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Margaret Way
Resumo:
enfrentar essa segunda experiência? Seu coração ainda ansiava por Kyle, mas havia uma
perigosa rival: Olívia. Esta era uma víbora!
Capítulo I
Lynda pegou seu café e levou-o para a varanda, olhando distraidamente o jardim
coberto de mato. Tinha estado fora durante dez dias e o lugar já estava parecendo uma
selva. Teria que mandar chamar um jardineiro para podar as árvores, cujo crescimento, nos
últimos meses, havia sido intenso. Os ramos das grandes poincianas coloridas iam até o
chão, entrelaçando-se e obstruindo quase toda a visão do rio, e algumas árvores maiores
ameaçavam arrancar outras, menores, pela raiz.
Lynda passou os dedos na exuberante alamanda, que crescia em trepadeira pelas
colunas de madeira que sustentavam o telhado e descia em cascata pelos enfeites de ferro
fundido pintados de branco. Os ipês amarelos estavam carregados e pesados. Havia muita
coisa a ser feita, muitas decisões a serem tomadas, muitos desapontamentos e corações
partidos. Agora, mais do que nunca, ela se sentia como uma peça num jogo de xadrez.
Começou a chover de novo e Lynda atirou a cabeça para trás com impaciência. O
rio estava cheio; já não tinha o tom acinzentado de sempre e sim uma cor barrenta. Como
todos os que tinham casas de frente para o rio, Lynda havia rezado para que as chuvas
cessassem logo, senão Brisbane seria inundada. E então poderia haver uma catástrofe.
Ela ainda se lembrava da grande enchente de 1974, quando as chuvas torrenciais
que se seguiram ao ciclone Wanda fizeram o rio subir de maneira alarmante. Sua casa fora
tomada pelas águas, assim como todas as outras alinhadas na mesma rua. Era o preço a ser
pago por se morar perto de um rio, mas, por mais terrível que tivesse sido a provação,
ninguém pensara em se mudar. Como ficar longe daquelas águas maravilhosas, profundas,
luminosas?
Lynda suspirou e sentiu que Martin se aproximava. Mas não se virou para olhá-lo.
Ficou imóvel enquanto ele chegava mais perto e dizia, com voz trêmula:
– Sinto muito, Lyn.
Martin às vezes mais parecia um adolescente que um jovem e brilhante contador
formado com distinção em Economia.
– Eu também sinto muito. Kyle é a última pessoa no mundo para quem eu gostaria
que você trabalhasse.
– Mas ele me ofereceu um desafio e tanto, Lyn! – a mão magra de Martin subiu
para segurar o ombro dela. – E não tocou no seu nome.
– Você já disse isso várias vezes! – Martin bateu com toda força no balaústre,
machucando a mão. – Será que devo desperdiçar a chance de me realizar profissionalmente
só porque minha irmã foi casada com Kyle Endfield?
– Você estava indo muito bem com os Campbell.
– Puxa, Lyn... Kyle duplicou o meu salário! O simples fato de ter um lugar na firma
já me deixa lisonjeado. Eles só empregam os melhores!
– Você é inteligente, Martin, sei disso.
– Não compreende que já tive duas promoções em seis meses?
– Você não percebe que está se tomando mais uma peça na engrenagem montada
por Kyle?
– Tenho o maior respeito por ele, Lyn. Não posso condená-lo só porque o
casamento de vocês não deu certo. Kyle sempre foi bom para mim. Às vezes é difícil
acreditar que ele seja apenas seis anos mais velho que eu. É tão mais... conseqüente.
– Oh, Martin!
Ela fez um gesto impotente. Não podia negar isso. Kyle sempre tivera uma aura de
poder que, somada à sua boa aparência, atraía todo mundo. Quando entrava numa sala, por
mais apinhada que estivesse, todos o olhavam. Ele tinha um carisma. Tinha e o usava. E o
usara com ela.
– Acho que todos nós cometemos erros – Martin estava dizendo. – Eu seria capaz
de jurar que você tinha partido o coração dele quando o deixou. Não sei o que esperava
dele, Lyn.
– Ei, de que lado você está?
– Você nunca se explicou. Sempre achei que os Endfield, com todo aquele dinheiro
e sofisticação, não combinavam com o seu modo de vida.
– Tem razão. Sabe, não se tem muita segurança aos dezenove anos, apenas um
instinto de preservação. A família dele não queria saber de mim. Só lady Endfield se
mostrou bondosa, mas agora ela se foi e não lamento isso. As experiências amargas são as
melhores lições. Os Endfield tomam o que querem: propriedades, empresas e pessoas. E,
quando não as querem mais, as deixam destruídas. Isso não iria acontecer comigo. Eu
jamais perdoaria Kyle. Ele estava, e ainda está, totalmente comprometido com o poder, é
um homem de uma ambição implacável.
Martin abanou a cabeça, pouco convencido.
– Você não pensava assim quando se casou, e acho que não está pensando agora;
Kyle não é apenas um magnata brilhante. Ele se importa com as pessoas e com a condição
humana. Quando houve aquele desmoronamento em Cumock, soterrando dois homens na
mina, ele tomou um avião na mesma hora e foi verificar tudo pessoalmente.
– A mina é deles – Lynda ficou olhando a chuva.
– Kyle não precisava ter descido até o fundo da mina, Lyn. Mas desceu e salvou os
homens.
– Eu nunca disse que ele não tinha coragem.
– Kyle é muito popular entre os funcionários. Todos vão falar com ele quando
acham impossível conversar com o velho, que anda cada vez mais intolerante. Deve ter
mais inimigos do que amigos.
– Acertou. O velho prefere ser temido a ser amado.
Lynda não gostava de sir Neville Endfield. Kyle tinha desafiado o avô ao se casar
com ela, mas esse desafio não durara mais que dois anos.
– Será quê essa chuva não vai parar?
Martin estava desesperado por mudar de assunto. Amava a irmã, mas tinha
compreendido que desejava coisas das quais Lynda não queria nem saber. Ela, com sua
beleza, inteligência e maneiras graciosas, havia conquistado Kyle, o melhor partido de
Brisbane, e separara-se por um motivo que ninguém entendia. Quanto a ele, embora fosse
rico e muito atraente, não parecia querer se casar de novo. Não era homem de cometer
erros, e cometera o maior de todos com Lynda.
– Vamos precisar mandar podar as árvores – disse ela, suspirando. – Olhe só como
estão! Nunca as vi crescerem tanto como nos últimos meses. O jardim mais parece uma
selva. A continuar assim, logo vamos ter que conviver com cobras dentro de casa. Já vi
uma grande no terraço, quando cheguei.
– E daí? – Martin se mostrou desinteressado. – Nós convivemos com elas durante
toda a vida.
– Mas eu não faço questão de ter uma cobra como companheira de quarto – Lynda
se afastou e sentou-se. – Você vai ter que me dar uma ajuda no fim de semana, Martin.
– Está bem, mas... Sabe, você devia era vender a propriedade. As pessoas são
capazes de pagar qualquer quantia por estas velhas casas coloniais. E, quando se mora
perto do rio, pode-se pedir qualquer preço.
– Eu não quero vendê-la. Que seria de nós se papai não a tivesse deixado?
– Então não se queixe se não receber ajuda! – Martin replicou, ressentido. – Papai
deixou a casa para você, o que foi muito injusto. Em todo caso, eu nunca faço as minhas
refeições aqui.
– Oh, faz algumas, sim.
Lynda controlou-se para não começar um sermão. De que adiantava falar sobre
contas de luz, impostos e manutenção? Não desejava despejar o próprio irmão, embora não
compreendesse por que ele não se dava ao luxo nem mesmo de comprar um colchão. O
problema era que Martin precisava de cada centavo de seu alto salário para manter um
estilo de vida compatível tom os amigos de Joel, irmão de; Kyle.
Aborrecida, pediu:
– Não falemos mais nisso, por favor. Estou com dor de cabeça.
– Você só pensa nos próprios problemas, não é? Por que tem sempre que se meter
na minha vida? Sou capaz de cuidar de mim, sabia?
Apesar de sua intenção de se manter calada, Lynda não resistiu e começou a falar:
– O carro esporte que você comprou foi um erro. Não percebe que ainda não pode
se dar a esse luxo? E tem tantas roupas que nunca vai conseguir usar todas. E agora
permitiu que Joel o levasse para jogar. Ora, ele pode perder cem, mil ou dez mil dólares no
jogo! Você não! Outro dia eu soube que a família vendeu a concessão de carvão em
Burranjong por cinco milhões de dólares.
– Cinco milhões e meio – ele corrigiu.
– Como acha que pode competir com isso? – perguntou Lynda, com voz cansada. –
De mais a mais, por que tudo isso?
– Porque vale a pena! – exclamou Martin com entusiasmo. – Eu quero ser um
homem de sucesso, Lyn. Será que não compreende isso?
– Bem, Martin, você pode chegar lá. Mas é pouco provável, por exemplo, que
venha a desafiar a dinastia Endfield.
– Não os estou desafiando. Eu me uni a eles.
– E não posso ficar feliz com isso – os cílios escuros e longos de Lynda cobriam-
lhe os olhos tristonhos. – Joel não é Kyle, Martin. Ele é superficial, presunçoso, e, quando
lhe convém, é um grande mentiroso.
– Que sempre pergunta por você, irmãzinha. Nem tudo é um mar de rosas para Joel,
sabe? Ele não conseguiria ser igual a Kyle nem que tentasse, e todo mundo parece culpá-lo
por isso. Exceto a mãe.
– Para ser franca, acho que ele faz por merecer a desconfiança do avô. Nunca
tentou fazer nada na vida, exceto gastar dinheiro e se divertir.
– Sorte dele!
– Você não pode estar falando sério, Martin! Todo mundo precisa ter um propósito
na vida, um objetivo a alcançar, um sonho! Alguma coisa a oferecer às pessoas que se
ama! Joel é a prova viva de que o dinheiro só não basta.
– Você é tão séria, Lyn...
– Às vezes é preciso ser séria.
– Mas você nunca age como se tivesse vinte e quatro anos, e sim oitenta! O que há
de errado num pouco de diversão?
Lynda passou as pontas dos dedos na testa dolorida.
– Estou vendo que está tenso, Martin. Você não é mais a mesma pessoa de seis
meses atrás. Tentei explicar onde essa história de querer ser igual aos Endfield vai levá-lo,
mas parece que não adiantou. Deixe disso, por favor. Da próxima vez que Joel mencionar
que vai às corridas, diga que você vai praticar windsurf.
– Eu não estou mais praticando windsurf.
– Sei. Está desistindo de tudo de que gostava. Não ouço mais falar no barco que
você e Perry iam construir. Por falar nisso, Perry de vez em quando aparece por aqui. Era o
seu melhor amigo, se não me engano.
– Mas estava começando a me aborrecer.
– Perry é como eu. Nunca hesita em dizer o que pensa.
– Ele é um bom sujeito, mas nunca vai chegar a parte alguma.
– Existem diferentes opiniões a respeito de se “chegar a alguma parte”. Perry talvez
não esteja interessado em se tomar um milionário, mas tenho certeza de que nunca ficará
endividado. O objetivo da vida dele consiste em atuar com toda a habilidade que tem, e não
em ficar sonhando com coisas impossíveis.
– Está se referindo á mim?
Lynda olhou longa e penetrantemente para o irmão.
– Você é um arrivista, Martin. Nós dois sabemos disso.
– É uma pena que você não tenha sido, queridinha.
– Eu me casei com Kyle porque o amava.
– Não se sentiu nem um pouco atraída pelo dinheiro?
– De certa forma ele me causava aversão.
– Então você é uma aberração! – Martin olhou-a com uma expressão de mofa.
– Lamento que não seja parecido comigo. Mas vou avisar: se se meter em
encrencas, vai ver que Kyle Endfield é implacável. Ele pode até estai testando você, e saiba
que para chegar a ser alto executivo na Endco não é preciso andar com Joel e com o que
ele representa. Muito ao contrário. Pense nisso. Nenhum sacrifício é grande demais para
Kyle. Ele não está onde está só porque seu avô é sir Neville Endfield. Tudo nele, seu
cérebro, sua energia, sua força física e a força de vontade são dirigidos para uma coisa só:
a concretização dos seus planos de trabalho. Qualquer dia Kyle será a Endco.
– Sim, será – Martin concordou, entusiasmando-se. – Se não o admirasse tanto, eu
estaria morto de inveja!
– Então você não sabe que ele dá duro depois que o escritório é fechado. Os
magnatas trabalham quase vinte e quatro horas por dia, Martin. Eu sei... eu me lembro...
– E quis cair fora dessa vida.
– Era uma questão de sobrevivência. Você não pode imaginar como foi.
– E você nunca contou a ninguém – Martin lhe dirigiu um olhar duro e acusador. –
Exceto, talvez: a Scott Walker. Aí está um sujeito seguro, constante e cem por cento
decente.
– Por que mencionou Scott?
– Por que não? Ele parece estar assumindo uma importância muito grande na sua
vida.
– E você desaprova, certo?
– Ele é muito velho para você, Lyn. E pacato demais.
– Bem, eu estive casada com um homem brilhante e olhe só aonde isso me levou!
– Talvez você fosse jovem demais ou coisa parecida... – disse Martin de maneira
hesitante. – Tenho certeza de que as coisas teriam sido diferentes se não tivéssemos
perdido mamãe e papai. Acho que ninguém mais vai conseguir me fazer botar os pés num
avião pequeno.
– No entanto, sir Neville tem seu próprio jato executivo, e mais uns três ou quatro
aviões de pequeno porte.
– Essa é a única forma de transporte executivo num estado que é duas vezes e meia
maior que o Texas!
– Então pode se preparar, que qualquer dia vai ter que voar num deles.
– Bem, não se pode fugir ao destino – a voz dele traía a dor que sentia ao lembrar a
perda dos pais. – Por que isso aconteceu, Lyn?
– Algum dia talvez saibamos a resposta.
Ela olhou para o irmão com a já conhecida sensação opressiva de irrealidade. Seus
pais haviam partido para uma excursão, uma aventura que deveria ter durado três ou quatro
meses. Mas uma semana depois, numa manhã, o pequeno avião que haviam fretado fora
encontrado no leito seco de um riacho na fazenda Reverley. O piloto não tinha muita
experiência e ninguém se salvara. Lynda ainda despertava no meio da noite, transpirando,
abalada com pesadelos e lembranças. Talvez seu casamento não tivesse sido um fracasso
se seus pais ainda fossem vivos para aconselhá-la. Talvez Martin se desse conta do que
estava fazendo consigo mesmo se eles pudessem orientá-lo. Ela só conseguia ofendê-lo e
irritá-lo, ao passo que seu pai sempre encontrava uma forma de fazê-los enfrentar com
calma uma situação. Martin teria dado ouvidos ao pai.
Lynda suspirou e levantou o corpo pequeno e delicado. Aos dezoito anos, um dia
antes de seus pais morrerem, era maravilhosamente bonita, com os cabelos loiros e sedosos
cortados curtos, olhos azuis, grandes e lindos, sempre radiantes e cheios de felicidade. Aos
vinte e quatro ainda era linda, refinada em todos os sentidos, mas não tinha mais a mesma
alegria e formosura.
– Quer que eu a deixe no escritório? – perguntou Martin.
– Sim, por favor.
Era preciso se vestir e tocar a vida. Mesmo porque não havia alternativa.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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trabalho que Scott Walker lhe oferecia sem suspeitar de que ele se sentira profundamente
atraído por ela desde a primeira vez que a vira, numa exposição.
A princípio Lynda trabalhara como recepcionista, fazendo também serviços de
escritório e de datilografia. Mas sua inteligência a levara a tomar o lugar de uma secretária
que tinha se aposentado e ela logo se vira promovida a assessora particular de Scott
Walker, com acesso a informações sobre pessoas importantes e seus negócios.
Lynda não gostava do emprego, mas pelo menos servia para preencher o vazio em
sua vida. Tinha amado Kyle com cada parte de seu ser, e tudo que lhe restava agora era
uma espécie de orgulho desesperado.
Scott já estava esperando por ela quando chegou ao escritório. Era um homem
severo e bem-apessoado, de quarenta e poucos anos.
– Lynda! – a voz agradável e educada não disfarçou o prazer. – Como está? E essa
chuva que não passa, hein? Que coisa!
– Pois é – ela respondeu, sorrindo. – As pessoas que vêm de Queensland, como
você, gostariam que fizesse tempo bom para sempre, certo?
Ele riu, divertido.
– Tem razão. O clima lá é esplêndido. É preciso não nos esquecermos disso.
E começou a procurar uma pasta entre os papéis que estavam em cima da mesa.
Lynda, com uma confiança suprema e com intuição própria das mulheres, encontrou-a num
instante.
– Era isto que estava procurando? – perguntou.
– Não sei o que faria sem você, Lynda – ele riu. – É esta a pasta que eu estava
procurando; da Hartley-McNab. É melhor resolvermos isso de uma vez. Há alguns anos
eles não eram nada, mas agora que conseguiram aquele contrato da...
– Endco – completou Lynda, impassível.
– Ora, eles vão acabar milionários!
– Não duvido. Bem, vai precisar de mim na próxima hora?
– Não. – Scott levantou a cabeça, o olhar brilhante. – Fui convidado para aquela,
recepção em homenagem a sir Philip Gascombe, na sexta-feira. Gostaria de ir?
– A que horas será?
– Oh, das seis às oito. A coisa de sempre, na Sala de Convenções do Centro
Cultural. Pensei que depois pudéssemos ir jantar.
Ele a queria tanto que Lynda podia sentir isso em cada olhar, em cada gesto.
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– Vai ser ótimo, Scott. Usarei alguma coisa simples, que tal?
– Você fica encantadora com qualquer roupa!
Scott a amava, ela sabia, e era até possível que um dia viesse a gostar dele.
Nenhuma paixão. Nenhuma dor. Apenas uma suave afeição, uns momentos descontraídos,
uma companhia interessante e agradável. Amor mesmo não podia haver. Lynda já não
tinha mais esse sentimento. Entregara-o a Kyle.
– Vou passar o fim de semana no litoral – disse Martin, momentos antes de deixar
Lynda na cidade, na manhã de sexta-feira. – Quero aproveitar esse sol maravilhoso. Agora
que as chuvas pararam, acho que...
– Oh, Martin! – interrompeu ela, aborrecida. – Eu estava esperando que você me
ajudasse a dar um jeito no jardim!
– Não acha melhor esperar que fique bem sequinho?
