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Contents

Grávida em Segredo
GRÁVIDA EM SEGREDO
Sinopse:
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Grávida em Segredo
O CEO e a Virgem
GRÁVIDA EM SEGREDO
O CEO E A VIRGEM

JOSIANE VEIGA

1ª Edição

2021
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios
(eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem autorização
escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação. Qualquer semelhança com nomes, pessoas,
fatos ou situações da vida real deve ser considerado mera coincidência.

Título:

Grávida em Segredo • O CEO e a Virgem.

Romance

ISBN – 9798476336662

Texto Copyright © 2021 por Josiane Biancon da Veiga


Sinopse:
Ele era um homem mais velho. Experiente. Rico. Poderoso. Frio e calculista.

Eu devia ter fugido, mas acabei me deixando levar pela atração que ele exercia em meu corpo.

Agora estava grávida de Felipe Dias, e sabia que quando ele descobrisse isso, faria de mim sua
completa escrava.

Eu queria o bebê. Eu lutaria pelo bebê. Mas, jamais me deixaria ser dominada por um homem
cruel como ele.
Capítulo 1
— O que você precisa é de um homem.
Levantei a face e olhei para minha mãe como se não acreditasse em seu apontamento.
— Eu não preciso de um homem. Eu preciso conseguir o suficiente para pagar o aluguel do
próximo mês.
— Se tivesse um homem, moraria na casa dele.
Suspirei porque não adiantava discutir. Desde meus tempos áureos eu sabia que esse era o
temperamento e essa era a opinião de minha mãe.
Um homem é tudo na vida de uma mulher. Não importa o quanto ele pode te destruir ou te
avassalar.
Suspirei, puxando minha bolsa. Enfim, eu vinha todos os finais de semana em sua casa para
lhe trazer alguns mantimentos. Minha mãe citava tanto a importância de um homem, mas não tinha um.
Precisava que a filha de vinte e cinco anos viesse todos os sábados lhe trazer comida, porque o que
ela ganhava nas faxinas não pagava suficientemente as contas.
— Talvez a senhora deva começar a procurar um homem — murmurei, apenas porque estava
exausta daquela conversa que ouvia desde meus quinze anos.
Desrespeitar minha mãe não era algo que eu desejasse fazer.
— Como pode dizer isso? Sabe que eu estou esperando seu pai se divorciar...
— Divorciar? Mãe! Já se passaram mais de vinte e cinco anos...
— Aquela vagabunda o manteve preso. Primeiro engravidando. Depois com as crianças.
Depois veio...
— Aquela vagabunda é a “esposa” dele. E foi ELE que a engravidou. — Suspirei. — Quer
saber? Esquece...
Eu ouvi seus resmungos enquanto saia pela porta. O sol lá fora atingiu minha face e eu a senti
queimar. Estava tão quente, naquele ponto elevado da cidade.
— Sempre contra o seu pai! — ela gritou da parte interna da casa. — Um dia Deus vai te
mostrar o que se faz com quem não honra pai nem mãe.
Fingi não ouvir e caminhei pela sua rua. O cheiro de esgoto inundou minhas narinas e eu
tentei não respirar por alguns passos rápidos.
Eu me chamo Ana Paula dos Santos. Eu tenho vinte e cinco anos. Trabalho o dia todo numa
empresa terceirizada que fornece mãe de obra para empresas que estejam com falta de funcionários
por conta de doença ou férias. Eu não ganho muito, mas consigo pagar o aluguel de uma pequena
quitinete. Estudo a noite. Faço dois cursos diferentes em dias alternados da semana. Graduação em
administração, e técnico em administração. Tudo para um dia ter um bom emprego e estabilidade
financeira.
Financeira.
Emocional, eu nem pensava.
É difícil pensar em ter um psicológico quando cresceu como a filha bastarda de um homem
rico que nunca deu um centavo para sua criação. Ele aparecia na minha casa para comer minha mãe
apaixonada, e depois sumia por semanas.
Ela nunca cobrou pensão. Porque ela sempre acreditou que era questão de tempo para ele
abandonar sua esposa linda, seus filhos educados, sua estrutura social, para se esgueirar com uma
favelada que nem sabia usar direito garfo e faca.
Quando era jovem minha mãe foi diarista dele. E ele a seduziu com promessas e sonhos. Ela
acabou num lugar fétido, cercada de pontos de venda de drogas, criando sozinha uma filha.
Aos doze anos eu comecei a trabalhar de babá para algumas mulheres da comunidade.
Ganhava em torno de cem reais por mês para cuidar seus filhos o dia inteiro, para que pudessem
trabalhar.
Aos quinze minha mãe começou a cobrar que eu me casasse. Até tentou me arrumar para
alguns homens, mas eu consegui me livrar de todos. Aos dezoito eu saí de casa. Exatamente no dia do
meu aniversário. Dois dias antes eu saquei o dinheiro que economizei fazendo bicos e fui até um
conjunto habitacional ver uma quitinete que a dona estava alugando. Aguardei minha maioridade com
ansiedade enquanto a ouvia discursar que a filha da vizinha já tinha seu homem aos dezesseis.
Quando deu meia noite, eu chamei um moto táxi e lhe disse adeus.
Foi simbólico, porque eu a via sempre. Não a abandonei, porque sabia que ela ficaria sozinha
se eu não fosse vê-la.
No fim da ruela tinha uma parada de ônibus. Parei ali e recuperei o fôlego enquanto
aguardava a condução.
Um dia eu teria um bom emprego. Um carro. Uma conta bancária satisfatória. E tudo isso
seria fruto do meu próprio esforço.
Eu não precisava de homem para nada.

∞∞∞
O som de passos no piso laminado me fez erguer a face para a figura que se aproximava. Um
homem alto, de cabelos castanho escuro e olhos negros ameaçadores me mediu de cima a baixo,
como se eu fosse um quadro a ser analisado.
— Bom dia, Senhor Dias — cumprimentei, sabendo ser quem era.
Eu havia visto a foto dele no Facebook, quando me deram seu nome no escritório da firma.
Ele estava procurando uma secretária executiva para ficar no lugar da sua própria secretária de
muitos anos, que havia tirado uma licença médica.
— Bom... dia...
Ele se esforçou para retribuir a fase. Eu não me surpreendi com isso. Trabalhei para um
homem que nunca, nos seis meses que fiquei na sua empresa, me cumprimentou ou me olhou. Era um
homem de cargo importante dentro de uma grande corporação, e quando cumpri o tempo contratado,
ele ligou para a firma perguntando sobre a “mocinha” que trabalhou lá. Ele não sabia sequer meu
nome. Em seis meses, ele nunca o disse. Mas, gostou do meu trabalho e queria saber se eu queria
trabalhar para ele.
Na época, até pensei no assunto. Mas, então soube que ele me oferecia o mínimo exigido pela
lei. Sem benefícios. E preferi ficar na terceirizada.
— É você que vai trabalhar aqui?
Sua voz era áspera e profunda. Eu me levantei da cadeira, porque sua altura estava me
deixando intimidada. Pasma, percebi que, de pé, não era tão diferente. Ele continuava alto e
aterrorizador. Como um urso. Creio que foi isso que fez meus joelhos tremerem e minha frequência
cardíaca aumentar sem controle.
— Sim, senhor.
Ok. Meu tom saiu vacilante. Estava nervosa porque havia a possibilidade de ser efetivada
nesse trabalho. Ouvi falar que a atual chefe do RH do senhor Dias havia sido contratada pela
terceirizada, e foi tão bem no emprego, que ficou ali. E ganhava bem! Ele não explorava os
funcionários, como quase todos os patrões que já vi.
De repente eu o vi colocando uma das mãos na testa e soltando um suspiro pesado.
— Ok. Eu pedi uma pessoa experiente, não uma criança. Pode sair.
Mas, eu não me mexi. Estava tão pasma com a situação.
Experiente? Criança?
— Eu tenho vinte e cinco anos, senhor Dias — disse. — Não sou uma criança.
— Vinte e cinco? Parece mais jovem.
Felipe Dias tinha em torno de cinquenta. Seus cabelos eram grisalhos nas laterais, mas ele era
um homem muito bonito.
— E tem alguma qualificação?
— Estou me graduando em administração.
— Graduando? Com vinte e cinco anos não é formada ainda? Com vinte e cinco eu já era
mestre em administração.
Claro que, como todo rico que nunca soube o que era precisar trabalhar para poder pagar um
curso, ele imaginou que eu devia ter começado aos dezoito e me formado aos vinte e dois.
Eu queria dizer que cada um tem seu tempo e sua própria jornada, mas tentei me manter firme
diante seu julgamento.
Seus olhos pesaram em mim.
Mais uma vez, meus joelhos tremeram.
Não sei porque, mas o olhar desse homem...
Balancei a cabeça, afastando os pensamentos.
— E experiência profissional?
Sua pergunta me tirou do torpor. Ok. Ele estava ao menos me dando uma oportunidade de
entrevista, apesar de ela ser ali, de pé, em seu escritório vazio.
— Eu já fui temporária em várias empresas — puxei meu curriculum e entreguei a ele.
Felipe Dias começou a ler o papel. Alisei minha saia social, enquanto aguardava que ele
analisasse minha carreira.
— Você colocou que já foi caixa de supermercado — ele riu.
— Sim, aos dezoito.
Qual era a merda do problema? Eu tinha orgulho de ter trabalhado desde sempre. Não há
vergonha em se esforçar. Talvez, como minha mãe, ele achasse mais digno eu ser encostada em um
homem.
Só percebi que meu tom foi magoado quando um sorriso surgiu na face dele.
Deus...
Era estranho, meu coração palpitou com tanta força ao vê-lo sorrir.
— Você não é qualificada para este trabalho. Não estou desprezando sua experiência como
caixa de supermercado, auxiliar de escritório numa corretora, ou qualquer coisa que já tenha feito.
Apenas, eu sou CEO de uma multinacional de transportes de carga internacional. Lido com pessoas
difíceis o dia todo. Precisamos de fluência em inglês, alemão. Mandarim seria um bônus. Apenas
volte a sua empresa e diga a eles para me enviarem alguém mais próprio para a área.
Ele começou a se afastar em direção a própria sala. Eu fiquei parada o observando, ainda
sem acreditar que ele havia me dispensado.
Havia pegado três ônibus para chegar ali. Sai de casa as 6 horas, sem café da manhã, e andei
distâncias enormes com salto altos e sapatos desconfortáveis. Eu tive sonhos em ficar nessa empresa
e enfim ter o que eu precisava para seguir minha vida: um emprego que pagasse bem e me desse
estabilidade.
Mas, eu era dispensada antes mesmo de tentar.
Era tão injusto.
— Senhor! — o chamei antes que ele entrasse na sua sala. — Eu sou muito esforçada. Eu
realmente não sei inglês, mas posso usar tradutor. Não sou acomodada, e posso fazer todas as horas
extras que precisar. Sei que sua secretária era muito competente, mas pelo que sei ela está em
dispensa sem previsão de retorno. Assim, o senhor precisa de uma secretária agora e, na nossa
empresa, duvido que consiga alguém melhor do que eu. A sua funcionária do RH era minha conhecida
e ela me comentou que estão buscando uma substituta para sua secretária, mas ninguém passa na
entrevista. Então, apenas até conseguir alguém experiente e qualificado, me dê uma chance.
Felipe me encarou. Eu não sei se ele percebeu que eu tremia ou que ele causava alguma coisa
em mim. Eu estava assustada com a minha necessidade por esse emprego, e pelas reações que o olhar
desse homem causava no meu próprio corpo.
— Como você se chama, mesmo?
— Ana Paula, senhor.
— Sabe datilografia?
Datilografia era algo dos anos oitenta. Mas, não pensei muito na questão de nunca ter visto
uma máquina de escrever antes.
— Sei digitar. Sou rápida nisso.
Houve longo momento de silêncio. Eu evitava encará-lo, porque não queria a energia
daqueles olhos negros sobre mim.
— Acomode-se na mesa de Joana — apontou a mesa vazia da entrada. — Minha agenda está
sobre ela. Organize minhas reuniões, e depois coloque tudo on-line. Te mandarei pela intranet mais
coisas que preciso que você termine hoje mesmo.
E então ele desapareceu atrás das portas duplas do outro lado da sala.
Capítulo 2
Lembro-me de na escola ter uma colega que dizia jamais ouvir um chefe chato reclamar. “Eu não
levo desaforo para casa!”, ela exclamava, no auge dos seus orgulhosos dezessete anos.
Observei a tela do computador, onde Felipe Dias me recriminava porque o relatório do
transporte de soja para a Rússia havia sido enviado as 09:05 da manhã, ao invés das 09:00 como
combinado.
Ele parecia esquecer que eu não era sua já hábil secretária, acostumada a rotina. Tudo para
mim ali era novidade. E eu precisava de um tempo para me adaptar.
Suspirei, cansada.
Ah, se a vida fosse fácil como imaginava minha colega. Ou se eu tivesse uma família estável
para onde correr depois de mandar Felipe Dias plantar batata.
Mas, apesar do que negava minha mãe, eu não tinha pai, nem família. Meu pai nunca prestou
atenção em mim, e mal me olhava quando ia a minha casa. Cruzava por mim como se passasse por
um cachorro, e então ia para o quarto com mamãe, onde gemidos lascivos eram ecoados durante toda
a tarde.
Ele nunca me chamou de filha. Nunca sequer disse meu nome.
Nunca me amou, e eu tampouco nutri qualquer coisa por ele.
Com minha mãe a coisa não era tão diferente. Ela engravidou para fisgá-lo. Ela jurava que
ele iria se divorciar para ficar com ela porque estava grávida. Já se passaram quase três décadas
disso e tudo que ela ouviu foram promessas vazias.
Homens...
Eles podem te destruir se você não se proteger.
Ela mal percebia que passou toda a vida aguardando o carinho de alguém que não ligava
nenhum pouco para ela.
Eu não passaria pela mesma coisa porque eu não era tola. Não importava o que acontecesse,
eu não era tola.
“Sinto muito, Senhor Dias, isso não vai mais acontecer”, digitei no e-mail e enviei.
Esse emprego podia ser um divisor de águas para mim. O salário alto, os benefícios... Deus,
tinha até plano de saúde. Da última vez que precisei de um médico tive que amanhecer na fila do
posto de saúde do meu bairro.
O som de uma risada irônica ecoou da sala do Senhor Dias. Pelo canto do olho, observei a
porta de madeira dupla. Ele estava no telefone, havia passado uma ligação há alguns minutos, e
parecia discutir o preço de alguma coisa com algum investidor.
Suspirei, de novo.
Era irascível, o Senhor Dias.
Nesses sete dias que estou aqui, ele quase me enlouqueceu com exigências como se eu
soubesse tudo sobre o trabalho – sendo que havia acabado de chegar na empresa.
Por sorte, eu era rápida, e pegava logo os macetes da função.
Sabia que ele me queria fora da sua empresa, mas eu não deixaria brechas para ser
despedida. Ao contrário, eu sonhava com um cargo efetivo aqui.
Pelo plano de saúde. Pelos benefícios. Pelo salário. Por segurança. Pela primeira vez na
vida, eu poderia ter segurança.
De repente a porta se abriu. Vi sua figura enorme aparecer na porta, e me observar com
atenção.
— Parabéns pelo relatório do transporte da soja. O nosso cliente ficou muito satisfeito — ele
cumprimentou e meu coração acelerou.
Eu sabia por que, mas não queria pensar nisso.
Ele era um homem mais velho – como meu pai.
Que tinha um charme quase arrebatador – como meu pai.
Que provavelmente era casado e tinha uma família estável – como meu pai.
Que poderia facilmente seduzir uma jovenzinha tola como eu – como meu pai fez a minha
mãe.
Então, seja qual for os motivos que me fazem respirar mais pesadamente, que fazem meu
coração bater acelerado, que me fazem apertar os joelhos como se algo doesse, eu iria abafar isso
com a seriedade da razão.
Eu jamais seria minha mãe.
Nunca vou me apaixonar. Nunca vou ser escrava de sentimentos por um homem.
Sim, meu corpo nunca reagiu tão fortemente a qualquer homem, mas eu engoliria isso.
— Obrigada, senhor Dias.
Ele suspirou e voltou ao trabalho, mas sem fechar a porta. Pelo canto dos olhos, o vi digitar
em seu MacBook. Uma mecha dos seus cabelos grisalhos caiu sobre seu olho direito.
Seu cabelo parecia tão macio.
Ok.
Eu estou impressionada. É isso. Nunca conheci um homem como ele. Mas, sei que é
bilionário, dono de uma frota de navios. Tem escritórios em cada porto do país. E sei que...
Fechei meus olhos por alguns segundos, controlando a respiração nervosa.
Eu nunca tive um namorado, ou qualquer homem. E nunca tinha me sentido instantaneamente
atraída assim.
Inconvenientemente, abri a página do Facebook e digitei o nome do Senhor Dias.
Por que eu estava fazendo isso?
Tinha que parar. Era um absurdo.
A foto desse homem lindo surgiu na tela. Ele vestia um terno escuro, e sorria diante da
fachada de seu escritório.
Baixei a tela, buscando informações.
Havia várias fotos de festas. E em cada uma delas, ele estava acompanhado de mulheres
diferentes. Li os comentários. Muitas mulheres lá, todas parecendo modelos, de tão perfeitas. Ficou
explícito que ele tinha muitas amantes.
Seria casado? Teria filhos?
Não vi nada mencionando isso.
Ele se mexeu na sua cadeira, e eu me assustei. Fechei rapidamente a tela do Facebook e
voltei ao trabalho.
Estava brincando com fogo e podia me queimar a qualquer momento.
Capítulo 3
Eu não conhecia Joana, a secretária do Sr. Dias. Mas, a amava pelo simples fato de ela ter uma
agenda programada que podia ser editada com novos compromissos ou afazeres, ainda mantendo o
trabalho habitual sem alteração.
Isso me salvou de muitas formas naquele último mês. Realmente, eu não via motivos para o
Sr. Dias me dispensar ou não me efetivar. Eu sabia que havia vagas na DIAS TRANSPORTES
INTERNACIONAIS e eu podia preenchê-las com louvor. Felipe Dias poderia atestar minha
competência para o RH.
Deus, como eu queria esse emprego. Ter estabilidade financeira pela primeira vez na vida.
E realmente não me importava de Felipe Dias trabalhar mais que qualquer outra pessoa que
eu já conheci.
Ao contrário da maioria dos chefes que eu já tive, ele chegava ao trabalho pontualmente as
08:00. Bebia uma xícara de café da cafeteira em cápsula, e depois se sentava no seu escritório, e só
saia de lá para almoçar as 12:15. Voltava às 13:00, e o trabalho então seguia sem tempo para
finalizar. Normalmente, às 18 ele me dispensava, mas teve dois ou três dias que ele me pediu para
ficar até mais tarde.
Todos esses dias foram pagos no meu contracheque com um valor adicional.
Não ser explorada ou ouvir reclamações pelos valores pagos a mais pela chefia era uma
novidade, então, quase sem perceber, eu comecei a me sentir valorizada ali. Acompanhar esse
homem no seu trabalho se tornou empolgante. Eram horas e horas de análises de contratos, digitação,
reuniões on-line e fechamento de negócios.
No final do segundo mês, eu estava exausta, mas me sentindo mais feliz que nunca. Apesar de
parecer um chefe durão, ele era honesto, honrado e não era abusivo.
— Ana Paula — ele disse, no final de uma sexta-feira. — Me acompanhe.
Ele não costumava me pedir para segui-lo, mas já aconteceu um dia, quando precisou de
alguém para fazer anotações em uma reunião.
Eu me levantei e o segui até o elevador. Entramos. Tentei me lembrar brevemente da sua
agenda, mas francamente, eu achava que aquela sexta-feira estaria bem tranquila. Pelo jeito me
enganei.
— Alguma reunião imprevista, Sr. Dias?
Ele me encarou. Confinados naquele pequeno espaço, eu percebia o quão pequena eu era
perto de Felipe. Ele tinha grandes músculos, e eu imaginava em que horário malhava, pois nunca
tinha tempo para nada.
— Foram dois meses difíceis sem Joana — ele disse. — Mas, você realmente deu duro.
Então, vou te pagar um lanche.
A porta do elevador se abriu e ele saiu, sem ouvir se eu estava com fome ou se queria algo
dele além do meu salário. Mesmo assim, eu o segui.
— Tem previsão da volta de Joana? — indaguei, imaginando se era uma despedida.
— Tem dias que está melhor, mas pedi que ficasse em um descanso extra – e remunerado –
pois precisa. — Era muita generosidade. — Joana trabalha a mais de dez anos para mim, e perdeu
muitas coisas importantes em família por conta do trabalho.
Havia um traço de culpa em suas palavras.
— Eu lhe disse para viajar com o marido, aproveitar que ele é aposentado. Curtir a vida um
pouco. Ela deve estar voltando hoje do Rio de Janeiro. Além disso, você está se saindo muito bem.
Meu coração vibrou com o elogio. Isso queria dizer que eu poderia ser efetivada a outra vaga
na empresa quando Joana voltasse? Minha vontade era de questionar isso ao Sr. Dias, mas não sabia
se era a hora certa. Trabalhamos lado a lado por dois meses, mas ainda não era íntima o suficiente
para perguntar tal coisa.
Saímos do prédio e fomos até a vaga reservada a ele no estacionamento. Um carro enorme,
cuja marca eu não sei, fez um leve barulho quando o Sr. Dias ergueu a chave para desativar o alarme.
O carro dele era como ele. Enorme, intimidador, poderoso e luxuoso. O cheiro almiscarado
parecia o perfume que Felipe Dias usava. Quando ele se sentou ao meu lado, pude notar como seus
bíceps pressionavam a manga do terno.
Por algum motivo, meu coração voltou a acelerar. Corei, tentando afugentar os pensamentos.
Era vergonhoso vê-lo assim: Homem, atraente. Felipe Dias tinha o dobro da minha idade,
sem contar sua condição financeira bem maior que a minha. Um universo maior.
E eu ainda não sabia se ele era casado ou não. Não falávamos da nossa vida privada. Se bem
que eu não tinha muito o que contar, mas me interessava em saber mais sobre ele...
Porque...
Porque ele me atraia.
A ideia descabida estava me matando.
Sim, ele me atraia. E eu estava lutando com todos os meus demônios para parar de pensar
nisso.
O que eu queria?
A imagem da minha mãe surgiu na minha mente. Quase trinta anos esperando por um homem.
Quase trinta anos, só tendo olhos para um homem. Quase trinta anos amando apenas um homem. Nem
mesmo a filha ela via, em sua bolha de amor não correspondido.
Homens como meu pai, como Felipe Dias... Homens de posses – mesmo que essas posses
tenham uma diferença descomunal – só querem uma coisa de subalternas. Minha mãe dormiu com o
chefe e passou a vida toda esperando por algo que não aconteceria. Eu jamais dormiria com o meu
porque não queria ter o mesmo destino.
Dormir?
Balancei a face, quase rindo do pensamento.
Eu imaginava que um dia isso aconteceria? Mesmo? Felipe Dias não me olhava com segundas
intenções. Ele mal me via, para falar a verdade. Mesmo meu coração batendo forte sempre que ele
me encarava para pedir algo no escritório, sua postura comigo era quase indiferente.
Ele não falou muito enquanto dirigia. Comentou sobre o trânsito e depois sobre o tempo. Por
sorte, nosso silêncio foi quebrado com a chegada no restaurante. Era um lugar muito bonito, um bistrô
perto do lago.
— O senhor vem sempre aqui? — indaguei, apenas para puxar assunto.
— Eu gosto. É calmo.
Logo uma atendente sorridente surgiu. Ela nos entregou o menu, e anotou nossos pedidos. Eu
não pude deixar de notar que tudo ali era bem caro, então fiquei muito envergonhada de pedir algo.
Mesmo assim, eu o fiz, porque não queria ser infantil com meu chefe.
— Agradeço muito por me trazer para lanchar. Mas, eu tinha biscoitos na bolsa e estava tudo
bem.
Mais pessoas chegaram. O barulho de conversa inundou o ambiente. De soslaio eu observei o
público do lugar, e vi que eram todos bem-vestidos. Pessoas de alta classe.
Não podia evitar o pensamento de estar vergonhosamente má vestida, ali. Minha calça de
poliéster, social, já tinha alguns anos, minha camisa polo e meu casaquinho de lã tinham a nítida ação
do tempo, e meus sapatos precisavam visitar um sapateiro em breve.
Eu fiquei um pouco humilhada.
Então, volvi minha atenção a Felipe tentando fugir da sensação de ser uma pobretona entre
ricos.
Quando meus olhos encontraram o dele, percebi que ele me encarava de forma fixa. Aquilo
fez meu corpo inteiro vibrar em ondas, e não pude evitar um exalar de puro...
Oh, Céus..
Eu estava queimando. Era tão... vergonhoso. Meu coração disparou, e os músculos de meu
estômago se contraíram.
Era tão errado que eu nem sabia por onde começar.
Forcei a imagem da minha mãe na mente. A imagem dela sempre me evitava de cometer erros.
Minha mãe era o exemplo de tudo que eu não queria ser.
— Você parece nervosa — ele comentou.
E era como se soubesse exatamente o que despertava em mim.
— Não, senhor — neguei.
Ele sorriu e mais uma vez eu me vi perdida no gesto.
— Então você é universitária? Escolheu administração por sonho ou teve outros objetivos?
Escolhi porque era o curso mais barato.
— É uma profissão que paga bem, quando se consegue uma boa colocação.
— Então tudo é por dinheiro?
— Tenho certeza de que entende.
Ele assentiu.
— Me fale mais de você, Ana Paula. Não sei praticamente nada.
— Não saberia o que dizer. Não sou uma pessoa interessante.
— Ah, você é. Pode acreditar nisso.
Eu não pude esconder a surpresa pelas palavras. Ele voltou a rir, como se tivesse contado um
segredo.
Quis indagar sobre o fato, mas a atendente voltou trazendo nossos lanches. Enquanto os pratos
eram colocados na mesa, eu evitei o olhar de Felipe Dias, porque sabia que estava fixo em mim.
Senti um aperto abaixo da barriga. Mais uma vez, vergonha e constrangimento me tomaram.
Logo a atendente se foi. Então eu voltei a olhá-lo. O que diabos estava acontecendo ali? Era
como se houvesse uma conversa sem palavras entre nós, um entendimento sobrenatural.
— O que você acha sobre mim, Ana Paula? — ele questionou e eu quase perdi o ar.
— Muito competente, senhor.
— Chega de senhor. Sou apenas Felipe. — Não havia cinismo em sua voz. — Francamente,
não como profissional, mas como pessoa? — indagou.
Tentei usar de diplomacia.
— O senhor... Quero dizer... Você é uma pessoa... parece ser uma pessoa — comecei a
gaguejar. — Uma pessoa forte.
— Forte? — ele riu. — Isso soou tão frio.
Neguei.
— Não. Apenas, é admirável. Ser forte para lidar com o mundo.
Felipe pareceu pensar um pouco.
— Não sou tão forte assim, Ana Paula.
— Bom, não é o que aparenta.
Ele começou a comer e eu o segui.
— Você sim parece forte — ele contrapôs. — Parece que já enfrentou uma guerra.
— Todos já enfrentamos uma guerra, não?
Ele concordou.
— Para eu chegar aonde cheguei, eu tive que ser duro e calculista. Essa profissão não tem
espaço para... generosidade.
Parecia um conselho. Odiei aquele tom paternal. Eu não o via dessa forma.
— Não posso negar que acredito em gentileza e generosidade, em qualquer área da minha
vida. Eu quero ter um futuro brilhante, mas também quero ser boa com a sociedade. Quero ser alguém
que...
— Bondade com a sociedade? Sabia que praticamente todos os empresários que fazem
doações tem vantagens nos impostos, e por isso o fazem? Nosso mundo não é um lugar para dar sem
receber.
— Eu não quero ser assim — prevaleci.
— Mas, será.
Ele estava se vendo em mim?
— Será se tiver sucesso — completou.
Ele parecia tão vazio e triste agora, que tudo que eu ansiava era colocar meus dedos entre
suas madeixas e lhe fazer um carinho confortador. Engasguei-me com o pensamento.
— Acho melhor nós comermos — ele murmurou e eu concordei.
Capítulo 4
Não sei precisar quanto tempo ficamos ali. Os sucos naturais eram incríveis, assim como os
lanches. O movimento cresceu e muita gente aparentemente importante chegou, mas tentei não me ater
ao fato de que aquele não era o ambiente certo para mim.
Eu era muita pouca coisa para estar ali.
Não sei exatamente porque pensei nisso. Talvez porque tive esse pensamento quando meu pai
não apareceu na minha formatura do ensino médio. Estranhamente, era a primeira vez que eu percebia
que queria ter sido mais para minha família.
Família não! Parentes!
Ter o mesmo sangue não faz de ninguém família. Eu ainda sonhava em ter uma família. Filhos
e um marido. Apesar de achar bem difícil isso acontecer porque era muito fria e os sentimentos
pareciam longe de serem despertados em mim.
Subitamente, olhei Felipe Dias.
Não era tão verdade assim. Esse homem à minha frente me despertou de forma...
De forma...
— Ainda temos uma reunião hoje — ele comentou, depois de alguns segundos em silêncio. —
Vamos?
Eu estava me sentindo tão relaxada que quase esqueci que ainda tínhamos algumas horas para
encerrarmos aquela sexta-feira.
Felipe pediu a conta e fiquei pasma com o valor total. Pensei em dizer que poderia dividir a
conta, mas sabia que não podia. Era muito mais do que eu pagaria por um lanche da tarde.
∞∞∞
— Sabia que tem olhos muito expressivos? — ele indagou, me fazendo girar em sua direção.
Estamos no estacionamento da empresa, voltando para o prédio.
— Não. Ninguém nunca me disse isso.
Felipe sorriu de forma enigmática e eu fiquei imaginando o quanto ele ficava bonito e
charmoso quando sorria assim.
— Minha mãe diz que eu tenho os olhos do meu pai. Francamente, nunca achei parecido.
Chegamos ao elevador e ele clicou no andar correspondente.
— São olhos lindos e únicos, Ana Paula.
Aquele segundo elogio me fez tremer. Fechei os olhos brevemente, tentando controlar meu
forte batimento cardíaco.

