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Copyright © 2022 Jessica D.

Santos

Capa: @designerttenorio
Beta: Lari Batista (@alaritalendo)
Revisão: Andrea Moreira
Diagramação: Independente
Imagens: AdobeStock

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento e/ou


reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios, sem a autorização da autora. Ressalva para trechos curtos
usados como citações em divulgações e resenhas, com autoria
devidamente identificada. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido pela lei nº 9.610/1998 e punido pelo artigo 184 do
código penal.
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Epílogo
Bônus
Sobre a autora
Outras obras
Sim, este livro já esteve na plataforma como “O
bebê do bad boy”. Eu desejei relançá-lo, mas sem mexer
na estrutura do enredo original. Portanto, se você é meu
leitor ou já leu este livro, não sinta-se enganado de forma
alguma. As mudanças feitas foram no título, sinopse e um
bônus especial do casal, que é após o “felizes para
sempre”. Te convido para reler a história, ler ou ler
apenas o bônus!
Monte Verde, Vale Santo e São Bento são cidades
fictícias. O livro contém linguajar inapropriado para
menores de 18 anos, gatilhos emocionais e cenas de
sexo. Se você é sensível, por favor, não dê continuidade
na leitura.
Aos vinte e quatro anos, ele é considerado um BAD
BOY e filhinho de papai. O que ninguém imagina é que
por trás de todo o seu comportamento rebelde, ANDREO
MANCINI é apenas um homem FERIDO. Enquanto para
alguns suas atitudes são completamente estúpidas, para
ele, é somente um meio para aplacar toda a sua dor.
Com apenas vinte anos, ALINA MARTINS é uma
JOVEM HUMILDE. Apesar de não ter o emprego dos seus
sonhos, sua vida vai bem e se sente feliz. Certo dia, seu
caminho se cruza com o de ANDREO e, a partir dali, tudo
muda...
Ela é só a empregada da casa dos pais dele...
Ele é um rapaz rico, problemático e tatuado, mas se
encanta pela jovem e não descansará enquanto não a
tiver em seus braços...
Será que o inesperado conseguirá unir duas pessoas
de mundos tão diferentes?
O livro contém linguajar inapropriado para menores
de 18 anos, gatilhos emocionais, cenas de sexo e abuso
psicológico. Se você é sensível, por favor, não dê
continuidade à leitura.
— Ficar esperando Andreo aqui não vai dar em nada,
Alina. Deveria pegar as suas coisas e ir embora, meu filho
não volta mais. Eu o conheço o suficiente para saber que
não vai querer ver a sua cara tão cedo. Ou nunca mais. —
Semicerro os olhos ao ouvir a voz de Bárbara. — Do que
adianta o showzinho de passar a noite chorando por
Andreo? Quando ele está com raiva, demora para cair em
si. — Alfineta, atrás de mim.
— Ele vai voltar, eu sei que vai — murmuro,
limpando o meu rosto molhado e me encolhendo mais no
sofá.
— Não vai, acredite em mim. — Tenta me desanimar.
— Me deixe em paz, senhora. Já conseguiu o que
queria, não tem mais motivo algum para soltar o seu
veneno. — Respiro fundo.
— Você foi bobinha ao achar que eu deixaria barato
ter que te engolir debaixo do meu teto. — Ri com
amargura e se coloca à minha frente com aquele ar
inabalável. — Nunca que eu deixaria o meu filho, rico e
lindo, com um futuro brilhante, casar e ter filhos com uma
empregada. — Olha-me enojada, e eu sinto meu estômago
embrulhar.
— Você vive falando a mesma porcaria de
empregada para lá e para cá. Vá procurar o que fazer,
estou cheia da sua mesmice, nunca muda de assunto. —
Irritada, eu me levanto. — Além de ser uma empregada,
como você ama encher a boca para falar, sou um ser
humano, assim como você! E não deveria se preocupar
com essa divisão de classe, já que quando morrermos
iremos para o mesmo lugar. Mas acredito que não iremos
nos encontrar, afinal, você fez tantas maldades aqui na
Terra, que provavelmente vai reinar no inferno, o único
lugar que irão te aceitar! — exclamo, revoltada e com o
coração doendo.
— Sua atrevida, baixe o seu tom de voz...
— Quem é você para me calar, hein? Se não me
respeita, também não te respeitarei. Simples assim. —
Ergo o rosto, enfrentando-a.
— Pegue seus trapinhos e saia da minha casa! Eu
deveria ter feito isso ontem, não sei onde estava com a
cabeça que não te coloquei para fora daqui. — Ela se
aproxima e tenta me tocar, mas eu recuo.
— Não saio daqui até o Andreo chegar. Tente me
tirar — digo, decidida, vendo os seus olhos me
fulminarem.
— Ele não vai colocar os pés mais nessa cidade,
menina. Esquece essa fantasia de felizes para sempre
que você colocou na cabeça e vá arrumar as suas coisas.
Vá para o seu barraco, aqui não é para você — desdenha,
com a mão na cintura.
— Você não vai me tirar daqui até que eu fale com o
pai do meu filho. — Meu tom sai alto e, de repente, ela
fica pálida. Sigo para onde seus olhos estão focados e
encontro o prefeito, parecendo tão pálido quanto a
esposa.
— Você está grávida, Alina? — pergunta ele,
emocionado.
Eu assinto, com os meus olhos ardendo.
— É mentira, ela não está grá... — Bárbara se cala
assim que ouvimos o barulho da moto.
É ele. Céus, ele está bem!
Pensei em tanta coisa ruim que poderia ter
acontecido, mas sou grata por ele ter voltado são e salvo.
O som alto da Ducati é inconfundível. As batidas do
meu coração aumentam e eu soluço alto, já encarando a
porta da sala. Tremendo, espero que ele finalmente
apareça, mas Andreo não passa pela porta e nem ouvimos
mais o barulho da sua moto.
Olho para o sr. Mancini ainda lá em cima e deixo
minhas lágrimas descerem violentamente. Amedrontada,
passo a mão na minha barriga e fico cabisbaixa, tentando
me manter otimista. A porta é aberta e eu levanto o rosto,
vendo-o entrar diferente de como o vi ontem.
— O que aconteceu com você? — Meus pés ganham
vida, quando percebo estou indo em sua direção ao notar
o machucado no supercílio e no canto da boca. — Quem
fez isso, Andreo? — Toco no seu rosto, mas ele me rejeita
ao olhar para o lado oposto.
Ele está com um cheiro forte de bebida e cigarro e a
sua camisa está suja de sangue. Ao olhar para os seus
punhos, vejo que estão machucados também. Tento tocar
em suas mãos, mas ele coloca os braços para trás.
— Vim buscar minhas coisas. — Me ignora como se
eu não estivesse parada na sua frente.
— Andreo, olhe para mim? — peço, levando a mão
ao seu rosto e o obrigando a me encarar. — O que mudou
entre nós? — pergunto, com a voz embargada.
— A sua mentira fez tudo mudar, Alina — diz. A
frieza que vem dele me deixa arrepiada.
— Por que me culpa de algo que não era uma
obrigação minha te dizer? Eu não poderia simplesmente
correr para você e contar algo que deveria ser feito pelo
seu pai! — Choro, tocando em seu maxilar enrijecido. A
raiva que ele transmite é tão forte, que é como se eu
estivesse levando facadas no peito.
— Certo. Eu só servia para trepar com você? Eu só
era a porra de um pau para você, Alina? — grita.
Fico magoada com as suas palavras, profundamente.
Sem pensar direito, dou um tapa em seu rosto, marcando
a sua pele com os meus dedos.
— Qual o seu problema? Pare de ser infantil! —
exclamo, atordoada por ter batido nele e ele sequer tenha
dado importância.
— Andreo, olha o respeito! — repreende o sr.
Mancini.
O filho dele começa a gargalhar e se afasta de mim.
— Agora exigem respeito? A essa altura do
campeonato? E o que mais vocês querem? Que eu os
perdoe? — debocha, andando de um lado para o outro.
— Já chega, Andreo! Pare com isso, droga! — peço,
voltando a me aproximar dele, que se encosta na parede e
avalia nós três com raiva. Tento tocar nele, mas ele se
afasta, e como sou insistente, eu o seguro pelo braço. —
O-olhe p-para mim — peço, com a voz cortada pelo choro.
Demora alguns segundos para que Andreo me
encare.
O bom de morar em uma cidade pequena é a
vizinhança. Vale Santo se resume a paz, é um lugar
gostoso de viver e os poucos habitantes do pequeno
paraíso são todos conhecidos. Não digo que estamos
livres da violência, contudo, é muito melhor do que outras
cidades grandes por aí. Como se fosse um interiorzinho
onde podemos dormir com as portas abertas e deixar
sandálias do lado de fora, não corremos o risco de alguém
roubar ou invadir a sua casa.
Se existe um local para você construir a sua família é
aqui, na minha cidade. Amo este lugar mais do que tudo,
nasci e cresci aqui. Falando assim, até parece que tudo
por aqui é perfeito, não é? Soa até como os comerciais
perfeitos de televisão, mas não, tem também o lado ruim.
E ele tem nome, sobrenome e um cargo, quer dizer, o pai
dele tem.
Certamente estou soando confusa, porém, o
elemento ruim que menciono é o filho do prefeito Alberto
Mancini, o Andreo, um riquinho mimado que traz os
amigos da cidade grande para tirar racha aqui e, às
vezes, a paz do povo também, uma vez que seu pai tem
poder e pode passar pano nas coisas erradas que ele faz.
Como sei de tudo isso? A minha madrinha trabalha
para os Mancini desde que o prefeito ocupou o cargo pela
primeira vez, há alguns anos, e como trabalho faz três
meses para eles também, vi e ouvi muitas coisas.
A minha madrinha conseguiu o emprego para mim,
eu só precisei resolver a parte burocrática. Raramente
vejo o sr. Mancini, ele vive mais na prefeitura, os únicos
que sirvo vez ou outra é a esposa e o filho, que sequer
olham em minha direção. Andreo e Bárbara são dois
narizes em pé, se algum dia ela criticar o filho vai estar
falando de si mesma, porque não há diferença entre os
dois.
Sei que é feio ficar bisbilhotando a vida dos patrões,
mas é impossível não saber das coisas por aqui, já que o
bad boy da família não se importa com as opiniões alheias
e está deixando o pai com o cabelo cada vez mais branco
ao trazer os amigos da cidade grande para cá. Às vezes,
eles fazem festas que só terminam no dia seguinte.
Há cerca de quinze dias, presenciei uma briga feia
entre pai e filho, o prefeito mandou Andreo crescer e
amadurecer, chegou a dizer que se ele não desse um jeito
em sua vida, ele tomaria uma decisão que nem mesmo a
mãe poderia ajudar. E essas palavras me levaram a
entender que a mãe é a mediadora entre eles, a que mais
acoberta os erros do filho.
Mas Andreo Mancini não passa muito tempo por aqui,
vive mais na casa que eles têm em Monte Verde, só vem
para cá de vez em quando. Tenho certeza de que os
moradores de Vale Santo agradecem por isso, assim como
eu.
— Tá no mundo da lua, Alina? Acorde, minha filha.
Nessa casa, pobre não tem vez, então sirva logo o filhote
da dondoca na piscina, porque vou cortar as verduras
para a sua madrinha, ela teve que dar uma saída — fala
Simone ao entrar na cozinha, me tirando da minha bolha
de pensamentos e me assustando.
— O quê? — pergunto, ainda meio perdida.
— Você é lenta assim mesmo, ou se faz de tonta? —
pergunta irritada, abrindo as portas dos armários e
fechando com força. Ela só faz isso porque os olhos dos
donos da casa nunca estão por perto para ver.
Simone tem vinte e nove anos – nove anos mais
velha do que eu –, uma mulher bonita, mas é insuportável
algumas vezes. Quando minha madrinha não está, ela
ama me explorar. Se não fosse por medo de perder o
emprego, eu já teria enfiado a mão na cara dela para
aprender a tratar as pessoas.
— E por que você não faz isso? Eu limpei quase
todos os quartos da casa, lavei quatro banheiros e você
só fica enrolando aqui na cozinha para não fazer nada —
retruco, cansada da sua arrogância.
— Quem você pensa que é, garota? Estou
trabalhando nessa casa há dois anos, você só tem meses
aqui e acha que pode mandar em mim? Só me faltava
essa. — Ela me encara, com faísca nos olhos. Simone
pega os copos e, em seguida, abre a geladeira e tira uma
jarra de água e suco.
— Não é bem assim. Eu faço mais do que você, e até
onde sei, a nossa posição nessa casa é a mesma,
devemos dividir os afazeres. E não você mandar e eu só
fazer — digo, entredentes, apertando o tecido do meu
uniforme.
Quando ela solta uma gargalhada provocadora, eu
respiro fundo para me controlar, porque se eu colocar tudo
para fora é capaz de sair fogo.
— Apenas sirva o Andreo e pare de resmungar.
Somos as funcionárias, então se comporte como tal,
menina. Mas se não estiver satisfeita, se demita e vá para
casa — diz, arrumando a bandeja com a jarra de suco,
água e os copos.
Respire e relaxe, Alina.
— Mais alguma coisa, querida? — Arqueio a
sobrancelha.
Ela me avalia dos pés à cabeça.
— Amarre esse cabelo, a dona Bárbara já disse que
não é permitida essa regalia por aqui — fala, adorando me
reprimir.
Regalia deixar o cabelo solto? Era só o que me
faltava!
— Eu não trabalho na cozinha, faço a parte da
limpeza da casa... e a minha madrinha não me disse nada
disso — me defendo.
— Há alguns dias, a dona Bárbara me disse isso,
quando te viu com esses cabelos ressecados voando por
aí. Mas se quiser perguntar a ela, fique à vontade —
responde, sorrindo.
Duvido que a primeira-dama tenha perdido o seu
tempo reparando em mim. Mesmo contrariada, prendo
meu cabelo, que é maravilhosamente hidratado e bonito,
mas a invejosa adora tentar me colocar para baixo.
Não quero decepcionar a minha madrinha e incluí-la
em meus problemas com Simone. Esse é o motivo de ela
não saber que a nossa colega de trabalho é um demônio
comigo, que tira a minha paz sempre quando pode.
— O.k. — Dou um sorriso forçado e pego a bandeja
arrumada.
Eu gostaria de saber por que esses ricos nunca
podem fazer nada. A piscina fica ao lado da cozinha, o
que custa ele ir até lá e pegar a água e o suco? Nem sei
por que estou me perguntando isso, uma vez que eles têm
dinheiro suficiente para contratar funcionários para
fazerem o que para eles deve ser um sacrifício.
Em passos largos, saio da cozinha, atravesso o
pequeno jardim e começo a caminhar devagar, com medo
de derrubar a bandeja quando quase tropeço nos meus
próprios pés. Começo a suar frio ao ver a movimentação
na piscina. O encrenqueiro não está sozinho, os amigos e
algumas garotas que parecem ter saído de revistas estão
ao por aqui. Passei a manhã toda enfurnada nos quartos e
banheiros fazendo faxina, nem os vi chegando.
Paro no meio do caminho ao ouvir a gritaria. Engulo
em seco ao ver Andreo a alguns metros de distância. Ele
está de costas, sentado na espreguiçadeira enquanto uma
garota loira fica atrás dele passando protetor solar em
seus ombros, como se estivesse fazendo uma massagem
erótica. A forma como ela crava as unhas nas costas
tatuadas com um desenho enorme de caveira é o auge do
mico, já que todo mundo está olhando.
— Gatinha, vai ficar aí parada nos encarando como
se quisesse se juntar a nós, ou vai nos servir?
Ao ouvir a voz divertida, todos riem, exceto Andreo,
que nem se vira.
Envergonhada, olho para o idiota, que é até bonito,
mas deve ser aquele tipo de pessoa que ama humilhar os
mais pobres, porque me mede dos pés à cabeça com um
olhar de superioridade. Apesar de ter travado os pés no
chão, me esforço para não surtar e sigo na direção da
realeza.
Em silêncio, coloco a bandeja na mesa de vidro, tiro
os copos e as jarras dela, em seguida, dou as costas para
eles. Mesmo sentindo que estou sendo observada, finjo
que nada está acontecendo e tento sair o mais rápido
possível.
— Empregadinha, volte aqui. Se quiséssemos nós
mesmos ter que nos servir, nem teríamos pedido que
trouxessem as bebidas aqui na, iríamos até a cozinha. —
Uma voz feminina dura e desdenhosa soa nos meus
ouvidos, me fazendo apertar os punhos na frente do meu
corpo. — Você é surda, garota? Preciso conversar
urgentemente com a Babi sobre as funcionárias dela.
Com medo de prejudicar a minha madrinha, Dandara,
viro-me rapidamente e engulo a humilhação. Ergo a
cabeça e passo pelos riquinhos, que riem como idiotas
quando quase caio por estar nervosa. Começo a encher os
copos, revezando entre a água e o suco, sem olhar na
direção de nenhum deles. Mesmo trêmula e cheia de ódio,
eu faço o meu trabalho.
— Largue isso, sabemos nos virar. Pode se retirar —
pela primeira vez, mesmo que de forma indireta, Andreo
Mancini fala comigo.
Levanto o rosto e o encaro, e... meu Senhor, ele é
tão lindo, tão intenso. Andreo é musculoso, mas não de
um jeito exagerado. Ele tem algumas tatuagens
espalhadas pelo corpo, todas lindas e hipnotizantes, como
o dono. Arrependo-me tão rápido de colocar os olhos nele
que acabo deixando um copo cair. Tenho certeza de que
todos ali notaram como olhei para ele e como ele está
olhando para mim. Andreo parece me analisar da cabeça
aos pés, sem dar uma palavra sequer, a maneira como
seus olhos meio sombrios fixam em mim faz meu
estômago revirar.
É a primeira vez que fico tanto tempo admirando-o,
eu nunca o encarei tempo suficiente para notar tamanha
beleza. Eu precisava ter feito isso na frente dos seus
amigos cabeças de vento?
— Pode se retirar, empregadinha. Não escutou o seu
patrão? — A loira que está atrás de Andreo se levanta,
mas ele a segura pelo pulso, fazendo-a ficar no seu lugar.
Ela está irritada porque me viu olhando para ele.
— Cale a porra da boca, Isadora! — rosna Andreo.
Não sabia que ele tinha uma namorada.
— E-eu... vou limpar isso rapidinho — gaguejo, me
agachando e pegando os cacos de vidro. Por estar
nervosa demais, solto um gemido ao me cortar.
Uma sombra surge na minha frente, então ergo o
rosto e o vejo me encarando com a expressão fechada, a
sua mandíbula está travada.
— Quando eu disser que é para se retirar, é para
sair! Deixe isso aí e saia agora — ordena com grosseria.
Eu simplesmente assinto e me levanto. Nem pego a
bandeja, saio em disparada para dentro da casa.
Segurando o choro, entro no banheiro dos funcionários e
choro em frente ao espelho.
Nada como um dia após o outro. Nada. Mentalizo.
Eu espero suportar os próximos meses para alcançar
os meus objetivos, juntar dinheiro para o meu curso.
Depois de alguns minutos, sinto-me recuperada da
crise de choro. Lavo meu rosto e enrolo um pedaço de
papel higiênico no meu dedo indicador para parar o
sangramento antes de sair do banheiro. Em passos largos,
sigo na direção da cozinha, espero que a minha madrinha
ainda não tenha chegado, não quero que ela veja que
andei chorando, porque vai querer saber o motivo e nem
eu sei explicar direito o que me deu. Eu não sou assim,
não choro por qualquer coisa, mas hoje cheguei ao meu
limite.
Antes de entrar na cozinha, respiro profundamente e
suavizo a minha expressão, infelizmente, me deparo com
Simone cortando as verduras e cantarolando como se a
voz dela fosse a mais linda do mundo. Agradeço
mentalmente por ela me ignorar e faço o mesmo, dou as
costas para ela e finjo procurar algo nos armários.
— Vai ficar aí sem fazer nada, é? Por que demorou?
Foi no mercado comprar a água e o suco, por acaso?
Daqui a pouco é o almoço e não temos quase nada pronto
enquanto você fica por aí, enrolando — reclama,
venenosa, mas eu continuo ignorando-a. — Quando a
Dandara, chegar vou dizer a ela que você não serve para
trabalhar aqui, é muito lerda nos afazeres.
Fervendo por dentro, mordo os lábios e me livro do
curativo improvisado, jogando-o na lixeira.
Não se estresse, Alina. Não perca o controle, é isso
que ela quer. Você é mais do que isso.
Tenho certeza de que o meu subconsciente é zen,
porque se fosse diabólico estaria muito furioso e me
incentivando a estrangular Simone até fazê-la calar a
boca. Eu nunca fui uma pessoa agressiva, mas a minha
querida colega de trabalho me faz querer cometer
loucuras, e não de uma forma positiva.
Essa mulher me tira do sério, ela sabe que fui
contratada para fazer a limpeza, raramente estou na
cozinha, afinal, a ajudante da Dandara na preparação das
refeições é ela enquanto a outra funcionária está
afastada. Se duvidar, a ajudante que não está vindo pode
até mesmo ser demitida, uma vez que a dona Bárbara não
admite muitas faltas consecutivas, mesmo que seja por
questão de saúde. Quando digo que Bárbara Mancini é
uma megera falo muito sério.
— Você é surda, menina? Estou falando com você! —
Sua voz sai alterada, perdendo a paciência quando fico
em silêncio.
— Quando um não quer, dois não brigam, Simone.
Faça o seu trabalho, eu vou fazer o meu — digo,
calmamente. Quando me viro, perco o fôlego ao ver quem
eu menos esperava.
Andreo está encostado no batente da porta da
cozinha, os braços musculosos e tatuados cruzados no
peito, e com a expressão fechada. Não sei desde quando
está ali, mas pelo visto deve ter escutado tudo, porque
mesmo que esteja com o rosto tão endurecido, o brilho
divertido em seus olhos é evidente.
Ele agora está vestido e com o cabelo penteado para
trás. Me pergunto como pessoas tão diferentes podem ser
pai e filho. Enquanto o pai é um homem discreto, Andreo é
todo tatuado e com piercings na orelha, no nariz e até
mesmo nos mamilos, sem contar o ar de perigoso que ele
tem.
— É tão idiota que nem trouxe a bandeja de volta,
agora tem que voltar lá para buscar. Você é um caso
perdido — fala Simone, sem perceber a presença de
Andreo.
Uma vez que continuo calada, ela se vira e quase cai
para trás ao ver Andreo parado nos observando calado,
calculista demais. Ele pigarreia e dá um sorriso frio.
— Eu adoro lidar com casos perdidos, Simaria, mas
quando eu te pedir algo, faça você mesma, não mande
outra pessoa. Da próxima vez que mandar alguém fazer o
seu serviço, irá para o olho da rua — ele diz, com
autoridade.
Faço de tudo para esconder o sorriso ao ouvi-lo
chamar a megera pelo nome errado, sinto que foi de
propósito.
— É Simone, senhor... E sim, m-me... perdoe-e...
Mas a Alina se ofereceu para levar a bandeja, porque eu
estou ocupada aqui. Não se preocupe, isso não vai mais
acontecer — a safada mente na caradura, me deixando
perplexa.
Andreo ignora Simone e me olha novamente da
cabeça aos pés, mas não fala nada, só me observa por
muito tempo antes de se virar para a mulher que acabou
de deixar sem reação com poucas palavras que direcionou
a ela.
— Vá buscar a bandeja e leve algo para limpar o
chão. Eu quebrei um copo. — Dá ordens, deixando
Simone boquiaberta e eu sem saber como reagir.
— Sim, senhor. Com licença. — A mulher de repente
sai em disparada para fora da cozinha.
Envergonhada e incomodada por sentir o seu olhar
em mim, desvio os olhos para os armários. Essa mania de
encarar a pessoa sem um pingo de discrição me deixa
sem jeito.
— Qual o seu nome? — Ele se aproxima.
Quando dou alguns passos para trás, Andreo
percebe o que estou fazendo, imediatamente um sorriso
sacana curva os seus lábios.
Caramba, ele tem uma aparência muito intimidadora,
mas esse sorriso de conquistador barato é até bonitinho.
— Trabalho aqui há três meses e você nem sabe o
meu nome? — retruco, arqueando a sobrancelha, não
deixando que ele me intimide.
— E eu deveria, boneca? — responde à altura.
Engulo em seco com o seu tom sarcástico.
Quanto mais ele se aproxima mais eu recuo, tanto
que acabo batendo a minha bunda na madeira do armário.
— Se não deveria, não entendo o motivo da sua
pergunta anterior. — Eu o encaro, encorajada.
Ele passa a língua entre os lábios avermelhados e
sorri de lado em seguida. Andreo acaba com a nossa
distância, me fazendo prender o ar nos pulmões quando
coloca uma mão a centímetros do meu rosto. Arregalo os
olhos ao me dar conta que o filho do prefeito está prestes
a tocar a minha pele. Consigo sentir a respiração dele,
apesar de ser mais alto do que eu, muito mais.
— Parece que vai infartar, Alina — diz, desdenhoso,
ao afastar a mão, mas não distante o bastante para que
eu não me sinta em perigo.
O imbecil sabe o meu nome. Uau. Talvez ele saiba
mais do que demonstra. Sinceramente, não entendo essa
aproximação, ou o que ele pretende com essas atitudes
estranhas.
— Senhor, me dê licença, eu preciso trabalhar. —
Tento passar por ele, mas sou surpreendida quando ele
segura a mão que cortei e a ergue, inspecionando o corte
superficial no meu dedo.
— O único senhor nessa casa é o meu pai, Alina. E
não se apresse para voltar a trabalhar, pelo que ouvi,
você é feita de escrava por sua colega. Mas estou muito
surpreso, já que você não parece ser do tipo submissa. —
Andreo passa a ponta do dedo dele no meu, me causando
um arrepio bobo.
— Tem razão quanto a isso, mas eu preciso do meu
emprego e tenho que engolir sapos para alcançar os meus
objetivos — esclareço. — O que você quer comigo? Se
alguém aparecer e nos encontrar assim posso ser
prejudicada. — Espalmo a mão no seu peito e o empurro
de leve para trás, finalmente respirando aliviada quando
ele se afasta.
Esse Andreo é muito diferente do que vi lá fora,
sombrio e grosseiro.
— Fique longe dos meus amigos, principalmente da
Isadora. — Ele dá o aviso e acabo rindo, mas logo fico
séria ao notar que ele está com a mesma expressão da
piscina.
— E por que iria me aproximar? Nunca nos falamos e
você mal olha para mim desde que comecei a trabalhar
aqui. E hoje, do nada, você me diz para ficar longe da
realeza? Sinto muito, sr. Mancini, mas fui contratada para
fazer o que me mandam, e se isso incluir servir seus
amigos, que seja — digo, com a voz firme. — Se o seu
pedido é por conta do que aconteceu hoje, posso garantir
que não irá mais acontecer. E faço questão que desconte
o valor do copo que quebrei do meu salário. — Quando
estou umedecendo os lábios secos com a língua, noto que
Andreo segue o movimento, ele nem mesmo disfarça. É
um descarado.
— Não se trata disso, garo...
— Simone, desculpe por ter demorado. A fila do
mercado estava enorme.
Começo a suar frio ao ouvir a voz da minha
madrinha, e fico mais tensa ao vê-la entrar na cozinha
toda sorridente, mas o seu sorriso morre quando percebe
que não estou sozinha.
Andreo continua parado, e mesmo que não
estejamos como antes, ele está perto o suficiente para
Dandara querer puxar minhas orelhas.
— Sr. Andreo, está precisando de alguma coisa? — A
mais velha é direta.
Ah, droga. Merda. Esse... esse cara nunca aparece
na cozinha, minha madrinha vai pensar besteira. Já estou
vendo que vai sobrar para mim.
— Não, Dandara, só vim pedir um favor a Simone.
Com licença — diz, saindo rapidamente sem olhar para
trás.
Fico intrigada com o seu pedido, ele não me explicou
o motivo de querer me manter distante de pessoas que
sempre virão para cá e que de um jeito ou outro terei que
servir, porque sou a empregada da casa.
Desconfiada, mesmo que eu não tenha feito nada
errado, fico cabisbaixa ao ouvir os passos de Dandara se
aproximando.
— O que ele queria com você, Alina? — pergunta,
seca.
Estremeço com a hostilidade, ela não é assim,
sempre foi amorosa comigo.
— M... madrinha, o sr. Andreo disse o que era. —
Tomo coragem para a encarar e a encontro com aquele
olhar de quando eu era criança e fazia algo errado.
— Espero que seja mesmo, Alina. A dona Bárbara só
me permitiu trazê-la para trabalhar aqui porque dei a
minha palavra que você se manteria longe do filho dela.
Então, por favor, filha, não me decepcione. Esse rapaz
não é flor que se cheire. E se em algum momento Andreo
tentar algo com você é só para brincar com o seu coração
— avisa, duramente. — Se ela souber que ele está se
esgueirando para a cozinha vai me demitir e a você
também, ela não vai permitir que...
Como só estou sabendo disso agora? A dona
Bárbara é bem pior do que eu pensava.
— Madrinha, se acalme, eu sei... eu sei de tudo. Não
se preocupe comigo, o filho dos patrões não me interessa.
Ele pediu para a Simone juntar os cacos do copo que ele
quebrou. Ele já estava saindo quando você chegou —
defendo-me, interrompendo-a.
— Acho bom, Alina. Andreo é muito diferente de
você, se meter com esse menino só vai...
— Madrinha, por favor. Eu já disse que não tenho
interesse nele, e outra, ele tem uma namorada muito
bonita que está na piscina com ele, então sossegue o seu
coração, o.k.? Vou terminar de arrumar o andar de cima e
já desço para ajudar a colocar a mesa para o jantar —
falo, cansada da sua insistência.
— Deixe para terminar o restante amanhã. Pode ir
para casa, não vou demorar muito hoje.
Arregalo os olhos, sem acreditar. Meu coração fica
apertado ao perceber a sua falta de confiança em mim.
Apenas assinto e saio da cozinha, indo na direção ao
quarto dos funcionários.
Minha madrinha foi a primeira funcionária contratada
pelo prefeito, ela é meio que a governanta da casa, então
tem a liberdade de me liberar mais cedo.
Se fosse em outra ocasião, eu ficaria feliz em voltar
para casa bem antes do meu horário, mas saber que ela
está agindo assim porque está desconfiada da visita
inusitada de Andreo me irrita e me entristece. O que o
filho do prefeito iria querer com uma simples garota como
eu? Não que eu seja pouca coisa, mas ele não teria olhos
para mim tendo uma namorada tão bonita e da mesma
classe social ao seu lado. E sem contar que ele não faz o
meu tipo, mesmo que seja bonito, cheiroso, tatuado e
carregue aquele ar de perigo que me deixa curiosa.
Qualquer pessoa no meu lugar acharia o máximo ter
um pai prefeito, mas eu acho uma porcaria, mesmo que
tenha as suas vantagens. Ser filho de Alberto Mancini é
duro demais, às vezes me pergunto se realmente sou filho
dele. Ele é muito diferente de mim, normalmente, os
filhos, nem que seja um pouquinho, puxam aos pais, só
que eu não tenho nada dele, nada que se pode dizer que
herdei do meu pai.
Por não ser muito apegado a essas coisas
emocionais, não ligo, quer dizer, somente as coisas que
me interessam. Apenas vivo a minha vida como ela deve
ser vivida. Apesar de o grande Alberto tentar interferir em
tudo o que eu faço por achar que vou destruir a sua
imagem de bom homem em Vale Santo, um lugar onde os
moradores o veem como um santo, por se dedicar tanto a
promessas que fez quando se elegeu a prefeito.
Devo reconhecer que o meu pai é bom em cumprir o
que promete, esse é o único motivo de me fazer andar na
linha algumas vezes. Mas quando quero algo, nem ele e
muito menos a minha mãe podem me impedir de fazê-lo.
Pensando bem, acho que estou enganado, Alberto e eu
temos sim algo em comum, pelo menos isso, ambos
somos insistentes.
Nos últimos três meses tenho vindo com frequência a
Vale Santo. Aqui não é o meu lugar preferido, a calmaria
de cidade pequena me deixa inquieto, mas a sra. Mancini,
minha querida mãe, faz de tudo para que eu fique por
perto, o sonho dela é que algum dia eu siga os passos do
meu pai, como se a merda da política enchesse os meus
olhos.
Nada do que meus pais façam me causa admiração.
Eles gostam de viver misturados com a alta sociedade,
vão para eventos bobos onde mulheres ricas e fúteis se
sentam a uma mesa para falar mal umas das outras e
exibir as suas fortunas, entre outras besteiras. Bem, tem
quem goste disso, mas não eu.
Mesmo que Isadora e os cuzões que vivem a
acompanhando para cima e para baixo sejam chatos como
ela, me servem quando estou entediado. Mas não são
meus amigos, jamais poderão ser. Eles aparecem aqui
sem nem mesmo eu os convidar, ela os traz e a minha
mãe acha a coisa mais normal do mundo quando a nora
dos sonhos vem tentar me conquistar de novo – como se
isso fosse possível. Quando namorei Isadora Gusmão, eu
tinha dezoito e ela dezessete, nossas famílias são amigos
desde que éramos crianças.
Sabe aquela coisa de gente que tem dinheiro e quer
unir as heranças? São os Gusmão e os Mancini, ao menos
da parte da minha mãe, que vive sonhando acordada que
algum dia Isadora e eu iremos ter alguma coisa
novamente.
Mesmo que a garota se ofereça para mim e fique me
perseguindo em todos os cantos, tentando me agradar,
finjo que nada está acontecendo. Se eu der uma pontinha
de esperança que seja a ela, perco a minha paz de vez.
No mês passado, quando voltei para Monte Verde, entrei
em casa e a encontrei nua na minha cama, se
masturbando. Assim que me viu, ela sorriu e me convidou
para se juntar a ela, mas é claro que recusei. Mesmo que
Isadora seja gostosa, não sou louco de enfiar o meu pau
nela, ali é problema na certa. Se algo acontecer entre a
gente é bem capaz de ela correr para a minha mãe para
me obrigar a casar com ela.
Nesse dia, Isadora surtou comigo porque a rejeitei,
até me perguntou se eu estava gostando de homem, já
que não a queria sendo que é muito linda e blá-blá-blá.
Falei para ela que não estava a fim de me envolver com
ninguém, não queria um relacionamento, muito menos um
onde minha mãe enfiaria o nariz sempre que pudesse. Foi
então que Isadora tentou me convencer de que
poderíamos transar sem compromisso, eu quase ri, mas
para que ela não se sentisse pior, eu a dispensei
educadamente. Furiosa, ela se vestiu rapidamente e foi
embora.
O foda da presença de Isadora na minha vida é que
mesmo que eu a dispense, ela sempre vai insistir, porque
sei que a minha mãe é cúmplice dela. Elas acham que em
algum momento vou ceder, mas isso não vai acontecer.
Isadora pode aparecer na minha casa, podemos beber,
fazer farra, sair por aí e correr com carros, no entanto,
não passará disso. Eu faço as minhas próprias escolhas e
Isadora Gusmão não é uma delas, não vou cair no seu
joguinho. Claro que gosto de foder uma boa mulher,
porém, essa está fora de cogitação, tenho amor à minha
liberdade e ao meu pau, essas são duas coisas que prezo
muito.
Após ter passado uma manhã insuportável ao lado
dos meus amiguinhos na piscina e daquela ceninha de
ciúme de Isadora com a afilhada de Dandara, estou
arrumando minhas coisas para dar o fora daqui. Não
quero passar o final de semana na companhia dessas
pessoas. Soube por minha mãe que Isadora vai embora no
domingo e eu não vou ter paciência para aturar a garota e
os primos idiotas dela no meu pé. Quem me vê com eles
acha que somos iguais, que somos amigos, mas é o
contrário, eu os aturo por causa da minha mãe, que faz
dramas e me pede para ser educado com os convidados
dela para que não saiam falando por aí que não são bem
tratados em sua casa. Como se eu ligasse para opiniões
alheias. Se fosse assim, eu nem teria o corpo coberto por
tatuagens, muito menos colocado piercings.
Alguém bate à minha porta, mas não respondo,
continuo colocando minhas coisas na mala.
— Andreo, filho, precisamos conversar — minha mãe
diz do outro lado da porta.
Porra. Tenho certeza de que Isadora foi fazer a
minha caveira. Mimada do caralho.
— Entre. — Bufo, frustrado.
Minha mãe entra e olha diretamente para a minha
mala, então ergue a sobrancelha e franze o nariz ao
direcionar o olhar para as minhas tatuagens.
— Toda vez que olho para essa coisa que você fez
no seu corpo tenho vontade de chorar, filho. Você
estragou a sua pele com esses rabiscos — recrimina,
ácida.
Todas as tatuagens e piercings que tenho paguei
com o meu dinheiro. Eu faço uma coisa aqui e outra ali,
não sou tão mimado como as pessoas pensam e me
julgam. Cheguei a cursar um semestre de Engenharia
Mecânica, mas não concluí o curso. Minha mãe sempre
dizia que a profissão não estava à nossa altura, e tivemos
uma discussão tão séria por conta disso, que eu acabei
me estressando e achei melhor trancar o curso. Apesar de
não ter concluído, aprendi algumas coisas e tenho os
meus contatos. Eu consigo um emprego sem precisar da
influência dos meus pais, quando quero algo, vou lá e
faço, e foi assim com as minhas tatuagens.
Se eu fosse seguir o que me impõem, eu seria como
aqueles filhos engomadinhos e bobos. Não que eu não
goste de viver no luxo, quando se tem dinheiro a
qualidade de vida de qualquer pessoa é melhor, mas tem
hora que tenho vontade de sumir para bem longe.
— Veio aqui para falar das minhas tatuagens?
Deveria enviar uma mensagem de texto, assim não se
daria o trabalho de vir aqui — retruco, passando os dedos
nervosamente nos fios do meu cabelo.
Muito antes do meu pai decidir ser prefeito de Vale
Santo, já tínhamos essa mansão para passarmos os finais
de semana. Meus pais sempre foram ricos, portanto,
ocupar esse cargo na cidade é mais uma distração para
ele. Não que Alberto brinque com a vida do povo, é o
oposto, ele faz muito bem o seu trabalho, o que às vezes
enlouquece a minha mãe, uma vez que ela não tem um
pingo de humildade. Para mim, não importa se a pessoa é
pobre ou milionária, pessoas são pessoas, quando a
morte chega ela não escolhe pela classe social, então não
entendo como tem gente que é fútil a ponto de se sentir
como se fosse melhor do que os outros por ter uma
condição de vida melhor.
— Não seja grosseiro, Andreo. Não te eduquei para
que me trate assim — diz, se aproximando com aqueles
saltos exagerados. Não vejo necessidade de andar o dia
todo pela casa com esses saltos altos, mas, como eu
sempre falo, cada um com o seu gosto.
— Pelo que eu me lembre, as babás cuidavam mais
de mim do que você. — Arqueio a sobrancelha e ela fica
vermelha de raiva.
Toda vez que toco na sua ferida, Bárbara Mancini se
inflama. Por que eu deveria mentir? Desde que me
conheço por gente, a minha mãe me deixava com as
babás para sair com as amigas, nunca tinha tempo para
mim. Mas quando atingi a maioridade, ela milagrosamente
começou a me enxergar, claro, tinha planos para mim e a
filha dos Gusmão, então, seria mais viável a nossa
aproximação para atingir o seu objetivo.
A minha mãe é tão ressentida por não ter sido
presente na minha infância e adolescência, que faz tudo o
que eu quero, me permite fazer o que desejo sempre,
porém, nada é de graça, ela sempre pede algo em troca. É
como uma troca de favores, esses que custam caro
demais.
Um dos exemplos é Isadora Gusmão, que tenho que
aturar não por educação e consideração. Há um ano, eu
me envolvi em uma briga porque estava muito bêbado e
acabei quebrando o braço de um homem em Monte Verde,
quase fui preso, então, a minha mãe me livrou disso ao
subornar os policiais, que me liberam e deram fim ao
boletim de ocorrência. Desde esse acontecimento, estou
em suas mãos. Meu pai nem imagina desse meu deslize,
se soubesse já teria tido um infarto, como Bárbara vive me
chantageando quando pode.
É. É isso mesmo, temos uma relação meio estranha
de mãe e filho, quase tóxica.
— Querido, achei que depois de tantos anos, você
tinha superado isso. Pelo amor de Deus, Andreo, você já
tem vinte e quatro anos, não é mais uma criança —
devolve, revirando os olhos.
— Exatamente por isso que estou voltando para a
casa, porque sou maior de idade e dono do meu nariz.
Não consigo ficar aqui, isso aqui não é o meu mundo —
digo, voltando minha atenção para a mala.
— Você não vai a lugar algum, Andreo. Segunda-
feira teremos um jantar aqui em casa, com alguns amigos
que virão de Monte Verde, então trate de desfazer essa
mala agora mesmo — diz de maneira autoritária.
— Além de querer me empurrar a Isadora, me querer
enfiar em uma porcaria de terno e colocar a coleira em
mim para passear comigo como se eu fosse o seu filho
prodígio, vai querer também que eu role no chão e diga
“au, au” para os seus amigos, sra. Mancini? — pergunto,
entredentes.
Fecho os punhos, indignado. Somos assim quando
não estamos diante de uma plateia, quando temos
espectadores, Bárbara é a melhor mãe do mundo, a
esposa e dona de casa perfeita, mas por trás ela mostra
como é de verdade. Tóxica e controladora. Isso resume a
mulher que me deu a vida e que parece cobrar muito caro
por tal ato.
— Baixe o seu tom de voz, garoto! Eu nunca te
obriguei a nada, se você participa dessas reuniões é por
retribuição. Você é filho do prefeito, então se comporte
como tal! E está avisado. Você não sairá daqui, e se
tentar, mando o segurança furar todos os pneus dos seus
carros — ameaça.
— E por que acha que vou seguir as suas ordens?
Sabe muito bem que tenho os meus contatos e posso sair
daqui quando eu quiser. — Fecho a mala e a puxo para
fora da cama.
— Passe por essa porta e aquela empregada será
demitida por justa causa por ter quebrado o meu copo.
Acredito que você, tão bondoso, não gostaria de deixar
aquela pobretona desempregada por causa de um mísero
copo, não é?! — responde à altura, me fazendo recuar. —
Acha que eu não sei o que se passa nesta casa, Andreo?
Volte para Monte Verde e verá do que sou capaz.
Como ela sabe dessa porra? Claro que iria saber.
Isadora.
Alina é a mais nova vítima de Bárbara, acabo de
confirmar. A garota está trabalhando há poucos meses
aqui e eu a tenho observado discretamente para que a
minha digníssima mãe não a veja como uma ameaça,
afinal, a garota é nova, muito bonita e me interessa desde
a primeira vez que coloquei os olhos nela, quando estava
inclinada sobre a cama de um dos quartos tentando
arrumar o lençol.
Certamente, se me visse perto da nova funcionária,
trataria de demiti-la rapidamente, então fiquei pelas
sombras, apreciando a morena gostosa e atrevida. Meus
dias aqui têm sido menos entediantes, porque intimamente
tenho uma distração deliciosa. Ela me diverte quando está
passando pelo corredor dos quartos no andar de cima
cantando desafinada, ou quando está dançando e
rebolando como se ninguém pudesse vê-la. Se ela
soubesse que não é tão invisível quanto pensa ficaria
louca.
A garota é terreno proibido, isso eu sei, só que amo
desafios, porém, Alina não é boba, ela é difícil, conheço
as mulheres e essa garota não vai ceder tão facilmente. E
para completar, Dandara, a sua madrinha, vive de olho
nela, aquela senhora não vai permitir que eu me aproxime
da afilhada. Constatei mais cedo, na cozinha, que a
mulher não gostou de nos ver tão próximos. Ela acha que
posso ser uma má influência para a menina, e tem razão,
talvez eu seja, mas ninguém faz nada obrigado, claro,
depende da circunstância.
Se Bárbara demitir Alina não será bom para ninguém,
só que eu não posso mostrar a ela que estou tão afetado
com a sua ameaça.
— Você não manda em mim, Bárbara — rosno,
revoltado.
— Enquanto depender do meu dinheiro e do seu pai,
sim, eu mando e você obedece — diz, irritantemente.
— Dependo porque você me faz depender! Me
sabota, não me deixa ter oportunidades como alguém
normal, vive atrapalhando a minha vida. — Tento sair do
quarto, mas ela me impede.
— Eu só quero o seu bem, Andreo, entenda isso! Eu
sou a sua mãe, me respeite! — grita histérica e começa a
chorar. Eu sei que o seu choro é falso, minha mãe é uma
ótima atriz.
— Mãe é quem cria! E se você vai continuar com
essa perseguição, tome tudo que me deu. Posso construir
as minhas coisas sem o seu dinheiro! — Aperto a
mandíbula, raivoso.
— Como? Trabalhando naquela oficinazinha dos seus
amigos ridículos? — desdenha, colocando a mão na
cintura e me olhando desafiadoramente.
— Isso mesmo, sra. Mancini — afirmo, com a
expressão fechada.
— Não sei se isso será possível, Andreo, já que
aqueles pobretões só andam com você para usufruírem do
que você pode proporcionar. O que vão achar de você sem
seus carros importados? Sem as bebidas caras? Não vou
mais limpar a sujeira que você faz quando banca o
garotinho revoltado em suas corridas idiotas. — Ela sai do
meu caminho e se senta na cama, cruzando as pernas e
dando um sorriso perverso. — Saia por aquela porta e
perderá tudo. E ainda vai deixar uma humilde garota sem
emprego, e eu sei que a menina quer fazer um curso, mas
precisa de dinheiro.
A cada ameaça dela sinto meu estômago contorcer e
o ódio enraizar no meu sangue.
— Pois fique com os seus planos ardilosos e
aproveite para dizer para a sua querida Isadora que nem
que ela fosse a única boceta no mundo, eu me casaria ou
namoraria com ela. De fútil já basta você em minha vida.
Deixo Bárbara Mancini furiosa e com os olhos
arregalados. Saio do quarto com a mala e não olho para
trás, aprendi a fazer isso quando vou embora de algum
lugar. Pode ser doloroso dizer adeus, não importa de que
forma seja. Só não gosto de olhar para trás.
Ouço os passos largos e o som dos saltos
arranhando o piso atrás de mim, mas continuo andando.
— Andreo Mancini, olhe para mim! — grita.
Eu a ignoro até ouvir o seu soluço. Semicerro os
olhos e, mesmo na força do ódio, viro-me para ela.
— Me deixe em paz, mãe. Você não precisa de mim
para se destacar na sociedade. O seu dinheiro pode
comprar a atenção do mundo, mas não a minha. Eu sou o
seu filho, mas você não pode me controlar, não sou a sua
marionete — digo, com o dedo em riste, mesmo com ela a
alguns metros de distância.
— Acho bom me obedecer. Na segunda à noite você
vai colocar o terno mais caro que tiver, vai tirar esses
piercings e passar uma maquiagem nas tatuagens em seu
pescoço para esconder esses desenhos ridículos! — Ela
me ignora e volta a me ameaçar, cheia de autoridade.
— Esqueça. Tire da sua cabeça que vou fazer o que
está me pedindo. — Mandando, na verdade, ela manda,
não pede.
— Se voltar para Monte Verde me pagará caro. —
Coloca as mãos na cintura e me lança um olhar mortal.
— Pois comece a cobrar, porque estou disposto a
pagar a minha dívida com o diabo de uma vez. — Dito
isso, dou as costas para ela e desço a escada, ouvindo os
seus gritos e ameaças soarem ao longe.
Ela só está dando esse show porque o meu pai está
em Monte Verde, se ele estivesse aqui, ela estaria se
comportando totalmente diferente.
Pela manhã, assim que chego para trabalhar, a dona
Bárbara me chama no escritório, nem me deixa colocar o
uniforme. Agora estou sentada de frente para ela, que
está me encarando com aqueles olhos acinzentados quase
iguais aos do filho, desde que entrei na sala, há mais ou
menos dez minutos. A mulher não diz nada, somente me
olha, me deixando desconfortável com a sua falta de
comunicação.
— A senhora disse que quer falar comigo, então
estou aqui. — Pigarreio.
É óbvio que estou aqui, ela está me encarando, mas
acho que é necessário dar esse empurrãozinho nela.
— É o seguinte, Aline. — Ela pega uma caneta no
porta-canetas e começa a girar o objeto na madeira.
Não que seja da minha conta, mas essa mulher,
quase oito da manhã, já está usando esses saltos
exagerados, essa roupa elegante que não parece nada
confortável para ficar em casa. Eu paro e me pergunto:
qual a necessidade? Ela se veste assim ao acordar até se
deitar para dormir, parece aquelas modelos de comerciais,
zero defeitos. O.k., reconheço que a venenosa é muito
bonita, chique, mas o que a deixa feia é esse
comportamento de dona do mundo, trata as pessoas como
um nada, e a vida não é assim. Bem, quem sou eu para
ensinar a ela bons modos? Ela é a ricaça aqui, não eu.
Enfim, cada um sabe da sua vida.
— É Alina, senhora — corrijo-a, sem me importar que
seja a minha chefe.
Não sou uma pessoa folgada, mas, poxa, essa
mulher merece receber o mesmo tratamento que dá para
as pessoas, reciprocidade nunca é demais.
— Tanto faz, menina. Eu te chamei aqui para termos
uma conversa e não para descobrir como você se chama.
— Dá de ombros e mexe no cabelo negro bem-penteado
em seguida.
Que vaca! Megera! Essa daí é a rainha das bruxas!
— Certamente não. Mas se a senhora puder adiantar
o assunto da conversa... tenho alguns quartos para
limpar... — falo, com uma falsa calma e dando a ela um
sorriso inocente.
Quando ela semicerra os olhos, o meu diabinho
interior pula animado.
Atire a primeira pedra quem não tem ao lado da
orelha um anjinho para te levar para o caminho bom, e um
diabinho para te induzir diretamente para o inferno.
Às vezes, quando percebo que a minha paciência
está no limite, faço algumas notas mentais e penso no
quão bom seria a minha alma ir para o céu. Mas aí vem o
meu lado pernicioso para acabar com a minha castidade.
— Nada nesta casa é feita sem a minha permissão,
Alina. Espero que você coloque isso na sua cabeça. —
Dessa vez ela pronuncia o meu nome corretamente.
Que mau humor do cão. Hoje ela está mais azeda do
que de costume. Minha madrinha é uma guerreira,
trabalha há quatro anos aqui e ainda não perdeu o juízo.
— Sim, senhora, eu não penso o contrário. — Meneio
a cabeça, concordando mesmo que por dentro eu esteja
ofendendo-a.
— Ontem, eu soube que você quebrou um copo na
piscina quando estava servindo os meus convidados,
pessoas importantes para mim. — Ela apoia os cotovelos
na madeira e me encara seriamente.
O sangue foge do meu rosto. Puta que pariu, alguém
me dedurou.
— Sra. Mancini, ontem mesmo eu falei para o sr.
Andreo descontar o valor do copo do meu salário. —
Minha voz vacila.
— Meu bem, não se trata disso. Se eu for descontar,
não vai sobrar nada para você. O copo que você quebrou
é de uma coleção rara, certamente não vai entender
porque nunca poderá comprar um daqueles — retruca,
sem esconder a fúria. Não sei por que, mas parece que a
sua ira é por outro motivo.
Uau. Essa sabe como humilhar com classe. Doeu!
— Com certeza não, e se eu tivesse dinheiro não
gastaria tanto com algo supérfluo só para dizer que tenho
algo caro — respondo, sem me arrepender da ousadia.
— Você está me dizendo isso mesmo? A mim, a
Bárbara Mancini? — A sua risada é sombria e com
escárnio.
— Dona Bárbara, eu poderia até me desculpar pela
resposta, mas eu penso dessa maneira. A vida deve ser
vivida com reciprocidade, e eu só estou devolvendo o que
recebi da senhora desde que entrei aqui. — Jogo meu
cabelo para trás e respiro fundo. — Sim, eu sou pobre,
sem classe, assalariada e de origem humilde, mas prezo
pela minha virtude e posso afirmar que se continuar com
esse tom de humilhação pedirei demissão. Eu já disse que
pode descontar do meu dinheiro o prejuízo, não importa
se vou ficar sem um tostão! — Meus olhos ardem, mas
não choro.
— Acha que esse discurso é suficiente? — A víbora
continua na sua plenitude, como se nada a abalasse.
— Sim, por isso não posso permitir que me trate
como um cachorro. Tenho os meus direitos e exijo
respeito, assim como respeito a senhora. — Estou prestes
a me levantar e sair quando alguém abre a porta e entra.
Não ouso me virar para ver quem é.
— Bárbara, o que está acontecendo aqui? — Meu
coração salta quando escuto a voz do sr. Mancini.
A mulher se remexe na cadeira e, de repente, sua
expressão suaviza. Fico chocada com a mudança de
humor dela. Além de ser uma cobra, é falsa.
— Alberto, meu amor, bom dia. Não sabia que estava
voltando hoje — ela diz, se levantando e indo até ele,
sequer me olha mais.
— Se me atendesse, com certeza saberia da minha
volta — diz ele, e eu sorrio por dentro.
Toma vaca má!
— Quanta hostilidade. Como me trata assim na frente
da nossa ex-funcionária?
Congelo com o “ex”. Eu deveria imaginar que esse
seria o meu destino desde o início. Mesmo inconformada e
louca para chorar com a decisão da minha chefe, eu me
levanto e penduro minha bolsa no ombro, envergonhada
por notar que o sr. Alberto me encara com curiosidade.
— Bom dia, sr. Alberto. — Sorrio tristemente. — E
obrigada pela oportunidade de trabalho, foi um prazer
trabalhar para o senhor. Se me der licença... —
Cabisbaixa, passo por eles com um aperto no peito e
preocupada que minha madrinha seja prejudicada no
emprego, uma vez que foi ela que me indicou.
— Alina, vá vestir o seu uniforme. Quem te contratou
fui eu, só eu tenho o poder para te demitir, e um copo não
é justificativa para isso. Deixe que eu me resolvo com a
minha mulher. Agora pode ir.
Assusto-me com a voz do meu patrão, que soa muito
decidida. Quase caio para trás ao vê-lo passar por cima
das ordens da esposa.
— Obrigada. Senhor... com licença — gaguejo,
comemorando por dentro, quase sorrindo.
Antes de deixar a sala, escuto a megera perguntando
como ele pôde desautorizá-la na frente daquela
empregada. Logo em seguida, ele diz que o Andreo ligou
para ele avisando sobre essa decisão sem cabimento. Que
a dona Bárbara não poderia me demitir por uma bobagem
dessas.
Para não ser pega escutando o restante da conversa,
saio em disparada para o quarto dos funcionários para
trocar de roupa.
Quando chego lá, agradeço por não me deparar com
a Simone, a minha cabeça está doendo, meu humor voou
para as galáxias, e ter mais alguém para tirar o resto da
minha paz seria muito azar.
Por pouco não fui despedida por causa de um
bendito copo. Mas o que mais me deixou intrigada foi a
maneira agressiva com que a mulher estava me tratando,
nunca a vi tão raivosa.
Meus pensamentos voam para o que aconteceu
ontem, na piscina, e depois em Andreo me pedindo para
manter distância dos amigos dele. Será que foi um deles
que me dedurou, ou o próprio Andreo, por eu ter
respondido daquele jeito para ele? Bom, não é mais tão
importante, já que ela ficou sabendo e quis me colocar no
olho da rua.
Primeiro, prendo o meu cabelo em um coque firme,
então tiro minhas roupas e começo a colocar o uniforme
vermelho com detalhes brancos. É um vestido de manga
curta com avental e vai até os joelhos. Quase pronta, me
sento na beirada do colchão e coloco as sandálias que
costumo usar por serem mais confortáveis, em seguida,
respiro fundo e sorrio.
— Vamos lá, Alina, hoje você venceu uma batalha,
mas não a guerra — me encorajo e me levanto.
Ainda bem que a minha madrinha não chegou ainda,
uma vez que precisou passar na farmácia para comprar os
seus remédios para a diabetes.
Levo a mão à maçaneta da porta, mas alguém a abre
antes. Quando eu vejo a mão tatuada com veias salientes
segurando a porta, automaticamente tento fechá-la.
— Porra, gata, quer arrancar a mão que mais uso? —
diz Andreo, soltando um gemido.
Aperto os olhos.
— O que quer? — pergunto, com os batimentos
cardíacos acelerados.
— Não queira saber, vai por mim. — O seu humor é
irritante. Eu me afasto da porta enquanto ele entra no
quarto e avalia cada canto antes de fixar seu olhar em
mim, mais uma vez dando aquele olhar safado como se o
meu uniforme fosse algum tipo de fantasia para ele.
— Acho que errou de quarto. E pare de me olhar
assim — falo, morrendo de medo que Dandara ou Simone
apareçam.
— Dificilmente eu me perco no caminho. — Ele
lambe os lábios e passa a mão por seu cabelo,
bagunçando-o.
O folgado passa por mim e se senta na cama, então
viro-me rapidamente e percebo que ele estava olhando
para a minha bunda. Safado.
Vermelha de raiva, fecho a cara e ele solta uma
risada.
— Que sem vergonha. Dê o fora daqui, seu... seu...
— Cruzo os braços sobre o peito quando vejo que ele está
olhando muito nessa direção. Só então noto que esqueci
os botões do uniforme abertos, pelo menos uns quatro, e
o meu sutiã está à mostra.
Sem ter onde enfiar a cara e toda atrapalhada, eu
começo a fechar os botões enquanto ouço a risada de
Andreo.
— Saia daqui, por favor, alguém pode entrar. Eu
quase fui demitida hoje, se os seus pais te pegarem aqui
dentro, vai sobrar para mim — digo, com a respiração
ofegante ao vê-lo se levantar e se aproximar de mim.
— Alina, Alina, eu sei de tudo isso. E me agradeça
por ter salvado a sua bunda com o meu pai. — Pisca para
mim e se aproxima mais, o quarto é tão pequeno que mal
tem espaço para os dois.
— O quê? — Finjo não saber de nada.
— Isso mesmo. Ontem eu ia embora, mas quando
soube que a minha querida mamãe iria te demitir, intervi
por você. — Ele toca no meu rosto e me intimida com os
seus olhos intensos.
— Obrigada por isso, e com licença — murmuro,
tirando a mão dele de mim.
— Não é bem assim, gata. — Ele estala a língua e
faz um biquinho provocante.
— E como é? — Arrisco-me a perguntar, mesmo
sabendo que estou caminhando sobre espinhos.
— Eu quero um encontro com você — diz, decidido e
sério.
Boquiaberta, arregalo os olhos com a audácia dele.
— Eu não vou transar com você, seu babaca. Se
achou que eu abriria as pernas em agradecimento por não
ter sido demitida está muito enganado. Pegue esse
emprego e enfie no seu... — Me calo quando ele fecha a
mão ao redor do meu pescoço de maneira firme, mas não
com força, e me puxa para perto dele, o suficiente para os
nossos lábios se tocarem.
— Você fala demais, Alina. E seja mais humilde com
o seu salvador — murmura, com a voz rouca. — E não se
preocupe, ainda não vamos transar. Você tem cara de que
é virgem, mesmo que seja uma gatinha e ame colocar as
garras para fora.
Fico pasma com a transparência de Andreo, ele é
muito desbocado.
— A minha resposta é não. Você e eu nunca vai
acontecer! — exclamo, empurrando-o pelo ombro.
Ele por fim me larga e se afasta.
— Lá em cima tenho uma agenda com metas e
desejos escritos nela, e você está nas duas — Andreo
sorri de lado e prende os lábios nos dentes de um jeito
sexy. — Alina Martins, muito em breve teremos mais do
que um encontro. Você sabe que tenho razão.
Perco as palavras diante dele.
— Saia daqui, por favor — peço, em choque.
Andreo sai logo em seguida. E tenho certeza de que
satisfeito, porque conseguiu me abalar.
Alina.
Alina Martins, você ainda vai ser minha.
Caminho no corredor do andar de cima com a porra
de um sorriso malicioso desde que deixei o quarto dos
empregados e fui buscar a minha mala no meu carro. Hoje
foi apenas um aquecimento. Ela é difícil, a morena é jogo
duro, irritadinha, até me deu mais um fora.
Sei que me expressei muito mal, mas, caralho, nunca
precisei chamar uma mulher para um encontro, sempre foi
uma troca de olhar e um sorriso fácil para que as garotas
viessem até mim. Só que essa é diferente. Por ela não ser
como as outras, usei as armas que tinha, mas notei que
cometi um deslize ao dar a entender que o nosso encontro
se resumiria a sexo. Alina achou que eu queria transar
com ela como forma de pagamento por ter salvado seu
emprego.
— O que pretende com esse joguinho, querido?
Assusto-me ao entrar no meu quarto e me deparar
com a minha mãe sentada na minha cama, com as pernas
cruzadas.
Foda-se.
A perseguição vai começar mais cedo, mas o
causador da minha própria desgraça sou eu. Eu deveria
ter ido embora ontem, só que ao invés de partir dessa
porcaria, passei a noite em uma pousada na intenção de
entrar em contato com o meu pai para que ele livrasse
Alina de uma demissão vingativa vinda da Bárbara.
Só fiquei em Vale Santo porque conheço a cobra que
tenho como mãe. Ela pode ser muito maldosa quando
quer, mas como tenho seus genes, sou tão perspicaz
quanto ela.
— Do que a senhora está falando? — Me faço de
desentendido ao arrastar minha mala e abrir o closet,
jogando-a lá.
Pela primeira vez, uma garota está me fazendo ir
contra os meus ideais. Quando liguei para o meu pai pela
manhã, explicando o que a minha querida mãe pretendia,
ele se surpreendeu, acho que o deixei orgulhoso ao
demonstrar empatia. Ele ficou feliz ao me ver
intercedendo pela nossa funcionária.
Apesar do prefeito ter me dado ouvidos, ele me pediu
algo em troca. É claro que eu já imaginava que o meu pai
iria querer algo de mim, nada para os Mancini é de graça.
Alberto me pediu para comparecer ao tal jantar que terá
na segunda-feira, aqui em casa. Quase desisti, mas eu
não poderia voltar atrás, então mesmo de uma forma
indireta, Bárbara conseguiu me colocar na coleira através
do esposo dela.
Não que eu seja a melhor pessoa do mundo por ter
recuperado o emprego de Alina, se não me interessasse,
nem teria voltado aqui, deixaria que fosse demitida. Sim,
eu sou um grande filho da puta e não nego.
— Acha que o seu pai esconderia de mim o seu ato
de bondade, Andreo? Não se faça de besta! A vida toda
você adorou me desafiar, passar por cima das minhas
ordens! — diz, histérica, batendo os saltos com força no
piso.
— Não quero discutir, saia do meu quarto. — Dou as
costas para ela.
— Acha que sou boba, não é? Nós temos as nossas
desavenças, mas eu te conheço bem. Não se esqueça que
eu sou sua mãe, Andreo Mancini. Você não defendeu
aquela empregadinha por acaso, você não faz boas ações,
pouco se importa com as pessoas ao seu redor — acusa,
sondando-me como se quisesse me dar o bote.
— Isso é tudo? Agora pode sair, minha cabeça dói só
de te ouvir falar. — Levo a mão à cabeça e semicerro os
olhos.
— Pretende levar essa garota para a cama, não é?
Por isso essa atenção toda com ela? Eu sabia! Desde que
vi como você olha para ela desconfiei que seria um
problema para mim. Ela é bonitinha, nova... E como você
gosta de qualquer tipo de mulher, se interessou pela
pobretona! — Ela solta uma gargalhada.
— O que eu pretendo não te interessa, mãe. E pare
de especular o que não sabe! Saia daqui e me deixe
respirar, com você me sinto sufocado! — Solto um
grunhido, de saco cheio das suas interferências na minha
vida.
— Claro que se sente, não gosta de ouvir a verdade
— retruca com maldade. — Vai se aproveitar que a Alina é
uma pobre coitada, sem classe e...
— Já chega. Estou cansado dessa mesma história de
classe pra lá e pra cá... como se eu me importasse com
essa merda. — Reviro os olhos.
— Você tem espírito de pobre, como seu pai —
resmunga, revoltada.
— Um elogio vindo de você é raridade, primeira-
dama, então me sinto honrado. Obrigado — desdenho,
virando-me para ela.
— Continue por esse caminho, Andreo. Por sua
causa, a Isadora foi embora com os primos, porque você
simplesmente deu as costas para eles! — grita, alterada.
— Estou pouco me importando com a Isadora e os
primos dela. Foram tarde! — Vou até a minha cama e me
sento, então tiro a minha camisa e ela vira o rosto,
repudiando as minhas tatuagens, como sempre.
— Você sabe que eu consigo tudo o que quero. Não
importa se passam meses ou anos, eu consigo. Eu não
jogo para perder, nunca — ameaça, sombria.
— E estamos jogando? Ah, me esqueci que a nossa
relação de mãe e filho é jogo. Então, que vença o melhor.
— Eu me deito e fecho os olhos.
— Vai se arrepender, Andreo. Nunca se esqueça
desse dia e grave bem as minhas palavras — diz, com a
voz severa.
— Tá bom, agora saia. — Eu a ignoro.
— E não apareça para o café e o almoço, não quero
ver a sua cara tão cedo — declara, como se me afetasse
com as suas exigências.
— Uhum. Certo, não se preocupe com isso. E na
hora do jantar eu também não apareço, prefiro comer na
rua a me sentar à mesa com você. Não quero sentir o
gosto amargo da comida só por estar na sua presença —
devolvo à altura.
Minha mãe sai do meu quarto como um furacão,
violenta e furiosa. Por pouco não quebra a porta com a
força que coloca ao fechá-la. Com a cabeça latejando,
massageio minhas têmporas em movimentos circulares.
Que inferno! Maldição!
Eu deveria ter ido embora. Alina é jovem e se
mostrou muito inteligente, certamente teria arrumado um
emprego melhor do que essa jaula que se chama a casa
dos Mancini.
Minutos depois, meu celular começa a tocar, então
eu o pego e vejo o nome do Tiago na tela. Ele é sócio da
oficina em Monte Verde, onde faço alguns bicos de vez em
quando. Ele e o Daniel são donos da oficina, mas também
meus amigos.
— Fala aí, Tiago.
— E aí, cara. Soube que ainda está em Vale Santo,
quando volta? Estou com um serviço para você, a grana é
boa.
Ao fundo, ouço uma música, deve estar em alguma
festa.
— Estou sim, infelizmente. Mas para quando é o
trabalho? Dependendo de quando for, quero sim —
declaro, me sentando.
— Irmão, é para segunda-feira no final da tarde. O
cara vai deixar o carro aqui segunda pela manhã.
— Porra. Dessa vez não vai dar, estou enrolado com
um jantar que meus pais vão dar aqui em casa para uns
amigos, não posso vacilar dessa vez — digo, lembrando-
me de Alina e a promessa que fiz ao meu pai em
comparecer ao jantar.
Alberto é tão bom para dar algo quanto para tirar.
— Não fode, Andreo. Quem manda ser filho do
prefeito? Boa sorte no jantar, estou entediado só de
imaginar como vai ser a sua noite. — Ele gargalha.
— Vá se foder, Tiago. — Acabo gargalhando também.
— Mas fique tranquilo, Andreo, o Samuel vai tentar
encaixar esse carro no dia dele. Se pintar algum serviço
por aqui eu te aviso — diz, já sério.
— Beleza, pode chamar. — Me levanto e sigo na
direção da porta.
— Combinado! Cara, sabe onde estou agora? —
Quando digo que não, ele completa: — Abriu uma boate
nova, e os caras estão aqui comigo. Pena que você tem
uma mamãezinha que quer te transformar em um
mauricinho de qualquer jeito e não te deixa viver. Mas não
esquenta, vamos curtir a noite por você.
Do outro lado da linha, ouço a gozação dos caras e
do Tiago. Quando saio do quarto, tenho a melhor visão de
todas.
Ah, porra, parece que essa garota e eu estamos
destinados a nos encontrarmos toda hora. Certo,
reconheço que estou sendo dramático demais, uma vez
que ela trabalha na minha casa, de qualquer jeito iremos
nos trombar por aí.
Alina vem em minha direção com uma pilha de
roupas parecendo recém-passada. Ela é tão miúda se
comparada a mim, que eu fico louco imaginando como
seria tê-la por cima do meu corpo, me fodendo com a sua
bocetinha virgem. Sim, ela é virgem, já deu todos os
sinais.
Contenho os meus pensamentos sujos e lambo os
lábios, ansioso para que se aproxime mais. Ela ainda não
me notou, já que a sua visão está sendo obstruída pelas
peças de roupa.
Estou tão focado nela, que desligo a ligação na cara
de Tiago e guardo o meu celular, então me encosto na
parede esperando a fera passar por mim. Enquanto não
me nota, avalio suas pernas e vou subindo pelas coxas e,
merda, ela tem belas pernas. Tudo nela é belo, até mesmo
dentro desse uniforme ridículo que Bárbara obriga os
funcionários a usarem. Para minha sorte, ou azar, Alina
tem belas curvas.
No meio do caminho, Alina quase tropeça nos
próprios pés.
— Um dia eu te mato, Simone. Sua vaca desalmada,
cadela sem canil, filha de uma chocadeira! — xinga, sem
saber que alguém a ouve.
Não aguento os seus xingamentos e acabo rindo. Ela
se assusta e deixa as roupas caírem, ficando paralisada
com o que acaba de acontecer.
— Meu Senhor! Quando o satanás não vem, manda o
secretário, digo, o filho — resmunga e me lança um olhar
fulminante.
Ela olha para o meu corpo e encara os piercings nos
meus mamilos, ficando vermelha em seguida. Alina se
agacha para pegar as roupas, mas não consegue
esconder que seus olhos estiveram em mim segundos
atrás.
Eu me abaixo e a ajudo a pegar as roupas, mas ela
puxa as peças de mim como se fosse arrancar as minhas
mãos.
— Calma, Alina, estou te ajudando. E é pecado
planejar a morte da sua colega de trabalho, mais ainda me
caluniar me chamando de filho do satanás, pelo que eu
saiba, sou filho único — digo, me divertindo com a fúria
dela.
— Andreo, me deixe em paz. Você vive no meu
caminho, me confundindo. E por sua causa vou ter que
passar essas roupas de novo — reclama, irritada.
— Me desculpe, não foi a minha intenção. Não
imaginei que você fosse se assustar — digo com
sinceridade. — De quem são essas roupas?
— São suas. — Arqueio a sobrancelha, sem
reconhecer nenhuma peça. — Simone me disse que a sua
mãe comprou — declara, me olhando estranhamente.
Roupa social? Nem fodendo. Odeio. Se tem algo que
odeio é me sentir preso dentro dessas roupas, elas me
incomodam pra caralho.
— Bárbara é muito eficiente, até se tornou a minha
personal stylist. Não precisa colocar essas coisas no meu
quarto, pode jogar tudo no lixo — falo, fazendo-a arregalar
os olhos.
Antes que ela diga alguma coisa, eu ouço passos
vindos da escada. Em um movimento rápido, recolho a
última peça do chão e a puxo para dentro do meu quarto,
mesmo sob seu protesto. Se for a minha mãe, ela vai
enlouquecer por ver as roupas tão caras um pouco
amassadas após terem sido passadas. É, eu sei, é muita
futilidade, mas é assim que as coisas funcionam por aqui.
— Você está ficando louco? — cochicho, ofegante.
Com o coração acelerado e as pernas trêmulas,
encosto-me na porta do quarto de Andreo, que neste
momento me encara com um brilho nos olhos. O filho da
mãe está achando isso tudo muito divertido, ao contrário
de mim, que estou apavorada com a possibilidade de
sermos pegos, mesmo que não estejamos fazendo nada
de errado.
— Por que você está falando baixo? — Ele joga as
roupas que pegou das minhas mãos na cama com a maior
tranquilidade do mundo.
Semicerro os olhos com o que acabo de ouvir.
Eu corro o risco de ser malvista e ele se comporta
como se nada pudesse nos abalar, no caso, a mim.
Porque se alguém sair prejudicado nessa história serei eu,
não ele.
— Você é tão convencido que me dá nos nervos. A
minha vida era mais fácil antes de você — resmungo
baixinho e ele solta uma risada de desdém.
— Ela era muito tediosa, isso sim, gata. — Me chama
pelo apelido irritante, que estranhamente soa sexy saindo
da sua boca.
— Só nos seus sonhos, Andreo Mancini. — Eu me
viro e levo a mão à maçaneta.
— Qual a sua idade, Alina? — Ele ignora as minhas
palavras e caminha em minha direção. O safado não deixa
de dar aquele sorrisinho de lado e me avaliar dos pés à
cabeça, como está acostumado a fazer.
Que o Senhor me ajude. Quanto mais tento fugir dele
mais ele atiça! Devo estar pagando pelos meus pecados
por ter esse idiota no meu pé. E o pior é que toda vez que
me olha, eu fico parecendo uma boba prestes a soltar
arco-íris pela boca.
Eu o ignoro com sucesso e encosto a orelha na
madeira da porta, tentando ouvir se tem alguém no
corredor. Quando não ouço nada, acredito que a pessoa
tenha entrado em um quarto ou já esteja longe.
— Não tem ninguém por perto, posso sair daqui sem
problemas — falo aliviada, encarando-o.
Ele se aproxima mais, até que está tão perto que
espalma a mão na porta, me impedindo de qualquer ação.
— Poderíamos fazer uma troca, o que acha? —
sugere, levando a outra mão ao meu queixo e erguendo o
meu rosto. Sedutoramente, ele acaricia meu queixo com o
polegar e depois os meus lábios, deixando-os
entreabertos.
— Essa palavra vinda de você soa muito pervertida,
então, não — digo, ao virar o rosto para que pare de me
tocar.
— Você sempre pensa mal de mim, não é? Não sou
tão ruim assim. Só dois por cento do meu dna diz que não
valho nada, tudo culpa da minha mãe — defende-se,
arqueando a sobrancelha e fazendo um biquinho ridículo.
— Você está invertendo essa porcentagem aí. Sua
mãe é rainha dos demônios, pense em uma mulher
horrível. Pois é, não sei como vocês a aguentam. Graças
a Deus sou só a empregada. — Quando noto que falo
demais, arregalo os olhos e levo as mãos à boca. — Me
desculpe... Mesmo que a dona Bárbara seja uma mulher
difícil, ela é sua mãe, o seu sangue, e a minha patroa. Me
excedi, me perdoe — me desculpo, envergonhada.
Os olhos acinzentados de Andreo brilham com
diversão enquanto ele me encara por um tempo, parece
estudar os meus movimentos.
— Não se preocupe comigo, em se tratando da minha
mãe, as pessoas costumam ter pensamentos como esse
mesmo. — O brilho dele some e ele se afasta de mim.
— Se quiser conversar... — me ofereço, mesmo
sabendo que o meu lugar não é aqui, no quarto dele.
Muito menos oferecendo a ele um ombro amigo.
— Está querendo ser a minha amiga, docinho? — E
lá vem mais um apelido.
Ele me dá as costas e segue para a cama, se
sentando na beirada e abrindo a primeira gaveta do móvel
ao lado. Ele pega um cigarro e um isqueiro, e
despreocupadamente o acende, me deixando sem
palavras.
Nunca achei bonito ver alguém fumando, mas vê-lo
jogar a cabeça para trás e soltar a fumaça no ar faz com
que borboletas apareçam no meu estômago.
— Quer nos matar com essa fumaça toda? —
pergunto, saindo do transe e abanando a mão enquanto
vou em direção à porta de vidro da varanda para abri-la.
— Você não respondeu a minha pergunta, Alina, não
seja má. — Finge não ter me ouvido e continua tragando o
cigarro.
— Eu não disse que queria que fôssemos amigos,
Andreo, até porque você e eu somos diferentes demais...
Mas se quiser desabafar, posso te ouvir. — Dou de
ombros e o encaro.
Ele ri e a maldita fumaça tóxica sai da sua boca,
deixando-o ainda mais atraente.
— Acho que estraguei as suas roupas, Alina. —
Muda de assunto, olhando para as roupas jogadas na
cama.
Nem me lembrava delas, muito menos que estou no
quarto dele há um bom tempo. Droga. Essas coisas não
podem acontecer, mais do que nunca, estou na mira da
Bárbara e não posso dar a ela um motivo para me demitir.
E estar trancada no quarto com seu filho é um motivo bem
justo para uma demissão.
Perder o emprego agora não é um dos meus
objetivos, preciso juntar uma grana para conseguir fazer o
curso técnico de enfermagem, assim poderei cuidar da
minha madrinha.
— Sim... Realmente. Eu preciso ir, devem estar me
procurando... — falo, desnorteada, quando o vejo se
levantar.
— Não precisa fazer nada com essas roupas, deixe
aqui — pede, distante.
— Senhor, é a minha obrigação. Eu as deixei cair, e
se sua mãe souber, vai sobrar para mim — gaguejo,
preocupada.
— Agora voltei a ser senhor, Alina? Pelo que eu
saiba, temos poucos anos de diferença de idade, mas só
posso confirmar se você me disser quantos anos tem e...
Ele se vira de costas e dá de ombros, então vai até a
porta e a abre, fazendo meu coração congelar na mesma
hora.
— Tenho vinte anos. — Solto um suspiro ao notar
que ele ficou chateado.
— Sou quatro mais velho do que você, não é muita
coisa. E não tem motivos para me tratar com tanta
formalidade, não sou os meus pais — diz, encostando-se
no batente da porta e esticando as pernas, impedindo a
minha passagem.
— Eu o chamo assim por respeito, afinal, mesmo não
sendo os seus pais, ainda é um Mancini — esclareço,
passando as mãos suadas no tecido do uniforme.
— E se eu não fosse o filho deles, você sairia
comigo? — pergunta com curiosidade enquanto me
analisa. — Seja sincera — pede, com a voz levemente
rouca.
Nervosa, limpo a garganta e desvio o olhar do dele.
— Talvez — respondo.
— E não é só por eu ser o filho deles? Existe alguma
regra? — questiona, bem-humorado.
— Sim, porque eu sou a empregada deles, ou seja,
sua também... é errado, impossível. Nossos mundos são
opostos. — Lambo os lábios, me sentindo muito inquieta.
— Vamos fazer um jogo? — sugere, me deixando
confusa.
— Que jogo? — Arqueio a sobrancelha, sem
entender aonde ele quer chegar.
— De perguntas e respostas. Eu faço uma pergunta e
você me dá uma resposta e vice-versa, pode ser?
— O.k. — Assinto, respirando fundo.
— Me pergunte algo e eu responderei, prometo ser
sincero. E quero que você seja comigo também nas
respostas. — Ele ajeita a sua postura e libera a minha
passagem, mas não saio do seu quarto, fico de frente para
ele.
— Quando estávamos falando da sua mãe, você me
pareceu meio distante... vocês têm uma relação muito
difícil? Sei que ela é uma pessoa muito complicada de
lidar. — Arrependo-me por ser tão invasiva. Os olhos dele,
que antes estavam suaves, agora escurecem.
— Sim, temos. — Andreo passa a mão por seu
pescoço, em seguida, sobe até a nuca. — Bárbara me
trata como se eu tivesse Síndrome de Peter Pan. — A
seriedade em sua voz me preocupa.
— O que isso quer dizer? — Eu o encaro
atentamente.
— Ela criou uma imagem diferente do que sou para o
mundo fútil dela. Por causa dela, acabei falhando diversas
vezes na minha vida profissional e pessoal. Resumindo,
docinho, Bárbara é o diabo que veste saia, não me deixa
crescer. — Ele fala como se o assunto o incomodasse e
não diz mais nada, apenas me encara.
— Entendi. — Nem sei o que responder, é nítido que
não gosta de falar sobre isso.
Se essa mulher faz a vida do filho um inferno,
imagina de nós, meros mortais. Fico com ainda mais medo
dela depois da revelação de Andreo.
— Agora posso fazer a minha pergunta? — Sua
expressão fica bem mais suave, amém por isso.
— Faça. — Meneio com a cabeça.
— E se você sair comigo como amigos, e eu te fizer
mudar de ideia sobre essa coisa de sermos diferentes,
você aceitaria um encontro? Não faremos nada que você
não queira.
Eu deveria ter imaginado que ele é um ótimo jogador,
conseguiu me driblar rapidinho.
— Andreo... — eu o repreendo, mas ele sorri de lado.
— Prometo que vou me comportar bem, ou “bem
mal”. Mas prometo — diz, me fazendo sorrir.
— Eu já te disse que você é muito insistente? —
Reviro os olhos, ainda sorrindo.
— E eu já te disse que você é muito linda e que
quando está brava fica mais ainda?
Sou pega desprevenida quando ele passa um braço
ao redor do meu corpo e me puxa para ele, me fazendo
ficar na ponta dos pés. Ofegante, eu tento me soltar, mas
a sua pegada é firme.
— Alguém pode nos ver — sussurro, apavorada.
— Que vejam. É bom que a minha mãe conheça a
futura nora dela. — Um sorriso brincalhão aparece.
Ele inclina o rosto para o meu, a nossa aproximação
nos permite sentir a respiração um do outro, na verdade,
já nem sei mais se tenho uma.
— Você é um perigo, um demônio — acuso-o, ainda
com os olhos nos dele.
— Eu nunca disse que sou um anjo, Alina — declara
e roça os lábios nos meus. Como se tivesse algum tipo de
feitiço, ele me hipnotiza.
— Não brinque com fogo — murmuro, mesmo com
sua boca roçando na minha.
— Eu amo me queimar, é o meu hobby preferido
desde que me conheço por gente. — Andreo me
surpreende mais uma vez ao levar uma mão ao meu
cabelo e desmanchar o meu penteado, fazendo com que
ele caia sobre as costas e meu rosto.
— Não podemos fazer isso — nego, mesmo que meu
subconsciente grite para aceitar.
Andreo penteia as mechas que estão caídas no meu
rosto e as leva para trás, então me beija, afastando a
última gota de força que eu tinha para lhe dizer “não” e “é
errado”.
Sua língua pede passagem na minha boca e,
derrotada, solto um gemido baixo e deixo que ele me
conduza ao doce sabor das chamas do inferno. Envolvida,
levo uma mão ao seu abdômen definido e aperto contra a
camisa, enquanto a outra vai para a sua nuca e a arranha
levemente. Quanto mais ele me beija, mais ofegante e
com as pernas trêmulas eu fico. A maneira como ele me
aperta contra o seu corpo me leva ao céu, ainda com
nossas bocas grudadas.
Só nos separamos um tempo depois ao ouvirmos um
barulho de algo se estraçalhando no chão. Assustada, eu
me afasto de Andreo e me viro, perdendo o fôlego ao me
deparar com a minha madrinha nos encarando,
completamente pálida. Quando encaro a bandeja que ela
deixou cair, percebo a confusão que acabo de causar.
— Madrinha... — Tento explicar algo que nem tem
explicação. Ela nos flagrou, e não existe desculpa a se
dar.
O que estou fazendo da minha vida?
Se é sorte ou azar, não sei, mas agradeço por ter
sido a minha madrinha a nos pegar. Se fosse outra pessoa
eu estaria perdida. Não posso culpar Andreo por algo que
consenti e gostei, mas devo levar em consideração que
estou encrencada.
— Alina, desça agora! — ordena com rispidez.
Para não a contrariar, cabisbaixa e em silêncio,
passo por Andreo e depois por ela, saindo correndo dali.
Andreo é como o diabo, está pronto para me fazer
pecar e depois me ajoelhar em frente à cama para rezar e
pedir perdão pelos meus pecados.
Choro sozinha no quarto dos empregados, mas não
por estar arrependida por ter deixado Andreo me beijar, e
sim por ter prometido à minha madrinha que não ia me
envolver com ele. Fui desonesta e fraca, deixei que a
curiosidade em saber como seria beijá-lo me controlasse.
E eu gostei, quer dizer, gostar é apelido para o que senti
quando Andreo me puxou contra o seu corpo e pressionou
seus lábios nos meus.
Limpando meu rosto molhado, encaro a porta
fechada. O meu dia começou péssimo e piorou após ter
sido flagrada lá em cima. Fiquei dilacerada com o olhar de
decepção da minha madrinha, espero que ela me perdoe
por essa falha.
Não gosto da ideia de decepcioná-la, devo a ela todo
o meu respeito e gratidão. Quando meus pais morreram,
eu só tinha dez anos e quem estendeu a mão para mim e
não permitiu que eu fosse morar em um orfanato foi ela.
Na época, ela e o meu padrinho – que Deus o tenha –
eram casados e conseguiram me adotar para que
pudessem me dar um lar.
Primeiro perdi o meu pai, ele trabalhava como
segurança em Monte Verde em um posto de gasolina e só
vinha para casa nos finais de semana. Em uma noite, meu
pai acabou sendo alvejado em uma tentativa de assalto, e
acabou falecendo antes de conseguir chegar ao hospital.
E no dia seguinte, quando minha mãe recebeu a notícia,
ficou tão angustiada que seu coração não aguentou e veio
a falecer também. Em menos de vinte e quatro horas perdi
meus pais.
Desde então, tem sido Dandara, minha dinda, que
toma conta de mim como se eu fosse dela, trabalhando e
tentando dar o seu melhor. Como meus pais eram muito
humildes, eu não tinha uma herança a receber. A única
coisa de valor que tínhamos era a nossa família.
E se hoje estou formada no ensino médio, foi graças
a minha madrinha, que em momento algum me privou dos
estudos. Ela se dedicou por anos para que eu nunca
precisasse abandonar os estudos para trabalhar.
Após muitos minutos, a porta é aberta e Dandara
surge, deixando meu coração apertado.
— Madrinha, me escute primeiro. Por favor — peço e
vou até ela, que comprime os lábios e sequer olha no meu
rosto.
— O que vai me dizer, Alina? Que aquele rapaz
estava te beijando à força? Que o que eu vi foi ilusão? —
Sua voz altera e eu estremeço.
— Não, eu não vou arrumar nenhuma desculpa,
porque o que a senhora viu não foi coisa da sua cabeça.
Nós estávamos nos beijando, mas...
Paro de falar quando recebo uma bofetada no rosto.
A dor maior não é do tapa e da ardência, e sim o fato de
não ter me ouvido até o final.
— Eu nunca levantei a mão para você, Alina. Nunca.
Mas hoje, você mereceu. — Passo as mãos em meus
olhos embaçados. — Trabalho há anos nessa casa, desde
o dia que o prefeito se mudou para cá para assumir a
prefeitura... E jamais dei motivo a ele ou a sua esposa
para me chamarem atenção! Posso não ter estudo, uma
profissão chique, mas tenho os meus princípios, e quando
pedi aos Mancini para te empregarem porque estava
precisando, dei a minha palavra à sra. Bárbara que você
se manteria longe do filho dela! Você acha que aquele
menino vai te levar à sério? Esses garotos têm tudo de
mão beijada, e pelo que conheço do Andreo, ele só vai
descansar quando te levar para cama. Você já está tão
boba por aquele rapaz que é bem capaz de acabar ficando
grávida, e quando se der conta ele vai embora, como
sempre faz. Esse menino não gosta daqui, cresceu na
cidade grande. Ele é um aventureiro, quer apenas te usar
como um passatempo nos dias em que estiver aqui. — Ela
coloca o dedo em riste, e cada vez que ela abre a boca,
as minhas lágrimas caem. Tudo o que ela diz dói, rasga
meu peito.
Mesmo que esteja abrindo os meus olhos, acho que
está sendo dura demais.
— M-me... perdoe, madrinha. Não quis te
envergonhar, eu prometi que não...
— Não confio mais em você, Alina — me interrompe,
magoada. — Imagina se fosse a Simone ou a sra. Mancini
que tivesse aparecido lá? Para a sua sorte, fui eu que
acabei pegando vocês no maior amasso. — Ela segura
meus braços e me sacode.
Assustada, solto um soluço.
— Pare com isso, madrinha... Por favor, pare —
peço, chorando.
— Vá embora, Alina — diz, com lágrimas nos olhos.
— Vou dizer ao prefeito que você não vai mais trabalhar
aqui — diz, com a voz severa e ao mesmo tempo
embargada.
Chocada com as suas palavras, arregalo os olhos.
— E o meu curso? — pergunto, desesperada.
— Não vai mais fazer, ou então arrume outro
emprego. Você tem uma amiga que trabalha na cafeteria,
fale com ela — fala, séria e decidida.
— A senhora não pode fazer isso comigo. Eu sei que
errei, mas não posso ficar desempregada. Eu preciso
juntar para o curso e ajudar com as despesas da casa. —
Tento convencê-la.
— Não se preocupe com as contas de casa. Eu tenho
uma poupancinha para emergências, consigo me virar.
Mas aqui você não fica mais e estou fazendo isso para o
seu bem. Prefiro que passe o dia todo em casa do que
envolvida com esse rapaz. Ele não é bom para você, só
vai te machucar — avisa, como se rogasse uma praga.
Mas não, sei que ela me ama e só quer o meu bem.
— É por ele ter aquela aparência? As tatuagens? —
Faço perguntas bobas, amedrontada com a sua decisão.
— Andreo é muito bonito, Alina, e não sou uma velha
careta — fala, me encarando. — O problema não é a
aparência. Muitos homens acabam machucando as
mulheres e esse garoto nasceu com esse dom, só quero te
proteger antes que seja tarde demais. Agora me escute,
pegue as suas coisas e vá para casa. Eu resolvo tudo com
os Mancini.
Com as mãos trêmulas, eu meneio a cabeça, me
recusando a aceitar seu pedido.
— Não faça isso, madrinha. Foi só um beijo, apenas
isso. — Levo as mãos à cabeça.
— E se eu permitir que fique vai passar disso, Alina.
Eu te conheço muito bem, eu a criei e sei que está
encantada por Andreo. Ele é um rapaz bonito, sedutor, e
não vai te dar sossego até conseguir o que quer —
responde, com pesar. — Vá embora o quanto antes. Tem
comida pronta na geladeira, é só esquentar — conclui e
sai do quarto, me deixando sem saber como agir.
Volto a chorar, me sentindo uma idiota por ter me
deixado levar pela emoção do momento. Alguns minutos
depois, começo a juntar os meus pertences que deixei
aqui nos últimos três meses.
Até poucos dias eu queria socar a cara dele por
achá-lo metido, mas agora, com a nossa aproximação, sei
que ele é muito mais do que eu julgava. Mas apesar de
saber disso, temo pelas minhas escolhas, sem contar que
não posso colocar a mão no fogo por Andreo. Não o
conheço o suficiente para me impor e dizer que ele não é
como ela o julga ser. De fato, não nos conhecemos tão
bem assim.
Pronta para sair, volto ao me lembrar que deixei o
meu celular na gaveta. Eu o pego e vejo uma notificação
de uma mensagem de um número desconhecido.
Intrigada, eu a abro e fico perplexa com o conteúdo.
“Acho que vou para o céu, estou me saindo muito
bem ao fazer boas ações, gata.”
Poderia ficar assustada se não reconhecesse a
palavra “gata” do Andreo. Penso em perguntar o propósito
da mensagem, mas então a porta é aberta e minha
madrinha surge com uma expressão fechada. Nervosa,
aperto o meu celular em meus dedos.
— Deixe as suas coisas aí, Alina — fala, meio seca.
— Por quê? A senhora mudou de ideia? — pergunto,
tentando descobrir se Andreo tem algo a ver com isso.
— A sra. Bárbara e o marido pediram para você
trabalhar como garçonete no jantar de segunda-feira que
terá aqui para alguns amigos de Monte Verde. Você fica
por enquanto, já que me disseram que vão precisar de
você para os próximos eventos — diz com amargura e sai,
sem esperar por minha resposta.
Boquiaberta e com os pensamentos confusos, leio
mais uma vez a mensagem de Andreo e fico me
perguntando como ele conseguiu o meu número?
Senhor, que loucura!
O meu final de semana está sendo pesado, desde
sexta-feira a minha madrinha não fala comigo direito. Hoje
já é domingo e ela acordou cedo como de costume, então
arrumou a casa e nem mesmo me cumprimentou quando
fomos tomar café. Sabe quando alguém fala com você por
obrigação? É ela.
Dandara está me tratando como se eu tivesse
cometido o pior pecado do mundo. Eu reconheço que errei
feio, mas não é para tanto, não mereço ser tratada com
tanta frieza assim. Certo?
O clima por aqui está tão pesado, que nem tive
coragem de responder à mensagem do Andreo, ou
perguntar como conseguiu o meu contato. No momento,
não tenho cabeça para pensar nele, muito menos no
suposto jantar que os Mancini querem que eu trabalhe
como garçonete. Apesar de achar essa história estranha e
não se encaixar na função, eu não vou reclamar, uma vez
que não perderei o meu emprego.
Já é noite e estou terminando de calçar minhas
sandálias na sala, enquanto minha madrinha assiste a um
programa de tevê. Ela decidiu me ignorar e vou deixar que
continue assim, logo a raiva passa e voltaremos a ficar
bem.
Mais cedo recebi um convite da Maria Fernanda,
minha amiga desde o ensino médio, para ir ao barzinho do
padrasto dela. Até pensei em recusar por não estar a fim
de sair, só que não estou me sentindo bem aqui, preciso
espairecer.
— Madrinha, vou com a Maria Fê ao bar do padrasto
dela, mas não vou demorar — aviso e me levanto,
pendurando a minha bolsa no ombro.
Dandara fica calada, sequer olha na minha direção.
Com um aperto no peito por ter sido ignorada mais
uma vez, caminho até a porta. Antes de sair, eu me viro e
a pego olhando em minha direção, mas ela tenta disfarçar
ao encarar a tevê rapidamente. Dou um sorriso triste e
respiro profundamente, então saio da casa.
Cumprimento alguns vizinhos enquanto sigo pela
calçada, todos aqui me conhecem e gostam de mim.
Principalmente os idosos, e em vez de eu dizer boa noite,
bom dia ou boa tarde, peço bênção e eles me abençoam,
acham linda a minha forma de cumprimentá-los. Mas
desde pequena fui ensinada a pedir bênção aos mais
velhos, e levo esse costume comigo até hoje.
Eu deveria ter pegado uma jaqueta, estou
começando a sentir frio. Mesmo que meu vestido não seja
curto, sinto um pouco de frio nos braços. Deveria ter me
certificado antes de sair, mas agora é tarde, estou um
pouco longe de casa para voltar.
No meio do trajeto, mando uma mensagem para a
Maria Fê avisando que logo estarei chegando. Estou
caminhando tranquilamente quando ouço um ronco de um
carro se aproximando antes das luzes dos faróis serem
acesas. Gelada, ando em passos largos sem olhar para
trás. Mesmo que Vale Santo seja uma cidade calma, não
estamos imunes à violência.
Meu Senhor, me proteja!
Nervosa e com as mãos suando, eu viro a esquina
rapidamente sem ousar olhar para ver quem está dentro
do carro. Seguro a alça da minha bolsa com força e só
não entro em desespero porque tem muita gente na rua
passando, outras paradas conversando.
Será que estão me seguindo? Quem será?
Provavelmente algum filhinho de papai que acha que
as meninas de cidade pequena são todas bobinhas. Aqui
em Vale Santo têm muitas famílias ricas que vêm passar
os finais de semanas e feriados.
Respiro um pouco mais aliviada quando vejo que
estou bem perto do bar. Ouço uma notificação de uma
nova mensagem, mas não me atrevo a olhar para ele,
somente apresso o passo para encontrar logo a minha
amiga.
Atravesso a rua rapidamente ao avistar o letreiro do
bar do Guga e a Maria Fernanda me esperando. Não
demora para ela me ver e acenar toda sorridente.
Será que ainda estão me seguindo?
— Amiga, você está uma gata! — exclama Maria Fê,
quando finalmente a alcanço.
— Boa noite, amiga. Obrigada! Você também está
maravilhosa, como sempre! — Dou um sorriso nervoso
para ela.
Ao segurar a minha mão, ela percebe que está fria.
— Nossa, amiga, você está gelada. O que
aconteceu? — questiona, preocupada.
— Acho que tinha um carro me seguindo — sussurro,
encarando-a. — Algum carro estacionou quando cheguei?
Não tive nem coragem de olhar — confesso.
— Uau, nossa. Sim, um carro acabou de estacionar.
Misericórdia! O motorista é muito gato, parece bem
gostoso. — Seus olhos brilham.
Sorrio com a sua falta de filtro, mas fico preocupada,
afinal, estava me seguindo e eu nem sei quem é.
Agora que não estou mais sozinha, tomo coragem e
me viro, mas meu sorriso desaparece quando reconheço
Andreo. Ele está em pé, apoiado na porta do motorista,
seus braços fortes cruzados sobre o peito. Da mesma
maneira que estou o encarando, ele também me encara.
Ele está bem lindo com uma jaqueta preta de couro
por cima da camisa branca, calça jeans, bota militar preta
e o cabelo penteado para trás. O corte do seu cabelo o
deixa mais atraente, estranhamente combina com as suas
tatuagens – curto dos lados e um pouco mais comprido em
cima.
— Humm, e essa troca de olhar com o filho do
prefeito? — Maria Fernanda me cutuca, nem mesmo assim
saio da hipnose chamada Andreo.
Muito seguro de si, ele vem em nossa direção com
aquele andar de “dono do mundo”, com as chaves do carro
na mão. Ao meu lado, ouço o suspiro da minha amiga.
Que filho da mãe! Quase tive um infarto por culpa
dele.
O que ele quer? E por que estava me seguindo? E o
mais importante, como sabe o meu endereço?
Enquanto caminha, Andreo me avalia dos pés à
cabeça. Um sorriso lento e arrogante aparece no canto
sua boca quando se aproxima perto suficiente para que eu
sinta o seu aroma gostoso do seu perfume mentolado.
Porcaria. Porcaria. Ele é filho do prefeito, com
certeza será o centro das atenções.
Algumas pessoas curiosas começam a nos observar,
principalmente a encarar a estrela da noite, obviamente
encantados com a visita do Andreo Mancini no nosso
humilde bairro.
— Boa noite, garotas — ele nos cumprimenta, sem
tirar os olhos de mim.
Envergonhada, desvio o olhar.
— Boa noite — responde minha amiga
animadamente.
Para não parecer mal-educada, pigarreio e o encaro.
— Boa noite, Andreo — digo, fuzilando-o com os
olhos.
O safado esconde o sorriso, mas os seus olhos
brilham com diversão.
— Veio conhecer o nosso bar? Ainda não está
aberto. Eu só disse para Alina vir antes para colocarmos a
conversa em dia. Mas se quiser nos acompanhar, está
convidado. Será uma honra ter o filho do prefeito por aqui.
Fico chocada ao ver Maria Fernanda tomar a minha
frente e jogar o cabelo para trás, por pouco não me cega
com as mechas cacheadas batendo em meus olhos. Nunca
vi Maria Fernanda tão atirada assim, quer dizer, ela é bem
mais liberal do que eu e, com certeza, está adorando ter
contato direto com Andreo. Ainda mais pela fama dele, já
que adora homens com caráter duvidoso.
“E talvez você esteja indo pelo mesmo caminho,
Alina, é pura cilada. Corra” diz o meu anjinho, enquanto o
diabinho do outro lado fala: “Ao menos ele é gostoso e
está a fim de você, não fuja, agarre o boy.”.
Afasto meus dois e piores conselheiros da cabeça e
encaro as duas pessoas à minha frente.
— Seu nome é? — pergunta ele, sem muito
interesse.
— Maria Fernanda, mas os meus amigos me chamam
de Maria Fê. É um prazer te conhecer, Andreo Mancini, já
ouvi muito sobre você. — Ela estende a mão para ele e
morde os lábios, me deixando ainda mais chocada com
suas ações.
Surpreendentemente, Andreo pega a mão dela e
sorri. Mas em minha direção, não na dela.
— É um prazer, Maria Fernanda. E espero que tenha
sido Alina a falar de mim. Se vim até aqui culpe a sua
amiga, ela tem me feito fazer coisas que até o filho do
diabo duvida.
O sorriso da minha amiga morre quando ele
menciona o meu nome, notando rapidamente o interesse
dele em mim.
“Bem pouco oferecida!”, fala o meu lado diabólico.
“Aproveite e volte para casa antes que seja tarde
demais”, aconselha meu lado mais sensato.
— É... a Alina? — Maria Fê fica sem graça e recua,
me pedindo desculpas com o olhar.
— Amiga, você pode me esperar lá dentro? Vou
conversar rapidinho com o Andreo e já te encontro —
interrompo a conversa dos dois, passando a mão no
tecido do meu vestido.
— Claro. Com licença — diz ela, desconcertada com
a situação, então entra no bar, sumindo do nosso campo
de visão.
Olho ao nosso redor e noto que estão nos
observando pelo canto do olho com curiosidade.
— O que você quer? Quase morri do coração quando
percebi que estava sendo seguida, achei que fosse algum
maluco — digo, nervosa.
— Se tivesse lido a mensagem que enviei não teria
ficado assustada e saberia o que quero. Mas agora não
precisa mais ler, posso te falar pessoalmente. — Dá de
ombros e se aproxima mais.
Oh droga, então era dele a mensagem que recebi.
— Andreo, todos aqui sabem que o seu pai é o
prefeito e que eu trabalho na sua casa. Isso não vai
prestar — falo, atordoada com os passos que ele dá em
minha direção. Falta pouca coisa para que fiquemos cara
a cara.
— Aqui fora você não é funcionária deles, Alina,
então foda-se o que vão achar ou dizer. E mesmo que
digam, eu não ligo, você sabe que sou muito sagaz
quando quero algo. — Ele toca nos meus braços e desliza
as palmas para cima e para baixo.
Se antes eu sentia frio somente nos braços e estava
arrepiada, agora com o seu toque estou dos pés à cabeça.
— Mesmo te conhecendo tão pouco, sei o quanto é
persistente, já provou isso. — Tento me afastar, mas ele
desce as mãos até chegar às minhas e entrelaça nossos
dedos.
— Exatamente. É por isso que preciso que venha
comigo, quero conversar com você. É importante — diz,
encarando meus lábios.
— Jura? — Arqueio a sobrancelha, desconfiada.
— Uhum. Hoje é domingo, gata, acha que eu viria até
aqui se não fosse importante? — pergunta, bem-
humorado.
— Não sei, me diga você. — Semicerro os olhos e
ele ri.
— Como você acha que a Dandara mudou de ideia?
Esqueceu que ela queria que você se demitisse? —
conforme ele fala, arregalo os olhos.
Como ele sabe? Céus, deve ter câmera naquele
quartinho! Será que me viram pelada? É por isso que ele
me olha tanto dos pés à cabeça de um jeito tão safado?
Envergonhada, quase me engasgo com a minha
saliva.
— Como você sabe disso? No quarto dos
empregados tem câmera e escuta? Meu Deus, que
pervertidos! — Acabo tossindo, apavorada com a
resposta.
— Você é muito doida, Alina. É claro que não. Eu
estava te procurando quando ouvi a voz da Dandara,
então parei e acabei ouvindo boa parte da conversa de
vocês. Sei que ela disse que você teria que se demitir por
minha causa — diz, com tranquilidade.
— É feio ouvir atrás da porta — reclamo, temendo
que ele tenha ouvido demais.
— Não se preocupe, só ouvi um pouco. E só não foi
tudo porque eu não quis, deveria me agradecer, irritadinha
— provoca-me, levando sua mão ao meu rosto.
— Você é muito folgado. Mas obrigada mais uma vez.
— Suspiro quando ele desliza os seus dedos na minha
pele. — Às vezes você me assusta, sabia?
— Por quê? — Ele sorri e passa a língua nos dentes.
— Porque sei que você é capaz de fazer tudo para
ter o que quer — murmuro, prendendo a respiração ao
senti-lo levar uma mão ao meu quadril.
— Sim, eu sou, não nego. E você sabe muito bem o
que eu quero agora. — Andreo se aproxima e roça os
lábios nos meus, mas não me beija.
— E o que você quer? — Arrisco-me a perguntar.
Eu vou para o inferno. Com certeza, vou. As pessoas
estão nos vendo e eu nem me importo com isso. Sei que
vão comentar, mas que o façam. Não me import...
Bruscamente e ofegante, eu me afasto do seu toque
e lhe dou as costas, pronta para correr para dentro do bar.
Mas ele me segura pelo pulso e me puxa para os seus
braços, fazendo nossos corpos se chocarem.
— Eu quero você, Alina — responde a minha
pergunta com firmeza.
— Não quer, não. Só está sendo narcisista demais
em relação aos seus sentimentos. Você não pode me
colocar dentro da sua bolha de desejo! Eu não sou
criança, Andreo, pare com esse joguinho de sedução
comigo. — Solto uma lufada de ar e o empurro pelo peito,
mas Andreo não me solta.
— Está errada, Alina. Você também me quer, mas
está com medo de se entregar. Enquanto houver medo e
insegurança, você nunca vai saber como é gostoso provar
do proibido. É libertador — retruca, apontando o dedo
para o meu coração. — Venha comigo, vamos para um
lugar mais reservado.
Abalada, levo a mão ao meu cabelo.
— Você é louco, e eu não vou cair no seu joguinho.
Vá embora, o seu lado da cidade não é esse, e sim com
aqueles seus amigos e com a sua namorada. Eles sim são
o seu mundo, do seu mundo — aviso, sorrindo. Mas no
fundo estou muito mexida.
Por um momento esqueci aquela garota linda que
quase avançou em mim por estar com ciúme dele, e,
provavelmente, a Bárbara os aprova, já que quando me
chamou no escritório disse que eles eram convidados
importantes.
— Isadora não é a minha namorada. E se eu tivesse
uma, não estaria atrás de você, Alina — declara,
enfurecido, antes de me soltar.
A sua informação me faz querer sorrir.
— Tanto faz, Andreo. Apenas vá embora. Eu cometi
um erro e não estou disposta a ficar sem falar com a
Dandara por uma pessoa que só quer brincar comigo —
digo.
Ele me dá as costas sem dizer mais nada e segue
para o seu carro, batendo a porta com força depois de
entrar. Não demora muito para colocar o carro em
movimento, fazendo os pneus cantarem.
Ele se ofendeu, mas nem teve coragem de se
defender, apenas me deu as costas e se foi quase levando
o chão junto.
Sem cabeça para ficar no bar, eu aviso a Maria
Fernanda que estou indo para casa. Preciso dormir e
colocar os pensamentos no lugar. Amanhã o serviço será
pesado, ainda mais com a ideia de ser a garçonete no
jantar.
— Isso é hora de chegar em casa, Andreo? É quase
meia-noite!
Ouço a voz de Bárbara assim que entro pela porta da
sala.
— Vai querer controlar até o meu horário de entrar
em casa? — indago, irônico.
Sua expressão muda, enquanto permanece sentada
no sofá, com as pernas cruzadas e as mãos descansando
no colo.
— Mesmo que não pareça, eu sou a sua mãe e me
preocupo com você — fala, avaliando-me. — Por onde
esteve?
— Obrigado pela preocupação, mas não é
necessário. — Caminho na direção das escadas.
— Por onde andou? — insiste, me seguindo.
Depois que Alina chutou o meu rabo, fui ao bar do
centro mais ajeitadinho do que o da amiga oferecida dela
para tomar algumas cervejas. Mas não abusei, depois do
fora que tomei, ganhar uma ressaca não é uma boa ideia,
afinal, dei a minha palavra ao meu pai que participaria do
jantar. Mesmo que não pareça, sempre cumpro com a
minha palavra.
— Tenho vinte e quatro, mãe, não te devo
satisfações — digo, subindo os degraus quando ela
começa a me seguir.
Fiquei muito puto com a rejeição da Alina. Ela está
sempre na defensiva, e a forma como me julgou realmente
mexeu comigo. E por mais que eu tenha me sentido
ofendido, ela tem razão. Um pouco, mas tem. Eu não
quero um relacionamento sério, muito menos me
apaixonar. De certa forma, ela me encanta, mas é só isso,
não estou atrás de um compromisso. Na verdade, tenho
aversão a namoro. Todas as garotas com quem fiquei e
fico sabem disso, eu deixo as minhas intenções bem
claras. Só que com Alina é diferente, estou fazendo coisas
que nunca imaginei fazer por nenhuma mulher.
— Você me deve e sabe disso! Acha que eu não sei?
Mandei um dos seguranças te seguir e ele viu você com
aquela empregadinha, Andreo — acusa, ácida.
Rapidamente paro de andar e permaneço de costas,
apenas prestando atenção em suas palavras. — Nunca te
vi insistir tanto para levar uma mulher para a cama. Que
fixação é essa por essa menina? Apostou com os seus
amigos que ia levar a empregada para a cama? Não,
melhor, já sei... Ela não é fácil! — Ela ri.
Impaciente, respiro fundo e volto a caminhar.
É por ela ser diferente que, pela primeira vez, estou
passando por cima do meu orgulho e apelando para o lado
dos meus pais sem eles saberem. Ao menos o meu pai,
que ainda não entendeu as minhas verdadeiras intenções
com a funcionária dele. Mas Bárbara é diferente, quando
fui dar a ideia de colocarem a Alina para ajudar no jantar,
os olhos da minha mãe brilharam de maldade. Não sugeri
que fosse a garçonete, mas a querida matriarca é má,
gosta de humilhar as pessoas, então impôs essa
condição.
Fui até eles assim que ouvi a conversa de Alina com
a Dandara. Meus pais estavam no escritório e ficaram
surpresos ao notarem o meu interesse na reunião deles da
semana. Alberto Mancini mal sabia o verdadeiro motivo do
meu interesse, já a minha mãe, querendo ou não, me
conhece muito bem, sabia que tinha algo de errado ali e
soube como jogar comigo, não demorou muito para aceitar
a minha inocente sugestão e me apoiar.
— Me esqueça, Bárbara. Vai dormir, é tarde. Acredito
que você não vai querer acordar com olheiras enormes —
digo, tocando na sua ferida. Ela odeia olheiras, tanto que
vive fazendo procedimento para amenizá-las.
— Acha que vou ceder tão fácil? O seu pai pode ser
bobo, mas eu não sou. Nunca fui. — Ela continua me
seguindo até o meu quarto, então empurro a porta e entro,
não demora para que a minha mãe faça o mesmo.
Me sento na minha cama, apoio os cotovelos nas
coxas e abaixo a cabeça, respirando fundo duas vezes
para controlar a minha impaciência. Vai começar o
verdadeiro inferno, nem com milhares de meditações me
livro desse carma.
— Eu não vou permitir que você durma com aquela
menina. Nunca. Quer saber, você pode dormir com a
mulher que quiser, menos ela, não com a nossa
empregadinha! Se enxergue, Andreo! Olhe para o nível
que desceu, querendo transar com uma funcionária. Está
tão encantado por aquela garota que até está atencioso
com ela, fazendo um papel ridículo de falar mal de mim
para o seu pai, o meu marido. Por causa de uma
empregadinha! — Seu tom é ameaçador.
Quando ela liga a luz, eu fecho os olhos, afundo as
mãos no meu cabelo e me mantenho em silêncio.
— Boa noite, mãe. — Eu a ignoro e me deito, com o
braço escondendo o meu rosto. A porra da iluminação me
incomoda.
Despreocupado, chuto uma bota para longe do meu
pé e depois a outra.
— Esse comportamento está me fazendo pensar que
estou lidando com um adolescente. Cresça, Andreo,
cresça! — exclama, enfurecida.
— Você só está colhendo o que plantou, sra.
Mancini. Não tem como eu crescer tendo uma mãe como
você — retruco, esgotado. — Agora, por favor, saia do
meu quarto e me deixe dormir. Amanhã preciso acordar
bem-humorado para lidar com as futilidades do seu jantar.
— Viro-me na cama, ficando de costas para ela. Ouço
seus passos se aproximando, mas ignoro.
— Amanhã você terá a minha resposta. A sua nova
conquista vai pagar por todo estresse que o meu querido
filho está me fazendo passar. — Ela toca no meu ombro.
— Você só me ajudou dando aquela ideia de ela nos servir
nos eventos. Será maravilhoso ter uma jovem como ela no
nosso meio. Ela é linda, não é de se jogar fora... Quem
sabe a pobrezinha arruma um namorado rico e tira a
madrinha da pobreza. Talvez eu até apresente os filhos
dos nossos amigos a ela — sussurra perto do me ouvido,
como se fosse o diabo.
Fecho os punhos e cerro os dentes. Só de imaginar
tal cena meu sangue ferve.
— Que gentil da sua parte, acho uma ótima ideia.
Quem sabe você não seja a madrinha do casamento dela.
— Demonstro que não fiquei abalado com a sua ideia
ardilosa, minha voz sai tão controlada que Bárbara fica
sem reação.
Eu também sei ser frio e calculista como ela, aprendi
com a melhor.
— Descanse, Andreo, descanse. Amanhã vamos ter
uma noite inesquecível — fala tão calmamente, que quem
não a conhece e visse a cena, acharia que é uma mãe
amorosa.
Sem ter a minha resposta, ela sai do meu quarto.
Se tem algo que tenho certeza é que a primeira-
dama vai aprontar com a Alina amanhã. Ela não é do tipo
que só humilha alguém na frente das pessoas, é mais vil.
Sempre há uma surpresinha a mais.
Caralho, eu fiz merda e agi sem pensar. Amanhã, a
Alina vai ser o cordeiro no meio de uma alcateia. No
momento em que fui falar com meus pais não tive outra
saída para impedir que ela saísse do emprego. Eu
provoquei a minha mãe, dei munição a ela, então serei eu
a domar a fera.
Quando meu celular vibra no meu bolso eu o pego,
penso até em não ver quem é, mas a curiosidade é maior.
Desbloqueio o aparelho e me surpreendo ao ver uma
mensagem de Alina. Se enviou uma mensagem, quer dizer
que está pensando em mim.
Ah, cacete, essa menina vai me enlouquecer. Com
um sorriso, leio a sua mensagem e fico ainda mais
animado.
“Não sei se você vai ler essa mensagem, mas de
qualquer maneira quero pedir desculpas pela maneira
arrogante que te trarei, Andreo. Não sou assim e não vai
ser agora que serei. E mesmo que eu esteja te pedindo
desculpas, não mudarei as minhas palavras sobre você
querer brincar comigo, você sabe que tenho razão...
Enfim, era só isso mesmo.”
Termino de ler a sua mensagem e o meu sorriso
morre. É impressionante como o ser humano é, e falo isso
por experiência própria. Tem momentos que mesmo que
estejamos errados, não gostamos de ouvir a verdade.
Mesmo sabendo que ela tem razão, me sinto ofendido,
mas não tanto para desistir dela. Eu lido muito bem com
vários “nãos”, uma hora o coração de Alina vai amolecer.
Desligo o meu celular e o coloco no móvel ao lado.
É a minha vez de ser o difícil. Meu desânimo vai
embora tão rápido que desisto de dormir.
Saio da cama e vou pegar um cigarro e o isqueiro.
Antes de acender o cigarro, tiro a camisa e sigo na
direção da varanda.
Até que não foi tão ruim assim, no final das contas.
Amanhã será um novo dia, com novas possibilidades, mas
o meu objetivo continuará sendo o mesmo – Alina Martins.
Tem sido isso desde o dia que veio trabalhar aqui. Antes
de ela me enxergar, eu a vi primeiro, meus olhos a
seguiam sem que eu percebesse. Alina me tornou um
maldito perseguidor e eu gosto da ideia de manter os
olhos em seu rosto bonito.
Tudo naquela garota me interessa, não há nada nela
que me desagrade, e isso me motiva muito mais em não
desistir de tê-la para mim. Não vai ser Bárbara, a
madrinha dela, meu pai ou outra pessoa que me fará
mudar de ideia.
Quando nos beijamos... porra, ela entregou tudo, se
derreteu em meus braços. Eu enlouqueci e queria mais,
no entanto, a Dandara apareceu e acabou com o nosso
momento. Cacete, eu juro que se aquela senhora não
tivesse chegado, a afilhada dela já estaria deitada na
minha cama, enquanto eu me enfiava entre suas pernas,
passeando a minha língua por cada parte daquele
corpinho delicioso.
Eu quero Alina e ela também me quer, sei disso.
Mesmo que negue em voz alta, os seus olhos e o seu
corpo dizem o contrário.
Acordei indisposta. Estou péssima e com uma dor de
cabeça do cão. Não consegui dormir direito, o que
aconteceu ontem mexeu muito comigo, então passei boa
parte da noite pensando em todas as minhas ações que
estão quase me levando à extrema loucura. O fato da
minha madrinha estar me ignorando me mata, mais uma
vez ela saiu cedo e me deixou ir sozinha para o trabalho.
Doeu muito, afinal, sempre vamos juntas.
Hoje não é o meu dia. Definitivamente, não.
Para completar, ontem agi no calor da emoção e
decidi enviar uma maldita mensagem para o Andreo, e
isso me levou a questionar o que eu realmente quero para
mim, uma vez que fui eu que dei o fora nele, e horas
depois, preocupada em ter sido muito rude, tentei me
redimir e levei um vácuo. A sua falta de resposta me deu a
entender que talvez eu tenha exagerado na dose, contudo,
não me arrependo de ter tomado aquela atitude em expor
para ele a minha opinião sobre as suas investidas, porque
tenho razão, não errei em momento algum, só reconheci
que fui um pouco grossa e não é da minha natureza ser
assim.
Com a cabeça latejando e o suor descendo por meu
pescoço, respiro fundo e coloco os panos de chão dentro
da máquina, em seguida, sento-me no banquinho ao lado
ao sentir minha visão ficar meio embaçada. Pior coisa que
tem é uma noite mal dormida, parece que um caminhão de
milhões de toneladas passou por cima de você durante
todo o dia. Estou me sentindo um lixo, cansada e com
sono.
Assim como tentei me desculpar com Andreo,
também conversei com Maria Fernanda. Com uma
dorzinha no coração e a consciência pesada, eu me abri
com ela, confessei o que estava sentindo pelo filho do
prefeito. Não é amor, e sim, uma atração inegável, basta
ele me dar aquele olhar intenso que perco a postura, mas
me seguro para não cair na tentação, pois sei que pode
ser o caminho para a minha queda.
O clima que está rolando entre a gente ficou nítido
até para a Maria Fernanda. Minha amiga disse que notou
o interesse dele em mim, mas que eu demonstrei
indiferença, porque é assim que fico quando alguém mexe
comigo, entro na defensiva para me proteger. E ela tem
razão.
Em nossa troca de mensagens, ela pediu desculpas
por ter se animado com a presença de Andreo e disse que
assim que percebeu a nossa troca de olhar, ela se sentiu
terrível por ter dado “mole” para o cara que está
nitidamente querendo a melhor amiga dela. Eu não
poderia deixar que ela saísse como a vilã da história,
admiti ter sentido um ciúme bobo de ver a interação deles,
no entanto, em casa, parei para analisar e vi que não
tinha esse direito, então expus meus pensamentos para a
Maria Fernanda e acabamos nos entendendo. Ela me
aconselhou a investir no Andreo, mas só se eu estivesse
realmente disposta a viver algo passageiro com ele, afinal
de contas, ele é filho dos meus patrões, um homem
conquistador, enquanto sou apenas uma garota pobre sem
muito para oferecer.
Claro que tenho muitas qualidades, mas seria
loucura um filhinho de papai querer se relacionar
seriamente com alguém que não é do seu meio.
Mas não desejo ser a aventura de ninguém, e
enquanto conseguir resistir às tentativas do Andreo em me
conquistar, serei uma verdadeira guerreira. E se não der
certo, apenas vou me contentar com a minha derrota e dar
munições para a minha madrinha usar contra mim.
— Alina, você está bem, filha?
Saio dos meus pensamentos quando ouço a voz da
minha madrinha, soando preocupada. Quando levanto meu
rosto, ela me encara com os olhos arregalados.
É a primeira vez que fala comigo essa manhã.
— Só estou com dor de cabeça, mas estou bem —
digo, com a voz meio embargada por ela demonstrar
preocupação.
— Você não está bem, seu rosto está pálido. Você se
alimentou hoje? — Ela se aproxima e toca na minha testa,
constatando que estou suando frio.
Não, eu não tomei café da manhã de tão desanimada
que estava. E quando cheguei aqui, a primeira coisa que
fiz foi colocar o uniforme para começar a trabalhar. A
primeira-dama pediu para a digníssima Simone avisar que
ela quer tudo brilhando para essa noite.
— Não, madrinha, não comi nada — digo,
envergonhada.
Ela me encara e balança a cabeça em modo de
repreensão.
— Não pode trabalhar com o estômago vazio,
menina. Quer se matar? — indaga, suspirando.
— Eu já ia comer alguma coisa, mas decidi adiantar
um pouco o serviço — explico e vejo a indignação em seu
olhar.
— Vá procurar algo para comer na cozinha, eu
assumo daqui. Você já fez muitas coisas hoje e nem se
alimentou, pode passar mal assim — declara.
— Não se preocupe. A senhora está muito ocupada
também, eu consigo terminar aqui e depois vou comer
algo — digo, pronta para me levantar.
— Teimosa como a mãe — fala, sorrindo. Nos
encaramos emocionadas, os olhos dela se enchem de
lágrimas, assim como os meus. Aos poucos, ela está se
desarmando.
— Madrinha — engulo em seco e deixo as lágrimas
caírem por minhas bochechas —, a senhora me perdoa?
— Soluço, deixando-a atordoada.
— Perdoar o que, filha? — Ela toca nos meus braços.
— Por te decepcionar tanto. Não foi a minha intenção
magoar a senhora ou te envergonhar no seu trabalho. —
Começo a soluçar. — Eu... estou me sentindo muito mal
com essa distância. Eu te amo e não suporto a
indiferença... a senhora é minha mais do que madrinha, é
minha mãe, me criou — desabafo e ela chora comigo.
— Shhh, não chore, Alina. Me escute com atenção.
— Toca no meu queixo e eu assinto. — Se eu brigo com
você é para o seu bem. Reconheço que fui dura, mas é
porque eu te amo, querida. Você pode não se achar uma
menina inocente, só que você é. E esse rapaz é bonito,
sedutor, tem lábia, e eu já tive a sua idade, sei que é
difícil resistir a um menino tão encantador como ele. Você
tem apenas vinte anos, nunca namorou, não teve o seu
primeiro amor, e se beijou foi aquela coisa boba sem
muito significado. Mesmo que você tenha uma
personalidade tão arisca, ainda assim é muito imatura,
filha. Você tem um coração bom, é uma presa fácil para
alguém como o Andreo. O filho do sr. Mancini demonstrou
o interesse que tem por você e não esconde de ninguém,
nem mesmo da mãe, que é uma pessoa ardilosa e nunca
vai aceitar o interesse do filho dela pela empregada.
Quero que olhe bem nos meus olhos e me escute com
atenção. Não posso te proibir de se apaixonar, se
decepcionar, aprender, errar e acertar, só peço que cuide
do seu coração, ele é tão puro. Não permita que ninguém
brinque com você e depois te deixe de lado.
Meneio com a cabeça, controlando o meu choro
quando ela me puxa para um abraço.
— Dandara, preciso falar com a Alina sozinha. Nos
dê licença.
Quase dou um salto para trás ao ouvir a voz da
nossa patroa, estávamos tão distraídas que nem a
ouvimos chegar.
Minha madrinha se afasta enquanto eu respiro fundo,
antes de olhar para a Bárbara. Ao me virar, eu vejo aquele
olhar de desprezo enquanto nos analisa minuciosamente.
— Sim, senhora. Com licença. — Minha madrinha sai
e me deixa com a bruxa, que põe a mão na cintura e
encara a lavanderia como se fosse uma pocilga.
Disfarçadamente, eu a analiso também. A mulher mal
acorda e já está vestida como se fosse para uma festa,
não que seja ruim, mas ela exagera um pouco nas roupas.
Enfim, não vou julgar a megera, tem gosto para tudo.
— No que posso ajudar a senhora? — pergunto,
passando as mãos suadas no meu uniforme.
Ela franze o nariz e coloca os dedos nos ouvidos, me
deixando sem entender.
— Primeiro, desligue essa máquina, odeio esse som
irritante!
Fico perplexa com a sua ordem, a máquina nem faz
tanto barulho assim.
— Pronto, senhora, pode falar — falo ao desligar a
máquina.
— Você sabe que hoje teremos um pequeno evento
aqui para os meus amigos de Monte Verde, certo? — Sorri
de maneira tão gentil que me dá medo.
— Sei sim. — Inquieta, mordo os lábios.
— Então, infelizmente, não consegui arrumar um
uniforme para você usar essa noite, então terá que
colocar um vestido seu, tudo bem? Só preciso que esteja
presente essa noite, porque teremos um bom número de
pessoas e não posso passar vergonha com poucos
garçons! E não precisa ir à sua casa trocar de roupa,
tenho certeza de que deve ter alguma peça por aí. Vai
atrasar o meu cronograma se sair daqui. — Ela passa a
mão pelo cabelo bem penteado e finge inocência ao
destilar o seu veneno, sei qual o seu objetivo.
Como alguém com tanta influência não consegue
arrumar um uniforme? Poupe-me.
Dou um sorriso para ela.
— Se não tem problema para a senhora, tudo bem.
— Não tenho roupas boas no quarto dos funcionários, só
uns dois vestidos simples que uso no dia a dia.
— É só isso, querida, pode continuar o seu serviço.
E por favor, não apareça com essas olheiras à noite, meus
convidados podem ficar horrorizados com a sua
aparência. Cubra isso aí com maquiagem. — Boquiaberta,
eu a vejo me dar as costas e sair da área de serviço. —
Tão jovem e cheia de olheiras!
Chocada, vou até o espelho que tem na parede e me
encaro. Céus! Bárbara Mancini é uma mulher má, eu nem
estou com tanta olheira assim.
Passo a mão no meu rosto e mordo os lábios com
raiva. A minha patroa é o demônio em forma de gente. Sei
que ela quer que eu sirva os convidados com uma roupa
minha para me humilhar, porque sabe que não tenho nada
aqui bacana para ser usado essa noite.
Se ela acha que eu serei o motivo de chacota, está
enganada. Não tenho motivo algum para me envergonhar,
sei qual é o meu lugar e estarei somente fazendo o meu
trabalho. E ninguém deve ter vergonha disso. Se ela acha
que me sentirei humilhada e baixarei a cabeça para os
seus convidados ricos e bem-vestidos está muito
enganada. Farei o meu trabalho de cabeça erguida.
— Fazia tempo que não o via vestido assim, filho.
Fico surpreso ao ouvir a voz do meu pai surgindo da
porta aberta do meu quarto. Viro o rosto e o encaro, seu
semblante está calmo, parece satisfeito em me ver vestido
tão formal. O sonho dele é que eu seja um homem de
negócios, assim como ele. Vagarosamente, analiso as
vestes elegantes do querido prefeito de Vale Santo.
— Você sabe que odeio essas roupas, elas me
incomodam. Mas como hoje é importante, preciso fazer
esse sacrifício — digo, ironicamente.
Ele ri e balança a cabeça.
— Sei exatamente o filho genioso que tenho, Andreo,
nem precisa me dizer nada. — O seu sorriso relaxado é
uma novidade para mim. — Eu te trouxe algo.
Curioso, eu o observo estender para mim uma
pequena caixa.
— Presente? — pergunto, bem-humorado.
— Pode ser. — Meu pai abre a caixa e olha o objeto
que está ali, um Rolex em ouro branco. — Pegue, é seu —
pede.
Se eu não soubesse que ele já era rico antes de se
tornar prefeito, diria que está desviando dinheiro da
prefeitura, mas não é o caso de Alberto Mancini. Ele é um
homem honesto, jamais faria isso.
— O que ela quer em troca? — indago, desconfiado.
Meu pai arregala os olhos com a minha pergunta.
— Como assim? Ela quem? — pergunta, sem
entender.
Solto um suspiro e passo a mão por meu cabelo,
bagunçando-o um pouco.
— Sempre tem um dedo da dona Bárbara no meio,
pai. O que ela quer dessa vez? Não gosto quando tentam
me comprar com alguma coisa. Não precisava vir aqui me
oferecer algo tão caro para... — Calo-me quando ele
ergue a mão.
— O que é isso tudo? Acha que eu seria capaz de
comprar o meu filho? Que absurdo é esse? — pergunta,
inconformado.
— Quando é algo relacionado à minha mãe, já estou
acostumado a dar algo em troca. Só isso — esclareço,
desabotoando dois botões da camisa preta. Esta noite, só
estou vestindo preto.
— A sua mãe não tem nada a ver com isso, Andreo.
Eu quis te dar algo, simples assim. E não quero nada em
troca, sou o seu pai — diz, calmamente. — Sei que gosta
de colecionar relógios, e quando o vi pensei em você. —
Ele continua estendendo a caixa em minha direção.
Mesmo receoso, eu a pego.
— Não achei que soubesse disso. — Um nó se forma
na minha garganta.
— Você é meu filho, é claro que sei. Até mais do que
você imagina. — Sorri, se aproxima e coloca a mão no
meu ombro. — Sei que não gostaria de se reunir esta
noite com os meus amigos e conhecidos, mas que fará
esse sacrifício porque tem uma certa jovem linda que vai
estar presente e te interessa muito. O suficiente para você
interceder por ela, o que nunca fez por nenhum outro
funcionário da casa.
Nem precisou mencionar o nome de Alina para que
eu soubesse de quem se trata.
Porra! Meu velho é mais esperto do que eu
imaginava.
— É... — É a primeira vez que o meu pai me deixa
sem palavras.
— Como eu disse, eu te conheço. Além do mais, sou
muito observador, sei que a menina Alina te interessa.
Tanto que está passando por cima do seu orgulho e
acatando os caprichos da sua mãe. Que ela não me
escute dizendo isso.
Gelo com a avaliação dele.
Foda-se, ele tem razão.
— Sim, eu gosto da Alina. É um problema para você?
— pergunto, com os olhos fixos nele, que nega com um
meneio de cabeça.
— Pessoas são pessoas, Andreo. A menina não é
diferente por não ser rica. O dinheiro nem sempre é tudo,
como a sua mãe acha, caráter não se compra. E isso é o
que aquela jovem e a madrinha dela têm — diz, me
surpreendendo. — Apenas quero que você seja homem e
não brinque com aquela garota. Ela é nova se comparar
com seus vinte e quatro. Você é experiente, um
aventureiro, gosta de viver perigosamente, enquanto Alina
é a típica garota inocente de cidade pequena. Não brinque
com os sentimentos da menina, ou esse lugar poderá ficar
pequeno demais caso você pense em fazer dela uma das
suas conquistas. Você sabe que todos a conhecem e a
adoram por aqui.
— Pai... — Me sinto sufocado por ser posto contra a
parede.
— Aquela garota é linda, chama a atenção de todos,
mas não brinque com ela. Honre as suas calças e não
tente usar a menina para atingir a Bárbara. A sua mãe não
é flor que se cheire, eu me casei com ela sabendo quem
era, às vezes me pergunto se estava louco — fala com
seriedade, mas depois sorri. O marido conhece a esposa
má que tem, mas permite que ela continue sendo tóxica.
Se isso não é amor, eu não sei o que é. — A sua mãe
acha que não a conheço bem, mas sei do que ela é capaz.
Abaixo a cabeça e fecho os olhos com força. Essa
doeu, nunca doeu antes levar um sermão dele.
— Prometo que não a magoarei. — Levanto o rosto,
mentindo descaradamente para o meu pai. Falo com tanta
seriedade que acredito nas minhas próprias palavras, já
que não sei o que a vida nos reserva.
— Vou confiar em você. Agora coloque o relógio. —
Ele tira a mão do meu ombro.
— Obrigado — agradeço-o, pegando o Rolex e o
colocando no meu pulso.
— Alina não foi demitida porque é eficiente,
trabalhadora. Mesmo que você não intercedesse por ela,
eu não a dispensaria. Eu nem sempre concordo com
Bárbara. Só o fiz pensar que mantive a garota por um
pedido seu para que me mostrasse o quanto tem de
humanidade em você — fala, me deixando boquiaberto
com a revelação. — A menina nem te deu uma chance e já
