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A última

canção

DlANA PALMER

ARGUMENTO:

Tudo começou como uma brincadeira. Sabina só estava


fingindo estar prometida com seu melhor amigo, o milionário
Ao Thorndon. À a tinha convencido de que o fizessem para
enganar a seu irmão Thorn. Sabina pensou que aquilo duraria
só uma noite. Mas então, Thorn a acusou de ser uma
cazafortunas. Não sabia as repercussões que podia ter sorte
acusação: Thorn descobriu todos quão secretos ela levava
tanto tempo ocultando. Sabina temia que os tirasse a luz,
pois voltaria a recordar coisas que tinha lutado muito por
superar. Entretanto não podia decepcionar a seu melhor
amigo...
Capítulo 1:

«OUTRA excursão que toca a seu fim», pensou Sabina


Cane enquanto observava aos eletricistas desmontando os
focos do auditório do Savannah onde ela e seu grupo, Os
Bricks, acabavam de dar um concerto em direto. A avaliação
tinha estado completo e, embora não ficaria grande coisa
quando pagassem aos técnicos de luz, som, e demais, podiam
dar obrigado pelo bem que lhes estava indo a temporada,
porque a anterior tinha sido bastante frouxa.
Sabina se perguntou com um suspiro se chegaria a
conhecer algum dia o que era a estabilidade econômica, mas
imediatamente riu de si mesmo e de seus tolos medos. Ao
fim e ao cabo, estava fazendo o que mais gostava: cantar.
Sem a música, sua vida estaria vazia, e não todo mundo tinha
a sorte de ter um trabalho que gostasse. O que tinha que
fazer era olhar para diante. Ela e os meninos tinham um
contrato de duas semanas para atuar em um dos melhores
clubes noturnos de sua cidade natal, Nova Orleáns. E além
disso, recordou-se, aquele mês de excursão por vários
estados lhes tinha proporcionado uma publicidade nada
desdenhável.
Passeou o olhar pelas filas vazias, e dirigiu um olhar
compassivo aos homens que estavam recolhendo a equipe na
hora da madrugada que era. Não havia outro remédio, porque
ao dia seguinte tinham que estar em Nova Orleáns para
começar os ensaios.
A «garota de cetim», como a tinham batizado as
revistas do mundinho porque sempre vestia sobre o cenário
alguma objeto desse material, estirou-se, desperezándose.
Os pantaloncitos de cetim, o Top de lentejoulas, e as botas
altas de couro que tinha eleito para a ocasião lhe davam um
ar muito sensual que pouco tinha que ver com a realidade, já
que fora do cenário preferia a roupa larga e informal. O
cabelo, que lhe chegava à cintura, era castanho e ondulado,
seus olhos quase pareciam de prata, e os fotógrafos nunca
acreditavam que suas pestanas, tão largas e espessas,
pudessem ser de verdade.
Albert Thorndon estava ao pé do cenário falando com
o Dennis Hart, seu representante. Nesse momento girou a
cabeça e a viu. Dirigiu-lhe um sorriso, e ela respondeu com
outra, acompanhada de uma saudação com a mão. À era um
de seus melhores amigos. Tinha-o conhecido através da
Jessica, amiga sua da infância, quem estava perdidamente
apaixonada por ele.
Jessica era a secretária pessoal do na companhia petrolífera
de sua família, Thorn Oil, mas ele não tinha nem idéia do que
sentia, e Sabina seria incapaz de trair a confiança de seu
amiga dizendo-lhe
Os três saíam juntos de vez em quando, e embora ao
princípio Ao tinha dado amostras de sentir-se atraído por
ela, Sabina lhe tinha deixado muito claro, com o tato e a
simpatia que faziam impossível que ninguém se sentisse
doído por seu rechaço, que ela não estava interessada em
iniciar uma relação sentimental, e finalmente, Ao tinha
terminado por aceitá-la simplesmente como amiga.
Precisamente tinha sido Ao quem lhes tinha
conseguido o contrato para atuar nesse clube de Nova
Orleáns e tinha pirado nada menos que de Louisiana para
dizer-lhe A marca Thorn Oil englobava outros negócios além
da exploração dos poços petrolíferos do rancho Thorndon,
no Beaumont, Texas, e um deles era aquele clube noturno.
Sabina se perguntou se o irmão maior do estaria a par
daquele favor que lhes tinha feito.
Tinha ouvido muitas coisas a respeito do Hamilton
Regam terceiro Thorndon, ou Thorn, o apodo pelo que o
chamavam, e a maioria delas eram desfavoráveis. Era quem
mandava na empresa Thorn Oil, que tinha seus escritórios
centrais em Nova Orleáns, e tinha reputação de ser um
implacável homem de negócios, que sempre conseguia o que
se propunha. Mas também se dizia que usava às mulheres
como lenços de papel, deixando um reguero de corações
quebrados a seu passo.
Essa era a classe de homem que Sabina detestava, e
se alegrava de que Ao nunca tivesse tido intenção de lhe
apresentar a sua família. Embora parecia que tampouco havia
muita família que apresentar: só eles duas e sua mãe viúva,
que tinha sido atriz de teatro em sua juventude, e agora era
diretora de sua própria companhia, e invariavelmente
estavam em um estado ou outro, representando obras que
segundo Ao, seu irmão sempre qualificava despectivamente
de «estúpidas comédias para o vulgo».
Jessica lhe tinha contado a Sabina que só se reuniam
os três em ocasiões muito contadas, como Natais, o dia de
Ação de Obrigado... Não, não parecia que se levassem muito
bem.
Ao se despediu do Dennis com um apertão de mãos e
uma palmada no ombro, e se dirigiu para ela. Seus olhos
verdes percorreram com um olhar apreciativo a figura da
Sabina, e ela riu, porque não era mais que uma brincadeira
entre eles.
—Cada dia está mais preciosa, «garota de cetim» —lhe
disse Ao, detendo-se frente a ela.
— Você crie? —respondeu ela com um sorriso
zombador, fazendo uma pose.
—Meu reino por uma câmara —suspirou ele
comicamente—. me Diga, onde te compra essa roupa tão
sexy?
—Faço-me isso eu —foi a resposta da Sabina. riu
divertida ao ver a expressão de surpresa no rosto do—. Bom,
fiz um curso de corte e confecção faz anos, e costurar me
relaxa.
— Quem ia dizer o? Sabina, a amita de casa... —
murmurou ele com um sorriso brincalhão.
—Muito gracioso. que cante em um grupo de rock não
quer dizer que não engome, ou cozinhe, ou passe a mopa pelo
chão de meu salão —replicou ela.
— Passar a mopa? —repetiu ele—. Não me faça rir, seu
apartamento é tão minúsculo que lhe passando uma toallita
de papel em dois minutos acabaste.
—Não te coloque com meu apartamento —replicou ela
com uma careta, ficando à defensiva—. Pode que seja
pequeno, mas é meu lar.
—O tamanho é o de menos; se não repartisse entre
seus vizinhos quase tudo o que vontades, poderia viver com
mais comodidades —lhe reprovou ele —. Tem móveis de
segunda mão, um televisor de segunda mão, um frigorífico de
segunda mão... e tudo porque tem um coração que não te
cabe no peito. Não é a beneficência, Sabina, deveria
preocupar-se de ti mesma de vez em quando.
—Eles necessitam o dinheiro mais que eu —lhe
recordou ela—. Poderia te apresentar a alguns deles para
que visse as condições nas que vivem e te daria conta de
que...
—Está bem, está bem, você ganha, fim da conversação.
Sei quando me derrotaram —balbuciou Ao passando uma mão
pelo alvoroçado cabelo castanho—. Virá a minha festa
amanhã de noite?
— Que festa?
—A que dou em minha casa —respondeu ele—. Não lhe
deram a mensagem na recepção do hotel?
Ela meneou a cabeça. Era a primeira vez que ouvia que
Ao desse uma festa.
— Quem vai? —inquiriu olhando-o suspicaz.
—Um montão de gente que não conhece, incluído
Thorn.
O simples som desse nome fez que contraíra o rosto
com desgosto.
— Hamilton Regam Thorndon III em pessoa? —
inquiriu.
—Se te ocorre chamá-lo assim quando lhe o presente,
não respondo das conseqüências —lhe advertiu Ao com um
sorriso—. É algo que detesta.
—me deixe adivinhar... Seguro que é um desses
homens de negócios roídos com uma barriga de cerveja e
uma calva incipiente.
Ao riu.
—Tem trinta e quatro anos —replicou, lhe lançando um
olhar curioso—. por que te põe à defensiva cada vez que o
menciono?
Sabina baixou a vista a suas botas.
—Dizem que utiliza às mulheres.
—Bom, é verdade que o faz —concedeu Ao —, mas elas
também o utilizam a ele. Enfim, é um solteirão rico, não um
santo. Gosta das mulheres, elas se sentem atraídas por sua
posição social e seu dinheiro, e não lhe importa gastar-lhe
nelas. Não estou dizendo que me pareça bem, só que elas são
quão primeiras estão dispostas a entrar no jogo.
Lembranças do passado foram à mente da Sabina.
Homens com dinheiro... O anzol... Usavam-no como um anzol...
E o peixe que picava era uma mulher se desesperada... deu-
se a volta, tremendo por dentro de ira e de raiva. Não queria
que Ao visse a dor que refletia seu rosto.
—Que estranho que não esteja casado... —balbuciou.
Os homens dessa classe, os homens que jogavam com
as mulheres, muitas vezes estavam acostumadas ter uma
esposa amante e ignorante de seus deslizes em casa.
De costas a ele como estava, Sabina não pôde ver a
expressão de franco curiosidade em suas facções.
— Casado? —repetiu com uma gargalhada—. Por Deus,
não acredito que ninguém pudesse agüentá-lo. por que crie
que nossa mãe quase não pisa no rancho, e eu tenho uma casa
na cidade?
—Bom, há dito que gosta das mulheres — disse Sabina,
girando-se de novo para ele.
— Sim, mas não deixa que nenhuma relação chegue a
esse ponto —respondeu Ao, metendo-as mãos nos bolsos da
calça—. A única mulher a que amou o traiu, e após é como se
tivesse rodeado seu coração com uma couraça de gelo. Com
os anos se tornou suscetível e teimoso como uma muía, e se a
isso acrescenta que tem um caráter de mil demônios...
—Isso não o desculpa —replicou ela—. Eu não gosto
dos tipos arrogantes que vão por aí em plano donjuán.
O que o irmão do merecia era encontrar-se com a
fôrma de seu sapato. Lástima que ela não estivesse
interessada em manter uma relação, porque se teria
divertido lhe fazendo morder o pó. Sua vida era uma
verdadeira ironia: sobre os cenários dava a imagem de ser
uma mulher sensual, e em troca sua experiência amorosa se
limitou até a data a uns poucos beijos. O certo era que não
tinha conhecido a nenhum homem que tivesse sido capaz de
lhe fazer perder a cabeça, e por culpa do passado
desconfiava do gênero masculino em geral, com a exceção do
e os companheiros de seu grupo.
massageou-se o pescoço com a mão e suspirou.
—Vou ao hotel —disse a Ao—. Preciso dormir um
pouco. Obrigado por vir até aqui para nos dizer o do contrato
do clube.
—Não há de que —replicou ele—. Bom, e o que me diz
então do da festa de amanhã? —disse-lhe em tom vacilante,
como se temesse que lhe dissesse que não.
Sabina entreabriu seus olhos cinzas, olhando-o
suspicaz.
—Você trama algo, verdade? O que é?
Ao riu brandamente e sacudiu a cabeça.
—Não tenho maneira de te enganar, verdade?,
conhece-me muito bem -respondeu—. Verá, trata-se de um
investimento que...
— Estraga! —exclamou ela triunfal, apontando-o com o
dedo—. Já sabia eu que se tratava de algum negócio...
—Sim, bom, mas não me deixaste acabar de lhe contar
isso Amanhã de noite lhe explicarei isso com mais detalhe
quando passar a te recolher, mas irá em benefício dos
meninos pobres —acrescentou.
—Nesse caso, conta comigo, seja o que seja —
respondeu ela, afogando um bocejo com a mão—. Quem vai
ser seu casal como anfitrião?
—Jessica —respondeu ele.
A Sabina surpreendeu ver tristeza em seus olhos, e
como nada mais pronunciar seu nome baixou a cabeça.
Poderia ser que ele...?
—Eu gostaria de poder lhe dizer a Jessica que... —
murmurou Ao, quase para si, sem levantar a vista.
— O que? —inquiriu ela com o coração em velo.
—Nada, não tem sentido.
Aquilo tinha que significar algo! A Sabina custou
conter a emoção quando lhe disse em um tom suave:
—Nunca a tinha convidado a uma festa.
—Porque Thorn a despediria se soubesse que me sinto
atraído por ela —respondeu Ao, apertando os dentes, sem
poder reprimir-se mais. Sabina quase deu um grito de
felicidade—. Lhe disse que não tinha podido encontrar a
ninguém mais para fazer de anfitriã comigo... —olhou seu
relógio de pulso—. Diabos —resmungou—, tenho que ir já,
Sabina, ou chegarei tarde ao aeroporto. Passarei a te
recolher amanhã às oito, parece-te?
—De acordo —assentiu ela—. E obrigado pelo do clube.
— Nem o mencione! —respondeu ele com um sorriso
enquanto se afastava—. boa noite!
Os olhos da Sabina o seguiram até que desapareceu
depois de uma das portas de acesso ao recinto. sentia-se
atraído pela Jessica! Talvez inclusive estivesse apaixonando-
se por ela. Não seria maravilhoso que seus dois melhores
amigos acabassem juntos? Sabina sorriu para si.
Às nove da manhã do dia seguinte, o grupo e a cantor
tomaram um ônibus de volta a Nova Orleáns, mas Sabina não
chegou ao bloco de apartamentos onde vivia até passadas as
seis: Enquanto caminhava pela calçada para o velho edifício
com a mochila ao ombro e a bolsa de viagem na mão, levantou
a vista e o observou com carinho. Tinha vivido ali desde que
deixasse o orfanato aos dezoito anos, e embora estava em
um favela, tinha bons vizinhos e amigos. Estava perto do
porto, e de ali podiam ouvi-las sereias dos navios e cheirá-la
brisa do mar. Entretanto, o motivo pelo que para ela aquele
era o melhor lugar para viver era de caráter prático: podia
pagar o aluguel.
—Ah, já está de volta, senhorita Cañe? —saudou-a o
senhor Rafferty, sentado ao pé das escadas da entrada.
Rondaria os setenta anos, estava virtualmente calvo,
luzia uma descuidada barba branca, e quando não fazia frio
sempre ia vestido com umas calças e uma camiseta de
suspensórios. Vivia da mísera pensão que tinha, e não tinha
família.
—Sim, senhor —respondeu Sabina sonriéndole—.
Tenho algo para você —lhe disse. tirou-se a mochila e
rebuscou nela, extraindo uma bolsita que lhe entregou—.
Porque sei que é você muito guloso.
— Caramelos de toffee! —exclamou o ancião. Tirou um
de seu pacote e o meteu na boca, saboreando-o como se
fosse o mais delicioso manjar—. Mmmm... São meus doces
favoritos. Mas senhorita Cañe, está você sempre me
trazendo coisas, e eu nunca tenho nada que lhe dar —
murmurou sacudindo a cabeça tristemente.
—Dá-me sua amizade —replicou ela—. Além disso,
tenho tudo o que necessito para viver.
—Não é verdade —balbuciou o homem compungido—.
Dá você tudo o que tem, e se não guardar nada para o
próximo inverno, como esquentará seu apartamento?
—Se fizer falta queimarei os móveis —lhe disse ela em
um sussurro cúmplice, lhe piscando os olhos um olho.
Um leve sorriso se desenhou nos lábios enrugados do
resmungão e orgulhoso ancião, que não tinha esse gesto para
nenhum dos outros inquilinos do bloco. De fato, não lhe caía
bem a ninguém exceto a ela, que era capaz de ver o homem
assustado e solitário sob a áspera aparência.
— Até mais tarde! —disse-lhe subindo os degraus e
entrando no edifício.
Billy e Bess, os gêmeos loiros que viviam no
apartamento junto ao dele, estavam jogando no patamar e
correram a saudá-la assim que a viram aparecer.
— Olá, Sabina! —disse-lhe Bess com sua voz cantarína
—. Sua caseira, a senhora Dean, disse-nos que voltava hoje.
— Como lhes foi na excursão?, tivestes muito público?
—inquiriu Billy impaciente.
—Não esteve mal —lhe respondeu ela sonriendo, e
tirando de sua mochila dois grandes piruletas que tinha
comprado junto com os toffees para o senhor Rafferty—.
Tomem, e não lhes vades comer isso antes do jantar ou sua
mãe me matará.
— Obrigado! —exclamaram ao uníssono, agarrando as
piruletas com olhos gulosos.
—Já lhes contarei coisas da excursão em outro
momento, de acordo? —acrescentou Sabina—. Venho moída e
preciso dormir. Temos uma atuação amanhã em um clube
muito exclusivo da cidade.
— Sério? —exclamou Billy entusiasmado.
Ele e sua irmã tinham doze anos, e o mundo no que se
movia Sabina os fascinava. « Imagine !»,diziam a seus amigos
no colégio, « temos uma estrela de rock vivendo em nosso
edifício!».
—A sério —riu Sabina brandamente —. De modo que
não façam muito ruído, entendido? —pediu-lhes em um
sussurro cúmplice.
—Prometemo-lhe isso —lhe disse Bess ficando-a mão
sobre o peito—. Seremos seus sentinelas e não deixaremos
que ninguém te incomode!
Sabina lhes lançou um beijo e entrou em seu
apartamento. Os gêmeos tinham perdido a seu pai fazia anos,
e sua mãe, Matilda, queria-os com toda sua alma, mas era
uma alcoólica incapaz de corrigir-se. Sabina se preocupava
dos meninos sempre que não estava de excursão, e quando
sua mãe saía e não voltava até quase o amanhecer, como
estava acostumado a ocorrer, deixava-lhes dormir em seu
apartamento. Os assistentes sociais foram e vinham, mas
não tinham um antídoto para a pobreza em que viviam
Matilda e seus filhos, e as ameaças de levar-se aos meninos
só conseguiam amargas lágrimas da mulher e promessas de
que deixaria a bebida e se manteria sóbria. Por desgraça, as
boas intenções não lhe duravam mais de um par de horas.
Sabina conhecia essa classe de dramas de primeira
mão, porque antes da morte de sua mãe e de que a enviassem
ao orfanato tinha conhecido em suas carnes o que era passar
fria e fome. A lembrança da brutal maneira em que tinha
perdido a sua mãe não a tinha ajudado muito, e a
necessidade de lutar para sobreviver lhe tinha provocado um
ódio exacerbado para os homens ricos e um temor
inconfessável a ficar sem nada. Mas com sua voz, com aquele
dom que Deus lhe tinha dado, estava decidida a lutar com
unhas e dentes para sair da pobreza. E o estava obtendo; ao
fim as coisas estavam indo realmente bem, disse-se
enquanto deixava no chão do dormitório a mochila e a mala.
Se tão somente pudesse retroceder no tempo e salvar a sua
mãe...
tombou-se na cama com um suspiro e fechou os olhos.
Estava tão cansada... Cada vez que atuavam o dava tudo, e
embora quando acabavam cada concerto se sentia exausta,
às vezes tinha a sensação de que o único momento no que se
sentia realmente viva era quando estava sobre o cenário,
frente a um público entusiasmado, dando Palmas e cantando
com ela.
Entretanto, sentia-se aliviada de que a excursão
tivesse terminado. Estava começando a acusar o cansaço, e a
perder peso, embora tampouco podia relaxar-se, não quando
o grupo e ela estavam tão perto de conseguir sua meta. Cada
vez estavam atraindo a mais público a seus concertos, e a
imprensa local estava desfazendo-se em louvores com eles.
Não, não podia dormir nos louros. Se seguia esforçando-se,
possivelmente logo alguém lhes oferecesse um contrato para
gravar um disco, e então...
Sonriendo enquanto se imaginava saboreando os méis
do êxito, fechou os olhos e se deixou arrastar pelo sonho.
Com uns minutos de descanso lhe bastaria, só uns minutos...

Uns golpes secos na porta despertaram. Com os olhos


ainda pegos pelo sonho ficou de pé e foi abrir, para
encontrar-se com Ao ali de pé.
—OH, a festa... —murmurou Sabina recordando que
tinham ficado—. Sinto, pensava jogar só uma cabezadita,
mas devi ficar dormida. Que horas são?
—As oito e dez. Ponha algo enquanto te preparo um
sandwich para o caminho. Sentirá-se melhor quando tiver
comido algo.
—De acordo —respondeu ela enquanto ele ia à cozinha
—, mas não me ponha maionese.
ficou um elegante vestido de cetim azul marinho com
suspensórios finos, que ficava justo por cima do joelho. A
queda do tecido remarcava seus suaves curva, e a cor fazia
que seus olhos parecessem azuis. Se tivesse querido comprá-
lo novo não teria podido permitir-lhe mas o tinha encontrado
em uma loja de roupas elegante de segunda mão. Tinha
desenvolvido uma habilidade especial para dar com gangas, e
não por gosto, mas sim por seus irregulares ganhos. ficou uns
sapatos negros abertos pelo talão, e tomou sua bolsa negra
de emano para completar o conjunto. Estava muito cansada
para fazer um recolhido, assim que se deixou o cabelo solto,
e ficou seu casaco comprido de cachemira, porque estavam
em março, e as noites ainda eram fritem. Quando foi à
cozinha a reunir-se com Ao, estava envolvendo o sandwich
em papel de alumínio. Para ouvir seus passos se voltou,
percorreu sua figura de cima abaixo com um olhar
aprobadora, e sorriu ampliamente.
—Simplesmente preciosa —murmurou.
— pode-se saber por que te põe isso tão contente? —
inquiriu ela suspicaz, cruzando-se de braços.
—Bom, como te disse, tenho um projeto em mente... —
respondeu ele —. Recorda quando te falei faz um tempo
desse hospital infantil que quero construir mas para o que
necessito recursos?
Ela assentiu com a cabeça.
—Bem, pois me ocorreu fazer um espetáculo benéfico
para obtê-los... na cadeia de televisão local. Se tivesse um
par de patrocinadores e a ti e a seu grupo como gancho além
de outros quantos artistas do momento, talvez poderia lhe
apresentar a idéia aos diretores dessa cadeia. E estou
seguro de que conseguiríamos mais que suficiente.
—Sabe que eu o faria sem receber um centavo, Ao,
mas não somos o suficientemente conhecidos como para...
—Tolices —repôs ele obstinadamente—. Além disso,
uma aparição em televisão, embora seja em uma cadeia local
lhes daria muito boa publicidade. Escuta, Sabina, pensa nos
meninos: eles são quem mais se beneficiará. Já convenci a um
par de cantores importantes, mas não poderei conseguir a
colaboração dos diretores da cadeia sem patrocinadores, e
me ocorreu que Thorn poderia ser um deles.
— E você crie que quererá fazê-lo?
—Bom, eu acredito que com um pouco de persuasão...
—murmurou Ao lhe lançando um olhar malicioso.
—Ah, não, não... Espera um momento —o cortou ela—.
Não penso lhe dourar a pílula a essa víbora que tem por
irmão, embora seja pela mais nobre das causas.
—Não tem que lhe dourar a pílula. Basta com que te
mostre agradável e cordial. Sei você mesma.
Sabina franziu o cenho.
— Não irás pôr me em um apuro, verdade?
—Palavra de honra que não —respondeu ele com esse
sorriso encantador a que Sabina não podia resistir—. Confia
em mim. Anda, vamos ou chegaremos tarde.
Saíram do pequeno apartamento e Sabina fechou com
chave.
— E por que não o pede você mesmo? — inquiriu ela
enquanto baixavam as escadas—. depois de tudo, é seu
irmão...
—Ah, isso... Bom, é que Thorn está... um pouco zangado
comigo.
— Porquê?
Ao se meteu as mãos nos bolsos com um suspiro e a
olhou.
—A outra noite trouxe uma garota para mim a minha
casa.
Sabina abriu os olhos como pratos.
— Que fez o que?
—Trouxe-me para uma garota —repetiu ele—: uma
garota de boa família... cujo pai possui uma refinaria de
petróleo. O pai vinha também.
— Deus! —exclamou Sabina com incredulidade.
—É obvio lhe disse ao pai e à filha que não pensava me
casar com ela, e partiram, muito irritados, por certo, e entre
os gritos do Thorn, que estava furioso porque estava muito
interessado nessa ditosa refinaria. Assim que ele se foi
também, dando uma portada que até tremeram as paredes
do vestíbulo, em vingança chamei a nossa mãe e o contei
tudo, e ela o chamou depois ao rancho. Pô-lo verde, e isso o
enfureceu ainda mais. Não pode nem vê-la —confessou a
Sabina entre risadas—. Assim já vê, necessito-te
desesperadamente para minha causa. Se eu tivesse dinheiro
lhe compraria uma refinaria e seguro que em troca estaria
disposta a atuar de patrocinador neste projeto, mas não
tenho o capital suficiente para algo dessa envergadura.
depois de tudo, só sou sócio do Thorn Oil no papel, até que
cumpra os vinte e cinco o ano que vem e obtenha a parte que
me corresponde da herança de nosso pai.
—Estupendo, assim também é um casamenteiro... —
resmungou Sabina com sarcasmo—. Cada vez me cai melhor.
—Vamos, tenho o carro estacionado aí em frente.
Cruzaram a rua, e Ao lhe abriu a portinhola de suas
Mercês-benz verde, sustentando-a cortesmente para que
entrasse.
— E te faz isso muito freqüentemente? —inquiriu
Sabina com o cenho franzido quando ele se sentou ao
volante.
—Só quando lhe jogou o olho a algo que não pode
comprar —respondeu ele torcendo o gesto—. E não te faz
uma idéia da quantidade de homens de negócios com filhas
casaderas que há...
— Mas isso é algo desumano! —exclamou ela
espantada.
—Thorn também o é de vez em quando —murmurou Ao,
lhe dando o sandwich que lhe tinha preparado e pondo o
veículo em marcha—. Não te perguntaste alguma vez por que
jamais convidei a Jessica às festas da empresa?
Sabina, que estava abrindo o pacote de papel alumínio
do sandwich, deu-lhe uma dentada com cuidado de não
deixar cair miguitas sobre seu vestido.
—Estou começando a compreendê-lo —balbuciou—.
Imagino que não quer que tenha nada que ver com os
subordinados, equivoco-me?
Ao começou a negá-lo, mas finalmente suspirou.
—A verdade é que é exatamente assim —confessou—.
Jessica esteve casada antes, e sua família é de uma condição
social inferior —resmungou molesto pelo que estava
admitindo—. Thorn a despediria se soubesse que eu...
de repente todas as peças encaixavam na mente da
Sabina. O que sentia pela Jessica, por que não lhe havia dito
nada...
—OH, Ao... —murmurou causar pena por ele—, deve
ser horrível para ti.
Ele se encolheu de ombros.
—O ano que vem, ao fim poderei lhe plantar cara e
fazer o que quiser —disse—. Mas até então, não tenho mais
remedeio que agüentar o toró e esperar.
—Deus, se o tivesse diante agora mesmo, daria-lhe um
murro —grunhiu Sabina, dando outra dentada ao sandwich.
Ao lhe lançou um olhar de reojo enquanto conduzia e
esboçou um sorriso.
—Acredito-te —disse—. É muito parecida com ele
nesse sentido: fogosa, temperamental, impulsiva... Acredito
que lhe viria bem uma garota como você que o pusesse em
seu sítio.
—Obrigado, mas, com todos meus respeitos, ter uma
relação com alguém assim seria quão último faria.
—Sei —respondeu Ao—. Só espero que não vá lhe dar
um murro esta noite... Necessito-te.
— Ouça, Ao, não sei exatamente o que quer que faça,
mas não penso...
—te tranqüilize, mulher. Quão último faria seria te
deixar a sua mercê. Além disso, ao Thorn não vão as garotas
inocentes. Compreenderá a que me refiro quando vir a seu
acompanhante de esta noite. É uma autêntica piranha, igual a
ele: devora tudo o que lhe põe por diante. Só te peço que me
ajude a lhe apresentar o projeto e que me ajude a convencer
o de que patrocine o espetáculo benéfico. contratei uma
pequena orquestra, e lhes pedirei que lhe façam um
acompanhamento para que cante o ária do Madame Buterfly.
Isso derreterá ao Thorn.
Ao era uma das poucas pessoas, junto com a Jessica,
que sabia que tinha voz de contralto. Anos atrás tinha
sonhado estudando opera, mas as classes eram muito caras
como para que pudesse costear-lhe assim tinha renunciado a
isso.
— Gosta da ópera? —inquiriu perplexa.
— lhe gostar de? adora.
Capítulo 2

