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NACIONAIS-ACHERON
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A Herdeira
do Título
2017
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Sumário
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
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PERIGOSAS
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
FELIZES PARA SEMPRE...
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Prólogo
porco rejeitado, se fosse ela. Aquela outra é lady Pamela, filha do Barão
Lyndon-Travers, mas sugiro manter-se longe dela. O último que se
aproximou foi levado para o hospital... A menina esgrima melhor que
Anthony Neusberg!
Jonas percebeu que fez o que de pior poderia ter feito: atiçou a curiosidade
de Simon. Agora, o maldito irmão ficaria em seu ouvido até descobrir a
identidade de Christine. E, quando descobrisse, iria chamá-la para dançar —
e ela aceitaria. Elas sempre aceitavam dançar com Simon e seu sorriso torto.
— Deixe para lá. Ela é nobre e nós somos...
— Homens? Ricos? Não é isso que elas querem? Dinheiro? Tudo se
resume a dinheiro, meu parvo irmão! No seu caso, ainda tem esses olhos
azuis — comentou desgostoso, apontando com o copo para o rosto do irmão.
— Toda mulher se derrete por esses malditos olhos de safira e essa sua cara
de criança abandonada. Só você não percebe o quanto elas se eriçam por você
nos corredores do banco.
— São apenas olhos e já me trouxeram problemas demais.
— Problemas? Não acredito que você ainda ache que aquela fofoca do
jornal fosse um problema. Eram elogios, seu imbecil! Seus olhos são dessa
porcaria de tom quase transparente que ninguém tem. Ninguém! Azuis cor de
anjo, eu ouvi uma dama dizer. E nem sei qual é a cor do olho de um maldito
anjo!
Jonas olhou de banda e, mais uma vez, bufou. Estava cansado daquele
assunto, cansado de ter olhos elogiados e desejados. Ele queria que ela o
visse. Ela e apenas ela. Queria aquele cheiro de doce por perto todos os dias,
queria aqueles cabelos na cama e os olhos dela revirando de prazer. Eram
castanhos; esta sim, a cor dos anjos.
Simon continuava divagando: — Se eu tivesse esses olhos, as moças
ficariam apaixonadas na mesma hora e minha vida seria muito mais fácil.
Mas quem é a dama?
— Christine Chasterbrok — falou, finalmente, em voz alta.
Imaginou que o assunto seria encerrado e que Simon voltaria às danças.
— A filha do Marquês? — Arqueou a sobrancelha e riu. — Esqueça,
Flaubert! Ela está apaixonada pelo Visconde de Linderpool.
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Capítulo 1
lareira apagada e úmida. Não havia sequer dinheiro para a lenha da noite. O
que faria quando chegasse o inverno?
Christine quase não tinha criados e, dos poucos que tinha, lamentava
dispensar o mordomo e a cozinheira, que serviam a família desde a infância
dela.
Respirou profundamente e levantou, decidida. Agora, teria que dispensar a
camareira.
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Capítulo 2
coração. Puxou mesmo à sua mãe, não é, Flaubert? Muito bem. Irei após o
baile de Augusburg, em quinze dias.
— Pois bem. Deixe-me acompanhá-lo, então.
— Como queira, mas Simon irá também porque você voltou da América
muito sentimental. Agora, preste atenção em minhas palavras, garoto: esse
seu coração mole pode prejudicar seu julgamento e trazer prejuízos aos
cofres. Isso, eu não vou permitir! Os juros continuarão sendo aplicados —
assegurou com o dedo em riste.
— Não se trata de coração mole, senhor Marshall. O homem ficou viúvo
há pouco tempo, está doente e falido. Ir cobrar a dívida agora é atirar na água.
A propriedade será nossa, cedo ou tarde.
— Cedo. Será nossa o quanto antes, garoto. Agora vá. O Conde de
Letzburg está em Londres com a esposa e decidiu fazer uma aplicação para
ela. Quero aquela fortuna aplicada aqui. A mulher está grávida, é geniosa e
fala com um sotaque encantador. Se pudesse, iria eu mesmo vê-los. Dizem
que o homem é uma muralha...
E assim foi.
Naquela manhã, dirigiu-se à Residência Letzburg, recém adquirida, e
fechou um negócio de muitas libras. Deixou o local com uma impressão
clara: o Conde Vermelho assustava a todos com as cicatrizes, a barba e o
enorme cabelo loiro desarrumado, mas era a Condessa quem decidia tudo.
— As grávidas são leoas — disse o Conde, sorrindo para a esposa, — mas
minha Beatrice é uma fortaleza.
E era mesmo. A mulher entendia de dinheiro, negociava com astúcia e,
ainda assim, era delicada. Exceto para lidar com o marido.
— Meu marido é o Hölle Graz, senhor Flaubert. Eu preciso lidar com ele
como a maldita Condessa do Inferno ou jamais me respeitará.
À tarde, Flaubert, do alto de seu 1,80 metro, foi à Praça de Stonehurt onde
todos os nobres andavam em seus cavalos e admiravam o pôr do sol. Era o
momento de exibir seus animais, mostrar novos ternos, novos chapéus e
flertar com as filhas dos nobres, levando monóculos aos olhos e puxando
relógios de ouro dos bolsos.
O momento adequado para conseguir novos investidores.
A recente amizade com o Duque de Augusburg fizera os lucros subirem
mais 15%, o que era pouco, muito pouco perto dos 41% conseguidos com o
dono da ferrovia algumas semanas antes; poucos tinham tanto dinheiro para
investir no pós-guerra.
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Sim, Jonas ainda tinha sentimentos pela dama. Era hora de ajudá-lo.
Seguiram a cavalgada em silêncio, mas a visão dos olhos amendoados da
filha do Marquês tão entristecidos e apagados apertou o peito de Flaubert.
E, em duas semanas, ela não teria onde morar.
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Capítulo 3
entrou.
N o primeiro horário comercial do dia seguinte,
momento no qual o banco estava mais apinhado de
nobres querendo conferir seus rendimentos, ela
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Capítulo 4
banco.
H ospedada na casa dos Viscondes de Linderpool, a
poucos metros da Praça Stonehurt, Christine
preparava-se para partir após a visita infrutífera ao
falou, entristecida.
— A mim também não, Christine. E, veja, estou casada!
— Você foi forçada a casar, Beatrice — retrucou.
— Bom, isso é um detalhe. De mais a mais, hoje reconheço os motivos de
meu pai e até o agradeço por ter colocado Ludwig em meu caminho, o meu
Conde do Inferno — falou suspirando.
— Enfim, Beatrice, não são todas que têm a sua sorte. Ou a sua, Felicia —
apontou para a Viscondessa. — Vocês casaram após uma temporada com
homens que são apaixonados por vocês. Duvido que eu consiga isso.
As duas ficaram em silêncio mais alguns instantes e Christine, então,
voltou a falar: — Você acha que teria sido diferente, quero dizer, se eu
tivesse continuado a frequentar os bailes, você acha que eu teria casado?
— Claro que sim! Tenho certeza disso!
— E você acha que o Visconde ia mesmo... Desculpe, é impróprio.
— Somos amigas, Christine. Não é impróprio. Eu acho que ele a teria
cortejado, e não a mim.
— Não teria, Felicia — disse o Visconde, entrando pela sala de chá e
beijando carinhosamente o topo da cabeça da esposa. — Como vai,
Christine? Beatrice, está uma grávida esplêndida!
— Contenha-se, garoto — rosnou Ludwig, que entrou logo atrás.
— Tudo bem, Maurice. Como vai, Conde?
— Muito bem, obrigado. Vamos, Beatrice? — Ofereceu a mão à mulher
que ainda pediu, antes de sair: — Por favor, Christine, vamos ao baile.
Podemos nos divertir no baile, procurando um marido para você!
Quando o casal se retirou, Maurice voltou a falar: — Me desculpe a
honestidade, mas eu já era apaixonado pela Felicia naquela época. Eu ia todo
dia à chapelaria por um bom motivo. Certamente não eram os chapéus —
disse, sorrindo.