está conseguindo te mudar sem que você perceba. Eu
gosto disso, e ainda mais te ver interessado por uma
mulher trabalhadora, inteligente.
Esta noite está sendo uma surpresa para mim, achei
que seria eu a surpreender as pessoas, mas está sendo o
contrário.
— Tem mais alguma coisa que eu deva saber? —
pergunto, meio atordoado.
Meu pai gargalha ao notar o quanto me deixou
desestabilizado com as suas palavras.
— O Frank está lá fora te esperando e vai te entregar
duas caixas. É para a sua garota, ela vai precisar. — O
seu tom é jovial. — A sua mãe tem a intenção de fazer a
menina passar vergonha usando uma roupa qualquer, já
que não arrumou uniforme para ela, mas não vou permitir
que isso aconteça.
— Como é? — Passo a mão na boca, abismado.
Eu sabia que a minha doce mãe tinha alguma carta
na manga, mas deixar Alina sem uniforme é novidade,
nunca pensei que ela faria isso.
— Como eu disse, conheço bem a sua mãe, percebi
a sua jogada. Então vamos surpreender positivamente a
primeira-dama, leve a menina como sua convidada esta
noite. Se ela questionar, diga que eu a dispensei dos seus
serviços por hoje. — Pisca para mim.
— Estou realmente falando com Alberto Mancini? —
Sorrio, de olhos arregalados.
Ele está sendo a minha ponte sem saber.
— Acha que eu sou só bom nos negócios? Também
sei ser pai e cupido. — Se vangloria e eu gargalho.
— Você vai comprar uma briga, sabe disso, não é?
— Eu sei domar a fera, não se preocupe — me
tranquiliza.
— A sua intenção é boa, mas Alina é arisca, não vai
aceitar nada vindo de mim. Vai achar que quero comprá-
la. — Bufo, ouvindo a sua risada.
— Confio na sua capacidade de convencê-la. Mostre
para a menina que não é isso, então ela vai ceder. Não
demore, o Frank está de plantão hoje — diz e me dá as
costas, em seguida, deixa o meu quarto.
Ainda faltam um tempo para o tal jantar, os
convidados ainda estão chegando, muitas coisas podem
acontecer.
Este é o momento certo para rever os julgamentos
que fiz a respeito do meu pai?
Com um puta sorriso, vou na direção da sacada do
meu quarto e olho para baixo à procura do segurança do
meu pai. Logo o encontro no gramado com uma caixa
grande e outra um pouco menor. Animado, assobio para
ele, que olha para cima.
— Já estou descendo — aviso.
Hoje Bárbara vai se engasgar com o próprio veneno.
Se bem que será difícil convencer a Alina, uma vez que
não mandei mensagem sequer o dia todo e nem a vi.
Se eu disser que não estou cansada, estarei
mentindo. Meus braços e pernas doem, passei o dia
subindo e descendo, seguindo as ordens da patroa, que
enviava a Simone para me auxiliar em um serviço que
faço há meses. Parece que trabalhei o triplo hoje, se eu
me deitar na cama é capaz de dormir em um piscar de
olhos de tão exausta que me encontro. Mas não vou dar
esse prazer a Bárbara, que iria adorar me ver decepcioná-
la.
Minha madrinha e Simone já foram embora há
algumas horas, e eu gostaria de ter feito o mesmo, ir para
a minha casa e colocar as pernas para cima.
Já estou pronta para me reunir aos outros garçons
na cozinha, mas desanimada com o que pode acontecer,
afinal, vou ser a única a servir os convidados sem o
uniforme e de chinelos. Pois é, a primeira-dama pegou
pesado, contudo, não vou me abalar com isso.
Em frente ao espelho, depois de ter passado um
gloss rosinha bem delicado, aperto as minhas bochechas
para ficar em um tom mais vivo. Fico ali me encarando por
longos minutos, até que alguém bate à porta. Olho na
direção dela e logo reconheço a voz do Andreo.
— Alina, posso entrar? — pergunta, educadamente.
Fico surpresa, já que estive sendo ignorada desde
ontem. De repente, bate um frio na barriga, então respiro
profundamente e sinto minhas pernas ficarem bambas.
Antes de responder a ele, olho-me novamente no espelho
e encaro o meu penteado. Gostaria de ter deixado meu
cabelo ao menos em um rabo de cavalo como o habitual,
mas recebi ordens de deixá-lo preso em um coque firme.
Ordens são ordens e eu devo segui-las, quer queira ou
não.
— Sim, pode. — Limpo a garganta e arrumo minha
postura.
Assim que ele entra, me seguro para não demonstrar
o quanto fico abalada com a sua presença, porém, é
inevitável que eu não o avalie por alguns segundos.
Andreo está lindo vestido tão elegantemente, desde que
trabalho aqui nunca o vi com esse traje. Sua roupa é toda
preta, e seu cabelo está penteado para trás. A maneira
como me encara me deixa sem saber como agir diante do
seu olhar sedutor.
Após passear meus olhos por Andreo, noto duas
caixas em seus braços. Ele passa por mim e as colocas
sobre a cama.
— O que é isso? — Eu o observo se sentar no
colchão com a maior tranquilidade.
— Para você — diz com naturalidade.
— Não entendi.
Eu realmente não estou entendendo o que ele está
querendo dizer.
— Soube do esforço da minha mãe para encontrar
um uniforme para você — fala com ironia.
Eu não consigo tirar meus olhos dele, nem do seu
sorriso desdenhoso.
Por que Andreo tinha que ser tão lindo? Seria mais
fácil se ele nunca tivesse me dado atenção, assim eu não
estaria em uma posição tão complicada. Meu coração está
em risco.
— Não deveria ter se incomodado, vou com o meu
vestido mesmo. Estou pronta para cumprir com a minha
função — digo, gentilmente.
Ele desce o olhar para os meus pés e vai subindo
lentamente por minhas pernas nuas. Conforme me analisa
minuciosamente, passa a língua nos lábios, e ao encontrar
o meu rosto aumenta o seu sorriso.
— Gata, você está linda. Se estivesse usando um
saco de batatas agora, eu não mudaria as minhas
palavras.
Fico boquiaberta com o seu elogio.
— Isso soa tão clichê, Andreo. — Bufo e ele
gargalha.
— Ah, eu amo um bom clichê, Alina. — Sua voz sai
rouca.
— Eu agradeço por sua boa intenção, mas não posso
aceitar o que quer que tenha trazido para mim. — Coloco
a mão na cintura.
— Por que não? — Seu semblante muda e ele se
levanta.
— Não sou convidada, e sim uma das pessoas que
vai servir os convidados. E sua mãe disse que eu poderia
ir vestida assim. Não se preocupe com isso — digo,
tentando manter a minha voz firme enquanto olho para o
meu vestido.
— É convidada, sim. A minha convidada. Essa noite
você não irá trabalhar, não servirá ninguém. A minha mãe
só quer mostrar quem manda aqui. — Seu tom é severo.
— Pelo que eu me lembre, você deu essa ideia para
que eu não fosse demitida. — Solto um suspiro e o vejo
revirar os olhos.
— Por isso mesmo. Mas ainda há tempo de mudar.
Aceite o vestido e as sandálias, por favor — pede,
passando os dedos entre os fios do seu cabelo,
bagunçando o penteado.
— E o que você quer em troca? — Eu o encaro,
mesmo com receio da sua resposta.
Ele ri com amargura em resposta.
— Hoje fiz a mesma pergunta ao meu pai quando ele
me deu isto. — Ele mostra o Rolex em ouro branco
abraçando o seu pulso.
— Então? — insisto, sem perder o foco.
— A minha pergunta me fez refletir e eu me sinto
péssimo por sempre falar sobre a minha mãe querer algo
em troca de mim, quando eu acabei agindo da mesma
maneira com você. Então peço que me perdoe pelo meu
comportamento. — Ele me surpreende com a revelação. —
Eu poderia ser um desgraçado e te pedir uma dança essa
noite, mas não se preocupe, não quero nada em troca.
A sua seriedade me afeta.
— Andreo... — tento falar, mas ele pede silêncio com
um gesto de mão.
— Para ser sincero, não sei que merda é essa que
está acontecendo comigo. Normalmente, não fico atrás
das garotas, mas depois de te observar durante esses
meses, eu me sinto muito atraído e acho que isso me leva
a ter um comportamento idiota, como agora. Mesmo
sabendo que você não aceitaria nada vindo de mim —
declara, fazendo careta.
— Se eu estabeleço um limite é porque você é muito
intenso. E é errado. Sem contar a sua mãe, os seus pais...
Eles jamais aceitariam o que estamos fazendo — exclamo,
fitando-o.
— E o que estamos fazendo? — Arqueia a
sobrancelha.
— Estar enfiado no quarto dos empregados não é
nada para você? — indago, impacientemente.
— Não. Seria se estivéssemos naquela cama
deitados e ofegantes, depois de várias rodadas deliciosas
de sexo — responde, me deixando ruborizada.
Com o coração batendo descompassado, entrelaço
minhas mãos e desvio o olhar do dele. Eu preciso ir
trabalhar e ficar tendo essa conversa aqui pode pegar mal
para mim.
— Andreo, obrigada, mas não precisa mesmo.
Ele passa a mão por meu pescoço e dá passos
perigosos em minha direção, deixando meu corpo tenso.
— Como eu disse desde o início, fica a seu critério.
— Ele invade o meu espaço, ficando tão perto que posso
sentir a sua respiração. — Eu jamais vou te forçar a fazer
algo que não queira. Uma coisa é dar em cima de você,
outra é te forçar a ter algo comigo ou aceitar o que eu
trouxe. Muitas vezes sou um filho da puta, reconheço, mas
nunca vou obrigar uma mulher a nada — diz, com
seriedade.
— Mais uma vez, obrigada, mas estou bem assim. —
Mentira, sou uma bela mentirosa. Eu sei o que a primeira-
dama quer de mim.
— Quando um não quer, dois não brigam. Se você
acha que não deve aceitar é um direito seu, apenas quis
que se sentisse de alguma maneira mais confortável,
afinal, Bárbara está tentando virar o jogo ao te usar como
alvo das maldades dela — finaliza, com um olhar sombrio.
— Jogo? Eu não faço parte de jogo algum, Andreo —
exclamo, com revolta.
— Realmente não faz, mas a minha mãe, para me
atingir e alcançar os seus objetivos, é capaz de tudo. —
Quando ele se aproxima de mim, minha respiração trava,
sequer me toca, mas me acaricia com os seus olhos, me
seduz.
— E por que ela faz isso? Eu sou importante para
você por acaso? — Acabo perguntando demais e fico
irritada com a minha merda de curiosidade.
Com um sorriso de lado, ele ergue a mão perto do
meu rosto, mas não me toca. Estou quase fechando os
olhos ao sentir o calor da sua proximidade.
— Essa resposta você ainda não vai ter, Alina. — O
corte seco me traz de volta à realidade, quando percebo
ele já está distante de mim e com a postura séria.
— Você desiste tão rápido assim? Do nada, depois
de me ignorar desde ontem, hoje aparece com essas
caixas... Isso é muito estranho para mim, mas...
Cale essa boca, Alina, ele estava prestes a desistir
de você.
O problema é que eu não sei se quero que ele
desista de mim. De repente, fico imaginando quantas
garotas lá fora estão o esperando aparecer para se jogar
nele, enquanto eu estou enxotando-o do quarto.
— Só estava te dando espaço. Não, Alina, mas
quando pareço estar sendo um assediador, prefiro recuar
do que passar uma impressão errada. Não sou esse tipo
de homem, às vezes a minha intensidade pode ser
confundida com outras coisas e eu não vou me prestar ao
ridículo em insistir em ter algo com uma garota que não
quer nada comigo. Não precisa se preocupar, a partir de
hoje é cada um para o seu canto — fala e sai porta afora,
sem levar as caixas e não me permitindo dizer mais nada.
Com a cabeça fervilhando, eu tranco a porta.
— Vou enlouquecer. Não é possível — resmungo,
indo na direção da cama.
É, parece que o venci pelo cansaço.
Curiosa, abro uma caixa e encontro sandálias prata
com salto baixo, delicada e elegante. Fico impressionada
ao ver que é meu número. Ao lado tem uma folha de
papel, pego e começo a ler o que está escrito ali.
“Gata, e não é que o sapo realmente pode virar
príncipe nem que seja por algumas horas? Quem diria
que eu, Andreo Mancini, está escrevendo um bilhete
para alguém, mas ultimamente ando fazendo coisas
absurdas por você, sinta-se privilegiada. Brincadeira,
não leve para o lado pessoal... Alina, ao menos essa
noite seja a minha Cinderela, depois pode voltar a ser
a mesma ranzinza, mas não deixe que Bárbara se
comporte como a madrasta má, use a roupa e as
sandálias. Não por mim, mas por você.”
Termino de ler o bilhete em lágrimas. Droga, estou
tão confusa que nem sei como me comportar direito e
avaliar as minhas ações. Esse sentimento entre nós é tão
avassalador que destrói todos os meus ideais.
Limpo meu rosto molhado e largo o papel na caixa,
em seguida, abro a outra e me deparo com um vestido
branco. Enxugo minhas mãos no lençol e pego o vestido,
fico impressionada com a qualidade do tecido e o quanto
ele é bonito. As alças são finas, o decote é simples e há
uma pequena fenda na lateral. A roupa não é chamativa,
mas sim muito elegante.
Bárbara me disse para não ir para casa trocar de
roupa e eu não fui, então ela não pode dizer que não
cumpri suas ordens.
Sorrindo, respiro profundamente e fico pensativa por
alguns minutos, mas não demora para que eu tome uma
decisão. Eu vou usar tudo o que ele trouxe e se tiver
oportunidade, vou agradecer. Andreo não tinha obrigação
alguma de se preocupar comigo, mas mesmo sabendo que
eu não aceitaria facilmente, veio aqui e me deu a opção
de não ser humilhada por sua mãe.
Sem ter muito o que pensar, começo a tirar a minha
roupa para substituir pela outra.
Antes de deixar o quarto, liguei para a minha
madrinha avisando que assim que eu terminasse o
trabalho iria direto para casa e que não precisava me
esperar acordada.
— Senhora, não pode entrar aqui, acho que deve ter
se perdido.
Ouço a voz masculina bonita assim que entro na
cozinha. Envergonhada, olho para a pessoa e me
surpreendo ao me deparar com um homem muito bonito e
jovem, vestido com um dólmã. Ele é o chef. Tento ler o
seu nome em sua roupa, mas a forma como ele me olha
com curiosidade me deixa sem jeito.
— Boa noite. Eu sou Alina e trabalho na casa. A sra.
Mancini me pediu para ficar essa noite para ajudar a
servir — digo, deixando o desconhecido de olhos
arregalados por alguns instantes.
Sem graça, eu observo os olhos curiosos sobre mim.
Imagino que deva estar assustado, a Bárbara não toleraria
qualquer erro vindo da equipe.
Todos estão usando um uniforme padrão, somente eu
estou sendo a exceção, tenho certeza de que esse é o
motivo de eu estar sendo alvo de tantos olhares. O chef
lança um olhar de advertência para equipe e logo o lugar
fica movimentado, garçons entrando e saindo da cozinha.
— Seja bem-vinda à nossa equipe, Alina. A minha tia
me falou sobre você, só não imaginei que fosse tão jovem.
— Ele sorri gentilmente. — Sou Eros Bernardi, o chef e
sobrinho da anfitriã. Antes que diga alguma coisa, sim,
meus pais são fãs da mitologia grega — esclarece,
sorrindo.
Quase me engasgo quando ele estende a mão para
mim.
O quê? Ele é sobrinho da cobra!
— É um prazer, senhor. — Sorrio e cumprimento.
Quando a sua mão máscula fecha ao redor da minha, sinto
o meu rosto ruborizar.
O primo do Andreo é tão lindo quanto ele – alto e
com alguns músculos. De cara dá para ver que vem de
uma boa família, a elegância grita nele.
— Não precisa de tanta formalidade. Acredito que eu
não seja tão velho assim — fala, risonho, soltando a
minha mão.
Meneio com a cabeça.
— É... é... Então já que você é o responsável, pode
me dizer o que devo fazer, por favor? Não quero fazer
nada errado — confesso, aflita.
— A nossa equipe está completa. Para ser sincero,
só te aceitei por muita insistência da tia Bárbara.
Fico chocada com a revelação dele.
— Compreendo. — Na verdade, me sinto perdida,
agora não sei o que devo fazer.
— Gosto dos meus funcionários uniformizados, e
como você não tem um, pode ficar na cozinha ajudando a
encher as taças, coisas do tipo, enquanto os outros vão
para o salão servir os convidados — instrui Eros, sério,
mas em momento algum é grosseiro. A ideia dele é boa,
só que talvez sua tia não goste dela.
— Claro, estou aqui para ajudar — concordo,
desviando meu olhar do dele para algumas garçonetes
que passam com as bandejas de bebidas.
— Pode ficar à vontade, vou ver como estão as
coisas no salão. Não se preocupe, aqui todos serão
amistosos com você. — Então ele se afasta de mim e sai
da cozinha, me deixando deslocada por não conhecer
ninguém.
Sigo até as mulheres que estão enchendo as taças
com vinho e champanhe. Quando me veem, elas sorriem.
— Oi, sou a Alina. O Eros me disse para ajudar com
as bebidas — digo, me sentindo deslocada.
Quando a morena que está no meio me olha dos pés
à cabeça, eu respiro fundo atenta ao seu olhar de
julgamento. Droga, pensei que seria fácil, mas estava
enganada.
— Ah, sim, Alina. Seja bem-vinda. Sou a Paulina —
diz a loira sorridente.
— Como a Elisa está no champanhe, e eu e a Julia
estamos no vinho, você pode ajudar a Lisa, assim ficamos
em dupla — fala Paulina. Só assim para que eu saiba o
nome da minha julgadora, que depois de algum tempo
sorri para mim e me dá espaço para que eu a ajude.
— O.k., obrigada — agradeço, começando a ajudar
Elisa, que coloca as taças cheias na bandeja antes de
dois garçons surgirem para levar até o salão.
Em questão de poucos minutos, todos se acostumam
com a minha presença. As garotas ficam mais confortáveis
e se abrem mais comigo, então fico mais à vontade e
aquela insegurança em falhar vai embora. Depois de um
tempo enchendo as taças, mudo de atividade e assim
permaneço, revezando nas tarefas.
Vez ou outra olho para a porta na esperança tola de
ver Andreo passar por ali, mas é algo que não vai
acontecer, uma vez que o salão fica no lado oposto da
cozinha. E como ele parece ter ficado chateado comigo,
não vai se dar ao trabalho de me procurar.
— O que você tanto olha para lá? — pergunta
Paulina, atraindo a minha atenção.
Sem graça, sorrio para ela e a encaro.
— Bobagem — falo e ela ri.
— Por acaso está interessada no Eros? — indaga
baixinho.
Eu me engasgo com a minha saliva.
— Oi? Não... Claro que não! — respondo, com os
olhos esbugalhados com a pergunta inusitada dela.
— Ah, pensei que estivesse, porque ele não voltou
ainda e você só olha para a porta — fala, dando uma
risadinha. — Mas se tiver interesse, invista. Eros é uma
ótima pessoa. Aproveita, amiga. — Pisca para mim e eu
fico boquiaberta.
— Não, não, Paulina. Ele é praticamente um
desconhecido para mim. Só trocamos algumas palavras e
não tenho nenhum interesse nele. — Faço uma careta.
Ela morde os lábios, reprimindo uma risada.
— Existe amor à primeira vista, sabia? — diz,
divertida.
Talvez seja o que estou sentindo por Andreo.
Balanço a cabeça com meus pensamentos absurdos e
encaro Paulina.
— Impossível, sem contar que ele não é o meu tipo.
Vamos logo terminar isso aqui, daqui a pouco chamam a
nossa atenção — desconverso, entregando a ela a garrafa
cara de vinho. Voltei a ajudar nas bebidas enquanto as
outras foram descansar por alguns minutos.
— Alina, venha aqui. Agora.
A voz ríspida da sra. Mancini faz o meu coração
bater acelerado.
— Não estou acreditando que a primeira-dama está
na porta da cozinha — cochicha Paulina, em choque.
Prendendo a respiração, viro o meu rosto e encaro
Bárbara, atrás dela está o sobrinho com o semblante
fechado. O olhar da esposa do prefeito recai sobre mim
duramente, então engulo em seco. Ela nem precisa abrir a
boca para que eu saiba o que está pensando.
Afasto-me da minha colega e vou na direção da
Bárbara, que está com aquela pose arrogante e com a
mão na cintura. Conforme me aproximo da mãe de
Andreo, ela balança a cabeça indignada e me avalia
raivosamente, sequer esconde o seu descontentamento.
— Bárbara, eu disse que a moça estava ocupada.
Não precisava vir até aqui. Você me deu a
responsabilidade de... — Eros tenta falar, mas a tia ergue
a mão pedindo silêncio, então ele se cala rapidamente.
— Querida, eu só te dei uma segunda chance com a
condição de servir meus convidados, e não ficar
escondida na cozinha — diz ácida, sem se importar com
as pessoas ao nosso redor. Se bem que para ela não
importa a plateia daqui, somente os da sua classe, os que
não precisam ficar nesse lado da casa.
— Senhora, eu iria, mas...
Ela revira os olhos e novamente faz um sinal com o
dedo, me calando.
— Trate de levar uma bandeja com champanhe para
a minha mesa agora. Estou te esperando com os meus
amigos, e não demore. E outra, tire essa sandália e
coloque seus chinelos, não vou correr o risco de você cair
e estragar o meu jantar.
A humilhação dói no fundo da minha alma.
Engulo o soluço e assinto para ela. Envergonhada,
desvio meus olhos para a parede ao lado.
— Sim, senhora — digo, com a voz levemente
embargada.
— Ótimo. Não demore, estou te esperando. Não
decepcione a sua madrinha e nem a mim — diz e me dá
as costas. Depois de dar alguns passos, ela se vira
novamente. — Mudei de ideia, continue com essa
sandália. — Então se afasta.
Trêmula, fecho os olhos. Preciso de força para aturar
essa mulherzinha horrível. A forma como ela mencionou a
minha madrinha soou ameaçadora.
— Minha nossa, não sabia que a sua tia era assim,
Eros — se manifesta Paulina.
Eu nem tenho coragem de encarar as pessoas ao
redor.
— Paulina, termine o que você estava fazendo, por
favor — ele a ignora, mas não tira os olhos de mim.
— Com licença, vou fazer o que a sra. Bárbara
pediu. — Pigarreio. — Tem alguma recomendação, Eros?
— pergunto, insegura.
— Não, Alina, apenas leve a bandeja com as taças,
eu acredito que você saiba servir, então não vai ser
complicado. Fique tranquila — fala ele, me pedindo
desculpas com os olhos. Apesar de parecer sentir muito,
não diz nada.
— Certo... Isso é fácil. — Sorrio e vou até Paulina,
que está carrancuda. Ela enche novas taças e me entrega
a bandeja.
Em silêncio, saio da cozinha e sigo na direção do
salão de festas. Enquanto caminho, meu coração fica
apertado, não sei por que, mas estou com um
pressentimento ruim.
Vai dar tudo certo, Alina.
É só essa noite. Somente essa.
Entro no salão e avisto umas dez pessoas reunidas,
todas sorridentes, com roupas caras e joias. Ninguém nota
a minha presença, por mais que eu esteja usando um belo
vestido, pessoas como eles não reparam em pessoas
como eu, como se fôssemos invisíveis. O bom é que não
serei alvo de olhares, pelo menos isso me consola.
Agora entendo o motivo do Andreo não gostar de
ficar entre os amigos dos pais, nem mesmo uma música
tem aqui, só ouço vozes e risadas.
Sinto-me uma traidora por procurar um certo alguém
entre os convidados, mas não o encontro de primeira,
somente depois de procurar muito eu o vejo em um canto
afastado. Andreo está com um copo na mão, conversando
com dois amigos, pelo menos é o que parece. Ele sorri
abertamente e não demora muito para que eu reconheça
os dois babacas da piscina daquele dia – é um milagre
não encontrar a Isadora entre eles.
— Alina, vá servir o meu filho e os amigos dele.
Quase derrubo a bandeja ao ouvir a voz da Bárbara
atrás de mim.
Como essa mulher consegue se aproximar
sorrateiramente?
— Sim, senhora. Com licença. — Suspiro e sigo sua
ordem.
Andreo gargalha de algo que falam a ele, em
seguida, toma um gole da sua bebida e passa a língua
entre os lábios em um gesto sexy.
Em passos lentos, eu me aproximo do grupo de
homens. Parecendo sentir a minha presença, Andreo me
encara e seus olhos escurecem, o seu humor rapidamente
muda.
Ele aperta os dedos ao redor do copo, sua atenção
focada em mim. Acabo chamando a atenção dos seus
companheiros, que me encaram curiosos.
— Essa não é a gostosinha daquele dia na piscina?
— pergunta um deles baixinho, mas eu escuto. É um dos
idiotas que acompanhava a queridinha da Bárbara naquele
dia. A falta de respeito dele me enfurece.
— Cala a boca, Vini, respeite a garota — fala o
outro, repreendendo o amigo.
Andreo fica calado, só me observando.
— Com licença — digo, desviando o olhar de Andreo.
— Servidos? — Me enrolo toda para falar.
— Se você vier no pacote, sim, bebezinha —
responde o mesmo idiota que me chamou de gostosinha.
Semicerro os olhos, mas mantenho a minha postura.
— Os senhores irão querer alguma bebida? — Olho
para Andreo e o vejo massageando seu pescoço, como se
estivesse com dor.
O garoto chamado Vini começa a rir.
— A Bárbara não vai gostar de saber que a
empregadinha está destratando o filho de um grande
amigo. — Inconformado, o imbecil me segura pelo pulso e
por pouco a bandeja não cai.
— Deveria ter ficado calado, porra!
De repente, Andreo joga o copo no chão de forma
violenta e segura Vini pelo pescoço, pressionando-o
contra a parede. Assustada, derrubo a bandeja no chão,
estraçalhando as taças.
Os gritos são ouvidos quando Andreo dá vários
socos no Vini, as pessoas estão chocadas com a cena,
mas ninguém ousa se intrometer até que dois seguranças
surgem e tentam apartar a briga.
Andreo esmurra a cara do idiota mais vezes, mesmo
com os seguranças em cima dele. Vini tenta revidar, mas
o filho do prefeito o segura pela gola da camisa e o joga
no chão.
— Seu fodido de merda, nunca mais toque nela!
Ainda em choque, escuto Andreo dizer.
— Meu Senhor! — exclamo, apavorada. Me agacho
para juntar os cacos das taças, mas sou surpreendida por
uma mão forte se fechando no meu braço e me puxando
para cima.
— Nem ouse, Alina. Deixe essa porcaria aí, a
Bárbara já conseguiu o que queria — resmunga Andreo,
me puxando para longe.
As pessoas nos encaram abismados e abrem
caminho para passarmos. Tropeçando nos meus próprios
pés tamanho é o meu nervosismo, olho para as pessoas
ao redor e vejo as expressões assustadas, não passa
despercebido que Bárbara não esboça reação nenhuma.
Mesmo que o filho tenha destruído os planos dela e a
envergonhado na frente dos amigos, a megera não perde
a pose. Então ela sorri para mim com doçura, e isso é a
última coisa que vejo antes de ser levada para fora da
casa por Andreo.
No meio do caminho, ele solta palavrões. Ao
perceber que não consigo acompanhar os seus passos,
ele me ergue como se eu não pesasse nada e me coloca
sobre o seu ombro.
Não sei que tipo de pacto maligno Bárbara tem com o
diabo, mas ela sempre consegue o que quer. Meu plano
em livrar Alina das garras venenosa da minha mãe foi
inútil. Eu pretendia fazer com que a noite fosse tranquila
para a garota, mas a primeira-dama é malevolente.
Ter colocado Alina para me servir foi a gota d'água.
Mais cedo, minha mãe me viu saindo do quarto dos
funcionários e não perdeu tempo me provocando, falando
que muito em breve eu estaria me mudando para o
quartinho para me juntar a funcionária, mas ao avistar
meu pai, ela colocou a sua máscara de boazinha e esposa
atenciosa.
Nem mesmo devolvi a sua provocação, prometi que
essa noite seria sossegada, sem estresse, contudo, não
foi isso que aconteceu. Eu sabia o motivo da mudança de
plano da minha querida matriarca. Isadora, a nora dos
sonhos dela e dos meus pesadelos, não pôde vir ao jantar
e isso a enfureceu, afinal, sem a sua garotinha prodígio
não poderia ir tão longe na sua perseguição, já que
nenhuma das suas convidadas ali tinha tanta intimidade
comigo.
Somente os patetas dos primos da Isadora
apareceram, vieram substituir a priminha chata deles. Em
meio a tantos empresários e mulheres que só sabiam falar
sobre compras, personal stylist famosos fiquei com o
estômago embrulhando e me sentindo deslocado – como
sempre acontece nesses eventos chatos. Não tive outra
opção se não me reunir aos babacas, Vinicius e Michel,
dois sem cérebro.
Eu poderia ter ido falar com o meu primo Eros,
sobrinho por parte de mãe, mas não temos nenhuma
afinidade e não nos damos bem desde a infância, sem
contar que ele estava trabalhando.
Eros é o filho dos sonhos dos meus pais,
principalmente da Bárbara, que correu para contratar a
empresa do querido filho da tia Talita para se exibir na
frente dos amigos e mostrar a qualidade do menino de
ouro da família.
O bom de ser a ovelha desgarrada da família é que
não sou obrigado a conviver com eles. Às vezes, agradeço
imensamente por meu pai ser filho único, assim me poupa
de ter mais primos fodidos como Eros, um engomadinho
de merda.
Além de ter que aturar a desagradável presença do
meu primo, que eu só soube que ele estaria presente
quando o vi chegando com a sua equipe, Bárbara me
irritou com as suas farpas, falando que eu deveria me
comportar como se eu fosse a porra do cachorro dela. Eu
fui aguentando, suportando tudo, mesmo tendo sido
rejeitado mais uma vez por Alina. O meu juízo já estava
no inferno, bastou que a merda toda se misturasse para
que eu perdesse o controle e esmurrasse o bostinha do
Vini na frente de todos quando ele a desrespeitou como se
fosse uma puta.
Sei que estou encrencado, e não me importaria se o
nome do meu pai não estivesse envolvido. Os amigos dele
também estão lá dentro, viram o que aconteceu. Mesmo
sem intenção, dei para a minha mãe o que ela queria
assim que me esqueci dos convidados e avancei no
Vinicius, jogando o meu punho na cara ferrada dele.
Se eu disser que estou arrependido, estaria
mentindo, ele mereceu cada soco que eu dei. No momento
em que o primo de Isadora ofendeu Alina, só senti um
gosto amargo e fiquei cego, enxergava vermelho de tanto
que o ódio me consumia. E quando percebi, a merda já
estava feita.
— Andreo, me coloque no chão! — É a terceira vez
que Alina pede a mesma coisa.
Tô puto. Meus dedos doem e tenho sangue daquele
merdinha no meu punho. Já perto do meu carro e bem
distante da mansão, eu a coloco no chão – ao menos aqui
teremos mais privacidade. Ela tenta passar por mim, mas
eu a seguro pelos pulsos. A morena aperta os lábios e me
lança o olhar feroz que eu adoro ver quando está
bravinha.
— Ei, ei, segure essa emoção aí e se acalme —
peço, com seriedade.
Seus olhos estão ficando avermelhados, sei que quer
chorar, e não é para menos.
— A sua mãe é horrível! — grita, chorando.
— Sim, eu sei. Sinto muito por tudo — digo com
sinceridade, mas não a solto. Não sei o que pretende
fazer estando com a cabeça quente.
Alina balança a cabeça e chora mais ainda, seus
lábios tremem e o seu olhar desvia dos meus.
— Ela é tóxica, e quando se trata de você fica muito
mais. É difícil lidar com ela. Eu já não aguento mais,
cheguei ao meu limite — desabafa, com a voz embargada.
— O.k., eu preciso do emprego, tenho meus projetos, mas
eles podem ficar em suspenso por enquanto. Conviver
com a sua mãe por mais alguns dias será um inferno, ela
vai acabar com a minha sanidade. Vou me demitir agora
mesmo. Chega, já deu para mim. A sua mamãezinha
venceu — fala, dessa vez me olhando, nunca a vi tão
apavorada.
Sei bem que sentimento é esse, Alina.
— Você tem razão, mas não vai a lugar algum assim.
Você está muito nervosa, então respire e se acalme um
pouco, depois pense bem o que vai fazer, porque eu já
chutei o balde. — Solto seus pulsos e desço minhas mãos
até a sua cintura.
Ela solta uma risada e chora ao mesmo tempo.
— Você é filho dela, pode chutar quantas vezes
quiser. — Soluça, limpando o rosto molhado.
Instintivamente, acabo secando seu rosto também.
Odeio ver as suas lágrimas, ver o quanto está vulnerável
por culpa da minha mãe, que mesmo de forma indireta
consegue fazer muitos estragos.
— A minha vida não é perfeita como você imagina,
gatinha. Por fora, todo mundo me vê como um filhinho de
papai revoltado, mas não sabem um terço do inferno que é
viver sob o mesmo teto que Bárbara. — Pisco para ela,
mas em momento algum sorrio, minhas palavras carregam
um peso imenso.
— Jura que não, bad boy? — Arqueia a sobrancelha
e dá um sorriso fraco. Aos poucos, ela vai se recuperando
do choro, então tiro minha mão do seu rosto.
— O fato de eu ter tatuagens, ser gostoso, sexy e
tenha esse porte maravilhoso que sou o que está falando.
É só meu estilo, nada mais. Você me julga muito, sabia?
— Faço um biquinho para provocar e Alina ri alto.
— Ah é? Você é muito convencido, Andreo — diz,
agora rindo abertamente.
— Uhum, demais. Quer dizer, nem um pouco. —
Cutuco a sua cintura e ela gargalha, mas logo fica séria.
— Obrigada. Obrigada por mais uma vez me salvar, e
me perdoe pelos meus momentos de raiva. — Suspira e
pega a minha mão. De repente, começa a chuviscar e
ventar, então olho para o céu com o cenho franzido.
Sério que vai começar a chover agora? Vai ver é um
sinal e que devo me tocar para não parecer o lobo mau.
— Não sou tão ruim assim, sabia? Às vezes, posso
ser um príncipe também. O que você quiser, é só pedir —
digo, convencido. — A propósito, você ficou linda com
essa roupa.
— Andreo Mancini, você é um perigo. — Alina não
larga a minha mão e eu gosto da sensação.
— Posso te levar para a casa, pelo menos? A chuva
está começando a aumentar, e se for embora assim pode
ficar doente. —Sorrio, tirando minhas mãos dela e me
afastando um pouco para tirar o meu blazer.
Alina olha para cima e os pingos de chuva molham o
seu rosto, então ela sorri lindamente para mim.
— Não precisa se incomodar, você já fez demais
hoje. Obrigada — diz com doçura, sem aquele muro de
proteção que costuma usar para me evitar.
— Eu insisto. Vamos logo, a chuva está piorando! —
exclamo, colocando o blazer por cima dos seus ombros.
— Deixei o meu celular lá dentro — fala, preocupada.
— Amanhã você pega — digo, quando começamos a
ficar com as roupas encharcadas.
— O.k., aceito a sua carona — fala sem ter outra
opção, me encarando sob os cílios grossos molhados pela
água.
— Você tem sorte, sempre carrego uma chave extra
do meu carro no bolso — falo, pegando a chave. —
Vamos. — Passo por ela e abro a porta do lado do
motorista, então coloco a chave na ignição enquanto ela
entra no lado do passageiro. Alina se encolhe no banco e
se abraça, com os lábios trêmulos.
— Droga, estou morrendo de frio — resmunga.
Em silêncio, observo Alina tirar o meu blazer
molhado e o colocar no banco de trás. Ela puxa o elástico
do seu cabelo e o solta, passando as mãos nele para
ajeitá-lo, enquanto fico igual a um idiota olhando
fixamente para ela.
— Sinto seus olhos queimando a minha pele, bad
boy. — A velha Alina-língua-afiada está de volta, e ainda
por cima com um apelido ridículo.
— Depois o convencido sou eu. — Bufo, olhando
para a chuva violenta através dos vidros escurecidos do
carro.
— Não mudei a minha opinião sobre isso — devolve,
divertida.
— Ainda bem que não vivo dela. — Estou prestes a
colocar a mão no volante quando sinto seu toque no meu
pulso.
— Me beija — pede.
Confuso, encaro-a com a sobrancelha arqueada.
— Não pensei que a chuva faria tanto efeito em
você. — Não a levo a sério e toco em sua testa, fazendo-a
revirar os olhos.
— Não se faça de rogado. — Alina decide agir ao se
inclinar em minha direção. Ela coloca a mão em minha
nuca e me puxa, não demora para beijar a minha boca.
Mesmo sem entender a sua decisão inesperada, eu
correspondo ao beijo, aprofundando-o. Com a boca
gostosa de Alina na minha, eu desligo o motor do carro e
levo a mão à sua coxa, trilhando um caminho quente e
deixando a sua pele macia arrepiada.
— Vem cá, senta no meu colo — peço, entre o beijo,
roçando nossos lábios.
Oh, porra, ela cedeu.
Não sei se isso é o inferno ou o paraíso, mas estou
adorando estar nele.
— Andreo... — geme Alina, quando me afasto da sua
boca e vou para a orelha, descendo por seu pescoço até
chegar ao ombro.
— Vem, gata, senta aqui. As suas costas vão doer
nessa posição. — Intencionalmente, a minha voz sai
maliciosa.
— Uhum, preciso ir para a casa, minha madrinha...
— Shhh, a Dandara acha que você está trabalhando.
— Sorrio contra a sua pele cheirosa.
— Você não vale nada — resmunga, gemendo e
fechando as pernas ao redor da minha mão quando tento
enfiar meus dedos em sua calcinha.
— Prometo ser um garoto comportado. — Minha voz
sai manhosa. Empurro o banco para trás para que ela
tenha mais espaço, então desço minha boca em seu colo
e beijo lentamente até chegar aos seios.
Ah, porra. Eu amo que o tempo tenha ficado a meu
favor. Um clarão e uma trovoada assustam Alina, que
solta um gritinho e por fim cede ao meu pedido e vem para
o meu colo. Acho que faz isso mais por medo.
— Estou quase achando que você gosta de me usar
para o seu bel-prazer — brinco, com um sorriso de lado ao
ver o seu vestido ficar embolado, ajudando-me a ter uma
boa visão da sua boceta mesmo que seja pelo tecido da
sua calcinha.
— Idiota — diz, sorrindo.
— Adoro os seus elogios. E você ama estar comigo,
tanto que nem está mais sentido frio. — Descanso a
minha mão em sua coxa deliciosa, em seguida, lambo os
lábios. — Agora é a minha vez de te pedir um beijo —
murmuro, vidrado nela.
Alina me beija sem pensar duas vezes. Aproveito o
clima quente entre nós e subo o seu vestido até a sua
cintura. Mesmo que seja um movimento inocente em cima
de mim, é de uma forma fodida que desperta o meu pau,
me deixando duro na hora.
Com a respiração ofegante, aperto a carne da sua
coxa e ela me segura pelo ombro enquanto a outra mão
puxa o meu cabelo.
Foda-se, valeu a pena o estresse de hoje. Nem em
meus melhores sonhos imaginei que Alina estaria assim
comigo, se entregando às minhas investidas.
— Me deixa te fazer gozar? — pergunto, assim que
paramos de nos beijar para recuperar o fôlego.
— Andreo, eu não vou ter a minha primeira vez
dentro de um carro! — Arregala os olhos e seu rosto fica
vermelho.
— E quem disse que vamos transar? Posso fazer
muitas coisas para te dar um orgasmo, não seja
precipitada.
O seu peito sobe e desce com a minha resposta.
— Eu... eu... nunca fiz isso. Nenhum homem me
tocou, não que eu seja tão inocente, sei o que é isso, mas
nunca estive com ninguém assim — confessa,
envergonhada.
O meu sorriso sacana surge. Caralho, é muito cedo
para que eu me sinta o máximo por saber disso?
— Isso não é problema para mim, gata. E não se
preocupe, ninguém consegue nos ver dentro do carro.
Apenas confie em mim, só vou te tocar onde permitir. —
Levo as mãos às alças do seu vestido.
— Eu sei que não. — Sua respiração fica irregular ao
perceber o que estou prestes a fazer.
Desço as alças do vestido por seus ombros, logo em
seguida ela a desliza por um braço, depois pelo outro,
assim consigo abaixar o tecido, me dando a visão dos
seus mamilos, que enchem a minha boca de água –
médios e lindos, perfeitos para chupar e morder.
Trocamos um olhar por longos segundos, e com a
sua permissão, abocanho o primeiro mamilo. Sensível ao
meu toque, Alina geme. Sem perder tempo, deslizo a
minha mão até o meio das suas pernas e coloco a
calcinha para o lado. Com dois dedos, eu acaricio a sua
boceta, sentindo seus pelos pubianos, me deixando mais
excitado ainda.
— Ah... ah... — geme quando introduzo de leve meus
dedos em seu sexo molhado. Ela está pronta para mim,
com apenas um toque singelo.
Porra, nunca fui tão delicado e paciente com uma
garota, mas eu sei o motivo disso. Alina não é qualquer
uma.
Cuidadosamente, eu a masturbo. De início, ela fica
tímida, mas aos poucos se solta e rebola nos meus dedos.
Ter uma gostosa dessa no colo não é para qualquer
um, eu me considero um guerreiro em me contentar
somente com os seus gemidinhos ao pé do meu ouvido,
enquanto meu pau lateja com força na calça.
A cada segundo que passa, fico doido com a sua
entrega. O som da chuva me traz uma calmaria que jamais
pensei que fosse possível em uma noite tão conturbada.
— Alina, olhe para mim — peço, ao largar o seu
mamilo de biquinho duro.
— A... A... Andreo... — Seus olhos brilham para mim.
— Eu preciso que goze olhando para mim, gatinha.
— Seguro seu clitóris nos dedos e movimento com
habilidade, vendo-a morder os lábios.
— Eu... eu...
— Aliás, isso aqui é muito melhor. — Beijo-a,
puxando-a pela cintura e a masturbando mais forte ao
notar que logo irá gozar.
Alina geme na minha boca e nossos dentes se
chocam com o susto que ela toma ao ser atingida por um
intenso orgasmo. Se em algum momento houve frio entre
nós, ele acaba de se tornar inexistente, porque estamos
pegando fogo.
Com o rosto escondido na curva do meu pescoço,
Alina tenta se recuperar da respiração irregular, enquanto
deslizo as mãos por sua coxa e costas. Faz alguns
minutos que ela está na mesma posição, sequer reclamou
de dor por estar com as pernas dobradas, suportando o
peso do seu corpo. É notório que está envergonhada, não
tem outra resposta para isso.
Por mais que eu queira ir além de uma masturbação
no banco do meu carro com ela, sei que ela não merece
ter a sua virgindade tomada em um local inapropriado,
então, controlo-me e me contento somente com a ideia de
ter conseguido ultrapassar a barreira que existia entre
nós.
— Pode me levar para casa, por favor? — pergunta,
quebrando o silêncio depois de um tempo. A sua voz sai
quase inaudível.
Enquanto a garota tenta fugir de mim, eu tento
controlar a porra do tesão que estou sentindo desde que
ela se sentou no meu colo e gemeu chamando o meu
nome.
Sem ainda dar uma resposta a ela, olho para fora
através da minha janela embaçada e vejo os seguranças
olhando na direção do meu carro e gesticulando. Até que
demoraram para aparecer. Droga, odeio quando minha
mãe envia os cãozinhos – que são mais fiéis a ela do que
ao meu pai – atrás de mim como se eu fosse apenas uma
criancinha.
— Claro. Você está bem? — indago, ainda olhando
para os seguranças filhos da puta.
— Obrigada. Uhum, estou sim. — Ela se mexe no
meu colo e sente a ereção que me causou, então me
encara e morde os lábios. Fico hipnotizado com o
movimento.
— Pode sair do meu colo? Você me deixou duro e...
mais um movimento seu vai foder o meu juízo, gata. —
Pigarreio e encaro os seus mamilos, vendo-a arregalar os
olhos e puxar o vestido para cima, me impedindo de ver
as suas belezuras.
— C-claro... Me desculpe, Andreo. — Ela sai do meu
colo tão rápido que bate a cabeça no teto.
Reprimo uma risada ao ver seus movimentos
desastrados enquanto ela se acomoda no banco ao lado.
Calado, observo Alina arrumar o vestido e depois seu
cabelo, que estava um pouco bagunçado.
— Coloque o cinto — peço, sentindo como se
tivessem jogado um balde de água fria na minha cabeça
ao vê-la virar o rosto para o outro lado.
Cacete. Esse comportamento dela é tão frustrante
que fico com o pau mole. Talvez tenha caído na real do
que fizemos, quer dizer, o que eu proporcionei a ela e
agora está com raiva de mim, ou dela mesma por ter
cedido. Mas estou com a consciência limpa, só toquei nela
com o seu consentimento.
Puxo o ar para os pulmões, em seguida, olho mais
uma vez para os seguranças, que continuam no mesmo
lugar, então me remexo no banco e ligo o motor.
Permanecemos calados enquanto arrasto o carro da frente
da mansão.
Vez ou outra ela me olha de relance e eu finjo não
notar, permaneço calado e atento à estrada. Tamborilo os
dedos no volante do meu GTC4Lusso preto, em seguida,
ligo o som e escolho a música Swin de Chase Atlantic e
fico mais animado, até cantarolo o refrão.
“I bet you feel it now, baby
Aposto que agora você sente isso, amor
Especially since we've only known each other one
day
Especialmente porque nos conhecemos há apenas
um dia”
Que se dane, nunca fui um cara tímido. Se estou
incomodado com algo, eu falo na cara. Se quero algo,
corro atrás, sempre fui assim, contudo, Alina me faz agir
de maneira estranha, pelo menos nesta noite. O silêncio
dela está me matando aos poucos, a qualquer momento
vou explodir com tantos pensamentos malucos que
rondam na minha cabeça.
Estou tão deslumbrado por essa garota e a boceta
virgem dela, que parece que tem uma merda de fixação
sendo criada dentro de mim, que nada mais me importa a
não ser não ter Alina Martins para mim.
Soa meio obsessivo? Talvez. Foda-se. Não sou
assim. Nunca fui.
Não sei que tipo de feitiço ela jogou em mim em tão
pouco tempo, apesar de que estou de olho nela mais
tempo do que imagina. Só de pensar na possibilidade de
Alina voltar a me ignorar enlouqueço, e por mais que eu
tente, ela está gravada nos meus pensamentos vinte e
quatro horas por dia.
Eu não me sinto dependente dos sentimentos dela
por mim, porque sei que é algo que já tenho nas mãos,
mas sim de algo que ainda não tive – a sua boceta
intocada e os gemidos que nenhum homem ouviu, e se
depender de mim, serei o único. Só espero que dure o que
quer que esteja acontecendo entre a gente.
— Andreo, eu não sou assim.
Que bom, porque eu também não sou, penso em
dizer, mas espero que ela termine de falar.
— Só estou envergonhada com o que aconteceu,
você sabe... eu nunca estive com um homem e ter te dado
liberdade para me tocar de uma maneira tão íntima mexeu
comigo. Não tenho coragem de te olhar nos olhos direito.
— Ela suspira.
Ela é uma menina de família, se o seu
comportamento fosse diferente desse, eu estranharia.
Sem dizer nada, reduzo a velocidade do carro ao avistar a
casa dela. Neste lugar humilde deve ter mais felicidade do
que na minha casa, que pode ter ouro em pó, mas jamais
vai chegar aos pés da riqueza que eles possuem aqui.
Felicidade é algo que não se compra nem com todo o
dinheiro do mundo.
Pensativo, passo a mão por meu cabelo e a encaro.
— Gosto de ser direto, Alina. Estou muito a fim de
você e não consigo esconder, tanto que estraguei os
planos do meu pai em me ver comportado esta noite. —
Minha risada sai rouca. Ela assente e presta atenção nas
minhas palavras, parece entrar em choque com as minhas
revelações. — Pode ter certeza de que se eu quisesse
brincar com você, não teria arriscado a minha bunda na
frente de tantas pessoas só para te tirar daquele inferno.
E nem socaria aquele merda por ter ficado com um fodido
ciúme em vê-lo te tocando — digo ao estacionar o carro
em frente à casa dela. Todas as luzes estão apagadas,
sinal de que Dandara já dormiu.
— O que você quer de mim, Andreo Mancini? O que
quer além da minha virgindade? Porque essa é a única
coisa que posso te dar, e sei que é isso que o atrai a
ponto de declarar guerra com a sua mãe — diz, com uma
doçura na voz enquanto desafivela o cinto. Seus olhos
brilham, mas eu não sei o que eles querem transmitir para
mim.
Por essa não esperava. Doeu.
— Eu quero te conhecer melhor, Alina — digo, com
firmeza.
Isso não é um pedido de namoro. Respiro
profundamente para acalmar o meu coração
descompassado.
— Amanhã vou pedir demissão e vou procurar outro
emprego, entã...
Eu a calo ao tocar a sua coxa.
— Não me importo com isso. Mesmo que não
trabalhe mais lá, eu quero te conhecer, precisamos nos
conhecer para que pare de me ver como um bad boy —
falo, bem-humorado, mas com uma conotação de
seriedade.
— Ah, então você é um príncipe? — Um sorriso
brinca nos seus belos lábios.
— Talvez um anti-herói. — Estalo a língua e ela dá
uma risada gostosa. — O que me diz? Vamos nos
conhecer melhor? — Acaricio a sua coxa.
— Tenho que aprender a te dizer não — diz,
sorridente.
— E quando é que você me diz sim? Se serve de
consolo, saiba que você é a única garota que me esnoba
tanto. — Arqueio a sobrancelha, divertido.
— O.k. Vamos nos conhecer, então. Mas não me
decepcione. — Ela toca na minha mão.
— Sim, senhora. Agora vem cá, me deixa beijar essa
boca para selar o nosso acordo — digo e dou um
sorrisinho safado.
Desafivelo meu cinto e inclino o corpo em sua
direção. Primeiro, levo a mão à sua nuca, então deslizo
meus dedos por seu cabelo macio.
— Você adora tirar uma casquinha, Andreo. — Roça
a boca na minha.
— Só quando se trata de você. — Passo a ponta da
língua no seu lábio e ela sorri.
— Cala a boca e me beija — pede, com a respiração
ofegante.
Beijo-a com gula, mordo carinhosamente seus lábios
e deslizo a outra mão para a sua cintura. Depois de um
tempo a beijando, levo minha boca à sua orelha e ao seu
pescoço, então volto para sentir novamente o sabor da
sua boca. Os seus gemidos tímidos provocam uma ereção,
meu pau fica apertado na calça.
Alina passeia as mãos por meu braço e o aperta de
leve, me fazendo enlouquecer com a sua reciprocidade,
tanto que estou quase a puxando para o meu colo e a
fazendo gozar mais uma vez. Mas não em meus dedos,
dessa vez eu a faria se sentar na minha ereção e roçar a
sua boceta quente até que o orgasmo viesse.
— É melhor você ir, não quero que a sua madrinha
saia por aquela porta ali e me chute para bem longe daqui
por estar quase deflorando a menina dela — digo, assim
que paramos de nos beijar. Continuamos próximos, um
sentindo a respiração do outro.
— Boa noite, Andreo — sussurra risonha, em
seguida, me dá um selinho.
— Boa noite, Alina. — Sorrio e a vejo abrir a porta e
sair.
Caralho. Eu estou fodido. Muito.
Travo todas as portas do carro e observo a morena
subir na calçada. Ainda sorrindo, abaixo o vidro e assobio,
então ela se vira e faz uma careta. Aproveito que ainda
está me olhando para chamá-la de gostosa sem emitir
nenhum som, Alina revira os olhos e eu gargalho.
Depois que ela entra na casa, eu fico alguns
segundos esperando para ter certeza de que está em
segurança, até que a chuva volta a cair e eu coloco o
carro em movimento na direção oposta da mansão
Mancini.
Coloco uma lista de reprodução para tocar e aumento
até o último volume, depois tiro um cigarro e o isqueiro de
dentro do porta-luvas.
Bárbara não vai me perturbar tão cedo, só volto para
a casa quando estiver amanhecendo.
Ontem, quando entrei em casa, fui diretamente tomar
um banho, mesmo assim o cheiro do Andreo não saiu da
minha pele.
Fiquei pensando em tudo o que aconteceu dentro do
carro dele, contudo, Bárbara Mancini sempre dava um
jeito de se infiltrar na minha mente. Aquela senhora tira a
minha tranquilidade, só consegui dormir no começo da
madrugada, e ainda acordei várias vezes assombrada,
porque tive um pesadelo com ela me ameaçando para
ficar longe de Andreo.
Hoje amanheceu chovendo, e era de se esperar com
o toró de ontem. O céu está fechado, as nuvens escuras e
carregadas, o som dos trovões até me assustou mais
cedo, pensei até que ia derrubar a casa. Como minha
madrinha dormiu cedo, foi a primeira a acordar e se
arrumar. Eu vesti uma roupa simples, já que vou pedir
demissão e começar a procurar outro emprego.
Não importa o que aconteça, eu não quero mais
trabalhar na casa dos Mancini, aquela mulher acabou com
a minha sanidade. Então, quando um não quer dois não
brigam – ela fica no canto dela, e eu no meu. Trabalho lá
há poucos meses, sei que não farei tanta falta assim.
— Filha, recebi uma ligação da patroa — diz minha
madrinha, entrando na sala com o semblante desconfiado.
Preocupada, eu a encaro e noto quando ela passa a
mão em seu cabelo grisalho e se senta no sofá em
seguida. Engulo em seco e espero ansiosa que ela me
diga o motivo da ligação da primeira-dama.
Será que a mãe do Andreo contou o que aconteceu
ontem, antes que eu tivesse tempo de contar a minha
versão para a minha madrinha?
— O que ela queria? — Passo a mão no meu
pescoço e respiro fundo.
— Me disse para não ir hoje, me deu folga — fala,
estranhando, mas a sua expressão está nitidamente
preocupada. — Parece que o prefeito teve um problema
de saúde na madrugada e o Andreo o levou para o
hospital em Monte Verde.
Meu coração bate acelerado com a notícia, por pouco
não caio para trás.
— Como assim? — gaguejo, chocada.
— Ela não me deu muito detalhes, só disse que não
devo ir, mas que você pode buscar o celular que esqueceu
lá. Ela também vai para a cidade grande e talvez só volte
quando o sr. Mancini melhorar — diz, me causando uma
sensação ruim no peito.
Será que o pai do Andreo passou mal por minha
causa? Se o filho não tivesse esmurrado aquele idiota,
com certeza não teria nenhum escândalo ontem, mas teve,
porque Andreo quis me defender e não pensou duas vezes
antes de fazer.
Infelizmente, com essa notícia ruim, terei que ocultar
da minha madrinha o que aconteceu na noite passada. E
pelo visto, a megera não disse nada, pois se o tivesse
feito, a Dandara já estaria surtando.
E como a mãe de Andreo sabe que esqueci meu
celular lá? Muito estranho.
Agora mais do que nunca tenho que pegar o meu
celular de volta. Preciso entrar em contato com Andreo,
estou preocupada com o que pode ter levado o seu pai a
passar mal.
— Coitado do prefeito, espero que ele melhore logo.
A cidade precisa muito dele, fora que é um homem jovem
— digo, com sinceridade. Emocionada por um homem tão
bom estar passando por uma fase ruim. É impressionante
como as pessoas boas se vão mais cedo, ou sofrem mais
do que aquelas que merecem.
— Sim, Alina, aquele senhor é muito bom. Tomara
que se recupere logo — concorda ela, com um sorriso
triste.
— Madrinha, vou buscar o meu celular, tudo bem?
Ela assente, meio distante.
Hoje eu pediria demissão, mas antes falaria com a
minha madrinha, só que agora estou em um impasse.
Mesmo que a megera não mereça a minha consideração,
estou preocupada com ela, afinal, o prefeito não está bem
e provavelmente ela não terá cabeça para falar da minha
demissão.
Às vezes, ter um bom coração é a minha derrota.
Como pode uma pessoa ter empatia por alguém como
Bárbara Mancini? Aquela mulher, só Deus na causa. Ela é
um porre.
— Vá, minha querida. Já que não vou trabalhar, vou
preparar o nosso almoço, não gosto de colocar a comida
no fogo muito tarde. — Ela se levanta.
— Não vou demorar, só pegarei meu celular e volto
rapidinho — aviso, esperando que eu esteja certa, afinal,
não sei o que me espera naquela casa, uma vez que a
primeira-dama se preocupou com o fato de eu estar sem
meu celular.
— Filha?
Ouço a voz da minha madrinha assim que dou as
costas para ela.
— Sim? — Não tenho coragem de encará-la, porque
sei que em algum momento teremos que ter aquela
conversa.
— Você não me disse como foi no tal jantar. Nem
deu, né? Eu fui dormir cedo. Como foi? Você trabalhou
muito? Será que o prefeito ficou chateado com algo que
aconteceu na festa e passou mal? O filho dele se
comportou? — indaga, me deixando apavorada.
— Foi tudo bem, madrinha. Quando saí, o sr. Mancini
estava bem. — Mordo os lábios e fecho os olhos.
— Hum, então deve ter sido depois — diz, me
trazendo um enorme alívio.
— Já estou indo. Acho que a chuva vai piorar, e
mesmo que a mansão fique a poucos minutos daqui,
posso acabar tomando um segundo banho com essa
tempestade toda — disfarço, indo na direção da porta,
sem ter coragem para olhar para trás.
— Alina, onde está com a cabeça? Leve o guarda-
chuva, quer pegar uma gripe? — diz, em modo de
repreensão, quando abro a porta e sinto um vento forte no
rosto.
A minha cabeça está em um certo alguém que vem
me conquistando a cada dia. Quanto mais eu tento fugir,
mais ele me faz gostar dele. Droga, acho que estou
gostando do Andreo, muito mais do que imaginei que
poderia.
— A senhora pode me emprestar o seu? Não lembro
em que lugar guardei o meu. — Viro-me para ela, que
balança a cabeça dizendo que sim.
— Vou pegar — fala e me dá as costas.
Continuo parada esperando por minha madrinha, que
só volta depois de alguns minutos sem nada nas mãos.
— Acho que estou quase sem juízo igual a você.
Deixei o guarda-chuva no móvel daqui da sala e eu fui lá
no meu quarto procurar o bendito — diz, sorridente, indo
até o móvel com gavetas, que não é tão novo, mas muito
bem cuidado. — Toma. — Ela me entrega o guarda-chuva
preto.
— Qualquer coisa eu ligo, tá bom? Bênção, madrinha
— peço, tocando no ombro dela.
— Deus te abençoe, filha. Vá em paz.
Saio para fora da casa e abro guarda-chuva, logo em
seguida minha madrinha fecha a porta atrás de mim.
Enquanto caminho pela calçada molhada, penso em
como fui desatenta por ter esquecido meu celular. Mas
ontem foi um verdadeiro caos e cheguei ao meu limite, a
ponto de jogar tudo para o alto e pedir demissão na frente
de todos. Só não fiz isso graças a Andreo, que refreou o
meu impulso. E hoje mais uma vez vou adiar a minha
decisão por conta da situação em que o pai dele se
encontra.
Em questão de minutos chego à mansão e me deparo
com dois seguranças do lado de fora. Eu os cumprimento
e entro pelos fundos, deixando o guarda-chuva no canto
para escorrer a água. Sigo para a cozinha e não encontro
Simone, talvez ela também tenha sido dispensada, mas
está tudo muito bem arrumado, nem um copo na pia.
O silêncio do lugar é muito desconfortável, então
saio da cozinha e vou à procura de alguém. Quando chego
à sala, encontro a Bárbara descendo a escada vestida
com um robe branco e calçando pantufas de seda. Nesses
meses que trabalho aqui, nunca a vi vestida dessa
maneira, está sempre impecável. Noto que está com
olheiras e o semblante desanimado como nunca vi.
Ela caminha na minha direção sem tirar os olhos de
mim. De repente, um calafrio bate na minha barriga e eu
engulo em seco. Espero que ela diga alguma coisa,
contudo, ela faz o oposto ao se sentar no sofá e ficar me
encarando dos pés à cabeça.
Nem mesmo a chuva conseguiu ser tão gelada e me
deixar com tanto frio quanto o olhar de Bárbara Mancini,
que carrega um peso de dar medo em qualquer um.
— Bom dia, sra. Bárbara. Eu vim pegar o meu
celular, e como não encontrei a Simone...
Com um gesto de mão, ela pede que eu me cale.
— Eu sei muito bem o que veio fazer aqui, Alina —
diz, friamente, passando a mão por seu cabelo, antes de
fechar os olhos e respirar fundo. — Uma coisa eu tenho
para te dizer, menina. Se eu soubesse que uma gentinha
como você me causaria tanta dor de cabeça, teria dito não
para a Dandara na mesma hora. Não sabe o quanto me
arrependo de ter dado esse emprego a você.
Fico sem saber o que pensar do seu ataque por uns
instantes, mas não me deixo abater. Se ela pode me
atacar, pode me ouvir também.
— Senhora. — Pigarreio e ela faz careta. — Não vou
me fazer de santa, de coitadinha, entendo muito bem a
que está se referindo. Eu jamais pensei que o Andreo
faria aquilo, e se soubesse não permitiria, porque sei
muito bem me defender, sei socar a cara de qualquer
idiota que se engraçar para o meu lado — respondo à
altura, mas ela ri da minha cara.
— Menina, menina, aquilo foi a cereja do bolo. Você
não apenas acabou com o meu evento, mas também virou
a cabeça do meu filho de uma maneira que nem sei
explicar — desdenha, venenosa. — Aliás, eu sei sim. Ele
só quer a sua virgindade, é normal que um rapaz como
Andreo fique deslumbrado por uma garotinha pobre do
interior que nunca teve outro homem. Ele deve se sentir o
máximo por estar conseguindo te colocar no bolso, então,
para conseguir o que quer, está desafiando os pais na
frente de qualquer um.
Meu coração fica apertado com as suas palavras.
Com os lábios quase trêmulos, eu os mordo e fecho os
punhos atrás de mim, erguendo a cabeça e respirando
profundamente.
— Por sua causa, por ter virado a cabeça do meu
filho, o seu patrão, o prefeito da cidade, que tanto te
ajudou, está no hospital porque teve um infarto ao ver que
já passava das três da madrugada e nada do nosso filho
chegar. Ele ficou tão preocupado que acabou infartando,
teve que ser levado às pressas para Monte Verde. —
Bárbara se levanta e vem em minha direção. Conforme ela
se aproxima, eu dou passos para trás. — Sem você em
nossas vidas, nada disso teria acontecido. Meu filho
estava muito bem antes de você chegar, mas depois de se
misturar com uma pessoa da sua laia, ele mudou por
completo. Aposto que deve ter dormido com ele para se
vingar de mim. — Comprime os lábios e me encara como
se eu fosse um monstro.
— Mentira, isso é mentira. Eu não tenho culpa de
nada. E não sou esse tipo de garota, nunca dormi com o
seu filho, muito menos o induzi a ficar fora de casa até a
madrugada. — Sem conseguir me controlar, acabo
soluçando.
— Faz poucos meses que você está aqui, mas já
transformou essa casa em um inferno. Maldita hora que
permiti a sua entrada. — Coloca o dedo no meu nariz e
empurra meu rosto para trás. Quando sua unha machuca a
minha pele, eu agarro o seu pulso.
Se essa mulher está assim sem que eu tenha algo
com o filho dela, imagina se tiver.
— Pode me caluniar, mas não toque em mim, está
me ouvindo?! Se o seu filho está atrás de mim, é porque
quer. Quem menos tem culpa nessa história sou eu.
Andreo tem vinte e quatro anos, é como me disse antes,
ele é aventureiro, mais velho, experiente e sabe o que
está fazendo. Mas eu não, só estou caidinha pelos
encantos dele, do mocinho da cidade grande — reajo,
furiosamente.
— Sua desclassificada. Selvagem! — diz,
entredentes.
Solto o seu pulso e saio de perto dela.
— Já chega, senhora, não vou permitir que fique me
ofendendo assim! — exclamo, revoltada.
— Você já aprontou muito nessa casa, não posso
mais permitir que trabalhe aqui. Está demitida, e por justa
causa. — Ela põe a sua máscara fria mais uma vez, nem
me abalo com a demissão, eu já ia fazer isso mesmo. —
Pegue todas as suas coisas que estiver por aqui, a partir
de hoje se considere demitida. Se depender de mim, você
não trabalha em nenhuma casa nas redondezas. Vai que
você tente roubar o marido de alguém, ou filho. Quando
Andreo se der conta da messalina que é, você será
descartada. — Ofende-me a ponto de me fazer chorar.
Roubar marido de alguém? Nunca quis os solteiros,
imagina os casados.
— Não precisava fazer tanto esforço, primeira-dama.
— Limpo meu rosto molhado e dou uma risada. — Se
queria me demitir, não precisava descer do salto, eu
entendo o seu desespero em me manter longe do seu
menino de ouro — desdenho, enfurecendo-a.
—Eu sofri muito, renunciei a muitas coisas pela
educação de Andreo, foi duro ser mãe. Não passei dias de
cão sendo mãe para chegar a um momento como esse e
permitir que meu filho tenha um namorico com uma
menina como você, uma empregadinha sem futuro. Sem
pai, nem mãe. — Sorri diabolicamente.
Eu perco o controle com suas últimas palavras e
avanço nela, segurando-a pelo robe e a sacudindo.
— Pode falar de mim, pode me humilhar, pode fazer
tudo, menos abrir a boca para falar dos meus pais! —
rosno, com o sangue quente.
— Isso, Alina, mostre suas garras. Acha que meu
esposo e eu vamos permitir que Andreo tenha uma relação
com você? Uma desqualificada e agressiva. Isso é coisa
de gente pobre, sem educação, que parte logo para a
violência. Isso que dá não ter sido educada pelos pais —
me afronta.
Eu perco a cabeça, me afasto dela em choque. Sem
pensar duas vezes, dou uma bofetada no seu rosto e ela
cai sentada no braço do sofá, rapidamente levando a mão
ao local atingido.
— Você fez a pior coisa da sua vida, Alina Martins!
— A mulher gargalha, com a mão no rosto. Ela se senta
no sofá como se nada tivesse acontecido.
Assustada, trêmula e desnorteada, busco por uma
saída. Como fui chegar a esse extremo? Meu Deus. Essa
mulher é o demônio!
— Eu só quero ir embora, senhora, me deixe em paz!
— peço, andando de um lado a outro e limpando as
lágrimas teimosas que caem na minha bochecha. Aposto
que estou com os olhos vermelhos.
— Que isso, querida, sem pressa! — fala, divertida.
— Mesmo que o meu filho se comporte daquela maneira,
ele é um rapaz rico, educado, tem tudo de mão beijada.
De mulheres a carros. Tudo, tudinho. Pensa que Andreo
vai te levar a sério em algum momento? Não, não, ele só
te quer porque está se fazendo de difícil, depois o encanto
passa e ele nem vai mais se lembrar da sua existência!
— Eu já entendi, não se preocupe. — Passo a mão
por meu cabelo, nervosa e querendo sair correndo daqui.
O barulho do motor de um carro que conheço muito
bem soa alto.
É o Andreo.
Sem saber como agir, eu me viro para Bárbara e vejo
que ela está recomposta. Em segundos, seu semblante
ficou suave.
— Depois não diga que não te avisei. Andreo Mancini
não é para você. O futuro dele eu já providenciei,
principalmente a esposa ideal, então, se contente em ser
apenas uma aventura que será esquecida no dia seguinte
— diz com doçura, mas as gotas de veneno vêm junto.
Sei que Andreo está prestes a entrar, não consigo
tirar minha atenção dali, então ele surge com roupas
diferentes da noite passada.
Cuidadosamente, eu o encaro, e instintivamente
nossos olhares se encontram. Ele me encara confuso
depois se vira para a mãe, que está com a mão no rosto.
Não passam despercebidas as suas olheiras e a sua
expressão preocupada.
— Alina?! — exclama em um tom de surpresa.
— Bom dia, filho. Não vai falar comigo? — fala
Bárbara, tão calma que fico chocada.
— Bom dia, Andreo. — Suspiro, sentindo a minha
cabeça latejar ao vê-lo caminhar em nossa direção.
Uma tranquilidade me envolve com a sua presença.
Meu coração chega a ficar disparado, mas não dura muito
tempo, basta olhar para a porta e ver Isadora passar por
ela que meus olhos ardem.
— Andreo, você deveria ser mais cavalheiro e me
esperar... — Isadora se cala ao me ver. Ela arregala os
olhos, mas não perde a postura de superior.
— Isadora, não sabia que vinha com o Andreo.
Obrigada por se preocupar.
Fico sem entender a cena que presencio, as duas
queridinhas se abraçam como grandes amigas que são.
— Eu ia vir com o meu carro, mas está na oficina,
Bárbara — fala Isadora, tão gentil que quase reviro os
olhos.
Isadora toca no rosto da primeira-dama e depois me
encara. A minha ex-patroa faz um gesto com a mão
pedindo que não fale nada, mas o filho dela não nota
nada, pois está focado em mim.
— Com licença, vou pegar minhas coisas — digo,
atordoada, dando as costas a eles.
— Alina, Alina... — ele me chama, mas eu o ignoro.
— Andreo, como seu pai está? Estou preocupada,
nem preguei os olhos. O seu pai vem sempre em primeiro
lugar, lembre-se disso, depois você vai atrás da sua
amiguinha. — É a última coisa que escuto antes de entrar
no corredor que dá para o quarto dos empregados.
É, parece que ele está bem acompanhado com a
cobra mãe e a garota que tanto diz odiar, mas que chegou
aqui com ele. A empatia que eu sentia por Bárbara se
esvaiu pelo ralo. Reconheço que a bruxa sabe nocautear.
— Andreo, estou falando com você — insiste minha
mãe, enquanto continuo olhando na direção por onde
Alina saiu.
Por que estou me importando tanto com o olhar de
ciúme que ela lançou para mim? Por que sinto a
necessidade de me explicar se não temos nada sério?
Sei que pedi para nos conhecermos melhor, mas não
foi um pedido de namoro, sem contar que a filha dos
amigos dos meus pais não é importante para mim. Não
tenho olhos para Isadora e ela sabe disso, tanto que no
caminho para cá não se engraçou para o meu lado. Eu já
disse para ela que não vai rolar nada entre a gente, uma
vez que não tenho sentimento algum por ela. A garota
entendeu e nem mesmo insistiu em tentar me fazer mudar
de ideia.
Isadora pode ser uma garota mimada, mas não é
boba. Muitos caras mais ricos do que a minha família
estão na cola dela, e ela não vai perder tempo comigo,
sabendo que a única coisa que terá de mim será no
máximo uma amizade. Nos conhecemos desde pequenos,
e ela sabe que não irei mudar de ideia.
Se veio para Vale Santo foi para fazer companhia
para a minha mãe, já que ficarei com meu pai no hospital
por uns três dias. E foi só por isso que dei uma carona a
ela.
— Agora você quer saber como ele está? Deveria ter
se preocupado antes de provocar um infarto nele,
primeira-dama. — Cuspo as palavras, deixando Bárbara
Mancini pálida. Ao seu lado, Isadora arregala os olhos. —
O dr. Alonso disse que a pressão alta contribuiu para o
infarto, se você não tivesse discutido com ele, não tivesse
infernizado, talvez ele estivesse bem. — Não escondo a
minha revolta.
Cacete. Minha cabeça está confusa pra caralho
desde que entrei em casa de madrugada e encontrei meu
pai passando mal na sala, depois de discutir com a minha
mãe.
Eles estavam discutindo porque meu pai estava
defendendo o que Alina e eu temos, foi o que Bárbara deu
a entender quando me acusou de ter acabado com o jantar
dela por causa de uma empregada. Coloquei os pés
dentro de casa depois de uma da madrugada, desisti de
procurar uma farra, apenas fui para o local em que eu
tirava racha com alguns amigos até alguns meses atrás.
Fiquei por lá até me sentir menos estressado, e quando
estava de volta na mansão, encontrei meu pai com a mão
no peito e com dores fortes, enquanto Bárbara gritava. E
não porque ele estava naquele estado, mas por querer
continuar com a briga.
A discussão deles o levou a infartar, por pouco não
foi algo mais sério. Só depois de uma conversa com o dr.
Alonso, o médico da família, que eu vim a descobrir que o
meu pai está com problema de saúde, e que as idas dele
com muita frequência a Monte Verde não eram apenas
negócios, estava indo cuidar da saúde que se encontra
delicada. Eu jamais saberia disso, meu pai é um homem
reservado, e quando tem um problema resolve sozinho
para não preocupar as pessoas que ama.
— Você me culpa, Andreo? Quem foi que deu um
showzinho na noite passada por causa daquela
empregada na frente de pessoas importantes para mim?
Quem fez os seus pais passar vergonha? Me diga! —
Perde a pose de madame e me ataca.
— Esse seu piti não me afeta, mãe. Chega de falar
da Alina, tudo é ela, não sai outra coisa da sua boca se
não o nome da garota. Estou de saco cheio dessa sua
perseguição. Se preocupa mais com aquele povo fútil,
com a sua imagem, do que com o seu marido que está no
hospital em observação, porque você quase o matou —
digo, fechando os punhos.
— Ei, se acalmem. Vocês estão estressados demais,
brigar não é a saída — intromete-se Isadora, pálida.
Agora ela está vendo como é de verdade a família perfeita
que Bárbara tenta passar para os seus queridos amigos.
— Isadora, você pode me deixar a sós com meu filho
enquanto falo com ele? Vai ser coisa rápida — minha mãe
pede, com o semblante fechado e focada em mim.
— Claro. Bárbara. Com licença. — No mesmo
instante, a garota nos dá as costas e vai para o andar de
cima em passos largos.
Sem paciência para as asneiras da minha mãe,
sento-me no sofá e jogo a cabeça para trás, fechando os
olhos.
— Por que você é tão arrogante comigo? Se eu
perguntei sobre o seu pai, sobre o meu marido, é porque
me importo com ele. Na verdade, você fica agressivo toda
vez que falo sobre aquela empregada. Ela é a única
culpada disso tudo aqui — diz, e na mesma hora eu a
encaro.
— Mãe, não vou nem me dar o trabalho de te
responder. Você sabe que o arrogante aqui não sou eu. —
Bufo, com raiva. — E não culpe a Alina por seus erros.
Pelo menos uma vez na vida, reconheça que errou. Quem
estava discutindo com o meu pai era você, que insistia em
atacá-la com palavras agressivas. Tente colocar isso na
sua cabeça.
— O.k., vai continuar defendendo aquelazinha como
imaginei, mas não se preocupe — ela sorri com tanta
doçura que fico desconfiado —, a Alina não trabalha mais
aqui. Eu a demiti por justa causa. — Passa a mão no rosto
e só então noto marcas de dedos ali. Não tenho nem
tempo de perguntar o que aconteceu, ela faz questão de
esclarecer. — A sua protegida me deu um tapa. Como ela
pôde bater na patroa dela? Na mulher do prefeito da
cidade? Eu poderia ter revidado, mas não fiz isso, apenas
a dispensei. Assim não preciso mais olhar para a cara
dela.
Não fico surpreso com a notícia de ter demitido
Alina, era o sonho dela, só aproveitou a oportunidade.
Somente a parte do tapa que me deixa surpreso, mas
confesso que até demorou para isso acontecer. Alina foi
muito paciente nos últimos dias, minha mãe não é fácil de
lidar, nunca foi. E quando quer infernizar a vida de alguém
é capaz de tudo.
— Não estou preocupado. Alina vai arrumar outro
emprego, ela é inteligente e trabalhadora — falo, dando
de ombros.
— É só isso que tem para me dizer? Não vai me
defender da sua protegida selvagem? Ela me bate e você,
sendo meu filho, leva isso numa boa? — pergunta, com a
voz embargada.
Lá vem a chantagem emocional, como se
funcionasse em mim. Reviro os olhos e me remexo no
sofá, olhando para todos os cantos da sala menos para
Bárbara.
— Um dia, quando você tiver razão, talvez eu fique
do seu lado e te defenda. Mas enquanto eu souber que
não merece ser defendida, vou deixar que lide com os
seus problemas sozinha — argumento. — E, por favor, tire
a Alina da sua boca. Ela não trabalha mais aqui, não é?
Esqueça que ela existe, e se for possível, me deixe viver
a minha vida em paz. — Levanto-me e ela me segue.
— Enquanto você ficar atrás dela, não vou
descansar. Aquela menina não é para você, não vou
permitir que anos de investimento em você vá para o ralo
— ousa dizer.
Eu me viro para ela com a sobrancelha arqueada.
— Se você não fosse a minha mãe, poderia até achar
que tem uma obsessão... seria nojento tal sentimento. —
Faço uma careta quando vejo os seus olhos brilharem de
uma forma estranha. — E que investimentos são esses? A
única coisa que você tem me dado é dor de cabeça. —
Passo a mão no meu cabelo.
— Filho, eu renunciei muitas coisas para te aceitar
na minha vida e no meu casamento, então, tente se
acostumar com a ideia de que eu serei sempre cuidadosa
com o seu futuro. E saiba que Alina nunca ficará entre
nós. — Ignora as minhas palavras e me dá as costas.
Às vezes, acho que Bárbara é doente por controle, e
tem mania de ficar falando coisas sem sentido para mim.
Soa doentio. Antes que ela tome por completo a minha
vida, vou embora e não olho para trás, deixando-a sozinha
com essas ideias malucas.
— Se eu decidir namorar, ficar noivo, me casar, ter
filhos, ir embora, seja lá qual decisão eu tomar na minha
vida, você não vai interferir. Eu sou o único a tomar
minhas decisões, desista dessa ideia. Não vou ceder aos
seus caprichos. Nunca. — Dou as costas para ela
também.
— Veremos, Andreo. Eu sou a sua mãe, e mãe é
para sempre. Essas mulheres que você leva para a cama
não, mas pode continuar por esse caminho, eu sei que
você sempre volta — alfineta, venenosa.
— Meu pai precisa ficar internado para fazer outros
exames, então serei o acompanhante, ficarei com ele.
Quando ele melhorar e se quiser vê-la, eu aviso — digo,
sem esperar a sua resposta. Vou na direção do corredor
que dá para o quarto dos empregados.
Tomara que Alina não tenha ido embora, talvez, com
essa chuva, ela ainda esteja por aqui. Antes de partir,
preciso falar com ela, estranhamente sinto a necessidade
de me explicar e dizer que entre mim e Isadora não existe
nada, que foi somente uma carona.
Encontro a porta do quarto aberta, então entro, mas
não a encontro ali. Abro o armário ao lado e não vejo as
coisas da Alina, nada dela. Merda, ela foi embora sem que
eu pudesse vê-la, e com essa correria não vou poder ir
até a casa dela. Só vim a Vale Santo pegar algumas
coisas para o meu pai, preciso voltar para Monte Verde
logo.
Frustrado, sento-me na cama e tiro o celular do
bolso, então vou na agenda e procuro o seu contato.
Assim que o encontro, ligo para ela, mas não sou
atendido, então decido enviar uma mensagem.
“Queria muito te encontrar para conversarmos, mas
estou voltando para o hospital para ficar com o meu pai.
Talvez você saiba que ele não está muito bem, e
realmente preciso ficar em Monte Verde com ele até que
melhore. “
Minutos depois ela me responde, e para a minha
felicidade e alívio, não está tão brava.
“Oi, Andreo. Sim, estou sabendo do seu pai.
Melhoras para ele, que fique bem logo. É muito lindo e um
gesto nobre cuidar dele neste momento difícil.”
Sorrindo, termino de ler a sua mensagem e logo
começo a escrever.
“E sobre a Isadora, não aconteceu nada. Apenas dei
uma carona a ela.”
Fico esperando a sua resposta, que demora para
chegar.
“Eu confio na sua palavra, se você está dizendo, é
verdade. Eu decidi te dar uma oportunidade para nos
conhecermos, não vou voltar atrás da minha palavra. Vá
cuidar do seu pai, e qualquer coisa me ligue, me mande
mensagens. Quando você voltar teremos muito tempo para
ficarmos juntos.”
Dou um soco no ar parecendo um idiota e digito para
ela.
“Aquele olhar que parecia querer me matar foi ciúme,
então?”
Mordo os lábios, esperando que me responda e ela
não demora.
“Seu egocêntrico, é claro que não!”
“Não minta para mim, doce Alina, é normal ter
ciúme.”
“Babaca.”
“Bravinha linda."
“Até breve, Andreo. Beijos."
Pelo menos vou voltar para Monte Verde mais
tranquilo, mais leve. Ela não está querendo me matar.
Alina e eu ainda vamos nos ver mais vezes, e espero que
seja em breve.
— Filha, tome esse chá de gengibre, logo você
estará boa — pede minha madrinha, surgindo na sala com
uma xícara na mão.
— Mais cedo tomei um chá de limão com mel. —
Faço uma careta quando ela me entrega a xícara.
— Tome esse chá. Se você não ficar boa depois
disso, vamos ao médico. — Ela já está preocupada,
imagina se tocar em mim e perceber que estou queimando
de febre, sem contar a minha dor de cabeça.
Como sei disfarçar bem, sorrio com doçura tentando
passar uma boa imagem.
Não quero que ela seja advertida por aquela víbora
se faltar ao trabalho para ficar comigo, que sou maior de
idade e posso me virar muito bem sozinha. Tomarei um
banho gelado e logo vou estar melhor.
— Vai passar, madrinha, tenho certeza de que não
precisarei ir ao médico. Não se preocupe — digo, sentindo
um calafrio que logo se transforma em tremedeira.
Disfarçando, beberico o líquido morno.
— O.k., se cuide. Qualquer coisa me ligue — pede
carinhosamente.
— Pode deixar. Tenha um dia abençoado de trabalho!
— desejo, dando um sorriso forçado ao vê-la abrir a porta
e sair logo em seguida.
Esses chás caseiros para gripe são horríveis. Eles
podem ser “tiro e queda”, mas se eu disser que gosto do
sabor é mentira. Primeiro, não imaginei que ficaria
gripada, achei que pudesse até pegar um resfriado que
passaria rapidinho, como das últimas vezes, mas a chuva
que tomei há alguns dias depois de sair da casa dos
Mancini acabou comigo. A chuva estava tão forte e
ventava tanto que o guarda-chuva não serviu para nada.
Termino de tomar o chá mesmo odiando, então me
levanto com bastante esforço e vou à cozinha, sentindo o
meu corpo sendo tomado pela fraqueza, que é seguida por
uma sensação de calor intenso.
Só levantei da cama hoje para não ficar lá jogada,
como nos dias anteriores.
Estou há dias desempregada e sem contato com
Andreo pessoalmente. Ele ainda não voltou para Vale
Santo, e eu tive notícias através da Dandara que nenhum
deles está na casa. A primeira-dama foi para Monte Verde
dias depois do filho, desde então a mansão está vazia,
aos cuidados dos seguranças e dos funcionários.
Nos meses que trabalhei lá, nunca deixaram a cidade
por muito tempo, ou quando um ia o outro ficava, mas
como não sabemos o quadro de saúde do prefeito, é bem
provável que todos estejam lá para darem um melhor
atendimento a ele.
Todos os dias fico esperando uma mensagem do
Andreo, a última vez que trocamos mensagens foi dias
atrás, depois disso ele não respondeu mais as minhas
mensagens e nem as ligações. Fiquei temerosa que algo
ruim tivesse acontecido, contudo, decidi esperar sem
colocar a ansiedade na frente, deixar as paranoias de
lado, somente espero que ele dê sinal de vida.
Estou morrendo de saudade dele, principalmente das
suas gracinhas e o “gata” que soa tão sexy em sua boca.
Acredito que se tivesse acontecido algo muito sério já
estaríamos sabendo, afinal de contas, notícia ruim chega
rápido.
Estão comentando na cidade sobre o infarto do
prefeito, o pequeno jornal do município noticiou, logo
todos ficaram sabendo. As pessoas temem que ele seja
substituído definitivamente pelo vice, que não é uma
pessoa muito querida, afinal, o Alberto é como um santo
por aqui, ajuda muitos cidadãos.
Ainda na cozinha, ouço batidas à porta. Como a casa
não é grande e tem cômodos pequenos, conseguimos
ouvir quando alguém nos chama.
Será que a Dandara esqueceu alguma coisa? Mas
ela não iria chamar, somente entraria. Estranhando, sigo
na direção da porta em passos lentos e me apoiando na
parede enquanto a pessoa não para de bater na madeira.
— Quem é? — pergunto com a voz arrastada, parece
que estou em uma fornalha.
— Sou eu.
É ele. Céus! É o Andreo!
Meus olhos inundam e eu deixo as lágrimas de alívio
caírem. Além de estar prestes a cair no chão por me sentir
tão mal, fico emocionada ao ouvir a sua voz depois de
tantos dias longe.
Com o coração acelerado, esforço-me para pegar a
chave pendurada no porta-chaves na parede. Com um
trilhão de sentimentos preenchendo meu peito, abro para
Andreo usando a última força que me resta. Assim que ele
põe os olhos em mim, me escrutina buscando algo que
mesmo que eu quisesse não poderia esconder – saudade.
Senti muita saudade dele. O suficiente para admitir
que estou apaixonada pelo filho do prefeito, o bad boy
mais lindo que já conheci em toda a minha vida. Apesar
de existir milhares de rapazes por aí, Andreo sempre será
único e o mais bonito para mim.
— Oi — balbucio e me jogo em seus braços, com
medo de cair quando minhas pernas vacilam.
— Caralho, Alina, você está pegando fogo. E não é
em um bom sentido, gata. — Ele me agarra pela cintura e
me põe de pé. — Merda... Você está queimando de
febre... Que diabos! Você não pode desmaiar, vou te dar
um banho gelado. — Toca o meu rosto e o ergue para que
eu o encare.
— O que... você... tá falando? — Tento sorrir quando
ele me pega no colo.
Minha visão começa a ficar embaçada e eu só ouço
os resmungos do Andreo ao longe. Ele estava tão perto e
agora está tão longe, mas ainda posso sentir os seus
braços firmes e tatuados ao meu redor.
Não perco os sentidos por completo, consigo ouvir a
porta ser batida com força. Talvez tenha sido o vento, já
que meu protetor está me levando para algum lugar em
passos pesados.
Só consigo piscar uma e outra vez, quase enxergo
tudo preto, mas Andreo tenta dialogar comigo para me
manter acordada.
Solto um gemido ao sentir a água fria bater no meu
corpo. Tremendo, fecho os olhos, mas logo paro o
resmungo quando sou envolvida por seus braços. Não
estou em condições de apreciar a vista, mas posso sentir
o seu cheiro, um bom perfume, e dos caros.
E a água fria continua descendo... me molhando.
Sem ter muita noção do que está acontecendo ao
meu redor, encosto meu rosto em algo duro ao sentir a
carícia no meu cabelo.
Se eu não tivesse chegado naquele momento,
certamente teria acontecido algo pior com a Alina. Quando
ela desabou nos meus braços, senti o quão quente estava.
Seu rosto estava abatido e pálido, naquele instante
percebi que havia algo de errado.
Ao notar a sua fragilidade entrei em desespero. Em
um curto espaço de tempo, a minha vida tem se tornado
agitada e emocionante, nem mesmo as farras foram
capazes de me causar tanta adrenalina quanto Alberto
Mancini e Alina Martins.
De fato, estou surpreso com as minhas ações, talvez
até orgulhoso. Nunca fui de mostrar muito as minhas
emoções e nos últimos dias venho fazendo exatamente
isso, e as pessoas ao meu redor estão percebendo. Não
que eu me importe, mas essa minha mudança tem sido
observada e elogiada, nem sei quantas vezes o dr. Alonso
e o meu coroa me olhavam bobos por eu estar ali vinte e
quatro horas, me preocupando, procurando me informar do
quadro de saúde dele.
O que mais me espantou foram os vários nãos que
dei a alguns colegas de gandaia nos dias que passei em
Monte Verde só para não colocar álcool na boca e ficar
disperso a ponto da minha mãe ter que ficar responsável
pelo marido.
Depois do que aconteceu com meu pai, reconheci,
mesmo que fosse em pensamento, que a primeira-dama é
perigosa a ponto de me fazer temer, e que eu não poderia
me dar ao luxo de deixar meu pai em sua companhia,
portanto, adiei a minha volta para Vale Santo até que ele
tivesse alta. Se bem que em momento algum ela se
mostrou interessada em dormir em um quarto de hospital
com o esposo. Ela só foi visitá-lo algumas vezes e
chorava falsamente, dizendo que se não tivesse a
companhia das amigas dondocas ela ficaria louca, mas eu
sei que era uma desculpa.
Bárbara Mancini jamais se responsabilizaria pelo
meu pai, por mais que tenham jurado no casamento estar
um ao lado do outro na doença e na pobreza, essa era
uma das duas coisas que ela nunca aceitará, o amor vai
embora em questão de segundos.
Foram muitos dias cansativos, eu não dormia direito,
não me alimentava bem, qualquer palavrinha que o médico
quisesse trocar comigo deixava meu coração apertado e
eu só conseguia pensar no pior.
Se alguém me dissesse que eu deixaria a noitada
para ficar ao lado do meu pai, em hospital, por medo de
Bárbara cavar a cova dele com a sua presença tóxica, não
acreditaria.
Depois de tantos dias, estou de volta à cidadezinha
que nunca gostei, sempre achei uma porcaria e sem
graça. As únicas vezes que a via com bons olhos era
quando trazia meus amigos e alguns conhecidos para
tocar o terror, correr com os carros e fazer festas até a
madrugada sem me importar se algum carro de polícia iria
nos parar, afinal, meu velho é o prefeito, o que facilita
muito para mim.
Como posso agora gostar tanto dessa cidade que eu
disse que jamais poderia ser do meu agrado por ser como
é?
A resposta para a pergunta está sendo carregada por
mim com todo cuidado do mundo. Na primeira
oportunidade que tive, peguei meu carro e corri para
Monte Verde. Nem passei na mansão, eu só conseguia
pensar em Alina, no seu cheiro, no seu gosto, nos seus
beijos.
Não estou apaixonado. Não, claro que não. É apenas
uma atração avassaladora. Somente isso.
Eu nunca me apaixonei.
Não sei o que é amar.
Nenhuma mulher me amou, nem mesmo a minha mãe
foi capaz. Acredito que a única pessoa que me ama sou
eu, nem sei o que significa reciprocidade quando se trata
do amor.
Ah, porra, sei que é um pensamento fodido, mas não
tenho como controlar essa merda ao meu redor.
Após a noite que fodi a bocetinha de Alina com meus
dedos e bebi seus doces gemidos, decidi que ela seria
minha. E esse foi meu pensamento durante a viagem até
aqui, mas fiquei desolado ao encontrá-la doente.
O meu lado heroico deu as caras mais uma vez. Não
é algo ruim ajudar os outros, mas essa aproximação
minha e de Alina tem cruzado a linha do meu limite. Até
poucos dias, só pensava estar no meio das suas pernas,
mas agora estou na sua casa, cuidando dela e morrendo
de medo de que essa febre indique algo grave.
Saí com ela do banheiro, que é um ovo de tão
pequeno, com muita dificuldade, logo depois encontrei o
seu quarto e a depositei cuidadosamente na cama.
Agora encontro-me em uma batalha particular para
trocar a roupa dela. Estou me sentindo como um cachorro
molhado, minhas roupas estão encharcadas, nem tive a
inteligência de tirar, entrei com tudo no chuveiro. O que o
desespero não faz. Eu tive que me enfiar debaixo da água
para mantê-la de pé e, principalmente, acordada.
Passo a mão por meu cabelo ensopado e olho para o
guarda-roupa lilás de duas portas. Estou parecendo uma
barata tonta, sem saber o que fazer direito.
Porra, não sei nem cuidar de mim direito. Com o meu
pai foi diferente, ele tinha um médico e enfermeira, estava
em um hospital. Eu não tenho nada disso aqui.
Eu não sabia que ela estava doente, que estava
neste estado. Ficamos sem nos falar nos últimos dias
porque eu não tinha decorado o número do seu celular.
Misteriosamente, meu celular desapareceu do quarto do
hospital em uma das visitas da Bárbara, e como eu não
queria deixar o meu pai sozinho, não saí para providenciar
outro.
— Vou precisar trocar as suas roupas, você não está
em condições para fazer isso — digo, pigarreando.
O que é isso, Andreo? É respeito. Respeito. Ela está
debilitada e precisando de mim. E eu preciso pedir
permissão, sempre, não importa a ocasião.
— O.k. — Ela não está mais delirando como antes,
mas também não está cem por cento consciente.
— A cada dia você está me fazendo mudar o meu
título. De bad boy, filhinho de papai, conquistador barato,
filho do prefeito, passei a ser enfermeiro particular —
resmungo, observando-a deitada no colchão com os olhos
fechados.
— Eu estou... te ouvindo sabia... — murmura, dando
um pequeno sorriso.
— Que bom, assim me valoriza mais. Só você mesmo
para me fazer perder a minha pose de bandido — digo,
bem-humorado, indo vasculhar o seu guarda-roupa. Eu
abro as duas gavetas e só encontro roupas íntimas, e
todas novas.
— Bobo — retruca.
Curioso, pego uma calcinha vermelha de renda e dou
um sorrisinho safado ao imaginar Alina com ela.
Instintivamente, levo a peça perto do nariz e cheiro.
Ah, se foder. Desde quando tenho tara por um
pedaço de pano? Ainda bem que a nervosinha está tão
alheia.
Puto, balanço a cabeça e volto a vasculhar o móvel
na parte das roupas e encontro uma toalha da mesma cor
dele. Ela gosta de lilás, e muito, uma vez que as paredes
são da mesma cor, assim como a estrutura da sua cama.
A maioria das coisas por aqui são iguais.
É notório que ela gosta da cor branca e lilás. Apesar
do cômodo ser pequeno e simples, é arrumadinho e
cheiroso. Na verdade, a casa toda é simples, limpa e
organizada.
Esse lugar tem o cheiro e a marca dela.
Nas mãos tenho a toalha, calcinha e uma roupa fácil
de vestir – um vestido soltinho preto, ou uma camisola,
não sei ao certo. Aproximo-me dela e me sento na beirada
da cama, então ela me encara calada e eu só consigo
reparar em seu olhar cansado.
— Preciso que me ajude só um pouquinho — peço
baixinho.
Ela assente com um leve meneio de cabeça.
Antes de qualquer coisa, levo a mão ao seu pescoço
e noto que a febre já não está tão alta, mas ela continua
febril. Com cuidado, eu a sento com as costas apoiadas
na cabeceira, depois peço permissão para tirar a sua
blusa. Engulo em seco ao reparar em seus mamilos
enrijecidos.
Umedeço os lábios e foco no que estou fazendo,
então me livro da peça de cima sem ouvir um resmungo
sequer dela, mas o seu rosto avermelhado já diz tudo.
Alina tenta esconder os seios, mas nego com um
sorrisinho ao pegar a toalha.
— Não tem necessidade, já os vi antes, esqueceu?
Mesmo frágil, a morena revira os olhos.
Primeiro, enxugo o seu cabelo longo e cheiroso, sem
demora estou passando a toalha por sua pele macia,
notando que ela fica arrepiada. Concentrado, passo o
vestido por sua cabeça, depois ajeito em seus braços e
subo as alças até seus ombros, em seguida o desço até a
sua barriga.
— Agora vamos para a parte mais difícil. — Solto um
palavrão baixinho ao imaginar ter que tirar a calcinha dela
e colocar novamente.
Oh, Senhor, que judiação!
Força guerreiro, venceu a batalha, mas não a guerra,
penso ao olhar para o meu pau por cima da calça.
— Eu consigo... — se manifesta minha paciente.
A teimosa se afasta da cabeceira, tenta se sentar
sem apoio e quase cai, mas a pego a tempo. Com o
movimento, sua mão para na minha coxa, bem pertinho da
minha virilha, por pouco não acorda o meu garotão. Não
me julguem, tem um tempinho que não transo, meu pau
fica animado com qualquer toque. E se tratando da garota
por quem estamos louquinhos, ficamos animados num
piscar de olhos.
— Porcaria — reclama com chateação e logo
agradece.
— Eu vou ficar na sua frente e você se apoia nos
meus ombros, prometo não olhar para nenhum lugar
inadequado — digo, com seriedade.
— Tudo bem — concorda depois de um tempo.
Ajoelho-me ao lado da cama e a puxo para mim
segurando em sua cintura. Ela faz como combinamos
mesmo morta de vergonha. Segura em meus ombros e eu
prontamente desço a calça de pijama com a calcinha até
suas pernas, depois que nos livramos das peças
molhadas. Peço a Alina a calcinha seca, e é um sacrilégio
não encarar a boceta dela, que mesmo que o
vestido/camisola esconda um pouco, ainda assim tenho
um vislumbre do seu sexo.
Ela cora e arregala os olhos, mas logo me entrega a
peça íntima. Eu a passo em suas pernas, vou subindo até
chegar aos seus joelhos.
— Agora é mais fácil, vem cá. — Fico aliviado por
estar acabando essa tortura que é tê-la tão perto e ao
mesmo tempo distante.
Uso minha força e a coloco de pé, então subo um
pouco a calcinha até que ela consiga me ajudar, deixando
que faça o restante. Só preciso segurá-la pela cintura, é o
bastante.
— Obrigada. Se não fosse você, nem sei o que teria
acontecido comigo — agradece, meio ofegante com a
nossa troca intensa de olhares.
— Não precisa agradecer, eu faria por qualquer um.
— Mentira. Eu não faria. Só não quero que ela se sinta
tão especial, quer dizer, ela é, só não quero demonstrar.
— Tenho certeza de que não faria. Então, obrigada
— diz, arqueando a sobrancelha com audácia.
— Sua língua afiada, você fala demais. — Bufo,
ouvindo a sua leve risada. Aproveito a sua distração para
checar a sua temperatura com a mão mais uma vez. —
Você ainda está quente, vou te levar ao médico — falo,
decidido, mas ela nega.
— Não precisa, já estou bem — diz, teimosa.
— Não está, Alina. E não ouse dar uma de durona,
se você estivesse bem, não teria me deixado te trocar.
Ela desvia o olhar do meu ao perceber que tenho
razão.
— Você está todo molhado, vá para casa trocar de
roupas, senão vai ficar resfriado — diz, tentando
desconversar.
— Se você é teimosa, sou mil vezes mais. — Eu a
levanto do chão com facilidade e a coloco sentada na
cama. — Fique aqui. Eu tenho roupas no meu carro, vou
pegar e já volto. — Dou as costas para ela e saio do
quarto.
Na sala, encontro as chaves do carro jogadas no
chão, então pego e saio da casa. Não passam
despercebidos alguns vizinhos observando os meus
movimentos. Eu os ignoro e abro o porta-malas, pegando
uma cueca, uma camisa de botões e uma bermuda da
mala, depois travo novamente e retorno para dentro da
casa. Em passos largos, entro no quarto de Alina e
encontro a teimosa em pé, apoiada na cômoda ao lado
com um termômetro na mão. Quando me vê, ela dá um
sorriso fraco e eu fecho a expressão.
— Sua cabeça-dura — murmuro, puto.
— A febre está em 38°C, não está tão ruim assim. —
Morde o lábio, ignorando as minhas palavras. Em passos
lentos, ela retorna para a cama.
Alina é como aqueles idosos teimosos que insistem
em fazer as coisas quando querem, não sabem esperar.
— Não é uma boa desculpa para não ir ao médico. —
Sem me importar, aproximo-me da cama e jogo minhas
roupas ali, como se eu fosse de casa, então começo a
tirar a minha camisa. — Não saia daí, já volto. Você está
merecendo algumas palmadas nessa bunda gostosa para
parar de ser tão irritante — resmungo, pegando minhas
roupas e dando as costas para ela logo em seguida.
Ali mesmo na sala, substituo minha roupa e me sinto
novinho, com os dedos arrumo meu cabelo, depois volto
para o quarto.
— Precisamos do seu documento, onde eles estão?
— digo, vasculhando com os olhos cada canto do quarto.
— Senti saudade. Por que não ligou? O seu pai está
bem? O que aconteceu? — pergunta, me fazendo perder o
foco de todos os meus pensamentos.
“Senti saudade”. Basta isso para que eu sorria
abertamente. Que confissão, Alina Martins. Quem diria
que a bravinha admitiria em voz alta que sentiu a minha
falta.
— Perdi meu celular, na verdade, acho que a minha
mãe deu um fim nele pensando que isso me manteria
afastado de você por alguns dias. E o meu pai está bem
sim, já teve alta, mas só volta para cá amanhã — revelo,
despreocupadamente.
— Fico feliz por ele estar bem, seu pai é um bom
homem. Você vai ficar longe de mim por causa da sua
mãe? — indaga, com a voz quase inaudível.
— Claro que não, Alina, a minha mãe não manda em
mim — digo, indo até ela e me sentando na cama.
Instintivamente, toco em seu rosto e vou descendo a
mão até chegar à sua boca. Com o polegar, acaricio seus
lábios e ela fecha os olhos, soltando um suspiro em
seguida.
— Se eu não estivesse gripada te pediria um beijo,
mas não quero deixar você doente — diz, com doçura.
— Por acaso você está cheia de catarro? — brinco e
ela faz uma careta.
— Você é nojento. Claro que não! Estou tossindo e
com febre... E uma leve dor de cabeça — diz, defendendo-
se, e eu gargalho.
— Hum, então isso não me impede de te beijar. —
Sorrio para ela, que retribui.
— Você é tão estranho.
— Você também é — digo, aproximando meu rosto do
dela. O primeiro contato dos nossos lábios muda o ritmo
da sua respiração de leve para pesada.
Seguro a sua cintura e aprofundo o beijo, explorando
a sua boca como se tivesse um tesouro ali. Alina toca no
meu cabelo e geme contra minha boca. Manhosa, ela se
derrete ao sentir minha mão descer por sua coxa. Depois
de alguns minutos nos beijando, matando a saudade,
encosto minha testa na dela.
— Não quero ir ao médico, já melhorei. É sério. —
Massageia meu ombro e me dá um selinho.
— Alina... — eu a repreendo.
— Estou morrendo de saudade e deveríamos
aproveitar que estamos sozinhos e em paz — sugere, ao
me pegar desprevenido com um abraço caloroso.
Ela está tão estranha. Muito meiga. Hum, devo ficar
preocupado?
— É uma proposta tentadora, mas pensei que o
irresponsável fosse eu. — Toco nas suas costas e
acaricio.
— Me toque, Andreo. Preciso que me toque como fez
naquele dia.
E é assim que ela acorda o Andreo Jr.
— Ah, merda... Não me tente. — Puxo o ar para os
pulmões.
— Por favor. Juro que estou bem melhor e a febre
baixou. Se eu piorar, prometo que aceito que me leve ao
médico — avisa.
— Se me deixar chupar a sua boceta primeiro,
podemos fazer tudo que fizemos naquela noite e muito
mais — falo, perto do seu ouvido. A minha voz a afeta
tanto, que estremece e solta um gemido baixinho.
— Andreo... — ofega.
— Vai me deixar te fazer gozar com a minha língua?
— pergunto, com a voz rouca. Beijo a sua orelha e chupo
a pele sensível.
— Uhum, vou. — Por fim, decide.
— Vou ser o primeiro a colocar a boca aqui? —
indago, levando a mão ao meio das suas pernas e fazendo
um caminho até a sua vagina. — Me responda. Eu sou? —
Coloco a calcinha de lado e introduzo dois dedos na sua
bocetinha, lentamente a masturbando e ouvindo seus
gemidos.
— É... Sim... — responde depois de um tempo.
Mesmo com a sua confirmação, continuo a masturbando.
— Andreo, aii... — geme.
— Abra as pernas mais um pouco para mim, gostosa
— peço, em um vaivém gostoso. Ela já está molhada, a
sua excitação encharca meus dedos.
Sem deixar que ela goze, beijo sua testa e me
afasto, então peço que se deite na cama e se abra para
mim. Depois que ela atende ao meu pedido, fico entre
suas pernas. A sua cama se torna muito pequena para nós
dois, mas isso não é um empecilho para mim. De joelhos
no colchão, ouço a cama ranger. Só espero que ela não
quebre.
— Nem vou precisar tirar a sua calcinha — digo,
subindo o vestido dela para cima.
Primeiro, me inclino e beijo uma coxa, depois a
outra, então raspo o nariz na sua pele e lentamente chego
ao ponto que quero. Fico duro ao colocar a língua para
fora e lamber sua virilha.
Hum, deliciosa e cheirosa. Coloco sua calcinha para
o lado e cubro a sua boceta com a minha boca. O contato
da minha língua no seu clitóris assusta Alina, que solta
um gemido, mas aos poucos ela se acostuma com a ideia
de me ter ali e acaba relaxando.
Sugo seu grelinho apetitosamente e me lambuzo com
o seu mel, fazendo-a gemer cada vez mais alto e satisfeita
com o que a minha língua lhe proporciona. Alina leva uma
mão ao meu cabelo e puxa de leve, enquanto estimulo seu
clitóris com o dedo e a língua, penetrando-a cada vez
mais rápido ao notar seus sinais de ápice.
Suas pernas tremem e eu a fodo com vontade,
mesmo com os seus espasmos ritmados com gemidos
altos.
Que os vizinhos não achem que estou matando-a, se
bem que estou, mas com a minha cara enfiada na sua
boceta e a minha língua dentro dela socando sem parar.
Confesso que gostaria de tirar o meu pau para fora e
bater uma, mas não vou assustar Alina.
— Aiiii... Aii...
Mesmo que ela tenha acabado de gozar, faço com
que minhas chupadas fiquem cada vez mais intensas,
levando-a em poucos segundos a ter outro orgasmo. Bebo
seu gozo, cada gotinha, como se fosse a minha vitamina
C.
Se a gripe tinha deixado Alina fraca, esses orgasmos
a deixaram pior. Notando que a Alina está trêmula, vou ao
seu encontro e beijo a sua boca. De início ela fica
receosa, mas cede, então nos beijamos e eu permito que
ela sinta o próprio gosto.
— Não vejo a hora de ter a sua boceta para mim.
Quando esse dia chegar, vou soltar fogos — confesso,
olhando em seus olhos.
— Você está tão...
Ela se cala ao ouvir um barulho vindo da porta. Em
alerta, saio de cima dela, arrumo minha roupa e olho na
direção da porta do quarto.
Fodeu. Deve ser a Dandara. Nos olhamos
rapidamente antes de Alina se ajeitar na cama com os
olhos arregalados.
— Filha, saí mais cedo para te levar ao médico, mas
parece que você já tem companhia — diz a Dandara.
Sinto o sangue fugir do meu rosto. Eita, porra! Me
fodi bonito.
Sem reação, passo a mão por meu cabelo e mais
uma vez olho para Alina, que está com a cara de quem
acaba de ser bem fodida. Só espero que a madrinha dela
não note isso também.
A Dandara é tão brava, que é bem capaz de me
colocar para correr daqui com uma aliança de
compromisso no dedo, se souber que poucos minutos
atrás eu estava fazendo a afilhada dela gozar com meus
dedos e a minha boca.
Puta. Que. Pariu. Nem quero imaginar.
— Boa tarde, Andreo. — Dandara me cumprimenta
assim que entra no quarto. Arregalo os olhos ao ver
minhas roupas na sua mão. — O que é isso?
— Madrinha... — Alina tenta explicar, mas eu peço
silêncio com um gesto de mão.
Se eu fui homem para ficar entre as pernas dela, sou
também para ser sincero com a Dandara. E não vou
mentir, afinal, realmente cuidei da afilhada dela em sua
ausência.
— Posso explicar — digo, com o semblante sério. Ela
também está enquanto alterna o olhar entre mim e a
afilhada.
— Acho bom mesmo — diz, rígida.
— Cheguei de Monte Verde faz algumas horas e vim
direto ver a Alina. Quando cheguei, eu a encontrei
queimando de febre, então a peguei no colo e corri para o
banheiro. Como ela estava fraca e delirando, tive que
entrar com ela para que não caísse. Foi isso o que
aconteceu, sra. Dandara. Nada mais. — Omito pequenos
detalhes na maior cara de pau. A mulher nem dá muita
importância, larga minhas roupas e corre para a afilhada,
que provavelmente está com a calcinha toda melada de
gozo, e abraça.
— Alina, por que não me ligou? Quando eu saí você
estava bem, você me disse que estava bem! — reclama a
mulher, deixando Alina envergonhada.
— Eu menti, me desculpe. Não queria que se
preocupasse comigo e se prejudicasse no trabalho —
confessa Alina, com a voz embargada.
— Nunca mais minta para mim. Mesmo que você já
seja adulta, ainda é a minha menininha, sempre será —
diz Dandara, querendo chorar também.
Limpo a garganta ao presenciar a cena. Até mesmo a
mulher que não tem laço sanguíneo com Alina consegue
demonstrar muito mais amor do que a minha mãe que me
pariu.
— Sra. Dandara, me coloco a disposição de vocês
para levá-las ao médico. Ajudo no que for preciso —
aviso.
— Faria isso mesmo, Andreo? — pergunta ela, se
virando para me encarar.
— Claro que sim. Gosto da senhora e da sua afilhada
também — declaro e vejo Dandara sorrir.
— Vamos aceitar, sim. Alina é muito teimosa, ela
tenta esconder suas dores para não me deixar
preocupada, mas sei que ela não está nada bem. Ela ficou
na cama, ruim de gripe e sempre dizendo que estava
melhorando — reclama Dandara e eu sorrio.
— Ela me disse o mesmo quando eu quis levá-la ao
médico — deduro Alina, que me lança um olhar matador.
— Vou pegar os documentos dela e já volto — fala,
saindo do quarto.
Aproveito a oportunidade e me aproximo de Alina.
Antes de provocá-la, olho na direção da porta.
— Ela quase nos pegou — sussurra e eu sorrio de
lado.
— É o menos importante, bravinha. Não tem como
você dar uma desculpa para tomar banho, vai ter que ir ao
médico com a boceta lambuzada. E quando se lembrar de
quem te deixou assim vai ficar ainda mais molhada —
digo, perto do seu ouvido, depois desço minha boca até o
seu pescoço e mordisco de leve.
Afasto-me rapidamente ao ouvir os passos se
aproximando. Já encostado na parede como se nada
tivesse acontecido, olho Alina controlar a respiração.
Eu a afetei como queria. Ponto para mim.
Andreo tinha razão, maldito provocador. Depois que
a minha madrinha quase nos flagrou, não tive onde
colocar a minha cara, fiquei tão envergonhada que nem fui
capaz de dizer que tomaria um banho antes de ser levada
ao médico. Na minha cabeça, se eu pedisse, ela ligaria os
pontos e confirmaria a sua suspeita. Minha dinda não é
burra, ela desconfia que estávamos aprontando, mas não
quis me envergonhar mais do que eu já estava.
Já preencheram a minha ficha, e agora estou na
espera. Não demoramos para chegar, em vez de Andreo ir
para sua casa depois de me deixar aqui, ele ficou. Agora
as pessoas estão, mesmo que não sejam muitas, olhando
para ele como se ele fosse uma celebridade. Sei que ele é
o filho do prefeito, mas não é para tanto.
As moças do balcão que preenchem a ficha estão
com o sorriso lá no teto, só falta oferecerem cafezinho e
água para Andreo. Parece que nunca viram um homem
bonito na vida, se bem que em Vale Santo é difícil achar
um rapaz com a aparência do filho dos Mancini.
Como na cidade todos se conhecem, minha madrinha
está do outro lado, conversando com uma mulher que
mora na nossa rua e outra que mora na rua da Maria
Fernanda. E ao meu lado está Andreo, sentado
confortavelmente, como se estivesse na casa dele. O
descarado está doidinho para colocar a mão em mim, já
notei ele esgueirando-a na lateral da minha perna, é um
sem-vergonha.
— Nem pense nisso, tem gente nos olhando —
murmuro, ouvindo a sua risadinha baixa. Rapidamente
sinto meu rosto corar ao notar que a mulher do balcão
está nos observando e cutucando a colega.
Em breve, a fofoca de que o filho do prefeito estava
no médico com a empregada da família vai se espalhar.
Desconfortável com o olhar delas, mudo para a outra
cadeira, e meu acompanhante, supertranquilo, se levanta
e se senta perto de mim novamente.
— Fugindo de mim? — indaga, divertido. Ele inclina
o corpo e encosta a boca perto do meu ouvido. — Quando
eu disse que você não poderia tomar banho, era diferente
de vir sem sutiã. Espero que o médico seja um vovozinho
— fala, com a voz rouca.
— Se comporte, Andreo — digo, com um sorriso sem
graça.
— No fundo, fiquei excitado com a ideia do perigo,
de sermos pegos no flagra — confessa baixinho. O meu
ventre esquenta como se tivesse fogo ali. — Espero que
você se recupere logo, preciso chupar mais uma vez a sua
doce bocetinha e provar mais um pouco da minha vitamina
C.
Eu me engasgo com o que ele fala. O safado se
afasta e logo volta para o lugar de antes, depois de ter
mexido com meus neurônios.
— Alina Martins — me chamam no portão de grade
branca que dá para outra ala.
Levanto-me e olho para a minha madrinha, que vem
em minha direção.
— Filha, te espero aqui. Fale tudo o que está
sentindo. — O seu cuidado é muito maternal, afinal, ela é
minha mãe de coração e criação.
— Pode deixar, madrinha — concordo, sorrindo fraco.
Olho para o lado e vejo Andreo de pé. Ele se
aproxima da gente logo em seguida.
— Vou com você — diz.
— Ela é maior, pode ir sozinha — intromete-se a
moça do balcão toda animada. Sei bem o motivo.
— Eu preciso ir com ela e eu vou. — Ele toca no meu
braço e fecha a mão ao meu redor.
— O.k., vamos. — Ajeito meu vestido, ainda sentindo
minhas pernas pegajosas.
— Vou esperar vocês aqui — fala minha madrinha.
Percebi que ela está mais à vontade, meio que
aceitou a presença do Andreo na minha vida. Notei que
quando ela me via com ele no celular não fazia cara feia e
nem questionava, em alguns momentos perguntava até se
eu não tinha conversado com ele.
Eu e ele passamos pelo portão e seguimos até a sala
indicada. Em frente à porta branca, bato e logo escuto
uma voz masculina permitindo que eu entre.
Quase fico boquiaberta ao me deparar com um
médico jovem e muito bonito. Misericórdia, põe bonito
nisso. Ele sorri para mim, seu sorriso é tão caloroso, que
eu estranho. Ao me ver acompanhada, dá um sorriso
malicioso, mas logo disfarça. Não sabia que tinham
trocado o médico, para mim, ainda era o dr. César, que
tem idade para ser o meu avô.
Andreo passa o braço pela minha cintura de forma
possessiva.
— É atendimento duplo? — o médico que ainda não
sei o nome pergunta e encara Andreo e depois a mim, em
seguida, a minha ficha em sua mesa.
— Não, mas eu quis acompanhá-la, tem algum
problema? — O corte seco do Andreo me deixa perplexa.
— Ela não estava muito bem a alguns minutos atrás,
então, por segurança, eu decidi me manter por perto.
— O.k., é o namorado, pelo visto. — O médico
assente, sério. — Por favor, Alina, se sente ali que eu vou
te examinar — pede o profissional.
Eu assinto, tirando as mãos de Andreo de mim, que
solta um palavrão baixo antes de comentar novamente
sobre a minha falta de sutiã. Meus mamilos estão
enrijecidos com o ar gelado que sai do ar-condicionado.
Sento-me na maca e o médico vem logo em seguida
com o estetoscópio nas mãos. Ele põe o objeto no meu
peito e me dá algumas instruções. De perto, consigo ler o
seu nome na identificação. Bruno.
Instintivamente, busco por Andreo, que está
encostado na parede com uma expressão nada boa. Se
seus olhos fossem balas, o dr. Bruno estaria morto.
Ele está com ciúme do médico? É óbvio que sim.
Assim que viu que era jovem, Andreo ficou se
comportando de maneira estranha.
— Alina, abra a boca e coloque a língua para fora. —
O médico se aproxima com um abaixador de língua
descartável.
Faço o que ele pede e quase tenho uma ânsia de
vômito, só assim noto o olhar divertido de Andreo, mas ele
não deixa passar despercebida a malícia.
— Aqui está tudo o.k. A garganta, apesar de não
estar inflamada, tem uma leve irritação — esclarece,
avaliando-me com uma lanterninha. — Está há alguns dias
assim, certo? — diz o profissional e eu assinto.
Ele pega o termômetro e coloca na minha axila,
deixando-o ali por um tempinho. Dr. Bruno me pede para
descer da maca e me sentar na cadeira de frente para ele,
enquanto observa o termômetro. Ele começa a preencher
o receituário silenciosamente. Olho para trás e noto que
Andreo está estranho, ele encara demais o médico.
Será que eles se conhecem? Ele não odiaria alguém
assim de graça, tenho certeza que não.
— Alina, você vai tomar agora um dipirona injetável
para baixar a febre, e vou te passar um antibiótico para
tomar por sete dias. O remédio você pode pegar na
farmácia daqui mesmo e dipirona é só seguir na sala ao
lado. — O médico me entrega dois receituários, um do
antibiótico e outro para entregar para a enfermeira. —
Você vai ficar boa logo — assegura-me.
— O.k., doutor. Obrigada — agradeço-o gentilmente,
levantando-me em seguida.
Saio da sala com Andreo logo atrás, quando estou
me dirigindo para a sala para ser medicada, sou
surpreendida por um puxão.
— O que está fazendo? — Olho para todos os lados
e não vejo ninguém.
— Shiu. Você vai me pagar agora por não ter usado a
porra de um sutiã. Vai gozar nos meus dedos, e se gritar
será ouvida por todos, principalmente por sua madrinha —
fala, me puxando para dentro de um banheiro que não é
de pacientes, mas sim dos médicos que fica ali naquela
ala.
Dentro do banheiro, que é bem limpo e cheiroso, por
sinal, sinto meu coração acelerar ao ver Andreo sorrindo
ao me encarar através do espelho quando nossos olhares
se encontram.
— Você é maluco. — Ofego quando ele tranca a
porta.
— Se apoie no mármore e empine a bunda.
Encaro o mármore bege da pia e arregalo os olhos.
— Estamos em um posto médico, Andreo! — reclamo
em um gemido baixo ao ouvir seus passos pesados.
— É o que mais me excita — diz ao fechar as mãos
no meu quadril. Fico arrepiada ao senti-lo se inclinar
contra o meu corpo e colocar a boca perto do meu ouvido.
— Eu te foderia contra essa pia se não fosse virgem, te
daria vários orgasmos com o meu pau entrando e saindo
em você. Mas por enquanto vou me contentar em te foder
com os dedos e a boca, bravinha.
Perco a pose de difícil com a investida dele.
— Céus, Andreo! — Suspiro, louca para sentir o
toque da sua mão.
— Você não quer me dar essa bocetinha, gostosa,
então vou te castigar. — Provoca-me, levantando meu
vestido até a altura da minha cintura. Ansiosa, embolo o
tecido nas minhas mãos e me seguro na pia.
— Eu te odeio — resmungo, com o peito subindo e
descendo.
Esse filho da mãe tem uma energia tão forte que nem
me sinto mais fraca pela gripe, mas sim por suas
provocações.
— Dessa vez, vou tirar a sua calcinha e você vai
gozada para casa sem ela. E quando eu chegar na minha
casa, vou me lembrar como você gozou e então vou bater
uma punheta pensando na boceta que tanto amo sem nem
ainda ter comido — diz, puxando a peça para baixo.
Quando chega aos meus pés, ele se abaixa e faz com que
eu tire a peça íntima, colocando-a em seu bolso em
seguida.
Mordo os lábios, reprimindo o gemido ao sentir a
boca dele tocar em uma coxa e depois na outra. Ele vai
subindo e beijando até chegar à minha bunda, o cretino
deixa uma mordida ali e logo ouço a sua risada ao me ver
estremecer. Fecho os olhos e tento controlar a respiração.
— Não podemos demorar. Droga, tenho que tomar
o... — Calo-me ao sentir a ponta dos dedos dele deslizar
e dedilhar minha vagina com maestria.
Já estou quente e escorregadia, com o meu sexo
pulsando e pronto para ser tocado.
— Você disse o quê? — pergunta, com o corpo na
altura do meu e os lábios roçando novamente na minha
orelha.
— Ahh, dipiro... — Gemo ao ser masturbada em um
vaivém.
— Não gosto de usar o sobrenome do prefeito, mas
dessa vez será por uma boa causa. Agora me dá essa
boquinha aqui. — Ele me segura pelo maxilar e vira meu
rosto, engolindo meus gemidos com um beijo.
Me ofereço mais para ele ao abrir as pernas,
enquanto seus dedos se movimentam com habilidade e
deliciosamente. Nem mesmo se eu quisesse poderia
gemer, uma vez que estamos nos beijando com luxúria
enquanto sou masturbada por trás.
— Rebola para mim, Alina. Imagine que é o meu pau
e rebole, me mostre como você faria se estivesse sentada
nele — pede, ao parar nosso beijo e roçar nossos lábios.
Por um momento até esqueço o meu nome, só faço o
que me é pedido. Rebolo nos seus dedos, chamando por
ele aos gemidos e soluços.
Andreo ainda não sabe, mas estou pronta para ser
dele em todos os sentidos, mesmo que ele esteja sendo o
meu paraíso e o meu inferno.
Quase fomos flagrados, mais uma vez. Alina quase
me esganou, e dessa vez admito ter tido uma parcela de
culpa. Mas o que posso fazer se sou fascinado pelo
perigo? Nada. Por sorte, quem estava do outro lado da
porta era uma funcionária da limpeza. A mulher, quando
nos viu deixando o cômodo, ficou pálida de uma maneira
que pensei que desmaiaria ali mesmo ao ter me
reconhecido. Apesar de não ser nenhuma celebridade, ser
filho do prefeito em uma cidade pequena pode me tornar
um pouco mais conhecido.
Na maior cara de pau, pedi à mulher que não
comentasse com ninguém o que tinha acabado de ver,
mas sei que o meu pedido era a mesma coisa de dizer “vai
lá e conte para a cidade inteira". Bom, foda-se. Somos
maiores de idade e respondemos por nossos atos, se
amanhã a fofoca se espalhar, saberemos de onde saiu.
Depois do episódio, eu e Alina seguimos para a sala
que o doutorzinho Bruno indicou. Quando vi que era
aquele idiota sentado na cadeira do posto médico pronto
para atender a minha garota, fiquei puto e surpreso.
Parece que a minha mãe está conseguindo trazer os filhos
dos seus amigos para cá, privilegiando pessoas que não
precisam, mas ela, para mostrar que pode tudo, está
usando a sua influência para convencer o prefeito a dar
cargos aos seus queridos amigos.
Bruno Vitti é de uma família muito renomada de
Monte Verde, que são donos de uma enorme rede de
mercados, um recém-formado. Soube que o imbecil se
formou no ano passado, provavelmente os seus pais foram
apelar para Bárbara, que adora ser boazinha com quem
ela gosta. Na verdade, aquela senhora ama ter pessoas
aos seus pés, graças a Deus estou imune a ela.
Ao entrar com Alina na sala, não escondi a surpresa
em ver aquele mimado do caralho ali. Se bem que me
lembro, ouvi boatos que eu estava sendo motivo de
chacota na roda de amigos dele por estar passando mais
tempo em uma cidadezinha no meio do nada do que na
cidade grande. Até mesmo virei motivo de piada alguns
meses atrás, agora o filho da puta está atendendo em um
posto de saúde justamente aqui. Eu nunca saberia disso
se não tivesse acompanhado Alina, mas estou satisfeito
por ter tomado a decisão de ter vindo com ela, até parece
que estava adivinhando alguma coisa.
Desde a época do ensino médio não nos damos bem.
Quando estudávamos na mesma escola, Bruno estava no
segundo ano, porque havia repetido duas vezes. Certa
vez, trocamos socos porque ele tentou fazer gracinha
comigo na frente dos seus colegas de sala e eu não
aceitei, na primeira provocação eu o esmurrei. Por mais
que fosse mais velho do que eu quatro anos, soube como
calar a boca daquele merdinha frouxo. Só o larguei
quando os seguranças do colégio nos separaram, até hoje
ele tem raivinha de mim por ter saído muito mais
machucado do que eu.
Não passou despercebido o olhar de cobiça dele na
minha morena. Sou homem e sei quando outro cara fica
interessado, sem contar que ele não escondeu em
momento algum. Grande pau no cu. Quase soquei aquela
carinha de playboy quando tocou em Alina ao examiná-la
tão atenciosamente.
Mas sei que ele também quis me provocar, mesmo
que sutilmente ao perguntar se o atendimento era duplo e
ter dado ênfase ao meu suposto namoro com ela. Mesmo
não sendo o namorado dela, eu não desmenti, não daria
esse gostinho a ele. Obviamente já tinha caído nos
ouvidos dele que a Alina trabalhava na minha casa, minha
mãe é excelente quando se trata de falar do filho amado
dela.
Veja bem, não sou um cão de briga, muito menos
agressivo, apenas sei como me defender e quando entrar
em uma briga. Não mexa comigo e está tudo bem.
Enquanto eu estiver tranquilo no meu canto, sou uma
ótima pessoa, mas se tentar entrar em uma briga comigo,
saiba que não estou disposto a perder.
É esse meu gênio que diminui meu índice de
amizade, mas para que caralho quero ter muitos amigos?
Se amizade fosse boa, todos teriam amigos. Às vezes, é
melhor só do que mal acompanhado, e esse é meu lema –
andar sozinho. Tenho sim alguns amigos e os considero
pra porra, temos o maior respeito uns pelos outros, mas
se em algum momento pisarem no meu calo, adeus
consideração, já não serve mais para mim.
— Andreo, preciso entrar. A Dandara está me
esperando e a minha bunda está doendo da picada que
tomei. — Ela toca na minha coxa e sorri com os olhos.
— Intimidade é uma merda, né, gata? Se sente tão à
vontade comigo que ainda tem coragem de falar da sua
bunda. Cadê aquela gatinha tímida? — Sorrio e a ouço rir
também.
Estamos em frente à casa dela, eu as trouxe de volta
mesmo que tenham dito não ser necessário. Eu não
perderia por nada essa oportunidade de ficar mais um
pouco com Alina, passamos muitos dias longe um do
outro.
— A partir do momento em que você me tocou, perdi
a vergonha, bad boy. — Estala a língua, provocante.
Eu a beijaria agora, muito, mas me controlo, já
passei dos limites ao masturbá-la naquele posto de saúde.
— Você e esse apelido ridículo, bravinha. — Toco na
ponta do nariz dela e aperto de leve.
— Olha quem fala sobre apelido. — Revira os olhos,
em seguida, ergue a mão e toca no meu rosto
carinhosamente. — Obrigada por hoje, você foi incrível.
Apesar de ser um maluco. — Solta uma risada
contagiante.
— Você ama que eu sei, tanto que adorou gozar nos
meus dedos e ficou mais excitada ainda quando eu os
levei à boca e provei o seu mel. Até já encontrei um novo
apelido para você. Que tal abelhinha?
O rosto dela fica vermelho e eu gargalho.
— Andreo! — repreende-me, risonha.
— E quando me perguntarem o porquê de ser
abelhinha — faço uma cara inocente —, vou dizer que é
por causa da sua boceta doce que eu amo provar.
A cada palavra minha, ela fica mais vermelha e
perplexa.
— Não tenho dúvidas de que você é enviado pelo
demônio. — Ofega, ao notar que estou levando a mão até
o meio das suas pernas. — Nem pense em me tocar aqui.
— Aperto meu maxilar de leve e ela aperta minha mão
entre suas pernas.
Ah, caralho, Alina me tornou uma merda de um
punheteiro, só de estar perto dela fico animadinho.
— Quanto mais me maltrata, mais doido fico por
você, sabia? — confesso, aproximando meu rosto do dela.
— Rá-rá, engraçadinho! — Me dá um selinho, mas eu
o torno algo mais profundo. Seus lábios se mexem com
anseio contra os meus, e eu aproveito a sua entrega para
passear minha mão por seu corpo.
Levo a mão ao seu rosto e beijo a sua boca, já
enfiando a minha língua dentro dela, que geme manhosa
me recebendo de boa vontade. Fico arrepiado ao sentir as
unhas afiadas de Alina arranhando a pele do meu
pescoço. Ela não me afeta somente ali, o meu pau fica
ligeiramente duro com um simples arranhão.
Eu a chamaria para se sentar em meu colo e esfregar
a boceta no pau até que um de nós gozasse mesmo que
fosse por baixo do tecido da roupa, contudo, estamos em
plena luz do dia e dando um show para vizinhos
fofoqueiros com essa nossa pegação.
Lembro-me da madrinha dela, que está sendo
adorável no momento, e me afasto de Alina mesmo
ouvindo o seu resmungo. Limpo a garganta e olho para a
porta entreaberta da casa dela.
— Como sou um garoto comportado e não quero sair
daqui queimado de água quente, é melhor você ir. E a
Dandara deve estar te esperando — digo, lambendo os
lábios e sorrindo ao ver sua careta.
— Fala como se a minha dinda fosse má. — Sorri,
ajeitando o cabelo.
— Não coloque palavras na minha boca, abelhinha.
— Pisco para ela, que fecha a expressão.
— Andreo. — Bufa.
— Me dê o seu número para que eu possa salvar —
peço, tirando meu celular do porta-luvas ao me lembrar
que não tive a oportunidade de pedir seu número
novamente.
Desbloqueio o meu celular e Alina anota o número
dela, quando vou ver como salvou, jogo a cabeça para
trás e gargalho.
— “Amor da sua vida”. Sério? — Arqueio a
sobrancelha, divertido.
— Sim, senhor. — Morde os lábios.
— Egocêntrica — zombo, vendo o brilho em seus
olhos cor de avelã esverdeado.
— Lide com a verdade, Andreo Mancini. Eu sou o
amor da sua vida, mas você ainda não se deu conta disso.
Saiba que não pode fugir dos seus sentimentos. — Ela
aponta para o meu coração e eu finjo não ter sido afetado.
O tom seguro que ela usa me deixa sem saber como
reagir. Vasculho o seu rosto com maçãs salientes, depois
encaro seus lábios rosados e carnudos e, por fim, no seu
longo cabelo escuro.
Merda. Ela é tão linda.
— Como diz isso com tanta segurança? — pergunto
ao quebrar o meu silêncio, por fim.
— Porque você se tornou o meu, Andreo. Estou
apaixonada por você, e talvez eu esteja me precipitando
em me abrir tão cedo, mas percebo que você sente o
mesmo por mim — declara-se e eu engulo em seco.
Fodeu. Não esperava por isso, nem sei como reagir.
O que me salva é o toque estridente do meu celular.
— Droga — murmuro, semicerrando os olhos.
Alina vira o rosto para a janela dela e eu visualizo o
número da minha mãe na tela. Preocupado com o que
pode ser, eu a atendo.
— Preciso que venha para a casa, estamos aqui em
Vale Santo, decidimos vir antes. E para a minha surpresa,
soube que já está enroscado com a sua namoradinha, a
cidade toda está comentando esse romancezinho.
— Algo em que eu possa ser útil para querer a minha
humilde presença? — Eu a ignoro, avaliando o silêncio de
Alina, que não demora muito para abrir a porta do carro e
sair.
— Apenas venha. Seu pai quer te ver e teremos um
hóspede por alguns dias.
Calado, observo Alina se distanciar do automóvel.
— Estou indo. — Solto um palavrão e Bárbara do
outro lado reclama, em seguida, desliga a chamada na
minha cara.
Sem que eu tenha tempo para chamar Alina, eu a
vejo entrar na casa e bater a porta. Com raiva, esmurro o
volante e pego o cigarro e o isqueiro no porta-luvas. Antes
de começar a fumar, arrasto o carro para longe dali em
alta velocidade. Não sei se um dia morro de tanto fumar
essa porcaria tóxica ou em um acidente, mas aposto na
opção dois.
Eu definitivamente fodi tudo.