A casa do estava situada em um promontório que


aparecia à baía, e Sabina estava apaixonada por ela desde a
primeira vez que a tinha visto. Era uma casa enorme e
branca, de estilo colonial, que uma vez tinha pertencido a sua
avó materna, e com a iluminação noturna para a festa estava
simplesmente preciosa.
Jessica saiu a recebê-los, atravessando o salão por
entre os convidados, que conversavam com bebidas na mão,
enquanto a pequena orquestra tocava uma música suave, e
vários garçons se passeavam com bandejas carregadas de
seletos canapés.
Suas bochechas estavam tão acesas como seu ruivo
cabelo. Era uma garota baixa de caráter doce, e Sabina
sentia adoração por ela. Levavam sendo amigas muitíssimo
tempo, porque a casa dos pais da Jessica estava junto ao
orfanato onde a tinham enviado quando morreu sua mãe.
— Olá, Sabina! —saudou-a atropeladamente, voltando-
se para Aos—. Temos um problema: convidaste ao Beck
Henton.
— E o que? —inquiriu ele sem compreender.
—Se por acaso o esqueceste, Thorn e ele se disputam
essa refinaria de Houston.
Ao se tampou o rosto com a mão.
— Demônios!
—Terá que fazer algo e depressa —o urgiu Jessica—.
saíram pela porta de atrás faz um momento, e Thorn tinha
um olho entrecerrado... e já sabe o que isso significa.
— Demônios! —repetiu Ao—. E eu que pensava lhe
pedir ao Beck que patrocinasse o espetáculo benéfico...! Será
melhor que vá antes de que as coisas cheguem a maiores.
Sabina ficou olhando-o espantada enquanto se
afastava. além de prepotente e ditador era violento.
—irei procurar ao chofer do Beck —murmurou
Jessica, que estava retorcendo-as mãos com desespero—. O
necessitará se Ao não chega a tempo...
— OH, espera, Jess! —chamou-a Sabina, retendo-a
pelo braço—. Sabe se servirem algo que não tenha álcool?
Morro de sede.
—Temo-me que não, mas acredito que na cozinha, Ao
tem uma garrafa de ginger ale... Agora te vejo.
—Obrigado —murmurou Sabina.
E ao momento se viu sozinha em meio de um montão de
desconhecidos. Encolhendo-se de ombros com um suspiro se
dirigiu à cozinha, tirou gelo do congelador, jogou uns cubitos
em um copo alto, e justo estava servindo o ginger ale quando
ouviu que a porta traseira, a suas costas, abria-se e se
fechava com um golpe seco.
girou-se, e ficou de pedra ao ver o homem ali de pé, a
uns metros dela. Era alto e esbelto, com um físico que
recordou a Sabina aos homens que saíam nos anúncios da
televisão. Seu corpo era musculoso, e o smoking que levava
ressaltava seu cabelo negro azeviche e o moreno de seu
rosto e suas mãos. Olhou-a fixamente, e seus olhos
pareceram lançar brilhos.
—Passe me isso —lhe disse bruscamente, lhe
assinalando a cubitera com um gesto da mão.
Sabina a tendeu como um autômato, fascinada tanto
por seu atrativo como pelo matiz autoritário de sua voz.
Então advertiu um pequeno corte na parte superior da
bochecha, perto do olho, e também que parecia que a pele
nessa zona estava avermelhada.
O nariz era tão reta que lhe dava um ar de arrogância,
igual ao queixo proeminente, e a boca era simplesmente
perfeita. Aqueles eram os lábios mais masculinos que...
— Não tinha visto alguma vez a um homem ao que lhe
deram um murro?
Aquele, disse-se Sabina, devia ser o tal Beck Queixo
de que tinham estado falando Jess e Ao.
—Com smoking não —respondeu com um sorriso.
As comissuras dos lábios do homem se curvaram em
um sorriso muito sexy enquanto a olhava. Tirou um lenço
branco do bolso de sua jaqueta, envolveu nele um cubito de
gelo, e o pôs justo debaixo do olho. aproximou-se dela, e
Sabina observou que os brilhantes olhos sob as escuras
sobrancelhas eram de um azul pálido, uma cor chocante
sobre uma pele tão moréia.
O homem baixou a vista a seus ombros, e logo ainda
mais, notando-se em cada centímetro do vestido de cetim
que levava, até chegar a suas largas pernas. Depois seus
olhos desanduvieron o caminho percorrido, e percorreram
seu pescoço de cisne, o escuro e encaracolado cabelo, os
delicados contornos de seu rosto, seus suaves lábios,
elevado-los maçãs do rosto, e as larguísimas pestanas que
bordeaban seus olhos chapeados.
— O que faz aqui escondida? —inquiriu, rompendo o
silêncio.
—vim a por um pouco de ginger ale —respondeu ela
tomando o copo e dando um gole—. É que não bebo, e Jess, a
secretária do, disse-me que havia aqui uma garrafa. Não
queria parecer uma dissimulada diante dos convidados do.
O homem inclinou a cabeça.
—Não tem aspecto de ser uma dissimulada —disse,
esboçando de novo esse sorriso entre divertida e zombadora
—. A secretária do... deve ser amiga sua quando sabe seu
nome e a chama por um diminutivo.
—Sim, somos amigas.
—Uma boa garota, Jessica —murmurou ele—, e não o
está fazendo mal como anfitriã.
A Sabina não gostou do tom condescendente com que
tinha feito esse louvor, mas ao fim e ao cabo o tipo era livre
de ter sua opinião.
—Lhe vai sair aí um moratón de campeonato... — disse
levantando o copo para assinalar seu rosto.
—Pois teria que ver o outro tipo —balbuciou ele.
Sabina suspirou.
— Pobre Hamilton Regam Thorndon III...! Espero que
não lhe atiçasse você muito forte.
O homem arqueou as escuras sobrancelhas.
— Pobre Hamilton...?
—Jessica disse que você e ele estavam disputando
uma refinaria —disse ela com um sorriso malicioso—. Sabe o
que? Faria melhor em deixar o petróleo onde está, no chão, e
extrair só o que vá necessitando. Não terá que ser avaro.
O homem riu entre dentes.
—É você bastante insolente, senhorita.
—Tomarei isso como um completo, senhor Henton.
Porque imagino que é você Beck Henton, equivoco-me? —
insistiu ela—. O que está claro é que não pode ser o irmão do,
porque nem se parece com Ao, nem lhe pega esse ridículo
nome tão largo e tão rimbombante que tem.
— Ah, não? E que aspecto você crie que tem o irmão
do?
—Pois seguro que é um tipo cinza, fondón, e com umas
quantas cãs —respondeu ela—. É uma lástima que se pegou
com ele, porque agora ficará furioso, irá-se, e não terei
ocasião de vê-lo em pessoa.
O homem entrecerró suspicaz o olho são.
— E que interesse tinha em lhe ver?
—Bom, é que tem uma companhia petrolífera Y...
enfim, trata-se de um projeto que...
antes de que pudesse continuar, o homem a olhou com
uma expressão hostil, e soltou uma gargalhada desagradável.
— Sempre se trata de um projeto —murmurou
aproximando-se mais a ela—. Talvez eu possa lhe servir,
encanto. Eu também tenho uma companhia petrolífera...
— Não está lhe esperando ninguém no salão? —inquiriu
ela nervosa. Estava tão perto dela que podia cheirar sua cara
colônia e sentir seu fôlego na frente—. Quero dizer... Não
está com alguém?
—Eu sempre estou com alguém —murmurou ele,
enredando seus dedos em uma mecha do escuro cabelo da
Sabina—. Mas não é ninguém especial. Ao final acabam lhe
parecendo com um todas iguais...
—Senhor Henton... —começou ela, tentando apartar-
se.
Entretanto, o homem as tinha hábil para encurralá-la
contra a encimera. Seu corpo estava só a uns milímetros dos
dela.
—Shhh... —calou-a pondo o dedo indicador sobre seus
lábios.
Já não estava sonriendo, e o olhar em seus olhos azuis
se tornou intensa. Apartou o lenço com o gelo de seu rosto,
depositando-o na encimera, e depois tirou a Sabina o copo,
fazendo outro tanto com ele. Tomou seu rosto entre as
mãos, umas mãos grandes que fizeram que Sabina se
sentisse ameaçada.
—Senhor Henton... não...
— Do que tem medo? Só estamos tendo um bate-papo
amistoso —murmurou ele, inclinando-se para ela—. É você
muito bonita, sabe?
Sabina não fazia mais que repetir-se que deveria
apartá-lo, ou tentar escapar, mas era como se seus músculos
tivessem deixado de lhe obedecer. Sem dar-se conta do que
fazia, subiu as mãos ao peito do desconhecido, e apoiou nele
as Palmas abertas. O homem agachou a cabeça um pouco
mais, e seu fôlego fez cócegas nos lábios da Sabina.
—Não, por favor... —protestou fracamente, tratando
de apartar-se.
Mas os quadris do homem a empurraram contra a
encimera, e ao retorcer-se ela em um intento por escapar,
provocou no corpo do desconhecido uma inesperada reação.
Aspirou para dentro, como surpreso, e seus dedos apertaram
o rosto da Sabina.
—Deus... —ofegou—. Fazia anos que não me passava
isto tão rápido com uma mulher —balbuciou, e de repente
seus lábios se apoderaram dos dela.
Sabina ficou tensa, e ele pareceu notar sua
inquietação e sua reticência. apartou-se um pouco e
esquadrinhou seu rosto com uma expressão estranha, como
se não tivesse esperado essa resposta nela. Mas voltou a
inclinar a cabeça e mordiscou brandamente o lábio inferior
da Sabina, para tomá-lo depois entre os seus, atirando dele e
massageando o de um modo delicioso que denotava sua
experiência nas artes amorosas.
Os dedos da Sabina se aferraram às lapelas de sua
jaqueta, e sua respiração se tornou entrecortada. Aquele
beijo com sabor a hortelã e a tabaco estava lhe fazendo
perder o sentido.
—Sim, isso... —sussurrou o homem quando ela
entreabriu seus lábios—. um pouco mais... assim... me devolva
o beijo, não seja tímida...
Estava excitando a de uma maneira que Sabina jamais
tivesse pensado que fora possível. Era como se estivesse
desatando seu lado mais selvagem. Tinha a sensação de estar
vivendo uma fantasia erótica. Aquilo era uma loucura: ali
estava, na cozinha do, nos braços de um homem ao que não
conhecia de nada, e que estava beijando-a como se não fosse
haver um manhã.
Ofegou quando a língua dele entrou em sua boca e
começou a explorar cada rincão, e uma maravilhosa sensação
de calidez percorreu todo seu corpo. ficou nas pontas dos
pés e lhe respondeu com ardor, enquanto introduzia os dedos
entre as curtas mechas de cabelo negro de sua nuca.
— Deus! —quase grunhiu o homem, separando seus
lábios um instante dos dela, e levantando-a com a força de
seus poderosos braços.
A cabeça dava voltas a Sabina. Aquele era o beijo mais
sensual e incrível que tinha compartilhado nunca com um
homem, mas a vocecita da prudência lhe dizia que devia
parar aquilo, devia pará-lo. por que era incapaz de fazê-lo?
Bastante momento depois, ele a deixava de novo no
chão, e a olhou aos olhos.
—É você muito apaixonada, senhorita —ofegou,
estudando seu rosto—. Não muito experimentada, mas isso
pode arrumar-se. Venha-se a casa comigo.
As bochechas da Sabina se acenderam.
—Não, não posso... —balbuciou tremente.
— por que não? —inquiriu ele, baixando a vista a seu
peito, que subia e baixava agitado.
Sabina não podia pensar com claridade.
—Pois porque eu não... é que Ao... —disse
atropeladamente.
O homem soprou impaciente e um grunhido escapou de
sua garganta.
— Ao?, por que demônios o tira agora a colação? Não
estará você apaixonada por ele, ou algo assim, verdade? Se
for assim, deixe que lhe diga que leva as de perder. Não
chegará nem a primeira base com ele, o asseguro. Acredito
que trouxe com ele a uma condenada cantante de rock pela
que lhe deu ultimamente. Queria que eu falasse com ela não
sei para que, mas já me ocuparei disso mais tarde —lhe
acariciou a bochecha brandamente, interpretando mal sua
repentina rigidez com temor, em vez do desconcerto e o
desagrado que em realidade era—. Não vou fazer lhe nenhum
dano... —sussurrou-lhe—, e tampouco vou pressionar a, mas
acredito que poderíamos discutir... esse seu projeto em
minha casa.
Mas suas palavras a tinham despertado do
atordoamento em que o beijo a tinha sumido, e o olhou com o
cenho franzido. Estava começando a compreender.
— Cantor de rock?
de repente o sensual desconhecido estava começando
a tomar outra forma ante seus olhos, a de um frio e
arrogante homem de negócios que... Não, era impossível...
—Ao não me há dito que estejam saindo, embora
esteja seguro de que se há encaprichado com ela. Estou-lhe
dando um pouco de quadra de esportes para não curvá-lo,
mas quando passarem um par de dias penso falar com ele e
lhe tirar essa tolice da cabeça —acrescentou com uma risada
seca—. Mas isso não tem nada que ver conosco. Antes disse
que necessitava dinheiro; vamos a minha casa e falaremos
disso.
—Você é... Ramillón Regam Thorndon —murmurou ela
espantada.
O homem arqueou uma sobrancelha.
—Garota lista. Supõe isso alguma diferença? Não lhe
menti em nenhum momento. Disse-lhe que tinha uma
companhia petrolífera. Vamos a minha casa —insistiu lhe
acariciando o ombro ligeiramente—. Lhe prometo que não se
irá com as mãos vazias.
Sabina sentia desejos de vomitar. Como podia ter
permitido que este calhorda a beijasse?, e como podia lhe
haver respondido com o ardor e o abandono com que lhe
tinha respondido? Nesse momento soube o que devia haver
sentido sua mãe, mas havia uma grande diferencia entre as
duas, disse-se: ela não estava se desesperada.
de repente se encontrou tremendo de asco e de
indignação, e ele o advertiu.
— Ocorre-lhe algo? —inquiriu franzindo o cenho.
—É você uma animália, isso é o que me ocorre —
resmungou ela em um tom gélido, com os punhos apertados
junto aos flancos—. Como se atreve a me falar assim? A me
propor uma coisa assim? —espetou-lhe furiosa.
—Vá, vá, agora resulta que a rapariga tem princípios...
—murmurou ele zombador—. Se por acaso o esqueceu, foi
você quem começou a falar de «projetos». Mas, sabe o que?
Está bem, estou disposto a lhe pagar o que queira. Qual é
seu preço?
Tinha-a tomado por uma prostituta! Em sua vida tinha
conhecido a um nome com um ego tão monumental, pensou
olhando-o com ódio.
—Não teria dinheiro suficiente para me pagar —lhe
disse.
Os olhos azuis do Thorn percorreram seu corpo com
desprezo.
—Se sobrevalora, encanto. Eu não pagaria mais de
vinte dólares por uma noite com você.
A mão da Sabina caiu sobre sua bochecha como uma
chicotada. Não ia suportar mais insultos desse besta
insensível, embora fora o irmão do.
Thorn nem sequer se alterou. Sua bochecha
avermelhou, mas não fez outra coisa que ficar olhando-a com
esses frios olhos azuis.
—Pagará por isso —lhe disse sem levantar a voz.
— Ah, sim? —desafiou-o Sabina—. Vamos, senhor
magnata, me devolva a bofetada. Não lhe tenho nenhum
medo.
A expressão no rosto do Thorn seguiu rígida mas
imperturbável, e seguia olhando-a fixamente e sem
pestanejar.
— Quem é você? —perguntou-lhe em um tom que
exigia uma resposta imediata.
—O ratoncito Pérez —respondeu ela com um sorriso
zombador—. Lástima que o senhor Henton não lhe saltasse
nenhum dente; agora não poderei lhe deixar um presente sob
o travesseiro.
girou-se sobre os talões e saiu como um torvelinho da
cozinha deixando esquecido seu ginger ale. Percorreu o
corredor sem olhar atrás, atravessou o comilão, e quando
entrou no salão se chocou com Ao, que franziu o cenho ao ver
o agitada e irritada que estava.
— O que ocorreu?, onde estava?
—Deixa-o, não importa —balbuciou ela. Como se queria
lhe contar o que acabava de acontecer! Não podia imaginar
uma humilhação maior—. O que passou com esse homem, o
senhor Henton?
—partiu-se feito uma fúria... e com o nariz rota —
grunhiu Ao —. Adeus a meu possível patrocinador —suspirou
—. Enfim, teremos que nos concentrar no Thorn.
—Ao, sobre isso...
antes de que Sabina pudesse seguir falando, ouviu-se
suas costas uma portada. Não o fazia falta voltar-se para
adivinhar de quem se tratava. ficou rígida quando Ao olhou
por cima de seu ombro e sorriu.
—Caramba, vá regalito que te deixou Beck... —riu—.
por que não te agachou para esquivar o golpe?
—Fiz-o —respondeu detrás dela a voz do Thorn com
chateio—. Não vais apresentar me? —inquiriu fingindo que
não a conhecia.
— Como não? —respondeu Ao, passando um braço
pelos ombros da Sabina e fazendo-a voltar-se para o Thorn.
Advertiu que, embora a voz de seu amigo soava
aparentemente relaxada, seu braço estava ligeiramente
tenso—. Thorn, apresento a Sabina Cañe.
A expressão no rosto de seu irmão maior se tornou
assassina.
— A cantor de rock? —Sim —respondeu Ao, ficando à
defensiva. O homem que a tinha beijado apaixonadamente
minutos atrás, estava olhando a Sabina como se queria lhe
fatiar o pescoço.
—Deveria havê-lo sabido... —resmungou com uma
risada cruel—. Tem toda a pinta.
Sabina apertou os punhos, mas se controlou e fez uma
reverência zombadora.
—Obrigado, senhor Thorndon III.
Ao olhou a um e a outro com o cenho franzido. perdeu-
se algo?
—Em... Thorn... há algo do que queria te falar... —
balbuciou.
—Esquece-o-o cortou seu irmão asperamente. Lançou-
um olhar insultante a Sabina, e disse a Ao—. Seu gosto com
as mulheres empresta.
E se afastou com ar arrogante para uma loira
espantosa com um vestido ceñidísimo de lambe dourado que
se pendurou de seu braço com um sorriso enjoativo assim
que o viu aparecer a seu lado. Thorn lhe respondeu com um
lânguido beijo, e Sabina teve que apartar a vista porque não
suportava a estomagante cena.
—Ao, vou a casa. Não posso agüentar aqui nem um
minuto mais.
—Por favor, Sabina, fique —lhe rogou ele—. Eu... sinto
que se comportou assim de grosseiramente. É um bárbaro,
sei, mas se pudesse...
Sabina não estava escutando-o, e aproveitou que
Jessica apareceu justo nesse momento.
—Jess, poderia me levar a casa, por favor?
Seu amiga olhou vacilante a Ao e logo a ela.
—Claro, o que ocorre?
—Nada, é só que me dói muitíssimo a cabeça —mentiu
Sabina—. O sinto, Ao, já nos veremos.
—Até mais tarde então, chefe —lhe disse Jessica a
Ao com um tímido sorriso.
—irei falar com o Thorn —balbuciou ele.
—Não esbanje sua saliva com —lhe disse Sabina—. boa
noite.
E se dirigiu para o vestíbulo com a Jessica detrás
dela.
— O que passou? —perguntou-lhe seu amiga quando
estiveram fora da casa.
—Que não posso suportar a esse estúpido arrogante
que Ao tem por irmão, isso é o que aconteceu — respondeu
Sabina secamente—. Pode que Ao não me perdoe por não
haver ficado lhe ajudando com seu projeto, mas não podia
suportar estar na mesma habitação que esse homem nem um
minuto mais.
—Entendo-te, mas a verdade é que a mim Thorn dá um
pouco de lástima.
— Lástima? —repetiu Sabina deixando escapar uma
gargalhada de incredulidade.
—É um homem desconfiado e cínico —respondeu Jess
—, e quase sempre está sozinho.
— Sozinho? —balbuciou Sabina com ironia—. Pois não é
o que me pareceu na festa...
— Refere a seu acompanhante? Não é mais que um
floreiro —replicou seu amiga. Tinham chegado onde Jess
tinha o carro estacionado. Ela Introduziu a chave na
fechadura e abriu enquanto Sabina dava a volta para entrar
pelo outro lado—. As mulheres vão e vêm na vida do Thorn.
Ou mas bem se vão —acrescentou com expressão pensativa
—. Nenhuma lhe dura muito.
—Já. Quer saber o que acredito? Acredito que as
suborna porque não há nenhuma capaz de agüentá-lo grátis
—lhe disse Sabina cruzando-se de braços em seu assento.
Jessica pôs o carro em marcha e saiu à estrada.
—Duvido que precise as subornar —replicou muito
acalmada—. Embora seja um ogro, é muito atrativo. Mas não
te discuto que é um homem difícil. Ao lhe tem verdadeiro
medo, e a verdade é que eu também, embora nunca foi
desagradável comigo. Mas estou segura de que se algum dia
me pilhasse olhando a Ao no escritório, transladaria a uma
de suas filiais na Arábia Saudí.
Quanta razão tinha, disse-se Sabina, triste por seu
amiga: o grande Hamilton Regam Thorndon III podia
permitir-se ser amável com a secretária do, mas a
despediria ipso facto se a via sonriendo a seu irmão.
—Pois, sabe o que te digo? Que estou segura de que a
Ao não lhe é tão indiferente como cria, e que ao melhor um
dia destes te dá uma surpresa e se enfrenta a seu irmão —
disse Sabina.
morria por lhe dizer a seu amiga que estava
apaixonado por ela, mas pensava que era ele mesmo quem
devia fazê-lo.
—Já. Que bonito é sonhar... —murmurou Jess com
tristeza—. Ao só se daria conta de que existo se um dia
desaparecesse e não tivesse a ninguém que tomasse ao
ditado suas cartas ou lhe levasse café.
—Bom —suspirou Sabina quando chegaram ao bloco de
apartamentos onde vivia—, obrigado por me trazer. Você
gostaria que ficássemos comendo um dia destes?
—eu adoraria —respondeu Jess—, embora
ultimamente temos muito trabalho. Eu te chamarei, de
acordo?
—De acordo —murmurou Sabina.
— Seguro que está bem? —inquiriu Jessica.
Sabina se encolheu de ombros e sorriu fracamente.
— Só tenho meu amor próprio um pouco machucado.
—Passou algo mais na festa, não é verdade?, antes de
que Ao apresentasse ao Thorn —adivinhou Jess.
Sabina suspirou e assentiu com a cabeça.
—Tive uma topada com ele na cozinha. Se... meteu-se
comigo —resumiu Sabina.
Era uma verdade pela metade, mas nem sequer ao
Jess podia lhe contar o que tinha ocorrido. Era muito
vergonhoso.
— E o que fez?
—Peguei-lhe um bofetão —respondeu Sabina,
advertindo a expressão de admiração e temor no rosto de
seu amiga—, e lhe desafiei a que me devolvesse isso.
Jess a olhou incômoda.
—Não deveu te enfrentar a ele. É um homem muito
vingativo, e tem a memória de um elefante.
— Que não devi...? —começou Sabina indignada—. Me
ofereceu dinheiro por passar a noite com ele! — exclamou
vermelha de vergonha e de rabia ao recordá-lo.
Jess gemeu espantada e se tampou a boca com a mão.
— Céus! Não sente saudades que lhe pegasse... Que
desfarçatez! vais dizer se o a Ao?
— Por Deus, não! —exclamou Sabina, contraindo o
rosto ante a só idéia—. É muito humilhante. E não o você diga
tampouco. Isto ficará entre nós. foi espantoso, mas ao
menos não voltarei a ver esse besta insensível, por muito que
Ao fique de joelhos e me peça que o convença para seu
projeto.
ficaram caladas um bom momento.
— Sabe? —murmurou Jess de repente, acariciando o
volante com a cabeça encurvada—, fiquei de pedra quando Ao
me pediu que fora seu casal na festa de esta noite —elevou a
vista para a Sabina.
— Vê-o? —disse-lhe seu amiga com Isso sorriso é que
começou a fixar-se em ti.
Jess franziu os lábios.
—Bom, ao menos Thorn não se opôs quando Ao lhe
disse que ia ser a anfitriã da festa com ele — disse
suspirando—. Sabe?, parece-me que Thorn é um pouco
esnobe no que a sua família se refere.
O temperamento da Sabina voltou a fazer ato de
presença.
—O que precisa é a alguém que lhe ponha os pontos
sobre as íes —resmungou irritada—. E como não tome
cuidado... serei eu quem lhe ponha arroxeado o outro olho.
Jess riu.
—Estou segura de que seria capaz.
—boa noite —se despediu Sabina, abrindo a portinhola
do carro e baixando à calçada—. Conduz com cuidado.
E ficou ali de pé até que o veículo desapareceu depois
da esquina.

Cap 3

À manhã seguinte, a Sabina custou horrorres


levantar-se. Tinha demorado muitíssimo em dormir porque
não fazia mais que lembrar do arrogante Halmilton
Thorndon, e inclusive quando dormiu, teve um pesadelo do
mais surrealista em que aparecia ele.
Bocejando sem cessar, tomou banho, vestiu-se, tomou
o café da manhã e arrumou um pouco o apartamento. Foi ao
banco e a fazer a compra, cozinhou algo rápido, e depois de
almoçar se foi ao ensaio com o grupo no exclusivo clube
noturno onde foram tocar essa semana e a seguinte, o
Bourbon Street Clube. Em sua vida tinha tido menos ganha
de trabalhar, mas não havia mais remédio.
Eram quase as seis e meia da tarde quando apareceu
Ao. Parecia tão em baixa forma como ela.
— Teria um minuto? —perguntou-lhe, aproximando-se
do cenário enquanto Jake, o violonista, afinava as cordas
entre canção e canção.
—Claro —respondeu Sabina, descendo do cenário—.
Volto em seguida! —gritou aos moços.
— Dez minutos, Sabina, não mais —lhe advertiu Ricky
Turner, o teclista e líder do grupo—. Ainda temos que
ensaiar duas canções.
—De acordo, de acordo... —prometeu-lhe—. Sempre se
preocupa muito —explicou a Ao enquanto se sentavam em
uma das mesas do local. Os garçons estavam colocando já
toalhas, guardanapos, taças, e talheres em cada uma—. É um
pouco paranóico: aterra-lhe que me esqueça a letra, ou que o
cenário se derrube, ou que me enredei o pé com os cabos e
me caia em cima das baterias —acrescentou renda-se.
— O que ocorreu ontem à noite entre o Thorn e você?
—perguntou-lhe Ao abruptamente.
Sabina se ruborizou e apartou o olhar.
—Pregúntaselo a ele.
—Já o tenho feito, e me deu a mesma resposta.
Escuta, Sabina, se te fez mal, eu...
—Acredito que em realidade eu lhe fiz mais machuco o
cortou ela zangada—. Lhe peguei com todas minhas forças.
Ao abriu os olhos como pratos.
— Que lhe pegou? Ao Thorn?! —deixou escapar um
assobio de admiração—. Diabos, não sente saudades que
esteja que joga faíscas... —balbuciou mais para si que para
ela—. Enfim, a questão é... —pigarreou—...que quer verte.
Sabina o olhou boquiaberta.
— Sério? —inquiriu sarcástica—. E te há dito quando?
—dentro de quinze minutos —respondeu À—. Espera
um momento e me escute antes de começar a te exaltar,
Sabina —lhe rogou Ao, ao vê-la soprar e pôr os olhos em
branco—. Telefonei a minha mãe ontem depois da festa para
lhe dizer que queria te levar a rancho em Semana Santa, e
ela chamou ao Thorn esta manhã e falou com ele. Conforme
parece, ele se mostrou disposto a retificar seu
comportamento, assim acredito que quão único quer é te
estender ele mesmo o convite em pessoa, mas se não ir, meu
projeto para esse hospital para meninos se irá ao garete—
acrescentou com uma careta—. Sei que não tenho direito a
lhe pedir isso depois de como te tratou ontem à noite, mas é
que não posso conseguir outro patrocinador. Sem o respaldo
econômico do Thorn teremos que organizar o concerto em
algum auditório, e não arrecadaremos nem a metade do
necessário.
— E por que não explica isso a ele? —inquiriu ela com
chateio.
—Tentei-o, mas está furioso, e não há forma de que
me escute.
— E crie que sim me escutará? —espetou-lhe ela com
uma risada sarcástica—. Além disso, perdoa que te diga, mas
não gosta de nada passar a Semana Santa com sua família.
—OH, vamos, Sabina, não seja assim... Será divertido,
já o verá... e minha mãe te cairá bem, seguro.
—Não o duvido, é a seu irmão a quem não quero nem
ver!
Ao suspirou.
—Enfim, não pode dizer-se que não o tentei... —
balbuciou, como se estivesse falando consigo mesmo—. Essa
nova asa do hospital poderia ter dado um serviço gratuito a
famílias sem médios econômicos, sobre tudo a meninos com
enfermidades graves, como o câncer, e também queria
construir um centro de investigação, mas entendo que não
queira...
— Ao...! —protestou Sabina, franzindo os lábios e
olhando-o irritada pela chantagem.
—Não, não tem que te desculpar. Com o tempo reunirei
o dinheiro suficiente e poderá construir-se. Pode que não
este ano, nem o próximo, mas enfim... Enquanto isso os
meninos dos bairros pobres terão que ir a outras cidades, e
alguns nem sequer poderão receber o tratamento que
necessitem...
— Está bem, está bem... farei-o! —claudicou Sabina—.
Mas se esse horrível irmão teu se meter comigo de novo,
pegarei-lhe um murro! —advertiu-lhe.
— Essa é minha garota! —sorriu Ao—. Sabe onde estão
os escritórios do Thorn Oil, verdade? —disse-lhe. Sabina
assentiu—. Bem, pois é o segundo andar. lhe peça à
secretária que te anuncie e Thorn te receberá.
Em vingança pela suja chantagem que tinha utilizado
para convencê-la, Sabina lhe encarregou que explicasse ao
Rick e os meninos que tinha que sair, e justo quando saía pela
porta do local escutou os uivos do líder do grupo. Fechou a
porta detrás de si, e uma sonrisilla maliciosa se desenhou em
seus lábios.

