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A donzela da neve

Mary Burton

A Hero's Kiss 03
SINOPSE

O arrojado magnata imobiliário Adam Richmond iludia seu


caminho com os feriados, quando é levado à distração pela beleza
russa, Sophia Petranova.

Estão os sinos de casamento na época de Natal tocando?


Capítulo 1

Denver
Dezembro, 1884
A neve lhe conjurava memórias de casa.
Sophia Petranova desviou a vista da janela de vidros coloridos de São Martin e deixou a
mente à deriva, relembrando da infância, dos dias passados na Rússia. Quase podia
cheirar o piroshki de sua mãe assando no forno, quase ouvia o silvo do samovar1 de
prata da família, preparando o chá preto e quase sentia o aquecimento da zibelina2 em
suas pernas enquanto o trenó de seu pai atravessava as estradas glaciais.
Quase.
Suspirando, se afastou da janela e olhou para os tubos de vinte metros do órgão da
igreja. Seu coração pulou no peito quando se imaginou subindo a escada atrás das caixas
de vento para os tubos e ajustando o grande instrumento. Essa era a obra de um artista,
um mestre, e se ela não tivesse assistido o padrasto, Ivan Alexandrovich, com a delicada
tarefa antes, nunca teria feito isso sozinha.
O sino da torre do relógio soou três vezes. Ivan estava mais de seis horas atrasado. Logo
o sol se punha e iriam perder mais um dia de trabalho. O tempo estava acabando.
— Sophia! — rosnou uma voz familiar.
Girando ao redor, Sophia quase chorou de alívio.
— Ivan!
— Sim, quem mais seria? —Ivan resmungou em seu russo nativo.
O velho cambaleou pelo corredor central da igreja indiferente às suas botas cheias de
lama ou a neve derretida que umedecia sua longa barba grisalha.
— Onde você esteve? — Sophia perguntou. Correu em direção a ele, e então congelou
quando sentiu o cheiro de vodka em sua respiração. — Você jurou não beber. Você sabia
que nós tínhamos que trabalhar hoje!
Olhos cansados, injetados de sangue ergueram-se para ela. — Nós não faremos a
afinação do órgão. Estamos deixando Denver.
Alarme varreu Sophia. Conhecia Ivan desde seus seis anos e reconhecia os sinais de
problemas.
— O que você fez? —Os lábios de Ivan estavam achatados em uma linha sombria.
— Você sempre pensa o pior de mim.
Ela se esforçou para manter a voz calma. Agitar sua ira só lhe daria mais motivos para
não concluir o trabalho. — Como eu não posso? Você desperdiça muito tempo quando
sabe que Sr. Richmond não vai nos pagar se não terminarmos o órgão na quarta-feira.
Temos apenas mais quatro dias, Ivan. Quatro dias.
— Richmond. —O nome retumbou na garganta de Ivan como uma praga. —
Camponeses.
Richmond tinha visitado a oficina de Charles Anderson, onde Sophia e Ivan haviam
trabalhado na construção do órgão. Ele foi à igreja todos os dias durante o processo de

1
Utensílio culinário de origem russa, usado para servir chá.
2
Animalzinho melindroso das florestas russas, cuja pele é usada como ornamento em vestimentas.
instalação. Só um vislumbre dos olhos cinza-fantasma do empresário disse a Sophia que
ele era afiado, esperto e pouco falhava.
Pensar em Adam Richmond sempre deixava Sophia nervosa, inquieta. — O Sr. Richmond
não é nenhum camponês e este órgão é nossa última chance de provarmos nosso valor
ao Sr. Anderson.
Ivan tirou uma garrafa do bolso e desarrolhou-a. — Você se preocupa demais!
Entorpecida, ela o viu levantar a garrafa aos lábios e beber. Ele fechou os olhos e
saboreou a vodka que lhe queimava a garganta.
Enfiou as mãos nos bolsos, puxando os fios soltos que acabavam em um buraco. — Foi
isso que você disse quando deixamos Seattle e São Francisco.
No alto, os olhos do homem corpulento fecharam-se por um instante. — Sempre como
sua mãe. Reclamando. Reclamando. Reclamando.
A frustração afiou as palavras de Sophia mais do que pretendia. — Nós precisamos deste
pagamento para chegar em casa!
Ele continuou como se ela não tivesse falado. — Linhagem nobre, conexões distantes
com o Czar. Bufou. — Você pensa que é melhor do que eu, ainda não tem um rublo3 em
seu nome. Inútil. Meu dinheiro põe comida em nossa barriga, nos trouxe para a América.
Você é tão inútil quanto a sua mãe!
O temperamento de Sophia explodiu. Tirou a garrafa de sua mão. O vidro quebrou-se
no chão de pedra e a vodka escorreu pelas rachaduras. — Não fale da minha mãe desse
jeito!
A ira avermelhou suas bochechas. — Como você se atreve? Se não fosse por mim, você
teria ido para um orfanato juntamente com todas as outras crianças não desejadas.
Sophia inclinou o queixo para trás. Por um instante, tinha catorze anos de novo, sozinha
e desesperada pela mãe que tinha perdido. As velhas emoções drenaram sua raiva e
sufocaram sua respiração. Um momento passou-se antes que ela recuperasse o
equilíbrio.
— Estamos perdendo tempo, — disse ela friamente. — Ficaremos em Denver. Você vai
ficar sóbrio e terminar este órgão.
Ele inclinou-se em direção a ela, sua intenção revelando-se nos olhos escuros. —
Fique, se quiser, mas eu estou indo embora.
Seu tom de voz determinado levantou ainda mais suspeitas. — Ivan, você tem jogado
de novo?
Seu rosto apertou-se com ansiedade, começou a descer o corredor longo e estreito. —
Não importa.
— Você tem jogado. — A trilha de perdas nos jogos de Ivan esticava-se de Denver a São
Petersburgo. Ela correu passando por ele, bloqueando seu caminho. Ele ficou um bom
pé mais alto que ela, mas ela plantou suas mãos contra seu peito e os pés apoiados. —
Para quem você deve?
Ele hesitou, encolheu os ombros. — Há homens. Eles dizem que eu lhes devo dinheiro.
Sophia ficou rígida em descrença. Uma porta em algum lugar na igreja se abriu e o vento
lá fora gritou dentro dos corredores estéreis, como o lamento de uma mulher velha.
Ivan torcia as mãos. — Não foi minha culpa, disse mais para si do que para ela. — As
cartas estavam marcadas.
Seu corpo estava dormente. — Onde você conseguiu o dinheiro? Não temos nenhum
sobressalente.
3
É o nome da moeda oficial russa.
— Tive sorte com as cartas na semana passada, —disse rapidamente.
A respiração assobiou por entre os dentes cerrados. — Você nunca tem sorte, Ivan!
A centelha de indignação nos olhos dele quase a fez rir. — Estou sem sorte agora, mas
tenho tempos de abundância.
— Você não tinha dinheiro! Como entrou em outro jogo?
— Ganharei de volta. Você vai ver.
A última vez que jogou, tinha vendido a corrente do medalhão de sua mãe. Ela lutou
para não gritar. — De onde o dinheiro veio?
Ele se retraiu. — Do medalhão.
Sophia afundou como se ele batesse nela. — O medalhão de minha mãe?
— Sim.
O medalhão de ouro, pequeno, mas intricadamente esculpido ocultava uma miniatura
de sua mãe na caixa oval. Desde que Ivan havia roubado a corrente, Sophia levava o
tesouro com ela. Dois dias atrás, tinha descoberto o buraco em seu bolso e decidiu
deixar o medalhão escondido sob o assoalho de seu quarto. De algum modo ele soube
que ela tinha deixado para trás. — Isso era meu.
— Eu precisava dele.
— Era tudo que ela me deixou. Você prometeu nunca o tocar.
Sofia mal conseguia pensar. Queria chorar por tudo o que havia perdido: sua mãe, a vila
que não tinha desde os seis anos, e a casa que sonhava em construir quando voltasse
para a Rússia.
Pressionou as pontas dos dedos em suas pálpebras, segurando as lágrimas. Se quisesse
voltar para casa, precisava do dinheiro deste trabalho. E para fazer isso, precisava de
Ivan.
Ela abaixou os ombros. — Você deve me ajudar a terminar o órgão.
Ele balançou a cabeça. — Não. Foram suas mãos que esculpiram a caixa de mogno e
alinharam o fole. Fui apenas um conselheiro.
Empurrou uma mecha de cabelo preto-azulado fora de seu rosto pálido. — Eu montei
peças e partes. Sua experiência vai trazer o órgão à vida. Por favor, Ivan, apenas mais
um dia ou dois.
— Não tenho outro dia. Devo ir agora.
Sophia cavou seus dedos calejados em seu braço. — Quem vai explicar sua ausência para
a comissão da igreja?
Amargura faiscava em seus olhos como pedaços de gelo. — A comissão não importa.
Richmond é o que importa e ele não se preocupa com este órgão.
— O que você está dizendo? Ele encomendou o trabalho.
— Ele agora só se preocupa em desonrar o ministro. Ele se encontra hoje com a
comissão para destruir o projeto.
Medo rodou na mente de Sophia. — Como você sabe disso?
— Eu ouço coisas.
— Mas por que ele faria uma coisa dessas?
Ele deu de ombros. — Quem sabe? Quem se importa?
A mente de Sophia girava rapidamente à medida que reagrupava seus pensamentos. Se
eles perdessem este trabalho, poderiam passar anos antes que ela tivesse dinheiro
suficiente para voltar para casa. — Você deve falar à comissão. Fazê-los entender que
devem construir este órgão.
— Não.
— Ivan, por favor, fique! Estou lhe implorando, por favor. Só mais esta última vez. Se eu
devo afinar este órgão, você deve fazer a comissão entender que o trabalho tem que ser
terminado.
Ivan parecia surpreso com o seu desespero. Ela nunca o tinha pedido nada antes. Ele
abriu a boca, pronto para chamar sua voz profunda, outrora tão cheia de orgulho e de
vida. Em vez disso, engoliu as palavras não ditas, em seguida, virou-se e cambaleou para
fora da igreja.
Os dedos de Sofia enrolaram-se em punhos. Grossas lágrimas caíam sobre seu rosto e
ela estava ciente apenas dos sons ao seu redor. O som de crianças rindo na capela. O
clique firme de sapatos no corredor. A abertura e o fechar das portas.
Ela começou a caminhar atrás de Ivan e depois parou.
Adam Richmond estava na sombra da borda, olhando-a abertamente, quase de maneira
rude.
Richmond possuía uma qualidade, terra crua que desmentia seus ternos de lã fina e
camisas de linho irlandês. Sua presença chamava a atenção de todos e ele andava com
uma graça natural, nascida de um caçador confiante em sua habilidade.
Lembrou-se que ele não falava russo e não tinha entendido sua conversa com Ivan.
Ainda assim, ele olhou para ela como se estivesse tentando perscrutar dentro de seu
coração. Um sacudir de eletricidade correu através de seu corpo.
— Sr. Richmond, posso ter uma palavra com você? — perguntou em inglês.
— Vi tudo que precisava ver.
Ele voltou abruptamente e saiu da sala, descartando-a como se fosse nada.
A rejeição picava mais do que deveria. Algo dentro dela endureceu, como gelo em
janeiro. Ela não iria sair como Ivan. Iria ficar e fazer a comissão da igreja entender que o
órgão devia ser concluído.
Adam Richmond seria condenado.
Capítulo 2