∞∞∞
Um homem de aproximadamente quarenta anos entrou no escritório e me encarou com
cordialidade.
— Olá. Sou Eduardo Padilha.
Era um exportador com quem Felipe teria reunião em alguns minutos. Eu me levantei e
estendi a mão em direção à porta.
— Por aqui, por favor.
Bati levemente e abri a porta. O olhar de Felipe me encontrou, e novamente eu perdi o ar.
Sério, o que estava acontecendo comigo?
— Sr. Padilha chegou.
Depois de anunciá-lo, eu deixei um espaço para o homem entrar na enorme sala de Felipe.
— O senhor deseja um café? — indaguei.
— Não, obrigado — Eduardo voltou a me encarar.
E novamente, parecia muito simpático. Sorri pela doçura, e quando meus olhos voltaram a
encontrar os de Felipe, percebi a forma dura e firme como ele me encarava.
Algo em mim despertou e me senti sufocada. Me afastei rapidamente, fechando a porta atrás
de mim.
Ok. Era um fato que eu estava perdidamente atraída por ele. E queria passar por esse período
sem cair em qualquer tentação. Depois disso, pretendia ser contratada para atuar em outro setor da
empresa, onde não teria contato com Felipe Dias. Quanto mais longe eu estivesse dele, maiores eram
minhas chances de proteger meu coração e minha sanidade.
Contudo, eu não pensei até então que ele poderia estar atraído por mim. Francamente, ele
desfilava no Facebook com mulheres muito mais bonitas que eu. Mulheres mais charmosas, mais
poderosas, donas do próprio nariz.
Eu ainda era uma universitária tentando encontrar meu lugar no mundo.
Felipe era um homem experiente que não precisava ficar com uma ninguém como eu, quando
tinha dezenas de mulheres ao seu dispor.
Todavia...
Seu olhar agora a pouco... Parecia ciúmes...
∞∞∞
A reunião terminou as 19 horas. Felipe não me pediu para ficar depois das 18, mas eu não fiz
menção de sair antes do meu chefe. Ele estava em reunião e eu não queria que pensasse que eu era
desleixada por deixar o trabalho sem comunicá-lo ou me despedir.
Então eu comecei a adiantar alguns relatórios da segunda-feira. Estava entretida nas planilhas
do Excel, quando um alerta de e-mail surgiu na minha área de trabalho.
Era do RH da empresa que eu trabalhava.
Eu pensei em não o abrir porque já não era mais o horário do meu expediente, mas sem
querer cliquei no alerta.
“Compareça ao RH na segunda-feira para acerto dos dias trabalhados”.
“A secretária do Sr Dias está retornando ao trabalho”.
“Agradecemos seu empenho...”.
Como assim?
Joana iria retornar ao trabalho e Felipe Dias não teve a decência de me contar? Foi por isso
que ele me levou para lanchar? Uma despedida?
E pior...
Eu não iria ser efetivada a secretária da empresa, em outro setor?
Achei que tinha dado tudo de mim!
Meu olhar se levantou da tela do computador e girou em direção a porta da sala de Felipe. Eu
queria romper aquela sala e gritar com ele.
Mas... com que direito? Eu havia ficado um mês a mais que o planejado! E ele não tinha
nenhuma obrigação de me comunicar nada, pois não era meu chefe, oficialmente. Eu era apenas uma
terceirizada que efetuei um serviço num momento oportuno.
Devia pegar minha bolsa e ir embora...
A porta se abriu e Eduardo mais uma vez sorriu ao cruzar por mim e ir embora. Felipe Dias
veio logo atrás dele, as mãos nos bolsos e uma expressão de alívio por provavelmente um trabalho
bem efetuado.
— Ainda está aí? — ele indagou. — Não é muito tarde? — sua mão esquerda saiu do bolso e
ele ergueu um Rolex de ouro, para olhar as horas.
— Eu queria ficar para agradecê-lo pela experiência proporcionada — disse, e não sei
porque minha voz saiu pesada e nervosa.
— Oh... De nada — suas sobrancelhas se ergueram como se ele não fizesse ideia do que eu
estava falando.
— Trabalhar na sua empresa será muito benéfico ao meu curriculum — expliquei, mas a
verdade é que queria pular na cara dele.
Por quê?
Ele não era ninguém para mim. Ele não era meu amigo, nem meu chefe, nem qualquer pessoa
com quem eu teria qualquer envolvimento.
Então peguei minha bolsa e sai, pisando firme. Estava tão magoada e ferida. Aquelas semanas
trabalhando ao seu lado significaram tanto para mim, mas pareciam indiferentes para ele.
— Ana Paula, aconteceu alguma coisa? — questionou.
Aconteceu, idiota! Como um homem de cinquenta anos não percebe quando uma garota está
apaixonada por ele?
Apaixonada...
Meus olhos se arregalaram e meus dedos começaram a bater ansiosamente contra o botão do
elevador. Mas, antes da porta se abrir, senti sua mão firme segurando meu pulso.
— Ana Paula...
Meus olhos volveram aos dele. Eu senti lágrima inundando meu olhar, e eu estava com tanta
vergonha por lacrimejar que queria morrer.
A porta do elevador se abriu. Se fechou. Eu estava cravada no lugar.
— É meu último dia — disse.
— Mesmo? — ele pareceu surpreso.
— Não sabia?
Ele pareceu pensar.
— Eu... não lembro do RH me avisar... Ando com os pensamentos falhos, ultimamente.
O olhar dele cravou na minha boca. Sua mão continuava segurando meu pulso.
— Por quê?
Por que um homem como ele estaria aéreo? Como ele poderia esquecer de algo assim?
— Eu não consigo pensar em mais nada além de você — confessou.
Quando a cabeça dele baixou e seus lábios tocaram os meus, fechei meus olhos, sentindo que
estava derretendo.
Não era um beijo potente ou arrebatador. Era uma leve carícia, carregada de sensualidade.
Sua boca se afastou. Senti sua respiração irregular contra minha face e tinha cheiro de menta.
— Não faça essa cara... você vai me matar de tesão, garota — ele murmurou. — Percebe que
agora é oficialmente minha “não secretária”? Que agora eu não preciso ter escrúpulos em me afogar
em você?
Uma parte de mim gritava, questionando o que diabos eu estava fazendo. Outra só queria
voltar a beijá-lo.
Era a primeira vez na vida que eu me sentia mulher.
E a sensação era maravilhosa.
Capítulo 5
Felipe era um homem experiente e sabia reconhecer os sinais em meu corpo. Ele entendia que eu
queria. Não devia querer, mas era impossível evitar.
Tentei puxar em minha mente a imagem da minha mãe cega de amores, amante a anos de um
homem que nunca a apoiou ou a amou. Queria que essa experiência me fizesse recuar. Todavia,
quando ele me puxou para seus braços fortes e musculosos, qualquer traço de lembrança se perdeu no
fogo que me corroía.
Aceitei seu beijo, uma necessidade absurda me tomando. De repente tocar os lábios, não era
mais suficiente. Então permitir que nossas línguas se enredassem, não era mais suficiente. Havia algo
no ar, queimando ali, e exigia mais que um beijo.
Minhas mãos se ergueram. Eu segurei sua nuca, enquanto o beijo aprofundava mais e mais.
Suas mãos desceram de minhas costas e seguraram meu bumbum. Ele me ergueu, apoiou contra sua
ponta dura e eu não pude evitar um gemido que exalou tão alto que me assustou.
Era agora! Se afaste! Esse é o último dia que você verá esse homem. Ele está só se
aproveitando do momento! Ele é um homem que sabe como manipular uma mulher e você não quer se
tornar sua mãe!
Meu quadril deu uma leve apertada em sua ponta, e depois recuou, e voltou... e eu dei outro
gemido, não conseguindo me conter.
Eu não conseguia parar. Nunca senti esse tipo de necessidade, nem sabia que era real... Minha
mente gritava desesperada para que me afastasse, mas meu corpo respondia apenas a um grito
primitivo querendo mais e mais.
Sua boca deixou a minha. Ela começou a traçar um caminho entre meu pescoço, e então ficou
no meu ombro, mordendo, apertando, me deixou em estado de êxtase.
Pelos meus olhos entreabertos, eu pude ver seu peito musculoso, com alguns pelos raros e
escuros cobrindo seu tórax. Minha língua queimou de vontade de lamber aquela parte entre o peito e
seu pau.
Senti minha bunda contra a mesa. Felipe estava me apertando ali, e eu rebolei contra sua tora
semiereta. Ele gemeu contra meus lábios e o som inebriante do seu prazer me deixou mais acesa.
— Vamos para um motel? — ele pediu, e eu abri meus olhos de verdade pela primeira vez.
Motel? Eu nunca coloquei meus pés num lugar assim, nem em pensamentos.
— Não se assuste — ele riu baixinho. — É apenas porque eu não concordo com a premissa
de usar meu local de trabalho para transar.
Ele falava de um jeito comigo como se eu fosse o tipo de garota que transasse em escritórios
ou fosse a motéis com meu chefe.
Aquela constatação me envergonhou e me acordou das sensações que me tomavam. Um misto
de pavor e desespero suprimiu a necessidade sexual e eu consegui me afastar dos seus dedos.
— Desculpe, eu tenho que ir — disse, procurando minha bolsa.
Olhei pelo caminho que fizemos do elevador até minha mesa. Era um rastro de bolsa, roupas
e...
Pasma, vi meu casaco no chão. Eu nem o senti tirá-lo. Olhei para mim mesma, e minha blusa
clara destacava meus seios dolorosamente duros, como se implorassem para serem massageados e
tocados por aquele homem.
— Você não é mais minha secretária — ele me lembrou. — Por que não fazer algo que ambos
queremos?
Eu corri até a bolsa e meu casaco. Coloquei-o como um escudo, enquanto tentava nortear
meus pensamentos.
— Ana Paula — ele me chamou, como se eu não o estivesse ouvindo. — Vamos para um
motel, querida. Olhe o que fez comigo... Você vai me deixar duro assim?
Não sei porque eu o olhei. E vi seu caralho duro pressionando a calça. Minha boca secou,
minha boceta latejou.
Ah, era muita vontade. Mas, muita indignação também.
Eu só queria fugir daqui antes que...
Corri até o elevador. Ele não me seguiu, não ao menos momentaneamente. Apertei o botão e
os cinco segundos que demorou para o elevador se abrir pareceu uma eternidade.
Entrei nele, e girei em direção a Felipe. Ele estava em pé, no meio do escritório me olhando
de olhos arregalados.
— Até nunca mais, Senhor — eu disse.
E então a porta se fechou.
Que ele fosse pro quinto dos infernos!

