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ROMANCE EM VENEZA

The Italian's Blackmailed Mistress

Jacqueline Baird

Tradução: Poliana Meto

Max Quintano sabe alcançar seus objetivos. Ao encontrar Sophie em


dificuldades financeiras, oferece ajuda, mas com algumas condições.
Ela não permitirá a ruína de sua família, e ele usará de todos os meios para
tê-la de volta... e fazê-la pagar pelo que lhe fez...

Digitalização: Ana Cris


Revisão: Crysty
— O que pensa que está fazendo? — Sophie pediu uma explicação,
tentando, sem sucesso, retomar a respiração e se libertar do abraço de
Max.
— Estou experimentando a mercadoria. Preciso saber se compensa livrar seu
pai das dívidas.
— Acha mesmo que ficarei com você só para livrar meu pai de problemas?
— Você deve conhecer bem seu pai. Ele tem apenas alguns dias até a reunião
dos credores, quando deverá pedir falência.
Vê-la com outro homem na noite anterior fizera seu sangue ferver, assim
como testemunhar aquilo que ela se tornara. Imaginar um russo gordo se
deliciando com seu corpo, ao qual ele, Max Quintano, apresentara os
prazeres carnais, lhe despertara uma volúpia sexual carregada de
possessividade...

PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l.


Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou
em parte.
Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é
mera coincidência.
Copyright © 2006 by Jacqueline Baird
Título original: THE ITALIAN'S BLACKMAILED MISTRESS
Originalmente publicado em 2006 por Mills & Boon Modem Romance
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CAPÍTULO UM

Maximilian Andréa Quintano, que os amigos chamam Max, saiu do banheiro


vestindo apenas short de seda. Ficou tonto só de se inclinar para vestir as
calças. Precisava de ar fresco e foi para a sacada da suíte. Gostaria que a
dor de cabeça passasse. Mas fora culpa sua ter exagerado ao comemorar
seu aniversário de 31 anos há dois dias. Passara a data na Toscana com o pai,
a madrasta Lisa e familiares, embora tivesse uma cobertura em Roma e uma
casa em Veneza.

Depois fez o exame médico anual exigido pelo seguro, e voltou a Roma. Devia
viajar no dia seguinte, pois prometera ao pai que cuidaria dos negócios da
família em seu lugar. Mas, antes, tinha encontrado seu melhor amigo,
Franco, e outros colegas do tempo da universidade para festejar. Franco
lembrou que sua esposa o esperava na Sicília. E como devia ir para lá,
resolveu acompanhá-lo à ilha e continuariam a beber mais um pouco.

Ainda se sentia enjoado quando pegou um táxi às 4h30 da manhã para o


Hotel Quintano, onde o aguardavam.

Seu avô construíra o primeiro hotel na ilha antes de mudar para a Toscana.
Por isso, se tornou tradição da família passar lá as férias no mês de agosto.
Nos últimos dez anos, Max raramente passara alguns dias na Sicília. Deixara
seu irmão Paulo e outros parentes encarregados de continuar o costume.

Franziu as sobrancelhas ao lembrar da morte trágica de seu irmão mais


velho, em um acidente de carro, há quatro meses. Quando Paulo,
entusiasmado, passou a gerenciar os hotéis dos Quintano, Max ficou livre
para fazer o que gostava, e por isso lhe era muito grato.

Muito aventureiro, perspicaz e vigoroso, formou-se em geologia e foi para a


América do Sul. Ao chegar, ganhou uma mina de esmeraldas em uma partida
de pôquer. Abriu a Companhia Mineradora MAQ, que expandira nos últimos
nove anos para explorar jazidas na África, Austrália e Rússia. Tornou-se um
multimilionário por mérito próprio. Mas, como tivera que reconhecer meses
antes, nem a maior fortuna resolve todos os problemas.

Triste e chocado com a morte de Paulo, oferecera-se para ajudar o pai. Ele
lhe pediu para acompanhar o gerenciamento do hotel. Para não quebrar a
tradição, devia ficar hospedado por alguns dias, já que sua cunhada Anna e
sobrinhas pequenas ainda estavam muito abaladas para viajar.

Ficou feliz por ter atendido o pedido, pois precisava mesmo de uma folga.
Massageou as têmporas com a ponta dos dedos. Dio! Nunca mais, jurou.
Quando chegou, antes do amanhecer, conseguiu instruir o recepcionista
noturno, sabe-se lá como, a não anunciar sua chegada. Nada nem ninguém o
incomodaria...

Max saiu da sacada e foi para a sala de estar. Precisava urgente de um café
bem forte. Então, parou bruscamente.

Por um momento, achou que alucinava.

Uma silhueta feminina e alta, carregando flores nos braços, caminhava em


sua direção. Seus cabelos louros, amarrados em um longo rabo-de-cavalo,
emolduravam um rosto de beleza sublime. Podia apenas fantasiar como eram
seus seios. Sua cintura era realçada por um cinto de couro que prendia com
perfeição a saia preta, que ia até pouco acima dos joelhos. Observava o
sedutor contorno de seus quadris, e suas pernas... A excitação súbita em sua
virilha disse tudo. Era deslumbrante.

— Ciao, bella ragazza — sussurrou.

Sophie Rutherford fora encarregada, pelo gerente do hotel, de verificar a


suíte antes que o ilustre dono chegasse. Assustou-se ao ouvir a voz grave. E,
ao deparar-se com o homem forte parado diante dela, deixou as flores
caírem de sua mão.

Paralisada com o susto, o encarou perplexa.

No seu rosto belo e másculo, espessos fios de cabelo preto caíam sobre os
olhos castanhos.

O corpo, bronzeado e musculoso, tinha ombros largos. Os poucos pêlos


escuros no peito continuavam pela barriga lisa e desapareciam dentro do
short. Que homem colossal, pensou. Arregalou os olhos esverdeados,
admirada com seu vigor masculino.
Até que ele começou a vir em sua direção...

— Oh, nossa! — exclamou, ao perceber que ele não devia estar ali. E gritou:
— Fique onde está! Vou chamar os seguranças.

O grito agudo ressoou como uma navalha nos ouvidos de Max. Fechou os
olhos por um segundo. A última coisa de que precisava era receber
advertências. E só então se deu conta de que ela não falara em italiano.

Max abriu os olhos devagar. Mas antes de conseguir responder, viu-a sair
pela porta. Ouviu a chave girar na fechadura. Mal pôde acreditar, mas a
louca o trancara mesmo no quarto. Sacudiu a cabeça, ainda atordoado, e
chamou o gerente Alex pelo telefone. Pediu o café de que tanto precisava e
se vestiu rápido. Fez a barba e voltou para a sala.

Uma camareira recolhia as flores, e Alex pousava uma bandeja de café em


cima da mesa. Era impossível não perceber o riso que tentava conter ao
cumprimentar o velho amigo.

— Max, é ótimo vê-lo novamente. Então você é o ladrão gigantesco que


assaltava a suíte — falou Alex, soltando uma gargalhada.

— Muito engraçado, Alex. É ótimo vê-lo também. Agora me diga: quem era
aquela maluca? — perguntou Max, bebendo um gole de café antes de se
deixar cair no sofá.

— Sophie Rutherford — respondeu Alex, sentando ao lado dele. — O pai


dela, Nigel Rutherford, é dono da agência Elite, de Londres. Gerenciam
acordos com vários de nossos clientes europeus. Perguntou se sua filha
podia trabalhar aqui por alguns meses, enquanto está de férias da
universidade. Estuda russo e chinês, mas também fala italiano, francês e
espanhol muito bem. E quer praticar seus idiomas. Aceitei, porque poderia
nos ajudar com os nossos clientes estrangeiros. Desde que está conosco,
provou ser muito competente. Gosta de trabalhar, e está sempre disposta a
resolver qualquer problema.

— Se você diz ser tão boa assim, acredito — Max brincou com o amigo. —
Mas desconfio que a beleza dela contribuiu muito para sua decisão.

— Pode-se dizer que sim. Mas não me deixo influenciar por um rosto bonito
como você. Afinal, sou bem mais velho.
— Mentiroso — falou, com um sorriso safado no rosto ao relembrar da
jovem. — Qualquer homem com sangue correndo nas veias repara na beleza
dela, e eu gostaria de conhecê-la melhor.

— Sophie não é garota para você — Alex disse com uma expressão séria. —
Tem só dezenove anos. E sou o responsável por ela, já que o pai não está
aqui. Por mais que goste de você, não acho que seja o que espera. É do tipo
estudiosa e que serve para casar, e não para ter apenas um caso.

Max não se ofendeu com o comentário. Alex era como um tio, e o conhecia
muito bem. Por mais que amasse mulheres, e fosse amado por elas, não
pensava em casar tão cedo. Isso se chegasse a tanto. Após a morte de
Paulo, seu pai começara a lhe dar indiretas para pensar no assunto, já que
não havia um herdeiro para continuar o nome da família Quintano. Mas não
cogitava sossegar. Ainda queria viajar pelo mundo, e fazer o que gostava. E
como possuía uma fortuna que nem sabia como gastar, a família de Paulo
poderia ficar com a parte da herança a que tinham direito. A última coisa de
que precisava era uma esposa.

— É uma pena! — falou com ironia. — Ela é maravilhosa. Mas não se


preocupe, velho amigo, prometo não seduzi-la. Bom, agora podemos falar de
negócios?

Mais tarde, Max caminhava entre as árvores da praia privativa do hotel.


Escalou um promontório rochoso até uma pequena gruta. Quando era menino,
adorava saltar dessas rochas. E fora ali que começara a se interessar por
geologia. Hoje, um mergulho certamente iria ajudá-lo a relaxar e clarear a
mente.

Foi quando reparou nos vistosos cabelos louros que se destacaram na


paisagem. Estreitou os olhos castanhos ao reconhecer a jovem que vira em
seu quarto. Observou-a se desenrolar da toalha.

Max mostrava sinais óbvios de entusiasmo masculino enquanto a admirava. E,


em silêncio, chegou perto. Seu biquíni rosa era muito simples comparado aos
que já vira, mas seu corpo era dos mais fascinantes. Uma mecha de cabelos
luminosos caía sedosa sobre um de seus seios, e seus olhos estavam
fechados. Suas pernas eram exatamente como imaginara: compridas, finas e
sensuais. A pele era macia como seda, com um bronzeado leve. Não
conseguia tirar os olhos dela, e já estava se arrependendo da promessa que
fizera a Alex de não tentar nada.

Sua sombra se projetou sobre ela ao se aproximar, fazendo-a abrir os olhos.

— Sophie Rutherford, não é? — falou devagar. E ela se levantou em um


salto. Estendeu a mão para cumprimentá-la e sorriu. — Sou Max Quintano.
Não consegui me apresentar esta manhã. Perdoe-me se a constrangi de
alguma forma.

— Sophie, sim...— Ficou corada e apertou a mão dele. — É um prazer


conhecê-lo, sr. Quintano, mas eu o tranquei em seu quarto. Eu é que devia
me desculpar.

Max sentiu o leve tremor em seus dedos. Olhou fundo em seus lindos olhos
esverdeados. Estava muito envergonhada, mas não conseguia esconder a
forte atração que sentia. Sua ressaca sumiu na mesma hora. E disse,
sorrindo:

— Por favor, me chame de Max. Não precisa se desculpar, a culpa foi minha.
Acho que a assustei. Mas está muito quente para discutir sobre isso. Notei
que está na minha praia favorita. Não queria assustá-la mais uma vez, como
fiz hoje. Por favor, fique e veja que minhas desculpas são sinceras. E que
não sou um assaltante gigantesco.

Sophie estremeceu, e quase soltou um gemido. Largou a mão dele e disse:

— Alex lhe contou o que falei? Que vergonha!

Nunca antes se sentira tão atraída por um homem. Ao encontrá-lo na suíte,


agira como uma boba, parecendo uma criança assustada.

Agora, querendo melhorar a primeira impressão que causara, defendeu-se


com um sorriso irônico:

— Mas, convenhamos, você é mesmo bem alto.

— Tenho 1,98m. Sophie, não precisa se envergonhar. Seu rosto parece em


chamas. Quer dar um mergulho para refrescar? — sugeriu Max. E, sem
esperar pela resposta, disse: — Vamos ver quem chega primeiro na água?

Óbvio que ela correu atrás dele. Não duvidou disso nem por um segundo,
afinal as mulheres sempre o perseguiam.
Ao chegar no mar, Max se virou e a respingou. Viu-a revelar um belo sorriso,
e olhá-lo com um jeito travesso antes de se abaixar e fazer o mesmo.

Começaram a brincar um com o outro, o que não ajudava a aplacar o


crescente desejo de Max. Imaginava se ela não chegara a perceber que,
quando se inclinou, seus seios balançaram para cima e para baixo e quase
pularam do top.

Max não conseguiu mais resistir e a pegou no colo.

— Tentando me respingar, não é? Você vai ver só, mocinha — declarou, e a


carregou até ficar com água pelas coxas.

— Não se atreva — gritou, às gargalhadas. Envolveu os braços com mais


força no pescoço dele.

— Eu faria qualquer coisa para tê-la em meus braços, Sophie — Max


brincou.

Encararam-se por um bom tempo, até que a brincadeira acabou dando lugar
a um crescente desejo, feroz e primitivo.

Pela primeira vez, Sophie se sentia atraída sexualmente por um homem. A


sensação de um dos braços de Max segurando suas coxas, enquanto o outro
passava pelas suas costas, fazia subir um frio pela barriga e acelerava seu
pulso. Os dedos dele tocavam a lateral de seu seio. E o mundo parecia ter
desaparecido. Olhava-o como se estivesse hipnotizada. A respiração dos
dois se intensificava conforme o desejo aumentava.

Abriu os lábios, por instinto, ao imaginar o beijo daquela boca carnuda.

E no instante seguinte Sophie estava debaixo d'água, sentindo que engolia


um oceano. Levantou-se, tentando recuperar o fôlego, e viu Max observá-la
como se estivesse arrependido.

— Precisamos ir mais devagar. Vou nadar um pouco até o penhasco. A gente


se vê depois. — E Max mergulhou como um golfinho, produzindo uma trilha
suave em cada braçada.

Na verdade, parecia mais um tubarão do que um golfinho, reconsideraria


Sophie no futuro. Nada em seus dezenove anos a preparara para um homem ;

como Max Quintano. Sua mãe morrera quando ela tinha onze anos, e seu pai
a mandara para um internato para meninas. Quando chegara aos treze,
espichara para 1,80m, e começara a ter vergonha de seu corpo. Tinha poucos
amigos e, nas férias, ia para casa em

Surrey, Inglaterra. Quando seu pai ia trabalhar, ficava sozinha com a


empregada Meg.

Só ganhara autoconfiança no último ano da faculdade. Descobrira, para sua


alegria, que ser alta não a impedia de fazer amizades, e chegara a namorar
alguns rapazes.

Mas nunca sentira os arrepios na espinha e os calafrios na barriga que os


sorrisos e toques provocadores de Max lhe causavam.

Voltou para a areia e sentou na toalha. Desnorteada e com uma expressão


sonhadora, via-o nadar já bem distante. Podia sentir ainda os braços fortes
a erguendo, o toque dos dedos na pele fervente de seu seio... É paixão ou só
atração?, cogitava sem tirar os olhos dele.

Max deu meia-volta e começou a nadar em direção praia. O exercício


exaustivo conseguiu esfriar seu ânimo. Não ficava com uma mulher desde
seu retorno da Austrália, após saber da morte de Paulo. Os últimos quatro
meses de celibato o haviam deixado entusiasmado com a graciosa Sophie.

Sentira que ela esperava que ele a beijasse quando a carregou nos braços.
Era óbvio que desejava muito saborear seus lábios, e muito mais. Mas Alex
tinha razão ao dizer que Sophie era muito nova. E Max resolveu honrar sua
promessa.

Saiu, então, da água, afastando os cabelos dos olhos, orgulhoso de si mesmo


por ter agido corretamente. Reparou que Sophie ainda estava na praia. Foi
na direção dela, e a viu se endireitar e sorrir. De repente, suas boas
intenções sumiram. O que havia de errado em paquerar uma bela jovem
enquanto estivesse na Sicília por algum tempo?

Aproximou-se e estendeu a mão.

— Venha, Sophie. Já pegou sol demais. Vou acompanhá-la até o hotel. —


Quando levantou, Max lhe deu um beijo rápido e suave no rosto. Ouviu-a
suspirar forte, e antes que passasse vergonha, disse: — Deixe-me mostrar
as passagens secretas do labirinto.
Duas semanas depois, Sophie não sabia se estava completamente
apaixonada, pela primeira vez. Seu coração palpitava forte sempre que via
Max Quintano, e o som da voz dele a deixava sem fôlego. Era muito amável e
sedutor. Os convites para nadar ou caminhar em suas horas de folga a
levavam ao paraíso. Sempre aceitava, como um cãozinho feliz. Não eram
encontros de verdade, mas a deixavam ansiosa e extasiada. Em todas as
vezes, ele se comportou como um perfeito cavalheiro. Não fez nada além de
beijá-la na bochecha, embora Sophie esperasse mais.

Mas, dessa vez, a convidara para jantar em um restaurante em Palermo.


Enfim, um encontro de verdade. Tinha certeza de que seus sonhos se
realizariam naquela noite. Sophie saiu do quarto do chalé, que dividia com a
recepcionista-chefe do hotel, sua amiga Marnie. Como queria impressionar
Max com um vestido chique de seda que comprara naquela tarde, foi até a
sala. Deu um rodopio, e perguntou:

— O que você acha, Marnie?

— Bom, deixe-me adivinhar... Vai encontrar Max Quintano?— Marnie


zombou.

— Sim — Sophie respondeu radiante. — Mas como estou?

— Está fabulosa! Ele vai cair de joelhos. Mas sabe no que está se metendo?
Já lhe avisei que é mulherengo. Até mostrei aquele artigo na revista,
lembra? Sei como se sente, mas ele é mais velho, refinado e bem mais
experiente. Você é nova, ainda vai se formar. Não jogue tudo para o alto por
causa de um casinho amoroso, porque é só o que acontecerá entre vocês.