Quando Adam Richmond chegou à porta que levava à sala de reunião, parou,
flexionando sua mão direita, trabalhando a rigidez das articulações.
Embora ele não entendesse russo, reconheceu a raiva e o desespero no tom silenciado
de Sophia. Claramente, Ivan lhe dissera que estava partindo e ela tinha chegado ao fim
de suas forças.
Adam deveria estar se sentindo feliz.
Mas não estava.
Irritado por estar dando a Sophia um segundo pensamento, Adam alcançou o bolso do
colete e tirou o relógio de ouro. Olhou as horas, então empurrou o relógio de volta em
seu lugar. Em breve tudo estaria acabado. O fracasso de Ivan seria completo e o
incômodo reverendo Nelson estaria sem uma paróquia.
E Sophia teria ido embora.
Nunca tinha planejado sentir a atração inesperada que sentiu quando a ouviu pela
primeira vez cantando uma melódica canção popular russa. Atraído pelo som doce de
sua voz, aventurou-se a partir da reunião no gabinete do artesão para a oficina de trás.
Lá, ela estava sentada em um banquinho, curvada sobre uma prancha de mogno rica
talhando uma rosa, desatenta a ele ou a meia dúzia de outros trabalhadores em torno
dela. Estava usando calças marrons, uma camisa branca envolvendo sua cintura fina e
seu cabelo preso em uma trança grossa.
Seus olhos eram azuis como um céu de inverno e eram preenchidos com o brilho da
confiança e do riso. Quando o olhar dela havia mudado para ele, o riso tinha se
desvanecido e um momento de avaliação ocorreu quando seu olhar deslizou acima de
seu corpo. A sacudida de desejo embalou-o e deixou-o rígido e pronto.
Muitas noites, sonhava em retirar o tecido grosseiro de sua pele e fazer amor com ela.
Muitas noites, as quais ele queria que as circunstâncias fossem diferentes.
— Sophia. — Ele murmurou seu nome como uma maldição.
Adam pôs a palma da mão encostada na porta, a necessidade de tocar em algo era
tangível, real. Os sonhos eram todos muito bem vindos durante a noite, mas a clara luz
do dia reinava a praticidade. Sophia não cabia no mundo dele. Ele tinha uma família para
proteger e faria isso.
Adam empurrou a porta aberta e entrou na sala de reuniões vazia. Olhou para a
comprida mesa espartana, rodeada por oito cadeiras em linha reta. Tirou a neve que
umedecia seu casaco e colocou-o sobre as costas da cadeira na cabeceira da mesa.
Inquieto, moveu-se para a janela e olhou para um pequeno pátio. Uma polegada de neve
cobria o chão. Uma fila de choupos nus gotejava gelo.
A neve não mostrava nenhum sinal de término e a julgar pelas pesadas nuvens
cinzentas, estaria perto de um pé para lidar com a alvorada.
A mandíbula de Adam apertou-se. Deveria ter se preocupado com o estrago que a neve
que caía faria a seus cronogramas de construção e aos fornecimentos de sua fábrica de
tijolos. Se continuassem no ritmo atual, teria que encerrar as operações. Em vez disso,
estava preocupado com Sophia.
Flocos de neve umedeciam os nós em sua trança preto-azulada; os revestimentos dos
ombros de seu casaco de pele de carneiro áspero enquanto ela fazia seu caminho em
direção aos quartos alugados na rua Blake. Logo ela iria descobrir que Ivan tinha deixado
para trás seu apartamento e que eles foram despejados. Assim não teria um lugar para
ficar.
Adam decidiu que, após esta reunião, ia mandar um mensageiro a Sophia com o
dinheiro. Pelo menos, ela teria algum dinheiro no bolso quando saísse de Denver.
A ideia de Sophia deixar Denver enegrecia seu humor já sombrio.
Isso era estranho para ele. Conversar com mulheres era casual e breve. Era muito fácil
e ele sempre conseguia, tendo continuamente o cuidado de não se importar demais. E
aqui estava ele, preocupado com uma mulher que mal conhecia.
— Você olha há um milhão de milhas, Adam, —disse Claire Richmond.
Adam se virou para ver sua irmã de pé na porta. Suas botas demasiado caras batiam
contra o chão de pedra e sua saia lápis-fino sussurrava quando ela se movia, lembrando-
lhe que a sua vestimenta custava mais do que ele tinha ganhado nos primeiros meses
que possuía a fábrica de tijolos.
Ela o beijou no rosto, em seguida, retirou eficientemente fora suas luvas e enfiou-as em
seu bolso. Como ele, tinha o hábito de chegar cedo.
— Você parece preocupado, — disse com franqueza.
Por causa dela, sorriu. Tinham sido os dois por tanto tempo que protegê-la era
automático. — É o meu trabalho me preocupar... Não o seu.
Ela ergueu as sobrancelhas. — Bem, eu me preocupo. Você passa muito tempo sozinho.
— Eu gosto da minha solidão.
— Isso pode ter funcionado quando era criança, mas não mais. Você precisa de alguém
em sua vida, Adam.
Quando eu era criança...
Apenas dezoito e ainda tão jovem, Claire sabia pouco do mundo, ou como ele
funcionava, mas nem a cólera afetava sua confiança. Tão jovem. Adam escolheu não se
lembrar dos fatos. Não estava interessado em uma discussão hoje.
— É a neve e as férias, disse ela inesperadamente. Seu olhar passou por ele para a janela.
Flocos de neve prendiam-se ao vidro, agarrando-se apenas por um momento e depois
se derretiam. — Ambos sempre o deixam de mau humor.
— Eles não, disse ele.
Seu olhar demorou-se na neve, o brilho em seus olhos escurecendo. — Eles têm o
mesmo efeito sobre mim. Lembra-me de Mama e Rose. Você sabe, agora eu mal consigo
lembrar como elas eram.
Inconscientemente, Adam passou os dedos sobre as cicatrizes na palma da mão direita.
Doze anos se passaram desde o incêndio que tinha varrido sua casa de madeira com
moldura, matando sua mãe e irmã. Adam foi caminhando pela neve nesse dia, voltando
de seu turno na fábrica, quando viu as chamas. Corria tão rápido quanto podia através
da lama branca para alcançá-las.
Agarrou-se ao caminho para o inferno, mas o calor tinha queimado sua mão e seus
pulmões queimaram quase que imediatamente. Era um milagre ele ter conseguido
salvar Claire de seis anos de idade.
Adam sacudiu as imagens. — Prefiro pensar no futuro.
— Você nunca fala do passado, disse ela calmamente. — Esqueceu-se delas?
Tantas vezes ele orava para esquecer. — Não me esqueci de nada.
— O que você lembra?
Adam empurrou fora uma respiração profunda. Em qualquer outro dia, ele teria dirigido
a conversa para outro tópico, mas hoje suas emoções estavam derrubadas, fora de
equilíbrio. — Você e Rose tinham decorado uma árvore de Natal na véspera. Rose
amarrou bagas e envolveu-as em torno da árvore. Também rasgou as páginas de um dos
meus livros e cortou-as em estrelas.
Claire sorriu, com os olhos brilhando.
— Eu roubei as páginas.
Se apenas não tivesse estado tão frio naquele dia, sua mãe nunca teria deixado o fogo
tão alto. Se ele tivesse dito "não" à árvore ou não houvesse parado para comprar
brinquedos para as meninas. Se apenas...
Arrancou seus pensamentos longe do passado e centrou-se na razão, eles estavam aqui
hoje, para falar sobre Harrison Nelson, o ministro interino da igreja.
Brilhante, jovem e cheio de ideias, o jovem reverendo Nelson foi o primeiro a sugerir a
construção do órgão de tubos. Claire tinha defendido o projeto e convencido Adam a
subscrevê-lo. O status de Nelson tinha crescido entre os membros da igreja e muito se
tinha falado sobre fazer seu trabalho permanente.
Adam tinha estado feliz em favorecer sua irmã, até uma semana atrás, quando seu
mordomo lhe deu uma carta destinada à Claire. A carta era de Nelson. Ele falava de seu
amor e pretendia anunciar o noivado, quando o órgão estivesse concluído, assim a
posição de Nelson como ministro estaria segura.
O primeiro impulso de Adam tinha sido de expulsar Nelson do local. Ele trabalhou muito
duro para dar a sua irmã uma boa vida para vê-la arruinada por um homem que se
preocupava mais com as emoções do que praticidade.
Mas Adam tinha aprendido há muito tempo a guardar suas cartas perto de seu colete.
Assim, manteve seu temperamento sob controle e começou a trama.
Abertamente seu apoio à retirada do órgão garantiria o fracasso do projeto, mas Claire
nunca iria perdoá-lo. Ao invés disso, Adam focou-se em Ivan Alexandrovich, que já tinha
provado que não poderia ficar com a programação. Não demorou muito para saber que
Alexandrovich, uma vez um grande artesão, tinha tudo, mas seu talento estava afogado
em um mar de vodka e dívidas de jogo. Tudo o que Adam teve que fazer foi entrar em
contato com os cobradores russos. Isso o fez correr de Denver. Com o órgão inacabado,
Nelson seria despedido, sairia da cidade, e Claire ficaria com sua vida.
Um plano perfeito, se não fosse por Sophia.
O som de vozes e passos ecoou pelo corredor de pedra antiga. A primeira a chegar foi a
Sra. Dalrumple, um dos membros da elite da sociedade de Denver e uma das fundadoras
do cobiçado Trinta e Seis, um grupo exclusivo de uíste, onde as damas dos principais
círculos sociais da cidade jogavam. Uma mulher alta, esbelta, de características contidas;
seus cabelos grisalhos curtos e a ponta prata da bengala a faziam parecer mais velha do
que seus quarenta anos. Tinha sido a maior defensora do órgão, dizendo a quem
quisesse ouvir que Denver finalmente estava começando a desfrutar da real cultura.
A Sra. Dalrumple levantou uma sobrancelha quando viu Adam. — Você é o último
homem que eu esperava ver hoje aqui. Achei que tinha coisas mais importantes do que
lidar com nosso humilde projeto.
Humilde. O órgão havia custado bem mais de mil dólares de seu dinheiro. — Quero ter
certeza de que meu dinheiro está bem investido.
A Sra. Dalrumple pigarreou.
— O reverendo Nelson garantiu-me que o órgão deverá estar concluído até esta quarta-
feira. Ele entende minhas esperanças de que Dora toque no concerto de Natal da igreja.
Adam teve o cuidado de manter todos os traços de emoção escondida. — Bom.
A Sra. Dalrumple permitiu que Adam puxasse sua cadeira. Sentou-se e tomou um tempo
extra para organizar as saias antes que falasse. — Espero que não seja tarde demais.
Tenho um chá da tarde para participar.
— Ele vai estar aqui, disse Claire, olhando para a porta novamente.
A Sra. Dalrumple puxou os óculos de seu bolso e colocou-os. — Todos estão aqui, exceto
o reverendo Nelson e Sr. Alexandrovich.
Claire encontrou o olhar de Adam.
— Só um minuto ou dois, mais.
— Tenho certeza que você está certa, disse Adam suavemente.
O relógio bateu três vezes antes de ouvirem o clique apressado de botas ecoando pelo
corredor. Um avermelhado e sem fôlego Nelson apareceu na porta. Empurrou uma
mecha grossa de cabelo loiro fora de sua cara. — Acredito que o relógio da igreja é
rápido. Parece que estou sempre em uma corrida com a coisa.
O jovem Nelson cumprimentou todos à mesa, mas seu olhar demorou muito tempo em
Claire.
Ela baixou a cabeça longe de Adam como se para ocultar o rubor em suas bochechas.
Adam fervia.
O olhar instável de Nelson encontrou o de Adam.
— Sr. Richmond.
Adam apertou a mão do rapaz, surpreso em que Nelson conseguisse um aperto de mão
firme, apesar dos dedos de ossatura fina.
— Nelson, que bom ter você aqui.
— É bom estar aqui.
Adam sentou-se à cabeceira da mesa e Nelson assumiu a cadeira à sua direita ao lado
de Claire. A Sra. Dalrumple pediu ordem para começar a reunião. Ofereceu um breve
boas-vindas, em seguida, passou a palavra a Nelson.
Nelson colocou suas mãos longas, magras sobre a mesa.
— Nós temos um problema.
O humor da Sra. Dalrumple azedou. Adam quase sorriu. — Que tipo de problema? —
Sra. Dalrumple perguntou, a voz dela mais dura.
— Parece que o Sr. Alexandrovich desapareceu.
Adam inclinou-se para frente, o queixo repousando sobre os dedos esticados. — O que
você quer dizer com desapareceu?
A face de Nelson corou uma fração de tempo. — Ele e eu deveríamos nos encontrar esta
manhã. Ele não apareceu. A Srta. Petranova esteve aqui à maior parte do dia esperando
por ele, mas quando cheguei à igreja momentos atrás, ela tinha ido embora também.
A menção do nome de Sophia azedou a satisfação de Adam. — Isso não é bom.
A Sra. Dalrumple bateu sua bengala contra o chão. — Eu estava contando com esse
órgão, reverendo Nelson.
— Ex... Existem outros artesãos. Acabei de chegar da oficina do Sr. Anderson. Ele vai
enviar um outro artesão, logo que puder.
— Quando? —A Sra. Dalrumple disse.
Os lábios de Nelson achataram-se. — Janeiro?
Claire empalideceu. — Não há ninguém que possa vir mais cedo?
Nelson encontrou o olhar de Claire. — Não.
Adam manteve a voz neutra. — Pensei que você tinha a situação sob controle reverendo
Nelson.
— Eu... eu pensei que estivesse, — disse Nelson.
— Só pensar não resolve, — disse Adam laconicamente.
— Isso não muda nada, disse a Sra. Dalrumple. — Estava contando que esse órgão
estivesse concluído na quarta-feira. Dora será humilhada.
Claire inclinou-se para frente. — Deve haver alguém em Denver que possa terminar o
órgão no prazo. Está quase concluído.
Nelson olhou para ela, seus olhos pálidos cheios de decepção.
— Eu vou terminá-lo. —A voz de Sophia, clara, ligeiramente acentuada ecoou da
entrada.
Capítulo 3