∞∞∞
Homens como Felipe Dias são exatamente como meu pai.
O dinheiro que tem os permite, com consciência limpa, a usar nas mulheres como se fossem
objetos. Ele queria me comer, e o faria se eu permitisse. E depois se levantaria da cama e nem
olharia mais para minha cara.
Na faculdade eu tinha uma amiga que conheceu um rapaz no Tinder. Eles foram num barzinho,
beberam uma cerveja e depois ele a chamou para ir a sua casa. Ela acreditou que era o começo de
algo especial. Ele era doce, gentil... e ela queria tanto um parceiro nessa vida solitária.
Depois que eles transaram, ele a pediu para ir embora. Tipo, aquela coisa: Já tive de você o
que eu quis, agora vá.
Ela me contou isso com os olhos cheios de lágrimas.
O mundo tenta nos convencer que é supernatural e legal. Ambos adultos, só aliviando a
tempestade sexual..., mas, a verdade é que nunca conheci uma mulher que não se sentisse vazia
depois de saber que não significava nada para alguém.
Só um buraco para eles enfiarem o pau.
Suspirei.
Na esquina o meu ônibus apareceu. O tempo escuro me indicou que poderia chover naquela
noite.
Um buraco para eles enfiarem o pau... Como eu queria ser lésbica! Mulher nenhuma faria
isso a outra. Homens são nojentos e...
Fechei meus olhos brevemente.
Um nó na minha garganta apertou, e eu senti lágrimas surgindo na minha expressão.
O ônibus se aproximava e eu estava com tanta vergonha.
O que eu fiz nessa noite foi exatamente o que minha mãe fez há mais de vinte e cinco anos
atrás, o ato que a tornou um ser amargo, incapaz de tomar o controle da própria vida.
Graças a Deus eu parei antes.
O ônibus parou na minha frente, entrei e enquanto passava meu cartão, senti meu celular
vibrar. O ônibus estava vazio, e eu me sentei perto do cobrador, enquanto puxava meu aparelho da
bolsa.
— Oi Ady — disse, assim que vi o nome da minha amiga Adyane surgir na tela do aparelho.
— Aninha — ela gritou do outro lado e pela voz pastosa eu sabia que estava bêbada.
Bom, era sexta-feira e ela trabalhava como uma condenada num call center. Era um trabalho
exaustivo, mentalmente. Ouvir xingamentos o dia todo as vezes tirava o brilho de seus olhos.
— A gente tá aqui no bar da Neiva.
Quem era a “gente” ou a “Neiva” eu não fazia nem ideia.
— Certo... — murmurei. — E?
— E vem pra cá! — ordenou. — Vem amiga! Beber! Encher a cara! E tem um carinha lindo
aqui, que começou hoje no telemarketing que faz seu tipo.
— Por "meu tipo" você quer dizer...? — questionei, já que eu não tinha um tipo, nunca tive
um namorado ou ficante.
— Não sei, mas ele faz o tipo de qualquer uma — ela riu. — Vou te mandar a localização —
completou.
Oh não... Eu estava mentalmente exausta e triste. Não queria beber, a risco de fazer alguma
besteira.
— Amiga, não vai dar. Hoje não foi um dia fácil.
— Nem me fale — ela suspirou. — Meu chefe gritou comigo na frente de todo mundo.
Isso sim parecia um problema de verdade.
— Quer ir depois no meu apartamento, para desabafar? — questionei.
— Vou passar — ela murmurou. — Só quero encher a cara de cerveja. Mas, e você? Qual foi
o problema?
— Eu te falo outra hora — disse. Não era uma conversa para ser feita por telefone.
Nós trocamos mais algumas palavras e então encerramos a ligação. Olhei para fora e estava
chegando no meu bairro.
Dei boa noite para o cobrador e o motorista e desci no meu ponto. A noite estava fria e
observei um relâmpago ao leste.
Uma noite chuvosa seria uma boa companhia para minhas lágrimas confusas.
Capítulo 6
A vizinha do andar de cima estava brigando com o marido. Era comum as sextas-feiras. Começava
normalmente as vinte e duas horas, quando ele dizia que iria comprar cigarro ou qualquer coisa no
mercado. Era sabido que ele só queria uma desculpa para ir ao bar ver os amigos. Então ela
começava a gritar que iria se separar. Sua ameaça constante era tão comum que nem eu mesma levava
a sério suas palavras.
Logo em seguida ele batia a porta, e saia. Então ela chorava alto por algum tempo, e se ouvia
seus passos pesados no apartamento. Logo depois, ela também sabia. Ia atrás dele, e passava a noite
inteira num lugar que não queria, irritando-se pelo marido estar se embriagando.
Por que as pessoas se submetem a isso?
Puxei a toalha e sequei meus cabelos. Depois peguei o controle remoto da mesa de centro e
apontei para a televisão. Enquanto ouvia o pisar pesado nas escadas do meu vizinho descendo até
meu andar – sim, não tínhamos elevador, já que era um prédio popular – o escutei cumprimentando
alguém.
— Sabe me dizer se Ana Paula mora aqui? — uma voz máscula indagou tão alto que minhas
paredes finas nem tentaram abafar o som.
Eu não podia acreditar naquilo. Me levantei do sofá, enquanto observava a porta, sem saber
se devia ir até ela, ou fugir...
Fugir para onde?
Uma batida cortou meus pensamentos.
Respirei fundo. Não era possível. O bilionário Felipe Dias estava ali. O que aquele homem
queria?
... Eu sabia o que ele queria.
Até onde um homem vai por uma boceta difícil?
∞∞∞
— O que você está fazendo aqui?
Você. Não Senhor. Ele não era mais o meu chefe. E não era mais problema meu. Depois do
que aconteceu no escritório, eu nem pensava mais em trabalhar na firma dele.
Ele ainda estava vestido o mesmo terno. Era tão grande, e meu corpo recordou-se
imediatamente de outra parte dele que também era grande e parecia...
Suculenta.
Que porra de pensamento é esse?
Involuntariamente, apertei minhas coxas. Estava nervosa, um tremor no estômago que eu
nunca senti antes. Cada pedaço da minha pele ansiava por esse homem como por nada até então. Mas,
isso não me fazia suficientemente burra para não saber o que ele queria de mim.
Felipe deu um passo à frente, em minha direção. Eu recuei, mesmo sabendo que não devia.
Cada vez que recuasse, ele avançaria, e assim entraria na minha casa. Talvez até na minha vida.
— Você mora num bairro bem complicado — ele murmurou e eu senti o hálito forte de álcool.
Só então notei o leve rubor embaixo dos seus olhos.
— Está bêbado? — questionei.
— Não o suficiente — ele retorquiu. — Só tomei algumas doses para tentar me acalmar. É
difícil se ter cinquenta anos e estar correndo atrás de um rabo de saia de vinte e poucos.
Não sei por que senti lágrimas nos olhos quando ele disse isso. Sabia que estava com raiva
por eu tê-lo deixado insatisfeito, quando a maioria das mulheres de sua vida deviam lamber o chão
que pisava.
— Você quer dinheiro? — ele indagou, e eu contive o movimento de bater nele.
Não queria tocá-lo por medo de cair em tentação.
— Enfie no rabo seu dinheiro — devolvi. — Agora saia — tentei avançar para que ele
recuasse o suficiente para eu fechar a porta.
Mas ele não recuou. E nós ficamos tão perto. Era tão fácil apenas levantar minha mão e tocar
sua face. Sentir sua barba semicerrada. Sentir seu gosto na minha boca.
— Sabe... As mulheres com quem eu saio sempre usam lingeries sexys para dormir. Mas,
você está vestindo uma camiseta velha, quase rasgando, e um shorts tão... masculino... devia me dar
nojo. Ainda assim, eu só consigo pensar no tamanho perfeito dos seus seios empinados, e nos seus
mamilos duros contra meu peito... Eu nem consigo me importar de te ver usando trapos. Ah, Ana... eu
posso te dar tanto... roupas bonitas... Você pode se vestir como uma rainha. E, sabe... sair desse
apartamento, desse bairro acabado, com vizinhos esquisitos... Posso te colocar numa mansão...
— Não estou a venda — disse, raiva, desespero, me tomando.
Não devia machucar. Eu conhecia esse homem a pouco mais de dois meses. Eu trabalhei para
ele e só. Ele não era importante... eu não o amava. Desejo sexual acontece, apenas devia me precaver
para que isso não se tornasse algo além do aceitável.
— Eu sei que não está à venda. Exatamente por isso é tão difícil. As outras mulheres eu
consigo com um jantar e algumas notas graúdas... E são mulheres bonitas, até famosas. Mas, você...
você é só uma garotinha. E uma garotinha sem grandes atrativos. Não me entenda mal, é muito bonita,
realmente é bonita..., Mas, perto das mulheres que eu já sai, você não é ninguém.
— Veio aqui para me insultar?
— Não — ele negou rapidamente. — Estou dizendo que mesmo não sendo ninguém perto do
montante de mulheres que já tive... Ainda assim, faz dias que eu não consigo pensar em mais nada e
nem ninguém. Eu te vejo até nos meus sonhos.
Estava com raiva. E estava tomada de frustração também, mas eu sabia que alguma coisa ali
não era ofensiva. Era uma mistura do torpor do álcool com uma sinceridade que talvez ele jamais
tenha se permitido sentir.
Um trovão ecoou ao longe. Eu suspirei pesado e olhei para ele.
— A chuva está chegando e essa área costuma alagar. Você deve ir.
— Me deixa ficar com você essa noite.
— É melhor você ir embora — insisti.
Ele deu um passo à frente, entrando completamente no apartamento. Eu devia empurrá-lo, mas
não consegui. Seu calor me tomou e eu sentia seu hálito contra minha boca.
Oh Deus... Eu comecei a pegar fogo, então recuei. Ele entrou completamente, e eu ouvi a
porta do meu apartamento batendo.
Ok... estávamos nós dois ali. Parados um diante do outro, com esse fogo que parecia nos
consumir.
— Eu te quero tanto, Ana Paula. Nunca corri atrás de outra mulher.
— Não é o certo.
— Eu sou solteiro. Você também. Por que não?
— Porque eu não transo por transar.
— Você quer o quê? Uma aliança? Uma promessa?
Aliança e promessa foi o que meu pai deu a minha mãe. E agora ela estava velha, sozinha, e
no aguardo de um homem que nunca teria.
— Eu não quero nada de você.
— Mentira. Você quer meu pau batendo na sua xana. Eu sei que quer. Deve estar latejando
agora... Não está?
Sua mão elevou-se e seus dedos tocaram na parte de baixo do meu ventre. Por algum motivo,
eu não bati em sua mão, nem recuei. Apenas fechei os olhos e me deliciei com a suavidade do seu
toque.
— Ah, Ana... Você quer tanto quanto eu. E nessa noite você vai ter.
Capítulo 7
Como eu podia estar fazendo isso? Eu me sentia tão envergonhada comigo mesma. Uma pessoa que
se deixa levar pelos instintos do próprio corpo. Todavia, como negar a necessidade que eu nutria por
essa pessoa?
Por que esse homem fazia isso comigo? Por que ele me deixava queimando em cada pedaço
da minha carne?
Seus lábios tocaram os meus. Meu corpo bloqueou minha razão e eu gemi pelo simples beijo
que ele deu em minha boca.
Era tão bom... tão bom...
De repente suas mãos agarraram minha cintura, me puxando contra seus músculos tensos.
Felipe era tão grande que me senti uma coisinha minúscula contra seu corpo forte.
Suas mãos desceram. Aquela sensação deliciosa que me tocava quando ele agarrava minha
bunda voltou com intensidade. Ele me puxou contra ele, e dessa vez fiquei mais consciente do que ele
queria, mais aberta a sensação de ondulação que meus quadris faziam contra seu baixo ventre.
Uma das mãos abandonou o bumbum e subiu, capturando meu seio, brincando contra o botão
que despertava contra a camiseta.
— Você é tão quente, menina — ele disse. — E você gosta tanto de um caralho, não é? Não
consegue esconder a necessidade enquanto eu aperto o meu contra sua boceta...
Felipe me devorou através dessas palavras. Um palavreado que eu jamais admitiria ouvir
num momento normal, agora só intensificava a sensação de posse.
De repente ele segurou minhas duas coxas. Pôs as mãos embaixo delas e me ergueu, fazendo
com que minhas pernas agarrassem sua cintura. Eu fiquei mais aberta, e agora estava claramente
rebolando sobre sua ponta grossa.
— Ah — suspirei, quando seu beijo quebrou, alguns instantes.
— Eu sei, eu sei — ele disse, beijando-me com força. — Vou te dar tudo que você quer nessa
boceta fogosa.
Subitamente, minhas costas bateram contra a parede. Ele me apoiou lá, e tirou minha
camiseta. Eu não havia colocado sutiã, e meus peitos caíram sobre seu olhar. Logo seus polegares
apertaram meus botões, massageando, antes que sua boca tocasse meu peito.
Ele chupou, lambeu e mordiscou. Tudo isso fez com que eu ardesse mais, e sentisse ainda
mais meu centro pulsar e molhar. Era tão bom, essa posição de completa submissão, presa nos braços
desse homem.
Ah, eu queria tanto que ele empurrasse aquela ponta grande dentro de mim. Estava quase
implorando.
Uma réstia de consciência me tomou, antes de se apagar novamente. Brevemente eu me
lembrei de minha mãe, e me lembrei do que virou sua vida nas mãos de um homem, mas então ele
bateu forte o quadril no meu, me fazendo gritar de puro prazer, e tudo se perdeu.
— Ah, Felipe...
— O quê? — ele questionou, seus olhos ardendo em chamas.
— Me fode — implorei, rebolando mais. — Por favor... por favor...
Pouco depois eu senti a cama nas minhas costas. De joelhos entre minhas pernas, Felipe
pegou meu calção de moletom e a arrancou, deixando visível minha calcinha encharcada.
— Sua bocetinha está latejando — ele disse, colocando um dedo grosso na entrada dela,
fazendo um círculo gentil, capturando um pouco do meu suco, antes de levar o dedo a boca.
Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. Estava absurdamente entregue de uma
forma que mulher nenhuma devia se entregar. Estava queimando sem controle, e a visão desse homem
só me deu mais desejo e anseio.
De repente ele deixou na cama. Enquanto arrancava a camisa, meus olhos estavam fixos no
seu caralho formado na calça. Ele estava ereto, erguido, ansioso para se livrar do tecido.
Felipe tirou a calça. Eu podia ver a ponta vermelha saindo pela parte superior da cueca. Ele
tocou em si mesmo, me encarando.
— Normalmente eu demoro muito tempo com uma mulher, mas você está me olhando tão
faminta que acho que não vou me aguentar muito tempo...
Então ele baixou totalmente a cueca e eu pude ver aquele membro enorme, cabeçudo e de
veias salientes a altura dos meus olhos.
— Você quer chupar, bebê? — ele indagou, acariciando seu mastro por toda a sua extensão.
Não respondi. Apenas me adiantei e me aproximei daquele pau. Nunca havia visto um
pessoalmente, e nunca pensei que pudesse desejar tanto um, mas Felipe estava certo quando dizia que
eu o queria muito.
Minha boceta latejava, enquanto respingava de desejo. Meu corpo nunca tremeu tanto. Minha
boca salivava pela ansiedade. Resolvi me perder completamente nesse sonho.
Só por um breve tempo...
Só hoje...
Minha boca baixou no seu comprimento. Lambi a cabeça, enquanto mamava um pouco.
— Sua boquinha é tão pequena... perfeita para foder — ele murmurou, e enquanto segurou
minha cabeça, enquanto deslizava todo seu caralho na minha boca.
Eu engasguei enquanto ele metia. Meu corpo inteiro doía pela pura necessidade, então minhas
mãos desceram até minha vagina. Acariciei meu próprio clitóris, e depois enfiei o dedo médio em
mim mesma.
— Tão gostosa... tão gostosa... — de repente ele percebeu que eu me tocava. — Pare! —
tirou minha mão da minha xana, afastando o pau da minha boca. — Nessa boceta gostosa, quem vai
entrar sou eu, meu caralho, minha língua... entendeu?
Eu estava quase chorando. Precisava de libertação. Precisava que ele me deixasse sentir,
porque estava tremendo de tanta vontade.
Então sua mão substituiu a minha. Seus dedos grandes e grossos acariciaram meus pelos,
antes de invadirem meu centro molhado. Ele raspou o polegar no meu clitóris e eu choraminguei.
— Por favor — implorei.
Eu nem o vi se posicionar. Estava inebriada pelo desejo como se estivesse bêbada. Meu
corpo sacudiu quando senti seu peso, e então aquela cabeça grande me rasgando na entrada.
De repente, ele saiu.
“Percebeu que sou virgem?” questionei a mim mesma, pensando pela primeira vez que isso
poderia ser um problema.
Entreabri meus olhos, para percebê-lo desenrolando um preservativo no seu pau.
— Quase esqueci — ele disse, enquanto se voltava para mim.
Ele não parecia mais bêbado. Ao contrário, a pessoa inebriada ali era eu. Estava tão
fascinada por ele que não fiz nenhuma objeção quando ele me girou na cama, afundando meu rosto
contra o travesseiro.
— Assim é mais gostoso — ele disse. — Eu pego direto no seu ponto...
Que ponto?
Felipe ergueu minha bunda e a deixou ao alcance do seu caralho. Subitamente, senti
novamente aquela pica entrando. Agora, mais dura. Meu corpo latejou, agora não de prazer, mas eu
escondi o gemido de dor contra o travesseiro.
— Você é tão apertadinha... — ele gemeu alto.
Ele saiu. Entrou de novo. Parecia estar tentando se encaixar. Cada movimento me
dilacerando.
— Sério, você é muito apertada... — ele repetiu, e agora a coisa não parecia ser tão boa. —
Que delícia... — suas palavras contrariaram meu pensamento.
De repente ele conseguiu entrar inteiro. Parou. Seu pau me preenchia completamente e eu
senti uma sensação poderosa quando ele levou as mãos ao meu cabelo, fazendo um coque e puxando
para trás.
Dessa vez, gritei. Dor e prazer. Ao longe, vi minha imagem no espelho. De quatro na cama, o
homem atrás de mim, me segurando como se me dominasse completamente.
E dominava...
Uma das suas mãos deixou meu cabelo e deslizou para meu rosto, um dedo entrando na minha
boca. Não sei porque, babar naquele dedo pareceu tão sensual que eu comecei a gemer de puro
deleite.
— Você é virgem? — ele indagou, mas eu não conseguia responder.
Nem pensar.
Tudo estava apagado nas sensações do meu corpo.
— Está doendo? — ele voltou a questionar.
Estava. Mas, também estava maravilhoso.
Senti que Felipe recuava os quadris, e eu imaginei que ele fosse tirar tudo e ir embora. Então,
movi meu quadril para trás, buscando sua pica. Ele afundou em mim novamente, gemendo, e eu vi
estrelas de tanta dor.
— Não devia ser assim, eu não queria te machucar — havia um tom de culpa nele que me deu
náuseas.
— Mete — implorei.
Eu não me importava mais com a dor. Eu só queria alívio.
Ele se moveu, entrando e saindo. A cada movimento, meu corpo estremecia pela fricção, pelo
calor, pela dor, e pelo desejo.
Meus lábios se abriram e não pude evitar os gritos. As paredes finas do condomínio não
esconderiam minhas reações. Eu devia estar envergonhada e mortificada, mas não conseguia mais
pensar.
De repente, ele intensificou as entocadas. Eram tão intensas que eu podia ouvir o som alto
dos estalos dos toques do nosso corpo. A cama começou a ranger pelo movimento para frente e trás,
e eu comecei a ajudar Felipe, indo ao seu encontro, batendo minha bunda contra seu quadril, sentindo
uma sensação de poder e queda tamanha que quase desfaleci.
— Ah... ah... eu vou gozar — disse, sentindo aquela sensação chegando cada vez mais forte.
Ele perdeu o controle, enquanto a parte superior do meu corpo caia contra o colchão,
deixando apenas minha bunda erguida para ele. Gritei, gemi, mordi a fronha enquanto ele gemia forte,
dando urros de prazer.
— Tô gozando, Ana... tô gozando...
Mais rápido, ele se moveu e encontrou sua própria liberação.
Então nós dois caímos na cama. Respirações pesadas, corpos suados, era como se
estivéssemos em outra dimensão e só agora conseguíamos raciocinar sobre o que aconteceu.
— Caramba — ele disse. — Você sangrou — avisou, um pouco depois, e eu levei um certo
tempo para levar a mão até minha coxa e a perceber molhada – não do meu prazer.
Enquanto ele tirava a camisinha, eu tentei me erguer para ir até o banheiro. Subitamente, suas
mãos seguraram meu braço. Havia culpa e desculpas não ditas em seu olhar.
— Não se preocupe. Não vai ser obrigado a se casar comigo por ter me desvirginado.
— Você é tão quente... e parecia querer tanto... achei que fosse mais experiente — ele
murmurou.
— Você não conhece tanto as mulheres quanto acredita.
Dessa vez me desvencilhei dos seus braços e fui até o banheiro. Molhei meu rosto na água
gelada, antes de entrar no chuveiro quente e tomar um banho. Provavelmente, quando voltasse para o
quarto, Felipe já teria ido.
Havia uma sensação de perda e encontro, dentro de mim.
Quando sai do chuveiro, me observei no espelho que ficava em cima da pia. Eu já era uma
mulher feita, e agora era uma mulher com vida sexual. Ergui a mão para afastar a franja da testa,
sentindo minha cabeça queimar.
Precisava de uma aspirina.
De repente, me dei conta de como estava, fisicamente, parecida com minha mãe, quando
jovem. Será que meu pai também era assim, com ela? A fazia perder a cabeça, como Felipe fez
comigo?
Mas, eu não podia me tornar a mesma pessoa. Eu precisava ser forte e...
Entrei no quarto, meus olhos arregalados, ao percebê-lo no mesmo lugar.
— Você ainda não foi? — questionei.
— Uau. Você mal perdeu a virgindade e já se tornou uma cafajeste? — ele riu. — Posso
tomar um banho?
Balancei a cabeça. Então fui até o roupeiro e peguei uma toalha, jogando-a nele.
— E posso passar a noite aqui?
Eu queria enxotá-lo da minha casa e da minha vida. Mas, na mesma medida, não queria.
— Faça o que quiser — disse, por fim.
— É uma frase muito perigosa para se dizer a um homem como eu, Ana Paula — ele
murmurou. — E acho que vou aceitá-la.
Capítulo 8
Ele se sentou na cama. O cheiro do meu shampoo pareceu estranhamente delicioso nele. Me encolhi,
pensamentos poderosos tomando conta de mim.
Eu gozei a poucos minutos e meu corpo clamava por mais. Estava absorvida em desejo. Eu
sabia que esse caminho era muito perigoso e, na mesma medida, eu entendia que não podia recuar.
O som da chuva ecoou lá fora. Uma trovoada cortou o ar no instante que ele se inclinava na
minha direção.
— Eu machuquei você? — ele indagou, a voz um tanto vacilante, o que me surpreendeu
porque um homem grande e poderoso como ele jamais havia demonstrado qualquer traço de
hesitação.
Eu não sabia o que responder. Ele foi um pouco bruto, mas eu gostei. Minha vagina doía e
pulsava de prazer. Era uma sensação inesperada e que eu jamais havia sentido.
Subitamente sua boca deslizou pelo meu ombro. Eu fechei os olhos, sentindo meu corpo
estremecer novamente. Quando esse desejo animalesco iria passar?
— Você ainda cheira a inocência — ele murmurou. — Eu quero tirar isso de você...
De repente eu estava novamente em chamas. Ele me puxou da cama, me elevando até seu
colo. Montei nele, e senti de novo sua ponta dura despontando na minha xana. Eu estava com dor, mas
me esfreguei no seu mastro grosso como uma puta.
— Por que está fazendo isso comigo? — questionei.
— Porque você é gostosa.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
— O que quer de mim?
— Tudo, Ana... Quero seu corpo, sua alma, seu desejo, quero cada respiração que exalar.
Quero que nunca mais na sua vida pense em nada que não seja eu...
Neguei. Fazer dele meu tudo era algo impensável. Eu não era minha mãe, que vivia em prol
de um homem.
— Nunca — jurei.
Ele riu, antes de me puxar para um beijo. Enquanto nossas bocas duelavam numa guerra sem
misericórdia, ele se encaixou no meu centro, e afundou, enterrando-se até o talo.
Eu gemi, me segurando em seu ombro. Dor... dor... Eu queria sair, mas me vi cavalgando
enquanto ele me ajudava a elevar e enterrar de forma enérgica, forte.
— Ah, garota — ele gemeu. — Você vai me fazer gozar tão rápido quanto um adolescente —
riu. — Olhe o jeito que você ondula essa bunda... Nem mesmo as putas mais bem pagas que eu tive
me deixaram tão louco...
Eu não sei porque cada vez que ele falava assim comigo, eu me sentia mais desejosa. Eu
devia ser doente, como minha mãe. Ser sujeitada dessa forma e ainda sentir desejo.
Subitamente, ele começou a me molhar. Jatos quentes me atingindo. Uma parte de mim
percebeu que era diferente da primeira vez, porque eu sentia aquele líquido, mas eu não conseguia
pensar em mais nada, minha xana bebendo do seu mel como se fosse um néctar.
E então eu desabei. Meus olhos pesados denotavam minha exaustão. Cai por cima de Felipe e
o senti me segurando de forma carinhosa.
— Dorme, bebê — ele disse. — Eu vou cuidar de você.
Homem nenhum cuidaria de mim. Eu não permitiria. Mas, estava tão cansada e exausta que
apenas resvalei para o lado e me encolhi nas cobertas. O barulho da chuva me relaxando, e o corpo
quente as minhas costas me deixando completamente à mercê de sensações desconhecidas.
Capítulo 9
Olhei para a folha de papel ao meu lado, tentando captar o texto antes de digitá-lo no computador.
Na minha frente ouvi o som nervoso de um homem de setenta anos, que estava preocupado com o
atraso nos contratos de seus clientes.
Ele havia me contratado no dia anterior. Depois de três semanas sem emprego, tive a sorte de
conseguir esse temporário no escritório de direito criminal. O problema é que o advogado que me
contratou estava com meses de trabalho atrasado, e parecia me culpar pela demora, sendo que fazia
menos de vinte e quatro horas que eu havia sentado na frente do computador para trabalhar.
Suspirei.
Quando se é pobre, se submete a muitas coisas, inclusive gritos e desaforos dos ricos, para se
conseguir pagar as contas. A minha vontade era de mandá-lo a merda, me levantar dali e ir embora,
mas continuei a datilografar, porque o trabalho ritmado e repetitivo me fazia esquecer sensações
cravadas em minha alma.
Já fazia três semanas que Felipe foi me ver na minha casa. No dia seguinte a nossa noite
quente, ele havia sumido quando acordei. Foi um alívio, porque não queria nenhum contato com ele,
nem queria que ele me desse falsas esperanças como meu pai deu a minha mãe.
Eu não era tola. Eu entendia que não era só meu corpo que queimava quando o via. Meu
coração pulsava tão forte que parecia que sairia pela boca.
Felipe Dias era um risco a minha sanidade. E eu não podia me atrever a me entregar a isso.
— Você não pode ser mais rápida? Eu tenho prazo! — o homem disse, se aproximando da
minha mesa.
— Senhor, são muitos papeis e eu comecei ontem. O senhor devia ter contratado uma
funcionária para datilografar antes. Estou fazendo o máximo que posso, mas não vou conseguir
terminar tudo tão rápido.
Ele me fuzilou com os olhos. Se não precisasse tanto que eu terminasse aquele contrato, com
certeza me escorraçaria dali por me atrever a enfrentá-lo.
De repente meu celular vibrou. Inocentemente eu o peguei por impulso.
— Eu estou te pagando para datilografar e não para ficar mexendo no celular — ele berrou,
violentamente.
Uma parte de mim disse para ficar quieta, e terminar meu ofício. Mas, outra me disse que se
eu me submetesse a isso, só Deus saberia o que seria de mim mais tarde. Relações abusivas também
existiam no ambiente de trabalho. Se ele gritava comigo em menos de vinte e quatro horas, o que
seria de mim depois de algumas semanas.
Então, impulsivamente, me levantei.
— O que está fazendo?
— Indo embora. Com licença.
Ele ficou vermelho e achei que fosse saltar em mim.
— Sente-se agora e termine o que você veio fazer!
— Não senhor. Eu vim para trabalhar, não para ser ofendida. Se o senhor tem pressa, contrate
uma pessoa com prazo, não exija que alguém faça “O SEU” serviço atrasado às pressas.
Enquanto eu me dirigia para fora, ouvi sua última ameaça.
— Eu vou acabar com a sua carreira!
Eu ri. Que carreira?
∞∞∞
Só olhei para a tela do celular novamente quanto estava na parada de ônibus. Minhas mãos
tremiam e eu estava muito nervosa. O aluguel venceria na outra semana e eu precisava de um
emprego o mais rápido possível.
Será que sair obtusamente do escritório do advogado iria me prejudicar?
Respirei fundo. Eu precisava concluir logo meu curso e encontrar um emprego formal.
Minha atenção voltou a tela. Meus olhos se arregalaram quando percebi ser uma mensagem
da Corporação Dias. Era do RH. Eles tinham uma oferta a me fazer.
Minha cabeça começou a girar.
Felipe me queria na empresa dele? Não... Não... Ele sequer me ligou depois daquela noite.
Provavelmente surgiu uma vaga e a moça do RH pensou em mim. Felipe nem devia saber que
estavam me ofertando algo.
E eu não podia recusar algo que iria me pagar decentemente, em dia, e que poderia me dar um
plano de carreira. Não era todo dia que uma vaga assim surgia.
— Ele tem um monte de mulher... Nem deve lembrar que eu existo — disse a mim mesma.
Não tinha certeza, mas precisava me convencer.
∞∞∞
— Ana Paula? — A mulher do RH me chamou na porta do seu escritório.
Eu recolhi meu curriculum do colo, e a segui. A sala estava vazia e eu me senti aliviada
porque Felipe não estava ali. Certo, eu estava com razão ao pensar que ele não fazia ideia de minha
presença em sua empresa.
Se eu tivesse sorte, ele nunca descobriria, pois eu seria mandada par um setor longe do dele.
— Como vai, Ana? — Nadja perguntou. — Você fez falta aqui, sabia?
— Mesmo?
— Joana adorou a forma como organizou o trabalho dela. Joana disse que, como já tem
muitos anos trabalhando para Felipe, ela já criou uma rotina acomodada, mas que você tornou tudo
mais simples e clean — disse, tentando explicar que eu fiz algo limpo, ajeitado.
— Fico muito feliz de ouvir isso.
— Bom, e como ficou tão bem falada na empresa, é claro que quando surgiu uma vaga, seu
nome foi o primeiro que pensamos. Espero que não esteja trabalhando em outro lugar, porque Sr.
Dias pediu urgência.
Ele sabia!
Imediatamente, meu coração acelerou.
— Não estou trabalhando em outro lugar.
— Que ótimo! Então poderia começar amanhã?
— Que vaga é? — indaguei, sem responder à questão.
Meu coração batia descontroladamente no peito. Sentia meu estômago se contraindo, a
imagem de Felipe Dias me tomando, inundando tudo em mim.
— Por enquanto é de auxiliar administrativo. Não é uma vaga efetiva. Felipe Dias te quer na
empresa, mas quer que você mude de posição assim que concluir sua faculdade. Ele disse que você
está fazendo administração, não é? Felipe te achou muito competente para ser apenas uma secretária.
Ele me queria em cargo de gerência? O que isso significava? Ele estava tentando me
comprar? Ele achava que eu ficaria dando para ele a fim de subir na empresa?
— É para trabalhar em que setor?
— Com o Sr. Dias. Ele quer treiná-la.
Ele não quer me treinar. Ele quer me foder. Eu sei disso, e se eu tivesse o mínimo de bom
senso, me levantaria agora da cadeira e iria embora. Aceitar a oferta destruiria minha sanidade.
Recusá-la seria minha desgraça financeira.
— Obrigada pela oferta — disse. Meu coração cada vez mais acelerado. — Eu aceito.
Capítulo 10
Joana olhou rapidamente para a janela, enquanto comentava sobre como o dia estava lindo.
— É tão legal ter uma colega no trabalho — ela falou em seguida, volvendo para mim.
Sorri. Ela era legal. Inteligente, capaz e muito gentil. Também não se sentia incomodada por
ver outra mesa na direção contrária da dela.
— Por favor, me diga tudo que preciso fazer para auxiliá-la da melhor forma possível —
pedi.
Joana assentiu.
— Vou na copa tomar um café — disse, apesar de ter uma ótima cafeteira perto da nossa
mesa. Eu sabia que era apenas uma desculpa para dar uma volta. — Pode atender ao telefone?
Concordei enquanto ela se levantava. Pouco depois ela sumia em direção ao elevador.
Ok. Eu estava sozinha ali, novamente. Já eram dez horas da manhã e Felipe Dias ainda não
havia aparecido no escritório. Estava apreensiva com a possibilidade de revê-lo.
De repente o barulho do elevador me avisou que alguém estava chegando. Eu sabia que não
era Joana, porque ela havia acabado de sair. Meu coração ficou aos saltos, enquanto meus dedos
tremiam. Esforcei-me para focar na tela do computador, onde relatórios de despesas do último navio
cargueiro precisavam ser conferidos.
Subitamente, o cheiro da colônia de Felipe me inundou. Eu experimentei aquele cheiro contra
minha pele, minha boca... o gosto de Felipe surgiu em minha língua e eu estremeci.
Isso era errado. Tão errado. Felipe era um homem experiente que podia me quebrar em
pedaços. Onde estava meu bom senso? Minha razão? Minha autoproteção? Eu não sabia como
funcionava relacionamentos disfuncionais como esse?
De repente, Felipe entrou. Ergui minha face e o encarei. Foi um gesto carregado de coragem.
— Ana Paula — ele disse, parando em frente à minha mesa. — Fez falta aqui, sabia?
Era frio como um iceberg. Nenhuma inclinação de que semanas atrás ele me teve tão
apaixonadamente no leito.
— Bom dia, Senhor Dias.
Ele sorriu, havia algo misterioso naquele sorriso.
— Tem os relatórios da entrega da Soja na Europa? Tenho uma reunião em meia hora sobre
isso.
— Sim, Senhor. Já estão em sua mesa.
Ele pareceu simpático ao ouvir isso. Eu sabia, pelo tempo que trabalhei com ele, que gostava
de ter tudo em ordem no trabalho.
— Por favor, me leve um café. Tenho muito trabalho hoje.
E foi na direção do seu escritório. Quando a porta fechou, meu coração, não sei por que,
pareceu aos pedaços. Não que eu esperasse uma recepção apaixonada – nem a queria – mas ele
estava tão frio ao falar comigo.
Era estranho. Eu dei minha virgindade a esse homem, e agora ele parecia estar falando com
uma porta.
Lágrimas se formaram nos meus olhos enquanto ia até a cafeteira. Deus, o que estava
acontecendo? Eu estava exatamente onde queria, com uma chance real de ser parte da Corporação
Dias. E ainda assim, parecia estar destroçada.
Respirei fundo, reprimindo as lágrimas, e então peguei a bandeja com o café e fui até sua
sala. Bati levemente na porta antes de entrar.
Caminhei em sua direção, a fim de lhe deixar o café. Ele sequer me olhou, observando
atentamente a tela do computador.
Silenciosamente, coloquei a xícara na sua frente. Nada.
— O senhor precisa de mais alguma coisa?
— Não.
Ele nem mesmo agradeceu o café. Recolhendo meu resto de dignidade, me afastei da mesa, e
caminhei em direção a minha própria.
Sentei-me, minhas mãos tremendo. Não era uma surpresa que eu não fosse especial. Ora, eu
não esperava uma declaração de amor, ou coisa assim. Mas, ser tratada como se não tivesse
acontecido nada entre nós foi desanimador.
O que eu estava pensando?
Eu devia ser grata por ele fingir que eu nem existia.
Talvez nem se lembrasse de nossa noite, semanas atrás. Quantas mulheres ele já teve depois
disso? A pergunta não respondida pareceu me corroer ainda mais.