Lynda percebeu que o irmão queria era arrumar uma boa desculpa para se safar. Por
isso, mais que depressa, respondeu:
– De modo algum. Ele vai ficar seco num instante com esse sol forte.
– Eu não posso ficar parado aqui, benzinho. – Martin apontou para a placa de
estacionamento proibido. – Vejo você no domingo à noite, está bem?
– Com quem você vai? Com Joel?
– Não se preocupe, querida irmãzinha. Nenhum mal vai me acontecer. Bem, até
domingo.
Lynda desceu do carro imaginando que tipo de fim de semana aqueles dois haviam
programado. Na certa, e como sempre, teria muitas festinhas de embalo. Quanto a ela, teria
que se sujeitar a cuidar do jardim. E olhe lá!
Aquele foi um dia atarefado. Scott passou o tempo todo fechado em seu escritório,
com dois dos clientes mais importantes da firma. No final da tarde Lynda sentia mais
vontade de ir para casa do que comparecer a uma recepção. Mas, enfim, já tinha dito que
iria e estava até vestida para isso.
– Bem, como estou? – perguntou a Susan, a outra secretária que a observava com
atenção.
– Está muito, muito bonita!
– Gostou dos meus sapatos?
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– São lindos! – Susan olhou para os elegantes sapatos prateados que combinavam
com a bolsa e para o vestido branco. – Sabe, Scott é um bom sujeito e poderia se dar ao
luxo de manter uma mulher em grande estilo, mas você não faz o gênero. Nasceu para
outras coisas.
– Tais como?
Lynda já não se horrorizava com comentários desse tipo. Embora fosse amiga de
Susan e muitas vezes almoçassem juntas, Lynda nunca havia falado sobre, sua vida
particular. Não tinha mencionado que já fora casada, principalmente porque Kyle Endfield
era um homem muito conhecido. Não usava aliança e conservava o sobrenome de solteira.
Susan achava que ela estava procurando marido.
– Sabe, Lynda, você precisa de alguém excitante! – os olhos, azuis de Susan
reluziram. – Você tem alguma coisa especial. Tem classe. Precisa de alguém que a leve
para passear num carro de luxo, não num carrinho como o de Scott.
– Mas eu gosto do carro de Scott!
– Então você deve estar louca! – Susan balançou a cabeça loira, perplexa. – Em
todo caso, nunca esteve dentro de um carro de luxo. Como pode saber?
“Oh sim, estive. Muitas vezes”, pensou, e sua expressão sorridente desapareceu.
Susan perguntou, espantada:
– O que há com você?
– Como assim? – Lynda se virou para o espelho, fingindo prestar atenção nos
cabelos.
– Parece tão estranha... tão triste... E como é mesmo a palavra? Introspectiva! Isso
mesmo: introspectiva. Gary Taylor disse que você é uma garota cheia de segredos.
– E ele tem perdido muito tempo tentando me fazer falar.
– Estou certa disso. Sabe, acho Gary muito simpático. Você se incomoda se eu lutar
por ele?
– Claro que não! Mas faça-se de difícil, querida. Aí eles não resistem.
– Puxa, como eu desejaria ser uma mulher fatal!
Lynda sorriu. Se Susan soubesse o que isso significava...
O salão já estava cheio quando Lynda e Scott chegaram à recepção.
A maioria das pessoas se concentrava no terraço, de onde se avistava o rio.
– Aceitam uma bebida?– um garçom perguntou, servindo-os e indo embora a
seguir.
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– Céus, como está cheio isso! – Scott tomou um gole de champanhe. – Que tal
sairmos para o terraço? A brisa vinda do rio está deliciosa!
Encaminharam-se para o terraço, parando alguma vezes para cumprimentar alguns
conhecidos. Lynda começou a ficar preocupada. Os jornais haviam noticiado que sir
Neville tinha ido ao Japão para uma série de conversações de negócios e por isso era muito
provável que Kyle Endfield, seu neto e herdeiro, o representasse naquela recepção.
Mas ficou firme, olhando para o orador que apresentava o convidado de honra e
fazia um breve resumo de seus feitos brilhantes. Na verdade, porém, não estava prestando
a menor atenção.
– Velho enganador – sussurrou Scott a seu ouvido. – Ele uma vez me processou por
difamação!
Depois dos discursos, os garçons voltaram a circular, e quando Lynda foi colocar
sua taça na bandeja, ela escorregou e se espatifou no piso encerado.
– Não se preocupe – Scott apressou-se em dizer, mas parou. – Lynda estava tão
pálida que parecia que ia desmaiar. – Oh, querida! – ele pôs um braço em volta dela.
Apesar do calor de verão, ela estava fria.
– Não tem importância, senhor – o garçom estava dizendo, catando habilmente os
cacos de vidro. – Pronto, já acabou.
Lynda continuava imóvel, quieta, como uma estátua.
– Isso acontece – Scott murmurou delicadamente.
– Podemos ir embora, Scott?
– Claro!
Ele olhou em volta, procurando a saída mais próxima e, ao fazê-lo, viu um homem
que tinha entrado no grande salão de convenções e que os estava olhando com seus frios
olhos azuis.
Era Kyle Endfield.
Vê-lo era uma tortura. Lynda queria se mover, mas não conseguia. Estava
paralisada. Em choque. Esperava tudo, menos ver Kyle.
– Por favor, Scott, eu preciso ir...
– Sei que precisa – ele segurou-lhe o braço. – Fique calma, querida. Já vou levá-la
daqui.
O que as pessoas iriam pensar? Que estava bêbada? Doente? Sim, doente era a
desculpa mais provável.
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Todos se apressaram em abrir alas para eles. Lynda não conseguia encarar o ex-
marido, que no entanto continuava a olhá-los.
– É fascinante... Viu só? – uma dama da alta sociedade perguntou a outra. – Era a
moça com quem Kyle Endfield se casou.
– Claro, só podia ser. Os dois pareceram se transformar em pedra!
– Gostaria de conhecê-lo?
– Claro que sim! Ele é maravilhoso!
Mesmo sentada no carro de Scott, Lynda não conseguia controlar as batidas
frenéticas de seu coração.
– Eu sinto muito.
– Mas você já o viu em outras ocasiões, não viu?
Lynda não conseguia impedir que um tremor lhe sacudisse todo o corpo.
– Nunca mais o vi depois do divórcio.
– Mas isso parece impossível! – Scott protestou. – Quero dizer, mesmo uma cidade
grande é pequena quando todas as pessoas da alta roda se conhecem!
– Eu não sou uma pessoa da alta roda, Scott – disse ela, tristonha. – Nunca fui.
Parece até um pesadelo que eu tenha me casado com Kyle.
– Ele a olhou como se quisesse estrangulá-la – resmungou Scott, ainda ressentido
com o violento confronto.
– Não, não foi isso. Sabe, Kyle nunca me perdoou por ter atrapalhado a vida dele.
– Sei que não está com vontade de jantar, mas não gostaria de ir até a minha casa?
Quero cuidar de você, Lynda. Deve saber disso – ele passou a mão nos cabelos sedosos.
Queria beijá-la, abraçá-la, mas se controlou; compreendia que ela estava em estado de
choque. – Por favor, vamos – disse com brandura. – Poderemos conversar. Talvez isso a
ajude.
Lynda não respondeu e pela primeira vez ele tomou a iniciativa. Não podia permitir
que ela voltasse para uma casa vazia e ficasse chorando. Scott não se conformava com o
pouco caso de Martin para com a irmã. Nunca estava ao lado dela. Ao contrário: fora até
trabalhar para a Endco. Muito estranho. E era ainda mais curioso o fato de Kyle Endfield o
ter admitido.
Scott vivia numa casa que pertencia à sua família há três gerações. Lynda
experimentou uma sensação de paz assim que entrou.
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– Eu quis muitas vezes trazê-la aqui – disse Scott. – Sente-se, querida. – Pegou-lhe
a bolsa e a pôs em cima de uma linda mesa marchetada.
– Você deve estar com fome, Scott – Lynda sabia que ele não tinha parado para
almoçar.
– Bem, nós comeremos mais tarde – e sentou-se diante dela, calmo e formal. – Não
acha que ajudaria se falasse sobre os seus problemas?
– Eu não vim até aqui para incomodá-lo com os meus problemas, Scott.
– Mas você nunca falou sobre o seu casamento, não é mesmo?
– Não, nunca – a voz suave e melodiosa dela soava metálica. – É muito pessoal... e
muito íntimo.
– Escute: se guardar as suas tristezas vai acabar se destruindo.
– Sei disso..
– Então por que não confia em mim e não conta tudo?
– Não há nada a contar, Scott. Eu me casei muito cedo, estava apaixonada... É esse
o meu problema. Sinto que jamais serei a mesma. Às vezes isso me assusta.
– E o que aconteceu? Por que não deu certo? Vi o rosto de Endfield esta noite e,
como você, ele parecia ter muitas lembranças. O que foi que houve?
– Não consegui agüentar aquela vida – ela mordeu de leve o lábio inferior. – Havia
cunhados demais, inveja e interferência demais. Eu era muito jovem e inexperiente para
conservar com Kyle.
– Mas ouvi dizer que foi você quem o deixou – Scott encolheu os ombros. –
Desculpe, mas deve saber como as pessoas falam.
– Sim, de fato eu o deixei, Scott. Não consegui me adaptar ao estilo de vida dos
Endfield.
Na verdade não conseguira aceitar o fato de que Kyle a enganava com outra
mulher. Mas jamais diria isso a ninguém.
– Então tudo terminou assim? – Scott pareceu ficar perplexo. – Não podia ter
resolvido os problemas, superado as crises?
E perdoar uma coisa imperdoável?
– Não, Scott, não podíamos. A família ficou chocada quando ele disse que ia se
casar comigo.
– Mas por quê? Você é uma moça bonita, sensata, inteligente... tem tudo!
– Isso não basta. Você conhece Olívia Schofield?
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– Quem não conhece? – disse Scott com desdém. – Aquela ricaça rameira! Eu a vi
diversas vezes, mas parece que ela não me vê: passa por mim sem sequer me olhar!
– Eu imagino – disse Lynda com voz triste. – Olívia fazia tudo que estivesse ao seu
alcance para provar que eu não servia. E tinha razão. Às vezes me sinto amargurada, mas
saber que Kyle não se casou com ela apesar de estar livre não chegou a ser um consolo. A
família Endfield queria que eles se casassem, sabia disso?
– Está falando sério?
– Você não ouviu falar nisso?
– Então por que eles não se casaram?
– Talvez Kyle tenha compreendido que ela é falsa e fútil, mas já houve época em
que eles pareceram estar namorando firme. Olívia era a grande favorita da mãe e da irmã
de Kyle. Elas se davam muito bem... todas comprometidas com a boa vida!
– Isso é óbvio – disse Scott secamente. – São poucos os grandes realizadores da
família, e o resto não faz absolutamente nada.
– Eles não têm por que trabalhar – Lynda explicou meio sem jeito. – Em teoria
parece maravilhoso ser rico, mas muitos milionários acabam se perdendo... se não estão
interessados em preservar as fortunas das suas famílias. Christine, a irmã de Kyle, nunca
levantou um dedo desde o dia em que nasceu, e seu irmão Joel...
– É apenas um grande playboy – Scott completou. – Não sei como Martin consegue
ser amigo dele.
Lynda o olhou, surpresa.
– O que quer dizer?
– Ora vamos, querida – disse Scott sem hesitação –, sei que você tem problemas
com seu irmão.
– Eu não tenho nenhum problema com Martin – ela afirmou, ficando um pouco
irritada.
– Quero ajudá-la, Lynda. E não desejo que ninguém a magoe. Não pretendo lhe
dizer o que fazer com seu irmão, mas não sou tolo e gosto de você. Sei que Martin não lhe
dá apoio e desconfio que ultimamente ele lhe tem causado muitos aborrecimentos.
– Oh, não é assim!
– Está bem, você diz que não, mas eu a conheço o suficiente para saber que está
muito preocupada, e não a culpo. Martin cometeu um grande erro deixando o seu velho
emprego.
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Ela sorriu e, com o pouco que conseguiu encontrar na cozinha, preparou omeletes
de bacon, que cobriu com um molho de queijo acompanhado por uma salada verde, pois
Scott só tinha alface, um pepino, dois talos de aipo, meio pimentão verde e algumas
cebolinhas.
– Delicioso! – ele exclamou, e parecia sincero. – À nossa saúde! – e ergueu a taça.
– Por que nunca se casou, Scott? – Lynda perguntou com cautela. – Você é um
homem tão bom...
– Tive que esperar até encontrar alguém que eu amasse – e a fitou durante um longo
tempo. – Será que posso ousar esperar que algum dia você venha a gostar um pouco de
mim?
– Oh, Scott! – ela sentiu uma dor no peito. Nunca seria capaz de amar de novo.
– Coma a sua omelete – disse ele com firmeza. – Você parece tão frágil que um
sopro de vento poderia levá-la.
Scott não era tolo; sabia que já tinha falado o suficiente. Lynda ainda não esquecera
o casamento. Pior ainda: não esquecera Kyle Endfield.
Capítulo II
Lynda pensou muito em Martin no dia seguinte. Tudo bem que ele lutasse por suas
ambições durante a semana, mas não tinha o direito de ignorar as tarefas da casa assim,
sem mais nem menos, e ir viajar. No entanto precisava admitir que o dia estava lindo,
perfeito para uma praia. Mas havia tanta coisa a ser feita... Ela olhou, estarrecida, para o
teto. A água da chuva tinha se infiltrado e estragado a pintura, o que significava que devia
haver um vazamento no telhado. Teria que pagar a alguém para subir e verificar. Martin
por certo não faria isso; não era mais o menino que vivia trepando no telhado para apanhar
as bolas que caíam lá. O que havia acontecido com Martin? Quando tudo começara? O
emprego na Endco pouco ou nada tinha a ver com isso. Ele talvez tivesse começado a
mudar à época da tragédia em que morreram os pais, e Lynda não podia fazer mais do que
estava fazendo para ajudá-lo. Nessa altura dos acontecimentos, aliás, ela mal conseguia
ajudar a si própria...
Livros Florzinha - 19 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
Livros Florzinha - 20 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
comentassem nada a respeito. Afinal foram eles que, há um mês, tinham podado a
primavera. Tudo porque Martin dissera que não queria se espetar nos espinhos; era muito
cuidadoso com a aparência.
Lynda entrou em casa e preparou uma limonada gelada para Darren. Cortou duas
fatias do bolo de chocolate que tinha comprado para Martin e guardou para o garoto.
– Puxa, mas que delícia! – disse Darren pouco mais tarde, mastigando com vontade.
– Foi você quem fez?
– Não, desta vez eu comprei. Muito obrigada, Darren. Você é um bom amigo.
– E você também é uma boa amiga! Quem é que bate à máquina todos os meus
trabalhos de escola?
Ela sorriu.
– Eu aprendo muita coisa com os seus trabalhos, sabia?
– Mamãe acha que você é a melhor moça do mundo. Ninguém se conforma com o
que aconteceu com o seu casamento. Sabe, eu até pensava que aquele seu marido era um
cara muito legal.
– Eu também o admirava, Darren, idolatrava-o, para dizer a verdade.
– Mamãe sempre falava como ele era maravilhoso, e ficou contente quando vocês
se casaram. Papai também gostava dele. Todos nós o considerávamos um... um príncipe
encantado, sabe?
– Não foi culpa dele – aquela era uma conversa incomum, mas Lynda sabia que
Darren sempre se sentira chegado a ela, como um irmão mais novo.
– Nem sua, Lyn – resmungou o garoto, sem se impressionar. – Vi uma foto dele no
jornal, outro dia. Parece que já não sorri mais com tanta freqüência.
– Ele está mais velho, é claro. E agora tem muitas responsabilidades.
– Você se lembra de como ele costumava sorrir? Parecia até que a vida teria sido
simples, com você e todo aquele dinheiro.
– A vida nunca é simples, meu amigo – Lynda passou a mão nos cabelos ondulados
e espessos dele. – Vou rezar para que pelo menos você encontre uma mulher ideal.
– Não fale isso que me dá arrepios!
– Ah, é? Então pode me explicar o que fazia pedalando atrás de Alana Norris?
Darren ficou vermelho.
– Ela é mais velha do que eu.
– Não faz mal. O amor não tem desses problemas.
Livros Florzinha - 21 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
Ele sorriu, sem jeito, e se despediu. Lynda começou a tirar folhas secas da piscina.
O filtro precisava de uma limpeza, mas era muito pesado e ela não tinha força para tirá-lo.
Ah, Martin, Martin, maldita hora de viajar!
No fim da tarde Lynda estava ofegante e cansada, mas a grama estava parecendo
um tapete verde e os galhos mais baixos das poincianas já não atrapalhavam mais. Havia
uma lancha veloz no rio, e atrás dela uma moça sobre esquis aquáticos, muito habilidosa.
Tanto quanto Lynda, que costumava praticar esse esporte com Martin.
Subiam e desciam o rio tantas vezes... Ele até lhe ensinara a praticar surfe, mas,
depois disso, nunca mais tinham-se divertido juntos. A vida tratou de separá-los. Lynda
lembrou, com um suspiro, de como haviam sido unidos na infância, na adolescência.
Martin tinha sido o melhor irmão do mundo, embora vivesse se metendo em encrencas. E,
invariavelmente, pedia socorro a Lynda. Parecia incrível que ele fosse dois anos mais
velho; na verdade, não passava de um menino.
Seu pai costumava dizer que a Martin faltava uma coisa que Lynda tinha em
excesso: bom senso. Ela começava a desconfiar que ele tinha razão. Não havia nada errado
no fato de Martin querer chegar ao topo, mas como iria conseguir isso se não se
encontrasse mais no trabalho e menos nas diversões? Era loucura querer acompanhar Joel e
sua turma. O que Martin poderia ganhar com isso? E de onde estava vindo todo o dinheiro
extra que ele era obrigado a gastar?
Bem, melhor parar de se preocupar com essas coisas. A tarde ensolarada pedia um
mergulho na piscina e era exatamente isso que ela faria depois de levar os galhos das
poincianas para a máquina desfibradora, no fundo do quintal. Já estava usando um biquíni
cor de violeta por baixo do short e tinha certeza de que ninguém podia vê-la, a não ser do
rio. As árvores e os arbustos haviam crescido tanto que agora formavam uma espécie de
cerca viva em volta da casa.
Ao terminar de juntar todos os galhos, Lynda estava sem fôlego. Parou durante
algum tempo para descansar. Sentia calor, estava suada; sentia a cabeça estranhamente leve
e uma de suas pernas tinha um longo arranhão. Devia ser por causa do capim.
