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NOS BRAÇOS DO INIMIGO
Copyright© 2023 – Fernanda Santana
 
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qualquer forma e/ou qualquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo
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sem permissão escrita da autora.
 
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
 
Design de capa: Ellen Ferreira
Diagramação: Jack A. F.
Ilustração: Little Pink Design – Rosa Aguiar
Revisão: Deborah A. A. Ratton
 
Edição Digital ǀ Criado no Brasil
 
1º Edição
Março de 2023
 
NOTA DE AUTORA
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
BIOGRAFIA
MAIS LIVROS DA AUTORA
REDES SOCIAIS
 
Antes de começar essa leitura, preciso deixar claros alguns pontos:
Nos braços do inimigo não é um livro dark, nem mesmo atua no
universo da máfia, embora vocês vão se deparar com alguns mafiosos pelo
caminho.
Porém, Lionel Rossi é um anti-herói e, como tal, pratica atos
moralmente questionáveis. Isso não quer dizer que o que ele faz é certo,
apenas que faz sentido dentro de sua história de vida. Os seus
comportamentos são duvidosos e, se você procura por uma redenção, sinto
lhe informar, mas não encontrará aqui.
Lionel é um anti-herói e continuará assim até o fim.
Aproveito para deixar o alerta de gatilhos encontrados na história:
Contém cenas de sequestro, violência gratuita, tortura e situações que
podem te causar desconforto.
Se ainda assim, decidir se aventurar nessa leitura, garanto que não irá
se arrepender.
Prometo lágrimas, surtos, adrenalina e cenas de tirar o fôlego.
Cenas de sexo explícito e palavras de baixo calão também estão
presentes na narrativa, por isso não é recomendada para menores de dezoito
anos.
Dito isso, desejo uma excelente leitura!
Um beijo,
Fê Santana
 
Quando o Banco Central Americano anuncia a chegada de uma nova
moeda, Lionel Rossi sabe que precisa agir.
Ele não só precisa adaptar o seu maquinário, como invadir um dos
sistemas mais seguros dos Estados Unidos para conseguir reproduzir a
moeda mais valiosa do mundo e prosseguir com seus negócios.
E, para isso, precisa dela.
Ava Stone é ninguém menos que a namorada foragida do contador de
seu maior rival e a peça-chave para o que ele precisa.
Quando Lionel rapta a hacker mais procurada do país, a garota tem
duas opções:
Aceitar a oferta de trabalho de Lionel ou voltar para as garras do
namorado abusivo.
Ele tem a segurança que ela precisa.
Ela tem a salvação para os negócios dele.
Um acordo é estabelecido e desperta a fúria de seu pior inimigo.
Entre trocas de farpas e provocações, uma atração surge onde menos
se espera.
Quando uma guerra é declarada, Lionel não só lutará pelos seus
interesses, mas por aquela que ousou entrar em seu coração.
 
 

 
 
Pela janela do meu quarto, vejo quando Elijah e Charles entram no
carro preto e somem de vista, acompanhados de seus seguranças. Respiro
fundo e sinto o coração bater acelerado dentro do peito.
Preciso agir.
Preciso fazer isso dar certo.
Abro o meu guarda-roupa, pegando apenas um vestido leve e um par
de sandálias rasteiras, para que não faça volume na mochila. Um boné, uma
peruca e um par de óculos escuros já estão escondidos no fundo dela. Abro
a gaveta e pego um envelope cheio de dinheiro, agradecendo aos céus por
Elijah sempre me pagar em mãos e nunca em conta bancária.
Meus documentos também estão aqui, junto tudo e bato na mochila
de modo a aplacar o volume e evitar chamar a atenção.
Olho tudo ao redor e confiro se não estou deixando nada importante
para trás. Quando saio do quarto e fecho a porta atrás de mim, tento
controlar a respiração e não demonstrar o nervosismo que me invade pelo
que estou disposta a fazer agora.
Caminho pelo casarão e sorrio para os rostos conhecidos à procura de
Andrew, o segurança que Elijah colocou atrás de mim feito um cão
farejador. Quando o encontro, vejo que está sentado tomando uma caneca
de café.
— Preciso ir ao mercado — anuncio tentando transmitir uma
tranquilidade que definitivamente não está em mim.
O moreno alto só arqueia a sobrancelha curioso.
— Não sei se é uma boa ideia.
— Emergência feminina. — Dou de ombros, mas ele não parece
convencido. — Prefere me levar, ou procurar um absorvente com abas nas
prateleiras?
A careta que ele me faz entrega tudo.
— Foi o que eu pensei.
— E por que a mochila? — Aponta para a bolsa nos meus ombros e
eu sinto as mãos suarem pela adrenalina.
— Você tem alguma mulher em casa, Andrew? — pergunto e ele
franze o cenho para mim. — Já vivenciou algum incidente vermelho?
O semblante do segurança se torna enojado; ele apenas assente antes
de se levantar da banqueta e virar o resto do café.
— Vamos então.
O grandalhão me guia até a garagem e eu me acomodo no banco
traseiro do carro preto, já sentindo o corpo tremer em expectativa. Precisa
dar certo. Há dias estou bolando esse plano e preciso muito conseguir.
— Pode me levar ao Maddison’s? — peço, escolhendo o mercado que
está em um ponto bastante favorável para mim.
— Tem um mercado aqui no bairro — aponta.
— Mas ele não tem banheiro — retruco. — A não ser que queira que
eu suje o seu carro de sangue e…
O moreno pragueja antes de assentir e me guiar para onde eu quero.
Homens e sua aversão à menstruação, como se isso fosse mesmo uma
aberração. No entanto, caiu como luva para mim hoje.
Quando chegamos ao local, desço do carro e logicamente Andrew me
acompanha pelos corredores do mercado. Faço o pagamento no caixa e
peço para ir ao banheiro, neste momento preciso agir rápido.
Entro na cabine e tiro o short jeans, tênis e camiseta que estou usando.
Jogo no lixo e visto a roupa que eu trouxe, ajeitando a peruca ruiva e os
óculos escuros.
Sei que Andrew me reconheceria de perto, mas, se me vir andando ao
longe de costas, eu consigo me camuflar no meio das pessoas.
Com a mochila presa nas costas, subo na pia do banheiro e alcanço a
janela que tem o espaço ideal para um corpo magro feito o meu. Eu me
impulsiono para fora e, quando olho para baixo, vejo uma pilha de caixotes
de madeira. Pulo sobre eles e o impacto causa um barulho alto demais.
Alerta, corro em disparada, dando a volta no quarteirão, e, como se
Deus ouvisse as minhas preces, um táxi desponta pela avenida.
Dou sinal e entro nele rapidamente, sentindo o meu coração bater
ainda mais forte dentro do peito.
Enquanto o motorista me leva ao meu destino, eu me abaixo, deitando
no banco traseiro, e faço uma prece em agradecimento.
Finalmente estou livre.
 
 

 
 
— Você tem certeza disso, Gavin?
Solto um suspiro e caio sentado na cadeira, não gostando nada do que
acabei de ouvir.
— Não se fala de outra coisa aqui, Rossi. É questão de tempo até sair
na TV.
— Certo. Qualquer novidade, me avise.
Encerro a ligação e sinto todos os músculos do corpo tensionarem-se.
Mas que caralho.
A última coisa que eu preciso agora é da porra do Banco Central
mudando a moeda.
Esfrego a mão pela barba me sentindo nervoso e ligo para o meu
advogado.
— Carter, preciso do conselho em meia hora na sala de reuniões.
Levanto-me da cadeira e vou até o barzinho de meu escritório me
servir de uma dose de uísque. Viro o líquido de uma vez só, sentindo-o
queimar a garganta, enquanto a mente trabalha feito uma engrenagem
pensando em uma solução.
Se Gavin estiver certo, eu vou ter que praticamente começar do zero.
Mudaram tudo.
O design das notas de dólar, tamanho e marca d’água.
Sirvo-me de mais uma dose de uísque, que desce rasgando em meu
peito.
Por que mexer no que está dando certo?
Porra!
E pensar no trabalho que vamos ter para readaptar toda a minha
produção. Fecho os olhos e inspiro fundo, não querendo acreditar no que
está acontecendo.
Sei que não vou aguentar ficar parado esperando pela reunião, então
decido procurar por Luke Hughes, o cara responsável pelo TI desde que
Nathaniel se foi.
E pensar nisso me faz rir sem humor algum. Logo na hora em que eu
preciso do meu melhor homem, a porra de um câncer o tira de mim.
Mas que desgraça.
Ando pelo casarão em direção à sala de tecnologia e o encontro
absorto em seu computador.
— Rossi — cumprimenta-me, tirando os fones de ouvido, logo que
nota a minha presença.
— Diga-me, Hughes — chamo, puxando a cadeira para me sentar
diante dele. — Já invadiu o sistema do Fed antes? — pergunto referindo-me
ao Federal Reserve, Banco Central americano, e ele arregala os olhos para
mim.
Era exatamente essa merda que eu temia.
— Não, senhor.
Praguejo e soco a mesa, fazendo sua caneca de café tremer sobre a
madeira.
— Acha que consegue fazê-lo? — pergunto olhando dentro dos seus
olhos, e o loiro engole em seco.
— Posso tentar…
— Porra!
Levanto-me em um rompante e puxo os cabelos nervoso.
— Não trabalho com tentativas, Hughes. Trabalho com certezas —
digo-lhe firme.
— O sistema do Banco Central é um dos mais seguros do mundo,
senhor. Semelhante ao da CIA e…
— Foda-se — corto-o. — Precisamos encontrar um jeito de acessar
aquela porra.
Só de pensar no que pode acontecer caso não consigamos, sinto meu
corpo estremecer…
Não…
Nem a pau.
Nós vamos conseguir.
Não importa como.
Saio de sua sala e caminho a passos largos em direção ao segundo
andar, onde encontro Scott Adams, o meu chefe de segurança, pelo
caminho.
— Algum problema, Rossi? — o moreno alto me pergunta, notando
minha inquietação.
— A porra do Banco Central vai lançar uma nova moeda.
— Ah, caralho…
— Por isso eu convoquei o conselho — aviso, guiando-o até a sala de
reunião.
Ao entrar, já encontro Nathan Phillips, meu contador, nos
aguardando.
— Rossi — cumprimenta-me em um aceno de cabeça. — Qual é a
emergência?
— Vou esperar todos chegarem para falar uma vez só.
Dirijo-me ao barzinho no canto da sala e pego três copos para nos
servir de uísque. Meus homens sentem a minha tensão, e aos poucos vão
chegando os outros membros do conselho para compor a mesa.
Daniel Carter, meu advogado; Kaylee Morgan, a responsável pelos
cassinos; Blake Watson, o chefe da fábrica e amigo de longa data; e Samuel
King, o informante que trabalha infiltrado com meu maior rival: Elijah
Rodriguez.
Carter tranca a porta da sala e eu me sento à ponta da mesa soltando
uma bufada antes de conseguir.
— Gavin trouxe notícias do Fed — solto e olho para cada um dos
presentes. — Vão mudar a moeda americana.
O som de murmúrios e xingamentos ecoa por toda a sala e eu apenas
dou uma batida na mesa para que se calem.
— A nova moeda entrará em vigor a partir de janeiro. Ou seja, temos
pouco mais de seis meses para adaptar todo o nosso sistema e maquinário.
— E já sabe quais serão as mudanças na nota? — é Watson quem
pergunta.
— Pelo que entendi, vão mudar o design, o tamanho e a marca
d’água.
— É uma merda quando eles mexem na porra da marca d’água — o
responsável pela fábrica resmunga.
— Não temos tempo para lamentações — rebato. — Precisamos agir
rápido.
— E o cara novo do TI dá conta do recado? — é Nathan quem
pergunta agora.
— Pior que não — resmungo, pressionando o ossinho do nariz. —
Sabemos que o sistema do Fed é seguro para caralho e sem o Nathaniel…
— Já sei quem pode ajudar — Samuel me interrompe e todo mundo à
mesa se vira para ele. — Elijah mantinha uma hacker que trabalhava para
ele, a garota criou um sistema que executava os arquivos do Fed.
Inclino o corpo e cruzo os braços sobre a mesa.
Isso muito me interessa.
— E por que mantinha? Ele não a tem mais?
— A garota fugiu — anuncia. — Era namorada de Charles Walker,
seu contador, e o cara era agressivo com ela.
Solto uma risada de deboche.
— Não é de se espantar vindo da corja de Elijah.
Um bando de pau no cu.
— Eu acredito que ela será a chave aqui, Rossi — Samuel completa.
— E você sabe para onde ela foi? — pergunto, mesmo sabendo a
resposta.
Se Rodriguez não a tem, é porque não faz ideia de onde a garota se
meteu.
— Não faço ideia, mas podemos pedir O’Connell para rastreá-la —
diz se referindo ao nosso detetive particular. — Provavelmente deve ter
mudado de nome e…
— Faça o que tiver que ser feito — interrompo-o. — Revirem cada
canto da porra deste país e tragam essa garota para mim.
Ele assente e vejo Carter pegar o telefone para acionar o detetive.
— E rápido. — Aponto para o relógio na parede atrás de mim. — O
tempo está correndo.
Montamos um plano de ação para as próximas semanas até localizar a
garota e, mesmo sabendo que tenho a melhor equipe, não consigo relaxar.
Só serei capaz disso quando tiver a garota em meu domínio.

 
 
— Dorothy? — chamo pela governanta, logo que entro na cozinha de
minha residência.
Hoje o dia foi um verdadeiro inferno.
Desde que recebi a ligação de Gavin Turner, o cara que eu pago para
me dar informações de dentro do Fed, minha cabeça está em tempo de
explodir. Tudo que construí em todos esses anos estará em jogo se eu não
conseguir reproduzir essa nova moeda.
Já são mais de vinte anos trabalhando com dinheiro falso e
entregando notas de qualidade, acima de qualquer suspeita. Forneço para
todo canto dos Estados Unidos e, mesmo tendo Elijah Rodriguez como
concorrente, o filho da puta não consegue me alcançar.
Ele tem que trabalhar muito para chegar aos pés de Lionel Rossi.
Além do mais, o infeliz não negocia dentro de Las Vegas, apenas nos
arredores. Eu trabalhei duro para conseguir a confiança de todos da cidade,
a fim de ser o único fornecedor aqui dentro.
— Onde está Amy? — pergunto pela minha sobrinha, logo que
encontro a governanta sozinha na cozinha.
— Ela está no ateliê — a senhora de meia-idade diz e em seu
semblante noto algo diferente.
— Aconteceu alguma coisa com ela?
— A menina está um pouco triste desde que chegou da escola — diz
e eu sinto meu coração disparar dentro do peito.
— Mexeram com ela de novo? — indago, sentindo o sangue do meu
corpo ferver.
— Não sei, senhor. Ela não quis me dizer.
Balanço a cabeça, virando-me para sair.
— O jantar já está pronto — ela anuncia e eu assinto sobre o ombro.
— Pode ir para casa, Dorothy. Eu assumo daqui.
— Certo. Boa noite, Sr. Rossi.
Subo pelo elevador até o segundo andar e, quando entro no corredor,
caminho até o final deste, parando na porta do ateliê de Amy.
Dou três batidinhas antes de entrar e ver a pequena deslizando um
pincel pela tela diante de si.
— Como você está, coração? — pergunto ao me aproximar, beijando
seus cabelos com carinho.
Amy Rossi é o meu coração que bate fora do peito.
A garotinha apenas balança a cabeça sem desviar o foco de sua
pintura. Puxo uma banqueta no canto e me sento ao lado dela,
acompanhando seus movimentos.
— Quer conversar? — pergunto com cuidado e ela continua em
silêncio.
Vejo quando roça o pincel pela paleta em suas mãos antes de deslizar
pela tela mais uma vez.
— É um jardim? — arrisco um palpite e ganho sua atenção.
— São tulipas — a voz infantil é triste e rasga o meu peito.
Odeio que façam mal a minha menina.
— São lindas — elogio e ela sorri de lado antes de voltar a atenção
para o seu trabalho.
Fico um momento em silêncio, apenas contemplando-a em seu
processo de pintura, quando decido insistir um pouco mais.
— O que aconteceu, Amy? Alguém chateou você? — pergunto com
cuidado e, pela forma como seus lábios tremem de leve, sei que tenho a
afirmativa.
Controlo o ímpeto de socar alguma coisa e toco seus cabelos com
carinho.
— O que te disseram, coração?
— O de sempre — sua voz é tão baixa, que quase não a escuto. —
Que nunca vou a lugar nenhum e…
— É aquele garoto? O Dawson? — pergunto, sentindo meu sangue
ferver.
Não é a primeira vez que o filho daqueles engomadinhos mexe com a
minha menina. Da última vez, Amy não me deixou fazer nada, mas agora
eu preciso mover meus pauzinhos.
Esse moleque preconceituoso do caralho tem que sumir de perto da
minha sobrinha.
— Vou conversar com o Sr. Weber amanhã — afirmo, mencionando o
diretor da escola de Amy.
— Não precisa, tio…
A pequena olha para mim, mas a dor em seus olhos me faz ter
absoluta certeza do que vou fazer.
— Claro que preciso, Amy. Da última vez eu relevei a seu pedido,
mas não vou fazer isso de novo. Não podem tirar o seu sossego.
Amy abaixa o olhar e eu toco em seu queixo, fazendo-a olhar em
meus olhos.
Aquela imensidão azul, idêntica a minha, me encara de volta e eu
penso em como essa garotinha é todo o meu mundo.
— Quais são os seus sonhos, coração?
Seus lábios tremem antes de ela fechar os olhos por um instante e
reabri-los para mim.
— Cursar Artes na faculdade — afirma e eu sorrio. — E me tornar
uma pintora profissional.
— E ter sua própria galeria em Nova York — completo, vendo, pela
primeira vez desde que cheguei aqui, seu sorriso se abrir.
— Mas não sei se isso tudo é para mim — confessa com insegurança.
— Amy — chamo-a com a voz mais firme agora. — Você é uma
Rossi. E um Rossi pode tudo.
Dou ênfase na última palavra e ela parece compreender, assentindo de
leve.
— Nunca deixe que te digam que não pode fazer alguma coisa, ok?
Se eu digo que pode, é porque você pode. Confia em mim?
A garota me analisa antes de assentir.
— Confio.
— Ótimo.
Beijo sua testa com carinho.
— Vamos comer? Dorothy deixou o jantar pronto para nós dois.
Ela assente e finaliza alguns traços antes de deixar a paleta e os
pincéis sobre a mesa.
— Amanhã eu continuo — avisa.
— Quer tomar um banho primeiro? — pergunto quando ela aciona a
cadeira de rodas e me acompanha pelo corredor, em direção ao elevador.
— Prefiro comer antes.
— Está certo.
Descemos até a cozinha e eu destampo a panela, vendo o que a
governanta deixou preparado para nós dois.
— Macarrão com queijo — anuncio. — Pelo visto, Dorothy queria te
agradar hoje.
A pequena sorri ao reconhecer seu prato favorito.
Sirvo-nos e busco latas de refrigerante na geladeira, quando me sento
ao seu lado à mesa.
— Amanhã vou conversar com o Sr. Weber, ok? — digo com cuidado
e Amy olha para mim antes de assentir. — Sei que não gosta que eu
interfira, mas preciso fazer alguma coisa, coração. Não vou permitir que te
importunem na escola. É isso, ou fazer aulas particulares em casa.
— Não, tio — ela responde rápido. — Sabe que gosto de frequentar a
escola, tenho algumas amigas, apesar de tudo.
— Eu sei. — Aperto seu nariz e ela sorri. — Por isso não deixarei
passar dessa vez.
Minha sobrinha me olha e assente antes de voltar a comer.
Terminamos a refeição e eu coloco tudo na lava-louça, antes de subir
com Amy até o terceiro e último andar de minha residência. Acompanho
sua cadeira motorizada até o seu quarto e ela solta um suspiro ao passar
pela porta.
Aqui é sua pequena fortaleza.
O amplo quarto da menina é totalmente adaptado para que ela circule
livremente pelo cômodo com a cadeira de rodas. As paredes são pintadas
em lilás, sua cor favorita, e todos os móveis e seus pertences estão em uma
altura que ela possa alcançar.
— Posso te ajudar no banho? — peço sua permissão, como faço todas
as vezes que preciso tocar nela.
— Por favor.
Conduzo-a até o banheiro, lá eu a ajudo a se despir e a posiciono na
cadeira de banho, sempre tomando o cuidado para não a encarar nem a
deixar desconfortável com minha presença.
Afinal, sou um homem de quarenta e dois anos ajudando uma
garotinha de apenas dez a se banhar.
Quando a água quente atinge o seu corpo, sinto-a relaxar e começo a
conversar sobre trivialidades com ela, vendo seu sorriso inocente retornar.
Ao finalizarmos, busco uma camisola, a calcinha apropriada para a
sua deficiência, no closet e a ajudo a se vestir, carregando-a no colo até a
cama.
Quando a acomodo, seu semblante está bem mais leve.
— Obrigada.
— Não é nada, Amy.
Toco seus cabelos escuros com carinho e fico ali sentado em sua
cama, fazendo uma carícia gostosa; sinto um sorriso se abrir em seu rosto
enquanto os olhos se fecham devagar.
— Sei que você não precisava ficar comigo — diz, reabrindo os olhos
para me encarar.
— Amy…
— Mas obrigada por cuidar de mim. Tenho muita sorte de ter você
comigo.
Suas palavras sinceras rasgam o meu peito e me fazem lembrar de
quando eu a peguei nos braços pela primeira vez.
Aquele bebê inocente que não tinha culpa do mundo em que nasceu.
— Eu mato e morro por você, Amy — respondo e, mesmo que ela
não tenha noção das minhas palavras, nunca é só no sentido figurado.
Essa menina é sangue do meu sangue.
E isso basta para que eu coloque o mundo inteiro no chão por sua
causa.
Seu sorriso se abre de leve e ela fecha os olhos mais uma vez.
Inclino-me para beijar a sua bochecha.
— Boa noite, tio Lion — sua voz baixa é sonolenta agora.
— Boa noite, coração.
Fico aqui sentado, velando, esperando que ela pegue no sono. E,
quando o faz, levanto-me com cuidado, acendo a luz do abajur ao seu lado e
apago a do quarto ao me afastar.
Fico sob o batente vendo-a por um momento antes de ir até a porta ao
final do corredor e me recolher.
Ao pensar em todos os problemas que precisei enfrentar hoje, incluo
mais um na lista:
Tirar o garoto Dawson do caminho.
Se Weber não der um jeito de expulsá-lo, precisarei trocar minha
sobrinha de escola e o diretor vai perder toda a regalia em meus cassinos.
Não preciso nem pensar muito para saber qual será sua resposta.
 

 
 
— Nossa, mas este computador está uma bosta — Jessye reclama
dando uma batidinha no monitor à sua frente e eu contenho o ímpeto de
ajudá-la.
Aqui, sentada no meu caixa, passo as mercadorias de uma senhora e
faço a cobrança enquanto vejo minha colega sofrer com o sistema travado.
Meus dedos chegam a coçar, pois tenho certeza de que, se sentar
naquela cadeira, conseguirei resolver o seu problema em questão de
minutos, mas infelizmente não posso.
— Já chamou o técnico? — pergunto, logo que meu caixa fica vazio.
— Eu pedi para o Joe — diz se referindo ao nosso chefe. — Mas vai
demorar até que ele atenda ao meu pedido.
Solto uma bufada.
— Uma pena que não possa te ajudar — minto, sentindo meu coração
doer. — Mas eu mal dou conta de usar o sistema, que dirá consertá-lo. —
Aponto para a tela a minha frente e ela meneia a cabeça.
— Eu sei — resmunga. — Nem para a gente ser aquele povo nerd da
internet… — brinca e eu forço um sorriso.
Ah, se ela soubesse…
Há pouco mais de seis meses, fugi da prisão em que eu vivia em
Henderson, cidade vizinha a Las Vegas, e me mudei para New Richland,
uma cidade de pouco mais de mil habitantes no estado de Minnesota, do
outro lado do país.
Consegui documentos falsos e recomecei uma nova vida, uma em que
Ava Stone não existe mais. Aqui, não sou a “hacker valiosa”, sou a apenas
aquela que trabalha como caixa em um mercadinho de bairro. Alguém sem
instrução alguma, que só quer um salário para cobrir as despesas do aluguel
e ter o que comer.
— Ainda bem que hoje está vazio — Jessye comenta e interrompe
meu transe. — Assim você me dá cobertura enquanto esse lixo não volta a
funcionar.
— Pode deixar.
— Vou até tomar um café.
A morena se levanta da cadeira e alonga o corpo antes de se virar para
mim.
— Você também quer, Caroline?
— Por favor!
Minha colega vai até a cozinha da loja e me deixa sozinha por aqui.
Quando o sino da porta toca avisando da chegada de novos clientes, uma
manchete na televisão do alto da parede chama a minha atenção.
“O Fed anunciou hoje a mudança da moeda americana”, uma
jornalista diz com a voz firme e eu engulo em seco.
Isso não é nada bom.
“Visando coibir a crescente distribuição de dólar falso pelo país, o
Banco Central Americano trará mudanças significativas nas cédulas…”
E então o novo design aparece na tela em um comparativo com o
atual e isso faz o meu coração se acelerar dentro do peito.
Elijah certamente vai precisar invadir o sistema novamente e
conseguir os arquivos atualizados da nova moeda, a fim de continuar
falsificando o dólar americano.
E pensar nisso faz com que um arrepio percorra a minha espinha.
Se ele já precisava antes de mim, agora é ainda mais certo que vai
percorrer cada canto dos Estados Unidos para me procurar.
— Moça? — uma garota estala os dedos para mim e eu me
recomponho.
— Me desculpe.
Começo a passar as compras da cliente sentindo as mãos tremerem.
Ele vai vir atrás de mim.
Eu sei que vai.
Mas não tem como me achar, certo?
Eu não dei nenhuma pista com o meu nome. Não dei um passo sequer
como Ava Stone.
Desde que entrei naquele táxi, passei a me chamar Caroline Williams
e não há como Elijah juntar essas duas pessoas.
Termino de passar as compras da garota no momento em que Jessye
volta da cozinha com os copos de café.
Dou um gole na bebida quente tentando acalmar o meu coração e
colocar em mente que eu não serei encontrada.
Isso não vai acontecer.
Isso não pode acontecer.
Repito incontáveis vezes, mas, ainda assim, não consigo ficar
tranquila.
Algo dentro do meu coração diz que eu nunca terei paz.
 

 
Atravesso o quarteirão do bairro de cabeça baixa e aperto a bolsa nos
ombros enquanto caminho a passos largos em direção a minha casa.
Ou melhor, ao local minúsculo onde vivo.
Logo que cheguei à cidade, consegui alugar um cômodo nos fundos
da casa dos Taylors, um casal de idosos muito solícitos.
Eles fizeram de uma antiga garagem uma espécie de quitinete. Lá eu
tenho um quarto, um banheiro e uma cozinha conjugada com lavanderia. É
tudo pequeno, mas o suficiente para mim.
Quando não estou trabalhando, fico sempre trancada lá dentro, lendo
um livro ou assistindo a meus seriados favoritos. É assim que tenho passado
os últimos meses desde que cheguei a Minnesota. Só saio de casa para
trabalhar ou quando preciso comprar alguma coisa. Fora isso, fico apenas
aqui.
Sozinha.
Não saio de casa para me divertir, muito menos busco fazer amizades
por aqui.
Se há uma coisa que eu aprendi nos últimos anos em meu
relacionamento com Charles, que me levou a conhecer Elijah, é que eu
nunca devo confiar nas pessoas.
Nunca mesmo.
Pessoas traem, machucam.
Fingem que querem te ajudar, mas no fim visam apenas ao benefício
próprio.
O ser humano é podre e só olha para o próprio umbigo. Só eu sei o
preço alto que paguei por me deixar levar.
Quando abro o portão principal, noto as luzes apagadas e pensar que
os Taylors não estão em casa me traz alívio. Eles são muito gentis, porém
não estou a fim de conversar hoje.
Principalmente com toda essa notícia da nova moeda.
Balanço a cabeça e, quando entro em casa, tranco a porta atrás de
mim, passando a correntinha. Suspiro e jogo a minha bolsa na poltrona,
indo até o banheiro para tomar um banho rápido.
Quando me olho no espelho, descolo a peruca de longos cabelos
loiros e liberto os castanhos naturais.
Bem melhor assim.
Eu sempre gostei de ser morena, por isso não tive coragem de
descolorir os meus fios e preferi optar pela peruca.
Abro o armário atrás do espelho e pego o estojo para guardar as lentes
de contato de tom azul. Com cuidado, retiro-as dos olhos e abrigo-as no
soro fisiológico.
Olho para a minha imagem refletida e me sinto mais leve. Aqui,
dentro de minha fortaleza particular, posso me permitir ser quem eu era.
Posso voltar a ser Ava Stone.
Prendo os cabelos em um coque alto, depois retiro toda a minha roupa
para entrar no boxe e tomar um banho relaxante.
É revigorante sentir a água quente cair sobre o meu corpo e, quando
me sinto em paz, desligo o chuveiro.
Já no quarto, visto um pijama e vou até a cozinha para preparar um
sanduíche de pasta de amendoim. Como sentada na banqueta enquanto
procuro mais detalhes da notícia de hoje no celular.
Ver cada uma das mudanças me faz lembrar de todo o sistema que eu
criei para reprodução das moedas. Apesar de não ter sido para uma coisa
lícita, foi um trabalho exemplar que realizei e me dói saber que nunca mais
vou fazer aquilo que eu amo.
Nunca mais vou acessar um computador e mergulhar em uma
programação desafiadora.
Nunca mais…
Pensar nisso me faz sentir um gosto amargo na garganta.
Termino o sanduíche e bebo um copo de água antes de ir para a cama,
ligando a TV.
Tento encontrar algum filme ou seriado que possa distrair a minha
mente, em vão.
Só consigo pensar em como perdi tudo que mais amava na vida por
seguir alguém que apenas me fez mal.
Em como fui machucada de todas as formas por alguém que prometeu
cuidar de mim.
Fecho os olhos e aperto-os forte.
A dor me invade mais uma vez e eu os sinto marejar.
Não sei o que foi que eu fiz para que a minha vida se tornasse tão
vazia, tão sozinha, com apenas vinte e cinco anos de idade.
Respiro fundo e sinto uma dor mais forte no peito.
É por isso que não consigo confiar em ninguém.
 

 
 
— Rossi, temos uma pista da garota — Jason O’Connell anuncia logo
que entra em meu escritório e isso faz com que eu me levante da mesa para
recebê-lo.
Já faz mais de semana que meu detetive particular tem trabalhado
tentando rastrear a garota de Elijah, mas ela parece ter evaporado do país.
Não há nenhum rastro de Ava Stone desde que ela deixou Henderson
no início do ano.
— Como não conseguimos mesmo encontrar nenhum registro de Ava,
imaginei que ela deveria ter conseguido documentos falsos. Fui atrás dos
principais falsificadores do país, inclusive os parceiros de Elijah, e não tive
nenhum sucesso.
— A garota não é burra — afirmo, coçando a barba.
É claro que ela não ia procurar ninguém que tivesse vínculo com
aquele otário.
— Exatamente. Então eu fui atrás de um que já teve uma desavença
com Elijah no passado e acho que consegui encontrar.
— Quem?
— Lewis.
— Benjamin Lewis? — pergunto. — De Los Angeles?
— O próprio. Entrei em contato com ele, mostrando a foto da garota,
e percebi o reconhecimento em sua voz. Tentei lhe tirar alguma informação,
mas ele foi bem reticente comigo. Disse que jamais fala sobre seus
trabalhos e…
— Ah, mas vai falar — interrompo-o. — Lewis tem uma pequena
dívida comigo e eu faço questão de cobrar esse favor agora.
Esfrego a barba enquanto sinto o coração se acelerar, ao pensar que
finalmente estou chegando perto de encontrá-la.
E preciso agir rápido, pois meu tempo está correndo.
Tiro o celular do bolso e faço uma ligação para a minha assistente
pessoal.
— Mia, preciso que faça uma reserva para mim…
Passo todas as informações para ela e, ao final, viro-me para
O’Connell, que me analisa atento.
— Me dê o número de Lewis. Estou indo para Los Angeles.
 

 
Sentado a uma mesa nos fundos do Providence, vejo o momento em
que Benjamin Lewis adentra o restaurante vestindo uma camisa de botão
branca e calças escuras.
— Rossi — ouço sua saudação e me levanto.
O homem negro e alto estaca a minha frente para me cumprimentar e
eu estendo a mão para ele, antes de nos sentarmos à mesa.
— Como foi de viagem? — pergunta enquanto pedimos uma garrafa
de um Cabernet Sauvignon.
— Foi tranquila. Faz um tempo que não venho a Los Angeles.
— E o que te fez sair de Vegas e abandonar seus cassinos? —
pergunta em um tom curioso e eu faço uma careta.
— Meus cassinos definitivamente não estão abandonados. Tenho a
melhor administradora cuidando deles — refiro-me a Kaylee, a responsável
por gerir toda a rede.
A Black Dog hoje conta com cinco cassinos, sendo que três deles
também contam com um hotel. Espalhados por toda Las Vegas, eles são
meus meninos de ouro, já que servem para acobertar meu negócio mais
rentável:
Fabricação de dólar falso.
Trabalhar nesse ramo me proporciona alianças com empresários de
todo canto do país, inclusive membros da máfia russa e italiana. Além de
parceiros de outros ramos de negócio, como o homem sentado à minha
frente.
— Estou precisando de seus serviços — completo quando o garçom
nos serve de taças de vinho.
— E em que posso ser útil? Está precisando de algum passaporte
ou…
— Preciso de informação sobre um trabalho que você já fez.
Inclino o corpo sobre a mesa e cruzo os braços, olhando dentro de
seus olhos escuros.
— Rossi…
Pego o celular no bolso, procuro pela foto da garota e estendo a ele.
Quando vejo o reconhecimento em seu semblante, sei que finalmente
consegui o que precisava.
— Você fez algum documento para essa garota, Lewis?
O homem a minha frente desvia o olhar do meu antes de beber mais
um pouco do vinho tinto.
— Rossi, eu não posso dar essa informação…
— Ah, pode, sim. Com toda certeza, pode.
Encaro-o firme e ele me olha engolindo em seco.
Lewis sabe o que o espera.
— Não sei se você se lembra, mas eu posso refrescar a sua memória.
— Estalo o pescoço, vendo que o deixei sem voz. — Sabe que me deve
uma, não é, Benjamin?
Pela forma como suas mãos tremem sobre a mesa, sei que tenho a
afirmativa.
Há alguns anos, dei cobertura para ele em um de meus cassinos.
Enquanto Lewis estava em um quarto fodendo duas putas, eu fingi que não
o conhecia quando sua esposa apareceu por lá procurando-o.
Nós já trabalhamos juntos algumas vezes, mas ele ficou me devendo
um favor que sabe que vai precisar pagar agora.
Lewis bufa antes de esfregar a barba, nervoso.
— Essa garota estava aterrorizada, Rossi… Ela tem verdadeiro pavor
de Elijah e…
— Eu sei de tudo — interrompo-o. — Não vou entregá-la ao meu
maior rival — garanto.
Desde que O’Connell descobriu o que a garota passou nas mãos do
namorado e de seu chefe, tenho ciência de que estou mexendo em um
campo minado.
Ela não vai confiar em mim tão facilmente, mas posso oferecer a
segurança de que precisa. Enquanto a garota estiver comigo, Rodriguez não
vai sequer chegar perto dela.
Lewis ainda me olha receoso quando finalmente decide ceder.
— Ela fez uma identidade nova com o nome de Caroline Williams.
— E sabe para onde ela foi?
— Não, essa informação eu não tenho.
— Tudo bem. Consegue me passar os dados completos dessa tal
Caroline?
— Rossi, isso vai contra toda a minha ética e…
Eu não deixo o infeliz terminar e solto uma risada.
— Ética, Lewis? Quer falar de ética logo comigo? — desdenho. —
Não acho que você foi nada ético com o seu casamento quando fodia
aquelas putas no meu cassino.
O homem arregala os olhos e encara todo o restaurante por ver que eu
não abaixei o tom de voz.
— Caralho, Rossi.
— Me mande os dados completos de Caroline por e-mail — peço ao
me levantar da mesa. — Seja um homem de palavra e pague pelo que deve.
Saio do restaurante sem nem mesmo me despedir e, quando estou
acomodado no hotel, recebo todas as informações da nova identidade da
garota no e-mail, como eu pedi.
Encaminho tudo para O’Connell, pedindo a ele que rastreie e encontre
a garota o quanto antes.
O tempo está correndo e eu preciso ir atrás dela.
Preciso chegar antes que Elijah o faça.
 

 
Chego de viagem e vou direto para casa, ouvindo a gargalhada de
Amy logo que cruzo a porta principal.
Esse som faz o meu coração bater mais leve no peito.
Desde que o diretor da escola de Amy expulsou o garoto
inconveniente de lá, minha menina tem ficado mais alegre. É notável o
quanto aquele moleque tirava a sua paz.
A sorte dele é que é apenas uma criança, caso contrário eu faria algo
muito pior do que uma simples expulsão.
— Tio Lion! — a voz da pequena me faz sorrir. — Como foi a
viagem?
Deixo a minha mala no canto da sala e vou até o sofá, onde minha
pequena assiste a um de seus filmes de comédia na ampla TV.
— Foi ótima, coração. Senti saudade.
Beijo sua testa com carinho e ganho um sorriso.
— E você, se divertiu por aqui?
— Sim! Pintei a manhã toda e acabei cansando. Então sentei aqui
para assistir a um filme…
Vejo que ela está acomodada no sofá com as pernas esticadas e a
cadeira parada ao lado.
— Onde está Dorothy? — indago.
— Na cozinha, assando cookies para mim.
— Mas é bajuladora… — brinco e ela solta uma risadinha. — Vou só
tomar um banho e volto para ficar com você, ok?
Ela assente e eu busco a mala para subir pelo elevador até o terceiro
andar. Dentro de minha suíte, deixo-a no canto para que a arrumadeira
desfaça e entro no chuveiro, a fim de tomar uma ducha rápida.
Visto um moletom, uma camiseta e desço pelo elevador para ficar
com a minha sobrinha. Mas não sem antes passar pela cozinha, pegar os
cookies e dispensar Dorothy.
Quando me jogo no sofá ao lado de Amy, estou com um pote de vidro
nas mãos.
— Ainda está quente — alerto-a quando pega um cookie de gotas de
chocolate do pote.
— Assim mesmo que é gostoso.
Ela dá um sorrisinho antes de morder o biscoito e eu faço o mesmo,
pegando um para mim.
Jogo a cabeça para trás no estofado e relaxo o corpo, pensando que a
qualquer momento posso receber uma ligação de O’Connell sobre o
paradeiro da garota.
Permanecer parado esperando nunca foi o meu forte, por isso tenho
ficado tão agitado nos últimos dias.
— Está tudo bem, tio? — Amy pergunta ao notar minha inquietação.
— Só estou cansado, coração.
Pisco para ela, que assente.
— Queria viajar também… — Faz um biquinho fofo.
— Vamos viajar ano que vem, combinado? — ofereço, pensando que
só vou conseguir ter paz para programar uma viagem quando tudo estiver
em ordem.
Seus olhos brilham de euforia.
— Oba! Podemos ir para a Disney dessa vez?
— De novo? — indago. — Nós já fomos lá umas três vezes, Amy.
— Mas sempre é legal.
Ela dá de ombros e eu balanço a cabeça.
— Está certo… Vamos para Orlando — concordo em um suspiro.
A pequena bate palmas de empolgação e pega mais um cookie no
pote para comer.
Viro a cabeça de lado e encaro essa garotinha que é todo o meu
mundo.
Amy é meu lado mais puro, mais vivo.
É alguém por quem vale lutar sempre.
 

 
 
O sino da porta toca, quando passo por ela, anunciando o final de
mais um expediente de trabalho. Hoje precisei ficar até um pouco mais
tarde do que o habitual, por isso já é noite quando pego as ruas do bairro
para fazer o trajeto de volta para casa.
Andando de cabeça baixa pela calçada, penso em alguns itens que
preciso comprar para a minha despensa e acabei me esquecendo. Amanhã,
quando chegar ao trabalho, será a primeira coisa que vou fazer…
Repasso uma lista mental de tudo o que preciso comprar e quase não
percebo uma sombra preta caminhando atrás de mim. Olho sobre o ombro e
vejo um homem encapuzado andando a alguns metros de distância,
seguindo o mesmo caminho que eu.
Aperto o passo e tento não parecer desesperada, para não chamar a
atenção, mas o meu coração bate feito um louco dentro do peito.
Não deve ser nada.
Não pode ser nada.
Repito mentalmente, incontáveis vezes, tentando controlar o coração
como todas as vezes que vejo algum homem diferente nas ruas. Tenho essa
sensação de estar sendo perseguida desde que me mudei para cá e sempre é
só a minha mente me pregando peças.
E hoje precisa ser isso.
Não pode ser diferente.
Meu peito sobe e desce em um ritmo frenético, eu aperto a bolsa entre
as mãos acelerando os passos. Dobro o quarteirão e vejo que a sombra me
acompanha, deixando-me ainda mais em alerta.
Não estou muito longe de casa, porém a sensação que tenho é de que
estou indo a pé até a fronteira do Canadá.
Por Deus, eu não chego nunca.
Quando ergo os olhos fitando o outro lado da rua, vejo um homem
encostado no poste e meu coração se acelera ainda mais. Mas, quando ele
desce o capuz e me revela seu rosto, é que sinto as pernas fraquejarem.
Andrew…
O segurança de Elijah pago para me vigiar.
Minhas mãos tremem e seguro a vontade de gritar. Acelero o passo e
começo a correr.
Aconteceu o que eu mais temia.
Elijah Rodriguez me encontrou.
Corro cada vez mais rápido, meus tênis batendo pela calçada, e me
desvio das árvores, enquanto de canto de olho acompanho dois vultos
correndo em minha direção.
Eles vão me alcançar, sei que vão.
Um desespero toma conta de mim, meus lábios tremem, as mãos
formigam e só quero chorar.
Quero sumir, quero morrer, quero esquecer que um dia eu nasci.
Corro como se a minha vida dependesse disso e entro em um beco
escuro que não faço ideia de onde pode me levar. Eu só quero correr para
bem longe, para o máximo que puder.
Saio do beco e viro à esquerda, dando de cara com uma rua sem
saída.
— Merda!
O pânico toma conta de mim quando vejo que os dois homens se
aproximam cada vez mais.
Olho para os dois lados aflita, pensando em que direção seguir,
quando um corpo forte me abraça por trás e tampa a minha boca.
— Shhh… Quietinha.
Tento me debater, mas não tenho tempo de reagir, pois logo uma van
preta entra na rua, cantando pneu e atropelando os dois homens antes de
parar a minha frente.
Ouço som de tiros quando sou jogada para o interior dela e tento a
todo custo sair, desvencilhando-me, mas não consigo.
O veículo arranca e o movimento me derruba ao chão.
Olho ao meu redor e vejo uns três homens vestidos de preto, sinto um
bolo se formar em minha garganta, pois não os reconheço.
Não sei quem são, nem para onde estão me levando.
Levanto-me em um impulso e começo a estapear a janela da van,
gritando por ajuda.
— Socorro!
Bato forte nos vidros, mas sei que não posso ser ouvida.
Tudo aqui dentro está lacrado e escuro.
Ninguém pode me ver, nem ouvir.
Estapeio mais uma vez e tento ir em direção à porta de entrada da
van, quando sou agarrada pela cintura.
— Me solta! — berro, mordendo a mão do homem que me segura, e
ele solta um grito de dor.
— Caleb, pega a seringa.
Ouço um falar para o outro e logo uma maleta é aberta.
— O quê? Não! Não! Me soltem!
Tento me desvencilhar da montanha de músculos que me agarra, mas
infelizmente não tenho sucesso, pois eles estão em maior número e são
muito maiores do que eu.
Mas nem por isso deixo de reagir.
Eu me debato contra eles, desesperada, gritando, quando sinto uma
agulha me espetar, fazendo-me chorar de puro pânico.
Por favor, Deus…
Por favor, não.
De novo, não.
De novo, não.
As lágrimas caem forte quando uma sonolência me abraça pouco a
pouco até que meu corpo todo amolece, e então só me resta a escuridão.
 

 
Pisco os olhos com força quando a luz do sol atinge o meu rosto, e me
sento na cama em um impulso, quando finalmente percebo onde estou.
Que lugar é este?
Como eu vim parar aqui?
Olho para tudo ao meu redor e não faço a mínima ideia de onde
esteja.
— O que…
Afasto o lençol e noto que estou vestindo uma camisola, isso faz meu
coração bater feito louco e minha garganta se fechar.
O que fizeram comigo?
Em um instinto, toco a virilha e o fato de não sentir nenhum
incômodo me faz respirar um pouco mais aliviada. Mas, ainda assim, não
sei o que fizeram comigo, onde estou, o que querem…
Levanto-me da cama e encaro o quarto ao meu redor, simples, de
paredes brancas e poucos móveis. Uma rápida conferência em minha mente
e não consigo me lembrar de ter visto este cômodo na casa de Elijah. Será
que ele se mudou?
O som da porta se abrindo me faz recuar e me encolher ao lado da
cama, olhando para o homem assustada.
— Trouxe um café para você.
Atrás do brutamontes, entra uma mulher de meia-idade, com um
sorriso amistoso no rosto e uma bandeja de café da manhã nas mãos. Ela se
aproxima e a coloca sobre a cama, em um convite silencioso.
— Come alguma coisa — pede e eu apenas a encaro assustada, sem
dizer uma palavra. — Você ficou muito tempo dormindo, menina. Precisa
comer…
Sua declaração me faz arquear uma sobrancelha.
— Quanto tempo? — minha voz sai tão baixa, que mal me escuto.
— Mais de quarenta horas — responde e sinto um frio percorrer a
minha espinha.
O que eles fizeram comigo em todo esse tempo?
Em um ato instintivo, puxo a camisola para baixo e ela me olha com
empatia.
— Não precisa se preocupar, fui eu que troquei você — diz,
parecendo ler meus pensamentos. — Chegou aqui desacordada e eu fiquei
incumbida de cuidar de você.
Engulo em seco, sem desviar os olhos dela, pensando se devo
acreditar no que me diz.
Sinto como se estivesse dizendo a verdade, mas não posso confiar em
ninguém.
Não mais.
— Sr. Rossi não deixou nenhum homem encostar em você, não se
preocupe.
Sua voz é tranquila, mas causa um turbilhão dentro de mim.
Esse nome…
Ela disse…
— Rossi? — pergunto com a voz trêmula.
— Sim, Lionel Rossi é o meu patrão.
Ah, não…
Minha cabeça gira e minhas mãos tremem ao reconhecer.
Não, não, não, não…
— Inclusive, ele virá te ver quando terminar de comer. — A mulher
aponta para a bandeja à minha frente e eu sinto tudo se revirar dentro de
mim.
Aquela onda de pânico me toma mais uma vez e uma tontura me
invade, fazendo-me segurar na mesinha de cabeceira para não cair.
Não, Deus…
Ele não…
Tento inspirar fundo, mas o ar não chega aos pulmões, então sinto
tudo girar.
Uma ânsia de vômito me golpeia e, se eu não estivesse com o
estômago vazio, certeza que colocaria tudo para fora agora.
Não posso acreditar…
Não…
Não…
Ele não…
Deus…
Meu corpo vacila e eu caio sentada no chão, abraçando-me com força,
em uma tentativa falha de me proteger.
Deito a cabeça nos joelhos e sinto as lágrimas caírem, rolando pela
minha pele.
Lionel Rossi.
Que piada de mau gosto o destino preparou para mim.
Eu sempre ouvi esse nome e as piores coisas a seu respeito, por isso
não posso acreditar que vim parar logo aqui.
Por que, Deus?
Por que comigo?
Eu, que fugi de Elijah pelos últimos meses…
Eu, que tentei me esconder a todo custo…
Tentei refazer a minha vida e me tornar uma desconhecida…
Mas tudo isso foi inútil.
A vida é uma desgraçada mesmo por me trazer logo para as garras de
quem eu mais temia.
Não bastasse tudo que passei nas mãos de Elijah…
Tudo de mal que ele me fez…
Aperto o corpo contra mim e as lágrimas vêm com mais força,
fazendo tudo tremer.
Eu só queria sumir…
Eu só queria…
Solto um soluço engasgado, sentindo tudo doer dentro de mim.
Eu, que saí de casa fugindo de quem mais me fazia mal…
Fui parar logo nos braços do inimigo.
 

 
 
— A garota acordou — Naomi me comunica, logo que entra em meu
escritório.
Essa informação me faz largar o que estou fazendo e me levantar para
ir ao seu encontro.
— Ela já comeu? — pergunto e minha empregada faz uma careta.
— Quase nada, senhor. Está muito assustada.
Naomi me conta como foi o primeiro contato com Ava e acabo
ficando intrigado quando relata o desespero da garota ao ouvir o meu nome.
Não me surpreendo, porque, se ela conviveu por anos no cativeiro do
Elijah, deve me medir na mesma régua que a ele.
— Vou lá conversar com ela.
— Só tome cuidado. A coitadinha não está bem.
Assinto e passo por ela, indo em direção ao quarto onde Ava está
hospedada.
Aqui, onde trabalho, é um casarão que separei para meu escritório e
local onde alinho tudo sobre meus negócios. E na mesma propriedade
temos o galpão onde fabrico as notas falsas, tudo longe da minha
residência, para que as coisas não se misturem.
Por fora, é uma casa como qualquer outra no bairro, mas por dentro
tem o que carrego de mais precioso.
Minha sobrinha só sabe que sou dono de cassinos, nada além disso.
Um dia ela terá que saber sobre meu verdadeiro trabalho, mas não será hoje.
Eu preciso manter Amy longe de tudo isso para protegê-la.
Passo pelo segurança instalado na porta do quarto de Ava e dou uma
batida antes de entrar.
Quando adentro o cômodo, sinto uma brisa me alcançar e noto que a
garota está de pé, de costas para mim, olhando para a janela aberta à sua
frente. Percebo que não usa mais a camisola com que Naomi a vestiu, e sim
calça jeans e camiseta.
Raspo a garganta e ela se vira em minha direção, fazendo-me sentir
um estranhamento no peito.
A garota é bonita.
Não, bonita não.
Ela é linda…
Os cabelos escuros, lisos, caem abaixo dos ombros e sua pele clara
não tem nenhuma mancha.
Mas o que mais me chama a atenção são os seus olhos.
Por trás das íris castanhas, consigo enxergar dor.
Eu sabia que poderia encontrar uma garota assustada, arisca e até puta
de ódio. Mas a tristeza que vejo em seus olhos me intriga.
— Oi — solto e ela não diz nada.
Ava cruza os braços e continua me olhando com um semblante
desolado, não consigo identificar se é verdadeiro ou se faz parte de algum
teatro.
Não a conheço, não confio nela, não posso baixar a guarda.
— Naomi disse que você não comeu quase nada — falo com a voz
firme. — Gostaria de algo especial? Posso providenciar e…
— Por que me trouxe aqui? — ela me interrompe.
Ótimo.
Vamos direto ao ponto.
— Eu tenho uma proposta para você.
A garota franze o cenho para mim antes de caminhar até a cama e se
sentar nela, abraçando o travesseiro. Eu continuo de pé, a alguns metros de
distância, com as mãos dentro dos bolsos da calça preta social.
— E para me fazer uma proposta precisava me sequestrar? — diz
com mágoa na voz.
Isso me faz soltar um suspiro.
— Sinto muito que as coisas não tenham sido do seu jeito — minto, já
que não sinto um pingo de remorso. — Mas eu precisava falar com você
e…
— E achou que tinha o direito de me dopar e me trazer para um lugar
desconhecido? — sua voz é mais ácida agora.
— Você viu quem estava atrás de você? — Cruzo os braços e a olho
firme, vendo seu semblante se assustar. — Pois é.
Ava engole em seco e aperta a fronha do travesseiro nas mãos.
— Eu realmente fui atrás de você para uma conversa amigável,
porém, chegando lá, meus homens descobriram que Elijah já tinha
aparecido com toda a sua cavalaria.
Ouvir o nome do meu rival faz a garota ter um sobressalto.
— Eu não podia deixar que a levassem — digo, coçando a barba,
ficando impaciente.
— E nem passou pela sua cabeça perguntar se eu queria vir até aqui?
Porra.
Eu impedi que aquele filho da mãe colocasse as patas nela de novo e
a garota preferia o quê? Voltar para as garras do infeliz?
— Sei que saiu de Henderson fugindo de Charles e Elijah — começo,
vendo seus olhos marejados. — E sei o que fizeram com você e…
— Não — ela me corta. — Você não sabe.
Estreito os olhos para Ava, tentando buscar algo em seu semblante,
mas tudo que encontro é aquela dor. Não sei de todos os detalhes sobre o
que aquele pau no cu fez com ela, mas, pelo visto, é ainda pior do que eu
esperava.
Desgraçado.
— Eles vão te caçar onde você estiver, Ava — alerto e ela não volta a
me olhar. — E sabe do que eles são capazes.
Ela solta uma risada sem humor e eu troco o peso de uma perna para a
outra. Continuo de pé, encarando-a firme e tentando decifrá-la.
— Você está segura comigo — garanto-lhe. — Elijah não cruza o
meu caminho.
Ela apenas solta um suspiro, balançando a cabeça.
— E o que quer em troca?
Agora seus olhos tristes encaram os meus.
— Está sabendo que vão mudar a moeda? — pergunto e ela apenas
confirma. — Então, preciso invadir o sistema do Fed para ter acesso aos
arquivos da nova nota e sei que você é capaz de fazer isso.
Ava fica em silêncio por um instante, fitando o longe antes de voltar a
atenção para mim.
— E se eu não quiser?
Não é possível que essa garota seja burra o bastante para sequer
cogitar voltar para o mundo e dar de cara com Elijah.
Puta que pariu.
Burrice tem limite.
— Se não quiser trabalhar comigo, vou te deixar ir — minto, porque é
óbvio que não vou permitir uma coisa dessas.
Custei a encontrá-la e o meu tempo está curto. Só preciso usar todas
as minhas armas para convencê-la a aceitar esse acordo.
— Mas já aviso que não vai conseguir escapar de Elijah —
argumento. — Seus homens estão vigiando a minha propriedade. Estou
monitorando tudo pelas câmeras. Eles sabem que está aqui — blefo e vejo
seus olhos se arregalarem.
Elijah não sabe que eu estou com Ava.
Pelo menos não ainda.
Quando meus homens raptaram a garota, fizeram o trabalho de
eliminar todos os outros que foram atrás dela. Então não voltou ninguém
para contar história para o filho da puta.
Ainda de pé, observo a garota apertar mais forte o travesseiro em suas
mãos, parecendo travar uma batalha interna em pensamentos.
Que ótimo que estou conseguindo deixá-la confusa.
Vulnerabilidade sempre é uma carta na manga.
— E por que eu deveria confiar em você? — pergunta desconfiada.
— Já deve ter ouvido meu nome por aí, não é? — indago e ela apenas
balança a cabeça. — Sabe com o que eu trabalho. Elijah não é só o meu
concorrente, mas alguém que me enoja.
Falo em tom áspero, agora demonstrando que jamais teria ligação
com aquele lixo.
— Não apoio sua forma de trabalho e posso não ser o mais ético dos
homens, mas não encosto o dedo em nenhuma mulher. — Daqui consigo
ver que seu corpo se estremece de leve. — Elijah está longe de me alcançar,
Ava. Eu tenho clientes que ele nunca vai conseguir conquistar. E o meu
maior desejo é tirá-lo do caminho. Então, me diga, por que eu entregaria
você a ele?
Olho dentro de seus olhos e demonstro toda a minha firmeza.
Não estou brincando.
Não é possível que essa garota não consiga acreditar em mim.
— Preciso de alguém para tomar conta do meu TI e acessar os
arquivos do Fed. — Aponto o dedo para o meu peito e em seguida em sua
direção. — E você precisa se esconder de Elijah.
Seus olhos aflitos desviam-se dos meus agora.
— Além da sua segurança, ofereço um bom salário e vários
benefícios — proponho e ela me olha pensativa.
A garota parece inclinada a aceitar, mas ainda assim há algo que a
bloqueia.
— Eu te dou a minha palavra, Stone. Ele não vai te encontrar aqui —
minha voz é alta e bem mais firme agora. — Está segura comigo.
Fito-a por um momento e seu semblante confuso me diz que ela não
vai ceder por agora, então é melhor lhe dar um tempo.
Preciso ir com calma e conquistar sua confiança, caso contrário posso
colocar tudo a perder.
— Pode pensar com calma e me dar uma resposta amanhã — aviso,
ganhando sua atenção mais uma vez. — Não sei o que te disseram sobre
mim para estar tão assustada, mas acredite. Eu não sou como ele.
Só de falar isso, sinto náusea.
Jamais serei comparado com aquele verme.
Ava engole em seco e aperta o travesseiro mais uma vez.
— Pense no que quer comer e peça para Naomi. Ela vai providenciar
para você — digo e ela permanece em silêncio. — Quero que se sinta
segura e confortável aqui, então o que estiver ao meu alcance farei por
você.
Aceno para ela e saio do quarto, deixando-a sozinha.
Do lado de fora, encontro o segurança que designei para ficar de olho
em Ava.
— Reynolds, dê uma volta — peço, gesticulando com o dedo. —
Fique de olho na garota, mas saia da porta para dar um pouco de espaço a
ela.
— Deixa comigo.
Liam Reynolds balança a cabeça e sai de perto do quarto, indo para a
sala do outro lado do corredor, sem tirar o cômodo de seu campo de visão.
A segurança da minha propriedade é bastante reforçada, o que me
tranquiliza. Porém, a garota conseguiu escapar das mãos de Elijah, então
não vou facilitar para que aconteça o mesmo comigo.
Encontro Naomi na cozinha e vejo-a trabalhar ao lado da cozinheira.
— Veja o que a garota quer comer — instruo-a. — Deixei claro que
você providenciaria o que ela precisasse.
— Claro, Sr. Rossi — minha empregada me olha, solícita.
— Veja se ela precisa de mais alguma coisa. Algum canal pago, livro,
videogame, sei lá. — Dou de ombros e coço a barba. — Qualquer coisa que
a deixe mais confortável aqui.
— Pode deixar. Ela me parece ser uma boa menina. — Naomi me
abre um sorriso amistoso. — E me parte o coração vê-la tão assustada. Farei
de tudo para que se sinta melhor.
— Ótimo — concordo em um aceno. — Mantenha-me informado de
tudo.
Saio da cozinha e vou até o galpão da fábrica, encontrando Blake na
entrada.
— E aí, alguma novidade com a hacker? — ele me pergunta curioso.
— Fiz a proposta a ela, mas está resistente. Pelo visto, o filho da puta
do Elijah fez algo pior do que eu pensava.
O’Connell não conseguiu descobrir muita coisa do passado da garota,
mesmo com a ajuda de Samuel. Só sabemos que Charles era abusivo com
ela e Elijah a maltratava, não temos mais detalhes. Mas a forma como ela
me olhou hoje me diz que há muito mais nessa história.
— A garota está com medo de mim — revelo. — Deve pensar que eu
farei o mesmo que aquele bosta.
— Porra… — Blake esfrega a mão na barba, nervoso. — Pior que
temos pouco tempo, Rossi.
— Eu sei — respondo impaciente.
Cada dia que passa é um a menos para conseguir trabalhar e adaptar
toda a minha produção. Sem contar que tive que suspender as vendas por
tempo indeterminado. Não posso continuar produzindo notas que em breve
perderão a validade.
Que prejuízo do caralho.
— Preciso ganhar a confiança da garota, caso contrário ela não vai
colaborar.
— Está certo. — Ele suspira. — Só precisamos ser rápidos. Inclusive,
as ligações não param de chegar. Nossos clientes e parceiros estão
preocupados e querendo uma satisfação.
Praguejo baixo.
Ainda tem essa.
Não basta tudo que estou passando aqui, ainda tenho que lidar com
clientes que não querem nem saber. Só querem a porra do dinheiro certo.
— Vou dar um jeito nisso. Pedirei ao Carter para marcar uma reunião
com os principais parceiros, inclusive os russos. Com a garota em meu
poder, temos um trunfo.
Tiro um cigarro do bolso e o acendo com o isqueiro. Dou um trago
forte e jogo a fumaça para o alto.
— Eles só precisam confiar em mim.
Deixo o galpão e caminho de volta até o meu escritório, chamando
Carter para uma reunião de alinhamento de tudo.
Preciso acalmar os ânimos neste momento, ou ficarei louco.
O futuro dos meus negócios está nas mãos daquela garota.
Esfrego o rosto, impaciente.
Preciso fazer com que ela confie em mim.
 

 
 
Duas batidas à porta e eu vejo Naomi entrar no quarto, com o habitual
sorriso no rosto.
Essa senhora de semblante sereno me faz relaxar um pouco. Algo me
diz que posso confiar nela. Sinto como se tê-la por perto fosse uma garantia
de que Lionel não me fará mal.
Lionel Rossi…
Eu não esperava conhecê-lo um dia, muito menos que fosse tão
bonito.
Os olhos azuis são perfurantes e adornam bem o rosto de traços finos.
Os cabelos e a barba têm um tom castanho-claro com alguns fios brancos.
Eu arriscaria um palpite, ele deve ter uns quarenta anos e, pela sua postura
imponente, imagino que tenha o respeito de todos por aqui.
Ainda não sei se posso confiar nele, se posso acreditar que tudo o que
me diz é verdade. Mas, pela forma como se dirigiu a mim, pude perceber
que é bem diferente de seu rival.
Por anos sofri na mão de Elijah e seus capangas, que me tratavam
como lixo. Agiam como se eu fosse uma mercadoria descartável e que
estava ali apenas para servi-los.
Por isso, quando eu ouvi o nome de Lionel, simplesmente entrei em
pânico, por pensar que ele não só fosse igual, como muito pior.
Mas a firmeza que encontrei em seus olhos me intrigou.
Lionel não quis me forçar a fazer as suas vontades. É nítido que me
trouxe por puro interesse próprio, caso contrário não me tiraria de New
Richland. Mas, quando me disse que me deixaria ir embora, meu coração
falhou uma batida.
Mesmo me trazendo para este lugar contra a minha vontade, ele me
deu alternativa. Me deu chance de escolha e não me lembro da última vez
que isso aconteceu comigo.
E a sua promessa de que Elijah nunca chegaria perto de mim me
trouxe um pouco de conforto no peito.
Lionel não estava errado quando disse que Elijah me caçaria até o fim
do mundo. Eu bem sei o que aquele homem é capaz de fazer quando quer.
E, se ele sempre precisou de mim, agora ficou ainda pior com a mudança de
moeda.
Mesmo que eu não tenha motivos para confiar em Lionel, saber que
ele pode me oferecer a segurança de que eu preciso é tentador.
Neste momento, sinto que a única pessoa que pode me ajudar é ele.
— Sr. Rossi me pediu para vir até aqui — Naomi diz quando se
aproxima de mim.
Sentada na cama, aperto o travesseiro em uma tentativa inútil de me
proteger.
— Você quer comer alguma coisa em especial? Quer algum
passatempo? Roupas novas? — oferece.
— Não sei — solto por fim. — Eu só queria não ter que estar aqui…
— minha voz sai bem mais baixa agora.
— Se quiser ir embora, tenho certeza de que ele te deixa ir.
Seus olhos me analisam com cuidado.
— Mas, se eu sair daqui, vou me deparar com algo muito pior. —
Sorrio fraco.
Quando foi que minha vida se tornou essa tormenta?
Quando é que estar com um inimigo pode ser minha melhor opção?
Solto um suspiro me sentindo cansada.
Cansada de como minha vida virou um inferno sem que eu tenha
procurado por isso.
Era para eu ser uma jovem livre para viver, para me divertir…
E não uma prisioneira.
— Sei que não nos conhece — a empregada volta a falar. — Mas não
vamos machucá-la. Sr. Rossi não permitiria isso.
Sua voz é firme e me lembra as promessas de Lionel de não me
machucar. A forma como ele disse que não é como Elijah pareceu
incomodá-lo.
— Aproveite que ele lhe deu carta-branca e faça seu pedido.
Naomi me dá uma piscadinha cúmplice e eu sorrio.
Pela primeira vez desde que cheguei aqui.
— Não está com fome? — insiste.
Agora que o susto passou, consigo sentir mais vontade de comer.
Penso no que não como há muito tempo e então tenho um estalo.
— Acho que vou querer um fast-food — digo e vejo seu sorriso se
abrir. — Hambúrguer, batata frita e milk-shake.
Na cidadezinha em que eu morava, não tinha acesso a grandes redes,
então de repente me deu saudade de comer essas porcarias…
— Perfeito! Vou providenciar para você. — Ela se levanta da cama
sorridente. — Veja se gosta dos canais que temos. — Naomi aponta a TV
de frente para a cama. — Se precisar de mais algum, só me dizer.
Assinto e ela pede licença para sair.
Mas, quando está na porta, se detém.
— Sr. Rossi pode não ter o trabalho mais honesto. — Ela franze o
cenho para mim. — Mas não é uma má pessoa. Pode confiar.
Naomi me deixa sozinha e eu me deito na cama, fitando o teto por um
instante.
Penso em tudo que poderia ter me acontecido se Lionel não tivesse
aparecido, agora eu estaria nas mãos de Elijah e ele seria muito pior
comigo. Principalmente por ter fugido.
Suspiro e sinto um aperto no peito.
Essa não é a vida que eu queria.
Mas não posso negar que me sinto mais segura aqui dentro.
Se Lionel realmente cumprir o que me disse, poderei dormir em paz
depois de tantos anos.
 