Sophia sabia que sua chegada não programada seria um choque para a comissão. No
entanto, quando olhou para Adam Richmond e viu seu inabalável olhar, sua respiração
prendeu-se na garganta. Surpresa cintilou nos olhos cinzentos, e por apenas um
brevíssimo instante imaginou ver respeito, antes de seus lábios fecharem-se em uma
carranca glacial.
O discurso planejado às pressas para a comissão desapareceu de sua mente.
Seu corpo estava apenas a alguns centímetros dele e ela podia sentir a energia que ele
irradiava. Sua presença corajosa aferroou suas preocupações e seu primeiro impulso foi
pedir-lhe perdão por sua impertinência, como se ele fosse o próprio Czar.
Mas ela não o fez.
Um lampejo de irritação inflamou-se dentro dela. A mãe de Sophia tinha instilado um
orgulho inabalável nela que a sustentou quando tinha sofrido com a pobreza, a morte
de seus pais e os anos com Ivan. Juntou pedaços de sua coragem. — Eu posso terminar
o órgão.
Reverendo Nelson ficou de pé. — Srta. Petranova, procurei-a por toda parte e ao Sr.
Alexandrovich.
Sophia umedeceu os lábios rachados. — O Sr. Alexandrovich não vem.
Nelson apertou as pontas de seus longos e esbeltos dedos, em sua têmpora, como se
sua cabeça estivesse a prêmio. — Quando ele volta?
A culpa arrastou-a enquanto olhava para o reverendo Nelson. Ele tinha sido gentil e deu
a Ivan mais chances do que merecia. — Ele...
Richmond levantou-se. — Nós queremos a verdade neste momento.
Sophia olhou para ele, irritada por suas palavras. — Se você apenas me deixar explicar.
O olhar fixo de Richmond lembrou-lhe que seu objetivo era inviabilizar o projeto. —
Tanto quanto sei, ele demitiu-se, assim não temos nada mais para discutir. Srta.
Petranova, você pode ir.
Sophia recusou-se a voltar atrás quando tanto dependia deste trabalho. — Você não vai
me ouvir?
Claire Richmond saltou a seus pés. — Realmente, Adam, deixe a Srta. Petranova falar.
O Sr. Richmond não tirava os olhos de Sophia. — Tudo que nós conseguimos da Srta.
Petranova é conversa. É hora de encarar os fatos, a contratação de Ivan Alexandrovich
foi um erro.
As bochechas do reverendo Nelson queimaram. — O homem veio altamente
recomendado e ninguém pode discutir a qualidade do trabalho até agora. Sim, ele tem
sido muito lento, mas o órgão está quase terminado, Sr. Richmond.
Richmond meteu a mão no bolso e sacudiu a cabeça. Não estava acostumado a ser
questionado. — Quase não conta.
A hostilidade de Richmond remexeu o temperamento de Sophia. — Posso terminar o
órgão na quarta-feira. Você deve me dar uma chance.
As linhas gravadas no rosto de Richmond aprofundaram-se. — Uma chance, Srta.
Petranova? Eu diria que seu padrasto usou de qualquer e todas as suas chances. Este
trabalho deveria ter sido concluído semanas atrás, mas aqui estamos. Agora, você quer
mais tempo?
Apesar da sua voz calma, suas últimas palavras reverberaram nas paredes, fazendo com
que ela recuasse. — Não estou pedindo para meu padrasto, mas para mim mesma.
Estou dando a minha palavra de que o órgão estará concluído até o vigésimo quarto dia
de dezembro.
O gelado olhar da Sra. Dalrumple deslizou sobre Sophia, de repente tornando-a muito
consciente que ainda usava as roupas empoeiradas de trabalho. Correu todo o caminho
até a igreja e não tinha tido tempo para escovar os cabelos ou lavar a sujeira do rosto e
das mãos.
A matrona tocou a ponta de prata de sua bengala no chão a fim de silenciar a todos. —
Moça, por que na terra devemos tomar sua palavra? Você não é nada mais do que a
assistente do construtor do órgão. Tudo o que tem feito é dar desculpas para as
ausências de seu padrasto.
Trêmula, Sophia deu um passo em direção à mesa comprida. — Peço desculpas por
minhas mentiras, e sempre as lamentarei. Ela mexeu os dedos. — Posso não saber tanto
como Ivan Alexandrovich, mas sei sobre este órgão. Construí a maior parte com minhas
próprias mãos e posso terminá-lo.
A Sra. Dalrumple zumbia os dedos sobre a mesa. — Nós gostaríamos de acreditar em
você, Srta. Petranova, mas que garantia temos de que você não vai sair como o seu
padrasto?
O reverendo Nelson virou-se para a Sra. Dalrumple, o corpo tenso com a esperança. —
Posso dizer por experiência em primeira mão, que a Srta. Petranova trabalha duro,
levanta antes do nascer do sol na maioria dos dias. E nós não temos nada a perder.
Anderson Organ Builders já disse que não pode mandar alguém aqui por várias semanas.
Qual seria o prejuízo se dermos outra chance a Srta. Petranova?
Claire olhou para o irmão e, em seguida para Sophia. — Eu voto por dar apoio à Sophia,
e Sra. Dalrumple, Dora está contando que o órgão esteja pronto para o musical.
A Sra. Dalrumple tocou o camafeu em seu colarinho. — Todo mundo está vindo para
ouvir Dora cantar.
O Sr. Richmond empurrou seus braços em seu casaco. — Não se deixe enganar como
minha irmã, Sra. Dalrumple. A Srta. Petranova é melhor em vender do que em entregar.
Eu não quero o seu fracasso por não refletir seriamente em você ou Dora.
— Eu realmente admiro Dora, disse Sophia. — Ela tem sido boa para mim e quero que
ela seja bem sucedida, e seja a grande estrela da temporada de férias.
A risada de Richmond foi baixa, amarga. Olhou para a Sra. Dalrumple. — Seja inteligente.
Ela vai fazer de você uma tola!
Nelson inclinou-se para a Sra. Dalrumple. — Se eu pudesse votar, daria uma chance à
Sophia, Sra. Dalrumple. Acredito nela.
A mulher mais velha olhou para Nelson. — Eu poderia estar disposta a dar-lhe uma
chance, mas quero garantias.
Richmond apertou as palmas das mãos sobre a mesa e inclinou-se para frente. — E onde
está indo morar a Srta. Petranova enquanto faz esse trabalho? Já perguntou isso a ela?
A Sra. Dalrumple virou-se para Sofia. — Existe algum problema com o seu quarto?
O desafio nos olhos de Richmond disse-lhe que sabia mais sobre sua situação do que ela
mesma. Provavelmente, Ivan não tinha pago o aluguel e tinham sido expulsos. Não seria
a primeira vez que tinha sido jogada fora nas ruas. — Não preciso de muito. Uma sala
na igreja, talvez...
A Sra. Dalrumple franziu a testa. — Isso não é adequado, minha cara.
— Será só por alguns dias, —disse Sophia combatida.
Nelson ergueu um dedo, como se uma ideia lhe ocorresse. — Uma cama pode ser
encontrada. Ela poderia dormir em meu escritório.
Sr. Richmond pegou o braço de Sophia. Seu aperto era gentil, mas inquebrável. — Isso
é ridículo. Ela não pode viver no gabinete de Nelson. Vamos enfrentar, isso acabou!
— Eu tenho uma ideia! — Claire disse, movendo-se para Sofia.
O brilho glacial de Richmond teria intimidado o mais poderoso general de batalhas. —
Agora não Claire.
Claire enfrentou seu irmão como se não tivesse falado, e disse: — A Srta. Petranova
poderia ficar com a gente!
Sophia silvou uma respiração afiada. A expressão de Adam era assassina.
Claire ignorou os dois e virou-se para a Sra. Dalrumple. — É realmente a solução perfeita.
Nós temos abundância de quartos e nossa casa está a apenas quatro quarteirões da
igreja. E Adam pessoalmente pode manter um olho na Srta. Petranova.
A Sra. Dalrumple assentiu. — Isso soa como uma boa ideia.
A face do Sr. Richmond escureceu-se. — Claire, você foi longe demais.
Sophia puxou o braço do aperto de Adam. Atrás da raiva nos olhos de Adam Richmond,
Sophia viu outra coisa. Desejo emaranhado de preocupação. — Isso é amável, mas posso
conseguir outro lugar.
Claire colocou-se entre Sofia e Richmond. — Qualquer quarto que você encontrar, é
provável que seja na parte mais áspera da cidade. Ficar com a gente é a solução perfeita.
Ela ergueu o queixo. — Obrigada, mas eu conseguirei.
Claire colocou a mão de Sofia na dobra do seu próprio braço. — Srta. Petranova, posso
chamá-la Sophia?
Sophia podia ver a armadilha a ser criada, mas não sabia como se livrar dela. — Claro.
Claire acariciou a mão de Sofia. — Sophia, a igreja está fora de questão, você não tem
tempo para encontrar outro quarto e certamente não pode dormir na rua. Diga que vai
ficar com a gente e acabe com essa discussão entediante.
O Sr. Richmond ficou rígido. — Não!
— Será só por alguns dias, —disse Nelson. As bochechas dele ficaram vermelhas, mas
não olhou para baixo.
Richmond cerrou e estendeu os dedos como se estivessem duros. — Não gosto de
estranhos em minha casa.
Claire lhe deu um olhar aguçado, direto. — Adam, você quer que este órgão seja
concluído ou não?
Richmond olhou Claire como se analisasse cuidadosamente o que iria dizer em seguida.
Palavras de Ivan voltaram à cabeça de Sophia. Richmond não queria que o órgão fosse
concluído. Por razões que Sophia não conseguia explicar, Ivan estava certo. Richmond
não queria que sua irmã soubesse que ele estava por trás desta trama.
— É claro que eu quero o fim disso, — disse calmamente Richmond.
Claire ergueu uma sobrancelha. — Então diga que sim.
Nelson sorriu. — São Martin será eternamente grato.
A mandíbula de Richmond apertou-se, afrouxou-se, e apertou-se novamente. — Tudo
bem, Claire, considere a Srta. Petranova sob meus cuidados. Mas entenda isso, Claire...
Agora eu fiz tudo que pude para ver este projeto terminado. Não coloque a culpa em
mim se ela falhar.
Claire sorriu. — Não sonho com isso.
A Sra. Dalrumple levantou-se. — Então, o assunto está resolvido. A Srta. Petranova vai
terminar o órgão na quarta-feira a tempo para o concerto de Dora.
O triunfo explodiu dentro de Sophia. Iria terminar o órgão, veria seu sonho de voltar
para casa se tornar realidade.
Então, levantou os olhos para Richmond.
Seu olhar era tão escuro quanto Satanás.
Capítulo 4

Sophia olhou para suas mãos quando a porta da sala de reunião fechou-se atrás dela.
Estavam tremendo.
Se não quisesse terminar esse trabalho tão bem, teria recusado definitivamente a oferta
de Claire. Mesmo agora, perguntava-se como poderia viver sob o teto de Adam
Richmond? Apenas o som de sua voz profunda e rouca puxava seus sentidos e lembrava-
a dos desejos ocultos que nunca se permitiu conhecer.
Sophia havia morado em casas decadentes em grande parte nos últimos seis anos. Tinha
ouvido bastante de conversas obscenas relatando sobre o que acontecia entre um
homem e uma mulher que se uniam. Na verdade, nunca compreendeu todo o alarido
sobre orgulho ou por que as mulheres se davam aos homens, quando no fim sua única
recompensa era mágoa.
Muitos homens tentaram persuadi-la a acompanhá-la a sua cama, mas rechaçou-os sem
um segundo pensamento. No entanto, estas últimas semanas, quando Adam Richmond
caminhava em uma sala sua pele formigava, assim conheceu o que era a verdadeira
cobiça.
Suspirando, Sophia abriu as portas duplas que levavam ao santuário da igreja. A sala de
pedra maciça era finamente construída, como se seu construtor ousasse o céu a
derrubá-la. Forrada em estilo militar, ladeada por bancos do lado esquerdo e direito e
adiante um púlpito esculpido em cerejeira.
Ela fez uma pausa na pia batismal localizada na parte de trás da igreja. Passando a mão
sobre o mármore branco, sorriu confortada. Não precisava ver a base da fonte para
saber que gravada em pedra pura estava à simples frase — Rose e Eudora, nas mãos dos
anjos. Descobriu as palavras apenas alguns dias após começar o trabalho. A fonte
sempre a enchia de paz.
Endireitou os ombros. Apenas quatro dias e três noites a permanecer até que o órgão
estivesse concluído. Tempo suficiente, mesmo para um aprendiz, afinar o órgão, e muito
pouco tempo no grande esquema da vida. Conseguiria viver na casa de Richmond. Tinha
ouvido falar que tinha dezessete quartos e corredores que se estendiam por vários
quilômetros. Espaço suficiente para garantir que nunca mais visse Adam Richmond.
— Alguns dias não são nada, —murmurou. Em poucos dias, o órgão estaria terminado,
ela teria dinheiro suficiente para voltar para a Rússia e Adam Richmond não seria mais
do que uma memória distante.
Estranhamente irritada, mudou seu foco para o órgão de dez metros de largura.
Localizado atrás do altar, o órgão tinha sido transportado pela cidade em cinco caixas
diferentes. Devia ter tomado apenas uma semana para montar, mas com as ausências
de Ivan, o ritmo do conjunto tinha diminuído a velocidade para um rastejar.
Agora, enquanto olhava para o magnífico instrumento, esqueceu todos os problemas e
cedeu ao orgulho. Saboreando o cheiro de óleo de linhaça, admirava sua obra. Logo, sua
criação viria à vida e cantaria como nenhum outro.
Expelindo uma respiração, Sophia começou a descer o corredor central, inclinando-se
reverentemente ante o crucifixo pendurado por trás do altar. Encolheu os ombros
retirando o casaco, um rejeitado de Ivan, e colocou-o sobre um banco vazio.
Ainda havia um par de horas de luz a aproveitar. Não muito tempo, mas o suficiente
para começar. Sophia foi em direção ao órgão quando, fora, no corredor, ouviu o riso
das crianças. Sorrindo, saboreou o som de vozes inexperientes, entusiasmadas. Sabia o
nome da maioria das crianças e tinha gostado de ver-lhes praticando para o concurso
de Natal.
A chegada deles a levou para longe de sua tristeza. Olhou para frente esperando
ansiosamente o ensaio da tarde. Quando a grande porta do corredor se abriu, ela virou-
se com um sorriso no rosto, pronta para receber as crianças.
O Sr. Richmond estava na porta sozinho. Sua presença devorava-a, seu olhar escuro,
fechou a distância entre eles. Seu sorriso derreteu.
— Você estava esperando alguém? —disse ele.
Ela alisou suas calças com mão trêmula. — O coro das crianças, — disse ela com um
encolher lento de ombros.
— Mandei-os para a capela de modo que não seremos perturbados.
A sensação de tremor correu pelo seu corpo.
— Nós?
— Temos muito a discutir. — Richmond moveu-se pelo longo corredor, seu ritmo lento
e preciso. Seu olhar permanecia sobre ela durante o que pareceram horas, mas é claro
que foram apenas um ou dois minutos. Sua carranca aprofundou-se.
Ela tinha sido tola de pensar que ele iria permitir esta pequena vitória.
— Já discutimos o órgão.
— A comissão discutiu o assunto. Agora é nossa vez.
Ele sentou-se em um banco, cruzando os braços sobre o peito.
Suas mãos tremiam e ela empurrou-as em seu bolso.
— O que mais há para dizer?
Seu sorriso era ligeiramente zombeteiro.
— Este órgão é importante para você, não é?
— Sim.
Richmond não era um homem propenso a conversa fiada. Sentiu-se numa armadilha.
— A que ponto você deseja fazer isso? —Sua franqueza parecia agradá-lo. — Quão
importante é o pagamento que você vai receber a partir deste trabalho?
Ela congelou. — Muito.
Ele levantou uma escura sobrancelha.
— É o pagamento mais importante que o órgão?
A armadilha estava se definindo.
— Vejo o ponto agora. Dinheiro versus orgulho. Essa é uma batalha muito antiga, Sr.
Richmond.
O sorriso sumiu de seu rosto.
— Um sempre tem que ser o vencedor.
— Sim. — Um gosto amargo revolveu-se em sua boca.
— E se você tivesse que escolher entre o orgulho e dinheiro, Srta. Petranova?
Ela deu um passo em direção a ele.
— Estes últimos anos, muitas vezes menti para proteger Ivan. Odiei cada momento
disso. — Sua voz era firme, mas interiormente queria chorar. — Hoje, quando fiz uma
promessa para sua irmã, o reverendo Nelson e a Sra. Dalrumple, falei de coração, a
verdade. Não vou quebrar minha palavra.
Adam levantou-se do banco. As abas de seu casaco preto ondearam suavemente
enquanto se movia na direção dela. Sândalo misturado com o seu próprio perfume
masculino. — Vamos agora, Srta. Petranova, seremos só você e eu. Nenhuma comissão
para impressionar. Pode ser honesta comigo. Você não se importa tanto com este órgão.
Você se preocupa com o pagamento. Você quer voltar para casa, não é?
Ele estava apertando uma corda em seu pescoço e ela não sabia como escapar. — Eu
daria qualquer coisa para voltar para casa.
Inesperadamente, ele pegou a mão dela na sua e virou-a. Lentamente, traçou as linhas
da palma de sua mão e circulou seus calos. — Admiro você, Sophia.
Seu toque acendeu-lhe o desejo. — Você não está aqui para me dizer isso.
— É verdade, no entanto... vi você lutando por este projeto. Assisti como você
trabalhava tão duro igual aos outros homens, para ver este órgão acabado.
O fato de que ele tinha notado deixou-a contente. No entanto, não era cega. Ele estava
manipulando-a.
— Não vamos jogar, Sr. Richmond. Está tarde e estou cansada. O que você quer de mim?
— O que eu quero? —Ele ficou em silêncio por muito tempo, tanto que ela achou que
não iria ou poderia responder. Então se inclinou para a frente a alguns centímetros de
seus lábios.
— Não é o tipo de coisa que um homem fale em uma igreja.
Sua voz denotava nervosismo, o que lhe causou arrepios que ondulavam por toda sua
pele. — Diga-me.
— Desde o primeiro dia que te vi na oficina, imaginei a cena umas cem vezes. Seu cabelo
preto fluindo sobre almofadas de cetim, a luz bruxuleante de velas sobre seus seios e
quadris nus.
O som de seu próprio sangue martelava em seus ouvidos. Nunca tinha experimentado
tanto desejo. Loucura! — Sr. Richmond...
Ele acariciou a parte inferior do queixo com a junta de seu dedo.
— Quero te beijar.
— Não! —Sim. Inglês misturado com russo, o sentido comum guerreando com o desejo.
Sua mente gritava-lhe avisos, ele está brincando com você como se brinca com uma
marionete. Ainda assim, ela não conseguia se mexer.
Ele traçou o desenho de seu queixo com um dedo. O céu tinha que ajudá-la, ela queria
beijá-lo. Apenas uma vez. Sem pensar, fechou os olhos e inclinou a cabeça para cima na
expectativa de prová-lo.
Os próximos segundos esticaram-se como horas, conforme ela esperava. Levou uma
batida extra para perceber que ele tinha dado um passo atrás. Preocupação, um mal-
estar floresceu em sua alma, raspando todo seu nervosismo.
Então, abriu os olhos e viu o sorriso arrogante no rosto.
Sophia sentia-se como se alguém tivesse despejado água gelada em seu casaco. Ele
estava brincando com ela como se ela fosse uma menina tola. Desejava com toda sua
alma derreter-se no chão.
Sr. Richmond colocou a mão no bolso do peito e retirou uma pequena carteira.
— Não se engane, Sophia. Eu quero você. Mas aprendi há muito tempo que desejo vem
depois da ambição.
Seu rosto inflamou-se. — Deixe este lugar.
— Não até que você me ouça.
— Não quero nada de você.
— Isso não acontecia há pouco, — disse ele, sua voz rouca agora.
— Saia! —Sua voz ecoou pelas altas paredes de pedra.
— Vou pagar-lhe três vezes seu pagamento se você arrumar suas malas e deixar Denver
hoje.
Ela se encolheu. — Não quero seu dinheiro.
Contou mais dinheiro. — Cinco vezes o seu pagamento. Você pode voltar para casa em
grande estilo.
Ele lhe ofereceu mais dinheiro do que ela conseguiria nos próximos dois anos. Se
cedesse, poderia estar no próximo trem para a Califórnia, comprar passagem de
primeira classe para a Rússia e uma pequena casa perto de São Petersburgo.
E o reverendo Nelson, Claire e a Sra. Dalrumple? Ivan tinha-os decepcionado tantas
vezes com suas promessas quebradas, como ela poderia fazer isso para aqueles que
tinham sido tão gentis com ela? — Fique com o seu dinheiro, Sr. Richmond. Só quero o
que me é devido quando o órgão estiver terminado.
Seus olhos endureceram-se. — Uma vez que minha oferta está sendo recusada, lhe
informo que não a farei novamente.
A ideia de recusar tanto dinheiro deixou-a tonta. — Ótimo! Você estaria perdendo o seu
tempo e o meu, se o fizesse novamente.
Por um instante, viu um lampejo de respeito.
Mas no momento seguinte, o mais rapidamente possível derreteu-se como neve em
agosto e tudo o que restou foi a frustração queimando em seus olhos. Ele empurrou as
notas dentro de sua carteira. — Você é uma tola, Srta. Petranova.
Ela deu um pequeno sorriso. — Meu padrasto dizia isso com suficiente frequência.
Com a comparação, sua expressão gelou.
Ela olhou para ele. — Diga-me uma coisa, Sr. Richmond, por que ter o trabalho de me
subornar? Por que não falou de imediato?
— Tenho minhas razões. — O brilho em seus olhos sugeria que suas palavras tinham
atingido-lhe um nervo cru.
— Ivan me disse que queria que o reverendo Nelson fosse demitido.
— Você está pisando em terreno perigoso, Sophia.
— Terreno perigoso? — Lembrou-se da maneira que estava, pronta para se entregar a
ele. — Talvez você esteja certo.
— Não há mais nada entre nós. —Suas palavras foram tão intensas como o aço.
Ele virou as costas e começou a descer o longo corredor. Drenada de toda a energia,
entorpecida viu-o sair. Quando ele passou pela porta, seus joelhos dobraram e ela
sentou-se no primeiro degrau que conduzia ao altar. Seu coração martelava em seu
peito e ela embalou sua cabeça em suas mãos. — Quando tudo ficou fora de controle?
— A propósito, Sophia, — a voz profunda de Richmond dilatou sua dor de cabeça.
A cor tomou todo seu rosto e ela levantou-se, envergonhada que ele vislumbrasse seu
medo.
Seu olhar fechou-se sobre ela. — Servimos o jantar às seis e meia em minha casa.
Capítulo 5