— Eu sei... Mas eu queria ter a esperança de... Será que eu me
apaixonaria? Será que alguém se apaixonaria por mim?
— Isso sim, com certeza. Você foi o assunto da temporada e sua partida
deixou uns bons rapazes abandonados pelos salões. Eu mesmo conheci uns
que dariam a unha para ter dançado com a senhorita. Estão todos casados,
agora, infelizmente. Não conheço essa nova leva de jovens solteiros, mas há
alguns Condes viúvos que podem se interessar...
— Já chega, Maurice! — Interveio Felicia, vendo que o marido começava
a deixar a amiga constrangida. — Ela não quer um Conde viúvo velho. E nós
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quarto.
— Viu? Você nem foi ao baile e já tem um admirador... Que excitante! —
Comemorou, batendo palmas.
Foi Felicia quem deixou a rosa, Christine pensou.
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Capítulo 5
que alongava seu pescoço, os cabelos de Christine seguiam presos com a tiara
que fora de sua mãe. Ela se sentia bonita, mas não especial.
Ela queria ser especial.
Sentada de frente para o casal de amigos, percebeu o olhar reverencioso
que Maurice dava para a esposa e invejou quando ele acariciou os dedos de
Felicia por cima das luvas, beijando-os um a um. Lembrou-se de sua primeira
temporada, quando achou que o Visconde estava apaixonando-se por ela e,
ali, descobriu que não. Maurice nunca a olhou daquela forma.
Descobriu, então, que sempre quis que alguém a olhasse daquela forma e
que nenhum dos cavalheiros que a convidara para passear pelo jardim no
primeiro baile o tinha feito.
— Fico muito feliz por vocês terem encontrado um ao outro — disse.
— Ela não me encontrou — falou o Visconde que, travesso, completou:
— Eu a persegui.
— Ora, quem imaginaria que a filha do chapeleiro casaria com um belo
nobre...
— Eu imaginei — falou o rapaz, dando de ombros e sorrindo.
Seguiram a viagem em silêncio, ouvindo o batucar ritmado dos cascos, e a
moça enfim descobriu que não queria um Duque. Queria um amor.
Um amor que poderia estar naquele baile. Chegando de carruagem, talvez.
O amor que Jonas queria ser, sempre quis ser. E lá estava ele, no coche
dos Marshall, chegando ao baile pontualmente no horário determinado. Sem
títulos, não foi anunciado no topo da escada mas, de lá, Flaubert avistou
Christine.
— Não faça nada estúpido, Flaubert — sussurrou Simon.
Jonas bufou, virou e desceu, dirigindo-se direto para a mesa de bebidas e
servindo-se de um copo de whisky. Ou dois.
Ela o viu e sorriu, maneando a cabeça em elegante reverência e eriçando
todos os pelos do corpo de Jonas. Ficou feliz, então, de tê-la perseguido no
banco. Agora, ela sabia quem ele era. Agora, ela o cumprimentava.
Quando Jonas pensou em se aproximar, notou que Augusburg havia se
aproximado da moça com o Visconde de Linderpool, que logo os deixou
sozinhos após a apresentação.
Maldito, pensou Jonas.
— Senhorita Chasterbrok, é um prazer revê-la. Fico feliz que tenha
escolhido a minha casa para seu retorno aos salões de baile.
— Vossa Graça — disse Christine. — É sempre um evento prazeroso.
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— Sim. Ele vai levá-la para passear e peço que você não fique no
caminho.
— Entendo.
— Ela não é mulher para você, Flaubert. É a filha de um Marquês e você,
bom, é o filho de um banqueiro. Não é nobre. Nós sabemos que a posição
dela está muito acima da sua. Você não é nada, por assim dizer, para uma
moça com a ascendência dela. Sangue nobre é um sangue mais puro, mais
completo.
— Me admira você falar isso, Maurice! — Disse a Viscondessa atrás do
marido.
— Felicia? Eu não quis dizer...
— Eu sei bem o que você quis dizer. Ele não é nada porque não é nobre.
Pois gostaria que lembrasse que, quando casamos, eu era a filha do
chapeleiro. Não tenho esse tal sangue nobre mais completo, Maurice.
— Você é só uma mulher, Felicia! Não importa se era filha do chapeleiro
ou de um Grão-Duque!
Ela arregalou os olhos, fuzilando o marido.
— Eu sou só uma mulher? Ora, ora... — Bufou. Virando-se para Flaubert,
que não sabia direito como intervir e nem mesmo achou que queria ajudar o
Visconde, disse: — Por gentileza, senhor Flaubert, me deixe a sós com meu
marido.
Jonas se escusou e se afastou, encaminhando-se para o jardim, onde ouviu
risadas. Christine e o Conde Cosito conversavam, encostados à varanda. Ela
sorria para ele, genuinamente divertido.
Flaubert virou-se para voltar ao salão e despedir-se de todos, mas algo o
prendia àquele lugar. Ele não podia sair. Queria vê-la ainda mais uma vez
com o vestido que comprara.
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Capítulo 6
Q uatro copos de whisky. Foi isso que lhe deu coragem, mas
nem mesmo isso lhe preparou par a mais absurda e infeliz
mudez que o assolou quando o Visconde o interceptou.
Flaubert odiou o jovem no exato momento em que se deu por vencido, no
momento em que perdeu os olhos da moça, no momento em que ela deixou o
salão com a mão apoiada no braço de um certo Conde italiano.
Quando percebeu que Jonas não ia convidá-la para dançar, Christine
suspirou desanimada. Sorte dela que o Conde Cosito a levou para um passeio.
Era um homem impressionante, o tal italiano. De sotaque melodioso e
recheado de expressões que ela não entendia, a fazia rir.
Mas ele também não a convidou para dançar. Do contrário, perguntou-lhe
sobre Lady Pamela. Queria saber tudo sobre a amiga. De que flor gostava,
sua música predileta, onde morava, se preferia o campo ou a cidade... Tudo.
Praticamente sem nada mais a perder, decidiu permanecer na varanda,
mesmo depois que o Conde havia voltado ao salão. Pôs-se a observar os
casais, suas malícias e indiscrições. De lá, podia ver muitos casais trocando
confidências entre as árvores. Moças tímidas e ingênuas, moças nem tão
ingênuas e aquelas que eram, na verdade, uma ameaça aos rapazes. Rapazes
que eram caça dotes e outros que eram caçadores de títulos. Ela quis ser uma
daquelas damas e queria ter a companhia de um belo jovem.
Lá, do alto da varanda, ela viu um rosto familiar, acompanhando Julie de
Sommè, e descendo as escadas para o jardim.
— Senhor Jonas? — Perguntou-se, franzindo os olhos e percebendo o
quanto aquela cena a deixara desanimada.
Jonas estava levando a senhorita de Sommè para o escuro verde da
mansão Augusburg.
Humilhações e mais humilhações. Era só a isso que se resumia sua vida na
maldita cidade. Queria ir embora daquele baile, daquele lugar, o mais rápido
possível. Naquele instante, de preferência, mas o Visconde estava fazendo
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Sommè, Simon ouviu tudo. Uma ideia foi tudo que bastou para resolver dois
problemas: a dívida do Marquês e os sentimentos do irmão.
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Capítulo 7
olhando para Jonas com o mesmo rosto travesso que fazia quando queria
debochar do irmão. — De mais a mais, posso ajudar bastante nas negociações
com o Marquês. — Sorriu o rapaz, olhando para Christine e deixando-a ainda
mais embaraçada.
Jonas sussurrou imprecações e ouviu o pai concordar: — Pois bem, vou
aproveitar para visitar outros investidores na região. Mas quero vocês de
volta a Londres na próxima sexta-feira com a proposta séria ou com a
escritura da fazenda. Isso lhe dá mais três dias, Marquês. É mais do que
suficiente. E lembre-se que isso é uma concessão que estamos fazendo. Seu
prazo está esgotado há quase um mês.