 
Após comer o lanche que pedi, decido dar uma volta pela propriedade
de Lionel, para conhecer um pouco do que temos aqui.
Não o vejo de novo, porém percebo olhares furtivos por onde passo.
As empregadas me cumprimentam e os seguranças apenas me olham
atentos, vigiando cada um de meus passos.
O casarão é de apenas um pavimento, com um vasto pátio ao centro,
onde fica a maior concentração dos seguranças. São vários cômodos
espalhados pelo local, como cozinha, banheiros, lavanderia, sala de
reuniões, salas de operações, o escritório de Lionel e algumas suítes, como
aquela em que estou instalada.
Indo agora para fora do enorme casarão, noto um jardim com uma
fonte linda. Alguns banquinhos de madeira debaixo da árvore me fazem
pensar que deve ser uma delícia ler um livro ali, naquela calmaria.
Pelo que pude notar, Lionel não mora aqui. Apesar de toda sua
estrutura, o lugar parece ter sido projetado apenas para negócios, devido ao
entra e sai de pessoas bem-vestidas.
Fico pensando onde mora e se tem alguém por ele…
Pessoas desse tipo costumam ser sozinhas e lembro que não vi
nenhuma aliança em seu dedo. Mas acho pouco provável que seja solteiro.
Lionel Rossi exala poder, além de ser lindo…
Dando a volta pelo jardim, vejo um enorme galpão ao longe e, pela
segurança reforçada ao redor, imagino que seja onde são fabricadas as
notas.
Será que seu maquinário é semelhante ao de Elijah?
Será que usam a mesma tecnologia?
Sinto uma curiosidade crescer dentro de mim, mas não ouso me
aproximar. Prefiro caminhar por território seguro.
Em pouco tempo, circulo toda a propriedade e vejo que não há muito
mais o que fazer aqui. Afinal, não é um lugar para entretenimento, e sim
para trabalho.
Trabalho…
Ainda estou em dúvida se devo aceitar ou não a proposta de Lionel.
Sei que não tenho outra escolha e que é o melhor a ser feito, mas
ainda assim…
Queria tanto não ter que voltar para esse caminho.
Queria tanto ter uma vida livre, mas já entendi que isso é impossível
para mim.
Se eu sair daqui, Elijah vai me capturar no mesmo instante e me levar
de volta ao inferno.
Não deveria considerar uma escolha dessas, mas entre voltar para as
garras de quem só me fez mal e trabalhar para seu inimigo…
Não preciso pensar demais para ter a resposta.
Afinal, “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”.
 
 

 
 
— Mandou me chamar, senhor? — Naomi pergunta logo que entra
em meu escritório.
— Como está a garota? Alguma evolução?
Desde que conversei com ela ontem, deixei-a o restante do dia à
vontade. Sei que deu uma volta pela propriedade e pediu alguns livros para
ler, produtos pessoais e um fast-food para comer.
Hoje tratei de não a incomodar logo cedo, mas meu prazo está
correndo. Não posso deixar que ela me responda quando bem entender.
— Está mais tranquila agora. Um pouco menos desconfiada — relata.
— Ótimo.
— Ainda está assustada, mas acho que é questão de tempo até se
soltar.
— Continue dando a ela todo o suporte de que precisar e me
mantenha informado de tudo.
— Está certo.
— Ela está no quarto agora?
— Pelo que eu vi, está no jardim lendo um livro.
Confiro a imagem das câmeras no monitor e encontro-a sentada no
banco de madeira, debaixo de uma árvore.
— Vou falar com ela.
Deixo o escritório e caminho a passos largos em direção à área
externa da casa, parando apenas quando me aproximo dela. O som do meu
sapato esmagando o gramado chama a sua atenção.
Ava ergue o olhar para me encarar e consigo notar o vinco que se
forma entre as sobrancelhas. Mas seus olhos parecem mais calmos agora,
menos doloridos.
— O morro dos ventos uivantes? — pergunto, apontando para o
exemplar que ela tem em mãos.
— É o meu clássico favorito — responde.
E, pelo seu tom de voz, consigo encontrar uma firmeza que antes não
havia ali. Isso me dá uma fagulha de esperança, talvez ela concorde em
colaborar.
— Já ouvi muito a respeito, mas nunca li.
— Não gosta de ler? — pergunta, com o semblante levemente
curioso.
— Não tenho tempo para isso — rebato.
Eu já divido a minha vida entre cuidar dos cassinos, da falsificação de
dinheiro e ser um pai para a minha sobrinha. Evidentemente não me sobra
tempo para leituras.
Mas, quando digo isso, seu semblante murcha um pouco.
— Posso te interromper? — pergunto, ainda encarando-a de pé.
— Você já fez isso.
Sua expressão impaciente me faz sorrir. Essa é muito melhor do que a
dolorosa que encontrei ontem.
— Quero te mostrar a fábrica.
Quando digo isso, seus olhos se iluminam. Ela rapidamente fecha o
livro, marcando a página em que parou, e se coloca de pé.
— Curiosa para conhecer o trabalho, Stone? — indago, arqueando a
sobrancelha para ela.
— Preciso saber onde estou me metendo.
— É justo.
Conduzo-a até o galpão e, quando passamos pela segurança, o som
das impressoras ecoa o ambiente. Por mais que eu tenha pausado as vendas,
preciso entregar as últimas encomendas prometidas.
Os olhos de Ava brilham quando ela percorre o extenso galpão,
parecendo impressionada com o que vê.
Decido apresentar a ela cada processo, por isso guio-a até a seção de
conferência do papel.
— Aqui é feito o controle de qualidade de cada folha. — Aponto para
os grandes rolos de papel. — Ele passa por uma conferência rigorosa, para
que não tenha nenhum defeito.
— É você quem fabrica o papel? — pergunta e eu nego.
— A matéria-prima vem de fora do país e eu tenho um fornecedor
que trabalha exclusivamente para mim. Ele já me entrega os rolos prontos.
— Hummm…
Ava toca uma folha e eu lhe mostro as três camadas que o compõem,
dando uma explicação rápida sobre todos os testes a que são submetidos.
— A marca d’água é impressa ainda no processo de fabricação do
papel. Note que todas as folhas já vêm com ela.
Pego uma lanterna no balcão e ilumino o papel, mostrando as marcas
espalhadas por toda a folha.
— É incrível… — murmura e eu sorrio.
Esse trabalho é o meu maior orgulho.
— Ali fica o armazenamento das tintas. — Aponto para uma parede
lateral do galpão. — Cada nota tem uma combinação diferente de cores e é
outro trabalho minucioso para que saia impecável.
— Imagino que sejam bem resistentes — comenta.
— São feitas para suportar tudo. Sol, chuva, água do mar.
Absolutamente tudo.
Ava assente e observa cada canto deste lugar até eu lhe apresentar a
área de impressão.
— E ali as folhas passam por três processos distintos de impressão até
chegar ao resultado final.
Calço um par de luvas e pego uma das folhas já impressas de notas de
cem dólares para mostrar a ela. Ava inclina o corpo para observar o papel
bem de perto e o seu cheiro me invade.
É um misto de chocolate com avelã, um aroma diferente de tudo que
eu já senti.
— Parecem mesmo de verdade… — sussurra e eu solto uma risada.
— Elas são de verdade, Ava. Só não são registradas pelo Banco
Central.
Ela assente e eu largo a folha inteira, levando-a à próxima seção.
— E aqui é feito o corte, milimetricamente calculado.
Aponto para as máquinas e mostro o exato momento em que dividem
a folha de papel, liberando as cédulas perfeitas.
Alcanço uma da pilha e entrego a ela, que pega com cuidado de
minhas mãos.
— Um presente de boas-vindas — proponho e Ava abre um esboço
de sorriso.
— Mas ainda não aceitei sua proposta…
— Ainda.
Levo-a à última etapa, onde as notas são embaladas e preparadas para
os malotes.
— Aqui o setor de logística faz toda a conferência das notas e registro
interno delas. Se tiverem um mínimo defeito, são descartadas
imediatamente. Eu só trabalho com perfeição. — Aponto para a minha
equipe, que trabalha com maestria. — Esses são os últimos pedidos que
temos para entregar por esses dias. Por enquanto as encomendas estão
suspensas, até que eu adapte a minha produção.
Tiro as luvas da mão e jogo na lixeira, cruzando os braços para
encará-la.
— Temos um enorme desafio, Ava. E eu preciso de você.
A garota desvia o olhar do meu e parece relutante.
— Eu não queria voltar para essa vida… — confessa e eu toco seu
cotovelo, conduzindo-a para fora do galpão.
O contato da minha pele na sua causa uma estranheza dentro de mim.
— E tem outra escolha? — pergunto quando chegamos novamente ao
jardim. — Você já está envolvida até o pescoço nesse mundo, não há como
voltar atrás…
A garota suspira e me abre um sorriso fraco.
— Queria tanto não ter conhecido Charles…
Seu olhar vai longe agora e parece se envolver em lembranças.
— Infelizmente não é possível mudar o passado. Mas posso garantir
que ninguém mais fará mal a você. Aceite minha proposta. Tenha a
segurança de dormir em paz sabendo que nunca mais será machucada.
Ava abraça o corpo e olha para o céu por um longo momento antes de
assentir.
— E quando o meu trabalho acabar?
— Como?
— Depois que eu invadir o sistema do Fed e dar a você o que quer. O
que fará comigo? — pergunta me encarando firme agora.
Dou um passo em sua direção, encurtando a nossa distância, e
ficamos cara a cara. Quase consigo sentir sua respiração daqui.
— Um sistema como o seu precisa ser mantido — afirmo. — E
protegido de uma possível invasão. Então, mesmo que me entregue os
arquivos para confecção da nova nota, seu trabalho não terminará comigo.
Não desvio meus olhos dos seus para que ela entenda que estou
mesmo falando sério.
Ava Stone é altamente qualificada e eu seria burro se a deixasse
escapar. Se depender de mim, terá emprego vitalício comigo.
Seus olhos castanhos perfuram os meus e, quando percebe que não há
dúvidas aqui, finalmente decide ceder.
— Tudo bem.
Um alívio tremendo toma conta de mim e meu coração se acelera
dentro do peito na expectativa do que está por vir.
Porra!
Nós vamos conseguir.
— Do que você precisa?
Ava faz uma lista para começar o trabalho e imediatamente aciono
Mia para providenciar.
Com tudo acertado, não consigo conter um sorriso.
É, Elijah… Você se fodeu.
E eu não poderia estar mais feliz por isso.
 

 
 
— Você vai comigo para San Diego? — indago Lionel quando ele me
diz que já fez a reserva no hotel em nome de Caroline.
Antes de fugir das garras de Elijah, fiz um backup do programa que
eu criei para ele e deixei em um cofre em San Diego. Deu trabalho demais
criar aquele sistema para simplesmente abandonar.
E, agora que aceitei a oferta de Lionel, preciso buscar o backup para
prosseguir. Por mais que tenha um sistema próprio para confecção das
notas, não é habilitado para executar os arquivos do Fed como o meu.
— Com toda certeza. Não que eu não confie em meus seguranças,
mas prefiro estar por perto.
Arqueio a sobrancelha e assinto.
Lionel ainda é um mistério para mim.
Por mais que eu tenha aceitado sua proposta, não consigo ter certeza
de que posso confiar cem por cento nele. E mesmo que tenha demonstrado
ser uma pessoa diferente de seu rival, não posso deixar de ficar em alerta a
seu respeito.
Não sei o que é capaz de fazer comigo…
Na verdade, a essa altura da minha vida, sei que não posso confiar em
ninguém. Mas o que me fez ceder, além de saber que sem a sua ajuda
estarei nas mãos de Elijah de novo, foi a forma como depositou sua
confiança em mim.
Em todos os anos de trabalho com seu rival, este nunca me levou até a
fábrica de dinheiro falso. Apenas me mostrava algumas filmagens e levava
as notas já prontas para mim. Elijah jamais permitiu que eu entrasse lá,
dizia que aquele não era lugar para mulheres.
Sempre tive muita curiosidade para saber como é. Por isso, quando
Lionel me levou para o galpão e me mostrou todos os processos para
confecção das notas, algo dentro de mim se acendeu. Um gesto que para ele
poderia ser rotineiro, para mim, significou muito.
Então foi ali que Rossi me convenceu a aceitar sua proposta. E peço
aos céus para não estar cometendo um erro.
— Nós vamos passar apenas uma noite lá — explica e interrompe
meus pensamentos. — Vamos amanhã de manhã e retornaremos no dia
seguinte.
Engulo em seco e abraço meu corpo pensando na proximidade dessa
viagem, mas sei que não tenho escolha. Lionel não vai me deixar ir sozinha
e, sendo bem sincera, eu também não me sentiria segura dessa forma. É
irracional isso, já que acabei de conhecê-lo, mas saber que ele estará por
perto me tranquiliza.
Só espero que ninguém me olhe diferente nesse percurso, já que
viajarei sozinha com vários homens que nunca vi.
— Tudo bem — respondo em um suspiro.
Que escolha eu tenho?
— Preciso da peruca loira e das lentes azuis — constato.
Quando acordei, há alguns dias aqui em Las Vegas, já estava sem a
peruca, mas as lentes coloridas eu tirei e joguei no lixo.
— Já providenciei para você — diz. — Naomi está incumbida de te
ajudar a fazer as malas.
A empregada de Lionel foi uma boa surpresa desde que cheguei aqui.
Ainda não confio por completo nas pessoas deste lugar, mas ela me causou
uma boa impressão. Pelo menos tem feito de tudo para que eu me sinta bem
por aqui e é bom conversar com uma mulher, no meio de um ambiente, em
sua maioria, masculino.
— Certo…
— O computador com as configurações que você pediu chega no fim
da semana. E o laptop também.
— Tudo bem.
Olho para o escritório de Lionel e vejo-o de braços cruzados, com o
quadril encostado na mesa. Noto o quanto é imponente.
Não é um homem dado a sorrisos, está sempre com o semblante sério
e uma firmeza na voz impressionante. Até o jeito como anda pela
propriedade chama a atenção.
Lionel anda como se fosse dono do mundo.
E a sensação que eu tenho é de que é exatamente assim.
— Precisa de mais alguma coisa? — pergunta e eu nego. — Está
liberada agora.
Ergue a cabeça em direção à porta e eu assinto.
Quando estou do lado de fora, encontro Liam Reynolds, o segurança
incumbido de me vigiar, e aceno para ele. O homem tem cara de poucos
amigos, mas pelo menos não me olha como se fosse me devorar.
Sinto um calafrio só de pensar na forma como os homens de Elijah
me encaravam…
Volto para o meu quarto e encontro Naomi me esperando com a mala
aberta sobre a cama.
— Trouxe algumas roupas novas para você!
O sorriso terno que a senhora abre faz o meu coração se aquecer
dentro do peito.
— Mas você sabe o meu gosto? — Faço uma careta para ela em tom
de brincadeira.
— Claro que sei!
As sacolas que Naomi me abre dizem que realmente conhece minhas
preferências. São várias calças e shorts jeans, além de camisetas leves e
confortáveis. Encontro também alguns pares de tênis e sandálias baixas.
— Você não me parece ser alguém que gosta de salto alto — arrisca
um palpite.
— Não mesmo. É tudo perfeito, Naomi. Obrigada!
— Tenho mais uma coisa para você…
A mulher mexe em algumas sacolas e pega uma caixinha de veludo,
chamando a minha atenção.
— Notei que quando chegou usava um brinco pequeno de pedra.
Como Lionel me pediu para comprar um presente de boas-vindas para você,
pensei que fosse uma boa escolha.
Meu coração se acelera dentro do peito quando pego a pequena caixa
de suas mãos. Ao abrir, encontro um colar de ouro com uma pedra delicada,
que combina bastante com os brincos.
— É lindo… — sussurro ao tocar a joia.
— É um presente de Rossi para você — diz e eu sinto meu coração
errar uma batida.
Vou até a penteadeira na lateral do quarto e coloco o colar, sentindo-o
encostar em minha pele e vendo o quanto ficou lindo.
— Obrigada, Naomi.
— Agradeça a ele. — A senhora dá de ombros. — Agora vamos fazer
as malas?
Pelos próximos minutos, Naomi me ajuda a organizar tudo para a
viagem e me conta que não sai da cidade há muitos anos. Ela é viúva, cuida
do neto nas horas livres e, quando fala dele, seu semblante se ilumina. A
senhora aproveita para me mostrar alguns vídeos do pequeno no celular, é a
coisinha mais fofa.
Vê-la falar com tanto orgulho da família me faz sentir um aperto no
peito por saber que sou completamente sozinha no mundo.
Já faz uns bons anos que não sei o que é ter amigos e até mesmo uma
família…
A tarde passa voando e, quando já é noite, fico deitada no quarto
vendo um filme qualquer na TV.
Meu coração está acelerado de ansiedade pela viagem de amanhã e
por sair desta fortaleza de Lionel pela primeira vez.
Ainda que a viagem seja feita em seu jatinho particular e com
segurança reforçada, não consigo deixar de pensar na possibilidade de ser
descoberta.
A sensação que eu tenho é de que, assim que atravessar esses muros,
serei levada de volta para as garras de Elijah, e pensar nisso me causa ânsia
de vômito.
Isso não pode acontecer.
Preciso confiar que Lionel vai cumprir a sua promessa e me manter
segura.
Preciso confiar, ou ficarei maluca.
 

 
 
Desço do jatinho e Lionel toca as minhas costas enquanto me guia até
o carro preto que já espera por ele. Ainda que eu esteja usando um casaco
fino, um arrepio percorre a minha pele por senti-lo me tocando, mesmo que
de forma sutil.
Por mais que esteja usando a peruca e óculos escuros, prefiro andar de
cabeça baixa até ser acomodada no banco traseiro do veículo. Atrás de nós,
mais um carro é seguido pelos seguranças de Lionel.
Para a viagem de hoje, conseguiram uma segunda via dos documentos
falsos que fiz para Caroline Williams, pois acabei deixando os que eu tinha
para trás. Espero que o banco não seja resistente em me fornecer uma cópia
da chave. A original ficou em um cofre, em uma cidade vizinha a New
Richland.
— Vamos primeiro para o hotel fazer o check-in — a voz grossa de
Lionel interrompe meus pensamentos. — Deixamos nossas coisas lá e
seguimos para o banco.
— Tudo bem.
Assinto e encosto a cabeça no vidro, vendo a cidade de San Diego
através da janela. É diferente estar aqui de novo sem ter aquela sensação
ruim de perseguição.
Eu me lembro bem de como foi assustador vir até aqui fugindo de
Elijah e com medo de ser descoberta.
Lionel conversa com o motorista e seus seguranças, mas não presto
atenção alguma. Estou mergulhada em pensamentos e lembranças não
muito boas da minha vida.
Quando chegamos ao hotel, fazemos o check-in e ele se apresenta
como Richard Freeman, meu suposto noivo. O sorriso irresistível que dirige
à recepcionista enquanto acerta os detalhes de nossa hospedagem me faz
sentir um frio na barriga.
É uma versão que até então eu não conhecia.
Com tudo liberado, subimos pelo elevador até o décimo andar do
hotel.
— A suíte é única, apenas para manter as aparências — explica
quando abre a porta e me revela o interior.
Meu corpo inteiro se estremece por toda essa proximidade com ele.
Não vamos ficar juntos, não é?
— Não vamos ficar no mesmo ambiente — diz, fazendo-me respirar
um pouco mais tranquila. — São dois quartos distintos.
Aponta para as duas portas separadas pela ampla sala com sofás,
televisão, uma minicozinha e uma linda sacada.
— Você nem vai notar a minha presença — avisa. — Pode guardar os
seus pertences.
Pego minha mala e abro a porta do meu quarto, sendo surpreendida
com a enorme cama king-size. Ao lado também há uma sacada com vista
para a cidade e um banheiro luxuoso.
Admiro tudo maravilhada e penso que mais tarde, quando ficar
sozinha em meus aposentos, vou querer desfrutar de um banho de espuma.
Sempre tive vontade de experimentar um e não vou perder essa
oportunidade.
Deixo minha mala num canto e pego a bolsa, conferindo todos os
documentos de Caroline. Confiro o meu visual no espelho e saio do quarto,
encontrando Lionel de pé na sacada.
Quando nota a minha presença, ele se vira para mim. Engulo em seco
ao vê-lo me encarar com aquela intensidade azul. Lionel usa uma camisa de
botões branca e calça cáqui. Os óculos modelo aviador estão encaixados na
gola da camisa. Percebo que as mangas estão dobradas na altura dos
cotovelos, revelando algumas tatuagens em seus braços.
Logo que eu o conheci, notei uma de crucifixos no pescoço e me
pergunto se ele tem mais algumas pelo corpo.
— Pronta? — pergunta com a voz grossa e eu assinto, engolindo em
seco.
A sua presença, tão próxima a mim, me intimida.
Deixamos a suíte e já encontramos seus seguranças nos aguardando
no corredor. Noto que estão todos usando roupas descontraídas para
disfarçar um pouco a missão de cada um por aqui.
Descemos pelo elevador e seguimos até o estacionamento, onde mais
uma vez me acomodo no banco traseiro, ao lado de Lionel. Sentada tão
próximo dele, consigo notar o seu perfume marcante.
É um aroma amadeirado forte e bem másculo.
— Está tranquila para fazer o que precisa? — ele me questiona e eu
confirmo.
— Só preciso parecer confortável ao seu lado.
— Não será difícil. Caroline e Richard são um casal apaixonado —
diz pegando a minha mão para beijar.
E essa mínima proximidade dele causa um rebuliço dentro de mim.
Minha respiração pesa e Lionel dá uma piscadinha para mim antes de
me soltar, iniciando uma conversa com Liam ao seu lado.
Durante todo o trajeto até o banco, meu coração fica acelerado dentro
do peito e eu penso no quanto é perigoso ter esse homem por perto.
Preciso me lembrar de quem é o sujeito ao meu lado e de como
manipula tudo para conseguir o que quer.
Preciso me lembrar disso todas as vezes que ele me olha de um jeito
diferente.
Quando chegamos à porta do banco, Lionel desce do carro comigo,
acompanhado de Liam e Caleb, o outro segurança. Mesmo que não possam
entrar armados, os homens ficam à espreita e em comunicação com os
seguranças de fora, caso seja necessário.
— Lembre-se de que você é uma noiva apaixonada — Lionel sussurra
em meu ouvido logo que adentramos o local e um arrepio percorre a minha
espinha.
Apenas assinto para ele enquanto caminhamos lado a lado em direção
ao gerente do banco, que para a minha sorte me reconhece.
— Srta. Williams, que bom revê-la — o funcionário me saúda logo
que apresento meus documentos.
— O prazer é meu, Isaac — respondo, lendo o seu nome no crachá e
me lembrando de quando estive aqui pela primeira vez.
Sorrio olhando para Lionel ao meu lado.
— Richard Freeman — ele se apresenta e estende a mão para o
gerente, que a aperta sorrindo. — Sou o noivo de Caroline.
A forma como ele diz a palavra noivo causa um estrago dentro de
mim.
— Meus parabéns pelo noivado! — Isaac indica com a mão para que
nos sentemos à sua frente. — Para quando é o casamento?
— Daqui a um mês — digo, tentando sorrir sem demonstrar o quanto
estou nervosa com essa mentira. — Mas já estamos em clima de lua de mel.
— E como estamos… — Lionel diz, inclinando-se para depositar um
beijo em meu ombro.
Minhas pernas bambeiam pelo contato e eu endireito o corpo para
disfarçar o quanto isso mexeu comigo.
— Então, Isaac. Com todo o processo de mudança para o novo
apartamento, acabei perdendo as chaves do meu cofre. Pode me fornecer
uma cópia?
— Perfeitamente.
O gerente abre a gaveta e retira uns formulários de lá.
— Só precisa preencher esses documentos, por favor.
Pego a caneta de suas mãos e faço o que me pede tomando o cuidado
de fazer a caligrafia de Caroline, e não a minha. Com tudo pronto, uma
nova cópia me é entregue e eu sou direcionada até o setor onde ficam os
cofres.
Lionel me acompanha no percurso e eu sinto meu coração se acelerar
em expectativa. Quando digito a combinação da senha e abro a porta, uma
fechadura é revelada e uso a chave em minhas mãos para destrancá-la.
Ao ver o pacote embrulhado que abriga o HD, abro um sorriso de
alívio.
— É isso? — Rossi me pergunta e eu confirmo.
Pego o pacote e desembrulho com cuidado, reconhecendo a peça
preta lá dentro.
— O maior projeto da minha vida está aqui — sussurro ao me
lembrar dos meses de trabalho intensivo para conseguir chegar ao resultado.
— Certo. Vamos guardar para levar a Las Vegas com segurança.
Assinto e guardo o pacote na minha bolsa, trancando o cofre ao final.
Quando saímos, acenamos para Isaac em despedida e encontramos
Liam e Caleb nos aguardando na saída.
— Tudo certo — Lionel se pronuncia e os homens nos acompanham
até o carro.
Dentro do veículo, pega o HD de minhas mãos, guarda dentro de uma
maleta codificada e eu mentalizo rapidamente a combinação, para o caso de
precisar.
O trajeto de volta para o hotel é feito de forma bem mais leve, pois
sabemos que o pior já passou.
Não vejo a hora de voltar para Vegas e começar o trabalho, pois eu
amo o que faço.
— O que quer comer para o almoço? — Rossi me pergunta logo que
entramos na suíte que vamos compartilhar.
— Vamos ter que sair? — indago.
Por mais que eu queira passear por San Diego, não me sinto segura
em andar por aí.
— Não, vou pedir para o serviço de quarto.
— Ah…
Enquanto descolo a peruca da cabeça e liberto meus cabelos, Lionel
pega o menu em cima da mesa e estende para mim.
Pego o cardápio de suas mãos e o analiso, pensando em qual
sanduíche escolher.
— Cabelos loiros não combinam com você.
Sua voz é baixa e eu ergo os olhos para encará-lo.
Ele umedece os lábios devagar e arqueia a sobrancelha de leve.
— Você fica bem melhor morena — a voz rouca faz o meu coração
bater feito um louco dentro do peito.
— Eu também acho — respondo e dou um passo para trás,
distanciando-me dele. — Vou querer um sanduíche de carne com queijo —
digo, devolvendo-lhe o cardápio.
— Mais alguma coisa?
— Pode ser um refrigerante.
Lionel assente e se vira para pegar o telefone, a fim de fazer o pedido.
Aproveito a deixa e vou até a sacada da suíte, onde me debruço no
parapeito desejando ver a cidade abaixo de nós. Ainda que esteja de dia,
San Diego é linda com todos os seus prédios e avenidas largas. O rio que a
circula dá um charme a ela.
— À noite fica ainda mais bonita.
A voz de Rossi surge atrás de mim e eu não me viro, apenas sinto-o
se posicionar ao meu lado.
— Só não é mais bonita que Vegas — comenta.
— Las Vegas é incrível…
Faz um bom tempo que não faço um programa noturno na cidade do
pecado, mas sei o quanto é linda à noite. Com todas aquelas luzes,
chafarizes, roda-gigante…
Cada cassino é um espetáculo à parte.
— Como é o seu? — pergunto e vejo um sorriso de lado se abrir.
Fiquei sabendo que, além do dinheiro falso, Lionel tem uma rede de
cassinos em Vegas, que mantém sua aparência de empresário bem-sucedido.
— São cinco ao todo — comenta e eu consigo perceber um toque de
orgulho em sua voz. — Três deles também contam com serviço de hotel.
Lionel faz um breve relato da estrutura de cada um deles e eu me
pego curiosa para conhecê-los.
— Eu gostaria de visitá-los — confesso, mesmo sabendo que não é
possível.
— Sem chance — ele me corta. — Tenho certeza de que há homens
de Elijah em todos os meus cassinos vigiando os meus passos.
— Eu sei. — Suspiro.
Meu olhar vai ao longe no instante em que a campainha toca para
entregar o almoço.
Lionel se afasta de mim para receber o pedido e eu o acompanho.
Quando me entrega as embalagens, eu estranho, pois o meu é o único
pedido.
— Preciso sair para resolver alguns assuntos — diz, pegando o
celular e desviando o olhar para a tela. — Fique à vontade para acionar o
serviço de quarto quando quiser.
— Ok…
— Liam está lá fora. — Rossi aponta para a porta atrás de nós. — Se
precisar de alguma coisa, basta chamá-lo.
— Tudo bem.
Lionel apenas acena antes de sair do cômodo, deixando-me
completamente sozinha. Solto um suspiro e levo o sanduíche até a bancada
da pequena cozinha para comer.
Por um instante tive a esperança de que ele fosse ficar comigo, mas
como fui tola.
Eu sou apenas alguém que vai lhe dar o que quer, nada mais.
Preciso me lembrar disso todos os dias.
Abro as embalagens e dou uma mordida no sanduíche enquanto penso
no que fazer hoje.
Ainda é cedo e só vamos retornar para Vegas amanhã de manhã, então
vou ter que procurar alguma coisa para fazer nessa suíte sozinha pelo resto
do dia.
Lembro-me daquela banheira maravilhosa que vi ao chegar e abro um
sorriso.
Termino de comer e já sei exatamente o que fazer.
 

 
 
— Ora, ora… — Abro um sorriso amistoso ao avistar os quatro
russos entrando em minha sala de negociações. — Se não é a cavalaria
eslava chegando ao meu cassino.
Brinco e o primeiro a fazer um xingamento em russo é Mikhail
Yaroslav, o antigo Brigadier da Bratva.
— Se você me desse boas notícias, Lionel, certamente eu não sairia
da Rússia para vir até aqui.
Cumprimento Demian, atual Brigadier, Ruslan, o advogado dos
russos, e Dmitri, o cara que já se divertiu muito a minha custa.
— Fiquei sabendo que suspendeu a produção de notas frias —
Mikhail comenta logo que todos se sentam à mesa.
Pego uma garrafa do meu melhor uísque e sirvo aos meus parceiros,
antes de me juntar a eles.
— Não adianta nada fabricar notas que sairão de circulação em
poucos meses, Mikhail. — Faço uma careta antes de beber um gole do
uísque.
— E já tem alguma solução para isso? Sabe do nosso acordo e…
Assinto de pronto.
— Já estou cuidando disso. A melhor hacker do país está trabalhando
para mim. Vamos invadir o sistema do Fed e pegar o arquivo de que
precisamos para adaptar todo o meu maquinário.
Faço um relato do que enfrentei nos últimos dias e a projeção para os
próximos meses, deixando claro que estou fazendo o meu melhor para
reverter essa situação.
Os russos me analisam para ver se captam alguma dúvida em minha
voz. Mas eu sempre fui aberto com eles, nunca precisei mentir e é por isso
que temos uma aliança que já dura há anos.
Eu forneço as notas para eles com preço bem abaixo do mercado e em
troca eles fazem o serviço sujo quando necessito.
— Se precisarem de poucas notas, consigo fornecer — informo. —
Só não posso entregar grandes malotes, porque é prejuízo até para vocês.
Os homens se entreolham e é a vez de Ruslan me questionar.
— Já tem uma previsão de quando começa a entregar a nova moeda?
— A porra do Banco Central anunciou que começa a circular em
janeiro. — Paro para esfregar a barba. O ódio que eu tenho de ter que
mudar toda a minha vida por um capricho do governo. — As notas velhas
vão sair de circulação aos poucos até serem totalmente exterminadas. Pelos
meus planos, em dezembro consigo entregar o novo dólar para vocês.
Os homens comentam entre si algumas coisas em russo que não faço
ideia do que seja e aproveito para nos servir de mais uma dose. Encaro-os
firme e mostro que estou falando sério, mas não preciso de muito esforço,
porque Mikhail me conhece. Sabe que sou um homem de palavra.
— Seremos os primeiros a receber a nova nota. — Mikhail bate o
dedo indicador na mesa e eu confirmo.
— Pode contar com isso. O primeiro malote irá diretamente para a
Bratva.
Os homens se levantam da mesa e eu os cumprimento para sair.
— Sabe que eu vim até Las Vegas só para falar com você, Lionel? —
Mikhail me lança um olhar ameaçador, mas eu não me intimido.
— Nós nunca tivemos problemas antes, Yaroslav. Não vamos ter
agora — garanto e ele assente.
— Preciso voltar à Rússia amanhã. Mantenha Damien informado de
tudo.
Assinto e aproveito a deixa para irritá-lo.
— Então o Avtoriyet da Bratva agora usa uma coleira no pescoço? —
provoco-o e ele me lança um olhar furioso.
Já faz um bom tempo que não o vejo e a última notícia que tive é de
que não só se casou, como agora tem uma filha.
— Coleira não é algo que um russo use, Rossi — debocha. — Mas
costumamos ter leões em nossos zoológicos.
Mikhail aperta o meu ombro antes de se afastar de mim e acompanhar
os outros russos para fora do meu cassino.
Fico parado pensando em como ele sabe do leão, sendo que nunca me
viu sem camisa e eu nem sequer mencionei a tatuagem.
Balanço a cabeça e sigo pelos corredores do cassino, conferindo se
está tudo em ordem. A casa está cheia e isso me dá uma sensação boa do
caralho. Pelo menos um dos meus negócios não foi afetado pela merda do
governo.
Desço o elevador até o subsolo, onde acontecem os jogos
clandestinos. Essa parte é restrita e temos controle absoluto de quem
participa, porque a última coisa que eu preciso é de mais problemas para as
minhas costas.
Como em Las Vegas a prostituição é proibida, não ofereço o serviço
em meus cassinos, porém, nessas salas privativas, os homens que
participam dos jogos podem vir acompanhados de quem bem entenderem.
Passo pelas salas e cumprimento alguns conhecidos, inclusive o
diretor da escola de Amy, que é viciado em jogos de apostas altas.
Com tudo certo, decido voltar para casa mais cedo que o habitual, a
fim de pegar minha sobrinha ainda acordada. Desde que consegui trazer
Ava, tenho ficado mais tempo na sede para acompanhá-la no trabalho e me
certificar de que tudo esteja correndo bem. E, com isso, quase não tenho
passado muito tempo com Amy, preciso reverter essa situação.
No estacionamento, encontro Donald me aguardando dentro do carro
blindado para me levar para casa. Durante o trajeto, ligo para Carter. Deixo-
o a par da reunião que tive com os russos e já acertamos os nossos próximos
passos.
Agora que Ava teve acesso ao sistema que ela mesma criou, estamos
cada vez mais perto de chegar à invasão. Seu último pedido foi providenciar
uma senha de usuário válido do Fed para acesso. Já pedi Gavin para
encontrar um funcionário acima de qualquer suspeita para uma conversa
amigável.
Ainda que eu esteja nervoso para caralho com tantas mudanças
acontecendo, consigo ver uma luz no fim do túnel. Estamos cada vez mais
perto de conseguir tudo de que precisamos para confeccionar as notas
novas.
Enquanto isso, Elijah segue desesperado.
Pensar nele me faz sorrir.
Pelas notícias que recebi de Samuel, aquele bosta está desnorteado
sem saber o que fazer para acompanhar as mudanças. E estar na frente dele
mais uma vez me dá um gostinho ainda melhor.
Se ele não conseguir adaptar seu maquinário a tempo, eu serei o
principal fornecedor do novo dólar neste país, já que os outros que conheço
são ainda menores que Elijah e não me oferecem perigo.
Pensar nisso me deixa ainda mais orgulhoso.
Quando o carro adentra os portões da minha residência, dispo-me da
minha postura de empresário e desço do veículo, encontrando a casa em
silêncio.
Atravesso a porta principal e vejo Stacy, a babá de Amy que fica no
período noturno quando preciso, vendo TV no sofá.
— Geller, onde está Amy? — pergunto e a garota rapidamente se
endireita no sofá.
— Está no quarto lendo um livro, senhor — responde de pronto. —
Ela não quis ver TV comigo.
— Certo. Está dispensada.
Enquanto Stacy junta suas coisas para sair, subo o elevador rumo ao
quarto de Amy, encontrando a luz acesa no final do corredor. Dou duas
batidinhas e coloco a cabeça para dentro, vendo a pequena sorrir ao me ver.
— Tio Lion! — exclama, fechando o livro imediatamente.
— O que está lendo, coração?
Inclino-me e beijo sua testa com carinho.
— O guia do mochileiro das galáxias — responde me mostrando o
livro de capa azul.
— Hummmm… E é bom?
— Sim! Estou adorando!
Seu sorriso alegre aquece o meu peito.
Tiro os sapatos dos pés e ajudo-a a se mover na cama para que eu me
acomode ao seu lado.
— Pensei que não fosse te encontrar acordada — comento, fazendo
pequenos círculos em seu rostinho.
— A Stacy me chamou para ver um filme, mas eu não quis. Fiquei
aqui deitada lendo e perdi a noção da hora.
— Isso é bom. Senti saudade, coração.
Aperto seu nariz e ela ri.
— Eu também, tio… Muito trabalho?
— Bastante. — Suspiro. — Mas não vamos falar disso agora.
A última coisa que eu quero pensar é em trabalho quando estou com
Amy.
— Terminei uma tela hoje — comenta, orgulhosa.
— Jura?
— Sim! Amanhã, sob a luz do sol, eu te mostro.
— Vou adorar. Sabe que eu amo as suas pinturas. E o que é desta vez?
— Eu fiz um leão — murmura e noto suas bochechas ficarem mais
rosadas.
— Um leão?
— É… Fiz pensando em você — sua voz tímida faz o meu coração
errar uma batida.
— Aposto que ficou incrível — digo, beijando sua testa mais uma
vez. — E como é esse leão? Vive em um zoológico? — pergunto me
lembrando da provocação de Mikhail.
— Não! — responde rápido. — Coitadinho… Zoológico é muito
solitário. Ele está em seu habitat natural — explica. — Em sua posição de
rei da selva.
— Gostei disso.
— Eu acho que seu nome combina com você, tio — comenta e eu
arqueio a sobrancelha para ela. — Às vezes você anda como se fosse um
rei, com um jeito de leão.
Solto uma gargalhada de sua percepção.
— Ah, é?
— Sim! Você não anda encurvado, nem parece ter medo de nada.
Parece mesmo um leão.
— Ah, mas nisso você está enganada. Eu tenho medo, sim.
— De quê? — pergunta curiosa.
— De perder você.
A pequena estreita os olhos para mim.
— Tio… Você não vai me perder.
— Mesmo quando você se tornar uma artista mundialmente famosa?
Faço um semblante carente e ela ri.
— Mesmo, mesmo. Você tem avião particular, esqueceu? É só deixar
um comigo, que eu sempre virei te ver.
Agora é a minha vez de gargalhar.
— Já está de olho em meus aviões, Amy Rossi?
A carinha sapeca dela é meu tudo.
— Não foi você que disse que tudo que é seu é meu? Pois então. Os
aviões também.
— Está certa. Eu deixo um com você.
Ela sorri orgulhosa e eu abro os braços para que se aninhe em meu
peito. Quando o faz, acaricio seus cabelos e vejo seus olhos pesarem de
sono.
— Você nunca me deixou, tio Lion. Mesmo quando podia ter feito
isso… — sua voz é muito baixa agora. — Então eu nunca vou deixar você.
Aperto-a mais contra mim e beijo seus cabelos macios.
— Eu amo você, coração.
Amy sorri de olhos fechados, aninhada em meu peito.
Por um momento, sou invadido pelas lembranças do dia em que
Candice foi baleada e levada às pressas para o hospital.
Infelizmente ela não resistiu, mas seu último pedido foi que eu
cuidasse de seu bebê.
Naquele dia, eu perdi a minha irmã caçula e ganhei de presente essa
garotinha, que se tornou o meu tudo.
 

 
 
— E como funciona o seu sistema? — Aponto para a tela do laptop
de Ava.
Sentados em meu escritório, a garota me apresenta a sua criação.
Desde que pegamos o backup, ela fez a instalação e toda a configuração
necessária. Agora ele está pronto para ser utilizado.
— Eu criei um spyware que executa os arquivos específicos do Fed.
Não temos como criar um software idêntico ao deles, mas eu só preciso
executar os arquivos para ter acesso às notas — explica, orgulhosa. —
Assim, eu tenho a opção de instalar esse spyware no computador que
iremos invadir para buscar os arquivos ou simplesmente trazê-los para que
ele apenas execute.
Assinto e a vejo me mostrar cada passo de seu sistema,
impressionando-me. Ela é mesmo bastante talentosa.
Ava Stone não é só um rostinho bonito e um corpo perfeito, a garota é
um gênio.
Constatar isso só me faz pensar no quanto tive sorte de encontrá-la.
— Ainda bem que eu já tinha o backup salvo — diz me encarando
agora. Seus olhos castanhos são muito mais calmos do que quando chegou
aqui há algumas semanas. — Porque eu demorei meses para criar esse
sistema.
Faço uma careta só de pensar no atraso que seria se ela tivesse que
recriá-lo do zero.
— Você será recompensada por isso — aviso.
Sei que já lhe ofereci um alto salário pelo trabalho, mas faço questão
de pagar um bônus generoso pelo software. Se não fosse por essa garota de
apenas vinte e cinco anos e dona de um cérebro invejável, eu estaria fodido.
Ava apenas assente e termina a sua apresentação.
— E qual o próximo passo agora? — pergunto ansioso.
— Eu acho um tanto arriscado enviar o spyware por e-mail ou até
pen-drive no computador para roubar os arquivos. O sistema do Fed é muito
seguro, vai detectar a ameaça e pode nos causar problemas.
— O que sugere então?
— Acho melhor acessar o sistema lá na sede do Fed.
— Em Washington DC? — indago e ela assente.
— Se conseguir acesso a um laptop de um usuário ativo deles, será
perfeito. E um login e senha válidos. Assim eu faço o acesso, exporto os
arquivos e só executo em meu sistema.
— Certo, vou pedir ao Gavin.
— Precisa ser um usuário que acesse essa parte do sistema do Fed.
Porque não são todos os funcionários que têm tal permissão.
Assinto e anoto em um bloco todas as informações que Ava me passa
para pedir ao Gavin a fim de localizar um funcionário que tenha o acesso de
que precisamos e que seja acima de qualquer suspeita.
O que será feito com ele depois é problema dos russos.
— Certo. Vou pedir ao Gavin para encontrar esse funcionário e,
quando tivermos tudo pronto, viajaremos para Washington.
Ava assente e fecha o laptop para se levantar, mas não sem antes
encarar o porta-retratos em minha mesa com uma foto de Amy.
— É sua filha? — pergunta com a voz baixa.
— Sobrinha — respondo seco.
— Ah…
Noto um misto de curiosidade e decepção passar em seu olhar, então
decido ceder um pouco.
— Mas eu cuido dela como se fosse filha.
A minha voz sai firme e Ava parece um pouco desconcertada ao
assentir e se levantar.
— O senhor precisa de mais alguma coisa? — pergunta com o
notebook fechado nas mãos.
Ela me olha de uma forma reservada e eu já reparei que fica
intimidada com a minha presença. Não que isso seja alguma novidade para
mim, mas há algo nela que é diferente.
O jeito como age quando estou por perto, a forma como desconfia até
da própria sombra…
Ava Stone me intriga.
Mesmo que esteja mais familiarizada com o ambiente, ainda consigo
notar seu receio. Ela anda encurvada pelos corredores, como se fosse ser
machucada por alguém.
— Por enquanto não — respondo. — Eu te aviso quando tiver
novidades sobre o acesso ao Fed.
— Certo. Com licença.
Ergo a mão para a porta e ela assente antes de sair e me deixar
sozinho. Fico por um momento pensando no que sei sobre essa garota e o
que ela esconde.
Quando O’Connell a investigou, tudo que conseguiu descobrir é que
ela morava com a mãe e o padrasto em Kingman, lá conheceu Charles.
Pouco depois, os dois fugiram para Las Vegas. A garota terminou a
faculdade e passou a trabalhar para Elijah em Henderson, onde nunca mais
teve paz.
Por mais que eu saiba detalhes técnicos de sua vida, há uma parte em
que eu não consegui ir além.
Bom, talvez seja melhor assim.
Não preciso de mais problemas para mim.
Ava está aqui a trabalho e irá continuar assim.
Decido deixar esses pensamentos de lado, ligar para Gavin e agilizar
o nosso processo.
— Rossi? — o funcionário do Fed não demora a atender a chamada.
— Gavin, preciso de você.
— Claro. Pode falar.
— Preciso acessar o laptop de algum usuário do Fed.
— Hummm…
Passo-lhe todas as informações que Ava me pediu para conseguir
acessar o sistema e ele ouve tudo com atenção.
— Certo. Vou procurar alguém nesse perfil e te retorno.
— Seja rápido — peço. — O tempo está correndo.
— Deixa comigo, Rossi.
Encerro a ligação um pouco aliviado de estar chegando perto e, ao
mesmo tempo, aflito pelo que está por vir.
Temos muito trabalho à frente.
Quando Ava acessar o sistema e conseguir os arquivos com o novo
layout da nota, precisarei enviar a nova marca d’água para o fornecedor de
papel fazer a adaptação e sei que isso demanda tempo. Além do mais,
minha equipe precisará fazer vários testes de combinação de tintas até
conseguir as cores idênticas da nova nota.
Tudo isso demanda tempo, porque eu sempre prezei pela perfeição e o
relógio não para de correr. Por mais que estejamos caminhando para o
nosso objetivo, só vou ficar tranquilo quando pegar em minhas mãos a
primeira nota impressa.
Levanto-me e vou até o barzinho me servir de uma dose de uísque.
Aproveito para acender um cigarro e vou até a janela do meu escritório,
onde tenho a visão de uma boa parte da minha propriedade.
Ainda parado, observo o exato momento em que Ava chega àquele
mesmo banco de madeira com um livro nas mãos. A garota olha para todos
os lados antes de se sentar e finalmente abrir o exemplar.
Aproveito o momento sozinho para reparar melhor nela e confirmar o
quanto é bonita. Quando cruza as pernas e o short jeans sobe um pouco,
revela mais de suas coxas firmes, fazendo-me virar um longo gole de
uísque.
— Rossi? — a voz de Blake surge atrás de mim e eu tenho um
sobressalto antes de me virar para ele.
— Caralho, Watson. Se anuncie, pelo menos.
Meu amigo franze o cenho para mim e tenta olhar por sobre o meu
ombro, mas eu o impeço.
— O que veio fazer aqui? — pergunto e ele ri.
— Às vezes me esqueço do quanto você é gentil — debocha e eu
reviro os olhos. — Vim te ver, não posso?
Estreito os olhos para ele, que ri mais.
— Está com saudade, Watson? — provoco-o. — Sua esposa não está
lhe entretendo o bastante?
— Filho da mãe.
— Uísque? — ofereço e ele aceita.
Sirvo um copo e entrego a ele.
— O nosso pessoal está parado — comenta, bufando. — Não tem
nenhuma previsão de quando vamos começar a trabalhar nessa nova nota?
— Estou aguardando notícias do Gavin sobre o funcionário de que
vamos roubar o acesso ao sistema. Ava já deixou tudo pronto. Logo que
conseguirmos, viajaremos para Washington para a invasão.
Blake me analisa antes de dar um gole na bebida.
— E você acha que a garota dá conta, Rossi?
— Ela acabou de me apresentar o sistema que criou e foi bem
convincente. Preciso confiar, Blake. Ava é a nossa única chance.
Watson suspira, assentindo.
— Nosso tempo está curto.
Ele coça a barba impaciente em uma mania bem parecida com a
minha.
— Eu sei. Estou na cola do Gavin. Logo que ele me passar as
informações do funcionário, entro em contato com os russos para fazer o
que for preciso.
Ele assente em concordância.
— Não vou sair de Washington sem esses arquivos em mãos. Nem
que para isso eu tenha que explodir uma bomba no prédio do Fed.
O responsável pela fábrica solta uma gargalhada.
— Por que eu não duvido de que você faria isso?
— Porque não é para duvidar mesmo.
Dou o último trago no cigarro e libero a fumaça, apertando a bituca
no cinzeiro. Encosto o quadril na mesa e olho para a janela ao longe, mas
daqui não tenho a visão da garota.
— Minha cabeça está a ponto de explodir — confesso, voltando o
olhar para o meu amigo.
Blake Watson me conhece desde que eu era um moleque de dezesseis
anos que trabalhava em um supermercado para ajudar a pagar as contas de
casa.
— Eu faço ideia — comenta, puxando uma cadeira para se sentar de
frente para mim.
— Porra! Eu odeio que as coisas saiam do meu controle. — Esfrego a
barba impaciente. — Estava tudo dando certo, meus negócios só crescendo,
até essa desgraça do governo decidir interferir na moeda.
Desencosto-me da mesa e vou até o barzinho pegar a garrafa de
uísque para nos servir de mais uma dose. Viro o líquido de uma vez só e tiro
mais um cigarro do bolso para acender.
— Você está fumando demais ultimamente — repreende-me. — Não
tinha parado com essa merda?
Balanço a mão para ele antes de dar um trago e soltar a fumaça.
— A única pessoa que um dia mandou em mim está debaixo da terra
— solto me referindo à minha mãe.
— Não estou tentando mandar em alguma coisa, Lionel. Eu só me
preocupo com a sua saúde. Desde quando alguém que tem asma pode
fumar?
Reviro os olhos para ele e dou mais um trago.
— Cuida da sua vida, Blake.
Fecho a cara e sirvo mais um pouco de uísque, oferecendo a ele, que
recusa.
— Antes de ser meu chefe, você é meu amigo — avisa, levantando-
se. — Sempre vou me preocupar com você.
O homem vira as costas e me deixa sozinho no escritório. Termino de
fumar e apago o cigarro no cinzeiro, voltando para a janela, mas não vejo
mais a garota lá.
Como se a vida tivesse dado ouvidos a Blake, sou invadido por uma
crise de tosse.
A sequência vem forte e me causa dificuldade para respirar. Com os
passos trôpegos, vou até a minha gaveta e reviro minhas coisas procurando
pela bombinha.
Puxo de uma vez e repito o movimento mais duas até finalmente a
tosse ceder.
Ergo o olhar em direção à porta e vejo Blake ao final do corredor,
encarando-me com o cenho franzido. Ele só balança a cabeça em decepção
antes de sumir de vista.
Caio sentado na cadeira e fecho os olhos por um instante.
Penso na loucura que minha vida se tornou nas últimas semanas e no
quanto preciso que os próximos passos sejam certeiros, caso contrário
ficarei louco.
Se Ava não conseguir concluir o seu trabalho, será a minha ruína.
Tudo que construí em mais de vinte anos está nas mãos dela agora.
Não há como ficar tranquilo até que tudo dê certo.
Pego outro cigarro no maço e acendo, fumando mais uma vez.
Que se foda.
Eu já vou para o Inferno mesmo.
 

 
 
A viagem até Washington foi bem mais tranquila do que a primeira
que fiz ao lado de Lionel. Eu me sinto um pouco mais à vontade com ele a
cada dia, embora nosso contato seja estritamente profissional.
A verdade é que, desde que cheguei à sua propriedade, tenho
observado todos os seus passos. Calada no meu canto, noto como age, como
se relaciona com as pessoas, como se porta com o mundo.
Lionel Rossi não é um cara fácil.
Nem mesmo parece se esforçar para agradar às pessoas.
Mas é um homem de palavra.
Tudo que ele promete, ele cumpre.
E isso é algo que eu tenho valorizado muito desde que cheguei a Las
Vegas. Como prometido, ninguém invade o meu espaço, ninguém encosta
em mim e a minha segurança é cuidada por ele.
Isso tem me feito respirar bastante aliviada.
Não consigo parar de pensar que a qualquer momento posso ser
descoberta por Charles e Elijah, mas também sei que Lionel não deixaria
isso por menos. Pelo ódio que tem do rival, muito mais do que me proteger,
não quer perder para o seu inimigo.
Então eu não duvido nada de que ele o caçaria até o fim do mundo
para me trazer de volta.
E isso, ao mesmo tempo que me assusta, me conforta.
Atravesso o hall de entrada do hotel e mais uma vez estou disfarçada.
Porém, agora a peruca é ruiva, as lentes de contato são verdes e eu uso
óculos sem grau no rosto.
Hoje eu não sou mais Ava Stone, nem Caroline Williams, e sim Emily
Brown. Uma estudante de Economia que veio fazer uma visita guiada na
sede do Banco Central acompanhada de seu mentor, Dr. Steven Shaw, o
personagem de Lionel.
É uma loucura como a minha vida tem parecido um filme desde que
conheci Charles.
É uma coleção de atividades ilícitas e identidades falsas da qual não
me orgulho. Porém sei que não me restam alternativas.
Com o check-in realizado, Lionel e seus seguranças me conduzem até
o andar de nossa suíte. Onde, mais uma vez, ficaremos em local
compartilhado.
— Daqui a pouco vou trazer os dados de que você precisa — Lionel
avisa logo que adentramos o elevador.
Assinto em silêncio e, quando chegamos ao nosso andar, Liam arrasta
a minha mala até o quarto que vou dividir com Rossi.
Ao abrir a porta noto uma suíte presidencial incrível. Ainda mais
bonita que a que dividimos em San Diego, consigo me sentir bastante
acolhida aqui.
— Pode acomodar suas coisas, Ava. — Lionel aponta para uma das
portas, logo que ficamos sozinhos. — Farei contato com os russos, que já
estão com o funcionário do Fed.
A voz firme de Lionel me causa um arrepio.
Não quero nem pensar no que esses tais russos fizeram com o
funcionário que tem o acesso de que eu preciso.
Sei que homens como Lionel não costumam ter conversas amigáveis
e, pelo pouco que percebi, esses seus amigos russos têm um conceito bem
diferente de diversão.
Engulo em seco, tentando evitar esse pensamento.
— Tudo bem. Me chame quando estiver com o acesso em mãos.
Ele assente e eu entro em meu quarto, fechando a porta atrás de mim.
Olho para tudo ao meu redor e abro um sorriso.
O quarto é lindo...
Uma enorme cama king-size com colcha branquinha, armários de
madeira clara, cortinas grossas e um banheiro digno de filme.
Deixo minhas coisas no canto e jogo o corpo na cama, fitando o teto
branco por um instante. Aproveito este momento sozinha imersa em
pensamentos. Minha mente voa longe e vai até o pequeno cômodo em que
eu morava sozinha há algumas semanas.
É inegável o quanto tenho tido mais conforto com Lionel.
Apesar dos pesares, venho levando uma vida digna.
Tenho um quarto muito maior do que eu já tive na vida, tenho roupas
confortáveis e comida boa. Além de saber que posso circular pela
propriedade, sem medo de ser atingida.
Posso não ser uma pessoa completamente livre, mas há muitos anos
eu não sei o que é liberdade.
Mergulhada em pensamentos, perco a noção do tempo em que estou
sozinha, quando ouço uma batida à porta e me levanto de pronto.
— Este é o laptop do funcionário. — Lionel me entrega logo que abro
a porta. — E aqui, as senhas de que você precisa.
O papel amassado está sujo de sangue.
Arregalo os olhos para ele, que simplesmente dá de ombros.
— Faça o que precisa ser feito — Rossi diz e eu assinto, engolindo
em seco.
Abro o pedaço de papel e encontro as senhas de acesso ao sistema,
além da rede Wi-Fi do prédio da Fed. Isso vai ser bem melhor do que eu
previa. Posso acessar diretamente o notebook dele, fazer o download de
tudo de que preciso e transferir para o meu sistema para executar os
arquivos e utilizá-lo em Las Vegas.
— Podemos ir? — pergunto a ele, que confirma.
— Sim, estou com as credenciais.
Assinto e, neste momento, meu coração já está acelerado dentro do
peito. A adrenalina do que está por vir quase me causa ânsia de vômito.
— Certo. Vou pegar as minhas coisas.
Entro no quarto e abro a mochila, colocando o laptop e o HD externo
que separei para levar. Com tudo pronto, encontro Lionel me aguardando no
espaço em comum de nossa suíte.
— Pronta? — pergunta e eu confirmo. — Não podemos errar, Ava.
Lionel olha no fundo dos meus olhos e encara com tanta firmeza, que
engulo em seco. Meu coração erra uma batida e eu só assinto rapidamente.
— Pode confiar em mim.
Ele me analisa por um instante antes de aquiescer.
— Então vamos.
Descemos pelo elevador e eu aperto a mochila com força, sentindo as
mãos tremerem e suarem de nervosismo.
É uma adrenalina semelhante à que senti no dia em que fugi da
propriedade de Elijah.
E o peso da responsabilidade de hoje me atinge.
Eu preciso fazer tudo perfeito, não posso dar um passo em falso, caso
contrário vou arruinar os negócios de Lionel. E não posso permitir que isso
aconteça.
Lionel Rossi depositou todas as suas fichas em mim e não posso
falhar.
Quando entramos no carro alugado, eu me acomodo no banco traseiro
ao lado dele e nem consigo prestar atenção no que conversa com Liam e os
outros seguranças. Minha mente repassa o tempo inteiro tudo o que eu
preciso fazer, tudo o que planejamos para dar certo.
Fecho os olhos e respiro fundo, inspirando forte para soltar o ar. Faço
isso repetidas vezes e sinto Lionel tocar a minha coxa, fazendo-me abrir os
olhos imediatamente para encará-lo.
O contato de sua pele na minha, ainda que sobre o jeans, me faz
queimar.
— Você está bem?
— Estou — respondo, balançando a cabeça. — É só a importância da
nossa missão hoje.
Seus olhos azuis não se desviam dos meus e noto seu cenho franzir de
leve.
— Você vai conseguir, Stone.
Diz isso com tanta firmeza que faz o meu coração se acalmar um
pouco.
Mas bem pouco.
Assinto e vejo as ruas de Washington passando pela janela, até chegar
ao nosso destino.
A fachada imponente da sede do Federal Reserve me lembra um
pouco a da Casa Branca.
Descemos do carro e apresentamos as credenciais fornecidas por
Gavin para a segurança. Quando nossa entrada é liberada, sinto meu corpo
pesar uma tonelada e caminho ao lado de Lionel até o hall do prédio.
— Tem certeza de que você está bem? — pergunta, tocando meu
ombro com cuidado.
— Sim — respondo, sentindo o coração saltar pela boca. — Só
precisamos fazer isso logo e voltar para o hotel.
Lionel apenas assente antes de nos conduzir até a recepcionista, que
nos encaminha para o guia. Minhas mãos suam e, ao contrário de mim, que
estou uma pilha de nervos, o homem ao meu lado caminha com uma
tranquilidade invejável.
Por onde passa, Lionel Rossi anda como se fosse dono de todo o
mundo.
Começamos a visita guiada pelo prédio do Banco Central, quando
começo a colocar o nosso plano em prática.
— Dr. Shaw, preciso ir ao banheiro — aviso e ele confirma com um
aceno.
— Perdão, Sr. Johnson — Lionel interrompe o guia com a voz serena.
— Minha aluna precisa ir ao banheiro, poderia indicar o caminho?
— Claro! É por aqui.
Acompanho o senhor de meia-idade até o corredor, onde ele aponta
para uma porta ao final deste.
— Obrigada. Podem continuar a visita, que os encontro depois —
anuncio. — É uma emergência feminina.
Abro um sorriso tímido e os homens assentem antes de voltarem ao
trabalho, então disparo pelo corredor em direção ao banheiro.
Tranco-me na última cabine e abaixo a tampa do vaso para me sentar.
Meu coração esmurra o peito enquanto abro o zíper da mochila e
pego o laptop do funcionário do Fed. Digito a senha de acesso com os
dedos trêmulos e, quando eu finalmente conecto-me à rede e abro o sistema,
meu sorriso se expande.
— Isso!
Navego pelo sistema que me é tão familiar em busca de todos os
arquivos de que Lionel precisa e, neste momento, meu celular vibra no
bolso.
Lionel: E aí?
Eu: Consegui acessar o sistema. Estou buscando os arquivos para
download.
Lionel: Ótimo. Mantenha-me informado.
Deixo o celular de lado e volto a atenção para o computador à minha
frente, onde mergulho no sistema.
A adrenalina por finalmente estar dando certo invade o meu peito e só
me encoraja a continuar.
Conecto o HD externo no laptop e, logo que o download dos arquivos
se finaliza, começo o processo de transferência para o dispositivo. Essa
parte é um pouco mais lenta devido ao tamanho deles e eu começo a
balançar as pernas ansiosa.
— Vai... Por favor...
Fico aflita com a demora e só consigo pensar que o tempo está
correndo, eu posso a qualquer momento ser pega cometendo um crime
federal.
Caramba, se me pegam aqui, não tem advogado no mundo que me
tire da cadeia.
Lionel: Dando certo?
Recebo a mensagem e digito, vendo que passei da metade da barra de
transferência.
Eu: Sim. Estou quase acabando.
Envio sua resposta no momento em que a porta do banheiro se abre e
sinto o meu corpo inteiro congelar. Prendo a respiração enquanto ouço o
som de saltos andarem até a cabine ao lado, e uma desconhecida começa a
fazer xixi.
Em meu colo, o laptop chega perto do final da transferência e eu sinto
uma gota de suor escorrer pela coluna. Ainda imóvel, acompanho o
momento em que a mulher dá descarga e sai da cabine. Ouço o som da
torneira sendo ligada e em seguida, das mãos sendo secas.
Quando a porta se abre e os barulhos de saltos somem de vista, eu
finalmente solto o ar de dentro dos pulmões.
— Caralho...
Olho para a tela do laptop e vejo a imagem que me traz paz:
100%.
Graças a Deus.
Desconecto o HD externo e enfio de volta na mochila, em um
compartimento secreto, para que, caso revistem a minha bolsa, não seja
visto com facilidade.
Desligo o laptop do rapaz e enfio o papel com a senha dentro do
bolso. Guardo tudo e saio da cabine, pegando o celular para avisar Lionel.
Eu: Estou pronta. Onde você está?
Lionel: No mesmo andar. Consegui segurar o guia aqui.
Aproveito para jogar água no rosto antes de sair e me refrescar um
pouco. Seco-me e saio do banheiro, andando de cabeça baixa em direção a
Lionel e o guia.
— Srta. Brown — a voz de Rossi finge preocupação. — Sente-se
bem?
— Não muito, professor — minto, fazendo minha melhor cara de
doente. — Não me sinto confortável em continuar com a visita. Podemos ir
para casa?
— Poxa vida... Estava tão interessante.
O olhar de decepção dele é impagável.
— Sr. Johnson, se importaria se continuássemos esta visita em outro
horário? Podemos remarcar e...
— Claro! Não há problema nenhum. Basta entrarem em contato com
o setor responsável para remarcação.
— Certo. Muito obrigado pela disponibilidade.
— Disponha. Melhoras, menina!
Apenas assinto e abaixo a cabeça, abraçando o corpo e sendo
conduzida por Lionel para fora do prédio do Fed. O carro de Liam está nos
aguardando na porta. Quando entramos e finalmente o veículo arranca, eu
emito um suspiro.
— Puta que pariu — solto e ouço risada desses homens.
— Deu tudo certo? — Lionel pergunta e eu assinto.
— Está tudo no HD. Quando chegar ao hotel já faço a transferência
para o meu laptop e os testes no sistema.
— Ótimo.
Encosto a cabeça no banco e respiro fundo, ainda sentindo meu corpo
tremer.
— Está tudo bem, Ava?
— Eu quase caguei na calça, Rossi — afirmo, virando a cabeça para
ele. — E nem foi no sentido figurado.
Liam solta uma risada alta no banco da frente.
— Por Deus do céu, eu tinha a sensação de que alguém ia entrar
naquele banheiro e me pegar em flagrante. Já conseguia me ver sendo
presa, sentenciada à pena de morte.
Todos os seguranças riem, menos Lionel.
Ele me encara com uma intensidade tão grande, que me faz engolir
em seco.
— Isso não aconteceria nunca, Ava — diz, inclinando-se levemente
para a frente. — Eu jamais permitiria.
A firmeza com que me diz isso causa um estrago dentro de mim.
Porque, mesmo que eu não faça ideia do como, sinto que o que ele diz
é muito sério.
Lionel Rossi jamais falharia comigo.
 

