
— Obrigada. — A pequena vai brincar com a minha mãe. Ela faz
amizades rapidinho.
Cristina sorri para mim ao se aproximar mais. Ela é uma mulher
deslumbrante.
— Está grávida de seis meses?
— Sim. Eu tinha muitas esperanças de que fosse uma menina, e todo
mundo da minha família apostou que seria, porém fui abençoada com um
príncipe.
— Quando o bebê nascer, me procure. Giulia me disse que está buscando
emprego. Poderá trabalhar na minha casa se desejar.
Sua generosidade é tanta, que mesmo sem me conhecer bem, ela me
ofereceu um trabalho. Algumas lágrimas de felicidade insistem em sair, porém
não posso borrar a maquiagem.
— É muita generosidade a sua, senhora.
— Conversaremos futuramente. Agora, cuide-se. Quando este bebezinho
nascer, procure-me.
— Muito obrigada, de verdade.
Cristina me abraça. Ela é muito simpática.
Conto para a minha mãe da proposta que a sogra de Giulia me fez, e ela
fica muito feliz.
Ouço Cristina conversar com minha amiga e me espanto quando ela
menciona algo que me chama a atenção, entretanto tento não parecer nervosa,
apesar de ficar com uma pulga atrás da orelha. Ela disse que tem outro filho,
que não esteve presente no casamento, chamado Kauã. No momento fiquei
abalada.
Nunca falei para a Giu o nome do meu ex, por não querer me recordar
dele, e ela nunca quis saber muitas coisas sobre ele. É bom, realmente, que
ninguém fique me fazendo perguntas. Todos sabem o quanto esse assunto me
incomoda.
Eu não deveria dar importância a isso, afinal de contas, não existe
somente uma Maria no mundo. Talvez eu esteja pensando bobagens. E a última
coisa que devo fazer é me preocupar com assuntos banais.
Achei a sogra dela uma mulher muito simpática, apesar do pouco tempo
em que estivemos juntas.
Minha melhor amiga irá se casar com o seu ex-chefe, que agora será o
meu cunhado, quem, por sinal, é um homem muito culto e gentil.
Apesar de haver um contrato de casamento entre eles, Viktor a ama.
Posso constatar isso agora, pela maneira como eles se olham. O mais lindo,
claro, sou eu entrando com minha melhor amiga. Como se trata de um
matrimônio no civil, eu a acompanho, grávida e redonda.
Nós estamos nervosas, principalmente Giulia. E eu tenho a difícil tarefa
de não desmaiar diante de todas as pessoas enquanto a levo até o juiz. Tudo
está muito bonito e arrumado.
Por fim, preciso ir mais cedo para casa, por estar cansada. A minha
barriga cresceu muito no sexto mês. Estou me sentindo uma baleia, inchada e
cansada.

(...)

Minha barriga cresce diariamente e meu menino está se desenvolvendo


muito bem. Segundo a doutora Patrícia, meu filho será um bebê saudável e
muito forte. A cada dia que passa, mais ansiosa fico com sua chegada. Tudo
está bem.
Minha mãe irá enlouquecer. Agora, que sabe que seu neto será um
menino, não pode ver nada azul para bebê, que isso já chama a sua atenção. O
berço está montado no meu quarto; foi presente de Giulia e Viktor para Gael,
assim como o guarda-roupa e a cômoda. Eu não queria aceitar, porém eles
insistiram. E a minha mãe sempre chega com roupinhas. Acredita que ela já
comprou peças de um ano para meu filho, que ainda nem nasceu? Divirto-me
bastante com ela e minha prima. As duas competem para ver quem compra
mais coisas fofas para o meu neném.
Minha melhor amiga está feliz, principalmente agora, que descobrimos
que ela também está grávida. Giulia me acompanhou em mais uma consulta
minha com a médica e soubemos da novidade. Como minha mãe não sabe a
respeito do contrato, ela estranhou o fato de Giu estar assustada por conta da
gestação.
Ela contará ao Viktor nesta noite a notícia. Aguardo sua ligação para
saber a reação dele, tendo a certeza de que ele ficará feliz, porém ela me
envia uma mensagem, avisando que o contará somente amanhã.
Aproveito para dormir depois do jantar. Minha mãe colocou um colchão
no chão para ficar ao meu lado caso eu precise de alguma coisa. Ela não
dorme no beliche de cima e eu não posso subir por conta da barriga enorme.
Às vezes penso que estou grávida de gêmeos.
Mamãe é bastante preocupada, e agora, com a minha gravidez, sua
superproteção dobrou de proporção. Ela é a minha vida e sou muito grata por
todo o seu amor e cuidado comigo. O menor dos meus movimentos à noite já a
faz despertar. E no meu quarto mês de gravidez, eu sentia muitas dores
abdominais, o que a deixava preocupada.

(...)

Pela manhã estou tomando café, quando me ligam da casa de Giulia. É


Vera, a sua governanta.
— Bom dia, Vera. Como vai?
— Senhorita Micaella, bom dia. Poderia passar o celular para a sua
mãe?
Estranho, porém entrego o aparelho à mamãe, que, no momento em que
escuta a voz de Vera, fica pálida. Sei que aconteceu alguma coisa grave, pela
expressão dela.
— Pelo amor de Deus, onde está a minha filha?! Em qual hospital? —
Ela ouve atentamente.
Neste momento a comida já não desce mais. Aconteceu alguma coisa com
Giulia. Sinto um calafrio percorrer a minha espinha dorsal.
— Mamãe, o que aconteceu? — perguntei, exasperada.
— É melhor tomar uma água, querida, antes...
— Mamãe, a Giulia?
— Querida, a governanta da casa disse que ela sofreu um acidente e que
está no hospital. Seu estado é delicado, até onde se sabe. Eu estou indo para lá
agora mesmo.
— Eu também vou.
— Não, prima. Fique. Sua mãe vai. De qualquer modo, você não poderá
ver sua amiga.
— Não importa, eu vou. — assegurei.
Meu coração se aperta. Estou preocupada, aflita, sem saber de mais
notícias de Giu.
— Clarice tem razão. Fique. Amanhã você poderá vê-la. Não se
preocupe, querida. Acredito que Giulia ficará bem. — A fé da minha mãe é
algo incrível, que sempre admirei.
Como não ficar aflita, sabendo que minha melhor amiga está em um
hospital? Ela foi atropelada pela ex-sogra de Viktor, uma mulher maldosa, que
sempre que pode, pisa na minha amiga como se ela fosse uma barata. Como eu
gostaria de esmurrar aquela vaca caída aos pedaços.

(...)

— Micaella, já está tarde. Tente dormir, meu amor. O seu bebê sentirá
toda a sua aflição se você ainda permanecer acordada.
— Clarice, eu não consigo dormir. Giulia é minha irmã.
— Sua mãe ligou agora a pouco. Giulia está em observação, ela está
bem. E amanhã você poderá visitá-la.
Meu coração se enche de esperança. A minha vida sem Giulia não faz
sentido. Ela é parte da minha família, é minha irmã.
Depois dessa notícia animadora, finalmente consigo dormir. Amanhã à
tarde lhe farei uma visita no horário permitido. E ai de quem não me deixar
vê-la. Colocarei aquele hospital abaixo.

(...)

Hospitais me deixam nervosa, porém estou com a minha mãe. Ela passou
a noite aqui e já visitou Giulia. Viktor agora está com ela. A pequena Bia está
preocupada. Pobrezinha. Compreendo o desespero da pequena, porque minha
amiga é a mãe dela, e ambas entendem isso. Também fiquei preocupada com o
bebê em seu ventre, mas fui avisada de que ele está bem. Nossos filhos serão
melhores amigos. Estou torcendo para que seja um menino, pois assim meu
filho terá um amiguinho.
Encontro Viktor na sala de espera, que está mais aliviado depois de ter
conversado com a esposa. Ele a ama. Agora eu pude ter cem por cento de
certeza.
— Micaella, que bom que está aqui. Giulia perguntou por você.
— Ela está realmente bem?
— Sim. Foi um susto e tanto. — Ele está tenso. Imagino que o medo de a
perder tenha sido imenso.
— Graças a Deus. — Respiro aliviada e seco minhas lágrimas com as
mãos. Ele me entrega educadamente um lenço que carregava no bolso. — Eu
posso vê-la agora?
— Sim, pode.
— Parabéns pelo bebê. Vocês quatro serão muito felizes.
— Obrigado. Giulia acabou de me proporcionar uma alegria sem igual.
Confesso que não me imaginava mais sendo pai a esta altura do campeonato.
— Não diga isso, você ainda é jovem, Viktor.
Ele abre um sorriso modesto.
— E o seu bebê? Como estão ele e você?
— Estamos bem. Cada dia é um novo desafio, mas cada momento vale
muito a pena.
— Giulia será a madrinha, e eu suponho que serei o padrinho dele.
— Se você aceitar, será um prazer para mim.
— Obviamente. Você é como uma irmã para a minha esposa. Saiba que
sempre estaremos aqui por você e por este bebê.
Viktor é realmente um homem de outro planeta, educado, gentil,
cavalheiro e prestativo. Se todos os homens fossem como ele...
Ele vai resolver alguns assuntos sobre a documentação do hospital e eu
entro no quarto para visitar a minha gravidinha preferida. Ela está muito bem,
apesar do semblante cansado.
— Você queria me matar do coração? Porque eu quase morri. Saiba que
não te dou permissão para ser atropelada, nunca mais.
— Micaella. — Abre um sorriso. — Espero que você e o meu afilhado
estejam bem.
— Estamos sim. Porém, espero que o meu afilhado também esteja bem.
Agora eu só estou em dúvida: quem será o padrinho do seu bebê? A tia dele é
uma solteirona convicta.
— Meu Deus! Você é impressionante. — Ri e balança a cabeça.
Ela está bem. Finalmente pude constatar com os meus próprios olhos.
— Viktor ficou feliz pelo bebê.
— Ele ama você, Giulia. Você é muito especial. Precisava ver o quanto
ele estava preocupado. Ele sentia pavor, temia te perder.
— Viktor me ama. — Sorri, toda boba. — E eu o amo.
— Jura? Se você não me confessasse agora, eu nunca suspeitaria.
Ela acerta um tapa no meu ombro, fingindo estar ofendida.
Vibro com a sua alegria. Giu merece toda a felicidade do mundo.
— Eu estou com sede. Quando sair, pode pedir para Viktor me trazer
água?
— As enfermeiras aqui não fazem isso?
— Eu quero Viktor.
— Safadinha. Acamada e ainda querendo o seu homem.
— Micaella, não é nada disso. Credo! Eu ainda vou matar você. —
Rimos.
Procuro Viktor na sala de espera, e ele não está. Por fim, lembro-me de
que ele foi até a recepção. Este hospital é muito grande e elegante, um dos
mais caros da capital, talvez do Brasil inteiro. Estou atenta, procurando-o. São
tantos corredores, que creio que estou perdida. Eu penso em perguntar a uma
enfermeira, que vejo passar, onde fica a recepção, e ela me informa. Estou
indo certinho desta vez, quando meus olhos se fixam no homem forte, vestido
com uma camisa de mangas longas, azul-marinho, e uma calça preta social.
Ele está de olho na tela do celular. Seus cabelos loiro-escuros me fazem
engolir em seco e eu paraliso por alguns instantes.
Vejo-o vir na minha direção lentamente, porém com o olhar fixo no
aparelho. Não pode ser ele! Meus olhos estão vendo aquele homem
novamente.
De repente sinto uma vontade louca de sair correndo e um desespero me
invade ao mesmo tempo em que raiva e ódio me consomem. É Kauã, ele está
aqui. Minha respiração fica pesada e eu preciso abrir a boca para respirar
melhor. Não é bom que meu bebê sinta essas coisas, todavia não sei o que
fazer. Estou diante do pai do meu filho, grávida, com uma barriga enorme
coberta por um vestido largo e folgado.
Ranjo os dentes, tomada pela indignação de vê-lo. O traidor está a
poucos metros, diante de mim. A minha sorte não é tanta assim. Quando menos
espero, ele coloca o celular no bolso da calça e olha para a frente. Em choque,
saio correndo. Será que ele me viu? Meu coração palpita quando ouço o meu
nome.
— Micaella! — foi a sua voz rouca.
Ele me viu. Droga!
Começo a correr. A adrenalina dispara na minha corrente sanguínea. Não
posso vê-lo; não quero, nunca mais, ouvir a sua voz, muito menos que ele me
veja assim, grávida. O medo de ele conseguir me alcançar, deixa-me
atordoada. Viro-me entre um corredor e outro, sem nem saber que poderia
correr assim, encontro um elevador e aperto o botão várias vezes. Volto a me
sentir segura somente quando as portas se fecham e abrem novamente no salão
da saída. Eu não penso duas vezes antes de sair e entrar no primeiro táxi que
encontro.
— Moço, para o mais longe possível. Depressa. Eu passo o endereço no
caminho.
O motorista acelera e eu não olho para trás, com receio de vê-lo. Eu não
quero olhar para aquele homem, nunca mais. Meu maior pesadelo foi
reencontrá-lo. Era ele sim! Ele chamou pelo meu nome. Kauã me reconheceu.
Será que notou o tamanho da minha barriga? Espero que não tenha prestado
atenção.
Meu Deus! Meu coração está quase saindo pela boca. Jamais imaginei
que seria tão doloroso revê-lo depois de tantos meses. O infeliz continua
bonito, o dobro do que eu poderia me recordar. Tento apagar sua imagem da
minha mente todos os dias; e se já estava sendo difícil fazer isso, agora, que o
vi novamente, parece que tudo se complicou ainda mais. Kauã é um traidor,
um ser desprezível. Eu só posso odiá-lo e jamais me esquecer de cada coisa
que me fez.
CAPÍTULO 17

— Força, mãezinha! — a enfermeira que segura a minha mão firmemente,


pediu-me pela milésima vez.
Por mais força que eu faça, sinto que é inútil. Nunca imaginei que um
parto normal poderia ser tão doloroso. Sinto como se todos os meus ossos
estivessem sendo quebrados. É incrível como a dor parece não ter fim.
— Eu não consigo. — falei chorando.
Comecei a sentir as primeiras contrações de madrugada e logo fui trazida
às pressas ao hospital.
— Você consegue sim, filha. Só mais um pouco de força e seu filho estará
em seus braços. — Mamãe beija a minha face suada e segura firmemente a
minha outra mão.
Só um pouco mais de força e Gael virá ao mundo para iluminar a minha
vida para sempre. Estou cansada e sem forças. Não há mais lágrimas para
chorar. Busco, na minha alma, toda a força que ainda me resta. Faço tanta
força, que minha cabeça chega a doer, porém não é nada comparado à dor que
sinto. Meu filho, com certeza, é muito grande.
A equipe médica está fazendo um ótimo trabalho e a enfermeira é gentil,
está me ajudando. Quando cheguei a sentir as primeiras contrações, jurei que
estivesse morrendo, porém ela e a minha mãe me falaram que é normal devido
à distensão dos receptores. Meu quadril parecia que estava sendo perfurado.
Aguento firme. Só mais um pouco e meu filho nascerá.
A força que faço é inexplicável, só pode ser algo divino. Minha
capacidade humana não seria capaz de suportar se não houvesse intervenção
de Deus.
O choro é alto, o grito é rasgado da alma, no entanto tudo desaparece
quando ouço o choro do meu bebê. Meu Gael Lohan nasceu, meu mundo azul
está prestes a vir para os meus braços. Apesar de fraca e muito cansada, nada
disso mais importa quando posso, enfim, segurar o meu filho no colo. O meu
nenenzinho chora bastante. Ele parece estar assustado. É tão lindo, pequeno e
delicado. Meu bebê é o meu coração batendo fora do meu peito.
— Meu amor, enfim pudemos nos encontrar depois de meses. Você é tão
lindo. — Encho-o de beijos.
Gael é tão precioso e raro, o amor da minha vida em forma humana. Ele é
tão lindo. Seus cabelos loiros e olhos azuis tanto podem ser da mãe, como do
pai, quem ele nunca vai conhecer. Eu serei tudo que meu filho precisa, sua
fortaleza. Eu o protegerei de tudo e de todos, e ele sempre ficará seguro em
meus braços protetores. Amor não o faltará.
Os médicos o levam para terminar de limpá-lo e depois me direcionam
para o quarto. O hospital está sendo pago por Giulia, que é uma pessoa muito
generosa. Acredito que ela esteja ansiosa para conhecer o meu pequeno.
Conto os minutos para poder segurar meu menino em meus braços
novamente. Eu estaria andando de um lado para o outro se não estivesse a
base de soros para ajudar a recuperar a minha força. Nunca pensei que essa
espera seria maior que a dos quase nove meses. Gael nasceu na semana em
que a minha médica disse que nasceria, ela só não me contou que eu sentiria
todos os meus ossos serem quebrados de uma única vez enquanto aquele
anjinho nascesse. Mas toda a dor já ficou no passado, é como se nunca tivesse
existido. Quando eu vi aqueles olhinhos pequenos me fitarem, perdidos e
inocentes, eu soube que fiz a escolha certa. Ter esse bebezinho foi a minha
melhor decisão.
— Mamãe, por que tanta demora?
— Querida, é normal. Não se preocupe, seu bebê logo estará em seus
braços mais uma vez.
— Ele é tão lindo. — Meu coração se derrete de amor.
— Ele é igualzinho a você, perfeito. — Sorri.
A enfermeira adentra o quarto trazendo o meu filho, desta vez vestido
com uma calça e camiseta azul, as roupinhas que a vovó lhe deu. Ele está
chorando um pouco, e isso me preocupa. Será que é normal?
— Agora ele irá ter o primeiro contato com a mamãe dele. Seu bebê
precisa se alimentar para ficar forte. — A enfermeira me ensina como
amamentar meu neném, que se cala no instante em que pega o bico do meu
peito.
Não vou dizer que isso é mil maravilhas. Machuca muito, é como se ele
estivesse mordendo em vez de mamar. Mas tudo é tão mágico para mim, que
se torna especial.
Observo o meu pequeno. Estou completamente apaixonada por cada
movimento seu, por menor que seja. Ele me desperta o amor mais puro deste
mundo. Saber que esse bebezinho pequenininho cresceu em meu ventre me
enche de orgulho. “Pequeno” entre aspas, porque ele nasceu com três quilos e
trezentos gramas. É forte e muito bonito.
— Mamãe, ele é o bebê mais lindo deste mundo. Concorda?
— Meu netinho é muito lindo, meu amor. Eu quero ser a primeira a
segurá-lo depois de você.
— Eu também quero segurar. — Giulia adentrou o quarto com um sorriso
estonteante e a barriga grande. A sua menina nascerá dentro de alguns meses.
A pequena Maria Alice trará muita alegria para as nossas vidas.
A madrinha do Gael traz consigo chocolates e Viktor traz flores. Ele é o
pai mais contente de todo o mundo e é notório o amor entre ele e Giulia.
Ambos são o casal mais apaixonado que já conheci em toda a minha vida. O
amor deles é tipo daqueles de novela, é apaixonante.
— Meu Deus, como ele é lindo! — Giu sorri, beija meu garotinho, que
está mamando, e depois beija a minha testa. — Parabéns, minha irmã. Ele é
perfeito.
— Obrigada, irmã.
— Flores para a minha cunhada. — Viktor me considera uma cunhada,
isso é muito gratificante para mim. — Parabéns pelo bebê. Ele é um garoto
muito lindo.
— Obrigada, cunhado.
Minha mãe pega as flores e a coloca em um jarro.
A fila para segurar o meu bebê está ficando cada vez maior. A todo
momento, as enfermeiras vêm admirar a beleza do meu pequeno. Modéstia à
parte, e não é porque sou a mãe dele, mas o meu filho é o mais bonito do
mundo. Todas elas estão apaixonadas por ele.
— Não deveria dizer isso, mas o seu filho é, sem sombra de dúvidas, o
bebê mais bonito que já nasceu neste hospital. — a enfermeira que me
auxiliou, comentou.
Abro um sorriso orgulhoso. Em poucas horas de vida, Gael já conquistou
mais de quinze mulheres. Com certeza herdou o charme do pai, o que me irrita.
Quando me recordo do dia em que o vi... Perdi noites de sono imaginando
aquele nosso encontro. Será que ele viu o tamanho da minha barriga? Creio
que não iria se importar com o nosso filho. Somente por esse motivo não o
enfrentei para contar que esperava um bebê dele. Ele não fará parte das nossas
vidas, e assim como mamãe me criou sem o meu pai, Gael também crescerá
sem o seu. Ele será muito amado por mim, pela minha mãe e pelas tias corujas
que ele tem, que são muitas.
Naquele dia pensei que entraria em pânico. Faltou pouco para eu ter um
ataque cardíaco e morrer. Contudo, mantive a calma. O medo de estar cara a
cara com aquele homem me deixou apavorada, e aquela sensação é algo que
não desejo, nunca mais.
A minha única preocupação agora será somente o meu garotinho.

(...)

Eu não me canso de admirar o meu bebê gorduchinho. Meu Gael é um


menino tranquilo, fofinho, e não chora por quase nada. Ele dorme tanto, que
chego a sentir vontade de acordá-lo somente para o encher de beijos. Como
não acorda nem para comer, minha mãe me ajuda a lhe dar o leite com ele
dormindo.
Na semana em que tive alta, recebi a visita mais que especial de Beatriz.
A pequena veio acompanhada da sua avó. Elas trouxeram tantos presentes, que
me deixaram muito chocada. Bia trouxe um carrinho para o meu bebê e muitos
brinquedos, já a sua avó comprou roupas, calçados e, o melhor de tudo,
trouxe-me uma babá eletrônica. Eu estou me sentindo muito sortuda por ter
pessoas bastante bondosas em minha vida. Não sei o que seria de mim sem
elas.
— Tia Mica, o seu bebê é muito fofinho. Quando ele crescer, seremos
amigos. Ele vai adorar a minha irmãzinha Maria Alice. Não vejo a hora de ela
nascer.
— Bia está muito ansiosa pela chegada da irmã. — sua avó comentou. —
E ela tem razão: seu filho é um bebê muito lindo. Quando eu o olho, tenho a
impressão de que já o conhecia. Ele faz eu me recordar do meu filho. — Não
especificou com qual dos seus filhos meu bebê parece.
Logo ela introduz o assunto do trabalho em sua casa. Serei como uma
faxineira. O salário é ótimo e inclui condução e vale-alimentação. Estarei
recebendo mais de três salários mínimos. Pessoas ricas tendem a pagar um
valor muito caro aos funcionários, imagino que pelo tamanho da casa.
Contarei com a ajuda de mais duas faxineiras. Eu não tenho medo de serviço,
e melhor emprego que esse, eu não encontraria. Cristina é muito generosa,
bondosa, e se mostrou muito acolhedora comigo. Sempre serei grata por toda a
sua ajuda.
— Vovó, veja só. Ele tem um sinal parecido com o meu. — Bia percebeu
o pequeno sinal que há próximo ao pulso de Gael, que se assemelha a um
coração.
Em seguida, ela mostra um no braço dela. É exatamente no mesmo lugar
que o do meu neném. Uma coincidência incrível.
— É mesmo, querida. O seu pai e tio também tinham quando crianças.
— Muita coincidência. — comentei, impressionada.
— Ele parece comigo. Ao menos os nossos olhos são azuis. — disse Bia.
— Os meus também são. — Sorrio para ela, que sorri de volta.
— Tia Mica, você poderia levar o seu bebê para me visitar? Por favor,
eu adoraria estar mais com ele.
— Claro, meu amor. Mas agora irei trabalhar na casa da sua avó, só
poderei levá-lo na minha folga.
— Você pode levá-lo para a casa da minha avó. — Bate palmas, feliz.
Rimos da sua alegria. O amor que ela sente pelo meu filho é puro e
inocente. Bia é tão fofa. E quando me chama de tia, meu coração se derrete
por ela. Dá para entender por que Giulia a amou desde o primeiro momento
em que a viu.
Começarei a trabalhar assim que meu filho estiver um pouco maior, com
mais ou menos três meses. Cristina é compreensiva, ela mesmo combinou que
será assim. Confesso que estou ansiosa para poder trabalhar e sustentar a mim
e ao Gael. A minha mãe não deixa faltar nada para nós e Giulia também ajuda
com muitas coisas, porém, como mãe, eu quero ter a satisfação de comprar
tudo que meu nenenzinho precisar.
Sabe aquelas paranoias de mães? De colocar o dedo sobre o nariz do
bebê para saber se ele está respirando? Meu filho é tão quietinho, que chega a
me preocupar. Mamãe diz que eu era do mesmo jeito, que quase nunca
chorava. Pelo menos ele está herdando as minhas características.

(...)
Ser mãe é o que sei fazer de melhor. Ao longo dos dias aprendo cada vez
mais e toda experiência me deixa emotiva, como o primeiro banho, quando
pensei que quebraria Gael, de tão frágil que era. Todas as primeiras vezes são
inesquecíveis.
A única coisa que está saindo fora do plano é a questão da amamentação.
Meu leite secou no segundo mês, e isso me deixou muito aflita, pensando no
que meu bebê comeria. Passamos na pediatra, que receitou um leite especial
para o meu pequeno tomar. Gostaria muito de amamentá-lo, no mínimo, até os
seis meses, só que não será possível.
— Filha, pode dormir um pouco. Eu cuido do meu neto, não se preocupe.
— Não quero deixá-lo sozinho. E se ele sentir a minha falta? — referi-
me ao trabalho. No entanto, sei que é preciso.
— Ele sabe que você é a mãe dele.
— Eu vou morrer de saudade do meu neném, mamãe.
— No começo será muito difícil. Eu chorava quando precisava deixar
você na creche, mas sabia que era por um bem maior.
— Ele é tão pequeno.
— Cristina aconselhou você a começar somente quando ele completar
sete meses. Falei com ela nesta manhã. A sogra de Giulia é uma mulher muito
generosa e, acima de tudo, adora o meu neto. Portanto, já ganhou o meu
respeito e amizade.
— E quem não ama esse menininho gorduchinho da mamãe? — Beijo o
pezinho do meu neném.
O cheirinho doce dele é único, assim como a maciez da sua pele fofinha,
e a melhor sensação que tenho é a de estar ao seu lado. Será duro sair e o
deixar em casa, entretanto sei que ele estará sob os cuidados da minha mãe e
de Clarice, que nada faltará para ele. E à noite, quando eu estiver em casa, não
sairei de perto dele por nada. O meu pequeno é a razão da minha vida. Por
Gael, eu sou capaz de dar a minha vida.
CAPÍTULO 18

Assinar o contrato de admissão e já começar a trabalhar foi uma decisão


difícil. Se não fosse pela necessidade financeira, eu não teria deixado o meu
pequeno. Sinto tanta falta do meu bebê dormindo em meus braços. Sim, eu sou
aquele tipo de mãe que mima. Tanto que meu filho só sabe dormir em meus
braços. Minha mãe diz que não posso fazer isso, mas não consigo resistir à
tamanha fofura.
A primeira semana trabalhando na casa da dona Cristina foi bastante
produtiva. O trabalho não é pesado, visto que há quatro faxineiras, contando
comigo, para fazer o serviço diariamente. Quase nunca encontramos sujeira,
tudo sempre está impecável. E apesar de ela morar distante de mim, sempre
consigo chegar em casa à noite, mesmo que debaixo de chuva. Pensa em um
lugar para chover é São Paulo. Porém, nada me faria dormir uma noite longe
do meu bebê. A melhor sensação do mundo é voltar para casa e ser recebida
pelo meu menino nos braços da minha mãe. Meu gordinho está com sete meses
e é muito esperto. Já não se pode mais deixá-lo sozinho, porque costuma rolar
de um lado para o outro, e uma vez quase caiu da cama enquanto eu dobrava
suas roupinhas. Aliás, preciso separar uma bolsa para a doação, pois muitas
peças de roupas já estão perdidas. Mamãe diz para eu as guardar, para o caso
de eu ter outro filho. Parece uma piada para mim. Gael será filho único, essa
já é uma decisão que tomei.
— Prima, boa noite. — Clarice entra no quarto nas pontas dos pés para
não acordar Gael. — O príncipe mais lindo do mundo já dormiu?
— Já sim.
— Venha, você precisa se alimentar bem. Ligue a babá eletrônica e venha
jantar.
Sempre que eu saio de perto de Gael, por menor que seja a distância,
tenho a sensação de que não posso deixá-lo, nunca. Minha mãe diz que sentia a
mesma coisa. Essa babá eletrônica foi o melhor presente que já ganhei. Assim,
sempre posso vê-lo, mesmo estando em outro cômodo.
Sento-me à mesa. Minha mãe está lendo jornal à noite. Quem ainda lê
jornal? E, principalmente, à noite? Ela e a minha prima têm essa mania.
Ultimamente, as únicas notícias que procuro para me atualizar são sobre
alimentação para bebês e modos mais rápidos de fazê-los dormir. Ou seja,
tudo se resume ao meu neném.
De repente a minha mãe fica nervosa. Parece que ela leu algo que a
deixou muito preocupada. Mas, o que poderia ser? Ela está até um pouco
pálida. Talvez não esteja dormindo bem à noite, por estar cuidando
constantemente de mim e do meu filho. Não sei o que seria de mim sem ela.
Provavelmente, estaria perdida.
— Alguma notícia relevante, prima?
— Nada de interessante. — Mamãe trata de dobrar o jornal e logo muda
de assunto. O que é bastante intrigante vindo dela. Pergunto-me o que ela pode
ter visto de tão preocupante. — Eu estava pensando que poderíamos ir ao
parque amanhã. Giulia nos convidou. Ela irá com Bia e Maria Alice.
Maria Alice é a bebê mais linda que eu já vi. Ela é a cara do pai. Por que
nós, mães, passamos nove meses carregando o bebê em nossos ventres, para
depois eles nascerem a cara do pai? Não é justo. Gael também parece muito
com Kauã: as covinhas no rosto quando ele ri, a curva dos olhos e do nariz...
A boca é a única coisa parecida comigo. Até mesmo o azul dos olhos dele é
do mesmo tom que os do pai. Todas as vezes que Cristina vê o meu pequeno,
diz que ele é muito semelhante aos filhos dela quando eram bebês.
— Seria uma ótima ideia. — concordei.
Todas as vezes que saio com Giulia, Viktor e as crianças, confesso que
sinto um pouco de inveja. A família deles é tão perfeita e Maria Alice tem um
pai presente e carinhoso. Quando eu estudava, principalmente na época do dia
dos pais, eu me sentia excluída. Todas as crianças tinham um pai para as
buscar na escola e ir às comemorações, enquanto eu ficava sempre em casa.
Admiro, acima de tudo, Giulia e Viktor. A inveja que sinto não é algo que
possa destruí-los jamais. A felicidade da minha melhor amiga é contagiante, e
me deixa feliz saber que ela é privilegiada.

(...)

— Cristina me falou que você está se saindo muito bem no trabalho. —


disse Giu.
— Sua sogra é uma mulher maravilhosa. Venha com a titia, Maria Alice.
— Eu seguro sua bebê e ela me encara um pouco tensa. — Aconteceu alguma
coisa?
— Não, nada. — Ela não sabe mentir. Eu ergo uma sobrancelha e ela
fala. — O irmão do Viktor chega amanhã. Estou torcendo para que ambos
consigam manter uma relação saudável. Depois de tantos anos, eles estão
ficando mais próximos. Porém, notei que Viktor está irritado com alguma
coisa relacionada ao irmão, só não faço ideia do que seja.
— Seu cunhado ainda lhe provoca?
— Não. Ele fez aquilo somente para irritar Viktor quando nós nem
sonhávamos em casar.
— Infantil da parte dele. Mas não dê importância a isso, deixe eles, como
irmãos, se entenderem. E você, esteja ao lado do seu marido para o entender
caso ele precise desabafar.
— Você daria uma ótima conselheira.
— Eu sei disso, sou a melhor. — Sorrio.
— Na sexta vou levar o Gael para tirar fotos com a Bia e a Mali.
— Claro. A minha mãe disse que vai junto para ajudar com as crianças.
O batizado de Gael aconteceu quando ele completou três meses. Giulia e
Viktor sentem um amor enorme pelo meu menino. Neste momento, meu
cunhado está brincando com ele.
— Acho que Viktor deseja ter outro filho. Veja como ele brinca com
nosso príncipe. — ela comentou.
— Ele te falou isso?
— Não, mas eu conheço meu marido.
— A Mali ainda é tão pequena. Mas se for para ser, será. Eu não me
imagino sendo mãe novamente, Gael será filho único.
Giulia revira os olhos. Ninguém acredita em mim quando digo isso.
Depois das crianças brincarem bastante, todos vamos para o shopping.
Desse jeito está cada vez mais difícil perder peso. Depois que meu bebê
nasceu, ganhei quase oito quilos, o que me fez ficar com as pernas mais
grossas, o bumbum empinado e também com um pouco de barriga. Todo
mundo diz que estou bonita e mais gostosa, mas opinião de familiares não
conta muito, eles mentem para me deixar bem.