Os três se viraram, após uma leve reverência absolutamente imprópria
para o título de Marquês, e partiram em direção à carruagem.
Jonas olhou para trás e viu quando Christine sentou, levou a mão ao peito
e suspirou aliviada. Ele quis voltar, mas achou que pioraria as coisas.
Lembrou, então, da expressão que ela fez e de seu tom ríspido de voz quando
ele disse que havia falado com ela no baile.
Ela ficou chateada porque ele não foi até ela?
Flaubert sorriu. Ela pareceu chateada.
— É uma moça corajosa — disse o velho Marshall, tirando-o dos
devaneios. — Ingênua e tola, mas corajosa. Veja lá se eu não ia perceber que
era uma mulher naquelas roupas... E ela é bem mais magra que o velho
Marquês...
— Ora, meu pai, dê-lhe o devido crédito. Tornou a visita bem engraçada e
Flaubert pareceu impressionado — debochava Simon, que virou para o irmão
e disse: — O que diabos foi aquilo de melhor proposta? Não tem nenhuma
proposta! Ele está falido. Falido! E ela não entende nada de negócios. Já eu?
Eu sou ótimo com negócios e tive uma ideia que pode ser bem interessante...
Simon discorreu sobre seu plano, que foi aceito pelo pai e pelo irmão.
Antes, entretanto, Jonas tentaria um último recurso: vender a propriedade por
um preço maior do que a dívida, garantindo que a sobra permitisse a
Christine sobreviver dignamente com o pai em Londres. Não adiantava
deixar a fazenda com eles. Ela não saberia administrar e certamente teria
problemas novamente.
— Muito bem, Flaubert. Vamos tentar seu plano. Se não funcionar, vamos
tentar o de Simon. Se nenhum dos dois funcionar, que é o que eu acho que
vai acontecer, quero a propriedade no meu nome.
— Flaubert, o príncipe encantado no cavalo branco, vai resgatar a
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Capítulo 8
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Capítulo 9
sobrancelha.
— Senhor Jonas? — Ela se espantou, engolindo em seco ao se ver
examinada pelos olhos mais maravilhosos que já tinha visto.
Sentiu um estranho arrepio e algo se mexendo dentro dela.
Ele tinha realmente olhos lindos...
— Então, eu estava justamente conversando com o senhor César sobre o
jogo de chá. — Ele balançou a cabeça em afirmativa, tentando fazê-la
concordar. — Sótão, certo?
— Sim, sim... — Ela entendeu o que ele havia feito e percebeu que ele a
estava ajudando. — Por favor, César, sótão. Peça à Marianne para servir-nos
um chá com aqueles biscoitos que fez.
O mordomo se virou e deixou o cômodo um pouco aliviado, mas a
madeira caída no chão não passou despercebida aos olhos arregalados de
Flaubert. O Duque aproveitou para mencionar: — Seu telhado está quebrado,
senhorita?
— Ratos — disse Christine.
— Infiltração — disse Jonas, ao mesmo tempo.
E o Duque arqueou a sobrancelha, quase tão espessas quanto o bigode.
Christine e Jonas se entreolharam, procurando o caminho livre da recém-
formada cumplicidade.
— Foi uma infiltração causada por um rato — disse ela, mentindo
descaradamente.
— Mas era apenas um rato e já foi exterminado — completou Jonas,
tentando amenizar o prejuízo.
— Entendo — disse o Duque, ainda tentando compreender o que fazia ali.
— Acho estranho ser apenas um. Esses bichos costumam andar em bando.
— Já mandei procurarem outros, senhor. Era apenas um mesmo — falou
Christine, buscando arduamente recuperar suas chances de núpcias.
— Meu caro Augusburg, me acompanha pela propriedade? Simon está
com os arrendatários. Podemos conversar sobre seus investimentos — propôs
Jonas.
— Investimentos? — Ela se assustou.
Então, ele não foi cortejá-la?
— Meu pai sabe disso? — Perguntou Christine irritadiça.
— Sim. Conversamos ontem à tarde, senhorita — provocou Jonas,
percebendo a raiva nos olhos dela e sentindo uma pontada de diversão com a
situação. — Eu vim avisá-la, mas não pudemos conversar à tarde...
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Ela sorriu.
Ela sorriu! Sorriu para o maldito Duque do Bigode!
Jonas trincou os dentes. E então, ele olhou para Christine, que arqueou
uma sobrancelha. Ela o estava desafiando!
Sim, ele queria vender a fazenda e não tinha como negar que a companhia
dela era mais do que agradável. Mas percebeu que os planos dela eram
outros: ela queria casar.
Com Augusburg!
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Capítulo 10
mais dela.
— A senhorita cavalga? — Perguntou Augusburg. — Adoraria levá-la em
um passeio à minha propriedade.
Cavalgar? O que o imbecil estava pensando? Agora era a hora do ataque.
Por que a dor no peito não o fazia desmaiar?
— Claro! Podemos cavalgar. E há muitos lugares aqui na propriedade que
só podem ser conhecidos no lombo de um cavalo. O alto da Colina
Nevershore, por exemplo, onde todos os Marqueses anteriores foram
enterrados... — Jonas viu as longas pestanas da moça sacolejarem para cima
e para baixo várias vezes.
Vezes até demais.
Lindos cílios; eram uma chuva dourada que caía apenas nos olhos dela.
Ele adorava olhar para Christine.
A dor no peito havia passado.
Excitação.
— Amanhã à tarde? — Propôs o Duque.
— Não! — Gritou Jonas, um tanto irritado demais.
— Não? — Espantaram-se Christine e o Duque.
— Não, quer dizer, amanhã não é um bom dia, Augusburg. Precisamos ir
ao vilarejo e...
— Vilarejo? Eu conheço o vilarejo, Flaubert. Craigh Manor é aqui perto,
esqueceu?
— Sua fazenda é aqui perto? — Ela perguntou, mas antes que o Duque
respondesse, Flaubert interrompeu: — Certamente a senhorita tem muitos
outros afazeres...
— Afazeres? Que afazeres uma linda dama pode ter? — Comentou o
imbecil Duque.
Idiota! Pensou Jonas, e sorriu vitorioso.
— Muitos, meu senhor — respondeu Christine, um pouco irritada demais.
O Duque era, decididamente, um parvo.
— Claro, senhorita — tentou corrigir-se Augusburg. — Mas uma dama
não deveria ter a agenda cheia. Certamente as Duquesas de Augusburg
podem dar-se ao luxo de cavalgar com um pretendente.
— Pre-pre-pretendente? — Gaguejaram Jonas e Christine.
Do que o cretino falava agora?
Ela sorriu e levou a mão delicada ao peito.
Se animou com a ideia.
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Capítulo 11
Duquesa.
A Duquesa de Augusburg.
Duquesa Christine de Augusburg.
Seria a esposa de Augusburg.
Todo dia, o infeliz poderia olhar para aqueles cílios dourados à luz das
velas, ouvir seus gemidos mais íntimos, tocar sua pele sedosa, fazê-la sorrir e
receber carinhos dela.
Augusburg. Não Jonas.
Ela jamais seria a senhora Jonas Flaubert. Ele jamais a tocaria, jamais
teriam filhos, os sorrisos dela jamais seriam dele. Sem perceber, esporeava o
cavalo com vigor, como se estivesse em uma corrida por sua vida e não viu
quando o irmão se aproximou.
— Flaubert? Flaubert? Está cavalgando o cavalo do diabo, homem?
Diminua este trote antes que caia!
— Não me encha, Simon! — Gritou, sem diminuir a velocidade.
— Conseguiu vender a propriedade para Augusburg? Ele vai quitar a
dívida?
— Pelo que entendi, ele vai propor casamento à Christine.
— Christine? A senhorita Christine?
— Sim, você sabe quem é.