 
 
— Elijah, não! Não, por favor! Não!
Acordo com os gritos de Ava e sinto o coração esmurrar dentro do
peito.
Pulo da cama e tropeço nos chinelos, quase caindo para pegar a minha
arma em cima da mesinha de cabeceira.
Abro a porta do meu quarto em um rompante no momento em que
Liam entra na suíte em posição de ataque.
Sinalizo para ele, que passa na minha frente em direção ao quarto de
Ava. Engatilho o revólver e me posiciono na retaguarda do segurança, que
faz um sinal antes de abrir a porta.
— Elijah, não! — Ava grita e meu coração parece que vai voar pela
boca.
Mas, quando adentramos o cômodo, não vemos nada.
Ava está se debatendo na cama em verdadeiro pavor, e parece ainda
estar dormindo.
Isso foi um pesadelo?
Abaixo a arma e vou até a sua cama enquanto Liam confere todo os
cantos de seu quarto, buscando alguma pista, mas não encontra nada.
— Tudo limpo, Rossi.
Enfio o revólver no bolso da calça e toco o rosto de Ava, que está
ensopado de suor. Sinto um tremendo alívio por ver que só se trata de um
sonho.
— Porra, que susto! — Liam resmunga e eu assinto, sinalizando para
que ele saia.
Quando finalmente estou sozinho com Ava, continuo tocando o seu
rosto e noto lágrimas escorrerem pela sua pele.
A garota parece me sentir, pois abre os olhos e me encara assustada.
Sua primeira reação é se sentar imediatamente, afastando-se de mim.
— O que está fazendo aqui? — pergunta receosa.
Noto que ela puxa o lençol para cobrir o corpo do pijama minúsculo
que está usando, mas não tem muito sucesso. Ava embola o tecido todo e
não cobre o que precisa, atraindo a minha atenção para suas coxas
descobertas.
— Você me assustou — digo. — Começou a gritar o nome de Elijah e
me fez pensar que ele estava aqui. Liam e eu entramos com tudo em seu
quarto.
Ava engole em seco e desvia os olhos dos meus, demonstrando
timidez.
— Você está bem? — pergunto e ela nega. — Vou buscar água.
Levanto-me da cama e a garota não se move nem um milímetro. Do
lado de fora do quarto, vou até o frigobar pegar uma garrafinha de água e
aproveito para buscar uma toalha umedecida em meu banheiro, guardando a
arma.
Quando volto, Ava está com o corpo totalmente coberto e ainda me
encara com os olhos apavorados.
Sento-me ao seu lado na cama e entrego a garrafinha a ela, que pega
com os dedos trêmulos. Dá pequenos goles na água e parece se acalmar um
pouco.
Estico a toalha em sua direção e toco seu rosto, limpando um pouco
do suor. A garota estremece com meu contato, mas logo cede, permitindo-
se ser cuidada.
Imagino que esteja exausta.
Hoje o dia foi tenso para todos nós, mas principalmente para ela.
Ava ficou extremamente nervosa com o nosso plano e por muitas
vezes eu me perguntei se ela realmente conseguiria. Não por não ser capaz,
e sim por estar uma pilha de nervos.
Mas a garota mostrou a que veio e fez tudo com maestria.
Quando voltamos ao hotel, exportou todos os arquivos em seu laptop,
eles foram executados com sucesso no sistema que ela criou. Quando vi
surgir na tela a imagem das novas notas com todos os detalhes de que
preciso, soltei um grito de comemoração.
Porra.
Ela conseguiu.
Foi então que pedi aos meus seguranças que destruíssem o laptop do
funcionário do Fed e dei sinal aos russos para que finalizassem o serviço
com ele.
Os caras têm uma eficiente equipe de limpeza, que não deixa um
rastro sequer.
Com tudo pronto, deixei Ava descansando o restante do dia, pois
notei sua exaustão. E agora acordar no meio da madrugada por causa de um
pesadelo só me faz ter mais certeza do quanto esse dia foi puxado para ela.
— Precisa de mais alguma coisa? — pergunto e a garota nega.
Termino de passar a toalha em seu rosto e afasto-me, vendo-a me
encarar.
— Consegue dormir de novo?
Ava nega mais uma vez.
Olho para o quarto ao nosso redor e penso no que fazer, quando sua
voz baixa chama minha atenção.
— É um leão tatuado em suas costas? — pergunta e eu arqueio a
sobrancelha para ela até me lembrar de que estou sem camisa.
Com todo o susto que passei, acordei e vim até o seu quarto do jeito
que eu estava. Só agora percebo que estou com os pés descalços, sem
camisa, vestindo apenas uma calça de moletom.
— É, sim.
Viro-me de costas para que veja a tatuagem mais de perto.
A imagem de um leão raivoso rugindo ocupa toda a minha pele, da
nuca até a cintura.
— É linda... — a voz de Ava é um pouco mais calma agora.
Volto a encará-la e percebo que seus olhos estão menos aflitos.
— Você não tem nenhuma? — puxo assunto, a fim de distraí-la um
pouco.
— Não.
— Tem vontade de fazer alguma?
— Acho que sim, não sei...
Estreito os olhos para ela, que engole em seco antes de continuar.
— Houve um tempo em que eu queria várias coisas, Lionel. — Seu
olhar abaixa por um instante. — Atualmente só quero dormir em paz.
A dor em sua voz é palpável e eu sinto um aperto no peito.
Ava é muito nova para ter enfrentado o que quer que tenha sido.
              É boa e inteligente demais para ter merecido isso.
— Quer que eu te deixe sozinha? — pergunto e ela nega com certo
desespero.
— Se importa de ficar mais um pouco? Estou com medo de ficar
sozinha...
— Tudo bem.
Levanto-me da cama e saio do quarto para buscar uma lata de cerveja.
Quando retorno, Ava me encara com curiosidade.
— Quer uma?
— Não, obrigada.
Assinto e me sento do outro lado da cama, encostando o corpo na
cabeceira.
— Vou adiar mais um dia a viagem de volta, ok?
— Não precisa...
— Amanhã você não sai quarto, descansa, fica à vontade para fazer o
que quiser e retornamos no dia seguinte.
Dou um gole na cerveja e Ava me encara antes de assentir.
— Tudo bem.
Tamborilo os dedos na coxa enquanto penso no que fazer, já que não
tenho muito assunto com ela. Nunca conversamos mais do que o
profissional.
— Pode me falar da sua sobrinha? — pergunta e eu sinto meu coração
se fechar dentro do peito.
Não sei se é seguro...
Ava parece perceber, pois seu olhar se entristece.
— Se não quiser, não tem problema.
A tristeza em sua voz me faz ceder.
Porra, essa garota quase entrou em colapso hoje em uma missão que
salvou a minha pele e eu não posso retribuir um pouco?
— Amy tem dez anos — começo.
Viro a cabeça para olhar Ava e noto seu semblante se iluminar.
— Eu cuido dela desde que nasceu. Minha irmã faleceu no parto.
— Ah... Eu sinto muito.
Balanço a cabeça.
— Já faz muito tempo.
Isso não é mentira, faz mais de dez anos que perdi Candice, mas não é
como se ainda não doesse.
Ela foi morta de uma forma cruel e a pessoa que fez mal a minha irmã
e ao meu coração não só foi brutalmente assassinada, como teve seus
pedaços atirados aos lobos.
Um brinde aos meus amigos russos!
— E como ela é? — a voz de Ava me faz voltar para a realidade.
— A Amy? Ela é perfeita. — É impossível conter um sorriso. —
Extremamente inteligente. Ama ler e pintar. É uma artista e tanto.
— Jura? — O interesse genuíno de Ava me faz continuar.
— Sim! Ela faz telas incríveis. Amy Rossi é o meu maior orgulho.
A garota ao meu lado abre um sorriso sincero, que me faz perceber o
quanto é bonita.
Mesmo com o semblante assustado, os cabelos meio bagunçados e a
pontinha do nariz vermelha, ela é linda.
Eu já sabia disso desde que a recebi em minha casa pela primeira vez.
Mas hoje consigo percebê-la melhor.
É como se ela se despisse da sua pose de profissional e me mostrasse
o seu verdadeiro eu.
Sinto que, pela primeira vez, estou conhecendo a verdadeira Ava.
— Ela me arrasta para a Disney quase todos os anos. — Faço uma
careta e a garota ri.
E o som da sua risada me traz um certo alívio.
— Não brinca!
— Ser tio de menina não é para os fracos — ironizo e ela ri mais.
— Não consigo imaginar Lionel Rossi na Disney — zomba. —
Usando um chapéu de orelhas do Mickey.
Ava gargalha e eu só balanço a cabeça sorrindo.
— Não é para tanto.
— Vai me dizer que nunca usou um?
Seus olhos me desafiam e eu acabo rindo.
É óbvio que Amy já me obrigou a passar por isso.
— Aí, eu não disse?
A garota gargalha tanto que eu só balanço a cabeça.
— Mas deve ser incrível ter alguém — comenta quando se recupera
da crise de risos.
— Ela é a parte boa da minha vida — explico. — É o meu lado mais
puro.
Ava acena de leve, olhando para o longe por um momento, e me
parece estar imersa em lembranças.
— E você não tem família? — pergunto, mesmo que já saiba a
resposta.
Ava volta a me olhar quando dá de ombros, negando.
— Eu nunca tive um pai, porque ele sumiu quando soube da gravidez.
— Filho da puta.
— E minha mãe se casou quando eu ainda era criança. E bom...
Digamos que o meu padrasto não era bom para mim.
Ava diz em seus olhos o que não sai em palavras. Eu sinto meu punho
se fechar, amassando a lata de cerveja já vazia em minhas mãos e atirando-a
no lixo.
Caralho...
— E então eu conheci Charles — comenta e consigo perceber como
sua voz se entristece agora. — Pensei que com ele estaria segura, mas mais
uma vez estava enganada...
Os olhos de Ava lacrimejam e eu sinto um aperto no peito.
Fico parado, travado na cama, sem saber como agir. Sem saber o que
fazer. Eu não sou a porra de um terapeuta, nem alguém que saiba consolar
ninguém. Muito menos alguém que pode tomá-la nos braços e dar-lhe
conforto.
E Ava merece isso.
Merece ser acolhida por alguém.
Que com toda certeza não sou eu.
O silêncio se instala no quarto e começo a me sentir sem lugar,
quando percebo os olhos de Ava pesarem. Fico parado esperando que pegue
no sono para finalmente me levantar da cama.
Acomodo os lençóis em seu corpo e afasto os cabelos de seu rosto,
vendo-a dormir tranquila.
Isso me faz respirar aliviado.
Pelo menos a garota conseguiu voltar a dormir.
Apago a luz do quarto e encosto a porta, soltando um suspiro antes de
voltar ao meu.
Porra.
Que noite.
Que susto.
Que bagunça dos infernos.
Que isso nunca volte a acontecer.
 

 
 
Pisco os olhos repetidas vezes antes de abri-los e encarar a escuridão
do quarto. Ainda que o dia tenha amanhecido, as cortinas grossas impedem
a luz do sol de entrar.
Espreguiço-me na cama e me sento, olhando tudo ao meu redor. Noto
a toalha em cima da mesinha de cabeceira e me lembro do cuidado de
Lionel comigo nesta madrugada.
E só de pensar nisso, sinto meu rosto ruborizar.
Eu morri de vergonha por tê-lo acordado com um pesadelo meu e
achei gentil de sua parte ficar comigo até que eu dormisse de novo, mesmo
que ele não estivesse completamente à vontade com essa proximidade.
A preocupação de Lionel comigo me mostrou um lado que até então
eu não conhecia. Ainda mais quando me contou um pouco sobre a sobrinha.
Isso me fez imaginar que deve perder toda a postura de homem de negócios
quando está com a pequena.
Eu daria tudo para conhecer esse seu lado, ver como ele é com a
sobrinha, mas sei que não será possível.
Lionel não é um homem que se abre tão fácil e, só de ter tido uma
conversa com ele sobre qualquer coisa que não seja trabalho, já foi um
enorme avanço.
Decido me levantar da cama e vou até o banheiro para tomar um
banho rápido. Com toda a tensão da madrugada, ainda consigo sentir
resquícios de suor pregados pelo corpo.
Entro no chuveiro e aproveito para lavar os cabelos, sentindo a água
quente me relaxar um pouco. Enquanto me lavo, lembro-me de Lionel me
dizendo que adiou nossa viagem de retorno para amanhã.
No fim das contas, um dia de descanso me fará muito bem.
Olho para o lado e vejo a banheira de hidromassagem. Acho que vou
pedir alguns sais de banho para o hotel e curtir um momento relaxante mais
tarde.
Termino o banho e pego uma camiseta e short jeans para vestir.
Respiro fundo e abro a porta do quarto, procurando por Lionel até
encontrá-lo debruçado na sacada. O movimento que eu faço atrai sua
atenção e então ele se vira para me encarar.
Vejo que voltou a vestir seu habitual traje: calça social e camisa de
botão, que hoje é de um tom azul-claro. A peça destaca bastante a cor de
seus olhos.
A forma como Lionel me encara me lembra esta madrugada, em que
o vi pela primeira vez sem camisa.
E, nossa...
Ele é lindo.
O peitoral é magro e tem o abdômen firme, mas não foi isso que me
chamou mais a atenção nele.
E sim suas tatuagens...
Eu já havia notado que ele tinha uma de crucifixo no pescoço, só não
sabia que, do mesmo lado, descem várias espalhadas pelo braço até a altura
da mão. Enquanto o outro braço segue completamente liso.
O peitoral também não tem nenhuma marca, mas as costas...
Eu me surpreendi quando ele se levantou e revelou a imagem de um
leão rugindo, cobrindo as costas por inteiro, não deixando um pedaço de
pele descoberto.
Toda aquela ferocidade do animal me fez engolir em seco ao pensar
no quanto me parece combinar com ele.
Lionel parece esconder uma bravura dentro de si.
— Bom dia, Ava — ele me cumprimenta se aproximando de mim e
me tira do transe.
— Bom dia — respondo, encarando-o um pouco tímida.
— O café da manhã está servido.
Aponta para a mesa farta no canto, em que eu nem tinha reparado.
Aquiesço e vou até ela para me sentar. Diante de tanta coisa boa, fico
perdida, sem nem saber por onde começar.
— Se sente melhor? — ele me pergunta, encostando a mão no braço
da cadeira de frente para mim.
Sirvo um pouco de café na xícara antes de responder.
— Bem melhor. — Dou um gole na bebida quente e ergo os olhos
para encará-lo. — Obrigada por ficar comigo.
Lionel balança a cabeça como se não fosse nada, mas só eu sei o
quanto sua presença significou para mim.
— E me desculpe — digo, sentindo minhas bochechas esquentarem.
— Sei que te assustei e atrapalhei a sua noite de sono...
— Não é nada, Ava. — Sua voz grossa sempre vai me causar
arrepios. — Essas coisas acontecem. — Dá de ombros. — E ontem foi um
dia muito exaustivo.
Assinto e estico a mão para pegar uma torrada e geleia.
— Os pesadelos são recorrentes? — pergunta e minha mão trava,
fazendo-me encará-lo.
— Mais ou menos — respondo baixo, retomando o movimento.
Abaixo o olhar enquanto passo a geleia na torrada, sentindo um bolo
se formar em minha garganta.
Lionel fica um tempo parado me fitando em silêncio e, quando vê que
não vou dizer mais nada, esfrega a barba baixa em um gesto costumeiro.
— Mudei o nosso horário de voo de volta para amanhã cedo, ok? —
diz e eu aceno. — Pode ficar à vontade para pedir o que quiser. Porém não
tem permissão para sair deste quarto.
Ele me encara firme e eu engulo em seco, balançando a cabeça.
— Está certo. Acho que vou querer uns sais de banho para usar na
banheira mais tarde — comento, enquanto pego outra torrada para comer.
— Pode pedir o que quiser, Ava.
A firmeza com que fala o meu nome faz meu coração dar um salto no
peito.
— Obrigada.
Continuo a comer e Lionel se afasta da mesa, indo até a sacada para
fazer algumas ligações. Não consigo ouvir direito, mas, pelo que posso
notar, está dando notícias para o Blake, o responsável pela fabricação das
notas.
Sei que, quando voltarmos a Las Vegas, teremos um longo trabalho
pela frente para a adaptação de toda a produção de Lionel e isso é
empolgante. Pela primeira vez poderei acompanhar de perto esse processo,
o que me deixa bastante feliz.
Gosto de me sentir útil e Rossi valoriza muito o meu trabalho.
— Você consegue ficar sozinha hoje? — ele me pergunta quando
acabo o café e me levanto da mesa.
Lionel caminha em passos firmes em minha direção e me sobressalto
por tê-lo tão perto. Eu me sinto tão pequena perto dele e não é só na
estatura.
— Consigo, sim. Liam está por perto, não está?
— Sim. Deixei mais dois seguranças com ele no corredor atentos a
cada movimento seu.
Eu deveria me sentir desconfortável com tudo isso?
Deveria.
Mas só consigo me sentir grata e acolhida.
Lionel consegue fazer com que eu me sinta sempre segura.
— Certo.
— Vou aproveitar que estou na cidade e resolver alguns assuntos,
encontrar alguns clientes.
— Tudo bem — respondo, sem conseguir disfarçar o
descontentamento.
Não posso negar que gostei de tê-lo por perto, mesmo que saiba que
isso não é certo.
— Se precisar de alguma coisa, sabe o meu número. — Ergue o
aparelho celular e eu confirmo. — Além do mais, Liam está a uma porta de
distância.
— Tudo bem, Rossi. Pode ficar à vontade para fazer tudo que precisa.
Eu vou ficar bem.
Abro um meio sorriso para ele, que me analisa antes de assentir.
— Até mais, Ava.
Lionel passa por mim e deixa um rastro de seu perfume, fazendo-me
fechar os olhos por um instante para senti-lo.
Quando ele fecha a porta da suíte e me deixa sozinha, eu solto um
suspiro.
Olho para tudo ao meu redor e penso no que eu vou ficar fazendo
neste quarto de hotel o dia inteiro.
Penso nos livros que deixei em Las Vegas e me arrependo de não ter
trazido nenhum. Estava tão ansiosa para essa viagem que nem me atentei a
esses detalhes.
E seria tão bom ler um livro naquela banheira...
Já sei!
Abro a porta do quarto e encontro Liam parado no corredor, com a
postura ereta. Sinalizo para ele.
— Pois não, Srta. Stone?
Reviro os olhos para ele e coloco as mãos na cintura.
— Liam, quantas vezes já te falei que não precisa de tanta
formalidade comigo? Pode me chamar de Ava.
O moreno alto balança a cabeça em uma careta.
— Desculpe, é força do hábito. Está precisando de mim?
— Sim!
— Pode falar.
— Em primeiro lugar, me desculpe por tê-los assustado esta
madrugada. — Mordo a pontinha do indicador, mais uma vez constrangida.
Ainda não consigo acreditar que fiz dois homens armados entrarem
em meu quarto para me defender de um pesadelo.
Meu Deus, que vergonha!
— Não se preocupe com isso.
Liam me olha firme e eu aceno de leve.
O segurança que Lionel colocou em minha cola me assustou a
princípio, mas depois me mostrou que não é uma pessoa ruim, é só de
poucas palavras mesmo. E, por mais que ele esteja sempre armado e em
posição de alerta, não me deixa desconfortável.
Eu já me acostumei com sua presença.
— Eu queria um livro para ler, já que vou passar o dia no quarto e não
trouxe nenhum de Vegas. Sei que você tem ordens para não sair daqui, mas
poderia pedir um daqueles grandalhões para me comprar um livro?
Aponto para os outros seguranças de Lionel no corredor.
— Não é mais fácil pedir a livraria para que entregue aqui?
Nossa, como não pensei nisso?
Acho que tudo que enfrentei nas últimas vinte e quatro horas afetou o
meu raciocínio.
— Mas tenho autorização para fazer isso? — indago.
Lionel me disse que eu poderia pedir qualquer coisa do hotel, mas não
falou nada de fora dele.
— Rossi deixou autorização expressa para atendermos qualquer
pedido seu, desde que não cruze essa soleira.
O segurança aponta para o chão e faz uma linha imaginária,
delimitando o quarto do corredor.
— Está bem. Vou ligar para a livraria. Se chegarem com o meu
pedido, você já sabe o que é.
— Perfeitamente, Srta. Stone.
— Liam! — repreendo-o e ele abre um meio sorriso.
— Desculpe, Ava.
— Bem melhor assim. Obrigada.
Peço licença e fecho a porta do quarto, já procurando no catálogo
livrarias da região. Aproveito para solicitar os sais de banho e um balde de
gelo com espumante.
Se eu vou passar o dia todo sozinha neste quarto de hotel, que seja
aproveitando da melhor forma possível.
 

 
 
— Um feito desses merece um brinde! — Blake anuncia, vibrando
pelo sucesso do sistema de Ava. — Libera o espumante, Rossi!
A insinuação de meu amigo tira uma gargalhada de todos no galpão e
eu apenas balanço a cabeça, sorrindo.
Hoje não há como não sorrir.
A nova marca d’água já está com o fornecedor de papel para
fabricação das novas folhas. Enquanto ele adapta seu processo, aqui na
fábrica estamos realizando vários testes de combinações de tintas para
alcançar a coloração perfeita. Estamos preparando tudo para que, tão logo
recebamos o papel novo, já iniciemos a produção.
Estou com encomendas na fila de espera e clientes aflitos para receber
a nova moeda americana. Principalmente porque sou o único fabricante que
deu garantia de que entregará dentro do prazo estipulado pelo governo.
Saber que estou um passo à frente da concorrência me enche de
orgulho.
— Providencie o champanhe, Mia — peço a minha assistente e ouço
som de aprovação. — E alguns petiscos. Hoje é dia de comemorar!
Minha equipe em peso vibra enquanto Mia começa a preparar o
coquetel, em cima da hora. Caminho até Ava, que está no canto. Ela admira
tudo ao seu redor e está com um sorriso orgulhoso desde que retornamos de
Washington há alguns dias.
— Então Lionel Rossi dará uma festa?
Cruza os braços me encarando enquanto me aproximo dela.
— Não é motivo de comemorar? — indago e Ava empina o queixo
para mim.
— Com toda certeza. Principalmente porque eu quase tive um ataque
de pânico naquele Banco Central.
A careta que ela faz me tira uma gargalhada.
— Então hoje será recompensada. — Encaro-a firme, e ela engole em
seco.
Seus olhos castanhos são muito mais intensos agora.
Ava Stone nem parece a mesma garota assustada que chegou aqui há
pouco mais de um mês.
— Obrigado, Ava. — Aqui, próximo a ela, vejo o quanto fica
pequena se comparada a mim. — Você fez a sua parte e eu cumprirei com a
minha promessa. Continuará trabalhando comigo e terá a segurança de que
precisa.
— Obrigada por confiar em mim.
Ela me encara de lado agora, com um rubor passando pela sua face,
enquanto coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Nós formamos uma boa equipe. — Pisco para ela, que sorri.
— É. — Suas íris escurecem um pouco agora. — Formamos, sim.
— Olha o champanhe! — Blake grita e chama a nossa atenção.
— Mas já?
Vou ao seu encontro e Ava me acompanha.
— Eu peguei na sua adega. — Meu amigo abre o sorriso mais
atrevido do mundo.
— E quem te deu permissão para isso? — Tento fingir braveza, mas é
impossível estar bravo hoje.
Porra!
Salvamos meu negócio.
Que alívio do caralho.
— Fica na sua, Rossi!
Blake agita a garrafa em suas mãos e, quando dispara a rolha, toda a
minha equipe vibra. Em pouco tempo, as taças surgem e brindamos essa
vitória.
— Não pensem que está tudo ganho! — digo logo que dou um gole
no espumante. — Na verdade, o nosso trabalho só está começando.
Enquanto todos engatam em uma conversa animada, o pessoal do
bufê com que temos parceria começa a chegar com bandejas de petiscos e
saímos do galpão em direção ao jardim.
Eu converso um pouco com cada membro da minha equipe, mas fico
sempre de olho em Ava me certificando de que esteja à vontade. Mas, a
cada taça de champanhe que ela bebe, se solta mais um pouco e acho graça
de sua espontaneidade.
A garota que até pouco tempo só andava encolhida pelos corredores,
agora está conversando e gargalhando com todos os presentes. E essa
imagem me faz pensar que essa deveria ser a Ava antes de tudo ter
acontecido. Antes de ter conhecido o verme do Charles, que lhe apresentou
a Elijah.
— E eu quase caguei nas calças — comenta rindo com uma
funcionária do setor de conferência de notas. — Eu já estava sentada no
vaso mesmo, nem precisava me levantar para isso.
O som de sua gargalhada me faz sorrir.
— Essa história nunca deixa de ser boa — Liam comenta ao seu lado.
— Você viu a minha cara, Lionel — Ava fala meu nome com a voz
levemente arrastada e eu sorrio.
— Eu vi.
— Eu ia enfartar se aquele arquivo demorasse mais cinco minutos
para fazer a transferência — comenta com os olhos brilhando. — Vocês
teriam que me tirar daquele banheiro de ambulância.
Ela aponta para Liam e para mim em uma careta, o que faz todo
mundo rir.
— Ainda bem que não foi preciso — brinco.
— E você me valorize, Sr. Lionel Rossi. — A garota aponta o dedo
para mim e caminha em minha direção. — Eu arrisquei a minha pele por
sua causa.
Os olhos dela brilham e eu apenas seguro a sua mão, massageando
seu dedo, abaixando-o.
— Eu valorizo, Stone. — Encaro-a firme e ela entreabre os lábios
piscando os olhos devagar.
Percebo que um clima diferente se formou aqui e, pela forma como as
pessoas nos olham, decido recuar.
Solto a mão de Ava e dou um passo para trás, raspando a garganta.
Olho para o lado e vejo Blake vindo em nossa direção com uma
garrafa de uísque nas mãos e agradeço mentalmente a interrupção.
— Que porra é essa, Blake? Deu para roubar minhas bebidas hoje?
— Hoje é dia de comemoração.
Ele passa por mim e abre a garrafa, servindo a bebida para alguns
funcionários.
— É... Mas precisava pegar meu uísque mais caro?
Tomo a garrafa de suas mãos para conferir o rótulo.
— Deixa de ser pão-duro, Rossi. Você tem dinheiro para comprar
um caminhão cheio dessas.
Resmungo, tirando uma risada de todos, e então decido ceder. Se eu
bem conheço meu amigo, vai passar a noite saqueando a minha adega só
para me provocar, e se eu me estressar com isso é pior.
— À garota Stone — Blake propõe um brinde e entrega a ela uma
dose do uísque.
Ela dá conta de beber isso?
Uísque é forte para caralho.
Mas a morena não se intimida e pega o copo, virando a dose de uma
vez e fazendo uma careta bastante engraçada ao final.
Não resisto a soltar uma gargalhada.
— Uísque não é para amadores, garota — decido provocá-la e ela
empina o queixo para mim.
— Eu invadi um dos sistemas mais seguros do mundo, Lionel —
mais uma vez diz meu nome de forma arrastada. — Acha que um simples
uísque me intimida?
— Quer mais uma dose então? — ofereço, apontando para a garrafa
na mão de Blake.
— Não estou com vontade.
Ela dá de ombros, fazendo-me gargalhar.
— Amarelou, Stone? — provoco Ava, que faz uma careta fofa para
mim.
— Prefiro o espumante.
Ergue a taça no momento em que o garçom do bufê a enche
novamente.
Decido deixá-la à vontade em um papo animado com os funcionários,
enquanto me sirvo do uísque, e fico de longe acompanhando tudo.
Encostado na árvore, encaro o céu estrelado acima de nós e sinto
vontade de fumar um charuto. Com o copo nas mãos, caminho até o interior
da casa e vou para o meu escritório pegar um.
Abro a caixa de madeira e tiro um charuto de lá. Trago até o nariz e
inspiro o aroma, fechando os olhos por um instante. Pego o cortador na
caixa e faço o corte preciso na ponta, acendendo-a com o isqueiro.
Com o charuto aceso em mãos, eu me apoio na mesa e levo-o aos
lábios, dando duas puxadas lentas antes de soltar a fumaça.
Aprecio seu sabor e o aroma, pensando na loucura dos últimos dias.
Em como eu finalmente encontrei uma luz no fim do túnel e consegui
agarrá-la.
Como se fosse atraída por meus pensamentos, a minha luz caminha
em minha direção e se detém na porta, com os olhos levemente pesados.
— Veio ficar sozinho? — Ava pergunta antes de adentrar o cômodo.
— Vim fumar um charuto. — Ergo a mão para ela antes de puxar a
fumaça mais uma vez.
— Acho chique isso. — Aponta para as minhas mãos e eu arqueio a
sobrancelha para ela.
— O quê?
— Beber uísque fumando charuto. Parece coisa de mafioso de filme.
Solto uma gargalhada ao ver que também encosta o quadril na mesa
imitando minha posição.
— Você anda vendo muito filme de máfia? — pergunto e ela balança
a cabeça negando.
— Não muito.
O silêncio se instala no cômodo, mas dura só alguns minutos. Percebo
que o álcool deixa Ava bem mais tagarela do que o normal.
— Você não gosta de festas? — pergunta.
— Não sou muito disso. — Dou de ombros.
— Nem mesmo para a sua sobrinha?
Balanço a cabeça negando.
— Crianças têm que ter festas de aniversário, Lionel! — Ava faz um
biquinho de reprovação e eu não consigo conter um riso. — Com direito a
palhaços malabaristas.
— Não acho que seja a cara de Amy e...
— Você deveria fazer mais isso — ela me interrompe.
— O quê? Festas?
— Sorrir. Você fica lindo sorrindo.
Ava umedece os lábios devagar me encarando de um jeito tão intenso
que faz o meu coração dar um salto dentro do peito.
Eu fico quieto, quando vejo-a arrastar o quadril para ficar mais
próxima a mim.
— Você ficou sério de repente — diz e eu franzo o cenho para ela. —
Aí, quando franze o cenho assim, parece que vai matar alguém.
Sua constatação me faz rir.
— Ah, é?
Pouso o copo na mesa e o charuto no cinzeiro, cruzando os braços
para ela.
— Eu percebo você, Lionel — diz e eu a encorajo a continuar.
Quero ver até onde ela vai com isso.
— Você sempre está sério, com o semblante fechado. Não se permite
abrir para ninguém...
Ava coça o queixo para me analisar.
— Mas eu consigo perceber você. Imagino que, por trás de toda
postura séria no trabalho, tem um cara legal. — Ergue o dedo e encosta em
meu peito.
Tento controlar a respiração para não demonstrar o quanto essa
proximidade está mexendo comigo.
— Não sei nada sobre você — comenta, com a voz mais baixa agora.
— Além do seu trabalho e que tem uma sobrinha.
— Ava...
— Você só tem a Amy? Não tem uma namorada? Alguma família que
mantém escondida?
— Ava...
Afasto-me um pouco dela, mas a garota se aproxima mais, encurtando
nossa distância.
— Eu gostaria de saber mais sobre você — suas palavras fazem o
meu coração bater um pouco mais forte agora.
Continuo imóvel quando ela se aproxima ainda mais de mim.
— Gostaria de saber qual é sua comida favorita... O que gosta de
fazer na sua folga...
A garota não tira os olhos de mim e eu não impeço esse monólogo,
vendo até onde ela quer chegar.
— Você é um homem interessante, Lionel... — meu nome sai
arrastado de seus lábios. — Rossi...
— E você bebeu demais — acuso, tentando disfarçar o quanto essa
garota está mexendo comigo.
— Pode ser. — Ela dá de ombros. — Mas você continua sendo
interessante para mim.
Seus olhos me encaram firmes agora e daqui eu consigo sentir o
cheiro do álcool de seu hálito. Mas consigo sentir também o aroma de
chocolate e avelã tão característico dela.
Parece vir de seus cabelos...
Cabelos esses que caem sobre os olhos, e eu toco o seu rosto em um
gesto impulsivo para afastá-los.
Consigo sentir o momento em que sua pele se arrepia pelo meu
contato e, por mais que eu saiba o quanto isso é errado, não me afasto.
Meus dedos percorrem sua pele macia e Ava não tira os olhos de
mim, encarando-me como se eu fosse o centro de seu mundo agora.
Engulo em seco ao vê-la fechar os olhos devagar e inclinar o rosto em
minha direção.
Eu deveria repeli-la, deveria afastá-la, mas não consigo sair daqui...
Não consigo me mover e...
— Ah, encontrei você!
A voz de Naomi surge na porta e nos assusta, fazendo-me soltar Ava
de uma só vez.
A garota me olha confusa antes de se virar para a empregada.
— Eu notei que sumiu e fiquei preocupada com você — Naomi
continua.
— Ah... Está tudo bem.
Consigo notar um tom de decepção passar em seu rosto e finjo
indiferença a isso.
Não posso deixar transparecer o quanto sua proximidade mexeu
comigo.
— Eu estava conversando com Lionel e...
— Pode cuidar dela, Naomi — corto-a e seu semblante se entristece.
— Você se excedeu um pouco na bebida hoje, Ava, é melhor descansar.
A garota desencosta o quadril da mesa e me olha por um instante
antes de se afastar.
— Não é a bebida que me fez gostar da sua companhia, Rossi.
Ergo os olhos para ela, mas Ava já deu as costas para mim, indo ao
encontro de Naomi.
Quando finalmente estou sozinho, encho o copo de uísque e viro-o de
uma vez, pensando no que foi que aconteceu aqui.
Eu teria que ser burro demais para não perceber o clima que se
formou.
Garota, garota...
Como vou te olhar da mesma maneira depois desta noite?
 

 
 
— Hummm... Deu um erro aqui.
— Erro? Qual?
Arrasto minha cadeira de rodinhas até a mesa de Luke Hughes, o cara
que cuida do TI de Lionel e que hoje é meu parceiro de trabalho. Ele não
tem tanto conhecimento quanto eu, mas é um ótimo hacker.
— Este aqui.
Luke aponta para a tela de seu computador de mesa e eu peço licença
para tentar corrigir. Como fui eu que criei o sistema, fica mais fácil de
identificar o problema e ir atrás da solução.
Sentado ao meu lado, o rapaz me assiste mergulhar no sistema e fazer
uma série de testes até finalmente descobrir.
— Caramba, Ava. — Assobia enquanto vê o software funcionando
normalmente agora. — Você é foda mesmo.
Olho para ele por cima do ombro e sorrio.
Diariamente recebo elogios desde que cheguei aqui, mas ainda não
me acostumei a recebê-los.
— Esse é o maior projeto da minha vida, Luke.
Viro a cadeira para ficar de frente para ele, que inclina o corpo e apoia
os cotovelos nas coxas para me encarar.
— E você entregou de mãos beijadas para o Rossi? — pergunta com
curiosidade.
— Ele me pagou muito bem por ele.
Ainda não consigo acreditar que Lionel me transferiu nada menos que
meio milhão de dólares só pelo sistema.
Apenas por ele.
Fora todos os benefícios que concede e outras gratificações. Além do
alto salário mensal.
Ele realmente valoriza muito o meu trabalho.
Uma pena que só me enxergue como alguém útil para ele, nada mais.
Desde o pequeno coquetel que fizemos para comemorar o sucesso da
operação, Lionel tem me evitado. Já faz mais de semana que ele passa por
mim e trata apenas do necessário, eu queria entender por que age assim.
Sei que posso ter me excedido e falado demais naquele dia, mas não
disse nenhuma mentira, por isso não me arrependo.
Lionel é um homem muito fechado, de poucas palavras, mas sei que
esconde algo bom. Alguém que leva a sobrinha à Disney todos os anos não
pode ser um cara tão frio como ele transparece ser.
E, mesmo que eu saiba qual é o meu lugar aqui, não consigo conter a
curiosidade por ele.
Algo dentro de mim quer saber mais a seu respeito...
Quer se aproximar...
— Imagino que deve ter tido um trabalhão para criar — Luke chama
a minha atenção e eu pisco os olhos para ele.
Nem percebi que viajei aqui, deixando-o falar sozinho.
— Demorei meses para desenvolver, mas valeu a pena.
Olho para as telas dos computadores à nossa frente e sorrio orgulhosa.
Se houve uma coisa boa em conhecer Elijah, foi trabalhar nesse software.
Enquanto ficava ali mergulhada naquela programação, eu me esquecia um
pouco de todo o caos em que minha vida tinha se transformado.
— E como valeu. Você realmente arrasou, Ava.
Luke toca o meu ombro com carinho e sorri.
— Obrigada, Luke. — Dou um tapinha em sua mão em
agradecimento.
Sorrio antes de girar a minha cadeira e dar de cara com Lionel me
encarando na porta, com uma cara de poucos amigos.
Neste momento, meu sorriso morre.
— Preciso falar com você, Stone — sua voz sai grossa e ele dá as
costas, sumindo de vista.
— Eita, o chefe está bravo — Luke brinca e eu faço uma careta.
— Quando é que Lionel não está?
O rapaz gargalha e eu me levanto da cadeira, já sentindo o coração se
acelerar dentro do peito. Não gostei nadinha da expressão do nosso chefe.
— Bom... Deixe-me ver o que ele quer comigo.
— Boa sorte.
Aceno e saio da sala de programação, cumprimentando Liam no
corredor e indo em direção ao escritório de Rossi.
Quando chego à sua porta, dou uma batida e ele me autoriza a entrar.
— Pois não?
Lionel está parado de costas para mim, olhando para a janela, com as
mãos nos bolsos da calça social preta.
— Recebi notícias do fornecedor de papel e estão finalizando o ajuste
da marca d’água — comenta, virando-se para me olhar. — Mais alguns dias
e eu recebo a prévia do novo formato.
A notícia é maravilhosa, mas seu semblante não está nada feliz.
— Jura? — indago e ele assente.
Lionel cruza o escritório e vai até o barzinho no canto se servir de
uma dose de uísque. Ele me oferece e eu recuso.
— Sim, os testes foram satisfatórios e, quando eu aprovar a
impressão, farão a aplicação em toda a folha para começar a produzir as
bobinas de papel.
— Isso é ótimo, Lionel.
Abro um sorriso, mas sua expressão continua fechada.
Juro que não estou entendendo que bicho o mordeu.
— Por que está assim? Não era para estar feliz?
— Eu estou feliz, Ava.
Solto uma risada.
Com essa cara de cu?
Ele só pode estar de gozação comigo.
— Não me parece...
— Eu só achei que merecia saber disso. Pode voltar ao trabalho.
Ergue o copo de uísque em direção à porta e estreito os olhos para ele.
Eu poderia muito bem virar as costas e voltar para a sala de
programação, mas me recuso.
Quero entender o porquê de Lionel estar agindo assim.
— O que foi que eu fiz, Rossi? — Cruzo os braços e o encaro firme,
em um tom de desafio. — Desde a comemoração, você vem me tratando
como se eu fosse nada para você.
Suas íris azuis se escurecem e ele vira o uísque de uma vez antes de
pousar o copo na mesa.
— E o que necessariamente você é para mim, Ava? — pergunta
áspero e eu engulo em seco. — Além de alguém que eu pago muito bem
para trabalhar para mim?
Sinto como se suas palavras me estapeassem.
— Não venha me dizer que você sempre me tratou assim, Lionel,
porque não é verdade.
Suas sobrancelhas se unem ainda mais em um semblante fechado.
— Bebeu de novo, garota? — sua pergunta ridícula me choca.
Esse homem só pode estar de brincadeira comigo.
— Você está assim só porque eu disse que te achei um homem
interessante? É isso? — questiono e, quando sua expressão vacila, sei que
encontrei a verdade.
— Você é nova demais... — desdenha. — Não sabe do que está
falando...
E é nessa hora que meu sangue ferve.
— Eu não sou a porra de uma criança, Rossi — rebato falando
mais alto agora.
Balanço a cabeça nervosa.
— Não foi a bebida que me fez querer saber mais de você, Lionel —
solto, vendo seu semblante se tornar confuso. — Se não é capaz de lidar
com o interesse genuíno de uma mulher em algo que não seja somente a
porra do seu dinheiro, tudo bem. Só não precisa me tratar como uma
criança, porque eu não sou.
Viro as costas para ele e saio de seu escritório, sentindo um bolo se
formar em minha garganta.
Encosto o corpo na parede do corredor e fecho os olhos, respirando
fundo, lutando contra a vontade de chorar.
Não posso fraquejar assim, pelo menos não na frente de todo mundo.
Não sei o que Lionel faz comigo, porque bagunça tanto a minha
cabeça, já que eu nunca me senti assim antes.
E, mesmo que me doa a forma como ele vem me tratando, preciso
fingir indiferença.
Engulo o choro, recuperando o que resta do meu orgulho para andar
até a sala de programação e voltar ao trabalho.
Se Lionel quer apenas um contato profissional, que seja.
Pagarei na mesma moeda.
 

 
 
— Está sumido dos cassinos, Rossi — a chefe da rede comenta ao se
aproximar de mim e erguer o corpo para beijar o meu rosto.
— Essa nova moeda está me tirando do sério, Kaylee — resmungo e
ela assente.
Kaylee Morgan trabalha para mim há mais de dez anos e gerencia
toda a rede de cassinos. Ela é minha porta-voz quando não estou por aqui.
— Fiquei sabendo que finalmente estão conseguindo adaptar a
produção, né?
— Porra, ainda bem.
Aperto o ossinho do nariz e penso no quanto tudo isso tem me tirado
o sossego nos últimos meses. Tudo saiu dos trilhos desde que o governo
anunciou essa mudança e eu tenho trabalhado em dobro nessa nova missão.
Tenho passado bem menos tempo em casa com minha sobrinha e reduzido
minhas vindas aos cassinos.
Mas pelo menos sei que ele está em boas mãos.
Aqui do escritório de Kaylee, observo as câmeras de segurança dos
principais pontos do cassino, vendo que, mais uma vez, a casa está cheia.
Saber que o faturamento dos cassinos não caiu tem sido um alívio e
tanto. Ainda que não sejam minha fonte de renda principal, estão me
ajudando bastante nesse período conturbado de fabricação das notas.
— Mais alguns meses e estou livre dessa merda — completo,
cruzando os braços e encostando o quadril na mesa.
— Isso está te tirando do sério, né?
Kaylee se aproxima de mim e eu consigo sentir seu perfume
adocicado. Os cabelos da morena estão presos em um rabo de cavalo e os
lábios pintados de vermelho se abrem em um sorriso que eu conheço bem.
— Se estiver precisando aliviar o estresse... — Ela toca o colarinho da
minha camisa e me encara com os olhos verdes. — Tem sempre um quarto
disponível.
Kaylee Morgan sempre foi minha foda fácil.
Eu nunca fui de me envolver com mulheres no trabalho, mas com ela
sempre foi diferente. Nunca houve complicação, nem cobranças, Kaylee é
ainda mais resolvida nesse sentido do que eu. Solteira convicta, ela sempre
deixou claro que usa o sexo apenas para benefício próprio e todas as vezes
que trepamos foi puramente carnal.
Nunca houve mais do que isso e sempre funcionou para nós dois. Não
temos um relacionamento, muito menos exclusividade. Apenas transamos
quando temos vontade.
E seu convite não podia vir em um momento mais oportuno.
Desde que saí do meu escritório mais cedo, pouco depois de uma
discussão ridícula com Ava, decidi sair daqueles ares e vir para os meus
cassinos.
Aquela garota dos infernos tem atormentado a minha mente há dias e
eu tenho certeza de que uma boa trepada agora vai resolver o meu
problema.
Não penso demais, apenas puxo a morena pelo braço e nos levo até a
recepção do hotel, onde pego uma chave de um quarto vazio. Pelo elevador,
subimos do cassino aos quartos e durante todo o trajeto não digo uma
palavra sequer.
Minha cabeça está uma bagunça e a morena parece perceber isso, pois
não insiste em conversas inúteis, como Ava faria.
Quando abro a porta do quarto, Kaylee avança sobre mim, tentando
beijar a minha boca, e eu me esquivo. Não estou com tempo para essa
merda.
— Você está mesmo nervoso hoje, Rossi.
A morena morde o meu pescoço e desce as mãos pela minha camisa,
abrindo os botões, mas, por mais que eu conheça cada canto de seu corpo e
adore comer esta mulher, o tesão não vem.
O cheiro do perfume de Kaylee só me faz lembrar que não é o aroma
de chocolate e avelã de Ava. Isso me faz ficar ainda mais puto.
Garota dos infernos.
Quando desce as mãos até a minha calça e toca o meu pau mole,
Morgan se afasta, fazendo uma careta.
— Ih... Pelo visto você não está mesmo bem hoje.
— Minha cabeça está um inferno, Morgan — resmungo, afastando-
me dela.
A morena faz um beicinho pesaroso enquanto me vê fechar os botões
da minha camisa, puto de ódio.
— Pelo visto não vai rolar mesmo, né? — pergunta e eu nego.
Meu sangue ferve de raiva daquela garota que só veio para foder a
minha cabeça.
Quando foi que eu neguei fogo para uma mulher, principalmente para
Kaylee?
Meu pau a reconhece de longe e já fica duro com uma piscada de olho
que ela dá.
Mas agora o filho da puta resolveu esquecer que é gente para ficar
encolhido no meio das pernas.
Saio do quarto sem nem me despedir de Morgan e disparo para o
elevador, em direção ao casarão da fábrica.
Já sei exatamente aonde ir e aquela cretina me paga.
Vai se arrepender por ter mexido comigo, Stone.
 
 
Esmurro a porta do quarto de Ava, que em pouco tempo a abre, com o
olhar assustado.
— Rossi? O que aconteceu?
Para piorar a minha vida, a garota veste um short minúsculo e uma
camiseta tão justa que daqui consigo ver os bicos dos seios. E essa
constatação faz meu pau reagir dentro da calça.
Ah, então agora você vai subir, filho da puta?
Entro em um rompante e bato a porta atrás de nós, vendo-a ter um
sobressalto.
— A sua intenção era foder a minha mente, Stone? — pergunto,
puxando-a pelo braço e deixando-a a centímetros de mim.
Seus lábios estremecem devagar e, quando o cheiro de avelã com
chocolate atinge o meu nariz, eu perco a porra do juízo.
Dou um tranco em seu corpo e circulo-a com o braço, prendendo-a
em mim quando ataco a sua boca de um jeito feroz.
Ava parece demorar uma fração de segundos para entender o que está
acontecendo e tenta se afastar de mim, empurrando o meu corpo, sem
sucesso.
— Lionel, eu não...
— O caralho que não quer!
Colo a boca na sua e engulo os seus protestos, sentindo-a se debater
contra mim até finalmente ceder. Aos poucos seus tapas vão cessando e
seus lábios se abrem por completo, dando espaço para minha língua.
Seguro seu queixo com força enquanto devoro sua boca e Ava reage
instintivamente, circulando o meu pescoço, puxando minha nuca de um
jeito tão bruto que quase arranca os meus cabelos.
Meu pau já está duro feito um porrete dentro das calças e eu só
projeto o corpo para a frente, esfregando a ereção nela, que geme desejosa.
— Era isso que você queria, Stone?
Afasto-me apenas para raspar a barba pelo seu pescoço e morder a
sua pele, que fica levemente avermelhada. Ouço sua respiração pesada
quando a pego pelo quadril e a carrego até a mesa de madeira no canto,
onde a ponho sentada.
Ava abre as pernas para me receber e eu puxo seus cabelos com força,
erguendo seu queixo antes de devorar a sua boca de um jeito tão bruto, que
faz a garota arfar.
— Lionel... — ela geme quando subo as mãos pelo seu corpo e puxo
a camiseta para baixo sem um pingo de cerimônia.
Seus peitos pulam e eu me afasto apenas para apreciar essa visão.
Lambo os lábios antes de apertar os mamilos entre os dedos, caindo de boca
em um deles.
— Ai, Rossi... — a garota geme e eu não afrouxo a mão.
Vejo o quanto seu quadril rebola em desespero, louca para se aliviar,
mas não vou dar esse gostinho a ela.
Pelo menos não ainda.
Continuo chupando seus peitos com gosto e a garota me puxa pelos
cabelos, guiando minha boca de um bico a outro, fazendo-me dar atenção
aos dois.
Seu quadril se arrasta na mesa e se esfrega mais em mim em um
pedido silencioso de alívio.
Minhas mãos massacram seus mamilos enquanto continuo chupando-
os e lambuzando com a minha saliva.
— Lionel...
— Quis me tirar do sério, Ava? — pergunto, afastando-me dela e
encarando seus olhos nublados de tesão.
Minhas bolas estão doloridas, meu pau está louco para se enterrar
nessa boceta, mas não vou comer essa garota hoje.
Vou mostrar com quem é que ela está mexendo.
Beijo sua boca mais uma vez enquanto meus dedos esfregam os seus
mamilos e corro os lábios até o seu ouvido.
— Vai ter que terminar o serviço sozinha.
Mordo o lóbulo da sua orelha e dou um beliscão em cada mamilo
antes de me afastar.
— Lionel... — ela me chama, mas eu simplesmente viro as costas,
deixando-a sozinha sobre a mesa.
Bato a porta ao sair e pego o caminho para ir para a minha casa.
Preciso de um banho gelado agora.

 
 
O estrondo da porta batendo me faz dar um pulo na mesa e eu coloco
a mão no coração, tentando recobrar a respiração.
O que...
O que foi isso?
Lionel entrou no meu quarto como um furacão, tirou toda a minha
sanidade, quase me levou à beira do abismo e foi embora?
Ele me deixou aqui assim?
Desse jeito?
Meu coração bate acelerado dentro do peito e só consigo pensar na
loucura que acabou de acontecer.
Não sei o que deu nele, o que foi que o deixou tão puto assim, já que
em nossa discussão mais cedo apenas demonstrou indiferença.
Lionel Rossi é uma inconstância e, embora a razão grite para que eu o
afaste, só consigo pensar no quanto ele mexeu comigo.
Em como seu beijo é bruto, feroz e causou um estrago dentro de mim.
Eu nunca senti algo tão intenso, tão insano...
Eu deveria estar puta por ele ter me deixado aqui sozinha.
Eu nem deveria estar cogitando vê-lo de novo.
Mas tudo que consigo pensar é no quanto o quero.
No quanto quero mais...
Provar mais...
Sentir mais...
Se Lionel me deixou desfalecida com um simples beijo e chupadas
nos seios...
O que mais esse homem é capaz de fazer?
Só de pensar nisso, meu sexo pulsa.
Eu devo mesmo ter enlouquecido.
 
 

 
 
— Hoje você não vai trabalhar, tio? — Amy me pergunta logo que
me vê entrando na cozinha vestindo apenas calça de moletom e camiseta.
— Não, coração. Hoje eu estou de folga.
Seus olhos brilham e ela não consegue conter um sorriso.
Eu me inclino e beijo a sua testa, antes de me sentar ao seu lado à
mesa.
— Bom dia, Sr. Rossi — a empregada me cumprimenta, servindo-me
uma caneca de café.
— Bom dia, Dorothy.
— Dorothy, o tio Lion vai passar o dia de folga comigo — Amy
comenta entusiasmada e nessas horas eu só consigo sentir um pesar por não
passar mais tempo com ela como deveria.
— É mesmo?
— Estava precisando de uma folga...
A verdade é que não quero pisar naquele escritório hoje, não depois
do que aconteceu ontem à noite. Ava fodeu com o meu juízo e eu acabei
fazendo uma besteira.
Besteira essa que não pretendo fazer de novo.
Não sei onde eu estava com a cabeça quando fui até o seu quarto e
quase a fodi naquela mesa de tão puto que estava. Por isso preciso ficar
longe dela hoje, para colocar a cabeça no lugar.
Dorothy coloca uma bandeja de panquecas a nossa frente e tanto eu
quanto minha sobrinha pegamos algumas para comer com mel.
— Você não vai precisar sair hoje mesmo, tio? — Amy me pergunta
antes de comer um pedaço de panqueca.
— Hoje não... Está tudo sob controle.
Quando acordei e decidi não ir ao trabalho, liguei para Mia, cancelei
meus compromissos de hoje. Aproveitei e pedi para Blake me avisar caso
surgisse alguma eventualidade.
No mais, passarei o dia em casa curtindo a minha pequena.
— E o que você quer fazer? — pergunto a ela, que parece pensar um
pouco antes de dar um gole em seu suco de laranja.
— O dia está lindo lá fora... — Suspira. — Mas não estou a fim de
sair hoje.
— Aleluia — brinco e ela ri. — Não me oponho a passarmos o dia
em casa hoje.
— Podemos jogar videogame?
— Videogame? — indago e ela abre um sorriso para mim.
— Jogar sozinha é tão sem graça... Com você é mais legal.
Termino de comer e aperto o seu nariz.
— Então vamos jogar.
Conduzo Amy até a sala de jogos e lá ligo o console do videogame,
entregando uma manete para ela.
— O que quer jogar?
— Pode ser Minecraft? — A carinha pidona de Amy sempre vai me
ter nas mãos.
— Você só não pode contar para ninguém que eu passei o dia jogando
isso com você! — brinco e a menina gargalha.
— Imagina só... O empresário Lionel Rossi foi visto jogando
Minecraft com sua sobrinha.
— Adeus, reputação! — dramatizo e ela gargalha mais.
Sento-me no pufe ao seu lado e aperto o play, iniciando uma rodada
de jogos com ela. Durante todo o tempo, Amy gargalha e se diverte
jogando, fazendo-me mergulhar nesse mundo que é só nosso.
Ainda que eu não veja muita graça no jogo em questão, Amy torna
tudo divertido e eu nem vejo as horas passando. Nós passamos a manhã
construindo, explodindo e procurando minérios. Só fazemos uma pausa
para Amy usar o banheiro.
Eu só percebo que a manhã acabou quando Dorothy vem nos avisar
que o almoço já está servido.
Desta vez, comemos na área externa da mansão, a uma mesa posta de
frente para a piscina.
— Não quer nadar um pouco hoje, coração? — sugiro logo que
começamos a comer.
Dorothy preparou costela de porco e purê de batatas que Amy adora.
Tenho muita gratidão por essa governanta que se preocupa sempre com
todos os detalhes para agradar Amy.
— Hoje não, tio.
Busco em seu semblante algum vestígio de tristeza e desta vez não
encontro nenhum. Sempre fico em alerta quando há algo a incomodando,
mas, para a minha sorte, hoje parece ser só preguiça mesmo.
Eu não suporto ver a minha menina entristecida.
Desfrutamos de mais uma refeição juntos e, quando acabamos, Amy
me chama para ver TV com ela. Levo-a de volta para casa e ao chegarmos à
sala, fecho as cortinas, apagando as luzes para deixar mais aconchegante.
Abraço sua cintura e ergo-a da cadeira de rodas, acomodando no sofá,
que já está aberto em formato de cama. Deito-me atrás dela e a pequena se
acomoda em meu abraço, encaixando-se em mim.
Todas as vezes que Amy fica assim tão próxima, eu sinto um aperto
no peito, porque só eu sei o quanto é carente.
Ela deveria estar brincando na casa das amigas ou passeando no
shopping em um sábado à tarde, e não deitada em um sofá vendo TV com o
tio. Com o seu único parente vivo.
Minha sobrinha não tem pais, não tem irmãos, não tem ninguém além
de mim. E, além de tudo, tem dificuldade em fazer amizades. Na escola tem
algumas colegas que interagem com ela, mas não passa dali. Longe daquele
ambiente, minha pequena é completamente sozinha.
E isso sempre me doeu pra caralho.
O mundo não sabe o que está perdendo em não conhecer Amy Rossi.
— Ao que você quer assistir? — pergunto com o controle nas mãos
enquanto faço carinho em seus cabelos macios.
— Pode ser O Rei Leão?
Seu pedido me faz sorrir.
Amy já assistiu a esse filme umas noventa vezes e nunca se cansa.
Principalmente porque ela diz que adora leões por minha causa.
— Não vai chorar desta vez? — provoco e ela ri.
— É muito triste quando o pai do Simba morre.
Daqui consigo ver o biquinho fofo que ela faz.
— Eu sei que é, coração. — Beijo seus cabelos. — O Rei Leão,
então? — pergunto e ela confirma.
Procuro pelo filme na tela do streaming e dou play. Ainda que saiba
todas as falas de cor, Amy assiste como se fosse a primeira vez. A pequena
não tira os olhos da tela e ficar aqui com ela neste momento me faz
esquecer um pouco da bagunça que Ava causou em mim.
Sempre que estou agitado, gosto de vir ficar com Amy.
Ela tem esse dom de me trazer paz, quando eu estou um completo
caos.
 
 

 
 
— Como está a minha agenda essa semana, Mia? — pergunto a
minha assistente logo que passamos alguns pontos importantes.
Hoje fiquei enfurnado dentro deste escritório, saindo apenas para as
refeições. Estou evitando encontrar Ava pelos corredores e tentando manter
a mente longe dela.
— Depois de amanhã é a reunião com o Fitzgerald.
— O fornecedor de armas?
Mia confirma.
— Está marcada para as quatro da tarde. Eu te envio um lembrete
antes.
— Certo, pode confirmar. Amanhã não tenho nenhuma reunião?
— Só com o Carter mesmo.
— Ok.
Vejo mais alguns detalhes com Mia e libero-a para suas atividades.
Quando finalmente estou sozinho, pego um copo para me servir de uma
dose de uísque.
Paro para beber observando as imagens do casarão pelas câmeras de
segurança. Quando vejo a porta da sala de programação, clico para
aumentar a tela. Encostada no batente, Ava usa um vestido curto na metade
das coxas com um decote em V que faz praticamente seus seios pularem.
Mas não é isso que me chama mais a atenção, e sim a forma como ela
conversa com Hughes e Reynolds despreocupadamente, sem ter noção de
que os dois estão comendo seus peitos com os olhos.
O sangue ferve e eu viro o copo todo de uísque de uma vez, batendo-o
na mesa.
Preciso acabar com essa palhaçada.
Saio do meu escritório sentindo a fúria subir em cima de mim e
caminho a passos largos em direção a eles. Quando Ava percebe minha
aproximação, imediatamente seu sorriso morre.
— O que... — a garota começa a falar, mas se assusta vendo-me
puxá-la pelo braço e levar até o seu quarto.
Percebo olhares curiosos em minha direção, mas não dou a mínima.
— Lionel, me solta! — pede, mas eu só aperto mais a mão e, quando
finalmente chego a sua suíte, empurro-a para dentro, trancando a porta atrás
de nós.
— Você ficou louco? — pergunta, esfregando o braço onde toquei.
— Que porra de vestido é esse, Stone?
Avanço em sua direção e sinto as narinas inflarem.
Ava recua um passo, mas logo ergue o queixo para mim.
— O vestido é meu e eu uso como quiser!
— Não vai usar porra nenhuma! — brado, apontando o dedo em sua
cara. — Não enquanto houver um bando de urubus secando os seus peitos.
A expressão de choque em seu olhar só me incentiva a avançar.
— Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito, Rossi? Em
um dia você entra no meu quarto do nada, me agarra e me descarta como se
eu fosse um lixo e agora quer reivindicar alguma coisa?
— Escuta aqui, Stone. — Avanço mais e fico a centímetros dela.
Quase consigo ouvir o som da sua respiração. — Enquanto estiver debaixo
do meu teto, você não vai usar essa porra! — grito e ela arregala os olhos
para mim.
— Você não pode me impedir! — rebate e eu sinto a fúria subir ainda
mais.
Por que tão teimosa, inferno?
— Ava...
— Vai fazer o quê? Rasgar o vestido para eu não usar?
Ela ergue o queixo em desafio, sem saber que acabou de me dar uma
bela de uma ideia.
— Paga para ver então, Stone.
Enfio a mão no meio de seu decote e puxo o tecido com força,
rasgando-o no meio. As minhas mãos acabam de rasgar o vestido até a
barra, onde ele se desfaz e me revela a visão de uma lingerie preta.
E ver Ava apenas de lingerie acaba de foder o meu juízo.
— Você é maluco, Lionel! Sai daqui! — grita e eu simplesmente a
ignoro, avançando sobre ela.
Puxo seu queixo e colo sua boca na minha enquanto, com a outra
mão, aperto a sua cintura com força. Dessa vez a garota é muito mais
resistente e começa a se debater contra mim, tentando se esquivar a
qualquer custo, mas não tem vez comigo.
Sou muito mais forte do que ela e o seu desejo é latente.
Sei que, da mesma forma que tenta me afastar, ela quer minhas mãos
pelo seu corpo. Prova disso é quando finalmente cede e me agarra pelos
cabelos, intensificando o beijo.
Minhas mãos passeiam pelo seu corpo e o contato da minha pele na
sua me faz queimar. Meu pau está duro feito um porrete e sei que Ava
consegue sentir, pela forma como se esfrega em mim.
Em um movimento jogo-a na cama e a garota cai, olhando-me
desejosa, com os cabelos esparramados sobre os lençóis.
— Não gostou que eu fui embora sem te fazer gozar, Ava?
Meus dedos correm pela sua pele e eu puxo o sutiã para baixo,
revelando aqueles seios gostosos para porra. Belisco o mamilo amarronzado
e ela arfa de tesão.
— Pois agora eu vou te fazer gozar gritando tão alto que esta casa
inteira irá te ouvir.
Daqui consigo ver seu peito subir e descer rápido quando me inclino
sobre o seu corpo e caio de boca em seus peitos, lambendo e sugando os
mamilos, que estão duros de tesão.
— Lionel...
A garota geme enquanto eu me delicio neles, mamando e sugando
forte, mordendo e sentindo-a se contorcer contra mim. Abandono os seus
peitos e desço a língua pela sua barriga, parando em sua virilha.
Ergo a cabeça apenas para puxar a calcinha para baixo e atirá-la
longe.
Encaro a boceta rosada e minha boca saliva.
Esfrego o polegar em seu clitóris e sinto o atrito de alguns pelos finos.
Ava geme e meu pau se aperta mais dentro da calça, mas ainda não o
liberto.
Preciso provar esta boceta primeiro.
— Ainda quer que eu vá embora, Stone? — provoco-a. — Molhada
assim?
Continuo esfregando o polegar nela, torturando-a quando meto dois
dedos em sua boceta, ouvindo-a soltar um gritinho.
Bombeio forte e Ava ergue o quadril se contorcendo em minha mão,
fazendo-me sorrir de lado.
Filha da puta.
Continuo fodendo-a com os dedos quando finalmente decido provar
sua boceta. No instante em que minha língua encosta em sua carne, percebo
que esta garota será a minha ruína.
— Boceta gostosa dos infernos.
Corro a língua pelos grandes lábios e Ava geme mais alto, esfregando
o quadril em minha boca.
Solto uma risada antes de morder a pele e sugá-la de leve, fazendo-a
gemer mais. Meus dedos continuam bombeando forte e o atrito em sua
lubrificação faz um som gostoso demais.
Ava me puxa pelos cabelos fazendo um vai e vem da minha língua
por toda a sua boceta, enquanto se esfrega ainda mais em mim.
Com o rosto enterrado em seu sexo, chupo-a com vontade, mordendo
sua pele e lambendo cada cantinho dela, engolindo seu sabor.
Que gosto bom do caralho.
Cuspo em sua pele e espalho a saliva por toda a boceta, vendo que ela
fica ainda mais vermelhinha, mas não alivio.
Como sua boceta com gosto, com vontade, esfregando a barba sem
um pingo de delicadeza e, pela forma com que Ava rebola contra mim, sei
que está gostando.
Puta safada.
— Lionel... — choraminga quando acelero os movimentos e meto
mais um dedo nela, vendo seu corpo se contorcer ainda mais.
Ergo o rosto e olho dentro de seus olhos, enquanto meus dedos
continuam macetando sua boceta, esfolando o seu sexo. O movimento da
minha mão é tão rápido, tão certeiro, que a garota começa a se desesperar
pelo gozo.
— Lionel... Eu... — geme descontrolada e eu aperto o contato, sem
tirar os olhos dela.
Quero ver o momento em que essa garota vai gozar gritando o meu
nome.
Meto mais um dedo dentro dela e a garota solta um grito.
Meus dedos continuam ávidos enquanto o polegar massacra seu
clitóris e consigo perceber a primeira onda de tremores vir.
— Goza, filha da puta.
Maceto sua boceta ainda mais forte e Ava ergue o quadril da cama,
gritando tão alto, que me faz sorrir orgulhoso.
— Lionel!
Solto uma gargalhada e só tiro a mão de dentro dela quando os
tremores cessam e seu corpo desaba na cama.
Noto sua respiração ofegante e apenas me levanto, olhando-a de cima.
— Finalmente teve o que queria, Stone? — provoco-a, colocando as
mãos nos bolsos e não fazendo questão nenhuma de esconder o volume no
meio da calça.
A garota ainda me olha ofegante, sem reação, e eu abro um sorriso
presunçoso.
Ferrou a minha mente, maldita?
Vou foder a sua também.
— Espero que estejamos entendidos agora — alerto-a, apontando
para o que sobrou do vestido no chão.
Ava apenas me encara, engolindo em seco.
— Você já vai? — pergunta ao me ver lhe dando as costas para sair.
— Tenho muito trabalho, garota — respondo por cima do ombro e
saio de seu quarto.
Do lado de fora, vejo olhares furtivos sobre mim e sei exatamente o
que estão pensando.
Não há um ser vivo neste lugar que não escutou os gemidos de Ava
enquanto eu comia a sua boceta.
Isso me faz sorrir orgulhoso.
Vou para o meu escritório segurando a vontade de voltar àquele
quarto e enterrar meu pau dentro dela, fazê-la gritar ainda mais.
Mas, por ora, prefiro parar por aqui.
Algo me diz que, quando foder aquela boceta, não vou conseguir
parar mais.
E não preciso disso agora.
 

 
 
— Como estão indo as notas, Rossi? — Wyatt Fitzgerald, o cara com
quem negocio armas, me questiona.
— Estou sempre um passo à frente, Fitzgerald. Não se preocupe com
isso — digo firme e ele assente. — Me mostre o que tem para mim hoje.
O rapaz sinaliza para os seus homens, que trazem várias maletas
pretas e dispõem sobre o balcão. Wyatt é um cara novo, mas não é novato
no ramo. Seu pai, o velho Fitzgerald, é meu fornecedor antigo. Quando este
decidiu se aposentar, seu filho assumiu os negócios e demos continuidade a
nossa aliança.
Wyatt é o maior contrabandista de armas dos Estados Unidos e não
negocia com Elijah, apenas comigo. Em contrapartida, ofereço preços
melhores e prioridade em minhas notas.
— A clássica AK-47. — Uma maleta é aberta, revelando o rifle
automático.
Sinalizo para Scott Adams, meu chefe de segurança, que na mesma
hora pega a arma e faz uma rápida conferência. Temos várias em nosso
arsenal, porém sempre precisamos renovar e substituir as antigas.
Faço um sinal em positivo para Wyatt, que abre a próxima maleta.
— Remington 870. — Noto um sorriso se abrir no rosto de Adams,
antes de tocar a espingarda. — Calibre 12 — Wyatt completa.
Pelo brilho nos olhos de Scott, sei que vamos levar mais delas. Todas
as vezes que encontramos Fitzgerald, esse cara se sente como uma criança
em um parque de diversões.
Por mais que eu tenha uma aliança com os russos para fazerem o
trabalho sujo, meus homens estão sempre prontos para tudo. Em toda a rede
de cassinos, o casarão da fábrica e minha residência, a segurança é
reforçada. Por isso, não economizo em armamento.
— Chegaram mais da UZI. — Scott pega a submetralhadora e faz
uma inspeção rápida.
— E as de maior calibre? — é Adams quem questiona.
Um sorriso presunçoso se abre no rosto de Wyatt quando ele sinaliza
para o seu homem.
— AS50. — A maleta é aberta revelando o fuzil todo preto e Adams
solta um assobio. — Ele foi projetado para as Forças Armadas do Reino
Unido e tem longo alcance com alta precisão.
Wyatt faz toda a apresentação do fuzil e, por mais que eu já tenha
ouvido falar dessa arma, ainda não tive a chance de comprá-la. Pelo brilho
nos olhos de Scott, sei que não vamos sair daqui sem levá-la.
— É calibre .50, Adams — Wyatt comenta, vendo o meu homem
praticamente babar no fuzil. — Isso aí derruba até helicóptero.
Eu solto uma risada ao ver a empolgação de Scott. Nem mesmo uma
cama cheia de putas faz esse cara mais feliz do que uma caixa de armas.
— Tem o G36 e o M16 também. — Duas novas maletas são abertas,
revelando os respectivos fuzis. — Ambos calibre 556.
E mais uma leva de apresentações de armas de diversos formatos e
calibres. Scott analisa todas atentamente para começarmos as negociações.
— E tem sua queridinha também, Rossi — Wyatt comenta, abrindo
uma maleta menor e me entregando uma Desert Eagle.
Agora são meus olhos que brilham.
Essa pistola semiautomática é minha parceira de anos e sei que já foi
eleita a mais forte do mundo. Fora que o design dela é fodido.
Essa arma é absurda de bonita.
— Vou levar — anuncio e Wyatt ri.
— É claro que vai.
Decido junto a Scott qual o melhor armamento para levarmos e
combinamos com Wyatt a quantidade certa, além da data de entrega do
pedido. Em contrapartida, já o deixo em alerta sobre o prazo em que
começarei a entregar a nova moeda.
Como combinei com Yaroslav que a primeira remessa de notas seria
para os russos, deixo acertado com Fitzgerald que ele será o próximo da
fila.
Deixamos o galpão e entramos no carro blindado que nos espera na
porta. Durante o trajeto de volta ao casarão, reforço alguns pontos da
segurança com Scott, principalmente no que diz respeito à minha sobrinha.
Além de todo monitoramento de minha residência, Amy conta com a
segurança de Hunter Cox, o cara que a acompanha em todas as suas aulas e
nunca a deixa sozinha. Ela só fica livre quando está dentro de casa, para ter
privacidade, mas ainda assim ele fica de prontidão dentro dos muros da
propriedade, junto com os outros homens.
Eu me mataria se algo acontecesse a Amy, por isso não pego leve
quando o assunto é sua segurança.
Chegando ao casarão, vou direto ao meu escritório. Pelos corredores,
noto alguns olhares furtivos em minha direção, mas não dou a mínima.
Meu tempo é precioso demais para perdê-lo com burburinhos. Mas
pelo visto meu amigo não pensa o mesmo que eu.
Eu acabo de sentar a bunda na cadeira quando Blake cruza a porta,
fechando-a atrás de si.
— Que porra foi aquela ontem, Rossi?
Estreito os olhos para ele.
— Do que está falando?
— Não se faça de desentendido, Lionel, eu te conheço desde que você
era um moleque. Quero saber que merda foi aquela de ter levado Ava à
força para o quarto e ainda fez a casa inteira ouvir o que vocês fizeram lá
dentro. Não se fala de outra coisa neste lugar.
Solto uma risada amarga.
— Estão com pouco serviço assim para sobrar tempo para especular
sobre a minha vida? — desdenho. — Vou aumentar a carga de trabalho
então...
Blake apenas bufa e caminha até a minha mesa, jogando-se na cadeira
de frente para mim.
— Não sou o seu funcionário aqui agora, Rossi. Sou o seu amigo.
Que merda foi essa? A Ava?
— Ainda assim, não te dou o direito de falar disso — corto-o, ligando
o laptop à minha frente.
— Caralho, Rossi. Já parou para pensar na merda que isso vai dar?
Ela é diferente das mulheres que você está costumado a sair fodendo por aí.
— Mas é adulta, não é? Não vejo problema nenhum se ela quiser
trepar comigo.
— Cacete... Você não entende, né? — Meu amigo balança a cabeça
em reprovação. — Ela é só uma garota, Lionel. Uma garota que gosta de ler
um livro em um jardim.
A forma como Blake fala causa um aperto dentro de mim. E eu não
sei se é algo bom ou ruim.
— A garota já foi machucada demais, Rossi. Não seja mais um.
— Você está sabendo muito da vida dela — aponto e ele revira os
olhos para mim.
— Mas você sabe muito mais do que eu e ainda assim está brincando
com ela.
— Não estou brincando com ninguém, Blake. Vá trabalhar, que temos
uma nova nota para produzir.
Volto a atenção para o laptop e abro o e-mail de Nathan, meu
contador, com o relatório financeiro do último trimestre. Faço o download
do arquivo e sei que vou passar o restante do dia mexendo nisso.
Principalmente porque minhas receitas caíram muito desde a paralização da
produção de notas.
— Rossi...
— Vai, Blake!
Gesticulo para a porta e meu amigo apenas balança a cabeça antes de
finalmente ceder e me deixar sozinho.
Abro o relatório contábil e logo na primeira página já sei o que me
aguarda. Levanto-me, indo até o barzinho pegar uma garrafa de uísque e um
copo de vidro.
Sento-me de volta e sirvo-me de uma dose; deixo a garrafa ao lado,
porque sei que vou precisar dela.
Volto para os relatórios e solto um suspiro.
O dia hoje vai ser longo.
 