Minutos depois, Sabina saía do elevador do segundo


andar do edifício Thorn Oil, e perguntava a um empregado
pelo despacho do presidente da companhia. O homem lhe
indicou o caminho, e Sabina inspirou profundamente antes de
avançar pelo comprido corredor. Ao final do mesmo havia um
amplo vestíbulo com assentos a ambos os lados e grandes
ventanales, e ao lado da porta do despacho do Thorn estava
o escritório da secretária, uma impecável moréia que
levantou a vista da tela de seu ordenador quando a viu
aparecer.
— Desejava algo? —perguntou-lhe com um sorriso
ensaiado.
—Devia ver ao senhor Thorndon —respondeu Sabina,
lhe devolvendo o sorriso—. Acredito que está me esperando.
A secretária a olhou de cima abaixo, como se lhe
parecesse do todo impossível que uma jovem vestida com
pantaloncitos e Top decotado de cetim, botas de couro, e
uma jaqueta vaqueira pudesse estar citada com seu chefe.
Sabina sentiu desejos de tornar-se a rir. Normalmente não
teria ido dessa guisa a ver um alto executivo, mas tratando-
se do Hamilton Thorndon lhe importava um cominho o que
pensasse de sua indumentária.
—Um... esperei um segundo, anunciarei-a —balbuciou a
perfeita secretária. Desprendeu o auricular do telefone que
tinha à esquerda, e apertou um botão—. Senhor Thorndon,
há aqui uma... —tampou o auricular e perguntou a Sabina—.
Qual é seu nome, por favor?
—lhe diga que sou Sabina.
—A senhorita Sabina está aqui, senhor; diz que está
você esperando-a... sim, senhor —a secretária pendurou o
telefone—. O senhor Thorndon a receberá agora mesmo —
lhe disse lhe dirigindo outro sorriso ensaiado—. Pode passar.
Sabina lhe devolveu o sorriso, perguntando-se se não
lhe doeria a boca de sorrir dessa maneira tão falsa todo o
dia, e entrou no despacho, decidida a não deixar-se
intimidar.
—Aqui me tem sua senhoria —lhe disse com retintín
enquanto fechava a porta detrás de si e ficou ali plantada
com os braços cruzados—. Diga o que tenha que dizer e
faça-o rápido, porque tenho que voltar para os ensaios com
meu grupo. Esta noite temos uma atuação.
Thorn se levantou de detrás de seu escritório e o
rodeou com um movimento ágil. O traje de cor cinza clara
que levava não dissimulava absolutamente os músculos de
seus braços, peito e pernas, e quando se colocou frente a
Sabina e a olhou de cima abaixo, a jovem teve a sensação de
estar sendo orvalhada com um líquido inflamável.
A atitude dele era tão fria como a noite anterior, e
Sabina tratou de se separar de sua mente a lembrança do
apaixonado beijo que tinham compartilhado.
Thorn se voltou um instante e apertou o botão de seu
interfone.
—Não me passe nenhuma chamada, Elsa.
—Sim, senhor —respondeu a voz da secretária através
do aparelho.
E então se fez o silêncio no despacho, e o magnata
passou a empregar a tática que melhor lhe dava: a
intimidação. apoiou-se no bordo de seu escritório, colocando
as mãos aos lados, e a estudou entreabrindo o olho
arroxeado.
—Por isso vejo, leva você o espetáculo onde quer que
vai —balbuciou zombador percorrendo de novo sua figura.
—Esta é minha roupa de trabalho —respondeu ela
secamente.
Thorn seguiu observando-a como se fora um inseto.
— Quanto quer? —perguntou-lhe de repente —.
Quanto vai custar me que deixe tranqüilo a meu irmão?
Sabina deixou escapar uma risada incrédula.
— Alguma vez encontrou algo que não possa comprar?
Além dessa refinaria, quero dizer... Obviamente lhe importa
muito mais que um pouco tão insignificante como a felicidade
do.
— ouvi por aí que Ao voou até o Savannah só para lhe
dizer que lhes tinha conseguido um contrato para atuar em
meu clube.
— Seu clube? —repetiu ela—. Acreditava que
pertencia a partes iguais a você, a Ao e a sua mãe.
—Por culpa dela, Ao e eu tivemos uma discussão
bastante forte ontem à noite, e agora me inteiro de que quer
convidá-la a nosso rancho a passar a Semana Santa. Pois leoa
meus lábios: esqueça-o. O rancho é o único lugar onde não
tenho que suportar a mulheres insofríveis como você.
Sabina elevou o queixo desafiante.
—Eu gosto Ao, e o rancho é tanto dele como de —lhe
respondeu—, assim se quiser que vá, farei-o.
Enquanto dizia isso, perguntou sentida saudades por
que À a havia convidado quando se supunha que era Jessica
quem gostava. Acaso pretendia utilizá-la como uma cortina
de fumaça, para distrair a atenção de seu irmão sobre seu
amiga?
— me escute bem, artista de três ao quarto, não vou
permitir que meu irmão acabe nas garras de uma cantor de
rock sem escrúpulos a que só lhe interessa sua conta
bancária! —avançou para ela, colocou a mão no bolso interior
de seu colete, agarrou-a bruscamente pelo braço, e
introduziu um papel dobrado no vale entre seus seios—.
Tome isto e saia da vida de meu irmão. E mais lhe vale não
me tentar jogar isso porque não sou um bom inimigo.
Arrastou-a pelo braço até a porta, e a jogou fora de
seu escritório.
—Já lhe apresentarei eu suas desculpas a minha mãe
— acrescentou sarcástico, lhe dando com a porta nos
narizes.
A secretária ficou olhando com a boca aberta a
Sabina, que estava ali de pé, com o rosto aceso e ao bordo
das lágrimas, tremendo de ira e de humilhação. Era uma
história tão velha como o mundo, disse-se, uma história que
se repetia geração detrás geração. Primeiro tinha sido sua
mãe, e agora era ela a que tinha que sofrê-lo. Agarrou o
papel, sabendo sem olhá-lo que era um cheque, e o desdobrou
com dedos trementes: vinte mil dólares. ficou olhando-o
comprido momento, até que seu rosto ficou quase de cor
púrpura.
Sem parar-se a pensar nas conseqüências, girou-se
sobre os talões e abriu a porta do despacho sem chamar,
fechando de uma portada. Thorn, que havia tornado a
sentar-se em seu escritório, levantou a cabeça para ouvir o
golpe, e abriu os olhos atônito quando a viu.
Sabina teve a impressão de que ninguém se atreveu
jamais a contrariá-lo. Talvez se não tivesse estado tão
furiosa poderia haver-se contido, mas já era muito tarde
para dar marcha atrás. Foi até ele muito tranqüila, enrugou o
cheque em sua mão sem olhá-lo e o atirou.
—Agora vai escutar me você , besta arrogante —
resmungou lhe lançando um olhar venenoso—. Ao me convidou
ao rancho e penso ir, assim fique com seu dinheiro e meta-
lhe onde lhe caiba!
Os olhos do Thorn relampejaram. levantou-se e rodeou
o escritório como um trem de mercadorias rodando
montanha abaixo. Sabina retrocedeu, colocando-se detrás de
uma das duas poltronas de couro que tinha diante da mesa, e
seus olhos se abriram como pratos ao ver que não se detinha.
— Não dê um passo mais! —advertiu-lhe—. Se me põe
a mão em cima, levarei-o aos tribunais!
—Acredito que correrei esse risco —balbuciou ele,
apartando a poltrona.
— Não se atreva A...! —gritou-lhe Sabina.
Mas antes de que pudesse terminar a frase, Thorn a
tinha agarrado pela cintura e estava beijando-a. Era um
beijo rude, cruel, e estava lhe fazendo danifico. Sabina
lutou, retorcendo-se e lhe golpeando o peito com os punhos,
mas ele a encurralou contra a parede e se pegou a ela.
Segundos depois, entretanto, seus lábios se voltaram menos
insistentes, e o beijo se tornou inesperadamente suave.
Thorn apertou seus quadris contra as dela, e ao sentir
sua excitação, Sabina tomou ar. O magnata levantou a
cabeça o justo para olhá-la aos olhos, e suas mãos lhe
apertaram a cintura enquanto seu peito subia e baixava, lhe
roçando os sensíveis seios.
—me solte, está me fazendo danifico —lhe disse
tremente.
— E assustando-a? —inquiriu ele quedamente ao ver a
apreensão em seus olhos.
—Sim —admitiu ela.
Thorn se apartou um pouco, e os batimentos do
coração do coração da Sabina foram tranqüilizando-se pouco
a pouco.
— Tem por costume... perseguir as mulheres... por seu
escritório? —perguntou-lhe ofegante, tratando de manter o
senso de humor para que não soubesse até que ponto a
afetava.
Thorn não sorriu, mas uma das comissuras de seus
lábios se curvou levemente para cima.
—Não, a maioria tem o bom sentido de não me
desafiar —respondeu apartando-se com uma risada seca—.
Claro que, por outro lado —acrescentou—, nenhuma mulher
me tinha excitado da maneira em que você me excita.
Sabina girou o rosto para a janela em um intento por
lhe ocultar seu rubor.
—Bem, de modo que não posso comprá-la. É isso o que
tenta me dizer? —inquiriu Thorn indo junto a sua mesa,
tomando um pacote de cigarros e acendendo um.
—O posso dizer mais alto, mas não mais claro.
—Já vejo. Bom, há... outras maneiras, sabe? —
murmurou ele, dando uma breve imersão.
— Como quais? vai tentar me seduzir? —espetou-lhe
ela desafiante—. Siga pensando, senhor Thorndon, não
permitirei que volte a acontecer uma segunda vez.
—Quererá dizer uma terceira —a corrigiu ele com um
brilho zombador no olhar—. Se vier ao rancho pode
encontrar-se em uma situação um tanto difícil; e, se não me
crie, lhe pergunte a meu irmão como reajo quando alguém me
desafia.
Não o fazia falta.
—Todo seu afã é decidir com quem se casará Ao, não é
certo? Quer forçá-lo a um matrimônio que seja proveitoso
para você; não lhe importa absolutamente o que possa sentir
ele.
—Dá-me igual o que pense de meus motivos, mas terá
que passar por cima de mim cadáver para chegar até Ao. Se
fosse lista o deixaria tranqüilo; corre o risco de sair
escaldada.
— Está me ameaçando?
—Escute, senhorita Cane, sou um homem razoável.
Ainda está a tempo de aceitar o cheque. Tome-o, afaste do,
e tudo ficará esquecido.
Sabina franziu os lábios. Uma idéia louca estava
formando-se em sua mente. Em sua vida tinha conhecido a
ninguém tão prepotente como aquele homem. acreditava-se
que podia dirigir às pessoas a seu desejo, comprando-a com o
que para ele não era mais que caldeirinha. Nunca havia
sentido um desejo tão irrefreável de lhe dar a alguém nos
narizes. O certo era que esse dinheiro suporia um pancada
nas costas importante para o projeto do hospital, e poderia
lhe fazer acreditar no magnata que aceitava seu suborno, e
logo apresentar-se no rancho com Ao. Isso o poria furioso.
Reprimindo um sorriso malévolo, estendeu a mão com a palma
aberta.
Thorn pareceu ligeiramente decepcionado, mas
desenrugou o cheque e o entregou.
—Bem —balbuciou—, vejo que é uma garota lista.
—Não se imagina você até que ponto... —lançou-lhe um
beijo com a mão e saiu do despacho sem olhar atrás.

depois da confrontação com o Thorn, Sabina se sentia


extrañamente excitada, como um menino a ponto de cometer
uma travessura, e talvez fora essa adrenalina a que fez que
a daquela noite fora uma das melhores atuações de sua curta
carreira.
Ao, entretanto, observava-a preocupado de uma das
mesitas. Depois da última canção, Sabina desceu do cenário,
suarenta e cansada mas tendo descarregado toda sua
tensão, e foi sentar se com ele.
— O que passou esta tarde, quando foste ver o Thorn?
Antes, quando estava sobre o cenário, quase não te
reconheci: estava como... desatada.
Sabina riu.
—Que bem me conhece —disse a seu amigo, pedindo
um suco de dente com gelo a um garçom que passava—. Seu
irmão não queria que fora ao rancho, e tivemos... um segundo
assalto, por assim dizê-lo.
— Outra vez? Deus!, quanto o sinto, Sabina... deveria
havê-lo sabido, conhecendo-o como o conheço, —balbuciou
passando uma mão pelo cabelo—. Nunca aprenderei, nunca...
Sabina colocou a mão no bolso de seus pantaloncitos
de cetim e tirou o cheque.
—Este é o valor que tem para —lhe disse mostrando-
lhe Me ofereceu isso em troca de me afastar de ti- Se eu
fosse você me sentiria insultado. Eu acredito que vale
quando menos cem mil dólares.
A ira fez que Ao ficasse vermelho e começasse a
tremer.
—Romperei-lhe a cabeça, juro-o —resmungou.
—Grande ideia. Buscarei-te um martelo.
— por que não o atirou à cara? —inquiriu Ao, olhando-a
com o cenho franzido.
Sabina esboçou um sorriso malicioso.
—Fiz-o —respondeu sem mencionar o que tinha
ocorrido depois—, mas ele insistiu, e me ocorreu que podia
fingir que aceitava seu suborno, e ir ao rancho de todas
maneiras, para que se inteire de uma vez de que não pode
manipular às pessoas a seu desejo.
Ao se pôs-se a rir.
—É incrível. E o que vais fazer com os vinte mil
dólares?
Sabina lhe perguntou se tinha uma caneta, e ele o deu
curioso por ver o que ia fazer.
—Lhe vou dar a ti para seu projeto... —disse-lhe a
jovem enquanto endossava o cheque—, em nome de seu
insofrível irmão, é obvio —acrescentou com um sorriso
perverso, tendendo-lhe
Ao tomou, mas arqueou as sobrancelhas.
—Mas ao não ter rechaçado este cheque... acreditará
que aceitaste seu suborno.
—Traz-me sem cuidado o que pense de mim —
respondeu ela muito tranqüila, reclinando-se no assento.
Ele se pôs-se a rir de novo.
— Deus, quando te vir aparecer no rancho ficará
furioso como um miura... Espero que tenha à mão o capote.
Não viu ao Thorn em ação.
« Quer apostar algo?», pensou ela.
—Não lhe tenho medo. Além disso, se houver algo que
detesto é que me humilhem. Não vai sair se com a sua.
Ao escrutinou seu rosto em silêncio.
—Se quisesse, poderia haver uma maneira de lhe dar
um castigo e de uma vez me ajudar.
— Qual?
—Deixa que te compre um anel de compromisso.

Sabina quase caiu da cadeira. A expressão de seu


rosto o dizia tudo, e Ao não pôde evitar tornar-se a rir uma
vez mais.
—Não refiro a isso. Eu te aprecio muitíssimo, e estou
seguro de que você também me aprecia , mas não te estou
pedindo que te case comigo.
—Então... quer que finjamos um compromisso?
—Exato —assentiu ele com um amplo sorriso—. Estou
farto de que Thorn espante a cada garota com a saio, e de
que dirija minha vida. Só me leva dez anos, mas se comporta
como se fora meu pai. Farei-lhe ver que não pode seguir
mandando sobre mim.
—Eu estou disposta a fazer o que for por te ajudar e
tomar a revanche, mas... o que me diz de sua mãe?
Estaremos enganando-a a ela também se chegarmos ao
rancho dizendo que nos prometemos.
—Bom, se ficar mais tranqüila, chamarei-a e lhe
explicarei nosso plano antes de Semana Santa. De todos os
modos tampouco acredito que se zangasse nem nada disso.
Não somos precisamente uma família unida. Sabe?, agora que
o penso é curioso que, quando tinha minha idade, Thorn
estava dirigindo já a companhia, e me trata como se fosse
um inútil.
—Você não é como ele —respondeu Sabina quedamente
—. E é um completo —esclareceu.
— Seriamente? A maioria das mulheres o encontram
fascinante e terrivelmente sexy.
—Não é meu caso, asseguro-lhe isso. Detesto aos
homens dominantes —respondeu ela asperamente—. Sei
levar muito bem minha vida sem que ninguém me diga o que
tenho que fazer. Aos dezoito já me estava arrumando isso
por minha conta.
—Oxalá eu tivesse feito o mesmo —suspirou Ao—, mas
Thorn me tinha muito maço, me ensinando o negócio e
planejando meu futuro. Só agora que quero cortar as cordas
me dou conta de até que ponto me estiveram oprimindo.
Além disso, até que não cumpra os vinte e cinco não
receberei a parte da herança que me corresponde, e isso dá
ao Thorn controle total sobre mim até o ano próximo.
— E o que fará quando obtiver sua herança?
—Bom, terei o dinheiro suficiente para criar minha
própria companhia se quero —respondeu ele—. Me ajudará a
declarar minha independência, Sabina? Levará esse anel de
compromisso um par de semanas?
—Conta com isso —respondeu ela decidida—. Mas nem
te ocorra comprar um anel muito caro! E sobre tudo que
possa devolvê-lo!
Ao assentiu com um sorriso. Sabina nunca trocaria.

O anel que Ao lhe levou a dia seguinte não era


excessivamente ostentoso, só uma esmeralda emoldurada em
um aro de pequenos brilhantes sobre uma base de platina,
mas Sabina ficou boquiaberta quando o viu, e deixou escapar
um comprido assobio.
— Deve te haver flanco uma fortuna!
—Bom, não sou um homem pobre —respondeu ele,
esfregando-a nuca—. Para mim é um anel barato.
Sabina o pôs no dedo, e o olhou sacudindo a cabeça.
—Quando penso na quantidade de faturas de
calefação de meus vizinhos que poderiam pagar-se com isto...
—Ah, não... Nem pensar —se apressou a dizer Ao—.
Nem te vá ocorrer empenhá-lo!
Sabina riu divertida.
—Não seja bobo, não vou empenhar o. É só que levar
isto posto me faz me sentir um pouco culpado.
—Pois não tem por que, é só para ajudar —ficou
calado um momento, como duvidando se lhe dizer o que lhe ia
dizer—. Thorn me chamou esta manhã —balbuciou
finalmente.
Sabina franziu o cenho.
-Ah, sim?
Ao se recostou no assento da cafeteria em que
estavam.
—Sim, e lhe disse que nos prometemos e que vais vir
ao rancho.
Sabina se ergueu em sua cadeira.
— E o que disse?
—Não sei, pendurei-lhe na metade do frase —
respondeu ele rendo-se—. Estava jogando sapos e cobras
pela boca...
—Bom, e quando vamos ao rancho? —inquiriu ela, como
se estivesse disposta, embora no fundo sentia um pouco de
apreensão ante a idéia das ver-se com o Thorn.
—Depois de amanhã.
— Tão logo? —Sabina teria querido ter um pouco mais
de tempo para preparar-se psicologicamente.
—Não tem que preocupar-se, eu estarei a seu lado
todo o tempo —prometeu Ao—. Além disso, só serão uns
dias, e Thorn freqüentemente está fora do rancho. Inclusive
em férias tem um montão de compromissos da empresa.
Sabina inspirou profundamente e soltou o ar.
—Muito bem, então será melhor que comece a fazer as
malas para o ter tudo preparado.
—Essa é minha garota. Vamos, levarei-te a casa. Tudo
irá bem, já o verá.
Sabina esperava que tivesse razão. Aquele plano era
uma loucura, disse-se quando saíam da cafeteria e se
dirigiam para o carro do. Estava de psiquiatra... como podia
haver-se comprometido com Ao a fazer algo assim? Hamilton
Regam Thorndon a odiava, e estava a ponto de meter-se
voluntariamente na boca do lobo.
Só quando Ao deteve o carro junto ao bloco de
apartamentos onde vivia se lembrou de que...
— Jessica! —exclamou, lhe pegando um susto de morte
a seu amigo.
— O que? —inquiriu este olhando-a sentido saudades.
Sabina tragou saliva. Tinha estado a ponto de desvelar
o segredo de seu amiga.
—Em... não, nada... é que estava me perguntando o que
pensará a gente quando se inteirarem de nosso suposto
compromisso... —balbuciou.
—Isso não é o que há dito —replicou ele—. Sabina, por
favor... me diga a verdade.
A dolorosa expressão de esperança no rosto do
abrandou o coração da Sabina. Jess a mataria quando se
inteirasse de que o havia dito, mas, por outro lado,
possivelmente acabasse agradecendo-lhe
—Ela morreria se soubesse que sabe, mas... —
suspirou, olhando o de reojo—. Está bem, lá vai: Jess está
apaixonada por ti —disse de deslocado.
Ao ficou de pedra. Incapaz de articular palavra, ficou
olhando o volante como se fora a primeira vez que o visse.
—Jess está... apaixonada por mim?
Sabina não respondeu, mas sim ficou ali sentada em
silêncio, olhando-o. Ao inspirou profundamente como se
acabasse de coroar o topo de uma montanha, e um enorme
sorriso se desenhou lentamente em seus lábios.
— Está... está segura? —inquiriu girando-se para a
Sabina.
Seu amiga sorriu, assentindo com a cabeça, e de
repente, Ao estava abraçando-a e renda-se, e dizendo
incoerências de puro contente.
—Deus... —murmurou, soltando-a finalmente, com a
felicidade escrita no rosto—. Jess me quer... — mas de
repente a expressão beatífica se soubesse correspondido se
apagou de seu rosto—. E que diferença supõe isso? —
balbuciou pessimista—. Thorn não permitirá que me case com
ela, porque seu pai não tem uma condenada refinaria.
—te anime, Ao, temos um plano, e vamos demonstrar
lhe que não pode fazer sua vontade contigo — lhe recordou
sonriendo, e levantando a mão para lhe mostrar o anel—. vá
contar se o ao Jess. Está sozinha em casa. Tinha ficado com
ela para jantar, mas pode ir você em meu lugar —lhe propôs
—. Porque imagino que para o que vais dizer lhe quererá
estar a sós com ela... —acrescentou picaramente, piscando os
olhos um olho.
Ao sorriu timidamente, esfregando-a nuca indeciso.
—Bom, eu... não sei...
— OH, por amor de Deus, Ao! Thorn nem sequer se
inteirará se você não o diz, ou é que tem espiões por aí?
—Não, claro que não, mas é que eu...
Sabina suspirou comicamente e tomou pelos ombros.
—que não se arrisca não passa o mar e bla, bla, bla,
bla... Vai, e agora vê com minhas bênções —o animou lhe
dando um beijo na bochecha. Abriu a portinhola, desceu-se
do carro, e se inclinou para aparecer ao guichê aberto—. Que
tenha sorte, Romeo —lhe disse lhe fazendo um gesto de
despedida com a mão.
Ao sorriu e se afastou em seu carro.
Capítulo 4

À manhã seguinte, quando Sabina estava tomando o


café da manhã, Jessica se apresentou em seu apartamento.
Tinha os olhos avermelhados e o cabelo
revolto.
— Jess! —exclamou Sabina—, o que te passou?
— Pue... posso passar? —choramingou—. Preciso falar
contigo.
—Claro, entra.
Sabina a levou a minúsculo saloncito, e a sentou no
sofá. Foi à cozinha por uma taça de café para seu amiga e,
quando voltou para salão, encontrou-a com o rosto escondo
entre as mãos.
Deixou a taça na mesita e se sentou a seu lado.
—me conte o que passou, Jess.
— É que não se vê? —gemeu Jessica, apartando as
mãos de sua cara e olhando-a desolada. Sabina a olhou a sua
vez, tratando de adivinhar.
— Ao e você...? —começou, pensando que teriam
discutido.
— Bingo! —respondeu Jessica, elevando o olhar para
ela com uma expressão doída—. O que lhe disse, ontem à
noite, Sabina?
Boa a tinha feito... Sabina queria que a tragasse a
terra.
— Eu? Um, nada —mentiu sobressaltada.
—Algo teve que lhe dizer —insistiu Jess—, porque
ontem à noite veio a meu apartamento. Disse-me que passava
por ali e lhe ocorreu subir a me saudar. Eu parecia um pudim,
mas lhe convidei a passar a tomar uma taça. Você sabe o que
sinto, que levo meses apaixonada por ele... Pois bem, em meio
da conversação me soltou que você e ele lhes tinham
comprometido, e me cruzaram os cabos. Comecei a lhe
gritar, levantei-me, insultei-o, e inclusive lhe atirei um
abajur. OH, Deus, não sabe a vergonha que sinto só de
recordá-lo... —balbuciou, mas em seus lábios havia um sorriso
bobo—. Enfim, uma coisa levou a outra Y... beijou-me.
Explicou-me que o do compromisso não era mais que um
engano para dar uma lição ao Thorn, e me beijou de novo —
inspirou antes de continuar—. E, OH, Sabina, suponho que
devi perder a cabeça, porque não sei como acabamos no
dormitório. foi a noite mais curta de toda minha vida, mas
agora não posso ir a casa porque ainda está ali, e não me
atrevo a ir hoje a trabalhar porque temo que pensará que
sou fácil, Y... OH, Deus, esta manhã o amo mais ainda do que
jamais o amei...
O rosto da Sabina se iluminou, e abraçou a seu amiga
rendo.
— Quer-te, Jess, quer-te! —exclamou eufórica—. Tem
que ser assim, estou segura, Ao não é desses que se levam a
uma mulher à cama só por acrescentar um entalhe a seu
revólver; é sensível e profundo.
— Mas pensará que sou fácil! —gemeu outra vez
Jessica.
— Quer apostar algo a que não? Sabina agarrou o
telefone sem fio e começou a marcar o número do
apartamento do Jess.
— Sabina!, não! —exclamou seu amiga, tratando de lhe
tirar o telefone.
Mas Sabina se levantou entre risitas, ficando fora de
seu alcance.
—Shh... cala —vaiou com um sorriso malicioso,
tampando o auricular—, acredito que já...
— Diga? —respondeu a voz sonolenta do.
—Olá, Ao —lhe disse Sabina.
—Ah, é você, Sabi... —balbuciou ele, mas não acabou a
frase, porque justo nesse momento se deu conta de onde
estava e recordou o que tinha ocorrido—. Jess! OH, Deus...
Sabina, está Jessica contigo? Deus, o que deve ter pensado
de mim...?
—Sim, está aqui comigo —respondeu ela divertida,
olhando a seu amiga, que se havia posto vermelha como um
tomate—. E não faz mais que lamentar-se de que vais pensar
que é uma garota fácil e que não será capaz de voltar a te
olhar.
— Como? Que bobagem!, como ia pensar isso? —
replicou Ao—. Mas me temo que agora sim que temos um
problema... Thorn é capaz de mandá-la a Siberia se se
inteira. Sabina, me deixe falar com ela, por favor...
—Quer falar contigo —disse Sabina a Jessica com
uma sonrisilla, lhe tendendo o telefone.
Jess o agarrou nervosa.
— Olá —murmurou timidamente —. Sim. OH, sim —
murmurou em um tom mais acalmado. Um sorriso de
apaixonada se desenhou em seus lábios—. Sim, eu também...
Sabina saiu nas pontas dos pés e se foi à cozinha a
acabar de tomar o café da manhã. Minutos depois, aparecia
Jessica com uma expressão resignada, feliz e triste ao
mesmo tempo.
—Volto para casa a falar com —disse a Sabina—, mas
me temo que o temos difícil até que Ao não cumpra os vinte
e cinco e possa ver-se livre da influência do Thorn —
murmurou encolhendo-se de ombros—. Suponho que uma
secretária não lhe parece uma boa partida para seu irmão.
Enfim —resumiu com um suspiro—, será melhor que vá já. Ao
me há dito que não irá trabalhar até que não tenhamos
falado. Acredito que ontem Thorn e ele voltaram a ter uma
forte discussão pelo da filha do dono de uma refinaria com a
que o quer casar.
—Deus, que homem mais persistente. por que não fará
sua vida e deixará em paz a outros? —grunhiu Sabina
irritada.
—O mesmo digo eu —suspirou Jessica—. Obrigado por
tudo, Sabina. É a melhor amiga que alguém possa ter.
—E você também —respondeu ela com carinho—. E te
anime, mulher, já verá como se arrumam as coisas. Enquanto
isso prometo te guardar isto —acrescentou maliciosa,
levantando a mão para lhe mostrar o anel do.
Jess riu, e Sabina a acompanhou até a porta,
desejando poder dar um chute a aquele homem insofrível que
tão mal estava fazendo o passar a seus dois melhores
amigos.

A noite seguinte, durante sua atuação com o grupo no


clube, Sabina viu surpreendida que Jessica e Aos estavam
entre o público, sentados em uma mesita apartada. Depois da
última canção, desceu-se do cenário, e foi junto a eles.
—Olá —os saudou jovial—, que surpresa! viestes a nos
ver atuar?
—Bom, em realidade... —começou Jess.
Sabina se precaveu então de que os dois não faziam
mais que olhá-la, e intercambiar olhadas cúmplices entre
sonrisitas mau dissimuladas.
—Parecem dois crocodilos com a vista posta em um
bom bocado. pode-se saber o que estão tramando?
—Jess e eu decidimos nos casar —anunciou Ao.
Sabina era toda exclamações, felicitações e abraços.
— Me alegro tanto por vós...!
— Uma vez que estejamos casados, não haverá nada
que meu irmão possa fazer —disse Ao com um sorriso—.
Além disso, há uma pequena fresta legal no testamento de
meu pai: se me casar, inclusive embora não tenha completo
os vinte e cinco, herdarei imediatamente —explicou. Sabina
nunca o tinha visto tão feliz—. E Thorn não poderá voltar a
me dizer o que posso ou não posso fazer —concluiu triunfal.
— antes dos vinte e cinco? —inquiriu Sabina confusa—.
Pensei que te referia a que íeis esperar ao ano que vem.
— Esperar? —repetiu Aos—. Diabos, não. por que
tenho que esperar? Estamos apaixonados e queremos iniciar
uma vida juntos. Não vou permitir que um montão de
cláusulas legais ou meu irmão escolham por mim um só dia
mais. vamos casar nos a semana que vem.
— A semana que...? Espera um momento. Como vão
solicitar a licença de matrimônio e a lhes fazer as análise de
sangue, e todo o resto sem que Thorn se inteire? É
impossível... —replicou Sabina. de repente ficou calada—...a
menos que eu o distraia —murmurou compreendendo o que
pretendiam.
—Exato —assentiu Ao—. Eu procurarei alguma
desculpa para sair do rancho e poder ir fazendo os
preparativos com o Jess, mas não ficará sozinha com ele,
porque minha mãe estará contigo. Não haverá problema.
Sabina ficou ruminando-o em silêncio. Não é que não
queria ajudá-los, mas estava segura de que enganar ao irmão
do não ia resultar nada fácil.
—Não te esqueceste que saímos amanhã pela manhã,
verdade? —recordou-lhe Ao.
—Não, mas... o que acontecerá minhas atuações com o
grupo aqui no clube? —respondeu Sabina—. O outro dia nem
me lembrei de lhe perguntar isso e como finalmente Jess e
você... enfim, não estava segura de que o plano seguisse em
pé.
—encontrei a uma vocalista para que te substitua
estes dias; inclusive falei com os meninos —lhe disse Ao—.
Ao Ricky não caiu muito bem, mas bom... ao final aceitou.
Sinto muito, Sabina, sei que não te faz graça a idéia, mas não
estaremos precisamente a dois passos, e não pode andar
cada dia indo e vindo.
Sabina franziu os lábios.
— E teremos trabalho quando voltar? —inquiriu
preocupada—. Porque se não sair bem e seu irmão se inteira
do bolo, temo-me que tem suficientes influencia para evitar
que meu grupo e eu voltemos a trabalhar neste Estado...
—Isso não passará —respondeu Ao com firmeza. Mas
não parecia tão seguro como aparentava.
—Enfim, que seja o que Deus queira —suspirou Sabina
encolhendo-se de ombros.
Quando se despediram, Jess a abraçou com força.
—Obrigado, Sabina. Não sei como poderemos te pagar
o que está fazendo por nós.
—Não diga bobagens; tampouco é como se fora a me
jogar nos leões. Além disso, sei que vós fariam o mesmo por
mim.
—É estupenda —disse Ao.
— Sou uma inconsciente —murmurou ela para si
enquanto os via afastar-se.
Tinha a sensação de que aquele ia ser o pior engano de
sua vida, como açular a uma serpente venenosa com um pau.