Sophie ficou tensa.

— Eu sei, já ouvi os rumores, mas tenho certeza de que muitos são


exagerados.

— Acredite no que quiser, isso é típico de adolescente — disse Marnie com


frieza. — Só estou avisando para você ter cuidado. Ele tem a vida de um
multimilionário, nunca fica no hotel mais do que um final de semana. Max só
está aqui agora porque seu pai e familiares não puderam vir após a morte do
irmão dele. Mas eu soube que logo chegarão. E, como sempre acontece, ele
logo vai embora.
— Você não tem como saber isso com certeza — disse Sophie, sentindo o
chão sumir embaixo dos pés só de pensar na partida de Max.

— Não tenho certeza, mas ele não se relaciona bem com o pai. Sei que se dá
bem com o resto da família, mas a pessoa mais importante é sua meia-irmã
Gina. Todos dizem que têm um caso há anos. Alguns acham que ela tolera o
jeito mulherengo do irmão porque pensa apenas na carreira de médica e não
quer casar. Mas estão dizendo que o pai Quintano os proibiu de ter algo
além do relacionamento normal entre irmãos. As circunstâncias, porém,
mudam, e Max sempre foi dono de si. Se decidir casar, tenho certeza de
que ficará com Gina. Então, já está avisada. Não faça bobagem.

A campainha tocou. A alegria de Sophie desapareceu por instantes, até


abrir a porta e vê-lo. Estava maravilhoso e sexy, vestido com elegância em
um terno sob medida. Seu coração, já palpitante, quase saltou do peito.

Max abriu um sorriso quando a porta se abriu. Mas, ao vê-la, ficou


boquiaberto.

Suas mechas louras estavam presas em uma trança no alto da cabeça. A


maquiagem leve salientava seu rosto delicado e seus fabulosos olhos verdes.
Seus seios firmes e as curvas femininas eram modelados pela seda de cor
esmeralda do vestido apertado, que ia até as coxas. Só de olhá-la, Max ficou
excitado.

— Está maravilhosa, e, por incrível que pareça, já está pronta — disse,


pensando que também estava pronto para possuí-la naquele instante.

— Sim.

Perdeu o fôlego ao vê-la sorrir. Devia lembrar que prometera não seduzi-la,
mas o problema é que Sophie o fascinava por diversos motivos. Era
divertida, muito inteligente para a idade e uma ótima companhia. E seu corpo
o enlouquecia. Sabia que não conseguiria se segurar. Talvez não devesse tê-
la convidado para sair.

Sophie não notou a apreensão de Max no trajeto que fizeram de carro, nem
quando segurou seu braço ao entrarem no restaurante. Estava excitada
demais a para perceber qualquer coisa.

Max pediu champanhe. Com as taças cheias, levantou a sua e disse:


— Brindemos a uma bela jovem e uma bela noite. Sophie corou ao ouvir a
palavra noite. Referia-se

ao que ela esperava que acontecesse? Finalmente ele pretendia algo mais?
Beijá-la e fazer amor? Pensou que sim, quando seus olhares se cruzaram e
eles tocaram as taças.

Sophie deixou-o fazer o pedido. No decorrer do jantar, após vários goles de


champanhe, sentia-se cada vez mais enfeitiçada. Conversaram sobre
trivialidades, e ele sempre sorria e tocava sua mão. Ofereceu-lhe um pouco
de uma comida que ela nunca experimentara, e se deleitava com suas
reações. Ao final da refeição, ela sabia que estava completamente
apaixonada.

— Foi um ótimo jantar! — Sophie suspirou alegre enquanto Max pagava a


conta.

A refeição estava perfeita, mas foi uma tortura para ele. Precisou de muito
esforço para evitar tocá-la demais. Devia estar louco quando pensou que
poderia apenas paquerá-la. Ao saírem do restaurante lotado, quase não se
conteve. Envolveu a cintura de Sophie e sentiu o quadril mover-se
sensualmente encostado na sua coxa, quando a puxou para seu lado.

— Fiquei muito feliz por ter me trazido aqui. — Olhou sorrindo para ele.

Max sentiu a tensão percorrer seu corpo ao ver os dentes brancos se


destacarem do tom bronzeado da pele.

Não era nenhum masoquista. Precisava parar ou corria o sério risco de não
se controlar, o que nunca lhe acontecera. Tirou o braço da cintura dela para
abrir a porta do carro, mas seu coração não parou de palpitar. Era tão linda
e ingênua, e sequer tinha o juízo de esconder o que sentia.

— O prazer foi meu. — E fechou a porta. Retomou o controle ao sentar-se


ao volante e ligar o carro. Ao dirigir pelas estradas sinuosas de volta para o
hotel, deu uma olhada em Sophie e percebeu que não devia ficar zangado
com ela. Ela não tinha culpa de ser tão sedutora e estonteante, pensava ao
estacionar o carro na frente do chalé.

Sophie sentiu que o humor de Max não estava mais divertido e íntimo como
no jantar. Olhou para ele quando desligou o carro, tentando descobrir o que
fizera de errado.

— De volta ao lar... — disse, como uma tonta. Corou ao perceber que não era
requintada ao ponto de atraí-lo. Mas Max lhe provou que estava errada.

— Ah, Sophie — disse, com a voz rouca. — O que faço com você?

Viu o sorriso sensual em seus lábios quando envolveu-lhe a cintura e a puxou


contra o peito. Murmurou baixinho alguma coisa, que ela não entendeu, mas
nem se importou, quando seus lábios se tocaram. Ondas supersônicas se
propagaram por todos os nervos de Sophie. Moveu a língua de forma
sedutora por entre os lábios entreabertos de Max, a saborear sua boca
doce e molhada. Sem perceber, envolveu-lhe o pescoço com as mãos. Seu
beijo era muito melhor do que esperava. Fechou os olhos e se entregou às
delícias daquele abraço. Sentiu-o acariciar-lhe um dos seios. E quando seu
polegar roçou-lhe o mamilo coberto pela seda, já totalmente rijo, uma onda
selvagem de desejo percorreu suas veias.

— Dio! Como eu a quero... — Max suspirou. Sophie correu os dedos por entre
os cabelos pretos e lisos. Levada por uma voracidade crescente, enrascou
sua língua na dele com um afinco cada vez maior.

Max a ouviu gemer, e viu paixão naqueles olhos esverdeados. Sabia que ela
era sua. Quase cedeu à tentação, afinal não era de ferro e não costumava
ignorar os próprios anseios. Mas lembrou-se da promessa feita a Alex. Devia
se controlar.

Inclinou-a gentilmente no assento e saiu. Ainda tentava recuperar o fôlego


ao contornar o carro e abrir a porta do passageiro. — Venha, cara.

Sophie, ainda confusa, o viu estender a mão. Precisou de um esforço enorme


para controlar o tremor em suas mãos e aceitar a ajuda para se levantar.

Olhou para o chalé e para Max, ainda consumida pelo desejo e sem saber o
que fazer ou dizer.

Percebendo sua hesitação, com um dos braços ele envolveu sua cintura e a
levou até a porta. Virou-a nos braços e olhou sua expressão ainda perplexa.
Resolveu facilitar as coisas para ela.

— Obrigado pela noite adorável, Sophie. Não vou entrar. Preciso fazer
algumas ligações para o exterior, sabe como é, fusos horários diferentes. —
Deu um beijo leve na testa dela e disse, arrependido:

— Vou embora amanhã, mas quem sabe não possamos jantar fora quando eu
estiver aqui?

Max a desejava, e desconfiava de que não conseguiria largá-la se ficasse


com ela. Não acreditava em amor, porém era astuto para reconhecer que o
fascínio e descontrole que sentia poderiam facilmente perturbar seu
sossego.

— Obrigada, gostaria muito — murmurou Sophie.

Ele percebeu como estava apaixonada, e também magoada. Por mais que a
desejasse, sabia que Alex tinha razão, não era garota para ele. Observou
como tratava os hóspedes, empregados e as crianças, que cuidava com
prazer sempre que lhe pediam. Era carinhosa e todos gostavam dela.
Merecia ser feliz, e ele era cínico demais para acreditar no "felizes para
sempre". Gostava de ter apenas casos, sem compromisso, e Sophie era muito
nova e romântica para isso. Não era o momento certo. Talvez daqui a alguns
anos, quando estiver formada e ele ainda estiver solteiro. Nunca se sabe.

— Boa noite, minha doce Sophie.

Como sabia que não conseguiria resistir em tocá-la, contornou-lhe os lábios


com o dedo, fazendo-a sorrir.

— Assim está bem melhor. Garotas lindas como você deviam sorrir sempre
— disse com delicadeza e um olhar enigmático.

Abriu a porta do chalé e a guiou para dentro com a mão nas costas dela.
Sophie era tentadora e sensível demais para seu próprio bem, e nem todo os
homens se controlariam como ele.

— E tenha juízo! — Max a alertou, sentindo-se frustrado. Ligou o carro e


partiu. Já tinha decidido. Viajaria para a Rússia para resolver alguns
problemas com o gerente de operações naquele país. Pelo que lembrava, a
recepcionista da empresa, Nikita, era uma amante bem criativa. Era muito
rico, e sua confiança arrogante o convencera de que havia muitas mulheres
bonitas interessadas em dormir com ele. Não precisava de Sophie, e logo a
esqueceria.

Sophie viu Max dar as costas e se afastou. Esperava que olhasse para trás,
como um sinal de que gostava dela. Mas não o fez.

Mais tarde, Marnie encontrou-a enroscada no sofá, com os olhos vermelhos


de tanto chorar. Deu sua opinião.

— O que esperava após um encontro? Uma declaração de amor? Anime-se,


garota. Max Quintano sabe que pode ter a mulher que quiser. Você foi
apenas uma diversão enquanto esteve aqui. Mas, nunca se sabe. Podem sair
de novo, se ele voltar algum dia. Caso isso aconteça, não esqueça do que
falei. O máximo que se pode esperar dele é um envolvimento breve.

As palavras de Marnie não a ajudaram a se sentir melhor, mas ao menos a


fizeram encarar a realidade. Era a primeira vez que se sentia atraída por
homem, e tinha logo que ser por um homem mais velho, um magnata
mulherengo como Max Quintano. Onde estava com a cabeça? Reconheceu
que seu erro fora confundir uma paixão passageira de adolescente com amor
verdadeiro, e agora devia superar isso. Ao menos não dormira com ele...

Mas pensar nisso não a confortava nem um pouco.

CAPÍTULO DOIS

Sete anos depois

Numa tarde de sábado, Sophie estacionou seu carro velho na calçada, pegou
sua mala e suspirou aliviada ao entrar na casa. Timothy, seu irmão, correu
em sua direção pelo corredor. Largou a mala no chão, pegou-o nos braços e
deu-lhe um beijo.

— Olá, querido — disse, carregando-o até a sala de decoração refinada.


Encontrou sua madrasta, Margot, e seu pai. Logo sentiu o clima tenso, e
imaginava qual seria o problema.

— Ah, ainda bem que chegou — Margot disse. Não. Antes se fala um "olá,
tudo bem", pensou

Sophie com frieza. Sentou no sofá, ainda com Tim nos braços.
— Devíamos estar honrados por gastar seu precioso tempo para visitar seu
irmão. Para onde vai viajar dessa vez?

— Veneza, uma conferência mundial de três dias sobre recursos naturais.


Mas só preciso sair amanhã à noite, então posso cuidar desse homenzinho. —
Sophie abraçou Timothy com força e acrescentou: Por que não saem esta
noite e ficam em um hotel até amanhã? Não me importo.— Pensou que isso
faria Margot sorrir.

Duas horas depois, Sophie estava sentada na cozinha imaculada da casa


onde nascera. Preparava a comida de Tim e refletia sobre como sua vida
mudara.

Cinco anos atrás, após sua formatura na universidade, passou um ano


viajando pelo mundo. Ao voltar, descobriu que seu pai namorava a nova
secretária, que engravidou. Assim que casaram, Margot despediu a
empregada, Meg, para desgosto de Sophie. Quatro meses depois, nasceu seu
irmãozinho adorável.

Era louca por Tim, e só por sua causa fazia o que a madrasta queria. Mas
aceitou com prazer o seu pedido de última hora para tomar conta dele.
Queriam ir a um baile beneficente em um hotel cinco estrelas de Londres.

Percorreu os olhos pela cozinha ultramoderna. Margot reformara


completamente a casa da família em Surrey, e Sophie mal podia reconhecê-
la. Ao menos conseguira comprar um apartamento com vista para mar em
Dove com a herança deixada pela mãe. Por ser uma lingüista brilhante, tinha
uma lista enorme de clientes corporativos e particulares, e já viajara para
diversos países. Não gostava muito das viagens, mas não eram freqüentes.

Nas oito semanas anteriores, acompanhara uma delegação comercial por


toda a China. E, antes, havia passado seis semanas na América do Sul. Fazia
meses que não ia para casa.

Não é que não gostasse de Margot. Na verdade, m deviam ter muito em


comum — afinal ela era apenas dois anos mais velha. Mas não era o caso.
Margot gostava da vida na alta sociedade. Freqüentava os melhores
restaurantes e os lugares mais badalados. Mas, para seu crédito, por mais
que amasse o glamour e as roupas de grife, era uma boa mãe, e não deixaria
Tim com qualquer pessoa.

Por mais que amasse o irmãozinho, Sophie ficaria aliviada ao partir para
Veneza na tarde seguinte.

O clima entre seus pais continuava o mesmo de quando voltara. Estavam


enfrentando problemas. Mas não iria esquentar a cabeça com isso, a menos
que afetasse Tim.

Tinha as próprias preocupações. Voltaria à Itália após sete anos. Memórias


indesejáveis de seu único amor, e de como fora idiota, vieram à tona.
Completamente apaixonada por Max Quintano, ficara muito magoada ao
saber que ele fora embora. Mas quando voltou, na semana seguinte, ela não
hesitou um segundo em dormir com ele. Após perder a inocência, aceitou
prontamente o pedido de casamento e concordou em não contar a ninguém
até que ele pedisse sua mão ao pai.

Ficou louca de felicidade por dois dias, até descobrir o casamento aberto
que ele tinha em mente.

Um sorriso sarcástico despontou em seus lábios carnudos. Aprendera uma


lição, não se podia confiar em homens. Confirmava isso cada vez que
percebia como agiam nas conferências, distantes da esposa e dos filhos.
Perdeu a conta de quantos casados a paqueraram. Por isso, desenvolveu um
olhar frio e a capacidade de fazer comentários mordazes.

Na noite da terça-feira seguinte, Sophie entrou no saguão de um hotel cinco


estrelas em Veneza. Estava acompanhada por Abe Asamov. Era um russo na
faixa dos cinqüenta anos, corpulento e calvo, e tão atarracado que mal
alcançava seus ombros.

Muito inteligente, adorava fomentar a reputação de ser cruel. Mas apenas


Sophie sabia como era devotado à família. No seu último ano de faculdade,
quando passara as férias na Rússia, fora professora de inglês de seus
quatro netos.

Ao vê-lo chegar no hotel para o segundo dia da conferência, ficou


encantada. Era o único rosto conhecido na multidão. E aceitou
imediatamente quando lhe pediu para acompanhá-lo no jantar dançante de
gala. Abe Asamov era um bilionário que possuía várias reservas de petróleo
na Rússia. Declarava que falava apenas russo, mas Sophie desconfiava ser
mentira. Mesmo assim, adorava conversar com ele.

— Todos vão pensar que é minha namorada, Sophie — disse Abe em sua
língua nativa, enquanto o garçom os levava até a mesa. Acrescentou, dando
risadas: — Nenhum homem imaginaria que uma loira linda como você é
inteligente. Vou gostar de fazê-los de bobo essa noite.

— Comporte-se, Abe! — Sophie riu, sabendo que não corria riscos com ele.
— Lembre-se de que é um homem casado, e esse foi um elogio meio
duvidoso.

— Parece minha esposa falando. — Riram e se acomodaram na mesa.

Sentada confortavelmente e segurando uma taça de champanhe na mão, ela


percorreu os olhos pelo salão, observando os convidados. Muitos eram
conhecidos do trabalho. O embaixador Peter e sua esposa Helen, e ao lado
um casal que trabalhara para o governo italiano, Aldo e sua esposa, Tina.
Sentados perto dela estavam dois espanhóis, Felipe e Cesare. Tomou um
gole e, começando a relaxar, olhou à sua volta.

As mesas de jantar estavam em volta de uma pequena pista de dança, e uma


banda de jazz tocava sobre um palco. Era uma amostra esplêndida da
poderosa elite européia. Os homens usavam ternos imaculados. As mulheres,
em vestidos de grife, desfilavam jóias que valiam uma fortuna. Mas Sophie
não se sentia intimidada. Após anos trabalhando para algumas das pessoas
mais ricas do mundo e para a nobreza de alguns países, desenvolvera
habilidades sociais e sofisticação.

Em casa, usava jeans e suéter. Mas tinha uma coleção do que chamava
"roupas de negócios" no armário.

O vestido Dior de cetim preto que usava naquela noite era um de seus
favoritos, assim como o colar e os brincos de cristal. Sabiá que estava
bonita e no mesmo nível dos demais.

Estava mais à vontade, e olhava a pista de dança. Do outro lado, um grupo de


convidados acabara de chegar e se acomodava na mesa. Arregalou os olhos
em choque ao reconhecer Max Quintano e sua meia-irmã Gina. Contemplou
surpresa seu belo perfil, e rapidamente desviou o olhar. Tinha quase certeza
de que não a vira.

Com o coração palpitante, moveu a cadeira para ficar de lado para a mesa,
rezando para que não a visse. Voltou-se para Cesare, sentado à sua
esquerda, e perguntou em espanhol:

— O que você faz? — Ouviu a resposta com atenção. — Um cientista?


Interessante.

Era mesmo uma boba. Só agora se dava conta de que Max Quintano poderia
aparecer em um encontro com empresários do ramo de recursos naturais.