— Claro que eu sei. É a moça que você deseja há alguns anos, a que lhe
fez recusar-se a casar com a herdeira americana, a moça que...
Flaubert diminuiu o trote do cavalo e o irmão emparelhou as montarias.
— Muito bem, Simon, essa mesmo! Você sabe quem é.
— E você? Você sabe quem ela é ou esqueceu que é filha de um
Marquês? — Perguntou. — Enfim, preciso voltar à fazenda para falar com o
administrador sobre um dos arrendatários. Nos vemos na Flor & Espinho —
disse, fazendo a volta.
Não, claro que ele não havia esquecido. Era isso, exatamente isso que o
impedia de pedi-la em casamento e cortejá-la naquele exato momento. Era
por isso, exatamente por isso que Augusburg estava com ela. Não ele.
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Capítulo 12
a estranheza de ter a língua dele invadindo sua boca. Isso era beijar?
Então por que tudo que ela conseguia pensar era no incômodo daqueles
pelos do bigode dele, que espetavam-na e coçavam?
Não era ruim beijar. Mas o bolo de sua cozinheira era melhor. Nadar no
lago, andar a cavalo, adormecer na cadeira da biblioteca, ouvir o fogo da
lareira estalar, ler um romance, uma boa noite de sono embaixo de cobertas
grossas... Eram muitas as coisas melhores que um beijo.
Teria que fazer aquilo muitas vezes? E a suposição afirmativa fez com
que algo novo surgisse entre eles. Uma assincronia, um desconforto ou pior:
um simples nada. Era apenas incorreto.
Talvez, ela imaginou, talvez fosse apenas a estranheza de um primeiro
beijo.
Finalmente ele se afastou.
Finalmente?
— Está tudo bem, senhorita? — Ele perguntou, sorrindo e soltando-a.
Christine cambaleou e deu um passo para trás.
— Sim, sim... Eu fui pega de surpresa.
— Claro. Compreendo. Voltarei amanhã para falar com o senhor Marquês
— disse, se aproximando novamente.
Christine, por algum motivo, se afastou, sorriu e estendeu-lhe a mão para
que ele a beijasse. O rapaz não se fez de rogado: levou a mão aos lábios e
respirou suavemente sobre ela, elegante e nobre.
Quando ele entrou no coche, ela percebeu que seu peito se acalmou e
inspirou profundamente.
Alívio. O Duque se fora.
E por que mesmo ela deveria ficar aliviada com isso? Por que era tão
estranho ela estar feliz por ele ter ido?
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Capítulo 13
Monologar.
A ssim que o coche se afastou, Christine subiu ao quarto
do pai. Sentou-se à beira da cama e, como sempre
fazia, começou a conversar com ele.
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Capítulo 14
D
mirabolante de Simon.
uas horas depois, muitas contas e discussões, um
bule de chá e duas levas de biscoitos e bolos,
Christine finalmente compreendeu o plano
que ele esteja lá, lúcido e são, para terminar o que começou. Aí sim,
perdoaremos a dívida.
— A tal lei vale mesmo a pena?
— Oh, sim. Os juros fixos são ruins para o banco e para os devedores.
Perdemos negócios com aqueles que os acham altos e deixamos de aumentá-
los para aqueles que os acham baixos.
— Que venha o médico!
— Ele virá ainda hoje. Imaginei que minha proposta lhe agradaria mais
que a ideia de casar com Augusburg. E, neste assunto, posso lhe fazer uma
pergunta?
— Sim...
— Nenhum homem jamais lhe conquistou? É tão difícil assim alcançar
seu coração?
Ela suspirou e coçou a testa.
— Não creio que haja uma lista a cumprir. A verdade é que não tive
muitas propostas...
— Eu soube do incidente com a Rainha.
— Incidente? Bondade sua... Eu era uma menina de 18 anos criada por
uma preceptora que parecia crer no lema: casamento ou morte. Me esforcei
para ser a melhor dama da sociedade, mas nunca pensei que precisaria ler
algo além de romances para isso.
— Compreendo. E se, digamos, um senhor que não fosse de título lhe
propusesse, lhe cortejasse?
— Não procuro títulos, senhor Simon. Para mim, títulos são apenas
papéis.
— E votos na Câmara! Não se esqueça!!! — Exclamou, piscando e
sorrindo para ela, que começava a tolerar a presença dele.
— Sejamos práticos: hoje, o dinheiro vale mais do que os tais votos.
— Ainda não, mas com a ajuda do Marquês, certamente valerá.
— Simon? O que você está fazendo aqui? — A voz de Jonas, um pouco
irritada demais, foi ouvida ecoando pela biblioteca.
Christine pôde, naquele momento, observar as diferenças entre os irmãos.
Um era elegante, aprumado e falava de forma firme. O outro, um pouco mais
desleixado. Ambos tinham cabelos extremamente claros, mas o de Simon era
perfeitamente penteado e o de Jonas... Bom, era perfeitamente desleixado;
sequer os penteava.
O jeito de Jonas o diferenciava do irmão, mas fisicamente, eram cópia um
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do outro. Ela se perguntou, então, por que não achou o senhor Jonas um
homem tão estranho quanto seu gêmeo.
Eram os olhos que a deixavam mais impressionada, todavia. Os de Simon
era ônix e Jonas, safiras hipnotizantes e reluzentes. E o mais incrível era que
tinham o mesmo jeito de olhar, uma mistura de desnudamento com análise.
Eles não olhavam: encaravam com a incrível habilidade de não piscar.
Ela notou a tensão entre eles, mas não sabia ao certo como intervir.
— Você deveria ter esperado eu vender a fazenda.
— Minha ideia era melhor. Não acha, senhorita?
— Eu devia ter percebido na hora que você viria falar com ela... Mas
demorei a voltar a mim — falou Flaubert, sem esperar uma resposta dela. —
Sua proposta envolve riscos muito grandes para ela. Um bom comprador
pode resolver a questão.
— Senhor Jonas, um bom comprador não quitaria nem a dívida, quanto
mais me deixaria o suficiente para uma pequena casa em Londres —
Christine falou.
Mas ele não olhou para ela. Christine pigarreou uma, duas, três vezes e
chegou a irritar-se por estar sendo ignorada. Até que Simon levantou,
abotoou o paletó e despediu-se, depositando um beijo na mão da moça.
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Ele sorriu
— Ataques de silêncio?
— Sim. Quando nos falamos, o senhor às vezes se perde nos
pensamentos. Fez isso na rua, em frente ao banco, e fez novamente quando o
Duque estava andando pela propriedade.
Sim, ela havia reparado que ele não falou nada durante a visita de
Augusburg.
Quando Flaubert ia responder, não soube o que dizer. Achou que deveria
explicar para a moça o quão prazeroso poderia ser o som do silêncio. Deu um
passo na direção dela, que pensou que Jonas fosse tocá-la. Ele recolheu a mão
e olhou para os próprios pés, deixando-a confusa com a reação.
O coração de Christine se apertou. Assim como no baile, ela achou que ele
ia fazer alguma coisa e sentiu-se desapontada quando não fez.
Sem entender o que se passava no próprio peito, percebeu que era muito
diferente de tudo que já havia sentido. Certamente diferente do que sentiu
pelo Visconde de Linderpool alguns anos antes e muito diferente do
sentimento pelo Duque, algumas horas antes.
Naquele instante, um tipo de ímã a puxou em direção a ele. Jonas estava
perto demais e um perfume de cravo e canela envolveu-a.
Ela deu mais um passo e parou a poucos centímetros do rapaz. Não seria
seu primeiro beijo, mas ela iria mesmo beijá-lo? Ela não poderia fazer isso.
Ou poderia?
Era filha de um Marquês com a moral ilibada e ele? Ele era um
comerciante... Mas... E daí?
Muita coisa passou pela cabeça dela enquanto ele olhava para os pés.
Por que raios ele estava olhando para os pés?
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Capítulo 15
Antes que Simon saísse da sala, Jonas havia evitado o olhar de Christine.