 
 
Decido sair do quarto para ir até a cozinha buscar um copo de água. O
casarão está em silêncio absoluto e eu só consigo ver os seguranças de
Lionel espalhados pelos corredores que levam ao pátio principal. Sei que já
são mais de dez horas da noite, por isso muitos dos funcionários já
encerraram o expediente.
De pijama mesmo, ando pelos corredores e, quando chego à cozinha,
acendo a luz, servindo-me de um copo de água. Escorada na bancada, paro
para beber enquanto noto o relógio no alto da parede. Observo o tique-taque
dos ponteiros e minha mente voa por um instante.
Desde que Lionel me agarrou ontem, não consigo parar de pensar
nisso. Ainda que tenha sido bruto e não tenha tido delicadeza em seu toque,
ele fez por mim algo que ninguém fez.
Lionel Rossi não sabe, mas me deu o primeiro orgasmo da minha
vida.
Ainda que eu já tenha me tocado sozinha, nunca consegui chegar até
o fim, pois, sempre que meu corpo começava a dar indícios, eu recuava por
medo. Por não saber como era, por não saber como reagir. E, durante todo o
tempo em que estive com Charles, ele nunca pensou em mim.
Mas com Lionel foi diferente.
Ele estava excitado, eu pude ver no volume formado em sua calça, e
mesmo assim não pensou apenas em si. Pelo contrário, me fez gozar e foi
embora, sem nem olhar para trás.
Em outras situações, eu poderia me sentir usada, mas com ele não me
senti assim.
Lionel colocou meu prazer acima do seu e isso me valeu tudo.
Termino de beber a água e pouso o copo em cima da pia, apagando a
luz ao sair do cômodo. Em vez de voltar direto para o meu quarto, decido
dar uma volta pela propriedade e inspirar um ar fresco por um momento.
E é perambulando pelo local que uma luz acesa no escritório de
Lionel me chama a atenção. Meu coração se acelera dentro do peito e eu
não resisto à curiosidade de ir até a sua sala para dar uma conferida.
Será que ele ainda está aqui?
Sei que teve uma reunião externa e depois passou todo o dia dentro do
escritório, por isso acabei não o vendo por aí.
Ando devagar e, quando chego à porta, encontro-o sentado à mesa, de
frente para seu laptop, parecendo bastante concentrado. Noto que a camisa
branca já tem alguns botões abertos e seu semblante parece cansado.
Ainda assim, ele é lindo.
O cenho franzido em sinal de concentração só o deixa ainda mais
charmoso.
Solto um suspiro alto e finalmente ganho sua atenção.
Lionel ergue o rosto e seus olhos azuis encaram os meus daquele jeito
que parecem me perfurar.
— Oi... — digo e arrisco um passo para dentro de seu escritório.
Abraço meu corpo por instinto e aperto a cintura, olhando-o com
cuidado.
— Oi — responde com a voz cansada, uma que eu quase não
conheço.
Na maior parte do tempo, Lionel está andando firme, dando ordens e
tendo o mundo debaixo de seus pés. Agora só parece estar exausto mesmo.
— Trabalhando até agora? — pergunto com cuidado e ele assente.
— Recebi os relatórios do Nathan — diz referindo-se ao seu contador.
— Não consigo tirar os olhos daqui.
Dou mais alguns passos em sua direção, apontando para a cadeira a
sua frente em um pedido de permissão silencioso, e ele apenas balança a
cabeça. Sentada, consigo sentir o cheiro do tabaco do cinzeiro, e a garrafa
de uísque na metade, com o copo vazio, me diz que ele também andou
bebendo.
— Não tem boas notícias? — minha voz é baixa e eu fico atenta aos
seus sinais.
Caso cruze alguma linha indevida, sei que preciso recuar.
— Não muito — confessa, arrastando o laptop para o lado. — Os
cassinos vão bem e me dão muito dinheiro, mas meu carro-chefe são as
notas frias.
Engulo em seco, confirmando. Não consigo imaginar o que deve estar
sentindo, pois sei que ele trabalha duro para manter os seus negócios.
— Essa produção parada por meses me dá um prejuízo do caralho —
completa.
— Eu nem consigo imaginar, Lionel... — digo, sincera.
— Isso faz um rombo no meu caixa.
Neste momento, ele pega a garrafa e serve uma dose de uísque em seu
copo, oferecendo-me.
— Não, obrigada. Preferia espumante — solto para descontrair e
parece funcionar, pois ele abre um meio sorriso.
— Uísque não é para amadores, garota — Lionel repete as palavras
daquele dia, fazendo-me soltar uma risada.
— Eu sei que não... — Aproveito este momento em que o peguei em
guarda baixa para puxar assunto, pois não quero sair daqui ainda. — E há
quanto tempo você trabalha com as notas?
— Há mais de vinte anos — revela e seu olhar se torna nostálgico.
— Nossa... Tudo isso? — pergunto, surpresa. — Você me parece
novo para...
— Tenho quarenta e dois — corta e eu sinto meu corpo se estremecer.
Lionel é nada menos que dezessete anos mais velho que eu e ainda
assim causa um estrago dentro de mim.
— E como foi que começou com isso?
Apoio o cotovelo em sua mesa e escoro o rosto, genuinamente
interessada em sua história.
— Eu era um moleque de dezesseis anos com a vida toda fodida.
Trabalhava em um caixa de supermercado quando conheci o Blake. Lembro
como se fosse ontem que vimos uma matéria na TV sobre notas falsas e ele
comentou que fabricar nosso próprio dinheiro poderia nos tirar da merda.
— E foi aí que você teve a brilhante ideia? — brinco e ele ri baixo.
— Fiquei com aquilo na cabeça e, em segredo, comecei a pesquisar
como uma nota de dólar era feita. Não tínhamos o acesso à tecnologia que
temos hoje, então minha pesquisa foi muito mais demorada. Lembro que
passava horas na biblioteca e minha mãe ficava orgulhosa achando que eu
estava me dedicando aos estudos.
A careta de Lionel me tira um sorriso e aqui, ouvindo o seu relato, só
consigo pensar no quanto ele é incrível.
— Eu descobri um cara que vendia as notas aqui em Las Vegas, então
comprei umas para analisar e conseguir recriar. Virei um stalker vigiando
cada passo dele a fim de descobrir onde comprava o papel para eu tentar
reproduzir em casa.
— E deu certo?
— A primeira ficou horrorosa — comenta, rindo. — Como eu não
tinha acesso ao arquivo original, fazia cópias da nota que eu tinha. Então dá
para imaginar a qualidade.
— É... Não devia ter ficado bom mesmo — faço uma careta e ele
concorda.
— Mas não desisti. Continuei pesquisando e não chegava a lugar
nenhum. Até finalmente ter uma ideia.
— Qual? — Aproximo mais o meu corpo do dele e noto que, mesmo
estando cansado, Lionel está disposto a me contar.
— A secretária do fabricante de notas tinha um fraco por garotos mais
novos.
Lionel dá uma piscadinha e eu rio.
— Não brinca!
— Comecei meu plano de ação e o primeiro passo era seduzir a
secretária, essa parte não foi difícil. Uma surra de pica e aquela mulher
estava disposta a fazer tudo o que eu quisesse.
A gargalhada de Lionel me contagia, mesmo que meu coração esteja
disparado dentro do peito.
— Que coisa feia, Rossi — finjo uma reprimenda e o safado ri.
— Não me arrependo nem um pouco disso. — A forma como ele para
e lambe os lábios devagar faz a minha garganta se fechar. — E então ela
conseguiu uma cópia do arquivo da nota além de mais algumas informações
privilegiadas.
— E assim você conseguiu a nota perfeita?
— Não de princípio, mas foi o primeiro passo. Eu juntei dinheiro,
aluguei um trailer e comecei a produzir lá para que ficasse fora da minha
casa, pois minha mãe jamais permitiria isso.
— Lembrando que você era só um adolescente.
— É. — Dá de ombros. — Mas ainda assim queria me virar na vida.
Quando finalmente eu consegui a nota quase perfeita, imprimi de valores
menores para testar, porque chamam menos atenção. Ninguém fica
conferindo notas de dez dólares em mercados.
— Isso é verdade.
— Então peguei o ônibus e fui para o outro lado da cidade comprar
chocolates em um mercado.
— E deu certo? — pergunto curiosa.
— Claro que deu. Ainda recebi troco — comenta orgulhoso.
— Imagino como deve ter ficado feliz.
— Eu saí de lá radiante e fui direto para o trabalho contar para Blake,
mas ele não reagiu bem.
— Jura?
Por essa eu não esperava.
— Disse que eu era maluco e poderia ser preso, fez um sermão na
minha cabeça tentando me convencer a parar.
— E você obviamente não parou.
— Claro que não. — O sorriso orgulhoso se abre de novo. —
Continuei fazendo e comprando minhas coisas com notas pequenas.
Quando Blake viu que eu conseguia comprar o que ele não podia, estando
os dois ralando por igual, ele finalmente se deu por vencido e entrou no
jogo comigo.
— Nossa...
— Fomos investindo em maquinário e tecnologia, aperfeiçoando
nosso trabalho até finalmente começar a vender.
— E o seu concorrente? Não te deu problemas?
— Eu era muito pequeno perto dele, então não oferecia perigo. Mas
meu negócio deslanchou quando ele morreu de câncer e a briga dos filhos
por herança acabou deixando o negócio morrer.
— E aí você pegou os clientes dele — constato.
— Claro. Eu ainda tinha contato com a secretária que gostava de
novinhos.
A forma como Lionel fala me faz rir.
— E por isso Blake se tornou o chefe da fábrica, por estar com você
desde o início.
— Ele poderia ter se tornado meu sócio, mas não quis. Blake sempre
foi medroso e não queria assumir essa responsabilidade.
— Entendo...
— Para entrar nesse ramo tem que estar disposto a tudo, Ava — diz,
perfurando-me com o olhar. — E, ao contrário de Watson, eu não tenho
medo de nada.
A forma como ele me diz isso me faz engolir em seco.
Pelo pouco que conheci de Lionel até hoje, sei que não está mesmo
brincando. Ele seria capaz de tudo para conseguir o que quer.
Fico por um momento olhando-o em silêncio quando o vejo puxar o
laptop para voltar ao trabalho e percebo que é hora de retornar ao quarto.
— Bom... Acho que vou me deitar agora — comento e ele apenas
assente.
— Boa sorte no trabalho. — Aponto para a tela enquanto me levanto
e ele confirma.
— Obrigado.
Abraço meu corpo mais uma vez e noto que Lionel me seca com o
olhar, observando cada canto do meu pijama.
Sua inspeção minuciosa me faz sentir um arrepio na espinha.
— Boa noite, Lionel.
— Boa noite, Ava.
Aceno e saio de sua sala, apertando o passo.
Quando finalmente estou em minha suíte, fecho a porta atrás de mim
e me escoro na madeira, respirando fundo.
Tentando controlar o meu coração, que perde o rumo todas as vezes
que Lionel está por perto.
 

 
 
O som de batidas à porta me faz desgrudar o corpo da madeira em um
pulo de susto.
Viro o corpo e abro a fechadura, encontrando Lionel do outro lado,
encarando-me com luxúria.
— O que...
Ele nem me dá tempo de concluir, pois avança sobre mim, fechando a
porta com o pé.
Lionel reivindica a minha boca enquanto suas mãos apertam a minha
cintura e sobem por baixo do pijama, fazendo meu corpo se incendiar. Eu
solto um gemido e puxo-o pelos cabelos, trazendo-o para mais perto de
mim, fundindo meu corpo ao seu.
De pé, ao lado da cama, perco todo o meu rumo enquanto Rossi
devora a minha boca, enviando uma onda de excitação pelo meu corpo.
— Lionel... — gemo quando ele puxa a minha blusa e me deixa nua
da cintura para cima.
— Você é gostosa demais, Ava — murmura antes de afundar o rosto
em meus peitos e se deliciar neles, fazendo-me gemer mais.
A forma como lambe, morde e suga o biquinho me deixa tonta de
tesão e, se ele continuar mamando desse jeito, é bem provável que consiga
me fazer gozar assim.
Mas Lionel parece ter outros planos para mim.
Ele me empurra na cama e eu caio de costas no colchão, vendo-o
avançar sobre mim como um animal sedento.
— Ainda dá tempo de pular fora, Stone — comenta, desabotoando a
camisa e me revelando aquele peitoral chapado.
Nego freneticamente, pois não quero que ele saia daqui.
Quero ser toda sua, como nunca quis algo na vida.
Lionel não tira os olhos de mim, e vejo o momento em que desafivela
o cinto da calça e o atira longe, livrando-se da peça em seguida e ficando
apenas de cueca para mim.
O volume que se forma em sua boxer preta me faz salivar.
Meu peito sobe e desce rápido demais quando ele se curva sobre o
meu corpo e puxa meu short para baixo, deixando-me apenas de calcinha.
— Preciso provar essa boceta de novo — diz, antes de puxar a peça
de renda e tirá-la de mim, sem um mínimo de delicadeza.
Eu mal tenho tempo de reagir quando Lionel corre a língua
lentamente pela minha carne antes de cair de boca e se esfregar em mim,
fazendo-me gemer ainda mais alto.
— Lionel...
O safado apenas sorri antes de morder minha pele inchada de tesão e
dar pequenos beliscões, além de sugar e chupar como se eu fosse uma fruta
suculenta.
E caralho, que sensação boa dos infernos.
Em um ato de desespero, ergo o quadril e intensifico o contato,
esfregando o sexo em sua boca e tomando mais dele.
Tomando Lionel para mim.
E ele não se opõe.
Abraça o meu quadril e continua me chupando com gosto, fodendo-
me com sua língua de um jeito insano, que me faz contorcer sobre os
lençóis. Eu nunca senti tanto prazer na vida até conhecer a língua deste
homem.
— Lionel... — gemo mais e ele dá um tapa em minha boceta.
A ardência do tapa, junto ao calor de sua saliva, só aumenta o meu
desespero por ele..
— Você geme feito uma puta, Ava — a voz grossa me faz gemer
mais.
Lionel não alivia, me massacrando com a boca e acertando um ponto
alucinante.
— Eu... — choramingo e, quando sinto os tremores me abraçarem,
seguro a cabeça dele em meu sexo, mantendo-o preso ali.
Sua língua não para e eu me esfrego tão desesperada em sua boca que
não demora a vir o orgasmo.
Forte.
Intenso.
Insano.
Meu corpo todo treme e eu solto a cabeça de Lionel, sentindo cada
um de meus músculos relaxarem.
Puta que pariu.
— E goza feito uma puta também — completa se levantando e me
abrindo um sorriso safado.
Eu ainda estou ofegante quando o vejo lamber os lábios e engolir todo
o meu gozo.
— Você deveria sentir seu gosto, Ava — diz, inclinando-se sobre o
meu corpo para me beijar. — É uma delícia.
Seu beijo é um misto de tabaco, uísque e sexo.
É um gosto absurdo de gostoso.
Ainda estou com as pernas moles quando o vejo se erguer para buscar
um preservativo na calça e terminar de se despir.
Quando Lionel desce a cueca, eu me ergo pelos cotovelos para vê-lo
melhor.
Seu membro duro desponta o tecido fazendo-me salivar.
É grande, grosso, de veias pulsantes.
Sem tirar os olhos de mim, Lionel o cobre com a camisinha e o
masturba enquanto vem em minha direção.
— Abre essas pernas, Stone — ordena e eu escancaro para ele,
sentindo minha respiração pesar em expectativa.
Então é isso...
Finalmente está acontecendo...
— Eu não sei pegar leve, garota — anuncia antes de me penetrar de
uma só vez, fazendo-me soltar um grito.
Seu pau grosso me rasga inteira e eu mordo o lábio quando o sinto
chegar até o fundo.
Cacete...
— Que boceta apertadinha — murmura antes de tirar o pau todo de
dentro de mim e me estocar de uma só vez.
A ardência só me causa incômodo a primeiro momento, já que faz um
bom tempo que não fico com ninguém. Porém, tão logo ela chega, vai
embora e é substituída por um prazer descomunal.
Cruzo as pernas em seu quadril enquanto sinto-o me foder, metendo
duro, bruto, soltando um gemido rouco.
E o som que ele faz me deixa ainda mais excitada.
Desço a mão até o ponto que nos une e toco o clitóris, enquanto ele
continua me fodendo com força.
— Isso, garota. Toca essa bocetinha para mim.
Eu só sei gemer enquanto meus dedos trabalham frenéticos tentando
seguir o ritmo de suas estocadas violentas.
Em um movimento, Lionel me gira na cama e me coloca de costas
para ele, dando um tapa forte em minha bunda.
— Ai, Lionel... — reclamo e ele dá outro tapa antes de me penetrar
mais uma vez.
Rossi continua metendo fundo, em um ritmo louco de estocadas,
quando sinto suas mãos puxarem os meus cabelos e erguerem meu corpo de
leve.
A cama bate em um ritmo louco e Lionel não alivia, fodendo-me com
força enquanto puxa os meus cabelos.
— Puta gostosa dos infernos — sua voz rouca envia uma onda de
arrepios pelo meu corpo e eu só sei gemer mais.
É gostoso demais...
É insano...
É...
Mais um tapa na bunda e eu solto um gritinho. Pela ardência na pele,
sei que ficarei marcada, mas não me importo nem um pouco com isso.
Lionel pode me marcar de quantas formas quiser, desde que não tire o
pau de dentro de mim.
Ergo o quadril e desço a mão para tocar o clitóris, mas Rossi tem
outros planos para mim. Ele solta os meus cabelos e me puxa em direção
àquela mesa de madeira no canto do meu quarto.
A mesma onde me beijou pela primeira vez.
Sentada, abro bem as pernas para ele e me apoio nos cotovelos, vendo
o exato momento em que esfrega o pau em minha entrada, em uma tortura
gostosa.
— Lionel... — chamo, mas ele não avança.
— Quer meu pau enterrado em você, Stone?
Continua esfregando a cabecinha ali e eu me contorço nele,
desesperada.
— Lionel... — imploro e o safado ri antes de me penetrar de uma vez
só, indo até o talo.
O movimento faz a mesa ranger, mas ele não alivia.
Lionel apenas segura forte a minha cintura enquanto me esfola com
seu pau, metendo tão forte, tão bruto que eu sei que não vou demorar a
gozar de novo.
Ele solta uma das mãos e toca o meu pescoço, apertando forte,
enquanto olha no fundo dos meus olhos e continua me comendo gostoso
sem dizer uma palavra sequer.
A sensação de sufocamento me invade elevando o nível de excitação
e Lionel não para. Ele me fode cada vez mais forte, mais rápido, mais bruto
e eu não sei qual barulho neste cômodo é mais alto.
Se sou eu gemendo, Lionel, ou a mesa de madeira rangendo abaixo de
nós.
O aperto em meu pescoço não afrouxa e Rossi continua me
macetando, massacrando a minha boceta e eu sei que não vou durar muito
mais.
A primeira onda de tremores vem e, quando ele percebe, aperta ainda
mais o meu pescoço, fitando os meus olhos com um desejo furioso nas íris.
— Lionel! — minha voz sai sufocada, ao sentir meu corpo inteiro
explodir em completo êxtase.
Meus pés se contorcem enquanto os tremores me invadem e Lionel
solta o meu pescoço, mas não para de me foder.
Ele continua estocando forte, bruto, até o seu corpo inteiro tremer
também.
E, quando goza, solta um gemido alto tão gostoso, diferente de tudo
que eu já vi. Lionel aperta meu quadril com força e continua metendo até
finalmente parar.
— Caralho, Stone — é tudo que ele diz quando sai de dentro de mim,
respirando ofegante.
Observo quando tira a camisinha e revela seu membro todo
lambuzado de gozo. Sinto uma vontade instintiva de tomá-lo na boca, mas
não tenho nem forças para sair desta mesa, quanto mais para chupar o seu
pau.
Com a respiração pesada e os cabelos grudados na testa de suor,
Lionel cambaleia até se sentar na beirada da cama. Reúno as forças e faço o
mesmo, levantando-me da mesa.
Eu me jogo na cama e, deitada, vejo o momento em que Rossi cata
suas roupas no chão para se vestir.
Uma sensação de vazio me invade só de pensar que ele está prestes a
cruzar aquela porta e me deixar sozinha. Sei que não deveria pensar assim,
mas é inevitável.
Quando está completamente vestido, ele vem em minha direção e
beija a minha testa com carinho.
— Boa noite, Ava.
— Boa noite — respondo ofegante e ele acena antes de deixar o
quarto.
Aqui, parada, fico olhando para o teto e pensando na loucura que
acabou de acontecer.
E que, sem dúvidas, foi a melhor loucura da minha vida.
 

 
 
— Eu conheço esse sorriso, menina — Naomi comenta e eu arregalo
os olhos para ela.
Sentada no balcão da cozinha, termino de comer uma panqueca para o
café da manhã. Finjo desentendimento enquanto tomo um gole de café puro
e a vejo me observar enquanto trabalha.
— Não é errado sorrir assim — explica. — O problema é por quem
está sorrindo.
Engulo em seco e o resto do café desce amargo demais.
— Não sei do que está falando — minto, abaixando o olhar e
desistindo de comer a segunda panqueca.
Sei exatamente do que ela está falando.
Ou melhor, de quem ela está falando.
Lionel.
O homem que continua sendo uma incógnita para mim, mas que faz
um estrago no meu coração.
Ontem o peguei em guarda baixa e acabei descobrindo um pouco de
seu passado, o que jamais imaginei que ele fosse abrir para mim. E aquele
momento despretensioso ao seu lado encheu meu coração de algo que nem
eu sei explicar.
Só sei que foi... bom.
Foi certo.
É como se cada pedacinho meu quisesse estar ali com ele, só pelo
prazer de sua companhia.
Lionel estava comigo porque queria estar e isso é algo que vale o
mundo para mim.
E quando entrou em meu quarto...
Meu Deus.
Lionel passou como um furacão e levou toda a sanidade que restava
de mim. Eu não consegui pensar, raciocinar, só consegui sentir...
E é isso que ele tem causado em mim.
Desde que me beijou, tenho me tornado essa confusão ambulante.
Essa pessoa que não consegue pensar com clareza quando ele está perto de
mim.
Eu deveria temer homens desse tipo, principalmente devido ao que já
enfrentei um dia, mas simplesmente não consigo.
Há algo diferente nele...
Lionel faz com que eu me sinta segura ao seu lado. Além do mais, ele
me trata como uma mulher, e não como um objeto.
— Você é muito nova, Ava. — Naomi me olha com o semblante
cuidadoso. — Eu já tive a sua idade um dia e já passei por isso...
A empregada se senta de frente para mim e eu desvio o olhar,
sentindo-me um pouco desconfortável com isso.
— Eu não quero ser invasiva, menina — diz e eu volto a encará-la. —
Mas me preocupo com você. Sr. Rossi não é o tipo de pessoa para se
envolver.
Sinto meu rosto virar um pimentão e, por mais que eu queira muito
que ela esteja errada, sei que não está.
Eu deveria evitá-lo a todo custo...
Principalmente porque não confio em meu coração quando estou com
ele.
Mas quem disse que eu consigo?
— Ele nunca se casou? — pergunto com cuidado e a vejo franzir o
cenho para mim.
— Não, nunca. Nem mesmo sei se já teve alguma namorada.
Essa afirmação me surpreende.
Lionel nunca esteve com ninguém? Tipo nunca mesmo?
— É por isso que o Sr. Rossi não é alguém com quem se envolver,
Ava — Naomi diz baixo. — Se você se apaixonar, ele não será capaz de
corresponder.
Sinto um bolo se formar em minha garganta.
Eu já pensei nisso várias vezes, mas ainda assim não consegui conter
a curiosidade.
Meu interesse...
— Eu não vou me apaixonar por ele — afirmo, mais para mim
mesma.
Não posso chegar a esse ponto.
Não posso...
Naomi me analisa por um momento antes de assentir.
— Espero que tome cuidado — alerta e se levanta da cadeira para
voltar ao trabalho. — Você não merece ter o coração partido.
Quando vira as costas, eu sinto um aperto no peito.
Ah, se ela soubesse...
Se soubesse de tudo que eu já passei...
Coração partido é o menor dos meus problemas, Naomi.
Penso, mas não falo.
Em vez disso, despeço-me dela e saio do cômodo, indo para a sala de
programação para trabalhar.
Pelo caminho, noto vários olhares sobre mim e sinto meu peito se
apertar.
Será que estão todos rindo de mim?
Será que estão todos pensando o mesmo que Naomi?
Pobre garota, não sabe onde está se metendo...
Minha cabeça fica ainda mais confusa e eu sinto uma vontade de
chorar. Uma vontade de sumir, de desaparecer...
Abraço o meu corpo e acelero o passo até a sala de TI, onde encontro
Luke Hughes trabalhando. É um cara divertido e poderia ser alguém por
quem valesse a pena se interessar.
Mas ele, nem ninguém neste lugar, causa em mim o que Lionel
causa...
— Bom dia, Ava — Luke me cumprimenta com um sorriso e eu me
jogo na cadeira ao seu lado.
— Bom dia — respondo, sem muita empolgação.
Meu colega arqueia a sobrancelha para mim.
— Você está legal?
— Acho que sim... — solto. — Não sei. Alguns dias são piores que
os outros — comento e ele me analisa em silêncio.
— Quer conversar?
Olho para o rapaz loiro à minha frente e solto um suspiro.
Ele e Naomi são as pessoas mais próximas que eu tenho por aqui,
com quem me permito trocar mais do que algumas palavras. Além de Liam,
porém este último é pago para me proteger, e não para ficar de conversinha.
— Não sei bem... — confesso, abaixando o olhar. — Me sinto um
pouco confusa ultimamente.
Não quero me abrir para ele e confessar o que de fato tem
atormentado a minha mente, mas decido contar parte do problema. Não é
uma mentira, de toda forma.
— Eu estou fazendo o que eu amo. — Aponto para as telas ao nosso
redor. — Sendo muito bem remunerada para isso. Mas não tenho ninguém...
Os olhos do meu colega se tornam pesarosos e eu engulo em seco.
— Não posso sair desta propriedade, Luke. — Solto o peso dos meus
ombros. — Só tenho vinte e cinco anos e sou uma prisioneira...
— Ava...
— E sabe o que é pior? — interrompo-o. — Eu sou mais livre aqui
dentro do que lá fora.
Só de pensar nisso, sinto um aperto no peito.
Aqui, dentro de todas essas muralhas de Lionel, me sinto segura.
Nesses últimos meses em Vegas, eu me senti mais livre do que em
anos da minha vida.
Abraço o meu corpo e olho para o nada por um instante.
— Sinto muito, Ava — ele comenta e eu balanço a cabeça. — Espero
que um dia você retome a sua liberdade.
Um nó se forma em minha garganta, porque sei que isso não será
possível...
Enquanto Elijah Rodriguez e Charles Walker existirem, eu nunca
serei livre.
 

 
Deitada na minha cama, fito o teto, enquanto passa qualquer coisa na
TV.
Desde que Naomi conversou comigo hoje, tenho ficado pensativa. E
acabei por descontar isso em Luke, que ouviu todas as minhas lamúrias sem
reclamar.
A questão é que minha mente está uma loucura.
Eu vim para este lugar contra a minha vontade e, mesmo que tenha
tido todo o receio do mundo no início, sei que encontrei a segurança de que
precisava.
Lionel poderia ter me descartado lá mesmo em Washington quando eu
lhe dei os arquivos de que precisava, mas não o fez. Ele me trouxe de volta
para Las Vegas com segurança e tem mantido sua palavra dia após dia.
E, ainda que eu me sinta como uma prisioneira na maioria das vezes,
sei que Rossi tem feito o melhor por mim. Eu mesma me coloquei nesse
inferno quando me envolvi com Charles e, se hoje vivo dentro de uma única
propriedade, é por culpa puramente minha.
Solto um suspiro, sentindo mais uma vez a dor no peito me invadir.
A realidade é que me sinto sozinha...
Todas as pessoas neste lugar têm uma casa, uma família, alguém
esperando chegar em casa.
Eu não tenho ninguém...
Ainda que eu passe o dia rodeada de pessoas e em boas companhias,
quando a noite cai, entro em meu quarto sozinha.
Absolutamente sozinha.
E não há nada, nem ninguém, que possa mudar isso.
Viro meu corpo de lado e aperto o travesseiro debaixo de mim.
Às vezes, como em muitas da minha vida...
Eu só queria deixar de existir.
 

 
 
— Que porra é essa? — esbravejo e me levanto da mesa, vendo as
câmeras de segurança saírem do ar.
Puxo o telefone na mesa e disco para o ramal da sala de segurança,
onde Caleb atende.
— Que merda é essa com as câmeras? — questiono.
— Parece que deu uma pane no sistema, Rossi.
— Vou pedir a Ava para resolver isso.
Desligo o telefone e saio de dentro do meu escritório, caminhando
apressado até a sala de programação. Disparo porta adentro e encontro Ava
trabalhando ao lado de Luke.
— O sistema das câmeras caiu — anuncio e os dois disparam o olhar
para mim.
Vejo que Ava me encara com receio e até passa um rubor em sua face,
mas não me preocupo com isso. Não tenho tempo para essa merda agora.
— Como assim, caiu? — é ela quem pergunta.
— Não sei. Do nada as imagens saíram do ar e elas precisam voltar
logo. O sistema é o mesmo da minha casa — minha voz sai mais
preocupada agora.
Não é só a segurança da minha fábrica que está em jogo, mas também
de Amy.
Porra!
— Vamos cuidar disso.
Ava sinaliza para Luke e os dois trabalham juntos, frenéticos na frente
dos computadores. Eu fico parado, andando em círculos, sentindo uma
inquietude fora do comum. Poderia dar uma volta pelo pátio, mas
simplesmente não consigo.
Não vou sair daqui enquanto esse caralho não estiver resolvido.
O tempo passa com uma moleza do cão e eu fico nervoso assistindo
aos dois trabalharem. O coração já está agitado e começo a sentir falta de ar,
quando a crise vem.
Ah, mas que inferno...
Apoio o braço na parede e tenho uma crise incessante de tosse, que
me sufoca, me tira o ar. No mesmo instante, Ava se levanta e vem até mim,
tocando meu ombro com cuidado.
— Lionel? Está tudo bem?
Balanço a cabeça tossindo e busco fôlego para fazer sair a minha voz.
— Bombinha — é tudo que eu consigo falar quando a tosse me
invade mais uma vez.
— Onde? Onde está? — pergunta preocupada.
— Gaveta. — Mais uma onda de tosses e vejo Ava sair em disparada
de dentro da sala.
Luke olha para mim aflito e eu apenas sinalizo com a mão para que
continue o trabalho.
Caio sentado na cadeira mais próxima no momento em que Ava entra
na sala. Ofegante, mostra que veio correndo. A garota me entrega a
bombinha e, quando eu pego de suas mãos, puxo fundo, três vezes seguidas
até o ar voltar.
Meus olhos já estão lacrimejados quando a tosse finalmente dá trégua.
— Vou buscar água para você — Ava anuncia e eu nem tenho tempo
de responder, quando a vejo sumir da sala mais uma vez.
Encosto a cabeça na parede e fecho os olhos, respirando fundo e
sentindo as mãos tremerem. Quando Ava retorna, eu os reabro e a vejo me
encarar com o semblante preocupado.
— Aqui.
Ela me entrega um copo de água e eu pego, bebendo em pequenos
goles. Durante todo o tempo, não tira os olhos de mim.
— Está melhor? — pergunta quando lhe devolvo o copo.
— Sim — respondo com a voz cansada. — Foi só uma crise.
A garota me avalia por um tempo antes de assentir.
— Precisa de mais alguma coisa? — pergunta e eu nego.
— Obrigado por buscar a bombinha.
— Não precisa agradecer.
Ava me encara com o rosto enrubescido quando Luke nos interrompe.
— Voltou! — anuncia e eu respiro aliviado.
— Conseguiu? — Ava corre até ele e eu me levanto também para
conferir.
Quando Hughes abre a tela com a imagem de todas as câmeras
funcionando normalmente, eu solto um suspiro.
— Porra, que alívio.
— Tudo certo agora, Rossi.
— Obrigado.
Agradeço a eles e saio da sala, mas noto que Ava me acompanha,
interceptando-me na porta.
— Você vai ficar bem? — pergunta e eu apenas assinto, passando por
ela e indo até o meu escritório.
No trajeto, a garota me segue e entra atrás de mim na sala.
— Não sabia que você tinha asma — comenta e eu dou de ombros.
— Não é algo que eu saia espalhando por aí.
Percebo que cruza os braços e franze o cenho.
— Mas você fuma...
— Fumo — respondo de pronto e abro a gaveta para colocar a
bombinha de volta.
— Mas não deveria...
Aperto os olhos e esfrego a barba impaciente.
— Assim como não deveria vender dinheiro falso? — retruco e ela
estreita os olhos para mim.
— É diferente...
— Porra nenhuma, Ava.
Empurro a cadeira e me jogo nela, abrindo a tela do meu laptop e
ignorando a mulher à minha frente.
— Você pode morrer... — insiste e eu ergo os olhos para ela.
Mas que inferno!
— Eu posso morrer todos os dias por diversos motivos, Ava. Fumar é
o menor dos meus problemas.
— Mas...
— Basta! — corto-a, e ela se assusta. — Caralho, Stone! Não sou
uma criança para você ficar enchendo a porra do meu saco! Eu tenho
consciência de tudo, ok? Se um cigarro me matar, isso é problema meu.
Vejo que seus olhos brilham e isso me faz revirar os meus.
Vai chorar por essa merda agora?
Esfrego o rosto nervoso e vejo que ela sai em silêncio, deixando-me a
sós no escritório.
Ótimo, prefiro mesmo ficar sozinho.
Tento me concentrar no trabalho à minha frente, mas a imagem da
garota com os olhos marejados toda hora vem à minha mente.
Reluto, tento afastar como posso, mas ela continua me atormentando.
Mas que inferno!
Soco a mesa e decido ir atrás dela, resolver de vez essa merda. Saio
do escritório e vou até a sala de TI, mas não a encontro lá.
— Cadê a Ava? — pergunto a Luke, que me olha assustado.
— Não sei, Rossi. Ela não voltou para cá.
Praguejo alto quando deixo a sala e vou até o seu quarto. Ava só pode
ter se enfiado lá dentro.
Esmurro a porta e pouco depois a garota aparece, abrindo-a com o
olhar assustado e a ponta do nariz vermelha.
— Precisa chorar por causa disso? — pergunto nervoso, batendo a
porta atrás de nós.
Mas Ava não me responde, ela simplesmente me vira as costas e eu a
puxo pelo braço.
— Me deixa em paz! — rosna e eu bufo.
— Está preocupada com o que, Stone? Se sou eu quem vai morrer, e
não você?
Minhas palavras parecem assustá-la e ela só arregala os olhos para
mim.
— Não fale assim.
— Todo mundo vai morrer um dia, Ava. Não precisa chorar por causa
disso.
A garota faz um beicinho antes de fungar baixo.
— Eu me importo com você... — sua voz sai baixa e me quebra ao
meio.
Ah, caralho...
— Mas não precisa — corto com a voz firme, disfarçando o quanto
sua revelação mexeu comigo. — Não tem que se importar comigo, Ava.
Seu semblante assume um tom de tristeza agora.
— Vai embora, Lionel.
Aponta para a porta, mas eu dou um passo em sua direção,
encurtando nossa distância.
— Eu não vou sair daqui se for para você ficar chorando.
Ava não me olha e uma lágrima lhe escorre.
Ah, puta que pariu.
— Porra, Ava! Já falei que não precisa chorar!
— Vai embora, Lionel! Me deixa em paz! — grita e eu avanço sobre
ela, segurando seus dois braços para que me olhe.
— O que quer que eu diga? Que vou parar de fumar? Prefere que eu
minta para você?
Ava tenta se desvencilhar dos meus braços, mas eu a impeço.
— Então vou mentir para você. Nunca mais vou fumar, ok? — digo
firme e ela balança a cabeça.
— Vai parar de chorar agora? — insisto e ela se debate contra mim.
Eu não deveria me importar tanto, mas saber que essa garota está
chorando por uma idiotice sem tamanho chega a me remoer por dentro.
— Inferno! — resmungo antes de puxar seu corpo contra o meu e
colar minha boca na sua.
Ava é resistente no começo, como em todas as vezes que a beijei, mas
logo cede, rendendo-se aos meus lábios.
Aperto sua cintura com força e a sinto puxar meus cabelos enquanto
devoro sua boca de um jeito que nos tira o ar.
Minha língua se perde na sua e busca cada cantinho dela, sentindo
todo o seu calor. E isso é tudo para que meu pau reaja dentro da calça. Ava
sente o volume e se esfrega em mim, enquanto minha boca não solta a sua.
A garota se agarra a mim com um desespero real e eu massacro a sua
boca, sentindo uma ardência nos lábios pela intensidade desse beijo.
Quando sinto que finalmente a acalmei, eu me afasto e vejo que ela pisca os
olhos devagar antes de abri-los e me encarar.
— Parou de chorar? — pergunto e seu rosto enrubesce na mesma
hora. — Não precisa chorar por essa merda, Ava.
Ela me encara por um instante antes de assentir de leve.
— Pode voltar ao trabalho.
Solto seu corpo e a garota parece ficar sem reação, quando aponto
para a porta e saio, deixando-a atrás para trás.
Quando estou de volta ao escritório, eu me jogo na cadeira e esfrego
os olhos, bufando.
Não sei que merda foi essa, muito menos por que essa garota me
deixa tão perturbado assim.
Trato de afastar esses pensamentos e penso na pilha de trabalho que
tenho me aguardando.
Pelo menos agora consigo me concentrar, sabendo que ela não está
mais chorando.
 

 
 
— Estou te achando muito disperso, Rossi. — Kaylee franze o cenho,
tocando o meu braço, e eu me afasto de leve.
Sempre gostei de tocar essa mulher e fodê-la de todas as formas, mas
ultimamente eu só quero distância. Na verdade, nenhuma mulher tem me
despertado interesse nos últimos tempos.
Nenhuma, exceto ela.
— Cabeça cheia, Kaylee — resmungo e vou até o barzinho para me
servir de uma dose de uísque.
— Você não é assim...
Kaylee estreita os olhos para mim quando me viro para encará-la,
enquanto viro um gole da bebida.
— Meus negócios não estão em estado normal, Morgan. Impossível
que eu também esteja — solto, encostando o quadril na mesa e ela não
parece se dar por vencida.
Hoje tivemos nossa periódica reunião do conselho e, ao acabar,
Kaylee me seguiu até o meu escritório.
— Não é só isso. — Ela se aproxima de mim e seu perfume me
invade, mas não desperta nada aqui dentro. — Existe alguém, Rossi? —
pergunta avaliativa e eu bufo.
— É brincadeira isso?
— Não sei... Me diga você. — Ela me analisa por um momento em
silêncio e eu tiro um cigarro do bolso para acender. — Você nunca foi de
me rejeitar desse jeito... Não que isso seja um problema, já que nosso caso é
bem resolvido. Mas estou curiosa para saber quem foi que entrou nesse
coração de gelo.
A morena aponta o dedo em direção ao meu dedo e eu rio baixo antes
de dar um trago no cigarro.
— Você só pode ter ficado maluca, Morgan.
Ela me abre um sorrisinho que me faz revirar os olhos.
— Eu não tenho tempo para essas merdas — retruco.
Nunca tive e não vai ser agora que eu vou ter.
Afasto-me da mesa e vou até a janela do escritório onde tenho a visão
do pátio da propriedade. Olho para o banco vazio do jardim onde Ava
costuma ler e sinto um estranhamento no peito.
Dou mais um trago no cigarro e solto a fumaça para o alto, antes de
me virar para Kaylee. A morena está parada no meio da minha sala com um
sorriso no rosto.
— Vai trabalhar, Kaylee. Não te pago para ficar especulando a minha
vida.
A chefe dos cassinos gargalha alto.
— Eu vou, Rossi. Mas ainda vou te provar que não estou errada.
Dá uma piscadinha antes de sair da minha sala, deixando-me sozinho.
Solto um suspiro e aperto o cigarro no cinzeiro, para apagá-lo.
Inferno!
Meu humor já não está bom esses dias e vem essa mulher acabar de
me tirar do sério.
Pego outro cigarro no bolso e, logo que o acendo, decido ir até o
galpão da fábrica para distrair um pouco a cabeça. Mas, quando faço o
trajeto até ele, vejo Ava conversando com Blake na porta de entrada e essa
imagem me faz parar.
Franzo o cenho ao observar a conversa dos dois e sinto meu coração
bater mais forte dentro do peito, estranhando essa reação em mim.
Isso é novo.
Isso é uma merda.
Dou um trago forte no cigarro e solto a fumaça, sentindo uma
inquietude tomar conta de mim.
— Então é ela? — a voz de Kaylee surge atrás de mim e eu não me
movo.
Continuo parado, fumando meu cigarro, observando Ava ao longe.
Vendo a forma como tem uma conversa tranquila com Blake, como mexe
nos cabelos ao gesticular e como os lábios se curvam de leve em um
sorriso.
— Ela é bonita — Morgan comenta, mas não lhe dou atenção.
Kaylee não poderia estar mais errada.
Ava não é bonita, é linda...
Eu já tinha uma noção disso, mas quando a vi nua...
Porra, ela é perfeita.
Puxo a fumaça do cigarro e seguro-a por um instante antes de soltá-la,
jogando para o alto.
— Só é muito nova, Lionel... — a voz de Kaylee é preocupada agora.
— Espero que saiba o que está fazendo.
O som de saltos altos batendo anuncia o afastamento de Morgan, que
não me dá tempo de responder. Dou de ombros e fixo o olhar em Ava,
enquanto termino de fumar o cigarro.
Jogo a bituca no chão e esmago com o sapato, no momento em que
Ava se vira e olha em minha direção. Seu olhar se prende ao meu e eu sinto
aquele estranhamento no peito de novo.
Ah, caralho...
Balanço a cabeça e viro as costas, indo em direção oposta, para bem
longe da garota. Vou até o estacionamento e encontro Donald parado na
porta do meu carro. Sinalizo para que ele me leve em casa e entro pela porta
traseira, sentindo-me um tanto inquieto.
Minha mente vaga longe durante todo o trajeto e é só quando estou
entrando nos portões de casa que me sinto relaxar.
Ouço o som da risada de Amy logo que entro na sala e penso que só
essa garotinha é capaz de me trazer um pouco de paz.
— Tio Lion! — exclama empolgada ao me ver.
— Oi, coração.
Inclino-me para beijar a sua testa e ela franze o cenho para mim.
— Fumando de novo?
A pequena faz uma careta quando eu me sento ao seu lado no sofá.
— Você sabe que eu fumo quando estou nervoso — aponto e ela me
olha avaliativa.
— E por que está nervoso?
— Problemas no trabalho — digo.
E não é bem uma mentira.
— Você trabalha demais, tio. — A preocupação em seu semblante é
genuína e me faz sorrir.
— É o que eu faço de melhor, Amy. — Pisco para ela. — Do que
estava rindo?
— Do filme. — Aponta para a TV.
— As branquelas de novo?
— É o melhor de todos os tempos! — comenta sorrindo. — Vem ver
comigo.
Amy pede com aquele sorriso que me tem nas mãos.
— Ok...
Tiro os sapatos e chuto-os para o canto, acomodando-me melhor ao
seu lado. Quando Amy dá play no filme, uma cena engraçada começa e a
faz gargalhar.
A risada da minha sobrinha é contagiante e me faz esquecer, ainda
que por pouco tempo, a confusão que tomou conta de mim.
Odeio essa merda.
Há muitos anos que eu não sei o que é me sentir assim, já que sempre
tenho o controle de tudo sobre a minha vida.
Mas essa garota...
Ela me confunde.
Ela me perturba.
Inferno de mulher.
Preciso voltar a ser quem eu era antes de conhecê-la, caso contrário,
ficarei maluco.
 

 
 
Vejo uma movimentação no depósito de armas e lembro que hoje é o
dia marcado para a chegada do carregamento enviado por Fiztgerald. Eu
acabei ficando preso em uma reunião no cassino e não consegui chegar a
tempo de acompanhar a entrega, mas sei que Scott deve ter adorado fazer
isso sozinho.
Entro na sala e a visão que eu tenho apunhala o meu peito.
— Que porra é essa? — esbravejo e vejo todos voltarem o olhar para
mim.
Mas a minha atenção é toda para Ava. A filha da puta está com a
minha arma nas mãos, a Desert Eagle, admirando como se fosse a porra de
um livro.
Caminho duro em sua direção e tiro a arma de suas mãos, entregando
a Scott.
— O que está fazendo aqui? Isso não é lugar para você, garota! —
Aperto seu braço e ela me olha assustada.
— Eu vi a carga chegando — sua voz sai entrecortada. — Como eu já
tinha encerrado o trabalho, perguntei a Liam se eu poderia ver uma de
perto, só isso.
Giro o pescoço em direção a Reynolds e o fuzilo com o olhar. Ele
sabe que fez merda e só abaixa a cabeça para mim.
— Isso não é um brinquedo, porra! — berro e ela tem um sobressalto.
Percebo que quer retrucar, mas a impeço, puxando-a pelo braço e
arrastando até o seu quarto. Lá dentro, empurro-a na cama e fecho a porta
atrás de nós.
— Você sabe atirar, Ava? — pergunto com a voz dura e a garota nega,
balançando a cabeça. — Já pegou em uma arma alguma vez na vida?
Minha voz sai bem mais alta agora e ela nega de novo.
— E como achou que era uma boa ideia brincar com uma? — berro e
vejo seus olhos marejarem antes de abaixar a cabeça.
Esfrego as mãos pelo rosto, nervoso.
— Porra, Stone! Aquilo não é um brinquedo! Você pode se matar, sua
idiota! — solto, sentindo meu corpo todo tremer.
Ferver de ódio.
— Não estava carregada — diz com a voz baixa e eu solto uma risada
amarga.
— Jura? E você sabe como conferir isso?
Seu olhar assustado me diz que não faz ideia.
— Caralho, Ava!
Esfrego a barba nervoso e enfio a mão no bolso, procurando por um
cigarro, quando ela se levanta e toca o meu braço, fazendo-me parar.
— Desculpa — pede com a voz baixa. — Você está certo, eu não
deveria ter feito isso. Foi só curiosidade mesmo.
Tiro a mão do bolso e toco seu queixo, fazendo-a olhar para mim.
Toda a sinceridade que encontro em seus olhos me quebra ao meio.
Porra.
— Nunca mais faça isso — ordeno, apertando o seu queixo e ela
assente, sem desviar os olhos de mim. — Nunca chegue perto de uma arma.
Reynolds é pago para fazer isso por você.
Ava assente e seus olhos estão um pouco mais calmos agora.
Afrouxo o aperto em seu queixo e solto um suspiro.
Porra, Stone. Você me mata de susto, penso, mas não falo.
Em vez disso, corro os dedos pela pele do seu rosto e a sinto fechar os
olhos de leve, absorvendo esse contato. Meu coração bate feito um louco
dentro do peito, de susto, de ódio, de raiva, de tudo.
Inferno de garota que perturba o meu sossego.
A proximidade de seu corpo me faz sentir o seu cheiro de chocolate e
avelã; quando Ava abre os olhos e me encara com desejo, eu decido mandar
tudo para a merda.
Colo minha boca na sua e a reivindico para mim, apertando-a forte
pela cintura. Ava, em contrapartida, me puxa pelos cabelos e intensifica
nosso beijo.
Minha língua se perde na sua e nosso contato é cru, bruto, sedento. É
como se precisássemos disso para respirar. Sem tirar as mãos dela,
empurro-a até a cama, Ava cai deitada de costas, olhando-me com a
respiração pesada.
Avanço sobre seu corpo como um animal sedento e ataco sua boca
novamente, devorando-a e me esfregando nela, que geme ao sentir a minha
ereção.
O som do seu gemido é a minha ruína.
Desço as mãos pelo seu corpo e toco a barra da camiseta, descolando
as bocas apenas para despi-la da peça. Com sua pele desnuda, consigo ver
seu peito subir e descer em um ritmo descompassado e não resisto a tocá-la.
Meus dedos percorrem sua pele branquinha e macia como seda,
fazendo um caminho até a altura do sutiã. Brinco entre o vale dos seios,
antes de arrancar a peça de renda e ter uma bela visão de seus peitos
gostosos.
Tateio os bicos, apertando, beliscando-os e Ava geme pelo contato.
Esse som envia um comando direto para o meu pau, que fica ainda mais
duro dentro da calça, se é que é possível.
Inclino o corpo para lamber uma auréola e lhe arranco mais gemidos.
Sorrio em sua pele antes de sugar o biquinho e morder, enquanto a minha
mão tortura o outro seio. Aumento o ritmo das chupadas e os sons
desconexos que saem de seus lábios, só me faz acelerar mais. Pelo pouco
que conheço dela, sei que tem uma grande sensibilidade nos seios e fica à
beira de gozar só com o trato que dou neles.
Quando Ava começa a apertar os meus cabelos desesperada, decido
soltar os seios e descer a língua pela sua barriga. O movimento a faz emitir
um som de insatisfação.
— Calma, garota.
Corro a língua pela sua barriga e, quando chego ao cós da calça,
desabotoo-a rapidamente. Livro-me da peça, deixando-a apenas de calcinha.
E aqui, inclinado diante de seu corpo nu, vejo mais uma vez o quanto ela é
perfeita.
E o quanto é tão delicada, tão frágil, como se estivesse a ponto de
quebrar.
E é por uma dessas que essa garota não deve ficar perto de uma arma
nunca.
Afasto sua calcinha de renda apenas para ter a visão de sua boceta
rosada.
— Depilou? — pergunto, ao notar que não há mais nenhum pelo por
aqui.
Ergo os olhos para ela, que me encara tímida.
— Pensei... — começa a falar e para, mordendo o lábio inferior. —
Pensei que fosse gostar.
Porra...
Essa garota se depilou para mim?
— Caralho, Ava — murmuro antes de correr a língua pela sua boceta.
Ava solta um gemido mais alto e eu avanço, lambendo seus lábios e
chupando como se fosse a fruta mais gostosa que já provei. E não é bem
uma mentira, pois não me lembro de quando comi uma boceta tão gostosa
assim.
A garota se remexe contra mim e eu afundo o rosto em sua carne,
lambendo, mordendo e chupando, deleitando-me em seu sabor. Ava agarra
os meus cabelos e dita o meu ritmo, subindo e descendo o meu rosto pela
sua boceta, esfregando-se desesperada em mim.
Eu adoro quando ela perde o controle assim e fica louca para gozar.
— Gostosa para porra — murmuro contra a sua pele e continuo
chupando com vontade, fodendo-a com a língua, acertando o seu ponto de
desespero.
— Lionel... — geme quando os primeiros tremores anunciam a
chegada do orgasmo e eu não alivio.
Continuo comendo-a com vontade, chupando cada vez mais forte,
lambendo e sugando sua pele, quando ela aperta meus cabelos ainda mais e
rebola desesperada em meu rosto.
— Lionel! — grita e seu corpo inteiro se convulsiona.
A forma como ela geme, como treme em um ritmo insano e se ergue
da cama é a coisa mais bonita de se ver.
Ava Stone gozando chega a ser memorável.
Continuo chupando-a e engulo cada gota do seu gozo, só me afasto
quando ela finalmente se acalma, respirando um pouco mais leve.
Fico de pé apenas para tirar a minha roupa e o faço com rapidez,
vendo Ava me comer com os olhos. Isso me faz sorrir de lado,
principalmente quando ela lambe os lábios ao me ver bombear meu pau em
minhas mãos.
Pego uma embalagem de preservativo, rasgo-a com a boca, cobrindo
meu membro, e me aproximo dela. Ava não diz nada, apenas escancara as
pernas à minha espera e eu seguro seus joelhos antes de penetrá-la de uma
só vez, fazendo-a gemer ao final.
— Porra — gemo, sentindo meu pau ser engolido por sua boceta
quente.
Ava é tão apertada que eu preciso fazer um esforço do caralho para
não gozar em duas estocadas.
Tiro meu pau e esfrego a cabecinha em sua entrada antes de penetrá-
la de novo, indo até o talo.
— Ai, Lionel... — geme, como uma gata manhosa, e eu afundo os
dedos em sua pele, enquanto acelero o ritmo, metendo mais duro e mais
rápido agora.
Jogo a cabeça para trás e fecho os olhos enquanto fodo a sua boceta
com força, sentindo meu corpo tremer feito um louco a cada estocada. Ava
não se faz de rogada e geme feito uma puta, o que me deixa ainda mais
louco de tesão; só me faz aumentar a pressão, massacrando-a e socando
mais forte.
Baixo o olhar e me deleito com a visão de Ava deitada, com os
cabelos esparramados na cama, os lábios entreabertos de prazer e os peitos
pulando com o choque dos nossos quadris.
Puta que pariu.
Que visão dos infernos.
Tiro o meu pau de dentro dela e a carinha que faz me arranca uma
gargalhada.
— Calma, sua putinha.
Viro-a de costas e trago seu corpo para cima, colocando-a de quatro
para mim. Ava empina bem a bunda e eu não resisto a dar um tapa, sorrindo
ao vê-la reclamar.
— Sua bunda é gostosa demais para bater, Ava — digo antes de meter
fundo nela e a ouvir gemer. — E para foder também.
Agarro sua cintura com a mão e puxo seus cabelos com a outra,
enquanto estoco-a forte, sem dó nem piedade. Ava geme a cada arremetida
e o som dos nossos quadris batendo só me faz acelerar ainda mais.
Sinto uma gota de suor escorrer pelas minhas costas enquanto
continuo macetando-a, massacrando a sua boceta. Dou um tranco em seus
cabelos e seu corpo se ergue de leve, um tapa estalado em sua bunda a faz
cair.
— Ai, Lionel... — choraminga e desce a mão em direção ao ponto
que nos une.
— Isso, Stone... — rosno. — Toca essa boceta gostosa.
Os dedos de Ava batendo em sua lubrificação trazem um som lindo,
gostoso aos meus ouvidos, e eu sei que não preciso de muito esforço para
gozar.
Ava acelera o movimento da mão e geme feito uma cadela enquanto
continuo comendo-a por trás. Cuspo em sua bunda e a saliva escorre para o
seu cu, onde tateio seu buraco com o dedão.
A mão que puxa seu cabelo não afrouxa o aperto e a outra começa a
dedar o seu cu, vendo Ava gemer mais.
— Já deu seu rabo, Ava? — pergunto e ela faz um som que não
consigo identificar. — Já, Stone?
— Na-não... — gagueja e eu rio.
— Bom saber que serei o primeiro a comer o seu cu.
Impulsiono o dedo para dentro e ela geme mais, desesperada agora.
Ava não solta a mão de sua boceta e, pela forma como reage, sei que está
perto de gozar.
Acelero as estocadas, enquanto meu dedo faz um vai e vem frenético
dentro dela, e minha mão não afrouxa o aperto nos cabelos.
Os primeiros tremores vêm e nossos quadris batem tão forte agora,
tão brutos que Ava grita alto ao gozar. Tiro o dedo dela e solto os cabelos,
agarrando sua cintura e metendo feito um louco até o meu orgasmo me
atingir com tudo, fazendo meu corpo inteiro tremer ao encher a camisinha
de porra.
Puta que pariu.
No instante em que tiro meu pau de dentro dela, Ava desaba na cama,
descabelada, ofegante, com um semblante cansado de quem foi
deliciosamente fodida.
Descarto a camisinha e faço o impensável, indo me deitar ao seu lado.
Com o antebraço sobre a testa, fito o teto branco do quarto, enquanto
sinto minha respiração regularizar.
Giro a cabeça e vejo Ava me encarando com curiosidade.
— Você sempre vai me foder assim quando estiver com raiva de
mim? — pergunta com um sorriso malicioso e eu solto uma risada.
— Garota, garota...
— Vou te irritar mais vezes — provoca.
— Não brinca com fogo, Ava.
— Não me importo nem um pouco com isso.
Ela dá uma piscadinha para mim.
Fico um momento em silêncio apenas encarando-a, tentando entender
por que essa garota, que chegou há tão pouco tempo na minha vida,
bagunça tudo dentro de mim.
Como não encontro nenhuma resposta, penso que já é hora de sair.
Faço menção de me levantar da cama, mas Ava segura o meu braço,
franzindo o cenho para mim.
— Você tem compromisso agora?
— Não, por quê?
— Fica aqui — pede e meu coração volta a bater acelerado dentro do
peito.
— Ava...
— Não estou te pedindo para passar a noite comigo — fala com
cuidado. — Só que fique mais um pouco.
Fico pensando se devo ou não sair, quando seus dedos percorrem o
meu braço em uma carícia gostosa.
— Fica — pede manhosa.
E então eu desabo na cama.
A racionalidade me manda levantar agora e ir embora daqui antes que
as coisas fiquem piores. Mas quem disse que eu consigo me ouvir?
Olho para a garota ao meu lado e penso na loucura que estou fazendo
ao continuar aqui.
Mas que se dane.
Algo nela simplesmente me impede de me mover daqui.
 

 
 
O estrondo de um tiro me assusta e eu piso no acelerador do carro
com força, entrando com tudo na garagem de casa. Eu não sei se foi daqui
que veio o som ou se foi de alguma casa vizinha, mas uma sensação ruim
toma conta do meu peito.
Desço do carro correndo e voo para dentro de casa, sentindo meu
coração bater acelerado dentro do peito.
— Estella! — chamo, mas não tenho resposta.
Reviro os cômodos sem nenhum sinal dela e subo as escadas
correndo para o segundo andar. Disparo pelo corredor em direção ao
nosso quarto e a cena que eu vejo me faz estacar.
O coração parece que vai saltar pela boca e eu demoro uma fração
de segundos para reagir.
— Estella!
Caio de joelhos no chão e pego o seu corpo caído, desesperado por
algum sinal vital.
— Não, você não fez isso comigo...
O sangue escorre pelos seus cabelos loiros e empoça o chão,
fazendo-me tremer. As lágrimas descem e eu balanço seu corpo, tentando
ouvir um batimento cardíaco, tentando buscar uma respiração, algum sinal,
que não vem.
— Não, Estella, não... — Minha voz se perde em meio aos soluços e
eu sinto uma dor lancinante tomar conta de mim.
Puxo o ar, que não vem para os pulmões.
Tudo dói.
O peito dói.
A cabeça dói.
O corpo inteiro dói.
Com os dedos trêmulos, tateio seu rosto sem vida e me pergunto por
quê. Por que ela fez isso comigo, por que fez isso com nós dois...
Por que fez isso com ela...
— Por favor, Estella, não faz isso comigo... — imploro, sentindo um
desespero cru.
Ela não pode fazer isso comigo, não pode...
Ela é a minha vida.
Abraço seu corpo e aperto contra mim, tentando trazê-la de volta,
tentando acordar desse pesadelo.
Não pode ser real.
Não pode ser real.
Tento puxar o ar para os pulmões, mas este não vem. Um
sufocamento me toma e é seguido por uma crise de tosses. Inspiro fundo,
buscando o ar, mas não tenho sucesso. A tosse vem forte, insistente e me
tira o ar.
Eu preciso respirar.
Arrasto meu corpo até a mesinha de cabeceira ao lado da cama e
abro a gaveta, tateando para encontrar a bombinha. Fecho os olhos e puxo
três vezes, respirando fundo até finalmente aliviar a tosse.
Volto a encarar o corpo de Estella e simplesmente perco as forças.
Eu desmorono.
Grito.
Alto.
Berro.
Soco o chão com força repetidas vezes até meus punhos doerem. Mas
eles não doem mais do que o peito.
Olho para o lado e vejo o revólver, que eu mantinha no cofre de casa,
caído ao chão. Em um impulso, pego a arma e atiro-a na parede, gritando.
Não era para ser assim, não era.
— Eu te falei para não chegar perto dela, amor — minha voz sai
engasgada. — Eu te falei que era perigoso.
O pranto vem mais alto agora, fazendo-me puxar os cabelos com
força.
Dói tanto, mas tanto...
— Por quê? — grito, mas a resposta não vem. — Por que, Estella?
Por quê?
Caio sentado no chão e abraço os joelhos.
Isso não pode ser real...
Não pode ser real...
 

 
Dou um pulo na cama e o movimento assusta Ava, fazendo-a acordar
junto comigo.
— Lionel? — ela me chama com a voz sonolenta. — Está tudo bem?
— pergunta e acende o abajur ao seu lado.
Olho para o quarto, assustado, e me lembro de que acabei pegando no
sono depois de ter aceitado ficar aqui com Ava.
Sentado na cama, sinto meu corpo inteiro tremer pela lembrança que
tem me assombrado nos últimos dezessete anos. Minha respiração pesa e eu
puxo o ar para os pulmões, sentindo o peito doer.
Apoio a mão nas coxas e respiro fundo, buscando o ar que fica cada
vez mais difícil. Meus dedos tremem e tento me concentrar para evitar que
uma crise de tosse venha.
— Precisa da sua bombinha? — Ava pergunta e eu apenas balanço a
cabeça.
De canto de olho, vejo-a pular da cama e vestir uma roupa qualquer
para sair do quarto. Quando finalmente estou sozinho, fecho os olhos e
tento respirar fundo, mas a lembrança volta e me atinge tão forte, que me
faz perder o controle.
Começo a tossir, repetidamente, sem conseguir um intervalo para
respirar. Mas, para a minha sorte, Ava volta correndo e me entrega a
bombinha, onde eu puxo três vezes, buscando controlar a respiração.
Sentada ao meu lado, Ava toca o meu braço com carinho e percorre
minha pele com os dedos até que eu finalmente me acalme.
— Se sente melhor? — pergunta e eu balanço a cabeça confirmando.
— Foi um pesadelo? — indaga e apenas assinto.
Com as mãos pousadas sobre as coxas, respiro fundo mais algumas
vezes antes de erguer os olhos para Ava, que me olha preocupada.
— Desculpa ter te acordado — é tudo que eu consigo dizer e ela
apenas nega.
— Você já fez isso por mim, lembra?
Seu sorriso gentil faz meu coração bater um pouco mais calmo.
— Quer conversar? — pergunta ao ver que fiquei um longo período
em silêncio.
— Não — respondo seco e ela concorda.
— Tudo bem. Deita aqui. — Dá batidinhas no travesseiro ao seu lado
e eu franzo o cenho para ela.
— Acho que vou para casa...
— A uma hora dessas? — Aponta para o relógio e eu vejo que já
passa de nove horas da noite.
— É cedo ainda — reclamo.
— Você não está legal, Lionel. Fica um pouco, pelo menos até se
sentir melhor, e então eu te deixo ir.
Seu semblante preocupado me quebra.
— Você faz tanto por mim... — sua voz é carinhosa agora. — Me
deixa fazer um pouquinho por você.
Solto um suspiro.
Eu deveria sair deste quarto e ir para a minha casa, mas não tenho
forças. Todas as vezes que tenho esse tipo de pesadelo, eu simplesmente
perco o rumo e me sinto completamente perdido.
Acomodo-me no travesseiro e me deito de lado, de frente para ela.
Ava me olha com cuidado e ergue a mão, receosa, para tocar a minha barba.
Este mínimo contato dela me faz fechar os olhos.
Não queria que me visse assim.
Não queria que descobrisse esse meu lado.
Reabro os olhos e percebo a garota me encarando com uma
intensidade que me desarma.
Toco sua mão em meu rosto e interrompo este movimento, puxando-a
para perto de mim. Quando meu calor a envolve, sinto toda aquela sensação
ruim sumir de mim.
Beijo sua boca e a primeira reação de Ava é se agarrar em mim;
quando o faz, uma chave vira dentro de mim.
Giro nosso corpo e deito por cima dela, devorando sua boca com uma
urgência, uma necessidade carnal. Sem separar nossos lábios, desço as
mãos pelo seu corpo e levanto a camisola que ela vestiu, para encontrar sua
pele despida de calcinha.
E, caralho, eu preciso me enterrar nela de novo.
Esfrego meu pau, que já está duro feito um porrete, em sua entrada e
anseio por isso. Sem paciência para preliminares, quero apenas estar dentro
dela, e Ava parece perceber isso.
A garota abre as pernas e eleva o quadril em um convite silencioso.
Sem nenhuma cerimônia, meto dentro dela, engolindo seu gemido com meu
beijo. Aperto sua cintura com a minha mão enquanto como sua boceta em
um ritmo louco.
Não tem leveza, nem delicadeza, apenas sexo bruto. Cru, sedento,
meu quadril bate no seu e soca com força, sentindo a garota me apertar
desesperada de prazer.
Solto sua boca e desço os lábios até o pescoço, onde cravo o dente e a
faço gemer mais alto. Meu pau entra e sai de dentro dela, cada vez mais
rápido, mais forte, sentindo seu calor me engolir.
E, porra...
Como ela é gostosa.
Parece que foi feita para mim.
Meu pau tem um encaixe perfeito em sua boceta e constatar isso só
me faz aumentar a pressão, fodendo-a cada vez mais forte, mais rápido e
bruto.
— Lionel... — Ava geme o meu nome e eu meto com ainda mais
força.
Aperto seu pescoço e acelero o ritmo das estocadas, vendo-a se
desesperar contra mim. A forma como ela geme, com a voz abafada, só me
diz que está perto de gozar e eu aperto a mão, metendo mais fundo agora.
Uma onda de tremor a abraça e Ava solta um grito quando finalmente
o orgasmo a atinge, fazendo todo seu corpo convulsionar. Solto seu
pescoço, mas continuo socando forte até que eu goze também.
— Porra — rosno quando finalmente gozo e enterro meu pau tão
fundo nela, esporrando com força, que sinto meu corpo desabar.
Saio de dentro dela e rolo para o lado, quando finalmente me toco.
— Ava, você toma pílula? — pergunto e pela forma como a garota
arregala os olhos para mim, tenho minha resposta.
Porra!
Que hora maldita para esquecer uma camisinha.
— Eu posso tomar a pílula do dia seguinte — diz com a voz ofegante
e eu assinto.
— Amanhã vou pedir para comprar e te trazer.
Ava assente e me olha com um pouco de timidez.
— Você está bem? — pergunta ao tocar o vinco entre as minhas
sobrancelhas.
— É só a cabeça cheia — respondo de pronto e ela me analisa por um
momento antes de concordar. — Quer comer alguma coisa? Você não se
alimentou ainda, posso pedir o seu jantar.
Levanto-me da cama e sinto uma decepção passar pelo seu olhar.
— Não vai ficar para comer?
Balanço a cabeça negando.
— Preciso ir para casa.
Ava não disfarça o desapontamento no olhar e isso só me motiva a ir
embora. Ela não pode se acostumar com a minha presença assim.
A garota me observa me vestir em silêncio e, quando termino, acerto
os detalhes de seu jantar.
— Você vai ficar bem? — pergunta quando me vê parado na porta,
pronto para sair.
— Eu sempre fico.
Ela engole em seco antes de assentir.
— Boa noite, Lionel.
— Boa noite, Ava.
Saio de seu quarto e cumprimento Liam na porta apenas com um
aceno de cabeça. Pelo horário, o casarão está vazio e aprecio não precisar
lidar com ninguém antes de ir para casa.
Pego o maço de cigarros no bolso e acendo um para fumar enquanto
faço o trajeto até o estacionamento de carros.
E, nesse percurso, só consigo me lembrar do semblante de Ava, de
seus olhos preocupados comigo.
Essa garota ainda vai me deixar maluco.
 