Do outro lado do salão, Max Quintano ouvia Gina sem prestar atenção em
uma palavra. Reconhecera Sophie Rutherford assim que entrara. Seus
fabulosos cabelos louros eram inconfundíveis, presos no alto da cabeça com
elegância. Seu pescoço e os ombros perfeitos estavam expostos. Seu
vestido deixava à mostra as costas, e a pele suave como seda.

Podia ver a protuberância de sua espinha, que já percorrera com beijos. Com
a lembrança, sentiu o corpo enrijecer.

Viu quando ela o reconheceu, e como a desgraçada sem coração desviou o


olhar, assustada. Quando se separaram, a odiou com uma ira que nunca
sentira antes. E apagou-a completamente de sua memória por vários anos.
Mas o indesejável nome Rutherford apareceu mais uma vez após a morte de
seu pai, quatro meses antes.

Surpreendentemente, nos dois meses seguintes ouviu muitas especulações


sobre Sophie Rutherford em uma viagem para a América do Sul. Por duas
vezes, em pouco tempo, deparou-se com o nome que queria esquecer.

Era herdeiro dos bens do pai, e como sua madrasta ainda estava muito
perturbada para gerenciar os Hotéis Quintano, Max teve que ajudar.

Uma auditoria revelou que os negócios da família geravam muitos lucros, mas
havia algumas dívidas pendentes. A maior delas era da agência londrina
Elite, de Nigel Rutherford. Descobriu-se que não apenas atrasavam o
pagamento das contas de seus clientes, como não pagavam havia mais de um
ano. Não sabia como um descuido tão grande ocorrera. Seu pai deve ter
levado muito tempo para admitir que estava doente. Entendia tal
sentimento, pois fizera o mesmo sete anos antes. Quando lhe contaram que
podia estar com câncer, não quis acreditar. Algumas noites na cama com
Sophie o fizeram se sentir invencível. Como estava errado... Portanto, não
podia culpar seu pai.

Com o decorrer das investigações sobre as dívidas dos Hotéis Quintano,


descobriu que Nigel Rutherford devia muito dinheiro a outras empresas.
Associou-se a elas para requisitar uma reunião de credores, que foi marcada
para a segunda-feira seguinte em Londres. Max não tinha a menor intenção
de ir, e pretendia encarregar seus advogados e contadores de resolver.
Pouco se importava se a agência Elite e seu dono falissem, desde que
pagassem a dívida.

Mas, agora, via Sophie, linda e superficial, bebendo champanhe e se


divertindo como se nada mais importasse, a apenas dez metros de distância.
Outra idéia começou a despontar em sua mente. Sabia que se ele fosse à
reunião na segunda-feira, conseguiria convencer os demais credores a levar
a empresa do pai dela à falência. Afinal, era muito persuasivo. Na semana
seguinte, deixaria claro para Nigel Rutherfod que gostaria de encontrar sua
filha mais uma vez.

Esperou anos por isso, agüentaria mais uma ou duas semanas. Com um
cinismo cruel, pensou como seria ótimo fazer Sophie se contorcer ao saber
que a ruína do pai estava em suas mãos. E veria com satisfação o que faria
para salvá-lo.

Sophie Rutherford fora a única mulher que o abandonara, e ele levara muito
tempo para se recuperar da ofensa. Agora o destino a trazia de volta à sua
vida, e bem nas suas mãos. Seu corpo se enrijeceu, apenas com essa visão, e
ele começou a orquestrar seu plano indecoroso.

Fora um incrível golpe do destino que fizera Max voltar correndo para a
Sicília há sete anos. Passara cinco dias na Rússia, e voltara para seu
apartamento em Roma. Ainda estava solteiro e pretendia ficar longe de
Sophie. Ligara para uma antiga namorada e combinara de jantarem naquela
noite. Também ligara para Gina e marcara um almoço para o dia seguinte,
uma sexta-feira.

Seu encontro não fora muito bom. Voltou ao escritório na manhã seguinte e
checou suas mensagens no computador. Os resultados dos exames médicos
que havia feito nas semanas anteriores revelaram algo suspeito. Devia
entrar em contato com o dr. Foscari.

Duas horas mais tarde, Max foi à consulta. Ficou paralisado ao saber que os
níveis irregulares de testosterona detectados em seu exame de urina
podiam indicar câncer no testículo. O médico explicou que era a forma
predominante da doença em homens na faixa dos vinte aos 44 anos. Mas era
facilmente tratável. Tentou acalmá-lo, dizendo que o teste não era preciso.
No entanto, por precaução, devia marcar uma consulta no melhor hospital de
Roma na semana seguinte.

Max saiu da clínica sentindo o pavor rasgar suas entranhas. Somente a


sugestão de que poderia estar doente o enfurecia. Resolveu ouvir uma
segunda opinião. Como Gina era oncologista, conheceria o maior especialista
da área. Falaria com ela no almoço, e poderia desabafar.

Quando terminou o almoço, sabia mais sobre a doença do que gostaria. Gina,
como sempre muito direta, ligou imediatamente para o dr. Foscari. Depois
de falar com o médico, disse a Max que não devia se apavorar. Explicou que
poderia haver outras causas para os níveis irregulares de testosterona e
que a taxa de sucesso no tratamento de câncer de testículo era de 95%.

Max insistiu para que previsse a pior possibilidade caso estivesse mesmo
com câncer. Ela perguntou se ele havia notado algum pequeno inchaço no
corpo, se sentia cansaço repentino ou perda da libido. Negou com veemência.

Ao ouvir as explicações detalhadas de como era o tratamento e os efeitos


colaterais, Max chegou a se sentir enjoado. Podia perder a virilidade, e por
precaução devia congelar sêmen para o caso de ficar estéril. Para acalmá-lo,
Gina perguntou se queria uma segunda opinião de um colega americano
especialista nessa área.

Sugeriu que viajassem imediatamente para a América para consultá-lo. Sua


irmã respondeu que nada aconteceria nos próximos dias, e que não devia ser
tão impulsivo. O melhor seria descansar no final de semana.

Max confiava totalmente na opinião de Gina. Seu pai e a mãe dela se


casaram quando ele tinha quatro anos, e ela, cinco. Desde então, eram como
irmãos biológicos. Gostavam muito um do outro. Foi ela quem o encorajou a
se tornar geólogo, e ele a incentivou a seguir seu sonho de estudar medicina.
— Max? Max!

O som de seu nome ressuscitou lembranças desagradáveis do passado.


Olhou para Gina do outro lado da mesa e para outros convidados da festa,
Rosa e seu marido, Ted.

Gina e Rosa eram amantes há alguns anos. Ted tinha seus motivos para
guardar segredo. Não apenas tinham dois filhos juntos, como Max sabia que
ele mantinha uma amante há muito tempo. Sua irmã lhe pedira para não
contar a ninguém. Sabia que seus pais ficariam horrorizados se
descobrissem a verdade, e que sua carreira seria prejudicada com o
escândalo. Ele discordava, já que no século XXI não são muitos os que se
incomodam com a preferência sexual de uma pessoa. Mas esse segredo não
era seu, e sim dela.

— Desculpe, Gina. — Sorriu.

— Você a viu? Sophie Rutherford? Tudo bem com você?

— Sim, estou bem. — Viu que estava preocupada e acrescentou: — Não


posso dizer que estou impressionado com o parceiro que escolheu. Mas não
me surpreende.

Deu uma olhada na Vênus loura da qual falava, e sorriu com cinismo.

Sempre foi um homem de ação, e não apreciava perder-se em reflexões.


Mas agora, enquanto comia a refeição, achava difícil se concentrar quando a
mulher que lhe trazia tantas recordações dolorosas sentava-se a apenas
alguns metros dele. Ver Sophie novamente trouxe à tona cada detalhe vivido
do que fora a pior experiência de sua vida amorosa.

Lembrou-se de quando saiu do restaurante em Roma, após o almoço com


Gina, com a mente em turbilhão. Andou lentamente em direção ao seu
escritório.

Orgulhava-se por nunca perder o controle. Tinha autoconfiança suficiente


para tomar decisões diárias que envolviam milhões. Nunca duvidava da forma
como conduzia seus assuntos. Era doloroso admitir que era tão suscetível ao
medo e à insegurança quanto qualquer um. Gostava de seu trabalho, era
bem-sucedido e muito rico. Havia vivido do seu jeito durante anos, sem
nunca se preocupar com o futuro. Mas fora obrigado a encarar a
possibilidade de que talvez não houvesse muito tempo pela frente, e de
repente tudo o que conquistou parecia não valer nada.

Se caísse morto no dia seguinte, sua família e alguns amigos ficariam tristes
por um tempo, até que nem se lembrariam de sua existência.

Alguns dias antes, Max pensava que tinha todo o tempo do mundo.
Demoraria anos até pensar em casar e ter filhos. Percebeu como foi
arrogante ao considerar que não era o momento certo para ter um caso com
Sophie, que não precisava dela. Mas com a ameaça de uma doença séria, o
momento parecia extremamente importante.

Seguindo seus impulsos, chamou seu piloto para levá-lo de volta para a
Sicília. Chegou lá uma hora depois. Para o inferno com Alex! Precisava da
companhia, da adoração evidente e do corpo estonteante de Sophie. Não
ficaria esperando por isso. Seria sua, e talvez fosse a última que teria na
vida.

Max percorreu os olhos pela paisagem familiar dos jardins do hotel. Reparou
em três jovens que estavam na piscina. Jogavam pólo aquático com uma
moça. Era Sophie. Então ela saiu da água e sentou-se na cadeira de praia. Os
rapazes respingavam o chão à sua volta.

A visão de Sophie, em seu biquíni rosa, já bastava para afastar qualquer


dúvida em sua mente. Ele se moveu na direção dela.

— Olá, Sophie. Estou vendo que ainda está brincando — zombou, e puxou a
longa trança de cabelo louro que caía em suas costas.

Ela girou a cabeça, seus olhos verdes se arregalaram.

— Max, você voltou! Eu não sabia! — O rubor e o sorriso acolhedor em seu


rosto eram tudo o que podia esperar, e muito mais.

— Posso perguntar se está livre esta noite? — Não duvidava que a resposta
seria sim. Esqueceu-se do que ocorrera pela manhã em Roma ao contemplá-la
de biquíni.

— Pensei em darmos um passeio pela costa, talvez fazer um piquenique.

Perguntava-se por que havia se recusado a ceder aos seus anseios no dia em
que a conhecera, três semanas antes.

— Eu adoraria — disse ela, com um sorriso sedutor. Max quase não


conseguia resistir à tentação de tomá-la em seus braços e beijá-la.

Procurou seu adorável rosto com os olhos cheios de desejo. Dio! Como a
queria. Certamente não havia nada de errado com seus níveis de
testosterona. E se não saísse rápido dali, os hóspedes na piscina também o
atestariam. Inspirou fundo e com calma, para afastá-la gentilmente.

— Pego você às oito. — E foi embora.

Sophie o viu se distanciar. Seus olhos o admiravam com carinho. A euforia


de vê-lo apagou todos os traços de sofrimento e das dúvidas que tivera na
última semana.

Naquela noite, Max a ajudou a sair do carro. Tirou um cesto do banco de


trás e segurou firme sua mão.

— Onde estamos? — perguntou Sophie. Estacionaram na enseada de uma


cidade pequena.

Luzes coloridas dançavam na escuridão, contornando o porto. Uma dúzia de


iates boiava sobre as águas calmas.

— La Porto Piccolo — disse, reparando na silhueta dela com um sorriso


saudoso. — Quando meu amigo Franco e eu éramos jovens, esse era o nosso
esconderijo favorito. Compramos esse iate, para impressionar as garotas,
aos dezenove anos. Sempre o guardamos aqui, para que nossas famílias não
soubessem. É pequeno, mas foi onde vivemos grandes momentos.

Pegou sua mão e a ajudou a entrar no iate.

Sophie não estava certa se gostava do que suas palavras insinuavam. Era
uma espécie de "barco do amor" ? E quantas mulheres subiram a bordo? Viu
uma mesa e duas cadeiras arrumadas no convés de madeira polida e
perguntou:

— Vamos comer aqui?

Ele pousou o cesto na mesa e a pegou com delicadeza em seus braços.

— Sim. Está uma noite belíssima, e achei que apreciaria um jantar a céu
aberto. — Encostou os lábios nos cabelos dela. — Você não imagina o quanto
eu quero agradá-la, de todas as maneiras.

Beijou-a de leve. O olhar carinhoso dele a deixou impressionada.

Max se importava com ela, de verdade, e repousou a mão em seu peito.


Disse, com uma honestidade cega, afastando uma mecha de sua testa:

— Você já me agrada. Fiquei com tanta saudade. Senti falta de seu cabelo
despenteado e desse sorriso provocador. Estou feliz que tenha voltado.

— Pode me mostrar o quanto sentiu minha falta, mais tarde. — Max pegou-
lhe a mão pousada no peito e inclinou a cabeça para roçar os lábios em seu
pescoço. Sophie estremeceu ao sentir o toque de sua língua na pele sensível.
— Mas, antes, venha conhecer o iate, e depois vamos comer.

Envolveu a cintura dela com os braços. Seus dedos percorriam-lhe a pele


suave. Sophie estava perdida demais com a magia daquele toque para notar o
barco. Chegou a vislumbrar uma cabine pequena, e ouviu Max comentar
sobre duas cabines. Então, o viu abrir a porta da outra cabine.

— Cuidado com a cabeça — instruiu, conduzindo-a para dentro. Fechou a


porta. O espaço era minúsculo. Era iluminado apenas pelas luzes vindas da
enseada, que projetavam sombras vacilantes no beliche duplo que ocupava
quase todo o lugar.

— Só para dormir— murmurou Max, perto de seu ouvido.

A última coisa que Sophie gostaria era de dormir. E perdeu o fôlego quando
ele apertou sua cintura e a virou para si. Sentia cada terminação nervosa
formigar conforme o corpo dele se aproximava. Fitava aqueles olhos
castanhos como se estivesse hipnotizada, já esquecida de qualquer cautela.

Ele cobriu os lábios dela com um beijo. A língua moveu-se em sua boca com
um erotismo intenso. Sophie entregou-se às incríveis sensações que
brotaram por todo seu corpo.

Max levantou a cabeça e perguntou, com a voz rouca e baixa:

— Você quer?— Afastou com delicadeza uma mecha de cabelo sedoso do


rosto dela.

— Sim — respondeu ela ofegante. Minutos depois, já estavam deitados sem


roupa.
Depois de algum tempo, Sophie desfalecia ofegante e trêmula sobre ele.
Nunca imaginara que tal prazer existisse. Max gentilmente levantou-lhe o
queixo.

— Devia ter me contado que fui o seu primeiro.

— E único. Eu o amo muito — falou baixinho, bem devagar.

— Oh, Sophie. Eu adoro você. É muito preciosa. Quero que seja sempre
assim.

— Pois acabei de mudar, e por sua causa — sussurrou.

— Eu sei. — Max beijou os lábios carnudos mais uma vez. Não conseguia
evitar. — Mas eu é que devia agradecê-la. Deu-me algo precioso, que vale
muito mais do que imagina.

Nunca havia feito amor com uma virgem, e nunca conheceu alguém com uma
paixão recíproca tão selvagem. Sentira um prazer dilacerante ao gozar
dentro dela. Esqueceu-se de tudo.

Mas esse era o problema. Foi exatamente o que fez, esqueceu de usar
qualquer proteção. Viu o brilho de paixão nos olhos de Sophie. Pretendia lhe
contar, mas não queria estragar o momento. Em vez disso, só conseguia
pensar em dizer "case comigo". E percebeu ser o que queria de verdade...
Não importava o que o futuro lhe reservava, Sophie seria sua e apenas sua...

Max ferveu de raiva ao lembrar os momentos felizes do passado. Olhando


para trás, percebeu que a proposta de casamento foi somente uma reação
instintiva ao ataque que seu ego masculino havia sofrido com a ameaça de
câncer. Mas ao fazer amor com ela, iludiu-se de que havia algo mais e a
pediu em casamento.

Max encarou Sophie de novo, por um longo tempo. Apertava os olhos ao


observá-la rir e jogar charme para os homens sentados ao seu lado. Sorriu
com cinismo e desgosto ao ver Abe Asamov acariciar-lhe o rosto e convidá-
la para dançar. A intimidade entre os dois era transparente.

Dio! Tinha certeza de que Sophie dormia com o velho, e só podia ser por
dinheiro. Ficou enojado. Ao vê-los sair da pista de dança, não pensou em
esperar uma semana ou duas para falar com ela. Na verdade, não esperaria
mais um minuto, e mudou seu plano.
Diz-se que a vingança é um prato que se come frio. E Max convencia-se de
que odiava a bela Sophie e aquilo que ela se tornara. Levantou-se da mesa e
pediu licença. No passado, chegou a pensar que devia esperar o momento
apropriado para ter um caso com ela, e mudou de idéia. Dois dias depois, a
safada insensível o abandonou sem cerimônia. Agora, mais uma vez mudava
de idéia. E, dessa vez, ele é quem a largaria. Mas só depois de saciar sua
vontade naquele corpo maravilhoso.

CAPÍTULO TRÊS

O instinto de defesa de Sophie lhe dizia para dar meia-volta e ir embora.


Sabia que voltar à Itália não tinha sido uma boa idéia. Ver Max. confirmou
suas suspeitas. Mas devia ficar até o final do jantar. Provaria ser uma
profissional séria, e que não sentia absolutamente nada por ele.

Por sorte, Abe a pediu para traduzir o que Cesare dizia. Talvez, se
prestasse bastante atenção na conversa entre os dois, fingiria que Max e
Gina não existiam.

Após seu romance na Sicília, voltou para a universidade. Viveu um período


difícil, mas com a ajuda de seus amigos, e a dedicação ao trabalho,
conseguiu esquecê-lo. Convenceu-se de que não gostava dele.

Passou o restante do jantar tentando conversar normalmente. Evitava olhar


na direção daquele homem detestável. Mas não conseguia esquecer da
poderosa presença de Max Quintano. Sentia o olhar dele sobre ela, o que
eriçava os pêlos de sua nuca. Atormentava-se ao reconhecer que apenas a
imagem dele a perturbava tanto, mesmo depois de sete anos.