Não podia perder a lucidez na frente do irmão. Mas a verdade é que o irmão
tinha feito uma proposta que poderia livrá-la de Augusburg e isso, só isso, já
fazia dele uma grande pessoa. Jonas não sabia bem qual era o interesse de
Simon naquilo tudo, mas tinha certeza que não era apenas pela Lei Bancária
— outros Duques já apoiavam o projeto e a presença do Marquês havia se
tornado dispensável.
Então, quais eram as verdadeiras intenções de Simon?
E se ela quisesse casar com Augusburg?
Ela não poderia casar com o Duque! O maldito não a merecia. Não que
Jonas achasse que o nobre fosse realmente propor casamento. Sem o dote de
fato duvidava, mas não arriscaria.
Ele a queria. A amava, e a constatação disso tornou a distância entre eles
ainda maior.
Mesmo que ele nunca fosse ter Christine, ele poderia sonhar que ela
tivesse um homem bom ao seu lado. Um homem como o maldito Conde
Cosito.
Afastou o pensamento quando percebeu que uma mecha do cabelo da
moça brincava sobre o pescoço e os óculos que a tornavam séria começavam
a atrapalhar sua perfeita visão dos lindos cílios dela. Ela precisava tirá-lo.
Ela não, ele. Jonas levou a mão para tirar o cabelo, mas desistiu. Era
indecoroso.
Então, ela se aproximou.
Um passo que permitiu a ele perceber a voz de Christine perto demais.
Não precisaria de copos de whisky desta vez. A voz e a proximidade já o
haviam desnorteado.
O sachê de cravo e canela que ele levava no bolso devia ter perdido o
aroma, porque o cheiro daquela mulher invadiu seu nariz. Uma inebriante
mistura que o atraía e distraía.
Ela deu mais um passo e parou a poucos centímetros. Ele estava a
centímetros da boca com a qual sempre sonhara.
Christine era filha de um Marquês. Que Deus o ajudasse, mas se ela não
se afastasse, ele perderia a cabeça. Sim, Jonas largaria tudo por ela — tudo
relativo a ele, nada relativo a ela.
Um silêncio sepulcral. Um massacrante silêncio que fazia a cabeça dele
girar. Sim, decididamente Simon tinha razão: todos os sentidos de Jonas
estavam alterados. Ele precisava ir embora.
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Sentir o corpo dela contra o seu fazia com que ele não quisesse deixá-la
nunca mais. Encaixavam perfeitamente, eles eram realmente opostos. Ela era
nobreza, ele não; ela era linda, ele não; era ingênua, ele não. Christine era
perfeita. Jonas não.
Ela estava atraída pelo pecado. E ele era o próprio diabo.
Um barulho. Alguém pigarreou. O mordomo!
— Inferno! — Jonas sussurrou, soltando Christine e caminhando até a
janela, permanecendo de costas para César.
— Senhorita?
Meu bom Deus, César estava ali e havia visto aquele beijo inapropriado.
Christine sentiu vontade de sumir, mas manteve os dedos nos lábios, ainda
de costas para o criado, deleitando-se com a paixão do momento. Ele era o
mordomo da família Chasterbrok há mais anos do que ela poderia lembrar e
era muito apegado às tradições.
O que ele diria agora?
— Senhorita, o Duque de Augusburg enviou um mensageiro. Ele não
poderá vir encontrá-la. Deixou este envelope e agradeceu o convite — disse,
entregando a carta e deixando a porta da biblioteca convenientemente aberta.
Jonas ainda olhava pela janela, envergonhado demais para encará-la,
quando falou: — Me desculpe, senhorita, eu não devia... Fui um cretino...
— Por favor, não se desculpe — disse Christine, apoiando a carta na mesa
e levantando a mão para fazê-lo parar. Ele iria estragar o melhor momento de
sua vida em anos.
Jonas ficou parado, sem saber como agir. Então virou-se, soltou o ar e
disse: — Eu irei embora agora, senhorita. Já é de noite. A deixarei sozinha
para abrir a missiva.
O mordomo entrou novamente, com chá e biscoitos, anunciando que o
jantar seria servido em breve.
— Por favor, fique — sussurrou Christine. — Eu preciso, eu preciso de
você — falou, espantando-se com a própria súplica.
Jonas também se assustou e sentiu, por alguns instantes, que poderia ser
correspondido. Mas ela seguiu falando, tentando consertar-se: — Quer dizer,
eu preciso de alguém que me ajude a conversar com o médico.
Ele suspirou e perguntou:
— Ele virá ainda hoje? Não está tarde?
— Seu irmão disse que havia marcado com ele.
Ficaram em silêncio novamente.
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Capítulo 16
O
Febre de raiva.
s dentes de Jonas trincaram, as mãos dele apertaram-
se ao lado do corpo e ele podia jurar, naquele
momento, que estava com febre.
e o beijo de Jonas, tudo que Christine pôde fazer foi lamentar não estar
apresentável para recebê-lo quando ele chegasse. Apertou as bochechas,
tomou banho com leite fresco, lavou os cabelos com óleos perfumados e
colocou seu vestido mais bonito.
Quando desceu, todavia, ele não estava lá.
— O senhor Flaubert esteve aqui, César? — Perguntou ao mordomo.
— Sim, senhorita. Chegou muito cedo, ajudou o Marquês a sentar-se à
mesa para o café da manhã, conversou com ele sobre as dívidas e partiu para
o arado.
— Arado?
— Sim. Ele queria conversar com os arrendatários sobre lucro nas
produções, venda rotativa e outros assuntos que não pude entender. Disse que
retornará no fim da tarde para ajudar o Marquês com o banho. Pediu-me que
colocasse seu pai na varanda após o café e me assegurasse de que o Marquês
não sentisse frio.
O sorriso de Christine se desfez e ela caiu na cadeira ao lado do pai.
Comeu o que lhe foi posto à frente, mesmo sem fome, puxou assunto,
explicou o que estava acontecendo e sentiu-se tola pelo monólogo triste.
Quando o Marquês estava devidamente posicionado na varanda, amarrou
os cabelos dentro da touca e partiu para o celeiro, onde montou no baio da
mãe e partiu.
Do alto da Colina Azul, avistou o senhor Jonas no meio de seus
arrendatários, com uma enxada na mão e de mangas puxadas. Todos o
olhavam com interesse e ele parecia estar concentrado nas explicações que
dava. Tão concentrado que não a viu. Tão concentrado que ela não quis
atrapalhá-lo.
— Meu Deus, os braços dele são mesmo enormes — disse, fazendo a
volta com o cavalo.
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Capítulo 17
N
— Senhor Jonas?
a hora do almoço, Christine pediu ao mordomo que
preparasse uma cesta e voltou ao local onde viu
Jonas um pouco mais cedo. Desta vez, se aproximou.
— Bom dia, senhorita Christine, como vai? — Ele perguntou, sem olhar
para ela, limpando o suor da testa com as costas do braço e voltando a arar.
— Tudo bem, obrigada — respondeu, buscando o olhar dele. — Posso
falar-lhe?
— Estou trabalhando, senhorita.
sentiu o peito comprimir. Ele levou as costas das mãos ao rosto dela e
acariciou lenta e suavemente.
— Então, eu estarei ao seu lado.
Ela sorriu. Era só o que precisava saber, tudo o que queria ouvir.
Proteção. Ela precisava se sentir protegida. Aos 20 anos, havia perdido a mãe
para um acidente, o pai para a melancolia e as lágrimas para a necessidade de
seguir em frente. Ela precisava da tranquilidade que Jonas lhe dava. Precisava
do jeito como ele a olhava.
Precisava dele.
— E se eu não quiser que o Duque me faça a corte?
Ele sorriu.
— E por que você não ia querer que o Duque lhe fizesse a corte?
— Não sei. Talvez ele não seja a minha escolha...
Jonas sorriu travesso e pensou em beijá-la ali, na copa da árvore. Mas
percebeu que havia arrendatários demais ao redor e que um beijo poderia
macular a imagem de Christine.