∞∞∞
Os papeis se amontoaram na minha mesa nos dias que se seguiram. Eu mal conseguia terminar
um relatório, e Felipe Dias me entregava mais trabalho. Em contrapartida, eu não via Joana fazendo
nada. Ela parecia muito interessada em um jogo de canastra instalado no seu computador.
Eu devia falar alguma coisa? Indagar por que estava sendo tratada como uma escrava?
Não.
Era minha chance ali e eu ficaria de bico calado, vendo até onde Felipe Dias iria.
Eu chegava na empresa as 08 horas da manhã. Almoçava na minha mesa, normalmente com
uma marmita feita em casa. Recomeçava a trabalhar as 13 e ia até Felipe me dispensar, normalmente
as 20 horas. Era uma rotina muito cansativa, mas meu objetivo ali era maior que minha exaustão.
Suspirei, pegando mais papeis. Eu havia acabado de almoçar, e tinha tanta coisa para fazer
que nem pensei em parar depois do almoço. Porém, meu trabalho foi interrompido quando o elevador
se abriu e Felipe saiu de lá.
Ele caminhava ereto e sério, trazendo papeis nas mãos. Jogou os papeis na minha mesa, sem
sequer pedir ou explicar nada, e então foi para sua sala. Eu olhei para a nova pilha e fiquei cada vez
mais nervosa.
Talvez ele se arrependesse de me chamar e quisesse me fazer pedir as contas.
Talvez ele tivesse uma fantasia mágica pela bebida sobre aquela noite, e ao me ver, viu que a
realidade não era tão excitante.
Talvez só estivesse querendo se livrar de mim.
Mas, eu não iria desistir. Não iria!
Capítulo 11
Felipe Dias parou diante da minha mesa, observando a minha marmita. Seu olhar pareceu medir a
comida que eu havia trazido, e havia um julgamento latente em seus olhos.
— O que foi?
— Você come muito mal. Apenas carboidrato. Onde está a carne?
Estávamos no final do mês e eu já estava sem dinheiro. Como havia atrasado o aluguel
durante o tempo que fiquei desempregada, acabei pagando duas parcelas juntas. Com isso, fiquei
limitada até receber novamente.
Contudo, isso não dava o direito desse homem criticar meu almoço. Eu não sei se ele
percebeu meu incômodo, mas não se afastou. Ao contrário, pareceu aguardar uma resposta que eu não
estava disposta a dar.
Ele era meu chefe. Não meu amigo. Eu não precisava ficar me explicando para ele.
— Venha almoçar comigo — ele disse. — E também acho que devemos ir a uma loja, depois
disso.
— Loja?
— Comprar roupas novas para você.
O que ele achava que eu era? Uma prostituta? Que ele me compraria com almoços ou roupas?
O que eu vivi com ele dias atrás não foi por benefícios. Ele não precisava me pagar.
Porque era isso, não era? Ele estava tentando compensar o sexo.
— Agradeço sua oferta, mas estou satisfeita com meu almoço. E com minhas roupas. São as
roupas que posso pagar, por enquanto. Talvez no futuro me veja com roupas melhores, mas também
serão fruto do suor do meu rosto.
Seu olhar queimou. Minha última frase não saiu como devia. Suar não era uma característica
que queria expressar.
Imagens eróticas de nós dois suados, nus, esfregando-se um no outro, fez meu estômago
latejar.
Subitamente, ele fez a volta em minha mesa. Por algum motivo eu fiquei em pé, assustada com
sua ação.
— O que está fazendo? — exigi.
Felipe me girou, me fazendo sentar na mesa enorme. Meu corpo palpitou e eu não pude evitar
um gemido quando senti seu pênis esfregando-se em uma parte tão saudosa do meu corpo.
— Se você me deixar lamber seu suor novamente, posso te dar tudo que o dinheiro pode
comprar, Ana Paula...
Senti lágrimas nos meus olhos. A vergonha mesclava-se ao calor invasivo que parecia
corroer tudo. Felipe Dias me via como uma coisa, um objeto que ele podia foder e fazer o que
quisesse. Me via como algo que a conta bancária dele podia comprar. Era repulsivo, e ainda assim,
eu não conseguia me afastar.
Senti seus lábios deslizarem pela minha bochecha. Meu corpo balançou, ondulou contra seus
quadris. Eu estava desesperada, querendo fugir dele, e ainda assim correndo em sua direção.
— Seu corpo está tremendo, Ana Paula — ele disse.
Sua frase tinha por único objetivo minha humilhação. Eu sabia disso. Expressar minha
necessidade dolorosa e desesperada, torná-la algo audível e tateável entre nós era dizer o quanto eu
estava fraquejando por ele. Felipe era experiente e sabia que isso me quebraria. Quebrar-me parecia
ser seu maior objetivo.
De repente, meu celular tocou. Por instinto, eu tentei me afastar para pegá-lo, mas seus
quadris se moveram rapidamente, pressionando mais, e eu gemi tão alto que precisei cobrir a boca
com as duas mãos.
Que vergonha... que vergonha...
— Ah, como você gosta — ele disse, suave, quase um suspiro contra minha boca.
— Por favor, eu preciso atender meu telefone.
— Precisa? Por quê? É algum namorado? Está saindo com algum cara? Ele sabe que você
cavalgou como uma puta no meu pau?
Por que ele parecia tão zangado?
— É minha mãe — disse, porque conhecia o toque.
Pus aquele toque para diferenciá-la das outras pessoas. E para me preparar mentalmente para
ouvir sua voz.
Era sempre difícil.
Nascer de alguém que nunca te colocou como prioridade, mesmo quando você é uma criança
indefesa... Talvez fosse essa a causa de eu ser tão fraca por um homem como ele.
— Ok... — Ele disse, se afastando. — Você não negou que tem um namorado — ele lembrou,
e eu soube que não se afastaria enquanto eu não respondesse.
— Você sabe que não tenho — rebati.
— Queria ouvir da sua boca. Ainda falta dizer que é minha — ele murmurou, e algo explodiu
em mim.
O empurrei com todas as minhas forças.
Eu não era de ninguém! Nunca seria. Sou minha única dona. Pertencer a alguém só traz dor e
mágoa.
Peguei meu telefone e me afastei em direção ao banheiro. Quase podia sentir Felipe tentando
me seguir, mas ele desistiu antes de eu entrar no lavatório.
Com sentimentos mistos, respirando fundo, e tentando me recuperar daquele homem, eu atendi
o telefone. Do outro lado pude ouvir o choro desesperado.
— O que aconteceu, mãe?
— Seu pai... ele disse que não vai se divorciar.
Quase trinta anos depois da primeira vez deles, e só agora ela percebia isso?
— É claro que ele não vai se divorciar. Ele tem uma esposa bonita, advogada, filhos
formados, até um neto. Ele não vai trocar isso tudo pela faxineira que transou com ele por trinta anos,
que nunca exigiu que ele pagasse pensão, que nunca deixou a família dele descobrir sua vida dupla...
As palavras carregadas de maldade escaparam de meus lábios com tanta dor que me vi
chorando como ela. Anos e anos de pura negligência, sendo filha de um homem importante, mas
nunca assumida por ele... Quantas vezes passei necessidades, quanto vezes tive que ralar para pagar
meus estudos... Meu pai nunca me deu um centavo, nunca me ajudou em nada, sequer um abraço ele
me deu.
E minha mãe, que nunca lutou por meus direitos, que sempre ficou ao lado dele, que sempre
acreditou que se fosse a amante quieta, teria dele um dia um papel maior que o buraco que ele enfia o
pau, era a maior responsável por todas as coisas difíceis que eu passei na vida.
Meus olhos volveram para a porta do banheiro. Uma parte de mim pensou que Felipe Dias
devia também ter um relacionamento com alguém importante. Ele já devia estar casado, eu não sabia
porque ainda não estava. Mas, tinha real certeza de que, se não me protegesse, seria como minha
mãe, ou pior.
Minhas pernas ficaram trêmulas pela possibilidade.
— O que eu faço da minha vida, Ana Paula? — minha mãe indagou, me fazendo volver minha
atenção para ela.
— Reconstrua. Encontre outra pessoa, ou fique sozinha. Apenas, não o aceite mais.
— Mas, eu o amo, não posso viver sem ele. — Ela choramingou com mais palavras
incompreensíveis. Quando consegui entendê-la novamente, congelei. — Como pode dizer uma coisa
assim? Como pode me incentivar a trair seu pai? SEU PAI?
Era claro que ela ficaria contra mim. Meu pai era o Deus que ela idolatrava.
— Eu tenho que ir — disse, me afundando em tristeza e solidão. — Estou no meu horário de
trabalho.
Ela desligou na minha cara depois disso. Por alguns segundos, olhei o telefone, e depois o
espelho. Lágrimas quentes deslizaram pela minha face. Eu não devia estar tão emotiva. Ela fazia essa
tortura mental comigo a anos. Sempre que se magoava com ele, despejava em mim.
Eu era fruto do que quer que fosse que ela sentisse por aquele homem. Mas, não para ser
amado. Um fruto que devia ser arrancado e jogado fora, como se estivesse podre e não fosse digno
de uma árvore tão bela.
Capítulo 12
Joana havia ajuntado seus papeis e sua bolsa antes das 17 horas. Ela nem me explicou por que
estava indo mais cedo, apenas acenou feliz e foi em direção aos elevadores.
Percebi, naquele instante, que me ter ali era como aliviar sua carga horária. A mulher tinha
muitos anos na empresa, devia ter passado por momentos de estresse enorme, e fugir antes do
horário, com certeza era algo que lhe aliviava demasiadamente.
Na hora que se seguiu, eu contei os segundos, completamente exausta.
Desde a ligação de minha mãe, eu estava acabada. Normalmente, quando falava com ela, sua
energia negativa me derrubava. Uma vez, depois de visitá-la, eu dormi por dois dias.
O fato de meu chefe estar claramente me assediando só tornava tudo pior.
O som de passos no piso laminado me fez erguer a face e observá-lo. Ele saiu da sua sala
irradiando aquela energia sexual que me deixava confusa e cheia de tesão. Era tão desesperador. Eu
queria fugir, apenas isso, mas me via sempre inclinada em sua direção. Ele tinha um poder absurdo
sobre mim, e isso me deixava cada vez mais temerosa.
A voz de minha mãe surgiu novamente em minha mente. Eu sabia que seria uma cópia dela se
não me agarrasse com todas as minhas forças a sanidade e escapasse das garras daquele homem.
— Que tal um café, Ana? — ele comentou, e eu me ergui para ir até a cafeteira. — Não aqui.
Um café em uma cafeteria — explicou.
Ele parecia inocente, e eu me senti em dúvida sobre suas intenções. Felipe me despertava um
fogo inesperado, ele me fez implorar por ele mais de uma vez, e eu estava protegendo meu coração
com todas as minhas forças. Contudo, seria mesmo possível que ele quisesse atiçar um fogo se não
estivesse disposto a apagá-lo?
Ele estava brincando comigo. Odiava admitir isso, mas com certeza eu era apenas um joguete
em suas mãos. Foi com dificuldade que não fiquei perseguindo suas redes sociais para saber um
pouco mais sobre sua vida. Ele devia ter saído com outra mulher desde o que aconteceu, não? Ele
devia estar namorando alguma modelo ou profissional bem-sucedida dos negócios, não é? Alguém
que estivesse a sua altura. Flertar com a secretária devia ser apenas um momento de recreação em
sua vida atarefada.
— Ana? — ele repetiu, me fazendo despertar.
— Desculpe. Estou cansada.
Era mais que cansaço. Eu estava me aguentando em pé.
— É só um café, Ana Paula.
Neguei.
— Eu sinto muito.
Eu só queria me deitar. Enfiar a cara no travesseiro, chorar minha decepção interna, e depois
dormir.
— Você está bem? Está com olheiras — ele observou. — Eu acho melhor eu levá-la para
casa.
— Não é necessário, o horário do meu ônibus...
Ele não ficou para ouvir. Volveu para a própria sala, me deixando falando sozinha. Eu sabia
que foi pegar sua carteira e desligar o computador.
— Não sou eu que estou te deixando nesse estado, sou? — quando voltou, brincou e riu me
fazendo arrepiar.
Você é parte disso...
Fechei meus olhos, jamais admitiria isso para ele.
— Desculpe, eu realmente preciso ir.
— Vou te dar carona — insistiu.
— Não acho que seja adequado...
— Vamos jantar juntos? — ele nem parecia me ouvir. — Vou pedir algo gostoso para
comermos...
Ele estava ignorando completamente minhas negativas. E eu estava cansada demais para ficar
brigando. Então apenas o segui, enquanto parávamos diante do elevador.
— Você é uma garota legal, Ana Paula — ele disse, me surpreendendo.
Eu girei minha cabeça em sua direção, tentando decifrar o que havia em suas palavras. Nada.
Esse homem era uma incógnita.