Para compensar, demonstrou tanto interesse pelo admirável Cesare que Abe
percebeu sua aflição.

Acariciou-lhe o queixo, chamando sua atenção.

— Sophie? Minha querida, não importa quem está tentando evitar, mas é
melhor me usar em vez do jovem Cesare. Pode magoá-lo. Mas eu tenho
ombros largos, e não me importo de continuar a brincadeira.

— Você é muito perspicaz! — Sophie suspirou. Abe a convidou para dançar.


Deu um sorriso singelo ao levantar e deixar-se envolver por seus braços.

Era um bom dançarino, apesar de estar acima do peso. Seu corpo alto e
gracioso, no entanto, atraía a atenção de diversos homens, e de um em
particular.

— Já lhe disse que é muito bonita? — Abe disse ao final da música. Guiou-a
de volta à mesa com uma das mãos em sua cintura. — Não importa quem
seja, mas foi um tolo. E nem a merecia. Lembre-se de que é preciosa demais.

Sophie olhou para seu rosto severo. Reparou que não só era muito agradável
como também extremamente astuto. Não fora por acaso que se tornara um
magnata do petróleo.

— Tem razão. Obrigada. — Sorriu e beijou-lhe o rosto. Por que se daria ao


trabalho de ficar chateada por causa de um romance infeliz com o idiota
mulherengo? Decidiu viver sua vida.

— Com licença — uma voz grave e misteriosa falou com ironia. Max Quintano
apareceu à sua frente. — Devo pedir ao seu parceiro para me conceder essa
dança?

Abe encarou o homem e o examinou. Sem se intimidar nem um pouco com sua
altura, virou-se para

Sophie e pediu que traduzisse o que ele dissera. Ela estava chocada demais
com a interrupção brusca e o pedido para conseguir mentir.

— Ah, então quer minha mulher? — o russo respondeu, com um olhar


malicioso.

Sophie sabia que Abe estava se divertindo. A expressão de desdém cínico


no formoso rosto de Max a enfurecia. Abe respondeu que era sua amante.
Evidente que Max acreditou. Teve a ousadia de olhá-la com desprezo,
quando era ele quem possuía uma legião de amantes. Ainda por cima sua
antiga namorada estava sentada do outro lado do salão. Por que insistia em
dançar já que a desprezava?

— Espero que me dê o prazer de dançar com sua adorável companheira.


Somos velhos amigos. — Encarou-o com uma expressão desafiadora.

Abe largou a cintura de Sophie e gesticulou.

— Não sou seu carcereiro, pergunte a ela. Max olhou para Sophie.

— Me concede essa dança? Seu parceiro parece não se incomodar — disse,


com um sorriso mordaz no canto dos lábios.

— Max, que surpresa — disse, com frieza. Não podia descrever a raiva que
tentava esconder quando os dois homens falavam sobre ela como se não
estivesse ali. — Não sabia que dançava. Gina o ensinou? — perguntou com
aspereza.

O traidor miserável teve a audácia de lhe fazer comentários sarcásticos na


frente de todos, e ainda exigia que dançasse com ele.

— Para dizer a verdade, ensinou sim. Entre várias outras coisas — disse,
com ironia.

Não disse nada por um instante. A resposta insolente só aumentou sua fúria.
Então, percebeu que atraía a atenção, parada entre dois homens no canto da
pista de dança. Disse baixinho:

— Tenho certeza que sim. E vejo quem o acompanha essa noite. Não devia
dançar com ela?

— Não, Gina está preocupada com outras coisas — respondeu, olhando de


relance para a irmã e rindo.

Sua indiferença insensível a deixou pasma. Encarou-o com raiva. Continuava


o mesmo. Seus cabelos pretos estavam mais curtos, e generosamente
grisalhos. Os vincos ao redor dos lábios estavam mais pronunciados. Sua
expressão séria não lembrava o homem risonho e brincalhão que conhecera,
mas continuava muito atraente.

— Me surpreende que queira dançar comigo — disse asperamente.

Max se aproximou e pegou sua mão.

— Não devia, Sophie. Afinal, já fomos muito íntimos uma vez — debochava, e
ela hesitou por um momento. Pensou em recusar, mas desconfiava que ele
deixaria escapar algo comprometedor na frente dos outros.
— Seria um prazer dançar, Max Quintano — disse, com um sorriso educado
e frio. Segurou sua mão.

Max sabia que ela era educada demais para recusar a oferta, mesmo que o
odiasse. Entrelaçou seus dedos, e a sentiu tremer de leve.

— Pronto, não foi tão difícil — murmurou perto

de seu ouvido, ao levá-la para a pista de dança. Ganhara a primeira batalha


sem muito esforço.

Parou, segurou a outra mão e, de propósito, não se aproximou muito.

— Está com uma boa aparência. — Percorreu-a com os olhos de cima a baixo.
E Sophie Rutherford realmente ficara muito elegante, apesar de ter a
honra de uma gata de rua. — Mais linda do que nunca, para ser honesto. Mas
algumas coisas nunca mudam. Ainda tem muita ânsia pelo que pode conseguir
dos homens. E Abe Asimov é um ótimo partido! Sabe que é casado?

Puxou-a contra seu corpo e a guiou com habilidade pela pista, ao som da
música lenta.

Sophie estremeceu ao sentir as pernas roçarem em sua coxa, e a fragrância


e o calor que conhecera tão bem Só esperava que os calafrios na espinha
fossem de repugnância. O comentário cruel sobre sua antiga paixão patética
a contorceu de raiva, por lembrá-la de como fora ingênua. Como uma cabrita
levada para o abate. Mas não deixou transparecer. Aquela garota crescera.
Tornara-se uma mulher sofisticada e confiante que podia cuidar de si em
qualquer situação,

— E daí? — disse. Contraiu os ombros com indiferença, embora o contato


inevitável com o corpo tão próximo a deixasse nervosa. — Não estou
procurando marido.

— Eu devia saber, mais do que qualquer outro, que procura fortuna e prazer.
Não quer ter as tensões e chateações do casamento, como ter que cuidar de
um marido.

— Você me conhece tão bem — disse com doçura. Sophie sentiu uma das
mãos dele alisar a pele nua de suas costas e apertá-la mais, até fazê-la
tocar-lhe o peito largo. Para seu horror, não podia evitar que seus mamilos
ficassem rijos e sua pulsação acelerasse.
— Exatamente. — Passou os olhos pela curva suave dos seios no decote, e
sorriu com arrogância. — E não me importaria em conhecê-la mais uma vez.
O que me diz, Sophie? Eu sou muito melhor do que Abe, não acha? Sabe que
nos demos muito bem juntos, e dizem que as mulheres nunca esquecem o
primeiro amante.

Ela escondeu, com grande esforço, o choque ao ouvir aquela declaração. Max
certamente era direto e grosseiro. Mal podia acreditar que já estivera
apaixonada por ele.

— Você é desprezível — disse por fim, tentando se afastar. O poderoso


magnetismo animal dele não diminuiu, e ficar próxima demais perturbava
seus sentidos. Desprezava-o, mas ainda tinha por ele uma enorme atração.
Sentiu-se exatamente como na primeira vez em que o vira, e detestava a
forma como a tornava indefesa.

— Talvez. — E deu-lhe um leve beijo na testa. — Mas ainda não me


respondeu.

Sophie expressava uma mistura de medo e raiva em seus olhos esverdeados.

— Não merece resposta. Quando nos separamos, disse que nunca mais queria
me ver. Não sei nem por que me convidou para dançar. Aceitei por educação,
coisa que você não tem. — O fato de Max achar que ela seria capaz de ter
um caso amoroso com Abe já era ruim, mas ter a audácia de sugerir que só
tinha amantes por interesse era demais! — Faz sete anos que não nos vemos,
e seria ótimo se nunca mais nos encontrássemos.

— Minha Sophie, você se tornou uma verdadeira víbora. E eu só tentava ser


gentil. Posso não ser tão rico quanto o velho, mas certamente poderia provê-
la com o que já conheceu. Pode estar usando um Dior, mas seu amante a
comprou barato. Se fosse minha, usaria diamantes em vez de cristal. Isso
eu lhe garanto — terminou, em tom de zombaria.

— Por que você... — Interrompeu-se. Não tinha que tolerar aquilo. Não era
mais a garota de dezenove anos, apesar de ainda estar excitada por ele. Mas
a demonstração de sua ética desprezível foi a gota d'água. Tentou se
libertar dos braços de Max.

— Pare com isso — alertou ele, e a segurou mais forte. — Seria melhor
chegarmos a um acordo mútuo sem atrair a atenção de todos.

— Acordo? Do que diabos está falando?— pediu explicações, sentindo-se


como Alice no país das maravilhas ao cair na toca do coelho. Ou melhor,
como o Chapeleiro Maluco.

Quando a música finalmente terminou, Sophie o empurrou pelo peito com


ambas as mãos. Mas seu outro braço a envolveu, impedindo que se
libertasse.

Contrariada, viu a raiva nos olhos castanhos. E a cabeça de Max se inclinar.


Teve a ousadia de lhe dar um beijo forte e breve em público. Ficou surpresa
demais para reagir. Sua frieza e autocontrole, conquistados a duras penas,
se haviam espatifado no momento em que o vira, e percebera como ele ainda
acelerava seu pulso e corava sua face.

As mãos repousaram sobre o peito dele. Mal sabia como as erguera. Sabia,
para sua humilhação, que um observador desatento pensaria que permitira
ser beijada.

— Você não tem moral mesmo, seu imbecil!

— Não no que se relaciona a você. Talvez Abe tenha entendido a mensagem.


Foi minha antes dele e sempre será.

— Enlouqueceu? Não o quero nem embrulhado para presente.

— Vai querer. Sua reação disse tudo o que eu precisava saber.

Pousou uma das mãos na cintura dela para guiá-la até a mesa. Inclinou-se
para falar próximo ao seu ouvido.

— Ouvi falar de você por um amigo da América do Sul. Parece mesmo que
sua carreira decolou. É muito requisitada, e não apenas por suas habilidades
lingüísticas.

— Você soube? — Ficou horrorizada ao saber que Max Quintano conhecia


alguns de seus clientes. Mas era inevitável, já que pertenciam ao mesmo
ramo de negócios. Surpreendeu-se por não ter pensado nisso antes.

— O filho do embaixador chileno, um jogador de pólo fantástico, estava


gamado em você. Parece que não conseguiu parar de admirá-la na sua última
partida. Foi por sua causa que caiu do cavalo e quebrou a perna. Mas não é
preciso dizer que nem sequer pensou em ajudá-lo.

Sophie lembrava desse incidente, e da fofoca que provocou. O que não


entendeu, já que mal conhecia o rapaz. Mas não deu a menor importância ao
comentário.

— E daí?

— Também soube que seu pai se casou novamente, e que tem um irmãozinho.

— Sim — respondeu com frieza. Precisava de todo seu autocontrole para


conseguir andar ao lado dele. Queria mesmo era correr e sumir para longe
de Max e de todos os curiosos que os observavam.

— Caso realmente se importe com eles, almoçará comigo amanhã. Assim


podemos conversar. Vou chamá-la no hotel ao meio-dia — ordenou, ao
chegarem à mesa.

— Não temos nada para conversar — resmungou. Ele lhe puxou uma cadeira
e disse com um sorriso amável:

— Esteja lá. E muito obrigado pela dança. Esclareceu muitas coisas. — Nem
chegou a ver seu sorriso educado. Virou-se para Abe, e com o olhar
triunfante disse: — Muito obrigado, cavalheiro.

Abe demorou a responder, encarando Max. Balançou a cabeça calva.

— Não precisa me agradecer — disse com indiferença. — Fique à...

Voltou-se para Sophie e perguntou pela palavra que queria dizer.

— Fique à vontade.

Assim que Max os deixou a sós, Sophie perguntou a Abe:

— Como pôde dizer "fique à vontade" para Max Quintano? Não suporto esse
homem, e com certeza não irei me encontrar com esse safado arrogante.

Abe respondeu, de forma misteriosa:

— Para quem sempre mantém o controle, está muito perturbada. Bom, se não
entendeu por que disse aquilo, me enganei e tudo está perdido. Se Max
Quintano não deve se aproximar de você, então continuaremos nosso jogo.

Chamou o garçom e pediu mais champanhe. Brindou com Sophie e a provocou:


— Minha esposa adorará ouvir essa história. Esperávamos por isso há muito
tempo. Você é amável demais para ficar sozinha.

Sophie negou que tivesse qualquer interesse em Max Quintano. Fazia um


tremendo esforço para agir com indiferença. Bebeu a taça de champanhe e
participou da conversa na mesa, mas estava transtornada.

Estava enraivecida por ter Max em sua vida mais uma vez. Não devia ter
permitido que a beijasse na frente de tantas pessoas. Ainda estava com
Gina, e se a proposta que lhe fez era séria, ainda era um mulherengo
descarado. Mas já sabia disso. Só tinha uma coisa a fazer, esquecê-lo. Para
o inferno com sua exigência de encontrá-lo no dia seguinte!

Bebeu o resto de seu champanhe e, logo depois, saiu acompanhada por Abe.

Max os viu irem embora, com os olhos castanhos cheios de fúria. Decidiu
que Abe Asamov não teria outra chance com Sophie. Tinha agora o poder de
tê-la quantas vezes quisesse, até se cansar de seu delicioso corpo. E
aproveitaria a oportunidade.

CAPITULO QUATRO

Sophie voltou para o hotel. Tomou um banho, limpou a maquiagem e penteou


o cabelo. Vestiu uma camisola de algodão e foi para a cama aninhar-se
debaixo do cobertor. Sentia-se esgotada e bocejou.

Mas não conseguia dormir. Revirava-se, enterrava a cabeça no travesseiro,


tentava apagar a imagem de Max de sua mente, mas era inútil. Encontrá-lo
reavivou lembranças que fez de tudo para esquecer.

Ficou completamente apaixonada desde o primeiro dia em que o viu. E


quando ele partiu, após seu primeiro e único jantar juntos, passou muito
tempo inconsolável. Quase se convenceu, com a ajuda de Marnie, de ter sido
melhor assim. Max Quintano estava muito acima dela, em vários sentidos.
Era um magnata bilionário, muito mais velho, experiente e arrogante para
ser seduzido por uma garota ingênua como ela. E reconheceu ter sido muito
boba por acreditar no contrário.

Até ele voltar de surpresa, uma semana depois. Ao chamá-la para sair
novamente, todas as suas dúvidas sumiram. Mas percebeu, mais tarde, que
tinha sido enganada e seduzida por um especialista.

Levou-a até o seu "barco do amor", que chegou a confessar ter sido
comprado para essa finalidade. E aceitou que a levasse para a cabine, sem
protestar. Deixou-o tirar sua roupa e deitá-la na cama. Era a primeira vez
que ficava nua diante de um homem, porém não ficou nervosa como esperava.
Sentiu-se à vontade com Max. Permitiu que lhe beijasse as pálpebras e a
curva suave das maçãs de seu rosto.

Podia ainda sentir seu beijo ardente, ávido de desejo. Seus lábios
percorreram seus seios, sua barriga e tudo o mais, até fazê-la gemer e
estremecer. Max lhe apresentou a prazeres que nunca experimentara, e
despertou uma volúpia impossível de imaginar até então.

Ao perceber que ela era virgem, ele ficou quieto por um instante. E começou
a penetrar bem devagar. As carícias eróticas da boca e das mãos dele a
tornaram mais selvagem. Entrou mais fundo, até se moverem no mesmo
compasso. Com estocadas cada vez mais fortes, ele ficou todo nela até levá-
la ao delírio do clímax, e a acompanhou com um gemido alto.

Sophie conteve um gemido, se contorcendo na cama. Max podia ser o que


fosse, mas não se podia negar que era um amante esplêndido e atencioso.
Nenhuma mulher experimentou uma primeira vez tão prazerosa quanto a
sua, e ainda seguida de uma proposta de casamento. Aceitou sem hesitar,
delirante de felicidade. E concordou em manter o noivado em segredo até
que ele anunciasse aos seus pais.

Admitia agora com ironia que, na época, acreditava em tudo o que Max lhe
dizia. Mas sua euforia durou apenas mais uma noite. Seu último dia juntos
ficou gravado em sua mente...

Ao fechar os olhos, via claramente Max partir do restaurante do hotel após


o almoço da tarde de domingo.

Estava vestido com calça caqui e uma blusa folgada, bem casual. Apoiou-se
com preguiça no balcão da recepção do hotel, onde Sophie trabalhava.
Encarava-a com um brilho no olhar e sorriso sensual.

— Podíamos descansar depois do almoço. — Tocou-lhe a mão pousada sobre a


mesa. Mesmo após passarem duas noites incríveis de paixão juntos, e
guardarem o noivado em segredo, ainda corava perto dele. Brincou com ela,
fingindo que falava sério. — Não precisa corar, Sophie. Todos os noivos
fazem isso na Sicília, é uma tradição. Não vai querer contrariar os costumes
locais, não é?

— Você é insaciável, senhor. Só acabo meu serviço às quatro.

Ele deu uma espiada no relógio de pulso. Trocaram olhares cheios de


ternura, e ele falou resignado:

— Mais duas horas. Acho que consigo agüentar e esperar, mas vai ser uma
tortura. — Levantou uma das sobrancelhas e sorriu de modo malicioso,
fazendo-a soltar uma risada.

Alguém chamou Max, de longe, e a alegria de Sophie desapareceu. Ele


correu em direção à mulher durona e baixinha de cabelo cortado bem rente.
Abraçou-a e beijou seu rosto, e se aproximaram do balcão.

Conversaram em italiano por cinco minutos, gesticulando bastante. Ele


envolveu-lhe a cintura e se voltou para Sophie.

— Quero que conheça minha irmã, Gina. Está fazendo uma visita surpresa. —
E sorrindo para a mulher, disse: — Essa é minha amiga Sophie.

Ela sorriu envergonhada para Gina e cumprimentou aquela que deveria ser a
futura cunhada.

— Prazer em conhecê-la.

