Você está na página 1de 419

Copyright © 2023 Mário Lucas

NA PROTEÇÃO DO MAFIOSO
1ª Edição
 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser
reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito do autor/editor.
 
Capa:  Ellen Ferreira
Revisão: Gláucia Padiar, Joyce Ribeiro
Diagramação: April Kroes
Ilustrações: Carlos Miguel
 
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com
fatos reais é mera coincidência.  Nenhuma parte desse livro pode ser
utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes – tangíveis ou
intangíveis – sem prévia autorização do autor. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do
código penal.
 
TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA
LÍNGUA PORTUGUESA.
 

HUNTER
Eu tinha tudo e adorava a sensação de poder, mas era inevitável ser

consumido pelo passado. Estava prestes a dar um fim ao meu caos

particular quando ela surgiu.


Tímida, filha do pastor e irmã do meu melhor amigo, Halle
significava tudo o que eu ignorava, mas que precisava naquele momento.

Não era para ter sido intenso e diferente, nem era para ter sido

alguma coisa, porque ao descobrir a sua mentira decidi que precisava tirá-la
do meu sistema antes que fosse tarde demais.

Porém, cometi um erro, e, talvez, nada será suficiente para

consertá-lo.
HALLE

Eu o observava desde criança. Não sabia ao certo em que momento

me senti atraída, ou quando passei a guardar fotografias dele. Talvez fosse o


seu passado sombrio, a rebeldia ou o mistério que exalava em cada poro.

No entanto, tive que engolir a sua partida e ser surpreendida anos

depois ao reencontrá-lo no meu primeiro ano de universidade. Eu não


estava preparada para ficar diante daqueles olhos obscuros outra vez ou ser

incendiada com o seu toque.

Por um momento acreditei que o meu conto de fadas finalmente

estivesse se realizando, mas o nosso destino foi cruel. Hunter Scott me

machucou, me fez sangrar e me deu motivos suficientes para não perdoá-lo.


Juro que não vou perdoar.

 
 
Sinopse
Sumário
Aviso
Sobre a série
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Epílogo
Agradecimentos
Redes sociais
Leia também
 

“O Erro de Hunter” conta a história de amor entre um bad boy

problemático e uma garota de família rígida, criada na igreja.


Este livro contém cenas de sexo explícito e aborda temas sensíveis

de forma leve, sem apoio ou romantização dos temas citados.


Esteja ciente de que aqui você encontrará personagens humanos,

que erram e anseiam por libertação de seus problemas.


Seja bem-vindo à Atenas University e embarque comigo nessa

nova aventura!
 

Aviso: O Erro de Hunter, livro 3 da série BAD PRISON, é um

volume único. Cada livro da série, por ser com casais diferentes e

AUTORES diferentes, pode ser lido separadamente, e os personagens


citados: Colin, Liam e Blake terão suas histórias contadas por outros

autores.
Quais são os livros da série?

Livro 1 – A Promessa de Colin – Ly Albuquerque


Livro 2 – A Busca de Liam – Joane Silva

Livro 3 – O Erro de Hunter – Mário Lucas


Livro 4 – A Conquista de Blake – Jéssica Larissa
 
 

 
 

 
 

 
A todos aqueles que uma vez sonharam com

um primeiro amor verdadeiro.


 
 

“Nunca seremos o fim, sempre o meio”.

Hunter Scott

O Erro de Hunter
 

HUNTER SCOTT
 
Confiança é algo frágil e traiçoeiro. Quando você sente que pode

confiar em alguém é como ser abrigado por um colete à prova de balas,

nada pode te ferir. Mas quando essa lealdade se quebra é como saltar em um
vazio sem ter uma corda para te segurar, você sabe que é o fim.

Eu confio em coisas, não nas pessoas.

Um dia cometi o erro de confiar em uma garota, nunca me


perdoarei por isso.

Ignoro os gritos do lado de fora, as batidas na porta. Nada será

capaz de impedir o desejo irrefreável da violência consumindo o meu


sangue.

Acerto o rosto do homem à minha frente apenas três vezes, o peso

do meu corpo sobre o dele o impede de revidar. Tudo que há em mim se


traduz em fúria, vingança, rancor e a certeza de que é mais fácil ignorar a

razão quando se quer sentir o domínio do caos.

Observo minhas mãos manchadas de sangue logo depois que ele

perde a consciência. O líquido viscoso tingindo a minha pele causa uma

certa confusão em meu peito, uma mistura de ódio e um leve


arrependimento que afugento no mesmo instante ao lembrar que esse cara

arrancou o que eu tinha de mais precioso. Fui tomado pelo descontrole e

gostei, o bati como merecia, não me importa se está vivo ou morto.

Ofegante, suado e com um gosto amargo de ódio na boca, sinto-me

como se fosse uma fera que não se sente satisfeita, muito menos vingada.
Ainda de punhos cerrados, não consigo continuar batendo nele, por mais

que eu queira.

Mal consigo levantar quando a porta é arrombada e os policiais

invadem a casa para me render. Os gritos de ordem para eu não resistir

invadem os meus ouvidos, permito que eles puxem os meus punhos para

trás das costas com força, sou algemado e arrastado para fora com a raiva

incontida queimando por minhas veias, destruindo tudo que há pela frente.
— O que foi que você fez?! — desesperada, Halle grita assim que

me vê.

Dias atrás eu me odiaria por fazê-la ir aos prantos, faria de tudo

para substituir as suas lágrimas por um doce sorriso, daqueles que apenas
ela sabe dar. Mas agora, após descobrir o que fez, tudo o que sinto se define

em nojo.

— O que foi que você fez?! — berra outra vez, bate os punhos

fechados no meu peito, arrasada, se partindo em pedaços.

— Agora estamos quites — murmuro, frio. Sou presenteado com

seu olhar incrédulo e machucado sendo contaminado pela raiva.

Eu a odeio, e nada será mais agradável do que receber o seu ódio


também.

Os policiais me levam até a viatura, sou jogado no banco traseiro

como se fosse um pedaço de merda, mas nada disso é suficiente para deter o

meu rosto virado em direção ao seu.

Quero que ela sinta o que senti, testemunhar o seu coração ser

esmagado como o meu foi depois de sua traição, quero que essa vadia

entenda o significado de impotência a ponto de não poder respirar.

Halle Duncan merece sofrer.

Ela também deve sangrar.


 

O tempo dentro da viatura até a delegacia não ameniza a minha

euforia.
Fico cego para tudo o que acontece ao redor assim que sou retirado

do carro e levado à uma sala, sequer consigo escutar as merdas vomitadas

pelos guardas ou a tentativa fracassada do Xerife em me interrogar.


Recuso-me a proferir uma só palavra, aceitando feliz a minha

condução até uma das celas, um espaço semiescuro e sujo que sou obrigado

a dividir com um sujeito que, pelo visto, mantém uma energia caótica,

semelhante à minha, algo que é provado com o sangue no canto de sua

boca.

Ele está sentado no banco ao fundo da cela, sozinho. E apesar de

não conhecê-lo, logo após escutar o portão gradeado ser fechado às minhas

costas, encaro o homem como se fosse um dos meus inimigos, permitindo

que a fúria carregada em meu peito seja derramada sobre a mera presença

dele.

O infeliz me devolve o mesmo olhar flamejante, como se

detestasse a minha presença, fazendo questão de me ignorar quando retira

um maço de cigarro e um isqueiro do bolso da calça.

Engulo em seco, sou atingindo pelo cheiro assim que ele acende o

cigarro e pela vontade esmagadora de fumar.

Bufo, seguindo para o banco lateral, preferindo manter distância.

Olho para o meu companheiro outra vez, pelo visto ele ainda não

se conformou com a minha chegada. Pela sua estatura, temos a mesma faixa
etária, e pude notar que compartilhamos o gosto por tatuagens, além de

provavelmente termos a mesma rebeldia.

O nosso silêncio ensurdecedor é quebrado quando outro sujeito que

aparenta ter a nossa idade, também é jogado aqui dentro.

— Policiais filhos da puta! — Ele mostra o dedo para os homens

uniformizados que se afastam, o ignorando. Dá uma pausa para respirar e

observar ao seu redor. — Aí, mano, me dá um cigarro? — o rapaz se

aproxima do outro que não se incomoda em ajudá-lo. — Eu sou o Liam[1], e

você?

— Blake[2].

Liam se senta ao lado dele após lhe entregar o cigarro, os dois

soltam baforadas no ar, provando terem a mesma intimidade que tenho

quando o assunto é fumar.

— E você? — Liam ergue o queixo em minha direção.

— Hunter — respondo, esfregando as mãos sujas do sangue seco

uma na outra.

Liam faz menção de continuar tagarelando, mas a nossa atenção é

fisgada pelo quarto cara que é empurrado para dentro da cela. Ele também é

alto e tem tatuagens como nós, a diferença é que o desgraçado inventou de

tatuar o rosto.
— Bando de moleques mimados inconsequentes do caralho! — O

policial do lado de fora cospe no chão, denunciando o seu nojo. — Eles

pensam que porque são milionários são donos da cidade. Hoje vocês estão

onde merecem! — ladra, indo embora.

— Bem-vindo à festa do pijama! — Liam faz piada, abrindo os

braços, gargalhando.

— Pode ter certeza que aqui é melhor do que o lugar onde eu

estava — diz o novato, ele tira a jaqueta e se senta ao meu lado. — A

propósito, eu me chamo Colin[3] — observa a nós três.

— Eu sou o Liam, ele é o Blake e esse aí é o Hunter.

— Por que estão aqui? — Colin está curioso.

— Aí, cara, pode me dar um cigarro? — peço a Blake, que estica

um meio-sorriso debochado.

— Ah, então quer dizer que você fala. — Ele arremessa o maço e o

isqueiro para mim. Uso apenas uma mão para capturar os objetos, me

apressando em acender o meu cigarro enquanto Colin, sem pedir, faz o

mesmo depois de mim.

— Eu não estou em um dia bom — confesso, após dar o primeiro

trago.

— Acho que nenhum de nós estamos. — Blake se encosta na


parede. — Quem foi que você matou? — Ele nota o sangue em minhas
mãos.

— Tomara mesmo que o desgraçado tenha morrido. — Sinto os

meus olhos queimarem ao lembrar daquele infeliz, assim como do motivo

que me levou a surrá-lo.

— Foi por causa de mulher? — Colin parece ler a minha mente.

Ele sopra a fumaça para o alto como se fosse uma brincadeira divertida.

Fecho a mão livre, cerrando o punho ao sentir o ódio me

corromper.

Não quero admitir que entreguei mais do que devia àquela menina,
que ela se tornou o meu vício, uma droga que quase me levou ao fim na
primeira overdose.

Se eu pudesse voltar no tempo, jamais teria permitido a sua


aproximação.

Abro a boca, as minhas palavras saem em um misto de dor e


remorso:

— Ela foi o maior erro da minha vida, hoje a fiz entender que eu
fui o seu.
 

HALLE DUNCAN
 

Meses antes...

 
Proteção é uma desculpa para te desarmar. A princípio parece belo

toda aquela coisa de ter alguém disposto a matar e morrer por você, no
entanto, viver à sombra dessa boa intenção pode se tornar uma doença. Aos

poucos, você vai sendo corrompida até ter a absoluta certeza de que tudo o
que não quer é se proteger, ou ser impedida de descobrir o que é a vida por

conta própria. 

Eu só quero que tudo isso acabe logo.

— Ah, não sei, acho que seria melhor eu e seu pai levarmos você
— mamãe diz, nervosa, caminhando de um lado a outro da sala, roendo as
unhas sem conseguir parar de observar pelas janelas, esperando Jimmy

chegar.

— Mãe, por favor... para — peço, em um tom ameno, não

suportando mais a sua superproteção.

A minha independência parece sinônimo de doença ou de qualquer


outra coisa desagradável.

— Não entendo por que você quer dormir na universidade, dividir

quarto com quem nem conhece. — Ela massageia o pingente da Estrela de

Belém do colar que cerca o seu pescoço, coloca a mão livre na cintura e

continua indo de lá para cá, desgostosa com o fato de ver a sua única
menina finalmente saindo de casa para estudar. — Ainda não sei se o reitor

da Atenas atendeu ao meu pedido para deixá-la em um quarto com uma

garota que também seja cristã.

Sentada no sofá de couro bege, reviro os olhos, lembrando que ela

não fez esse mesmo espetáculo com o Jake, meu irmão mais velho, quando

ele foi para a universidade.

— Pare com isso, Caroline. Halle está indo para o outro lado da
cidade, não para outro país — a voz fria do meu pai, Nicholas, irrompe a

sala.

Viro o rosto em direção à escada, por onde ele desce imponente,

com o seu habitual traje, uma camisa social azul-claro, calça cinza e os
sapatos marrons.

Papai senta em sua poltrona, de frente para mim, mas sequer se

esforça em levantar o seu olhar, provando que está pouco preocupado com o

fato de que eu esteja alcançando um novo patamar da minha vida ou com a

minha ausência que, de agora em diante, será uma realidade.

— Além disso, ela não será levada por qualquer um, mas sim por
Jimmy, o seu futuro noivo — sinto um aperto no meu coração após ouvir o

nome proferido.

As suas palavras, tão certas sobre o meu futuro cuidadosamente

montado por ele e mamãe, são mais um dos pesos dos quais quero tentar me

livrar quando finalmente chegar à Atenas University.

— Sem contar que Jake estará lá para cuidar dela, se preciso for. —

Papai cruza as pernas e abre o seu jornal, escondendo o seu rosto por trás da

folha cinzenta manchada com as centenas de frases e imagens das notícias

do dia, ficando alheio a tudo a partir desse momento, blindando-se em seu

casulo impenetrável de gelo, como faz todas as manhãs.


Mas nem sempre foi assim.

— Eu não preciso ser cuidada pelo meu irmão, pai. — Olho

fixamente em sua direção, desejando que, ao menos uma vez na vida, ele

me retribua com o mesmo olhar, que seja capaz de me dar um pingo de


atenção. — Não preciso de uma babá. — Escorrego a ponta dos dedos pela

testa ao constatar que continuarei sendo ignorada, como se não tivesse voz.

— Eu gosto do Jimmy, mas o Jake deveria ter vindo também. —


Mamãe finalmente se cansa de caminhar e se senta ao meu lado, na outra

ponta do sofá, respirando fundo ao relaxar os ombros. — O que os irmãos

da igreja vão pensar se souberem que a nossa filha passou um tempo

sozinha no carro com o namorado?

Namorado?

Quando eles vão entender que nós dois não temos nada além da

maldita opressão de expectativas que fazem sobre um futuro

relacionamento entre a gente?


O casal perfeito... os exemplos da juventude da igreja e do nosso

condomínio, cujas famílias ricas e bem-sucedidas adorariam promover um

casamento.

— Aquele ali jamais teria coragem de fazer alguma coisa — penso

em voz alta, entediada ao lembrar do garoto que grudou em mim desde a

adolescência, me cercando dentro da igreja, conquistando o carisma dos

meus pais com a sua imagem de “cara perfeito”.

— O que disse, Halle? — Mamãe me encara horrorizada, fazendo-

me deter o movimento dos meus dedos, que deslizavam na lateral do meu

rosto.
Boquiaberta, não sei o que responder, mas sou salva pelo som da

buzina do carro de Jimmy, que acaba de estacionar ao lado de fora.

— Ah, ele chegou, graças a Deus! — Ela salta do sofá com um

sorriso desenhado em seu rosto, não por eu estar saindo debaixo das suas

asas, mas sim pela chegada do seu “futuro genro”, como costuma dizer.

Incrível como esquece rápido do seu medo sobre nós dois sozinhos

ao correr até a porta, abri-la, e ir ao encontro dele primeiro.

Sinto náusea ao levantar e assistir a toda essa situação que vem se

arrastando sem que eu possa controlar. Eles simplesmente não me escutam.

Por mais que eu fale, é como se não tivesse voz ou escolhas. Há algo de

errado com a minha família, e por mais que tente, a sensação é de que

nunca conseguirei entendê-los.

Quando eu era criança tudo era diferente, todavia, sem mais nem

menos, o nosso mundo pareceu escurecer de repente.

Mamãe ficou ainda mais devota à igreja, se tornou uma religiosa

radical à medida que papai perdeu o seu brilho, se tornou carrancudo,

rígido, exigindo o mesmo comportamento de todos nós, se abrigando atrás

da religião para defender quaisquer das suas atitudes, sejam elas boas ou

ruins.

Eles são boas pessoas e bons pais, mas me sufocam.


Encosto-me no batente da porta e cruzo os braços para observá-los.
— Ah, eu juro que se não tivéssemos um compromisso importante,

não estaríamos o incomodando, Jimmy! — mamãe se justifica, após trocar

um aperto de mão com o rapaz tão loiro quanto o meu pai.

Tenho a impressão de que a sua ascendência alemã foi um fator-

chave para que meu pai o visse como um bom pretendente dentre todos os

rapazes da igreja, já que o Sr. Nicholas também tem sangue alemão, apesar

de ter nascido nos Estados Unidos. Minha mãe, por outro lado, é uma linda

mulher de pele negra, que aparenta ser mais jovem do que realmente é.

— Não se preocupe, Sra. Duncan, eu jamais recusaria um pedido

de vocês, ainda mais relacionado à minha futura esposa. — Ele vira o rosto

em minha direção, alargando o seu sorriso perfeito.

Não posso negar que Jimmy Shaw é lindo, mas cansativo.

Suspiro, revirando os olhos, exausta com essa ladainha ridícula e

que já deixei bem claro que detesto. Mamãe gargalha, alegre,

acompanhando Jimmy para dentro de casa.

Saio da porta antes que me alcancem, e sigo até as duas malas que

estão no espaço entre os sofás. Eu queria muito que Jake tivesse vindo me

buscar, já que todo mundo acha que, mesmo agora que acabei de completar

dezoito anos, sou incapaz de andar sozinha pela cidade.

— Senhor Duncan, bom dia! — Jimmy segue até o meu pai, que se

levanta e abandona o jornal para cumprimentá-lo enquanto mamãe caminha


em minha direção, repreendendo-me por não tê-lo recebido direito.

Ela gesticula repreensões com a boca, sem nem mesmo sussurrar

para não correr o risco do seu genro ouvir e entender que mais uma vez está

brigando comigo por causa dele.

— Mãe, me deixa! — Eu me desvencilho do seu toque quando ela

segura o meu braço. Arrasto as malas até a porta, estressada, sufocada,

esperando para sair.

— Shaw... — papai começa a trocar algumas palavras com ele.

— Deus está vendo, mocinha. Deus está vendo! — ela finalmente


murmura, se reaproximando, erguendo o indicador em minha direção. Seus
olhos corrompidos por um brilho irritado devido à minha má-criação.

Decido ignorá-la para não explodir de vez, a minha garganta fica


seca e o ar parece faltar enquanto Jimmy termina o seu longo diálogo com o

meu pai até me ajudar a levar as malas para o seu carro.


A despedida não poderia ser mais fria e desagradável.

Mamãe deposita um beijo em minha testa e repete as mesmas


recomendações que vem falando desde que fui aprovada na universidade.

Papai apenas fica imóvel ao seu lado, com as mãos guardadas dentro dos
bolsos, o seu olhar duro dizendo coisa nenhuma. Sento-me no banco do

carona do Audi A3, coloco o cinto de segurança e espero Jimmy entrar.


Ele liga o motor e dá a partida. Respiro aliviada quando me dou
conta de que estou me afastando da minha casa. Que ironia, não sinto que o

lugar onde sempre morei é o meu lar.


Não mais.

— Custava dar um sorriso para os seus pais e se despedir


decentemente? — ouço a voz inconformada do cara ao meu lado. Jimmy já

é um homem, mas as suas atitudes por vezes são infantis.

— Você fez isso por nós dois. Até demais, eu diria — sou irônica,

preferindo manter os olhos rumo à paisagem lá fora, observando os prédios


baixos de alvenaria de Boston.

— Independentemente de qualquer coisa, eles são os seus pais. Eu


os respeito, você deveria fazer o mesmo em todos os momentos. Deveria

ser...
— Exemplo? — indago, cruzando as mãos, o encarando e me

desencostando do vidro da janela, onde até então estava recostada, como se


estivesse me escondendo. — Você sempre fala isso, Jimmy. É um poço de

exemplo e perfeição. Será que não se cansa? — Essa é a minha maior


curiosidade, e apesar de perguntar já sei muito bem a resposta.
Não. Ele não se cansa.

Pelo contrário, gosta de ser o jovem modelo.


— Do que está falando? Que assunto é esse? — Ele para no
semáforo, se empertigando. — Às vezes a maior atitude de uma mulher

sábia é se calar. — Bufo um sorriso, encarando o que acabei de ouvir como


inacreditável. — Você ri, não é? Mas tudo o que estou tentando fazer é te

proteger, te manter no caminho correto. — Acelera, ultrapassando a faixa


de pedestres assim que o sinal se abre.

Meu coração acelera também, não pela velocidade que estamos


alcançando, mas sim pelos gatilhos que as suas palavras me causam.

A vida inteira todos sempre quiseram me proteger, me poupar, seja


por eu ser mulher e automaticamente ser vista como fraca. Seja por

pertencer a uma família rígida e ter que seguir regras inquebráveis, servir de
exemplo para os amigos e conhecidos, considerada a garotinha de ouro pela

sociedade, por vezes, inalcançável.

Eu não quero ser protegida, quero ser desafiada!

— Não estou em perigo para ser protegida, nem me desviando para


me manter no caminho certo. Às vezes você parece querer me controlar,

Jimmy. Apenas isso — solto, sem dor na consciência, mas temendo me


arrepender. — Assim como os meus pais e todo o resto.

— Controlar? — Ele sorri, incrédulo. — Como você é ingrata e


mimada, Halle. — Nós dobramos em uma curva, entrando em outra

avenida. — Vai ter que aprender muita coisa antes de nos casarmos. — A
mesma certeza que meus pais têm acerca desse assunto, ele também tem,

talvez até mais.


Respiro fundo, esfregando uma mão no rosto, estressada, o peito

doendo. Um gosto amargo agarrado ao céu da boca.


Remexo-me no banco, incomodada, os punhos cerrados. Penso se

vale a pena prosseguir com essa discussão.

— Sabe o que é mais interessante, Jimmy? Você nunca me pediu

em casamento, então para mim, nós não temos nada além dos seus planos
com os meus pais — replico, me sentindo melhor ao jogar esse embrulho

no estômago para fora.


Ele me ignora, como se não tivesse me ouvido, um meio-sorriso

cínico se esticando na curvatura dos seus lábios. Isso me deixa ainda mais
emputecida, mas prefiro encerrar por aqui. Esse tipo de desentendimento

está ficando cada vez mais frequente entre a gente, assim como aqueles que
tenho com os meus pais.

Será que a errada sou eu?


Será que realmente estou me desviando do caminho?
Não posso negar o fato de que já não via a hora de desaparecer por

um tempo, fazer exatamente como o Jake fez. Ele praticamente não pisa em
casa desde que foi para a universidade, sempre inventando desculpas até

mesmo nos feriados.


Meia-hora mais tarde, chegamos ao campus de uma das maiores

instituições de ensino superior do país. Atenas University, é referência


nacional no que diz respeito ao ensino de alta qualidade. Ganhou esse nome

porque Boston tem o apelido de “Atena das Américas”, visto que a cidade é
possuidora de um extenso centro universitário.

— Eu vou te acompanhar até o seu dormitório — Jimmy anuncia,


assim que descemos do carro e pega a minha bagagem do porta-malas.

— Não, eu quero ir sozinha. — Tomo as malas das mãos dele.

— Não vou permitir que ande por aí solitária — ele reclama,

enrijecendo a face. — A sua mãe pediu para que eu conhecesse a sua colega
de quarto.

— Jimmy, por favor! Não torne esse dia pior do que já está! —
elevo a voz, o fuzilando. — Pare de agir como se eu fosse uma criança! —

vejo os seus olhos esbugalharem, como se não me reconhecesse.


Aperto os puxadores das malas entre os dedos. Nunca pensei que o

dia mais importante da minha vida fosse ser tão desagradável.


— Tudo bem, Halle. Tá bom. Como você quiser — ergue as mãos

em sinal de rendição, insatisfeito. — Mas depois não reclama — fecho os


olhos, sentindo a minha ira e também a sua aproximação. Ele segura os

meus braços, mas nem isso consegue me relaxar. — Posso te dar um beijo
de despedida? — Ergo as pálpebras, o encarando, sem acreditar no que
disse.

O meu silêncio o faz aproximar o rosto, me pego sem reação e


meio que curiosa para saber se realmente vai fazer o que disse. Não que eu
anseie por isso, ele nunca me tocou com intimidade, talvez seja apenas

curiosidade de algo que jamais experimentei.


Todavia, Jimmy vai na minha testa.

Um beijo na testa.

Seus dedos acariciam os meus braços como se eu fosse de cristal,


tomando cuidado para não me apertar.

Engulo em seco, me sentindo estranhamente decepcionada. Sem


entender o que de fato estava esperando.

— Qualquer coisa me ligue que venho correndo. — Assinto após


ouvi-lo, seus olhos azuis me encarando. Viro-me, puxando as malas. —
Halle... — paro de caminhar para olhá-lo por cima do ombro —, qualquer

coisa — repete. Posso sentir a insegurança o corrompendo, a mesma da


minha mãe.

Talvez seja difícil de engolir que não vou estar mais cem por cento
debaixo das vistas deles, ao alcance... observável... controlável. 

Isso não é normal.


— Okay — digo, seguindo pelo caminho ladrilhado de alvenaria,
que se destaca em meio ao extenso gramado.

À medida que vou me afastando e aprofundando na enorme


propriedade, sinto o ar diferenciado encher os meus pulmões, os jovens da

minha faixa etária caminhando por todos os lados, conversando em grupos,


alguns casais namorando debaixo das árvores. Aos poucos, vou esquecendo

dos meus problemas ao me perder entre os prédios que mais parecem


castelos, alguns bem maiores que outros.

Entro em um dos edifícios, recebo olhares estranhos e sorrisos


esnobes até alcançar o andar onde fui informada que fica o meu quarto.

O corredor está bem movimentado, cheio de vida juvenil, homens


e mulheres por todos os lados. Capturo o celular da minha bolsa, olho a

mensagem que recebi da direção dias atrás, confirmando os números nas


portas até encontrar a minha, que passo a chave e abro.
Me deparo com uma garota de quatro sobre a cama, dividindo o

colchão com dois caras. Um deles a segura pelos quadris e faz investidas
por trás, o outro prende um punhado do seu cabelo entre os dedos enquanto
escorrega o pau para dentro de sua boca.
— Ei! — a voz dela sai abafada, visto que está com a língua

ocupada. O seu olhar sobre mim não é nada amigável, deixando claro que
sou uma intrusa.
Puxo a maçaneta rapidamente, fechando a porta com força.
Chocada.

É, mamãe, você não vai querer conhecer a minha colega de


quarto.

 
 

HALLE DUNCAN
 

Abismada, encosto-me à parede, sem reação.

Envio mensagem ao diretor da casa, perguntando se há outro


quarto, porém, sem mencionar o motivo, mas ele não está online, acho que

vai demorar a responder. O pior de tudo é que a imagem daqueles três não
sai da minha cabeça, eles tinham corpos perfeitos e pareciam combinar

dentro daquela escandalosa união.


Ofego, sou tomada por calor e confusão. Ainda não consigo

acreditar no que vi, fico me perguntando como aquela garota foi capaz de

topar fazer isso e, ainda por cima, parecer gostar tanto. Não imaginava que

em Atenas essas coisas fossem tão naturais.


Não sou ingênua e nem quero julgá-la, sei que sexo é comum entre

os jovens e que acontece nas universidades, apenas estou abalada com a

cena, assim, à luz do dia.

Quando canso de esperar e penso em procurar mais alguém

responsável pela organização dos dormitórios, a porta ao meu lado se abre,


os dois rapazes saem com um sorriso saliente e, imediatamente, abaixo o

rosto, sentindo as minhas bochechas corarem.

— Quem é você e como tem a chave do meu quarto? — a voz da

garota me obriga a erguer o olhar, ela é muito bonita, tem um longo cabelo

preto, olhos verdes e está usando apenas uma blusa que mal cobre a parte
superior do seu corpo, permitindo que as suas pernas fiquem expostas.

— Eu... acho que... sou sua nova colega de quarto — respondo,

constrangida.

Ela me analisa de cima a baixo como se não pudesse acreditar.

— Porra, não acredito que mandaram uma freira! — reclama,

desgostosa. Acredito que o seu comentário se refira à minha saia que vai até

os joelhos, a blusa de manga-longa e o cabelo que está preso em um coque


baixo, que não permite ver os meus cachos.

— Eu não sou uma freira — replico, não gostando das suas

palavras.
Ela bufa e retorna para a sua cama, deixando o caminho livre.

Todavia, olho ao redor, pensando duas vezes se sigo adiante ou vou embora.

Algumas pessoas passam por mim, entrando em outros cômodos

mais à frente. Uma delas parece estar saindo do banheiro, escovando os

dentes.

— Não se preocupe, eu sou grossa, mas não mordo — vejo a


minha colega acender um cigarro antes de se deitar e soprar a fumaça para o

alto.

Sem que eu perceba, as minhas pernas se movem para dentro do

dormitório, como se tivessem vida própria. Apesar do meu medo e do

impacto da nossa primeira interação, há uma curiosidade me consumindo

sobre a forma de agir e falar da desconhecida, tão diferente de mim, livre.

É uma liberdade assustadora, mas existe.

Está ali.

Fecho a porta e analiso o ambiente que não está tão bagunçado,

exceto pela cama dela, de onde vem um cheiro forte do sexo há pouco
tempo exercido.

O piso é de tacos de madeira em formato vertical, o teto forrado, as

paredes pintadas de azul claro. A minha cama fica ao lado oposto da cama

dela, assim como o meu armário e a minha mesinha de cabeceira. Temos

apenas uma janela, grande, de vidro, no centro da parede do fundo, que dá


para o jardim. Abaixo dela, existe uma escrivaninha com dois assentos para

estudar. O prédio inteiro tem três andares, estamos no segundo, cada qual

comportando cerca de cinquenta alunos.


Fico tensa ao perceber que dividiremos o mesmo banheiro e

imagino que loucuras ela já deve ter aprontado ali.

— Qual é o seu nome mesmo? — sua voz curiosa invade os meus

ouvidos, às minhas costas, enquanto desfaço as malas.

— Halle Duncan, e você? — Paro de mexer nas minhas roupas e

viro o rosto para ela, não posso negar que também tenho curiosidade.

— Amy Conway — ela volta a se sentar, abandonando o seu

cigarro já gasto dentro do cinzeiro. — Espere aí... — faz uma cara de quem
acabou de descobrir alguma coisa importante. — Duncan? Das farmácias

Duncan? — Assinto. Sim, sou a herdeira de uma das redes de farmácias

mais bem-sucedidas da região. — Hmmm, legal. — Levanta, indo até o seu

armário cujas portas são repletas de adesivos, de onde retira uma calça preta

de couro.

Amy também veste uma regata e uma jaqueta.

Por fim, calça as suas botas, ajeita o cabelo, joga uma mochila nos

ombros e segue para a saída, lembrando uma assassina.

— Vai ficar me devendo uma por ser uma empata-foda. Fique

sabendo disso — avisa, após abrir a embalagem de um chiclete e empurrar


para dentro da boca, poucos segundos antes de sair.

Que louca!

Sento-me no colchão, entendendo que tenho um longo caminho

pela frente. Entretanto, ao ver a hora em meu relógio de pulso, volto a ficar

de pé e acelero a minha organização para correr até a minha primeira aula

do ano.

Demoro a me localizar, encontrar a sala de aula que cabe cerca de

cem pessoas, cujas carteiras são dispostas em uma arquibancada. Sou a

última a chegar, toda desastrada, recebendo um olhar repreensivo do

professor enquanto subo os degraus e encontro um lugar para me sentar, em

uma das fileiras da parte mais alta.

Quanto mais escondida, melhor. Detesto ser o centro das atenções.

Avisto Amy do outro lado, que sorri e cochicha com algumas

colegas, olhando para mim. Fico incomodada, mas as ignoro. Coloco a

minha mochila no chão, abro o meu iPad e começo a fazer as minhas

anotações, ouvindo atentamente o que diz o professor.

O primeiro dia de universidade foi agitado, mas solitário. Enviei

várias mensagens a Jake, ele demorou bastante para me responder e quando


o fez, apenas afirmou que estava ocupado demais e logo viria me visitar.

Simples assim.

Algo de errado está acontecendo. Faz meses que não nos vemos.

Meu irmão era tão apegado a mim, o que será que aconteceu?

Agora, deitada em minha cama, após responder milhares de

mensagens enviadas por minha mãe e Jimmy, apenas me divirto

contemplando as fotografias que registrei em minha Canon[4], durante as

horas em que explorei cada canto da Atenas, entendendo que ela é tão

grande que ainda há muito para conhecer.

Toda a paisagem nos remete àqueles filmes dos anos noventa e, ao

mesmo tempo, com o toque suave da modernidade.

Uso o indicador para passar imagem por imagem na tela,

calculando onde errei e acertei ao fotografar. Fotografei tudo o que achei

interessante e impressionante.

A câmera foi presente da minha falecida avó, a recebi quando tinha

apenas treze anos. Desde então não parei, capturar imagens do mundo se

tornou o meu vício, mas, naquela época, havia alguém especial, que me

fascinava a ponto de querer tirar fotos somente dele.

Por mais que fosse às escondidas.

Discreta.
Adormeço sem perceber, lembrando-me de quando era feliz apenas

por vê-lo quase todos os dias, através da minha janela.

— Halle, acorda! — a voz ansiosa de Amy irrompe os meus

ouvidos, fazendo-me despertar, confusa.

— Quê? Que horas são? Quando você chegou? — pergunto, ainda

embebida do sono, recordando que quando fui dormir ela ainda não havia

chegado.

— Todos para fora! Agora! — ouço o grito masculino e as batidas

violentas na porta. Salto da cama, assustada. Amy me puxa pela mão.


— Espero que você saiba nadar! — ela abre a porta, vários alunos
passam correndo pelo corredor, todos com roupa de dormir assim como eu.

Alguns garotos estão até descamisados. — Nós temos que ir, vê se não me
decepciona!

— Ir para onde? Eu estou apenas de pijama! — contesto, tentando


me livrar do seu agarre, mas a garota me lança para fora como se eu fosse

um objeto. Me vejo obrigada a seguir o fluxo antes de ser esmagada, as


pessoas esbarram em mim ao passarem, me empurrando para frente.

Olho para trás à procura de Amy, mas não a encontro, fico perdida
em meio à multidão, principalmente quando descemos as escadas e

chegamos ao térreo.
Somos guiados a atravessar a enorme sala de estar e sair pela
cozinha, invadimos o jardim dos fundos em debandada até entrarmos em

um bosque dominado pela escuridão da noite, à medida que somos


escoltados por um grupo de caras altos e fortes, vestidos em calça jeans

preta e moletom vermelho-sangue, que nos cercam feito soldados.


— Vamos! Caminhem! — Um deles me empurra, me fazendo

esbarrar em um garoto.
Fico amedrontada, percebendo que o frio da atmosfera mal
consegue me atingir devido ao calor da adrenalina correndo em meu

sangue. Além da galera ao meu redor, um acúmulo de corpos.

— São os membros da Esparta — o garoto no qual esbarrei


cochicha, com a voz tranquila, se referindo aos brutamontes que nos tratam

feito ovelhas. Abraço o meu corpo, tentando me cobrir, uso apenas um


baby-doll. — É o famoso trote dos calouros, eles ficaram responsáveis por

nós essa noite.


— Esparta? A fraternidade dos loucos jogadores de futebol

americano? — Rapidamente chego à essa conclusão, o rapaz de cabelo


dourado e sorriso bobo, assente, os seus olhos estão corrompidos por um
brilho de quem está adorando essa situação.

— Legal, né? Eles são demais!


A princípio, a sua indagação me parece meio idiota, mas depois,
por algum motivo louco, é estranhamente bem-vinda.

Nunca vivi algo assim. É no mínimo curioso, além de assustador.


Ser arrastada à força no meio da madrugada para uma floresta não

deve ser considerado algo legal, mesmo que isso seja feito pelos membros
de uma fraternidade que está entre as mais conhecidas e respeitadas da

cidade, apesar da sua fama de bebedeira, festas insanas, sexo, drogas e


trotes agressivos.

Foi por essas e outras que a minha mãe enlouqueceu quando


afirmei que queria estudar na Atenas, ela apenas cedeu porque as minhas

outras opções eram fora de Boston, porque Jake já estava lá, porque estar
aqui contém um status inigualável, além do fato de que fraternidade com

esse tipo de fama tem em toda região.


Os espartanos nos mandam parar ao lado de um lago tomado pelo

brilho da lua e das estrelas. Do outro lado do lago tem uma mansão que
parece estar em festa, não é difícil escutar o som da batida eletrônica.

À nossa frente, uma grande pedra é iluminada por uma luz


vermelha que vem de baixo, imagino que seja de um refletor, mas de onde

estou não consigo comprovar, tem muita gente depois de mim.


Espero que você saiba nadar!
Recordo das palavras de Amy e sou tomada por um frio na

espinha, a minha pele se arrepia, finalmente sentindo o vento me assolar.


As vozes ansiosas e assustadas se calam quando alguém surge no

topo da pedra, acompanhado de outros dois às suas costas.


Um rosto conhecido atravessa a luz, encarando o público com uma

perversidade inesperada. 

— Jake? — sim, é o meu irmão. Fico chocada.

— Vocês entraram na Atenas, mas isso não significa que mereçam


fazer parte dela! — ele começa o seu discurso, em alto e bom tom. — Para

estar aqui tem que ter coragem, garra e inteligência! — Jake parece outra
pessoa, as suas roupas estão diferentes. O menino comportado se tornou um

espartano? — Atravessem o lago e recebam a bênção do nosso líder que os


aguarda do outro lado! — Aponta para a mansão depois da extensa faixa de

água. — Provem que não serão uma vergonha para a nossa instituição! E
assim poderão curtir a melhor festa de suas vidas!

Todos os membros da fraternidade berram feito animais,

lembrando mesmo os guerreiros de Esparta[5].


Eles formam uma linha de combate e nos forçam a recuar em

direção ao lago enquanto batem no peito e continuam urrando, um coro


assustador. 

— Jake! — grito, o vendo se afastar e desaparecer.


Um a um, os alunos saltam na água, outros são empurrados, até

mesmo aqueles que dizem não saberem nadar.


E apesar de achar tudo isso uma baita loucura, decido encarar,

entrar no jogo, até porque não tenho outra opção. Não quero ficar aqui para
descobrir o que vai acontecer com quem não conseguir atravessar. Também

preciso perguntar ao meu irmão o que está acontecendo.


Sendo assim, respiro fundo, mas, antes de me lançar no lago,

percebo que a maioria está se juntando no centro, todos se batendo


enquanto tentam nadar desesperadamente, um empurrando o outro,

correndo o risco até de se afogarem.

Assim, decido seguir pela lateral, mas, ao mergulhar e sentir a água

congelante, solto um gemido, a dor me agarrando até os ossos. Esqueço


completamente do desafio, tudo o que quero é sair daqui.

O mais rápido possível.


Nado feito uma louca, movendo o corpo, uma braçada após a

outra. Também coloco as pernas para trabalhar, empurro a água para trás,
fazendo da melhor maneira que aprendi quando adolescente, nas aulas de

natação. Entretanto, a força exercida me faz perder o meu short, ele


simplesmente escorrega pelas minhas pernas bem no meio do percurso.

Meu coração quase sai pela boca, o pânico de saber que estou
seminua quase arranca o meu cérebro do lugar, mas a barulheira que os
caras fazem do lado de fora, nos incentivando a seguir em frente como se
isso aqui fosse uma disputa, o alvoroço do pessoal ensandecido dentro do

lago, a pressão e o medo de me afogar, tudo me faz perder a capacidade de


raciocínio.
E quando finalmente consigo chegar em terra firme, arrasto-me

para fora do lago com dificuldade, sem forças, me vendo apenas com a
blusa do baby-doll e a calcinha.

Jesus.

Passo as mãos no cabelo que agora está solto, o coque se desfez, os


cachos longos tomam vida. Assim como eu, outros alunos saem da água e

caminham comigo rumo ao jardim inundado por uma plateia de


universitários eufóricos, muita bebida, som alto e emoção.

Uma loucura.
— Garota, você arrasou, foi uma das primeiras! — Amy aparece
do nada e me abraça, ignorando o fato de eu estar ensopada. — Nem

acredito nisso! Eu ganhei, eu ganhei! — ergue o braço enquanto grita para


todos ouvirem.

— Uma toalha... — gaguejo, batendo os dentes de frio. — Eu


preciso de uma toalha. — Abraço o meu corpo quando ela se afasta, raspo

as mãos nos braços, tentando me esquentar e ao mesmo tempo me cobrir.


— Ah, deixa comigo, eu vou pegar! — Amy desaparece em meio à
multidão que olha para mim e para os outros como se fôssemos bichinhos

de estimação.
Nunca senti tanta vergonha na vida.

— Levem-nos para o Scott! — alguém grita.

— Dessa aqui ele vai gostar — um dos caras me puxa pelo braço,

meu cérebro entra em alerta, não apenas por não ter gostado do tom saliente
em sua voz, mas também pelo sobrenome antes citado.

Scott.
Tão familiar que me faz lembrar do passado.

A música é cessada quando abrem espaço para o primeiro pequeno


grupo de calouros que completou o desafio.

Apesar do frio e da confusão de vozes e olhares, percebo que a


festa está acontecendo no jardim dos fundos, que se transformou em uma
verdadeira bagunça. Bandeiras negras com um A dourado no meio, dentro

de um círculo vermelho-sangue – o mesmo de Esparta da Grécia antiga –


estão espalhadas no topo das colunas da mansão.
Nós atravessamos o vão das portas de madeira e seguimos por um
corredor que dá direto no enorme e luxuoso hall, onde somos jogados no

centro, molhados, cansados e expostos.


Ofegante, ergo o olhar alguns metros à frente, onde um homem
usando apenas uma calça jeans preta está sentado em uma espécie de trono,

como um verdadeiro rei. Ele pode até não ser um de fato, mas o poder que o
seu olhar emana ao entrar em colisão com o meu, prova que realmente tem
uma energia imperial, devastando-me feito as chamas do próprio fogo.
Hunter Scott se levanta devagar, musculoso, tatuado.
Ele está ainda mais alto do que eu me lembrava, o olhar mais

obscuro e perigoso. Seu cabelo preto, agora cortado em estilo militar, o


deixou mais rebelde.

Hunter se aproxima, fazendo com que as conversas ao redor se

acabem assim que se detém diante de mim, ignorando tudo ao redor.


Tão perto e palpável.
Quente.
Sinto as minhas bochechas queimarem, o frio do meu corpo ir
embora e se deixar invadir pelo calor. Os bicos dos meus seios intumescem

e marcam o tecido da blusa molhada. Não sei o que está acontecendo, mas a
minha calcinha fica apertada entre as pernas, parecendo menor.
Engulo em seco, a respiração entalada na garganta, o coração
parando de bater.

Ele foi o meu primeiro e único amor platônico, a minha doce e


obsessiva ilusão. Mas agora não é mais um menino, se transformou em um
homem e alguma coisa me diz que a nossa história está apenas
começando.  

 
 

 
 

 
 

HUNTER SCOTT
 

Era para ser apenas mais uma noite de bebedeira, música e

diversão com o primeiro trote do ano letivo, a iniciação dos calouros para
que futuramente pudessem ter a chance de entrar em alguma fraternidade e

descobrir o verdadeiro significado de fazer parte da Atenas. No entanto, eu


não estava preparado para viver a porra de um déjà vu.

Ao erguer o olhar e me deparar com os primeiros vencedores do


desafio do lago, rapidamente consigo identificar a presença dela. Então, no

automático, o resto do mundo é esquecido sem que eu possa evitar.

Sou arrastado em sua direção, meu corpo se move sem controle,

sem raciocínio. O enxame de lembranças do passado invade a minha mente


ao mesmo tempo em que admiro a garota molhada, apenas de blusa e

calcinha, uma verdadeira tentação.

Ela abaixa o rosto, nervosa.

Vulnerável.

Caralho! Por que é tão sexy vê-la tentando cobrir os seios?


Seguro a ponta do seu queixo, obrigando-a a olhar para mim outra

vez, contemplando os seus olhos cor de mel que fazem o meu pau pulsar,

endurecer.

— Mel? — indago, chamando-a pelo apelido que lhe dei quando

ainda éramos adolescentes. Halle Duncan não é mais uma criança, se tornou
uma mulher gostosa pra caralho.

Ela é uma garota de pele preta igual ao seu irmão.

— Halle? — a voz dele chama a nossa atenção. Chocado, Jake

abre espaço entre a galera para se aproximar. Retiro a mão do queixo da

menina, mas não saio do lugar. — Que porra está acontecendo aqui? — Ele

analisa a situação dela, não gostando nadinha do que vê.

Acho que nenhum irmão mais velho em seu lugar gostaria.

Halle passeia o olhar entre ele e eu, é como se não conseguíssemos


nos desconectar, há uma atração violenta entre a gente apesar da situação.

— Aqui, cheguei! — Amy, uma das alunas mais loucas do campus,

surge com um roupão branco, ajudando a Halle a se cobrir, roubando a


visão do seu corpo perfeito, motivo dos marmanjos ao redor lamentarem. 

— Ei, ei! Calem a boca! Ela é a minha irmã! — Jake fica irritado

ou enciumado, não sei dizer. Ele a segura pela mão. — Vamos, temos que

conversar. — Eles dão poucos passos até se deterem ao ouvirem a voz do

Drew, um de nossos irmãos da Esparta, o mesmo que trouxe Halle até aqui

pelo braço.
— Mas ela ainda não recebeu a bênção do Scott — a voz dele

domina todo o ambiente. O pessoal faz um “uhhh”, gostando da sua afronta.

O encaro com certa perversidade, percebendo as suas verdadeiras

intenções, talvez tão sujas quanto as minhas.

— Como é que é? — Jake dá meia-volta, detestando o seu

comentário.

— Ela é uma caloura, não é? — Drew dá um passo à frente, o

enfrentando. — Passou no primeiro teste, precisa terminar o ritual e ficar na

festa até o fim.

A galera vibra com essa possibilidade, principalmente os homens,


todos querendo desfrutar um pouco mais da beleza da Halle. Ela é

realmente diferente, exala uma delicadeza que nunca vi por aí e que

também não me lembrava. Não é como se eu a tivesse esquecido, mas o

choque de presente e passado está me afetando.


— Mas nem fodendo, Drew! Não sei que porra está pensando, mas

pode desistir, minha irmã não é uma qualquer! — Jake ergue o queixo,

defendendo a garota que se mantém calada.


Drew respira fundo, olha para mim como se para capturar alguma

possível reprovação, depois encara a plateia.

— Todos os calouros de joelhos. Agora! — grita, fazendo o

pessoal enlouquecer feito um bando de animais ensandecidos.

Eles repetem as suas palavras em coro:

— DE JOELHOS! DE JOELHOS! DE JOELHOS!

Um a um, os outros que passaram no desafio se ajoelham ao nosso

redor. A ira de Jake aumenta, o meu melhor amigo parece querer esganar o
Drew, que, por outro lado, está se divertindo. Halle parece perdida e o seu

irmão busca o meu olhar, pedindo apoio.

Tomo fôlego antes de erguer uma mão e obrigar todos a ficarem

em silêncio.

Eles me respeitam. Aqui eu sou um deus.

— Por que não me contou que a sua irmã estava vindo pra

universidade? — Aproximo-me de Jake, exasperado. Falo em um tom

baixo, Halle fica atenta ao nosso diálogo.

— E isso importava? Esse assunto não é do seu interesse. — Nós

trocamos um olhar conflituoso, sinto vontade de esmurrá-lo por ter


permitido que as coisas chegassem a esse patamar.

Tudo isso poderia ter sido evitado, já que ele, ao que tudo indica,

não queria ver a sua irmãzinha sendo trolada.

— Ah é? Agora você sabe que se ela não completar o desafio, não

vai ser respeitada por ninguém em todo o campus. E o que acontecer a ela

depois disso também não será do meu interesse. — Foco na garota, ela

mantém os lábios carnudos entreabertos, tão atraentes que acendem o meu

desejo.

Inferno.

— Eu estarei aqui para protegê-la. Já está decidido — Jake fala por

ela, o que não me agrada. Ele faz menção em sair, mas para de caminhar ao

escutar a minha voz.

— E o que a Halle decidiu? — falo em um tom mais alto,

intensificando o som ao mencionar o seu nome. Ao contrário do irmão, ela

não saiu do lugar, continua me encarando. E, ainda por cima, se desfez do

toque dele. — Você não sabe falar? — ergo o queixo ao dar um passo em

sua direção, detendo-me à sua frente, poucos centímetros do seu corpo.

Tenho quase o dobro do seu tamanho.

Por algum motivo desconhecido, sinto uma vontade esmagadora de

provocá-la. É mais forte que eu.


Halle estreita os olhos, algo muda em sua expressão.
— Eu quero ficar — as suas palavras ditas em um tom quase

inaudível, me pegam de surpresa, um sabor agridoce toma a minha língua

depois disso.

— Irmã, o que está dizendo? — Jake não consegue acreditar.

— Como é? Acho que não a escutei. Mais alto — ordeno, as

últimas palavras saem mais roucas.

Halle ofega, tomando coragem como se estivesse decidindo sobre

viver ou morrer. Como se o que fosse falar agora fosse mudar toda a sua

vida. Ela cerra os punhos, apertando os dedos, a mandíbula travada, o olhar


cada vez mais intenso, como o de alguém que não pode perder essa incrível

oportunidade de tomar uma simples decisão.

— Eu quero ficar! — ela exclama, explodindo a voz para fora,

contagiando o pessoal que pula e comemora, a assustando.

Impossível evitar o meio-sorriso de contentamento em meus lábios.

Halle parece tão frágil e indefesa, exatamente como me lembrava.

Quero conhecer os seus limites. Eu quero tudo.

— Então já sabe o que fazer — cochicho em sua orelha no instante

em que aproximo o rosto do seu, de repente, ouvindo o seu suspiro

aquecido como resposta. Fico ainda mais excitado ao sentir a química

exagerada entre a gente.

Isso não vai prestar.


— Que merda você tá fazendo, Hunter?! — Jake me empurra,

alterado. Seguro o seu braço e o puxo para mais perto, de supetão.

— Fica. Calmo — rosno, pausadamente. Ele sabe que eu jamais

permitiria que a machucassem.

Halle parece pensar duas vezes antes de voltar para o seu lugar ao

lado dos demais calouros e se ajoelhar, enfim falando e agindo por si

mesma. Assim como deve ser. Inconformado, Jake bufa e ergue o indicador

em ameaça, antes de recuar e me dar espaço para fazer o que tenho que
fazer.

Ao meu sinal, alguns membros espartanos surgem às minhas costas


com baldes de lama, fazendo o pessoal voltar a ficar eufórico, todos

filmando e fotografando com os seus celulares.


Um a um, eu “abençoo” os calouros ao derramar o líquido escuro e

fétido sobre eles, fazendo um estrago ao sujá-los da cabeça aos pés. Cada
balde contém dezoito litros de lama, uma que vai custar bastante para sair. E

quando chega a vez da menina Duncan, tê-la ajoelhada aos meus pés, seus
olhos inundados de expectativas e medo ao me observarem de baixo, faz o

meu psicológico estremecer.


Percebendo que estou enfeitiçado demais, tomo logo uma atitude

antes de deixar muito na cara para todo mundo aqui que a desejo.
— Seja bem-vinda à Atenas — repito o que disse para os outros
antes de erguer o balde pesado e virá-lo, fazendo-a ter o mesmo destino dos

seus colegas.
Em poucos segundos Halle fica coberta de lama, motivo para o

pessoal comemorar. A música volta a tocar lá fora, dispersando a multidão


ansiosa para beber e curtir.

— Já chega. Vamos, Halle — Jake não está disposto a testemunhar


a irmã passar por mais brincadeiras. Impressionante como ele a trata como
se ela fosse feita de cristal, enquanto eu a vejo exatamente como é: de carne

e osso.

Ela limpa o rosto antes de levantar e segui-lo, sem olhar para trás.
Não consigo tirar os olhos dela até que suma de vista, e ao me dar

conta disso, pisco três vezes, sem me reconhecer. Drew se aproxima,


detendo-se ao meu lado, coçando a barba rala em seu queixo.

— Porra, eu não sabia que o Jake tinha uma irmãzinha dessas —


ao ouvi-lo, constato que não fui o único a ficar encantado. — Ela é gostosa

e ainda cheira a virgindade. — Ele sorri feito um cafajeste, doido para


atacar. — A sua boceta deve ser tão apertada...
— Se mantenha bem longe dela. — O encaro. É uma ordem.

— Por quê? — vejo a sua sobrancelha arquear, ele me analisa


como se tivesse chegado a uma conclusão. — Nós podemos dividi-la,
irmão, não seja tão egoísta. — Deposita a mão sobre o meu ombro, a sua
voz denunciando as segundas intenções que tenho certeza que seria capaz

de pôr em prática.
Já dividimos mulheres antes. Na verdade, fazemos isso o tempo

inteiro. Aqui todo mundo pega e ninguém se apega, não existe essa de
garota especial. Contudo, Halle é a irmã do meu melhor amigo, isso a torna

intocável apenas porque o considero bastante desde que éramos pequenos.


Além de ter certeza que ele jamais permitiria que algum de nós a tocasse.

— É como o Jake falou, ela não é como as outras. Além disso, eu a


conheço desde criança, então não tente nenhuma gracinha. — Seguro o seu

punho e o afasto de mim, falando bem sério.

Drew acha graça.

Ele sempre leva tudo para o lado da brincadeira.


— Se eu fosse o Jake não estaria preocupado comigo, mas sim com

você. — Aponta em minha direção, se afastando com uma gargalhada


sinistra.

O infeliz me conhece muito bem.


— Vamos pessoal, ainda temos muitos calouros para trolar! — ele

grita, incentivando a galera a sair da mansão e voltar para o jardim, onde


continuaremos com os trotes.
Avisto um dos enlameados ainda tentando se livrar da sujeira que

está em cada canto do seu corpo.


— Você — chamo a sua atenção ao apontar para ele e engrossar a

voz. — Não saia daqui enquanto não limpar essa merda — mostro o
lamaçal que eu mesmo fiz quando virei cada balde sobre eles.

O rapaz assente de cabeça baixa, sem contestar, para o seu próprio


bem.

Sei que devo seguir o fluxo, mas a curiosidade me leva a ir pelo


mesmo caminho que Jake foi com a sua irmã, para o lado oeste da mansão.

Sigo o rastro de lama que ela deixou por um corredor movimentado, onde
os casais se pegam, conversam e bebem cerveja.

Paro de caminhar antes de atravessar as portas que dão para fora.


Avisto Jake discutindo com Halle perto do chafariz.

Sem pensar duas vezes, eu me aproximo, a maioria das luzes desse


lado estão apagadas, então é fácil me ocultar nas sombras para escutá-los:

— Do que você está falando? — Jake indaga, estressado, como se


não compreendesse alguma coisa.
— Você sequer foi me ver! Sumiu por vários meses desde que veio

para cá e agora quer ditar as regras que eu devo seguir? As mesmas que
você claramente não segue?! — A menina que até então parecia não ter

voz, agora está completamente chateada e falante. — Mamãe e papai sabem


que está fazendo parte da Esparta? Até onde sei você deveria estar

frequentando a igreja do campus!


Jake passa as mãos no seu cabelo curto.

— Você não entende, Halle, eu me sentia sufocado! — Isso é


verdade, ele transformou Atenas na sua válvula de escape. — Quando

cheguei aqui as coisas mudaram.

— Pois eu também me sinto sufocada, Jake. — Halle encosta as

mãos no peito. — E você me deixou sozinha! Então não venha agora querer
cumprir o seu papel de irmão mais velho, não sou mais uma garotinha,

tenho dezoito anos!


— Aqui você é mais que uma garotinha, é uma presa fácil — Jake

ergue o indicador. Ele não está mentindo. — Não vou permitir que nenhum
dos meus amigos brinque com você, não quero que se aproxime deles!

— Devia ter pensado nisso antes de permitir que eu viesse parar


aqui essa noite. — Ela cruza os braços, inconformada.