— Por favor, senhorita, volte para a mansão. Irei até lá mais tarde e
podemos conversar sem a plateia — cochichou, apontando com os olhos para
os trabalhadores.
Ela anuiu, pegou a cesta e cavalgou de volta lentamente, sorrindo como há
muito tempo não sorria. Sentia-se feliz ao ver o esforço dos arrendatários,
mas sentia que não estava mais sozinha. Jonas estava lá.
De longe avistou um coche com o brasão ducal e, olhando para a varanda,
viu o Duque de Augusburg sentado ao lado do pai. Acelerou o trote do cavalo
até aproximar-se, e ouviu o Duque dizer: — Como vai, senhorita? Não sabia
que o Marquês estava tão adoecido. É uma lástima. É um homem culto,
influente que não pode mais resolver nada — comentou o Duque.
— Ele irá melhorar — ela disse, sorrindo ternamente para o pai. — Por
favor, vamos caminhar. Papai, já voltamos.
— É muito doce de sua parte falar com seu pai mesmo sabendo que ele
não vai responder.
— Recebemos um médico ontem que trouxe uma proposta nova de
tratamento.
— Um médico? — Perguntou Augusburg, alisando o bigode cultivado.
— Sim. O senhor Simon indicou.
— Simon? Marshall? Interessante... — Ponderou. — Imagino que a
senhorita não tenha se perguntado qual o interesse de Flaubert nisso tudo,
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perguntou?
— Algo sobre a Lei Bancária na Câmara dos Lordes.
Ele anuiu e Christine passou a ouvir o garboso Duque enaltecer suas
qualidades e criticar as de todos os outros que não possuíam títulos.
— A senhorita sabe, os burgueses acham que vão decidir alguma coisa.
Somos nós, os homens de berço, que devemos resolver o futuro do reino.
O assunto era enfadonho e tudo o que ela queria era que Augusburg fosse
embora. Sentia que ele se aproximava cada vez mais e receava que fosse lhe
beijar de novo.
Tinha medo que o fizesse.
Queria muito que não fizesse.
De volta à casa, Christine ofereceu um chá para o Duque, que se aboletou
na sala ao lado do Marquês e continuou contando as vantagens de sua
fazenda. Ela receava que Jonas voltasse e imaginou como seria o embate dos
dois. Queria desesperadamente que Augusburg partisse e, quando finalmente
ele se dignou a levantar, já havia passado toda a tarde.
Uma tarde bastante aborrecida.
Da porta da Mansão, ela viu o cavalo de Jonas se aproximar e sentiu que
as borboletas em sua barriga estavam em polvorosa.
De longe, o rapaz avistou uma nuvem esvoaçante cor-de-rosa. Seu cabelo
dourado ia se soltando do coque e parecia propositalmente disposto a
provocá-lo. Depois que conversaram, ele achou que deveria falar novamente
com ela, dizer o que sentia e oferecer-lhe tudo o que tinha.
Mas aí, avistou o Duque. O maldito Duque que não merecia nem um fio
brilhante daquela feiticeira. Como se tomado pelos Sete Demônios do
Apocalipse Eterno, esporou o cavalo, que disparou levantando poeira, grama
e sujeira.
Simon, que se juntara a ele no caminho da casa, riu da demonstração de
paixão de seu irmão.
— Acalme-se, Flaubert! Vai cair do cavalo e quebrar o pescoço! —
Gritou, sem prender as gargalhadas.
— Senhor Jonas? — Perguntou Christine assim que ele se aproximou,
oferecendo-lhe o mais largo sorriso.
Simon notou que ela sorriu para o irmão. Um enorme sorriso aberto que
ele ainda não tinha visto no rosto de nenhuma dama.
— Flaubert, por que não leva a senhorita Christine até a colina? Fui
informado de uma nova espécie de mato que você, certamente, vai saber
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Capítulo 18
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Capítulo 19
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Capítulo 20
visse novamente.
Como ele a esqueceria?
Christine acordou no dia seguinte sentindo-se depravada.
Meu Deus! O que eu fiz?
Havia perdido a lucidez nos braços de Jonas e sentira um prazer maior do
que qualquer outro que já sentira na vida. Chegou a duvidar que poderia ficar
melhor.
Onde ele está?
Sozinha, no meio da sua cama, seminua, Christine sentiu a falta do cheiro
dele e do calor de seu peito. Imaginou que ele teria saído de madrugada para
não comprometê-la, agora que tinha sido deflorada.
O que fiz?
Será que ele a pediria em casamento? Mas e a fazenda? Ela teria que casar
com alguém de posses, que quitasse as dívidas do pai e mantivesse-a em
segurança.
Não pode ser Jonas...
Uma lágrima surgiu no canto do seu olho. Ela queria Jonas.
— Pelo menos, senti o gosto do prazer uma vez. Se eu tiver que casar com
o Duque, pelo menos terei essa lembrança para me aquecer à noite.
Quando desceu para tomar o café da manhã, seu pai já estava a mesa,
devidamente banhado, sentado ao lado do mordomo que lhe servia.
— César, o senhor Jonas já desceu?
— Não o vi, senhora, mas o rapaz do estábulo disse que ele partiu de
madrugada.
Partiu? Depois de tudo que acontecera entre eles, depois de ter colocado
a boca em lugares proibidos e de ter visto sua nudez, ele partiu?
— Partiu para onde? Para o arado?
— Creio que não saiba informar, senhorita. O único que a viu sair foi o
cavalariço.
Subitamente, a falta de ar tomou conta dela. O que ela havia feito? Aquele
homem a usou e foi embora...
Ela precisava ficar sozinha.
— Vou caminhar, César — disse, sem esperar resposta, e saiu, selando um
cavalo e partindo em cavalgada pela fazenda.
Uma mulher deflorada. É isso que sou. Quem irá querer casar com uma
mulher deflorada pelo filho do banqueiro? O que eu fiz?
Arrependeu-se.
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Capítulo 21
ela esquecer que você não tem título. Ou melhor! Vai fazer ela perceber que é
melhor que você não tenha um título!
— Simon, foi você quem colocou a condição de casar com Augusburg se
o pai dela não melhorasse.
— Eu não disse para ela casar com Augusburg! Disse para ela casar.
— Estão falando da menina de Chasterbrok? — Perguntou o pai, entrando
com alguns papéis e uma xícara de café.
— Sim! Seu filho está apaixonado! — Debochou Simon.
— Cale-se, Simon! — Irritou-se Jonas.
— Eu já sabia, Flaubert. Não seja tolo. Achei que o encanto fosse passar
depois de umas semanas por lá, mas se não passou, paciência. O pai dela está
falido e o futuro noivo terá muito trabalho para saldar a dívida. Simon me
disse que a fazenda tem produzido, mas não pense que só porque é meu filho
que eu não cobrarei o que tenho direito — afirmou, sentando-se e sorrindo
para Simon, sem que Jonas visse.
— Meu pai, não posso casar com ela. É a filha de um maldito Marquês!
— Meu filho, estamos em 1816! Não seja tolo. Ser filha de um Marquês
não quer mais dizer grande coisa.
— Ela sonha com um casamento nobre...
— Você é igual à sua mãe. Romântico demais — declarou, coçando as
têmporas. — Isso não é necessariamente ruim, se você souber como agir. E
se não for tão idiota!
Eles ficaram em silêncio, até que o velho senhor Marshall voltou a falar:
— Agora, me escutem. Flaubert, você vai cortejar a menina da forma certa.
Não seja afoito e não faça nada para comprometer a moça. Ande! Saia daqui
e vá para casa fazer as malas. Você precisa ir para o fim-de-semana na casa
de Linderpool.
— Não vou ao baile. Augusburg pretende cortejá-la e ela quer casar com
um nobre.
— Não é uma boa escolha e ela disse a mim, pessoalmente, que não faz
questão de um nobre, que títulos não querem dizer nada— interveio Simon.