 
 
— Onde está Reynolds? — pergunto a Josh Patterson, o segurança
reserva de Ava.
— Não chegou ainda, senhor.
— Até agora?
Olho para o relógio e vejo que Liam está há duas horas atrasado. Isso
me causa um sinal de alerta.
Está acontecendo alguma coisa...
Reynolds é um de meus melhores seguranças e nunca se atrasou cinco
minutos que fosse. Agora, duas horas?
— Tentaram ligar para ele? — questiono o segurança.
— Caixa postal ou desligado.
Porra!
— Vou falar com Scott.
Saio do corredor e caminho até a sala de segurança à procura do
responsável, quando sou interceptado por Mia.
— Chegou uma encomenda para você, Rossi.
Ela me entrega uma caixa parda de tamanho relativamente pequeno.
— Encomenda? De quê?
Pego o pacote das suas mãos e estranho peso. Não me lembro de ter
comprado nada deste tamanho.
— Não sei, senhor. Foi entregue por uma empresa de logística.
— E não tem o remetente? — Reviro a caixa em minhas mãos e não
encontro nenhuma etiqueta, apenas o meu nome.
E revirar a caixa faz o conteúdo dela se mexer lá dentro.
— Isso não é nada bom — constato. — Adams! — grito pelo meu
chefe de segurança, que logo aparece no pátio.
— Ainda não tive notícias de Reynolds e... — começa a falar e eu
interrompo-o erguendo a mão para ele.
— Depois vemos isso. Agora eu quero saber o que é esta encomenda
misteriosa que chegou para mim.
Ergo a caixa e Scott arqueia a sobrancelha.
— Vamos para a minha sala.
Adams toma a caixa de minhas mãos e eu o acompanho, ele a coloca
em cima da mesa. Atrás de nós, entram mais dois seguranças, sendo que um
deles é especialista em desarmar bombas.
— Quem entregou isso? — Scott pergunta e eu nego.
— Não faço ideia. Mia disse que foi uma empresa de logística que
entregou e não tem o remetente.
— James — Scott chama o segurança antibombas e aponta para a
caixa. — Será que tem uma bomba aí dentro?
O moreno abre o armário e pega o detector de metais, percorrendo
com ele cada lado da caixa, sem nenhuma identificação.
Isso me faz soltar um suspiro relaxado.
— Será que só tem papel aí? — palpito.
Observo James fazer uma inspeção minuciosa na caixa, procurando
ruídos, peso e cheiros até finalmente fazer um sinal afirmativo.
— Vou abrir — anuncia e eu sinto meu corpo se tensionar enquanto o
vejo abrir delicadamente a caixa com um estilete.
Prendo a respiração quando a tampa é suspensa e finalmente revela o
seu teor.
— Santo Cristo. — Scott arregala os olhos e eu vejo todos os meus
seguranças em choque.
Inclino o corpo em direção à caixa e a imagem que eu tenho à minha
frente me faz congelar.
Com os cabelos cobertos de sangue, está a cabeça de Liam Reynolds
de olhos abertos.
— Puta que pariu.
Viro o rosto depressa e fecho os olhos, respirando fundo.
Caralho...
— Tem mais alguma coisa nessa caixa? — pergunto, buscando uma
frieza ao ver a cabeça decepada do segurança de Ava.
Isso não pode ser coincidência.
— Tem um papel aqui nos fundos — James revela e calça luvas para
buscá-lo.
Ele desdobra o bilhete e o entrega a mim, que leio ainda em sua mão.
“Eu ainda vou buscar o que é meu.”
— Filho da mãe!
Esfrego a mão no rosto, nervoso, sentindo uma falta de ar. O cheiro
de carne podre invade o ambiente e eu sinto ânsia de vômito.
Preciso sair daqui.
Do lado de fora da sala, paro, puxando o ar para os pulmões. Recobro
o fôlego e, com ele, a minha sanidade.
Logo o susto passa, dando lugar ao ódio, à raiva.
Se Elijah pensa que a cabeça de um homem me intimida, não sabe
com quem está mexendo. Vou arrancar a de todos os dele para mostrar que
mexeu com o homem errado.
— É Rodriguez, não é? — Scott pergunta, aproximando-se de mim.
— Ele está atrás de Ava. — Viro-me para olhá-lo. — Mas não sabe
onde pisou. Vou trazer o inferno para a Terra, mas ele não encosta um dedo
nela.
Tiro um cigarro do bolso e acendo-o, puxando a fumaça com força
para os pulmões.
— Scott, junte toda a segurança, quero dois carros fazendo escolta no
veículo blindado. Vou tirar Ava daqui.
— E vai levar para onde, Rossi?
Olho para ele e puxo a fumaça mais uma vez antes de responder.
— Para a minha casa.
Dou as costas e caminho apressado até o interior do casarão, indo
rumo à sala de programação buscar a garota. Pelo caminho, ligo para
Hunter, dando ordens de tirar Amy da escola e levar para casa
imediatamente. Sei que ela vai ficar chateada, pois odeia aulas particulares,
mas não tenho outra escolha agora.
Nem fodendo que eu corro esse risco com ela.
Atiro o cigarro ao chão ainda na metade e o apago com o sapato.
Entro na sala de TI em um rompante e chamo por Ava.
— Stone! — minha voz alta a faz me olhar assustada. — Junte as suas
coisas, você vai sair daqui.
— O quê? — Ela se levanta da cadeira e arregala os olhos para mim.
— Como assim?
— Só faz o que eu estou mandando!
— Não, Lionel! Eu preciso saber...
Não tenho tempo para essa merda.
Puxo-a pelo braço e arrasto até o seu quarto, onde atiro-a.
— Faça suas malas, vou chamar Naomi para ajudar. Você sai em
quinze minutos.
— O quê? Lionel? Eu não vou sair daqui.
Esfrego a mão no rosto, impaciente.
— Porra, Ava! Faz a merda que eu estou te falando! — grito e ela tem
um sobressalto.
— Não se você não me falar o que está acontecendo! — Cruza os
braços e empina o queixo em desafio.
Teimosa do caralho.
— Reynolds foi morto — solto e vejo seus olhos saltarem.
— O quê?
— O seu segurança teve a cabeça decepada, Stone, e, se você ficar
aqui, a próxima será você.
— Lionel...
— Quer morrer, porra? — grito e ela balança a cabeça frenética. —
Então junta as suas coisas. Você tem quinze minutos. — Paro e olho para o
relógio de pulso. — Treze agora.
Viro as costas e, da porta de seu quarto, grito por Naomi, que não
demora a aparecer no corredor.
— Para onde eu vou? — pergunta com a voz trêmula.
— Para a minha casa.
Nem dou a ela tempo de resposta, quando a empregada aparece na
porta e eu lhe dou todas as instruções de que precisa. Como sei que Ava não
conhece nenhum dos empregados da minha residência, decido levar Naomi
junto para que ela não cometa nenhuma besteira.
Dou todas as ordens aos meus homens e, quando entro em um dos
carros, vejo o semblante perdido de Ava entrando no utilitário preto,
acompanhada de Naomi.
Durante o trajeto até a minha casa, penso na loucura que é levá-la
para lá, principalmente porque nunca levei nenhum estranho para minha
fortaleza, em proteção à minha sobrinha. Mas não tenho alternativa agora,
já que nenhum outro lugar é seguro para Ava.
O filho da puta do Elijah que me pague.
Ele não sabe com quem está mexendo.
Quando os três carros adentram os portões da minha mansão, salto do
veículo logo que ele estaciona. Paro no caminho de pedras e, no instante em
que desce do carro, Ava olha para tudo ao redor, ainda assustada.
— Você vai conhecer a minha sobrinha hoje — digo e sinalizo para
Naomi, pedindo que também escute. — Amy não sabe das notas frias,
vocês estão proibidas de tocar nesse assunto com ela.
Olho para as duas, que assentem em concordância.
— Para todos os efeitos, eu trabalho única e exclusivamente com os
cassinos e você — aponto para Ava — é a filha de um amigo que veio da
Califórnia e me pediu ajuda.
— Certo...
— Invente qualquer história que quiser, só não deixe que Amy saiba
da verdade.
Ava assente e eu sinalizo para elas, conduzindo até a entrada da
mansão.
Quando entramos, o som da cadeira de rodas motorizada anuncia a
chegada de Amy.
— Tio Lion? — sua voz infantil é preocupada e machuca o meu peito.
— Por que pediu ao Hunter para me tirar da aula? — Ela ergue a cabeça e
franze o cenho ao ver Ava e Naomi ao meu lado. — Quem são elas?
Abaixo-me para ficar da altura de Amy e beijo sua testa com carinho.
— Houve um tiroteio hoje no bairro da escola, coração — minto e
vejo seu semblante se assustar. — Ficou perigoso demais te manter lá.
— Nossa... Lá na escola eu não fiquei sabendo.
— Pois é... Eu só soube por um amigo policial.
— E quem são elas? — Amy aponta para as duas mulheres atrás de
mim.
— Essa é a Ava. — Ergo o dedo em direção à garota que está
encolhida. — É filha de um amigo e veio parar na cidade sozinha bem na
hora do tiroteio. Ele me pediu para acolhê-la por uns dias — revelo e
assente. — E essa é a Naomi, uma de minhas funcionárias do cassino, que
vai ajudar Dorothy a cuidar de tudo por aqui.
— Elas são legais? — pergunta em um sussurro.
— Sabe que eu jamais colocaria sua segurança em risco, não é? —
afirmo, olhando dentro de seus olhos azuis. Amy assente e volta a olhar
para elas. — Pode confiar, coração.
Levanto-me e Amy desliza a cadeira de rodas para mais perto delas
agora.
— Oi, meu nome é Amy. Muito prazer. — A pequena ergue a mão
para Ava, que no mesmo instante aceita, parecendo menos assustada.
— Muito prazer, Amy. Seu tio fala muito bem de você.
Minha sobrinha se vira para me olhar com um sorriso enorme no
rosto e, quando encaro Ava, ela está com um semblante relaxado, me passa
segurança em seu olhar.
Eu te trouxe para conhecer meu bem mais precioso, Ava.
Não me decepcione.
 

 
 
— Este é o seu quarto — Dorothy, a governanta de Lionel, me
apresenta uma suíte e eu assinto ao adentrar o cômodo.
Olho tudo ao meu redor e penso que é bem parecido com o que eu
usava na outra casa. Poucos móveis de tons claros, cortinas e roupas de
cama brancas. Tudo muito limpo e claro. Arrasto minha mala pelo quarto e
agradeço Dorothy antes de fechar a porta e ficar um pouco sozinha.
Caio sentada na cama e balanço os pés, respirando fundo e tentando
controlar a confusão em que minha mente se encontra.
Quando achei que as coisas estavam indo bem...
Não faz nem uma semana desde que Lionel surtou quando me viu
pegando uma arma e depois tivemos mais uma noite de sexo incrível. Eu
finalmente consegui me aproximar um pouco mais dele e conhecer um lado
até então desconhecido para mim.
E hoje recebo essa notícia...
Foi tudo tão rápido, Lionel me tirou às pressas do trabalho e me
empurrou para sua casa, nem tive tempo de reagir. E agora, finalmente
sozinha, eu me permito chorar.
Não só pela morte de Liam, já que ele se tornou uma pessoa próxima
a mim nos últimos meses, mas pelo que isso significa...
Soluço baixinho enquanto as lágrimas descem pelo meu rosto fazendo
meu peito doer. Se Lionel me trouxe para dentro de sua fortaleza, onde
mora com a sobrinha, é porque as coisas estão mais feias do que eu pensei.
Ele não me traria aqui à toa... Elijah com certeza deve ter lhe dado
algum recado com a morte de Liam que Rossi não quis me contar e isso me
apavora.
Logo agora que eu pensei que podia pelo menos dormir em paz...
Deus, eu nunca vou ter sossego?
Nunca vou ter paz?
O pranto vem mais forte agora e eu dobro os joelhos na cama,
abraçando o meu corpo, permitindo-me desabar. Choro de soluçar enquanto
vejo os últimos dias da minha vida se passarem na minha cabeça como um
filme e no quanto minhas escolhas erradas me trouxeram para esse inferno
particular.
Se eu não tivesse conhecido Charles...
Se eu não tivesse fugido de casa com ele...
Se minha mãe não tivesse se casado com Sebastian...
Se...
Sinto como se estivesse andando por um círculo e todas as vezes que
eu fujo em busca da liberdade, acabo voltando à minha própria prisão.
E esse é bem um resumo patético da minha vida.
Não importa por onde eu ande, por onde eu vá, nunca sairei do lugar.
Eu nunca serei livre.
 

 
— De onde você veio, Ava? — Amy pergunta sentada à minha frente
à mesa de jantar.
Mais cedo, quando cheguei aqui, eu me tranquei no quarto e fiquei lá
por horas até finalmente decidir sair e conhecer a casa de Lionel. É uma
mansão de três andares, com cômodos largos e devidamente adaptados para
a sobrinha, contando inclusive com um elevador.
Confesso que jamais imaginei que o lar de Lionel fosse assim. Tão
vivo e leve. Nem parece que aquele homem que comanda uma fábrica de
dinheiro falso mora aqui. Pude perceber também que ele é uma outra pessoa
quando está com a sobrinha. A forma carinhosa com que conversa com ela,
o cuidado que tem com a pequena, foi algo que me impressionou.
Se eu já o admirava antes, agora fica impossível não admirar ainda
mais...
Lionel Rossi é um homem misterioso, cheio de cascas e, a cada vez
que eu arranco uma dele e descubro um pouquinho que me permite
descobrir, fico ainda mais fascinada por ele. Eu não sabia que sua sobrinha
tinha uma deficiência até conhecê-la hoje e me pego pensando se é por isso
que Rossi a protege tanto.
— Vim da Califórnia para um congresso de informática — entro na
história de Lionel, já me sentindo culpada por mentir para uma garotinha
tão adorável.
— Você fez faculdade disso? — pergunta curiosa.
— Sim! Sou apaixonada por computação.
— Uau... — O semblante admirado dela aquece meu peito.
Volto a atenção para o jantar, esforçando-me para comer um pouco, e
não deixo de notar o quanto Amy é linda. A pele branca conta com algumas
sardinhas no nariz e os cabelos lisos são de um tom castanho-escuro
parecido com o meu. Mas o que me chama atenção são seus olhos azuis e
perfurantes como os de Lionel.
Amy não se parece muito com o tio, mas o olhar é totalmente dele.
— E você? Do que gosta? — pergunto quando terminamos de jantar.
Dorothy e Naomi trabalham juntas na cozinha e acabam me deixando
sozinha com a garota. O mais interessante de tudo isso é que não me sinto
desconfortável com ela.
Amy tem uma aura muito leve e é fácil querer estar com ela.
— Gosto de ler e pintar...
— Pintar? — pergunto, lembrando-me de quando Lionel me contou
sobre isso, enquanto caminho ao seu lado até a sala de TV.
— Sim! Eu sonho em cursar Artes no futuro.
— Isso sim, é “uau” — falo e ela sorri orgulhosa. — Tem alguma
pintura sua por aqui?
Amy aponta o braço em direção a uma tela no alto da parede da sala.
— Foi você que pintou? — indago surpresa.
— Sim... — consigo sentir a timidez em sua voz.
— Nossa...
Caminho em direção a essa tela e vejo uma paisagem montanhosa
com um céu de tom alaranjado.
— É lindo... — digo com sinceridade.
Ainda que seus traços sejam infantis, a pintura é de uma delicadeza
inquestionável. A garota tem muito talento.
— Tem mais alguma? — pergunto, procurando por outras telas pela
casa.
— Todas as telas que você vir espalhadas pela casa são de pinturas
minhas. Tio Lion disse que não aceita outro artista por aqui. — Ela solta
uma risadinha fofa.
Penso que um gesto assim é mesmo muito a cara de Lionel e não
deixo de notar o carinho com que fala do tio.
— Ele faz certo. Você tem muito talento, Amy.
O sorriso fofo que ela me abre me ganha. Acabei de conhecer a garota
e já me derreti por ela. Vir para casa de Lionel não foi uma má ideia no fim
das contas, porque Amy é a presença mais leve que encontrei desde que
cheguei a Las Vegas.
— Quer conhecer meu ateliê? — pergunta tímida.
— Você tem um ateliê?
Não sei por que não me surpreendo, Lionel deve dar o mundo para
essa menina.
— Sim! É no segundo andar.
— Nossa, quero muito!
Amy sorri e me guia até o elevador, no trajeto não deixo de notar o
quanto ela é habilidosa com a cadeira de rodas. Eu me pego pensando se a
usa há muito tempo, se nasceu com a deficiência ou se adquiriu depois.
Quando entramos no corredor do segundo andar, a menina me conduz
até o final dele e abre uma porta de madeira.
— Esse é o meu cantinho...
Solto um assobio ao ver o enorme espaço à minha frente. O cômodo é
amplo, largo e conta com janelas grandes que iluminam todo o ambiente.
Percebo uma porta que dá acesso a uma sacada com uma vista linda da
propriedade deles. Por todo o lugar, vejo cavaletes de madeira, paletas de
pinturas e prateleiras baixas com uma infinidade de tintas. Há tecidos, uma
diversidade de pincéis e toda a estrutura de que Amy precisa.
— Caramba...
— Eu adoro este lugar — comenta, orgulhosa.
— E com razão... É perfeito. — Não canso de olhar cada cantinho
deste lugar, maravilhada. — Todas as pinturas são suas? — Aponto para as
telas penduradas nas paredes e Amy confirma.
— Aquela foi a última que eu terminei. — Mostra uma com lírios
coloridos.
— Que linda... — elogio, vendo mais de perto.
Aproveito para observar as outras e vejo que ela gosta muito de
desenhar a natureza. Flores, montanhas e animais estão presentes em todas
as suas telas.
— São lindas, Amy — solto ao final e ela sorri.
— Obrigada. Tio Lion disse que vai montar minha própria galeria de
arte em Nova York quando eu me formar.
Sorrio ao pensar que isso é tão Lionel...
Ele parece mesmo fazer de tudo pela pequena.
— E será um sucesso — constato.
— Estou fazendo uma para ele, quer ver?
— Claro!
Amy me conduz até um cavalete com uma pintura inacabada, um leão
caminhando na selva com a cabeça erguida.
— Eu consigo vê-lo assim... — comenta orgulhosa. — Leão combina
com ele, não só pelo nome e pela tatuagem... Mas meu tio anda como se
fosse um rei, entende?
Ô, se entendo...
— Consigo entender, sim — respondo apenas. — Lionel já viu?
— Sim — conta sorrindo. — Meu tio adorou, disse que quando
estiver pronta, vai pendurar no quarto dele.
— Tenho certeza de que vai ficar linda. Você tem muito talento, Amy.
E muita sorte também, penso comigo. De ter alguém como Lionel,
que não só tem dinheiro para investir em seu futuro, como faz o melhor por
ela. Penso que nunca tive isso; por mais que tenha cursado a faculdade que
eu queria, não tive todo esse apoio que Amy tem.
— Obrigada, Ava.
Decidimos deixar o ateliê e Amy me leva até o seu quarto no andar de
cima, para me mostrar a sua outra fortaleza. Quando eu o adentro, fico
impressionada mais uma vez.
Cada móvel, cada cor, cada detalhe pensado no bem-estar de Amy.
Lionel fez um ótimo trabalho por aqui.
— Não sei qual é mais lindo, seu quarto ou o ateliê — comento e ela
ri.
— Gosto dos dois. Eu me sinto segura aqui.
— Imagino...
— Tio Lion não fica muito aqui, mas, quando não está viajando,
passa todas as noites em casa comigo.
Sua declaração me faz lembrar da noite em que insisti para Lionel
ficar mais tempo comigo e ele disse mais de uma vez que precisava ir para
casa.
Agora faz sentido...
— São só vocês dois? — Aproveito a abertura para perguntar.
— Sim. A minha mãe morreu no parto e eu não tenho um pai — suas
palavras rasgam o meu coração, mas, para o meu espanto, Amy não tem a
voz triste, pelo contrário, é bastante serena.
— Eu sinto muito — digo, sincera.
— Não faz mal. — Ela dá de ombros. — Tio Lion cuida de mim
como se fosse meu pai. — A forma orgulhosa com que fala dele me faz
sorrir.
— Ele é incrível, né?
— Ele faz tudo por mim, tenho muita sorte de ser sua sobrinha.
— Não tenho dúvidas.
E, como se nos ouvisse, Lionel surge na porta, com aquela postura
altiva que faz o meu coração dar um salto no peito.
— Atrapalho? — pergunta dando duas batidinhas na porta de
madeira.
— Eu fui mostrar o ateliê para a Ava — Amy responde. — Depois eu
a trouxe para conhecer os meus livros. — A pequena aponta para a
prateleira na parede ao lado.
— Que ótimo, coração. Já está na hora de dormir, não acha?
Meu coração derrete todas as vezes que ouço Lionel chamar Amy
assim. Como pode ser tão bruto com tudo e tão cuidadoso com ela?
— Amanhã conversamos mais, Ava. — Ela me lança um olhar
desapontado.
Pelo visto, a pequena Rossi gostou da minha companhia assim como
eu gostei da sua.
— Claro! Boa noite, Amy.
Despeço-me e saio do quarto, deixando os dois a sós. Desço de
elevador até o primeiro andar, onde está a minha suíte, e decido tomar um
banho. Pelo silêncio da casa, vejo que as empregadas já foram embora e
restamos apenas nós três.
Saio do chuveiro e visto um pijama, mas, antes de cair na cama,
decido ir até a cozinha beber água. Ando com cuidado até lá para não fazer
barulho e, quando encho o copo, a voz grossa de Lionel me assusta.
— Está bem instalada?
Dou um pulo e o movimento faz o copo em minhas mãos balançar,
derramando um pouco de água no chão.
— Que susto! — reclamo e ele apenas me encara em silêncio.
Pego uma toalha de papel e seco o chão rapidamente, vendo-o
caminhar em minha direção. Lionel também enche um copo d’água e vira
de uma vez só. Aproveito essa proximidade para reparar em seu semblante
cansado.
Ele veste sua habitual calça social preta e camisa de botão azul-
marinho, abotoada na altura dos cotovelos. Os cabelos estão um pouco
revoltos e a barba parcialmente grisalha se vê um pouco mais cheia, dando-
lhe um ar charmoso.
— Você não me respondeu ainda.
Ele apoia as mãos na bancada da pia e me olha de lado, daquele jeito
que parece me perfurar.
— Estou, sim — respondo com cuidado. — O quarto é ótimo.
Obrigada, Lionel.
Ele balança a cabeça em concordância.
— Como você está? — Atrevo-me a chegar mais perto dele e tocar
seu braço com carinho.
Lionel continua me olhando com o semblante duro, até suspirar.
— O dia hoje foi uma merda — confessa, afastando-se da bancada e,
consequentemente, do meu contato. — Mas já estou resolvendo isso.
A forma como ele fala me causa um arrepio.
Não quero nem saber como isso está sendo resolvido...
— Aqui está segura, Ava — diz, cruzando os braços e me olhando no
fundo dos olhos. — A segurança desta casa é muito mais reforçada por
causa da minha sobrinha, por isso eu te trouxe aqui.
Dou um passo em sua direção e fico mais perto dele agora. Consigo
sentir o cheiro de seu perfume misturado ao do tabaco. O semblante
cansado de Lionel me faz querer abraçá-lo e é isso que eu faço.
Ergo os braços e toco seus cabelos, vendo-o fechar os olhos por um
instante. Aproximo-me mais e ele inclina o rosto para tocar sua testa na
minha, expirando alto. Desço as mãos e toco sua face, raspando os dedos
pela barba.
Esse movimento parece tirar Lionel do eixo, porque ele simplesmente
me afasta e me pega no colo, levando-me para dentro da despensa anexa à
cozinha.
Rossi me coloca sentada na bancada e avança sobre mim.
— Aqui não tem visão das câmeras.
— Lionel... — murmuro quando o sinto se acomodar entre as minhas
pernas e avançar sobre mim.
Ele me puxa pelos cabelos e devora a minha boca, fazendo-me puxá-
lo para mais perto de mim. Minhas unhas cravam-se em seu pescoço e suas
mãos firmes sobem pela minha cintura, abaixo do pijama, sentindo-me
queimar.
Lionel ateia fogo por onde toca e eu adoro essa sensação que causa
em mim.
Sua boca abandona a minha e desce pelo meu pescoço, tirando-me
um gemido ao morder ali.
— Você não pode gemer, Ava — repreende-me com os olhos
faiscantes. — Amy não pode nos ouvir.
Meu peito sobe e desce descompassado quando assinto e ele volta a
atacar o meu pescoço. Aperto-o mais contra mim e, quando suas mãos
tocam os meus mamilos, eu mordo o lábio com força para não gemer.
Como vou conseguir ficar em silêncio com as mãos de Lionel em
mim?
— Lionel... — sussurro quando ele levanta a minha blusa para chupar
os meus peitos.
A sua língua circula a auréola e, quando ele mordisca e belisca o meu
mamilo, eu o afasto de mim.
— Não vou conseguir me segurar — comento e ele sorri de lado,
sacana.
— Vai, sim — a firmeza em sua voz faz meu corpo se estremecer.
Penso que Lionel vai voltar a atacar meus seios, mas ele me
surpreende desafivelando o cinto da calça e abrindo a peça apenas para
retirar o membro rijo.
Meu coração se acelera em expectativa, quando o assisto se masturbar
e afastar o meu short larguinho junto com a calcinha, para correr o dedo em
meu sexo.
— Molhada assim, Stone?
Eu nem tenho tempo de reagir, quando me abraça pela cintura e me
puxa para a borda, penetrando-me de uma só vez.
— Lion... — Ele engole o meu gemido em um beijo insano, frenético,
enquanto seu pau faz um vai e vem dentro de mim.
Eu o agarro pelos cabelos e intensifico o beijo, as línguas se
encontrando e se perdendo em um ritmo similar ao de nossos quadris. Com
a boca atracada na minha, Lionel me impede de gemer e o fato de não
podermos fazer barulho só deixa tudo mais excitante por aqui.
Sem afastar nossos lábios, ele acelera o ritmo das estocadas, socando
um pouco mais forte agora, e é impossível não fazer nenhum barulho.
O som dos corpos embrenhados em uma sinfonia louca ecoa por toda
a despensa. Espero que a acústica desta casa seja boa o bastante para não
chegar aos ouvidos de Amy.
— Lionel... — sussurro quando ele finalmente abandona meus lábios
e fica a centímetros de mim, olhando dentro dos meus olhos enquanto me
fode nesta bancada de mármore.
Lionel Rossi não diz uma palavra, mas nem precisa.
Seus olhos dizem tudo.
O aperto de suas mãos em meu corpo também me mostra o quanto ele
está louco de tesão. O esforço sobrenatural que faz para não fazer um
barulho dos infernos neste lugar.
Olho para o ponto que nos une e acompanho o seu pau entrar e sair da
minha boceta em um ritmo louco, fazendo-me morder os lábios mais uma
vez para conter os gritos.
É tão gostoso...
Tão intenso...
Tão...
— Você fode a minha cabeça, Stone — murmura ao puxar meu
pescoço com força me obrigando a olhar em seus olhos.
Com a mão presa em minha mandíbula, Lionel me mantém cativa,
impedindo-me de olhar para qualquer lado, senão em sua imensidão azul.
Rossi continua me comendo com força, sem tirar os olhos de mim. E
a forma como me olha me hipnotiza.
Ele me olha como se o mundo ao nosso redor não mais existisse,
como se tudo tivesse se desintegrado e restássemos apenas nós dois.
Aqui.
Nesta despensa.
Com os corpos unidos em um ritmo insano.
Quando suas mãos descem e apertam o meu pescoço, ele causa aquele
sufocamento delicioso e aumenta o ritmo das estocadas, metendo mais forte
agora, mais bruto, em um sinal claro de que vai gozar.
E eu sei que é questão de segundos para que eu me desmanche
também...
Sua pressão aumenta e os primeiros tremores me atingem, fazendo-o
socar mais forte agora, como um louco, até seu corpo inteiro tremer contra
o meu.
E então o clímax nos atinge.
Os dois.
Ao mesmo tempo.
Forte.
Bruto.
Intenso.
Lionel solta o meu pescoço e apoia a cabeça em meu ombro,
enquanto goza forte, segurando-se para não gemer alto. Sinto-o se derramar
dentro de mim e seu calor me envolver.
E uma sensação de pertencimento toma conta de mim.
Como se este fosse o meu lugar.
Como se não existisse mais nenhum outro onde quisesse estar.
É uma loucura sem tamanho pensar assim, mas não consigo evitar.
E a forma como Lionel respira, ofegante contra o meu corpo, me diz
que não sou só eu que estou me sentindo assim.
Me diz que ambos estamos à beira do precipício.
Só esperando pelo momento certo para pular.
 

 
 
— Rossi — Samuel se anuncia, adentrando a minha sala ofegante.
— Alguma novidade para mim? — pergunto ansioso.
Desde que Liam foi morto, coloquei meu informante para ficar na
cola de Elijah e me conseguir informações privilegiadas. Samuel King
trabalha para mim, infiltrado na propriedade do meu rival, prestando
serviços de jardinagem, e tem passe livre lá. Ainda que não trabalhe todos
os dias, é meu ouvido naquele lugar.
Um cara fora de qualquer suspeita.
Uma pena que não tenha previsto a morte de Reynolds, já que o filho
da puta tramou tudo logo no dia em que Samuel não estava por perto.
— Consegui detalhes da sua próxima entrega fora da cidade.
Um sorriso presunçoso me abre.
Gostei disso.
— Quando?
— Pelo que eu ouvi, será amanhã — revela e meus olhos brilham.
Desencosto-me da mesa e caminho em sua direção, interessado.
Amanhã é perfeito.
— A que horas?
— Três da tarde. Eles têm um ponto de encontro próximo ao deserto.
— E você sabe a localização?
Samuel tira um papel do bolso com as coordenadas e me entrega.
Analiso a informação com cautela e percebo que calhou de ser perto do
galpão dos russos.
Sorrio de lado.
Eu não poderia ter mais sorte.
O Universo finalmente está ao meu favor.
— Sabe quantos homens irão? — indago e Samuel coça a barba
pensativo.
— De Rodriguez são cerca de sete. Dos clientes dele, não sei te
informar.
— Não deve ser um número muito maior do que esse... — comento,
esfregando a barba.
Samuel me passa as últimas informações que conseguiu e eu logo o
dispenso, chamando por Scott. Precisamos montar um plano de ação
urgente.
— Me chamou, Rossi?
O chefe de segurança adentra a sala e me pega andando em círculos.
— Precisamos armar uma emboscada para Elijah amanhã — comento
e vejo seu semblante se iluminar.
Adams está com sangue nos olhos desde que perdeu um de seus
melhores homens.
— Samuel descobriu alguma coisa?
Conto a ele tudo que King me trouxe e já começamos a montar uma
estratégia de ataque para amanhã. Pelo horário, conseguimos levar a equipe
de segurança reserva que sempre temos de prontidão.
Todos os meus homens, junto com o armamento novo que Fitzgerald
trouxe, vão dar conta do recado.
Mas claro, não sem contar com uma mãozinha dos russos...
Tiro o celular do bolso e disco para o advogado da Bratva e
intermediário dos negócios.
— Ruslan — cumprimento, logo que o russo atende à ligação —,
preciso dos seus serviços...
Passo os próximos minutos alinhando com ele tudo o que pensei para
o ataque de amanhã e vejo que tem ideias ainda melhores. Acertamos todos
os detalhes e, quando encerro o telefonema, meu coração bate acelerado no
peito.
— Vamos causar uma guerra em Vegas. — Olho para Scott, que
balança a cabeça.
— Foda-se! Ele matou um dos meus melhores homens. Que arque
com as consequências.
A firmeza de Scott me faz ter uma absoluta certeza:
Isso está só começando.
— Precisamos descobrir quem entregou a Rodriguez que Ava está
conosco — digo baixo, indo até a porta para fechá-la.
— Acha que é algum de nossos homens? — Scott me encara
preocupado.
— É alguém daqui de dentro, Scott. Ava nunca sai dessa propriedade.
O moreno fica pensativo, me encarando enquanto ando em círculos
pela sala.
— Vamos ficar alertas a tudo — aviso. — Até que se prove o
contrário, todos são suspeitos neste lugar. Vou pedir a O’Connell para
investigar isso para mim. Até lá, te quero de olho em todo mundo.
— Deixa comigo, Rossi.
Assinto, tirando um cigarro do bolso para acender e dar uma tragada.
— Liam perdeu a cabeça, se há um traidor entre nós, eu quero a dele
também.
Olhando para o jardim pela janela, sinto meu corpo tremer por pensar
que há um traíra entre nós.
Esse é outro que vai pagar por ter mexido comigo.
 
 
— Eles chegaram — Scott avisa, entregando-me os binóculos para
que eu consiga ver a imagem.
Próximo à rodovia que corta o deserto, os capangas de Elijah descem
do carro e encontram outros homens para entrega dos malotes. Quando
estes trocam as primeiras palavras, sinalizo para Scott dar o comando.
— Agora! — ele fala no rádio e então os jogos começam.
Consigo ver o exato momento em que surgem carros pretos de todos
os lados, levantando poeira, como em uma cena de filme. Em tempo,
corremos para entrar no carro e, no mesmo instante, Donald acelera o
veículo, dirigindo até o ponto de encontro.
A troca de tiros corre solta no local e eu agradeço por ter renovado
meu armamento. As armas mais potentes que Scott comprou de Fitzgerald
têm ótima serventia agora.
Somos recebidos por tiros no pneu e meus homens atiram através da
janela enquanto o veículo rodopia pela areia. Abaixo a cabeça quando vejo
uma bala surgir na fresta da janela aberta e, por sorte, não sou atingido.
Os tiros só param quando todos foram atingidos, com exceção de um.
A ordem foi clara: “Preciso de apenas um capanga de Elijah vivo”.
Quando a porta do meu carro é aberta, um soldado russo me recebe
com um aceno de cabeça. Ergo o corpo e noto o silêncio do local, onde
finalmente desço do veículo e piso na areia.
O sol é escaldante e sou recebido pela alta temperatura do deserto.
Mas não é só o clima que me faz transpirar, o fogo também percorre as
minhas veias.
— Seis cabeças, Rossi. — O russo aponta para um de seus soldados,
que está terminando de arrancar a cabeça dos homens de Elijah com uma
foice.
A cena diante dos meus olhos me faz sorrir.
Se Rodriguez pensou que me assustaria com apenas uma cabeça,
imagino sua reação ao dar de cara com essa carnificina.
Debaixo do sol quente, os corpos caídos dos outros homens compõem
o cenário perfeito. O sangue fresco escorre pela areia e se entranha no solo,
marcando todo o ambiente.
É uma cena bonita de se ver.
Espero mesmo que, depois dessa, Elijah saiba com quem está
mexendo.
Passeio pelos corpos e não resisto a chutar todos eles, conferindo se
estão mortos. E, quando chego ao final, encontro o último homem que está
amarrado de joelhos, tremendo de medo.
— Diga-me... Qual é o seu nome? — pergunto, analisando o rosto
ensanguentado da surra que levou.
Os olhos estão inchados e o nariz provavelmente, quebrado, marcado
pelo filete de sangue.
— Ethan... — começa a falar e engole a saliva, fazendo uma careta de
dor. — Ethan Miller.
— Então, Miller... Trabalha há quanto tempo para Rodriguez? —
minha voz é calma, mas os olhos do homem são de puro pavor.
— Cinco anos.
Balanço a cabeça e tiro os óculos de sol, encaixando-os na gola da
camisa.
— E alguma vez, Miller..., você já viu uma cena dessas? — Faço um
gesto circular com os dedos e vejo o rapaz negar rapidamente.
O cara é novo, não deve ter nem trinta anos e já escolheu trabalhar
para esse bosta.
Aproximo-me mais dele, inclinando o corpo, e puxo seus cabelos
sujos de sangue, fazendo-o olhar para mim.
— Você não vai morrer hoje, Miller, porque eu preciso de você vivo
para dar um recado para mim — aviso e o homem balança a cabeça em
concordância.
Com seus cabelos presos na mão, giro sua cabeça e o faço olhar na
direção da areia, onde as seis outras, cujos olhos foram arrancados, estão.
Os filhos da puta dos russos sabem fazer um bom trabalho.
— Aquilo ali não é nada perto do que eu vou fazer se Elijah chegar
perto do que é meu — alerto, dando um tranco em seus cabelos, vendo-o
gemer antes de assentir. — E avisa que quem mandou dizer isso é Lionel
Rossi.
Solto seus cabelos e empurro seu corpo, que se desequilibra e cai no
chão. Dou um chute em sua costela e o infeliz urra de dor.
— Está dado o recado.
Cuspo em seu rosto e viro as costas, indo ao encontro dos meus
homens que me esperam próximo ao carro.
— Deixem que apodreçam aí. — Aponto com a cabeça para os corpos
no chão. — Elijah vai adorar reencontrar seus amigos — debocho.
Quando o guincho acionado por Scott chega para recolher os veículos
danificados, nós entramos no carro intacto para fazer o trajeto de volta a
Las Vegas. Pelo caminho, minha mente fervilha e eu penso em todas as
possibilidades que envolvem uma retaliação de Elijah.
O inferno nos aguarda.
Rodriguez começou uma guerra e eu tenho que estar um passo a sua
frente para conseguir vencer essa batalha.
Pego o telefone no bolso e marco uma reunião de emergência com o
conselho em meu escritório em uma hora. Não posso perder tempo, já que
todos os meus negócios correm perigo agora. Mais do que nunca, preciso
reforçar a segurança em todas as minhas propriedades.
Penso em Amy e Ava em minha casa e em como tenho que ter um
cuidado absurdo com elas agora.
Elijah conhece o meu ponto fraco.
E não vou deixar que ele chegue perto delas.
Nem que para isso eu tenha que colocar toda Las Vegas abaixo de
chamas.
 

 
Um mês depois
 
Levanto-me da cama e fecho os olhos, sentindo uma costumeira
vertigem. Já faz uns dias que eu venho tendo essa tontura pela manhã e,
mesmo que eu não me levante bruscamente, ela vem forte. Respiro fundo
algumas vezes e, quando me sinto melhor, decido ir até o banheiro da suíte
para tomar um banho quente.
Quando o vapor me abraça, sinto tudo girar mais uma vez. Encosto a
cabeça no azulejo e respiro fundo, negando-me a acreditar.
Desde que minha menstruação não veio na semana passada, um sinal
de alerta ecoou dentro de mim. Prefiro acreditar que é o meu medo e todo
estresse que enfrentei nas últimas semanas que causou esse atraso.
Já faz pouco mais de um mês que estou instalada na casa de Lionel,
sem acesso à rua. Eu trouxe meu laptop para trabalhar de forma remota e é
o que tem me distraído enquanto Amy se dedica aos estudos. Em nosso
tempo livre, acabamos ficando bastante juntas e desenvolvi um carinho
enorme por essa garotinha.
Uma pena que minha estada por aqui seja temporária...
Não sei quando vou voltar para a fábrica, porque, desde que cheguei
aqui, Lionel não toca mais no assunto comigo. Ele sempre chega tarde do
trabalho e passa toda a sua folga com Amy; quando isso acontece, deixo-os
ficarem a sós.
Não faço parte dessa família e não há motivo para que eu participe do
momento dos dois.
Sou apenas uma intrusa, alguém que está aqui só de passagem...
Não sou nada deles...
Desligo o chuveiro e puxo a toalha para me secar. Visto uma roupa
leve e saio do quarto para tomar o café da manhã.
— Bom dia, Ava — Amy me cumprimenta logo que entro na cozinha.
O sorriso que ela me abre acalma o meu coração.
— Bom dia, Amy. Dormiu bem?
A garotinha apenas assente antes de levar uma colherada de seu cereal
com leite à boca. Ainda de pé, sirvo-me de uma xícara de café e, logo que
sinto o cheiro, tudo dentro de mim se revira.
Ah, não...
— Ava? — Naomi chega perto de mim e toca meu ombro. — Está
tudo bem?
Apenas assinto e bebo um gole do café. Mas, no instante em que a
bebida quente desce no meu estômago, sei que não estou nada bem.
É só café...
Por Deus...
O meu maior erro é insistir em beber mais um pouco, o café volta
com tudo e eu preciso correr em disparada até o meu quarto. Escancaro a
porta da suíte e me jogo no chão, caindo de joelhos para vomitar.
Abraço o vaso sanitário e sinto meu corpo inteiro tremer enquanto o
vômito vem forte, levando embora o que restou do jantar de ontem. Quando
finalmente cessa, caio sentada ao lado e abraço o meu corpo, desatando a
chorar.
Não acredito que isso está acontecendo comigo...
Logo comigo...
Caramba, eu tomei as pílulas no dia seguinte! Todas as vezes. Então
por que deu errado?
Mais lágrimas descem e eu só consigo pensar que Lionel não vai
reagir nada bem. É muito provável que pense que eu fiz de propósito, que
não tomei as pílulas e...
— Ava? — a voz de Naomi me faz erguer os olhos e encontrá-la na
porta do banheiro. — Está passando mal?
Apenas balanço a cabeça e ela se abaixa para tocar o meu rosto.
— Naomi — chamo com a voz trêmula. — Você consegue ir até a
farmácia?
Quando franze o cenho para mim, a empregada demora uma fração de
segundos para compreender.
— Ah, Ava...
— Por favor, não conte a ninguém. Eu preciso ter a certeza antes.
— Mas preciso de um motivo para sair daqui...
— Diga que adoeci, isso não é mentira. E que precisa comprar soro
para mim.
Naomi me olha preocupada e passa a mão nos cabelos.
— Não sei se vão me deixar sair...
— Por favor, Naomi — imploro. — Invente qualquer coisa, só me
traga um teste.
A mulher parece pensar por um momento antes de assentir e sair do
banheiro, deixando-me sozinha. Acabo entrando no chuveiro de novo para
me limpar e controlo a vontade de fazer xixi. Não vou desperdiçar minha
urina assim.
Visto um vestido soltinho e me sento na cama, esperando
ansiosamente pela volta de Naomi. Parece demorar uma eternidade, quando
a empregada retorna ao meu quarto com um saco pardo nas mãos.
— Eu odeio mentir — resmunga antes de me entregar o pacote.
— Mas é por uma boa causa.
Puxo-a em um abraço e ela faz uma careta para mim.
— Quer ficar sozinha? — oferece e eu nego.
— Não, prefiro que fique aqui. Me espera um pouquinho? — peço e
ela assente, sentando-se na beirada da cama.
Vou até o banheiro e abro a embalagem, lendo as instruções no rótulo.
Meus dedos estão trêmulos quando eu posiciono o potinho para fazer xixi e
coloco-o sobre a bancada de pedra para mergulhar o palito.
Meu coração bate acelerado enquanto espero o tempo indicado para
finalização do teste. Ando em círculos dentro do banheiro e chamo a
atenção de Naomi, que se levanta para vir ao meu encontro.
— E aí?
— Ainda não olhei.
Balanço a mão e mordo a pontinha do dedo.
— Quer que eu olhe para você?
— Quero. — Naomi anda em direção ao exame e eu a impeço,
segurando-a pelo braço. — Espera! Não sei ainda.
— Ava... Não é melhor que veja logo e tenha a resposta?
— Mas e se der positivo? — minha voz falha só de cogitar essa
possibilidade.
Isso não pode acontecer.
Precisa ser negativo.
Precisa ser negativo.
— Independente da resposta, é melhor saber logo.
Olho para ela e assinto, encorajando-a a continuar.
Fecho os olhos e respiro fundo, balançando os braços.
Precisa ser negativo.
Precisa ser negativo.
Repito o mantra incontáveis vezes até ouvir a voz de Naomi me
chamar.
Abro os olhos e ela me ergue o palitinho com as duas listras
marcadas.
Positivo.
E é neste momento que eu sinto meu mundo desabar.
 

 
 
Viro meu corpo de um lado para o outro na cama, mas obviamente o
sono não vem. E eu nem sei se em algum momento virá.
Desde que recebi a notícia da gravidez, fiquei tão desolada que não
saí deste quarto para nada. Pedi a Naomi que guardasse meu segredo e fingi
estar com uma virose, dessa forma ninguém veio me incomodar. Quando
Lionel chegou em casa, ouvi sua voz de trovão e mais uma vez comecei a
chorar.
Não há um minuto deste dia que eu não passe chorando.
Eu só consigo pensar que ele vai me matar.
Que vai interpretar tudo errado.
Que ele vai querer abortar.
A minha mente borbulha e eu só consigo pensar em todas as piores
possibilidades quando Lionel receber essa notícia. Não consigo visualizar
um cenário em que ele fique feliz com a descoberta da gravidez de uma
garota que mantém prisioneira porque é alvo de seu inimigo.
Por Deus...
Pouco tempo que conheço Lionel e já carrego um filho em minha
barriga...
Um filho...
Puta merda.
Ele vai me matar.
Agarro o travesseiro com força e mais uma vez o pranto vem. Eu não
consigo pensar com clareza, não consigo pensar em uma forma de contar a
Lionel.
Como eu posso fazer isso?
Se não temos um relacionamento, se não somos nada um para o
outro...
Como eu chego para Lionel e conto uma notícia dessas?
Penso se abortar não seria a melhor solução, mas não posso fazer isso
sem contar a ele. Não posso tomar esse tipo de decisão sozinha.
Aperto os olhos com força e fungo baixinho, tentando colocar a
cabeça em ordem, mas acabo falhando miseravelmente.
De todos os desafios que já encontrei, esse sem dúvidas é o pior de
todos eles e eu me sinto completamente perdida.
 

 
 
— Não está gostando da comida, Ava? — Amy me pergunta e eu ergo
os olhos para ela.
Nem percebi que estou remexendo o prato de filé com legumes, sem
trazer uma garfada à boca.
— Não é isso... Ainda estou um pouco enjoada da virose — minto.
Além dos enjoos vindos da gravidez, eu perdi totalmente a vontade de
comer desde que recebi a notícia, porque não consigo pensar em outra
coisa. Ainda não encontrei uma forma de contar a Lionel, principalmente
em um momento tão complicado de sua vida.
O problema é que mesmo que eu conte com todo jeitinho do mundo, a
notícia não vai deixar de ser uma tragédia. E eu não faço ideia de como
reagirá a isso.
— Está tomando os remédios? — Amy pergunta cuidadosa e eu
assinto.
— Estou, sim — minto mais uma vez. — Logo estarei boa.
No canto da cozinha, vejo Naomi me encarar com o semblante
franzido. Desde que descobri a gravidez, há dois dias, a empregada tem
insistido para que eu conte a Lionel.
Ela não para de falar que ele precisa saber.
E eu concordo, porém não faço ideia de como farei isso.
Desisto de tentar comer e empurro o prato, quando Naomi chega e
coloca uma maçã na minha mão.
— Coma, menina — pede, com o semblante preocupado. — Você
precisa se alimentar.
Consigo ver em seus olhos que não está pensando apenas em mim,
mas no bebê que eu carrego no ventre. Então apenas aceno antes de pegar a
fruta e me obrigar a comê-la, mesmo que meu estômago se revire por isso.
Observo Amy terminar de almoçar para só então me levantar da
mesa.
— O que você vai fazer agora? — ela me pergunta curiosa.
— Pensei em ir para o quarto tirar um cochilo...
— Posso te mostrar a pintura que eu fiz para o tio Lion antes?
Terminei hoje cedo.
— Claro! Vou adorar!
A garotinha sorri antes de guiar sua cadeira pelos corredores em
direção ao elevador e juntas subimos para o segundo andar. Ao chegarmos,
sigo Amy até o seu ateliê.
Ao abrir a porta, a primeira coisa que eu vejo é o cavalete com a
pintura que ela fez pensando em Lionel.
— Amy... Ficou incrível!
Dou alguns passos na direção da tela e contenho a vontade de tocá-la
de tão linda que é. Os tons de verde e marrom que se misturam, as árvores
que parecem se balançar, a sombra do leão em cada passo que ele dá...
— Uau!
— Gostou mesmo? — ela pergunta orgulhosa.
— Eu amei! Seu tio vai ficar louquinho quando vir.
— Eu gosto de pintar pensando nele — comenta. — Ele faz com que
eu me sinta especial.
— E você é especial — afirmo, virando-me para ela. — E muito
talentosa também. Queria eu ter o seu dom...
— Mas você é a fera do computador — constata, dando de ombros.
— Isso também é legal.
Sorrio para ela e me aproximo para tocar os seus cabelos em uma
carícia lenta. Amy me olha grata e eu penso no quanto essa garotinha é
carente. Por mais que Lionel faça de tudo pela sobrinha e que Dorothy seja
uma grande companheira dela, na maior parte do tempo a menina está
sozinha.
Fico pensando em como deve ser difícil para uma criança crescer sem
a mãe. Amy nunca conheceu a sua e me pego pensando até onde isso faz
falta em sua vida.
Afasto-me dela e vou até a sacada do ateliê, abrindo a porta de vidro
para me acomodar na poltrona. Amy me segue e para sua cadeira ao meu
lado, admirando a mesma paisagem que eu.
— Aqui é lindo, né? — comenta e eu assinto.
— É perfeito...
Abaixo de nós temos a visão de toda a propriedade dos Rossis e uma
boa parte de Las Vegas. Dentro desses muros, além da mansão, há uma área
de piscina linda, um enorme jardim e quadras de esportes. Em algumas
ocasiões, já vi Lionel jogando tênis com Amy e a cumplicidade dos dois é
algo lindo de se ver.
Penso em como ela receberia a notícia do bebê que está a caminho...
E isso me faz suspirar.
— Acho que vou me deitar um pouco agora — anuncio e não posso
deixar de perceber um vislumbre de tristeza passar em seu semblante.
— Ah... Depois você volta para a gente conversar mais? — pede e
meu coração se aperta.
Desde que Lionel a proibiu de voltar para as aulas presenciais, Amy
me confidenciou que tem sentido falta de conversar com as amigas da
escola. Eu entendo toda a preocupação de Rossi, mas não posso deixar de
notar o quanto isso a prejudica.
Espero que tudo se resolva logo para que a pequena volte a ter paz.
Eu já não tenho solução mesmo, mas a garota merece um pouco de
normalidade na vida.
— Pode deixar. Assim que acordar, te procuro.
Seu sorriso sincero derrete o meu coração.
— Bom descanso, Ava.
Aceno para ela e deixo o ateliê, descendo para o meu quarto. Quando
finalmente estou sozinha, arrasto-me até a cama e me jogo nela, fechando
os olhos por um instante.
Abro a gaveta da mesinha de cabeceira e pego o palito cor-de-rosa,
pensando mais uma vez no quanto a minha vida deu um giro de 180 graus
desde que voltei a Las Vegas. Tornei-me prisioneira do inimigo do homem
que eu mais temo e acabei me envolvendo com ele...
Não só envolvendo, como gerando um filho...
Caramba, Ava.
Fico um tempo parada olhando para as duas listras no palito enquanto
minha mente vaga longe.
Guardo-o de volta na gaveta e abaixo a mão até a barriga, acariciando
de leve.
— Oi, bebê — falo baixinho, para que ninguém me escute. — Ainda
estou com medo... — confesso, controlando a vontade de chorar. — Ainda
não sei o que vai acontecer conosco...
Fecho os olhos por um momento e tento pensar no meu futuro, mas
tudo que encontro é uma gigantesca interrogação. Eu me conformei em não
ter perspectiva de vida, mas o maior problema é que não estou mais sozinha
nessa. Agora tenho uma vida crescendo dentro de mim e em breve ela
chegará a este mundo ao qual eu não pertenço.
— Mas prometo que não vou desistir de você. — Volto a acariciar o
meu ventre. — A mamãe ainda está um pouco assustada — minha voz é um
sussurro agora. — Mas prometo que vou achar uma solução para nós dois.
Deito-me de lado na cama e fecho os olhos, tentando pensar em um
plano B, para o caso de Lionel não querer este filho.
Só de pensar nisso, já sinto algo ruim dentro de mim, mas sei que não
é algo impossível...
Uma lágrima solitária me escorre e, mais uma vez, eu me sinto
completamente perdida.
 

 
Ouço passos firmes atrás de mim e imediatamente minha barriga gela,
ao reconhecer quem é. Tenho evitado encontrar Lionel nos últimos dias e
me escondido no quarto, mesmo sabendo que não conseguiria fazê-lo por
muito tempo.
Prova disso é vir para a cozinha pegar um copo de suco de laranja e o
dono da casa se materializar atrás de mim.
— Ainda passando mal? — sua voz grossa é firme e me faz
estremecer.
Viro-me lentamente apenas para encará-lo e sentir o meu coração dar
um salto no peito.
Lionel Rossi é lindo.
Nunca vou me cansar de dizer isso.
Hoje ele usa camisa social preta abotoada nos pulsos e calças da
mesma cor. O semblante sério, com aquele vinco no centro da testa, dá um
ar imponente e lindo a ele.
Esse homem chega a ser absurdo de tão bonito.
— Estou melhor — respondo, abaixando o olhar para o copo em
minhas mãos. — Apenas um pouco fraca.
Bebo mais um gole de suco e percebo-o andar em minha direção.
— Amy me disse que você não está comendo bem — diz sério e eu
engulo em seco. Mas que pilantrinha! — Quer que eu chame um médico?
— Não! — respondo de pronto e minha reação o faz arquear a
sobrancelha. — Não precisa, eu já estou melhor. Meu estômago ainda está
enjoado dos dias sem comer direito, mas logo passa.
Vejo Rossi me analisar por um instante antes de finalmente assentir.
— Se precisar de alguma coisa, é só pedir.
— Eu sei. Obrigada.
Ele passa por mim e abre a geladeira, buscando alguma coisa para
comer. Fico parada pensando se deveria voltar para o meu quarto e
continuar dormindo, já que é tarde da noite, ou se fico mais um pouco aqui.
— Você jantou? — pergunta tirando da geladeira as sobras do jantar
que Dorothy preparou.
— Não — admito.
Lionel pega a embalagem e coloca no forno micro-ondas para
aquecer. Em seguida pega dois pratos no armário. Ele coloca sobre a
bancada da cozinha e tira a caixa de suco da geladeira.
Sento-me à banqueta no instante em que o forno apita e Lionel coloca
a embalagem ao centro, sentando-se ao meu lado. O cheiro do seu perfume
me invade e eu fecho os olhos por um instante, apreciando o momento.
Sirvo um pouco de carne e batatas no prato e ele também o faz,
colocando bem mais do que eu.
— Como estão as coisas na fábrica? — pergunto ao notar que ficamos
por um tempo em silêncio.
— Já começamos a realizar os testes no papel-moeda.
— Jura? E está dando certo?
— Parece que sim — comenta antes de levar um pedaço de carne à
boca. — Mas eu só vou comemorar quando tiver a primeira nota nova
impressa em mãos.
— Sinto falta de trabalhar lá... — Suspiro.
É bem verdade que eu tenho trabalhado bem pouco desde que vim
para cá. Ainda que eu possa fazer o acesso remoto, há dias em que eu não
tenho quase nada para fazer. E lá eu tinha pelo menos mais gente com quem
conversar.
— Não pode voltar agora — ele me corta. — Não até que tudo esteja
resolvido.
— Eu sei. — Relaxo os ombros pesarosa. — É só que... — começo a
falar e desisto.
Lionel se vira para me olhar com o semblante indecifrável.
— O quê?
— Deixa para lá.
— Fala, Stone — a forma firme como fala causa um alvoroço em
mim.
Se há uma coisa que eu sempre admirei em Lionel é como ele nunca
vacila na voz, nunca fraqueja.
— É que estou um pouco cansada — confesso e ganho sua atenção.
— Eu fico sempre pulando de lugar em lugar, sem pertencer a nenhum.
Corto um pedaço de carne e engulo, sentindo Lionel me perfurar com
o olhar.
— Não está gostando de ficar aqui?
— Não, não é isso — rebato. — Sua casa é incrível, Lionel, mas é a
sua casa. — Viro-me para encará-lo. — Não a minha — completo.
Lionel me olha por um instante e parece entender, quando volta a
comer o seu jantar, até que termine. Faço o mesmo e logo me levanto da
banqueta, indo até a pia para lavar o prato.
Quando termino, encontro Rossi me encarando de braços cruzados.
— Eu vou dar um jeito nisso, Ava — diz e eu arqueio a sobrancelha
para ele. — Vou te devolver a liberdade, só preciso resolver alguns assuntos
antes.
O jeito com que fala me faz engolir em seco e eu abro a boca para
responder, mas Lionel sai da cozinha, deixando-me a sós.
Respiro fundo e olho para o cômodo ao meu redor, sentindo um vazio
tomar conta de mim.
Suas palavras ecoam a minha alma e, mesmo que eu saiba que posso
confiar nele, sinto que não será tão fácil assim.
Algo dentro de mim me diz que nunca mais serei livre.
 

 
 
Elijah Rodriguez está quieto demais.
E isso não é um bom sinal.
Desde que lhe mandei o recado, o cara não deu nenhum passo em
falso. Samuel me diz que ele tem agido como se nada tivesse acontecido e
isso me preocupa. Ainda que eu tenha reforçado a segurança da minha casa
e aqui da fábrica, preciso estar em alerta a cada passo que Elijah der.
Também não tivemos avanços na busca pelo traidor. Por mais que
O’Connell esteja de olho em todos os passos dos funcionários e pessoas que
transitam esse lugar, ainda não me trouxe novidades. É muita gente para
vigiar e eu sei que não será algo rápido de ser solucionado.
O problema é que, quanto mais demora, é mais tempo tendo um
informante de Elijah debaixo do meu teto.
Amy tem reclamado muito de fazer aulas em casa e, mesmo que não
haja a mínima chance de ela voltar à escola nessas circunstâncias, me dói
lhe negar algo de que goste muito. Mas, em contrapartida, me conforta
saber que fez amizade com Ava, as duas têm feito companhia uma para a
outra. Não planejei apresentar minha sobrinha para ela dessa forma, porém
não tive outra escolha.
Eu dei a minha palavra a Ava de que a manteria segura e vou cumpri-
la até o final.
Esse tempo de silêncio de Rodriguez tem me feito pensar em várias
possibilidades caso haja uma retaliação. Estou me preparando para tudo e
não me importo de atear fogo em Las Vegas para garantir a segurança das
meninas.
Giro o copo de uísque nas mãos enquanto olho para o quadro de Amy
pendurado na parede do meu escritório. Esse é só um dos muitos que eu
tenho e sei que, daqui a alguns anos, valerão uma fortuna. Eu não vou
descansar até que minha sobrinha realize seu sonho de se tornar uma artista
mundialmente famosa.
Viro o resto da bebida de uma vez e pouso o copo na mesa,
levantando-me para dar uma volta na propriedade. Aproveito que hoje o dia
está relativamente tranquilo e vou direto para o galpão, sentindo um orgulho
por as coisas finalmente estarem chegando aos eixos.
Em pouco tempo, já entregaremos os primeiros malotes de notas frias
e é quando eu tenho que tomar ainda mais cuidado. Sei que corro grandes
riscos de sofrer algum ataque de Rodriguez, principalmente para roubar a
minha carga, já que ele continua na estaca zero porque não tem Ava para lhe
gerar os arquivos.
E pensar nisso me faz sorrir.
O cara deve estar puto de ódio por eu estar um passo à sua frente e sei
que é questão de tempo até que seus clientes também me procurem. Tão
logo a notícia de que estou entregando a nova moeda se espalhe, todos virão
atrás de mim e assim eu quebrarei o seu negócio.
Mas, como sei que ele não vai deixar isso barato, tenho me preparado
para tudo. Um passo em falso de Elijah e acabarei com a sua pele.
Confiro os últimos ajustes da produção e decido ir para casa um
pouco mais cedo hoje a fim de compensar Amy. Sei que seu último mês não
está sendo nada do que ela gostaria, por isso, sempre que tenho uma folga,
dou um jeito de ficar mais um pouco com minha menina.
No estacionamento, encontro Donald me esperando na porta do carro
e logo entro no veículo, seguido de mais dois seguranças. Pelo caminho,
vejo as luzes de Las Vegas ganhando vida com a chegada da noite e todo
entretenimento que gera me lembra Ava. De quando me disse que adoraria
conhecer meus cassinos e do quanto ficou desapontada por saber que é algo
impossível para ela.
Por mais que eu tenha cuidado de sua segurança e me certificado de
que nada lhe falte, sei que, enquanto ela não tiver sua liberdade recuperada,
nunca será feliz. Há alguns meses eu pouco me importava com isso, porém
hoje não consigo parar de pensar nessa situação. Fico buscando alternativas
em minha cabeça de algo que eu possa fazer pela garota, para que Ava
possa viver além dos meus muros.
Penso em conseguir-lhe uma nova identidade e tirá-la do país, mandá-
la para um lugar bem longe daqui e tomar o cuidado de apagar todos os seus
rastros. Contrataria seguranças que vigiariam cada um de seus passos, mas
pelo menos lhe daria o direito de ir e vir. Ela poderia continuar trabalhando
para mim de forma remota e eu cuidaria de sua segurança em outro
continente.
Não sei se gosto da ideia de tê-la a um oceano de distância, mas é
algo a ser cogitado. Porém, não agora. Preciso que ela esteja debaixo do
meu teto enquanto resolvo minha questão com Elijah.
Eu jamais me perdoaria se ele encostasse o dedo em Ava outra vez.
Quando chego em casa, escuto a voz das duas garotas logo que entro
no hall e sigo para a sala de TV. Enquanto um filme da Disney passa na tela,
Amy está deitada no colo de Ava e essa imagem me faz parar.
Cruzo os braços, fico por um momento apenas observando as duas e
vendo o sorriso que não larga o rosto de minha sobrinha. Isso me faz pensar
que, não importa o quanto eu a ame e faça tudo por ela, nunca suprirei a
falta que sente de ter uma mulher em casa. Não ter uma avó, uma mãe, uma
tia... Ainda que Dorothy cuide muito bem da minha menina, sei que não é a
mesma coisa. Amy sente falta de uma referência feminina na família e isso
é algo que eu nunca lhe darei.
Como se notasse a minha presença, Ava tira os olhos da TV e se vira
para me olhar, ficando corada imediatamente. Tenho notado que, desde que
ela passou mal, tem se distanciado de mim. Parece com receio de se
aproximar. Não sei exatamente o que isso significa e nem tenho o direito de
lhe cobrar nada, mas ainda assim não me agrada. A sensação que eu tenho é
de que eu fiz alguma coisa a ela, mesmo não tendo ideia do que seja.
Ava cutuca o ombro de minha sobrinha e na mesma hora Amy levanta
a cabeça, sorrindo ao me ver.
— Tio Lion! — O sorriso da pequena sempre vai ter o poder de
apagar qualquer coisa ruim que esteja me assombrando.
Eu a ajudo a erguer o corpo e se acomodar sentada no sofá, onde me
coloco ao lado das duas.
— Chegou mais cedo — ela constata e eu beijo a ponta de seu nariz.
— Senti saudade — comento e seu sorriso se amplia ainda mais.
— Estamos assistindo ao Pinóquio. — Amy aponta para a tela da TV.
— Não quer ver com a gente?
— Me espera tomar um banho? — peço apontando para as minhas
roupas sociais e Amy assente.
Vejo que, em todo tempo, Ava nos observa calada e isso me causa
estranheza. Não sei o que eu fiz para a garota estar tão receosa comigo
assim.
Deixo as duas e subo até o último andar, onde tomo um banho rápido
e visto uma roupa mais leve. Quando retorno, Ava cora novamente ao me
ver e se levanta de imediato do sofá.
— Vou aproveitar que você chegou e deitar um pouco — diz, sem
olhar para mim.
— Não vai terminar o filme, Ava? — Amy pergunta fazendo um
biquinho triste.
— Depois eu vejo com você, ok? — Ela beija a testa de Amy e afaga
seus cabelos.
— Pode me acompanhar até a cozinha, Ava? — pergunto e a garota
assente, seguindo-me até o cômodo.
Chegando lá, encontro as panelas no fogão e penso que Dorothy e
Naomi deixaram o jantar pronto antes de saírem do trabalho.
— Pois não? — Ava pergunta cruzando os braços, quando finalmente
estamos sozinhos.
— O que está pegando, Stone?
Dou um passo em sua direção e ela dá outro para trás, fazendo-me
arquear a sobrancelha. Não deve fazer nem duas semanas que estávamos
trepando na despensa da cozinha e agora a garota me olha como se eu fosse
machucá-la.
— Nada — responde desviando o olhar do meu.
— E por que eu não acredito nem um pouco nisso?
Dou mais um passo e a garota encosta o corpo na bancada, sendo
encurralada por mim.
— Não é nada, Lionel. — Suspira. — Só estou cansada.
Ergo a mão, toco o seu queixo obrigando-a a me olhar e não gosto de
sua hesitação ao meu contato.
— Está mentindo — afirmo e ela olha para a parede atrás de mim.
— O que quer que eu diga? — pergunta, exasperada, voltando a me
olhar e me fazendo soltar a sua pele. — Estou há mais de um mês presa na
sua casa, vendo a luz do sol pelas suas janelas. Não é como se eu estivesse
completamente feliz.
Estreito os olhos e busco mais alguma coisa em seu olhar, mas a
garota não vacila. Sei que está me escondendo alguma coisa, mas parece
que não vou conseguir lhe tirar isso tão fácil.
— Está precisando de alguma coisa? — pergunto e ela apenas solta
uma bufada.
— Vai me deixar sair daqui?
— Não — nem penso para responder.
— Então não preciso de nada — completa, virando-se para se afastar,
mas eu a detenho, segurando o seu braço.
— Sabe que, no momento em que cruzar aqueles portões, você morre,
não é? — digo firme, sentindo meu coração bater mais rápido no peito.
Não gosto nem de imaginar essa merda.
— Eu sei — responde, olhando-me com tristeza. — E é por isso que
eu estou cansada.
Solto seu braço, dou um passo para trás liberando sua passagem, e ela
aproveita a deixa para se retirar.
Ava me deixa sozinho na cozinha, com uma mente fodida de tão
confusa. Algo me diz que não é só isso que a está incomodando e é questão
de tempo até que eu consiga fazê-la falar.
Esfrego a barba e volto para a sala, onde encontro Amy me esperando
sentada no sofá.
— Quer que eu volte o filme do começo, tio? — a pequena pergunta,
logo que me acomodo ao seu lado.
Coloco uma almofada em meu colo e a ajudo a se deitar ali na mesma
posição em que ela estava com Ava quando cheguei.
— Não precisa, coração. Já conheço a história, esqueceu?
Amy dá uma risadinha e eu dou play no filme, enquanto faço um
cafuné em seus cabelos macios. Mas, embora eu esteja olhando para a tela,
não consigo prestar atenção em um segundo do que está passando.
Só consigo pensar em Ava e no que ela não está me contando.
Porra, essa garota ainda vai me deixar maluco.
 