— O prazer é todo meu. Você é muito amável — disse com um belo sorriso,
apertando sua mão. Voltou-se para Max. — Como sempre. Só uma
escavadeira vai derrubar você.

Sophie não entendeu a piada. Achou que Gina era muito amigável, quando
Max lhe disse:

— Faça um favor, peça para servirem almoço e café na minha suíte. Ela ainda
não comeu nada e temos muito para conversar. Mais tarde nos vemos.

E sem olhar para ela, Max entrou abraçado com a irmã no elevador. Ligou
para a cozinha, atendendo o pedido de Max, um pouco perturbada com seu
jeito brusco. Ao desligar o telefone, lembrou-se da advertência de Marnie.

Gina era a meia-irmã. E, segundo rumores, também era amante de Max há


anos. De repente, toda a confiança que tinha no amor de seu noivo sofreu um
abalo desagradável.

Às quatro horas, Marnie veio rendê-la na recepção. Contou-lhe que Gina


chegara de surpresa. E o olhar de pena que ela lhe lançou só aumentou suas
suspeitas. Voltou para o chalé, desconfiada e deprimida. Tomou um banho e,
ao se enxugar, notou a mancha na toalha. Fez uma careta.

Talvez estivesse enciumada e mal-humorada por causa do período do mês.


Vestiu uma calça capri e camiseta. E só ficava mais desanimada ao lembrar
que não poderia fazer amor nos próximos dias.

Perambulava pelos cômodos, agitada demais para sentar. Olhava para o


telefone sem parar. Max sabia que já tinha saído do serviço. Tinha certeza
de que ele ligaria a qualquer momento, com ou sem meia-irmã.

Deu cinco horas, e ela não agüentava mais ficar enjaulada. Saiu para
caminhar em volta do labirinto que Max lhe mostrara no dia em que se
conheceram.

Sophie deitou-se de costas na cama, mudando de posição pela milésima vez.


Tentou segurar as lágrimas que teimavam em cair, mesmo após tantos anos.
Podia ainda ouvir as vozes claras como se fosse ontem.

— Max, precisa contar para ela se pretende mesmo casar. As meninas de


hoje são mais avançadas. Talvez nem se assuste com a situação.

Sophie reconheceu a voz de Gina e diminuiu o passo.

— Você acha? Não tenho certeza. Ela é muito nova. E não parece muito
avançada, ao contrário de muitas mulheres que conheço.

"Mas de que situação estão falando?", murmurou Sophie. Todo o ciúme e


suspeitas voltaram conforme andava devagar até o final da cerca viva. E se
soubesse então o que viria a seguir, até o fim de seus sonhos...

— Nesse caso, porque quer casar com ela?

— Porque, dentre vários motivos, me descuidei e não usei nenhuma proteção.


Ela pode até estar grávida.

Sophie congelou ao ouvir. Ficara tão enfeitiçada com a delícia de fazer


amor, de ser pedida em casamento, que nunca chegou a pensar em gravidez.
Como podia ser tão idiota e tonta? Obviamente, Max logo se deu conta das
implicações de fazer sexo sem proteção. Foi por isso que a pediu em
noivado? Foi por isso que queria mantê-lo em segredo? Mas para Gina ele
contou tudo. Ouviu bem quando falou "descuidado" e "grávida", mas nada
sobre o motivo principal para casar: amor.

Seu coração parou, e ela perdeu o fôlego com a dor dilacerante que
perfurou seu peito.

Max havia lhe dito que a adorava, que era preciosa. Mas percebeu,
repugnada, que nunca falou em amor.

Por isso quis manter o noivado em segredo. Não estava preocupado em falar
antes com o pai dela, mas sim porque queria descobrir se estava mesmo
grávida.

— Devia ter desconfiado. — A voz desdenhosa de Gina interrompeu seus


pensamentos. — Eu o avisei para não ser impulsivo. Mas você reagiu como
todo homem diante de uma mulher atraente. Bom, não importa o que
aconteça, você precisa contar-lhe antes de casar. Ela mal o conhece, e eu
acho que é muito nova para isso. Ainda está na universidade. Tem o direito
de decidir se quer se envolver nessa situação. Então, se você não contar, eu
o faço.

Ouvia a conversa, e sentia como se mais uma pá de terra sepultasse suas


esperanças. Ficou surpresa como Max recebia uma repreensão de uma
mulher sem fazer sequer um comentário. Estava claro que respeitava muito
Gina, e ela devia saber quanto era importante em sua vida para reprová-lo
daquela maneira.

— Sophie pode ter sido boba para dormir com você. Qual garota não seria?
Já perdi a conta de quantas já seduziu. — Gina disse, com raiva. — Mas se
ela é tão estudiosa como me disse, não é tão tola assim. Vai logo perceber
algo de estranho se o marido não voltar para casa todos os dias,
especialmente de noite. E sabemos que ficará sem energia para fazer amor.
Max declarou:

— Vou contar para ela, vou sim. Mas não agora. Faz só alguns dias.

— Ah, Max, eu o amo. Mas você é o homem típico, impossível!

— Eu sei. Eu a amo também. Não sei o que faria sem você. Mas veja pelo lado
bom, talvez eu nem precise contar nada.

De repente, Sophie entendeu tudo.

Marnie estava certa, Max e Gina eram mesmo amantes. Só se casaria porque
desconfiava tê-la engravidado. Lembrou que todas as outras vezes usou
proteção. O que pretendia fazer? Pela conversa, ficava muito claro. Se não
estivesse grávida, a usaria e a largaria, como fez com todas as mulheres que
teve. E, em caso contrário, já examinavam como Sophie lidaria com o caso
amoroso deles. Seria a esposa abandonada em casa com um bebê. Não podia
culpar Gina, ao menos ela pensava em contar a verdade. Max é que agia como
um desonesto e mentiroso.

Nunca sentira a dor e raiva que a consumiam nesse momento. Recusou-se a


deixar cair as lágrimas que brotaram em seus olhos. Queria ter um ataque
de fúria e gritar com aquele que a seduziu, roubou seu coração e sua
inocência. Como podia ter pensado que a amava? Sua alma se aniquilava ao
reconhecer que foi mesmo boba por se deixar influenciar pelo seu charme.

Precisou de toda a força para chegar na entrada da clareira. Seu coração


suplicava para que estivesse enganada e houvesse outra explicação. Mas
todas as suas esperanças foram arrasadas quando os viu no banco,
abraçados, revelando serem íntimos há muito tempo. Seu coração congelou
no peito.

Conseguiu reunir forças e respeito próprio para chegar a eles e declarar:

— Você está certo, Max. Não precisa dizer nada. Eu ouvi tudo e...

Ia dizer que não precisava casar com ela, mas Max levantou em um salto e a
interrompeu:

— Ouviu tudo? Sinto muito. Eu devia ter contado a verdade. Não queria que
descobrisse desse jeito. — Andou na direção dela com um sorriso
arrependido e quase envergonhado no belo rosto. Ela levantou a mão para
afastá-lo.

— Não precisa se desculpar... Gina tem razão. Sou nova demais para casar, e
essa situação não me agrada nem um pouco. De qualquer maneira, meus dois
meses de férias já terminaram. Vou embora nesse fim dessa semana. Então,
já vou me despedir. Espero que tenha sorte.

— Não, Sophie, não pode estar falando sério! — disse ele, alcançando-a. Ela
deu um passo para trás; não podia suportar que a tocasse. — Não é tão ruim
quanto parece. Venha e sente para nós três conversarmos.

Ela torceu a boca com repulsa. Provavelmente isso não era nojento em seu
mundo sofisticado e decadente.

— Não. — Sacudiu a cabeça, furiosa. Olhava-o com desdém. Seu herói, seu
amante era um mentiroso descarado que ainda tinha a ousadia de sugerir
que sentasse ao lado de sua amante para conversar. Conversariam sobre o
quê? Uma relação a três? Não entendia por que Gina suportava isso. Fosse o
que fosse: por ser ou não uma mulher de carreira ou por sofrer ou não
reprovação dos pais!

— Já ouvi tudo, não há mais nada a dizer. Foi uma experiência interessante,
mas não quero continuá-la desse jeito. Não me importa o que planejam para
mim. Ainda bem que descobri hoje que não estou grávida. Então, Max, não
tem que se preocupar com nada, exceto consigo mesmo. — E quase terminou
a frase com um "como sempre".

Max nunca gostara dela de verdade. Nem considerava o que sentia por Gina
como amor verdadeiro. Deu-se conta, por fim, de que Max era o homem mais
arrogante, explorador e egoísta que jamais tivera a desgraça de conhecer.

Sophie o viu endireitar os ombros largos e tensos. Por um segundo, pensou


ter visto o lampejo de uma mágoa profunda nos olhos castanhos. Mas a
feição inexpressiva em seu rosto, logo em seguida, a certificou de que
estava errada.

— Não achei que era esse tipo de garota. Está certa, não há nada mais a
dizer, exceto que pode ir agora. Faça-me o favor de fazer suas malas o mais
rápido possível. Vou falar com Alex e deixarei suas passagens aéreas em
cima de sua mesa. Não quero vê-la nunca mais.
O olhar hostil de Gina e a fúria de Max ainda estavam gravados em sua
memória. Lembrando-se do dia de sua separação, perguntou-se por que
deixara que essas recordações a perturbassem por tanto tempo. Mereciam-
se mesmo, e felizmente ela não estava envolvida. E quanto ao almoço com
Max, nem pensar. E com esse pensamento desafiador conseguiu adormecer.

Porém sua rebeldia sumiu no dia seguinte, ao final da manhã da conferência.


Conversava atentamente com o organizador Tony Slater, até que Max
Quinta-no apareceu de repente na portaria.

— Sophie — cumprimentou com um gesto de cabeça. Apertou a mão de


Slater. — Bom vê-lo novamente, Tony. Desculpe por não ter comparecido ao
congresso, mas soube que a conferência foi um sucesso. Acredito que ótimas
idéias foram formuladas, que podemos colocar em prática no futuro. Talvez
possamos nos encontrar e conversar sobre isso?

Sophie abriu a boca, chocada. Era mesmo muito atrevido por interromper
sua conversa. Tony parecia radiante com a reunião que o grande Max
Quintano lhe oferecia.

— Sim, seria ótimo! — Tony sorriu, para desgosto de Sophie.

Max lançou um olhar triunfante rapidamente sobre ela. E sorriu,


complementando:

— Sophie e eu somos velhos amigos e vou levá-la para almoçar. Como só


haverá discursos essa tarde, ela deixará a conferência mais cedo. Por favor,
peça desculpas aos seus clientes em nome dela. Gostaria de apresentar-lhe
um pouco de Veneza antes de sua partida. — Tirou um cartão do bolso e
acrescentou: — Esse é meu telefone. Ligue pela manhã para marcarmos uma
reunião.

Sophie tentou contestar, precisava cumprir seu contrato. Mas antes que
percebesse, Max segurava seu cotovelo e a guiava para a saída do hotel.
Podia ainda ouvir Tony lhe sugerindo para aproveitar o almoço. Mais parecia
uma conspiração masculina, se houvesse uma.

Quando chegaram à calçada, logo se livrou das mãos de Max e o encarou.

— Pensa ser muito esperto, manipulando Tony para me liberar, não é? Como
se atreve a interferir no meu trabalho? — rosnou, tão brava que queria
socá-lo.

Sua estatura notável a sobrepujava, com toda sua arrogância e vigor


masculino. O sol outonal brilhava em seus cabelos pretos e destacava suas
feições. Vestido todo de preto, com jeans e um suéter de cashmere, parecia
o demônio encarnado. Mas estava zangada demais para se sentir
amedrontada.

— Bom, fique sabendo que não vou almoçar com você, Quintano. Nem hoje,
nem nunca. — Pendurou a bolsa em um dos ombros e disse, de forma irônica:
— Mas obrigada pela tarde de folga. — E foi embora.

Max a deixou ir, já que ia na direção certa. Sua lancha estava atracada uns
45 metros à frente do canal. Embora estivesse disposto a arrastá-la aos
chutes e pontapés para o barco, vê-la andar a passos largos era muito mais
interessante. Seus cabelos louros estavam presos na nuca com um grampo
de madrepérola e escorriam pelas costas como uma cortina de seda. E
apreciar seu bumbum gracioso na saia justa e curta de lã era um delírio para
os olhos. Imaginou suas pernas cobertas por meias de seda.

Sophie não olhou para trás. Não se importava! Andava na margem do canal,
feliz por ter conseguido escapar. De repente, um braço serpenteou sua
cintura e a suspendeu no ar. Soltou um grito e começou a lutar para se
libertar. Mas foi atirada sem cerimônia no assento de couro de um barco.

Antes de conseguir se levantar foi jogada no chão, quando Max desamarrou


os cabos da lancha e ligou o motor.

— Você está louco! Pare esse barco agora, ou vai preso por seqüestro!

E para seu total espanto, ele parou o motor. Sophie levantou a cabeça e o viu
se virar, apoiado no volante. Encarava-a com uma expressão severa.

— Se alguém vai ser preso, será seu pai, Nigel Rutherford, por fraude.

Do que diabos ele está falando agora?, pensou furiosa. Sentiu um calafrio de
medo descer pela espinha ao avistar a determinação implacável no fundo dos
olhos dele.

— A menos que faça exatamente o que eu mandar.

— Você é louco! Não pode me ameaçar, nem a meu pai! — gritou. De repente,
lembrou-se de Max ter comentado sobre sua família na noite anterior. Não
tinha levado a sério, mas agora não sabia ao certo. Afinal, como ele sabia
que seu pai havia casado de novo e tido um filho?

— Eu não preciso! — disse Max, com calma.

— Então, por quê? — perguntou e parou. Não captava nada em suas feições
impassíveis, mas sabia que seu pai não o conhecia. Uma vez, ele mencionou
em uma conversa que chegou a ser apresentado a Andréa Quintano. Supôs
que Alex deve ter mencionado algo sobre a vida de seu pai para Max.

Mas será que sabia alguma coisa sobre os negócios dele? Será que havia algo
errado? Ficou óbvio que algo não ia bem entre Margot e ele no final de
semana. Preocupada, mordeu os lábios. Pensou que talvez estivessem com
problemas financeiros. Afinal, sua madrasta gastava muito dinheiro.

Max admirava a beleza de Sophie, observando sua saia levantar em volta de


suas coxas. As longas pernas estavam entreabertas, e estava certo quanto
às meias. Podia ver os ganchos da cinta-liga. Seu casaco estava aberto, e a
blusa branca de seda por baixo se ajustava sobre os seios firmes. Revelava
um vislumbre sedutor do decote que despertava a imaginação.

Esforçou-se para reparar em seu rosto e ver o exato momento em que


perceberia que falava sério. Atenuava-se o brilho de raiva em seus
maravilhosos olhos esverdeados e ela mordiscou os lábios. Ele começou a
ficar tenso, percebendo que logo morderia sua boca suculenta e muito mais.
E não pretendia esperar.

— A justiça é que o vai ameaçar, quando seus credores se reunirem na


próxima semana — falou pausadamente, com sarcasmo —-A menos que eu a
ajude, claro. E isso tem um preço.

— Seus credores? O que você quer dizer com me ajudar? — De repente, ao


notar que estava em desvantagem, ela desabou no assento de couro.

— Eu acho que você entendeu. Se não, adivinhe enquanto almoçamos — disse


ele num tom insolente. Virou as costas e ligou o motor.

Por um instante, Sophie imaginou enfiar um punhal nas costas dele. Repassou
a conversa várias vezes, e quanto mais pensava mais se preocupava e ficava
com raiva. Mas não discutiu com Max. Não era a hora certa, esperaria até
saber exatamente o que acontecia.

Sentada na beirada do assento, era incapaz de relaxar. Tentou admirar a


beleza da paisagem para ignorar a presença opressiva de Max no volante.

Veneza era um lugar mágico no meio de outubro. Sua temperatura ficava


mais amena, e não tinha mais os milhares de turistas que vêm no verão. Em
qualquer outra circunstância, estaria fascinada com os edifícios à beira dos
canais. Mas estava tensa e perturbada demais com Max para reparar em
qualquer coisa.

CAPITULO CINCO

Sophie ouviu um som diferente do motor. Aproximavam-se do cais. Avistou


uma casa enorme pintada de rosa pálido, com uma sólida escadaria de
pedras. As portas duplas colossais se abriram, e um homem desceu correndo
para pegar a corda que Max lhe atirou. Em segundos, a lancha estava
atracada.

Levantou-se e Max a pegou pela mão para ajudá-la a desembarcar. Ela


tentou se soltar, mas ele apertou com mais força. Disse, num tom
suavemente ameaçador, com os olhos chispando de raiva:

— Sophie, comporte-se! Não vai me envergonhar na frente dos empregados,


entendeu?

— Não queria estar aqui. Se me deixar ir embora, não precisará se


preocupar com isso — disse, de forma irônica. Ele teve o descaramento de
rir.

— Bela tentativa, mas não vai a lugar algum.

Passou o braço por cima de seus ombros e a apresentou a Diego, seu


mordomo. Subiram os degraus e atravessaram as impressionantes portas de
entrada.

A residência era formidável. Sophie ficou admirada, parada na sala de


entrada.
O piso em mosaico de mármore em tom terroso e creme e a parede branco
magnólia eram magníficos.

Colunas de mármore formavam a estrutura do salão de recepção, e uma


porta aberta entre elas revelava uma longa mesa de jantar preparada para o
almoço. Ela inclinou a cabeça para trás e ficou sem fôlego ao ver a cúpula
central. Adornada com pinturas extraordinárias como as da Capela Sistina, e
com um candelabro enorme. A escadaria fabulosa levava até o patamar
principal, e se dividia para uma imensa galeria que presumia levar aos
quartos.

— Seja bem-vinda à minha casa. Olhou para Max, boquiaberta.

— É esplêndido! Mas eu nunca soube que morava em Veneza.

A família Quintano era alvo de muitos boatos no hotel onde trabalhou.


Soube que ele tinha um apartamento em Roma, mas nunca ouvira falar dessa
casa. Se tivesse tomado conhecimento disso, nunca teria colocado os pés na
cidade.