O rancho Thorndon se encontrava justo nos subúrbios


do Beaumont, Texas, e estava rodeado por um cerca branco
e enormes carvalhos e pecanas. A casa era de um branco
resplandecente e estilo Vitoriano, com duas alturas. Os
ramos das árvores estavam ainda nuas porque estavam no
fim de março, mas Sabina se disse que o lugar devia ser
muito formoso com uma temperatura mais cálida, quando as
árvores se vestissem de novo e crescessem flores em
qualquer parte.
Em troca, lhe entristeceu o olhar quando seus olhos se
fixaram em um Rolls-Royce estacionado perto da casa. Sem
dúvida devia ser o carro do magnata, disse-se com amargura.
Não era justo que alguém como ele tivesse tão quando ela
tinha tido tão pouco durante toda sua vida.
—Bom, este é meu lar —lhe disse Ao, detendo o
veículo.
Justo nesse momento apareceu na lonjura um
cavaleiro que se dirigia para eles, abrindo-se passo por entre
um rebanho de vacas Hereford, com pelagem avermelhada e
cara branca. Sabina o observou, fascinada por seu grácil
forma de montar.
—Dá gosto vê-lo, verdade? —comentou Ao enquanto
desciam do carro—. Recordo que quando era um menino eu
adorava olhá-lo enquanto montava. Tinha um ciúmes terríveis
dele, porque por muito que eu praticasse não conseguia fazê-
lo nem a metade de bem. De fato, estava acostumado a
participar de competições de rodeio, mas quando nosso pai
morreu teve que fazer-se carrego da empresa.
Sabina franziu ligeiramente o cenho quando
compreendeu de quem estava falando. O cavaleiro estava já
o suficientemente perto para poder distinguir suas facções.
impregnou-se o chapéu vaqueiro, e dirigiu a Sabina um
sorriso insolente. O moratón de seu olho quase tinha
desaparecido.
—Vá, vá, vá... —balbuciou em um tom desagradável,
desmontando—. Assim finalmente a cantor de rock veio... E
com um anel no dedo, tal e como me haviam dito. Miúdo
quadro... —disse zombador—: uma cantor de rock em um
rancho...
—Suponho que os primeiros dias me aborrecerei como
uma ostra, mas não se preocupe, senhor magnata,
sobreviverei —lhe disse Sabina com um sorriso forçado.
Ao Thorn não gostou de sua desafiante resposta.
—Em... chegou já mamãe? —inquiriu Ao de uma maneira
informal.
A expressão no rosto de seu irmão maior se azedou
ainda mais.
—Não vai vir.
Ao ficou olhando-o.
— Como que não vai vir?
— Seu novo noivo é muito delicado para fazer uma
viagem tão comprido —respondeu Thorn com uma risada
áspera—, e ela não quis vir-se sem ele. O acaramelamiento
dos primeiros dias... Quando tiverem acontecido um par de
semanas se cansará dele, como lhe passa com todos.
Ao não respondeu a essa crítica.
—Eu esperava que... enfim, faz mais de um ano que não
põe um pé no rancho.
—Não gosta do aroma do gado —interveio Thorn. E
imediatamente seus frios olhos azuis se dirigiram a Sabina—.
por aqui não poderá levar esses pantaloneros de cetim que
tanto gosta, encanto.
—De acordo —respondeu ela encolhendo-se de ombros
—. Então irei nua. Seguro que a Ao não lhe importa —
acrescentou dirigindo um sorriso cúmplice a seu amigo.
—Dormirão em habitações separadas —lhe disse
Thorn a seu irmão—. E nada de visitas noturnas, ou Por Deus
que lhes jogo aos dois do rancho em menos que canta um
galo!
Atirou das bridas de seu cavalo girando sobre os
talões, e se afastou com o animal, deixando a Sabina
boquiaberta.
—Diabos —balbuciou Ao—, nossa mãe deve havê-lo
zangado e bem esta vez.
— parece-se seu irmão a ela? —inquiriu Sabina—.
Fisicamente, quero dizer.
Ao meneou a cabeça.
—Não, Thorn saiu a nosso pai —respondeu—. De fato é
seu viva imagem. E às vezes inclusive se comporta como ele.
Nosso pai era um homem apaixonado, mas tinha um caráter
difícil, porque era muito autoritário e inacessível —explicou
—. Com um olhar era capaz de fazer chorar a nossa mãe, e
não lhe falar durante dias quando se zangava por algo. E ela
se vingava da maneira mais antiga do mundo em que uma
mulher pode vingar-se de seu marido.
Sabina ficou olhando-o.
— Com outros homens?
O rosto do se escureceu, e assentiu com um suspiro.
—Thorn sempre a odiou por isso —continuou—. Nosso
pai a pilhou em uma ocasião com um de seus amantes. ficou
furioso, e a arrastou fora do motel, obrigando-a a montar em
seu carro para levar a de volta ao rancho. Entretanto, sua ira
por ter estado sendo enganado era tal, que ia conduzindo
muito por cima do limite de velocidade permitido e se
estrelaram contra outro veículo. Morreu no ato.
Sabina se mordeu o lábio inferior.
— Quantos anos tinha seu irmão quando ocorreu?
—Vinte e quatro, a idade que tenho eu agora. Nunca
esquecerei o modo em que olhou a nossa mãe, nem as duras
palavras que lhe disse. Ela partiu do rancho a manhã depois
do enterro,
Ao ficou em silêncio, como recordando, mas ao
momento levantou a vista e disse a seu amiga com um
sorriso:
—Anda, vamos dentro.
Enquanto que o exterior da casa era grandioso e
elegante, o interior resultou ser um bastión masculino. O
salão estava decorado em tons terra, com tapetes índios e
uma forte influencia mexicana. As paredes estavam
recubiertas com painéis de uma madeira escura, e delas
penduravam troféus de caça e galardões de competições de
rodeios.
—São do Thorn —lhe disse Ao com certo orgulho—. Os
homens ainda se congregam para vê-lo quando lhe dá de
ajudar na domesticação dos potros novos. É todo um
espetáculo.
O pouco que Sabina sabia de cavalos e gado sabia pelo
tempo que tinha passado com seu avô materno em sua granja
dos subúrbios de Nova Orleáns, mas aquilo tinha sido fazia
anos, antes de que o carinhoso ancião muriese. Tinha umas
lembranças maravilhosas daquilo: o ar puro do campo, o
amplo horizonte sem feios edifícios e arranha-céu, quando a
ensinou a montar a cavalo...
Tocou com as pontas dos dedos um dos galardões
enquanto lia a inscrição da placa, sentindo nas gemas o frio
do metal. Tão frio como o homem que o tinha ganho, pensou.
—Deve sentir-se muito orgulhoso de todos estes
prêmios —disse a Ao quedamente.
—Estou-o —respondeu a profunda voz do Thom a suas
costas.
Sabina e Ao se voltaram, encontrando-o parado na
soleira da porta.
—Em realidade em si não valem grande coisa. São
feitos de uma liga de metal —explicou aproximando-se.
— Que triste! —suspirou Sabina zombadora,
apartando-se da parede—. Assim que o grande Hamilton
Regam Thorndon Ele nem sequer poderia empenhá-los se
necessitasse dinheiro...
—Meu nome é Thorn —grunhiu ele.
Sabina elevou o queixo com insolência, jogando para
trás seu sedoso e comprido cabelo.
—Chamarão-o assim seus amigos, mas eu não o sou nem
o serei nunca —replicou—. O chamarei senhor Thorndon,
Hamilton Regam III, ou «né, você». Escolha o que mais
goste.
Os olhos do Thorn relampejaram furiosos, mas não se
moveu.
— Está me declarando a guerra, encanto? —inquiriu
franzindo os lábios—. Tome cuidado: agora está você em meu
terreno.
—Esta guerra a iniciou você, e não penso me bater em
retirada por muito que me ameace —lhe respondeu—. E
deixe de chamar eu adoro».
Thorn entreabriu os olhos e escrutinou seu rosto.
— Procurando algum ponto débil? —inquiriu Sabina
com uma risada seca—. Não o encontrará. Pode que seja uma
mulher, mas sou tão dura como você.
Thorn seguia observando-a fixamente.
—Muito bem, deixarei de chamá-la «encanto» se você
deixar de usar esse nomeie ridículo que me puseram ao
nascer e que detesto. Faremos um trato: eu a chamarei
Sabina, e você me chamará Thorn. E, já que estamos, nos
tutearemos. Sinto-me como um velho quando me falam de
você.
ia ser uma lástima não poder seguir burlando-se dele,
mas era um trato justo, pensou Sabina.
—Por mim de acordo.
Ao, que tinha estado seguindo algo tenso o
intercâmbio de palavras e olhares desafiantes, suspirou
aliviado e pigarreou.
—Bem, alegra-me que vão lhes entendendo — disse—.
Vamos, Sabina, ensinarei-te o resto da casa —propôs a seu
amiga, tomando a da mão.
—Deixa o tour pela casa para outro momento —lhe
disse Thorn de repente a seu irmão em seu habitual tom
autoritário—. lhe Diga ao Juan que traga suas malas e que
lhe diga qual será sua habitação. Fiz que comecem a preparar
os terrenos do confine oeste da propriedade onde te disse
que íamos escavar um novo poço de petróleo, e quero que
venha comigo a ver como vão as obras.
— Agora? —inquiriu Ao.
Thorn não respondeu, mas sim ficou olhando-o com os
braços em jarras. Sabina observou como os ombros do caíam
em um gesto de resignação.
—Está bem, mas terei que me trocar primeiro —disse
assinalando o traje cinza que tinha posto—. Quer vir você
também, Sabina?
— Ela sabe montar? —interveio Thorn com uma risada
depreciativa.
—É claro que sim que sabe —respondeu Sabina
irritada—. Inclusive é capaz de falar por si mesmo.
—Em... Vou ao carro a pelas malas —disse Ao, vendo
que foram começar outra vez—. Espero que possam estar
sem discutir dez minutos em minha ausência.
Sabina se cruzou de braços enquanto seu amigo saía
do salão, e girou o rosto para a parede.
—Não deixarei que Ao se case com alguém como você
—lhe disse Thorn ao cabo de um minuto—. Farei o que tenha
que fazer para impedi-lo.
Ela não respondeu, e tampouco se voltou para olhá-lo.
—Não me faça te fazer danifico, Sabina —insistiu ele
em um tom acariciador—. Suponho que não pode evitar ser o
que é, mas não quero que meu irmão acabe em mãos de uma
mulher que só vai atrás de seu dinheiro.
—Certamente tem uma grande opinião de mim —
respondeu Sabina sarcástica sem poder agüentar-se mais—.
Não só tomou por uma prostituta aquela noite em casa do,
mas também também pensa que sou uma cazafortunas.
— E sente saudades? —espetou-lhe Thorn—. Ficou
com o cheque e vieste aqui quando disse que te afastaria de
meu irmão.
—Nunca o disse —respondeu Sabina.
Se o que se esperava era que interpretasse o papel de
mulher desumana e interessada, faria-o.
Thorn contraiu a mandíbula irritado.
—Como te disse, sou um homem generoso, assim vou te
dar uma segunda oportunidade. Se fizer o que te diga,
esquecerei-me inclusive do incidente do cheque. É mais,
conseguirei-lhes a seu grupo e a ti tantas atuações como
podem fazer o que fica de ano. Quão único tem que fazer em
troca é sair da vida do.
—Mas é que é um menino tão doce... —murmurou ela
com um sorriso malicioso—. Além disso, tem algo que me
volta louca.
Thorn se aproximou mais a ela, e o calor de seu corpo
e o desejo que despertava na Sabina, fez que subisse o
olhar, encontrando-se com seus olhos.
—Os dois sabemos que não é a mulher experimentada
que pretende ser —lhe disse Thorn. Levantou uma mão e lhe
acariciou levemente os lábios, fazendo-a estremecer por
dentro—. Se segue jogando a esse jogo, pode que acabe
tomando-o a sério e te dê o que está pedindo.
—Teria que me matar primeiro —replicou ela
apartando o rosto—. E, se por acaso não o recorda, estou
prometida com Ao.
Mas Thorn não apartou a mão. Seus largos dedos se
deslizaram sob seu queixo, seguindo em uma sensual carícia a
linha da garganta. A essa distância, Sabina podia sentir seu
quente fôlego nos lábios, e cheirar o aroma de couro e
colônia que desprendia.
—Está-o... por agora —murmurou Thorn enquanto seus
dedos ascendiam de novo, para acariciar sua bochecha e
riscar a curva de seu lábio inferior—. Pele de seda... —
suspirou inspirando lenta e profundamente— e uns lábios
sensuais, embora não saibam muito bem como beijar...
Sabina se notava as pálpebras pesadas e todo o corpo
débil. Elevou a vista, e já não pôde separar seus olhos dos
dele. de repente, entretanto, Thorn deixou cair a mão, como
se o contato com sua pele o perturbasse.
—Não sou um amante delicado —lhe disse
abruptamente—. Quando faço o amor com uma mulher eu
gosto de fazer o de um modo apaixonado, sem reservas, e é
quão último uma garota sem experiência como você
necessita.
Sabina o olhou com apreensão.
—Não, não vou seduzir te, mas poderia perder a
cabeça se segue me pondo a prova, assim manten afastada
de mim enquanto esteja aqui. Entendeste-o? Não poderia
voltar a me olhar no espelho se me levasse a uma virgem à
cama. Se tivesse sido a pequena furcia que acreditei que foi,
me teria deitado contigo e logo o haveria dito a Ao, e esse
teria sido o fim de sua relação.
— Tão longe seria capaz de ir?, de fazer machuco a
seu irmão só por não deixar que tome suas próprias decisões
e ele solucione mesmo seus problemas? —inquiriu Sabina.
—É meu irmão, e o quero a minha maneira —respondeu
Thorn—. É a única pessoa pela que sinto avaliação, e você
decidiste ignorar a advertência que te fiz, assim agora terá
que atenerte às conseqüências. Aceitou meu suborno e não
cumpriste os términos.
— E por que não o conta a Ao? —inquiriu ela para picá-
lo.
—OH, penso fazê-lo, asseguro-lhe isso, mas ainda não
—respondeu Thorn com um olhar que prometia sutis torturas
—. A vingança é um prato que se serve frio.
Sabina jamais tinha visto um olhar tão duro, tão fria.
Se era vulnerável em algum sentido, certamente não o
demonstrava, disse-se. Quase podia imaginar o de menino.
Certamente já então teria sido um solitário, um menino
calado e reservado que não deixava que ninguém o pisasse, e
que provavelmente se teria brigado mais de uma vez no
colégio.
— A que vem esse olhar? —inquiriu Thorn com
aspereza.
Sabina se encolheu de ombros.
—Sinto que sejamos inimigos —respondeu com a
honestidade que lhe era impossível reprimir—. Acredito que
me teria gostado de te ter como amigo.
A expressão do Thom se voltou ainda mais dura.
—Eu não tenho amigos, e tampouco os quero. A palavra
«amizade» não é mais que um eufemismo de «interesse».
— Tão pouca confiança tem no gênero humano? —
inquiriu Sabina com pena, sacudindo a cabeça—. Sempre vai
pensando que tudo o que te aproxima tem intenção de te
utilizar?
Thorn deixou escapar uma gargalhada entre cínica e
zombadora.
— Atreve-te a me falar você de confiança?, você que
aceitou um suborno e leva o signo do dólar escrito nos olhos?
antes de que Sabina pudesse responder, ouviu-se o
ruído da porta da entrada abrindo-se e fechando-se, e
instantes depois aparecia Ao com suas malas.
—Bom, já estou aqui. Vamos, Sabina, ensinarei-te onde
está sua habitação para que você também possa te trocar
antes de sair.
—Irei preparando os cavalos —balbuciou Thorn, saindo
do salão sem olhá-los.
Enquanto subiam as escadas, Sabina ia pensativa. Algo
tinha trocado atrás daquela conversação. Compreendia que o
que Thorn estava fazendo era tentar proteger a seu irmão,
mas, ironicamente, era o mesmo que ela pretendia. Tinha que
recordar que Hamilton Regam Thorndon III era o inimigo,
porque se o esquecia e baixava o guarda podia acabar
destruindo qualquer esperança para o futuro do e Jessica.
Mas não era fácil, porque por algum motivo não lhe resultava
singelo odiá-lo. Era um homem rico, como todos os que se
aproveitaram de sua mãe, Mas extrañamente havia uma
certa afinidade entre ele e ela. Entendia como se sentia,
porque ela também levava uma máscara, e também temia
comprometer-se emocionalmente. Era uma lástima que
estivessem em bandos contrários.

Capítulo 5

FAZIA anos que Sabina não tinha montado a cavalo,


mas se encarapitou com decisão sobre a pequena égua cinza
que Thorn tinha selado para ela, e pouco a pouco foi
fazendo-se a seus movimentos e controlando-a.
Os arredores em torno do rancho Thorndon eram
fascinantes. A não muitos quilômetros de distância, por
exemplo, estava o Big Thicket, uma zona selvagem onde
cresciam orquídeas selvagens. A princípios do século xX se
encontrou petróleo no Spindletop Oilfield, e ao pouco
Beaumont via o nascimento de três das companhias
petrolíferas do país, ou quatro, se se contava também Thorn
Oil.
Todo aquilo ia explicando Thorn a Sabina quando
retornavam de ver os terrenos onde estava instalando-a
perfuratriz para extrair o petróleo. a surpreendeu ver que
não só podia mostrar-se falador se queria, mas também que
fazia interessante seu bate-papo em vez de limitá-la a uma
série de dados e estatísticas como a outros homens de
negócios gostavam de fazer. Saltava à vista que Thorn
estava apaixonado por aquelas terras.
—Ah, que bem se está aqui: há luz natural, vegetação,
ar puro... —comentou Ao em um momento dado, inspirando
profundamente.
—Alegra-me te ouvir dizer isso —balbuciou Thorn
impregnando o chapéu—, logo pode nos ajudar a marcar às
cabeças de gado novas.
—Bom, está-se bem para descansar, mas não para
trabalhar —respondeu Ao com um sorriso travesso.
—Já dizia eu... Pois deveria vir aqui mais
freqüentemente, precisa-o —respondeu Thorn em tom de
recriminação—. Estar sentada detrás de uma mesa todo o
dia e com a tela de um ordenador diante não é nada são. Nem
tampouco essas saídas noturnas que faz dia sim e dia não.
—Suponho que tem razão, embora o de sair já me
acabou. Quando Sabina e eu nos casemos já não terei tempo
para isso —comentou Ao com toda a intenção.
Aquilo irritou profundamente ao Thorn. Atirou das
rédeas de seu cavalo para que se acomodasse ao passado do
de seu irmão, e o olhou fixamente com expressão
reprobadora até pôr a Ao visivelmente nervoso.
—O matrimônio é um passo muito importante, não um
jogo —lhe disse com aspereza—. O que me diz de sua
carreira?, crie que vai renunciar a ela por ti?
— E o que passa se quer seguir trabalhando? —inquiriu
Ao, que não via onde estava o problema—. O que tem de mau
o que uma mulher queira manter sua independência?
—Nada, só que a liberdade de um acaba onde começa a
do outro —replicou Thorn com aspereza—. Acaso você gosta
que os homens a olhem como pervertidos quando sai ao
cenário com esses pantaloncitos minúsculos?
—Bom, eu não os chamaria pervertidos... —balbuciou
Ao.
—Pois eu sim —o cortou Thorn. voltou-se para a
Sabina—. E o que é o que lhe oferece você? Seu tempo livre?
Porque conforme tenho entendido, passa-te boa parte do ano
com seu grupo de excursão...
Sabina jamais se expôs aquilo. Primeiro porque não
queria casar-se e segundo porque a música o era tudo para
ela, mas se supunha que estava comprometida com Ao, assim
tinha que inventar uma resposta convincente, e rápido.
—Bom, custará-me deixá-lo, claro, mas faria algo por
Ao. Quando nos casarmos, deixarei de fazer excursões,
porque o quero, e quero fazê-lo feliz e ter filhos com ele.
Justo nesse momento elevou a vista e viu uma
expressão estranha nos olhos do Thorn, que descenderam
até seu ventre, para logo voltar a subir até encontrar-se de
novo com os seus, fazendo-a ruborizar.
— vamos ver o resto do rancho agora? —inquiriu para
dissimular seu sobressalto—. Este passeio me tem aberto o
apetite.
—Antigamente os jeans, se lhes entrava fome pelo
caminho, matavam a uma de suas cabeças de gado, a comiam,
e ficavam em marcha outra vez —brincou Ao sonriendo.
—Pois, olhe, sim, dessas que há ali pastando se
tirariam bons lombos —disse ela, lançando um sorriso
malicioso ao Thorn.
—Touca uma só de minhas cabeças de gado e te corto
o braço — respondeu ele arqueando uma sobrancelha, e
esboçando um leve sorriso.
—Desmancha-prazeres... —balbuciou Sabina sem
perder o bom humor—. Miúdo anfitrião parece...
— São cabeças de gado purasangre, diabos —
respondeu ele, deixando escapar uma risada contra sua
vontade.
—Está bem —disse ela em um tom comicamente
apaziguador—, direi-te o que faremos: comerei- também o
certidão de nascimento.
Thorn se pôs-se a rir, esta vez com mais ganha. Ao não
dava crédito. Fazia anos que não via o Thorn rir daquela
maneira. Seu irmão maior sempre parecia estar zangado por
algum motivo, e apenas se lhe via sequer sorrir. O sutil
encanto da Sabina estava obrando maravilhas nele.
—Enfim —suspirou Sabina encolhendo-se de ombros—,
se me enjoar pela fome, caio-me do cavalo, aterrisso sobre
uma serpente de cascavel, remói-me, e morro, será tua
culpa, recorda-o.
Thorn riu de novo.
—Está bem, voltemos para a casa —disse atirando das
rédeas para fazer que seu cavalo se girasse para ela—. Te
darei de comer.
Esporeou a seu cavalo e cavalgou diante deles para
abrir uma porta do cerca. Sabina não pôde evitar segui-lo
com o olhar. A risada fazia ao Thorn tão distinto... quase
humano.
—É a primeira vez em muito tempo que o vejo tão
distendido —lhe confiou Ao, inclinando-se para ela—. De
fato, nunca ri.
—É só que tinha esquecido como fazê-lo —respondeu
ela em tom fico, observando com lástima ao Thorn, que tinha
desmontado para abrir a porta e estava de costas a eles—.
Jess disse que no fundo não é mais que um homem solitário,
e eu não acreditei, mas agora entendo a que se referia.
À a olhou preocupado.
—Thorn é um solitário por própria eleição —lhe
recordou—. Não deixe que isso te abrande respeito a ele,
Sabina. É impossível chegar a conhecer o Thorn de tudo. Se
baixas o guarda pode te levar um zarpazo no momento mais
inesperado.

Aquela noite, Sabina baixou na hora do jantar vestido


com uma camisa de quadros azuis e brancos e uma saia cinza
pérola em vez dos jeans que tinha levado postos todo o dia.
Thorn estava sozinho no salão quando passou por ali
caminho do comilão, sentado no sofá, com o olhar fixo no
copo que tinha na mão e o cenho franzido, como se estivesse
ruminando um problema.
Elevou a cabeça para ouvi-la chegar, e a olhou de cima
abaixo.
— Onde deixaste seus pantaloncitos de cetim, estrela
do rock? —inquiriu em um tom zombador.
O ambiente depravado do almoço se desvaneceu
quando Ao mencionou a sua mãe em um momento dado, e
Sabina tinha preferido se tirar de no meio com a desculpa de
tornar um momento a descansar.
—Não queria que te desse um ataque ao coração —
respondeu ela, imitando o sorriso enjoativo de sua
secretária.
— O que vais tomar? —perguntou-lhe ele em um tom
seco, levantando-se com o copo vazio na mão e indo para o
móvel-bar.
—Não bebo.
Thorn se girou em redondo.
— Que você o que?
—Disse-lhe isso na festa do: eu não gosto do álcool.
Thorn franziu o cenho.
—Não há nada de mau nem de imoral em tomar um gole
de vez em quando.
— Hei dito eu que o haja? —replicou ela—. Eu não
gosto do sabor do álcool.
O se encolheu de ombros.
—Como quer —murmurou servindo-se ele outra taça de
uísque.
Observou-a com os olhos entreabridos enquanto dava
um comprido trago. Sabina, que com as mãos enlaçadas
depois das costas estava fingindo-se muito interessada nos
livros da estantería e rogando que aparecesse Ao, podia vê-
lo com a extremidade do olho, escrutinando-a em silêncio.
— É Sabina seu verdadeiro nome? —inquiriu
sobressaltando-a, e fazendo que se desse a volta.
—Sim, é-o.
— Seriamente? Acreditava que era um desses nomes
artísticos que fica a gente do mundo do espetáculo.
—Não, é meu verdadeiro nome —repetiu ela, cruzando
os braços sobre o peito, em uma atitude inconscientemente
defensiva.
—Já. O caso é que é um nome pouco comum...
— Quer que te ensine minha partida de nascimento? —
espetou-lhe ela com chateio.
—Não tem por que te pôr assim. Só estamos falando...
—murmurou ele com um leve sorriso—. Embora seja difícil
manter uma conversação a esta distância — acrescentou
deixando o copo sobre a mesita e aproximando-se dela
lentamente—. Te incomoda minha proximidade, Sabina?
Ela não respondeu. Apartou o rosto, mas Thorn tomou
pelo queixo, obrigando-a a olhá-lo, e seus claros olhos azuis
voltaram a enfeitiçá-la uma vez mais. de repente a mão do
Thorn começou a descender por sua garganta, e Sabina se
estremeceu.
—Não vou fazer te danifico —sussurrou ele, tocando
com as gemas dos dedos a artéria do pescoço, que pulsava
agitadamente—. Compreendo que tenha medo de meu ardor,
Sabina —continuou Thorn em um tom fico—, mas a paixão em
si é algo violento, algo irracional, como o que sinto quando te
toco e te noto tremer... como agora. Quer voltar a sentir
meus lábios sobre os teus, não é verdade?
Sabina queria negá-lo, queria apartá-lo, mas nem
sequer podia articular palavra. Involuntariamente havia
entreaberto os lábios, e o certo era que o desejava tanto,
tanto...
—Eu também quero te beijar outra vez, como aquela
noite —murmurou Thorn com voz rouca. Seus dedos
descenderam pela garganta, desenhando arabescos em sua
sedosa pele—. Quero te acariciar em sítios que lhe fariam
ruborizar, sentir sua pele pega à minha, imprimir beijos por
todo seu corpo...
—Thorn, não... —ofegou ela se desesperada—. Estou...
comprometida com Ao...
Ele roçou seu nariz contra a dela, e inclinou a cabeça
um pouco mais. Seus lábios quase se tocavam.
—Então —lhe sussurrou ele—, por que quase está me
suplicando que te beije?
Sua suprema arrogância devolveu a Sabina a seus
cabais.
—Eu não estou te suplicando nada —resmungou
empurrando-o pelos ombros e conseguindo apartá-lo.
Thorn ficou olhando-a com as mãos nos bolsos e um
sorriso zombador.
—É você realmente fascinante, senhorita Cañe — lhe
disse observando divertido o rubor em suas bochechas—.
Toda essa deliciosa inocência, como uma fortaleza esperando
a que alguém a assalte... Como é que Ao e você não hão...?
Enfim, você já me entende. Acaso lhe
dá medo a primeira vez? —inquiriu tomando de novo o
copo e dando outro gole—. Deus, não sabe como eu gostaria
de mandar ao corno meus princípios e te fazer o amor agora
mesmo, aqui, sobre o tapete...
Sabina ia lhe dar a resposta mais grosseira que pôde
ocorrer-se o nesse momento, mas justo então se ouviram uns
passos baixando a escada, e Ao apareceu a cabeça pela
porta.
—Ah, estão os dois aqui. vamos comer, estou morto de
fome.
O jantar não foi precisamente agradável para a Sabina
porque Thorn não deixava de observá-la com esse
inquietante olhar de ave de presa que a punha nervosa.
—me diga, Sabina, como te converteu em cantor de
rock? —perguntou-lhe de repente quando estavam tomando a
sobremesa—. Ao me contou muito pouco de ti.
Ela deu um coice ante a inesperada pergunta.
—Bom —balbuciou com o garfo suspenso sobre o bolo
de arándanos que Juan, o velho servente dos Thorndon,
tinha-lhes preparado—, suponho que poderia dizer-se que foi
algo acidental.
Thorn apoiou o queixo sobre as mãos entrelaçadas.
— O que quer dizer com «acidental»?
—Pois... disseram-me que tinha uma voz com muito
potencial, assim que apresentei a um concurso amateur no
que o prêmio era uma atuação em um clube do centro da
cidade. E ganhei —explicou. Sacudiu a cabeça e sorriu com
nostalgia—. Não me podia acreditar isso. Até então tinha
estado trabalhando de garçonete porque não conseguia
encontrar outro emprego, e quando fiz essa atuação ao dono
do clube gostou, e me ofereceu um contrato para o mês
inteiro. E ali foi onde conheci grupo com o que canto agora.
—Ah, sim, Jessica me contou algo disso —interveio Ao
—. Mas acredito que mais que «conhecer »foi um choque
frontal...
Sabina riu.
—Sim, é verdade. O dono do local tinha contratado ao
Ricky e aos meninos para tocar ali, e me perguntou se não me
importaria cantar com eles. É obvio lhe disse que não tinha
nenhum inconveniente, mas parece que o que lhes disse foi
que se não lhes importava que eu «atuasse» com eles, e você
vete ou seja por que se pensaram que era uma bailarina de
striptease. Enfim, o caso é que o bateria fez um comentário
bastante grosseiro, e eu saltei como uma fera. Peguei-lhe um
murro e caiu sobre a bateria, dando um golpe na cabeça que
o deixou inconsciente... e só faltavam cinco minutos para que
saíssemos a cena! —recordou entre risadas—. Rick estava
desternillándose, mas o dono do local estava histérico.
Os lábios do Thorn se curvaram involuntariamente.
— E ao final chegaram a atuar?
—Sim, esclareceu-se o mal-entendido, Ricky me pediu
desculpas em nome do grupo, e conseguimos reanimar a
tempo ao Zack, o bateria —explicou ela—. Tivemos tanto
êxito aquela semana que Ricky me propôs que unisse a eles.
Apesar de que nosso primeiro encontro tinha sido um pouco
acidentado, ao longo dessa semana fui conhecendo um pouco,
e me dava conta de que eram boa gente, assim aceitei. E
assim foi como nos convertemos na Sobina e Os Bricks —
concluiu com um suspiro.
Sabina tinha omitido algumas costure; como que um
ancião benfeitor do orfanato, para ouvi-la cantar uns Natais,
havia-lhe dito que tinha voz de contralto, e se tinha
devotado a lhe pagar as classes em uma academia de canto.
Por desgraça, entretanto, não pôde acabar sua formação
operística, porque o homem faleceu aos poucos meses, e teve
que esperar a sair do orfanato, aos dezoito para começar a
trabalhar e economizar para costear-se ela mesma os
estudos de canto. Claro que seus empregos de garçonete não
lhe permitiam economizar muito, e as classes nas academias
de prestígio eram muito caras, assim quando lhe saiu aquele
emprego no clube noturno decidiu que seria melhor que
pusesse os pés na terra e aproveitasse aquela oportunidade.
— Sabina, está-me ouvindo? —disse de repente a voz
do, tirando a de seus pensamentos.
—Perdoa, estava perdida em minhas lembranças —
murmurou ela esboçando um leve sorriso.
—Já o vejo. Parecia que estivesse a um milhão de anos
luz. Perguntava-te se queria outra ração de sobremesa.
—Não, obrigado, estava delicioso, mas não posso mais,
estou enche —respondeu ela com um novo sorriso.
Thorn seguia observando-a fixamente desde seu
assento na cabeceira da mesa.
—Nossa mãe também se dedica ao mundo do
espetáculo —lhe comentou Ao a Sabina—. Lhe hei isso dito
alguma vez, não? Começou sua carreira como atriz de teatro
e agora dirige sua própria companhia.
Thorn depositou sua taça sobre a toalha com rudeza.
—Ao, eu gostaria que discutíssemos juntos o desses
terrenos que estou considerando comprar.
Seu irmão arqueou as sobrancelhas.
— Está pedindo minha opinião? —inquiriu perplexo—.
Nunca antes o tinha feito. Faz o que você considere melhor.
—O ano que vem fará vinte e cinco anos e receberá
sua herança —respondeu Thorn—. Já vai sendo hora de que
tome parte nas decisões do comitê diretor da empresa.
—Deus, acredito que vou deprimir me —disse Ao
sarcástico. Entreabriu os olhos e escrutinou o rosto de seu
irmão—. Fala a sério?
—Eu sempre falo a sério —respondeu Thorn, dirigindo
logo um olhar significativo a Sabina—, sempre.
Ela sabia muito bem a que vinha esse olhar: estava lhe
recordando que lhe tinha advertido que se apartasse do.
—Vamos ao estudo —lhe disse Thorn a Ao—. Estou
seguro de que sua prometida encontrará com o que entreter-
se.
Sabina lhe lançou um olhar furioso enquanto saía do
comilão com Ao. O velho Juan, o servente, entrou nos poucos
minutos para ir recolhendo a mesa. Ela se ofereceu a ajudá-
lo, mas o homem sorriu e sacudiu a cabeça.
—Não é necessário, senhorita, mas muito obrigado —
lhe disse—. Esta classe de trabalho não é para umas mãos
tão bonitas. você vá à biblioteca, ao final do corredor, a
segunda porta à esquerda. dentro de um momento levarei
conhaque e café. O senhor sempre toma ali depois do jantar.
—De acordo, obrigado.
Sabina tinha imaginado que Thorn teria a alguma
pessoa que se encarregasse da cozinha e o cuidado da casa,
mas não que fora um homem. Estava claro que detestava às
mulheres, exceto quando serviam a seus propósitos.
Saiu do comilão, e quando chegou à biblioteca ficou na
soleira da porta admirando encantada as muito altos
estanterías repletas de livros, os amplos ventanales, e o
elegante chão em madeira de três cores. Sobre a chaminé
havia um quadro de um touro Hereford, em um rincão dois
cômodos sofás e uma mesita com um precioso xadrez
oriental. No extremo oposto um piano, e Sabina se sentiu
irresistivelmente atraída para ele.
sentou-se na banqueta alargada e levantou a tampa
com cuidado. No orfanato ao que a tinham enviado depois de
que morrera sua mãe, havia um velho piano, não tão luxuoso
como aquele, e uma das cuidadoras a tinha ensinado a tocá-lo
ante sua insistência.
Seus dedos se deslizaram devagar sobre as teclas
brancas e negras, as acariciando, e começou a tocar o
Segundo concerto para piano do Rachmaninoff, uma peça que
sempre lhe tinha gostado porque parecia refletir todas as
emoções contraditórias que desde menina tinha albergado
seu espírito. Fechou os olhos enquanto tocava, e se deixou
levar pela música.
de repente teve a sensação de que estavam
observando-a, e seus dedos se detiveram. Abriu os olhos e
olhou em direção à porta, e viu o Thorn de pé, imóvel e
completamente fascinado, e a seu lado a Ao.
—Não pares —lhe disse Thorn quedamente. sentou-se
em um dos sofás, com um cigarro na mão, e indicou a Ao que
se sentasse também—. Por favor, segue tocando —pediu a
Sabina em um tom cortês.
O penetrante olhar do Thorn a punha nervosa, e
demorou um instante em recordar em que ponto se ficou,
mas quando começou a tocar outra vez voltou a deixar-se
arrastar pelas notas, como lhe ocorria quando cantava.
Quando chegou ao final da peça, os dois irmãos aplaudiram, e
Sabina se levantou, fazendo uma graciosa reverência para
depois fechar a tampa e ir sentar se ao lado de Ao.
—Toucas muito bem —a elogiou Thorn. Entretanto,
soou como se lhe chateasse que assim fora—. Onde aprendeu
a tocar?
—Ensinou-me uma amiga —mentiu Sabina. Ao não sabia
nada de seu passado, e o último que queria era que Thorn se
inteirasse—. Gostava muitíssimo da música, e me ensinou
como se lê uma partitura.
—Fez um bom trabalho —murmurou Thorn, assentindo
com a cabeça—. Poderia dedicar profesional-mente a isso.
— Ser pianista? Não, obrigado —respondeu Sabina
com uma risada incômoda—. É muito cansado. Além disso,
estou segura de que em frente de um auditório me poria
muito nervoso e cometeria enganos todo o tempo. Cantar é
distinto: não tem que preocupar-se de se te saltaste uma
nota, ou de onde estão seus dedos em cada momento. Quem
touca o piano?, você? — perguntou a Ao.
—OH, não, é Thorn quem o toca —respondeu seu
irmão.
Surpreendida, Sabina se voltou para o Thorn.
— Tanto te choca? —inquiriu ele dando uma imersão
—. Eu gosto da música, embora, certamente, não isso que
tocam seu grupo e você que mais que música é ruído.
De novo estava tratando de cravá-la. Não o fazia
graça que soubesse tocar o piano, irritava-o que não se
ajustasse à etiqueta que tinha querido lhe colocar desde o
começo.
—É questão de gostos —respondeu encolhendo-se de
ombros—. eu gosto da música clássica, mas também eu gosto
do ritmo.
Thorn arqueou uma sobrancelha e em seus lábios se
desenhou um sorriso sardônico.
Enfim, se o que o incomodava era que encaixasse com
sua preconceituosa opinião dela, disse-se Sabina,
possivelmente o melhor seria comportar-se completamente
ao reverso de como se comportaria normalmente.
Deu um grande bocejo e ficou de pé, estirando-se.
—Bom, e o que é o que faz a gente por aqui para
divertir-se? —perguntou a Ao com um gesto impaciente de
mulher caprichosa.
—Pois... poderíamos ver um filme no vídeo —respondeu
Ao rendo-se—. Thorn, quer te unir a nós?
O irmão maior sacudiu a cabeça.
—Tenho um montão de papéis que arrumar.
—Como quer.
Nesse momento entrava Juan com uma bandeja em
que levava conhaque e café, como havia dito a Sabina.
— Não vão querer tomar uma taça ou um café, senhor?
—perguntou a Ao, ao ver que se foram.
— Eu não, obrigado, Juan. Você quer uma taça de
café? —perguntou a Sabina.
Mas ela sacudiu a cabeça, deu- também as graças ao
Juan e saíram da biblioteca. À a conduziu a uma salita ao
fundo do corredor, onde tinham o televisor, uma sofisticado
equipe de áudio e vídeo, e até um velho projetor.
—Thorn sempre há dito que o salão é um lugar para
descansar, não para ver a televisão —explicou a Sabina
quando esta se sentou no comprido sofá cantoneira—. Temos
um montão de filmes: em branco e negro, de ação, comédias...
o que gosta de ver?
— Se te disser a verdade, o que gostaria de seria me
sentar no alpendre a escutar aos grilos —confessou Sabina
—, mas isso faria que seu irmão franzisse o cenho
contrariado. Prefere que me ajuste ao molde que me
atribuiu.
Ao sorriu levemente.
— por que me tem tanta mania? —perguntou-lhe
Sabina.
—Acredito que recorda a nossa mãe —respondeu seu
amigo em tom pensativo—. Tem um temperamento parecido
ao teu. E há algo mais —acrescentou—. Verá, ao Thorn nunca
lhe deu bem expressar suas emoções, assim faz como se não
tivesse nenhuma. Você é das poucas pessoas que consegue
tirar o de suas casinhas —acrescentou com uma meia sorriso.
—Talvez este plano não seja tão boa idéia... —
murmurou Sabina—. Possivelmente fora melhor que o
deixássemos agora que estamos a tempo.
—Ainda não —disse Ao com um brilho travesso nos
olhos—. As coisas estão começando a ficar interessantes.
— Não irás deixar me reveste com ele? —balbuciou
ela.
Seu amigo franziu o sobrecenho.
— Não irás dizer me que lhe tem medo?
—A verdade é que sim —admitiu Sabina—. Me põe
nervosa.
— Não te terá ameaçado? —inquiriu ele de repente.
Não querendo alarmá-lo, Sabina riu, como lhe tirando
importância à questão.
—Bom, em certo modo, mas não me preocupa.
—Pois a mim sim —murmurou Ao—. Lhe olhe de um
modo estranho, e nunca antes tinha visto essa expressão em
seus olhos. Tome cuidado com ele, Sabina, e não te confie.
Thorn é muito ardiloso.
—Tranqüilo, tomarei cuidado —prometeu ela—. Bom, e
agora me conte: disse-me que foste tirar tempo para estar
com o Jess. Como vais fazer o? — inquiriu—. Como você
mesmo há dito, Thorn é muito ardiloso, e se a convida aqui...
— Convidá-la aqui? Nem louco! Mas... agora mesmo
pensa que estamos vendo um filme, e ele enquanto isso está
ocupado no estudo trabalhando... —apontou com um sorriso
conspiradora.
—É um gênio —riu Sabina—. Mas não ouvirá o carro
quando o arrancar?
—Não, porque é Jess quem vem a me buscar em carro,
e ficamos ao meio quilômetro daqui. Quando terminar o filme
—lhe disse colocando uma cinta no vídeo—, vete diretamente
a sua habitação. Não acredito que Thorn saia do estudo em
ao menos duas ou três horas.
— E se o faz? Ou se chamarem por telefone
perguntando por ti...
—Então lhe diga que fui ao banho —respondeu Ao lhe
assinalando a porta do asseio à esquerda—, que deixem uma
mensagem se quiserem, e que você me dirá isso quando sair.
—Tem-no tudo cuidadosamente planejado, né? —
murmurou Sabina com um sorriso divertido.
—Tenho que o ter para poder enganar ao Thom.
Sabina, nunca poderei te pagar o que está fazendo por nós.
Sabina ficou de pé para lhe dar um abraço, e justo
nesse momento apareceu Thorn, que ficou olhando-os
irritado.
—Tenho que ir ao escritório. Estarei fora uma hora ou
dois —disse a seu irmão em um tom impaciente.
—De acordo. Se chamar alguém lhe direi que deixem
uma mensagem —respondeu Ao, que teve que fazer um
grande esforço para não mostrar seu alívio.
Thorn o olhou um momento, logo a Sabina, e
finalmente saiu da salita. Minutos depois ouvia uma forte
portada no vestíbulo, e ao momento o ruído do motor de um
carro se afastou.
—Detesta-o... —riu Ao—. Odeia que não me vá casar
com essa filha do dono da refinaria... Bom, vou, Sabina. Cuida
do forte em minha ausência!
—Volta antes que ele, por favor —lhe rogou Sabina.
—Tentarei-o. De todos os modos, faz o que te hei
dito. Quando se acabar o filme vete a sua habitação e fecha
com fecho. Se subir a te perguntar onde estou não lhe abra,
lhe responda de dentro, e lhe diga que fui a minha casa a
recolher algo que tinha esquecido.
—De acordo. Passa-o bem.
Quando Ao se partiu, Sabina não agüentou mais de dez
minutos frente ao televisor. O filme não lhe interessava
muito, e ao final decidiu apagar o aparelho e sair a tomar o
ar.
Por não ter que subir a sua habitação, tomou
emprestada uma jaqueta do armário do vestíbulo, e saiu ao
alpendre. sentou-se em uma das grandes cadeiras de
balanço, e se balançou brandamente com os pés. Estava
começando a sentir dormitada com o agradável vaivém, o
canto dos grilos, e o uivo de um cão na lonjura, quando de
repente escutou o ruído de um carro detendo-se uns metros
da casa.