Quatro horas mais tarde, Adam olhava pelas janelas altas, listradas com geada e neve
na noite escura. Descobriu que era impossível concentrar-se em negócios ou lutar para
livrar-se dos nós que apertavam os músculos das costas.
Tudo porque Sophia estava atrasada.
Amaldiçoando, moveu-se para uma pequena mesa onde guardava suas garrafas de
uísque. Preenchendo um copo de cristal, ergueu-o aos lábios, e, em seguida,
percebendo que não tinha gosto por bebidas alcoólicas, virou o vidro para baixo. Olhou
para o relógio no manto.
Seis e cinquenta e três.
Onde diabos Sophia estava?
Nelson trancava a igreja todas as noites, ao pôr do sol, assim Sophia não poderia ainda
estar trabalhando no órgão. Em bom tempo, a caminhada entre a igreja e sua casa
durava dez minutos. Nesse tempo, poderia ser o dobro. Mesmo tendo em conta uma
parada ao longo do caminho, ela agora já deveria estar por aqui.
A não ser que não viesse.
Pegou o copo de uísque, drenando o conteúdo, estremecendo quando este queimou
sua garganta.
Adam não tinha intenção de falar-lhe com tanta franqueza hoje. Nem tinha esperado a
sua resposta.
Mas estava frustrado, uma vez que a reunião não tinha saído conforme tinha planejado.
Quando a viu sozinha na igreja, uma dor queimou sua barriga. Nunca quis uma mulher
como a queria.
Então, tinha falado o que vinha a sua mente, meio que esperando que se expressasse
seu desejo, a decisão dela enfraqueceria sob a influência dele.
Não havia dado certo.
Sua franqueza tinha alimentado o fogo em seu estômago. Seja o que for que tinha
estado segurando-o, mantendo-o em seu controle quase desapareceu quando ela
fechou os olhos à espera de seu beijo.
E ele afastou-se dela.
Uma decisão pela qual iria arrepender-se por muito, muito tempo.
Maldição!
Não queria que Sophia terminasse o órgão, mas não era um monstro. Não queria que
nenhum mal se abatesse sobre ela.
Ele enfiou os dedos pelo cabelo cortado curto e caminhou de volta para a janela. A
temperatura tinha mergulhado abaixo de zero e a tempestade agravava-se a cada hora
que passava.
Cinco minutos mais.
Concederia mais cinco minutos e, em seguida, chamaria sua carruagem. Repassaria a
extensão de estrada que liga sua casa até a igreja. Se ela não estivesse lá, ia andar para
a décima quarta rua passando pela pensão.
Duas vezes maldição!
O relógio do avô, no corredor badalou sete vezes. Virou-se, pronto para chamar seu
mordomo para buscar seu casaco, quando uma batida forte na porta ecoou pela casa.
No instante em que o mordomo abriu a porta o ar de repente tornou-se carregado. Uma
emoção pulsava através do corpo de Adam. Sabia que Sophia tinha chegado.
Adam aproximou-se da porta do escritório, que estava entreaberta. Tinha uma visão
clara de Sophia vestida de casaco de pele de carneiro apertado na cintura. Ela puxou um
lenço molhado da cabeça, revelando fios de cabelo preto azulado grudado na testa. Seu
rosto estava vermelho, mas seus lábios tinham um tom azul.
— Srta. Petranova? — disse seu mordomo, Fritz. O homem tinha forte sotaque e
maneiras contundentes, e muitos hóspedes tinham reclamando de seu comportamento
rude e hostil. O mordomo era alto, de constituição magra, cabelos grisalhos e roupas
frisadas adicionados a seu místico cabideiro de peixe.
Mas Fritz era leal. Fazia seu trabalho com eficiência indefectível e Adam tinha decidido
há muito tempo que não estava interessado em receber estranhos em sua casa de
qualquer maneira.
— Sim. — Sua voz era clara, hesitante.
— Está atrasada.
Sophia sorriu a Fritz. — Você tem sotaque. Alemão?
Fritz olhou-a surpreso. — Sim.
Sophia respondeu em alemão, fazendo-lhe algumas perguntas às quais ele respondeu.
Adam não perdeu a dica de surpresa na voz de seu mordomo.
Fritz parecia gostar de conversar em sua língua nativa. Sofia fez-lhe várias perguntas.
Pelo tom de abrandamento do mordomo, Adam supôs que o homem tinha caído sob o
feitiço de Sophia.
Uma sacudida selvagem de ciúme atravessou o corpo de Adam. Queria saber quantos
homens haviam caído presos aos olhos de safira e voz melódica de Sophia. Ao longo dos
anos acompanhou dezenas de mulheres de pele suave para sentir falta, mas nunca se
sentiu tão protetor ou lascivo sobre uma mulher. Adam entrou no saguão.
— Fritz, foi a nossa convidada que chegou?
Todos os vestígios de bom humor desapareceram da face de Fritz. Pegou eficientemente
o casaco de Sophia e colocou-o sobre seu braço. — A Srta. Sophia Petranova chegou,
senhor.
Sophia ainda usava as calças e camisa solta amarrada em sua cintura fina. Cada vez que
Adam a via de calças e a forma como elas moldavam seus quadris, ficava rígido. Tentou
imaginar o gosto de seus lábios e a sensação de seu seio macio, flexível em sua mão.
Sophia pareceu sentir seus pensamentos. Seu rosto ficou vermelho, mas ela não deixou
cair seu olhar. — Sr. Richmond.
— Bem-vinda, Srta. Petranova. Estava começando a me perguntar se você iria chegar.
— Tive que voltar à minha casa e recolher meus pertences.
Ele notou a pequena bolsa a seus pés. — Você não gostaria de entrar em meu escritório?
Ela hesitou. — Não quero incomodá-lo.
Ele atravessou o vestíbulo e tomou seu cotovelo. — Não há nenhum problema. Gostaria
de ter uma palavra com você.
Sophia pegou a bolsa, mas Fritz acompanhou-a, seus dedos de lado. — Posso ficar com
isso?!
— Sou capaz de gerenciá-lo, — disse Sophia.
Fritz olhou-a ofendido. — Não seja absurda. Colocarei isto em seu quarto.
Sophia franziu a testa, como se a ideia de ficar aqui ainda não a agradasse. — Obrigada.
Enquanto seguia Sophia para a biblioteca, Adam percebeu que tinha perdido o equilíbrio
novamente. Mesmo com o frio uivando lá fora, sentiu-se quente. Imaginou-se a enfiar
os dedos pelos cabelos pretos de Sophia e desabotoar a fileira de botões entre os seios.
Adam sacudiu-se mentalmente. Seduzir Sophia não era o ponto desta reunião, ele
lembrou a si mesmo. — Sente-se perto do fogo. Aqueça-se.
Ela ficou tensa.
— Estou bem de pé.
Incomodou a Adam que ela estivesse nervosa com ele, assim esboçou um pequeno
sorriso, esperando que ela relaxasse.
— Não vou morder.
Ela olhou para ele como se estivesse tentando ler sua mente. — Disso, não estou tão
certa.
Apesar de si mesmo, riu. A mulher tinha espírito, o que o agradava ao invés de
incomodar. Serviu-lhe um conhaque e entregou-lhe. — Você está azul por causa do frio.
Não seria bom para ninguém se você pegasse um resfriado.
Olhou para ele um ou dois segundos mais longos, em seguida, mudou-se para a grande
lareira onde ardia um fogo. Colocou o copo sobre o aparador e estendeu os dedos longos
e delgados em direção às chamas, esfregando-os juntos. — Não achei que Denver tinha
tanto frio assim.
— Normalmente, isso não acontece. Quando chega, a neve geralmente não é mais que
uma varredura e não dura muito. —Colocou o copo intocado para baixo. — Talvez você
tenha trazido a neve com você.
Ela olhou para ele. — Você não me trouxe aqui para discutir o clima.
Franqueza era uma característica incomum na maioria das mulheres. Gostava disso em
Sophia. — Não.
Tinha um porte real.
— Então o quê?
— Família.
Seus olhos se estreitaram suspeitosamente. — Não entendo...
— Atrás de você, sobre o aparador, - disse ele. — Há uma caixa de laca preta. Abra.
Ela olhou-o pronta para ir embora. — Se isto é sobre dinheiro...
— Nenhum dinheiro.
Lentamente, levantou a caixa do tamanho da palma de sua mão. Traçou as flores de
madrepérola em relevo no topo antes de abrir a tampa. Dentro da caixa forrada de
veludo vermelho, havia um punhado de pedaços de metal derretido. — O que é isso?
A tristeza o perturbava. — Pedaços do último brinquedo que comprei para minha irmã.
— Claire?
— Rose.
Sua confusão era evidente enquanto tocava cautelosamente cada peça, em seguida, a
rigidez foi drenada de seus ombros. “Rose e Eudora, nas mãos dos anjos”. — Você
homenageou-as com a fonte na igreja.
Ele percebeu que ela tinha notado a inscrição da fonte. A maioria das pessoas não a
percebiam. — Ela morreu há doze anos em um incêndio em casa. O que você tem em
sua mão é o meu último presente de Natal para ela. Eles caíram do meu bolso quando
entrei para salvá-la. E isso é tudo o que me resta dela.
— Por que você está me dizendo isso?
— Assim você irá entender... —O fogo crepitou e estalou. Um tronco caiu para trás
enviando um turbilhão de faíscas pela chaminé. — Trouxe minha família para Denver
depois que meu pai morreu de cólera, de modo que eu pudesse construir minha fortuna.
Havia pouco deixado na Virgínia depois da guerra e precisávamos de um novo começo.
Trabalhei longos dias na fábrica de tijolos. Minha mãe recolhia a roupa lavada e estava
cuidando de Claire e Rose.
— Houve um incêndio terrível. — Ele engoliu em seco, sentindo sua garganta tão crua
quanto esteve há muito tempo, naquele dia que respirou fumaça demais. — Muitas
casas foram destruídas. Consegui levar Claire para fora, e voltei para a casa em chamas.
Puxei minha mãe para fora, mas não consegui encontrar Rose. Mamãe morreu em
poucos minutos chorando por seus filhos.
Sophia devolveu a caixa sobre o aparador sem falar. Uma lágrima escapou e ela
bruscamente a limpou. — Eu realmente sinto muito pela sua perda.
— Claire é a única família que tenho. Faria qualquer coisa para protegê-la.
Seus olhos suavizaram-se. — Você gosta dela. Eu entendo.
Fez uma pausa, sabendo que agora assumia um grande risco. Não era um homem que
gostava de revelar suas cartas antes que tivesse que fazer. — O que você não entende
é que Claire quer se casar com Nelson.
Seus lábios apertaram-se. — Ele é um homem bom e gentil.
Adam jurou sob sua respiração. — Ele é fraco. Não pode protegê-la.
Sua longa pausa sugeria que ela não concordava. — Sua irmã é uma mulher forte.
— Ela merece algo melhor, — disse ele firmemente.
Ela não se mexeu, mas ele viu à rigidez retornar a seus ombros. Sem ter que dizer alguma
coisa, ela entendeu o caminho do pensamento. — E se o órgão não for terminado, o
reverendo Nelson vai ser ultrapassado. Terá que sair de Denver para encontrar outro
emprego.
Tão perceptiva, ele pensou. — Este órgão foi transformado em uma espécie de teste
estabelecido pela sacristia da igreja de Nelson. Querem saber se ele é um homem capaz
de construir esta igreja, fazer as coisas acontecerem. Ele inclinou-se em sua direção. —
Se o órgão não for terminado, ele não será contratado como ministro permanente.
Ela recuou como se precisasse aumentar a distância entre eles. Suas palavras tinham
quebrado a breve ligação. — Por que você não confia em sua irmã para tomar as
decisões corretas?
— Eu sei o que é melhor.
Ela balançou a cabeça. — Você não lhe dá crédito suficiente. Claire não é uma dessas
meninas bobas, cuja cabeça é transformada por bajulação.
— Como você sabe alguma coisa sobre Claire?
Ela encolheu os ombros. — Sou invisível para as pessoas quando trabalho. Eles veem o
órgão, Ivan, às vezes, mas nunca a mim. Isso me dá uma chance de observar as pessoas.
Claire lida com exigentes mulheres de idade, a sacristia, o coro de crianças até com
facilidade. Não precisa de sua proteção.
Ele fechou a distância entre eles.
— Você amava sua mãe?
Sophia recuou.
— Claro.
Ele agarrou seu pequeno pulso, espantado com a força que irradiava dela. — Você teria
feito qualquer coisa por ela?
Ela ergueu o queixo. — Sim.
Ele queria desesperadamente alcançá-la, fazê-la entender. — Não sou diferente de
você. Tudo que quero é proteger a minha família. Afaste-se do órgão, Sophia. Você será
bem paga por seu tempo. Nelson sairá e Claire estará segura.
— Você está errado em tudo isso, Adam Richmond. Você a segura muito forte e precisa
deixá-la ir.
Ninguém tinha lhe falado com tanta franqueza, em muitos, muitos anos. Não tinha
certeza se gostava ou não. — Você vai me ajudar ou não?
Ela ficou em silêncio por tanto tempo, que ele se perguntava se ela tinha ouvido o que
ele tinha dito. — O órgão será finalizado.
Este jogo que estavam jogando estava ficando muito velho agora. — Cruzar o meu
caminho é um erro, Sophia.
— Então você deve adicioná-lo à minha lista de muitos.
Antes que ele pudesse disparar de volta uma resposta, ela virou-se e saiu da sala com a
graça de uma princesa.
Capítulo 6