— Era um palazzo em ruínas. Eu tinha acabado de comprá-lo quando nos


conhecemos. Consegui restaurá-lo para o estilo original. Gosta?

— Se gosto? Está brincando, é fabuloso. — Sophie sorriu. Esqueceu-se, por


dois segundos, da hostilidade que tinha por ele. Mas logo voltou a senti-la,
de forma brutal.

—- Ótimo. Não se recusará a viver aqui por um tempo — disse Max com
delicadeza.

— Espere um pouco. Eu... — Ia reiterar que nem sequer queria almoçar em


sua companhia, mas ele a tomou nos braços.

Sentiu-o capturar-lhe os lábios com um beijo ardente, que a pegou de


surpresa. Tentou afastá-lo com as mãos em seu peito. Ele a apertava com
mais força, impedindo-a de se mexer. Nunca experimentou uma exploração
tão devastadora e possessiva, que a apavorou apesar das sensações
selvagens que acabou por despertar.

Sophie fechou os olhos, e devia se controlar para não corresponder. Ele se


apossava de sua boca, e uma das mãos de Max alisava suas costas de cima a
baixo com fervor. Puxava-a mais próximo, fazendo-a tocar-lhe as coxas
firmes. Enfiou a outra mão pela gola da blusa para segurar seu seio.
Deslizava os dedos por debaixo da renda do sutiã e acariciou o mamilo
saliente. Uma paixão, há muito tempo esquecida, percorreu suas veias e
irradiou o frio de sua barriga até os quadris.

Max lhe permitiu respirar. Ela tentou puxar o ar, trêmula de excitação. Ele
não a deixou recuperar o fôlego. Começou a beijá-la ainda mais
intensamente, sugando-lhe o ar e sentindo sua pulsação desenfreada.

Nem chegou a ouvir alguém pigarrear, só sentiu Max levantar a cabeça. Com
um olhar furioso e cheio de desejo, disse a Diego que os esperasse mais
cinco minutos.

— O que pensa que está fazendo? — ela pediu uma explicação, tentando sem
sucesso retomar a respiração e se libertar de seu abraço.

— Experimentando a mercadoria — disse ele com uma honestidade brutal. —


Preciso saber se compensa livrar seu pai das dívidas.

Sophie entendeu finalmente o que queria dizer com viver aqui. Horrorizada,
arregalou os olhos.

— Acha mesmo que ficarei com você só para livrar meu pai de problemas? É
disso que se trata? Lamento desapontá-lo, mas eleja é bem crescido. Se
estiver em alguma enrascada, o que duvido muito, é experiente o suficiente
para resolver por conta própria — disse ela com sarcasmo. Seus olhos
brilhavam com uma fúria selvagem. Odiava tanto Max que chegava a ser
assustador.

— Você deve conhecer bem seu pai. — Max soltou-a.

Ela deu um passo para trás e ficou aliviada por ele ter desistido da proposta
humilhante, mas não por muito tempo.

— Talvez seja melhor que peça falência. Mas aí seu irmãozinho será
afetado. Você sabe disso melhor do que eu.

— Seu maldito! Você me dá nojo. Se meu pai precisa de dinheiro, irei ajudá-
lo com tudo o que tenho. Peço emprestado, se precisar. Podemos resolver de
várias maneiras. Mas nem pense que irei pedir dinheiro a você. Nunca.
Com cinismo, Max a observava ficar furiosa.

— Nunca é tarde demais, e ele tem apenas alguns dias até a reunião dos
credores. Saiba também que falei com seu amigo Abe ao telefone hoje.
Sabia que almoçaríamos juntos, e me pediu para cuidar de você e dizer
adeus por ele. Parece que está no seu iate, voltando para sua esposa e filhos
no Caribe. Portanto, se considera pedir-lhe um empréstimo, esqueça.

Sophie engoliu o bolo em sua garganta e se calou. Era típico de Abe fazer
essas travessuras. Apostaria que atravessava o Atlântico às risadas. Mas
ela não achava graça nenhuma. E Max teve a arrogância de lhe dizer que
cuidaria dela, como se faz com um embrulho que passa de mão em mão.
Enchia-se de fúria, como também de tristeza por ver como o antigo amor de
sua vida não tinha um pingo de moral.

— Não vai dizer nada? — perguntou ele com presunção.

Ela balançou a cabeça, com repulsa.

— Eu presumo que continua solteiro. — Mesmo alguém como Max não teria a
ousadia de trazê-la para cá, se estivesse casado. — Mas, por curiosidade, o
que Gina faria se eu aceitasse sua proposta indecente?

— Não teria nada para dizer. Se bem que, considerando a última vez que a
viu, não ficaria satisfeita. Mas como minha amante, não precisará encontrá-
la.

Quase ficou com pena de Gina. A crueldade de Max a chocou. Por um


instante, considerou sair dali, pegar um táxi aquático de volta para o hotel e
voar para a Inglaterra, onde recobraria a sanidade. Mas a lembrança de
Timothy a conteve.

Por mais que quisesse, seria apressado rejeitá-lo ao concluir que estava
errado sobre seu pai. Max Quintano não era o tipo que comete erros, ao
menos nos negócios. Mas precisava saber a verdade.

Ele notou a hesitação em seu belo rosto, e sabia o que pensava.

— Se não acredita em mim, ligue para seu pai e pergunte. — Apontou para o
telefone em cima do aparador. — Fique à vontade.

Reconheceu que queria Sophie, mais do que qualquer outra mulher que
conhecera, quando o destino fez com que se reencontrassem.

Vê-la com Abe Asamov fez seu sangue ferver, assim como constatar no que
se tornara. Imaginar aquele russo gordo se deliciar com seu corpo, ao qual
ele, Max Quintano, apresentou os prazeres carnais, lhe despertou uma
volúpia sexual carregada de possessividade.

Sophie foi a única mulher que pediu em noivado. Por sorte, descobriu a
tempo que era do tipo que quebra o voto de amar, respeitar e honrar na
saúde e na doença. Largou-o num piscar de olhos ao ouvir que podia estar
doente.

Demorou um tempo para se tratar do câncer, e isso o ensinou a ter uma vida
sexual mais prudente. Mas isso não o impediu de querer Sophie assim que a
viu novamente. Não importava se tinha ou não caráter, o desejo não levava
isso em consideração e lhe revirava as entranhas naquele instante.

Negou essa ânsia por todo esse tempo. Até porque, sete anos antes, tinha
que lidar com coisas mais sérias. Mas, agora, estaria condenado se a
deixasse escapar ilesa por sua deslealdade. Agora, se saciaria o quanto
quisesse. E poderia olhá-la com todo o desprezo que merecia.

Estava parado diante dela, com uma aura de silêncio cheia de masculinidade
arrogante e dominadora que a amedrontou.

— Vou ligar do meu celular — disse, tentando obter um pouco de controle. —


E gostaria de um pouco de privacidade.

— Esperarei por você na sala de jantar. — Saiu antes que ela tirasse o
celular de sua bolsa.

Para sua surpresa, seu pai estava em casa. Sophie disse que Max Quintano
lhe contou dos rumores de que a agência estava com problemas. Ele foi
muito franco. Era verdade que um grupo de credores, desde empresários de
linhas aéreas a hoteleiros, se reuniria na segunda-feira seguinte.

Seu pai gastara dinheiro demais, mas achava que conseguiria pagar seus
clientes assim que vendesse a casa. Viveria de aluguel em algum lugar
simples, até conseguir endireitar seus negócios. Porém, Margot não aceitara
e por isso teve que pedir empréstimos em vários bancos. Na semana
passada, tiveram que colocar a casa à venda, para desgosto de sua madrasta.
Esperava o corretor de imóveis naquele instante.

Entendeu por que a atmosfera entre eles estava tão ruim no último fim de
semana. Seu pai lhe disse:

— Tenho certeza de que convencerei os credores a esperar mais um pouco,


até a casa ser vendida. Mas, não importa o que faça, não contrarie Max
Quintano. Perdeu o pai alguns meses atrás. Foi por isso que averiguou os
negócios da família, e descobriu minha dívida. Se tivesse deixado Margot,
que ajudou o marido a gerenciar os hotéis, encarregada, nada disso teria
acontecido.

Nunca ouvira seu pai respeitar uma mulher no mundo dos negócios. Sendo o
machista que era, a surpreendia ver como deixava Margot intimidá-lo.

Sophie se despediu do pai, e da vida que tinha. Ao menos por um certo


período.

Dirigiu-se à sala de jantar. Viu Max sentado na ponta da longa mesa. A luz
que entrava pela janela realçava os fios prateados entre a escuridão de seus
cabelos. Seu penteado impecável não revelava mais os fios fugidios que
teimavam em cair sobre seu rosto. Não havia sinal do sorriso provocador que
a perseguira em seus sonhos, após se separarem.

Havia mudado muito. Emagreceu, tornou-se rude e mais reservado. Mas,


mesmo assim, conseguia acelerar sua pulsação apenas com o olhar. Seu
estômago deu um nó ao encará-lo.

— Falou com ele? — perguntou.

— Sim. — Aproximou-se do lugar que Diego lhe preparara na mesa, à direita


de Max. — Você está certo.

Viu Quintano levantar e lhe puxar a cadeira, como um cavalheiro. Quase riu
com tal hipocrisia. Afinal, por que a tratava como uma dama quando queria
torná-la uma mera prostituta? Não disse nada.

— Sempre estou — falou ele com arrogância, e sentou. Diego trouxe uma
garrafa de champanhe dentro do balde, e o pousou na mesa. — Muito
obrigado, Diego. Farei as honras.

Abriu a garrafa com habilidade, e encheu duas taças. Ofereceu uma a


Sophie.

— Aqui está. Um brinde a velhos amigos e novos amantes.

— Ainda não concordei em fazer nada — protestou, mas ele sabia que
cederia.

— O fato de estar sentada nessa mesa diz que aceitou — declarou, se


deleitando cheio de orgulho. — Senão, já teria fugido num piscar de olhos.

Ele estava certo, maldito! Foi tomada por uma mágoa raivosa, mas não
desistiria sem antes lutar.

— Meu pai colocou a casa à venda. Em breve conseguirá saldar as dívidas —


disse, num tom desafiador. Mas sabia que não se permitiria ver o irmãozinho
sem lugar para morar, nem o pai arruinado.

— Ele não tem tempo suficiente. Providenciei isso esta manhã.

— Você... Como? — perguntou tensa.

— Encontrei-me com os credores, e comprei a dívida de seu pai. Ele só deve


a mim agora. O destino dele está nas minhas mãos... Ou nas suas. — Arqueou
uma sobrancelha cinicamente.

— Seu porco! Espera mesmo que eu durma com você para pagar a dívida do
meu pai?

— Dormir não é bem o que tenho em mente. E que bela devassa você se
tornou... eu soube que Abe Asamov foi mais um dentre uma longa lista de
amantes.

— Levantou a taça de novo, deleitando-se ao ver sua fúria. — Beba, parece


que precisa de um gole.

Sophie sentiu o rosto arder de raiva ao ouvir a forma como a rebaixava.


Lembrou-se do conselho de seu pai, controlou a fúria e aceitou a taça
oferecida. O leve toque de seus dedos a fez hesitar. Sua pele formigou com
a profusão de anseios sexuais, que a excitaram e envergonharam. Bebeu o
resto do champanhe borbulhante. Precisava mesmo disso!

Max era extremamente arrogante, tão confiante em sua habilidade de


conseguir o que queria nos negócios e na vida pessoal. Veja como Gina ainda
se apegava a ele. Deve tê-la magoado várias vezes, ao levar um estilo de vida
depravado, para o qual queria arrastá-la.

— Não vai se defender, Sophie? — perguntou, ao se recostar na cadeira.

Ela fingiu um encolher de ombros indiferente, mas fervilhava com um misto


de emoções. Disse com frieza, embora desejasse socá-lo para destruir seu
olhar convencido:

— Não sou adepta da violência. Prefiro conversar com ponderação.

— É tão sensível, Sophie. Mas será capaz de pagar a dívida de seu pai até a
próxima segunda? — exigiu, encarando-a de forma desafiadora.

A tensão pairava no ar. Ao ser informada da soma, um pouco acima do


milhão, que lhe devia, Sophie se sentiu realmente ameaçada. Ficou calada e
em choque. Essa quantia podia ser pouco para um homem rico como ele, mas
era uma fortuna para ela. A casa em Surrey era de sua família há trinta
anos. Considerando a valorização astronômica no preço dos imóveis de
Londres, calculava que seria vendida por aquele valor. Mas seu pai ficaria
com quase nada.

Até aquele instante, estava determinada a fingir indiferença, mas agora seu
belo rosto empalidecia.

— Considero seu silêncio como um não. Nesse caso, concordará em ser minha
amante até me cansar de você, ou se Nigel me pagar.

— Não é se pagar... é quando pagar — Sophie declarou com veemência. Ao


perceber que não tinha escapatória, sentiu calafrios pelo corpo. Quanto
tempo levaria para vender a casa? Era muito visada, com cinco quartos e
cinco banheiros. Logo alguém a compraria.

Seria muito difícil ser amante de Max por um mês, ou dois, talvez três?
Milhões de mulheres aceitariam sem hesitar... Depois poderia continuar sua
vida, e talvez, conhecer um homem decente e se casar, começar uma
família...

— Estamos combinados?

Assentiu com a cabeça relutante, quando Diego chegou com a refeição em


uma bandeja prateada.

Provou o risoto de cogumelos. Seu estômago protestava enjoado a cada


porção que tentava engolir. Não tocou na costela de vitela que foi servida a
seguir. Max, no entanto, saboreava tudo com grande satisfação. As únicas
palavras mencionadas foram alguns comentários sobre a comida. Sophie
sentia-se consternada com a raiva frustrada diante de sua situação. A cada
minuto que passava, o odiava mais.

— Mais vinho? Ou prefere um café? Depois podemos tratar de negócios.

Ela olhou para a taça quase vazia. Percebeu que tinha bebido demais com o
estômago vazio, e respondeu:

— Não quero nada, obrigada.

— Devo dizer, Sophie. Você me surpreendeu. — Examinou-a longa e


detalhadamente de cima a baixo, e deteve o olhar em seus seios. — Não
pensei que aceitaria tão rápido a proposta.

O maldito arrogante sabia muito bem que não tinha opção. Seu mamilo
endureceu ao sentir o toque, o que a enfureceu e a deixou envergonhada.

Havia namorado e beijado alguns homens ao longo dos anos, mas nenhum a
excitara tanto para deixá-la com vontade de fazer algo mais. Porém,
bastava um olhar e esse homem podia fazê-la agir como a adolescente tonta
do passado. Não era justo... Mas a vida não é justa, senão não estaria ali
naquele momento. Sophie o olhou fixo, tão grande, misterioso e perigoso.
Ficar tão próxima de Max, com toda sua arrogância e determinação, deixou
seus nervos em frangalhos. Mas resolveu revidar.

— Bom, como você disse, Abe foi para o Caribe e meu pai costuma dizer que
o tempo é precioso. — Olhou para ele, sorrindo. — Acho que você não é uma
alternativa ruim. Agora, como disse, vamos ao âmago da questão.

Encheu-se de coragem e continuou:

— Além de resolver o problema do meu pai, quero só ver o quanto vai me


recompensar. Sou uma profissional bem remunerada, e perco muito se tiver
que passar algum tempo com você. Não sei quanto custa uma amante, então
terei que confiar no seu conhecimento do assunto. — Viu seu olhar irado, e o
informou: — Tenho que ficar aqui ou em um apartamento? Preciso saber
dessas coisas, e é claro que preciso disso escrito e registrado.
CAPÍTULO SEIS

Irritar um homem como Max Quintano não foi uma boa idéia. Entendeu isso
imediatamente. Dizer que ela o enfureceu era pouco. Ele se levantou em um
salto, agarrou-a pelo pulso e a forçou a encará-lo, em um movimento
gracioso.

— Dio! Você tentaria o diabo com esse atrevimento. Preciso te ensinar como
uma amante se comporta. Para começar, é grosseiro mencionar ex-amantes.
Para meu escritório, agora.

Sophie respirou fundo quando quase foi arrancada da sala para seu gabinete
de trabalho, que era obviamente seu domínio. Em uma parede, livros estavam
enfileirados enquanto na outra havia um computador moderno. Tinha
cadeiras de braço dos dois lados de uma enorme lareira.

A mão dele apertou seu pulso. Empurrou-a para uma cadeira, amaldiçoando-a
com voz abafada.

— Fique aqui e não se mexa.

Ela se encolheu, com a força de sua fúria descontrolada. Mas ele deu a volta
pela mesa, para se atirar na cadeira atrás da escrivaninha. E declarou, ao
pegar o telefone:

— Quer tudo por escrito? Pois é o que terá.

Uma hora depois, jogou um documento em seu colo, mas Sophie não se
importava. Estava enojada do assunto. Sabia que ele era um homem
insensível, mas nunca imaginou que podia ser tão bruto.

O advogado que ele chamou apareceu quinze minutos depois. Nunca foi tão
humilhada antes. Como Max era o único credor de Nigel e concordara em
perdoar-lhe a dívida se Sophie morasse com ele por quanto tempo exigisse.
A partir de então, a dívida seria anulada. Por insistência sua, uma cláusula
foi acrescentada, que garantia sua liberdade para ir embora assim que seu
pai pagasse tudo o que devia. O advogado a considerou desnecessária, mas
ela não confiava nem um pouco em Max.

Tentou agir com confiança e desembaraço. Lembrou que os homens


geralmente dão um apartamento para suas amantes. Mas ele respondeu que
não confiava nela graças aos seus antecedentes. Não queria perdê-la de
vista. Ao ouvir isso, Sophie ficou calada

O advogado apresentou-lhes a versão final do documento e ela assinou.


Testemunhou, ao lado d Max, o ápice de sua humilhação. Mas ela assinou, no
que isso a transformava?

— Satisfeito? — Max se elevava sobre ela com um anjo vingativo.