Entro na mansão em passos largos, mas os reduzo


assim que avisto Eros, todo engomadinho e sentado no
sofá, dando altas gargalhadas com a minha mãe. Com o
cenho franzido, eu os observo com curiosidade. Assim que
notam a minha presença, eles me encaram e meu primo
sorri tão gentilmente que sinto meu estômago embrulhar.
— Esse é o nosso hóspede? — Com a sobrancelha
arqueada, eu os encaro com desdém.
Ela me disse que teríamos um hóspede, não imaginei
que fosse o sobrinho dela.
— Não seja mal-educado, filho. Dê boa tarde ao seu
primo, ele é nosso convidado de honra. — A primeira-
dama levanta-se com aquela falsa doçura e vem na minha
direção, e atrás dela vem Eros com um sorrisinho
arrogante.
— Ao menos finja que gosta de mim, Andreo. Assim
você me magoa, primo. — Ele leva a mão ao peito e eu
tenho vontade de socar a cara de pau dele.
— Não quero desentendimento aqui, crianças. —
Minha mãe arruma o cabelo que parece ter saído de um
comercial. Certamente já esteve em algum salão antes de
vir para cá.
— Pouco me importa quem você enfia dentro de
casa. Não sou dono daqui mesmo. — Ignoro-a, irritado.
Ela sabe que eu e Eros não somos bons amigos. — Cadê
o meu pai? — Alberto Mancini se tornou a minha
prioridade aqui, quando percebi que estava perto de
perdê-lo, aprendi a dar mais valor ao meu velho.
— Você e essa mania de odiar todo mundo. Deveria
ser sociável como o seu primo, ele vive mais feliz tendo
amigos, enquanto você só fica se arrastando atrás
daquela ninfa da empregada, ou aqueles pobretões da
oficina. — Alfineta, me olhando dos pés à cabeça e
revirando os olhos como se estivesse enojada.
Ouço uma risada, seguida por gargalhada.
Com os punhos fechados nas costas, espero que o
Eros termine a crise de riso, como se o que a querida tia
dele falasse fosse a maior piada. Imundo, não vale as
roupas caras que veste.
— Não tenho tempo para me espelhar nos outros,
prefiro ser o que sou, assim está ótimo. Agora, se me der
licença, vou ver o meu pai, melhor do que ficar aqui
ouvindo o seu chilique de sempre. — Passo a mão no meu
pescoço com impaciência.
Dando uma de ofendida, Bárbara ofega.
Rapidamente, o perfeitinho da família me enfrenta como
se eu fosse um bundão.
— Respeite a sua mãe, moleque — diz Eros,
entredentes.
— Não se meta onde não foi chamado, priminho. —
Toco no ombro dele e limpo o tecido de algodão da camisa
de manga como se tivesse uma sujeira ali. — Vá para a
cozinha preparar algum prato novo, afinal, é a única coisa
que sabe fazer. Porque quando está com a boca aberta só
consigo sentir o cheiro de merda saindo dela. — Pisco
para ele, que fica vermelho e segura meu pulso com raiva.
— Esse bosta não merece a mãe que tem. — Saem
faíscas dos seus olhos.
— Andreo, Eros, parem já! — exclama a matriarca,
furiosa.
Obediente, o otário me solta e se afasta, indo ficar
ao lado da titia, aumentando o ego dela. Porque é disso
que a sra. Mancini gosta, de mandar nos outros e ser
obedecida.
— Estou saindo, aproveitem a companhia um do
outro. Vocês se merecem. — Dou as costas para eles,
pronto para subir a escada, mas paro ao ouvir meu nome
ser chamado com ira.
— Andreo. — Olho para trás e vejo Bárbara com
aquele olhar de prepotência. — Amanhã alguns amigos
virão comemorar a volta do seu pai, será um jantar apenas
para pessoas importantes. O seu primo vai preparar tudo,
espero que dessa vez você não mate o seu pai de vez e
nem pense em arrumar uma desculpa para não estar
presente.
Aperto os olhos e respiro profundamente.
Essa porra de novo? Qual a necessidade de ela
querer se exibir tanto com o esposo nessa situação?
Seja paciente, Andreo. Apenas pense no seu pai, ele
saiu do hospital faz pouco tempo, precisa de paz.
Sem dar uma resposta a ela, subo a escada em
passos largos e atravesso o corredor que dá para o quarto
dos meus pais. Sem demora, bato à porta de madeira e
escuto um “entre” do meu pai. Dentro do quarto, quando o
vejo deitado na cama, uma sensação ruim bate no meu
peito. Nunca o vi assim, tão frágil.
— Soube que quer me ver. — Aproximo-me mais da
cama e logo avisto uma pasta transparente com alguns
papéis dentro ao seu lado no colchão. Mesmo curioso, não
o questiono.
— Sim. Por onde esteve? — inquire, com um
pequeno sorriso.
— Com a Alina. — Passo a mão na nuca ao ouvir a
sua risada baixa.
— Você gosta mesmo dessa menina, não é? Nunca
te vi tanto tempo com uma só mulher, e muito menos
correndo atrás dela. Ela mexeu com você como nenhuma
outra foi capaz. — Meu pai sorri abertamente, como se
estivesse orgulhoso.
— Pai... — Pigarreio ao vê-lo me pedir silêncio com
um gesto de mão.
— Não acho que isso seja ruim, filho, fico feliz em
saber que alguém como Alina está te conquistando.
Aquela garota é um tesouro, você é um rapaz de sorte.
Meu coração acelera com as palavras dele, mas
disfarço ao me sentar na poltrona que fica perto da cama.
— Ainda não sei o que sinto por ela, mas é algo bom.
Quando estou com Alina me sinto vivo, em paz —
confesso e percebo o brilho nos olhos dele.
— Você se apaixonou, só precisa reconhecer esse
sentimento que tem por ela. — Ele se ajeita na cama e
pega a pasta ao seu lado.
— Como vou reconhecer algo que nunca senti por
alguém? Nem sei como é estar apaixonado. — Faço
graça, mas por dentro estou sendo esmagado por milhares
de pensamentos.
— A gente sempre sabe quando está amando
alguém, filho. Não sou eu que vou te ensinar a descobrir
isso. — Pisca para mim e eu engulo a saliva que desce
rasgando na minha garganta. — Mas saiba que é notório o
seu encanto pela menina, e prova disso é você ter
esmurrado uma pessoa por ela e ainda a ter tirado da
festa na frente de todos. Eu nunca o vi daquela maneira
por uma garota.
— Você tem razão. Mas tudo o que fiz foi porque me
importo com ela. — Desvio meu olhar para a parede.
— E por se importar com ela que a trará amanhã no
jantar como a sua convidada, para se retratar por aquele
dia que a coitadinha foi humilhada.
Quase me engasgo ao assimilar suas palavras.
— O senhor está se ouvindo? — pergunto,
arregalando os olhos.
Ele meneia a cabeça com o semblante sério.
— Estou sim, mas não te chamei aqui para isso. —
Então abre a pasta e tira alguns documentos.
— O que é isso? — por fim pergunto, indo até a
cama e me sentando na beirada do colchão.
— A sua herança. Aqui nesses papéis tem a herança
que os meus pais deixaram para você quando
completasse vinte anos. Mas como você era muito rebelde
naquela época, decidi segurar até que realmente
merecesse recebê-la, e depois do que aconteceu comigo,
filho — olha-me com os olhos se enchendo de lágrimas —,
sei que merece mais do que isso. Nunca te vi tão
empenhado em me ver melhorar. Você ficou ao meu lado
no pior momento da minha vida, estou orgulhoso, por isso
quero que pegue este documento.
Fico boquiaberto quando estende o documento para
mim.
— Está falando sério? — Arqueio a sobrancelha.
— Sim, Andreo. Leia o que está escrito. Os seus
avós queriam deixar algo para você, já que era o único
neto deles, mas para não querer te estragar, esperei a
hora certa. Sei que ela já chegou — revela, com a voz
completamente firme.
— Por que isso agora? Se foi por ter ficado ao seu
lado, não precisa, pai, eu fiz porque me importo com você.
— Suspiro, sem ter coragem de ler o tal documento, só
passeio rapidamente os olhos por meu nome.
— Não pense assim. Só estou te dando o que já é
seu. É a sua herança e está na hora de você saber que é
dono de muitas propriedades em Monte Verde, sem contar
uma enorme quantia no banco. — Empalideço com as
declarações. — Nunca toquei nas suas coisas, não no
dinheiro, mas tudo o que tenho e cuido são seu. A maioria
das casas e prédios alugados estão em seu nome, filho, e
agora que sabe disso, te passo o poder de decidir o que
fazer com os seus bens.
Estou estarrecido.
— A forma como está falando, parece até que vai
morrer, ou algo assim. Você não vai, não é? — Faço uma
careta dolorosa.
Ele nega.
— Ainda preciso ver os meus netos, não demore
muito para providenciá-los — diz, bem-humorado, mas eu
não consigo achar graça em um momento de tensão.
— Eu não quero esse dinheiro, pai. A única coisa
que quis na minha vida foi fazer a minha faculdade de
Engenharia Mecânica e abrir a minha própria empresa.
Depois expandir oficinas com a minha marca, mas a minha
mãe, todos esses anos, me impediu de viver o que eu
sempre desejei, só por capricho. — Umedeço os lábios
ressecados.
— Posso ser sincero? — Me olha com seriedade.
— Sempre deve.
— Não quero que esse dinheiro caia em mãos
erradas. Ele é seu, somente seu. E não foi seus avós que
te deixaram. Dizendo que foram eles, achei que você
aceitaria, mas acho que não te conheço tão bem, filho —
resmunga, mas sorri. — Você sabe que eu sempre fui rico,
então, quando eles morreram, me deixaram muito bem de
vida, tanto que se eu quisesse poderia estar agora no
Havaí, tomando um solzinho daqueles sem me preocupar
com nada. Mas você sabe, né, gosto de ser um
aventureiro, tanto que me tornei prefeito e estou aqui.
Acho que você tem a quem puxar, veja só, temos tudo,
mesmo assim desejamos trazer um pouco de adrenalina
para nossas vidas. — Gargalha e eu acabo rindo também.
— Concordo com tudo, mas do que você tem medo?
— Avalio-o e ele se remexe na cama e fica pensativo.
— Por ser meu único filho, vou deixar tudo que é
meu para você. Tudo. Não que eu vá deixar a sua mãe
desamparada, caso eu vá primeiro do que ela. Mas se por
acaso eu vier a faltar, não te deixo desamparado. Eu
conheço a Bárbara e sei que te deixaria em maus lençóis,
mesmo que tenha sido ela a te criar.
Estranho o seu raciocino.
— Não tenho dúvidas disso, mas por que fala nela
ter me criado, se eram as babás que faziam o trabalho
dela?
O seu rosto de repente fica pálido.
— É maneira de falar, você sabe. — Dá de ombros.
— Mesmo que a sua mãe seja tão fria às vezes, ela te
ama.
Eu tenho minhas dúvidas, penso em dizer, mas fico
calado.
— Pai, posso pensar sobre isso? — Ergo o
documento e ele assente.
— Pense, mas com ele em mãos. Não dê a ninguém
e nem fale dele, muito menos para a sua mãe — pede ao
segurar na minha mão, me deixando assustado com o seu
pedido.
— O.k., pai.
Por que ele quer me passar toda a sua fortuna sem
que a esposa saiba? O que o impede de deixar claro que
eu sou o seu herdeiro?
Tirando os pensamentos ruins da cabeça, sorrio para
ele.
— O que você quer convidando a Alina para o jantar?
Está querendo conhecer direito a nora, é? — pergunto,
com um sorriso de lado.
Ele sorri, mesmo com o rosto ainda abatido.
— Nora? Já estamos nesse nível? Não era você que
não sabia o que queria minutos atrás? — O seu tom
brincalhão me faz gargalhar.
— Será que a minha mãe teria um surto se eu
convidasse a Alina para o jantar e a apresentasse como
minha namorada na frente de todos? — sondo-o, notando
que está se divertindo com a nossa conversa.
— Por favor, deixe uma ambulância na frente de
casa, mas não se esqueça de trazer a sua garota, ela é
bem-vinda. E o jantar não vai ser como aquele exagerado,
serão alguns amigos da prefeitura que querem fazer uma
visita.
Alguém bate à porta, que esqueci de fechar.
Paralisado, olho para ver quem é e fico aliviado ao
encontrar Simone e não pessoas indesejadas.
— Senhores, me perdoem, mas a sra. Mancini me
pediu para trazer o remédio do senhor prefeito, já está na
hora — diz a mulher sem querer olhar em nossos olhos.
Desconfiado, enfio a pasta dentro da minha jaqueta.
— Entre, Simone. — Pigarreio ao me levantar. — Pai,
estou de saída, depois nos falamos. Qualquer coisa,
estarei no meu quarto.
— Pense no que te falei — pede.
Eu assinto com um meneio de cabeça. Passo por
Simone e fecho os punhos, imaginando até que parte da
conversa ela chegou a ouvir.
Minha madrinha saiu bem cedo para ir trabalhar e
deixou muitas recomendações. A coitadinha ficou
preocupada comigo por causa de ontem, e hoje pela
manhã, estava tão traumatizada que mediu a minha
temperatura e quando viu que eu estava sem febre e bem,
ficou mais aliviada e logo se foi.
Bom, realmente estou bem, depois da injeção que
tomei a febre se foi, até mesmo a moleza no corpo. E o
antibiótico receitado que estou tomando também está
ajudando na minha recuperação.
— Você está me ouvindo, amiga? — Sou cutucada na
barriga e fico sem graça ao encarar Maria Fernanda.
Minha amiga veio me visitar, não demorou muito para
que ela aparecesse. Depois de uns minutinhos que minha
madrinha tinha saído, ela chegou para passar o dia
comigo. Como ela conseguiu um emprego no mercadinho
do centro, não pôde vir me ver antes.
Já conversamos muito, contei a ela o que houve
entre mim e Andreo aqui em casa e no banheiro do posto
médico. A minha amiga só ficou surpresa com o fato de eu
quase ter sido pega pela Dandara, porque o
acontecimento do banheiro já está se espalhando pela
cidade. Estão dizendo que eu e Andreo estamos
namorando, e não termina aí, falam também que ele me
engravidou por isso estava comigo no posto de saúde.
— Desculpa, Fê, estou meio distraída. O que você
disse? — Dou um sorriso fraco e ela arqueia a
sobrancelha.
— Nossa, você está bem longe mesmo, hein? — Ela
ri e eu concordo, envergonhada.
— Estou sim. Depois do que você me contou, fiquei
muito pensativa. — Afago o rosto, irritada com a mentira
desse povo. Aposto que logo vai parar nos ouvidos da
Dandara, tenho certeza de que Simone vai fazer questão
de contar, afinal, é a maior fofoqueira de todas.
— Imagine eu? Mas como eu sei que esse povo fala
demais, vim pessoalmente me informar, porque eu tenho
certeza de que a minha amiga não me ocultaria algo tão
importante. Fora que você ainda é virgem, seria
impossível. — Bufa, tão revoltada quanto eu.
— E o que você trouxe para mim, mesmo? Só ouvi
essa parte, desculpe. — Aperto os lábios com os dedos e
dou uma risadinha.
— Uma cartela de anticoncepcional. — Meu rosto
arde com a sua revelação. — Com aquele boy lindo que
você tem, sei que vocês não vão demorar para descer no
play e brincar. — Pisca para mim e eu me engasgo com a
própria saliva.
— Maria Fernanda! — digo, ao me recompor da
tosse.
— O quê? Pelo que você me disse, o Andreo é muito
quente e fogoso. E você está adorando isso, então é
melhor se prevenir antes que aconteça algo mais entre
vocês, já comece tomar esse anticoncepcional hoje. —
Estende uma cartela para mim. — É mais fácil você tomar
o anticoncepcional agora do que transar com o Andreo e
não estar prevenida. — Pior que ela tem razão, nem vou
estender muito o assunto, nem debater. Minha amiga tem
relações há alguns anos, sabe do que está falando.
— Verdade, mais tarde começo a tomar. — Fico um
pouco aliviada.
— Toma agora, vai que o seu namorado te chame
para algum lugar, tem que estar preparada — incentiva
animadamente, batendo palmas. Essa maluquinha.
Namorado. Bem que eu queria que ele me pedisse
em namoro, mas do jeito que as coisas andam, meio
difícil. A mãe dele tem muito poder sob Andreo, mesmo
que ele se negue a seguir as ordens dela. Aquela senhora
sabe como segurar o filho com as garras venenosas dela.
Ontem fiquei chateada e saí do carro, mas não foi com
ele, e com o fato de ter ouvido a megera falar de mim
daquela maneira.
Depois ele nem me ligou ou enviou uma mensagem.
— Não somos namorados, Fê — murmuro,
levantando-me do sofá, levando a cartela de
anticoncepcional.
— Ainda, amiga, ainda! Que tipo de ficante fica com
ciúme? Você não disse que ele ficou enciumado quando o
médico bonitão estava te examinando? — Balanço a
cabeça. — Então, boba, não vai demorar nada para vocês
terem um compromisso! Ele sabe que você é uma moça de
família, não vai querer te perder.
— Espero, porque eu já me declarei, falei que estava
apaixonada. — Mordo os lábios e fecho os olhos.
Essa parte não tinha comentado com ela antes. Fico
assustada com a sua reação ao se levantar e dar pulinhos
de comemoração antes de me abraçar.
— Alina... e o que ele disse?! — pergunta, com os
olhos arregalados.
— O que ele não disse, né? — Queria muito que ele
tivesse se declarado também. — A megera da mãe dele
ligou no exato momento e atrapalhou tudo. O Andreo não
disse nada e eu também não esperei, só ouvir a voz
daquela senhora me deixou desanimada, então saí do
carro...
— Ei, amiga, pare de ser boba! Você não era assim,
tão molenga. Mostre as garras também. — Ela faz uma
careta. — É isso que ela quer, te ver recuar, abrir mão do
filho dela, então pare de baixar a cabeça para aquela
bruxa e lute pelo seu amor. Não vai ser a primeira-dama a
acabar com o que sentem porque não os apoia. Se o
Andreo não quisesse nada com você, nem teria te
procurado quando voltou de Monte Verde. Ele veio aqui,
no nosso bairro que não é nada elegante, te ver e ainda
cuidou de você. — Ela olha bem em meus olhos, a firmeza
em sua voz me fortalece.
— Você tem razão, Maria Fernanda. Se ele não
gostasse de mim, não insistiria, e olha que Andreo corre
atrás de mim há um tempinho, e só trocamos alguns beijos
com carícias. — Suspiro ao lembrar do toque dele em meu
corpo.
— Exatamente. — Fica satisfeita com o meu
reconhecimento.
— Vou tomar isso aqui, já volto. — Balanço no ar o
contraceptivo. Retorno e encontro minha amiga distraída
no celular, mas ao notar a minha presença ela sorri.
— Amiga, lembra do Mateus? — Encara-me com os
olhos brilhando. Balanço a cabeça em negativa. — Então,
ele morava na minha rua, mas tem quatro anos que foi
morar em Monte Verde por causa do emprego. Na semana
passada, eu o reencontrei no bar... Afs, o Mateus ficou tão
gato, e agora está me dando mole — diz, risonha e
mordendo os lábios ao voltar a olhar para o celular.
— Fazia um tempinho que não te via tão animada
assim. — De repente, fico pensativa ao avistar meu
celular no canto do sofá, imaginando o que Andreo deve
estar fazendo uma hora dessas. Daqui a pouco é meio-dia
e ainda não nos falamos.
Não posso só deixar ele me procurar, não é? O
coitadinho já correu muito atrás e eu só lhe dei foras, um
atrás do outro, e mesmo assim ele se manteve firme.
Acho que ligarei para ele.
— Se importa se eu for embora antes do combinado?
Saio dos meus pensamentos quando Maria Fernanda
volta a falar.
— Claro que não, Fê. Você veio me ver, é o que
importa para mim. E fico feliz que esteja gostando de
alguém. — Sorrio abertamente.
— Ah, amiga, não é que eu esteja gostando dele. A
gente vai só curtir mesmo, dar uns beijinhos, paquerar,
transar. — A sua risada soa divertida. — O Mateus me
chamou para sair com ele, então quero passar no salão da
Gabriele antes, preciso fazer as unhas e o cabelo.
Rapidamente olho para as minhas unhas e agradeço
por eu mesma arrumá-las. Desde os meus quatorze anos
aprendi a me virar, porque não seria sempre que teria
dinheiro para a manicure. Faço minhas próprias unhas,
cabelo e maquiagem - que aprendi com tutoriais na
internet.
— Ah, te amo. Você é perfeita. — Ela se aproxima e
me abraça. — E você, trate de dar logo para o seu boy.
Não adianta ficar se guardando, já que você tem certeza
de que ele é o cara certo para tirar a sua virgindade! E
esqueça a mãe dele, sabemos que ela não será uma boa
sogra, não adianta forçar a barra com gente que é ruim.
Aproveite o filhão dela que está doido por você. Isso que
importa, o.k.? — aconselha e eu assinto depois de ela se
afastar.
— Pode deixar, Fê. — Dou uma risada. Ao vê-la
seguir na direção da porta, penso em acompanhá-la, mas
o meu celular toca.
Prontamente o pego e vejo o nome de Andreo. Com o
coração batendo em disparada, sorrio como se eu tivesse
recebido a melhor notícia da minha vida e não demoro
nada para atendê-lo.
Ele também estava pensando em mim. Estávamos
um pensando no outro.
— Vou bater a porta, mas depois a tranque, o.k.? —
Maria Fernanda pisca para mim maliciosa antes de sair
porta afora.
— Está com visita?
Vibro com a voz máscula e rouca dele, que soa
curiosa.
— Não mais. Era a Maria Fernanda — digo, indo até
a porta e a trancando com a chave.
— Como está?
Sento-me no sofá e solto um suspiro baixinho.
Droga, estou com os quatro pneus arriados por ele.
— Bem, não tenho mais febre, me sinto revigorada. E
você? — Mexo no meu cabelo, um pouco nervosa.
— Meio estressado com algumas coisas por aqui,
mas nada de mais — diz, meio distante.
— Quer conversar sobre isso? Pode confiar em mim,
só não sei se sou boa em dar conselhos. — Sorrio ao
ouvir a sua risadinha provocadora.
— Prefiro não dividir o meu inferno com ninguém,
abelhinha. Pode acreditar, você ficaria surtada com a
metade dos meus problemas.
E não é que ele fez o apelido pegar? Mesmo
odiando, não consigo parar de sorrir.
Sei que estamos bem, mas a nossa conversa está
meio distante e sei que o motivo disso foi por eu ter me
aberto demais e saído sem dar um tempo para ele.
Queremos esquecer, mas é inevitável.
— Tudo bem, você é quem sabe. Estarei sempre aqui
— falo, mordendo a ponta do meu dedo indicador. —
Andreo... Me desculpe por ontem, fiquei com raiva de
ouvir a sua mãe, sabe como é... Fico irritada com a
maneira como ela se refere a mim — confesso, com a voz
soando magoada.
— Não precisa pedir desculpas, Alina, eu conheço a
mãe que tenho — diz, para o meu alívio. Estamos bem,
amém. — Sai comigo esta noite?
Perco o raciocínio com o seu convite inesperado.
— Essa noite? — pergunto, abobalhada.
O amor deixa as pessoas tão bobas assim?
— Sim. Se aceitar, te busco às sete.
Eu pularia de alegria e soltaria um gritinho de vitória
por saber que a primeira-dama não conseguiu nos afetar,
mas seria infantil da minha parte, então apenas respiro
fundo e sorrio. Penso em falar sobre a fofoca que estão
espalhando sobre nós, mas mordo a língua, não quero
estragar o clima. Uma hora ou outra ele vai ficar sabendo,
ou já sabe e não quer dizer nada.
— Aceito sim, fico te esperando. — Mordo o lábio,
ainda sorrindo.
— Assim que se fala, gata. — Seu tom soa sexy.
— O que visto para ocasião? — Arqueio a
sobrancelha.
— Se não fôssemos ficar em público, te pediria para
não vestir nada, porque pelada você é um sonho,
abelhinha. — Estala a língua e eu dou risada. — Iremos
jantar, então fica a seu critério.
— O.k., vou te esperar ansiosamente. — Umedeço os
lábios.
— Até mais tarde, gatinha. Um beijo na boca e na
boceta.
Rio da sua ousadia.
— Você é impossível. Até mais, Andreo.
Eu o ouço gargalhar antes de encerrarmos a ligação.
Será que hoje teremos a nossa primeira vez?
Fico tão entusiasmada com a ligação dele, que corro
para o meu quarto para separar a roupa que usarei esta
noite.
— Madrinha, estou indo e não sei que horas chego,
o.k.? Mas estou levando a chave para que não precise
abrir a porta para mim — digo, ao terminar de ver a
mensagem de Andreo no meu celular. Ele já está me
esperando lá fora.
— Tá bom, filha, se cuide. E se for dormir fora, me
avise para que eu não fique preocupada — pede.
— Pode deixar, aviso sim. — Envergonhada, sorrio e
dou as costas para ela.
— Alina, sei que você e o Andreo estão muito
envolvidos, então peço que seja cuidadosa... Você sabe,
se protejam. — Ela ficou sabendo dos boatos, mas por
sorte conhece a verdade.
— Sim, senhora. Eu vou... Até mais tarde. — Arrumo
minha bolsa no ombro e saio de casa.
Como imaginei, foi a Simone quem foi falar sobre a
minha suposta gravidez. Dandara começou a rir enquanto
me contava o que estava acontecendo. Por mais que fosse
uma invenção do povo, fiquei um pouco irritada com tanta
mentira, mas relaxei porque sei que quando os meses
forem passando, não irão ver barriga alguma crescendo.
Minha prioridade agora é conseguir um emprego
digno e voltar a juntar o dinheiro para o meu curso técnico
de enfermagem, ou posso optar em fazer o ENEM para
conseguir entrar em alguma faculdade, afinal, sou nova e
posso muito bem cursar administração se tirar uma nota
boa. O curso é uma das minhas opções, caso eu vá fazer
a prova para concorrer a uma vaga na faculdade.
Do lado de fora, encontro Andreo encostado no carro
dele com os braços cruzados e um sorriso de canto bem
charmoso, chego a suspirar apaixonada com a visão que
tenho da sua beleza e do olhar que me dá dos pés à
cabeça.
Sorridente, caminho em sua direção sem tirar os
olhos dele, que se mostra tão ansioso quanto eu.
Enquanto ele usa uma jaqueta de couro preta bem
estilosa, calça jeans e botas pretas, eu estou com uma
saia de couro preta que valoriza as minhas pernas,
sandálias de salto na mesma cor e uma blusa de manga
longa cor vinho com recorte nos ombros. Pode até parecer
que combinamos de nos vestir assim, mas isso não
aconteceu.
— Acho que morri e estou no céu. Que visão
maravilhosa é essa. — Leva a mão ao coração de um jeito
dramático antes de sorrir.
Reviro os olhos, sorrindo de orelha a orelha.
— Palhaço. — Aproximo-me dele e toco em seu
braço.
— Gostosa.
Ele me pega desprevenida ao agarrar minha bunda e
me puxar contra ele. Quase tropeço, mas o safado passa
o braço ao redor da minha cintura a tempo.
Nossa! Como Andreo está cheiroso. Como pode ser
tão cheiroso e gostoso assim? Afs, bendita tentação.
— Não vai me dizer para onde estamos indo? Estou
curiosa, sr. Andreo. — Deslizo minha mão por seu braço
até chegar ao seu ombro.
Nossos rostos ficam tão próximos que conseguimos
sentir a respiração do outro.
— Se eu te disser vai querer me matar ou desistir —
diz, massageando a minha bunda descaradamente.
— Não seja cruel. — Faço beicinho para ele, que em
vez de me responder, me beija. Passo os braços ao redor
do seu pescoço, enquanto ele leva a outra mão à minha
bunda e aprofunda o nosso beijo. Gemendo na sua boca,
sinto os seus lábios quentes e viciantes contra os meus.
Mesmo estando em frente à minha casa no maior amasso,
não consigo resistir a essa química inegável que paira
sobre nós.
— Vamos logo antes que eu mude de ideia e te leve
para outro lugar, gatinha. — Sua voz sai em um gemido
frustrado assim que para de me beijar.
— Vamos. — Instintivamente, levo o polegar à sua
boca e limpo seus lábios.
— Você está linda, Alina — elogia, me olhando bem
nos olhos.
— Você também está. — Entrelaço nossas mãos.
— Se eu te disser para onde estou te levando,
promete não surtar? É que eu não quero mentir para você.
— Fica sério e eu meneio a cabeça.
— Prefiro mil vezes que me diga a verdade do que
minta para mim. — Eu sei que às vezes a verdade dói,
mas prefiro que ele seja sincero do que eu ser pega de
surpresa.
— Vão fazer um jantar na minha casa, e eu vou te
levar como minha acompanhante. Antes que pergunte,
você é a convidada do meu pai e a minha, ninguém vai
ousar dizer o contrário.
Se eu não estivesse nos braços dele, com certeza
cairia para trás.
Na casa dele? Eu não sabia, quer dizer, Dandara
certamente teria comentado quando eu disse a ela que
Andreo havia me convidado para um encontro.
O prefeito sabe sobre nós. Uau. Não sei se fico com
medo ou feliz.
— Eu... eu nem sei o que dizer. — Aperto os olhos
ao me lembrar do desastre que foi da última vez. E olha
que eu nem era uma convidada.
Bárbara tem que aprender a lidar com a sua
presença. Você e o filho dela estão juntos, diz meu
subconsciente.
— Mas quero deixar claro que você não é obrigada.
Se não quiser, está tudo bem.
Encaro-o com um pequeno sorriso e acaricio os seus
dedos com os meus.
— Eu sou uma convidada especial, não é? É claro
que vou. — Dou um selinho após concordar.
— Então vamos logo. — Animado, ele se afasta do
carro.
Sou conduzida por Andreo até o outro lado do carro
dele. Ele abre a porta para mim e eu entro e me acomodo
no banco, em seguida ele faz o mesmo e leva o automóvel
caríssimo e chamativo para longe dali.