Os joelhos de Sophia tremiam ligeiramente enquanto seguia Fritz na subida às escadas


minutos mais tarde. Lembrando dos olhos cinzentos, brilhantes, selvagens, raivosos de
Adam, perguntou-se como seria puxar um tigre pela cauda. A pergunta era: será que
teria força para lutar com Adam Richmond ou seria mais sensato simplesmente largar
tudo e fugir?
Ela não tinha medo dele. Sua raiva era uma parte de sua natureza apaixonada. Ele era
um homem que lutava por si próprio. Isso, ela entendia.
Não, o que a preocupava agora era muito mais profundo, muita mais que sua lealdade
a Ivan, Claire e ao órgão de tubos. Agora, estava preocupada com seu coração.
Se Adam tivesse permanecido o homem frio e ambicioso que tinha tentado comprá-
la mais cedo hoje, tudo teria sido simples.
Mas quando segurou o presente de Rose em sua mão e sentiu o calor do corpo de Adam
próximo ao dela, percebeu que sob o gelo bate o coração de um homem que
compreendia sua família.
Sophia pensou em seu órgão de tubos. Sua obra-prima. Seu orgulho. Seu caminho para
casa. O que começou como algo tão simples, agora estava emaranhado e confuso.
Sua cabeça martelava. Passou por uma cadeira rainha Anne no corredor no andar de
cima, atapetada em seda rica. — Sr. Richmond não me parece como um homem que
goste de uma casa tão agitada, — disse ela em alemão a Fritz.
— Ele construiu isso tudo para a Srta. Claire, — o mordomo disse.
Sophia viu um retrato de Claire, ossos pequenos e tão adorável. — Ele se preocupa com
ela.
Fritz parou em frente a uma porta de carvalho maciço, virou a alça de bronze e empurrou
abrindo-a. — Ela é sua vida.
Invejava Claire. Tinha passado muito tempo desde que tinha família para preocupar-se
com ela. — Ela não é mais uma criança.
Fritz assentiu. — Sr. Richmond não figurou completamente isso ainda. Mas logo suspeito
que ele não será mais capaz de negá-lo.
— Ela é obstinada, não? — Fritz permitiu um pequeno sorriso enquanto abria a porta do
quarto. — Para dizer o mínimo.
A resposta de Sophia ficou presa em sua garganta com a visão do quarto luxuoso. A
enorme cama de dossel, que era maior do que muitos dos quartos em que tinha ficado,
ocupava apenas uma pequena parte da sala. Coberta com uma colcha de seda marfim
bordada com centenas de rosas brancas e lilases, a cama parecia mais macia do que
zibelina.
— Este não pode ser meu quarto, — disse ela. — Pensei que ia ficar no quarto dos
empregados.
Fritz parecia um pouco ofendido. — Este é seu quarto.
Reverentemente, moveu-se pelo quarto. Com dedos trêmulos, tocou o cobertor. Tanto
luxo. A opulência como esta tinha sido uma parte do seu mundo quando era muito
jovem, mas tinha quase esquecido que tal vestuário elegante existia.
Lágrimas vieram aos olhos de Sophia quando pensou em sua mãe e os últimos anos
marcados pela pobreza. Teria feito tudo para evitar seu sofrimento. Qualquer coisa.
Como ela, Adam faria qualquer coisa para proteger sua irmã Claire.
Olhou para cima e viu seu reflexo em um espelho dourado. Quase não reconheceu a
mulher que lhe olhava fixamente. Onde a menina despreocupada de São Petersburgo
tinha ido? Tragou a tensão em sua garganta.
Fritz moveu-se, deslocando-se através de portas que levavam a um quarto de vestir.
Duas empregadas já estavam no quarto enchendo uma grande tina de metal, emitindo
vapor de água quente. Doía-lhe por ficar de molho na água quente e livrar sua mente
das preocupações.
Sua alegria foi de curta duração, no entanto, quando lhe ocorreu que Adam Richmond
nada fazia sem uma boa razão. Cada movimento era calculado. — Por que este quarto?
Fritz levantou uma sobrancelha. — Ele se conecta ao dele.
A ideia de permanecer em um quarto ao lado de Adam ao mesmo tempo a horrorizava
e animava.

Sophia virou-se e virou-se até meia-noite. Cada rajada de vento lá fora, cada rangido da
casa aumentava sua tensão, enquanto olhava para a porta de ligação com o quarto de
Adam. Ele não se atreveria a entrar em seu quarto. Será que se atreveria? Não importava
o quanto tentasse livrar sua mente de imagens, não conseguia parar de perguntar-se
qual seria a sensação de ter Adam Richmond perto, o corpo musculoso ao lado dela na
cama. Ou sentir seus lábios beijando seu pescoço.
O sangue de Sophia pulsava. A respiração presa na garganta.
Claro, ele nunca veio.
E ela acordou com um sol brilhante e uma dor de cabeça atormentando-a.
— “Como uma tola", — sussurrou enquanto rolava na pelúcia da cama. Querer Adam
Richmond, um homem que estava entre ela e seu sonho, era uma loucura.
Uma breve batida soou em sua porta. Semicerrando os olhos contra a luz do sol, deixou
o cotovelo visível alguns segundos antes de Claire entrar repentinamente em seu
quarto. Seu cabelo dourado estava preso em um nó no topo de sua cabeça e ela usava
um vestido de lã verde ajustado com mangas largas e guarnecidos com um cordão
marfim. — Bom dia, Sophia! Espero que tenha dormido bem.
Tímida, Sophia sentou-se ereta. — Desculpe minha preguiça, — disse ela. — Nunca
dormi até tão tarde.
Claire acenou longe sua preocupação. — Você tem direito. Pela aparência das olheiras
sob seus olhos, eu diria que você não teve uma noite de sono decente nos últimos anos.
Sophia lembrou-se de sua reflexão. — Passou-se um longo tempo desde que dormi em
uma cama.
— O reverendo Nelson me disse onde você estava hospedada antes de chegar aqui. —
Ela estremeceu. — Sei em que parte da cidade ficava. É uma maravilha que você
conseguisse dormir.
Empurrou uma mecha de cabelo de seus olhos. Após a conversa dela com Adam na noite
passada, não sabia o que dizer para Claire. Uma parte dela queria avisá-la. Outra parte
preocupava-se que Adam podia estar certo. — Em muitas noites, eu dormi com um olho
aberto.
Claire estudou o céu nublado. — Bem, você está segura agora.
Balançou as pernas para fora da cama. — Ainda está nevando?
Claire se afastou da janela. — Não, e espero que não neve mais.
Sophia levantou, envolta em um cobertor sobre a camisola puída e caminhou até a
janela.
Ajustou seu foco no passado, olhando o vidro fosco, com a neve recente, em seguida,
para o céu, espesso e escuro. — Teremos mais neve antes do anoitecer. Posso sentir o
cheiro no ar.
Claire suspirou. — Maravilhoso. O Natal deixa Adam tão mal humorado. A neve o torna
pior.
— Por quê?
— Porque mamãe e Rose morreram na véspera de Natal. — Claire sacudiu a cabeça,
como se a banir as imagens da memória. — Sempre digo ao reverendo Nelson que por
baixo do exterior áspero de Adam existe o coração de um homem amável e generoso.
O coração de Sofia contraiu-se por ambos, Claire e Adam. — Você e o reverendo Nelson
são próximos?
Claire hesitou. — Somos bons amigos.
Sophia ouviu o puxão na voz da mulher mais jovem. — Acho que mais do que amigos.
Claire corou. — Sim.
— Ele é gentil, não?
Claire aproximou-se, o rosto brilhando de felicidade. — Nunca conheci um homem
melhor.
Amor. Sofia podia ver o amor brilhando nos olhos de Claire. Essa afeição era profunda.
Suspeitava que com ou sem o órgão ou o trabalho permanente em São Martin, Claire
amaria o reverendo Nelson.
Sophia entendeu a profundidade do interesse de Adam. Este tipo de amor tem o poder
de trazer jubilosa alegria e tristeza esmagadora.
Claire levantou a saia, como se a inspecioná-la. — Vi a maneira como você e Adam olham
um para o outro. Vocês são bons amigos também?
Sophia não confundiu o verdadeiro significado da pergunta. — Não.
— Há uma faísca, — disse Claire. — Vi a maneira como ele olha para você.
Sophia respirou fundo. — Eu o irrito.
Uma luz provocante dançava nos olhos de Claire. — Você o fascina. Ele nunca olhou para
outra mulher como olha para você.
A centelha de esperança irritou Sophia. — Na noite passada, ele me olhou como se
quisesse me estrangular.
Claire riu. — Eu não penso assim. —Então, de repente, apareceram linhas de expressão
entre os olhos dela. — Estou feliz, de poder haver algo entre vocês dois. Tinha medo de
que Adam ficasse sozinho. Então você veio.
Sophia lembrou-se do beijo por ele rejeitado e do dinheiro que lhe ofereceu para que
deixasse a cidade. Ela era simplesmente um obstáculo bloqueando Adam de seu
objetivo. — Eu perturbo o seu mundo puramente agradável, isso é tudo.
Claire riu. — Ele precisa que seu mundo seja perturbado por um longo tempo. Todos se
curvam para Adam. Mas você não.
Necessitando de mudar de assunto, Sophia voltou sua atenção para o vestido. — De
quem é isso?
— Seu, é claro.
Ela capturou um pedaço de seda entre os dedos e saboreou sua suavidade. — Não
entendo. Preciso ir à igreja e trabalhar hoje.
— É domingo. Quando vi o reverendo Nelson com a multidão ao amanhecer, ele disse-
me que estaria conduzindo os serviços durante todo o dia. A igreja está sempre muito
movimentada antes das férias. Você não poderá aproximar-se do órgão até amanhã.
A culpa picou Sophia. Tinha perdido toda a noção do tempo. — Você deveria ter me
acordado. Eu teria ido à igreja com você.
— Você precisava dormir para que seus olhos estivessem brilhantes para a festa.
— Festa? — Não poderia ir, mas o toque do vestido de seda era tão macio.
— Na casa dos Dalrumples. É a festa anual de Natal deles. Você foi convidada.
Tímida, Sophia largou a seda. — Não seria certo eu ir.
Claire começou a organizar anáguas e meias. — Você tem que ir. Você ama a música e
sei que você vai realmente apreciar este passeio. Ela jogou as meias de lado e tomou as
mãos de Sophia nas dela. — Por favor, diga que vai.
Sophia não soube como recusar. — Faz tanto tempo que não tenho tempo só para mim.
Claire sorriu. — Então está resolvido.
Sob o riso, a astúcia brilhou nos olhos de Claire. Tão parecida com seu irmão. — Não
estou acostumada a caridade.
Claire lançou fora sua preocupação. — Não é caridade. Estou simplesmente
emprestando-lhe um vestido para a tarde.
— Por que você me convidou para ficar aqui?
Toda inocência, Claire disse: — Porque Adam pode deixar de lado suas preocupações
sobre o órgão. Quero que ele te conheça melhor e veja que você é cascalho.
Sophia fez uma careta. — Cascalho? O que é isso?
— É um termo que minha mãe usava. Significa que você é dura, forte.
— Ah. — Na verdade ela não se sentia tão forte agora. Sentia-se sem rumo, assustada e
mais nostálgica do que tinha estado em anos.
— Ela teria gostado de você, — Claire observou.
— Sua mãe?
— Sim.
Sophia sentiu uma afinidade com Claire. Ambas perderam as mães em idades jovens. —
É difícil perder alguém tão próximo de nós.
Os olhos de Claire amoleceram e olhou-a como se quisesse dizer algo mais. Mas ao invés
disso, endireitou os ombros. — Diga que você irá.
Sophia pensou em música de amor. — Sim.
Claire apertou as mãos. — Excelente! Agora, temos de começar, você deve se vestir
rapidamente. Adam não é um homem paciente.
Até o som do nome de Adam fazia seus nervos saltarem. — Desculpe-me?
Claire foi até a porta, abriu-a, pronta para fazer uma rápida fuga. — Eu o persuadi a
juntar-se a nós hoje. Não é maravilhoso?
Capítulo 7