Ela foi para a sombra, encostando-se no tronco de uma magnólia, esperando que a
sensação de leveza na cabeça passasse. Enquanto estava assim, um homem contornou a
casa e a olhou. Ela o encarou, estupefata. Era Kyle!
– Lynda?
Livros Florzinha - 22 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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Com horror, ela se deu conta de que estava tremendo violentamente. Não conseguia
acreditar que Kyle estivesse ali, caminhando em sua direção.
Ele se aproximou e aqueles olhos azuis vívidos, que outrora lhe lembravam safiras,
se mostravam brilhantes e frios.
– Ora, você parece estar no meio de um pesadelo! Que cara mais assustada!
– Que faz aqui? – a voz dela saiu num sussurro.
– Fale mais alto, Srta. Reardon, pois não consigo ouvi-la.
Ela levantou a cabeça com raiva.
– Muitas mulheres divorciadas voltam a usar os seus nomes de solteira! Por que eu
não poderia?
– Claro que pode. Assim como as outras, que não prezam muito o casamento.
– Por que está aqui, Kyle? – Lynda levou as mãos aos cabelos em desalinho
enquanto ele a fitava. E o fazia com tanta intensidade que ela teve uma leve sensação de
vertigem.
– Onde está Martin?
– Você deve saber melhor do que eu.
– É importante que eu fale com ele.
Lynda virou-se bruscamente, incapaz de suportar aquele olhar.
– Ele foi passar o fim de semana fora, Kyle. Não está aqui.
– É mesmo?
– Sim – ela notou, com horror, o tom de descrença e de desdém do ex-marido. –
Acho que ele está com seu irmão Joel.
– Ele lhe disse isso? – sua rispidez era alarmante.
– Ele não me disse nada – Lynda falou tristemente. – Martin e eu não conseguimos
mais nos comunicar como antes desde que ele foi trabalhar para você.
– Ainda vive se preocupando com Martin? – Kyle parou ao lado dela.
– O que quer dele, Kyle? Não pode me dizer?
– Por que deveria lhe dizer alguma coisa? Quer dizer então que Martin continua não
levantando um dedo para ajudá-la?
– Por que diz isso?
– Olhe só para você! – disse ele, irritado, segurando-lhe a mão e virando a palma
para cima. Havia uma grande bolha entre o polegar e o indicador, causada pelo cabo do
serrote. – Foi você quem cortou todos esses galhos, não?
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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Esse encontro a estava deixando cansada, e sem forças. Ela desejou estar usando
seu chapéu de palha de aba larga, para que pudesse pelo menos esconder o rosto daquele
olhar que passava em seus ombros, nos seios pequenos, na cintura fina, nos quadris
estreitos e nas pernas bem-feitas. Era como ser acariciada. Só que ela estava se sentindo
cada vez menos à vontade.
– Quer ir embora, por favor?
– Eu a incomodo?
– Ouça, se quer ficar, então me diga o que há entre você e Martin.
– Minha cara menina, você não poderia ajudar – Kyle encolheu os ombros largos e
olhou para o céu bonito e sem nuvens. – Planejou sair amanhã?
– Não sei por que quer saber.
– Você parece se esquecer da infelicidade que causou.
– Talvez tenha esquecido. Talvez não sinta mais nada.
– Oh, é mesmo? – ele pôs a mão nos ombros dela, que suspirou profundamente e
empalideceu.
– Não posso ficar chorando a vida toda, não acha?
– Qualquer um seria capaz de pensar que eu a tratei muito mal – disse ele com dura
ironia.
– E tratou mesmo.
Ele a soltou tão bruscamente que Lynda recuou e só não caiu porque as mãos fortes
de Kyle seguraram-na outra vez.
– Às vezes penso que você está maluca!
Lynda não conseguia suportar o contato daquela mão em seu braço.
– Não, não estou maluca! Algumas pessoas levam o casamento a sério, mas este
não era o seu caso!
– Você está mesmo fora de si. – disse ele com uma expressão amargurada e
desiludida.
– Por que ainda não se casou com Olívia? Agora o caminho está livre!
– Não seja ridícula!
– Você conseguiu o que queria da sua família!
– Minha família aceitou você, esqueceu?
– Oh, não, Kyle, não aceitou, Só sua avó era bondosa comigo.
– Você não se lembra de que não estava disposta a aceitar ajuda?
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Livros Florzinha - 28 -
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– Eu... eu não consigo! – ela balbuciou, assustada, sabendo que existiam outras
cobras naquele jardim.
Tinha dito isso a Martin. Havia falado com ele. Sentiu vontade de gritar de novo,
mas não conseguiu.
– Vamos, Lynda – disse Kyle energicamente, e isso fez com que da rompesse em
lágrimas. – A cobra era inofensiva. Eu a vi. Vamos, sossegue – ele acariciou-lhe os cabelos
macios. – Está tudo bem agora.
Lágrimas ainda escorriam pelas faces de Lynda quando Kyle a levantou e a
carregou para a casa. Ela não conseguia nem protestar.
– Onde vocês guardam o conhaque?
– No armário.
Ela ainda respirava de maneira ofegante. Kyle a colocou no sofá e olhou para o
armário em estilo oriental. Ele estava com um ar preocupado.
– Você não aprendeu a relaxar?
Lynda sentou-se ao ouvir isso. Como ele podia ser tão impiedoso, tão odioso, e no
entanto se preocupar com coisinhas à-toa? Pior: como podia estar ali com ela, a sós? Lynda
estava se dando conta disso... tarde demais.
Kyle despejou um pouco de conhaque num copo e o entregou a ela. – Tome, beba.
– Obrigada – Lynda segurou o copo, mas suas mãos estavam tremendo tanto que o
líquido balançava.
– Escute – disse ele calmamente, sentando-se ao lado dela, ajudando-a a segurar o
copo –, você não pode permitir que uma simples cobra de árvore a deixe tão transtornada.
Procure se controlar, está bem?
Ela assentiu com um gesto de cabeça e ele colocou-lhe o copo nos lábios.
– Acho que você ainda não aceitou a idéia de beber álcool, não é?
A bebida fina e destilada desceu-lhe pela garganta, amenizando os efeitos da crise
histérica. Mas agora havia um perigo muito maior: o corpo esguio e quente de Kyle ao lado
do seu.
– Muito bem – disse ele secamente, apanhando o copo de suas mãos e pousando-o
na mesa. Qualquer observador teria pensando que eram namorados, pois havia uma
estranha expressão de ternura nos olhos dele. – Como você se tomou frágil! – os olhos
azuis pareciam acariciá-la como num beijo carinhoso.
Ela poderia ter dito: “Eu sofri”, mas estava com muito medo de falar.
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Capítulo III
Livros Florzinha - 30 -
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Livros Florzinha - 31 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
– Papai sempre disse que você não tinha juízo. Hoje dou razão a ele, sabe?
– Papai nunca gostou muito de mim.
– Ele te amava, Martin.
– Era de você que ele gostava. Então não lhe deixou a casa?
– Mas lhe deixou dinheiro... que já se foi. Você tem sido incrivelmente tolo, Martin.
– A culpa não foi só minha. Você parece determinada a ser uma pessoa comum,
mas eu quero ser alguém. Quero chegar lá em cima.
– Roubando?
Martin enrubesceu violentamente e cerrou os punhos, com raiva.
– Se você fosse irmão em vez de irmã, eu lhe daria um murro por causa disso!
– Um irmão talvez retribuísse o murro, Martin, e é o que você merece.
Martin encolheu os ombros magros e o rubor sumiu de seu rosto, dando lugar a uma
palidez mortal.
– Eu não fiz nada errado, Lyn, juro. Só uns pequenos empréstimos aqui e ali.
Jamais pensei que Kyle fosse examinar as coisas que faço. Quero dizer, eu mal o vejo.
Nenhum de nós o vê. Somos apenas subalternos..
– Mas que tolo! – exclamou Lynda, olhando para ele. – Garanto que Kyle controla
as finanças da companhia até o último centavo! Sei disso porque já fui casada com ele,
lembra?
– Ele é excêntrico. Todo mundo sabe que ele é excêntrico – Martin resmungou. – É
essa a reputação dele... a de um milionário excêntrico.
– E como pensa que ele chegou onde está? – Lynda perguntou, e sua voz soou um
pouco aguda. – Encorajando os empregados a destruírem o patrimônio da empresa?
– Não precisa gritar! – Martin tomou o uísque num só gole. – O máximo que Kyle
pode fazer é me despedir, e acho que não fará nem isso. Não depois de ouvir a minha
história.
– Que história?
– Que eu tenho ajudado você. É isso! – Martin entusiasmou-se com a idéia. – Direi
que você precisava desesperadamente do dinheiro e que não tive outra alternativa senão
socorrê-la. Agora, pare de me olhar desse jeito e ajude-me a pensar. Você precisava de
dinheiro para alguma coisa, mas... para quê?
– Pode esquecer isso! – disse ela, enérgica. – Você não vai mais me usar, se
esconder debaixo da minha saia!
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Não me venha com essa, maninha – ele disse brutalmente. – À sua maneira, você
é tão mole quanto mamãe costumava ser. Talvez todas as mulheres sejam assim... é o
instinto maternal, acho. Ei, pare de me olhar como se eu fosse Drácula! Sou Martin, seu
irmão, não se lembra? E nunca fiz nada tão mau assim.
Lynda se levantou abruptamente.
– Quanto dinheiro você tirou, Martin?
Martin mencionou a quantia de maneira bastante inocente.
– Meu Deus! – ela levou as mãos ao rosto.
– É uma ninharia! – exclamou ele, com grosseria. – Está agindo como se eu tivesse
desviado uma fortuna!
– Quer dizer que não se dá conta de que isso é um roubo? – ela falou com voz
estrangulada, angustiada. – Você roubou, Martin. Roubou!
– Ora, sem dramas, por favor. Nós nem sabemos se foi por isso que Kyle veio aqui,
afinal. Não falemos mais no assunto até descobrimos por que ele resolveu aparecer.
– Sei que era por isso – Lynda olhou para o irmão com uma expressão cheia de
medo. – O que vai acontecer com você, Martin?
– Nada – ele respondeu cinicamente. – Não enquanto você estiver por perto. Joel
me contou uma coisa estranha neste fim de semana. Disse que a família dele achava que
Kyle só precisava de tempo para esquecê-la, mas que todos estavam enganados... ele,
Christine e a mãe. Kyle ainda te ama, quer queira, quer não.
– Ele me despreza.
– Ele disse isso?
– Ontem mesmo.
Essa resposta abalou Martin profundamente.
– Você nunca soube lidar com ele. Joel tem razão: você se deixa manipular.
– Joel é uma víbora.
– Você é a única pessoa que pensa assim. Ele é simpático, espirituoso, bom
companheiro... e vive nadando em dinheiro.
– Então recorra a ele na hora do aperto, ora!
– Prefiro morrer.
– Está vendo? Ele não é seu amigo, Martin. Os amigos servem para quando se está
com problemas. Você poderia ir ver Perry esta noite. Ele talvez lhe passasse um sermão,
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mas certamente não deixaria de ajudá-lo. Joel, ao contrário, seria bem capaz de rir na sua
cara.
– Por favor, Lyn! – Martin voltou o rosto, suplicante para ela. – Você nunca me
deixou na mão antes! Não faça isso agora!
– Não posso ajudá-lo, Martin.
– Então espero que vá me visitar na cadeia. E que leve bolo de chocolate.
Ela o olhou de modo melancólico.
– Por que não pensou nisso quando pegou os primeiros cem dólares? Como pôde
fazer uma coisa dessas? Prefiro morrer de fome à aceitar dinheiro dos Endfield.
– Porque você é uma tola.
– Essa é a sua opinião, Martin. Onde está o seu senso de ética?
– Não se pode desfrutar da ética – ele zombou. – Ela não leva a gente para jantar;
para passear de barco, nem faz a gente conseguir andar com as pessoas certas.
Houve um momento de silêncio durante o qual Lynda ficou desesperada. Então
tomou a falar pausadamente:
– Detesto dizer isso, Martin, mas acho que nunca o conheci direito. Além do mais,
você merece ser castigado. Talvez isso lhe dê juízo.
– Talvez isso me faça atirar de um penhasco! – Martin bradou.. – Estou vendo que
está transtornada, Lynda, mas sei que vai me ajudar. Vai se culpar pelo resto da vida se não
o fizer.
Scott percebeu que Lynda estava muito preocupada e tentou saber de que se tratava.
Ela, porém, não estava disposta a fazer confidências. Os dias foram passando e a tensão ia
crescendo. A tal ponto que Lynda encontrava dificuldade em se concentrar no trabalho.
Martin também andava atormentado. Kyle havia ido para o Japão, para se juntar ao avô, e
não voltaria antes de dez dias. Até lá, teria que suportar a angústia da espera.
– Nós poderíamos estar enganados, sabia? – Martin volta e meia dizia, tentando se
tranqüilizar. – Tem certeza de que Kyle agiu como se soubesse de alguma coisa?
Lynda não teve coragem de contar que Kyle a havia criticado por superproteger o
irmão e que chegara a sugerir que o expulsasse de casa. Entretanto, Kyle também não
deixava de ter certa culpa. Ela sabia o tempo todo que Martin, apesar de inteligente, não
tinha caráter. Além disso, também havia a má influência de Joel.
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Embora estivesse acostumada a encontrar desculpas para Martin, dessa vez Lynda
sabia que não havia nenhuma. As metas e ambições do irmão eram todas erradas e ela não
tinha conseguido nada tentando ser bondosa e compreensiva. Mas aprendera a protegê-lo e
mimá-lo porque era isso que sua mãe fazia. As únicas discussões de que se lembrava entre
seus pais diziam respeito a Martin.
– Você vai estragar o menino, Julie! – seu pai dizia com freqüência. – Você não vai
poder resolver os problemas dele para sempre.
Suspirou, amargurada. Sentia-se culpada por estar cometendo os mesmos erros que
a mãe cometera.
– Lynda? – Scott teve que chamá-la duas vezes antes que ela ouvisse. – Deixe-me
levá-la para casa. Já são mais de seis horas.
Ela queria dizer que preferia tomar um táxi, mas notou um sinal de preocupação no
rosto aristocrático de Scott e resolveu aceitar.
– Seria ótimo, obrigada – e deu um sorriso resignado.
Scott quase suspirou de alívio. Por um momento pensara que Lynda fosse rejeitar o
convite. Nessa última semana ela tinha andado distante, quase inatingível. E, por isso
mesmo, mais desejável. Só o fato de poder vê-la todos os dias alegrava o coração de Scott.
Caminharam em silêncio até o carro e então ele resolveu tocar no assunto que o
preocupava:
– Você não pode continuar assim, Lynda. Será que não percebe que está se
acabando?
– Sinto muito, Scott – ela se desculpou. – Ando meio distraída...
– Distraída? Torturada, a julgar pela sua aparência. Por favor, não quer me contar
qual é o problema? Não pense que não vou compreender.
Ela percebeu que tinha que dizer alguma coisa, mas a verdade seria terrível demais.
– Estou preocupada com Martin. Estou preocupada porque ele está vivendo muito
além das suas posses.
– Por que não tem uma conversa franca com ele?
– Martin não me daria ouvidos.
– Então, por que não o põe para fora de casa? A casa é sua, e talvez fosse melhor
que ele procurasse outro lugar para morar. Já é hora de Martin começar a resolver os
próprios problemas.
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– Ele não conseguiria se arranjar sozinho agora, Scott. Se eu o expulsasse, não teria
para onde ir.
– Mas ele por certo está recebendo um bom salário, não? Sei que os funcionários da
Endco são muito bem pagos.
– O problema é que Martin quer levar uma boa vida – ela replicou, suspirando. –
Ele vive me falando de como é fantástico chegar ao auge do sucesso, mas está muito
enganado a respeito disso. Os Endfield, por exemplo, têm dificuldades insuperáveis. Se por
um lado vivem num paraíso, de outro vivem numa prisão.
– O problema – Scott sustentou com firmeza – é que, se Martin continuar a andar
em companhia de Joel Endfield, vai acabar estragando a sua vida. Como é que dois irmãos
podem ser tão diferentes? Kyle Endfield, aos trinta e três, trinta e quatro anos, é a própria
imagem do magnata, ao passo que seu irmão é tido por todos como apenas um playboy.
– Eu costumava sentir pena de Joel – Lynda admitiu. – Há algum tempo. Agora
mudei de opinião.
– O que aconteceu com o seu casamento, Lynda? – Scott diminuiu a marcha ao se
aproximarem de um sinal vermelho. – Ele só durou dois anos.
– Pois é. E resolvi que nunca me casarei de novo.
– Não diga isso! – Scott estendeu a mão e segurou-lhe o braço, como se pudesse
protelar uma decisão tão trágica. – Talvez esteja magoada com uma desilusão, mas ainda
tem a vida inteira pela frente. Você gosta de crianças, não?
– Sim.
– Quero me casar com você. Sei que sou bem mais velho, mas pelo menos posso
prometer fazer tudo que estiver ao meu alcance para vê-la feliz.
Foi difícil encontrar as palavras certas.
– Gosto muito de você, Scott – disse ela, com brandura – e é exatamente este o
problema. Você merece ser amado de um jeito que eu não posso amar.
Scott ficou visivelmente aborrecido. Pisou no acelerador e ultrapassou um carro
luxuoso.
– Concentremo-nos nos dados que temos. Você diz que gosta de mim, e eu te amo.
Diz também que não quer se casar, mas...
– Talvez eu não tenha permissão para isso – ela interrompeu, tensa.
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– E o que isso quer dizer? – Scott parou o carro para conversar melhor. – Vamos,
Lynda. Você disse uma coisa estranha, agora esclareça. Sabe, às vezes parece tão
misteriosa!
– Talvez haja certas coisas sobre as quais eu não goste de falar. É que...
– O quê?
– Kyle me disse que cuidará para que eu não me case de novo.
A praga sussurrada por Scott foi audível.
– Como, diabos, ele pode fazer isso? – o rosto calmo dele ficou cheio de cólera e de
perplexidade.
– Eu tenho medo de Kyle.
– Oh, céus! – a voz dele soou estranha. – Ele sabe alguma coisa a nosso respeito?
– O que há para saber? Que somos amigos?
Scott ficou calado durante algum tempo.
– Eles são uns demônios impiedosos, sabe? Ouça, Kyle chegou a ameaçá-la?
– Sim.
Scott pareceu ficar horrorizado.