— Era para você ter sido designada para outro prédio, uma suíte.
Aconteceu algum engano, não era para estar dividindo quarto com

ninguém. Eu já tinha planejado tudo.


Tento entender o meu amigo, mas está difícil.

— Planejado o quê? Me esconder da universidade inteira? Fingir


para todos que eu não estava aqui? — Halle perde a compostura, está sendo
divertido testemunhar esse seu lado selvagem. Então ela não é tão indefesa
quanto pensei. — Por que só você pode ter o direito de ser um jovem

normal?
— Não se trata disso. — Jake respira, cansado. — Vamos parar
com essa discussão inútil e nos acalmar. Eu vou te levar para o seu

verdadeiro dormitório. — Tenta tocá-la, mas ela se afasta, parecendo uma


múmia feita de lama.

É até engraçado.

— Eu vou ficar onde estou, Jake. Chega de todo mundo querer


comandar a minha vida, me controlar com a desculpa de me proteger! —

Halle aponta para o chão, decidida. É nesse instante que a admiro,


percebendo que estou tendo o privilégio de assisti-la se tornar mesmo uma

mulher. Ou pelo menos tentar. — Apenas quero ser livre. — As suas


palavras, ditas como se tivessem machucado a sua garganta, tocam alguma
parte dentro de mim.

De certa forma, me identifiquei e sei que o seu irmão também.


Nós somos parecidos.

— Aonde vai? — Jake começa a segui-la quando Halle se afasta.


— Vou para o meu dormitório e não se atreva a me seguir! — Ela

apressa os passos, mas é óbvio que ele não a obedece.


Sem pensar, caminho na mesma direção deles, no entanto, duas
loiras gostosas barram o meu caminho. Elas me agarram sem que eu possa

evitar, nós costumamos nos divertir muito nas festas, apesar de eu sempre
confundir ou sequer lembrar dos seus nomes.

— Aonde você pensa que vai, gostoso? — Uma delas acaricia o


meu peitoral nu.

— Nós já estamos prontinhas pra você. — A outra fica na ponta


dos pés para lamber o meu pescoço e apertar o meu pau.

— Ótimo, quero as duas no meu quarto, de quatro sobre a cama. —


Acaricio o rosto de ambas, olhando bem no fundo dos seus olhos. — Chego

em dez minutos — determino. Elas sorriem animadas, já estão meio


bêbadas e são capazes de tudo para me satisfazer, no entanto, o meu foco

agora é outro.
Assim que as duas se afastam para cumprir a minha ordem,
aproveito que um espartano está por perto e exijo o suéter dele emprestado.

Sigo os irmãos Duncan por um longo caminho para o outro lado do


campus, até descobrir em que prédio Halle está dormindo. Tomo bastante
cuidado para o Jake não notar a minha presença, observo-o discutir outra
vez com a irmã quando chegam na entrada do edifício, onde ele finalmente

decide não mais insistir e ir embora.


Halle entra e eu fico esperando.
O lugar está quase completamente vazio, já que a maioria dos
alunos está em Esparta. Avisto uma luz acender em uma das janelas do

segundo andar, deve ser ela. Dou alguns passos à frente e me detenho
debaixo de uma das árvores, onde sou coberto pela sombra dos galhos.
Fico aqui por um longo tempo, sem entender de fato o que vim
fazer. Tenho duas bocetas quentinhas me aguardando na minha cama, mas
continuo parado, sentindo a brisa fria do vento.

Tiro um cigarro e um isqueiro do bolso da calça, o acendo e


começo a fumar pacientemente, até que a garota surge na janela, apenas de
toalha, se penteando igual a uma princesa, com a cabeça erguida rumo ao
céu onde a lua e as estrelas são protagonistas.

Saio da sombra da árvore, surgindo abaixo da luz de um dos postes


do extenso gramado. Sopro a fumaça para o alto assim que Halle desce o
olhar como se fôssemos atraídos por um imã. Ela paralisa ao me ver,
evidentemente surpresa enquanto a contemplo, obsessivo, como se fosse a

coisa mais preciosa que já testemunhei e que quero pegar.


Te achei, Mel.
 

HALLE DUNCAN
 

O tempo parece passar em câmera lenta quando vejo Hunter ao

lado de fora, parado, fumando, o olhar enigmático me mantendo cativa à


sua imagem construída de mistério e charme. Ele me seguiu? O que veio

fazer aqui? Já não basta toda a avalanche de sentimentos que o nosso


reencontro me causou?

Nervosa, mal percebo quando os meus dedos enfraquecem,


permitindo que o pente que estava em minha mão caia, o barulho do baque

desperta-me do transe que a presença dele me causou.

Recuo, afastando-me da janela, escondendo-me sem saber por que,

como sempre fiz desde a primeira vez em que o vi cinco anos atrás. Estar
perto de Hunter Scott é uma dose de veneno que o meu corpo não consegue

suportar.

Abaixo-me para pegar o pente e, quando volto a ficar de pé,

aproximo-me da janela outra vez, ansiosa e nervosa, todavia, ele não está

mais lá.
Desapareceu.

Feito um fantasma.

Engulo em seco, sento-me na cama e pego a minha Canon. Acesso

o menu e procuro a pasta mais antiga que guardei, a que tem o sobrenome

dele, Scott. Passo as várias imagens até encontrar aquela que tirei no dia em
que nos falamos pela primeira vez. O dia em que, acidentalmente, Hunter

me notou.

As lembranças permeiam a minha mente e são tão vívidas que tudo

parece ter acontecido ontem.

Ainda estávamos nas primeiras semanas daquele verão, mas eu

sabia que seria o mais incrível de todos porque havia ganhado o melhor

presente da minha vovó: uma câmera fotográfica!


Além disso, eu e a minha família tínhamos acabado de nos mudar

para o novo condomínio, ainda estávamos terminando de organizar a nova

casa, mas aos poucos a colocaríamos em ordem, como mamãe falava.

Naquela época, ela e papai eram pessoas mais leves e liberais.


Eu me sentia livre com eles e não o contrário.

Fazia apenas duas semanas que estávamos ali, porém, foi tempo o

suficiente para eu perceber a existência de Hunter, não tinha como não

perceber:

— Filho, ajude a mamãe, jogue o lixo para fora! — escutei minha

mãe falar com o meu irmão, que estava concentrado em jogar videogame
com o meu pai.

— Eu faço isso, mãe! — Saltei do sofá onde estava deitada lendo

um livro, corri para o andar de cima, invadi o meu quarto e peguei a minha

câmera que encontrei sobre a mesinha de cabeceira.

Voltei para a sala de estar e cheguei o mais rápido que pude à

cozinha, retirando os fios de cabelo do rosto para poder respirar direito

após essa maratona.

— Para que essa pressa? — Mamãe franziu a testa, ela estava

encostada na pia, lavando a louça, tínhamos acabado de almoçar. Coloquei


a câmera à tiracolo, passando a alça pelo pescoço, e fui até o balde de lixo

ao lado da pia. — Você veio me ajudar ou aproveitar a oportunidade para

ficar fotografando por aí? — A sua sobrancelha se ergueu, os seus lábios

se dobraram em um bico que sempre fazia quando ficava desconfiada.


— Só um pouquinho, mãe! Ainda não tirei fotos hoje! — implorei,

cruzando as mãos. — Por favor... — gemi, apelando, adorava um drama.

— Tudo bem, mas não perturbe os vizinhos, ainda não tivemos


tempo de conhecê-los, e é bom que sejam nossos amigos — aconselhou.

Bati palmas, contente, a abracei, ela beijou o topo da minha

cabeça antes de me assistir puxar o saco de lixo para fora do balde,

amarrá-lo na ponta e atravessar a porta da cozinha para a área externa.

Depositei o saco dentro do contêiner e caminhei mais para o fundo

do quintal, perto da piscina, de onde dava para ver a piscina da casa ao

lado, onde ele aparecia de vez em quando, não para mergulhar, apenas

sentar no teto do alpendre e ficar olhando para o seu reflexo lá embaixo,


sem medo de cair.

Como fazia exatamente agora.

Meu coração acelerou quando o avistei, um pequeno sorriso

nasceu no instante em que me escondi atrás do tronco de uma árvore para

contemplá-lo com mais privacidade, após caminhar com cautela até

atravessar o pequeno muro de arbustos e entrar na propriedade dele.

O meu vizinho era o garoto mais bonito que já tinha visto em toda

minha vida. Ele parecia bem mais velho que eu, talvez tivesse uns dezoito

anos. Eu não entendia o motivo de ele gostar tanto de se arriscar sentando-

se sobre o telhado, mas era curioso analisá-lo em sua melancolia.


Queria descobrir por que sempre estava triste e por que espiá-lo

era tão interessante. Me sentia estranhamente bem com isso, apesar de ter

pena dele e querer conversar, fazer amizade. Mas me faltava coragem e

certo medo da sua energia sombria, o semblante zangado.

Então, era mais conveniente ficar ali, distante, o fotografando

como o meu modelo secreto.

Ajustei o zoom da lente, focando exclusivamente nele e tudo

acontecia normalmente como nas outras quatro vezes, porém, o seu rosto se

ergueu e os seus olhos me flagraram, como se soubessem da minha

presença e tivessem apenas esperando o momento certo de dar o bote.

Me atrapalhei quando tentei me esconder atrás do tronco outra

vez, o desequilíbrio assaltou meu corpo e eu fui ao chão.

Ofegante, levantei devagar, disposta a disparar e correr, no

entanto, o escutei:

— Eu sei que está aí, não adianta mais se esconder! — a sua voz

alta e repreensiva fez eu prender a respiração.

Jesus, e agora?

— Apareça ou eu vou até a sua casa te dedurar para os seus pais,

o que você fez foi invasão de privacidade. Posso até exigir que me deem a

sua câmera por ter me fotografado sem a minha permissão — a sua


ameaça me congelou. Encostei a Canon em minha barriga, a protegendo,

eu poderia perder tudo à essa altura, menos ela. — Quer pagar pra ver?

Engoli em seco, senti as minhas bochechas queimarem quando me

vi obrigada a sair do meu esconderijo e ficar exposta. De cabeça baixa,

ofegante.

— Aproxime-se — ordenou.

Em pânico, obedeci, de punhos cerrados, as mãos suando.

Alguma coisa me dizia que esse misto de emoções não era apenas

consequência do flagrante, mas também por chegar tão perto dele. Parei
do outro lado da piscina, sem saber o que fazer.

— Olhe para mim. — Respirei com dificuldade, procurando um

buraco para me enfiar. Eu não conseguiria fazer isso. Nunca. — Não me

ouviu? — sua voz engrossou, arrepiando-me.

Pisquei algumas vezes antes de tomar coragem para erguer a face

e encará-lo. Ele estava de tênis, calça e suéter preto. A faixa do céu azul às

suas costas dava a impressão de que estava dentro de uma pintura. O

garoto era perfeito, apesar de aparentar ter detestado a minha intromissão.

— Desculpe — pedi, sem jeito.

Era o mínimo que eu deveria fazer.

— Pelo quê? — perguntou. Queria mesmo me obrigar a falar

aquilo?
— Por ter invadido a sua propriedade, oras — me irritei.

— Mas não é a primeira vez. Achou que eu não tinha notado? —

As minhas bochechas queimaram de novo, o frio atingiu minha barriga e a

minha garganta secou. — Eu sei que acabou de se mudar para a casa ao

lado. Sei quem é você — revelou, me surpreendendo.

— Como? — fiquei curiosa, relaxando os ombros. Então ele tinha

mesmo me notado?

— Eu apenas sei, Halle. — Apoiou as mãos atrás das costas,

estava sentado em posição fetal. O meu nome foi dito em um tom diferente,
mais intenso, provando que já sabia mais de mim do que eu dele.
— E qual é o seu nome? — aproveitei para descobrir.

— Hunter Scott.
— Bem, me desculpe outra vez, Hunter.

— Você se desculpa demais, não acha?


— Foi o que os meus pais me ensinaram — respondi, unindo as

mãos à frente do corpo, a câmera estava solta, segurada apenas pela alça.

Hunter esticou um meio-sorriso debochado ao me ouvir. Ficamos


nos encarando em um silêncio constrangedor.

— Por que fica subindo aí quase todos os dias? — A curiosidade


estava me açoitando.
— Quer mesmo descobrir? Então vem aqui — me chamou,
esbugalhei os olhos, aquilo não era uma boa ideia.

— Eu tenho medo — confessei.


— Claro que tem — ele revirou os olhos, entediado. — Não vou te

desculpar se não vir. Mas se acha que não é capaz, então vá embora —
apontou com o queixo para a direção que eu deveria seguir.

Olhei para trás, o caminho que me trouxe até ali parecia tão
desinteressante naquele momento. Além disso, eu gostava de desafios.

Não demorou para que Hunter me visse subir pela escada grudada
na parede e caminhasse devagar até sentar ao lado dele, evitei olhar para

baixo. Não era tão alto, mas uma queda poderia me machucar. Ele
estendeu a mão para me segurar e ajudar a completar o percurso. Por

algum motivo, o seu toque me acalmou, os seus dedos eram quentes


enquanto os meus se mantinham frios.

— Ufa! Consegui! — falei, ainda bastante nervosa, ajeitei o


cabelo, respirei fundo e procurei me acalmar à medida que observava a

piscina abaixo de nós. Absorvi a paisagem verde. — Aqui é lindo. — Sorri,


esquecendo do medo.
— Por que fica me fotografando? — Hunter segurou o meu punho

com força, exigindo saber.


Abri a boca, mas as palavras demoraram a sair, busquei inventar
uma desculpa que fosse convincente:

— Não... não tem um motivo específico, eu só... — gaguejei —


achei curioso você ficar vindo aqui, um lugar tão inusitado. — Não era

mentira, mas não queria mencionar a outra parte, que havia o achado
lindo. — Minha avó disse que fotos precisam de inspiração.

Hunter deu o seu meio-sorriso de novo e me largou. Segurei a


minha câmera outra vez.

— Quantos anos você tem? — Eu tinha muitas curiosidades sobre


ele.

— Quanto acha que tenho?


— Dezoito?

— Dezesseis — revelou, fiquei impressionada. Para a sua idade,


ele era grande.

Escutamos vozes discutindo o relacionamento abaixo da gente,


uma briga feia entre um homem e uma mulher. Isso foi combustível para

que Hunter mudasse o semblante imediatamente, se enfurecendo.


— Está aí a sua resposta, isso é o que os meus pais me ensinam —

raciocino sobre as suas palavras.

Ele fugia para o telhado para se afastar da briga dos pais.

Estava explicado.
Mas por que os seus pais estão brigando? Será que brigavam tanto

a ponto dele subir aqui todos os dias? Achei melhor não perguntar. Ao
invés disso, pensei no que poderia fazer para ajudá-lo. Retirei a alça da

câmera do meu corpo e mostrei a foto que tirei dele.


— Veja, é você — era uma tentativa de distraí-lo. Hunter pegou a

câmera e o meu plano quase funcionou.


— VAGABUNDA! — uma voz masculina berrou, fazendo ele
largar a câmera no espaço entre nós e se levantar. Eu me levantei também,

assustada.

— Preciso ir! — afirmou, nervoso, se afastando.


— Hunter — estiquei o braço em sua direção quando comecei a

segui-lo, mas tropecei na câmera e caí.


Gritei antes de afundar na piscina. Eu não sabia nadar.

Me vi afundando sem poder fazer nada, os braços se agitando, o


ar rapidamente indo embora, o pavor da morte ao meu redor. Não entendi

como isso aconteceu, foi rápido demais e nunca parecia chegar ao fim,
tinha água e mais água por todo lado, o meu cérebro estava prestes a
entrar em colapso, a minha visão escurecia.

Então ele apareceu.


Hunter veio rápido e me alcançou feito um herói, puxando-me

para a superfície com facilidade, enlaçando a minha cintura à medida que


eu tossia e cuspia água.

— Calma, calma, eu estou aqui — disse em meu ouvido, mas não


foi o suficiente. Eu o agarrei como se fosse a minha tábua de salvação,

amedrontada.
Nada no mundo me tiraria dos seus braços fortes, agora me sentia

protegida.

— Oh, meu Deus, eu peço desculpas, desculpas mesmo. Não sei o

que deu na cabeça do meu filho para fazer o que fez — disse Blanca, a mãe
de Hunter, enquanto conversava com a minha e o meu pai com o pai dele,

em outro canto da nossa casa.


Ela era uma loira muito bonita e ele correspondia à beleza do

filho. Em nenhum momento mencionaram a discussão que estavam tendo


na hora em que quase me afoguei. Pelo comportamento solidário deles

para comigo, minha família jamais imaginaria que havia uma guerra
interna entre os dois, e que o Hunter estava sendo afetado com isso.

Sentada no sofá, coberta por um roupão branco, eu trocava


olhares com o garoto que estava do outro lado da sala com o Jake, que
tentava puxar conversa com ele. Talvez se dessem bem já que tinham a
mesma idade.

Dos males, o menor, agora todos estavam se tornando amigos.


— Ah, não se preocupe, está tudo bem, foi só um acidente. Essas
coisas acontecem, Hunter a salvou. Poderia ter sido pior. — Mamãe tinha

razão, ela afastou as suas mãos das de Blanca e as colou junto ao corpo.

— Ah, não, nós vamos fazer alguma coisa para compensar. Como
assim recebemos os novos vizinhos desse jeito? Não podemos. — Blanca

estava quase desesperada para reverter a má impressão que achava que


Hunter tinha causado.

Parei de escutá-las quando mirei o senhor Scott ainda dialogando


amigavelmente com o meu pai. Lembrei da sua voz chamando a sua mulher

daquele nome feio. Por que ele a tratava tão mal em casa e aqui se
comportava como o marido do ano?
Algo não estava certo, e para ajudar o Hunter eu tinha que

descobrir!
 

Balanço a cabeça ao abandonar os pensamentos e retornar para a


realidade, largando o passado.

Guardo a minha Canon, retiro a toalha, coloco um novo pijama e


decido dormir, sabendo que no dia seguinte não terei pique para assistir aula
após essa madrugada de trotes e reencontros.
Antes de me deitar, olho pela janela mais uma vez, observando

com cuidado o gramado sem movimento algum, com a esperança de revê-


lo, saber que está aqui e entender o que aconteceu durante esses anos em

que ficamos separados.


As suas fotografias me fizeram viajar no tempo para uma época em

que eu era feliz e não sabia, tudo se intensificou assim que conheci o
Hunter, mas a sua partida após aquela tragédia na sua família tirou um

pedaço de mim. Um que sinto estar voltando ao lugar depois do nosso


reencontro.

Não será fácil conviver com ele tão perto assim.


 

HUNTER SCOTT
 

Ao descer do meu carro e pisar no gramado da propriedade do meu


pai, não consigo conter o desejo de cuspir no chão, uma tentativa de tirar

um pouco do gosto ácido em minha garganta causado apenas por saber que
terei que vê-lo outra vez.

Hoje é aniversário do Sr. Mike Scott, o grande empresário do ramo

de joalheria, o “homem dos diamantes”, mas eu não vim aqui para


comemorar com ele ou com os seus amigos imundos que compartilham do

seu círculo social. Vim atrás de informação. No entanto, o infeliz finge o

contrário quando me vê adentrando na sua área de lazer externa, onde


acontece a sua festa recheada de convidados poderosos.
Resignado, ajeito o blazer do meu terno quando o vejo largar a

cintura da sua esposa que mais parece uma Barbie, e se aproximar.

— Oh, filho! — Me abraça sem que eu possa evitar, porém, não o

correspondo. Mantenho as mãos nos bolsos. — Que bom que veio. — Se

afasta e dá tapinhas em meus ombros, os seus olhos brilham de uma


maneira que enganaria qualquer otário, pena que não sou um deles.

— Eu não vim para comemorar a merda do seu aniversário, então

me poupe — afirmo ao desviar o olhar por alguns instantes, evito ao

máximo olhar na sua cara enquanto meu tom emana seco e amargo. Noto a

sua expressão murchar à medida que as pessoas ao nosso redor se divertem


ao som de uma banda de jazz.

Mike respira fundo e passa a mão no cabelo, desconfortável,

porém, sorrindo para os seus convidados, tentando disfarçar.

— Você poderia pelo menos uma vez tentar agir com respeito? —

Estreita as sobrancelhas ao me fitar. — Independente de tudo, eu continuo

sendo o seu pai.

Bufo um sorriso incrédulo, coço a barba cerrada, em um claro sinal


de deboche. Penso em respondê-lo à altura, mas a sua Barbie, a nova Sra.

Scott, se aproxima e enlaça o seu braço ao dele, estendendo o outro para me

cumprimentar.
— Olá, Hunter. Seja bem-vindo. — O seu sorriso se desmancha e a

sua mão abaixa quando ela percebe que não vou corresponder.

É só mais uma puta do caralho!

— Por que não acabamos logo com isso? — Ignoro a loira peituda

e foco nele.  — Você sabe o que eu quero. Além disso, ainda tenho que

voltar para a universidade. — Eu prefiro mil vezes estar em Atenas –


continuando com o meu esquema de drogas – do que ficar aqui com ele,

tendo que me expor como seu filho.

A Universidade se tornou o meu refúgio e a minha maneira de

ganhar uma boa grana sem depender de um centavo desse infeliz que insiste

em se comportar como um pai.

Duvido que o seu convite para conversarmos justamente hoje tenha

sido à toa. Mike queria ter a minha presença em seu aniversário de qualquer

maneira, nem que para isso tivesse que se utilizar do meu ponto frágil. Ele

continua insistindo comigo, apesar de saber mais do que ninguém que o

odeio.
— Você também sabe o que quero, então vai ter que esperar —

decreta, insinuando se afastar, todavia, seguro o seu braço com força, o

impedindo de ir e fingir que nada está acontecendo, manter o seu teatro

como sempre faz.


— Faça apenas isso... e eu te mostro na frente de todos os seus

amiguinhos do que sou capaz — ameaço, rosnando, o olhar em guerra com

o seu.
— Mike... — Betany, a esposa dele, o chama, apavorada com a

situação. Ela sempre teve medo de mim. — Mike, por favor, as pessoas

estão olhando. Vá logo conversar com ele — implora, aos sussurros, mas

meu querido pai sequer vira o rosto em sua direção, continua focado em

mim, me detestando.

Ele se desfaz do meu agarre, detesta a minha má-criação, porém,

sabe que foi o principal causador disso.

— É melhor escutar a putinha da sua mulher. — Aponto o queixo


na direção dela, notando-a ficar vermelha de constrangimento.

— Mike, querido, não vale a pena — a sua voz sai em um fio, ela

aperta mais forte o seu braço, o segurando disfarçadamente quando Mike

quase perde a compostura, cerrando os punhos com vontade de me bater.

Os nossos encontros são sempre assim, cheios de ódio e rancor.

— Ele é o seu filho, Mike — Betany implora. Qualquer um diria

que é a mais sensata entre nós, mas não passa de uma pobre iludida.

— Eu poderia lhe responder à altura e dizer quem é a puta, mas sou

melhor do que isso — a sua resposta desfaz o meio-sorriso de

contentamento que estampava os meus lábios.


Os meus olhos ardem e os punhos se fecham assim como os seus.

A minha vontade é de quebrar a sua cara na porrada como fiz no passado.

Controle, Hunter.

— Vamos ao meu escritório. — Mike desvia o olhar do meu para

fitar a esposa e assentir em um claro sinal de segurança, como se quisesse

afirmar a ela que está tudo bem.

Os dois se largam e ele vai na frente.

Eu o sigo para dentro da sua mansão assim que o sol começa a se

pôr.

Quando ficamos trancados no seu escritório com prateleiras

abarrotadas de livros, é inevitável não lembrar daqueles que tínhamos na

nossa antiga casa e que agora estão aqui.

Cinco anos atrás eu era um garoto triste tentando entender o

motivo de não ter uma família normal. Agora sou aquele que tenta

recuperar o que sobrou dela:

A minha mãe.

— Então, conseguiu com que ela fosse transferida? — pergunto na

primeira oportunidade, depositando as mãos sobre a escrivaninha no

instante em que Mike se senta em sua cadeira.

— Vai parar com a merda que está fazendo na faculdade? —

devolve, com o olhar severo, os dedos cruzados. Ele quer barganhar. — Eu


não criei meu único filho para ser um traficante. — Essa é a sua ferida, é o

que lhe dói, e por isso mesmo eu faço, continuarei fazendo tudo aquilo que

o faça sangrar.

— Você não me criou! — Soco a mesa, irritado, o encarando feito

um inimigo mortal.

Mike permanece calado, analisando-me friamente, ele sabe que

detesto que diga essas palavras, é um gatilho forte demais para suportar.

Fecho os olhos por um instante, puxando ar para os pulmões, respirando

bem devagar, acalmando-me.

— Agora vou perguntar de novo... — inclino o rosto em sua

direção —, conseguiu a transferência dela ou não?

— Consegui. No próximo sábado a sua mãe estará em Boston. —

A notícia recai bem, era o que eu queria, ter a minha mãe outra vez perto de

mim. Afasto-me dele, dando-lhe as costas, esfregando o rosto. — Mas se

não parar de vender droga dentro e fora da faculdade, eu faço com que você

e Blanca nunca mais se vejam outra vez — a sua ameaça causa um arrepio

em minha espinha.

Filho da puta!

O fuzilo com o olhar por um longo tempo antes de sair do seu

escritório e partir. Tive que buscar todo o meu autocontrole para não

explodir outra vez. Mike Scott, sabe mais do que ninguém como jogar sal
em minhas feridas, porém, no momento certo, vou mostrar a ele quem está

ditando as regras e qual será o seu fim.

Ao retornar para o meu Mustang, saio pelos portões com o máximo

de velocidade possível, fazendo “cavalo de pau” antes disso, levantando

poeira, o ronco do poderoso motor.

Durante o percurso de volta para Atenas, recordo da época em que

tinha dezesseis anos, da cena que testemunhei antes de todo aquele inferno

acontecer.

Entre todos os meus sentimentos perversos, a única pessoa que


realmente conseguia me distrair era a minha vizinha, Halle. E agora, por
ironia do destino, nos reencontramos.

Não sou do tipo de cara que busca entender todas as minhas


atitudes, na maioria das vezes sigo apenas os meus instintos, sejam eles

corretos ou não. E, por alguma razão, mais do que tudo agora, sei que
preciso vê-la outra vez.

 
HALLE DUNCAN

A minha raiva por Jake leva tempo para desvanecer, e quando


finalmente dou uma chance a ele de conversarmos pessoalmente, após

passar toda a semana me enviando mensagens, marcamos um encontro no


refeitório, depois da última aula dessa sexta-feira.
Caminhando em minha direção com a sua gloriosa jaqueta dos
espartanos, meu irmão mais velho chama a atenção de todos quando passa.

Pode ser apenas uma impressão minha, mas ele parece mais forte e mais
alto do que me lembrava, combinando bastante com o grupo do qual agora

faz parte.
Isso me faz raciocinar que um ano distantes é muito.

Ele puxa a cadeira do outro lado da mesa redonda e se senta à


minha frente, com o seu típico sorriso descarado, como se nada tivesse
acontecido.

— Está mais calma agora? — pergunta, analisando-me.

Arqueio uma sobrancelha ao enfrentá-lo, sabendo lá no fundo que


a saudade que sinto dele é maior do que a chateação que me causou.

— Você agiu como um idiota — afirmo, desanimada.


Jake abre ainda mais o sorriso, estende os braços sobre a mesa e

captura as minhas mãos, massageando os meus dedos.


— Eu sei, mas eu te amo, irmã — se declara, fazendo-me sorrir

também. De repente, a sua expressão se torna séria, como se um


pensamento desgostoso surgisse em sua cabeça. — Tive medo da sua
reação quando fosse apresentada ao meu novo eu — confessa, parando de

fazer a massagem, jogando o olhar para longe. — A minha intenção não era
te esconder, queria apenas um pouco mais de tempo para tentar explicar as
razões do quanto mudei. Sabia que esse momento era inevitável, mas não
queria que fosse daquela maneira, te expondo.

— Consigo imaginar as suas razões, afinal, fomos criados pelos


mesmos pais. — Dou de ombros, ele assente, confirmando as minhas

suspeitas.
Papai e mamãe também se tornaram rígidos com o Jake.

Aqui ele deve ter se “libertado”.


— Eu me sinto bem melhor como estou agora. — Larga as minhas

mãos e volta a apoiar as costas no encosto da cadeira.


— Deu para perceber. — Levo a boca ao canudo do milk-shake que

estava tomando antes dele chegar, absorvo o líquido gostoso, uma mistura
de chocolate com baunilha que tanto amo. — E o que pretende fazer? Se

esconder dos nossos pais para sempre? Sabe que isso não vai funcionar,
ainda mais agora que estou aqui. — Mexo o canudo dentro do copo. —

Mamãe já está morrendo de saudade e o nosso pai superdesconfiado —


tomo mais um pouco do shake, saboreando cada gota.

— Eu não sei — Jake confessa, encarando-me. — Vou dar um jeito


— ele não parece alguém que tem um plano.

Pego um guardanapo e enxugo os lábios, me preparando para fazer


a pergunta que não sai da minha mente desde que nos reencontramos. 
— Por que não me contou que o Hunter estava de volta à cidade e

estudava com você? — disparo, cruzando os braços sobre a mesa.


Jake assume um semblante de quem não está entendendo, fazendo

bico.
— E por que eu deveria? — Dá de ombros, franzindo as

sobrancelhas.

— Por que ele foi nosso amigo e nosso vizinho na adolescência?

Por que, talvez... nossos pais gostariam de saber?


Jake ergue a sobrancelha, desconfiado.

— Nossos pais eu tenho certeza que não, ainda mais depois do que
houve na família do Scott, já você... — sua voz é sugestiva, prefiro me

fingir de desentendida.
— Claro que eu gostaria de saber, ele era meu amigo e isso não é

segredo para ninguém — tento ser convincente.


Jake suspira, apoia os antebraços na mesa, cruza as mãos e me fita

seriamente:
— Em Atenas, garotas como você não são amigas de homens
como o Scott, são outra coisa. Ele é como um irmão e o líder da nossa

fraternidade, me ajudou bastante a me autoconhecer desde que coloquei os


pés aqui, no entanto, no quesito mulheres, o Hunter é expert em destruir

corações. Sem remorso. — Fico sem palavras ao escutá-lo, as suas


informações não são absorvidas de maneira positiva dentro de mim. — Não

se iluda, Halle, o tempo passou, todos crescemos, ele não é mais o mesmo,
porém, você sempre será a minha irmã, e eu não vou admitir que ninguém

te machuque aqui, nem mesmo o meu melhor amigo — promete.


Fico tensa e desconfortável, raciocinando sobre tudo o que me

disse, chegando à conclusão de que não gostei.


— E o que isso significa? — indago, encostando-me na cadeira,

mantendo os braços cruzados. — Que vai escolher com qual garoto devo
falar? — Ergo uma sobrancelha, desgostosa.

— Não seja dramática. — Jake se levanta, circulando a mesa,


detendo-se ao meu lado. — Apenas evite os espartanos. — Coloca a mão

em meu ombro e beija o topo da minha cabeça, indo embora sem me dar
oportunidade de rebater.

Mal percebo o meu pé direito batendo no piso repetidas vezes, meu


espírito inteiro incomodado com essa imposição. Eu não vim aqui para

continuar sob as regras de alguém, e se o Jake teve o direito de ser livre, eu


também tenho.

A questão é que ele ainda precisa entender. 


Pego a minha mochila e sigo para o meu dormitório muito

pensativa, com uma vontade imensa de fazer alguma coisa que não sei dizer
exatamente o que é, mas que arde intensamente no meu peito. É uma
revolta, um desejo de reagir, de gritar.

Assim que ultrapasso a porta, sento-me na minha cama. Amy sai


do banheiro, senta-se na sua, abre a sua bolsa e tira duas pulseiras que me
mostra ao mesmo tempo em que abre o seu lindo sorriso de dentes brancos

e perfeitos mascando um chiclete.


— O que é isso? — indago, cruzando as pernas para tirar os

sapatos.

— É o meu pedido de desculpas por não ter te avisado do trote do


lago, e por não ter acreditado que você seria uma das primeiras colocadas,

mesmo sabendo que a sua vitória me faria ganhar a aposta — confessa, me


confundindo.

— Espera aí... que aposta? Você apostou em mim? — Encosto o


indicador no meu peito.
Amy enche os pulmões antes de vir em minha direção, sentando-se

ao meu lado, olhando olho no olho.


— Se a minha nova colega de quarto fosse uma das primeiras a

passar no teste, eu estaria apta a voltar para a minha fraternidade, da qual


fui suspensa por descumprir algumas regras. Não era bem uma aposta,

estava mais para um desafio. — Ela deposita uma das pulseiras cor-de-rosa
na palma da minha mão. — Basicamente eu tinha que provar a minha
inteligência ao mexer os pauzinhos para ter uma colega boa de natação.
Pesquisei as opções entre as fichas dos novatos e encontrei você, mas

desacreditei que ganharia quando a vi pela primeira vez, confesso.


Isso explica o fato de eu não ter sido designada para a suíte que

Jake tinha arranjado, Amy interferiu.


— Então você foi expulsa da fraternidade e te exilaram no prédio

dos calouros como penitência? — Vou direto ao ponto, foi o que entendi.

— Suspensa, não expulsa — Amy bate nas coxas e se levanta,

fazendo questão de me corrigir. — E morar aqui não é bem um castigo... só


um pouco — faz uma carranca quando olha ao redor. — Mas tudo isso já

acabou! Eu vou voltar para a minha fraternidade hoje à noite, vai ter uma
superfesta e você está convidada a me acompanhar! — Sorri de orelha a

orelha, seus olhos brilham de expectativa. — Será a minha despedida desse


bueiro e quem sabe a sua iniciação na Vênus. Não tem interesse em entrar?
Até onde eu sei, a Vênus era uma das maiores, senão a maior

fraternidade feminina de Boston. Ganhou esse nome por ser a versão


romana da deusa grega Afrodite, símbolo do amor, beleza e sexualidade.
Uma festa entre garotas da minha idade, com vidas diferentes da
minha...

— Vamos, elas vão adorar te conhecer, o seu nome já está sendo


bem falado no campus após o trote, e além disso, você pertence a uma
ótima família — Amy coloca a sua pulseira no seu punho enquanto fala,
admirando a peça como se fosse feita de ouro. — Os espartanos também

estarão lá, ficou óbvio que eles adoraram você. Eu não sabia que o gostoso
do Jake era o seu irmão, ele...
Ela continua tagarelando, todavia, não a escuto mais, minha mente
está focada na pulseira em minha mão e todas as possibilidades que ela
pode me trazer.

Os espartanos estarão lá.

Hunter estará lá.


E eu quero encontrá-lo.
 

HALLE DUNCAN
 

— Eu aceito! — Fico de pé, fechando a pulseira de náilon entre os


meus dedos.

Amy abre um sorriso contente, analisando-me como quem tem

segundas intenções.
— Tudo bem, mas antes teremos que te preparar. Não dá para ir à

uma festa na universidade parecendo uma freira. — Debochada, ela toca na


minha blusa.

Estapeio a sua mão, irritada, fazendo-a gargalhar.

— Estou tirando onda com a sua cara, vem! — puxa-me pela mão,

levando-me para frente do espelho de corpo inteiro na porta do seu armário.


— Vamos começar com o seu cabelo, tem muito aqui. — Sem que eu possa
evitar, Amy puxa o elástico que prendia os meus fios castanho-claros. —

Joga, faz assim. — Imito-a, balançando a cabeça, jogando o cabelo para

frente, em seguida trazendo o volume de cachos para trás.

Amy fica boquiaberta, olhando-me pelo reflexo do espelho.

— Que foi? — pergunto, sem entender.

— Nossa... você é linda — diz, virando o rosto para me encarar

frente a frente. — Onde pintou o seu cabelo? Essa cor ficou perfeita em

você — toca as minhas mechas.

— Eu nunca pintei — afirmo, parada, permitindo que ela mexa em

mim como se eu fosse um manequim.


— Está querendo me convencer que essas mechas loiras são suas

de verdade? — escorrega a ponta dos dedos pelos meus fios, impressionada.

Algumas mechas são mais escuras e outras mais claras.

— Sim, herdei do meu pai, ele tem ascendência alemã — sorrio,

percebendo o quanto ela continua em choque ao pentear o meu cabelo com

os dedos. Os cachos, se molhados, vão quase no fim das costas.

Porém, nunca o usei solto.


— Bem, achei que teríamos um grande trabalho, mas me enganei,

assim está perfeito — Amy mexe no meu cabelo, deixando-o um pouco

mais volumoso. — Agora precisamos procurar uma roupa pra você.


Ela vasculha o meu armário e não encontra absolutamente nada

que lhe agrade. Todas as minhas roupas são recatadas e cobrem muito,

segundo ela.

Acabamos por tentar escolher algo entre os seus looks e é aí que o

nosso desentendimento começa. Apenas chegamos a um consenso horas

depois de tomarmos banho.


Visto uma das minhas calças jeans, de tom creme, e uma blusa

branca dela, de mangas até os pulsos, bem colada, mostrando a barriga.

Tentei achar algo que não fizesse eu me sentir tão exposta ou diferente

demais das outras que com certeza estarão bem mais ousadas, cheguei a

essa conclusão ao conferir o Instagram da Vênus.

Amy faz a minha primeira maquiagem, nada exagerado, porém,

incrível, trazendo cor ao meu rosto e brilho aos meus lábios, que agora

parecem mais carnudos. Tudo fica combinando com o tom da minha pele e

quando ela acaba, eu não me reconheço ao me olhar no espelho.

— Gosta do que vê? — indaga, curiosa pela minha opinião.


Assinto, emocionada, controlando-me para não chorar. É como se

me sentisse uma garota de verdade pela primeira vez. Maquiagem deveria

ser uma coisa simples, mas tudo de simples lá em casa parecia demais. O

contraditório é que as outras meninas da igreja tinham esse direito, eu não.


Meu pai sempre nos fazia seguir o que dizia ser o tradicional ou o

certo, entretanto, eu não via todo esse radicalismo nas outras famílias,

apenas a nossa era estranha.


A culpa nunca foi da religião que seguimos, mas sim da forma

como era imposta.

Sempre gostei da igreja e de sentir a presença de Deus, mas não da

forma como o Sr. Nicholas interpretava.

— Eu me sinto linda — confesso, é a verdade. Um sorriso meigo

estampa os meus lábios.

— É isso aí, querida. Nós vamos arrasar! — Amy encosta seu

corpo ao meu, depois se afasta para tirar o roupão em que está vestida e
colocar um vestido preto curto colado, além do salto alto.

Prefiro os tênis, acho mais confortável.

Além disso, não sei se consigo andar de salto, sou capaz de

tropeçar e esborrachar a cara no chão.

Após ficarmos prontas, pegamos o carro dela e saímos da

universidade.

— Ué, para onde estamos indo? — fico sem entender, observando

a cidade noturna pela janela.

— A mansão da Vênus fica em uma rua universitária pertinho

daqui — explica, me fazendo entender que nem todas as fraternidades se


encontram no campus. — Relaxa, até parece que nunca foi a uma festa. —

O carro para no semáforo, permaneço calada, olhando para a frente,

sentindo os olhos da minha colega queimarem a minha bochecha. — Sério

que será a sua primeira festa, Halle?

Não há outra opção, preciso confessar, então assinto, constrangida.

— Jesus... então tem que ser a melhor da sua vida! — Amy acelera

assim que a luz fica verde.

A minha barriga congela e a tensão aumenta quando estacionamos

em uma fila enorme de carros e caminhamos até a gloriosa mansão de

colunas brancas e bandeiras rosa pink com o símbolo de um V dourado no

centro, feito em uma fonte bem feminina, glamorosa.

Assim que mostramos as nossas pulseiras e atravessamos as portas

do hall de entrada, nos deparamos com puro glamour e luxo por todos os

lados.

— Uau, aqui é realmente o mundo cor-de-rosa — comento,

caminhando ao lado da Amy que está vibrando de emoção, como se

também fosse a sua primeira vez.

— Ai, é tão bom estar em casa! — ela comemora, à medida que

observo a decoração com brilho, balões, arranjo de flores, tapetes e cortinas,

tudo da mais alta qualidade e no tom de rosa.


Pessoas estão por todos os lados, bebendo e se divertindo ao som

de uma banda que toca as músicas mais estouradas da atualidade em forma

de rock, uma combinação que dá muito certo, para a minha surpresa.

Fico realmente encantada com o lugar, a magia jovial percorrendo

o ambiente, um mundo totalmente novo se revelando aos meus olhos. E a

única coisa que penso é: por que não vivi isso antes?

— Oiii! — Amy fala com todo mundo e todos a conhecem. —

Vamos, eu vou te apresentar à nossa líder. — Ela me puxa, caminhamos

sobre o porcelanato branco igual a um espelho e nos aproximamos de uma

garota que usa um vestidinho rosa de paetê, que molda perfeitamente o seu

corpo de boneca e traz ainda mais luz ao seu cabelo loiro. — Oi, Cassie!

Voltei, finalmente.

— Oi... ah... — Cassie parece sentir dificuldade para lembrar o

nome dela, ambas trocam beijinhos no rosto. — Como posso ajudá-las? —

parece confusa, nos observando sem entender.

— Sou eu..., a Amy. Amy Conway — o sorriso de Amy aos

poucos perde o brilho.

— Ah, sim... Amy! — Cassie parece finalmente lembrar com

quem está falando, ela sorri sem parar, mas o clima fica constrangedor

devido a sua reação. — O que está fazendo aqui?


Amy olha para mim como se não pudesse acreditar, dá para notar o

tamanho da sua decepção.

— Hoje é o meu retorno. Cumpri o desafio, lembra?

— Ah... era hoje? Eu não estava lembrando, acredita?

— A gente conversou por mensagem — a voz de Amy sai

esmorecida, percebo as suas expectativas desmoronando —, você disse que

já estava tudo bem e me enviou as pulseiras — ela ergue o punho,

mostrando a peça.

— Ah, relaxa, você sabe que as vezes é a minha assistente que


responde as minhas mensagens, eu tenho preguiça — Cassie continua rindo,
levando tudo para o lado do humor, como se o que disse não fosse nada

demais. Então vira o rosto em minha direção. — Ah, meu Deus, essa é a
garota que ganhou o desafio do lago?

Assinto, sendo obrigada a cumprimentá-la e se tornar o foco da sua


atenção.

— Halle Duncan, não é verdade? Seja bem-vinda à nossa


fraternidade, é um prazer tê-la aqui! Por que não vem nos visitar em

qualquer tarde dessas? Tomar um chá — sua mão pousa em meu ombro.
Amy tomba a cabeça para baixo e dá um passo atrás. Cassie sabe o

meu nome, mas não lembrava o dela que já morou aqui.


— Ah... agora que a Amy vai voltar a ficar aqui, talvez eu venha
visitá-la. — Forço um sorriso para a minha colega, tentando incluí-la

porque sei o quanto isso é importante para ela. Porém, Cassie continua
falando apenas comigo como se Amy não estivesse aqui, o que faz a garota

se afastar. — Só um momento, por favor — peço, me afastando de Cassie.


Deixo-a falando sozinha e caminho depressa para tentar alcançar a

morena. Mas, como em um passe de mágica, eu a perco de vista no meio da


galera.
E agora?

Circulo o ambiente me sentindo desnorteada, até que decido voltar

para onde estava. No entanto, não consigo dar muitos passos, meus pés
param de se mover ao mesmo tempo em que prendo a respiração ao avistar

o Hunter conversando com a Cassie. Ele está acompanhado do seu grupo,


inclusive o meu irmão.

— Droga... — sussurro, tensa.


Jake não pode me ver aqui, não quero ser alvo de mais uma das

suas cenas.
Decido fugir pela porta mais próxima, mas antes de atravessar o
portal, não me passa despercebida a mão boba da Cassie sobre o peito do

Scott, a conversa íntima que parecem estar compartilhando, os sorrisos


fáceis denunciando que os dois têm ou já tiveram algo a mais.
O que eu não esperava, é que o meu olhar fosse atrair o dele feito
um imã. Fui flagrada!

— Opa! — Desatenta, esbarro em alguém assim que entro na


cozinha. Assusto-me quando o copo de cerveja do garoto vai ao chão.

— Oh, meu Deus, me desculpe! — Toco no braço dele,


desconcertada.

— Não, tudo bem. — Ele sorri, tentando suavizar a situação. Nos


olhamos como se já nos conhecêssemos. — Ei, você não é a garota que

esbarrou em mim durante a caminhada no bosque?


— Ah, sim, é verdade! — Sorrio, relaxando ao lembrar do rapaz de

cabelos dourados com quem conversei na noite do trote. — Eu sou a Halle.


— Bill — ele se apresenta, nós trocamos um aperto de mão.

Observo a sua camisa molhada.


— Caramba, deixe-me ajudá-lo. — Pego um guardanapo qualquer

sobre a bancada da ilha e esfrego-o nele, porém, a sujeira se torna maior.


Por alguma razão, o guardanapo está melado de mostarda e eu não percebi

isso a tempo. — Ah, não... — largo o guardanapo, sem saber o que fazer.
Hoje, definitivamente, não é o meu dia.

Bill continua rindo, ele aparenta estar meio bêbado porque


qualquer coisa o faz feliz. Todavia, ao erguer o olhar, o seu sorriso morre

rapidamente. Franzo a testa, sem entender.


— Ah... eu vou limpar isso no banheiro. — O garoto foge, sai

quase correndo pela porta dos fundos com a sua camisa molhada e suja do
creme amarelo.

Mal consigo chamá-lo porque sinto uma presença quente às minhas


costas. As minhas bochechas ardem como se a minha consciência já

soubesse quem é. Viro-me devagar, deparando-me com o cara forte que


deve ter uns dois metros de altura. É impressionante o seu tamanho e o
quanto a sua proximidade incendeia a minha pele.

Hunter está usando coturnos, uma calça cargo escura, camiseta


branca e jaqueta. A jaqueta é da mesma cor da calça, porém, deixa os

antebraços à amostra, expondo algumas tatuagens que são um verdadeiro


charme.

— Hunter... — balbucio, vidrada no seu olhar hipnotizante, repleto

de significados que não consigo decifrar. Ele tem um pequeno corte


intencional quase no fim da sobrancelha esquerda, o que torna o seu

semblante ainda mais perverso.


Nós escutamos vozes e passos se aproximando. Sem que eu possa
evitar, sou puxada por sua mão grande e grossa que me leva para um

cantinho apertado e vazio que existe atrás da porta. Hunter me encurrala


contra a parede, esmagando o seu corpo contra o meu, aproximando os

nossos rostos como se fosse me beijar.


— O que está fazendo? — entro em desespero, meu coração quase

rasgando o peito, foi tudo muito rápido.


— Shhh — ele encosta o indicador em meus lábios, pedindo

silêncio sem tirar os olhos dos meus. Engulo em seco assim que as suas
pupilas obscuras me consomem como se quisessem me comer.

— Cadê ele? Achei que o tinha visto entrando aqui — escutamos a


voz de Cassie bem perto de nós, o som dos seus saltos andando pela

cozinha.

Hunter ergue o rosto para deixar o corpo mais ereto, a minha

cabeça é obrigada a ficar encostada no seu peitoral largo que está bem
delineado na camiseta. O seu perfume masculino me invade, o seu quadril

espreme a minha barriga nua e o seu indicador recebe todo o ar aquecido


que sai da minha boca. Estou ofegando, derretendo em seus braços de uma

maneira impossível de controlar.


— Hunter? — a voz de Cassie está mais próxima, eu diria que a

um passo da gente, como se ela desconfiasse que estamos atrás da porta.


Nervosa, tento me mexer, mas a coxa grossa de Hunter se encaixa

entre as minhas, me imobilizando ao mesmo tempo em que a sua mão tapa


a minha boca. Talvez a minha respiração estivesse se tornando alta demais.

Os bicos dos meus seios endurecem, sinto uma ardência gostosa se


formar entre as minhas pernas à medida que escuto as batidas violentas do
seu coração.
É muita informação para processar, o calor está nos incinerando até

que ouvimos Cassie resmungar e ir embora.


Hunter abre a porta devagar e avalia o ambiente, permitindo enfim
que eu respire aliviada, porém, não menos necessitada do seu corpo que, ao

se afastar do meu, deixa um rastro vazio, uma sensação estranha, um desejo


de quero mais.

Sim, apesar dessa experiência ter sido inesperada, eu quero mais.

— Está livre, pode vir — a voz rouca faz eu despertar da minha


confusão de sentidos. Saio de trás da porta, acompanhando Hunter até o

centro da cozinha.
Ainda inebriada do seu calor e sem saber direito o que aconteceu,

movo o meu cabelo para o ombro esquerdo, usando a mão livre como leque
em uma tentativa de refrescar o suor no pescoço.
— O que foi isso? — pergunto, flagrando-o observar o que estou

fazendo quando ergo o rosto para encarar o dele.


— Foi mal, eu estava fugindo da líder da fraternidade — confessa,

se encostando na ilha. — Digamos que ela é um pouco... inconveniente.


— Talvez ela quisesse apenas terminar o que tinham começado —

disparo, pensando em voz alta. Merda! — Oh... desculpe, eu...


— Ainda continua se desculpando demais, Halle. — Ele sorri
satisfeito, como se o meu comentário o tivesse agradado, o que me obriga a

parar com o que estava fazendo para observá-lo. — Quanto tempo faz desde
a última vez que...?

— Nos vimos? Cinco anos, eu nem sabia que você estava de volta
a Boston. — Mexo na alça da minha clutch a tiracolo como meio de

dispersar o meu nervosismo.


— E nem eu sabia que você começaria na Atenas.

— Jake — sorrio, sem graça. — Digamos que ele é um irmão


ciumento, fazer o quê?

— Era dele que estava fugindo quando veio para cá? — Hunter vai
direto ao ponto, provando que percebeu.

— Não, claro que não, eu só... estava procurando a minha colega


de quarto que desapareceu — minto, forçando um sorriso ao olhar ao redor,
estamos sozinhos enquanto a música toca lá fora.

— Então posso dizer a ele que está aqui? — Hunter ergue uma
sobrancelha, desconfiado, se desencostando da bancada.
Engulo em seco.
— Claro. Óbvio que sim — dou de ombros, tento manter a

serenidade, mas creio que sou uma péssima atriz.


— Então tá bom. — Ele faz menção em sair da cozinha, mas, no
desespero, agarro a sua mão.

— Não, por favor! — imploro. — Não quero outra confusão —


confesso. Hunter analisa o nosso toque como se tivesse gostado e, para a
minha surpresa, massageia os meus dedos, se aproximando de mim.
— E o que você quer? — os seus olhos me absorvem outra vez,
não há dúvidas de que a sua pergunta é muito mais profunda do que parece

ser.

Respiro fundo, pensando nos motivos que me trouxeram até aqui.


— Só quero me divertir — as palavras escapam da minha boca. É

estranho perceber o quanto fico leve ao desabafá-las e a fluidez de todas


elas aos transpassarem os meus lábios.
Hunter cruza os nossos dedos, se divertindo no doce contato das
nossas peles.
— Eu menti, Jake não está mais aqui, teve que sair para realizar

um compromisso. — Então ele estava apenas me testando? Que filho da


mãe! — Quer continuar neste lugar ou ir embora?
— Quero ficar — respondo, decidida. Ainda não fiz nada, não
posso ir sem descobrir como é viver uma festa da universidade.

— Então vai ficar comigo — não é um pedido, é uma sentença.


Hunter me lança um olhar sério e determinado. Ele não espera eu
dizer mais nada, apenas enlaça a minha mão e me leva para a sala de estar

outra vez.
Somos bombardeados com todos os olhares possíveis. O queixo de
Cassie quase vai ao chão quando nos vê juntos, assim como o da maioria
das pessoas, mas Hunter parece não se importar, talvez ele não deva

satisfação a ninguém e cabe a mim entender que não devo também.


A noite está apenas começando.

 
 
 

HUNTER SCOTT
 

Assim que vi a Halle, sabia que precisava dar um jeito do Jake


desaparecer da festa, do contrário eu não teria como saciar a minha

curiosidade sobre essa nova fase da sua irmã.

É assim que defino essa vontade de estar perto dela: curiosidade.


De absolutamente tudo. Saber o que mudou da menina que um dia foi para

a deliciosa mulher que se tornou. Além disso, Halle está sem a amiga e não
conhece ninguém aqui, nada mais lógico do que ficar comigo.

Ela disse que quer se divertir, vou fazer com que realize seu desejo

e ainda por cima descobrir do que é capaz ou até onde está disposta a ir.

A levo para os sofás, nos sentamos lado a lado, próximos dos


outros membros da Esperta que estão acomodados nas poltronas, cada um
deles já se certificou de arranjar uma garota para pôr em seu colo, algo que

não é difícil diante da fama dos espartanos. 

— Todos estão nos olhando — Halle comenta, ela fala em um tom

mais alto e próxima da minha orelha para que possa ser ouvida, tendo em

vista o barulho da música e das pessoas.


Percebo a sua tensão quando passeia o olhar ao redor.

— E daí? — pergunto, no mesmo tom, erguendo a mão para uma

das garotas da fraternidade que estão dando uma de garçonete.

— E se o Jake ficar sabendo que estou com você? — Essa é a sua

maior preocupação. Deposito a mão sobre o seu joelho, meus dedos


parecem longos demais comparada a essa pequena parte do corpo dela que

faço questão de apertar, sentindo a minha energia correr por sua pele. 

— Melhor você com um amigo do que com qualquer outro por aí

— falo bem perto da sua orelha, a voz rouca lhe atingindo.

Halle lambe os lábios, sem conseguir parar de observar o meu

toque.

Ela está tão linda que nem sei descrever.


Eu dei uma de stalker nas suas redes sociais, a observei de longe

durante essa semana, e apesar das novas roupas, da blusa mostrando a sua

barriga perfeita, ainda assim consegue ser discreta, manter a sua essência,
não é como as outras que parecem ter uma necessidade extrema de aparecer

e sempre se esforçam em prol desse objetivo.

A garçonete se aproxima, pego uma cerveja para mim e ofereço

um drink para Halle, que com um pouco de receio, aceita.

— Já experimentou álcool antes? — Creio que não, mas quero ver

o que ela vai dizer.

— Claro... — mente, engolindo um pouco da bebida em seguida.


Tenho que me segurar para não rir diante da carranca que faz ao

experimentar o líquido pela primeira vez.

— É uma péssima mentirosa, sabia? — Um sorriso nasce em meus

lábios.

— Sabia — Halle se esforça para me responder, talvez sentindo o

amargo do álcool molhar a sua língua. No entanto, para a minha surpresa,

ela continua bebendo, dando um gole atrás do outro até secar a sua taça e

suspirar. — Eu consegui! — afirma, contente.

— Certo, parabéns, mas não precisa ser tão rápida, não quero que
volte bêbada para Atenas — tomo a taça seca da sua mão e a coloco sobre a

mesinha de centro à nossa frente.

— Vai me levar de volta? — pergunta, olhando-me nos olhos.

Perfeita. E com o cabelo solto parece ainda mais incrível. Fico hipnotizado.
— Se quiser ir a pé, tudo bem — faço piada, ela ri, me empurrando

com o seu ombro.

— Não sei, eu lembro que era um péssimo motorista — comenta,


então franzo a testa, após tomar o primeiro gole da minha cerveja.

— Como assim? Sempre dirigi bem.

— Ainda me recordo da vez em que bateu com o carro do seu pai

contra um poste, e quase matou o poodle da vizinha.

— Aah sim... mas foi intencional. — Lembro do fato, Halle para de

rir e fica séria. — Eu queria causar aquele estrago — acrescento, bebendo

mais um pouco.

— Devo perguntar por quê? Sei que não tinha uma boa relação
com ele, mas...

— Meu pai gosta de afirmar que sou perigoso. Talvez seja isso, eu

gosto do perigo, e pelo visto você parece gostar também — acrescento,

mudando o rumo do assunto, Halle faz uma expressão de quem não está

entendendo. — Não sabia que tinha aprendido a nadar — refiro-me ao

desafio do lago.

— Aaah — ela joga uma mecha cacheada para trás da orelha,

assentindo. — Tive que aprender depois daquele episódio — recorda do seu

quase afogamento. — Mamãe não descansou enquanto não me enfiou nas

aulas de natação.
Seco a minha garrafinha de cerveja, procuro por alguém que possa

me trazer mais, todavia, não encontro. Aviso a Halle que volto em um

instante, então me dirijo ao bar que fica no hall, peço mais um drink e mais

uma garrafa, momento em que sinto o celular vibrar dentro do bolso ao

receber uma ligação, é o Jake.