Cap 6

O primeiro pensamento da Sabina foi que devia ser


Jessica com Ao, mas, e se era Thorn? Justo estava ficando
de pé para voltar dentro quando, como ela temia, apareceu
Thorn subindo os degraus da entrada de dois em dois.
— O que está fazendo aqui sozinha? —inquiriu com
aspereza—. Onde está Ao?
—teve que ir casa a por algo que se deixou —
respondeu ela, esforçando-se por acalmar-se.
—O que?
—Não sei, não me há isso dito.
— E te deixou aqui sozinha? O que desconsiderado —
balbuciou Thorn em um tom zombador—. Como é que não te
levou com ele?
—Porque eu lhe disse que não. Não queria arruinar sua
reputação —respondeu Sabina com um sorriso recatado.
— Arruinar...? Estão comprometidos, por amor de
Deus —replicou ele, dando um passo para ela—. Ou não?
O coração deu um tombo a Sabina.
—É você quem disse que não queria que dormíssemos
na mesma habitação —lhe recordou.
—Estou chapado à antiga a esse respeito.
—Estranha atitude em um donjuán... —comentou ela
em um tom desafiante.
Thorn ficou ali de pé, olhando-a fixamente, e de
repente Sabina recordou que era o inimigo e que estavam
sozinhos.
—Com a família é diferente —disse ele ao cabo de um
momento—. A família é importante para mim.
—E esse é o motivo pelo que não quer que eu pertença
a ela, não é assim?
—Exato —respondeu ele com aspereza—. Não vou
permitir que meu irmão acabe nas garras de uma...
— Não te atreva a me insultar! —advertiu-lhe ela
furiosa—. Uma vez te dava um bofetão e voltarei a fazê-lo
se me provoca. Não sabe nada de mim.
Os olhos azuis do Thorn se entreabriram.
— O que é o que vê em Ao? —inquiriu abruptamente.
Sabina se encolheu de ombros e baixou a vista.
—É amável —disse.
Thorn se aproximou mais a ela, e Sabina não pôde
evitar dar um coice.
—Dou-te medo, não é verdade? —perguntou-lhe ele
quedamente.
—Sim —admitiu Sabina.
— Porquê?
Um sorriso se desenhou lentamente nos lábios da
Sabina. Acabava de lhe dizer que lhe tinha medo, mas por
outro lado, e havia certa ironia nisso, quando estava com ele
se sentia segura, embora o coração lhe pulsasse tão
depressa que parecesse que ia sair se o do peito.
—Não sei —murmurou—. Não será a reencarnação do
Jack o Destripador, por acaso? —brincou.
A dura expressão nos lábios do Thorn se dissipou,
sendo substituída por um leve sorriso.
—Detesto que faça isso —lhe disse—. Não estou
acostumado às mulheres engenhosas.
—me parece que mas bem não está acostumado às
pessoas —replicou ela brandamente—. Quero dizer que
trabalha com gente e tráficos com gente por seus negócios,
mas sempre o enfoca como uma obrigação social. O resto do
tempo te encerra em ti mesmo.
Thorn se apoiou em um dos postes do alpendre e
estudou o perfil da Sabina.
—Obrigado por sua psicanálise —lhe disse sarcástico
—. É uma lástima que seja em Ao em quem tem posto o olho
—acrescentou—, porque se tivesse sido em mim, te teria
feito suar sangue para ganhar esse dinheiro que tanto
ânsias.
Sabina não disse nada, mas sim se aperto na jaqueta e
se cruzou de braços, girando-se para o corrimão e olhando o
céu estrelado.
—tomei esta jaqueta emprestada —murmurou—. Não
sei de quem é.
—É minha, mas não me importa.
«Oxalá não houvesse dito nada», pensou Sabina.
Sabendo que era dele se sentia muito estranho com ela
posta, notava-se uma espécie de comichão por todo o corpo
só de pensar que ele a tinha levado posta antes.
— Quantos anos tem? —inquiriu Thorn de repente.
—Vinte e dois.
—Eu tinha quatorze a primeira vez que o fiz.
—Seguro que foi com uma mulher maior —comentou
Sabina com desdém.
—Ela tinha dezoito anos —continuou Thorn como se
não o tivesse interrompido—. Era a garota mais desejada do
colégio. Quando meu pai se inteirou me pegou uma surra que
não me esquecerá nunca. Era um homem com uma moral muito
estrita, e para ele não supunha nenhuma diferença que fora
um menino.
—Claro, não queria que seu filho se granjeasse a
reputação de menino fácil —brincou ela. Mas o sorriso
zombador se apagou de seus lábios ao ver quão sério ele
estava.
—Minha mãe o amava, mas ele era um homem que em
sua infância não tinha recebido afeto, e lhe custava
expressar seu carinho. Tinham-no educado lhe fazendo
pensar que o amor era uma amostra de debilidade. Em certo
modo entendo como se sentia minha mãe. Ele era um solitário
e ela em troca sempre necessitou estar rodeada de gente;
ele era um homem de campo e ela uma mulher de cidade...
Basicamente eram incompatíveis, mas isso não desculpa o
comportamento de minha mãe, o que lhe fez sofrer com suas
infidelidades. Se lhe tivesse sido fiel, ele ainda viveria.
Sabina estava pensando em sua própria mãe, no
incessante desfile de homens em sua vida, e no horrível final
que tinha tido.
— E você mãe, como era? —perguntou-lhe ele de
repente.
—Eu não gosto de falar dela —respondeu Sabina,
apartando o olhar—, com ninguém.
Thorn tirou um pacote de cigarros do bolso de sua
camisa vaqueira e acendeu um.
— É ela a razão pela que ainda é virgem? —inquiriu.
Sabina assentiu com a cabeça.
—Já vejo. me diga, é tão apaixonada quando Ao te
beija como foi comigo aquela noite na cozinha de sua casa?
Pergunta-a a pilhou despreparada. Céu santo, como
podia responder a aquilo se Ao jamais a tinha beijado? Ainda
estava tratando de inventar uma resposta quando, de
repente, Thorn atirou o cigarro ao chão, esmagou-o com a
ponta da bota e se aproximou dela.
—Não —balbuciou Sabina, dando um passo atrás—.
Thorn, por favor, não...
—Faz que meu nome soe como uma bênção —murmurou
ele, enquanto suas mãos a agarravam pela cintura, e a
atraíam para si.
Sabina lutou, tentando liberar-se, mas ele era muito
forte para ela.
—Não —disse Thorn com voz aveludada, baixando as
mãos a seus quadris para as imobilizar—. Não faça isso.
Sabina, que tinha posto as mãos em seu peito,
tentando apartá-lo.
—Isto não é justo para Ao —disse.
— Acaso crie que não sei? —respondeu Thorn com
aspereza. Seus olhos azuis relampejavam, e sua respiração
tornou se entrecortada—. Te desejo tantísimo... —murmurou
com voz rouca. Baixou a vista ao peito da Sabina—. Leva algo
debaixo dessa camiseta? —inquiriu em um sussurro.
—Não —murmurou Sabina, tragando saliva—, não levo
nada debaixo.
Sabina sentiu que as pernas lhe fraquejavam. Olhou-o
aos olhos, e isso foi sua perdição. Pega como estava ao Thorn
podia notar a força de seus músculos tensos e o calor de seu
corpo. Involuntariamente se esfregou contra ele, e seus
lábios se entreabriram, em um mudo rogo para que os
beijasse.
—Poderia te acariciar os seios —murmurou Thorn.
Imprimiu um lânguido beijo em sua frente, e deslizou as
mãos de novo em torno de sua cintura.
Sabina se estremeceu ligeiramente ao notar que
estavam introduzindo suas mãos por debaixo da prega da
camiseta.
— Tem-no feito Ao alguma vez? —quase exigiu saber
Thorn—. Lhe acariciou isso alguma vez?
Sabina voltou a tragar saliva.
—Ele... eu também estou chapada à antiga — balbuciou
—. Nunca hei...
A boca do Thom depositou sendos beijos sobre suas
pálpebras, e lambeu suas largas pestanas com a língua.
—Território virgem... —murmurou com sua voz
profunda e hipnótica—. É tão suave e tão cálida... e te desejo
tantísimo... Toda minha vida paguei pelas mulheres às que
queria ter, de uma ou outra maneira, mas nunca fui o
primeiro para nenhuma delas —continuou ofegante, enquanto
seus lábios se colocavam a uns centímetros dos da Sabina.
Suas mãos se estavam aproximando de seus seios, e ela se
estremeceu quando os roçaram por abaixo.
—Isto é só o princípio —murmurou Thorn—, esta ânsia.
vou excitar te devagar. Quero te observar, e quero escutar
seus primeiros gemidos quando te tocar onde nenhum homem
o tem feito.
—Thorn... —tratou de protestar ela, mas se sentia
muito débil.
Estava tremendo de cima abaixo, e suas mãos se
obstinado à camisa dele. Seus olhos estavam perdidos nos
dele, e jamais se havia sentido tão impotente. Era como se
sua vontade se dissipou, igual à fumaça no ar. Estava
completamente a sua mercê.
Thorn estava indo tão devagar e estava acariciando-a
com tal perícia, que não desejava já apartar o de si. Posou
sua boca sobre a da Sabina, e sua língua se enredou com a
dela em um sensual baile ao tempo que as gemas de seus
dedos descenderam com uma carícia muito leve pelos flancos
da jovem.
Um profundo gemido abandonou a garganta da Sabina,
e se arqueou para o Thorn. Ele levantou a cabeça para olhá-
la, e pôde ler o temor em seus olhos cinzas mas também o
desejo.
—Por favor, Thorn, por favor... —rogou-lhe Sabina.
— O que é o que quer, Sabina? —murmurou ele—. me
Diga isso e lhe darei isso.
—Sinto-me tão... nunca imaginei... —balbuciou ela,
médio chorosa pelo anseia que lhe estavam provocando suas
carícias.
—Sei —murmurou Thorn, voltando a beijá-la nas
pálpebras—. Shhh... tranqüila... assim... tocarei-te com muita
ternura...
Suas mãos estavam subindo de novo pelos flancos da
Sabina, enquanto sua boca estava outra vez quase roçando a
dela.
—É tão doce —suspirou Thorn, comovido por sua
ardente resposta a aquelas carícias tão leves e ingênuas—.
OH, Deus, tão doce...! Vou te dar o que quer...
E suas mãos subiram finalmente até seus seios,
rodeando-os. Sabina emitiu um excitante gemido, jogou a
cabeça fazia atrás, atirando de sua camisa, e se arqueou
para ele em um glorioso abandono enquanto incríveis quebras
de onda de prazer percorriam todo seu corpo.
Quando os largos dedos do Thorn se contraíram pela
primeira vez, Sabina acreditou que ia deprimir se.
—OH, Thorn... —ofegou—. Thorn, é como se estivesse
ardendo... queima-me... queima-me...
—Deus... —murmurou ele, estremecendo-se, enquanto
massageava os brandos seios.
Parecia que estivesse tocando pétalas de rosa. Sua
pele era deliciosamente suave e cálida, e os mamilos se
endureceram ao primeiro contato. Voltou a apoderar-se de
seus lábios, beijando-a com sensualidade, e tão entregues
estavam ambos ao prazer que estavam experimentando, que
logo que ouviram o ruído de um carro na distância.
Foi Thorn quem finalmente levantou a cabeça.
—É Ao —murmurou. Inspirou profundamente e a olhou
aos olhos—. É um milagre —sussurrou—. Um milagre... E é
dela, maldita seja! Maldita seja, Sabina! —seus dedos lhe
apertaram os braços, lhe fazendo danifico, separou-a de si,
e entrou na casa sem dizer outra palavra.
Sabina não queria que À a visse agitada, assim entrou
também na casa e correu ao quarto onde estavam a televisão
e a equipe de áudio e vídeo. deixou-se cair no sofá e acendeu
o televisor e o vídeo apressadamente.
Quando Ao entrou já estava um pouco mais acalmada,
e se tinha posto bem a roupa e o cabelo.
— Que tal foi? —perguntou-lhe seu amigo.
—Voltou antes do que esperava —respondeu Sabina—,
mas lhe pus a desculpa que você me havia dito, que te tinha
deixado algo em casa.
— Boa garota! Não acredito que suspeite nada — disse
ele sonriendo—. Te causou algum problema?
Sabina sacudiu a cabeça, evitando olhá-lo aos olhos.
—Não, claro que não. Bom, vou à cama. Verei-te pela
manhã.
—Que descanse —lhe desejou Ao—, OH, antes de que
me esqueça: amanhã iremos dar um passeio a cavalo... Ou isso
é o que lhe faremos acreditar no Thorn — acrescentou com
uma piscada—. fiquei outra vez com o Jess. Vamos solicitar a
licença de matrimônio.
Sabina esboçou um sorriso com dificuldade.
—Bom, cruzaremos os dedos e esperaremos que tudo
saia bem. Até manhã.
—Até manhã.
Só quando esteve em sua habitação, e teve fechado a
porta detrás de si, Sabina se desmoronou. Como podia ter
deixado que Thorn voltasse a beijá-la, e que a tocasse
daquela maneira? E se Ao não tivesse aparecido... ruborizou-
se profusamente ante o pensamento do que tivesse podido
passar. «OH, Jess!», pensou com os olhos cheios de lágrimas,
«se soubesse o que estou passando por ti...!».
Quando Sabina baixou as escadas à manhã seguinte,
esperava que Ao já se levantou e estivesse no comilão
tomando o café da manhã, mas ao entrar se encontrou com
que ali só estava Thorn.
Estava sentado na cabeceira da mesa, como sempre,
brincando com um guardanapo, como se estivesse esperando
a algo ou a alguém.
Tinha a camisa médio aberta, deixando à vista o
espesso arbusto de pêlo negro, e Sabina não pôde evitar
recordar-se a si mesmo a noite anterior lhe suplicando que a
tocasse. Lhe acenderam as bochechas, e os batimentos do
coração de seu coração se dispararam. Sentiu desejos de
sair correndo, mas Thorn elevou a cabeça nesse momento e a
viu.
—Sente-se, pássaro cantor. Juan está preparando o
café da manhã.
Sabina teria preferido ocupar um assento o mais longe
possível dele, mas Thorn tinha retirado um pouco a cadeira a
sua esquerda, e com um gesto da mão lhe indicou que se
sentasse ali.
Assim Sabina se sentou, e aproximou a cadeira à mesa
enquanto lhe servia café.
— Quer leite, leite condensado... açúcar?
—Não, obrigado, sempre tomo solo —respondeu ela—.
A cafeína me ajuda a manter o ritmo, e quase nunca me
permito o luxo de leite condensado ou açúcar. Em minha
profissão terá que cuidar a figura.
— Por isso está tão magra?
—Bom, o estresse da última excursão me tem feito
perder peso, mas pelo general faço umas comidas bastante
frugais.
Baixou a vista à taça, mas de repente Thorn tomou
pelo queixo e a obrigou a olhá-lo.
—Não é justo para Ao —disse quedamente.
— O que? —balbuciou ela.
—Que leve isso no dedo —respondeu ele assinalando o
anel de compromisso com um movimento de cabeça—. Não
quando é para mim a quem desejas.
—Eu não... —começou ela, ficando à defensiva.
—Não —a silenciou ele, lhe pondo um dedo nos lábios e
olhando-a com severidade—. Não minta. A mim não pode me
mentir. Poderia te haver feito minha se Ao tivesse chegado
meia hora mais tarde.
— me deixe em paz! —exclamou ela.
—Não penso fazê-lo. Não posso. Não quis escutar
minha advertência, assim agora terá que assumir as
conseqüências.
— OH, sim? E quais serão essas conseqüências? —
espetou-lhe ela sarcástica—. Uma noite em sua cama?
—Isso eu adoraria —respondeu ele com veemência,
olhando a de uma maneira lasciva que a fez ruborizar—.
aconteceu tanto tempo da última vez que desejei a uma
mulher como desejo a ti...
—Não penso me deitar contigo —resmungou Sabina—.
Eu não sou dessas.
— Sei, e isso piora ainda mais as coisas —balbuciou ele
tomando um sorvo de seu café—. De onde é, Sabina? —
perguntou-lhe de repente.
—De Nova Orleáns, por que?
— E como lhes conheceram E você?
—Jessica nos apresentou.
Thorn lhe lançou um olhar penetrante.
— Uma garota agradável, Jessica —murmurou—. Sabia
que está apaixonada por meu irmão?
As bochechas da Sabina se tingiram de rubor, e a taça
quase lhe derrubou.
—Já vejo que sim —balbuciou Thorn—. E, me diga, não
sente remorsos de consciência?, não se preocupa o mais
mínimo estar lhe fazendo danifico?
— E o que importam a ti os sentimentos da Jessica? —
espetou-lhe Sabina—. Pensava que para um magnata do
petróleo como você uma secretária não era mais que um zero
à esquerda.
Thorn entreabriu os olhos.
—Eu não gosto do que está insinuando, pássaro cantor.
Não sou um esnobe.
—Pois eu acredito que sim o é, senhor Thorndon —
replicou ela entre dentes—. Seus prejuízos não lhe deixam
ver além de seus narizes.
— Só tenho prejuízos respeito a determinado tipo de
mulheres, e não tem nada que ver com a classe social a que
pertençam —particularizou ele.
—Classe social... —soprou ela—. Se você dirigisse o
país, certamente faria que a gente fora criada como seus
touros pura raça. OH, sim, isso é o que penso. Tem um
quadro enorme de um touro Hereford sobre a chaminé de
sua biblioteca, mas em troca não vi uma só foto de sua mãe,
seu pai, ou do. A gente não conta para ti, verdade?
Thorn apertou a mandíbula.
—Você certamente não —lhe disse em um tom
perigosamente suave—. Não posso negar que me atrai
fisicamente, mas além disso não me interessa
absolutamente.
—Graças a Deus —respondeu Sabina veemente.
Aquela resposta pôs furioso ao Thorn, mas justo nesse
momento entrou Em o comilão.
—bom dia —os saudou com um amplo sorriso—. Está
preparado o café da manhã?
— Juan! —chamou Thorn, com voz profunda e grave.
— Sim, senhor, em seguida o sirvo! —chegou a rápida
resposta da cozinha.
— Está visto: quando seu irmão grita, todo mundo
salta —lhe disse Sabina sarcástica a Ao.
—Se ficar por aqui um pouco mais, possivelmente
aprenda a obedecer você também em vez de me desafiar.
—Não terão estado discutindo outra vez, verdade? —
perguntou-lhe Ao a seu irmão—. ides ser cunhados...
deveriam tentar lhes levar bem —acrescentou contendo uma
sonrisilla.
Se as olhadas pudessem matar, Ao teria cansado
fulminado ali mesmo com a que lhe lançou Thorn.
—Não espere ouvir sinos de bodas muito logo —lhe
advertiu seu irmão—. Há muito tempo, é jovem.
Ao soprou.
— Porquê vou ter que esperar? —perguntou-lhe
exasperado —|No tem que me sobreproteger só porque lhe
torcessem as coisas! Que culpa tenho eu de que a mulher da
que te apaixonou se esfumasse quando nosso pai lhe disse
que não herdaria um centavo se te casava com ela?
—Vete ao inferno —resmungou Thorn em um tom fico.
levantou-se e saiu do comilão sem olhá-los.
—Deus, que horrível... —murmurou Sabina.
—Sim que o é —assentiu seu amigo, baixando a cabeça
—. Thorn tinha um par de anos menos que eu, e quando nosso
pai o ameaçou deserdando, propô-lhe à garota, Elizabeth,
que fugissem juntos essa noite, e ela aceitou. Thorn esteve
esperando-a até o
amanhecer na estrada, mas não acudiu. Thorn foi a sua casa,
mas se negou a vê-lo, e os dias seguintes, quando se
encontravam na rua, ignorava-o, como se não o conhecesse.
Uma semana depois começaram a correr rumores de que
andava com o Wells, o notário, e ao pouco tempo se casou
com ele e partiram a outra cidade.
—Deveu ser um golpe muito duro para o Thorn —
murmurou ela.
—Foi —disse Ao elevando a vista—, mas ela seguiu sua
vida e ele em troca permitiu que aquela canalhice o trocasse
por completo. endureceu-se, converteu-se em um homem sem
coração, e tudo por uma mulher que não merece nem um
pensamento. Tem que deixar de viver no passado e de
desconfiar de todo o mundo.
—De todos os modos não deveria ter metido o dedo na
chaga, Ao —replicou ela brandamente —. Agora está zangado
contigo, e pode que trate de te devolver o golpe.
—Não tem que preocupar-se por mim, Sabina.
Conheço-o muito bem, é meu irmão. E sabe o que? Deveria
haver enfrentado a ele faz anos. Venha, anima essa cara.
Tomaremos o café da manhã e logo iremos ao estábulo a
pelos cavalos.