(...)
De segunda à sexta o trabalho consome todas as minhas energias, o
sábado é o dia para eu colocar as coisas de casa em ordem e o domingo é para
descansar. Sinto falta de João Pessoa, da nossa casa. Minha mãe decidiu não a
vender, para o caso de, algum dia, retornarmos. Clarice não suporta ouvir a
ideia e é a favor da venda, pois deseja que continuemos morando com ela.
Giulia não voltará mais para João Pessoa e eu e mamãe estaremos sempre
perto dela.
A movimentação na mansão está intensa nesta semana com a chegada do
filho de Cristina.
A menina que está limpando o quarto da senhora comigo, comenta:
— Não sei por que tanta agitação. O senhor Avillar não costuma ficar
aqui mesmo. Faz cinco dias que ele retornou e só veio aqui visitar a mãe
quando chegou.
— E onde ele fica? — perguntei, curiosa.
— Ele mora em um apartamento. Sabe como é, né?
— Eu não sei.
— O homem é um safado. Para ser sincera, um verdadeiro rabo de saia,
libertino e cafajeste.
— Sério? Ele é tão diferente do irmão?
— O senhor Viktor Avillar sempre manteve sua vida pessoal muito
discreta, diferente do irmão. Pelo menos nós, empregadas, sabemos de muitas
coisas sobre o irmão mais novo.
— Acho que é melhor irmos trabalhar em vez de fofocar. Ainda temos
que limpar o quarto do filho da senhora Cristina.
— Como eu disse, o patrãozinho nem fica aqui, vem somente de
passagem e vai embora, exceto na recuperação da cirurgia da mãe, quando ele
esteve muito presente.
Um ponto positivo para o filho mais novo de Cristina.
Hoje é sexta-feira, então eu não vejo a hora de ir para casa. Mamãe e
Giulia foram fazer as fotos do meu bebê. Eu gostaria de estar presente, mas
não quero abusar da generosidade da minha patroa. Ela é muito solidária
comigo e está sempre disposta a dialogar. Às vezes fico impressionada com
todo o carinho que ela sente por mim e pelo meu Gael.
Terminamos de limpar os dois quartos e o relógio marca quatro horas. Já
está quase na hora de eu ir embora. Eu iria, se não fosse pelo meu celular.
Onde eu o soltei? Só não perco minha cabeça porque ela é colada no meu
pescoço.
— Alguém viu meu celular? — perguntei na cozinha.
— Micaella, eu vi um sobre a mesa da piscina. Pensei que fosse da
senhora Cristina, por isso deixei lá. — avisou o jardineiro.
Aliás, Diego é bastante mentiroso. Ele adora pregar peças. Mas como é o
único que disse algo a respeito do meu celular, decido ir averiguar.
— Creio que seja o meu. Mais cedo fui colher algumas flores para
colocar no quarto da senhora Cristina e devo ter deixado ele lá. Espero que
não tenha explodido com o sol.
As meninas riem do meu comentário e eu corro o mais depressa possível
até a piscina. O aparelho está funcionando bem e a sombra do guarda-sol
impediu os raios solares de atingirem a tela. Há algumas ligações perdidas de
Giulia. Ela avisou que está vindo para a casa da sogra e que está trazendo o
meu bebê. A minha mãe vem junto. Pelo tempo da mensagem, elas já devem
estar chegando. Viktor está trazendo-as. Cristina adora visitar meu filho, e
desta vez Giulia quis trazê-lo para ela o ver. Abro um sorriso cheio de
gratidão.
O cachorro da minha patroa está caminhando sobre a barra da piscina,
que não está coberta. Eu o chamo pelo nome para evitar que caia na água.
— Tom, não vá para aí, doguinho.
Ele não me dá ouvidos. Como se realmente pudesse me compreender.
Aproximo-me para o tirar de perto da água. Alguém precisa cobrir a
piscina quando ninguém estiver usando-a. Assim, evita-se possíveis acidentes.
O cachorrinho de repente corre para a frente e eu encaro o homem que está
abaixado e com a cabeça baixa, brincando com ele.
Meu celular vibra em minhas mãos e eu respondo a mensagem da minha
prima. Quando olho para a frente, o cãozinho não está mais no lugar, nem o
homem. De longe, não foi possível ver seu rosto com clareza.
Ouço passos rasteiros atrás de mim. Que não seja o jardineiro. Ele adora
pregar peças em mim e nas meninas. Viro-me, pronta para o pegar no flagra,
porém meu sorriso murcha quando meus olhos encaram a face do homem de
olhos azuis profundos à minha frente. Sinto uma pontada forte no peito. Eu só
posso estar diante de uma miragem. Os raios solares estão batendo forte
demais nos meus olhos, que não estão abertos suficientemente para enxergar
com precisão. Só pode ser isso. Ou talvez não seja. Como é possível?
Vê-lo novamente me enche de ódio. O que ele faz aqui? Por que não me
deixa em paz? Minha expressão está fechada e é de muita irritação. Se eu
fosse ele, afastava-me. Contudo, o homem faz exatamente o contrário. Quando
me virei, ele já estava perto demais de mim. Dou um passo para trás, sem me
lembrar da piscina, e meu corpo acaba se desequilibrando. Se não fosse pelos
seus braços fortes, que me seguram, eu cairia na água, como na primeira vez
em que nos vimos.
Meu corpo choca contra o seu e o paredão de músculos fortes acaba me
machucando para evitar que eu caia. O homem me segura firmemente em seus
braços, mantendo-me quase colada a ele.
Minha expressão muda de irritação para susto. Como não sei nadar, sinto
pavor de imergir. Meu coração bate o dobro do considerado normal. Pensei
que nunca mais o encontraria. O perfume amadeirado é o mesmo e invade as
minhas narinas. É o aroma que ficava impregnado nas minhas roupas e,
principalmente, na minha pele, após nossos corpos viverem uma completa
entrega.
Kauã está ainda mais bonito do que eu poderia me lembrar. O que é um
castigo para mim. Ele poderia ter se desleixado um pouco. Assim, eu me
sentiria menos irritada por vê-lo.
Em questão de segundos consigo sentir meu coração acelerar e minha
pulsação aumentar. Todas as lembranças boas e ruins invadem a minha mente.
Foram muitos momentos juntos, decepções e, acima de tudo, paixão. Eu amei
esse homem com todo o meu coração e ele pisou nesse amor. Enfim, o ódio
venceu no final.
Faço força para me soltar do seu abraço, sendo que ele nem se esforça
tanto assim para me manter presa. Encaro os seus olhos azuis penetrantes. Os
meus estão esfumaçando de raiva. Ele deve estar enxergando as faíscas que
saem deles, e o motivo é o seu contato.
— Me solta! — falei, irritada.
O cretino deveria sentir vergonha por estar me segurando contra a minha
vontade, ainda mais depois de tudo que me fez. O que Kauã esperava? Que eu
o recebesse com um sorriso bobo, como fazia antes? A Micaella boba que ele
estava acostumada a enganar e de quem debochava dos sentimentos, mudou.
Ele a matou naquela fatídica noite em que descobri toda a verdade sobre a
aposta e suas mentiras.
— Desta vez você não vai fugir de mim. — Como se ele tivesse o direito
de me impor algo. Isso me faz ter mais rancor.
Então, ele me viu no hospital grávida, reconheceu-me.
Engulo em seco. Minha garganta está arranhando. Tento salivar e não
consigo, sentindo um nó se formar.
Não é justo. Eu não aceito o fato de ele estar diante de mim. Peço,
mentalmente, que seja um pesadelo e que eu possa acordar agora, que não seja
real. Durante todo o tempo em que ficamos separados, eu disse para mim
mesma, dia e noite, que ele não significava mais nada para mim, porém o seu
toque agora me faz reviver tudo aquilo que lutei para esquecer por mais de um
ano. Eu estava indo bem — muito bem, por sinal —, e agora estou tremendo
com o seu toque. Tantas vezes estremeci nestes braços fortes, tomada pelo
prazer, e esta boca sexy já disse que me amava enquanto me beijava
intensamente.
— Eu vou gritar se você não me soltar. — meu tom de voz saiu alterado.
— Grite, Micaella. Chame a polícia se quiser. Mas eu não vou soltar
você. Temos muito o que conversar e esclarecer.
Rio de nervoso. Ele me engana, desaparece e depois deseja conversar?
Pensa que sou trouxa? Como vou querer conversar com um homem que tanto
me fez sofrer? Somente eu sei o quanto o amor pode machucar. E ele foi o
responsável por toda essa dor.
— Acontece que eu não quero conversar, não quero ouvir sua voz e não
quero ver você, nunca mais. Me largue, seu imbecil!
— Você costumava me chamar de amor, e não de imbecil.
— Acontece que eu não sabia que você era um ser humano tão
desprezível. — retruquei, exasperada.
— Temos muito o que conversar. — insistiu. — Por favor, mantenha a
calma.
— Calma? Você está debochando de mim mais uma vez, só pode ser.
Enfie toda a sua calma no inferno! — gritei, sem me importar com nada, se
iriam me ouvir ou não.
A última coisa que desejo é ter calma neste momento, ainda mais com
esse traidor me pedindo isso depois de tudo que ele me fez passar.
— As coisas não aconteceram da maneira como você pensa. Micaella...
— Me solta!
Droga! Ele é muito forte. E eu não posso chorar na frente dele
— Eu vou soltar você se antes me responder uma pergunta.
— Eu não vou negociar com você. — discuti.
— Você vai sim. — impôs-se. — Eu vivo atormentado desde que fui
embora de João Pessoa há mais de um ano, e tudo piorou quando a vi naquele
hospital, grávida. — Inferno! Ele me viu. — Você estava grávida? Micaella...
Antes que ele possa criar qualquer paranoia na sua cabeça, preciso
pensar rapidamente, agir rápido. Se ele ao menos me soltasse...
— Eu não sei do que você está falando. Eu não estava em nenhum
hospital e não vi você depois que foi embora covardemente. — cuspi minhas
palavras na sua cara.
Ele é um covarde, um traidor. Seduziu-me, roubou a minha pureza, foi
embora, e depois quer explicações da minha parte? Preciso sustentar a minha
versão de que ele não me viu e que, talvez, tenha sido alguém parecida
comigo.
— Seja lá o que você imaginou na sua cabeça, não era eu, muito menos
grávida.
— Era você sim, e você estava grávida. Pelas minhas contas, o bebê que
esperava era meu.
Respiro fundo, quase chorando. Seguro o choro na base do ódio. Ele sabe
que era eu, e ainda sabe do bebê. Continuarei segurando a minha versão.
— Acontece que não era eu a pessoa que você viu. — Dou de ombros,
furiosa.
— Eu reconheceria você mesmo se estivesse cego. Não adianta mentir
para mim. Não é boa nisso, Micaella.
— Você só pode ter enlouquecido por acreditar que tenha me visto
grávida, e ainda cria teorias imaginárias. Eu nunca estive grávida. — afirmei
quase tremendo. — Agora, me deixe em paz, pelo amor de Deus.
— Eu sei que tivemos um filho. E eu procurei por vocês feito louco.
Deus sabe que estou falando a verdade.
— Céus! Não coloque Deus no meio das suas mentiras. Você não sabe de
nada sobre mim e do que aconteceu. Portanto, só irei falar desta vez: me deixa
em paz. E se continuar a me importunar, juro que mato você. — ameacei.
Ele não diz mais nada.
Kauã consegue me desestabilizar. A minha pose de mulher durona foi
derrubada pelo seu simples olhar. Ele ainda tem poder sobre minhas emoções.
Vendo que não estou muito bem, solta-me. O meu rosto deve estar
vermelho, porém não me importo. Eu não quero, nunca mais, olhar para esse
homem. Ele ainda me rouba o ar, mas agora é por eu o odiar.
— Kauã, filho? O que está acontecendo aqui? — Cristina chamou a
minha atenção e a dele, no entanto não desviamos os nossos olhares.
Filho? Kauã é seu filho? Cristina o chamou assim. Ele não pode ser seu
filho. Mais essa revelação não.
Quando olho para a frente, vejo Cristina, Giulia segurando Mali nos
braços, Viktor ao lado dela e Beatriz junto da minha mãe, que segura Gael,
sem entender praticamente nada. Ou seja, todo mundo está aqui. Eles estavam
ouvindo a nossa conversa? Sim, e estão confusos.
— Tia Micaella, você precisava ter visto o Gael. Ele riu em todas as
fotos. — A inocência de Bia não a deixa perceber toda a tensão pela qual
estamos passando agora.
Kauã olha para o nosso filho e, neste momento, saca tudo. De alguma
forma, sabe que é o pai do meu bebê. Jurei ter visto um sorriso discreto seu se
formar. Será que ele está feliz? Depois volta a queimar seu olhar sobre mim.
Eu já não sei se tenho forças para suportar essa situação. A vontade que
tenho é de sair correndo e me esconder, no entanto devo suportar e enfrentar
tudo. Encho o peito e busco forças de onde não existe.
— Aquele menino é o nosso filho, não é?
— Não! — praticamente gritei. — Ele não é seu filho. Não é. — Estou
muito nervosa.
— O que está acontecendo aqui? Por que vocês dois estão brigando? —
Cristina está confusa, assim como todo mundo. — Ouvimos gritos, e agora
vocês estão falando a respeito de um filho. — Confusa, ela nos encara,
buscando e exigindo uma resposta mais clara.
Giulia é a única que parece entender toda a situação. Eu a peço ajuda
com o olhar e ela compreende. Após entregar Mali para Viktor, aproxima-se
de mim.
— Eu peço perdão, Cristina. Desculpe pelos meus gritos...
— Kauã lhe disse algo que desrespeitou você? — Ela está preocupada
comigo. — Eu não estou compreendendo mais nada. Explique-me, querida,
sobre o que vocês dois estão discutindo.
Giulia me encara cheia de ódio, mas não de mim, e sim de Kauã. Ela
sabe, entendeu tudo, e não pensa duas vezes antes de estapear a face do
cunhado. Kauã leva a mão para o local; sabe que mereceu e não parece estar
irritado com minha amiga.
— Isso é por você ser um covarde! Nunca mais ouse se aproximar da
minha irmã, seu covarde!
Olho para a minha mãe. Eu preciso sair daqui. Ela segura meu bebê
inocente, que não imagina sequer o que está acontecendo.
— Micaella, o meu filho, Kauã, é o pai do seu bebê?
Eu não sou capaz de negar. O meu silêncio entrega tudo.
— Gael é meu primo! — Beatriz comemorou.
Kauã não desvia os olhos dos meus e tenta se aproximar de mim,
entretanto Giulia não deixa. Ela faz um papel de segurança particular.
— Mamãe, vamos embora. — Seguro o meu filho nos braços, que
começa a chorar. Tento acalmá-lo.
— Micaella, precisamos conversar. — Kauã insistiu mais uma vez.
De costas para ele e com Giulia entre nós dois, respiro fundo, sentindo
meu peito apertar.
— Me deixe em paz, Kauã. Esqueça que algum dia nos conhecemos.
— Micaella, eu não posso esquecer você. Iremos conversar quando
estiver mais calma.
Minha mãe caminha na direção dele e o olha possessa de ódio. Sei que
ela irá esbofeteá-lo.
— Mamãe, não vale a pena. Vamos embora.
— Por respeito à sua mãe, eu não vou esbofetear você, garoto. — Ela
vira uma fera quando o assunto é me proteger.
— Não se preocupe, Gisela. Se você não é capaz, eu sou. — Cristina
acerta um tapa em cheio na mesma face em que Giulia bateu.
Ela mostrou que está contra a atitude do seu filho e ao meu lado; um gesto
muito significativo para mim.
Não olho mais para trás, apenas saio da casa o mais depressa possível.
Eu não queria ter reencontrado Kauã, muito menos que ele tivesse descoberto
que temos um filho.
CAPÍTULO 19

Bebo uma xícara de chá de camomila feito pela minha mãe. Ela acalmou
o meu bebê e depois me trouxe essa bebida. No trajeto de volta para casa, não
dissemos uma palavra. Eu não conseguia fazer nada além de chorar. Sim, eu
me entreguei às lágrimas, e a dor, mais uma vez, assolou o meu ser; mas não
pelo fato de eu ter reencontrado Kauã, e sim por não saber o que esperar desse
homem. Agora, que ele sabe que temos um filho, não sei quais serão os seus
próximos passos, já que deixou bem claro que conversaremos em outro
momento.
Como se não bastasse tudo isso, ele ainda é filho de Cristina, irmão de
Viktor e tio de Beatriz e Mali. Nem nos meus piores pesadelos eu poderia
imaginar algo assim. Isso significa que ele saberá me encontrar. Não tem como
eu, simplesmente, fugir. Até cogitei essa ideia, mas não posso ir embora e
deixar todo mundo que amo à mercê do meu desespero.
Acreditei que não suportaria toda aquela situação. A maneira como tudo
foi revelado para todos não deixou nenhuma dúvida. No momento entrei em
pânico e não pude evitar agir daquela forma. Os meus gritos atraíram todo
mundo para a piscina, onde puderam ouvir o quanto Kauã Avillar me irrita.
Um Avillar. Kauã faz parte da família Avillar. O que torna o meu bebê
parte dessa família, neto da senhora Cristina e sobrinho biológico de Viktor.
As voltas que o mundo dá me levaram a vir para São Paulo, a ir trabalhar na
casa da mãe de Kauã. Nunca que eu iria saber que ele era dessa família. Está
sendo um choque para mim. Eu me apeguei à Cristina, à Beatriz e ao Viktor.
Todos eles são ótimas pessoas, sempre me tratam bem e são muito
empenhados em se fazerem presentes na vida do meu filho, mesmo que não
soubessem que meu bebê era um Avillar. Agora, que todos sabem, muitas
coisas irão mudar, não tenho dúvidas.
Cristina é avó do meu filho. Se ela já o amava sem saber disso, tenho
certeza de que esse amor crescerá ainda mais. Ela sempre esteve presente na
vida de Gael, desde o início da minha gravidez. E Viktor está casado com
minha irmã, o que nos tornará sempre ligados. Não posso fugir da minha nova
realidade. Eles têm o direito de conviver com meu menino, inclusive o pai. E,
pelo que ele deu a entender, ainda iremos conversar sobre isso.
A ideia de ter que o enfrentar me preocupa. E se ele quiser passar tempo
com meu filho? Eu jamais vou aceitar uma guarda compartilhada. Gael é
somente meu, e ninguém nunca irá tirá-lo de mim, nem mesmo o pai dele. Só
de pensar nessa possibilidade, meu coração se aperta.
Minha mãe segura minha mão. Ela sabe o quanto estou abalada com toda
essa situação. Clarice também está aqui. Elas estão preocupadas com o meu
estado emocional, porém são cautelosas em sempre esperar pela minha
reação.
— Eu estou muito surpresa. O pai do seu filho é filho daquela adorável
senhora que sempre está aqui com a netinha dela? A sogra da Giulia?
— Foi uma grande surpresa para todas nós. Apesar de Micaella nunca ter
nos falado sobre o pai do bebê, nem ela poderia imaginar que o homem
poderia ser filho de Cristina.
Elas falaram, temendo minha reação, todavia não disseram nada demais,
apenas estão surpresas, assim como eu. O que é normal diante de tantas
revelações.
— Ele agora irá exigir a guarda do menino?
— Ele que não se atreva, Clarice. Eu sou capaz de matá-lo, mas o meu
filho, ele não vai tirar de mim.
— Não se preocupe com isso, meu amor. Cristina jamais permitiria algo
assim. E pelo que pude notar naquele homem, ele não fará isso, pois deseja
conversar com você, possivelmente para vocês dois entrarem em acordo.
Certamente, ele irá ajudar com o filho, como manda a lei.
— Mamãe, eu não quero conversar com ele. — confessei chorando. —
Gael é meu filho, só meu. Eu cuidei dele por todo esse tempo sem a ajuda de
Kauã. Eu não quero nada dele, principalmente o seu dinheiro. Eu posso cuidar
do meu filho com meus próprios meios.
— Sabemos disso, filha. Porém, você precisará conversar com esse
homem, para o bem de todos, principalmente pelo seu filho. É necessário que
vocês mantenham sempre harmonia.
Apesar de estar decidida a não voltar a trabalhar na casa de Cristina,
para evitar encontrar Kauã, sei que não poderei evitá-lo para sempre. Minha
mãe tem razão: é necessário que dialoguemos.
— O seu bebê é filho de um bilionário, Micaella. A proporção desse
assunto é algo muito grande. Você tem noção?
— Meu filho não precisa do dinheiro de nenhum bilionário. — respondi,
irritada.
— Acontece, Mica, que isso quem determina é a justiça. E, querendo ou
não, seu filho é um Avillar. Você sabe que eles são uma das famílias mais
ricas do país e poderosas. Por isso te aconselho a manter a calma. E quando
estiver pronta para ouvir o que o pai do seu filho tem a propor, como mãe de
Gael e a responsável por ele, precisa estar de cabeça fria para encarar tudo
que está por vir. — Clarice tem razão.
Eu preciso manter a calma e não pensar somente no meu ódio. O que está
sendo muito difícil para mim. Não foi fácil passar todo esse tempo sozinha,
amando um homem que desprezou o meu amor. Foi dureza tirá-lo da minha
cabeça. Eu estava conseguindo fazer isso — com bastante sucesso, inclusive
— e já não pensava mais nele como antes. Algum dia ele seria apenas
lembranças apagadas, esquecidas. Todavia, ele tinha que surgir, e ainda por
cima ser filho de Cristina?
Algumas questões estão martelando na minha cabeça, primeiramente
sobre Paola, a esposa dele. Cristina nunca mencionou que seu filho mais
jovem era casado e Giulia sempre disse que seu cunhado era solteiro. Ele
também deu em cima dela para irritar o irmão, o que me faz sentir ainda mais
desprezo pela sua pessoa. Ele foi apaixonado pela esposa de Viktor, e isso foi
motivo para os dois viverem em atrito por muito tempo.
Kauã não é um homem confiável, e tudo me leva à mesma conclusão
sobre ele: é egoísta, só pensa em si e em seus interesses próprios.
Já está tarde e eu preciso descansar. Amanhã será um novo dia. Espero
que consiga dormir. O que será bastante difícil, visto que minha mente está
pesada e meu coração apertado.

(...)

Nas primeiras horas do dia, Giulia já está aqui. Ela veio com Viktor. Eu
estou aparentando que passei a noite em uma festa e que meu corpo está
abatido pela ressaca. Na última vez que olhei as horas no relógio eram três da
manhã e eu não estava com sono, contudo adormeci depois de muitas
tentativas. Só despertei quando Clarice me acordou. Minha mãe havia tirado
meu bebê do quarto para ele não me acordar com o seu choro.
Estou com um pijama cuja calça é colorida e a blusa é de mangas longas,
parecendo uma moradora de rua, devido ao meu estado. Não pretendo ofender
ninguém, mas essa é a comparação mais similar.
— Como você está? — Giu me perguntou ao me abraçar.
— Eu não vou conversar com aquele homem, Giu. Você precisa me
ajudar. Ele não pode reaparecer assim, do nada, e querer ter direitos sobre o
meu filho. Ele não pode, certo? Fui eu quem cuidei de Gael sozinha. Não
preciso dele. — minha voz sai falha em determinados momentos.
— Calma, irmã. Tranquila. A gente está do seu lado.
— Micaella, eu quero dizer que pode contar comigo para o que precisar.
Inclusive, eu tenho contatos com os melhores juízes e advogados. Mas não se
preocupe, o meu irmão não pretende fazer nada, ele só deseja poder
conversar.
— Viktor, eu não tenho nada para conversar com ele. Se o problema for
dinheiro, fale para ele que meu filho não precisa de nada que venha dele.
Essa situação é bastante difícil para mim, mas me mantenho firme.
— Mica, o Kauã jura que não sabia que você estava grávida; e você
também me disse que o pai do seu filho não sabia que você estava grávida.
— Ele realmente não sabia, foi embora antes que eu pudesse lhe contar.
Mas, ainda assim, isso não dá o direito de ele reaparecer em nossas vidas.
Não pode exigir nada.
— Mica, eu sou sua irmã e te amo, porém há assuntos que vão além das
nossas vontades. Kauã não está exigindo nada, ele não pretende ter uma guarda
compartilhada, mas quer fazer parte da vida do seu filho. Esse é um direito
que ele tem.
— O meu irmão é um gênio em fazer merda. — essa foi a primeira vez
que escutei Viktor falar palavrão. — Porém, conversamos há alguns meses e
ele me confidenciou que estava muito angustiado quando te viu grávida. A
dúvida o consumiu. Ele não tinha certeza se o filho era realmente dele com a
mulher que ele havia conhecido e com quem tinha se relacionado. No entanto,
jamais poderíamos imaginar que seria você.
— Eu realmente preciso de um tempo. Será que seu irmão poderia
compreender?
— Claro. Não se preocupe com nada. E, como eu já disse, estamos à sua
total disposição.
— Todos estamos do seu lado. — Giulia reforçou.
— Eu posso ver o meu sobrinho?
— Claro, Viktor. Você conhece o caminho, pode ir.
Quem diria que Viktor seria tio do meu filho, de sangue? Foi uma
reviravolta e tanto.
— Micaella, eu quero te falar uma coisa. Espero que você me entenda.
Kauã é o pai do seu bebê. Ele não pedirá um exame de DNA, porque tudo está
muito óbvio, só que você precisará ser muito forte. E, por mais doloroso que
seja, tem que pensar no Gael. Kauã pode ter sido um monstro com você, mas
com o filho não. Ele nem sabia que tinha um. E agora, que sabe, está disposto
a se manter presente na vida do nosso príncipe. Você precisa entender que
esse é um direito dele.
— Eu sei, Giulia. Eu sei.
Giulia tem razão: é um direito de Kauã. No entanto, não é uma decisão
fácil para mim.
Como ele está disposto a esperar o meu tempo para se aproximar, preciso
esfriar a cabeça. Meu coração está coberto por gelo, e eu não posso permitir
que ele derreta essa camada, jamais, que é tão profunda quanto a minha dor.
Sozinha em meu quarto, consigo pensar com mais clareza. A nossa
conversa é algo inevitável, não posso fugir dessa realidade. Ao menos sei que
posso contar com o apoio de Cristina. Ela vem me visitar nesta tarde, muito
envergonhada, pois conhece parte da minha história, a que eu lhe contei.
— Querida, eu nem sei como lhe dizer isso. Eu sinto muita vergonha pelo
que meu filho fez com você.
— O que o seu filho fez comigo não é culpa da senhora, foi algo que
aconteceu entre nós dois; e ninguém pode ser responsabilizado pelos atos de
outra pessoa. A senhora é uma mulher muito generosa e me ajudou desde que
cheguei a São Paulo. Eu sou muito grata, e o seu neto também.
— Eu sempre senti um amor inexplicável pelo seu bebê. Era como se eu
soubesse que ele era meu neto. De alguma forma, eu desejava que ele fosse
como Beatriz e Mali.
— A senhora é muito especial para nós e sempre será bem-vinda à nossa
casa, mas eu peço desculpa por não poder mais trabalhar para a senhora.
— Não se preocupe com isso. O emprego que lhe ofereci foi a única
maneira de fazer você aceitar meu dinheiro. Giulia me disse que você era
orgulhosa demais para aceitar nossa ajuda, mas agora, que sabemos que seu
bebê é meu neto, não pode mais negar nada do que eu posso oferecê-lo. Eu te
peço que não fique irritada e que não pense que isso é esmola. Pelo contrário.
Gael é um Avillar, e eu, como avó, quero proporcionar tudo para o meu neto.
— Senhora...
— Cristina. Me chame pelo meu nome. E não adianta recusar. Eu já sou
de idade, possuo uma saúde muito fragilizada, e o meu coração doente não
aceita um “não” como resposta. Você não quer ser responsável por nada.
— Claro que não. Eu só não sei como agradecer por toda a sua bondade.
— Deixe-me mimar bastante o meu neto.
— A senhora pode fazer o que quiser, contanto que sempre me consulte
antes.
— Combinamos assim. — Ela abre um sorriso e, segurando o netinho nos
braços, beija a face dele. Meu neném está chupando chupeta. — Posso visitá-
los todos os dias?
— Cristina, claro que sim. Gael e eu ficaremos muito felizes.
— Segurando seu bebê em meus braços, tenho a sensação de que estou
segurando meus filhos. Gael parece muito com o pai. Inclusive, Kauã
costumava ser muito tranquilo quando bebê.
Cristina é uma mulher incrível. Eu não poderia ir contra uma pessoa que
me ajudou mesmo antes de saber que eu era a mãe do neto dela. E, também,
ela possui uma saúde sensível. Não quero ser responsável por nada. Irei
tolerar algumas coisas somente por esses motivos.
Ela sai da minha casa quase de noite e minha prima me envia uma
mensagem, avisando que ficou presa no trânsito. A minha mãe está com ela.
Ambas foram fazer compras no mercado e, infelizmente, chegarão mais tarde,
devido ao trânsito.
Preparo o jantar enquanto meu neném está dormindo. Consigo fazer tudo
a tempo. Quando ele acorda chorando, a mamadeira já está pronta. Sento-me
na cama para lhe dar o leite. Seus olhinhos azuis pequenos estão me
encarando, cheios de doçura. Esse menino é a razão da minha vida, a luz que
ilumina tudo à minha volta, o meu coração batendo fora do peito.
— Você pensa que a mamãe não viu o que você fez hoje, mais cedo? Fez
cocô enquanto a vovó Cristina segurava você, meu neném fofinho.
Ele não entende nada. Sua doçura me encanta. Eu dou a minha vida para o
ver feliz.
— Este mingau estava muito gostoso, não é, mamãe? Você tomou todinho,
meu gordinho lindo. Agora, precisa arrotar, minha vida.
Eu o coloco sentado no meu colo e ele arrota em seguida.
— Mamãe! — eu o fiz rir, fazendo uma voz engraçada.
Meu bebê gargalha. A sua risada é linda. Eu o amo tanto, que não se pode
medir o tamanho desse amor. É maior que minha própria vida.
— Você é o amor da mamãe, pequenininho gorduchinho. — Deixo-o no
berço.
Ele está usando um pijama de ursinho. Admiro sua fofura. Eu ponho a
chupeta na sua boca e ele começa a esfregar os olhinhos.
— Você só dorme nos braços da mamãe, não é mesmo? Quem mandou a
mamãe acostumar você assim? Ela mima muito esse neném fofinho.
Lembro-me de que não guardei sua mamadeira. Antes de pegá-lo nos
braços, viro-me de costas para averiguar. No entanto, o homem no mesmo
cômodo a me olhar com admiração é a última pessoa que eu esperava ver.
Kauã Avillar, e não Monteiro, como eu acreditava que fosse, está diante
de mim novamente. Como ele entrou aqui? Um sentimento de ódio invade meu
ser e meu coração palpita mais forte. O miserável invadiu a minha casa?
Ninguém abriu a porta para ele, pois eu estou sozinha com Gael. Kauã
arrombou a porta?
Furiosa e nervosa, busco manter a calma e não gritar.
— O que você faz aqui? Eu poderia chamar a polícia por invasão.
— Eu não invadi, a porta estava aberta. Eu bati e ninguém ouviu, então
entrei. — explicou com seus olhos azuis fixos no meu.
Sua presença me incomoda e me faz ficar desnorteada.
— Ainda assim, não foi convidado para vir.
— Eu sei que prometi esperar pelo seu chamado, porém não pude mais
controlar o meu desejo de ver o meu filho. Temos um filho, Micaella. Sabe a
importância disso?
— Claro que sei. O meu filho é a minha vida.
— Nosso filho. — corrigiu. — Eu posso segurar ele?
Queria gritar que não, todavia não posso negá-lo esse direito. Por mais
ódio e rancor que eu sinta dele, ele é o pai.
— Por mais que eu o deseje dizer “não”, é um direito seu. Não posso
impedi-lo.
Kauã se aproxima do berço e olha para o nosso filho com carinho. Eu
nunca imaginei que essa seria sua reação, pensei que ele era o tipo de homem
que não se imaginava sendo pai. Ele nunca demonstrou interesse em crianças
no tempo em que ficamos juntos. Mas não posso comparar nada, tudo foi uma
mentira, nada foi verdadeiro.
— Ele é lindo. Ele tem a sua boca, que, por sinal, é muito linda. —
Agora seu olhar está sobre os meus lábios.
Reviro os olhos, cruzo os braços e lhe mostro toda a minha irritação.
— Faz muito tempo que eu segurei um bebê nos braços. Beatriz já está
uma mocinha, e a pequena Mali segurei apenas uma vez.
— Por favor, tenha cuidado. Gael, às vezes, estranha pessoas que nunca
viu antes.
Ele segura nosso bebê firmemente em seus braços, com uma mão se
apoiando nas costas dele e outra pressionando o seu bumbum para o firmar em
seu colo. Está sendo muito cuidadoso e atencioso com o nosso pequeno.
Sua sorte é que não posso xingá-lo e gritar com o meu filho presente,
para não o assustar. Contudo, a cena diante dos meus olhos é muito fofa. Kauã
beija a testa de Gael com bastante carinho. É evidente que há amor presente
em seu olhar, entre tantas outras coisas que não posso descrever.
— Quantos meses ele tem?
— Sete.
— Sete meses que eu fiquei longe de você, garotão. Eu nunca me
imaginei sendo pai. Tudo isso está sendo um grande impacto para mim. — ele
confessou, não sei se para mim ou para Gael. O mais lógico é que tenha sido
para mim, que consigo entendê-lo, diferentemente de um bebê inocente. —
Você é muito forte, garotão. Acho que, de alguma maneira, sabe que sou o seu
pai, pois não está chorando, e esta é a primeira vez que nos vemos assim, de
pertinho. Eu sou o seu pai.
Sou obrigada a ouvi-lo falar. Não posso sair e o deixar sozinho com meu
neném. Kauã é um ótimo mentiroso, mas acredito que está sendo sincero com
ele.
— Você me ensinará a ser um bom pai, porque eu quero ser um ótimo pai
para você, filho. — Beija-o novamente e olha para mim. — Poderíamos
conversar, Micaella, com mais calma e tranquilidade desta vez?
— Claro. Mas antes preciso colocar meu filho para dormir. Ele só dorme
nos meus braços.
Ele assente e me entrega Gael, que já está caindo de sono. Não leva
muito tempo para ele dormir, basta eu o balançar no meu colo, que se entrega
ao sono. Coloco-o de volta no berço e o cubro. Está frio nesta noite. Ligo a
babá eletrônica e fecho a porta do quarto com cuidado, para não fazer barulho.
Kauã está logo atrás de mim, próximo demais. Isso não é bom.
— Vamos começar impondo limites. Eu não quero que fique perto de
mim, mantenha sempre distância.
— Desculpa.
— E se vamos conversar, limitaremos os nossos assuntos somente a
respeito do nosso filho, e nada além disso.
— Gael é um nome lindo. — Sorri. — Ótima escolha. — Ele parece
perdido com as palavras. — Eu quero saber tudo sobre o nosso filho, a
começar pela sua gravidez.
Respiro fundo. Esta conversa será longa, além da conta.
CAPÍTULO 20