Levantou-se, pegou sua bolsa e disse com frieza:

— Sim, você explicou com clareza qual a minha situação. Agora, se não se
importa, preciso voltar para o hotel e consultar minha agenda. Tenho que
dar alguns telefonemas e reorganizar meus compromissos das próximas
semanas. Volto para você amanhã.

— Não. Pode fazer isso aqui. Agora é hora de me satisfazer.

Sem falar mais nada, segurou-a nos braços e a carregou escada acima.
Ignorava os golpes que ela lhe dava no peito largo.

— Me largue. Eu sei andar.

— Não vou deixar. Sua primeira lição como minha amante começa aqui. — Ele
abriu a porta com os ombros e a abaixou até seus pés tocarem o chão.
Fechou a porta, e declarou: — Uma amante está sempre pronta e disposta
para seu homem. E nunca lhe bate, a menos que ele peça. — Aproximou-se
dela, pegando seus ombros.

Naquele instante, Sophie se deu conta da barbaridade que concordara em


fazer. Percorreu os olhos pelo quarto luxuoso, e arregalou os olhos com
medo ao reparar na enorme cama.

— Oh, minha nossa. O que eu fiz? — se queixou, ao encarar o homem que a


segurava.

— Nada, até agora. Mas vamos dar um jeito nisso. — Um sorriso mordaz se
desenhou em seus lábios sensuais. Impeliu-a mais adiante, até chegar na
cama. Parou e exigiu: — Tire seu casaco. — Suas mãos deslizavam por sobre
seus ombros até a curva de sua cintura. — E o resto, menos a cinta-liga. Eu
mesmo vou tirá-la.

— Como você sabe? — Mas ele a interrompeu colocando o dedo na frente de


seus lábios.

— Quando estava esparramada no piso do barco. Mas chega de perguntas


agora. — Deu um passo para trás e sentou na beirada do colchão. — Quero
inspecionar a mercadoria e ver se vale o que paguei.

Queria humilhá-la, mais do que já havia feito. Pela primeira vez, Sophie
começou a pensar com clareza. Encarou-o, pensando no motivo que o levava a
agir dessa forma. Era um macho agressivo, com um físico fantástico e uma
aparência austera. Podia ter a mulher que quisesse. Então, por que a
chantageava para dormir com ele? Era o que tinha feito, ao se aproveitar do
amor que tinha por sua família. Porque estava tão irritado?

Romperam muitos anos antes. Ela o rejeitara, mas ele não podia reclamar
diante das circunstâncias. No entanto, podia sentir a raiva sob o seu
controle aparente. Não entendia a razão, a menos que quisesse si vingar.
Talvez tenha ferido seu ego ao deixá-lo. E nenhuma mulher lhe fizera isso.
Mas por que ainda estava aborrecido depois de tantos anos?

— Tinha tudo planejado? Sabia que eu viria a Veneza? — fez as perguntas


que devia ter feito antes. Tentava captar a verdade em seu olhar.

— Não. Quando nos conhecemos, meu irmão tinha acabado de morrer quatro
meses antes. Dessa vez, meu pai morreu quatro meses atrás. Os japoneses
consideram que o quatro dá azar, por ser o número do diabo. Não sou
supersticioso, mas parece que sempre entra na minha vida após alguma
tragédia. Destino ou má sorte, escolha. Eu a vi com Asamov, mais linda e com
certeza muito experiente. Sabia das complicações financeiras de Nigel
Rutherford, então decidi que a teria para mim.

— É por isso, então? — Inspirou fundo. Relembrou-se de um trecho daquela


conversa de anos atrás.

Gina o alertara para não ser impulsivo, quando lhe contou que Sophie podia
estar grávida. Max com certeza não tinha mudado muito desde então, ainda
se apossava do que queria por capricho. De repente, se sentiu magoada.
Havia tentado negar ao longo dos anos que lá no fundo ainda desejava
secretamente voltar aos braços dele... E mesmo agora não queria acreditar
que era o ser imoral e cruel que aparentava.

Max notou a perplexidade em seus olhos. Notou a palidez em seu rosto, e


ficou sério. Parecia uma virgem levada para um altar de sacrifício. Maldição!
Tentava enganá-lo de novo. Usava o velho truque de aparentar inocência,
quando na verdade tinha o coração de uma vadia.

Um sorriso cínico despontou de seus lábios.

— Não vou fazer nada. Vou deixar por sua conta.

Quem ela estava tentando passar para trás? Não tinha mais compaixão.
Bom, ele poderia conseguir uma prostituta se quisesse.

Enfurecida, ela se livrou do casaco e deixou a blusa escorregar pelos seus


ombros. Abriu o zíper da saia e a deixou cair com um balançar de quadris.
Com audácia, apoiou as mãos na cintura diante dele.

— Gosta do que vê? — perguntou com severidade. Ele podia olhar, mas
estava muito enganado ao pensar que ela se entregaria na cama sem resistir.

Max mais do que gostava. Seus seios se apoiavam no fio delgado da renda
branca. Suas incríveis pernas compridas eram realçadas pela calcinha-short,
que era muito mais sexy que uma tanga. Assim como a cinta-liga, exatamente
como imaginava e muito mais.

— Até aqui, gosto. — Ela era pecaminosamente sexy, desafiando-o com o


olhar. Devagar, ficou de pé. — Só que precisa tirar o resto, mas antes... —
Tocou seus ombros e envolveu-lhe o pescoço com uma das mãos. — Prefiro
seu cabelo solto. Livre-se disso. É bom sempre lembrar. — Soltou a fivela
que prendia seus cabelos e percorreu os dedos pelas mechas claras e
sedosas. Jogou uma das trancas por cima de um dos ombros, pousando-a
sobre seu seio.

Um arrepio desceu pela espinha de Sophie. Ficou nervosa, perdeu sua


postura ousada ao sentir a mão de Max sobre seu ombro exposto. Os dedos
roçavam-lhe um dos seios.

— Sim — murmurou ela, desviando os olhos. Sentia-se aturdida com a forma


como seu corpo respondia manso ao menor toque.

— Sim, está ótimo. Você aprende rápido. — Aproximou-a de si. E Max


rapidamente perdeu o controle que ainda tinha.

Ela sentiu os dedos apertarem seus ombros e olhou para o rosto de Max.
Sabia que ia beijá-la.

Jurou para si mesma que não corresponderia. Cerrou os punhos. Sua


resolução foi testada até o limite quando os lábios dele tocaram sua boca.
Beijou-a com sofreguidão, ardente e castigador. Não se opôs, mas também
não retribuiu. Tirou-lhe o sutiã. Ao senti-lo segurar seu seio, soltou um
gemido.

— Não tem como escapar agora, Sophie. Vai apenas adiar o inevitável e se
ferir caso tente dizer não.

Arrepiou-se ao ouvir seu tom impiedoso. Max percebeu e envolveu-lhe a


cintura. Puxou-a para si. Beijou-a com tanta força que a deixou tonta. A
resistência foi derrotada com as carícias no seio e o vigor de seus lábios.
Ela se rendeu impotente ao calor do desejo que se intensificou pelo corpo
traiçoeiro.

Sophie deixou escapar um gemido ao senti-lo morder a curva de seu


pescoço. Os dedos roçaram os pontos sensíveis da pele firme de seus seios
e despertaram uma onda dolorosa de volúpia. Ela agarrou-lhe os ombros,
com medo de cair, já que seus ossos pareciam se derreter. Mas o braço em
volta de sua cintura a segurava firme. Os dedos introduziam-se devagar por
debaixo da renda de sua calcinha.

— Eu jurei que a faria tirar a roupa e se contorcer. Mas não sei por que não
me parece tão importante agora.

Ela viu a ferocidade no olhar dele e por um segundo ficou com medo. Max
gemeu baixinho e levou a boca até seu mamilo rosado e rígido. Lambeu e o
sugou com mordidas delicadas que a levaram ao delírio. Tremores de
sensualidade a percorreram inteira.

— Sim, quero fazê-la tremer — disse Max, enfurecendo-a. Carregou-a nos


braços e a pousou sobre a cama. Puxou com força sua calcinha pelas longas
pernas. Disse, devorando-a com os olhos:
— É assim que a imaginava.

Apenas a renda branca da cinta-liga e as meias de seda encobriam seu


corpo. E seus cabelos dourados caíam pelos ombros. Dominado ferozmente
pelo desejo, Max arrancou-lhe as roupas. Deleitava-se ao ver seu esplendor
sensual pousado sobre os lençóis.

Ofegante e deitada de costas, Sophie arregalou os olhos, fascinada por seu


corpo alto e bronzeado. Estava totalmente excitado, rígido e todo macho.
Desejava-o com o mesmo entusiasmo, com a mesma ânsia de quando fizeram
amor pela primeira vez. Sabia que voltaria a odiá-lo depois, mas agora
sequer se envergonhava com sua nudez.

— Pode olhar o quanto quiser — ele disse, dando uma risada rouca, cheia de
desejo masculino. Ajoelhou-se sobre a cama, ao lado dela. Afastou-lhe o
cabelo dos ombros. E suas palavras, de alguma forma, a irritaram. Era ainda
tão óbvia para ele?

— Vou, sim, e não esqueça de usar proteção — disse, na tentativa de


reassumir algum controle. Lembrou-se de quando estiveram juntos, e do
rompimento trágico. — Não quero carregar vestígios desse caso sórdido.

— Não sou tão descuidado assim. E também não sei com quem andou.

Suas mãos apertaram com mais força os ombros dela. Não tentou esconder
o desprezo em seus olhos.

Estava determinado a se satisfazer completamente com seu corpo perfeito.


Queria cravar seu domínio sobre sua pele, para apagar qualquer traço de
seus ex-amantes.

Mas antes pegou uma camisinha na cabeceira da cama.

— Faça as gentilezas da casa — disse, entregando-lhe a embalagem.

— Eu... não... Faça você — pediu, corada.

Ele sorriu insolente, e se inclinou para mexer-lhe o cabelo. Notou sua


agitação.

— Deixou de ser atirada agora. — Na verdade, Max se admirou que ainda


ficasse assim. Mas isso não influía na excitação que o impelia. Precisava
dominar e capturar essa ninfa sexy, que o assombrara em sonhos por muito
tempo. Com esses pensamentos em mente, apossou-se de sua boca, e dela
inteira...

O toque dos lábios dele despertou uma onda de voluptuosidade em Sophie.


Sua língua a saboreava. Quando ele precisou recobrar o fôlego, afastou os
lábios e desceu pelo pescoço. Mordiscou de leve a pele, sentindo-lhe a
pulsação forte. E desceu, para se deliciar nos seios firmes de Sophie.

Ela o tocou também, e deslizou as mãos pelos músculos vigorosos de seus


ombros. Rendida às suas maravilhas, agarrou-lhe as costas macias como
cetim. Gemeu ao senti-lo lamber-lhe os seios e sugá-los com um prazer
selvagem. Enterrou os dedos em sua carne. Uma explosão de desejo tomou
cada parte de seu corpo ao experimentar o toque de sua língua quente e
molhada.

Max ergueu a cabeça e se ajoelhou. Encarou-a com o olhar ardente de um


desejo feroz.

— Paciência, bella mia. — Ele passou as mãos, de forma torturante, pelos


seus tornozelos. Acariciou a pele macia até chegar às coxas. Separou suas
pernas e se colocou entre delas. Inclinou-se para beijar o pedaço de pele
coberto pela meia de seda. Ela gemeu alto, e suas coxas tremeram com a
carícia delicada. Precisava tocá-lo e tentou se levantar. Max pousou uma
mão em sua barriga e a empurrou contra a cama.

— Ainda não.

Indefesa, Sophie o observava admirar suas coxas nuas, os cachos dourados


que resguardavam sua feminilidade.

Ele deslizou os dedos por debaixo das duas ligas brancas, abrindo-as com
mãos pouco firmes. Devagar, as desceu pela perna. Acariciou-a e a beijou
lentamente pelo corpo acima, até fazê-la tremer e perder a cabeça.

Perdeu o fôlego quando o sentiu tocar seus cachos encaracolados para


afastar as dobras aveludadas abaixo. Max se inclinou, e a fez gritar quando
seus dentes tocaram a protuberância de seu sexo. Perdeu o controle e se
entregou à tormenta extraordinária de sua língua e lábios.

Agarrou seus ombros com força. Correu febrilmente os dedos por entre
seus cabelos pretos. Sentiu-o ficar tenso e recuar.
— Dio! Você tem um gosto tão doce! — Max suspirou, e acariciou a parte
inferior de suas coxas. Beijou-lhe a carne trêmula de sua barriga, seios e
lábios.

Ao mergulhar fundo a língua em sua boca, ele abriu mais suas pernas. Entrou
em seu interior pulsante e quente com uma investida suave.

Sophie tremeu com a pontada leve de dor ao senti-lo firme e gostoso. Fazia
tanto tempo, mas o envolveu com as pernas e braços. O tempo parou ao
senti-lo se mover dentro dela. Nada importava, além do êxtase de ser
possuída pelo seu corpo.

Gritou ao sentir as estocadas fortes, cada vez mais profundas. Gemia o


nome dele sem parar. Seus músculos apertaram-no em seu interior, ao ser
arrebatada por um clímax violento. E antes que seu orgasmo se atenuasse,
viu o corpo musculoso estremecer incontrolavelmente com a força poderosa
de seu alívio.

Max deitou-se em cima dela. Repousou a cabeça no travesseiro ao lado.


Sophie acariciou-lhe as costas. Admirava-se com seu cheiro, sua imponência
e a batida forte de seu coração contra o peito. Por algum tempo, esqueceu-
se do motivo real pelo qual estava na cama com ele. Mas recordou
bruscamente quando Max se virou e levantou...

Sem nenhum embaraço com sua nudez, a fitou com um olhar cheio de pura
satisfação masculina.

— Ainda temos a química. Não começamos mal. Mas eu não cheguei a tirar
sua cinta-liga. Fique como está até me livrar disso, e aí podemos continuar —
disse, com uma voz rouca e grave, em um tom altivo que estremeceu Sophie.

Viu-o sair pela porta do quarto. O sol da tarde que entrava pela janela
brilhava por seu corpo bronzeado. Segurou lágrimas tolas que brotaram. O
que esperava? Carinho e ternura?

Arrastou as pernas pela cama e levantou. Não ia esperar por ele como uma
idiota. Já fizera isso antes...
CAPÍTULO SETE

Na manhã seguinte, Sophie abriu os olhos e bocejou. Por um instante, não


tinha ciência de onde estava ou de sua situação. Espreguiçou-se e sentiu
doer músculos que nem sabia ter. Lembrou-se da verdade humilhante.
Entregara-se a Max, como fizera aos dezenove anos. Mas sua situação era
muito diferente. Ele a sujeitou a uma verdadeira lição de erotismo, e lhe
apresentou coisas que jamais imaginara ser possível. Havia passado sete
anos de celibato, mas ele presumiu que tinha ganhado muita experiência. O
pior era reconhecer que ela correspondeu com uma ânsia sexual
incontrolável. Deu uma olhada na enorme cama. O único sinal de Max era a
curva no travesseiro e seu perfume impregnado nos lençóis e em sua pele.

Respirou fundo e sentou, puxando o lençol até o pescoço. O relógio na


cabeceira da cama marcava oito horas. Olhou com cautela à sua volta, como
se esperasse que ele aparecesse a qualquer momento.

Ainda não podia encará-lo... Devagar, levantou e cambaleou até o banheiro.


Entrou embaixo do chuveiro e abriu a torneira, vacilando ao sentir os fortes
jatos de água. Inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos. Um
caleidoscópio de imagens das últimas 24 horas passou em sua mente...

Relembrou Max voltando do banheiro, com o corpo musculoso ainda nu... A


facilidade com que a fez mudar de idéia, e como retirou sua cinta-liga...
Seus mamilos se enrijeceram com a lembrança.

Não se reconhecia mais... A experiência carinhosa de suas primeiras noites


de amor, quando era mais nova, não a preparou para a potência total da
destreza sexual de Max. Nem para a mulher selvagem que se tornou em seus
braços.

Desligou o chuveiro. Enrolou-se em uma toalha, e prendeu o cabelo com uma


toalha menor. Caminhou até o quarto.

Não queria pensar. Evitou lembrar da humilhação de voltar ao hotel para


pegar seus pertences, na companhia de Max. Nem da forma como ficou
calado pensativo no jantar.

Tentou reafirmar independência ao insistir que devia voltar à Inglaterra,


para resolver algumas coisas em seu apartamento. Mas ele apenas repudiou
a idéia. E a levou de volta para a cama que testemunhara sua ruína
anteriormente.

Quando estava fundo dentro dela, enlouquecendo-a com um prazer


torturante, parou. Sophie implorou para continuar, se curvou para a frente.
Arranhou sua carne firme com as unhas. Mas ele resistiu a cada tentativa.
Quando Sophie abriu os olhos, avistou o ar de triunfo e tensão em seu rosto.
Ofendeu-a dizendo:

— Abe a fazia sentir assim?

Respondeu o "não" que ele queria ouvir, e notou seu olhar cheio de
supremacia masculina ao levá-la aos céus.

Deu uma espiada na cama desarrumada agora. Torceu os lábios ao lembrar


de Max reiterar, ao sair na noite anterior, que aquele quarto era dela. Não
soube para onde ele foi.

Tentou aceitar o arranjo entre eles, e pensou que ao menos não precisaria
passar a noite inteira com ele. Mas essa idéia não era tão confortável
quanto deveria.

Sophie inclinou a cabeça, e começou a secar seu cabelo com raiva. Tentava
bloquear cada imagem vergonhosa de sua mente.

— Deixe-me fazer isso por você.

Ela pulou, assustada, com o som de sua voz.

— De onde você veio? — Max estava parado à sua frente, quase dois metros
de macho arrogante. Vestia-se bem casual, com calças e camisa azul-
marinho e uma jaqueta de couro. Mas, para sua vergonha, pegou-se a
imaginá-lo sem roupa. Entreolharam-se. Seu jeito sensual de olhá-la corava
seu rosto pálido.