— Fala — digo, atento.

— Daqui a pouco estará tudo pronto para o trote — ele garante,

falando em código. Não vamos fazer trote nenhum, mas sim libertar a

minha mãe.

— O Drew está fazendo a parte dele? — faço o sinal de legal para

o bartender quando ele coloca os meus pedidos sobre o balcão.

— Do jeito dele, mas está. Estamos organizados.

— Mais tarde estaremos aí — confirmo, sentindo a expectativa me

consumir. — Escuta... os calouros que venceram o desafio do lago estão

aqui, assim como a sua irmã — disparo, aproveitando o momento para falar

a realidade, espero a reação dele.

— O quê? A Halle tá aí? — Jake ficaria sabendo mais cedo ou

mais tarde. Melhor que seja por mim, além disso, se eu estivesse no seu

lugar, gostaria de ser avisado.

— Sim, mas não se preocupe, ela está comigo. — Tento lhe passar
segurança.
— Que merda você tá me falando, Hunter? — o tom dele muda da

água para o vinho, é evidente que não recebeu bem a notícia.

— Ela veio com a colega de quarto, mas a menina foi embora e a

deixou sozinha. Eu a encontrei. Está tudo bem — meu tom soa calmo, não

quero ele perturbado nesse momento.

— Não, não está tudo bem. Eu vou aí.

— Nem pense em se mover. Não estrague os nossos planos —

rosno, é uma ordem.

Tudo foi milimetricamente calculado, nada pode dar errado.


— Já disse que estou com ela, Jake — engrosso a voz, para que ele

entenda. — Não há necessidade de causar outro constrangimento como na

semana passada. Vai pegar mal, de novo. Por acaso não confia em mim? —

Ouço o seu silêncio, a sua respiração inconformada.

— Você sabe que a minha irmã é o meu ponto fraco.

— Não saia daí. Esse trote é o mais importante da porra da minha

vida, então pare de dar o seu show! — o repreendo, me irritando.

— Não ultrapasse os limites com ela. Não a toque. Te espero aqui.

— Desliga, obrigando-me a guardar o celular com uma inquietação no

peito.

Jake Duncan e eu criamos um laço forte de irmandade depois que

retornei para Boston e o reencontrei em Atenas, por acaso. Um ano foi o


suficiente para reatarmos a amizade que tínhamos quando éramos vizinhos,

porém, descobrimos que o tempo que passou fez eu criar cicatrizes e ele

com um desejo de libertar as dele.

Nós passamos por muito antes de alcançarmos o patamar em que

estamos hoje, compartilhamos segredos, mas nada muda o fato de que Halle

é a sua irmã e eu o seu melhor amigo. E ninguém precisa me dizer que, na

sua concepção, isso é o bastante para que eu e ela não tenhamos nenhum

tipo de contato.
O problema é que, nesse quesito, não concordamos. Ele se

preocupa porque sabe que detesto qualquer tentativa de me impor limites. 

Assim que retorno para onde estava, Halle prefere ficar de pé para

receber o seu novo drink.


— Esse está um pouco mais doce, acho que você vai gostar —

digo, a vendo sorrir e experimentar a mistura de gelo, cachaça, iogurte e


limão.

— Esse com certeza é uma delícia. — Fico vidrado em seus olhos


de mel, em seus lábios que passam a impressão de serem macios demais,

capazes de derreterem se eu lhe beijar. Meu pau imediatamente corresponde


à febre instantânea que se espalha em meu corpo.

Puta que pariu!


— Atenção, atenção! — Cassie pega o microfone ao subir no
tablado assim que a banda para de tocar. Todos ficam de pé e em silêncio

para lhe dar atenção. — Assim como em todo início de semestre, chegou a
hora de darmos a preciosa oportunidade para algumas calouras presentes de

tentarem um teste de iniciação na Vênus — a loira fala com um orgulho que


é de impressionar, ela ama estar nesse lugar, nessa casa, é a sua vida. — É

de conhecimento público que somos a maior fraternidade feminina de


Boston! — a galera grita e aplaude, aumentando o seu ego. — Então, será
um prazer receber novas irmãs!

Um grupo de garotas componentes da fraternidade abrem espaço


em meio ao pessoal, colocando uma pequena mesa redonda de vidro no

centro da sala de estar.


— Também é de conhecimento público que os nossos testes são

uns dos mais engenhosos da Atenas, mas, neste ano, resolvemos começar
com algo simples, a famosaaa queda de braço! — escutamos um

burburinho surpreso de todos. Troco um olhar de curiosidade com a Halle.


— Sim, isso mesmo! Vamos pegar uma atividade intitulada masculina e

inverter os papéis! Afinal, para ser uma das filhas de Vênus, é preciso
provar sua força e expulsar a ideia de sexo frágil!

A galera vibra outra vez, as meninas ficam ansiosas e os rapazes


cheios de expectativas para assistir ao que vem por aí. Nunca vi nada
parecido, talvez seja divertido.
— Somente aquelas cujas pulseiras brilharem, serão as eleitas para

participarem do teste de hoje. Mas, não posso deixar de ressaltar um


detalhe: aquela que se recusar a participar terá que ir embora da nossa casa!

— por alguma razão, Cassie olha diretamente para a Halle.


Quando as luzes ficam semiapagadas e a pulseira dela brilha, eu

entendo tudo!

— Você não precisa fazer isso — comento, mas a verdade é que no

fundo estou louco para que faça.


Halle observa a sua pulseira cintilando o rosa neon por alguns

segundos.
— Eu quero — ela está decidida, e a sua impetuosidade me faz

sorrir.
As eleitas se aproximam da mesa e são divididas em duplas. Tem

várias meninas aqui, mas apenas seis foram escolhidas, o que prova a rígida
seleção.

Percebo que Halle está nervosa, ela bebe o seu drink com rapidez,
como se precisasse disso para ter coragem. Quando termina, me entrega a

sua taça e prende o seu cabelo em um rabo de cavalo, se preparando.


— Está preparada? — pergunto, aproximando os lábios da sua

orelha, em meio ao grande burburinho de expectativa do pessoal.


— Acho que sim — ela assente, inquieta, ansiosa.

Acaricio a sua nuca, prendendo a sua atenção, seu rosto vira


rapidamente em direção ao meu.

— Você não vai ganhar com a força, mas sim com o psicológico —
continuo sussurrando na sua orelha. — Se acreditar que é a mais forte,

então será a mais forte. E você é — escorrego o polegar na lateral do seu


rosto. — Você é a mais forte — repito, afastando a face alguns centímetros
da sua para mergulhar em seus olhos.

Halle parece hipnotizada, no entanto, bem mais calma agora, esse

era o meu objetivo.


— E vamos começar! — Cassie grita no microfone.

A primeira dupla acaba o round em três segundos, a segunda dura


mais um pouco, levando a galera à loucura.

Meu coração acelera quando Halle toma o seu lugar na cadeira,


assim como a sua oponente, que é uma garota um pouco mais alta que ela.

Ser mais alto que a Halle não é difícil, perto de mim ela é pequenininha, e
eu gosto disso.
— E aí, será que a sua candidata vai ganhar? — mal percebi

quando Cassie saiu do tablado para se juntar a mim.


Livro-me da cerveja e da taça. Uso a mão direita para afagar a

barba rala em meu queixo enquanto o braço esquerdo está passado abaixo
do peito.

— Não sabia que tinha interesse que ela fizesse parte da sua
fraternidade — comento, sem tirar os olhos da Halle que está a alguns

metros de mim, eu estou às suas costas.


— Eu só gosto de vencedoras. — Cassie sorri, colocando as mãos

no quadril. Deve estar se referindo ao desafio do lago, onde Halle foi a


campeã. — Mas achei estranho ver você com ela. Não sabia que curtia

novatas. — Sinto o seu olhar queimar a minha bochecha.

— Nós somos apenas amigos. — Finalmente viro o rosto em

direção ao seu. — Assim como eu e você — deixo bem claro, fazendo-a


gargalhar em deboche antes de dar o sinal para a garota que está

comandando as disputas e que sopra um apito.


O embate entre Halle e a sua adversária tem início. Fico tenso ao

assistir as duas garotas medindo forças sobre a mesa, e mais tenso ainda
quando o braço da Halle começa a pender. O pessoal grita, pula, filma,

fotografa, fica ensandecido.


Vai Halle! Vai, vai, vai!

Como se escutasse os meus pensamentos, ela volta o braço para o


lugar, forçando o da sua concorrente para o lado contrário. Esbugalho os

olhos, fascinado com a sua força e determinação, meu espírito se agitando


por dentro para testemunhar o final. A adversária geme e mostra os dentes,
se agoniando ao notar que vai perder.

As duas berram, todo mundo berra junto quando a menina Duncan


sai vencedora, fazendo brotar em meus lábios um sorriso de satisfação.
Cassie é a primeira a parabenizá-la, assim como faz com as outras

duas. Ela leva as três vencedoras para o tablado e tira várias fotos com elas,
as futuras novas filhas de Vênus, se passarem em outros testes, é claro.

Quando enfim a minha pequena vencedora é liberada, ela vem

vibrando de felicidade em minha direção. E para a minha surpresa, pula em


meus braços, me abraçando com uma felicidade que não cabe no peito,

como se a intimidade que tínhamos quando adolescentes voltasse com tudo


agora, expulsando qualquer tipo de pudor.

É óbvio que não recuso o seu toque, a abraço forte e agarro a sua
cintura, fechando os olhos por um instante para sentir o doce perfume do
seu cabelo.

Cheirosa pra caralho!


Nós voltamos a beber, a banda de rock vai embora e uma DJ

começa a tocar. A música Veneno da Erika Lundmoen invade a atmosfera,


envolvendo homens e mulheres na batida viciante e intensa. Quando dou

por mim, estou levando a long neck à boca enquanto assisto à Halle se
soltar. Não sei se é o álcool ou a vontade dela de se libertar, mas os seus
movimentos suaves me enfeitiçam.

O jogo de luz moderno da mansão transforma o ambiente em uma


boate, tudo fica azul e as paredes brilham como se estivéssemos no espaço

sideral, meneando do azul para outras cores, como o roxo e principalmente


o rosa.

Os corpos entram na mesma sintonia, o tempo passa em câmera


lenta à medida que vejo a garota dançar, erguer os braços, sorri e rebolar,

como se estivesse acostumada a fazer isso. 

Halle está livre e intensamente linda.

Puxo-a pela cintura, fazendo-a grudar em mim, de costas, e roçar


contra o meu corpo. O momento se torna especial e consequentemente

erótico, uma energia avassaladora queima entre a gente. Meus dedos


passeiam por sua barriga nua, ela apoia a cabeça no meu peito e
simplesmente curte o momento.

O seu rosto se ergue, os seus lábios se entreabrem de prazer.


Entregamo-nos à música como se não houvesse amanhã, até me surpreendo
por ficar tão imerso no poder sedutor que a Halle tem, e o melhor de tudo é
que ela nem precisar forçar.

Eu quero essa garota.


— Eu quero você.
 
 

 
 
HALLE DUNCAN

 
Um arrepio percorre todo o meu corpo ao ouvir as palavras ditas

por Hunter. Dá para sentir o seu desejo voraz, as suas chamas que me
incendeiam e molham a minha calcinha. Quando ele morde a minha orelha,

é o meu fim. Fico alucinada e, em um impulso, me afasto do seu corpo, do

seu toque.

Viro-me para encará-lo, sem saber o que dizer ou fazer.

Hoje me tornei uma Halle irreconhecível, bebi, joguei, dancei e me


entreguei às aventuras que essa experiência me proporcionou. Encontrá-lo

aqui era a minha maior vontade, mas não estava preparada para essa

intimidade entre a gente que fluiu como se fôssemos um casal.

Todo mundo viu, mas não me importei.


Pela primeira vez, não me importei.

Apenas queria viver cada segundo e agora chegamos aqui, depois

da sua declaração quente, que está me desconcertando diante do seu olhar

faminto.

Boquiaberta, sei que Hunter está aguardando uma resposta, mas ele
captura o seu celular do bolso e observa uma mensagem que recebeu.

Fecho os olhos, indecisa sobre sentir alívio ou arrependimento por

não tê-lo respondido. Apesar do medo, lá no fundo eu sei o que dizer: o

quero também.

— Temos que ir. — Ergue o rosto e me olha firme, decidido e sem


dar chances para alguma contestação.

Hunter se livra das nossas bebidas antes de segurar o meu braço e

me levar para fora da mansão, até o seu carro. Sento-me no banco do

carona, ele fecha a porta, mas não entra em seguida, fica conversando com

os demais espartanos. Não consigo ouvi-los, todavia, pela maneira como

gesticula, parece que está dando ordens.

Após ouvi-lo, os caras correm para os seus carros e ele vem para o
dele, tomando o seu lugar. Nós saímos em disparada, ouvindo o poderoso

ronco do motor.

— Por que a pressa? — Hunter pisa fundo no acelerador,

atravessando os sinais pela avenida sem pestanejar. Achei que ficaria com
medo, mas fico elétrica. — Aconteceu alguma coisa?

Ele finalmente resolve me olhar.

— Droga, você não pode ficar sem cinto. — Estica o braço sobre o

meu corpo e puxa o cinto de segurança com habilidade, me mantendo

segura assim como deveria estar.

— Hunter, me responde — insisto, impedindo a sua mão de voltar

para o volante quando a seguro.


— Está tudo bem, apenas estou atrasado para um compromisso. —

Ele desacelera para dobrar em uma curva, depois pisa fundo de novo. O

motor ronca ainda mais alto, como se tivesse vida própria. — Você me fez

perder a noção do tempo, Mel. — Pisca para mim, fazendo-me contente em

meio à pressão da velocidade que me espreme contra a poltrona.

— Pode ir um pouco mais devagar? — peço, nervosa, segurando

na alça do teto.

— Comigo nunca é devagar. — Hunter se diverte com a situação,

curtindo a adrenalina.
Apenas consigo respirar direito quando entramos na propriedade

da Atenas e paramos na frente do meu prédio. O celular dele toca de novo,

tocou várias vezes durante a nossa pequena viagem, no entanto, apenas

agora consigo ler o nome de quem está ligando: Jake.


— Está tudo bem mesmo? O Jake descobriu algo? — O meu

estômago congela, meu coração erra algumas batidas apenas por pensar

nessa possibilidade.
— Fique tranquila. — Hunter acaricia o meu rosto e ignora a

chamada. — Agora eu preciso que vá. — Aponta com o queixo em direção

ao meu dormitório, convidando-me a sair do carro. Confesso que é algo que

eu não gostaria de fazer e faço devagar, com vontade de ficar.

Contorno o automóvel até me deter diante da janela dele, chateada.

— Então é assim, você determina quando começa e quando acaba?

— Coloco a mão sobre o peito, meu coração ainda bate em um ritmo

frenético.
Ele respira fundo, analisando-me como se procurasse a melhor

resposta, até que finalmente decide falar:

— Eu sabia que a noite de hoje seria importante, mas você deixou

tudo ainda melhor — declara, suavizando a minha chateação. — Eu vou

voltar — garante, antes de acelerar e partir.

Cruzo as mãos e aperto os dedos uns nos outros, com força, louca

de ansiedade e expectativa. O que ele quis dizer com essa frase? Algo vai

rolar entre a gente?

Tomo o caminho do meu quarto, feliz, boba, imaginando um

milhão de coisas depois do que ouvi. Meu corpo ainda está vibrando como
enquanto estava dentro do automóvel.

Lembro do que fui capaz de fazer hoje e ainda não consigo

acreditar. Sorrio de orelha a orelha, mas a minha felicidade dura pouco

assim que entro em meu cômodo e encontro Amy apenas de camiseta

masculina, sentada no parapeito da janela, com o celular na mão e a

maquiagem borrada de lágrimas.

Merda! A esqueci completamente.

Engulo em seco, fecho a porta devagar.

— E aí, se divertiu muito? — a sua voz amarga prende a minha

atenção. Fico calada. — É claro que se divertiu, basta olhar para a sua cara.

Eu vi tudo por aqui. — Mostra o celular, desgostosa. — Halle Duncan, a

nova filha de Vênus — debocha, como se não pudesse acreditar.

Ainda um pouco tonta, sento-me na minha cama e retiro os tênis,

meus pés estão doloridos demais.

— Por que foi embora? — pergunto, curiosa.

— Por que quer saber? — devolve, insatisfeita. — Pelo visto você

se deu muito bem sozinha.

— Qual a razão de estar me tratando assim? Eu não te fiz nada. —

Puxo a calça jeans, me livrando do aperto em minhas coxas. Cubro as

minhas pernas com o edredom — Se quer saber, não gostei da maneira


como a Cassie te tratou, mas você não esperou por mais nada...
— Não tinha o que esperar, Halle! — Amy salta da janela, se

aproximando, revoltada. — Elas apenas me tapearam, todo esse tempo em

que fiquei tentando retornar para a fraternidade, fui feita de trouxa e

naquela conversa com a vadia da Cassie, isso ficou bem claro! Elas não me

veem como uma igual porque eu sou uma pobretona do caralho e entrei

nessa merda através de uma bolsa! — Amy bate no peito, desabafando o

que, pelo visto, estava a sufocando. — Ali ninguém quer saber da sua

inteligência, mas sim do dinheiro que pode oferecer para a instituição, e por

esse exato motivo é que você foi tão mimada essa noite!

Aponta para mim, ofegante.

Raciocino sobre as suas palavras, calma. Jogo algumas mechas

para trás das orelhas. Amy anda de um lado para o outro, pensando.

— Eu só queria me divertir, entendeu? — Ela se detém e volta a

me dar sua atenção. — Não sabia o quanto aquilo era importante pra você,

mas agora sei e, sinceramente, não acho que vale a pena fazer tudo o que

fez por essa fraternidade. E isso inclui me usar como um meio para um fim

— jogo na sua cara, Amy fica sem palavras. Coloco as mãos para trás,

apoiando-me na cama, cansada. — Se eu fosse você não gostaria de ficar

em um local onde não me desejam. No fim de tudo, foi culpa sua —

concluo, notando o quanto a deixei pasma.

Amy engole o orgulho, passa as mãos no cabelo.


— Tem razão. — Senta-se ao meu lado, esmorecida. — Eu devia

ter entendido o recado quando me expulsaram de lá com uma desculpa

esfarrapada.

— Expulsa ou suspensa? — brinco, o álcool ainda está fazendo

efeito em meu sangue.

Amy ri e me abraça sem que eu possa evitar, deitando a cabeça em

meu ombro.

— Foi mal — diz, carinhosa de uma maneira que nunca achei

existir. — Você realmente não teve culpa de nada, eu fui uma tola.
— Tá tudo bem. — Faço-lhe cafuné. — Pelo menos uma de nós se
divertiu essa noite. — Lembro do Hunter outra vez.

— Eu vi com quem a senhorita chegou, depois me contará todos os


detalhes. — Amy volta a olhar em meus olhos.

Quando dou por mim, estamos as duas deitadas e apertadas na


minha cama, ela virada para o lado da parede, dormindo, e eu ainda sem

conseguir sonhar, apenas sendo invadida pelas lembranças do passado. É


como se voltasse no tempo e revivesse tudo aquilo outra vez:

 
A noite estava maravilhosa e meu coração se encheu de felicidade

quando papai tocou a campainha dos Scott. Fazia alguns dias desde o meu
incidente na piscina e dali em diante não vi mais o Hunter. Fiquei bastante
preocupada com ele, então queria encontrá-lo.

Blanca Scott abriu a porta e nos recebeu com muita empolgação,


ela cumprimentou toda a minha família e nos guiou para a sala de estar,

onde o seu marido nos aguardava com uma mulher que eu ainda não
conhecia.

— Sejam bem-vindos, vizinhos. — Mike Scott ficou de pé para nos


receber, sorridente, preferi ignorá-lo.

— Esta é Melanie, a minha irmã — Blanca apresentou. Melanie


trajava um vestido branco que realçava ainda mais o tom alvo de sua pele,

ela e Blanca se pareciam bastante, mas Melanie era ainda mais bonita.
— Prazer — Melanie também nos cumprimentou, Jake não

conseguiu tirar os olhos dela enquanto eu procurava por quem me


chamava mais atenção, mas que ainda não estava aqui.

Todos nos acomodamos e um diálogo entre os adultos começou:


— Seus filhos são lindos, parabéns — Melanie elogiou.

— Ah, obrigada — mamãe agradeceu. — E você, mora aqui?


— Não, mas venho sempre visitar a minha irmã. Blanca me contou
o que aconteceu com essa pequena e o meu sobrinho, que susto. — Ela riu,

mexendo no cabelo, descontraída.


Continuei mexendo a perna, batendo o pé na parte inferior do
sofá, aguardando o Hunter descer pela escada que deduzi levar até o

quarto dele.
— Sim, mas já passou. Agora ela terá aulas de natação. — Meu

pai me abraçou, tirando-me dos meus devaneios. Estou sentada ao lado


dele, depois vem Jake e minha mãe.

— Isso é importante, as nossas crianças precisam aprender a


sobreviver e conquistar a independência. Quanto mais cedo, melhor —

acrescentou Mike, entrando na conversa.

— Onde está o Hunter, senhor Scott? — Jake fez a pergunta que

estava entalada na minha garganta.


— Ah, lá em cima, será que pode avisá-lo de que já está na hora

de descer?
— Claro! — Jake se levantou.

— Posso ir com você? — não consegui segurar a língua, saiu no


impulso.

— Claro que não — Jake negou com a cabeça, seguindo rumo à


escada.

Fui obrigada a ficar plantada ali, escutando os adultos


conversarem sobre o mundo dos negócios, aconselharem uns aos outros,
até que minha mente se animou ao avistar Hunter aparecer com o meu

irmão, ambos conversando feito melhores amigos.


— Filho, venha aqui, dê boa noite para os nossos vizinhos — seu

pai o chamou.
Hunter agiu como se não quisesse fazer aquilo, mas no fim, o

obedeceu.

— Boa noite — forçou, mas nem olhou na minha cara, logo eu que

desejava ser vista por ele mais do que ninguém.


Meus pais o responderam, Hunter deu as costas e foi com o Jake

para a sala de jogos. Não consegui conter a minha ansiedade e, alguns


minutos depois, abandonei o sofá e saí de fininho na mesma direção que os

garotos, parando no vão da porta para observá-los sentados diante da TV,


jogando futebol americano.

Hunter foi o primeiro a me notar, ele sorriu para mim e eu sorri de


volta, mas meu irmão pareceu não gostar daquilo.

— O que está fazendo aqui, Halle? — Jake perguntou, desanimado


com a minha aparição. — Volte para lá — pediu, mas não me movi.
— Eu queria saber se o Hunter sabe onde ficou a minha câmera.

Depois do meu acidente, não o vi mais para perguntar — comentei, sem


jeito.
— Sabe jogar? — ele ergueu o controle remoto em sua mão, me

convidando. Eu assenti.
— Sim, papai me ensinou. — Me aproximei, sentando-me do lado

dele.
— Não, Hunter, ela vai atrapalhar — Jake resmungou.

— Pare de ser chato, é só uma partida.


— Ele está assim porque sabe que sempre ganho dele — decidi

provocá-lo, recebendo o seu olhar desafiador, o que fez Hunter sorrir.


O seu sorriso era lindo.

— Isso é verdade, Jake? Você perde para uma menina desse


tamanho? — Hunter também o provocou, tocando em minha cabeça, mas

dei um tapinha na sua mão, a prova de que não gostei do seu comentário.
— Claro que não, é mentira dela!

Nós nos entreolhamos, não demorou nada para que começássemos


a jogar. Hunter ficou observando, se divertindo com o embate de irmão

contra irmã, até que consegui o primeiro touchdown. Eu estava bastante


confiante e, como já era esperado, ganhei!

Isso foi o suficiente para Hunter zoar o Jake que, não aguentando
o fato de ter perdido de novo para mim, saiu da sala.

— Uau, isso foi muito bom! — Hunter bateu palmas, gargalhando.


— Fazia um tempo que eu não me divertia assim. Você é boa, Halle.
— Obrigada. — Sorri, descansando no encosto do sofá.
O garoto parou de rir e se levantou.

— Espere aqui. — Saiu da sala e voltou um minuto depois, com a


minha câmera. — Ela havia quebrado, mas eu a consertei para você —
sentou-se ao meu lado de novo e me entregou aquilo de que tanto senti

saudade.

— Nossa, ela parece novinha em folha! — admirei a câmera que


estava bem limpa e brilhando. — Mas é a mesma — constatei, para o meu

alívio. Não queria uma nova, queria a minha. — Ela é especial, foi a minha
vovó quem me deu. Você tem algo especial de que goste muito? — a

pergunta saiu de repente, do nada.


Queria saber mais sobre ele.

Hunter pensou um pouco, parecia vasculhar uma resposta em sua


mente.
— A minha mãe é especial para mim, mas ela e meu pai brigam

muito — tombou a cabeça para baixo, entristecido.


— Mas por que eles...? — não consegui concluir a pergunta,

escutamos a voz de Blanca nos chamando.


— Venham, crianças, está na hora do jantar!

— Vamos — Hunter foi o primeiro a ficar de pé, eu o segui para

fora, colocando a alça da minha câmera a tiracolo.


— Olha só, você a encontrou — mamãe acariciou o meu rosto
quando nos reencontramos, ela se referia à câmera fotográfica.

Todos nós sentamos à mesa que continha um verdadeiro banquete,


no entanto, antes de iniciarmos a refeição, Blanca decidiu fazer algumas

considerações:
— Esse jantar é um pedido de desculpas pelo que aconteceu com a

Halle, mas também, as nossas boas-vindas aos nossos novos vizinhos.


Tenho certeza de que nos daremos muito bem. — Ela olhou para todos nós,

seus olhos brilhavam de felicidade, enquanto o seu marido a observava


como se estivesse desconfortável. Existia um clima estranho entre eles, pois

falavam com todo mundo, mas tinham pouco contato entre si. — Então,
vamos jantar!

Passamos a nos servir e tudo correu bem.


No fim, o grupo se espalhou pela casa. Jake e meu pai ficaram
dialogando com Hunter, mamãe foi ajudar Blanca a lavar as louças e Mike

estava distraído conversando com a sua cunhada. Já eu, fiquei sozinha e


decidi aproveitar o momento para fotografar todos eles, principalmente o
garoto Scott.
Não sabia o que ele tinha para me causar tanto interesse, mas eu

gostava.
Foi quando parei para pensar se Hunter havia olhado as minhas
fotografias durante esses dias. As minhas bochechas enrubesceram ao

imaginar que ele agora sabia que era o meu modelo secreto em tempo
quase integral.
Eu tirava mais fotos dele do que do resto do mundo desde que me
mudei para cá, mas isso era um segredo meu, ninguém poderia saber, muito
menos ele.

Saio das lembranças e retorno para a realidade. Balanço a cabeça


ao escutar o ronco da minha colega de quarto, não acredito que a Amy

dorme desse jeito, fazendo esse barulho horrível.


Desço da cama e vou deitar na dela. Lembro da maneira como
Hunter me deixou aqui e saiu rápido após as mensagens e ligações do meu
irmão. O que será que ele foi fazer?
Será que Jake já sabe que estivemos juntos? Que quase nos

beijamos?
Vou ter que descobrir.
 

HUNTER SCOTT

 
Chego ao local do encontro faltando apenas cinco minutos para o

horário combinado. Estaciono o carro ao lado do outro, ambos escondidos


atrás dos arbustos próximos à rodovia que dá para uma longa ponte que

divide o limite de Boston com o de outra cidade.

Jake e Drew estão me aguardando com os semblantes nada

amigáveis, devido ao meu atraso. O lugar deserto só não parece mais

sombrio devido à luz da lua e das estrelas.


— Porra, Scott, onde você estava?! — Drew é o primeiro a vir em

minha direção, emputecido.

— Fazendo o meu álibi e eu espero que tenham feito o de vocês —

retiro a balaclava do bolso traseiro da calça e cubro o rosto, optando por não
perder mais tempo.

— E a Halle? — Jake se aproxima, encarando-me olho no olho,

irritado.

— Ela está de volta na universidade, está tudo bem. Agora

precisamos de foco. — Aponto para a estrada que está em uma parte mais
alta do terreno, por onde um caminhão passa, fazendo barulho e agitando os

arbustos com o forte vento.

Eles cobrem as suas faces assim como eu, caminhamos até o

acostamento da rodovia e ficamos esperando. Agora não nos resta outra

opção a não ser esperar, no entanto, o tempo passa devagar. Na verdade, a


sensação que tenho é de que ele está se arrastando à medida que esperamos

o sinal enviado por nossos parceiros, que avisam sobre o micro-ônibus da

clínica estar próximo do ponto em que estamos.

Guardo o celular no bolso após ler a mensagem.

— Se prepare, eles estão vindo — falo para o Drew, que corre para

pegar o seu carro. — Jake, as armas — estico a mão para ele, que retira os

nossos revólveres de uma mochila, nos armando.


Trocamos um olhar tenso.

— Lembre-se, nada de atirar, precisamos apenas pegar a minha

mãe e fugir – repito a informação que venho falando desde que bolei esse

plano de libertar a minha mãe das garras do meu pai.


Eu não queria envolvê-los nisso, faria tudo sozinho, contrataria

pessoas experientes nesse tipo de serviço, mas os meus amigos quiseram

me ajudar. Eles sabem o quanto isso é importante pra mim. No entanto, eu

sempre soube que vender droga na faculdade era uma coisa, sair armado no

meio da noite para resgatar uma paciente considerada incapaz era outra bem

diferente.
Mas no fim, aceitei, era melhor estar seguro com eles do que

inseguro com desconhecidos.

Amizade era exatamente isso, estar junto na calmaria e no perigo,

dar as mãos independentemente da situação. Eu mataria e morreria por eles,

assim como fariam o mesmo por mim.

Assim que avistamos o micro-ônibus se aproximando, faço sinal

para o Drew que invade a estrada, impedindo que o outro siga adiante e

entre na ponte.

Jake corre até a porta lateral e aponta a sua arma para o motorista,

eu faço o mesmo, porém, mirando no homem através do para-brisa.


— Abra essa merda! Abra agora! — exijo, Jake faz o mesmo, o

motorista fica assustado. — Nem pense em dar uma de espertinho! Abra

agora! — berro, alterado, tomado pela adrenalina, pensando que depois de

todo esse tempo vou poder ver a minha mãe novamente.


O cara decide nos obedecer, permitindo a minha entrada, Jake e

Drew permanecem do lado de fora, com a ameaça de atirar caso ele tente se

mover.
Ando pelo corredor do ônibus procurando a mulher de rosto

familiar, os pacientes ficam alterados com a minha presença e com a arma

em minha mão, todavia, assim que vasculho todo o ambiente, a minha

expectativa vai sendo engolida pela realidade.

Ela não está aqui!

Como último recurso, abro a porta do banheiro, encontrando uma

mulher que está vestida como uma enfermeira. Ela segura o seu celular e

está tão nervosa que ainda não conseguiu completar a chamada que estava
fazendo, provavelmente um pedido de socorro.

— Onde estão os outros pacientes? — tomo o celular dela,

fazendo-a engolir em seco. — Fala! Cadê o resto?! — berro, fazendo-a

estremecer, de mãos erguidas, apavorada.

— Estão todos aqui... — gagueja, mas sei que está mentindo.

Respiro fundo, buscando calma ao fechar os olhos por um

segundo. Entro no banheiro, a encurralando e abaixando a arma.

— Escute, eu não quero te machucar, quero apenas que me diga

onde estão os demais pacientes que estavam previstos para vir nesse ônibus

— falo com mais calma, tentando tranquilizá-la em meio às suas lágrimas.


— Se me disser a verdade, eu e meus amigos vamos embora. Você

entendeu?

Ela assente, ofegante.

— Eles estavam no outro ônibus... — começa a dizer, mas a

interrompo.

— Eram dois?

— Sim... mas houve um acidente. Eles tombaram em um

desfiladeiro — conta, fazendo-me perder o ar. — Nós tivemos que seguir, a

polícia e a clínica não nos permitiram ficar.

Chocado, nem percebo quando meu corpo pesa para trás, encosto

no vão da porta. Foi como um soco. Mal consigo raciocinar, isso não pode

ser possível.

— A que horas foi isso? — as minhas palavras saem sussurradas,

frias e doloridas.

Ao ter as informações de que preciso, saio do ônibus, deixando

todo mundo abalado com essa experiência horrível. Não tinha como ser

diferente.

— Cadê ela? — Jake pergunta por minha mãe, me seguindo até o

meu carro enquanto Drew tira o dele da pista e foge, como combinado.

— Ela não está aqui, ela... — perco a voz, meio desnorteado.


— Hunter, o que você tem? — Jake segura o meu braço,

analisando-me.

Pisco, pensando no que devo fazer.

— Parece que houve um acidente com o veículo que transportava a

minha mãe — digo, como se estivesse falando para eu mesmo acreditar.

Olho para o chão, sabendo que preciso controlar o avanço do desespero. 

— O quê? — Jake franze a testa, sem entender. — Mas ela tá bem?

— É o que preciso descobrir. Vamos! Rápido! — ultrapasso o meu

amigo e entro no automóvel, ele vem em seguida.


Dou a ré e saio em alta velocidade, indo pelo mesmo caminho de

onde o ônibus veio, correndo como nunca fiz em minha vida, ciente de que

se perder a minha mãe, eu perco tudo!

HALLE DUNCAN

Ele não voltou.

Faz semanas desde aquela noite em que Hunter prometeu que iria

voltar e não voltou. De início acreditei que Jake e ele teriam tido uma briga

feia, mas o meu irmão continuou me tratando normalmente, porém, sem

mencionar nada sobre o seu amigo ou sobre eu ter ficado com ele na festa.
Por diversas vezes engoli a vontade de perguntar sobre o Hunter

porque não queria que Jake desconfiasse de nada. Ele já tinha deixado bem
claro que não queria me ver com os espartanos.

Tento me concentrar na aula, mas o meu celular não para de vibrar

dentro da mochila. Jimmy está ligando e enviando mensagens desde que

acordei.

Eu simplesmente parei de respondê-lo a todo instante depois da

experiência na Vênus, só não faço o mesmo com a minha mãe pelo simples

fato dela ser a minha mãe.

A Sra. Duncan ficou mais tranquila após conversar com o Jake e

ele afirmar que estava cuidando de mim. Tento fazer das nossas conversas
as mais breves possíveis, todavia, ela pergunta de tudo, enquanto papai
continua na dele.

Jimmy, pelo contrário, parece sentir que algo está diferente, talvez
seja a falta de informação a meu respeito, algo que conseguia através dos

meus pais. Juro por Deus que se ele continuar insistindo, irei bloqueá-lo.
Após a aula, saio da sala e caminho pelo corredor com a mesma

sensação que vem me perseguindo todos esses dias, a de que algo está
errado.

Eu entenderia se Hunter não quisesse nada comigo, aquela noite


poderia sim ter sido apenas uma ilusão, mas ele definitivamente sumiu da

universidade, não o vejo em canto algum e Jake age como se estivesse tudo
bem, mas sinto que está escondendo alguma coisa.
— Que carinha é essa? — Como se adivinhasse que estou
pensando nele, meu irmão surge do nada, passando o braço por meus

ombros, acompanhando-me na caminhada.


O ambiente está agitado, vários alunos ajudam a decorar cada

canto de Atenas para o Halloween.


— Oi... o que está fazendo aqui? — Estreito as sobrancelhas, não é

normal ele vir me visitar nesse horário.

— O que foi? Não posso mais vir te ver? — Jake sorri, se fingindo

de desentendido.
— Você nunca me vê pela manhã. Sei que nesse horário

geralmente está na aula ou treinando. — Puxo a alça da mochila, ajeitando-


a nas minhas costas.

— Anda me vigiando? — Jake vira e para na minha frente, nos


encaramos.

— Sou uma pessoa muito bem informada, se quer saber — brinco,


percebendo o seu descaramento. — Diga logo, irmão, o que quer? Veio

averiguar se estou em perigo? Se algum garoto da faculdade me atacou? —


ironizo, o fazendo rir.
Ele não me leva a sério.

— Pelo contrário, já que passou as últimas semanas jogando na


minha cara que não quero deixar você viver, vim te convidar para ir à festa
de Halloween comigo nesse fim de semana — dispara, fico em choque.
Levo uma mecha de cabelo para trás da orelha, sem acreditar.

— Tá falando sério?

— É claro que sim. — Jake segura os meus braços. — Ainda não


tivemos muitos momentos juntos, e eu estou te devendo uma por

ultimamente ter sido tão chato.


— Não sei, preciso pensar — o ultrapasso, desconfiada. Continuo
caminhando.

— Está me dizendo um “não”? — pelo tom da sua voz, noto que


não está acreditando.

— É que tenho muitos trabalhos a fazer, muitos assuntos para


estudar — afirmo, enquanto Jake volta a caminhar ao meu lado.

— Sábado à noite eu passo lá para te pegar. — Ele beija o topo da


minha cabeça e vai embora, me deixando pensativa.

Seria legal uma atividade entre a gente, estamos voltando a


conviver depois do tempo em que ficamos distantes, no entanto, não posso

ser hipócrita e negar que continuo pensando mais no Hunter. Ele realmente
não sai da minha cabeça.

Por que sumiu?


Será que Jake o proibiu de me ver?

Ele não parece ser do tipo que obedece à regras.


Ao chegar no meu quarto, deparo-me com Amy sentada na minha

cama, com a minha câmera nas mãos, olhando as minhas fotos.


— O que pensa que está fazendo? — tomo a câmera das mãos

dela, irritada.
— Hunter Scott? Ele é seu crush? Bem que desconfiei! — se

levanta, boquiaberta, provando que está surpresa.

— Amy, você não tinha esse direito! — exclamo, erguendo o

indicador para ela.


— Foi mal, apenas quis conferir as imagens que você comentou

outro dia, da faculdade, e acabei chegando na pasta do Scott...


— Mentira, você é enxerida mesmo! — jogo a mochila na cama e

sigo até o armário, onde guardo a câmera antes de trancar a porta.


— Nunca imaginei que se conheciam desde criança. Que você

gostava dele há tanto tempo, achei que era algo nascido aqui — ela
continua insistindo, me tirando a paciência, eu não suporto me sentir

exposta.
— Esqueça isso, okay? — me aproximo dela, olhando-a
seriamente. — E se você comentar com alguém, juro que nunca mais falo

com você — prometo, completamente alterada, a minha pele até esquenta


devido à raiva.
Amy esbugalha os olhos, perplexa com o meu comportamento. Ela

tenta me tocar, mas não permito. Sento-me na cama, chateada por ter tido a
privacidade invadida.

— Calma... eu não vou contar a ninguém. Juro que não vou — a


sua voz soa mansa, Amy se agacha à minha frente, apoiando as mãos em

meus joelhos. — Depois da minha experiência na Vênus, tomei ranço de


metade dessa universidade e agora a única amiga que tenho aqui é você —

confessa, obrigando-me a levantar o olhar para encontrar sinceridade em


sua expressão.

— Sinto uma mistura de amor e ódio por você — confesso. Amy ri


e se senta ao meu lado.

— Agora me diz, o Scott é mesmo o seu crush? Por que ainda não
estão juntos? Percebi que ele também se interessou por você.

Penso duas vezes antes de falar tudo o que está entalado em minha
garganta. É difícil guardar um segredo sozinha e por tanto tempo, sem ter

ninguém para desabafar. Amy não é a pessoa mais confiável desse mundo,
começou comigo com o pé esquerdo, mas ultimamente a gente vem se

entendendo, do nosso jeito.


— Ele sumiu depois daquela noite e eu não faço ideia do que

aconteceu — confesso, desabafando. — Ele disse que iria voltar,


demonstrou que estava interessado, mas agora... não sei. Acreditei que
tivesse brigado com o meu irmão, mas o Jake está tranquilo. Sinto que ele
esconde algo, mas não quer me dizer e eu não posso perguntar porque não

quero que perceba que estou interessada no seu melhor amigo.


Amy faz uma cara de tristeza, entendendo a minha insatisfação.
Meu coração está acelerado por ter jogado meus sentimentos e angústias

para fora.
Ela toma as minhas mãos, massageando os meus dedos.

— Olha, não foi só você que notou o sumiço do Scott, ele é uma

pessoa famosa aqui no campus, todas as garotas o desejam e eu ouvi


algumas delas comentando que deve ter acontecido alguma coisa porque já

faz um tempo que ele não sai mais da mansão.


— Cheguei a pensar que ele pudesse estar lá, mas não posso ir ao

lugar onde o meu irmão mora, ele não quer me ver perto dos espartanos.
— É compreensível. — Estranho a sua concordância, mas deixo
passar.

— Mas por que o Hunter se isolaria desse jeito? Ele é o líder da


fraternidade, o quarterback do time de futebol — a minha mente começa a

fervilhar em busca de uma resposta.


— Só indo lá para descobrir. — Amy se levanta e começa a

caminhar pelo quarto. Notei que ela gosta de fazer isso quando quer
raciocinar. — Por que não aproveita a festa de Halloween? Todos sairão de
suas casas, pode ser que o Scott não queira ir e estará sozinho.

Acaricio a têmpora, absorvendo o que ela disse.


É uma boa ideia, mas tem um porém.

— O Jake quer que eu vá a essa festa com ele — conto,


desanimada.

— Eu vou no seu lugar para distraí-lo — Amy ri com segundas


intenções. — Não sei se já percebeu, mas tenho uma quedinha pelo gostoso

do seu irmão.
Fico de pé, animada, esfregando as mãos.

— E se o Hunter aparecer na festa? — penso em todas as


possibilidades.

— Aí eu te aviso e você vai pra lá. — Amy é pega de surpresa


quando a abraço, fortificando a nossa amizade.
— Obrigada — sussurro em seu ouvido.

— Amiga é pra isso — ela segura as minhas mãos, animada com o


nosso plano.
 

 
Na noite de sábado, assim como combinado, Amy é a única a sair
do nosso quarto para encontrar Jake do lado de fora, que está aguardando

no carro.
Eu o avisei que não iria, menti que ficaria estudando, mas ele
insistiu e quis vir me pegar. Pela janela, observo a maneira como Amy o
seduz e entra no seu veículo, o fazendo esquecer de mim rapidinho. Não o
julgo, além de ser homem, a minha querida nova amiga está com uma

fantasia bem sexy de bruxa má.


Assim que os perco de vista, corro até o armário, coloco o meu
casaco com capuz e saio do prédio, sendo atingida pelo frio.

Após uma boa caminhada, chego à mansão dos espartanos,


confirmando que tudo está deserto e silencioso como Amy previu. Não há
ninguém aqui, não aparentemente, a universidade em massa foi para a festa,
uma grande motivação para isso foi a banda famosa que contrataram para
tocar lá.

Prefiro não entrar pela porta da frente, sigo pela lateral da casa até
chegar aos fundos, na piscina.
Observo tudo ao redor até que algo chama a minha atenção na
parte de cima. Hunter está de pé na beira do terraço, fumando, olhando para

o chão como se quisesse se jogar lá do alto.


— Hunter? — fico assustada e paralisada, é como se o meu
coração parasse de bater. — Hunter! — grito, mas ele não me dá atenção,

parece não estar escutando nada, totalmente fora de órbita, sem se dar conta
do perigo. — Hunter, saia daí! — o meu apelo é em vão.
Seu corpo meneia para frente e para trás, uma tragédia anunciada.
Corro para dentro da mansão, entro pela cozinha, ultrapasso a sala

de estar, chego ao hall e subo as escadas. Procuro o caminho que leva ao


terraço, subo mais um lance de escadas e abro a porta estreita, encontrando
o homem no mesmo lugar, de braços abertos, disposto a saltar direto para a
morte.

— Hunter, não! — me apresso em alcançá-lo, e, para a sua sorte,


consigo puxá-lo antes que faça o pior.
Uso toda a minha força quando o puxo para trás, mas não tenho
equilíbrio ao sustentar o seu peso quando o seu corpo vira cai em cima do

meu.
Em um piscar de olhos, nós vamos ao chão e, quando me dou
conta, tenho um homem grande e musculoso sobre mim, seu rosto pairando
sobre o meu.

As suas pupilas estão dilatadas. Ele leva um tempo até finalmente


se dar conta de quem sou ou onde está, à medida que a minha respiração
descontrolada atinge os seus lábios.
— Mel? — pisca algumas vezes, buscando voltar à realidade, já

que, pelo visto, estava perdido nas sombras.


— Sim... estou aqui — confirmo, acaricio a sua face e sinto o seu
calor.
Não sei o que aconteceu, mas Hunter precisa de ajuda.

 
 
HALLE DUNCAN

 
Hunter ofega e, apesar do frio, ele está febril, o hálito de cerveja, as

olheiras profundas provando que a minha frente está um homem destruído.


— Você veio — murmura, tocando o meu cabelo.

— Eu vim... — forço um sorriso, conseguindo absorver a sua

tristeza e dor. — Agora vamos sair daqui, deixa eu te levar para dentro, por

favor — peço, empurrando-o no peito. Hunter assente e se levanta. Apesar

de estar tonto, consegue ficar de pé. — Vem — ofereço a mão a ele assim
que me levanto também.

Seguimos juntos para dentro da mansão, no tempo dele, devagar.

Hunter me mostra onde fica o seu quarto e entramos no cômodo que está
organizado, exceto pelas garrafas de cerveja no chão e os restos de cigarro

dentro do cinzeiro sobre a escrivaninha.

A cama de casal enorme fica no centro do espaço, diferente de tudo

que já vi. E a sua cabeceira é ao mesmo tempo a escrivaninha, ou seja, um

único móvel que tem duas funcionalidades.


As paredes laterais são pintadas no tom de concreto e a do fundo

em azul-petróleo, criando o destaque no design masculino e minimalista. As

lâmpadas são espalhadas pelo teto em uma estrutura de metal transparente,

o que dá ainda mais personalidade ao espaço.

Ajudo o Hunter a deitar na cama de colcha preta, ele parece


exausto.

— Você está com febre — preocupada, pouso a mão sobre a sua

testa suada. — Com muita febre — constato, vendo-o fechar os olhos como

se para buscar alívio.

Afasto-me dele e abro as gavetas da mesa, tendo a sorte de

encontrar uma cartela de comprimidos que vai ajudar a reverter essa

situação.
Encontro também fotos antigas, Hunter e sua mãe. São várias, e

aquelas em que o seu pai está foram rasuradas, o rosto ou o corpo dele

rabiscados.

Assustador.
Pego uma garrafinha de água mineral no frigobar, sento-me ao lado

de Hunter na cama, coloco o comprimido na sua boca e lhe dou de beber.

Depois, capturo uma toalha pequena do seu armário, molho-a, dobro e uso

na sua testa como uma compressa.

Ao tentar me afastar, Hunter segura o meu punho.

— Não vá... fique comigo — pede, ainda de olhos fechados, ciente


da minha presença e da sua vontade de me manter por perto.

Respiro fundo ao escutar as suas palavras, é bom saber que estava

certa em minhas suspeitas, que fiz o certo ao vir procurá-lo, pois além de

estar precisando de um ombro amigo, Hunter também queria me ver.

— Não vou a lugar nenhum — afirmo, tomando coragem o

suficiente para me permitir compartilhar a cama com ele, deitar ao seu lado,

de frente, nossos rostos a um centímetro um do outro, meus dedos

acariciando a sua barba enquanto o seu braço fica pousado sobre a minha

cintura. 

Hunter não demora a dormir e eu esqueço do mundo ao constatar


que estou exatamente onde queria estar, com ele, contemplando a sua beleza

de perto, todos os traços da sua face.

Fico tentando imaginar o que aconteceu para ser atingido por essa

vulnerabilidade, essa loucura que o fez ir ao terraço e quase se jogar.


Durante as minhas divagações, minhas pálpebras pesam, nem

percebo quando acabo dormindo também. Sonho com a nossa adolescência

e depois com nós dois se reencontrando na fase adulta.


Quando finalmente acordo de um longo sono gostoso, assim que

ergo as pálpebras, deparo-me com o Hunter me observando, de pé, fora da

cama. Ele está enrolado em uma toalha branca enquanto usa outra para

enxugar o cabelo, seu tronco desnudo e úmido.

Perfeito.

Recém-saído do banho.

As tatuagens pelo seu corpo são uma verdadeira tentação. Não são

muitas, mas o suficiente para torná-lo o verdadeiro pecado.


— O quê? Que horas são? — o quarto está iluminado, a luz do dia

atravessa as persianas da janela. — Jesus, não acredito que dormi aqui! —

sento-me com rapidez, ajeitando o cabelo, jogando as pernas para fora da

cama.

— Calma, está tudo bem. — Hunter se senta ao meu lado,

colocando a mão sobre a minha coxa. Uso uma saia de tecido leve que vai

até um pouco abaixo dos joelhos.

— Não, não está nada bem. Ninguém pode saber que dormi aqui

— passo as mãos no rosto, apreensiva.


— Ninguém vai saber. Você está segura — ele garante, erguendo

os dedos para acariciar o meu rosto.

Gosto do seu toque.

E é quase impossível ignorar que está apenas de toalha.

Engulo em seco, nós trocamos um olhar demorado, percebo que a

sua expressão está bem melhor do que ontem, mais “limpa” e suavizada. No

entanto, a tristeza ainda está lá, no fundo das suas pupilas escuras.

— O que aconteceu ontem...? — tento perguntar, mas ele não

permite, escorrega os dedos para os meus lábios enquanto me contempla

como se eu fosse algo raro.

— Você é ainda mais linda dormindo, sabia? — muda de assunto, é

impossível não derreter com o seu elogio, a sua sedução na simples maneira

de me tocar. — Por que veio? — ele está curioso, e apesar de eu também ter

muitas perguntas, não consigo ficar sem respondê-lo.

A sua voz grossa e suave parece ter o poder de tirar qualquer

informação de mim.

— Você disse que iria voltar, mas não voltou — recordo, fechando

os olhos quando a sua mão enorme desce para o meu pescoço, esquentando

a minha pele em segundos. Seus dedos são extensos, capazes de me tirar o

ar sem fazer esforço.


— Então veio me procurar, mesmo sabendo dos riscos. Mas você

gosta do perigo, não gosta? — volto a observá-lo, percebendo um brilho

erótico tomar a sua face malvada e sensual. 

Ofego, os meus batimentos cardíacos aceleram.

— Não tem medo de ficar sozinha assim comigo? — Hunter

aproxima o rosto do meu, me atingindo com o seu hálito gostoso de pasta

de dente. — No meu quarto?

— Eu deveria? — murmuro, a pergunta sai por impulso, sem me

preparar. Lambo os lábios, tenho sede.


Não consigo parar de olhar a boca dele, os lábios carnudos

convidativos.

— É perigoso, Halle... — Hunter resvala os dedos para a minha

nuca, enfiando-os no meu cabelo. — Eu poderia fazer coisas com você...

inclusive te beijar.

Não tenho tempo de receber a informação, Hunter me faz perder o

ar quando morde e puxa o meu lábio inferior, devagar, lascivo, ouvindo-me

suspirar ao mesmo tempo em que aperta a minha nuca. Quase enlouqueço

quando ele me libera e afasta o rosto, analisando a minha reação

atentamente.

Constato que se diverte ao me assistir derreter, um meio-sorriso

cafajeste toma o seu rosto, algo simples, mas fundamental para endurecer os
bicos dos meus seios e aquecer a minha intimidade.

Uma loucura.

Deus... como chegamos aqui tão rápido?

Hunter permanece parado, esperando uma atitude minha. Eu

poderia muito bem sair correndo, mas seria hipócrita se não me escutasse e

entendesse que preciso de mais, ainda estou faminta.

— Então me beije — peço, seduzida, sem me importar com nada.

Sem pensar duas vezes, Hunter toma os meus lábios, degustando a

minha carne com devoção. A sua boca é grande demais comparada à minha,
a sua língua bem mais habilidosa e experiente. Nossos lábios se misturam
com uma química maior do que imaginei, fico tão rendida que mal percebo

quando nos deitamos, sem pressa.


Hunter paira o seu corpo sobre o meu no instante em que encaixa o

seu quadril entre as minhas pernas, devagar. A minha saia cai com o
movimento, desnudando as minhas coxas quando uma delas é puxada por

sua mão, enquanto usa a outra para acariciar o meu rosto.


— Hunter... — murmuro, excitada, espalmando o seu peitoral largo

e quente.
O seu coração bate com violência, como se quisesse atravessá-lo.

Sinto a sua ereção crescer e pressionar a minha boceta quando ele


me beija de novo. A espessura da toalha que o cobre não parece nada diante
do seu vigor.
Boquiaberta, ofego ainda mais, sem parar de olhá-lo, sabendo que

devo estar corada e uma boba vulnerável abaixo dele.


— Está sentindo? — Hunter ergue o rosto, ele roça sobre a minha

calcinha, roubando-me um miado. Arranho os seus braços, molhada. —


Sempre fico assim quando estou perto de você — confessa, sem nenhum

pudor, ficando mais duro e grosso quando lambe a minha bochecha até a
orelha, chupando o meu lóbulo, me experimentando.

Cravo as unhas em seus ombros no momento em que a minha


intimidade se contrai, um impulso forte que faz eu esfregar as coxas nas

suas pernas e quadril, um fogo intenso me queimando. Estou inchada,


sensível e Hunter sabe disso.

Ele volta a me beijar com vontade, sensual, e por fim chupa o meu
pescoço, brincando com a minha sanidade ao moer a sua ereção contra o

meu clitóris, afundando os dedos na minha coxa quando me escuta gemer


mais alto e mais forte, alucinada.

Fora de mim.
— Hunter! — ouço a voz do meu irmão seguida de batidas
exigentes na porta. — Hunter, você tá aí?

Sou assaltada pelo medo, empurro o homem com toda a minha


força, amedrontada, finalmente me dando conta da grande merda que estava
fazendo.
— Jesus Cristo! — digo, tentando me mexer, mas sou imobilizada

quando Hunter fica de joelhos e tapa a minha boca, pedindo silêncio.


— Hunter? Posso entrar? — ouço a porta abrir e a minha alma sair

do corpo no mesmo instante.

— Não! Não entre! — Hunter grita, falando grosso ao virar o rosto


para trás. Em contrapartida, o volume na sua toalha está bem evidente, na
minha frente, entre as minhas pernas.

Ele é bem-dotado.
Se a toalha cair conseguirei ver tudo.

— Cara, está tudo bem? — a porta se fecha de novo, a voz do meu


irmão volta a ficar abafada, do lado de fora, mas isso não é o bastante para

me acalmar.
— Sim, está, mas agora estou ocupado... — Hunter desce da cama

com rapidez e tranca a porta, girando a chave.


Sento-me e levo as mãos à boca, como se Jake pudesse escutar a

minha respiração. No que eu estava pensando quando me enfiei aqui? E


como pude ceder tão rápido sem pensar nas consequências? Seria capaz de

ir até o fim? De fazer desse momento inesperado a minha primeira vez?

Que insensatez!
— É porque ontem você estava mal, fui para a festa, mas fiquei

preocupado...
— A gente conversa mais tarde, pode ser? — Hunter corta a fala

dele, querendo se livrar do problema.


— Vai voltar a ir às aulas? — meu irmão parece mesmo

preocupado, ele deve saber que Hunter não está bem há dias.

O homem respira fundo, ele me observa sério, como se para decidir

o que é melhor.
— Eu vou — confirma, enquanto jogo os pés para fora da cama,

lentamente.
— Okay, até mais tarde — ouvimos Jake partir, então respiro

aliviada.
Esfrego as mãos no rosto e no cabelo, chocada comigo mesma e

culpada também. Hunter abre o seu armário, pega uma roupa e segue para o
banheiro logo depois de me dizer:

— Espere aqui — sequer consigo encará-lo. Estou morta de


vergonha.
Penso no que vou dizer até ele retornar, vestido em uma calça jeans

e blusão da fraternidade.

— O que fizemos não pode se repetir — disparo, ficando de pé,


mal o deixando chegar perto.
Hunter ri, debochado.

— Mas é claro que vai se repetir, foi só o começo — afirma,


tranquilo e bem certo de suas palavras.

Coloco as mãos em seu peito quando ele tenta se aproximar.

— Eu sei que me deixei levar, mas as coisas... nada pode ser tão
rápido assim. Eu não sou assim, entende? — ele assente, sem contestar.
— Vai ser no seu tempo, Mel.