Estou disposta a conversar sobre Gael, a tirar todas as suas dúvidas e a


manter a calma. O que será bastante difícil, visto que minha maior vontade é
de estapear sua face. Ele tem sorte de ter me encontrado após minha conversa
com Giu. Ela tem razão. Não devo pensar e agir somente pelo ódio que me
domina. Kauã é o pai do meu bebê e eu seria uma pessoa horrível se o
privasse de ver o menino. Eu sei como é crescer sem o amor paterno, e Gael
não tem culpa do que o seu pai fez comigo. Kauã me abandonou, no entanto
não sabia que eu estava grávida, e agora está tentando reparar algumas coisas.
A culpa o domina, está muito explícito no seu olhar. Não sei se ele está
sendo sincero, já que sabe mentir muito bem, sabe como me enganar. Mas
desta vez será diferente. Não serei uma tola inocente, que se deslumbra a cada
palavra dita. Por sua causa aprendi a ser mais cautelosa, a não confiar mais
em ninguém. Ele me fez ficar sempre em alerta. Somente por esse motivo, eu
me limito a cumprimentar o meu vizinho apenas com um “bom dia”, “boa
tarde” e “boa noite”. Homens estão fora de cogitação neste momento.
— Então, foi isso. A minha gravidez foi bastante tranquila e Gael nasceu
no tempo esperado. Como você pode ver, ele é um menino forte e saudável. —
Eu o contei somente fatos relacionados ao pequeno. Meu estado emocional
não lhe diz respeito.
— Micaella, eu quero cuidar do nosso filho, prover tudo que Gael
precisa e arcar com todos os gastos que vocês tiveram ao longo desse tempo.
Com os futuros gastos também. Eu quero cuidar de vocês dois.
Cuidar de nós dois? Por um instante preciso respirar fundo. Meu coração
ainda bate aceleradamente quando ele está perto, e eu associo isso à minha
raiva acumulada e à decepção que tive com esse homem. Não pode ser outra
coisa, não pode.
— Você não precisa se sentir obrigado a nada. Eu consigo, sozinha,
sustentar a mim e ao meu filho. Não preciso da sua ajuda.
— Acontece que não é nenhuma obrigação para mim prover tudo que
você e meu filho necessitam. Não faço isso somente pelo meu dever, e sim
porque desejo ser um pai honrado para ele.
Honrado? Agora ele vem me falar de honra? Ele não tem honra, não sabe
o que isso significa. Contudo, penso somente no meu bebê.
— Podemos entrar em acordo. Somando os gastos dos meses, dividimos
tudo entre nós dois. Se deseja, tanto assim, contribuir com algo, será desse
jeito; é o mais justo.
— Não aceito. Eu quero arcar com tudo, e não somente para o meu filho,
como também para você. — Ergo uma sobrancelha. — Eu gostaria muito que
vocês se mudassem para um imóvel que passarei para o nome de Gael. E
você, como a responsável legal dele, deve acompanhá-lo e cuidar de todos os
seus bens até que ele alcance a maior idade.
— Não vamos nos mudar. Vivemos aqui muito bem e nunca nos faltou
nada. Não será agora que iremos sair. — meu tom de voz foi arrogante. — O
que pensa? Que pode chegar mudando tudo, somente porque tem dinheiro?
— Minha única intenção é proporcionar conforto para o meu filho, e nada
mais. Você disse que poderíamos negociar, e eu estou aberto a isso. Após eu o
registrar, ele passará a ser um Avillar. Você entende a proporção disso? Gael
é meu único filho, meu único herdeiro. O que você precisa compreender,
Micaella, é que ele tem o direito de viver em uma casa mais confortável e
segura.
— Estamos muito seguros aqui. — esbravejei. — Você vai registrar Gael
com seu sobrenome? Mesmo sem fazer um teste de DNA antes?
— Eu sei que Gael é meu filho. Não será um teste que mostrará isso. —
Ele fala como se sentisse amor pelo nosso menino. — Por que a surpresa?
Você não pensou que seria diferente, não é?
— Não pensei. Porém, não esperava que pudesse ser algo tão rápido.
— Em todo esse tempo, você nunca pensou em me procurar?
— Procurar você? Você mentiu até sobre seu sobrenome.
— Não menti, só não contei que era um Avillar. Mas Monteiro também é
meu sobrenome.
Ele não mentiu? Isso, sim, é impressionante. Ao menos uma verdade foi
dita.
— A última coisa que eu faria seria procurar você. — falei de uma
maneira ríspida.
— Eu tinha o direito de saber que teríamos um bebê.
— Agora você quer falar de direitos? Eu tinha o direito de não ter sido
enganada pelas suas mentiras e, mesmo assim, você não pensou em mim.
Agora vem me falar que eu deveria te procurar depois de tudo que me fez?
— Eu sei que nada justifica minhas atitudes, só que há muitas questões
que você precisa saber.
— Como eu lhe disse, todos os nossos assuntos serão limitados ao nosso
filho. — fui dura.
— Nos vimos naquele hospital, sua barriga estava enorme. Você poderia
ter ido falar comigo naquele momento, e não ter fugido.
— Creio que não raciona bem. O que eu deveria ter feito, segundo você?
Aberto um sorriso de orelha a orelha e dito: “Graças à Deus, eu encontrei
você. Vamos ter um bebê. Suplico pela sua ajuda.”? — Mantenho a calma. —
A última coisa que eu faria naquele momento seria encarar sua face mentirosa.
Você me disse que era um funcionário de uma empresa e, depois, eu descobri
que é um bilionário, filho da Cristina e que nunca teve uma irmã. Mas isso eu
já sabia, só não poderia imaginar, jamais, que nossas vidas estariam ligadas
da maneira como está.
— Foi uma surpresa para mim te encontrar na casa da minha mãe e
descobrir sua ligação com minha cunhada. De qualquer forma, nos
encontraríamos. Seria apenas uma questão de tempo. Quem me dera se
tivéssemos nos reencontrado antes. Assim, eu teria acompanhado o
crescimento do nosso filho desde quando nasceu.
Ele realmente se mostra muito interessado em ser um ótimo pai para o
nosso bebê. O que me causa muito medo, receios. Ter a presença dele em
minha casa me deixa incomodada, e saber que ele pretende estar sempre
conosco me faz sentir tantas coisas, que não sei explicar.
— Micaella, eu poderia implorar pelo seu perdão por mil anos e nunca
seria o suficiente. Você não sabe, não imagina o quanto eu te procurei antes
mesmo de ter visto-a grávida. Eu voltei para João Pessoa após a cirurgia da
minha mãe. O motivo de eu ter ido embora sem me despedir foi porque me
ligaram, avisando que minha mãe estava muito mal. Viktor não sabia, na
época, sobre o seu estado, eu era o único que tinha conhecimento. Eu deveria
ter me aberto com você, porém não sabia como fazer isso. Teria te ligado se o
seu celular não tivesse ficado comigo.
— Kauã, eu não quero ouvir suas explicações. Você não me deve nada. E
se não há mais assuntos sobre o nosso filho, você pode ir embora. — A
rigidez com a qual tratei essa questão o deixa surpreso.
— Eu vou falar. Te devo, sim, explicações, por tudo que vivemos. Eu
estava lutando contra tudo que eu vinha sentindo por você. Micaella, eu estava
apaixonado por você, não menti sobre isso. Posso ter sido um babaca por ter
me deixado levar por uma brincadeira de mau gosto, mas isso mudou com o
passar dos dias, quando ficamos cada vez mais próximos.
— Chega! Para com isso! Eu não sou obrigada a ouvir mais mentiras.
Saia da minha casa agora mesmo. — Mantenho-me firme na minha decisão.
— Eu vou sair, mas antes quero que saiba de uma coisa. Posso ter sido
covarde com você, mas estava disposto a voltar para João Pessoa e te
procurar. Porém, quando retornei, você já não estava mais lá e seus vizinhos
não sabiam mais notícias suas.
— Por favor, saia da minha casa.
— No entanto, eu não desisti e cheguei a uma senhora que sabia onde
você estava. Ela entrou em contato primeiro com a sua mãe, que não autorizou
que ela me falasse onde você estava.
Engulo em seco. Minha mãe nunca me contou nada sobre isso. Ele pode
não estar mentindo desta vez. Dona Soledade sabe onde nós estamos, é a única
amiga da minha mãe e quem recebe todas as nossas correspondências em João
Pessoa, para depois nos enviar. Não posso acreditar que minha mãe sabia e
nunca me disse nada.
— Micaella, eu não pretendo te colocar contra a sua mãe, jamais.
— E ouse tentar. Se a minha mãe nunca me disse nada é porque estava
cuidando bem de mim. E mesmo que ela tivesse me falado, eu jamais teria
permitido que você soubesse onde eu estava. Jamais. — Com clareza e
decidida, demonstrei toda a minha ira.
— Ainda assim não desisti de encontrar você. E depois que a vi grávida,
minha cabeça enlouqueceu com essa informação. Eu precisava te achar.
Realmente foi muita coincidência. Você estava tão perto de mim por todo esse
tempo e eu não fazia ideia, mas agora, que sei onde posso te encontrar e temos
um filho, viverei mil anos somente para conseguir o seu perdão.
— Você não precisa do meu perdão para viver. — falei, ríspida, com o
coração sangrando de ódio.
— Não, mas eu preciso do seu amor para sobreviver.
Como ele ousa brincar comigo assim, dessa maneira, e pisar nos meus
sentimentos? Eu sinto uma necessidade enorme de esmurrar a sua face. Kauã é
muito cínico se pensa que vou acreditar nas suas palavras. Idiota, insensível!
Eu o odeio com todas as minhas forças.
— Seu imbecil! Se pensa que vai brincar comigo novamente, está muito
enganado. Nunca mais serei motivo de piada para você e sua mulher. Está
enganado. Seja qual foi a maldita aposta que fizeram, desta vez vocês não vão
mais me enganar.
— Não existe aposta.
— Mentiroso!
— Tudo começou com uma aposta, mas eu caí fora quando me dei conta
de que estava apaixonado por você.
Ele não sabe nada sobre o amor. Nada. Sabe somente iludir.
— Você pode enganar outras mulheres e ficar com todas elas, só que
comigo nunca mais vai brincar.
— A única mulher que eu desejo ter é você.
— Você deveria falar isso para a sua esposa, e não para mim.
— Esposa? Eu nunca tive uma esposa.
— Como eu disse, você não me deve explicações. Eu sou apenas a mãe
do seu filho, e nada mais.
— Sim, você é a mãe do meu filho e, futuramente, será a minha mulher.
— Ele é bastante convencido, nisso não mudou.
A porta da sala é aberta e mamãe e Clarice entram, cheias de sacolas.
Minha mãe encara Kauã com seriedade, já a minha prima não esconde o
deslumbramento que tem ao vê-lo pela primeira vez.
— Filha, algum problema aqui?
— Não, mamãe. Este homem já estava de saída.
— Ele é o pai do seu filho?
— Sim. Me chamo Kauã Avillar.
— Micaella do céu! Agora está explicado de onde vem tanta beleza no
seu filho. Você é muito linda também, minha prima, mas o bebê é a cara do
pai.
Kauã ri do comentário da minha prima sem juízo.
— Você pode ir. — eu o pedi, irritada.
— Amanhã pretendo procurar um advogado para dar entrada no processo
de registro do nosso filho. Você será notificada sobre tudo. E em outro
momento continuaremos nossa conversa. — Seu olhar penetrante está sobre o
meu. Ele consegue me causar um misto de sensações que variam desde o amor
ao ódio. Que o ódio vença.
Fecho os olhos quando ele finalmente sai e respiro fundo.
— Faz tempo que esse homem estava aqui? — mamãe perguntou.
— Ah, mamãe. Ele quer fazer parte da vida do meu filho.
— Sim, ele falou sobre registrá-lo. — Clarice comentou. — Micaella, o
pai do seu bebê consegue ser ainda mais bonito que o irmão, e eu já
acreditava que Viktor era o homem mais lindo que eu já havia visto. Mas
agora tenho minhas dúvidas. Que genética boa é essa?
Vou para o meu quarto. A única coisa que me acalma é olhar o meu bebê
dormindo tranquilamente. Ele não sabe o que se passa à nossa volta. Todas as
revelações feitas me causaram uma certa agonia e muitas dúvidas se formaram
na minha cabeça. Kauã realmente me procurou em João Pessoa? Ele se diz
apaixonado? E a minha mãe não me disse que meu ex-namorado havia me
procurado? São tantas informações, que preciso de um chá.

(...)

— Amor, precisamos conversar. — Minha mãe respira fundo antes de me


contar tudo que aconteceu. — Você seria capaz de me perdoar?
— Não há o que perdoar. Se a senhora não me contou sobre aquele
ocorrido foi para me proteger. E mesmo que tivesse me falado, nada teria
mudado.
Ela me confirma a história que Kauã me contou sobre ter me procurado
em João Pessoa e a nossa vizinha, a pedido de minha mãe, não ter lhe dado o
nosso endereço. Imagina se ele tivesse aparecido aqui, de surpresa. Eu teria
infartado com isso. Minha mãe evitou algo para me proteger.
CAPÍTULO 21

O reconhecimento de paternidade aconteceu. Kauã registrou o nosso filho


após a justiça exigir um teste de DNA para provar que ele era o pai biológico.
Ele não queria fazer o exame, porém só poderia registrar a criança depois que
um teste fosse apresentado. Foi difícil para mim enfrentar todo o alvoroço que
foi o último mês.
O meu coração acelera todas as vezes que o vejo. Kauã está presente
praticamente todos os dias em nossa casa. Na maioria das vezes, quem o
recebe é a minha mãe, enquanto eu fico no quarto, evitando encará-lo. É
melhor assim. Evitá-lo é a melhor solução para eu não me sentir atraída por
aquele olhar penetrante, que continua o mesmo. Eu deveria odiá-lo, não ficar
pensando nessas coisas.
Tento não o encontrar o máximo possível, porém isso se torna inevitável
quando sou uma convidada da festa de aniversário de Beatriz. Eu não poderia
faltar, visto que fui ameaçada pela pequena.
“Tia, se você não vier, irei ficar muito triste.”
Essas foram as palavras da menina mais sapeca que já conheci.
Eu estava torcendo para ele não vir, e parecia que daria certo, entretanto,
quando meus olhos cruzaram com os seus, foi uma sensação fora do comum.
Ele me viu e agora vem em nossa direção. Minha mãe está ao meu lado e Gael
em meus braços. Quando o nosso filho vê o pai, praticamente se joga nos
braços dele. É incrível como ele já sente feição por Kauã em tão pouco tempo.
Ele é carinhoso, diferentemente de tudo que eu poderia imaginar, e aceitou a
ideia da paternidade com muita devoção. Não posso negar que ele vem se
mostrando ser um excelente pai. Sua maneira de segurar o nosso menino nos
braços é com muito amor, e a cena de Gael brincando com o rosto dele toca o
meu coração.
— Quem é o garotão do papai? — Nosso bebê ri alto ao ouvir a voz de
Kauã brincando com ele. — Dona Gisela, Micaella, boa noite.
— Boa noite. — minha mãe o respondeu.
Eu me mantenho em silêncio.
— Acabei de me lembrar que não tirei fotos com a aniversariante. —
falei, buscando uma desculpa perfeita para me retirar.
— Filha, acho que você já tirou, sim, assim que...
— Mamãe, eu não tirei. — Olho-a, tentando passá-la a mensagem de que
quero sair daqui o mais depressa possível. Ela, por fim, compreende. — A
senhora poderia ficar com o Gael? Eu volto logo.
— Claro, meu amor.
Saio sem dizer uma palavra e respiro fundo. Mais dois segundos próxima
daquele homem e eu sufocaria diante dele até desmaiar. O cretino consegue me
deixar completamente refém do seu chamar. O que não aceito que seja
possível estar acontecendo comigo.
Ele é um traidor, Micaella. Você não deve acreditar em nenhuma
palavra dita por esse homem.
No entanto, não consigo evitar de pensar em tudo que ele me disse. Kauã
voltou para João Pessoa e me procurou por todo esse tempo. Como saber se
ele está dizendo a verdade? A minha mãe confirmou que, realmente, um
homem se dizendo meu namorado procurou por mim na nossa vizinhança.
Todavia, suas intenções ainda poderiam ser enganosas. E se ele estava
decidido a rir da minha cara um pouco mais? São tantas informações. Preciso
parar de pensar nesse idiota lindo, de olhos azuis e calça jeans. Como ele fica
lindo com um visual menos social e mais despojado.
Ocupo minha mente em Beatriz. Ela está linda, é uma menina
encantadora. Já tirei algumas fotos com ela sim, mas não custa nada tirar
outras. A pequena faz biquinho nas selfies e me ensina a fazer.
— Assim, tia. Veja. — Seu biquinho é perfeito, enquanto o meu é mais
divertido. — Finge que vai dar um beijinho no Gael.
— Vou tentar. — Até que não me saio mal. — Você está muito gata. Eu já
te disse isso, né?
— Obrigada. Você também está muito bonita, um arraso de mulher.
— Concordo plenamente. — A voz rouca de Kauã atrás de mim arrepia
até a minha alma.
Evito olhar para trás, encará-lo, porém ele passa para a minha frente,
ficando ao lado da sobrinha. Ele já não está mais com o nosso filho.
— A minha mãe está mimando um pouco o neto.
Assinto, mostrando-lhe um sorriso sem graça, amarelo.
— Eu não tirei fotos com vocês dois juntos. — Bia falou como se
fôssemos um casal. — Tia, titio, por favor, tirem uma foto comigo. — Ela está
muito radiante para ouvir a palavra “não”. — É o meu aniversário, vocês não
podem me negar.
— Óbvio que não, princesa. — Kauã se posiciona ao lado da sobrinha, e
eu, sem muitas alternativas, também.
Como sorrir estando em uma situação delicada como essa? Mas também
não posso sair com a cara dura na foto. Abro um sorriso largo somente por
Bia, ela merece.
— Depois tiramos outra, nós três e Gael. Tudo bem?
— Claro, princesa. Agora, vá curtir o seu aniversário um pouco. E não
coma doces demais. Lembra-se da última vez que fez isso?
— Eu passei mal. — Ela me olha bastante assustada. — No outro dia tive
que ver todos os doces que sobraram, sendo levados. Mas o titio salvou
alguns para mim e eu comi escondida do papai.
Acabo rindo sem perceber.
— Isso era para ser um segredo nosso. — Kauã fingiu estar ofendido.
— Não se preocupe, tio. A tia Mica não vai falar para o papai. —
Convencida disso, sai correndo, deixando-nos sozinhos.
Kauã é o tio que faz todas as vontades da sobrinha. Espero que não seja
assim com o nosso filho. Se bem que eu sou esse tipo de mãe. Contudo, irei
ensiná-lo, acima de tudo, que se pode ter, sim, muito amor e carinho, mas que
também precisa saber se comportar.
Dou meia-volta, pronta para sair, no entanto Kauã se coloca em meu
caminho, fazendo-me frear praticamente em cima dele. Por pouco não pisei
nos seus pés.
— Micaella. — Todas as vezes que ele pronuncia meu nome faz eu
reviver um misto de sensações. — Não pode fugir de mim para sempre.
Nisso, ele tem razão. E se todas as vezes que eu fujo ou me escondo dele
dá a entender que ainda sou completamente apaixonada por ele? Ele pensa
isso sobre mim? Oh, céus!
— Eu não estou fugindo. — tentei convencer a mim mesma. Ele cruza os
braços e abre um sorriso cafajeste. — Não temos nenhum assunto para tratar
referente ao Gael, portanto não sou obrigada a suportar sua presença. — falei
de uma maneira fria. Ao menos tentei ser o mais fria possível em minhas
palavras. Por fim, deixo-o para trás.
Cristina está com meu bebê. Ela e a minha mãe conversam. Meu menino
está cada vez mais sapeca, é muito esperto. Com oito meses, seu tamanho já é
de um bebê de um ano. Ele será um garoto forte e saudável.
— Do que as vovós corujas estão falando? — perguntei, divertida.
— Querida, Cristina me falava sobre a criação dos filhos. Batemos um
papo sobre assuntos de mãe.
Sorrio e volto a observar a festa. Não o vejo mais no salão, o que me
causa uma sensação de alívio. Giulia, Bia e Mali combinam nas cores dos
vestidos, estão muito bonitas e parecem três princesas.
— Micaella, eu não quero me intrometer nos assuntos entre você e o meu
filho, porém, conversando com a sua mãe, eu e ela concordamos que você
deveria se mudar para o apartamento oferecido por Kauã. É um lugar mais
seguro para todos vocês viverem.
— Cristina, estamos bem vivendo com a nossa prima. A pensão paga por
Kauã já é mais que o suficiente para as despesas do bebê.
— Micaella não a usa para nada além do filho. — mamãe comentou. —
O que sobra, ela guarda em uma conta poupança para o menino.
— Está fazendo errado, querida. Você também pode usufruir do dinheiro,
assim como ficou estabelecido. Kauã não quer que nada falte para vocês, e
isso inclui todo mundo que vive com você.
Todos ficam me falando que devo me mudar. É claro que se isso for
acontecer, minha mãe e minha prima vão passar a vir morar comigo. Kauã fez
a seguinte proposta em uma conversa com minha mãe e está disposto a pagar
pelos serviços dela e de Clarice como babás. É óbvio que elas não aceitaram.
Mas seria justo, já que as duas sempre estão cuidando do meu bebê.
Eu não estou acostumada com o luxo. Viver em um apartamento luxuoso,
em um bairro nobre e cheio de pessoas medíocres, que veem o dinheiro como
um deus, não é algo que eu planejo. Giulia insiste para que eu aceite, pois
assim moraremos a apenas cinco minutos de distância. É uma decisão difícil.
O meu filho é um Avillar, e todo o mundo já sabe que Kauã Avillar teve um
filho. As notícias da semana diziam:
“Bilionário solteiro se torna pai.”
“Quem é a mãe do bebê do bilionário?”
A mídia costuma distorcer os fatos e criar milhões de possibilidades. Por
mais que o assunto estivesse sendo mantido com discrição, sempre leio
notícias que envolvem a vida do meu filho.
“Saiba quanto é a fortuna do filho do empresário Avillar.”
Esse círculo social não é para mim, não me acostumaria. Gosto de
caminhar descalça sobre a areia, não somente olhar para ela.
— Pense com mais carinho. Assim, todos poderemos conviver mais
tempo com o meu netinho. Micaella, eu sou uma mulher doente, não pode me
negar o desejo de ver o meu neto todos os dias.
— Prometo pensar com carinho.
Ela se mostra contente com a possibilidade de um “sim”.
A festa infantil está muito divertida. Eu adoro comer bolo, mesmo que me
arrependa depois. Mamãe foi passear com Gael pelo salão. Ele está
conquistando todas as meninas que o veem. Charme é uma coisa que meu filho
tem bastante.
— Este bolo está divino. Posso levar um pedaço para casa? — pedi.
— Claro que pode. — Giulia sorri.
— Melhor não. Eu já estou muito gorda depois que ganhei neném. É
melhor até eu parar de comer esse bolo. — apertei o botão do arrependimento.
— Esconda os doces de mim, Giu, ou eu não caberei em nenhuma das minhas
roupas.
— Pare de drama. Você está gostosa, não gorda.
— Concordo. — Ouço a voz rouca de Kauã novamente atrás de mim.
Faço uma expressão pedindo socorro, para a minha melhor amiga não me
deixar.
— Giulia, precisamos refazer algumas fotos. — Viktor a chamou. Em
seguida, ela me abandona, dando de ombros.
— Fale para ela o quanto ela está gostosa. — Giulia pisca para ele. Essa
é uma traição das piores que existem, a maior que já existiu.
Fecho os olhos por breves instantes. Kauã, mais uma vez, está se metendo
onde não deve.
— Não, você não vai dizer uma só palavra. — ameacei-o, colocando o
prato com meu bolo sobre a mesa.
Ele levanta os dois braços como se estivesse se rendendo. Seu olhar
quente pairado sobre o meu corpo me incendeia. O que ele não disse com
palavras, falou com o olhar devasso e safado.
— A sua opinião não me importa. — Irritada pelo que minha amiga fez,
acabei descontando nele o dobro de raiva.
— Mas, caso importasse, você está muito gostosa. — Seus lábios se
contraíram ao dizer isso e seus olhos reviraram, com ele tomado pelo desejo.
Ele ainda me deseja muito. — Está sendo um verdadeiro castigo para mim
estar tão próximo da mulher que amo e não poder tocá-la. Isso, sim, é um
castigo terrível.
Amor? Mais uma vez, ele me falou de amor.
— Creio que você não saiba o que significa amar uma mulher.
— Eu pensei que já havia amado no passado, porém, diante do
verdadeiro significado da palavra “amor”, hoje sei que nunca amei até
conhecê-la. Você bagunçou com a minha mente. — agora ele me revelou que
nunca amou Sofia. Esse era o nome da primeira esposa de Viktor.
No passado, dois irmãos amaram a mesma mulher, e agora ele diz que a
única mulher que amou de verdade sou eu. Eu gostaria de entender o porquê de
ele me falar essas coisas. O que há em jogo desta vez?
— Seja lá o que tenha apostado desta vez, saiba que você não vai ganhar.
Contente-se em enganar outras mulheres, porque eu não irei ser motivo de
diversão para você e sua... seja lá o que vocês sejam.
— Caso se refira à Paola, eu não mantenho contato com ela desde que fui
embora de João Pessoa. Entenda, Micaella: não há nada em jogo, não há
apostas, não há nenhuma brincadeira. Sou sincero em dizer que preferiria estar
agindo como um idiota, insensível. Assim seria mais fácil, já que eu não estou
acostumado a ser rejeitado tantas vezes pela mesma mulher.
Minha rejeição o incomoda. Ótimo saber disso. Sinto um gostinho de
vitória.
— Então, pare de me importunar e vá viver sua vida de antes.
— Acontece que eu não quero mais ser como antes, por sua causa. A
única coisa que desejo é poder recuperar o seu amor, que eu sei que está
guardado em algum lugarzinho do seu coração. Eu quero acreditar que você
não me esqueceu completamente, porque se isso tiver acontecido, precisarei
ser ainda mais insistente em todos os meus avanços para recuperar o seu amor.
Você e Gael são a família que eu sempre quis ter. Eu tinha medo de assumir
uma responsabilidade como essa, mas agora, diante de um sentimento tão
avassalador como o amor, eu não tenho mais dúvidas.
Engulo em seco. Ele foi bastante profundo ao expressar todos os seus
desejos e sentimentos.
— Você só quer sexo e diversão.
— Eu seria um mentiroso se dissesse que não estou ardendo de desejos
por você, caralho! E, como não poderia? Você está ainda mais gostosa do que
antes. A minha boca saliva por um beijo seu e meu pau está duro, imaginando
você nua, estremecendo em meus braços.
— Se você quer sexo, pode fazer com quem desejar. Há muitas mulheres
querendo você, queridinho.
Ardo de ciúme. Kauã poderia ficar com que desejasse, isso é uma droga.
Se ao menos ele fosse feio e sem graça, em vez de ser um deus grego...
— Acontece que você me tornou impotente para outras mulheres e
dependente somente da sua boceta.
— Cala a boca! Fale baixo! Estamos em uma festa de criança. — Temo
que alguém possa nos ouvir, seria vergonhoso.
— Então, venha comigo. — Toma-me pela mão e me leva até o jardim.
A noite está fria e bastante estrelada. As estrelas estão criando um
verdadeiro espetáculo no céu.
— O que você tem de tão importante para me dizer, que precisou me tirar
do salão?
— Micaella, não é óbvio? Eu amo você.
Na última vez que ele disse que me amava, desapareceu da minha vida.
— Você não sabe o que está dizendo.
— Eu sei sim. Eu te amo. Desde que fui embora, não consigo tirá-la da
minha cabeça. Todos os dias você ocupa a maior parte dos meus pensamentos.
Tentei te esquecer, só que nenhuma mulher era mais bonita e interessante que
você.
— Pelo amor de Deus! Está me dizendo que transou com outras mulheres,
pensando em mim? — Foi o cúmulo ouvir isso dos seus lábios.
— Eu não transei com nenhuma mulher depois de você. — ele revelou,
deixando-me em choque.
— Você está mentindo.
— Eu não estou. As minhas mãos estão roxas de tanto eu bater uma todos
os dias pensando em você.
Kauã me deixou sem palavras, sem reação. Ele não transou com nenhuma
outra mulher depois de mim. Sua revelação me deixou atordoada. Eu quero
sufocar o amor que ainda sinto por ele, quero transformá-lo somente em ódio,
no entanto está sendo bastante difícil. Eu não posso seguir em frente, tendo ele
perto de mim; não posso tentar esquecê-lo, vendo-o todos os dias. É
praticamente impossível. Quando ele vai passar um tempo com o nosso filho e
a minha mãe o recebe, eu ouço a sua voz do quarto e meu coração acelera
freneticamente só de saber que ele está perto.
— Entenda de uma vez por todas, Kauã: eu e você não existirá
novamente. A única coisa que nos une é o nosso filho. E, como eu já disse
antes, se o assunto que tem a tratar comigo não for relacionado ao Gael,
procure uma psicóloga. Não sou obrigada a ouvir você.
— Micaella, não seja tão dura. Apesar de eu saber que mereço todo o
seu desprezo, você nunca parou para pensar no quanto o nosso bebê adoraria
ver os pais juntos? Você cresceu sem o carinho do seu pai e foi bastante duro.
Não permita que o mesmo aconteça com Gael.
— Eu cresci sem o amor de meu pai sim. Foi doloroso para mim saber
que ele nunca me amou. Mas você ama o nosso filho e sempre estará presente.
Não é necessário que estejamos juntos para isso. — Dou-lhe as costas.
Quando estou prestes a ir embora, o seu perfume amadeirado invade
minhas narinas. Seria mesmo verdade que ele não ficou com mais ninguém
depois de mim?
— Micaella, espera. — Encaro seus olhos azuis novamente. — Eu não
vou desistir de você. Seremos uma família unida muito em breve. Isso é uma
promessa.
— Você pode até tentar, mas não terá sucesso.
— Veremos. Uma vez minha, sempre minha. Poderia ter me dito “não”
naquela noite em que se entregou para mim, mas assinou em minha alma que
seria minha para todo o sempre.
Kauã conseguiu, com sucesso, mais uma vez, roubar toda a minha
tranquilidade.
Pego o meu bebê e vou para casa mais cedo. Minha mãe ainda fica na
festa e Clarice vem comigo. Só preciso dormir e esquecer todas as palavras
dele.
CAPÍTULO 22

Mudar-me para um novo lar depois de estar acostumada com o antigo foi
uma decisão bastante difícil, no entanto foi inevitável não dizer “sim” depois
que todo mundo se voltou contra mim para eu vir morar no Morumbi, um
bairro mais seguro e sofisticado. Agora moro muito perto de Giulia e de
Cristina, e de Kauã também. O apartamento na cobertura, onde passei a viver
com meu filho e com a minha mãe, foi passado, em cartório, para o nome de
Gael. Ele tem apenas nove meses e já possui uma cobertura avaliada em
quinze milhões de reais. Meu anjinho inocente não tem noção do quanto a vida
sorriu para ele.
Acostumar-me com o conforto e o luxo não foi uma tarefa difícil. Eu seria
hipócrita se dissesse que não gosto. Porém, saber que Kauã mora a cinco
minutos daqui me aterroriza. Não é como se ele fosse uma pessoa perigosa.
Sei que sua vida é bastante agitada, que ele trabalha muito, e que por ser um
grande empresário, dedica a maior parte do seu tempo às empresas, entretanto
sempre está passando aqui, em casa, para poder ficar alguns instantes com o
nosso filho. E como eu não consigo mais esconder os meus sentimentos todas
as vezes que ele se aproxima, a minha mãe o recebe, sempre com a desculpa
de que eu saí ou que estou dormindo.
— Você é muito boba por estar sempre fugindo de um homem lindo
daquele. Micaella, o cara está perdidamente apaixonado por você. Reaja. —
Clarice é exagerada em alguns aspectos.
— O que você sugere? Que eu vá lá, na sala, e me atire nos braços dele?
— Eu não disse isso, apenas lhe contei o que está muito óbvio. Aquele
homem ama bastante o filho, porém ele sempre vem na esperança de ver você.
E como um cavalheiro respeitável que é, nunca insiste em vir até o seu quarto.
Estou acostumada a dormir com meu bebê por perto, por isso minha cama
é próxima ao berço dele.
— Clarice, ele me magoou muito como mulher. Não posso perdoá-lo,
nunca.
— Cuidado para o seu orgulho não se tornar algo que possa arruinar a
sua felicidade.
— Eu não preciso de Kauã para ser feliz. Pelo contrário. Eu já tenho tudo
que necessito para me sentir realizada.
— Ótimo, menina. Que seja assim. Mas se quer ouvir um conselho de
alguém que já viveu mais que você, nunca deixe o seu orgulho ferido impedi-
la de ser feliz. Boa noite.
Posso voltar a circular pela casa quando Kauã, enfim, vai embora. Faço
um suco de maracujá para mim, já que preciso acalmar meus nervos. Amanhã
irei participar de uma seletiva de emprego em uma empresa renomada.
Consegui uma indicação graças ao Viktor, que tem os seus contatos. Ele
também me ofereceu emprego na sua empresa, mas eu lhe disse que queria
tentar algo que não me levasse para perto do seu irmão, por ambos serem
parceiros comerciais. Não quero ter contato profissional com Kauã. Meu
cunhado me compreendeu e conseguiu uma entrevista para mim na empresa
Moraes.
Estou muito nervosa. A vaga a qual irei concorrer é para ser secretária
da nova proprietária da empresa. Pelo que Viktor resumiu, a filha do dono
assumiu a presidência e necessita de uma secretária competente para o cargo.
Espero estar dentro de todos os requisitos.