Chegaram tão longe cavalgando, que quando se


detiveram na bifurcação do atalho onde Ao tinha previsto
que se separassem, Sabina girou a cabeça, e já não podia ver
a casa. Tinham acordado que se aparecia Thorn e lhe
perguntava onde estava, Sabina lhe diria que tinha decidido
fazer correr um pouco a seu cavalo e ela tinha pensado que
seria melhor que o esperasse ali.
Quando se teve ficado sozinha, Sabina desmontou e
deixou a sua égua descansar um pouco, pastando e abrevando
à borda do riacho que recoma o confine leste do rancho.
esfregou-se os braços com as mãos, perguntando-se por que
não se teria posto uma jaqueta antes de sair, e suspirou.
Ao baixar a vista, entretanto, observou uns rastros, e
se acuclilló para as ver melhor: rastros de cervos. Um
sorriso se desenhou em seus lábios. Deviam ter estado
abrevando no riacho. Seu avô lhe tinha ensinado a distinguir
os rastros dos cervos, e se lembrava de como juntos as
tinham seguido muitas vezes pelos bosques perto da granja,
e o importante que se sentou ela ao fazê-lo, como se fora um
dos antigos pioneiros. Tomou as rédeas da égua e começou às
seguir, afastando do caminho onde se separou do.
Devia levar uns minutos andando com a égua a seu
lado, quando uma voz sarcástica detrás de lhe perguntou:
— Perdeste-te, garota de cidade?
Sabina se girou, e ali estava Thorn, montado a cavalo,
observando-a apoiado no pomo da cadeira.
—Não, estava seguindo os rastros de uns cervos —lhe disse
acuclillándose e destacando-lhe
Thorn se impregnou o chapéu, desembarcou de suas
arreios e se agachou junto a ela.
—Essa é de um macho —disse Sabina—. Se sabe
porque o rastro é de uma pezuña fendida, e essa outra é de
uma fêmea, porque a forma da pezuña é arredondada.
— Como sabe isso?
—Ensinou-me isso meu avô. Levava-me com ele a seguir
rastros de cervos cada outono, antes de que se levantasse a
vedação —explicou Sabina—. A época que passei com ele foi
a melhor de minha vida. Queria-o muitíssimo.
— E que mais costure te ensinou?
—Pois pequenas coisas, como saber quando vai chover
pela forma das nuvens e a cor do céu, a plantar batatas,
rabanetes... esse tipo de coisas. Era granjeiro.
Thorn se incorporou, observando-a com uma expressão
confusa.
—Está começando a me preocupar.
— por que? —perguntou ela ficando de pé também, e
sem poder evitar rir—, por que sei distinguir os rastros dos
cervos?
—Não, porque não ajusta a nenhum molde. Não te
parece com nenhuma das mulheres que conheci até agora —
respondeu ele—. E porque me sinto atraído por ti. Quase te
odeio por me fazer sentir vulnerável, embora só seja
fisicamente.
Sabina não tinha esperado uma confissão semelhante.
—Eu tampouco tinha conhecido a nenhum homem como
você até agora —lhe disse—. A maioria dos homens ricos são
gente vazia e traiçoeira, e você em troca tem uma sólida
escala de valores e é honrado. Falava a sério quando te disse
que me teria gostado de te ter como amigo.
—Não, não te teria gostado de —replicou ele com um
sorriso zombador—. Embora sim te teria gostado como
amante. Isso é o que seríamos agora mesmo você e eu se não
te houvesse encaprichado de meu irmão.
—Equivoca-te —replicou Sabina—. Não te quereria por
amante embora não estivesse comprometida com Ao. Você
trata às pessoas como se tivessem que te obedecer, como se
suas vidas lhe pertencessem, e eu não gosto da idéia de
pertencer a ninguém.
—Eu poderia fazer que você gostasse... —insinuou
Thorn.
Se havia algo que Sabina não podia agüentar dele era
sua arrogância. Nem tinha por que agüentá-la. deu-se a volta
para dirigir-se a sua égua, mas Thorn se colocou diante dela
antes de que tivesse dado dois passos.

Capítulo 7

NÃO é cortês partir sem despedir—lhe disse Thorn


entreabrindo os olhos—. Onde está Ao?, tornou a te deixar
sozinha?
—Disse que queria fazer correr um pouco a seu cavalo,
mas em qualquer momento retornará —mentiu ela.
—Talvez sim, e talvez não... —sussurrou ele,
aproximando-se dela e agarrando-a pelos braços—. me Beije,
Sabina. Meu irmão ainda demorará para voltar, e eu não pude
dormir ontem à noite pensando em tí. me beije, maldita seja!
Seus lábios se apertaram famintos contra os dela, e
não houve nenhum dos jogos preliminares da noite anterior.
Atraiu-a para si, rodeando-a com seus fortes braços, e de
repente, enquanto a boca do Thorn lhe descobria um novo
capítulo das artes amorosas, Sabina notou algo duro contra
seu ventre. Sobressaltada, começou a retorcer-se, tentando
apartá-lo, mas uma das mãos dele baixou até o oco de suas
costas, imobilizando-a ao tempo que um profundo gemido
escapava de sua garganta.
—Sabina, Por Deus, não te mova assim... —sussurrou-
lhe com voz rouca—. Só conseguirá me excitar mais.
Ela se ruborizou ainda mais, e estava a ponto de lhe
gritar e lhe insultar quando Thorn voltou a inclinar a cabeça
e tomar seus lábios.
Sem saber como, uma das mãos da Sabina se deslizou
por entre a abotoadura da camisa do Thorn, e suspirou
extasiada quando sentiu sob seus dedos o pêlo encaracolado
que cobria seus músculos. Enredou-os neles, e sentiu que o
corpo do Thorn se esticava mais ainda. Animada por aquela
reação, começou a acariciá-lo com mais audácia, e o notou
estremecer, mas ao cabo de um momento, Thorn separou
seus lábios dos dela.
—Sabina, por amor de Deus, não... —rogou-lhe detendo
sua mão, e olhando-a com o rosto contraído.
Sabina tirou a mão do interior de sua camisa. Logo que
podia respirar, e antes de apartar sua mão havia sentido que
o coração do Thorn pulsava como um louco. Então ele riu com
suavidade, de um modo estranho.
—Faz-me perder o sentido —lhe disse ofegante—. Seu
aroma, o calor de seu corpo... fazia anos que não
experimentava algo assim.
Suas palavras eram aduladoras, mas Sabina estava
começando a ficar nervosa. Estavam em um lugar afastado, e
Ao demoraria ainda horas em retornar.
—Deus, desejo-te tanto... —murmurou Thorn. Suas
mãos descenderam até a parte posterior de suas coxas, e
empurrou seus quadris ritmicamente contra as dele até que
Sabina pensou que ia voltar se louca com as deliciosas
sensações que estava experimentando com isso—. OH, sim...
Quero te tombar sobre a erva e deixar que meu corpo se
derreta com o calor do teu. Mas isso seria cair diretamente
em suas redes, verdade, pequena feiticeira? Isso você
adoraria, não é certo? Conseguir me fazer perder a cabeça.
Esgrimiria essa vitória sobre minha cabeça como uma
cimitarra... — resmungou voltando a beijá-la.
— Não! —exclamou ela separando seus lábios dos dele
—. Eu não sou essa classe de mulher, não o sou! —protestou
desesperada. Olhou-o aos olhos, recordando nesse momento
o que Ao lhe tinha contado durante o café da manhã, sobre
essa Elizabeth que o tinha traído—. Aquela garota devia
estar louca, estar interessada em seu dinheiro em vez de em
ti...
Os olhos azuis do Thorn relampejaram, e a agarrou
pela larga cabeleira, obrigando-a a elevar o rosto para ele.
—Gostava de provocar aos homens, como —lhe disse
asperamente—, e também tinha sempre um olho posto no
bota de cano longo mais apetecível, igual a você.
— me solte, faz-me mal!
As aletas do nariz do Thorn se alargaram, e suas
facções se endureceram, mas finalmente lhe soltou o cabelo
e a deixou apartar-se.
—Não se pode negar que tem espírito —resmungou—.
Pode que Ao te sinta falta de depois de tudo.
Sabina o olhou confundida.
—por que diz isso? Ao não vai a nenhuma parte.
—Ele não, mas você sim —replicou Thorn, observando a
de uma maneira insolente—. Te estou preparando uma
surpresa, pássaro cantor. Um dia ou dois mais, e terei tudo o
que necessito.
Sabina deu um coice por dentro, mas manteve a
expressão de seu rosto imperturbável.
—Que emoção —murmurou sarcástica—. A impaciência
me mata. Segue urdindo seus maquiavélicos planos, Thorn,
vou procurar a Ao —lhe disse girando-se sobre os talões e
montando sua égua.
—Bem, desfruta de sua companhia enquanto possa —
lhe disse ele, montando também em seu cavalo—. Não fica
muito tempo.
—me diga, como era seu pai? —perguntou-lhe ela de
repente, curiosa.
—Igual a eu —respondeu ele com aspereza. Sabina
ficou calada um momento.
—Não sente saudades que sua mãe seja como é —lhe
disse com tristeza—. Deveu ficar destroçada quando ele
morreu.
Thorn franziu o cenho.
—Pois bonita maneira tem de demonstrá-lo...! —
resmungou com veneno na voz.
—Ao me esteve falando de seu pai o outro dia —disse
Sabina—, e por sua descrição imagino que sua mãe deveu
estar procurando sem êxito todo este tempo a alguém que
valesse ao menos a metade do que valia ele... Ao me disse
também que é relativamente jovem —acrescentou—. Que
lástima ter que viver assim, perseguindo a esteira de um
cometa...
Thorn estava olhando-a irritado, mas Sabina sabia que
tinha estado escutando-a.
—Poderia lhe haver demonstrado que o queria
enquanto viveu. E ainda estaria vivo se não fora por ela.
Sabina o olhou com um gesto sério. —Possivelmente ele fazia
que o fora impossível demonstrar o disse—. Possivelmente
quando sua mãe fazia o que fazia só queria chamar a atenção
de seu pai, lhe dar ciúmes, e certamente deveu acontecer um
inferno de remorsos depois de que a descobrisse e ele
morrera naquele acidente.
—Que diabos saberá você?
Sabina soube que seria inútil seguir falando com ele.
encolheu-se de ombros e agitou as rédeas de sua égua,
afastando-se sem olhar atrás.
Retornou ao caminho onde se separou do, e se sentou a
esperá-lo em um toco. Os minutos passaram lentos enquanto
em sua mente se repetiam as palavras que tinham cruzado
Thorn e ela, e o que tinha ocorrido antes entre ambos, mas
finalmente seu amigo apareceu.
— Já temos a licença —lhe anunciou com um amplo
sorriso detrás desmontar—. E já temos a data do dia das
bodas: na segunda-feira.
—Esta segunda-feira? —perguntou Sabina
surpreendida.
— Sim!, OH, Deus, Sabina, sinto-me tão feliz que
acredito que poderia voar! —exclamou ele, tomando-a pela
cintura e girando com ela em uma improvisado e amalucada
valsa.
Sabina ria, mas seu coração chorava ao pensar que na
segunda-feira, quanto Ao dissesse a seu irmão que se casou
com a Jessica e que seu compromisso com ela tinha sido uma
pantomima, tudo se teria acabado, e provavelmente não
voltaria a ver o Thorn. De fato, era ainda mais provável que
Thorn não queria voltar a vê-la quando soubesse que tinha
estado colaborando naquela montagem para enganá-lo,
—Queremos que venha conosco à igreja e que seja
nossa madrinha. Fará-o, verdade? —pediu-lhe Ao quando
tiveram parado de girar.
—Pois claro que o farei. Sempre acreditei que
pareciam o um para o outro, e estou tão contente por vós que
sinto como se me fora a casar eu —lhe confessou.
Ao riu brandamente.
—Isto não teria sido possível sem sua ajuda —lhe
disse muito solene—. foi tudo bem enquanto estive fora?
—OH, sim. Bom, apareceu Thorn, mas somente
estivemos falando —mentiu ela, cruzando os dedos depois
das costas—, e não suspeitou nada.
—Menos mal —suspirou Ao, montando de novo em seu
cavalo.
—Sim, embora me temo que tornei a zangá-lo —
murmurou Sabina mordendo o lábio inferior e subindo
também a suas arreios.
—Como?
—Disse-lhe que acredito que sua mãe deve jogar muito
de menos a seu pai, e que certamente só procura em todos
esses homens com os que sai a alguém que possa sequer
aproximar lhe respondeu ela baixando a vista.
—Isso mesmo penso eu —disse Ao, surpreendendo-a—.
Nosso pai era um homem muito pouco corrente, único.
—Igual a Thorn... —murmurou ela sem querer.
À a olhou com o cenho franzido.
—Sabina, não deixe que te roube o coração. Thorn é
incapaz de amar, e unicamente conseguirá te fazer danifico.

Thorn tinha uma entrevista aquela noite, e quando


Sabina o viu sair, tão arrumado com um elegante traje de
assinatura, sentiu uma pontada de ciúmes ao imaginá-lo com
uma loira como a que tinha levado a festa de seu irmão.
—Importa-te que vá tocar um momento o piano? —
perguntou-lhe Sabina a Ao quando ficaram sozinhos.
sentaram-se a ver a televisão, mas não estavam pondo
nada interessante.
—O que? OH, sim, claro, vê —respondeu ele, apagando
o televisor—. E se não te importa eu aproveitarei a ausência
do Thorn para chamar o Jess.
—me importar? Sal daqui e vê agora mesmo a fazê-lo!
—brincou Sabina—. Não imagina quão aliviada estou de ter ao
fim um pouco de tempo para mim. E não é que queira dizer
que não é boa companhia... —acrescentou com um sorriso
malicioso.
Ao riu.
—Não vás gastar as teclas do piano.
—Tranqüilo, não o farei.
Ao se levantou e subiu a sua habitação a chamar, e ela
foi à biblioteca, e se sentou frente ao piano.
Esteve tocando comprido momento, cantarolando para
si, mas quando se foi à cama, Thorn ainda não tinha
retornado.
E logo, à manhã seguinte, já tinha saído da casa quando
ela baixou a tomar o café da manhã. Ao estava sozinho no
comilão, revolvendo sua tigela de cereais com aspecto mal-
humorado.
—Thorn vai dar uma festa na sábado de noite —disse
a Sabina—. E convidou a Jessica.
—Crie que suspeita algo? —inquiriu ela.
—Não sei. Há-me dito que a festa é para anunciar
nosso compromisso, mas é bastante estranho, porque é muito
precipitado, e às pessoas que há convidado as convidou por
telefone —lhe explicou Ao—. Além disso, é muito estranho
que se deu por vencido assim, pelas boas. Não sei, parece-me
impossível que tenha podido descobrir algo com o cuidado
que tivemos, mas estes últimos dias esteve fazendo umas
quantas chamadas de larga distância, e esta manhã cedo lhe
escutei falando no estudo por telefone, e ouvi algo que me
deixou preocupado —acrescentou—. Escuta, há algo que
possa descobrir se indagar em seu passado?
O coração da Sabina deu um tombo. «Não, é
impossível», disse-se agitada, «é impossível que o averigúe,
não acredito que possa averiguar nada depois de todos estes
anos».
—Bom... não muito —balbuciou—. por que?
—Porque esta manhã estava de bom humor, e resulta
suspeito.
Sabina franziu os lábios.
—Talvez estava de bom humor por sua entrevista de
ontem à noite —sugeriu.
Ao arqueou uma sobrancelha, duvidando-o, mas não
disse nada.

Aquela tarde, os irmãos Thorndon estavam esperando


a um boiadeiro com o que tinham planejado fazer negócios, e
Ao foi quem se encarregou de lhe mostrar o rancho, já que
Thorn estava ocupado com papelada em seu estudo.
Sabina, aproveitando o momento, saiu da casa e entrou
no bosquecillo que havia mais à frente do abrigo onde
guardavam os tratores. Fazia um bonito dia, e soprava uma
ligeira brisa que jogava com seus cabelos. Enquanto admirava
a paisagem, inspirando profundamente o ar puro do campo,
viu como um pássaro elevava o vôo do enorme carvalho
frente a ela, e ficou observando como se afastava.
—Parece uma ninfa do bosque.
Sabina se girou sobre os talões, encontrando-se com o
Thorn ali plantado.
—Estava... saí a tomar um pouco o ar —disse Sabina,
ficando à defensiva, e perguntando-se por que tinha que lhe
dar explicações.
—Como é que não está com seu prometido? —inquiriu
ele, apoiando-se no tronco de uma das árvores com os braços
cruzados.
—Ao está tratando assuntos de negócios com esse
homem, e não queria interferir —respondeu ela.
Thorn esboçou um leve sorriso.
—O que considerada... —balbuciou—. Não está te
cansando deste tira e afrouxa comigo, Sabina? por que não
lhe devolve o anel a meu irmão?
—Não penso fazê-lo.
A mandíbula do Thorn se esticou, como cada vez que
algo o contrariava.
—Esta vai ser a última oportunidade que te dê de
retificar —lhe advertiu—, e acredito que faria bem em
aproveitá-la agora que ainda está a tempo.
— Tem por costume ameaçar às pessoas sempre que
se opõem a sua vontade? —perguntou-lhe ela sarcástica.
—Não vou ficar me de braços cruzados e a deixar que
meu irmão cometa um engano deste calibre.
Sabina sacudiu a cabeça.
—Até quando pensa seguir interfiriendo em sua vida,
Thorn? —perguntou-lhe em um tom fico—. Já tem vinte e
quatro anos, não é um adolescente.
—passei os últimos dez anos lutando por manter a
flutuação a empresa que nos deixou nosso pai, fiz muitos
sacrifícios —resmungou ele—, e não vou permitir que atire
meus esforços pela amurada.
Sabina escrutinou seu rosto, observando as primeiras
linhas da idade nele, o desgaste pelos problemas e o
trabalho.
—Ao me contou que tinha quatorze anos quando seu
pai morreu, e você a que ele tem agora — murmurou—, e
também que toda a responsabilidade do negócio recaiu sobre
ti. Deveu ser uma carga terrível.
—Não se pode escolher a vida que te toca viver. Fiz o
que tinha que fazer. Nas dificuldades é quando terá que
estar ao pé do canhão; não pode te lamentar e olhar a outro
lado.
—Estou segura de que você nunca o tem feito — disse
Sabina—, e compreendo como deveu te sentir, mas...
—OH, sim, estou seguro de que o entende —a
interrompeu ele, entreabrindo os olhos enquanto lhe
sustentava o olhar—, porque sua vida até agora não foi um
caminho de rosas, verdade?
O coração da Sabina deu um tombo. Não..., não podia
sabê-lo, era impossível...
—A que te refere com «até agora»? —inquiriu
encolhendo-se de ombros.
—Esses jeans que leva são de desenho, e o vestido que
luziu na festa do era um vestido caro... Leva um alto nível de
vida para ser uma cantor que está começando.
Se ele soubesse...!, disse-se Sabina, sonriendo com
tristeza para seus adentros.
—Não vai mal —respondeu.
— Já vejo. E me diga, quantos noivos tiveste? Tenho
curiosidade.
Sabina voltou a encolher-se de ombros.
—Não tive nenhum —admitiu, não vendo motivo para
não dizer a verdade—. saí com algum que outro, mas nunca
tive uma relação estável. Suponho que em parte porque não
dispunha de tempo para pensar nessas coisas. trabalhei dos
dezoito.
Thorn apertou a mandíbula.
—Também eu.
—Duvido muito que tenha tido que trabalhar tão duro
como eu, homem rico —riu ela sarcástica, jogando a cabeça
para trás—. servi mesas e esfregão chãos, fiz turnos dobre,
tive que esquivar as mãos largas de alguns clientes, vi-me
obrigada a agüentar o tipo ante as proposições mais
indecentes, tive que trabalhar em clubes com tão má fama
que na porta havia dois gorilas em vez de um, e tudo o que
consegui o consegui sem ajuda de ninguém.
Thorn seguia observando-a com os olhos entreabridos.
—E o que passou, cansaste-te que ter que lutar com
unhas e dentes para poder seguir ascendendo? É essa a
razão pela que enganaste a meu irmão e vais casar te com ele
mesmo que não o ama? —espetou-lhe asperamente.
—por que diz isso? —balbuciou Sabina.
—Jamais lhe vi te tocar —balbuciou ele apartando da
árvore e caminhando para ela—. Você lhe sorri, sim, mas não
com amor, e não o beijaste mais que na bochecha em um par
de ocasiões.
Sabina deu um passo atrás, aturdida, mas ele voltou a
avançar para ela, encurralando-a contra o tronco de um
carvalho.
—É que eu... sou mas bem reservada em público —
murmurou.
—Mas também o é em privado... —murmurou Thorn,
cortando a pouca distância que os separava, e pegando-se a
seu corpo—. Comigo sempre fica tensa... até que começo a te
beijar.
—Thorn, não... —rogou-lhe Sabina.
—O que quer que faça se não poder evitá-lo? —
resmungou ele, como frustrado—. Não posso estar mais de
dez minutos contigo sem perder a cabeça, ou é que não te
deste conta? Deus, não sabe como te detesto por me fazer
sentir assim, por me fazer perder o controle desta
maneira...
Sabina o olhou aos olhos, e se estremeceu ao ver o
brilho selvagem que refulgia neles.
—Rompe seu compromisso com Ao enquanto ainda está
a tempo. Não me obrigue a te fazer danifico. Não quero
fazê-lo, mas tenho que proteger a meu irmão.
—Não posso, não posso... —murmurou ela, sacudindo a
cabeça.
—Se se tratar só de dinheiro, eu tenho tanto como
terá Ao quando herdar —resmungou Thorn, agarrando-a
pelos braços—. Deixa-o tranqüilo, não o necessita. Eu te
darei tudo o que queira: roupas, jóias, viaje...
—Não é por dinheiro —balbuciou Sabina.
—Então por que? Por amor certamente não é —lhe
espetou ele sarcástico—. E estou seguro de que nem sequer
sente desejo por ele. Sabina, eu posso te ensinar o que é a
paixão, algo que jamais experimentará com Ao. Cada vez que
nos beijamos é como se saltassem faíscas. Alguma vez te
aconteceu isso com meu irmão?
Sabina contraiu o rosto.
—Não vais fazer me trocar de opinião.
Thorn a soltou e se separou dela soprando.
—Tem até manhã de noite para lhe devolver o anel —
lhe advertiu assinalando-a com o índice—. Se não o fizer...
Sabina baixou a vista e apartou o rosto.
—Sinto muito, mas não posso fazê-lo.
Thorn soprou outra vez e meneou a cabeça.
—Deus, em minha vida tinha conhecido a uma mulher
tão mercenária como você... Mercenária e ruim. Não te
atreve comigo porque sabe que não pregarei a seu jogo, mas
não tem escrúpulos na hora de ir detrás de Ao, que é crédulo
e fácil de dirigir.
Sabina não pôde agüentar mais.
—Acaso você pode falar? —espetou-lhe, furiosa—.
Você, que é capaz de tentar me seduzir, de me oferecer
roupas e jóias para me apartar de seu irmão, embora com
isso lhe faça mal?
—Quando tiver voltado para seus cabais o
compreenderá e me agradecerá —replicou isso Thorn—.
Pensei que poderia te persuadir para que se esquecesse dele,
me oferecendo eu em troca.
—O que está me oferecendo? Um romance de um par
de semanas, até que sacie seu desejo e me mande de volta a
Nova Orleáns de um chute quando te cansar de mim? —
inquiriu Sabina com uma risada amarga.
—Isso depende de quanto me vá custar... — balbuciou
ele com deliberada crueldade—. Quando compro algo, eu
gosto de rentabilizarlo.
Sabina ficou lívida, e seus olhos o olharam com ódio.
—Paga a todas as mulheres com as que sai? — inquiriu
—, a essas mulheres às que utiliza para te divertir e logo as
tiras, como lenços de papel usados?
Thorn entreabriu os olhos.
—Tudo tem um preço, de uma maneira ou outra —
respondeu encolhendo-se de ombros—. Não sempre tem por
que ser dinheiro. Mas, sim, pago por sua companhia, se for o
que quer saber. Os sentimentos são um estorvo, só geram
vulnerabilidade e dependência. Elas me dão o que eu quero, e
eu em troca lhes dou o que cobiçam. Sem compromissos, sem
ataduras... Só um bracelete de brilhantes aqui, um casaco de
visom ali... bagatelas.
«Bagatelas...», repetiu Sabina para seus adentros,
cravando-as unhas nas Palmas das mãos. Aquela classe de
«bagatelas» tinham sido quão mesmas tinha recebido sua
mãe em troca de sua humilhação para poder sobreviver.
Nesse instante os últimos momentos de vida de sua mãe
foram a sua mente como relâmpagos em um escuro céu de
tormenta. Seu rosto ensangüentado, seus gritos, as últimas
palavras apenas compreensíveis que tinham saído de sua
garganta...
— Maldito você seja e todos os homens como você! —
gritou ao Thom—. Maldito, maldito seja! —soluçou, sem
poder conter mais as lágrimas.
girou-se sobre os talões e saiu correndo.
—Sabina, espera!
Havia um matiz de vacilação na voz do Thorn,
possivelmente de arrependimento, mas Sabina não se deteve,
nem voltou a cabeça, e seguiu correndo, sem notar o vento
que açoitava suas bochechas, e sem preocupar-se de enxugar
as lágrimas que nublavam sua visão.

Cap 8
AO dia seguinte, durante o café da manhã, Thorn lhes
recordou que a festa para anunciar seu compromisso se
celebraria finalmente essa noite. O modo em que o disse fez
que um calafrio percorresse as costas da Sabina.
—Os homens vestirão de smoking, e as mulheres traga
de noite —lhes informou Thorn, lançando um olhar
desafiante a Sabina.
—Não se preocupe, tenho um vestido de noite —lhe
disse ela, que sabia a que vinha esse olhar—, não terá que te
envergonhar da prometida de seu irmão.
— por que ia ter que envergonhar-se? Você está muito
bonito ponha o que ponha —interveio Ao—. Te vejo muito
contente esta manhã... —disse a seu irmão, girando-se para
ele—. Há alguma razão em particular?
— Qual vai ser, mas sim esta noite anunciarei a todos
nosso conhecidos o compromisso de meu querido irmão com
sua encantadora noiva? —respondeu Thorn, com uma risada
que deixava claro que não tinha nada absolutamente que ver
com aquilo—. Bom, e o que pensam fazer hoje, tortolitos?
—Vamos a Nova Orleáns —disse Ao em um tom
depravado—. Quero comprar um smoking novo, porque o que
tenha me ficou um pouco estreito.
—Essa é uma idéia estupenda. Bom, que o passem bem
—lhes desejou Thorn—, eu tenho alguns assuntos que
atender.
Sim foram a Nova Orleáns, mas o motivo principal pelo
que foram era para reunir-se com a Jessica e celebrar um
«conselho de guerra».
—Estou assustada —lhes confessou Jess enquanto
almoçavam em um restaurante do centro—. O que faremos
se Thorn nos tem descoberto? Não nos casamos até depois
de amanhã!
—É impossível que suspeite nada —lhe assegurou
Sabina, lhe dando uns tapinhas na mão para tranqüilizá-la—.
Tenha confiança, Jess, tudo sairá bem.
—É que... este plano é tão arriscado... —insistiu seu
amiga—. E Thorn me dá cada vez mais medo.
— Pois logo deixará de ter o interveio Ao—. Quando
estivermos casados já não terá motivos para temê-lo, porque
já não poderá nos fazer nada.
—E eu estou cuidando muito bem de seu anel — disse
Sabina sonriendo e levantando a mão para mostrar-lhe
—Não o teria crédulo a ninguém mais —riu Jessica—,
mas temo que estejamos abusando de sua amabilidade. É
você quem está correndo todos os riscos. Conhecendo o
Thorn, estou segura de que não lhe estará pondo isso muito
fácil.
—Não se preocupe, mulher —interveio Ao—, Thorn lhe
lança de vez em quando olhadas furiosas, e discutiram um
par de vezes, mas não aconteceu nada mais —lhe disse,
ignorante da realidade.
Jessica, entretanto, não estava tão segura, porque
conhecia muito bem a seu amiga, e a expressão em seu rosto
dizia que sim tinha passado algo mais. E, um momento depois,
aproveitando um momento em que Ao se levantou para ir aos
serviços de cavalheiros, Jessica se inclinou para diante
sobre a mesa.
—Sabina, se vir que o plano pode voltar-se contra ti,
diga-nos isso e o deixaremos —lhe rogou—. Me sentiria fatal
se Thorn te fizesse mal. Não quero que sofra por nossa
causa.
Sabina ficou em silêncio um instante, olhando a seu
amiga aos olhos, e logo baixou a vista.
—Jess, estou apaixonada por ele —murmurou.
Os olhos da Jessica se abriram como pratos.
—Apaixonada?
—O que vou fazer agora? —murmurou Sabina desolada
—. É a primeira vez que sinto isto por alguém, e não imaginei
nunca que pudesse ser tão doloroso. E o pior é que Thorn
acredita que não sou mais que uma cazafortunas —gemeu
ocultando o rosto entre as mãos—. OH, Jess, estou segura
de que se se inteirasse do de minha mãe nem sequer voltaria
a me olhar.
—Deixa de falar assim —a repreendeu seu amiga lhe
apertando a mão afetuosamente—. Você não tem a culpa do
que ocorreu a sua mãe, e embora não tenha dinheiro nenhuma
alta posição social, vale mais que qualquer das mulheres com
as que está acostumado a sair. Os meninos e você estão
começando a ter êxito, e chegaste aonde está por seus
próprios méritos.
—Dá igual —replicou ela—, para o Thorn só sou uma
mulher sem escrúpulos que quer aproveitar-se de seu irmão,
pisoteando inclusive os sentimentos de seu melhor amiga...,
porque sabe que você está apaixonada do.
Jessica se levou a mão à boca.
—OH, Sabina, não sei o que dizer —murmurou,
contraindo o rosto—. Me sinto tão culpado...!
—Não seja boba, superarei-o —disse Sabina—.
Apertarei os dentes e resistirei, já só ficam um par de dias
mais. E depois voltarei para minha música. Pedirei ao Dennis
que nos busque atuações em outras cidades, em outros
Estados, e possivelmente assim, longe dele, consiga começar
a esquecê-lo.
—E o que me diz do Thorn? —inquiriu seu amiga—, não
sente nada por ti?
Sabina agachou a cabeça e se ruborizou.
—Ele... deseja-me, mas não...
—Já vejo —disse Jessica com um suspiro.
—Aqui volta Para —murmurou Sabina—. Por favor,
Jess, não lhe diga nada disto —lhe rogou—. Não poderia
suportar que seu irmão se inteirasse de meus sentimentos.
—Tranqüila, não direi uma palavra.