— Tem o meu irmão, a minha família e tem coisas que você ainda
não sabe... — nego com o rosto, sou invadida por uma avalanche de

preocupações. — E por que você fala como se tivesse certeza?


— Nada vai me fazer parar — garante, me enfeitiçando e

esquentando outra vez quando vence a distância que impus entre nós,
segura o meu rosto entre as mãos e seus dedos acariciam as minhas

bochechas. — Não sei o que começamos, mas quero continuar. E quando


quero uma coisa, ninguém pode me impedir — explica, confiante, me

arrepiando.
— Hunter...

— Nem você vai me impedir de ter você — garante, me tirando as


palavras e a capacidade de raciocinar quando me lança o olhar de um

homem fascinado por uma mulher.


Não faço ideia de onde ele tira essas frases prontas, mas sei que é
um golpe atrás do outro no meu coração. O posterior sempre mais forte que

o anterior. Fico submissa ao seu poder de persuasão e o pior é que ele nem
precisou se esforçar.
Ouvimos vozes e passos do lado de fora.

O barulho me tira da hipnose e me faz recuar.

— E agora? Como vou sair? — Hunter olha ao redor.


— Não se preocupe com isso — ele se senta e calça os seus tênis.

Coloco o capuz da minha jaqueta. — Você vai pelo bosque, é mais seguro,
tem menos movimento e o caminho dá no seu dormitório, lembra?

— Sim — concordo, é a melhor opção.


— Mas lembre-se — Hunter se aproxima, segura o meu queixo —,

isso não acabou aqui. Eu vou te procurar assim que der e dessa vez eu vou
cumprir.
— É melhor mesmo porque não vou vir mais atrás de você —

aponto o dedo na sua cara, o fazendo sorrir outra vez, como se tivesse
gostado do que ouviu.

Minutos depois, Hunter me leva para fora em segurança,


conseguindo desviar dos obstáculos pelo caminho. Saio pela cozinha e

caminho rumo ao lago, a minha vontade era de correr, mas Hunter avisou
para não fazer isso, pois chamaria a atenção e qualquer um que me visse
constataria que estou fazendo algo errado.

Parece uma eternidade até chegar ao bosque e depois no meu


dormitório, mas quando consigo, respiro aliviada, ainda incrédula com tudo

o que fui capaz de fazer.


Agora, com a cabeça mais fria, entendo o que aconteceu, o safado

do Hunter se utilizou da sua sedução para não me dar respostas e ainda por
cima deu vazão aos nossos desejos.

Mas ele não vai fugir para sempre, preciso entender o que
aconteceu.

Tomo banho com um sorriso estampado no rosto e esse sorriso me


acompanha até o dia seguinte, quando saio da última aula com a barriga

roncando, pronta para ir almoçar, no entanto, perco a fome ao dar de cara


com o Jimmy ao lado de fora da sala, no corredor, usando o seu típico terno
azul.

— Jimmy? — fico chocada, não esperava pela presença dele.


— Oi, Halle, vim te fazer uma surpresa — ele me abraça, mas não
consigo correspondê-lo.
Os meus colegas de turma saem da sala e todos observam a nossa

intimidade.
— Por que... não me avisou? — gaguejo, nervosa, me sentindo
despreparada.

— É por isso que se chama surpresa. Preciso saber o que está


acontecendo, estou preocupado — ele fica sério, segura as minhas mãos.
— O quê? Do que está falando?

— Halle, você mal atende as minhas ligações e parou de responder

as minhas mensagens depois que veio para cá.


— É que... eu...
— Vamos almoçar, nós precisamos conversar — Jimmy me puxa
pela mão, seguimos juntos até o refeitório e ocupamos uma mesa, frente a

frente. — Uma noiva não pode ficar incomunicável com o seu noivo... —
ele começa a reclamar, me dando sermão.
— Nós ainda não somos noivos, Jimmy — acrescento, o
encarando, mas como sempre sou ignorada.
— O que está acontecendo? — estica o braço sobre a mesa e

segura a minha mão. — Estou te achando diferente — estreita as


sobrancelhas, me examinando desconfiado. — O seu cabelo está solto, você
está usando calça e que marca é essa no seu pescoço?
— Marca? Que marca? — tiro o celular da bolsa e fico pasma ao

constar através da câmera frontal, o chupão roxo que Hunter deixou em


minha garganta.
Oh, merda!
Porém, tudo que é ruim pode piorar, ao abaixar o celular, avisto

Hunter e Jake se aproximando, eles nos viram.


— Jesus... — murmuro.

— Que foi? — Jimmy vira o rosto, sorrindo ao reconhecer o seu


“cunhado”. Os dois sempre se deram bem. — Ah, não acredito! — Jimmy

se levanta e troca um aperto de mão com ele.


— Cunhado, quanto tempo! — Jake dá tapinhas no ombro dele.
— Cunhado? — Hunter pergunta, uma de suas mãos segura a alça
da mochila em suas costas e o seu olhar desagradável rapidamente encontra

o meu, avisando que não gostou nada disso.


— Hunter, este é Jimmy Shaw, o futuro noivo da Halle. Jimmy,
este é Hunter Scott, nosso amigo de infância.
Paralisada, fico boquiaberta, sem saber como reagir. Hoje o mar

realmente não está para peixe. Hunter disse que iria me procurar, mas não
imaginei que seria tão rápido.
 
HUNTER SCOTT

 
Os dias após o acidente da minha mãe foram terríveis, me afundei

em medo e uma forte perturbação, pois ela é a única passageira do ônibus


que ainda não foi encontrada.

O fato de não saber se está viva ou morta acaba comigo e a falta de

interesse do meu pai pelo caso me revoltou, porém, sequer consegui ter uma

conversa civilizada com ele, já que o infeliz desconfia que fiz parte da

tentativa frustrada de resgatá-la.


Ele está certo.

Semana após semana, me consolei na bebida, drogas e cigarro.

Eu vendia uma nova fórmula de maconha que eu mesmo tinha

elaborado, mas não fumava, não era um viciado e nem permitia que os caras
da fraternidade usassem. Sempre deixei claro que o nosso foco era apenas

vender e lucrar, não queria me perder, gostava da minha sanidade e de

sempre estar no controle do meu corpo e sentidos.

Como conseguiria fazer dinheiro e proteger a minha mãe se me

tornasse um maldito que cheirava pó? Essa matemática nunca fez sentido na
minha cabeça.

Todavia, o desaparecimento dela e a falta de notícias da

investigação policial foi um golpe forte demais para suportar. Pela primeira

vez, quebrei a minha própria regra.

Precisei fugir para algum lugar que me tirasse da dor e da lucidez,


até que a Halle apareceu para me resgatar.

Ontem de manhã, quando despertei e a vi dormindo em minha

cama, lembrei de muita coisa do nosso passado, do quanto estar com ela me

distraía e me acalmava. Halle sempre teve esse poder de me afetar

positivamente, e a nossa experiência gostosa na minha cama só me deu a

certeza de que preciso do seu contato como meio de amenizar os meus

demônios.
Preciso reagir.

Tanto para mantê-la por perto quanto para encontrar a minha mãe.

Ficar depressivo no quarto não vai me ajudar em nada!


Tudo parecia melhor depois que eu e ela nos separamos, hoje por

sinal consegui assistir as aulas e estava indo almoçar com o Jake, até que

ele viu a irmã com o cara a quem chamou de cunhado, para o meu

incômodo.

— Amigo de infância? Então você também conhece a Halle? —

Jimmy passeia o olhar entre eu e a garota.


— Desde que ela tinha treze anos — afirmo, sério e inconformado,

a minha voz sai mais rouca do que o normal. Não sei a razão, mas já estou

detestando o engomadinho com pomada no cabelo à minha frente.

— Vocês vieram almoçar? — Jake pergunta, interessado, também

não gosto da “alegria” dele com esse cara.

Que merda!

Esse tal de Shaw não tem nada a ver com a gente e muito menos

com a Halle.

— Sim, sentem-se conosco — Jimmy convida, Jake olha para mim

e eu confirmo. É claro que vou ficar, não perderia isso por nada!
Todos tomamos os nossos lugares, faço questão de ficar ao lado da

Halle que está imobilizada, tensa, o seu olhar me engolindo e implorando

para que eu saia daqui à medida que o seu rosto fica vermelho. 

— Então, do que estavam falando? — Jake puxa assunto.


— Estava perguntando à sua irmã que marca roxa é essa em seu

pescoço — conta Jimmy, o que faz a garota rapidamente jogar os cachos

macios sobre o local mencionado, escondendo o chupão que lhe dei.


— Deixe-me ver, Halle — Jake pede, curioso, e Halle não sabe

onde enfiar a cara.

— Não, não é nada, foi só... — ela tenta dizer, mas a interrompo.

— Também fiquei curioso — apoio-me no encosto da cadeira, a

observando descarado ao mesmo tempo em que ela me repreende com o

olhar. Mas não me importo. No fundo estou chateado por descobrir somente

agora que Halle tem um maldito noivo.

Jake também não ajuda, ele não me conta absolutamente nada


sobre a irmã e o pior é que também não posso perguntar.

— Não foi nada, foi só uma abelha — ela mente e eu sou obrigado

a virar o rosto para o outro lado, segurando o riso debochado.

— Se foi uma abelha, então precisamos ir ao médico, você pode ter

alguma alergia. Isso é perigoso — Jimmy fica preocupado, é burro o

suficiente para acreditar nessa ladainha.

— Abelha? No campus? — Jake estranha.

— Será que podemos parar de falar sobre isso? — Halle alteia a

voz, o clima fica tenso. — Está tudo bem. Eu estou ótima — é claro que

está, tivemos um ótimo gás ontem.


— Okay, não está mais aqui quem falou — Jimmy ergue as mãos

em rendição no instante em que volto a analisá-lo. 

— Então vocês dois vão se casar? — sinto o olhar de Halle

queimar a minha bochecha, mas a ignoro.

— Assim que ela terminar o curso, ou pode ser antes. Estamos

ansiosos — ele sorri, se achando, bem certo do que diz.

Fico com ódio.

— É mesmo? — aperto a coxa da Halle por baixo da mesa, o que a

deixa ainda mais tensa. Dessa vez está usando calça, infelizmente. — Deve

estar ansiosa, Halle — dou atenção a ela, irônico, provando através da

minha carranca que não estou gostando dessa história, ao mesmo tempo em

que não entendo por que esse assunto me irrita dessa maneira.

Inferno!

— Não há nada certo ainda... — ela tenta argumentar,

constrangida, mas Jimmy a interrompe.

— Claro que há, nossas famílias conversam há anos — ele ri,

falando por ela. — Não é mesmo, cunhado? — joga para o Jake, que

também parece notar o desânimo da irmã ou que está rolando uma falta de

química entre o casal.

— Ah... já estou há um tempo afastado de casa, achei que tudo não


passava de uma brincadeira e de conversas, mas... se acontecer, você será
muito bem-vindo — meu amigo tenta ser discreto e não se meter. Mas está

errado.

— Se? — Jimmy é irredutível. — É claro que vai, sua irmã não

escapa mais de mim — aperto a coxa da Halle mais forte, subindo a mão

para mais perto de sua virilha.

Nervosa, ela começa a se excitar, tombando o rosto para baixo,

mordendo os lábios. Basta nos tocarmos para que essa corrente elétrica nos

atinja.

— Pois desejo sorte aos noivos — cínico, forço um sorriso. — Dá


para notar que vocês combinam muito — tento encaixar os dedos no seu

centro, mas Halle é rápida e segura o meu punho com força, me impedindo

de avançar.

— Halle, você está bem? — Jimmy percebe o quanto a garota está

ofegante, quase queimando.

— Sim, é só o calor — afasto a mão dela, insatisfeito, enquanto a

assisto usar a sua como se fosse um leque. Linda. — Preciso ir até o meu

dormitório — ela se levanta, fugindo sem pensar duas vezes.

Mas não vai conseguir fugir para sempre.

— Halle, o nosso almoço! — Jimmy reclama. — Volte aqui! —

fala em um tom mais alto, como se mandasse nela. Quase parto para cima
dele, chego a cerrar os punhos. — Volto em um minuto — ele avisa, em um

tom mais manso, logo em seguida vai atrás da garota.

Ansioso, observo-os até sumirem de vista. Fico morrendo de

vontade de ir atrás da Halle e afastar esse imbecil, mas não posso chutar o

balde agora.

— O que foi que aconteceu aqui? — pergunto a Jake, me fingindo

de desentendido e buscando nele algum tipo de compreensão.

— Eu não sei — Jake balança a cabeça, olhando na mesma direção

que eu.
— Você sabia mesmo desse casamento? Halle não parece muito
contente — não consigo evitar o comentário.

Jake dá de ombros.
— Particularmente eu acho o Jimmy chato e insistente, mas a

minha irmã sempre pareceu suportá-lo, então... não sei o que ela quer.
— Vocês não têm intimidade. Talvez esteja passando da hora de

mudar isso — aconselho, passo a mão no cabelo, tentando relaxar.


— Você me dando conselhos de família, Hunter? Você? — ele

debocha, rindo em seguida, mas olha na mesma direção outra vez,


preocupado.

— É que se preocupa tanto com quem chega perto da Halle aqui na


faculdade, mas nuca o vi falando desse tal de Shaw.
— Ele é um bom rapaz, foi criado na igreja, vive lá em casa. Eu
não devia me preocupar, mas não gostei do tom que usou com ela — Jake

pega a sua mochila que havia colocado no chão e se levanta, sério. — Já


volto — começa a caminhar.

— Eu vou com você — tento segui-lo, mas ele ergue a mão em


sinal de pare.

— Não será necessário — então se afasta. Fico sozinho e


pensativo.

Inconformado, penso em segui-lo mesmo assim, todavia, me


controlo. Se tiver algo errado, Jake vai resolver e se precisar, eu mesmo

acabarei com aquele otário.


Peço o meu almoço, mas não consigo comer direito porque fico

pensando no que o Jimmy está fazendo com a Halle. Procuro me acalmar ao


voltar pra casa e deitar na minha cama, colocando as mãos atrás da cabeça.

Lembro do passado, de cinco anos atrás, do dia em que saí do meu


quarto ao cair da noite na intenção de levar Halle ao parquinho de diversões

que havia acabado de chegar e se instalar ao lado do nosso bairro. Não sabia
o motivo de ter pensado nela primeiro e não no seu irmão. Eu gostava de
estar com o Jake. Devido aos meses em que a sua família morava no

condomínio, já o considerava um amigo, mas gostava ainda mais de ficar


perto da menina Duncan:
 
Quando desci as escadas, procurei a minha mãe pela casa para

avisar que ia ao parque:


— Mãe? Mãe, cadê você? — escutei vozes na cozinha e fui para lá,

encontrando meu pai sorrindo com a minha tia, Melanie, os dois estavam
próximos e pareciam engatar um diálogo agradável.

— Oi, querido! Eu estava com saudades de você! — Melanie veio


em minha direção e me abraçou, ela era muito perfumada e bonita.

Sempre usando uma blusa que ressaltava o seu decote.


— Tia? O que está fazendo aqui? — fiquei confuso, meu pai

também se aproximou.
— A Melanie vai passar uma temporada conosco, filho. O

apartamento dela está em reforma — os olhos do meu pai brilhavam ao


observá-la, o sorriso bobo em seus lábios me desagradou.

— Ah, sim... mamãe avisou, é verdade — disse, sem jeito. — Vocês


sabem onde ela está?

— Não sei, acabei de chegar do trabalho — papai ressaltou,


enfiando as mãos nos bolsos.

— Ah, eu sei! Blanca foi com a vizinha para o shopping — contou


tia Melanie, enquanto mexia no cabelo.

— A senhora Duncan?
— Sim, Caroline, a mãe dos seus amigos — Melanie sorriu, ela

estava sempre parecendo feliz com tudo e todos.


— Elas se tornaram grandes amigas, assim como me tornei de

Nicholas, eles são pessoas de visão, estão crescendo a sua rede de


farmácias — contou meu pai, engatando um novo assunto.

— Sério? Eu não sabia! — minha tia ficou impressionada.

— Eu vou lá na casa deles, combinei com o Jake de ir ao

parquinho, só queria avisar — informei, me afastando.


— Não demore e tome cuidado — ouvi a recomendação de meu pai

antes de sair pela porta da frente e atravessar a rua até tocar a campainha
dos Duncan.

Foi o senhor Nicholas quem me atendeu.


— Olá, Hunter, entre — ele me deu espaço para entrar, já era

costume me ver em sua casa. Eu o achava um homem muito gentil e um


exemplo de pai. Na verdade, gostava muito dessa família, às vezes ficava

mais aqui do que lá em casa, ainda mais se fosse para ter uma desculpa
para ficar perto da Halle.
Ela saltou do sofá assim que me viu, estava deitada lendo, com os

seus longos cachos espalhados pela almofada.


— Hunter? Não esperava te ver aqui hoje — ela sorriu, eu sorri de

volta.
— Seu irmão não te contou? Os dois vão ao parque — o Sr.

Duncan se sentou na sua poltrona, pegou o controle da TV e mudou de


canal, estava entretido, assistindo.

— Ao parque? Nossa, que legal... — Halle ficou animada com a


ideia e me olhou quase implorando por apoio, mas sabíamos que se ela

pedisse o seu pai provavelmente não a deixaria ir. Ele não era do tipo
coruja, mas nem sempre dizia um “sim”, a não ser que Jake pedisse, mas o

meu amigo não o faria, não curtia passear com a irmã, dizia que ela dava
trabalho, o que era uma mentira.

— Senhor Nicholas, poderia permitir que a Halle fosse conosco?


Eu me responsabilizo por ela — arrisquei. Nunca fiz um pedido do tipo,

mas convidar o Jake foi apenas uma desculpa para convidar ela.

— A Halle? — ele olhou para ela, a menina estava explodindo de

expectativa. — Desculpe, Hunter, não é que eu não confie em você, mas ela
ainda é muito nova.

— Ah, papai, por favor! Só uma vez, só uma vezinha! — Halle


cruzou os dedos e se aproximou do homem, implorando.

— Não insista, querida. Nós ficaremos aqui esperando a sua mãe


chegar, ela deve estar no engarrafamento com a Blanca. Está atrasada —

observou o seu relógio de pulso.


Inconformada, percebi o rostinho da Halle ficar vermelho de ódio.
Ela me lançou um último olhar ferido antes de cerrar os punhos e subir as

escadas, quase quebrando cada degrau ao bater os pés com força. Seu
irmão, que vinha descendo, a ultrapassou sem entender o que a irritava.
Nós trocamos um aperto de mão e saímos da casa, encontrando as

nossas mães que acabavam de chegar. A senhora Duncan desceu do banco


do carona, gargalhando, trocando uma piada com a dona Blanca.

— Aonde pensam que estão indo? — ela observou o relógio de


pulso, segurava uma sacola de compras na outra mão.

— Ao parque, não vamos demorar — Jake a respondeu. — Como

foi seu passeio, mãe?


— Foi ótimo. Se cuidem! — ela deu tapinhas nas nossas cabeças

ao nos ultrapassar, aproveitei o momento para falar com a minha mãe.


— A senhora demorou — reclamei, encostando em sua janela.
— Foi o engarrafamento. O que foi? Ficou com saudades da

mamãe? — segurou as minhas bochechas e me fez uma boca de peixe.


Revirei os olhos, mas no fundo amava quando fazia aquilo.

— Mãe, para, estou com o Jake — resmunguei, recuando.


— O Jake sabe que você é o meu amor, não sabe, Jake? —

exclamou, erguendo o queixo em direção ao garoto.

— Oi, senhora Scott — Jake acenou para ela, sem jeito.


— Tia Melanie está aí — informei, enfiando as mãos nos bolsos.
— Ah, que bom que ela já chegou. Vou indo. Se cuidem — avisou,

seguindo com o veículo até a nossa garagem.


— Mães — Jake sorriu, ele quis dizer que todas elas eram iguais.

E eram mesmo.

Nós fomos para o parque, todavia, não consegui me divertir por

completo porque fiquei pensando a todo instante na irmã dele. Antes de


voltarmos, comprei algodão doce e mandei embalar.

— Por que não come aqui? — Jake perguntou, apontando para o


algodão doce que o vendedor me entregava na sacola.

— É para a minha mãe — falei, então fomos embora.


Ao chegarmos em nosso condomínio, me despedi do meu amigo

que entrou na sua casa enquanto fingi que ia para a minha. Ao invés disso,
me embrenhei no jardim e me agachei entre os arbustos, observando a casa
dele por um longo tempo até que as luzes de todas as janelas se apagaram.

Eu sabia onde ficava o quarto da Halle e calculei como chegaria


até lá, mas antes, apanhei algumas pedrinhas do chão e arremessei na sua
janela até que a luz se acendeu.
Não demorou para a cortina se abrir e ela aparecer em seu

pijama, sem entender nada.


— Eu trouxe para você — sussurrei, ergui a sacola em minha mão,
fazendo-a rir.

— Mas como vai me entregar? — li os seus lábios. Apontei para a


árvore ao lado da sua casa e comecei a subir nela, tomando o galho que
parava sobre o seu teto.
Achei que seria mais difícil, no entanto, em poucos segundos,
estava na janela dela. Halle ergueu o vidro e eu atravessei para dentro. Ela

me abraçou contente e eu a correspondi, fechando os olhos naquele


instante sublime.

— Pegue — entreguei a sacola em suas mãos.

Halle sorriu, limpou os olhos com a mão livre e se sentou na sua


cama.
— Estava chorando? — sentei-me ao seu lado, segurei o seu
queixo para erguer o seu rosto de princesa e analisá-la melhor.
— Fiquei triste porque não fui ao parque com vocês — confessou,

sem medo.
— Não perdeu nada, foi péssimo — menti, ela sorriu, jogando a
sacola para o lado e desembalando o algodão doce cor-de-rosa.
Fiquei encantado ao observá-la comer com uma delicadeza de um

anjo.
— Obrigada, está muito gostoso — comentou, sorrindo,
afugentando a tristeza.

— Não quero te ver triste. Nunca — ressaltei. — Tá bom?


Halle assentiu, me oferecendo o algodão doce, mas neguei.

— Coma comigo — pediu.


— Não, eu trouxe para você — ergui a mão, tentando impedi-la.

— Coma comigo, sozinha não tem graça — neguei ao menear o


rosto, mas ela insistiu, empurrando o doce na minha cara até encostar em
meu nariz.
Nós gargalhamos, mas Halle tapou a minha boca, avisando-me

sobre fazermos silêncio. Ela olhou para trás, para a sua porta e tentou
escutar algo, mas não ouvimos nada.
Enfim concordei em comer com ela, esperando-a morder um
pedaço para eu morder outro. Um de cada vez. E assim fizemos até acabar

o algodão doce.
Aquele era o nosso momento. Só nosso. No fim, tive que ir embora,
antes que meus pais começassem a me procurar feito loucos.

Volto para a realidade, abandono as lembranças boas e rolo na


cama, pensando. A simples presença da Halle aqui me fez um bem danado.
Preciso acreditar que as coisas vão melhorar, que a minha mãe será
encontrada viva, continuarei de olho na investigação e fazendo o que eu

puder para encontrá-la, mas enquanto isso preciso acabar com essa história
de casamento da Halle.
Ela vai ter que ficar comigo.
 

HALLE DUNCAN
 

Caminho depressa, quase correndo, ignorando os gritos do Jimmy


que insiste em me perseguir. Meus punhos estão cerrados, meu corpo ainda

está quente da provocação do Hunter e da raiva que o garoto às minhas

costas está me causando. Quase consigo entrar no meu prédio, mas ele me
puxa pelo braço, obrigando-me a encará-lo.

— Halle, estou falando com você, caramba! — Jimmy detesta ser


ignorado, mas a minha paciência está acabando.

Ele me olha com uma insatisfação gigantesca, como se eu estivesse

descumprindo um princípio básico da esposa perfeita segundo o que pensa.

— Jimmy, me larga! — Desvencilho-me do seu agarre, o


fuzilando. — Será que ainda não percebeu que eu não quero falar com
você?

— Como assim não quer falar comigo? — Ergue o dedo diante do

meu rosto. — Sou o seu noivo, você me deve respeit... — eleva o tom mais

uma vez, chamando a atenção dos estudantes que passam por perto, todavia,

Jake surge do nada e o empurra para longe de mim, com força.


— Que porra é essa, Jimmy? Por que está gritando com a minha

irmã? — fala no mesmo tom que o infeliz, o encarando, erguendo o queixo

enquanto caminha em sua direção.

— Jake? — Surpreendo-me com a sua atitude. Desde que cheguei

aqui ele ainda não havia me tratado como uma irmã de fato.
Pelo menos eu não havia me sentido assim. 

— Cunhado, o que é isso? — Jimmy abre os braços, sorrindo sem

humor, não entendendo nada assim como eu.

— Não me chame mais de cunhado, achei que era a merda de um

cara legal! — Empurra Jimmy de novo, o garoto cai sentado, assustado. —

Quem disse que você pode gritar com a Halle desse jeito, hein? — Aponta o

dedo na cara dele, deixando a sua mochila cair no chão enquanto avança em
direção ao Jimmy, de punhos cerrados.

— Jake! — Interponho-me a sua frente, o empurrando no peito,

mas é inútil. Meu irmão parece um trem desgovernado. 


— Desculpa, Jake. Perdão! — Jimmy estica o braço na direção

dele, com a mão aberta, morrendo de medo. Comparado ao Jake, ele perde

em força e tamanho.

— Não é para mim que tem que pedir perdão, é para a Halle...

— Jake, não tem necessidade... — tento argumentar, ainda

ocupando espaço entre os dois.

— Pede! — Jake engrossa a voz, assustando Jimmy, que engole em


seco.

— Desculpa, Halle, eu só queria... ter um momento com você —

Jimmy abaixa o rosto, constrangido.

Olho para Jimmy e depois para o meu irmão que, enfim parece

satisfeito.

— Se quiser casar com ela, terá que ser melhor do que isso. —

Jake dá o seu último sermão, finalmente recuando, para o meu alívio.

Faz bastante tempo desde a última vez que ele me defendeu dessa

maneira. A universidade nos afastou e depois que nos reencontramos, achei


que não se importava mais comigo. 

Jimmy assente, calado, ofereço-lhe a mão para ajudá-lo a levantar,

mas ele recusa, se erguendo sozinho, envergonhado.

— Eu vou indo — Jake diz às minhas costas. Apenas assinto

enquanto o vejo partir.


— Acho que... — Jimmy passa a mão no rosto e cabelo. — Vou

indo também.

— Jimmy... — Dou um passo em sua direção, mas ele recua.


— Não, Halle. — Ergue a mão em sinal de pare. — Está feliz com

o que fez? O seu irmão gostava de mim e agora...

— O quê? — fico chocada.

Ele ainda tem coragem de jogar a culpa em mim?

— A culpa é sua — ergue o queixo em minha direção, desgostoso,

a testa suando.

— Não! A culpa é sua por ser um babaca egoísta e egocêntrico que

pensa que o mundo gira ao seu redor! Só que eu tenho uma coisa pra te
dizer: você não é o centro do mundo! E eu não tenho que viver do jeito que

acha que deve ser! — ergo o dedo na sua cara, emputecida. — O que acha

que eu sou? Um robô?! Pensa que pode me controlar?! Halle, senta. Halle,

levanta. Não! Chega! Vai embora daqui e vê se me esquece! — aponto para

a rua. Bestificado, Jimmy não sabe o que fazer.

— Quero ver dizer tudo isso na frente dos seus pais — argumenta,

como último recurso, jogando baixo como sempre fez.

— Eu devia ter deixado o Jake bater em você — afirmo,

arrependida, meu sangue ferve nas veias. — Vai embora e não venha mais
aqui! Me esqueça! — O empurro com toda a minha força, ele se

desequilibra e quase cai no chão outra vez, pasmo e enraivecido.

Porém, não diz mais uma palavra.

É como se não acreditasse no que vê.

— Essa não é a minha Halle — cospe as palavras, o olhar de

decepção.

— Eu nunca fui sua — rebato, lhe dando as costas, entrando no

prédio e correndo até o meu dormitório.

Mal entro no quarto, livro-me da minha mochila e me jogo na

cama, exasperada, ofegante. Levo um bom tempo até processar tudo o que

aconteceu hoje e ainda fico impressionada comigo mesma. Foi tão

revigorante botar pra fora o que estava entalado em minha garganta. Foi tão

bom falar a minha verdade, me expressar e sentir que tinha o poder de

conduzir a minha própria vida.

Ainda estou em êxtase, vibrando.

Passo as mãos no cabelo, depois no pescoço e sinto o local em que

Hunter deixou a sua marca.

Adorei o que ele fez mais cedo, quase enlouqueci de raiva e tesão

com as suas apalpadas embaixo da mesa, mas agora meu corpo já parece

sentir falta de toda essa emoção.


Hunter estava certo, eu gosto do perigo e ele sempre representou

isso.

O meu celular começa a vibrar, retiro-o da mochila e quando vejo a

palavra “MÃE” na tela, fecho os olhos, sentindo a raiva pelo Shaw voltar

com toda a força. Ele já deve ter contado tudo para ela e para o meu pai,

como sempre fez. Se o conheço bem, ainda deve ter aumentado a história e

transformado toda a situação em uma bola de neve para conseguir me

coagir e no fim vencer com o apoio dos meus pais.

— Oi, mãe. — Pensei em não atender, mas o frio na barriga me

obrigou a fazer o contrário. Se eu não atendesse, dona Caroline seria capaz

de vir aqui e tudo o que não quero é que faça isso e me tire da universidade

ao constatar a minha nova realidade.

— Não acredito que você fez seu irmão brigar com o seu noivo! O

que é que te deu na cabeça?! — ela sequer perguntou a minha versão, já

veio logo me acusando. Sento-me na cama, coloco a mão na testa, mal

comecei a ouvi-la e já sinto a  minha cabeça doer. — Eles eram amigos, por

que foi atrapalhar isso? O que está acontecendo nessa universidade?

— Não está acontecendo nada, mãe, foi apenas um mal-

entendido...

— Mal-entendido? Minha filha, pelo amor de Deus! O Jimmy

estava chorando ao telefone, chorando. Ele ainda está falando com o seu
pai e eu tive que te ligar para entender...

— A senhora não quer entender, nem me perguntou nada... — Me

sinto cansada antes mesmo de tentar. Por quase toda a minha vida foi assim,

isso já virou um trauma cansativo.

— E precisa? Sei a língua que você tem e ela pode fazer um

estrago. Eu sabia que não era uma boa ideia dormir na universidade, ficar

longe da gente... — ela fala apressadamente, quase engolindo as palavras,

desesperada.

— Mãe, me escuta...
— Como pôde expulsá-lo daí? Ele será o seu noivo, queria apenas
conversar. Eu que pedi para que te visitasse, Halle...

Afasto o celular do ouvido, colocando-o bem longe de mim,


agoniada, quase passando mal. As minhas mãos começam a tremer de

nervosismo. Passar por situações como essa funciona como um gatilho, não
sei até quando vou suportar.

Permito que ela fale até se cansar e quando pergunta por mim,
pego o celular de novo e apenas concordo com tudo o que diz, disposta a

não entrar nessa guerra, não agora. Faço várias promessas, inclusive a de
que pedirei desculpas para o Jimmy, apenas para ela se sentir satisfeita o

suficiente para desligar.


Ainda sou obrigada a ler as mensagens repreensivas do meu pai,
afirmando que as minhas atitudes não foram de uma moça de respeito.

Lágrimas tomam o meu rosto durante o banho, meu corpo inteiro


queima de tudo o que é sentimento ruim. Isso não pode continuar, tenho que

reagir, nem que para isso inicie uma revolução!


 

Passo a página do livro, leio mais alguns parágrafos e faço as


minhas anotações no caderno. Gosto de aproveitar as atividades para fazer

resumos e estudar os assuntos. As provas estão chegando, tenho que me


preparar.

Ouço a porta abrindo as minhas costas e o barulho dos saltos da

Amy em seguida.
— Amiga, jura que não vai ficar chateada? — ela se encosta na

escrivaninha ao meu lado. Segura o celular e faz uma cara de medo.


— O que você fez dessa vez? — giro na cadeira para observá-la já
esperando o pior. Estava tudo bem no meu lindo sábado até agora, espero

que Amy não tenha feito alguma merda e estrague.


— Aceitei o convite do seu irmão para ir a um clube — dispara,

roendo as unhas.
— Isso é bom, não é? Por que eu ficaria chateada? — ela me
contou que o encontro “forçado” deles na noite de Halloween foi

maravilhoso, que ainda não tinham transado, mas que ela estava louca para
se deitar em sua cama.

— É que perguntei se poderia chamar você e ele negou — ela


cruza os braços, insatisfeita.

— Deve ser porque ele quer um momento a sós? — tento


adivinhar, erguendo as sobrancelhas.

— Não é verdade, descobri que não vamos só nós dois, é um


passeio em grupo dos espartanos. Eu queria que você fosse conosco, nunca

saí com eles antes e será o meu primeiro encontro com o seu irmão — ela
sorri, contente.

— Ah, não se preocupe com isso, ficarei aqui estudando. Está tudo
bem — a tranquilizo, mas a primeira coisa que me pergunto é se o Hunter

vai também.
Ele desapareceu de novo e esses seus desaparecimentos me matam.

Apesar de não termos nada oficializado, ele deixou bem claro que queria,
que me procuraria, mas até agora nada. E dessa vez não vou mais atrás.

— Obrigada! — Amy dá pulinhos de felicidade e me abraça.


Depois corre para se produzir, a ajudo a escolher um biquíni.
Fico na janela quando ela sai para se encontrar com o meu irmão

do lado de fora. Ele buzina para mim assim que me vê, acenando, eu aceno
de volta.

Jake está em um carro aberto com mais dois amigos, mas não há
sinal do Hunter, até que ele aparece logo em seguida, estacionando atrás

dele. Dessa vez está em um Jipe, carregando um monte de garotas da


Vênus, inclusive a Cassie.
Antes de entrar no carro do meu irmão, Amy vira o rosto e me

lança um olhar desagradável, bastante significativo, logo identificamos que


compartilhamos da mesma raiva e indignação.

O que diabos Hunter está fazendo com essas meninas?

É assim que ele diz que me quer?


Como seria se eu tivesse me entregado a ele naquele dia?

A decepção chegaria assim tão rápido?


O grupo de amigos vai embora e eu fico sozinha para me

transformar no puro ódio. Muito ódio. Um ódio incapaz de ser medido ou


contido. Caminho para um lado e outro, imaginando um milhão de coisas,
principalmente o que eles vão fazer com aquele bando de garotas. Desisto

de pensar sobre o assunto e volto a tentar continuar estudando por vários


minutos, mas é inútil.
A minha mente não consegue desgrudar daquela imagem do

Hunter surgindo no carro repleto de garotas, ainda mais aquela que só faltou
carimbar na testa que é completamente louca por ele.

Quando canso de tentar forçar a minha mente a absorver mais


algum conteúdo, vou ao banheiro lavar o rosto como meio de relaxar.

Enxugo a face até que escuto um barulho estranho, alguém está jogando
pequenas pedras pela janela.

Ao me aproximar da janela, avisto o Hunter no gramado e não


entendo nada.

Ele agora está sozinho.


Será que foi e voltou?

Ele tira o celular do bolso e mostra para mim, depois começa a


digitar. Segundos depois, escuto o som de mensagem no meu aparelho e

corro para pegá-lo. Como conseguiu o meu número? Leio a sua mensagem:
 
Vim te buscar, Mel. Nós
vamos passear. 

 
Volto para a janela sorrindo de orelha a orelha, feito uma boba, mas

decidida a dificultar as coisas:


 
É assim? Sem um
convite?
 

Ele ergue o rosto para mim, com uma sobrancelha arqueada, sem
entender. Talvez não esperasse essa resposta. Então responde:
 
Não lembro de tê-la
convidado para ir ao meu
quarto naquele dia.

Filho da mãe! Troco um novo olhar com ele, o confrontando.

Envio uma nova mensagem:


 
Quem disse que quero ir?
Você parecia muito bem
acompanhado. Não sei se
quero ser mais uma no
harém.
 

Vejo o seu sorriso cafajeste nascer em seus lábios ao me responder:


 
Não vamos para o clube.
Vou te levar a um lugar
especial.

Levo uma mecha para trás da orelha, desconfiada. Nos encaramos

de novo e ele parece insatisfeito, notando que ainda não estou convencida.
 
Se você não descer, eu vou
aí te buscar. Duvida?
 

Sorrio, gostando da ideia. Não entendo essa súbita vontade de


querer provocá-lo, ainda estou irritada por tê-lo visto com aquelas garotas.

É mais forte que eu. A minha resposta poderia ter sido evitada, mas no fim,
clico no botão de enviar:
 
Duvido.

Basta ler a minha mensagem para Hunter guardar o celular no


bolso da calça e entrar no prédio, determinado. Com o coração disparado,
corro e tranco a porta, ainda por cima retiro a chave, como se ele tivesse

algum poder de atravessar a parede para pegá-la. O aguardo por alguns


segundos, na expectativa de testemunhar o que será capaz de fazer.

— Halle, abra a porta — exige, logo depois das batidas.


— E se eu não quiser? — o provoco.

— Então vou arrombar — ameaça.


— Arromba — o desafio, tomada pela ansiedade e medo de que

realmente o faça.
— Okay — afirma, na sequência ouço o primeiro grande baque
que me obriga a dar um pulo para trás, assustada.
Hunter chuta de novo, mais forte, quase arrebentando a porta e
nesse momento entendo que ele será capaz de ir até o fim.
— Para! Para! Eu vou abrir! Vou abrir! — exclamo, nervosa, me
dando por vencida quando abro e encontro um cara bem calmo enquanto eu

estou chocada. — Você é louco! — o repreendo, mas Hunter me ignora e


entra no quarto. O seu perfume masculino domina o ambiente.
Alguns alunos estão no corredor, curiosos. Fecho a porta.
— Vamos — ele bate dois dedos no seu relógio de pulso, provando
que tem pressa, agindo como se nada tivesse acontecido. Maluco.

Deixo Hunter sentado na cama da Amy durante o tempo que


preciso para tomar um banho e me arrumar. Preparo a minha mochila com
coisas básicas e o acompanho até o seu Mustang. Diferente da outra vez, ele

coloca o cinto em mim antes de ligar o veículo e acelerar.


Saímos da Atenas em dois segundos, rápidos como um raio.
— Que cara é essa? — pergunta, notando que ainda estou
incomodada.
— O que você tem com a Cassie? — disparo, não consigo

controlar.
— Nada. Eu sou solteiro — Hunter me olha por um instante,
depois volta a dar atenção à estrada. — Que história é essa de casamento?
— devolve, obrigando-me a virar o rosto e encarar a cidade pela janela,

desgostosa.
— Nada — minto, lembrando da confusão que Jimmy fez. —
Coisa dos meus pais.

— Ah é? — Hunter para no sinal, fazendo o ronco do motor perder


a força aos poucos. — Você não vai se casar com ele — garante,
convencido, ganhando a minha atenção e sorriso.
— Não precisa se preocupar com isso, sei me virar sozinha —

minto outra vez, a verdade não é bem essa.

— Acho que pode sim resolver os seus problemas, precisa apenas


perder o medo e se livrar das merdas que colocaram dentro da sua cabeça
— segura o meu queixo, mergulhando em meus olhos. Lindo e perfeito.

— E o que sugere? — fico curiosa, sei que preciso de ajuda.


— O lugar para onde vamos vai te ajudar a ter coragem de
enfrentar os seus medos — Hunter volta a segurar o volante e acelera assim
que o sinal abre.

A minha barriga esfria e a curiosidade me consome.


Ele é imprevisível, nada seria capaz de me fazer adivinhar a nossa
nova aventura. Todavia, estar ao seu lado desse jeito me faz lembrar dos
velhos tempos, quando nada parecia impossível e a sensação era a de que

viveríamos para sempre.


 
HALLE DUNCAN

 
Tento descobrir o nosso local de destino à medida que nos

afastamos da cidade, mas o Hunter faz questão de manter segredo.


Após uma hora de viagem, estamos literalmente fora de Boston e

entramos em um caminho verdejante pela floreta que nos leva ao Parque

das Aventuras, nome escrito no arco do portão de entrada.

Entregamos os nossos dados, Hunter passa o cartão de crédito, nós

recebemos pulseiras de identificação e autorização para seguirmos.

Paramos em um estacionamento a céu aberto, o lugar é lindo,

parece um grande acampamento com chalés por todos os lados, alguns para

dormir e outros bem maiores que servem como local de trabalho.


Há visitantes explorando as várias atividades que nos oferecem, o

gramado é extenso e as árvores do bosque ao redor estão alaranjadas,

algumas com folhagem seca, denunciando o fim do outono.

— Parque das Aventuras? — indago, assim que saímos do veículo.

Avisto uma placa que dá uma boa dica do que viemos fazer aqui. — Me
trouxe para praticar esportes radicais? — noto vários equipamentos

esportivos espalhados pelo gramado, muito bem empilhados e organizados,

mas esses estão à venda.

— Bungee jump — Hunter se detém ao meu lado, guarda a chave

do carro no bolso e me oferece a mão. Franzo a testa, sem entender. — É o


meu esporte favorito —explica, então seguro a sua mão, gostando do seu

toque morno e agradável.

Caminhamos em direção ao chalé central, onde há uma pequena

fila de pessoas que estão aguardando para pagar a atividade que vão

praticar.

— Acha que me fazer saltar de uma altura considerável segura

apenas por uma corda elástica vai me ajudar com o meu impasse de resolver
os meus problemas? — faço a pergunta do milhão, não muito convencida

de que isso vai dar certo.

— Acho — nós damos mais alguns passos assim que a fila anda,

Hunter não desgruda da minha mão. Qualquer um que nos vir pensará que
somos um casal, e eu adoro essa ideia.

— Como pode ter tanta certeza?

— Aconteceu comigo — me olha nos olhos. — Confie em mim,

Halle, sei o que estou fazendo. Você vai se sentir melhor — sussurra em

meu ouvido, ele gosta de deixar as minhas pernas bambas com a sua voz

rouca, sabe que basta isso para me acalmar. — Mas se quiser desistir, nós
saímos agora. — Aperta a minha mão, cruzando os nossos dedos.

Penso a respeito.

Por que não?

— Não quero mais ter medo — o abraço, olhando em seus olhos

após a minha confissão.

— Você não vai. — Hunter acaricia a minha bochecha,

hipnotizado. Nós quase nos beijamos se não fosse as pessoas às nossas

costas que chamam a nossa atenção para seguirmos o fluxo da fila e

avançar.

Ele paga o nosso salto, somos obrigados a assinar um termo de


risco e depois seguimos o guia até uma ponte muito alta que fica entre dois

penhascos, sobre um lindo lago azul-escuro. A paisagem é mesmo de tirar o

fôlego, mas a altura me deixa paralisada de medo.

Para a minha surpresa, Hunter conhece todos os instrutores e fala

com eles como se fosse amigo íntimo. Ele me apresenta como sua amiga.
— Amiga, é? — um dos caras indaga, ele é um homem negro com

dread no cabelo. Analisa-me com um sorriso desconfiado. — Você nunca

veio aqui com amigas, Scott. Garota, você é a primeira — ele começa a
prender Hunter aos cabos de segurança e a minha ansiedade ataca.

— Cala boca. — Hunter bate o ombro no dele, os dois riem.

— Tem certeza de que precisamos fazer isso? — Cruzo as mãos,

nervosa.

— Sim. — O vento sopra muito forte, esvoaçando os meus cachos.

— Quantas vezes já saltou?

— Tenho até curso — confirma, segurando as minhas mãos em

uma tentativa de me fazer parar de tremer.


— Ele poderia ser um instrutor se quisesse — afirma o rapaz, se

agachando para prender a corda nos tornozelos dele.

— Hunter... — preocupada, cruzo os nossos dedos.

— Sem medo, lembra?

— Sim — assinto, o assistindo ir para a plataforma de salto.

Hunter me olha uma última vez antes de ser autorizado a pular.

Meu coração quase sai pela boca quando ele simplesmente se joga no vazio

de braços abertos, como se pudesse voar. Corro até o guarda-corpo para

assisti-lo cair em alta velocidade, acompanhado por um grito a plenos


pulmões, uma prova de que a sua vida não teria sentido se não fosse desse

jeito.

Todo o processo dura apenas quatro minutos, um dos instrutores

desce em uma cadeirinha de alpinismo para resgatá-lo. Apenas consigo

ficar em paz quando ele está de volta e corro para encontrá-lo.

— Você é maluco mesmo! — afirmo, ele está ofegante.

— A vida precisa de um pouco de loucura, baby — diz, sorrindo,

ajudando o instrutor a tirar o equipamento do seu corpo. — Agora é a sua

vez, vai encarar?

Respiro fundo, recuando.

— É agora ou nunca — são as suas últimas palavras.

Minutos depois, estou usando o equipamento de segurança,

amarrada aos cabos e à corda elástica, pronta para saltar. Eles permitem que

o Hunter seja o meu instrutor, confiam nele o suficiente para isso, e a

decisão até que faz eu ficar um pouco mais calma.

Hunter me guia até a plataforma de salto, ele também está preso a

um cabo de segurança e fica atrás de mim, uma mão em minha barriga e a

outra abrindo os meus braços. Recebo todas as dicas de como saltar e do

que devo ou não fazer, até que nos resta apenas conversar:

— Respire devagar e se concentre. Fique calma — fala em meu


ouvido, sua voz grossa penetrando em minha mente.
— Acho que... não vou conseguir. — Olho para baixo, a queda é

gigantesca, fico boquiaberta e trêmula.

— É claro que vai. Você é a garota mais corajosa e forte que eu

conheço. — Hunter toca nas minhas costas, obrigando-me a manter o corpo

na posição correta, em seguida me faz erguer o queixo.

— Não minta pra mim. — Gosto do seu elogio, estico mais os

braços, sua mão acaricia a minha barriga outra vez.

— Jamais faria isso. Lembre-se, você nasceu para voar e não para

ficar presa. Você é uma garota livre, Halle. Dona das suas escolhas e da sua
vida. Acredita nisso?

— Acredito...

— Eu não ouvi.

— Acredito — falo com mais convicção e com mais força,

fechando os olhos.

— Você pode saltar e voar agora, mas eu sempre estarei aqui te

esperando. Nunca vou te deixar cair — ele promete, curvo os lábios em um

sorriso, a brisa do vento me atinge.

— Nunca mesmo?

— Nunca. Está pronta? — sua mão se apoia na minha lombar, bem


sobre o cabo que circula o meu quadril.

Respiro fundo, tomando coragem, convicta do que quero fazer.


— Sim — abro os olhos, encarando o céu e as nuvens, o horizonte,

a floresta e o lago. 

— Mantenha os olhos abertos, Halle. Sempre de olhos abertos,

okay?

— Okay — ele recua e estica o seu braço.

— Vá, e voe de volta pra mim — pede, dando o impulso final que

eu precisava para fazer o mergulho como me foi ensinado.

Caio na imensidão do vazio, em direção ao lago.

Sou arrebatada pelo vento e uma adrenalina desconhecida, uma


eletricidade que me arrepia dos pés à cabeça, a sensação de que nada é
impossível, de que faço parte do ar e do infinito. É como se o meu corpo

entrasse em outra dimensão e alcançasse a maravilhosa certeza de que sou


capaz.

O medo vai embora de vez no instante em que chego ao limite da


corda e quico de volta algumas vezes. Balanço de um lado para o outro,

finalmente meu coração parece voltar a bater, o ar invade os meus pulmões


de um jeito novo, o meu cabelo cai em cascata, os braços ficam estendidos,

consigo contemplar o momento sublime em que sinto que estou viva.


Viva de verdade.

Confiante.

Intensa.
Liberta.
Sorrio, abro os braços, admiro o meu reflexo no lago lá embaixo. A

adrenalina ainda corre por minhas veias, meu sangue flui como nunca, uma
magia incrível domina cada pedaço da minha pele. Entendo que jamais

sentirei algo parecido.


É inigualável.

Quando tudo acaba e me puxam de volta, Hunter ajuda o outro cara


a tirar o equipamento do meu corpo. Ainda trêmula, o abraço com toda a

minha força, algumas lágrimas de emoção mancham a minha face.


Ele me ergue do chão e me carrega alguns passos para longe de

todos. Ficamos em um canto, sozinhos, ao lado da barra de ferro do guarda-


corpo, diante da linda paisagem na qual acabei de mergulhar como se fosse

um pássaro.
— Halle, está tudo bem, está tudo bem. Foi mal, eu não queria

assustar você — Hunter afaga o meu cabelo, continuando a me acolher em


seus braços até me colocar de novo em terra firme. — Juro que nunca mais

a trago aqui, okay? — preocupado, ele segura o meu rosto entre as mãos e
me analisa arrependido, querendo desfazer o que vivi minutos atrás.
— Não, você não está entendendo — choramingo, enxugo os

olhos. — Eu nunca me senti assim — sugo o ar para os meus pulmões,


voltando ao controle. — Você tinha razão, foi... libertador. Me senti viva e
única, não sei explicar.

Ele sorri, feliz com a minha felicidade.


— Eu entendo, porque... me sinto vivo quando estou com você —

confessa, arrebatando-me, levando todas as minhas emoções ao limite


alguns segundos antes de nos beijarmos.

 
HUNTER SCOTT

As nossas bocas são atraídas uma à outra como se não restasse


outra opção, e não há. O toque começa lento, delicioso, os lábios dela

derretem nos meus e um calor intenso queima todo o meu corpo. Agarro
Halle pela nuca, uso a outra mão para puxá-la pela lombar e grudar nossos

corpos que se conectam de uma maneira impressionante, como se tivessem


sido feitos um para o outro.

Já esperava que ao beijá-la poderia ter a sensação de ir ao céu, mas


a realidade é bem melhor, revigorante, avassaladora.

Intensifico o nosso contato, engulo a sua boca com uma voracidade


fora do normal, não consigo resistir, preciso que Halle ceda mais e mais e

ela se entrega, agarra o meu pescoço, se mostra faminta tanto quanto eu,
permite que a nossa química exploda e nos prove que compartilhamos da
mesma sede, uma que não é apenas de agora, antiga, de muitos anos, uma

história que está se completando.


Para um cara como eu, que tudo relacionado a mulheres se resume

apenas ao prazer, é assustador perceber que com a Halle estou encontrando


sentimento.

— Hunter... — ela geme o meu nome, ofegante, obrigando-me a


acordar dessa nossa euforia e olhá-la nos olhos.

— Tudo bem — lembro de onde estamos, olho para alguns metros


atrás, algumas pessoas estão nos observando, malditos curiosos. Volto a

contemplar a Halle, acaricio o seu queixo. — Está com fome?


— Morrendo de fome — ela sorri e cruza os nossos dedos.

Nós voltamos para o acampamento e nos acomodamos em uma das


mesas da lanchonete que nos serve com ótimos sanduíches e refrigerante.

  — Então quer dizer que o seu pai virou pastor? — fico


impressionado ao ouvir Halle me atualizando das novidades da sua família.

— Jake nunca te contou? — ela fica em choque.


Termino de engolir o último pedaço de sanduíche e dou um gole na
Coca-Cola.

— O seu irmão veio para Atenas querendo fugir da realidade em

que vivia. Ele falou que vocês tinham se tornado religiosos, mas não que o
senhor Nicholas era o pastor.
Halle termina o seu sanduíche e limpa a boca com um guardanapo.

— Por que acha que ele não me contou que você tinha voltado e
não o avisou que eu iria entrar na universidade? — ela pergunta, essa

também era a minha dúvida, mas agora o entendo.


— Acho que... ele tem medo de eu te corromper — sou sincero,

mas Halle ainda parece confusa. — Não sou mais aquele garotinho que
você conheceu, Mel. Eu mudei.

— Se os meus pais soubessem que estou com você, diriam que é


pecado. Que você é o pecado e não tem a ver comigo, mesmo que tenham o

conhecido na adolescência.
Deixo o que sobrou do meu sanduíche de lado e a observo

atentamente, apoio os cotovelos na mesa.


— Você concorda com eles? — permito que a minha curiosidade

fale mais alto.


Halle mexe no seu lindo cabelo, suspira e prefere olhar rumo à

janela, o sol está se pondo.


— Pensei muito a respeito daquele nosso momento no seu quarto.

Eu gostei, mas... não vi o quanto foi rápido e depois me julguei, senti que
estava pecando, lembrei das palavras do meu pai e da minha mãe e coloquei

a minha própria índole em análise — ela volta a me olhar nos olhos. — Mas
hoje, quando nos beijamos, pensei que nós dois não podemos ser o errado
porque ao seu lado, eu me sinto bem, me sinto fazendo o certo. Naquele dia
do balde de lama, você foi o primeiro a me perguntar o que eu queria fazer

e aquilo foi... demais.


Trocamos um sorriso e damos as mãos por cima da mesa.
— Eu não concordo com os meus pais, acho que ficamos tempo

demais afastados e agora... devemos apenas seguir — ela me impressiona


enquanto fala.

Essa garota é incrível.

— No entanto, sei que você tem segredos, Hunter. Preciso que me


conte o motivo de quase ter se jogado daquele terraço.

O meu sorriso morre, desfaço o nosso toque.


— É melhor irmos embora. — Peço a conta, dando o assunto por

encerrado ao levantar da mesa.


Voltamos para o carro em silêncio e seguimos assim até chegarmos
a Atenas. Decido parar em uma rua ao lado do seu dormitório, para não

chamar atenção.
— Você não vai mesmo me contar? — Halle insiste, insatisfeita. —

Eu te contei muita coisa sobre a minha vida hoje, por que não pode
simplesmente fazer o mesmo?

— Halle, é complicado — passo a mão no rosto, incomodado.


— Eu sei que tem a ver com os seus pais. Fala, por favor. Confie
em mim ou continuarei preocupada — ela segura a minha mão, obrigando-

me a encará-la.
Respiro fundo, talvez seja bom desabafar:

— Minha mãe teve um acidente ao ser transferida para cá. O


ônibus em que ela estava tombou e ainda não a encontraram, não sei se está

morta ou viva — disparo, compartilhando o meu fardo.

— Nossa — Halle fica chocada, levando a mão à boca. — Era por

isso que estava daquele jeito?


— Era... e foi por esse motivo que eu sumi e ainda sumo. Estou

acompanhando a investigação policial, às vezes saio para tentar encontrá-la


— o meu peito dói ao lembrar, uma sensação de revolta me invade.

— Vai dar tudo certo, ela deve estar bem e em algum momento vai
aparecer. Você vai ver — Halle afaga o meu ombro e me puxa para abraçá-
la.

— Foi tudo culpa do meu pai — lembro daquele homem, assim


como do ódio que sinto por ele. — Ele fez toda essa merda acontecer, me
mandou embora do país logo depois de ter conseguido internar a minha mãe
em uma maldita clínica. Passei quatro anos longe de casa, mas agora voltei

para me vingar — prometo, meus olhos queimam e enquanto abraço a Halle


sinto os meus punhos se fecharem em volta do seu corpo.
— Não diga isso! — ela me segura forte pelos ombros ao me
empurrar e me fitar com seriedade. — Apesar da tragédia que aconteceu,

ele é o seu pai — sorrio em deboche, ignorando o seu comentário. — O que


vocês devem tentar fazer é sentar e conversar...
— Eu o odeio, Halle. Não ouviu o que eu falei? Ele me exilou em
um reformatório e só me trouxe de volta porque comecei a dar trabalho.
— Eu não sabia que ele tinha te exilado, acreditei que estivesse

viajando com você, que estivessem juntos. Que depois de todos esses anos
tivessem superado as diferenças...

— Não tem o que superar. Assim que eu encontrar a minha mãe,

tudo o que o senhor Mike Scott terá que fazer é correr — coloco as mãos
sobre o volante, pensando em todo o plano que arquitetei.
Halle respira fundo, abismada, mudamos o clima da água para o
vinho.
Somos tomados por um silêncio abismal.

— Mas esse é um assunto meu, não quero que pense nisso — digo,
frio.
Halle me encara uma última vez antes de abrir a porta do carro e
sair sem dizer uma palavra, chateada.

Assim que ela fecha a porta, eu acelero, chego a tomar o caminho


rumo à mansão da Esparta, mas acabo saindo da universidade novamente,
seguindo sem destino pela cidade.
Recordo daquela noite em que flagrei o meu pai beijando a minha

tia, logo em seguida a minha mãe chegou transtornada, tinha bebido e


estava armada. Ela não suportou a dor da traição e atirou.
A morte da tia Melanie levou a minha mãe à prisão, mas meu pai
mexeu os pauzinhos para jogá-la em uma clínica, atestando que Blanca era

uma louca, tudo para conseguir controlá-la.