(...)

Acordo com as galinhas, literalmente. Desperto antes de todo mundo,


deixo tudo preparado, faço café e o leite do meu bebê, apesar de termos uma
empregada doméstica. O que eu não pude evitar. Kauã faz questão de que a
mulher trabalhe aqui, e como ela mesma disse que precisa do emprego, não
quero ter a consciência pesada de dispensar alguém que depende desse
salário. Todos os gastos desta casa são custeados por ele, pois o juiz emitiu
uma declaração. Não posso fazer nada além de aceitar o dinheiro e o
administrar. Todavia, desejo poder trabalhar e ganhar meu próprio salário.
Também temos um carro com motoristas para suprir as nossas
necessidades. Raramente uso o veículo, somente quando é realmente
necessário.
— Bom dia, senhorita. Para onde vamos?
— Bom dia. Cláudio, não vamos a lugar nenhum. Eu pedi um táxi.
Ele me olha sem entender, confuso.
— O senhor Avillar não vai gostar...
— Não se preocupe. Com ele, eu me entendo.
A empresa fica a quinze minutos de casa. Eu poderia ir a pé para me
exercitar caso desejasse, só que hoje é uma entrevista e eu não posso me dar
ao luxo de algo sair errado. Eu ensaiei dia e noite uma possível lista de
perguntas para me sair bem no meu exame.
Respiro fundo ao fitar o prédio de vinte andares sofisticados, com
janelas de vidro e muitos funcionários transitando para todos os lados.
Informo-me na recepção sobre onde fica a sala de entrevistas e sou
direcionada para o décimo quarto andar. O elevador me sufoca. Por sorte,
logo chego ao meu destino.
Há mais cinco mulheres altamente competentes para o cargo. Talvez eu
não tenha nenhuma chance contra elas.
— Ouvi dizer que a dona da empresa irá entrevistar todas nós. — uma
delas comentou.
— Eu pensei que seria algum funcionário. — outra respondeu, nervosa.
Se terei que ser entrevistada pela dona, que seja.
Sou a última a entrar na sala. Bato na porta e adentro o lugar amplo,
bastante espaçoso. Vejo uma mulher muito elegante, que está entretida com os
papéis em mãos, que cobrem parte do seu rosto. Respiro fundo. Eu treinei para
isso. E se ela é a dona, darei o meu melhor. Seja o que for para ser, será.
— Bom dia. — Creio que minha voz falhou. Costumo ficar nervosa
quando estou em situações tensas.
— Bem... Como pode ver, esta sala está sendo esvaziada. Irei para o
vigésimo andar. E você é...?
Ela ergue o olhar e finalmente coloca os papéis sobre a mesa. Meu
sorriso morre quando fito a face da mulher morena, de cabelos pretos, olhos
da mesma cor e lábios vermelhos pelo batom. Não pode ser ela. Como ela
está mudada. Os cabelos estão mais curtos. De óculos e roupas sociais, o
visual mudou completamente.
Paola está me encarando com um certo choque. É a mulher mais irritante
que já passou pela minha vida. E o olhar de soberba continua o mesmo. A
nossa última conversa não foi nada agradável.
— Olha só! Micaella, é mesmo você?
— Paola, que surpresa desagradável. — não escondi minha indignação.
— Se eu soubesse que você era a dona desta empresa, jamais teria vindo aqui.
— Eu sou tão assustadora para você?
— Eu já estou de saída. — Dou-lhe as costas, abro a porta e saio.
Ela vem logo atrás de mim e me faz parar de caminhar quando chama
pelo meu nome.
— Micaella, espera! — pediu, paciente.
— O que você deseja, Paola? Eu já estou de saída. Não se preocupe,
nunca mais irei colocar os meus pés aqui. Eu realmente não fazia ideia de que
você era a dona.
— Pelo visto, você não lê muitas notícias. O que é compreensível para
alguém do seu nível. — destilou o seu veneno. — Diferentemente de mim, que
sou uma mulher empoderada e bastante informada. Eu li as últimas notícias. —
seu tom de voz saiu debochado. — Parabéns. Você conseguiu dar o golpe do
baú. No final de tudo, obteve o seu mérito.
Meu sangue ferve pelo que ela disse de maneira maldosa. Por Deus! A
última coisa que eu fiz foi dar o golpe do baú, e ela sabe disso.
— Meu Deus! Como pode ser tão maldosa?
— Então, vai negar que não deu o golpe do baú?
— Golpe do baú? Isso já é meio ultrapassado. Mas, respondendo a sua
pergunta, eu jamais seria capaz de fazer algo assim. Você sabe perfeitamente
que eu não sabia que Kauã era um bilionário, naquela época.
Ela engole o sorriso debochado. Sabe que ambos me enganaram e me
fizeram acreditar que ele era um funcionário de uma empresa.
— Não me diga. — fingiu surpresa. — Você poderia não saber naquela
época, no entanto acabou ganhando na loteria, mesmo sem saber. Hoje colhe
os frutos. Ouvi dizer que está morando em um apartamento de luxo.
— Minha vida pessoal não lhe diz respeito.
A sensação desagradável de revê-la, junto com toda a insatisfação que
ela me causa, faz eu sentir náuseas. Ela é desprezível e, principalmente, uma
mulher sem amor próprio.
— Vejo que ela continua bravinha. Pode até viver na alta sociedade
agora, mas ainda é a mesma suburbana de sempre.
— Lave a sua boca imunda com água e sabão para poder falar de mim.
Você não tem nenhum direito de me tratar assim. O fato de ser uma mulher rica
não lhe dá esse direito.
— Eu falo como quiser. Estou na minha empresa, e você não é nada aqui.
Pode estar fingindo que não liga para nada, porém sei que está fazendo teatro
para roubar meu Kauã de mim.
— Se toca, mulher! Acorde e reaja. Por acaso, não vê que ele não sente
nada por você?
— O que eu e Kauã temos é algo único, e eu não vou permitir que
nenhuma mulher oferecida roube isso de mim. Não pense que usando o seu
filho o fará ficar com você, porque não vai.
— Eu não sou baixa como você. Mas saiba que Kauã só não está comigo
porque eu não quero. — Ela parece surpresa com minha resposta. — Eu já
ouvi declarações vindas dele, algo que você não faz ideia do que seja, porque
ele nunca foi seu. Mente para si mesma e finge acreditar que ele é seu, quando,
na verdade, ele só pensa em mim. — provoquei-a. Como me satisfaz vê-la
coberta de ciúme.
— Veremos quem está sonhando acordada ou, pior, acreditando em
mentiras.
— Você acha que se ele estivesse mentindo, estaria correndo atrás de
mim? Não há nenhuma aposta em jogo. E ele nem sequer mantém contato com
você. — joguei verde para saber se, realmente, ele me disse a verdade.
Paola muda a expressão para algo assustador. Ela tem um olhar de
psicopata que me deixa em pânico.
— Isso não será por muito tempo. Ele só deseja se divertir mais algumas
vezes com uma menina boba e inexperiente, mas logo sentirá falta de estar
com uma mulher de verdade. E quando isso acontecer, estarei esperando por
ele.
— Então, espere sentada. Quem sabe ele não a peça em casamento? —
Sorrio, debochada, dou-lhe as costas, respiro fundo e caminho firmemente.
Logo sinto uma dor enorme em meu couro cabeludo. A mulher avançou
com tudo em meus cabelos, fazendo-me cair no chão. Ela se senta sobre a
minha barriga e continua a puxar meus fios. Que louca!
— Sua vadia! Ladra de homem! — Ela está totalmente fora de si.
— Me solte, sua louca! — gritei, só que ninguém pareceu nos ouvir.
— Vadia, suburbana! Você veio do lixo, e para o lixo irá voltar. — A
vaca acerta um tapa na minha face.
Paola possui muita força. Tento me defender da maneira que posso, mas
como ela está por cima de mim, fico impedida de fazer muitos movimentos
bruscos. Ela é forte e está possessa de raiva. É louca e está completamente
fora de si. Há tanta ira em seus olhos, que a mulher seria capaz de me matar.
— Sua vadia imunda! — gritou. — Ele nunca será seu, nem que eu
precise te matar. Juro que ele nunca será seu, sua puta! — Tenta sufocar meu
pescoço depois das ameaças.
Sou dominada por uma raiva fora de controle, consigo empurrá-la para o
lado e me levanto depressa. Ela também se coloca de pé. Vou ao seu encontro
com muito ódio e acerto um tapa na sua face esquerda e outro na direita.
Ambos os tapas estalaram, pois usei toda a minha força para fazer isso.
Em um movimento rápido, Paola pega um jarro de flores e o joga na
minha direção. Mais depressa ainda, eu me abaixo e o vidro passa por cima
de mim até cair no chão, fazendo barulho.
— Você está louca. — afirmei, exasperada.
— Eu vou matar você! — ameaçou-me mais uma vez. Ela procura algo
para jogar em mim.
Assustada, corro até o elevador, sem olhar para trás, ainda ouvindo seus
passos. Torço para ele abrir rápido. Desesperada, procuro por outros meios
de sair daqui, porém não encontro. Cinco segundos depois, que pareceram
uma eternidade, as portas, enfim, abrem-se, revelando um homem forte, de
olhos azuis, perplexo ao me ver descabelada e a louca atrás de mim,
segurando um quadro em mãos. Ela o jogaria em mim se não fosse por ele.
Kauã Avillar está à minha frente.
Sem pensar duas vezes e tomada pelo medo, abraço o seu corpo forte e
quente. Em seus braços me sinto segura.
— Por favor, me ajuda. Essa louca quer me matar. — Quando percebo
estou chorando.
Eu nunca tinha passado por uma situação tão assustadora como essa.
Paola está fora de si, parece uma louca que fugiu do hospício.
Kauã me abraça com força e meu coração se acalma depois que o ouço
dizer:
— Tranquila, princesa. Eu estou aqui. Ninguém irá machucar você.
Eu não o solto por nada. Em seus braços estou segura.
— O príncipe encantado veio resgatar a princesinha da torre? — A voz
debochada de Paola me causa medo.
Não olho para trás, nem solto este homem por nada.
— O que deu em você, Paola? Enlouqueceu de vez?
— Meu amor, tranquilo. Eu só estava conversando com Micaella. Ela me
fez perder o controle. — a voz dela não tremeu, no entanto sua respiração está
pesada.
— Nunca mais ouse tocar em sequer um um fio de cabelo de Micaella.
Estamos entendidos? Ou eu não responderei por mim.
— Isso é uma ameaça?
— Entenda como quiser. Fique sabendo que a polícia será informada
sobre o ocorrido de hoje.
— Kauã...
— Cale a boca! Você já está avisada.
Ele me defendeu. Meu coração dispara.
— Eu não posso acreditar que você traiu o nosso amor para ficar com
ela.
— Que amor, Paola? Você sabe perfeitamente que nunca existiu amor da
minha parte. Éramos somente amigos, e depois nem isso. Eu lhe disse, há um
ano e meio, que amava Micaella, que ela era a mulher por quem eu iria lutar
todos os dias e que queria ficar ao lado dela. Se eu souber que você passou a
menos de dois metros dela, sou capaz de te matar. — Dito isso, ele segura
minha mão.
Ela nos olha como se desejasse a nossa morte. Isso me assusta.
— Isso não vai ficar assim. — ameaçou de novo.
— Vamos embora, Micaella. Essa louca já está avisada.
Kauã me leva em direção ao seu carro. Quando estávamos dentro do
elevador, ele prendeu meus cabelos. Ainda estou muito assustada. Só preciso
me sentir segura, e ao seu lado tenho proteção.
CAPÍTULO 23

Meus nervos estão à flor da pele. O que acabou de acontecer comigo,


além de me deixar muito assustada, fez eu repensar em algumas coisas. Aquela
mulher é uma louca, não merece a confiança de ninguém. Eu me pergunto como
alguém tão desequilibrada é capaz de administrar uma empresa daquele porte.
Ainda estou com o coração errando as batidas. Foi um choque para mim a
maneira como ela foi capaz de me agredir por causa de um homem. Seu amor
próprio não existe, ela não passa de uma louca, doente, obsessiva.
— Vamos à delegacia. — Kauã insistiu pela quarta vez.
Ele dirige, prestando muita atenção no trânsito, no entanto seu olhar
encara o meu brevemente, certificando-se de que estou realmente bem.
— Não é necessário, não precisamos envolver a polícia nisso.
— Aquela mulher tentou matar você. — Ele está muito irritado com
Paola. — Eu deveria voltar lá e acabar com ela.
— E passar anos na cadeia? Você, nem pense nisso. A última coisa que o
nosso filho precisa é do pai dele preso. E eu não vou levá-lo à cadeia para o
visitar. Por tanto, procure se acalmar.
— Micaella, se eu não tivesse chegado... — Corta a fala e respira fundo.
— Eu não quero imaginar o que teria acontecido.
— Agora estou bem. Você chegou bem a tempo, pense somente nisso. —
tentei acalmá-lo.
Decidi manter a polícia fora disso. Seria um escândalo para a família
Avillar, e a última coisa que eles precisam neste momento é disso. A mídia
distorce bastante os fatos. Paola estava fora de si e eu espero nunca mais vê-
la. Eu sei que a provoquei, mas nada justifica as atitudes dela. Ela jurou me
matar e seus olhos estavam possessos de ódio. Se não fosse por Kauã,
ninguém teria chegado para me salvar. Ele me salvou das garras daquela
mulher e ainda declarou o seu amor por mim na frente dela. Foi um misto de
sensações indescritíveis. Meu coração pôde sentir seu amor por mim. E, por
toda a ira presente em seu olhar, sei que ele teria sido capaz de matá-la se eu
não estivesse agarrada ao seu corpo.
Kauã Avillar me salvou. Eu lhe devo um agradecimento, isso é fato.
Estou atordoada, assustada. Tanto que só percebo que ele me trouxe ao
seu apartamento quando chegamos ao local e o elevador se abre, mostrando a
sala ampla e sofisticada, toda em tons de preto e cinza. O que deixa esse lugar
com uma cara de lar. Vejo que ele curte um ambiente mais escuro, como se
fosse um vampiro e odiasse a claridade.
Ele pega um copo de água para mim e me faz sentar sobre o sofá enorme
que fica no centro da sala. Observo tudo à minha volta. Pelo visto, estamos
sozinhos. O que não é nada seguro para mim. Na última vez que estivemos a
sós, Gael foi feito e, nove meses depois, nasceu, lindo e forte.
— Obrigada. — Bebo dois goles da água e, depois, abandono o copo
sobre a mesa de centro ao lado.
Kauã se abaixa na minha frente e segura minhas mãos firmes, que estão
geladas. Eu nunca estive tão nervosa como agora. Ninguém nunca me fez tanto
mal como Paola. Suas mãos grandes e quentes aquecem a minha e meus olhos
são atraídos para os seus. Realmente, ele está preocupado comigo.
— Eu insisto que devemos ir até a delegacia. Tenho um amigo delegado
que irá cuidar desse caso com discrição.
— Se for assim, eu concordo. Não quero ver meu nome estampado nas
manchetes, muito menos o da sua família. — concordei, cansada.
— Eu cuidarei disso pessoalmente. Você não precisa se preocupar com
nada.
— Eu jamais sonharia que aquela empresa pertencia a ela.
— Por que foi procurar emprego? Micaella, combinamos que você não
precisaria trabalhar.
— Não combinamos, você falou isso. O juiz determinou que você
sustentasse a casa que moramos e as despesas do nosso filho, mas eu não sou
obrigada a aceitar seu dinheiro.
— Você é a mulher mais teimosa que já conheci em toda a minha vida. —
Abre um sorriso discreto. — E eu amo toda essa sua teimosia.
Ele conseguiu me deixar sem jeito. Por sorte, meu rosto já está vermelho
dos tapas que aquela mulher me acertou. Contudo, agora está queimando por
conta do olhar penetrante de Kauã pairado sobre o meu. Esse homem faz meu
coração bater aceleradamente, descompassado, dentro da caixa torácica. Sinto
que, a qualquer momento, ele vai explodir.
— E você? O que estava fazendo naquela empresa? — mudei de assunto
para aliviar a pressão avassaladora do seu olhar fixo em mim.
— Quando o pai de Paola era o presidente da empresa, tínhamos alguns
contratos comerciais, e depois que eu soube que Paola se tornou a nova
presidente, fui negociar o cancelamento.
— Mas, assim, você não perderia com isso?
— Não importa. Faço qualquer coisa para a afastar da minha vida. —
disse, decidido.
— Por que me trouxe para a sua casa?
Ele, todo bobo, beija as minhas mãos.
— Eu quero cuidar de você. Micaella, será que não percebe o quanto
está sendo duro para mim ficar longe de você e do nosso filho? Eu quero que
nossa família seja unida.
— Kauã...
— Deixa eu falar, por favor. — Eu assinto e ele continua. — Inferno!
Como eu me arrependo de não ter lhe contato toda a verdade quando tive a
chance. Eu não vou justificar meus atos, pois eles não têm justificativas. Você
tem todos os motivos do mundo para me odiar. Porém, eu não me canso de
pedir perdão. Eu errei, e se pudesse voltar atrás, faria tudo diferente. — O
arrependimento transborda do seu olhar. O CEO bilionário está sendo sincero.
Aprendi, ao longo dos últimos meses, que Kauã pode ter sido um babaca
no passado, que ele foi o rei da babaquice, no entanto, vendo-o cuidar tão bem
do nosso filho e insistindo que ama e deseja formar uma família comigo, aos
poucos está derretendo o gelo em volta do meu coração.
— O que aconteceu no passado não pode ser mudado.
— Eu sei disso melhor do que qualquer outra pessoa. — A dor em seu
olhar deveria me causar prazer, mas não sinto nada além do que eu acreditei
que seria capaz de sentir. — Micaella, depois do que aconteceu hoje, eu só
percebi que te amo ainda mais. Se for necessário que eu passe vinte, trinta,
cem anos suplicando pelo seu perdão, eu irei.
— Não precisa passar cem anos me pedindo perdão, até porque ninguém
vive tudo isso, e você já está com mais de trinta anos. — falei de um modo
divertido. — Eu não odeio você. Posso demonstrar isso às vezes, mas não
odeio, principalmente vendo a forma como você cuida do nosso filho. É muito
importante para mim que você esteja presente na vida dele.
— Eu amo o nosso filho. Nunca pensei que pudesse amar um bebê da
maneira como o amo. Na verdade, eu sempre sentia muito repúdio quando o
assunto era casamento e ter filhos, mas tudo isso mudou quando eu te conheci e
quando eu soube que você havia dado à luz um filho nosso. Então tive certeza
de uma coisa: queria ter uma família ao seu lado.
— E nós temos uma família baseada no amor e no respeito. Gael é um
bebê de muita sorte, ele tem um pai que o ama, duas avós corujas, dona Gisela
e dona Cristina, que são as melhores avós desse mundo, a tia Giulia, que é
muito carinhosa, e o seu irmão, que sempre cuidou de nós quando você não
estava. O meu cunhado e a minha irmã sempre estiveram ao meu lado.
— Quem diria que meu irmão seria seu cunhado de duas maneiras?
— Duas maneiras?
— Sim. Por sua irmã de criação ser casada com o meu irmão o torna seu
cunhado; e quando você se tornar minha esposa, será cunhada dele duas vezes.
Rio da maneira entusiasmada como ele se referiu a nós com a questão do
casamento.
— Você poderia me levar para casa? Eu estou morrendo de saudade do
nosso bebê.
— Você fica linda quando diz “nosso bebê”. Só Deus sabe o quanto estou
me controlando para não beijar esta boquinha rosada, minha loira gostosa. —
Ele controla seus instintos devoradores, isso é notável. Há respeito por mim
em seus olhos e chega a ser engraçado a forma como ele está buscando
controle.
Kauã se levanta, virando-se de costas para mim. Está escondendo sua
ereção.
Sinto vontade de rir, entretanto, com calma, levanto-me do sofá e me
coloco na sua frente. Constato o tamanho da sua ereção. Ele está muito
excitado.
— Desculpa. Eu não quero parecer um tarado, mas está cada vez mais
difícil controlar meus desejos nestes quase dois anos longe de você.
— Você me disse que não teve outras mulheres na sua vida. Isso é
verdade?
— Eu sei que não tenho moral para você acreditar em nenhuma palavra
que eu diga, mas é verdade. Você é a única mulher que existe na minha vida. E
se jogou uma macumba em mim, saiba que deu certo: me fez ficar incapaz para
outras mulheres. O seu feitiço pegou. — Querendo rir do seu comentário, não
me aguento e rio. Ele também sorri. — Eu preciso saber se você vai ao jantar,
na sexta, na casa da minha mãe.
— Se eu não for, a sua mãe virá me buscar. — respondi, ainda rindo.
— Se ela não fosse, eu iria.
— Kauã, muito obrigada por ter aparecido naquela empresa hoje. Se não
fosse por você, eu estaria perdida.
— Não precisa agradecer.
— Preciso sim. Você me salvou das garras daquela mulher. Obrigada, de
verdade.
Suas mãos tocam em minha face de uma maneira carinhosa. Ele está se
mostrando ser outra pessoa, completamente diferente da imagem que eu tinha
na minha cabeça. Talvez eu esteja tocada pela sua atitude de ter me salvado.
Não posso estar enxergando outro homem diante de mim. Posso? A verdade é
que, em todo esse tempo, nunca deixei de amá-lo. Meu coração palpita todas
as vezes que escuto a sua voz.
Antes que eu cometa uma loucura, é melhor me retirar. Mas, quem disse
que tenho controle sobre mim? Não quero ir embora, desejo ficar aqui, com
ele.
— Eu daria a minha vida por você e pelo nosso filho.
— E, então... Vai me levar para casa?
— Esta é a sua casa. — Sorri, convencido. — Basta apenas você me
aceitar na sua vida; não somente como o pai do Gael, porque isso você já faz
muito bem, mas como alguém que possa cuidar de vocês dois para sempre.
— A minha bagagem vem bastante carregada.
— Eu aceito tudo, qualquer coisa, para ficar com você.
— Qualquer coisa?
— Sim.
— Então, vamos. Me leve para casa. — Essa não era bem a resposta que
ele estava esperando, mas, ainda assim, ele não força a minha permanência. —
Kauã, se você deseja que fiquemos juntos algum dia, eu te peço somente uma
coisa: não vamos agir de maneira precipitada. Há muitas coisas ainda que
devem ser analisadas. Deixe as coisas acontecerem, e se for para ser, será.
Ele concorda e, por fim, leva-me para casa. Nós precisamos de um tempo
juntos para conversar e decidir sobre a nossa vida. No momento pensarei com
calma, não me jogarei em seus braços, como desejo neste momento. Controlar
meus desejos de mulher é uma tarefa árdua, visto que estou em contato com o
único homem que amei em toda a minha vida e, também, o que mais me
machucou.
Ele beija a minha testa com carinho e eu sinto que em seus braços sempre
estarei segura e protegida.

(...)

Kauã tratou daquele assunto para mim com muita transparência e


agilidade. O delegado em questão emitiu, por meio de um juiz, uma ordem
judicial que impede Paola de se aproximar de mim. Pelo menos alguma coisa
foi feita para afastar essa louca da minha vida. Ela que não ouse se colocar em
meu caminho. Como eu a odeio com todas as minhas forças.
— Você nunca mais vai sair de casa sozinha, Micaella. — Minha mãe
repete isso todos os dias, desde que soube o que aconteceu comigo.
— Eu só vou dar uma volta aqui mesmo, no condomínio.
— Eu vou com você. — ela disse, firme.
— Mamãe, aqui há segurança. — insisti. — Pensando bem, vou ficar
aqui mesmo.
Ela se mostra satisfeita com a minha decisão. Minha mãe é bastante
protetora.
Não quero ser grossa com ela; não agora, que sei o que é ser mãe e
também sei o significado de dar a vida por um filho.
— Meninas, vejam isso, — Clarice coloca meu bebê em pé no chão e o
solta.
Tomo um susto, acreditando que ele vai cair e se machucar, mas sou
surpreendida com uma cena que me faz ficar com lágrimas nos olhos. Meu
bebê está dando os seus primeiros passos.
Por mais rápido que tenha sido e logo ele estava no chão novamente, deu
dois passos. Corro na sua direção, ajoelho-me e o ajudo a ficar em pé de
novo.
— Mamãe, veja só. Meu menino está crescendo.
Clarice abre a porta e Kauã chega em um momento muito especial para o
nosso filho.
— São os primeiros passos dele. — mamãe o informou.
Ele vem em nossa direção e se agacha para incentivar o nosso menino a
ir ao seu encontro.
— Meu amor, vá com o papai. — pedi.
Kauã está em uma distância considerável e segura para me auxiliar com
Gael. O nosso garoto está muito animadinho e dá mais alguns passos até o pai.
— Isso, garotão! Mostre para o papai e para a mamãe que você é forte e
muito esperto.
Nosso filho se sai muito bem e o prêmio dele é um abraço caloroso do
papai e um beijo na bochecha. Ele comemora com animação. Meu pequeno
bate palmas e, pela primeira vez, diz:
— Pa-pa-pa. Papá, papá.
Ele está querendo falar “papai”? Não é possível, é muita emoção para
um único dia.
— Mamãe não aceita isso. Como pode me trair dessa maneira, meu
amor? A mamãe passou nove meses carregando você na barriga. Já não basta
ser a cópia fiel do seu pai, ainda quer falar “papai” primeiro que “mamãe”?
— fingi estar ofendida.
— Papá.
— Sua sorte é que o papai é bonito, senão a mamãe não perdoaria você,
nunca.
Minha mãe e Clarice riem, já Kauã se mostra satisfeito com o que acabei
de dizer. Sem perceber, falei que ele é um homem bonito. Minhas bochechas
coram.
Beijo a bochecha de Gael com ele ainda nos braços do pai. Esse
momento mágico e bastante especial ficará para sempre guardado em nossos
corações.
— Me deixe levar meu neto para tomar banho. — Mamãe o pega e se
retira junto com nossa prima.
Ficamos apenas eu e Kauã. Mais uma vez estamos sozinhos.
— Ainda bem que eu cheguei bem a tempo de vê-lo dar os seus primeiros
passos.
— Sim. Que bom que você pôde ver. — Eu sorrio e ele sorri de volta.
Sabemos quão importante foi esse momento. Tê-lo aqui se torna cada vez
mais especial. Desde o dia em que ele me salvou, venho me sentindo
protegida e segura somente por ter um olhar seu pairado sobre o meu.
CAPÍTULO 24