— Frank, coloque o meu carro na garagem, por favor


— pede Andreo, jogando as chaves do carro para o
segurança.
Chegamos à mansão Mancini em poucos minutos.
Com o coração acelerado, olho para o casarão que deve
valer milhões, com certeza só com o salário de um
prefeito não daria para fazer isso tudo, mas todos sabem
que ele sempre foi muito rico. Eu o admiro, pois ele tem
dinheiro suficiente para viver uma vida de luxo pelo resto
da vida, mas decidiu se dedicar à política pelo bem da
cidade. Todos aqui reconhecem o esforço e trabalho bem-
feito que ele vem fazendo.
— Vem. — Sou tirada dos meus pensamentos por
Andreo.
Ele segura a minha mão com firmeza, ainda que eu
esteja atordoada, consigo sentir a segurança que passa
através do seu toque.
Respiro profundamente ao subir os pequenos
degraus até chegar à enorme porta elegante. Andreo a
empurra e entramos. Fico boquiaberta ao me deparar com
Simone usando uniforme e servindo uma roda de quatro
homens daqui da cidade, todos da prefeitura, com o
prefeito, que está sorrindo e com uma fisionomia ótima.
Quando Simone se vira e me vê ali, quase derruba a
bandeja. Seus olhos invejosos caem sobre as nossas
mãos entrelaçadas, a filhote de cobra nem disfarça o
despeito.
— Boa noite, senhores — diz Andreo, sem largar a
minha mão, atraindo a atenção daqueles homens.
Pode parecer loucura, mas quando o pai dele olha
em nossa direção, noto a sombra do orgulho no seu olhar.
— Boa noite, filho, Alina. — O sr. Alberto sorri
gentilmente antes de franzir o cenho ao perceber que a
Simone está ali parada, nos encarando com a maior cara
de azeda.
Vaca invejosa. Chupa essa!
— Boa noite, sr. Alberto. Senhores — cumprimento-
os educadamente, mesmo que meu coração esteja quase
saindo pela boca.
— Simone, pode ir. Se precisarmos de algo, nós te
chamamos — fala Andreo, tomando uma atitude antes do
seu pai.
A cascavel se vira e sai da sala.
Os convidados dos Mancini me cumprimentam
gentilmente, e quando vamos ao encontro deles me sinto
acolhida, ainda mais por ver que Andreo não me larga em
momento algum. Pelo contrário, quando o seu pai nos
pede para nos sentarmos com eles, Andreo me puxa para
o sofá e passa o braço ao redor da minha cintura. Mesmo
envergonha com os olhares curiosos do sr. Alberto em
nossa direção, eu tento manter a calma.
Os minutos vão passando e nada da cobra mãe
aparecer na sala. Eu agradeço por ela não estar aqui
ainda, quanto mais demorar, melhor.
— Você está nervosa? — pergunta Andreo, com a
boca perto do meu ouvido. Nego com um meneio de
cabeça. — Os seus dedos estão gelados — murmura e dá
uma risadinha, eu nem tinha percebido que a sua mão
estava entrelaçada à minha.
— Como não ficar? Esses homens só falam de coisas
que não entendo, quer dizer, não é muito do meu
interesse. E o seu pai fica nos encarando — cochicho,
com o rosto queimando.
Eu estaria sendo uma péssima pessoa se achasse
tudo isso muito entediante? O assunto da conversa deles
não é interessante para mim, muito longe disso.
Olho para o prefeito e ele sorri ao virar em nossa
direção, ele não para de fazer isso tem uns minutos.
— Ele gosta de nos ver juntos, apenas isso. — A sua
resposta é simples.
O que será que está passando pela cabeça dele? É
um mistério para mim, mas pelo jeito Andreo sabe, pois
pisca para o pai e ambos sorriem.
Estou prestes a me manifestar quando um barulho de
saltos se aproxima. Notando que fico enrijecida, Andreo
massageia meus dedos e eu vou relaxando aos poucos.
— Boa noite novamente, vejo que chegou mais uma
convidada.
Disfarçando, sorrio assim que a primeira-dama para
na nossa frente e põe a mão na cintura. Seus olhos
transmitem uma revolta disfarçada, mas ela se contém,
certamente por não estarmos sozinhos.
— Alina, querida, não imaginei que fosse você. —
Ela me encara fingindo surpresa ao me avaliar dos pés à
cabeça, sequer olha para os convidados ou o esposo, o
seu foco sou eu e o filho.
— Boa noite, senhora. Sim, sou eu — eu a
cumprimento para não parecer mal-educada.
— Ah, minha querida, quando entrei na sala e te vi
de costas, nunca poderia imaginar que fosse você — diz,
meio venenosa e sorrindo com doçura.
— Querida, a mesa já está pronta? Meus amigos não
podem demorar muito, eles têm a vida deles — interfere
Alberto, se levantando e indo até a esposa.
— Vim chamar vocês para isso, meu bem. Eu só não
imaginei que nosso filho lindo traria uma convidada
especial, a nossa ex-empregada, a faxineira. — Me encara
desafiadoramente.
Ex-empregada. A faxineira. Com essas palavras ela
consegue me nocautear de várias formas diferentes. Não
me envergonho do meu antigo trabalho, mas a
necessidade dela em me humilhar faz com que eu fique
com raiva.
Se controle, Alina.
Você não vai cair nas provocações dela.
Andreo se levanta e eu faço o mesmo. Sob o olhar
perigoso da mãe, ele me abraça pela cintura e beija o meu
rosto.
— Pois agora está vendo que eu trouxe a minha
namorada para jantar.
Perco todo meu equilíbrio ao ouvir “minha namorada”
saindo dos lábios dele, já a sra. Mancini empalidece e
quase cai para trás com a novidade quem nem eu sabia.
— Namorada? — Ela ri desdenhosa, mas está
nervosa, tanto que esquece que temos plateia e fecha os
punhos.
— Sim, mãe, a Alina é a minha namorada e vai ficar
com a gente hoje, amanhã e depois. — Ele se mantém
firme e não me solta para nada.
— Hum-hum, vamos para a sala de jantar? — Alberto
interrompe a disputa entre mãe e filho.
Minha namorada. Ele disse que sou a namorada dele
sem nem ao menos me pedir em namoro, sequer
correspondeu a minha declaração ontem e agora está
dizendo que somos namorados? Espero que não seja uma
provocação de egos entre ele e a bruxa má, porque ficarei
imensamente chateada por ser usada.
— Vamos. Espero que todos saibam usar os talheres
direito, porque para o nosso prato principal será
necessário ter etiqueta — diz Bárbara, voltando a sua
postura elegante, mas sendo muito mais desnecessária.
Envergonhada e quase querendo chorar de raiva,
aperto o braço de Andreo. Disfarçadamente, olho para os
convidados e eles estão me observando com pena e eu
não gosto que ninguém sinta pena de mim.
— Não se preocupe, sogrinha, a sua nora é muito
inteligente! Fiz um curso gratuito na internet de etiqueta,
sei como usar tudo direitinho. — Mesmo sendo uma baita
mentira, não baixo a cabeça para ela.
Andreo se engasga e começa a rir ao ver a mãe ficar
afetada com a minha resposta.
Não vou passar vergonha com esse tal prato chique,
sou uma boa observadora e aprendo rápido.
Sem reação, Bárbara entrelaça o braço no do marido,
que chama os convidados para a sala de jantar. Quando
ficamos eu e Andreo para trás, ele me agarra pela cintura
e beija o meu rosto.
— Você a deixou sem palavras, gatinha.
Você que me deixou, ainda não esqueci dessa
história de namoro, penso em dizer, mas fico calada e
logo seguimos para a mesa.
É uma porra inacreditável, mas Alina, a garota que
Bárbara Mancini tem “alergia” só de ouvir falar, está
reunida conosco na mesa. E o mais impressionante é que
a minha mãe, por mais que tenha a alfinetado alguns
minutos atrás, não impôs a presença dela. Normalmente
era o que ela faria, nem mesmo se importaria com os
convidados.
Estou surpreso com a sua falsa aceitação em ter a
sua ex-funcionária comendo com a gente, ainda mais
quando eu disse na frente de todos que estávamos
namorando.
Essa história de namoro vai render, sinto isso.
Confesso que falei naquele momento o que me veio na
cabeça, fui impulsivo em assumir um relacionamento com
Alina sendo que nem mesmo perguntei a ela. Mesmo que
não tenha me desmentido, sei que vai me questionar
quando tiver chance, e eu não sei se estou pronto para me
explicar.
— Se não quiser comer, não precisa, porque eu não
vou — falo no ouvido de Alina, que encara o prato à sua
frente com a expressão de quem está prestes a vomitar.
— Quem come isso? Isso tem lá na minha rua. Eu
não vou comer uma lesma, Andreo. — Sua voz soa
baixinha para que só eu possa ouvir. Seguro a risada com
a sua comparação, porque sei que não é por maldade. —
Me desculpe, mas isso não vai descer. Se fosse uma
carne, um frango...
— Também não gosto de escargot. — Eu a
tranquilizo, sentindo-a relaxar ao meu lado.
Por mais que para a primeira-dama este seja um
prato sofisticado, não fomos somente a Alina e eu que não
gostamos. Alguns convidados disfarçam muito bem, mas é
notória a insatisfação no rosto deles com o prato de
entrada. Meu pai, coitado, disfarça a todo instante e
mastiga o escargot para não fazer desfeita, mas sei que
ele também não é muito chegado. Enquanto minha mãe
come com a maior elegância, assim como o patife do
Eros, que está à minha esquerda, acompanhando a tia
como um cãozinho. Depois que ele saiu da cozinha, se
reuniu com a gente para comer. A linguaruda da Simone
que nos serviu, não sabia se olhava Alina ou fazia o
trabalho. Ela quase derrubou a bandeja no meu colo com
a falta de atenção.
— Ela realmente está comendo? — indaga minha
acompanhante, nauseada.
— Uhum, está sim — confirmo, reparando que os
convidados estão insatisfeitos com o prato, assim como
Alina. Eles pedem socorro com o olhar e eu gostaria muito
de rir, mas me contenho para não envergonhar o meu pai.
— Querida, não sabe usar os talheres? — pergunta a
minha mãe antes de sorrir educadamente e nos encarar
como se realmente estivesse preocupada.
— Sei sim, senhora, mas esse prato me lembram as
lesmas que ficam na calçada da minha rua... Eu não gosto
— responde a garota sem pretensão alguma de se
desfazer da escolha da minha mãe, mas é o suficiente
para que eu não segure a risada. Começo a rir e recebo
um olhar divertido do meu pai, que logo fica sério ao notar
que a esposa está fulminante.
O resultado da resposta de Alina causa várias
reações. Os convidados disfarçam o sorriso, tentando
permanecerem sérios, já meu primo se engasga e eu faço
questão de ajudá-lo, socando suas costas. O pobre
coitado fica vermelho e rapidamente bebe água para se
recompor.
É, minha gente, Bárbara Mancini encontrou alguém
que a responde à altura. Ninguém nunca chegou a esse
ponto com a minha mãe, e por saber disso, ela fica
contrariada.
— Entendo que seja leiga para algumas coisas, por
isso vou deixar passar essa sua desfeita, fofinha. — Pisca
para Alina, que por baixo da mesa segura a minha mão e
a aperta.
— Podemos resolver esse problema sem precisar
criar tensão — fala meu pai, buscando por Eros, que
assente. — Filho, você fez outro tipo de comida?
— Fiz sim, tio Alberto. Preparei filé mignon ao molho
de ervas, o seu prato preferido.
Meu sorriso morre com a porra da babação do fodido.
Ele fez o prato favorito do prefeito para bajular.
— Ótimo! Vamos todos comer o filé. — Meu pai se
anima e não passa despercebido o alívio dos homens que
estão tão silenciosos que nem parecem estar ao redor da
mesa. Eles apenas observam, aposto que estão
arrependidos por terem vindo.
Mesmo com a revolta estampada no rosto, Bárbara
sorri levemente e concorda com a troca dos pratos. Nosso
chef atencioso volta para a cozinha e minutos depois
Simone surge com ele e substitui o escargot pelo filé,
fazendo com que Alina sorria abertamente. Seus olhos até
brilham pela troca, o que me faz instintivamente
acompanhá-la.
Em silêncio, começamos a comer, nenhuma piadinha
ou troca de farpas entre Alina e minha mãe surgem.
Seguimos bem, até que finalmente os outros convidados
começam a conversar com o meu pai, para o terror da sra.
Mancini, que odeia que conversem enquanto estamos
comendo.
Era o escargot que estava desanimando os amigos
do meu pai.
A primeira-dama só queria tirar Alina no sério desde
o início, pensando que poderia assustá-la no jantar, mas a
minha morena está calando a boca da minha mãe ao
saber lidar muito bem com os talheres.
Até que o filé mignon ao molho de ervas estava
gostoso, mas como foi Eros que preparou a comida, eu
não elogiei. O filho da mãe não merece elogios vindos de
mim, ainda mais quando é o cachorrinho da minha mãe,
que faz tudo o que ela quer. Não duvido nada que gostaria
de estar no meu lugar, ele adoraria ocupar o cargo de filho
do prefeito da cidade.
Ao meu lado, Alina beberica o suco. Mesmo que
tenha sido posto à mesa uma garrafa de champanhe, ela
se recusa a colocar álcool na boca, e eu gosto da sua
atitude.
— Querida, não vai mesmo provar um pouco do
champanhe? Aproveita, é importado, talvez seja a sua
única oportunidade de poder beber algo tão caro assim —
diz Bárbara. Até que ela demorou para voltar com as suas
provocações disfarçadas de gentileza.
— Tão atenciosa a senhora é. Mas não, obrigada,
não bebo nada que contenha álcool. — Alina sorri, com
doçura.
Minha mãe fica chocada com a resposta, porém,
permanece com o nariz empinado.
— Não discordo, linda, compartilhamos o mesmo
pensamento. É uma pena que dispense algo tão valioso,
mas tudo bem, coma a sobremesa, vai gostar. Acho que
nunca comeu petit gâteau, essa é bem mais sofisticada e
com ingredientes caros. Você vai ver a diferença de sabor
— fala a primeira-dama, toda sorridente, antes de levar a
taça de champanhe à boca.
Bufo, entediado.
De que mundo ela acha que a Alina é? Como se a
garota não tivesse o próprio dinheiro para comprar as
coisas.
A sobremesa que ela fala como se custasse milhões,
é um pequeno bolo de chocolate com recheio cremoso
servido acompanhado de sorvete.
— Obrigada pelo carinho, vou comer sim. — Alguém
está com a paciência indo para o inferno, noto ao sentir
seus dedos apertando os meus debaixo da mesa.
— Alina, depois quero falar com você em particular.
Sou pego de surpresa por meu pai, na verdade, até a
esposa dele fica curiosa.
— Estamos entre amigos e família, querido, pode
falar na nossa frente. — Minha mãe põe a mão em cima
da do meu marido, que assente.
Sabemos que ela está sendo desnecessária. Ele
disse em particular.
— Já que insiste. — Alberto dá de ombros, em
seguida, olha para a minha acompanhante. — Alina, como
você não trabalha mais aqui em casa, quero te oferecer
um emprego na prefeitura. Estamos com uma vaga a ser
preenchida, então me lembrei de você. O que me diz?
O choque da primeira-dama é tanto que ela se
engasga.
Nem eu sabia da intenção dele.
— Uau... Nem sei o que dizer, senhor. — Alina sorri,
seus olhos estão lacrimejados. — É claro que aceito!
Muito obrigada... de verdade! — Sua voz fica embargada.
— Não precisa agradecer, você agora é da família. É
claro que a minha nora seria a minha prioridade!
Quem quase se engasga sou eu, enquanto a minha
namorada fica com as bochechas vermelhas.
O coroa sabe como me provocar também.
— Estou com uma leve dor de cabeça... Vou me
recolher mais cedo. — Bárbara se levanta, massageando
as têmporas. — Sr. Pedro, Flávio, João, Carlos me
perdoem, espero que possamos nos reunir outras vezes.
Gostei muito da presença de vocês na minha casa, são
muito queridos para meu esposo e assim se tornam para
mim — discursa como se não fosse uma grande mentira.
Ela até se recorda do nome dos amigos do meu pai,
estou impressionado.
Os homens desejam melhoras para a minha mãe, que
logo se retira da sala de jantar sem olhar para trás. Logo
em seguida, Eros vai atrás dela, não vai fazer falta
alguma. Só ficamos nós e não demora para Simone
aparecer e começar a recolher tudo.
— Se ela fosse uma boa pessoa, eu ajudaria. Mas
como não vale uma nota falsa de dois reais, que se vire —
cochicha Alina, com seriedade.
— De forma alguma, você não veio aqui para servir,
veio para ser servida — falo, com duplo sentido. Sei que
ela entende, porque a sua respiração fica pesada.
Nos encaramos por um tempo, esquecendo que
temos plateia, e sorrimos, até que ouvimos um pigarreio.
— Crianças, vou com os meus amigos para a área de
lazer, fiquem à vontade — diz meu pai. O velho sorri
inocentemente, como se eu não soubesse que está louco
para me ver grudado na Alina e assumindo-a para o
mundo.
Esse coroa é um verdadeiro cupido.
— Vamos subir — digo, com atitude. — Me deem
licença, por favor.
Pego na mão de Alina e saio dali, e ao chegarmos à
sala eu a abraço por trás, depois jogo o seu cabelo
cheiroso para o lado. Assim que tenho acesso ao seu
pescoço, beijo a pele sensível.
— O que acha de conhecer o meu quarto, namorada?
— provoco-a, mordiscando sua pele. Ela geme baixinho
em protesto.
— Namorada é o cacete, Andreo. Você inventa cada
uma... Só não... — Ela tenta falar, mas eu enfio a mão por
baixo da sua saia e toco na sua boceta por cima da
calcinha, esfregando meu dedo levemente.
— Shiu, gostosa, vamos para meu quarto, lá eu me
explico — murmuro, sentindo-a apertar minha mão ao
fechar as pernas.
— Estamos na sua casa, pare com isso... — me
repreende, olhando para os lados.
— Gosto do perigo, abelhinha, ninguém vai nos ver.
— Estalo a língua e ela me estapeia para que eu tire
minha mão, mas não o faço.
— Procurem um quarto e respeitem a casa dos meus
tios.
Somos atraídos pela voz desdenhosa do Eros. Olho
na direção da escada e o vejo no topo dela, com os
cotovelos apoiado no guarda-corpo.
Tiro a mão das pernas de Alina e desço a saia dela
ao perceber que o fodido estava olhando demais. Pau no
cu do caralho, demorou para mostrar as garras. Na frente
dos outros é bom menino, por isso gosto de ser quem sou.
Com os dentes cerrados, dou uma risada sombria e
arqueio a sobrancelha.
— E você o que está fazendo aqui? A sua casa é em
Monte Verde, Eros, não aqui, então não se meta na porra
da minha vida — retruco, impaciente com a hipocrisia
dele.
— Deveria ser mais cuidadoso com a sua namorada,
e não ficar enfiando a mão boba nela em qualquer lugar.
Alguém um dia pode se encantar com a boneca e tentar
tomar de você — diz, provocador.
O meu sangue ferve com a sua insinuação. Na minha
frente, Alina me segura pelo pulso e aperta.
— Não dê ouvidos, você não é nenhum cão de briga
— pede baixinho, me contendo.
— Priminho, tenha uma boa noite. — Eros sorri e
pisca para mim. — Alina, foi bom te ver, está linda esta
noite.
Se o corpo pequeno da morena não estivesse na
minha frente, meus punhos já estariam indo de encontro
ao rosto podre do meu primo.
Depois de nos provocar, ele nos dá as costas e some
do nosso campo de visão.
— Daqui estou sentindo a sua raiva, Andreo. — Ela
se vira para mim com os olhos arregalados e toca no meu
rosto. Eu ainda estou olhando para cima. — Você precisa
trabalhar esse temperamento — fala, preocupada, e enfim
busco os seus olhos que me trazem calmaria.
— Você ouviu o que aquele miserável disse e como
te olhou com malícia, Alina? — pergunto, sentindo minha
veia do pescoço pulsar.
— Sim, sim, não sou nenhuma idiota. Mas se toda
vez que a sua mãe me provocar, e eu quiser acabar com a
cara dela, acha que seria bom? Seria a solução? Ah, não
me olhe assim, a sra. Mancini é uma mulher má! — Ela me
faz sorrir abertamente, me acalma sem nem eu mesmo
perceber. — Nem tudo se resolve com violência. Respire
fundo e esqueça aquele babaca, ele não merece o seu
tempo, bad boy. — Acaricia meu rosto carinhosamente e
eu fecho os olhos.
— Da próxima vez que Eros olhar para o que é meu,
arranco os olhos dele e enfio na boca dele. — Meu tom sai
possessivo e enciumado.
— E quem disse que sou sua? — Empina o nariz,
toda petulante.
— E quem disse que não? — Eu a puxo para mais
perto de mim, chocando nossos corpos.
— Eu não recebi um pedido de namoro, então não,
não sou sua, Andreo Mancini. E nem pense que só porque
sou de uma cidade pequena, que sou bobinha apaixonada.
— Com o dedo em riste, ela toca no meu nariz e eu
gargalho.
— É necessário um pedido, gatinha? — Me faço de
sonso.
— Uhum, sim, senhor. Se quiser, pode se ajoelhar
também, é romântico. — Morde os lábios, depois sorri.
— Ah, abelhinha, só me ajoelho se for para te
chupar, fora isso, vai ter que se contentar — calo-me ao
começar a beijar seu rosto, depois seu maxilar até chegar
à sua orelha — com esse pedido aqui. Você quer ser
minha namorada gostosa? Prometo te dar múltiplos
orgasmos, prometo chupar a sua boc... — Sou
interrompido por ela, que põe a mão na minha boca.
— Você é muito sem noção, boca suja demais! — Ela
se diverte e eu mordo a sua mão.
— Aceita ser minha namorada, Alina Martins? —
Uma sensação estranha toma meu peito.
Porra, nunca pedi uma garota em namoro, muito
menos sei ser romântico.
— Claro que sim, boca suja! — Passa os braços ao
redor do meu pescoço. — Eu aceito... sim, sim! —
cantarola com um jeitinho apaixonado.
Oh cacete, meu pai tem razão, eu gosto dessa
menina. Se eu não gostasse, não levaria adiante esse
pedido. Ela já está na minha, eu poderia muito bem
conseguir a minha trepada e depois a abandonar como
pensei incialmente, meses atrás, quando a vi distraída
limpando a casa.
Eu estou completamente rendido aos encantos dessa
garota. Ela desperta em mim sentimentos que nenhuma
outra conseguiu ao longo dos anos nessa vida de
vadiagem.
Ainda nem transamos e eu já a considero minha. É
claro que ela é minha.
Alina é minha desde o momento que coloquei os
meus olhos nela e a vi dançar desengonçada no corredor
achando que ninguém estava vendo.
— O que acha de conhecer o meu quarto agora? —
indago, deslizando o polegar em seu lábio.
— Mas eu já o conheço muito bem. — Se faz de
desentendida.
Eu quero dar uns amassos quentes nela, e se
depender de mim vai ser mais do que isso.
— Sei que sim, mas hoje vai ver com outros olhos. E
sentir a qualidade do meu colchão — falo, ao aproximar
meu rosto do dela e beijar seus lábios. — E se quiser
também, do meu pau. — Sopro na sua boca.
Não tenho culpa da minha falta de filtro.
Em resposta à minha tentativa de levar a minha
namorada para o andar de cima, ela me beija e eu retribuo
sem pensar duas vezes.
Como sei que o seu beijo representa um sim, eu a
pego no colo e subo ainda aos beijos, mas com cuidado
para não cairmos no meio do caminho.
Assim que entramos no quarto, Andreo acende a luz
e tranca a porta, em seguida me puxa pela cintura e me
beija com ganância, enquanto suas mãos passeiam
avidamente por meu corpo. Meu coração pulsa dentro do
peito com a sensação de ser dele pela primeira vez.
Confesso que mesmo que esteja disposta a me entregar
de corpo e alma, a sua investida é tão intensa que chega
a me assustar, sem contar que ele é experiente.
Aos beijos, ele me conduz até a cama, e quando me
deita nela, leva a mão ao zíper da minha saia e o abre e
tenta tirá-la, mas de imediato coloco minha mão em cima
da dele para o impedir.
Tentando controlar a respiração que faz o meu peito
subir e descer rapidamente, encaro seus olhos
acinzentados que parecem ter chamas.
— Calma, por favor — peço, trazendo-o para si.
Ao notar que estava sendo muito rápido, ele arregala
os olhos e assente, então se afasta um pouco e se senta.
Faço o mesmo e o vejo passar a mão por seu cabelo,
bagunçando-o levemente.
— Desculpa. Você é muito gostosa e eu fiquei
animado demais, acabei me esquecendo que você é
virgem, abelhinha. — Ele limpa a garganta e sorri meio
envergonhado. Meneio com a cabeça, sentindo o meu
rosto arder com o bendito apelido que tem duplo sentido.
— Tudo o que faremos será do seu agrado e
consentimento, caso contrário, não faremos nada.
Oh, céus! Ele é um safado fofo. Andreo Mancini me
surpreende a cada dia.
Ele põe as mãos em meu cabelo e depois desce
pelos braços, prontamente acariciando minha cintura para
aproximar nossos corpos.
— Posso tirar? — Determinada, aponto para a
jaqueta dele.
Ele balança a cabeça em concordância. Mesmo com
as mãos trêmulas, tiro sua jaqueta preta e a camisa
branca. Estou ansiosa, muito nervosa por ser a minha
primeira vez. É diferente agora, ele não vai só me tocar, a
experiência que teremos será outra.
Atento a mim, Andreo desce as mãos e desliza os
dedos por minhas pernas, depois sobe um pouco. Eu
encaro as tatuagens que ele tem em seu tronco e braços.
Sei que nas costas há uma caveira enorme, e no tronco o
que parece ser uma deusa, são lindas. Eu imagino o
quanto deve ter doído.
— Qual foi a sua primeira tatuagem? — Não aguento
reprimir a curiosidade. Ele sorri, já sabendo que a minha
pequena inspeção nele despertaria meu interesse.
— Deusa Kali. Eu a fiz quando briguei feio com a
minha mãe e estava com raiva por sempre querer me
controlar. Só saí do estúdio com ela pronta. Bárbara pirou
quando viu a obra de arte. — Pega a minha mão, leva no
seu tronco tatuado e sarado.
— Imagino que ela tenha um significado mais
profundo, não é? — indago, passeando os dedos por sua
pele.
— Uhum, todas têm. — O seu sorriso aumenta. —
Kali é a deusa da destruição e do renascimento, porque
tudo um dia precisa acabar para poder ter um recomeço.
Ela é o fim e o começo. Eu me identifiquei com a história
e origem, então fiz. — Fico admirada com a delicadeza
dele ao me explicar. — E as tatuagens dos meus braços
são inspirações artísticas, enquanto a caveira nas costas,
apesar de dar um ar sombrio, para mim, é diferente.
— Como assim? — Realmente, a caveira soa algo
sombrio.
— Ela significa que um dia todos morrerão, portanto,
devemos viver cada dia ao máximo, e nesse sentido indica
desapego, sendo assim, um símbolo que se contrapõe ao
materialismo e à desigualdade. — Fico boquiaberta com
as informações dele. Nossa, Andreo é tão inteligente e
fala com tanta propriedade. — As tatuagens de caveira
podem ter muitos significados diferentes, Alina — finaliza,
me impressionando muito mais.
— Uau... Que incrível! — Sorrio.
— É sim. Agora vem cá. — Ele me segura pelo
pescoço com gentileza e aproxima meu rosto do dele, logo
depois roça os lábios nos meus.
Levo a mão ao seu rosto e abro meus lábios
levemente, pronta para o receber. Ele penetra sua língua
dentro da minha boca e eu solto um gemido de satisfação
com o contato das nossas línguas molhadas e quentes.
Com suavidade e precisão, nos beijamos
apaixonadamente. Depois de um tempo, Andreo pede
permissão com os olhos para tirar a minha blusa e o sutiã
e eu permito, mesmo sentindo o meu coração bater
disparado a cada segundo. Estou apenas com a saia,
quando ele me deita na cama e paira sobre mim, com suas
pernas entre as minhas.
Andreo volta a sua atenção para a minha saia,
puxando-a para baixo e se livrando dela, então
cuidadosamente desliza a minha calcinha pelas minhas
pernas, me deixando completamente nua e sensível ao
seu olhar cálido.
— Eu ficaria te admirando até o amanhecer se não
estivesse louco para me enterrar na sua bocetinha,
morena — diz, com a voz sensual.
Escondo meu rosto nas mãos e solto uma risada.
— Você realmente não tem papas na língua. —
Mordo os lábios.
— Sinceridade é tudo, é diferente. — Pisca e volta a
se posicionar entre minhas pernas. Mesmo que ele ainda
esteja de calça, posso sentir o calor do seu corpo.
Não falo mais nada, só tomo a inciativa ao alisar seu
peitoral definido. Andreo então começa a fazer uma trilha
de beijos por meu pescoço, dando leves mordidinhas até
chegar ao meu colo e sugar a pele. Ele se aproxima dos
meus seios, que enrijecem apenas com o seu hálito
morno.
— São lindos. Na verdade, você é toda linda — diz
com polidez, admirando os bicos dos meus seios
enrijecidos. Ele me olha como quem pede permissão,
então acaricio seu cabelo como que aprovando. Andreo
beija meus mamilos e dá uma pequena sugada que me
deixa ainda mais quente, me fazendo querer mais assim
que se afasta um pouco, e sem demora, eu o conduzo
para repetir o ato.
Estou queimando como chamas por Andreo Mancini.
— Andreo... — balbucio, sentindo-o fazer um
caminho por minha barriga até a boceta com a sua mão, e
sem demora alcança meu clitóris.
Ofegante, entreabro a boca quando ele desliza para
cima e para baixo dois dedos no meu ponto sensível.
Andreo entende que desejo mais do que acaba de fazer,
então com um pouco mais de intensidade, abocanha meu
seio, suga e morde, me dando ainda mais prazer. À
medida que a sua boca agora engole a minha, seus dedos
se movem em meu clitóris, me causando ainda mais
euforia.
— Porra, essa boceta deliciosa já me tirou o sono. E
te ver assim tão aberta para mim me deixa de pau duro,
Alina — fala, com a voz carregada com desejo, com vários
sentimentos. — Sinta como estou enlouquecendo por te
ter nas minhas mãos. Você sente?
— U-Uhum, s-sim. — Solto um gemido ao perceber
que estou prestes a ter um orgasmo.
— Isso, goza para mim e geme. — Ele coloca meu
braço acima da minha cabeça, entrelaçando nossas mãos.
Andreo aproxima o rosto do meu e dá um sorriso safado
ao beliscar meu grelo.
Ele volta a me estimular com mais velocidade,
fazendo meu ventre queimar e minhas pernas tremerem,
acabo gozando com tanta intensidade que é libertador. O
gemido fica entalado na minha garganta quando ele me
beija e mordisca meus lábios antes de chupar a minha
língua. Quando nossos dentes se chocam, acabamos
rindo.
— Acho que estou com muita roupa — murmura e
beija minha mandíbula.
Ele está sendo tão carinhoso e gentil, estou até
chocada com a sua mudança depois de eu ter pedido
calma.
Andreo sai de cima de mim e eu me sento,
arrumando meu cabelo bagunçado. Institivamente sigo os
seus movimentos com os olhos e o observo abrir a gaveta
do móvel ao lado e pegar dois pacotes de camisinha, me
fazendo engolir em seco e respirar profundamente.
De volta, ele se põe na minha frente e deixa os
preservativos no colchão ao meu lado, então toca no meu
rosto e nos meus lábios com o polegar. A sua carícia me
faz fechar os olhos por alguns segundos.
— Caralho, você tem noção do quanto é linda,
garota? — Ele lambe os lábios e fixa seus olhos
acinzentados em mim, no meu corpo nu.
Tímida, sorrio com o seu elogio. Estou tão
apaixonada por ele, que até ouço os meus suspiros.
— Como sou um cavalheiro, só com você, claro, vou
te deixar escolher a posição que ache mais confortável.
Meu peito sobe e desce com as suas palavras e a
intensidade que vem por trás delas. Sem esperar que eu
responda, Andreo se ajoelha na minha frente e leva as
mãos másculas tatuadas com algumas veias salientes às
minhas pernas e vai subindo. Perco até o raciocínio.
— Você quer por cima, por baixo, de quatro ou de
costas? — Beija uma coxa e depois a outra. Consigo
sentir o seu sorriso contra a minha pele, me deixando
arrepiada.
Ele não perde tempo e leva a mão ao meu sexo.
Meus olhos seguem todos os seus movimentos
minuciosamente, principalmente quando chega à minha
virilha e encosta o rosto bem próximo e deposita um beijo.
Com essas ações, nem consigo dar uma resposta
coerente, o safado está adorando me ver tão vulnerável.
— Eu preciso lamber e chupar essa boceta, Alina,
mas hoje vamos por partes. E como você não decidiu
como vamos transar, te quero por baixo e gemendo, com a
boca colada no meu ouvido.
Procuro me manter calma e controlar a minha
respiração que fica irregular quando fixo meus olhos em
sua ereção por baixo da calça.
Ele se levanta e leva a mão ao botão do jeans.
Quando desce o zíper, arregalo os olhos ao vê-lo chutar a
roupa e a cueca para fora do seu corpo.
Oh, merda. Andreo é grande e tem veias
protuberantes. Ele é todo lindo. Fico tanto tempo focada
ali, que sinto meu rosto arder ao notar que fui pega no
flagra.
Será que vai caber isso tudo em mim?
Ele pega a camisinha, rasga a embalagem no dente,
e num ato contínuo coloca no seu pênis.
Perco-me quando um sorriso sexy faz contorno em
seus belos lábios. Meu namorado vem até mim e beija a
minha boca, me deitando lentamente e se posicionando
por cima de mim. Ele abre mais as minhas pernas
acariciando-as de um jeito tão relaxante que todo medo se
vai aos poucos.
Estamos tão conectados, tão concentrados no olhar
um do outro, que nem parece que o mundo lá fora existe.
Neste momento somos só nós.
— Vai doer um pouco, mas prometo ser cuidadoso, tá
bom? — diz, gentilmente.
— Confio em você — digo, com um pequeno sorriso.
Andreo encaixa seu pau em minha vagina e vai
deslizando vagarosamente para dentro de mim, o nosso
contato me deixa escorregadia. Ele não é nada pequeno e
isso causa leve ardência, e olha que ele ainda nem se
movimentou.
Ao choramingar com os olhos lacrimejados, ele
deposita um beijo na minha testa.
— Quer que eu pare?
Respiro fundo e nego.
— Não... só preciso que me beije.
Ele atende ao meu pedido e me beija, se movendo
para dentro de mim lentamente em um vai e vem bastante
sôfrego para ambos. Tomo iniciativa ao levar minhas mãos
ao seu cabelo castanho-escuro para puxá-lo de leve. Solto
um gemido quando Andreo afunda seu rosto entre meus
seios e passa a língua em minha pele.
A dor simplesmente está indo embora.
Noto que seus acinzentados olhos já estão mais
escuros e suas pálpebras semicerradas quando nossos
olhos se encontram. Assim que percebe que estou
totalmente entregue, mete com mais intensidade. Solto
uma mão que estava em seu cabelo e desço para seu
ombro, cravando minhas unhas em sua pele tatuada.
— Andreo...— chamo-o bem baixinho, me
satisfazendo com o prazer que me dá com suas estocadas
gentis.
Dizem que quando temos a nossa primeira vez com
alguém que amamos ou gostamos é mais satisfatório,
menos doloroso, e realmente é.
Ansiosa por mais, puxo seu rosto para mim e o beijo
com paixão, amor, com uma mistura de tudo. Vendo a
minha entrega, ele se move mais rápido, fazendo com que
eu sinta um pouco de incômodo por ser algo novo ainda,
mas um desconforto prazeroso.
Arfo quando ele deixa a minha boca e mordisca a
aréola dos meus seios. Começo a movimentar meus
quadris para seguir o seu ritmo e meu namorado ergue
uma das minhas pernas e a aperta com a palma da mão,
me incentivando a continuar.
— Aiiiiiiiiii... — Solto um gemido alto e rebolo
suavemente.
— Isso... rebola, gostosa — pede, entre gemidos e
me estocando com mais força.
Ofegante, sinto as ondas de calor me preenchendo,
então elevo meu tronco assim que a minha vagina se
contrai. Com meus batimentos cardíacos fortes, fecho
minhas pernas ao redor da cintura dele. Andreo recebe
isso como aviso e se enterra ainda mais em mim, com um
vaivém delicioso.
Seus dedos deslizam pelo contorno da minha pele já
suada enquanto eu o arranho levemente. Pensei que não
gozaria, mas me enganei, estou quase no limite.
Ele segura meu queixo com firmeza, me fazendo
olhá-lo sem quebrar nosso contato visual.
— Andreo... e-eu... — Meus lábios tremem e ele
sorri, amando a minha expressão.
Meu namorado entra e sai. Acelera e diminui. Sinto
meus músculos se contraindo, assim como os dele.
Gemendo juntos, enfim gozamos, ele primeiro e
depois eu, com as mãos entrelaçadas e as testas coladas
uma na outra.
— Porra... porra...
Assusto-me com o seu xingamento quando ele se
afasta, parecendo perturbado.
— O que aconteceu? — pergunto, com os olhos
arregalados e fechando as minhas pernas meladas.
— A camisinha estourou, Alina. — Ele leva as mãos
à cabeça e anda pelado de um lado para outro. Me
engasgo com a sua revelação. — Puta que pariu! Isso é
raro acontecer, porra, que azar! — Me encara,
assombrado, e depois olha para as minhas pernas
fechadas.
Estou tomando anticoncepcional, não preciso temer e
nem ele. É notório que nenhum dos dois tem vontade de
ser pai tão cedo, penso ao sorrir aliviada.
— Respire com calma, Andreo. — Levanto-me e vou
até ele, tocando o seu rosto e o fazendo me encarar. —
Estou usando contraceptivo, estamos seguros.
Seu semblante suaviza imediatamente.
— Tem certeza? — Seu pomo de adão sobe e desce.
— Sim, eu tenho. — Beijo-o rapidamente.
— Não quero ser pai tão cedo... Não quando tenho
uma mãe tão horrível, não desejo que o meu filho tenha
uma avó tão tóxica.
Agora entendo o seu desespero e concordo
totalmente com ele.
— E nem eu quero ser mãe, sou nova demais para
isso. — Sorrio, fazendo-o sorrir também.
— Toma banho comigo? — pergunta, com a voz
calma.
— Uhum, tomo sim. — Em vez de olhar para ele, eu
me viro para a cama e vejo a pequena mancha de sangue.
— Precisamos trocar o...
— Shiu. Primeiro, tomaremos banho, depois fazemos
isso. — Me beija, apaixonado.
Pelo visto, a nossa noite apenas começou. Preciso
enviar uma mensagem para a Dandara, ou ligar para
avisar que hoje fico por aqui.
Antes de deixar o quarto, observo Alina nua e
adormecida de bruços na minha cama, com o lençol a
cobrindo do quadril para baixo. Eu me inclino e deposito
um beijo em suas costas macia, então ela se remexe, mas
não acorda. Ela só decidiu passar a noite comigo depois
de conseguir avisar Dandara, caso contrário, teria ido
embora. Não sei que milagre foi esse, mas Dandara
aceitou numa boa que a afilhada dormisse fora de casa.
Depois que tomamos banho não transamos mais, eu
a deixei descansar após a troca que fizemos dos lençóis,
que darei um fim para que ninguém os veja. Por mais que
o que tenhamos feito não tivesse me cansado, era a
primeira vez dela, e por ora eu queria que ela tivesse um
descanso. E também, após ter visto que o preservativo
rasgou, fiquei muito pensativo. Eu não quero ser
surpreendido por uma gravidez, Bárbara seria duplamente
um inferno em minha vida. Não vou permitir que o meu
filho conviva com alguém tão terrível quanto ela. Se um
dia eu for pai, vai ser bem longe dela, jamais a deixarei
meter o nariz na minha relação e na do meu filho, já basta
ela ter me sabotado todos esses anos. Apesar de Alina ter
dito que está tomando anticoncepcional, fico preocupado,
afinal, nenhum dos dois deseja ser pai tão cedo.
Em passos lentos, caminho no corredor. As luzes
estão quase todas apagadas, somente a que fica perto da
escada está acesa. Já é madrugada e estou com fome,
então decidi procurar algo para comer, meu estômago está
roncando demais. Desço a escada e quando chego à sala,
vejo a primeira-dama no sofá, ela sequer se vira, mas não
deixa de ser intrometida.
— A sua namorada dormiu aqui? — pergunta minha
mãe, com a voz mansa.
— Sim — digo, seguindo para a cozinha.
— Finalmente conseguiu o que queria, não é? Levou
a menina para a cama, agora vamos ver quanto vai durar
esse namoro. — Seu tom é alto o suficiente para que eu
escute e pare de andar. Ainda de costas, solto um suspiro.
— Você não dorme? — Passo a mão por meu cabelo,
ignorando o que ela fala.
— Perdi o sono. Mais cedo fui ao seu quarto e o
encontrei enroscado com aquela... com a Alina. Pelo jeito
que estavam agarrados, até parecia que estão realmente
apaixonados.
Ouço seus passos se aproximando.
— Eu gosto dela, mãe. — Fecho os olhos. — Está
satisfeita agora? Eu estou apaixonado pela Alina, então
se contente com isso. Agora me deixe em paz, não me
perturbe uma hora dessas, vá dormir. — Volto a caminhar
e ela me segue até a cozinha.
Ligo as luzes e vou na direção da geladeira, abrindo-
a para ver se encontro algo.
— Tem certeza de que é isso que quer para a sua
vida, Andreo? — pergunta.
— Mãe — eu me viro para ela —, aquela garota lá
em cima que você tanto odeia é a pessoa que eu gosto.
Não importa se não é do seu agrado, eu a quero e vou
ficar com ela até quando durar o que temos — esclareço
para que não fique me importunando mais.
— E o que vocês têm? Um namoro bobo em que um
dos dois vai sair machucado?
— Se você insistir em se meter na minha vida eu vou
embora. Nunca mais vai me ver colocar os pés aqui! Já
chega disso. Todos os dias tenho que suportar o seu
comportamento excessivo por controle, porra, não sou
nenhuma marionete. Não vou mais permitir que tente me
controlar. Não ligo para luxo, para nada, posso muito bem
arrumar um emprego em qualquer oficina. Eu posso
trabalhar — resmungo, semicerrando os olhos e fechando
a geladeira com força.
— Por que ela e não a Isadora? — Olha-me, pálida.
— Sério isso? — Solto um riso baixinho.
— Sim, Andreo. A Isadora tem classe, é rica, linda...
perfeita para ser a nora dos Mancini, para o filho do
prefeito. Vocês formam um belo casal. E ela sabe disso,
tanto que largou o seu primo para ficar com você.
Finjo não estar surpreso com a revelação.
Como assim meu primo? Puta. Que. Pariu.
— O Eros e Isadora... juntos?
Bárbara assente. Por isso ela não marcou presença
naquele jantar chato, está aí a resposta que eu queria e
nem imaginava que pudesse ser essa.
— Você não sabia que eles tiveram um casinho e ela
terminou com ele porque queria te namorar? — Sorri, com
a sobrancelha arqueada.
Eros tem um motivo a mais para me odiar, na
verdade, para mim é uma bobagem, nunca comeria
Isadora, ela não me interessa como mulher.
— Lógico que não. É bom que eles se gostem, assim
menos um problema na minha vida. Pode dizer a eles que
aceito ser o padrinho do casamento em prol da minha paz.
Os olhos da minha mãe me fulminam.
— Ela não o quer, quer você — diz, orgulhosa.
— Não, você quer que ela me queira, é diferente. —
Coloco o dedo em riste. — Isadora é uma pobre coitada
que quer viver de status, e se continuar assim, vai acabar
sozinha e frígida — desdenho.
— Se desse uma oportunidade a ela, veria que é uma
boa menina.
Porcaria. Quanta insistência em algo que nunca vai
dar certo.
— Mãe, nenhuma garota pode competir com a Alina
no momento. Agradeço por sua gentileza em querer me
empurrar para a filha dos Gusmão, mas, por ora, estou
indisponível. — Abro os armários à procura de algum
biscoito ou bolacha ao sentir meu estômago reclamar.
— Não vou mais insistir, pelo visto, essa garota te
enfeitiçou. Aproveite o quanto quiser com ela, sei que não
vão ficar juntos mesmo. Eu abro mão de você, Andreo,
continue nessa sua loucura de deitar e rolar com a nossa
empregada — grunhe.
A minha cara de espanto deve estar engraçada
agora. Não acredito no que estou ouvindo.
Bárbara Mancini desistindo?
— Empregada não, minha namorada. — Um sorriso
arrogante surge em meus lábios.
— Que seja! Vou dormir, discutir com você é inútil.
Tentar te convencer em desistir dessa garota é o mesmo
que nada, quanto mais eu tento te afastar dela, mais você
vai ficar com ela. — Ainda bem que sabe, penso em dizer,
mas me mantenho calado. — E, por favor, não quero essa
menina conosco no café da manhã, daí já é demais.
— Não tinha essa pretensão, não se preocupe. —
Pisco para ela, que me dá as costas.
— É pior do que eu imaginava, ele está mesmo
apaixonado pela empregadinha — resmunga antes de me
deixar sozinho.
Depois de encontrar um pedaço de torta de chocolate
na geladeira, eu o como e tomo um copo de suco, perdido
nos meus pensamentos.
Se hoje Alina está na minha vida, na minha cama,
sou o culpado, fui insistente em tentar conquistá-la. Eu a
queria desde o início e só sosseguei quando a tive para
mim e tirei a sua virgindade. Confesso que no começo
meu interesse era só curtição, eu a levaria para cama,
passaríamos um tempinho juntos e depois que enjoasse a
largaria. Contudo, a garota é fogo, nem precisou que
fizéssemos sexo para que mudasse o roteiro que eu
gostaria de seguir. Ela chegou de mansinho como quem
não quer nada, e agora, mesmo que não saiba, me tem na
palma da mão, muito mais do que outra garota qualquer
poderia ter.
Alina Martins era para ser apenas uma aventura,
como Bárbara Mancini enche a boca para dizer, porém,
para a surpresa de todos, ela não é. Não sei o porquê,
mas a morena desperta em mim um instinto protetor e eu
me sinto na obrigação de protegê-la de tudo e todos. E
enquanto esse sentimento viver dentro de mim, eu a
protegerei seja lá do que for.
Eu a quero comigo. Ela me faz bem.
Não acredito nessa coisa de conto de fadas, mas
acredito em querer, e enquanto quisermos estar um com o
outro ficaremos juntos.
Entro no quarto e encontro Alina ainda adormecida,
então tranco a porta e logo vou na direção da cama, me
deitando ao seu lado. Afasto um pouco de cabelo que está
jogado em seu rosto e o acaricio por um tempo. Ela tem
um sono pesado pra caralho, sequer abre os olhos.
Sorrindo, beijo o seu ombro, depois trilho beijos por suas
costas e vou descendo a boca até chegar perto da sua
bunda deliciosa. Só assim para ela dar sinal de vida ao se
remexer e resmungar.
— Hum... pare, Andreo. — Sua voz sai manhosa e eu
reprimo a risada.
— Acordei com fome, abelhinha. — Espalmo a mão
por suas costas e deslizo-a até para baixo do lençol.
Chegando aonde quero, aperto de leve a carne da sua
bunda.
— Ei, tarado... Me deixe dormir. Se quiser comer, vá
lá embaixo, tem muita comida, vai por mim — reclama,
com uma risadinha.
A filha da mãe está bem atenta.
— Mas o que eu quero está aqui bem na minha frente
e não lá embaixo— provoco-a, sorrindo e acariciando a
sua bunda gostosa e firme.
— Babaca. — O seu riso sai baixinho. Ela se vira,
cobrindo os seios com o braço e me encara, está toda
descabelada, mas continua linda e atraente.
— Uma sentada e eu te deixo dormir — proponho e
ela gargalha.
— Céus, te faltam neurônios! Em plena madrugada
com gracinhas? — Revira os olhos.
— Você ama, eu sei. — Pisco para Alina, que faz
uma careta.
— Convencido. Estou realmente achando que essa
sua pose de bad boy é apenas um disfarce, porque você é
um verdadeiro palhaço. — Bufa, sorridente e brincalhona.
— Não tenho culpa se as pessoas me enxergam da
maneira que bem querem, eu nunca disse que era um. —
Dou de ombros. — Nem uma rapidinha? — pergunto,
completamente malicioso.
Ela encara o meu tronco nu e lambe os lábios, então
tenta disfarçar que estava me secando, mas é inútil.
Por não ter uma resposta dela, faço charme e me
deito de costas, olhando para o teto. Mas não demoro
muito no meu drama quando miro nela. Quando minha
namorada puxa o lençol do seu corpo e eu vejo cada
pedacinho dela, meu pau desperta com a visão.
Ah, droga, por que ela tem que ser tão boa assim?
Meus olhos traidores, em vez de olhar para o seu rosto,
vão diretamente para a sua boceta bem depilada.
Sorrio de lado e mordo o lábio ao ver Alina se
aproximar e, em seguida, subir em cima de mim. O seu
ato faz com que meu pau aumente ainda mais de
tamanho, daqui a pouco ele vai rasgar a minha calça
moletom de tanto tesão.
Seguro seus quadris e vou descendo até a sua
bunda, ali descanso as mãos.
— Porra... Assim você me faz perder a sanidade e eu
não estou reclamando, pode continuar. E se quiser rebolar
também...
Ela se inclina e raspa a vagina no meu pênis que
está pulsando, molhando o tecido fino do meu moletom
com a sua excitação.
Amo como é naturalmente molhada.
Alina roça os lábios nos meus e eu aproveito para
enfiar a minha língua em sua boca atrevida, em seguida,
eu a faço rebolar em cima do meu pau mesmo que seja
por cima da minha roupa. Ela gosta da minha pegada
firme em sua bunda e se movimenta conforme vou a
instruindo com as minhas mãos, em pouco tempo estamos
gemendo em nossa troca de salivas e tornando o nosso
beijo em algo mais quente e explosivo.
Levo uma mão às costas dela e subo até chegar à
sua nunca, então seguro um punhado de cabelo e aperto
levemente. Alina faz um vaivém, um atrito bom pra caralho
contra o meu sexo. Meu pau está babando e a única coisa
que me impede de entrar nela é o tecido, porque já
estamos fazendo sexo de roupa.
— Aii... Andreo, v-vou... — Roça a boca na minha e
encosta nossas testas.
— Eu sei, gatinha, também vou. — Foda-se, vou
gozar com apenas uma esfregadinha de boceta. — Goza,
Alina... Isso.
Ela vai reduzindo os movimentos e geme baixinho,
fechando os olhos. Alina goza, chamando por meu nome e
automaticamente chamo pelo dela ao gozar também.
— Vou pegar uma camisinha, preciso te comer e
quero você por cima — falo em seu ouvido.
Ela assente, ainda tentando se recuperar do
orgasmo.
— Eu pego. Deixamos uma em cima do móvel
naquela hora. — Toma a iniciativa ao se inclinar para o
lado. Eu a seguro para que não caia e, sem demora, me
entrega o preservativo.
— Quer colocar? — Rasgo a ponta da embalagem
com o dente e estendo para ela, que fica um pouco
envergonhada, mas concorda.
Peço a ela que saia de cima de mim, em seguida, me
livro da calça. Alina se senta na minhas coxas e eu a
ajudo a colocar a camisinha em mim.
Nos olhando fixamente, seguro o meu pau e o
conduzo até a sua vagina. Não a preencho de uma vez,
brinco com os seus lábios vaginais, lubrificando-os para
que fiquem molhadinhos, mais do que estão. Alina
mordisca os lábios e geme, então se ajeita em cima de
mim, me dando espaço para penetrá-la. Ela reclama com o
pequeno incômodo, mas desce com vontade, se apoiando
na minha barriga com uma mão e a outra segurando o
meu mamilo.
É muito bom ver meu pau sendo engolido. A sua
boceta fica tão apertada ao redor do meu cacete, que me
sinto no meu paraíso particular.
— Porra, que delícia! — Solto um gemido.
Alina começa a me cavalgar lentamente e
choraminga, ainda está se acostumando com o meu
tamanho. Para que ela relaxe, eu a trago para mim e a
beijo, engolindo os seus gemidos e os meus.
Nos movimentamos com tanta necessidade de ter
mais um do outro que nos tornamos bruscos, ouvindo o
som dos nossos corpos se chocando.
De repente, mudo de posição ao apoiar minhas
costas na cabeceira com ela ainda sentada em mim.
Abocanho os seus mamilos com vontade, lambendo,
chupando e mordendo, enquanto minhas mãos passeiam
por sua bunda, ajudando-a a quicar em meu pau.
— A-Andr-reo! — geme alto, apertando meu ombro
com as unhas afiadas, enquanto os dedos da outra mão
afundam no meu cabelo, puxando os fios.
Ela aumenta a velocidade dos quadris e rebola com
maestria, me enlouquecendo, e em poucos minutos o seu
corpo treme, levando-a a apertar as coxas ao meu redor.
Gemendo, agarro seus quadris e a faço subir e
descer mais rápido, arrancando gemidos e soluços de sua
boca ao alcançarmos o clímax juntos.
Exaurida e suada, Alina esconde o rosto na curva do
meu pescoço e se movimenta lentamente, comigo ainda
dentro dela. Beijo seu ombro e acaricio suas costas
molhadas.
— Depois dessa sentada estou mais apaixonado —
Meu tom é brincalhão.
— Cala a boca, Andreo. — Ri, ofegante. Ela me
encara, seus olhos estão brilhando.
Dou um tapa em sua bunda e ela reclama ao me dar
um soco no ombro. Achando graça, gargalho e depois a
calo com um beijo ao ficar tagarela.
— Andreo, pode me soltar, eu sei que está acordado.
— Bato no braço dele que está ao redor da minha cintura.
Dormimos de conchinha.
Após a segunda rodada de sexo, fomos tomar banho
novamente. Morri de vergonha quando ele me pediu para
me ensaboar. Já no quarto, ele me deu uma camisa dele
para vestir com botões que ficou parecendo um vestido,
mas serviu bem. Quando fomos nos deitar para dormir, ele
se deitou como veio ao mundo – peladinho. Ao me agarrar
por trás, o seu amiguinho se animou, só que não fizemos
nada, em pouco tempo caímos no sono.
— É cedo, fica só mais um pouquinho — murmura,
com o rosto afundado no meu pescoço.
— Prometi à minha madrinha que chegaria cedo. Vai
ficar chato me deparar com ela na sua casa — falo, mas
entra por um ouvido e sai pelo outro, porque ele me
aperta contra o seu corpo, me fazendo sentir a sua ereção
na minha bunda.
— Estamos em família, relaxa. — Seu tom é baixo,
preguiçoso.
— Você está, eu não. — Respiro profundamente,
tentando não ficar abalada com o seu pau duro me
cutucando.
— Você é muito ranzinza, Alina. A Dandara vai te
matar se te vir aqui, ela já permitiu o pior, te deixou dormir
aqui comigo. — Estala a língua. — Acha que ela não
imagina o que estávamos fazendo entre quatro paredes?
— Ele começa a desabotoar a camisa, de baixo para cima.
Prendo a respiração quando alcança meu seio e belisca
com dois dedos.
— Que porcaria, Andreo... — Fecho os olhos, já
derretida com o seu toque.
— Não pode ir embora sem se alimentar, namorada.
Sinto o seu sorriso contra a minha pele. O descarado
tira a mão do meu seio e desliza os dedos por minha
barriga, fazendo uma trilha perigosa queimar por minha
pele.
— Não estou com fome — minto, sabendo que as
suas palavras têm duplo sentido.
Reclamo das suas investidas, mas no fundo amo a
sua ousadia.
— O que sai da sua boca não vale nada, quando isso
aqui — chega à minha boceta e desce os dedos até
encontrar o meu clitóris escorregadio — diz o contrário. —
Enfia o dedo em meu sexo e faz um vaivém lento, depois
beija a minha orelha.
— A-Andreo... p-preciso i-ir — gemo, ofegante,
pressionando uma perna contra a outra.
Ele tira os dedos da minha vagina e se afasta de
mim, então penso que vai desistir porque sai da cama.
Ledo engano, ao me virar eu o vejo retornar com um
sorrisinho sacana de lado.
Em vez de olhar para o seu rosto, miro em seu pênis
endurecido e lubrificado.
— Ontem não chupei a sua boceta, mas hoje quero
sentir o seu gosto.
Meu corpo inteiro treme.
Ele retorna e fica de joelhos na cama, tocando
minhas pernas com a sua mão máscula. Automaticamente,
cedo para que faça o que quiser comigo. Andreo se inclina
e beija minha coxa, depois sobe raspando os lábios até a
minha barriga.
— Vai me deixar chupar você, Alina? — pergunta,
com o seu hálito morno na minha pele.
Solto um gemido em resposta ao sentir seus dentes
me mordendo de leve.
Como ele consegue ser intenso até em suas ações?
Não tenho força para dizer não, muito menos negar o
quanto estou molhada por ele, parece que tem uma
cachoeira entre as minhas pernas.
— Um dia te faço pagar por essas provocações —
prometo, ouvindo o seu riso baixo.
— Apoie as costas na cabeceira e se abra para mim,
vou te fazer gozar nessa posição — diz, autoritário.
Andreo se afasta e eu prontamente faço o que me
pede. Pois é, em poucas horas perdi a vergonha de ficar
nua na frente dele, afinal, não tem nada que não tenha
visto ainda.
Ele se ajoelha entre minhas pernas e morde os
lábios ao encarar minha vagina com malícia, depois
levanta o rosto e nossos olhares se encontram.
— Não tem vinte e quatro horas que te comi e já
quero te comer de novo. Essa porra de boceta me viciou
em uma só noite. — Solta sem pudor algum, em seguida,
se apoia nos braços ao lado do meu corpo.
— Realmente, essa sua boca é muito porca — digo,
cheia de tesão e envergonhada, sentindo minha excitação
descendo no lençol pela posição que me encontro.
— Quando eu estiver chupando o seu grelinho, quero
que esfregue a sua bocetinha na minha cara. Vou adorar
levar uma surra dela. — Ignora-me e procura à minha
boca, me dando um beijo fervoroso. Sua língua devora a
minha impiedosamente, depois me provoca ao passar por
meus lábios como se estivesse com a boca no meu sexo.
Gemendo, levo a mão ao seu cabelo e o puxo.
Algumas batidas fortes à porta me assustam,
cortando o clima.
— Senhor Andreo. — É a voz da Simone do outro
lado da porta.
— Que desgraça. Só de ouvir a voz dessa mulher eu
broxo — xinga, se afastando de mim. Ele salta da cama e
pega a calça moletom no chão, vestindo-a rapidamente,
enquanto pego um lençol e cubro a minha nudez.
— Senhor Andreo — repete ela, com a voz irritante.
Ele vai até a porta e a abre. Simone, mal-educada
como é, coloca a metade do corpo dentro do quarto, e
quando me vê arregala os olhos e fica pálida, nem se
importa com a presença do filho dos patrões. Ela me
encara por tanto tempo, que só cai na real quando ouve
um pigarreio.
— O meu rosto é aqui, Simone, não na minha cama
— diz, com amargura. — O que você quer, além de xeretar
a minha vida? — indaga, impaciente.
— É-é... — A fofoqueira olha para mim e para o
abdômen dele, tentando disfarçar, mas ambos percebemos
as olhadas dela. — A sra. Mancini me pediu para chamá-
lo para o café, estão todos esperando.
Andreo arqueia a sobrancelha, pego de surpresa.
Obviamente, a mãe dele nunca foi tão atenciosa nos
meses que trabalhei aqui.
— Todos incluindo Eros? — pergunta, curioso.
Simone assente e mais uma vez dá uma secada no
tanquinho dele. Fico com vontade de rir, mas me seguro.
— O.k., já descemos — determina, me incluindo. —
Pode se retirar, obrigado. — Faz um gesto com a mão e
ela recua. Ele fecha a porta e se vira para mim.
— Aceita tomar café comigo, uma mãe diabólica e
um primo que é o cão fiel do satanás? Prometo que não
será tão ruim assim, ainda tem o meu pai, e ele é um bom
homem. — Sorri, me fazendo gargalhar.
— O que você não pede chorando que eu não dou
sorrindo? — Reviro os olhos.
— O correto é faço, mas gostei do dou, nunca fez
tanto sentido. — Pisca malicioso.
Pego o travesseiro dele e jogo em sua direção,
acertando-o em cheio.
— Idiota! — exclamo, tirando o lençol do meu corpo
e saindo da cama.
Ele assobia e eu lhe mostro o dedo do meio.
— Gostosa — elogia, me avaliando descaradamente.
— Preciso de um banho, afinal, vou me reunir com a
primeira-dama, vulgo minha sogra. Ela é muito exigente.
— Empino o nariz e jogo o cabelo para trás.
— Encontrei a nora dos sonhos da minha mãe — diz,
com um sorrisinho.
— Safado mentiroso. Ela me odeia mais do que tudo,
mas o importante é que o filho dela gosta de mim, não é?
— Coloco a mão na cintura.
— E como, de todas as formas — acrescenta e eu
dou risada.
— Não vamos estressar a sogra. Eu tomo banho
primeiro e depois você, o.k.? — sugiro, divertida.
Ele nega, fazendo uma careta.
— Banho duplo e não se fala mais nisso.
— Nem pensar. Você vai me infernizar lá dentro,
tenho certeza. Não vai rolar, pode esquecer. — Passo por
ele, que me segue.
— Por que você é tão má? Por acaso está tendo
aulas com a minha mãe, Alina Martins?
Caminho em direção ao banheiro sem olhar para
trás, mas sinto que o descarado está secando a minha
bunda.
— Você e eu no banheiro não vai dar certo, sabe
disso — respondo, entrando no cômodo. Ele tenta, mas
me atrevo a segurar na maçaneta da porta, pronta para
fechar na cara dele.
— Mas eu não vou fazer nada. — O seu semblante
automaticamente fica angelical, nem combina com ele.
— Essa sua carinha de bom moço não cola, Andreo.
— Bufo e o ouço rir.
— Filha da mãe. — Aperta os lábios e recua.
— E do pai também. Agora, xô! — Empurro a porta
como se fosse fechar.
— Não demore no banho, gata, estou te esperando.
— Ele se dá por vencido.
Eu sorrio abertamente, em seguida, fecho a porta e
me encosto nela, fechando os olhos.
Que loucura. Em menos de vinte e quatro horas
tenho um namorado, uma sogra víbora, um sogro
maravilhoso e um possível emprego na prefeitura. E para
completar... me entreguei ao cara que lutei de todas as
formas para não cair na cama dele. Mas não só caí como
também escorreguei algumas vezes no seu brinquedo
ontem.
Balanço a cabeça e jogo os pensamentos para longe.
Tiro a camisa dele e coloco no cesto de roupa suja, sem
demora entro no boxe para tomar banho.
Serei rápida, porque não duvido nada que Andreo
venha atrás de mim.

Custou para sairmos do quarto. Quando estávamos


para sair, fui atacada, Andreo me pressionou contra a
porta e me tascou um beijão de tirar o fôlego. Se eu desse
mais espaço para ele, teríamos voltado para a cama.
— Bom dia — cumprimento a todos na mesa.
Entramos na sala de jantar com as mãos dadas, a
inciativa veio dele quando estávamos perto da entrada.
Os três pares de olhos miram na gente, mas o único
que demonstra gostar da minha presença é o Alberto.
— Bom dia, filhos, se sentem! — nos pede, animado.
Eu quase ruborizo ao me lembrar que estou usando a
mesma roupa da noite anterior. É lógico que sabem que
dormi aqui, o olhar torto da primeira-dama diz tudo.
— Obrigada, senhor — agradeço-o por ser tão gentil.
Já Bárbara e o tal Eros, praticamente rosnam um bom dia,
como se eu ligasse.
Não esperando cavalheirismo da parte de Andreo,
procuro um lugar e me sento, em seguida, ele me
acompanha e se senta ao meu lado.
— Como está se sentindo hoje, pai? — Meu
namorado avalia o pai cuidadosamente.
— Um garotão, pronto para voltar a trabalhar na
prefeitura.
Somente eu e o filho dele rimos.
— Como demoraram, tivemos que comer antes —
enfim a bruxa se manifesta, nos encarando.
— Não tem problema. Eu e Alina vamos tomar café
na piscina, só viemos desejar um bom dia — fala Andreo,
observando o primo, que faz o mesmo com ele, ambos se
encaram com uma certa rivalidade.
Na piscina? Essa é nova para mim.
Espero que não comecem com as discussões,
preciso de paz, ontem foi puxado.
— E quem vai servir vocês lá? A Simone teve que ir
ao centro comprar algumas coisas no mercado, e a
Dandara está ocupada fazendo o almoço. Não posso
disponibilizar a minha funcionária para vocês, deveriam
ter descido antes.
Ao ser mencionado o nome da minha madrinha pela
primeira-dama, engulo em seco e procuro a mão do
Andreo por baixo da mesa.
— Eu posso fazer isso por nós dois, senhora — digo,
decidida.
— Oh, que isso, querida! Jamais. Você não é mais a
empregada para servir o café do meu filho. — Ela sorri e
faz cara de surpresa.
— Não precisa se preocupar. — Olho para a mesa
ainda montada com uma variedade de alimentos. — Posso
servir Andreo como qualquer namorada faria, não vejo
problema algum nisso, e farei com o maior prazer. —
Largo a mão do Andreo e levanto-me, calando a boca da
minha querida sogra, que fica pálida com a minha
resposta.
— Alina, não é necessário, podemos comer aqui
mesmo. E eu sei servir o meu café — Andreo se impõe,
levantando-se também.
— Temos três empregadas, digo, duas, querido, você
não precisa fazer isso. Vou chamar a Dandara para servir
aos dois. — Bárbara empurra a cadeira para trás e se
levanta.
Três empregadas. Ela nunca deixa de arrumar uma
brecha para me atacar.
— Não precisa, eu já disse que posso fazer isso. —
Engulo a voz embargada.
Não vou permitir que a minha madrinha me sirva
como se fosse a minha empregada. Jamais! Ela é a minha
mãe de criação e do coração.
— Mas quer...
— Já chega, mãe! — A voz do Andreo soa como
trovão, interrompendo-a. — Sabemos como servir um café
da manhã, ninguém aqui é inútil. — A paciência dele se
foi.
Bárbara assente e se cala.
— Essa garota é a porra do nosso problema, Andreo.
O que você tem na cabeça?
Ao escutar as palavras de Eros, viro-me para ele,
que fecha a expressão. Nem parece aquele homem bonito,
elegante e educado de dias atrás.
— Parem já com isso. Deixem a menina em paz, ela
é bem-vinda. A casa é minha e o meu filho pode trazer a
namorada dele sempre que quiser, ninguém vai interferir
nas decisões dele, portanto, Alina pode morar aqui se
quiser, só depende dela! — É a vez do prefeito se
manifestar, o rosto dele está vermelho.
Arregalo os olhos com as suas palavras, já o filho
sorri, orgulhoso pela defesa que recebe. Mas logo corre
na direção do pai ao vê-lo colocar a mão no peito e fazer
uma expressão de dor.
— O que você tem, coroa? — Andreo se põe ao lado
dele, o pavor está evidente em seus olhos. Ele toca na
testa do pai, depois o avalia cuidadosamente.
Eu não deveria ter aceitado isso. Sempre que estou
presente, rolam essas discussões, tudo por minha culpa.
— Foi só uma dorzinha boba, estou bem — diz seu
Alberto, tentando convencer o filho, que não confia muito
e toca no ombro dele.
Aproveito a distração do meu namorado e da família
dele e saio dali. Estão tão preocupados com a saúde do
Alberto, que nem notam.
Em passos lentos, vou na direção da cozinha, mas
volto ao me lembrar que deixei a minha bolsa com o
celular no quarto do Andreo.
Subo a escada e caminho o mais rápido possível,
quero sair dessa casa com urgência. Não suporto Bárbara
Mancini, ela nunca vai deixar que eu me relacione com o
filho dela, ainda mais agora, que ele assumiu um namoro
comigo.
Entro no quarto e pego minha bolsa. Estou prestes a
sair quando meu celular começa a tocar e no visor brilha o
nome de Maria Fernanda.
Eu me sento na cama e converso com ela por alguns
minutos, sinto que está estranha, em certo momento acho
que até chega a chorar.
Ainda ao telefone, me viro para a porta e vejo Andreo
encostado no batente, com os braços cruzados. Quando
vê que estou ocupada, ele faz um gesto com a mão para
que eu continue.
Quando digo a ela que estou na casa do Andreo, ela
me pede para dar uma passadinha na sua casa mais
tarde, pois não quer atrapalhar o meu momento e desliga.
O seu tom era tão desesperador que o medo me
domina. Ergo o olhar e encontro o Andreo olhando
fixamente para mim. Respiro fundo, tentando controlar a
ansiedade que a Maria Fernanda me causou.
— Como está o seu pai?
— O que aconteceu? — Perguntamos ao mesmo
tempo. Se fosse em outra ocasião, eu riria da
coincidência.
— Nada. Só a Maria Fernanda que me ligou toda
estranha — digo, dessa vez focada no celular em minha
mão.
— Certo. O velho é forte, ele só não aguenta muitas
emoções. Eu o levei para o quarto para que possa
descansar. — Ele bagunça o próprio cabelo.
Ufa, ao menos alguma notícia boa.
— Que bom, fiquei preocupada.
— Fugindo de mim? — Os olhos dele brilham em
divertimento.
— Só não quero causar mais problemas. Esse lugar
não é para mim, a sua mãe é muito complicada, não quero
lidar com ela de outra forma. Apesar de ela ser terrível,
tem idade para ser a minha mãe, mas que Deus me livre
de ter algo como ela. — Suspiro, desanimada.
A risada alta dele preenche o quarto, só depois noto
o que acabo de falar.
O meu celular notifica a chegada de uma mensagem,
prontamente o desbloqueio e visualizo o nome da minha
amiga.
Caramba, maior textão!
“Alina, não precisa vir. Desculpe pela confusão, só
estou nervosa, discuti com o Mateus... Você sabe,
estamos saindo esses dias e ele me estressou de uma
maneira que me deu vontade de matá-lo, mas já
conversamos e eu reconheci o meu erro. Te amo. Me
perdoa por ser uma péssima amiga, às vezes.”
A sua mensagem é meio estranha, mas estou tão
atribulada em pensamentos que nem sei muito o que
achar, então apenas digito.
“O.k., amiga, mais tarde nos falamos.”
— Você está bem mesmo? — Nem percebi quando
ele se sentou ao meu lado.
— Uhum, estou. — Meneio com a cabeça ao senti-lo
afastar o cabelo do meu rosto.
— Amanhã é o seu primeiro dia no emprego, quero te
levar — diz, me deixando confusa.
— Como assim? — Umedeço os lábios.
— Você é a nova funcionária da prefeitura, Alina
Martins. — Pisca para mim.
— Assim tão rápido?
— Claro, privilégios por ser a nora do prefeito —
fala, bem-humorado. — Brincadeira. Você é muito
esforçada, não precisa de privilégios. O meu pai disse que
a vaga já é sua, não é necessário entrevista ou demorar
mais para você começar a trabalhar, basta levar os seus
documentos. — Ele passa o polegar na minha
sobrancelha, acariciando-a.
— Você é um namorado muito fofo, sabia? —
provoco-o, mas com o coração saltitando de alegria com o
seu elogio.
— Eu sou tudo, morena, menos fofo. — Faz uma
carranca e eu gargalho com a sua reação.
— Andreo Mancini é um namorado hiperfof...
Ele me cala ao me agarrar pela cintura e me puxar
para o seu colo. Perplexa, solto um gritinho.
— Repita. — Espalma a mão na minha bunda.
— Seu maluco! — Bato no seu ombro, risonha.
— Repita quem é o fofo — me provoca de volta, com
cara de mau.
Antes que eu possa reagir, ele segura a barra da
minha saia e sobe até a minha cintura, então desliza uma
mão na minha boceta. Mesmo que o seu toque seja por
cima do tecido da minha calcinha, ele me faz queimar e
ver chamas em seus olhos cinzentos.
— A porta está aberta — eu o alerto, vendo que não
está mais brincando.
— Imagina se alguém nos pega assim? — Aperta
minha bunda com a mão livre e bate forte, causando uma
ardência. — E assim. — Roça os lábios nos meus e depois
me faz rebolar em seu pau por cima do seu jeans ao
mesmo tempo que induz os dedos no meu sexo. — Eu
quero essa bocetinha antes de te deixar em casa, Alina.
— Então me beija, prontamente entreabro os lábios,
recebendo o seu beijo quente e firme.
— Feche a porta, podem nos ouvir ou nos ver —
peço, entre nosso beijo, buscando por fôlego.
— Quando eu estiver dentro de você, nem vai se
lembrar que estaremos quase praticando exibicionismo.
Mas não se preocupe, se gemer alto demais, eu te calo
com meus beijos. — Pecaminoso e ardente.
Sou tomada por um calor que percorre todo o meu
corpo.
Minha breve troca de mensagens ontem com Maria
Fernanda me atormentou demais, tanto que nem dormi
direito. Ela não atendia as minhas ligações e nem
respondia as mensagens. Por mais que eu esteja com a
vida agitada por conta do meu namoro, não me esqueci da
Fê. Ela está estranha e eu preciso descobrir o que é.
A única forma de ela não fugir de mim é ir à sua
casa, e é exatamente isso que estou fazendo. Bato à sua
porta e a espero me atender, enquanto Andreo me
aguarda no carro para me dar uma carona até a prefeitura.
Comentei com ele sobre a mensagem estranha dela
quando me deixou em casa ontem, pela manhã, depois da
nossa pegação no quarto dele. Confidenciei que estou
com um pressentimento ruim e preciso descobrir o motivo.
— Maria Fernanda, sou eu, a Alina. — Bato na
madeira pela terceira vez. — Dona Flávia. Tem alguém aí?
— Cabisbaixa, solto um suspiro.
Tem gente na casa, sei que tem, pois quando todos
saem eles fecham a janela da sala. Quase vencida pelo
cansaço, viro-me e encaro o carro do meu namorado e o
encontro olhando na minha direção.
— Acho que não tem ninguém, gata. Volta mais tarde
— sugere, colocando o rosto para fora do carro.
— Tem sim, a janela está aberta. Vou tentar mais
uma vez — digo, voltando a bater à porta. — Amiga, não
sei o que está rolando, mas sabe o quanto sou insistente
quando quero, certo? Hoje é meu primeiro dia no novo
emprego e vou acabar sendo demitida antes mesmo de
começar, mas não me importo. Vou ficar aqui até você
abrir a porta. — Aumento o tom da minha voz.
Os minutos vão passando e nada, até que alguém
abre a porta. Ergo o olhar e me deparo com a mãe da
minha amiga com o semblante triste e um sorriso
pequeno.
Meu coração fica mais apertado no peito.
— Bom dia, Alina — cumprimenta, envergonhada.
— Bom dia, dona Flávia. Aconteceu algo? —
Normalmente ela me recebe calorosamente.
A mais velha abaixa a cabeça e assente, posso
sentir a sua aflição.
— O que houve? — Toco no seu braço.
— Você pode entrar, por favor? — pede, com a voz
quase inaudível.
— Claro, posso sim. — Olho para trás. — Já volto —
aviso para Andreo, que assente.
Flávia me dá espaço para entrar antes de fechar a
porta. Quando não encontro Maria Fernanda na sala, olho
para todos os cantos.
— Ela está no quarto, minha filha. Pode ir lá. — Seu
tom agora é magoado.
Tem algo aí.
— Certo, obrigada. Com licença. — Enquanto sigo na
direção do quarto da minha amiga, meu coração
estremece. A porta dela está aberta, sequer peço licença
para entrar, já vou invadindo.
— Alina? — diz, me encarando surpresa e perplexa.
O meu choque é maior do que o dela. Dou dois
tapinhas no meu rosto para ver se é isso mesmo que
estou enxergando.
Céus, ela está com o canto da boca e perto do olho
esquerdo machucados.
— Que merda é essa, Maria Fê? — Com os olhos
ardendo, eu me aproximo dela, que se encolhe na cama e
desvia o olhar. — Estou falando com você — digo, com a
voz embargada.
— Eu caí — diz, quase chorando.
Ela apanhou de quem?
— Com certeza, não. — O gosto amargo toma a
minha boca.
— Como você entrou? — pergunta e começa a
chorar.
— A sua mãe abriu para mim. — Toco no seu rosto e
a faço me encarar. — Não estamos tão grudadas como no
ensino médio, mas ainda somos melhores amigas, viu?
Sempre temos que falar tudo uma para a outra. Quem fez
isso com você? Me diga agora ou vou perguntar para a
sua mãe! — exijo, revoltada.
— Não se preocupe, Alina, eu já disse que foi uma
queda. Só isso. — Dá de ombros, ainda chorando.
— Quando me enviou aquela mensagem já estava
com esses hematomas? — indago, sentando-me no seu
colchão.
Como me conhece tão bem, desiste de manter a sua
mentira e assente.
— Sim, eu consegui isso umas horas antes —
confessa, soluçando, então eu a puxo para os meus
braços.
— Quem fez isso? — Choro também, como se
estivesse sentindo a dor dela.
— P-Promete... n-não me odiar por não ter dito
antes? — gagueja, me abraçando forte.
— Claro. Estou aqui para te apoiar, ser a sua amiga
— declaro de maneira firme.
— O Mateus. Ele viu uma mensagem no meu celular
quando eu estava tomando banho na casa dele e ficou
descontrolado. Ele foi fuçar o meu celular e leu as minhas
mensagens, e acabou encontrando uma de um ex-ficante
me chamando para sair, mas eu já tinha dispensado o
cara, amiga, só que ele ficou insistindo. Eu expliquei ao
Mateus que não era nada daquilo, mas ele me arrastou
pelo cabelo do banheiro, e quando percebi ele já estava
me batendo. Eu caí no chão, me sentindo tão humilhada.
Nenhum homem tinha me batido, nem mesmo o meu
padrasto tocou em mim, então veio aquele animal e me
agrediu.
Eu a abraço com mais força enquanto choro com ela.
Fico sufocada com a sua revelação.
— E por que você me enviou aquela mensagem
dizendo que vocês já tinham se entendido? — pergunto,
tentando controlar meu choro.
— Eu não consegui sair da casa dele. Depois de ter
me batido, ele me trancou no quarto e saiu, dizendo que
precisava esfriar a cabeça.
Afasto-me dela e limpo o seu rosto molhado.
— E por que não me ligou enquanto ele estava fora?
Eu teria arrombado a porta daquele bundão e te tirado de
lá. — Fungo, deixando as lágrimas caírem.
— Eu ia fazer isso, mas fiquei com medo. E quando
tomei coragem, na hora que estava falando com você, ele
chegou e eu tive que mudar de assunto, daí misturei tudo.
— Seus lábios tremem. — Eu falei para você vir aqui,
então minha mãe falaria que eu estava com ele e você
ligaria os pontos, só que aquele desgraçado entendeu o
que eu estava fazendo e me fez desligar. Depois ele ficou
pedindo desculpas, e como eu estava com medo do que
poderia acontecer se você aparecesse, eu enviei a
mensagem para te tranquilizar, mas com ele lendo tudo,
cada linha.
Fecho os punhos, com raiva.
Quantas mulheres por aí não passam por isso?
Milhares. E por medo não fazem nada, apenas “aceitam”
os tapas e ainda perdoam o safado. Mas eu não vou
permitir que isso aconteça com a Maria Fernanda.
— Como você saiu de lá? — Passo o dedo no
hematoma perto do seu olho e ela se encolhe.
— Eu o enganei. Disse que o perdoava... Aquele
porco só se convenceu porque me deitei com ele, então
acreditou no que eu disse — fala, nauseada.
— O Mateus te obrigou a fazer sexo com ele, Maria
Fernanda? — Meu corpo treme.
— Não, mas eu tive que usar isso para conseguir sair
dali viva, amiga — revela, chorosa. — Eu descobri algo e
não quis te contar por estar com vergonha. Acho que ele é
usuário de drogas, eu não sabia disso. Eu cheguei na
casa dele e o encontrei muito agitado, estranho, só pode
ser isso.
É pior do que eu imaginava.
— Você foi dar queixa, não é? — Ela assente, me
deixando aliviada. — Acharam o vagabundo? — Meus
dentes rangem.
— Eu não queria prestar queixa por medo, mas a
minha mãe e eu discutimos, então ela me disse que nem
ela batia na filha dela e vem um safado e faz isso — diz,
envergonhada. — Depois de horas criei coragem por ver
minha mãe chorando e fui à delegacia com ela, e como o
Felipe frequenta o bar do meu padrasto e são amigos, ele
me deu apoio, então foram procurar o Mateus. Mas ele já
tinha ido embora da cidade, arrobaram a porta da casa
dele e não encontraram nem as roupas, ou pertences
pessoais.
Covardes fazem isso, fogem.
— Pelo menos você foi corajosa, certo? Se ele
colocar os pés aqui pode ser preso. Vale Santo é um ovo,
não tem como se esconder. — Eu a tranquilizo e ela
concorda.
— Me desculpe por ter te ignorado, não foi a minha
intenção. Ontem foi um caos e não queria te enfiar nas
minhas confusões. Fui eu que procurei me envolver com
aquele lixo, jamais imaginei que o seu rostinho bonitinho e
carinha de bom moço poderiam me fazer tantas coisas
ruins. — A tristeza dela é evidente. — E me desculpe por
não ter te atendido antes, fiquei com vergonha que me
visse assim.
— Está tudo bem, já passou, estou aqui agora. —
Volto a abraçá-la. — Só tome cuidado agora com quem vai
se envolver, o.k.? Existem muitos homens que escondem
as garras, mas quando encontram a oportunidade, eles as
mostram. — Acaricio sua cabeça.
— Não quero namorar tão cedo, Alina. Fiquei
assustada com a agressividade do Mateus — confessa,
querendo chorar de novo.
— Não chore mais. Engula esse choro e torne-o a
sua força, amiga — peço, afetada. — O importante você
fez, não o deixou impune.
— Agora me diz... Você e o Andreo transaram
mesmo? — Ela dá uma risadinha e eu me afasto,
lembrando-me que deixei o coitado plantado lá fora.
— Ah, meu Deus! O Andreo está me esperando lá
fora, amiga! — Arregalo os olhos e Maria Fernanda
gargalha.
— Menina, corre! Não deixe o seu boy te esperando,
depois nos falamos. — Sorri, mas o seu olhar continua
abatido.
— Hoje é o meu primeiro dia de trabalho na
prefeitura — digo, emocionada.
— Você merece, agora vá, tenha um bom dia. E
obrigada por tudo.
— Depois do trabalho venho ficar com você —
prometo.
— Não precisa, Alina.
— Eu sou a sua amiga, e amigos são para todos os
momentos, então eu venho sim. Coloque água no feijão,
porque chegarei faminta. — Pisco para ela.
— O.k., te espero.
— Te adoro. — Mando um beijo para ela.
— Eu também. — Devolve o beijo no ar.
Saio do quarto dela em passos largos. O pobre do
Andreo deve estar com a bunda dolorida de tanto me
esperar sentado.

Assim que Alina entrou na prefeitura e vi que ela


estava sendo bem recebida por todos, saí de lá e vim
direto para a casa. Preciso conversar com o meu pai,
saber como ele se sente hoje. Ainda não tive tempo para
vê-lo, acordei cedo para levar a minha morena até a casa
da amiga dela e depois para o seu novo emprego.
Em passos lentos, vou na direção do quarto dos
meus pais, mas a voz bem irritada da minha mãe me faz
parar no caminho, parece que ela e o meu pai estão
discutindo.
— Você está achando lindo o seu filho se envolver
com aquela empregada, não é, Alberto? — O tom dela é
de revolta.
Não sou de ouvir a conversa dos outros, mas preciso
saber quais as intenções dela em relação a mim e Alina.
— É claro que sim, tenho gosto de ver o meu filho
feliz com aquela menina. Ela é a luz dele — diz meu pai,
imagino o seu sorriso.
— Você e esse coração molenga!
Fecho os punhos com o seu jeito esnobe de falar.
— Eu só quero o meu filho feliz, não importa com
quem seja. Ele merece poder fazer as próprias escolhas,
já que você o ofuscou por tantos anos, Bárbara.
Nunca vi os dois discutindo dessa maneira por minha
causa.
— Meu filho para lá, meu filho pra cá! — desdenha
ela e eu estranho. — Acha que o Andreo realmente quer
algo sério com aquela garota que não tem onde cair
morta? Ele não trabalha e está acostumado com o luxo,
acha que quando estiver sem dinheiro vai querer continuar
brincando de namorar a empregadinha? Não mesmo! Tire
o carro dele, cartões, tudo! — Aumenta a voz e eu
semicerro os olhos.
Como ela pode ser assim? Cria uma imagem minha
como se eu fosse um filhinho de papai sem cérebro, e
ainda continua a insistir em uma personalidade que nunca
foi minha.
— Ele não é assim, nunca foi, Bárbara! Acha que eu
não sei quem é você? Vive atormentando o próprio filho
por capricho, desde a adolescência de Andreo você tenta
controlar os passos dele, o destino... Tudo. Como se ele
fosse a sua marionete! — acusa ele.
— Eu faço tudo para o bem dele, Alberto. Aquela
garota vai ser a destruição do Andreo. Ela não estará no
futuro dele, nunca. — Bárbara está quase chorando. —
Ele precisa começar a enxergar a Isadora, ela sim é
perfeita para ele, tem tudo para ser uma Mancini.
Meu pai gargalha.
— Andreo está apaixonado, Bárbara, ele não tem
olhos para a Isadora. Nem ela para ele, a menina gosta do
nosso sobrinho. E você sabe disso, mas ama sabotar tudo
ao seu redor quando não é do seu agrado. Pare com isso.
A Isadora já disse que não quer mais ficar atrás do nosso
filho porque não gosta dele. Por acaso você a vê por aqui
ultimamente? Não!
A revelação me deixa abismado.
— Isadora não tem que querer. Eu já fiz muitos
favores para os pais dela, principalmente para ela, então
me deve e eu vou cobrar!
— Pode parar com isso, está ridículo esse seu
comportamento tóxico. A vida toda você foi assim. Deixe o
meu filho em paz, ele vai namorar a Alina, se casar e ter
filhos, se quiser!
— Você adora dar ênfase à palavra filho, ama
esfregar na minha cara...
Sem suportar escutar a discussão deles e por receio
do meu pai ter uma recaída como da última vez, entro no
quarto com tudo e ambos me olham assustados.
— O que está acontecendo aqui, posso saber? —
pergunto, alternando os olhos entre eles. Meu pai fica
pálido, já a minha mãe mantém a sua postura
aristocrática.
— Você estava aí o tempo todo? — indaga meu pai,
quase gaguejando.
— Não, cheguei agora e ouvi vocês gritando, então
entrei — minto.
— Estou de saída. Converse com o seu pai, já me
estressei muito em tão pouco tempo. — Ela massageia as
têmporas e revira os olhos, como se estivesse entediada,
em seguida, passa por mim e sai do quarto.
— Não quero que fique brigando com ela por minha
causa. Eu posso me defender, já sou bem grandinho —
digo, analisando-o. Ele está tão pálido, que parece que
viu um fantasma.
— Então, estava ouvindo atrás da porta? — indaga,
assombrado.
— Ouvi uma parte da conversa, nada comprometedor
e que eu já não saiba. — Dou de ombros.
— Hum, certo. — Agora parece pensativo. — Onde
estava tão cedo? — muda de assunto, avaliando-me.
— Levei a Alina à prefeitura — falo, indo até ele, que
demonstra satisfação.
— Quando vai rolar o casamento? — pergunta,
brincalhão, mas há uma nota de seriedade.
— Está louco? Não quero me casar tão cedo, ainda
sou novo para essas coisas. — Dou uma risada baixinha.
— Acha que está novinho, garoto? Daqui a uns cinco
anos você estará quase na casa dos trinta, está na hora
de caçar uma família — incentiva e eu gargalho.
— Estou te achando muito intrometido, coroa. Eu não
vou me casar tão cedo, está fora de cogitação. E é como a
primeira-dama disse, nem emprego eu tenho. — Faço uma
careta ao me sentar na poltrona.
— Isso é só um detalhe, você sabe disso.
Só então me lembro do tal documento que diz que
sou dono de tudo dele.
— Você ainda não bateu as botas, então está fora de
cogitação usufruir do seu dinheiro — brinco, fazendo-o rir.
— O dinheiro também é seu. Você tem duas opções.
Posso te arrumar um emprego em algum lugar ou você
volta para a faculdade.
Meu coração quase salta do peito.
— Está falando sério? — Estou boquiaberto.
— Sim, Andreo. Eu não quero que você trabalhe, não
agora, porque em algum momento terá que assumir muitas
responsabilidades da família, mas preciso que você
retome os estudos. Você tem apenas vinte e quatro anos,
é jovem, tem muita vida pela frente. E a primeira coisa
que eu quero, é que faça o curso de engenharia mecânica,
como sempre quis.
Engulo o nó que se forma na minha garganta.
A atitude dele depois de tantos anos me afeta pra
caralho. Limpo a garganta e em meus pensamentos só
aparece a Alina. Se eu começar a faculdade, terei que
ficar mais tempo em Monte Verde do que em Vale Santo,
mas me formar na profissão que eu sempre quis é o meu
sonho.
— Está pensando em como vai ficar a sua namorada,
não é?
Eu me viro para ele e vejo sua expressão séria.
— Sim. — Passo a mão por minha cabeça, ainda
atordoado com as palavras dele.
Por que essa proposta depois de tantos anos se
fazendo de cego? Por qual motivo decidiu passar por cima
das ordens da esposa e me apoiar mesmo que saiba que
ela vai surtar ao saber que vou cursar engenharia
mecânica.
— Não é um problema para vocês, pode levá-la —
sugere, como se fosse fácil.
— A madrinha dela não permitiria isso. — Deixo
escapar.
— Alina não é mais criança, Andreo. E outra coisa,
Monte Verde fica logo ali, coisa de uma hora de viagem de
carro. — Pior que ele tem razão.
— Ela começou agora no emprego, não vou deixar
que largue o trabalho só para que eu faça a minha
faculdade e...
— Sei que vai ficar puxado, mas se vocês se gostam
mesmo, podem se ver nos finais de semana. — Dá de
ombros e se senta na cama.
— Vou conversar com ela sobre isso — murmuro,
ainda aéreo.
— Pense direitinho na minha proposta. Será ótimo
para você realizar o seu sonho e encontrar a sua
independência, como deseja — fala, me deixando tentado.
— Antes do final de semana dou a resposta. — Só de
pensar em ficar distante da Alina um sentimento ruim me
toma, nunca fiquei assim antes.
— Você tem todo o tempo do mundo. Só estou te
dando a oportunidade de correr atrás do que te faz feliz —
acrescenta e eu concordo ao me levantar.
— Eu sei e o agradeço por isso. — Passo a mão por
meu cabelo, nervoso.
Meu celular vibra no bolso, então eu o pego e vejo
que é uma mensagem da Alina.
“Hoje não vou poder te ver, marquei de ficar com
a Maria Fernanda, a minha amiga está precisando de
mim. Vou lá dar uma força para ela, mas amanhã nos
veremos, certo? Beijos. Te adoro.”
Sorrio com uma porra de mensagem. Logo ouço o
meu pai pigarreando, então eu o encaro e ele sorri para
mim como se dissesse “a garota te amarrou pelas bolas”.
Prontamente digito para ela.
“Qualquer coisa me ligue. Se aquele merda aparecer,
eu arranco o pescoço dele fora. O bundão merece umas
porradas por ser covarde.”
Ex da amiga é um filho da puta agressivo que bateu
na garota e fugiu como um frouxo. No caminho até a
prefeitura, Alina me contou tudo o que tinha acontecido,
eu fiquei revoltado naquele momento. Se visse o safado
na minha frente, eu daria uns murros nele para ver como é
que se bate. Eu o faria engolir todas as dores que causou
para a Maria Fernanda.
Logo recebo a resposta dela.
“Hum, amo quando fica tão protetor. Pode deixar,
amor, eu aviso.”
O amor dela deixa meu coração um filho da puta
traidor, porque ele bate desgovernado.
— Ah, merda, essa garota, sei não... — Fecho os
olhos, todo derretido.
— Limpa a baba, Andreo Mancini. — Tinha até me
esquecido que tenho plateia.
— Não enche, coroa — resmungo.
— Essa sua nova fase está me deixando orgulhoso.
— Como? — Eu o encaro confuso.
— Apaixonado — diz, realmente orgulhoso.
— Só você mesmo, Alberto Mancini. — Bufo, mas
depois dou a porcaria de uma risada. — Estou de saída,
você está muito bem para o meu gosto. — Sem esperar
que me diga algo, dou as costas para ele e saio do quarto.
Desço a escada e encontro a madrinha de Alina,
cabisbaixa e vestida com o uniforme ridículo — que a
minha mãe obriga a usar todos os dias. Ela está limpando
o sofá, não demora muito para que ela me note.
Desconcertado, vou até ela.
— Bom dia, dona Dandara — eu a cumprimento.
— Bom dia, senhor. Está precisando de algo? — Ela
me trata com formalidade e isso me incomoda.
Nego com um meneio de cabeça.
— Não precisa me chamar de senhor, eu sou o
namorado da sua afilhada — digo, envergonhado com o
olhar hostil que recebo.
— E se não fosse, eu poderia te chamar de você do
mesmo jeito?
Porra, a velha sabe ser durona, me deixa até sem
palavras.
— Claro, não vejo problemas. — Dou de ombros.
— Olha, Andreo, eu permiti que você e a minha
menina namorassem porque sei que quando meninas da
idade dela se apaixonam, o mundo vira de cabeça para
baixo. Achei melhor permitir para que ela não o faça
escondido, mas não sei por que... Esse envolvimento de
vocês dois me causa um desconforto. — Ela toca no peito
e solta um suspiro triste. — Só espero que ela não saia
magoada, jamais te perdoaria se Alina viesse a sofrer por
sua causa. Sei que se gostam, mas você tem uma família
complicada demais e nela não cabe alguém tão inocente
quanto a minha menina, que pode acabar sendo vítima de
muitas maldades.
Sinto o meu sangue fugir do rosto com o seu
discurso.
— Senhora...
Ela faz um gesto com a mão, me interrompendo.
— Apenas a ame com todo o seu coração e não a
magoe, só te peço isso. Se me der licença, preciso
terminar os meus afazeres.
Dandara me deixa mais uma vez sem saber o que
falar.
Sabe quando você é bem tratada em um lugar e se
sente acolhida? É aqui na prefeitura. Estou há uma
semana trabalhando e já me sinto de casa, todos são
maravilhosos, do pessoal da limpeza até os que ocupam
um cargo alto.
Aqui sou assistente, faço o serviço mais “pesado”.
Vou até a copiadora, mexo em planilhas e levo cafezinho
vez ou outra quando me pedem.
Em algumas coisas ainda estou pegando o jeito, mas
sou inteligente e aprendo rápido, ainda mais quando sei
que esse emprego é o meu novo ganha-pão e preciso dar
o meu melhor.
O meu trabalho na prefeitura está rendendo. A
cidade já sabe do meu relacionamento com o Andreo, e a
suposta gravidez não durou muito na boca deles, agora
não param de falar que a ex-empregada dos Mancini
conseguiu fisgar o filho rico do prefeito. Daqui a pouco
irão até me pedir trabalho, pensando que tenho poder
para isso. Quem me dera.
— Alina, querida, você pode entregar essas cópias
ao prefeito, por favor? — pede Suzi, a secretária do
Alberto.
Ela é um amor, me trata como se fôssemos amigas
de anos. Mesmo sendo a minha superior aqui, é muito
carinhosa comigo.
— Claro que sim, senhora. — Largo a planilha no
computador e vou até ela.
— Não sou tão velha assim. Mesmo com os meus
quarenta anos, eu me sinto uma garotona, então me
chame de Suzi. Já disse isso, certo? — Ela estende os
documentos e revira os olhos, divertida.
— Pode deixar, Suzi. — Pisco para ela.
— Você almoçou hoje, meu bem? Como saí mais
cedo, eu não a vi. — Suzi não come aqui, ela almoça
todos os dias em um restaurante.
— Sim, comi sim. Fui ao refeitório às onze. — Coloco
meu cabelo atrás da orelha com a mão livre.
— Por isso! Eu saí antes porque tinha uma consulta,
depois fui almoçar no Safari. Mas ainda bem que se
alimentou, ontem você nem quis comer direito porque
estava tão focada nas planilhas. Eu já disse que não
precisa passar todas as informações de uma vez, pode ir
fazendo isso no decorrer da semana.
Fico feliz por ela se preocupar comigo.
— Fiquei empolgada, Suzi. — Faço uma carinha de
inocente e ela faz uma careta.
Realmente me empolguei, como eu disse, preciso dar
o meu máximo aqui.
— Pois guarde as suas empolgações e comece a
fazer aos poucos. Daqui a pouco, o prefeito puxa a minha
orelha por sobrecarregar demais a nora dele — diz, bem-
humorada.
— Que nada. Isso aqui é fácil para mim, muito mais
do que trabalhar com faxina. Isso sim é cansativo —
confesso.
— O.k. — ela assente —, mocinha. Agora leve as
cópias, ele está esperando. — Sorri gentilmente.
— Você quem manda, com licença — falo, risonha.
Deixo Suzi e sigo na direção da porta da sala do
prefeito. Bato à porta e logo escuto o entre do outro lado.
Ao entrar, eu me deparo com o pai do meu namorado
sentado em sua cadeira. Parando para analisar direito,
mesmo que Alberto tenha cabelo grisalho e algumas
rugas, a semelhança de Andreo com ele é bem evidente.
Já com a Barbara... Andreo só tem os olhos dela, quer
dizer, lembra um pouco, mas não tanto.
Se não fosse muito improvável, poderia até pensar
que aquela mulher não é mãe dele, pois a forma como o
trata é absurda. Ela passa dos limites sempre, chega a ser
repugnante.
Por que diabos estou reparando nisso agora? Que
pensamento bobo esse. É claro que se ele não fosse filho
de Barbara, todos saberiam, certo? Acho que sim.
— Está tudo bem, filha?
Sinto minhas bochechas esquentarem quando ele
chama a minha atenção. Passei muito tempo o observando
sem nem ao menos disfarçar.
— Desculpe, senhor, está sim. Só fiquei um pouco
distraída. — Envergonhada, eu me aproximo da sua mesa
e estendo os documentos. — A Suzi pediu para entregar
ao senhor. — Coloco os papéis na mesa.
— Obrigado, Alina — fala, educadamente. — Agora
que namora o meu filho, pode me chamar de Alberto, não?
Fico ainda mais vermelha com o que fala, mas gosto
do seu tratamento, ele é mais suave do que a esposa.
— É-é... eu o chamo de senhor por respeito e por ser
mais velho, gosto de manter essa linha mesmo sendo a
namorada do Andreo — confesso, um tanto sem graça.
— Tudo bem, faça como se sentir confortável — diz,
me fazendo assentir.
— Se me der licença. — Daqui a poucas horas é o
fim do meu expediente e eu preciso terminar uma parte da
planilha para não acumular, são muitos contatos que estão
nas folhas impressas para serem repassadas para o
computador, então, se eu não adiantar nem que seja a
metade, ficarei agoniada.
— Podemos conversar?
O seu pedido me deixa de olhos arregalados.
— C-claro! — gaguejo, desconcertada.
— Se sente, por favor, prometo não tomar muito do
seu tempo — diz, seriamente.
Prontamente arrasto a cadeira e me sento.
— Eu fiz algo que não o agradou? — pergunto, já
assombrada.
Ele nega, meio confuso com a minha pergunta.
Ufa, pelo menos isso. Me remexo na cadeira e
respiro profundamente.
— Eu sei que você e toda a cidade sabem da fama
do meu filho, certo? Das festas, dos rachas aqui em Vale
Santo... — Faz uma careta e eu assinto. — Aquele antigo
Andreo não existe há um tempo e eu me orgulho disso.
Não posso deixar de ressaltar que você tem uma parcela
de culpa nisso. Não precisa se assustar, Alina, é uma
coisa boa. Você está sendo essencial na vida do meu
filho. Antes, ele usava a revolta dele nessas badernas
para provocar a mãe, mas depois que começou a tentar se
aproximar de você, ele tirou a atenção dele daquelas
porcarias e... me perdoe as expressões, é que eu jamais
compactuei com o tipo de coisa que ele fazia...
— Me desculpe, sr. Mancini, mas por que estamos
tendo essa conversa? — Não me contenho e o interrompo.
— Vou chegar lá — promete. — Andreo e a mãe
nunca tiveram uma boa relação, vivem nessa troca de
farpas desde a adolescência dele. A Bárbara é uma
mulher complicada e muito rígida, ambos têm um gênio
forte, e quando se confrontam é difícil pará-los. E por
conhecê-los e saber que são capazes de tudo para não
baixar a cabeça para o outro, eu quero te fazer um
pedido. — Os olhos dele enchem de lágrimas,
automaticamente meu coração se aperta.
Acho muito estranha essa relação entre mãe e filho,
qualquer um deve achar, mas como ninguém tem coragem
de dizer fica por isso mesmo.
— Estou te ouvindo.
— O meu filho está muito apaixonado por você.
Vocês estão. — Ele sorri, emocionado, e uma lágrima
boba insiste em cair do meu olho.
— Aham, estamos sim. — Quem diria que eu me
apaixonaria por Andreo Mancini.
— Meu filho tem aquele jeitão marrento. — Rio do
seu linguajar, mas logo fico séria. — Mas é um bom
menino. É sonhador, apesar de Bárbara ter tentado
controlar o destino dele com as próprias mãos, ele nunca
permitiu que ela fosse longe demais a ponto de conseguir
corrompê-lo, e isso é muito bom. — Suspira, pensativo.
Eu penso que deveriam ter queimado a minha língua
para que eu não falasse demais, mas é como dizem: quem
tem boca fala o que quer.
— Me perdoe, senhor, mas por que fala tão
ressentido, e nunca faz nada para parar a sua esposa?
E... Sei que posso parecer intrometida, mas ainda não
estou entendendo o teor dessa conversa. — Passo a mão
por meu cabelo.
— Propus ao Andreo que cursasse o que sempre
quis, e aqui em Vale Santo não tem faculdade, ele teria
que se deslocar para Monte Verde.
Pedi que fosse direto e o tombo veio com força, se
não estivesse sentada estaria de bunda no chão.
Andreo vai embora? Meus olhos ardem, nem consigo
disfarçar a minha surpresa. Ele não me disse nada, não
dividiu essa novidade comigo.
Apenas encaro o pai dele sem saber o que dizer, o
mais velho percebe e prossegue.
— Preciso que o meu filho tente recuperar o tempo
perdido antes que os anos passem e ele não consiga fazer
nada de bom na vida, digo profissionalmente, Alina. —
Espalma as mãos na madeira da mesa.
Ele vai me pedir para desistir do filho dele? Quase
chorando e com o coração sendo esmagado aos poucos,
tento me controlar.
— E o que quer de mim? — Minha voz sai
embargada.
Se eu não estivesse completamente apaixonada,
dependente do Andreo, eu o deixaria partir sem problema
algum. Mas por mais que seja bobo, temos uma ligação
forte, mesmo que o nosso envolvimento seja recente. O
fato de ele ter sido o meu primeiro homem e amor me
afeta muito. Sei que não deveria me apegar a isso, mas
acho que o nosso namoro vai além da paixão, eu sinto que
o amo de todo coração.
— A minha esposa não concorda com o
relacionamento de vocês e ela será capaz de tudo para
tentar separá-los.
Um nó se forma na minha garganta.
— Eu sei disso. — Não é nenhuma novidade o que
ele está contando, mas vamos por partes. — E o que
senhor acha disso?
— Acho que vocês devem ser felizes,
independentemente do que digam ou achem. — Solto um
soluço de alívio com as suas palavras. — Eu quero que o
meu filho seja feliz, e você está sendo o motivo da
felicidade dele. Jamais vi o Andreo sendo tão atencioso
com alguém como é com você, Alina. O meu pedido é que
não importa o que aconteça, quero que me prometa que
nunca vai desistir dele, do amor de vocês, como um dia
tive que desistir do meu para agradar aos meus pais. —
Alberto fica pálido ao perceber que falou demais.
Essa conversa está me deixando atordoada.
— Está falando isso porque o Andreo vai embora? —
pergunto, fingido não ter dado importância para a sua
revelação.
Como assim ele teve que desistir do amor dele?
Coisa mais estranha e sem nexo. Será que ele tinha uma
amante? Que nada, ele não tem cara de ter sido um
homem desonesto.
— Meu filho não vai embora, e se for, você pode ir
com ele.
Joga a bomba no colo, como se fosse fácil.
— Senhor, não é bem assim... — Fico sem reação.
— Você é a parte mais saudável do Andreo, é a
melhor coisa que ele pode ter em todos esses anos. Nem
eu fui capaz de dar a ele o que você está conseguindo dar
em tão pouco tempo. Amor, compreensão, amizade, tudo
de bom. — Ele me encara esperançoso, como se eu fosse
a luz para o problema dele, seja lá qual for ele.
— Confesso que estou surpresa, senhor. Juro que
pensei que iria me pedir para deixar o seu filho —
confesso, sentindo um frio na barriga.
— Jamais arrancaria a felicidade das mãos do meu
filho, Alina. Se dependesse de mim, vocês já teriam filhos
— diz, de um modo engraçado.
— Ainda é cedo! — Solto uma risada, mais relaxada.
— Nunca é cedo quando se trata do amor. Sempre se
lembre disso.
Suas palavras me tocam profundamente e eu assinto.
— Sem querer se enxerida... Por que a senhora
Mancini tenta controlar a vida do Andreo? Não acha que
ele já é bem grandinho para saber o que quer? — Mordo a
língua.
Eu tenho que aprender o que é limite. Por Deus!
— É... Alina, você pode dizer a Suzi que estou
precisando dela agora para me explicar algumas coisas?
— Ele ignora totalmente a minha pergunta, mudando de
assunto.
— Claro, posso sim. — Envergonhada por ter sido
muito intrometida, levanto-me percebendo que a conversa
acabou. Ele não vai dizer mais nada.
— Obrigado por tudo — agradece.
— Sou eu que devo agradecer ao senhor por ser um
homem tão bom. Obrigada — digo de coração.
— Se precisar de qualquer coisa pode contar comigo,
filha.
— Sim, senhor. — Meneio com a cabeça. — Com
licença — peço, gentilmente.
Dou as costas para o pai do Andreo com a sensação
de que essa nossa conversa foi muito estranha. Sinto que
tem algo muito sério por trás do seu pedido, e saber que
Andreo vai voltar a estudar sem ter comentado comigo me
magoa. Será que ele pretende me deixar, terminar o nosso
namoro? Ele seria capaz de ir embora sem dizer nada?

Mais um dia de trabalho finalizado com sucesso.