– Quer dizer então que, se ele não puder tê-la, ninguém mais poderá?
– Ele não me quer – Lynda ressaltou, percebendo que Scott também estava com
medo de Kyle.
– Então por que essa tirania?
– Isso é próprio de um tirano.
– Santo Deus! – Scott dava a impressão de estar a ponto de perder o controle. –
Pensando bem, acho que no fundo ele é um homem muito primitivo. Acha que você lhe
pertence e ponto final...
– Como vê, Scott – disse ela, suavemente –, você demonstraria bom senso se me
esquecesse.
Scott olhou de relance para trás, como se esperasse que algum sinistro detetive
particular os estivesse seguindo.
– Querida, eu a ajudarei... juro.
Quando parou o carro diante da casa dela, Scott a olhou com profunda emoção.
Então se inclinou e beijou-lhe os lábios. Foi um beijo muito doce, pensou Lynda ao entrar
em casa. Um beijo de despedida, talvez...
Livros Florzinha - 37 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
Parou ao ouvir sons de vozes. Eram de Martin e de Joel Endfield, sem dúvida.
Ficou furiosa. Tinha deixado bem claro que não queria Joel dentro de sua casa e Martin, ao
convidá-lo, passara dos limites. Era hora de dar um basta.
– Ah, aí está ela! – Joel caminhou para o corredor, um copo de bebida na mão
direita. – Lynda, querida, como vai?
Ela o olhou friamente, mas ele a ignorou. Abaixou a cabeça e beijou-a nos lábios.
Lynda recuou, enojada, mas ele sorriu.
– Você é uma gracinha, sabia disso?
– Espero que esteja de saída, Joel.
– Pode ficar sossegada. Martin e eu vamos sair. Ele está acabando de se vestir.
– Entendo. Bem, adeus.
Começou a caminhar mas, ao passar por ele, foi segura pelos ombros.
– Por que a pressa? Afinal, eu não a vejo há anos!
– Sabe, sempre tive esperanças de nunca mais tomar a vê-lo!
– Ora, não diga! – os olhos castanhos e maliciosos dele reluziram. – Você não
costumava ser tão desagradável.
– Acho que aprendi a não ser tola, só isso.
– Você nunca nos compreendeu, não é mesmo?
– Eu tentei.
– Sim, eu sei. Você sempre foi muito doce. Tentava amizade com Christine, que
tinha um ciúme danado de você.
– Tinha mesmo? – os olhos azuis dela se mostraram descrentes, Joel sempre fora
um grande mentiroso.
– Sim, e você era ingênua demais para perceber. Chris e eu nunca nos demos bem.
Ela adorava Kyle, que sempre tinha um tempinho para ouvir os seus probleminhas, para
lhe dar conselhos; mas você chegou e o tirou dela.
– Isso é ridículo!
– Você não tem jeito mesmo, não é? Agora que está mais velha e talvez mais
sensata, será que ainda não consegue ver como as coisas eram? Kyle de repente aparece
com uma linda moça desconhecida, saída do nada. O choque que isso causou foi imenso,
não só para mamãe como para todos nós. Quero dizer, ele nunca tinha mencionado você, e
logo resolve se casar... Nós a achávamos uma colegial, uma garota confusa. Por mais
Livros Florzinha - 38 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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simpática que fosse, você deixou bem claro desde o começo que pretendia viver a sua
própria vida. E este, minha cara, foi o seu erro. A família passou a ignorá-la.
– O que você quer dizer é que eles nunca me perdoaram por não ser como Olívia,
certo?
– O que quero dizer é que eles não podiam perdoá-la por lhes tomar Kyle. Ele
sentia uma grande paixão por você, e não sei se já está curado.
– Bem, mas o fato é que eu acabei indo embora, Joel. Fiz o que vocês queriam.
– E não pareceu ficar nem um pouco amargurada com isso – ele a olhou com
curiosidade.
– Eu me senti derrotada. Aquilo que deveria ser um sonho se transformou num
pesadelo.
– Bem, uma paixão louca não é assim? Até eu consegui ver o que Kyle via em
você.
– Sim, Joel – Lynda olhou para ele como se estivesse olhando para o passado. –
Você se esforçou por criar problemas.
– Mas Kyle sempre confiou em você! O fato de eu me sentir atraído não significava
nada para ele.
– Porque não significava nada para mim.
– Era por isso que eu te odiava.
– Você não é normal, Joel.
– Só porque sempre almejo algumas coisas que não posso ter? – o olhar dele era
insolente, e percorria-lhe o rosto, o corpo. – Você está mais bonita, sabe? A separação
parece ter-lhe feito bem. Aprendeu até a se vestir.
– Eu sempre tive bom gosto, Joel. É que nunca me pareceu insensato gastar uma
fortuna para comprar roupas.
– Sim, eu sei. Mamãe nunca conseguiu compreender isso. Ela queria uma nora que
a acompanhasse à todos os lugares e que conseguisse ser a segunda mulher melhor vestida
da cidade. E você, querida, era um verdadeiro fracasso. Não conseguia nem guardar para si
mesma os seus pontos de vista políticos; sempre desejosa e ansiosa para favorecer a classe
trabalhadora. Por que não se conformou em ser apenas uma dondoca sofisticada e
divertida? Tinha tudo a seu favor; era jovem, linda e até uma dama. Tinha conseguido que
Kyle ficasse louco por você, quando ele poderia ter tido a mulher que quisesse. Mas não.
Você queria ser uma pequena benfeitora, com opiniões próprias.
Livros Florzinha - 39 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
Livros Florzinha - 40 -
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Sabrina no. 295
– Quem era aquele sujeito que a trouxe para casa? – Joel foi até a porta e olhou para
fora. – Walker?
– Você obviamente o viu.
– Ele também está apaixonado por você, como todo mundo?
– Não, Joel.
– Pois parecia. Preciso contar isso a Kyle. Acho que ele vai achar ruim por Walker
ter tido a petulância de beijar a sua ex-esposa.
– Oh, olá! – Martin, muito elegante, veio andando pelo corredor. – Gostaria de
tomar outro drinque antes,de irmos, Joel?
– Acho que sim, uma vez que é você quem vai dirigir.
– Querem me dar licença? – Lynda tentou sair dali.
– Espere um instante, Lyn – Martin segurou o braço da irmã e se virou para Joel. –
Pode ir se servir. Eu vou num instante.
– Tchau, querida – Joel acenou para ela. – Se algum dia precisar de alguém, pense
em mim.
Lynda nem se deu o trabalho de responder. Sempre sentira repulsa pelas pequenas
intimidades de Joel. Sempre desconfiara que havia um motivo para essa aparente atração.
Joel parecia cobiçar tudo que pertencia a Kyle. Essas situações sempre geravam confusão.
Kyle sempre se destacara. Tinha sido um excelente estudante, um ótimo atleta. Para
um homem como sir Neville, que parecia dar tanta Importância às realizações, Joel não
valia nada. E o coitado sempre sofrera nas mãos do avô. O que quer que ele fizesse, e às
vezes o fazia bem, Kyle sempre fazia muito melhor. Não era de admirar que às vezes
Lynda sentisse pena dele.
– Bem, pelo menos você e Joel não brigaram – Martin comentou alegremente. –
Tenho certeza de que, com o tempo, vão acabar se entendendo.
– Se quer pensar assim, Martin, fique à vontade.
Ele a puxou para a pequena sala de estar e fechou a porta.
– Escute, acho que entendemos tudo errado. Eu estive sondando um pouco, em
busca de informações, e cheguei à conclusão de que Kyle veio até aqui só para vê-la.
– Eu lhe disse o que ele falou, Martin.
– Joel comentou que ele anda muito satisfeito com o meu trabalho.
– Mas talvez ele tenha resolvido verificar as contas e...
Martin abraçou a irmã e beijou-a no rosto.
Livros Florzinha - 41 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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Capítulo IV
A secretária de Kyle conduziu Lynda até uma sala particular. Nervosa, ela mal
prestava atenção por onde passava. Só pensava numa coisa: Martin estava em encrencas e
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cabia a ela, como sempre, livrá-lo de mais essa confusão. Só que dessa vez tratava-se de
um desfalque. Algo muito grave, que Kyle não saberia entender nem perdoar.
– Olá, Lynda – Kyle saiu de detrás da grande escrivaninha e aproximou-se dela. –
Suponho que Walker tenha feito um grande sacrifício para deixá-la sair, não?
– Eu disse a ele que estava com dor de cabeça e fui dispensada. Satisfeito?
– Mas que emocionante! – os olhos profundamente azuis estavam brilhando de
ironia. – Joel me disse que ele é muito chegado a você.
– Quem, Joel? – ela se fez de desentendida.
– Meu irmão a admira muito, todos nós sabemos.. Mas estou falando de Walker.
Pensei que um homem como ele saberia se portar bem.
– Está tentando dizer que ele não deve se interessar por mim?
– “Não cobiçarás a mulher do próximo” dizem os Mandamentos...
– Posso me sentar, Kyle?
– Oh, claro – ele puxou uma cadeira. – Claro que pode.
– Agora talvez queira me dizer por que estou aqui. E seja rápido, por favor...
Ele voltou para detrás da escrivaninha e sentou-se, encarando-a.
– Parece que Martin esteve manipulando certos fundos, não é?
– Ele me contou – ela abaixou a cabeça, envergonhada.
– Olhe para mim, Lynda.
– Está bem – ela ergueu a cabeça com certa altivez. – Martin foi muito tolo.
– Foi desonesto.– ele corrigiu.
– Então por que o contratou?
– Talvez para ficar de olho em você.
– Oh, Kyle, quer falar sério?
– Você me interessa, Lynda. É altamente inteligente e no entanto fica chocada com
fatos como este. Eu contratei Martin para ter algum controle sobre você.
– Por quê?
– Você é minha esposa, Lynda.
– Não sou mais. Nós nos divorciamos, lembra?
– “Você” é divorciada – os olhos azuis dele estavam fulgurante de hostilidade. – Eu
não queria o divórcio, mas não posso mudar lei. Você colocou o nosso caso nas mãos de
um advogado e eu tive que concordar.
– Fiz isso porque o nosso casamento era uma piada.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Obrigado por me dizer. Nunca lhe ocorreu que eu estava apenas procurando
ganhar tempo para reconquistá-la?
– Você vive brincando comigo. Não gosto disso.
– Sua tolinha! – a voz vibrante dele atingiu-a como se fosse um açoite. – Eu não
gosto que me façam de bobo, Lynda. Não gosto de ser colocado contra a parede. Você
fugiu de mim como uma histérica... e só Deus sabe por quê. Sei que não era fácil conviver
com a minha família, mas pensei que você fosse mulher suficiente para isso. Sempre
enfrentou meu avô. Conseguiu até se impor para minha mãe, o que não era fácil. Jamais
entenderei por que se comportou de maneira tão infantil.
– Bem, agora tudo terminou. – disse ela, friamente. – Você é um ditador, Kyle,
assim como o seu querido avô. Eu sempre soube disso.
– Obrigado, Lynda – disse ele, suavemente. – Acho que vou até me divertir
provando isso.
– O que é que vai fazer com Martin? – ela perguntou, irritada. – Onde está ele?
Kyle fez um gesto na direção das outras salas.
– Por aí. Eu não mandei prendê-lo. Por enquanto.
– Então devo dizer que Martin agiu assim por minha culpa.
– Continue. Conte-me tudo.
– Eu estava em dificuldades financeiras – o rubor em suas faces traía a agitação. –
Martin fez isso por minha causa.
– Foi o que ele disse – o tom de Kyle era muito frio, cortante.
– Mas ele repôs o dinheiro, não repôs?
– Oh, sim.
– Ele nunca vai fazer isso de novo, Kyle.
– Talvez. Mas isso não anula o fato de ele ser um malandro, um impostor.
– Oh, por favor! – lágrimas assomaram aos olhos de Lynda.
– Sabe disso melhor do que eu, não sabe?
– Você não está sendo justo, Kyle.
– A culpa é sua. Você recusou a pensão que eu queria lhe dar. Era uma pequena
fortuna.
– Os tempos mudaram, Kyle. Eu precisei de dinheiro.
– Ora, cale a boca! – disse ele, rispidamente. – Você é quase absurdamente honesta,
ao passo que seu irmão é uma nulidade! Qualquer pessoa, com um pingo de bom senso,
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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não tentaria me roubar! Mas, por outro lado, nós não estamos falando sobre bom senso.
Estamos falando de princípios, de ética.
– E acha que os Endfield sempre se comportaram bem? – ela perguntou em tom
amargo. – Sei que o que Martin fez foi vergonhoso, mas seu avô já mandou muita gente à
falência!
– Isso acontece no mundo dos negócios. Os grandes comem os pequenos o tempo
todo. Trata-se de uma regra do jogo. Mas eu gostaria de ressaltar que meu avô nunca
tentou roubar seus amigos.
– Que amigos? Ele pode ter sido bem-sucedido nos negócios, mas sabe que muitas
pessoas o odeiam.
– Você quer dizer que muitas pessoas o temem – Kyle corrigiu-a suavemente. –
Elas às vezes se sentem assim quando se defrontam com alguém de energia inesgotável e
perspicácia. Meu avô é o que é. Mas voltemos a Martin.
– Por que você não o enforca, já que o odeia tanto?
– Isso não é permitido – Kyle meneou a cabeça. – Eu já pensei bastante no assunto
e cheguei à conclusão de que o único modo de evitar que Martin vá para a cadeia é você
oferecer uma retribuição.
– Mas eu não tenho nada! – ela protestou. – Não tenho muita coisa, mas... poderia
vender a casa.
– Querida, não quero que faça isso. Seria ridiculamente fácil. Não, Srta. Reardon,
pensei num castigo melhor para o crime. Quero que volte para mim. Você é uma mulher
interessante, bonita, sensual... Sabe, sou ocupado demais para sair atrás de mulheres. Por
isso gostaria de ter minha esposa de volta.
Ela não respondeu nada. Não conseguia. Seus olhos estavam arregalados, enormes
e reluzentes como cristal.
– Deixei-a chocada? – ele perguntou com ironia.
– Não devemos mais viver juntos, Kyle. Eu nunca poderei voltar para você. Nunca.
Não posso... não posso!
– Mas, Lynda, é o seu destino! A sua triste sina!
– Não! – ela meneou a cabeça. – Não posso fazer mais nada por Martin.
– Então está bem – disse ele, friamente. – Moverei um processo contra seu irmão.
– Você não pode! – disse ela, com voz embargada. – Jamais faria isso se... se me
amasse.
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Martin estava louco de curiosidade para saber o que tinha acontecido, mas Lynda se
recusou a contar qualquer coisa pelo telefone. Ele que ficasse ansioso, pensou
amargamente. Que fosse punido, do mesmo modo como Kyle estava decidido a puni-la. E,
quando ele chegou em casa, pouco depois das seis, Lynda estava tensa, com dor de cabeça.
– Está bem, compreendo que você não quisesse falar pelo telefone. Mas o que
aconteceu? – perguntou, muito agitado.
– Quem você pensa que é, Martin! Deixa todas as responsabilidades para mim: as
contas, a comida, e agora espera que eu pague pelos seus erros!
– Você quer dizer que não vai fazer isso? – Martin sentou-se rapidamente, como se
estivesse ficando sem forças.
– E por que deveria?
– Entendo – disse ele, asperamente. – Vai esquecer que é minha irmã.
– Eu já devia ter esquecido isso há muito tempo. Mas não; fui uma tola; uma
ingênua. Mimei você como mamãe o fazia. Ajudei-o a acreditar que pode fazer tudo que
quer e que, quando há alguma encrenca, alguém o salvará.
– Eu já lhe disse, Lyn, que nunca mais vou fazer uma tolice dessas. Às vezes penso
que você é a única pessoa que gosta de mim, que é minha amiga.
– Perry também é seu amigo, mas até ele desistiu de procurá-lo. E você tinha que se
envolver com a única pessoa que poderia arruiná-lo. Que o arruinou.
– Quer dizer que Kyle vai me processar? – Martin abaixou a cabeça, demonstrando
sofrimento.
– Vai. A não ser que eu volte para ele.
– Querida! Que bom! – o rosto de Martin se iluminou como num passe de mágica.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Mas eu não quero isso, Martin – ela disse, uma expressão dura no rosto bonito e
sensível. – Você nem calcula como já sofri nas mãos dele.
– Mas era a família Endfield que você odiava. Não Kyle.
– Eu nunca odiei ninguém, Martin. Não é essa a minha natureza, nem gostaria que
fosse. Estou mais interessada nos laços de lealdade... – a voz ficou estrangulada e ela
começou a chorar.
– Então não volte para ele! – Martin caiu de joelhos diante dela. – Sei que sou um
canalha.
– Não, não é um canalha, Martin. É um fraco – ela enxugou as lágrimas, irritada.
– Então me dê pelo menos uma oportunidade de fazer alguma coisa a esse
respeito...
– O quê? – ela estendeu a mão e afagou os cabelos loiros e brilhantes dele.
– Kyle está forçando você a voltar para ele?
– Sim – Lynda engoliu em seco. – Se nos casarmos de novo, ele não vai processar
você. Vai mandá-lo para uma filial da Endco, em Queensland Central, onde você
trabalhará muito e será vigiado de perto.
– Quer dizer que ele vai contar o caso aos chefões? – Martin perguntou,
mortalmente pálido.
– Claro que não. Kyle quer apenas se certificar de que você vai mudar.
– Eu vou melhorar! Juro que vou ser outra pessoa!
– Isso é ótimo – disse Lynda. – Eu detesto pensar no que aconteceria se não
melhorasse.
– Então vai se casar com ele?
– Parece que não há outra saída, não é?
– Não se preocupe – disse Martin. alegremente –, tudo vai dar certo – o mais
extraordinário é que ele parecia acreditar nisso!
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Desculpe, Scott – ela respondeu, melancólica. – Não foi essa a minha intenção.
Sempre procurei ser franca.
– Então conte-me a verdade! – ele estava tenso, agitado. – E quanto ao
irresponsável de seu irmão? Tem alguma coisa a ver com isso?
– Claro que não.
– Pois quer me parecer que sim! – as faces antes pálidas de Scott agora estavam
enrubescidas. – Você disse que estava preocupada com ele.
– Isso não interessa. Vou casar de novo com Kyle porque o amo.
Scott ficou muito aborrecido.
– Mas você nunca foi feliz com ele!
– Eu era... um pouco.
– Não entendo você, Lynda – disse Scott, seriamente. – Acho que jamais
entenderei.
– Acredite, nunca tive intenção de magoá-lo.