Aquela noite, a casa do rancho Thorndon se encheu de


convidados. Para a ocasião, Thorn fazia que um decorador
convertesse o salão em uma sala de baile, tinha contratado
um seleto serviço de catering, e também uma pequena
orquestra para amenizar a velada. Sabina se disse, enquanto
passeava o olhar pelos convidados, que em sua vida tinha
visto tal exibição de luxo e glamour. Seu vestido, o mesmo
que tinha levado a festa do, embora era o mais elegante que
tinha, não era mais que um trapo ao lado dos que levavam as
demais mulheres. Nesse momento seu olhar se encontrou
com a do Thorn, que estava no outro extremo do salão,
conversando com um par de cavalheiros, e este levantou sua
taça em um brinde fingido, e esboçou um sorriso zombador.
Sabina se deu a volta doída.
—Tem-no feito a propósito, verdade? —inquiriu
Jessica a seu lado, que tinha visto o gesto do Thorn.
—Está tratando de me intimidar de novo —respondeu
Sabina com um suspiro—. Não pode imaginar o que foram
estes dias para mim, Jess. Se não fora porque isto lhes
ajudará a Ao e a ti...
—É a melhor amiga do mundo, Sabina —lhe disse
Jessica com um sorriso triste, abraçando-a impulsivamente
—. Algum dia, de algum modo, prometo-te que te
compensarei por isso.
Ao, que ao fim tinha conseguido escapar de uma
pesada mulher que não deixava de lhe perguntar por sua
mãe, aproximou-se delas, apartando com dificuldade os olhos
da Jessica, que estava simplesmente radiante, para que
Thorn não suspeitasse.
—Bom, vejamos se conseguimos despistar ao lobo uma
vez mais —disse a Sabina.
—Oxalá houvesse um modo mais fácil —murmurou
Jess.
—Pois como não seja fugindo do país, não me ocorre
qual —vaiou ele.
de repente a orquestra deixou de tocar, e Thorn subiu
ao pequeno estrado, tomando um microfone.
—Damas e cavalheiros, um momento de atenção, por
favor —começou—. Temos entre nós a uma jovem com certo
talento musical, e estou seguro de que estará encantada de
nos deleitar com sua voz.
Sabina deu um coice, e se sentiu empalidecer.
—Sabina? —chamou-a Thorn do estrado, estendendo
uma mão em sua direção —. Quererá cantar algo para nós?
Todos os convidados se voltaram a olhá-la. Não havia
escapatória possível. Apesar de seu vestido de segunda mão,
Sabina manteve a cabeça bem alta, e avançou para o estrado
com passo firme, tomando o microfone de mãos do Thorn.
Sem dúvida pretendia ridicularizá-la em frente de
seus distinguidos convidados, esperando que interpretasse
alguma das canções de seu grupo, mas ia ser ela quem se
riera dele, disse-se Sabina esboçando um sorriso para si.
aproximou-se do pianista e lhe indicou o que queria que
tocasse para acompanhá-la. O homem assentiu com a cabeça,
e Sabina se voltou para os convidados.
—Acredito que o que vou cantar não necessita
apresentação —lhes disse.
Um sorriso zombador se desenhou nos lábios do
Thorn, que estava apoiado no marco da porta do salão, com a
taça de conhaque na mão. «Pobre garota pretensiosa»,
estava pensando, «crie que esta gente, a flor e nata da
sociedade, conheçam suas patéticas canções de rock?».
Sabina sorriu a Ao e a Jessica, que quase estavam
saltando de excitação, pois imaginavam o que ia fazer,
apagou o microfone ante a estranheza do Thorn, deixou-o no
chão, e lhe fez um gesto de assentimento ao pianista para
que começasse.
O homem começou a tocar, Sabina tomou fôlego, e
deixou que seu cristalino jorro de voz alagasse a sala com as
palavras da deliciosa ária do Modome Butterfly, do Puccini.
Um silêncio absoluto se fez entre os convidados, como se de
repente todos tivessem contido o fôlego, e a escutaram
encantados com olhares de admiração.
Quando Sabina estava chegando ao final da melodia,
rodavam lágrimas de emoção pelas bochechas de duas
mulheres, e quando sustentou a última nota, ouviu-se um
ruído ao fundo do salão, como se um objeto de cristal se
quebrasse.
Fez uma graciosa reverência para agradecer os
aplausos e os bravos entusiasmados dos convidados, e quando
se voltou a incorporar e dirigiu o olhar para o lugar onde
tinha estado Thorn, só viu no chão uns pedaços de cristal e
um atoleiro de conhaque.
—Querida, foi precioso —lhe disse uma das mulheres
às que lhe tinham saltado as lágrimas quando desceu do
estrado—. Tem uma voz privilegiada. Devi entender mal ao
Thorn. Acreditei que me havia dito que foi cantor de rock...
—E o sou —respondeu Sabina com um sorriso—. Verá,
embora era meu sonho, não pude me costear os estudos de
canto, mas estou me fazendo um oco na música pop-rock —
disse encolhendo-se de ombros.
—Oxalá algum dia possa realizar seu sonho —lhe
desejou a mulher de coração—. foi um privilégio te escutar.
—Obrigado —disse Sabina com um sorriso. E foi
reunir se outra vez com Ao e Jessica enquanto a orquestra
começava a tocar de novo.
—arrebentou a taça que tinha na mão —lhe disse Ao
em voz baixa, assinalando os cristais no chão, que estavam
sendo recolhidos por um encarregado do catering.
—E se tem feito mal? —inquiriu Sabina, sem poder
ocultar sua preocupação.
—Pois não sei. Possivelmente...
Sabina não esperou a que Ao terminará a frase, mas
sim abandonou pressurosa o salão e foi em sua busca. Ao
fundo do corredor em penumbra se via a luz do estudo.
dirigiu-se ali, empurrou devagar a porta entreabrida e
entrou. Thorn estava de costas, olhando pela janela.
—Thorn?
Thorn se voltou, olhando-a com olhos ameaçadores.
—Eu... Sua mão... —começou Sabina, assinalando
vacilante sua mão direita—. Te tem feito mal?
—Dano? —repetiu ele, levantando a mão e olhando-a.
pôs-se tão furioso que nem sequer se deu conta de que
se cortou.
—Deixa que lhe vende isso —lhe disse Sabina
quedamente, entrando no pequeno asseio anexo ao estudo.
Enquanto procurava anti-séptico e ataduras no armarito,
Thorn entrou também, e a observou anti-social. O asseio era
tão pequeno que quase não ficava espaço entre eles, mas
Sabina se concentrou em sua tarefa evitando o contato
visual.
Lavou-lhe primeiro a mão, com cuidado, limpando o
sangue e procurando partes de cristal que tivessem podido
ficar incrustados no corte.
—Nunca tinha escutado nada tão formoso — murmurou
Thorn de repente em um tom distraído—. Sua voz é um dom.
Sabina riu.
—Suponho que sim —respondeu—. Queria ser cantor
de ópera, mas não tinha o dinheiro suficiente para me pagar
as classes em nenhuma academia. Ao princípio economizei
tudo o que podia, mas finalmente as circunstâncias fizeram
impossível que pudesse continuar.
—Sabia que seus começos não foram precisamente
flutuantes, mas não que tinha aspirações operísticas —disse
Thorn em um tom ligeiramente depreciativo.
—Por favor, não comecemos outra vez —lhe rogou
Sabina—. Não sou a ameaça que crie que sou —lhe disse
enquanto lhe aplicava o anti-séptico—. Minha vida não foi
nada fácil, assim que te agradeceria que não a fizesse ainda
pior.
Thorn estendeu a mão sã e lhe tocou a bochecha,
entreabrindo os olhos.
—Então sal daqui enquanto possa. Tenho uma carta
escondida na manga, e não quero que me obrigue a usá-la.
Sabina elevou a vista e alargou a mão para tomar as
ataduras.
—Uma carta escondida na manga? —repetiu esboçando
um leve sorriso—. Tal e como o há dito parece que seja um
inimigo público.
—É-o —resmungou ele, apertando a mandíbula—. É a
mulher mais perigosa que conheci.
Sabina suspirou enfastiada.
—Seriamente? —inquiriu guardando de novo no
armarito a anti-séptica e as vendagens.
—lhe devolva o anel a Ao e te deixarei tranqüila.
—por que teria que fazê-lo?
—Porque não pode te casar com ele quando me deseja
e eu desejo a ti —respondeu Thorn—. Ao é meu irmão e o
quero, mas não posso te apartar de meus pensamentos. Se
Deus não o remediar, um dia destes pode que eu não seja
capaz de parar a tempo, e sabe, maldita seja, e então será
Ao quem sofrerá. Se te importar, no mais mínimo, faz-o por
ele.
Sabina escrutinou seu rosto.
—Ao se preocupa sinceramente, não é verdade? —
disse-lhe em um tom fico.
— Sim, importa-me —resmungou ele—.Às vezes quase
esquecimento a classe de mulher que em realidade é, porque
sua maldita inocência me volta louco —seus olhos azuis
estavam devorando seus lábios, e sua mão descendeu para
eles, mas a apartou imediatamente, como se o queimassem—.
Devo estar me voltando brando com a idade —balbuciou
dando-a volta e saindo do asseio—. Voltemos com outros.
Anunciarei seu compromisso.
Quando entraram no salão, Sabina ficou junto à
Jessica e Ao, mas Thorn foi até ao bar e pediu que lhe
servissem um copo de uísque. Com ele na mão, voltou-se e
lançou a Sabina um olhar de «você lhe procuraste isso», e ela
soube imediatamente que a guerra não tinha terminado.
Acabava de começar.
Thorn pediu uma vez mais à orquestra que deixasse de
tocar.
—Damas e cavalheiros. Há algo que quero lhes anunciar
—falou, levantando seu copo—. Meu irmão Ao vai casar se.
me permitam que os presente à mulher que escolheu para
que faça com ele o caminho da vida: a senhorita Sabina Cañe
—disse fazendo um brinde em sua direção, com um sorriso
cruel—. Sabina Cañe, a filha ilegítima de uma dama de vida
alegre de Nova Orleáns...
Sabina notou como o sangue abandonava suas
bochechas, mas seus olhos não se separaram dos do Thorn.
Tampouco olhou detrás dela, e não pôde ver portanto a
expressão assassina no rosto do, nem a seu lado, onde estava
Jessica, com o rosto contraído de horror.
Os convidados se fizeram a um lado para lhe deixar
aconteço enquanto avançava para o Thorn. Estava tremendo
de ira e de dor por dentro, mas seus pés não vacilaram.
Não sabia de onde procedia aquele valor, porque em
seu interior uma parte dela tinha morrido. Todos esses anos
tinha mantido aquilo em segredo, e Jessica, que era a única
pessoa que sabia, tinha-lhe jurado que jamais o contaria. E
ali estava aquele orgulhoso magnata, tirando o de sua cartola
como um coelho e exibindo-o para deixá-la em evidencia ante
seus elitistas convidados.
—Felicito-te —lhe disse com voz quebrada—, tem-me
descoberto, mas deixa que te conte toda a história. Minha
mãe se apaixonou por um moço que foi se lutar à guerra do
Vietnam e não voltou. Tinha-a deixado grávida, e seu pai a
jogou de sua casa. Não tinha terminado seus estudos e quão
único pôde conseguir foi um emprego de garçonete. O que
ganhava chegava para pagar o aluguel de seu pequeno
apartamento nos subúrbios, mas pouco mais. Quando eu nasci
procurou um segundo trabalho para poder nos manter às
dois, mas finalmente sua saúde acabou resintiéndose e
perdeu seus dois empregos —se ergueu, consciente dos
murmúrios a sua redor—. Quão único minha mãe tinha em
abundância era beleza, assim quando começaram a passar os
meses sem que encontrasse um trabalho, aceitou uma
entrevista com um endinheirado comerciante. Ele foi o
primeiro. Com o que lhe pagou, minha mãe me comprou um par
de sapatos... e outras bagatelas —acrescentou, observando a
expressão nos olhos do Thorn quando pronunciou essa
palavra—. O segundo foi o dono de uma empresa naval, um
amigo do comerciante. Com o que lhe pagou, minha mãe pôde
pagar dois meses atrasados de aluguel e verduras, carne, e
pescado para toda uma semana —o rosto do Thorn se pôs
quase amarelo—. Depois houve outros homens, e minha mãe
descobriu o luxo de ter suficiente para comer, e poder
comprar roupa e as coisas que necessitava sua filha pequena.
E foi então quando conheceu o Harry. Harry era rico, mas
tinha um pequeno defeito, gostava de beber e quando o fazia
a golpeava até que não podia se ter em pé —a voz da Sabina
se voltou tremente ao recordar, mas tragou saliva e
continuou—. Ela o amava, e quando ele estava sóbrio também
parecia querê-la, mas uma noite tinha tomado várias taças de
mais e a pegou até matá-la... diante de mim.
—OH, Meu deus —balbuciou Thorn atormentado, o
rosto desencaixado e os olhos abertos como pratos.
Sabina inspirou devagar.
—Meu avô, o pai de minha mãe, arrependeu-se de sua
atitude, e quando soube o ocorrido se fez cargo de mim, me
levando a sua granja nos subúrbios de Nova Orleans. Foi
muito bom comigo, mas morreu ao cabo de dois anos, e os
serviços sociais mandaram a um orfanato porque não tinha a
mais parentes que pudessem ocupar-se de mim. Quando
cumpri os dezoito saí dali e após estive lutando por sair da
pobreza e esquecer o passado. Ironicamente, até esta noite
só uma pessoa o conhecia. Agora suponho que o arrastarei
detrás de mim como uma pesada cadeia enquanto viva. Isto,
acredito, é o que queria, Hamilton Regam Thorndon III.
tirou-se o anel, e se voltou, entregando-lhe a Ao.
—Isto não vai acabar assim —disse ele, indo junto a
seu irmão. enfrentou-se a ele com o olhar mais duro que
Sabina lhe tinha visto jamais—. Não tinha direito a fazer
isso, envergonho-me de ti. E se não te desculpa, juro-te que
te darei um murro embora seja meu irmão maior.
Thorn o olhou atentamente e assentiu com a cabeça.
—É verdade, não tinha direito —disse em um tom
apagado—, e foi cruel. Sabina, peço-te desculpas por minha
falta de delicadeza —acrescentou, girando-se para ela.
Os olhos da Sabina estavam tão cheios de lágrimas
que não viu a dor lacerante nos olhos azuis do Thorn.
Assentiu com a cabeça, girou-se sobre os talões e saiu do
salão.
Não se tinha desculpado por seu comportamento, nem
por lhe haver feito mal, mas sim por sua «falta de
delicadeza»!, disse-se sem poder conter já as lágrimas
enquanto subia as escadas. Recolheu suas coisas a toda
pressa, metendo na mala a roupa das gavetas de
a cômoda e do armário sem parar-se a dobrá-la.
Estava aturdida, destroçada. Conforme parecia, Thorn tinha
estado escavando em seu passado e tinha dado com o que
mais danifico podia lhe fazer. Como o tinha chamado? Uma
«carta escondida na manga», recordou com uma risada
amarga entre lágrimas. Como podia ter sido tão cruel para
lhe fazer algo assim diante de toda aquela gente?
A porta de seu dormitório se abriu de repente, e ali
apareceu Thorn rígido e melancólico.
— trouxeste uma faca para me rematar em privado? —
perguntou-lhe Sabina com sarcasmo.
—Não deveria te haver feito isso —lhe disse Thorn
em um tom que jamais lhe tinha ouvido—. foi como lhe
arrancar as asas a uma mariposa. Não tinha direito.
— E por que teriam que preocupar-se meus direitos?
—espetou-lhe ela com um sorriso amargo—. Nunca
preocuparam a ninguém. Quando era pequena nem sequer era
uma pessoa, era a filha de uma prostituta que vivia ao final
da rua, e logo no orfanato não fui mais que um de tantos
meninos órfãos com histórias igualmente tristes. Senti falta
da minha mãe quando morreu, mas ao menos já não tive que
voltar a ver esses homens que se aproveitavam de seu
desespero —resmungou. Novas lágrimas afloraram a seus
olhos, e Thorn contraiu o rosto—. Sabia que o fazia por mim,
e inclusive o compreendia, mas isso não o fazia mais fácil —
acrescentou apertando os dentes—. Durante muito tempo a
odiei... até que ele a matou — murmurou fechando os olhos
com força um instante, como tentando apartar a horrível
lembrança, e estremecendo—. Me levou anos superá-lo, e me
sentia tão sozinha... A sentia falta de —repetiu—, mas
detestava aquilo no que se converteu. Odiava a aqueles
homens ricos, tentando-a com caros presentes. Se não se
ficou na parada ao ficar doente possivelmente as coisas
teriam sido distintas, mas tinha que nos manter, e aquele foi
o único modo que achou. Mas seguirei odiando o modo em que
se degradou enquanto viva, e aos homens ricos que lhe
fizeram aquilo. Não serei jamais como ela, jamais, jamais!
Estava chorando a lágrima viva, e o rosto do Thorn
estava completamente pálido.
—Isto é pouca coisa, verdade? —espetou-lhe Sabina,
atirando com a mão do corpo de seu vestido de noite—.
Queria me pôr em ridículo diante de seus convidados, e o
conseguiste. Não tenho dinheiro suficiente para ter uma
dúzia de vestidos de festa. A roupa que levo é de assinatura,
mas tudo de segunda mão. Preciso ter esta aula de roupa
para festas de promoção e coisas assim, mas não tenho
suficiente dinheiro para comprá-la nova.
Thorn sacudia a cabeça, como se não queria acreditá-
la, e estava olhando-a com uma expressão atormentada no
rosto.
—Mas o cheque... aceitou o cheque que te ofereci...
— Não, o dava a Ao! —espetou-lhe ela, cansada das
mentiras, dos enganos—. Está construindo uma nova asa no
hospital para meninos desfavorecidos. Esse era o projeto
que queríamos que respaldasse, o projeto que mencionei
aquela noite, na cozinha do. Mas você, com seus prejuízos e
suas idéias retorcidas, tomou por onde quis. Endossei seu
maldito cheque em nome do.
Sabina lhe deu as costas, fechou a mala, tomou pela
asa, baixando a da cama, e se voltou-se novo.
—Respeito ao compromisso, logo saberá que era
fingido, e por que. E agora parte. te largue de minha vista
antes de que vomite.
Thorn a olhou, tratando de encontrar algo que dizer.
—Levarei-te a casa.
—Não, não o fará —replicou ela com aspereza—.
depois do que me tem feito não me levará a nenhuma parte.
Irei caminhando se fizer falta.
—Sabina, por amor de Deus... —rogou-lhe ele,
angustiado.
—me deixe em paz, faz o favor—lhe disse Sabina,
olhando-o com desprezo—. ganhaste. Suponho que estará
muito orgulhoso de ti mesmo.
—Não, sinto-me horrivelmente envergonhado —
murmurou ele. Olhou-a aos olhos uma última vez, e saiu
devagar, fechando a porta brandamente detrás de si.
Um par de minutos depois, quando baixava as escadas,
Sabina se encontrou com a Jessica e Ao.
—OH, Deus, Sabina, sinto-o tanto... —balbuciou seu
amigo.
—As lamentações não servem de nada —repôs ela com
um débil sorriso—. me Leve a casa, por favor, Jess.
—Farei mais que isso: passarei a noite contigo —lhe
disse Jessica—, e não discuta porque não penso te deixar
sozinha. Pode que Thorn seja seu irmão, Ao —disse a seu
prometido—, mas é um monstro.
—Pois a partir de agora vai ser um monstro solitário —
lhe assegurou Aos—. vamos deixar de nos esconder, vamos
casar nos, e vou fundar minha própria companhia. Isto foi a
gota que enche o copo.

Capítulo 9

JESSICA, sentada junto à Sabina no velho sofá de


apartamento, observou preocupada a seu amiga, que tinha o
copo de tila que lhe tinha preparado entre as mãos e o olhar
perdido. —Está perdidamente apaixonada pelo Thorn, não é
certo? —perguntou-lhe com um suspiro, tirando-a do estado
de transe em que se achava.
—Não se merece que ninguém o ame —balbuciou
Sabina sem olhá-la.
—Não digo que não tenha razão —murmurou Jessica—,
mas me voltei a olhá-lo quando saíamos pela porta e me
pareceu ver uma mescla de angústia e preocupação em seus
olhos.
Sabina deixou escapar uma risada desprovida de toda
alegria e sacudiu a cabeça.
—Como muito se embebedará, e amanhã, quando lhe
tiver passado a ressaca, decidirá que a culpa o ocorrido é só
minha e se felicitará por seu brilhantismo. salvou a seu irmão
de mim, sabe?
Jessica se mordeu o lábio inferior.
—falei por telefone com Ao faz um momento —
murmurou—. Lhe disse a verdade quando você e eu nos
partimos.
Sabina empalideceu e abriu os olhos como pratos.
—E o que disse Thorn?
Jessica se removeu incômoda no assento.
—Não disse nada, mas Ao teve que ir-se ao dentista
de urgências. Thorn lhe deu tal murro que lhe saltou dois
dentes.
—E o que passou depois de que lhe pegasse? —inquiriu
Sabina.
—Thorn partiu a seu estudo feito uma fúria e se
encerrou ali —respondeu seu amiga com um suspiro—. Ao diz
que se merecia o murro, e eu acredito que eu mereceria que
me desse um também, por isso lhes temos feito ao Thorn e a
ti com este ridículo plano — acrescentou médio chorosa—.
Se tivéssemos sabido que...
—Thorn e eu vivemos em mundos diferentes —lhe
disse Sabina quedamente—. Não devem lhes culpar do
ocorrido. O nosso nunca teria chegado a nada. Eu só teria
sido outro entalhe em seu revólver.
—Não acredito, Sabina —disse Jessica sacudindo a
cabeça—, se não significasse nada para ele, não lhe teria
importado nada te haver feito mal, e Ao diz que parecia um
urso ferido.
—Toda essa gente... —murmurou Sabina
estremecendo-se e fechando os olhos com força—, toda essa
gente importante sabe agora o que foi minha mãe. Não sei
como fui capaz de ficar ali em vez de sair correndo e de
dizer tudo o que pinjente.
—Eu me senti tão orgulhosa de ti —replicou Jessica,
tomando o rosto para que a olhasse—, tão orgulhosa...
Comportou-te como uma dama, e foi Thorn quem se levou as
olhadas assassinas, não você.
—Mas agora todo mundo saberá... —insistiu Sabina,
enquanto novas lágrimas voltavam a rodar por suas
bochechas—. Ninguém quererá nos contratar, e terei que
deixar o grupo...
—Deixa de te torturar dessa maneira —disse Jessica
com firmeza—. Sentir lástima da gente mesmo não leva a
nenhum...
O ruído do telefone a interrompeu. Sabina deu um
coice e ficou olhando o aparelho como se fora a saltar e
mordê-la. Finalmente seu amiga se levantou e desprendeu.
—Diga? —respondeu. O rosto lhe pôs rígido—. Sim,
acredito que sim —disse a quem quer que fora que estava ao
outro lado da linha, lançando um breve olhar a Sabina—. Não,
temo-me que não... —mordeu-se o lábio—. O direi. ... Sim, de
acordo. boa noite.
Pendurou o auricular, e se voltou para seu amiga.
—Era Thorn —disse quedamente.
O olhar da Sabina se endureceu e apartou o rosto.
—Queria assegurar-se de que não foste estar sozinha
esta noite —explicou Jessica—. Lhe ouvia... —disse vacilante
—, lhe ouvia estranho...
—Dá-me igual —replicou Sabina com tozudez—. Não
quero voltar ou seja nada dele. vamos dormir.
Jessica observou a seu amiga enquanto saía do
saloncito e se dirigia ao dormitório. Estava muito doída para
escutar, mas, a julgar pelo tom do Thorn, ele também estava
sofrendo. A preocupação em sua voz tinha divulgado sincera.

Ao e Jessica se casaram como estava prevista na


segunda-feira pela manhã, mas para desgraça da Sabina
resulto mais um calvário que uma alegria. Tinha pensado
que, dadas as circunstâncias, Ao pediria a algum amigo que
fora o padrinho, mas quando chegou à pequena paróquia se
encontrou com que Thorn estava ali.
Sabina vacilou ao vê-lo, mas Jessica, que levava um
singelo mas elegante traje de saia e jaqueta cor osso foi
junto a ela.
—Não te incomodará—lhe disse brandamente—.Ao lhe
tem feito prometê-lo.
Sabina a olhou insegura.
—estive a ponto de não vir—lhe confessou—. Dennis,
nosso agente , recebeu uma oferta para que façamos um
concerto em um clube muito conhecido de nova Cork, assim
de repente, e nos pagam muito bem. É obvio aceitamos.
Necessitamos o dinheiro, e eu…bom, não sou conhecida ali—
disse com voz quebrada.
—Não diga bobagens, ninguém vai se inteirar—disse
Jessica com firmeza—. Não acredito que a gente que havia
na festa se fora correndo a contá-lo aos periódicos para que
o publicassem em primeira página. Nem sequer Thorn seria
tão ruim para te fazer algo assim!
— Isso pensa? —respondeu ela sarcástica.
depois do que lhe tinha feito acreditava capaz de algo,
disse-se observando ao Thorn, que estava frente ao altar, de
costas a elas junto a seu irmão e o pároco, com um traje
cinza escuro.
A humilhação que lhe tinha causado ainda estava
muito recente, mas não ia sair correndo. Tinha começado
aquilo com Ao e Jess, e por eles ia chegar até o final.
Entretanto, sua determinação não evitou que seu coração
ficasse a pulsar como um louco quando se dirigiu com seu
amiga para o altar.
Thorn se deu a volta enquanto avançavam pelo
corredor central da igreja, e a olhou de uma maneira tão
intensa que esteve a ponto de tropeçar. Estava pálido e
ojeroso.”Assim que você tampouco pode conciliar o sonho…” ,
pensou Sabina, “pois me alegro!”.
Rodeou-o sem olhá-lo, e se colocou ao lado da Jessica
para a cerimônia. Enquanto o clérigo procedia com o ritual,
lamentou-se em silencio pelo que podia ter havido entre o
Thorn e ela se as coisas tivessem acontecido de outra
maneira. Lhe encheram os olhos de lágrimas, e teve que
morder o lábio inferior para as conter, e em um momento
dado Miro sem querer para o Thorn, e o encontrou olhando-a
também.
Sob a vista a toda pressa. Talvez se sentisse culpado,
mas não devia esquecer que não era mais que isso, remorsos.
Não sentia nada por ela, nem o sentiria nunca. Somente a
desejava, e agora, certamente lhe tinha lástima. E aquilo era
o que mais lhe doía: preferia mil vezes seu desprezo.
Em questão de minutos a cerimônia tinha terminado.
Ao beijou a Jessica com ternura e paixão, e se voltou para
receber o parabéns do pároco e seu irmão, enquanto Sabrina
beijava na bochecha a seu amiga e lhe sorria.
— Que seja muito feliz—lhe desejou.
— Serei-o, estou segura— respondeu Jess—. Assim
que voltemos da viagem de noivos ao Nassau ficamos quando
tiver um dia livre e nos vemos.
— A verdade é que não sei quando será isso— replicou
Sabina—, porque o grupo e eu vamos a Nova Cork esta noite.
Temos um contrato de duas semanas nesse clube que te
dizia, e nos Dêem nos há dito que é possível que rodemos um
vídeo musical, lhe imagina? Parece ser que um produtor nos
escutou em um concerto que demos no Savannah e gosta.
— Me alegro tanto por vós...! —disse-lhe Jessica.
Havia um sorriso em seus lábios, mas estava observando a
seu amiga com preocupação. Estava tão pálida como Thorn, e
parecia muito apagada—. Mas pensava que ainda tinham que
cumprir com uma semana de contrato aqui, em Nova Orleáns.
Sabina trocou o peso de um pé a outro.
—Pedi a Ao que nos liberasse do contrato, e o tem
feito, sem objeção alguma por parte do outro sócio —
respondeu negando-se a pronunciar sequer o nome do Thorn
—. Bom, lhes cuide muito.
—E você também —lhe disse Jess.
As duas amigas se abraçaram, e Sabina se aproximou
de Ao.
—Parabéns, companheiro —lhe disse esboçando um
sorriso—. Faz muito feliz a meu melhor amiga, né?
—Dou-te minha palavra de que o farei —respondeu Ao.
Estava radiante de sorte como Jess, mas seus olhos também
refletiam preocupação pela Sabina—. te Cuide muito, ouve-
me?
—Farei-o.
À a beijou na bochecha.
—Obrigado por tudo, Sabina —murmurou — . Só agora
começo a me dar conta de quanto lhe devemos.
—Não me devem nada —replicou ela com um sorriso
forçado—. Que tenham boa viagem, Ao. Até a volta.
girou-se, e se dirigiu para a porta, mas Thorn a seguiu
e a deteve, agarrando-a pela manga da jaqueta. Sabina
procurou com o olhar a ajuda do e Jessica, mas estes
estavam conversando com o pároco.
—Sabina, por favor, me escute só um momento —lhe
rogou Thorn.
—Não tenho um momento para ti, não tenho nem cinco
segundos para ti, magnata do petróleo —lhe disse ela
asperamente.
—Imaginava que reagiria assim —balbuciou ele lhe
soltando o braço, metendo-as mãos nos bolsos e baixando a
vista—. Enfim, suponho que poderia tentar resumi-lo em
poucas palavras. Não sabia a verdade. isso conta para ti?
Pelo tom de sua voz parecia sinceramente
arrependido, mas quando elevou o rosto, Sabina não viu
refletido esse sentimento em seus olhos... ou o dissimulava
muito bem.
—por que deveria contar? —espetou-lhe—. Foi
desumano comigo! —quase lhe gritou, com o lábio inferior lhe
tremendo—. Não lhe tinha falado a ninguém de meu passado
mais que a Jessica, e agora toda essa gente sabe!
As facções do Thorn se endureceram.
—Alguma vez lhe hão dito que ter secretos é
perigoso? Tentei fazer que lhe devolvesse o anel a Ao, mas
você te negou.
— Não podia! —replicou ela acaloradamente—, tinha
prometido a Ao e a Jessica te distrair até que pudessem
casar-se.
Thorn se passou uma mão pelo cabelo, irritado.
— Ao deveria me haver dito à cara que queria casar-se
com a Jessica em vez de ter organizado toda essa ridícula
montagem! Eu gosto de Jessica, sempre me tem cansado
bem. Não me haveria oposto se tivesse sabido que estava tão
apaixonado por ela!
—Ao te tinha medo —lhe disse ela—, e estava
convencido de que não permitiria que se casassem. Jessica e
ele são meus melhores amigos, e aceitei ajudá-los, mas
também queria me vingar de ti pelo fato de que aquela noite
em casa do me tratasse como se fora uma... uma... —não pôde
terminar a frase porque a raiva estava lhe atendendo a
garganta—. Me ofereceu... dinheiro por passar a noite
contigo —lhe disse com uma risada tremente—. Toda minha
infância foi uma procissão incessante de homens com
dinheiro. Não pode imaginar como detesto aos homens ricos
e às mulheres o suficientemente se desesperadas para
deixar comprar!
—me poderia haver isso dito —replicou ele—, isso nos
teria economizado muitas discussões e sofrimento
desnecessário.
—E lhe pôr isso em bandeja de prata para que não
tivesse sequer que te haver incomodado em procurar o meio
de me destruir? —espetou-lhe ela.
—Eu não queria te fazer danifico... —insistiu Thorn.
—Ah, não? E como chamas ao que me fez diante de
toda essa gente?
Thorn apartou a vista incômodo.
—Desculpei-me —disse secamente.
—Valente desculpa... —balbuciou —.Disse a Jessica
que ao final acharia a maneira de me jogar a culpa . Você
jamais comete enganos, verdade?
Thorn apertou a mandíbula, e seus olhos relampejaram
quando girou a cabeça para olhá-la, com o peito subindo e
descendo pela agitada respiração.
—Não sabe nada de mim; não me conhece.
—OH, é claro que sim que sim —replicou ela—,
conheço-te muito bem. Sente-se seguro nesse carapaça de
aço que te construíste, e não deixa que ninguém entre nele.
Mantém-te afastado do mundo, e diz a ti mesmo que não
necessita a ninguém, mas envelhecerá, e não terá a ninguém
a quem amar nem que te ame. Terá os milhões que
amassaste, e todas as mulheres que possa comprar, mas
seguirá estando sozinho até o dia que morra.
A respiração do Thorn se tornou tão forte que era
audível, e o olhar em seus olhos a cortou como um afiado
cristal.
—acabaste? —perguntou-lhe.
—Não, não acabei —balbuciou ela, escrutinando seu
rosto e amando-o apesar de todo—. Me aproximei muito a ti,
não é certo? Rachei sua carapaça e isso fez que me atacasse.
Não o fez só por proteger a Ao, fez-o porque me odiava,
porque tinha visto dentro de ti, sob a máscara, tinha visto o
que não queria que ninguém visse.
Os olhos azuis do Thorn jogavam faíscas e todo seu
corpo pareceu esticar-se.
—Sal de minha vida —resmungou entre dentes.
—Acreditava que já o tinha feito —respondeu Sabina,
elevando o queixo—. Adeus, Thorn —lhe disse com uma
risada amarga—. Espero que seu dinheiro e você sejam muito
felizes.
— Se for, vete! —repetiu ele em um tom gélido.
Sabina o olhou uma última vez, longamente, com uma
mescla de frustração e tristeza. girou-se sobre os talões e
se dirigiu para a saída, apertando o passo e sem olhar atrás.
Thorn, em troca, não apartou a vista dela até que
desapareceu depois da porta.