O jantar na casa de Cristina acontece tranquilamente. Toda a família


Avillar está presente: os filhos, os netos e a nora. Eu e minha mãe sempre
somos bem recebidas por essas pessoas. Há também convidados especiais:
Matteo Marques e Clara, que são primos dos meninos. Eles vieram fazer uma
visita a todos.
— Como está a sua mãe, querido?
— Encontra-se bem, tia. Ela fará uma visita muito em breve.
— Será um prazer recebê-los. Espero que Saulo também venha.
— Tia, Saulo vive naquela fazenda. Ele adora viver no campo,
principalmente agora, que está casado novamente.
Saulo era viúvo, assim como Viktor. Ambos perderam os amores de suas
vidas por uma fatalidade. E igual à Bia, o filho de Saulo, Dominic, perdeu a
mãe. Contudo, a vida sorriu para eles mais uma vez e o amor surgiu para
ambos. É notório o amor de Viktor por Giulia.
— É verdade, querida. — Cristina concordou.
— Micaella é o seu nome. Correto? — Clara sorri amigavelmente.
Eu a encaro um pouco tímida. Acabei de conhecê-la, e até nos tornarmos
mais íntimas, ela acabará me intimidando, como agora, ao falar meu nome na
frente de todos. Assim, todo mundo passa a olhar para mim. Ela está sentada
ao lado de Kauã, do outro lado da mesa.
— Sim.
— Você é muito bonita, Micaella.
— Obrigada. Você também é, Clara.
— Eu estou apaixonada pelo filho de vocês dois. — Ela olha para o
primo e depois para mim. — Acho que a tia Clara vai esperar você completar
seus dezoito anos. — Todos riem. — Eu soube que você está solteira. O meu
irmão também...
— Vamos mudar de assunto, prima. — Kauã retrucou, chateado. — A
mãe do meu filho não precisa ouvir suas observações.
— A mãe do seu filho precisa saber a possível lista de pretendentes que
a cerca. Não é mesmo, tia?
— Claro que sim. Se Micaella deseja conhecer outras pessoas, ela é
livre para isso. — a mãe de Kauã deixou bem óbvio, levando-o a ficar ainda
mais irritado. — O que você acha, Gisela?
— A minha filha é uma mulher madura e muito responsável. Acho que já
está na hora de ela repensar e sair mais para se divertir.
— Matteo?
— Irmã, assim você vai matar a moça de vergonha.
— Eu não posso mais ser sincera? Micaella é tão linda e majestosa, que
qualquer homem se jogaria aos seus pés.
— Foi um elogio muito generoso, Clara.
— O que acha, primo? A mãe do seu filho é uma mulher muito
interessante. — Clara o provocou.
— Obviamente.
— Que besteira a minha. Você deve achá-la muito interessante, já que
tiveram um filho, e os bebês não vêm da cegonha.
— Não vêm? — Beatriz perguntou, curiosa. Todos rimos.
— Amor, não faça perguntas aos adultos na hora do jantar. — Viktor
tentou amenizar a situação.
— Perdão, eu disse algo que não deveria. É que sou muito curiosa.
Micaella, não fique vermelha assim.
Kauã me olha com chamas nos olhos e sorri. Ele sente tesão pela timidez.
— Primo, você precisará rebolar bastante para ter esta mulher linda na
sua vida novamente. Boa sorte. — Clara faz um brinde à família. — À família.
Todos brindamos e Kauã não desvia os seus olhos dos meus. Ele é muito
intimidador. Já meus olhos percorrem de encontro ao homem forte e
musculoso que está vindo na minha direção. Fico impressionada com a beleza
nata dessa família, todos são muito bonitos. Os homens são de tirar o fôlego,
as mulheres são lindas e elegantes e as crianças são fofas. Até os cachorros
são bonitos.
Gael está nos meus braços, sentindo sono. Já está quase na hora de irmos
embora.
— Posso me aproximar? Com muito respeito, é claro. — Matteo busca o
olhar do primo e sorri para ele, que nos olha com uma certa irritação.
— Mas é claro. Matteo é o seu nome?
— Sim, Matteo Marques. Como você já deve saber, sou primo dos
Avillar.
— Você mora aqui, mesmo, em São Paulo?
— Sim. Mas sempre que posso, estou viajando. Administro as empresas
Marques aqui, em São Paulo.
— Muito legal.
— Posso segurar o seu filho?
— Claro que sim. Aliás, vocês são primos.
— Posso ensiná-lo a me chamar de tio, igual como Beatriz me chama. E a
Mali também me chamará assim.
— Claro que pode. — Sorrio educadamente.
Matteo segura meu bebê nos braços. Meu filho está calmo e não o
estranha. O que é surpreendente.
— Acho que ele gostou de mim. — ele brincou. — Diferentemente do
meu primo, que está me olhando como se desejasse me matar somente pelo
fato de eu ter me aproximado de você.
Kauã fuzila o primo com o olhar. É divertido ver a sua reação. Ele está
sentindo ciúme?
— Veja como ele está morrendo de ciúme. — Matteo brincou. Pelo que
vejo, adora provocá-lo.
— Ele não está com ciúme. — Sorrio por dentro, satisfeita por não ter
sido a única a perceber.
— Acredite em mim: ele está. Você acredita que ele me ameaçou nesta
noite?
— Ameaçou?
— Me disse para não tentar nenhuma gracinha com você, ou então ele me
mataria.
Arregalo os olhos. Kauã realmente disse isso?
Matteo ri da minha reação e eu acabo rindo junto.
— Sabe... Eu sou ótimo em provocar ciúme nos meus primos. Giulia já
me usou para fazer ciúme em Viktor e agora está casada com ele. Eu posso ser
uma cobaia nas suas mãos também, não me importo.
— Você é bastante divertido, gostei do seu bom humor.
— Eu sei. Kauã não tem muito isso, né? Mas o que importa é que ele é
um cara do bem e está muito apaixonado por você e pelo filho. Ele ama muito
vocês dois.
— Você acha mesmo?
— Eu tenho certeza. — Olha-me convicto.
Mamãe pega Gael para o colocar para dormir em seus braços. Ele já
estava quase dormindo no colo de Matteo.
— Você tem mais irmãos, certo?
— Sim. Meu irmão mais velho se chama Saulo e vive no Mato Grosso do
Sul, com a esposa e os filhos; e Clara é a minha irmã mais nova, ela também
vive em São Paulo. Você tem irmãos?
— Sou filha única, mas queria ter tido irmãos.
— Acredite em mim: você não iria querer. — Ele me faz rir mais uma
vez. — Brincadeira. Eu amo meus irmãos. Se interessa pela vida no campo,
Micaella?
— Eu nunca estive em uma fazenda, para ser sincera. Giulia me disse que
é um lugar incrível.
— Quando quiser, pode ir até a fazenda Marques. Meu irmão e toda a
nossa família ficará muito feliz em recebê-la.
— Seria um prazer.
Neste momento Kauã para ao lado do primo, com cara de poucos amigos.
— Posso saber o que há de tão prazeroso nesta conversa? — Ele está
sério e me encara, querendo me afastar de Matteo a todo custo.
— Primo, eu convidei Micaella para visitar a fazenda Marques.
— É um convite muito interessante. — ele argumentou. — É uma pena
que Micaella prefira ambientes litorâneos.
— Gosta de praia, Micaella?
— Sim. Eu adoro o mar, apesar de não gostar de entrar nele.
— Micaella não sabe nadar, mas isso não a impede de fazer caminhadas
pela areia. O clima em uma fazenda não combina com ela.
Não sei se ele está falando isso movido pelo ciúme ou se realmente me
conhece muito bem.
— Saiba que se mudar de ideia, será bem-vinda à fazenda Marques.
— Obrigada, Matteo. Eu tenho certeza de que é um lugar muito lindo.
Adoraria conhecê-lo algum dia.
— Gosta de viajar?
— Os únicos lugares que eu conheci foram Paraíba e São Paulo.
— Tenho certeza de que adoraria o Mato Grosso do Sul.
Eu sorrio e ele se retira, deixando-nos a sós. Kauã, por sua vez, encara-
me sério. Não faz questão de esconder sua irritação.
— Micaella, se eu fosse você, não daria tanta atenção assim para o
Matteo. Ele é o meu primo, e eu lhe asseguro que é muito mulherengo.
Finjo surpresa ao dizer:
— Que interessante. Pensei que essa fosse uma característica somente
sua, mas agora vejo que é de família. — Eu sorrio e ele não muda sua
expressão dura. — Já está ficando tarde, é melhor eu ir para casa.
— Posso acompanhar você?
— Acho melhor não.
— Filha, é melhor trocar o Gael antes de irmos. Ele fez o número dois.
— Tem razão. Eu vou trocá-lo.
— Posso fazer isso. — Kauã disse, sendo convincente.
— Sério? Você, por acaso, já fez isso antes?
— Talvez. Você poderia me ensinar?
Começo a rir. Ao menos ele está tentando.
Kauã me leva até o seu quarto de quando ainda vivia na casa da mãe. É
um quarto bastante adolescente. Há uma guitarra na parede e vários posters de
rock.
— Você era do rock and holl?
— Na minha adolescência sim.
— É difícil imaginar isso hoje em dia.
— Por quê?
— Você é bastante sério, um empresário de sucesso, não passa a imagem
de um roqueiro.
— Tem razão. Ficou no passado a minha paixão por rock. E, então...
Como estou indo?
Ele limpou o nosso bebê direito. Depois de ter passado o lenço
umedecido, está pronto para pegar outra fralda, quando Gael faz xixi,
molhando parte da sua camisa. Começo a rir alto, sem parar. A cena foi
bastante engraçada. Kauã tentou se livrar, a todo custo, mas foi acertado em
cheio pelo xixi do nosso filho.
— Acha isso engraçado?
— Acho sim. — Não paro de rir.
— Então, você deve achar isso engraçado. — Pega o talco e o joga sobre
mim.
Abro a boca para o xingar, porém não xingo. Tomo o talco da sua mão e o
jogo sobre sua cabeça, deixando-o com cabelos brancos. Até assim ele fica
lindo.
Droga! Ligo meu modo irritada depois de rirmos e brincarmos como duas
crianças.
— Está na hora de eu ir. — Termino de trocar nosso menino e o seguro
nos braços.
— Eu gostaria que não tivesse mais que me despedir de você, garotão.
Você poderia até dormir entre a mamãe e o papai. Claro... Depois que a
mamãe alimentasse muito bem o papai. — Como ele é malicioso.
Eu bato no seu ombro e ele reclama.
— Isso não é justo.
— Pare de falar besteira na frente do nosso filho. Ele é inocente demais
para ouvir suas palavras maliciosas.
— Um dia ele irá crescer e irá descobrir como o pai e a mãe dele o
fizeram.
— Mas até lá irei contar a história da cegonha.
— Tudo bem. Mas enquanto ele ouve a história da cegonha, eu guardo na
minha mente a história original todos os dias. Lembro-me bem de cada detalhe
feito naquela noite.
Será que ele tem mesmo gravadas as nossas relações sexuais, como
Paola me disse?
— Kauã, seja sincero ao me responder algo. Uma vez Paola me disse que
você filmava as nossas relações sexuais. Isso é verdade?
Ele fica em silêncio por breves instantes e logo diz:
— Não é verdade.
— Baseado em que ela disse isso?
— Eu costumava gravar na minha adolescência, porém tinha a permissão
das minhas parceiras para fazer isso.
É algo surpreendente, só que não estou chocada. Sua fome sexual é
depravadora.
— Então, não há nenhum vídeo nosso?
— Eu juro pela vida do nosso filho que não. Todos os nossos momentos
juntos estão filmados na minha mente. Acredita em mim?
— Sim. Mas agora devo ir.
Como Kauã disse, é doloroso para mim também me despedir, porque
ainda sinto algo por ele.
Eu ainda sinto alguma coisa por Kauã Avillar.
CAPÍTULO 25

Clara conseguiu colocar minhocas na cabeça de todo mundo. Depois


daquele jantar na casa de Cristina, o assunto mais comentado pela minha
família é sobre Kauã e todo o arrependimento que ele vem demonstrando.
Sinto-me como se estivesse sendo traída por todos à minha volta. O bonitão já
ganhou até torcida organizada. É possível uma pessoa mudar completamente?
Arrepender-se e se tornar alguém melhor? Sim, é possível, desde que aquela
pessoa realmente mostre, com atitudes, que é um novo homem.
Observo meu filho brincar com o pai no parquinho do condomínio. Eles
estão brincando com a areia. Kauã tenta ensiná-lo a fazer castelos, mas parece
que nem ele mesmo consegue fazer. Estou vendo-os de longe. Quando cheguei
em casa, minha prima me avisou que eles estavam aqui.
Aproximo-me mais deles para poder ouvir o que Kauã está dizendo.
— Isso, garotão! Você está se saindo muito bem. — Gael destrói tudo,
nada além disso. É divertido. — Ei, cara, vamos fazer o mais bonito dos
castelos. Veja só aquela garotinha olhando para você.
Mais à frente brinca outra neném com sua mãe. Pelo que vejo, a
bebezinha não é a única a olhar para os dois; a mulher também está muito
interessada em encarar o pai do meu filho. Sinto vontade de ir até ela e pedir
explicações, então me lembro de que Kauã não é nada meu.
— Você é bom com as meninas. Será um conquistador de peso. — Reviro
os olhos com o seu comentário. — Um conselho do papai: nunca quebre o
coração de uma mulher. As consequências não são nada agradáveis. E, filhão,
o papai sabe bem disso. A mamãe é uma mulher difícil, mas, também, eu errei
feio com ela. Por isso, nunca machuque o coração de uma mulher. — ele
aconselhou o nosso filho, que não entende nada.
Pigarreio, chamando a atenção de ambos. Gael abre um sorriso quando
me vê e Kauã se coloca de pé depressa, limpando toda a areia da sua
bermuda.
— Meu amor, você está brincando com o papai?
Ele faz um barulho com a boca e sons como se estivesse explicando
alguma coisa. Mais alguns dias e estará falando.
— Micaella, a sua prima me disse que você tinha saído com a sua mãe.
— Sim. Eu não sabia que você viria ver Gael hoje. — mudei de assunto.
Ele me encara como se quisesse saber onde eu estava. Eu e minha mãe
fomos dar uma volta matinal, mas esse não é um assunto que lhe diz respeito.
Hoje Kauã está ainda mais bonito. Branco é uma cor que o favorece bem
mais, realçando tudo. Seus músculos definidos exalam testosterona.
Respiro fundo e jogo fora todos os pensamentos pervertidos. Depois do
jantar ainda não havíamos nos encontrado.
— Eu pensei em vir buscar você e o nosso filho para aproveitarmos este
domingão na praia.
— Praia? Hoje?
— Sim. Está um dia muito lindo.
— Sim, está. O sol está ótimo para aproveitar o mar.
— Nosso filho nunca foi ao mar. Ele irá adorar a sensação de brincar na
areia.
— Você pode levá-lo se quiser.
— Eu não contratei nenhuma babá para este domingo. Estou aprendendo
muitas coisas sobre o Gael, e ele adoraria que você viesse junto.
— Eu não preparei nada...
— Não se preocupe, eu tenho tudo que é preciso dentro do carro.
Procuro uma justificativa coerente para lidar com essa situação. Quanto
mais tempo ficamos juntos, mais o meu coração começa a mexer com minha
razão, querendo que eu me atire em seus braços.
— Amanhã eu...
— Sua prima disse que você não tem nada para fazer amanhã, nem no
restante da semana. Micaella, a praia fica a meia hora de onde estamos. Eu e o
nosso filho não aceitamos “não” como resposta. — Ele segura Gael nos
braços e me olha como se quisesse que saíssemos nós três juntos.
Penso bem. Uma visita à praia será relaxante. Ao menos imagino que sim.
— Tudo bem. Me dê vinte minutos para eu me trocar e trocar este
nenenzinho.
— Eu trouxe roupas de praia para vocês dois.
Ele realmente veio preparado para ouvir um “sim”, trouxe roupas de
banho que servirão perfeitamente em mim e no nosso bebê.
Mordo a língua quando vejo meu gorduchinho vestido com uma sunga
laranja. Seu abdômen gordinho é um charme, mamãe, assim como as
bochechas fofinhas. Ele está muito lindo. Para mim, Kauã separou um biquíni
da mesma cor. Opto por usar uma saída de banho por cima, da cor preta. Ele
sabe as medidas do meu corpo.
Estranho quando percebo que estamos indo para uma pista de voo em vez
da praia. Como eu sou estúpida. Há praias somente em áreas litorâneas.
Quando vejo um helicóptero em nossa frente, questiono:
— Kauã, para onde vamos?
— Para o Guarujá.
— Você disse que estávamos a meia hora da praia.
— Meia hora de helicóptero. Me desculpe se me esqueci de mencionar
essa parte.
— Eu não posso ir para o Guarujá.
— Claro que pode. A sua mãe gostou da minha ideia de passarmos o
domingo juntos, em família.
— Você deveria ter me avisado antes.
— Você vai se apaixonar pelo Guarujá e o nosso filho poderá passar um
tempo a sós com os pais. Não negue isso a ele.
— Eu não estou negando nada. Aliás, você me enganou mais uma vez. —
falei, irritada. — Pode dar meia-volta com este carro, vamos voltar para casa
agora.
Vejo o desespero no seu rosto. Ele tenta argumentar, a todo custo, que
devemos ir.
— Micaella, já estamos na metade do caminho e a reserva foi feita. Você
não pode fazer desfeita comigo.
— Eu posso sim. — esbravejei.
O loiro apela da maneira mais inusitada possível.
— Ligue para a sua mãe. Ela não vai aceitar você em casa. Ela e Clarice
vão junto com a minha mãe a um clube de livros e você não irá ficar sozinha
em casa, portanto ficará comigo.
Era só o que me faltava. Minha mãe e minha prima sabiam disso e foram
cúmplices? Estou sendo traída pela minha própria família.
— Por acaso, você não trabalha na segunda, não?
— Esta é a vantagem de ser o dono da empresa: posso ir quando quiser.
Sem argumentos, entro no helicóptero. O nosso bebê dormiu a maior
parte do trajeto. Eu morro de medo de altura e não gosto de olhar para baixo,
foco somente em esconder a cabeça sobre o rostinho do meu menino. Ele faz
eu me sentir protegida de alguma maneira.
Kauã está sentado ao nosso lado. Ainda não acredito que ele me fez
entrar em um negócio desse. Estou tremendo agora, que refleti onde vim parar
realmente. Alturas me causam um frio na barriga.
— Eu estou aqui. — ele falou ao microfone. Eu o ouvi no meu.
O barulho aqui chega a incomodar.
Talvez seja o medo de altura que me faça aceitar segurar sua mão e
repousar a cabeça em seu ombro. O calor desse homem é irradiante. De
alguma forma, ele consegue me acalmar, fazendo carinho na minha mão. O
nosso pequeno dorme em meus braços. O seu perfume amadeirado acalma o
meu coração e ele sempre está me passando a sensação de segurança.
Enquanto eu deveria manter distância dele, cá estou, rendendo-me ao seu
charme e a todo o seu encanto.
Falando em encanto, o lugar é extraordinário. Quando estamos em uma
altura consideravelmente mais segura para o voo, pelo menos na minha mente,
atrevo-me a olhar da janela e vejo um verdadeiro paraíso afrodisíaco. Eu amo
o litoral e minha paixão é o mar, mesmo sem saber nadar. O que pode ser
contraditório, mas não para mim. Esse é o meu estilo de vida preferido. Só
por sentir a brisa marítima bater em meu rosto, dando-me boas-vindas,
consigo perceber toda a tensão do meu corpo ir embora. Tudo é muito
deslumbrante aos meus olhos, a começar pela pista de pouso.
Descobrir que este helicóptero pertence ao pai do meu filho foi
surpreendente. Eu deveria ter imaginado que, pelo tamanho da sua fortuna, ele
teria algo tão extraordinário.
— Você pilota?
— Digamos que sim. Porém, preferi vim ao lado da minha família em vez
de pilotar desta vez.
— Extraordinário.
— Venha. Há muitos lugares que precisa ver. Mas antes vamos nos
acomodar.
— Kauã, amanhã voltaremos para casa. E já que o helicóptero é seu, não
aceitarei nenhuma desculpa para isso não acontecer. Estamos entendidos?
— Como quiser, senhora “dona do meu coração”.
Quanto mais ele se esforça para tentar se superar a cada dia que passa,
mais me faz rir. Quem diria que Kauã se tornaria cadelinha por uma mulher?
— Este sorriso lindo que a mamãe tem, filhão, faz com que o papai ganhe
o dia. O meu dia já está ganho.
Ele confirma nossa reserva na recepção e todas as nossas bolsas são
levadas para o nosso quarto. Fico apenas com a mochila de Gael, que contém
suas coisas, como leite e água para ele, além de algumas frutas já cortadas,
como também outros acessórios de bebê para o caso de uma emergência.
— Você, caminhando com uma mochila nas costas, me faz ter um dejà vu.
Estamos andando lado a lado. Ele leva nosso filho nos braços.
— Um dejà vu?
— Sempre que vinha me encontrar, você carregava uma mochila nas
costas. Agora me faz relembrar dos nossos momentos juntos. Sempre tinha um
sorriso lindo para me mostrar. E eu, tolo, não soube valorizar isso.
— Vamos levar Gael para brincar logo ali. — Apresso-me, caminhando
na sua frente.
Dejà vu. Ele me faz lembrar de momentos apaixonantes todos os dias.
Basta eu ouvir sua voz, para todos os meus pelos se arrepiarem. Eu não posso
ter essas sensações intensas. O que estou fazendo aqui com esse homem lindo,
de tirar o fôlego? Eu deveria ter ficado sozinha em casa mesmo.
Pai e filho se sentam na areia molhada para brincar. Kauã comprou, de
um vendedor ambulante, um kit com balde e pazinha para a escavação na
areia. Os dois se divertem, deixando notória toda a afinidade que possuem.
Encanta-me poder observá-los juntos, dando-se bem. Há muito amor nessa
cena.
— Olhe a mamãe, filho. Não é uma sereia, não, é a mamãe mais linda
deste mundo. — Kauã brincou com o nosso menino, falando como se Gael
realmente tivesse me confundido com uma sereia. Chega a ser hilário.
— Seu bobo.
— O canto é belíssimo, por isso confundimos com uma sereia, filhão,
mas acontece que a mamãe é mais bonita que qualquer outra mulher deste
mundo. — Seus olhos queimam sobre o meu corpo.
A parte de cima do meu biquíni mostra um decote atraente e sensual, eu
tenho noção disso. Não é à toa que estou ganhando outros olhares. O que deixa
Kauã mordido de ciúme.
Reviro os olhos e me sento ao lado deles.
— A água do nosso filho acabou, vou comprar uma garrafinha. — avisei.
— Minha carteira está dentro da sua bolsa. Eu coloquei dentro dela.
— Eu tenho dinheiro trocado, coisa que, certamente, você não deve
carregar consigo.
Ele concorda.
Encontro um senhor vendendo água e compro duas garrafinhas. Estou
retornando para junto dos meninos, quando um homem de olhos verdes e sunga
azul-marinho aparece diante de mim, fazendo-me frear bruscamente.
— Olá, sereia. Posso ajudar você? Está sozinha?
— Não, eu... — Ele me corta.
— Você é muito bonita. Estou admirando você desde o momento em que
saiu da barraca de água.
Ele me observava? A praia não está tão cheia assim, há poucas pessoas,
e o movimento na parte onde estamos é bastante remoto.
Seus olhos verdes me fitam com bastante interesse.
— Posso saber qual é o seu nome, bela sereia?
— Não, você não pode. — A voz rouca atrás de mim me causa arrepios.
É Kauã, e ele está furioso.
— Desculpe, cara, eu pensei que ela estava sozinha. — O homem treme
diante da presença de Kauã.
— Minha mulher não está sozinha, ela está muito bem acompanhada. —
Seus olhos azuis fuzilam o homem, que está praticamente tremendo.
— Peço desculpas. Eu já estou indo. — Ele vai embora o mais depressa
possível. O clima estava tenso entre os dois.
— Eu deveria socar a cara daquele infeliz por ter ousado olhar para a
minha mulher. — Ele está furioso como eu nunca tinha visto antes.
— Você não vai socar a cara de ninguém, e eu não sou sua mulher.
— Eu deveria, e você é minha mulher sim. — rebateu, possesso de
ciúme.
— Não vamos discutir algo que já está resolvido. Será que podemos
almoçar? Estou faminta.
Frutos do mar estão sobre a nossa mesa e nosso filho está sentado em
uma cadeira feita para bebês, que facilita bastante nessas horas. Opto por
comer peixe e salada. A minha dieta precisa estar sempre em dia.
— Para a sobremesa, eu recomendo creme de chocolate. Posso pedir?
— Não quero sobremesa. — Ele estranha. — Estou de dieta.
— Dieta?
— Sim. Por acaso não percebeu o quanto estou mais gordinha depois que
tive Gael?
— A única coisa que percebi é o quanto você está mais gostosa. Minha
boca saliva de desejo por você.
— Kauã, eu já lhe disse para não conversar essas coisas na frente do
nosso filho.
— Gael é um bebê, não compreende nada. — Ele usa isso a seu favor. —
E eu não posso esconder o que sinto pela mulher da minha vida. Não me peça
para controlar meus pensamentos.
— Eu deveria era matar você. — rebati, na defensiva.
Ele ri.
— Eu adoraria que você me matasse, porém de prazer. Só de imaginar
meu pau entrando e saindo desta bocetinha rosada, já estou duro como uma
pedra.
— Definitivamente, você só pensa em safadezas, seu devasso.
— Não é errado pensar na mulher da minha vida. Eu tenho o direito de
imaginar nós dois nos amando de todas as maneiras.
Quando ele usa o termo “mulher da minha vida”, meu coração é
preenchido por um sentimento dominador, como fofura. Ele consegue derrubar
todas as minhas defesas ao utilizar essa frase.
— É errado sim, eu não sou sua mulher. — esclareci mais uma vez. —
Sou uma mulher livre, não há nenhuma aliança em meu dedo e nenhum
compromisso firmado.
— Não há uma aliança no seu dedo porque você não quer.
Engulo em seco e, desta vez, aproveito para tomar um copo de suco.
— Eu estava pensando em você e eu sairmos para um passeio de lancha à
noite. Um amigo me convidou para uma festa privada, serão poucas pessoas.
— Não vai rolar. E mesmo que eu quisesse, não vou levar meu bebê para
um lugar barulhento.
— Já contratei uma babá de minha confiança para cuidar dele nesta noite.
Você precisa se divertir e relaxar hoje.
— Eu não vou.
— Por quê? Por acaso não consegue se controlar quando está comigo?
Tem medo de se entregar para mim? — provocou-me.
— Óbvio que não. Se quer saber, eu nem penso em você. Eu não conheço
essa babá, portanto não vou deixar meu filho com mulher nenhuma. —
esbravejei.
— Então, você realmente tem medo de perder o controle comigo.
— Quer saber? Eu vou. Mas irei conversar bastante com essa mulher
antes.
Ele abre um sorriso vitorioso.
Eu sei que estou agindo por impulso, porém não lhe darei o sabor da
vitória. Ele pensa que não sou capaz de me controlar? Pois bem. Eu o
mostrarei que não irei me render ao seu charme. A última coisa que irá
acontecer nesta noite será eu parar em sua cama.

(...)

Tive uma conversa longa com Laís, a babá temporária do meu neném. Ela
já deve estar cansada de tanto me ouvir falar, entretanto não me contenho e lhe
passo todas as informações necessárias sobre o meu filho e o soninho dele.
— Laís, se acontecer qualquer coisa, e a qualquer dúvida, não hesite em
me ligar. — Repito duas vezes.
— Pode ficar tranquila, senhora. Eu cuido de bebês há mais de vinte
anos.
Ela é uma senhora gentil e se mostra bastante tranquila.
Eu coloquei um vestido estilo praiano, azul-marinho, com palmeiras
verdes na estampa. Minha mãe arrumou a minha mala, colocando nela roupas
o suficiente para eu ir a uma festa. Ela sabia do plano de Kauã. Teremos uma
conversa séria. Meus cabelos soltos ao vento balançam.
Kauã me espera na recepção. Ele está muito bonito, vestido casualmente
para uma festa em um iate. Todas as mulheres que passam por ele jogam
charmes e outras o comem com os olhos. Ele é um deus grego presente na terra
para nos fascinar com sua beleza estonteante.
— Essa tal festa, espero que não tenha muitas pessoas. Não gosto de
lugares cheios. — afirmei.
— Eu também não.
Vamos caminhando de mãos dadas até o iate à beira-mar. Estranho
primeiramente não haver música ligada e, depois, as luzes, que não parecem
com as de uma festa.
— Podemos ir? — perguntei ao me aproximar dele.
— Boa noite, Micaella. Você está deslumbrante.
— Obrigada. É melhor irmos, não quero voltar muito tarde.
Não o elogio para não encher a sua bola. Ele já sabe que é bonito, e
ouvir isso dos meus lábios só o faria ficar mais irritante e convencido. O seu
perfume está mexendo com meu psicológico; Kauã só pode usá-lo como magia
contra mim.
A embarcação é deslumbrante e exala poder e riqueza, assim como tudo à
nossa volta. O Guarujá é uma praia caríssima e bastante bonita; os hotéis são
modernos e sofisticados.
Ele assente e entramos no iate. Respiro fundo ao sentir meu coração
acelerar com a intensidade da nossa proximidade. Esta noite promete ser
intensa.
CAPÍTULO 26

A embarcação é ainda mais fascinante por dentro. Conheço a suíte


master, que é magnífica, e aproveito para explorar o lugar enquanto os demais
convidados ainda não chegaram. O que, de fato, é muito estranho. Kauã está ao
telefone e se mostra chateado. Volto a me aproximar dele quando encerra a
ligação. Ele está com as bochechas vermelhas, fica assim quando está irritado.
Gael é igualzinho ao pai até nisso.
— Aconteceu alguma coisa?
— Sim, a festa foi cancelada. Na verdade, partiram sem nós.
— Como assim? Não seria neste iate onde estamos agora?
— Sim, porém foram para um maior. Consideravam o meu iate pequeno
demais para a festa.
— Pequeno? Seu iate?
— “Sim” para as duas perguntas.
— Então, se não tem mais festa, podemos voltar para o hotel?
— Como quiser. — ele disse, sem insistir para que eu ficasse, o que me
deixou levemente desapontada. Pensei que sempre insistiria.
Respiro fundo. Eu quero ficar aqui com ele, e eu sei que ele sabe disso.
Estou arrumada para uma festa. Não passei quase uma hora me arrumando
para, no final da noite, voltar para o quarto e lavar o rosto às oito e meia. Eu
quero me divertir, e a melhor maneira para isso acontecer é aceitando a sua
companhia pelo menos por algumas horas.
— Que tal se você me mostrar como pilota o iate? Imagino que saiba
como fazer isso.
— Posso dizer que sim, você acertou. Realmente tem interesse em tentar
pilotar um iate à noite?
— Sim, eu tenho. Mas entendo se você não estiver disposto a me
mostrar...
— Claro que estou disposto a fazer o que você quiser. Digo... A ensiná-la
a pilotar. — Rio do seu jeito desengonçado de se expressar. — Eu a ensinaria
a pilotar o helicóptero à noite, somente para passar uns minutos a mais na sua
companhia.
— É melhor irmos logo, antes que eu canse.
— Por sorte, você vai encontrar alguma comida enlatada e até mesmo
salgadinhos. Costumo sair da dieta da musculação quando estou velejando em
alto-mar; ajuda-me a relaxar e a esquecer dos meus problemas.
A cabine de controle é fascinante aos meus olhos, é o lugar mais
interessante onde já estive. Atento-me a cada orientação de Kauã. Ele
realmente entende do assunto e sabe o que fazer em todas as situações, seja em
protocolo de emergência, em evacuação ou até mesmo em caso de uma
possível tempestade.
— Este botão aciona o piloto automático.
— Então... Prefere que eu tente agora ou é melhor deixar para outro dia,
quando houver luz solar?
— Eu acredito na sua capacidade. Você é muito inteligente, linda.
— Não me chame de linda, ou juro que afundo esta embarcação.
Quando Kauã me chama de linda me faz relembrar do tempo em que ele
me enganava, quando eu era feita de trouxa. Ou seja, não me traz boas
recordações. Esse seria um apelido carinhoso se não estivesse marcado pela
dor da desilusão passada.
— Afundará o patrimônio do nosso bebê só porque o pai dele disse que
sua mãe é linda? Se você é uma mulher linda, bonita e atraente, como devo me
referir a você?
— “Linda” não. — repeti, enfurecida.
— Linda sim. — insistiu. — Linda, gostosa e maravilhosa. Quer mesmo
contestar? — Ele está seguro de suas palavras, confiante.
Como eu poderia revidar algo assim? Engulo meu orgulho e tento fazer
certinho tudo que ele me indicou. Minha mão desliza pela alavanca, e, em
seguida, eu controlo a direção do veículo. Não é tão difícil assim. A
velocidade está seguindo as medidas de segurança.
Kauã me aplaude, fazendo-me ficar mais confiante. E mesmo sendo noite,
consigo completar uma volta e retornar em segurança até o cais.
— Acho que não fui tão ruim assim.
— Você foi maravilhosa. Foi muito incrível o que fez hoje.
— Ao menos não destruí o patrimônio do nosso filho. — brinquei. — Do
nosso filho e, também, dos filhos que você poderá ter futuramente.
Quando esse pensamento passou pela minha mente, não pude evitar
expressá-lo, para saber a sua opinião. De alguma forma, preciso ouvi-lo dizer
que não quer ter filhos, já que nunca quis ter, porém teve uma surpresa
inesperada com o nascimento de Gael meses depois, quando descobriu tudo.
— Sim, eu quero ter filhos futuramente. — ele demonstrou um desejo
revigorante.
Entro em choque com sua resposta. Eu já deveria esperar que ele
desejasse ter mais filhos. Depois que se tornou pai, sua vida mudou. Kauã se
tornou uma pessoa melhor. Sua mãe diz isso, seu irmão e até mesmo minha
mãe, que o admira como pai protetor e amoroso. Diante do fato de ele ter
apreciado a experiência de ser pai, suponho que deseje ter mais filhos por ter
entendido que o amor paterno é arrebatador, carinhoso e, acima de tudo,
verdadeiro e único. Todo o amor que ele expressa por Gael o faz ter o desejo
de ter mais filhos em um futuro não tão distante.
Eu não deveria sentir ciúme, muito menos sentir meu peito apertar. É um
direito seu. Ele é um homem livre e, principalmente, pode firmar um
compromisso duradouro com uma mulher que ame e por quem possa vir se
apaixonar perdidamente. Pensar nisso me faz ter ânsia de vômito. Kauã não
pode ter outras. Eu não aceito, de forma alguma, que ele possa vir a ter outra
mulher em sua vida, que seus lábios vermelhos e carnudos digam “eu te amo”
para outra.
— Claro que se a mulher da minha vida também quiser ter outros filhos,
pois ela é bastante apegada à ideia de ter filho único. — Suas mãos tocam em
minha face. — Porém, teremos quantos você quiser. — Sua voz rouca causa
arrepios na minha pele.
Respiro fundo diante de suas palavras. Seus olhos azuis conectados aos
meus me remetem a todo o seu amor e carinho. Eu gostaria de beijá-lo, no
entanto saio praticamente correndo para fora da embarcação. Não posso
encarar que tudo esteja normal entre nós dois e fingir que sou sua amiga
quando, na verdade, desejo ser sua mulher.
Raios e trovões! Eu não deveria nem ter entrado naquele helicóptero,
quanto mais ter vindo para o Guarujá. Se arrependimento matasse, eu estaria
em outro plano agora.
Ouço passos vindo atrás de mim, mantenho-me imóvel, direciono o olhar
para as estrelas e tento não perder o controle.
— Micaella, me perdoe se eu disse algo que a desagradou. Juro que não
era a minha intenção ofender você ou a irritar. Prometo que não vou mais te
importunar durante o restante da nossa viagem. — Kauã demonstrou estar
perdido com as palavras. Nunca havia estado diante de uma situação tão
embaraçosa como essa, assim como eu.
Ele nunca foi rejeitado antes, e agora está sentindo o gosto amargo de ser
iludido. Eu deveria ficar satisfeita com isso, mas não estou.
— Se te incomoda tanto assim me ouvir dizer que te amo e que você é a
mulher da minha vida, não irei mais repetir isso, mas quero que saiba que
você é e sempre será o amor da minha vida, mesmo que escolha não ficar
comigo.
— Eu não me incomodo em ouvir. — Eu pauso e o loiro ergue uma
sobrancelha, surpreso. — Pode expressar os seus sentimentos por mim.
Acontece que o problema não está em você, e sim em mim.
— Em você? Como assim? — Ele necessita ouvir uma resposta.
— Quando eu te conheci, me apaixonei perdidamente por você. Foi algo
mágico para mim, você foi o meu primeiro amor, meu primeiro namorado, meu
primeiro tudo. — Sorrio, sem graça. Em seus olhos há chamas de posse. —
Mas quando você me enganou, jurei nunca me apaixonar por homem nenhum.
Não estou pronta para assumir nenhum compromisso ainda. — expliquei,
encerrando a nossa conversa.
Kauã não diz mais nenhuma palavra. Ele está pensativo. Somos duas
almas gêmeas separadas pelas minhas inseguranças. É melhor que eu deixe
bem claro para ele o que sinto. É muito difícil, para mim, suportar.
— Vamos voltar para o hotel, por favor. — pedi.
— Como quiser.
Caminhamos um ao lado do outro. A noite está muito bonita e fria. Ele me
aquece ao me dar o seu casaco, que pegou no iate. Agradeço-o e continuamos
nosso percurso. O caminho de volta não é longo, no entanto estamos
caminhando vagarosamente.
— Kauã Avillar, meu amigo? É você mesmo? — Somos parados por um
moreno forte, que abraça o pai do meu filho.
— Frederico Campos, quem é vivo, sempre aparece. Que coincidência te
encontrar justo aqui.
— Sim. Estou indo para um jantar com alguns amigos. Gostaria de se
juntar a nós? A noite será bem animada após tomarmos uns drinks. Porém,
vejo que está muito bem acompanhado. Quem é essa linda mulher? — Seus
olhos negros pairam sobre mim e ele me analisa como se estivesse cobiçando
meu corpo.
— Ela é a mãe do meu filho. Micaella.
— Fiquei sabendo que teve um filho. Meus parabéns, cara.
— Obrigado.
— Prazer, Micaella. — Assinto. — Você é muito bonita. Lamento por
estar envolvida com um sujeito tão estúpido como o meu amigo. — Ele ri e
Kauã revira os olhos.
— Obrigado, mais uma vez, amigo.
— Amigos são para essas coisas mesmo, irmão. Mas se eu fosse você,
não perderia uma mulher dessa.
— Eu não estou disposto a perder.
Os dois conversam na minha frente como se fosse natural.
Kauã se despede do homem e voltamos a caminhar até o hotel.
— Fizemos faculdade juntos.
— Entendo. É bom rever os amigos.
— Nem sempre. Alguns só aparecem quando precisam de alguma coisa,
outros quando querem obter vantagens, e a minoria, que é realmente leal, eu
não conheço.
Acabo concordando com o que ele disse.
— Deve ser muito chato saber que todas as pessoas à sua volta lhe
cercam por interesse.
— Esse é o preço que tenho que pagar por ter dinheiro.
— Realmente é algo muito triste de se viver. — Entramos no elevador.
Só percebo que entramos juntos no mesmo quarto quando a babá sai com
a nossa chegada. Kauã acerta tudo com a mulher. Nosso filho dorme sobre a
cama, cercado por travesseiros que o protegem, de certa forma. Deito-me ao
seu lado e fecho os olhos. Instantes depois, sinto o colchão afundar do outro
lado. Dormimos nós três sobre a mesma cama.
(...)