 

 
 
Sentada na cama de pernas cruzadas, tamborilo os dedos no laptop
sobre o colo, enquanto penso no quanto está sendo ruim trabalhar sozinha
aqui da casa de Lionel. Ainda que eu converse com Luke por telefone
algumas vezes na semana, não é a mesma coisa. Meu colega de trabalho
sempre me distraía e fazia o dia passar mais rápido. Era um bom
companheiro e eu sinto falta de nossas conversas despreocupadas.
Agora, a sensação que eu tenho é de que o dia nunca passa. Tem
surgido pouca demanda no trabalho e, por sorte, todos os sistemas têm
rodado bem, por isso acabo tendo pouca coisa para fazer aqui. Geralmente,
quando vejo que não tenho mais nada para fazer, acabo procurando Amy
pela casa e passando uma parte do dia com ela, mas não é sempre que
consigo. Pois, quando está estudando ou pintando, acabo não indo
incomodá-la.
Agora, por exemplo, sei que está deitada em seu quarto lendo um
livro e eu aproveitei para dar uma conferida em tudo. Abro o sistema das
câmeras e tenho a visão de toda a fábrica; por uma delas eu vejo Lionel
parado conversando com Blake na porta do galpão.
Amplio a tela para vê-lo mais de perto e sinto um aperto no peito por
me lembrar do quanto tem me encurralado nos últimos dias desde que
decidi me afastar dele.
Lionel Rossi não é burro. Sabe que estou escondendo algo dele e não
vai demorar a me pressionar até que eu diga a verdade. A questão é que
ainda não sei como fazer isso. Como chego para um homem que não é nada
meu além de um patrão e digo que estou grávida?
Como conto para alguém com quem não tenho um relacionamento
que carrego um filho dele em meu ventre?
Pensar nisso me faz sentir um nó na garganta.
A verdade é que, mesmo que eu não queira admitir em voz alta,
acabei me apaixonando por ele.
Eu fiz o que não devia, ignorei todos os sinais e simplesmente me
apaixonei pelo homem mais inalcançável dos Estados Unidos da América:
Lionel Rossi.
E constatar isso só faz meu peito doer ainda mais.
Porque, além de saber que nunca será meu, que nunca olhará para
mim da mesma forma que eu olho para ele, não faço ideia de como reagirá
à notícia da gravidez. Não sei se vai me expulsar da sua vida ou se vai me
manter aqui, presa só pelo filho que carrego dentro de mim.
Eu, tola, por alguns momentos tive esperança de que um dia ele
olhasse diferente para mim. Mas agora, com a gravidez, tudo caiu por terra.
Tenho medo de que Lionel pense que eu não tomei as pílulas para lhe dar o
golpe da barriga ou que simplesmente não acredite em mim.
Além disso sei que, mesmo querendo fazer parte integralmente de sua
vida, mesmo querendo entrar, nunca terei acesso. Nunca conhecerei seu
passado, o que aconteceu com a sua família para que seja sozinho com Amy
no mundo.
E ainda me dói saber que ele não confia em mim a ponto de se abrir
comigo.
Tudo que eu sei sobre Lionel até hoje veio de fragmentos de
conversas onde ele deixava escapar uma ou outra coisa em que fui juntando
algumas peças. E, por mais que eu tenha um compilado de informações, sei
que não tenho nada.
Pensar nisso me faz rir baixo, sem humor algum.
Eu vou ter um filho com um homem de que não sei nada, porque ele
simplesmente não confia em ninguém, muito menos em mim.
Que merda, hein?
Decido fechar a tela com a imagem de Lionel e abro as imagens das
câmeras desta casa, correndo o olho por cada ângulo. Em cada canto desta
propriedade há um segurança reforçando, principalmente o portão de
entrada. Estou quase fechando o programa, quando uma imagem me faz
congelar.
A imagem dos dois guardiões do portão sendo baleados e caindo ao
chão faz o meu coração dar um salto dentro do peito.
Ah, não...
Não, não, não...
Um homem mascarado vai em direção à câmera e logo a imagem se
apaga, saindo do ar.
Puta que pariu.
Dou um pulo da cama e subo o elevador até o último andar, em
direção ao quarto de Amy. Se a casa de Lionel foi invadida, é porque estão
vindo atrás de mim e não podem fazer mal à menina. Eu preciso escondê-la.
Quando a porta do elevador se abre, disparo pelo corredor em direção
ao seu quarto, onde entro sem bater.
— Ava? — A garota estranha meu olhar assustado.
Como eu previa, ela está deitada na cama lendo um de seus livros,
com a cadeira de rodas vazia ao seu lado.
— Amy, eu preciso esconder você. Consegue se abraçar em mim? —
peço, abaixando-me diante de sua cama.
— Me esconder? Por quê?
— Não tenho tempo para explicar. Tem alguém aqui dentro de casa
— digo e seus olhos se arregalam. — Vamos, se agarre em meu pescoço! —
imploro e a garota imediatamente o faz.
Abraço o corpo de Amy e fico de pé, sentindo o peso me cobrar.
Caramba, que garotinha pesada!
Olho para todos os lados e penso que preciso agir rápido, quando
tenho a ideia de ir até o seu closet.
— Não é melhor ligar para o tio Lion? — pergunta quando
adentramos o guarda-roupa.
— Eu vou ligar, só preciso te esconder antes. Em qual dessas portas
você cabe? — pergunto, apontando para os armários ao nosso redor, já
sentindo o coração disparado dentro do peito.
Eu preciso agir rápido, é questão de tempo até que entrem no casarão
e eu não posso permitir que encontrem Amy de jeito nenhum.
Prefiro morrer a deixar que façam com ela o que fizeram comigo.
— Ali embaixo é vazio. — Amy aponta para uma porta ao final do
closet e, quando eu a abro, vejo que é perfeita.
Encaixo Amy com cuidado ali dentro e a menina tem os olhos
amedrontados.
— Amy, preciso que me escute — peço e ela assente, sem tirar os
olhos de mim. — Não saia daqui até ouvir a voz do seu tio, ok? — A
menina assente mais uma vez. — Vou deixar uma frestinha só para você
respirar. Mas não dê um pio, não deixe que te encontrem. Só saia daqui
quando Lionel chegar.
— Estou com medo, Ava — sua voz assustada rasga o meu coração.
— Vai ficar tudo bem, tá? Eu vou me esconder também. Só preciso
que faça mais uma coisa — peço. — Quando encontrar o seu tio, pede para
ele abrir a primeira gaveta da minha mesinha. Não pode esquecer!
— Não vou esquecer.
— Ótimo. — Beijo os seus cabelos e me levanto para fechar a porta,
deixando apenas um filete de ar para ela. — Não esquece, Amy. Só abra
esta porta quando seu tio chegar.
Dito isso, disparo para fora do closet e ando na ponta dos pés em
direção ao corredor. Olho para os dois lados antes de sair e penso em descer
pelo elevador, mas não quero ser surpreendida. Decido fazer o caminho
lateral das escadas e sinto um alívio tremendo por não encontrar ninguém
no trajeto. Desço até o primeiro andar e, quando caminho em silêncio até o
meu quarto, vejo um vulto preto passando pela cozinha, fazendo minha
barriga gelar.
Meu coração para de bater por um instante e eu fecho os olhos
respirando fundo, reunindo coragem para continuar. Sei que eles vão me
encontrar, mas preciso deixar um recado para Lionel antes disso.
Rossi pode até não querer ir atrás de mim, mas tem o direito de saber
da existência do filho.
Quando entro no meu quarto, encosto a porta sem fazer barulho e
abro a primeira gaveta da mesinha de cabeceira, pegando um bloquinho de
papel. Faço uma anotação rápida e destaco a folha, colocando sobre o palito
com o resultado do teste de gravidez.
Espero muito que Lionel me perdoe por isso.
No momento em que fecho a gaveta, ouço o som da porta se abrindo e
meu coração falha uma batida mais uma vez.
— Olá, Ava.
A voz que eu ouço faz o meu corpo inteiro se estremecer e eu engulo
em seco antes de me virar e dar de cara com ele.
Charles puxa a touca preta da cabeça e me revela aquele rosto que por
muito tempo tem sido o motivo dos meus piores pesadelos. Os olhos estão
furiosos e o sorriso triunfante que ele me abre me faz sentir um nó na
garganta.
— Sentiu a minha falta?
 

 
 
— AMY! — grito ao passar pela porta principal de casa. — AVA!
Meu coração bate feito um louco dentro do peito e a primeira reação
que eu tenho é correr para o elevador e subir até o último andar, sentindo
tudo dentro de mim girar.
Quando Scott veio me contar apavorado que tinham cortado a
imagem das câmeras da minha casa, coloquei Luke para resolver isso e vim
disparado para cá. Mas ver os meus seguranças baleados no chão fez o ar
dos meus pulmões faltar. Eu nem mesmo esperei Donald desligar o carro e
já saí dele, correndo em direção a casa para encontrar as meninas.
O elevador se abre e eu disparo pelo corredor, indo primeiro até o
quarto de Amy. Ao abrir a porta, ver a imagem de sua cadeira de rodas
vazia, ao lado da cama, faz o meu coração saltar pela boca.
Puta que pariu.
Não podem tê-la levado.
— AMY! — grito e olho debaixo da sua cama.
Rodeo cada canto do seu quarto e vou até o banheiro, sem sucesso.
Porra, não podem ter feito isso.
— AMY! — chamo de novo quando entro no closet e vejo uma porta
do armário sendo aberta.
— Tio Lion? — a voz infantil me faz quase perder o movimento das
pernas.
Corro em direção à porta e a encontro encolhida, com o semblante
assustado.
— Encontrei você, coração.
Meu corpo está trêmulo quando eu ajudo Amy a sair do armário com
cuidado, me perguntando como foi que ela conseguiu entrar ali.
— Você está bem?
Tateio seu rostinho e procuro por algum machucado. Quando ela
assente, eu solto um suspiro.
Porra.
Que alívio.
Mas e a Ava?
Olho para os lados procurando algum sinal da sua presença, e não
encontro.
— Você viu a Ava? — pergunto a Amy enquanto carrego-a de volta
ao seu quarto, acomodando-a na cama.
Nesse instante, Caleb aparece na porta, com o semblante sério.
— Rossi, tudo limpo. Mas nenhum sinal de Stone.
Porra!
O filho da puta levou a minha garota.
Caralho!
— Amy, você viu a Ava? — pergunto mais uma vez e ela assente.
— Foi ela que me escondeu, tio Lion, e me pediu para abrir a porta só
quando você chegasse.
Meu coração bate ainda mais forte dentro do peito. A garota foi
levada, mas não sem antes salvar a vida da Amy. Porra, preciso encontrá-la.
— Ela te falou mais alguma coisa, coração? Para onde a Ava foi?
— Ava pediu para você olhar a primeira gaveta da mesinha dela —
Amy conta. — E me falou para não esquecer, parecia importante.
Essa informação enche o meu corpo de adrenalina. Deve ser alguma
pista.
Preciso ir atrás dela, mas onde eu deixaria Amy?
Coloco-a na cadeira de rodas e desço com ela pelo elevador, sendo
seguido por meus homens. No andar de baixo, Scott me conta que Dorothy
e Naomi também foram atingidas. Os filhos da puta usaram arma silenciosa
para queimar todo mundo desta casa. E pior, entraram aqui em maior
número, porque encontrei apenas dois corpos deles que meus homens
conseguiram atirar. Para terem conseguido eliminar todo mundo assim, é
porque vieram em bando.
Filhos da puta!
Eu não consigo nem pensar no que teria acontecido com Amy caso
Ava não a tivesse escondido.
— Scott, monta a escolta do meu carro. Vou levar Amy até o Kashmir
— digo me referindo ao hotel de um dos meus cassinos. — Mas antes
preciso ver uma coisa.
Deixo Amy sob a supervisão de meus homens e vou até o quarto de
Ava, procurar por alguma pista. Quando entro, abro a gaveta mencionada
por minha sobrinha e vejo um papel com os dizeres: “Hughes, TNT”. Enfio
o papel no bolso e penso que depois de instalar Amy no hotel, vou até a
fábrica pedir a Luke para descobrir o que é isso.
Estou quase fechando a gaveta quando vejo uma imagem, que me faz
congelar.
Pego um palito cor-de-rosa com os dedos tremendo e quando trago
para mais perto, vejo duas listras nele. Estou tão nervoso que não consigo
nem decifrar o que isso significa, ou simplesmente não quero entender.
Porra, minha mente está uma bagunça.
— Scott! — grito pelo chefe de segurança enquanto meu peito sobe e
desce em puro desespero.
Eu devo estar vendo errado, eu devo...
— Rossi? — O homem aparece a minha frente e eu apenas ergo o
palito em sua direção.
— Que porra é esta? — pergunto e ele toma o objeto de minhas mãos.
— É um teste de gravidez — fala com a voz firme, fazendo-me fechar
os olhos por um instante.
Ah, caralho...
— E que merda essas listras significam?
Meu coração parece que vai saltar pela boca. Eu sei que Scott sabe o
que essa porra significa, porque ele é pai de dois filhos.
— É positivo, Rossi.
Tomo o palito das mãos dele e enfio no bolso, sentindo uma fúria
subir dentro de mim. Sentindo cada pelo do meu corpo se eriçar de ódio.
De puro ódio.
Elijah que não ouse encostar um dedo na minha garota e no meu
filho. Eu sou capaz de enterrá-lo vivo.
— Vamos logo, Scott. — Saio disparado do quarto de Ava e ele me
segue. — Temos que resgatar Ava e o meu filho.
Adams entende a urgência da situação e logo estamos todos
acomodados no carro, em direção ao Kashmir, onde deixo quatro
seguranças de olho no quarto de Amy. No caminho, liguei para Owen, um
dos policiais que está em minha folha de pagamento, e pedi para fazer
ronda no meu cassino a fim de reforçar a segurança.
— Coração, você está segura aqui, tá? — digo, acomodando Amy na
cama da suíte e beijando seus cabelos com carinho. — A Kaylee é amiga do
tio e vai ficar aqui com você até eu voltar.
Aponto para a mulher no canto da suíte, e Morgan me lança um olhar
compreensivo. Durante o trajeto, liguei para ela e expliquei a situação. Sei
que Amy teria medo de ficar sozinha, por isso pedi a minha funcionária que
lhe fizesse companhia.
— Traz a Ava de volta, tio Lion — a pequena me pede e eu beijo sua
testa antes de me levantar da cama.
— Não vou voltar aqui sem ela — afirmo e a pequena assente.
Do outro lado, Kaylee me aguarda.
— Morgan, não tire os olhos dela e qualquer coisa me avise, ok?
— Deixa comigo, Rossi. — A morena toca meu braço. — Vai buscar
a sua mulher.
Apenas assinto e passo por ela, reforçando o comando aos seguranças
que deixei cuidando de Amy.
A ordem é clara: matar quem tiver de matar, mas não deixar que
ninguém chegue perto da minha sobrinha.
Desço pelo elevador até o estacionamento, onde Donald me espera no
carro com Scott e mais dois seguranças. Atrás de nós, mais dois carros nos
acompanham até a fábrica.
— Ava deve ter deixado alguma pista de seu paradeiro no tal TNT —
aviso a Scott. — Já liguei para Hughes, ordenando revirar tudo e achar o
que essa sigla significa.
— Vamos encontrá-la, Rossi — ele diz confiante e eu assinto.
Mas, ainda que eu tenha certeza de que não vou descansar até tê-la de
volta, não consigo relaxar. Não sabendo que ela voltou para os braços
daquele imundo.
— Vamos revirar cada porra de rua de Las Vegas e vamos trazê-la de
volta. Elijah que me aguarde — falo, rangendo os dentes. — Ele vai se
arrepender de ter se metido comigo.
Enquanto Donald dirige acelerado pela cidade, meu coração não
alivia um momento sequer, batendo feito um louco dentro do peito.
Porra, Ava...
Não posso te perder, garota.
Eu prometi para você e para mim mesmo que ficaria segura, que nada
te aconteceria, por isso meu peito está doendo tanto.
Por isso eu sinto esse desespero louco tomar conta de mim.
Eu não posso perdê-la, não posso.
A imagem da garota de sorriso leve e olhos castanhos expressivos
invade a minha mente, chega a me enlouquecer. Aqueles filhos da puta não
podem encostar o dedo nela, eu não posso chegar tarde demais.
E pensar que ainda tem um filho...
Porra.
Eu vou ficar maluco.
Esfrego o rosto impaciente e xingo Donald, pedindo para andar mais
rápido, porque estou à beira de entrar em colapso. Penso em Ava sozinha
nas mãos daqueles merdas e no quanto deve estar assustada.
E ainda grávida...
Porra, Ava.
Grávida de um filho meu.
Então é por isso que ela estava agindo diferente comigo nos últimos
dias. Provavelmente a garota estava apavorada com a notícia e aguentando
tudo sozinha.
Mas que caralho.
Soco a poltrona do motorista, nervoso, e agradeço aos céus, ou ao
inferno, por estarmos chegando à fábrica. Logo que adentramos os portões,
eu respiro aliviado por pelo menos saber que aqui está tudo em ordem.
Saio do carro e disparo pelos corredores em direção à sala de
programação, onde encontro Hughes trabalhando na frente dos
computadores.
— Rossi, consegui! — exclama logo que entro na sala.
— Descobriu o que é?
— Ava instalou um programa oculto no computador dela, é um
rastreador.
É o quê?
— E onde ela está?
Luke amplia a tela e me abre um mapa com um ponto vermelho
piscando no meio do deserto.
— Essa é a localização dela? — pergunto.
— Pelo que estou vendo, sim.
Porra, Ava, você é um gênio!
Que mulher foda do caralho.
— Scott! — chamo e em segundos Adams entra na sala. — Temos a
localização da Ava. Prepare todos os nossos homens para sair
imediatamente.
— Deixa comigo, Rossi.
Saio da sala de programação já tirando o celular do bolso para fazer
uma ligação.
— Ruslan — cumprimento o advogado logo que me atende. — Tenho
um pouco de diversão para os seus soldados.
Enquanto acerto todos os detalhes com o russo, ando apressado até o
estacionamento, onde vejo Scott liderando nossos homens e abrindo caixas
com as nossas armas mais potentes.
Enquanto todos carregam as armas e se posicionam para sair, não
posso deixar de sorrir.
Elijah Rodriguez vai se arrepender de ter nascido.
 

 
 
A porta de metal é aberta e o rangido me faz sentir um calafrio. Estou
aqui sentada em uma cama imunda, com os joelhos dobrados e abraçando o
corpo com os braços, em uma forma de proteger o meu filho. Desde que
cheguei aqui, trouxeram água e comida para mim, mas me recuso a comer.
Não vou colocar nada na boca correndo o perigo de machucar o meu bebê.
— Não vai mesmo comer, sua ingrata? — Um homem que eu nunca
vi antes aparece com uma cara de poucos amigos e eu nem me movo daqui.
Continuo parada, olhando para o chão, sentindo meus ossos doerem
de tão forte que aperto o meu corpo.
Colocaram uma bandeja ao meu lado, mas eu nem mesmo olhei para
ela. Prefiro morrer a comer algo vindo de Elijah.
— Seu namoradinho não vai vir buscar você — o homem debocha e
eu engulo em seco, ainda me recusando a olhá-lo. — Ele já teve o que
queria de você. Acha mesmo que se sacrificaria por sua causa?
Pensar nisso faz o meu peito doer.
Por minha causa pode até ser que não, mas pelo filho eu tenho
esperanças de que Lionel o faça.
Pelo que eu conheço de seu caráter, não deixaria um filho
desamparado.
Espero que, a esta altura, ele já tenha encontrado Amy e que a menina
tenha passado o recado como eu pedi. Estou torcendo para que Luke tenha
encontrado o programa oculto, que dará a Rossi o meu paradeiro, instalado
em meu computador.
Preciso muito que ele me tire daqui.
Ainda não encontrei Elijah, mas, pelo que ouvi nos corredores, ele
está vindo para cá. Não faço ideia de que lugar seja este, mas parece que
estou em um galpão no meio do nada.
Abraço ainda mais o meu corpo e me encolho na cama.
Lionel precisa me encontrar.
— Rodriguez vai chegar daqui a pouco — a voz grossa me causa
náusea. — E não vai ficar nem um pouco feliz de te ver assim.
A porta se fecha em um estrondo e eu ergo os olhos para o cômodo ao
meu redor, sentindo um bolo se formar em minha garganta. As paredes
estão sujas de poeira e possuem algumas rachaduras. Não há nenhum móvel
ou utensílio no quarto além da cama de madeira e da pequena mesinha ao
meu lado, que abriga a bandeja.
No alto da parede, quase se encostando ao teto, uma janela pequena
faz adentrar a luz do sol. As grades de ferro impedem qualquer saída por
ela, mesmo se fosse possível com toda essa altura.
Fecho os olhos por um momento e a lembrança de uma noite distante
me atinge, fazendo o meu corpo tremer. Lembro-me do dia em que acordei
na cama em que dormia na casa de Elijah com a camisola suja de sangue e
com meu sexo todo dolorido.
As cenas daquela noite me atingem forte e eu aperto os olhos,
sentindo as lágrimas caírem com tudo. E o mais doloroso é não saber o que
de fato aconteceu naquele dia. As lembranças estão todas fragmentadas em
minha cabeça, como peças soltas de um quebra-cabeça. Em um momento
eu estava sentindo meu corpo amolecer e no outro, acordei completamente
machucada. Ainda não sei o que Elijah fez comigo naquele dia e é por isso
que eu sinto tanto medo.
É por isso que fugi, fui para bem longe dele, não querendo nunca
mais voltar. Quando Lionel me ofereceu segurança, eu vi uma luz surgir ao
final do túnel. Eu faria qualquer coisa para nunca mais cair nas garras de
seu inimigo.
E olha só...
Rodei o país e acabei voltando para onde eu mais temia.
Encolho meu corpo ainda mais e sinto a dor me invadir mais forte,
fazendo-me chorar mais alto agora.
Por favor, Lionel...
Por favor...
Me tira daqui...
Meus lábios tremem enquanto sinto o gosto salgado das lágrimas
grossas que escorrem pelo meu rosto.
Tudo dentro de mim se revira ao pensar que a qualquer momento
Elijah estará aqui. Que poderá fazer mal não só a mim, como ao meu filho.
Lionel precisa me encontrar...
Quando um estrondo atinge o galpão e sons de tiros ecoam por todo
lado, a minha primeira reação é me encolher ainda mais, fazendo uma prece
para que não me machuquem.
Ouço gritos por toda parte e mais sons de tiro. Não faço ideia do que
está acontecendo e meu corpo treme ainda mais de pavor pelo que está por
vir.
Que não me machuquem...
Que não me machuquem...
Por favor...
A porta de metal é aberta em um estrondo e eu fico imóvel, incapaz
de me mover.
— Ava?
A voz de Lionel é como um sopro para a minha alma e eu apenas ergo
o rosto, vendo-o vir em minha direção.
— Lionel...
Eu me levanto na mesma hora e corro até ele, sentindo meu corpo
chocar-se contra o seu.
Ele veio...
Ele veio...
Ele me encontrou.
Agarro o corpo de Lionel, apertando-o forte pela cintura e ele
simplesmente me abraça firme, quase me esmagando com sua pressão.
Abraçada a ele, choro de susto e de alívio, choro de medo e de
esperança.
— Você está bem? — Ele se afasta para me olhar com o semblante
duro.
Não sou capaz de responder, então apenas balanço a cabeça.
— Eles te machucaram, Ava? — pergunta com a voz mais firme
agora. Lionel faz uma inspeção em cada parte do meu corpo enquanto eu
nego. — Eles encostaram em você?
— Na-não... — gaguejo e ele assente com o vinco se formando entre
as sobrancelhas.
— Caleb vai te levar para o hotel onde Amy está hospedada — diz,
olhando dentro de meus olhos.
— Ela está bem? — pergunto ao me lembrar do rostinho assustado da
garota quando a escondi dentro do closet.
— Está. Eu a deixei aos cuidados de Kaylee e disse a ela que te
levaria para lá — diz firme sem tirar os olhos de mim.
— Certo.
Rossi me puxa pelo braço e me leva até um de seus carros, do lado de
fora do galpão. Pelo caminho, passamos por vários corpos estirados ao chão
e eu fico pensando se conseguiram atingir Elijah.
Podiam tanto ter acabado com ele também...
Quando chegamos ao veículo preto, já há dois seguranças lá dentro,
acomodados juntamente com Caleb. Lionel abre a porta do carro e segura o
meu rosto entre as mãos.
— Eu vou caçar aquele desgraçado até o Inferno, Ava — promete e
eu engulo em seco.
— Você não vai comigo? — Inclino a cabeça em direção ao carro e
ele nega.
— Agora não. Tenho que cuidar desse assunto primeiro.
A forma como Lionel fala me faz engolir em seco. Eu confio nele, sei
da sua capacidade, mas também sei da de Elijah, por isso temo por Rossi.
— Só toma cuidado — peço e ele balança a cabeça.
— Rodriguez que tem que tomar cuidado comigo, Ava. Não o
contrário.
Seus olhos faíscam e sua postura assume aquele tom firme, de dono
do mundo. E só isso faz com que eu confie que vai ficar bem. Assinto e ele
me empurra para dentro do carro, onde me acomodo ao lado de um
segurança que não me lembro de ter conhecido antes.
— Está tudo bem, Stone? — Caleb me pergunta do banco da frente e
eu só sei balançar a cabeça.
Uma nova onda de tremores toma conta do meu corpo e, desta vez,
temo pela vida de Lionel.
Sinto como se o estivesse enviando para uma guerra e sei que o que
ele vai enfrentar não é muito diferente disso.
Estou viva, Caleb, penso comigo.
Estar bem já é outra história...
 

 
 
Quando o carro de Ava se afasta seguido de mais dois veículos de
escolta, eu solto o ar dos pulmões.
Porra, que alívio.
Logo que soube do seu paradeiro, montei um plano de ação com Scott
para resgatar Ava e capturar Elijah. Para a nossa sorte, o filho da mãe estava
quase chegando quando meus homens conseguiram derrubar o seu carro e o
levaram para o galpão dos russos. Ainda que tenhamos alvejado todos os
capangas que encontramos aqui, os que estavam nos carros foram levados
para lá.
Eu só pedi ao Ruslan para que deixasse Elijah e Charles vivos. Os
demais poderiam servir de entretenimento para os seus soldados.
— Está tudo limpo, Rossi — um de meus homens diz ao se aproximar
de mim. — Mas encontramos algo de seu interesse.
Arqueio a sobrancelha para ele quando o vejo sinalizar para Josh, que
vem puxando uma mulher pelos cabelos. E quando reconheço o rosto, sinto
meu sangue borbulhar.
— Então foi você que entregou a minha mulher, sua filha da puta?
Joanne, a assistente de cozinheira da fábrica chora de soluçar, sendo
segurada pelos cabelos.
— Me perdoa, Sr. Rossi — sua voz é suplicante. — Ele ia matar o
meu filho, ele...
— Josh — chamo e o homem me encara, esperando pelo meu
comando. — Já sabe o que fazer.
— Por favor! — implora. — Não, Rossi! Por favor! O meu filho
precisa de mim e...
— Devia ter pensado nisso então antes de entregar a minha mulher e
o meu filho para aquele maldito.
Sinalizo com as mãos e viro as costas, no momento em que ouço o
estrondo da bala estourando seus miolos.
Ela ainda foi agraciada com uma morte rápida, já que não estou com
paciência para lidar com isso agora.
Meu foco é no desgraçado que está me esperando.
— Vamos encontrar os russos — anuncio.
Entro no veículo e os pneus levantam poeira pelo deserto, em direção
ao próximo galpão, para finalmente acertar as contas com esse filho da
puta.
Quando abri a porta daquele quarto imundo e vi Ava toda encolhida
de medo, senti um misto de alívio por tê-la encontrado com vida e ódio por
aquele infeliz tê-la assustado desse jeito. Ava estava aos prantos e, quando
me viu, se agarrou em mim como se eu fosse a porra do seu mundo.
Acho que nunca vou esquecer a imagem daqueles olhos tão
assustados me encarando.
Para a minha sorte, não demoramos a chegar ao local indicado e meu
coração bate acelerado dentro do peito por saber o que está por vir.
Finalmente.
Desço do carro e encontro Scott me aguardando com uma arma
calibre 12 nas mãos.
— Já posso estourar os miolos do desgraçado?
— Ainda não. — Ergo a mão para ele e entro no galpão, seguindo até
um aglomerado de homens.
— Ora, ora... Se Lionel Rossi não veio resgatar a donzela em perigo
— Elijah debocha e meu primeiro impulso é dar um soco no meio de sua
cara, o que faz o safado rir.
A cadeira onde está sentado com os braços e pernas amarrados
inclina-se levemente para trás e volta ao estado original. Ao seu lado,
Charles Walker está na mesma situação, porém, diferente do patrão, este
não me olha com escárnio.
Em seu semblante, consigo ver medo.
Gosto disso.
— Me amarrou para me bater, Rossi? Esperava mais de você.
O imbecil continua me provocando, mas não me intimida. Ele sabe
que está em desvantagem aqui e está tentando me distrair.
Olho para o lado e vejo um balcão com várias ferramentas que
poderão ser muito úteis. Ouço passos e me viro para ver Dmitri caminhando
em nossa direção, prendendo os cabelos em um coque alto.
— É incrível como você é um frouxo — Elijah volta a falar e eu
reviro os olhos. — Não consegue fazer o serviço sujo, não é?
Desabotoo os punhos da minha camisa e ergo a manga até os
cotovelos, enquanto estalo o pescoço, encarando-o sem um pingo de
emoção.
— Precisa sempre chamar os seus amiguinhos — desdenha. — O que
a sua irmã acharia disso?
Estou prestes a virar as costas quando paro. Meu sangue ferve e sinto
todos os pelos do corpo se eriçarem.
— Quem você pensa que é para tocar no nome da minha irmã?
Avanço sobre ele, que gargalha alto.
— Candice não ficaria nada feliz em saber que você está prestes a
matar o pai da filhinha dela.
Sinto como se fosse golpeado no estômago, mas não demonstro. Esse
cara só pode estar blefando, não é possível.
— Você não sabe de nada, não é? — O canalha ri. — Aposto que sua
irmãzinha não teve tempo de te contar isso antes de morrer sangrando feito
uma porca.
Tiro a arma do bolso e atiro em seu pé, fazendo o imbecil urrar de
dor. A minha vontade é de atirar no peito do infeliz, mas consigo me
controlar. Ele não merece uma morte rápida como a de Joanne.
— Você pode até me matar, Rossi — Elijah fala com a voz embargada
agora. — Mas vai conviver para sempre com alguém que carrega o meu
sangue.
Atiro no outro pé e o infeliz grita ainda mais alto, fechando os olhos
de tanta dor.
É para sentir dor mesmo, seu merda.
— Amy pode ter o seu DNA, filho da puta — ranjo entredentes. —
Mas ela nunca será uma Rodriguez.
Dizer isso em voz alta dói ainda mais que o esperado. Quando
Candice se negou a me contar quem era o pai do seu bebê, eu jamais
imaginei que seria por isso.
Porra, irmã.
Tanto cara para se envolver e, logo ele?
Logo Elijah?
— E o pobre Lionel Rossi ficou cuidando da aleijadinha — a forma
como esse maldito fala faz subir ainda mais uma fúria dentro de mim.
Atiro em seu joelho agora, tirando do infeliz mais sangue, que já
empoça debaixo de sua cadeira.
— Lava a sua boca para falar da minha sobrinha.
Dou mais um soco em seu rosto e desta vez acerto o seu nariz, vendo
o filete de sangue escorrer até a boca.
Elijah apenas lambe os lábios antes de sorrir.
Preciso reconhecer que esse filho da puta é forte, porque outra pessoa,
como o cuzão ao seu lado, que grita a cada tiro, já teria entregado os pontos.
— É uma pena que ela tenha sobrevivido para te dar trabalho. —
Elijah franze o cenho e eu sinto o meu coração esmurrar dentro do peito.
Não sei como não estourei a cabeça desse cara até agora. — Eu tentei te
ajudar, sabia? Mas, para o seu azar, o tiro não foi tão certeiro...
Eu nem o deixo completar e dou um tiro no outro joelho, fazendo
seus gritos ecoarem cada vez mais alto pelo galpão.
— O filho da puta que atirou em Candice já virou comida de lobos,
Rodriguez — cuspo. — Pode esperar que você será o próximo.
Elijah gargalha, engasgando-se e tossindo enquanto urra de dor.
— O homem que eu fiz você pensar que atirou nela, né? — debocha e
eu ergo a sobrancelha para ele. — Você não estava lá comigo quando eu
apertei o gatilho mirando a barriga daquela vagabunda.
Então eu avanço sobre ele e o derrubo no chão aos socos. Esfolo a
cara de Elijah e contenho a vontade de apagá-lo, mesmo que cada célula do
meu corpo implore por isso. Preciso vingar a morte de Candice.
Mas só vou parar quando esse filho da puta implorar para morrer nas
minhas mãos.
Levanto-me do chão e puxo a sua cadeira, colocando-a de pé de novo.
O rosto de Elijah já está todo desfigurado e ele cospe sangue quando vou
até o balcão pegar um cutelo.
Quando volto com a ferramenta nas mãos, Charles me encara com o
semblante apavorado e vejo que está todo se tremendo. É mesmo um cuzão.
— E você, também tem algo a me contar, Walker? — provoco-o e ele
balança a cabeça negando.
Encosto a lâmina do cutelo em seu pescoço e vejo o suor escorrer
pelo seu rosto, fazendo-me adorar essa sensação. Mas a cena que vem a
seguir me faz gargalhar.
O som de urina pingando no chão gera uma onda de risos nesse
galpão.
— Já está se mijando? Mas nós nem começamos...
— Por favor, Rossi... — o infeliz gagueja, desesperado. — Eu faço
qualquer coisa. Eu imploro. Eu não quero morrer.
— Ouviu isso aqui, Scott? — Olho para trás e vejo Adams rindo. —
O rapazinho não quer morrer.
— Eu não encostei nela, não desse jeito... — começa a se justificar.
— Foi o Elijah quem a...
Ergo o cutelo e acerto o seu pulso, fazendo-o gritar ao arrancar a sua
mão.
— Isso é por ter encostado um dedo na minha garota.
O homem se debate na cadeira e, quando eu arranco a outra mão, ele
desmaia de dor.
— Mas é um frouxo. Puta que pariu.
— Charles nunca prestou para nada — a voz de Elijah sai arrastada
agora.
— Dmitri — chamo o russo e aponto a cabeça para o homem
desacordado à minha frente. — Todo seu.
— Finalmente.
O russo solta os cabelos e eu dou espaço para que ele arraste a cadeira
com Charles e se divirta com o infeliz. Ao canto, vejo-o atirar um balde de
água no homem, que na mesma hora acorda para começar a sua diversão.
Minha atenção volta para o homem careca e corpulento que jorra
sangue por todos os lados. Preciso admirar a persistência de Elijah, o filho
da puta é ruim até para morrer.
— Diga-me, Elijah... Tem um último desejo antes de partir?
Brinco com o cutelo sujo de sangue em minhas mãos.
— Não sou fraco como Charles, Rossi, se é isso que pensa de mim. O
inútil não prestou nem para comer a sua garota como se deve.
Sinto a fúria subir de novo quando ergo o cutelo para acertá-lo, mas a
sua voz me paralisa.
— Uma pena que ela não tenha ficado acordada para ver como nos
divertimos naquela boceta. Ela rodou na mão de vários dos meus homens.
E então eu perco todo o resto de sanidade que havia em mim.
Avanço sobre ele com o cutelo e arranco as duas pernas, pouco abaixo
do quadril, em honra a Amy. Se o meu coração não consegue andar hoje, é
por culpa desse filho da puta que jorra sangue feito um porco à minha
frente.
Elijah desmaia de dor e eu o faço acordar em pancadas. Mas é nunca
que ele vai dormir e perder a melhor parte.
Rasgo a sua calça junto com a cueca e tenho a visão de um pau
murcho e velho. Arranco o órgão de seu corpo, com as bolas junto, desta
vez em honra à minha Ava e à minha irmã.
Elijah não tem mais forças para gritar e seu corpo está cansado de
tanto jorrar sangue, mas eu ainda não acabei com ele.
— Scott, o punhal! — peço, atirando o cutelo ao chão, e em segundos
Adams coloca a arma em minha mão.
— Eu falei para mim mesmo que ia te fazer implorar pela morte,
Elijah — explico quando abro a boca dele e puxo sua língua lá de dentro.
— Mas você não merece nem isso.
Arranco a sua língua com o punhal e vejo seu corpo se debater sobre
a cadeira enquanto ele se engasga com o próprio sangue.
Atiro o punhal ao chão e vejo o homem a minha frente se debater e
lutar contra a morte em seus últimos instantes. Uma rápida olhada para o
lado e vejo que Charles também não tem muito tempo de vida.
— Deixe-o sangrar até morrer — aviso ao soldado russo mais
próximo. — Depois, podem fazer o que quiserem com ele.
Uma última olhada e mentalizo a imagem de Elijah engasgando-se no
próprio sangue, com as pernas e o pau arrancados, implorando mentalmente
para morrer.
— Uma pena que não possa falar nada, Elijah. Eu ia adorar te ver me
pedindo para morrer.
Viro as costas e chamo meus homens para irmos embora. Deixo que
os russos cuidem do resto, porque agora eu preciso ir para o hotel ver as
minhas garotas.
Preciso ver Amy e Ava, depois de todo esse martírio. Preciso saber
como elas estão.
Principalmente Ava...
Eu te devolvi a liberdade, garota.
Como prometi que faria.
 

 
 
A água quente cai sobre o meu corpo e lava o sangue respingado,
tirando toda essa sujeira de mim. O dia hoje foi uma merda, nunca senti
tanta coisa diferente em menos de vinte e quatro horas. Preciso mesmo
deste banho para aliviar a carga de adrenalina que me consome desde que
invadiram a minha casa e levaram Ava.
Minha cabeça lateja de dor e minhas mãos estão queimando por ter
descido a porrada em Elijah, mas não me arrependo. Pelo contrário, nunca
me senti tão bem em ter acabado com a vida daquele desgraçado. Enquanto
me ensaboo, penso em tudo que ele me disse e no quanto se entranhou na
minha vida, da pior forma possível.
O filho da puta matou a minha irmã, tirou o movimento das pernas da
minha sobrinha e ainda estuprou a Ava?
Sangrar até morrer foi pouco para aquele estrume.
Meu corpo ainda treme de ódio e eu espero que o banho quente me
acalme um pouco antes que eu veja as meninas. Não quero descontar tudo
em Amy e preciso ter uma conversa civilizada com Ava sobre a gravidez.
Bom, ao menos tentar, porque não gostei nem um pouco de descobrir nessas
circunstâncias.
Fecho o chuveiro depressa e puxo a toalha, querendo finalmente
acabar com essa merda. Seco o corpo e visto um moletom e a camiseta que
meus funcionários do hotel trouxeram para mim. Como está tarde e eu não
tenho a mínima pretensão de sair por aí, visto o que encontro.
Saio do quarto e sigo pelo corredor até a suíte onde elas estão
hospedadas. Quando abro a porta, vejo Amy deitada nos braços de Ava
enquanto passa algum filme qualquer na TV.
— Ela dormiu? — pergunto e a garota se assusta com a minha voz.
— Não vi que você chegou — comenta e eu me aproximo delas,
vendo que Ava não respondeu a minha pergunta.
Mas ver Amy dormindo tranquilamente em seus braços me faz
respirar aliviado.
Porra, minha menina está bem.
As duas estão bem.
— Estávamos vendo um filme e ela acabou pegando no sono —
explica, corando o rosto de leve.
— Vocês já jantaram? — Ava apenas balança a cabeça confirmando.
— Vou levá-la para a cama.
Inclino o corpo e pego Amy no colo, com todo o cuidado para não a
acordar. Quando estou de pé, com ela nos braços, levo-a até a cama do
outro quarto e acomodo-a lá, cobrindo seu corpo com um lençol fino.
Controlo a temperatura do ar-condicionado para ficar do jeito que minha
sobrinha gosta e me sento ao seu lado.
Fico um tempo apenas olhando para a minha pequena, sentindo meu
coração esmurrar o peito.
— Você sempre será uma Rossi, Amy — sussurro, acariciando seus
cabelos. — Ninguém vai te tirar isso.
Não consigo deixar de pensar no homem que apodrece agora
enquanto olho para Amy e em como a vida é mesmo uma desgraçada
quando quer. Mas, por sorte, ela nunca saberá de sua origem, porque eu não
permitirei isso. Jamais mancharei a sua pureza com Elijah.
Inclino-me para beijar a sua bochecha e faço mais um carinho antes
de me levantar.
— Durma bem, coração.
Acendo a luz do abajur e apago a do quarto, saindo do cômodo,
deixando a porta entreaberta. Espero que ela tenha mesmo uma boa noite de
sono, minha menina merece depois do susto que passou.
Sentindo-me um pouco mais calmo, volto para o quarto de Ava e a
encontro sentada na cama abraçando seu corpo. Ela ergue os olhos ao me
ver entrar.
— Vocês vão ficar mais uns dias aqui no hotel — anuncio. — Preciso
colocar a casa em ordem para voltar.
— Tudo bem.
— Sabe que precisamos conversar, não é? — Ava engole em seco
antes de assentir. — Acho que me deve uma explicação.
Tombo a cabeça e enfio as mãos no bolso da calça, vendo a garota me
olhar preocupada.
— Lionel...
— Há quanto tempo sabe que está grávida?
Ava desvia o olhar do meu e vejo seus lábios tremerem de leve.
Ah, não é possível que ela vai chorar de novo...
Mas, para a minha surpresa, fecha os olhos antes de empinar o queixo
e me encarar firme.
— Descobri há algumas semanas.
— Semanas? — Solto uma risada sem humor. — Então aquela
história de virose era a porra de uma mentira?
Os olhos da garota faíscam e ela se coloca de pé, ficando cara a cara
comigo.
— O que queria que eu fizesse, Lionel? Eu não sou nada para você e
de repente apareço com um filho e...
Agarro o seu braço e a faço olhar dentro dos meus olhos, vendo sua
expressão vacilar.
— Você não é nada para mim, Ava? Eu trouxe o inferno para Las
Vegas por sua causa, garota.
Dou um tranco em seu braço e a solto, vendo-a me encarar com o
semblante surpreso.
— Charles e Elijah estão mortos — cuspo. — Eu os fiz sangrar até a
morte. — Aponto o dedo em sua cara agora e ela arregala os olhos para
mim. — Eu te devolvi a liberdade, Stone. Ainda assim, acha que não é nada
para mim?
Ava abre a boca para falar, mas se fecha.
Isso me faz rir de forma amarga.
— Pensei que já tivesse deixado isso claro.
Viro as costas para ela, que avança sobre mim, tocando o meu braço.
— Como eu deveria saber, Lionel? Não sei nada sobre você, sobre o
seu passado...
— É porque não tem nada de bom nele para você saber.
Viro as costas mais uma vez, mas a garota me puxa, não se dando por
vencida.
— Desculpa — pede e eu estreito os olhos para ela. — Fiquei
apavorada quando descobri, eu não sabia o que fazer, nem como você
reagiria... Olhe para mim, Lionel. Eu sou uma prisioneira. — Ela ergue os
braços, rendida. — Ou era, não sei. — Suspira. — Se eu não podia nem
mesmo atravessar seus portões, como queria que eu assimilasse a ideia de
conceber um filho?
Ava me olha com sinceridade e eu solto um suspiro. Esfrego a mão
pela barba e resmungo, impaciente, cansado, puto, um misto de tudo.
Não quero ter que lidar com isso agora.
— Vou ajeitar as coisas para você voltar para a minha casa — explico
e ela assente, voltando a abraçar o corpo. — Não precisa se esconder mais.
Pode sair pela cidade, desde que acompanhada de algum dos meus homens
— oriento.
— Tudo bem — sua voz sai um pouco triste.
— Pode pedir o que quiser durante a estada no hotel, tem liberdade
para isso.
Ava assente mais uma vez e se senta na cama. Percebo a brecha para
me afastar, deixando-a sozinha. Sei que ainda não acabamos a nossa
conversa, mas hoje estamos cansados demais para isso.
Hoje eu só quero deitar no meu travesseiro e dormir em paz.
Aceno para ela e saio de seu quarto, mas me detenho na porta.
— Obrigado por ter salvado a vida da Amy — digo firme e ela abre
um meio sorriso.
— Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a ela por minha causa,
Lionel.
— Eu sei. Por isso te agradeço.
Balanço a cabeça e saio de seu quarto, deixando a suíte para ir até a
minha, no final do corredor.
No trajeto, só consigo me lembrar da loucura que minha vida virou
nos últimos meses. De tudo que eu enfrentei até chegar aqui, e do que ainda
me aguarda.
Preciso reestruturar a casa, porque perdi gente demais nos últimos
dias e ainda tenho que me preparar para começar as entregas dos malotes
sem atraso.
Além de tudo, há um bebê a caminho...
Porra, que loucura.
Tenho muita coisa com que lidar, mas pelo menos me livrei de um
dos meus maiores problemas:
Tirei Elijah do meu caminho.
 

 
 
É estranho voltar para casa depois de tantos dias e encontrar pessoas
completamente desconhecidas. Com exceção de Caleb, que se tornou meu
guardião, não conheço nenhum dos novos seguranças e empregados da casa
de Lionel. Receber a notícia da morte de Dorothy e Naomi foi muito
doloroso, principalmente para Amy. A governanta era sua companheira de
anos e a garota ficou arrasada com sua partida.
Lionel teve que inventar uma história qualquer sobre concorrentes no
cassino para explicar a chacina que ocorreu nesta casa. Eu percebo seu
esforço diário para deixar Amy longe de toda a sujeira que ele vive e
aprecio isso. A garotinha tem crescido em um lar muito saudável e sei que,
outro no lugar dele, não se importaria com isso.
Agora preciso organizar as minhas coisas e me preparar para voltar ao
trabalho na fábrica, mas Lionel quer que eu fique mais um pouco por aqui
até Amy se adaptar com os novos empregados. Ela ainda está assustada
com tudo o que aconteceu, e eu compreendo bem. É muita coisa para
processar em pouco tempo, mas pelo menos sei que estamos seguras.
Confesso que fiquei surpresa quando ele me disse que eu voltaria para
sua casa, e não para a fábrica, agora que não corro mais perigo. Ainda que
Lionel não fale nada, sinto como se quisesse me manter por perto. Ouvir de
sua boca que eu significo alguma coisa para ele, mudou tudo dentro de
mim.
Me fez querer me aproximar mais...
Rossi é um homem difícil. Indecifrável até. Sei que não é um cara que
vai me trazer flores e nem me levar para jantar, mas é verdadeiro. É sincero,
é um homem de palavra. Com ele não há meias verdades, é direto e certeiro.
E baseada no meu passado, quando me envolvi com um cara romântico e
que só me fez mal, não preciso pensar muito para escolher.
Lionel é o homem certo, de um jeito totalmente errado.
Mesmo com seu temperamento difícil e piques de nervosismo, eu me
sinto segura com ele. Sei que colocaria o mundo no chão para me proteger e
prova disso é ter acabado com Elijah e toda a sua corja.
E pensar nisso me causa um arrepio.
Minha mente ainda não assimilou que eles não existem mais no meu
mundo. Ainda tenho a sensação de que vivo um pesadelo e que a qualquer
momento vou acordar, encarar a realidade cruel mais uma vez.
Tento me virar na cama, procurando pelo sono, mas infelizmente ele
não vem. Depois de passar o dia com Amy, jantamos juntas e Lionel chegou
em casa a tempo de colocá-la para dormir. Eu sempre admiro a sua versão
quando está com a sobrinha e nos últimos dias não paro de pensar em como
ele será com o nosso filho, quando este nascer.
Nosso filho...
Pensar nisso automaticamente me faz descer a mão para tocar a
barriga ainda plana. Ele ainda é muito novinho, mas sei que pode me ouvir.
Sei que pode me sentir.
— Oi, bebê — sussurro e sorrio sozinha, desta vez de alívio.
Alívio por não precisar mais esconder a gravidez de ninguém e,
principalmente, porque meu pequeno virá a um mundo em que Elijah e
Charles não mais existem. Só por isso eu já posso dormir em paz.
— O papai é meio nervoso às vezes — comento baixinho, lembrando-
me de todos os rompantes de fúria de Lionel. — Mas vai proteger você,
tenho certeza disso. Ele não vai deixar que ninguém te faça nenhum mal.
Acaricio a barriga por um instante e, quando vejo que o sono
realmente não vem, decido me levantar para beliscar alguma coisa na
cozinha. Descubro o meu corpo e calço as pantufas, saindo do quarto e
encontrando o completo silêncio.
Ando devagar até meu destino e abro a geladeira, procurando por
alguma coisa para comer. Encontro as sobras do jantar, mas não me atraem.
Porém a imagem de fatias de peito de peru me faz sorrir, acho que vou
conseguir fazer um sanduíche por aqui.
— Perdeu o sono? — a voz grossa atrás de mim me faz soltar um
grito.
— Por Deus, Lionel. Você tem que parar com isso! — reclamo,
colocando a mão no peito e respirando fundo.
Como pode ser tão silencioso a ponto de eu nunca o ouvir chegar
assim?
— Não consegue dormir? — insiste e eu suspiro.
— Me deu fome.
Pego na geladeira pão de forma, peito de peru, queijo e tomates.
Coloco tudo na bancada de pedra e volto apenas para pegar uma caixa de
suco de laranja.
— A uma hora dessas? — ele pergunta curioso quando me vê abrindo
as embalagens para montar meu sanduíche.
Encaro seus olhos azuis e vejo que está mais relaxado agora. Ainda
que tenha a postura firme, noto seu semblante um pouco mais tranquilo.
Lionel veste uma regata branca que deixa os braços torneados à mostra e
uma calça de moletom cinza.
— Seu filho tem desejos — brinco e vejo um meio sorriso se abrir em
seus lábios.
Eu consegui fazê-lo sorrir?
Para os últimos dias, isso é um evento mundial, digno de Nobel.
— E ele não pode esperar até amanhã? — pergunta parecendo
intrigado.
Cruzo os braços e o olho em desafio.
— Desde quando um Rossi sabe esperar? — provoco-o e seu sorriso
se abre um pouco mais.
— Faz sentido.
— Quer que eu te prepare um? — ofereço, apontando para os
ingredientes à minha frente, e ele aceita.
Pego dois pratinhos na gaveta e começo a montar os pães, com um
Lionel curioso, observando tudo.
— Precisa marcar um obstetra — comenta logo que eu lhe entrego o
sanduíche e me sento de frente para ele na banqueta.
— Eu sei... Só não conheço nenhum para ter referência.
Lionel parece pensar um pouco enquanto mastiga o pão.
— Vou perguntar ao Blake. Ele tem filhos, deve saber me recomendar
algum.
— Certo.
Cruzo as pernas e saboreio a sensação de tê-lo assim, tão próximo a
mim. Nós quase não ficamos completamente sozinhos, por isso aproveito
para desfrutar de sua companhia.
Gosto de ter Lionel por perto.
Ele me traz paz, apesar de tudo.
— Como estão as coisas na fábrica? — pergunto logo que termina de
comer.
— Ainda estamos colocando a casa em ordem, pois perdemos muita
gente — a forma como ele fala me causa um aperto no peito. — Mas a
produção não foi atingida, então estamos tendo resultados satisfatórios.
— Isso é ótimo.
Termino também de comer e coloco a louça suja na máquina. Encosto
o corpo no balcão e fico olhando para ele, esperando que fale alguma coisa,
mas, quando não o faz, decido voltar para a cama.
— Boa noite, Lionel — despeço-me e saio da cozinha, voltando para
o quarto.
Quando adentro o cômodo, um braço forte me circula. Fecho os olhos
ao sentir Lionel correr o nariz pelo meu ombro e subir até o pescoço.
— Esse seu cheiro de chocolate e avelã — comenta, girando o meu
corpo para que eu fique de frente para ele. — É a porra do paraíso.
Lionel me abraça pela cintura e me puxa para mais perto dele,
tomando a minha boca em um beijo urgente. Seus lábios massacram os
meus e sua língua reivindica a minha como sua posse, seu domínio, e eu só
sei me entregar a ele.
Suas mãos passeiam pelo meu corpo enquanto nos beijamos de um
jeito frenético, sedento, desesperador.
É um beijo cheio de sentimentos e, principalmente, de saudade.
Nossa...
Como eu senti saudade.
Com um movimento, ele me carrega em seus braços e me joga na
cama, tirando as pantufas, para avançar sobre mim como um animal,
exatamente do jeito que eu gosto. Lionel não é gentil, mas me toca de um
jeito que desperta o melhor de mim. Desperta sensações que só ele me
causa.
Meu peito sobe e desce rápido quando o vejo retirar a camisa e me
revelar seu peitoral nu. Ergo a mão e toco sua pele, sentindo cada um de
seus músculos e recebendo todo o seu calor. Sua pele queima, arde, e eu
sinto ainda mais desejo por ele.
Sem dizer uma palavra, toca a barra da minha blusa de pijama e a
arranca do meu corpo, deixando-me nua da cintura para cima. Lionel lambe
os lábios antes de se curvar sobre mim e beijar o meu pescoço, subindo até
a orelha.
— Senti falta de foder você — solta com a voz rouca e eu sinto meu
corpo se arrepiar.
Solto um gemido quando aperta o bico do meu seio ainda mais
sensível pela gestação e ele ri antes de tomar a minha boca, calando-me.
Lionel me beija de um jeito insano enquanto suas mãos massacram meus
peitos, apertando e beliscando os mamilos, fazendo-me rebolar contra seu
corpo.
Eu preciso dele...
Eu preciso...
— Lionel... — chamo quando solta a minha boca me dando tempo
para respirar.
Sinto os lábios inchados pela pressão bruta neles e respiro ofegante
quando desce a boca pelo meu corpo antes de abocanhar um seio meu.
— Ai, caralho... — choramingo e ele sorri em minha pele, descendo a
mão para me tocar por cima do short.
Lionel aperta meu sexo com força enquanto continua mamando em
meus peitos, revezando entre os dois e chupando gostoso. Depois que o
conheci, descobri quanto prazer eu sinto só com a atenção que ele dá aos
meus seios.
É enlouquecedor...
É...
— Lionel... — gemo quando ele coloca a mão por dentro da minha
calcinha e corre os dedos pela minha boceta melada por ele.
— Molhada assim por minha causa, Stone? — pergunta e eu só sei
gemer.
Nunca fiquei tão excitada por alguém na minha vida, como fico por
ele.
Lionel se levanta apenas para puxar meu short para baixo, com
calcinha e tudo, deixando-me completamente nua para ele. Aquela
conferida que dá e a forma como lambe os lábios me diz que me deseja
tanto quanto eu o desejo.
Rossi apenas sorri de lado antes de cair de boca em minha virilha,
correndo os lábios lentamente pelo clitóris, em uma tortura gostosa.
— Ah... — gemo enquanto agarro seus cabelos e o mantenho preso
ali, enquanto ele me chupa, deleitando-se em meu prazer.
Lionel não se faz de rogado e esfrega o rosto em minha boceta,
lambuzando-se em minha lubrificação. Ele lambe e suga cada pedacinho de
pele, fazendo-me gemer alto.
Espero que Amy tenha um sono profundo, pois estou gemendo feito
uma cadela com Lionel me chupando assim. Quando estou prestes a gozar,
eu me esfrego em seu rosto e ele percebe, pois afasta-se de mim apenas para
terminar de se despir.
Eu não tenho nem tempo de pensar, quando o sinto abrir as minhas
pernas com as mãos e me penetrar de uma vez só, gemendo junto comigo.
— Caralho...
Suas estocadas se tornam mais firmes, mais rápidas e eu o sinto
apertar meu quadril com força, provavelmente deixando uma marca ali.
— Essa sua boceta... — grunhe e puxa a minha perna, erguendo-a e
escorando-a em seu ombro, unindo ainda mais nosso corpo. — Porra,
Stone. Gostosa demais.
Lionel aperta a minha perna com força e dá uma mordida ali enquanto
continua metendo bruto, forte, massacrando a minha boceta. Ele acelera o
ritmo das estocadas e o som dos nossos quadris batendo ecoa por todo
cômodo.
A onda de tremores ameaça me atingir quando ele sai de dentro de
mim e aquela sensação de vazio me alcança. Faço um biquinho em protesto
e o safado só ri, girando-me na cama e me colocando de bruços.
Sinto quando se deita sobre mim e puxa os meus cabelos de lado,
antes de me penetrar mais uma vez.
— Ai, Lionel... — choramingo enquanto o sinto me comer por trás,
pegando um novo ângulo, gostoso demais.
— Gosta que eu te foda com força, Stone? — indaga e eu respondo
em um gemido.
Lionel dá um tranco em meus cabelos enquanto mete fundo, cada vez
mais rápido, mais bruto e sei que agora não vou conseguir me controlar
mais.
— Me deixa gozar — peço e ele crava os dentes em meu pescoço
descoberto, fazendo-me gemer mais.
Suas estocadas são mais brutas agora e, quando a onda de tremores
ameaça vir, Lionel não alivia, e continua metendo forte até o clímax me
atingir.
Forte.
Intenso.
Ecoando em cada célula do meu corpo.
Quando começo a relaxar, Lionel aumenta a pressão e me massacra
até gozar também, derramando-se dentro de mim.
Seu calor me invade e mais uma vez aquela sensação de
pertencimento me abraça.
Lionel sai de cima de mim e desaba ao meu lado, encarando-me com
aquela imensidão azul.
— Senti sua falta — confesso, quando minha respiração se acalma.
Ele apenas sorri e lambe os lábios de leve.
— Você sempre fode a minha cabeça, Stone. Já estou me
acostumando com isso.
Sorrio de sua declaração e penso no quanto Lionel me diz muito em
seus gestos, suas ações.
Pode ser que eu nunca ouça um “eu te amo” de seus lábios, mas ele
me prova todos os dias que colocaria o mundo abaixo dos meus pés.
E isso, para mim, é o que importa.
 