A próxima hora foi um turbilhão de atividade. Sophia teve pouco tempo para se
preocupar com Adam Richmond enquanto lutava com meias de seda, espartilhos e
camadas de roupas. Tinha sido criada como uma senhora, sim, mas os anos com Ivan
tinham-na deixado mais à vontade com roupas camponesas.
Quando o relógio no vestíbulo térreo bateu onze horas, Sophia estava vestida com uma
saia de veludo marrom com uma jaqueta combinando e chapéu parecido com os usados
nas grandes corridas de cavalos. Seu cabelo estava preso em uma estilosa coroa de
cachos preto azeviche e brincos de pérolas pendiam de suas orelhas.
Seus tornozelos vacilaram quando começou a andar com os sapatos de salto alto.
Resmungando uma imprecação em russo, concentrou-se em colocar um pé na frente do
outro. Seu próximo passo não foi melhor que o primeiro, mas enquanto movia-se pelo
corredor, seu passo ficava mais gracioso.
Então avistou Adam na parte inferior da escada. Magnífico. Vestido em um terno preto
costurado e sobretudo, movia-se para trás com precisão, cada passo transmitindo
confiança e propósito. Ela tropeçou.
Ouvindo-a, olhou para cima enquanto enfiava a mão grande em uma luva de couro.
Congelou e simplesmente olhou para ela.
Sofia sentiu a distância entre eles encolher. O intenso interesse dele provocou comoção
em seu estômago.
Ela tentou livrar-se da tensão e descer as escadas com tanta graça quanto podia contar.
Para seu grande alívio, não tropeçou novamente.
Quando chegou ao hall de entrada, Adam continuou a olhar, em silêncio. Lentamente,
ele caminhou em sua direção. Circulou-a, tomando seu tempo como se inspecionasse
cada detalhe de sua transformação.
Seus nervos vibravam, olhou para as saias. — Há algo de errado? Será que esqueci algo?
— Shh, — disse ele.
O calor queimava as bochechas de Sophia enquanto arrumava sua manga. Ao contrário
de ontem à noite, sua pele estava barbeada e ele cheirava a sândalo, tônico capilar e a
homem. — Claire me emprestou a roupa.
Sua voz soava áspera, instável. — Muito bem feito mesmo. Muito bem feito.
Desejo escurecia os olhos cinzentos de Adam. Todos os músculos de seu corpo
irradiavam com a consciência masculina.
Os dedos de Sophia doíam por tocá-lo. Tão difícil de acreditar nisto no princípio, que ela
não veria o gelo passando para o calor.
Todos os pensamentos da festa, Claire e do resto do mundo sumiram. Por uma batida
do coração, havia apenas Adam.
Fritz entrou no hall de entrada, um casaco na mão. Limpou a garganta. — A Srta. Claire
insistiu que vocês deviam partir ao meio dia. A neve poderá atrapalhar o tráfego, então
sugiro que saiam agora.
Adam não se moveu imediatamente. — Onde está minha irmã? — disse, seu olhar sobre
Sophia.
— A Srta. Claire teve que sair mais cedo. Algo sobre bebidas, — disse Fritz.
A atenção de Sophia aguçou-se. — Pensei que iríamos todos juntos.
Adam pegou o casaco de pele aparada que Fritz estava segurando e estendeu-o para
Sophia. Se ele ficou chateado, não mostrou nenhum sinal disso. — Minha irmã está
sempre cheia de surpresas.
Sophia deslizou os braços no forro de seda do casaco. O revestimento macio de baixo,
envolvendo-a.
Adam inclinou-se tão perto da orelha dela sussurrando. — Penso que nós
sobreviveremos a uma viagem de carruagem sozinhos, não acha, Sophia? — Humor e
desafio revestiam cada palavra.
— Isso depende. Qual esquema você tem hoje em sua manga? —respondeu.
Ele riu. — Por hoje, nenhum. Estou promovendo uma trégua. Essas afetadas pessoas da
sociedade significam algo para Claire e ela quer causar uma boa impressão, por isso
estou disposto a deixar nosso “probleminha” longe hoje. Além disso, é domingo e nada
pode ser feito sobre o órgão de tubos.
Adam pareceu anos mais jovem, quando riu.
— Eu ainda pretendo terminá-lo, — disse Sophia.
Ele sorriu, mas havia um brilho de aço em seus olhos. — Um dia de cada vez, Sophia. Um
dia de cada vez.
Adam guiou Sophia para a porta da frente. O vento frio de dezembro girava em torno
deles enquanto desciam os largos degraus de mármore em direção à carruagem.
Sophia afundou no assento de pelúcia. As paredes eram estofadas em veludo azul royal
e haviam cobertores macios, feitos da melhor pele de marta. Passou a mão sobre o
assento pensando nos anos que passou caminhando por quase todos os lugares.
A carruagem imergiu quando Adam subiu e tomou seu lugar em frente a ela. Seus
joelhos tocaram os delas enquanto sentava-se, em seguida, colocou um cobertor de
peles sobre seu colo.
O interior da carruagem era muito pequeno.
Adam bateu na lateral do carro, sinalizando ao cocheiro para dirigir. Em poucos
segundos, a carruagem movimentou-se, empurrando os joelhos de Sophia em
Richmond, em seguida estavam movendo-se.
Richmond observou-a por um longo momento, olhando seu rosto até que começou a
ficar vermelho.
Sophia puxou o cobertor de volta.
— Claire é uma casamenteira, temo.
Ele cruzou os braços sobre o peito.
— Como assim?
Ela encontrou seu olhar. — Ela acha que se me envolver em roupas extravagantes, você
de alguma forma sentir-se-á mais atraído por mim.
— Ela está errada.
Decepção rasgou seu coração. — Você não gosta do jeito que eu sou?
— Aprendi há muito tempo a olhar além da embalagem, não importa o quão seja bonita.
Um sorriso puxou seus lábios. — Eu iria querer-lhe mesmo se você vestisse sacos de
farinha.
Sophia não conseguia respirar.
Adam pegou sua mão enluvada na sua e traçou pequenos círculos sobre a palma da mão.
— Ouvi você passeando na noite passada...
Ela engoliu. — Você me colocou no quarto ao lado do seu. Como eu ia dormir? Você...
você poderia ter forçado a si mesmo em mim.
Seu rosto apertou-se com raiva, e ele deixou cair sua mão. — Nunca me forcei a qualquer
mulher, e quando você vier para minha cama, virá disposta e querendo.
Sua boca estava seca, os lábios ressequidos. — Talvez depois que o órgão estiver
concluído, poderíamos passar o tempo juntos.
— Quero passar mais tempo com você agora. Se pudéssemos fazer as coisas do meu
modo, esta carruagem faria o retorno e iríamos direto para minha casa. Passaríamos a
tarde na cama e não haveria conversa.
A ideia de deitar ao lado dele deixou Sophia tonta. Sensações de calafrios dançavam até
sua espinha. Seu corpo de pedra dura irradiava um calor que a deixava sem fôlego.
Mas tanto quanto Sophia queria fechar os olhos e ceder às sensações, ela não o fez.
Desta vez, recuou. — Você é sempre assim?
As palavras dela surpreenderam-no, mas recuperou-se rapidamente. Sacudindo a
cabeça para trás, riu. — Não. Graças a Deus. Somente você faz isso comigo, Sophia.
Somente você.
Capítulo 8

Sophia estava grata quando a carruagem parou em frente à residência dos Dalrumples.
Ela precisava de distância de Adam para que pudesse clarear seus vacilantes sentidos.
Adam desceu e estendeu a mão para Sophia. Aceitando-a, olhou para as portas
dianteiras decoradas com grinaldas entrelaçadas com dupla fita roxa. — Como é linda.
Adam não deu a casa um segundo olhar. — Sim.
Apertou as dobras de sua capa de pele-aparada. — É festiva.
— Os Dalrumples mantêm uma árvore na sala iluminada com velas, — disse Adam, seu
humor escurecendo. — Se o fogo virasse poderia ser devastador.
A tristeza a engolfou. O incêndio que matou sua mãe e irmã tinha marcado mais que sua
mão. — Você sempre pensa que o pior vai acontecer?
Ele pegou-lhe o cotovelo e guiou-a até cinco passos da pedra da porta da frente. — Sim.
Seu coração penalizou-se por ele. — Preocupar-se tanto não é bom, Adam Richmond.
Eu sei disso.
Ele capturou sua mão enluvada. — Dê-me uma vida com garantias, e eu pararei.
— Aprendi que você pode controlar a vida não mais do que o curso de um rio.
Adam cerrou os dedos estendidos. — Você me subestima.
Sua resposta foi cortada quando a porta se abriu e um mordomo deu-lhes as boas vindas
ainda do lado de dentro. A Sra. Dalrumple, que conversava com outro casal, parou
quando viu Adam e Sophia. Seu olhar questionador demorou-se em Sophia, sua boca
aberta. — Srta. Petranova?
Sophia agradeceu ao mordomo quando este tomou-lhe o casaco. — Sim.
O outro casal, ouvindo a voz de Sophia, voltou seus olhares em sua direção. Conhecia-
os da igreja, no entanto, suas expressões chocadas disseram a ela que não a
reconheceram em primeiro lugar.
A Sra. Dalrumple estudou-a mais perto. — Nunca teria imaginado isso.
Claire encontrava-se no vestíbulo com o reverendo Nelson atrás dela. Seu sorriso
aumentou quando viu Adam e Sofia juntos. Rapidamente deu a seu irmão um beijo na
bochecha, em seguida, levou Sophia pela mão. — Você chegou na hora certa. Minha
triste voz é um acompanhamento pobre para Dora que está tocando. Diga que vai
cantar.
— Não sei as palavras das canções, — disse Sophia.
Claire puxou Sophia para a sala. — Ajudá-la-ei com as palavras.
Enquanto Sophia movia-se pelo corredor, olhou por cima do ombro para Adam. Ele
murmurou uma “boa sorte”, enquanto sua irmã levava-a à sala de música.