Maldito!
Decido para onde devo ir, piso fundo no acelerador e paro em uma
rua próxima a uma das joalherias do meu pai, a primeira que encontrei. Ele

tem várias espalhadas pela cidade.


Desço do carro, retiro um pé de cabra do porta-malas e um galão
de gasolina. Eles já estão aqui há alguns dias, esperando para serem usados.
Caminho pela avenida deserta e paro na frente da loja.

Arrebento a vitrine com a barra de metal, o alarme começa a soar,


mas não me importo. Invado a loja, despejo o líquido inflamável pelo
espaço com rapidez, retiro um isqueiro do bolso, acendo a chama e ateio
fogo no local com o maior prazer, adorando ver tudo queimar. 

Não me preocupo em esconder o rosto dessa vez, quero que as


câmeras da loja registrem a minha imagem para que Mike tenha certeza de
que fui eu.
Miro uma delas como se estivesse olhando diretamente para ele.

Sei que o infeliz não fará nada contra o seu único filhinho perfeito, ele gosta
de manter as aparências.
Ao ouvir o som da sirene policial, corro de volta para o meu
Mustang e vou embora em alta velocidade, tomado pela adrenalina,
respirando forte, com raiva, mas contente.

Isso é só o começo.
 
HALLE DUNCAN

 
As férias de inverno estão se aproximando e só o que consigo

pensar são nas minhas atividades finais, e no que o Hunter me falou há


alguns dias.

Sentada em uma das mesas da biblioteca, lembro que o nosso

passeio foi lindo, a maior aventura que já tive na minha vida, conseguimos

conversar e nos aproximar um do outro, no entanto, não gostei de saber que

ele quer se vingar do pai.


Recordo do fatídico dia em que tudo aconteceu na família dele.

Não havia como esquecer porque foi o mesmo dia em que o relacionamento

dos meus pais começou a mudar, um pouco antes deles decidirem fazer
parte da igreja:
 

Hunter fez uma pose engraçada e colocou a língua para fora.

— Não, assim, não! — gargalhei, jogando a cabeça para trás.

Estava com a minha câmera tirando fotografias dele, ambos escondidos no

fundo do seu quintal.

— Assim, então? — ele colocou os dedos dentro da boca e esticou

os seus lábios ao máximo, sacudiu a língua para fora e me fez cair na

grama, rindo à toa.

— Desisto, não dá para você ser o meu modelo desse jeito —

comentei, com a barriga doendo de tanto rir.


Hunter se deitou de frente para mim. Eu me calei para encará-lo

do mesmo jeito que ele o fazia. Ele tomou a câmera das minhas mãos com

cuidado e me fotografou, sorrindo ao ver a foto em seguida.

— Se eu fosse um fotógrafo, queria que fosse a minha única

modelo. Só você bastaria, Mel — declarou. Por algum motivo, meu

coraçãozinho bateu mais forte.

— Mel? — achei engraçado o apelido.


— Você tem olhos e cabelo cor de mel. É doce como o mel — disse,

me encantando e crescendo o meu sorriso.

— Se eu sou o mel, então você é a minha abelha — estiquei o

braço e acariciei a sua face. Hunter era lindo.


— Por quê? — ficou curioso.

— Porque você não vive sem mim — brinquei, ele revirou os olhos.

— Ah tá! — resmungou.

Gargalhei ainda mais ao ver o quanto Hunter ficou vermelho com

o meu comentário, isso fazia com que eu gostasse ainda mais dele e

quisesse ficar em sua companhia por tempo integral.

— Tenho que ir, já está anoitecendo, daqui a pouco a minha mãe


vem me procurar — tomei a câmera dele e fiquei de pé.

— Acho que ela e a minha mãe ainda não chegaram do trabalho.

Agora elas estão trabalhando juntas, não sabia? — Hunter também se

levantou.

— Sabia, mas hoje papai foi buscá-la, então acho que já devem ter

chegado. Tchau! — saí correndo, atravessei o jardim e tentei recuperar o

fôlego antes de entrar pela porta da cozinha.

Para a minha surpresa, encontrei Jake bastante concentrado,

observando o que acontecia na sala. Ele se escondia ao lado do vão da


passagem que dividia sala e cozinha.

— Você não presta! Nunca prestou! Deus, como eu pude ser tão

cego?! — escutei meu pai gritar, a sua voz reverberou tão grossa e cheia de

ódio que me assustou.


— Não diga isso, Nicholas. Querido, por favor! — a minha mãe

parecia estar chorando, deixei a câmera sobre a ilha da cozinha e caminhei

até Jake na intenção de ver o que ele estava assistindo. — Me perdoe!


— Eu nunca vou te perdoar! — esbugalhei os olhos ao avistar

papai erguendo a mão para bater na minha mãe.

— Pai, não! — Jake correu até ele e o segurou, o afastando da

mulher que estava no chão, em lágrimas.

Me aproximei devagar, sem entender, os móveis da sala estavam

revirados, eles tiveram uma briga feia.

— O que está acontecendo aqui? — perguntei, desolada.

— Jake, leve a sua irmã para o quarto e fique lá com ela. Eu e a


sua mãe precisamos continuar conversando — papai sequer me olhou, ele

observava a minha mãe como se ela fosse um inseto.

Senti vontade de chorar com a dor que vi nela.

— Eu não vou sair a menos que o senhor prometa que não vai

bater na minha mãe — Jake continuava agarrado ao papai, amedrontado

com essa possibilidade.

— Não se preocupe, filho — papai acariciou a cabeça dele. — Não

vou tocar nela, essa mulher não merece, não vale a pena...

— Nicholas, querido, poupe os nossos filhos, eles não precisam

saber... — mamãe choramingou, olhando-me como se pedisse socorro.


Cheguei a dar passos em sua direção, mas a voz de meu pai me

paralisou:

— Halle, não toque nela! Ela é tudo o que você não pode se

tornar!

— Papai, por favor, não fale assim da mamãe — a defendi,

sentindo uma lágrima queimar a minha face.

— Vá para o seu quarto com o seu irmão. Agora! — gritou, me

assustando outra vez.

Jake me puxou pelo braço e me arrastou até a escada. Enquanto

subíamos os degraus, escutei meu pai dizer à minha mãe:

— Se quiser continuar sendo a mãe desta família, terá que mudar.

A partir de hoje tudo nesta casa vai mudar — prometeu, as suas palavras

me fizeram arrepiar.

Assim que entrei em meu quarto, sentei na cama, em pranto.

— Jake, por que eles estão brigando? — tapei o rosto entre as

mãos.

— Vai ficar tudo bem, irmã. Não se preocupe, estou aqui com você

— Jake se sentou ao meu lado e me abraçou, me consolando.

— Você os ouviu. O que foi que aconteceu? — o encarei, mas ele

evitou me encarar de volta.


— Esqueça — afirmou, tenso e preocupado. — Esqueça, Halle —

afagou o meu braço, apertando-me um pouco mais contra o seu corpo.

Ele ficou comigo até que eu caísse no sono, mas o disparo que

toda a vizinhança escutou mais tarde, me fez despertar sobressaltada.

A princípio achei que era na minha própria casa, mas eu estava

enganada, era na casa ao lado, onde Hunter morava. Corri até a janela e

escutei os gritos e a discussão.

Pouco depois a polícia chegou e a senhora Blanca Scott foi presa.

Todo o condomínio ficou sabendo o que aconteceu. O marido dela e a irmã.


Era algo chocante, mas, na minha inocência, jamais imaginei que seria

aquele fato que levaria Hunter embora dias depois.

Que o tiraria de mim.

Guardo o meu notebook na mochila, os livros nas suas respectivas

estantes e sou uma das últimas a sair da biblioteca. Fico surpresa ao

descobrir que já anoiteceu, somente agora me dou conta disso, percebendo

que passei muito tempo lá dentro.

Assim que desço os degraus, um Mustang azul para à minha frente,

roncando o motor. O vidro abaixa e o rosto enigmático de Hunter aparece.

Ele está usando um gorro de lã verde-escuro que torna o seu semblante

ainda mais sexy e perverso. O seu olhar fatal me esquenta todinha e


rapidamente esqueço de tudo, sentindo apenas uma vontade imensa de me

jogar nos braços dele.

— Quer dar uma voltinha? — me convida, e não há mulher no

mundo que seria capaz de lhe dizer um não.

Averiguo o ambiente antes de entrar no seu carro, meu corpo

esquenta ainda mais assim que fico presa com ele.

Sem trocar qualquer palavra, nos beijamos, Hunter me agarra com

força, devora os meus lábios e aperta a minha bunda que parece ser pequena

demais para a sua mão enorme. Ele me puxa para o seu colo em um
movimento rápido, me surpreendendo, mas não reclamo, pelo contrário,
gosto de ficar sentada sobre as pernas dele, encaixada contra o seu quadril.

— Ah, Mel... não sei até quando vou aguentar — geme, a voz
rouca me fazendo molhar a calcinha exageradamente.

Ele tenta levantar a minha saia, mas não permito, mesmo que a
minha vontade seja a de que faça exatamente isso.

— Para onde você vai me levar? — pergunto, ofegante. Sorrio ao


perceber o quanto ele está excitado, então saio do seu colo antes que eu não

consiga resistir.
Resistir a Hunter Scott é impossível.

Ele sorri em uma promessa safada e silenciosa, como se quisesse


dizer algo do tipo “vou te pegar mais tarde”.
Nós saímos da Atenas e descemos em um parque de diversões.
— Um parque? — indago, enchendo os olhos com os brinquedos

por todos os lados, as crianças felizes, brincando.


— No passado não consegui te levar, hoje resolvi mudar isso —

Hunter declara, me fazendo pular em seus braços e enchê-lo de beijos,


encantada.

Ele me roda em seu colo, fazendo-me gritar até que me coloca de


novo no chão.

— Você não se esqueceu — afirmo, acariciando a sua barba que


tanto me fascina.

— Não esqueci de nada, Halle. De nenhum segundo — Hunter


encosta o nariz no meu, de olhos fechados. — Mas quero que esqueça tudo

o que falei sobre o meu pai, não quero que pense nisso.
Entendo que essa é uma guerra que não vou conseguir vencer

agora. Estamos nos envolvendo, não posso começar fazendo exigências,


também preciso entender o seu lado e ter calma.

Decido beijá-lo de novo para superarmos esse problema. O nosso


toque é molhado e quente, sinto a sua ereção crescer contra a minha barriga,
então me afasto, afogueada, mas sem soltar a mão dele.

— Qual brinquedo vamos primeiro? Roda-gigante? — mudo de


assunto, gostando desse jogo de excitá-lo e deixá-lo na vontade.
Hunter faz uma cara desagradável, preferindo uma experiência
mais radical. Assim, nos dirigimos para a montanha-russa. Enquanto eu

surto e grito bastante, ele ri da minha reação, adorando me ver assustada.


Apesar da loucura do sobe e desce, consigo me divertir bastante e quando

saímos desse brinquedo, partimos para outro ainda mais perigoso, que
desafia as leis da física.

O tempo demora a passar, nós lanchamos e no fim paramos para


comprar algodão doce, como ele fez quando éramos crianças.

Ouço o meu celular tocar dentro da minha bolsa a tiracolo e me


afasto um pouco da banquinha em que estamos para ler mais uma

mensagem da minha mãe, ela quer saber como foi o meu dia e o que estou
fazendo.

Antes que eu possa ignorá-la e guardar o celular, um cara passa


correndo, toma o aparelho das minhas mãos e me empurra com toda força.

Tudo acontece bem rápido. Tombo no chão, caio de bunda e a queda só não
é mais feia porque uso as mãos para me apoiar.

— Halle!! — Hunter deixa o algodão doce cair para vir me


socorrer e me levantar. — Você está bem? Tá tudo bem? — ele me analisa

preocupado, ao mesmo tempo em que averigua a direção em que o ladrão


fugiu.
— Estou bem, tá tudo bem — minto, sentindo a dor na minha

bunda e nas minhas mãos, que receberam o impacto. A mão esquerda


inclusive está com uma escoriação, o sangue pouco a pouco aparecendo.

— Desgraçado. Fique aqui, eu vou pegá-lo! — antes que eu possa


contestar, Hunter dispara atrás do bandido.

— Hunter! — estico o braço em sua direção, mas ele se distancia


em alta velocidade.

Um grupo de pessoas se forma ao meu redor e algumas tentam me


dar apoio, mas não consigo ficar aqui parada, corro atrás dele, com medo de

que lhe aconteça alguma coisa. Todavia, não tenho pique para alcançá-lo,
Hunter persegue o infeliz como um gato atrás de um rato, em um momento

fico perdida, sem saber para onde foram.


Caminho desnorteada, me afastando da multidão de pessoas e dos

brinquedos, para uma área isolada e semiescura com vista para o mar, onde
Hunter está espancando o desgraçado.

— Hunter! — corro até ele, paralisando ao ver o rosto do ladrão


banhado em sangue, o nariz quebrado, mas Hunter não para de esmurrá-lo,
possuído pela raiva. — Hunter! — dou mais um passo em sua direção, mas

sou ignorada, é como se ele não conseguisse me escutar.


Ele chuta o infeliz na barriga, o homem tomba para trás, gemendo

de dor, sem ar. Hunter o golpeia com mais chutes, o último na sua cara,
arrancando-lhe alguns dentes.

— Já chega! — exclamo, sabendo que se continuar, vai matá-lo.


Ofegante, Hunter finalmente olha para mim, feito um animal

selvagem, de um jeito que nunca vi. Não se sentindo satisfeito, ele segura o
desconhecido pela nuca e torce o seu braço para trás.

— Peça perdão a ela! — ordena, furioso.


— Per... perdão, moça — o cara cospe sangue, choramingando. Eu

continuo assustada.
Hunter o soca uma última vez.

— Vamos embora — puxo Hunter pela camisa, o afastando do


marginal. Ele tira o celular do bolso e me entrega, sem me soltar até me ver

segura dentro do carro. — Não precisava de tudo aquilo... — tento


argumentar ao me ajeitar na poltrona de couro.

— Precisava, ninguém toca em você — ergue o indicador, olhando


bem fundo dentro dos meus olhos, fazendo de mim uma rendida e

apaixonada incurável.
Ele segura o meu punho para examinar com desgosto a minha mão

ferida, eu sinto dor.

— Droga, eu devia tê-lo matado... — rosna, fumegando de raiva

por me ver machucada.


— Você também está ferido — aponto para as juntas das suas
mãos.

— Isso não é nada, espere aqui — desce do carro de novo, sem me


dar oportunidade de falar.
Fico tensa por alguns minutos, acreditando que ele fará mais

alguma loucura, no entanto, Hunter retorna com o meu algodão doce.

— Pega, isso vai te deixar mais calma até eu cuidar dos seus
ferimentos — me entrega o algodão.

Fico simplesmente chocada.


— Você não existe — sorrio, sinto como se o meu estômago fosse

invadido por um milhão de borboletas, aquecendo-me de dentro para fora.


Elas não são do tipo comum, pelo contrário, reluzem, fazendo-me constatar

que jamais quero ter esse homem fora da minha vida.


Nós voltamos para a estrada, mas não vamos para a universidade,
Hunter para o carro em um estacionamento do subsolo de um edifício

luxuoso da cidade.
— Que lugar é esse? — pergunto, assim que descemos do veículo,

ainda estou terminando de comer o meu algodão doce.


— Aqui eu tenho um apartamento, apareço quando é necessário,

muitas vezes para fugir do mundo — ele apoia a mão em minha lombar, me
conduzindo para o elevador mais próximo. — Na Atenas não vou conseguir
cuidar de você com privacidade — acaricia o meu rosto assim que as portas
metálicas se fecham.

Ele tem razão.


Lá não teríamos lugar para ficar a sós e sem a sensação de alguém

poder nos flagrar a qualquer momento.

Nós paramos no vigésimo primeiro andar, o ap.[6] é pequeno e

sofisticado, com decoração austera, voltado para o preto. Se divide em


quarto, banheiro e cozinha. O quarto tem uma cama de casal enorme,

cercada por paredes de vidro que dão uma boa visão para a cidade noturna.
— Que lindo... — me aproximo, sem medo de tocar a vidraça que

está impecável, sem resquícios de qualquer mancha ou sujeira.


Fico contemplando a paisagem lá embaixo até Hunter aparecer

com uma caixinha de primeiros socorros. Ele me chama para sentar ao seu
lado na cama e começa a tratar do meu ferimento com o mesmo cuidado do

grande médico que um dia vai ser.


— Você tem talento. Foi por isso que escolheu medicina? —
indago, curiosa.
— Na verdade eu só queria fazer tudo menos administração de

empresas, que era a vontade do meu pai — confessa, terminando de limpar


a minha mão e se preparando para colocar o curativo. — E você? Deveria
estar fazendo fotografia ao invés de farmácia — termino o algodão doce e
deixo o palito de lado.

— Tem razão — concordo, pensativa. — Estou cansada de abrir


mão dos meus sonhos para seguir o sonho dos outros.
— Nunca é tarde pra mudar — Hunter me olha uma última vez
antes de terminar e fechar a caixa. — Ninguém pode viver a sua vida. No
fim ninguém fará nada por você — sinto um amargor na sua voz, como se

dissesse isso para si mesmo.

— Você faz muito por mim, Scott — o olho com carinho e


admiração.

— Não sei explicar, eu não consigo me controlar. Você mexe


comigo, princesa — pisca para mim, me enfeitiçando.
Ele se levanta.
— Espere, é a minha vez de fazer em você — aponto para as
escoriações nos seus dedos, o sangue está vivo e deve doer.

— Não — ele observa a sua camisa suja de sangue e suor. — Acho


melhor tomar um banho. Espere aqui — pede, deixando a caixa dentro do
armário e depois seguindo para o banheiro.
Um milhão de coisas passam por minha cabeça durante um ou dois

minutos. Olho para o curativo em minha mão e decido seguir até ele, o
encontrando totalmente nu, de costas, debaixo do chuveiro.
Sem roupa, Hunter parece ainda maior, ele quase ultrapassa a
altura do box de vidro, e sua cabeça está a poucos centímetros do chuveiro.

A sua bunda é perfeita, redonda e máscula, as costas repletas de tantos


músculos que nem consigo descrever. Os ombros largos, os braços fortes
feito dois troncos e, quando ele finalmente se vira ao notar a minha
presença, deparo-me com a visão do seu pau grosso e imenso.

Apesar dele não estar excitado, não se torna menos intimidador.


Hunter me encara sem entender o que estou fazendo, e não diz uma
palavra durante o tempo em que tomo coragem, tiro a minha roupa e
caminho nua até ele.

— Halle... — levo os dedos aos seus lábios, pedindo silêncio.


— A vida inteira a única pessoa que fez eu me sentir livre foi você
— confesso, presa aos seus olhos, a água cai nas suas costas e respinga em
meu corpo. — Sonhei com o nosso reencontro desde os treze anos e agora

estou fazendo a minha vontade. Quero que seja o meu primeiro.


— Mais do que isso, princesa — Hunter esfrega o polegar no meu
lábio inferior, hipnotizado. — Eu serei o único — promete, me beijando e
me agarrando com vontade.
 
HUNTER SCOTT

 
Assim que vi Halle tirando cada peça de roupa, se aproximando

totalmente nua, soube que jamais veria algo tão belo diante dos meus olhos.
Ela é perfeita.

Linda da cabeça aos pés, como um anjo que se perdeu na Terra e

agora está me privilegiando ao me entregar a sua virgindade. Gostosa...

deliciosa, quanto mais me perco em seus lábios e sinto os seus seios se

esfregarem em meu peitoral, mais fico excitado.

Faço questão de pressionar a minha ereção contra o seu abdômen

ao mesmo tempo em que a devoro entre os meus braços, apalpo a sua bunda

e afundo os dedos na sua carne.


Halle é pequena, com curvas cuidadosamente desenhadas, a cor da

sua pele me deixa louco tanto quanto o vermelho natural dos seus lábios.

De olhos fechados, sinto-a ofegar quando decido encostá-la na

parede e escorregar a boca para o seu pescoço, chupando-a com devoção,

cada centímetro da sua pele. Desço pelo vão dos seus seios e beijo o seu
umbigo até me posicionar e ficar de joelhos, analisando a sua boceta

depilada.

— Caralho... — Engulo em seco, obcecado.

Coloco a sua coxa esquerda sobre o meu ombro e a olho nos olhos

um segundo antes de beijar o seu clitóris, bem safado. Halle arqueia o


corpo, geme e afunda os dedos no meu cabelo, tomada pela luxúria nunca

antes provada.

Fecho os olhos e mamo na sua boceta como se estivesse sonhando,

sem pressa, degustando o seu sabor afrodisíaco que se espalha por minha

garganta, me viciando, fazendo ir embora todos os meus sentidos e

deixando a única certeza de que quero provar do seu orgasmo.

Ela incendeia, perdendo o controle.


Gosto de vê-la experimentar cada sensação pela primeira vez, da

sua inocência sendo corrompida e levada embora.

Ergo a mão para apalpar o seu seio, enchendo os dedos com a sua

carne macia, o bico intumescido e tão sensível quanto a sua boceta que
derrete na minha boca, despejando os fluídos sobre a minha língua à medida

que a Halle, sem perceber, rebola o quadril, sem pudor.

Sem aviso prévio, seguro-a firme pela cintura e a faço virar, um

movimento rápido e que lhe rouba um gemido assim que afundo o rosto em

sua bunda.

Halle é naturalmente empinada, quase enlouqueço ao morder a sua


carne como se quisesse arrancar pedaço, esfomeado.

Arrasto a língua por toda a região anal, ela arranha a parede,

necessitada, e empurra o traseiro na minha cara, gemendo cada vez mais, se

entregando e expulsando cada resquício de uma moral que por anos foi lhe

imposta, e que agora não existe mais.

Quando ela não resiste e explode em um orgasmo, volto a ficar de

pé, subindo devagar, deixando um rastro de beijos por suas costas.

Enfraquecida, Halle deita contra o meu peito. Seguro o meu pau e me

masturbo antes de guiar a ponta até a sua boceta que é pequena demais para

ser invadida.
Penetro-a devagar, com bastante dificuldade.

Agarro o seu pescoço, obrigando-a a jogar a cabeça para trás, meu

rosto fica sobre o seu, a encaro com tesão quando paro a penetração na

metade do percurso, sem conseguir ir mais fundo devido ao pouco espaço.

— Que boceta apertadinha, amor...


— Ai, Hunter... — o seu grunhido tira toda a minha razão, as

minhas veias latejam dentro do seu corpo assim que não aguento mais

esperar que se acostume com o meu tamanho e começo a fodê-la,


lentamente.

— Hoje eu vou te comer a noite toda, Mel — prometo, ciente de

que essa é a minha intenção: jamais parar.

Avisto um pouco de sangue em meio à nossa união e isso faz com

que eu fique ainda mais excitado. Sigo com os movimentos para frente e

para trás, assistindo de camarote cada expressão dela de dor e prazer, cada

respiração entrecortada que atravessa os seus lábios, o olhar tomado por um

brilho lascivo de encanto, admirando-me como se eu fosse um deus.

Agora não há mais volta, sou definitivamente o seu primeiro

homem, o dono do seu corpo e da sua mente.

Uso a mão livre para apertar os seus seios e depois para masturbá-

la. Isso faz com que a sua boceta fique mais flexível e me receba por

completo, até o fim.

Halle libera um miado dolorido, fecha os olhos e estremece,

completamente submissa e minha, toda minha.

A tensão sexual cresce ao nosso redor. De repente, a água do

chuveiro já não é suficiente para impedir com que o calor domine a

atmosfera e nos queime nesse vaivém gostoso. Tenho que buscar todo o
meu autocontrole para não socar com força, sempre prezando por seu bem-

estar, fazendo desse momento o mais especial possível, para que jamais

esqueça.

Quero marcá-la de todas as maneiras que puder, mas a questão é

que estou sendo marcado também, por seu cheiro... gemidos... e expressões.

Escorrego os dedos por sua intimidade, entre os seus lábios

melados, intensifico o toque no seu clitóris e Halle se contrai algumas

vezes, me prendendo, obrigando-me a rosnar e alucinar de prazer.

Aperto o seu pescoço mais um pouco quando decido aumentar a

velocidade das investidas. Chupo o lóbulo da sua orelha ao me chocar

contra a sua bunda a cada vez que me afundo dentro do seu corpo. Vou até o

limite e saio quase por completo, enterrando tudo de volta até que Halle me

faz parar, cravando as unhas na minha coxa, lembrando-me que

infelizmente não posso pegar pesado.

Aproveito o momento para brincar com a sua língua e masturbá-la

com mais precisão. Em consequência, ela rebola o quadril, arrastando a

bunda na minha virilha, me provocando de todas as maneiras durante o

processo, acabando comigo.

Quando menos espero, gozamos, os dois ao mesmo tempo,

ofegantes, trêmulos, algo fora do normal.


Uma súbita magia que nos arrepia, uma combustão de sentimentos.
No entanto, ainda não me sinto saciado. Pego Halle no colo e a

coloco sentada sobre o mármore da pia, entre beijos e amassos. Ela agarra o

meu pescoço e, para a minha surpresa, lambe a minha bochecha, um sorriso

de satisfação nasce em meus lábios.

Sem avisá-la, penetro-a outra vez, cauteloso ao aumentar o ritmo

das estocadas, confirmando que o que tivemos agora pouco ainda não foi o

suficiente. Nunca será.

Transamos a madrugada inteira e esquecemos do mundo.

Acordo primeiro e ao ver o relógio constato que já passou do meio-


dia. Sei que Halle vai surtar quando descobrir, mas não me importo. Se

pudesse, eternizaria esse momento dela dormindo nua ao meu lado, com as

minhas impressões digitais em cada canto da sua pele, o seu rosto sereno

denunciando que está em um sonho bom.

Acaricio a sua bochecha e ela abre os olhos bem devagar, suas

pupilas são atingidas pelos finos raios do sol que ultrapassam a cortina

semiaberta.

— Que horas são? — pergunta, manhosa, fazendo-me sorrir

abobado.

— Não se importe com isso, nós podemos permanecer aqui para

sempre.

— Podemos mesmo?
Assinto, ela me devolve o sorriso, mas continua imóvel, de bruços.

Apoio a cabeça na mão e resvalo a outra por suas costas até acariciar a

curva da sua bunda, fazendo carinho onde mais gosto de tocá-la.

— E agora? Como será daqui por diante? — Halle limpa os olhos,

ainda bastante sonolenta.

— Nós dois. Todos os dias — declaro, sem parar de afagá-la,

subindo por seu dorso e voltando.

— Não vai dar, logo serão as férias de inverno. Eu vou voltar para

a casa dos meus pais, além disso, tem o Jake.


— Eu vou até você — garanto. Puxo o ar para os pulmões, depois
solto devagar, raciocinando. — Quanto ao Jake, ele ainda não pode saber,

não está preparado, mas no momento certo, conversarei com ele. Agora,
tem uma coisa: — a encaro com seriedade — Quero que se livre daquele

imbecil que se diz o seu noivo, se não fizer isso, eu vou fazer — ameaço.
— Já o dispensei, mas o Jimmy é insistente. Aposto que vai

aparecer lá em casa no natal — Halle olha para o nada, imaginando a cena.


— Ele precisa de um recado bem dado, algo que o faça te respeitar

e entender que não é uma menina, mas sim uma mulher adulta e com
opinião formada — várias ideias malévolas invadem a minha cabeça.

No entanto, Halle me puxa para um beijo e nós acabamos fodendo


de novo.
 
HALLE DUNCAN

As férias de inverno chegaram com muita neve e até aqui a minha


vida mudou com bastante velocidade.

Durante as últimas semanas, eu e Hunter não nos desgrudamos


nem por um instante. Sempre que tivemos oportunidade, nos encontramos e

a coisa foi ficando cada vez mais fora de controle, de um jeito bom e
perigoso.

Em vários momentos, quase fomos flagrados por alguém da


universidade e eu sentia que Jake andava desconfiado, mas não me

importava, já havia decidido em meu íntimo que não viveria mais com
medo, seja de quem fosse.

Ele fez de tudo para evitar passar o natal com a nossa família, mas
dessa vez não teve como evitar. Papai colocou pressão, meu irmão estava há

mais de um ano sem vê-los e não tinha mais como escapar, não havia mais
desculpas e nem meio termo.

Também pensei em não vir, criar qualquer motivo, mas sabia que
comigo seria diferente, meus pais jamais permitiriam que eu ficasse um ano
distante, comigo sempre foi mais fácil de controlar.

Todavia, eu vim com um motivo e muito bem decidida do que


estou disposta a fazer para mudar essa realidade.
Hoje eles vão ter que me escutar.
Mamãe mandou produzir um belíssimo banquete natalino e a casa

está toda decorada, tanto por dentro quanto por fora, talvez seja a que tem
mais destaque no condomínio, cheia de brilho e cores de natal.

Assim que termino de me produzir, saio do quarto usando um


longo e lindo vestido vermelho que combina com a data, não me

surpreendendo ao encontrar Jimmy na sala de estar. Porém, dessa vez ele


resolveu jogar baixo, trouxe os seus pais.

— Ah, Halle, como você está linda! — ele é o primeiro a se


aproximar, com o seu sorriso falso, fingindo mais uma vez que nada

aconteceu.
Isso é o que mais me irrita, todos fingirem que não tenho voz.

Quando tenta me beijar no rosto, eu me afasto, fazendo questão de


demonstrar que hoje não vou me submeter a essa palhaçada.

Jake está de pé ao lado dos pais dele e do nosso pai, com cara de
poucos amigos, usando a roupa social que costumava usar antes de ir para a

Atenas. Me acostumei tanto com a sua nova imagem que, ao vê-lo vestido
desse jeito, acho estranho.

Mamãe surge da cozinha mais linda do que nunca, trajando um


vestido branco e, ao me ver, enlaça o seu braço ao meu, sorridente.
— Ah, a Halle chegou. Agora sim podemos começar — anuncia,

chamando a atenção de todos.


— Filha, dê boa noite aos pais do Jimmy — papai fala, ordenando

com o olhar, mas não o obedeço.


— O que vamos começar? — encaro a minha mãe, bem fria.

— Filha... eu te avisei que esse seria um momento especial — ela


afirma, sem dispensar o seu sorriso.

Sim, dona Caroline me avisou que Jimmy Shaw me pediria em


casamento, também ignorando o episódio que aconteceu na faculdade.

Um silêncio constrangedor permeia a atmosfera, os pais de Jimmy


percebem o quanto essa situação é desagradável ou que estou desgostosa.

— Ah, ela está ansiosa, vamos logo acabar com isso — insistente
como é, Jimmy se ajoelha à minha frente.

Mamãe dá um passo para o lado, me deixando “livre” para ele,


capturando o seu celular para filmar esse grande momento. Jake parece

furioso e eu estou prestes a surtar.


— Halle Duncan... — Jimmy retira o estojo do bolso da sua calça e
o abre, mostrando as alianças —, quer se casar comigo?

— Não — disparo, na lata, chocando o pessoal, exceto o meu

irmão.
Jimmy sorri como se tivesse ouvido uma bobagem.
— Vou perguntar de novo...

— Não se esforce. Eu já disse que não vou me casar com você.


Ouviu, mãe? — a fuzilo, ela está embasbacada. — Ouviu, pai? — o fuzilo

também. — Eu não vou me casar com Jimmy Shaw e nem com ninguém
que eu não ame de verdade! — elevo o tom, o coração está acelerado, os

punhos cerrados, a coragem e o medo digladiando por todo o meu sangue.


— E esse assunto encerra aqui! — sentencio, caminhando furiosa até a

porta de saída.
— Halle Duncan, volte aqui! — minha mãe berra, mas a ignoro.

— Halle! — papai fala ainda mais grosso, mas nada me fará parar
de caminhar.

Seguro a maçaneta, mas antes de atravessar para o lado de fora,


escuto o meu irmão se manifestar:

— Ela não quer, será que não entenderam?


Eles ficam discutindo enquanto invento de seguir de salto pelo

caminho ladrilhado tomado por uma fina camada de neve. O jardim foi
limpo mais cedo, mas os flocos não param de cair. Abraço o meu corpo e

raspo as mãos nos braços, sentindo o frio me arrepiar.


Para a minha surpresa, Jimmy vem atrás de mim. Ele me puxa de

supetão, obrigando-me a encará-lo.


— Você vai voltar agora para dentro de casa e me dizer um sim,
ouviu?! — rosna, possesso de raiva, as suas pupilas flamejam de ódio. —

Eu não vou passar essa vergonha ou...


— Ou o quê? — rosno de volta, o enfrentando, desvencilhando-me
do seu agarre.

— Ou vou falar aos seus pais que desde que você entrou na
universidade se transformou na vadia do diabo — cospe as palavras, sua

face fica vermelha, ele parece um louco. — Pensa que eu não sei de você e
do tal do Scott? — a minha barriga congela de medo. O maldito medo outra

vez.

— Você me seguiu... — ainda não consigo acreditar.


— Acha que os seus pais vão gostar de saber que a filha deles se

tornou uma cadela e está se deitando com um traficante de drogas?


— O quê? — fico sem entender.
— Será que o Jake também sabe? — Jimmy se diverte em me

ameaçar.
Cuspo na sua cara, em seguida lhe acerto com uma bofetada de

deixar a marca dos meus cinco dedos.


— Cala a boca, seu mentiroso de merda! — exclamo, fora de mim.

Chocado, Jimmy demora a processar o que fui capaz de fazer.


— Vai pagar por isso — promete, revoltado. — Vou contar tudo a
eles...

Ele me dá as costas e o desespero me pega de jeito.


Antes que Jimmy consiga voltar para casa, agarro um pedaço de

pau grosso e pesado usado no pequeno presépio que mamãe fez, avanço em
direção ao carro dele, e acerto um golpe no para-brisas, com toda a minha

força, disparando o alarme.

— O que você fez com o meu carro? — bestificado, ele dá meia-

volta, mas não paro.


Destruo o farol, amasso o capô e quebro os vidros das janelas.

— PARA! — Jimmy berra, mas não o escuto.


As nossas famílias saem de casa no instante em que ele me agarra

pela cintura e me lança na neve como se eu fosse um objeto. 


— Ei, seu desgraçado! — Jake avança sobre ele feito um furacão,
desfigurando o seu rosto com uma sequência de socos.

Até que o nosso pai e o pai de Jimmy interferem e apartam a briga.

— Filha, você está bem? — Mamãe me ajuda a levantar, pela


primeira vez ficando do meu lado, preocupada.
Ela testemunhou a força que o Jimmy usou para me empurrar.

— Ele me empurrou e me machucou — mostro a marca que está


em meu braço. — Esse é o marido que a senhora quer pra mim? — elevo o
tom, ela fica sem palavras.
— Filha...

Me afasto dela e do resto.

Jimmy está quase desmaiado nos braços dos seus pais e eu prefiro
ir embora do que ficar nesse caos.
Saio correndo para a rua, sem rumo, com uma vontade imensa de

sumir do planeta.
 

HUNTER SCOTT
 

Do jardim da minha antiga residência, imóvel sob a escuridão de

um lar há muito tempo abandonado, assisto tudo o que acontece na casa da


Halle enquanto fumo para aplacar a ansiedade de atravessar o perímetro e

dar na cara do Jimmy, o desgraçado.


Não faço isso apenas para testar a minha doce Mel, mas sim para

descobrir se ela já aprendeu a se defender e se virar sozinha. Não quero ser


o seu herói, quero que ela seja uma heroína ao meu lado.

Para a minha satisfação, Halle faz exatamente o que um homem

como eu espera que faça. Ela esbofeteia o infeliz e ainda quebra o seu carro.

Sequer consigo conter o tamanho do meu sorriso que, infelizmente, se


desfaz em um piscar de olhos quando ele a agarra pela cintura e a arremessa

na neve.

Nervoso, meu coração dispara ao assistir a cena, chego a dar

alguns passos e quase saio do meu esconderijo, mas o meu amigo Jake

intervém e defende a irmã. Halle se levanta e foge. Sou obrigado a estender


o meu desejo de vingança para outro momento para poder me livrar do

cigarro logo após a última baforada, e entrar no meu carro que deixei

escondido do outro lado da casa.

Penso rápido, vou pela rua de trás e a encontro na esquina,

averiguando o trânsito com o intuito de atravessar.

Abro a janela ao buzinar para ela. Coloco o rosto para fora, chamo-

a com a mão. Ao me reconhecer, Halle não pensa duas vezes antes de entrar

no veículo, me abraçando.

A acolho em meus braços e a beijo quase desesperado, como se a

estivesse vendo pela primeira vez depois de anos.

— O que está fazendo aqui? — ela pergunta, sua pele está fria e a

marca em seu braço me enche de ódio, mas continuo mantendo o controle.


— Não consigo ficar longe de você. — É a verdade.

Ultimamente ando pensando nela mais do que devia. Halle está se

tornando a minha válvula de escape para o sumiço da minha mãe, uma

forma de evitar com que eu enlouqueça de vez.


Ela não é uma distração, muito pelo contrário, é a única coisa

valiosa que tenho.

— Me tire daqui, por favor — implora, abalada, tentando esconder

o braço.

Assinto, calado, emputecido.

Seguro o volante com força, descontando nele e no acelerador a

minha vontade de assassinar o tal de Shaw. Prefiro não contar a Halle o que
pretendo fazer com ele, não quero que desconfie de que eu estava perto o

tempo inteiro, a vigiando.

Ao invés disso, respiro fundo e lembro de um lugar bacana, um em

que tenho certeza de que vai conseguir se distrair e esquecer do inferno que

viveu minutos atrás.

Não demoramos muito para chegar à Atenas, mas dessa vez

seguimos por um caminho diferente, direto para o rinque de patinação no

gelo do time de hóquei da universidade.

Assim que atravessamos as portas duplas, ligo apenas metade das


luzes para não chamar a atenção de algum funcionário desavisado, e

também para que a Halle possa ver a pista com mais de quatrocentos e

cinquenta metros quadrados, uma estrutura que fica ainda maior incluindo

as arquibancadas nas laterais.


— O que viemos fazer aqui? — a sua expressão confusa e curiosa

denuncia que não está entendendo nada.

Me aproximo com dois pares de patins que peguei em um dos


armários do vestiário, fazendo-a entender.

— Nós vamos patinar? Sério? Por quê? — Percebo que já aprovou

a ideia quando um sorriso estampa o seu rosto.

— Isso vai te distrair. — Passo por ela, sento-me no primeiro

banco da arquibancada, essa parte não está tão clara.

— Eu não vou conseguir com esse vestido — mexe no tecido

vermelho que vai até os seus calcanhares. 

— Venha aqui — chamo-a, Halle se detém à minha frente.


O seu perfume adocicado invade as minhas narinas, arrasto as

mãos lentamente por sua cintura até as coxas, molhando os lábios,

excitando-me apenas porque ela está bem perto, linda.

Sem avisá-la, rasgo o seu vestido, bruto, mal me importando em

pedir permissão. Retiro mais da metade do tecido e transformo o vestido

longo em um bem curtinho. A barra, agora repicada, fica praticamente na

popa da sua bunda, uma delícia.

— Pronto, problema resolvido — afirmo, esfregando as mãos.

— Você acabou com o meu vestido e me deixou nua! É assim que

resolve os seus problemas? Na violência? — você nem faz ideia.


Halle coloca as mãos na cintura, incrédula, querendo tomar raiva.

— Venha, sente-se — puxo-a para o meu lado, colo as suas pernas

nuas sobre as minhas coxas e começo a tirar os seus saltos, com a intenção

de fazê-la calçar os patins em seguida.

— Seu cavalo! — Seu xingamento me faz rir.

O que era para ser rápido, se torna devagar.

Sem perceber, acabo aproveitando esse momento para acariciar as

suas panturrilhas perfeitas, hipnotizado. E quando finalmente me livro dos

seus sapatos, deposito um beijo molhado sobre a parte superior dos seus

pés, um de cada vez.

Halle apoia as mãos no banco, inclinando-se para trás, gostando de

me assistir idolatrar o seu corpo, feito uma deusa.

Rapidamente esqueço do que pretendia fazer, resvalo os lábios por

sua panturrilha direita até o início da sua coxa, beijando o local com

cuidado.

Halle fecha os olhos.

— Hunter... a gente não ia patinar? — sussurra, mordendo os

lábios.

— Ia? Eu não lembro — murmuro, enfeitiçado. Passo uma perna

para o outro lado, ficando de frente para ela. — Deite-se — peço.

Halle arfa e olha ao redor um segundo antes de me obedecer.


— Estar aqui neste horário não é proibido? — Ergo a barra do seu

vestido rasgado até desnudar o seu quadril e avistar a calcinha vermelha.

— Sim — confirmo, rouco, puxando a peça que escorrega

facilmente por suas coxas torneadas. — Mas eu adoro quebrar regras —

inclino o rosto para baixo ao mesmo tempo em que abro as suas pernas.

Pairo a boca sobre a sua boceta, fecho as pálpebras por um instante e

absorvo o seu perfume, uma tentação. — Ah, Mel... por que você é tão

gostosa? — Meu hálito atinge o seu clitóris, a garota estremece.

Ela coloca o indicador na boca, excitada.

— Eu fico o dia inteiro pensando em chupar você... — sugo o seu

clitóris, massageando-o entre os lábios.

— Aaii... — coloca as mãos sobre a minha cabeça, vulnerável.

— A sua boceta não sai dos meus pensamentos... — arrasto a

língua entre as suas dobras, uma única vez —, me transformou em um

obcecado... — Acaricio o queixo sobre o seu monte de vênus, fazendo-a

sentir os pelos aparados da minha barba.

— Hunter... — geme gostoso, meu pau está prestes a rasgar a calça

devido a ereção.

— Eu só quero comer você — confesso, penetrando-a com dois

dedos, até o fim.


— OH! — Halle mia mais alto e arqueia as costas, querendo

abaixar as pernas.

— Mantenha-se aberta pra mim — sussurro.

Ela segura as coxas e permanece arreganhada, se oferecendo.

Escorrego os dedos dentro da sua boceta ao mesmo tempo em que

mamo no seu clitóris, com devoção, fazendo isso por um longo tempo.

Aos poucos, aumento o ritmo, socando com força, forçando-a a

expelir o seu pré-gozo e ficar toda lambuzada. Também faço movimentos

de “vem cá” para atingir o seu ponto G e é aí que a garota não resiste e goza
bem na minha boca, uma maravilha.
Eu poderia ficar aqui a noite inteira, sem me cansar, porque dar

prazer a ela é o que me move, a minha fonte de libido. No entanto, começo


a suar por dentro da roupa, aquecido com a putaria que estamos fazendo.

Tiro os dedos de dentro dela e beijo toda a sua intimidade, misturando as


nossas carnes, me satisfazendo com a sua luxúria e querendo mais.

— Hunter... por favor... não consigo mais aguentar! — Halle solta


as coxas e morde o punho, de olhos fechados, fervendo.

— Eu vou te foder — aviso, com os lábios melados.


Levanto-me rapidamente para me livrar da calça. Volto à posição

em que estava, inclino-me sobre o corpo da garota, agarrando-a pela cintura


antes de beijá-la e afundar o pau na sua boceta, de uma só vez.
Forte e profundo.
Halle joga a cabeça para trás, oferecendo-me a sua garganta em

consequência. O banco no qual estamos é estofado, o que facilita as


investidas ferozes do meu quadril. A pouca luz desse lado da arquibancada

nos dá um mínimo de privacidade, mas não me preocupo com isso, até


gosto da sensação de sermos flagrados a qualquer momento, de correr esse

risco, mesmo sabendo que a possibilidade é quase inexistente.


Aperto-a com mais força contra o meu corpo, meus pés estão
apoiados no piso. Uso a mão livre para tirar o seu seio para fora do tecido e

apertá-lo, ao mesmo tempo em que mordisco o seu queixo.

Estoco feito um animal, cada vez mais violento. Não sei se foi o
lugar inusitado no qual estamos transando ou o fato de ter me excitado após

rasgar a sua roupa.


Não sei se foi ciúmes por ter assistido aquele otário se aproximar

dela ou até raiva de mim mesmo por ter permitido tudo aquilo. Realmente
não faço ideia de onde vem todo esse desejo e voracidade, essa sede por

sentir o seu cheiro, devorá-la e fazê-la entender que me pertence.


Halle agarra o meu pescoço, arranha as minhas costas e faz um
escândalo quando acelero ainda mais os movimentos, um golpe atrás do

outro, desenfreado.
Em um momento chego a pensar que vou parti-la ao meio.
Coloco a mão na sua boca, ela morde os meus dedos com força.
Roço a minha pelve na sua, instigando o seu clitóris. Halle goza de novo,

me olhando nos olhos. Tão linda que me faz inchar ainda mais dentro da
sua boceta apertada, que sufoca toda a minha extensão durante o orgasmo,

contraindo algumas vezes, me entorpecendo.


As minhas bolas formigam e eu entendo que não vou mais

conseguir segurar. Volto a ficar sentado, saio de dentro dela e começo a me


masturbar, gemendo, despejando os jatos de esperma sobre a sua barriga e

monte de Vênus.
Euforia.

Calor.
Tudo intenso. 

O melhor sexo que tivemos nos últimos tempos. A cada vez que
fodemos, melhoramos mais.

Quando toda a loucura acaba e conseguimos nos acalmar, capturo o


que rasguei do seu vestido e uso como toalha para nos limpar. Passo o

tecido em Halle e retiro a minha sujeira. Pode parecer estranho, mas até
essa pequena atitude em relação a ela me dá tesão.

No fim, calçamos os patins e seguimos para a pista de gelo. Para a


minha surpresa, Halle sabe patinar e nos divertimos muito em uma

perseguição de gato e rato.


— Achei que você era jogador de futebol americano e não de

hóquei — ela me provoca, deslizando pela pista como uma bailarina, os


cachos loiros ao vento.

— Faço de tudo um pouco, mas prefiro o futebol — sigo atrás dela,


alcançando-a e segurando a sua mão.

Patinamos lado a lado, sozinhos, brincando sobre o gelo, trocando


sorrisos e olhares encantados. Meu coração fica aquecido e até arde ao
contemplá-la, mas esse é o meu segredo.

Penso em levar Halle para o meu apartamento, mas ela prefere

ficar no seu dormitório para ter um álibi diante da sua família, caso seja
necessário. É muito difícil dormir longe dela, mas concordo.
Ao amanhecer, saio da fraternidade e sigo direto para a casa do

Jimmy Shaw, eu estive pesquisando sobre a sua vida desde o dia em que o
conheci. Como o bom investigador que sou, descobri o seu endereço, estava

apenas aguardando uma desculpa para ir visitá-lo.


Ele mora no mesmo condomínio que a Halle, porém, em outra

zona, mas isso não impede que sejam considerados vizinhos.


O infeliz deve ter chegado pouco tempo depois que fui embora.
Para a minha sorte, assim que estaciono a poucos metros da sua

casa, avisto o engomadinho chegando com os seus pais, eles descem do


veículo e os curativos na cara de Jimmy indicam que é bem provável que

esteja voltando do hospital. Ele deve ter tido uma noite longa após a surra
que tomou do Jake.

Mas o seu inferno ainda não cessou, está apenas começando.


Observo a família entrar em casa e fico esperando dentro do carro

tempo suficiente para descobrir onde é o seu quarto, pois Jimmy abre uma
das janelas do segundo andar.

Assim que seu pai sai de casa carregando uma maleta de trabalho,
resolvo aproveitar o momento em que o otário está sozinho com a mãe para

subir na árvore na lateral da casa até chegar ao teto, assim como fazia anos
atrás com a Halle.

Atravesso a janela para o lado de dentro no instante em que ele sai


de toalha do banheiro, se apavorando ao me ver.

— Shhhh — peço silêncio, retirando um canivete do bolso da


jaqueta.

— Não... — Jimmy se joga contra a parede, esticando os braços


em apelo. — Por favor... — implora.

Me aproximo e encosto a ponta afiada da lâmina abaixo do seu


queixo.
— Você machucou a minha garota, eu vou te matar — rosno,
agarrando o seu pescoço com a mão livre, possesso.

Sou bem maior que ele.


— Não... por favor, juro... juro que... — Jimmy desiste de falar
quando faço uma gota de sangue descer por seu pescoço.

Ele engole em seco.

— Mas antes, vou arrancar a sua pele — abro um sorriso,


psicopata. — O seu quarto vai se tornar um banho de sangue e se você

gritar... eu corto o que tem no meio das suas pernas.


O terror corrompe a sua face, a sua respiração acelera e posso jurar

que o seu coração vai sair do corpo, seu peito sobe e desce. Uma lágrima
mancha a sua bochecha e, para completar, o covarde mija na toalha.

— Covarde desgraçado — fico enojado. — Hoje você vai aprender


a não bater em mulher. Principalmente na minha mulher — enfatizo,
disposto a tudo para destruí-lo.
 

HALLE DUNCAN
 

Acho que em toda a minha vida, nunca fui tão feliz em época de
primavera, exceto aquela em que conheci o Hunter.

Durante os últimos meses, agíamos como namorados e cada vez

que nos encontrávamos às escondidas, eu sentia que não havia nada no


mundo forte o suficiente para nos separar, estávamos loucamente

apaixonados.
Era uma paixão avassaladora e que tomava maiores proporções a

cada minuto. Sempre arrumávamos uma maneira de compartilhar a mesma

cama. O perigo de sermos descobertos se tornou o nosso amigo, mas não

nos importávamos, não tanto quanto antes.


Após aquela confusão no inverno, tudo mudou: papai e mamãe

desistiram do meu casamento com o Jimmy, não aprovaram e nem fecharam

os olhos para a sua agressão. Ele, por outro lado, sumiu do mapa, saiu de

Boston e mudou de cidade pouco depois do nosso desentendimento, sem

maiores explicações.
Não entendi a sua atitude, mas confesso que fiquei aliviada. 

Temi que fosse revelar sobre o meu relacionamento com o Hunter,

no entanto, isso não aconteceu. Não acreditei em uma só palavra do que ele

disse naquela noite, nada daquilo fazia sentido, não podia ser verdade.

Guardei para mim. 


O episódio com o Jimmy trouxe outros frutos, meus pais, de certa

forma, passaram a me dar mais “liberdade” e a pegar menos no meu pé,

assim como o Jake.

O caso dele era diferente, estava cada vez mais envolvido com a

Amy e ela com ele, os dois não se desgarravam.

Amy provou ser uma amiga de verdade, durante todo esse tempo

ela nunca contou ao Jake sobre a minha relação com o Hunter, nós nos
protegíamos independentemente de qualquer coisa.

Agora, enquanto assisto mais uma aula, capturo o meu celular da

mochila assim que escuto o som da mensagem, o que faz eu ganhar um


olhar de reprovação do professor que assim que chegou na turma, pediu

silêncio.

Forço um sorriso para ele, pedindo desculpas, e ativo o modo

silencioso do aparelho antes de ler o que Hunter enviou:


 
Quero te ver hoje. De
novo.

Sorrio, gosto do seu jeito mandão de ser, apesar de saber que

muitas vezes quem manda nele sou eu, e nem preciso ser grossa para isso,

faço do meu jeitinho.


 
Já nos encontramos
ontem, lembra?

Tento disfarçar que estou mexendo no celular, olho de novo para as

informações que o professor está explicando no slide até receber uma

resposta:
 
Não foi o suficiente. Quero
dormir com você.

Os meus lábios se curvam em um sorriso ainda maior. Puxo a

respiração, encho os pulmões e vou soltando aos poucos, apaixonada.


 
Apenas no fim de semana,
como combinamos. Temos
que tomar cuidado.

Enviar essas palavras dói o meu peito, não suporto mais essa
situação.
 
Foda-se, Halle. Não aguento
mais fingir que não tenho
nada com você. A qualquer
momento vou falar com o
Jake.  Ele vai ter que
entender. Do contrário, vai
ter que aceitar, gostando ou
não.
 

A sua mensagem me deixa nervosa, meu coração começa a

acelerar e as minhas mãos ficam suadas. Observo ao redor, todos os meus

colegas de turma estão prestando atenção na aula, então digito rápido:


 
Não diga nada.  Ainda não.
Também quero parar de
me esconder, mas vou
conversar com a Amy
primeiro.  Ela prometeu
nos ajudar a acalmar o meu
irmão quando chegar a
hora de contar tudo a ele.

Hunter demora a responder, sou assaltada pela apreensão:


 
Ok. Gostou do meu
presente?
 

Fico mais calma assim que ele muda de assunto. Olho para a saia

que ele me deu, ela é de tecido leve, vai até perto dos joelhos, porém, mais
curta do que as que estou acostumada a usar.
 
Estou usando agora.

 
Quero ver como
ficou.

 
Não dá, estou na aula.

 
Halle.

 
Oi.

 
Você não entendeu.
Quero te foder. Agora.

Entreabro os lábios e pressiono as coxas uma na outra. Excitada.

Sinto a primeira gota de tesão molhar a minha calcinha, impossível de

controlar. Hunter é um descarado irresistível, me viciou em fazer sexo com

ele e toda vez que diz isso me deixa louca!


Passo a mão na minha garganta, o local está quente. Observo o

ambiente outra vez como se alguém por perto tivesse o poder de descobrir o

que estamos conversando, mas já faz um tempo que parei de sentir

vergonha.

O que tenho com ele não é algo para se envergonhar. Penso em

desobedecê-lo, mas não consigo:


 
Como faríamos?

 
Estou chegando. Vá até o
banheiro, tire a calcinha e
me encontre na sala 212B.
 

Perigo.

A maldita adrenalina viciante corrompendo o meu sangue outra

vez.

É exatamente esse sentimento que faz eu largar tudo, sair da aula e

ir até o banheiro mais próximo sem pensar nas consequências.

Hunter tem esse poder sobre mim, não posso negar. Ele é o maior

pecado que já cometi, um que não consigo mais imaginar viver sem. Às

vezes me culpo pelas aventuras que fazemos, mas como algo tão intenso
poderia ser condenável?

Tranco-me em um dos boxes e tiro a calcinha por baixo da saia,

enrolo-a com o maior cuidado e não encontro lugar para guardar, sendo
obrigada a escondê-la entre os dedos, o punho fechado.

Olho-me no espelho e respiro fundo antes de sair e seguir até a sala

212B, a que eu estava era a 210, praticamente do lado.

O imenso corredor está vazio, todos estão em aula e permanecerão

assim pelos próximos trinta minutos, até a aula terminar.

Observo o corredor uma última vez antes de adentrar na sala e

fechar a porta. Não tem como trancá-la, está sem a chave assim como todas

as outras. O lugar está escuro e vazio, apenas alguns finos raios de luz

atravessam as frestas das persianas nas janelas, o que impede de


transformar tudo em um breu.
— Scott? — a minha voz ecoa pelo espaço, não há sinal dele.

Medrosa, caminho para perto da mesa do professor, sem entender


por que aqui hoje não teve aula. Ouço o barulho de passos e fico ainda mais

assustada, sem conseguir identificar de onde vem esse som.


— Hunter, é você? — viro-me, os batimentos cardíacos quase

rasgando o peito.
De repente, ele surge do nada e me agarra por trás, quase me

fazendo gritar com o susto. Uma mão esmaga os meus seios e a outra vai
para debaixo da minha saia, tocando a minha intimidade que o aguardava

melada.
Hunter beija o meu pescoço e me obriga a gemer assim que
começa a me masturbar, afogueado. Os seus dedos são hábeis e rápidos, ele

sabe o que fazer e onde tocar, criando movimentos de ir e vir sobre o meu
clitóris ao mesmo tempo em que me prende contra o seu corpo, devasso!

— Tão molhada, caralho... — a sua voz rouca esquenta a minha


orelha, seus dedos se enfiam dentro de mim no momento em que ele quase

rasga a minha blusa para alcançar os meus peitos, pressionando os bicos


antes de me beijar, insaciável.
As nossas línguas se enroscam e formam um sabor único, algo só

nosso.

Ele morde os meus lábios e o meu queixo, vai e volta da minha


orelha até o pescoço, sempre tentando me comer de todas as maneiras,

ensandecido.
Então, quando menos espero, sou carregada e jogada contra a

mesa. Hunter empurra a minha cabeça contra a madeira para que eu possa
deitar o busto, enquanto as pernas ficam de fora. Ele escorrega os dedos por

minhas costas até a saia, que levanta devagar, observando a minha bunda
nua e disponível ao seu deleite.
Olho para trás, dentro dos seus olhos obscuros tomados por uma

luxúria sombria e inquietante. O moreno tem quase dois metros de altura,


está sem camisa, os braços tatuados e a cara de mau. Ele não parece estar
para brincadeira e lá no fundo espero mesmo que não esteja.