Consegui adiantar uma boa parte das planilhas, mas com
os pensamentos presos na conversa que tive com o meu
sogro. Não consegui tirar da cabeça a suposta ida do meu
namorado para Monte Verde, e o fato de ele não ter
tocado no assunto mexe muito comigo. Preciso encontrar
uma forma de abordá-lo.
Do lado de fora, encontro Andreo encostado no carro
dele vestido com jaqueta, jeans e botas, tudo preto. Ele
está fumando um cigarro tranquilamente, e quando me vê
saindo pelos portões, dá uma última tragada e solta a
fumaça pelo nariz e boca. Balanço a cabeça ao notar o
seu sorrisinho malicioso. Andreo então joga o cigarro no
chão e o pisa com a bota. Odeio vê-lo fumando, essa
porcaria não faz bem para saúde, mas notei que quando
está nervoso fuma com mais frequência, parece que a
nicotina é a maneira que encontra para desestressar.
Como não notei antes? Nos últimos dias ele fumou
mais do que o normal.
— Não gosto desse olhar — diz, quando o alcanço.
Não demora para que ele pegue a minha mochila e a
jogue no banco de trás pela janela.
— Que olhar? — Eu me faço de desentendida, sem
querer o olhar nos olhos.
— De tristeza. Você não estava assim quando te
deixei aqui pela manhã. O que aconteceu? — Ele passa os
braços ao redor da minha cintura e me puxa para ele.
— Só estou com um pouco de dor de cabeça. — Faço
uma careta e, por fim, eu o encaro.
Andreo franze o cenho e avalia o meu rosto.
— Eu te conheço, Alina. — Leva uma mão ao meu
rosto e o acaricia, então fecho os olhos e solto um
suspiro.
— Vamos? Já vai anoitecer, preciso ver a Maria
Fernanda — desconverso, desanimada.
— Não vai me dizer, ou prefere que eu entre lá e
procure saber o que fizeram com você?
Arregalo os olhos ao ouvir seu tom decidido.
— Estou bem, Andreo, ninguém me fez nada. Por
favor, só vamos embora — peço, com a voz quase
embargada.
— Está tudo bem entre a gente, não é? — Ele
aproxima seu rosto do meu.
— Está sim — digo, com a garganta quase travada.
Por que estou sofrendo antecipadamente com a sua
partida? Estou com uma sensação estranha no meu peito,
como se essa fosse a última vez que ficaremos juntos.
Tento me afastar dele para sairmos logo da frente da
prefeitura para não sermos alvos de olhares curiosos, mas
Andreo me prende ao seu corpo e toca em meu queixo,
me obrigando a olhá-lo nos olhos.
— Queria não te conhecer tão bem. — Estala a
língua. — O que eu fiz para você estar me evitando? —
pergunta de maneira firme, disposto a conseguir uma
resposta.
Com os lábios trêmulos e os olhos marejados, busco
forças para ser firme e não chorar, porém, a voz do
prefeito soa na minha cabeça e eu acabo fraquejando, o
suficiente para deixar que as lágrimas deslizem por
minhas bochechas.
— Quando ia me dizer que pretende ir embora de
Vale Santo? — Soluço, me odiando por estar tão
vulnerável.
— Quem te disse isso? — Uma expressão fria
aparece em seu rosto.
Eu não quero que o Alberto saia como o fofoqueiro
da história, mas não suporto guardar para mim algo que
dói tanto.
— O seu pai, ele disse que você...
— Mas eu ainda nem dei uma resposta para ele! —
Bufa, irritado, então aproveito e saio dos seus braços.
— Você não ia me falar, não é? Só ia me dizer
quando estivesse lá? — acuso, em choque.
— Claro que não, Alina. Eu estava pensando em
como te contar isso, mas jamais iria sem falar para você.
— Ele se aproxima de mim e me abraça ao perceber que
estou chorando. — Qualquer decisão que eu tome irei
falar para você. Porra, você é importante para mim, sabe
disso. E não precisa chorar, Monte Verde é logo ali, uma
hora de viagem. Caso eu vá, venho duas ou três vezes por
semana para te ver. — Beija minha cabeça e eu fico em
seus braços.
Também não posso ser egoísta dizendo para ele não
ir, é o sonho dele, e conquistar a independência é a
melhor coisa que pode fazer. Independentemente dos
meus sentimentos por ele, tenho que o apoiar, por mais
que seja doloroso e eu fique com o coração partido.
Por que está doendo tanto? Por que esse maldito nó
insiste em tomar conta do meu peito?
— O que está te impedindo de aceitar? — pergunto,
fungando, com o rosto encostado no seu peito.
— Muitas coisas, principalmente você — confessa,
acariciando minhas costas.
— É a sua chance de se ver livre da sua mãe, tem
que aceitar. Não importa se vamos nos ver só no final de
semana, ou de quinze em quinze dias. O importante é que
você se torne independente e que possa voar sem que
Bárbara Mancini tente cortar as suas asas, então
aproveite a oportunidade que está tendo e vá. — Coloco a
mão no seu peito e o encaro, seus olhos acinzentados
estão mais escuros e intensos.
— Nenhuma namorada minha falou dessa forma. —
Seu tom é brincalhão, mas logo volta a ficar sério.
— Mas é claro que não, sou a sua primeira namorada
de verdade, as outras não contam — digo, convencida,
para deixar o clima mais leve.
— Tem razão. Você é a primeira garota a conseguir
mais do que beijos... e sexo. — Inclina o rosto e aproxima
a boca perto do meu ouvido, me deixando arrepiada. —
Alina Martins, você conseguiu chegar aqui com muita
facilidade, e para sair vai ser difícil. Será como uma
guerra entre dois mundos poderosos. — Ele pega a minha
mão e a coloca sobre o seu coração. O seu gesto me faz
ofegar.
Ele quis dizer que tenho o seu coração. Oh, céus!
Não esperava uma declaração melosa, mas já é um
começo.
— Saiba que vou te apoiar na sua decisão, seja qual
for ela. — Está doendo demais, mas é a vida dele, e se eu
gosto de Andreo, tenho que o apoiar.
— Se eu disser que te amo vai ser muito cedo,
garota? — Sorri abertamente, e eu solto uma risada.
— O seu pai me disse que nada é muito cedo quando
se trata do amor, então não, não é. — Meu coração bate
forte quando ele traz o seu rosto para perto do meu e roça
nossos narizes. Respiro profundamente e tomo a iniciativa
de o beijar.
Nos beijamos lentamente, e não passa despercebido
o gosto da nicotina. Andreo enfia a língua na minha boca
e eu o recebo de bom grado, gememos baixinho com o
contato. Ele leva uma mão à minha bunda enquanto a
outra segura um punhado do meu cabelo ao mesmo tempo
em que seguro em seu braço e acaricio a sua nuca com a
unha.
— O meu pai está sendo um cupido e tanto — diz, ao
finalizar nosso beijo com selinhos.
— Com certeza! — Dou risada, roçando nossos
lábios.
— Já estamos bem? — indaga, preocupado.
— Estamos sim.
— Eu quero muito fazer esse curso. — Nos
olhamos nos olhos.
— Vá e faça, alguns quilômetros não irão nos
separar — eu o incentivo.
— E se eu te pedir para ir comigo, você vai? —
pergunta, me deixando perplexa.
— Morar com você? — Arrisco e o vejo balançar a
cabeça.
Não posso abandonar a minha madrinha aqui para
viver com ele. Como ela vai se virar sozinha? Sei que em
algum momento terei a minha família, mas ainda é muito
cedo.
— Não digo morar, passar alguns dias ou meses —
sugere, e eu fico pensativa.
— Posso pensar?
— Claro.
— O.k., então trate de se inscrever para o curso,
daqui a alguns anos quero te ver formado, sr. Andreo
Mancini. — Pisco para ele.
— E você, por que não começa o seu curso também?
Lembro-me que comentei com ele sobre a minha
vontade de fazer o técnico de enfermagem e que estou
juntando dinheiro. Mas acabei mudando de ideia, durante
essa semana na prefeitura, eu me vi admirando os
números, talvez eu faça algum técnico de administração.
— Agora tenho outros planos. — Empino o nariz.
— Ah, é? E quais são? — Sorri de lado.
Acho incrível a nossa facilidade de falar sobre futuro,
é como se estivéssemos fazendo planos sem nem ao
menos perceber.
— Estou pensando em administração. Imagina, se eu
administrar algo? Gosto da ideia — digo, sonhadora.
— O céu é o limite para você, morena. — Ele beija a
ponta do meu nariz. — Agora vamos, porque a Maria
Fernanda vai querer me matar por ter feito a melhor amiga
se atrasar para o encontro das garotas. — Ele imita uma
voz feminina e eu gargalho. Adoro quando ele deixa a
pose de malvadão de lado.
— Para você também, bad boy — eu o chamo pelo
apelido que mais odeia e ele me dá um tapa na bunda.
Ruborizo ao ouvir uma buzina atrás do carro dele.
Droga, que vergonha! Andreo e sua mania de
estacionar onde não deve.
Depois que recebi o apoio de Alina, disse sim para a
proposta do meu pai e logo em seguida fiz a inscrição
virtualmente, mas nos próximos dias precisarei levar
alguns documentos ao campus.
Tomar essa decisão foi difícil para mim, passei uma
semana tentando reunir coragem para dizer a ela. Jamais
tive dificuldade de tomar decisões, porque nunca me
importei com a opinião de ninguém. Na verdade, não sou
de me importar com nada, sempre vivi como bem quis. E
apesar de Alina ter entrado na minha vida há pouco, ela já
ocupa um espaço que nenhuma outra o fez.
Minha vida era simples: sexo sem compromisso,
muita putaria, diversão e rachas com um bando de idiotas
sem cérebro, assim eu conseguia alcançar a ira de
Bárbara Mancini por tentar me controlar. Eu adorava ver a
minha mãe perder a paciência comigo. O.k., reconheço
que era um comportamento infantil para alguém da minha
idade, mas assim eu a fazia pagar pelas suas sabotagens.
Desde que me conheço por gente, sempre foi que
vença o melhor, eu era um bom jogador e ela também,
ambos tóxicos a ponto de sermos capazes de tudo para
um não ficar à mercê do outro. Eu nem sei explicar o
verdadeiro motivo de tanta implicância, mas quem
começou a disputa de poder foi ela, e eu por não gostar
de abaixar a cabeça e me curvar às suas vontades, eu a
confrontava.
Mas então, em um dia qualquer e entediante,
coloquei meus olhos em Alina e tudo mudou. Eu tinha um
plano elaborado na minha cabeça para fazer o tédio ir
embora nos dias seguintes, e achava que ela seria uma
presa fácil por ser de uma cidadezinha do interior, porém,
me enganei e gostei de ser surpreendido. A morena é
mais inteligente do que eu imaginava, e não cedeu às
minhas investidas por meu charme ou insistência, porque,
assim como eu, também estava atraída por mim.
— Amor, o seu pai já teve alguma namorada antes da
sua mãe?
Estranho a sua pergunta repentina, mas não deixo
passar despercebido o seu “amor”. Na maioria das vezes
ela me chama assim e nem percebe, mas quando isso
acontece fica coradinha.
— Que eu saiba, não. Ele namorava a minha mãe
desde muito novo. Por que está perguntando isso? — falo
e beijo a sua perna nua. Desde ontem ela vem fazendo
perguntas estranhas.
Ontem, a caminho da casa de Maria Fernanda, ela
começou a me encher de perguntas, mas estava tão
perdido em pensamentos após a nossa conversa sobre a
faculdade, que nem dei muita importância.
— Hum... Tem certeza? — Solta um gemido quando
mordo a sua pele cheirosa.
— Tenho sim, Alina — digo, com o cenho franzido,
agora a encarando.
— Não me olhe assim, só estou curiosa. — Revira os
olhos, dengosa.
— Desde ontem, não é?
Ela fica com o rosto vermelho e eu gargalho.
— Então, quer dizer que ontem estava me ouvindo e
se fazendo de louco? — Arqueia a sobrancelha e me lança
um olhar matador.
— Estava distraído, é diferente! — Levo a mão ao
meio das suas pernas, adorando por ela ter vindo para a
minha casa de saia. Mas, para a minha frustração, ela
fecha as pernas rapidamente.
— Uhum, sei! E nada de colocar a mão aí, seu
tarado! — resmunga.
— Sabe que fico fraco quando te vejo de saia —
brinco, recebendo um tapa no ombro. — Ei, sem agressão!
— Rio da sua carranca.
Hoje é sábado, mais cedo eu fui à casa dela e
troquei algumas palavras com a Dandara enquanto Alina
arrumava a sua mochila para passar a noite comigo.
Graças a Deus, mesmo que a sua madrinha tenha um pé
atrás comigo, ela não interfere mais em nosso
relacionamento, tenho livre acesso à sua casa.
— Estou irritada com você. — Esconde o sorriso.
— E o que posso fazer para te deixar mais calma? —
Sei que adora ser mimada.
— Me surpreenda. — Dá de ombros, amando o nosso
joguinho.
Estou muito feliz por estarmos bem. Mesmo que ela
saiba que em breve a nossa rotina mudará, está tranquila,
sorridente e muito mais apegada a mim. O que pensei que
seria motivo para um possível rompimento, veio para nos
fortalecer mais. Gosto da ideia de evoluirmos juntos e aos
poucos.
— Já sei o que pode te fazer sorrir. — Salto da cama
e ela se levanta logo em seguida.
— O quê? — Arqueia a sobrancelha.
— Comida. Eu sei que você gosta de comer, então
vou pegar um pedaço de torta de chocolate para você,
assim o seu humor melhora. — Pisco para Alina com
charme.
— Vou com você — diz, decidida.
— O.k. — Assinto e sigo na direção da porta, mas eu
a deixo sair primeiro.
Seguimos pelo corredor até chegar à escada. Ainda
no topo, Alina monta nas minhas costas e eu desço com
ela se segurando em meus ombros e soltando alguns
gritinhos.
— Você vai nos derrubar, maluco! — Ela solta uma
risada alta.
— Quando estamos juntos, dividimos o mesmo
neurônio, isso é uma merda — falo, com ela ainda nas
minhas costas.
— Deixa de ser chato. Uma vez ou outra que
fazemos isso. — Ela encosta a boca no meu pescoço e eu
fico arrepiado.
— Que ninguém nunca me veja assim — reclamo,
mas sorrindo.
— Assim como? — Aperta as pernas ao meu redor
com mais força.
— Cachorrinho. — Faço um muxoxo.
— Cachorrinho? — repete, risonha, quando entramos
na cozinha.
— Você me faz de gato e sapato, sabia? Estou quase
colocando a língua para fora e fazendo “au”. — De costas,
eu a coloco sentada na ilha.
— Ah, que mentiroso safado!
Fico de frente para ela e descaradamente dou uma
boa olhada em sua calcinha vermelha de renda. E quando
percebe, ela fecha as pernas, mas não adianta mais,
porque vi quando se deitou na minha cama.
Só estamos à vontade porque não tem ninguém na
casa além de nós. Meus pais foram para Monte Verde,
ontem estavam de segredinho no escritório, hoje bem
cedo partiram e só retornam na segunda. O bom é que
fico com a casa só para mim e Alina, assim teremos mais
privacidade.
O melhor de tudo é que o idiota do Eros também se
foi e parece que não volta tão cedo, já que tem os
negócios dele. Enfim, aquela escória foi embora, quem
sabe agora ele não consegue conquistar Isadora de vez
para viverem felizes para sempre no mundinho fútil deles.
— Nunca minto, em hipótese alguma. — Viro-me de
costas para ela e abro a geladeira. — Aqui tem uma torta
de chocolate e uma de maracujá, a Dandara fez ontem.
Você quer qual? — Eu a observo por cima do ombro.
— Quero as duas. — Fecha os olhos e morde os
lábios como se estivesse saboreando algo.
— Gulosa — provoco, tirando as tortas da geladeira
e colocando-as ao seu lado na ilha.
— Sou mesmo! Quero um pedaço de cada, e um
copão de suco. — Dá de ombros.
— Vai caber tudo aí dentro? — Encaro o seu corpo
magrinho, principalmente a sua barriga.
— Claro que sim, querido. — Joga o cabelo para
trás. — Carinha de princesa e estômago de pedreiro!
Jogo a cabeça para trás e gargalho com a
comparação.
— Você é terrível. A sua sogra morreria com esse
linguajar. — Meu humor fica muito melhor ao me lembrar
que a minha mãe surtaria se a ouvisse falando assim.
— Aquela ali já desisti de conquistar. Nem que eu
tome banho de ouro ela vai gostar de mim, afinal, a
preferida dela é a Isadora. — Alina faz uma cara de nojo.
— Ainda bem que a nora dos sonhos da sua mãe não
aparece mais por aqui, a coitada deve ter chegado ao
limite, e nem foi por você, porque é inútil essa coisa de
disputa. Deve ter enjoado da primeira-dama.
Acho que pensou alto demais, porque coloca a mão
na boca e fica com o rosto vermelho, então pede
desculpas baixinho.
— A Isadora gosta do meu primo, Alina. Ela só ficava
em cima de mim por dever favores à minha mãe, apenas
isso — revelo, ao tirar o prato do armário, a faca e um
garfo da gaveta.
— Até parece que ela não adorava tirar uma
casquinha. Nem tudo era a base da chantagem, não, eu
via que ela te olhava com cobiça — fala, se inclinando,
pegando o garfo e enfiando na torta de chocolate. Ela tira
um pedaço e o leva à boca. — É claro que ela te achava
um gostoso, ainda deve achar. Eu também achava — diz
depois de mastigar.
Mesmo sem ter nada na boca, eu quase me engasgo
com a sua sinceridade. Evito tossir, mas sei que estou
vermelho ao reprimir a tosse. Corto dois pedaços das
tortas e os entrego a ela, então guardo tudo e pego um
copo de suco de maracujá.
— Você tem uma língua afiada — digo, rindo ao vê-la
devorar os dois pedaços das tortas e bebericar o líquido.
— E estou mentindo? Você é gostoso, mas não mais
do que isso aqui. — Geme e coloca o pedaço da torta de
chocolate na boca.
— Ah, é? — Faço-me de ofendido e ela assente, com
a boca cheia. — Pois eu duvido. — Aproximo-me dela e
abro as suas pernas, me encaixando no meio delas.
— Exibido — murmura, após ter mastigado.
— Sou mesmo. — Levo o polegar ao canto dos seus
lábios que tem resquício de chocolate. — Você é uma
bagunça, garota, mas eu gosto disso. — Vou deslizando o
dedo lentamente, limpando ali, até que nossos olhares se
encontram e ela me pega de surpresa ao colocar o meu
dedo em sua boca e chupar.
— Sei que sim — responde, segura, depois de foder
com a porra do meu raciocínio.
— Agora quem é a exibida? — provoco-a, divertido,
mas sentindo ter sido afetado diretamente no meu pau
pela cena que acabo de presenciar.
— Continua sendo você. Agora me deixa terminar a
torta de maracujá. — Finge me ignorar e volta a sua
atenção para o prato.
— Perdi a namorada para a comida. — Faço drama,
observando-a se esbaldar e fazer caras e bocas.
Nunca soube como era estar em um relacionamento,
e agora que sei como funciona, está sendo uma
experiência e tanto.
— Acabei, estou cheia! — Coloca as mãos na
bancada e apoia seu corpo nelas.
— Pensei que tivesse se esquecido da minha
existência — resmungo, espalmando as mãos em suas
coxas e subindo a saia jeans.
— Impossível, você não tira os olhos de mim. — Me
encara desafiadoramente.
— Você é presunçosa, Alina Martins — acuso-a,
dando uma avaliada em seu corpo. Meus olhos pousam
em seus seios redondinhos e firmes na sua blusa
ciganinha estampada.
— Aprendi com o melhor. — Se ajeita na ilha e leva
as mãos aos meus ombros.
— Quem foi esse babaca para que eu possa dar
umas porradas nele? — pergunto, com um sorriso
arrogante.
— O Andreo Mancini, você o conhece? — Bate os
cílios naturalmente longos e escuros, em seguida, desliza
os dedos nos piercings dos meus mamilos, brincando com
eles. Nos últimos dias, ela vem fazendo isso.
— Aham, conheço sim. — Balanço a cabeça.
— Ele é o meu namorado. — Ela fixa seus olhos em
mim e morde os lábios.
— Um péssimo, então. — Me inclino até a sua
barriga e a beijo, então faço uma trilha com os lábios até
chegar aos seus seios. Com uma mão livre, seguros os
dois enquanto a outra fica em sua coxa. Puxo para cima o
top e não demoro para abocanhar os mamilos, dividindo
minha atenção entre eles, sugando e lambendo.
— Ei... A-algum s-segurança p-pode entrar e nos ver
aqui! — gagueja, gemendo, ao sentir meus dedos nos
botões da sua saia jeans.
— Eles não vão entrar aqui sem permissão. Relaxa.
Agora tira esse top — digo, arrancando gemidinhos dela,
que prontamente me entrega a peça, me dando uma visão
do caralho.
Alina se deita na ilha e a sua respiração pesada já
diz tudo - está tão excitada quanto eu. Tiro a sua saia,
sentindo o meu pênis rijo na bermuda, depois jogo a roupa
na banqueta ao lado, em seguida, coloco suas pernas nos
meus ombros e salivo ao fitar o seu sexo que brilha por
estar tão molhado.
Ah, caralho... Vou realizar a minha fantasia de comer
minha morena em cima dessa ilha.
— Ah, Andreo. — Geme alto e arqueia as costas ao
sentir meus dedos tocarem em seu ponto sensível.
— Vamos foder em cada canto dessa casa,
abelhinha. Sem exceção.
Sua boca se abre e um pouco de ar sai junto a um
gemido de puro tesão.
Não espero que me responda, abaixo a cabeça e
busco o mel diretamente da fonte. Passeio a língua por
sua boceta e enfio-a dentro e fora ritmadamente, sem
conseguir conter o gemido animalesco que sai da minha
garganta ao sentir o seu gosto delicioso.
Enfio o dedo dentro dela, alcançando em cheio o seu
ponto G. Tenho certeza de que o gemido alto que solta
pôde ser ouvido pelos seguranças. Para que o seu prazer
seja maior, alterno entre o dedo e a boca, enquanto ela
procura por mais atrito ao rebolar na minha língua.
— A-ai.... A-andreo!
Aumento o ritmo ao ouvi-la chamar por mim e abro
mais as suas pernas com as mãos ao redor das suas
coxas. Circulo a língua dura no buraquinho da sua vagina
e fodo sem dó, arrancando gemidos e mais gemidos dela,
que agarra o meu couro cabeludo com uma mão ao sentir
que está prestes a explodir em um orgasmo.
Só paro os movimentos da língua ao sentir minha
mandíbula doer, mas também não deixo de sugar e lamber
o seu sexo lambuzado.
Alina treme dos pés à cabeça quando alcança o
clímax. Aos poucos, vai relaxando e solta o meu cabelo,
então eu lambo suas dobras, limpando o resíduo do seu
gozo enquanto ela se recupera.
— Nunca pensei que cometeria tanta loucura — ela
diz e eu dou risada ao tirar suas pernas dos meus ombros.
Ela se vira e fica deitada de lado. Ao visualizar a sua
bunda, tenho vontade de apertar e morder, mas me
contenho. Alina se recompõe depois de alguns minutos e
se senta, me encarando com os olhos brilhantes e o
cabelo desgrenhado. Levo a mão ao bolso e de lá tiro uma
camisinha, então eu a balanço no ar e Alina desce os
olhos diretamente para a minha ereção, que se demorar
muito irá estourar o zíper da minha bermuda.
— Quero te comer de costas nessa ilha, de frente...
Em cima, por baixo, em todas as posições. — Rasgo a
embalagem com os dedos sob o seu olhar quente, depois
abro o botão e desço o zíper para só então descer um
pouco a bermuda.
Sem pudor, coloco o meu pau para fora e visto o
preservativo nele encarando a minha namorada ofegante.
Aproximo-me dela e a seguro pela cintura.
Beijo seu colo, vou passeando a boca por seus
ombros e mordendo de leve. Alina leva a mão ao meu
pescoço e o acaricia.
— Primeiro, vou te fazer gozar assim. — Eu a puxo
para a frente para que fique bem na beirada da ilha e eu
me encaixe entre suas pernas. — Você quer assim? —
Aponto meu pau na sua boceta lubrificada e pincelo,
esfregando a cabecinha nos lábios externos e no clitóris,
simulando uma penetração.
Oh, cacete, minha namorada está completamente
escorregadia para mim. Fico ainda mais duro e latejante.
— A-aham, q-quero... — assente, resfolegando.
Com uma mão, seguro um lado da sua bunda,
enquanto a outra abraça a sua cintura para que sirva de
apoio.
— Me coloque dentro de você — peço, no seu
ouvido.
Alina segura a base do meu pênis e o leva até a sua
boceta. Está tão molhada que eu deslizo facilmente para
dentro dela. O primeiro movimento é lento, enquanto
busco a sua boca e a beijo, chupando sua língua em
seguida. Gememos baixinho de prazer, até que pegamos
um só ritmo.
Movo os quadris, arremetendo nela com velocidade.
Levo uma mão à sua nuca e seguro um punhado de
cabelo, então ela me abraça pelo pescoço e delira com a
intensidade da nossa sincronia. Ela rebola bem gostoso,
me incentivando a ir mais fundo.
Soluços.
Respirações ofegantes.
Suor.
Gemidos.
Nossos corpos se chocando.
Tudo em um só ritmo.
— Ah... Isso, Alina... — Um gemido gutural sai da
minha garganta.
Em questão de minutos, ela se contorce e aperta as
pernas ao meu redor, e com movimentos suaves, bombeio
dentro dela ao sentir o seu canal espremer o meu pau.
— E-eu...
Eu a calo com um beijo. Por conhecer muito bem o
seu corpo, sei que vai gozar e não demora muito para que
isso aconteça. Com nossas bocas grudadas, Alina goza e
por ser tão intenso o orgasmo, ela acaba mordendo meu
lábio e eu fico mais febril, logo estou enchendo a
camisinha com a minha porra.
No domingo saio da cama e deixo Andreo dormindo,
ele não irá se levantar tão cedo. Ontem, bebemos vinho e
ele exagerou um pouco, e como não curto muito álcool,
somente beberiquei da minha taça antes de subirmos para
dormir.
Depois de tomar um bom banho, eu me sento na
poltrona e o observo, encantada com a sua beleza e suas
costas largas tatuadas. Apaixonada com a visão que tenho
do meu namorado, suspiro e sorrio abobalhada.
Quem diria que o bad boy com pinta de mauzão me
entregaria o seu coração e eu o meu a ele.
Ontem passamos a tarde juntos e sem ninguém para
nos atrapalhar. E como prometido, fizemos amor em todos
os cantos da casa, nem mesmo o sofá da sala saiu ileso.
Morri de medo que os pais dele entrassem pela porta e
nos flagrassem em uma cena constrangedora. Sim, ontem
parecíamos “dois coelhos”, só paramos quando ficamos
exaustos.
A nossa necessidade de ter o outro a todo momento
é uma sensação boa, mas ao mesmo tempo ruim. Às
vezes, tenho uma impressão de que é uma despedida,
mas sei que é só um até breve, pois amanhã ele vai para
Monte Verde. Ontem, ele recebeu uma ligação da
faculdade e eles pediram para Andreo comparecer para
poderem resolver tudo. E se tudo der certo, ele começa o
curso e ficaremos uma semana sem nos ver.
Levanto-me da poltrona e pego o meu celular,
desbloqueando a tela e vendo se tenho alguma notificação
de mensagem ou ligação perdida, uma vez que deixei o
aparelho no modo silencioso desde ontem. Ao não
encontrar nada, eu o coloco onde estava anteriormente.
Olho para a cama e fico tentada a acordar o Andreo,
mas mordo os lábios e desisto, acho que vou procurar
algo para comer. E enquanto ele não acorda, talvez
arrume o closet dele, está uma verdadeira bagunça.
Antes de sair do quarto, dou uma última olhada no
gostoso pelado adormecido na cama king. Caminhando em
passos lentos pelo corredor, sigo em direção à escada,
mas travo os pés descalços ao ouvir vozes que
reconheceria em qualquer lugar. Parece uma discussão
entre o prefeito e a primeira-dama. Eles não deveriam
voltar só amanhã? Algo aconteceu para terem retornado
antes. Permaneço em silêncio e acabo escutando o que
não deveria.
— Você vai apoiar o seu filho nessa ideia maluca de
faculdade? Um curso tão...
— Vou, sim, Bárbara. Eu deveria ter feito isso desde
o início, mas errei ao não querer me indispor com você. O
meu filho vai seguir a carreira que quiser, e você não pode
mais interferir nisso. Prefiro correr esse risco, a te ver
colocando tudo a perder — ele interrompe a esposa.
Volte para o quarto agora, Alina! Alerta meu
subconsciente, mas a curiosidade é mais forte. Dou
alguns passos para trás, o suficiente para que não me
vejam, mas que eu ainda consiga ouvir.
— Não, Alberto, você não vai. O Andreo não pode
fazer o que ele quiser! Não se esqueça que eu o criei,
quer você queira ou não, é meu filho — diz a sra. Mancini
alterada.
Que maneira mais estranha de falar do filho.
— Você não o criou, sempre o deixava com as babás
para sair com as suas amigas, pelo amor de Deus! —
esclarece o prefeito. O que ele fala não é novidade, mas a
revolta nítida em suas palavras me toca profundamente.
— E o que queria? Que eu parasse a minha vida
maravilhosa para criar o filho da empregada? Da ninfa que
você tanto amava, mas teve que abandonar para se casar
comigo?
Levo a mão à boca, abafando o ofego.
Andreo é filho de uma empregada? Meu Deus.
O tombo é tão grande, que meus olhos enchem de
lágrimas. É muita informação para processar tão rápido.
— Cala a boca, Bárbara. Alguém pode ouvir! —
brada o homem, apavorado.
— Por que vou me calar? Cansei, Alberto, estou
aturando essa farsa desde o nascimento do Andreo. Tive
que sustentar essa mentira toda só para não manchar o
nome da minha família, da nossa honra! — Parece que ela
está chorando, assim como eu, e pelo Andreo, somente
por ele.
O meu namorado é filho do sr. Mancini com uma
empregada, esse é o principal motivo da esposa dele ter
tanta alergia a mim. Ela tem pavor que Andreo repita a
história, pelo jeito.
— Não te obriguei a nada, Bárbara. Jamais te traí.
Se não se lembra, a mãe do Andreo estava na minha vida
muito antes de você, eu e a mãe dele tínhamos um
relacionamento desde a minha época de faculdade. E eu e
você... você sabe muito bem que nunca tivemos nada.
Nossos pais que insistiam em dizer para todos que
éramos namorados, sabe que nunca tinha te tocado
naquela época. Se esqueceu que só começamos a nos
relacionar um ano depois do casamento?
Tudo faz sentido agora, pode parecer surreal, mas
faz. Todos os tratamentos cruéis dela, o controle
obsessivo com o filho. Seria um absurdo pensar que essa
mulher sempre prejudicou Andreo por raiva de ele ser filho
de outro relacionamento do marido? É óbvio que não, está
na cara!
— Eu sei, sei de tudo isso. Também sei que só
ficamos noivos quando descobriram que você engravidou
a maldita empregada, que fui obrigada a me sujeitar a um
casamento com você para encobrir os seus erros! —
acusa ela.
Minhas pernas nem querem mais me obedecer. Acho
que a qualquer momento posso desmaiar com essa bomba
que foi jogada no meu colo.
— Erros não, Andreo nunca foi um erro, muito menos
a Bianca. Eu só não fiquei com ela porque os meus pais
foram vis, e quando eu pensei que poderia ter o perdão
dela... aquilo... — O pai de Andreo nem consegue
completar a frase.
Droga! Droga! Por que fui pegar essa
responsabilidade? Por que eu fiz isso? O que vou fazer
com essa informação? Chorando, tapo a boca com força
para impedir que o soluço doloroso atravesse a minha
garganta.
— Odeio essa sua saudade ridícula. Ainda sofre por
aquela moribunda! Ainda bem que ela está bem longe d...
— B-Ba-arbára... m-me ajuda, m-eu p-peito está
doendo!
Estou suando frio e tremendo. Levo a mão à testa
enquanto tento me acalmar. Ao dar alguns passos para o
lado, eu acabo batendo em uma mesa e derrubando um
vaso, que se parte em milhares de pedaços.
— Quem está aí? — pergunta Bárbara, ignorando o
pedido de ajuda do marido.
Nervosa, tento me recompor, mas é inútil. Agradeço
mentalmente pelo fato do quarto de Andreo estar fechado,
impossibilitando que ele ouça qualquer coisa.
— Andreo, é você? — insiste a primeira-dama e
acabo soluçando alto, me revelando logo em seguida. A
mulher empalidece ao colocar os olhos em mim, já no
meio da escada. — O que você faz aqui, menina? — Seus
olhos me fulminam.
— S-senhora... — gaguejo, sem conseguir parar de
chorar. Recuo, pronta para voltar para o quarto, mas ela
corre em passos largos e me segura pelos braços, me
chacoalhando em seguida. Estou tão afetada com a
revelação, que nem mesmo reajo.
Estou fraca. Sem força para enfrentar a mulher.
Parece que a dor precoce toma conta de cada célula do
meu corpo, e o local mais atingido é o meu coração. Se
estou assim, imagina como o meu namorado poderá ficar?
— O que você faz aqui, sua miserável? — Ela me
segura pelo rosto e me obriga a encarar.
Aperto os olhos e tento me soltar dela, mas não
consigo.
— M-me... Largue! — peço, soluçando.
— O que você ouviu? — Aperta meu maxilar com
força e eu solto um gemido de dor, antes de enfim
encontrar forças ao ouvir o gemido de Alberto e a
empurrar para trás.
Mesmo com as pernas bambas e quase rolando
escada abaixo, desço os degraus e me aproximo de
Alberto, que está com a mão no peito e todo vermelho.
Desesperada, pego uma almofada e começo o
abanar.
— S-Seu A-Alberto, fala comigo, por favor! — Choro,
vendo-o fechar os olhos e abrir lentamente.
— N-Não c-chame meu filho, por favor — pede,
arrastado, ao segurar o meu pulso.
Assinto e olho para cima, encontrando Bárbara
Mancini ali parada, sem reagir.
— Venha ajudar, não fique aí. Não seja coração de
pedra! — grito, me recuperando, ficando forte sem saber
de onde essa força vem.
Só depois do grito que dou, ela desce correndo e se
aproxima, me empurrando para o lado.
— Alberto... Me desculpe, eu não quis causar isso.
Não acredito em uma só palavra dela, não mesmo.
— Você quase o matou e ainda quer se fazer de
vítima! — ralho tomando a frente dela.
Calculo a distância daqui até o quarto do filho dele,
depois olho para a porta que dá para a rua. Será mais
fácil pedir socorro para os seguranças do que subir.
— Sr. Alberto, respire fundo e se acalme, o.k.? Vai
ficar tudo bem. Só olhe para mim e respire. Se ficar mais
nervoso pode piorar. — Mesmo envergonhada, tento o
acalmar. Eu abro os botões da sua camisa social e aos
poucos ele vai relaxando ao ver que não está sozinho. —
Vou pedir socorro e já volto.
Ele me olha, parecendo realmente confiar em mim.
— Não precisa chamar ninguém, filha. Já estou
melhorando. É normal que eu fique assim quando me
estresso com algo, logo passa — praticamente implora,
me segurando pelo braço.
A justificativa dele para mim é inválida. Como ele
pode não levar a sério esse quase desastre?
— Sabe que não é nada normal, não é? — Suspiro.
Imagino que ele saiba que os ouvi, já que me analisa
parecendo assombrado.
— O meu marido está bem. Pode sair daqui, garota!
— A primeira-dama tenta me empurrar novamente.
— Quem deve sair é você, Bárbara. Eu não a quero
aqui. Se não fosse Alina, eu estaria morto! — acusa ele,
baixinho, ao se virar para tentar olhar para o andar de
cima.
Fico impressionada que ela o obedece de
primeira e sai da sala, seguindo para a cozinha em passos
pesados, fazendo um barulho irritante com os seus saltos.
— Alina, o quanto você ouviu?
Semicerro os olhos com a sua pergunta. Sequer
consigo encará-lo, ainda estou em choque, sem
palavras... tanto, que abaixo a cabeça.
Inacreditável. Seria mais fácil se Bárbara Mancini só
fosse uma mãe tóxica... Ao menos para mim. Estou com
um segredo em mãos que pode ser a destruição da
pessoa que estou amando.
— Não vou insistir, o seu rosto assustado já diz tudo
— conclui, com a voz embargada.
Que praga é essa? Ontem, eu estava perguntando ao
Andreo sobre o pai dele ter tido outra mulher, e agora, eu
tive de uma maneira brusca a resposta que procurava. É
aquele ditado, quem procura acha. E eu não gostei do que
encontrei.
— Sr. Alberto, eu ouvi tudo, infelizmente. — Meus
lábios tremem e eu o encaro, aposto que meus olhos
estão avermelhados. — É tudo verdade? Ou algum tipo de
brincadeira? — A vontade de chorar surge novamente,
mas me seguro.
Como pode ser brincadeira, Alina? O homem quase
infartou novamente por causa desse segredo. Maldito seja
ele.
— É verdade... Tudo o que você ouviu — fala tão
baixinho, que quase não o ouço. — Cadê o meu filho? —
Olha ao redor, com o semblante pálido.
Acho que nada mais me abala depois disso.
— E-ele... E-está dormindo. — Estremeço, com medo
da reação de Andreo quando souber.
— Melhor assim. — Suspira, aliviado.
— Você tem que contar a ele, o seu filho merece a
verdade, mesmo que doa — incentivo.
— Não posso fazer isso, não agora. Preciso que
Andreo faça o curso que sempre sonhou. — Ele toca no
meu braço. — Por favor, filha, você sabe que é o sonho
dele, e uma notícia como essa pode acabar com o meu
filho...
— Não me peça isso, é um fardo pesado demais.
Não quero mentir para o Andreo, mas também não tenho
que contar uma história que não é minha. — Afasto-me
dele como se levasse um choque elétrico.
— Você não entende, Alina. Ele vai me odiar e vai
embora para sempre. Andreo tem um gênio forte, quando
fica magoado com algo, não tem quem o faça mudar de
ideia, nem mesmo se ele amar essa pessoa.
Meu peito fica esmagado ao ver o meu sogro
começar a chorar.
— Darei a você alguns dias para contar ao seu filho,
ele precisa saber. — Passando a mão por meu cabelo
nervosamente, olho para o andar de cima.
— Preciso me preparar para isso. Me dê ao menos
dois meses — suplica, tentando se levantar. Ao
cambalear, eu o ajudo a se sentar novamente.
Estou em uma enrascada. A saúde desse homem
está igual àquela expressão “só o pó da rabiola”. Lembro-
me que Andreo disse que o pai não pode ter fortes
emoções que passa mal, não quero ser a culpada da
morte de ninguém.
— Promete que serão dois meses? — pergunto, me
sentindo destruída.
— Sim, filha, irei falar a verdade para ele —
assegura.
Dois meses.
Nem sei o que pode acontecer em dois meses, mas o
que posso fazer? Acordar Andreo aos gritos para contar o
que descobri? Falar a ele que a mulher que tanto o
persegue não é a sua mãe de verdade, por isso que
jamais se deram bem? Não. Eu não tenho esse direito. Sei
que ele merece a verdade, mas são os pais dele que
devem contar. Mesmo que ele não tenha o sangue de
Bárbara, ela o criou da maneira dela. Ainda que vivam em
pé de guerra, em algum momento deve ter existido algum
afeto materno.
— Vou confiar na sua palavra — digo, por fim,
mesmo amedrontada.
— Pode confiar. Muito obrigado por ser
compreensiva.
— Está rolando uma reunião sem a minha presença?
Não sabia que voltariam hoje, pai.
Assusto-me ao ouvir a voz de Andreo vinda do topo
da escada, então ergo o rosto e o encontro. Ele sorri
abertamente para mim e para o pai.
— Bom dia. Não, só estávamos conversando. —
Apresso-me para o cumprimentar, mas com uma louca
vontade de me jogar em seus braços e chorar.
— Essa conversa te deixou tão emocionada que
acabou chorando? — Ele não é bobo. Andreo nos avalia
minuciosamente enquanto desce a escada, alternando o
olhar entre mim e o seu pai, que sabe muito bem como
disfarçar e finge que nada aconteceu.
— Sim. — Dou de ombros, tentando não fraquejar na
frente dele.
— Você conhece a sua mãe, ela quis voltar antes, se
chateou com a Madalena Gusmão — se manifesta Alberto
Mancini com tranquilidade.
Será que ele realmente estava passando mal há
alguns minutos? Se não estava, sabe fingir muito bem.
Impossível, ele realmente não estava bem.
— Estou surpreso por terem brigado, são
inseparáveis — diz Andreo, já parando à nossa frente.
— A Bárbara ficou furiosa ao saber que a Isadora
saiu com o Eros ontem — diz o pai, rindo.
— Finalmente as minhas preces foram ouvidas.
Agora a sra. Mancini vai me deixar em paz, vai esquecer
essa ideia maluca de me ver com a filha dos Gusmão. Ela
poderia até tentar, não ia conseguir nada mesmo. — Meu
namorado fica aliviado, o seu semblante se torna até mais
leve.
— Andreo, vou subir, estou com dor de cabeça. —
Não é mentira, minha cabeça está explodindo, deve ser
dor na consciência.
— Quer um analgésico? — pergunta, preocupado.
Se um remédio me fizesse voltar no tempo, eu
tomaria todas as cartelas existentes. A posição que me
colocaram não é fácil.
— Só vou dormir mais um pouquinho, acho que foi
porque acordei cedo demais. — Massageio as têmporas.
— O.k., daqui a pouco eu subo — informa e se senta
no sofá.
Certamente, se eu decidir ir embora de repente, pode
levantar suspeitas. Irei ficar aqui até segunda bem
cedinho, como já tinha combinado com ele. Farei de tudo
para não trombar com Bárbara.
— Alina, obrigado por tudo, querida. Nem sei como
te agradecer. — O pai do meu namorado me agradece.
Andreo está atento a mim, sem entender o motivo do
pai estar me agradecendo.
— Não por isso — digo, quase secamente, mas
controlo meu tom de voz.
Estou tão atormentada que dou as costas para eles e
subo a escada correndo. Nem olho para trás, pois sou
capaz de mudar de ideia e jogar no ventilador o
segredinho sujo dos Mancini. Não quero que o Andreo
mude de ideia sobre a ida para a faculdade se souber que
seus pais mentiram para ele a vida toda.
Posso estar sacrificando o nosso amor por um
segredo?
Na segunda pela manhã, Andreo me deixa em casa
antes de ir para Monte Verde. Mais tarde ele vai me ligar
para dizer o que resolveu por lá, espero que tudo dê
certo. Passei o domingo com a cabeça a mil, evitando sair
do quarto para não trombar com pessoas indesejadas.
A conversa dos Mancini me deixou tão chocada que
até agora estou desnorteada, principalmente com pedido
de Alberto. Não sei se vou ser capaz de ficar com a boca
fechada durante dois meses, o filho dele merece saber a
verdade. Por um lado, acho injusto Andreo não saber da
sua origem, mas por outro, fico com o coração apertado
ao imaginar o pai dele tendo outro infarto por eu não
cumprir a minha palavra.
Porcaria, estou entre a cruz e a espada.
Já estou pronta para sair para o trabalho, mas sem
condições, meus pensamentos estão me deixando doente.
Jamais imaginei como poderia ser tão duro carregar um
peso de um segredo que sequer é meu.
Deus me ajude. Estou morrendo de dor de cabeça,
com sono e sentindo o corpo pesado por não ter dormido
direito. Esperei Andreo adormecer para ficar velando o
sono dele, chorando em silêncio enquanto acariciava a
sua cabeça.
Algumas batidas leves à porta me despertam.
Quem será uma hora dessa?
— Alina, você está aí? Abra aqui, por favor.
A voz embargada de Maria Fê me deixa de olhos
arregalados.
O que aconteceu? Praticamente correndo, chego à
porta e abro para ela sem pensar duas vezes, deparando-
me com a minha amiga com os olhos avermelhados e aos
soluços. Sem que eu tenha tempo para perguntar o que
aconteceu, ela corre para os meus braços e me abraça.
Assustada, eu a puxo para dentro de casa e fecho a
porta.
Será que o abutre voltou e está perseguindo-a? Não,
ele não teria essa coragem, a polícia daqui está caçando
o desgraçado.
— Ei, ei... olha para mim... O que aconteceu? —
Afasto-me um pouco dela e toco o seu queixo, erguendo o
seu rosto.
Acho que a minha morte será causada pelo coração.
O pobre não tem um dia de paz, só vivo tomando sustos.
— Ele... Ele... — Ela nem consegue falar, e isso me
preocupa ainda mais.
— Ele o quê? — Estudo o seu rosto pálido e lábios
trêmulos.
— F-foi preso, amiga. O Mateus. A polícia o prendeu!
— O sorriso dela surge em meio a lágrimas.
Ufa! Ao menos uma notícia boa.
Respirando aliviada, abraço novamente Maria
Fernanda e gargalho em comemoração.
— Meu Senhor, que maravilha! — Eu e ela damos
pulinhos, ainda abraçadas.
— Como foi? Me conta tudo, não me esconda nada!
— peço, já a puxando para nos sentarmos no sofá.
— Você sabe que o delegado Felipe é amigo do meu
padrasto, né? Então, agora há pouco ele ligou avisando
que a delegacia de Monte Verde entrou em contato
avisando que Mateus de Souza foi preso em flagrante.
Parece que o covarde tinha uma namorada em outra
cidade, acredita? Pelo que deu a entender, ele também
batia nela e acabou se dando mal, foi denunciado e o
pegaram dentro de casa, em flagrante, com a moça toda
machucada.
Sua revelação me deixa abismada.
O miserável, além de gostar de bater em mulheres,
tinha duas namoradas? Que horror! Maria Fernanda se
livrou de um abutre. O que ela não conseguiu aqui, a
outra conseguiu lá. Devo parabenizar seja lá quem for por
ter tido essa coragem.
— E ainda tem mais, você não vai acreditar...
— Pois me conte — peço, atenta a ela.
Fico chocada com mais coisas que me conta. O
safado do Mateus só tinha cara de bom mocinho, além de
ter sido pego em flagrante por ter batido na outra
namorada, encontraram drogas na mochila dele, foi
indiciado por tráfico também.
A minha amiga se livrou de uma encrenca das
grandes, imagina se ela chegasse a morar com ele? Ainda
bem que ela nunca pensou na possibilidade de ter um
futuro com ele. Confesso que fico toda arrepiada só de
pensar nessa desgraceira. Espero que esse bandido não
saia da cadeia tão cedo, vai pagar por tudo o que fez. Que
Deus me perdoe por ter um pensamento tão cruel, mas
que lá dentro ele aprenda que não se deve levantar a mão
para uma mulher, tenho certeza de que os seus amigos de
cela irão mostrar direitinho a ele.
— Estou feliz por você, amiga, agora já pode viver a
sua vida em paz. — Toco na mão dela e levo a mão livre
ao seu rosto, limpando suas lágrimas.
Só quem passa por um relacionamento abusivo que
sabe como é viver com medo até dentro de casa.
— Agora vou poder respirar e dormir direito, o que eu
não estava fazendo há tempos. — Suspira, em seguida,
sorri, mas logo fica séria ao avaliar o meu rosto. — E
você? O que está acontecendo? Cheguei tão eufórica que
nem reparei direito, mas agora estou percebendo o seu
rosto abatido. O que houve? — Ela me conhece tão bem.
Somos melhores amigas, mas estou com medo de
contar a ela tudo que ouvi. É um assunto muito delicado
para que mais alguém saiba. Mas eu preciso desabafar
com alguém, e a minha madrinha não é uma opção, ela
convive com os Mancini. E Maria Fernanda só tem contato
com ele vez ou outra, quando ele me leva para a casa
dela.
— Eu sei que posso confiar em você, mas preciso
que me prometa que o que vou te contar ficará somente
entre nós. — Olho bem em seus olhos. Meu coração está
muito acelerado e minhas mãos tremendo, estou nervosa.
— Você está me apavorando com esse olhar. Mas é
claro que não vou comentar com ninguém, somos amigas.
— Ela toca no meu ombro.
Respiro profundamente e fecho os olhos, buscando
coragem.
— Descobri que o Andreo não é filho da Bárbara.
Maria Fernanda fica com os olhos arregalados e
boquiaberta.
— Como assim, Alina? — Fica tão perplexa quanto
fiquei quando descobri. — É sério? — pergunta baixinho,
como se alguém pudesse nos ouvir.
Assinto devagar.
— Vou te contar tudo, você vai ficar chocada!—
Umedeço os lábios ressecados.
Detalho para ela exatamente como aconteceu, sem
tirar uma vírgula. A reação da minha amiga é quase igual
a que eu tive, e quando falo sobre o pedido do meu sogro,
ela faz uma expressão de desagrado.
— Vai mesmo fazer isso? — Comprime os lábios.
— Aquele pobre homem está com o pé na cova,
Maria Fernanda. Qualquer emoção forte demais pode
fazer com que ele bata as botas, não quero ter uma morte
nas minhas costas — digo, deixando-a revoltada.
— Ah, quer dizer que você pode colocar o seu na
reta e o dos Mancini não, Alina Martins? — fala,
indignada. — Você deveria saber que Andreo não é só um
ficante. Vocês dormem juntos quase sempre, estão
transando, dividindo muitas coisas! Não acho certo você
se sacrificar por um segredo que não é seu. Se fosse eu
no seu lugar, abriria a boca e deixava que os grandões se
virassem. Mas como te conheço e sei que tem esse
coração bobo, vai ficar calada — argumenta, decidida.
— Amiga, não é ser boba. Só não quero ser culpada
por uma desgraça maior. O Andreo tem um gênio forte,
odeia mentiras, imagina se ele descobre assim? —
justifico, não a convencendo.
— E o que você está fazendo não é mentir também?
Pelo amor de Deus, Alina. Não compactue com o seu
sofrimento! Os Mancini podem se safar da ira do filho e
você não? Porque se ele descobrir por outra pessoa e não
por você, vai ser pior, pode apostar — avisa, com
seriedade.
Engulo o nó que se forma na minha garganta.
— Você tem toda razão, Maria Fê, mas o Alberto me
pediu dois meses. Logo passa. — Meu peito está doendo.
— Se você acha, amiga. — Semicerra os olhos. —
Nesses meses muitas coisas podem acontecer,
principalmente tendo aquele boneco de vodu como mãe.
— Faz careta.
— Eu sei... Mas já dei a minha palavra, resta
esperar. Se ele não falar, eu falo. É isso. — Suspiro,
sentindo um peso em meus ombros.
— Ainda estou de boca aberta com esse babado...
Quem diria? Por isso aquela chata tem tanto pavor do
namoro de vocês e trata os empregados como lixo — diz,
me fazendo ficar pensativa. — Aposto que essa loucura
dela de sabotar o Andreo e tentar controlar a vida dele foi
por vingança. Ainda mais que você disse que ela falou ao
marido que não ia permitir que o filho fosse para a
faculdade.
— É exatamente isso. Aquela mulher é cruel...
Desumana. — Será que esse tempo todo ela teve um
sentimento de mãe e filho?
Alguém bate à porta. Assustadas, eu e Maria
Fernanda saltamos do sofá e olhamos uma para a outra,
de olhos arregalados.
— Alina Martins. — Soa uma voz que nunca ouvi na
minha vida.
— Quem será? — Maria Fernanda cochicha, me
encarando. — Será que a bruxa enviou alguém para fazer
queima de arquivo? Ai, Senhor. — Ela fecha os olhos, com
medo.
— Claro que não, maluca, ela não faria isso. Eu acho
— digo, afetada.
— Vai sendo inocente... A primeira-dama, de dama
não tem nada! — fala, com a respiração acelerada.
— Alina Martins, sou o dr. Conrado Fragoso de
Carvalho, advogado do sr. Frederico Martins. O tio-avô do
seu pai.
Eu e a minha amiga nos entreolhamos.
Tio-avô? Meus pais não tinham família, que eu saiba.
— Me disseram que a senhorita está em casa,
poderia me atender, por favor. É um assunto do seu
interesse — fala ele.
— O homem parece estar sendo sincero. Ao menos
não vamos morrer agora... Vai atender, vou pegar a
vassoura, quem sabe não sirva — fala ela, brincando.
— Não precisa, maluca. Se fosse para me matar já
teriam invadido a casa. — Dou uma risada baixinha. —
Estou indo — falo alto e bom tom, tenho certeza de que
me ouviu.
— Será que esse tal tio-avô te deixou milionária? Ai
que delícia! Você cheia da grana. Iríamos pisar na cara
daquela mocreia Mancini.
Deixo Maria Fernanda tagarelando sozinha e vou até
a porta. Mesmo receosa, eu a abro e me deparo com um
homem com algumas rugas, todo elegante em um terno
caríssimo. Logo atrás dele vejo um carro luxuoso e um
homem ao volante. Desconfiada, eu o analiso dos pés à
cabeça.
— Posso entrar? — pergunta ele, vendo que estou o
encarando demais.
— Não posso deixar um desconhecido entrar na
minha casa, senhor — falo de maneira firme, mas com
medo do tal advogado que nunca vi na vida.
— Você não me conhece, mas eu te conheço —
retruca, e aponta para a maleta em sua mão. — Aqui
dentro tem tudo sobre você, durante todos esses anos —
diz. O velho não deixa barato, tem uma língua afiada.
— O.k., pode entrar. — Fico até desconcertada, mas
dou espaço para que ele entre.
Como se realmente me conhecesse, ele passa por
Maria Fernanda e se senta no sofá, em seguida, abre a tal
maleta. Minha amiga corre em minha direção e me abraça
por trás, eu riria se fosse em outra ocasião. Ainda bem
que deixei a porta aberta, qualquer coisa podemos sair
daqui correndo.
— Sente-se, srta. Martins, não vou te fazer mal
algum. Pelo contrário — pede dr. Conrado, sem sequer me
olhar.
— Vai, amiga, se fosse nos matar já estaríamos
mortas, né? — Ela me solta.
— Sim. — Respiro aliviada ao sair do seu aperto.
Sento-me no outro sofá e Maria Fernanda me
acompanha. O advogado fica folheando alguns
documentos. Ele demora alguns minutos, concentrado nos
papéis enquanto a minha curiosidade só aumenta, até que
ergue o rosto e me analisa.
— Desde os seus quinze anos, o seu tio-avô vem
investigando sobre você. Ele queria saber se você seria
digna de receber o que ele construiu com anos de trabalho
— começa o dr. Conrado e eu fico atenta a sua
explicação. — Frederico Martins nunca conheceu o seu
pai, ele era irmão do seu avô. Depois de uma briga, eles
perderam o contato, nunca mais se viram, e o meu cliente
era muito ocupado com a sua vida e não buscou saber do
irmão. Na verdade, ele era muito rancoroso, e assim os
anos se passaram e cada um viveu a sua vida. — A
narrativa dele é digna de uma novela mexicana.
— E o que isso tem a ver comigo? Meu pai, o único
Martins que conheci, jamais me falou que tínhamos
familiares. — Cruzo os braços.
— Entenda uma coisa, parente não é família, e se o
seu pai nunca mencionou o tio, é porque nunca o
conheceu, já que estava na barriga da mãe — responde à
altura, me calando. — O sr. Martins, antes de falecer, há
seis meses, me pediu que viesse te procurar. Ele queria
que você fosse a herdeira dele já que não teve filhos e
nem esposa ao longo dos anos, e não desejava doar o que
custou tanto para construir. Como eu disse, ele não era
um homem muito de bem com a vida — acrescenta.
Era um amargurado.
— Então esse tal Frederico já era bem velho, né? —
diz Maria Fernanda, e eu belisco a perna dela.
— Era sim — diz o advogado. — Meu cliente só
pediu para te procurar depois da morte dele. Não são
milhões, não é muito dinheiro, mas uma quantia razoável
e uma chácara em São Bento. Já ouviu falar dessa
cidade?
— Sim, já ouvi falar, dizem que é linda. Lá tem
fazendeiros que ganham muito dinheiro produzindo queijo
e leite — minha amiga responde por mim, porque estou
em choque.
Quantas bombas caindo no meu colo. Pergunto-me
se não é alguma pegadinha de alguém, não é possível que
seja verdade.
— Dr. Conrado, preciso que me prove que isso é
verdade, e não uma brincadeira — falo, encorajada,
mesmo perdida nas explicações.
— Está no seu direito de se certificar, portanto,
trouxe o atestado do seu tio-avô e outros documentos
assinados por ele. E outro que é para você assinar caso
aceite a chácara e a pequena quantia. Está tudo
autenticado e dentro da lei. Depois que você assinar, eu
te darei algumas cópias para que fique segura. — O
homem me estende alguns papéis.
Começo a leitura do tal atestado e fico abismada,
porque é real. Cada linha. Entrego o atestado para ele e
volto a ler o resto dos documentos. Minha nossa! O velho
me deixou uma chácara e um valor bacana. Para quem só
tem três mil reais na conta bancária, quase meio milhão é
muito.
— E-eu... Minha madrinha nunca me disse nada
sobre esse tio-avô. E nunca fiz nada para ele me dar esse
dinheiro e essa propriedade. — Empurro os documentos
para o advogado, que os pega e os guarda na maleta.
— Dandara não era família e nem parente, não vimos
a necessidade de ela saber de algo que não diz respeito a
ela. A questão não é a senhorita ter feito algo, foi a
vontade dele. Como no passado não pôde ajudar o irmão,
ele quis fazer isso pela neta dele. Nós a localizamos
quando tinha quinze anos, então descobrimos que seus
pais já eram falecidos. O meu cliente quis te recompensar
pelos anos de ausência na vida do sobrinho e do irmão —
explica o profissional, de um modo bem convincente.
— Nada que vem fácil é bom. Eu não sei, isso está
estranho. — Balanço a cabeça, logo recebo um tapa no
braço.
— Cala a boca, Alina. Você passou a vida toda sendo
pobre, agora que acha uma oportunidade não quer? — diz
Maria Fernanda, irritada. — Ela quer sim, senhor
advogado, só está nervosa com a novidade! Se nos der
licença... — Minha amiga me puxa pelo braço e me conduz
para a cozinha.
— Isso está muito estranho. Fácil demais — falo e
ela revira os olhos.
— Fácil o quê? O valor do dinheiro nem é isso tudo.
Do jeito que as coisas estão caras, acaba logo. Se fossem
milhões, aí você poderia desconfiar — diz, me encarando
com seriedade. — Se ele dissesse que tem milhares de
propriedades de luxo e milhões em uma conta bancária, aí
sim, amiga! A versão dele está bem coerente, e aquele
senhor não tem cara que veio dar golpe, não. Você acha
que ele perderia o tempo dele dando golpe em pobre? Vai
lá e aceite. Se você não aceitar, pode deixar que fico por
você! Para de ser boba — exagera.
— Será que devo acreditar nisso? — Mordo os
lábios.
— Não, besta, fica aí esperando ganhar na loteria —
resmunga. — É claro que sim! Assine esse tal papel e
mais pra frente você conhece essa tal chácara. E se
precisar do dinheiro, entra em contato com ele. Pega
endereço e algum número dele, nada de complicações.
— Verdade. Você tem razão. — Minha decisão a
deixa aliviada.
— Claro que tenho. Agora assine esse papel. — Ela
me arrasta para a sala novamente.
Conrado continua no mesmo lugar, mas dessa vez há
uma caneta na mão esquerda dele.
— O que decidiu, srta. Martins? — pergunta.
— Eu aceito... Mas antes quero que me prometa que
vai me dar um contato seu, o endereço dessa tal chácara
e mais informações sobre meu tio-avô. — O homem mais
velho sorri como se já soubesse da minha resposta.
— A senhorita será bem instruída por mim. Apenas
assine e o restante resolvemos depois, terá muito tempo
para se decidir. Só precisamos validar que você aceitou a
herança do meu cliente. — Ele arruma os documentos em
cima da maleta. — Assine todos esses papéis, por favor.
Aproximo-me dele e pego a caneta. Assino vários
papéis, vez ou outra olho para Maria Fernanda, que vibra.
Será que estou fazendo a coisa certa? Será que esse
negócio é sério?
Meneio com a cabeça e termino de assinar os tais
documentos, mas morrendo de medo de ter sido
enganada.
Não vou contar a ninguém sobre esse advogado, só
para a minha madrinha, claro. O.k., assinei, mas com um
pé atrás, um olho fechado e o outro aberto.
Esse negócio de ser herdeira assim, do nada, pensei
que só acontecia naquelas novelas do México com as
mocinhas injustiçadas. Enquanto a barriga não aperta, vou
continuar com a minha vida e no meu trabalho.
Está tudo dando tão certo, que quase não notei que
faz dois meses que estou frequentando o curso noturno na
faculdade. Eu poderia vir para Monte Verde todos os dias,
mas ficaria cansativo demais. Então estou revezando, às
vezes fico três dias aqui e o resto lá, assim consigo
conciliar minhas coisas.
O que me deixa mais surpreso é que dessa vez a
minha mãe não interferiu. Ultimamente, ela está bem-
humorada, deve ter desistido de mim e do meu namoro. O
que deveria ter sido feito há muito tempo, mas agora
parece que a sra. Mancini largou do meu pé de vez.
Em todos esses anos, jamais estive em uma fase tão
boa. Nunca vivi em tanta harmonia, sempre foi tudo de
cabeça para baixo, e essa calmaria ao meu redor é
completamente o oposto do que estava acostumado.
Confesso que é muito bom poder viver sem ter alguém
tentando te sabotar ou querer controlar todos os seus
passos.
A sensação de liberdade é tão boa que me sinto no
paraíso.
Muitas coisas mudaram para mim, tanto que até
vendi dois carros meus e comprei uma Ducati Panigale V4
vermelha e branca, uma verdadeira máquina nas estradas,
estou usando mais ela do que o carro.
— Ahh, amor... De novo esse perfume? —
choraminga Alina, fazendo careta e colocando a mão no
nariz.
— Você não gosta? Foi você que me deu de
presente, não lembra? — Minha namorada está deitada na
cama só de toalha, acabou de sair do banho. E acordou
com um humor do cão hoje. Vou até ela engatinhando e
beijo o seu pescoço. — Como pode não gostar mais de
algo que me deu? — Beijo o seu maxilar e ela vira o rosto.
— O cheiro dele é horrível, sai daqui! — Me empurra
pelos ombros.
— Você anda muito nervosa, e agora fica reclamando
dos meus perfumes. E ontem, depois de ter comido,
vomitou em cima de mim no jantar. — Afasto-me dela e me
sento na cama.
Alina anda enjoando há alguns dias, sem falar que
anda muito nervosa. Ela se irrita facilmente, está estranha
no nível máximo. Tem dias que eu a pego chorando e
quando pergunto o que é, fica melancólica e se joga em
meus braços.
— Só estou cansada, apenas isso. E esse perfume é
ruim mesmo. Não enjoei só dos seus, dos meus também
— diz, com a voz embargada.
— Quer que eu te leve a um médico? — indago, me
virando para ela e tocando no seu braço.
— Não, estou bem. Só estou tendo uma crise de
ansiedade por conta de um problema, mas logo será
resolvido e eu ficarei melhor — argumenta, tocando na
minha mão que descansa em seu braço.
— Quer me dizer o que está te deixando tão
nervosa? O seu estresse vem te acompanhando desde o
mês passado. Não quis dizer nada para não parecer
intrometido.
Alina me encara por um tempo, como se quisesse me
dizer algo. Ela abre a boca e a fecha, e logo desvia o
olhar.
Com essa minha rotina de viver em duas cidades,
minha morena praticamente mora comigo. A maior parte
das suas roupas está no meu closet. Como ela vem para
cá sempre, acabamos trazendo algumas peças e quando
percebemos ela já tinha ocupado quase todo o espaço do
closet.
— Você perdoaria uma mentira, Andreo? — Do nada,
pergunta.
— Depende. Por que está perguntando? Você anda
mentindo para mim? — brinco e ela fica com o corpo
ereto.
A minha pergunta não é inusitada. Semana passada,
peguei meu pai e ela conversando e só consegui ouvir por
cima. Alina pedia para ele tomar uma posição, porque
ficar calada estava a deixando maluca. A sua voz estava
até embargada naquele dia, fiquei preocupado. Entrei na
cozinha e, de repente, os dois ficaram pálidos e ela
tentava disfarçar o choro, enquanto o meu pai fingia que
nada estava acontecendo. Se fosse algum problema no
trabalho, certamente eu saberia. Ou não.
— Nada — diz, sem conseguir me olhar nos olhos.
— Tem certeza? — insisto, com um sentimento ruim
tomando o meu peito.
— Tenho. — Afunda o rosto no travesseiro.
— Você está com algum problema na prefeitura? —
indago, estrategista.
— Não — responde rápido demais.
Ela está mentindo, mas irei descobrir o que tanto a
atormenta e por que não pode dividir comigo. Gosto de ser
útil, e serei assim que souber da verdade.
— O.k., vou tomar outro banho e tirar esse perfume.
— Dou-me por vencido e me levanto da cama. — Você
ainda vai querer ir comigo ao barzinho com os caras e as
namoradas deles? — Refiro-me ao Daniel e Tiago.
Marcamos de eles virem para cá, faz um tempo que não
os vejo.
— Obrigada. Eu vou sim, a Maria Fernanda pode ir
também? — pergunta, sentando-se.
— Pode, o Samuel, irmão do Daniel, virá com eles.
Quem sabe não se conhecem melhor — falo, meio
pensativo.
— Mas ela não quer um namorado tão cedo. — Ela
estuda a minha expressão.
— Eu não disse que vão namorar, podem só se
conhecer melhor. — Dou de ombros, logo a sua risada
preenche o quarto.
— Como nós no início? — Levanta a sobrancelha,
divertida.
A sua mudança de humor é surpreendente, não
consigo acompanhar.
— Éramos diferentes, eu sabia o que queria. —
Passo a língua nos lábios, olho para as suas pernas e vou
subindo até encontrar o seu rosto bonito.
— Claro que sabia, e não parou até conseguir.
Safado! — Coloca o travesseiro no colo.
— Saiba que consegui muito mais. — Pisco para ela,
que lança o travesseiro em mim e eu desvio.
— Porque eu quis. Caso contrário, estaria só na
vontade! — exclama, sorrindo.
— Ainda bem que tenho um charme irresistível e
você cedeu — digo, convencido.
— Que metido! — Me lança outro travesseiro.
— Sou mesmo. — Gargalho, notando que ela já
demonstra menos tensão.
— Enquanto você não vem, vou me arrumar e ligar
para a Maria Fê — diz.
Eu lhe dou as costas, seguindo na direção do
banheiro.

Tive que remarcar a saída com meus amigos, o bom


é que eles ainda não estavam na estrada. Expliquei a eles
a situação e deixamos para sair na próxima semana, ou
quando tivermos um dia livre. A Alina começou a vomitar
no andar de baixo e sujou o tapete persa que a primeira-
dama trouxe quando veio do exterior. Depois de dois
meses, eu vi a antiga Bárbara dar as caras, e acho que
tão cedo não vai sossegar pelo estrago feito pela nora
dela.
Se bem que se não surtasse não seria ela. Eu já
esperava a revolta, mas ficar falando sobre o acontecido
por quase meia hora é demais.
— Não tinha outro lugar para vomitar, menina? Esse
tapete me custou uma fortuna! — reclama minha mãe pela
décima vez, irritada e olhando com cara de nojo para a
Simone, que está tentando tirar a mancha do vômito da
Alina.
— Desculpa, Bárbara, não consegui me segurar —
diz minha namorada, sentada no sofá, com a cabeça
encostada no meu ombro.
— Que diabos você comeu para fazer esse desastre
no meu tapete? — pergunta a minha mãe.
— Chega, mãe. É só mandar lavar que fica novo —
interrompo o surto dela.
— Você tem noção do prejuízo, Andreo?
Semicerro os olhos com a insistência da minha mãe,
que anda de um lado para o outro.
— Tudo tem que envolver dinheiro, não é? É só
mandar lavar e pronto — digo, sem paciência, acariciando
o braço de Alina, que está quieta demais.
— Claro. A nossa vida gira em torno do dinheiro, sem
ele não fazemos nada, então, sim, estou no direito de
reclamar, espernear, fazer o que eu bem quiser. Estou na
minha casa! — Aponta o dedo para mim, histérica. —
Simone, vá chamar um segurança para te ajudar a se
livrar desse tapete, não quero mais essa nojeira na minha
frente. — Ela leva a mão à cabeça dramaticamente.
Alina se remexe e se afasta de mim. Quando ergue o
rosto, percebo os olhos avermelhados, ela estava quase
chorando em silêncio.
— Não precisa, Simone, posso limpar. Eu o sujei,
não vejo problemas em...
— E vai mudar o fato de que você vomitou em algo
tão caro, querida? Claro, que não! — Bárbara leva a mão
à cintura e encara a minha namorada com desdém. — Mas
se acha que pode dar um jeito nessa bagunça, fique à
vontade.
Basta que eu escute isso para a raiva tomar conta de
mim. Levanto-me e Alina me segura pelo pulso, apertando
de leve como se quisesse me conter.
— A minha mulher não vai limpar nada. Se temos
uma funcionária é para ela fazer isso, mãe. A Simone não
estava limpando? O que Alina pode fazer que a Simone já
não fez? O tapete vai ficar novo, por acaso? — desafio-a.
Bárbara sorri, trazendo à tona a sua verdadeira face.
— Mulher? Isso mesmo que eu ouvi? — Bárbara
Mancini gargalha de jogar a cabeça para trás, esquecendo
todo o resto que falei.
— Sim. Se ela dorme comigo na minha cama e passa
a maior parte do tempo ao meu lado, é a minha mulher.
Não mais a minha namorada. — Mantenho meu tom firme,
ainda assim, minha mãe desdenha.
— Se você quer que essa garota seja a sua mulher e
não namoradinha, é bom que tenha um emprego, uma
casa e dinheiro para sustentá-la. Porque a comida, cama,
teto e outras coisas saem do meu bolso e do seu pai,
então, antes de encher a boca para dizer que tem mulher,
reflita primeiro, Andreo!
A mão de Alina se aperta com mais força ao meu
redor, na mesma hora fecho os punhos.
— Essa porra toda é do meu pai, você não tem nada
aqui, e o que tinha já gastou com joias, carros e roupas,
mas gosta de se vangloriar com o dinheiro que não é seu.
— Cuspo as palavras para a magoar. — Estamos no
mesmo barco. Se eu não tenho nada, você também não
tem, tal mãe tal filho, afinal, meu pai conquistou e
aumentou cada centavo que tem na conta. E não é por
serem casados que pode se achar no direito de me
humilhar, como se realmente tivesse gastado seus
milhões, que nem existem mais, comigo.
— Simone e Alina, saiam daqui. Tenho que conversar
com o meu filho — a matriarca ordena de forma arrogante.
A funcionária fiel sai da sala como um raio. — Você não
ouviu, menina? Quero ficar a sós com o meu filho!
— Não vou a lugar algum, Bárbara. Se está fazendo
esse show é por minha causa, então ficarei. Mas caso
queira se retirar, fique à vontade — enfim Alina se
manifesta, me deixando com um puta orgulho. Ela se
levanta e ergue o rosto. — O que tiver para dizer ao
Andreo, pode falar na minha frente, não temos segredo.
— Tem certeza de que não tem? — A alfinetada da
minha mãe não passa despercebida.
Alina fica levemente pálida. Antes que ela possa
responder, a porta da sala é aberta e o meu pai surge,
com o semblante carregado.
— O que está acontecendo aqui? Eu ouvi as vozes
alteradas do lado de fora. — Alberto Mancini se aproxima,
com uma maleta na mão esquerda.
— A sua querida nora protegida vomitou no meu
tapete persa e agora está adorando ver mãe e filho
discutindo. — Analiso a expressão de ódio de Alina. Ela
parece querer falar algo, mas só abaixa os olhos e respira
fundo. — Come essas porcarias na rua com aquela
amiguinha favelada e depois vem aqui estragar as minhas
coisas!
É a gota da água. Alina solta o meu pulso e dá
alguns passos, ficando na frente da minha mãe com o
dedo em riste. Eu fico calado, deixando que Alina se
defenda.
— Lave a sua boca para falar da minha amiga, ela
não está aqui para se defender, senhora! Seja honesta,
não está revoltada por conta desse maldito tapete
horroroso, é porque estava entalada com o seu veneno
durante esses meses, e agora que dei brecha está se
aproveitando — diz Alina, friamente. — Não precisava ter
feito esse papel de boa mulher por tanto tempo, eu
entenderia se continuasse sendo a amarga que sempre
foi. A senhora é tão ruim que nem consegue viver no
personagem por muito tempo. — Minha namorada encara
o meu pai agora, que está calado e cabisbaixo, deve estar
envergonhado.
— Como ousa apontar o dedo para mim, garota?
Poucos meses deitando e rolando com o meu filho e se
acha no direito de me ofender assim? — Bárbara levanta a
mão para Alina, e antes que eu me coloque entre elas,
minha namorada segura no pulso da minha mãe.
— Não ouse me bater, senhora. Jogo o meu respeito
no lixo e devolvo o tapa! Cansei de me submeter às suas
humilhações. — Caralho, a morena coloca a primeira-
dama no lugar dela. — Toque em mim e eu acabo com
essa sua postura de quem nunca errou na vida. — Alina
empurra a mão dela e se volta para mim. Orgulhoso da
sua maneira de se defender, eu passo o braço ao redor da
sua cintura e beijo a sua cabeça.
Bárbara Mancini engole o veneno, gotinha por
gotinha, e fecha os olhos e pensa em sei lá o quê. Ela
sorri para nós como se nada tivesse acontecido e nos dá
as costas, enquanto meu pai nos pede licença e a segue.
Tiro minha atenção da direção que meus pais se
foram e foco em Alina, que me agarra pela camisa com
força.
— Não estou muito bem, Andreo. De repente, me
bateu uma tontura e uma ânsia enorme. — Ela passa a
mão no peito e puxa o ar para os pulmões. Preocupado,
eu a carrego nos braços.
— Se você não melhorar, vou te levar nem que seja a
força ao médico. — Eu a ajeito nos braços e subo a
escada com ela encostando o rosto no meu ombro.
— Só ligue para a Maria Fernanda, e peça para ela
vir me ver, por favor. — Ignora o que eu falo e fecha os
olhos.
Até que durou bastante a paz dentro dessa casa.
Depois de tantos anos, compreendi que a minha paz não
tem preço, e se for para gastar o dinheiro que meu pai me
deu para que eu possa usar comigo, eu o farei.
Bem-vindos de volta ao inferno.
Que comecem as implicações novamente. E antes
que piore, vou embora, e dessa vez será para sempre.
Retiro todas as palavras de mais cedo. Inferno!
Só fiquei calada por tanto tempo por dois motivos:
sonho do Andreo em jogo e a saúde do Alberto. Eu sei,
tenho plena consciência de que em um relacionamento
não se deve ter segredos, mas ele não tem muita escolha.
A partir do momento que eu soube e fiquei calada,
compactuei com a mentira que está acabando com o meu
sossego, me matando por dentro lentamente. Imagina
como me sinto ao olhar para o homem que amo e não
poder falar nada? Por várias vezes eu o sondei
disfarçadamente, e em todas fiquei amedrontada em ser
eu a ter que contar a ele sobre sua origem.
Andreo não é bobo, ele desconfia que estou
escondendo algo. Eu me sinto péssima, um monstro por
estar sendo covarde como o sr. Mancini. Jamais pensei
que seria cúmplice de alguém, a sensação é que eu
cometi um crime gravíssimo.
Meu prazo com o meu sogro já passou tem alguns
dias, mas ele vem me evitando. Já implorei para que ele
acabasse de uma vez com essa enrolação e ele me
prometeu que da próxima semana não passa. Foram
tantas promessas vindas dele que nem sei mais se posso
acreditar. Sinto como se estivesse carregando um
explosivo no cérebro que a qualquer momento pode
explodir. Não tenho me sentido muito bem ultimamente,
mas procuro dar o meu melhor para que as pessoas ao
meu redor não percebam, principalmente o Andreo.
— Eu disse... Nem vou discutir com você. A sua
expressão é de alguém muito perturbado! Pelo amor de
Deus, faça o que é melhor para você, amiga! Aquela filha
do satanás queria te infernizar e conseguiu, fica soltando
o veneno pelas beiradas e você aí, com esse coração
bobo aguentando aos trancos e barrancos! — exclama
Maria Fernanda, tocando no meu braço.
Com um gesto de mão, eu peço para abaixar o tom.
Contei a ela sobre a insinuação da Bárbara na frente do
filho.
Minha amiga chegou há alguns minutos, depois de
Andreo ligar para ela. Ela trouxe o que pedi por
mensagem pouco depois de ele ter entrado em contato
com ela.
— Onde está? — indago, com os olhos ardendo.
— Peguei dois. Caso um falhe, tem o outro. — Ela
abre a bolsa e tira de lá uma sacola plástica.
— Trancou a porta? — Certifico-me, soluçando.
— Claro, amiga — diz, me olhando com pena.
— Obrigada — agradeço-a e, em seguida, ela me dá
espaço para que eu me levante da cama.
— Qualquer coisa grita, tá bom? Estarei aqui para
você — fala, segurando em meu pulso.
Meneio com a cabeça, sentindo o gosto amargo na
boca enquanto caminho na direção do banheiro.
Desde a semana passada estou suspeitando de uma
possível gravidez. Posso não ser experiente, mas existe a
tecnologia para fazer pesquisas e eu fui tirar algumas
dúvidas, quase caí para trás. Os sintomas que estou
sentindo nos últimos dias batem com uma possível
gravidez, mas, na minha cabeça, era apenas estresse,
uma ansiedade causada pelo segredo dos Mancini.
O.k., não estava tentando ser inocente, mas quando
estamos com problemas demais, não vemos as coisas
com clareza e talvez eu tenha feito isso. Agora não tenho
mais como deixar de lado algo que está me atingindo com
força.
Não sei o que será de mim se eu realmente estiver
esperando um bebê. Pelo que me lembro, todas as vezes
que estive com Andreo nos protegemos, somente uma vez
que a camisinha rasgou. Mas será que teria dado tempo
de engravidar? A única vez que falhamos foi aí, nas
outras vezes fomos muito cuidadosos.
Aos prantos, sento-me no vaso sanitário depois de
fazer as recomendações da embalagem do teste.
Instintivamente, levo a mão à barriga, que não há nenhum
sinal de bebê ali, e a acaricio, deixando as lágrimas
caírem por minhas bochechas.
— S-será que tem alguém aí? — pergunto-me com a
voz embargada.
Se eu estiver mesmo grávida, o que vou fazer da
vida? Não tenho uma formação profissional, o ensino
médio não vai me levar a lugar algum. Ou melhor, pode
até levar para a casa dos outros, mas não tenho
pretensão de ser faxineira a vida toda. Sonho em ter uma
profissão, em ser alguém de renome. Mas como poderei
ser se estiver esperando um filho do Andreo? Eu nem sei
como ele irá reagir, nenhum dos dois quer um filho tão
cedo, jamais fizemos planos de um casamento ou bebês.
Estamos apenas vivendo o nosso momento, nos amando,
aproveitando cada segundo um ao lado do outro.
Há um mês Dandara me perguntou se eu estava me
protegendo e eu garanti que sim, com toda certeza do
mundo, e isso a deixou aliviada. Se houver um serzinho
dentro de mim, como vou dizer a ela? Ela ficará tão
decepcionada. Desde o dia que tive o primeiro sintoma
não quis dividir com ela por medo, afinal, eu disse que
estava me prevenindo. Sem contar que para ela ainda sou
uma criança, mesmo que eu já seja adulta e tenha
relações sexuais. Só de imaginar a sua ira estremeço.
Mordendo os lábios, encaro os dois testes na pia. Os
minutos recomendados já passaram, mas o pavor que me
domina é mais forte do que eu, muito mais, suficiente para
que me acovarde e só me levante após muitos minutos.
Força, Alina. Você é forte.
Limpando meu rosto, olho para o primeiro teste e
depois para o outro, preciso me segurar no mármore da
pia para não cair. Sem querer acreditar, olho mais uma
vez para as duas linhas que marcam em ambos os testes.
Positivo.
Estou grávida.
Andreo vai ser pai. Eu vou ser mãe.
Pode ser um falso positivo, certo? Existe isso?
Talvez estejam errados. Trêmula, levo a mão à minha
testa gelada e solto um ofego.
— Por que isso agora? Céus! — Volto a chorar em
desespero.
Não que a criança seja um castigo, mas por que uma
gravidez a essa altura do campeonato? Em meio a essa
turbulência em minha vida, um filho não era o que eu
gostaria de ter.
— A senhora não pode entrar assim mesmo sendo a
dona da casa!
Escuto a voz revoltada da minha amiga. Sem
entender, viro-me na direção da porta do banheiro, que
está encostada.
— Exatamente isso, garota. A casa é minha, entro no
quarto do meu filho a hora em que eu bem entender —
retruca Bárbara Mancini, me deixando apavorada e com o
coração quase saindo pela boca.
Por medo de ela entrar no banheiro, saio em
disparada e volto para o quarto.
— O que está fazendo aqui? — Tento manter a voz
firme, mas meus olhos avermelhados e o rosto inchado me
entregam.
A mãe do meu namorado me olha dos pés à cabeça e
cruza os braços. A expressão dura em seu rosto é de
aterrorizar. Ela vem na minha direção e Maria Fernanda a
segue como se pudesse me proteger do diabo em pessoa
que é essa mulher.
Bárbara tem a audácia de tocar no meu queixo e
erguer meu rosto. Ela me analisa silenciosamente, mas eu
me afasto do seu toque.
— Está de quantas semanas? — pergunta, enjoada.
— O quê? — Eu a encaro parecendo confusa, mas no
fundo sei do que está falando.
Ela não pode saber.
— Acha que sou idiota, menina? Meu filho e o meu
marido podem não ter percebido que esses seus
showzinhos são sintomas de gravidez, mas eu sim. Estou
notando as mudanças há tempos. — Ela é tão direta que
me deixa boquiaberta.
Se eu não soubesse que Andreo havia saído para
abastecer a moto, estaria assombrada com a possibilidade
de ele entrar aqui e ouvir tudo.
Esse é o motivo de ela ficar me observando em
silêncio nos últimos dias. Estava me avaliando como se
quisesse encontrar alguma coisa em mim. Ontem, quando
vomitei no Andreo no jantar, ela ficou olhando fixamente
para a minha barriga por um tempo de maneira estranha,
mas estava tão mal que nem dei muita importância para a
sua inspeção.
— Não sei do que está falando. Por favor, me deixe
sozinha com a minha amiga. — Aponto para a porta do
quarto fechada, mas Bárbara somente ri alto.
— O golpe da barriga já é velho, minha querida.
Deveria ter inventado algo melhor para conseguir o nosso
dinheiro. — Arqueia a sobrancelha e franze o nariz.
— Quem você pensa que é, hein? — Se mete Maria
Fê, mas eu peço com o olhar para que ela fique quieta, as
coisas podem piorar.
— Bárbara, se eu quisesse o dinheiro dos Mancini
teria chantageado você e o Alberto para não contar ao
Andreo o que vocês escondem dele. Faz dois meses que
estou sofrendo as consequências do segredo de vocês,
então amarre a sua língua grande e pare de soltar merda
pela boca. — Eu a enfrento.
Bárbara gargalha, como se estivesse possuída.
— Fofinha, essa é outra carta na manga que você
tem, conheço o seu tipinho. — Ela tenta tocar a minha
barriga, mas eu seguro o seu pulso. — Essa criança que
está aí não pode nascer, seria uma maldição vir mais um
filho de empregadinha. — Ela cospe as palavras
duramente.
Fervendo de ódio, eu a solto antes da minha mão
voar para o seu rosto, mas logo ela me devolve o tapa,
deixando Maria Fernanda revoltada. Ela a pega pelos
braços e empurra para longe de mim.
— Não toque na minha amiga, sua bruxa! — Maria Fê
a sacode, enraivecida.
Levo a mão ao meu rosto e engulo meu choro, não
darei esse prazer a ela.
— Me solte, sua infeliz! Vou chamar os seguranças
para te chutar da minha casa. Quanta audácia! — exclama
Bárbara, de olhos arregalados, com medo da minha
amiga.
— Deixe essa cobra peçonhenta ir embora, Maria
Fernanda. Não vale a pena! — peço, aproximando-me
delas antes que aconteça uma desgraça e a primeira-
dama coloque a minha amiga na cadeia por agressão,
mesmo que ela não tenha feito nada.
— Quero você fora da minha casa, sua insolente.
Não coloque mais os pés aqui! — decreta Bárbara,
horrorizada. Mas antes de sair do quarto, ela arranca o
chão dos meus pés com as suas palavras. — Esse feto
não será a destruição da minha família, eu perco o meu
filho, mas não deixo que vocês fiquem juntos. — E então
se vai.
Maria Fernanda tranca a porta, em seguida, corre ao
meu encontro. Ela abre os braços para mim e eu me
encolho nela aos prantos.
Então é isso que é quebrar a cara com o amor?
— E aí, qual o resultado? — pergunta, acariciando as
minhas costas e me conduzindo até a cama.
— Tô grávida, Fê —revelo, com a voz embargada.
— Meu Deus! — exclama, apavorada.
Se ela está assim, imagina eu?
— Será que o Andreo vai me odiar? Não queríamos
ser pais, ele está na faculdade agora, eu tinha planos
para a minha vida. — Fungo. — Fora que tem essa merda
toda nas minhas costas sobre a mãe dele... São tantas
coisas ao mesmo tempo que me sinto dentro de um beco
sem saída.
— Primeiro pare de chorar, pode fazer mal ao bebê.
Vamos por etapas, o.k.? — Ela se afasta um pouco e
limpa o meu rosto.
— Certo. — Respiro profundamente.
— Não vou perguntar como isso aconteceu, porque
seria idiota da minha parte, mas vocês não estavam se
protegendo? Por acaso transaram alguma vez sem
proteção? — pergunta, com os olhos marejados. Ela
também sente a minha dor.
— Não, Maria Fernanda, pelo contrário, fomos
cuidadosos. Só uma vez que a camisinha estourou, na
nossa primeira vez, mas achei que não tivesse problema,
pois eu tinha começado a tomar o anticoncepcional. —
Então me lembro que não contei isso a ela, naquela época
a vida dela estava um caos.
— Senhor... Amiga, isso não deveria ter acontecido.
— Choraminga, com a pele pálida. — Ainda está tomando
aquele anticoncepcional que te dei? — pergunta.
— Não, acabou faz tempo. Só fui à farmácia e
comprei um igual. Eles até me instruíram que eu deveria
tomar no primeiro dia do ciclo e não poderia esquecer
nenhum dia — explico, sem entender o seu raciocínio.
— Amiga, por acaso se lembra se começou a tomar
no primeiro dia do ciclo?
— Claro que não tomei, você me deu e eu já
comecei, nem sei que dia do ciclo era — informo, ainda
não sabendo aonde ela quer chegar.
— Ai meu Jesus! E você transou logo em seguida
com Andreo, ou fazia mais de sete dias que estava
tomando? — Minha amiga começa a ficar mais pálida.
— Foi um ou dois dias depois. Você está me
deixando louca, explica logo de uma vez o que está
passando na sua cabeça!! — praticamente grito.
— Amiga, quando se vai iniciar o uso do
contraceptivo, ele deve ser tomado no primeiro dia do
ciclo menstrual para conferir proteção imediata, se for
tomado em qualquer dia do ciclo, você só vai estar
plenamente protegida depois de sete dias — esclarece.
Foi isso, esse foi meu erro. Só tomei, quando na
verdade deveria ter consultado um médico.
— Merda, mil vezes merda! — exclama, chorando
cabisbaixa.
Nem sei o que dizer. Acho que nem tenho mais
lágrimas neste momento. Estou completamente chocada.
Maria Fernanda toca em meu ombro e eu respiro
profundamente.
— Me perdoe, amiga, naquele momento eu só
pensava que você precisava se proteger e tentei ajudar,
mas pelo jeito ferrei com tudo.
O medo de que eu a culpe é nítido, mas não posso
fazer isso. Quem transou fui eu, quem deveria ter sido
responsável não era ela, e sim, eu.
Deixei que uma venda cobrisse meus olhos por estar
muito apaixonada, vivendo um romance tão caloroso com
um cara intenso que me tornou mulher, que amou o meu
corpo de uma maneira que me fez esquecer o meu nome
por alguns momentos. Eu me permiti ser imprudente e
tenho que arcar com a consequência, essa que levará
alguns meses.
— Me perdoa? — Ela não para de chorar.
— Perdoar o quê? Você não fez nada. — Tomo a
iniciativa e a abraço forte. — Irei conversar com o Andreo.
Vou contar a ele a verdade para que não exista mais
segredo entre nós. Sei que vai me entender, vamos
resolver essa situação. — Assim espero.
— Se ele não quiser esse bebê vou matá-lo, o.k.?
Mas é claro que Andreo vai querer, ele te ama, já
demonstrou isso mesmo que namorem há tão pouco tempo
— diz, chorosa.
Eu assinto, estraçalhada com a possibilidade de ele
me deixar.
— Tomara que ele me entenda. — Suspiro, incerta do
meu futuro e do meu filho, que daqui a alguns meses vai
alargar o meu ventre.
— Se não entender vamos atrás da sua herança,
então você vai ficar rica e pisar na cara deles — sugere.
Só ela para me fazer rir em uma situação como essa. —
Você ainda recebe os e-mails do dr. Conrado, não é?
Assinto. Desde o mês passado o advogado do meu
tio-avô me envia fotos da chácara, que parece mais uma
fazenda, e planilhas de tudo o que sai e entra. Duas
semanas depois de ter me encontrado com o dr. Conrado,
descobri que ele tem um filho que se chama Heitor, e é
ele quem administra os negócios da chácara há muitos
anos.
Por mais que eu receba e tenha recebido provas
(fotos do local, fotos do meu avô e do irmão dele juntos, e
foram muitas) da existência dessa herança e seja
convidada para conhecer a famosa propriedade em São
Bento, estou insegura. Não quero ficar com ela, com algo
que consegui sem ter movido uma palha. Eu e Dandara
continuamos com os pés no chão. Ela me aconselhou a
pesquisar sobre esse Frederico Martins e não deu outra,
ele realmente existiu e era muito conhecido na região
onde morou.
Sinto-me sufocada com tudo isso.
Gravidez não planejada.
Um segredo que pode ser o meu fim.
E uma herança que caiu no meu colo quando estou
com a vida de cabeça para baixo.
O que será de mim?
Maria Fernanda foi embora há algumas horas, apesar
de não querer me deixar com medo da Bárbara me fazer
algo. Eu a tranquilizei dizendo que sabia lidar sozinha
com a megera. Assim que ela se deu por vencida, partiu.
Logo depois fui tomar um banho para esfriar a
cabeça, em seguida, deitei-me na cama de toalha mesmo
e caí no sono. Ao acordar, me deparei com Andreo
adormecido apenas de cueca ao meu lado. Fiquei ali o
admirando e louca para chorar.
Mesmo com as carícias que faço nas suas costas
tatuadas e em seus braços, ele permanece com os olhos
fechados.
— Acho que te amo, Andreo Mancini. — Deposito um
beijo no seu braço e meus olhos ardem. — Do jeito que
estou, parece até que é uma despedida. E ainda falando
sozinha. — Fungo, lutando para não chorar.
Contar a ele sobre o pedido do seu pai enquanto
dorme não é uma boa ideia, mas se eu seguir por esse
rumo, acabarei abrindo a boca, então prefiro que esteja
consciente.
— Só assim para ouvir um te amo seu, não é?
Assusto-me com a voz rouca e sexy dele.
— Estava fingindo? — Fico perplexa ao notar uma
sombra do seu sorriso.
— Só um pouquinho. — Pisca para mim.
— Que malandro! — Dou um tapa em seu braço e ele
faz uma careta.
— Como você está? Te encontrei dormindo e não
quis te acordar — diz, me analisando cuidadosamente.
— Bem. Dormir me deixou renovada.
Ele desliza a mão por dentro da toalha e a descansa
na minha barriga, me deixando afetada com o seu gesto.
— Isso é bom. — Seus dedos fazem círculos em
minha pele, que começa a formigar com o contato.
— Conseguiu encher o tanque? — sondo-o,
sentando-me e deixando a toalha cair do meu corpo sem
querer.
— Sim — Andreo lambe os lábios e passeia os olhos
por minha nudez.
— Por que me olha assim? — indago, curiosa.
— É proibido olhar a minha namorada gostosa? —
Arqueia a sobrancelha.
— Achei que eu fosse a sua mulher e não
namoradinha — provoco-o, lembrando-me do que disse a
Bárbara para me defender. Achei tão lindo.
— Isso é uma indireta? — Entra na brincadeira e se
senta ao meu lado.
— É bem direta. Se quiser colocar um anel aqui, não
vou reclamar. — Ergo a mão e o meu namorado gargalha.
— Criei uma monstrinha. — Pega na minha cintura e
me puxa para ele, deixando nossos rostos próximos.
— Foi você que começou. — Levo a mão ao seu
rosto e o acaricio.
— E eu que vou terminar. — Roça a boca na minha,
logo suga meu lábio e me beija, então retribuo toda
derretida. — Estou te achando muito tensa ainda, o que
acha de uma massagem? Sou bom com as mãos, vai
adorar — diz, entre nossos beijos, e passeando as mãos
por meu corpo.
— Espero que me surpreenda. — Algo dentro de mim
diz para aproveitar cada segundo com ele. Essa
necessidade de fazer amor com Andreo grita alto no meu
peito.
— Fazer massagens é uma das minhas qualidades,
se ainda não sabe.
Prendo a respiração ao sentir sua mão seguir um
caminho lento até meu sexo. Automaticamente, abro as
pernas e ele introduz os dedos ali, fazendo movimentos
lentos.
— Pois me surpreenda muito. — Solto um gemido e
mordisco o seu lábio inferior.
— Deite-se de barriga para cima e verá o quanto
posso ser bom para você.
Você já é, até demais.
Andreo se levanta e vai para o closet enquanto me
deito na cama como havia instruído. Ansiosa, eu o
observo retornar com um frasco de óleo nas mãos.
— Essa massagem vai ser diferente, você vai gostar
— diz, malicioso, sem tirar os olhos da minha bunda.
— Ansiosa por isso — murmuro ao vê-lo ficar de
joelhos e se sentar em minhas pernas.
Fecho os olhos e encosto o rosto no travesseiro ao
sentir uma boa quantidade de óleo com cheiro de morango
ser jogada nas minhas coxas e bunda, em seguida, duas
mãos grandes espalham o líquido por minha pele.
Solto um gemido baixo quando Andreo inclina o
corpo e coloca meu cabelo para o lado, então beija a
minha nuca e vai descendo a boca por minhas costas.
Não sei o que tem em mente, mas pede para que eu
me vire para ficar entre minhas pernas. Antes que eu
pergunte o que pretende fazer, ele derrama o óleo por
minhas pernas e começa a massageá-las. O seu toque me
deixa mais excitada quando sobe mais um pouco e toca na
minha virilha. Mordo os lábios ao vê-lo deslizar os dedos
carinhosamente por meus lábios vaginais.
Ele toca no meu clitóris, passa o dedo sobre ele, que
está rígido. Não reprimo o gemido quando Andreo me
penetra com dois dedos, depois os leva à boca e chupa,
então volta a me masturbar com maestria.
— N-não q-quero mais essa tortura, faz amor
comigo... — peço, olhando para o seu pau endurecido
marcando a cueca preta.
— Mas só estamos começando. — Ele beija a minha
barriga e continua a masturbação.
Em resposta, jogo a cabeça para trás e gemo de
satisfação com as suas investidas.
— Amor... — chio, tremendo e tentando fechar as
pernas ao sentir o orgasmo querer me atingir. Mas ele não
permite, intensifica os movimentos e com a mão livre
aperta meus mamilos.
Perto de gozar, ele tira os dedos de dentro de mim.
Sem entender e um pouco irritada, eu o encaro.
— Você vai gozar de outro jeito. Vou realizar o seu
desejo de transarmos na varanda, naquela poltrona que
você tanto gosta de deitar para tirar um cochilo e tem
fantasias comigo. — Sorri sedutoramente.
Minha respiração falha com a sua ideia louca. Fico
com o rosto ardendo ao me lembrar que realmente disse
essa maluquice a ele.
— Tem gente em casa, e os seguranças estão
rodeando a propriedade. Não vamos fazer isso! — digo,
boquiaberta, quando ele sai da cama e estende a mão
para mim.
— Está escuro, ninguém vai ver. A única varanda
desse lado é a minha, os seguranças estão na parte da
piscina, e mesmo assim ainda tem a proteção de ser alta,
impossível que nos vejam. — Seu tom é malicioso. Um
formigamento toma conta do meu corpo com o olhar
determinado dele.
Um sentimento de solidão bate no peito quando me
sento e dou a mão para ele, que me puxa para fora da
cama e faz com que nossos corpos se choquem.
— Você e as suas ideias malucas. — Toco no ombro
dele e o massageio de leve, já ele acaricia a minha bunda.
— Sei que adora. — Beija meus lábios. — Caso
contrário, me diria não. — Morde meu lábio.
— Como dizer não a você? — Suspiro, fixando meus
olhos nos dele, que faíscam de amor e desejo.
— Hoje não se trata de mim. — As suas palavras me
fazem recordar da nossa primeira vez. — Hoje cuidarei de
você, faremos amor como quer, pode me usar que eu
deixo. — Dá uma risadinha e eu o acompanho.
— Vou pegar o robe para você, para que não se sinta
completamente nua. — Ele se afasta de mim e vai até o
closet, em seguida, volta com um robe preto e me entrega.
Eu o visto e dou um pequeno laço antes de sentir as mãos
másculas se fecharem em minha cintura. — Vem cá. —
Mais uma vez me puxa e me beija apaixonadamente.
Levo uma mão à sua nuca e a outra ao seu braço.
Beijo-o sem pressa, querendo passar para ele a minha
necessidade de aproveitar o nosso momento sem
atropelar as coisas. Andreo me tira do chão e me faz
rodear as pernas em sua cintura. Ele nos conduz na
direção da varanda como se fosse profissional naquilo,
sequer há tropeços mesmo que esteja ocupado com a
boca grudada na minha.
Após passar pela porta, ele me deita na poltrona
espaçosa cheia de almofadas e finaliza nosso beijo de
maneira tão atenciosa, que meu coração derrete.
— Vou desligar a luz do quarto e deixar só essa
acesa. Já volto. — Aponta para a pequena lâmpada no
teto.
Ajeito-me na poltrona e espero Andreo retornar. Fico
um pouco pensativa, observando o céu escuro e
estrelado. Curiosa, olho através dos vidros de proteção da
varanda e fico aliviada ao notar que os seguranças não
estão desse lado.
— Mas é mesmo cismada. Eu disse que ninguém vai
nos ver aqui em cima.
Escuto a voz dele soar divertida.
— Claro, estou me certificando que não vejam a
minha bunda — defendo-me, risonha.
— Eles que ousem olhar para a minha garota.
Transformo os olhos deles em espetinho e dou para os
cachorros. — Ajoelha-se na minha frente, pega em uma
das minhas pernas e beija deliciosamente. Não demora
para inclinar o corpo em direção ao meu e desfazer o meu
laço. — Caralho, pareço um moleque virgem quando te
vejo pelada. Meu pau sobe e fica babando na hora —
revela em um resmungo enquanto avalia lentamente cada
pedacinho do meu corpo.
— Por que ficar só olhando se pode tocar? O meu
corpo é seu. — Pego uma mão dele e a coloco em meu
seio, então o descarado se aproveita e o aperta. — O meu
coração, tudo... — Nossos olhares se encontram e parece
que tem fogos de artifícios dentro de mim.
— Estou te achando tão melancólica... Você não é
assim. Está acontecendo algo que não quer me contar? —
Franze o cenho e toca o meu rosto.
— Podemos conversar depois? Prometo te contar
tudo o que está acontecendo. — Minha voz sai em um
sussurro.
— Se quiser, podemos falar agora. Sabe que a nossa
relação não é baseada só em sexo — diz, carinhoso.
É impressionante como consegue ser tão fofo
comigo, e com os outros taca um belo foda-se.
— Eu sei, mas neste momento só preciso que faça
amor comigo, me ame...
Como se fosse a última vez.
Andreo atende ao meu pedido e logo trocamos de
posição – ele se senta na poltrona e me coloca em seu
colo. Em silêncio, ele desce o robe por meus ombros e o
tira do meu corpo, jogando a peça no chão. O friozinho da
noite bate na minha coluna, me arrepiando. Andreo
passeia as mãos por minha bunda e sobe, chegando às
minhas costas, então faz um caminho para os meus seios
e os aperta com as mãos, me arrancando gemidos.
Rebolo em seu pau endurecido ainda coberto e ele
geme em resposta, em seguida, me curva para ele e
abocanha um mamilo. Sua língua quente e provocante me
afeta lá embaixo, me deixando escorregadia e pulsando.
Andreo suga meus seios, me torturando, enquanto me
delicio com a sua boca. Fricciono a boceta nele como se
já estivéssemos fazendo sexo, em pouco tempo estou
gozando, lambuzando o tecido da sua cueca.
Se estou no fogo é para me queimar.
Estou pronta para descer a sua cueca e libertar o
seu pênis, quando Andreo se manifesta.
— Amo a sua facilidade de gozar para mim, mesmo
que eu não esteja dentro de você. Mas acabei de me
lembrar que não trouxe a porra da camisinha — diz e leva
a mão à minha vagina encharcada.
Não vamos precisar dela por alguns meses, o que
queríamos evitar que viesse cedo já está na minha
barriga, penso em dizer, mas fico calada.
— Hoje quero fazer amor com você sem preservativo,
preciso te sentir sem nada.
Meu namorado arregala os olhos.
— Mas... — Eu o calo, levando o dedo indicador aos
seus lábios.
— Não corremos nenhum risco, eu juro.
Os olhos dele brilham quando me sento em suas
coxas e tiro o pau dele para fora, fechando a mão ao seu
redor e começando a masturbá-lo.
Andreo descansa as costas nas almofadas e joga a
cabeça para trás, então fecha os olhos com os
movimentos que faço. Bato a punheta com mais
intensidade, aumentando o ritmo e parando, passando o
dedo na cabeça lubrificada. Logo o encontro me
encarando com um sorrisinho de canto e uma expressão
de quem está sentindo muito prazer quando goza
violentamente em minha mão.
Sem esperar pelo ato, porque ele gosta de me
surpreender, meu namorado pede que abra mais as
pernas e enfia os dedos na minha boceta, me fodendo
com a mão de uma maneira tão gostosa, que preciso levar
uma mão à boca para não gemer alto.
O seu toque me deixa ardente, como se estivesse
queimando em brasas. Minha vagina se aperta e o meu
gozo escorre por seus dedos. É inevitável que eu não
solte um gemido escandaloso ao alcançar o deleite que
tanto procurava.
Mesmo que a noite se encontre fria e com a
aparência de que no outro dia acordaremos com uma forte
tempestade com direito a raios e trovões, a nossa
urgência em ter o outro faz com que sintamos tudo ao
nosso redor quente.
Andreo retira os dedos de dentro de mim e os leva à
boca para sentir o meu gosto, e faz questão que eu o
assista fazendo isso.
— Eu não sei quem é mais gostosa, a boceta ou a
dona dela. — Sequer me deixa raciocinar antes de me
pegar pelo quadril com firmeza e me erguer um pouco. —
Pode se sentar nele, é todo seu. — Encaixa direitinho o
meu sexo no dele.
Fecho os olhos, sentindo cada centímetro dele me
alargando, e vou descendo lentamente, até que o seu pau
está todo dentro de mim.
Suspiramos baixinho com o contato que temos pela
primeira vez sem a camisinha.
Pele com pele, sentindo calor do corpo do outro.
De primeira, rebolo devagar.
— Andreo... — chamo-o, com a voz abafada.
— Essa boceta, além de foder o meu pau, fode o
meu juízo.
Ele e a sua boca porca que tanto amo.
Cavalgo toda molhada, mexendo apenas o quadril.
Ouço os seus gemidos, enquanto ele passeia as mãos
pelo meu corpo. Ele me segura pela bunda e me faz subir
e descer com velocidade. Jogo a cabeça para trás,
alucinada, e mordo os lábios, me deliciando com a
sensação de ter uma cachoeira entre minhas pernas. A
mistura da nossa excitação só aumenta o nosso prazer.
— A-amor... — Ofereço meus seios, rebolando firme
e me arrepiando por completo.
Andreo ajeita o corpo e se senta melhor na poltrona
sem tirar as mãos de mim. Sem demora, ele está dando
atenção aos meus mamilos, lambendo-os e os sugando
com aptidão. Chegam a doer de tão sensíveis que ficam.
Levo as mãos aos seus ombros e afundo as unhas
nele, quicando com vontade ouvindo o som das nossas
carnes molhadas se chocando.
Em poucos minutos, começo a tremer e o arranhar
com mais força. Ele procura por minha boca e me beija,
chupando a minha língua enquanto faço o mesmo com a
dele. Andreo mete em mim e me ajuda a chegarmos ao
ápice juntos. Nos movimentamos sincronizados e
engolimos os gemidos do outro para que não nos ouçam,
mas acho que é inútil tentarmos ser silenciosos.
Dou a última rebolada, sentindo o jato quente de
esperma ser deixado dentro de mim. Arfante, largo a boca
do meu namorado e escondo o rosto na curva do seu
pescoço suado.
Sabe aquele sentimento de culpa? Ele bate em mim
e eu começo a chorar. Aos soluços, abraço com força o
homem que amo. Mesmo que não esteja entendendo a
minha fragilidade, ele me abraça de volta e acaricia as
minhas costas.
Andreo sai de dentro de mim, e sem fazer perguntas,
me pega no colo, beija minha testa e me leva para o
quarto em passos lentos. Sem demora, me deita na cama
e se junta a mim.
— O que você tem, Alina? Não estou gostando disso.
Alguém na prefeitura te magoou? Te assediou? — Ele tira
uma mecha do meu cabelo que cai no meu rosto e a joga
para trás.
Nego, soluçando.
— Independentemente de qualquer coisa, saiba que
eu me apaixonei por você... e que te amo — declaro-me,
deixando-o perdido.
— Só vou aceitar esse te amo se me disser o que
está acontecendo. — Toca nos meus lábios com o polegar.
— Tenho duas coisas para te falar. — Fungo, vendo-
o assentir atencioso. — A primeira é que estou esper...
Alguém bate à porta rispidamente, assustando-me.
— Filho, preciso falar com você agora.
Meu coração bate acelerado ao ouvir a voz do sr.
Mancini.
— Pode me esperar um pouco? — pede para mim, e
eu assinto.
— Veja o que ele quer. — Beijo seus lábios.
— Não demoro — promete, levantando-se e me
dando as costas. — Já vou, pai, vou só tomar um banho
rapidinho.
— Te espero no escritório — responde Alberto.
Ele vai contar e tudo ficará bem. Sorrindo, observo
Andreo seguir para o banheiro com uma toalha que pega
no closet. Alguns minutos se passam e ele sai de banho
tomado.
Arrumo o travesseiro na minha cabeça e o admiro
vestir a calça moletom cinza e um casaco preto. Andreo
me beija, prometendo mais uma vez não demorar, e logo
em seguida sai, me deixando com a cabeça fervilhando de
pensamentos.
Que o meu sogro conte a verdade para o filho, e que
nos próximos dias possamos viver sem incertezas. Reviro-
me na cama por longos minutos, e nada do Andreo
retornar. Acho que as horas passam e nada de ele
aparecer, até que bocejo uma última vez e fecho os olhos.
Estou há meia hora trancado no escritório com o meu
pai, e nada de ele dizer o que deseja. Ele já me enrolou
por vários minutos e nunca chega a parte mais importante.
Será que ele me ouviu com Alina e vai me dar um sermão?
Não, não é isso, ele teria sido direto, não me chamaria ao
escritório para falar da minha sacanagem na varanda.
— Você me chamou aqui para ficarmos olhando um
para a cara do outro? — Vasculho o seu rosto pálido e ele
nega.
— Estou procurando coragem para te contar uma
coisa, filho. É muito difícil para mim. — Ele passa a mão
por seu pescoço e fica cabisbaixo.
— Envolve a sua saúde? — sondo-o, preocupado.
— Antes fosse — murmura, me deixando abismado
com o seu desejo insano.
— O que é, então? Estamos aqui há um bom tempo e
você só está me enrolando, andando de um lado para o
outro — falo, impaciente com o seu comportamento.
— É um assunto delicado, muita coisa está em jogo,
Andreo. — A voz embargada não passa despercebida.
— Fale logo, oras. Desde quando se atrapalha para
me dizer algo? É algum sermão? Se for, já passei da
idade de levar puxão de orelha. — Descanso minhas
costas na cadeira e bagunço meu cabelo.
Deixei Alina me esperando, provavelmente ela
dormiu. Prometi que não demoraria, mas o meu velho não
está colaborando. Essa noite quero dar uma atenção
especial a ela, e ouvir dela o que está a deixando tão
aflita a ponto de ficar chorosa por muito tempo. Ela estava
para me contar, porém, se calou com a chegada do meu
pai. Agora estou aqui sem entender o motivo de ele ter me
chamado se não fala nada.
— Não é isso, Andreo. — Ele se senta na cadeira
atrás da mesa e espalma a mão na madeira, me
encarando com os olhos avermelhados.
— Custa muito me falar? Se ficar assim nunca vou
saber. — Ajeito minha postura na cadeira.
— Preciso que me escute com atenção, com a mente
aberta e me prometa que vai ser sensato.
Independentemente de qualquer coisa, vai saber agir com
maturidade para não magoar quem te ama.
Olho duas vezes para ver se é isso mesmo que estou
vendo - Alberto Mancini está chorando na minha frente.
— Me promete, Andreo? — insiste, quando não
respondo.
— Prometo — minto, pois não sei o que está por trás
das suas lágrimas.
— Eu não tive somente a Bárbara como namorada —
começa e eu o escuto atentamente —, houve uma garota
na minha vida antes, ela se chamava Bianca, trabalhava
na casa dos meus pais, assim como a Alina trabalhava
aqui. — Ele chora mais do que consegue falar, vez ou
outra passa a mão no peito, mas disfarça.
Pelo visto, estou vivendo o mesmo que ele viveu.
— E...? — indago, para que continue.
— Diferente da Alina, a Bianca não tinha família, era
sozinha no mundo. Começamos a namorar escondido,
meus pais eram muito rígidos, tinham a mesma loucura da
Bárbara, essa besteira de classe social. — O seu
resmungo me faz sorrir. — Mas eu estava tão apaixonado
pela Bia, que mesmo que os meus pais quisessem me
empurrar uma garota rica e mimada, continuei namorando-
a sem que soubessem. Mas nada fica escondido por muito
tempo, não é? Quando meus pais descobriram, tiraram
tudo de mim, foram mesquinhos, e por mais que tivessem
feito isso, eu não poderia me separar da mulher que
amava, estávamos perdidamente apaixonados. Só que
algo aconteceu e meus pais não deixaram barato, eles a
demitiram e a ameaçaram. — Meu pai tosse e eu me
levanto, mas ele faz um sinal para que eu continue no
meu lugar.
Aposto que a garota mimada que ele fala é a
Bárbara, bate direitinho com a narrativa dele, mas não
interfiro.
— Bianca engravidou, e quando eu soube que seria
pai do filho da mulher que amava, eu enlouqueci, em um
bom sentido, diferente dos meus pais. Os dois eram
pessoas cruéis, nenhum ficou ao meu lado. Quando
souberam que o filho deles, um rapaz da alta sociedade e
filho de uma família rica, tinha engravidado a empregada
deles, fizeram da minha vida um inferno.
Já começo a juntar as informações e um desespero
bate no meu peito.
— Cadê essa criança? Ela morreu? — pergunto, em
um sussurro.
— Me deixe terminar — pede. Mesmo atordoado,
meneio com a cabeça. — Eu estava para ser expulso de
casa quando seus avós me deram duas opções: receber a
minha herança e me afastar da Bianca, ou ser deserdado
se continuasse com essa loucura com a empregada. Eu
preferi a segunda opção, a minha mulher e o meu filho.
Levo a mão ao peito que arde como fogo e aperto os
olhos.
“Minha mulher e o meu filho.”
— Naquela época, eu não tinha um emprego e nem a
Bianca, muito menos dinheiro. Quer dizer, Bianca tinha um
pouco que recebeu depois que foi demitida, mas não daria
para pagar nem dois meses de aluguel. Mesmo grávida,
ela conseguia fazer bicos aqui e ali, mas eu não
conseguia nada. Meus pais me sabotavam, e eu fiquei
sem conseguir ajudar na casa. Nos últimos meses da
gravidez, Bianca acabou ficando doente e no último... —
Meu pai chora de soluçar.
— Cadê esse filho e essa mulher? — Puxo meu
cabelo, mesmo sentindo dor de cabeça.
Ele não responde, baixa a cabeça como um covarde
e chora. Revoltado com o seu silêncio, empurro minha
cadeira para trás e me levanto.
— Morreram ou o quê? — Altero a voz.
— Me deixe terminar, Andreo — pede, sem parar de
chorar, com os olhos avermelhados.
Balanço a cabeça, negando.
Por que meu pai está contando essa história agora?
Tantos anos se passaram. Qual o motivo disso?
— A Bianca adoeceu, teve pneumonia, por sorte não
afetou o bebê, foi um milagre. O parto foi muito difícil para
ela, e acabou não resistindo. Nos primeiros dias de vida
dele, assumi toda a responsabilidade de um pai e...
— Não termine — eu o interrompo, porque já sei o
que quer me falar. — Não ouse terminar.
Só percebo que estou chorando quando meus olhos
ardem e a minha voz sai rouca.
— Mesmo que não queira ouvir, eu preciso que você
saiba de toda a verdade! — exclama, como se tivesse o
direito de exigir algo de mim. — A sua mãe morreu quando
você nasceu, Andreo, ela não resistiu, lutou até o fim para
que você viesse ao mundo. E então, sozinho, sem um lar,
sem recurso para te criar, tive que recorrer aos meus pais.
Mesmo que estivessem com raiva por eu ter virado as
costas para eles, eles me disseram que se eu aceitasse
me casar com a filha de um casal amigo deles, eu e você
seríamos acolhidos. Eu sabia que estavam falando da
Bárbara, mas eu aceitava ou perderia você também. Eu
tive que me casar com a Bárbara sem sentir nada por ela,
estava de luto, tinha acabado de perder a sua mãe, a
mulher da minha vida. Mas o que me mantinha seguindo
em frente era saber que você era fruto do nosso amor.
Bianca partiu, mas me deixou um pedacinho dela.
Com uma dor imensa atravessando o meu coração,
eu caio de joelhos e abaixo a cabeça, deixando minhas
lágrimas saírem.
Por tantos anos vivi em um inferno criado pela
mulher que eu pensava que era a minha mãe. Jamais, em
hipótese alguma, eu poderia imaginar que o
comportamento dela, as nossas desavenças fossem por
esse motivo. Na minha cabeça, Bárbara Mancini não
passava de uma dondoca da alta sociedade que queria
controlar o filho, assim como outras mulheres costumam
fazer para conseguir um bom arranjo de casamento. Mas a
verdade é outra, e dolorosa, amargamente dolorosa. Eu
fui gerado em uma barriga pobre, como minha mãe postiça
costuma falar. O pavor dela com empregadas sempre teve
um motivo.
— Na época do seu nascimento, a Bárbara estava
morando fora do país, e como seus avós sempre diziam a
todos que ela era a minha namorada, tudo se encaixou.
Principalmente para os nossos familiares. E antes que ela
voltasse do exterior, eles me enviaram para lá para que eu
só retornasse com ela e o nosso filho. Você. Então
ninguém desconfiou de nada, para todos, o nosso
casamento às pressas foi por causa do bebê — confessa,
baixinho, mas consigo escutar cada palavra, mesmo
jogado no chão, de joelhos, como a porra de um fraco. —
O início do nosso casamento foi horrível, Bárbara era
muito exigente, e para que ela te criasse como se fosse
seu filho, tive que engolir muita coisa, assim você teria
pelo menos um lar. Antes da sua mãe morrer, eu prometi a
ela que te daria o mundo, mas falhei na primeira
oportunidade, filho. Espero que me perdoe por ter sido tão
fraco.
Quando termina de falar, eu ergo meu rosto.
— Então ser filho de uma empregada te deixou com
tanta vergonha, que anos depois de ter se formado na
faculdade e encontrado independência não pôde contar ao
mundo quem era a minha verdadeira mãe? — Meu riso sai
amargo.
— Não é isso, Andreo. Nunca tive vergonha da sua
mãe. Ela era maravilhosa, a única mulher que amei na
vida. — Funga.
Eu gargalho e me levanto, minha visão embaçada me
faz cambalear, mesmo assim vou ao bar e pego uma
garrafa de uísque, tirando a tampa e levando-a
diretamente à boca.
— E o que foi então, porra? Gostou de ver a grande
Bárbara brincando de ser mãe com um filho que não era
dela? E anos depois, estava tão convencido com o falso
casamento, que a deixou destruir a minha vida e os meus
sonhos? — grito, arremessando a garrafa na estante de
livros e depois pegando outra e tomando um gole.
Descontrolado, bebo o álcool que desce queimando
na minha garganta. Tomo um longo gole e jogo o resto no
chão, então quebro mais uma garrafa.
— Tive medo de te perder. Houve um momento em
que imaginei como você ficaria, e tendo a Bárbara como
esposa, foi muito pior. Quando você entrou na
adolescência era tarde demais, estava mudado, ficando
rebelde... E eu temi que você me virasse as costas —
confessa, apavorado.
— Você me traiu, traiu a minha confiança. No final
das contas, me tratou como a sua querida esposa, como o
filho da empregada. — Aponto o dedo para ele, soluçando.
— Pare com isso, filho, jamais fiz isso. Você é a
minha vida. — Ele volta a chorar e tenta se aproximar,
mas eu recuo.
— Se sou a sua vida, então acabou de perdê-la,
Alberto Mancini. — Dou as costas para ele e procuro por
mais bebidas, já que não tenho o caralho do meu cigarro
para me acalmar.
— Tantos anos mentindo para mim... me tornei um
homem e continuei sendo perseguido por Bárbara,
achando que o que tínhamos era normal, coisa de mãe e
filho, mesmo que fosse um relacionamento tóxico — digo,
depois de dar mais um gole na garrafa. — Era por isso
que você deixava a sua mulher me desprezar, fazer o que
quisesse comigo.
— Largue essa bebida, Andreo! Vai se embriagar! —
pede ele, se aproximando e tomando a garrafa da minha
mão.
Rindo, levanto as mãos para o alto.
— Opa, mil perdões, prefeito. Ou o prefeito nunca
errou? Tantos anos deixando a esposinha acabar com os
sonhos do filho por medo, por ser covarde. Mas, no final
das contas, você é igual a ela, podre por dentro e por
fora. Não muda nada, nadinha. — Balanço a cabeça, ainda
rindo.
Alguém abre a porta e eu sequer olho para trás, o
cheiro do perfume caríssimo diz tudo. Temos alguém para
assistir ao nosso show, daqui a pouco a Alina também
aparece.
— A mamãe chegou... Ou devo dizer madrasta?
Nunca fez tanto sentido te chamar de madrasta. — Arrasto
a voz, gargalhando.
Bárbara Mancini fica na minha frente e me encara
com nojo, típico dela.
— Acabou contando, certo, Alberto? O moleque já
está bêbado — fala de maneira rude e tão fria quanto o
Alasca.
— Saia daqui, Bárbara, me deixe sozinho com o meu
filho! — ordena o grande Alberto Mancini, enfim
mostrando as garras.
— Que isso, pai, deixa a primeira-dama participar da
nossa reunião. Ela merece ouvir também — desdenho, me
sentando na cadeira e olhando para a mulher que está
pálida.
— Eu sempre disse que não deveriam mentir para
você, Andreo. Não me culpe por algo que sempre fui
contra — defende-se ela, com a voz embargada.
Acabo rindo da sua falsa dor.
Sempre me fodeu por eu ser o filho de uma
empregada e por ter sido obrigada a se casar para evitar
um escândalo na alta sociedade.
— Conta outra, Bárbara, você deve ter adorado me
infernizar todos esses anos. Imagino que agora esteja
aliviada por não precisar mais ter que me chamar de filho,
afinal, já sei quem você é. — Massageio minhas têmporas.
— Filho... — Ela se aproxima e tenta tocar no meu
ombro.
— Não me toque, caralho! — rosno. — Agora tudo
faz sentido. Aquela babação toda com o Eros, os seus
comportamentos tóxicos comigo. Para mim, estávamos
jogando, e eu como um otário que sou, me achava o
máximo por conseguir te tirar do sério, mas no fundo você
estava rindo de mim.
— Está errado, Andreo. Eu aprendi a te amar, meu
filho! Aquela garota ridícula que te deu a vida não tinha
nada a ver com você. A partir do momento que pus meus
olhos em você, vi que era para ser meu — diz a mulher,
chorando, mas nem aqui e nem no inferno acredito em seu
choro.
— Você não ama nem a si mesma, que dirá amar o
filho da mulher que conseguiu em pouco tempo o que você
nunca poderia ter — devolvo, revoltado.
— Não fale assim. Eu sempre fui contra mentir.
Sempre! — exclama, tentando se aproximar novamente,
mas eu recuo o máximo que consigo.
— Nada que saia da boca de vocês dois eu acredito.
— Aponto para eles.
— Tem certeza disso? — O seu tom me leva para
mais cedo, quando confrontou Alina ao dizer que não
tínhamos segredos um com o outro.
Não pode ser.
É coisa da minha cabeça. Estou nervoso.
Amargurado e de cabeça quente.
— Bárbara, cale a boca! — Meu pai se aproxima dela
e a segura pelos braços.
— Ah, o nosso filho pode nos odiar enquanto a
namoradinha dele sai ilesa? Não mesmo.
Sinto fortes pontadas na cabeça, desejo
profundamente que minhas teorias estejam equivocadas.
— Bárbara, eu juro que faço com você o que nunca
fiz na minha vida com nenhuma mulher se ousar abrir a
boca — ameaça Alberto, furioso, mas ela se solta dele e
se agacha ao meu lado.
— Sabe a sua amada, aquela empregadinha que está
lá em cima te esperando? — Solta o seu veneno e eu
sinto a minha garganta e o meu peito se rasgarem de dor.
Eu viro o rosto para não a encarar, mas a sua voz ardilosa
me persegue.
Por favor, Alina, que os seus dias de melancolia não
tenham sido por isso.
Por favor.
— Saia agora daqui, Bárbara! — A voz potente do
meu pai dói nos meus ouvidos, mas não ouso olhar para
nenhum dos dois, apenas aperto meus punhos na madeira
da cadeira.
— Alina Martins, a sua queridinha, já sabia de tudo
isso e escondeu de você. Seu pai que pediu isso, sabia?
Ela preferiu ficar do lado do seu pai, do que da pessoa
com quem divide a cama.
A sua declaração é suficiente para que eu empurre a
cadeira para trás e me levante. Olho para Alberto Mancini
e ele é tão covarde que nem me olha direito.
— É verdade? — Minha voz quase não sai. Ao vê-lo
assentir, o chão foge dos meus pés e lembranças dos
momentos de estresse de Alina e quando a vi de
segredinho com meu pai passam por minha mente, me
destruindo por inteiro.
— Não a culpe, filho, eu pedi a Alina para não te
contar. Ela me deu o prazo de dois meses.
Dois meses.
Ela sabia de tudo e não me disse nada. Nada.
Eu pedi que nunca mentisse para mim, odeio
mentiras. Prefiro ser um filho da puta e dizer a verdade do
que mentir. Esse é o meu lema.
— Ela não contou porque não quis! Que tipo de
namoro é esse onde se esconde algo tão sério? —
Alfineta a primeira-dama, ácida como sempre.
Com os punhos fechados, esmurro a mesa, sentindo
meus ossos doerem pra cacete. Mas a dor que habita
dentro de mim é mais forte do que qualquer coisa.
Cabisbaixo, respiro profundamente e me viro para
encarar o meu pai. Mesmo que eu segure o choro, é
inevitável não demonstrar o quanto estou afetado.
— Eu esperava tudo de você, menos isso — falo,
decepcionado. — Sabe, o que dói mais não é saber que
Bárbara Mancini não é a minha mãe, ou que sou filho de
uma mulher humilde, pelo contrário, não me envergonho
desse fato. Eu só queria que tivesse sido sincero comigo.
— Limpo meu rosto molhado e engulo meu choro.
Não vou dar as minhas lágrimas para que Bárbara se
alimente delas. Nunca mais. Essa foi a primeira e última
vez.
— Filho... — ele tenta falar, mas peço que se cale
com um gesto de mão.
— Eu vou sair e não quero que mandem os
seguranças atrás de mim. Se fizerem isso, vão se
arrepender — ameaço, virando as costas para ele e
saindo do escritório.
Em passos largos, olho para o andar de cima e
penso em ir até lá, mas desisto. Com a cabeça
explodindo, alcanço a chave da minha moto no móvel e
semicerro os olhos ao ouvir passos atrás de mim.
— Vai deixar a sua namorada lá em cima, como se
nada tivesse acontecido. Enquanto só faltou bater em mim
e no seu pai? — indaga Bárbara, provocando.
— Ao contrário de você, não sou um monstro. —
Então sigo na direção da porta.
— Filho, não saia, vai chover — pede meu pai, mas
eu o ignoro também.
Sem olhar para trás, eu saio e passo pelos
seguranças em passos firmes, nenhum deles me
questiona ou tenta me parar. Alcanço a minha moto e subo
nela, antes de ligar olho para o céu e vejo que realmente
vai chover, mas foda-se, não quero olhar para eles tão
cedo.
Ligo a Ducati e acelero enraivecido, fazendo os
pneus cantarem e a fumaça subir. Só então me lembro que
não peguei o capacete, mas foda-se.
A bebida começa a fazer efeito em meu sangue. A
raiva e o álcool me fazem sair da propriedade dos Mancini
em alta velocidade, e mesmo ouvindo gritos me
chamando, eu não paro, nem mesmo quando reconheço a
voz de Alina.
Meu ódio me domina e eu aumento os quilômetros
que me distanciam dela. Nem sei qual é o meu destino, só
que quero parar em algum bar, me embriagar e fumar
alguns cigarros para esquecer essa porra louca que
aconteceu.
Minha mãe se chamava Bianca e era empregada na
casa dos meus avós. Os ataques de ódio de Bárbara
sempre foram motivados por isso.
Meu pai era um covarde e mentiu para mim, deixando
que a esposa dele destruísse tudo de bom que existiu em
mim.
Minha namorada, a única garota por quem permiti ter
sentimentos, foi cúmplice do meu pai. Eu estava sob um
teto de mentiras, e só percebi isso quando ele caiu sobre
mim, não me permitindo me reerguer.
Passo fazendo ziguezague entre os carros, ouvindo
reclamações e gritos, mas não paro. Quanto mais
reclamam, mais eu acelero.
Desde ontem estou sentada no sofá da sala dos
Mancini, sem pregar os olhos, esperando que Andreo
volte.
Ontem, ao ouvir o barulho da sua moto, eu acordei
assustada. Quando fui até a varanda e o vi saindo em alta
velocidade e sem capacete, o desespero me dominou. Foi
então que eu tive certeza de que o meu namorado
descobriu quem é a sua verdadeira mãe. E o fato de ele
ter ignorado o meu chamado, deixou óbvio que também
estava irritado comigo, sequer olhou para trás,
simplesmente acelerou a moto.
O meu medo em acontecer alguma coisa com ele foi
tanto, que desci a escada correndo. Quando me deparei
com os Mancini entrando na casa, com meu sogro aos
prantos com a mão na cabeça e a megera bem plena – só
faltava sorrir –, quase caí no choro, mas me mantive forte.
No fundo, eu sabia que o comportamento de Bárbara era
de alguém que tinha conseguido alcançar o seu objetivo.
É, ela realmente tinha, a ponto de o Andreo não ter
retornado para casa e nem entrado em contato desde
ontem.
— Ficar esperando Andreo aqui não vai dar em nada,
Alina. Deveria pegar as suas coisas e ir embora, meu filho
não volta mais. Eu o conheço o suficiente para saber que
não vai querer ver a sua cara tão cedo. Ou nunca mais. —
Semicerro os olhos ao ouvir a voz de Bárbara. — Do que
adianta o showzinho de passar a noite chorando por
Andreo? Quando ele está com raiva, demora para cair em
si. — Alfineta, atrás de mim.
— Ele vai voltar, eu sei que vai — murmuro,
limpando o meu rosto molhado e me encolhendo mais no
sofá.
— Não vai, acredite em mim. — Tenta me desanimar.
— Me deixe em paz, senhora. Já conseguiu o que
queria, não tem mais motivo algum para soltar o seu
veneno. — Respiro fundo.
— Você foi bobinha ao achar que eu deixaria barato
ter que te engolir debaixo do meu teto. — Ri com
amargura e se coloca à minha frente com aquele ar
inabalável. — Nunca que eu deixaria o meu filho, rico e
lindo, com um futuro brilhante, casar e ter filhos com uma
empregada. — Olha-me enojada, e eu sinto meu estômago
embrulhar.
— Você vive falando a mesma porcaria de
empregada para lá e para cá. Vá procurar o que fazer,
estou cheia da sua mesmice, nunca muda de assunto. —
Irritada, eu me levanto. — Além de ser uma empregada,
como você ama encher a boca para falar, sou um ser
humano, assim como você! E não deveria se preocupar
com essa divisão de classe, já que quando morrermos
iremos para o mesmo lugar. Mas acredito que não iremos
nos encontrar, afinal, você fez tantas maldades aqui na
Terra, que provavelmente vai reinar no inferno, o único
lugar que irão te aceitar! — exclamo, revoltada e com o
coração doendo.
— Sua atrevida, baixe o seu tom de voz...
— Quem é você para me calar, hein? Se não me
respeita, também não te respeitarei. Simples assim. —
Ergo o rosto, enfrentando-a.
— Pegue seus trapinhos e saia da minha casa! Eu
deveria ter feito isso ontem, não sei onde estava com a
cabeça que não te coloquei para fora daqui. — Ela se
aproxima e tenta me tocar, mas eu recuo.
— Não saio daqui até o Andreo chegar. Tente me
tirar — digo, decidida, vendo os seus olhos me
fulminarem.
— Ele não vai colocar os pés mais nessa cidade,
menina. Esquece essa fantasia de felizes para sempre
que você colocou na cabeça e vá arrumar as suas coisas.
Vá para o seu barraco, aqui não é para você — desdenha,
com a mão na cintura.
— Você não vai me tirar daqui até que eu fale com o
pai do meu filho. — Meu tom sai alto e, de repente, ela
fica pálida. Sigo para onde seus olhos estão focados e
encontro o prefeito, parecendo tão pálido quanto a
esposa.
— Você está grávida, Alina? — pergunta ele,
emocionado.
Eu assinto, com os meus olhos ardendo.
— É mentira, ela não está grá... — Bárbara se cala
assim que ouvimos o barulho da moto.
É ele. Céus, ele está bem!
Pensei em tanta coisa ruim que poderia ter
acontecido, mas sou grata por ele ter voltado são e salvo.
O som alto da Ducati é inconfundível. As batidas do
meu coração aumentam e eu soluço alto, já encarando a
porta da sala. Tremendo, espero que ele finalmente
apareça, mas Andreo não passa pela porta e nem ouvimos
mais o barulho da sua moto.
Olho para o sr. Mancini ainda lá em cima e deixo
minhas lágrimas descerem violentamente. Amedrontada,
passo a mão na minha barriga e fico cabisbaixa, tentando
me manter otimista. A porta é aberta e eu levanto o rosto,
vendo-o entrar diferente de como o vi ontem.
— O que aconteceu com você? — Meus pés ganham
vida, quando percebo estou indo em sua direção ao notar
o machucado no supercílio e no canto da boca. — Quem
fez isso, Andreo? — Toco no seu rosto, mas ele me rejeita
ao olhar para o lado oposto.
Ele está com um cheiro forte de bebida e cigarro e a
sua camisa está suja de sangue. Ao olhar para os seus
punhos, vejo que estão machucados também. Tento tocar
em suas mãos, mas ele coloca os braços para trás.
— Vim buscar minhas coisas. — Me ignora como se
eu não estivesse parada na sua frente.
— Andreo, olhe para mim? — peço, levando a mão
ao seu rosto e o obrigando a me encarar. — O que mudou
entre nós? — pergunto, com a voz embargada.
— A sua mentira fez tudo mudar, Alina — diz. A
frieza que vem dele me deixa arrepiada.
— Por que me culpa de algo que não era uma
obrigação minha te dizer? Eu não poderia simplesmente
correr para você e contar algo que deveria ser feito pelo
seu pai! — Choro, tocando em seu maxilar enrijecido. A
raiva que ele transmite é tão forte, que é como se eu
estivesse levando facadas no peito.
— Certo. Eu só servia para trepar com você? Eu só
era a porra de um pau para você, Alina? — grita.
Fico magoada com as suas palavras, profundamente.
Sem pensar direito, dou um tapa em seu rosto, marcando
a sua pele com os meus dedos.
— Qual o seu problema? Pare de ser infantil! —
exclamo, atordoada por ter batido nele e ele sequer tenha
dado importância.
— Andreo, olha o respeito! — repreende o sr.
Mancini.
O filho dele começa a gargalhar e se afasta de mim.
— Agora exigem respeito? A essa altura do
campeonato? E o que mais vocês querem? Que eu os
perdoe? — debocha, andando de um lado para o outro.
— Já chega, Andreo! Pare com isso, droga! — peço,
voltando a me aproximar dele, que se encosta na parede e
avalia nós três com raiva. Tento tocar nele, mas ele se
afasta, e como sou insistente, eu o seguro pelo braço. —
O-olhe p-para mim — peço, com a voz cortada pelo choro.
Demora alguns segundos para que Andreo me
encare.
— Estou nervoso, com muita raiva, e não quero te
machucar com palavras. Então me solte — pede,
controlado.
Nego, chorando e pegando a sua mão que está
fechada em um punho. Eu a levo à minha barriga, mesmo
tendo uma plateia.
— Apenas me escute, pode ser que seja pela última
vez. — Olho bem em seus olhos escurecidos, nem parece
o cara que eu conheço.
— Quer que eu escute mais mentiras da sua boca?
— Ri baixinho, mas cede, espalmando automaticamente a
mão na minha barriga.
— Eu estou grávida, Andreo. Descobri ontem pela
manhã. Sei que não fizemos planos de sermos pais tão
cedo, mas estou esperando um filho seu. — Soluço,
esperando a reação dele, mas ele parece em choque. A
cor foge do seu rosto, e por um segundo noto a raiva ser
substituída por algo diferente, porém dura pouco. Ele tira
sua mão da minha barriga com brusquidão.
— Deve ser mentira, filho, não acredite nela. — Até
que demorou para Bárbara abrir a boca.
Andreo me dá as costas e esmurra a parede, em
seguida, solta um urro de dor.
— Cala a porra da boca, Bárbara! — grita ele,
encostando a testa na parede.
Mesmo com as pernas trêmulas, eu toco no seu
ombro e encosto o rosto em suas costas, em seguida, eu
o abraço.
— Volte a si, por favor. Você não é assim. — Molho
seu casaco com minhas lágrimas.
— Então você não me conhece. — O corte seco dele
me destrói. — Me largue, só vim pegar minhas coisas,
estou dando o fora dessa merda.
Fecho os olhos com força.
— Eu estou grávida, você me ouviu? — Eu o solto,
levando as mãos ao meu cabelo e o puxando para trás.
Nunca imaginei que fosse ver essa versão dele, mas
Andreo me olha dos pés à cabeça com desprezo. Chego a
pensar o quão bem Bárbara Mancini o conhece.
— Já chega, não quero mais ouvir mentiras vindas de
você, Alina Martins. — Revira os olhos e dá um sorriso
perverso. — Meus parabéns, você conseguiu conquistar o
otário aqui. Agora pode contar para a cidade o que fez
comigo, e não esquece de ressaltar que você conseguiu o
que nem mesmo Bárbara Mancini poderia. Você me
destruiu, fodeu com o meu coração. — Abre os braços e
gargalha sombriamente.
— Não vou dar ouvidos ao que você está falando
agora, está machucado. Quase embriagado e sem
condições para uma conversa sensata — digo,
esperançosa.
— Estou bem consciente, Alina. Tanto que estou indo
embora desse lugar e nunca mais volto.
O baque que levo é surreal, fico até tonta. Ele não
parece estar brincando.
— Você não vai sair nessas condições, Andreo —
manifesta-se Alberto Mancini.
— Nunca mais tente me parar, pai, você perdeu esse
direito ontem — resmunga meu namorado.
— Se quiser sair daqui, vai ter que ser a pé, porque
não vou te deixar sair por aí neste estado deplorável!
Você poderia ter sofrido um acidente, pilotar uma moto
sem capacete, e na chuva — diz meu sogro, descendo a
escada.
— Fico com a primeira opção. E em relação a um
suposto acidente, não se preocupe, ziguezaguear no
trânsito não é nada para quem tira racha por aí.
Mesmo com a rejeição dele, sei que está dominado
pela raiva e tentando assimilar a conversa que teve com o
pai. Incerta da sua reação, volto a me aproximar e o
seguro pela camisa com uma mão, enquanto a outra toca
o seu rosto. Andreo me encara, e ali consigo ver amor e
raiva, uma mistura de sentimentos.
— Vamos subir, me deixe cuidar do seu machucado,
depois conversamos — peço, tocando no machucado perto
da sua boca e sujando meus dedos de sangue. — Não
precisa sair assim. Amanhã você tem aula e... Por favor,
fique. Nem que seja pelo nosso bebê — praticamente
imploro, estou por um fio.
Ele respira profundamente.
— Tudo bem, eu fico.
Nem acredito que ele cede. Sorrindo, eu o abraço,
mas ele não retribui, somente se afasta de mim.
— Sério? Vai perdoar a empregadinha? — pergunta
Bárbara, aterrorizada.
Ela disse que ele não voltaria, e saber que vai ficar a
surpreende.
— Não se meta, Bárbara. Eles são maiores de idade,
sabem o que estão fazendo — ordena o prefeito.
Eu fico gelada ao sentir a mão de Andreo entrelaçar
na minha. Simplesmente ofego com o seu gesto.
Foram tantas emoções, que um mal-estar me derruba
com força. Minha visão fica turva e, em um instinto de
proteção, agarro-me na camisa de Andreo e olho para ele,
já revirando os olhos.
— Alina.
Ele me segura pela cintura antes que eu caia. Tento
reunir forças para não apagar, mas a visão fica mais
embaçada e tudo ao meu redor escurece.
— Alina. — Reconheço a voz do Andreo, mesmo que
seja ao longe.
Ao sentir o cheiro forte do álcool impregnar as
minhas narinas, abro os olhos devagar. Com a visão ainda
um pouco embaçada, fixo meus olhos nele.
— Que bom que acordou. Você desmaiou, fiquei
assustado. — Demonstra tanta preocupação na voz, que
nem parece ser o Andreo de mais cedo.
Eu apaguei.
Olho ao meu redor e percebo que estou no quarto
dele. Remexo-me na cama e solto um gemido ao sentir
uma leve pontada na cabeça, em seguida, tento me
levantar, mas Andreo toca no meu ombro, me impedindo
que eu me sente. Não estou sentindo nada, somente o
meu coração que está dilacerado.
Quando ele se senta na beirada da cama, eu o
observo calada, louca para cuidar dos seus ferimentos,
porém, me contenho. Ambos ficamos em silêncio por um
tempo, até que respiro fundo e decido me manifestar.
— Como se machucou? — É mais forte do que eu.
Olho para o canto da sua boca e o supercílio.
— Entrei em uma briga no bar — fala, como se não
fosse nada.
— Entendi. Deveria limpar as feridas ou tomar um
banho, elas podem infeccionar — digo, ao sentir meu
estômago embrulhar de leve com a mistura de perfume,
álcool e cigarro.
— Eu vou, só estava esperando você acordar. —
Volta a se levantar e me dá as costas.
É impossível não notar o clima ruim entre nós.
Estamos conversando como se fôssemos estranhos, e não
chegando ao que realmente importa.
— Precisamos conversar direito — determino,
sentando-me.
Ele sequer se vira para me encarar, simplesmente
entra no closet.
— Quando eu sair do banho, faremos isso — decide.
Não digo que está bom ou ruim, apenas fico quieta e
o vejo seguir para o banheiro, com roupas no ombro e a
toalha. Encosto-me na cabeceira e recolho minhas pernas,
abraçando-as. Os minutos vão passando, vez ou outra
olho na direção do banheiro, mas nada do Andreo sair de
lá.
Engolindo a vontade de chorar para não fazer mal ao
meu filho, levanto-me à procura dos testes de farmácia
que guardei na gaveta do móvel ao lado da cama.
Vasculho a gaveta e não demoro para os encontrar.
Sem conter a agonia dentro do meu peito, pego a sacola e
deixo o soluço escapar. No mesmo instante, a porta do
banheiro é aberta e Andreo sai, daqui posso sentir o
cheirinho gostoso do seu sabonete de hortelã.
Ele duvidou da minha gravidez, ou talvez tenha dito
aquelas palavras horrorosas da boca para fora. Se é prova
que ele quer, vai ter. Com os testes nas mãos, olho para
Andreo e vou até ele, que encara confuso a embalagem.
Ele abre a boca várias vezes, mas não ousa falar nada.
— Aqui está a prova da minha mentira, veja com os
seus próprios olhos. — Pego uma mão dele e coloco os
testes, em seguida, dou as costas para ele.
Não sei onde encontrei força, mas algo dentro de
mim grita para não abaixar a cabeça neste momento. Na
verdade, não deveria fazer isso jamais.
Sentada na cama, olho para o pai do meu filho
abrindo a embalagem. Sinto a sua tensão de onde estou.
Andreo enfim encara os testes e paralisa, então ergue o
rosto e me encara. Como sou uma idiota, fico desejando
que ele venha até mim e me abrace, diga que tudo não
passou de um mal-entendido e que logo voltaremos a ser
como éramos.
— Me desculpe, não quis te ofender. Não era
necessário me mostrar nada. — Finalmente cai em si e eu
quase sorrio, mas não o faço.
— Era sim, Andreo. Você me humilhou lá embaixo,
duvidou de mim, dando esse gostinho a Bárbara. — Um
gosto amargo toma conta da minha boca.
— Não foi intencional, Alina — fala.
— O fato de eu ocultar de você sobre a sua
verdadeira mãe foi intencional, e por isso não mereço o
seu digníssimo perdão? — Deixo escapar um maldito
soluço.
— Estava nervoso — diz, desviando o olhar.
— E esse nervoso passou quando me viu desmaiar?
— Arqueio a sobrancelha.
Não quero brigar, mas ele precisa me ouvir.
— Alina... — Ele passa a mão pelo pescoço.
— Sem essa, Andreo. Precisei desmaiar para você
se importar comigo, ao menos acho que se importou. —
Dou risada.
— Eu me importo com você, caso contrário, teria te
deixado lá embaixo e ido embora! — exclama.
— Pois deveria ter ido, depois do que falou não me
surpreenderia. — Umedeço os lábios.
— Não poderia te deixar naquele estado — defende-
se, se aproximando.
— Agora que viu que já estou bem, ainda vai
embora? — Queria não demonstrar o quão afetada estou.
— Preciso ir. Não vou ficar embaixo do mesmo teto
que o meu pai e a minha m... Bárbara. — Ele está tão
próximo de mim, que meus batimentos cardíacos me
traem.
— Então é isso? Terminamos aqui? Vai me
abandonar depois de tudo, por algo que não tive culpa e
fui vítima também? — Olho em seus olhos.
— Vale Santo não serve mais para mim, irei para
Monte Verde daqui a pouco. — É a sua resposta.
Eu me entreguei a ele, ao nosso amor. Dei a minha
virgindade a Andreo Mancini, confiando nele, nas suas
promessas. Fui idiota? Não, apenas agi como uma garota
inexperiente loucamente apaixonada.
Em um ato de raiva, avanço nele e esmurro o seu
peitoral. Andreo não me impede, me deixa esmurrá-lo
enquanto choro alto.
— Eu te odeio! Se quer ir, vá, não volte nunca mais.
Não vai fazer falta para mim e nem para o meu filho! Por
mais que ele não tenha sido planejado, vou cuidar e amá-
lo. E quando perguntar pelo pai, direi que foi um covarde,
um babaca que deixou a infantilidade falar mais alto e me
abandonou — digo, com os lábios trêmulos e fungando. —
Como pode ser tão cruel? Eu não podia dizer não ao seu
pai, Andreo, você sabe que ele está com a saúde
delicada, você mesmo me disse. Agora quer me fazer
pagar por um erro que não é meu! Maldita hora que ouvi a
conversa do seu pai com a Bárbara, queria que nunca
tivesse acontecido. — Entre as lágrimas, dou uma risada e
soco o seu peito.
— Olhe para mim. — Andreo me segura pelos pulsos
depois de um tempo e me imobiliza.
— O que você quer? Daqui a pouco vai dizer que o
meu filho não é seu. — Tento sair do seu toque, mas ele
não deixa.
— Nunca duvidaria da paternidade, sei que fui e sou
o seu único homem. Pode olhar para mim? — pede,
suspirando.
— Você não merece ter os meus olhos em você,
Andreo Mancini. Se quiser passar por aquela porta e não
voltar nunca mais, vá em frente, mas saiba que jamais vou
te perdoar. — Cuspo as palavras assim que ele me solta.
Dou as costas para Andreo, pronta para deixar o
quarto. Mas ele me segue e me puxa contra o seu corpo,
confesso que não esperava essa atitude.
— Eu disse que Vale Santo não serve para mim, mas
não disse que você e o meu filho não servem. — Leva a
mão ao meu rosto e o acaricia. Automaticamente, meus
olhos inundam, mesmo que eu esteja brava com a sua
mudança repentina.
A forma como fala meu filho me derrete.
— Você vai precisar mais do que isso para me
convencer, Andreo.
— Reconheço que fui um babaca com você, mas
estava nervoso, com raiva de tudo e todos ao meu redor.
Eu fiquei cego, sei que te magoei, mas não foi a minha
intenção. — Roça o nariz no meu e eu fecho os olhos.
— Por que está tão mansinho assim? Não combina
com você. — Viro o rosto para o lado.
— Talvez seja o medo de perder vocês para sempre.
Eu realmente não esperava ouvir isso.
Não ceda tão fácil, Alina.
— Do que adianta agir com raiva e não com isso
aqui. — Aponto para o seu coração. — Falar da boca para
fora é fácil. — Meus olhos ardem. Em resposta, ele me
abraça e beija a curva do meu pescoço.
— Me perdoe, fui imaturo, impulsivo.
O meu corpo é tão submisso ao seu toque, que fico
arrepiada.
Eu o ignoro e aproveito a oportunidade para
desabafar de uma vez. Ele para de me beijar e parece
estar atento a mim. Mesmo que tenha ouvido a versão do
pai, conto exatamente como aconteceu no dia em que ouvi
sem querer toda a conversa dos seus pais.
— Passei dias e mais dias me torturando, louca para
te contar o que sabia, mas não fiz isso. Você entende que
era obrigação do seu pai te dizer a verdade, não minha? É
um assunto de família, então dei a ele um prazo, como
você sabe, mas a minha bondade acabou nos levando a
essa situação. E a primeira-dama se aproveitou para me
descartar, como sempre desejou, e te envenenou contra
mim. Fiquei até surpresa com a sua atitude, deixando que
Bárbara revirasse a sua cabeça. — Eu o empurro pelos
ombros.
— Sinto muito, Alina, de verdade. — Ele volta a me
abraçar e dessa vez é por trás.
— Sente mesmo? — Suspiro.
— Fiquei com sangue nos olhos, ouvindo do meu pai
sobre a minha verdadeira mãe. Estou no meu direito de
ficar com raiva, é normal que sinta isso. Seria fácil demais
se eu o perdoasse tão rápido. — Leva a mão à minha
barriga e eu gelo. — Não quis te ferir com as palavras, agi
como um moleque, um escroto, mas foi por ódio. E ouvir
Bárbara me dizer que você sabia me enfureceu, me senti
traído — confessa, com a voz vacilando.
— E eu vivi um inferno tendo que mentir para você.
Confiei na palavra do seu pai e os dois meses passaram e
nada de ele te contar. Fiquei doente por não poder te
dizer o que sabia, e ainda tive que conviver com a sua...
Bárbara soltando piadinha. — Fecho os olhos ao senti-lo
acariciar a minha barriga.
Estamos conversando civilizadamente.
— Não consigo entender por que meu pai se calou
durante tantos anos. Não tem lógica nisso. Quando eu era
um adolescente, meus avós nem eram mais vivos, o que
custava ser sincero comigo? Preferiu se calar e me deixar
ser torturado psicologicamente pela mulher dele, que eu
achava que era a minha mãe. — A revolta dele é notória.
— Longe de mim querer defender o seu pai, eu sei
que ele errou, mas foi pensando que assim te protegeria,
apesar de ter acontecido o oposto. — Viro-me para ele e
analiso a sua expressão carregada de rancor. — Vai
mesmo deixar que a Bárbara vença? Quer deixar a
história se repetir? Dar as costas para o seu pai é deixar
que ela alcance os objetivos dela.
— Estou chateado, Alina, preciso de um tempo para
assimilar essa reviravolta. — Encosta a testa na minha.
— Quer dizer que vai partir?
Ele assente.
— Por que não faz o contrário? Fique, mostre a eles
que você é muito melhor do que julgam. — Toco no seu
rosto e noto que seus olhos estão avermelhados, ele está
se segurando para não fraquejar na minha frente.
Estamos sofrendo juntos.
Andreo limpa a garganta, em seguida, beija a minha
testa.
— Não consigo ser assim, não consigo me preocupar
com o que eles pensam... Pode até parecer cruel, mas
esse sou eu — confessa, soando verdadeiro.
— É um adeus? — questiono-o, erguendo o rosto.
Ele nega com um meneio de cabeça.
— Vou ficar alguns dias por lá, preciso esfriar a
cabeça, mas prometo que volto para te ver.
Será que volta? A sensação que tenho é o
oposto disso.
Naquele domingo, Andreo partiu e eu não sabia se a
nossa despedida era um até breve, como ele havia dito,
ou um adeus. Para mim, soou como um até nunca mais.
Os dias passavam e ele não entrava em contato comigo. E
eu também não liguei ou mandei mensagem, queria dar a
ele o tempo que pediu, e por mais que eu estivesse
sentindo saudade, entendia o lado dele e continuava
esperançosa que ele retornaria para me ver, ou dizer que
poderíamos tentar uma vida juntos, sem interferências da
família dele, no caso, da Bárbara.
Faz dias que não temos contato algum, quase o
mesmo tempo que Dandara se demitiu da casa dos
Mancini ao descobrir a minha gravidez. Na segunda-feira
depois daquela confusão toda, ela foi trabalhar e ficou
sabendo da minha gravidez. Dandara mal tinha colocado
os pés na casa quando a Bárbara deu a notícia, por pouco
aquela mulher não causou um infarto na minha madrinha
ao dizer barbaridades. A minha madrinha não conseguiu
se segurar, acabou se demitindo, por mais que o Alberto
tenha pedido a ela para ficar.
Ela voltou para casa poucas horas depois de sair
para o trabalho e me contou tudo, me pedindo, aos
prantos, para confirmar a história de Bárbara Mancini.
O que mais doeu não foi confirmar a minha gravidez,
foi vê-la sofrer por mim duas vezes mais ao saber que
Andreo tinha ido para Monte Verde. A raiva que ela sentia
por ele renasceu, e ela disse que um dia ele se
arrependeria por tudo que tinha feito a mim.
Eu estava tão arrasada, que choramos juntas, mas
em meio a tanta emoção, ela me apoiou, me abraçou com
força e disse que estaria sempre ao meu lado, que o meu
bebê era bem-vindo e que ele cresceria em um lar com
muito amor. Na verdade, ela nem precisaria me dizer isso,
eu sei que a criança que cresce em meu ventre será muito
amada.
— Você deveria pedir demissão daquele emprego,
assim como eu fiz. Acredito que logo aparece algo muito
melhor para você, uma garota inteligente assim não fica
muito tempo desempregada— fala Dandara, rancorosa.
Ela não quer ver os Mancini nem pintados de ouro.
— Eu quase não vejo o Alberto, ele vai uma vez ou
outra na prefeitura. E eu preciso desse emprego, não
acredito que consiga algo tão fácil assim, estando grávida.
— Suspiro, passando a mão na minha barriga, que ainda
não tem sinal algum da gravidez.
— Ela está certa, dona Dandara. O emprego ao
menos é um serviço leve, e todo cuidado no início de uma
gravidez é pouco — diz Maria Fernanda, tocando no meu
braço.
Minha amiga está ficando na minha casa há quase
uma semana. Dias atrás, fomos ao laboratório colher o
sangue para o exame para confirmar a minha gravidez.
Mesmo que eu já tivesse certeza, pois tinha feito os testes
de farmácia. E não deu outra, o resultado foi o mesmo –
positivo.
Maria Fê tem sido a minha mão e os meus pés, estou
quase a nomeando como a minha psicóloga. A minha
amiga é um amor, não me abandona por nada, e todos os
dias tem xingado o Andreo. Ela também anda me
incentivando a fazer uma visita na propriedade que recebi
de herança, assim me distraio enquanto “o traste",
palavras dela, não volta.
Essa garota é um verdadeiro anjo, me faz companhia
e me proíbe de chorar, está puxando minhas orelhas todos
os dias. A sua falta de filtro me faz rir, mas ao mesmo
tempo chorar de soltar soluços ao me lembrar do meu
tatuado sarcástico.
— Não gosto da ideia de você ainda ter ligação com
aquele povo, Alina. Eles fizeram muitas coisas ruins a
você — fala minha madrinha, amargurada.
— Como fui pega de surpresa com a gravidez, não
vou poder fazer meu curso agora, minha prioridade será o
meu filho, e com o salário do emprego posso colocar as
coisas dentro de casa, somos só nós duas para comer
mesmo — confesso, com um aperto no peito.
— Enquanto vocês ficam de conversinha aí, vou
preparar o almoço. — Dandara se levanta do sofá e segue
para a cozinha, me deixando com minha amiga.
— Ela está tão triste por ter se demitido e eu me
sinto culpada, afinal de contas, ela tem razão. Eu a
decepcionei, de cara engravidei, agora todos estão
falando que o filho do prefeito me engravidou e fugiu. —
Sequer consigo rir da minha situação, a coisa está tão
séria.
Os boatos de que estou “buchuda" do filhinho de
papai que me chutou já se tornou manchete do jornal das
vizinhas fofoqueiras. Soubemos que Simone, minha fã
número um, falou para uma amiga e assim foi passando
de uma para a outra. Tenho certeza de que serei assunto
em Vale Santo pelos próximos meses.
— Mas ele não fugiu. Ele só precisa de um tempo,
como você disse. Quando aquele safado voltar, ele vai
fazer todo mundo calar a boca. — Ela tenta me consolar.
Depois de tantos dias, é a primeira vez que a vejo do lado
do Andreo.
— Será mesmo? Faz tanto tempo que ele foi. — Eu a
encaro, com os olhos ardendo.
— O vínculo que vocês têm vale mais do que isso,
amiga. Então, engula esse choro e vamos falar de coisas
boas, o.k.? — Ela limpa meu rosto ao ver uma lágrima
teimosa caindo. — O que acha de fazermos um acordo? —
Seus olhos brilham como se ela estivesse pensando em
uma travessura.
— Qual? — Mostro interesse.
— O dr. Conrado já provou de diversas maneiras que
você tem um bom dinheiro e propriedade, não é? —
Assinto. — Então, se o Andreo não aparecer até a semana
que vem, você promete que vai erguer essa cabeça e
seguir em frente? Estou dizendo isso não para que fique
longe do homem que ama, pelo contrário, quero te ver
firme e forte, poderosa, se colocando em primeiro lugar,
principalmente. — Ela me olha com seriedade, olho no
olho.
Ir embora de Vale Santo. Deixar a cidade onde cresci
para trás, refazer a minha vida a não sei quantos
quilômetros daqui. É uma possibilidade que me deixa
tentada.
— Daqui a uma semana... será quase um mês sem
notícias dele — digo, ao calcular pensando alto.
— Exatamente. Por isso que eu quero que você
reflita bem sobre isso. Você precisa conhecer a
propriedade que recebeu de herança, nem que seja para
ficar alguns dias. Tenho certeza de que será bom para
você, quem sabe você permanece por lá até o nascimento
do bebê. Você terá um pouco de paz longe dessa cidade.
— Maria Fernanda me abraça pelos ombros. — Posso ir
com você, se quiser, ou vai sozinha, apenas quero que
analise direitinho. Está na hora de você fazer uso do que
é seu por direito, e nada de ficar receosa porque não foi
você que conseguiu e blá-blá-blá. É seu, sim.
Se eu for embora, ou passar alguns dias fora, Andreo
sabe como me encontrar. Ele tem meu número. Maria Fê
tem razão, olhar para algumas pessoas na cidade está
sendo horrível, os murmúrios me irritam. A vida é minha,
mas todos se acham no direito de opinar, como se
pagassem as minhas contas. Eu daria um belo foda-se
para todos, porém, não tenho essa coragem. Então
apenas continuo com a minha cabeça erguida, porque
ninguém vai me sustentar ou ao meu filho.
Puxo o ar para os pulmões e fecho os olhos por uns
instantes.
— O.k., nem que seja para passar alguns dias, assim
descanso um pouco. E a senhorita vai comigo, não está
fazendo nada esses dias mesmo. Quero você e a Dandara
comigo, vocês são a minha família, estão comigo nos
meus dias difíceis, é claro que vou querê-las comigo nos
bons também — falo, fazendo-a vibrar e comemorar com
gritinhos. Ainda bem que a minha madrinha já conhece a
figura, nem se assusta com o seu comportamento.
Mais tarde vou sondar o dr. Conrado sobre a minha
ida a São Bento, quero ver a reação dele.
— Eu te amo, sua vaca — diz, risonha.
— Olha o respeito, Maria Fernanda — resmungo,
rindo.
— Esse apelido vai fazer mais sentido quando você
tiver com o barrigão e com os peitos cheios de leite — diz,
brincalhona.
— Nem sei como será a minha vida daqui a alguns
meses. — Fico pensativa.
— Maravilhosa. Será a grávida mais linda desse
mundo, e muito rica! Como você é inteligente, sei que vai
multiplicar a sua herança. — O seu elogio me deixa boba.
— Por isso que eu te amo. Você é a melhor amiga
que eu poderia ter. — Beijo seu rosto.
— Claro, e se tiver outra, eu mando matar! —
exclama, gargalhando.
— Que maquiavélica! — Dou risada, porque sei que
está brincando. Ela não mata nem uma mosca, não
aguenta ver um sapo na calçada que quer pular no meu
pescoço.
— Amiga, o que acha de a gente comprar umas
roupinhas para o meu afilhado amanhã? Se bem que
poderiam ser gêmeos, aí...
Nem deixo que fale, tapo a sua boca.
— Gêmeos é o cacete, Maria Fernanda! Que você
tenha! — Arregalo os olhos.
— Estava brincando. — Revira os olhos. — Mas o
que você acha? Podemos comprar uma roupinha que
serve tanto para menino como menina. — O seu olhar
pidão me convence.
— O.k., podemos ir. Mas só depois do meu trabalho,
não quero faltar. — Graças aos céus nada mudou no meu
emprego. Mesmo com o boato da gravidez, todos
continuam me tratando bem.
— Alina e Maria Fernanda, parem de fofocar e
venham me ajudar — chama Dandara da cozinha.
— Estamos indo, tia! — exclama minha amiga, se
levantando.
Seguimos para a cozinha e eu não deixo de pensar
no quanto sou sortuda por ter ao meu lado duas pessoas
incríveis que me amam e não soltam a minha mão por
nada nesse mundo.