– Mas acontece que magoou, querida.
E assim tudo terminou. Agora Lynda iria ter que enfrentar de novo um mundo que
não lhe dizia respeito, que a machucava: o mundo dos Endfield.
Poucos dias depois, ela trabalhava no jardim quando um magnífico carro de luxo
parou na entrada da casa. Um motorista uniformizado estava atrás do volante, e uma
mulher madura, bonita e divinamente vestida, estava sentada no banco de trás.
Era a mãe de Kyle.
Por um momento Lynda teve uma vontade absurda de sair correndo para o rio.
– Lynda! – a Sra. Endfield chamou.
– Anthea – ela murmurou, sentindo vontade de gritar.
– Querida! – alta e muito esguia, Anthea beijou-a na testa.
– Não podia ter avisado que vinha? – perguntou Lynda, sabendo que Anthea
adorava apanhar todo mundo de surpresa.
– Mas querida, eu não sabia ao certo se viria até aqui – mentiu. – Podemos entrar?
– Claro. Vamos tomar um café.
– Que casinha bonita você tem! Acho que conseguiria um bom preço por ela. Essas
casas velhas têm muito charme, e acho que não há nenhum lugar mais fresco que uma
varanda – olhou-a e sorriu. – Você parece muito bem, Lynda.
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– Obrigada. Mas por favor, vá para a sala de estar e sente-se. Vou me lavar e volto
num minuto. Sabe, o verão faz tudo crescer rapidamente, de modo que é quase impossível
manter o jardim arrumado.
– Você deveria contratar um homem para fazer isso, querida.
Seria esperar demais que Anthea compreendesse que jardineiros custavam dinheiro.
Ela viera de uma família muito rica e se casara cedo, embora tivesse recebido um duro
golpe da vida: seu marido, Richard, o pai de Kyle, morrera num terrível acidente da mina,
juntamente com um corajoso jovem que tentara salvá-lo.
Com esses pensamentos em mente, Lynda adotou um comportamento mais suave.
Anthea sofrera muito e tivera até um esgotamento nervoso. Christine, a filha mais nova,
era pouco mais que um bebê e Kyle estava com doze anos. Sir Neville então assumira o
papel de pai e de avô, de ídolo e chefe da família.
Lynda se arrumou rapidamente e voltou para a sala de estar, onde Anthea estava
examinando uma peça de porcelana e lendo a inscrição.
– Royal Worcester.
– Era uma das favoritas de minha mãe – Lynda olhou com ternura para a linda peça
de porcelana.
– Sente-se, querida – Anthea sugeriu, bancando e anfitriã. Era assim onde quer que
fosse. – Devo confessar que fiquei perplexa quando Kyle me contou que vocês vão viver
juntos de novo.
– E o que acha disso? – Lynda sentou-se numa poltrona e ficou olhando para ela.
– Parece incrível – Anthea arrumou a dobra do vestido. Com cinqüenta e poucos
anos, parecia bem mais jovem, com seus lindos cabelos negros e olhos azuis. – Eu nem
sabia que vocês tinham se visto de novo. Mas sei que ele nunca conseguiu esquecê-la.
Lynda deixou escapar uma risadinha.
– Eu também não consegui esquecê-lo.
– É, acho que sim – Anthea pareceu fazer um grande esforço para se controlar. –
Vim até aqui hoje, Lynda, para dizer que lamento muito tudo que houve no passado. Agora
vejo que interpretei mal os sentimentos profundos de meu filho. Adoro Kyle, como sabe, e.
acho que, como todas as mães, fiquei com ciúmes quando ele se apaixonou por você. Até
mesmo a pobre Christine ficou com essa sensação de perda. Kyle sempre foi o homem
forte da família. Sempre soube para onde estava indo e o que estava fazendo. Deveríamos
ter compreendido que estava certo a seu respeito em vez de deflagrarmos essa batalha sem
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– Infelizmente, isso também me atingiu – por mais que tentasse, Lynda não
conseguia manter uma expressão tranqüila. – Olívia fez tudo que estava ao seu alcance
para destruir o meu casamento.
– Por favor, querida – Anthea pediu, passando a mão na fronte – precisamos
perdoar e esquecer.
– Acho que nunca vou conseguir esquecer.
– Por quê? Você sempre foi uma moça bondosa. E, por mais que eu goste de Olívia,
tenho que reconhecer que ela a tratou mal. Mas não adiantou. Olívia tinha a sua língua
ferina e a família como aliada, mas você tinha Kyle. Por que acha que nos comportamos
tão mal? Estou dizendo isso agora e nunca mais vou dizer de novo. Detesto ter que me
explicar. As famílias podem ser um flagelo para os recém-casados. Eu, pelo menos, tive
uma sogra maravilhosa. Nós cometemos erros, sei bem, mas espero recebê-la de braços
abertos. Foi um erro interferir na vida de meu filho. Olívia agora vai ter que procurar outra
pessoa.
– Obrigada, Anthea – Lynda falou brandamente, olhando-a. – Será maravilhoso ser
bem recebida na sua casa.
– Nossa casa, querida.
A mansão dos Endfield ficava no centro de um terreno de quase vinte mil metros
quadrados, numa das áreas mais valorizadas de Brisbane. Era uma edificação moderna,
especialmente projetada para as regiões subtropicais.
Como de costume, os jardins estavam iluminados, e Harry, o porteiro, saudou
Lynda e Kyle quando passaram de carro pelo portão.
– Só a família vai estar presente ao jantar? – Lynda perguntou, procurando quebrar
aquele silêncio incômodo.
– Não – disse Kyle, secamente. – Dois velhos amigos de vovô, Frank Arnold e
Matthew pixon, também vão estar presentes. Você os conhece.
– Eu me sinto muito sem jeito, sabe?
– Não se preocupe. Você está muito bonita.
– Lynda!
Sir Neville cumprimentou-a com entusiasmo e deu-lhe um beijo no rosto. Segurou-
lhe a mão e a conduziu pelo hall até uma imensa sala de estar. Pouca coisa tinha mudado
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naquele aposento altamente sofisticado e confortável, decorado com carinho e bom gosto
por Anthea. Que, aliás, estava distintíssima num vestido da mesma cor de seus olhos.
Joel se fazia acompanhar por uma loira muito bonita que Lynda não conhecia e que
se chamava Tracy Forrester, a mais recente “amiguinha” dele. Também estavam presentes
tio Nick e sua esposa. Érica, além dos dois amigos de sir Neville, que cumprimentaram
Lynda com inequívoco prazer e com a galanteria do Velho Mundo. E, finalmente, ali
estava Christine, com Blair Neale, um antigo admirador.
Blair apertou a mão de Lynda com sinceridade, sorrindo, mas Christine não fez
nenhum esforço para se mostrar amável, deixando transparecer uma velha hostilidade que
ela ainda não conseguia controlar.
– Agora, Lynda querida, venha até aqui e diga-me o que vai beber – qualquer um
diria que sir Neville estava se divertindo, mas Lynda conhecia bem o velho para saber que
não.
Tomaram aperitivos na sala de estar e seguiram para a sala de jantar.
A refeição estivera soberba, e o café foi servido, como de costume, na biblioteca,
juntamente com um licor finíssimo. Mas, depois de cerca de vinte minutos de conversas
variadas, sir Neville deixou bem claro que as mulheres deveriam se dirigir para outro
lugar. No mundo dele, os homens precisavam ficar a sós para discutir sobre negócios.
Lynda nunca se conformara com isso, mas Anthea, já acostumada, levantou-se
alegremente.
– Achei que seria bom conversarmos sobre o casamento – ela disse.
– Será que precisamos mesmo?
– O que foi que disse, Christine? – Anthea se virou para a filha, sentindo-se um
pouco embaraçada.
– Não estou ligando a mínima! – Christine resmungou.
Apesar de ser bonita, Christine tinha uma aparência triste e entediada.
– Nós ainda não decidimos nada – Lynda falou.
– Vocês devem ter mantido encontros secretos, não é? – Érica Endfield quis saber,
dirigindo-lhe um olhar atento depois que se sentaram.
– Talvez fosse o mais sensato – Lynda ressaltou, lembrando-se de como essa
mulher costumava atormentá-la com palavras cruéis.
– Diga-me – Érica sorriu amarelo –, acha que desta vez vai dar certo?
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– Claro que vai! – Anthea veio em socorro de Lynda. – Agora estamos todos mais
maduros e mais compreensivos. E é evidente que Kyle precisa muito de Lynda.
– Ora, deixe disso! – disse Christine, suspirando.
– Se você vai ser desagradável, querida – Anthea falou suavemente –, é melhor sair.
– Sair para onde, mamãe? – os olhos castanhos de Christine estavam brilhando. –
Não sou hipócrita a ponto de fingir que estou feliz porque Lynda vai voltar.
– Voltar para onde, Christine? – Lynda perguntou calmamente.
– Ora, para cá! – a moça ergueu as sobrancelhas. – Droga, você sabe como vovô é!
– Infelizmente sei – Lynda se acomodou melhor. – Contudo, ele talvez tenha que
ficar sem a nossa companhia. Eu já disse a Kyle que precisamos ter um lugar só nosso.
– Vocês podem tentar, meu bem – Érica Endfield comentou –, mas vovô sempre
consegue o que quer. Ele acha que precisa de Kyle o tempo todo.
– E pode ficar com ele... durante as horas de trabalho.
– Ela não é nada conformista, não acham? – Christine perguntou, irônica. – Ei,
Lynda, você já esqueceu tudo que houve na primeira vez?
– Existem algumas pessoas que não sabem quando ceder.
– Francamente, querida – Anthea se inclinou para a frente e segurou o pulso de
Lynda –, vovô vai querer que vocês morem aqui. Terão vários aposentos particulares,
claro.
– Mas, uma vez que vou me casar com Kyle, e não com a família, prefiro que
moremos sozinhos – Lynda insistiu calmamente.
– Você é maluca ou coisa parecida? – Christine perguntou. – Não consegue
compreender como as coisas funcionam aqui? Vovô é o todo-poderoso. Ele pode não
gostar muito de mim ou do pobre Joel, mas adora Kyle. Pensei que já tivesse
compreendido isso há muito tempo.
– Sei que vocês todos dependem muito de Kyle, mas isso não significa que ele e eu
não possamos viver as nossas próprias vidas.
– Não me envergonho de depender de meu irmão! – Christine olhou para Lynda
com indisfarçável ódio. – Eu contava muito com ele. Era meu herói e meu melhor amigo.
Então você veio e o tirou de mim.
– Mas você decerto esperava que Kyle se casasse algum dia, não?
– Sim, e você sabe com quem!
Lynda enfrentou-a com olhos serenos.
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– Bem, Olívia teve as suas oportunidades, mas parece que não conseguiu nada.
– Você é muito generosa, Lynda – disse Anthea. – Pensando bem, eu também
queria ter o meu próprio lar, mas Richard, como Kyle, era indispensável para o pai. Acho
que fiquei bastante transtornada na ocasião. Eu tinha muito talento pari decorar casas, e
queria fazer uma coisa muito especial só para nós dois. Mas, ai de mim, isso nunca
aconteceu. Por isso mesmo, querida – ela acrescentou num tom mais firme –, não espere
ver concretizado o seu sonho. Vovô detesta perder o controle sobre qualquer coisa ou
pessoa.
– Não é de admirar que ele a despreze, Lynda – Christine disse, asperamente. –
Você nunca o tratou com o respeito com o qual ele está acostumado.
– Como se pode desprezar uma pessoa que tenha opiniões próprias, como eu? –
Lynda perguntou.
Isso pareceu confundir Christine, que se calou, emburrada, enquanto Anthea
pigarreava.
– A propósito, vejo que está usando a sua aliança.
– Sim – ela girou o anel de safira na mão esquerda.
– Estive falando com Nick – disse Érica. – Ele deseja o que for melhor para Kyle.
Claro que nós nem sempre pensamos do mesmo modo.
Parecia que, depois de um começo relativamente bom, a noite ia se tornar horrível.
– Não quer tocar para nós, Anthea? – Lynda perguntou. A sogra era excelente
pianista.
Anthea se levantou, agradecida, e concordou.
– Eu estava lembrando, ontem à noite, que você era a única pessoa que costumava
me pedir para tocar. E eu poderia ter aprendido a tocar muito bem, sabe? Tia Charlotte era
concertista.
A doce loirinha Tracy, que tinha ouvido toda aquela conversa sem fazer qualquer
comentário, olhou para Lynda com admiração.
Quinze minutos depois, Nick Endfield e o velho Matthew Dixon voltaram para a
sala de estar, atraídos pelo som da música.
– Puxa, mas que lindo! – Nick Endfield sentou-se silenciosamente ao lado de
Lynda. – Adoro ouvir Anthea tocar. Ei, Lynda, você está muito atraente esta noite, sabia?
Eu sempre disse que Kyle era um homem de sorte.
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Capítulo V
Menos de um mês depois Lynda se tomou a Sra. Kyle Endfield pela segunda vez.
– Tomara que agora dê certo! – Joel ergueu-lhe o rosto e a beijou, felicitando-a.
Lynda sorriu. Parecia um milagre, mas conseguira que seu casamento fosse do jeito que
queria: uma cerimônia simples e rápida.
– Você conseguiu desapontar todo mundo – comentou Kyle. – Eles esperavam
poder dar uma grande recepção.
– Pois tiveram o espetáculo que queriam há quatro anos – ela respondeu. – Agora é
minha vez, não acha?
Anthea, determinada a pôr uma pedra no passado, procurou agir como mãe e sogra
amorosa, e até Christine foi persuadida a não dizer nada. Tudo transcorreu relativamente
bem, à exceção do fato de sir Neville haver dito que mandaria pintar os aposentos deles.
– É um novo começo! – ele dissera a Lynda, com ênfase, desafiando-a a tentar
destruir a frágil harmonia que se formava.
Ela não o fizera. Simplesmente levantara os olhos, e a doçura que sir Neville vira
neles o fizera engolir a agressividade.
Lynda também conseguira que a segunda lua-de-mel fosse curta. Afinal, aquele não
era um casamento de verdade. Era uma piada. A única pessoa que saíra ganhando com a
história fora Martin, que se livrara de um processo. Mas, em compensação, seria obrigado
a passar pelo menos dois anos em Queesland, longe dos amigos. Ou melhor: longe de Joel.
– Não se preocupe comigo, Lyn! – Martin lhe dissera durante a cerimônia. – Você
ainda vai se orgulhar do irmão que tem!
– Pelo menos tente agir melhor do que tem agido até agora! – Kyle comentara
asperamente.
Lynda pensava nisso tudo enquanto o helicóptero que os levaria à ilha onde
passariam a lua-de-mel pousava, depois de uma maravilhosa viagem panorâmica pelo
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continente. Um gerente de uma filial da Endco estava esperando por eles, visto que a ilha
era propriedade da empresa.
Eles tinham reservado uma suíte especial no luxuoso hotel do lugar, e embora a
cama fosse enorme, Lynda lamentou que não houvesse um colchãozinho para livrá-la de
dormir ao lado do marido.
Kyle parecia alheio à atmosfera romântica do lugar.
– Acho que vou ficar com a cama esta noite – disse ele. – Tente compreender que
sou bem maior e mais alto. Acho que você dormiria muito bem no sofá.
– Que tal nos revezarmos? – Lynda nem se deu ao trabalho de mostrar o alívio que
sentiu ao notar que dormiriam separados.
– Ótimo. Bem, este casamento deverá ser classificado como uma experiência?
Ele conseguia se mostrar insensível. Ela não.
– Isso não é nenhuma brincadeira, Kyle – respondeu de modo contundente, os olhos
azuis demonstrando reprovação. – Você me forçou a este casamento. Sei que não me ama,
que nunca me amou. Você quer simplesmente salvar as aparências. Acho que por causa
dos negócios. Uma vez Sra. Kyle Endfield, sempre Sra. Kyle Endfield!
– Acertou: sempre Sra. Kyle Endfield. Por isso pode desistir de uma vez por todas
de qualquer idéia quanto a um novo divórcio.
– Mas você é mesmo um homem curioso! – ela lhe lançou um olhar de escárnio. –
Cumprirei a minha parte do trato, fique sossegado.
– Obrigado, querida. Então vai me ver nadando longa e exaustivamente na laguna.
Preciso jogar a energia em algum lugar, não é?
– Combinados, então.
Lynda procurou manter uma expressão calma, mas sentia-se apreensiva. Durante
quanto tempo ele cumpriria a palavra? Durante quanto tempo poderia confiar num homem
que a magoara profundamente? A guerra era antiga e amarga.
Durante quase uma semana eles desfrutaram de tudo que a ilha tinha a oferecer:
passeios de barco, pesca submarina, tênis, minigolfe, longas caminhadas, exploração' dos
jardins de coral e até observação de pássaros.
– Estou me divertindo muito! – comentou Kyle, parecendo muito bem disposto.
Livros Florzinha - 56 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
Lynda, por sua vez, sentia-se exausta a maior parte do tempo. À noite caía na cama,
enquanto Kyle ficava lendo. Mas, certa manhã, foi acordada muito cedo e, ainda sonolenta,
tentou sentar-se na cama.
– Que horas são? – perguntou, bocejando.
– Quase sete. Nós vamos visitar outra ilha esta manhã. Estive conversando com
Jeff, e ele-me disse que as condições atmosféricas são ideais.
E a carregou, de camisola e tudo, para o chuveiro. Mostrava-se disposto e bem-
humorado.
– Oh, por favor, Kyle – ela suplicou, temendo que ele abrisse o chuveiro frio.
– Quer que eu a ajude a tirar a camisola?
– Não! – exclamou, debatendo-se.
– Não me diga que está com vergonha! Ei, já reparou que esta camisola é
transparente? Posso até ver através dela!
– Você não devia estar olhando!
– Falemos sobre o nosso contrato de casamento – ele disse, o corpo pressionando
contra o dela.
– Saia daqui, Kyle – ela pediu, incapaz de se mover.
– Mas eu só estou ajudando, querida. Agora, fique quieta e seja uma boa menina –
ele puxou uma das alças da camisola e depois a outra.
Lynda ficou absolutamente imóvel, com medo de fazer qualquer movimento.
Sequer impediu que ele abrisse a torneira de água fria.
A viagem até a outra ilha foi agradável. Kyle estava bem-humorado, descontraído,
e, como sempre acontecia quando havia alguém presente, agia como se fosse o marido
mais feliz do mundo.
Além disso, a beleza do lugar serviu para acalmar os ânimos. Lynda superou a
ansiedade e vibrou com aquele maravilhoso mundo azul, feito de céu e mar.