∞∞∞
Felipe Dias me levou para casa. Pediu comida por aplicativo, e ficou ao meu lado enquanto
eu terminava o jantar.
Ele não fez qualquer menção de se aproximar, ou de tentar me seduzir. Apenas pareceu
preocupado que eu estivesse doente, e tentou ser educado ao me esperar tomar banho e ir me deitar
antes de ir embora.
Na manhã seguinte, eu ainda estava exausta.
Eu sabia que as conversas com a minha mãe me minavam, mas algo dentro de mim parecia
dizer que havia mais que minha mãe roubando minhas energias como uma bruxa medieval.
Quando Felipe entrou no escritório, meu corpo formigou, tanto pela necessidade que tinha por
ele, quanto pelo respeito que ele demonstrou no dia anterior.
— Como se sente? — indagou, ao chegar na minha mesa.
— Melhor — menti.
— Não é melhor ver um médico?
— Não... é... Não é a primeira vez que isso acontece — assumi, nem sei por quê. — Sempre
fico assim quando converso com a minha mãe.
— Relação difícil?
— Um pouco.
Ele riu. Quando sua voz soou novamente, era tão profunda que me arrepiou.
— Não parece “um pouco”.
Eu cedi, concordando.
— Ok. É bem complicado.
— Me conte. Não agora, claro. Mas, num jantar, numa noite dessas.
Ali estava, a tentação. Era fácil ceder a ela, quando não se tem nada a perder. Mas, eu sabia
os riscos, eu conhecia cada detalhe do que poderia tornar a minha vida se eu deixasse que Felipe
inundasse meu coração como fez ao meu corpo, naquela noite.
Eu me apaixonaria por ele num piscar de olhos. Não quando ele tentava me dominar no sexo,
mas sim quando me encarava com olhar meigo, quase inocente, como agora.
— Eu esperava que você concordasse — ele sorriu, e seus dentes brancos surgiram entre
seus lábios rubros. — Mas, não estou surpreso pelo silêncio. Enfim, lembra-se de que quando
aceitou o trabalho, eu falei que queria treiná-la? Hoje vai ter uma lição. Quero que vá a uma reunião
comigo.
— Sim, Senhor — disse, rapidamente.
— Achei que já havíamos superado a história de “senhor”.
— Creio que é melhor deixar tudo formal no âmbito profissional.
— Gostei do âmbito profissional. Espero que seja só nele. No pessoal, me trate apenas como
Felipe.
Depois disso, ele foi ao próprio escritório. Não sabia, mas me deixou num turbilhão atrás
dele.
∞∞∞
Eu nem sabia que o prédio tinha uma enorme sala de reuniões. Quando cheguei lá,
acompanhada de meu chefe, já havia várias pessoas sentadas ao redor da enorme mesa, aguardando o
presidente da Dias Transporte.
Eu tentei ir em direção a uma das mesas que estava perto da janela, quando Felipe me
apontou a cadeira ao seu lado. Todos os olhos volveram para mim e eu não sabia o que pensar.
Estariam questionando a secretária ao lado do chefe, ou pensando que eu consegui favores especiais
vendendo minha boceta?
Logo meu pensamento foi interrompido pela infinidade de relatórios e estatísticas analisadas.
Eu percebi que Felipe não tolerava atrasos ou prejuízos, e como sua posição na empresa não
aceitava questionamentos ou insinuações.
Anotei tudo que se discorreu. Estava ali para aprender, sim, mas também como secretária.
— Nosso agronegócio é o melhor — Felipe disse, num dos momentos que foi questionado
sobre o armazenamento dos grãos. — Mas, não adianta ser o melhor se não houver escoamento da
produção. Por isso precisamos sempre investir mais e mais em tecnologia, para que o produto chegue
ao seu lugar final em perfeito estado e conservação.
Eu estava fascinada. Algo dentro de mim gritava ao ver aquele homem, de terno, de barba
rasa, postura ereta e deliciosamente dono de si, discorrendo sobre negócios. Ele nunca me pareceu
tão atraente antes.
Eu precisava trabalhar, mas tudo que pensava era no quanto queria que Felipe me arrebatasse
em cima daquela mesa, me fizesse dele, me desse o mesmo prazer de dias atrás.
— O que acha, Ana Paula? — ele indagou, olhando para mim.
Percebi, naquele instante, que mal havia prestado atenção ao último assunto, completamente
absorvida por seu poder masculino.
— Prefiro não opinar. — Plagiei Gloria Pires enquanto esquivava-me.
O olhar dele queimou, e eu soube que ele entendeu porque eu não respondi. Ele sabia que eu
estava fascinada, e ele sentia o meu desejo.
Era vergonhoso. Mais alguém notou?
Quando a reunião terminou, voltamos para o escritório. Joana estava sentada em sua mesa,
comendo um pedaço de chocolate, e eu senti a boca salivar.
Estava quase indo até ela pedir um pedaço, quando Felipe me disse para segui-lo a sua sala.
Quando entrei, ele fechou a porta. Uma parte de mim ainda queria o calor que se iniciou na
sala de conferências, mas outra parte de mim só queria o chocolate.
Eu quase volvi em direção a saída, novamente, quando fui impedida por Felipe.
Seu corpo másculo segurou o meu, suas mãos dançando na minha cintura, sua ponta
pressionando meu elo mais fraco.
— Você sabe que gemeu quando me respondeu, lá? Tem noção do quanto me atiça, sua
danadinha? Me diz o que você quer...?
A palavra “chocolate” bailou em minha língua, mas não pude responder, sendo tomada por um
beijo potente que apagou todo o resto.
O som de Joana se mexendo na cadeira me despertou e eu o empurrei com força.
— Eu não vou ser sua amante de escritório — disse, as palavras saíram com uma força
absurda dos meus lábios.
Ele me encarou, havia um certo questionamento que eu não estava disposta a responder.
Estava zangada, não sei por que, e queria chocolate.
Sai da sua sala. Quando vi que Joana já havia comido toda a guloseima, quis voltar a sala de
Felipe e espancá-lo por ter me feito perder um pedaço suculento do doce.
Fiquei tonta e me segurei na mesa.
QUE ODIO, CACETE!
Eu só queria um pouco de chocolate nesse caralho de merda de vida!
Lágrimas surgiram nos meus olhos, e eu lutei contra elas, dando as costas a Joana e fingindo
mexer em arquivos para que ela não visse que estava quase aos prantos.
Por causa do chocolate.
— Ana Paula?
A voz de Felipe ao longe me fez morder o lábio inferior.
— Sim, senhor?
— Você está bem?
Dessa vez eu percebi que Joana também me encarava. Eu mal conseguia me importar com
isso, minha mente dominada pela vontade de comer chocolate.
Eu devia estar com vermes.
Fiquei desconfortável.
— Estou ótima — respondi.
Meu tom foi definitivo, e ambos aceitaram.
Quando voltaram para seus próprios afazeres, eu me senti aliviada. Ou nem tanto. Ainda
queria chocolate.
Capítulo 13
Durante a semana que se seguiu, eu estive presente a todas as reuniões que Felipe Dias teve. Das
mais insignificantes, até as mais importantes. E, em todas, ele me questionava o que aprendi e se eu
tinha algo a incluir na pauta.
Eu estava ciente que era um treinamento, mas os olhares que alguns me destinavam, estava me
incomodando muito. Ser treinada pessoalmente pelo presidente da corporação era simplesmente
inaceitável para alguns executivos.
Provavelmente pensavam que eu comprei aquela posição com favores sexuais. Era estranho e
absurdamente incômodo que pensassem isso de mim.
Talvez meu sonho de ser uma estrela profissional não era tão bom assim...
— Senhor, talvez eu não deva ir as reuniões — disse, entrando em sua sala depois de um dia
cansativo.
— Por que não? — ele perguntou, mas pelo seu olhar eu sabia que ele já entendia os motivos.
— Você não tem que se incomodar com o que os outros falam.
Mas, o que me incomodava era que eu realmente havia dormido com ele. E que desde que
isso aconteceu, ele me favoreceu de muitas formas. Era um fato. Não havia como negar isso.
— Você não comprou sua posição ao meu lado, Ana Paula.
De repente, ele se ergueu e foi até a porta da sua sala. Fechou-a antes de voltar para mim.
— Se tivesse comprado, estaria vivendo como uma rainha, cheia de joias, roupas de grife,
num apartamento na área mais cara da cidade — murmurou. — O que está fazendo é trabalhar como
uma condenada, para que um dia possa ter um emprego melhor.
Felipe era como a serpente, tentando convencer Eva de que comer o fruto proibido não era
tão ruim assim...
Mas, todos nós sabíamos as consequências.
Ele avançou. Meu coração instantaneamente doeu. Era incrível o poder que ele tinha sobre
mim. Meu corpo inteiro reagia a simples proximidade. Eu recuei um passo, mas ele avançou dois.
— Vamos ficar juntos essa noite? — indagou. — Eu sei que você também quer...
Eu podia me visualizar gritando o nome dele. Eu podia sentir seus cabelos enroscando-se em
meus dedos, enquanto eu apertava seu rosto contra meus seios. Minha respiração acelerou quando ele
deu outro passo, praticamente colando seu corpo ao meu.
Era tanto desejo... Eu nem sabia que isso era possível existir.
— Eu não posso...
— Claro que pode...
Ele inclinou-se e resvalou os lábios na minha bochecha. Apertei meus olhos, sentindo-me
vacilar. Céus, ele poderia facilmente me encostar na mesa e me foder em pleno expediente, e eu
sequer recusaria.
O telefone tocou, o que me tirou da letargia. Felipe exalou forte duas vezes antes de ir
atender. Meu corpo sentiu sua ausência com dor, minha boceta latejando pela necessidade.
— O quê? — o ouvi reclamar, e então percebi que estava ao telefone. — Ok. Me dê cinco
minutos e então a mande entrar.
Cinco minutos para o quê? Meu olhar baixou e o percebi tendo uma ereção. Ele sentou-se na
cadeira, respirando fundo, e pareceu o homem frio de sempre.
— Quero que fique na sala — me disse. — Sente-se e fique. Acompanhe tudo.
— Acompanhar tudo o quê? Uma reunião? — indaguei.
— Uma das difíceis. É uma ex. Ela sempre tenta me colocar numa posição difícil. Então, não
gosto de me encontrar com ela a sós. Certa vez ela teve um ataque, começou a rasgar a própria roupa,
e depois disse que fui eu. Por sorte, havia câmeras na área externa do bar que estávamos e, só por
isso, não fui preso por agressão.
Não sabia direito o que pensar, mas resolvi cumprir o que ele me pediu. Ergui minha
prancheta e então fingi escrever alguma coisa sem importância. Pouco depois, Joana bateu na porta,
avisando que Marcele estava ali.
Era um nome bonito, esse... Marcele... Parecia francês.
O som de saltos se destacou enquanto uma loira alta e esguia entrava no escritório. Era linda,
extremamente linda. Talvez uma modelo ou atriz. Eu não a reconhecia, mas claramente era uma
artista. Usava roupas caras e tinha uma bolsa da Gucci nos braços, que eu jurava que não era
imitação.
— Olá Marcela — Felipe cumprimentou, um sorriso carinhoso na face.
Eu baixei o olhar. Era o tipo de sorriso que ele daria a uma mulher importante. Algo caloroso
e delicado.
— É Marcele — ela corrigiu.
— Marcela é o que está no seu Registro Geral.
— Você sabe que eu mudei a última letra porque pela numerologia, Marcele com E é mais
vantajoso para mim.
Subitamente, eu senti o olhar azul claro da mulher em minha direção.
— Você pode sair, menina.
— Ela fica — Felipe foi firme. Subitamente, seu olhar suavizou. — Ela é ciumenta —
completou, me fazendo enrubescer.
Eu queria me levantar, e ir embora. Todavia, não conseguia me mexer. Podia sentir meu rosto
queimar, e o olhar de Marcele me fuzilando, mas estava travada.
— Oh Deus... Uma menina, Felipe? Virou esse tipo de homem que corre atrás de
adolescentes?
— Você está me confundindo com seu último marido. Foram tantos, não é?
Ela ergueu uma sobrancelha delineada, e não pareceu incomodada pelas palavras.
— Nós temos que conversar, querido — disse, depois de tudo. — É importante.
— Importante quanto?
Um sorriso surgiu no rosto feminino. Ela se aproximou da cadeira ao meu lado e, mesmo sem
ser convidada, sentou-se.
— Você sabe que ter uma mulher como eu é caro. Se não quer pagar, precisa pegar uma
mais... — me encarou. — Uma idiota sem preço.
Eu sentia como se ter dignidade não fosse algo admirável. Como se o fato de eu ter dormido
com Felipe de graça fosse um assunto para rir, e não algo que aconteceu por sentimento e instinto.
— Eu saí com você durante seis meses, Marcela. Seis meses, e eu já te dei tanto dinheiro que
perdi a conta.
— Os seis melhores meses da sua vida.
— Não foram tão bons assim.
— Ah, me poupe, Felipe. Você acha mesmo que uma mulher que sai com um homem
bilionário como você não quer dinheiro? Aliás, olhe para a roupa dessa criatura aqui — me apontou.
— Isso foi comprado onde? Numa liquidação? Você já foi mais benevolente.
— Eu não sou uma prostituta! — disse, pela primeira vez ali.
Os dois me encararam com espanto, por só então se darem conta de que eu tinha voz e
personalidade. Todavia, ela me ignorou completamente.
— Você me deve isso — havia uma mágoa profunda na voz dela, o que me arrepiou. — Eu
abortei por sua causa.
Meu olhar cravou nele. Pela primeira vez eu senti repulsa por esse homem, e piedade pela
mulher.
— Quanto você quer? — ele indagou, seus olhos frios como sempre.
Ela puxou um papel e desenhou um número. Eu não observei a letra, porque não me
importava. O preço que ele pagaria era pouco pelo que fez a ela.
Quando ela lhe entregou o papel, ele parecia sério e sombrio. Então, assentiu.
— Vou depositar na sua conta.
Marcele assentiu, e então se levantou. Antes de ir, ela se virou para mim.
— Cobre caro cada segundo. Esse homem não vale o dinheiro que ele te der, não importa o
quanto ele te der.
E saiu.

∞∞∞
O tempo demorou para passar. Eu estava sufocada naquele lugar, e quando o horário marcou
seis horas, arrumei minhas coisas e sai rapidamente, querendo me ver livre daquele ambiente o mais
rápido possível.
Corri até meu ponto de ônibus, simplesmente porque eu queria correr. Queria deixar meus pés
me levarem, não importava para onde. Minha garganta estava apertada, e havia um peso enorme no
meu coração.
— Ei — uma voz chamou minha atenção. Percebi que era um carro preto próximo. — Entre
— Felipe disse, um tanto ríspido.
Eu quis me negar, mas por algum motivo, eu entrei. Talvez eu quisesse explicações, talvez eu
apenas quisesse ter uma imagem boa dele novamente.
— Sobre o que aconteceu hoje — ele murmurou. — Sinto muito que você tenha presenciado.
O carro começou a se mover. A noite já havia caído, e havia algo misterioso nas ruas daquele
inverno atípico.
— Quero que saiba que não tenho mais nada com Marcela, nem com outra mulher. Eu
realmente estou... eu realmente quero apenas você, agora.
Agora...
Exalei.
O mais incrível é que esse não era a porra do problema. Ser apenas o momento não era o que
estava apertando minha garganta, sufocando-me.
— Não importa — eu disse.
— Importa sim, e nós dois sabemos disso.
— Você a fez abortar? — questionei, porque esse assunto era o que mais me doía.
O olhar de Felipe escureceu. Ele entrou em uma rua menos movimentada, e eu olhei para fora.
Não reconhecia o local.
— Você está com fome? — ele indagou.
— Responda-me.
Então sua mão segurou a minha.
— Por favor... eu não quero falar disso.
Ele estacionou em frente a um restaurante. Eu pensei em não descer, mas estava triste e
quando estava triste, costumava ficar faminta. Então apenas aceitei sua oferta.
Lá dentro o garçom cumprimentou Felipe, me fazendo perceber que ele era um freguês
frequente.
— Por favor, traga carne, arroz, saladas — disse, sem muitas explicações. — Qualquer
comida para pessoas que tiveram um dia cheio.
O garçom concordou e depois saiu.
— Esse é um restaurante familiar — ele murmurou. — A comida é maravilhosa. — De
repente seu olhar cravou em mim. — Sabe, Marcela tem razão quando diz que você precisa de
roupas novas. Vou encomendar alguns modelos com uma costureira que conheço.
— Não é necessário.
— Não é um presente — ele foi firme. — É um investimento.
— Em mim? Como uma das suas mulheres?
Deus, eu estava tão zangada.
— Como uma futura gerente da Corporação — concordou. — Você pode achar que há
interesses por trás, mas estou apenas pensando nos negócios. Não é fácil ter bons funcionários hoje
em dia. Mais raro ainda é encontrar alguém que posso treinar pessoalmente.
Baixei meu olhar, envergonhada de minhas suposições. Ele estava certo, e eu devia me focar
no trabalho, não na vida pessoal e privada dele.
Mas... Ele realmente a fez abortar?
— Ana Paula — ele me chamou. — Você sabe que entre você e eu...
— Não há nada? — completei.
— Ao contrário. Há muita coisa.
— Muita coisa? — A frustração me inundou. — Não — recusei. — Eu não vou ser uma das
suas mulheres...
— Querida, você já é.
Ele sabia que me fazia ferver. Ele sabia que bastava me tocar e eu caia completamente aos
seus pés. Ele me teria do jeito que quisesse e como quisesse... E eu não podia fazer nada em relação
a isso.
Pensei em minha mãe. Talvez eu a tenha julgado demais em todos esses anos, sem entender o
que a paixão podia fazer com a gente.
Porque... porque eu estava completamente apaixonada...
— Desculpe, preciso vomitar — disse, de súbito, e corri em direção ao banheiro.
Eu não vi o olhar de Felipe ao longe, nem soube se ele se preocupou de que eu não estivesse
bem.
Eu só queria esvaziar o que estava no meu estômago. O que significava que era apenas uma
torrada e um pedaço de queijo.
Capítulo 14
Eu lutei com todas as minhas forças contra tudo que Felipe fez nos dias que se seguiram. Quando ele
apareceu na minha porta com sacolas de roupas, eu me recusei a abrir, e só o fiz quando ele disse que
arrombaria a mesma. Quando ele me levava almoço, eu tentava não comer, mas a fome que me tomou
nas últimas semanas fazia meu estômago queimar.
E quando ele tentava me beijar...
Oh Deus, como eu tentei fugir dele. Como eu tentei não aceitar suas investidas. Todas as
noites, ao colocar minha cabeça no travesseiro, eu meditava na vida que minha mãe tinha e no quão
escrava ela era das vontades de um homem...
Eu estava igual...