— Hoje eu vou pegar pesado com você, Mel — avisa, rouco.


Escorrega os dedos por entre as minhas nádegas aquecidas e se

esfrega por todo o caminho até a minha boceta, indo e voltando várias
vezes, como se estivesse me preparando.

Ofegante, sequer consigo respondê-lo, uma fina camada de suor


toma a minha testa durante a sua masturbação. A ideia de que alguém possa

chegar a qualquer momento e nos flagrar, o seu domínio, a minha


submissão, tudo me excita.

Hunter me penetra outra vez, os seus dedos grossos dançam


preguiçosamente entre as minhas dobras, mas quando estou quase chegando

lá, não me permite gozar, para a minha raiva.


— Ainda não — se afasta da minha intimidade e acerta o meu

traseiro com um tapa forte, a minha nádega ondula após o impacto.


— Ooh! — grito, incontrolável, sentindo a pele arder.

Hunter acaricia o local dolorido antes de me estapear outra vez, na


outra nádega, que queima de imediato. Era para eu odiar tudo isso, mas as

minhas pernas se comprimem uma contra a outra e a minha boceta


estremece, gozando de uma maneira que ainda não havia experimentado.
Arranho a mesa, Hunter se debruça sobre mim e tapa a minha boca

para que eu não possa miar.


— Você é uma putinha escandalosa... — gosto do que diz, por mais

inacreditável que seja.


Hunter volta a erigir as costas, abaixa a calça com a cueca e o seu

pau surge para fora, grande e grosso, a cabeça larga, as veias lotadas de
sangue quase saltando para fora da carne.

Penso que ele irá me penetrar de uma vez, mas faz exatamente o
contrário, segura os meus quadris e se esfrega entre as minhas nádegas, se

lambuzando com o meu orgasmo, roçando os nossos sexos para me atiçar,


algo que consegue fácil.

— Hunter... — murmuro, pegando fogo.


— Quer que eu foda você? — o seu tom é saliente, não resisto e

rebolo, ansiosa.
— Quero... — afirmo, ele agarra um punhado do meu cabelo, ergo

o rosto assim que a minha cabeça é puxada para trás.


— Então peça — ordena, sua respiração entrecortada. É evidente
que está tão afetado quanto eu, incendiando.

— Me... fode — ofego ainda mais, uma necessidade extrema para


senti-lo enterrado dentro do meu corpo.
Hunter coloca o preservativo e guia a cabeça do seu pau até a

entrada da minha boceta, mas não segue adiante, fica me torturando. Tento
sugá-lo de todas as formas, entretanto, ele segura bem forte o meu quadril,

me imobilizando.
— Peça — rosna, torcendo os meus cachos até doer.

— Por favor... me fode! — imploro, o gemido sai em sufoco,


dolorido, mas gostoso.

Uma loucura.
Ele finalmente cede, me golpeando de uma só vez, até o limite, seu

saco se chocando contra a minha carne. O movimento é tão forte que sou
empurrada para frente, assim como a mesa que sai do lugar alguns

centímetros. Fecho os olhos, minha boceta abrindo e fechando, tentando


conter a dor e toda a sua espessura.

Hunter estapeia o meu traseiro e eu gozo novamente, dessa vez


ainda mais forte, rendida. Ao invés de me deixar curtir a magia do orgasmo,

ele segura os meus quadris com firmeza e começa a estocar dentro de mim
como se não houvesse amanhã.

Desesperado.
Possessivo.

Eu gosto dele assim, feroz.


Cada vez que Hunter me toca, que quero mais. É um verdadeiro
infinito de emoções, a nossa química explosiva invade até mesmo os meus

sonhos. Eu sou dele. Meu corpo pertence ao seu e nada será capaz de mudar
esse fato.
Os meus mamilos se arrastam contra a madeira a cada vez que o

meu corpo é empurrado. Hunter puxa os meus braços para trás e usa apenas
uma mão para prender os meus punhos sobre a minha lombar. Agarra o meu

cabelo de novo e volta com as investidas.


Implacável.

— Gostosa... — rosna, enfeitiçado.

A sensação é de que serei rasgada ao meio a qualquer momento


dentro desse ritmo. Mesmo em meio à violência, ele também sabe ser

carinhoso, aliviando quando tem que aliviar e intensificando quando acho


que não vai mais prosseguir. 
Sinto-o bem fundo, brigando contra o meu espaço estreito, voraz,

aquecido, até que o escuto rugir, seu corpo cai sobre o meu quando explode
dentro da minha boceta. 

A temperatura está tão alta que parece haver uma onda de calor nos
cercando. Hunter morde o meu ombro e leva bastante tempo para se

recuperar. Estamos exaustos.


Ficamos nessa posição por vários minutos, sem pressa para nos
separarmos. Sua boca passeia por minhas costas, depositando beijos afáveis

até que desfaz a nossa união, se livra do preservativo e guarda o pau dentro
da calça.

Tento levantar, mas estou fraca.


Hunter encontra a minha calcinha em algum lugar e me veste,

abaixando a minha saia no final. Ele me vira e também ajeita a minha blusa,
adora fazer tudo isso.

— Isso foi muito bom — penso em voz alta, mexendo no cabelo, a


minha nuca está ensopada de suor.

— Fenomenal — Hunter ri, segura o meu rosto entre as mãos e me


beija com cuidado.

— Para onde vai agora? — o abraço, já sentindo a sua falta.


— Treinar na arena, e você?
— Agora tenho que ir ao dormitório tomar um banho para

conseguir continuar assistindo à aula — o olho em repreensão, adoramos


brincar um com o outro desse jeito.
Ele veste o seu moletom vermelho antes de nos separarmos, faço o
que lhe informei, encontrando a Amy no caminho. Ela também aparenta

estar voltando da aula.


— Não devia estar assistindo aula? — perguntamos uma à outra,
em coro, e depois caímos na gargalhada.

— Nossa, você está cheirando a sexo selvagem! — Amy começa a


me cheirar como se fosse uma cadela. — Halle você estava transando com
o Hunter de novo?
— Shhh — peço silêncio, caminhamos lado a lado.

— Jesus, desse jeito vocês dois vão superar eu e o Jake. Até


parecem coelhos! — faz piada, nós enlaçamos os braços.
— Cadê ele? — indago, tentando mudar de assunto.
— Pedi para me esperar aqui, nós também estamos fugindo para

transar — aponta para o veículo do meu irmão, que está estacionado a


frente do nosso prédio.
Assim que nos aproximamos, comprovamos que ele não está
dentro do carro. Entramos no edifício e corremos pela escada até o nosso
andar.

A porta do nosso quarto está entreaberta e assim que entramos, nos


deparamos com uma cena que sempre temi acontecer: Jake está parado
perto da minha cama, segurando a minha câmera fotográfica.
Assim que o seu olhar entra em colisão com o meu, vejo todo o seu

ódio e indignação.
— Eu sabia — rosna, abaixando a Canon. — Faz algum tempo que
desconfiava de você, irmã, mas não com o Hunter. Não com o meu melhor

amigo — cospe as palavras, decepcionado.


Troco um olhar rápido com a Amy, ela está tão chocada quanto eu.
— Jake, calma... essas fotos são antigas — dou um passo em sua
direção.

— Antigas o caralho, vocês tiraram aqui na Atenas, algumas delas


já tem meses — arremessa o aparelho na cama. — Halle, tanto que pedi
para você não se aproximar dele, caralho! — grita, enfurecido. — Por que
logo ele?!

— Porque eu o amo! — berro no mesmo tom, encosto a mão no


peito. — Sempre o amei e você sabe disso!
Jake ri, incrédulo, tombando o rosto para baixo por um instante.
Ele se detém bem na minha frente no instante em que me olha nos olhos

com raiva e ao mesmo tempo amedrontado.


— Irmã... me escuta... vocês não podem ficar juntos — tenta ser
calmo, apesar da sua ira.
— Você não tem ideia do que está falando...

— Você que não faz ideia do tamanho dessa merda...

— Eu o amo, Jake! — grito, estressada.


— NÃO! — ele soca o ar, irredutível.
— Jake, não grita com a minha amiga! — Amy o empurra para

longe, interpondo-se entre nós dois, me defendendo.


— Você sabia disso, Amy? — mais uma decepção, é como se isso
o ferisse.
— Sabia, mas não podia contar — ela confessa.

Jake assente, caminhando de um lado para o outro, transtornado.


— Aquele filho da puta vai ter que me explicar isso! — ele nos
ultrapassa feito um trem desgovernado.
— O que você vai fazer? — corro atrás dele, Amy também.

— Jake, por favor! — a minha amiga tenta puxá-lo, mas Jake


também corre e entra no seu carro, disparando em alta velocidade.
— O Hunter está na arena, preciso chegar lá antes dele! — corro
como nunca corri na vida, notando que o tempo está se fechando, vem aí
um temporal.

— Halle, espera! — Amy me segue, todavia, não olho para trás.

Algo me diz que se não chegarmos a tempo, acontecerá uma


tragédia.
 
HALLE DUNCAN

 
Paro no meio do caminho, coloco as mãos sobre os joelhos e tento

tomar um pouco de fôlego. Amy finalmente consegue me alcançar, ela está


tão exausta quanto eu. Nós erguemos o rosto e avistamos o estádio de

futebol americano, a uns vinte metros.

— Deus, acho que vou morrer — ofegante, Amy mal consegue

falar.

—  Jake! — Aponto para o veículo estacionando a frente da


entrada principal.

— Merda, vamos! — Amy me puxa, nós voltamos a correr,

todavia, em direção a uma entrada lateral.


O tempo parece não passar até conseguirmos adentrar no campo.

Ao contrário do que imaginei, o lugar está praticamente vazio, exceto pela

presença do Hunter e mais uns três caras. Eles estão em uma roda no centro

da arena, conversando, mas cadê o time? Não era treino?

Jake se aproxima de uma direção oposta à minha, marchando


furioso e de punhos cerrados até o seu amigo, assim que um trovão corta o

céu.

— Jake, não! — grito, esticando o braço, chamando a atenção do

Hunter que se vira a tempo de receber um soco que o leva ao chão.

A mochila dele é jogada na grama após o impacto, e o conteúdo


que estava dentro escorrega até os meus pés em forma de saquinhos

transparentes cheios de um pó branco, tem alguns malotes também, de uma

cor amarronzada. A visão de tudo isso faz eu parar de correr.

De repente, a briga dos dois já não parece tão importante.

Paralisada, junto as peças na minha cabeça e chego a uma única conclusão:

cocaína, maconha.

Jimmy falou a verdade.


Não tem merda de treino, Hunter veio vender droga.

— Halle... Halle, ele vai matar o Hunter! — a voz de Amy ecoa no

meu cérebro até me tirar da bolha na qual entrei, despertando-me de voltar à

realidade.
Jake está quebrando a cara do Scott, mas, para a surpresa de todos,

ele não reage, apesar de ser maior e mais forte.

— Jake, larga ele! Larga! — Amy me ajuda a puxar o meu irmão

pela jaqueta, mas não temos força, sequer conseguimos movê-lo do lugar.

Ele segura Hunter pelo colarinho e soca o seu rosto, desenfreado.

— Vocês não fazem nada?! — ela berra com os três caras que

parecem estar em outro planeta, mas enfim tomam uma atitude e nos
ajudam a separá-los.

Dois deles se unem a nós e, juntos, arrastamos Jake para longe do

Hunter que continua no chão, sangrando bastante.

— Por que você fez isso, Scott?! — Jake ruge, transtornado e

magoado. — Por que não ficou longe da minha irmã como eu falei?! — Ele

tenta se soltar dos caras, mas não consegue.

Corro até o Hunter no instante em que o terceiro rapaz o ajuda a

ficar de pé.

— Porque eu não consigo — ele responde o meu irmão, o olhando


com dificuldade, a face rasgada. — Confesso que tentei, mas não consigo

ficar longe dela — fala de uma maneira tão sincera que me desarma, os

meus olhos ardem, quero apenas que esse pesadelo acabe.

— Você não tem ideia... — Jake tenta dizer, mas o interrompo.


— CHEGA! — fico entre os dois, agora quem está irada sou eu. —

É A MINHA. VIDA! — Bato no peito, após gritar pausadamente. Caminho

até o Jake. — Você é o meu irmão, mas não é o meu dono! — Aponto o
dedo na sua cara, revoltada. — Quem manda em mim sou eu e apenas eu

decido com quem vou ficar, você não tem nada a ver com isso! A

responsabilidade é minha e não importa o que ninguém aqui vai achar!

— Halle... — Jake agora aparenta se compadecer, abaixa o tom.

— São os meus sentimentos! — as lágrimas mancham o meu rosto.

— Tem coisas que você e ele não sabem...

— Foda-se! Eu respeito as suas escolhas, por que não respeita as

minhas?! — fico indignada, quer dizer que ele pode namorar a minha
amiga, mas não permite o contrário?

Machista!

Jake suspira, engolindo o seu ódio ao se desvencilhar dos caras.

Ele troca um olhar com o Hunter, analisa a droga espalhada na grama e, por

fim, volta a me encarar. Penso que vai dizer alguma coisa sobre isso, mas se

cala. Com certeza já sabia. Todos sabiam enquanto preferi me fingir de

cega.

— Se o Hunter for um erro... — aponto para ele, sem desgrudar os

olhos do meu irmão —, então me deixe errar... ou acertar. No fim das contas

quem vai decidir isso sou eu — rosno, trêmula de raiva.


Jake assente, inconformado, e nos dá as costas, caminhando para

longe.

— Amiga, eu vou com ele. A gente se fala — Amy me abraça

antes de segui-lo. Os três rapazes também se afastam, então me viro para

encarar o Hunter assim que o céu troveja de novo e começa a chover.

Permanecemos nesse silêncio terrível por um longo tempo à

medida que somos molhados pelo temporal que fica ainda mais intenso, até

que Hunter pega a sua mochila e recolhe os pacotes, jogando tudo para

dentro, fechando o zíper no final, antes de colocar a alça no ombro.

— Não vai falar nada? — detenho-me ao seu lado, aguardando

uma justificativa.

— É isso mesmo que você viu — ele começa a caminhar,

mantendo a cabeça erguida.

— Aonde vai? — apresso os passos e o empurro, furiosa. — Por

quê?! — grito, ganhando a sua atenção. — Você é rico, milionário, não

precisa disso! — Hunter continua calado, acabando comigo. — É para

chamar a atenção do seu pai? Para irritá-lo? Jesus, como você é mimado...

— CALA A BOCA! — o seu berro me assusta, engulo em seco

quando o seu rosto severo se aproxima do meu. — Não sabe de nada... —

rosna.
— Então me fala! — seguro-o pelo suéter. Puxo a sua mochila e

jogo de volta no gramado. — Larga isso e me fala! — exijo, chorando.

Ele caminha rumo à maldita mochila, me decepcionando outra vez.

— Hunter, se você pegar isso... acabará tudo entre a gente — o

ameaço, sem ter total certeza do que falei. 

Ele para de caminhar por alguns segundos, está de costas para

mim. Torço para que volte, mas não o faz. Pega a mochila e segue na

direção oposta, sem olhar para trás.

É o fim.
 

A caminhada até o meu dormitório suga o resto de energia que

havia em meu corpo. Retiro a roupa molhada e choro debaixo da ducha

quente. Sento-me no piso do banheiro, em posição fetal, lembrando de

todos os momentos que vivi com Hunter Scott e do que ainda tínhamos para

viver.

Ficou bem claro naquela arena que ele esconde segredos que

escolheu não me contar. E apesar de toda a minha raiva e decepção, não me

imagino ficando um dia sem ele.


No entanto, foi ao seu lado que aprendi a parar de aceitar coisas

que não concordo ou que não acho certo. Aprendi a seguir a minha intuição

e convicções.

Cansei de suportar calada o que acho errado e o que ele faz eu não

vou aceitar.

Nunca.

Mas e se esse “nunca” se transformar em um “para sempre”?

Uso os dedos para pentear os cachos molhados e me encolher

dentro da minha própria tristeza. Começo a delirar com a possibilidade


desse fim ser real e quase adoeço até o final do período letivo.
De repente, a universidade parece vazia demais, as semanas

passam rápido sem a presença do Hunter e o distanciamento que impus


contra o meu irmão. Ele evitou ver a Amy, então isso também o afastou de

tentar falar comigo quando eu estava no dormitório. Fiquei sabendo que


saiu da Esparta, mas não consigo me importar, estou muito machucada por

dentro e com raiva de tudo.


Assim que entramos nas férias de verão, fico sem a mínima

vontade de voltar para casa, aproveito a “fase boa” dos meus pais para
inventar desculpas e permanecer no campus.

Amy, por outro lado, decide ir visitar a sua família, vê-la pronta
para partir dói o meu coração.
— Tem certeza que ficará aqui? Sozinha? — ela pergunta, logo
após me abraçar, estamos no gramado, ao lado de um táxi que a espera para

levá-la.
— Sim, não quero ir para a casa dos meus pais — afirmo,

tristonha, segurando as suas mãos.


— Mas não tem quase ninguém no campus — Amy insiste,

massageando os meus dedos. — Além disso, estamos de férias, temos que


tentar nos divertir, apesar... de tudo o que aconteceu — sua voz perde a
força, o seu olhar abalado encontra o meu para denunciar que vai morrer de

saudades do meu irmão.

Ela está completamente apaixonada pelo Jake.


— Jake está lá com os meus pais, pelo visto preferiu ficar com eles

do que aqui — comento, sabendo que está pensando nele.


— Tudo para ficar o mais distante possível de mim — tomba o

rosto para baixo, depois respira e se recompõe. — Azar o dele, chegando na


minha cidade vou dar para o primeiro que aparecer, só de raiva — promete,

amarga, desfazendo o nosso toque para mexer no seu longo e liso cabelo
escuro.
Amy é vingativa.

Se está prometendo, é verdade.


— E você? — ergue o queixo em minha direção. — Vai continuar
esperando pelo Hunter?

— Não estou esperando por ele — minto, abaixando o olhar.


— Está sim que eu sei. Ele já deu algum sinal de vida?

— Não, nunca mais o vi desde a briga. Parece que desistiu mesmo

da gente.
O motorista do táxi buzina, cansado de esperar.
— Você vai ficar bem? — Amy me abraça uma última vez.

— Me inscrevi nos cursinhos de verão, manterei a cabeça cheia —


afirmo, sugando o seu perfume antes dela acenar, entrar no carro e partir.

Fico parada no mesmo lugar por cerca de um minuto, sentindo as


minhas costas queimarem como se estivesse sendo observada, como vem

acontecendo quase todos os dias.


É uma sensação estranha porque quando olho ao redor, não vejo

ninguém, e assim que começo a caminhar, vem o sentimento de estar sendo


perseguida, algo que me arrepia até que entro na igreja cristã do campus.

Me reaproximei de Deus nos últimos dias.


É incrível a tendência que temos de procurar ajuda espiritual

apenas quando estamos passando por alguma aflição.


O templo está vazio, um hino da harpa cristã toca pelo ambiente,

como se tivesse sido colocado ali para receber as almas aflitas e carentes de
Jesus Cristo.

Ajoelho-me aos pés de um dos bancos, cruzo as mãos, fecho os


olhos e começo a orar:

— Senhor, não sei mais se sou merecedora da sua misericórdia —


sussurro, desabafando. — Desde que entrei na Atenas, cometi inúmeros

pecados. Bebi... dancei... entreguei o meu corpo e a minha alma à um


homem sem cumprir as Leis da igreja. Fiz tudo o que me foi ensinado como
errado, tudo aquilo que eu jamais deveria pensar em fazer — uma lágrima

escorrega pela lateral da minha face, aperto tanto os dedos uns nos outros
que os sinto doer. — E agora vim aqui te pedir perdão, mesmo sabendo que

o meu coração ainda pertence a ele. — Respiro fundo, tomando coragem.


— Por favor, Deus... se eu estiver predestinada ao Hunter, então traga-o de

volta para mim, por favor, por favor — imploro, engolindo a vontade de
soluçar. Faço esse pedido como se fosse a minha última oportunidade na

vida. — Mas se... do contrário, não for assim, então peço que arranque esse
amor de dentro do meu peito. Por favor, Jesus... está doendo demais ficar

sem ele, eu não aguento mais sofrer.

Os soluços finalmente explodem por minha garganta, desisto de

controlá-los.
Mentalizo a minha oração e a repito dentro da minha cabeça várias

vezes, com a esperança de que cada uma das minhas palavras suba até o céu
e alcance o Pai Celestial.

Assim que recupero as forças para me levantar e enxugar o rosto,


saio lentamente da igreja, deparando-me com o Hunter me esperando ao

lado de fora, fumando, encostado no carro.


Ele me lança o seu olhar perigoso, os meus olhos ainda devem

estar vermelhos do pranto e me amaldiçoo por isso.

Miro o céu por um instante, será que isso é um sinal?

Uma resposta de Deus?


Engulo em seco, morro de vontade de ir até ele, mas viro para o

lado, buscando outro caminho. Hunter se livra do cigarro e marcha em


minha direção. Apresso os passos, mas ele consegue me alcançar, puxando-

me pelo braço.
— O que está fazen...? — antes que eu possa completar, sou

acolhida em seus braços, coberta por seu corpo imenso, todo o seu calor. —
Hunter, não... — choramingo, sem forças para empurrá-lo.

Na verdade, não quero revidar, estava sentindo falta do seu contato.


— Que saudade... — sussurra em meu ouvido, me desarmando por

completo.

Inevitavelmente, o correspondo, o abraçando de volta, absorvendo

o seu cheiro.
Hunter segura o meu rosto entre as mãos e me beija de um jeito tão
carinhoso que me surpreende, algo que nunca aconteceu. Meus lábios

derretem nos seus, meu corpo esquenta com rapidez e apenas um por cento
da saudade é destruída.
É um sentimento poderoso, vasto, difícil de conter.

A boca dele me faz viajar pelo universo, e quando enfim se afasta,


aterrisso de novo no chão, carente, precisando de muito mais.

— Venha comigo — ele tenta me puxar pela mão, mas não me

movo.
— Você não pode chegar assim de repente, depois de ter sumido

por várias semanas e querer que com um beijo tudo se resolva — contesto,
uso a mão livre para limpar as lágrimas. — Não sou seu brinquedo, Hunter!

— desvencilho-me do seu toque e cruzo os braços.


Um meio-sorriso de encanto nasce em seus lábios, Hunter segura o
meu rosto de novo e enxuga a pele molhada das minhas bochechas com os

seus polegares.
— Até irritada você é fofa, sabia? — deposita outro beijo em meus

lábios, aquecendo-me.
— Para... — coloco a mão no seu peito, mas não tenho forças para

afastá-lo. O seu sabor é viciante, a sua energia me prende.


Hunter coloca as suas mãos na minha cintura, grudando os nossos
corpos ao mesmo tempo em que une a sua testa a minha, nossos olhos

fechados.
— Você não me escolheu. Não confiou em mim — murmuro,

puxando o ar pelo nariz, tentando me recompor.


— Isso não é verdade, apenas precisava de tempo — diz, no

mesmo tom. — A vida inteira sofri decepções das pessoas que mais
gostava, desaprendi a confiar, mas eu confio em você, Mel. Confio tanto

que vim te contar tudo, mas antes preciso de mostrar uma coisa.

Ergo as pálpebras, encontrando as suas pupilas escuras.

— O quê? — a curiosidade me abate.


— Venha comigo — ele recua e me oferece a mão.

— Hunter...
— Eu confio em você e hoje vou te provar — insiste, chamando-
me com os dedos.

Aceito o seu convite, sou conduzida até o seu veículo.

O sol se põe assim que saímos da Atenas, uma hora depois estamos
novamente no Parque das Aventuras, lugar em que visitamos no fim do
outono.

Dessa vez, Hunter não estaciona no centro, segue direto para um


dos chalés, o mais afastado de todos, e mais bonito também.
— O que viemos fazer aqui? — imagino que esteja planejando
uma noite de amor, mas isso não vai acontecer até que me conte o que está

escondendo.
Fecho a porta do carro e o espero vir a mim e me conduzir até a
porta, que abre com a chave que retira do bolso da sua jaqueta.
O lugar é lindo, espaçoso, sofisticado e todo em madeira, tem até
um segundo andar.

— Espere aqui — Hunter me deixa na sala de estar e segue até


uma das portas, batendo antes de abrir, como se houvesse alguém ali dentro.
Como não tem resposta, resolve entrar, retornando um minuto

depois, me chamando com a mão. Vou em sua direção e adentro o cômodo.


Quase caio para trás ao avistar a mulher loira dormindo sobre a
cama.
É a mãe dele.
Blanca Scott.

 
 

HALLE DUNCAN
 

Ainda em choque, passeio o olhar entre Hunter e sua mãe sem


entender nada. Os olhos dele brilham durante o tempo em que a observa,

como o filho devoto e apaixonado que sempre foi.

— Eu a encontrei — ele sussurra em meu ouvido, apertando a


minha mão, uma felicidade imensurável.

— Como? — sussurro de volta, então ele me puxa para fora do


quarto, fecha a porta com cuidado, para não acordá-la.

Ainda segurando a minha mão, Hunter me conduz para fora do

chalé, nós atravessamos as portas de vidro até a área de lazer, cuja

privacidade é garantida pelo lindo jardim e uma grande área verde que
cerca o local. Nos encostamos no guarda-corpo da mini varanda com vista

para o deck com hidromassagem.

— Nunca deixei de procurá-la, mas na verdade, foi ela quem me

encontrou, de certa forma — conta, massageando os meus dedos. — Após o

nosso desentendimento na arena, não consegui ficar na fraternidade, saí de


carro na tempestade e quase a atropelei. Minha mãe descobriu onde eu

estudava e fazia alguns dias que estava tentando me ver. Assim que saí do

automóvel e a reconheci, quase não acreditei, então resolvi trazê-la para cá,

seria muito arriscado deixá-la na cidade, tão perto do meu pai.

— Nossa — é inevitável não imaginar a cena, cruzo os nossos


dedos, me compadecendo com a sua história.

Por várias vezes conversamos sobre o seu desejo de reencontrar a

Blanca. Ele sempre evitava se mostrar frágil perto de mim, mas eu notava a

sua aflição, às vezes desespero por não saber onde ela estava.

Lembro que o flagrei tendo pesadelos com coisas ruins que

poderiam ter acontecido com ela. Sei que encontrá-la é o seu maior sonho

realizado.
— A polícia já não a procurava mais, acho que o meu pai estava

colaborando para isso, ele não se importa com ela e, se tiver a chance, irá

destruí-la.

Desvio o olhar para o jardim, refletindo sobre o assunto.


— Não entendo por que todo esse ódio, afinal, ele foi o adúltero da

relação. Por que tamanha maldade com essa pobre mulher? — volto a

encarar Hunter de novo, o seu rosto está perfeito, não ficou nenhuma

cicatriz dos ferimentos que Jake causou.

— Eu também não sei, deve ser perversidade mesmo. Ele é um

monstro que já tem tudo, mas não se sente satisfeito, parece que lhe faz bem
fazer mal a ela. É por isso que preciso mantê-la a salvo e... destruí-lo — a

sua voz é corrompida por um amargor que me arrepia.

Engulo em seco antes de tocar o seu rosto e obrigá-lo a mergulhar

em meus olhos.

— O que isso significa, Hunter? — O meu estômago congela, sou

atingida por um medo fora do normal, uma sensação medonha. Toda vez

que ele faz uma ameaça, acredito que seja verdadeira e não apenas da boca

pra fora. 

— Significa que abrirei um processo contra ele, para ter total poder

sobre a minha parte da herança. Vou tocar no dinheiro que sempre recusei,
mas por uma boa razão: a minha mãe. Somente assim conseguirei garantir a

sua proteção por longo prazo e mantê-la afastada de qualquer clínica ou

prisão — ele segura a minha cintura, a expressão firme e dolorosa. — Ela

não é louca, Mel, apenas foi uma vítima do destino.


— Eu sei, acredito em você. Vai dar tudo certo. — Respiro

aliviada, resvalo a mão por seu rosto, lentamente, até tocar o seu peito. —

Isso significa que vai parar de fazer... aquilo? — a pergunta sai sem jeito,
temerosa.

Desvio o olhar, sem coragem de enfrentá-lo agora, com medo da

sua resposta.

Hunter segura o meu queixo, erguendo o meu rosto.

— Sim — garante, lambe os lábios. — Não quero te perder —

confessa, fazendo-me sorrir apaixonada.

As borboletas invadem o meu estômago, o bater das suas asas é tão

forte que me fazem flutuar em pensamento, a sensação de tocar o céu.


Nós nos beijamos de uma maneira doce e afável, navegando juntos

no mesmo sonho gostoso, carregado de sentimentos.

Hunter segura o meu rosto como se eu fosse de cristal, seus dedos

escorregam para dentro do meu cabelo, acariciam a minha nuca e arrepiam

a minha pele. A sua língua se enrosca na minha e, quando menos espero, o

nosso beijo acontece como se estivéssemos fazendo sexo, ele tem essa

facilidade de me guiar do romance ao intenso.

Assim, quando não aguento mais e me falta o fôlego, afasto o rosto

apenas alguns centímetros para poder sugar uma lufada de ar para dentro

dos pulmões.
Mordo o seu lábio inferior, matando a saudade da sua carne.

Hunter roça a ponta do seu nariz na minha, de olhos fechados.

— Halle... — as suas pálpebras se abrem, as suas pupilas me

encontram. — Eu amo cada pedacinho seu — se declara, apenas para me

derreter de vez.

Paralisada, não consigo acreditar no que ouvi, seu hálito quente se

mistura à minha respiração ofegante.

— Também amo você — a frase é soprada através dos meus lábios.

— Sempre amei. — Ele sorri lindamente após me ouvir, de um jeito que

nunca testemunhei. — Sempre foi você, Hunter Scott.

Descubro que se há uma coisa bonita no mundo, é o sorriso do

Hunter. Não é porque o amo e nem por estar apaixonada, o sorriso dele

deveria ser retratado em um quadro, chega a ser injusto que apenas eu tenha

o direito de ver, apesar de que jamais aceitaria compartilhá-lo.

Sua boca avança sobre a minha mais uma vez, os seus braços me

agarram e me pressionam contra a parede mais próxima. Suas mãos

escorregam para a minha bunda e me apertam até que não me resta outra

opção a não ser gemer.

Hunter ergue a minha coxa, momento em que recordo que não

estamos sozinhos.
— A sua mãe — murmuro contra os seus lábios, que estão mais

rosados do que o normal, e brilhando.

— Ela tomou uma medicação para dormir, vai acordar só amanhã

— explica, me tranquilizando, então olha para trás. — Tive uma ideia —

estica um meio-sorriso devasso, o seu semblante carregado de segundas

intenções.

Hunter me larga e tranca as portas de vidro, em seguida fecha as

cortinas sobre elas, para que não haja possibilidade alguma de sermos

vistos.

Ele me guia até o deck e prepara a jacuzzi que leva apenas alguns

minutos para encher. Nós tiramos a roupa, Hunter entra primeiro e oferece a

mão para me ajudar a entrar, grudando os nossos corpos aquecidos assim

que me agarra pela cintura e toma a minha boca outra vez, devorando-me

com um beijo fervente enquanto esfrega a sua ereção em mim e afunda os

dedos nas minhas nádegas.

— Vem cá — Hunter faz menção em se abaixar para se sentar

dentro da água cujos jatos estão nos chamando, no entanto, eu não permito.

— Espere — peço.

Beijo o seu pescoço, respiro fundo e escorrego a ponta dos dedos

no seu peitoral largo, descendo por seu abdômen trincado até ter coragem

suficiente para segurar o seu pau.


— Hmm... — ele morde o lábio, olhando-me tentador, mas sem

entender aonde quero chegar.

— Está tão quente — confesso, excitada e nervosa por ter tido essa

atitude. Escorrego até a base e volto para o mesmo lugar, sentindo a sua

espessura e virilidade.

— Ah, Mel... — geme, fechando os olhos, afetado.

Meu coração bate forte demais, sei o que quero fazer e decido que

tem que ser agora. Assim, deposito um beijo molhado no seu peitoral, sobre

a tatuagem, e vou beijando cada uma delas até abaixo do seu umbigo,
abaixando-me e ficando com o rosto diante do seu pau, cuja fenda na ponta
está babada.

Sem entender, molho os lábios.


De repente, a minha garganta seca, um desejo absurdo me

corroendo, momento em que tenho a certeza de que quero chupá-lo.


Boquiaberto, Hunter me olha do alto como se não pudesse

acreditar. Dá para notar a sua ansiedade, o seu quase desespero para assistir
ao que vai acontecer. Como não sou experiente, decido começar devagar,

colocando a língua para fora e lambendo a cabeça larga, sentindo o seu


gosto que, para a minha surpresa, é delicioso. 

— Oh... — Hunter arfa, cerrando os punhos. — Puta que pariu —


agarra um punhado do meu cabelo, com cuidado, me ajudando a continuar
assim que o escorrego entre os meus lábios, algo que o enlouquece.
Vê-lo perdendo a compostura espalha uma febre por todo o meu

corpo, principalmente sobre a minha intimidade, ainda que esteja coberta


pela água.

A princípio, ter o seu pau dentro da minha boca é desconfortável, e


novo. Hunter é grande e grosso, mal consigo contê-lo, meus dentes roçam

na sua carne, sobre as veias saltadas, todavia, não consigo tirar os olhos do
rosto dele que parece estar sofrendo de prazer.

Eu estou no poder.
Quanto mais o chupo, mais poder eu tenho e mais afetada fico. Os

meus seios estão pesados, os mamilos sensíveis.


Hunter me permite degustá-lo e descobrir essa nova forma de

libido que me atiça de todas as formas, me corrompe profundamente.


Aos poucos, ele me ajuda no processo e assume o controle, indo e

vindo com o quadril, fodendo a minha boca que é pequena demais para
recebê-lo.

Os seus dedos torcem o meu cabelo, controlando o meu rosto, ele


geme mais algumas vezes, perdido na luxúria. O seu pomo de Adão sobe e
desce assim que ergue a cabeça como se precisasse de socorro. E quando

não consegue mais suportar, me fita como se fosse explodir:


— Eu vou gozar na sua língua, amor — anuncia, nós dois
queimando.

Coloco a língua para fora quando ele começa a se masturbar,


másculo, poderoso, um verdadeiro símbolo sexual. Testemunho toda a sua

glória assim que despeja os jatos dentro da minha boca, se arrepiando


inteiro e mordendo os lábios para não gemer mais alto.

A minha boceta se contrai, necessitada.

Quando ele acaba e me libera, cuspo tudo do lado de fora da

banheira e uso a água para limpar a boca.


Hunter se senta, ofegante e fraco, penso que ele vai demorar a se

recuperar e me deixar incendiando, mas, pelo contrário, assim que os


nossos olhares se encontram, sou puxada para o seu colo e virada de costas,

me acomodando em seus braços. Deito a cabeço sobre o seu ombro assim


que as suas mãos apalpam os meus seios expostos e me fazem grunhir.

— Abra as pernas, princesa — pede, sussurrando dentro do meu


ouvido.

Sem pensar duas vezes, o obedeço, apoiando as coxas sobre as


dele, fico toda aberta permitindo que os jatos massageiem a minha boceta

assim como os seus dedos, que habilmente tomam espaço entre as minhas
dobras, acabando comigo.
— Você é minha, Halle — Hunter gira sobre o meu clitóris. —

Você me pertence — mordisca o lóbulo da minha orelha, obrigando-me a


mexer o quadril e esfregar a bunda sobre o seu pau que volta a enrijecer.

— Faço tudo o que você quiser — confesso, a respiração


entrecortada, os olhos fechados, o tesão inflamando.

— Eu sei — procuro a sua boca e ele lambe os meus lábios, sem


parar de me masturbar preguiçosamente. — Diga que é minha — ordena.

— Eu sou toda sua, Scott. Meu coração é seu — ele usa a mão
livre para agarrar a minha garganta, ao mesmo tempo em que afunda dois

dedos na minha boceta, bem devagar.


— E essa boceta?

— Também — estou completamente rendida, minha pele inteira


formigando.

— Também o quê? — ele estoca algumas vezes, me provocando.


— Ooh... a minha boceta também é sua. Meu corpo inteiro é seu —

afirmo, quase em sufoco, arranhando os seus braços.


— Pegue o meu pau e coloque dentro de você, o mais fundo que
puder — instrui, voltando a me masturbar no clitóris.

Abro mais as pernas, seguro a sua ereção e posiciono a glande na

minha entrada, empurrando o quadril devagar até engoli-lo inteiro com a


minha boceta, finalmente preenchendo o vazio em meu ventre. Sou frágil

demais, assim que o sinto bem fundo, gozo logo em seguida.


Vulnerável.

Mio bem alto, jogo as mãos para trás e escorrego os dedos no seu
cabelo. Hunter se posiciona melhor para tomar apoio e começa a me foder,

segurando a minha cintura, movendo o meu corpo sobre o seu, as minhas


costas arrastando no seu torso.

Eu o ajudo, subindo e descendo, rebolando a bunda quando posso,


gemendo dentro de sua boca quando nos beijamos.

Em um momento, ele me faz apoiar os pés no fundo da jacuzzi


para poder quicar sobre o seu pau, subo o máximo que posso e desço com

força, esmagando o traseiro na sua virilha várias vezes, expelindo água para
fora da banheira no processo.

Gosto da sensação de estar por cima, recebo tapas poderosos nas


nádegas, mas isso não me faz parar. Nós entramos em sintonia, fazemos um

sexo selvagem e explodimos juntos em um novo orgasmo.


Arrebatador. Inesquecível.

No fim, deito sobre o seu corpo de novo e sinto um cansaço


mágico, algo infinito.

Nós ofegamos e nos beijamos mais algumas vezes.


Quando nos recuperamos um pouco, Hunter me cobre com uma
toalha, me pega no colo e me leva para o seu quarto, no segundo andar,

onde transamos outra vez.


 

Acordo com a sensação de que dormi o melhor sono da vida. Me


espreguiço e sorrio para o vento até sentir falta do meu homem.

O procuro na cama, mas ao invés de encontrá-lo, avisto uma linda


bandeja com frutas, suco, leite, bolo, pãezinhos, chocolate e um cartão com

a seguinte frase:

 
Nada disso é mais doce
que você, Mel.

 
Sorrio de orelha a orelha, rolo para o lado, olhando para o teto ao

mesmo tempo em que pressiono o cartão contra o peito, com a certeza de


que estou amando e vivendo de verdade.

Fecho os olhos por um instante e agradeço a Deus por ter Hunter


Scott em minha vida. Ele é tudo o que sempre quis, tudo o que sempre

acreditei.
Saboreio o meu café da manhã e depois tomo um belo banho.
Visto a minha roupa, faço um rabo de cavalo no cabelo e desço

para o térreo.
Antes de abandonar os últimos degraus da escada, flagro o Hunter

em um abraço com a sua mãe. Ela está emocionada, uma lágrima escorre
por seu rosto.

— Eu te amo, filho. Obrigada por tudo — escuto-a dizer a ele,


pouco antes de notar a minha presença e enxugar a face.

— Ah, olha quem acordou — Hunter sorri ao vir até mim e segurar
a minha mão. — Mamãe, essa é a garota de quem lhe falei, Halle, a nossa

antiga vizinha, lembra? — Hunter nos aproxima.


— Senhora Scott, é um prazer revê-la — sorrio, a

cumprimentando. Ela aperta a minha mão.


— Halle? — indaga, tentando lembrar.
Blanca continua uma mulher linda, não envelheceu quase nada.

— Halle Duncan — digo, testemunhando o seu sorriso morrer. —


Sou filha de Nicholas e Caroline Duncan.

— Eram os nossos vizinhos antes de tudo acontecer. — Hunter


passa o braço por meus ombros, percebendo que a sua mãe está perdendo o

brilho, olhando para baixo como se sua mente viajasse para outro lugar. —
O que foi? — o seu tom muda, ele estranha o seu comportamento assim
como eu.

Por um instante, fico constrangida, sem entender o que está


acontecendo.
— Nada, apenas estava tentando me lembrar — ela afirma,
sorrindo outra vez. — Halle como você cresceu. Era apenas uma menina —
segura as minhas mãos, me aliviando.

— Já a senhora continua linda — a elogio, nós trocamos um breve


abraço.
— São seus olhos, linda é você... perfeita — toca um dos meus

cachos que não consegui prender, que desce pela lateral do meu rosto. —
Então ela é a garota da faculdade? — Fita o seu filho.
— Sim, nos reencontramos por acaso — Hunter desce o braço para
a minha cintura, grudando o meu corpo ao seu. — Mãe, eu e Halle estamos
namorando — olho para ele, positivamente surpresa.

Então somos namorados?


É, pela quantidade de meses que estamos juntos, sim, já somos
namorados há muito tempo, todavia, ele nunca havia assumido isso.
— Oh, Deus, são tantas novidades de uma vez — nós sorrimos.

Creio que deve ser muita coisa para ela assimilar mesmo.
Ouvimos o telefone fixo tocar, Hunter o atende, fala alguma coisa e
depois volta.

— Tenho que ir à recepção acertar algumas coisas. Volto em um


instante — ele deposita um beijo sobre os meus lábios e outro na testa da
sua mãe.
Então vai embora.

Basta ele sair para o sorriso de Blanca se desfazer outra vez e a sua
expressão enrijecer. O seu olhar é tomado por um brilho sombrio e amargo,
carregado de ódio.
De repente, ela me acerta com uma bofetada.

Assim, sem mais nem menos.


— O que é isso? — Em choque, levo a mão à bochecha dolorida e
que presumo ter ficado vermelha. A minha pele está queimando, é
inacreditável. — A senhora ficou maluca?

— Já não basta a mãe ter me tirado tudo, agora vem a filha? —


rosna, mostrando os dentes.
— Do que está falando?

Blanca me agarra pelos braços e me joga com força contra a parede

mais próxima.
— Diga à vadia da sua mãe que eu não esqueci de nada! — Me
sacode, crava as unhas na minha pele, violenta. — Que voltei para me
vingar! — Aproxima o rosto do meu, enlouquecida.

O seu comportamento meigo e angelical não existe mais, deu lugar


a uma pessoa agressiva e enlouquecida.
— Me larga! — Tento empurrá-la, porém é mais forte. Agarra o
meu pescoço.

— E você é uma escrota, uma ratinha que não vai ficar com o meu
filho! — Aperta ainda mais forte, me roubando o ar. — Uma cadela igual a
Caroline! — alteia a voz, me sufocando.
Para me livrar dela, eu a empurro com toda a minha força,

assistindo Blanca se desequilibrar e cair sobre a mesinha de vidro da sala,


quebrando tudo.
Tusso várias vezes, desesperada.
— Eu esqueci de... — ouço a voz do Hunter, entrando por onde
havia saído. Assim que vê a cena, fica abismado. — O que está

acontecendo aqui?
— Filho... ela me empurrou! Ela tentou me matar! — Blanca
aponta para mim, partes do seu corpo sangrando devido ao impacto.
— O quê? Não, ela que me atacou! — justifico, assustada,

enquanto a infeliz começa a chorar e fazer um escândalo.

— Halle, o que você fez?! Ela é a minha mãe, porra! — furioso,


Hunter socorre a mulher que continua a se fazer de vítima.
— Juro que não fiz nada...

— SAIA DA QUI! — berra, não me dando chances de revidar,


encarando-me com ódio.
É incrível como o mundo pode desabar apenas dentro de alguns
instantes. Tudo parecia perfeito até aqui, mas agora acabou.

 
 
 
 

 
 

 
 

HALLE DUNCAN
 

Percebendo que Hunter não vai me ouvir e que as coisas saíram do

controle, caminho depressa para fora do chalé, seguindo desnorteada até os


portões de saída do Parque, ainda sem entender o surto que aconteceu.

Diante da estrada, passo as mãos nos cabelos, vou de um lado para


o outro, tentando encontrar alguma lógica nas acusações que Blanca fez

questão de cuspir na minha cara. Por que tanto ódio da minha mãe?
O que aconteceu entre as duas no passado?

As nossas famílias eram amigas, não dá para entender.

Confusa, chamo um carro pelo aplicativo e dou o endereço da

minha casa. Não vou conseguir ter paz enquanto não descobrir a razão de
eu ter sido atacada com tanta violência e rancor. Sim, foi um ataque. Blanca
descontou em mim toda a sua fúria que, pelo visto, está guardada desde a

época em que foi presa na porta da sua própria casa, o mesmo dia em que o

meu pai teve uma discussão horrível com a minha mãe.

Não foi coincidência...

Será que a minha família e a de Hunter tem uma ligação maior


além do fato de termos sido vizinhos?

A minha cabeça dói ao imaginar um milhão de possibilidades, cada

uma mais difícil que a outra. Os meus braços estão arranhados, sinto um

incômodo na garganta do aperto causado, mas o meu pé não para de bater,

denunciando a ansiedade se alastrando por minha pele.


Quando enfim o carro estaciona na frente da minha casa, pago o

motorista e saio depressa, entrando pela porta em um rompante.

— Mãe! Mãe! — procuro-a pela casa, vou até a cozinha, olho o

quintal. — Mãe, cadê você?! — retorno para a sala de estar.

— Filha? — ela desce pela escada, surpresa. — Ué, achei que

passaria as férias na Atenas? — ela sorri e me abraça, mas a afasto,

fazendo-a notar a minha apreensão. — O que houve? — toca o meu rosto.


— Cadê o Jake e o meu pai? — recuo, preocupada com o fato de

que um deles possa nos ouvir.

— Jake foi atrás da namorada em outra cidade e o seu pai está

tomando banho — ela me examina, franzindo a testa. — Que marcas são


essas no seu corpo? — faz menção em me tocar.

Jake foi atrás da Amy? Mamãe sabe sobre ela?

Isso não importa agora.

— Mãe, escuta — seguro as suas mãos logo após respirar fundo.

— Eu preciso saber o que aconteceu entre você e Blanca Scott — disparo,

tentando ser calma, mas não funciona.

Dona Caroline fica pálida e fria como o gelo.


— O que é isso? Do que está falando, menina? — abaixa o tom e

olha para trás, rumo ao seu quarto, me puxando para longe da escada. — De

onde tirou essa história?

— Mãe, eu preciso saber...

— Não! — ergue o indicador, nervosa. — Eu que preciso saber

quem te falou que houve alguma coisa entre mim e Blanca Scott? — rosna,

apreensiva, apertando o meu braço. — Fala, Halle, fala! — coloca pressão,

agoniada.

— Mãe, por favor, só me conta — me desvencilho do seu agarre, a


ultrapassando.

— Não, não, você não pode chegar aqui e me jogar uma pergunta

dessas sem explicação! — meneia o indicador em negativa, a curiosidade

lhe açoitando.
— O que aconteceu no passado? Por que... ela te odeia? —

gesticulo as mãos, sem entender.

— Meu Deus, isso não está acontecendo — coloca as mãos na


boca, trêmula. — Só pode ser um pesadelo — lamenta, olhando para o alto

como se pedisse socorro.

— Mãe, eu não vou sair daqui enquanto a senhora não me contar...

— Quem te falou esses absurdos, minha filha, quem? — se

aproxima, quase em desespero. — Me fala, Halle! — me recuso, não pensei

que ao vir indagá-la, essa pergunta poderia surgir. Prometi ao Hunter que

não iria contar.

— Esqueça — desisto, tentando sair, mas mamãe não permite,


segura o meu braço outra vez.

— Você vai me falar ou eu juro que nunca mais permito que

coloque os pés nessa casa! — afirma, convicta. Bestificada, perco as

palavras. — Filha, você não entende a gravidade do que disse...

— É por isso que vim aqui, preciso entender — uso as mãos para

pentear os cabelos, o meu cérebro se comprime de dor.

— Foi o seu irmão?

— O Jake sabe? — meu Deus, que segredo é esse?

— Halle! — alteia a voz, exigente.

Passo a mão no rosto, me sentindo sufocada e pressionada.


— Foi ela — confesso. — A própria Blanca me contou.

Boquiaberta, é como se um buraco abrisse abaixo dos seus pés.

Dona Caroline recebe a notícia como se fosse um tapa na cara.

— Você a encontrou? — sussurra, recuando, adoecendo aos

poucos. — Como?

Penso em mentir, mas nunca gostei de mentiras e estou cansada de

me esconder.

— Estou namorando o filho dela: Hunter Scott — disparo,

corajosa, com as mãos na cintura.

Mamãe sorri, incrédula, se desequilibrando ao cair sentada sobre o

estofado do sofá. Corro até ela e a seguro pelos braços.

— Mãe, você está bem? — fico preocupada e com ainda mais

medo. Esse buraco é mais profundo do que imaginei e está me corroendo

aos poucos. Vou enlouquecer se não entender.

— Você... e o Hunter... namorando? — sussurra, assimilando cada

informação como se fosse um drink de veneno dado aos goles, lhe matando

pouco a pouco. — Isso não pode acontecer, seu pai jamais vai aceitar.

— Por que não, mãe? Por quê? — sacudo-a pelos braços, meu

coração bate cada vez mais acelerado. Ela está me torturando em doses

homeopáticas.
— O que eu jamais irei aceitar? — ouvimos os passos de papai

pela escada, algo que aterroriza mamãe, que se levanta e fica ao meu lado,

de punhos cerrados.

— Nada, querido... não é nada — dona Caroline força um sorriso e

me lança um olhar desesperado, implorando para eu não falar.

— Halle — o senhor Nicholas me encara, notando o clima

estranho. — Tem algo para me dizer?

Escuto a respiração ofegante da minha mãe ao meu lado. Olho para

ela outra vez, sua face implorando para eu não continuar, no entanto, sei
que se me calar agora é capaz de nunca me dizer, algo não tão certo com o

meu pai, que sempre foi mais prático. Além disso, não vou conseguir

dormir se não souber desse segredo.

Todos sabem, menos eu.

— Papai o que aconteceu entre...

— Halle, cala a boca! — minha mãe grita, perdendo o controle.

Meu pai fica desconfiado.

— O que está acontecendo? — ele dá mais um passo em nossa

direção.

— Querido, por favor... — mamãe implora.


— Estou namorando com Hunter Scott, o filho dos nossos antigos

vizinhos. Encontrei a sua mãe hoje, Blanca, e ela me contou coisas que
ainda não consigo entender. Se vocês não me explicarem — miro os dois,

estremecendo por dentro — ela vai me dizer — minto, preciso botar pressão

também.

Meu pai sempre teve o costume de ficar vermelho quando fica com

raiva, mas agora a sua pele muda de tom para além disso, ele se enfurece ao

ponto de ter se tornado o próprio sangue.

— Você se encontrou com aquela mulher? Aquela alma

demoníaca? — se detém bem na minha frente, de punhos cerrados,


possesso. — Onde ela está? Me fale agora! Para onde foi aquela foragida?

— Não! — ergo a voz, farta de todo esse mistério. — Primeiro eu


preciso saber o que aconteceu! Por que ela ameaçou se vingar da minha

mãe? — olho para a mulher que já está chorando.


— Ela... ameaçou? — papai não consegue acreditar. Ele recua,

passa a mão no cabelo. — Deus... não estou ouvindo isso.


— Me contem, alguém precisa me dizer!

— Halle... esqueça esse assunto, filha, por favor — mamãe


choraminga, tentando me tocar, mas me afasto.

— Tudo bem, vou perguntar a ela — faço menção em ir até a


porta, mas papai me puxa de supetão.

— Eu te proíbo de se aproximar daquela víbora e também do filho


dela, entendeu?! — berra, fora de controle. — Eu te proíbo, Halle! —
aponta o dedo na minha cara.
— Não enquanto vocês não me contarem...

— CHEGA!  — mamãe nos afasta, os soluços do pranto


explodindo em sua garganta.

— Por que todos sabem desse segredo, menos eu? — bato no


peito, desesperada.

— Porque é uma vergonha para a nossa família — o Sr. Nicholas


cospe as palavras, fitando a sua esposa que também o encara, sem chão. —

Diga, Caroline. Diga à nossa filha o que você fez — ergue o queixo, os seus
olhos que sempre foram tão gélidos brilhando pela primeira vez.

— Querido, por favor, não...


— Fale a ela agora! Confesse o seu maldito pecado — sinto o seu

ódio e a sua dor.


Mamãe continua chorando, mas tenta se recompor. O tempo que

ela leva para me lançar o seu olhar destrutivo parece interminável. Um


sentimento perverso domina todo o meu corpo, não é apenas medo, vai

muito além. É como se eu sentisse que estou prestes a descobrir algo podre,
muito bárbaro.
— Naquela época... eu traí o seu pai — puxa ar pelo nariz, se

recusando a olhá-lo, continuando a manter os seus olhos marejados em


mim. — Eu e Blanca tivemos um caso — revela, acabando comigo.
O baque é tão forte que perco as forças nas pernas e cambaleio até
cair sentada na poltrona de meu pai, sem ar. A atmosfera fica densa ao

nosso redor, testemunho uma lágrima grossa e pesada manchando a face de


Nicholas, denunciando o quanto essa situação o feriu e veio lhe fazendo

sangrar durante todos esses anos. Mostra, além disso, a imensidão do amor
que tem pela minha mãe, pois ainda sente muita raiva de sua traição com

outra mulher.
Eu simplesmente não consigo acreditar. A minha mãe sempre foi

uma mulher perfeita, a esposa perfeita e o símbolo da moral.


Não que se relacionar com o mesmo sexo seja algo imperfeito ou

fora do normal nos dias de hoje, mas não combina com ela, não parece ser
algo que ela faria mesmo antes de ter se tornado uma mulher religiosa.

No fim, todos temos pecados para esconder.


— Agora me diga onde aquela assassina está? — Papai caminha

até mim, olhando-me do alto, impiedoso.


Não tenho mais dúvidas, foi esse segredo que o fez mudar e se

tornar uma pedra de gelo. De alguma forma eles se reconciliaram como


casal e decidiram encontrar conforto nos braços de Jesus, mas as feridas

ficaram no mesmo lugar, ardentes e ensanguentadas.


— Não posso falar... — murmuro, abalada, lembrando da promessa

que fiz ao Hunter.


— Halle — Nicholas rosna, cerrando os punhos outra vez.

Ele odeia Blanca Scott, mas ainda há perguntas sem respostas


dentro da minha cabeça.

— Não posso — nego com cabeça.

Papai me examina cuidadosamente, até descer o olhar para a minha

pulseira, matando a charada. Ele segura o meu punho com força e lê o nome
do lugar:

— Parque das Aventuras... — sibila, esperto demais.


— Pai, não — imploro, me entregando.

Nicholas me larga e dá as costas, tirando o celular do bolso.


— Pai, o que o senhor vai fazer?! — Sigo até ele, tento impedi-lo,

mas sou afastada.


— Ligar para a polícia, essa é a prova de que ela não é louca e sim

uma assassina fria e calculista — clica na tela e depois coloca o aparelho na


orelha. — Dessa vez não haverá dinheiro no mundo que a coloque em uma

clínica, vou garantir que Blanca Scott apodreça na prisão!

— Pai, não faça isso, por favor. O Hunter não vai me perdoar! —

Puxo-o pela camisa, as minhas palavras o enfurecem mais, a sua expressão


perversa me fuzilando.

— Alô? Eu quero fazer uma denúncia — ele segue em frente, meu


cérebro entra em parafuso.
— Filha, vem cá — mamãe me puxa e me abraça, permitindo que

o seu marido siga rumo à cozinha, dando todas as informações que a polícia
necessita.

Imóvel, imagino a merda que vai acontecer: não será apenas


Blanca que será presa por estar foragida, ela provavelmente voltará para a

clínica e Hunter irá para a cadeia por lhe esconder. 


Pensar nisso faz o meu psicológico fritar. Eu não me importo com

ela, mas não quero que ele seja preso por minha causa! Na verdade, não
quero que ele se prejudique de jeito nenhum.

— Preciso avisar o Hunter! — Saio dos braços da minha mãe e


corro para fora de casa, tirando o celular do bolso.

— Halle, não! — ouço o seu grito às minhas costas, mas a ignoro.


— Minha filha, volte!

Caminho depressa pela calçada, dando a sorte de avistar um táxi


que estaciona para que os meus vizinhos possam sair. Sento-me no banco

traseiro assim que fica vazio.