– É lindo, não? – Jeff, o mestre do barco, falou alegremente.
– É maravilhoso! – Lynda nem reparou que o braço de Kyle estava sobre seus
ombros.
Naquela linda manhã podia-se ver grande parte dos recifes, que formavam uma
plataforma gigantesca sobre as águas límpidas e azuis. Tinha talvez nove quilômetros de
comprimento por setenta metros de largura e algumas partes desgastadas pela ação
Livros Florzinha - 57 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
constante das marés. O recife externo, parte principal do maior recife de corais do mundo,
estendendo-se num grande arco, envolvia quase setecentas ilhas.
– Aí está, Sra. Endfield. Eles têm trinta milhões de anos! – Jeff teve que gritar por
causa do barulho ensurdecedor das ondas do mar; que se chocavam contra a plataforma de
coral e laçavam no ar uma densa nuvem branca de gotículas.
– Sempre me lembrarei disso – murmurou Lynda, extasiada com aquele lindo
espetáculo.
Pássaros marinhos voavam por toda parte, e ela se sentiu minúscula diante daquele
imenso mundo azul.
Então voltaram para dentro do anel formado pelo recife, e o mar se mostrou
novamente calmo e sereno. A água estava tão clara que eles conseguiam ver os peixes
nadando. Outras ilhas, cor de jade, apareciam a distância, todas cercadas por lindas praias
brancas.
– Este é um dos lugares mais lindos do mundo! – Lynda abriu os braços, radiante.
– É muito difícil encontrar outro mais bonito! – disse Jeff sorrindo, fitando-lhe o
rosto.
Ela estava corada e seus cabelos esvoaçavam ao vento. Jeff conhecia Kyle desde
que este tinha dois anos de idade, mas essa era a primeira vez que via a esposa dele. E
estava encantado.
Kyle era um excelente surfista, talvez o melhor da ilha, mas Lynda continuava a
tomar aulas com o instrutor do hotel. Era emocionante deslizar sobre as ondas e ela gostava
tanto disso que logo se tomou a melhor aluna da turma.
Naquela tarde a brisa dava ao mar uma falsa impressão de calma, e embora o
instrutor já lhe houvesse falado sobre as situações potencialmente perigosas, Lynda achou
que conseguiria manobrar sozinha a prancha.
De repente a brisa suave virou ventania e as ondas começaram a ficar maiores. Ela
tentou voltar, mas viu que se distanciava cada vez mais da praia.
Onde estavam as outras pranchas a vela? Onde estavam os barcos? Não era possível
que ninguém tivesse reparado nela. Além disso, havia muita gente tomando banho de sol
na praia. Kyle estava conversando com o gerente, no edifício principal. Se ele viesse à
praia, como havia prometido, não poderia deixar de notar que ela estava sendo arrastada
para o alto-mar.
Livros Florzinha - 58 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
Mas que tola tinha sido! Ela, que sempre se orgulhara de seu bom senso! Pensou
em abandonar a prancha e nadar, mas não tinha tanta energia assim, não venceria toda
aquela distância. E o pior era que estava se afastando cada vez mais...
Finalmente, sem, alternativa, ela se atirou no mar, abandonando a prancha. Apesar
do calor, sentia frio. Sempre adorara o mar, mas agora tinha medo daquelas enormes ondas
que quase a cobriam. Continuou nadando; nada mais lhe restava fazer.
Já estava exausta, quase desmaiando, quando uma lancha veloz surgiu ao longe.
– Ali... naquela direção! – Kyle apontou, tenso.
– Sim senhor.
Philip Hunt, o instrutor de surfe, percebeu que ele estava transtornado. Mudou a
direção da lancha e olhou para Kyle, que já tinha pulado no mar, nadando rapidamente na
direção da esposa.
– Graças a Deus! Obrigado, senhor! – exclamou Phil, aliviado.
Kyle alcançou Lynda, que respirava com esforço, tossia e estava pálida. Mas em
seu rosto não havia sinal de pânico.
Phil levou o barco para perto deles. Não se atrevia a falar. Aqueles eram os
Endfield, os donos da ilha, e quase tinham passado por uma tragédia.
Kyle ergueu Lynda nos braços e Phil a içou para bordo.
– A senhora está bem, Sra. Endfield? – ele perguntou com voz quase desesperada.
Ela tentou assentir corajosamente, mas seu corpo estava tremendo. – Onde está o
cobertor? – perguntou Kyle.
– Aqui, senhor – Phil sentia que as forças o abandonavam.
Kyle enrolou o cobertor em volta do corpo da esposa e a pegou no colo, abraçando-
a.
– Leve-nos de volta à praia – disse, e Phil obedeceu sem pestanejar.
Livros Florzinha - 59 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
Às três da madrugada Kyle ainda estava olhando para o jardim tropical. O luar
coroava os coqueiros e havia sombras ao longo dos magníficos arbustos de hibiscos. Ele
estava sem sono.
– Kyle?
A voz de Lynda soou tensa, e ele se virou. Viu-a respirar de modo arfante e gritar.
Aproximou-se dela e a sacudiu; foi só aí que Lynda se deu conta de que tinha tido
um pesadelo.
– Está tudo bem, querida... eu estou aqui.
– Oh! – ela o olhou, assustada. – Eu estive sonhando!
– Sim, queridinha, e também esteve gritando.
– Acho que foi o susto. Sonhei com as dores, o pânico...
– Para falar a verdade, você se manteve admiravelmente calma. Tem certeza de que
não estava tentando se afogar?
– Ora, que brincadeira sem graça! Que horas são?
– Três da madrugada.
– E por que você ainda não se deitou? – perguntou. Sentia-se atordoada e cansada.
– Eu pensei em ficar de olho em você.
– Salvou a minha vida, Kyle. Nunca vou esquecer isso.
– Você pensou em terminar com ela, não pensou?
– Não seja absurdo! – apesar de estar zonza, ela ficou perplexa com a severidade da
expressão dele. – Eu cometi um erro, é tudo. Pensei que tivesse nascido para ser sereia em
vez de uma simples mulher.
– É verdade mesmo? – ele ainda a estava fitando com intensidade.
– Oh, Kyle! – ela murmurou, desesperada. – Claro que é!
Livros Florzinha - 60 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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Livros Florzinha - 61 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
– Nem podia: ele lhe fez tantos elogios que você pensou que fosse uma campeã!
Você tem jeito para isso, mas ainda não está preparada para enfrentar o mar sozinha. É
preciso muita prática.
– E bom senso. Por favor, não seja severo demais com Phil– ele pediu. – Ele ficou
muito assustado.
Lynda jamais veio a saber o que Kyle disse a Phil Hunt, mas pelo menos ele não foi
despedido. Quando ela teve permissão para descer praia naquela tarde, Phil estava na água,
ensinando esqui aquático um de seus alunos.
– Acha que poderíamos ir até Luana, Kyle? – ela perguntou com ar sonhador. –
Parece uma ilha tão linda, ali sozinha...
– Para ser franco – Kyle respondeu, secamente –, acho que é romântica demais. A
maré está alta e quase todos os barcos estão fora. Correríamos o risco de ficarmos sozinhos
lá.
– Mas podemos ir assim mesmo?
– Não me olhe assim com esses lindos olhos azuis!
– Vamos ver se conseguimos um barco.
– Eu remarei, se for preciso – disse ele, suavemente.
Livros Florzinha - 62 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Oh, é complicado demais – ela evitava olhar o marido. Vamos apenas apreciar
este... este isolamento. Vamos fingir que somos estranhos, está bem?
– Oh, é mesmo? – ele se aproximou e ela saiu correndo.
– Temos que tomar cuidado com esta ilha!
– Então vamos contorná-la e conhecê-la melhor. Não deve demorar muito.
Lynda ficou um pouco espantada quando ele a alcançou e segurou-lhe a mão, mas
então se deixou envolver pelo velho encantamento e esqueceu do mundo.
Capítulo VI
Livros Florzinha - 63 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
– Onde está vovô? – perguntou ele enquanto sua mãe lhe agarrava
desesperadamente as mãos.
Lynda mal foi notada, pois a preocupação com sir Neville era maior que qualquer
outra coisa. Ela percebeu que os tios de Kyle tinham uma expressão grave e suas esposas
fumavam um cigarro após o outro. Havia muitos estranhos pela casa. Christine estava
chorando, descontrolada, e era consolada por Olívia, que ergueu a cabeça e fuzilou Lynda
com o olhar.
“Estou aqui de novo!”, ela parecia dizer. “Não pensou que fosse se livrar de mim,
pensou? Faço parte da família, e aqui estou para prová-lo!”
Lynda cumprimentou a rival com um gesto de cabeça e Kyle, como se pressentisse
que ela precisava de apoio, soltou as mãos da mãe e a abraçou.
– Vou subir para ver vovô, Lynda. Venha comigo.
– Ela não deve! – Anthea exclamou prontamente. – É você que seu avô quer ver!
– Vamos, Lynda – o braço de Kyle apertou os ombros da esposa.
– Mas, querido, ele pode ficar transtornado! – implorou Anthea.
– Pelo que vocês me dizem – disse Kyle gravemente –, vovô está além das
condições de ficar transtornado. Lynda é minha esposa. Nós vamos juntos.
Christine, que estivera sentada numa poltrona, levantou-se de repente, afastando a
mão protetora de Olívia. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar e sua pele
manchada.
– Quem pensa que é, Kyle Endfield? – gritou. – Estivemos todos aqui sentados,
aterrorizados, esperando por você, que chega e diz que vai cuidar da sua esposa?!
O olhar de Christine gelou Lynda até os ossos, mas Kyle não se alterou; segurou
com força os ombros da irmã e disse:
– Às vezes acho que você nunca vai crescer, Christine.
– Oh, não diga isso, Kyle – ela suplicou. – Você não pode acha que vovô queira ver
Lynda!
– Pois ele vai nos ver juntos – respondeu ele em tom áspero. – Não sei quais são os
motivos que você tem para não gostar de Lynda e não faço questão de saber, mas digo uma
coisa: se quiser que eu continue sendo seu amigo, acho bom aceitar minha esposa.
– Isso mesmo!
Livros Florzinha - 64 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
Ralph Beresford, médico particular e velho amigo de sir Neville, entrava e saía do
quarto. Quando viu Kyle e Lynda, veio apressadamente na direção deles.
– Oh, graças a Deus que vocês chegaram! Ouçam, ele... não viverá até o
amanhecer.
– Não posso acreditar!
– Nem eu – o médico tentava acalmá-los. – Ele sempre pareceu tão invencível e
poderoso que nos fez esquecer de que também é um simples mortal.
– Entre você primeiro, querido – Lynda olhou para o rosto tenso do marido,
notando a tristeza que havia nele. – Esperarei aqui.
– Boa menina! – o Dr. Beresford lhe deu uns tapinhas carinhosos no ombro.
Havia alguma coisa nos modos de Lynda que pareceu tranqüilizar Kyle, pois ele se
inclinou e beijou-a no rosto. Então entrou no quarto do avô.
– Vocês chegaram em tempo – o Dr. Beresford disse a Lynda. – Sir Neville estava
determinado a não morrer até ver Kyle. Isso é extraordinário! Ele já devia estar morto, mas
não está. Nunca teria resistido se não fosse por Kyle, que sempre foi o neto preferido.
Cerca de dez minutos depois, Kyle voltou para buscar Lynda.
– Vovô não consegue mais falar. Ele está indo embora depressa. De mãos dadas, os
dois caminharam até perto da enorme cama.
Lynda ficou pasmada ao ver aquele homem invencível reduzido a uma frágil figura
de cera. Lágrimas lhe assomaram aos olhos, e uma delas caiu em cima da mão do velho
homem.
– Consegue me ouvir? – ela murmurou.
– Claro que consegue – a voz de Kyle estava tão tensa como o corpo. – O que quer
que você tenha pensado, Lynda, vovô sempre a admirou.
Lynda tocou a mão imóvel do velho com delicadeza e aqueles olhos azuis se
voltaram para ela, cheios de luz. Isso foi confortador. E, num gesto de reconciliação, ela se
curvou sobre o velho homem e o beijou nas têmporas.
– Ele aquiesceu! – disse Kyle com orgulho, admirado com a força de vontade do
avô.
Livros Florzinha - 65 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
Sabrina no. 295
Sir Neville, reduzido a um estado lastimável por causa do forte derrame, assentiu
com um gesto de cabeça.
– Vou deixá-los sozinhos agora – Lynda saiu rapidamente do quarto e topou, no
corredor, com os braços abertos do médico.
– Pronto, querida. Essas cenas são terríveis, não é? Jamais me acostumarei a elas, e
Neville sempre foi meu amigo. Kyle tem sorte de ter você para preencher a grande lacuna
que vai haver na vida dele. O velho o criou, sabe... desempenhou um papel duplamente
importante: de avô e de pai. Neville não se incomoda que eu elogie Kyle. Ele é tudo que o
avô queria que fosse. E... bem, Neville conhecia as próprias falhas. Magoava as pessoas o
tempo todo, mas você sabe melhor do que eu que Kyle é diferente, tem bom coração.
Momentos depois Kyle veio até a porta, e a expressão de seu rosto fez com que o
médico entrasse apressadamente no quarto. Lynda foi até a porta aberta, achando
intolerável constatar aquilo que já sabia: sir Neville estava morto.
Livros Florzinha - 66 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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empertigado, em pé, ao lado do neto preferido e de uma mulher bonita e sorridente, cujos
cabelos loiros estavam encobertos por um véu de noiva: Lynda.
“Essa sou eu?”, perguntou-se ela, admirada. “Essa mocinha inocente sou eu?”
Tinha sido impossível pensar em montar uma casa. Kyle vivia ocupado, presidindo
reuniões e voando por todo o vasto império da família, de modo que os velhos e
complicados problemas permaneciam. Joel continuava a agir como um opulento playboy,
como se não conhecesse o significado da palavra luto.
– Mamãe, você pode se sentir muito triste – disse ele a Anthea –, mas eu não sinto
absolutamente nada. Vovô não ligava a mínima para mim, e eu também pouco me
importava com ele. Isso é tudo.
– Como pode dizer uma coisa dessas? – Protestou Anthea. – Seu avô o amava.
Amava todos nós.
Christine, por sua vez, parecia ter a intenção de continuar a hostilizar a cunhada,
pelo menos quando Kyle não estava por perto. Lynda' logo percebeu que Kyle era a única
pessoa no mundo com quem Christine parecia ser capaz de se relacionar. A grande verdade
era que ela, nem bonita nem talentosa, se fechara num mundinho pequeno e mesquinho.
Tinha poucos interesses, quase nenhum amigo e uma passividade que chegava a irritai.
Tudo que tinha era dinheiro, e bastante, a ponto de cegar algumas pessoas, que a
procuravam por causa da riqueza. A única amiga que nunca parecia abandoná-la era
Olívia, mas mesmo assim Lynda duvidava das verdadeiras intenções da rival: afinal o pai
dela havia investido boa parte de sua fortuna num ambicioso projeto que não dera certo.
Para continuar a viver no luxo agora, Olívia tinha que se casar com uma pessoa rica, e o
mais rápido possível.
– O único homem no mundo que representa alguma coisa para ela é Kyle!
Christine vivia repetindo isso para quem quisesse ouvir. Lynda, por exemplo,
sempre conseguia se manter calma; Joel muitas vezes respondia com alguma coisa
grosseira; Anthea, madrinha da moça, passara a encarar a afilhada de outra forma. Era
absurdo que Olívia arrastasse Christine para um desfile de modas, e comprasse metade da
coleção com o dinheiro de Christine.
– Assim não pode ser, minha filha! – dizia Anthea; desanimada. – Estou
começando a achar que Olívia está apenas usando você.
– E daí? – Christine respondia cinicamente. – Na verdade, eu me divirto muito com
Olívia e não me importo que ela gaste o meu dinheiro. Para que servem os amigos?
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Livros Florzinha - 69 -
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– Com sua licença, senhor, madame... – o garçom chegou com a entrada de frutos
do mar, croquetes de siri servidos com molho tártaro e fatias.de limão, e colocou os pratos
diante deles.
– Obrigada. Parecem deliciosos.
Scott se recostou na cadeira e esperou o garçom se afastar para prosseguir:
– Não é comum se colocar um jovem acima de diretores mais velhos.
– Eles não ficaram magoados com isso, Scott – Lynda se apressou em assegurar. –
Seria muito difícil não dar a Kyle o que lhe era devido. Ele é o homem certo para o cargo,
e foi só por isso que assumiu a presidência das empresas.
– Certamente – Scott concordou em tom meio seco. – Sir Neville não lhe teria dado
atenção se ele não fosse brilhante. Sabe, nunca entendi esse velho. Acho que a família não
deve ter tido momentos agradáveis. Afinal, ele só parecia ter olhos para seu marido.
– Mas não se pode culpar Kyle por ser bem-sucedido – disse Lynda com leve
reprovação. – Joel, por exemplo, poderia ter escolhido a carreira que quisesse. Ele não
precisava entrar no mundo dos negócios. Não houve nenhuma pressão para que fizesse
isso.
– Mas devem ter esperado muito dele. Quero dizer, os Endfield têm uma vasta
organização, estão praticamente em todos os ramos e sempre precisam de mais gente.
– Joel não precisa trabalhar. Eis a sua tragédia.
– E Martin? – Scott pousou o garfo e olhou para ela de maneira penetrante. – Ouvi
dizer que ele foi transferido.
– Querem ver como se sai.
– É só isso mesmo?
– Ora, claro que sim – Lynda esperava que seu olhar fosse firme e direto.
– Perdão, querida, mas sei que você andava preocupada com ele.
– Bem, isso já passou – com uma falsa tranqüilidade, Lynda voltou a olhar para o
prato. – Ele me escreve a cada quinze dias.
– Mas ainda não teve nenhuma oportunidade de vir para casa.
– Não, isto é... Kyle acha que Martin precisa se esforçar mais, para ser bem-
sucedido.
– Isso é verdade! – Scott concordou. – Eu cheguei a ter uma idéia maluca, de que
você estava sendo forçada a se casar de novo com Endfield por causa de seu irmão.
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– Céus, o que será que ela está falando? – perguntou, Scott assustado.
– E quem se importa? – Lynda encolheu os ombros. – Não se preocupe com isso,
Scott.
– Estou mais preocupado com você.
– Kyle não é o rei Henrique VIII – ela assegurou. . – Ele não pode mandar cortar a
minha cabeça.