— Estive com Augusburg na França e ele é péssimo com dinheiro, além de
ser um cretino maldito do qual ainda vou tirar muito dinheiro. Sabe que
precisa ter, sabe gastar e sabe que casamentos com herdeiras são o melhor
caminho, mas a administração dele é pior do que a de uma criança. Mal sabe
fazer contas!
Os três riram.
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Capítulo 22
Fazenda Linderpool, agosto de 1816
se permitiria sentir.
Trancado no quarto providenciado pelo Visconde, Jonas sabia que ela
estava chegando quando avistou a carruagem no portão da fazenda de
Linderpool. Só faltava ela, dentre os convidados. Ela e o maldito Duque de
Augusburg, que ainda não voltara da França.
Felizmente.
Da janela, fechou os olhos e tocou os lábios, lembrando do cheiro e do
som que ela produziu ao sentir prazer.
A carruagem parou à porta da casa principal e ela desceu. Do alto, ele
avistou o chapéu e a silhueta curvilínea que ele agora conhecia mais do que
ninguém. Um fio de cabelo dourado havia se soltado da trança e os dedos
finos de Christine o colocaram atrás da orelha, levando Jonas a lembrar de
quando beijara aquele lóbulo.
Um vento balançou a saia dela e o furta-cor o hipnotizou. Ou pelo menos
ele quis acreditar que tinha sido o colorido da roupa que lhe chamara a
atenção e não o tornozelo de Christine por baixo da saia, que ficou à mostra
quando o vestido balançou.
Quando a moça entrou, Jonas quis descer e falar com ela, mas não sabia
exatamente o que dizer, como se aproximar, como se desculpar por ter ido
embora tão abruptamente. O quarto dela, situado em outra ala da casa,
mantinha a sanidade dele — ela, decididamente estava longe o suficiente.
Talvez, depois do almoço.
Direcionada para um dos maiores quartos do lugar, Christine sorriu ao
perceber que uma jovem criada a aguardava ao lado de uma banheira com
água quente e cheiro de rosas. Isso e mais a lareira acesa eram luxos que há
meses não tinha e que sempre sonhara voltar a ter.
Na mesa, uma bandeja com bolo, chá e um bilhete da amiga, convidando-
a para o almoço no solar. O armário, abastecido com vestidos novos, sapatos
e — claro — chapéus, completava os mimos providenciados pela
Viscondessa de Linderpool.
Sobre a cama, uma rosa branca, que ela pegou e cheirou, sorrindo ao
lembrar do gesto semelhante da amiga em Londres, no dia do baile do Duque.
Ela se arrumou, parou à porta do quarto e respirou. Era hora de descobrir
seu destino.
Jonas sabia que ela tinha sentido o mesmo prazer que ele. Mesmo não.
Jonas sentiu muito mais prazer do que ela e, parado à janela, imaginava
formas de fazê-la querer muito mais. Ele havia a tocado da forma mais íntima
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Capítulo 23
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Capítulo 24
França, para não dizer da Europa. E ela ainda não sabe, mas é a única
herdeira. Ela será Duquesa sem um Duque. Precisa de um Duque. Eu!
— E o que faz você acreditar que ela aceitará seu pedido?
— Oh, ela aceitará. Eu vou garantir que ela aceite... Ela já está inclinada a
aceitar minha proposta, porque, veja bem, sou um Duque.
— Não acho que esse argumento a convença.
— Aí, eu entro com outro plano. Vou me aproximar dela, fazê-la confiar
em mim e amanhã no baile, vou garantir que ela não tenha escolha — sorriu,
alisando o bigode.
— Seu maldito! — Gritou Flaubert com o punho cerrado e os olhos azuis
assumindo tons de vermelho.
Rindo, o Duque debochou.
— Você não achou que ia casar com ela, achou? Você é um nada, filho de
um banqueiro! Nunca poderia casar com a filha de um Marquês, uma futura
Duquesa. Ela tem que casar com um Duque. Comigo! E eu terei toda a
fortuna dos dois ducados. A dívida de Chasterbrok será nada perto de tudo
que eu terei. Depois, todas as noites, depois que eu beber meu mais caro
whisky, vou entrar no quarto dela, que vai estar esperando por mim ansiosa,
na cama, com aqueles seios fartos...
Ele não viu nada. Nem o whisky caindo, nem as pedras de gelo acertando
suas têmporas nem o copo estourando em sua cabeça. Flaubert não saiu da
biblioteca. Com as mãos nos bolsos, caminhou até o Duque.
— O engraçado é que, de tudo isso, o que eu mais me arrependo é de ter
desperdiçado um magnífico escocês.
— Seu maldito! Vou tirar todo o dinheiro do seu banco e fazê-lo
apodrecer!
— A papelada estará pronta na segunda — encerrou, deixando o Duque
amargar o rancor.
— Eu vou destruir você, Flaubert! Destruir você!
— Oh, meu caro, vamos ver... Isso, nós dois vamos ver.
— Vou arruinar a votação na Câmara dos Lordes. Eu sou o Duque de
Augusburg, muito mais influente e muito mais rico do que todos os
Condezinhos e Marquezinhos de Londres.
— Há quem discorde. Eu, inclusive, posso listar uns 10 nomes de homens
mais ricos que você. Acho que até mesmo algumas mulheres também o são
— encerrou, deixando a biblioteca com o coração apertado.
Horas mais tarde, a Viscondessa olhava para a sua mesa de jantar,
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Capítulo 25
mordomo.
Certo de que Maurice lhe exigiria que fosse embora, Jonas coçou a testa,
passou a mão pelos cabelos e foi.
— Flaubert, que bom que chegou! Estávamos falando sobre a Lei
Bancária. Augusburg acredita que a liberdade de contratação irá apenas
causar mais dívidas. Gostaríamos de ouvir sua opinião.
— Vossa Graça pode ter razão. Não sei bem se a livre negociação é
interessante — disse, caminhando até a mesa de bebidas e servindo-se de
uma dose. — Aliás, como vai a cabeça, Augusburg?
O Duque apertou o próprio copo nas mãos e todos deram risos abafados.
— Acho que não deveriam aprovar, senhores. É péssimo para todos os
devedores, que perderão muito mais do que têm. É ruim até para o banco, que
perderá clientes endividados. Com apenas um comprador, que também é
vendedor, não haverá mercado.
— Um tanto extremo, não? Para isso, todos teríamos que perder tudo.
Tudo. E não seríamos tão idiotas — falou o futuro Barão de Neusberg.
Um burburinho se formou entre risadas. Certos de que poderiam usar suas
influências para baixar os juros das negociações, despediram-se e partiram
para o almoço.
Jonas e Neusberg ficaram para trás.
— Ouvi dizer que Augusburg vai destruir o banco — debochou Neusberg.
— Deixe ele tentar. Vai ser até engraçado.
— Você acha que eles aprovarão? Foi um jogo perigoso brincar com os
egos.
— Aguardemos.
— E a senhorita Chasterbrok? Você já sabia que ela ganhou o prêmio e
será a primeira a escolher seu parceiro?
— Sim.
— E quem será que as outras moças escolherão?
— Alguma moça especificamente, Neusberg?
— Lady Pamela... Ouvi dizer que o Conde Cosito a está cortejando e eu,
bom, gostaria que ela me escolhesse para seu parceiro na valsa.
— Cosito não está cortejando Christine?
— Não, meu caro. Ele está interessado em Lady Pamela.
Talvez ele ainda tivesse uma chance... Talvez.
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Capítulo 26
Seu corpo inteiro estava tenso e reagia à presença dela, que percebeu e
sorriu para ele.
— Achei que ia recusar — ela cochichou, quando acordes um pouco mais
altos chegaram aos pés deles.
— Jamais recusaria qualquer coisa à senhorita.
— Qualquer coisa?
— Qualquer coisa — respondeu, arqueando as sobrancelhas.
Ela sorriu e mudou de assunto.