∞∞∞
Percebi uma pequena etiqueta na parte interna de um dos terninhos que Felipe me deu. Olhei o
preço, e constatei que ele era mais alto que um celta.
Suspirei.
Ao menos eu sou uma puta cara.
Pus novamente o casaco e sai do banheiro. Agora eu era parte da Dias Transporte, até mesmo
pelas vestimentas. Eu parecia realmente uma executiva daquele lugar.
Joana me encarou ao longe, um sorriso bonito no seu rosto.
— Você está a cada dia mais bonita — ela disse. — Parece brilhar.
Sabia que o elogio era sincero.
— Você acha? Eu não me sinto assim.
Suas sobrancelhas arquearam.
— Por que não?
— O estresse... meu estômago anda me matando.
Seus olhos chocolate pareceram piedosos.
— Nunca falei disso, Ana..., Mas, você está com problemas financeiros? O Senhor Dias é
muito benevolente e piedoso com seus empregados. Se você precisa de algum adiantamento ou um
empréstimo, ele não cobra juros. Faz isso para nos ajudar...
— Oh, não... O salário está suprindo as minhas necessidades. É apenas... Joana...
Eu queria contar. Eu queria tanto contar. Eu nunca tive uma amiga próxima o suficiente para
desabafar.
— Ana Paula? Por favor, na minha sala — Felipe chamou, alto.
Fiz um sinal para Joana e fui até Felipe. Entrei e o observei absorvido em seu computador,
pilhas de papeis em volta dele.
— Você sabe me dizer se a carga que veio de Mato Grosso foi entregue hoje? — ele
questionou, e eu assenti.
— Sim, Senhor. Já está sendo embarcada.
— E o navio que precisava de reparos?
— Estão providenciando. Mas, estão com um leve atraso.
Ele suspirou, pesadamente. Felipe odiava atrasos. Felipe odiava quando tudo não saia
conforme ele planejou.
— Quero que revise o contrato e veja o valor da multa que teremos que pagar pelo atraso.
Tente negociá-la.
— Certo.
De repente, ele me encarou. Meu coração parou de bater por um momento. Agora que eu
sabia que estava apaixonada por ele, cada gesto dele parecia atiçar ainda mais algo em mim.
— Você está bem? Está pálida.
Não sabia o que responder. Não, não estava bem. Queria que ele me tomasse nos braços, e
adentrasse minha alma como fez ao meu corpo, dias atrás.
— Não me olhe assim... — Ele pediu.
Meu corpo inteiro arrepiou, não sabia o que dizer. Subitamente, ele se levantou e foi na minha
direção. Sua mão tocou minha bochecha, e eu senti que havia muita ternura no gesto.
Mas, Felipe não era um homem de ternura. Ele era frio, e manipulador. O fato de eu saber
disso me dava ainda mais responsabilidade em me afastar dele.
— Desculpe — recuei um passo. — Meu estômago não está bom...
— Ana Paula — ele disse meu nome pausadamente. — Não precisa me temer. Não vou te
machucar. Só quero te dar tudo, a terra e os céus.
— O diabo fez essa promessa a Jesus, um dia — murmurei, lembrando-me da catequese. —
Você não pode me dar os céus nem a terra.
Especialmente porque ele não podia me dar sequer um compromisso. Mesmo uma mulher
como Marcele, cuja personalidade se adaptava ao mundo dele, Felipe a forçou a um aborto...
Que homem faz isso? Nem meu pai foi tão frio...
Então ele avançou. Colocou seus braços ao meu redor, e me puxou contra seu corpo,
respirando sobre minha nuca, parecendo absorver o perfume dos meus cabelos.
— Ah, você me deixa tão louco...
A porta estava fechada, mas eu temia que Joana aparecesse. Tentei lutar contra ele, tentei me
afastar, mas seus braços estavam firmes.
— Me solte — disse, mas não havia convicção na minha voz.
Ele se abaixou, beijando-me suavemente. Deus, como eu queria recusar aquele carinho, mas
havia um desespero em todo meu ser enquanto me afundava em seus beijos.
Eu não podia confiar nesse homem, mas não conseguia me afastar dele.
— Depois do trabalho, você quer ir para minha casa?
— Não...
— Você quer — ele riu. — Não sei por que é tão retraída.
— Não sabe? Você não é um homem que pertenceria a uma mulher. Não pode me oferecer
nada além de dinheiro. E eu não sou uma prostituta.
Céus, eu havia dito isso mesmo?
— E o que você quer, Ana Paula? Uma aliança? — Havia um deboche cruel em seu tom. —
Nem mesmo Marcele foi tão cara, sabia?
Eu me desvencilhei dos seus braços. Tentei recuar, mas sua mão segurou firme meu pulso.
— Você quer um compromisso? Quer ser a Senhora Dias? É o seu preço?
Aquilo me enervou tanto que precisei me segurar para não saltar na sua cara.
— Me deixe...
— Responda! — Sua voz estava rouca.
— Eu não quero nada! Nada!
Ele me soltou, apenas ligeiramente.
— Eu pago o preço que for, Ana Paula.
Uma batida soou na porta, e aproveitei que Joana entrou para me afastar. A ouvi falando
sobre a chegada de um acionista da empresa, e fugi até o banheiro novamente. Outra vez, fui vomitar.
Aquele trabalho estava me matando.
∞∞∞
Quando Felipe terminou sua última reunião do dia, ele parou perto da minha mesa como se
ficar ali, me observando digitar fosse a coisa mais interessante do mundo.
Joana havia ido mais cedo, e lá fora a escuridão estava reinante. Eu havia ficado mais uma
vez no trabalho porque não queria que, quando seus colaboradores do negócio saíssem de sua sala,
vissem que nenhuma das secretárias estava ali para atender no que quer que for que precisassem.
— O que foi? — indaguei, seu olhar queimando.
— Só apreciando a visão atraente.
Não sei por que achei engraçada sua resposta e me vi rindo. Ele também sorriu, e tudo
pareceu calmo depois do dia tempestuoso.
— Como está seu estômago?
— Está melhor.
— Então... quer sair para jantar? Afinal, já é noite e você trabalhou até tarde.
Felipe não parecia o homem impetuoso de sempre. Agora, sua maneira de falar, o tom que
usou, sua linguagem corporal, era tudo inocente e gentil. Nem parecia o homem que me espreitava a
cada momento, usando dos meus sentimentos contra mim.
— Tudo bem.
∞∞∞
O estacionamento estava deserto. A maioria dos carros já havia deixado o local, e a
escuridão do local o fez agir de maneira inconsequente. O mais incrível foi que não me assustei, ou
me surpreendi.
De repente, estar ciente de suas mãos me tocando, seu calor contra minhas coxas, sua boca
contra a minha, era apenas uma parte gostosa e natural do dia.
— Passei o dia inteiro querendo você..., mas, você foge de mim... Nem sei porque — ele
gemeu contra a minha boca.
Apertando meu corpo contra o carro, senti a mão de Felipe deslizar pela minha coxa, a
erguendo um pouco, encaixando meu corpo no dele.
— Alguém pode nos ver aqui — ele suspirou, e abriu a porta do carro, me empurrando para
dentro.
Enquanto ele entrava atrás de mim no banco traseiro, eu percebi que o vidro escuro nos
deixava à parte do mundo lá fora. Felipe podia me ter, e podia fazer de mim o que desejasse, ali
mesmo, no estacionamento da sua empresa.
Sua boca grudou do meu ouvido, e ele me permitiu ouvir cada um dos seus gemidos, enquanto
sua mão acariciava minha pele, e tirava minha calça.
Pulsei em cada detalhe, seus toques me fazendo ver estrelas.
Eu estava tão quente, com tanta vontade, que não conseguia raciocinar na loucura que estava
fazendo. Minhas mãos desabotoaram sua camisa, meus dedos ansiosos em sentir sua pele quente,
havia uma emoção irracional tomando conta do meu corpo.
Ele me beijou, encaixando-se perfeitamente em minha entrada. Ele não tirou calça, apenas a
abaixou, então estávamos semivestidos, ambos com as camisas abertas, eu de calcinhas arriadas, e
ele de pau para fora, se esfregando em mim.
Arqueei quando ele pressionou seu caralho na minha boceta. Eu pulsava com tanta vontade
que sentia que estava desesperada. Nunca me senti assim, tudo parecia uma loucura. Eu queimava de
tal forma que acreditava que minhas veias iriam derreter a qualquer momento.
— Por favor... Felipe... Me fode... por favor...
É isso. Eu estava implorando por ele. De novo. E ele não pensou duas vezes em deslizar para
dentro, fazendo com que meu calor envolvesse seu comprimento.
Ele gemeu meu nome. Comecei a rebolar pela necessidade. Só tê-lo não parecia o bastante.
Eu queria que ele metesse sem dó, que fizesse doer, que sanasse aquele desespero que estava me
destruindo.
Felipe agarrou meus quadris e puxou-me para mais perto, seu ritmo não cessou enquanto batia
com toda força, fazendo meu corpo tremer, minha boca gemer, minha boceta pulsar de dor e
ansiedade.
De repente um urro. Eu fui levada a um pico e atirada de lá, queda livre ao prazer. Foi tudo
muito rápido, num lugar pequeno e inconveniente, mas estava gozando como nunca, sentindo seus
jatos quentes entrando em mim, me molhando tanto que caiam sobre minhas coxas, sujando-me.
Quando meu corpo acalmou, percebi o que fiz. Sexo em seu carro. Sexo no estacionamento.
Era tão vergonhoso, que eu só queria que ele se afastasse e eu pudesse buscar uma réstia da minha
dignidade.
Mas, Felipe não deixou que eu me afastasse. Ele beijou meu pescoço, e eu gemi sentindo meu
corpo querendo mais.
— Não — eu disse.
— Você diz muitos “nãos” quando na verdade quer dizer sim — riu. — Ainda nem bebi sua
boceta... Quero tanto experimentar seu sabor...
Dessa vez eu o empurrei com todas as minhas forças. Ele me encarou surpreso, parecendo
não entender porque eu estava tão reticente.
— Ana...
Busquei minha calça, e ajeitei minha calcinha antes de vesti-la. Então tentei abrir a porta.
Mais uma vez, Felipe tentou me deter.
— Isso tem que parar — eu disse, e dessa vez não havia nenhum traço de dúvida na minha
voz.
Ele ficou me observando enquanto eu saia do seu carro. O jantar estava arruinado, e meu
coração destroçado.
Felipe Dias me tinha na palma da mão. Mas, eu lutaria pela minha liberdade como pudesse.
Capítulo 15
Eu ouvi a voz dele antes mesmo de erguer a face e vê-lo entrando no escritório. Charmoso, em seu
terno caro e com sua postura autoritária, meu pai, Antônio, não parecia o mesmo homem que entrava
na casa da minha mãe com olhar humilde e fogo nos olhos.
— Bom dia, Joana. Está linda essa noite — ele disse, o que me fez perceber que ele a
conhecia.
E ele devia ser um dos muitos parceiros de negócios de Felipe.
— Como está seu chefe?
— Vai bem. O senhor não tem reunião agendada, ou me confundi? — ela indagou, um sorriso
bonito nos lábios, sem demonstrar insegurança.
— Não, não tenho. Mas, estava passando por aqui e resolvi cumprimentar Felipe, e agendar
uma reunião. Estamos representando um cliente que irá levar mercadorias finas para a Europa.
Subitamente, ele olhou para o outro lado da sala. Seu olhar cravou no meu, o que o fez perder
o ar.
— Oh, essa é a nova colaboradora da empresa: Ana Paula — Joana nos apresentou.
Mas, Antônio não fez menção de erguer a mão e me cumprimentar.
Subitamente, alguém pigarreou em um canto, e percebemos Felipe à porta da sua sala, nos
observando com olhos atentos.
— Bom dia Antônio. Quer entrar? — convidou.
Mas, meu pai negou com a face. Ele mal conseguia tirar os olhos de mim. Então, apenas
começou a andar lentamente em direção ao elevador.
— Desculpe, lembrei-me de um compromisso importante. Volto outra hora.
Eu sei que tanto Felipe quanto Joana souberam que aquele homem me conhecia. Os dois
olharam para mim, mas eu estava mortificada demais para abrir a boca. Aliás, o que eu diria?
— Ana — Felipe me fez encará-lo. — Na minha sala, agora.
∞∞∞
Felipe queria uma resposta. E ele não parecia disposto a esperar por ela.
— Antônio Guerra é... — Eu comecei, mas não consegui terminar.
— Não me diga que é...
Eu o observei.
— Você era virgem na nossa primeira vez — ele parecia estar falando consigo mesmo. —
Não pode ter dormido com esse homem.
Era humilhante que ele tivesse esse pensamento sobre mim. Mas, por que não o teria? Eu abri
minhas pernas para ele, mais de uma vez. Transei com ele no seu carro. Bastava ele erguer a mão e
me tocar, e eu derretia como uma cadela no cio.
— Ele é meu pai — disse, despejando.
O olhar de Felipe arregalou-se. Ele pareceu mais que surpreso.
— Ele só tem dois filhos homens...
— Eu sou bastarda.
— Bastarda? Mas... Antônio... Antônio é um homem muito honrado. Ele é diácono da igreja
dele, vai todos os domingos ao culto, é o tipo de homem que coloca a família em primeiro lugar.
Você foi fruto de um caso?
Como era tolo, meu Deus.
— Eu não sei se você pode chamar de caso um relacionamento de quase trinta anos. Porque é
esse o tempo que minha mãe tem com ele. Acredito que pela lei, já seja uma relação estável.
Felipe então sentou-se em um sofá no canto. Ele parecia completamente pasmo. Claro, pelo
que entendi, Antônio tinha a imagem de um homem perfeito, um homem de família.
O que não deixava de ser verdade. Apenas, duas famílias.
— Você não tem o nome dele no seu documento — ele murmurou.
— Nunca me assumiu.
— Por que não?
— Para não ter que pagar pensão. Minha mãe nunca cobrou, e eu cresci com muita
dificuldade. Ela sempre achou que se pedisse algo, ele a deixaria, e ela preferiria morrer do que
perdê-lo.
— É o que acontecesse quando se ama demais — ele murmurou.
E então eu soube que ele já esteve nessa situação: a de amar demais.
Isso me deixou muito surpresa. Eu quis questioná-lo, mas o telefone tocou ao longe e eu
precisava voltar ao trabalho.
— Não sei se Antônio voltará a esse escritório sabendo que eu estou aqui — fui franca. —
Talvez seja melhor...
— Não me importo de perder um parceiro de negócios que é covarde o suficiente para ter
deixado a própria filha viver uma vida de privações — ele disse, e meu coração transbordou. —
Pode voltar ao trabalho, Ana. Temos muitas coisas para fazer hoje.
Concordei e me retirei.
∞∞∞
O carro escuro parou perto da parada de ônibus. Observei o condutor baixar o vidro elétrico,
e sorrir na minha direção.
— Carona? — Felipe indagou.
Eu quis negar, mas me vi aceitando. Talvez eu quisesse tê-lo por perto, apesar de estar
decidida a não ter mais nenhum envolvimento sentimental com meu chefe.
Ele começou a mover o carro, e me vi observando a rua que passava pelos meus olhos.
Eu gostava de estar com ele, mesmo que fosse num lugar assim, quieto e intimidador. De
repente me lembrei que atrás do meu banco, nós já havíamos transado, e algo pulsou em mim.
Suspirei, tentando afastar meu pensamento.
— Você quer ir para minha casa? — ele questionou.
Deus, eu queria muito recusar. Queria perguntar se ele estava louco, e me sentir ofendida pela
questão, mas mal podia acreditar no quanto eu queria ficar perto dele.
Porque eu estava apaixonada...
Eu sabia o quão raro era duas pessoas terem esse tipo de química e atração.
É o que acontecesse quando se ama demais.
Fiquei sufocada por alguns segundos, então uma das suas mãos deixou o volante e ele segurou
firme meus dedos. Meus olhos nublaram-se de lágrimas.
— Não me rejeite, Ana Paula.
Mas eu não tinha escolha. Não se quisesse ter o mínimo de paz na minha vida.
— Desculpe, eu realmente estou cansada. Ver Antônio hoje foi muito difícil. Sempre é. Se
puder me deixar perto da minha casa, já agradeço.
Ele não pareceu zangado. Ao contrário, acenou como se compreendesse.
— Vou te deixar em casa. Mas, pensará sobre ir até minha casa?
Eu não respondi. Cerca de vinte minutos depois ele estacionava a entrada do meu bloco de
apartamentos. Sai do carro com os joelhos vacilantes. Despedi-me brevemente e então fui em direção
à minha porta.
Entrei, rumando para as escadas.
Me senti um pouco tonta e me segurei no corrimão.
Eu estava apaixonada por um homem inalcançável, com o dobro da minha idade, com
milhares de vezes mais dinheiro na conta bancária, com um histórico de mulheres lindas e
importantes... e...
A imagem de Marcele falando do aborto me trouxe um vômito involuntário a boca.
Eu precisava ver um médico para saber sobre meu estômago. Estava começando a ficar
preocupada, mesmo que as tonturas e ânsias ocorressem mais de manhã.
Entrei em casa, e a primeira coisa que fiz foi ir a geladeira. A abri, buscando algo para
comer.
Não tinha muita coisa, ou não tinha nada que pudesse me interessar. Então simplesmente fui
em direção ao banheiro. Um banho quente talvez acalmasse minha ansiedade.
Capítulo 16
Meus olhos ardiam com a necessidade de ficar na cama. Um cansaço descomunal me tomou de tal
forma que quase ignorei o som do alarme e permaneci deitada.
Porém, não podia...
Eu tinha compromisso com meu trabalho e precisava dar meu melhor. Então me levantei com
esforço e fui até banheiro.
Abri a torneira. Não tinha água.
Droga! Mais uma vez algum cano na região estourou.
Me vi sentando no vaso sanitário, lágrimas incontroláveis me tomando. Eu só queria tomar
um banho, escovar os dentes... porque tudo isso estava acontecendo?
Tentei me acalmar, a atitude infantil me deixando perplexa. Eu tinha água guardada numa
garrafa pet e poderia usar para ao menos me higienizar um pouco.
Ao cruzar pelo quarto, meu celular vibrou. O busquei, imaginando se era algum tipo de
mensagem, mas era um aviso do aplicativo MEU CALENDÁRIO.
“Ana, você esqueceu de marcar sua menstruação”
“Última atualização há 75 dias”.
Eu perdi o ar, enquanto tentava acalmar as batidas frenéticas do meu coração.

∞∞∞
Quando cheguei ao escritório, Felipe e Joana estavam discutindo animadamente sobre
qualquer assunto que não me importava.
— Sinto muito pelo atraso — disse, e eles não pareceram se incomodar com isso.
Sentei-me, encarando o computador, minhas mãos tremulas e minha mente focada no teste de
farmácia que havia acabado de comprar. Eu planejei chegar ao trabalho e ir fazê-lo, mas ao mesmo
tempo eu não conseguia prosseguir.
Eu tinha medo das respostas.
E mais medo das consequências.
Mas, era isso, enquanto eu não fizesse o teste, tecnicamente não estava grávida.
Tecnicamente estava muito grávida.
Deus... Eu não podia estar grávida. Eu não tinha estabilidade financeira, sequer um
relacionamento. Esse homem que me tirava o chão não era alguém que iria querer algo comigo. Ao
contrário, obviamente, ele iria acabar com minha sanidade.
E se ele me pedisse para fazer um aborto...?
Meus olhos se encheram de lágrimas pela possibilidade. Eu não teria coragem, jamais.
Felipe riu, enquanto caminhava ao próprio escritório, Joana o seguindo. Ela tinha papeis nas
mãos e parecia animada por um novo negócio.
Aquele era o mundo dele. Dinheiro, poder...
Marcele surgiu em minha mente, assim como minha mãe. Mulheres que se deixam levar por
homens que nada quer delas além do sexo.
— Ana — ele disse, alto. — Me traga um café, por favor — pediu.
Eu observei-o pela porta entreaberta. Ele estava sentado à sua mesa, cercado de contratos,
com Joana apontando estatísticas. Exalei, enquanto me levantava e seguia até a cafeteira.
E... E se eu não estivesse grávida?
Minha menstruação não era muito regular... E eu lembrava de ele ter usado camisinha... Uma
vez.
Quando me aproximei de sua mesa, ele me encarou sorrindo. Agradeceu quando estendi o
café para ele, meu coração pulsando com intensidade.
— Ana, o que acha? — ele questionou.
— De que?
— De investirmos em transporte aéreo.
Pisquei várias vezes, minha mente tentando me concentrar nos negócios, mas meu coração
longe dali.
— Me desculpem... Não tive uma noite muito boa de sono, estou com dor de cabeça... não
estou conseguindo me concentrar. Não vou atrasá-los — então sai da sala, deixando-os me encarando
com muita curiosidade.
∞∞∞
— Se sente melhor?
Eu passei o dia inteiro com o teste na bolsa, sem coragem de ir até o banheiro. Então, a
resposta era não. Eu não me sentia melhor. Ao contrário, estava aos pedaços.
— Sim, senhor — disse, por costume.
— Voltou a me chamar de senhor — ele riu, e eu percebi que estava tentando ser simpático.
— Então, eu te mandei as propostas dos aviões por e-mail. Quando tiver um tempo, gostaria de sua
opinião.
Olhei para ele, mal entendendo o que ele dizia.
— Ana? Você realmente se sente bem?
Meu coração acelerou.
— Eu já vou olhar o arquivo...
— Não hoje, Ana Paula. Já são dezoito horas. Expediente terminado — ele sorriu. —
Amanhã você olha.
Girei minha face, observando o relógio. O dia correu de tal forma que eu mal percebi que
estava ali. Viajei em nuvens, pânico e medo me tomando.
— Oh... preciso pegar meu ônibus.
Não deixei margem para mais. Peguei minha bolsa e sai. Só percebi que Felipe me seguiu,
quando ele entrou no elevador atrás de mim.
— O que aconteceu?
Ainda nada.
A porta fechou, e o elevador começou a descer.
— Acho que é cansaço, só isso...
— Não parece. Aconteceu algo? Precisa desabafar?
Balancei a cabeça, negando. Mesmo que se confirmasse minhas suspeitas, não seria dele que
eu precisaria. Nunca dele. Ele não faria comigo o que fez a Marcele.
Quando a porta se abriu novamente, eu saí, mas ele permaneceu no lugar, como se aguardasse
uma resposta.
Uma que eu não estava disposta a dar.

∞∞∞
Não dormi durante toda a noite. O teste de farmácia ali, sobre a pia. Minha ansiedade de
saber a verdade corrompida pelo medo da mesma constatação.
Eu não o fiz. Eu deixei a caixa lacrada ali. E não toquei nela. Quando o relógio tocou as seis
horas, não fiz menção de me arrumar para ir trabalhar. Ligaria e diria alguma coisa, qualquer coisa,
mas não iria... não podia ir...
“Eu abortei por sua causa”.
Como devia ter sido a situação. Ela descobriu a gravidez e ele a forçou a ir a uma clínica?
Ele faria isso comigo, caso eu estivesse na mesma realidade?
Fechei meus olhos, lágrimas deslizando pela minha face.
Eu havia sido irresponsável e idiota. Deixe-me levar.
Agora, estava pagando o preço.
Capítulo 17
Havia uma mancha escura no teto. Eu teria que limpar aquilo. Na minha mente, imagens de um balde
e um esfregão se formaram, e fiz o trabalho mentalmente, imaginando se seria difícil esfregar o forro
de pvc branco.
Deitada em minha cama, eu comecei a imaginar o dia que iria decorrer. Eu me levantaria ao
meio-dia, e então iria limpar a casa. Depois, pediria alguma coisa para comer na tele-entrega.
Quando já fosse tarde o suficiente, eu tomaria um banho quente, e... só então... faria o teste.
Seria um dia desperdiçado, sem trabalhar, mas ainda assim, ocupado.
Fechei meus olhos, ouvi o som do vendedor de ovo cruzando a rua abaixo do meu prédio. Ele
passava pontualmente as 11 horas, então eu sabia que já estava quase na hora de eu levantar e ir me
ocupar com esse dia.
O telefone tocou durante toda a manhã. Eu não avisei que não iria trabalhar, então pensei que
fosse Joana, me perguntando se eu estava bem. Não estava. Mas, também não estava pronta para
mentir para ela.
Eu teria que sair do trabalho, quando a barriga crescesse...
Oh, eu nem sabia se estava grávida. Eu devia fazer o teste agora. Tirar isso da minha cabeça.
A dúvida estava me matando.
Meu celular tocou de novo, e dessa vez eu o peguei. O nome de Felipe surgiu na tela, e eu
gemi quase em dor. Mesmo assim, atendi.
— Sim?
— Onde você está? — Felipe exigiu.
Ele parecia estar com raiva, mas eu não estava disposta a tolerar seus rompantes.
— Em casa.
— Eu estive na sua casa. Toquei a campainha e ninguém atendeu.
Eu havia escutado o som na porta, mas ignorei. Isso já tinha mais de uma hora.
— Eu estava deitada e não atendi — expliquei.
— Ainda não está bem? Eu vou levá-la ao médico.
— Eu estou melhor. Só quero descansar — disse a ele.
— Estou indo para sua casa. Vou levar seu almoço.
Ele não me deu chance de negar, desligando imediatamente. Fiquei encarando a tela do
celular, e por fim o deixei de lado.
Eu preciso levantar-me. Tomar um banho. Me sentir viva. Lutar pelo que quer que fosse o
meu futuro. Se eu estivesse grávida, eu iria enfrentar isso, e não seria da forma como minha mãe
encarou. Eu não queria que Felipe renegasse a própria vida por minha causa, não importava o quanto
eu estivesse apaixonada por ele. Eu sabia meu lugar e sabia que a nossa diferença social era gritante
demais. Todavia, eu não faria o aborto, não importava o quanto ele tentasse me forçar a isso. Nunca
vou desistir desse bebê, se é que eu o estivesse esperando.
Faça o teste...
Minha mente me ordenava.
Caminhei até o banheiro, e encarei o teste em cima da pia.
De alguma forma, eu sabia que não precisava do teste. Eu sempre me senti sozinha, mas não
mais. Algo em mim, algo na minha alma, estava preenchida por amor e afeto.
E se Felipe nunca souber...?
Claramente, ele não sentia nada por mim, pois nunca fez sequer menção de expressar algo
nesse sentido. Então, eu podia ter o bebê sem que ele soubesse...
Só precisava de um novo trabalho...
Quem daria trabalho a uma grávida?

∞∞∞
— Ana Paula, abra a porta! — Felipe gritou.
Eu havia acabado de sair do banheiro, meus cabelos ainda molhados, meu rosto um pouco
mais rubro pela água quente. Abri a porta, sem perceber que exalava cheiro de shampoo e que meu
robe atoalhado pouco escondia.
Minha mente parou quando o encarei. Deus, ele era tão... tão... lindo. Minha boca ficou seca
ao observá-lo, homem, forte, viril, alto, musculoso, delicioso... Eu ainda podia sentir o gosto de sua
boca na minha, e minha mente nublou-se pelo tanto de afeto que eu nutria por ele.
E se eu dissesse que o amava? Ele iria fugir? Talvez fosse a melhor maneira de fazê-lo sumir
de minha vida e encarar logo as consequências do meu ato.
De repente, ele avançou. Sem uma palavra, entrou na minha casa, fechando a porta atrás dele
com um chute. Suas mãos seguraram meu rosto, e ele me observou com atenção, antes de me puxar
para um beijo apaixonado.
Eu vibrei de emoção. Seus lábios eram exigentes, seu gosto era uma mistura de cravo e
canela que me fazia suspirar.
— Eu fiquei tão preocupado com você. Não faça mais isso. Atenda ao telefone — ele disse.
E então suas mãos desceram pelo meu corpo, abrindo meu robe, revelando minha nudez. Eu
me contorci quando ele segurou meus seios, que estavam duros, prontos para receber seu carinho.
Logo ele arrancava a própria roupa. Tecidos sumiram enquanto nós tateávamos um ao outro,
buscando conforto e calor.
Subitamente ele me virou de costas e me prensou contra a parede. Ergueu uma das minhas
coxas e espichou minha entrada com sua ponta dura e molhada.
Ele me fodeu ali, contra a parede, na minha pequena sala.
— Você me deixa louco — ele disse, enquanto estocava para dentro de mim.
Eu podia sentir minha bunda arder pela violência das suas metidas. Ele me levava alto cada
vez que entrava, meus seios pressionando contra a parede fria. Comecei a gemer alto, meu rosto
virando-se para trás, procurando seus beijos.
Então veio o ápice, e nos gritamos de prazer, sem nos importar com as paredes frias e o
momento inoportuno.