Pela manhã, quando desperto, os dois não estão sobre a cama. Kauã está
alimentando o nosso bebê. Um pai que ama e cuida do seu filho é algo lindo
de se ver. Pai não é aquele que paga pensão, e sim aquele que sempre está
presente.
— Olhe a mamãe, filhão. — Sorrio para ambos. — Bom dia, Micaella.
— Bom dia, Kauã. — Aproximo-me deles e beijo a face do meu neném.
— Bom dia, amor da mamãe.
— Mamã. — meu pequeno quase pronunciou a palavra “mamãe”. Meus
olhos se enchem de lágrimas.
— Você disse “mamãe”, meu amor. Que lindo! — Encho-o de beijos.
Tomo café e, ainda na parte da manhã, saímos para passear em família.
Kauã, como sempre, está levando o nosso filho nos braços e atraindo os
olhares de todas à nossa volta. Sinto vontade de explicá-las que não podem
desejar o que não é delas, como se ele fosse meu. Não tenho direito algum
sobre ele.
— Tudo está certo para retornarmos nesta tarde para São Paulo.
— Ótimo. Não vejo a hora de chegar em casa.
Percebo que minha resposta o deixou desapontado.
— Estar comigo é tão desagradável?
— Não é desagradável. — Ele parece não acreditar. — Eu sou uma
garota caseira, que gosta de estar em minha cama, vendo TV, em vez de estar
fora de casa.
— Uma vez me disse que gostaria de viajar pelo mundo. Não tem mais
esse desejo? — Ele se lembra.
Sorrio de lado.
— Ainda é um dos meus maiores sonhos. No entanto, depois que me
tornei mãe, minha maior prioridade sempre envolve qualquer coisa
relacionada ao meu filho.
— Ser mãe é uma dádiva, porém não pode, jamais, abrir mão dos seus
sonhos.
— Eu sei disso.
Retornamos para o hotel depois do almoço. Gael dorme sobre a cama,
cercado por proteção, e eu estou sobre a varanda, observando a bela vista do
mar. Lugares assim são os meus preferidos. Às vezes sinto saudade de quando
trabalhava vendo essa paisagem todos os dias. Bons tempos que ficaram para
trás.
— É tudo muito bonito, não é mesmo? — A voz de Kauã causa arrepios
na minha pele.
— Sim.
— Já está tudo pronto para a nossa partida.
— Então, podemos ir. — Eu me viro de costas e acabo batendo meu
corpo contra o seu paredão de músculos fortes.
O choque foi forte. Ele precisou me segurar pela cintura para que eu não
caísse. Kauã me segura firmemente, como se não desejasse me soltar, nunca
mais. Nossos olhos estão fixos uns nos outros e ele me faz perder o ar, assim
como reviver um misto de sensações intensas e poderosas que invadem o meu
coração.
Respiro fundo. Ele é capaz de me provocar emoções fortes.
— Este perfume, linda... Como eu amo esse teu cheiro, minha menina
linda. — Sua mão toca em minha face, acariciando-a.
Ele tenta se controlar o máximo que pode. Seu peito sobe e desce,
estufado, e seus lábios carnudos se contraem, instigados. Meu coração palpita,
chegando a errar as batidas.
— Você está bem? — ele me perguntou.
— Sim. — respondi, confusa.
Eu quero tanto sentir o sabor do seu beijo mais uma vez, que não penso
duas vezes antes de fechar os olhos e colar meus lábios nos seus. Uma
sensação deliciosa me empodera, levando-me a me sentir maravilhosamente
bem com esse beijo suave e lento. Meus estímulos me levaram a tomar essa
decisão.
Meus lábios imploram para que ele me toque e meu corpo grita para que
ele me tome. Kauã Avillar ainda é o dono do meu coração, o dono do meu
amor.
Seus dedos deslizam sobre minha face e pescoço. Ele me faz tremer em
seus braços e vibrações quentes queimam cada parte minha. O calor dos
nossos lábios irradia por todo o meu corpo. É tão poderoso o desejo que tenho
por ele, que não sou capaz de parar esse beijo por nada. Não há somente
desejo sexual de ambas as partes, como também um sentimento recíproco que
grita forte, implorando para que fiquemos juntos. Esse sentimento se chama
amor.
Nossas bocas passam a devorar uma à outra com necessidade, de um
jeito apaixonado e cheio de amor.
— Eu amo você, Micaella. — ele disse entre o beijo.
— Kauã...
— Não diga nada, eu só preciso sentir o sabor desse beijo um pouco
mais.
Ele não para de me beijar, e eu também não desejo parar por nada.
Desejo que esse momento dure para sempre. Todavia, somos interrompidos
pelo choro do nosso filho.
— Não vá... — ele me pediu.
— Nosso bebê... Ele tá com fome.
— Eu também estou com fome... de você, princesa.
— Kauã Avillar... — eu o repreendi.
— Eu não quero ter que te soltar, nunca mais.
— Mas você precisa. Ou vai deixar nosso filho chorar?
— Claro que não. — Ele me solta e eu posso, enfim, acalmar Gael.
Aquele beijo ainda causará muita reviravolta em nossa relação.
CAPÍTULO 27

Estar de volta em casa é sempre bom, e poder me reunir com a minha


família novamente me transmite paz, sossego. Tudo que eu preciso é me deitar
na minha cama e repensar sobre minhas atitudes durante a viagem. Eu beijei o
meu ex. Depois do tanto que tentei resistir, no final acabei me entregando em
uma bandeja para aquele homem que faz meu coração errar as batidas somente
por eu estar ao seu lado. Aquele beijo me fez reviver tudo que lutei para
sucumbir durante todo esse tempo. É inevitável fugir desse sentimento.
— Não aconteceu nada de interessante durante a viagem? — Clarice me
perguntou com segundas intenções, como se esperasse ouvir algo quente.
— Foi tudo muito tranquilo.
— E como é o Guarujá?
— É tudo muito lindo, mamãe, um verdadeiro paraíso.
— Vocês estão animadas para irem à inauguração do hotel do Kauã na
sexta à noite? Recebemos um convite para a primeira fila.
— Eu acho que devemos, sim, prestigiar o pai do Gael. — A opinião da
minha mãe em relação ao Kauã mudou bastante nos últimos meses. Ela o trata
bem, e eu diria que bem demais.
— Você vai, Micaella?
— Sim. A dona Cristina me mataria se eu não fosse. Ela já me ligou duas
vezes para confirmar a minha presença.
O evento acontecerá em um local próximo à nossa residência. Kauã está
expandindo cada vez mais seu patrimônio. Apesar de eu não gostar de
frequentar ambientes que a alta sociedade frequenta, não é uma opção para
mim não ir, principalmente depois do beijo que demos naquela viagem. Nós
precisamos conversar sobre isso, eu necessito esclarecer algumas coisas com
ele para colocar, de uma vez por todas, os pontos nos “is”.
Respiro fundo. Nem eu mesmo sei o que farei quando estiver cara a cara
com ele novamente. Aquele beijo despertou em mim toda a paixão que estava
sucumbida, guardada a sete chaves dentro do meu coração. Eu quis sentir o
beijo, a maciez dos seus lábios sobre os meus. Ele fez eu me sentir especial e,
principalmente, amada. A cada declaração de amor de sua parte, mais meu
coração amolece. Estou vendo a hora de ele virar uma gelatina. Os olhos azuis
dele sabem como me seduzir.
Nas próximas setenta e duas horas não paro de pensar em como será o
nosso próximo encontro.
As mensagens no celular, ignorei, e as ligações perdidas também. Nesses
dias, ele precisou se ausentar para focar no evento, mas sua mensagem dizia:
“Não vejo a hora de podermos estar juntos novamente. Na próxima vez,
eu quero um beijo mais lento e duradouro.”
Poderia eu resistir à tentação dos seus lábios carnudos implorando pelos
meus? Creio que não, já é uma batalha perdida.
O vestido sobre a cama, dourado e com detalhes prata, é sofisticado. Foi
um presente de Cristina para que eu esteja belíssima hoje à noite. Kauã me
enviou uma joia, um colar de pérolas. Eu não poderia aceitar se não fosse por
Giulia.
— Você vai usar sim, e será a mulher mais bela do evento. Todos vão
ficar impressionados com a sua beleza.
— Se eu usar o colar, vai parecer que eu quero alguma coisa com ele.
— E você não quer? — Giu abre um sorriso provocador. Ela sabe que
sou apaixonada por Kauã.
— Óbvio que não. — tentei parecer firme na minha pronúncia.
— Vou fingir que acredito no que diz. Não adianta mais negar, minha
amiga. Você o ama, e isso está escrito em seu olhar.
Respiro fundo.
O vestido está sob medida em meu corpo. Depois de vesti-lo, sinto-me
menos nervosa para a inauguração. Estou muito estilosa, esse é um fato que
todos terão que engolir.
— E, então... Quer abrir o seu coraçãozinho comigo?
— Se eu abrir agora, iremos nos atrasar para o evento.
— Aproveite esta noite. No final do evento, acompanhe meu cunhado
para onde ele quiser te levar. Vocês dois precisam ficar um tempo juntos. Ele
te ama, e você o ama. Os pais do Gael merecem uma segunda chance, Kauã
merece uma segunda chance. Ele errou, mas se redimiu e está fazendo de tudo
para formar uma família ao seu lado.
— Nisso, você tem razão. Ele mudou bastante.
— Ouça o conselho de uma velha amiga: vocês dois precisam de tempo,
calma e de muito diálogo.
— Eu cansei de discursos de ódio.
Ela concorda comigo
— Graças a Deus. Vocês serão muito felizes, minha amiga.
Foi muita gentileza de Giulia e do seu marido passarem na minha casa
para me buscar. Minha mãe não irá à inauguração, apenas eu e minha prima
Clarice. Mamãe está muito estranha desde que cheguei de viagem, sempre
buscando jornais para ler, fazendo pesquisas na internet e, constantemente,
temendo alguma coisa. Essa é a impressão que ela me passa. Eu não a pediria
para ficar com Gael em casa a menos que não tivesse insistindo muito. O que
ela fez.
Observo o edifício luxuoso com vinte e cinco andares, a mais nova
aquisição do bilionário Kauã Avillar. Todos estão comentando quão majestoso
e sofisticado é o prédio, que fica localizado em um condomínio renomado que
já pertencia a ele. São tantas propriedades que ele adquire, que elas se tornam
incontáveis.
O tapete vermelho no qual pisamos para entrar no salão onde ocorrerá o
evento está rodeado pela imprensa paulista. Fotógrafos se matam para ter uma
foto de Viktor e Giulia. A minha melhor amiga se tornou uma celebridade, a
queridinha deles.
— Micaella, prima, será que estamos errando os passos? Todas estas
pessoas estão olhando para nós. — Assim como eu, Clarice está nervosa.
— Está tudo bem. Vamos continuar caminhando e sorrindo.
Fazemos isso até nos livrar dos fotógrafos. Creio que eles saibam quem
sou, porque quando Kauã reconheceu a paternidade de Gael, minha foto estava
em sites.
“Recepcionista é a mãe do bebê do bilionário Avillar.”
Havia essa entre tantas outras notícias desagradáveis a meu respeito.
— Uau! Até o piso é bonito. — Minha prima me faz rir. — Porém, o
homem mais bonito da festa está vindo em nossa direção.
— O quê?
Não há tempo de eu me virar e ir para outro lugar. Kauã está diante de
mim, trajando um smoking preto, elegante, e seus cabelos estão alinhados. A
postura de homem de negócios o deixa tão sensual, que me faz morder os
lábios. Ele está muito lindo. Ele sempre foi lindo, mas desta vez está mais
lindo.
Putz! Ele consegue embaralhar até os meus pensamentos.
— Boa noite, senhoritas. — muito educado, ele nos cumprimentou.
— O seu hotel é muito bonito, Kauã. — Clarice comentou. — Assim
como você é bonitão. Gente bonita só atrai coisas bonitas, não é mesmo,
prima?
— Han? — Clarice me deixa envergonhada com seu jeito espontâneo.
— Kauã bonitão, você bonita... Gente bonita se atrai. Meu Deus, aquilo é
um bolo. — Minha prima sai para o ver, deixando-me sozinha.
Respiro fundo e, mentalmente, conto até cinco. Está tudo bem. Respiro
para mim mesma.
Kauã está muito bonito. Nisso, Clarice tinha razão.
— Está tudo belíssimo. Meus parabéns.
— Obrigado. Confesso que parte da ideia foi minha, mas foi a minha
equipe que fez acontecer. — Bem modesto para reconhecer. — Não vejo a
hora do nosso filho crescer e eu poder ensinar tudo para ele.
— Não crie muitas expectativas, Gael pode querer seguir outra profissão.
— Como sempre, está coberta de razão.
É divertido vê-lo sempre concordar comigo.
Sou salva pela sua mãe, que acabou de chegar. Eu não sabia mais o que
conversar com ele. A única coisa que penso dia e noite é nos nossos beijos e
na sua promessa de me beijar novamente.
— Querido, está tudo muito sensacional.
— Obrigado, mãe.
— Micaella, você está deslumbrante, querida. — Ela me abraça e eu
retribuo com carinho.
— Obrigada. Você também está muito bonita.
— Gentileza a sua. Obrigada. Como vai o meu netinho?
— Está bem. Minha mãe está com ele.
— Vocês dois estão muito bonitos hoje, até estão combinando.
A gravata de Kauã é dourada, da mesma cor do meu vestido.
Cristina sorri e se retira, deixando-nos sozinhos novamente.
— Fico feliz que esteja usando o colar.
— Eu irei devolver, fique sabendo disso.
— Eu não irei aceitar, é seu.
Relutância não convém ao momento.
Um jornalista o chama para uma entrevista. Está tudo muito lindo.
Eu me junto ao meu cunhado, à minha irmã e à Cristina. Minha prima
também se senta na mesma mesa que nós. Kauã fará um discurso dentro de
alguns instantes e cortará, oficialmente, a faixa vermelha da inauguração. Há
cerca de duzentas pessoas presentes, inclusive o senador do estado, o
governador, empresários de sucesso, banqueiros e celebridades. Um evento
digno da mais alta sociedade paulista. Tudo está perfeito, saindo como o
esperado.
— Boa noite a todos, caros amigos e amigas. Obrigado pela presença
ilustre de cada um. Não tomarei muito do tempo de vocês, não quero parecer
aqueles senhores chatos de meia-idade que passam uma hora discursando.
Meu irmão faria isso, porém eu não. — Todos riem. — Perdão, Viktor. Não
era a minha intenção ofender você. — Kauã caçoou do irmão, que ri, levando
tudo na brincadeira, assim como todos nós. — Bom... Sempre é uma enorme
satisfação para mim expandir os meus negócios. Sou bom nisso. — De um
jeito divertido, ele nos faz rir. — Para ser sincero, eu adoro competir com o
meu irmão mais velho. Somos bons nisso.
Todos reconhecem quão bons os irmãos Avillar são.
Admiro cada expressão sua e como ele está mais maduro, até mesmo na
sua maneira de conduzir situações como essa.
— O meu ego de empresário de sucesso diz que eu sou o melhor, porém
eu trabalho duro todos os dias para prosperar cada vez mais. Muitos aqui
sabem que me tornei pai. Confesso que é mais fácil conduzir um negócio do
que trocar fraldas de um bebê. — Mais uma vez, todo mundo ri. — A mãe do
meu filho está aqui, e ela não me deixa mentir. Eu era péssimo em trocar
fraldas.
Kauã foi muito modesto por dizer isso. Ele sabe como trocar um bebê
agora, mas antes não fazia isso muito certo. Entretanto, o que valia era a
intenção de me ajudar.
— Porém, agora me considero mediano na arte de trocar fraldas. O que
eu quero dizer, meus caros amigos, é que antes eu não sabia exatamente qual
era meu real objetivo. Talvez eu me convenci de que me tornar cada vez mais
rico seria algo bom, então veio um ser pequeno e fofo, que é o meu filho, e me
ensinou que toda a minha riqueza não é nada comparada ao amor que sinto por
ele.
Todos estão prestando bastante atenção nas palavras de Kauã. Estou
ficando emocionada com o seu discurso.
— No entanto, antes do meu filho nascer e me mostrar que o amor
paterno é um sentimento grandioso, eu pude conhecer o que era o amor com a
mãe dele. — Seus olhos estão fixos nos meus. — Hoje sou capaz de mover
montanhas para assegurar que as duas pessoas mais importantes da minha vida
sempre estejam sob minha proteção. Atualmente, o meu maior propósito é
expandir; não somente pelo dinheiro, e sim para assegurar que tudo que
possuo serão para eles. O amor me move a ser este grande empresário de
sucesso, que cresce mais e mais a cada dia. Viva ao amor, viva à família.
Micaella, eu te amo.
Todos ficam de pé para aplaudir, inclusive eu. Ele acabou de declarar o
seu amor por mim em frente a todas essas pessoas importantes, para a internet,
que está chegando a ser milhões de pessoas, e para toda a mídia de rádio e
televisão. Ele fez isso diante do mundo inteiro.
Kauã abre um sorriso galanteador e eu balanço a cabeça, tímida com os
olhares que todos estão lançando sobre mim.
— Uma salva de palmas para a mulher da minha vida, pessoal.
As palmas se tornam mais intensas, minhas bochechas coram e flashes me
deixam atordoada. Como alguém consegue viver em meio a tanta agitação da
mídia? Ser famosa não é comigo, prefiro ter uma vida calma e simples.
— Que patético! — quando todos pararam de aplaudir, a voz enjoativa
de uma mulher que conheço bem se tornou o único som do ambiente.
Paola ousou aparecer perto de mim. Por ordem judicial, não pode se
aproximar. Ela está usando um vestido preto, e a sua maquiagem borrada a faz
parecer uma assombração. Os fotógrafos não perdem nenhum close dela. Seu
olhar furioso está sobre Kauã Avillar.
— Você está declarando seu amor por essa suburbana? — Ela segura uma
bolsa preta na mão.
— Alguém tira essa mulher daqui, por favor? — ele pediu educadamente.
— Prestem atenção, todo mundo, a mídia e senhoras e senhores
convidados. Essa mulher por quem Kauã Avillar acabou de declarar o seu
amor não passa de uma oportunista que soube muito bem aplicar o golpe do
baú, fingindo inocência e pureza. Essa pateta que vocês estão vendo não passa
de uma recepcionista, de uma pobretona que não tem onde cair morta. Foi fácil
para ela dar à luz o bebê do bilionário, se é que é realmente filho dele. — a
serpente destilou seu veneno. — Micaella Borges, como se não bastasse ter
roubado o meu homem, ainda por cima é a minha irmã de sangue... Ainda por
cima, tem direito à minha herança.
Irmã? Paola bateu forte com a cabeça em algum lugar ou está sob efeito
de álcool e outras substâncias mais fortes? Pois está delirando.
— Sim. Todos, ouçam bem. O meu pai teve um caso com uma mulher
suburbana, em João Pessoa, há alguns anos, e essa mulher teve uma filha, a
qual ele passou a vida inteira procurando. Ele queria reconhecê-la e lhe dar
tudo que ela tinha direito. Meu pai já estava doente quando descobriu quem
era a sua filha perdida, e quando ele me revelou, eu precisei matá-lo.
Todos estão em choque com sua revelação. Ela matou o próprio pai? Ou
seja, o nosso pai? Essa história está muito confusa.
— Eu não poderia ter o mesmo sangue que essa suburbana. Primeiro ela
rouba o meu homem e, depois, tem direito à minha herança? Isso é
inadmissível. Por esse motivo, eu decidi que ela só poderá ter uma das duas
coisas. — Paola está muito perturbada, não raciocina com clareza. Ela abre a
bolsa e puxa uma arma.
Quem pode fugir e sair correndo, sai. Os que ficam, estão paralisados,
com medo.
— Micaella, irmãzinha, é uma decisão difícil. O dinheiro ou o amor?
Deixe que eu escolho por você. — Aponta a arma na direção de Kauã. —
Você terá o dinheiro, o amor de Kauã nunca. Ele morrerá por mim nesta noite.
Diga “adeus”.
— Não, Paola! Não!
Ela não pensa duas vezes antes de atirar.
A imagem perturbadora de Kauã caindo no chão, dos seguranças
derrubando Paola e tomando a sua arma faz o desespero tomar conta de mim.
Corro, desesperada, até ele. Seus olhos estão fechados. Vejo sangue sobre sua
camisa e começo a chorar, apavorada. Sua mãe grita pelo filho e Viktor a
segura, tentando acalmá-la
— Kauã, por favor, desperta! — Dou um tapinha no seu rosto. — Deus,
por favor, não o leve! Por favor! Alguém chama um médico! — gritei, aos
prantos. — Desperte, meu amor! Você não pode nos deixar. Eu proíbo você de
morrer. Eu não quero que morra, porque não posso viver sem você. Eu te amo
com toda a minha alma, você é o amor da minha vida. Fica comigo! — Deito a
cabeça sobre o seu peito. Meu choro é alto, vem do fundo do meu coração. Eu
o amo... Amo muito. Não posso perdê-lo. — Vai ficar tudo bem. Você ainda
me deve um pedido de casamento e uma aliança bonita. Ainda teremos mais
dois filhos, um cachorro, dois gatos, e o Gael aprenderá com você a como
dirigir uma empresa. Meu amor, por favor, não me deixe.
A dor em meu peito só aumenta. O que aquela louca fez? Atirou no amor
da minha vida. Por que eu demorei tanto para reconhecer o que realmente
sinto? Preciso dele para respirar; ele é o ar que enche os meus pulmões, a luz
que ilumina a minha vida.
— Eu perdoo você, porque eu te amo.
Dedos grandes fazem cafuné na minha cabeça. Rapidamente, ergo meu
olhar e o vejo abrir os olhos. Ele está suando frio, mas, ainda assim, abre um
sorriso.
— Você disse que me ama? Por favor, repita antes que eu morra.
— Por favor, não morra, meu amor. Eu te amo e preciso de você. Sem
você, a minha vida não faz sentido.
— Repita mais uma vez que me ama. — suplicou.
— Eu te amo, eu te amo. Não me deixa. — Seguro firmemente a sua mão
e a beijo com carinho. — O socorro já está a caminho.
— Eu te amo, minha princesa. Não chore, a bala pegou no meu ombro.
Acredito que não feriu nenhum local fatal.
Não consigo olhar para a área acertada, sou sensível demais. Meu nariz
queima e meus olhos ardem.
— Vai ficar tudo bem.
— Eu não vou soltar a sua mão por nada neste mundo. Eu estarei ao seu
lado.
A equipe médica chega ao local e os primeiros socorros são realizados
com rapidez e eficácia. Acompanho Kauã até o hospital. Não posso entrar com
ele, e isso me apavora. Será que é grave? Viktor está comigo e Giulia ficou em
casa com Cristina, que precisou de remédios para relaxar. Ela está muito
nervosa e preocupada.
A polícia prendeu Paola. Farei todo o possível para que ela pague por
suas crueldades. Suas palavras não saem da minha mente. Somos realmente
irmãs? Há tantos assuntos para esclarecer.
Mas, no momento, a única coisa que me importa é o bem-estar de Kauã.
Pela demora dos médicos, só consigo pensar no pior. E se a bala pegou em um
órgão? E se não foi no ombro, como ele disse que foi? Oh, céus! Aguardo por
notícias.
— Micaella, estou confiante. Nada grave irá acontecer com meu irmão.
— Eu não posso perdê-lo, Viktor. Eu amo o seu irmão e não posso viver
sem ele.
Meu cunhado me abraça com força e eu choro em seus ombros. A
angústia por notícias me mata aos poucos, a cada minuto que passa. Eu não
posso perdê-lo.
CAPÍTULO 28

Alguns meses antes

Eu tentei alcançá-la, mas todos os meus esforços para a parar foram em


vão. A mulher grávida que fugiu de mim era Micaella, a minha Micaella.
Respirei fundo ao cair sentado no chão do hospital e logo fui repreendido por
um segurança, que me avisou que eu não podia me sentar ali.
Jamais poderia imaginar que a veria novamente. Não após todas as
minhas esperanças terem sido aniquiladas depois que voltei à João Pessoa
para a buscar. Eu estava perdidamente apaixonado pela minha doce menina,
precisava tê-la ao meu lado, no entanto as coisas não saem realmente da
maneira como planejamos. Eu não pretendia ir embora naquela noite, sem me
despedir. O choque de reencontrá-la e, ainda por cima, grávida, fez eu pensar
em tantas coisas. O filho tem que ser meu, ela tem que ser minha novamente.
Eu nunca quis ter uma família ou ser pai, mas por ela quero tudo.
A ligação de Viktor me levou a retornar para São Paulo naquela noite. A
nossa mãe precisava de nós. Minha intenção sempre foi voltar para buscar
Micaella, principalmente depois das juras sinceras de amor que fizemos sob
as estrelas. Eu já amava e não poderia mais viver sem o seu amor.
Pergunto-me como é possível que uma mulher possa ter bagunçado tanto
com os meus sentimentos. Acreditei que era uma fruta podre para o amor, que
meu coração jamais amaria novamente. Diante de todo o amor que sinto por
Micaella, hoje percebo que o que eu sentia no passado por Sofia, permaneceu
lá e foi arrancado de mim quando meus olhos foram de encontro aos de Mica.
Ela é a uma menina doce e inocente. Todas as vezes que ela me via, suas
bochechas coravam. Sua doce entrega era fascinante, fascinava-me, e a doçura
de sua voz era como o canto de uma sereia, hipnotizava-me.
Eu tentei lutar contra esse amor e pensei que seria capaz de viver sem
essa mulher, porém fui traído pelo meu coração rebelde, que insistiu em amá-
la. E essa foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Eu não mereço o
seu amor, sou um cafajeste que já despedaçou muitos corações apaixonados.
Agora vivo amargando o terrível gosto de uma desilusão amorosa.
Micaella foi embora de João Pessoa. Eu procurei, entre os moradores de
sua rua, por informações, mas ninguém foi capaz de me dizer nada. Eu não
sabia se ela havia ido morar em outro endereço, outra cidade ou, talvez, até
mesmo em outro estado. Passei meses procurando por um sinal seu. O seu
celular estava comigo, e todos os números para quem eu poderia ligar,
disseram-me a mesma coisa. A sua mãe estava fora de cogitação, pois deu a
ordem para a vizinha fofoqueira não falar nada sobre seu novo endereço. Justo
quando uma fofoqueira poderia ser útil, ela foi silenciada em nome da
amizade, um sentimento bonito e muito recíproco.
O melhor conselheiro do mundo é o meu irmão. Nós nos aproximamos
durante esses meses. Foi um processo lento e necessário, principalmente
depois que nossa mãe precisou operar do coração. Ela não merecia ter dois
filhos brigando por um assunto que está preso no passado. Viktor até já tinha
um novo amor, a babá da sua filha, uma moça linda e encantadora; e eu
também havia fisgado o coração de gelo do meu amor. É muita coincidência
que estejamos nós dois apaixonados ao mesmo tempo.
— Irmão, quando irá pedir a babá em casamento? Digo... Desta vez, de
verdade.
Sim, eu sei do contrato que os une, apesar de ele a amar. Não sei por que
Viktor age como se isso fosse porque nossa mãe o impôs.
— Não encha, Kauã. Hoje eu tive um dia cheio, só estou aqui pela nossa
mãe, e não para você encher meu saco.
Ele passou a vir mais à casa da nossa mãe para a visitar depois da
cirurgia. Ela é uma viúva respeitada e caridosa; seu único desejo é ver seus
dois filhos felizes e casados, principalmente Viktor, pois meu irmão nunca
mais foi o mesmo depois que perdeu a sua esposa, e ela sabia disso
perfeitamente.
— Alguma notícia sobre a tal mulher?
— Nenhuma depois que a vi naquele hospital, provavelmente grávida,
pelo tamanho da sua barriga. Oh, céus! O filho, com certeza, é meu. As contas
batem.
— Ela pode ter se envolvido com outro depois de você.
— Ela jamais faria isso. Minha linda não é o tipo de mulher que sairia
com qualquer homem.
— Você foi embora e não lhe deu notícias. Ela pode ter curado sua dor
com outro, isso é um fato bem óbvio.
— Claro que não. Minha linda jamais faria isso. Jamais.
Viktor conseguiu me enfurecer e colocar ideias na minha cabeça. Trato de
descartar todas. Se Micaella está realmente grávida, o filho é meu.
— Você tem certeza de que era a sua garota?
— Absoluta. Minha garota é única, não há outra igual.
— Ótimo. Porque eu não vou tolerar nenhuma gracinha sua para cima da
minha Giulia. — ameaçou-me.
— Tranquilo, irmão. Ela já é sua, ficarei bem longe dela. Você sabe que
tudo o que fiz foi para te provocar, e nada mais. Eu amo outra mulher, a mesma
história não irá se repetir.
— Acho bom mesmo.
Desde que a vi naquele hospital, sonho todas as noites com aquele nosso
encontro, revivo aquele momento na minha cabeça dia e noite, sem parar. Eu a
encontrarei e farei de tudo para a ter para mim mais uma vez, nem que seja a
última coisa que eu faça nesta vida.
Procuro viver um dia de cada vez. Meu detetive particular parece estar
procurando uma agulha no deserto, já que as pistas sobre Micaella são
praticamente nada. Ele nem ao menos sabe me dizer o que ela fazia naquele
hospital. Coincidência ou não, foi no mesmo tempo em que a esposa de Viktor
foi atropelada pela maluca da sua ex-sogra. Existem pessoas psicopatas em
nossas vidas, como Paola. Precisei mudar de número cinco vezes depois que
dei um ponto final à nossa amizade. Na verdade, eu não a chamaria de amiga.
Tivemos um lance sexual, e nada mais. Eu a tolerava, pois era muito vazio
naquela época. Hoje vejo que ela não me faz bem e, ainda, descobri que a
maldita encheu a cabeça de Micaella com mentiras. Ela mesma me confessou
em nossa última conversa.
“Você pagará caro por toda a dor que me causou.”
Essas foram suas palavras, uma ameaça de uma mulher ferida. Eu sempre
deixei muito claro que com ela sempre foi sexo e que com Micaella sempre
foi amor, só que ela nunca aceitou esse fato.
As viagens de negócios são as únicas coisas que ainda mantêm a minha
mente ocupada, o trabalho, e nisso Paola continua fazendo questão de se meter.
Temos alguns contratos de parceria entre nossas empresas. Como ela assumiu
o cargo como presidente depois da doença do seu pai, faz questão de
atormentar a minha vida.
— Senhor Avillar, a senhorita Paola...
Antes que minha secretária termine de me dar o aviso, a mulher adentra a
minha sala.
— Kauã, querido. Como vai? — perguntou, debochada. — Deixe-me
adivinhar: está sofrendo por aquela vadia?
— Se veio para me encher o saco, dê meia-volta e suma daqui. — exigi,
sem paciência.
— Vim tratar de negócios. Aqui está o terreno que minha empresa acabou
de adquirir, o mesmo que você queria comprar. Que pena, querido. Terá que
construir seu hotel em outro lugar.
— Qual é o seu problema, mulher? Viverá somente para tornar minha
vida um inferno?
— Sim, viverei somente para isso. Sinto uma enorme satisfação em
destruir os seus sonhos. Porém, nada me faz mais feliz do que o ver sofrer por
aquela maldita mulher. Como é satisfatório saber que você nunca mais a verá.
Antes sofria por uma mulher que estava morta, agora sofre por uma que vive,
mas que é como se estivesse morta, pois nunca mais irá vê-la. — Ri,
debochada. Há muito ódio em seu coração. — Já estou indo embora. Passei
aqui somente para desejar um bom dia para você.
— Vá se ferrar!
— Que tóxico. Você não era assim comigo. Mas não importa. Vê-lo neste
estado deplorável me faz feliz.
— Se engana se pensa que não irei encontrá-la. Micaella é o amor da
minha vida e será ela a mulher que me levará para o altar.
Seu sorriso morre. Em seu rosto, vejo apenas ódio.
— Antes de vocês dois ficarem juntos, eu mato você.
— Veremos quem vai morrer no final.
— Veremos.
— A única coisa que poderá me matar é minha felicidade estonteante no
dia em que ela me disser “sim” perante Deus. Você sente inveja de Micaella
porque nunca poderá ser ela. Mesmo sendo milionária, é vazia por dentro, é
amarga.
— Inveja de uma suburbana? Favelada?
— Sim, você a inveja porque ela é mais bonita, mais mulher que você.
— Aquela menina sem peitos nunca chegará aos meus pés. Aposto que
ela enganou você com o lance da virgindade, por isso ficou obcecado por ela.
— A virgindade de Micaella não é o motivo por eu ter me apaixonado.
Eu a amaria de qualquer forma, e isso você jamais poderá entender, pois não
sabe o que é amar alguém incondicionalmente, perder noites de sono pensando
naquela pessoa e ter o seu coração acelerado a cada olhar ou sorriso que ela
te dá. Você é incapaz de amar alguém. Incapaz.
— Você nunca será feliz, isso é uma promessa.
— Não prometa algo que jamais poderá cumprir.
— Minhas promessas, eu sempre cumpro.
— Eu desejo que se afunde no poço da sua maldade.
Ela, enfim, vai embora.
Como eu pude me envolver com uma mulher tão amarga, e por tanto
tempo? Aquela infeliz conseguiu arruinar mais um dos meus negócios. Ela
parece ter um informante dentro da minha empresa, alguém que vazou aquele
projeto. E talvez eu saiba quem foi. O arquiteto teve um caso com ela. Nunca
mais trabalharei com aquele homem.
Por mais duras que suas palavras tenham sido, ela não passa de uma
menina mimada que vive a surtar quando não consegue ter algo que deseja. O
dinheiro pode comprar quase tudo, no entanto não pode comprar amor e
caráter. E nenhuma dessas coisas, Paola tem.
Eu encontrarei Micaella. E se realmente ela estiver grávida, será um
incentivo ainda maior para eu suplicar, implorar, pelo seu amor. Eu me
rastejarei aos seus pés para a recuperar e seria capaz de me humilhar para ter
o seu perdão. Ela é a razão da minha vida, a luz que ilumina meu caminho. Eu
a amo e jamais desistiria de nós dois.
Sei que precisarei me esforçar bastante para ter o seu perdão. Fui embora
sem lhe dar satisfação, e isso é imperdoável. A última coisa que queria era
magoar o seu coração. Tenho esperança de encontrá-la. Ela será minha esposa
e juntos seremos uma família perfeita. Eu farei qualquer coisa para ter o seu
amor e o seu coração, pois os meus já pertencem a ela.
Sei que pagarei um preço caro por ter ido embora, mas estou disposto a
qualquer coisa para recuperar a mulher da minha vida e o meu filho ou filha.
Por eles, serei um homem melhor.
CAPÍTULO 29