 
 
— Quer ouvir o coração do bebê? — o médico me pergunta e eu
assinto, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas imediatamente.
Depois de buscar referência de bons obstetras da cidade, marcamos a
minha primeira consulta. Após ser examinada pelo médico e receber todas
as orientações para esse início de gestação, vim para a sala de ultrassom.
Meu coração bate acelerado desde que eu me sentei nesta maca e ouvir que
aparentemente está tudo bem com meu filho só me trouxe uma onda de
alívio.
Quando o eco das batidas aceleradas de um coração alcança todo o
ambiente, não consigo mais conter a emoção. Pisco os olhos por entre as
lágrimas e encaro a tela do monitor, vendo aquela sementinha dentro de
mim, enquanto ouço seu coração bater pela primeira vez.
Um sorriso enorme me abre e eu só consigo pensar no quanto queria
que o pai do meu filho estivesse aqui comigo. Mas, quando marcamos a
consulta, Lionel pareceu desconfortável com meu convite, e eu entendo que
para ele seja tudo muito novo também. Ainda tenho muitos meses de
gestação pela frente e, se em algum momento Rossi sentir vontade de me
acompanhar, sei que o fará.
— Está tudo bem com o seu bebê, Srta. Stone — Dr. Jones declara e
eu sorrio ainda mais.
Percebo que registra o tamanho, peso e mais algumas informações
importantes do meu pequeno.
Pego o laudo do exame pronto nas mãos e sorrio ao ver as imagens do
ultrassom, correndo os dedos pelo pontinho pequenino dentro de mim. É
uma emoção, um sentimento que eu jamais pensei que fosse viver um dia.
A Ava de um ano atrás jamais imaginou que estaria prestes a formar
uma família com um homem totalmente improvável, mas completamente
certo para ela.
Pensar nisso me faz sorrir.
Com as receitas de vitaminas e pedidos de novos exames em mãos,
saio do consultório e encontro Caleb me esperando no corredor, atento a
tudo que acontece ao seu redor. Ainda sinto falta de Liam, porém Caleb
também se tornou um bom guardião. Ele respeita o meu espaço e isso para
mim é tudo.
— Deu tudo certo, Ava? — pergunta ao me ver sair com o nariz
vermelho do choro.
— Sim! — Abro um largo sorriso. — Está tudo certo com o bebê.
Toco a barriga em um ato instintivo e vejo Caleb sorrir de canto.
Aposto que nem ele está acreditando ainda que seu patrão vai ter um filho
comigo.
— Isso é ótimo.
Caminho ao seu lado até o estacionamento da clínica, onde o
motorista nos aguarda dentro do carro.
— Precisamos parar em uma farmácia para eu comprar minhas
vitaminas — explico logo que me acomodo no banco traseiro e Caleb
confirma, dando instruções ao motorista.
Ao fazermos o trajeto, observo as ruas de Las Vegas ao nosso redor,
enquanto uma sensação diferente toma conta de mim. Ainda é estranho
andar pela cidade sem precisar temer ser descoberta e capturada, parece que
vou demorar a me acostumar com isso.
A primeira vez que andei a pé pelo bairro de Lionel, na companhia de
Caleb, foi inexplicável. Pude ir além dos muros, sentir o ar quente da cidade
no rosto, pude fechar os olhos e me permitir. Não me importo de andar com
um guarda-costas em minha cola, pelo contrário, eu me sinto mais segura
com ele por perto. Mas saber que agora posso ir a uma padaria,
supermercado ou lanchonete sendo Ava Stone enche o meu coração.
Não preciso usar uma peruca, nem lentes de contato, muito menos
andar de cabeça baixa.
Posso voltar a ser quem eu era, finalmente.
O veículo para na frente da farmácia e Caleb e eu descemos para
comprar as vitaminas receitadas pelo médico. Aproveito para comprar
alguns itens de higiene pessoal e, chegando na seção de xampu, sorrio ao
pegar os cosméticos de chocolate e avelã, os meus favoritos.
Tocar na embalagem me faz sorrir sozinha ao me lembrar de quando
Lionel confessou gostar dessa fragrância. Principalmente por me lembrar de
ser muito criticada por Charles. Mesmo gostando tanto, eu era proibida de
usar por ele.
Coloco tudo na cestinha e levo ao caixa para pagar. Caleb pega todas
as sacolas, não me deixando carregar nenhuma, como sempre.
— Elas nem estão pesadas, Caleb — reclamo e ele balança a cabeça
para mim.
— Você sabe que eu obedeço a ordens — diz me conduzindo até o
carro.
E eu bem sei quais são. Lionel lhe ordenou nunca me deixar sozinha e
carregar tudo para mim, não permitindo-me esforço algum. Mesmo achando
que é totalmente desnecessário, sei que é seu jeito de cuidar de mim e acabo
apreciando isso.
Nos pequenos detalhes, Lionel mostra que me dá o mundo.
Acomodo-me no veículo e pegamos a cidade de novo. Desta vez,
peço para ir à fábrica, e não para a casa de Lionel. Caleb se mostra um
pouco resistente a princípio, mas eu acabo convencendo-o dizendo que
quero fazer uma surpresa para seu chefe com o resultado do exame.
Mas a verdade é que eu também estou com saudades daquele lugar.
De estar nos corredores do casarão, do galpão da fábrica, de conversar com
conhecidos, de rir com Luke Hughes. Desde a morte de Liam quando fui
tirada às pressas de lá, nunca mais voltei e sinto falta de estar ali. É um
mundo ao qual sinto que pertenço agora.
O carro adentra a propriedade da fábrica e eu sinto meu coração dar
um salto dentro do peito. O pneu corre pelo caminho de pedras e, quando
finalmente estaciona, desço do veículo sorrindo.
— Que saudade de estar aqui — comento e vejo Caleb sair à minha
frente.
Aqui dentro ele não precisa ficar na minha cola o tempo todo.
Antes de entrar no casarão, vou até o jardim, onde encontro o banco
de madeira em que costumava me sentar para ler um livro à sombra das
árvores. Corro os dedos pelo móvel e inspiro fundo o cheiro das flores,
tendo uma sensação diferente desta vez.
Eu saí daqui como uma prisioneira e voltei como uma mulher livre.
Lionel me devolveu meu direito de ir e vir e é impossível conter a
emoção.
Ao longe, ouço o som das impressoras trabalhando e penso em visitar
o galpão, mas me contenho. Quero encontrar Lionel antes.
Contorno o jardim e entro no casarão, cumprimentando a todos pelo
caminho até chegar ao escritório dele. Respiro fundo antes de bater à porta
e logo ouço sua voz grossa autorizar minha entrada.
Abro a porta e encontro Lionel sentado à sua mesa, de frente para o
laptop, com um cigarro na boca.
— Ava? — Ele estranha a minha aparição.
— Vim em má hora? — pergunto, já sentindo meu coração morrer um
pouco.
Ele apenas nega com a cabeça e faz sinal para que eu espere. Lionel
solta a fumaça de sua boca e aperta o cigarro no cinzeiro, apagando-o de
imediato. Só quando não há mais vestígio de tabaco no ar, é que sinaliza
para eu avançar.
Reparei que nos últimos dias tem fumado menos, principalmente
perto de mim. Sabendo como ele é, sei que nunca vai abandonar esse
hábito, mas pelo menos tenho percebido seu cuidado em não fumar em
minha presença. Um pequeno gesto em respeito ao nosso bebê, o que já
significa tudo para mim.
Entro em sua sala e olho ao meu redor, pensando que continua
exatamente igual à última vez que estive aqui.
— Aconteceu alguma coisa? — Levanta-se para vir ao meu encontro.
— Não, está tudo certo com o bebê — afirmo e ele assente, como se
já estivesse esperando por isso. — Vim porque senti falta daqui — revelo.
— E porque não queria esperar a noite para te mostrar.
Pouso a minha bolsa em sua mesa e retiro de lá o envelope com as
imagens do ultrassom. Pego a que mostra mais nitidamente o feto e estendo
a ele, que pega curioso de minhas mãos.
— Aqui. — Aponto para o carocinho ao ver que Rossi parece
completamente perdido com a fotografia nas mãos. — Este aqui é o nosso
bebê.
Um vinco se forma entre as suas sobrancelhas enquanto ele analisa a
imagem por um longo instante e eu sinto o meu coração se acelerar dentro
do peito.
— É bem pequeno, né? — seu comentário me faz sorrir.
— O médico disse que ele tem treze milímetros. Pelo que eu andei
pesquisando no caminho, o tamanho é similar ao de uma framboesa.
Lionel assente e continua encarando a fotografia em suas mãos; eu
daria tudo para saber o que está pensando agora.
— Eu ouvi o coração dele — revelo e o vejo erguer os olhos para
mim.
Sua imensidão azul me encara daquele jeito que me tira o fôlego.
— É mesmo?
Assinto e abro um largo sorriso.
— É bem acelerado — conto. — Me emocionou muito saber que ele
está bem. — Desço a mão e toco a barriga, vendo-o descer o olhar até ali.
— Acho que você iria gostar de ouvir.
Lionel assente e volta a olhar a fotografia em suas mãos.
— Posso ficar com isso? — pede e eu sinto o meu coração dar um
salto dentro do peito.
— Claro. Tenho outros aqui. — Aponto para o envelope e ele acena,
dando a volta ao redor da mesa para guardar em sua gaveta.
— Tem mais alguma coisa que o médico falou? — pergunta, indo se
servir de um copo de uísque no barzinho.
— Me passou algumas instruções para a gestação, fez pedido de
exames e receitou vitaminas para tomar.
— Peça a Caleb para comprar — avisa.
— Nós já passamos na farmácia antes de vir e compramos tudo —
digo e ele assente antes de dar um gole na bebida.
— Me avise sempre que precisar de alguma coisa ou sentir algo
diferente — pede e eu confirmo.
— Pode deixar. Eu vou dar uma volta pela fábrica antes de voltar para
casa, ok?
— Certo. Só tome cuidado.
Aceno e me afasto dele, mas, antes de deixar a sua sala, me detenho.
— Quando contaremos à Amy? — pergunto ao me virar.
— Esta noite.
Aquiesço e saio de sua sala, sentindo meu coração bater como louco
dentro do peito. Eu ainda não sei qual será a reação da garotinha, mas
imagino que ela ficará feliz. Amy e eu desenvolvemos um carinho muito
especial uma pela outra nos últimos meses e a cada dia me sinto mais
próxima dela.
Pego o corredor do casarão e vou direto para a sala de programação,
encontrando Luke sentado de costas para mim.
— Deu uma pane no sistema da fábrica. Estão precisando de você lá
— minto só para chamar sua atenção.
— O que... — Ele gira a cadeira e paralisa ao me ver. — Ava?
Adentro a sala e corro em sua direção, Luke me recebe em um abraço.
— Quanto tempo, moça! — comenta ao se afastar de mim. — Pensei
que nunca mais te veria de novo.
— Olha, que exagero! — Faço uma careta e ele ri. — Eu estou me
preparando para voltar. Você que não ouse roubar o meu lugar — finjo uma
reprimenda e lhe arranco mais risos.
— Até parece... Não vejo a hora de você voltar e dividir a carga
comigo.
— Está muito pesado? — pergunto, apontando para as telas ao nosso
redor.
— Até que não... Mas é mais divertido com você aqui.
Sorrio com sua resposta. Eu bem sei como tem sido péssimo trabalhar
sozinha lá da casa de Lionel, sem ter alguém como Luke para conversar. Ele
sempre foi uma boa companhia.
— Estou só esperando Rossi me liberar para voltar.
O rapaz assente e encosta o quadril na mesa, cruzando os braços para
me olhar.
— É verdade que você está grávida? — pergunta e eu arregalo os
olhos para ele.
— Como sabe disso?
— As notícias correm. — Ele dá de ombros.
Fico pensando que Lionel é sempre um homem tão discreto. Será que
ele sabe que os seus funcionários são tão fofoqueiros?
— Então é mesmo verdade?
— É, sim — confirmo e desço a mão para acariciar a barriga. Um
gesto automático que adquiri nas últimas semanas.
— Grávida de Lionel Rossi? — Ele solta um assobio. — Isso é quase
um evento mundial.
A forma como diz me faz relaxar e soltar uma gargalhada.
— Não seja ridículo!
— É sério, Ava. Ele nunca se envolve com ninguém e você logo
engravida? Rossi deve gostar muito de você.
Desvio o olhar para o chão e sinto meu rosto queimar.
Lionel nunca me disse com todas as letras tudo o que sente por mim,
e nem eu mesma o fiz. Mas nós mostramos em atitudes todos os dias o
quanto nos importamos um com o outro e tem funcionado assim.
É um relacionamento diferente de tudo que eu já vivi e, ao mesmo
tempo, sei que é extremamente certo para mim.
 

 
— Preciso te contar uma coisa, coração.
Lionel está com Amy acomodada em seu colo no sofá da sala,
enquanto me sento ao lado deles e sinto meu coração quase saltar pela boca
de nervosismo.
Depois de passar um tempo na fábrica e matar saudade daquele lugar,
voltei para casa e fiquei aqui com Amy até Lionel chegar. Jantamos juntos e
agora viemos para o sofá ver TV quando ele me sinalizou que contaria
sobre a gravidez para a sobrinha.
— É uma coisa boa? — ela pergunta, franzindo o cenho igualzinho ao
tio.
— É, sim. — Ele aperta o nariz da pequena, que sorri. — Você vai ter
um priminho.
Amy olha para o tio em completa confusão e seu semblante é tão fofo
que faz o meu coração relaxar.
— Priminho? Como assim?
Penso em responder, mas deixo essa missão para o Lionel. Ele sabe
melhor do que eu como lidar com a menina.
— Ava está grávida — revela e eu sinto o meu rosto virar um
pimentão quando a menina se vira para me olhar. — E o filho é meu.
A forma como Lionel fala faz tudo dentro de mim se revirar. É a
primeira vez que o ouço falar do nosso bebê com tanta possessividade e isso
causa um estrago aqui dentro.
— Jura? — Os olhos da menina brilham enquanto se alternam de
mim para o tio, e eu confirmo.
O sorriso que ela abre agora aquece qualquer coração.
— Então vocês vão se casar?
Arregalo os olhos para ela e engasgo com minha própria saliva, vendo
Lionel a encarar com uma postura séria.
— De onde você tirou isso?
— Não é isso que os adultos fazem? Se casam e têm filhos? Pensei
que...
— Isso não quer dizer nada, Amy — Lionel a corta e eu sinto meu
coração se apertar. — Vamos ter o bebê e Ava vai continuar morando aqui
conosco, ok?
É tolice pensar que algum dia Lionel Rossi consideraria um
casamento, embora eu não possa negar que isso já passou pela minha
cabeça. Mas, apesar de ele ter deixado claro que isso não vai acontecer,
saber que me quer aqui dentro, e não morando na fábrica, faz o meu
coração bater feliz.
— Eu vou poder ajudar a cuidar dele? — a pergunta inocente de Amy
alivia todo o clima tenso que se formou por aqui.
— Claro que vai — respondo e os dois olham para mim. — Ou você
acha que vai só ficar paparicando o bebê? Vai ter que trocar fraldas
também, mocinha.
— De cocô eu não quero! — A careta da Amy tira uma gargalhada de
todos e de canto de olho eu vejo Lionel sorrir.
— Ah, espertinha... Só quer a parte fácil, né? — ele brinca,
acariciando os cabelos da pequena.
— Essas coisas ficam para vocês, que são pais dele — solta e eu abro
um sorriso bobo.
Um comentário simples, mas que enche o meu coração de uma forma
indescritível.
Pais dele...
Sim, é isso o que somos, ainda que existam momentos em que nem eu
acredite nisso.
Seremos pais de um bebê que nem chegou ao mundo e já tem todo
meu amor.
Um amor que eu nunca imaginei que sentiria.
 

 
 
— Olha que lindo este vestido, Ava! — Amy puxa uma peça da arara
de cabides da loja e eu me aproximo dela para conferir.
É realmente lindo.
O vestido azul-claro com pequenas flores amarelas é de uma
delicadeza ímpar, parece que ficará incrível na pequena.
— Vá experimentar — incentivo-a e a vejo concordar satisfeita. —
Quer ver mais algum? — pergunto e ela nega com a cabeça.
— Daqui eu só gostei deste mesmo...
— Perfeito.
Pego o cabide e coloco em seu colo, guiando-a até as cabines de
provador.
— Você pode me ajudar a vestir? — pede com timidez e eu percebo
que é a primeira vez que vou ajudá-la com algo desse sentido.
— Claro!
Amy sorri e entramos juntas no provador. Lá dentro, ela ergue os
braços para que eu tire o vestido que está usando e coloque o que
separamos em seguida. Viro-a de frente para o espelho e sorrimos com a
imagem.
— Combinou com os seus olhos — elogio.
— Ficou lindo, né? Vou levar.
— Você simplesmente arrasou nessa escolha! Quer ver alguma
sandália para combinar?
Os olhos de Amy se iluminam quando ela concorda.
Eu a ajudo a voltar com o vestido que estava usando e vamos até o
caixa, onde Caleb e Joey, o segurança de Amy, nos aguardam. Hoje
separamos um momento para as meninas e eu não me lembro quando foi
que eu saí simplesmente para fazer compras e relaxar. A sobrinha de Lionel,
pelo visto, também não, pois ficou extremamente empolgada com a minha
sugestão. Quem não gostou muito foi seu tio, que antes de concordar
perguntou aos gritos se eu era maluca. Acho que nem ele se acostumou
ainda com a normalidade em nossa vida e eu tive que rezar uma missa na
cabeça dele para mostrar que um passeio no shopping não é o fim do
mundo.
Lionel é extremamente protetor com Amy, disso eu já sabia; ainda
assim, ver a lista de recomendações que me passou por sair pela primeira
vez com a sua sobrinha só me fez ter mais certeza. Mas, como eu previa,
está tudo indo muito bem.
Já passamos pela livraria e compramos alguns livros para nós duas,
além de algumas cores de tinta novas para Amy. Agora estamos olhando
roupas para a pequena antes de começar a olhar para mim. Quero não só
peças novas como lingeries também. Desde que voltei a Las Vegas, não
pude sair para fazer compras e sinto falta disso.
— Estou adorando, Ava. Podemos vir mais vezes? — Amy pergunta
enquanto andamos pelos corredores do shopping.
— Claro que sim. Eu também estou amando fazer compras com você.
Atrás de nós, os seguranças andam carregando nossas sacolas e eu
sinto uma sensação de plenitude por simplesmente poder andar pelo
shopping fazendo futilidades.
Isso sim, é algo que uma garota de vinte e cinco anos deveria fazer, e
não viver aprisionada em um casarão temendo pela própria vida.
— Podemos comprar roupinhas para o bebê? — a voz amorosa de
Amy aquece o meu peito.
É claro que eu não iria sair daqui sem passar em uma loja de bebês,
mas o fato de a sugestão vir dela me deixa feliz.
— Estou ansiosa por isso!
— Mas antes... — Amy para a sua cadeira e eu a observo. — Quero
tomar uma casquinha. — A pequena aponta empolgada para uma
sorveteria.
— Opa, com certeza!
Enquanto paramos para tomar o sorvete, vejo a alegria nos olhos da
menina, e sei que quando chegar em casa vai contar com bastante
empolgação sobre nosso dia para o tio. Tenho certeza de que, depois dessa,
Lionel vai ficar mais tranquilo em passearmos mais vezes assim.
Depois de tomarmos sorvete e olharmos alguns calçados para nós e
roupas e lingeries para mim, finalmente chegamos à loja infantil. Logo que
adentramos a porta, o cheirinho de bebê me atinge e me emociona.
— Nossa... Que tanto de coisa linda! — Amy exclama olhando tudo
ao seu redor, maravilhada enquanto eu não consigo esconder um sorriso
abobado.
— Posso ajudá-las? — Uma vendedora se aproxima de nós e é a
pequena quem toma a frente.
— Estamos querendo olhar roupinhas de bebê para o meu priminho
— Amy diz, orgulhosa. — Ou priminha, não sabemos ainda.
A vendedora sorri para nós duas.
— Podemos começar com tons neutros, o que acham?
— Eu acho perfeito — respondo e ela nos guia até a seção de roupas e
acessórios em tons mais claros.
Somos apresentadas a uma infinidade de roupinhas, sapatinhos,
casacos, toucas, luvas e mantas tão delicadas que meus olhos marejam ao
imaginar meu pequeno em meio a tanta coisa linda. Preciso me controlar
para não comprar demais, já que é melhor deixar para investir quando já
soubermos o sexo do bebê.
Com sacolas cheias, saímos da loja e em momento algum o sorriso
me abandona. Amy também está radiante, pois não para de contar para os
rapazes empolgada sobre o que compramos e ainda queremos comprar.
— Onde será o quarto dele? — ela me pergunta logo que seguimos
para o estacionamento, finalmente pondo fim em nosso passeio.
— Ainda não sei — respondo. — Não perguntei ao seu tio.
A verdade é que ele não tem falado muito sobre o assunto comigo.
Não sei se é porque ainda precisa de um tempo para assimilar a ideia ou se
não se sente confortável com isso.
Lionel ainda é uma incógnita para mim.
— Tem um quarto de hóspedes ao lado do meu — comenta logo que
chegamos ao carro e Joey a ajuda a se acomodar na minivan adaptada para
ela. — Vou pedir ao tio Lion para colocá-lo lá.
Quando finalmente estamos acomodadas no veículo e este pega as
ruas da cidade, eu olho para a menina com os olhos cheios de emoção.
Saber que ela quer esse bebê por perto me faz sorrir como boba. Todo
carinho direcionado a ele sempre enche o meu coração.
— Ele vai adorar dormir perto de você — comento e a pequena sorri,
balançando a cabeça.
Pelo caminho, Amy vai me contando sobre o quanto gostou do
passeio e como está empolgada em usar as cores novas que comprou em
suas pinturas. Inclusive me disse que vai pintar uma tela para o quarto do
primo, o que só me deixou ainda mais emocionada.
Essa garotinha alegra os meus dias como ninguém.
Chegando em casa, noto um movimento na sala e, para a minha
surpresa, Lionel nos aguarda ali. Pela forma como dobra as mangas da
camisa até a altura dos cotovelos e tira o relógio do pulso, percebo que
acabou de chegar. A encarada que ele me dá quando entramos no cômodo
revira tudo dentro de mim.
— Tio Lion! — Amy guia sua cadeira até o tio, que se abaixa para
beijar a sua testa. — Hoje foi muito legal! Compramos um tantão de coisa!
A empolgação de Amy faz o seu semblante relaxar.
— É mesmo? Andou estourando o limite do meu cartão? — brinca e
aperta o nariz da pequena, que só gargalha.
— Seu cartão não é sem limites? — ela o desafia e ele solta um riso
baixo.
— Esperta!
— Comprei livros novos, roupas e tintas com cores que ainda não
tenho. Ainda compramos roupinhas para o bebê, não é, Ava?
Os dois se viram para mim e eu sinto o meu rosto esquentar no
mesmo instante.
— É, sim! O bebê Rossi não virá ao mundo pelado mais — brinco e
ela solta uma gargalhada fofa.
— O Joey pode levar minhas compras para o meu quarto?
— Claro que pode, coração.
Lionel sinaliza para o segurança, que sobe pelo elevador com as mãos
cheias de sacolas. Aproveitando, Caleb faz o mesmo, indo até o meu deixar
as minhas compras.
— Tio Lion, podemos montar o quarto do bebê ao lado do meu? —
Amy pede quando finalmente estamos sozinhos e eu prendo a respiração
por um segundo.
— Bebês choram muito de madrugada — ele diz, olhando-a firme.
— Não faz mal! Eu quero ele pertinho de mim.
A forma como ela fala faz com que meu coração dê um salto no peito.
— Então está certo.
— Eba!
Lionel se levanta e acomoda Amy no sofá, colocando um filme para
ela, antes de se virar para mim e me indicar que eu o acompanhe até a
cozinha.
— Pelo visto a Amy adorou o passeio — comenta abrindo a geladeira
para pegar uma lata de cerveja.
Passo por ele e pego a caixa de suco de laranja para me servir.
— Ela aproveitou bastante.
— E você? Aproveitou também? — pergunta no instante em que o
estalo da lata se abrindo ecoa o ambiente.
— Foi maravilhoso, Lionel... Eu precisava um pouco disso.
Sirvo o suco no copo e o bebo, enquanto ele não tira os olhos de mim.
— Obrigado por isso. Aprecio muito o que faz pela Amy — sua voz,
mesmo sendo firme, é mais baixa agora.
— Sua sobrinha é uma boa companhia, Lionel. Gosto muito de estar
com ela, não é nenhum sacrifício — respondo e ele concorda com um aceno
de cabeça. — Obrigada por confiar em mim.
Sei que deixar Amy sair comigo sem a sua supervisão foi um gesto de
extrema confiança, mesmo que tenhamos tido a escolta de Caleb e Joey.
Lionel apenas assente antes de beber mais um gole da cerveja.
— Sobre o que Amy falou... — começa e eu ergo os olhos para ele.
— Vou chamar um arquiteto para transformar o quarto de hóspedes para o
bebê e deixar tudo do jeito que você quiser.
Meu sorriso se abre e eu assinto, empolgada.
— Conheço um excelente que trabalhou em meus cassinos. Ele não
costuma pegar um serviço pequeno assim, mas sei que consigo convencê-
lo.
Nossa... Se for o mesmo que projetou os cassinos de Lionel, penso
que deve ser mesmo incrível.
E falando neles...
— Está ótimo, Lionel. E, falando neles, quando vou conhecê-los?
Lembro-me da nossa visita a San Diego onde eu lhe disse que tinha
vontade de conhecê-los, isso me foi negado por motivos óbvios. Mas, para a
minha sorte, não existe mais razão para nos preocuparmos.
— Vamos ver o dia em que a babá pode ficar com Amy à noite e eu te
levo lá. Durante o dia não é tão bom quanto.
Meu sorriso se amplia e eu faço o impensável, debruçando-me sobre
ele e beijando o seu rosto.
— Ai, obrigada, Lionel! Sempre quis conhecer um cassino!
Ele abre um sorriso de canto e pousa as mãos em minha cintura,
acariciando de leve.
— Tenho certeza de que vai adorar conhecer os meus. Porém não
consigo te apresentar todos os cinco em uma única noite — continua
falando sem tirar as mãos de mim e eu percebo minha pele queimar onde
toca.
— Não faz mal. Podemos ir cinco noites. — Pisco para ele, que
balança a cabeça para mim.
— Vou te levar primeiro para conhecer o maior deles, anexo a um
hotel cinco estrelas.
Seus olhos faíscam e eu sinto um arrepio me percorrer em
expectativa.
Quando fui resgatada do galpão no deserto, Caleb me levou até o
hotel de um dos cassinos de Lionel. Naqueles dias eu não estava bem, então
nem ousei cruzar a linha do hotel com o cassino. Mas agora, não vejo a hora
de conhecê-los.
— Mal posso esperar — digo e ele assente, apertando a minha cintura
antes de me soltar e virar o resto da cerveja.
— Vou ajudar Amy a tomar um banho. Se quiser aproveitar para
descansar um pouco.
Assinto e agradeço, despedindo-me dele e de Amy pelo caminho,
para ir até o meu quarto.
Quando adentro o cômodo, vejo a pilha de sacolas acomodadas no
chão e não me contenho, pego logo aquela da loja infantil. Sentada na
cama, abro as roupinhas do bebê e cheiro todas elas, sentindo meu coração
mais uma vez se encher um pouquinho.
São pouco mais de dois meses de um amor imensurável nascendo
dentro de mim.
Não vejo a hora de ter meu pequeno nos braços.
 

 
 
Eu ainda não peguei no sono quando ouço passos arrastados pelo
andar inferior da casa e penso que Lionel também deve estar sofrendo de
insônia. Como eu gosto de aproveitar esses momentos em que o encontro
sozinho pela casa, decido me levantar da cama.
Olho para o pijama que estou vestindo e tenho uma ideia melhor.
Busco na gaveta uma das camisolas de seda que comprei hoje e a visto,
sentindo meu coração se acelerar em expectativa. Borrifo um perfume e
saio do quarto com os pés descalços para não fazer barulho, seguindo até a
cozinha, onde o encontro de costas com as mãos apoiadas na pia.
Como Lionel está sem camisa, a imagem do leão rugindo me alcança
e faz o meu corpo estremecer.
— Perdeu o sono?
Noto que ele dá um pulo involuntário antes de se virar para mim e
isso me faz sorrir. Pelo jeito, não sou a única que levo sustos por aqui.
Lionel me encara de cima a baixo e lambe os lábios ao notar a
camisola preta minúscula, mas franze o cenho para mim.
— Que porra é essa, Ava? — sua voz dura me faz sentir um calafrio
quando ele avança em minha direção.
— O-o quê? — gaguejo quando chega mais perto e noto suas narinas
inflarem.
Ai, nossa...
Será que ele não gostou?
— Como você circula pela casa com essa camisola minúscula? Ficou
maluca? — a sua voz é tão firme que me faz tremer.
— E-eu...
— Imagina se um de meus homens decide entrar aqui agora para
beber um copo d’água. — Lionel está tão perto que consigo sentir sua
respiração quente.
— Eu...
— É a imagem do seu rabo que eles vão ver — fala e eu engulo em
seco, recuando um passo. — A imagem do rabo da minha mulher.
Lionel balança a cabeça furioso e me pega firme pelo braço,
arrastando-me até o meu quarto, onde me atira na cama.
— De onde você tirou que se exibir pela casa era uma boa ideia?
Sentada na cama, vejo-o avançar sobre mim e apertar meus seios com
força sobre o tecido, fazendo-me arfar.
— A não ser que a sua ideia tenha sido me tirar do sério... — rosna
enquanto sua mão entra na minha camisola e aperta o meu sexo.
— Lionel...
— Hein, Ava? — Sua mão solta o meu seio e me puxa pelos cabelos
agora, deixando-me a milímetros dele. — Queria me tirar do sério para ser
fodida com força?
Arfo e ele ataca a minha boca, devorando-me com sua língua ávida,
enquanto sua mão esfrega minha boceta cada vez mais forte. Seu contato
firme, unido ao tecido da calcinha, só me faz gemer, desejosa por ele.
Cravo as unhas em seus braços e arranho a sua pele, fazendo-o rosnar
quando solta a minha boca dolorida pela urgência do beijo.
Lionel me vira na cama de forma brusca e me deita de bruços,
esmagando seu corpo sobre o meu. Sua mão enrola em meu cabelo e ele dá
um tranco forte, virando-me de lado para vê-lo.
Sua língua serpenteia meu pescoço e sobe até a orelha, fazendo-me
estremecer.
— Da próxima vez que quiser se exibir para mim feito uma puta —
fala antes de morder a minha orelha. — Me espere em minha cama.
Lionel enfia um dedo em minha boceta e me penetra fundo,
arrancando-me um gemido. O movimento de seu vai e vem se intensifica
enquanto ele me mantém presa aqui, penetrando-me com dois dedos agora.
— Lionel... — gemo quando aumenta a pressão dos dedos e me
massacra, fazendo-me rebolar em sua mão.
Sinto-o erguer o quadril apenas para abaixar a sua calça e eu abro
bem as pernas quando seu membro duro toca a minha entrada.
— Oh... — gemo alto quando ele me estoca de uma vez, chegando ao
fundo.
— É só para mim que você veste essa porra, Stone — murmura
enquanto mete fundo em mim, e meus gemidos se tornam ainda mais altos.
— Ninguém mais pode te ver desse jeito, entendeu?
Grito quando ele arremete forte, seu pau parecendo me rasgar de tão
forte que Lionel mete em mim.
— Entendeu, porra?
Uma pressão em meus cabelos me faz erguer o rosto e encarar seus
olhos cheios de fúria. E eu devo ser uma maluca mesmo por ficar excitada
em vê-lo assim, espumando de ódio.
Mas é exatamente como me sinto agora.
— Entendi — minha voz sai entrecortada e ele solta os meus cabelos,
antes de sair de dentro de mim.
Reclamo pelo vazio e Lionel ergue o meu corpo, então me carrega até
a cômoda do quarto, onde me põe sentada, de frente para ele.
— Tira esse caralho — manda e eu toco a barra da camisola; puxo-a
para cima, tirando de meu corpo.
Meus peitos, um pouco maiores agora, pulam em sua direção e sua
boca saliva. Empino-os para ele, em um convite para que me chupe, mas o
ordinário não o faz.
— Sei que está louca para me ver mamando em você, mas eu não vou
fazer isso.
Lionel me puxa pelos cabelos e me mantém mais próxima dele. As
íris azuis mais escuras agora.
— É para aprender que mulher minha não desfila pela casa com uma
calcinha atolada no rabo. — Lionel afasta a peça apenas para me penetrar
de uma só vez. — Ainda mais uma casa cheia de câmeras.
Rossi morde o meu lábio e massacra a minha boca enquanto mete
duro, seu pau me esfolando sem dó nem piedade. Eu só consigo gemer
enquanto ele me fode nesse móvel de madeira e engole cada um de meus
gemidos, sem deixar de puxar meus cabelos com força.
— Ai, Lionel... — choramingo quando o safado tira o pau de dentro
de mim e esfrega a minha boceta toda lambuzada.
— Pede, Stone — manda e minha respiração se acelera ainda mais.
— Lionel... — chamo, mas o ordinário não me obedece, apenas me
torturando com o pau esfregando meu clitóris.
— Eu mandei você pedir.
— Me fode, Lionel — peço e seus olhos faíscam. — Com força.
O safado solta um rosnado antes de me penetrar tão forte, tão fundo,
que me faz soltar um gritinho.
— Você gosta que eu te foda igual a uma puta, não é?
Seu quadril bate forte contra o meu e o rangido do móvel se
balançando com as estocadas se une ao som dos nossos gemidos.
Caralho...
Como eu amo ter este homem me fodendo deste jeito.
Lionel solta o meu cabelo e desce a mão até o meu peito, onde aperta
com força e belisca um biquinho. Eu me rebolo toda, desesperada por ele,
louca para gozar, vendo que não alivia e continua me comendo sem dó.
Lionel continua metendo firme quando a primeira onda de tremor me
atinge. Eu aperto as pernas ao redor de seu quadril, prendendo-o ali para
que continue me fodendo forte até o orgasmo me atingir.
E, quando ele vem, eu grito alto.
É forte, é insano, é enlouquecedor.
Meu corpo todo se convulsiona e os espasmos me atingem forte.
Lionel só sai de dentro de mim quando estou finalmente relaxada.
— Eu te quero de joelhos — pede enquanto me ajuda a descer do
cômodo. — Para foder a sua boca.
Meu sexo sensível pelo orgasmo pulsa de excitação quando fico de
joelhos diante dele e pego o membro ereto. Acaricio seu pau e brinco com
ele em minhas mãos, vendo Lionel gemer impaciente.
Corro a língua pela cabecinha e não o engulo, vendo este homem se
desesperar diante de mim.
Adoro isso.
— Chupa logo esse caralho, Stone — manda e eu sorrio antes de
abocanhá-lo e senti-lo arremeter até o fundo da minha garganta.
Esse primeiro contato me faz engasgar e isso só encoraja Lionel a
arremeter mais forte dentro de mim, fazendo-me engoli-lo por inteiro.
— Que pau gostoso, Lionel — murmuro chupando a cabecinha antes
de engolir mais uma vez e comê-lo com força.
Lionel projeta o quadril para a frente, ditando o ritmo das estocadas
enquanto fode a minha boca cada vez mais forte e mais intenso,
desesperando-se neste contato.
— Porra, Stone — grunhe enquanto continua me macetando.
Tiro o seu pau de dentro da boca e cuspo nele, espalhando a saliva por
toda a extensão, enquanto o encaro daqui de baixo. Mesmo estando de
joelhos, tenho todo o controle da situação e estou à beira de levar Lionel
Rossi ao colapso.
Dou uma piscadinha antes de voltar a chupá-lo e acelero o movimento
das mãos, masturbando-o sem tirá-lo da minha boca e, pela forma como ele
aperta os meus cabelos e me conduz, sei que está prestes a gozar.
— Ava... — rosna e eu não paro o movimento, chupando-o de um
jeito animal. — Eu vou gozar... — anuncia e acelero mais.
Meu braço dói pelo movimento constante, mas não desacelero, até
sentir o primeiro jato quente na garganta.
— Porra... — Lionel geme enquanto impulsiona seu corpo frenético e
esporra em minha garganta.
Não paro de chupá-lo até que saia a última gota do sêmen. Quando
termino, ergo os olhos e limpo os lábios com os dedos, vendo-o soltar um
suspiro.
— Caralho, Stone.
Levanto-me e ele me toma nos braços, onde sinto todo seu corpo
tremer contra o meu.
Aqui, colada ao seu corpo, sinto seu coração bater tão forte que
parece explodir e é aqui, em seus braços, que eu sorrio.
É aqui que encontro o meu lugar.

 
 

 
 
— Não... Por favor, não! — a voz desesperada de Ava me acorda e eu
dou um pulo na cama. — Elijah, não!
Acendo o abajur e vejo a garota se debater na cama, com o semblante
de puro pavor, ainda que esteja dormindo.
— Ava... — Chacoalho o seu corpo até que ela acorde e abra os olhos
para mim. — Está tudo bem — sussurro. — Foi só um pesadelo.
Ava se senta na cama e olha para todos os lados quando finalmente
parece perceber que realmente é só um sonho. A garota solta um suspiro e
uma lágrima solitária lhe escorre, fazendo o meu punho se fechar.
Odeio vê-la chorar.
— Quer um copo d’água? — ofereço e ela assente, fungando
baixinho antes de abraçar o seu corpo.
Levanto-me da cama e vou até a cozinha para encher um copo para
ela. Quando volto, a garota ainda está encolhida na cama, fazendo meu
coração se partir.
Odeio vê-la assim.
Odeio que aquele desgraçado continue a assombrando mesmo depois
de morto.
Sento-me ao seu lado e estendo o copo para ela, que o pega com os
dedos trêmulos. Observo-a beber a água devagar enquanto toco seus
cabelos ensopados de suor, mais uma vez sentindo algo dentro de mim se
quebrar.
Ava bebe em silêncio e eu fico analisando-a, pensando no quanto essa
mulher chegou e bagunçou a minha mente. Mais cedo, quando a vi
desfilando com uma camisola sexy, eu simplesmente perdi a razão e a
trouxe para o seu quarto, onde a fodi com força, deixando claro que não
estou para brincadeiras.
Só de pensar em algum homem vendo Ava daquele jeito, sinto o
sangue correr mais quente pelas veias.
E, quando acabamos, não consegui negar o seu convite para que eu
dormisse com ela, então assim o fiz. Ficamos conversando um pouco até
que pegássemos no sono e agora fui surpreendido com mais de um de seus
pesadelos.
— Quer conversar? — ofereço enquanto pego o copo vazio de suas
mãos e pouso na mesinha de cabeceira.
Ava não diz nada e eu penso que talvez não queira tocar no assunto,
quando sua voz triste rasga o meu peito.
— Eu só queria parar de lembrar... — Funga baixinho e eu me
aproximo dela para tocar seu ombro.
Não digo nada, apenas acaricio sua pele e deixo que fale o que quiser
para mim. Que se abra o quanto quiser.
— Eu fugi da minha casa com Charles — sua voz é bem baixa e ela
se vira para me olhar, apoiando o rosto nos joelhos dobrados. — Fugi
porque meu padrasto começou a me tocar e minha mãe não acreditou em
mim...
Uma lágrima lhe escorre e eu preciso de um esforço descomunal para
não quebrar qualquer coisa que esteja na minha frente. É difícil conter a
fúria por saber que a minha garota sofreu nas mãos de tanta gente
imprestável, mas sei que preciso fazer isso por ela.
Ava precisa de alguém que a escute, e não que saia por aí socando
coisas por um surto de raiva.
— Quando conheci Charles, vi minha chance de sair daquela situação
e acabei aceitando a sua proposta de vir para Las Vegas. Estávamos
morando juntos quando eu descobri que ele não era o namorado dos sonhos.
— Seus olhos marejam mais uma vez. — Mas pelo menos não me forçava a
transar com ele e isso para mim já estava bom.
Toco seus cabelos castanhos, empurrando-os para trás da orelha, e
percebo que ela se estremece pelo meu toque.
— Mas quando ele conheceu Elijah e aceitou a oferta de emprego, as
coisas ficaram piores... — Ava engole em seco e fica por um instante em
silêncio antes de voltar a me olhar. — Charles me conseguiu um emprego
com aquele homem e eu não tive chance de escolha. Não tinha para onde ir,
então acabei cedendo. No princípio, Elijah pouco se importava com a minha
presença, desde que eu lhe entregasse o que precisava. Mas depois... —
hesita e eu já sinto meu coração bater dentro do peito feito um louco.
Ao mesmo tempo que não quero saber o que tem para contar, sei que
ela precisa desabafar com alguém. Ava precisa expulsar seus demônios.
— Como muitos homens nesse mundo, Elijah começou a me ver
como um pedaço de carne com que ele poderia fazer o que bem entendesse.
Enquanto eu estava trabalhando naquele programa, ele não me incomodava.
Mas, quando me encontrava sozinha pelos cantos, sempre dava um jeito de
me encurralar.
— E Charles não fazia nada? — pergunto pela primeira vez.
Eu sempre soube que ele era um otário, mas deixar o chefe abusar da
própria namorada? Porra, que pau no cu.
— Charles venerava Elijah — ela me fala com a voz triste. — Às
vezes que eu tentava falar, rendiam brigas em que ele acabava me agredindo
e eu saía como a errada. Então preferi me calar.
Esfrego a mão no rosto, já odiando o rumo dessa conversa e sabendo
que preciso de uma dose de uísque.
Uma não, dez.
— Mas Elijah não avançava, porque sabia que precisava de mim. Foi
só quando lhe entreguei o programa pronto que ele se sentiu no direito de
encostar em mim.
Fecho o punho com força, sentindo os nós dos dedos doerem de raiva.
— Então um dia ele mandou Charles para uma viagem a Washington
e eu fiquei sozinha. — Ava não consegue mais conter as lágrimas, que caem
e escorrem pelos seus joelhos agora.
Eu continuo fazendo carinho em seus cabelos, mostrando que estou
disposto a ouvir tudo que quiser me contar.
— Eu só me lembro de ter sido dopada, Lionel. — Ergue a cabeça,
agora para secar as lágrimas, mas não para de chorar. — Elijah colocou
alguma coisa no meu suco e eu só percebi isso quando comecei a sentir meu
corpo mole. Fui para o quarto me deitar quando ele entrou e começou a me
tocar...
Prendo a respiração e sinto tudo dentro de mim doer.
Ainda bem que eu já matei aquele desgraçado, senão sairia daqui e o
caçaria até o fim do mundo para acabar com sua raça.
— Até hoje não sei o que ele fez comigo... — comenta com a voz tão
triste que rasga o meu peito. — Apaguei com suas mãos em mim e acordei
com a camisola suja de sangue, a vagina toda machucada e dolorida.
Respiro fundo e sinto minhas mãos tremerem ao me lembrar do
quanto Elijah debochou por ter feito mal à minha garota.
— Você não se lembra de nada? — pergunto com cuidado me
recordando do que aquele bosta me contou.
— Não... — Balança a cabeça. — Eu estava desacordada.
Então ela não sabe...
Ava não sabe que o filho da puta não só a violentou como a deu aos
seus homens para abusarem dela também. Engulo em seco e guardo essa
informação para mim.
Não preciso aumentar o trauma da garota, então vou levar esse
segredo para o túmulo.
— E, quando finalmente percebi o que tinha acontecido, comecei a
planejar minha fuga — começa a me contar, um pouco menos chorosa
agora. — Em uma conversa, ouvi Elijah citando Benjamin Lewis como um
fornecedor de documentos falsos que não fazia negócios com ele e isso
chamou minha atenção. Consegui descobrir o número desse homem e
liguei, explicando minha situação; ele não se opôs a me ajudar, porque
odiava Elijah. Enquanto os documentos ficavam prontos, fui arquitetando
uma forma de conseguir sair da propriedade e agi em silêncio. Eu não
questionava mais nada que me era dito, vivia apenas de cabeça baixa
aceitando tudo o que faziam, para me deixarem um pouco de lado. E, para a
minha sorte, Elijah não tocou mais em mim, pelo menos não daquele jeito.
Sinto meu corpo tremer diante do seu relato e só consigo pensar em
como uma garota tão jovem pode ter sofrido desse jeito sem ter alguém para
pedir ajuda. Ela não tinha a quem recorrer.
— No mesmo HD que eu salvei a cópia do programa que criei para
Elijah, salvei também o rastreador que eu desenvolvi.
Lembro que Ava contou que o rastreador sempre esteve em seus
brincos e que ela criou como um mecanismo de defesa, mas não me deu
maiores detalhes sobre isso.
— Eu não sabia o que seria de mim quando estivesse fora da
propriedade de Elijah, então instalei o programa para ter uma forma de
pedir ajuda. Eu só queria ser encontrada, então tinha uma versão instalada
no celular caso precisasse enviar para alguém.
Ao mesmo tempo que sinto ódio de todo mundo que fez mal a Ava,
sinto um orgulho absurdo dessa mulher. Ainda que em posição
desfavorável, ela não deixou de lutar. Tudo que fez foi tentando sobreviver.
Essa mulher é foda.
— Com posse do backup dos programas e os documentos em nome
de Caroline, eu planejei a minha fuga em um dia que Charles e Elijah não
estavam em casa. Pedi ao segurança que me levasse ao mercado para
comprar absorventes e fui até o banheiro. Lá dentro me troquei, coloquei
uma peruca e saí pela janela do banheiro sem ser vista. Quando consegui
entrar no primeiro táxi que apareceu, eu só conseguia chorar de alívio.
— E foi assim que você foi parar em New Richland?
— Não ainda. Primeiro fui até San Diego abrir um cofre para guardar
o HD com o backup. Eu sabia o quanto aquele programa era valioso, por
isso não queria andar com ele pelo país e correr o risco de perdê-lo. Foi em
uma cafeteria na cidade que eu ouvi uma senhora falando que tinha família
em New Richland e que era um lugar muito pequeno e afastado de tudo.
Pesquisei no computador do hotel e encontrei um caminho para ir até lá de
ônibus. Precisava parar em várias cidades e demorei dias de viagem, mas
consegui. Lá eu aluguei um cômodo para morar e consegui um emprego no
supermercado, sendo conhecida apenas como Caroline Williams.
— Até eu te encontrar... — murmuro.
— É... Até você me encontrar. Mas, antes de ser levada por vocês, eu
tinha visto Andrew, o segurança de Elijah, então pensei que tivesse sido
raptada por eles.
— Por isso que ficou tão assustada quando chegou aqui?
— Quando eu acordei e soube que não estava aos cuidados de Elijah e
ouvi seu nome, eu surtei — sua declaração me golpeia. — Ele te tinha
como um inimigo e pensei que você pudesse ser pior do que ele...
— Porra, nunca!
— Eu sei. — Ela me abre um sorriso fraco agora. — Hoje eu sei.
Mas, quando cheguei aqui, temi pelo pior. Eu sempre ouvi coisas absurdas
ao seu respeito, como saberia que não iria me machucar?
O relato de Ava só me faz lembrar o quanto ela demorou a confiar em
mim quando chegou aqui.
— E o que te fez confiar em mim? — pergunto com cuidado.
— Em primeiro lugar, você me deu chance de escolha — comenta. —
E eu nunca tive isso. Além disso, todos os seus funcionários me tratavam
com respeito. Ninguém chegava perto demais...
Ouvir Ava falando só me faz embrulhar o estômago, pensando que
uma coisa mínima dessas foi recebida por ela como algo excepcional.
— E quando você me apresentou a sua fábrica... — comenta,
grudando os olhos castanhos aos meus. — Você me tratou como uma igual
ali dentro, Lionel. Me mostrou algo que eu entendo ser precioso demais
para você e não faz ideia do quanto significou para mim.
— Não foi nada de mais.
— Foi, sim, porque Elijah nunca me deixou chegar perto. Eu
trabalhava no programa dele, mas não podia colocar os pés em seu galpão,
porque ali não era lugar para mulher, principalmente uma como eu.
Solto o ar dos pulmões, nervoso.
Porra, está difícil conter a vontade de abrir a cova onde seus ossos
foram enterrados para acabar de socá-lo mais um pouco.
Se eu não tivesse lhe dado uma morte merecida, estaria me corroendo
a uma hora dessas.
— Foi por isso que aceitei sua oferta. Eu percebi que você era
diferente de Elijah em todos os sentidos. — Noto que seu rosto assume um
tom corado e fico curioso por isso. — Você sempre me respeitou, Lionel, e
fez com que eu me sentisse segura ao seu lado. Sei que me protegeria de
tudo e foi exatamente isso que fez.
Sua respiração pesa e Ava me encara com os olhos mais intensos
agora. Seu olhar triste deu lugar para uma versão que parece ser de gratidão.
— Posso te confessar uma coisa? — sua voz fica mais baixa agora e
eu apenas assinto, aproximando-me mais um pouco dela para ouvir melhor.
— Você me fez ter o primeiro orgasmo da minha vida — solta e seu rosto
fica ainda mais vermelho.
— Como é? — indago, não querendo acreditar no que estou ouvindo.
— Charles nunca se importou com o que eu sentia e eu era reprimida
demais para conseguir fazer isso sozinha...
Fecho os olhos por um instante e me lembro do dia em que a fiz gozar
em seu quarto lá no casarão da fábrica, com todo mundo ouvindo seus
gemidos.
Cacete...
Aquela foi a sua primeira vez?
— Você também estava excitado, Lionel, mas ainda assim não se
importou com isso. Simplesmente me fez gozar e foi embora. Colocar o
meu prazer acima do seu foi algo que nunca fizeram comigo na vida... Não
tem ideia do quanto significou para mim.
Sua voz doce rasga o meu coração.
— Caralho, Ava.
— E quando você surtou por me ver chorar ou por me ver com uma
arma nas mãos fez algo dentro de mim se acender. Ninguém nunca se
importou comigo dessa maneira, Lionel.
O meu coração parece que vai explodir dentro do peito de tão forte
que bate, diante de seu relato.
— E foi por essas e tantas outras que eu me apaixonei por você...
Ah, Ava...
A garota me abre um sorriso tão lindo que me quebra ao meio.
— Quando Elijah me violentou, pensei que nunca me entregaria a
outra pessoa. Eu pensei que nunca fosse querer estar com alguém —
confessa, um pouco mais tímida agora. — Mas com você pareceu certo.
Você despertou algo em mim que ninguém mais despertou, Lionel, e por
isso eu não tive medo ao me entregar a você.
Ainda sentado na cama, fico atordoado com a chuva de revelações
desta noite e com o misto de sentimentos experimentados.
— Eu amo você, Lionel Rossi — suas palavras esmagam o meu peito.
— E não me importo se não puder retribuir. Estar ao meu lado e cuidar de
mim é o bastante.
Puxo Ava em meus braços e a aperto firme, acariciando seus cabelos.
Meu coração continua batendo em um ritmo descontrolado dentro do peito,
sem saber como agir.
Ava Stone merece o mundo.
Merece que todos os homens se curvem para ela.
Não sei se sou capaz de lhe ofertar o que espera de mim, mas sei que
colocarei o mundo no chão para tê-la segura.
— Sempre vou cuidar de você, garota — sussurro, beijando seus
cabelos. — Está segura comigo.
E isso eu sei que sou capaz de prometer.
 

 
 
Adentro as portas do Moby Dick ao lado de Lionel e meu sorriso se
amplia ao ver tudo ao redor.
— Caramba... — Solto um assobio e Lionel toca as minhas costas
enquanto me conduz para dentro do cassino.
Como combinado, ele me trouxe para o maior de toda sua rede e no
caminho descobri que todos os seus cassinos têm como nome uma música
do Led Zeppelin.
Quem diria que o magnata Lionel Rossi é fã de um rock clássico?
— Aqui é lindo, Lionel...
— Você ainda nem viu nada.
Lionel me apresenta todo o seu cassino e eu fico maravilhada com
tudo que vejo. As diversas máquinas de caça-níqueis com luzes luminosas
espalhadas por todo o salão, várias mesas com crupiês ministrando roletas,
partidas de pôquer e outros jogos de cartas. O lugar está lotado.
Olho para cima e vejo que os tetos são muito altos e todos eles muito
bem decorados. Há também estátuas espalhadas, chafarizes, placas
indicativas de toda a estrutura.
Meu Deus...
Nunca vi nada igual.
— A ausência de janelas e relógios é estratégica — explica,
encostando a boca em meu ouvido. — Justamente para que percam a noção
do tempo aqui dentro.
— Jura? — indago e ele confirma. — E todos os cassinos são assim?
— Sim. A ideia é prender as pessoas pelo máximo de tempo aqui.
Olhando tudo ao meu redor, vejo que não é mesmo difícil passar o dia
aqui. Entretenimento é o que não falta e, além de tudo, há bares,
restaurantes e lojinhas espalhados aqui dentro.
Sem contar o hotel anexo...
— Lionel, isso é perfeito! — exclamo, sorrindo para tudo o que vejo e
encantada com a magia deste lugar.
São pessoas de várias partes do mundo que passam por aqui, consigo
ver na fisionomia e nos idiomas que eles falam ao passar por nós dois.
Las Vegas é incrível, mas os cassinos são mesmo um show à parte.
— Ainda tem a casa noturna — comenta, apontando para o outro lado
do cassino. — E a área privativa... — Seu tom de voz abaixa e eu arqueio a
sobrancelha, curiosa.
— Que área privativa?
Lionel inclina o rosto para falar baixo, próximo o bastante para que eu
escute.
— No andar subterrâneo acontecem os jogos clandestinos. São
partidas de pôquer com apostas altas que não são declaradas para a Receita
Federal.
— Ahh...
— É um acesso restrito. Só entram pessoas de confiança.
— Entendi...
— Geralmente são grandes empresários, políticos corruptos... É algo
bem discreto.
— E tem em todos os seus cassinos?
— Sim. Kaylee controla a lista de convidados — explica e eu assinto.
— Vem. Quero te mostrar uma coisa.
Lionel me conduz sem tirar as mãos de mim e, a cada vez que toca a
minha pele, desnuda pelo decote nas costas, sinto-me queimar.
A extensão do cassino é imensa e eu tenho certeza de que me perderia
aqui facilmente se estivesse sozinha. A cada lugar que passamos, fico ainda
mais encantada com a beleza deste lugar.
Logo chegamos ao balcão de um bar e Lionel sinaliza para o barman,
cochichando algo que não consigo ouvir daqui.
— Guardando segredos, Rossi? — brinco e ele balança a cabeça para
mim em um sorriso de canto.
É verdade que, desde que me acudiu de um pesadelo no meio da noite
e eu abri meu coração para ele, temos ficado mais próximos. Lionel passa
mais tempo comigo e sorri um pouco mais. Mesmo que ainda não tenha se
aberto completamente ou me dito o que sente por mim, mostra todos os dias
o quanto me quer por perto.
Em poucos minutos o garçom me entrega uma taça de vidro com um
drinque de tom amarronzado.
— O que é isso? — pergunto e Lionel dá de ombros.
— Beba.
Puxo a bebida pelo canudinho e me surpreendo ao encontrar um sabor
de chocolate com um toque diferente.
— É bom... O que é?
— É um drinque de champanhe com chocolate e avelã — explica e eu
sinto o meu coração errar uma batida.
Chocolate com avelã...
Não pode ser coincidência, pode?
— Lançamos no cardápio hoje — fala e seus olhos brilham para mim.
— Mas a sua versão é com champanhe sem álcool.
Um sorriso me abre e eu puxo mais um pouco da bebida, fechando os
olhos para saboreá-la.
— Chama Perfect Stone — completa e eu abro os olhos para ele.
Lionel me encara com um sorriso presunçoso antes de pedir ao
barman uma dose de uísque para ele.
Eu fico parada, imóvel, sem reação.
Ele fez uma bebida para mim?
Caramba...
— O drinque é de venda exclusiva de toda a rede Black Dog. Você só
vai encontrá-lo em meus cassinos — comenta antes de virar um gole de sua
bebida.
— Lionel... Eu...
Perco a fala, porque não sei nem o que dizer diante de tudo isso.
— É gostoso? — indaga e eu pisco os olhos para ele.
— É perfeito... — minha voz sai um sussurro.
— Eu sei. Por isso o nome.
Lionel vira o resto de uísque de uma vez e estende a mão para mim,
convidando-me a acompanhá-lo. Mas, antes que avancemos um passo, eu o
puxo em um abraço.
Percebo que fica um pouco surpreso com a minha reação, mas logo se
solta, abraçando-me de volta.
— Obrigada, Lionel — murmuro de forma que só ele me ouça. —
Ninguém nunca fez tanto por mim.
Lionel me aperta contra si antes de me soltar, pegando-me pela mão.
— Quero te mostrar o hotel agora — sua voz firme me desperta do
torpor.
— Espera... — peço e ele para, encarando-me daquele jeito que me
tem nas mãos. — Eu sempre quis jogar em um caça-níquel. — Aponto para
algumas máquinas perto de nós. — Tem um dólar?
Lionel balança a cabeça em um meio sorriso e me guia até uma
máquina, onde me sento diante dela.
Jogo os cabelos para trás e sorrio empolgada, entregando-lhe a taça ao
pegar uma nota de dez dólares em suas mãos.
— Como faço? — pergunto gesticulando para a tela colorida à minha
frente.
— Insira a nota aqui. — Ele aponta e eu obedeço. — Agora escolha o
valor que quer apostar. Nesta máquina o mínimo é cinquenta centavos.
— Então, se eu quiser colocar um dólar, posso apostar dez vezes?
— Ou até mais. Depende do quanto você vai ganhar nas jogadas.
Esfrego as mãos sorrindo antes de apertar o botão e o jogo ganhar
vida na minha frente.
Quando surgem três figuras completamente diferentes na tela, eu faço
um muxoxo.
— Nossa, eu sou horrível.
Lionel solta uma risada baixa atrás de mim.
— Tenta de novo.
Aperto novamente o botão e desta vez surgem duas cerejas e uma
banana.
— Opa! Acho que estou chegando mais perto agora!
Aposto mais uma vez e ainda não tenho sorte. Mas é na próxima
jogada que surgem três bananas e eu dou um pulo da cadeira de euforia.
— Ah, eu consegui! Não acredito!
Bato palmas de empolgação e mais uma vez ouço a risada baixa de
Lionel às minhas costas.
— Joga de novo.
— Você parece aqueles capetinhas de desenho animado. — Viro-me
para provocá-lo. — Me incentivando a fazer a coisa errada.
— Eu sou o dono do cassino, Ava — comenta, divertindo-se a minha
custa. — A minha alegria é levar o seu dinheiro todo.
— Seu dinheiro, né? — provoco-o. — Os dez dólares são seus.
— Mas, se eu te fizer gostar, vai voltar com o seu.
Balanço a cabeça e volto para a máquina, apostando mais uma vez.
Sigo jogando até estar com vantagem e, quando termino, emito o voucher
para resgatar o meu dinheiro.
— Ai, que emoção!
Levanto-me empolgada e balanço o ticket nas mãos.
— Ganhei treze dólares.
Lionel acha graça da minha empolgação.
— Treze nada, você me deve dez dólares.
Faço uma careta para ele.
— Vai sonhando que eu vou te devolver...
Viro as costas para ele e ando rebolando em direção ao hotel que
mencionou.
Lionel me segura firme pelo braço enquanto me conduz até a
recepção e pega uma chave de quarto. Olho tudo maravilhada e penso que
esse é o hotel mais chique em que já estive. Não que esteja acostumada com
esse tipo de lugar, mas, mesmo nas viagens que fiz em sua companhia,
nunca nos hospedamos em um deste nível.
Subimos pelo elevador e ele se mantém calado ao meu lado, apenas
me apertando forte pela cintura. Quando chegamos ao andar indicado,
Lionel me empurra pela porta do quarto e me pressiona contra a parede.
— Achou que ia me provocar assim na frente de todo mundo e iria
ficar por isso mesmo, Stone?
Sua mão vai até o meu pescoço, onde ele dá um aperto, e eu arfo
desejosa.
— Vai rebolar daquele jeito no meu pau, sua cachorra.
Lionel puxa meu pescoço e cola a sua boca na minha daquele jeito
sedento e possessivo que é só seu. Meu corpo inteiro amolece só por ele me
tocar assim.
— Lionel... — resmungo quando me vira de costas na parede do
quarto.
Ele me mantém presa enquanto ergue a barra do meu vestido e sobe
as mãos em direção à minha calcinha.
Seu dedo toca o meu sexo e eu solto um gemido alto. Aqui eu sei que
não preciso me conter por medo de que possamos ser ouvidos.
— Só eu que te deixo molhada assim, não é? — pergunta, dando um
tranco em meus cabelos, e eu gemo mais. — Não é?
Mais uma puxada em meus cabelos.
— Ahã...
Mal consigo responder quando me penetra com dois dedos de uma
vez só, nublando minha visão.
Cacete...
Rossi bombeia os dois dedos, esfolando a minha boceta, e eu me
contorço sobre ele, esfregando-me e querendo mais, muito mais dele.
— Lionel... — chamo e ele mete mais um dedo em mim, fazendo-me
soltar um gritinho.
A mão que puxa os meus cabelos não alivia e a outra me bombeia
forte, fazendo-me abrir cada vez mais as pernas para ele. Estou prestes a
gozar quando tira os dedos de dentro de mim e traz aos meus lábios.
— Chupa para você ver o quanto é gostosa.
Lambo os seus dedos e sinto todo o meu sabor. Quando ele me solta,
termina de erguer o meu vestido, embolando-o na cintura.
— Empina esse rabo para mim — pede e eu imediatamente o faço,
apoiando-me na parede para facilitar a posição.
Ganho um tapa na bunda, ouço o som de um zíper sendo aberto e logo
o seu membro roça a minha entrada, fazendo-me gemer mais.
— Rossi... — gemo quando ele mete fundo, seu pau grosso me
rasgando.
— Esta boceta é gostosa demais, Stone.
Puxa os meus cabelos e arremete o quadril para a frente, esmagando-
me na parede. O movimento me sufoca enquanto ele mete cada vez mais
forte, mais rápido, seu quadril me massacrando.
Lionel me fode duro contra a parede e a cada pressão em meus
cabelos, cada aperto em meu corpo, só me faz ficar ainda mais excitada,
mais desejosa.
Eu amo o estrago que ele causa em mim.
Rebolo desesperada contra seu quadril, que só acelera o ritmo das
estocadas, e meus gemidos ecoam por todo o quarto do hotel.
— Eu amo te ouvir gemer como a puta que você é.
A pressão nos cabelos aumenta e Lionel me fode tão forte, mas tão
forte, que acho que vai me rasgar inteira. Vai me desfazer em pedacinhos
nesta parede.
Meu corpo começa a apresentar os primeiros tremores quando ele me
solta, afastando-se de mim.
— Volta aqui — reclamo e me viro para olhá-lo.
Seu semblante duro me faz engolir em seco.
— Você vai gozar com o meu pau atolado no seu rabo.
Arregalo os olhos para ele e Lionel apenas me puxa pelo braço; atira-
me na cama, onde caio sentada.
De pernas bem abertas para ele, puxo o vestido para cima e me dispo,
ficando apenas de calcinha. Seus olhos brilham quando avança em minha
direção e acaba de tirar a roupa, ficando completamente nu.
— Meu pau já está todo lambuzado da sua boceta, Stone, nem precisa
de lubrificante — comenta antes de empurrar o meu corpo, deitando-me na
cama de frente para ele.
Seus braços puxam minhas pernas até a borda e eu fico aqui,
completamente exposta, com o peito subindo e descendo em um ritmo
insano de excitação. Acompanho com o olhar o momento em que ele tira a
minha calcinha, deixando-me completamente nua diante dele.
Lionel sorri quando seu membro resvala em meu ânus e eu dou um
tranco, sentindo a tensão.
— Relaxa, Ava... — pede e introduz a cabecinha, fazendo-me prender
a respiração. — Relaxa...
Mas Lionel não avança e o vejo chupar os dedos antes de introduzir
um em mim, bem devagar.
Gemo quando sinto seu dedo todo dentro de mim e logo o segundo
entra devagar, o incômodo inicial dando lugar ao prazer.
— Preparada para o meu pau? — questiona enquanto bombeia os dois
dedos dentro de mim, fazendo-me gemer alto.
Lionel sai e apoia as mãos nos meus joelhos, enquanto seu pau busca
a entrada do meu ânus.
Com os olhos fixos aos meus, ele introduz a cabecinha e eu sinto
como se estivesse me rasgando inteira.
O que são dois dedos da mão diante do pau grosso de Lionel Rossi?
Meu peito sobe e desce em expectativa quando o sinto entrar mais um
pouco e eu aperto os olhos com força.
— Dói? — pergunta e apenas balanço a cabeça, com a respiração
pesada. — Quer que eu pare? — indaga e eu nego.
Ainda que esteja doendo muito, quero saber como é.
Quero sentir.
Lionel penetra mais um pouco agora, fazendo-me soltar um gritinho.
— Ava — chama e eu abro os olhos para ele. — Tudo bem? —
balanço a cabeça para ele. — Então relaxa para mim.
Assinto e respiro fundo, buscando relaxar, mesmo sentindo uma dor
forte para caralho.
Uma de suas mãos solta o meu joelho e toca o meu clitóris,
estimulando-me enquanto me penetra bem devagar, e o prazer que isso me
causa me faz relaxar.
— Porra, Ava — grunhe ao finalmente chegar ao fundo. — Toca essa
boceta, vai.
Lionel volta a segurar os meus joelhos e eu desço a mão até o clitóris
enquanto ele faz um vai e vem gostoso em meu cu.
Sem tirar os olhos de mim, ele me observa tocar a minha boceta e
enfiar um dedo dentro dela, fazendo-me morder o lábio.
— Porra, que delícia... — murmuro e ele sorri de lado antes de
arremeter mais forte agora.
— Lionel! — repreendo-o e o safado ri, desacelerando o ritmo.
— Seu cu é gostoso demais, Stone. Puta que pariu!
Ele me aperta firme enquanto acelera um pouco as estocadas,
fazendo-me esquecer toda a dor que eu senti.
É gostoso...
É insano...
É surreal...
Acelero o ritmo dos dedos em minha boceta e Lionel tem isso como
um incentivo para aumentar sua pressão em mim, seu ritmo vai crescendo a
cada estocada.
— Ai, Lionel... — choramingo quando ele me puxa para mais
próximo dele, enterrando seu pau ainda mais fundo dentro de mim.
— Porra... — resmunga e não para de meter fundo, forte, rápido,
comendo o meu cu de um jeito insano agora.
— Ai, caralho — gemo quando ele tira o pau quase todo de dentro de
mim e arremete de novo.
Eu nunca imaginei na minha vida que fosse sentir tanto prazer em um
sexo anal e unido ao toque certeiro em meu clitóris, sei que estou à beira de
enlouquecer.
É, de longe, a coisa mais gostosa que eu já senti.
Caralho...
Rossi parece perceber, pois sorri safado demais enquanto continua me
fodendo por trás, aumentando a pressão a cada estocada.
A forma como nosso corpo balança faz meus seios pularem e eu
fricciono a boceta tão forte agora que sei que não vou demorar a gozar.
— Lionel, eu...
Minha boca seca e o safado sorri antes de meter ainda mais rápido
dentro de mim.
— Eu te falei que ia gozar com meu pau atolado no seu rabo.
Os movimentos rápidos em minha boceta fazem um som alto por
causa da lubrificação e eu fecho os olhos com força quando o orgasmo me
atinge.
— Cacete!
Meu corpo se ergue da cama e eu gozo tão forte, tremendo tanto, que
sinto todos os dedos do pé se esticarem. Solto a boceta e agarro os lençóis
abaixo de mim, sentindo o corpo inteiro se entregar aos espasmos.
Lionel continua metendo forte, quando tira o pau de dentro de mim de
uma vez e goza na minha barriga, derramando seu jato quente em minha
pele.
— Caralho... — resmunga e eu apenas respiro ofegante, sentindo
meus cabelos grudarem na testa pelo suor.
Ele desaba na cama ao meu lado e toca o meu rosto em uma carícia
lenta.
— Nunca vou me cansar de foder você — solta e eu gargalho.
— É bom mesmo que não se canse, Rossi.
Encaro-o nos olhos e ele sorri de lado, continuando a me tocar.
Não me diz mais nada e nem precisa.
Seus olhos me dizem que é mesmo verdade.
Este homem nunca vai se cansar de mim.
 