– Mas poderia lhe criar problemas.
– Por quê? – Lynda olhou-o, espantada. – Este é um encontro inocente num lugar
público!
– Eu estava segurando a sua mão...
– Oh, por favor, Scott! – ela procurou achar graça naquilo. – Ele não vai cortá-lo
em pedacinhos só por causa disso!
– Nunca se leva muito tempo para começar uma encrenca – disse Scott taciturno. –
O melhor conselho que posso lhe dar é que conte tudo a seu marido antes que essa...
bruxa... o faça.
Lynda soube, no momento em que viu um brilho estranho no olhar de Kyle, que
havia alguma coisa errada. Pensou, na hora, que dentro de mais alguns anos ele estaria
igualzinho a sir Neville!
– Você se arriscou um bocado hoje, não acha? – ele perguntou.
– Refere-se a eu ter dirigido o carro>?
– Refiro-me a você ter-se encontrado com Scott Walker.
– Eu não diria que isso seja arriscado – ela manteve o tom de voz e a expressão
serenos.
– Tenho que admitir que você gosta do perigo.
Em vez de explicar a situação calma e racionalmente, ela deixou que a irritação a
dominasse e falou, exaltada:
– O problema é que meu marido nunca tem tempo para mim! E depois, vem
reclamar porque almocei com um amigo!
– Você telefonou para Scott?
– Se eu telefonei para ele? – ela deu uma risadinha nervosa. – Acha que fico
telefonando para outros homens sempre que me dá na telha?
– Eu diria que resolveu fazer o que bem entendeu.
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– E por que não deveria? – ela foi até a cômoda e guardou cuidadosamente a pilha
de roupas que havia dobrado.
– Olhe para mim! – ele a seguiu e segurou-lhe os ombros com força.
– Por quê? – ela se virou, irritada, fitando-o diretamente. – Acho que não preciso
pedir permissão para falar com um velho amigo!
– Mas ele não é um velho amigo! – ele falou, sacudindo-a. – Ele queria se casar
com você!
– Quando eu era solteira. Ou melhor, divorciada.
– Ora, vamos! – disse ele com crueldade. – Com quem tem feito amor durante todas
estas semanas?
– Pare de me insultar desse jeito!
– Só quando souber a verdade!
– Largue-me! Você está esmagando os meus ossos!
– Eu gostaria mesmo.
– Foi Olívia quem contou, não foi? Ela telefonou para você, não telefonou?
– Preciso pedir à minha secretária para não completar as ligações dela.
– É mesmo? – os olhos de Lynda estavam brilhando. – Pensei que ela fosse sua
informante...
– Olívia não presta.
– Oh! Finalmente descobriu isso! – ela sentiu vontade de se atirar nos braços dele,
mas em vez disso bateu com seu pequeno punho no peito largo de Kyle. – Seja como for,
você acredita em tudo que ela diz.
– Eu conheço Scott Walker – disse ele muito calmo. – Sei que te ama. Você não
tem medo disso? Ou será que gosta?
– Você me assombra, Kyle! Quanta maldade!
– Não é maldade, é cuidado. Tenho intenção de conservá-la como minha esposa.
– Mas eu encontrei Scott por acaso!
– Você não telefonou para ele?
– Claro que não!
– Está bem, acredito em você.
– Muito obrigada!
– Por que está tão zangada? – ele a puxou para perto de si.
– Por que você está zangado?
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– Foi você quem fugiu uma vez, lembra? – havia uma expressão de fúria nos olhos
azuis. – Isso não faz com que um homem se sinta seguro.
– Kyle Endfield não se sente seguro? – ela falou, incrédula. – Acho que não
acredito nisso.
– Eu não vou brigar com você, Lynda.
– Quem está brigando?
– Você está estranha... O que há?
– Eu estava bem até você chegar. Olívia lhe telefona para fazer fofoca e você vem
correndo para casa, para bancar o ditador.
– E por que não? Um novo divórcio seria catastrófico.
– Isso é alguma piada? – ela começou a chofre.
– Lynda, não faça isso! Por favor...
– Solte-me! – ela levantou a mão e sacudiu-a, nervosa. Você é um ditador, Kyle!
– E que mais poderia ser, com o meu modo de vida? Será que não sente nem um
pingo de pena pelo tipo de vida que sou obrigado a levar? Não acha que quero me
encontrar com você para almoçar? Ir para o litoral e para as montanhas? Pensa que não
gosto de estar com minha esposa? Pois gosto, mas a minha vida tem sido um fardo desde o
dia em que nasci. Bastou abrir os olhos para descobrir que era rico. Não posso me livrar
desse fardo; dele depende o resto da família. Tenho a responsabilidade de manter intacto
tudo aquilo porque meu avô e meu pai lutaram tanto. E vou conservar tudo para o meu
filho.
– E quanto à mãe de seu filho?
– Desculpe-me se a deixei zangada, mas sabe como as pessoas falam. Todos, no
nosso círculo social, sabem sobre o nosso confuso casamento.
– Sabem que nos casamos por vingança?
Os olhos azuis dele brilharam.
– Eu estava disposto a fazer qualquer coisa para tê-la de volta. Assim como vou
fazer tudo para conservá-la.
As palavras pairaram no ar com o peso de uma advertência.
– Não sei por que você me quer, Kyle – as suas dúvidas incertezas se refletiram no
rosto dela.
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Capítulo VII
Livros Florzinha - 77 -
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– Só Deus sabe onde você bota tudo isso – disse Christine, com certo
ressentimento. Seus irmãos eram magros e elegantes enquanto sua vida era uma batalha
constante contra a obesidade.
– Está pálida esta manhã, querida – Joel sentou-se ao lado de Lynda e lhe dirigiu
um olhar prolongado, insolente. – Você e Kyle estão pensando em iniciar uma família?
– Não. Pelo menos até que tenhamos a nossa própria casa.
– Ainda está sonhando com isso? – Joel se inclinou para trás quando Sarah colocou
o prato diante dele.
– Não estou sonhando. Estou apenas ganhando tempo – a convivência fazia com
que Lynda não se importasse mais com os ataques de Joel.
– Não sei por que você não sossega – comentou Christine, irritada. – Como pode
esperar que Kyle vá embora e nos abandone?
– Sim – Joel apoiou, rindo amargamente. – Afinal, somos uma família um bocado
imatura. Simplesmente não conseguiríamos viver sem Kyle tomando conta de nós.
– Acho que vocês têm usado Kyle há muito tempo – disse Lynda calmamente. –
Afinal, ele não lhes deve nada.
– Mas que coisa horrível, querida! – protestou Anthea. – Será que é tão errado
dependermos de Kyle?'
– Você acharia muito fácil dirigir esta casa sozinha, Anthea. – replicou Lynda. –
Vocês precisam compreender a minha posição. Um casamento é um compromisso entre
duas pessoas e não com toda a família. Kyle e eu precisamos de uma casa só nossa.
Precisamos de intimidade. Quero ser dona de meu próprio lar. Vocês devem reconhecer
esse direito, não?
– Sim, eu reconheço –, disse Anthea desolada. – Aliás, querida; só para ver como
entendo o seu problema, olhe só o meu caso. Durante toda a vida sempre fiz tudo que
mandaram. Não posso nem me queixar por estar sozinha, por ser viúva. Eu me submetia
mesmo quando era uma jovem noiva. Esta família, como você diz, é muito boa em exigir
pagamentos. Vovô argumentava tanto que precisava de Richard, que construiria uma
grande casa onde todos pudessem morar... Claro que nos pressionou terrivelmente,
especialmente a mim, que permiti que ele levasse a melhor numa decisão muitíssimo
importante. O fato de ser esposa de um homem rico e nora de outro ainda mais rico tirava o
sentido de todas as coisas. Eu nada tinha além dos laços de família. Nada de decisões,
responsabilidades ou problemas para solucionar. Isso tudo era feito por meu marido e
Livros Florzinha - 78 -
Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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depois por meu sogro. Meu único propósito na vida sempre foi o de ter filhos e de estar
sempre apresentável. Eu não tive nem que criá-los. Vovô sempre ficava com Kyle e
deixava os outros dois de lado.
– Oh, por favor, Anthea! – Lynda estava sentindo pena dela.
– Claro que se tratava de outra geração. Os jovens evoluíram muito. As moças se
tomaram mais independentes e seguras, embora nós, mulheres, sempre tenhamos laços
emocionais muito fortes. Acho que os homens são capazes de viver em função de uma
carreira, mas a maioria das mulheres não conseguiria fazer isso. Sabe, eu era subserviente,
submissa... Compreendo isso agora e graças a você, que começou a lutar pelos seus direitos
desde o dia em que entrou nesta casa. Vovô me disse uma dúzia de vezes que você logo
cederia, mas estava muito enganado.
– Lynda não conseguiu ser bem-sucedida no casamento – Joel disse com malícia. –
Ela fracassou, ou será que não se lembra?
– Fomos nós que fracassamos! – Anthea silenciou o filho com convicção. – E o que
é pior, magoamos Kyle.
– Mas pensávamos estar fazendo a coisa certa! – uma onda de rubor estava se
espalhando pelas faces de Christine. – Quem era Lynda para entrar em casa e começar a
querer mandar? Para contrariar vovô?
– Enfrentando-o enquanto nos acovardávamos – murmurou Joel inesperadamente. –
É engraçado como nunca nos demos bem com vovô, por mais que tentássemos, Acho que
ele esperava que eu me tornasse alguma coisa, mas o Deus benigno que fez de Kyle o que
ele é e se esqueceu de mim.
– De mim também! – Christine falou com uma expressão colérica no rosto. – A
única coisa que consegui foi me formar cozinheira cordon bleu!
– O que é, no meu modo de pensar, um grande negócio – Lynda retribuiu o olhar
irritado. – Se eu fosse você, teria levado isso em conta.
– Oh, é mesmo? – Christine falou com desdém. – Como? Não esqueça que Emily, a
nossa cozinheira, foi treinada em Londres e em Paris. Ela trabalhava para os maiores
restaurantes antes de vovô lhe oferecer o emprego. Quem precisa de mim, com Emily por
perto? E eu não posso provar nada sem engordar quase um quilo!
– Isso é exagero, querida – disse Anthea suavemente. – E, agora que seu avô
morreu, estou certa de que Emily a deixará entrar na cozinha sempre que quiser.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Não é a isso que me refiro – disse Lynda calmamente, embora achasse quase
impossível fazer Christine entender. – Você é formada pela Escola Cordon Bleu de
Cozinha de Londres, certo?
– Tenho um diploma para provar isso.
– Então por que não aproveita os seus conhecimentos? Por que não abre a sua
própria escola? Ou então uma loja, se quiser, para vender os melhores utensílios e
equipamentos de cozinha? Você tem dinheiro para fazer isso. Tem os conhecimentos.
Christine ficou totalmente confusa.
– Eu jamais sonharia em deixar a nossa Christine atrás de um balcão – disse Joel de
modo pachorrento. – Ela nunca procurou ser agradável para ninguém. Exceto Olívia, que
procura cativar todo mundo para satisfazer os seus propósitos.
– Em todo caso, quando se casar com Blair, você vai ter vida própria – murmurou
Anthea de maneira apaziguadora.
– E se eu não me casar com Blair? – Christine perguntou secamente. – Você só
pensa em me casar!
– Christine, pelo amor de Deus!
– Acho que seria um ato de bondade encorajá-la e permanecer solteirona – Joel
pousou o garfo, a faca e então deu de ombros. – Enfrentemos os fatos, garota: nós somos
casos perdidos.
– Eu me lembro de Kenny Rosewall dizendo que você e Kyle poderiam ser os
melhores jogadores de tênis do mundo – Lynda virou a cabeça para olhá-lo. – O que
aconteceu com isso?
– Puxa, Lynda, estou assustado com você – falou Joel, parecendo mesmo muito
perturbado. – Não precisei fazer fortuna, meu bem. Ela foi feita para mim.
– Todo mundo precisa ter um pouco de orgulho próprio.
– Grande! Olhem só a benfeitorinha... Eu te adoro!
– É uma pena que vocês não compreendam o meu ponto de vista – Lynda meneou a
cabeça. – Tanto potencial para nada!
– Está bem, está bem! – exclamou Joel, irritado. – Então eu sabia jogar tênis. E daí?
Kyle era capaz de me vencer.
– Nem sempre – disse Christine.
– Oh, droga! Está bem, quase sempre – Joel resmungou, mal-humorado. – Em todo
caso, que importância tem? Eu só gostava de fazer alguma coisa direito.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Você fazia muitas coisas direito – disse Anthea. – O problema era que Kyle
sempre parecia fazê-las melhor. Em algum ponto da vida você desistiu de lutar. Sempre
achei que teria sido diferente se seu pai estivesse vivo. Kyle era um magnífico irmão mais
velho, mas nenhum irmão pode substituir um pai. Richard jamais teria permitido que você
desistisse, e os modos dominadores de seu avô sempre foram um tanto destrutivos.
– O beijo da morte na ambição! – comentou Joel com um sorriso tristonho. – Vovô
via o tênis como um “jogo muito divertido” e não como uma carreira para seus netos. De
qualquer forma, agora é muito tarde. Trinta anos não é uma idade apropriada para se
começar a praticar esportes. De forma profissional, claro.
Por sempre ter sentido pena dele, Lynda insistiu:
– Você é um jovem rico, e o fato de ter muito dinheiro por certo acarreta
responsabilidades e obrigações morais.
– Mas nós damos muita coisa a várias instituições de caridade, Lynda – ressaltou
Anthea com um brilho nos olhos azuis.
– Sei disso, Anthea – Lynda procurou recomeçar. – Se estou dando a impressão de
estar sugerindo coisas é porque gostaria sinceramente de ajudar. Ninguém pode negar que
vocês dependem muito de Kyle. Christine e Joel acabaram de falar sobre as suas
inquietações e, para falar com franqueza, eu mesma estou pensando no que poderia fazer.
Aliás, já fiz uma lista que pretendo discutir com Kyle. Todos nós temos que encontrar
alguma coisa que preencha a nossa vida, do contrário os anos se estenderão de uma forma
demorada e estéril. Acredito que Christine poderia e deveria usar as suas habilidades para
tomar as pessoas mais felizes. O mesmo ocorre com Joel. Existem muitas crianças
desamparadas esperando por uma orientação. Pensando bem, não vejo por que Joel não
possa construir um clube de tênis ou um complexo esportivo. Ele é tão bom em squash
como em tênis. Pode até fazer um centro onde se possa manter a forma. As pessoas estão
ficando cada vez mais interessadas nisso.
– Mas que idéia extraordinária! – exclamou Anthea.
– Por quê? – Christine e Joel perguntaram ao mesmo tempo, os rostos refletindo
desapontamento.
– Bem... – Anthea pareceu surpresa –, é só que achei a idéia um tanto curiosa. Joel
ensinando tênis... que loucura!
– Você acha que eu não seria capaz, mamãe? – perguntou Joel, irônico.
– Acho que você não gostaria de fazer isso durante muito tempo, querido.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Talvez você não me conheça direito – o olhar dele era desanimado. – Talvez não
acredite, Lynda, mas já cheguei a ter essa idéia. Só que estava com medo de dar errado. Eu
vivia assustado antes de vovô morrer. Talvez precise de uma boa terapia, sei lá.
– O mais importante, Joel – Lynda estendeu a mão e segurou-lhe o pulso –, é que
você precisa ser dono do seu próprio nariz. Afinal, tem muito para dar. Não falo em coisas
materiais, pois isso tem atrapalhado a sua vida. Vejo que às vezes você se considera um
inútil, incapaz de alterar o próprio destino. Sir Neville sempre os manteve como escravos,
mas agora ele não está mais aqui. Ninguém vai criticá-lo por tentar, Joel. Pessoalmente,
acho que você seria bem-sucedido. Você é um grande jogador e, se precisar de alguém
para ajudar a aumentar o prestígio do clube, Jake Petersen se encontra à disposição.
– Meu Deus, é mesmo! – a expressão de Joel mudou. – É possível que ele também
esteja pensando em fazer isso. Deve ter ganho muito dinheiro.
– Talvez ele precise de um sócio.
Joel quase pulou da cadeira.
– Vou telefonar para ele.
– Oh, pense bem nisso, querido – exclamou Anthea, como se no fundo não tivesse
confiança em Joel.
– Deixe-o ir, mamãe – Christine, que nunca fora muito chegada ao irmão mais
novo, parecia agressiva. – Joel não é burro, sabe? O que há de errado em ele ensinar tênis?
Lecionar é uma ótima profissão, e não um motivo de desdém. Ainda não notou que a única
hora em que Joel parece gostar de si mesmo é quando está numa quadra de tênis ou de
squash? Ele consegue vencer praticamente todo mundo por aqui, e, por estranho que
pareça, tem muito jeito com crianças. Lembra-se do pequeno Michael Campbell? Joel tinha
uma paciência infinita tentando lhe ensinar o jogo.
– Pensei que fosse porque os Campbell eram nossos convidados – retrucou Anthea.
– Quero dizer, pensei que ele estava tentando agradar seu avô. Que fosse esse o motivo.
– Está enganada, mamãe. Joel estava mesmo tentando ajudar o garoto. Percebeu
que ele tinha habilidade, mas era preciso saber usá-la. Você deve se lembrar de que
Michael nos telefonou, cerca de seis meses depois, dizendo que fazia parte de uma das
equipes da escola. Ele dava a impressão de estar dando todos os méritos a Joel.
– O que a está preocupando, Anthea? – perguntou Lynda com brandura, vendo que
a mulher quase afundava na cadeira.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Joel é tão inconseqüente – disse ela, preocupada. – Ele pode até trabalhar bem
durante um dia, mas no seguinte é capaz de ir às corridas. Ele não tem a mesma aplicação
de Kyle, nem mesmo a sua energia. Uma dia quer fazer alguma coisa positiva, e no outro
pode desapontar todo mundo. Há anos que faz isso. É por isso, que não ponho muita fé
nele.
– Então deixe que ele se arrebente – disse Christine. – Você sabe, mamãe, é aquela
velha história de nadar ou se afogar. Acho que eu também me sinto insegura quanto a Joel,
mas creio que ele merece uma oportunidade. Nunca quis fazer as mesmas coisas que Kyle
ou vovô faziam, e até hoje tem sido um playboy. Deixe que ele tente se levantar. Talvez
seja até bem-sucedido, quem sabe? Seria maravilhoso se conseguisse alguma coisa. Pense
no que Lynda sugeriu para mim, por exemplo. Há um pouco de bom senso no que ela
disse. Falarei com Olívia a esse respeito. Ela sempre me dá bons conselhos.