— E como vão os negócios do banco?
— Fluindo. E seu pai?
— Está na cama, igual a ontem e tenho quase certeza de que igual a
amanhã. Desisti de lutar por ele. Agora, vou ver o que a vida me apronta —
suspirou. — Seu irmão me procurou e pediu que eu fosse ao banco o quanto
antes. Acho que vai me despejar.
Ele sorriu.
— O senhor não saberia do que se trata, saberia?
— Não — mentiu. Queria muito que ela fosse surpreendida com a
escritura quando chegasse no banco.
Ela percebeu que ele mentia e apertou os olhos, mas ele não poderia dizer
que tinha comprado Chasterbrok para ela.
— Tem algo a me dizer, Jonas?
Ele prendeu o ar.
— Creio que não.
A música estava acabando e os lábios dela haviam prendido a atenção de
Jonas.
— A senhorita me acompanharia em um passeio pelo jardim?
Estava fresco o tempo, realmente agradável para um passeio pelo jardim.
— Gostaria de lhe perguntar novamente — ela começou a dizer,
quebrando o silêncio ao chegar no caramanchão e desamarrando a fita da
máscara, no que ele a acompanhou. — Quem sabe sua resposta agora não é
diferente.... Por que foi embora da fazenda daquele jeito?
— Eu... eu não podia ter deixado as coisas chegarem àquele ponto.
— Deixar? Se bem me lembro, eu deixei. Foi assim tão ruim? — Corou,
sentindo-se corar e desviando o olhar.
— Ruim? Christine, olhe para mim — ele chamou. Quando ela não virou,
ele tocou o rosto dela e insistiu. — Por favor...
Ela olhou, ainda sem graça, secando discretamente os olhos de uma ou
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Capítulo 27
F
escadas da Mansão.
laubert voltou para o salão assim que os nobres
afrouxaram as mãos. Voltou a tempo de ver Christine,
amparada pela Viscondessa de Linderpool, subir as
interrompeu.
O Visconde anuiu e partiu, deixando Neusberg e os irmãos a sós.
— O que você vai fazer, Flaubert?
— Vou embora. O dono da casa me mandou embora. Então, eu irei.
— Para Londres? A votação da Câmara é no final desta semana. Será que
este escândalo compromete a votação?
— Provavelmente. Mas não há muito o que fazer...
O coche dos Marshall partiu no dia seguinte pela manhã. Flaubert, que
não havia dormido, deixou uma carta para Christine e uma nota para o casal
de Viscondes, desculpando-se quanto aos acontecimentos.
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Capítulo 28
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Capítulo 29
Londres, setembro de 1816
ideia novamente!
Jonas se ajoelhou, segurou a mão de Christine e, finalmente, perguntou:
— Christine Chasterbrok, você me daria a honra de ser minha esposa?
— Oh! — Ela disse, levando a outra mão à boca e abanando os olhos
frivolamente. — Sim! Sim! Sim!
De pé, ele a beijou.
— Eu vou comprar o anel ainda hoje, Christine. Eu-eu achei que você não
vinha. Quero dizer, a Lei Bancária está em votação e...
— Aqui, rapaz — disse o pai, oferecendo-lhe um anel de safiras. — Eu
ando com esse anel no bolso desde que me convenci de que você voltaria do
baile da Viscondessa já noivo.
Naquela mesma noite, um jantar na casa dos Marshall celebrou o noivado.
O noivado e o nascimento do futuro Visconde de Linderpool, anunciado no
meio da sessão de votação da Lei Bancária, que foi interrompida naquele
momento.
No dia seguinte, Christine Chasterbrok, a Duquesa de Bordeaux, seguiu
em um coche novo para a casa da amiga, onde passaria o próximo mês
ajudando com o neném.
Jonas, entretanto, tomou outro rumo: a Fazenda Chasterbrok. Ainda não
tinha resolvido tudo por lá.
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olhos dela estavam tão cheios de lágrimas que a emoção alcançava a todos os
presentes. Ela estava muito feliz.
Quando as mãos do casal se tocaram, o órgão silenciou. Nada era ouvido
em todo o templo, exceto, talvez, pelo barulho surdo de madeira contra
madeira atrás dos bancos, que fez todos se virarem e se espantarem ao ver o
Marquês de Chasterbrok, de pé, apoiado em uma bengala e amparado por
Aaron e César.
Era o presente de casamento de Flaubert para Christine. Durante todo o
mês em que ela esteve em Londres organizando, com Julie, o próprio
casamento, o rapaz esteve na fazenda tentando de tudo para o futuro sogro
reagir.
— Papai? — Ela perguntou incrédula, apertando a mão de Jonas.
O velho homem não respondeu e a Igreja manteve-se em silêncio, atenta
aos passos cambaleantes do homem, que foi acomodado no primeiro banco,
ao lado dos pais de Flaubert.
Christine olhou para Jonas, que sorriu ternamente para ela e apontou com
a cabeça para o Marquês. Ela entendeu. Eles se entendiam com poucos
gestos.
Ela caminhou até o pai, segurou-lhe a mão e deu um beijo reverencioso.
Quando levantou os olhos, uma lágrima descia pela bochecha dele. Ela secou,
com a luva, abraçou-o com força e sentiu o retorno do carinho, o momento
delicado em que ele encostava a própria cabeça na dela.
— Obrigado — o Marquês balbuciou. Se para Christine ou para Jonas,
ninguém descobriu ainda, mas ambos sentiram-se agraciados pela primeira
palavra do homem.
De volta ao altar, Christine depositou um beijo casto na boca de Flaubert,
que sorriu enquanto todos ecoavam um suspiro tímido.
O padre, um pouco surpreso com o momento indecoroso, pigarreou e
prosseguiu com o ritual. De pé, ao lado de Jonas, estava Simon, que distraiu-
se por toda a cerimônia com o olhar fugidio de Julie, parada ao lado de
Christine.
O que diabos estava havendo?
Por que ela não olhava para ele?
A celebração, nos jardins da Mansão, contou com a presença de
arrendatários, Viscondes, Condes, Duques e outros tantos conhecidos, que
fizeram questão de conhecer a nova fazenda.
Enquanto dançava com a esposa, Jonas cochichou indecências no ouvido
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dela, coisas das quais ela nunca havia ouvido falar nem tampouco imaginar.
— E eu quero fazer isso tudo com você — sussurrou, tão próximo do
ouvido dela que as palavras ecoaram até a parte mais íntima dela.
— Felicia me disse que o que fizemos aqui na fazenda naquele dia, bom,
como eu vou dizer... — Ela corou.
— Sou seu marido e acabei de falar muita coisa para você. Pode dizer
qualquer coisa...
— Eu ainda sou pura, não é?
Ele sorriu. Depois riu. Depois gargalhou e a puxou para perto, beijando
demoradamente a testa dela antes de dizer.
— Sim, meu amor. Você é. — Beijou-lhe suavemente a ponta do nariz. —
Muito... Mas vamos resolver isso ainda hoje.
— Oh! Vamos?
Ela ruborizou.
— Jonas?
— Sim?
— Como é que se faz amor?
Ele suspirou. Havia mil formas de fazer amor e ele tinha pensado em
outras tantas para tentar com ela. O assunto deixou as calças de Flaubert
ainda mais incômodas. Há meses ele queria beijar Christine em lugares
impróprios e tomá-la finalmente para si, mas achou que deveria esperar um
pouco mais.
É certo que a distância que mantiveram um do outro facilitou um pouco a
espera e aumentou bastante a ansiedade. O coche de Christine, com o seu
próprio brasão ducal, estava enfeitado e a ânsia de Flaubert em responder à
pergunta dela foi tanta que ele sequer dançou com a própria mãe.
Ao fim da cerimônia, depois que o irmão e a esposa se retiraram, Simon
convidou Julie para um passeio até a colina. Enquanto caminhavam, fez
questão de perguntar: — Julie, o que está havendo?
— Estou grávida.
Fim.
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