∞∞∞
— Você tem certeza de que não quer ir ao médico? — ele indagou, apertando a gravata,
enquanto me observava sentada, nua, no sofá.
Neguei.
— Mas, já tem dias que não está bem. Eu acho melhor fazer alguns exames para ter certeza.
— Eu estou melhor. Vou me arrumar para ir trabalhar — indiquei.
— Não é por isso, Ana... Apenas, me preocupo.
Meu coração aqueceu. Até parecia que havia sentimento verdadeiro ali.
— Pelo menos, aceite almoçar comigo — ele disse.
Eu queria recusar de novo, mas não o fiz. Então apenas fui tomar um banho, enquanto ele
pedia algo para comermos. Era estranho ter ele cuidando de mim, mas era gratificante e me aquecia a
alma.
Ah, como eu queria que tudo isso fosse mesclado a amor...
Como eu queria...
Eu daria tudo por isso...
Assim como minha mãe... ela deu a vida ao meu pai para ter migalhas de sua atenção.
Com lágrimas nos olhos, eu percebi que estava no mesmo caminho.
Capítulo 18
Eu tive uma trégua nos vômitos pelo resto da semana. Até parecia que meu corpo havia se
recuperado do problema estomacal, e o teste de gravidez ficou esquecido em um canto do armário do
banheiro.
Se os vômitos pararam... agora só faltava a menstruação descer. O fato de eu ser bem
irregular me deu algum conforto. Com certeza logo todo esse medo seria apenas motivo de riso.
Contudo, no último dia do mês, enquanto me arrumava para ir trabalhar, senti meu eixo girar,
e o mundo ao meu redor perder o foco. Eu quase desmaiei no banheiro, caindo no chão frio,
perdendo as forças enquanto o sabor amargo do vômito inundava a minha boca.
Por sorte, consegui chegar ao vaso sanitário antes daquele líquido azedo despejar da minha
boca. Quando me recuperei, lavei-a na pia, e olhei novamente para o teste de gravidez que estava no
armário.
Eu não podia mais pestanejar, então o peguei.
Levantei a saia e baixei a calcinha enquanto voltava ao vaso sanitário, dessa vez para urinar.
Forcei um pouco, porque não sentia vontade, e logo consegui derramar um pouco de líquido na tira.
Depois, voltei a pia e a coloquei no teste, aguardando o resultado.
No fundo eu queria muito saber. E ao mesmo tempo, não queria.
Sai do banheiro, antes do resultado sair, indo até o sofá, apenas para ganhar força.
Felipe havia sido cuidadoso, ele usou camisinha. Contudo, eu o senti se derramando em mim
algumas vezes. Teve também aquela vez no carro... Ele não conseguiu se controlar.
E a culpa também era minha. Eu devia ter exigido que ele se controlasse...
E devia ter usado pílula quando comecei a ter uma vida sexual.
Deus, não havia desculpas. Essa história de “aconteceu” era repugnante. Éramos dois adultos,
e devíamos ter tido mais cuidado.
Suspirei. Eu ainda não sabia o resultado, mas minha mente traçava alternativas. Eu me
formaria em breve, daria tempo de terminar o semestre antes do bebê nascer. Se eu permanecesse na
Dias Transporte, poderia juntar algum dinheiro para os primeiros meses do bebê...
Mas...
E se ele me forçasse a um aborto?
Não...
Não me importava o que Felipe queria. Ele não me faria uma nova Marcele.
Meus ombros caíram com o fardo que começava. Dinheiro era o principal problema. Talvez
eu pudesse voltar para a casa da minha mãe se não conseguisse pagar o aluguel.
Ou poderia chantagear meu pai...
Ri, baixinho. Eu simplesmente não conseguiria fazer isso... Não importava o quão lixo ele
era.
Voltei ao banheiro, e olhei o teste por pura formalidade.
Grávida...
Grávida...
Grávida...
Não era surpresa.
Tenho que manter isso em segredo pelo tempo que puder.
Mas, não poderia ser muito tempo. A barriga iria crescer, e eu precisava informar ao RH.
Pelo menos alguns dias... esconder a barriga até conseguir juntar algum dinheiro. Era muito
necessário...
Mas, e se eu contasse a Felipe?
Uma parte de mim se animava com a possibilidade de ele querer o bebê.
De me querer...
Isso não aconteceu nem com a linda Marcele, por que aconteceria comigo? Ele iria ficar
louco, iria me acusar de várias coisas, e...
Lágrimas se formaram nos meus olhos.
Eu o amava. Mas, sabia quem ele era. E sabia que nunca devia ter engravidado.
Balancei a cabeça, recusando-me a levar toda a culpa. Eu não fiz isso sozinha. Ele tinha que
assumir parte da responsabilidade.
Não...
Preciso de um tempo para me preparar, caso ele não aceite e tente me destruir por conta
disso. Só um pouco de tempo... Depois eu poderia mudar de cidade, criar o bebê sozinha. Eu vou
conseguir, porque...
Porque eu já amo o bebê...
Pus a mão no ventre. Sempre estive sozinha, parte de nada, mas agora eu teria uma família.
Não parentes. Parentes não são família. Família vem com amor. O bebê seria muito amado.
— Tudo bem, meu amor... Mamãe vai cuidar de você...
Respirei profundamente.
O telefone tocou. Só então eu percebi que o tempo passou e eu devia estar atrasada para o
trabalho. Busquei meu celular, e vi o nome de Felipe na tela.
— Desculpe, me atrasei... — disse, antes de dar alô.
Meu coração bateu com força. De repente, me dei conta de que esse homem era o pai do meu
bebê. E isso tinha tanto significado...
— Você está bem? Teve problemas no estômago de novo?
— Estou bem. Estou saindo. Desculpe o atraso. — Eu ri baixo. — Acho que estou me
tornando uma péssima funcionária, não é?
— Ana, não quis dizer isso. Apenas, estou preocupado. Você quer que eu vá buscá-la?
— Não. Já estou saindo.
— Ok. Te vejo no trabalho.
E então ele desligou.
Respirei fundo novamente.
Seja forte, Ana Paula.
Eu seria.
Capítulo 19
— Venha para minha casa esta noite — ele me pediu, no final da tarde. — Eu fiz uma encomenda
de massas a um restaurante italiano, e preparei um vinho...
Eu sabia o que significava ir para a casa dele.
— Felipe...
— Ana — ele me cortou. — Você ainda não conhece a minha casa, e acho um absurdo isso.
Nós dois... nós estamos ficando sérios, você percebeu?
Percebi? Oh Senhor, eu tinha um bebê dele na barriga. E ele não fazia ideia disso.
— Só quero companhia para conversar e comer — ele fez cara de inocente, o que me fez rir.
— Duvido disso.
— Ok. Eu quero mais que isso. Mas, estou sendo paciente, porque você não parece bem,
ultimamente. Falando nisso, eu estou preocupado...
— Está tudo bem, comigo — cortei.
— Ótimo. Posso pensar em te atirar na cama e fazer amor até amanhecer, sem sentir culpa?
Joana saiu do banheiro, e Felipe apenas sorriu para ela. Eu pensei que pela presença de outra
pessoa, ele iria encerrar o assunto, mas suas palavras seguintes quase me fizeram engasgar com o
café que estava tomando.
— Por que não vem morar comigo?
Eu o encarei de olhos arregalados, e observei o outro lado da sala. Joana apenas nos
observava com um sorriso nos lábios.
— Joana sabe — ele disse, como se isso fosse me tranquilizar.
— Sabe do quê? — indaguei.
— Sobre nós. E você não me respondeu.
O que havia para responder? Era simplesmente ridículo!
Eu me senti tonta novamente, e me segurei na mesa, para não cair.
— Você está pálida, Ana — Joana disse, indo na minha direção.
Eu senti as mãos dela nos meus ombros. Assim como a tontura veio, ela se foi.
— Isso é ridículo. Vou pegar minhas chaves e vou levá-la ao médico agora! — ele disse,
como se mandasse em mim, no corpo, na minha vida.
Então percebi que era assim que a cabeça de Felipe funcionava. E provavelmente foi por
causa disso que Marcele precisou abortar. Ele realmente considerava que era o dono de uma mulher,
do corpo dela, e o usaria pelo tempo que pudesse, sem criar vínculos afetivos.
Meu coração ficou partido.
— Obrigada, mas não quero.
— Mas...
— Eu disse: NÃO! — Fui firme. — Quando EU escolher ir ao médico, irei. Não é você que
decide. E minha resposta para sua pergunta também é NÃO. Eu não sei por que diabos você
consideraria que eu pudesse morar com você. Eu sou apenas a sua funcionária.
— Apenas? — ele riu.
— Eu não sou Marcele — disse. Senti a mão de Joana apertando mais meus ombros, como se
pudesse me dar força. — Você não vai fazer comigo o que fez com ela.
Então busquei minha bolsa e sai.
Enquanto entrava no elevador, percebi que a situação poderia se tornar insustentável antes
mesmo da barriga aparecer. Esconder a gravidez, com rompantes de raiva e hormônios, seria algo
muito complicado.
∞∞∞
Antes mesmo de eu conseguir chegar ao portão de saída do prédio, Felipe já estava em meu
encalço.
— O que está acontecendo? — ele exigiu.
Um fogo queimava no meu interior.
— O que está acontecendo? — retruquei, repetindo. — Você contou a Joana sobre nós? O que
disse a ela? Que estava fodendo a nova funcionaria?
Ele pareceu surpreso pelo meu tom.
— E então você me pede para ir morar com você...?
— Achei que sair daquele lixo de apartamento que você mora, seria seu sonho.
Eu mal senti quando minha mão bateu no seu rosto. Ele me encarou de olhos arregalados, mas
não pareceu irritado ou revoltado pelo ato. Apenas surpreso.
— Ana?
— Aquele lixo de apartamento foi montado com o suor do meu rosto.
— Suor? Você não deu muito valor ao seu suor, não é mesmo? Porque suar para outros
homens lhe valeu moveis de péssima qualidade.
Eu quis bater nele novamente, a insinuação corroendo minha alma. Porém, dessa vez ele
segurou minha mão. Era uma sorte que não havia ninguém ali, na saída dos prédios, porque senão a
situação seria muito vergonhosa.
— Desculpe Ana. Eu não devia ter dito isso. Eu sei que você era virgem. Eu apenas... eu
apenas perdi o controle. Não vai acontecer novamente.
Ele soltou minha mão e eu dei um passo para trás. Senti lágrimas inundando meus olhos.
— Precisamos conversar, mas tem que ser em um lugar onde não seremos espetáculo para os
seguranças que devem estar nos observando pelas câmeras.
Houve silêncio por um longo momento. Fiquei em choque.
— Me desculpe... — balbuciei. — Eu não queria...
— Eu não me importo de eles te verem me batendo, Ana. Eu não me importo de que todos
saibam sobre nós. Eu só quero... Só quero entender o que está acontecendo.
Minha boca se abriu para lhe contar a verdade. Mas, a imagem do bebê veio com tudo. Eu
quase podia senti-lo nos meus braços. Eu quase podia senti-lo como parte da minha alma. E então
veio Marcele falando que Felipe a forçou a um aborto.
Como ele fez isso?
E se ele conseguisse me forçar a mesma coisa?
Quais deviam ser suas armas?
Ele era tão rico, poderoso... Ele poderia me avassalar a qualquer momento, a sua escolha.
Pus a mão sobre o estômago. A pequena vida em mim me fez ter força, e então eu o encarei
com resolução.
— Eu não quero você. Eu não estou apaixonada por você. Deixe-me em paz, ou entrarei com
um processo por assédio.
E então eu me afastei. Antes mesmo de sair da área da empresa, lágrimas já escorriam pelo
meu rosto.
∞∞∞
Sentei-me no meu sofá. Lá fora eu podia ouvir o grito da senhora do andar térreo, aos berros
com seu filho pequeno que devia estar fazendo bagunça.
Eu sorri, triste.
Eu precisava desaparecer. Esse apartamento era alugado, então eu podia simplesmente me
mudar quando o contrato acabasse. Porém, ele era barato e eu não sabia se conseguiria outro lugar
pelo mesmo preço.
E havia o meu trabalho. Precisava dizer ao RH que estava me despedindo. Talvez eu
conseguisse um acordo, e poderia pegar algum dinheiro. Não seria muito, mas eu poderia economizar
o que pudesse até... até o bebê nascer.
O som de batida na porta me fez encará-la. Eu sabia que era Felipe. Meu instinto maternal
ficou mais forte.
Talvez eu devesse dizer logo a ele. Assim ele sumiria mais fácil.
Me levantei e fui até a porta. A abri e observei o homem do outro lado. Ele inclinou a mão em
minha direção, segurando meu rosto, observando-me atentamente.
— Você não está normal, Ana Paula — ele disse. — Está com olheiras... eu acho que está
doente, e por algum motivo não quer me contar. Por isso que quis que morasse comigo. Me deixe
cuidar de você...
— Não estou doente.
— Então por que não aceita que eu a leve a um médico?
Dei as costas a ele e caminhei até o sofá. Eu me sentei, e ele ficou em pé na minha frente,
como se esperasse que eu lhe desse mais respostas.
Como se exigisse mais respostas.
— Eu quero sair da empresa. Você pode me despedir para eu conseguir alguns benefícios
como o seguro-desemprego? — indaguei.
Então eu o encarei. Ele pareceu devastado por algum momento. Mas, logo voltou a sua eterna
postura arrogante.
— Por que quer sair? Se é pelo que aconteceu entre nós, eu posso parar. Não vou forçá-la a
nada. Eu só fiz sexo com você porque sabia que também queria.
Minha boca se abriu, mas não consegui dizer nada.
— Uma parte de mim acreditou que estava apaixonada, Ana — ele disse, e eu fiquei pasma.
— Então... eu me permiti... aceitar... querer... — ele molhou os lábios. — Sou meio idiota de pensar
que uma menina de vinte e poucos anos iria querer um velho... — ele riu. — Mas, fora o que
aconteceu entre nós dois, eu te acho muito competente, e não quero perder a funcionária que é. Suas
ideias são ótimas, e eu gosto da forma que trabalha. Talvez você se sinta mais confortável mudando
de setor?
Engoli em seco, pânico subindo em minha garganta enquanto um cansaço descomunal tomava
conta do meu coração.
— Eu não quero mais trabalhar para você — insisti.
De repente, explodi em lágrimas.
Felipe ficou parado na minha frente, enquanto eu escondia meu rosto entre as mãos, lágrimas
despencando dos meus olhos sem controle.
— Você quer que eu vá agora? — ele questionou, e eu soube que ele se sentia péssimo.
Uma parte de mim se encheu do amor que eu sentia por ele. Ele estava triste, seja lá por que
motivo, e eu não desejava isso para ele. Então eu neguei com a face, aceitando que ele se ajoelhasse
na minha frente e me confortasse com um abraço singelo.
Eu recostei o queixo no seu ombro. Minhas lágrimas molharam sua camisa branca. Mas,
Felipe não fez menção de me afastar, ele simplesmente esfregou minhas costas enquanto me permitia
liberar todo o peso no meu peito.
— Ana, você não precisa sofrer. Se você quer sair, eu vou te pagar todos os seus direitos. E
eu vou sumir da sua vida, também. Eu sei que você não me quer, que não está apaixonada. Nunca quis
me impor a você...
Minha garganta ardeu com as palavras dele. Sim, ele repetiu exatamente o que eu disse a ele,
mas de repente saber que ele iria embora me causou desespero. Pus meus braços envolta dele, e o
segurei firme.
Mal percebi o que aconteceu em seguida. Foi tudo um jogo de paixão, sua boca dele na
minha. Beijos mesclado a lágrimas. Seu corpo elevou-se ao meu, e eu senti o sofá nas minhas costas.
Roupas foram removidas, enquanto nossas carnes se buscavam com desespero.
O amor era realmente uma desgraça.
Capítulo 20
Ele esfregou o nariz na minha orelha. Suspirei pesadamente, enquanto ele se aconchegava ao meu
corpo. Ele era grande, mas o sofá suportou a nós dois, tão próximos estávamos, nus, deitados naquele
pequeno espaço.
— Você está se sentindo melhor? — ele questionou, ao perceber que eu estava mais calma
depois de chorar muito.
— Seu sexo é um ótimo remédio — retruquei, e o ouvi rir.
Era tão bom ouvi-lo rir.
— De nada — disse ele, apesar de eu não ter agradecido.
Respirei fundo.
— Você pode ir agora — decretei.
Felipe me observou por alguns segundos, como se não acreditasse que eu o estivesse
dispensando depois do sexo ardente que tivemos. Mas, subitamente ele saiu do sofá e se vestiu.
Saiu sem dizer uma palavra.
Era o fim.