Atualmente

Em um momento temos tudo: esperança, realizações, conquistas e amor.


Mas, no minuto seguinte, as nossas vidas podem estar em perigo e pode ser o
fim de tudo que almejamos. Eu tive bastante sorte por aquele tiro não ter
acertado nenhum órgão fatal ou ter causado alguma lesão mais séria. Meu
estado não era crítico, só que um tiro sempre requer bastante atenção. Lembro-
me do meu ombro estar queimando instantes atrás. A dor era insuportável tanto
quanto aturar aquela mulher desprezível. Paola quis arruinar minha felicidade,
acabar com tudo que tenho lutado para conquistar ao longo dos últimos meses.
Micaella é tudo o que mais me importa nesta vida. Eu suava frio quando
a bala estava alojada no meu ombro, porém toda a dor parecia ter
desaparecido quando seus doces lábios me confessaram o seu amor. Diante do
seu desespero e medo de me perder, surgiu a esperança em meu coração,
dessa vez mais forte e poderosa. A minha menina ainda me ama. Mais nada me
importava, eu tinha o seu amor e até poderia morrer feliz. Contudo, não era a
minha intenção deixar o caminho livre para outro ter o que é meu. Sou
possessivo sim, porém jamais sufocaria seus desejos e sonhos. Ninguém pode
ter o que é meu, mas ela pode ter tudo o que desejar. Sou o seu maior fã e
incentivador. Se depois de tudo, ela me disser que não deseja ficar comigo,
serei obrigado a aceitar sua decisão e seguir em frente.
Foi emocionante reencontrar a mulher da minha vida e a ver mais uma
vez, mesmo que ela estivesse possessa de ódio. E ela estava. Mica me mataria
se não fosse uma pessoa bondosa e amorosa. Após confirmar as minhas
suspeitas sobre sua gravidez, o nosso filho foi a melhor coisa que já me
aconteceu nesta vida. Eu nunca quis ser pai, até conhecer Gael. Eu não sabia
que um ser tão pequeno e frágil poderia se tornar alguém tão importante para
mim, a ponto de me fazer realizado. Os meus negócios e conquistas não são
nada comparados ao amor que sinto pelo meu filho e pela mãe dele. Desejo,
agora mais do que qualquer outra coisa, ter a minha família comigo.
A bala foi removida com sucesso. A equipe médica era competente e as
enfermeiras muito atenciosas e dedicadas. Meu único pensamento estava em
Micaella. Deram-me anestésico para relaxar durante a remoção da bala e,
logo em seguida, trouxeram-me para o quarto. O horário não permitia visitas.
Apesar de eu insistir para ver a minha mulher, isso me foi negado.
O sono me dominou devido à medicação. Adormeci contra a minha
vontade. O doutor disse que eu precisava dormir para não sentir dor. Dormi
pensando nela e despertei, também, pensando nela.
A enfermeira está trocando o meu soro, e o meu café da manhã está sobre
um carrinho, próximo à cama.
— Bom dia, senhor Avillar. Como se sente?
— Me sinto bem. — Assinto.
— Lhe darei o seu café da manhã e o que o senhor mais desejar. — Há
uma certa malícia em seu olhar.
A enfermeira está jogando charme para mim. Ela é bonita e seus olhos
claros expressam um desejo além da sua obrigação de cuidar de mim.
A porta do quarto é aberta, revelando Micaella, que corre na minha
direção. Estou sentado sobre a cama. Ela está emocionada, com os olhos
inchados. Passou a noite chorando, preocupada comigo? Meu coração se
enche de alegria por vê-la.
— Você está bem?
Eu a envolvo no meu abraço, mesmo sentindo dor no ombro.
— Agora tudo acabou de melhorar para mim.
— O doutor nos disse que você está bem, que precisa de repouso. —
Minha menina assoa o nariz com um lenço macio. — Eu tive tanto medo de
perder você. Nunca mais me faça sentir esse medo.
— Eu prometo que não. — Beijo a sua mão gelada. — Está tudo bem.
Não pense que vou morrer e deixar você sozinha.
Quando ela abre um sorriso aliviado em sua face, tranquiliza-me mais.
Não gosto de vê-la tensa, muito menos nervosa.
— Os médicos não liberaram visitas à noite. Eu teria entrado à força
neste quarto se seu irmão não tivesse me impedido.
— São as regras do hospital, senhorita. — A voz da enfermeira me
lembra de que ela ainda está aqui. — Se me permite, preciso alimentar o
senhor Avillar.
As duas se encaram e Mica a fuzila com o olhar. Ela, certamente,
percebeu o interesse além da profissão da enfermeira.
— Pode ir, senhorita. Eu assumo a partir de agora.
— Mas...
— Você a ouviu. Obrigada, pode se retirar.
A mulher não gostou do que ouviu, porém está aqui para trabalhar, não
para impor as suas vontades.
— Se precisar de alguma coisa, toque o botão, e eu virei correndo para o
atender. E caso precise de uma enfermeira particular, deixei o meu cartão
sobre a mesa. — Ela abre um sorriso cheio de segundas intenções.
Estou acostumado, a todo o tempo, com as mulheres implorando por uma
noite comigo. Entretanto, por mais bonitas que elas possam ser, nada se
compara à beleza da minha princesa.
— Ele não precisa de enfermeira particular, pois tem a mim para cuidar
dele, e o nosso filho também. — Micaella entrega o cartão à mulher, que o
recebe com cara de poucos amigos. — Pode ir atender outros pacientes. Esse
aqui já tem quem cuide dele. — Pela primeira vez a ouvi ser áspera com uma
pessoa.
Confesso que tudo está sendo muito divertido. Saber que ela sente ciúme
de mim faz o meu ego crescer ainda mais, e eleva a minha animação saber que
ela realmente me ama. A minha menina de olhos azuis não poderia ser mais
implacável do que acabou de ser.
— Licença. — A enfermeira se retira.
Mica cruza os braços e me encara enfurecida. O que aconteceu com a
mulher que acabou de entrar feliz, por ver que eu estava bem? Agora está
outra Micaella diante de mim
— Então, aquela mulher oferecida quer cuidar de você? Por acaso, você
pediu para ela deixar o cartãozinho dela? — Ela faz uma careta engraçada. Eu
nunca a vi com ciúme antes. Acabo não resistindo e rio. — Se você rir, Kauã
Avillar, mais uma vez, serei eu quem vou atirar no seu outro ombro.
— Perdão, meu amor. Desculpa. Eu juro pela vida do nosso filho que não
pedi nada. Não faz sentido eu querer uma enfermeira para cuidar de mim,
quando tenho você para estar ao meu lado todos os dias. Não me esqueci do
que disse enquanto eu estava caído no chão após levar o tiro.
Suas bochechas coram e ela se mostra surpresa.
— Você ouviu?
— Cada palavra sua. Eu a amo com a mesma intensidade, você é a
mulher da minha vida. E se aceitar ser minha para todo o sempre, me fará o
homem mais feliz de todo o mundo.
Ela para por alguns instantes para pensar, e isso me faz sentir uma
pontada forte no coração. Será que ela não quer ficar comigo? Agora, toda a
dor que desapareceu quando a vi passar por aquela porta, surge ainda mais
intensa, entretanto não é mais forte que a dor que ela poderia me causar com a
sua rejeição.
— Micaella, eu juro por tudo que é mais sagrado que não existe mais
outras mulheres para mim. Desde que você surgiu em minha vida, é a única.
Me fez impotente para as demais. O que é maravilhoso, pois eu só preciso de
você, minha vida.
Ela vira as costas e dá dois passos à frente.
Tomado pelo desespero, arranco o soro do meu braço e me ajoelho
diante dela, causando-lhe surpresa.
— Você é louco? O soro!
— Sou louco por você, linda. Minha bonequinha linda, me escute. Eu
imploro que me perdoe e que seja a minha mulher. Você me disse que eu lhe
devia um pedido de casamento. Pois aqui está. Micaella Borges, aceita ser a
minha esposa por toda a eternidade?
Ela arregala os olhos quando me vê mostrá-la o anel de rubi. Eu o havia
guardado no bolso da minha calça, já que após o evento pretendia pedi-la em
casamento. Porém, tive meus planos atrapalhados por Paola.
— Kauã...
— Acabe logo com este meu sofrimento e seja a minha esposa perante
Deus e todos.
— Você está me pedindo em casamento? — Ela está aos prantos.
— Para toda a vida. Você aceita ser minha esposa?
O seu choro se intensifica. Será que eu falei algo que não deveria? Meu
temor acaba quando ela abre um sorriso estonteante.
— Sim, eu aceito.
Coloco a aliança em seu dedo.
Esse pedido de casamento no hospital foi inusitado, no entanto não
perderia mais nenhum dia sem a mulher da minha vida ao meu lado.
— Agora eu vou levantar. O meu ombro ainda dói e eu tirei o soro da
minha veia. Creio que quebrei a agulha em mim.
Ela faz uma careta engraçada.
Eu estou tão feliz, que nada poderia estragar minha alegria. Nada mesmo.
— Agora me beije, sua gostosa. — Mesmo em um estado crítico, consigo
sentir desejo pela minha mulher.
Tomo seus lábios em um beijo arrepiante e envolvente. Se não fosse por
alguém poder entrar a qualquer momento, faríamos amor sobre uma cama de
hospital. Nossos corpos se desejam e o desejo irradia por cada parte de
nossas almas, vindo como uma avalanche que aniquila tudo à nossa volta.
Quando estamos juntos, nada mais importa, só existe eu e ela.
— Eu te amo, te amo, te amo!
— Eu também o amo.
— Prometo fazê-la feliz por toda a vida e também lhe dar os dois ou três
filhos que desejar ter.
Ela ri. Por esse sorriso, eu sou capaz de dar a minha vida. Micaella me
completa em todos os sentidos, faz eu me sentir um homem feliz.
Em seguida, entram para me visitar a minha mãe, meu irmão e a minha
cunhada, todos muito contentes por me verem.
— Que anel lindo, Mica. — Giulia elogiou.
— É sim, é muito lindo. — Ela me olha e sorri. Ainda não anunciamos o
noivado.
— Eu conheço esse anel, é uma herança de família. O seu avô deu para a
sua avó, e o seu pai para mim. É o que estou pensando? — A minha mãe se
mostra muito feliz, no entanto está com dúvidas.
— É sim, minha mãe. Eu pedi Micaella em casamento e ela aceitou.
— Filha, agora posso te chamar de minha nora. Só Deus sabe o quanto
precisei me controlar para não a chamar assim desde quando descobri que
Gael é meu neto.
Todos nos desejam felicidades e abraçam a minha noiva. Ainda não
acredito que estou noivo da mulher que amo, que ela me deu essa segunda
chance para a fazer feliz. De agora em diante, tudo será diferente. Ela sempre
será a maior prioridade da minha vida, assim como fazê-la feliz todos os dias.
— Meus parabéns, irmão. Desejo toda a felicidade do mundo para vocês.
— Obrigado, irmão.
— Creio que como madrinha desse casamento, posso me meter um
pouquinho. — Giulia faz todos nós rirmos.
— Claro que será a madrinha. — Micaella abraça a sua irmã.
Nunca perdi minhas esperanças de encontrá-la, e agora que tenho essa
chance nas minhas mãos, lutarei todos os dias para ver sorrisos transbordarem
de sua face angelical. Eu sempre soube que ela era o amor da minha vida,
desde o primeiro momento em que a vi, e que ela bagunçaria toda a minha
vida, todos os meus planos. E assim foi.
E, no final, um bebê inesperado para o bilionário o tornou uma pessoa
melhor.
Diante de tanta felicidade só podemos, agora, aguardar o dia do
casamento, que será o mais rápido possível. Não vejo a hora de ver a minha
futura esposa vestida de noiva.
CAPÍTULO 30

Seus lábios macios estão colados aos meus em um beijo puro e sincero.
Desde o momento em que saímos do hospital e eu aceitei seu pedido de
casamento, nossas bocas não querem se largar por nada. E todas as vezes que
preciso me afastar, posso ver medo em seu olhar, medo de me perder. Por
mais que eu diga que isso não vai mais acontecer, tudo dependerá somente
dele.
— Como está o meu paciente favorito?
— Bem. Mas posso saber quem são os demais pacientes que você tanto
adora?
Balanço a cabeça em negativa ao mesmo tempo em que rio.
— A minha mãe e o nosso bebê. Eu sempre cuido deles quando ficam
doentes.
Sento-me na cama onde ele está repousando. Kauã precisa de repouso
para amenizar as dores na região onde o tiro o acertou, todavia ele é inquieto
e não consegue se afastar dos assuntos da empresa e de qualquer outra coisa
relacionada que não envolva descanso.
— O que acha de passar a noite aqui comigo hoje?
— A sua mãe cuidará de você nesta noite. Se precisar de alguma coisa,
chame por ela.
— A melhor enfermeira do mundo está diante de mim. — Ele finge
tristeza. — Não vá. — suplicou.
— Nosso casamento será daqui a um mês e meio se conseguirmos
organizar tudo até lá. — brinquei. — As nossas mães estão empenhadas em
fazer uma cerimônia o quanto antes.
Quando digo que elas estão empenhadas, realmente estão muito
entusiasmadas. Todas as escolhas passam por mim, mas são a senhora Cristina
e a dona Gisela que estão fazendo tudo acontecer. Até parece que elas têm
medo de que eu desista. Nada me faria desistir de casar com o homem que
amo.
— Eu preciso de você nesta noite. Prometo me comportar bem.
— De maneira alguma eu irei dormir na mesma cama que você sem
estarmos casados.
— Por mais desejo que eu possa sentir... E você sabe que eu sou louco
por ti, linda... Jamais faria ou tentaria algo que você não desejasse.
— Exatamente por esse motivo, só voltaremos a ter qualquer tipo de
relação amorosa e sexual depois do “sim” no altar. — Pisco para ele.
Ele pega um travesseiro e o abraça contra o seu corpo. Como desejo
poder ser esse travesseiro.
Mordo os lábios. Não é fácil para mim também estar junto dele e não
poder sentir todo o seu amor e seu corpo sobre o meu me amando
intensamente. Engulo em seco e respiro fundo, buscando compostura. Se ele
esperou tanto tempo para poder estar comigo, pode esperar mais um mês e
meio. Resta saber se eu poderei esperar.
Traída pelos meus próprios desejos. Inacreditável.
Até entendo. Um deus grego diante de mim e eu fugindo dele. Contudo, é
mais uma prova de amor que ele poderá me dar.
— Como você quiser, meu amor. Se esse é o seu desejo, eu posso esperar
para a ter em meus braços mais uma vez. Você é a razão da minha libido.
Posso me aguentar um pouco mais, principalmente por existir um sentimento
maior entre nós: o amor.
— Amanhã trarei nosso bebê para o ver. — Dou-lhe um selinho.
Suas mãos tocam em minha face com carinho e seus lábios beijam minha
testa com ternura.
— Não vejo a hora de torná-la minha esposa.
— Também estou ansiosa pelo casamento.
— Passaremos o resto das nossas vidas juntos.
— Você tem certeza de que está disposto a me aturar por toda a sua vida?
Eu sou bastante ciumenta, possessiva, e costumo ficar furiosa quando me
irritam.
— Eu amo cada defeito seu. — ele disse, sério, porém não contém o riso.
Eu lhe acertaria um tapa se não fosse pelo seu ombro dolorido.
— Pois saiba que eu amo você, seus defeitos não.
— Você aprenderá a amar tudo em mim. Agora, me beije mais uma vez,
minha gostosa. Você não imagina o quanto estou louco por você.

(...)
Conforme os dias se passaram, mais a minha ansiedade aumentava e,
consequentemente, deixava-me mais louca. Um casamento me espera. Sempre
foi um sonho para mim casar com o homem que eu amasse, e eu não tenho
dúvida de que esse homem é Kauã. Ele já não é mais aquele cara fútil, sem
dignidade; ele é alguém em quem eu posso confiar, alguém com quem eu quero
viver todos os meus dias ao lado. Pude entendê-lo e o compreender durante as
últimas semanas que antecederam o nosso matrimônio. Ele é um amigo para
todas as horas; um homem ocupado, sim, mas que sempre dedica algumas
horas do seu dia para mim e nosso filho; e um excelente pai. Disso, eu não
tenho dúvida.
— Filha, você é a noiva mais bonita que já existiu. — A minha mãe
chora... sei lá, pela milésima vez. Sua maquiagem já foi retocada quatro vezes.
Assim como eu, ela está bastante emocionada.
— Mamãe, assim me fará chorar.
— Querida, me perdoe. Você sabe que te amo mais que tudo nesta vida. É
uma emoção sem fim para mim vê-la realizar seu sonho de construir uma
família.
— Eu sempre vou estar ao seu lado.
— E eu ao seu lado... sempre.
Ela sempre esteve e sempre estará ao meu lado. A minha mãe é a pessoa
que nunca irá virar as costas para mim, que jamais deixou de cuidar de mim
nos bons e nos maus momentos. Ela, toda vez, escolheu me fazer feliz, levando
em consideração a minha felicidade em primeiro lugar.
Nada poderia me abalar neste dia, nem mesmo todos os problemas
burocráticos que envolveram o resultado de DNA feito entre mim, Paola e um
tio do meu falecido pai. Eu sou filha legítima de Abmael Lacerda, uma
herdeira reconhecida. No testamento deixado pelo meu pai, sou sua herdeira.
Aquele dinheiro e propriedade não me faz falta, não preciso e não quero. A
única coisa que teria valido a pena seria o carinho e o amor paterno que nunca
tive. Em uma conversa com meu tio, ele me confessou que meu pai passou
anos procurando por mim e pela minha mãe. Sem sucesso. Segundo ele, meu
pai a amava, e o único motivo de eles não terem ficado juntos foi a minha avó,
que fez de tudo para garantir que meu pai nunca descobrisse o meu verdadeiro
paradeiro e da minha mãe. O amor dos meus pais foi destruído por uma
senhora esnobe e preconceituosa.
A única coisa em meio a tudo isso que me deixa em paz é saber que
Paola passará muitos anos atrás das grades. Segundo o meu tio, nossa avó
envenenou a mente dela e a fez garantir que meu pai nunca encontraria a mim e
a minha mãe. Ele morreu sem me conhecer, quando, na verdade, gostaria de ter
convivido comigo. Se não fosse pela maldade de Paola, hoje ele poderia estar
me levando até o altar.
Porém, a pessoa que mais amo neste mundo estará ao meu lado. Minha
mãe entrará comigo na igreja. Viktor seria o acompanhante ideal, no entanto as
tradições foram quebradas e a mamãe estará ao meu lado, como sempre
esteve.
O som da marcha nupcial já me faz lacrimejar. A maquiagem é bastante
resistente, segundo a maquiadora, então posso chorar rios. Ela estará
acompanhando toda a cerimônia e festa, caso precise fazer algum retoque.
Necessito de muita força para não desmaiar de emoção. Beatriz já entrou
com as flores. Ela está linda vestida de daminha.
Preparo-me para entrar na igreja.
— Você será muito feliz, minha vida.
— Nós seremos, mamãe. Obrigada por tudo.
Em passos lentos e sofisticados, como foi ensaiado, sigo todo o
protocolo. Meus olhos estão fixos nos seus. Kauã está lindo. Com um sorriso
estonteante, consegue me transmitir muita calma. Ele é o homem mais lindo
que já vi. Sem sombra de dúvidas, hoje é o dia mais feliz da minha vida.
Todas as pessoas que amo e são importantes para mim estão presentes na
cerimônia religiosa. Não fizemos nada extravagante, apenas nossa família e
nossos amigos mais íntimos estão aqui.
Meu coração está batendo aceleradamente, contagiado por emoção,
alegria e muita satisfação. Tudo parece um sonho, desde a música em perfeita
sintonia com todas as coisas em volta, ao tapete vermelho em que piso, os
vasos de flores por toda a igreja e os sorrisos que me dão ânimo até o altar.
— Cuide bem da minha filha, Kauã. Te entrego o meu maior tesouro.
— Eu prometo que seu tesouro estará seguro comigo, sogra. — Ele sorri
e mamãe também.
Quando a minha mão toca na sua e um beijo suave é dado em minha testa,
todo o meu nervosismo desaparece em um passe de mágica. Na verdade, toda
essa mágica se chama amor. E em nome desse amor, tenho forças para não
desmaiar de tanta emoção. Nunca estive tão feliz assim. Momentos como esse
são raros e únicos.
— Você está perfeita. Te amo. — ele sussurrou baixinho.
Eu li e entendo tudo por meio da leitura labial.
— Você também. Te amo.
Ele sorri e parece ter me compreendido.
O padre dá início à cerimônia linda e abençoada. Tudo está muito bonito
e encantador. Passamos por tantas coisas juntos para chegar nesse momento
especial.
Meu vestido é simples e não tem muitas saias para dar volume, apenas
duas. No meu corpo caiu como uma luva. As mangas de renda lhe dão um ar
mais majestoso, assim como a coroa de prata sobre minha cabeça. Os fios de
cabelo soltos, cacheados, e a maquiagem leve completam todo o figurino.
— Kauã, você aceita Micaella como sua legítima esposa? Promete amá-
la e a respeitar, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, em todos os
dias da sua vida?
Seus olhos buscam os meus. Nossas mãos estão entrelaçadas e acredito
que nossos corações estão batendo em sincronia, no mesmo ritmo.
— Eu aceito. — Seus olhos se enchem de emoção. O CEO está
emocionado.
Nunca aceite menos que isso do seu noivo. Estou surpresa e bastante
emocionada por vê-lo chorar nesse dia tão importante.
— Micaella, você aceita Kauã como seu legítimo esposo? Promete amá-
lo e o respeitar, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, em todos os
dias de sua vida?
Eu tenho mais do que certeza de que aceito. Abro um sorriso enorme.
— Aceito.
— Pelo poder investido a mim, eu vos declaro casados, marido e mulher.
O que Deus uniu jamais poderá ser separado. Agora, pode beijar a noiva.
O beijo é suave e carregado de sentimentos poderosos, principalmente
amor.
Na saída da igreja recebemos chuva de arrozes e entramos no carro que
nos levará até a recepção, à casa da minha sogra. Realmente sou muito
agraciada por ter uma sogra que é como uma mãe para mim. Hoje em dia é
muito difícil manter uma relação saudável com a mãe do seu marido.
Somos recepcionados. Toda a nossa família e amigos estão presentes. A
sessão de fotos, abraços e felicidades leva algumas horas; depois o buquê
para as meninas solteiras, o brinde aos noivos e, por último, a dança. Tudo
isso foi feito com muito amor.
Porém, o meu noivo anseia por estar sozinho comigo, assim como eu com
ele. Há tempos que desejo sentir todo o seu amor, de corpo e alma.
Kauã me leva até a cobertura do seu apartamento. Viajaremos somente
pela manhã, em nossa lua de mel, para Fernando de Noronha. Ele é bastante
romântico por me carregar nos braços na entrada.
— Hoje é o dia mais feliz da minha vida! — ele gritou enquanto girava
comigo em seus braços, como um louco.
— Você é louco, Kauã.
— Eu sou louco por você, minha princesa! Louco por você! —gritou
mais uma vez.
Eu começo a rir de todo o seu entusiasmo e ele me leva até o quarto
amplo, bastante espaçoso.
— Sem querer ser antirromântica em um momento como esse, mas eu
acho bom que você nunca tenha trazido mulher alguma aqui, ou eu juro que
serei uma mulher viúva ao amanhecer do dia.
— Eu nunca trouxe ninguém aqui, você é a única.
— Foi convincente, senhor Avillar.
— Eu não poderia mentir para a senhora Avillar, nunca. Conheço toda a
sua braveza de mulher nordestina, ela é muito arretada. Não quero irritar
minha esposa, jamais. Vixe, Maria! — Ele fazendo o sotaque foi a melhor
parte, foi divertidíssimo. — Agora, venha cá, moça bonita que eu tanto amo e
desejo amar a noite inteira. — Agarra-me firmemente pela cintura.
Espalmo o seu peito e posso sentir o seu coração bater acelerado.
— Pode sentir, linda, meu coração batendo ardentemente por você? É
assim dia e noite, desde o primeiro momento em que a conheci. Você é a razão
da minha felicidade. Me permita ser o melhor marido do mundo para você.
Pego a sua mão e a coloco sobre o meu peito.
— Você pode sentir? É o meu coração mostrando que te ama loucamente,
a cada segundo do dia.
— Eu a amo verdadeiramente, com todas as minhas forças. Eu ardo dia e
noite por ti, minha menina.
— Eu também ardo por você.
Eu mordo os lábios, Kauã sorri e nossas bocas se colam. Beijos
molhados e carregados de sentimentos. O amor preenche todo o meu ser.
Quando os seus lábios beijam o meu pescoço, arrepios me invadem por
inteiro.
— Vire-se para mim, princesa.
Faço o que ele pediu. No mesmo instante, suas mãos ágeis começam a
percorrer os botões do meu vestido. Ele abre um a um até chegar ao zíper e
também o abre. Depois beija a minha região sensível, fazendo-me gemer. Suas
mãos acariciam minhas costas, causando-me arrepios intensos.
Kauã não perde muito tempo e faz eu me virar para ele mais uma vez.
Seus olhos em chamas estão fixos sobre os meus. Ele não perde um detalhe em
mim. Ao tirar as mangas, faz o vestido escorregar sobre meu corpo, revelando
a lingerie, também branca. Suas írises estão cobertas de tesão.
— Perfeita, linda. — Sem pressa, ele me admira depois de colocar o
vestido mais para o canto. — Eu não poderia ter esposa mais bela que você.
Micaella, você é perfeita. Te amo. — Sua boca volta a devorar a minha ao
mesmo tempo em que suas mãos abrem o fecho do meu vestido.
A volúpia presente em nós dois é incontrolável. Sinto que, a qualquer
momento, perderemos o controle de vez.
Meu marido me deita sobre a cama e me faz um pequeno show de
stripper. Mordo os lábios. Ele é um deus grego delicioso, pronto para mim.
Abro as pernas ao máximo após ele se livrar da minha calcinha e sentir o
cheiro dela.
— Mais uma para a coleção.
— Han?
— Você não achou que eu joguei fora as outras que peguei de você em
João Pessoa, não é?
Ele ainda as guarda. Isso, sim, é uma surpresa.
Seus dedos hábeis deslizam sobre meu clitóris e sua boca molhada suga
meus seios. Oh! É inevitável não tremer de prazer em seus braços. Ele me faz
delirar e ver estrelas.
— Eu mal comecei, princesa, e você já quer gozar? Menina levada você,
hein.
— Seu safado. Trate de me fazer gozar várias vezes nesta noite. — eu o
repreendi.
— Esta bocetinha molhadinha está louca para ser tomada pelo meu pau,
não é mesmo?
Ele sabe que sim.
Eu reviro os olhos e sua boca me beija enquanto sua outra mão alcança
um seio meu, estimulando o bico sensível. Mordo seu lábio durante o beijo.
Eu sei o quão insaciável ele é, e eu também sou. Ansiei dia e noite por
esse momento íntimo.
Gemo alto quando sua língua quente aquece minha intimidade latejante.
Sua boca devora a minha boceta como se eu fosse a sobremesa mais deliciosa
do mundo. E, de fato, ele crê nisso. Contorço meu corpo. Isso é
deliciosamente tentador. Como controlar os gemidos? É impossível. Eu
necessito tanto. Ele é o único que me faz gozar desta maneira revigorante.
Seu pau entra e sai da minha intimidade. Lânguida pelo desejo ardente
que há entre nós, contraio a cintura para facilitar mais os seus movimentos. A
maneira apaixonada como nossas bocas se encontram, completando todo o
vazio em nossos corações, é inexplicável.
— Eu a amei desde a primeira vez em que a vi e te amarei até o último
dia da minha vida. — ele declarou seu amor por mim.
— Eu o amei desde o primeiro instante em que o vi e o amarei até o
último instante da minha vida. — declarei entre o beijo apaixonado.
Ele me faz a mulher mais feliz do mundo, realizada, amada e desejada.
Este amor, que acreditei ser minha ruína, hoje sei que sempre foi a minha
maior felicidade. Kauã é o amor da minha vida e sempre será.