Horas mais tarde, de pé junto ao cravo, com a música e as canções de roda contornando-
a, era como se os últimos seis anos, nunca tivessem acontecido. Memórias de casa
apareceram-lhe vivas, ela vislumbrou seu antigo eu.
Sophia bateu o dedão do pé ao tempo da música, ciente de que Adam raramente olhava
para ela. Sua presença deixava-a um pouco tonta e fazia-a questionar seus planos de
voltar para a Rússia.
Quando terminou de cantar "Noite Silenciosa" pela segunda vez, o grupo pediu mais.
Mas necessitando de repouso de pelo menos um momento, gentilmente declinou.
Olhou para a cadeira onde Adam estava sentado. Ele não estava lá. Decepcionada, subiu
as escadas para o quarto de descanso das senhoras, uma vez que Claire havia
comentado com ela.
O corredor no andar superior dos Dalrumples era forrado em um padrão de creme e
branco com listras suaves, e decorado com retratos dos filhos do casal, sete no total.
Apesar do mobiliário caro, essa parte da casa exalava uma informalidade que agradava
Sophia. Movendo-se pelo corredor, demorava em cada retrato, observando os
destaques vermelhos nos cabelos de cada criança.
Hesitou na frente do último retrato, de uma menina com características angelicais.
Levou a mão para o rosto, mas não a tocou. “— Para se ter uma família.”
Ela estava tão focada em sobreviver nestes últimos anos, que não se atrevia a entreter
os sonhos de criança.
Engolindo um nó na garganta, abaixou a mão. Queria uma casa. Um marido. Crianças.
Amor.
Angustiada pela intensidade de seus sentimentos, afastou-se dos retratos e correu para
o quarto das senhoras. Sentou-se na frente de um espelho, grata por estar sozinha.
Seu reflexo vermelho e olhos lacrimejantes olhavam para ela. — Adam Richmond não
lhe ofereceu nada além de paixão. Seria sensato não se esquecer disso Sophia, — ela
sussurrou.
Sophia Petranova, lembrou a si mesma, não se preocupe com o que não pode ser.
Concentre-se na realidade. E uma vida com Adam Richmond é apenas um sonho.
Determinada a se distrair, agarrou um frasco de perfume de cristal e saboreou o aroma
de lavanda. Esfregou de leve a tampa por trás das orelhas e na parte inferior de seus
pulsos.
Enquanto levantava-se, pronta para retornar à festa, o choro de uma criança frustrada
ecoou através da porta que ligava o quarto com outro.
— Nenhum cochilo! — A criança gritou.
Um brinquedo bateu contra o chão. Incapaz de resistir a dar uma espiada, Sophia abriu
a porta e olhou para a sala de estar conexa.
O que encontrou era um berçário delicioso, com paredes pintadas de azul. Um espesso
tapete trançado no chão, duas camas de casal baixas, uma parede interminável de
blocos e livros recheavam o chão. No centro de tudo estavam dois jovens, menino e
menina, de cerca de quatro ou cinco anos, e uma exausta babá.
A babá, que não parecia ser muito mais do que uma criança, enfiou uma onda de cabelo
escuro solto de volta sob a touca branca. — Isso é suficiente para vocês dois. Vocês farão
sua soneca agora.
A menina balançou a cabeça, gritou: — Não, —e estalou um dedo em sua boca.
Sophia reconheceu a moça do retrato como a mais nova do clã Dalrumple.
O menino olhou para a irmã e como ela gritou: — Não!
A enfermeira começou a pegar os blocos. — São Nicolau não tem amabilidade com
garotos e garotas que não ouvem. Ele vai encher suas meias com cinzas e carvão, se
vocês não obedecerem.
Os olhos das crianças começaram a se encher de lágrimas e Sophia teve pena deles. —
O que é isso? — Sophia disse, entrando no quarto. As saias açoitavam-na enquanto
movia-se através do campo minado de brinquedos.
A enfermeira fez uma mesura, seu rosto vermelho de vergonha. — Perdoe-me,
senhorita. Não queria perturbá-la.
— Você não me perturbou. —Sophia olhou sob o queixo de cada criança. O berçário
cheirava levemente a doce de leite e bolos e ela sentia-se em casa, calmamente
relaxada.
Ambas as crianças olharam para ela, seus olhos dançando com curiosidade.
Sophia estava sentada numa cadeira de balanço próxima do fogo crepitante na lareira.
Acariciou seu colo. — Será que vocês dois gostariam de uma história?
A babá torceu as mãos. — Eles estão pegajosos, senhorita. Com certeza estragarão seu
fino vestido.
Sophia pediu à enfermeira uma toalha e acenou para as crianças aproximarem-se.
Enquanto enxugava suas mãos pequenas e gorduchas disse: — Vocês têm que prometer
não estragar o meu vestido. Vocês veem, ele não é meu, apenas emprestado para hoje.
A menina mexeu os dedos limpos. — Tal como a Cinderela?
Sophia ergueu o menino no colo. — E quem é essa Cinderela?
— Ela é uma princesa.
Sophia riu. — Ah.
O menino moveu-se em seu colo. — Você parece uma princesa.
Sophia retirou a franja dos olhos do menino. — Talvez hoje, mas na maioria dos dias, eu
sou simples. Agora me digam seus nomes?
A enfermeira respondeu por eles. — A menina é Geórgia e o menino, Seth. Eles são os
caçulas da Sra. Dalrumple.
— Nós não somos grandes o suficiente para participar da festa de Dora, — disse Geórgia.
Seth estudou Sophia. — Você fala engraçado.
— Eu sou russa, — disse Sophia. — Venho de um lugar muito longe.
Sophia aproximou as crianças de si. — Gostariam de ouvir uma história?
Geórgia gentilmente tocou o brinco de Sophia. — Uma história russa?
Sophia fingiu pensar. — Vou contar-lhes sobre a “Donzela da Neve”. Ela era filha de
espíritos da floresta e vivia em um país de inverno maravilhoso longe das pessoas.
— Ela era bonita? — Geórgia perguntou.
Passos propositalmente rápidos ecoaram no corredor, e antes de Sophia poder
responder a porta do berçário foi aberta. Adam estava na porta, enchendo o espaço com
seus ombros largos.
De repente, Sophia sentiu-se insensata e torpe enquanto olhava para seu escuro olhar.
As linhas de preocupação, gravadas nos cantos dos olhos, desapareceram. — Eu pensei
que você tinha partido.
A babá estava ereta, ombros retos e rígidos. — Nós não quisemos atrapalhá-la, senhor.
Ela estava apenas contando uma história aos pequeninos.
— Descerei em um momento, — disse Sophia.
— Não se interrompa.
— É uma história para crianças, — disse Sophia, sentando reta. — Você não ficaria
interessado.
— Eu ficaria, — disse ele facilmente.
Adam entrou na sala, fechando a porta atrás de si. Encostou-se na parede e cruzou os
braços sobre o peito, pronto para ouvir.

A verdade é que nem cavalos selvagens poderiam ter arrastado Adam para longe.
Ver Sophia na cadeira de balanço com as crianças no colo comoveu Adam. Ele nunca
tinha visto um espetáculo mais bonito. As crianças adoravam-na e ela parecia em casa
e relaxada com eles. Quando olhou para ela, lembranças dolorosas do passado
desapareceram. Em seu lugar, imaginou Sophia rodeada por seus filhos, cantando para
eles enquanto todos estavam ao redor da árvore de Natal.
— Ela era bonita? —Geórgia disse.
— Quem? — Sophia perguntou. Ela retirou seu olhar dele.
As crianças riram. — A donzela da neve.
— Oh sim, muito bonita, — disse Sophia.
Sua voz soou trêmula, um pouco nervosa. Ela estava muito consciente da presença de
Adam. E a ideia lhe agradava.
Sophia pigarreou. — A donzela da neve tinha a pele pálida como a lua e os cabelos da
cor da noite. Seu vestido era de seda finamente bordada e enfeitada com zibelina.
— O que aconteceu com ela? — Seth perguntou.
Sophia baixou a voz. — Um dia, enquanto a donzela da neve estava brincando com seu
amigo, o urso, ela ouviu a música da flauta proveniente do mundo onde as pessoas
viviam.
— As pessoas assim como nós? —Seth disse.
Sophia tocou seu nariz. — Assim como você.
Pensou um instante. — A donzela da neve seguiu o som da música à beira da floresta de
inverno. De lá, ela podia ver os prados verdes e o sol brilhando abaixo. Ela nunca tinha
visto a erva verde antes e queria correr descalça sobre ela. Mas estava com medo. Então
viu um lindo pastor tocando sua flauta. Foi a sua música que ela ouviu.
— O que aconteceu? — Geórgia pediu.
Sophia hesitou. — Para saber a resposta, vocês devem entrar em suas camas, debaixo
das cobertas.
Com um pouco de persuasão teve ambos deitados, com as cobertas puxadas até o
queixo. Sophia dobrou a extremidade dos cobertores debaixo do colchão. — A donzela
da neve e os pastores se tornaram bons amigos e, em seguida, ela voltou para a floresta
mágica. Você vê, ela é quem diz a São Nicolau, os meninos e meninas que merecem
brinquedos.
Adam suspeitou que a fábula não tinha terminado tão feliz e que Sophia tinha reescrito
o fim por causa das crianças.
— Você é a donzela da neve? —Seth perguntou.
Adam riu quando Sophia deu de ombros. Ele quase podia ver a mente das crianças,
trabalhando em perguntas.
— Nós somos bons, — Seth disse rapidamente. — E se você vir São Nicolau diga-lhe que
Seth Dalrumple quer um trem de brinquedo.
Georgia sentou-se. — E Geórgia Dalrumple quer uma boneca de cabelos louros e um
vestido verde.
Tentando não sorrir, Sophia manteve seu tom sério. — Se eu encontrar São Nicolau
passarei seus pedidos. Mas vocês devem prometer tirar o seu cochilo e não dar mais
problemas a babá.
Ambos fizeram que sim.
Ela tocou cada um no nariz. — Então eu verei o que posso fazer.
As crianças apertaram os olhos como se isso fosse fazer o sono vir mais rápido.
Sophia disse adeus relutante.
Abrindo a porta, Adam colocou a mão nas pequenas costas e guiou-a para o corredor.
— Então, o que realmente aconteceu com a donzela da neve?
Sophia olhou para ele, um pouco surpresa. — Ela apaixonou-se por seu pastor. O amor
aqueceu o coração dela. Mas o amor era demasiado para ela. Como a neve em um dia
ensolarado, ela derreteu, para nunca mais ser vista novamente.
Adam puxou Sophia para uma alcova isolada. — Será que você desapareceria se eu te
beijasse?
Capítulo 9