— Minhas suspeitas estavam certas, Andreo.


Comece largando o cigarro se quiser viver mais alguns
anos e futuramente construir uma família.
Jamais imaginei que as palavras do dr. Alonso
fossem me afetar mais do que tudo nessa vida.
Pensei que nada mais me abalaria, nos meus
pensamentos só vinha Alina e o nosso filho, que mesmo
vindo sem aviso, será muito amado por nós.
— Posso encomendar o caixão, então? — brinco,
mesmo com o peito sendo preenchido pela dor.
— Nem brinque com isso — me repreende, em
seguida, volta a sua atenção para a radiografia.
Peguei uma maldita gripe na semana passada, achei
que fosse um simples resfriado, mas os dias foram
passando e nada de melhorar. Então, quando comecei a
sentir dificuldade em respirar e dores fortes no peito, tive
que procurar um médico. Como o dr. Alonso cuida da
minha família desde que eu era criança, eu o procurei.
Depois de me examinar, ele solicitou alguns exames e fiz
todos, agora meus dias passam entre ir e vir do hospital,
nem mesmo tenho ido à faculdade.
Estou há dias sem falar com Alina. Prefiro que pense
que ainda estou querendo um tempo para mim, do que
saiba a minha real situação. Ela já passou por muito
estresse por minha causa, não quero fazer mal a ela e
nem ao nosso filho. Sei que assim que disser que não
ando muito bem de saúde, ela vai ficar toda preocupada,
então irei me virar sozinho, pelo bem-estar dela e do
nosso bebê.
— O que eu tenho? — indago, passando a mão por
meu cabelo.
— Infecção pulmonar. E pode piorar se não começar
a se tratar e ficar longe da nicotina. — A seriedade dele é
como uma faca cravada em meu peito. — Quantos
cigarros você fuma por dia?
Parece que um nó se aperta ao redor do meu
pescoço, me deixando quase sem ar.
Bem que me disseram que um dia o cigarro me
mataria, mas não imaginei que pudesse ser tão cedo. Meu
plano era analisar a minha vida longe de Vale Santo, e
não vir para Monte Verde e ficar moribundo.
— Depende, fumo mais quando estou nervoso. Há
alguns dias fumei quase um maço inteiro, foi a única
forma que encontrei para me acalmar. — Minha resposta o
deixa pálido, mas ele mantém a sua postura profissional.
— Você tem noção da sua irresponsabilidade,
Andreo? Isso é prejudicial para a sua saúde, todos os
exames mostram o quanto seus pulmões estão
comprometidos — diz de uma forma tão preocupante, que
me atinge como se fosse um iceberg. — A sua sorte foi ter
me procurado na hora certa. Vamos começar o tratamento
o quanto antes.
— O.k. — Remexo-me na cadeira.
O médico começa a prescrever vários medicamentos,
o seu semblante está tão sério que preciso desviar o
olhar.
— Prescrevi alguns antibióticos, deve tomar nos
horários certos, e nada de festa, bebida e, principalmente
cigarro. Já comece jogando-os na lata de lixo. Vou
acompanhar de perto o seu tratamento, você também terá
que fazer fisioterapia respiratória, vai aliviar os sintomas
— diz, depois de um tempo, e eu assinto. — Outra coisa,
deve manter uma alimentação saudável e beber muita
água, são importantes no período de recuperação. E fiz
também um atestado de afastamento da faculdade por
alguns dias — ressalta.
— Sim, senhor.
Ele estende para mim três receitas e eu arregalo os
olhos.
— Aqui tem tudo que vai precisar para ficar bom. Nos
próximos dias quero você aqui no hospital, para a
fisioterapia, o.k.? É importante que leve a sério o
tratamento, Andreo, você ainda é jovem, tem muita coisa
pela frente. Não deixe que algo tão pequeno acabe com
os seus sonhos. — Meus olhos ardem ao ouvir o seu
conselho. Disfarço ao assentir e me levanto para ir
embora, estou fodido de dor. — Você está ficando mais
aqui do que em Vale Santo, não é? — pergunta,
levantando-se também.
— Sim, moro aqui agora — confesso, tentando fugir
do assunto.
— Os seus pais sabem da sua situação?
Meus pais, isso é quase uma piada.
Nego com um meneio de cabeça.
— E nem precisam, posso me cuidar sozinho, dr.
Alonso. — Acabo sendo rude sem querer.
— Igualzinho ao Alberto, teimoso que só. — Ele ri
baixinho. — Tudo bem, você é maior de idade, Andreo,
sabe o que faz. Mas qualquer coisa me ligue, estou a sua
disposição.
— Obrigado, doutor. — Dobro as receitas e coloco no
bolso.
Meu pai e Bárbara ligam todos os dias. Bárbara
também envia mensagens em tom de ameaça, como se
pudesse ter algum poder sobre mim, pobre coitada iludida.
Já o meu pai, tenta falar comigo, mas não quero magoá-lo
com palavras, nem dar a ele uma preocupação que deve
ser só minha. Eu me afastei deles para poder pensar
melhor na minha vida, e agora, com esse problema de
saúde, não quero mesmo ter contato algum com ele. É
melhor assim, a saúde dele não anda tão boa como ele
pensa.
Apesar da minha raiva por ter mentido para mim,
continuo pensando no bem-estar dele e não desejo que
ele tenha um infarto se souber que estou um pouco
debilitado. Vou evitar o máximo que puder que essa
informação chegue aos ouvidos dele.
— Sei que não devo me intrometer na sua vida, mas
como amigo da família, sinto-me na obrigação de dizer
que você deve entrar em contato com os seus pais e
avisar que está doente — alerta, me analisando.
Respiro fundo, mesmo com dificuldade.
— Dr. Alonso, agradeço o apoio que está me dando,
mas peço que só me veja como um paciente, e não como
o filho de um amigo de longa data. Sigilo médico, por
favor. Meu pai está doente, o senhor sabe, então, por
favor — digo, e ele assente. — Vou confiar na sua
palavra, na sua ética — acrescento por fim.
— Pode deixar, Andreo. — Balança a cabeça. —
Venha amanhã cedo para a fisioterapia, não se esqueça.
— Ele me lembra mais uma vez.
— Obrigado. Virei. — Arrumo minha jaqueta, em
seguida pego o meu capacete.
Nos despedimos e eu saio do hospital, me
direcionando ao estacionamento com os pensamentos em
Alina, meu filho e no meu pai – as três coisas mais
importantes da minha vida. Pergunto-me por que na hora
da dor, tudo se torna mais estreito e começamos a pensar
com mais calma em nossas ações. Só de lembrar as
palavras que disse ao meu pai quando ele me falou que
eu era a vida dele dói.
Antes de subir na moto, olho para a minha agenda e
vejo o contato de Alina. Um sorriso apaixonado toma
conta do meu rosto ao lembrar que ela nomeou o seu
número da primeira vez como amor da minha vida, e neste
momento estou editando o “Alina”, como era
anteriormente, porque a minha morena realmente é o amor
da minha vida.
Vou me recuperar dessa merda e irei até ela para
matarmos a saudade. Talvez ela me xingue, me mande ir
embora por estar brava, mas sei que o amor que sentimos
pelo outro é muito mais forte.
Mesmo tentado a ligar para ela, seguro as emoções e
subo na Ducati, colocando o capacete em seguida. Em
poucos segundos estou acelerando para longe dali, pronto
para passar em alguma farmácia e comprar os
medicamentos.
Agora mais do que nunca preciso ficar saudável,
afinal, em breve terei a minha própria família.
Quem diria, Andreo Mancini se tornando pai.
Não esperei os cinco dias que havia prometido a
Maria Fernanda passasse para tomar uma atitude e buscar
o melhor para mim e para o meu filho. Depois de três dias,
deixo Vale Santo, a cidade onde nasci e cresci.
Entrei em contato com o dr. Conrado e ele me disse
que quando eu quisesse me mudar para São Bento era só
avisar, pois a propriedade era minha. As palavras dele me
deram tanta força, que fiquei ainda mais decidida. Ele tem
sido bastante atencioso e disposto a me ajudar, e me
comunicou que assim que chegar lá, Heitor, o seu filho, irá
me ensinar como tudo funciona, e em pouco tempo
saberei lidar com os meus negócios.
Quem diria, que eu, há alguns meses, era empregada
na casa dos Mancini, e agora tenho uma propriedade.
Darei o meu melhor, vou saber valorizar cada gota de suor
desse tio-avô que nunca conheci, e se depender de mim,
irei multiplicar o que foi deixado por ele.
Estamos levando somente as nossas coisas
pessoais, a casa continuará do mesmo jeito. A mãe da
Maria Fê virá sempre dar uma olhadinha e limpar se for
preciso. Como ainda não sabemos o que será de nós
daqui para frente, ela se ofereceu para nos ajudar dessa
maneira.
— Amiga, tem certeza de que pegou tudo o que
queria? Encontrei esse ursinho no seu quarto. — Minha
amiga se coloca na minha frente com o ursinho de pelúcia
que ganhei do Andreo.
Por que ele sempre tem que estar em tudo?
Ao me lembrar de ele chegando todo desajeitado,
fofo, com esse ursinho para me entregar, sinto vontade de
chorar. Foi lindo vê-lo perder aquela postura de “nada me
abala” ao me dar algo tão fofinho de presente.
— Vai ficar aqui, não vou levar. — Respiro
profundamente e Maria Fê entende o recado ao me
encarar por um bom tempo.
— Certo. Vou guardar, então. — Ela me dá as costas
e segue novamente para o meu quarto.
De início, Maria Fernanda vai ficar por alguns dias
conosco, mas dependendo de como as coisas funcionem
por lá, talvez ela fique por mais tempo. O que puder fazer
para ajudá-la, eu farei.
— Filha, já arrumei tudo — diz Dandara, surgindo na
sala com duas malas nas mãos.
Ontem fomos comprar algumas malas, e eu tirei uma
pequena quantidade do dinheiro que tenho guardado para
usar se necessário em São Bento. O dr. Conrado disse
que não era para me preocupar com os gastos, mas gosto
de estar sempre prevenida, nunca se sabe o que pode
acontecer.
— Ótimo, madrinha, daqui a meia hora o motorista
que o advogado está enviando virá nos pegar.
O dr. Conrado achou melhor enviar uma pessoa para
nos levar até a propriedade, eu até refutei a ideia dizendo
que iria de ônibus, mas ele não aceitou muito bem e
acabou me convencendo, dizendo que a viagem é muito
cansativa. E foi só eu me lembrar que passaria cinco
horas dentro do ônibus para tomar a minha decisão. Na
situação em que me encontro, quanto menos tempo de
estrada, melhor.
— Enquanto ninguém chega, vou preparar um
chazinho de camomila para você, vai ajudar com esse seu
nervosíssimo — fala ela, ao olhar para o celular em
minhas mãos e depois para as minhas pernas balançando.
Tenho feito isso ultimamente, tentando aliviar a tensão.
Com a esperança de Andreo ligar a qualquer momento,
mantenho o celular quase que vinte e quatro horas ao meu
lado.
Dizem que a esperança é a última que morre, mas
sinto que ela já morreu. Como queria que ele batesse à
minha porta e dissesse o quanto me ama, o quanto o
nosso filho é importante, mas está difícil acreditar no
impossível. Ele não volta mais, senão já teria aparecido.
— Obrigada — agradeço-a, engolindo o nó que se
forma na minha garganta.
Assim que ela me dá as costas, eu me levanto e
coloco meu celular no bolso da calça, para ir até meu
quarto. Se eu ficar muito tempo parada em um lugar, vou
acabar surtando.
Entro no meu quarto e encontro Maria Fernanda de
costas, com o celular na mão. Ela olha para trás e sorri
para mim.
— Minha mãe e o meu padrasto ficam fazendo drama
porque vou ficar fora de casa por uns dias. — Ela ri. Acho
tão linda a relação dela com o padrasto, ele a trata como
se fosse a sua filha.
— Claro, você é a bebezinha deles — falo, ao me
aproximar dela, que larga o celular na cama e me abraça.
— Eu sou a deles e você é a minha. Agora deixa eu
te dar um abraço de urso para ver se esses olhinhos ficam
menos entristecidos — diz, com carinho.
Automaticamente, meus olhos ardem.
Ela sabe da minha dor.
O primeiro soluço sai da minha boca sem que possa
ser contido. Maria Fernanda acaricia as minhas costas e
diz que devo chorar se isso me faz sentir melhor.
Nunca achei que amar pudesse doer tanto.
— Por um momento, achei que ele me ligaria...
enviaria uma mensagem para dizer que está tudo bem, ou
até mesmo aparecer antes de irmos embora. Mas me
enganei, continuo sendo uma boba. — Choro, sendo
consolada por minha amiga. — E para completar, estou
com uma sensação de que algo está muito errado, e isso
me incomoda, mas não encontro resposta.
Não sei descrever que tipo de sentimento é esse
dentro do meu peito, mas não consigo odiar Andreo.
— Infelizmente, o amor é isso, amiga. Ele é cheio de
fases — diz ela, suspirando.
— Eu só queria que essa dor passasse. Esse
sentimento de abandono é horrível, Fê. — Fungo,
afastando-me dela.
— Tudo nessa vida passa, está me ouvindo? — Ela
toca em meu queixo e me faz encará-la.
— Eu sei. — Umedeço os lábios.
— Se sabe, substitua as suas lágrimas por um
sorriso, porque estamos indo para um lugar que é seu. Lá
seremos chiques. Tem coisa melhor?
Só ela para me fazer rir.
— Alina, o seu chá já está quase frio. — Olhamos na
direção da porta e encontramos a minha madrinha com
uma xícara nas mãos.
Ela vem em nossa direção e me entrega o chá, então
beberico o líquido ansiando por calmaria. Eu necessito de
paz no meu interior, essa turbulência está me matando.
— Amiga, vou para a minha casa rapidinho, para dar
um último beijo nos meus pais, tá bom? Volto antes do
motorista chegar — se manifesta Maria Fê.
Ela se despede brevemente da gente, prometendo
não demorar, então sai do quarto com a Dandara, que diz
que vai colocar algumas coisas em ordem antes de
partirmos, mas sei que é mentira, ela odeia me ver tão
desanimada e chorosa.
Olho para a minha cama e vejo o ursinho jogado.
Minha bile sobe na hora, e com as mãos trêmulas, coloco
a xícara no móvel.
— Se passaram somente alguns dias, mas parecem
meses sem você. — Minhas lágrimas caem por minhas
bochechas quando pego o ursinho e o aperto contra meu
peito. — Será que existe uma fórmula para esquecer
alguém que já está marcado em minha alma? Como
apagar os nossos momentos juntos e parar de gostar de
você, Andreo Mancini? É uma tarefa muito difícil. —
Soluço, sentando-me na cama aos prantos.
Deito-me no colchão em posição fetal e fecho os
olhos, somente eu e o meu travesseiro sentem o peso das
minhas lágrimas.
— Alina, acorda.
Sinto alguém me cutucar no ombro, então lentamente
abro os olhos. Meio confusa, encaro Maria Fernanda, que
está agachada na frente da minha cama.
— Hum, dormi? — indago.
— Sim, quando voltei de casa você estava dormindo,
e eu não quis te acordar — diz, gentilmente.
— Pois deveria. — Faço uma careta ao me
espreguiçar e sentir minha bexiga cheia.
— O motorista está lá fora nos esperando. A sua
soneca rendeu.
A sua revelação me deixa de olhos arregalados,
então levanto-me da cama em um salto, louca para fazer
xixi.
— Céus, já?
— Uhum. Ele já entrou aqui e pegou as nossas
malas. Olha, devo confessar que ele é um gatão, está
usando aquelas roupas de peão, aquele chapéu que deixa
um homem mais gostosão. Misericórdia! — Ela se abana e
eu cruzo as pernas.
— Maria Fê, preciso ir ao banheiro urgentemente! —
Mordo os lábios e saio do meu quarto rapidamente.
Entro no banheiro e fecho a porta. Apressada e
atrapalhada, desabotoo minha calça e quando vou descer
o jeans, ouço o barulho de algo caindo na água e não é o
meu xixi.
Droga, não acredito que isso esteja acontecendo
comigo. Aperto os olhos e encaro o meu celular dentro do
vaso sanitário.
— Porcaria de lerdeza, Alina! — O gosto amargo
toma a minha boca.
Tenho certeza de que ele não me servirá para mais
nada. Mesmo enojada e sem ter muito o que fazer, pego
um saco vazio dentro do armário e enfio em minha mão,
então pego o aparelho e jogo na pia, só então faço o mais
urgente no momento. Xixi.
De uma hora para outra, tudo começou a dar errado
na minha vida.
Corro até o armário com o coração apertado e tiro
uma toalha de lá, em seguida, enxugo a bateria, o chipe,
todo o celular. Repito o processo na esperança de ele
funcionar, e então o monto novamente e a tela surge toda
preta. Quando começa a fazer um barulho estranho, sei
que não vai funcionar mais.
— Que merda! — Encosto a testa na parede e respiro
fundo.
— Alina, está tudo bem? Precisamos ir, vai chover
daqui a pouco, e pegar a estrada assim não é bom — diz
a Dandara do outro lado da porta.
— Estou indo, só um minuto — digo, com a voz
embargada.
Minha última e falsa esperança acaba de terminar
oficialmente. Meu celular se afogou no vaso sanitário e
veio a falecer. Talvez até o chipe tenha estragado.
Jogo a toalha na lixeira e depois o celular, não vai
mais funcionar. Ele não era grande coisa, e gritava por um
novo, e com essa queda com direito a água deu um
destino final a ele.
Limpo o chipe cuidadosamente e o coloco no bolso
da minha calça, em seguida, lavo as mãos e saio do
banheiro.
Na sala, encontro Dandara, Maria Fernanda e um
rapaz alto e forte, com um ar de peão, de que mora em
uma fazenda.
— Boa tarde, senhora, sou o Talles. O sr. Heitor me
pediu para buscá-las. — Ele está segurando o chapéu
perto do peito, então vejo que seu cabelo é meio loiro.
— Boa tarde, Talles. Eu agradeço a gentileza, mas
não precisa me chamar de senhora — falo, meio
envergonhada.
— Como a senhora vai ser a minha patroa...
— Que isso, de forma alguma — eu o interrompo,
notando pelo canto do olho que Maria Fernanda está
animadinha.
— Tá certo, se prefere assim. Podemos ir? Uma
parte da estrada é de terra batida e quando chove fica um
pouco ruim — diz, todo tímido.
Eu assinto ao mesmo tempo em que a minha amiga
se aproxima de mim.
— Ele é um fofo, tá vendo? — cochicha, e eu finjo
que o rapaz nem está nos observando.
— Tente disfarçar, Maria Fê — murmuro, com um
sorriso falso. — O meu celular caiu no vaso e estragou, só
salvou o chipe, eu acho. Mas agora não tenho como me
certificar disso.
— Merda, quer colocar no meu celular para testar?
Assim vê se ainda presta — sugere, e eu recuso.
— Deixa para depois. Eu não gosto de pegar estrada
na chuva, ainda mais para um lugar desconhecido — falo.
— O.k. — Ela segue na direção do Talles e dá uma
boa olhada nele, quase me engasgo, porque ele
corresponde ao vê-la passar por ele e dar uma espiadinha
na bunda dela.
Já estou vendo coisas. Balanço a cabeça e vou na
direção da Dandara, abraçando-a pelos ombros. Não
passa despercebida a emoção em seus olhos.
— Eu sei que vamos sentir muita falta da nossa
casinha, mas é por um tempo... Ou talvez a nossa partida
pode nos levar aos melhores momentos da nossa vida,
nunca se sabe. — Beijo o seu rosto e ela assente.
— É normal que eu fique assim, filha, nunca morei
em outro lugar que não fosse em Vale Santo — diz, e eu
me sinto culpada por tirá-la da sua casa.
— Se a senhora não quiser ir...
— Quem disse isso? Mesmo que já seja uma mulher
feita, ainda é minha menina, minha criança, e para onde
você for, eu irei. — Toca em minha mão, me deixando
emocionada.
— Te amo, madrinha. Obrigada por tudo — declaro,
com a voz embargada.
Alguém pigarreia, e quando ergo o olhar, encontro
Talles parecendo envergonhado por interromper o nosso
momento.
— Podemos ir? — Ele passa a mão pelo cabelo.
— Claro, podemos sim. — Meneio com a cabeça.
Tento dar o primeiro passo, mas parece que meus
pés estão travados. Minha madrinha passa na minha
frente e diz que vai me esperar lá fora.
Todos saem e eu fico para trás, dando uma última
olhada na casa antes de sair. Já fora, tranco a porta e
viro-me, encontrando os três já dentro de uma Hilux preta.
Vamos lá, Alina. Força garota, o seu filho precisa de
um bom futuro e em São Bento você pode dar isso a ele.
Passeio meus olhos pela nossa rua e um sorriso
nostálgico surge, e em vez de chorar, ergo minha cabeça
e entro na camionete. Sentando-me ao lado da Dandara,
coloco o cinto e logo Talles pisa fundo no acelerador, nos
levando para longe dali.
Estou levando duas coisas que dei para o Andreo –
meu coração e o nosso bebê.

Ter pedido profissionalismo para o dr. Alonso foi a


mesma coisa que dizer “vai lá e conta para meu pai”. No
primeiro dia de fisioterapia respiratória, Alberto Mancini
estava na porta da sala, me observando com os olhos
avermelhados e o rosto inchando, entregando que havia
chorado bastante no dia anterior. Eu não pude e nem tive
a capacidade de rejeitar a sua companhia ou brigar com o
médico por ter sido linguarudo, as dores agudas que
estava sentindo eram mais fortes do que o meu maldito
orgulho. Se bem que nunca fui orgulhoso, era medo de
comprometer o coração do meu pai já muito fraco.
No segundo dia de fisioterapia, ele estava lá de
novo, mas dessa vez não ficou só observando calado, foi
até mim e me abraçou, chorando nos meus braços e
pedindo perdão. Foi então que deixei de lado o meu
rancor pelos anos de mentira e o abracei também. Eu
estava dias sem vê-lo, e bastou isso para que eu
entendesse que nem mesmo o fato de ter mentido sobre a
minha verdadeira mãe poderia mudar a nossa relação, o
nosso laço sanguíneo, porque, independentemente de
qualquer coisa, o sangue sempre falará mais alto. E
Alberto Mancini errou tentando acertar, mesmo que tenha
falhado miseravelmente.
E quem sou eu para julgar um pai, que mesmo que
tenha se submetido a um relacionamento abusivo, fez de
tudo para me proteger? Ele se sacrificou por mim ao se
casar com uma mulher terrível para me dar um lar. O meu
pai estava de luto, ainda assim, se submeteu aos
caprichos dos pais e se envolveu com Bárbara. Ele
poderia muito bem ter me deixado em um orfanato, ou até
me abandonado, porém, não o fez porque me amou desde
o dia em que soube que seria pai.
Após sair do hospital, fomos para minha casa e
conversamos. Como nunca tinha feito antes, eu me abri
para ele falando dos meus sentimentos, das minhas dores
e meus medos, que não eram somente físicas, elas
vinham da alma também. Depois de um tempo, meu pai
pediu um abraço e me fez prometer que eu me cuidaria,
porque tinha um filho para criar e uma namorada que já
deveria estar com uma aliança no dedo. Eu queria rir do
seu lado cupido, mas comecei a me sentir mal e tive que
ser levado com urgência para o hospital para ser
examinado.
O dr. Alonso queria me internar para que a minha
recuperação fosse mais rápida, mas eu me recusei, fiquei
somente uma noite no hospital. Meu pai ficou furioso com
a minha teimosia, e mesmo me fazendo companhia,
colocou os seguranças na minha cola. Mas o meu medo
não era passar dias em um quarto de hospital, era não
poder ver Alina, saber como ela estava. Ela precisava ter
notícias minhas.
Acabei mudando de ideia e decidi que deveria ir para
Vale Santo para encontrá-la e pedir perdão por ter sido
bobo em ter ido embora sem levá-la comigo.
Eu sei que precisei de um tempo para refletir, mas
não contava com essa reviravolta tão cedo em minha vida.
— Andreo, você não vai dirigir, esqueça isso agora.
Eu vou te levar! Já imaginou se você passa mal e sofre
um acidente? — diz meu pai, me seguindo até meu carro.
Chegamos a Vale Santo no meio da tarde. Quando
entramos na casa, fui direto para o meu quarto, graças a
Deus não encontrei Bárbara pelo caminho. Então descobri
que o meu pai pediu o divórcio faz alguns dias, e que a
Dandara se demitiu depois que ficou sabendo que eu
parti. As duas notícias me fizeram sentir felicidade e
tristeza ao mesmo tempo. Fiquei triste pelo fato de a
madrinha da minha namorada pensar tão pouco de mim, e
feliz por minha querida mãe postiça ter saído da nossa
vida.
Meu pai me disse que Bárbara nem ligou para o
pedido de divórcio, mas que tem certeza de que ela
deixará um rombo na conta bancária dele. Ela exigiu
algumas propriedades e um valor altíssimo para concordar
com o divórcio, então os advogados das partes estão
conversando para entrarem em um acordo. Muito em
breve ela deixará de ser uma Mancini.
— Estou bem, pai. As dores aliviaram, e os remédios
também ajudam. Vou na minha moto, não demoro. — Não
posso perder mais tempo. — Estou desde cedo ligando
para a Alina, enviando mensagens, e ela não me
responde. Preciso saber o que está acontecendo. — Se
ela me desse sinal de vida eu ficaria mais tranquilo, mas
isso não aconteceu.
— Sr. Alberto, a Suzi que trabalha na prefeitura está
ao telefone e disse que é urgente — Simone diz ao se
aproximar.
— Andreo, vou ver o que ela quer. Me espere aqui, já
volto — pede meu pai e segue para dentro da casa,
enquanto a mulher fica por ali, me observando como se
quisesse dizer algo. É nítido o seu sorriso disfarçado por
uma expressão séria.
— Tem algo a me dizer, Simaria? — pergunto e
começo a tossir, sentindo uma dor no peito.
Ela fica vermelha de raiva quando a chamo pelo
nome errado. Não reprimo meu sorriso ao me lembrar que
fiz isso quando defendi Alina, há uns meses.
— O senhor e a Alina terminaram mesmo? Sei que
não é da minha conta, mas acho que vai gostar de saber
de algo. — Ela passa a mão pelo cabelo bem amarrado.
Meu coração estremece com o seu tom maldoso.
— Não que seja da sua conta, mas não. O que você
sabe que eu não sei? — sondo-a.
Uma expressão de tristeza domina o seu rosto e ela
abaixa a cabeça por alguns segundos antes de a levantar
e me encarar.
— Jura que não sabe? Todos estão falando, quer
dizer, o pessoal da rua delas saiu contando para todo
mundo.
Que porra que enrolação é essa? Daqui a pouco até
meu coração vai para a reta.
Será que Alina perdeu o nosso filho? Será que
aconteceu algo com eles? São tantas perguntas sem
respostas que estou quase surtando em pensamentos.
— Quanto rodeio, fale logo, mulher! — ordeno,
irritado.
— Pelo visto, você não sabe. — Ela dá de ombros. —
A Alina, Dandara e aquela amiga foram embora. Ninguém
sabe para onde, já que elas não tinham nenhum parente
vivo. Só disseram que parou um carrão na porta da
Dandara e saiu um rapaz bem chique... E levou as três.
Elas estavam cheias de malas, não parecia coisa de
viagem, estavam se mudando de Vale Santo mesmo.
Não acreditando nas palavras da mulher, cambaleio
para trás e olho para a mansão, então para os seguranças
que estão ao redor.
Alina foi embora? Não, deve ser alguma brincadeira.
Não é possível. Dou uma risada amarga e encaro a
funcionária do meu pai, que realmente, por mais que seja
uma fofoqueira, não parece estar brincando. Ela sabe que
irei procurar a verdade, e se estiver mentindo, eu a farei
pagar por isso.
— Que piada mais sem graça. — Fecho a expressão,
mas engulo em seco.
— Não é piada, sr. Andreo. A minha amiga disse que
o bonitão chegou na rua perguntando se sabiam onde
ficava a casa da Alina Martins, e a cidade é pequena...
Então, pelo visto, o rapaz conhece a Alina e não a tal
amiga. — Solta o seu veneno e eu nem sei o que falar.
Pela primeira vez, essa mulher me deixa sem palavras. —
Elas realmente foram embora, e deve ser de vergonha, já
que estão falando mal da Alina pela cidade toda, sem
contar como o povo olhava torto para ela por causa da
gravidez. Estão dizendo que ela foi abandonada. —
Quanto mais ouço a voz de Simone, mais puto eu fico.
Malditos sejam esses fofoqueiros! Eu não a
abandonei, nem o nosso filho. Porra!
— Saia da minha frente! — grito, atraindo a atenção
dos seguranças.
— Sim, senhor — diz e entra correndo na casa.
Levo as mãos à cabeça e fecho os olhos por um
tempo antes de olhar para o céu e perceber que está
escuro, talvez vá cair uma tempestade.
Alina não pode ter partido assim, não para sempre.
Ela se foi com o nosso filho. Mas para onde? E quem é o
desgraçado que os levou? Atordoado, passo a mão por
meu rosto e tiro as chaves do meu carro do bolso, em
seguida, vou na direção dele. Rapidamente os seguranças
começam a se movimentar.
Entro no meu carro, e os seguranças entram no
deles, sei que qualquer movimento que eu fizer, eles farão
também. Ligo o carro e piso fundo no acelerador, no
mesmo instante os seguranças estão atrás de mim.
Através do retrovisor, consigo ver meu pai saindo da casa.
Focado nos pensamentos perturbadores, dirijo em
alta velocidade para a casa de Alina. Corro tanto que os
seguranças demoram para me alcançar. É perigoso dirigir
assim como um louco? Sim. Mas eu não tenho tempo para
pensar em nada que não seja na garota que amo e no
nosso filho.
Eles não podem ter ido. Que seja mentira da Simone.
Freio bruscamente na porta da casa da minha
namorada e encontro tudo fechado, então saio do carro e
noto que algumas pessoas me olham do outro lado da
calçada. Ignorando-os, vou até a porta em passos largos e
começo a bater na porta com força.
— Alina, você está aí? — Bato na madeira como se
fosse arrombar. — Dandara. Alina, sou eu, o Andreo.
Nunca pensei que uma garota poderia me fazer
chorar.
Bato incansavelmente na porta antes de encostar a
testa na madeira. Mas nada. Ninguém me atende,
deixando claro que Alina realmente partiu, como Simone
teve o prazer de me informar.
— Rapaz, não tem ninguém aí. Elas saíram tem
pouco tempo, se chegasse mais cedo teria se encontrado
com elas.
Viro-me ao ouvir a voz de uma mulher do outro lado
da rua. Com os olhos ardendo, eu assinto. Cansado e
sentindo uma dor no peito, sento-me na calçada e abaixo
a cabeça, ouvindo os seguranças me chamando. Depois
de alguns minutos, a chuva começa a cair e eu a chorar,
lamentando por ter chegado atrasado. Dois homens se
aproximam e tentam me erguer do chão, mas ordeno que
se afastem. É neste momento que ergo o rosto ao ouvir a
voz do meu pai, estou tão perdido na dor que nem o ouvi
chegar.
— Andreo, saia da chuva agora! Você quer se matar,
meu filho? — Ele toca no meu ombro, em seguida, tenta
me levantar.
Eu já estou todo encharcado e sentindo um frio que
chega a doer os ossos e a alma.
— Ela foi embora e levou meu filho, pai — digo, com
a voz embargada, finalmente cedendo e me levantando.
— Vamos sair dessa chuva. Quer ser o causador da
própria morte, dirigindo em alta velocidade? — Ele me
puxa para um abraço e eu choro pela primeira vez nos
braços do meu pai.
— Ela me deixou mesmo? Será que não é mentira?
Podem ter ido a algum lugar. — Uma crise de tosse
domina o meu corpo.
— Infelizmente é verdade, Andreo, a Suzi confirmou.
A Alina enviou um e-mail para ela avisando que estava
indo embora, mas que estava grata pelos meses que foi
acolhida na prefeitura. Ela só pediu demissão, não deu
mais nenhum detalhe. — A confirmação do meu pai
arranca o chão dos meus pés.
— Como eu vou saber deles? Como vou ver o meu
filho crescer, se nem sei para onde foram? Eu sou um
culpado, não é? Eu os perdi por minha culpa. — Soluço e
o meu pai me puxa para dentro do carro.
Tremendo e chorando, jogo a cabeça para trás e
fecho os olhos, não demora nada para que eu sinta falta
de ar.
— Andreo, olhe para mim, inspire e solte o ar pela
boca... Vamos lá — pede meu pai, segurando meu queixo.
— Tente relaxar. Sei que é um pedido impossível, mas
você precisa estar bem de saúde. Não se preocupe,
vamos dar um jeito. Em algum lugar a mãe do seu filho
está e nós os encontraremos, não importa quanto tempo
demore, o.k.? — Ele faz de tudo para me tranquilizar
enquanto tento buscar por ar mesmo que doa tudo por
dentro e por fora.
— O-o que vai ser de mim agora? — Meus lábios
tremem.
O desespero nos olhos do meu pai é notório, ele
nunca me viu tão quebrado.
Não sei o que vai me matar primeiro, meus pulmões
ferrados ou a saudade que está cravada em meu peito.
— Chegamos, garotas — fala Talles.
Mas estou ocupada demais admirando a enorme
porteira com uma placa em cima com o nome da
propriedade – Fazenda Renascer. Ele sai da camionete
para abrir a porteira, e quando retorna ainda estou
colocando meus pensamentos em ordem.
Na estrada, enviei um e-mail para Suzi pedindo
demissão, não poderia ser irresponsável em abandonar o
meu emprego sem dar satisfação. Ela só me deu uma
breve resposta dizendo que sentiria minha falta.
Depois de horas na estrada, paramos para abastecer
e acabamos almoçando. Então só fizemos mais duas
paradas para esticarmos as pernas e irmos ao banheiro.
No trajeto de Vale Santo até São Bento, o funcionário
do meu falecido tio-avô se saiu muito bem. Ele falou
muito, nos fez rir com as histórias que contou sobre o
“senhor Martins” parecer um velho turrão, mas no fundo
era um bom homem. Ele nunca deixava de dar auxílio aos
funcionários, e a Renascer era uma das fazendas mais
prósperas da região pelo fornecimento de leite e queijo.
Em algumas horas com ele, conseguimos tanta informação
sem nem mesmo pedirmos, a minha amiga amou, aliás,
ela adora um homem fofoqueiro. O Talles é muito legal,
gostei dele, e espero que não mude o seu comportamento
mais para a frente, o que tem de educado, tem de
respeitador.
Boquiaberta, olho para a minha madrinha e para a
Maria Fernanda, que me encara também perplexa.
— Estamos no lugar certo? — pergunto, quando ele
retorna e conduz a caminhonete para dentro da
propriedade por uma longa estrada de terra batida com
palmeiras-imperiais perfilando-a junto a um gramado bem
aparado.
— Sim, aqui a sua nova casa — fala o peão, com a
maior tranquilidade.
Ele me contou que todos da fazenda estão ansiosos
e cientes da minha chegada. Quero ver o que nos espera,
confesso que estou curiosa para saber como os outros
irão me recepcionar.
— O advogado disse que não era grande coisa a
propriedade, mas olha para esse lugar. É enorme! —
exclama a minha amiga, sem filtro algum.
— Você não viu nada ainda. Lá para trás tem os
galpões para a produção de leite e queijo, fora as casas
dos funcionários que moram aqui.
Quase me engasgo com a informação. Eu não sabia
disso, afinal, o dr. Conrado disse que não era muita coisa.
Talvez, para ele isso tudo não seja, mas para mim é coisa
pra caramba.
— Hum, entendi. — Abro o vidro da janela do carro e
sinto o ventinho gostoso bater no meu rosto, me fazendo
sorrir.
O resto do caminho seguimos em silêncio, em
poucos minutos avistamos um casarão de dois andares,
branco com preto. A fachada do casarão é avarandada,
com várias janelas e pilastras altas. Minha nossa... que
coisa linda! Eu até imaginava que seria uma bela
propriedade de tanto o Talles falar, mas não imaginava
que seria dessa maneira, não mesmo.
Eu recebia fotos do lugar, mas era do pessoal
trabalhando, de alguns cômodos da casa, mas nunca
desconfiei que pudesse me surpreender tanto. Talvez o dr.
Conrado não quisesse passar tantas informações para que
eu viesse pessoalmente conhecer o lugar, vai saber.
Ainda abismada, olho para as três pessoas paradas
em frente ao casarão quando Talles estaciona. Não
demoro para reconhecer o advogado, mas não faço ideia
de quem seja a mulher que parece um pouco mais velha e
o outro homem. Dr. Conrado acena para mim, usando
roupas do dia a dia, parece bem tranquilo.
Uau, o casarão de perto é ainda mais apreciável.
Confesso que será muito difícil me adaptar a isso aqui,
para mim, esse lugar é completamente o oposto do que
estou acostumada.
— Estão entregues. — Talles desliga a camionete,
em seguida, sai dela e abre as portas para descermos.
A primeira a sair é a Maria Fernanda, depois a
Dandara e eu sou a última. Quando percebo, o peão já
está pegando as nossas malas.
Com as mãos nos bolsos, encaro o advogado, que
sorri para mim e se aproxima com o outro homem, que é
muito bonito, parece ter lá seus trinta e poucos anos. A
mulher acena para mim gentilmente.
— Sejam bem-vindas. Estávamos esperando por
vocês! — se manifesta o dr. Conrado, muito educado.
— Missão cumprida, patrãozinho. Tô liberado? Tenho
que colocar a ração do gado com o Zeca e Diogo, e ainda
arrumar uma cerca que arrebentaram perto da propriedade
dos Bezerra, antes que a noite dê as caras — diz Talles,
meio envergonhado, colocando as nossas malas perto da
escada.
— Está sim, Talles, pode ir. — Quem responde é o
homem ao lado do advogado, só então me dou conta de
que ele deve ser o Heitor, o famoso administrador da
fazenda.
— Obrigado, patrãozinho. Até mais, senhoras, foi um
prazer conhecer vocês. — O peão tira as chaves que
estavam presas na calça e entrega para o Heitor, em
seguida, se vira para a gente e tira o chapéu como um
cumprimento antes de olhar para Maria Fernanda e piscar.
— Obrigada pela recepção e por ter enviado um
motorista, dr. Conrado. — Aproximo-me mais deles e
cumprimento cada um com um aperto de mão, deixando
por último o Heitor, notando a aliança grossa em seu
dedo.
Dandara e Maria Fê cumprimentam todos, e
demonstram animação por termos chegado ao local, tanto
que sorriem bastante.
— Que isso, Alina, tudo o que tem aqui é seu. E
vamos parar com essa formalidade, já disse — diz o dr.
Conrado, me deixando envergonhada. — Este é Heitor, o
meu filho e como sabem, o administrador das coisas por
aqui, e aquela ali é a Magda, a cozinheira que está aqui
desde a época em que o seu tio-avô Fred era vivo. — Ele
faz as apresentações.
— É um prazer conhecer vocês — falo gentilmente.
— O prazer é meu, menina! — Os olhos dela brilham.
— Como você é bonita! Eu te vi por fotos, mas
pessoalmente é muito mais bonitona!
Rio com o elogio de Magda.
— Obrigada, senhora — agradeço, ainda rindo.
A mulher nos pede licença dizendo que deixou a
comida no fogo e não pode deixar queimar. Sorrio com o
seu jeitinho engraçado de falar.
— Vamos entrar? Lá dentro podemos conversar
melhor, e eu te explico as coisas com mais detalhes.
Espero que se sintam em casa — sugere o advogado.
Nossas malas estão pesadas e teremos alguns
degraus para subir, nem pensei nisso e acho que Talles
também não. Mas isso é fácil, estamos acostumadas a
pegar no pesado.
— Claro, podemos sim. — Sigo até as nossas malas
para pegá-las, mas uma sombra ao meu lado me faz
erguer o rosto.
— Pode deixar que levo as malas — se oferece
Heitor, fazendo meu rosto ruborizar.
O.k., confesso que não esperava por isso.
— Certo. Obrigada.
Afasto-me e ele pega duas malas e sobe, aproveito a
gentileza dele e me viro para dar atenção a minha família,
mas elas estão distraídas com Conrado. Ele as faz rir de
alguma coisa e aponta para o lado oposto do casarão,
então me aproximo deles muito curiosa e consigo ouvir a
conversa por cima.
— Daquele lado ficam os animais e os galpões, mas
o que mais temos aqui é o gado leiteiro, por causa do leite
e o queijo — diz ele, atencioso. — Do outro lado, um
pouco mais distante, tem um riacho e uma casinha onde o
sr. Fred gostava de tirar uma soneca quando ia se banhar,
ou quando estava mal-humorado. Ele se sentia bem perto
do rio. Tem muita coisa ainda para vocês conhecerem.
Esse lugar foi moldado para ser chamado de paraíso —
revela, e eu noto a sua admiração e fidelidade com o
falecido.
— Meu Deus, amiga, isso é tão lindo, realmente
parece um paraíso! — exclama Maria Fê, animada,
observando a fazenda de gramado esverdeado e bem
vivo.
É tão bom respirar ar saudável.
— É muito bonito aqui, dr. Conrado — diz a Dandara,
ela também está feliz.
Por que todos estão felizes, menos eu? É uma
pergunta para qual já tenho a resposta e ela me dilacera.
Distraída, nem respondo para a minha amiga, apenas
fico perdida em pensamentos ouvindo-os conversar.
— Hoje não dá mais tempo, mas irei apresentar a
vocês o restante dos funcionários e a propriedade. Vocês
vão adorar. A Renascer é ideal para criar filhos, espaçosa
e cheia de opções para se divertir. Vocês precisam ver,
meus netos enlouquecem o Heitor para virem para cá nos
finais de semana, mas meu filho não faz a vontade deles.
Se pudessem, viriam todos os dias — fala Conrado. Duas
coisas chamam a minha atenção - o filho dele tem filhos e
não moram aqui.
— Hum, então o seu filho não mora na fazenda... e o
senhor também não? — Maria Fernanda tira as palavras
da minha boca.
— Não. O Heitor mora na cidade, sempre vai embora
quando começa a anoitecer. Ele só sai daqui depois de se
certificar que está tudo em ordem, daí volta no dia
seguinte bem cedo. Essa é a rotina dele. Ele e a família
moram na cidade, assim como eu. A única que fica aqui é
a Magda, e sai mais tarde porque gosta de deixar tudo
organizado, mesmo que ninguém more no casarão. Ela
mora em uma das casas que tem para os funcionários,
com o esposo e os dois filhos — revela, me
surpreendendo.
Eles parecem ser honestos. O ex-patrão deles
morreu há tanto tempo, que poderiam muito bem tomar
posse da fazenda e ninguém ia descobrir.
Viro-me e vejo Heitor passando a mão pela cabeça
quando ele pigarreia.
— Desculpem interromper, mas tem um celular
tocando insistentemente. Deve ser importante.
Meu coração bate como louco, mas logo ele vai
diminuindo os batimentos ao me lembrar que não tenho
mais um.
— Qual a cor da mala, Heitor? — pergunto, no
automático.
De repente, uma sensação bate no meu peito e eu
sinto a minha bile subir.
— É a vermelha — fala, nos encarando.
Quem está ligando para a minha madrinha?
— É o seu, madrinha — falo, rapidamente, fitando a
mais velha.
— Pode ver quem é, filha? Preciso conversar com o
dr. Conrado — pede ela.
— Claro. — Corro na direção da escadaria, e antes
de chegar ao Heitor, eu o agradeço. — Muito obrigada por
avisar. — Passo por ele e entro na casa, nem mesmo
observo as coisas ao meu redor, meu instinto apenas me
leva até a mala vermelha na sala, com o celular ainda
tocando.
Quem será?
Paro na frente da mala e abro como se a minha vida
dependesse disso. Na minha cabeça, crio uma teoria
absurda, mas sigo firme no propósito de atender e fico de
olhos arregalados ao ver o nome do prefeito.
Nem penso muito antes de atender.
Meu coração estremece e meus olhos ardem ao ouvir
a voz que tanto senti falta e que achei que jamais ouviria.
Se antes eu estava agachada, agora me sento no chão ao
ouvir a voz de Andreo. Ela está arrastada, como se ele
sentisse dor.
— Dandara, não desliga, por favor... Eu preciso...
falar... — Ele tem uma crise de tosse. Só percebo que
estou chorando quando as lágrimas deslizam pelo meu
rosto.
— Andreo, é você? — Que pergunta mais idiota, é
claro que é ele.
— Alina... — chama o meu nome mais firme e
surpreso, mas, ainda assim, arrastado.
— O que você tem? — Esse é o famoso coração
bom, só pensa no próximo e depois em mim.
Eu tenho mil perguntas, mas a sua voz me impede de
fazer qualquer uma delas.
— Saudade e arrependimento... Isso conta? — Pela
primeira vez, escuto a voz de Andreo Mancini embargada
em uma ligação.
— Por onde você esteve? — Fungo, ignorando a sua
pergunta descabida, sem conter o choro.
— Desde que saí de Vale Santo, tenho morado no
hospital. Acho que estou morrendo e não são meus
pulmões infeccionados que irão me matar primeiro, é o
meu coração. Ele não funciona quando está pela metade,
quer dizer, um corpo humano precisa de um coração para
sobreviver.
Ouço a sua risada rouca e logo um gemido de dor.
Muitas informações para assimilar. Pulmões?
Coração? Hospital? Soluçando alto, limpo meu rosto
molhado e sento-me no sofá.
— O que tem o seu coração?
Ao fundo, reconheço a voz do prefeito e o meu
mundo começa a ruir. Se ele está com o pai, então algo
sério está acontecendo.
— Você o levou, amor, e precisa me devolver — fala,
tossindo. Ouço o Alberto falar algo com ele sobre
oxigênio, e então percebo que Andreo tem a respiração
ofegante. — Preciso de você e do meu filho, Alina, por
favor, volte para mim. Não posso viver sem vocês, ou
morrer sem te ver pela última vez... Preciso tocar na sua
barriga, ver o seu rosto, tocar nele.
Volto a chorar com força ao saber que tem algo muito
errado.
— Me deixe falar com o seu pai, Andreo — peço,
trêmula. Ouço passos atrás de mim, logo o perfume de
Maria Fernanda a entrega. Não demora para que ela se
sente ao meu lado.
— Como o seu telefone só dava fora de área,
coloquei a cabeça para funcionar. Está vendo como não
sou tão cabeça de vento como pensava quando nos
conhecemos? Mesmo com medo de ter a bunda chutava
pela Dandara, me lembrei que ela também tem um celular
e pedi ao meu pai para ligar, porque não me atenderia se
visse que era eu. — Ele tem uma crise de tosse e solta
palavrões. A sua voz vai ficando distante e a ligação cai.
Ligo para ele, mas ninguém atende.
Amedrontada, procuro pela mão de Maria Fernanda,
mas ela me abraça.
— O Andreo está doente, Maria Fê. Ele estava
tentando disfarçar com aquele jeito dele, mas eu o
conheço. — Eu a abraço de volta, com as mãos trêmulas.
— Ele disse que desde que saiu de Vale Santo tem ido ao
hospital. O Andreo falou algo sobre infecção nos pulmões.
Céus, foram aqueles cigarros! — Engulo meu choro e
procuro me manter firme, mas tudo vai por água abaixo
quando o celular volta a tocar.
— Alina, o Andreo está com infecção pulmonar há
alguns dias e ocultou de todos, fiquei sabendo através do
médico da família. Como ele é teimoso, não esperou
completar os dias de antibiótico e nem fez o repouso
recomendado, então a situação dele piorou, filha. Para
que o tratamento dê certo e ele realmente fique
recuperado, o dr. Alonso quer que Andreo seja internado,
mas ele quer fazer o tratamento em casa. — Alberto está
chorando.
Gelada, peço que ele repita, e quando tenho a
confirmação das informações, levanto-me rapidamente.
— Em qual hospital vocês estão? — pergunto,
fungando e colocando o celular no viva-voz. Maria
Fernanda corre e pega o celular dela para anotar.
— Mas como você vai vir, filha? Vocês não foram
embora? — A sua pergunta é desnecessária, mas entendo
a preocupação. Digo a ele que isso é detalhe e ele me
passa o endereço, então Maria Fê anota.
— Se não conseguir chegar hoje, pode vir pela
manhã — diz.
— Estou indo agora, Alberto. Andreo é o pai do meu
filho, o homem que amo, e quando eu mais precisei,
quando estava doente, jogada naquela cama, foi ele quem
cuidou de mim. Eu irei retribuir por várias razões — digo,
com a voz firme, e então nos despedimos.
Devolvo o celular da minha madrinha e encaro a
Maria Fernanda, que está muito aflita e demonstra isso em
seus olhos.
Li no livro Carter, da série Herdeiros da Máfia, da
autora Jessica D. Santos, uma frase bem marcante que
jamais esquecerei: “Um deverá ser o escudo e a base do
outro, onde o mais forte obriga-se a se colocar na frente
do mais fraco.”
E neste momento, o mais frágil é Andreo, por mais
que ele negue, então eu serei a sua fortaleza, estarei ao
lado dele o tempo que for necessário. Nossas pendências
resolveremos quando ele estiver recuperado. Não é ser
boba tomar essa atitude, é ser madura e saber separar as
coisas.
— O que vai fazer, amiga? — Morde os lábios.
— Cuidar dele, ser a fortaleza do Andreo.
Ela vem até a mim e me abraça, me apoia como
sempre e diz que está comigo para o que der e vier.

Elas queriam voltar comigo, mas eu não permiti.


Falei que se já estavam ali era para ficar, e não retornar
após uma viagem tão cansativa. Depois de tanta
insistência, Maria Fernanda e Dandara compreenderam,
eu não tinha tempo para ficar discutindo com elas o que
era bom ou ruim.
Antes de partir, pedi para a minha madrinha e para a
minha amiga que se informassem sobre tudo. Falei que
não sabia quando retornaria para a fazenda, mas que eu o
faria só depois que Andreo estivesse melhor. Resumindo,
não dei a elas uma data exata de retorno, mas deixei claro
que ligaria e as manteria informada, e que não deveriam
se preocupar comigo.
Trouxe comigo as minhas malas e o celular da
Dandara, uma vez que eu estava sem o meu. Devo me
lembrar de agradecer melhor ao dr. Conrado por ter
pedido ao Talles que largasse o seu trabalho e me
trouxesse de volta. Confesso que fiquei com dó do peão
por ter que fazer essa longa viagem novamente, contudo,
minha preocupação com o homem que amo está acima de
qualquer coisa no momento. Eu não consegui pensar em
nada até sair da fazenda, agora faltam poucos minutos
para chegar ao Hospital Paulo Riverside III, que fica logo
no centro de Monte Verde.
— Em qual rua eu devo entrar, Alina? — pergunta
Talles, olhando para as duas ruas, uma à esquerda e a
outra à direita.
Mordendo os lábios, tento me recordar, em questão
de segundos a voz do Alberto vem na minha mente.
— À direita, Talles! — exclamo, sentindo a garganta
seca.
— O.k. — diz, seguindo na direção da rua indicada.
Em pouco tempo, eu avisto o enorme prédio luxuoso
e iluminado do hospital. Um medo percorre por minhas
veias e um frio bate em meu corpo, me fazendo
estremecer, mas continuo no meu propósito e
acompanhada por minha fé de que tudo ocorrerá bem.
Se estou assim sem ver o Andreo, imagina o vendo?
Talles estaciona e um sorriso de alívio surge em meu
rosto. Sei que agora está mais perto do que nunca.
Apesar de ter chegado aqui já tarde da noite, valeu a
pena, eu não mudaria nada. O pai do meu filho precisa de
mim.
Quando saímos da fazenda, já estava anoitecendo,
mesmo assim eu quis vir. Apesar de conhecer o Talles
somente há algumas horas, ele demonstrou ser uma
pessoa de confiança, então não tinha motivo algum para
ficar com medo de viajar sozinha com ele.
Confiei a ele o meu destino e não falhei na minha
intuição, o rapaz me trouxe direitinho.
— Vou deixar as suas malas lá dentro, estão pesadas
— fala ele assim que saímos da camionete.
Concordo e o agradeço pela ajuda. Enquanto Talles
tira minhas malas da caminhonete, envio uma mensagem
para o Alberto avisando que cheguei, assim como para a
Maria Fernanda. O sr. Mancini me responde primeiro
dizendo que vai me esperar na recepção.
Talles pega minhas malas e seguimos para a entrada
principal do hospital, passando pelas portas enormes de
vidro.
Logo de cara, deparo-me com o pai do Andreo
encostado no balcão da recepção. Quando ele me vê, abre
um sorriso, mas noto a tristeza em sua expressão
cansada. Meu sogro vem até a mim em passos largos,
mas não deixa de olhar desconfiado e com uma carranca
para o peão ao meu lado. Me vigiando para o filho.
— Alina, que bom que você chegou, filha — diz
Alberto, me cumprimentando.
— Queria ter chegado antes, mas...
— O importante é que está aqui. O meu filho precisa
de você, ele está te esperando. — Então olha para o
Talles com cara feia. Eu riria se fosse em outra ocasião,
mas no momento só quero chorar.
— Verdade, Alberto — concordo, séria. — Você pode
ficar com as minhas coisas? Acredito que não posso levar
tudo isso para o lugar onde ele está. — Mordo os lábios,
apreensiva.
— Posso sim, Alina, eu cuido das suas coisas. Eu
estava com Andreo há pouco e já acabou o horário de
visita. Mas o dr. Alonso é diretor geral do hospital, e ele
permitiu que você entrasse. Você sabe como Andreo é
teimoso, ele convenceu ao médico a te deixar vê-lo hoje
— revela o mais velho e eu assinto.
— O.k. — Lambo os lábios e olho para Talles. Fico
envergonhada por não ter os apresentado. Mas não tenho
tempo para isso agora, talvez em outro momento.
— Talles, muito obrigada pela ajuda e por ter vindo
novamente de tão longe! — digo e ele sorri.
— Que isso, Alina, prometi ao patrãozinho que você
chegaria aqui sã e salva. Espero que você possa resolver
as suas coisas — fala e larga minhas malas perto do
Alberto.
— Obrigada mesmo — falo.
Ele agradece, em seguida, tira o chapéu, passa a
mão pelo cabelo e depois o devolve para a cabeça. Ele se
despede de mim e se vai.
Alberto me passa as instruções de onde o filho está
e diz que ele está recebendo oxigênio porque se sentiu
mal em Vale Santo e teve que vir às pressas.
Nos despedimos com um “até breve” e o deixo com
minhas coisas. Com o peito batendo em disparada, sigo
até um corredor extenso e em poucos minutos estou na
frente da sala. Através dela não consigo ver o Andreo,
mas escuto a sua voz e fico melancólica, parece que está
conversando com alguém.
Com as mãos trêmulas, abro a porta e entro. Deparo-
me com uma enfermeira de costas, arrumando algo no
rosto de um senhorzinho na cama hospitalar. Logo à
direita, está Andreo, sentado na cadeira segurando uma
máscara de oxigênio no rosto. Quando ele vira o rosto na
minha direção, os seus olhos brilham. Ele faz menção de
afastar a máscara, mas peço para não fazer isso apenas
com o olhar.
Gostaria de me jogar em seus braços, mas ele não
está em condições. Daqui, noto as olheiras e o quanto
emagreceu, mas continua lindo, mesmo com o cabelo
bagunçado.
— Boa noite, com licença. — Limpo a garganta e a
enfermeira se vira.
— Boa noite. Você veio ver qual dos dois? —
pergunta a jovem enfermeira, que talvez seja alguns anos
mais velha do que eu.
— Essa moça bonita veio me ver, Patrícia. Por que
ainda pergunta? — Foi só a moça se virar de costas para
o velhinho tirar a máscara de oxigênio.
Andreo acha graça e faz o mesmo, soltando uma
gargalhada rouca, fazendo o meu peito ficar apertado.
— Sr. Rui, coloque a máscara. E você também,
Andreo, logo estarão dispensados. Mas se ficarem assim,
irão passar mais um tempinho aqui! Parece que estou
lidando com duas crianças. — Ela olha feio para os dois
pacientes. — Me desculpe, moça. Você veio ver quem? —
insiste ela, mas estou distraída olhando fixamente para
Andreo, que está louquinho para aprontar uma e largar o
oxigênio.
— Sou Alina...
— Ah, essa é a namorada e mãe do filho do nosso
garotão aqui, Paty. Tá vendo como sou mais informado do
que você, mesmo com o pé na cova?! — O homem mais
uma vez se intromete e eu não resisto, acabo rindo.
Andreo dessa vez fica quieto, mas deixa de me fitar
intensamente.
Os olhos dele estão ficando avermelhados.
— Isso mesmo, Patrícia, vim ver o Andreo — falo,
mexendo em meus dedos.
A enfermeira arregala os olhos e assente.
— O.k., fique à vontade. Ele já está liberado, quer
dizer, agora está — avisa educadamente e se vira para o
velhinho, que reclama a chamando de ranzinza e diz que é
para ela deixá-lo morrer em paz, porque já está velho e
viveu muito.
Institivamente, aproximo-me de Andreo e minhas
pernas parecem geleias. Ele tira a máscara de oxigênio e
a coloca ao lado, na mesinha. Toco no seu cabelo
penteando-o para trás e ele fecha os olhos. Solto um
suspiro ao ver lágrimas descendo em seu rosto.
— Você realmente veio. Eu nem deveria te abraçar,
mas estou com saudade, é impossível não quebrar as
regras — diz e encosta a cabeça em minha barriga, em
seguida, fico tensa ao vê-lo passar os braços ao redor da
minha cintura.
— Eu disse que viria — murmuro, ficando de frente
para ele, que beija minha barriga por cima do tecido da
minha blusa.
O seu gesto de carinho me estremece dos pés à
cabeça.
— Por que não me disse o que estava acontecendo
com você? Eu merecia saber sobre a sua saúde, Andreo,
sou a mãe do seu filho. — Afasto-me dele um pouco para
que não fique sufocado e o encaro.
— Não quis te preocupar. Primeiro, peguei uma
gripe, achei que era bobagem, mas com o passar dos dias
foi piorando, então tive que fazer alguns exames e foi aí
que descobri que meus pulmões estão meio ferrados, mas
ainda tem jeito, só preciso fazer a lição de casa direitinho
— acrescenta, me abalando.
— E por que não está fazendo? Quer morrer? Quer
me deixar sozinha, com o nosso filho no mundo? — Minha
voz sai embargada. Limpo a garganta e engulo o choro,
preciso ser forte por nós dois.
— Eu fiquei com medo de que você ficasse mal e
perdesse o nosso bebê, Alina. Eu já tinha feito você
chorar tanto, que não gostaria de te dar mais uma
preocupação — confessa, com os olhos lacrimejados.
— Me desculpem interromper, mas vocês podem
sair? O Andreo já está liberado, então não pode mais ficar
aqui — interfere a enfermeira, meio sem graça, mas bem
profissional.
— Me perdoe, estamos de saída — falo, me
afastando por completo de Andreo, que se levanta.
Putz. Estávamos tendo uma DR na frente de todos.
— Tudo bem — diz a profissional.
A porta se abre, então olho para trás e encontro um
médico bem grisalho. Acompanho o seu olhar e noto que
está em Andreo, o homem parece preocupado.
— Para onde está indo, Andreo? — pergunta o
médico.
— Dr. Alonso — resmunga Andreo.
— Patrícia, eu não disse que era para manter o
paciente aqui até que eu chegasse? — repreende o dr.
Alonso. Agora me lembro que ele é o médico dos Mancini
e amigo do prefeito, como dissera o próprio filho.
— Perdão, doutor. O sr. Rui é muito difícil, acabei me
distraindo — fala a enfermeira, com a voz baixa.
— Não pode se esquecer, Patrícia. O tratamento que
Andreo está fazendo precisa ser seguido ao pé da letra —
diz o médico, seco. — Você ainda não está liberado. Eu já
disse ao seu pai que você vai fazer fisioterapia
respiratória agora. — Só depois que fala isso, o médico
olha para mim, depois para Andreo. — E você é a Alina,
estou certo?
Assinto, ruborizando com a sua avaliação.
— Já estou indo, dr. Alonso — se apressa Andreo,
passando por mim, mas nem assim cala o médico.
— Sabia que o Andreo foi imprudente ao largar o
tratamento para voltar para Vale Santo hoje pela manhã, e
ainda ficou embaixo de uma tempestade?
Arregalo os olhos ao me lembrar da minha ligação
com Andreo mais cedo, então os pontos vão se juntando e
eu tenho ainda mais certeza de que precisamos conversar.
Não é profissional o modo como ele fala, mas como
praticamente é da família e viu Andreo criança, deve se
sentir à vontade para falar mais que o necessário.
— O que de fato ele tem, doutor? Só soube por cima,
minha mente está bagunçada. — Passo a mão por meu
pescoço. Estou tão cansada.
— Por acaso sou alguma criança? Eu sei falar, o.k.?
Vocês falam de mim como se eu não estivesse aqui —
reclama o tatuado, se pondo ao meu lado.
— Você sabe tudo, menos se cuidar. — Acabo
falando demais.
— Vou deixar o Andreo na fisioterapia. Temos que
fazer escolta para este rapaz, eu prometi que
acompanharia o processo dele de perto. Você pode me
esperar na minha sala, volto logo.
O médico me diz o andar da sala dele e eu assinto,
então nós três saímos. Mas antes Andreo se despede do
Rui, que manda ele se cuidar porque ainda é novo.
Andreo segue para a sala de fisioterapia,
acompanhado do médico, mas carrancudo e dizendo que
sabe o que tem que fazer. O dr. Alonso o ignora, esse que
é um bom médico, preza pela saúde do paciente. Quando
eles somem do meu campo de visão, pego o elevador para
encontrar a sala do dr. Alonso. Preciso saber
detalhadamente o que o pai do meu filho tem para que eu
possa ajudar.
Nem precisei fazer um curso para me tornar a
enfermeira particular dele.
Fico longos minutos na sala do médico o
aguardando, nesse meio-tempo, ligo para Maria Fernanda
e dou mais detalhes do que está acontecendo por aqui,
pedindo a ela que atualize a Dandara. Logo nos
despedimos e ela me deseja boa sorte e melhoras para o
Andreo.
Depois entro em contato com o dr. Conrado pedindo
que ele ligue para Talles e diga para encontrar algum
hotel para descansar, já que passou muitas horas ao
volante, o pobre não teve um minuto de descanso, não
seria justo que pegasse a estrada sem ter algumas horas
de sono. O advogado diz que eu estou coberta de razão e
que fará isso, sendo assim, fico mais aliviada.
Guardo o celular no bolso da frente da calça assim
que ouço a porta ser aberta, nem preciso olhar para trás
para saber que é o médico.
Ele se senta à mesa e pede que eu me acomode na
cadeira em frente, então prontamente levanto-me do sofá
e sento-me no local indicado.
— É o seguinte, Alina, o Andreo é avesso a hospitais
como o pai, é assim desde criança. — O médico se
remexe na cadeira, em seguida, ajeita os óculos no rosto
e me encara seriamente. — Sei que deve estar
estranhando a minha maneira tão íntima de falar sobre o
meu paciente, mas conheci Alberto décadas atrás, quase
da idade de vocês — explica.
— Tudo bem, dr. Alonso, eu sei da sua relação com
os Mancini. — Mexo nos meus dedos, tentando aliviar a
tensão.
— O.k. — diz, gentilmente.
— Se o senhor puder me explicar direitinho o quadro
de saúde do Andreo irei agradecer. Ele é muito genioso e
imagino o quanto deve estar sendo difícil lidar com ele —
murmuro, fitando-o.
— Ele é sim, mas até que estava aceitando bem o
tratamento, não queria que a família soubesse para não
os preocupar. Eu não achei isso certo, e mesmo que tenha
me pedido para não falar nada, não poderia deixar o filho
do meu amigo passar por uma situação tão delicada
sozinho — fala.
Eu acabo concordando com ele, a sua atitude é muito
nobre. E pelo que conheço o Andreo, é a cara dele fazer
isso.
O médico me conta detalhadamente o quadro de
saúde de Andreo e como tudo começou, até me mostra o
resultado dos exames. O único problema ali são os
pulmões, mas de resto ele está bem. Maldito cigarro.
Conforme vou sendo informada, passo a entender a
preocupação do médico e a necessidade de o Andreo
seguir direitinho com o tratamento para que melhore
rápido.
Dr. Alonso confessa que teve que ser duro com o
Andreo para que ele largue os cigarros e lhe deu um
puxão de orelha dizendo que os pulmões estavam quase
comprometidos, que isso poderia acontecer caso ele não
levasse a sério a saúde e continuasse fumando.
Em certo momento, não resisto e deixo as lágrimas
caírem.
— Mas o senhor acha que é realmente necessária
uma internação? Pelo que eu entendi, ele só está com
essa infecção, e se seguir tudo à risca irá se recuperar. —
Meus olhos ardem e eu controlo minha voz chorosa.
— Imprescindível não é, mas eu o farei para me
assegurar de que ele irá se tratar, pelo menos aqui temos
profissionais que darão os medicamentos nos horários
certos e ficarão de olho nele. Se você me garantir que
pode fazer isso, eu autorizo o tratamento na casa dele.
Alina, o problema foi Andreo ter fumado demais aquele
veneno, mas o bom disso tudo é que ele procurou ajuda
antes que fosse tarde demais — explica, me deixando
menos amedrontada.
— Sim, me certificarei de tudo. E fico mais aliviada,
doutor. — Sorrio, limpando meu rosto. — Então, ele
seguindo o tratamento, logo estará cem por cento, não é?
— asseguro-me.
— Sim, isso mesmo. Os antibióticos devem ser
tomados nos horários certos, em torno de quatro a cinco
dias já dá para perceber a melhora. Mas para fazer a
fisioterapia respiratória terá que vir ao hospital. Ele
também terá que seguir uma dieta saudável e repousar,
isso é crucial para a melhora dele — diz, sério.
— Estou disposta a cuidar dele, pode ficar tranquilo
que o Andreo será o melhor paciente que o senhor terá —
digo e noto que o médico fica feliz com a minha
informação. — Me comprometo em acompanhar o
tratamento dele, e se o senhor puder prescrever
novamente detalhadamente o que passou para ele, vou
agradecer. — Passo a mão por meu cabelo.
— Farei isso. Fico feliz em ver que o Andreo tem
alguém para cuidar dele. Ele é um bom rapaz, que às
vezes é um cabeça-dura.
Eu que o diga!
— O.k., obrigada. — Suspiro, sentindo o cansaço me
tomar.
Calada, observo o médico prescrever o receituário.
Ele passa alguns minutos concentrado antes de baterem à
porta.
— Aqui tem tudo o que precisa para que o seu
namorado fique bom logo. Ele precisa se manter bem
hidratado, ao menos dois litros de água por dia para
manter a imunidade ativa. — Estende para mim as folhas,
em seguida, olha na direção da porta.
— Sou eu, dr. Alonso. — É a voz do Andreo do outro
lado da porta.
O médico dá uma risadinha e eu fico sem graça.
— Pode entrar — diz o profissional, e não demora
para que Andreo entre e se coloque ao meu lado.
— Já estou dispensado? — pergunta Andreo, direto
como sempre.
— Por hoje, sim. Mas quero você aqui depois de
amanhã, e espero que você faça repouso. Acredito que
não preciso ficar tão preocupado agora, você vai ter
alguém para te manter na linha — fala o médico e me
encara.
— O.k., mas essa parte do repouso inclui também
ficar sem sexo?
A pergunta de Andreo me deixa vermelha como um
pimentão. Viro-me para ele e fecho os olhos ao ouvir a
tosse do médico, o pobre coitado se engasgou.
Céus, que tipo de pergunta é essa? Nem mesmo
doente ele para de ser atrevido.
— Pode sim. Não é uma doença transmitida
sexualmente, contanto que não fique com falta de
oxigenação — fala o médico.
Eu continuo desviando o olhar, morrendo de
vergonha.
Que Andreo sem vergonha! Em vez de pensar em
ficar bom, está querendo saber de sexo. Ele vai morrer na
seca!
— É bom saber disso, ao menos uma boa notícia.
Obrigado. — Seu tom malicioso não passa despercebido.
Limpo a garganta e encaro o médico.
— Então, já podemos ir? — pergunto, morta de
vergonha e apertando as receitas nos dedos.
Eu mataria Andreo se ele não estivesse doente! Que
sacana!
— Podem sim — diz o profissional e eu fico aliviada.
— Finalmente — murmura Andreo, como se não
fôssemos ouvi-lo.
— Caso aconteça alguma coisa, é só me ligar. Estou
à disposição — fala dr. Alonso antes de sairmos da sala.
Andreo e eu caminhamos lado a lado no corredor.
Pelo canto do olho, noto que está doidinho para falar
alguma coisa, mas já que não toma uma atitude, eu o
encaro.
— Tem algo para me dizer? — Arqueio a
sobrancelha.
— Vai realmente ficar? — pergunta, fitando-me com
intensidade.
— Sim, eu vou, Andreo. Prometi que cuidaria de
você, e vou. — Nervosa, mordo os lábios.
— E depois, quando eu ficar bom, vai embora
novamente?
A sua pergunta me faz prender a respiração.
— Eu não sei, depende. — O que é verdade.
— Do quê? — O desespero dele é notório.
— De você. — Solto de uma vez assim que
chegamos à recepção e encontramos o pai dele de costas,
falando com alguém no celular. Consigo escutar o nome
da Bárbara ser mencionado com raiva.
Só de o nome da mulher ser mencionado muda o
clima do colorido para o preto. Bárbara Mancini representa
tudo de ruim. Andreo até esquece a nossa conversa e foca
no pai, que está nervoso, mas quando percebe a nossa
presença desliga e sorri sem graça.
— Está tudo bem, filho? — pergunta ele e Andreo
assente.
— O que Bárbara queria? — indaga o tatuado,
fechando os punhos.
— Não era ela, era o meu advogado. Ele disse que
ela quer a mansão daqui da cidade, que não vai ficar
morando em um apartamento por mais luxuoso que seja,
sendo que tem uma casa enorme que ela tem direito —
revela Alberto, revoltado.
Fico meio perdida no diálogo deles.
— Você vai permitir que ela nos tire da nossa casa?
— pergunta Andreo, possesso de raiva.
— Claro que não, ela só quer me infernizar, logo
desiste. Ainda mais depois do valor altíssimo que pediu
para aceitar o divórcio. — Boquiaberta, escuto a conversa
dos dois. — Mas vamos deixar essa mulher para lá, o
importante aqui é você. Se está liberado, podemos ir, não
é?
Uau, em pouco tempo fico sabendo de tanta coisa.
Quer dizer que o prefeito se livrou da jararaca? Que
notícia maravilhosa!
— Podemos sim — confirma Andreo, mais tranquilo.
Ele me encara e eu fico por uns instantes observando
suas olheiras, que lhe dão uma aparência de cansado. —
Você está com alguma bolsa... Mala? — Avalia-me, mas
antes que eu fale, o seu pai se manifesta.
— Estou com as malas dela — diz Alberto.
O safado não contém o sorriso, o brilho nos olhos
dele é nítido.
— Sr. Alberto, pode me ajudar a levá-las? — peço,
fingindo não perceber a satisfação do Andreo.
— Eu posso levar, estou doente e não morto. Você
não vai pegar peso, está grávida, pode ser ruim para você
e para o nosso filho — fala de um jeito possessivo, mas
controlado.
— Ele tem razão, filha. Por sorte, aquele rapaz
trouxe suas malas, elas estão realmente pesadas. —
Basta que o pai fale isso para a expressão do Andreo ficar
fechada.
— Esse homem é o mesmo que te levou embora?
Ainda preciso entender o que está rolando aqui e quem é
esse cara. — A veia do seu pescoço pulsa de raiva.
— O que você precisa é ir para casa, tomar banho,
remédios, comer e depois dormir, Andreo. — Seguro no
braço dele.
— Quem é esse cara, Alina? Ele te leva embora e eu
tenho que ficar mansinho? — Semicerra os olhos e eu
reviro os olhos.
— É o meu amante fazendeiro. Está satisfeito? —
Bufo, ouvindo o Alberto se engasgar.
— Uma porra que é! — exclama Andreo, enciumado.
— Claro que não! O Talles trabalha na fazenda do
meu tio-avô, só isso. Agora vamos, também estou cansada
— resmungo, largando seu braço e deixando pai e filho
para trás.
— Alina... — escuto o rosnado de Andreo, mas
continuo andando.
Ele disse que está doente e não morto, certo? Então
que se vire, quando chegarmos à casa dele eu começo a
ajudar. Era só o que me faltava, Andreo sentir ciúme de
alguém que nunca viu na vida!

Se eu não morrer dos pulmões, Alina me mata. A


filha da mãe veio do hospital até em casa sem me
responder quem é o tal Talles, o roceiro desgraçado que a
levou embora. Ainda não tivemos tempo para conversar a
sós, mas quando tivermos, vou descobrir quem é esse
homem. É óbvio que a minha morena não tem nenhum
amante, ela só quer me provocar, mas só de pensar na
possibilidade fico puto.
— Esse remédio deve ser tomado de oito em oito
horas — fala ela, de costas para mim, mexendo nos meus
remédios em cima do móvel. — Toma agora e depois só
pela manhã. — Alina coloca água até a metade no copo,
em seguida, vem na minha direção e o estende para mim
junto ao remédio.
Ela está cuidando de mim desde que chegamos, e já
faz algumas horas. Quando subi para tomar banho, em
vez de ela descansar também, foi preparar algo saudável
para comermos. Achei gentil o seu gesto, e meu pai
também, que agradeceu e depois nos pediu licença,
dizendo que se recolheria. A minha nova rotina está
deixando o velho cansado, e amanhã ele tem que voltar
para Vale Santo, pois tem algumas coisas para resolver
por lá.
Chegamos tão tarde, que a dona Milena já tinha ido
embora. Realmente, a minha salvação foi Alina, caso
contrário, teria que me virar com qualquer coisa, e o dr.
Alonso pediu para que eu fizesse uma dieta mais
saudável. E se é para a minha recuperação, devo seguir à
risca.
— Obrigado — agradeço-a e tomo o antibiótico.
— Só agradeça quando estiver bom — diz,
suspirando e me avaliando. Ela fica vermelha quando noto
que está secando o meu corpo, já que estou sem camisa e
usando apenas uma calça moletom que desenha bem o
meu pau. — Me dê isso aqui. — Pega o copo da minha
mão e o deposita novamente no móvel.
Ela entrou em meu quarto há alguns minutos, com o
cabelo molhado e um vestidinho solto e florido, que deixa
suas pernas deliciosas à mostra. Quando ela se curvou
para pegar a caixa que caiu no chão, babei com a visão,
apesar de não ter conseguido ver muito, já que Alina está
fazendo jogo duro e tapou o seu traseiro com a mão.
— Missão cumprida por hoje — murmura, desviando
o olhar. — Vou para o meu quarto. Se precisar de algo, me
chame — fala, mordendo os lábios.
Quando estávamos no carro, ela me disse que ficaria
aqui até que eu melhorasse. O bom disso tudo é que ela
ficará comigo por mais ou menos um mês, não menos que
isso. Só de tê-la aqui fico animado, terei muitos dias para
conseguir conquistá-la.
Ela ainda está com raiva por eu não ter falado sobre
a doença, mas tenho certeza de que logo irá ceder.
— A cama dá para nós dois. — Bato no espaço ao
meu lado.
— Não, Andreo. Você deve ter uma boa noite de
sono, e se eu ficar por aqui sei que isso não irá acontecer.
— Passa a mão por seu cabelo e eu xingo em
pensamentos. Ela não vai dormir aqui, eu a conheço muito
bem para saber disso.
— Então vem aqui rapidinho. — Bato nas minhas
coxas.
— Andreo... Você está doente e pensando em sexo!
Temos muitas coisas para fazer, e não inclui sexo — me
repreende, recuando.
— Os meus pulmões que estão doentes, Alina, não o
meu pau. — Bufo, indignado com essa porra de infecção.
— E o que você quer mesmo? — Encara-me, brava.
— Te dar um pouco de colo, vem aqui. — Estendo a
mão e ela fica tentada, então se aproxima.
— Colo é o que menos preciso no momento. Não
inventa, vai dormir, passou muito tempo naquele hospital.
E também estou cansada, e você não pode se cansar —
resmunga, mas pega a minha mão.
— É só uma sentada, não vai doer nadinha. Acho
que posso até melhorar mais rápido. — Mordendo os
lábios, dou um sorrisinho sacana para ela.
— Boa noite, Andreo. — Ignora-me. — Amanhã
vamos conversar, precisamos. O fato de eu estar aqui não
quer dizer que resolvemos as nossas pendências. — Ela
solta a minha mão e me dá as costas, em seguida, sai do
quarto, me deixando no vácuo.
Puto, jogo a cabeça para trás, mas logo levanto-me e
saio do quarto a tempo de alcançá-la no corredor.
Caminhando em passos largos, Alina olha para trás e me
ignora, então entra no quarto de hóspedes. Eu solto um
palavrão, mas não desisto, em pouco tempo estou parado
na frente da sua porta, batendo na madeira.
— Alina, vou entrar — aviso. Quando ela não
responde, entro no quarto e a visão que tenho me deixa
babando. — Porra, você não quer facilitar a minha vida?
— Ofego, mirando nos seus mamilos que estão mais
cheios, não é nada exagerado, mas consigo ver a
diferença.
— Não te chamei aqui, Andreo. O seu quarto é lá.
Avalio o seu corpo e fico salivando. Ela está apenas
de calcinha, uma porra de fio-dental vermelha, um caralho
de pedaço de pano de renda que dá para ver mais do que
esconder. Como se eu não estivesse ali, Alina passa por
mim e se deita na cama, então se cobre, em seguida,
boceja e fecha os olhos.
— Quando sair, feche a porta.
— Alina... — Semicerro os olhos, olhando para o meu
pau ereto.
— Durma com os anjos, Andreo. — Ela me dá as
costas.
— Vai mesmo me deixar com o pau duro depois de
me provocar assim? — Aproximo-me da cama, mas a
desgraçada continua na mesma posição.
— Você ainda está aqui? — Boceja e solta um
gemidinho.
— Se você não estivesse grávida, eu te colocaria de
quatro e lhe daria umas boas palmadas. — Percebo o
quanto a afeto, porque a sua respiração se torna pesada,
mas ela não abre os olhos. — Depois te foderia nessa
mesma posição, vendo o meu pau entrando e saindo da
sua bocetinha encharcada. Mas como você não quer me
dar, vou bater uma punheta agora pensando em você.
Adorando ver as minhas palavras mexendo com ela,
puxo o lençol para baixo e deixo a sua bunda empinada e
gostosa à mostra, em seguida, me inclino e dou uma
mordida na carne firme. Alina não resiste e solta um
gemido, e eu sei que não é de dor.
Satisfeito por ter dado o troco nela, seguro o sorriso
e saio do quarto. Juro ter ouvido o meu nome ser
chamado, mesmo que tenha soado bem ao longe.
Andando no corredor, ajeito meu pau na calça
moletom, ele ainda está duro. Mas não tem como resistir a
uma morena daquelas, cheirosa e gostosa, seminua. E só
de saber que ela está a poucos metros de mim já prevejo
uma noite de insônia.
No dia seguinte, acordo com uma puta ereção, meu
pau chega a doer de tanto tesão. Antes de deixar o
quarto, bato uma pensando em Alina, gozo duas vezes
com a fantasia que crio. A que ponto cheguei? Ficar
batendo punheta pensando na minha garota.
Desço a escada e encontro Alina sentada no sofá, de
costas e com o celular no ouvido. Travo os pés ao ouvir
um nome ser mencionado.
— Espero que ele tenha chegado bem, dr. Conrado.
O Talles é um amor de pessoa e foi muito gentil comigo,
com a minha madrinha e a Maria Fernanda. — Fecho os
punhos ao vê-la olhar para trás e continuar falando. —
O.k., muito obrigada. Prometo manter contato com vocês.
— Então ela desliga a ligação.
— Bom dia — cumprimento-a secamente, indo em
sua direção. Enquanto estou com uma carranca, ela está
sorrindo de orelha a orelha, bem plena, e eu morrendo de
ciúme.
— Bom dia. — Se remexe no sofá quando eu me
sento em outro e a observo pelo canto do olho.
— Quem é esse Conrado? Tem Talles, agora esse
aí... Daqui a pouco aparece um Ricardão também. — Bufo
e ouço a gargalhada dela.
— Essa cara de quem comeu e não gostou é por
isso? Que coisa feia ficar ouvindo conversa alheia! — Ri
de mim e eu fico ainda mais puto.
— É do meu interesse, por isso ouvi. — Continuo
com a carranca.
— E por que seria do seu interesse? — Ela se
levanta e me dá as costas, seguindo para a cozinha. Na
mesma hora eu a sigo.
— Você é a minha namorada, a mãe do meu filho —
apresso a dizer assim que a encontro mexendo na
geladeira.
— Mãe do seu filho, sim, mas namorada, não sei.
Você me deixou tantos dias sem notícias, que achei que
não tinha mais importância para você. Tanto que fui
embora, mas tive que voltar. — Sua voz vacila.
— Vamos conversar — eu me aproximo dela —,
prometo esclarecer as coisas — peço, quando ela fecha a
geladeira e se vira. — Vem aqui. — Abro os braços e Alina
não demora muito para se jogar neles. Ela encosta o rosto
no meu peito e solta um suspiro baixinho.
Para tudo tem hora, e agora é o momento em que
temos que conversar sério, estou pronto para tirar as
armaduras primeiro. Conto a Alina como os sintomas
começaram com mais detalhes, como me encorajei para
procurar o dr. Alonso, e o resto ela já sabia, uma vez que
ele contou antes que eu tivesse a chance. Apesar da
nossa rápida conversa ontem, quando eu estava no
oxigênio, sei que não foi suficiente.
— Eu sei que fui cabeça-dura, mas não quis te
preocupar. Já tinha feito merda em Vale Santo, e te dar
uma notícia ruim estava fora de cogitação. Mas depois
que saiu o resultado dos meus exames, minha ideia de te
deixar fora dos meus problemas só durou pouco tempo...
Corri para lá para encontrar você, mas não consegui
chegar a tempo, então fiquei desesperado. E quando
soube que um desconhecido tinha levado vocês embora,
praticamente enlouqueci. — Toco na sua barriga e beijo o
seu ombro.
— Acabamos nos desencontrando. Provavelmente,
quando você me ligou, o meu celular estava tomando
banho no vaso sanitário, o pobre caiu lá. Eu tentei
recuperar, mas quase explodiu no meu rosto. Agora estou
com o da Dandara até comprar um novo — explica, sem
sair do meu abraço. Ela acaricia minhas costas com a
ponta das unhas.
Se tudo isso não tivesse acontecido, será que
estaríamos melhor do que agora? Ela não teria ido
embora, e talvez poderíamos nos livrar de uma conversa
tensa como essa.
— Não quero ser intrometido, mas quem são esses
homens e para onde levaram vocês? — Incluo a madrinha
dela e a melhor amiga.
— Essa é a cereja do bolo. — Ouço sua risada.
— Me conte, estou curioso.
E com ciúme, muito.
— Eu descobri que tenho um tio-avô, quer dizer...
tinha...
Alina me conta sobre o tal advogado que a procurou
para falar da herança, mas com medo, não me disse nada.
O homem continuou em contato com ela conforme os
meses foram passando, e enfim, ela foi conhecer a
fazenda que herdou. Contudo, só foi porque achou que
tinha sido abandonada. Ela me fala detalhadamente sobre
tudo, não deixa passar nada, e acabamos nos
entendendo. Um entende o lado do outro sem precisar
estender tanto o assunto.
Alina agora tem dinheiro, eu adoraria ver a Bárbara
morrendo com o próprio veneno ao saber que a garota que
ela tanto odeia tem mais dinheiro do que ela, já que a
futura ex-primeira-dama torrou o dinheiro que tinha com
tolices.
— Estou feliz por você. Você merece cada coisa que
recebeu, e não importa se não foi conquistado por você, o
desejo do seu tio-avô era esse e eu sei que vai fazer por
merecer. — Beijo seu cabelo, mas queria estar beijando a
sua boca. — Agora me fala, que idade tem esse tal Heitor
e Talles. O advogado já sei que é um velhinho, mas
desses dois marmanjos não sei quase nada.
— Sério, Andreo? — Geme, frustrada.
— Sim, Alina, seríssimo. — Como quem não quer
nada, desço as mãos para a sua bunda e a massageio.
Ela me dá um tapa de leve no ombro.
— Ei, tarado! Estamos conversando sério — reclama,
afastando-se de mim um pouco e virando o rosto para não
me encarar.
— Quem é Heitor e Talles? São casados? — Eu a
puxo pela cintura e nossos corpos se chocam.
Alina me repreende, mas eu finjo não ouvir.
— Heitor é o administrador da fazenda, e o Talles é
um dos funcionários. E eu não vou ficar falando sobre o
relacionamento deles, é falta de educação.
— Espero que sejam muito bem casados e, se
possível, que tenham um time de futebol de filhos! — Faço
um caminho lento por sua perna e vou subindo por sua
virilha, até chegar à sua boceta. — Porque você já é
minha... Você e o nosso bebê. E nenhum merda vai ficar
entre nós. E quando for visitar a sua madrinha e a Maria
Fernanda, eu vou junto. — Afasto a calcinha para o lado e
introduzo dois dedos em seu sexo. Ela geme e rebola
enquanto eu os movimento dentro dela.
— Andreo, alguém pode nos ver. O seu pai... ou a
mulher que trabalha aqui! Você me disse ontem que ela
chega cedo — diz com palavras que não quer, mas abre
as pernas para mim e deixa que eu a foda com meus
dedos em uma velocidade que a faz gozar rápido.
— Eu queria mesmo era chupar a sua boc...
— Misericórdia! — Milena grita, quase me matando
de susto.
Porra, a Milena nos pegou no flagra.
Alina se afasta de mim num piscar de olhos, mas
nem assim apaga o que a senhorinha deve ter
presenciado. A pobre coitada está pálida e com a mão no
peito.
— M-me... d-desculpe, senhora — pede a morena,
envergonhada.
— V-vou... l-lá em cima arrumar os quartos. —
Milena fica toda perdida. Ela nos dá as costas e sai em
disparada.
Assim que a mulher some do nosso campo de visão,
ergo meus dedos melados com gozo de Alina e os chupo,
sob o seu olhar raivoso.
— Você me paga, Andreo! — ameaça, saindo da
cozinha, mas eu vou atrás dela. — Eu disse que alguém
nos pegaria. Pobre senhora! E só vou deixar você me
seguir porque você tem que tomar remédio antes do café!
Pelo menos não foi a Dandara, eu estaria morto e
sem direito a um caixão.
Os dias têm passado rápidos. Acompanho Andreo ao
hospital nos dias que tem que fazer a fisioterapia, e
quando o Alberto está em Monte Verde, é ele quem o leva.
Graças a Deus, durante todo esse tempo na casa deles, a
Bruxa Má do Leste não deu as caras.
Mas, assim como eu, Andreo está aliviado pelo fato
de Bárbara não ter aparecido. E a consequência por não
ter mais a presença tóxica dela na vida dele aparece no
progresso na fisioterapia, até o dr. Alonso está surpreso.
Anteontem, fomos à sala do médico para ver o resultado
dos novos exames do Andreo, que estão bem melhores
que os anteriores, e quase morri de vergonha. Tudo
estava indo bem, porém, o bobo do pai do meu filho disse
que estava seguindo tudo como a general dele mandava,
porque tinha medo de tomar uns tapas e ficar sem
beijinhos quando estivesse 100% curado. Quase bati nele
de verdade, para que parasse de ser tão palhaço.
Se bem que ele não está mentindo, há dois dias
tivemos uma conversa franca e eu disse a ele que só
iríamos transar quando estivesse recuperado.
Estranhamente, Andreo aceitou numa boa, mas estava
com aquele sorrisinho malicioso que só ele tem. Queria
perguntar o que estava tramando, mas sei que ele não
diria, então preferi ficar com a pulga atrás da orelha
mesmo.
Neste momento, estou sentada no sofá, esperando a
ligação da Maria Fernanda. Nós nos falamos ontem à
noite, coisa rápida, porque estava no horário dos
remédios de Andreo. E em nossa breve conversa, soube
que ela aprendeu a andar a cavalo, e quem ensinou foi o
Talles. A safada estava empenhada em se tornar uma
vaqueira, eu ri quando me disse isso. Estou feliz por ela
ter encontrado uma distração na fazenda e, pelo visto, o
interesse não é só dela. Segundo ela, ele tem
demonstrado estar interessado também, já que foi ideia
dele que ela aprendesse a cavalgar. Não sei por que, mas
essa palavra saiu da boca dela com duplo sentido.
E a Dandara parece estar se dando bem com os
funcionários. Ela e a Magda são inseparáveis e dividem a
cozinha, eu sabia que a minha madrinha não ia ficar em
São Bento de pernas para o ar, ela não é do tipo que
gosta de ficar encostada. E se eu ousasse pedir que
ficasse só descansando, me daria umas palmadas.
Mordendo a ponta do meu polegar, observo o celular
no meu colo. Minha amiga prometeu que ligaria cedo, mas
estou a alguns minutos esperando e nada, se ela não
ligar, eu o farei.
Atrás de mim ouço alguém limpando a garganta, nem
preciso me virar para saber que é o Andreo.
— Tomou o remédio que deixei no móvel? —
pergunto, ouvindo seus passos se aproximando. Mas
antes que ele me alcance, seu perfume gostoso que mexe
com as minhas entranhas invadem as minhas narinas.
Não dormimos juntos. Apesar de termos nos
reconciliado, continuo no quarto de hóspedes como
combinado. Contudo, toda manhã, antes de ele acordar,
vou cedinho deixar o seu remédio, caso contrário ele se
esquece. E eu sou uma ótima enfermeira para deixar que
isso aconteça.
— Tomei — fala, assim que se senta no sofá à minha
frente.
Ao ver suas botas pretas brilhando de tão limpas,
ergo os olhos lentamente e vou subindo até encontrar o
seu rosto. Puta merda, ele está lindo, gostoso,
maravilhoso, tudo de bom.
Andreo Mancini é o culpado de me fazer o achar tão
delicioso a essa hora da manhã, e sentir vontade de me
alimentar dele, e não de uma comida de verdade.
Mordendo os lábios, eu o observo com mais calma. Ele
está usando uma calça jeans clara, rasgada nos joelhos,
uma camisa preta e a jaqueta da mesma cor que ele tanto
adora. Poderia dizer que já está surrada se ele não
tivesse uma coleção no seu closet.
Minha nossa, ele está tão... hum... Como posso
dizer? Gostoso. Muito gostoso.
— Vai sair? — Eu deveria morder a minha língua por
ser tão linguaruda.
— Vou. — Bagunça levemente o cabelo e eu suspiro,
nem consigo disfarçar.
A última vez que ele me tocou foi quando a Milena
nos flagrou, e agora está se fazendo de difícil. Mas não
deixa de me provocar ao sair passeando pela casa sem
camisa, e de cueca, quando a funcionária vai embora. O
safado não me toca, mas me come com os olhos e se
insinua inocentemente.
— Vai dirigir ou pilotar? — Coloco uma mecha de
cabelo atrás da orelha e remexo-me no sofá.
Andreo já está liberado para sair sozinho de carro e
pilotar. Nos últimos dois dias, tem sido ele que nos leva
para o hospital, e não o segurança que o pai
disponibilizou.
A casa daqui é igual a de Vale Santo, quer dizer,
essa é bem maior e muito mais luxuosa.
— Vou de moto. — Seus olhos brilham e ele prende
os lábios nos dentes de um jeito sexy.
— Hum... Vai para onde? — Meu tom sai enciumado,
sei que ele tem amigos por aqui, esses que nunca
apareceram para vê-lo. Se bem que é na hora da doença
que a gente descobre quem são os verdadeiros amigos.
— Em um estúdio, fica pertinho daqui — responde,
me avaliando com aqueles olhos acinzentados maliciosos
e quentes.
— As suas respostas curtas me irritam, sabia? —
Bufo e ouço a sua risada.
— Espero que o nosso filho não venha com o seu
temperamento, Alina. Se vier, estarei ferrado. — Avalia-
me, sorrindo de lado.
— Não mude de assunto. Para que você quer mais
tatuagens, se já tem meio mundo pelo corpo? — pergunto,
me levantando e deixando o celular no sofá.
Andreo sorri abertamente, e o seu sorriso me afeta
na região de baixo, a mais sensível.
— Ah, morena, o que vou fazer será mais para você
do que para mim. Vai me agradecer quando descobrir o
que é — diz, deixando um mistério no ar.
— Não pode me falar agora? — Ele conseguiu atiçar
a minha curiosidade.
— Só daqui a alguns dias, ou só quando estiver cem
por cento recuperado. — Usa quase as mesmas palavras
que disse para ele quando falei que não íamos transar.
— Andreo... — Solto um gemido de frustração,
dengosa.
— Prometo que vai adorar quando souber o que vou
fazer. — O desgraçado se aproxima e me abraça, em
seguida, coloca meu cabelo para o lado e fala no meu
ouvido.
— E o que você vai fazer? — Ofego, quando ele
encosta os lábios na minha orelha e ao mesmo tempo
desliza os dedos pela pele do meu braço, me deixando
arrepiada.
— É segredo — fala, beija a minha orelha e vai
descendo por meu pescoço, me torturando. Quando chega
ao meu ombro, ele dá uma mordidinha e solta uma risada
baixa. — Só sei que vai te dar mais prazer, aqui. — Com a
mão direita, ele agarra a minha boceta e a aperta.
Nem sei mais o que pensar, na verdade, sei muito
bem, e por isso fico perplexa. Ele teria coragem de fazer
isso? Oh céus... Ele está insinuando que vai colocar um
piercing no pau?
Com os lábios entreabertos e com o peito subindo e
descendo, saio do transe ao ouvir o meu celular tocar.
Andreo se afasta, e antes que eu possa perguntar mais
alguma coisa, ele pega o capacete que está no móvel
perto da porta e sai da casa, sem olhar para trás.
— Ah, filho... Uma hora dessas eu mato o seu pai! —
Suspiro, passando a mão por minha barriguinha, que já
aponta uma gravidez. Não é nada exagerado, mas dá para
notar.
Com o coração acelerado, vou até o sofá e pego o
celular. Sentindo minha boca seca, umedeço os lábios e
passo a mão por meu pescoço.
Quando vou atender a Maria Fernanda, a ligação cai,
e antes que ela me ligue novamente, digito uma
mensagem avisando que daqui a alguns minutos nos
falamos.
Mordendo os lábios e ainda sentindo o toque o
Andreo em meu sexo, me abano e subo a escada em
passos largos.
Preciso de um banho urgente, de preferência, frio!
Esse calor todo subindo por meu corpo se chama efeito
Andreo. Sei que não preciso disso, tenho alguém muito
fogoso, mas ele merece um castigo. E enquanto eu o
deixo de castigo, ele me devolve à altura.
Confesso que estou louca para me jogar em seus
braços e deixá-lo amar cada parte do meu corpo como só
ele sabe fazer, mas estou pensando na sua saúde. O
médico disse que sexo está liberado, mas não pode fazer
mais esforço do que necessário, só que Andreo Mancini é
avesso a regras, ele vai se esbaldar.
Já dentro do quarto e com a porta fechada, arranco
minhas roupas e solto um palavrão ao receber uma
notificação de nova mensagem. Mesmo consumida por um
ardor entre as pernas, vejo quem é e me arrependo.
Boquiaberta, vejo vários tipos de piercings
numerados, na descrição diz que são piercings penianos.
Ai, meu Senhor. Ele não vai fazer isso. Não, não, ele
vai. Confirmo ao ouvir seu áudio.
“Escolha um, abelhinha. Com ele, vou poder tirar
mais mel da sua bocetinha gostosa. Aposto que neste
momento ela está encharcada. Escolha um e me fale qual
quer. Não que eu não me garanta, mas é sempre bom
renovar, não é? Pense com carinho, se quiser fechar os
olhos e imaginar nós dois... Eu por cima e você por baixo,
de preferência, você com as pernas arreganhadas e eu
roçando meu pau na sua boceta, e brincando muito com
ela antes de me enterrar nela.”
Andreo 1 x 0 Alina.
Aperto uma perna contra outra e xingo o Andreo de
tudo quanto é nome. Com raiva, deixo o celular na cama e
corro para o banheiro. Um banho gelado será a minha
solução!