(...)
Viajamos em lua de mel para Fernando de Noronha. Ficaremos por uma
semana no lugar mais incrível que já conheci. Estou completamente encantada.
Sinto falta do meu bebê, não posso ficar mais que oito dias longe dele. Mesmo
em companhia do amor da minha vida, preciso também estar ao lado do meu
outro amor. Não vejo a hora de voltar para casa, no entanto, ao mesmo tempo
em que desejo ir, desejo ficar para sempre nos braços do homem que amo.
Todos os dias fazemos amor como coelhos, passeamos pela praia e,
sempre que nos lembramos, fazemos alguma refeição. Então voltamos a nos
amar loucamente uma, duas, três, infinitas vezes. Não há dúvidas de que sou a
mulher mais feliz do planeta.
E no final, a felicidade veio. Kauã teve o que mereceu. Um bebê
inesperado para o bilionário foi a melhor coisa que poderia ter acontecido
para todos. O meu pequeno bebê foi o motivo de nossa união e o começo da
nossa amizade. Quando eu retornar para casa lhe darei tantos beijos, que ele
vai enjoar de mim. Mas, enquanto isso não acontece, aproveito para
compartilhar meu amor somente com o meu marido.
EPÍLOGO

Eu nunca acreditei em amor à primeira vista até vê-la. E no mesmo


instante em que nossos olhos se cruzaram, senti meu coração bater mais forte.
O amor é um sentimento perigoso que às vezes nos faz correr, assustados.
Fugir do que é inevitável não é a forma mais viável de lidar com tudo isso.
Quando precisei ir embora de João Pessoa, eu me arrependi amargamente. Eu
já amava aquela mulher e não poderia mais viver sem ela. Lutei pelo seu amor
e pelo seu perdão, mesmo sabendo que não merecia nenhuma das duas coisas.
Sou um mero escravo dessa paixão e desejo morrer sendo um.
Minha vida sem Micaella não há cores; com ela, há uma bela coloração e
muita luz em volta. Toda a dedicação que a minha querida esposa tem com a
nossa família é incrível de se ver. Admiro a mulher valente e corajosa que ela
é.
No nascimento do nosso segundo filho, Kaleb, pensei que desmaiaria
vendo-a dar à luz. Todas as mulheres são muito guerreiras. Eu nunca tinha
visto por esse lado. Se fôssemos nós, homens, a dar à luz, morreríamos todos.
Minha mulher é forte e guerreira, uma mãe dedicada aos nossos garotos.
Em nenhum momento, ao longo dos cinco anos de casamento, eu me arrependi
da minha escolha. Sempre foi ela e sempre será ela.
— Diga-me, querida: por que é tão linda?
Micaella está no jardim. Ela adora plantar flores e colher algumas para
colocar em nosso quarto todos os dias.
— Que susto, meu amor. Venha, me ajude a colher estas rosas aqui.
— As crianças estão brincando com a sua mãe.
— Será que eles precisam de mim?
— As crianças não, mas o seu marido sim.
— Aconteceu alguma coisa na empresa?
— Na empresa não, porém estou faminto, preciso de você para me
alimentar, meu amor.
Ela sorri. Sou depravado pelo seu amor e não escondo isso de ninguém.
— Agora não. Sabe muito bem que quando se tem dois filhos pequenos é
impossível fazer amor durante o dia. Sempre que entramos no nosso quarto,
Gael bate na porta e pergunta por que não a abrimos, e o nosso pequeno Kaleb
vem logo atrás, dando seus passos nada firmes. Até a babá fica constrangida
quando é preciso tirá-los de lá.
— E se, desta vez, fôssemos para outro quarto? Precisamos de um
esconderijo para eu poder amar minha esposa durante o dia.
Micaella ri. Sua risada é ótima, alta e contagiante.
— Tarde demais. Veja só, as crianças estão vindo; e a minha mãe e a
nossa babá estão coradas, pensando que poderiam estar nos flagrando fazendo
amor no jardim, em plena luz do dia.
— Não tenho culpa se elas sempre estão no lugar errado, na hora errada.
Rimos juntos, pegamos as crianças e as levamos para cima. Já está na
hora da comida delas. Gael não bebe mais mingau, ele é forte e saudável. Ele
prefere comida de verdade, enquanto nosso pequeno opta pela mamadeira. Eu
ajudo Gael a comer e Micaella dá o mingau do nosso pequeno “senhor
bagunça”. Depois os levamos para as camas. Os dois compartilham o mesmo
quarto, pois ainda são pequenos e, assim, ajuda melhor o trabalho da babá e
da minha esposa, que sempre acorda durante a noite para ver como eles estão.
— Beijo de boa noite, papai. — Gael é uma criança mais tranquila em
relação ao seu irmão. Ele me faz lembrar de mim e Viktor quando éramos
crianças.
Meu filho mais velho puxou o temperamento do seu tio, enquanto Kaleb o
do seu pai.
Quando os dois adormecem, enfim, podemos retornar para o nosso
quarto. Minha vida com Micaella não se resume a sexo. É claro que temos
uma vida sexual muito ativa e inovadora, sempre buscando nos renovar a cada
dia para nunca cairmos na rotina, porém nosso casamento vai muito além de
tudo isso. Na minha esposa encontrei o amor de todas as maneiras; ela não é
somente a minha amante, mas também a minha confidente e a minha melhor
amiga. A ela, confio todos os meus segredos e minhas inseguranças. Sempre
volto feliz para casa, pois sei que aqui me espera a minha felicidade, a mulher
da minha vida.
Nunca pensei que poderia amar tanto assim uma mulher como a amo. Ela
é a razão da minha felicidade, jamais foi a minha ruína. E, sem sombra de
dúvidas, eu não poderia mais viver sem ela. Dedico-me todos os dias para a
fazer feliz, para ser digno do seu olhar. Todos os sorrisos que Micaella lança
sobre mim são os melhores presentes que eu poderia ter na vida. E os nossos
filhos são tudo para mim, dois seres pequenos que amo mais que tudo neste
mundo. Minha prioridade é e sempre será a minha família.

(...)

— Você é outro homem irmão. Eu jamais adivinharia que seria este pai
responsável, este marido exemplar.
— Quando se ama verdadeiramente, nada disso se torna uma obrigação.
Eu nunca imaginaria que seria capaz de amar tanto uma mulher, a ponto de
querer ter uma família com ela. Micaella é a luz da minha vida.
— Fico feliz, irmão, em saber que você está feliz.
Viktor é o meu irmão, o meu parceiro de negócios e, principalmente, o
meu melhor amigo. Hoje nossos caminhos estão unidos graças a duas mulheres
muito especiais para nós: minha Micaella e sua Giulia. Essas garotas entraram
em nossas vidas trazendo somente alegrias para as nossas casas.
— O que seria de nós sem essas mulheres? — perguntei ao observar as
duas brincando com as crianças no jardim. Elas correm como se fossem
crianças iguais aos nossos filhos.
— Estaríamos perdidos.
Elas brincam de bola. Minha sobrinha Beatriz será uma ótima jogadora e
entrará para a seleção, não tenho dúvida. Sinto muito orgulho dela.
Pacientemente, elas jogam contra os mais novos: Gael, Mali e Kaleb. Giulia e
Mica garantem que todos se divirtam.
— Meus dois filhos casados e felizes. Eu não poderia ser mais grata a
essas duas meninas. Vocês ganharam suas esposas e filhos, e eu muitos netos e,
também, duas filhas muito especiais. — Nossa mãe está cheia de orgulho. —
Vocês estão esperando o que para se juntarem àquela turma animada? Eu estou
velha, mas estou disposta a jogar. Vamos lá, Gisela.
Toda a família reunida é algo maravilhoso. Sou um homem realizado e
minha maior riqueza é a minha família, minha maior realizaçbão são eles.
— Toque para o papai, filhão.
Gael toca a bola para mim.
— Isso! Vamos detonar eles, papai.
— Nem pensar. Papai, vamos ganhar. — Bia disse, animada.
— Com certeza, princesa.
— Mãe, o papai não para de me chamar assim. Todos os meus amigos
riem de mim. — Bia se mostrou incomodada. A adolescência a faz pensar
assim.
— Mas você é a minha princesa. — Ele a segura nos braços, mesmo que
ela já esteja crescidinha, e Mali também quer colo.
— Acho que o jogo acabou. — Micaella segura Kaleb nos braços e Gael
se junta a nós.
— Eu amo vocês. — Dou um selinho na minha esposa.
Tudo está mais que perfeito. Para completar nossa felicidade, alegrar
ainda mais as nossas vidas, somente a nossa tão sonhada filha menina. Será
que tentaremos esse sonho?
Faço força mais uma vez.
Depois de dar à luz três filhos homens, teríamos um time de futebol se
nossa pequena Ester não tivesse entrado em nossas vidas. A nossa menina é
tão linda e perfeita. Ela veio para completar a nossa alegria sete anos depois
do nosso casamento.
— Veja só como ela é linda.
Kauã a admira com muito amor.
— Eu serei o melhor pai do mundo para você, meu amor. Sempre irei te
proteger de tudo e de todos.
Nossos meninos estão ansiosos para conhecer a irmãzinha.
— Pensei que teríamos um time de futebol.
— Eu sabia que nossa menina chegaria algum dia. Agora somos seis: eu,
você, Gael, Kaleb, Lucas e Ester. Sou pai de quatro crianças lindas, talvez de
cinco futuramente.
— Nem pensar, a fábrica se encerra aqui.
Nós dois rimos. Sabe... Quando uma mulher tem amor e felicidade ao
mesmo tempo, ela não necessita mais de nada, pois já tem tudo que precisa:
amor, proteção, segurança e estabilidade. Sei que nada nunca nos faltará. A
minha mãe sempre estará cuidando dos seus netos, assim como Cristina. Elas
são avós babonas e caducam com todos eles.
Há sete anos fiz minha maior e mais importante escolha: eu disse “sim”
para a nossa felicidade. Sou feliz e realizada. Amo o meu bilionário e nossos
quatro filhos. Posso dizer que não há limites para o amor verdadeiro e
sincero. Sempre lutarei pela nossa família.
MEU CHEFE CEO VIÚVO
Livro 2 da série “Viúvos atraídos”
https://amz.onl/5l4D31I

Viktor Avillar amou intensamente uma mulher que também o amou de


corpo e alma. Eles se casaram, tiveram uma linda filha, a pequena Bia, e a
vida deles estava perfeita. Até que, em um dia, enquanto voltava da casa dos
pais, sua mulher, Sofia, sofreu um grave acidente de carro que a deixou entre a
vida e a morte. Os médicos fizeram tudo que estava ao alcance deles, contudo
o estado dela era muito delicado e ela não teria chance de sobreviver;
definhava em um estado vegetativo e era impossível voltar à vida. Mas Viktor
não desistiu dela e não autorizou que desligassem seus aparelhos. Porém, o
destino não quis que ambos vivessem um final feliz. Sofia morreu, deixando-o
sem esperanças de que, algum dia, pudesse amar novamente. Ele se fechou
para o mundo.
Considerado o viúvo mais bonito de toda a cidade de São Paulo, sua
única luz está na sua filha, quem ele ama e para quem se dedica ao máximo. Só
não imagina que o amor possa ressurgir para si novamente; e, dessa vez, em
forma de uma menina-mulher: Giulia.
SÉRIE “MÁFIA SMIRNOV”

A PREDILETA DO MAFIOSO (1)


https://amz.onl/gOc7ESi

Bonito, atraente, forte e musculoso. Dominic Smirnov é como o anjo da


noite. Ele é imprevisível quando o assunto é mulheres, porém decisivo e
imponente com seus inimigos. Como chefe da máfia mais poderosa de toda a
Europa, Dom tem tudo sob seu poder. É o filho mais velho, o sucessor de seu
pai. Seu legado é implacável, genial e impiedoso, e sua fama ganhou os quatro
continentes do mundo. Conhecido pelo seu harém de mulheres, o “sultão da
máfia” jamais entregou seu coração a uma mulher. Seu conceito sobre
casamento e construir uma família não significa nada além de uma obrigação.
Por esse motivo, ele nomeou Malia como sua futura esposa. Esse será apenas
o começo de uma linda história de amor? Ou grandes conflitos estão prestes a
iniciar?
Malia é linda, inteligente, esperta, batalhadora, tem um coração gigante, é
bondosa e encanta todos ao seu redor com sua beleza e carisma. Ela é uma
moça simples que vive com sua mãe desde a morte do seu pai e que teve que
se desdobrar para ajudar nas despesas da casa. Contra a vontade da mãe,
Malia ocupou a antiga vaga dela, que precisou deixar o emprego por conta de
problemas de saúde. Ser faxineira e garçonete em uma luxuosa boate não
estavam em seus planos, mas tudo estava indo perfeitamente bem, até que seu
caminho se encontrou com o poderoso chefe da máfia.
A MENINA DO MAFIOSO (2)
https://amz.onl/idTot97

Genevieve é linda, divertida e virgem! Ela precisou fugir do seu país e


vir para a Rússia, com o intuito de ajudar a sua família: sua mãe e sua irmã
mais nova. Ela deseja tirá-las das garras do seu pai viciado. Chegando em
Moscou, ela conheceu Malia e sua mãe, que são como sua família. Ela leva
uma vida tranquila mesmo trabalhando como faxineira em uma boate de
mafiosos.
Após o casamento de seu irmão mais velho, Nikolai, o subchefe da máfia
mais poderosa da Europa precisava encontrar uma esposa virgem. O que ele
não imaginava era que os boatos sobre a mulher que lhe despertava atenção
eram falsos. Ao descobrir a verdade ele ficará furioso, e a tomara para si.
A ESPOSA VIRGEM DO MAFIOSO (3)
https://amz.onl/3yg9vEC

Iuri Smirnov é um playboy bilionário que sempre teve tudo aos seus pés,
um Don Juan bonito e cheio de carisma. Apesar de vir de uma família
tradicional da máfia russa, o jovem construiu um patrimônio sólido, tornando-
se um dos homens mais ricos da família.
O filho número três sempre foi obcecado pela vida regada a mulheres e
bebidas, mas conforme foi amadurecendo, precisou se inteirar dos assuntos
relacionados à máfia. O mais importante deles seria honrar o acordo feito
pelos seus pais anos atrás: Iuri precisaria se casar com Marina, a filha da
empregada da mansão.
O galinha da família seria capaz de abrir mão das suas farras por um
casamento?
Marina Solokova cresceu sem o pai, foi criada pela mãe e passou a
maior parte da sua vida em uma escola católica, onde aprendeu os valores da
vida. A menina sempre foi esforçada e dedicada.
A vida de Marina começa a mudar quando ela decide ir morar com a mãe
na mansão Smirnov e virará de cabeça para baixo assim que ela descobrir que
terá que manter um casamento com o filho dos patrões.
SÉRIE “FAMÍLIA GREGO”

UM MAFIOSO: OCCHI NON AZZURRI (1)


https://amz.onl/0O83g6J

Enrico Grego é um chefe de máfia, que desde cedo aprendeu a ser um


homem frio e calculista. Foi criado para despejar ódio pela terra, ser
implacável com os inimigos, frio com as pessoas que o cerca e temido por
todos a sua volta. Convicto de suas responsabilidades desde o dia em que
veio ao mundo, sabe que está na hora de tomar sua prometida para si, tornando
a garota sua esposa, mesmo contra a vontade dela. Um homem sombrio e
cercado de mistérios trevosos aprenderá que nem tudo na vida acontece da sua
maneira.
Giovanna Prattes é uma menina indefesa e inocente que se vê numa
situação indelicada ao descobrir que está prometida ao temido chefe de uma
máfia. Contra a sua vontade, ela e sua família se mudam para a Itália, onde
aprenderá que nem tudo sempre foi magia e que seu mundo de “faz de conta”,
não passa de uma grande ilusão.
Um romance movido por segredos do passado!
PRÍNCIPE DA MÁFIA (2)
https://amz.onl/9LMnYI0

Enzo sempre viveu na sombra do seu irmão mais velho, o poderoso


Enrico Grego. Desde pequeno fora acostumado a ser sempre o seu braço
direito, mas agora, depois de anos sendo sempre o segundo em tudo, Enzo
finalmente assumirá seu cargo de chefe da máfia francesa, casando-se com a
não tão bela jovem Luana.
Luana sempre criou expectativas em relação ao seu casamento. Ela o viu
apenas algumas vezes, mas isso foi motivo o suficiente para se apaixonar
perdidamente pelo belo Grego.
Sempre sozinha, Luana busca nesse casamento poder ter novamente uma
família de verdade, já que seus pais morreram em um acidente de carro há
alguns anos. Seu único parente vivo é o seu primo, do qual o respeita e o tem
como irmão.
Um casamento de interesses poderá um dia passar disso e se tornar algo a
mais? Você seria capaz de viver um amor em vez de querer ser o chefe?
PROMETIDA AO CHEFE DA MÁFIA (3)
https://amz.onl/axtKdSy

Anastácia sempre foi a revoltada da família e nunca teve direito a nada


por ter nascido mulher. Inconformada com a realidade em que vive, sempre foi
a mais direta dos Grego e a única capaz de dizer tudo o que pensa das
pessoas. Uma menina mulher de língua afiada.
Cansada de ver os irmãos sempre terem tudo e tratarem suas esposas
como capachos, principalmente seu irmão Enzo, que faz da vida da sua mulher
um verdadeiro inferno, tomou uma grande decisão. Enfim decidiu que iria
enfrentar todos os seus medos e ser feliz acima de tudo.
Sempre viveu um amor escondido ao lado do seu amado Thiago, até que
um dia seu irmão Enrico autorizou esse namoro e desfez o compromisso que
ele mesmo tinha selado para ela com Andrei Barkov, chefe da máfia russa. Até
aí tudo bem. Compromissos são desfeitos todos os dias. Mas não no mundo da
máfia. O terrível Andrei Barkov, inconformado com o rompimento, tinha
apenas um objetivo: se vingar da família Grego através da jovem e bela irmã
caçula.
DUOLOGIA “CRETINO IRRESISTÍVEL”

PRESA A UM CRETINO IRRESISTÍVEL (1)


https://amz.onl/cqUchvZ

Martina Martins é uma bela jovem brasileira de 19 anos que vive sua
vida pacata morando no morro do alemão, no Rio de Janeiro. É uma típica
menina bonita que sonha em ingressar na Faculdade e ter uma vida normal,
como toda garota da sua idade. De personalidade forte e temperamento
explosivo, não tem “papas na língua” e não abaixa a cabeça para ninguém.
Também é tímida e inocente. Vive com o seu pai Juan e sua amiga Gaby. Eles
são a única família que ela tem.
Quando tinha 9 anos, foi adotada por Juan. Tininha — como é conhecida
—, não se recorda de nada do seu passado. É como se tivesse nascido com
cinco anos. Todas as suas memórias passadas foram apagadas e nunca mais
voltaram.
Sua vida muda repentinamente quando um grupo de homens
desconhecidos batem na porta da sua casa e a levam à força para um país
desconhecido que ela só ouviu falar pelos livros de Geografia. Então vai
parar nas mãos de Theodore Velarde, um homem frio e calculista com o ego
maior que o planeta terra.
Theodore Velarde, conhecido pelo seu coração de gelo, é um homem
abominável e insaciável que não conhece o significado da palavra “não”.
Quando ele a viu pela primeira vez, ficou obcecado, imaginando o dia em que
a teria em sua cama.
Após Juan, cogitar deixar a equipe, Theodore decidiu que a filha dele
seria sua mais nova diversão. É um homem perigoso, egoísta e cheio de
ambição. Por trás de uma máscara de empresário bem-sucedido e de prestigio,
esconde um passado perturbado e cheio de marcas. É destinado a ser o mau
em forma de pessoa na terra. Rei dos casinos e de inúmeras casas de luxo, é
envolvido com o mundo da prostituição e fará de Martina a sua mais nova
obsessão.
Aprisionada e trancafiada, ela só deseja fugir e não se apaixonar pelo seu
algoz.
QUASE LIVRE DE UM CRETINO IRRESISTÍVEL (2)
https://amz.onl/hCBia2Z

Após sua suposta morte, Martina se vê em um novo país com uma cultura
totalmente diferente da qual estava acostumada, porém cercada daqueles que
ama: o seu pai, a Gaby e, agora, seu mais novo amor, o seu filho Ethan. Ele é o
seu refúgio. Ao seu lado, ela consegue esquecer os dias trevosos que viveu ao
lado de Theodore Velarde.
Todos estão felizes e satisfeitos com a nova vida que levam. Ambos são
livres e podem viver com dignidade e tranquilidade. Mas não por muito
tempo.
Ele passou mais de um ano se culpando pela morte da única mulher que
amou e, também, a que mais o fez sofrer. Agora que sabe toda a verdade, seu
coração se encheu ainda mais de ódio e rancor. Está decidido a buscá-la e a
torná-la sua amante novamente. Desta vez, para sempre.
Essa história terá, finalmente, um final feliz? Ou Theodore será capaz de
cometer os mesmos erros do passado?
VENDIDA PARA HAKAN
https://amz.onl/a0hXD5Z

Adara Alcântara é uma brasileira batalhadora, linda e gentil, que dedica


a sua vida ao seu irmão mais novo, e por ele é capaz de tudo, inclusive de ir
em busca de um emprego melhor para ajudar com as despesas de casa. Ela só
não imaginava que tudo era um golpe.
Sua vida muda completamente ao cair em uma cilada do destino.
Adara se vê traficada e nas mãos de uma máfia perigosa, envolvida com
tráfico de mulheres e prostituição. Ela é levada a uma boate, na Espanha, onde
é vendida para um bilionário arrogante com o qual já havia tido um caso
meses atrás: uma noite envolvente e recheada de sexo. Após ter se entregado
ao estranho gostoso, agora se vê sendo obrigada a conviver com ele.
Hakan Al-Hashid é o emir do Catar. Bonito, bilionário e inteligente, ele
precisa encontrar uma mulher que esteja disposta a aceitar ser sua noiva por
contrato, já que está sendo pressionado ao casamento pelo seu pai, que está
velho, doente e deseja ver o filho casado. Ele vai até uma boate para comprar
uma mulher e encontra Adara, que já tinha despertado sua atenção meses atrás,
quando eles viveram aquela noite tórrida de sexo. E agora se reencontraram.
Ela aceitará o que lhe for imposto e será a sua noiva por contrato.
Poderá, de um romance enganoso, nascer amor entre ambos?
Ele nunca amou antes e ela deseja conhecer o amor que acontece uma vez
na vida, um amor que é para a vida inteira. Seria Hakan esse amor?
LOUIS - UM CONTRATO DE AMOR
https://amz.onl/efR23Ye

Louis Harrison é um empresário britânico de 31 anos, solteiro e galã.


Todo dia uma mulher diferente está em sua cama, muitas delas. Ele está
sempre acompanhado das mais belas socialites britânicas. Se apaixonar não
está em seus planos. Louis tem a vida mudada quando sua mãe exige um
casamento para ele, alegando que já que está mais do que na hora.
A família Harrison precisa garantir um herdeiro para comandar seus
negócios, e tem que ser um homem. O único problema é: que mulher aceitaria
um contrato onde impede que ela crie o seu próprio filho?
Isabella Silva é uma jovem brasileira de 22 anos e estudante de medicina
pediátrica em uma das mais renomadas Universidades da Inglaterra, a
Universidade de Cambridge. Ela tem sua vida transformada quando recebe
uma grande e dolorosa notícia sobre o seu pequeno irmão.
O destino a obriga a entrar numa confusão e a garota se vê indecisa entre
aceitar ou não o tal acordo. A vida de seu irmão está praticamente em suas
mãos. Ela aceitará o contrato, mesmo tendo que abrir mão da futura criança,
pelo bem-estar de seu irmão?
O que o futuro os reserva?
SOB O DOMÍNIO DO SHEIK
https://amz.onl/fh5BsIt

Zyan Mohammed Youssef Al-Mim é o atual sheik do país: um homem


poderoso que não conhece limites. Ele é o limite de tudo e de todos. Hoje, aos
31 anos, Zyan se tornou um homem bastante respeitado e temido por todos à
sua volta. Ele tem um reinado perfeito e uma esposa que o ama e lhe
proporcionou uma descendência futura com a chegada do seu filho. Contudo,
algo o atormenta: um passado escuro o perturba até os dias de hoje. Ele
gostaria de voltar no tempo e poder corrigir aquele erro.
Layla Nabih Bashar é uma jovem sonhadora e destemida, porém a vida
nem sempre foi perfeita para ela. Após a morte de seu amado pai, sua mãe
Safira se viu totalmente perdida ao descobrir que a família de seu marido iria
tomar a criança para eles, deixando-a totalmente de lado, com a intenção de
mandá-la de volta para seu país. Ela, então, decidiu fugir com Layla, para os
Estados Unidos, um país onde haveria muitas oportunidades para trabalhar e
educar a sua filha.
Após uma noite terrível, Layla e sua mãe, mais uma vez, precisaram sair
às pressas do lugar onde viviam e foram morar no Brasil. Estando lá há alguns
anos, com uma vida estabilizada, algo mudará a vida da moça para sempre.
Um encontro capaz de deixar Zyan completamente perturbado.
Uma bela jovem de sorriso encantador acaba roubando o coração do
sheik sem nem ao menos perceber acaba roubando o coração do Sheik, sem
nem ao menos perceber.
A OBSSESSÃO DO CEO
https://amz.onl/chLqAEx

Stehven Foster é o chefe executivo da Hollings International Foster, uma


empresa de alta tecnologia com sede no Reino Unido e com filiais em todo o
mundo.
Aos 40 anos, Stheven pode se considerar um homem de poder e
influência. Sua vida é regada de mulheres e farras quando as câmeras não
estão registrando sua imagem de “bom moço”. É um homem frio e arrogante
que tornou-se ainda mais prepotente e amargo após a morte de sua esposa e
filha há alguns anos. Tal fatalidade foi capaz de mudar sua vida para sempre.
O homem não acreditava mais no amor, até vê-la. Como irá conviver com
esse sentimento arrebatador e dominador?
Camilla Roberts não passa de uma menina sonhadora em busca de
estabilidade financeira. Após completar a maior idade, precisou deixar o
orfanato onde morava e seguir sua vida com algum pouco dinheiro que as
freiras lhe deram. Ela encontra morada com duas amigas que também
habitavam no lar para crianças abandonadas, mas que agora vivem em um
apartamento modesto e afastado do centro, porém confortável.
A moça acreditava no amor mais que tudo nessa vida e só queria ser
amada.
A vida de Camilla está prestes a mudar para sempre ao cruzar seu
destino com o do Stheven, um homem frio e arrogante. Como ela irá lidar com
isso?
A BABÁ VIRGEM DA FILHA DO CEO
https://amz.onl/ciK9ZUs

Se você está procurando por mais uma história clichê que migrou da
Wattpad para a Amazon, onde o CEO é lindo e só um pouquinho arrogante, e a
mocinha, além de linda, inocente e virgem, vira a cabeça dele... Aquele velho
clichê entre babá e patrão em que uma menina de 6 anos vai fazer de tudo para
a sua nova babá namorar com o seu pai... Você está no lugar certo. Bem-vindo
ao meu mundo, onde transformo minha imaginação em páginas de livros!
Stacy é uma jovem sonhadora que sempre desejou fazer grandes turnês
internacionais quando era criança. Com uma voz de anjo, encanta todos à sua
volta. Com o passar dos anos, ela foi se esquecendo do seu sonho e começou a
focar nos seus estudos. Após terminar o ensino médio, mudou-se com sua mãe
para a cidade de São Paulo, o grande centro de oportunidades para quem
busca novas chances de emprego.
Um anúncio no jornal se torna sua mais nova esperança. Ser contratada
para ser a babá da filha do CEO irá tirar ela e sua mãe da crise financeira que
ambas vivem.
Stacy só não esperava que o CEO fosse um homem de tirar o fôlego,
lindo e um pouquinho arrogante, que a notaria ao ponto de querê-la.
Henrique Prado é um CEO bastante carinhoso e amoroso com sua única
filha, Heloyse. Para ele, a pequena é o seu maior tesouro. Faz de tudo pelo
bem-estar dela.
Casado com uma mulher fria e que não faz questão e esconder o quanto
não sente carinho pela filha, Henrique tenta preencher, de todas as formas, o
vazio que existe na menina.
Poderia essa família ter esperanças de um futuro melhor?
COMPRADA PELO CEO MISTERIOSO
https://amz.onl/2iRPOjU

Lavínia viu a mãe morrer de câncer há três anos e, desde então, trancou-
se para o mundo, abandonou a faculdade e passou a se dedicar ao trabalho em
uma lanchonete. Ela vive com sua tia Joane e seu irmão mais velho, Tomás,
conhecido pela sua fama de vagabundo e pegador, por toda a vizinhança.
A família sempre foi a coisa mais importante para a Laví (como a garota
é chamada carinhosamente), então, no momento em que recebeu o diagnóstico
de que sua tia estava com o mesmo tipo de câncer da sua mãe, seu mundo
desabou mais uma vez, e quando o médico lhe deu a notícia de que Joane
poderia vir a falecer se não realizasse uma cirurgia com urgência, ela se viu
desesperada, sem saber o que fazer. Para complicar ainda mais, seu irmão está
devendo para o maior e mais perigoso bandido da favela.
Vender sua virgindade para um estranho, é algo que nunca havia passado
pela sua cabeça, até que sua melhor e mais íntima amiga, Dafne, cogitou e lhe
sugeriu essa ideia, por já ter saído com um homem através de uma agência.
Lavínia terá que fazer isso ou acabará vendo toda sua família morrer, seja
pelo câncer ou pelos bandidos.
Felipe Henry Eduardo O’Donnell é um irlandês sexy, bonito e
multibilionário cheio de ambições. Ele leva uma vida regada a sexo e a
compromissos importantes, e sempre que vai ao Brasil à negócios, sabe onde
encontrar as mulheres mais sensuais e bonitas, já que é cliente fixo da agência
mais requisitada e sigilosa do país.
Ao se deparar com a foto da virgem mais bonita que ele já viu, não
pensou duas vezes: pagaria o que fosse necessário para ser o primeiro na vida
daquela menina de olhos claros e cabelos cores de mel. Só não esperava que
ficaria obcecado pela jovem carioca ao ponto de passar noites inteiras em
claro pensando nela.
Contudo, ele sabe que sua família jamais aceitará qualquer
relacionamento seu com uma mulher que não tenha o sangue real.
Seis meses se passam e, agora, o príncipe Henry é o rei da Irlanda.
OLIVER: O MONSTRO
https://amz.onl/7C0DkEJ

Laiza Nayara é uma jovem menina doce e inocente que foi abandonada
em um orfanato. Então, descobriu coisas horríveis sobre o local onde foi
abrigada: o simples “orfanato” para meninas, na verdade, é um prostíbulo.
Ao descobrir que foi comprada por um misterioso bilionário, ela se vê
completamente perdida.
Oliver Campbell quer apenas vingança. Ele é um homem frio e calculista
que não mede esforços para conseguir tudo aquilo que deseja. Laiza será dele.
Na verdade, sempre foi. Um grande mistério do passado liga a vida dos dois
para sempre.
SOBRE A AUTORA

Uma paraibana de 22 anos de idade que se arriscou recentemente a


publicar seus livros na Amazon.
Aos 14 anos decidiu escrever numa plataforma gratuita chamada
Wattpad. O interesse pela escrita surgiu quando ela tinha apenas 8 anos e
escreveu um conto baseado em uma canção sertaneja. Desse dia em diante,
não parou mais.
Em decorrência de ter perdido seu primeiro perfil na plataforma, pois
nunca sabe onde guarda suas anotações, como senhas, ela voltou somente em
2018 com a série "Cretino irresistível", a qual logo contou com mais de 1
milhão de leituras online.
Em 2019 surgiu uma ideia muito doida: três irmãos completamente
comuns. Só que não. Irmãos que se amam e fazem de tudo para proteger uns
aos outros. A família Grego é composta por Enrico Grego, chefe da máfia;
Enzo Grego, príncipe da máfia; e Anastácia Grego, uma princesinha que se
tornou a rainha da máfia.
Convido você a embarcar nessas lindas estórias onde o amor prevalece
no final.
Obrigada por adquirir este livro. Agradeço muito se puder avaliá-lo com
5 estrelas, pois é muito importante para o autor.
Em breve, volto para a Amazon.
Autora MAD: onde a imaginação ganha vida e vira páginas de livros.
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Table of Contents
SUMÁRIO
NOTA DA AUTORA
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
SÉRIE “MÁFIA SMIRNOV”
DUOLOGIA “CRETINO IRRESISTÍVEL”
VENDIDA PARA HAKAN
LOUIS - UM CONTRATO DE AMOR
SOB O DOMÍNIO DO SHEIK
A BABÁ VIRGEM DA FILHA DO CEO
OLIVER: O MONSTRO
SOBRE A AUTORA
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