— Por favor, Parque das Aventuras! — peço, agoniada.

Coloco o cinto de segurança após o motorista assentir pelo espelho


retrovisor. Digito uma mensagem de alerta para o Hunter:
 
Saia do Parque, a polícia
está chegando.
 
 

HUNTER SCOTT
 

Assim que a Halle vai embora, sinto um peso no peito por ter

gritado com ela, mas me recuso a ir atrás. Levo a minha mãe para o seu
quarto e a deito de bruços sobre a cama. Ela continua chorando, as suas

costas feridas me enraivecem e preocupam ao mesmo tempo. Desde que a


encontrei, notei que Blanca não era mais a mesma pessoa do passado, se

transformou em uma mulher bastante sentimental e frágil, que precisa de


ajuda.

Ainda não consigo acreditar que a Halle foi capaz de empurrá-la

sobre a mesinha de centro, ela não teria motivos para isso, todavia, na hora

da raiva não consegui me conter e a expulsei.


— Filho, ela machucou a sua mãe... — Blanca choraminga sobre o

colchão, enquanto a ajudo a retirar a blusa para poder limpar os seus

ferimentos.

— Deve ter sido um acidente — deduzo, ainda bastante confuso

com essa situação inusitada. Jamais imaginei que isso pudesse acontecer.
— Não, Hunter — sua voz soa firme e enraivecida. — Será que

não me ouviu? Halle me empurrou de propósito, ela tinha a intenção de me

machucar. Está unida com o seu pai e com todos eles... contra mim! —

Aperta os lençóis entre os dedos, cheia de rancor.

— Eles quem? Do que a senhora está falando? — Jogo a blusa


ensanguentada em algum lugar e procuro a caixa de primeiros socorros.

— Os pais dela não gostam de mim, e consequentemente não

gostam de você, precisamos sair daqui e nos proteger. — Sinto a sua

apreensão e medo. Ela olha para os lados como se pudéssemos ser pegos a

qualquer momento. — Halle com certeza vai informar a minha localização

à polícia!

Pego a caixa dentro do armário, sento-me ao seu lado na cama.


— Fique calma, mãe. Vocês podem ter se desentendido, mas a

Halle jamais faria isso. — É uma das minhas certezas. Ela não iria me trair

desse jeito.
Quanto mais a minha cabeça esfria, mais tento entender o que

aconteceu. Foi tudo muito rápido, mal saí do chalé e as duas brigaram.

Tem algo de errado.

— Você não conhece a família dela como eu, querido... jamais

confie naquela garota, ela é falsa e mentirosa! — rosna, gemendo assim que

toco em seus cortes com o algodão.

— Por que os pais da Halle não gostariam da senhora? — Fico


confuso e desconfiado. — As nossas famílias eram amigas, não eram?

As lágrimas ainda rolam por seu rosto, ela puxa ar pelo nariz

algumas vezes antes de decidir confessar:

— O pai dela, Nicholas Duncan, sempre tentou algo comigo, mas

sempre recusei, porque... amava o seu pai e continuei o amando por um

longo tempo mesmo depois da sua traição — desabafa, me chocando.

Começo a fazer os curativos enquanto absorvo cada uma das

informações.

— O senhor Nicholas? — Nunca pensei que ele fosse um homem


desse tipo, igual ou pior que o meu pai.

— Ele é um pervertido, um mentiroso! Acredito que ainda tenha

ódio de mim por eu ter lhe dito um não.

— Mãe, isso não faz sentido... — As peças não se encaixam na

minha cabeça.
— Faz todo o sentido, querido. — Enxuga as lágrimas e vira o

rosto em minha direção, magoada. — Nunca contei a você para lhe

preservar. Naquela época, o Nicholas tentou se aproveitar da minha


fragilidade devido ao meu relacionamento tóxico com o seu pai. Ele queria

algo mais e não conseguiu.

— Hoje ele é pastor — penso em voz alta.

— Uma fachada! — mamãe se senta fazendo uma expressão de

dor, e captura a minha mão. — Acredite na sua mãe, eu estou falando a

verdade, Hunter! Nicholas ainda deve ser amigo do seu pai, os dois devem

ter se juntado e induzido a Halle a se aproximar de você para me

encontrar...

— A senhora não sabe do que está falando! — replico, com a voz

grossa, essa hipótese me parte ao meio. Sinto um frio horrendo na espinha

só de imaginar, não faz sentido. — Halle não é essa pessoa.

— Hunter, me escute...

— Agora vamos encerrar com esse assunto. Deixe-me terminar —

faço-a se deitar de bruços outra vez, irritado com tudo o que escutei.

Dona Blanca finalmente se cala e pede para ficar sozinha no quarto

assim que eu termino o meu trabalho, chateada por achar que não estou

acreditando em sua história.


Saio do chalé para fumar, caminho de um lado para o outro,

pensando em tudo o que aconteceu até decidir entrar no carro e ir atrás da

Halle, a culpa me corroendo por dentro. Preciso que ela me explique que

merda aconteceu. Foi questão de minutos, apenas algo grave faria com que

ela e a minha mãe brigassem daquela maneira.

Tenho que descobrir.

Assim que me afasto do Parque, após um bom tempo de estrada,

ouço o meu celular tocar. Pego-o no bolso e a minha pressão cai

imediatamente ao ler a mensagem da Halle, avisando que a polícia está

chegando.

— Merda! — rosno, fazendo uma manobra arriscada para poder

retornar, fumaça exalando dos pneus.

Não pode ser! Isso não está acontecendo! Minha mãe estava certa,

Halle a denunciou!

Piso fundo no acelerador, sigo novamente para o Parque. Acho que

nunca corri tão veloz como agora e não vou conseguir ficar tranquilo

enquanto não reencontrar a minha mãe, ter a absoluta certeza de que está

bem.

Eu a deixei sozinha para ir atrás da Halle, desconfiei das suas

palavras, permiti que o meu sentimento falasse mais alto, acreditei que era
algum tipo de delírio e agora me arrependo.
Blanca está sozinha e indefesa outra vez, assim como ficou durante

todos esses anos sem a minha presença, durante o tempo em que o meu pai

a escondeu de mim e não permitiu que nos víssemos. Falhei com ela no

passado, quando não fiz nada para impedir a sua prisão e agora o enredo

parece estar se repetindo. 

Assim que me aproximo do Parque, decido dar a volta e entrar pelo

portão dos fundos, por precaução. Estaciono em outro chalé, desço a pé na

rua movimentada e de longe avisto o alarde em torno do chalé da minha

mãe. Os policiais estão a levando presa, algemada, como se fosse uma

criminosa de alta periculosidade.

Blanca Scott é jogada dentro da viatura, sendo assistida pelos

outros hóspedes, humilhada em público. Faço menção em correr até ela

para lutar contra tudo e contra todos e defendê-la, todavia, sou paralisado

com a imagem da Halle lá, parada, testemunhando o que está acontecendo.

Em seguida, o seu pai estaciona ao lado, saindo do carro com o

Mike, os três assistindo a armadilha que, provavelmente, armaram.

Cerro os punhos, incrédulo.

Pela primeira vez, sou atingido por um ódio desconhecido,

maléfico e diferente de tudo que já vivenciei. A visão do trio unido é a

chave e explica o óbvio que não fui capaz de enxergar: nunca foi de

verdade, Halle me iludiu com o seu falso amor desde o princípio. 


A minha mãe tinha razão! Halle era uma maldita mentirosa

traidora do caralho!

Por que não acreditei?

Me camuflo em meio aos outros hóspedes, permitindo que a ferida

em meu peito se abra cada vez mais e doa tanto que pareça estar jorrando

sangue. Coloco as mãos na cabeça assim que a viatura leva a minha mãe,

todos os meus gatilhos são acionados, cada um deles explodindo em minha

mente, quase me levando a autodestruição mais uma vez.

Ainda tonto de tudo o que é sentimento ruim, testemunho Nicholas


puxando a sua maldita filha para um abraço. Meu pai pousa a mão sobre o
ombro deles, outra prova de que estão unidos nessa merda.

Entorpecido pelo ódio, recuo de volta para o meu carro,


cambaleando pelo caminho até me esconder dentro do veículo. Fecho os

olhos com força, eles estão molhados, ardendo em fogo enquanto aperto o
volante entre os dedos, uma tentativa inútil de dispersar a minha dor.

Dor da traição.
Dor de tudo o que entreguei de mim àquela infeliz.

Mas ela vai me pagar. Todos eles vão sentir a minha fúria,
principalmente ela que me enganou, ela que disse me amar, que se

aproximou para me tirar o que eu mais prezo na vida: a presença da minha


mãe.
Halle vai entender que quando eu amo, amo demais, mas quando
odeio, é para sempre.

Saio do Parque pelo mesmo lugar que entrei, acelero pela estrada,
desgovernado, sem rumo, sofrendo como um louco. Paro em um bar que

encontro na beira da estrada, me sento em uma das banquetas do balcão e


peço uma dose atrás da outra. A cada gole, a minha raiva se torna maior, se

transforma em um monstro prestes a devorar tudo o que estiver pela frente.


Recordo de todos os momentos que vivi com a Halle, do quanto ela
mentiu e fingiu, do quanto me deixei manipular, mal percebo quando

anoitece.

Decido voltar para o carro, ciente de que não vou mais conseguir
segurar essa escuridão deteriorando o meu peito, queimando a minha pele.

Não quero sentar e planejar nada, não vou mais conseguir ser frio e
calculista. Não agora, não enquanto não acertar as contas!

Assim que chego ao condomínio e estaciono à frente da casa da


Halle, vejo tudo vermelho. O álcool que bebi o dia inteiro ferve em meu

sangue, dando-me exatamente o que preciso.


— Halle, aparece! — grito, caminhando pelo jardim, possesso. —
Traidora! — Puxo o ar, enchendo os pulmões. — APARECEEE! — berro,

acertando um chute que quase arromba a porta.


Dou alguns passos atrás assim que Nicholas abre a porta, de queixo
erguido.

— Vá embora, Hunter! Deixe a minha filha em paz — ordena,


manso, enquanto estou tonto da cachaça.

Sorrio, em deboche.

— Você também participou disso — ergo o indicador para ele. —


Pastorzinho de merda — cuspo as palavras. — Dando em cima da mulher
do seu vizinho! Da minha mãe!

— Quê? — Ele finge estar surpreso. — Vá embora antes que eu


chame a polícia, rapaz!

— Chama! Não tenho medo! Ninguém me tira daqui enquanto a


vadia da sua filha não aparecer! — grito outra vez, socando o ar, revoltado.

— Respeite a minha filha! — Nicholas fala no mesmo tom,


alterado. — E vá embora, você está bêbado!

— HALLE! APARECE SUA COVARDE! — chamo por ela outra


vez, ignorando o seu pai.

— Hunter, por favor, para com isso! — Ela surge de repente,


parando ao lado dele assim que sai da casa, desesperada.

— Filha, não! — Sua mãe a agarra, a protegendo.


— Aí está você... traidora — ela nega com o rosto, as lágrimas

rolando por sua pele. — Quero que você morra! — Cerro os punhos, em
cólera. — Me enganou, tirou a minha mãe de mim! — Aponto em sua

direção.
— Não, Hunter, por favor... para com isso, vamos conversar —

implora, soluçando.
— Conversar? Não converso com uma cadela feito você... —

rosno, querendo atingi-la de todas as maneiras.

— Chega! Você está na minha casa e não aceito que se refira à

minha filha desse jeito! Foi eu que liguei para a polícia. Pelo visto nem
você sabe que Blanca é uma bandida da pior espécie, uma assassina que

merece apodrecer na prisão! — Nicholas ladra, acabando com a gota que eu


ainda tinha de paciência.

— Querido, não. — Caroline toca o seu braço.


— Não fale da minha mãe! — Avanço sobre ele, o empurrando

com muita força para dentro da casa, o derrubando violentamente no chão.


— NÃO! — ouço o grito da Halle às minhas costas, então tranco a

porta, deixando ela e sua mãe do lado de fora.


— Repete o que você falou — me aproximo do infeliz, fora de
mim. — Repete!

— Sua mãe tem lugar certo no inferno, e se você não abrir seus
olhos, terá o mesmo fim — Nicholas tenta se levantar, sem sucesso.
Ele não consegue focar o olhar, está tonto, tocando o local acima

da sua nuca, onde recebeu a pancada no momento do tombo.


— Ainda está me ameaçando?

— Nunca é tarde... — diz, em sufoco, ficando vermelho — para se


arrepender dos seus pecados — rola para o lado, em desespero.

— Vou fazer você se arrepender de cada um dos seus, seu


pervertido de merda — monto sobre ele, sento-me sobre o seu corpo.

Confiança é algo frágil e traiçoeiro. Quando você sente que pode


confiar em alguém, é como ser abrigado por um colete à prova de balas,

nada pode te ferir. Mas quando essa lealdade é quebrada, é como saltar em
um vazio sem uma corda para te segurar, você sabe que é o fim.

Eu confio em coisas, não nas pessoas.


Um dia cometi o erro de confiar em uma garota, nunca me

perdoarei por isso.


Ignoro os gritos do lado de fora, as batidas na porta. Acreditei que

nada seria capaz de impedir o desejo irrefreável da violência consumindo o


meu sangue, o que de fato não aconteceu.

A verdade é que não consegui acertar o rosto do pastor, ergui o


punho fechado, mas algo me impediu de machucá-lo, talvez a sua evidente

fragilidade diante do meu peso sobre o seu corpo, ou a minha certeza do


quanto está vulnerável e desmaiando devido ao golpe forte que sofreu na
cabeça.

A verdade é que eu queria mesmo que tudo em mim se traduzisse


apenas em fúria, vingança e rancor, todavia, por mais inacreditável que seja,
não consegui ignorar a razão, muito menos a covardia que estava prestes a

fazer se seguisse em frente.


Eu posso ser tudo, menos um covarde.

Também não sou um animal nem nunca me permiti ser dominado

pelo álcool.
Toda a cena em que o surrei e o fiz sangrar foi apenas fruto da

minha imaginação, do monstro dentro de mim que queria colocar para fora.
Na realidade, acertei o chão ao invés de seu rosto, me machuquei

intencionalmente para dispersar essa maldita raiva, acumulada não de hoje,


não de agora, mas de muitos anos.
E quando tenho a certeza de que falhei até mesmo nessa merda,

observo minhas mãos manchadas do meu próprio sangue logo depois que
Nicholas perde a consciência. O líquido viscoso tingindo a minha pele

causa uma certa confusão em meu peito, uma mistura de ódio e um leve
arrependimento ao testemunhá-lo desacordado, algo que afugento no

mesmo instante ao lembrar que esse cara arrancou o que eu tinha de mais
precioso.
Fui tomado pelo descontrole e gostei, não o bati como merecia,
mas não me importa se agora, devido ao tombo, ele está vivo ou morto.

Ofegante, suado e com um gosto amargo de ódio na boca, sinto-me


como se fosse uma fera que não se sente satisfeita, muito menos vingada.

Mal consigo levantar quando a porta é arrombada e os policiais


invadem a casa para me render. Os gritos de ordem para eu não resistir

invadem os meus ouvidos, permito que eles puxem os meus punhos para
trás das costas com força, sou algemado e arrastado para fora com a raiva

incontida queimando por minhas veias, destruindo tudo que há pela frente.

— O que foi que você fez?! — desesperada, Halle grita assim que

me vê.
Dias atrás eu me odiaria por fazê-la ir aos prantos, faria de tudo

para substituir as suas lágrimas por um doce sorriso, daqueles que apenas
ela sabe dar. Mas agora, após descobrir o que fez, tudo o que sinto se define
em nojo.

— O que foi que você fez?! — berra outra vez, bate os punhos
fechados no meu peito, arrasada, se partindo em pedaços.
— Agora estamos quites — murmuro, frio. Sou presenteado com
seu olhar incrédulo e machucado sendo contaminado pela raiva.

Eu a odeio, e nada será mais agradável do que receber o seu ódio


também.
 
 

 
 
 

 
 
 

HUNTER SCOTT
 

O tempo dentro da viatura até a delegacia não ameniza a minha

euforia.

Fico cego para tudo o que acontece ao redor assim que sou retirado
do carro e levado à uma sala, sequer consigo escutar as merdas vomitadas

pelos guardas ou a tentativa fracassada do Xerife em me interrogar.


Recuso-me a proferir uma só palavra, aceitando feliz a minha

condução até uma das celas, um espaço semiescuro e sujo que sou obrigado

a dividir com um sujeito que, pelo visto, mantém uma energia caótica,
semelhante à minha, algo que é provado com o sangue no canto de sua

boca.

Ele está sentado no banco ao fundo da cela, sozinho. E apesar de

não conhecê-lo, logo após escutar o portão gradeado ser fechado às minhas
costas, encaro o homem como se fosse um dos meus inimigos, permitindo

que a fúria carregada em meu peito seja derramada sobre a mera presença

dele.

O infeliz me devolve o mesmo olhar flamejante, como se

detestasse a minha presença, fazendo questão de me ignorar quando retira


um maço de cigarro e um isqueiro do bolso da calça.

Engulo em seco, sou atingindo pelo cheiro assim que ele acende o

cigarro e pela vontade esmagadora de fumar.

Bufo, seguindo para o banco lateral, preferindo manter distância.

Olho para o meu companheiro outra vez, pelo visto ele ainda não
se conformou com a minha chegada. Pela sua estatura, temos a mesma faixa

etária, e pude notar que compartilhamos o gosto por tatuagens, além de

provavelmente termos a mesma rebeldia.

O nosso silêncio ensurdecedor é quebrado quando outro sujeito que

aparenta ter a nossa idade, também é jogado aqui dentro.

— Policiais filhos da puta! — Ele mostra o dedo para os homens

uniformizados que se afastam, o ignorando. Dá uma pausa para respirar e


observar ao seu redor. — Aí, mano, me dá um cigarro? — o rapaz se

aproxima do outro que não se incomoda em ajudá-lo. — Eu sou o Liam[7], e

você?

— Blake[8].
Liam se senta ao lado dele após lhe entregar o cigarro, os dois

soltam baforadas no ar, provando terem a mesma intimidade que tenho

quando o assunto é fumar.

— E você? — Liam ergue o queixo em minha direção.

— Hunter — respondo, esfregando as mãos sujas do sangue seco

uma na outra.

Liam faz menção de continuar tagarelando, mas a nossa atenção é


fisgada pelo quarto cara que é empurrado para dentro da cela. Ele também é

alto e tem tatuagens como nós, a diferença é que o desgraçado inventou de

tatuar o rosto.

— Bando de moleques mimados inconsequentes do caralho! — O

policial do lado de fora cospe no chão, denunciando o seu nojo. — Eles

pensam que porque são milionários são donos da cidade. Hoje vocês estão

onde merecem! — ladra, indo embora.

— Bem-vindo à festa do pijama! — Liam faz piada, abrindo os

braços, gargalhando.
— Pode ter certeza que aqui é melhor do que o lugar onde eu

estava — diz o novato, ele tira a jaqueta e se senta ao meu lado. — A

propósito, eu me chamo Colin[9] — observa a nós três.

— Eu sou o Liam, ele é o Blake e esse aí é o Hunter.

— Por que estão aqui? — Colin está curioso.


— Aí, cara, pode me dar um cigarro? — peço a Blake, que estica

um meio-sorriso debochado.

— Ah, então quer dizer que você fala — ele arremessa o maço e o
isqueiro para mim. Uso apenas uma mão para capturar os objetos, me

apressando em acender o meu cigarro enquanto Colin, sem pedir, faz o

mesmo depois de mim.

— Eu não estou em um dia bom — confesso, após dar o primeiro

trago.

— Acho que nenhum de nós estamos. — Blake se encosta na

parede. — Quem foi que você matou? — Ele nota o sangue em minhas

mãos.
— Tomara mesmo que o desgraçado tenha morrido. — Sinto os

meus olhos queimarem ao lembrar daquele infeliz, assim como do motivo

que quase me levou a surrá-lo.

— Foi por causa de mulher? — Colin parece ler a minha mente.

Ele sopra a fumaça para o alto como se fosse uma brincadeira divertida.

Fecho a mão livre, cerrando o punho ao sentir o ódio me

corromper.

Não quero admitir que entreguei mais do que devia àquela menina,

que ela se tornou o meu vício, uma droga que quase me levou ao fim na

primeira overdose.
Se eu pudesse voltar no tempo, jamais teria permitido a sua

aproximação.

Abro a boca, as minhas palavras saem em um misto de dor e

remorso:

— Ela foi o maior erro da minha vida, hoje a fiz entender que eu

fui o seu.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

HUNTER SCOTT
 

A noite na cadeia foi mais interessante do que imaginei, tudo


porque o destino me fez encontrar três caras que, pelo que entendi, têm

histórias parecidas com a minha. Colin, Liam e Blake são semelhantes a

mim, senti a mesma raiva pulsar no sangue de cada um deles, poderia jurar
que todos os corações batiam no mesmo ritmo frenético, cheios de raiva a

todo instante.
Nós nos separamos ao amanhecer, no entanto, não consigo parar de

pensar neles, nas suas motivações que os trouxeram a essa delegacia e na

peça que o destino nos pregou ao encarcerar quatro caras com

personalidades em sintonia na mesma cela.


Não posso negar, eu me identifiquei com eles e fui atingido pela

curiosidade, algo que me distraiu um pouco da tempestade mental na qual

estava.

Agora, sentado na cadeira fria de uma sala austera, sendo vigiado

por dois guardas, desperto dos meus devaneios para observar Mike Scott
passando pela porta para me ver. É claro que ele não permitiria que o seu

filhinho que tanto diz amar e querer por perto, ficasse aqui por muito

tempo.

A sua presença desperta o meu ódio outra vez, inclino-me sobre o

encosto da cadeira e cruzo os braços. Meu queixo erguido denuncia o


desprazer em tê-lo sentado do outro lado da mesa.

A culpa de toda essa merda também é dele.

Recebo o seu olhar entristecido, o que me surpreende. Eu esperava

raiva, repreensão, tudo, menos tristeza. Quem deve ficar triste aqui sou eu!

Que fui enganado, traído pela única garota que acreditava ser boa de

verdade, não uma pessoa podre como o homem à minha frente.

Mike passa a mão no rosto, abismado.


— Foi tudo culpa minha — confessa, ganhando a minha atenção

novamente. Também não esperava por essa. — Eu devia ter te contado a

verdade antes, mas fui um covarde. E olha no que deu.


Estreito as sobrancelhas, não o reconhecendo. Será alguma nova

estratégia para me iludir? Alguma nova artimanha?

— Não se esforce, papai, nada do que me disser será bem-vindo —

a minha voz soa calma, mas amarga o suficiente para feri-lo, como uma

faca cortando a sua pele.

— Eu sei — admite, assentindo. — Conheço você mais do que


ninguém. Às vezes uma imagem guardada há muitos anos, vale mais que

mil palavras — não entendo o que ele quis dizer, até tirar o celular do bolso

e me mostrar um vídeo.

Rapidamente reconheço o lugar, é o antigo quarto dele e da minha

mãe, na época em que éramos vizinhos dos Duncan. A câmera está no alto e

captura o espaço inteiro.

De repente, Blanca entra pela porta se agarrando com uma mulher,

a beijando com sede e fome. As duas caem sobre a cama e começam a tirar

a roupa, é evidente que a minha mãe está no poder. Talvez eu sofresse

menos impacto se não percebesse que a outra, é a senhora Duncan, mãe da


Halle, Caroline.

— O quê? — sequer consigo entender, não dá para acreditar.

Elas começam a fazer sexo de forma selvagem. Não suporto ver o

resto e viro o rosto, quase sem ar, confuso ao extremo.


— Isso... — forço um sorriso, chocado. — Só pode ser montagem

— tento me convencer, apesar de ter entendido que é real, real demais para

ser verdade.
— Você sempre foi um filho apaixonado demais pela mãe, mas

nunca um tolo — Mike deixa o aparelho sobre a mesa, o vídeo rodando

para que eu possa conferir quantas vezes quiser. — Sempre soube que

entendeu tudo errado, mas foi uma escolha minha não contar, preferi ser

sacrificado como o “pai adúltero”.

— Que merda é essa, Mike? — as palavras saem com medo, meu

cérebro chega a tremer.

— Naquela noite em que você me flagrou beijando a sua tia, eu já


estava no fundo do poço, filho — os seus olhos brilham e eu sinto um nó na

garganta, pois não vejo mentira em seu semblante, mas sim a sinceridade.

— A sua mãe foi o meu primeiro amor, eu a amava demais, tanto que

suportei todas as suas traições na esperança de que acabasse, de que era só

uma fase que ia passar, mas nunca passou. — Ele cerra os punhos, seu rosto

tomba para baixo e uma lágrima escorre até o seu queixo. — Era sempre

assim... Blanca se aproximava de outras mulheres, as seduzia e detestava a

minha interferência.

— Outras... mulheres? — gaguejo, sem chão.


— Caroline não foi a primeira, eu já vinha aguentando porrada há

muito tempo, no entanto, ela foi a paixão mais feroz da sua mãe. Blanca a

queria de todo jeito enquanto eu lutava por um casamento falido — suspira,

arrasado, erguendo os olhos marejados para me ver. — Era por isso que nós

sempre brigávamos. Eu a xingava e ficava louco todas as vezes que

descobria as suas namoradas. Blanca prometia que ia mudar, fazia sexo

comigo e, de certa forma, me segurava. Eu a amava tanto que havia me

tornado um submisso dentro da nossa relação, essa é a verdade. E quando

finalmente falei em me separar, ela ameaçou tirar você dos meus braços,

falou tanta merda que eu surtei, afinal, a justiça quase sempre dá a


prioridade para a mãe.

Passo as mãos nos cabelos, as palavras dele fazem sentido, sou

esmagado por uma avalanche de lembranças e pistas que vi, mas na época

não enxerguei.

Deus, isso só pode ser um pesadelo!

— Não, não, não, eu não vivi uma mentira — o gemido sai

arrastado por entre os meus lábios, a minha respiração ofegante, a loucura

me consumindo.

— Durante a minha carência, a vinda da sua tia para a nossa casa

acalentou um pouco as coisas, não posso negar. Eu me senti atraído por ela,
mas evitei falar, evitei agir, não queria transformar o nosso lar em um caos
ainda maior — Mike enxuga as lágrimas, puxa ar pelo nariz várias vezes,

abatido, seu olhar parecendo imerso no passado. — Porém, no dia em que

vi o vídeo e desabafei tudo o que estava vivendo, Melanie me confessou

que já sabia, mas que jamais poderia me contar. Durante a conversa, nós

nos deixamos levar pela atração que já sentíamos um pelo outro e nos

beijamos pela primeira vez.

Lembro da cena, do ódio e nojo que senti pelos dois ao pensar que

a minha mãe era a inocente, a traída e enganada. 

— Blanca também nos flagrou, ela chegou transtornada porque o

Nicholas, de alguma forma, também havia descoberto tudo e Caroline

terminou com ela, preferindo a família à uma aventura com a sua vizinha —

Mike respira fundo e captura o celular quando o vídeo enfim encerra. —

Todavia, ela achou que a irmã havia nos contado. Quando viu o nosso beijo,

foi pior e aí... você sabe o que aconteceu — olha para mim, desanimado.

Os meus olhos ardem, sinto vontade de chorar, mas me controlo, o

meu coração é espremido dentro do peito e em um momento chego a pensar

que se transformou em pó.

Não resta mais nada, a minha mãe é uma mentirosa!

— Por que você... — demoro a conseguir falar, é como se a minha

voz não quisesse sair — não me contou? Por que me exilou em outro país,
por que me afastou? — não consigo mais suportar, as lágrimas descem,

queimando o meu rosto.

— Porque eu queria te preservar do escândalo. Porque prometi ao

meu amigo Nicholas que jamais iria expor a esposa dele, porque por mais

que ele a detestasse naquele momento, ainda a amava. E também porque...

fui negligente e um covarde... não consegui enfrentar você e não queria tirar

a imagem de boa mãe que Blanca havia construído com tanta cautela — o

seu olhar machucado encontra o meu, ambos despedaçados. — Você a


amava demais, filho, era muito novo e iria sofrer. Não quis que carregasse

essa carga.
Mike retira um papel dobrado do bolso e o coloca sobre a mesa, na

minha frente. É um exame com o nome da minha mãe e assinatura de uma


junta médica.

— Na época do julgamento, pedi aos advogados que fizessem de


tudo para a Blanca não ir para a cadeia, o argumento mais fácil era provar

que ela sofria de algum tipo de insanidade. No entanto, quando os médicos


a avaliaram, descobriram que ela era uma sociopata e isso explicava muita

coisa. Eu fui até ela e afirmei que estava disposto a mentir que havia sido o
adúltero, desde que ela aceitasse ir para a clínica, onde eu poderia ter mais

segurança de mantê-la longe de você.


— Ela aceitou... — um sorriso nasce em meus lábios, sem humor.
Parece que até consigo imaginar a cena, tudo se encaixa, todas as mentiras

que ela me contou assim que nos reencontramos.


— Claro, sabia que lá teria mais segurança. Mas essa minha

intervenção no processo fez com que Nicholas também me odiasse por um


bom tempo, até que ele voltou a falar comigo quando descobriu que Blanca

estava voltando para a cidade. — Mike observa o nada, talvez lembrando


do seu amigo. — Pobre coitado, ele fechou a si e sua família em um casulo
denso e escuro demais.

— Você não devia ter me escondido isso. Por mais que doesse... eu
iria suportar — rosno, abalado, o pranto doendo. — Você não sabe o quanto

eu te odiei, pai! — bato na mesa, corrompido pela mesma revolta de


sempre. — O quanto eu o culpei por toda essa merda e agora... tudo

explodiu, nada mais faz sentido...

— Eu fiz tudo por você, filho! — Mike se inclina sobre a mesa e


toca o meu braço. — Na minha tentativa de te preservar, o transformei em

um rebelde. Achei que voltaria mais calmo, que iria esquecer, mas não, o
seu ódio por mim era bem maior. Esse segredo estava me sufocando, se
transformou em uma bola de neve, mas eu devia mesmo ter falado, talvez

evitássemos essa tragédia — volta a se encostar na cadeira, preocupado.


Enxugo as lágrimas nos antebraços, sou atingido pelo medo. Passo
a mão no nariz e engulo em seco, lembrando do pastor.

— O Nicholas... ele está bem? — pergunto, sem coragem de


encará-lo.

— Tudo indica que sim, apesar de ter ido desacordado para o


hospital. Ainda está em análise, esperando os resultados dos exames para

averiguar se não teve algo grave — Mike pega o documento e guarda de


novo no bolso. — A Halle não contou nada ao pai, ele descobriu sozinho e

fez a denúncia. Ela tentou te alertar porque sabia que você seria
prejudicado, foi quando Nicholas me ligou e cientificou sobre tudo que

estava acontecendo... sobre vocês.

— Ela jamais vai me perdoar... — penso em voz alta, abismado

com essa possibilidade.


— Você deve manter distância...

— Não — nego, obstinado, voltando a encará-lo em desafio. — Eu


preciso vê-la, preciso...

— Precisa ficar longe enquanto eu tento controlar esse caos! —


Mike perde a compostura, fazendo-me notar as suas olheiras e o quanto

parece exausto.
— Não vou conseguir ficar longe dela, pai! — replico, no mesmo

tom. — Não posso perdê-la! — sinto a minha mente se deteriorar ao


imaginar essa possibilidade.

— Você é impulsivo demais, é por isso que vai continuar aqui até
que a poeira abaixe — Mike se levanta, eu levanto também.

— O quê? — isso não pode ser verdade.

— Terá uma cela apenas para você com algumas regalias e

agradeça por isso! — aponta o dedo na minha cara, enlouquecendo-me. —


Você poderia ter todos os motivos do mundo, mas nada justifica o que fez.

Nada! — rosna a última palavra, a sua repreensão me mantém calado, pela


primeira vez.

Mike vai embora e eu sou conduzido para a cela prometida, o lugar


que agora encaro como um verdadeiro castigo, onde sinto que a liberdade

realmente me fará falta porque não vou conseguir ter a chance de tentar
consertar o meu erro com a Halle. Cada grade à minha frente representa a

mentira que foi a minha vida, uma corda no meu pescoço, me sufocando
aos poucos, minuto a minuto.

Quando andar em círculos já não é mais o bastante, seguro nas


grades com força e solto um longo grito, permitindo que o som doloroso e
arrependido corte a minha garganta, ecoe pelo corredor vazio.

O que mais me dói não é a prisão externa, mas sim a que tenho por
dentro, essa incapacidade a quem sempre foi liberto. Tudo dói, tudo é ruim,

quase entro em colapso com a minha bad prison.


 

 
 

 
 

HALLE DUNCAN
 

Sentada no banco do hospital, com os cotovelos apoiados sobre os


joelhos e as mãos tapando o rosto, sinto a dor do meu pranto que aparenta

não ter mais fim. Ouço passos apressados se aproximando e levanto o olhar

para avistar Jake chegando de mãos dadas com a Amy.


Levanto-me e corro para abraçar o meu irmão, completamente

atordoada, frágil. Agora entendo o motivo dele sempre ter tentado me


afastar do Hunter, o motivo de não ter revelado sobre a presença dele na

universidade ou o seu retorno a Boston.

— Era uma merda como essa que eu estava tentando evitar — sua

mão afaga o meu cabelo, soluço contra o seu ombro, arrasada com tudo o
que aconteceu.
— Devia ter me contado — ergo a face para encará-lo.

— Eu não podia — justifica, entristecido. — Nem para você e nem

para o Hunter.

Jake ficou entre a cruz e a espada. De um lado a sua única irmã e

do outro o melhor amigo que tanto admirava.

— Onde papai está? — seu polegar corre no canto dos meus olhos,

enxugando as minhas lágrimas.

— Naquele quarto — aponto com o indicador. Jake beija a minha

testa e vai até lá, permitindo assim que me console com a Amy, a

abraçando.
— Oh, amiga... nem sei o que dizer — me aperta em seus braços.

— Também estou chocada com tudo, nunca imaginei.

— Como alguém poderia imaginar? — afasto-me para encará-la, a

minha voz soa rouca e ferida.

Nos sentamos no banco e ficamos caladas por um bom tempo até a

minha mãe sair do quarto em que meu pai está e se aproximar.

Nos levantamos para falar com ela, seu olhar abatido examina a
Amy de cima a baixo, à essa altura ela já deve imaginar de quem se trata.

— Prazer, Amy Conway — as duas se cumprimentam.

— Caroline, prazer — mamãe suga uma lufada de ar pelo nariz,

forçando um sorriso. — Filha, vamos pra casa, seu irmão vai ficar com o
seu pai até a gente voltar.

— Vai, amiga, você precisa se alimentar, tomar um banho — Amy

afaga os meus ombros, incentivando-me.

Assinto e sigo dona Caroline até o elevador. Saímos do hospital e

entramos no carro. Somos atingidas por um silêncio aterrador, tenho várias

dúvidas sobre o seu passado, mas não me sinto forte o suficiente para
perguntar algo agora.

— Senti que ela me olhava diferente desde a primeira vez em que

nos encontramos, logo após o Hunter te salvar do afogamento — dispara,

do nada. Viro o rosto para o lado, a encarando manter uma postura rígida

diante do volante. — O seu toque continha segundas intenções, os favores,

as desculpas para os encontros familiares. Notei tudo desde o início, mas

guardei para mim, acreditei que era coisa da minha cabeça.

Mamãe respira fundo, mais uma lágrima mancha o seu rosto. Nós

paramos no semáforo, mas ela continua atenta apenas ao que está à sua

frente, sem coragem de me fitar agora.


— Depois veio a sua ideia de trabalharmos juntas na empresa dela

e eu aceitei, afinal, ainda estávamos começando com as farmácias e, lá no

fundo, algo me levava a querer ficar perto. Blanca era a representação de

uma vida liberta, nula de qualquer pudor, uma aventura que decidi

experimentar sem me dar conta da gravidade. — Seus dedos se apertam em


torno do volante, seu pé pisa no acelerador assim que o sinal se abre, nos

permitindo seguir adiante. — Aos poucos, aquele relacionamento foi saindo

do controle, ela ficou obcecada por mim, tinha ciúmes do meu marido e até
dos meus filhos. Descobri que eu gostava de quando estávamos na cama,

mas nada além disso, eu amava a minha família e não a trocaria por nada,

coisa que Blanca estava disposta a fazer, se fosse preciso.

Boquiaberta, sinto vontade de fugir do carro, pois a verdade está

me sufocando. Por mais que não queira, penso em como o Hunter deve

estar se sentindo após descobrir a verdade. Mike esteve essa noite no

hospital e me falou que revelaria tudo a ele.

Se para mim está sendo difícil, imagine para ele que idolatrava

aquela maldita.

— Quando comecei a evitá-la, tudo piorou. Terminei várias vezes,

mas Blanca não aceitava, vivia me cercando e começou com as ameaças.

Ela se tornou agressiva, chegou a me bater, então Nicholas descobriu tudo.

— Nós dobramos em uma rua e seguimos por outra avenida, parando em

outro sinal. Finalmente sinto o olhar dela queimar a lateral da minha face,

mas demoro a correspondê-la. — Quando eu e seu pai decidimos ficar

juntos e esquecer o passado, entramos na igreja com o propósito de

recebermos o Espírito Santo e nos transformarmos em uma nova carne.


— E puniram os filhos com uma versão fria e egocêntrica —

disparo, amarga, sem medo. — A senhora e o papai sabem mais do que

ninguém que os problemas familiares devem ser resolvidos dentro da

família em primeiro lugar e não apenas indo a igreja. A mudança principal

vem de dentro, assumir uma religião não deve ser vista como meio de

apagar ou até mesmo mascarar os nossos erros.

Um carro buzina as nossas costas, nos lembrando que o sinal abriu

e que temos que avançar. Mamãe fica quieta por alguns minutos até ter

coragem de falar:

— A gente só queria que... vocês não cometessem os nossos erros,


os meus erros — choraminga, destruída, mas não consegue amenizar a

minha raiva. — Eu não queria correr o risco de que você se tornasse alguém

como eu, filha — enxuga o rosto, se recuperando. — Porque ao longo de

todos esses anos, condenei a minha imagem, o que tinha feito, todos os

meus pecados — ela dá uma pausa, como se lhe faltasse o ar, deve ser

difícil confessar a verdade. — Mas sim, eu e seu pai exageramos, passamos

dos limites e limitamos as suas escolhas e as do Jake. Interpretamos a

palavra de Deus a nosso favor, nos esquecendo do nosso propósito e dos

ensinamentos de Jesus que são bem maiores do que as nossas opiniões

internas — observa o céu azul e claro, arrependida.


Me sinto tão pequena diante de toda essa confusão, tão quebrada

que  não resta nenhum pedaço meu para se reconstruir. Esfrego as mãos na

garganta como se também estivesse sufocando.

— Eu sempre gostei da igreja — confesso, recordando dos

momentos bons que tive enquanto estava na presença de Deus. — O que

não gostava era de estar nela com vocês — admito, no instante em que

paramos na frente do condomínio, aguardando para abrirem os portões.

Chocada, mamãe me observa como se tivesse recebido um tapa

cruel, mas não me arrependo do que falei, tinha que colocar para fora.

Sentada na poltrona do quarto hospitalar do meu pai, tento me

distrair lendo um livro enquanto ele está dormindo na cama, é a sua

segunda e última noite aqui. Nas últimas horas, Nicholas passou por uma

bateria de exames, mas para a nossa sorte não fraturou nenhum osso ou teve

qualquer hemorragia interna.

Hunter o derrubou, mas algo o impediu de seguir em frente. Ele

poderia ter espancado o meu pai, teve essa oportunidade, mas não o fez.

Ainda assim, a sua atitude, insultos e violência me machucaram por dentro

e fizeram sangrar.
Passo mais uma página, irritada, não consigo me concentrar. Nada

me dá foco, nada me prende.

Pego o meu celular na mesinha ao lado assim que escuto o som da

mensagem:
 
Agora eu sei de tudo.
Podemos conversar?

É o Hunter.
Meu coração acelera, fico bastante nervosa e a minha única reação

é bloqueá-lo, sem entender por que não fiz isso antes. Devolvo o celular
para o mesmo lugar, preferindo manter distância como se ele fosse um

objeto infeccioso.
— Filha? — a voz do meu pai me faz ir até ele.

— Oi, pai — forço um sorriso, acaricio o seu braço.


— Estou com sede — declara.
Pego um copo de água no frigobar e o ajudo a beber. Ele toma

tudo, provando que realmente necessitava.

— Como você está? — pergunta, olhando-me atentamente.


— Que pergunta é essa? O paciente aqui é você — coloco o copo

sobre a mesa.
— Você também é, eu... te adoeci por muito tempo — confessa,
com a voz frágil.

— Pai, não precisamos falar sobre isso — nego com o rosto,


pousando uma mão sobre o seu ombro.

— Me escondi dentro da minha bolha, fiquei frio e distante de


você, a maltratei com a minha indiferença e exigências de que fosse

perfeita, apesar de eu nunca... ter sido — engole em seco, fazendo meu


peito doer.

— Pai, está tudo bem. — Minto, apenas para acalmá-lo.


A verdade é que nada está bem.

— Um dos maiores ensinamentos bíblicos é o perdão. Jesus


perdoou o ladrão na cruz, diante da morte, porque ele se arrependeu de

verdade — ele desvia o olhar e fala devagar, com certa dificuldade. — Sua
mãe também se arrependeu, mas no fundo eu nunca a perdoei, permiti que o

meu orgulho falasse mais alto do que o amor que sentia por ela e condenei a
minha família em meu íntimo, mesmo sendo pastor.

Seguro a sua mão, os seus dedos apertam os meus.


— Quantas vezes... preguei o que não praticava em casa? Quantas
vezes me enganei e fui hipócrita comigo mesmo e com o meu bom Deus?

— olha para o alto, desolado, obrigando a minha dor interna a aumentar. —


Por isso, de agora em diante, quero mudar tudo. Já pedi perdão ao Jake e
também quero pedir a você, querida — lágrimas molham a sua face,
partindo o meu coração.

— Pai, por favor... — seguro a vontade de chorar, o nó na garganta.


— Também não fui fácil... também pequei — confesso, meus lábios

tremem, lembro do Hunter mais uma vez.


— Sei que ama aquele rapaz — sua revelação me pega de surpresa.

— Sempre vi que havia algo a mais entre vocês, apenas um cego não iria
enxergar.

— Mas agora já acabou — viro o rosto para o lado, despedaçada


por dentro.

— Eu não devia ter deixado a raiva falar mais alto e dito aquelas
coisas a ele. Devia ter agido como um homem maduro e, como pastor,

contornado a situação.
— Não quero falar sobre o assunto — afirmo, exausta. — Não

acredito que Hunter vá se arrepender, então ele nunca merecerá o meu


perdão — a minha voz soa amarga, a severidade dessa certeza me

dominando aos poucos.


Não pretendo perdoá-lo.

Jamais.
 
 

Ao entrar no carro onde o meu irmão me aguarda, ocupar o banco


do carona e colocar o cinto de segurança, estranho Jake não dar a partida.

— O que está esperando? — o observo parado, com as mãos


imóveis sobre o volante, como se estivesse em dúvida.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — pergunta mais uma vez.
— Quantas vezes vou ter que dizer que sim? — cruzo os braços,

chateada, evitando olhá-lo nos olhos.


— O pai do Hunter tirou ele da Atenas. Você não vai precisar se

preocupar em encontrá-lo em algum lugar, não vejo motivos para sair da


universidade — argumenta, mas não entende os meus sentimentos.

— Jake, antes você nem me queria lá e agora...


— Isso é jogo sujo, não desconte a sua raiva em mim — ergue o

indicador, em seguida liga o veículo, nos tirando do condomínio.


— Além disso... pretendo mudar de curso — solto, o

surpreendendo, mas ele prefere se manter calado, detestando o meu mau


humor que vem me perseguindo nas últimas semanas.

Encosto a cabeça no vidro da janela, o dia está ensolarado e


radiante, mas o meu mundo continua escuro, nada mais parece encaixado e

tudo o que mais quero é me livrar de qualquer coisa que me lembre Hunter
Scott.
Mesmo que ele não estude mais na Atenas, sei que ainda estará lá

quando as aulas retornarem. Estará em meus pensamentos, as lembranças


por todos os lugares. Além disso, continuarei sentindo essa queimação que

apenas sentia quando estava por perto, me observando.


Faz uns três dias que a minha pele queima em alguns momentos, às

vezes quando estou na janela ou andando pela rua. Às vezes acontece até
mesmo na porta da igreja.

Sinto que ele está próximo, mas nunca consigo avistá-lo.

Assim que estacionamos a frente do meu dormitório e caminhamos

lado a lado até o meu quarto, paro no corredor para responder uma
mensagem da minha mãe enquanto Jake se encarrega de usar a chave para

destrancar a porta.
— Caralho... — escuto a sua voz impressionada, sua atenção

completamente presa rumo ao interior do cômodo.


— O que foi? — guardo o celular de volta no bolso da calça e o

ultrapasso, deparando-me com o ambiente repleto de arranjos de flores,


lembrando um verdadeiro jardim.

São flores de todos os tipos, especialmente rosas brancas,


vermelhas e de todas as outras cores. Também tem girassóis, tulipas e

hortênsias. Há outras espécies que não sei o nome, mas dá para notar que
foi difícil de encontrá-las ou unir centenas de plantas de variados tipos
desse jeito.

Bestificada, dou alguns passos para dentro, olho para o alto e


percebo várias fotos minhas e de Hunter impressas, todas presas em um
barbante que corre de cabo a rabo no quarto, tudo cuidadosamente montado.

Pego uma das imagens, nela Hunter e eu ainda éramos pequenos,


estamos os dois jogados na grama, deitados lado a lado, sorrindo dentro da

nossa própria fantasia.

Jake sorri, incrédulo, não conseguindo acreditar que o seu ex-


amigo fez isso. Não o julgo, também não consigo acreditar, jamais imaginei

que ele seria capaz de algo do tipo. Sinto um baque no peito ao ver cada
imagem da nossa história, todos os nossos momentos felizes, até os

recentes.
— É melhor eu sair — meu irmão recua e vai embora, preferindo
se afastar ao invés de opinar sobre alguma coisa.

Olho ao redor mais uma vez, notando um pequeno bilhete sobre


um dos arranjos que ocupa o espaço da escrivaninha.

Abro-o devagar, tensa sobre o que estou prestes a ler:


 

Não vou desistir de você, Mel.

 
É mais uma pontada no meu peito.
Por que ele está fazendo isso?

Será que quer me enlouquecer de vez? Já não basta tudo o que


aconteceu?

Esmago o bilhete entre os dedos e sinto vontade de revirar tudo,


destruir todos os jarros e flores, mas não tenho coragem. Respiro fundo,

absorvendo o perfume de cada uma das pétalas, o aroma mais doce que já
experimentei.

Não consigo compreender a confusão de sentimentos explodindo


dentro do meu ser, a raiva misturada à saudade, o ódio e o maldito amor que

ainda sinto por ele.


Ao ouvir a voz do meu irmão discutindo do lado de fora, olho pela

janela e um buraco se abre sob os meus pés quando avisto o Hunter diante
dele.
Como veio parar aqui já que não faz mais parte da universidade?

Como tem toda essa liberdade a ponto de organizar essa surpresa no meu
quarto?
Saio do dormitório e corro até eles.
— Jake! — me aproximo, fazendo meu irmão recuar e ativar o seu

modo protetor, se colocando na minha frente feito um escudo.


— Eu já falei, Scott, vai embora! — Jake rosna, apontando o dedo
para ele, graças a Deus os dois ainda não se esmurraram.

Calado e imóvel, todo de preto, Hunter não tira os olhos obscuros


de mim, fazendo-me queimar outra vez. Antes de me deixar levar pela
emoção intensa que me causa apenas por estar perto, lembro de tudo o que
ele fez, do empurrão que deu no meu pai, da maneira como me olhou, como
se eu fosse uma traidora.

Em nenhum momento acreditou em mim ou em tudo que entreguei


a ele.

— O que veio fazer aqui, hein?! — grito, erguendo o queixo. —

Vai agir como um animal outra vez?! Como o imbecil que você é?! — cerro
os punhos, em cólera.
Hunter não parece bem, está abatido e sente o peso de cada uma
das minhas palavras.
— Eu só queria te ver, Mel — declara, com a voz machucada.

— Mel? Agora me chama desse jeito e não de cadela como disse


na frente do meu pai?
— Estava fora de mim — afirma, calmo, não disposto a brigar
dessa vez, mas o problema é que eu quero guerra, quero feri-lo, vê-lo

sangrar.
— Não, Hunter Scott! — ergo o dedo em sua direção, possessa. —
Aquele era você de verdade, um moleque, um maldito viciado! Um cara

mimado e egocêntrico! Um monstro é o que você é e não pense que aquela


palhaçada que fez no meu quarto vai apagar o que aconteceu! — ele tomba
o rosto para baixo, envergonhado. — Não sei como pude me envolver com
alguém como você, um marginal! — cuspo as palavras, cheia de rancor.

Jake me segura quando faço menção em avançar para bater nele,


revoltada.
— Eu te odeio! Te odeio! — berro, chamando a atenção de alguns
poucos alunos que passeiam por perto.

De repente, a minha visão fica turva e o meu corpo amolece nos


braços do meu irmão. Começo a passar mal, enjoando, vendo tudo rodando
até me inclinar para o lado e vomitar.
— Halle! — Hunter tenta chegar perto, mas Jake o empurra!

— Saia daqui! Você faz mal a ela!


A minha respiração fica difícil, mas ainda consigo olhar para o
desgraçado, que finge estar preocupado com a minha saúde.
— Vai embora logo, Scott! — Jake o expulsa outra vez, Hunter

recua devagar, claramente não querendo ir embora.


Sinto vontade de continuar vomitando e o faço de novo. Não tenho
dúvidas de que esse mal-estar é fruto da presença dele.
 

 
 

 
 

 
 
 

HUNTER SCOTT
 

Os insultos proferidos pela Halle foram difíceis de processar,


entretanto, além deles, o que mais me fez sangrar por dentro foi perceber o

quanto ela me odeia de verdade, o quanto não me suporta por perto.

Testemunhar a raiva de Jake também doeu, ele era o meu melhor amigo e
confidente, agora não sobrou mais nada.

Apesar de ter sido expulso por ele, continuo recuando devagar, um


passo atrás do outro, não consigo me afastar de fato, ainda mais quando

percebo que, além dos vômitos, o rosto da Halle começa a inchar e

deformar rapidamente.

— Halle! — Jake é pego de surpresa quando a garota desmaia,


algo que faz o meu coração despencar e correr até eles.
— O que tá acontecendo? — pergunto, ajoelhando-me ao seu lado

na grama quando ele faz o mesmo para poder segurá-la.

— Eu não sei! — ele responde, preocupado, à medida que a pele

dela fica vermelha, uma reação cutânea.

— Isso parece alergia — concluo, tocando nela. — Temos que


levá-la para o pronto-socorro imediatamente! — Jake me olha sem saber o

que fazer, ele tem conhecimento tanto quanto eu que Halle nunca foi

alérgica a nada, não que me lembre. — Pegue o carro, eu levo ela — não o

espero decidir, tomo a garota em meus braços, notando que os seus lábios

estão mais inchados assim como os olhos.

Jake abre a porta traseira do seu SUV para que eu possa entrar com

ela e depois assume a direção, saindo rápido da universidade.

— Mel... Mel, vai ficar tudo bem — sussurro, abalado, com as

mãos trêmulas enquanto a acomodo melhor em meu colo. — Eu estou aqui

com você. Sem medo, lembra? Sem medo, amor — afago a sua face, um

frio horrível corroendo os meus ossos, tento expulsar da minha mente a

sensação de que posso perdê-la.


Ao erguer o rosto, encontro o olhar de Jake pelo retrovisor. Ele pisa

fundo no acelerador, correndo feito um louco até chegarmos ao hospital

mais próximo. A sorte é que o bairro em que a Atenas se encontra, é perto

de praticamente tudo.
Halle é levada pelos enfermeiros para a urgência, a pressa deles

assim que veem o seu estado me destrói por dentro. O médico faz uma

entrevista com o Jake para saber a possível fonte do que eu acho ser um

choque anafilático.

Tudo é muito rápido, somos impedidos de segui-los e obrigados a

aguardar em uma sala de espera. Ficamos sentados no sofá, lado a lado,


calados e tensos. Apoio o queixo sobre os dedos cruzados, apreensivo

demais, de uma maneira que nunca fiquei, nem mesmo quando a Blanca foi

presa.

Nicholas e Caroline surgem do corredor, de mãos dadas, a

preocupação evidente em suas faces. Jake se levanta para recebê-los.

— Mãe, pai — os abraça.

— Onde ela está? — Caroline pergunta, ansiosa.

— Na urgência, o médico suspeita que a reação alérgica tenha sido

causada devido ao camarão que ela comeu hoje no almoço.

— Mas não é a primeira vez que a Halle come camarão —


Nicholas comenta, então seu olhar finalmente recai sobre mim, e não é dos

melhores.

Nunca me senti tão constrangido.

— O médico falou que isso acontece...


— O que esse rapaz está fazendo aqui? — Fecho os olhos por um

instante assim que a voz grossa do pastor me atinge.

— Ele apareceu do nada e me ajudou a trazer a Halle, mas agora já


vai embora — Jake sentencia, obrigando-me a encará-lo em desespero. —

Já deu, Scott. Nos deixe sozinhos.

Calado, me levanto devagar, observando três pares de olhos que

recusam a minha presença, como se eu fosse contagioso. Sei que eles têm

razão, mas não quero ir embora.

Engulo em seco, chego a dar os primeiros passos para longe deles

até que meu corpo não consegue mais se mover. Viro-me para encará-los de

novo, esfregando os dedos suados uns nos outros.


— Se possível, eu quero ficar — peço, sentindo as pupilas

arderem.

— Não. Não é possível. Vá embora. — Jake dá um passo à frente,

de queixo erguido, impassível.

Ergo o rosto, respiro devagar, o ar difícil de fluir.

— Eu posso ficar bem ali no corredor, vocês nem vão me notar —

imploro, uma lágrima escorre, pesada. Jake fica impressionado, ele nunca

me viu chorar, não que eu me lembre.

Mas isso não é o suficiente para comovê-lo.


— Vá embora, Scott, ou eu chamo os seguranças. Você não é bem-

vindo aqui — Nicholas engrossa a voz, frio.

— É que eu não queria ficar longe dela — as palavras saem com

dificuldade, tombo o rosto para baixo, despedaçado.

Volto a observá-los, Caroline parece comovida, agarrando o braço

do marido, todavia, não se manifesta. Entendo de uma vez por todas que

aqui não tenho lugar e recuo lentamente, com a esperança de que um deles

me chame de volta, mas isso não acontece, sou obrigado a pegar o elevador

e descer até o térreo.

Me recuso a sair do prédio, então fico perambulando pelo hall, sem

conseguir me sentar, tentando tomar informações na recepção conforme as

horas passam.

Peço ao Drew para trazer o meu carro até o hospital, conversamos

um pouco antes dele ir embora.

Desperto ao escutar a voz do segurança, dormi sobre uma poltrona


e nem notei. Ao olhar pela vidraça, percebo que já anoiteceu.

— Ei, garoto, acorde — o homem uniformizado repete, trazendo-

me de volta para o mundo real. — Você é parente de algum paciente?


— Quê? — pergunto, ainda confuso, passo a mão no rosto e fico

de pé, ajeitando as calças.

— Se não for parente próximo de alguém, não pode ficar. —

Recebo a sua expressão nada amigável, a ideia de sair me deixa nervoso.

— Eu sou namorado de uma paciente — afirmo, convicto. —

Estou com a família dela — minto, tentando ser convincente.

— Tem como provar isso?

Faço menção em respondê-lo com outra mentira, mas avisto o Sr.

Duncan do outro lado do hall, o semblante enrijecido, provavelmente foi ele


quem mandou me expulsar.

— Não. Não tenho — respondo, amargo. Perdendo outra vez.

— Então tem que se retirar. — O guarda aponta para a saída, não

me resta outra opção.

De cabeça baixa, sigo para fora, atravesso a rua com as mãos nos

bolsos, abro o meu carro que está do outro lado e fico dentro, sem intenção

alguma de me afastar. Olho de novo para a parede de vidro do hospital, o

pastor continua no mesmo lugar, me observando como se para descobrir o

que é que eu vou fazer.