– Dá? Isso é novidade para mim! – exclamou Anthea. – Eu não quero que fique
contra Olívia. Afinal, ela é minha afilhada, mas o seus defeitos estão se manifestando cada
vez mais. Ela não é sincera, leal. Contou-me algumas coisas desagradáveis e eu a
surpreendo refutando o que disse.
– Sobre o quê? – Christine olhou para a mãe com curiosidade.
– Sobre umas pessoas que encontrou por acaso. Olívia tem o hábito de tirar
conclusões apressadas.
– Ela de fato exagera um pouco – Christine se levantou rapidamente para não ouvir
mais aquelas críticas. – Acho que vou fazer o que sugeriu, Lynda. Duvido que isso me
transforme numa pessoa feliz, mas sei que não posso continuar sem fazer nada.
– Mas você vai se casar com Blair! – Anthea olhou, preocupada, para a filha.
– Não, mamãe – Christine balançou a cabeça, tristonha. – Blair é um bom amigo,
mas eu não o amo. Acho que ele também não me ama. Tratava-se apenas de uma idéia de
vovô, para se livrar comodamente de mim. Se e quando me casar, espero que seja com um
homem tão louco por mim quanto Kyle é por Lynda.
– Você acredita nisso? – as palavras escaparam de Lynda, rápidas e incontroláveis.
Christine franziu a testa.
– Para falar a verdade, fiz muitas coisas das quais devo me envergonhar.
– Christine, querida... – Anthea começou a se levantar da cadeira para tentar deter a
filha, que se tinha afastado apressadamente. – Ela não estava chorando? – perguntou a
Lynda.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Acho que não – Lynda também estava com os olhos cheios de lágrimas. – Em
todo caso, acho melhor a deixarmos sozinha.
– Ela sempre se manteve distante de mim – Anthea se queixou. – Acho que sou um
fracasso.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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– Em todo caso, podemos gostar do jantar – Lynda se levantou. – Devo usar este
colar maravilhoso hoje?
– Pode usá-lo até na cama – Kyle lhe lançou um olhar que lhe provocou arrepios. –
Vou buscar os seus brincos no cofre.
Ela se virou rapidamente.
– Você os guardou?
– Claro! Eles me fazem recordar a época em que eu era obcecado por uma mulher.
– E essa época já passou?
– Você sabe a resposta. Mas nunca diz nada, Lynda. Nem palavra.
Ela estava em pé no hall, esperando por Kyle, quando viu Joel subir correndo a
escada.
– Céus! – exclamou ele de maneira teatral –, que visão!
– Você gostou? – ela rodopiou e sorriu.
– Querida, você é a mulher mais linda do mundo! – ele se aproximou rapidamente e
a abraçou. – Quero lhe contar algumas, novidades. E você é responsável por elas.
– Bem, então conte:
– Jake Petersen e eu estivemos conversando durante a maior parte do dia.
– E ele está interessado em montar um clube?
– Melhor do que isso! – Joel tinha perdido o ar apático e apresentava agora um
entusiasmo de menino. – Ele adorou a idéia. Sozinho, não teria capital suficiente, mas
comigo como sócio as coisas vão andar. Amanhã vamos olhar alguns terrenos. Jake sabe
tudo sobre zoneamentos, licenças e coisas desse tipo. Para falar a verdade, ele está tão
entusiasmado quanto eu. Como ex-campeão, teve muitas ofertas para trabalhar no exterior
como instrutor, mas ama este país e quer ficar. Nós vamos fornecer os campeões do futuro.
O melhor de tudo é que ele me aceitou sem mais nem menos. Não porque o meu
sobrenome é Endfield, embora eu achasse que isso fosse ajudar, mas porque sou muito
bom jogador e adoro o tênis.
– Eu, sei que sim, Joel – disse Lynda suavemente. – Estou muito contente.
– Você sempre me detestou. Vamos, confesse.
– Não – ela respondeu, meneando a cabeça. – Nunca o odiei. Só achava que estava
no caminho errado.
– Você é muito generosa, Lynda. Sempre foi. Nós é que somos egoístas.
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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Chama que não se apaga (No alternative) Margaret Way
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independente. Como seu avô, você tem tanta autoridade... ou poder, creio... que não
percebe a influência que exerce sobre as pessoas em sua volta.
– Está tentando me dar um motivo para a sua rebeldia?
Lynda ruborizou diante do tom seco.
– É estranho, não acha? Eu pensava que você me amava.
– Então, como prova disso, você tentou me destruir.
– Eu jamais poderia fazer isso, Kyle. Nenhuma mulher poderia.
Ele sorriu.
– Deveria compreender um pouco mais o seu próprio poder, querida. Eu esperava
mais de você do que de qualquer outra pessoa no mundo. Assim, pode imaginar a minha
desilusão quando me levou ao tribunal para o divórcio. E até hoje não me disse o motivo.
Por isso cheguei até a pensar que estivesse com problemas emocionais. Creio que temos
uma vida sexual perfeita, mas você não quer falar comigo.
– Por favor, Kyle, não fale mais nisso!
– Isso, tranque a sete chaves aquilo que arruinou o nosso casamento!
– Acho que não vou conseguir ir a essa festa, Kyle. A menos que você pare com
essa conversa.
– Está bem – disse ele asperamente, o rosto muito sério. – Faremos uma trégua
temporária, embora eu goste de vê-la chorosa. Fica muito doce, sabia?
– Você me despreza, não?
– Lynda... Lynda! – ele soltou o volante do carro e segurou o braço dela com força.
– Você vai deixar uma marca na minha pele, Kyle.
– Para o inferno com as marcas! Para o inferno com você, meu tormento!
– Acho que jamais o entenderei!
– Então sinta-se grata pelo que está sentindo agora! – ele soltou-lhe o braço e suas
feições se tornaram duras como granito.
Ao chegarem à mansão dos MacMillan, os dois passaram a ser os alvos das
atenções.
– É maravilhoso ver você de novo, querida – Hugh MacMillan, o anfitrião e
magnata do mercado imobiliário, famoso por seus corajosos empreendimentos, tomou as
mãos de Lynda e beijou-a nas faces. – Kyle deve viver num paraíso, com uma esposa tão
encantadora.
Lynda simplesmente sorriu e não disse nada.
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– Bem, essa é uma luta que ele não vai vencer – houve um brilho de cólera nos
olhos dela. – Vocês não conseguiram sobreviver à primeira tentativa e ouvi dizer que as
coisas, agora, não estão melhores.
– Christine lhe disse isso?
– Bem, Christine me conta tudo. Não sabia? Além disso, Kyle tem trabalhado até
tarde durante várias noites seguidas.
– E está querendo dizer que ele às vezes fica com você?
– Às vezes – Olívia assentiu com um sorriso. – Não é maravilhoso sermos todos tão
civilizados? Quero dizer, aquela história de que o mocinho encontra a mocinha e os dois
vivem felizes para sempre é pura bobagem, como nós duas sabemos. O fato é que eu não
posso desafiá-la na sua condição de esposa de Kyle, nem você pode me desafiar na minha
condição de antiga amante dele.
– Está dizendo que vocês têm brincado de amantes?
– É a força do hábito – disse Olívia suavemente. – Não acredita que um homem
possa amar duas mulheres ao mesmo tempo?
– Kyle não ama você, Olívia.
– Acho que ama. Ou pelo menos precisa de mim. Do contrário por que ele sempre
me procura?
– Se fosse verdade, eu estranharia. E tem mais: como é que posso saber se tudo que
você me conta não passa de mentiras imperdoáveis?
– Christine já deve ter-lhe explicado tudo, não?
– De fato – Lynda falou calmamente. – Mas você pode tê-la induzido a isso.
Christine lhe dava o apoio do qual precisava, e você sempre teve grande influência sobre
ela.
– Mas isso não bastaria para fazê-la mentir sobre uma coisa tão séria.
– E a infidelidade é mesmo uma coisa séria?
– Querida, eu não teria reagido de maneira melhor! – Olívia, fitou-a com olhos frios
e compadecidos. – Suponho que nós mulheres, pobres criaturas, temos que aceitar o fato de
não podemos ser tudo para os nossos homens. Kyle sente ternura por você, a paixão. Você
tem uma espécie de sensualidade inocente que até eu consigo perceber, mas é simples
demais. Eu gostaria de discutir isso detalhadamente, mas agora não temos tempo. Se
conseguir apenas amar Kyle e me aceitar, então começaremos a nos entender; mas, se não
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conseguir, espero que desta vez tenha o bom senso de se afastar de uma vez por todas.
Todos nós sabemos que o velho lhe deixou bastante dinheiro. Desta vez deve ser fácil.
– Só que Kyle se importa muito em preservar o casamento, ao passo que liga muito
pouco para você. Sinto muito, Olívia.
A reação dela foi imediata:
– Não sinta pena de mim! – exclamou veementemente. – Você sabia que não posso
ter filhos? Foi por isso que Kyle não pôde se casar comigo!
– Talvez isso seja uma benção – Lynda respondeu com certa dificuldade. – Não sei
como você se vê, Olívia, mas eu a acho muito cruel. Talvez tivesse havido em nossas vidas
um episódio do qual eu gostaria de me esquecer, mas não creio que Kyle tenha voltado
para você. Talvez eu esteja mais velha e mais sensata, mas, se mesmo que o que está me
contando fosse verdade, eu teria simplesmente que suportar isso.
– Mas você não suportava antes! – Olívia agarrou-lhe o braço, o rosto assumindo
uma expressão de desespero.
– Não vai haver nenhuma separação, Olívia – disse Lynda com decisão. – Kyle e eu
estaremos juntos até que a morte nos separe.
Capítulo VIII
A festa só terminou bem depois da meia-noite e, uma vez no carro, Lynda deixou-
se afundar no banco estofado de couro e fechou os olhos.
– Está cansada? – Kyle a olhou de soslaio, deixando a luz do interior do carro acesa
para ver-lhe o rosto.
– Um pouco.
– Você fica linda de olhos fechados, sabia?
– E quando estão abertos?
– Aí parece um vale na primavera.
– As suas palavras sempre me fascinam.
– E o meu corpo a conquista – ele acrescentou, de maneira meio áspera. – O que
aconteceu durante as últimas horas?
– Por que pergunta?
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– Você está diferente de novo. Não consigo entender essas mudanças de humor.
– Você consegue entender duas mulheres?
– O que quer dizer com isso? – eles estavam parados no estacionamento e ele lhe
dirigiu um olhar desconcertado.
– Eu gostaria que você não tivesse essas conversas prolongadas no jardim com
Olívia. Gostaria que não andassem de mãos dadas e que não permitisse que ela o beijasse
avidamente, como se fosse um fruto proibido.
Inesperadamente, Kyle riu.
– Mas é isso que eu sou, menina, um fruto proibido, não percebe? – os faróis de um
carro os iluminaram e ele saiu do estacionamento para a avenida arborizada. – Você
precisa compreender Olívia.
– E você compreende?
– Eu a conheço desde criança.
– Algum dia pensou seriamente em se casar com ela?
– Sim. Como pensei em me casar com outras, mas isso foi antes de conhecer você.
Acho que isso é obsessão.
– E como você chamaria o seu relacionamento com Olívia?
– Ora, deixe disso! – havia tanta zombaria na voz dele que Lynda se sentou direito
e abriu os olhos.
– Responda à minha pergunta! – insistiu.
– Meu amor, não consigo acreditar que esteja com ciúmes. Pensei que fosse a única
mulher no mundo que estivesse livre dessa emoção terrível e destruidora.
– Não estou com ciúmes – ela disse, o que era verdade. Estava, isto sim, sentindo-
se machucada, sangrando.
– Sinto muito se Olívia a incomodou. Ela tem feito esses joguinhos há tanto tempo
que eu nem ligo mais.
– Você estava ligando. No jardim, eu vi. A luz estava iluminando o seu rosto e, o
que quer que estivessem conversando, não era trivial.
– A maior parte do que conversamos foi sobre você.
– Sobre a melhor maneira de se livrarem de mim?
– Isso é impossível. Você concordou com os termos do casamento.
– Eu não concordei com conspirações com outras mulheres.
– E eu não concordei com almoços com Scott Walker.
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Livros Florzinha - 93 -
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neto. Naquela época, ela servia. Mas eu nunca a amei, pelo que sei do amor. Não havia
nenhum êxtase, nenhuma agonia, nenhum milagre na minha vida. Olívia me foi dada de
presente, e eu talvez tivesse aceitado, mas só que um dia me vi apaixonado por você.
– Você foi amante dela?
– Vai me fazer pagar por isso para sempre?
– Você deve levar em conta a minha dor!
– Mas por quê? – eles estavam entrando pelo portão da mansão.
– Puxa, eu tinha quase trinta anos quando me casei com você. Já tinha saído com
muitas mulheres. Eu era livre, e elas também. Alguns homens talvez se sintam atraídos por
virgens, mas as mulheres ainda preferem um homem experiente... e por que não? Quando
uma mulher oferece o corpo, este precisa ser tratado com ardor e compreensão. Você não
pode achar isso ruim. Sabe, eu poderia continuar nessa vida, mas perdi o interesse até de
olhar para outra mulher.
Lynda manteve a cabeça inclinada para trás.
– Essas outras mulheres... Olívia e as outras... fizeram parte da sua vida antes de
nos casarmos?
– Céus, Lynda, você fala como se eu fosse um sujeito sinistro! – ele exclamou com
rispidez. – No que me diz respeito, o casamento é um contrato sagrado, se quiser, um
compromisso. Foi você quem o rompeu.
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Joel logo descobriu que era realmente um Endfield. A família quase não o via mais,
mas ninguém se queixava. Anthea estava feliz; vivia dizendo que o filho havia se
encontrado.
Lynda o viu certa manhã, quando ele estava correndo para o carro, e perguntou:
– Você está contente?
– Estou, Lynda.
– Fico feliz:
– Sei que está feliz, queridinha – disse ele, animado como se estivesse comovido. –
Sabe que isso talvez nunca tivesse acontecido se não fosse por você?
Christine estava no topo da escada, olhando para os dois e vendo-se obrigada a
admitir a verdade dessa afirmação. Sentia-se perseguida pelos próprios pensamentos. O
que precisava era de um confessionário, mas estava convencida de que nenhum deus a
perdoaria.
Lynda e Anthea estavam conversando sobre um jantar festivo que pretendiam dar.
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– Acho que não sobrevivi, para falar li verdade – as feições de Anthea ficaram
sérias. – Acho que parei de viver. De certo modo, uma parte de mim morreu com Richard.
Mas eu tinha você, Joel e Kyle; lembranças vivas de meu marido. Kyle, por exemplo, tem
os meus olhos, mas é como Richard.
– Não é como vovô?
– Nunca! – disse Anthea, enfática. – Ele tem todos os poderes de seu avô, mas tem
a mente e o corpo harmoniosos de Richard. Kyle é um homem bom. O querido vovô não o
era e nunca teve a pretensão de ser. Ainda assim, a seu modo, ele foi muito bom para nós.
– Lamento discordar.
– Mas você sempre achou difícil concordar com o que quer que fosse! – disse
Anthea e se levantou, transtornada.
– Mamãe? – Christine estendeu a mão, suplicante, mas Anthea, alta e flexível, se
afastou.
– Pode deixar. Eu estou bem.
– Por que é que tudo que pretendo dizer parece fugir ao meu controle? – perguntou
Christine, amargurada, a Lynda.
– Porque você é infeliz – disse Lynda. – As pessoas infelizes tendem a agredir, e
machucam a si próprias tanto quanto machucam as outras.
– Meu Deus, é mesmo! – murmurou Christine, estremecendo. – Você alguma vez já
sentiu vontade de magoar alguém, Lynda?
– Kyle, às vezes – ela respondeu, sorrindo. – Você sabe como é a história... a gente
sempre magoa a pessoa que a gente ama...
– Você nunca lhe contou mentiras maldosas?
– Não.
– Falou com muita convicção – disse Christine gravemente.
Respondeu de sopetão.
– Eu não gosto de magoar as pessoas, Christine. Espero jamais ser capaz de contar
uma mentira destrutiva, mas suponho que isso possa acontecer quando as emoções se
tomam fortes demais.
– Eu contei uma mentira maldosa sobre meu próprio irmão – disse ela
corajosamente. – O irmão que adoro.
– E isso a está incomodando muito?
– Sim. Tem-me incomodado há tempos, mas só passei a admitir isso recentemente.
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Livros Florzinha - 99 -
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acho que Joel já está tomando as suas providências. Tudo vai ser como deveria ter sido
desde o começo.
– Estou tão contente por você, Lynda! – Christine também se aproximou da cama. –
Enquanto viver, eu não vou me esquecer do que lhe fiz.
– Acho que todos nós vamos esquecer – Lynda estendeu a mão e Christine a
segurou.
– Você só viu o pior que existe em mim, Lynda, mas agora vai ver o melhor. O meu
sobrinho, ou sobrinha, vai ter uma tia sensata e afetiva.
– Que tal o chá agora? – disse Anthea alegremente. – Todas desejamos a felicidade
e, depois de muitos tropeços, acho que chegamos a ela.
Lynda estava em sua velha casa, que agora se encontrava bem conservada.
Pretendia dá-la a Martin. Estava distraída, olhando o jardim, e não notou um carro parando
diante da casa.
Ficou perplexa ao ver Scott Walker se aproximando, parecendo preocupado.
– Lynda... Ah, estou feliz em ver que está bem! – ele exclamou aliviado,
segurando-lhe as mãos. – Agora me conte o que houve.
– Não houve nada, Scott. Por quê?
– Recebi o seu recado – e olhou de maneira penetrante para os olhos arregalados
dela. – Vim imediatamente.
– Eu não mandei nenhum recado, Scott.
– Mandou, sim – ele, afirmou, com um sorriso. – Dizia que eu deveria encontrá-la
aqui na casa. Que você tinha uma coisa importante para me dizer.
– Sente-se, por favor, Scott – ela se virou rapidamente, sentiu-se zonza e também se
sentou. – Alguém andou pregando uma peça em nós dois.
– Que tipo de peça? – perguntou Scott asperamente, segurando as mãos de Lynda. –
Você ficou muito pálida!
– Eu estou bem.
– Querida, você está branca. E parecia tão... tranqüila quando cheguei.
– Quem lhe deu esse recado?
– Foi a minha secretária. Eu estava no outro telefone, e a mulher não quis esperar.
Quando mencionou o seu nome, pensei que fosse você.
– Então foi... uma mulher...
Fim