Foram longos e exaustivos dias para mim,


certamente para quem esteve comigo todo esse tempo
também. Depois que comecei a me dedicar mais ao
tratamento, com o apoio das duas pessoas que mais amo
nessa vida, consegui ótimos resultados e hoje não poderia
ter sido diferente.
— Andreo, você está liberado. Os exames estão
impecáveis.
Ao ouvir o médico dizer, meu pai solta um ofego, e
no calor da emoção me abraça pelos ombros.
— Que notícia boa, meu amigo! Você está curado,
meu filho! — fala Alberto, com a voz embargada.
Meus olhos ardem, mas disfarço ao sorrir
abertamente e assentir para o dr. Alonso. Foram longos
dias. Longos e exaustivos dias para me recuperar cem por
cento.
— Obrigado, doutor. Essa é a melhor notícia que eu
poderia ter. — Respiro aliviado. Esperei ouvir isso dele há
dias, mas nem sempre é como queremos, tudo em seu
devido tempo.
— Eu deveria parabenizar um certo alguém por ter
sido o seu alicerce no tratamento, mas como ela não está
aqui, sei que você vai saber como agradecer a Alina por
ter ficado ao seu lado. — O dr. Alonso me encara
orgulhoso.
— Com certeza. — Alina está em consulta com a
obstetra, dra. Marina Eloy, uma médica excelente que vai
acompanhar a gravidez. Quando eu sair daqui, vou direto
vê-la, e o meu pai vai voltar para Vale Santo. O inverno
chegou e a cidade precisa de mais atenção do prefeito.
— Olhem os exames novos e os antigos. — Ele
estende meus exames para que vejamos.
As manchas nos meus pulmões sumiram,
aparentemente, estou saudável novamente. Como diria o
meu pai, forte como um touro, mas não pronto para outra,
porque larguei o cigarro. Não vou dizer que não sinto
vontade de fumar, não é assim tão rápido, mas consigo
me controlar, e isso é suficiente para mim.
— Quer dizer que não preciso mais voltar aqui, não
é? — Meu coração bate mais acelerado ao vê-lo assentir.
— Não. Está livre do hospital, Andreo. Você foi um
bom paciente, apesar de ter me dado dor de cabeça no
começo — fala, me fazendo rir. — A infecção em seus
pulmões não existe mais, o tratamento foi um sucesso.
Você está de parabéns por ter tido um resultado tão
rápido — elogia, realmente feliz pela minha trajetória,
foram dias duros.
Fico emocionado ao me lembrar dos meus dias de
fraqueza, de dores, amarguras, mas guardo para mim
meus sentimentos. Quando me lembro que senhorzinho
que era meu companheiro nas fisioterapias faleceu, fico
muito abalado. Criamos um laço muito forte, e quando eu
voltei ao hospital e soube da sua morte, levei um baque.
Apesar de ele já saber que logo partiria, continuava
um verdadeiro peralta, com uma alma gigante e
brincalhão. Ele me deu alguns conselhos que vou levar
para a vida toda. A última vez que nos vimos, ele me disse
para lutar pelo meu filho, que logo nasceria e viria para
um mundo onde os perversos vivem. Ainda me aconselhou
a colocar uma aliança no dedo da minha moça bonita, a
Alina. Mesmo que eu achasse engraçado o seu jeito de
falar, levava a sério, deixei tudo guardado na minha
memória.
— Para você foi rápido, mas, para mim, uma
verdadeira tortura. Só que não vou reclamar, estou feliz
por ter conseguido superar tudo isso. Agradeço por ter me
apoiado, sem você não seria possível uma recuperação
tão rápida. — Estendo a mão para ele. — Obrigado, dr.
Alonso, serei eternamente grato. — Aperto sua mão.
— Tenho uma parcela de culpa. — Pisca para mim.
Volto minha atenção para os exames, a diferença da
primeira radiografia é absurda quando comparada com a
de agora.
— Alonso, não tenho como te agradecer pela
dedicação.
Um nó se forma na minha garganta quando encaro o
meu pai. Ele está chorando, o tempo que passou se
dedicando a mim também o deixou sobrecarregado. Ele ia
e vinha, em momento algum soltou a minha mão, ao
contrário de Bárbara. Não que eu a quisesse comigo, mas
ela tomou chá de sumiço.
— Eu sabia que você ficaria assim, mas agora
acabou, coroa. Estou saudável novamente. — Eu o abraço
para que pare de chorar. Percebo que até o médico fica
emocionado, porque limpa a garganta, em seguida, tira um
lenço da caixa e entrega ao meu pai.
— Sempre soube que você era forte, Andreo, você é
meu orgulho, filho. — Suas palavras mexem comigo.
— Obrigado, pai. — Toco no seu ombro.
— Bom, você está liberado, Andreo. E mais uma vez,
meus parabéns. — O dr. Alonso se levanta, então eu e o
meu pai fazemos o mesmo.
Despeço-me do meu médico, mas ele fica na
companhia do meu pai, segundo eles, vão colocar o papo
em dia. Deixo os dois sozinhos e sigo para fora da sala.
No corredor, caminho em passos largos e com um sorriso
no rosto. Apesar de estar com o celular no bolso e poder
ligar para Alina e dar a ela a notícia da minha alta, prefiro
dizer pessoalmente.
Entro no elevador e aperto o andar do consultório da
dra. Marina. Em pouco tempo estou em frente à porta da
obstetra, então bato à porta e chamo por Alina, logo
escuto a voz da profissional pedindo para que eu entre.
A dra. Marina está de costas para mim, enquanto
Alina fica deitada na maca, com a barriga à mostra. Seus
olhos pousam em mim e ela sorri, fazendo um sinal para
que eu me aproxime. Vou até a minha morena e me coloco
ao seu lado, segurando a sua mão.
— Ainda bem que você chegou — fala, mordendo os
lábios.
— Sim. — Posso dizer, com propriedade, que meus
olhos estão brilhando neste momento.
Ver a sua barriguinha saliente faz com que eu sinta
um turbilhão de emoções. Não consigo tirar meus olhos da
sua barriga por um segundo sequer.
Me sinto tão bobo, tão afetado. Porra! Vou ser
mesmo pai. Meu filho está crescendo na barriga da mulher
que eu amo, e isso me faz um desgraçado sortudo.
Toda vez que olho para ela, eu perco o fôlego. O
amor incondicional que sinto por ela e por nosso filho é
coisa de outro mundo.
Como posso estar sendo tão abençoado, duplamente
abençoado?
— Papais, vamos ver como está o bebê. Se tudo der
certo, iremos descobrir se vai ser uma garotinha ou um
garotinho. — A médica passa um gel na pele dela, em
seguida, desliza o aparelho sobre ele.
Um som alto soa pela sala, me deixando com os
olhos cheios de lágrimas tamanha a emoção que estou
sentindo. Alina e eu olhamos para o pequeno monitor
onde a imagem em preto e branco aparece.
Acaricio a mão da mãe do meu filho e arregalo os
olhos ao ver o meu filho no monitor e ouvir o seu
coraçãozinho pela primeira vez.
— É o coração, certo? — pergunto, pigarreando e
disfarçando a voz embargada.
Estremeço, desarmado e nervoso, minhas mãos
estão suando, assim como minha testa.
— Esse é o som do coração do bebê, está tudo bem
por aqui. Nada de anormal, e pelo visto, saberemos sim o
sexo do filho de vocês.
Alina e eu ofegamos, realmente iremos saber o sexo,
pensamos que era cedo demais.
— Sério? — Alina ri, ao mesmo tempo as lágrimas
caem pelo canto dos seus olhos.
— Sim, seríssimo, me deem só um segundo.
Minhas pernas vacilam e meu coração começa a
bater forte, parece que tem fogos de artifícios dentro dele.
Meu filho ainda nem veio ao mundo e já tem poder sobre
mim.
Alina morde os lábios e encara o monitor
ansiosamente, enquanto eu não consigo tirar os meus
olhos dela. Alina está mais linda do que nunca, ganhou
uns quilinhos e ficou mais gostosa. Fico imaginando como
estará daqui a alguns meses.
Pouco tempo depois, a médica aponta uma luzinha
para o monitor.
— Estão vendo ali, aquele pontinho? — Ela nos
encara.
— Sim — respondemos ao mesmo tempo.
— Vocês serão pais de um garotão! Parabéns, é um
menino! — diz gentilmente, apontando para a tela em
preto e branco.
Um menino.
Vou ser pai de um menino. Alberto Mancini irá ficar
radiante com a novidade, assim que sair daqui irei contar
a ele que será avô de um garoto.
Que Alina não me ouça, mas fico feliz por ser um
garotão. Ficaria com o cabelo branco antes da hora se
viesse uma menina. Imagina se vem uma garota como a
mãe? Eu teria que construir uma muralha para impedir que
os gaviões pousassem no meu quintal.
— Teremos um menininho, Andreo. — Minha morena
desaba em lágrimas novamente, chora de soltar soluços.
— Uhum, sim... Obrigado por me permitir vivenciar
isso ao seu lado. — Inclino meu corpo e beijo sua testa,
depois a sua mão.
— Alina, você está liberada, querida. Já pode colocar
a sua roupa — se manifesta a médica, limpando o gel da
barriga dela. — Como eu disse mais cedo, os seus
exames estão bons, a sua gravidez é saudável, mas vou
prescrever uma vitamina para você tomar.
— Não se preocupe, doutora, sou uma ótima
paciente. Pode passar que assim que sair daqui vou
comprar — fala Alina, sorrindo de orelha a orelha ao se
sentar na maca.
Alina se levanta e vai para a salinha, minutos depois
substituiu a bata hospitalar pelo vestidinho ciganinha
floral. A médica nos pede para acompanhá-la, então faz a
receita e dá algumas orientações.
Antes de deixarmos o consultório, pego o meu
celular e envio uma mensagem para o meu pai avisando
que estamos indo. Ele me retorna dizendo que do
restaurante mesmo vai para Vale Santo, então
prontamente me encarrego de avisá-lo que será vovô de
um menino, depois não tenho mais respostas.
— Estou tão feliz, não sabe o quanto — diz Alina, me
abraçando pela cintura. Aproveito e passo a mão na
barriga dela.
— É claro que sei, eu também estou. — Beijo a sua
testa.
— E como foi com o dr. Alonso? — indaga, fitando-
me ansiosa enquanto entramos no elevador vazio.
— Foi bom, em casa te conto. — Inclino o rosto e
beijo o seu pescoço.
— Por que esse mistério? — resmunga, mas logo ri
quando mordo a sua pele.
— Porque eu quero que essa notícia seja
inesquecível — falo em seu ouvido, deixando-a arrepiada.
— Como a do piercing no pau? — Morde os lábios,
mas arregala os olhos ao olhar para as câmeras acima da
gente.
O piercing que coloquei doeu pra caralho, mas sei
que vai valer à pena. Mesmo que ele já tenha cicatrizado,
não toquei nela, deixei que subisse pelas paredes, assim
como estava fazendo comigo. Ela queria ver, contudo, não
permiti. Passamos longos dias nessa, mas hoje pretendo
mudar isso, iremos comemorar a minha recuperação com
estilo.
— Você está doidinha para fazer o test drive, né,
safada? — Deslizo a mão por sua coxa e ela bate.
— Me respeite, Andreo! — reclama.
Eu gargalho, jogando a cabeça para trás.
— Vamos para casa, preciso comer a sua boceta e
beijar a sua boca deliciosa. — Seguro o seu pescoço e a
faço me encarar.
— Quer dizer que teve alta? — Seus olhos brilham,
emocionados.
— Sim. Agora posso te colocar de quatro e foder
esse rabo gostoso sem me preocupar em perder o fôlego.
E o melhor, vou poder te beijar e engolir os seus gemidos.
— Roço meus lábios nos dela.
Em tão pouco tempo, consigo deixá-la com a
respiração descontrolada. Fico com a boca seca ao avaliar
seu lindo rosto, seus lábios em formato de coração, que
não beijo há muito tempo.
Que saudade estou dela.
Dos seus gemidos. Da sua boceta. De tudo.
— Vai com calma, gatinha. — Andreo ri do meu
desespero ao arrancar as roupas do seu corpo
deliciosamente sexy e tatuado.
Nem bem chegamos à casa dele e já entramos nos
agarrando. O que me tranquiliza é saber que a Milena está
de folga hoje, e o meu sogro não vem para cá, então
estamos sozinhos para explorar cada canto da casa. Tanto
que Andreo deu ordens expressas aos seguranças para
que não entrem e nem nos incomodem.
Já me livrei da camisa, agora falta a bendita calça,
estou louca para ver o tal piercing. Ele não quis me
mostrar de forma alguma, estou curiosa pra caramba para
saber como ficou.
Nos últimos dias, ele voltou a ganhar massa, agora
está com o mesmo corpo de antes, não que ter uns
quilinhos a menos o deixasse pouco gostoso.
— Me peça tudo, menos calma! — Beijo e mordo o
seu peito, enquanto levo as mãos ao botão da calça e
depois ao zíper.
— Eu poderia te deixar de castigo mais alguns dias
para aprender a nunca mais me deixar na mão também —
brinca, segurando o meu cabelo em um punhado e
erguendo meu rosto para que o encare. — Mas nós dois
estamos loucos para foder e matar a saudade, e ficar
reprimindo tesão não é bom.
Nem me dá a oportunidade de responder, toma a
minha boca para si e beija apaixonadamente. Ofegante,
retribuo enfiando a língua na sua boca e ambos
suspiramos, cheios de saudade.
Como desejei beijá-lo, e saber que está recuperado
aumenta muito mais meu tesão, porque sei que vai
cumprir com todas as suas promessas.
Abandono a calça dele e envolvo uma mão em seu
cabelo enquanto a outra fica em seu peito, arranhando de
leve e o acariciando. Andreo, por sua vez, desliza a mão
por minhas costas e chega até minha bunda, apertando-a
e me puxando mais para ele.
— Quer subir ou ficar por aqui mesmo? Não ligo de
comer você em qualquer lugar, o importante é ter meu pau
dentro da sua bocetinha quente — diz com a voz rouca,
roçando os lábios nos meus.
— Subir vai demorar muito, amor... Aqui mesmo, eu
quero aqui. — Fito-o com o fogo me consumindo dos pés à
cabeça. Estamos há muito tempo sem transar, e agora que
está completamente curado, não quero perder nem mais
um segundo longe dos seus braços.
— Nunca te vi tão fogosa assim. — O sacana adora
me ver tão ansiosa por seu toque. — Mas hoje vai ser do
meu jeito, Alina, vai ser como eu quiser, para você
aprender a nunca mais tentar um homem quando ele
estiver doente. — Seus olhos acinzentados ficam
escurecidos e ele lambe os lábios lentamente,
provocando-me.
— E como vai ser do seu jeito? — Encaro a sua boca
que se curva em um sorriso sexy.
— Vou te dar uma surra com o meu pau, e você vai
adorar. — Seu palavreado chulo faz o meu ventre se
contorcer e queimar.
Roço as pernas uma na outra, e sem que eu tenha
tempo para raciocinar direito, Andreo leva as mãos ao
meu vestido e o levanta, então ergo os braços e ele tira a
peça, jogando em seguida no sofá. Arfando, observo-o
salivar por meus mamilos, que estão livres do sutiã. Ele
faz um passeio lento por meu corpo e para na minha
barriga com uma pequena ondulação, a maneira como os
seus olhos brilham por saber que ali está o nosso bebê é
fascinante.
— Você está tão linda grávida — seu tom sai em um
sussurro.
Meu coração estremece quando ele estende a mão e
toca na minha barriga, carinhosamente acariciando-a e me
fazendo fechar os olhos. Os seus dedos vão subindo, até
que chegam aos meus mamilos. Solto um gemido quando
Andreo toca neles tamanha é a minha sensibilidade. Ele
se aproxima o suficiente para que eu sinta a sua
respiração quente bater no meu rosto.
— Andreo — chamo-o, abrindo os olhos lentamente.
Ele me cala ao colocar o dedo indicador nos meus
lábios.
— Shiu... — E então me agarra pela cintura e me
beija novamente, e dessa vez ele tem o controle, tanto
que me tira do chão ainda com a boca grudada na minha.
Meus seios batem em seu tórax e ficam enrijecidos.
Em um ato de proteção, mesmo sabendo que jamais
me deixaria cair, enrolo minhas pernas ao seu redor
enquanto ele nos conduz para o sofá. Ele se senta
comigo, me deixando por cima e me dando uma prévia do
quanto está duro por mim.
Andreo mordisca meus lábios e espalma as mãos em
minhas costas antes de as descer para a minha bunda.
Vibro com o contato das suas digitais marcando cada
pedacinho da minha pele, que arde de desejo para ser
explorada. Aproveito e toco em seu rosto másculo com as
duas mãos – como o pai do meu filho é lindo. Sua
mandíbula definida, lábios bem desenhados, nariz afilado
e sobrancelhas nem tão grossas e nem tão finas são a
minha tentação.
— Admirando o material? — Ele ri baixinho,
completamente sensual.
— Claro, preciso saber se vale a pena antes de fazer
o test drive. — Desço as mãos por seu pescoço e deslizo-
as por seu peito definido.
— Então esse é o caminho certo. — Ele pega a
minha mão direita e leva ao seu pau endurecido.
Lambo os lábios e encaro a calça aberta e com o
zíper abaixado, deixando a cueca preta à mostra. Ousada,
enfio a mão dentro dela e fecho meus dedos ao seu redor,
fico com água na boca ao sentir o seu comprimento.
Sem tirar os olhos de Andreo, coloco o seu membro
para fora e em seguida o massageio, vendo-o jogar a
cabeça para trás e gemer. Usufruo do seu momento de
prazer e começo a bater uma punheta, mas não resisto e
encaro o piercing curvo de aço que está lambuzado com o
líquido pré-ejaculatório.
Puta. Que. Pariu. Que perdição!
Reduzo a velocidade dos meus movimentos e passo
o polegar na joia que entra pela uretra e sai logo atrás da
glande – essa é uma verdadeira obra de arte. Eu não
deveria saber tanto sobre isso, mas passei um tempo
fazendo pesquisas na internet para tentar amenizar a
minha curiosidade e acabei me deparando com coisas
muito mais safadas. Não me lembro quando me tornei tão
pervertida assim, mas é isso que dá ter um namorado tão
safado, capaz de te levar ao limite máximo de sanidade.
— Eu já sei como vamos estrear isso. — Encaro-o e
depois olho para baixo.
Antes que ele abra a boca para falar qualquer coisa,
saio do seu colo e me ajoelho na sua frente.
— Caralho, Alina — geme antes de abrir suas pernas
para que eu me encaixe entre elas.
Volto a fechar minha mão ao seu redor, em seguida,
começo beijando as veias avantajadas, logo depois sigo
até a glande lubrificada, percorrendo a ponta da língua na
bolinha de aço. Andreo geme alto e agarra meu cabelo,
causando um leve ardor no meu couro cabeludo. Antes de
chupá-lo, faço movimentos circulares com a língua,
atiçando-o ao tocar apenas em seu ponto sensível, depois
chupo a glande e continuo mexendo a língua ao redor por
toda extensão. Enfio o seu pau vagorosamente para
dentro da boca, e de início me engasgo com seu tamanho,
mas ao me acostumar sugo com avidez.
Ergo o rosto e observo as suas expressões – Andreo
estreita os olhos e geme quando engulo o seu membro.
Abro os lábios e começo um ritmo vaivém rápido, a
pressão que faço o agrada bastante, sua respiração está
pesada e o rosto carregado de prazer.
Ele está quase gozando.
Com a minha respiração irregular, tiro o seu pau da
boca e ponho a língua para fora, voltando a brincar com o
piercing. Ouço-o soltar algumas palavras de baixo calão
quando prende ainda mais meu cabelo em seus dedos.
— Que boca... Eu vou gozar nela... Você quer a
minha porra, Alina? — pergunta, empurrando o quadril
para a frente.
Eu assinto, chupando e mordendo-o de leve. Em
questão de segundos, ele goza e o líquido viscoso escorre
pelos cantos dos meus lábios, descendo para o meu colo
e sujando meus mamilos. Arrepiada, eu o afasto da boca e
ouço o seu ofego, então o encaro e encontro um Andreo
com um olhar intenso, cheio de tesão.
— É a minha vez. — Ele larga meu cabelo e limpa o
seu gozo com o polegar nos cantos da minha boca
carinhosamente.
Seguro a sua mão e enfio o dedo na boca, sugando-o
uma, duas vezes.
— Quando você ficou tão safada assim? — O seu
tom abafado é de quem adora o meu gesto.
— Continuo sendo a mesma pessoa, só com mais
tesão. — Levanto-me e coloco um joelho entre suas
pernas, depois empurro o seu corpo para trás e apoio as
mãos em seus ombros, ouvindo a sua risadinha maliciosa.
Inclino o rosto para o seu peitoral e beijo, fazendo
uma trilha de beijos e alternando com mordidas até
encontrar os seus mamilos, que também têm piercings.
Ele geme e traz a mão ao meu peito, apalpando e
prendendo o bico endurecido entre os dedos, me fazendo
gemer.
— Agora chega, é a minha vez, não seja tão ansiosa
— diz, subindo a mão e segurando no meu pescoço
enquanto a outra coloca a minha calcinha para o lado e
toca a minha boceta. Ao sentir que estou molhada, ele
introduz três dedos na minha vagina e começa a me
masturbar. — Está doida para me dar, não é? Estou
sentindo o seu melzinho escorrer em meus dedos.
Solto um gemido, concordando com ele.
— Me come... me come logo, Andreo — peço,
sentindo minhas pernas tremerem com os seus dedos
sendo afundados dentro de mim com velocidade.
— Eu preciso que você tire a calcinha e se deite no
sofá, depois abra bem as pernas. — Ele tira os dedos da
minha boceta, em seguida, chupa-os como se ali tivesse
algum doce bem saboroso.
Com o peito subindo e descendo, saio de cima dele e
fico de pé na sua frente. Tiro a única peça que resta em
meu corpo enquanto ele se levanta e se livra das últimas
que restam nele também. Andreo está com o pau duro e
pulsante, e eu, com o sexo dolorido e escorregadio.
Deito-me no sofá e ajeito minha cabeça nas
almofadas, então encaro o meu namorado, que me avalia
dos pés à cabeça. Enquanto ele faz um tour lento por meu
corpo, faço o mesmo com o dele, louca para que venha
logo me possuir e me fazer sua mulher novamente. Não
aguento mais essa tortura, que durou alguns meses.
— Abra as pernas, Alina. — A voz rouca e sexy dele
me causa um arrepio, então assinto e faço o que me pede.
Andreo toca na minha perna e a acaricia, seus dedos
raspam na minha pele vagarosamente. Ele aperta minha
carne com firmeza e eu solto um suspiro. Penso que vai
se afastar de mim, mas não, ele se coloca entre minhas
pernas, ficando de joelhos no sofá, em seguida, apoia um
braço no encosto.
Andreo inclina o corpo para perto do meu e primeiro
beija meus lábios carinhosamente, depois a minha
bochecha. Fecho os olhos quando vai para o meu pescoço
e desce para o ombro, conseguindo me deixar muito mais
febril.
— Você é tão cheirosa, gostosa... E agora que a sua
barriga está apontando, ficou muito mais tentadora. Você
nem imagina que contei os dias para poder entrar na sua
bocetinha. E te ver grávida do nosso filho me deixa ainda
mais excitado, sabia?! — murmura, com a boca deslizando
por minha pele. O seu hálito quente bate no meu mamilo e
eu estremeço, fico com os bicos enrijecidos.
Andreo me pega de surpresa ao abocanhar um bico,
depois o outro, alternando entre os dois. Solto gemidinhos
ao sentir uma mordida e depois a sua língua, que faz um
trabalho maravilhoso.
Ele desce o corpo o suficiente para que fique com o
rosto entre as minhas pernas. Solto um gemido alto
quando chupa e coloca língua dentro da minha boceta.
Quando Andreo suga meu clitóris com força, jogo a
cabeça para trás e grito o seu nome, ficando desnorteada
assim que ele abre meus lábios vaginais e passa a língua
antes de enfiar dois dedos dentro de mim e me foder,
alternando com a boca, me enlouquecendo.
Andreo aumenta o ritmo e eu agarro o seu cabelo.
Soluçando, esfrego minha boceta em seu rosto e ele me
chupa com fervor e guloso, depois me lambe, beija minha
vagina e faz movimentos circulares. Só consigo gemer e
morder os lábios.
— Ah... Ah... Andreo... — Fecho os olhos com força
e busco por fôlego.
Perto de gozar, sinto meus olhos ficarem inundados.
Com o corpo inteiro quente e tremendo, deixo meus
espasmos fluírem. Andreo, mesmo sabendo que acabo de
alcançar o clímax, me lambe, afunda seus dedos e a sua
língua em mim, provando até a última gota do meu gozo.
Largo o seu cabelo e fecho os olhos, sorridente,
sentindo meu corpo relaxando aos poucos.
— Daqui posso ouvir os batimentos do seu coração
— brinca, erguendo o rosto e me encarando com aquele
olhar safado.
Céus, o seu rosto está todo lambuzado.
Não digo nada, somente aproximo meu rosto do dele
e o beijo. Andreo se ajeita e coloca as pernas para fora do
sofá, mas não desgruda os lábios dos meus. Seguro em
seus ombros e sento-me em seu colo, e quando meu sexo
toca no dele, nós gememos.
— Não quero ficar por baixo, preciso que me foda
assim. — Roço meu lábio no dele e seguro o seu pau,
esfregando minha boceta nele. Em resposta, ele agarra a
minha bunda e a estapeia, causando uma ardência
gostosa.
— Gosta de cavalgar em mim? Adora ver o meu
cacete afundando na sua boceta, não é? — pergunta, com
os olhos pesados de tesão.
— Uhum... — gemo, me abrindo mais. Fico toda
arrepiada quando seu piercing gelado toca no meu clitóris.
— Caralho, isso é bom. — Ele passa a língua nos
meus mamilos e os chupa.
Seguro no ombro dele e miro o seu membro na minha
entrada, então vagarosamente desço nele. É tão gostosa
a sensação de tê-lo dentro de mim depois de tanto tempo,
que solto um gemido de satisfação.
— Amor... — chamo-o, buscando por sua boca e o
beijando. Subo e desço nele, rebolo e recebo tapas na
bunda, ficando muito mais melada.
Envolvo meus braços em seu pescoço e arranho sua
nuca. Com uma mão, ele segura o meu cabelo enquanto
subo e desço no seu pau com força e devagar. Aprofundo
nosso beijo, sugando a sua língua e os seus lábios, mas
gememos quando nossos dentes se chocam em um ato
selvagem e delicioso.
Aumento a velocidade dos meus movimentos, com o
meu corpo ameaçando um orgasmo. Ele abraça minha
cintura e mete com força, alternando movimentos rápidos
com lentos. Eu cavalgo, sentindo um prazer extremo
quando as bolinhas da joia roçam no meu clitóris com a
penetração.
— Isso... Alina, quica nele, é todo seu... — diz,
bombeando mais fundo na minha cavidade, começando a
me masturbar enquanto me fode duro.
— E-eu... s-sei quem é... Ai... Vou gozar, Andreo! —
Uma onda de prazer me toma.
Andreo afunda o rosto entre meus seios suados e eu
o arranho seu ombro ao sentir o seu gozo quente me
preencher. Logo sou atingida por um orgasmo.
Deito a cabeça no seu ombro avermelhado e
machucado, com a respiração irregular. Ficamos
caladinhos nos recuperando de um orgasmo intenso por
alguns minutos, até que ouço a sua voz.
— Gostou do test drive? — indaga.
Fecho os olhos e ele acaricia a minha bunda.
— Está querendo receber uma nota? — perturbo-o e
ele ri baixinho.
— É claro que não, eu sei que fodo muito bem. —
Finge estar mal-humorado.
— Que convencido! Pois odiei, nota um para não
ganhar um zero — brinco e dou risada ao receber um tapa
na bunda.
— Você me mostrou o contrário quando estava
engolindo o meu pau até o talo.
Afasto-me dele e o encaro com a sobrancelha
arqueada.
— Não sei mais o que faço com você e essa boca
porca.
Seus olhos brilham.
— Ah, você sabe sim. — O seu risinho provocante é
tudo para mim.
— Sei sim, vou lavar com sabão. — Seguro o seu
queixo e balanço, fazendo-o gargalhar.
— Se for o seu mel e que saia diretamente da fonte,
eu aceito. — Pisca para mim.
— Nojento! — Faço uma careta.
— Você adora, eu sei. — Espalma as mãos na minha
bunda e me faz rebolar com ele ainda dentro de mim.
— Andreo... — Solto um gemido arrastado.
— O que acha de uma segunda rodada? Dessa vez
te quero de quatro e bem arreganhada para mim — sugere
e eu rebolo nele.
— Estamos quase nisso, não? — Mordo a boca,
quicando no seu membro.
— Por que não posso entrar? Essa casa é minha,
seus inúteis. Até alguns dias atrás eu mandava em vocês!
Saiam da minha frente! Como ousaram trocar as
fechaduras?!
Sabe aquele banho de água gelada? Tomamos um
bem na hora que estamos em um momento só nosso. A
voz de Bárbara do outro lado da porta soa alta e
escandalosa.
— Merda — resmungo, soltando um suspiro e saindo
de cima do Andreo, que fecha os punhos e joga a cabeça
para trás, parecendo frustrado.
— Ela vai ficar gritando como uma louca, não vou
deixar que entre — diz, friamente, arrumando o cabelo
para trás.
— A sua... A Bárbara não vai desistir tão fácil. —
Bufo, pegando minha roupa e vestindo-me rapidamente.
— Que apodreça lá. — Ele se levanta e pega suas
roupas, mas não as veste. Andreo segura a minha mão e
me encara com seriedade. — Essa mulher não me
manipula mais, e ela deve estar assim porque meu pai
pediu ao advogado que fosse mais rígido para que assine
o divórcio de uma vez. — Ele me puxa contra o seu corpo
e toca no meu rosto.
— Chamem o meu filho agora! — a mulher grita do
outro lado.
— Vamos subir, então. — Engulo em seco e respiro
profundamente.
— É melhor assim — concorda, me puxando em
direção à escada.
Bárbara é um demônio, se ela desistir será um
milagre.
Depois que subimos, não ouvimos mais a voz da
mulher. Ignoramos totalmente a presença dela. Tomamos
banho juntos, fizemos amor debaixo do chuveiro e depois
viemos para a cama, então ficamos deitados trocando
carícias, até cheguei a cochilar.
Um tempo depois, fui até a varanda ver se a megera
já tinha ido embora, e para a minha surpresa e alívio, ela
sumiu. Só vi os seguranças, nenhum sinal dela. Acredito
que por mais que seja insistente, não iria aguentar ficar
tanto tempo discutindo com os seguranças para tentar
entrar na casa.
Deitada sobre o peito de Andreo, com ele
acariciando minhas costas, penso na Dandara e na Maria
Fernanda na fazenda. Ainda não liguei para elas para
contar a novidade, mas daqui a pouco farei isso, aposto
que ficarão saltitantes com a notícia. Estou morrendo de
saudade delas, e agora com o Andreo melhor, eu o
chamarei para ir comigo até a Renascer visitá-las e, quem
sabe, passar um tempo por lá, respirar ar puro. Sei que
ele está ansioso para retornar à faculdade, mas verei se
não podemos passar pelo menos alguns dias lá antes de
ele voltar aos estudos. Será bom para nós dois.
Durante esse tempo ao lado dele, tomei a decisão de
ficar onde ele estiver, então, se for para morarmos aqui
em Monte Verde, irei aceitar. Apenas quero estar ao lado
do pai do meu filho, e que ele acompanhe a minha
gravidez de perto e, quem sabe, depois do nosso bebê
nascer, podemos morar na Renascer. Ainda não sei como
vai funcionar, contudo, não quero ficar longe também da
minha madrinha, sei que ela sente a minha falta, e a Maria
Fê não vai passar a vida toda com ela, tem a sua vida em
Vale Santo.
— Amor? — Toco no seu braço, chamando a sua
atenção. — Quero te fazer uma proposta. — Mordo os
lábios quando ele me encara com curiosidade.
— O que seria? — Desliza os dedos por minha pele.
— Estou pensando em ver a minha madrinha e a
Maria Fernanda na fazenda amanhã. Já que você está
curado, pensei que poderia ir comigo, mas se quiser ficar
por causa da faculdade, posso pedir ao dr. Conrado para
enviar o Talles para me buscar. — Menciono o homem que
o faz morrer de ciúme, juro que foi sem pretensão alguma.
— Pensou? É claro que irei com você, não vou deixar
a minha mulher sozinha. Não precisa que nenhum peão
venha te pegar aqui. Podemos ir amanhã cedo. — Assume
um tom possessivo.
— Não vai atrapalhar a sua faculdade? — Observo a
sua expressão enciumada.
Estou feliz por dar a notícia sobre o sexo do meu
filho pessoalmente, será maravilhoso.
— Eu quero estar onde a mulher que eu amo estiver.
E respondendo a sua pergunta, não, não vai. Nada
relacionado a vocês me atrapalha. — Ele beija minha testa
e toca a minha barriga. — Estou pensando em trancar o
curso por enquanto, quero poder acompanhar tudo de
perto. E ainda tem a sua madrinha, ela está lá e você
aqui.
— Não, nem pense nisso, Andreo! Você não vai parar
a sua vida. Gravidez não é doença, não há necessidade
disso, podemos encontrar uma solução. — De jeito algum
eu o deixarei perder meses de aula por minha causa, pelo
contrário, quero que foque nos seus objetivos. — Você
ficaria aqui e iria aos finais de semana para Vale Santo,
lembra? Então, eu vou conversar com a Dandara e
perguntar se ela quer ficar na fazenda, morar aqui em
Monte Verde, ou voltar para Vale Santo. Sempre há uma
solução. Caso decida viver na fazenda, podemos visitá-la
sempre.
Meu coração fica apertado quando me imagino longe
dela, mas em algum momento da vida eu terei que seguir
o meu caminho, construir a minha família.
— Você não pensa em morar na fazenda? — indaga,
me surpreendendo.
— Não vou dizer que não pensei na possibilidade,
mas você precisa terminar o seu curso. — Quando ele se
formar estará com vinte e oito anos, e eu com vinte e
cinco. — Além do mais, em breve seremos colegas de
faculdade. Vou me matricular lá, decidi fazer um bom uso
da minha herança, quero fazer administração, assim
poderei administrar com propriedade meus bens e
dispensar o filho do dr. Conrado das funções dele.
— Quer dizer que vai se formar antes de mim? — diz,
todo orgulhoso.
— Sim, senhor. — Dou-lhe uma piscadela.
— Essa é a minha garota! — Sorri abertamente.
— Enquanto não me formo, vou pedir para me
passarem os relatórios da fazenda, quero ficar a par de
tudo. E depois que você se formar, podemos nos mudar
para lá com o nosso filho e vivermos tranquilamente. Você
pode até abrir a maior oficina de São Bento. Já pensou?
— É um plano perfeito, espero que possamos seguir com
ele.
— Isso é um pedido de casamento? — pergunta,
bem-humorado.
— Não sei... Você acha? — Passo a língua nos
lábios.
— Deveria ser, porque fui eu que te pedi em namoro,
você bem que poderia me pedir em casamento. Uma vez
de cada — brinca, mas sei que há um pouco de verdade.
— Primeiro faculdade, depois pensamos em
casamento. — Espalmo a mão no seu peito.
— Só estamos adiando, já fizemos tudo ao contrário
mesmo. Antes do casamento está vindo um filho, que
ainda nem encontramos um nome. Somos péssimos pais
por ficar chamando-o de bebê. — Estala a língua e eu dou
uma risada baixinha.
— Por favor, nada que comece com a letra A. O
nome do seu pai começa com A, o meu e o seu também.
— Faço uma careta.
— O.k., nada que comece com A. — Gargalha,
divertido.
— Tem Dante, Eduardo... — Vou falando os nomes e
Andreo diz “não, não e não”.
— Você tem um péssimo gosto, amor — resmungo.
— Entre esses aí, eu gosto de Nicolas, é um nome
forte. — Dá de ombros.
— Hum... Nicolas Martins Mancini... Céus! Até
nossos sobrenomes têm M. Pensando bem, somos uma
bela dupla sertaneja! — Rimos juntos.
— Eu gosto de como soa. Nicolas Martins Mancini —
fala, empolgado.
— Podemos chamá-lo de Nick — digo e ele
concorda. Minha barriga começa a roncar alto no mesmo
instante. — Estou ficando com fome... O que acha de
preparar um sanduíche de atum com queijo e um pouco de
maionese? — Lambo os lábios e solto um gemido ao
imaginar o sabor.
— Por favor, me diga que isso é um desejo. — Faz
uma expressão engraçada.
— Talvez...
— Então vamos logo, o Nick não pode nascer com a
cara de sanduíche de atum com essas outras coisas aí —
diz, e eu gargalho, concordando.
— Vamos. — Levanto-me da cama e pego o robe que
está em cima do móvel e me visto.

— Você quer outro? — pergunta Andreo,


boquiaberto, ao me ver comer o segundo sanduíche.
— Uhum, quero sim. Você realmente não quer um
pedaço? — Estendo para ele, que nega com uma careta.
— Vou ficar só no suco, amor. — Sei que está
fugindo de mim.
— Não sabe o que está perdendo. — Dou uma
mordida generosa, sentindo o gosto do atum com o queijo
e maionese.
— E nem quero. — Me dá as costas.
Enquanto mastigo, admiro suas costas largas e toda
tatuada, depois desço o olhar para a sua bunda coberta
pela cueca.
— Estou me sentindo ser devorado, Alina. — Ele vira
o rosto e me encara.
— Não seja exibido. — Desço da ilha com cuidado e
vou até, abraçando-o por trás e beijando suas costas.
Andreo desliga a torneira e se vira para mim, então
toca no meu queixo e me beija. Sugo a língua dele e
envolvo meus braços ao redor do seu pescoço, soltando
um gemido quando morde meu lábio inferior.
— O que acha de sair comigo esta noite? Podemos ir
a um barzinho, curtir a noite... comemorar mais um
pouquinho a minha liberdade — sugere, me dando
selinhos.
— Gosto da ideia. — Espalmo a mão no seu peito.
Espero que Bárbara não apareça mais hoje, ou
nunca mais. Ela consegue mudar o humor dele em
questão de segundos, mas por mais que não goste de
tocar no assunto, é necessário.
— Estou pensando na Bárbara... Será que ela volta
ainda hoje? E se deixarem ela entrar na casa em nossa
ausência? — De repente, isso vem na minha mente. É
muito fácil obedecerem às ordens dele com ele presente,
mas ausente é outra história.
— Os seguranças não são loucos de deixá-la entrar,
estão proibidos disso — murmura, enojado.
— Vai falar para o seu pai da vinda dela? — indago,
erguendo o rosto e o encarando.
Ele nega ao mover a cabeça de um lado para o outro.
— Meu pai está muito ocupado para ficar perdendo o
tempo dele com ela. Vou fazer o possível para que não se
estresse, ainda mais que passou tantos dias preocupado
comigo. Ele está cansado — Suspira, abraçando-me pela
cintura.
— Mas em algum momento terão que se encontrar,
afinal, estão em um processo de divórcio. E do jeito que
as coisas andam, ela não vai ceder tão cedo. — Umedeço
os lábios, recordando-me que Andreo comentou comigo
que Bárbara não quer mais aceitar o divórcio. Meu sogro e
o advogado estão em uma luta para conseguir convencê-
la, mas ela deu a entender que quer mais do que ele está
oferecendo. A mulher quer vender a liberdade do marido.
— Ela é ambiciosa, uma hora vai aceitar, eu a
conheço muito bem — fala num tom irritado.
— Eu acho que o seu pai deveria dar logo a casa
para ela, pelo menos garantiria ficar livre do inferno que é
ter aquela mulher por perto. Ele não tem dinheiro? Pode
muito bem construir outra, comprar, sei lá... Se fosse eu,
faria de tudo para ter paz. Às vezes, ceder não quer dizer
que está perdendo algo — digo e o vejo me analisar
atentamente. — Você deveria conversar com ele, bens
materiais podemos conseguir, mas a vida, não. Ela é uma
só, e ficar se estressando por pouca coisa pode ser
prejudicial à saúde dele.
Os olhos de Andreo brilham com o meu conselho.
— Além de linda e gostosa, é inteligente. Como não
me apaixonar por você? — Ele pousa a mão na minha
bunda e eu dou risada.
— É sério, amor, conversa com ele, vai ver o quanto
será bom. — Toco no seu queixo.
— Eu vou, mas vamos deixar isso para amanhã. —
Aproxima o rosto do meu e me beija suavemente. — O que
acha de tomar um banho comigo e esquecer a Bárbara? —
sugere, apertando a minha bunda.
— Banho de novo? Nem pensar, quero tirar um
cochilo... Descansar. — Fecho os olhos, preguiçosa,
porque sei o que quer na verdade.
— Você é uma porquinha, não gosta de banho —
brinca e eu o encaro, brava, mas risonha.
— Como você é um safado mentiroso! Só quer me
arrastar pra cima porque está querendo me comer —
resmungo, percebendo o seu olhar divertido.
— Você é muito maldosa, eu não disse que queria te
comer. — Passa a língua pelos lábios de um jeito sexy.
— Nem precisa, te conheço, Andreo Mancini. —
Arqueio a sobrancelha, contendo o meu sorriso.
— É só um banho especial. — Pisca para mim.
Quando vou responder, ouço um barulho estridente na
sala e alguns passos pesados. Assustada, levo a mão ao
meu peito e Andreo me coloca atrás dele como que para
me proteger. — Mas que porra...
Ergo os olhos e me deparo com Bárbara Mancini nos
encarando com ódio, logo atrás dois seguranças, meio
pálidos. A mulher está acompanhada de um homem
engravatado, Eros e Isadora, que estão de mãos dadas.
— Se não me atendem, eu arrumo um jeito de ser
atendida! — se manifesta a bruxa, cheia de si.
— Que merda é essa, Cláudio e Sandro? Por que a
deixaram entrar? Eles entrarem? — pergunta Andreo,
apontando para os convidados indesejados.
— S-senhor... Ela praticamente nos ameaçou, trouxe
até o advogado. Disse que se não a deixássemos entrar
chamaria a polícia, porque ainda é uma Mancini. — O
pobre do segurança engole em seco e abaixa a cabeça.
— Típico dela — retruca Andreo, desgostoso. Saio
de trás dele e seguro a sua mão, mesmo percebendo que
estão nos olhando, principalmente o seu primo e a
namorada. — Bárbara, leve a sua escolta de adoradores
para longe daqui. Não quero você e nem eles dentro da
casa do meu pai. — A firmeza dele me deixa orgulhosa.
— É assim que trata a sua mãe? — pergunta
Bárbara, ácida. Ela fixa os olhos na minha barriga por
cima do tecido fino e franze o nariz, como se estivesse
vendo a coisa mais nojenta da sua vida.
— Um caralho que você é, nunca foi! — responde
ele, furioso, com o punho fechado. — Cláudio e Sandro,
levem esse rapaz e a moça para fora da minha casa, não
são bem-vindos. Essa senhora pode ficar aqui, por
enquanto.
Eros e Isadora arregalam os olhos quando os
seguranças seguem as ordens de Andreo e os segura pelo
braço.
— O que está fazendo, seu desgraçado ingrato?
Essa casa é da minha tia! — grita Eros, furioso, sendo
arrastado para fora. Só não usam força com a Isadora,
que sai sem precisar que a levem.
Viro-me e encaro o pai do meu filho. Sua expressão
está endurecida e seus dentes cerrados, a veia do seu
pescoço está pulsando, enquanto seus olhos estão
injetados de tanta cólera. O furor dentro dele é nítido,
tanto que gostaria de poder abraçá-lo e pedir para relaxar.
— Trouxe esse advogado de meia-tigela para que
mesmo? Qual o seu propósito? — Ele a enfrenta.
O advogado faz menção de se defender, mas a
mulher ergue a mão e o homem fica pianinho, com uma
maleta na mão.
Passo a mão por meu pescoço e respiro
profundamente. Estou tensa, muito.
— Essa mocinha realmente conseguiu virar a sua
cabeça de vez. Vejo que conseguiu o que queria, e muito
mais. — Olha-me dos pés à cabeça com desprezo, seus
olhos se fixam na minha barriga novamente. Mesmo que
esteja coberta, levo as mãos a ela como se quisesse
proteger. — Engravidou para segurar você. Jamais
imaginei que o meu filho fosse do tipo idiota, que caísse
nessa história de gravidez inesperada. — Aperta os
lábios.
— Não vou dar trela para as suas palavras maldosas,
senhora — defendo-me, impaciente.
— Acha que isso é para sempre? Andreo é jovem,
forte, cheio de sonhos, e antes de você, amava curtir a
vida, não será um...
— Acabou? Pare de falar a mesma coisa, senhora,
estou cansada dos seus argumentos sem nexo. Agora se
puder sair dessa casa e nos deixar em paz, irei agradecer.
— Mantenho-me firme, fria.
— E quem você pensa que é para me expulsar da
minha casa, garota? — desafia-me, dando passos em
nossa direção.
— É a minha mulher, mãe do meu filho. E essa casa
é do meu pai e minha, não sua — Andreo responde por
mim.
— O seu pai pode trocar milhares de vezes as
fechaduras, eu sempre vou entrar. Essa casa é minha,
ainda sou casada com ele! O meu advogado veio para te
explicar detalhadamente quais são os meus direitos por
estar casada com o seu pai há tantos anos! — sibila,
raivosa, alternando o olhar entre mim e Andreo.
— Você é esposa do meu pai por pouco tempo,
Bárbara, não espere que isso se estenda! Agora me diga o
que o juiz vai dizer se souber que está ameaçando e
subornando o seu marido para aceitar o divórcio? Você
acha que pode vencer essa causa sendo tão desonesta?
— A mandíbula dele está rígida e a voz amargurada.
— Dr. Benício, explique ao meu querido filho os
meus direitos, por favor.
O advogado assente e se põe na nossa frente.
Quando vai abrir a maleta, Andreo larga a minha mão e se
aproxima do homem, segurando na gola da camisa dele e
o deixando assustado.
— Acho melhor o senhor procurar outro cliente,
porque essa senhora ali — ele olha para Babara, que está
perplexa — não tem poder algum sem o sobrenome
Mancini e dinheiro. Tudo o que ela exibe e tem foi
conquistado pelo meu pai, porque o que era tinha já torrou
tudo. Então pense duas vezes antes de se meter com o
Alberto Mancini, ele é um homem muito importante e com
amigos influentes. Pense bem antes que a corda
arrebente do lado mais fraco. — Andreo solta o homem,
que assente com o rosto branco como papel. Ele passa a
mão por seu terno, como se estivesse limpando alguma
sujeira. — Agora saia da minha casa, antes que eu ligue
para a polícia — rosna.
O advogado sai em disparada, deixando a cliente
sozinha.
— Não vim falar de mim e nem do seu pai, e como
sempre, você é um revoltado e me trata desse jeito. Se
trouxe essas pessoas foi porque me senti pressionada. Eu
vim ver você, soube que esteve doente... Apesar de tudo
— limpa a garganta e baixa o tom da voz, tão mansa que
se não a conhecesse até acreditaria —, eu te amo, meu
filho. Eu te criei. — Ela tenta se aproximar de Andreo,
mas ele recua.
Tenha Santa Paciência... Só agora ela veio ver o
filho que estava doente? Bela merda de desculpa.
— O que de fato você quer? Sei que não veio me ver
coisa nenhuma, estou bom há muito tempo. Não preciso
da sua visita ou preocupação — diz, irritado. — Já acabou
o que tinha para fazer aqui? Pois então pode dar meia-
volta e ir embora, não quero que volte aqui. E pare com
essa farsa, não caio no seu jogo, não sou bonzinho como
o meu pai. Pegue o seu sobrinho, o seu advogado fajuto e
sumam da minha frente. — Ele avança nela, mas não a
toca.
— Quando foi que me tornei a vilã? — Começa a
chorar.
— Não existe um quando para quem sempre foi,
Bárbara, agora saia da minha casa, afinal, o meu pai
disse que o que é ele dele é meu, então tenho poder para
te colocar para fora. — Ele segura no braço dela, que
tenta se soltar, mas não consegue.
— Eu tomarei essa casa, tudo. Tudo. Para que
aprendam o que realmente é ser uma vilã! — ameaça,
revoltada, me olhando com tanto ódio que sinto calafrio.
— E espero que você e esse feto imundo morram!
Fico chocada com a sua maldade. Andreo perde a
cabeça e a arrasta para fora da cozinha, mesmo que
esteja fazendo um escândalo.
Apoio-me na ilha e sinto o suor descer frio por minha
testa, então passo a mão por minha barriga e reprimo a
palavra que a mulher jogou em mim e no meu filho.
Alguns minutos se passam e a gritaria não é mais
ouvida. Meus olhos estão fixos na porta por onde
passaram. Fico em alerta ao ouvir alguns passos, mas
logo relaxo ao ver Andreo vindo em minha direção e me
abraçando.
— Já foram. — Ele beija a minha cabeça e depois a
minha boca.
— Eu odeio a Bárbara, ela é um monstro. Desejou a
morte do Nick. — Ainda estou chocada com o que ouvi.
— Ela nunca mais vai se aproximar de você, nunca
mais — promete. — Amanhã vamos para São Bento e
passaremos alguns dias lá. Vai ser bom ficarmos um
pouco longe daqui. — Ele tenta me deixar menos tensa.
Que esse desejo da Bárbara não caia sobre ela.
Tenho dó de quando ela for pagar por todos os seus
pecados, se colocar em uma balança, nem vai pesar, vai
quebrar.
Ontem conseguiram estragar o nosso plano de sair,
mas hoje foi diferente, não nos deixamos abalar pelo que
aconteceu com a Bárbara. Acordamos cedinho e nos
aprontamos para chegar a São Bento o quanto antes.
Estamos no centro da cidade, em um posto de combustível
abastecendo o carro para continuarmos com a viagem.
Deixei Alina sentada à mesa do restaurante me
esperando enquanto pago a conta. Ainda não falei com o
meu pai, vou esperar chegar à fazenda para poder ligar e
conversar com calma. Apesar de não querer chateá-lo, é
necessário que saiba que a Bárbara está tramando algo,
se bem que Alberto Mancini não é bobo. Não foi à toa que
ele me deu aquele documento indicando que sou
legalmente dono de tudo, no nome dele há poucas
propriedades, que nem chegam aos pés do que está sob o
meu poder. Então se Bárbara quer tirar proveito dos anos
de casada com meu pai, talvez se surpreenda, uma vez
que para ela o seu esposo sempre passou de um idiota
que seguia as suas ordens.
— Quanto deu? — pergunto, tirando a minha carteira
do bolso traseiro.
A funcionária do estabelecimento olha para a
comanda em sua mão e ergue o rosto.
— Desculpe a demora, senhor — diz, envergonhada.
— Foram dois sucos de açaí de 700 ml, dois mistos, um
hambúrguer e três balas de goma, certo? — Meneio com a
cabeça concordando. — Deu sessenta reais e cinquenta
centavos.
Retiro da carteira uma nota de cem e entrego para a
jovem. Enquanto espero o meu troco, eu me viro e vejo
Alina. Semicerro os olhos e solto um riso abafado ao me
deparar com dois marmanjos perto dela. Um está sentado
à mesa de frente para ela, fazendo-a rir alto de algo, ele
parece ter uns trinta e poucos anos, enquanto o outro é
mais jovem, ambos usam roupas de peão, com chapéu e
tudo.
Um deles deve ser o tal Talles. Impossível que não
seja, ela não conhece mais ninguém por aqui. Até que o
merdinha é meio apresentável.
— Senhor, aqui está o troco.
Mesmo ouvindo a voz da funcionária do
estabelecimento, não consigo tirar meus olhos da cena.
Com os punhos fechados e o maxilar cerrado, vejo o filho
da puta se levantar da cadeira e se agachar um pouco ao
lado da minha namorada, tocando na barriga dela e
sorrindo abertamente.
Como o desgraçado ousa tocar na barriga da minha
mulher com tanta intimidade? Minha mulher, sim, cacete!
Está morando comigo, dividimos a mesma cama há um
tempo, não precisamos de uma porcaria de aliança para
rotular o nosso relacionamento.
— Senhor. — A moça insiste.
Puto, viro-me para ela, completamente tenso.
— Pode ficar como gorjeta — falo, deixando-a com
os olhos arregalados. Certamente nunca deve ter recebido
um valor tão alto.
Sem esperar pela resposta da atendente, saio
pisando duro na direção do trio, que parecem bem amigos.
Assim que o roceiro sai da frente de Alina, ela ergue o
rosto e me encara. Seus olhos se ampliam e ela acena
para mim, então os dois homens olham para trás e me
encontram. Eles ficam meio boquiabertos, mas acabam
disfarçando. Algumas pessoas ficam perplexas quando me
veem, como se nunca tivessem visto tantas tatuagens.
Mesmo percebendo minha carranca, Alina continua
tranquila quando me aproximo deles e olho para cada um
com uma expressão dura, principalmente para o tal Talles.
— Vamos, Alina, já paguei a conta. — Cruzo os
braços e a encaro, que assente e se levanta.
— Amor, não precisa ter tanta pressa, em poucos
minutos chegaremos à Renascer. Me deixa te apresentar
duas pessoas. — Ela vem até a mim, então aproveito e
passo o braço por sua cintura, em seguida, descanso a
mão na sua barriga. — Esse é o Talles e aquele é o
Heitor.
Os dois educadamente estendem a mão, e para não
ser tão mal-educado eu os cumprimento. Não deixo de
notar que o mais velho é casado.
— Talles, Heitor, esse é o Andreo, o pai do meu filho.
— Alina encara os homens, que assentem.
— E namorado — acrescento, ouvindo a risadinha
baixinha dela.
Não estou marcando território, não sou nenhum
cachorro, mas é bom que eles saibam que eu tenho a
Alina.
— Bom, já que você está em boa companhia,
estamos indo, Alina. Aguardamos vocês na fazenda. —
Heitor bate no ombro de Talles e o encara. — Vamos?
Ainda temos que deixar as caixas de leite no depósito do
Tomaz.
— Foi bom ver vocês, até mais — fala ela
educadamente.
Quase reviro os olhos, se não fosse um gesto tão
infantil.
Agradeço por terem ido, só faltava sugerirem que
fôssemos juntos para a fazenda, seria uma piada. Alina
fica de frente para mim e envolve os braços em meu
pescoço.
— Você quase fez xixi em mim, que coisa feia,
Andreo Mancini.
— Por que aquele cara estava tocando em você?
— Ele estava querendo sentir o bebê quando viu que
a minha barriga tinha crescido um pouco. Talles está de
paquera com a Maria Fê, e o Heitor é casado, tem filhos e
nunca me olhou com outros olhos. — Olha-me divertida.
O foda de morar em cidade pequena é isso, respirou
tem um conhecido no mesmo local que você.
Pigarreio e busco o resto da minha dignidade que foi
jogada no lixo por quase infartar de ciúme.
Quando me tornei tão ciumento? Ter ciúme é
bobagem.
— Vamos logo. A Dandara enviou uma mensagem
avisando que estão preparando galinha caipira... Ah, que
delícia! — Lambe os lábios, sonhadora.
— Amor, você comeu tem alguns minutos e já está
com fome? — Arqueio a sobrancelha, brincalhão.
— Não me julgue. Estou comendo por dois, o seu
filho me deixa faminta. Me engravidou, agora aguente! —
Beija meus lábios e pisca para mim, me fazendo gargalhar
da sua audácia.
Saímos do estabelecimento e seguimos até o meu
carro, no meio do caminho recebo uma notificação de
mensagem, então tiro o celular do bolso e visualizo o
número do meu pai.
"Quando puder me ligue. Soube que viajou, fez bem,
assim respira ar livre."
Ao menos os seguranças seguiram minhas ordens,
só disseram o que eu pedi – sobre minha viagem e nada
da presença indesejada da Bárbara.

— Madrinha, Maria Fê!! — exclama Alina assim que


abre a porta do carro e sai correndo em direção à família,
que a espera em frente a um casarão elegante.
Chegamos à fazenda em questão de minutos, como
ela dissera, bastou me dar as coordenadas que encontrei
o local rapidinho. Assim que avistamos o casarão, vimos
Maria Fernanda e Dandara nos esperando bem animadas,
parecia que fazia anos que não nos víamos. Mas quando
gostamos de alguém, dias parecem meses e meses
parecem anos.
Antes das três se abraçarem, Maria Fê e Dandara
acenam para mim gentilmente e eu faço o mesmo, então
começo a tirar nossas bagagens do porta-malas.
— Ai meu Deus, amiga... Olha como a sua barriga tá
maravilhosa!
Dou uma risada baixa ao ouvir os gritinhos histéricos
de Maria Fernanda. Essa garota é um tanto maluquinha,
mas gosto dela, faz bem a Alina.
— Não está tão enorme, amiga, mas como sou
magrinha é alguma coisa — diz Alina alegremente.
Eu fecho o porta-malas e vou na direção delas com
nossas bagagens, e assim que me aproximo coloco tudo
no chão.
— Estava com tanta saudade, que estou vendo
muitas coisas diferentes em você. O seu rosto está mais
cheinho, mais lindo... E os seus olhos? Estão brilhando.
Você está toda maravilhosa, isso é sinal de que Andreo
está te fazendo muito bem. E ele que não faça. — A amiga
tagarela tanto, que Dandara nem tem espaço para falar
com a afilhada.
— Também senti a falta de vocês, não sabem o
quanto. E obrigada, você também está linda, e me
devendo muitas fofocas — diz a minha morena, fazendo a
amiga ficar vermelha e assentir. Deve ser algum
segredinho delas. — Madrinha, como você está linda
também. Vem aqui e me abraça de novo.
A Dandara a abraça e a cena é emocionante.
— Que nada, minha filha, isso é resultado de
saudade. Quem está bonitona aqui é você, olha para
você... Está uma boneca. — Elas se afastam uma da outra
e Dandara toca no rosto de Alina e sorri. — E como está
meu netinho? — pergunta, animada.
— Está bem — responde Alina, com a voz
embargada.
— Eu e Andreo já sabemos o sexo do bebê! — Então
ela ergue os olhos e me encara.
— Sério? Quando descobriram? — indaga Maria
Fernanda, vibrante.
— Uhum, descobrimos sim. Ontem foi uma chuva de
bênção. O Andreo teve alta e descobrimos que meu bebê
está ótimo e também o seu sexo. — Alina faz mistério.
— Conta logo! Nasci de seis meses, amiga — pede
Maria Fernanda, risonha. Mas antes que a amiga consiga
falar, duas crianças correndo atraem a nossa atenção.
Uma menina e um menino rindo alto, logo atrás deles vem
um senhor ofegante e sorridente, que se agacha e coloca
as mãos nos joelhos como se estivesse esgotado.
— Vamos, vovô Conrado! O senhor não consegue
mais correr com a gente, né? — pergunta a garotinha, que
deve ter seus dez anos.
É o advogado e os netos, Alina me falou deles, mas
só percebo porque a menininha o chama pelo nome.
— Só um minutinho, Laura, você sabe que o vovô
não tem mais pique para você e o João Pedro, não é? —
O homem ergue os olhos e volta a ajeitar a postura,
fixando os olhos primeiro em Alina e depois em mim. —
Bom dia, Alina, que bom ver você aqui — diz ele, se
aproximando dela e a cumprimentando com um breve
aperto de mão. Logo depois vem até mim e me
cumprimenta também, me dando boas-vindas.
Em seguida, apresenta os netos para minha
namorada e diz que eles insistiram em vir hoje para a
fazenda. Gentilmente ela fala que não tem problema,
afinal, eles já faziam isso antes de ela se tornar a
proprietária.
Quando as crianças veem a barriguinha de Alina
ficam agitados, perguntando se ali tem um bebezinho. Ela
responde que sim, seus olhos brilham ao falar. Só o fato
de a ver tão feliz com a gravidez me faz perceber que será
uma ótima mãe.
Depois de alguns minutos, entramos todos na casa.

— Agora que já estamos devidamente acomodados,


não preciso mais fazer mistério, não é? — Alina morde os
lábios e sorri ao encarar a amiga e a madrinha, que
assentem ansiosamente.
O advogado e os netos não ficaram para o almoço,
mesmo com o convite da minha namorada. Eles se foram
há alguns minutos, e o homem prometeu que no dia
seguinte voltará e ficará mais tempo, acredito que queira
nos dar mais privacidade.
— Você deveria ter contado assim que soube. Agora
fale logo — pede Maria Fernanda.
Ao meu lado, Alina segura a minha mão e encara as
duas mulheres sentadas no outro sofá.
— Um menino. Teremos um Nicolas na família —
revela minha morena, com a expressão carregada de
felicidade.
— Que notícia incrível, filha! Meus parabéns, Andreo.
Vocês serão pais maravilhosos para o meu netinho. Não
tenho dúvidas disso — diz Dandara, com os olhos
lagrimejados.
— Sim, com certeza. Obrigado, senhora. — Passo o
braço pela cintura da minha garota e beijo o rosto dela.
— Obrigada, madrinha. Estamos tão felizes por
termos descoberto o sexo do nosso filho! — Alina vira o
rosto e beija meus lábios.
— Faço as palavras da Dandara as minhas! Meus
parabéns aos dois, e eu amei que o meu sobrinho irá se
chamar Nicolas. Estou ansiosa pela chegada do Nick em
nossas vidas — diz Maria Fernanda, toda derretida. A
amiga a agradece, assim como eu. — E vocês vieram para
ficar de vez? Porque sabemos que o Andreo tem a
faculdade... — Nos encara curiosa.
— Sim, é verdade. Bom, quero conversar com vocês
sobre isso. — Alina usa um tom sério.
Meu celular começa a tocar, então peço licença e o
pego ao ver que é o meu pai. Enquanto desço a escada do
casarão, eu o atendo.
— Como não entrou em contato, decidi ligar — meu
pai diz do outro lado da linha.
— Chegamos à fazenda há pouco tempo — paro
embaixo de um pé de manga — e acabei deixando passar
batido, me desculpe. Pode falar, pai. — Olho ao meu redor
e vejo que esse lugar é um santo remédio para quem
procura viver com tranquilidade e longe da vida urbana.
— Que bom. Quero falar sobre o meu divórcio. —
Faz uma pausa, e a sua voz é de uma pessoa contente. —
Tenho uma solução, na verdade, desde o início, quando
decidi passar meus bens para o seu nome, foi para a sua
segurança caso algo acontecesse comigo. Filho, como
tudo que era meu antes agora é seu, não tenho muita
coisa para oferecer a Bárbara, quer dizer que ela vai ter
que se contentar com o que tenho, três propriedades, e
nenhuma delas é o que aquela mulher quer. Ela já foi
informada pelo meu advogado das minhas condições.
Mesmo que tente revogar a minha decisão, ela vai se dar
mal, então Bárbara não vai conseguir mais nada. Pode
ficar tranquilo, é tudo seu ainda.
Após o ouvir com atenção, nem me surpreendo com
a sua notícia. No fundo, eu já sabia que ele faria isso. A
única que vai se dar mal é a Bárbara, que me ameaçou
nos deixar na miséria.
— Acho bom que esteja sendo astuto em uma
situação como essa, vou te apoiar no que decidir, pai —
digo, com sinceridade. Certamente o deixando feliz pela
minha maturidade neste momento, ainda mais se tratando
da pessoa que estamos falando. — Ontem ela esteve lá
em casa, conseguiu entrar porque estava com um
advogado bundão. O Eros e a Isadora foram também,
conseguiram assustar os seguranças com ameaças
idiotas, mas tratei de colocá-los para fora — revelo,
ouvindo o seu xingamento.
— É muito importante que esteja comigo, filho, o seu
apoio é essencial. — Suspira, chateado. — Por que não
me ligou para dizer que Bárbara foi tirar a paz de vocês?
Ela sabe muito bem que é para ficar longe.
— Eu sei cuidar muito bem de mim, da minha mulher
e do seu neto. Fique tranquilo. — Ao ver uma camionete
parar em frente ao casarão, fico atento. Talles sai e bate a
porta do veículo, seguindo para a casa em seguida.
— Eu sei que sabe, a vida toda soube se cuidar—
diz, como um lamento.
— Sim, não discordo. — Afasto-me da árvore.
— Estou disposto a conseguir esse divórcio custe o
que custar, preciso encontrar a minha paz novamente —
fala, meio amargurado, então me lembro do conselho que
Alina me deu.
— Dê a ela a casa, pai, é isso o que aquela mulher
quer. — Passo a mão por meu pescoço e fico cabisbaixo,
observando o gramado bem cuidado.
— Andreo, é a sua casa, como vou dar algo que não
é mais meu? Ou você quer dar para ela? Bárbara terá
duas opções, ela aceita as minhas condições em ficar com
o prédio do centro e as três casas do condomínio, e as
joias que estão cofre no banco, ou sai sem nada. E você
sabe que ela é ambiciosa demais para recusar. Terei esse
divórcio ainda essa semana e será consensual, chega de
suportar as tramoias dela, cansei. — Ele parece bem
determinado, gosto disso.
— Tem razão, não darei nada a ela. Mas faça como
você achar melhor para conseguir a sua liberdade.
— Sim, farei, filho.
— Pai? — Começo a caminhar na direção da casa.
— Sim? — pergunta, enquanto subo a escada.
— Estou orgulhoso de você. — Sorrio assim que piso
na varanda.
— Eu também estou de você, e agora, esquecendo
aquela mulher, você já pensou na minha proposta de abrir
a sua oficina enquanto está na faculdade? Pelo menos
terá um emprego e será o seu próprio chefe, vai poder dar
mais atenção à sua família e levar dinheiro para casa com
o seu suor, como deseja.
Dias atrás, ele me propôs me ajudar em meu negócio
e fiquei de dar a resposta a ele.
— Acho que não tenho muito o que pensar, não é?
Vou ser pai em breve, preciso me ajeitar na vida, então
não vou me fazer de rogado, quero sim a sua ajuda, mas
só se eu puder devolver tudo o que você gastar na minha
oficina assim que a empresa começar a dar lucro.
— Sabe que não precisa disso, tudo que é meu é
seu, e quando eu morrer será seu e do meu neto. — A sua
risada é descontraída mesmo falando de morte.
— Eu sei, pai, mas enquanto estiver vivo, tudo é seu.
— Mantenho-me firme.
— O.k., então será assim. Saiba que daqui a um mês
você já pode começar a trabalhar, contratei uma empresa
para a reforma da sua oficina. Comprei um depósito velho
que estava fechado há alguns anos no centro, é bem
localizado, vai se dar bem. E já fiz a compra de
ferramentas e equipamentos. Não pedi muita coisa, só o
básico, e quando você retornar vou precisar que faça uma
lista do necessário para começar o seu trabalho. Consegui
também o número dos seus amigos, que andavam com
você, e os contratei para trabalharem juntos, sei que vai
precisar de ajuda.
Arregalo os olhos ao notar que ele pensou em tudo e
limpo a garganta com a sua informação.
— Uau, você está um passo à frente, não é? —
Gargalho.
— É claro. — Ele ri também.
— O.k., pai, muito obrigado — agradeço-o, porque
sei que está passando por um momento difícil e mesmo
assim pensou em mim.
— Não me agradeça, você merece, Andreo — diz,
cheio de orgulho.
— Vou desligar, preciso fazer algo aqui, até breve. —
Nos despedimos e, em seguida, encerramos a chamada.
Guardo o meu celular no bolso e entro na casa,
ficando paralisado ao ver o peão sentado no sofá com
Maria Fernanda na perna, beijando-o no rosto, enquanto
Alina está sentada em uma das poltronas comendo uma
fruta. Quando notam a minha presença, o Talles fica sem
jeito, mas a amiga da minha namorada nem se abala,
continua carinhosa com ele.
— Andreo, quero te apresentar o meu namorado,
mas acho que já o conheceu. A Alina me disse que você
quase infartou de ciúme quando ela estava perto dele.
Mas não se preocupe, cunhado, esse homem aqui já é
meu.
Alina se engasga e o peão também tosse alto, já
Maria Fernanda sai do colo dele e fica sem saber a quem
deve ajudar.
— Maria Fernanda, aprenda a segurar essa língua!
— repreende a mãe do meu filho, irritada, ao se recuperar
da tosse.
— Não falei nada de errado, ué! — Dá de ombros.
Essa menina não tem filtro algum.
Escondendo o sorriso, aproximo-me de Alina, que faz
uma careta por me conhecer muito bem e saber que
adorei ter a confirmação de que a amiga e o Talles estão
em um relacionamento.
No dia seguinte, acordo cedinho e deixo o Andreo
dormindo. Vou para a cozinha e encontro somente a
Dandara escolhendo feijão em uma mesa enorme de
madeira montada com vários tipos de gostosuras para o
café da manhã.
Pergunto se Maria Fernanda já voltou da casa do
namorado, ontem ela foi dormir lá. Ainda estou chocada
por estarem juntos, não sei dos detalhes, mas Maria Fê
vai me contar antes de eu ir embora. Contudo, estou feliz
por minha amiga, ela realmente encontrou um homem de
verdade, dá para ver a diferença entre um homem e um
moleque.
Ontem, quando Andreo conversava com o pai por
telefone, eu me encarreguei de ter uma conversa franca
com a Dandara e minha amiga. Falei da decisão que tomei
de ficar em Monte Verde morando com o pai do meu filho
e de usar minha herança para fazer o curso de
administração na mesma faculdade que ele. Elas
vibraram, torceram por mim. Em momento algum deixaram
de me apoiar, tanto que fiquei meio entristecida
imaginando como seria a minha vida daqui para frente
sem viver sob o mesmo teto que minha dinda, que cuidou
de mim desde sempre. Mas ela me tranquilizou e disse
que já sou maior de idade e devo criar asas e voar. Então
eu disse que eu e Andreo ficaremos somente por quatro
dias, tempo suficiente para matar a saudade e aproveitar
a companhia delas.
— Quer um copo de suco ou café, filha? Ou quer um
pedaço de bolo de milho? — pergunta Dandara, enquanto
escolhe o feijão para o almoço. Ela me disse que aqui
preparam a comida pela manhã, então ela sempre adianta
algumas coisas para a Magda, a cozinheira do casarão.
— Só vou querer um pouquinho de café, dinda, só
dois dedinhos mesmo. A minha obstetra não pode nem
sonhar com isso... — falo, ao bocejar e abraçar o meu
corpo. Hoje amanheceu frio. — Mas pode deixar que eu
pego, você está ocupada. — Levanto-me e vou à pia lavar
a mão, soltando um gritinho ao sentir a água gelada.
Misericórdia, parece gelo.
— A água daqui é bem fria mesmo — fala, risonha,
enquanto coloco um pouco de café na xícara e volto a me
sentar de frente para ela.
— Acabei de descobrir — digo, ao bebericar o líquido
morno.
— Você está com uma aparência tão boa, Alina,
estou feliz por saber que o Andreo está te fazendo tão
bem. Nos meses que você ficou por lá foi bom para que
pudessem conviver mais tempo juntos e sozinhos. — Ela
tem razão. Ficarmos juntos nos fez amadurecer, cada dia
que passava íamos aprendendo mais coisas sobre o outro
e superamos algumas etapas do relacionamento.
— Tem razão, nunca me senti tão realizada, sabe?
Ele me trata tão bem, além do mais, me ama e cuida de
mim. — Passo o dedo na lateral da xícara e encaro a
minha madrinha, que me observa orgulhosa. — Acho que
as tempestades que passamos foi para nos fazer
compreender que às vezes alguns problemas surgem para
nos mostrar o quanto podemos ser fortes e nos
superarmos sempre. Depois que o Andreo adoeceu, e a
luta que passamos para que ele pudesse se recuperar,
nada mais me abala, quer dizer, o nosso relacionamento.
Aquela maldita doença, mesmo sendo horrível, nos trouxe
um lado nosso que não conhecíamos. Conseguimos
progredir e enfrentar os nossos medos, eu de perder o
homem que amo, e ele a mim e ao nosso filho. — Meus
olhos enchem de lágrimas, mas logo trato de respirar
fundo e me recompor.
— Você amadureceu tanto, minha menina, e nada
mais me alegra do que isso, porque eu sei que você já
está pronta para viver a sua vida sem mim. Não que eu vá
te abandonar ou você a mim, mas agora que vai ser mãe e
mora com o seu namorado, sei que está mais do que
pronta para cuidar de si mesma sem precisar que eu puxe
a sua orelha. — Demonstra emoção na voz.
— Sim, dinda, a sua menininha cresceu. Hoje a
minha mentalidade é outra. — Afasto a xícara e apoio
meus cotovelos na madeira da mesa, espalmando uma
mão no lado direito do rosto.
— Não sabe o quanto me orgulho disso. — Pisca
para mim.
— Você tem certeza de que quer ficar por aqui? Se
quiser, pode ir morar com a gente, a casa é grande, ou eu
posso comprar uma bem aconchegante para você, em
Monte Verde. — Trago o assunto novamente à tona.
Ontem ela me disse que quer ficar, e Maria Fê avisou
que vai visitar os pais e o namorado vai junto, porque ele
quer pedir autorização do pai dela para eles namorarem.
Achei superfofo o gesto dele. Sobre minha amiga ficar ou
voltar para a casa dos pais eu não sei, ela ainda está
decidindo o que pretende fazer.
— Alina, já disse que estou bem aqui, não quero
mais voltar. A paz desse lugar é incrível e já estou velha,
preciso descansar. A Renascer é tudo que uma pessoa
cansada como eu precisa para passar um tempo — fala o
mesmo que já havia me dito na frente da Maria Fernanda.
— Não quero que se sinta triste ou pense que está me
abandonando, é uma escolha minha. Aqui na fazenda
posso respirar melhor, e o bom é que não temos vizinhos
fofoqueiros, como em Vale Santo. Aqui tenho a companhia
da Magda e de alguns funcionários com quem fiz amizade.
Esse lugar é uma verdadeira paz. — O seu sorriso é o
mais sincero de todos, ela realmente está bem aqui.
— Não vou insistir, porque sei que está falando a
verdade. — Toco na sua mão que descansa na mesa. —
Mas saiba que não abro mão da sua presença em casa no
meu penúltimo mês de gestação, ou quem sabe no último.
Quero que você cuide de mim e do seu neto, vamos
precisar muito de ajuda.
Os olhos dela se enchem de lágrimas enquanto
assente emocionada.
— Prometo que vou cuidar de vocês, enquanto eu
tiver vida, cuidarei.
— Sei que vai. — Sorrio, afetada.
Ouço alguns passos vindos da porta dos fundos
então me viro e avisto Maria Fernanda usando uma
camisola e casaco que não é dela, logo atrás vem Talles
vestido com suas roupas de trabalho. Descobri que ele é
muito tímido quando está com a minha amiga, ela causa
esse efeito nele, só não sei o motivo ainda.
Ele nos cumprimenta com um aceno de mão e eu
retribuo.
— Bom dia, família. Já acordada, amiga? — pergunta
minha amiga, se aproximando e se sentando à mesa,
enquanto o namorado se encosta na parede, sem jeito. —
Vai ficar aí parado com essa cara de vergonha, Talles? A
Alina não morde, já disse que ela é tranquila e não vai
comer o seu rim porque estamos namorando. Apesar de
ser a sua patroa, ela sabe muito bem separar as coisas,
assim como você. Agora deixe de timidez e venha até
aqui.
— Bom dia, dona Dandara e Alina — nos
cumprimenta, então respondemos educadamente.
Pobre homem! Agora sei que ele está se
comportando assim com o fato de eu ser a patroa
enquanto ele namora a minha melhor amiga.
— Isso mesmo, Talles, venha, não mordo. E a Maria
Fernanda é bem grandinha para fazer o que bem entender
da vida dela.
Ele concorda e finalmente se senta.
— Dona Dandara, tem café de hoje? O Talles gosta
de tomar antes de começar a trabalhar... A senhora sabe.
Arqueio a sobrancelha ao ver minha amiga toda
prendada. É, o peão a pegou de jeito, e a forma como ele
olha para ela dá para perceber o quanto gosta dela.
— Tem sim, Maria Fernanda — responde minha
madrinha gentilmente.
— Com licença — diz Talles, se servindo com uma
xícara de café.
O namorado da minha melhor amiga toma o café em
silêncio, ainda meio acanhado, enquanto isso Maria
Fernanda me encara com os olhos brilhando e louca para
rir, porque sabemos que o Talles não é tão tímido assim.
— Por que não toma café com a gente? Sei que o
serviço da fazenda é pesado, então tomar só uma xícara
de café não vai te sustentar. Coma um pedaço de bolo,
tem pão, queijo, leite — sugiro, para quebrar o gelo.
É evidente que o coitado está meio cabreiro por eu
ser a sua patroa, mas ontem eu disse e repeti para a
minha amiga que isso é bobagem, se for necessário
falarei com ele.
— Não precisa, Alina.
— Talles, eu sei que está envergonhado, mas não
precisa ficar assim, deixa de bobagem, o.k.? Todos aqui
gostamos de você e sempre será bem-vindo no casarão,
sendo ou não namorado da Maria Fernanda. Agora tome
um café reforçado! E não é um pedido, é uma ordem. —
Minha firmeza o faz assentir e começar a se servir.
Esses dois são tão lindos. É notório que estão
perdidamente apaixonados.
Alguns minutos passam e o peão termina de tomar o
café reforçado, se despede da gente e se vai, mas antes
beija a namorada carinhosamente e promete que mais
tarde passa no casarão para vê-la.
Pouco tempo depois, a minha madrinha nos pede
licença e vai para o quarto dizendo que precisa dormir
mais um pouco. E ela só fez isso porque eu disse que ela
não precisava acordar com as galinhas para aprontar o
almoço, que seria bom se fosse descansar mais algumas
horinhas.
— Amiga, sobre os seus pais? — pergunto enquanto
me sirvo de uma fatia do bolo de laranja.
— Talles e eu estamos pensando em ir com vocês, o
que acha? — pergunta, me deixando feliz por saber que
ele quer algo sério com ela e a respeita.
— Claro. E quando vai me contar como vocês
começaram a se envolver? Estou curiosa, Maria Fê, não
se pode negar um pedido de uma mulher grávida. Me
conte logo essa fofoca! — exclamo e ela ri.
— Acho que foi tudo muito rápido, bom, para ele,
porque para mim foi lento demais — começa a narrar,
animada. — Nos primeiros dias ficamos só flertando, de
papinho, troca de olhares quando ele vinha almoçar com o
Heitor ou o dr. Conrado. Mas depois de um tempo o fogo
bateu e eu tomei a iniciativa. Tínhamos saído a cavalo e
fomos parar no rio, e como não sou boba e nem nada,
disse que ia nadar porque estava calor. Pura mentira,
aquela água dos infernos é gelada! Mas como eu queria o
peão, tirei minhas roupas, ficando só de lingerie, e me
joguei na água. Chamei o Talles e ele não resistiu, aí não
demorou nada para estarmos nos agarrando ali mesmo...
E minha nossa, que beijão! Depois disso as coisas
começaram a esquentar, mas eu não transei com ele de
primeira, porque agora sou difícil, mesmo que eu tivesse
louca para cometer essa loucura.
“Os dias foram passando e estávamos mais
envolvidos, e depois de um tempo de amassos com direito
a mão boba, ele me pediu em namoro e então eu me
entreguei. Fizemos amor na beira do rio, ah... Foi
maravilhoso. Ele tocou no meu corpo de uma forma que
nenhum outro homem o fez. Foi carinhoso, me tratou como
se eu fosse um vaso de cristal... Delicado. Eu amei,
amiga. Talles é maravilhoso, um homem de verdade, e é
isso que eu preciso. E estamos completamente loucos um
pelo outro e dispostos a manter o nosso relacionamento
pelo tempo que durar.”
Ela termina de falar aos suspiros. Está tão
apaixonada que as palavras que saíram da sua boca a
entregam.
— A sua felicidade é tão importante para mim, desejo
de coração que vocês sejam muito felizes e que ele cuide
de você como merece. — Já estou no terceiro pedaço do
bolo, esse é o de milho.
— É recíproco, amiga, que você e Andreo construam
a família de vocês e sejam felizes — diz, ao terminar de
bebericar o suco.
— Vamos construir, sim. Estamos na melhor fase da
nossa vida — confesso, afundando o garfo na fatia do bolo
e a levando à boca.
— Bom dia.
Ergo os olhos ao ouvir a voz levemente rouca de
Andreo. Ele está parado no batente da porta, com os
braços cruzados.
Descaradamente o avalio. Ele veste uma camisa azul
de mangas compridas e uma calça moletom cinza. Seu
cabelo está molhado, provavelmente acabou de sair do
banho, uma pena eu não ter estado lá.
— Bom dia, Andreo. Limpa a baba, Alina. — Perturba
Maria Fernanda.
Meu namorado vem em nossa direção com um
sorrisinho sacana brincando em seus lábios. Andreo se
senta ao meu lado e eu não resisto e acabo cheirando o
seu pescoço, fazendo-o soltar uma risadinha baixa.
— Hum, cheiroso... — digo, ouvindo minha amiga e o
meu namorado gargalharem.
— Vou deixar os pombinhos a sós. — Ela finge
bocejar e se levanta. — Irei dormir mais um pouco. Até
mais, casal. — Pisca para nós antes de nos dar as costas
e sair da cozinha.
— Tenho uma novidade para você — diz, animando-
me.
— O que seria?
— Meu pai fez uma proposta, mas antes de decidir
preferi pensar bem. — Morde os lábios. — Ele quer abrir
um empresa para mim, muito em breve vou ter um
emprego e você também, se quiser, é claro — revela, me
deixando deslumbrada com a notícia.
— Verdade? — Estou tão feliz por ele, por nós.
É lógico que quero trabalhar, vai ser maravilhoso me
manter ativa.
— Uhum. O seu sogro vai abrir uma oficina para mim,
e se você quiser pode vir trabalhar comigo, pode ser a
minha atendente, porque além de consertar carros,
venderemos peças também.
Estou quase dando cambalhotas de tanta alegria.
— Então já tenho um emprego e você será o meu
patrão? — Arqueio a sobrancelha, ele sabe que estou
vibrante por sua conquista.
— Sim, senhora. — Belisca a ponta do meu nariz.
— Eu aceito. Acho que já podemos tratar do meu
salário e do bônus — brinco, fazendo-o sorrir largamente.
— Uma coisa de cada vez, apressadinha. — Bagunça
o seu cabelo.
— O.k., sr. Mancini. Quer comer? — pergunto,
olhando em seus olhos, que se iluminam rapidamente.
— Agora e aqui? Quer me alimentar tão cedo? —
pergunta com um tom malicioso enquanto olha ao redor.
Bato em seu ombro por pensar só em sacanagem.
— Andreo, estou falando de comida de verdade e
não o que está pensando. Pervertido. — Estalo a língua.
O seu semblante agora está completamente sério,
mas sei que ele é um safado e estava falando de sexo,
sim.
— E quem disse que estou pensando em putaria?
Você que é maldosa. — Aproxima o rosto do meu e roça
nossos lábios, então ergue a mão e toca em uma mecha
do meu cabelo. — Quando acordei e não te achei na cama
fiquei puto, sabia? Queria te comer, nesse friozinho seria
ideal uma boa trepada para aquecer o corpo.
Arfante, sinto sua mão livre deslizar entre as minhas
pernas, que automaticamente se abrem para ele.
— Tem tantas coisas boas para se fazer aqui, tipo
conhecer a fazenda. — Meu peito sobe e desce quando
ele enfia a mão entre minhas pernas e coloca a minha
calcinha para o lado, tocando minha boceta em seguida.
— Nenhum outro lugar é melhor do que estar dentro
de você, Alina — diz, me dedilhando enquanto temo ser
flagrada. — Abre mais — pede no meu ouvido,
mordiscando a pele sensível.
Fico atormentada, completamente encharcada.
Ele brinca com meu clitóris com seus dedos quentes
e beija minha orelha e depois meu pescoço. Andreo faz
movimentos vaivém, enfiando os dedos dentro de mim,
intensificando a masturbação. Trêmula e gemendo
baixinho, encosto minha testa em seu braço e fecho os
olhos.
— Andreo — gemo, sentindo a adrenalina tomar
conta do meu corpo.
— Você também ama o perigo, não é? Estou sentindo
a sua boceta jorrar de tanto tesão, amor. E só de te sentir
molhadinha em meus dedos estou de pau duro, quase
babando — diz baixinho, me masturbando forte. A pressão
é tão gostosa que cravo os dentes na pele do seu braço
para abafar o gemido quando o gozo vem me arrebatando
por inteira.
Ao ouvir passos se aproximando na porta dos fundos,
tiro a mão dele de dentro de mim e ajeito meu vestido e a
minha postura, mesmo arfante.
— Bom dia.
Reconheço a voz do advogado.
— Bom dia — responde meu namorado.
Ao meu lado, Andreo está tranquilo, cínico, como se
nada de mais tivesse acontecido, enquanto eu tento não
deixar claro em meu semblante que acabo de gozar na
cozinha.
— Bom dia, Conrado. Já tão cedo aqui? Realmente
cumpriu com a promessa — digo, lembrando-me que ele
prometeu retornar hoje.
— Gosto de vir cedinho para cá.
— As crianças não vieram? — pergunto, disfarçando.
— Não, vim sozinho. — Me encara e depois o meu
namorado. — O que acham de conhecer melhor a
fazenda? Nesse horário, os funcionários já estão
trabalhando — sugere.
— Seria ótimo! — Animo-me.
— É uma boa ideia, queremos sim. — Meu namorado
concorda.
— Então vamos? Vamos no meu carro em algumas
áreas, depois seguimos a pé — diz e se levanta.
— O senhor já tomou café? — pergunto e ele
responde que sim e me agradece em seguida.
— Antes mesmo de deixar esse lugar, já estou
sentindo saudade — diz minha amiga, em um suspiro.
— Estou quase acreditando que você não se
apaixonou só pelo peão, mas pela fazenda também —
brinco e ela sorri.
— Me apaixonei pelos dois, é claro. Mas aqui é tão
bom que a gente fica com aquele gostinho de quero mais.
Maria Fernanda tem razão, a Renascer realmente é
maravilhosa, e nos dias que eu e Andreo passamos aqui
nos sentimos tão bem.
— Sim, é verdade — digo, olhando para Andreo
fechando o porta-malas depois de ter colocado nossas
bagagens lá.
Os dias passaram e quando vimos já era hora de
partir para Monte Verde. Mas soubemos aproveitar bem a
nossa estadia na fazenda. Como da última vez que vim
não desfrutei de muita coisa, dessa vez pude ir até o
famoso rio. O Conrado me apresentou aos funcionários
como a nova proprietária e fui muito bem recebida, nunca
vi tantas pessoas educadas.
Durante esses quatro dias, aproveitei tudo e mais um
pouco. Depois de conhecer cada canto do lugar, fiquei
com uma imensa vontade de cumprir com a minha
promessa de viver nesse lugar no futuro, depois que
Andreo se formar.
— Filha, leve essas coisas para vocês.
Olho para trás ao ouvir a voz da Dandara. Arregalo
os olhos ao vê-la na companhia da Magda, cada uma
segurando uma sacola térmica.
— O que é? — pergunto, cheia de curiosidade.
— Aqui tem bolos, cada um de um sabor, porque sei
que gostou. E a Magda fez uma galinha caipira, não se
preocupe, está bem vedado o pote — fala, me deixando
boquiaberta.
— Não precisava, madrinha, de verdade. Ainda
temos algumas horas de estrada pela frente e... — Tento
convencê-las, mas sei que será inútil.
— Por isso que estão na sacola térmica, Alina. — Ela
vira o rosto e encara a mulher ao seu lado. — Eu te disse,
Mag, que ela ia falar isso.
— Leva, menina — diz Magda.
— Ela aceita. — Maria Fê me cutuca. — Vai
dispensar comida? Logo você, amiga? Aproveita boba! Se
você não quiser, eu quero.
Claro que vou aceitar. A galinha e os bolos são
deliciosos, só de pensar neles tenho vontade de lamber os
lábios.
— Tá bom, eu levo. Obrigada pelo mimo. — Estendo
as mãos e pego as sacolas. Elas ficam felizes e me
entregam rapidamente. — Amor, abre o porta-malas, por
favor, vou colocar essas sacolas. — Viro-me e ergo-as,
então Andreo se aproxima e as coloca no porta-malas.
— Venha aqui, minha filha, deixa eu te abraçar mais
uma vez. — Mais cedo, conversamos e nos abraçamos
muito. — Já estou sentindo saudade — diz, me abraçando.
Fecho os olhos ao sentir que eles ardem.
— Ainda pode ir com a gente, sabe que na minha
vida sempre terá espaço para você. É só dizer que quer ir.
As portas estarão sempre abertas — murmuro, com o
rosto encostado em seu ombro.
Ela acaricia meu cabelo caído nas costas.
— Alina, você e o pai do seu filho estão vivendo
agora como marido e mulher, precisam de privacidade. Eu
estou bem aqui, já disse. Vá na paz e não fique pensando
tanto em mim. Independentemente de eu estar por perto
ou não, sempre vou ser a sua madrinha, a sua segunda
mãe, a sua família. A distância não mudará isso. — O seu
tom é baixinho só para que eu ouça.
Assentindo, solto um suspiro.
— Tem razão, mas saiba que vou ligar sempre, todos
os dias. — Afasto-me dela e pego em suas mãos. — Sua
bênção, madrinha.
Seus olhos estão lacrimejados, assim como os meus.
— Deus te abençoe hoje, amanhã e para sempre,
querida — diz, em seguida beija minha testa.
— Amém. — Largo as suas mãos e vou até a Magda
e a abraço. — Obrigada por tudo, e cuide da minha dinda,
por favor — falo ao me afastar dela.
— Pode deixar que sabemos nos cuidar — fala
Dandara.
— Maria Fernanda, vamos. Vai chover daqui a pouco
e a estrada fica horrível — diz Talles.
Eu acabo olhando para o céu e constatando que ele
tem razão, o tempo está horrível
— Já vou. Dona Magda e Dandara, até breve. —
Minha amiga abraça as duas e me dá um beijo na
bochecha antes de seguir para a camionete.
— Também estamos indo. Até mais! — Despeço-me
delas, e Andreo faz o mesmo ao se aproximar. Pela
primeira vez, eu o vejo abraçando a Dandara.
— Obrigado por confiar o seu bem mais precioso a
mim, senhora — diz ele, olhando para mim e depois para
a minha madrinha.
— Confio porque sei que vai fazê-la muito feliz. E
mesmo que seja um pouco cabeça-dura, você a ama e vai
cuidar dela como merece — responde, saindo do abraço
dele.
— Pode ter certeza de que cuidarei muito bem dela e
do nosso filho. — Ele toca na minha barriga.
— Não tenho dúvida. Agora vão, vai chover, se
apressem.
Dou um último abraço nela, em seguida eu e Andreo
seguimos para o carro dele. Ao entrarmos, eu aceno para
as duas mulheres e mando beijos no ar.
— Coloque o cinto de segurança — ordena meu
namorado superprotetor.
— Já estou colocando. — Pisco para ele, que logo
põe a chave na ignição e leva o carro para longe. Através
do retrovisor, observo a Dandara e dona Magda ainda
paradas no mesmo lugar.
Antes de ontem, levei Alina para se matricular no
curso de administração, ela ficou parecendo uma criança
que tinha acabado de ganhar um doce. Óbvio que reagiria
assim, estava há tanto tempo juntando dinheiro para fazer
um curso técnico e aconteceram tantas coisas na vida
dela e não pôde seguir com os planos, mas agora é
diferente, encontrou algo muito melhor. Não que a sua
escolha anterior não seja, porém, imagino como deve
estar feliz por saber que vai poder pagar a faculdade sem
se preocupar com a mensalidade ou quaisquer outros
gastos, porque agora tem dinheiro para isso. Na segunda
ela já começa uma nova etapa, assim como eu, que
retorno à faculdade.
Hoje estamos saindo para comemorar. Eu fiz uma
reserva no restaurante que meu pai costuma frequentar de
um amigo, e bastou que eu ligasse e desse o sobrenome
Mancini para que reservassem uma mesa para mim. Eu a
levaria a outro lugar, mas o sogro dela sugeriu que
fôssemos no Città Italina, que tem ótimos pratos Italianos.
Eu fui algumas vezes, mas somente na companhia dele ou
da sua ex-esposa.
Sim, ex-esposa.
Bárbara finalmente não carrega mais o nosso
sobrenome, há dias ela assinou o divórcio e teve que
engolir o que fora proposto para ela. Por medo de sair
com as mãos vazias, aceitou e deixou o meu pai livre.
Nem acredito que quebramos o vínculo com ela.
Estou há quase meia hora esperando por Alina. Eu
me troquei e vim para a sala e até agora nada, ela ainda
está se arrumando. A última vez que a vi estava fazendo
um penteado.
Ansioso, olho para o Rolex em meu pulso e depois
para a escada. Quando não vejo nenhum sinal dela, saio
do braço do sofá e ando de um lado para o outro. Se está
demorando assim para um jantar, imagina quando for para
o nosso casamento. Pobre de mim.
Cabisbaixo, passo a mão no meu cabelo, mas ao
ouvir passos soando no andar de cima, ergo o rosto e,
porra, não consigo tirar os olhos da visão que tenho.
Alina está descendo os degraus da escada e o
gingado do seu quadril bastante volumoso me deixa
babando. A cada passo que ela dá na minha direção fico
mais hipnotizado com a sua sensualidade.
Cacete, minha garota será a mais linda desta noite.
Na verdade, para mim sempre será a mais linda.
Ela está com um vestido midi que molda cada curva
do seu corpo e ainda deixa visível o volume da sua
barriga. Ele é de cor vinho, tem uma fenda na lateral na
perna esquerda e um decote degagê. Eu nem deveria
saber muito sobre vestidos, mas morando com ela nesses
meses me vi na obrigação de aprender.
Ela sorri para mim quando se aproxima e eu retribuo
ao perceber mais uma vez que descartou os saltos – que
não são os seus preferidos – e está usando rasteirinhas
pretas de tiras cruzadas.
— Demorei? — Passa levemente as mãos por seu
cabelo solto.
Oh, mulher cheirosa e gostosa, assim não dou conta!
— Você me ouviu?
Nem consigo prestar muita atenção em suas
palavras, já que estou perdido em sua beleza, no seu
rosto bonito que só está com um batom cor vinho e um
lápis de olho destacando seus olhos.
— O que você disse? — brinco, tocando em sua
cintura.
— Andreo! — me repreende, emburrada e fazendo
careta.
— Eu ouvi, amor, estava brincando. E respondendo a
sua pergunta, você demorou uma eternidade — falo,
descendo a mão até a sua bunda firme.
— Por Deus, que mentira! — defende-se, com a
sobrancelha arqueada.
— Se você diz. — Dou de ombros, com um
sorrisinho.
Ela faz um bico que tenho vontade de morder.
— Podemos ir? — pergunta, tirando a minha mão da
sua bunda.
— Não vai levar nenhuma bolsa? — indago ao não
ter visto nada com ela.
— Não, não vou levar meu celular, então não preciso
dela. — Passa mão por seu vestido. Quando me pega a
encarando, seus olhos se iluminam por me flagrar a
admirando. — Limpa a baba, amor. — Ela se aproxima
mais e ergue a mão, tocando no canto da minha boca e
limpando como se realmente estivesse sujo.
— Você está muito atrevida. — Seguro-a pelos
quadris e a trago mais para mim.
— Ah, é mesmo? — Assinto, adorando-a ver empinar
o nariz e me lançar aquele olhar que particularmente mexe
pra caralho comigo. — Você não me disse se estou bonita,
mas apesar de saber que estou, quero ouvir da sua boca.
— Roça os lábios nos meus, provocando.
— Você está maravilhosa — elogio-a. Eu tento beijá-
la, mas ela vira o rosto e meus lábios tocam a sua
bochecha.
— Agora podemos ir. — Dá dois tapinhas em meu
peito e se afasta, em seguida, passa por mim e vai na
direção da porta.
Apenas me atiçou.
Jogo a cabeça para trás e gargalho.
— Não vai mesmo me beijar? — Faço um beicinho
idiota e arrumo a minha jaqueta, seguindo-a com os olhos
em sua bunda.
— Só depois do jantar, porque sei que iremos nos
atrasar se nos beijarmos agora. Depois poderemos fazer
tudo — diz, olhando-me por cima do ombro.
— Tudo? — Preciso confirmar o que acabo de ouvir.
— Vamos logo, Andreo! — resmunga, fingindo me
ignorar.
— Você está me tornando um PHDM antes mesmo do
casamento! — reclamo ao abrir a porta de casa para
sairmos.
— Que diabos é isso? — indaga, sem entender.
— Acho que acabei de inventar. Pobre homem
dominado pela mulher. — Levo a mão ao peito
dramaticamente.
— Céus, que ridículo! — Ri baixinho.
Do lado de fora, encontro os seguranças, eles nos
cumprimentam e eu tiro meu celular e as chaves do bolso
da calça, depois guio Alina até o meu carro estacionado a
poucos metros. O Città Italina fica a alguns minutos daqui,
então chegaremos lá rapidamente. Quando fiz a reserva
da mesa, pedi que fosse a mais afastada para que
tivéssemos privacidade. Essa noite quero que seja apenas
eu e ela, curtindo um ao outro.