Agora estou na rua, daqui ele não pode me tirar.

Ao amanhecer, acordo com alguém batendo no vidro do carro,

demoro a perceber que é ninguém menos que o meu pai.  Saio do veículo
esfregando os olhos, ainda meio sonolento.

— Eu disse para ficar longe da menina Duncan e olha onde você

está — ele dispara, irritado. Está usando roupa social como sempre, e

óculos escuros.

— Foi o Sr. Duncan quem te chamou aqui? — pergunto, a voz

rouca, meu corpo dolorido por ter dormido no banco.

— Sim, porque garanti a ele que você não iria mais incomodar. —

Coloca as mãos na cintura, inconformado. — Vamos embora — me chama

com o rosto, mas não me movo.


— A rua é pública, pai — argumento, ouvindo o meu estômago
roncar. Estou com fome.

— Hunter, não me faça perder a paciência — engrossa a voz,


emputecido.

— Eu não vou sair — nego com a cabeça, as mãos cruzadas a


frente do corpo. — O senhor não precisa se preocupar comigo, prometo que

não vou cometer nenhuma loucura dessa vez.


— Hunter...

— Eu prometo, Mike. — O encaro, sério e decidido.

Ele passa a mão no cabelo, anda em círculo e por fim dispara:


— Está tão obcecado por essa garota que até se esqueceu da
audiência pela qual sua mãe vai passar.
— Não a considero mais como minha mãe. — Pensar em Blanca
ainda dói. — Quero que ela se foda.

Mike sequer consegue acreditar, parece realmente surpreso.


— Então vai ficar aqui até quando?

— Até ter a certeza de que a Halle está bem. — Coço a cabeça,


olhando para o hospital outra vez, rumo ao andar no qual ela está. — Você

pode ir lá... conseguir informações?


— Eu, filho? — Aponta para si mesmo.

— Por favor. — Mike fica ainda mais impressionado, sem me


reconhecer. Nunca fui gentil ou educado com ele.

O problema é que quando queremos muito uma coisa ou estamos


prestes a perder algo valioso, é fácil passar por cima do orgulho.

Ele assente, sem dizer nada, seguindo para dentro do prédio,


aproveito o tempo em que fico sozinho para comer em uma lanchonete ao

lado, onde o espero retornar depois de meia-hora lá dentro.


— E aí? — indago, enquanto Mike toma a cadeira à minha frente,

do outro lado da mesa.

— O corpo dela respondeu bem ao tratamento, foi necessário o uso

de adrenalina, mas continuará internada até melhorar. — Começa a folhear


o cardápio, procurando algo para comer.
— Por quanto tempo? — a curiosidade me açoita, a sua resposta
não me tranquiliza. Desisto de continuar devorando o meu sanduíche para

escutá-lo.
— Não sabemos, depende da resposta do organismo dela, pode

durar alguns dias. A reação alérgica foi grave, Halle poderia ter morrido se
vocês não tivessem agido de imediato. — Me analisa com apreensão, essa

possibilidade me faz perder a vontade de continuar comendo.


— Será que ela pode piorar? — Começo a roer as unhas, nervoso,

bato o pé insistentemente.

— Vamos torcer para que isso não aconteça, já basta tudo o que

essa família está vivendo. — Mike chama o garçom para fazer o seu pedido,
panquecas com calda e ovos fritos. — E você vai ficar aqui até ela sair?

— Vou — garanto, sem dar a chance dele replicar.


Entediado, Mike desiste de algum possível argumento. No fundo

ele sabe que nada me convencerá do contrário.


— Eu era assim na sua idade, principalmente quando me apaixonei

pela sua mãe — comenta, um sorriso triste toma os seus lábios antes de
engolir o primeiro pedaço de panqueca. — Sabe, filho, pode parecer

simples, mas é muito bom compartilhar uma mesa com você, me sentir seu
pai de verdade — confessa, fazendo meus batimentos cardíacos acelerarem

quando me dou conta do quanto ele me ama, coisa que nunca enxerguei.
— É, isso é legal — confirmo, desconcertado, voltando a me

alimentar também, usando isso como meio de me distrair desse sentimento


que pouco a pouco vai tomando o meu corpo, algo que soa dentro de mim,

uma confissão íntima de que por trás de todo aquele ódio, sempre gostei
dele.

 
Pelo décimo quinto dia consecutivo, chego ao hospital bem cedo e

estaciono no mesmo lugar de sempre. Todos os familiares da Halle foram


obrigados a me ver aqui durante todo esse tempo, sem falta, mas me

ignoraram, fingiram que eu não existia, todavia, não me importava, apenas


queria saber dela, apesar de que receber gelo do Jake também está me

afetando.
Para a minha surpresa, avisto Amy descendo de um táxi segurando

vários balões coloridos, é a primeira vez que a vejo por aqui.

Corro pela faixa de pedestres mesmo com o sinal aberto, ela escuta

os carros buzinarem e olha para trás, reconhecendo-me.


— Amy! — chamo-a, mas ela ainda finge não me escutar. — Amy,

por favor! — Seguro-a pelo braço antes que atravesse as portas do prédio.
— Não quero falar com você! — Se desvencilha, fitando-me

irritada.
— Amy, eu preciso saber como a Halle está, o Jake nem ninguém

da família dela me diz nada, estou no escuro...


— Também não é para menos, né? — rebate, fuzilando-me. — O

que tinha na cabeça quando fez a merda que fez? Por acaso você é idiota?
Depois de tudo agora vem dar uma de preocupado, ah, me poupe! — ela

tenta se afastar, mas a seguro outra vez.

— Olha eu sei que pareço a pior pessoa do mundo, tá bom?

Preciso apenas saber se a Halle está bem! — A encaro necessitado, como se


fosse a minha última chance. — Basta me dizer isso e depois pode falar o

que quiser que vou ouvir calado.


A solto, ofegante e determinado.

Amy me analisa com cuidado, talvez tentando captar algum


resquício de verdade ou mentira em meu semblante. Ela olha ao redor, nega

com o rosto, enche os pulmões e por fim me responde:


— Ela tá ótima, vai sair daqui a pouco, já pegou alta. — A

informação me faz sorrir após tantos dias de sofrimento.


— Valeu — agradeço, a minha alma se agita contente.

— Espero não me arrepender — Amy resmunga, antes de ir.


Atravesso a rua outra vez e abro a porta do carro, retiro de dentro
dele um urso gigante, quase do meu tamanho, que comprei já faz um tempo,

esperando esse momento. Não faz muito o meu estilo dar esse tipo de
presente, mas a intenção é chamar a atenção da Halle, já que a família dela
fará o possível para acontecer o contrário, eu acho.

Quando ela finalmente aparece, caminhando de braços dados com


os pais, linda e perfeita como sempre foi, seu sorriso morre assim que

ultrapassa as portas e me vê.


Meu peito arde, prestes a pegar fogo, minha barriga congela e a dor

que vejo na expressão dela me dá a certeza de que nunca irá me perdoar.

Amy agarra o namorado e cochicha algo em seu ouvido, como se


tivesse o acalmando ou impedindo que venha em minha direção. Halle me

ignora e vira o rosto para o outro lado, entrando no carro com a sua família
para ir embora.
Fico sozinho, parado no mesmo lugar, segurando o urso que não

ajudou em nada.
 

HALLE DUNCAN
 

Após sair do hospital, tudo o que quero é recomeçar. A experiência


de quase ter ido à óbito após um choque anafilático gravíssimo devido à

uma alergia a proteína do camarão – algo que eu nem sabia que tinha –, foi

o bastante para entender de uma vez por todas que não tenho tempo a
perder.

A vida é um sopro, como muitos dizem, ou um salto no vazio,


como aqueles que Hunter gosta de praticar, a diferença é que a qualquer

momento a corda que nos segura pode romper, e não há mais nada senão o

fim.

Foi um golpe forte tê-lo visto me esperando do lado de fora do


hospital, mais forte ainda foi descobrir que esteve ali todos os dias, mesmo
após ter sido expulso por diversas vezes.

Ele avisou naquele bilhete que não desistiria de mim e não desistiu.

Jake afirmou que se o Hunter não tivesse adivinhado que eu estava sofrendo

uma reação alérgica, talvez o meu fim tivesse sido outro, tendo em vista que

nesses casos, cada minuto até ser socorrido é valioso.


Deitada na cama do meu quarto, viro-me para o lado sem

conseguir dormir, pensando exclusivamente nele, com uma saudade que não

cabe no peito confrontando o que ainda resta do meu orgulho.

Esfrego a mão na garganta e desço até o peito, uma ardência

incomum me consumindo por dentro, tristeza e solidão.


Ouço um barulho familiar que me faz levantar da cama, uma

pequena pedra acertando o vidro da janela. Um alerta se espalha em meu

cérebro e não penso duas vezes ao me dirigir até lá. Abro as cortinas para

avistar um urso de pelúcia gigante no gramado, o mesmo que Hunter

segurava no hospital.

Ele está aqui.

Mordo o lábio inferior, nervosa, pego o meu robe sobre o mancebo


e visto sobre a minha camisola. Respiro fundo antes de sair do quarto,

caminho devagar pelo corredor, temendo acordar os meus pais e também o

Jake.
Saio pela porta da cozinha, aproximando-me do urso ao mesmo

tempo em que analiso o ambiente, sem sinal do Hunter.

Será que ele já foi?

Toco o urso que tem o meu tamanho e é lindo, com um laço

vermelho no pescoço que me faz sorrir. Sinto vontade de abraçá-lo e o faço,

sentindo a sua maciez e o perfume novo, imaginando o Scott em seu lugar.


É inevitável.

Escuto o som dos arbustos se movendo, então vejo Hunter saindo

de trás do tronco da árvore, das sombras da noite que tanto combinam com

ele. Está usando capuz como sempre, exalando perigo e mistério, mas, além

disso, um semblante enigmático que não consigo decifrar, um olhar

necessitado que arrepia o meu corpo inteiro.

Desconcertada por ter sido pega em flagrante recebendo o seu

presente de bom grado, engulo em seco e tento me recompor ao me afastar

do urso.

Hunter caminha até mim, com as mãos no bolso da jaqueta, cada


passo que dá faz sua energia me atingir mais forte, a atmosfera ficar mais

intensa, principalmente quando elimina o espaço entre nós dois, detendo-se

bem na minha frente.

Respiro fundo antes de ter coragem de levantar a face para encará-

lo. Ficamos dentro desse silêncio diferente, como se fôssemos estranhos à


medida que o frio da madrugada vai nos cercando.

— Você de novo — decido quebrar o gelo, levo uma mecha de

cabelo para trás da orelha. — A minha família contou o que fez por mim, eu
agradeço. De verdade. Obrigada. — Respiro com dificuldade, meus

batimentos cardíacos aceleram apenas por estar na presença dele.

Hunter continua focado em mim, sem dizer uma palavra, crescendo

a minha ansiedade. Olho para o urso uma última vez.

— Eu queria pedir para você levar esse urso, daqui a pouco vai

amanhecer, e...

— Eu te amo — ele dispara, pegando-me desprevenida. Imóvel,

nem sei o que dizer. Sinto a sinceridade e a dor na sua voz. — Fiquei com
tanto medo de te perder — seus dedos acariciam a minha face, um golpe

baixo demais para a carência que tenho dele.

— E as coisas horríveis que me disse? — Recuo, saindo do seu

feitiço. — Aquilo doeu tanto, Hunter. — Ele se aproxima de novo,

grudando sua testa na minha assim que fecha os olhos.

— Fica comigo — sussurra, seu hálito aquecido tocando os meus

lábios. — De todos os erros da minha vida, meu único acerto foi você. —

Fecho as pálpebras também, me entregando quando a sua boca toma a

minha com necessidade, como se não pudesse mais aguentar a ausência do

nosso contato.
Hunter me agarra pela cintura e pressiona o seu corpo quente

contra o meu, devorando-me dentro de uma química diferente, ambos

matando a saudade que nos incendeia, que nos maltratou durante todo esse

tempo. A sensação de que não nos víamos há anos.

O nosso toque é molhado, denso e visceral.

Nossos lábios se misturam até perdermos o fôlego, até esfregarmos

os rostos um no outro e minhas mãos correrem por seu cabelo, quase em

desespero para não perdê-lo, para mantê-lo o máximo possível perto de

mim.

Ele também me agarra como se tivesse com medo de que eu me

afaste outra vez, deposita beijos por meu ombro, pescoço e boca, ofegante,

absorvendo o meu cheiro, espalmando as minhas costas, me amando de

verdade, fazendo-me derreter em seus braços, como de costume.

— Eu sou louco por você — declara, rouco.

— Promete que ficaremos juntos? — Escorrego os dedos por sua

barba cerrada. — Que nada irá nos separar? — imploro, preciso que me

garanta isso, que me dê a segurança de um futuro onde nada existirá a não

ser nós dois.

— Prometo. Eu te amo desde que você invadiu o meu quintal e eu

te vi pela primeira vez. — Roça o nariz no meu, carinhoso, apaixonado,


roubando o meu sorriso. — Minha... — mordisca o meu lábio. —
Eternamente minha — completa, beijando-me outra vez, esquecendo do

mundo assim como eu.

Não consigo resistir a ele, Hunter tem esse poder de me tirar da

órbita, de me levar para uma dimensão onde a nossa paixão fala bem mais

alto.

E quando percebemos que precisamos de algo além do que apenas

beijos, Hunter me agarra pela bunda e me coloca em seu colo como se eu

não pesasse nada, minhas coxas cercando firmemente o seu quadril.

Olho ao redor, um medo absurdo de sermos vistos, mas meu medo


maior é de não ficar com ele, de não ser corrompida por esse fogo do qual

senti falta por todo esse tempo.

Estive morta durante o nosso afastamento, preciso me sentir viva.

Não aprovo o que ele fez, mas o erro maior foi termos sido

separados por más decisões e segredos de outras pessoas.

Hunter me carrega até a sua antiga casa, me surpreendendo ao

conseguir entrar pela porta lateral e me colocar sobre o aparador, após tirar

o pano que o cobria. Somente não ficamos no breu porque ele liga a

lanterna do celular e o deixa ao lado, uma luz suficiente para nos

enxergarmos.

Ele me ajuda a tirar o robe, e em seguida desce as alças da minha

camisola, desnudando os meus seios que não perde tempo em abocanhar,


mamando em mim com a mesma fome de sempre, mas agora em dobro,

sugando com força, os dentes roçando na minha carne.

Arranho o seu couro cabeludo e empurro a sua cabeça para baixo.

Hunter entende o meu desejo e puxa a minha calcinha, rasgando-a no

processo, cheio de pressa ao se abaixar mais e enfiar o rosto entre as minhas

pernas, chupando a minha boceta.

Fecho os olhos e mordo o punho para não gritar.

Estou tão carente que abro e fecho algumas vezes a cada lambida

servida dele.
Estico mais as pernas, totalmente vulnerável à sua boca, delirando
de prazer à medida que Hunter ergue uma das mãos e pressiona os meus

seios, beliscando cada mamilo, fazendo arder. Meu peito sobe e desce, o
abdômen se contrai, os gemidos saem abafados pela garganta assim que

sinto os seus dentes mordiscarem o meu clitóris.


Isso é o bastante para que eu possa gozar, descarregando a libido

para fora, uma fina camada de suor tomando o meu rosto.


Hunter ergue a face e toma a minha boca, permitindo-me

experimentar o meu próprio sabor ao mesmo tempo em que abaixa a calça e


se masturba, se preparando.

— Coloque o meu pau dentro da sua boceta, amor — pede,


mordisca o meu pescoço. Ele tira a camisa para que eu possa arrastar as
unhas pelo seu torso até segurar a sua ereção, que imediatamente queima os
meus dedos.

Puxo-o para mim, ansiosa.


Mordo o seu lábio inferior quando esfrego a sua glande na minha

entrada, entre as minhas dobras, o torturando, lhe tirando o ar.

— Você me quer? — sussurro, o seduzindo.

— Muito... — responde, lambendo os lábios, ansioso.


— Sentiu minha falta?

— Vou te mostrar — rosna, estocando fundo dentro de mim, até o


limite.

As minhas costas batem contra a parede, fico mais inclinada


quando Hunter ergue as minhas pernas, minhas panturrilhas contra os seus

ombros. Ele escorrega o polegar entre os meus dentes um segundo antes de


voltar a me penetrar, várias vezes, um golpe atrás do outro.

Fogoso e feroz.

Gostoso e ardente.

Mordo o seu dedo com força, a mesma que ele usa para me invadir
e quase arrancar o móvel do lugar, derrubando os velhos objetos que se

espatifam no chão.
Quando as minhas pernas ficam cansadas da posição, Hunter

coloca elas de volta em torno do seu quadril e me pega no colo, tirando-me


do aparador e me pressionando contra a parede, sem sair de dentro do meu
corpo.

Ele me beija assim que acelera as investidas. Agarro o seu pescoço


e faço de tudo para dar prazer a ele, ser tudo o que precisa, sua mulher hoje

e sempre.
Gememos no mesmo ritmo, arrasto língua por sua bochecha e

mordisco o lóbulo da sua orelha quando ele morde o meu ombro, abafando
o rugido assim que ejacula dentro de mim, perdendo a força dos

movimentos e me levando a um novo orgasmo.

— Minha... — murmura, quase sem ar, a voz trêmula, seus

músculos espasmando quando me leva até o antigo sofá, onde se senta sem
me tirar do seu colo.

— Eu te amo — beijo a sua cabeça, afagando-o por toda parte.


— Te amo mais — ele aperta as minhas nádegas.

Nós ficamos agarradinhos assim, sem nos mover, apenas escutando


a respiração um do outro, curtindo cada segundo do nosso reencontro.

Ao notarmos o dia amanhecer, nos recompomos e retornarmos para


o gramado da minha casa. Quando damos o beijo de despedida e Hunter se

prepara para levar o urso de pelúcia gigante, escutamos um rangido antes do


meu pai aparecer após abrir a porta da cozinha, nos flagrando.

Por incrível que pareça, dessa vez não tenho medo nem nada.
Estou segura.

— Eu converso com ele — Hunter dá um passo à frente.


— Não — o impeço, coloco o braço à sua frente. — Em outro

momento, primeiro eu — Hunter me encara sem ter certeza. — Está tudo


bem. Pode ir — assinto, tentando deixá-lo tranquilo.

Ele me abraça em despedida, pega o urso debaixo do braço e se


vai.

Papai volta para dentro, respiro fundo antes de ir até ele, está me
aguardando sentado à mesa, tamborilando os dedos na madeira. Fecho o

meu robe assim que detenho-me à sua frente, o encarando sem medo, mas
com um pouco de vergonha.

— Não queria que tivesse nos flagrado desse jeito — comento,


ouvindo o som do meu coração acelerado.

— Esse rapaz é insistente — diz, ainda mirando a porta por onde


entramos, a luz do sol ficando cada vez mais forte aqui dentro.

— Pai, eu...
— Quando o seu irmão me ligou afirmando que estava no hospital,
que Hunter havia ajudado a salvar você, eu fiquei curioso para entender

esse rapaz, saber se ele gostava de verdade da minha filha. — Volta a me


observar de uma maneira que nunca fez antes, como se me enxergasse pela

primeira vez. — Então, combinei com o Jake para dificultarmos a vida dele.
Nós fizemos de tudo para afastá-lo de você porque eu sabia que quem ama

de verdade, nunca vai embora mesmo com as dificuldades. Ele não foi,
ficou ali nos desafiando, tentando descobrir a todo custo como você estava

e não sossegou até vir aqui.


— Hunter errou feio, comigo e com você, mas eu e ele também

fomos vítimas das decisões que os nossos pais tomaram. — Sento-me na


cadeira, olho fixamente para o senhor Duncan. — Na hora da raiva, quis

afastá-lo, mas ele se arrependeu de verdade, pai.


— Você está feliz? — Agarra a minha mão, massageia os meus

dedos. — É só o que importa saber, porque já roubei a sua felicidade e a do


Jake por muito tempo, não quero mais continuar com isso. Vocês já são

adultos e aprenderão com os seus erros e acertos, não há motivos para eu e


sua mãe continuarmos interferindo nisso.

Aperto a sua mão, sorrindo de orelha a orelha.


— Pai, eu só me sinto feliz de verdade quando estou com o Hunter

— confesso, do fundo do meu coração.


— Então que assim seja. — Nicholas sorri pela primeira vez após

muitos anos, me emocionando.


Levanto-me para abraçá-lo forte, entendo que aquela barreira que

existia entre a gente não existe mais. Acabou.


— Você está com um forte cheiro de pecado — comenta.
— Pai! — reclamo, afastando-me dele sem saber onde me
esconder.

— É melhor tomar um banho — recomenda, obrigando-me a


esconder o rosto entre as mãos e correr rumo ao meu quarto.
 

 
 

 
 

 
 

HUNTER SCOTT
 

Após me acertar com a Halle, voltar para a Atenas ficou mais fácil,

já que eu não teria que lidar com a sua rejeição caso continuássemos
frequentando os mesmos lugares. Ela também desistiu de sair, não havia

mais motivo para estudar em outro lugar e ficar longe de mim.


Os seus pais, pelo visto, não iriam dificultar o nosso

relacionamento, todavia, ainda faltava uma conversa entre eu e o Jake, não


para pedir a sua permissão, nunca precisei disso, mas para saber de uma vez

por todas se ele voltaria a ser meu amigo.

Entro no estádio com Drew caminhando ao meu lado, vibrando de

felicidade.
— A galera vai vibrar quando te ver! — ele comenta, esfregando

as mãos de ansiedade. — Todos estavam sentindo a sua falta, irmão! —

Passa o braço pelos meus ombros, sorrindo. — Um time não pode ficar sem

o seu líder!

Dobramos no corredor e abrimos as portas que dão acesso ao


vestiário, onde os nossos jogadores de futebol americanos estão se

preparando para ir ao treino.

— Que rufem os tambores, o nosso quarterback voltou, caralho!!

— Drew grita, chamando a atenção dos espartanos.

Todos rugem assim que me veem, me cumprimentam e abraçam. A


comoção é geral, vivi muitas coisas com esse pessoal e ser recebido com

tanto carinho e camaradagem não tem preço, prova de que fiz um bom

legado.

— Aí, que porra esse cara tá fazendo aqui? — uma voz grossa e

alterada faz com que os rapazes se afastem e abram espaço para o Jake, que

está do lado oposto do vestiário, a frente dos armários vermelhos,

fuzilando-me com o olhar.


— Quê isso mano, relaxa. — Drew vai até ele, tentando

tranquilizá-lo.

— Relaxa o caralho! — Jake empurra o Drew e marcha até mim,

revoltado. — Vocês sabem o que esse cara fez? — se detém à minha frente,
erguendo o queixo.

Nos encaramos, ele com ódio e eu sem um pingo de vontade de

brigar, mas não disposto a abaixar a cabeça, não faz o meu estilo.

— Ele mandou o meu pai para o hospital, mas provou que nada no

mundo o fará desistir da minha irmã. — Dá uma pausa, respirando forte. —

Ainda estou muito puto com você, Scott. Mas você me ensinou que é
possível aprender com os erros — suaviza a voz e também o olhar. — Bem-

vindo de volta. — Estica um sorriso, fazendo um sentimento bom invadir o

meu peito.

Jake oferece a mão para me cumprimentar, eu retribuo e selamos a

nossa reconciliação com um abraço sincero e tapinhas no ombro.

— Valeu, irmão — agradeço, não precisamos conversar mais nada

além disso. Nos afastamos e trocamos um último olhar antes dos meus

olhos encararem o time inteiro. Encho os pulmões, pronto para retornar ao

comando: — ESPARTANOS! — berro, determinado, o sangue pulsando

nas veias.
Em resposta, ouço o Jake, Drew e todos eles:

— SIM, CAPITÃO! — Batem duas vezes no peito, de punho

cerrado, uma continência.

Tudo normal.

Tudo melhor do que antes.


 

 
Após a última aula da manhã, vou procurar por minha namorada

em sua nova sala, ela saiu do curso de farmácia e agora está fazendo o que

sempre gostou, fotografia.

A encontro em um dos pátios, fotografando o jardim. Aproximo-

me com cautela e roubo a câmera dela, assistindo-a gargalhar assim que me

reconhece e entende o que fiz.

— Isso, continua rindo, meu amor. Você daria uma ótima modelo,

sabia? — brinco, tirando várias fotos dela, do seu sorriso, felicidade e

doçura.

— Eu sei disso, porque... sou gata pra caramba. — Halle não está

mentindo, ela faz umas caras e bocas, posando pra mim e me hipnotizando,

a sensualidade sem ser forçada, natural em cada centímetro da sua pele.

Afasto a câmera do rosto e mordo os lábios, recebendo uma

pontada de tesão.

— Nossa, como é safado! — Ela corre para mim e pula em meus

braços. A agarro pela cintura e a levanto do chão.

Seu rosto sobre o meu, seus cachos perfumados e macios tocando a

minha face, feito um sonho.


— Você ainda não viu nada. — Tomo a sua boca, nos beijamos

com vontade até incendiarmos e Halle me empurrar para longe após ouvir

um grupo de amigos passando ao nosso lado. — Vem cá! — Puxo-a de

volta, seu corpo bate contra o meu.

Ela joga a cabeça para trás e gargalha, fazendo-me sorrir também.

— Hoje nós temos um convite para jantar — anuncio, pegando-a

de surpresa.

— Sério? — Pousa as mãos sobre os meus ombros. — De quem?

— fica curiosa.

— Meu pai me chamou para o nosso primeiro jantar em família

depois de... — tento lembrar. — Nem sei quanto tempo faz. Será a primeira

vez que vou a casa dele sem interpretá-lo como um inimigo, é importante.

A esposa dele quer te conhecer e será uma maneira de estreitar os laços.

— Ah, por mim tudo bem! Acho que vai ser maravilhoso! — Halle

segura o meu rosto entre as mãos e cobre os meus lábios com os seus,

rapidamente.

Em seguida, para e faz uma expressão reflexiva.

— Que foi? — Ergo uma sobrancelha, apertando-a um pouco mais

em meus braços.

Todas as vezes em que ficamos juntos é assim, não consigo soltá-la


por nada.
— E a sua mãe? — indaga, obrigando-me a revirar os olhos. — É

que você não me disse nada depois do comunicado do advogado.

— Ainda não fui visitá-la na prisão, nem pretendo — confesso,

meio desgostoso, não gosto de lembrar da mulher que antes significava

absolutamente tudo para mim.

— Um dia isso terá que acontecer, não poderá...

— Fugir para sempre — completo o seu sermão, imitando a sua

voz, fazendo-a rir outra vez e coçar a minha barba, um afago. Respiro fundo

após beijá-la. — Sou rancoroso, amor.


— E tá tudo bem. — Ela me beija de volta. — Acho que tenho um

precipício por caras rancorosos. — Faz um semblante de dúvida.

— Eu sei disso — me gabo, ganhando um tapinha no rosto. —

Bate de novo — peço, malicioso, ela gargalha.

— Jesus, repreende esse masoquista! — brinca.

— Não sou eu que goza apanhando — a provoco. Em resposta,

Halle morde o meu lábio, sem delicadeza.

— Aii — solto um gemido, tocando a minha boca com uma

expressão de dor.

— Desculpa, amor. Desculpa — deposita vários beijos sobre o meu


queixo e lábios, arrependida.

Finjo querer ir embora e Halle me agarra de novo, bem forte.


— Você é sádica! — faço drama, ela gargalha, arranhando o meu

couro cabeludo quando nos beijamos de verdade, até perdermos o ar.

Aperto a sua bunda, Halle imediatamente ergue a minha mão, apavorada

com a possibilidade de sermos vistos. — Quero te ver gozando quando eu

bater no seu rabo de novo — murmuro, safado, cheio de segundas

intenções.

— Hunter Scott, controle-se! — ela finge me repreender. — Dessa

vez, não! — Puxa a sua câmera e sai correndo, feito uma criança.
— Ei, volte aqui! — Corro atrás dela, regressando à infância

também.

Durante a nossa corrida pelo imenso gramado, sem nos

importarmos com os demais alunos nos observando, recordo de tudo o que


vivemos desde que éramos adolescentes.

Cada instante, cada sorriso e troca de olhares. 


Por algum motivo, a minha mente regressa para a noite em que

descobri através do meu pai que iria para fora do país, morar em um
internato. Dias depois da morte da minha tia e prisão da minha mãe:

 
Estava na minha cama, revoltado, enxugando as minhas lágrimas

logo após desligar o abajur da mesinha ao lado. Olhei mais uma vez para a
foto que tinha da minha mãe em minhas mãos e continuei chorando em
silêncio, segurando os soluços que desejavam explodir em minha garganta.

Lembrei das palavras duras do meu pai, detestei a sua decisão de


me expulsar e me afastar da minha mãe. Foi quando soube que o odiaria

para sempre.
Continuaria sofrendo se não fosse pelo barulho que escutei, e que

me fez jogar os pés para fora da cama, largar a imagem da dona Blanca.

Levantei assim que ouvi as batidas na janela mais uma vez. Ao

abrir as cortinas, me surpreendi ao avistar a Halle de pijama do outro


lado, um rostinho triste em meio aos cachos.

O que veio fazer no meu telhado no meio da noite?


— Halle? — Abri a janela para assistir a garota entrar devagar,

colocar os seus pequenos pés descalços no chão e me fitar com um medo


incontestável. — Como...? — enxuguei os olhos mais uma vez, puxei ar pelo

nariz, tentando me recuperar. — Como subiu até aqui? — Eu não


conseguia entender.

— Aprendi com você — respondeu, toda sem jeito, analisando-me.


— Hunter, você estava chorando?
Eu não queria que ela me visse assim, estava machucado e com

raiva, preferia mantê-la distante. Então me virei, de punhos cerrados,


dando as costas para ela.
— É melhor ir embora, seus pais logo vão descobrir que não está
na cama — fui duro e frio, assim como o meu pai era comigo.

— Hunter...
— Vá! — engrossei a voz, enraivecido, as lágrimas desceram mais

aquecidas que o normal.

— É que... fiquei sabendo que você vai embora amanhã, é


verdade? — sua voz saiu quebrada, assim como a minha.
— Sim — respondi, sugando ar outra vez.

— Então... por favor, tira uma foto comigo — pediu, fazendo-me


olhá-la de novo, testemunhar uma lágrima manchando a sua face

emocionada ao mesmo tempo em que tirava a sua câmera de trás das


costas.

— Você já tem várias de nós dois — reclamei, descontando nela a


minha insatisfação. — Por que veio aqui de verdade, hein, Halle? — ergui

o queixo, ferido.
Ela não conseguiu mais suportar e explodiu em um pranto feroz,

uma dor tão profunda que parecia parti-la ao meio.


— Por favor, Hunter, não vá embora! — fui assaltado pelo seu

abraço.

Imóvel, não sabia o que fazer.


— Não me deixe sozinha! Você é meu amigo, não pode ir, não pode

me abandonar! — implorou, ainda mais ferida que eu.


— Halle...

— Não vá, por favor. Não vá! Não vá! Eu ficarei com muita, muita
saudade! — Ergueu a face para mim, arrasada.

— Você... vai sentir saudades de mim? — Afaguei o seu cabelo,


entristecido.

— Um milhão de vezes — declarou, obrigando-me a fechar as


pálpebras e finalmente correspondê-la, apertando-a em meus braços.

Aquele foi o abraço mais dolorido que eu havia dado em alguém, o


mais sofrido e que me causou a sensação de sangrar por dentro.

— Também não quero ficar longe de você, Mel! — choraminguei,


cortado em pedaços. — Acho que conseguiria ficar longe de qualquer

pessoa, menos de você — segurei seu pequeno rosto entre as mãos, nós nos
encaramos em despedida, sem querer que aquilo fosse verdade. — Não

chore. — Deslizei o polegar por sua bochecha. — Juro que um dia vou te
encontrar — prometi, para nós dois.
Ela forçou um sorriso, linda. E ergueu a câmera.

— Então essa não será a nossa última foto? — perguntou, um fio


de esperança lhe atingindo.
— Claro que não — tentei afugentar a minha incerteza, sequer

sabia como seria o meu futuro. — Nunca teremos fim, sempre seremos o
meio. — O seu sorriso cresceu.

— Sempre seremos o meio — repetiu, mais lágrimas molharam o


seu rosto e o meu.

Enxuguei as dela e as minhas.

— Me dê aqui. — Tomei a sua câmera e ergui o braço. — Diga X.

— X — sua voz machucada ressoou, nós sorrimos da maneira que


podíamos e registramos o que não era para ser o nosso momento juntos.

Tomara que não fosse.


Quando entendemos que era hora de nos despedir de verdade, nos

abraçamos uma última vez e caminhamos até a janela. Halle atravessou


para o outro lado, sem soltar a minha mão.

— Vou pedir ao Papai do céu que proteja você — ela revelou,


acalentando a minha tristeza.

— Eu vou pedir que você nunca me esqueça — era o meu maior


desejo porque, eu sabia que jamais iria esquecê-la.

— Nunca esquecerei — Mel completou, então sorri uma última


vez.

Soltar a sua mão foi difícil, os nossos dedos escorregaram uns nos
outros, lentamente, até o toque se desfazer.
Halle partiu e eu não consegui fechar o vidro até que tivesse a
certeza de que havia chegado à terra firme em segurança. Eu me importava

demais com ela, não ficaria tranquilo se não soubesse que estava bem.
Voltei para a cama e pensei no que havíamos dito:
Nunca seremos o fim, sempre o meio.

 
 

 
 
 

HALLE DUNCAN
 
Alguns anos depois...

Observo a grande sala de estar mais uma vez, com as mãos na


cintura, aprovando a ornamentação que finalmente acabei de fazer, após três

dias de muito trabalho. Tudo está em perfeita ordem, a decoração de natal

muito bem produzida por todo lugar, trazendo a magia desse momento que
é um dos meus preferidos do ano.

— O que será que está faltando, filho? — Olho para o bebê de

quase um ano no carrinho, que sacode a estrela dourada em sua pequena


mão e sorri para mim, radiante. — É isso, a estrela! — Ajoelho-me à frente

do carrinho e o presenteio com um beijinho de esquimó.


Caleb libera um grito em resposta, feliz da vida, os olhos cintilando

após a conclusão do nosso mundo especial.

Não há prazer maior do que passar o dia inteiro com ele e ao

mesmo tempo conseguir trabalhar no meu estúdio, que fica no nosso

apartamento. Confesso que gosto de passar mais tempo o mimando do que


revelando as minhas fotografias, no entanto, me sinto realizada como mãe e

fotógrafa, e também como esposa.

— Dá para a mamãe a estrela, dá — peço, acariciando a sua pele

que tem o mesmo tom da minha. — Tenho que colocar lá no alto da árvore.

— Caleb gargalha quando cheiro a sua bochecha. Ele estica a estrela em


minha direção. — Você vai dar a estrela pra mamãe? — Sorrio de orelha a

orelha, consciente de que ele me entendeu. — Que lindo, filho. — Beijo a

sua testa, ele sacode os bracinhos e as pernas, está usando um macacão azul

com estampa de estrelas, ele adora esse símbolo.

Levanto-me e, com cuidado, subo a escada que deixei ao lado da

imensa e luxuosa árvore repleta de apetrechos, um mais fofo que o outro.

Coloco a estrela na ponta, desço os degraus e pego o meu filho no


colo.

— Vamos ver a árvore brilhando? Acho que fizemos um ótimo

trabalho. — Ligo todos os pisca-piscas.


Assim que as luzes preenchem a árvore, Caleb grita novamente e

bate palmas, encantado. Eu também fico animada com essa maravilha,

realmente a ornamentação de natal mais bela que já fiz.

— Será que o seu papai vai gostar? — Encosto o meu rosto no seu,

absorvo o seu perfume infantil. — Papai já deve estar chegando do trabalho

para a nossa primeira ceia de natal. Daqui a pouco os seus avós e os seus
tios também vão vir para brincarmos de amigo secreto. — Caleb ri,

parecendo entender tudo o que eu disse, ele adora a sua grande família.

Mal acabo de falar e a porta se abre, meu marido surge lindo como

sempre, usando um cachecol e sobretudo claro, ele sorri assim que nos vê.

Hunter deixa a sua maleta sobre o aparador, retira as suas luvas escuras e

passa álcool em gel antes de vir quase correndo até o Caleb.

O garoto se agita, o reconhecendo ao ir para os braços de seu pai.

— Oi, filho! Seu pai chegou, campeão! — Hunter o acolhe com o

máximo de cuidado, como se ele fosse feito de açúcar.

— Ele sentiu muito a sua falta — comento, acariciando a ambos.


— Apenas ele? — Hunter me oferece os lábios, nós nos beijamos,

noto a marca da máscara na sua face.

— Eu também, é claro. — Sorrio, deslizo os dedos por sua nuca e

fico na ponta dos pés para alcançar a sua boca. — Como foi no hospital

hoje?
Seguro a sua mão livre, caminhamos juntos até o nosso quarto.

Hunter beija Caleb várias vezes durante o percurso.

— Cinco cirurgias difíceis, foi bem complicado conseguir chegar


em casa a tempo — suspira, exausto, antes de se deitar na cama para erguer

Caleb acima do seu rosto, que adora a brincadeira.

Sento-me ao lado deles, observando feliz o amor entre os dois

explodindo por todos os lados, mais uma prova do quanto meu marido ficou

mais afetuoso após a paternidade. Eu também mudei, não tinha como ser

diferente, ser mãe é amar alguém antes de amar a si mesma.

Caleb se tornou o nosso coração batendo fora do peito, vívido e

saudável.
— Meu bem, você tem que tomar um banho e o Caleb tem que

trocar de roupa — chamo a sua atenção, mas a verdade é que não me

importaria de assisti-los por horas e horas, como sempre faço.

— Mas ele está tão lindo com esse macacão. — Hunter mordisca

os pezinhos do bebê, que gargalha, agitando os braços. — Você é tão

perfeito, filho. Sentiu saudades do papai? Também senti de você — se

declara, exalando uma paixão e admiração incondicional.

Caleb se transformou no sonho que Hunter nem imaginava que

tinha. Não vou romantizar, um filho dá muito trabalho, ainda mais para mim

que fico o dia inteiro com ele, todavia, além dos choros e fraldas sujas,
tenho a sensação de que a minha vida começou a ter um verdadeiro sentido

apenas depois do seu nascimento.

Meu coração bate mais forte a cada vez que vejo o seu sorriso, e

tenho certeza que vale o mesmo para o Hunter também.

Ele fica de pé logo após me entregar o bebê, que deito na cama.

Começo a tirar o macacão do Caleb ao mesmo tempo que Hunter tira a

roupa, mostrando o seu corpo musculoso que parece crescer a cada dia.

Não consigo evitar espiá-lo quando caminha até o banheiro, a

bunda máscula fazendo-me morder os lábios.

Gostoso.

Retoco a minha maquiagem assim que Caleb fica pronto. Hunter

brinca mais um pouco com ele antes de se vestir e ficar pronto também,

momento em que ouvimos a campainha tocando.

Um a um, os convidados vão chegando. Os primeiros a aparecerem

são Mike, sua esposa e o meu pequeno cunhado, de três anos de idade.

Depois Jake e Amy, e por fim os meus pais.

Graças a Deus, hoje parecemos uma família de verdade, todos se

dão bem na medida do possível e as feridas foram superadas, apesar de

ainda haver aquele sentimento de não terem sido esquecidas. Difícil

esquecer.
Nada melhor do que o tempo para amenizar as coisas. O tempo é o

melhor remédio para enfraquecer o rancor, e a chegada do Caleb foi, de

certo modo, a cereja do bolo. Por outro lado, Blanca ainda continua presa,

todos fingimos que ela não existe.

Após devorarmos a ceia e desejarmos um “feliz natal” entre beijos

e abraços, aproveitamos o sono das crianças para nos reunirmos em volta da

árvore e da lareira para brincarmos de amigo secreto.

A princípio, fazemos uma confusão para saber quem começará, até

que Amy toma a frente da situação. Como sempre, minha amiga não tem

medo de nada.

— Bom, o meu amigo secreto... — Ela pega o seu presente entre os

demais que estão aos pés da árvore, é um grande pacote vermelho com um

laço verde. — É uma pessoa gentil, meio cabeça-dura às vezes, divertido.

— Olha para todos nós, tentando disfarçar o seu alvo. — É alguém que eu

amo profundamente e jamais pensei me apaixonar. — Então se entrega,

fitando o Jake.

— Aaah — todos ficam encantados com a sua declaração.

— É você, meu amor — ela segue até o meu irmão, que se levanta

para abraçá-la e beijá-la. Os dois parecem cada dia mais apaixonados um

pelo outro.

— Abre — Amy pede, entregando o pacote a ele.


— Abre aí, que quero ver! — digo, curiosa, abraçada ao Hunter

que está sentado ao meu lado.

— Eu vou abrir, hein — Jake anuncia, rasgando o papel e abrindo a

caixa. — O que é isso? — Ele franze a testa quando retira dois sapatinhos

de neném cor-de-rosa.

— Não acredito! Eu vou ser avó de uma menina? — Mamãe fica

de pé e bate uma palma única, encantada.

— Aham — Amy confirma, sorrindo de felicidade.

— Meu amor, você me fez o homem mais feliz do mundo! — Ele a


abraça, ela chora, trêmula e tudo vira uma comoção.
Todos fomos pegos de surpresa!

Mamãe não apenas abraça a sua nora, como acaricia a sua barriga e
dá pequenos saltos de felicidade. Ela e papai estão amando essa fase avó e

avô.
Quando o impacto da novidade passa e nos sentamos de novo,

Jake, ainda emocionado, captura o seu presente para começar o seu


discurso:

— Bom, eu não sei enrolar, então serei sucinto. — Ele nos faz rir
com as suas palavras e os olhos marejados. — O meu amigo secreto é a

mulher mais forte que já conheci, a mais corajosa e que, apesar das fases
ruins que tivemos, soube reconhecer os seus erros e se doar para a família
que decidiu escolher. Obrigado por me trazer ao mundo e ser a minha mãe...
senhora Duncan — de olhos brilhando, mamãe vai até o filho para abraçá-

lo.
Ela o beija na bochecha e na testa antes de abrir o seu presente, um

lindo vestido.
— Amei, querido. Muito obrigada — acaricia o rosto dele, pega o

seu presente e se prepara para discursar.

Caroline respira fundo e pressiona o pacote entre os dedos, se

encorajando.
— Gente, o meu amigo secreto é... bem, como posso dizer... —

sorri, procurando as palavras —, foi muito difícil procurar algo para dar a
ele, porque... eu queria que fosse uma coisa que representasse toda a minha

sinceridade. Fiquei me perguntando... como presentear uma pessoa que


você feriu profundamente e que agora... por obra do destino, se tornou, de

certa forma, o seu parente? — Seus olhos vermelhos recaem sobre o senhor
Scott.

Todos ficam em silêncio, minha garganta trava e pouco a pouco


tenho a sensação de que vou perdendo o ar. Mike está focado nela, bem
sério, imóvel. Sua esposa segura o seu filho nos braços. Hunter aperta a

minha mão, provando o seu nervosismo, até eu estou nervosa.


O tempo amenizou as coisas, mas nunca ninguém falou
diretamente sobre o passado, meio que fingimos não ter existido e

seguimos.
— Mike, já tivemos essa conversa antes, não quero reavivar velhos

traumas, mas apenas deixar claro que você é um grande homem. Um ser
humano inigualável, um exemplo a ser seguido. O meu neto... — Mamãe

observa Caleb dormindo no carrinho, ao meu lado. — Não poderia ter um


avô melhor. Porque a diferença entre você e a maioria das pessoas é que

você sabe, como ninguém, se colocar no lugar do outro e merece de verdade


tudo o que tem, toda a felicidade do mundo.

Ela estica o pacote para ele, meu sogro se ergue e vai até a mulher,
ambos trocam um abraço sincero, que representa muito para a nossa família

e acalma o meu coração.

O jogo continua até que chega a vez do meu marido:

— O meu amigo secreto é um cara que... — Hunter também decide


não fazer mistério, ele nem teria essa opção porque o único homem

sobrando para ser presenteado é o meu pai. Nicholas o observa atentamente,


sem saber o que esperar, como todos nós. Nem eu sabia que ele era o amigo

secreto do Hunter. — Teve muita paciência comigo, uma que talvez


nenhum outro teria se estivesse no seu lugar. Todos nós aqui tivemos
atitudes que não são bonitas ao longo da vida, mas... eu errei feio com um

homem que admirava quando era criança.


Hunter pressiona o seu presente nas mãos, pensando bastante antes

de continuar, segurando o seu olhar em meu pai que aos poucos é atingido
pela emoção.

— Mesmo assim ele permitiu que eu tivesse o seu bem mais


precioso, colocou a mão na minha cabeça e perdoou o imperdoável.
Ensinou a mim a maior lição que teve na vida: nós somos aquilo que

carregamos dentro do peito. — Uma lágrima escorre pela face do senhor


Nicholas, fico abalada com essa cena de carinho que Hunter está nos

proporcionado, algo que toca os convidados. — Obrigado por ser esse avô
prestativo, um amigo que eu nem merecia e também agradeço por ter

rebatido o meu ódio com o amor e não o contrário. Hoje, admiro poucas
pessoas na vida, uma delas é você, senhor Duncan.

Em pranto, papai levanta para abraçá-lo.

Não consigo resistir e os abraço também. Para a minha surpresa,


mamãe faz o mesmo e em poucos segundos o grupo inteiro faz um abraço
coletivo.

Se antes a paz ainda não havia sido selada, agora foi de vez.
Quando tudo encerra e os convidados vão embora, pego Caleb e

levo-o até o berço. Tiro a sua roupa bem devagar para não acordá-lo,
deixando-o bem confortável após lhe dar de mamar.

Assim, retorno para a sala, procuro o meu marido e o encontro na


sacada, encostado no guarda-corpo, admirando a cidade lá embaixo, nós

moramos na cobertura do prédio. Ele está usando uma camisa social branca,
alguns botões estão abertos, dando abertura para o seu peitoral, um detalhe

que o torna ainda mais charmoso e fatal.


— Está ouvindo? — ele pergunta, logo após notar a minha

presença.

— O quê? — Me aproximo após tirar os saltos, libertando os meus

pés superdoloridos. Ouço Perfect, de Ed Sheeran, sendo tocado em


saxofone pelo nosso vizinho do andar de baixo, que é músico. Adoramos

ele. — Que lindo... hoje o vizinho arrasou!


Hunter vira a sua taça e me oferece a mão após se livrar dela.

— Gostaria de dançar comigo, senhorita?


O meu sorriso imediato expressa o meu grandioso sim.

— Mas é claro. — Entrelaço os meus dedos aos dele, sou puxada


para os seus braços, nossos corpos se encontram como se tivessem sido

feitos um para o outro.


Começamos a dançar conforme a linda música, um olhar preso ao

outro, minha pele corrompida por sua energia, a sensação de que estamos
dançando pela primeira vez. Tudo sempre parece a primeira vez com ele.
O céu iluminado pelas estrelas serve como um amigo
testemunhando o nosso lindo momento, a lua é mais uma a nos espiar,

enorme, mágica e romântica, tanto quanto o meu marido, o homem que se


entregou profundamente a mim e me libertou das amarras onde eu, sem
perceber, havia me prendido.

— Hunter... — sussurro contra os seus lábios.


— Oi, meu amor — sua voz mansa e grossa, me arrepia.

— Como seria se não tivéssemos chegado até aqui? — a pergunta

inusitada invade a minha mente.


Teria existido uma história onde não nos reencontrássemos? Onde

não terminássemos juntos?


— Não seria. — Ele gruda a testa na minha, sem parar de me

engolir com os seus olhos sombrios e perfeitos. — Não existe vida sem
você, Mel — declara, obrigando-me a beijá-lo com devoção e o maior amor
do planeta, incalculável e intragável. — Você nasceu para ser minha e eu

nasci para ser seu.


— O nosso amor era inevitável — concluo, vivendo o meu conto

de fadas.
— Aham — ele garante, me rodando em seus braços. Sou puxada

novamente para ele, o som da canção nos envolve e eleva as almas, uma
vontade de ficar assim para sempre. — Porque nós éramos apenas crianças
quando nos apaixonamos — Hunter canta a letra da música, acaricia o meu
rosto com as costas das mãos, um sorriso apaixonado estampando o seu

rosto. — Não sabíamos o que era. Eu não vou desistir de você dessa vez.
Mas querida, apenas me beije devagar — fecho os olhos quando os seus

lábios tomam os meus uma última vez, e ele segue recitando a poesia: —
Seu coração é tudo o que eu tenho. E em seus olhos você está segurando o

meu.
 

Amor, eu estou dançando no escuro

Com você entre meus braços

Descalços na grama
Ouvindo nossa música favorita

Quando você disse que estava feia


Eu sussurrei bem baixinho
Mas você ouviu

Querida, você está perfeita esta noite


 
Eu encontrei uma mulher, mais forte que qualquer pessoa que
conheço

Ela compartilha dos meus sonhos, eu espero que um dia eu


compartilhe seu lar
Eu encontrei um amor para carregar mais do que apenas meus
segredos

Para carregar amor, para carregar nossos filhos


 

Nós ainda somos crianças, mas estamos tão apaixonados


Lutando contra todas as possibilidades

Eu sei que ficaremos bem desta vez


Querida, apenas segure minha mão
Seja minha garota, eu serei seu homem
Eu vejo meu futuro em seus olhos

 
Amor, eu estou dançando no escuro
Com você entre meus braços
Descalços na grama

Ouvindo nossa música favorita


Quando eu vi você naquele vestido

Estava tão linda


Eu não mereço isso

Querida, você está perfeita esta noite


 
Amor, eu estou dançando no escuro
Com você entre meus braços
Descalços na grama

Ouvindo nossa música favorita

Eu tenho fé no que vejo


Agora sei que conheci um anjo em pessoa
E ela está perfeita

Eu não mereço isso


Você está perfeita esta noite
 

Clique aqui e tenha acesso a ilustração


explícita de uma das cenas quentes do casal.
 
 
 

A vida é uma caixinha de surpresas.


Sempre tive vontade de participar de um projeto com amigas do

meio literário, mas tinha medo de tomar a atitude e ser mal interpretado. No
entanto, o destino me uniu a três mulheres talentosas que praticamente

iniciaram a carreira na escrita junto comigo.

Ao meu lado, Ly, Jéssica e Joane compartilhavam não apenas o

amor pela escrita, como a vontade de voar ainda mais longe com esse

trabalho que nos faz feliz e nos incentiva todos os dias, apesar dos
perrengues e surtos coletivos.

Dessa vez agradeço a elas, pela a amizade, em primeiro lugar.

Pelas conversas e conselhos, as piadas, os dramas, os incentivos. Não me

restam dúvidas de que todo o nosso trabalho valerá a pena e de que novas
portas se abrirão em nossa caminhada.

Obrigado por tudo, meninas, e que futuramente possamos trabalhar

em um novo projeto.
 

INSTAGRAM
FACEBOOK

GRUPO DO FACEBOOK

WATTPAD
 

 
CONHEÇA OS OUTROS LIVROS DA SÉRIE

A PROMESSA DE COLIN – LY ALBUQUERQUE:

New Adult :: Good Girl X Bad Boy:: Popular x Nerd:: Jogador de Hóquei::

Corridas Clandestinas::

 
COLIN PRESCOTT

Eu costumava fazer coisas ruins, mas nunca imaginei ir tão longe. Eu nunca

me esqueci daquele dia e a culpa me assombra até hoje.


Por isso, quando ela foi para a faculdade, decidi me matricular também. Eu

preciso protegê-la, cumprir a promessa que fiz diante de um túmulo, mesmo

que Emma não saiba disso, mesmo que isso me leve a cometer mais delitos.

No entanto, Emma Rollins se apaixonou por mim, pelo perigo que

descobriu gostar de correr estando ao meu lado, apesar de saber que eu


tenho um passado sombrio guardado a sete chaves e como ela diz, sou um

bad boy mimado.

Juntos, nós podemos ser uma combinação explosiva, afinal o proibido é

mais intenso, mas eu sei que, eventualmente, a verdade virá à tona. E

quando isso acontecer, não sei se ela será forte o suficiente para superar
tudo.

EMMA ROLLINS

Ele é o tipo de cara que todos avisam para manter distância, sei que tenho

que ter cautela, mas Colin Prescott é como uma droga, uma que eu não

consigo resistir.

Ele fala em amizade, mas sua presença me revela uma mentira, até porque
sinto seu olhar me perseguindo, seu sorriso misterioso e seu toque suave me

envolvendo em um desejo possessivo, e ainda assim, ele me faz sentir como

um território proibido em seu mapa. Eu não sei seus motivos, no entanto,

sou atraída para o desconhecido.


A verdade, quando vier à tona, será capaz de me libertar do seu domínio ou

serei levada a uma queda fatal?


A BUSCA DE LIAM – JOANE SILVA

LIAM
Ela arruinou meu irmão, agora promoverei a sua ruína.

Minha família, cega pela fachada que constrói, não sabe do meu verdadeiro
eu, da minha natureza inconsequente, que se alimenta das más escolhas e

das consequências que vêm junto. Dentro de mim, há uma batalha: o Liam
que devo ser para manter a fachada e o Liam que quero ser, livre de amarras

e regras. Lily, com sua insensibilidade e egoísmo, é a responsável pela

tragédia que colocou meu irmão em uma cadeira de rodas, e agora chegou a
hora de fazê-la pagar por isso. A justiça será feita e eu serei o seu carrasco.

Farei com que implore por perdão e descubra que não há espaço para

misericórdia dentro de mim.

Lily tem se escondido como uma covarde, mas não há lugar no mundo que
seja longe o bastante e que me impeça de sentir o cheiro do seu medo.
Encontrarei a minha presa, e quando ela estiver nas minhas mãos, talvez a

gente brinque um pouco para decidir quem destrói o outro primeiro. Talvez

seja divertido antes do fim, porque Lily é àquela fraqueza que jamais me

permiti ter.

LILY WHITE
Mais uma vez ela errou, e mais uma vez estou levando a culpa.

Meu coração disparou e o medo tomou o meu corpo quando senti a sua

presença pela primeira vez.

No começo eu queria correr do garoto que queria me machucar, mas cada

dia que passa aumenta o desejo insano de o sentir mais de perto, porque
talvez eu tenha um gosto pouco saudável pelo perigo.

Talvez eu deixe Liam Davis me pegar. Ou talvez eu decida dificultar a sua

caçada, porque está na hora de outra pessoa ditar as regras.

 
A CONQUISTA DE BLAKE – JÉSSICA LARISSA

 
MELINDA CLARK

Meu pesadelo é o irmão mais velho do meu namorado.

Eu deveria ser a aluna perfeita, a filha perfeita e um dia, a esposa perfeita.


Mas fora do mundinho que idealizei, vive Blake Brooks, o tipo errado que

uma garota como eu precisa se manter distante.


 

Ele é misterioso, cruel, e completamente corrosivo… No entanto, bonito

demais para que eu não repare. Blake não conhece escrúpulos ou limites

quando me olha, como se quisesse me devorar ao mesmo tempo em que


deseja a minha morte.

 
O prudente seria ele realmente almejar a minha morte, mas por que eu

quero tanto que me deseje?

BLAKE BROOKS

 
Ela é a garota perfeita que o idiota do meu irmão não merece ter.

Ela é toda certinha e delicada, e é isso o que mais odeio em Melinda Clark.

E é por tudo o que aconteceu no passado que me aproximo e a contamino

com minha presença. Eu a observo todas as noites enquanto dorme. Eu a


persigo. Eu me introduzo pouco a pouco no seu sistema. Meu plano é

simples: vou corrompê-la e fazer a minha justiça, mas por que a vingança

não me soa tão doce quanto o gosto de possuí-la?

[1]
Protagonista de A Busca de Liam, livro 02 da série BAD PRISON.
[2]
Protagonista de A Conquista de Blake, livro 04 da série BAD PRISON.
[3]
Protagonista de A Promessa de Colin, livro 01 da série BAD PRISON.
[4]
Marca de câmera fotográfica.
[5]
Foi uma das mais importantes cidades-estados da Grécia Antiga e ficou marcada por ter uma
sociedade hierarquizada com pouca mobilidade social.
[6]
Sigla de apartamento.
[7]
Protagonista de A Busca de Liam, livro 02 da série BAD PRISON.
[8]
Protagonista de A Conquista de Blake, livro 04 da série BAD PRISON.
[9]
Protagonista de A Promessa de Colin, livro 01 da série BAD PRISON.

Você também pode gostar