Enquanto Sophia fitava os olhos cinzentos de Adam, empolgação deixava-a sem


palavras.
Ele baixou a cabeça e cobriu seus lábios com os dele. No início, seu beijo era hesitante.
Mas a sensação de seus lábios e o gosto dele deixaram seus sentidos em fogo, ela
levantou-se na ponta dos pés e colocou os braços ao redor de seu pescoço. Um gemido
retumbou em sua garganta.
Adam envolveu seu braço em volta da cintura dela e a puxou contra ele. Ela enrolou os
dedos em seus cabelos e abandonou-se ao momento até que o som do riso na escadaria
lembrou-lhe que não estava sozinha.
Sophia congelou.
Adam recuou, resmungando uma imprecação. Ele pegou a mão dela na sua. — Vamos
sair daqui.
— Onde estamos indo? —ela disse sem fôlego.
— Voltando para minha casa. — Adam apressadamente despediu-se de ambas, a Sra.
Dalrumple e Claire e logo estavam em sua carruagem. Nenhum dos dois falou ou tocou
no outro durante o passeio de carruagem para a casa de Richmond.
Ambos compreenderam que, uma vez liberada, sua vontade cresceria sobre eles como
uma avalanche.
Sophia tentou deixar sua mente à deriva para ignorar o toc, toc, toc dos longos dedos
de Adam contra o assento de couro, o cheiro de seu perfume misturado com tabaco, e
a forma como sua garganta se movia quando ele engolia. Ela até poderia tentar, mas
não poderia deixar de lembrar-se do fato de que em breve ele seria seu amante.
Tampouco se enganar. Ela queria isso. Compreendeu que tudo o que acontecesse entre
eles poderia não durar para além de hoje. Era um risco, sim, mas ela sabia que deveria
aceitar.
Em casa, Adam acompanhou-a até os degraus da frente e abriu a porta.
No hall de entrada, ele entregou seu casaco para o mordomo. — Fritz, a Srta. Sophia
cansou-se demais hoje. Quando estiver pronta para jantar, pedirá uma bandeja de frios
em seu quarto.
Sophia mal registrou a resposta de Fritz antes de Adam virar-se para ela e declarar: —
Cinco minutos.
Cheia de expectativa, e um bom ferver de nervos, Sophia subiu as escadas e entrou em
seu quarto. Desprendeu e escovou os longos cabelos cor de ébano, até que este
crepitava e brilhava; depois colocou uma camisola de seda rosa-pálida que encontrou
no armário.
Segundos mais tarde, Adam abriu a porta de conexão de seus quartos. Ele jogou sua
gravata e o paletó e arregaçou as mangas até os cotovelos.
Lampiões a gás cintilavam, lançando sombras sobre o rosto inclinado. Seu olhar deslizou
para o pescoço. A onda de calor inundou suas veias e, de repente o ar ao seu redor
tornou-se espesso. Ela mal podia respirar.
— Você é linda, — disse ele suavemente.
— Você também. — Sua voz soou como se pertencesse a outra pessoa.
Adam a puxou para ele e a beijou. Seu perfume e calor a envolveram. Ela deslizou os
dedos por seus cabelos, as mãos fechadas enquanto ele passava os braços em volta de
sua cintura estreita e arrastava-a contra ele. Seu peito e corpo estavam firmes, tensos,
com o querer.
Então, com um gemido, ele escavou-a e levou-a para sua cama. Ele deitou-a e cobriu seu
corpo com o dele, beijando os lábios, pescoço enquanto suas mãos empurravam as
dobras de renda de sua camisola. Quando os seios estavam expostos, amamentou-se de
seus mamilos cor de rosa até que ela arqueou as costas.
Deixar seu corpo desfrutar do toque de Adam aumentava seu próprio desejo. Ela abriu
as pernas, permitindo-lhe pressionar sua ereção contra sua nudez. Seus beijos, a
maneira que fechava as calejadas mãos em concha sobre seus seios, deixava-a sem
fôlego. Seu estômago apertado, coração disparado.
Adam levantou a cabeça. — Nunca quis uma mulher como quero você, Sophia.
Ela sorriu, arrastando os dedos longos pelas costas. Agarrando um punhado de sua
camisa, puxou-a deixando livre sua cintura. Ele se levantou e puxou a camisa, então
beijou-a novamente, sua paixão tão quente quanto o sol do verão.
Na nevada luz fraca, ela olhou fixamente para as linhas ao redor de seus olhos, afundado
em desejo, e ficou maravilhada com seu poder feminino. Passou os dedos sobre suas
nádegas, sorrindo, quando sentiu os músculos enrijecerem.
Ele arrastou a faixa, puxando sua camisola. O ar fresco agitou-se sobre seu corpo,
provocando euforia e um piscar de embaraço. Sua experiência com os homens tinha
sido mínima. Ela navegava em águas desconhecidas. De repente, insegura, ficou tensa.
Confuso por sua hesitação inesperada, Adam fez uma careta. — O que há de errado?
Ela encontrou seu olhar. — Isso é novo para mim.
Entendimento nasceu em seus olhos e ele sorriu. — Te mostrarei o caminho.
Adam deslizou os dedos entre suas pernas. Imediatamente, o coração e o sangue
correram em seu corpo, batendo em uma antecipação desconhecida. Ele a acariciou até
que o calor úmido embebeu seus dedos. Sophia cambaleava entre uma linha tênue de
prazer e dor. Gemia seu nome.
Beijou-a novamente e ela podia sentir sua ereção pressionando contra ela.
Instintivamente, abriu as pernas para ele.
Adam mudou seu peso, posicionou-se sobre ela, em seguida, a penetrou com força
explosiva, empurrando a tensão em um movimento rápido. Ela agarrou suas costas,
sugando uma respiração enquanto seu corpo adaptava-se ao dele.
Adam acalmou-se depois de sua primeira invasão. Beijou-a e esperou até que ela se
acostumasse com ele. Finalmente, a dor deu lugar a um calor quente e ela começou a
mover-se embaixo dele.
Ele combinou com o seu tempo em uma dança intemporal até que o empurrar tornou-
se um ataque frenético. Seu próprio desejo culminou em uma explosão de calor e Sophia
gritou seu nome. Adam empurrou uma última vez e derramou sua semente dentro dela.
Depois, deitou-se contra o travesseiro, o peito arfante como se tivesse acabado de
correr uma milha. Sophia encostou levemente seu corpo contra o dele e tocou seu rosto,
agora com a pele áspera com a barba por fazer. O fogo que ele despertou nela ainda
aquecia seus membros. Pela primeira vez em sua vida, entendeu o que era a total
alegria, satisfação e amor.
E ela quase podia fingir que isso iria durar para sempre.
— Ouvi dizer que você é uma princesa russa? Será isso verdade? —Adam disse logo após
a meia-noite. Arrancou um pedaço de frango do prato frio que Fritz tinha levado mais
cedo e alimentou-a.
A Rússia estava muito longe de Sophia. — A Rússia tem muitas princesas.
Ele ficou deitado de lado e apoiou a cabeça na palma da mão. — Então você é uma
princesa?
Ela recostou-se contra os travesseiros cheios como se estivesse contando um dos contos
de fada para as crianças. — Minha mãe costumava dizer-me que nossa família ficava em
segundo lugar no poder, perdendo apenas para o Czar. Tínhamos baús cheios de rubis,
bebíamos em copos de ouro, e usávamos as melhores zibelinas e martas.
Ele traçou a coxa nua com o dedo. — O que aconteceu?
— Meu avô queria mais. Ele queria não apenas a riqueza de um Czar, mas queria
também o poder. E tentou tê-lo. Claro, ele não ganhou. Foi executado e nossa família
foi despojada de seu poder e riqueza. Eu tinha cerca de oito anos quando isso aconteceu.
Todo mundo, inclusive a família de meu pai, cortaram-nos e fomos exilados do país.
Papai tentou trabalhar na terra, mas ele não sabia nada de trabalho agrícola ou de
trabalho duro. Morreu quando eu tinha dez anos.
— Isso explica por que você se comportou muito bem hoje. Como se tivesse nascido
para a riqueza.
Ela riu. — Você pode agradecer à minha mamã pelas minhas maneiras. Ela se recusou a
deixar que a nossa mudança de sorte alterasse os seus planos para mim. Ela me treinou
nos caminhos do cortejo, esperando um dia que eu fizesse um bom casamento.
— Por que ela se casou com Ivan?
— Ele era diferente até então, um mestre-artesão que era respeitado por todos. Ele
tinha algum dinheiro e gostava das conexões antigas de mamã com o Czar. Ela estava
sozinha.
— E eles se casaram.
— Sim.
— Como vocês acabaram na América?
— Ivan esperava que mamã pedisse perdão ao Czar, assim eles poderiam reviver um
pouco da antiga glória. Isso não aconteceu e Ivan estava amargamente desapontado.
Começou a beber mais. — Um suspiro levantou seus ombros. — Quando mamã morreu
de câncer, as dívidas de Ivan começaram a aumentar. Nós viemos para a América para
escapar delas.
Sua mandíbula estava apertada, como se não gostasse da história. — Ele vai voltar para
você, não vai?
— Não, não desta vez.
Ele traçou a linha do queixo com um dedo. — Isso te incomoda?
Ela balançou a cabeça. — Sabia há algum tempo que ele iria me deixar. É o melhor.
Ambos seguiremos em frente com suas vidas agora.
Adam beijou seu ombro. —Tenho algo para você. —Não se importando que estava nu,
saiu e desapareceu em seu quarto. Quando voltou, carregava uma pequena caixa preta.
— Isto é para você.
Desconfiada, ela alisou a mão sobre o exterior macio. — O que é isso?
— Vai deixá-la feliz.
Ela abriu a tampa. Dentro aninhado em seda estava o medalhão de sua mãe, polido e
limpo com uma corrente de ouro nova enfiada através do fecho. Lágrimas surgiram nos
olhos dela.
— Onde você conseguiu isso?
Ele manteve sua expressão coberta. — Um dos meus contatos comprou de Ivan.
Reverentemente, abriu o medalhão. O retrato de sua mãe olhava para ela. Seu coração
apertou-se com alegria.
— No começo pensei que era uma foto sua, — disse rispidamente. — Então percebi que
deveria ser sua mãe.
Uma lágrima deslizou por sua face. — Isso significa mais para mim do que posso dizer.
— Nós somos muito parecidos, Sophia. Família é tudo.
— Sim. Família em primeiro lugar. — Ela o beijou na boca. — Obrigada.
Ele limpou a garganta. — Quero cuidar de você agora. Quero construir-lhe uma bela casa
e envolvê-la em sedas.
Ela fechou os dedos sobre o medalhão. — Não preciso dessas coisas.
Ele beijou a mão dela. — O que você quer?
— Você. Uma casa simples, crianças, riso.
— Te darei tudo, se você não me deixar. Fique em Denver, Sophia.
Ele não tinha falado de amor, mas ela sabia que tinha o suficiente para ambos. — Eu te
amo, ela se atreveu a sussurrar.
Felicidade suavizava as linhas em seu rosto, mas ele não respondeu na mesma moeda.
Sophia colocou as mãos em concha em seu rosto e apertou os lábios nos dele. Logo, seus
corpos estavam entrelaçados e fizeram amor. O ato de amor foi tão apaixonado e
intenso como a primeira vez, mas desta vez ele tomou seu tempo, saboreando cada
centímetro de seu corpo.
Horas mais tarde, Sophia acordou com o sol da manhã brilhando na janela. Deitou-se de
lado, seu corpo nos braços de Adam. Queria tanto ficar na cama e fazer amor com Adam
todos os dias, mas era segunda-feira e ela tinha que terminar a afinação do órgão.
Demorou cada milímetro de sua força de vontade para levantar da cama e vestir-se.
Adam acordou enquanto ela calçava sua segunda bota.
Sophia sorriu, sabendo que nunca haveria outro homem para ela. — Bom dia.
Ele balançou as pernas para fora da cama. — Aonde você vai?
— Para a igreja. Se eu sair agora, e tiver sorte, terei o órgão terminado ao pôr do sol.
Todos os vestígios de bom humor desapareceram de seu rosto. — Depois da noite
passada, tudo mudou entre nós. Estamos do mesmo lado agora.
Confusa por sua mudança de humor, ela empurrou os braços em seu casaco de pele de
carneiro. — Estamos.
Seus ombros estavam rígidos. — Então por que você está indo terminar o órgão?
Seu corpo acalmou-se. —Dei minha palavra.
Ele se levantou, pegou-a nos braços. —Quero construir-lhe uma bela casa, cobri-la com
sedas, dar-lhe filhos. Mas você não pode terminar o órgão, caso contrário, Nelson não
deixará Denver. Faça isso por mim e você me terá para sempre.
Ela empurrou-o. — Fazer isso...? Seu coração contraiu-se, como se a vida estivesse
sendo espremida para fora dela. — Estas coisas você fará por mim, desde que eu faça
como você diz.
Ele passou as mãos pelos cabelos. — Sophia, você viu suficiente do mundo para saber
que nada é de graça.
Seu coração despedaçou-se naquele momento. — Pensei que o que nós tivemos fosse
diferente.
— É, mas você deve ser prática.
Sophia sentiu como se a terra estivesse quebrando debaixo de seus pés. O orgulho
deteve seus ombros de caírem. — Preciso terminar o órgão.
Todo o calor foi drenado de seu corpo. O que restou foi o homem frio e cinzelado que
ela conheceu há poucos dias. — Ou você está comigo ou contra mim, — disse ele
firmemente.
Choque e uma dolorosa tristeza cortaram seu coração. Tinha sido uma tola.
Através do borrão de lágrimas, convocou força para girar e sair pela porta.
Capítulo 10

Adam olhava para fora da janela de seu quarto assistindo Sophia indo embora. O sol
estava ficando quente e o gelo já virava lama.
Como a neve em um dia ensolarado, ela derreteu para não ser vista novamente.
O conto de Sophia sobre a donzela da neve tinha sido um prenúncio desagradável para
hoje.
Sem ela, a casa tinha ficado estranhamente silenciosa e pela primeira vez em muito
tempo, Adam sentiu-se completamente sozinho no mundo.
Depois do que ele havia dito, soube que ela não voltaria para ele. Seu orgulho e sentido
de honra, não deixariam. Ambos eram apenas duas das razões pelas quais ele amava-a
tanto. E por que a perdeu.
O órgão, expulsar Nelson da cidade não importavam mais. O que importava era Sophia.
Ele rapidamente se vestiu e trovejou no vestíbulo. — Fritz! Pegue meu casaco!
Quase instantaneamente, o mordomo apareceu com o casaco de Adam. Ele deslizou os
braços para o casaco com a ajuda do mordomo.
— Vou chamar o condutor, — disse Fritz.
Adam aceitou suas luvas de couro de Fritz. — Não se preocupe, posso ir mais rápido a
pé.
Adam empurrou a porta da frente. Para sua surpresa, encontrou Claire e Nelson de pé
lá, prontos para entrar.
Claire olhou para cima. — Adam, não esperava que você estivesse em casa essa hora do
dia.
Nelson também ficou surpreso, mas se recuperou primeiro. — Sr. Richmond.
— Nelson, Claire. Não tenho tempo para falar agora. Estarei de volta em breve.
Nelson pigarreou. — Sr. Richmond, temos novidades para você.
Com grande esforço, Adam parou e virou. — Vai ter que esperar.
Claire puxou fora sua luva e estendeu a mão para ele. Um anel de ouro brilhante cobria
seu dedo anelar. — Nós nos casamos ontem à noite!
Ele murmurou, estou condenado.
Nelson apressou-se a dizer: — Nós nos casamos em uma pequena capela na periferia da
cidade. — O jovem fitou-o diretamente nos olhos e não havia nenhum indício de
desculpas ou medo. Claire olhou para seu novo marido, o rosto radiante de adoração.
Engolindo um nó na garganta, ele estendeu a mão a Nelson. — Cuide dela.
A expressão de Nelson registrou o choque, mas seu aperto de mão era firme. — Eu irei.
Adam beijou a irmã na bochecha. — Seja feliz.
Ela se agarrou a ele, se engasgando entre lágrimas. — Eu serei. — Quando ele a olhou
fixamente, viu que estava preocupada. Ela tocou seu rosto, em seguida, apertou a mão
de Adam muito delicadamente. — Acabamos de passar por Sophia na rua. Ela estava
chorando.
O estômago de Adam deu um nó.
— Você tem que acertar as coisas com Sophia, — Claire disse.
— Eu pretendo fazer isso.
A mente de Sophia estava confusa com tristeza e dor, quando entrou no santuário da
igreja. Retirou o casaco dos ombros enquanto olhava para o órgão de tubos.
Era impressionante. O mogno e a noz polidas aparavam os tubos de bronze que
brilhavam à luz do sol cintilando através das janelas de vitral. Alegria e orgulho
misturados com perda e tristeza.
Adam.
De repente, suas pernas balançaram e ela afundou no banco do órgão. Seus olhos
encheram-se de lágrimas não derramadas. — Quantas lágrimas antes que a dor alivie?
— ela sussurrou.
A porta do santuário abriu-se. — Sophia! — a voz rica de Adam reverberava nas paredes.
Sophia levantou-se e encarou-o. A proximidade que tinham compartilhado tinha
desaparecido. — Eu pretendo terminar o órgão.
Desolação aprofundou as linhas em seu rosto enquanto ele caminhava em sua direção.
Seu olhar não duvidava dela. — Eu estava errado. — Com a mão sob o queixo, ele
inclinou a cabeça para cima. — Vou ajudá-la a terminar o órgão.
Confusa, ela recuou. — Por que você está me dizendo isso agora?
— Amo você.
Ela ficou muito quieta. — Temo o seu tipo de amor, Adam. Você diz que ama Claire,
ainda que tenha feito todo o possível para afastá-la do homem que ela ama. Seu amor
vem com condições.
— Claire e Nelson se casaram ontem.
Sua notícia chocou-a. Procurou raiva em seus olhos. Não havia nenhuma. — O que você
vai fazer sobre isso?
— Nada.
Cautelosamente, ela deu um passo mais perto. — Você não vai tentar destruir o que
eles têm?
Ele balançou a cabeça. — Não. Eu sempre estarei lá para Claire, se ela precisar de mim.
Mas ela fez a sua escolha. Ele pegou a mão dela na sua. —Case-se comigo Sophia, hoje.
Ela queria lançar-se em seus braços, mas se segurou. — Não mudarei por você. Serei
uma mulher muito teimosa.
— Eu não gostaria disso de outro modo. —Ele segurou sua mão mais apertada. — Te
levarei à Rússia, se for isso que você quiser. Perseguirei Ivan e pedirei sua permissão.
Quero fazer isso direito. — Pela primeira vez, Adam Richmond parecia lutar por palavras.
— Eu deveria ter um anel. Deveria haver rosas.
Ela nunca tinha sentido tanta alegria. — Não preciso de nenhuma dessas coisas. — Ela
colocou os braços ao redor dele, saboreando seu perfume. — Tudo o que eu quero é
você.
— Você vai casar comigo?
— Sim, definitivamente sim.
Beijou-a até que ela estava sem fôlego. — Então estou te levando para casa. Nelson tem
um trabalho a fazer. Vamos terminar esse órgão.

FIM

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