Assim que chegamos ao local, deixo meu carro com


o manobrista e seguimos na direção do restaurante
elegante. Daqui conseguimos visualizar o salão com
grandes janelas de vidro do chão até o teto. A vista de
quem está de fora é tão boa como quem está na parte de
dentro.
Com a mão entrelaçada na minha, Alina olha para
mim, então pisco para ela. Mas ao voltar o olhar para a
frente, sinto um nó em minhas entranhas ao me deparar
com o trio saindo do estabelecimento.
Bárbara é avisada da nossa presença pelo querido
sobrinho, e assim que nos vê, fecha a expressão e fala
algo para a hostess, então dá aquela risadinha educada e
vem em nossa direção.
— Que merda, parece azar essa mulher estar no
mesmo lugar que a gente. — Alina geme de frustração.
Foda-se, ninguém vai estragar os nossos planos, não
vai ser como da última vez.
— Ora, ora o que temos aqui. — Bárbara se
aproxima e nos olha da cabeça aos pés com desdém. Ao
seu lado, está a dupla dos patetas seguindo os seus
passos. — Não era você que dizia não gostar de usufruir o
dinheiro do papai? Ah, esqueci que agora não é dele, é
seu. Sempre soube que essa pose de menino humilde era
pura encenação, Andreo. Esperou que o seu pai me
tirasse da vida dele para tomar o que era meu. — A raiva
dela e o veneno escorrem pelo canto da boca.
Respirando profundamente, olho ao nosso redor e
vejo algumas pessoas entrando no restaurante, enquanto
eu e Alina estamos tendo o desprazer de rever Bárbara, o
sobrinho dela e a namorada.
Eu os observo por alguns segundos
impacientemente, mas a única coisa que faço é segurar a
mão da minha garota com firmeza e dar as costas para
eles, contudo, minha querida madrasta gosta de ser
insistente.
— Não se preocupe, estarei vendo de camarote o
seu romancezinho ser destruído pouco a pouco...
Sem deixar que ela complete a frase e comece com
as suas ofensas, largo a mãe do meu filho e me viro
bruscamente para ela, com os olhos fulminantes e o
sangue fervendo de ódio.
— Cale a sua boca, Bárbara. Chega disso! — Aponto
para o rosto dela e rapidamente Eros fica entre nós, o
defensor da pobre tia, como sempre. — Saia da minha
frente, seu idiota. — Minha veia do pescoço pulsa.
— Você não vai se comportar assim com a minha tia,
ela merece respeito! — exclama ele, encolerizado.
Logo sinto o toque suave das mãos de Alina nos
meus ombros.
— Amor, não vale a pena. Vamos entrar, deixe-os
falando sozinhos — pede, perto do meu ouvido.
Apesar de ela pedir pela paz, sei que também se
sente revoltada pelo que Bárbara lhe desejou e ao nosso
filho.
— Não é necessário me defender, Eros, sei muito
bem fazer isso — diz a mulher, tocando no braço do
sobrinho e passando na frente dele. A forma como me
olha desafiadora me faz fechar os punhos. — Parabéns
para vocês, conseguiram fazer com que Alberto me
deixasse na lama. Graças a você e a sua namoradinha, o
homem com quem convivi por tantos anos me obrigou a
aceitar uma migalha em nosso divórcio. — Seus olhos
brilham raivosos.
— Quem procurou por isso foi você. Se tivesse sido
uma boa esposa, talvez estivesse com ele ainda. Não me
culpe por um fracasso de casamento que você mesma
procurou, e ache o que quiser de mim e da minha mulher,
saiba que o meu pai não é mais um homem influenciável.
Era apenas quando tinha uma esposa manipuladora.
Bárbara fica pálida com a minha resposta.
— Você... — Ergue o dedo, mas logo o abaixa,
controlada, se sentindo humilhada.
— Escute bem. Fique longe de mim, da minha
família, principalmente do meu pai. Se for possível, tente
esquecer a nossa existência, porque nós já apagamos
você da nossa vida. — Meu tom sai duro.
— Tia, vamos embora. Andreo é um ingrato, a
senhora não merece ficar ouvindo esses desaforos. —
Eros toca nas costas dela, mas ela o ignora.
Isadora se aproxima e fala algo no ouvido dela,
provavelmente o mesmo que o namorado, mas a mais
velha se nega a dar o braço a torcer.
— Por anos me dediquei a você e ao seu pai, e é
isso que mereço mesmo? — Finge um choro que não me
afeta em nada.
— A única coisa que você se dedicou foi ao dinheiro
do meu pai, Bárbara. Chega de mentiras. E trate de me
deixar em paz, esse seu comportamento de coitadinha não
cola. Se continuar com esse comportamento, serei
obrigado a pedir uma medida protetiva, e não vai ficar
bonito para você, que se importa tanto com a sua imagem.
— Por fim, deixo o aviso, disposto a finalmente seguir o
meu caminho. Esse maldito encontro está me fazendo
perder a fome.
— Tia Bárbara, já chega, vamos agora! Esse
egocêntrico só sabe te humilhar e não se lembra que você
se sacrificou para criá-lo. — Eros tenta tomar as rédeas,
mas a tia se enfurece e lança um olhar raivoso para ele.
Antes que ela se dê ao trabalho de encher mais os
meus ouvidos, eu me aproximo de Eros e Isadora.
— Nem sei por que vou me dar o trabalho de
aconselhar vocês, mas se querem mesmo viver isso que
vocês chamam de amor, fiquem longe dessa mulher. —
Aponto para Bárbara, que estremece os lábios. — Tudo o
que ela toca apodrece, é destruído, então aproveitem
agora. Ficar fazendo parte desse mundinho imundo dela
irá trazer consequências depois — aviso-os.
Eros nem se abala, permanece querendo avançar em
cima de mim como um cão furioso, ao contrário de
Isadora, que arregala os olhos e entende que estou
dizendo a verdade. Ela sabe disso, por anos Bárbara
tentou nos fazer ter um relacionamento sem haver
qualquer sentimento entre nós.
— Isso não muda o fato de que você está a
desrespeitando. — Ele fica de frente para mim, me
enfrentando com ousadia.
Alina se coloca entre nós, mas preocupado com a
sua segurança, eu a tiro da minha frente e pego o Eros
pelo colarinho da camisa.
— Escute bem, seu merda. Se você quer continuar
defendendo a sua tia o problema é seu, mas faça isso
longe de mim. Já cansei dessa porra! — Eu o chacoalho
com força, deixando-o branco como papel. — Só não
quebro a sua cara agora porque não quero dar a vocês o
que tanto procuram. Se continuar dando abertura para a
Bárbara e essa obsessão dela de controlar a vida dos
outros vai acabar na lama, seu cuzão! Ela é amargurada,
só ama a si mesma, tem o prazer de ver pessoas felizes
se tornarem infelizes, e é isso que vai acontecer com
vocês dois. — Cuspo as palavras e o solto. Ele cambaleia,
e quando se recompõe tenta me esmurrar, mas a
namorada o impede, se colocando na frente dele e
espalmando as mãos em seu peito.
— Já chega, Eros. Andreo tem razão, a sua tia só
nos quer perto dela para tentar desestabilizar ele e o sr.
Alberto. Esse foi o plano dela desde sempre, primeiro me
usou e depois a você! Não adianta essa sua raiva toda do
seu primo, ele ama a garota, ninguém pode mandar nos
nossos sentimentos, então o deixe em paz! Se não deixar
que Bárbara resolva os próprios problemas, pode
esquecer que eu existo. — Pela primeira vez, vejo Isadora
se impondo.
— Isadora! — exclama Eros, perplexo.
— Estou indo embora. Se quiser vir comigo, sabe o
caminho. Cansei de me submeter aos caprichos dela, e
agradeço ao Andreo por abrir meus olhos. — Ela dá as
costas para ele. Bárbara fala com ela, mas é ignorada.
— Deixe-a, depois volta arrependida — diz a dona da
razão, segurando o braço do sobrinho que estava prestes
a seguir a namorada.
— Me larga, tia, vou atrás dela. Já perdi Isa uma vez,
não vou perder outra. Me desculpe.
Fico surpreso ao ver o sobrinho prodígio se soltar da
tia e correr atrás da namorada.
— Eros, não vim de carro! — grita, escandalosa,
perdendo a postura de mulher da alta sociedade.
Sem esperar que ela volte a sua amarga atenção
para nós, seguro na mão de Alina e a puxo em direção a
hostess.
— Boa noite, senhores, a reserva está em nome de
quem? — pergunta a hostess gentilmente, mas não deixa
de avaliar a minha roupa disfarçadamente – jaqueta, calça
jeans e botas.
Mesmo que o lugar seja adequado para roupas
sociais, eu não iria me enfiar em um terno, não será ele
quem irá pagar a conta.
— Andreo Mancini.
Ela assente e pega o iPad e confirma a reserva, em
questão de minutos libera a nossa passagem e um garçom
nos conduz até a nossa mesa.
O Città Italina está movimentado, mas é tudo muito
organizado, todos os clientes bem acomodados em seus
lugares e sendo atendidos.
— Você está gelado — comenta Alina baixinho,
apertando a minha mão que está entrelaçada na dela.
— É raiva. Mas logo passa, não se preocupe — digo
e a encaro com a expressão mais suave.
— Esta é a mesa de vocês. — O garçom chama a
nossa atenção ao apontar para a mesa que está
exatamente no local que eu quero.
— Obrigado — agradeço-o educadamente.
O homem vai para puxar a cadeira para Alina se
sentar, mas digo que não é necessário porque eu farei
isso, então ele se afasta dizendo que irá trazer o
cardápio.
— Que cavalheiro você está essa noite, sr. Andreo —
fala ela assim que puxo a cadeira para que se sente.
Depois que está acomodada, sento-me de frente para ela
e lhe lanço uma piscadela.
— Às vezes eu sou, até te trouxe para jantar à luz de
velas. — Olho para as duas velas apagadas e pego o
isqueiro para acendê-las.
— Se não for assim eu nem quero — brinca e olha ao
nosso redor. — Aqui é muito bonito e chique. Até agora os
funcionários foram supersimpáticos — acrescenta,
voltando a sua atenção para mim.
— O atendimento deles é ótimo.
— Com licença — pede o garçom ao se aproximar
com o cardápio nas mãos. — Aqui está, senhores. —
Entrega um cardápio para mim e outro para Alina então se
afasta um pouco.
Avalio o cardápio, mas não escolho nada, espero que
a minha convidada especial decida.
— Amor, acho que quero provar essa bebida, soda
italiana de melancia. — Alina olha para mim e para o
cardápio.
— Vou querer o mesmo, por favor. — Viro-me para o
garçom.
Estou evitando bebidas alcoólicas.
— Sim, senhor — ele assente educadamente. — Já
irão pedir a entrada?
— Por ora, não, obrigado — respondo.
Ele diz que em poucos minutos nossas bebidas ficam
prontas e se vai com um pedido de licença.
Os minutos vão passando, eu e Alina começamos a
conversar e ela fala sobre a faculdade, lembrando-me que
deve comprar alguns livros para o curso. Conversa vai e
vem, logo o garçom surge com nossas bebidas, e somente
depois de um tempo que vejo o nome do funcionário na
plaquinha que tem em sua camisa no lado esquerdo do
peito. Mateus.
O garçom se afasta mais uma vez e eu acho muito
bom, às vezes são tão atenciosos com os clientes que
chegam a sufocar.
— Hum, é deliciosa — elogia Alina ao bebericar o
refresco e saborear com os olhos fechados.
— É sim — concordo com ela ao provar a minha.
Apesar de já ter vindo aqui algumas vezes, nunca me
interessei pela bebida.
— Vamos fazer um brinde à nova etapa da nossa
vida. Não poderíamos deixar de fazer isso — se manifesta
ao erguer a taça do suco.
— À nova etapa de nossas vidas — repito as suas
palavras e ergo minha taça para brindarmos.
— E ao mais importante, o nosso filho — acrescenta,
com os olhos brilhando de emoção.
— Ao Nick e a nós, amor. — Sorrio, brindando outra
vez com ela, que fica derretida e funga. — E ao divórcio
do meu pai também. — Lembro-a e ela faz uma careta.
— Andreo! — me repreende, divertida.
Há alguns meses, jamais me imaginei em uma
situação como esta – completamente apaixonado pela
garota que achei que seria uma aventura. Muitos se foram
e a única que permaneceu ao meu lado foi ela, e ainda me
deu o que nunca tive esperança de ter – uma família de
verdade e felicidade. Eu nunca soube o que era antes de
ela me mostrar o que é ser feliz, e a receita de como ser
com coisas simples e gestos.
Os meses estavam se atropelando, não tem outra
explicação. Passaram tão rápidos que bastou piscar os
olhos para que a minha barriga ficasse enorme, com trinta
e oito semanas. Estou parecendo uma bola de tão
inchada, engordei quinze quilos nos últimos meses. Meus
peitos estão imensos e pesados, mas o Andreo está me
achando mais sexy e gostosa, palavras dele.
Apesar de me sentir cansada e embora faltem duas
semanas para o Nick nascer, continuo trabalhando com
Andreo na Autopeças Mancini. Ocupo o cargo de
vendedora com outras duas funcionárias, enquanto ele e
mais outros quatro mecânicos trabalham nos carros. Por
conta da grande clientela, ele teve que aumentar o quadro
de funcionários.
Um mês depois da inauguração, a empresa do
Andreo começou a bombar. Acredito que meu sogro tenha
uma parcela de culpa por divulgar para a cidade inteira.
Mas, modéstia à parte, meu homem sabe arrumar um
carro como ninguém, e quando o cliente vê que o serviço
está bem-feito sempre volta.
Meu namorado pensou que contratando outras
pessoas iria me fazer ficar em casa com as pernas para
cima quando completei trinta semanas de gravidez, ao
contrário do seu desejo, permaneci trabalhando e só irei
me afastar quando Nicolas decidir vir ao mundo.
Esse danadinho está me deixando de cabelo branco
antes de nascer. Estou com dificuldade para dormir, o
inchaço nas pernas e nos pés me matam, fora as dores na
coluna. O pai dele tem que fazer uma massagem em mim
sempre para aliviar um pouco. Quando não é ele, é a
Dandara, que assim que completei oito meses veio para a
nossa casa e ficará até o nascimento do neto.
Minha madrinha é que vem cuidando das coisas em
casa, desde que a Milena pediu demissão porque
finalmente havia conseguido se aposentar. Ela não me
deixa tocar na vassoura ou fazer comida, e algumas vezes
nos estranhamos, porque eu digo que gravidez não é
doença e que eu posso ajudar, mas ela não me deixa
fazer nada.
Como não gosto de contrariá-la e muito menos ficar
parada, vou trabalhar todos os dias, quer dizer, menos
quando estou me sentindo realmente indisposta, como
hoje, contudo, mesmo assim decidi aparecer na empresa.
Desde à noite de ontem estou sentindo algumas
contrações, elas costumam ser irregulares, só não fico tão
preocupada porque a minha obstetra explicou sobre falsas
contrações e que a dor do parto é mais intensa e não
passa. Mas ela deixou claro que o meu filho pode nascer
antes.
Por causa dessas pequenas dores, o Andreo está
emburrado, trabalhando com o semblante fechado. Ele
não queria me trazer, mas eu insisti tanto que ele não teve
como negar. Ainda mais que hoje o dia será corrido, são
muitos carros para serem consertados e irão chegar
algumas peças encomendadas.
Neste momento, estou sentada na cadeira
aguardando o caminhão de entrega chegar enquanto fico
passando a mão na minha barriga e bebendo água para
aliviar as contrações, que vem e vão. De onde estou,
consigo ver Andreo debaixo do carro, completamente
focado no que está fazendo. Quando está trabalhando,
fica tão sério que acho sexy, ainda mais vestido naquele
macacão preto.
O.k., fico um pouco emocionada, talvez assanhada, e
exagere um pouco nas palavras.
Meneio com a cabeça e olho o meu celular que vibra
ao lado do teclado do computador. Encaro a tela e vejo o
número do meu sogro.
— Bom dia, sogro — falo gentilmente, observando
Camila e Paula indo para os fundos colocarem seus
uniformes.
— Bom dia, Alina, cheguei há pouco na sua casa e
não a encontrei. Foi trabalhar de novo?
Alberto Mancini se mostrou um vovô babão. Mesmo
que tenha se mudado de vez para Vale Santo, vem ao
menos duas vezes na semana nos visitar e mimar o neto
que nem nasceu, trazendo presentes para o Nicolas.
Ele sabe que o enxoval do neto está completo, mas
faz questão de comprar várias coisas, e quando digo que
está exagerando, ele diz que enquanto tiver vida dará as
coisas para o Nick.
— Sim, senhor. Saí cedinho com o Andreo, que está
uma fera por eu ter vindo hoje. — Dou uma risadinha ao
perceber que Andreo olha na minha direção através da
parede de vidro quando sai de debaixo do carro.
— Ele me disse que você é muito teimosa — fala e
eu gargalho.
— Exagero! O senhor vai ficar para o almoço?
Voltaremos para almoçar em casa, então, por favor, nos
espere — peço, ansiosa para vê-lo. Gosto muito do meu
sogro, ele é uma pessoa maravilhosa.
— Vou ficar sim, filha. Dandara está fazendo uma
comida que está fazendo o meu estômago roncar antes da
hora.
Nos últimos meses, ele e Dandara estão mais
próximos, se tornaram amigos. Não existe mais “sr.
Mancini” ou “dona Dandara”. Eu ficaria muito feliz se eles
namorassem, mas eles não se veem dessa maneira.
Depois do divórcio, a cobra da Bárbara finalmente
nos deixou em paz e foi para o exterior com uma amiga
depois de ter vendido as propriedades que tinha em Monte
Verde. Ela só se afastou depois de perceber que nunca
mais poderia destruir o vínculo que pai e filho criaram,
mesmo depois das suas maldades. Após ter ficado livre da
mulher, o Alberto tem vivido melhor e com mais
tranquilidade, afinal, o seu sonho era dar um basta no seu
casamento falido.
Assim como a megera sumiu do mapa, o Eros e
Isadora também. Soubemos que foram morar no exterior e
que ela está grávida. Espero que eles possam se tornar
pessoas melhores após o nascimento do filho.
— Acho bom mesmo — digo, sorridente.
— Aguardo vocês aqui.
Nos despedimos e eu nem tenho tempo para colocar
o celular de volta no lugar, porque ele volta a tocar.
É Maria Fernanda.
Minha amiga se deu muito bem em seu
relacionamento. Com poucos meses de namoro, Talles a
pediu em casamento. Agora estão noivos, casar mesmo só
daqui a dois anos, e eu já disse que a festa será por
minha conta e faço questão que seja na Renascer.
Dois meses depois de eles terem ido a Vale Santo,
quando Talles foi pedir para namorar a Maria Fê, os pais
dela se mudaram para a Renascer. Eles queriam ficar
perto da filha, então ofereci um emprego para eles na
fazenda. O bom disso tudo é que a minha amiga agora
está com os seus pais e não vai precisar ficar dividida
entre o seu amor e a família, já tem os dois junto a ela.
— Finalmente me atendeu! Bom dia! — Aprendeu a
ser resmungona.
— Bom dia. É a primeira vez que me liga hoje, Maria
Fê, deixa de drama — falo, pegando uma caneta e
rabiscando o papel com a mão livre.
— E como está você e meu sobrinho? Tenho
novidades!
Daqui consigo imaginar a sua expressão de
felicidade.
— Estamos bem. Que fofoca você tem para mim? —
indago, curiosa.
— Estou indo com o Talles até Monte Verde fazer
uma visita a vocês!
— Sério? — Remexo-me na cadeira ao sentir um
incômodo na barriga.
— Sim, amiga Estamos a caminho! — exclama do
outro lado.
Eu faço uma careta ao sentir uma contração bem
forte, então coloco o celular no balcão e levo as mãos às
costas.
Droga, isso não é uma dorzinha.
— Céus... — Mordo o lábio e aperto os olhos,
começando a suar frio.
— Alina? Você ainda está aí?
Ouço Maria Fernanda me chamar, mas acho que ela
desiste, talvez tenha achado que a ligação estava ruim e
acabou desligando.
Os pingos de suor descem por minha testa e eu me
apoio no balcão, pronta para chamar o Andreo. Mas antes
que isso aconteça, eu olho para as minhas pernas e vejo
que um líquido está escorrendo por elas, molhando todo o
chão. Tenho a absoluta certeza de que a minha bolsa
acaba de estourar.
— Andreo! — Uso uma força que nem sei onde
encontro para chamar o pai do meu filho.
Ao ouvir meu grito, ele se afasta do carro na
velocidade da luz e se aproxima em passos largos.
— O que foi? Você está pálida, caralho!
Não, quem está é você, amor. Eu diria se não
estivesse morrendo de dores.
— A-a... B-bolsa estourou! — falo, deixando-o de
olhos arregalados.
Desesperado, ele passa para a parte de dentro do
balcão e quando percebe que pisa no líquido empalidece
muito mais. Nervoso, ele olha para o chão e para mim,
sem saber o que fazer direito, então passa a mão por seu
cabelo bagunçado.
— Cadê a chave do meu carro? — o pobre coitado
gagueja, nunca o vi tão atrapalhado.
— Na gaveta, Andreo! — Meu tom sai estridente.
Mordo os lábios com tanta força que machuca.
Todo atrapalhado, ele pega a chave, seus
documentos e a minha bolsa, então dá alguns passos na
minha direção e me pega no colo. Em seguida, sai comigo
de dentro da oficina em passos largos, atraindo a atenção
dos rapazes.
— Andreo, precisa de ajuda? — pergunta Caio ao ver
a nossa situação.
— Sim, cuide da oficina para mim. Minha mulher vai
dar à luz nesse momento — fala ele, passando pelo
funcionário, que nos acompanha e o ajuda a abrir a porta
do carro.
Andreo me coloca no banco da frente e afivela meu
cinto, depois agradece rapidamente ao Caio e entra no
carro. Enquanto dirige em alta velocidade, eu jogo a
cabeça para trás e começo a resfolegar por conta das
contrações que estão quase me fazendo chorar.
— Você é teimosa, eu disse para ficar em casa!
Escuto a voz de Andreo e buzinas altas e alguns
resmungos dos outros motoristas, uma vez que ele está
dirigindo como um louco.
— Isso não muda o fato de que o nosso filho vai
nascer — praticamente grito, me contorcendo de dor.
Andreo está tão pálido que parece que a qualquer
momento vai desmaiar.
— Como está se sentindo? — pergunta e eu
semicerro os olhos.
— Andreo, só chegue à maternidade, pelo amor de
Deus! — Aperto a barra do meu vestido com as mãos e
mordo os lábios mais uma vez, sentindo o gosto do
sangue.
— Entendi o recado.
Ele não entende, porque no caminho inteiro me
pergunta se está doendo muito e segura a minha mão.
Acharia lindo o seu gesto e o beijaria muito por estar
sendo tão fofo, mas no momento não tenho paciência para
elogiar o seu carinho e cuidado.

Assim que chegamos à maternidade, Andreo entra


comigo em seus braços, então falam para ele que é
necessário preencher a ficha e o coitado acaba sendo um
pouco grosso com o rapaz do outro lado do balcão, ao
perguntar como vai preencher alguma coisa se está com
as mãos ocupadas. Só assim para que tragam uma
cadeira de rodas e me coloquem sentada enquanto Andreo
preenche a papelada.
Suando frio, ele passa a mão por meu rosto.
— Aguente firme, já vão te levar para a sala. — Ele
se vira e segura a minha mão, então eu o aperto com
força.
Nos direcionam para a sala e Andreo não sai do meu
lado em momento algum. Ao entrarmos na sala de parto,
aperto os olhos assim que falam que preciso trocar a
roupa pela bata hospitalar. Pouquíssimo tempo depois
estou de bata e sendo colocada na cama hospitalar com a
ajuda de uma enfermeira.
Gemendo e chorando muito por causa das dores
intensas, procuro por Andreo, mas não o encontro. A
enfermeira avisa que ele precisou trocar de roupa e se
higienizar.
— Céus! — grito ao ver a minha obstetra na sala,
pronta para me ajudar a trazer meu Nicolas ao mundo. —
Doutora, por favor, acabe logo com a minha dor! — peço,
em lágrimas.
— Isso, Alina, vamos lá. Vou te ajudar, só que agora
preciso que você faça força — diz ela, me incentivando.
As contrações vêm mais intensas e eu grito a ponto
de sentir minha garganta arder. A médica pede que eu
faça mais força e o meu incentivo é maior quando Andreo
retorna e segura a minha mão.
— Vamos lá, Alina, você consegue, amor. Você é
forte. — Ele beija a minha testa.
Mordo os lábios, jogo a cabeça para trás e aperto a
mão do pai do meu filho enquanto ouço a médica me pedir
para fazer mais força. Eu choro, porque já estou dando
tudo de mim. Andreo me consola com palavras, beija
minha testa, me deixa apertar a sua mão, me pede para
aguentar firme, mas por medo de não ser forte o
suficiente, começo a suar frio e chorar cada vez mais.
Eu consigo... Eu consigo!
Grito. Choro. Quase esmago a mão do homem que
amo, mas mesmo amedrontada, tento permanecer firme.
— Só mais um pouquinho, Alina, estamos quase lá. A
cabecinha do Nick está aparecendo, só empurra mais um
pouco o seu príncipe — pede a obstetra e eu assinto,
gritando.
Olho para o Andreo e ele limpa o meu rosto molhado
e pergunta à médica porque está demorando tanto, mas
parece que ele é tranquilizado, porque se cala.
O suor desce por meu rosto e eu ofego, fechando os
olhos e fazendo mais força.
Vamos lá, Alina, você consegue!
Meu filho precisa de mim para nascer, somente de
mim. Empurro mais uma vez e aperto a mão do Andreo.
Estou exaurida, quase sem energia.
Empurro mais e mais até que ouço o chorinho. No
mesmo instante, olho para o homem que amo e o encontro
me encarando emocionado, com lágrimas nos olhos.
— Nosso filho nasceu — diz ele, com a voz
levemente rouca, quase embargada.
Nicolas nasceu. Eu consegui!
Nos mostram o nosso Nick e eu fico boba quando o
vejo. Andreo sorri abertamente, está encantado. Mas logo
levam nosso filho para fazer os exames necessários antes
de ele ser limpo. Pouco tempo depois, retornam com o
Nicolas e o colocam sobre o meu peito.
Diante de mim, estão os dois homens da minha vida,
pai e filho, meus dois amores.

Nicolas e eu fomos instalados em um quarto para


podermos receber visitas. Dandara e o Alberto chegaram
com nossas coisas e daqui a pouco poderão entrar para
nos ver.
Com meu filho em meus braços, deslizo o dedo
indicador na ponta minúscula do seu nariz e sorrio toda
derretida. Ele é tão miudinho, tão lindo. Ainda nem
acredito que fui eu e Andreo que o fizemos.
— Oi, filho, finalmente você nasceu. Passei meses
imaginando como seria o seu rostinho, e ver você agora
me deixa tão abobalhada, meu pequeno príncipe —
murmuro, vendo os olhinhos fechados enquanto ele
resmunga. — Você quer mamar, não é? Pois vou te
alimentar, porque logo os seus avós e o papai virão te ver.
— Toco em seus dedinhos, sorrindo de orelha a orelha.
Ele tem o cabelo bem escuro e liso, não vejo a hora
de saber qual a cor dos seus olhos. Ajeito Nick no meu
colo e aproximo meu peito da sua boca, a primeira sugada
dele é esfomeada. Solto um gemido ao sentir dor.
Enquanto amamento o meu filho, a porta é aberta e
Andreo aparece. Ele está com outra roupa, não mais o
macacão da oficina, logo atrás vejo a Dandara com a
bolsa azul do Nick, e Alberto, com a expressão carregada
de felicidade.
— Que cena linda! — exclama Dandara ao entrar. Ela
coloca a bolsa ao lado do móvel e fica ali nos observando,
cheia de carinho.
— Pode se aproximar, Alberto, eu e o Nicolas não
mordemos — brinco e ouço a risada do meu sogro.
— Você é pai, filho, e eu, avô! — Alberto Mancini
está tão feliz, que se aproxima e dá um abraço apertado
no filho.
Andreo toca na cabecinha do nosso filho, depois olha
bem em meus olhos, e sem emitir som diz obrigado e te
amo. Assentindo, devolvo as palavras da mesma forma.
— Quer pegá-lo, amor? — pergunto, alternando o
olhar entre ele e o nosso menino, que ainda suga meu
peito.
Faço a mesma pergunta para Dandara e Alberto, que
assentem e ficam nos observando admirados.
— Depois que ele mamar — diz Andreo, com os
olhos brilhando e a boca curvada em um sorriso. Ele toca
nas sobrancelhas do filho e depois nos dedinhos
branquinhos. Como se quisesse guardar o momento para
sempre em sua memória.
Nicolas termina de mamar e por fim abre os olhos,
acabando com a minha curiosidade ao ver que são da
mesma cor dos olhos do pai. Terei sérios problemas com
esse rapazinho.
— Espero que ao menos ele puxe à minha
personalidade. — Finjo um resmungo e ouço os três
gargalhando.
— Não seja rancorosa — diz o safado, piscando para
mim.
— Ele é tão lindo, filha. Vocês estão de parabéns! —
diz Alberto, admirado com o neto que tem os olhinhos
ainda abertos.
— Claro que sim, fui eu quem fiz essa obra de arte—
fala Andreo, exibido.
— Quanta presunção! Fizemos, não se esqueça
disso — digo, risonha.
— Posso pegá-lo agora? — pergunta a Dandara e eu
assinto, então ela o pega cuidadosamente e se aproxima
do Alberto ao se sentar no sofá. — Que menino mais lindo
da vovó! — ela diz, toda boba.
Sorridente, eu encaro Andreo, que está do mesmo
modo que eu.
— Se estão assim com ele recém-nascido, imagina
quando estiver maiorzinho? — falo, olhando os avós
babando no neto.
Quando volto a minha atenção para Andreo, eu o
pego me analisando. Seus olhos acinzentados passeiam
por meu rosto cansado, e sem que eu espere, Andreo toca
a minha mão e a acaricia, me deixando curiosa com o seu
silêncio, e, principalmente, com o seu gesto ao contornar
um anel invisível em meu dedo.
Ele limpa a garganta, em seguida, esfrega a mão no
jeans.
— Sei que você disse que casamento somente
depois da minha formatura, mas ainda vai demorar alguns
anos para isso, não é? — Meneio com a cabeça, mas
sentindo o coração estremecer. — Não acho que a gente
precise esperar tantos anos para fazer algo que podemos
realizar daqui a pouco tempo. — Ele enfia a mão no bolso
e de lá tira uma caixinha preta.
— Isso é um...? — Nem consigo dizer.
— Comprei isso meses atrás e estava esperando a
oportunidade perfeita para te pedir em casamento. Eu
faria isso hoje, no almoço, mas o nosso garotão decidiu
atrapalhar os meus planos e agora estou tendo que pedir
a mãe dele em casamento em uma maternidade. —
Sorridente, ele olha para a nossa família por cima do
ombro e se vira para mim. — Se você disser que aceita
ser a minha esposa daqui a alguns meses, eu vou ser o
cara mais feliz do mundo. Mas se não quiser, ainda
continuarei me sentindo realizado do mesmo jeito, afinal,
a nossa felicidade não depende de uma aliança —
discursa.
— Pessoas mudam de ideia, sabia? — digo,
erguendo minha mão para ele, que arregala os olhos. —
Está esperando o que para colocar esse anel em meu
dedo, Andreo Mancini?
— Então você aceita? — Seus olhos se iluminam.
— Sim, vou adorar me casar com você. — Mordo os
lábios ao ouvir Alberto e a Dandara comemorarem.
— Daqui a alguns meses? — pergunta, tirando o anel
da caixinha e colocando no meu dedo.
— Daqui a alguns meses — repito as suas palavras,
fazendo-o comemorar.
— Eu disse que ela iria aceitar, filho.
Semicerro os olhos ao ouvir Alberto falar, é claro que
Andreo teria seus cúmplices.
Não vejo problema em mudar meus planos de só nos
casarmos só depois da formatura dele. Que diferença faz
agora ou depois? Só vamos adiantar o que iria acontecer
do mesmo jeito.
Dandara se aproxima com o neto nos braços, depois
o entrega para Andreo, que muito nervoso pergunta como
é que o segura e diz que tem medo de deixar Nick cair.
Tranquilizo Andreo ao dizer que apesar de Nick parecer
tão frágil, não vai se partir ao meio, só assim ele relaxa e
baba no filho em seu colo.
— Oi, filhão. O papai pediu a sua mamãe em
casamento, mas dessa vez ela não se fez de difícil, como
a primeira vez. Quando você crescer, vou te contar como
foi que consegui namorar a garota mais durona que já
conheci. Mas mesmo que ela tenha me dado canseira, eu
não desisti, porque sabia que ela poderia me dar o que
nunca tive. E olha que tive razão, ela me deu você, me
deu uma família. — Ele simplesmente esquece a nossa
presença e engata um monólogo com o filho como se a
criança estivesse entendendo tudo. Acho tão lindo, que
meus olhos se enchem de lágrimas.
Sim, eu dei uma família ao meu bad boy gostoso,
tatuado e boca suja.
— Vamos lá, Nick, não faça pirraça. Tenho muitas
coisas para fazer e você não colabora!
Nick está de pé com as mãozinhas espalmadas na
mesa de centro encarando a mãe. Parece que foi ontem
que ele nasceu, olha só agora, o moleque está com dez
meses e engatinhando. Ele consegue ficar de pé quando
está apoiado em algo, e ainda balbucia algumas
palavrinhas como “dada”, “mamã”, “papá”.
— Dada... Dada, mamã! — Ele dá uma risada
gostosa, mostrando os dois dentinhos da frente como se
realmente entendesse o que ela diz. Ele aponta para o
pratinho com banana amassada que está na mão dela.
Dou uma risadinha baixa.
— Andreo, não fique aí parado achando graça de
tudo — reclama Alina ao se levantar e vir na minha
direção. Ela me entrega o prato e pega Nick, colocando-o
no meu colo. — Agora alimente o seu filho, já que ama
tanto mimá-lo.
Antes que eu possa fazer qualquer coisa, Nicolas
enfia a mãozinha no prato e suja os dedos com a banana,
então os leva à boca.
— Filho... — eu o repreendo, mas o garotinho
particularmente me deixa abobalhado.
— Papá!
É, eu sou um pai babão desde o seu nascimento. E
acompanhar o seu desenvolvimento ao longo dos meses
me deixa todo bobo, não escondo de ninguém que esse
pequeno me tem nas mãos.
— Bom dia. O que o meu netinho está aprontando
uma hora dessa?
Ergo os olhos ao ouvir a voz de Alberto, então eu o
encontro ao lado de Dandara. Eles ficaram muito próximos
de uns meses para cá, se tornaram grandes amigos, um
faz companhia para o outro.

— Bom dia, pai, Dandara. O Nick está deixando a


mãe de cabelo branco — falo, pegando um pouco da
banana com o garfo e colocando na boquinha dele, que
me ignora e continua comendo com a mão.
— E você achando lindo — resmunga minha morena
ao se sentar ao meu lado e beijar a cabeça do Nick com
carinho. Ela se faz de durona, mas, assim como eu, fica
toda derretida com ele.
— Alina, o Talles e a Maria Fernanda estão te
chamando lá fora para dar uma olhadinha na decoração —
diz Dandara ao se sentar na poltrona à nossa frente.
Tomamos a decisão de nos casarmos na fazenda,
estamos há meses nos organizando para esse momento
especial. Finalmente, depois de tanto tempo, iremos nos
casar. Faremos uma cerimônia simples, com apenas
familiares e amigos íntimos.
— Eu ia fazer isso, madrinha, mas com a bagunça do
Nicolas, vou demorar um pouco. Vou precisar dar um
banho nele e o amamentar, já que não quer comer as
frutinhas direito — fala Alina, tirando o prato da minha
mão e observando Nick com a camisa suja de baba e
banana.
— Pode ir, eu cuido dele. Mas não garanto a parte do
amamentar — digo bem-humorado.
— Hum, você é um paizão, mas pode deixar que faço
o pacote completo, quem sabe ele não dorme um
pouquinho. — Pisca para mim, depois segura o rostinho
do Nick e o beija nas bochechas gordinhas. — Vamos,
meu amor? A mamãe vai te dar um banho bem gostoso e
depois tetê. — A interação dela com ele é a melhor parte.
O nosso filho ergue as mãos sujas e passa no rosto e no
cabelo da mãe.
— Acho que essa é a hora que corremos, filhão. A
sua mãe vai ficar muito brava com o que você acaba de
fazer. — Beijo a curva do seu pescoço e ele gargalha,
então me levanto ouvindo a risada dos três.
— Nicolas! — exclama Alina, com os olhos brilhando.
— Mamamama! — Ergue os bracinhos para ela como
se não tivesse feito nada. A mãe o pega e ele deita a
cabeça no ombro dela.
— Olha como eles são lindos, Alberto — Dandara
fala.
— Eles se tornaram uma linda família, Dandara. E
ver o meu filho assim, tão completo, tão feliz, é bom
demais — diz meu pai, num tom orgulhoso como se não
tivéssemos os ouvindo.
— Madrinha, você pode avisar a Maria Fê que vou
cuidar do Nick e depois eu a encontro, por favor? — pede
Alina. Dandara assente e se afasta. — Andreo, vou subir
para preparar o banho desse rapazinho! — Minha futura
esposa passa a mão na cabeleira negra do nosso filho
enquanto seus olhos estão fixos em mim e no meu pai.
— Antes me deixa dar um cheiro nesse garotão. —
Ele se aproxima deles, em seguida, chama a atenção do
neto, que fica bem atento ao avô. — Oi, Nick, você está
muito peralta, sabia? Nem tem um ano ainda e já está
deixando a sua mãe doidinha. — Meu pai belisca de leve a
ponta do nariz de Nick, que solta uma gargalhada gostosa.
Alberto beija o bracinho do neto antes de Alina
seguir para o quarto. Volto a me sentar no sofá e peço
que faça o mesmo, porque quero conversar com ele.
— É algo importante, filho? — Vasculha meu rosto
como se estivesse procurando por resposta.
— Pai — pigarreio e passo a mão por meu cabelo —,
eu tomei uma decisão e sei que você vai estar de acordo
comigo. É a melhor coisa a se fazer, tenho certeza de que
quando me ouvir vai ver que tenho razão.
— E o que é? Pois me diga, porque estou curioso. —
Sorri, mas por dentro sei que está ansioso. Antes de abrir
a boca para falar, observo a sua expressão cansada pela
idade.
— Quero passar os seus bens para o seu nome
novamente, é injusto ficar com as suas coisas, não há
necessidade disso, além do mais, já tenho a minha
empresa. É o seu suor, pai, as suas conquistas de anos e
não minha, então preciso que aceite tudo de volta. É seu
e de mais ninguém — falo de uma vez por todas.
Ele fica em silêncio por algum tempo.
— Andreo, a cada dia me deixa mais orgulhoso do
homem que se tornou. — Seus olhos brilham, o orgulho
neles é notório.
— Estou há dias querendo ter essa conversa, mas só
agora encontrei a oportunidade e não poderia adiar —
digo. — Na próxima semana resolveremos isso, muito em
breve você terá tudo novamente no seu nome. Tenho
certeza de que ainda viverá muitos anos para cuidar do
que é seu.
Depois que a Bárbara saiu de nossas vidas, ele está
com uma saúde de ferro, no fundo, o que fazia mal a ele
era a presença daquela mulher.
— O.k., será como você quiser, meu filho —
concorda.
Fico aliviado por ele não ter relutado com a minha
decisão. Às vezes, só um diálogo é necessário.
Meu pai e eu ficamos um tempo na sala, até que ele
me pede licença avisando que vai ver se estão precisando
dele lá fora, o meu velho como sempre querendo ajudar
Subo para o quarto e encontro Alina encostada na
cabeceira da cama, com o cabelo solto e molhado, vestida
com um roupão branco e amamentando Nick. Aproximo-me
deles lentamente quando ela me pede silêncio com um
gesto de mão.
— Está quase dormindo, não é? — pergunto
baixinho, avaliando o rostinho do meu filho, que está com
os olhos fechados e sugando o peito da mãe bem devagar.
— Sim — responde, enquanto acaricia o cabelo dele.
Calado, sento-me na cama e os observo. Vez ou
outra a minha morena olha para mim e sorri, até que
alguns minutos se passam e Nick adormece. Ela se
levanta e o põe no berço, depois vem na minha direção e
para na minha frente.
— Vem aqui — eu a chamo ao colocar a mão em sua
cintura.
Com Alina bem perto, desfaço o laço do roupão e
deixo à mostra o seu corpo delicioso, fico duro só com a
visão que tenho. Ergo o rosto e a encaro antes de lamber
os lábios e beijar a sua barriga. Vou descendo a boca até
chegar à sua virilha.
— Andreo... E-estão me esperando lá fora. — O som
da sua voz sai abafado.
— Só uma rapidinha, amor. Vamos aproveitar que o
Nick está dormindo — peço, rouco, beijando a sua coxa.
— Amanhã vamos nos casar e teremos a nossa lua
de mel, não seja tão ansioso. — Geme quando mordo a
sua boceta.
— Não precisamos esperar até amanhã para que eu
possa te comer — murmuro, acariciando sua bunda.
Estou prestes a puxá-la para o meu colo quando
batem à porta. Solto um resmungo e tiro minhas mãos
dela, em seguida, pego um travesseiro para esconder a
minha ereção.
— Quem é? — pergunta ela, meio atordoada e dando
um laço no roupão.
— Sou eu, amiga. Vim te buscar, você está
demorando muito.
— Vou tomar um banho gelado — digo ao me
levantar da cama.
Instintivamente, ela desce os olhos para o meu jeans
que marca o meu pau duro.
Frustrado, levanto-me e sigo para o banheiro. Nunca
desejei tanto que chegasse a noite ou o dia seguinte.
Maria Fê é uma verdadeira empata-foda. Não poderia ter
chegado mais tarde?
— Meu Deus, você vai mesmo se casar, amiga! —
exclama Maria Fernanda, me abraçando de lado.
Eu vou!
Eu observo meu vestido branco longo de renda tule,
com um com decote v e alças finas. Ficou simplesmente
lindo em mim.
Céus! Em poucos minutos terei o sobrenome do
Andreo e o chamarei de marido. Assim como eu, ele deve
estar na expectativa de me ver. Não faz muito tempo que
nos vimos, mas só o desejo de enfim dar esse passo tão
importante nos deixa extasiados.
Minhas mãos estão suando de tanta ansiedade.
Estou louca para estar diante do Andreo e dizer sim, e
tenho certeza de que ele também.
— Vou sim, Maria Fê. — Controlo a emoção para não
borrar a minha maquiagem.
— Nem em mil anos imaginaria que a nossa vida
teria uma reviravolta dessa — diz ela, encarando-me
através do espelho em frente ao closet do meu quarto.
— A vida é uma caixinha de surpresas mesmo —
concordo. — Será que não estou atrasada? — pergunto,
avaliando-me mais uma vez no espelho.
— Só temos mais cinco minutinhos e já termino aqui,
meninas — diz a Dandara e eu assinto.
Observo ao meu redor e vejo que nada me falta.
Tenho tudo o que preciso, exatamente tudo. Me encontro
em uma fase tão boa da vida que sinto que nada mais é
necessário, quer dizer, há uma única coisa, mas estou
prestes a concluir essa etapa – casar-me com Andreo
Mancini e realizar o seu sonho de meses, me dar o seu
sobrenome.

— Pronta? — pergunta Dandara, me entregando o


buquê e entrelaçando o braço ao meu.
— Uhum, estou sim. — Vou relaxando aos poucos
enquanto caminhamos.
Puxo o ar para os pulmões, em seguida, eu o solto
pela boca.
Chegou a hora, penso ao ver os funcionários da
fazenda, minha melhor amiga com os pais e o namorado,
a família do meu advogado, todos sentados em seus
lugares. Mas o que mexe mais comigo é olhar para
Andreo, que está de costas, no altar. Ele passa a mão por
seu cabelo e o bagunça, ele nunca perde essa mania. Ele
está lindo com terno e camisa pretos, todo o seu look é
preto, ainda assim, está maravilhoso. Ontem à noite,
quando fazíamos amor, ele me disse que odiava terno,
mas que prometeu usar somente um dia – no nosso
casamento. E hoje está cumprindo com a sua promessa.
Vasculho entre as pessoas o meu bem mais precioso
e o encontro. É impossível não ter meus olhos inundados
quando vejo o Alberto se aproximar de mim com o meu
filho nos braços. Ele estava com o vovô desde que fui me
arrumar com Dandara e Maria Fê. O Alberto é um avô
coruja, logo se ofereceu para cuidar do neto e me disse
que Nicolas tinha que ficar com os garotos para se
arrumar também. Só entendo agora o que ele quis dizer.
Meu menino está usando um terninho azul-marinho e o
cabelo bem penteado para trás, como o pai costuma usar.
Tenho absoluta certeza de que Andreo o penteou.
— Mamã! — chama-me bem escandaloso, atraindo a
atenção de todos.
Andreo se vira e me encara. Sua expressão fechada
muda por completo ao passear os olhos por meu corpo e
depois por meu rosto.
Uma música suave começa a tocar bem baixinho e os
convidados olham na minha direção, admirados.
— Vem cá, meu amorzinho. — Entrego o buquê para
a Dandara e estendo os braços para o pegar, em seguida,
beijo o seu rostinho, deixando uma marca de batom. —
Hum, que menino mais cheiroso. Foi o vovô ou o papai
que deu banho? — Cheiro o seu pescocinho antes de
voltar a atenção para Alberto, que está sorridente.
— Foi o Andreo, precisava ver como arrumava o
Nick! — Os olhos de Alberto se iluminam de tanto orgulho.
— Meu futuro marido é um homem prendado —
elogio, aos suspiros.
— Ele encontrou você, é diferente — diz meu sogro,
fitando-me.
— Encontramos um ao outro e fizemos um belo
trabalho — murmuro, olhando o meu filho passar o dedo
por minha bochecha e mostrar os dentinhos da frente.
— Fizeram sim. Vamos? Andreo está quase fazendo
um buraco no chão de tão nervoso — avisa.
Rio, percebendo em seus olhos o seu anseio.
— Vamos, sim — concordo, dando o Nick para a
Dandara e pegando o buquê. — O que acha de vocês dois
me levarem ao altar? Um de cada lado — sugiro,
deixando-os de olhos arregalados.
— Sério, filha? — indaga Dandara.
— Uhum, você é a minha mãe e o Alberto é como um
pai para mim, então quero muito que os dois me levem ao
altar — digo, animada.
— Seria uma honra, Alina, mas este momento é todo
da Dandara, ela merece te levar até o altar — diz seu
Alberto, e ele tem razão. — Farei algo muito melhor,
ficarei com o Nick ao lado de vocês no altar.
— Ótimo. Então vamos antes que o noivo venha
atrás de mim. Olha como ele está! — brinco, entregando o
Nicolas para o avô e voltando a entrelaçar meu braço no
da Dandara. — Vamos? — pergunto a ela, que assente,
emocionada.
Alberto caminha com meu filho até ao altar. Nick fica
todo animadinho com o pai e ergue os braços para que o
pegue e Andreo acaba cedendo. A cena faz com que todos
riam, principalmente eu, mas logo ele volta para o avô.
Em passos lentos, caminho pelo tapete vermelho na
direção do altar, que tem um arco de flores coloridas e
uma mesa com o cerimonialista. De relance, olho para os
convidados e encontro a minha melhor amiga chorando e
ao mesmo tempo sorrindo. Ao mirar em Conrado, em seu
filho e netos, sorrio para eles. Do outro lado, estão alguns
funcionários sorridentes, então retribuo o carinho deles
por mim ao sorrir de volta.
Meu coração bate mais acelerado a cada passo que
dou, e ao perceber que falta pouco para ser entregue ao
meu futuro marido, minhas pernas tremem.
Sem conseguir tirar os olhos de Andreo, dou o último
passo. Ele estende a mão para mim assim que eu e a
Dandara paramos na sua frente.
— Eu nem vou te dizer para cuidar da minha
afilhada, porque é isso que você tem feito desde o início,
então sei que ela está em boas mãos — diz a Dandara.
— Com certeza — diz ele. Um turbilhão de emoções
me atravessa. Minha mãe nos deixa e vai ficar ao lado do
Alberto. ― Você está muito linda ― elogia e beija minha
testa.
— Como já temos a noiva, o noivo não vai mais
querer buscá-la — se manifesta o cerimonialista pela
primeira vez no microfone e arranca gargalhadas. —
Venham, se aproximem mais para que possamos começar
— pede e assim o fazemos, com as mãos entrelaçadas.
Ao focar nas palavras do cerimonialista, eu começo a
chorar porque ele narra direitinho a minha história e a do
Andreo. Olho para a minha amiga e ela pisca para mim.
Maria Fernanda ficou encarregada de entregar o roteiro
para o profissional, e quando disse que me surpreenderia,
não poderia imaginar que fosse tanto.
Emocionada, troco olhares com Andreo ao ouvir o
cerimonialista falar sobre as lutas que passamos para
chegar aonde chegamos; ressaltar sobre o amor
verdadeiro e que se o que sentimos não fosse, não
estaríamos aqui hoje, tão jovens, prontos para nos
unirmos até os últimos dias da nossa vida. Quando
menciona a época da doença do Andreo, eu choro para
valer, até ele fica com os olhos cheios, mas disfarça muito
bem ao controlar as suas emoções. Contudo, o Nicolas é
mencionado e é o seu ponto fraco, ele deixa as lágrimas
caírem e eu encosto a testa na dele e limpo o seu rosto,
dizendo o quanto o amo.
Para descontrair, o cerimonialista fala sobre os
apelidos que damos um ao outro, e quando o “abelhinha”
é citado, todos riem alto e nós também.
— Maria Fernanda, você me paga! — exclamo,
encarando a minha amiga, que está abraçada com o
namorado.
— Por favor, se sinta desconvidada do meu
casamento — brinca e todos gargalham.
— O amor que vocês têm um pelo outro é notório,
principalmente a cumplicidade — fala o homem e
concordamos, emocionados e sorridentes. — E nem
precisa falar nada, as expressões de vocês já os
entregam. Dois apaixonados. Será que estou falando
muito, gente? Acho que sim, esses dois estão loucos para
dizer sim logo. Vamos acabar com isso. — Rimos com o
humor dele.
Andreo e eu ficamos de frente para o outro, então ele
aproveita para erguer minha mão livre e a beijar.
Abobalhada, eu me aproximo mais dele e beijo o seu peito
por cima da roupa.
Um rapaz bem jovem aparece e entrega um
microfone para cada.
— Fiquem à vontade, noivos, a palavra agora é de
vocês — diz o profissional.
Mordo os lábios e aproximo o microfone da boca.
— Eu nem sei o que dizer... Aliás, tenho muita coisa,
mas primeiro é dizer que te amo, Andreo — digo, em meio
a lágrimas. — Sei que muitos pensaram e apostaram que
não tínhamos futuro, ninguém dava nada por nós pelo fato
de você e eu sermos completamente diferentes, mas se
enganaram. Olha como estamos hoje. Temos um filho
lindíssimo, uma família maravilhosa e estamos nos
casando. Eu não quero prolongar as minhas palavras,
porque você sabe exatamente o que sinto e penso sobre
nós, amor. Eu não poderia ter escolhido outra pessoa para
me dar o meu filho ou me casar. Porque é você, e sempre
será você o homem que vou amar. — Minha voz fica
embargada.
— Sou péssimo em me expressar em público — ele
passa a mão na cabeça, meio nervoso —, mas não posso
deixar de dizer diante de todos que eu te amo, Alina. Você
não é a minha garota, é a mulher da minha vida, e eu
soube isso desde o primeiro dia em que a vi no corredor
da minha casa, dançando toda desengonçada e cantando
desafinada pra caralho, como se ninguém fosse te ouvir
ou ver. Mesmo antes de você me enxergar, eu já tinha te
visto.
Todos riem com o que Andreo fala, enquanto eu me
acabo em lágrimas.
— Amor, não me exponha assim! — digo,
brincalhona, mas ao mesmo tempo chorosa.
— Alina Martins, eu te admiro não apenas por ser
quem é, mas por não ter desistido de mim quando deveria,
por ter segurado a minha mão quando mais precisei e
também pelo Nick, o nosso filho. — Ele olha para o
Nicolas nos braços do pai e o menino dá alguns gritinhos,
nos fazendo sorrir.
O cerimonialista nos avisa sobre a troca de alianças
e Andreo tira a caixinha do seu bolso.
— Andreo Mancini, você promete amar a Alina, e
respeitá-la na alegria e na tristeza? Você promete amá-la,
na saúde e na doença, promete amá-la na riqueza e na
pobreza...
O homem repete as palavras para mim e Andreo e
ambos prometemos quando ele coloca o microfone na
nossa frente.
Pegamos as alianças e ele é o primeiro a colocar no
meu dedo. Ele me encara com tanta intensidade, que fico
derretida. Quando chega a minha vez, respiro
profundamente e deslizo em seu dedo a aliança de ouro
com nossos nomes gravados.
Então somos declarados marido e mulher. Na hora do
beijo, meu marido me puxa pela cintura e me beija, então
envolvo os braços ao redor do seu pescoço e aprofundo o
nosso beijo.
Só paramos de nos beijar quando ouvimos “papá”
vindo do Nicolas. Alberto e a Dandara se aproximam e eu
pego o Nick no colo, enchendo-o de beijos na bochecha
gordinha.
Nossos convidados se aproximam e nos
parabenizam, logo em seguida se espalham para os
comes e bebes. Deixo para jogar o buquê somente depois,
porque quero ter um momento a sós com o meu esposo.
— Agora você é oficialmente uma Mancini, porque
minha sempre foi. — Andreo passa o braço ao meu redor
e do nosso filho e beija o meu pescoço.
— Você está tão meloso, amor — digo, reprimindo o
gemido quando ele mordisca a minha pele.
— Mamã... Mamã! — Nicolas enfia as mãos na boca
e começa a babar.
— Só não te dou uma resposta agora por causa
desse babão aqui. — Ele segura no bracinho do filho, que
nos encara com os olhinhos curiosos. — Mas mais tarde
te mostro quem está meloso.
— Não distorça as minhas palavras. — Gargalho.
Ele coloca a boca no meu ouvido e sussurra:
— Continue me provocando, mais tarde vou surrar
essa boc...
— Vou jogar o buquê, segura o Nick! — eu o
interrompo, sabendo que vai começar a falar putaria.
Andreo pega Nicolas e pisca malicioso para mim
antes de dar aquele mesmo sorrisinho safado que
costumava usar quando estava tentando me conquistar.
Aproximo-me dele e beijo a sua boca.
— Te amo, seu safado. — Dou alguns selinhos nele
mesmo sob os protestos do Nick falando “dada” e “papá”.
— Olha a boca, você disse que é proibido falar
palavrões na frente do nosso filho — diz e rimos, olhando
um nos olhos do outro. — Eu também te amo, amo vocês.
— Olha para Nick, depois ergue a mão e toca no meu
rosto e o acaricia.
Eu sei que ama, você tem me mostrado isso a cada
dia, penso em dizer, mas em resposta beijo a palma da
sua mão e continuo o encarando apaixonadamente.
Meu marido está finalmente se formando na profissão
que tanto desejou. O tamanho do meu orgulho não cabe
no peito. Enquanto o aluno representante da turma de
Engenharia Mecânica finaliza o discurso, eu fico com a
nossa família o admirando vestido com a beca, esperando
chegar o momento do juramento e a entrega do diploma.
Aposto que está nervoso, pois a todo momento os
seus olhos encontram os meus. Mais outros discursos
acontecem, por fim, iniciam o juramento, todos os
formandos repetem as mesmas palavras, de pé e com a
mão direita estendida para a frente.
— Prometo que, no cumprimento do meu dever de
engenheiro, não me deixarei cegar pelo brilho excessivo
da tecnologia, jamais me esquecendo de que trabalho
para o bem do Homem e não da máquina; respeitarei a
natureza... — juram todos os alunos.
Meus olhos inundam ao ver Andreo ali de pé, prestes
a fechar mais um ciclo da sua vida. Depois de tantos
anos, enfim se tornará um engenheiro, como sonhou. É
como dizem, tudo vem no tempo certo e na hora certa. E o
momento dele chegou.
Ano passado eu me formei em administração, e
assim como a minha madrinha e o meu sogro estão aqui
presentes junto ao meu filho para apoiar o meu esposo,
aconteceu o mesmo quando foi a minha vez.
Nos últimos anos fomos a três formaturas. A primeira
foi da Maria Fernanda, que se formou em técnico em
administração, a minha amiga tomou a decisão de fazer o
curso após termos uma conversa em que eu a incentivei a
não ficar apenas com o ensino médio concluído. Ela e
Talles se casaram um ano depois do meu casamento, e
hoje tem uma filhinha de quase dois anos.
Após a sua formação, dei a ela uma oportunidade
melhor dentro da Renascer. Minha melhor amiga ocupa o
cargo de administradora da fazenda no lugar do Heitor,
que precisou deixar o emprego pois tinha planos de se
mudar para outro Estado.
Só vamos à fazenda aos finais de semana, uma vez
que a empresa prosperou rapidamente. Hoje não existe
somente uma unidade, a de Monte Verde se tornou a
matriz da Rede Mancini. A empresa deu tão certo, que em
pouco tempo abrimos várias filiais pelas cidades vizinhas.
— Mesmo que meu filho já seja um pai de família,
continuo sendo um papai babão. Olha para ele, que
orgulho! — Alberto diz.
Encaro os avós do meu filho ao lado e sorrio, depois
olho para Nick, que está ansioso para ver o pai ser
chamado.
— Mamãe, o papai tá demorando muito! — diz o
menino, balançando as perninhas e observando Andreo.
— Ele já vai ser chamado, amor — tranquilizo-o ao
ouvir os alunos serem chamados em ordem alfabética.
Mordendo os lábios, passo as mãos no tecido do meu
vestido e logo o nome do meu marido é chamado. É agora!
— Andreo Mancini — repetem o seu nome e eu fico
vibrante.
Andreo cumprimenta o corpo docente, depois pega o
diploma e ergue para cima em comemoração. Sorridente e
com lágrimas caindo dos meus olhos, começo a aplaudir a
sua vitória.
Os minutos vão passando e depois de todos
diplomados, eles se juntam e jogam os capelos para cima.
Meu tatuado vem ao nosso encontro com um
sorrisão. Os seus olhos brilham tanto que chegam a ficar
iluminados, a satisfação dele é notória. Ao parar na nossa
fileira de cadeira, a primeira coisa que faz é dar um
abraço no pai, na Dandara e depois vem na minha direção
e do filho. Nick toma a frente e o pai o pega no colo,
enchendo-o de beijos no rosto.
— Agola você é engenhelo, pai? — pergunta ao pai,
que joga a cabeça para trás e gargalha. Mesmo que Nick
tente, ainda não consegue pronunciar as palavras
corretamente.
— Uhum, sou sim, filhão — diz ao segurar Nick em
um braço e abrir o outro para que eu me acomode.
— Oba, vou fala na minha escolinha que meu pai
agola é um engenhelo, mamãe! — exclama.
— É engenheiro, Nick — corrijo-o, que nem dá
importância e pede para ir para o colo do avô.
De frente para Andreo, solto um suspiro e levo a mão
ao seu rosto. Ele me puxa mais para perto e passa os
braços ao redor da minha cintura, então aproveito para
colar minha testa na dele.
— Parabéns, meu engenheiro, você conseguiu —
declaro. A voz embargada entrega o quanto estou
emocionada. Ele ergue a mão e limpa meu rosto molhado.
— Conseguimos. Essa vitória não é só minha, é
nossa — diz, acariciando a minha pele. Apesar do lugar
estar cheio, parece que só nos dois existimos.
— Pronto para exercer a sua profissão com bastante
garra, engenheiro Mancini? — Afasto minha testa da sua e
miro em seus olhos acinzentados.
— Sempre estive, sempre. — Segura o meu rosto e
me beija apaixonadamente.
Envolvo meus braços ao redor do seu pescoço e
afundo minhas unhas em sua nuca. Finalizamos o nosso
beijo de um modo controlado por estarmos em público,
mas não passa desapercebido o “Eca, mamãe e papai” do
Nicolas.
— Andreo, meus parabéns, filho! — Dandara o
parabeniza mais uma vez. Ela se tornou para ele a mãe
que nunca teve.
— Obrigado, Dandara. — Ele me larga e vai até ela,
abraçando-a com força. Adoro o carinho que eles têm um
pelo outro.
— Já estamos indo. Depois vocês irão voltar, certo?
— pergunta Alberto, animado.
Não participaremos da festa da formatura, decidimos
organizar algo mais reservado somente para os familiares,
porém, deixaremos para celebrar mais tarde.
Andreo e eu sairemos para comemorar, depois nos
reuniremos com a nossa família. Dandara e Alberto ficarão
com Nicolas, enquanto eu e o pai teremos algumas
horinhas a sós.
— Vamos sim, pai — diz Andreo, entrelaçando a mão
na minha.
— Me deixa te dar uns beijinhos de despedida, filho.
— Aproximo-me de Alberto e beijo a bochecha de Nick,
que ri gostosamente.
— Para, mamãe! — pede, mas sei que adora que eu
o encha de beijos.
— Se comporte, garotão, nada de deixar os seus
avós de cabelos brancos — recomenda o pai, divertido, e
o menino assente.
— Não tem mais como! — fala a Dandara, nos
fazendo gargalhar.
— E não mimem muito ele — acrescenta meu marido.
— É o nosso único neto, impossível! — diz Alberto,
fazendo cócegas em Nicolas, que ri alto.
Dois dias atrás, descobri uma coisa que irá deixar
Andreo extasiado, e escolhi hoje para dar isso a ele de
presente.
Grávida. Estou grávida.
Andreo e eu seremos pais novamente. Sei que ele
vai amar a notícia, afinal, faz dois anos que ele me pede
outro filho.
— Bom, já vamos. Logo a Maria Fernanda aparece lá
com a família — diz Dandara.
Assim nos despedimos deles, que se vão logo em
seguida levando Nicolas.
— Meu pai me deu uma ótima ideia — diz ele, me
abraçando pela cintura e encostando a boca no meu
ouvido. — O que acha de providenciarmos outro bebê?
— Quem sabe não tem um no forno. — Deixo o
mistério no ar antes de ouvir sua risada. — Eu disse quem
sabe. — Viro-me para ele, que olha desconfiado para a
minha barriga.
— Te conheço muito bem, Alina. Quando descobriu?
— sonda, fazendo o meu plano de esperar até chegarmos
ao local ir por água abaixo.
— Droga, amor... Por que nunca consigo esconder
nada de você? — Bufo, ouvindo a sua risadinha.
— Porque me ama demais? — afirma, cheio de
confiança.
— Exatamente. — Espalmo as mãos em seu ombro.
— Parabéns pela segunda vez, você vai ser papai, meu
am...
Ele nem espera que eu feche a boca. Mesmo com
pessoas passando pela gente, Andreo me levanta e
comemora sem se importar com a plateia.
— Isso, caral... — Freia o xingamento ao me colocar
no chão.
— Vamos sair daqui — peço, louca para ficarmos a
sós.
— Só vou tirar isso aqui e já podemos ir. — Aponta
para a beca.

— Ai... amor! — Solto um gemido ao sentir uma


mordida no pescoço.
Entramos no quarto de hotel que reservei semana
passada já nos agarrando. As mãos de Andreo passeiam
pelo meu corpo, enquanto a sua boca explora meu
pescoço.
— Estava louco para ficar sozinho com você. —
Arquejo quando sinto seus beijos em meus ombros. Ele
arranha com os dentes de leve a minha pele. — E agora
que estou, só penso em arrancar esse vestido do seu
corpo e te foder bem forte — diz, ao encostar a boca no
meu ouvido.
— Hum... Não quer beber nem um pouco de
champanhe antes para brindarmos o dia de hoje? —
indago ao olhar para o balde de champanhe que está na
mesa.
— A única coisa que quero beber é o seu melzinho,
Alina. Só de pensar em provar o seu néctar meu pau fica
duro. — Esfrega a sua ereção em mim.
Estremeço ao sentir a respiração quente em meu
pescoço.
— Pois tire a minha roupa e me faça logo sua,
porque estou com a boceta pingando — confesso, já o
sentindo abrir o zíper nas minhas costas.
Em questão de segundos, Andreo faz o meu vestido
cair aos meus pés.
— A cada dia que passa você fica mais gostosa e o
meu tesão só aumenta. A fome que sinto por você é
insaciável.
Mordo os lábios quando ele se cala e vai descendo a
boca por minhas costas, fazendo uma trilha lenta até
chegar à minha bunda. Ele aperta minha carne com seus
dentes e eu solto um gemido de dor e prazer.
— Porra, amor, como você usa uma peça dessa e
não quer me enlouquecer? — Andreo aperta a minha
bunda. Seus olhos escurecidos estão fixos no conjunto
sexy que visto. Ele adora quando uso cinta-liga,
principalmente vermelha ou preta.
— Gostou? — pergunto ao ver o seu sorriso,
completamente malicioso.
— Sabe que sim, safada. — Estapeia cada lado da
minha bunda antes de se levantar e me segurar pelo
pescoço, virando meu rosto para beijar meus lábios. —
Preciso te foder com você ainda vestida com ela. Vou
colocar esse caralho de calcinha fina para o lado e depois
socar o meu pau bem fundo.
Automaticamente, meus olhos fixam na cama king
com lençóis brancos.
— E mais o quê? — Aperto uma perna na outra,
sentindo minha excitação encharcar o tecido de renda.
— O resto prefiro mostrar... Agora eu preciso que se
deite naquela cama, com a bunda bem empinada para mim
— pede, rouco. Andreo desce uma mão até meu sexo,
infiltrando-a dentro da calcinha. Sigo seus movimentos
com os olhos e o vejo introduzir os dedos na minha
boceta. — Olha como essa bocetinha está quente e
molhada, pronta para ser bem fodida pelo dono dela. —
Ele me penetra e eu me abro, encostando a cabeça em
seu peito.
— A-andreo... — Agarro o seu braço ao ser
masturbada com velocidade.
— Você não vai gozar assim, então se controle,
porque quero ele na minha boca — diz, febril, lambendo
meu pescoço.
— Céus...
Os anos passaram, mas ele continua sendo o mesmo
homem fogoso.
— Se deite na cama e fique de quatro. — O seu
pedido sai mais como uma ordem. Fico trêmula quando ele
tira os dedos de dentro de mim e se afasta.
Vou na direção da cama, mas não me deito, não vou
perder a chance de o ver tirando a roupa. Andreo começa
a se livrar das peças do seu corpo em uma velocidade que
me impressiona, mas não é o seu terno caro que me faz
ficar com a respiração irregular, e sim ao ver o seu pau
gostoso e viril com o piercing.
— Ama olhar para ele, não é? — pergunta, ao notar
que lambo os lábios com a visão maravilhosa que tenho.
— Mas não tem problema em olhar, o meu pau é todo seu,
cada centímetro dele. — Ele vem na minha direção,
pelado e com o membro babado e pulsante.
— Eu quero chupar — digo, passeando meus olhos
por seu corpo másculo repleto de tatuagens.
— Hoje estou no comando, abelhinha — me chama
pelo apelido que me deu anos atrás. — Agora suba na
cama e fique de quatro para mim — pede, ao espalmar as
mãos nas minhas coxas e inclinar o rosto na direção do
meu, roçando nossos lábios.
— Você é um péssimo marido — murmuro,
mordiscando seu lábio.
— Por sempre foder a boceta da minha esposa bem?
— retruca, me enchendo de tesão, fazendo meu ventre se
contorcer com a sua boca suja.
— Uhum, sim. — Ergo minha mão e toco no seu
rosto, admirando a mudança. Com o passar dos anos, ele
ficou muito mais lindo, mas agora é nítido o
amadurecimento em sua face.
— De quatro para mim, Alina. E não tire os saltos,
você vai me dar com eles nos pés. — Sobe as mãos em
minhas coxas e aperta minha carne.
Ofegante, assinto e fico na posição que me pediu.
Olho por cima do ombro e logo sinto o colchão afundar
atrás de mim.
— Inferno de mulher gostosa! — Segura em meus
quadris e eu puxo um travesseiro para perto, afundando
meu rosto ao receber uma palmada na bunda.
O colchão volta a afundar novamente, enquanto
busco por fôlego ao sentir a sua mão puxar minha
calcinha para o lado e enfiar dois dedos em mim, fazendo
movimentos lentos e fortes. Arquejante, eu rebolo pedindo
por mais.
Os meus gemidos ficam reprimidos até que o sinto
raspar o nariz em minha boceta. Em questão de segundos,
ele passa a língua úmida no meu clitóris e continua
socando os dedos lá dentro, como se estivesse realmente
me fodendo com o pau.
— A-andreooo!!! — grito, movendo os quadris contra
seu rosto.
Ele segura uma das minhas coxas e me chupa com
aptidão e selvageria. Automaticamente, me abro mais.
Meu marido me masturba e me chupa ao mesmo tempo,
então me empino para ele, toda oferecida.
Semicerro os olhos com as lambidas e estocadas que
recebo, gemendo enlouquecida a ponto de sentir minha
garganta arder.
— Ahhh... Céus! — As contrações esquentam meu
ventre, meu corpo começa a queimar e os pelos ficam
eriçados.
Gozo forte e loucamente na boca do meu marido. O
líquido viscoso escorre de dentro de mim e ele bebe
gotinha por gotinha do meu néctar, passando a língua
atrevida em minhas dobras escorregadias.
— Agora vou te comer e não precisamos mais disso
aqui — ele diz ao rasgar a lateral fina da minha calcinha.
Mesmo tremendo, continuo na mesma posição, até
que ele abre minhas pernas, me deixando arreganhada.
Andreo me penetra devagar, de início me tortura com a
sua lentidão proposital, quando peço por mais rebolando,
ele ri, adorando me ver à mercê dele.
— Você quer tudo, Alina? — pergunta, colocando o
pau e tirando de dentro de mim.
— Sim... — lamurio, e ele investe pesado ao
bombear forte.
— Sim, o quê? — pergunta, curvando o corpo no meu
e beijando o meu pescoço ao mesmo tempo que faz
movimentos vaivém, me fodendo forte e gostoso como
prometeu.
— Sim, meu engenheiro gostoso.
Ele se enterra cada vez mais em mim com precisão
enquanto gemo e aperto o lençol com meus dedos.
Andreo esconde o rosto na curva do meu pescoço e
solta um uivo. Antes de alcançarmos o clímax mudamos
de posição e eu fico por cima. Sem deixar que me penetre
tão rápido, seguro em seus ombros e esfrego meu clitóris
na bolinha do seu piercing, fazendo-o soltar algumas
palavras de baixo calão, causando um fervor no meu
ventre. Quando desço no seu membro, engolindo cada
centímetro dele, meu marido tira meu sutiã e joga para
longe a peça, então chupa meus mamilos.
Cravando minhas unhas em seus ombros, desço e
subo nele, quicando com agilidade.
— Ah, caralho... Isso, amor... pode engolir tudo com
essa boceta gulosa — diz, arrastado, apertando um dos
meus seios enquanto segura o meu pescoço e traz o meu
rosto para perto do dele para me beijar.
Trêmula, sugo a língua de Andreo e ele a minha.
Ainda rebolando e sentindo minha boceta ficar
apertada, penso em como é possível que todas as vezes
que estamos nos amando é como da primeira vez. Essa
conexão forte que temos quando estamos juntos é
infindável. Conhecemos cada pedacinho do outro como
ninguém.
Ao longo dos anos, aprendemos muito com os
simples gestos, e o principal, não é necessário dizer te
amo em voz alta sempre, porque cada gemido, sorriso,
olhar, risada diz tudo.
Estou há cinco meses planejando a surpresa que
farei hoje, uma das ocasiões mais significativas da minha
vida – meu casamento.
Sentado na poltrona da mesa mesa do meu
escritório, observo no iPad algumas fotos que recebi há
alguns minutos da empresa de decorações de eventos. É
a mesma equipe de anos atrás, e mais uma vez está
entregando um trabalho excelente com o pessoal do
buffet. Com o apoio dos nossos amigos íntimos e família,
que estão guardando esse segredo há meses, consegui
fechar o espaço de festas do hotel Fasano para fazer a
nossa comemoração.
Cada detalhe foi cuidadosamente planejado para
representar a temática da bodas de zinco. Além das cores
branco e azul, as flores e objetos também foram
selecionados para se adequarem ao tema. A decoração foi
planejada nos mínimos detalhes, para criar um ar elegante
e sofisticado.
Ficou impecável.
Hoje, estou celebrando mais um ano ao lado da
mulher que escolhi para compartilhar a minha vida. Dizem
que com o passar dos anos as relações podem esfriar por
várias razões, mas Alina e eu somos diferentes. Dez anos
de casados e continuamos nos amando intensamente.
Custou muito conseguir me manter em silêncio por
tantos meses, deixando a minha esposa acreditar que
iremos celebrar a data em um jantar em nosso restaurante
favorito. Não que essa opção seja desagradável, mas uma
década juntos merece algo inesquecível, como a primeira
vez que dissemos sim para o outro.
Duas batidas à porta me deixam em alerta, então
guardo o iPad na gaveta, e me endireito na poltrona ao
ouvir a voz da minha mulher.
— Amor, posso entrar?
— Claro — respondo.
Logo, ela entra toda sorridente e muito gostosa
vestida com sua roupa de treino. Alina costuma praticar
seus exercícios físicos na academia que construímos em
um espaço ao lado da casa.
— Terminou a reunião? — Ela coloca as mãos na
cintura, mas meus olhos estão fixos em seus seios
apertados no top preto.
— Reunião? — Arqueio a sobrancelha
Alina me encara desconfiada, então me recordo que
inventei essa desculpa para fazer algumas ligações para
nossos convidados (que não são muitos), para confirmar a
presença deles no evento dessa noite.
— Sim, Andreo. Você disse que não era para deixar
as crianças entrarem aqui, porque estaria ocupado? —
Sua expressão é enciumada ao passar a mão pelo cabelo
preso em um rabo de cavalo.
— Ah, verdade. É muita coisa na cabeça, querida. —
Prendo o sorriso ao notar que está entendendo tudo
errado, talvez esteja pensando alguma besteira.
— Hm, imagino. — Ela morde a boca e me olha por
alguns segundos. — E as nossas alianças, já pegou na
joalheria? Você está dizendo desde a semana passada
que vai buscar, e até agora, nada — sonda-me.
Eu vou até ela e fecho meus braços ao seu redor.
— Hoje mesmo a sua aliança estará no lugar de onde
nunca deveria ter saído.
Ela ergue o rosto, demonstrando insatisfação.
— Você está há muito tempo sem aliança, daqui a
pouco as mulheres vão começar a te rondar. E eu não vou
gostar nada disso, bonitão.
Rio baixinho com seu tom brincalhão.
— Só tenho olhos para você, abelhinha, não preciso
de uma aliança para respeitar a mulher que tenho em
casa. — Entro na brincadeira, arrancando um sorriso dela,
que bate levemente em meu peito.
— Acho bom mesmo, meu bad boy. — Seus olhos cor
de avelã esverdeado brilham.
Nada muda, ela ainda é a minha “abelhinha”, e eu
sou o “bad boy” dela.
— Adoro te ver com essa carinha de brava. —
Espalmo as mãos em sua bunda e a acaricio.
— Mas eu realmente estou brava. Hoje faz dez anos
do nosso casamento e estou me sentindo nua sem a
minha aliança, não quero sair mais tarde sem ela. — Ela
faz charme.
— Vai ver que essa demora irá valer a pena. — Beijo
sua testa.
— Não espero menos que isso.
— Gostosa e exigente a minha senhora Mancini. —
Bato na sua bunda.
— Ei! — reclama, risonha.
Todos os dias, sou grato por abrir meus olhos e
encontrar essa mulher incrível compartilhando a cama
comigo. Foi ela quem me deu os meus três maiores
tesouros – Nicolas, Bianca e Felipe.
Nicolas, o nosso primogênito; Bianca, uma
homenagem à minha mãe biológica, foi a segunda
gestação da minha esposa, e quando eu soube, fiquei nas
nuvens, porque ela me fez esperar alguns anos para que
isso acontecesse. E o nosso caçula, Felipe, que está com
um ano. A minha gatinha me disse que a fábrica já está
fechada para mais bebês quando sugeri que tivéssemos
mais uma menina, assim ficaríamos com dois meninos e
duas meninas.
Se dependesse de mim, estaríamos com a casa
cheia, um time de futebol seria o suficiente. Contudo,
manda quem pode e obedece quem tem juízo, e eu me
tornei um homem ajuizado há muitos anos.
— Essa noite, as crianças irão dormir na casa do seu
pai, não é? — Ela observa a minha boca e umedece seus
lábios.
Combinamos de jantarmos e depois aproveitar o
resto da noite em um hotel, mal sabe ela que seguiremos
outra rota, uma bem mais memorável.
— Isso mesmo. — Pisco para ela.
— Eu recebi uma ligação de uma loja avisando que
daqui a duas horas irão entregar o meu vestido, mas não
comprei vestido algum. Foi você? — sonda-me.
— Sim, fui eu, e espero que goste.
Alina sorri, derretida.
— Como não amar um marido tão maravilhoso? —
Ela envolve meu pescoço com seus braços, então eu a
levanto ao passar meus braços por baixo da sua bunda. —
É claro que vou adorar. Obrigada, querido. — Ela acaricia
minha nuca com as unhas e inclina o seu rosto para perto
do meu.
— Tudo por você, sempre — sussurro, grudando
minha boca na dela em um beijo lento e apaixonado.
Alina arranha minha nuca e eu deslizo uma mão por
suas costas carinhosamente, enquanto nossas línguas se
movem de forma suave e incessante.
— Papai, o Nicolas me chamou de bruxa e não quer
brincar comigo! — A voz da nossa filha soa no escritório,
nos interrompendo.
As crianças são uma bênção...
— Não é verdade, papai. A Bianca me deu um
beliscão no braço e disse que sou chato!
Pigarreando, coloco a mãe deles no chão e faço uma
expressão séria.
— O que eu e a mãe de vocês falamos sobre um
brigar com o outro? — repreendo-os com firmeza.
Eles se encolhem, não por medo, mas por saberem
que a regra número um da casa é não machucar o outro
de forma alguma. Nós sempre os queremos unidos,
independentemente de qualquer coisa.
— Mas, papai, ela começou. — Nicolas demonstra
descontentamento. Eu conheço muito bem o meu filho
para saber de quem ele herdou a personalidade forte, ele
é uma cópia minha.
— Não importa, filho. Eu e a mãe de vocês não
toleramos que você, muito menos a Bianca, se
desentendam. — Encaro a minha esposa, que nos observa
com o rosto tão sério quanto o meu.
— O pai de vocês tem razão, filhos, não gostamos de
desunião dentro desta casa, o.k.? E se tiverm mais uma
reclamação vinda de você ou da sua irmã, iremos tirar o
que vocês mais gostam. Nas férias, vocês nao irão para a
fazenda. — Alina é firme em suas palavras.
— Não é justo, mamãe! — retruca Bianca, chateada,
cruzando os braços e fixando seus olhos esverdeados
como os da mãe em nós.
— Não mesmo, mocinha! Agora peçam desculpas um
ao outro e se abracem. — Nossos filhos carregam
personalidades fortes, mas mesmo emburrados, se
aproximam um do outro e se abraçam.
— Desculpa, Nick, você não é chato — diz Bianca,
com a voz embargada.
— Desculpa, Bia, você não é uma bruxa. Eu te amo,
irmãzinha. — O pedido de desculpas dele se torna mais
interessante com a sua declaração.
— Também te amo, irmão.
Como dois bobos, Alina e eu ficamos orgulhosos com
a cena que presenciamos. Eles se afastam e nos
encontram sorridentes, satisfeitos com a atitude deles.
— Agora, podem voltar a brincar — digo.
Eles assentem animados, completamente diferentes
de como entraram aqui.
— Papai, mamãe, podemos jogar videogame? —
pede Nicolas.
— Só por uma hora. Mais tarde vocês vão para a
casa do vovô — aviso, e eles concordam com um meneio
de cabeça.
— Tá bom! — falam em uníssono, em seguida, saem
da sala correndo.
— Céus, estou imaginando quando estiverem na
adolescência. — Alina passa a mão na testa e solta um
suspiro.
— Nem quero imaginar — murmuro. — Boa sorte
para nós. — Rio baixinho.
— Vamos precisar, principalmente se as crianças
crescerem com a sua personalidade — acrescenta, então
viro-me para ela com a incredulidade estampada no rosto.
— Faz anos que me tornei um homem de família,
querida, não seja cruel — defendo-me, agarrando-a pela
cintura e beijando o seu pescoço.
— Mas não mudou muito, continua o mesmo safado
— me provoca, e eu gargalho, nostálgico.
— Estamos preocupados com Nicolas e Bianca, mas
a minha maior preocupação é o Felipe. Ele só tem um
ano, mas é exatamente como você, abelhinha — acuso,
lançando uma careta para ela, que bate em meu ombro.
— Graças a Deus um filho que tenha puxado a mim
em algo, não seria justo que mais um, que esperei por
nove meses, puxasse ao pai — resmunga.
— Você só me emprestou a sua barriga, aceite a
verdade — brinco, divertido com a sua expressão de
choque.
— Que desaforo! — Semicerra os olhos.
— Apenas verdades, esposa. — Dou de ombros.
— Suas, né? — Une as sobrancelhas, e neste
momento meu celular começa a tocar na mesa.
— Acho que é uma ligação importante, preciso
atender. — Afasto-me dela.
— Vou treinar um pouco na academia enquanto o
Lipe dorme. — Ela manda um beijo no ar antes de sair do
meu escritório.
Meu celular toca novamente, então me movo até a
mesa e o atendo ao ver que é o meu pai.
— Andreo, passei na joalheria e peguei a aliança de
vocês, estou a caminho da sua casa. Mas para que a a
minha nora não desconfie de nada, comprei uma
lembrancinha para meus netos. — Meu pai ama mimar os
netos.
— O.k., pai, obrigado. Mas não deveria ter comprado
nada, as crianças vão ficar mal acostumadas. — Vou até a
porta e a fecho.
— Que nada, meu filho, me deixe mimar meus netos
do meu jeito! — resmunga e eu gargalho.
— Depois o senhor que vai arcar com as
consequências de ter netos mimados — aviso, risonho.
— Isso não vai acontrecer, Andreo. — Bufa,
divertido.
— Se o senhor acha que não, continue. — Rolo os
olhos.
— Ótimo. E a Alina está desconfiando de alguma
coisa? Eu realmente estou estranhando a minha nora não
ter notado nada nas últimas semanas.
— Pai, ela demonstra não saber de nada, e eu estou
fazendo por onde para não deixar brechas. Só perguntou
das alianças, mas essa parte já resolvi — murmuro,
voltando a me sentar.
— Acho que ela não sabe mesmo, Alina é muito
transparente. — O tom orgulhoso dele me faz sorrir.
— Verdade — concordo com ele.
— Filho, além de levar a Mariana, podemos levar a
filha dela, que chegou hoje na cidade? Não queremos
deixá-la sozinha.
Meu pai está casado com uma mulher incrível que
conheceu cinco anos atrás, em uma viagem de férias que
fez a Salvador.
— Que pergunta é essa? É claro que pode, a família
da Mariana é nossa também, sabe disso.
— É só para ter certeza, Andreo, uma vez que você
convidou poucas pessoas.
— Sem problemas, pai.
— O.k. obrigado.
— Até daqui a pouco. — Encerro a ligação, tiro o
iPad da gaveta e volto a olhar as fotos da decoração no
espaço de festas.
Minutos depois, recebo uma mensagem de áudio de
Maria Fernanda avisando que ela, a família e Dandara
estão chegando na cidade daqui a duas horas, mas que
ficarão hospedados no hotel que reservei para que não
causem tumulto.
Minha esposa terá uma surpresa e tanto.
Alberto Mancini está sendo o meu maior aliado nesta
noite. Me entregou as alianças, mas só verifiquei como
ficaram e devolvi a ele. Quando chegar o momento em que
Alina e eu estivermos no altar, ele as entrega para a
Bianca, que vai levar até nós.
Ele ficou algumas horas com os netos brincando, e
depois sugeriu levá-los para casa dele, para que minha
esposa e eu pudéssemos desfrutar do nosso dia um pouco
mais cedo.
Foi uma ótima desculpa, afinal, as crianças já iam
para casa dele e se arrumariam por lá, com a ajuda da
minha madrasta.
Tudo está ocorrendo como planejado, e daqui a
alguns minutos estaremos saindo de casa com destino ao
hotel. Já são sete da noite, estou preparado, apenas
aguardando a Alina terminar de se arrumar para partirmos.
Enquanto levei poucos minutos me arrumando, ela já tem
quase uma hora, mas já me acostumei com isso, ela
sempre demora mais do que eu.
Sentado no sofá, sinto meu celular vibrar no bolso da
calça. Pego o aparelho e dou de cara com o nome da
Dandara na tela com uma nova mensagem de texto.
“Já estamos todos aqui, só faltam vocês.”
Leio a mensagem e digito de volta.
“Saindo daqui a alguns minutos.”
O barulho de saltos vindo da escada tira minha
atenção do aparelho. Se eu não estivesse sentado agora,
com certeza cairia para trás com o que está diante de
mim.
— Amor, estou me sentindo em um vestido de noiva.
— A voz de Alina é divertida, mas não consigo dizer
qualquer palavra ao observá-la descer os degraus da
escada, segurando o corrimão.
Quando encomendei o vestido, tinha noção de como
se encaixaria perfeitamente no corpo dela, mas ao ver
pessoalmente, tenho certeza de que fiz a escolha certa.
Simplesmente perfeita.
É assim que minha mente consegue definir a beleza
da mulher da minha vida.
A peça é muito parecida com um vestido de noiva.
Branco e delicado, longo, com detalhes bordados, alças
finas, justo nos seios e com um decote generoso que me
faz parar para observar, desejando coisas inadequadas. A
fenda na perna esquerda que deixa à mostra o salto de
tiras finas me faz pensar duas vezes se não podemos
deixar os convidados esperando um pouco mais.
— Acho que podemos pular o jantar, querida. —
Saindo do transe, sorrio como um bobo ao vê-la se
aproximando de mim.
— Nada disso. Nosso jantar ainda está de pé,
apressadinho. Como estou, hm? — Ela dá uma voltinha e
o seu cabelo ondulado flutua suavemente com o
movimento.
— A mulher mais linda do mundo — elogio,
estudando o seu rosto. Seus olhos cor de avelã
esverdeado estão realçados com uma maquiagem leve, e
um batom nude contorna a sua boca.
— Para você, eu sempre serei linda. E você, está
muito gostoso nesse terno. — Sua risada me contagia,
então a puxo para mim pela cintura e beijo sua testa.
— Claro que sim, preciso exaltar a mulher
maravilhosa que tenho. E eu sei, querida, os ternos não
são muito interessantes para mim, mas de qualquer
maneira fico uma verdadeira tentação — me gabo, então
rimos.
— Andreo, não está esquecendo de alguma coisa? —
Ela se afasta e estende para mim a mão onde deveria
estar sua aliança.
Coçando a nuca, sorrio para minha esposa que tem o
semblante bravo.
— Amor, tenho uma surpresa para você. As nossas
alianças estão prontas, como prometido, mas só vou te
dar no restaurante. — Pego sua mão e beijo os seus
dedos.
— O.k., me convenceu. — Suspira, parecendo
desconfiada.
— Acho que agora já podemos ir, não é? — sondo-a,
que balança a cabeça.
— Andreo, será que Lipe vai ficar bem? A Bianca e o
Nicolas estão grandinhos, nem vão sentir tanto nossa
falta, mas o Felipe é pequeno e... não quero que o seu pai
e a Mariana tenham trabalho — murmura, pensativa.
— Está tudo bem, se acontecer alguma coisa, meu
pai vai nos avisar — tranquilizo-a.
— Sim, é verdade — concorda.
— Então, vamos. — Entrelaço nossos dedos e
seguimos até a garagem.
Alina não é tão ingênua, já deve ter percebido que o
caminho não nos leva até o restaurante, mas ela ainda
não questionou, está quieta e bem atenta a cada
movimento. Uma vez ou outra descanso a mão em sua
perna e sorrio para ela, que retribui sorrindo também.
Em poucos minutos estaremos no hotel. Pegamos um
pequeno congestionamento, mas nada que nos impeça de
chegar no horário combinado com o celebrante.
— Andreo, acredita que a minha madrinha não
atendeu a minha ligação? Eu fico preocupada quando isso
acontece, ela é idosa e mora tão longe — diz.
Eu a encaro de relance, sem tirar a atenção da rua.
— Talvez haja uma explicação para a Dandara não
ter atendido. Ela poderia estar ocupada, fora de alcance,
você sabe que na fazenda o sinal é péssimo. — Não
posso dizer a ela que a Dandara devia estar a caminho de
Monte Verde para a nossa renovação de votos.
— Tem razão. — Suspira.
— Você sabe que notícia ruim é a primeira que
chega, além do mais, a Maria Fernanda está pertinho
dela. Ela jamais deixaria de te informar algo relacionado a
sua madrinha — acrescento, parando para que algumas
pessoas atravessem a rua.
— Isso é. — Minha esposa me encara por alguns
segundos.
— Amor, vai parar em algum lugar antes? Notei que
estamos indo por outro caminho — indaga, curiosa.
Coloco o carro em movimento novamente, seguindo
para o nosso destino.
— Sim, vamos passar no Fasano — informo.
Talvez desconfie de alguma coisa, mas acredito que
não tenha ligado tanto os pontos.
Estaciono o carro na vaga livre do hotel de fachada
revestida de mármore e vidro que dá um aspecto luxuoso
ao edifício. Em seguida, desafivelo meu cinto de
segurança, salto do veículo e vou até a porta de Alina,
abrindo para ela. Alina me estuda com os olhos
semicerrados.
— Andreo Mancini, me conte agora o que está
aprontando.
Sorrio e ela sai do carro e olha ao nosso redor,
vendo algumas pessoas entrarem no hotel.
— Esta noite, a nossa comemoração será aqui. Você
vai gostar. Confie em mim e me deixe colocar isto em seu
rosto assim que entrarmos ali. — Aponto para a entrada
do Fasano.
— Amor... — Ela segue meus movimentos ao me ver
tirar do bolso uma venda preta.
— Confia em mim? — Faço charme, porque sei que
essa é uma pergunta idiota.
— Óbvio, Andreo, que pergunta boba.
— O.k. Vamos. — Estendo a mão para ela.
— Eu sabia que você estava aprontando alguma
coisa, percebi que estava muito estranho mais cedo. —
Ela morde os lábios, risonha.
Ela não sabe nem a metade...
Caminhamos de mãos dadas até as portas do hotel,
e ao adentrarmos no hall, avisto o funcionário que está
encarregado de nos conduzir até o salão de festas. Ele se
aproxima, todo sorridente.
— Boa noite, senhores. Vou levá-los até a mesa
reservada, me acompanhem, por favor.
Nós o cumprimentamos antes de seguir atrás dele.
Alina nunca esteve aqui, então nem nota que
estamos indo para o lado oposto do restaurante do local.
Ao longo do corredor, há uma série de obras de arte,
que agregam ainda mais charme ao ambiente. Antes de
chegarmos ao salão, que tem um arco floral azul e branco,
paro Alina e mostro a venda para ela.
— É neste momento que a magia começa, esposa —
brinco, arrancando um sorriso genuíno dela. — Vou
colocar isso em você e te conduzir até lá. — Aponto para
a porta do espaço onde estão nossos familiares e amigos.
— Sim, senhor. — Por livre e espontânea vontade,
ela se vira de costas para mim.
— Espero que goste da surpresa. — Beijo seu ombro
antes de tapar seus olhos com a venda.
— Tudo o que você faz me agrada — murmura.
— Pronta? — Seguro-a pelos ombros e giro o seu
corpo para mim.
— Sempre.
— Eu sigo daqui, obrigado. — Dispenso o homem
que está ao nosso lado. Ele somente acena e se afasta.
— Vou te guiar, tá bom? — falo no ouvido da minha
esposa.
— O.k.
Passo o braço em sua cintura e a conduzo até o
salão onde toca uma música baixa.
Assim que pisamos em uma trilha com algumas
pétalas brancas em cima do tapete azul, encaro as
pessoas que foram meus cúmplices por meses e sorrio.
Realmente, valeu a pena tanto tempo de
organização. A decoração está mais do que impecável. As
mesas espalhadas para depois da cerimônia, alguns
arranjos de flores e ornamentos. A mesa vasta do buffet
está em um canto afastado do altar, onde se encontra o
celebrante.
Observo à nossa frente o celebrante sorridente,
nossos amigos, Maria Fernanda, o esposo, a mãe, os
filhos, meu pai, a esposa dele, a filha dela e Dandara,
com as crianças, todos vestidos elegantemente. Meus
filhos estão lindos usando terno, e a irmã um vestidinho
branco como se fosse uma princesa. Todos estão
sentados em suas cadeiras, com os rostos virados em
nossa direção, menos o Lipe, que faz sons com a boca,
porque está babando nas mãos no colo do avô. O pequeno
barulhento marca presença antes que eu possa tirar a
venda do rosto da mãe dele.
Felipe solta um gritinho e os irmãos riem
inocentemente. Dandara repreende os mais velhos com
um gesto de mão e eles se calam, mas já é tarde demais.
— Andreo, esse som de bebê e as risadas, as
crianças...
— Seja paciente, querida. — Tiro a venda dos seus
olhos.
Boquiaberta, ela leva a mão à boca quando nota os
detalhes ao nosso redor e se dá conta do que está
acontecendo. Alina solta um soluço ao examinar a mulher
que a criou desde criança, os nossos filhos, depois todos
os outros que estão a alguns metros de distância,
sorridentes e emocionados.
— Feliz dez anos de casados, meu amor. — Pisco
para ela.
— Por isso você está usando terno, seu safado! —
Soluça e ao mesmo tempo sorri enquanto se vira para
mim. — Você odeia terno, eu deveria ter desconfiado de
algo — se recrimina.
— Se não fosse o barulho de Lipe, você nem
desconfiaria o que está acontecendo — brinco, notando
nosso caçula emitir sons e estender os bracinhos em
nossa direção.
— O único que entende que o esperei por nove
meses e não deve esconder as coisas de mim. — Seu tom
é embargado e brincalhão.
— Sem drama, dona Alina! — se intromete Maria
Fernanda, nos arrancando uma gargalhada.
— Traidora! — retruca minha mulher, nitidamente
emocionada e exalando felicidade.
— Sempre que for necessário para te fazer chorar e
sorrir. — Maria Fê está com os olhos lacrimejados, e o seu
esposo sorrindo todo bobo enquanto a encara.
— Eu sei. — Alina pisca para ela e toca em meu
rosto com as duas mãos. — Você não vai parar de me
surpreender, amor? Eu não sei se é possível te amar mais
do que já amo — declara, encostando nossos rostos.
— Nem eu sei. — Toco em sua cintura, depois beijo a
sua testa.
— Depois quero ouvir todos os detalhes dessa
organização secreta de vocês. — Ela ri baixinho e eu
assinto.
— Você que manda, senhora Mancini. — Entrelaço
nossos dedos e estendo suas mãos até a altura do meu
rosto para depositar um beijo em cada uma. — Você
aceita renovar nossos votos esta noite? — sondo-a,
mesmo sabendo da resposta.
— Está mesmo me perguntando isso, Andreo? —
Comprime os lábios. — Depois de convidar as pessoas
mais importantes de nossas vidas? Como eu poderia dizer
não? — Ergue a sobrancelha, divertida.
— Então só vai aceitar por causa dos convidados? —
Entro na brincadeira e ela sorri.
— Também. — Encolhe os ombros, soltando uma
risada genuína e contagiando todos. — Amor, se você
quiser, podemos renovar nossos votos todos os anos,
porque eu sempre vou dizer sim a você. — Dessa vez
quem se derrete sou eu, e os nossos convidados, que
soltam um “oh”.
— Hum-hum, podemos começar? — pergunta o
celebrante, nos interrompendo.
Havia até me esquecido da presença dele.
— Claro que sim — respondo. Pigarreio para
controlar a ardência em meus olhos.
— Sim, podemos — Alina concorda e se põe ao meu
lado, unindo nossas mãos.
Nos movemos até o altar e o celebrante pega o
microfone na mesa, e é neste momento que ele começa a
falar sobre a nossa história. Uma nostalgia bate em meu
peito, trazendo todas as lembranças com Alina. Desde o
primeiro não dela ao sim. Nossas lutas para continuarmos
juntos, as minhas escolhas erradas e certas.
A minha esposa fica aos prantos porque, assim como
eu, está relembrando dos nossos altos e baixos.
Emocionado, beijo a cabeça dela e minhas lágrimas
também caem.
A emoção é a mesma, como se fosse a primeira vez.
— Ao longo dos anos, vocês tiveram bênçãos, mas
também desafios. — Alina e eu viramos levemente para
olharmos para nossos filhos por alguns segundos. — Mas
estamos aqui, hoje, para que possam mais uma vez se
comprometer um com o outro. Que o amor de vocês
continue florescendo e se fortalecendo ao longo dos anos.
— O celebrante alterna o olhar entre mim e a minha
esposa.
Sorrindo em meio a um turbilhão de sentimentos,
continuo prestando atenção nas palavras sábias do
profissional.
— E como prova desse lindo amor entre duas
pessoas que decidiram dez anos atrás se unirem perante
aos seus familiares e amigos... — Minha garganta arranha
com a fala do profissional. — Andreo, você promete
continuar amando, honrando e protegendo, na saúde, na
doença, na riqueza e na pobreza, nos momentos bons e
ruins, enquanto os dois viverem? — O homem estende o
microfone em nossa direção, é nesse momento que Bianca
entra em cena como daminha trazendo nossas alianças.
— Eu prometo. — Antes de pegar a aliança da
almofadinha, deposito um beijo na testa da nossa filha. —
Alina, eu sei que você está quase me colocando de
cabeça para baixo por causa das nossas alianças, mas,
querida, quando você colocar os olhos nela, vai mudar de
ideia — aviso, bem-humorado, pegando a sua mão e
deslizando a joia que agora carrega três pedrinhas de
diamante.
— Céus, é o que estou pensando? Elas representam
os nossos filhos? — Analisa a peça e suas íris brilham.
— Sim, isso mesmo. — Estendo sua mão para perto
do meu rosto e beijo o dedo que carrega o anel do nosso
compromisso.
— Obrigada, querido, ficou linda. — Seus lábios
tremem.
— Alina, você promete... — o celebrante repete as
mesmas palavras que falou para mim minutos atrás, então
ela pega a minha aliança com a nossa filha e beija a testa
dela também, logo Bianca volta a ficar com os irmãos.
— Eu também prometo milhares de vezes. — O tom
dela é embargado no microfone, enquanto põe a aliança
no meu dedo.
— Sendo assim, convido vocês para que façam suas
trocas de votos para esta ocasião.
Solto uma risada nervosa e sou acompanhado por
minha mulher.
— Ai, Deus... Não tenho nada aqui, não estava
preparada, não fazia ideia. — Alina passa a mão na testa.
— Andreo, eu estou nervosa agora. — Comprime os
lábios.
— Pode deixar que eu falo primeiro. Tudo o que
tenho para dizer a você está gravado aqui e aqui. —
Aponto para a cabeça e depois para o coração. — E
aposto que você também tem algo muito lindo para me
dizer.
— Eu te amo — murmura, comovida.
— Eu também te amo — devolvo a sua declaração.
O celebrante me entrega o microfone.
— São dez anos da nossa jornada. Hoje, estamos
comemorando não apenas uma união, mas uma década de
companheirismo, cumplicidade e muito amor. Alina, você e
nossos filhos são a minha força e inspiração. Ao longo
desses dez anos, enfrentamos desafios juntos, superamos
obstáculos, crescemos e nos fortalecemos como casal.
Desejo poder continuar a crescer ao seu lado, aprendendo
com os erros e acertos. Obrigado por ser a minha parceira
de vida. — Toco em seu braço e levo minhas mãos ao seu
rosto. — Alina, você é o meu orgulho, uma mulher
maravilhosa, nora, mãe, amiga e esposa, tenho certeza de
que todos aqui estão de acordo comigo. Eu não poderia
ter escolhido outra pessoa para dividir os dias bons e
ruins comigo. Eu te amo hoje, amanhã, depois da manhã.
— Você fez a lição de casa direitinho, né? — Seu
tom é embargado e bravo ao mesmo tempo. Ela limpa o
canto dos olhos e todos riem quando me dá um tapa de
leve no peito.
— Hum-hum, agora é a sua vez, Alina — diz o
celebrante.
Minha mulher pega o microfone e me encara.
— Quando coloquei os olhos em você, era apenas
uma garota de vinte anos sonhadora, e mesmo ainda
sendo tão jovem, soube que tinha encontrado o homem da
minha vida. Ao longo dos anos, construímos uma base
sólida de amor, respeito e companheirismo. Andreo, você
é meu alicerce, meu orgulho, meu melhor amigo, o melhor
pai desse mundo, o homem que escolhi amar. Com você,
sei que sou capaz de enfrentar qualquer vendaval, porque
tenho certeza de que você estará sempre ao meu lado,
segurando a minha mão e me apoiando. Sou muito grata e
me orgulho da nossa jornada. Você e nossos filhos são a
minha base, a minha força, meus maiores amores.
Seguro em sua mão e trago para perto do meu rosto,
depositando beijos.
O celebrante volta a pegar o microfone e diz suas
últimas palavras, recebendo aplausos em seguida.
Sem perder tempo, enlaço a cintura da minha mulher
e a puxo para mim. Deslizo uma mão em sua nuca e grudo
nossas bocas, beijando-a lentamente, transmitindo todo o
meu amor por ela.
— Mamãe, papai. — A voz de Bianca chama a nossa
atenção, então olhamos em sua direção e vemos Nick com
a irmã se aproximando com duas cestinhas nas mãos,
jogando pétalas azuis em nós.
Em uma troca de olhares, Alina e eu sorrimos ao nos
sentirmos realizados.
Nossos convidados se aproximam para nos
parabenizar. A minha esposa abraça a madrinha, depois a
melhor amiga, então agradece a cada um a presença.
Ficamos por alguns minutos em um falatório, até que
nos espalhamos pelas mesas para desfrutar da comida,
logo os garçons surgem e começam a servir os
convidados.
Permanecemos na festa até todos irem embora.
Assim que nos despedimos, subimos para a melhor suíte
enquanto meu pai leva as crianças para a casa dele.
— Amor, me ajude com o zíper, por favor. — De
costas para mim, minha esposa tenta tirar o seu vestido.
Sem camisa e descalço vou até ela, que está no
banheiro com a porta aberta.
— Iria mesmo tirar o vestido sem mim? Sabe que
adoro tirar as suas roupas. — Afasto suas mãos do seu
corpo e beijo a sua nuca, deixando-a arrepiada.
— Eu deixaria que tirasse a minha calcinha —
murmura, soltando um suspiro ao sentir meus lábios
tocando em suas costas nuas conforme vou descendo o
zíper.
O vestido cai aos seus pés e eu tenho o vislumbre da
calcinha branca rendada cavada em sua bunda deliciosa.
Com as duas mãos, apalpo as nádegas dela e mordo um
lado e depois o outro, arrancando gemidos de Alina.
— Eu amo esse creme que você usa — elogio,
raspando o nariz em sua pele macia que cheira
framboesa, que me causa um tesão do caralho, a ponto do
meu pau aumentar de tamanho na cueca.
Eu amo cada detalhe nela.
Deslizo a peça íntima para baixo, logo ela se vira
para mim completamente nua, e eu me levanto, já
encarando a sua boca.
— O que acha de aproveitarmos aquela hidro? —
sugere, fitando a hidromassagem por cima do ombro.
— Não se preocupe, querida, iremos aproveitar cada
canto desse lugar até o amanhecer. — Seguro em seus
quadris. — Primeiro, vou te fazer gozar na hidro, depois
vamos explorar os outros cômodos — prometo, movendo a
mão até o meio das suas pernas e tocando seu clitóris
com a ponta dos meus dedos.
Inclino meu rosto em um dos seus mamilos e
abocanho o biquinho intumescido. Mamo seu peito ao
mesmo tempo em que afundo os dedos em sua boceta
molhada. Ouvindo os gemidos dela, massageio seu feixe
de nervos e movimento minha língua para cima e para
baixo em sua auréola.
Fico poucos minutos naquela posição, antes de
descer a boca para o vale dos seus seios e fazer uma
trilha por sua barriga, indo de encontro à sua boceta.
Separo as suas pernas e enfio a língua em seu interior,
lambendo e chupando com vontade, sem deixar de
trabalhar com meus dedos totalmente encharcados com
seu líquido.
Coloco uma perna dela apoiada em meu ombro e
acelero o movimento da língua em seu clitóris. Minha
mulher me segura pelo cabelo e eu meto nela cada vez
mais rápido e com força, ouvindo os seus choramingos.
— Ahhh, Andreo... — geme, quase soluçando e
esfregando a boceta em meu rosto.
— Amor, acho que vamos deixar essa hidro para
mais tarde, preciso entrar em você — digo, com a boca
lambuzada encostada em sua virilha.
— E eu preciso que faça isso agora — pede, arfando.
— Se importa em ter o meu pau dentro de você
contra a parede? — Olho para o lado, apontando para a
parede cor salmão.
— Iremos explorar cada canto, lembra? Podemos
começar pelas paredes.
Tiro a perna dela do meu ombro e me levanto.
— Então se apoie nela e fique de costas para mim,
querida. O seu marido está louco para te comer nessa
posição. — Minha voz sai baixa e quente.
Alina atende ao meu pedido e fica toda empinada
para mim. Rapidamente, eu me livro das minhas últimas
peças de roupa e vou até ela. Toco em sua cintura e
massageio a sua bunda gostosa, e provocante, a minha
esposa rebola e me olha por cima do ombro, me
convidando para fodê-la com o movimento ousado que faz.
Com um sorriso sacana, separo suas nádegas e abro
suas pernas, deixando suas dobras brilhantes de
excitação à mostra. Me ponho atrás de Alina e beijo seus
ombros ao mesmo tempo que seguro em meu pau e me
afundo nela, soltando um gemido rouco por senti-la tão
encharcada.
— Porra, nunca vou me cansar de comer você,
abelhinha. Podem passar anos, mas vai continuar
gostosa. — Meto devagar, sentindo como é delicioso foder
a minha esposa.
— Ai, céus — choraminga, me sentindo sair dela e
esfregar meu piercing em seu clitóris, depois voltar a
meter nela com mais intensidade.
Afundo minhas mãos em seu cabelo e o puxo para
trás, encostando a minha boca na orelha dela.
— Rebola para mim, amor, fode o seu homem só
como você sabe fazer — peço, descansando a testa em
sua nuca e deixando meu quadril bater em sua bunda.
Alina apoia a cabeça em meu ombro e pega uma das
minhas mãos, levando à sua boceta. Eu acaricio o seu
clitóris enquanto como sua boceta.
— A-andreo...
— Sim, querida? — falo em sua orelha, e ela geme
por me ter dentro dela.
— Eu quero que me leve para cama e faça amor
comigo — pede, manhosa, erguendo o rosto para mim e
me encarando com seus lindos olhos pelos quais sou
perdidamente apaixonado.
— O seu pedido sempre será uma ordem.
— Por isso eu te amo, Andreo — declara, com um
sorriso genuíno.
— Eu te amo muito mais, Alina — devolvo sua
declaração, pegando-a no colo e inclinando meu rosto
para perto do seu.
E a cada encontro dos nossos olhos, transmitimos
uma forte conexão de amor e, acima de tudo, respeito.
Rogo aos céus para que tenhamos muitas décadas ao
lado um do outro, e que continuemos felizes em nosso
para sempre.
Jessica Santos nasceu em 22 fevereiro de 2001, na
Bahia. Em 2014, surgiu o gosto pela leitura, e em 2015
para 2016 ela decidiu que escreveria o seu primeiro
romance e não quis mais largar a escrita. Já tem lançado
alguns livros na Amazon, entre contos e novelas, e
atualmente está trabalhando na série Herdeiros da Máfia,
um de seus maiores sucessos que vem conquistando os
leitores nas plataformas on-line.
Minha página no Facebook:
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ACASO PERFEITO: (LIVRO ÚNICO)
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Safira nunca imaginou que tomar umas doses com
um cliente bonitão teria alguma consequência. Mas teve.
Uma gravidez.
A jovem se viu encrencada quando as duas linhas no
teste de gravidez apareceram. Ela jamais imaginou que
anos depois o reencontraria. Muito menos que ele era o
pai da sua melhor amiga.
Ele continuava o mesmo homem que a seduziu
naquela noite. Agora, ela estava em apuros, guardando o
segredo a sete chaves com o mesmo tremor inquietante
que Victor Guterres tem o dom de causar nela.
Victor faria Safira se render, e no processo tentaria
não acabar na cama com ela.
Mais uma vez.
Dois desconhecidos entrelaçados em um acaso
perfeito que o destino fez questão de uni-los. Mas será
que o amor será capaz de superar as mentiras, intrigas e
perseguições?
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