∞∞∞
— O que é isso? — questionei.
A mulher do RH me encarou com ar surpresa.
— Seu encaminhamento para o médico demissional.
Médico demissional? Como assim?
— Eu preciso ver um médico para sair do trabalho? — questionei.
— Sim, precisamos do atestado dele de que não está doente. Sem o exame demissional, não
podemos dispensá-la, pois podemos ser processados caso a demissão seja feita e você estiver
doente...
Eu olhei o papel e então fiquei cega. Mal senti quando deixei sua sala, rumando reto ao
elevador, apertando o botão do último andar, querendo ver Felipe o mais breve possível, querendo
ofendê-lo de todas as formas.
Isso era coisa dele, eu tinha certeza! Ele estava me prendendo a ele! Só Deus sabe porquê!
Devia estar agradecido por eu estar indo embora, agora ele teria todo o tempo do mundo para ficar
se esgueirando com mulheres mais belas e do status dele!
A porta do elevador se abriu e eu vi Joana. Ela me observou com curiosidade, mas eu sequer
a cumprimentei. Entrei na sala de Felipe, e havia mais pessoas ali com ele. Uma parte de mim
indagava o que eu estava fazendo, mas outra dizia para pular na cara dele, e fazê-lo...
Fazê-lo sofrer...
— Podem ir, por favor — ele disse a dois homens que me encaravam com surpresa.
Os homens saíram e eu vi Joana fechando a porta, nos dando privacidade.
— É coisa sua, não é? — exigi.
— Do que está falando, Ana?
— Me forçar a ver um médico para me dar a demissão!
Ele negou com a face.
— Exame demissional é lei, Ana Paula. Eu não posso dispensá-la sem ele. Se duvida, pode
procurar um advogado.
Subitamente, ele se ergueu da sua cadeira. Estava nitidamente revoltado. Só então eu percebi
o olhar morto dele, suas orelhas, sua aparência cansada. Felipe Dias parecia ter sessenta anos, nesse
momento, tão exausto estava.
— É isso que você quer? Me processar por dispensá-la doente? Desde o começo você só
buscava um argumento para conseguir dinheiro fácil? Poderia ter muito mais apenas me manipulando
com sexo! Eu já estava completamente caído por você — ele declarou, e eu me senti enjoada.
Então tudo perdeu a razão. Fiquei tonta e precisei me segurar na cadeira. Logo, Felipe estava
ao meu lado. Ele estava zangado, mas foi gentil o suficiente para me ajudar a sentar.
— Estou grávida.
Não vou dizer que as palavras escaparam. Eu contei porque precisava contar, de qualquer
maneira. Porque estava cansada demais de guardar esse segredo, sem poder me proteger
financeiramente para ter o bebê.
— E você não me fará abortar... — Lágrimas despencaram dos meus olhos.
Soluços me tomaram antes que eu pudesse ver seu rosto e sua reação à notícia.
Felipe não se moveu. Ele permaneceu ao meu lado, e eu mal podia ouvir sua respiração.
Levou-se alguns segundos antes de eu encará-lo e percebê-lo pasmo ao meu lado.
O que ele vai dizer?
“Usamos camisinha! “
“Não é meu!”
“Você vai tirar!”
— Você está feliz?
A pergunta me fez arregalar os olhos.
— O quê?
— Você está feliz por estar grávida?
Minha mente tentou processar a questão. Eu estava emocionada por ter um bebê, mas mal
consegui pensar em como isso me deixava feliz. Minha mente se focou no lado prático da questão: eu
não tinha dinheiro para sustentar uma criança.
— Eu amo o bebê. E eu sei que será difícil, mas eu vou lutar por ele — respondi. — Você
não vai me forçar a tirar — insisti.
Ele arqueou as sobrancelhas, como se não entendesse a minha colocação.
— Te forçar?
— Como fez a Marcele...
Meu peito parecia que ia explodir a qualquer momento.
— Eu não forcei Marcele, Ana.
— Ela disse...
— Ela disse que abortou por minha causa. Não que eu a forcei. Ao contrário, eu queria muito
o bebê. Eu iria assumi-lo, lhe daria tudo, mas Marcele queria um casamento. Quando lhe disse que
ela teria tudo, menos uma aliança, ela tirou o bebê... Eu fiquei absorvido em culpa e dor por anos. É
por isso que eu sempre dou dinheiro para ela. Porque meu filho morreu por conta de uma bobagem.
Eu podia ter me casado com ela, mas na época era tão... tão arrogante. Eu achava que podia ter o que
eu quisesse, sem assumir consequências. Eu queria o bebê, mas não queria Marcele...
Lágrimas surgiram em seus olhos. Era a primeira vez que eu o via tão vulnerável. Segurei seu
rosto entre as mãos, compartilhando sua dor. Então o trouxe até meu peito, abraçando-o, deixando
que ele chorasse contra meus seios.
— Eu não quero nada, Felipe. Não quero seu dinheiro, nem que se sinta forçado a nada. Mas,
se você quiser... Se você quiser ser o pai do bebê... Bom, você já o é... Mas, estou dizendo... Ser o
pai além do lado biológico...
Ele puxou o rosto e me encarou.
— Eu quero isso..., mas, eu também quero você, Ana... Ao contrário do que aconteceu com
Marcele, eu quero me casar com você.
Ele estava dizendo isso porque estava com medo de que eu mudasse de opinião sobre ter o
bebê?
— Você não precisa se casar comigo.
— Eu preciso me casar com você, Ana...
— Eu não estou grávida porque espero uma aliança. Estou grávida porque aconteceu. E eu
estou feliz por você apenas querer o bebê. Casamento é algo muito diferente. Tem que ser...
— Por amor? — ele completou. — Você não vê? Não consegue sentir o que eu sinto — ele
puxou minha mão e a pousou sobre o coração. — Você não sente como meu coração bate tão forte
quando estou perto de você?
Eu sorri, enquanto sentia o pulsar em seu corpo. Isso realmente estava acontecendo?
— Eu te amo — Felipe declarou, e meu coração se encheu de carinho.
— Eu te amo, também — devolvi. — Eu vou me casar com você porque te amo.
Ele me puxou para um beijo.
O passado estava devidamente enterrado agora. Meus pais e tudo que viveram, os traumas
que me causaram, desapareceram nos sentimentos que eu nutria por esse homem. Eu seria feliz.
Felipe me faria feliz. Eu o amava. Nada mudaria isso.
— Bom... Isso quer dizer que você continua minha funcionária? — ele indagou, me fazendo
rir.
— Eu acho que não vou me demitir, depois de tudo.
— Ótimo. Porque tenho uma tarefa importante para você. Agora mesmo.
O observei atentamente, tentando decifrar suas palavras. Ele não parecia sério.
— É mesmo? Que tarefa?
— Fazer amor comigo. Aqui e agora.
— Você sabe que Joana está do outro lado da sala, não é?
Ele fez um bico adorável, e então foi até o telefone. Dispensou Joana e pediu que ela
bloqueasse na recepção qualquer pessoa que quisesse aparecer.
Quando ele desligou, eu o confrontei.
— Felipe, você realmente está falando sério?
— Mais sério que nunca, amor! — veio em minha direção.
— Você uma vez me disse que não usa o ambiente de trabalho para esse tipo de coisa.
— Não usava. Mas, com minha esposa, eu não tenho tantos escrúpulos.
Eu ri enquanto ele me erguia da cadeira e me levava até a mesa. Sua mão, confortavelmente,
repousada em meu ventre.
Seria incrível ter o bebê dele. Seria incrível ter o amor dele.
Eu mal podia esperar pelo que o futuro me reservava.
Capítulo 21
Um ano depois...
— Mas, ela está bem?
Encarei Felipe segurando nossa bebê, Ítala. Ela mexia os pés e balbuciava algo, não parecendo nem
um pouco doente. Contudo, Felipe era superprotetor e preocupado. Ítala não podia fazer qualquer
menção de choro que ele logo a trazia ao pediatra.
O pediatra nos encarou com um ar um tanto risonho.
— É claro que ela está bem.
— Mas, ela estava chorando.
— Bebês choram.
— E achei que estava um pouco febril...
— Foi só impressão. A temperatura dela está normal.
Felipe me encarou, enquanto eu estendia as mãos para pegar nossa filha no colo. Eu entendia
a necessidade dele em protegê-la, mas achava que ele exagerava nos cuidados.
— É seu primeiro bebê, Sr. Dias? — o pediatra indagou, enquanto recolhia seu estetoscópio.
— Eu tive outro bebê, mas não chegou a nascer...
Meu coração aqueceu pelas palavras. Eu gostava de saber que Felipe considerava o bebê que
Marcele tirou como uma parte de sua vida, como um ser que realmente existiu. Ele podia ignorar, já
que nunca o teve nos braços, mas levá-lo em consideração era parte do que me fazia amá-lo.
— Vou receitar um remédio caso ela tenha febre..., mas, no geral está bem.
Acenei para o médico e nós agradecemos enquanto saíamos do consultório.
O corredor da clínica estava cheio de crianças e eu sorri, observando o movimento.
— Imagine quando Ítala estiver correndo por aí... — acenei para um menino com a cabeça.
— Você vai ter que correr atrás, viu?
Felipe sorriu para mim, enquanto pousava a mão na minha cintura e me ajudava a sair pela
porta. Na área externa, o vento balançou meus cabelos, e logo percebi a mão de meu marido
cobrindo a bebê com a manta.
— Acho que devo cancelar minhas reuniões de hoje a tarde — murmurou. — Não considero
uma boa coisa deixá-la sozinha em casa...
— Felipe, pelo amor de Deus... Você está exagerando, como sempre...
— Eu não estou exagerando... — ele retrucou. — Talvez só um pouco.
Eu ri enquanto nos aproximávamos do carro.
— Eu acho que devo retornar ao trabalho.
— Eu acho que Ítala deve crescer um pouco mais...
— Felipe, Ítala já pode ir para uma escolinha. Ela já tem idade. E minha licença já terminou.
— Ana, acho melhor “A mãe” cuidar dela — destacou. — Não gosto da ideia de ela ficar
numa escola.
— Não seja machista. Eu posso voltar a trabalhar. A maioria das mulheres volta quando
termina a licença maternidade.
— Machista? Ok. Então você vai trabalhar e eu vou ficar em casa cuidando dela — ele
brigou. — Satisfeita?
Eu gargalhava enquanto entrava no carro.
∞∞∞
Eu balancei o bebê conforto com o pé, enquanto mexia em planilhas no computador. Depois
de alguns dias de discussão, Felipe decidiu montar uma creche dentro do escritório. Havia uma babá
para auxiliar em vários momentos, mas na maioria das vezes nós revezávamos em cuidar de Ítala
enquanto trabalhávamos.
Era ridículo, eu sei.
Ítala devia ir para uma escola, mas o pai se preocupava com tudo que poderia acontecer a ela
quando não estivéssemos olhando.
A porta do elevador se abriu e ouvi Joana suspirar de susto. Ergui meus olhos e dei de cara
com Marcele, que entrou com aquela mesma postura arrogante de sempre.
Ela estava bem-vestida. Fazia mais de um ano que eu não a via, e me surpreendi por ela estar
ali. Veio buscar mais dinheiro? Uma parte de mim se encheu de coragem, e senti que eu me elevava
da cadeira, indo em sua direção.
Ela estava rumando para o escritório de Felipe. Eu me coloquei em seu caminho, impedindo
que avançasse.
— Ele está em reunião. Por favor, agende horário se precisa falar com ele.
— Como se atreve? — ela murmurou. — Felipe me atende pois sou prioridade.
Tentou avançar, mas não recuei. Uma parte de mim queria protegê-lo da devastação que essa
mulher provocou.
— Como eu disse, ele está em reunião. — Volvi para Joana. — Por favor, chame a segurança.
A sobrancelha perfeita dela se ergueu em um arco.
— Segurança? — ela quase riu. — Você vai ser despedida por tamanha audácia.
Porém, antes de eu retrucá-la, a porta se abriu. Felipe surgiu com olhar curioso, trazido pela
voz alterada de Marcele.
— Marcela? O que faz aqui?
— É Marcele! — ela brigou. — Que droga, Felipe. Tire a sua secretária da minha frente!
Precisamos conversar.
O "conversar" dela era dinheiro. Aquilo me irritou muito.
— Eu não sou secretária. Sou a esposa. E você não é parceira de negócios ou o que for para
falar em particular com meu marido. Portanto, fora!
Ok. Isso soou muito ciumento, e eu não sentia o menor ciúme. Felipe nunca demonstrou
saudades ou desejo de outra mulher, ele sempre me fez sentir única e especial. Mas, eu sabia que
Marcele usaria o espaço que pudesse para roubar a sanidade dele.
A porta do elevador se abriu e vi dois seguranças entrando. Marcele olhou na direção dos
homens, e eu percebi a dúvida em seu olhar. Provavelmente ela precisava de dinheiro, e
provavelmente estava medindo as consequências de ir sem levar um centavo. Sua chantagem
emocional perdeu a força e ela sabia que eu seria um grande obstáculo a isso.
— Você não vai durar muito — ela decretou, indo em direção aos homens. — Felipe não é
homem de uma mulher só.
— Na verdade, ele é homem de duas: da esposa e da filha — apontei o canto onde Ítala
dormia.
O olhar de Marcele se arregalou. Sabia o que ela diria a seguir: que ele se casou comigo
apenas por causa da gravidez. Mas, isso não me melindrou, porque eu sabia que não era verdade.
— Retirem a moça, por favor — disse aos homens.
E nos segundos seguintes, vi Marcele pela última vez.
Quando o perfume dela sumiu do escritório, foi que eu encarei meu marido. Ele deu uma
risadinha.
— Nossa, como você é braba — constatou.
— Me deu medo — Joana disse, do outro lado.
Eu sorri, adorando a característica.
— Eu sou uma mulher incrível e você tem sorte de me ter — murmurei para meu marido.
O sorriso que ele me deu fez meu coração bater mais rápido. Felipe se curvou para me dar
um beijo, mas Ítala choramingou e o clima foi quebrado.
Suspirei profundamente quando ele se afastava para pegar nossa bebê no colo.
Bom, contra essa garota eu não poderia concorrer, já que também a amava. Mas, todas as
outras eu colocaria para correr.
Não que eu precisasse.
Meu marido era um homem fiel e maravilhoso.
A sorte sorri para aqueles que tem coragem de lutar pela felicidade.
.
.
.
Eu tenho tanta vergonha... tanta vergonha de mim mesma...
Mas, ele não parece sentir meu peso. Ele parece estar carregando uma pena.
Meu corpo balança no dele. Sua ponta desponta contra minha boceta. Estou em seus braços, e
estou perdida neles.
— Posso te levar para o quarto? — ele pergunta.
Porque ele quer ter certeza de que eu também quero.
E, sim, eu quero esse homem gostoso demais dentro de mim. Acontece que eu também temo
que ele destrua minha sanidade. Eu sobreviveria a Lucas?
— Por favor — a súplica é minha resposta.
E ele a entende.
Lucas adentra minha suíte, sem se preocupar em acender as luzes. Ele me leva até minha
cama, e me coloca nela, ficando parado defronte a mim, seu corpo másculo quase como uma
escultura pecaminosa da cidade que queimou, Pompéia.
Um dos abajures do lado da cama está aceso. Pela rasa luz, posso ver seu olhar quente me
devorando antes mesmo de suas mãos me tocarem. Meu olhar cai e posso visualizar seu pau quase
rasgando a calça.
Nunca me senti tão desejada. Mas... e quando eu tirasse a roupa?
Quando ele visse minha barriga cheia de pneus? Quando ele visse meus seios caídos? Minhas
coxas cheias de celulite?
Eu quero apagar a luz, mas ele me para no caminho.
— Não... quero te olhar — ele murmura, percebendo imediatamente minha intenção.
— Você não entende... eu sou... feia...
Ele nega com a face, enquanto seus dedos puxam sua camiseta para cima, me mostrando seu
peito cheio de pelos escuros e algumas marcas de queimaduras.
Eu quero tocar em cada uma das suas marcas para ver se esse homem é real mesmo, e quase
me esqueço de minha condição até ele falar:
— Você é a mulher mais linda que eu já vi.
Era mentira. E eu ficava me perguntando o quanto mais ele iria mentir para mim.
Lucas subiu na cama com os joelhos, ficando totalmente em cima de mim. Eu me senti
acalorada, desesperada, queria me contorcer nele, na mesma medida que tentei impedi-lo de tirar
minha camiseta.
— Você não quer? — pela primeira vez vi preocupação nos seus olhos.
Eu queria.
— Tenho tanta vergonha de mim. Eu sempre tentei perder peso, já fiz tantas dietas, academia,
mas eu sempre fui...
— Você entende que eu adoro as suas curvas? — ele questiona. — Adoro o quão macia você
parece. Me dá tanto tesão... — Ele lentamente olha meu corpo de cima a baixo. Seus olhos ficam
mais e mais escuros.
A maneira como ele falou, me deu forças para tirar eu mesma minha camiseta. Deixei que eu
olhar pousasse nos meus seios enormes que quase escapavam do sutiã branco.
— Você parece uma noiva... — ele murmurou.
— Branco é mais fácil de limpar. Só colocar minhas roupas na água sanitária...
Sério que eu falei isso? Sério que eu trouxe esse assunto a cama?
Ele riu baixinho.
— Por isso que, além do seu jaleco, você também adora vestir branco. Eu reparei que todas
as toalhas do seu banheiro são brancas e — ele olhou a cama – seus lençóis também.
— Sim — aceno.
— Bom saber. Nunca pensei nisso. Mais fácil de limpar... — ele repete minha frase. — Eu
adorei. Você é absurdamente perfeita.
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No derradeiro instante em que nos beijamos naquela praça, eu soube que iria acontecer.
E eu a temi pelo mesmo motivo que ela me fascinava. O que uma garota linda daquelas iria
querer com um cara mais velho e derrotado como eu?
O dinheiro não importava. Juliana era do tipo que lutava para ter o seu próprio dinheiro. O
que existia entre nós sim, me agoniava. Porque ela era interessante, jovial, linda e cheia de vida. E eu
era um derrotado, um homem que nunca soube manter o interesse de uma mulher.
Assim como Luana, ela iria se cansar do que quer que fosse que existia entre nós. E as coisas
iriam se complicar ainda mais. A minha vida tranquila iria girar em 180 graus por causa dela.
Eu devia parar. Pedir que ela voltasse ao próprio quarto. Afastá-la do meu corpo e da minha
alma.
Contudo, agora, tudo que eu conseguia pensar era em colocar minhas mãos em sua cintura e a
puxar contra mim.
E foi o que eu fiz.
Deus, como ela encaixava direitinho, parecia que havia sido feita exatamente para mim, para
meu corpo. Eu fiquei quente e derretido quando ouvi seu delicado gemido contra minha boca, e uma
parte do meu cérebro gritou desesperado, mas meu pau já havia tomado conta da minha mente.
Sem quebrar nosso beijo, eu a levei até meu quarto, empurrei-a contra minha cama. Eu sabia
que não havia mais volta, e ela não tentou fugir.
Ela estava entregue. Quando nos olhamos, ela deitada, eu de pé aos pés dela, vi pelo seu
olhar entreaberto e seu rosto vermelho de excitação o quanto não dava para resistir.
Eu nunca quis tanto uma mulher, e imaginava se ela já havia experimentado tanto desejo por
um homem.
Juliana mordeu o lábio inferior, suas ancas se movendo lentamente, suas coxas bem
apertadas, o bico dos seus seios surgindo na camisa clara, provando que ela queimava.
Quando tomei a decisão de arriscar tudo, nesse momento, meu corpo ganhou vida, cada
terminação nervosa provocando sensações.
Cai em cima dela e voltei a beijá-la. Nunca parecia o bastante. Minha língua dobrou-se em
sua boca, tocando cada centímetro de sua cavidade, eletrificando suas reações. Juliana gemeu e eu
soube mais que nunca que estava perdido pela paixão que queimava como um incêndio em minhas
veias.
A apertei. Minhas mãos deslizaram pelo seu tronco, fixando-se nos seus seios. Os massageei,
focando-me no bico inchado que despontava. Ela ofegou, buscando minha boca mais e mais, sua
parte inferior esfregando-se contra meu pênis.
Fazia tanto tempo... Tanto tempo sem sexo, eu nem sabia que senti tanta falta...
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Talvez fosse a cerveja, mas reparei imediatamente em como as maçãs do seu rosto estavam
coradas e a boca parecia inesperadamente suculenta. E que coxas ela tinha! Aquilo era uma perdição.
— Você acha que a gente....
— O quê? Não... não... É loucura — retorqui. Mas, bem que eu queria. — No entanto, você já
pensou na possibilidade?
O silêncio caiu e esperei pela resposta dela.
— Ah, sei lá. Você é meu melhor amigo.
— E você é minha melhor amiga.
— Então, tipo...É estranho.
— Muito estranho.
— E tipo...
— Tipo?
— Se rolasse algo, nossos pais teriam expectativas sobre nós... casamento, filhos... E você
sabe que eu não quero ser mãe.
Ela nunca quis. Dizia isso desde os 5 anos de idade. Acredito que ser a filha mais velha de
cinco irmãos e ter assumido muitas responsabilidades na criação deles tenha contribuído para isso.
— A não ser...
— Sim?
— Que eles não saibam...
— Que ninguém saiba — eu concordei.
Um estrondo no som da televisão. Jake, o protagonista de Lost, estava batendo num cara com
o rosto marcado. Meus olhos visualizaram a cena pelo canto dos olhos, porque minha face ainda
estava toda voltada para Layne.
Meu corpo se moveu primeiro. Aproximei-me ainda mais no sofá, esperando que ela risse e
me afastasse e eu voltasse ao normal. Porque, ora, estávamos bêbados, mas não éramos tão loucos,
éramos?
Profundamente consciente de quão perto seus lábios estavam dos meus, eu seguro minha
respiração, e aguardo.
Layne não se afasta. Agora meu corpo já está inclinado sobre o dela, seus seios roçando no
meu peito, fazendo minha mandíbula apertar e meu pau pulsar.
— É... já tem um tempo que eu não transo — admito quando seus olhos baixam e percebem a
protuberância na minha calça. — Você sabe que meu namoro com Manuela deu errado ano passado e
não sai com outra garota desde então. E eu bebi muito... você sabe... bebi o suficiente para ficar
louco. Então você pode me chutar agora? Pelo bem de nós dois?
Layne me encara. Aqueles lindos olhos brilhantes focados em mim. De repente, ela se inclina
para cima, resvalando seu corpo delicioso no meu.
Deus, ela também bebeu muito. E agora, quem vai nos parar?
Seguro sua bunda, puxando-a para perto de onde eu sou tão duro. Ela respira e os lábios se
abrem.
— Você já fez? — indago, porque nunca a vejo com um cara por mais de uma semana.
Ela nega. Eu sabia. Virgem. Vinte e cinco anos e virgem.
— Se você deixar, eu posso chupar sua boceta para ficar mais fácil.
Layne inclina a cabeça para trás. Ela está analisando.
— Fica mais fácil?
— Sim, na primeira vez é um tanto... doloroso.
Layne passa a mão sobre minha ereção, e eu gemo como um adolescente diante da primeira
transa. Eu mal posso esperar para tê-la envolta do meu pau, sua boceta, sua boca...
— E chupar facilita?
— Fica mais molhado...
Eu arrasto minha mão para frente e para trás sobre o mamilo dela.
— Ah, eu lembro de ter lido sobre isso. — Ela moi contra mim, deixando claro que ela fará o
que quiser, e minhas sugestões não importam. — Você está cheirando a álcool — ela sussurra. —
Está bêbado demais e eu também. A gente devia parar.
Ah, céus...
— Eu realmente quero te foder. — Admito, tentando convencê-la.
Meus dentes cavam meu lábio inferior enquanto luto pelo controle.
— Mas, se você não quer... eu juro que paro...
Ela encolhe os ombros, o movimento fazendo seus seios saltarem levemente, fazendo minha
boca secar mais uma vez.
— Olha, que tal um trato? A gente faz, eu perco a virgindade, e depois a gente segue amigos,
como se nada tivesse acontecido. Nem precisamos falar do assunto. Estamos ambos bêbados, e
ninguém precisa culpar ninguém.
Que trato legal. Ótimo.
— Sem compromisso?
— Exato.
— Então vou deslizar meu pau dentro de você, sentindo pele contra pele, e sem culpa?
— Combinado?
— Você vai me deixar desfrutar sua bocetinha?
— Vou — ela estava gostando das palavras sujas.
— Então, posso ver sua calcinha? Estou muito curioso em saber a cor que usa. Acho que é
vermelho.
— Não estou usando calcinha — As palavras são suficientes para me fazer perder a cabeça.
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Seus dedos começam a traçar minha pele, subindo pelo meu vestido. Estamos escondidos
pela toalha da mesa, mas me sinto pecaminosa com sua ação.
Seus dedos chegam na minha calcinha. Resvalam entre a renda e a costura, adentrando minha
intimidade.
Eu balanço, tesão e desespero, vergonha e adrenalina correndo soltas pelas minhas veias.
Olho para os lados. Ninguém está prestando atenção em nós.
O dedo de Vitor entra entre meus lábios. Começo a balançar no ritmo da música, tentando
esconder o que está acontecendo.
Sem controle, minha mão desce até ele. Quero que ele sinta o que eu estou sentindo. Por cima
da calça eu posso experimentar a sensação do toque na sua carne dura.
Vitor respira fundo. Eu o encaro. Nossos olhos estão escuros e cheios de desejo.
Ele enrola meu clitóris e eu preciso morder a boca para não gritar. O ritmo da música
aumenta, e meu corpo sacode um pouco mais forte. Meus dedos abrem o zíper da sua calça e seu pau
salta para fora, duro, e eu sei que ele está se segurando para não me levar correndo para o quarto.
Eu perdi minha virgindade naquela manhã. Fiz sexo mais tarde. E agora quero mais. Três
vezes num mesmo dia, isso está saindo totalmente do controle.
Arrasto meus dedos, pressionando. A ponta do meu polegar aperta sua cabeça, e eu a sinto
úmida. Reprimindo um suspiro, sinto a pressão dura e inchada pedindo para que eu lhe bata punheta.
Então eu giro minha mão e começo a socar para cima e para baixo.
Ele tenta esconder o prazer fechando os olhos. Seus dedos agora estão mais fundos dentro de
mim, eu estou prestes a explodir.
— Você está me deixando louco, Núbia — ele murmura.
Sou eu que estou louca.
Desejo. Amor.
Amor mais que tudo.
Meu sentimento me guia, eu sinto meu coração aquecer naquela farsa porque apesar de tudo
ser fingimento, eu sei que o tesão não é. O coração dele pode pertencer a Ester, mas o corpo é meu,
ao menos nessas 48 horas.
Vitor me encara e então me beija. Sua língua desliza sobre a minha, enquanto sua boca me
suga. Estou inebriada e quente, mal consigo raciocinar.
De repente ele molha minha mão, esguichos fortes contra meus dedos. Isso ativa meu desejo
ainda mais e mal percebo quando estou gozando nos seus dedos.
É liberdade. É tão precioso que mal consigo pensar.
Aos poucos meu corpo vai acalmando-se e nos afastamos os dedos. Busco um guardanapo de
papel e limpo seu sêmen, mas ele não faz o mesmo. Minha umidade está entre seu indicador e dedo
médio, e ele a deixa lá.
A música cessa. Aplausos.
Inclino meu rosto por cima do ombro para ver se alguém percebeu o que aconteceu. Mas,
ninguém parece se importar com o que rolou naquele canto do restaurante do hotel.
— Eu sou um marido incrível, não Núbia? Eu sempre te faço gozar... — ele murmura nos
meus ouvidos e eu preciso fechar os olhos com força para aguentar o tesão.
— Sim, Vitor...
— Diga o quanto você precisa do meu pau essa noite?
— Eu preciso... Muito.
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e teve em Alexandre Dumas e
Moacyr Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de vinte livros, dos quais, vários se
destacaram em vendas na Amazon Brasileira.
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