 
 
— Sinta o cheiro disso, Rossi! — Blake brinca levando uma nota
nova ao nariz e fechando os olhos para inspirar o aroma. — Porra, isso é o
cheiro do sucesso!
Pego uma nota de cem dólares da pilha e tateio conferindo cada
detalhe, abrindo um sorriso ao ver que ficou mesmo perfeita.
— Cheira esse caralho, Lionel! — Blake briga e eu solto uma risada.
— Não é você quem manda aqui, Watson — advirto-o, mas não
resisto em trazer o papel para o nariz.
A risada de felicidade que meu amigo dá é contagiante.
Cacete, ainda nem acredito que finalmente conseguimos.
Hoje estamos fechando os primeiros malotes que serão entregues
amanhã mesmo. Como prometido, estes serão dos russos e em seguida
meus clientes mais fiéis receberão o seu.
A vantagem de ter adaptado minha produção em tempo hábil e de ter
eliminado meu maior concorrente é que todos os clientes de Elijah vieram
até mim. Eu não só consegui manter a minha clientela como praticamente
dobrei a produção, já que sou o pioneiro no país em fornecer a nova nota.
Não poderia estar mais feliz.
— Cara, depois de tanto sufoco, finalmente veio a bonança. — Blake
cheira a nota mais uma vez antes de guardá-la no bolso. — Essa é minha
nota da sorte agora.
— Quanta besteira — debocho e ele faz uma careta para mim.
— É tempo de comemoração, Rossi! Salvamos este negócio e você
ainda vai ser pai! Caralho, essa última notícia, sim, é uma comemoração e
tanto.
Balanço a cabeça e sinalizo para que ele me acompanhe para fora do
galpão.
— Já está tudo certo para as entregas amanhã?
— Sim. Estamos fechando os últimos malotes.
— Ótimo.
— E como estão as coisas entre você e a Ava? — pergunta enquanto
caminhamos até o meu escritório.
— Estão bem — afirmo, tirando um cigarro do bolso para acender.
Blake faz uma careta quando dou um trago, mas não fala nada desta
vez. Ele sabe que eu sou um caso perdido.
— Está ansioso com a chegada do bebê?
— Eu não diria ansioso... — Jogo a fumaça para o alto e noto que ele
me observa em silêncio. — Já tive um bebê em casa, lembra? Já sei como
se faz.
— Mas agora é diferente. É seu filho.
— Eu amo a Amy como minha filha, Blake — corto-o. — Não tem
diferença nenhuma para mim.
— Está certo... — Ele dá de ombros. — Mas agora você vai ter um
filho com a mulher que você ama.
Arqueio a sobrancelha para ele em um protesto silencioso a sua fala.
— A-hã, Lionel Rossi... Você acha que me engana — ele completa,
decifrando a minha expressão.
Balanço a cabeça e ouço passos vindo em nossa direção, a imagem
que eu vejo me faz sorrir. Ava caminha até nós com o semblante relaxado e
com o vestidinho solto balançando pelo seu corpo.
Hoje, com pouco mais de três meses de gestação, sua barriga
começou a aparecer e ela faz questão de usar roupas que destaquem isso.
Ava está simplesmente perfeita.
— Com esse sorriso idiota aí você quer me dizer que não a ama? —
Blake debocha.
Antes que Ava se aproxime, jogo o cigarro no chão e esmago-o com
meu sapato para apagar a chama.
— Você está linda, Ava — meu amigo elogia e a garota sorri
encabulada. — A gestação tem lhe feito muito bem.
— Ah, Blake... Quanta gentileza sua.
— Vai cuidar da sua fábrica — reclamo, sinalizando com a cabeça
para ele, que solta uma risada.
— Fica tranquilo, Rossi. Ela é sua.
Blake faz uma careta e eu decido ignorar, puxando Ava pela cintura e
tocando o seu queixo antes de beijar os seus lábios.
Beijar esta garota é gostoso pra porra.
— Deu tudo certo na fábrica? — ela me pergunta ao se afastar.
Conduzo-o para dentro de meu escritório e fecho a porta atrás de nós.
— Amanhã sairão os primeiros malotes para entrega e, pela fila de
espera que eu vi, vamos ter que fazer hora extra para dar conta de todas as
encomendas.
— Isso é ótimo, Lionel!
Seu sorriso se amplia e eu assinto.
— Porra, é um alívio.
Corro as mãos pelos cabelos e vou até o barzinho me servir uma dose
de uísque.
— Há seis meses achei que tudo tinha desmoronado — comento,
encostando meu quadril na mesa e vendo Ava se aproximar. — Dá um
alívio do caralho saber que deu tudo certo.
— Mas você sabe que não ficaria na pior, porque tem os cassinos, não
é? — pergunta, correndo os dedos pelo meu peito.
— Sei disso, mas não consigo nem imaginar o que faria se encerrasse
a fábrica.
— Que bom que não precisou — sussurra, descendo as mãos pelo
meu peito em direção a minha calça, e eu estreito os olhos para ela.
— O que está fazendo, Stone? — minha voz sai mais rouca e Ava me
lança um sorriso malicioso.
— Sempre tive vontade de ser fodida nessa mesa do seu escritório.
— Porra... — gemo quando a safada aperta o meu pau por cima da
calça.
— A câmera tem um ponto cego? — pergunta e eu assinto,
empurrando-a para longe de mim.
Tranco a porta e puxo a garota pelo braço até a lateral da mesa, em
um ponto onde sei que a câmera não alcança. Ava imediatamente se senta
na borda do móvel de madeira e arreganha as pernas para mim, fazendo
meu pau virar um porrete dentro da calça.
— Quer ser fodida aqui, Stone? — Puxo seu cabelo com força e trago
a garota para mais perto de mim.
A danada lambe os lábios e eu dou um tranco nela antes de soltar seus
cabelos para desabotoar a minha calça e libertar o meu pau.
— Fica caladinha — peço e afasto a sua calcinha para penetrá-la de
uma só vez. — Ou então toda a fábrica vai saber que você está fodendo
nesta sala feito uma puta.
Os olhos de Ava faíscam quando eu volto a puxar os seus cabelos e
meto fundo nela, fazendo a mesa ranger abaixo de nós.
— Ai, Lionel... — choraminga enquanto eu estoco forte, puxando
seus cabelos com ainda mais força.
Meu pau entra e sai de sua boceta quente em um ritmo frenético e eu
sinto um tesão de louco, aumentando cada vez mais o aperto das mãos.
— Inferno de boceta gostosa — murmuro antes de colar a boca na
sua, devorando-a.
Sentir o calor de sua língua atrelada a minha neste ritmo insano só me
faz ficar ainda mais louco por ela.
Minhas mãos descem até a sua cintura, onde eu aperto firme e a
mantenho imóvel, presa em meu domínio. Acelero o ritmo das estocadas e
sinto meu pau esfolar sua boceta enquanto engulo cada um de seus
gemidos, não conseguindo tirar as mãos dela.
É gostosa demais.
É quente demais.
Puta que pariu.
Solto sua boca e a percebo respirar ofegante, recuperando o fôlego.
Minha língua resvala a sua pele e desce até o pescoço, onde mordo e sinto-a
se arrepiar todinha.
O tanto que eu amo foder essa mulher.
— Lionel... — geme baixo e eu saio de dentro dela, ouvindo seu
resmungo.
— Calma, safada. — Viro-a de costas e ergo o seu vestido, tendo a
visão de seu rabo gostoso. — Empina essa bunda para mim.
Ava obedece e eu desfiro um tapa na nádega branquinha antes de me
enterrar em sua boceta de novo.
— Oh... — Ela segura firme na mesa enquanto eu meto duro, em um
ritmo insano.
Perco a porra do juízo e meto feito um louco todas as vezes que estou
dentro dela.
Ava Stone é gostosa demais.
Estapeio sua bunda mais uma vez e um gritinho seu me faz acelerar o
ritmo, fodê-la feito um animal nesta mesa.
Estou pouco me lixando se estão nos ouvindo agora, nos vendo, ou o
caralho que for. Eu só consigo foder cada vez mais forte essa boceta.
— Lionel... — geme daquele jeito que me anuncia que está bem perto
de gozar.
— Já quer gozar, Stone? — pergunto, estocando mais forte agora.
— Lionel...
Seguro seu quadril e não alivio, metendo fundo, duro, seus gemidos
se fazendo ouvir por todo o meu escritório.
A primeira onda de tremores a invade e eu acelero as estocadas,
vendo a garota se render a um orgasmo insano e desabar sobre a mesa.
— Ah...
Aperto sua cintura mais forte; esfolo sua boceta com meu pau até o
orgasmo me atingir também, e esporro dentro dela.
Meu corpo inteiro treme até que solta a última gota e eu saio de sua
boceta, observando-a continuar imóvel, esparramada na mesa.
Guardo meu pau dentro da calça e dou um tapa em sua bunda antes de
ajeitar a calcinha e descer a barra do vestido.
— Desejo realizado, Stone? — provoco-a e a garota sorri sonolenta.
— Pode me dar folga agora? — pergunta ofegante e eu arqueio a
sobrancelha para ela.
— Eu não te pago para matar serviço assim.
— Como quer que eu volte a trabalhar com a sua porra escorrendo
pela minha perna? — reclama e eu gargalho.
— Foi você que me pediu para te foder, Stone. Lide com isso.
A danada solta um suspiro de derrota.
— Não posso mesmo ir para casa? — Faz um biquinho que me tem
nas mãos.
O que essa mulher vai me pedir que eu terei coragem de negar?
— Peça o Donald para te levar — aviso, dando um selinho nela. —
Eu vou mais tarde.
O sorriso da garota se abre e ela se joga em meu pescoço, tirando-me
uma risada.
— Você é o melhor do mundo!
Ava fica na ponta dos pés para me beijar daquele jeito que é a minha
perdição.
— Vai, Stone. Antes que eu te prense naquela parede para te comer de
novo.
Seus olhos faíscam quando ela se afasta de mim.
— Agora eu dispenso, mas posso te esperar na cama mais tarde...
Ava pisca para mim e joga os cabelos para trás, rebolando antes de
sair do meu escritório.
Balanço a cabeça rindo.
Essa garota sempre vai foder o meu juízo.
 

 
 
— O que vocês estão aprontando aí? — Lionel pergunta logo que
entra na cozinha e me vê trabalhando ao lado de Amy.
Embora eu seja a grávida daqui, a menina sempre tem vontade de
comer alguma coisa e o pedido de hoje foi brownie de chocolate. Como a
nova empregada da casa já encerrou o expediente, acabamos vindo nós duas
para a cozinha.
— Estamos fazendo brownie de chocolate, tio! — Amy comenta
animada enquanto pica uma barra de chocolate meio amargo.
— Tome cuidado com essa faca — Lionel adverte e se inclina para
beijar a testa da sobrinha antes de vir em minha direção.
Estou misturando os ingredientes quando chega perto e me dá um
selinho. Noto em seu semblante o quanto está exausto. Os últimos dias têm
sido puxados no trabalho com o início das entregas dos malotes. Ele tem
chegado em casa bem tarde e extremamente cansado. Nesses dias, eu o
tenho esperado chegar, em sua cama, para uma massagem ou simplesmente
um sexo gostoso.
Desde que me acudiu de um pesadelo, não tenho mais dormido
sozinha e Lionel não se opôs a isso. Na verdade, sinto como se também me
esperasse todos os dias.
— Deu tudo certo? — pergunto e o vejo assentir, franzindo o cenho
para mim.
— A remessa de hoje foi entregue com sucesso.
— Que ótimo...
— Ai — Amy reclama e na mesma hora olhamos para ela, vendo
sangue jorrar por sua mão.
— Eu te falei para ter cuidado, Amy! — Lionel avança furioso sobre
ela. — Porra! Não estava vendo?
— De-desculpa — a garotinha gagueja assustada e seu tio esbraveja
mais uma vez, em tempo de fazer a pequena chorar.
— Lionel, sai daqui! — Decido interferir e empurro-o longe, mas ele
tenta voltar, furioso com a situação. — Eu cuido dela, sai! — grito e só
então Rossi parece me ouvir. — Agora!
Ele atira um copo de vidro na parede e sai da cozinha em passos
firmes, batendo portas por onde passa.
— Desculpa, Ava — a menina pede com a voz chorosa. — Foi sem
querer...
— Eu sei, minha linda. — Pego seu dedo cortado e contenho o
sangramento com uma toalha de papel. — Onde tem curativo?
— Na maletinha do banheiro.
— Certo. Segura firme.
Solto sua mão e guio Amy até o banheiro social, onde procuro pela
maleta no armário.
— Está doendo... — Amy chora e eu sinto um aperto no peito.
— Já vai passar, meu amor.
Abro a maletinha, encontrando gaze, esparadrapo e um spray próprio
para machucados. Mas, antes que eu possa fazer o curativo, trago a mão de
Amy para a pia a fim de lavar.
— Ai...
— Vai arder um pouquinho, mas vai melhorar — asseguro-lhe.
Com a ferida limpa, confiro e vejo que o corte foi superficial, então
imagino que não vá precisar levar algum ponto.
— Vou borrifar esse spray e se arder muito você me fala, tá? — peço
e a garota assente, ainda me olhando assustada.
Passo o remédio no corte e Amy reclama, chorando baixinho
enquanto eu faço o curativo em seu dedo.
Com tudo pronto, dou um beijo na ponta do machucado e vejo a
pequena sorrir fraco.
— Obrigada, Ava.
— Talvez seja melhor deixarmos o brownie para outro dia —
comento e ela assente.
— Acho que vou para o meu quarto agora.
— Quer que eu vá com você? — ofereço e a menina confirma.
— Por favor.
Guardo a maleta de volta no banheiro e a acompanho para colocá-la
na cama, não encontrando Lionel pelo caminho. Imagino que esteja no
quarto ou no escritório.
— Não gosto que o tio Lion fique bravo comigo — comenta logo que
eu a ajudo a se acomodar em sua cama.
— Ele não está bravo com você, Amy. Ficou nervoso porque você se
machucou.
A pequena faz um biquinho e funga baixinho.
— Você não fala que seu tio parece um leão? — digo, tocando seus
cabelos com carinho. — Leões ficam bravos quando seus filhotes se
machucam.
Aperto o seu nariz e ela sorri um pouco, fazendo-me relaxar.
Quando sair daqui eu vou ter uma conversa séria com Lionel, ele não
pode agir desse jeito com a Amy. Tem que se controlar pelo menos com ela.
— Quando ele estiver mais calmo, virá conversar com você, tá bom?
Amy balança a cabeça.
— Pode me ajudar a vestir um pijama?
— Claro! Qual você quer?
Levanto-me de sua cama e vou até o seu closet. Lá de dentro ouço a
menina me pedir o pijama de gatinhos. Quando retorno, ajudo a pequena a
se trocar e pego o livro que me pediu em sua prateleira.
— Quero ler um pouco antes de dormir.
— Tudo bem. Só não fique acordada até muito tarde.
Acaricio seus cabelos e me inclino para beijar o seu rostinho.
— Boa noite, Ava. Obrigada por ter cuidado de mim.
— Boa noite, Amy. Somos uma família agora — declaro, acariciando
a minha barriga, e a menina sorri. — Sempre vou cuidar de vocês.
Aceno para ela e apago a luz do quarto, deixando-a ser iluminada
apenas pelo abajur. Ao sair, procuro por Lionel em toda a casa e o encontro
no andar de baixo, em seu escritório, de pé em frente ao janelão com um
copo de uísque na mão.
— Como ela está? — pergunta quando nota a minha presença.
— Mais calma. Eu fiz o curativo e a coloquei para dormir.
Lionel se vira para me olhar e percebo seu semblante devastado.
— Precisava agir desse jeito com a Amy? — repreendo-o e ele
estreita os olhos para mim. — Nós, adultos, sabemos lidar com suas
grosserias, Lionel. Ela não.
— Eu perdi a cabeça, tá legal? — reclama e cruzo os braços.
— Precisa aprender a se controlar. Não pode estourar com a sua
sobrinha todas as vezes que ela se machucar.
— Eu sei, caralho! — esbraveja e eu não me intimido.
Lionel precisa ouvir umas verdades.
— Amy vai adoecer ao longo da vida, sabia? Vai se cortar, desmaiar
e...
— Porra, Ava! — grita, batendo o copo de vidro na mesa. — Eu sei
de tudo isso, inferno. Eu só perco a cabeça quando ela se machuca!
— Mas foi só um corte e...
— Não importa! — Avança sobre mim e agarra o meu braço, ficando
tão próximo que sinto sua respiração quente. — Eu não posso perdê-la —
sua voz vacila um pouco e eu estreito os olhos para ele.
— Você não vai perder ninguém...
Uma gargalhada debochada me interrompe e sua mão solta o meu
corpo.
— Eu sempre perco, Ava. Sempre — cospe as palavras e eu tenho um
sobressalto. — Todas as pessoas que um dia eu amei, eu perdi.
Meu coração erra uma batida e vejo a fúria em seus olhos.
— Todas! Minha mãe, minha irmã, Estella... — diz amargo e eu sinto
um aperto no peito.
Quem é Estella?
— E você acha que foi uma morte tranquila? — sua voz amarga só
me faz engolir em seco. — Primeiro a minha mãe. Morreu atropelada por
um engomadinho filho da puta sem habilitação que dirigia embriagado.
Suas palavras me golpeiam e eu aperto meu corpo.
Ai, meu Deus...
— E, para piorar, ela estava sem falar comigo — sua voz é mais
dolorida agora. — Dona Judith descobriu que o filho fabricava dinheiro
falso e, adivinha? — Ergue os braços e a dureza de seu semblante me
desarma. — Minha mãe recriminou o que eu fazia, Ava, e foi levada de
mim antes mesmo de eu tentar consertar as coisas com ela.
Uma lágrima me escorre ao pensar na dor que ele sentiu.
Meu Deus...
— E depois veio Estella. — As íris azuis se escurecem agora. Lionel
para e se serve de mais uma dose de uísque, virando-a de uma só vez. — A
primeira mulher por quem eu me apaixonei.
Ah, não...
— Eu levei Estella para a minha casa e prometi-lhe o mundo, mas só
lhe dei infelicidade. Passava dia e noite trabalhando, ela ficava sozinha em
casa, até chegar um dia que... — Para e respira fundo. — Ela estava tão na
merda que foi capaz de tirar a própria vida.
Meu Deus...
— Estella pegou o meu revólver e deu um tiro na cabeça, Ava! Tudo
para se livrar de uma vida comigo.
Suas palavras me golpeiam e eu me lembro do episódio em que ele
surtou ao me ver com o revólver.
Meu coração bate desesperado dentro do peito e eu só consigo chorar,
pensando em tudo que Lionel passou, em quanta gente perdeu...
— E depois veio Candice — comenta se referindo à irmã. — Ela
engravidou de um sujeito que não queria o bebê e, sabe o que o filho da
puta fez? Atirou na minha irmã grávida. — Coloco as mãos nos ouvidos,
não querendo ouvir mais isso, não querendo mais saber. — Candice morreu
no parto e a bala que atravessou sua barriga deixou Amy paraplégica.
Meus braços caem pelo corpo e eu só consigo olhar para ele,
chorando.
Então essa é a sua história?
Isso é tudo o que ele carrega?
— Meu lema de vida é manter Amy viva, Ava. — Ele se aproxima de
mim, erguendo o dedo em minha direção. — Eu estou cansado de perder
quem eu amo. Cansado dessa porra!
— Eu sinto muito, Lionel — minha voz sai baixa, entre lágrimas. —
Sinto tanto...
Puxo-o para perto de mim e agarro o seu corpo, obrigando-o a me
abraçar, obrigando-o a ficar perto de mim.
Daqui consigo sentir seu coração bater feito louco e tento passar
conforto neste contato. Preciso demonstrar a ele que estou aqui ao seu lado
e que não vou a lugar nenhum.
— Amy vai ficar bem, Lionel — sussurro e ele não diz nada. —
Assim como eu vou ficar e o seu filho também.
Seu coração bate ainda mais forte agora, disparado dentro do peito.
— Nós todos vamos ficar bem — asseguro-lhe. — Você não vai
perder mais ninguém...
Não sei como prometo uma coisa dessas, mas prometo. Cada palavra
que sai de minha boca sai firme, intensa, mostrando-lhe que pode confiar.
— Eu vim para Las Vegas ainda um moleque, quando minha mãe se
cansou de apanhar do meu pai — fala ao se afastar do meu abraço.
Meu coração se acelera porque sabe que ele finalmente vai se abrir
para mim, finalmente vai me contar a história de sua vida...
Lionel vai até o barzinho e se serve de mais uma dose, encostando o
quadril na sua mesa para me olhar, enquanto dá um gole na bebida.
— Nasci na cidade de Reno e vivi lá até meus doze anos. Todos os
dias via meu pai chegar bêbado em casa e descontar tudo na minha mãe,
mas eu não podia fazer nada. Nos dias em que ele ficava mais agressivo, eu
escondia Candice, que era cinco anos mais nova que eu, e apanhava por ela.
Com a voz mais calma agora, Lionel fala baixo, porém suas palavras
rasgam o meu coração e eu fico apenas em silêncio ao seu lado, ouvindo
tudo o que tem a dizer.
— Na época, minha mãe juntou nossas coisas e fugiu de casa, com
duas crianças, vindo parar em Las Vegas com esperança de encontrar um
emprego mais fácil. As pessoas sempre diziam que não tem como ficar
desempregado aqui. Em primeiro momento ela conseguiu um emprego de
garçonete e eu ficava em casa cuidando da minha irmã para que ela pudesse
trabalhar. Morávamos em uma espelunca, tínhamos muito pouco para
comer, mas pelo menos não apanhávamos mais.
Abraço o meu corpo e não consigo conter as lágrimas ao ouvir a
história de Lionel, pensando no quanto ele já sofreu nessa vida.
— Quando fiz quatorze anos, comecei a procurar um emprego.
Queria ajudar a minha mãe, porque o salário dela era muito baixo para
sustentar nós três. Eu trabalhava meio expediente em um mercadinho e
ganhava uns trocados por dia, o que já ajudava bastante. E, aos dezesseis
anos, trabalhava em mais horas e foi lá que eu conheci o Blake.
Ele faz uma pausa e bebe mais um pouco do uísque. Fico aqui atenta
a tudo o que tem a me dizer, lembrando-me de quando me contou sobre
como começou esse trabalho com as notas frias.
— Eu tinha acabado de completar dezoito anos quando a minha mãe
descobriu de onde vinha o dinheiro que eu colocava dentro de casa. Nessa
época eu já comprava comida melhor, roupas melhores para elas, e Judith
começou a desconfiar. — Engulo em seco ao pensar na reação de sua mãe
quando soube disso. — Ela ficou arrasada, me chamou dos piores nomes e
disse que eu nunca prosperaria com isso. Lembro que me falou que, quando
eu fosse preso, não me visitaria na cadeia.
— Ah, Lionel...
— Ela ficou uma semana sem conversar comigo, Ava. — Ele se vira
para me olhar, com o semblante triste. — E logo nessa época, ela sofreu o
acidente. Eu perdi a minha mãe, a pessoa que nos trouxe a Las Vegas para
nos proteger, sem que voltasse a falar comigo. Minha mãe morreu achando
que eu seria um fracasso.
Sua voz amarga me faz sentir um arrepio. Aproximo-me dele e
mesmo não o tocando, consigo sentir o seu calor.
— E foi ali que eu prometi para mim mesmo que venceria na vida,
para mostrar a ela que estava errada sobre mim — ele conta, virando-se
para me encarar. — O dinheiro compra tudo, Ava. Por isso eu sempre soube
que ela nunca teria o desgosto de me ver preso.
Sinto um calafrio só de pensar na possibilidade de Lionel ir preso ou
ser separado de mim. Sei que ele age com bastante cautela e espero que
continue por muito tempo assim.
— E, poucos anos depois, conheci Estella — a menção de sua
primeira paixão me causa um aperto no peito. — A garota era doce, alegre e
eu era apaixonado por ela, pensei que poderia lhe dar o mundo quando a
levei para morar comigo. Mas Estella só reclamava que se sentia sozinha e
que eu nunca tinha tempo para ela. Nem todo mundo está disposto a pagar o
preço por ficar com um cara como eu.
Rossi me olha agora de um jeito tão intenso que me faz engolir em
seco. Sinto como se me questionasse se eu realmente sabia onde estava
entrando quando decidi abrir o meu coração para ele.
— Estella entrou em depressão e eu nem mesmo vi. Estava ocupado
demais trabalhando para notar qualquer mudança em seu comportamento.
Só me dei conta quando a encontrei morta no chão.
Meu corpo inteiro treme e Lionel se afasta da mesa para se servir de
mais uma dose do destilado.
— E por fim eu tinha a minha irmã, a quem jurei cuidar e proteger —
sua voz é um misto de mágoa e decepção. — Mas Candice se envolveu com
a pessoa errada e, se teve que se esconder de mim, é porque sabia que não
era boa coisa. E ainda assim ela insistiu no erro...
Sinto que há mais por trás dessa história, mas Lionel não prossegue.
Ele simplesmente balança a cabeça e vira o resto da bebida, dando como
encerrado o assunto.
— A minha vida é uma sucessão de desgraças, Ava — revela,
olhando-me daquele jeito que me penetra a alma. — Eu estou de saco cheio
disso.
Por impulso, puxo-o em um abraço e aperto o seu corpo contra o meu,
em uma mensagem silenciosa de que tudo ficará bem.
Mais uma vez, não sei como posso prometer uma coisa dessas, mas
eu preciso.
Lionel precisa disso.
Ele perdeu muita gente na vida e acabou se fechando no percurso,
mas eu estou aqui para lhe mostrar que pode ser feliz de novo.
Que pode ser amado.
Que pode amar também.
Lionel Rossi merece isso.
 

 
 
— Bom dia, coração — murmuro ao ver Amy piscar os olhos para
mim enquanto acaricio seus cabelos escuros.
A pequena me olha um pouco confusa e solta um bocejo.
— Bom dia, tio Lion.
Toco seu braço e desço o lençol até encontrar a sua mão com o dedo
cortado. A primeira reação de Amy é esconder o curativo e eu sinto um
aperto no peito.
Odeio que ela tenha ficado com medo de mim.
Mas simplesmente surtei quando vi o sangue escorrer pela sua mão.
Eu fiquei louco e, se não fosse Ava naquele momento, não sei como teria
agido. Mais uma vez essa mulher me provou o quanto é foda por cuidar da
minha menina por mim.
Não planejei contar a Ava daquela maneira toda a merda que envolve
o meu passado, quando percebi já estava vomitando tudo em cima da
garota. No entanto, agora que passou, eu me sinto aliviado por dividir isso
com ela.
Se Ava Stone pretende entrar nessa família, precisa saber onde está
pisando.
— Está doendo? — pergunto, acariciando seu dedo e tentando ver por
trás do curativo.
— Agora não — responde baixinho. — Ava passou um remédio, que
ardeu na hora, mas já passou.
Assinto e noto a pequena erguer os olhos para mim.
— Desculpa, tio Lion. Foi sem querer. Eu prometo não fazer de
novo...
— Está tudo bem, coração. Eu que te peço desculpas. — Trago o seu
dedo aos meus lábios e dou um beijo na pontinha. — Eu prometi cuidar de
você, lembra? Por isso o tio surtou quando viu todo aquele sangue —
explico.
— Você já cuida de mim e agora a Ava também. Ela é muito boa para
mim, tio. Vocês podiam mesmo se casar.
O comentário de Amy me faz balançar a cabeça rindo.
Tenho uma pequena cupida morando por aqui?
— Casamento não é tão simples, Amy. — Estreito os olhos para ela,
mas não parece convencida.
— Vocês, adultos, são tão complicados — bufa e eu acho graça disso.
— Mas, se um dia mudar de ideia, eu vou achar muito legal.
— Vou me lembrar disso. — Aperto o seu nariz e ela me abre um
sorriso. — Quer descer para tomar café ou prefere que eu traga na cama
para você? — ofereço como uma forma de me redimir por ter sido um
cuzão noite passada.
A pequena parece pensar um pouco antes de responder.
— Prefiro descer. Assim a Ava também toma café com a gente.
— Desse jeito vou ficar com ciúmes. — Faço uma careta e Amy
gargalha.
— Não precisa, tio. Eu te amo mais, porque eu te conheço há um
tempão. A Ava eu conheci recentemente, mas amo ela também.
Sorrio de sua declaração e me inclino para beijar a sua testa.
— Eu te amo muito mais, coração.
Ajudo-a a se levantar, levando-a ao banheiro para sua higiene matinal
e também para trocar o pijama por uma roupa levinha. Pela forma como
sorri para mim, sei que já esqueceu o episódio de ontem e eu me pego
pensando em como crianças são tão puras e incapazes de guardar rancor.
Descemos pelo elevador e, ao chegarmos à cozinha, encontro Ava
montando a mesa de café.
— Bom dia! — minha pequena a saúda, e ela se vira para nos olhar
com um sorriso lindo no rosto.
— Bom dia, minha linda. — Ava se abaixa diante da cadeira de Amy.
— Como passou a noite? Dormiu bem?
— Sim! Tio Lion me acordou e não está mais bravo comigo.
A garota ergue os olhos para mim e sorri mais.
— É claro que ele não está bravo com você. O que foi que eu te disse
ontem? — Afaga os cabelos da menina antes de se levantar e me dar um
selinho.
— Bom dia, Lionel.
— Bom dia, Ava. Onde está Abigail? — pergunto me referindo à
empregada.
— Eu a dispensei hoje. — Dá de ombros e se afasta de mim.
— Você, o quê? Com que autorização? — ergo o tom de voz e ela me
fuzila com o olhar.
Olho para baixo e o semblante aflito de Amy me faz soltar um
suspiro.
Ô missão dos infernos me controlar perto da minha pequena.
— Ela já tinha preparado o café e eu a liberei para ir embora. — Ava
cruza os braços e empina o queixo para mim.
— Ela não tem que acatar suas ordens, Stone.
— Sei que não, mas nós precisávamos de um momento a sós. O dia
está lindo lá fora. Ótimo para aproveitar.
— E não lhe ocorreu que eu precisaria trabalhar? — Estreito os olhos
para ela.
— Já liguei para o Blake e me informei, está tudo sob controle lá. —
Ava se detém antes de dar mais detalhes, por causa de Amy. — O que custa
ficar em casa pelo menos uma vez na vida?
— É, tio Lion — Amy intervém. — Vai ser legal... Tira uma folga
hoje.
Solto uma bufada e percebo que estou perdido com essas duas.
— Ainda assim, você deveria ter me consultado antes — repreendo
Ava, que balança a cabeça, descruzando os braços.
— Eu sei e não te garanto que não vou fazer isso de novo — diz
confiante e eu reviro os olhos para ela.
Mulher teimosa da porra.
— Então vamos tomar café! — ela anuncia e logo nos acomodamos
diante da mesa farta.
Nós dois acabamos comendo waffles e panquecas, enquanto Amy
prefere seu tradicional cereal com leite. Ver minha pequena sorrir e contar
coisas engraçadas à mesa faz o meu coração bater mais leve.
Eu quase me esqueço do inferno que foi ontem à noite.
Terminamos a refeição e enquanto a menina vai para o ateliê trabalhar
na tela que está pintando para o primo; Ava me leva até o seu quarto no
andar de baixo a fim de me mostrar alguma coisa.
— O que é? — pergunto ao adentrar o cômodo que ela não usa para
dormir mais.
Minha mulher abre o armário e retira de lá uma caixa, antes de se
sentar na cama e dar uma batidinha.
— Vem cá — chama e eu me sento ao seu lado.
— É para mim? — pergunto quando coloca a caixa branca em meu
colo.
— É... Mais ou menos — solta e eu arqueio a sobrancelha. — Mas,
antes que abra, preciso te contar que menti para você.
Giro o pescoço e sinto o meu sangue ferver.
— Que porra é essa, Ava? Mentiu no quê?
— Ei, calma! Não é uma mentira ruim.
— E desde quando mentira é algo bom?
— Essa é. Deixa de ser turrão pelo menos uma vez e me escuta — diz
e eu estreito os olhos, querendo saber até onde isso vai.
— Então me diga qual é a sua mentira, Ava.
— Abra..
Ela me abre um sorriso ansioso enquanto eu desfaço a fita dourada e
destampo a caixa, encontrando um papel de seda branco. Abro-o e dentro
encontro uma roupinha de bebê.
— Mas eu já sei que vou ser pai... — comento e Ava revira os olhos
para mim.
— Vê direito, Lionel.
Desdobro toda a roupinha e encontro a estampa do pequeno Simba
com uma coroa dourada na cabeça. Embaixo, os dizeres: Filho do Rei Leão.
Procuro por mais alguma coisa na caixa e não encontro, então fico
sem entender no que foi que ela mentiu.
— É linda a roupinha, Ava. Mas não entendi onde você mentiu.
— Jura, Lionel? — Solta uma bufada. — Lê o que está escrito.
— Filho do Rei Leão.
— E...?
— E o quê? Não tem mais nada escrito aqui.
Viro a roupinha em minhas mãos e não encontro mais nada.
— Nosso Deus, mas é burro! — seu comentário me deixa impaciente.
— Por que não fala logo o que é, caralho?
— Veja a frase, Lionel. Filho do Rei Leão e não filha — Ava solta e
então minha ficha cai.
Arregalo os olhos para ela, que abre um enorme sorriso para mim.
— Mas não deu para descobrir o sexo no último ultrassom —
relembro o dia em que fui com ela e estava ansioso para saber; o médico
disse que o bebê estava de pernas bem fechadas e nos escondeu o que era.
— E foi nessa parte que eu menti para você. — Seu sorriso se torna
triunfante. — Voltei lá outro dia sozinha para tentar ver o sexo e ele abriu as
perninhas para mim. Então eu te escondi essa informação para fazer uma
surpresa.
Olho para Ava, que toca a barriga sorrindo e eu sinto uma coisa louca
dentro de mim.
— É sério isso? — minha voz falha e ela ri, assentindo frenética.
Porra...
Eu vou ser pai de um menino.
Caralho.
A vida toda cuidei da minha menina e agora eu vou ter um menino.
Um herdeiro...
Puta que pariu.
— Você pode escolher o nome — Ava comenta ainda sorrindo. — Eu
pensei em alguns, mas vou deixar nas suas mãos essa missão...
Interrompo-a, derrubando-a na cama e lhe tirando uma risada. Eu a
calo beijando sua boca e descendo as mãos pelo seu corpo até alcançar sua
barriga. Quase não a toco ali, mas agora me surgiu uma necessidade de
sentir o meu filho.
O meu filho...
Meu menino...
— Caralho, Stone — murmuro, afastando-me de seus lábios. — Você
ainda vai me deixar louco.
— Espero que seja uma loucura boa. — Seus olhos brilham.
— Um menino, Ava? Você vai me dar um menino? — indago e ela
apenas assente freneticamente, com o sorriso mais lindo do mundo. —
Porra...
Encaro seus olhos castanhos enquanto acaricio sua barriga, vendo um
filme se passar na minha mente.
Vejo o dia em que ela chegou assustada na fábrica, encolhida, com
medo de tudo e de todos. Vejo toda a sua evolução nos últimos meses e
sorrio com a versão que encontro hoje. Da mulher forte, que colocou a vida
em risco para salvar uma garotinha e que não só não tem mais medo de
mim como me desafia, se for preciso.
Essa mulher que não abaixa a cabeça para defender aquilo em que
acredita.
Não consigo conter um sorriso de orgulho da mulher do caralho que
Ava Stone se tornou. E que não só virou o meu mundo de cabeça para baixo
como me trouxe o melhor.
Ela chegou com a solução para os meus negócios, me fez eliminar o
meu maior concorrente e ainda me deu um filho.
Sem contar que minha vida se tornou bem melhor com ela ao meu
lado.
— Porra, Stone. Eu amo você.
Nem dou a ela tempo de resposta, quando ataco seus lábios mais uma
vez e a devoro. Eu a beijo daquele jeito insano, sedento, louco, daquele jeito
que é só nosso.
Daquele jeito que mostra o quanto sou louco por essa mulher e que
sou capaz de colocar fogo em quem fizer mal a ela.
Eu te prometi proteção, Stone.
E te dei a porra do meu amor.
Algo que nem eu sabia que ainda existia em mim.
 

 
 
— Ai, meu Deus... Está ficando tão lindo! — exclamo ao ver o berço
de Henry sendo montado em seu quarto.
Lionel já tinha contratado seu arquiteto para projetar o quarto do
nosso bebê e desde que soubemos do sexo, há cerca de um mês, começamos
a finalmente montá-lo com o tema de O Rei Leão.
— Quando Amy chegar da escola e encontrar o berço montado, ela
vai ficar doidinha — comento e ele solta uma risada ao meu lado.
— Vai mesmo.
Enquanto os funcionários terminam de montar o móvel, vejo tudo ao
nosso redor ganhando vida. Os armários já foram instalados na semana
passada e as cortinas chegaram ontem. Sei que faltam a poltrona de
amamentação, o tapete e as pelúcias que encomendei. Ainda não tenho
todas as roupinhas e acessórios de que preciso, mas isso estou
providenciando aos poucos com Amy, quando vamos ao shopping. Ela
adora participar disso e está ansiosa pela chegada do primo.
Olho para tudo ao nosso redor e sorrio ao ver a tela que Amy pintou,
do pequeno Simba, pendurada na parede lateral. Ficou simplesmente
incrível e eu não consegui conter a emoção quando ela nos entregou. Lionel
ficou todo orgulhoso e eu só sabia chorar diante daquela perfeição. E agora,
vendo-a pendurada na parede, percebo o quanto se encaixou bem por aqui.
Com o berço pronto, Lionel paga-lhes uma gorjeta e então ficamos
sozinhos no quarto do nosso filho. Mesmo que ele não seja tão empolgado
quanto eu, consigo ver em seus olhos o quanto está feliz.
E isso me vale tudo.
Ele continua um homem fechado na maior parte do tempo e
extremamente focado no trabalho. Em sua fábrica, não fica de sorrisos para
ninguém, mas aqui em casa, com sua família, mostra um lado só nosso.
Lionel Rossi está longe de ser um homem romântico, mas é
incontestável o quanto nos protege e cuida da sua família como um
verdadeiro leão.
E eu não mudaria absolutamente nada dele.
Eu o amo exatamente como é.
Semana passada ele pediu a Scott para me ensinar a atirar e comecei a
fazer algumas aulas com seu chefe de segurança. Lionel me confessou que
estava bastante resistente a isso, mas percebeu o quanto é necessário para
que eu saiba me defender, caso precise. Devido à gestação, os cuidados nas
aulas de tiro são maiores. Só fazemos em local aberto, usando máscara de
proteção, luvas, óculos e abafadores de ruídos. Nós seguimos uma série de
protocolos para que não faça mal ao nosso bebê e sei que quando a gravidez
avançar, vamos suspender as aulas.
Depois de dar um milhão de recomendações e celebrar praticamente
uma palestra para mim, Lionel me deu uma Desert Eagle de presente, igual
à dele. Esse gesto significou muito para mim, principalmente pela sua
história. Mostrou que ele está vencendo esse bloqueio e confiando mais em
mim.
Não preciso nem dizer o quanto me senti tocada por isso.
Eu continuo trabalhando como sempre, mas recentemente fui
promovida a chefe de TI. Hoje sou a responsável por toda a programação da
fábrica e de sua rede de cassinos, aumentando meu nível de
responsabilidade ali dentro.
Ganhar esse voto de confiança de Lionel também foi algo que me
tocou bastante. Se fosse outra pessoa, talvez me afastaria de minhas funções
com a chegada do bebê, mas meu homem me mostrou que me quer ao seu
lado não só em sua vida, mas também em seus negócios.
E isso, para mim é tudo.
— Eu já consigo imaginar o Henry aqui. — Suspiro, vendo que
ficamos os dois encarando o quarto em silêncio.
— Ficou bom, né? Acho que ele vai gostar deste cantinho.
— Ficou perfeito! Não poderia ser mais lindo. Não é, bebê? — Toco a
barriga e sinto meu pequeno se mexer dentro de mim.
Puxo a mão de Lionel de uma vez e ele se assusta.
— O que é isso, Ava?
— Vem sentir o seu filho.
Coloco sua mão junto com a minha e ficamos parados, vigiando os
próximos movimentos.
— Ah, Henry... Mexe de novo para o papai ver — peço e meu garoto
não decepciona, dando um chute dentro de mim.
Lionel abre um sorriso ao sentir o pequeno e nessas horas eu tenho
aquele vislumbre do lado sensível que ele tem. Não é sempre que nosso
bebê se mexe quando o pai está por perto, por isso, quando acontece, faço
questão de tirá-lo de onde estiver para sentir.
— Isso é muito louco — murmura quando o bebê se mexe mais uma
vez.
— Se é louco para você, imagina para mim, que o carrego aqui
dentro? Tem hora que eu sinto como se ele acertasse o meu fígado — brinco
e Lionel ri.
— Energia sabemos que ele tem.
— De sobra — completo.
Confiro tudo ao nosso redor e saímos do quarto, descendo até o andar
térreo.
— Donald está nos esperando — avisa e eu assinto, pegando a minha
bolsa para sair de casa.
Entramos no carro e logo que nos acomodamos, Lionel toca o meu
joelho descoberto pelo vestido.
— Temos uma reunião com o Carter agora.
— O Carter? — pergunto lembrando-me do advogado. — Aconteceu
alguma coisa?
— Não, é só para vermos uns documentos — diz e eu sinto que há
algo a mais nisso, mas não questiono.
É melhor esperar para ver o que é.
Quando chegamos à fábrica, ele me conduz até o seu escritório e,
como avisado, o advogado nos aguarda lá dentro.
— Carter — Lionel o cumprimenta e ele se vira para nós.
— Bom dia, Rossi. — Estende a mão para o homem ao meu lado. —
Bom dia, Ava.
— Bom dia, Carter.
O sorriso amistoso que ele me abre ao me cumprimentar me faz ter
esperança de que seja uma coisa boa que está por vir.
— Então, Ava. Carter está aqui porque precisa te passar algumas
informações importantes — Lionel conta, indo até o seu barzinho para se
servir de uma dose de uísque.
— Certo...
Carter coloca sua pasta sobre a mesa e tira de lá uma pilha de papéis,
fazendo meu coração se acelerar um pouco dentro do peito.
O que será isso?
— No mês passado Rossi me chamou para reavaliarmos o testamento
dele — Carter diz sério e eu sinto a minha respiração pesar. — Até então, a
Srta. Amy Rossi era detentora de todo o patrimônio dele após o seu
falecimento e agora fizemos algumas mudanças.
Eu me sento na cadeira e sinto as mãos tremerem quando o advogado
me apresenta os papéis do testamento de Lionel. Do outro lado da sala, este
me encara sério bebericando seu uísque.
— Na nova redação, o patrimônio de Rossi é dividido entre Amy e a
senhorita — diz, fazendo-me prender a respiração por um instante. — Com
o nascimento de Henry, ele também entrará nessa parcela.
Meus olhos marejam e eu preciso piscá-los várias vezes para enxergar
o teor dos documentos diante de mim.
Lionel, ele...
Ele me incluiu em seu testamento?
Ele pensou em mim?
Ergo os olhos para ele, que apenas me encara firme, mostrando que é
mesmo real o que está acontecendo.
Meu Deus.
— Todo o patrimônio de Lionel Rossi está descrito aqui, Ava. São as
suas propriedades, os carros, aviões e toda a rede de cassinos. Além das
contas bancárias e os seguros de vida.
São tantos números na minha frente que eu me perco, são tantos
milhões que eu perco as contas.
Caramba...
Ainda não consigo acreditar, quando Lionel finalmente se move e se
aproxima de mim.
— Eu trouxe o Carter aqui com intuito de te apresentar tudo para que
tenha ciência disso. Caso eu morra amanhã, não ficará desamparada, e
quero que continue os negócios sem mim — sua voz sai tão firme que é
inevitável deixar uma lágrima me escorrer agora.
Nossa...
Lionel faz tanto por mim...
— Tem alguma dúvida, Ava? — Carter me pergunta e eu nego. —
Certo. Na ocasião do falecimento de Lionel, meu escritório é o responsável
pela execução do testamento, então já sabe quem procurar.
— Que isso demore uns cinquenta anos — solto e ele gargalha.
Mas Lionel não ri, apenas continua me encarando.
— É o que esperamos. — Carter junta toda a papelada e devolve para
a pasta, levantando-se da mesa. — Qualquer dúvida que tiver, pode me
ligar. Tenham um bom dia!
Nos despedimos dele e ficamos sozinhos, com Rossi ainda me
encarando daquele jeito firme.
— Não consigo nem pensar em perder você — confesso e seus lábios
repuxam de lado em um meio sorriso.
— Sei que não. Mas eu preciso pensar em tudo e não posso te deixar
na mão.
Levanto-me da cadeira e toco seu peito, vendo-o largar o copo na
mesa para agarrar as minhas mãos.
— Obrigada — digo olhando dentro de seus olhos. — Por cuidar de
mim, do nosso filho e por pensar em nós dois. Eu nunca vou ser grata o
bastante.
Abro um sorriso e as lágrimas descem. Lionel apenas toca o meu
rosto para secá-las e sua mão desce até o meu pescoço, onde toca o colar
que me deu há alguns meses, como presente de boas-vindas.
— Preciso ver mais uma coisa com você — diz, voltando a segurar as
minhas mãos.
— O quê? — pergunto curiosa.
— Quero saber se você quer ser uma Rossi — fala e eu sinto a minha
respiração parar.
É o quê?
— Como... Como é? — gaguejo e ele ainda me olha firme, sem soltar
as minhas mãos.
— Você quer assinar Rossi, Ava?
Meu coração bate que nem um louco dentro do peito, porque eu mal
processei a ideia do testamento e ele me solta uma dessas.
Assim.
Do nada.
Lionel é maluco.
— Mas não é preciso casar para isso? — pergunto, odiando minha
voz falha.
— É exatamente isso que eu estou te perguntando.
Puta que pariu.
Como Lionel me solta uma dessas assim?
— E-eu...
Fico sem reação.
Não sei como responder.
Ele está me pedindo em casamento, é isso? Ou eu estou alucinando?
Por que Lionel não age como gente normal e me pede as coisas
direito?
— Você quer saber se eu quero me casar com você? — pergunto,
direta, porque meu cérebro está em parafuso.
— Não é um casamento que me fará ter um compromisso com você,
porque já sabe como me sinto — explica. — Para mim é indiferente ter um
papel ou não afirmando isso. Porém, gostaria que tivesse o meu sobrenome
e não há outra forma para isso.
Pisco os olhos lentamente, processando cada uma de suas palavras e
finalmente entendendo o que ele quer.
Lionel Rossi quer se casar comigo.
Casar...
Meu Deus.
— E então, Ava? — insiste e eu balanço a cabeça.
— Eu quero — respondo e ele abre um sorriso de lado, assentindo.
— Perfeito. Vou começar a providenciar tudo.
Lionel me dá um selinho antes de soltar a minha mão e eu fico
esperando pelo seu próximo passo.
Será que vai me dar um anel?
— Tem mais alguma coisa para mim? — pergunto, sondando, mas ele
nega.
— Por enquanto, não. Pode ir trabalhar agora.
— Certo...
Aceno para ele e saio de sua sala, sentindo o meu coração bater feito
um louco dentro do peito, tentando processar todas essas informações que
acabei de receber.
E, ainda que eu esteja extremamente honrada por Lionel ter pensado
tanto em mim, não consigo evitar uma pontada de tristeza por não ter
ganhado um anel.
Eu sei que ele definitivamente não é como todos os homens deste
mundo, mas ainda assim...
Balanço a cabeça afastando esse pensamento de mim.
Lionel me ama e isso precisa ser mais importante do que um simples
anel.
Preciso me lembrar de que ele faz tudo por mim.
 

 
 
— O que aconteceu? — Blake passa pela porta quase no mesmo
instante em que Ava sai daqui.
— Nada. — Dou de ombros.
Mas meu amigo não parece satisfeito e estreita os olhos para mim.
— Como nada? Ava saiu desta sala com o semblante meio triste —
sua revelação me deixa confuso.
— Triste? Não era para estar. Pelo contrário...
— Vai me dizer o que aconteceu aqui?
Bufo ao ver que Blake não vai se cansar até que eu lhe conte tudo.
Mas antes sirvo mais um copo de uísque para mim e outro para ele.
— Eu trouxe Carter para apresentar a Ava a nova redação do meu
testamento, em que eu a incluí. — Blake solta um assobio e eu continuo. —
Depois disso, propus casamento. Não entendo por que teria se chateado, se
aceitou.
Dou de ombros e Blake simplesmente se engasga com a bebida.
— Você, o quê? — pergunta com o tom de voz alterado. — Lionel
Rossi pediu alguém em casamento? — ralha e eu reviro os olhos para ele.
— Se veio até aqui para me perturbar, eu tenho mais o que fazer.
— Não, cara! Pelo contrário. — Assobia de novo. — É um avanço e
tanto para você. Fico feliz de verdade.
Blake abre um sorriso sincero e eu aceno para ele, bebendo mais um
gole do uísque.
— Será então que ela não gostou do anel? Foi por isso? — sugere.
— Que anel?
— Ah, não, Rossi. Você não fez isso! — seu tom de voz se eleva
agora. — Me conte exatamente como a pediu em casamento.
— Não tenho muito a contar.
Detalho para ele a nossa conversa logo quando Carter nos deixou a
sós e o quanto Ava demonstrou surpresa com a minha proposta. Mas ela me
pareceu emocionada até, não entendi por que estaria triste como Blake me
disse.
— Caralho, Rossi! Você pediu uma mulher em casamento sem a porra
de um anel? — Meu amigo me encara como se eu fosse um extraterrestre.
Mas, porra...
— Foi tão natural que eu nem pensei nisso — justifico. — Não vou
me ajoelhar diante de ninguém pedindo em casamento, Blake. Nem
fodendo que eu faço uma coisa dessas.
— Não precisa se ajoelhar para ninguém, seu burro. Mas toda mulher
espera ser pedida com um anel. Eu sei que você não liga para isso, mas Ava
só tem vinte e cinco anos. Aposto que ela tem esse sonho.
Viro o restante do uísque e me sirvo de mais uma dose, fazendo o
mesmo por Blake.
Será que ele tem razão?
Esfrego a barba nervoso e solto uma bufada.
Porra, ele tem razão.
— Tem certeza de que ela saiu daqui chateada?
— Tenho. E, mesmo que não tivesse, você precisa comprar um anel.
Não existe isso, Lionel.
— Não sou como todos os homens, Watson, e Ava sabe disso.
Aceitou se casar comigo ciente. Eu não dou a mínima para essas
formalidades.
— Eu sei que não. Mas o que te custa? Você tem dinheiro para
comprar uma joalheria inteira, caralho! Faça um agrado para a menina!
— Odeio essas convenções sociais — resmungo.
Se eu poderia dar uma joia para Ava? Com toda certeza. Sei que o
farei muitas vezes nesta vida. Mas ter que seguir um protocolo, uma
tradição imposta por algum idiota, me deixa puto.
— Não faça isso por você. Faça por ela. Tenho certeza de que é
importante para Ava.
Blake me encara firme e eu suspiro.
Ele está certo.
Vou sair daqui a pouco para resolver isso e não chego em casa sem
um anel.
Repasso a conversa que tivemos e lembro que no final ela me encarou
como se esperasse por alguma coisa e eu não tinha.
Merda!
A garota realmente esperava por um anel e eu não lhe dei.
Preciso consertar isso.
— Vou comprar um — afirmo e Blake me dá um sinal de aprovação.
— E o casamento? Já sabe como vai ser?
— Não, Blake. Acabei de pedir, porra. Não tive tempo para pensar em
nada disso.
Começo a ficar nervoso e meu amigo percebe.
— Sei que você não gosta dessas coisas, Rossi. Sei que por você
apenas se sentaria junto a esta mesa aqui e assinaria os papéis — aponta e
eu o encaro como se fosse óbvio. — Mas você tem que pensar no que ela
quer. Mulher sempre sonha com um casamento de verdade e...
— Não vou casar numa igreja, Blake. Meu corpo é capaz de pegar
fogo só de entrar naquele lugar — desdenho e ele solta uma risada.
— Não estou falando de igreja, estou falando de uma cerimônia
íntima. Com um jantar, um bolo de casamento.
Fecho os olhos e suspiro pensando em toda essa merda.
Ai, caralho...
Vou ter que me submeter mesmo a isso?
Não dá para só mesmo assinar os papéis e pronto?
— Sei que odeia essas coisas, mas repito: Veja o que ela quer. Realize
o sonho da menina, não te custa nada.
— Custa, sim. — Franzo o cenho para ele e tomo mais um gole da
bebida.
— A garota vai parir um filho seu, Rossi. Não te custa nada fazer isso
por ela.
Se há uma coisa que eu odeio nesta vida é que as pessoas tenham
razão e não eu.
E é exatamente isso que eu estou sentindo ao ouvir tudo o que Blake
tem a me dizer.
Ele está certo.
Vou me submeter a essas trivialidades por ela. Ava merece que as
coisas sejam do jeito que sonhou.
E é exatamente assim que eu vou fazer.
 

 
Entro no quarto no exato momento em que Ava sai do banheiro
penteando os cabelos.
— Amy já dormiu? — pergunta e eu aceno.
— Fiquei ouvindo um pouco de suas histórias até que ela pegasse no
sono.
Ava sorri e se senta em nossa cama. Eu me acomodo ao seu lado e
sinto o meu coração se acelerar dentro do peito.
— Ava — chamo-a. — Sei que hoje você ficou esperando por algo
que eu não te ofereci.
Minha mulher solta os cabelos e me encara confusa.
— Do que está falando?
Respiro fundo e enfio a mão no bolso da calça, onde guardei a
caixinha.
— Você sabe que eu não sou como todos os homens e não tenho
muita paciência para certas coisas.
— Eu sei. — Ela sorri. — Eu te amo exatamente por isso.
— E eu estava falando sério quando disse que não preciso de um
papel assinado para firmar um compromisso com você. Sempre fui um
homem de palavra.
— Eu sei disso, Lionel. Nunca tive dúvidas. — Ela me encara firme.
— Mas também sei como essas coisas são importantes para você —
solto e a vejo estreitar os olhos para mim.
Tiro a caixinha da Tiffany do bolso e abro, revelando o anel de ouro
branco incrustado com pedras de diamante.
— Lionel...
Ava abre a boca em choque e seus olhos brilham tanto que só me
fazem ter ainda mais certeza de que Blake estava certo.
Ela esperava mesmo por isso.
— Eu fiquei te devendo um anel — digo e noto seus lábios tremerem
e os olhos marejarem. — Posso?
Estendo a caixinha para ela, que assente para mim freneticamente.
Com cuidado, deslizo a joia pelo seu dedo e noto uma lágrima
escorrer pelo seu rosto.
— É lindo... — Suspira e eu sinto meu coração bater mais calmo por
ela ter gostado.
— Sabe que eu vou sempre cuidar de você, não é? — Não tiro os
olhos dela, para que saiba que estou mesmo falando sério. — E que sou
capaz de colocar fogo no mundo inteiro para te fazer feliz.
— Eu sei... — Seus olhos marejam e ela me abre um sorriso lindo.
— Você veio para foder a minha cabeça, Stone. E eu gosto para
caralho do caos que você causa em mim.
Ava sorri ainda mais e alterna os olhos de mim para o anel em suas
mãos.
— Ficou lindo em você — afirmo e ela me encara firme. — Na futura
Sra. Rossi — digo e vejo seus olhos faiscarem.
Notar seu semblante safado me faz arquear a sobrancelha para ela.
— Está pensando em sacanagem, Ava? — decifro seu olhar e ela solta
uma risada sacana antes de me derrubar na cama.
— Estava pensando como seria ser fodida pelo meu noivo...
Porra.
A garota avança sobre mim e beija a minha boca, daquele jeito
sedento e desesperado que é só nosso. Minhas mãos descem pelo seu corpo
e sobem o vestido devagar, onde aperto seu rabo.
A bunda de Ava só ficou mais gostosa com a gestação.
Na verdade, essa mulher inteira ficou mais gostosa desde que ficou
grávida.
Ava solta a minha boca e ergue o corpo para desabotoar a camisa,
sentada em cima de mim. A safada rebola em meu pau já duro por ela,
enquanto se livra da minha camisa e deixa meu peito nu.
Eu costumo assumir o controle do sexo, mas hoje vou deixar por sua
conta.
Hoje vou deixar minha mulher fazer o que quiser comigo.
Dobro um braço atrás da cabeça enquanto a observo abrir o zíper da
minha calça e puxar meu pau lá de dentro, massageando-o em suas mãos.
— Porra... — gemo e a safada sorri enquanto continua me
masturbando devagar.
Em um movimento, ergue a barra de seu vestido e o atira longe,
ficando apenas de lingerie preta para mim. A barriga de cinco meses de
gestação já está bem volumosa e eu só consigo pensar no quanto esta
mulher é linda.
É perfeita...
É gostosa para caralho.
— Senta no meu pau, vai — peço e ela lambe os lábios antes de
afastar a calcinha e erguer o quadril para sentar de uma vez só, engolindo-
me até o talo.
— Porra, Ava — murmuro quando ela joga os cabelos para trás e
começa a me cavalgar bem devagar, de um jeito doloroso de tão bom.
Tenho o impulso de descer as mãos e guiá-la sobre o meu cacete, mas
me contenho.
Essa noite é dela.
E Ava vai fazer o que quiser comigo.
— Seu pau é tão gostoso — geme enquanto acelera um pouco os
movimentos, subindo e descendo mais rápido agora, esfolando o meu pau.
Caralho...
Que foda boa dos infernos.
— Toca sua boceta, amor — peço e seus olhos faíscam quando ela
afasta mais a calcinha para se tocar.
Ava ergue o quadril e senta de novo, quicando com tudo em meu pau,
fazendo-me ter um autocontrole do caralho para não gozar logo. Porque ter
essa mulher sentando em mim, engolindo o meu pau desse jeito, é coisa de
louco.
— Pode me comer de quatro? — pede com a voz manhosa e é
impossível negar.
Quando ela sai de cima de mim, eu ergo o meu corpo e fico de
joelhos, posicionando-me atrás dela para estocá-la de uma vez só.
— Como você quer? — pergunto, estapeando a sua bunda enquanto
meto fundo nela.
— Mais rápido — pede e eu sorrio, acelerando os movimentos e
ouvindo-a gemer descontrolada nesta cama.
Os dedos de Ava se afundam no lençol e apertam com tanta força
enquanto eu a como, que daqui consigo ver os nós ficarem esbranquiçados.
— Gosta assim? — Acelero e dou mais um tapa em sua bunda,
ouvindo-a gemer mais.
Minhas mãos soltam o quadril e sobem até o meio das suas costas
para desabotoar o sutiã e libertar os seus peitos, que pulam agora pelo
movimento das arremetidas.
— Mais rápido, Lionel — pede e eu aperto seu quadril forte enquanto
aumento a pressão, massacrando sua boceta com meu pau.
Meu quadril bate forte no seu e a garota geme a cada estocada mais
forte, a cada tapa em sua bunda, a cada aperto que eu dou.
— Ai, Lionel... — choraminga e eu continuo fodendo-a com força,
vendo-a rebolar desesperada contra mim, louca para gozar.
— Já quer gozar, Ava? — pergunto e ela solta um gemido louco
enquanto eu não alivio e continuo metendo forte.
— Eu... Eu...
Sinto os primeiros tremores lhe invadirem e só aumento o ritmo das
estocadas, vendo a garota se desesperar ainda mais contra mim.
— Então goza, Stone.
Tiro o meu pau e arremeto de uma só vez, indo lá no fundo e vendo a
garota gemer alto ao gozar. Seu corpo inteiro se convulsiona e eu acelero o
ritmo até o orgasmo me atingir também, esporrando dentro dela.
A garota está ofegante quando eu tiro meu pau e desaba na cama. Eu
termino de me despir e me deito ao seu lado, tocando seus cabelos, que
estão úmidos de suor.
— Quando a gente se casar, você vai parar de me chamar de Stone?
— sua pergunta me faz rir baixo.
— Eu deveria, não?
— Eu acho sexy — comenta, mordendo o lábio devagar. — Ainda
mais nessas horas...
Seu rosto vira um pimentão e eu acho graça disso.
— Que horas, Stone? Quando eu te fodo até você se esquecer de
como se respira? — provoco e ela lambe os lábios para mim.
— Essas mesmo.
Pego uma mecha de cabelos solta e brinco com ela em minha mão.
— Pode continuar me chamando de Stone. Mas só você — pede e eu
acho graça.
— Vou tentar me lembrar disso quando tiver o meu pau enterrado
dentro de você.
A risadinha dela é seguida de uma piscadela.
— E falando em casamento — começo, ainda brincando com a mecha
de cabelos. — Você tem liberdade para planejar como quiser.
Ava me encara por um momento parecendo surpresa.
— Jura?
— Sim. Mas espero que não sonhe em casar em uma igreja, porque eu
não estou nem um pouco a fim disso.
Ava faz uma careta e gargalha.
— Isso não é mesmo a sua cara. Mas não se preocupe, Lionel. Uma
cerimônia simples já é o bastante para mim.
Suspiro aliviado.
— Mas podemos esperar o Henry nascer? Não quero parecer um bolo
de casamento.
Reviro os olhos para ela.
— Do jeito que está gostosa? Duvido que vá parecer um bolo —
afirmo e noto suas bochechas vermelhas. — Mas pode ser como você
quiser, Ava. Te dou carta-branca para isso.
Seus olhos marejam agora.
— Sei que é importante para você. — Solto seus cabelos e toco seu
rosto com carinho. — Então faça como desejar.
Uma lágrima lhe escorre e eu seco no mesmo instante.
— Obrigada, Lionel — sua voz é grata e me diz que eu fiz mesmo a
coisa certa.
— Eu vou te dar o mundo, Ava.
Toco seu queixo e a faço olhar dentro de meus olhos.
— Em pouco tempo você será uma Rossi e preciso que se lembre
sempre de uma coisa: um Rossi pode tudo — digo tão firme que noto seus
lábios tremerem de leve.
— Eu te amo, Lionel Rossi. Você foi a melhor coisa que aconteceu na
minha vida.
Abro um sorriso de lado.
— Eu também te amo, garota.
Ava sorri e se inclina para me beijar, em um beijo diferente de todos
que já tivemos.
Esse é cheio de carinho, de amor e de gratidão.
É cheio de posse, de entrega, de domínio.
É cheio de promessas.
Eu vou mesmo te dar o mundo, Ava Stone.
Nunca duvide disso.
 

 
 
A vida nem sempre é boa.
A vida nem sempre é bonita.
Mas nem por isso precisamos desistir.
Eu mesma sou a prova disso.
Quando pensei que tudo tinha acabado para mim, surgiu uma luz no
fim do túnel:
Lionel David Rossi.
Ele me resgatou das trevas e me devolveu a luz.
Me devolveu a vida, a vontade de viver.
Me devolveu a liberdade.
Lionel me deu uma família.
Me deu alguém por quem lutar.
E eu só consigo ter ainda mais certeza disso quando o vejo carregar
nosso filho nos braços, neste quarto de hospital.
Lionel olha para Henry como se o mundo inteiro estivesse em seus
braços e sei que é exatamente assim. Ele briga por quem ama, luta, mata e
até morre se preciso for.
Lionel não ama pela metade.
Ele ama por inteiro.
E não precisa me dizer isso todos os dias para que eu saiba.
Ele me mostra em atitudes o quanto me ama. Como quando me
resgatou no galpão de Elijah, quando eliminou quem me fez mal, quando
me incluiu em seu testamento e me pediu em casamento, quando esteve ao
meu lado durante a cesárea para Henry nascer.
Lionel ficou ali comigo, segurando a minha mão, enquanto eu
passava por uma cirurgia delicada e sentia um medo desesperador dentro de
mim.
E, quando ouvi pela primeira vez o choro do nosso filho, tudo dentro
de mim se reacendeu.
A Ava que entrou naquele bloco cirúrgico definitivamente não é a
mesma que saiu de lá, horas atrás.
Henry veio ao mundo para me tornar uma mulher mais forte, capaz de
defendê-lo de tudo, de fazer tudo por ele. E, pela forma como Lionel o olha,
sei que se sente da mesma forma que eu.
O pequeno nasceu uma cópia fiel de Lionel e, se tiver a mesma
personalidade do pai, sei que me matará de orgulho. Se Henry for igual a
ele, sei que me dará bastante trabalho, principalmente por ser tão difícil,
mas ainda assim será um homem leal e protetor.
Eu tenho certeza de que ele será um homem incrível.
— Eu vou te dizer a mesma coisa que eu disse para a sua prima
quando nasceu, rapaz — a voz de Lionel é firme e eu só consigo me
emocionar observando os dois ali, em um momento só deles. — Não há
nada no mundo que você não possa fazer, Henry, porque você é um Rossi. E
eu farei de tudo por você, filho. Sou capaz de matar e morrer por você.
Nunca duvide disso.
Uma lágrima me escorre e eu seco rapidamente, vendo essa cena tão
linda diante de mim.
— Eu amo você, Henry Rossi. Assim como amo a sua mãe, que te
trouxe para mim.
Não consigo mais conter as lágrimas e, quando Lionel ergue os olhos
para mim e sorri, sinto como se tudo na minha vida finalmente estivesse
certo.
Eu só consigo pensar no quanto eu estava no lugar certo e na hora
certa, quando Lionel me encontrou em New Richland, mais de um ano
atrás.
Quando ele chegou na minha vida e mudou tudo, virou ao avesso,
mas me trouxe o melhor.
Ele despertou o meu melhor lado.
Aquele que luta, que protege e que cuida de quem ama.
Hoje sei que sou capaz de tudo pela minha família.
Assim como Lionel é.
E, dentre todas as improbabilidades da vida, cá estamos nós dois.
Juntos.
Para sempre.
 
 
Se Lionel Rossi não foi o meu maior desafio em toda minha carreira
literária, não sei mais quem é. Esse mocinho me testou, me desafiou, me fez
de palhaça e me fez entrar em desespero inúmeras vezes. Me fez acreditar
que eu não seria capaz.
Mas, da mesma forma como me desafiava, ele não me deixava
desistir dele. Lionel insistia dia após dia e me mostrava que valia a pena. E
agora vejo o quanto valeu.
Valeram a pena os momentos de surto, desespero e choro.
Porque eu chorei.
Chorei de desespero ao longo da escrita por acreditar não ser capaz,
por achar que não fosse conseguir.
E chorei de alívio quando cheguei ao fim.
Chorei de orgulho pela trajetória desse casal tão desafiador e quem
tem tanto, tanto de mim.
Eu entreguei todo meu amor, todo o meu coração nessa história e não
poderia estar mais satisfeita com esse resultado.
Eu consegui.
Quero agradecer a todos que me incentivaram nesse processo, e que
não soltaram a minha mão, mesmo que eu tenha pedido por isso.
Minhas betas, Sophia e Jordana, companheiras em minhas aventuras.
Se eu consegui chegar até o fim, foi porque vocês não desistiram de mim.
Deh, mais que uma revisora, uma amiga. Obrigada por ter sempre as
palavras certas para mim. Vah, a assessora de milhões, espero que tenha te
feito gostar desse meu mocinho torto! Hahahaha. Obrigada por estar sempre
comigo! Rosinha, minha ilustradora do coração, sem palavras para
agradecer seu trabalho impecável! Você faz todos os meus livros se
tornarem especiais. Eu AMO vocês!
Lucy Foster, pessoa iluminada que sempre me ajuda a cada
lançamento. Obrigada por tolerar meus surtos de loucura e me mostrar
como a mente de um anti-herói funciona. Se Lionel saiu do papel, devo a
você. Te amo!
Mi Passos e Ju Policarpo: minha dupla favorita! Obrigada por estarem
ao meu lado nessa jornada e não me deixarem desistir. Meus dias são mais
felizes porque tenho vocês comigo. Amo forte!
Sara Fidelis, aquela que está sempre ao meu lado acreditando em
mim. Olha isso, amiga! Fiz um malvadão! Hahahaha. Obrigada por estar
sempre comigo. Amo você!
Meus amigos e companheiros de jornada que estiveram ao meu lado
em mais um projeto, me encorajando, me apoiando, ficando junto de mim:
Sil Zafia, Kevin Attis, Gisa, Nat Dias, Fla Kalpurnia e Brenda Ripardo.
Vocês são especiais demais para mim!
E a você, leitor, que topou essa empreitada e aceitou sair da zona de
conforto junto comigo.
Se eu consegui, é porque tenho vocês comigo.
Amo, amo muito vocês!
 
 
Fernanda Santana nasceu em Ipatinga, Minas Gerais, e vive
atualmente em Timóteo, com seu esposo e três filhos felinos.
Formada em Ciências Contábeis, atualmente é sócia de um escritório
de contabilidade e, por mais que ame o que faz, sua paixão sempre foi a
literatura.
Leitora compulsiva desde a adolescência, sempre teve facilidade na
escrita e capacidade de tirar lágrimas das pessoas com suas palavras.
É fã de carteirinha de Nicholas Sparks e o tem como principal
inspirador na sua escrita.
Mesmo sendo amante de um romance fofo e clichê, também adora
livros de terror e suspense. A adrenalina do medo é algo que a fascina.
É autora de outras obras de romance, sempre cercada de drama e
histórias que levam os leitores a muitas reflexões.
 
Conheça meu trabalho:
https://www.amazon.com.br/Fernanda-Santana/e/B08F2Z9NR4
 
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