A pesar do grande número de atuações e atos de


promoção do grupo, as semanas seguintes pareceram passar
a câmara lenta para a Sabina. Rodaram o vídeo aos poucos
dias de chegar a Nova Iorque, e os meninos e ela ficaram
pasmados ao ver o impressionante desdobramento dos meios
técnicos que se empregaram. Aquilo devia estar lhe custando
uma fortuna ao produtor que tinha proposto ao Dennis, seu
manager, fazer o vídeo, mas, extrañamente, cada vez que lhe
perguntavam de quem se tratava, ele trocava de tema.
Bom, disse-se Sabina, tampouco importava muito. Os
vídeos musicais eram uma boa maneira de dar-se a conhecer
um público mais amplo. Mas a generosidade daquele produtor
não acabava aí: conseguiu-lhes anúncios na rádio além de na
televisão e a imprensa, e quando fizeram sua primeira
atuação no clube obtiveram aduladoras críticas em
importantes jornais.
—Está indo tudo de maravilha, moços —lhes disse
Dennis uma tarde, depois dos ensaios para a atuação dessa
noite no clube—. O vídeo se estreará dentro de nada, e os
nova-iorquinos estão começando a interessar-se por vós.
— Sim, sim, é genial. Mas mais nos vale não dormir nos
louros —murmurou Ricky, tão pragmático como sempre — .
Por certo, Dennis, eu não gosto de como está pendurado esse
foco —comentou assinalando um dos focos sobre o cenário—.
Poderia cair em cima Y...
—Já está outra vez, Rick? —repreendeu-o Sabina,
pondo os braços em jarras—. Quer deixar de preocupar-se?
Anda, vamos, convido a um café.
E o arrastou fora do local em meio de seus protestos.
—De acordo, mas se cair sobre sua bonita cabeça...
—Sei, sei... Recordarei que me advertiu isso... — riu
ela.

Por desgraça, por uma vez as paranóias do Ricky


resultaram ter fundamento. Essa noite, quando estavam
atuando, o foco se desprendeu ao girar, e caiu sobre o
cenário entre os chiados de horror do público, golpeando a
Sabina na têmpora e lhe fazendo um corte no ombro. Não
era um foco muito grande, mas tinha cansado de uma altura
considerável, e a deixou inconsciente.
Quando despertou, com a vista ainda desfocada, viu
que estava em um lugar onde tudo parecia ser branco. Doía-
lhe todo o corpo, e o único que recordava era que tinha
estado cantando e de repente se desataram uma série de
gritos histéricos. Depois havia sentido um forte golpe, uma
dor aguda, e todo se ficou às escuras.
—Vamos, vamos, isso, abre os olhos —lhe disse uma
voz profunda a seu lado. Tinha a mão aprisionada por algo
quente—. Vamos, é uma garota forte. Não penso te deixar
até que saiba que vais estar bem... Vamos, abre os olhos do
todo —lhe insistiu em um tom mais suave—. nos Deixe ver
esses preciosos olhos cinzas.
Sabina fez um esforço por levantar as pálpebras, que
pareciam mais pesados que nunca, e pouco a pouco foi
conseguindo. Havia alguém inclinado sobre ela, a sua
esquerda um homem, e a sua direita havia outra pessoa de
pé, um homem com o cabelo grisalho, e o que dava a
impressão de ser um estetoscópio pendurado do pescoço.
Olhou em redor aturdida, e viu uma série de comprimentos
tubos que pareciam conectar seu corpo com uma série de
máquinas. Frente a ela havia um cristal, e ao outro lado uma
mulher sentada em uma mesa. Tratou de mover-se, mas
aqueles tubos e cabos estavam por toda parte. Voltou a
piscar.
— Senhorita Cane, sente alguma moléstia? —
perguntou-lhe o homem maior.
Sabina teve que lambê-los secos lábios antes de
responder.
—Dói-me... —murmurou—. A cabeça... e o... o ombro —
tratou de incorporar-se, mas uma mão a fez recostar-se com
suave firmeza.
—sofreu você uma forte comoção e esteve em vírgula,
mas vai se recuperar. Direi que lhe tragam algo para a dor —
lhe disse o homem maior—. Não se preocupe, ficará bem.
Sabina voltou a fechar os olhos. mantê-los abertos era
um esforço muito grande.
Quando voltou a abri-los, sua visão se esclareceu um
pouco, e se deu conta de que se encontrava na habitação de
um hospital. Ainda se notava um pouco aturdida, mas a dor
tinha diminuído grandemente. Girou o rosto e viu que seu
ombro direito estava enfaixado. Sentia-o rígido e dolorido. E
também tinha algo na têmpora que lhe atirava. Levantou a
mão devagar e a apalpou. Havia algo que parecia uma espécie
de fio forte... Pontos?
—Olá —saudou alguém a sua esquerda.
Aquela voz... Sabina franziu o sobrecenho e girou a
cabeça nessa direção. O rosto que viu lhe recordou
imediatamente o que tinha sofrido, a angústia, a
humilhação..., mas apesar de tudo não pôde evitar ficar
olhando-o com adoração.
—Thorn... —murmurou.
Thorn se inclinou sobre ela, tomando a da mão. Tinha
cara de cansaço, e seus olhos azuis a olhavam com doçura.
Sabina não podia dar crédito ao que estava vendo. Devia
estar sonhando, disse-se.
fixou-se em que o traje azul escuro que tinha posto
estava bastante enrugado, e que em sua camisa branca havia
uma mancha de sangue. Sabina franziu o sobrecenho.
Sangue? por que havia sangre em sua camisa? Voltou a subir
o olhar para seu rosto.
—Dói-te algo, carinho?, tem moléstias? —perguntou-
lhe Thorn quedamente.
Sabina não podia pensar com claridade. Era impossível
que Thorn a tivesse chamado «carinho». Devia estar
sonhando. Thorn não estava ali, era só um sonho. Fechou os
olhos e voltou a ficar dormida.

Os raios do sol que entravam pela janela despertaram.


Sabina entreabriu os olhos e tratou de apartá-los como se
fossem uma mosca a que pudesse espantar.
—Jogarei as cortinas.
Tinha falado alguém? Sabina ouviu o ruído de uma
cadeira chiando no chão, e logo pisadas, e uma sombra
alargada que cruzava a habitação. Girou a cabeça para a
direita e viu o Thorn. O efeito dos analgésicos tinha
passado, e voltava a sentir dor. Aquela vez não podia ser um
sonho. Thorn estava ali de verdade. Sabina escrutinou seu
rosto confundida. Havia-lhe dito que a detestava, que queria
que saísse de sua vida, tinha-a humilhado... por que estava
ali?
—Como te encontra? —perguntou-lhe Thorn.
—Fatal —disse ela com voz débil. removeu-se
incômoda na cama, e tratou de incorporar-se, mas Thorn a
empurrou brandamente com uma mão para que voltasse a
recostar-se.
—Estate quieta, arrancará algum destes tubos de
borracha.
Sabina viu que tinha o braço são apoiado em uma
almofadinha de gomaespuma, e que em cima da boneca lhe
tinham posto uma via.
—Quanto tempo levo aqui?
—Três dias. Sofreu uma comoção e um corte no
ombro, mas o médico diz que está melhorando. Acredita que
poderá te dar o alta dentro de um par de dias, e que poderá
voltar para trabalho em duas semanas.
Nada daquilo explicava o que para ele ali. Sabina se
deu conta de que tinha posto o mesmo traje e a mesma
camisa manchada.
—Tem sangue na camisa... —murmurou.
Thorn não disse nada.
—Estava... estava no clube quando passou?
Thorn deixou escapar um pesado suspiro.
—Não, estava em um jantar em Manhattan. Dennis me
chamou tão logo teve chamado uma ambulância — riu
brandamente—. Cheguei eu antes que a ambulância, e pedi
que me deixassem vir contigo ao hospital.
—Mas, por que? —inquiriu ela confusa—. Disse que me
detestava, que queria que saísse de sua vida...
Thorn lhe lançou um olhar irritado.
—Acaso tem a alguém mais? Ao e Jessica ainda não
tornaram de sua viagem de lua de mel, Dennis e seus
companheiros se ofereceram a ficar por turnos contigo, é
obvio, mas têm que cumprir o contrato que assinaram com o
clube.
—Mas sem mim não...
—encontraram a uma vocalista que te substitua
temporalmente.
—Outra vocalista? —repetiu Sabina—. Quem?
—Importa isso? —replicou Thorn.
Os olhos da Sabina se encheram de lágrimas. A só
idéia de que uma desconhecida ocupasse seu lugar justo
quando estavam tendo sua grande oportunidade... As
lágrimas que começaram a rodar por suas bochechas.
— OH, por amor de Deus, isso não! —grunhiu Thorn.
Sabina teve que morder o lábio inferior para que
deixasse de lhe tremer.
—Aqui estou bem atendida —balbuciou—.-te...
agradeço-te sua preocupação, mas já pode ir a casa. Posso
cuidar de mim mesma. Levo fazendo-o toda minha vida.
Thorn ficou de pé e a olhou fixamente.
—vais estar quase três semanas sem trabalhar —lhe
recordou—. E que eu saiba, as cantores de rock não têm um
seguro de desemprego nem de desce por enfermidade. Além
disso, embora lhe dêem o alta, não estará precisamente em
condições de lhe arrumar isso você sozinha durante esse
tempo.
Sabina não tinha pensado nisso. Necessitaria a alguém
que a cuidasse e a atendesse, e Jessica, seu melhor amiga
estava fora do país. O que ia fazer? Estava começando a lhe
entrar tal pânico que seu rosto empalideceu, e ao Thorn não
aconteceu desapercebido.
—Não tem por que preocupar-se: virá ao rancho
comigo. Eu me ocuparei de ti até que te tenha restabelecido.
— Antes preferiria me arrastar pelas ruas! —
exclamou ela, horrorizada ante a idéia de estar
completamente a sua mercê durante duas semanas.
Thorn se encolheu de ombros. —Não esperava que te
mostrasse encantada com minha proposta —lhe disse—, mas
não tem outra opção.
— Voltarei para Nova Orleáns! —espetou-lhe ela—, a
meu apartamento, e meus vizinhos me ajudarão.
—Quem? —balbuciou Thorn muito sério—: a mãe dos
gêmeos, que se passa o dia com uma garrafa na mão?
Sabina o olhou surpreendida, mas Thorn se voltou para
a janela, lhe dando as costas.
—Ou possivelmente o senhor Rafferty? Parece-te que
com a idade que tem poderia te levar nas costas escada
acima e abaixo? —acrescentou—. Está convencido de que é
uma espécie de cruze entre um anjo e uma fada madrinha —
comentou em um tom fico, renda-se brandamente.
—Como pode saber...?
Thorn se voltou para olhá-la.
—Queria saber como era o lugar onde vivia.
—por que?, para que? —perguntou ela, exasperada de
que houvesse tornado a colocar os narizes em sua vida
privada.
—É uma lata de sardinhas —disse Thorn sem
responder.
— Não o é! —replicou Sabina irada, sentindo que os
olhos lhe estavam enchendo outra vez de lágrimas—. Vivo em
um bairro decente, embora seja de gente pobre, e pode que
meu apartamento seja pequeno, mas não necessito mais
espaço, e está limpo, e tenho bons vizinhos.
—Sei que seu orgulho faz que deteste a idéia de ter
que me agradecer algo, mas como te hei dito, não tem muita
eleição —repetiu Thorn. Alargou a mão e lhe acariciou com
delicadeza a bochecha sem deixar de olhá-la aos olhos—. Eu
não queria te fazer danifico, Sabina —murmurou—. Por
favor, deixa que me redima da única maneira que tenho.
—Isso é o que procura com isto? —inquiriu ela—,
sossegar sua consciência?
Thorn baixou a vista a sua boca e riscou o arco do
lábio inferior com o índice.
—Pode acreditar o que preferir.
—Disse-me que quão único sentia por mim era desejo.
O que outra coisa posso pensar?
—É certo, disse-o, não é assim? —murmurou ele,
olhando-a aos olhos de uma maneira intensa.
—Thorn, eu...
—Não terá que preocupar-se de nada, ocuparei-me de
ti.
—Mas o grupo... —protestou ela.
—Poderão arrumar-lhe sem ti estas duas semanas —
lhe assegurou ele—. Além disso, quando sair esse vídeo a
semana próxima, será a ti a quem a gente veja, não a
vocalista que te está substituindo.

Sabina franziu as sobrancelhas.


—Como sabe o do vídeo?
—Isso não importa —respondeu Thorn tomando-a pelo
queixo—. Escuta, preciso ir ao hotel a me trocar, mas
voltarei em seguida. Estará bem?
Sabina piscou, e de repente uma idéia absurda cruzou
por sua mente.
—estiveste... estiveste aqui os três dias, comigo? —
balbuciou.
—Sim —respondeu Thorn apartando uma mecha de seu
pálido rosto.
—Mas por que?, por que o tem feito?
—por que? Porque eu adoro os hospitais — respondeu
ele sarcástico—. Me passei isso em grande sentado horas e
horas na sala de espera do pavilhão de urgências, vendo
passar ao pessoal com seus uniformes verdes, e depois
suplicando que me deixassem passar a verte à unidade de
cuidados intensivos embora não era familiar teu, tudo por
dez míseros minutos três vezes ao dia. E certamente não há
nada tão cômodo como uma cadeira de plástico em uma sala
de espera.
—Não tinha por que... —começou ela.
—E como podia te deixar aqui sozinha, por amor de
Deus? —replicou ele—. Estava em vírgula quando lhe
trouxeram aqui.
—Em vírgula? —repetiu ela.
—Até que abriu os olhos e me olhou esta manhã não
estava seguro de que fosses sair dele. Os médicos tinham
esperanças, mas o número de probabilidades não era muito
alto.
—Não esperará que me cria que de repente se
preocupa por mim —lhe espetou ela fríamente.
—Não tem nem idéia de como me senti quando Dennis
me chamou —resmungou Thorn.
—Não, é você quem não tem nem idéia de como me
sinto agora, aqui, falando com um homem que teve a
crueldade de me apresentar ante um montão de gente como
«a filha ilegítima de...»
Thorn não lhe deixou acabar a frase.
—Não, por favor —lhe rogou pondo as gemas dos
dedos sobre seus lábios. Contraiu o rosto lhe arrependido—.
Tentei dizer isso nas bodas do, quão arrependido estava
daquilo... Pode que não o cria, mas em realidade me fiz tanto
machuco para mim mesmo como te fiz —lhe disse—. Tenho
cansado em desgraça por aquilo, sabe? —confessou-lhe
depois de uma larga pausa, em um tom entre a ironia e a
brincadeira de si mesmo. Sabina o olhou aos olhos, e ele
sorriu—. Sim, ouviste bem, em desgraça. Nenhuma das
pessoas que assistiram à festa fala agora. E aquela mulher
que chorou e foi felicitar te chegou inclusive a vender as
ações que tinha de minha companhia.
A Sabina surpreendeu que parecesse mais divertido
que molesto por aquela vingança.
—Não está zangado?
—É obvio que sim —repôs ele no mesmo tom de
brincadeira—. Já não convidam a nenhum almoço nem a esses
jantares de presunção. Agora tenho que sobreviver com a
comida que me faz Juan, e desde que se inteirou do que te
fiz queima todos os pratos, ou os põe salgados, ou os deixa
meio crudos... É outra das pessoas cujo coração conquistou
do primeiro momento em que te viu —lhe disse quedamente.
Sabina se ruborizou e baixou a vista a sua camisa. Era
curioso o lugar onde estava a mancha... à altura do peito,
justo onde teria estado sua cabeça se tivesse estado
apoiada nele...
—Se vier a casa comigo, possivelmente Juan me
perdoe e deixe de tentar me matar de fome —lhe disse
Thorn com uma meia sorriso—. Vamos, desafio-te. Não pode
te negar. Sabina Cane nunca se torna atrás ante um desafio.
Sabina se mordeu o lábio inferior.
—De acordo, irei contigo —respondeu.
—Pensa nisso como um estágio de me choque em
relações humanas —lhe disse Thorn, sonriendo mais
ampliamente—. Você pode me ensinar a ser humano, e eu
farei de ti uma mulher.
Sabina avermelhou ainda mais, e sentiu que um
comichão a percorria de cima abaixo.
— Se te atrever a me pôr uma mão...
— Shhh... Não seja boba —a calou ele, beijando-a
brandamente—. Não vou seduzir te. Nem que me suplique.
Não seria capaz de seduzir a uma jovem convalescente. irei
dizer lhe a uma das enfermeiras que te despertaste.
Apertou o botão de chamada que havia em um painel
da parede, junto à cama, e antes de que Sabina pudesse
dizer nada mais o fazia um gesto de «até mais tarde» com a
mão e saía da habitação.

Quando lhe deram o alta e Thorn a levou a rancho,


Sabina ainda tinha vertigem e náuseas, mas estava
começando a recuperar pouco a pouco suas forças, e era
maravilhoso para ela poder respirar o ar limpo do campo e
descansar. Thorn incluso lhe tinha pedido ao Juan que lhe
preparasse uma das habitações do piso de abaixo para que
não tivesse que andar subindo e baixando as escadas.
Logo que faltava uma semana para Natal, mas a
surpreendeu ver que a casa do rancho já estava decorada
para essas festas. No salão havia inclusive um abeto, e a
seus pés montões de presentes.
—vai vir sua mãe por Natal? — inquiriu essa noite,
quando estavam os dois ali sentados depois de jantar.
—Não, mas talvez venha em Ano Novo, quando tiverem
retornado Jessica e Ao.
—Então... vamos estar os dois sozinhos? —inquiriu ela
vacilante.
Thorn a olhou divertido e assentiu com a cabeça.
—Sós os dois.
—Mas, todos esses presentes...
Ele pareceu incômodo. inclinou-se para diante e tomou
o copo de uísque que tinha posto sobre a mesita.
—É que convidei a umas quantas pessoas para que
venham-nos dia vinte e cinco.
Sabina ficou pálida.
— Não! —apressou-se a esclarecer Thorn—. Não é
ninguém da gente daquela maldita festa.
Ela tragou saliva. Ainda se sentia vulnerável depois
daquilo, não podia evitá-lo.
—Sinto-o —murmurou.
—Não passa nada —repôs ele—. O compreendo, mas
acredito que me conhece o suficiente para saber que não
faço promessas que não vá cumprir, Sabina, assim vou fazer
te uma agora mesmo: não voltarei a te fazer danifico nunca
mais. me dê um voto de confiança, por favor.
Ela esboçou um pequeno sorriso.
—De acordo.
—Dou-te minha palavra de que não te arrependerá —
lhe disse Thorn — . Ah!, mas ainda não te hei dito a quem hei
convidado o dia de Natal... Ao senhor Rafferty, aos gêmeos e
sua mãe, à anciã que vive no primeiro piso de seu bloco...
Sabina ficou de pedra.
—Que você o que?
—São seus amigos, não? —respondeu ele—. Te disse
que não era um esnobe —lhe recordou—, e me pareceu que
lhe devia demonstrar isso
—Então, conheceu minha pequena comunidade de
vizinhos quando foi ao apartamento a recolher minha roupa?
— Assim é —respondeu ele tomando um sorvo de
uísque. Seus olhos baixaram à bata de cor arroxeado que
Sabina se pôs, e suas facções se endureceram ao ver quão
gasta estava o tecido nos cotovelos—. Procurei algum pijama
de duas peças para que pudesse andar pela casa sem passar
frio, mas o único que encontrei foram as duas camisolas de
algodão que te trouxe.
Sabina baixou a vista sobressaltada.
—É que não tenho outra coisa —confessou—. A maior
parte do dinheiro que ganho tenho que me gastar isso em
roupa para os concertos e as excursões.
—Quererá dizer a maior parte do que fica depois de
reparti-lo entre seus vizinhos, como se fosse Teresa da
Calcuta.
Sabina elevou o rosto para ele e se encolheu de
ombros.
—Não pretendo ser uma Santa, mas já viu como vivem
—murmurou.
—Sim, vi-o —assentiu Thorn com um pesado suspiro,
passando uma mão pelo cabelo—. Suponho que quando está
nadando na abundância não revista te parar a pensar em que
aí fora há gente que não tem tanta sorte como você.
A Sabina gostava daquele novo Thorn, mais tranqüilo,
mais reflexivo... de repente era como se as más lembranças
dos dias passados fossem só isso, más lembranças. recostou-
se sobre o respaldo do sofá, admirando suas apostas
facções, e sem dar-se conta seus lábios se curvaram em um
sorriso.
Seus olhos se encontraram nesse momento, e Thorn
sorriu também.
—Encontra-te melhor? —perguntou-lhe, deixando o
copo na mesita outra vez e levantando-se de sua poltrona de
orelhas para sentar-se a seu lado.
Sabina assentiu com a cabeça, sentindo-se tímida de
repente por sua proximidade.
—Estava tão equivocado contigo —murmurou Thorn—.
E quando quis me dar conta já era muito tarde. A verdade é
que tinha medo do que estava me ocorrendo, de como me
afetava.
—Só queria proteger a Ao —replicou ela—. Eu o
entendia, mas às vezes quando queremos proteger a alguém
só fazemos mais dano. E eu, de algum jeito, queria me vingar
de ti, por como me tratou a noite que nos conhecemos.
Estava obcecada com o passado, com o que ocorreu a minha
mãe, e suponho que meus prejuízos para os homens ricos me
predispuseram ainda mais em seu contrário.
—Não tem por que te envergonhar de sua mãe —lhe
disse Thorn, apartando uma mecha de cabelo de seu rosto—.
As circunstâncias e o desespero a empurraram a fazer o que
fez.
Sabina baixou a vista.
—Mas eu estava ali a noite que minha mãe morreu —
murmurou fechando os olhos com força—, aquela noite,
quando ele começou a golpeá-la, e não pude fazer nada... —as
lágrimas quebraram sua voz, e ficou a tremer.
—Sabina, não chore, por favor —lhe rogou ele,
abraçando-a e embalando-a enquanto lhe penteava o cabelo
com os dedos — . Foi só uma menina, não foi tua culpa, e além
aquilo ocorreu faz muito tempo, já passou, já passou...
Sabina se secou as lágrimas com o dorso da mão, e
gemeu ao sentir uma pontada de dor no ombro.
—Dói-te? —perguntou-lhe Thorn, apartando-se um
pouco.
—Não, já estou bem —respondeu ela meneando a
cabeça.
Lhe acariciou o rosto vacilante, como tratando de
aprender seus rasgos, e se olharam aos olhos em um instante
que pareceu eterno.
Thorn se inclinou para ela, lhe roçando os lábios
enquanto seus dedos descendiam pela garganta, e Sabina
ficou tensa.
—Não vou fazer te nenhum dano —sussurrou Thorn—.
Deixa que te acaricie, Sabina.
A jovem se mordeu o lábio inferior, mas permitiu que a
mão do Thorn entrasse sob o pescoço da camisola e
explorasse um de seus suaves seios.
Tão encantada estava pelo prazer de suas deliciosas
carícias, que nem sequer protestou quando ele a tombou com
cuidado no sofá. Thorn tinha posto seu antebraço sob a
cabeça dela, e lhe sorriu com doçura quando começou a
arquear-se para ele com ligeiros gemidos.
—Deus, não pode imaginar quão horrível foi para mim
verte naquele hospital, tendida como uma pálida boneca, sem
reagir... —murmurou com a angústia escrita no rosto.
A Sabina custava pensar com claridade.
—A enfermeira, quando me estava ajudando a me
vestir esta manhã... disse-me que quando lhe permitiam
entrar em ver-me... tomava... da mão e me falava todo o
tempo Y... OH! —ofegou quando seus dedos roçaram o
endurecido mamilo.
A língua Thorn estava fazendo verdadeira magia sobre
seus lábios entreabiertos, e com a mão estava lhe
massageando o seio de um modo tão agradável que não podia
parar de suspirar e pronunciar seu nome uma e outra vez.
—me abra a camisa e deixa que te ensine como se
excita a um homem —sussurrou Thorn contra seus lábios.
Sabina obedeceu, tirando um a um os botões de suas
casas com mãos trementes e a respiração entrecortada pela
excitação.
Quando lhe teve aberto a camisa, Thorn fez que
pusesse as Palmas abertas sobre os firmes músculos de seu
peito recubierto de pêlo, e guiou seus dedos até que
encontraram os mamilos, eretos como os seus.
—Não sabia que aos homens também... —balbuciou
Sabina, com os olhos muito abertos.
Thorn riu brandamente.
—Estimula-os com a boca —lhe disse tomando a
cabeça entre as mãos e fazendo-a descender até seu peito.
Sabina fez o que lhe pedia, e Thorn emitiu um
profundo gemido que lhe fez levantar a cabeça para olhá-lo.
—Acaso não geme você também quando te toco e te
beijo? —murmurou Thorn com um sorriso divertido.
Levantou a camisola da Sabina, admirou seus seios
como se fossem perfeitas obras de arte, e se inclinou,
deixando que seu tórax nu se posasse sobre o dela.
esfregou-se acima e abaixo, e sorriu ao sentir estremecer-
se a Sabina.
—Também eu gosto de —lhe disse—. eu adoro te
sentir debaixo de mim, pele contra pele... É tão sexy,
Sabina...
—Thorn, devemos parar isto —murmurou ela, quase
sem forças em meio daquele delicioso delírio—. Não vou
converter me em seu amam...
— Onde você gostaria que nos casássemos?
Sabina o olhou como se se tornou louco.
— O que?
—Onde você gostaria que nos casássemos? —repetiu
ele contra seus lábios—. Aqui, no Beaumont, ou em Nova
Orleáns? Ao poderia ser o padrinho e Jessica a madrinha.
Sabina o agarrou pelos ombros para que parasse.
Estava voltando-a louca, e não podia nem pensar.
—Não posso me casar contigo.
Thorn a olhou aos olhos.
—Porquê não?
Sabina inspirou e tratou de incorporar-se.
Surpreendentemente, Thorn o permitiu, tirando-se de em
cima dela, e esperou paciente uma resposta enquanto ela se
colocava bem a camisola e a bata.
—Simplesmente porque não posso —murmurou.
—É por sua carreira? —insistiu ele—. Não te pediria
jamais que a deixasse, Sabina, jamais.
Mas ela sacudiu a cabeça. rodeou-se a cintura com os
braços, e estava tremendo por dentro. Thorn havia dito as
palavras que tinha ansiado ouvir desde que havia sentido que
estava apaixonando-se, mas não podia casar-se com ele.
—Então, por que?
—Como foste anunciar o em seu círculo social? —
espetou-lhe ela com uma risada amarga—. Meus pais não se
casaram, e o assassinato de minha mãe apareceu na capa dos
periódicos locais. Antes ou depois a gente de seu entorno o
averiguaria, e você... você... acabaria te envergonhando de
mim...
Thorn fechou os olhos com força um instante e tomou
o rosto da Sabina entre as mãos, fazendo que o olhasse aos
olhos.
—A única pessoa da que me envergonho é de mim
mesmo por como te tratei —lhe disse—. Te quero, Sabina —
murmurou com a voz quebrada pela emoção—. OH, Deus,
quero-te tanto, e não soube até aquela noite quando Dennis
me chamou, e então acreditei que era muito tarde...
Acreditei que te tinha perdido —balbuciou abraçando-a de
novo. Sabina tinha os olhos muito abertos, e sentia que o
coração ia estalar lhe de felicidade—. Estava irritado comigo
mesmo e tentei te compensar lhes conseguindo esse
contrato em Nova Iorque, pagando esse vídeo musical... —
acrescentou; surpreendendo-a de novo—, mas me parecia que
não poderia jamais fazer suficiente para compensar o dano
que te tinha feito. Necessitava seu perdão.
—OH, Thorn, Thorn... —murmurou ela chorosa,
abraçando-o também, sem lhe importar a dor do ombro—. Eu
também te quero, quero-te tantísimo...
Thorn se separou dela, e Sabina viu que também havia
lágrimas em seus olhos.
—De verdade me quer? —inquiriu com um sorriso
triste—, apesar de tudo o que te tenho feito?
Sabina lhe acariciou o rosto com as gemas dos dedos e
assentiu com a cabeça.
—Nem sequer quando me fazia sofrer podia deixar de
te amar. Compreendia o que te ocorria... porque no fundo
somos iguais; os dois nos fechamos ao mundo e temos medo
de nos abrir muito a outros, de confiar.
Thorn suspirou.
—Detestava que me fizesse sentir vulnerável, que
parecesse que fosse capaz de ver dentro de mim como se
fora um livro aberto —lhe disse—. Sabina, não sei se valerá
de muito, mas todos estes dias paguei pelo que te feito
passar; estar sem ti foi o pior dos castigos que podia ter
imaginado jamais.
Sabina se inclinou para ele e o beijou com ternura.
—te case comigo, Sabina.
—Seguro que quer que nos casemos? —inquiriu ela com
uma meia sorriso—. A gente falará...
— Que falem —respondeu ele com firmeza—. Te amo e
isso é o que importa.
—É difícil discutir contigo —disse Sabina renda-se
brandamente.
—Isso me hão dito —sorriu ele—. te Case comigo,
Sabina. Teremos filhos, comprarei-te uma bata nova, e te
deixarei cantar em meu clube.
Sabina se pôs-se a rir ante suas palavras.
—Como quer que saia em bata ao cenário? —espetou-
lhe brincalhão.
—Bom, eu acredito que inclusive em bata está sexy...
Sabina lhe deu um capão.
—ouvi que aos meninos vai bem com a nova vocalista —
lhe disse pensativa.
—Não quero que deixe o grupo por mim. lutaste muito
por chegar onde chegaste.
Sabina sorriu.
—Agradeço-lhe isso, Thorn, mas em realidade as
excursões estavam começando a me esgotar, e
possivelmente esta poderia ser minha oportunidade de voltar
a estudar ópera —lhe disse lhe rodeando o pescoço com os
braços e olhando-o aos olhos com amor—. Como disse a Ao, a
gente não pode casar-se e querer formar uma família e ver
seu casal e a seus filhos só em férias e festivos. E eu
encontrei tudo o que queria aqui, contigo.
Thorn não podia encontrar palavras, assim em vez
disso a beijou, lhe expressando nesse beijo todo seu amor e
sua paixão.
—Fixaremos a data das bodas quanto antes —lhe disse
com o sorriso mais feliz que Sabina lhe tinha visto jamais—.
Bom, não tem curiosidade por saber para quem são todos
esses presentes que comprei?
— Para quem?
Thorn se levantou, tendeu-lhe a mão, e foram juntos
até a árvore.
— Esse alargado são uns sapatos para o senhor
Rafferty, esse outro uma boneca para o Bess, e esse um jogo
de estratégia para o Billy, ah!, e este é um casaco para sua
mãe, e esse do papel verde...
Os olhos da Sabina se encheram de lágrimas enquanto
o escutava.
—Para meus amigos... —murmurou emocionada.
—Tem muita razão em que sem amor o dinheiro não é
nada. A partir de hoje será minha musa, e juntos aliviaremos
no que possamos as misérias deste mundo. Você gostaria?
—Eu gostaria de muito —murmurou ela ficando nas
pontas dos pés e beijando-o na bochecha.
Thorn tomou pela cintura, atraiu-a para si, e Sabina
pôde ler em seus olhos o carinho, as risadas e a felicidade
dos anos por vir.

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