— Gostaria que eu viesse do inferno, aposto. Mas não, nada tão dramático.
Essa é a suíte principal. Dividimos o banheiro e o quarto de vestir. Estou
surpreso que não tenha visto as portas que ligam os quartos.
Era óbvio que as tinha visto, assim como a decoração moderna do banheiro
com duas pias e uma enorme banheira circular. Mas não havia percebido para
onde as portas levavam. Estava desligada desde o dia anterior, embora
estivesse ciente até demais da presença dinâmica e poderosa do homem
diante dela. E isso precisava chegar a um fim.

Mas, antes que pudesse formular qualquer resposta, Max pousou as mãos
nos ombros dela e a puxou para si. Surpreendeu-a ao começar a secar-lhe os
cabelos.

Sophie ficou tentada a repousar a cabeça em seu tórax e deixá-lo continuar.


Mas conseguiu buscar forças no pouco de respeito próprio e orgulho que
restou, após ter se entregue indefesa aos prazeres carnais. Empurrou-o
pelo peito, e o deixou com a pequena toalha na mão.

— Não precisa fazer isso. Posso usar um secador de cabelo.

Ele soltou uma risada sexy. Admirava seus cabelos soltos e despenteados e
a toalha por cima dos seios.

— Precisar, talvez não. Mas eu quero fazê-lo. E essa toalha que ameaça cair
é irresistível.

— O quê? — Ela olhou para baixo e viu a peça deslizando. Amarrou-a em


volta de seu peito. Foi capturada por braços fortes e pelos lábios dele. Não
conseguia lutar sem perder a única coisa que cobria seu corpo. E nem queria,
conforme sentia a língua dele roçar na sua. Derreteu-sé, em sintonia com
aquele toque sensual, e o calor já familiar incendiou suas veias. Max
murmurou:

— Por mais eu quisesse continuar, temos um vôo às dez horas.

— Um vôo? — exclamou, confusa.

— Sim. Almoçaremos com seu pai. Marquei ontem à noite, antes do jantar.
Até agora, você seguiu sua parte do arranjo melhor do que eu esperava.
Devo fazer a minha. Mas quero conhecer a família que a levou a ser tão...
prestativa — disse, num tom de sarcasmo evidente. Afastou-se e parou
diante da porta para dizer:

— Eu a encontro lá embaixo dentro de 45 minutos. Não me faça esperar. —


E saiu do quarto.
Sophie encontrou o quarto de vestir. Suas poucas roupas estavam
penduradas no armário. Em menos de 30 minutos ficou pronta. Estava
furiosa. Havia pedido para ir até seu apartamento no dia anterior, e ele
recusou. No entanto, teve a audácia de combinar um encontro com seus
familiares. Por que fazia isso? Queria humilhá-la ainda mais?

Viu rapidamente o reflexo no espelho. Seu cabelo estava amarrado com um


lenço vermelho. Colocou pouca maquiagem e vestiu o mesmo conjunto do dia
anterior. Alguém o havia passado. Separou um terninho formal, um vestido
de noite e um conjunto de blusas para a viagem. O único item mais esportivo
era uma roupa que usava para correr, ou para ficar em casa. Não conseguia
ver o sofisticado Max contente ao ver sua amante em um moletom folgado.
Irritou-se ao pensar nisso. Desde quando admitia ser sua amante?

Lembrou-se da definição da palavra no dicionário. Procurou-a anos antes,


quando ouviu Meg mencionar o último caso amoroso de seu pai. Uma amante
é uma mulher cortejada e adorada. Com certeza, hoje em dia não possui tal
conotação. Muitos a entendem como alguém que é sustentada e paga, e esse
infelizmente era o seu caso.

Falou para si mesma que não se importava. Deu de ombros e desceu a


escada, com o queixo levantado de forma desafiadora.

Max esperava sentado. Embora tivesse dito a si mesma que se conteria, seu
estômago se contorceu ao se sentir na mira de seu olhar rude.

— Uma mulher pontual! Ou estava apenas louca para me ver? — zombou.

— Não. Mas estou louca para saber por que diabos quer conhecer meu pai,
comigo ao seu lado. Não é o bastante que vá vê-lo na reunião da próxima
semana? Nem você seria tão degenerado a ponto de contar-lhe sobre nosso
trato—respondeu ela, com a cara fechada.

Ele estirou um braço musculoso, e a puxou com força contra si.

— Já lhe avisei sobre esse jeito atrevido de falar comigo.

Sophie estava encurralada pelo fulgor do olhar dele. Seu coração acelerou
quando ele lascou-lhe um beijo tão poderoso e intenso, que devia servir
como castigo.

Queria afastá-lo, mas o perfume almiscarado familiar provocou seus


sentidos. Torceu os dedos do pé de prazer e suas mãos se ergueram, por
conta própria, para abraçar seu pescoço. Retribuiu o beijo, faminta para
provar seu sabor. E, inesperadamente, ele a afastou.

— Pode me chamar como quiser, mas você me quer. Preocupa-se demais. Seu
pai vai adorar, dadas as circunstâncias. — Não tentou esconder o tom de
sarcasmo na voz.

— Mas o quê...

— O que vou contar? A verdade, claro.

— Está louco? — Encarava-o horrorizada. — Não pode fazer isso! Eu sou


filha dele, mesmo que não tenha sido o melhor pai do mundo. Ele vai matá-lo!

Para sua surpresa, ele riu e balançou a cabeça.

— Ah, Sophie. Disse que falaria a verdade, mas a minha versão. — Pegou-a
pela cintura e mais uma vez a beijou.

Ela estremeceu ao sentir a paixão breve e vigorosa de seus lábios. Demorou


um pouco para compreender o que disse após afastar-se de sua boca.

— Nos tornamos amigos na Sicília anos atrás. E depois na América do Sul e


em Veneza. Você agora é minha namorada, para usar o termo mais
apropriado. Não posso deixar de ajudá-la ao vê-la tão chateada com a
situação de seu pai...

— E mesmo louco. Ele não vai acreditar nisso. — Mas reconheceu que Max
era esperto. Contava apenas os detalhes da verdade que a tornavam
convincente.

— Sim, acreditará. Porque é isso que vai querer. Para um viúvo, sempre foi
mulherengo e esbanjou dinheiro com elas. Pelo que sei, sua esposa atual dá
despesas demais. Podemos dizer que engolirá a história, desde que você
coopere.

Tinha razão sobre seu pai. Após a morte de sua mãe, era impossível não
perceber sua atração por mulheres. Tentou não se incomodar com isso. Não
fazia idéia de como Max sabia disso, e talvez nem quisesse saber. Na
verdade, os dois eram muito parecidos.

Sem demonstrar o que sentia, o fitou com frieza e perguntou:


— O que quer dizer com cooperar?

— Deve fingir ser a amante apaixonada e zelosa. Já fez isso antes e deu
resultado, não encontrará dificuldade. Principalmente depois da noite de
ontem. — Prensou sua boca com um breve beijo punitivo. Saíram juntos até á
lancha, onde Diego os esperava.

Uma hora depois, Sophie ainda tentava organizar seus pensamentos em


turbilhão, sentada no jato particular Citation X. Max estava a seu lado,
usando óculos. Desde a decolagem, lia atentamente papéis que retirou de
uma grande pasta.

Mordiscava o lábio inferior, nervosa, e começou a entrar em pânico.


Pousariam em breve. Não estava convencida de que a história inventada por
Max enganaria seu pai.

— Max, meu pai não é idiota, embora de vez em quando se comporte como
um. Tem certeza? — advertiu, incapaz de compreender plenamente o
desdobramento de sua situação.

Ele tirou os óculos e se voltou para Sophie.

— Não sabia que usava óculos — ela exclamou.

— Tem muita coisa que não sabe sobre mim. Mas terá tempo para aprender.
Nigel é um homem experiente, capaz de enxergar. Acreditará no que já
falamos antes.

Ele envolveu-lhe a nuca e capturou sua boca com um beijo intenso.

— E você, Sophie, tem o brilho nos olhos de uma mulher satisfeita.

Dá para notar?, ela se surpreendeu. Corou ao se lembrar da noite anterior.


Sua última frase a calou, assim como seu novo hábito de não hesitar em
beijá-la.

Sentada à esquerda de seu pai e com Timothy a seu lado, Sophie fez o
possível para parecer contente. Mas com Max e Margot à sua frente, perdia
a vontade de viver...

Desde o momento em que chegaram, em uma limusine com chofer, e viram a


placa de "casa à venda" , Sophie se sentiu pisando em ovos. Só relaxou por
um momento, quando Timothy pediu para dar um passeio no carro. Deu uma
volta com ele, enquanto Max conversava em particular com seu pai. Indicou o
caminho da lanchonete próxima ao motorista. Ao voltarem, ficou tensa
novamente.

Max fez um acordo com Nigel. Teve o descaramento de dizer que gostaria
de ajudá-lo a resolver seus problemas já que não suportava ver Sophie
preocupada.

Todos estavam felizes. Principalmente Margot, que paquerava Max de forma


vergonhosa. Ele respondeu a todas suas insinuações como um perfeito
sedutor. Manteve Sophie a seu lado, e só a largou quando Margot indicou
seus lugares à mesa.

Depois de muitas perguntas pessoais da madrasta de Sophie, Max disse que


sempre sentiu afeição por ela desde quando se conheceram, sete anos
antes. Contou que se encontraram novamente, por acaso, na América do Sul
alguns meses antes.

Sophie quase se maravilhou com a forma como ele evitava mentir. Max disse
apenas meias-verdades, já que os dois realmente estiveram no continente.
Só não chegaram a se encontrar, como relatou. Quando ele explicou que seu
relacionamento ficou mais sério em Veneza, voltou-se para ela e perguntou:

— Não é mesmo, cara?

— Sim. — O que mais podia falar? Corou ao reparar seu olhar de escárnio,
que somente ela captou. E a vermelhidão em seu rosto confirmou a história
para seu pai.

Margot pediu para ela ajudá-la a preparar o café, e a encurralou na cozinha.

—Meu Deus! Mas que sortuda você é. Não acredito que agarrou um homem
como Max Quintano. Mas ainda bem que conseguiu. Jogue direito e talvez
até a peça em casamento. Aí, engravide logo, porque se ele mudar de idéia
estará garantida para o resto da vida.

Sophie agora tinha certeza de que Margot engravidara de propósito. Mas


amava Timothy demais para ficar com raiva.

Ia começar a dizer que era muito feliz com sua vida, mas se deteve.
Percebeu ser uma mentira. Foi feliz, até o momento em que reencontrara
Max.
Margot pegou a bandeja de café.

— Ao menos, ficaremos com a casa. Não o chateie até resolver as dívidas do


seu pai.

— Não, Margot, você não entende. Ela ainda precisa ser vendida.

— Não seja ridícula. Você é como seu pai. Se vendermos a casa, depois de
pagar a hipoteca não conseguiremos pagar uma fração da dívida. Mas por
algum motivo, Max gosta de você. Talvez seja boa na cama. — Lançou-lhe um
olhar de dúvida. — Soube que é um amante maravilhoso. Talvez goste de
ensiná-la... Seja o que for, se você pedir, não deixará que a residência de
sua família seja vendida. Então, pare de se preocupar, fale com ele e me
passe o açúcar.

Voltaram à sala de jantar. Sophie mal podia encarar os demais. Bebeu o café
sem levantar a cabeça. Sua sentença de ser amante de Max, que considerou
durar apenas alguns meses, agora parecia ter um prazo indeterminado. Seu
pai lhe contou que, após a morte de sua mãe, a hipoteca da casa tinha sido
paga pelo seguro. Mas nunca lhe passou pela cabeça que ele a hipotecasse
mais uma vez. Era muita estupidez! Mas devia ter previsto. Era inevitável,
após ter casado com uma jovem esbanjadora como Margot.

Dois minutos depois de servir o café, sua madrasta já se debruçava em cima


de Max. Quase o comia com os olhos.

— Quer mais café? Deixe-me encher sua xícara, ou quer outra coisa? —
sugeriu, com um olhar malicioso. E completou: — Um conhaque, talvez um
champanhe para comemorar?

Sophie não podia agüentar mais, levantou e chamou Timothy.

— Venha, Tim. Já está sentado há muito tempo. Deixe os adultos beberem


seus drinques e vamos passear. — E rapidamente foram para a cozinha.

Abriu a porta dos fundos, com a ajuda do irmão, e saíram para o quintal.

Sophie respirou fundo o ar fresco outonal. Tentava espairecer. Queria se


livrar da vergonha que sentia, tanto pelo que fizera quanto pelo que ocorria
dentro da casa.

Tim puxou-lhe a mão e perguntou, ansioso:


— Podemos subir na casa da árvore?

Seu coração se encheu de amor ao vê-lo tão alegre e inocente. E então,


soube ter tomado a decisão certa. Faria qualquer coisa para lhe garantir um
lar feliz, com os pais por perto. E se para isso precisava livrar seu pai da
falência, que assim fosse...

Margot era jovem e atraente. Sophie não a considerava do tipo que


manteria um casamento com um homem mais velho falido. Sabia ser
desfaçatez, mas era a realidade.

— Claro, querido — falou, sorrindo para o menino. Seguiram pela trilha que
contornava os canteiros e gramados bem-cuidados, até chegarem a uma
sebe que escondia metade do quintal onde havia árvores frutíferas e
gramado.

Havia um balanço velho e um escorregador na clareira entre as macieiras.


Continuando, aproximaram-se dos espinheiros e da faia. Esse era o lugar
preferido de Sophie quando criança. Lembrou-se da mãe empurrando-a no
balanço preso na árvore, e a segurando firme nos braços no fim do
escorregador.

Seus olhos ficaram úmidos. Ajudou Timothy a subir até a plataforma


instável construída entre os galhos, que ele chamava entusiasmado de "casa
da árvore" . Ela a construíra aos oito anos, com a ajuda da mãe, e no ano
anterior a reforçara para Timothy. Acompanhou o irmão e trepou por entre
as folhas. Saudosa, refletia no quanto as lembranças de infância são
preciosas. Então, avistou o rosto animado e contente de Tim. E confirmou
ter feito a coisa certa ao aceitar a proposta desonrosa.

— Francamente, Sophie. O que o pobre do Max vai pensar? Pendurada em


árvores, com essa idade. — A risada tilintante de Margot despertou sua
atenção. Estava agarrada no braço dele, e lhe disse sorrindo:

— Sophie às vezes é mais infantil do que Timothy. Já lhe disse várias vezes
para não deixá-lo subir. Mas não me ouve. Desça, agora — disse a Sophie.

Max a observou com folhas outonais presas nos cabelos, frouxos no lenço
que mal segurava os cachos sedosos, e a saia em volta de suas coxas. Não a
considerou infantil, pelo contrário. Ela desceu segurando o menino firme nos
braços. Foi então que reparou na semelhança entre os dois. Ela tinha a
expressão de criança culpada por uma travessura.

— Ouviu o que sua mãe disse, Sophie — Max brincou, fazendo cara séria.

— Não sou mãe dela! — Margot disse com raiva, fazendo Sophie segurar
uma risada.

Ele admirou seu rosto encantador e bem-humorado. Ordenou, com


severidade:

— Desça agora mesmo. — Fitou seu corpo esbelto, detendo-se demorada-


mente nas coxas escarrapachadas sobre as tábuas. Estendeu as mãos e
sorriu, radiante. — Passe-me aqui o Timothy. Depois eu subo e vou aí pegar
você.

Sophie riu ao ver a expressão tão natural e inesperada dele. Estendeu o


irmão nos seus braços, e caiu firme no chão.

Max envolveu-lhe a cintura e a puxou contra si.

— Você é uma mistura interessante, Sophia. — Chamou-a pela versão italiana


de seu nome ao examinar suas delicadas feições. — Uma mulher bonita e
elegante, e que age como criança. Já fiz os arranjos com seu pai, não precisa
se preocupar. Depois de vê-la com Timothy, a compreendo um pouco mais.

Sophie duvidava que fosse verdade o que ele dissera. Para começar, achava
que ela tivera vários amantes. Mas não ia discutir com ele. Sentia-se
estranhamente protegida com o braço de Max em sua cintura.

Mas teve que contestar quando ele aceitou o convite de sua madrasta, para
jantar e passar a noite.

— Não, não podemos. — Lançou um olhar corrosivo a Max, que estava


sentado no sofá da sala de estar, próximo de Margot. Parecia estar em casa,
com as pernas esticadas, segurando um copo de brandy. — Preciso dar uma
olhada no meu apartamento e falar com minha vizinha.

Levantou da cadeira, atravessou a sala e o encarou. Forçou um sorriso ao lhe


perguntar:

— Se você concordar, Max.

Eis uma experiência inédita. Conhecer essa Sophie que perguntava por sua
opinião, ao contrário de desafiá-lo. Por um instante, Max ficou tentado a
negar por maldade. Mas algo o deteve, quando seu corpo reagiu de forma
previsível ao apreciar a beleza dela. Sua amante alta e bonita parecia frágil
de verdade. Pôde ver a expressão no rosto e os ombros tensos. Parecia
estar à beira de um colapso nervoso.

— Sim, claro. — Levantou e percebeu o alívio em seus olhos esverdeados.


Passou um braço protetor em sua cintura, e pegou o celular do bolso. — Vou
chamar o motorista.

Ele sentiu-a relaxar e disse:

— Dez minutos e vamos embora... Ok?

— Obrigada — respondeu Sophie baixinho. — Vou ao banheiro.

Ele reparou na maneira como ela se esforçou para endireitar os ombros e


manter a cabeça levantada ao ouvir as objeções de Margot.

— Mas, Sophie, nós mal a vemos. E, pelo amor de Deus, o seu


apartamentozinho pode se cuidar sozinho. Você e Max devem passar a noite
aqui.

— Não, desculpe, Margot. Precisamos ir.

Max a viu sair da sala. Pela primeira vez, desde seu reencontro, perguntava-
se o que estava fazendo. Observou como seus pais, se é que se podia chamá-
los assim, eram as pessoas mais egocêntricas que já conhecera. Lembrou-se
de ouvir Sophie lhe contar que sua mãe morrera quando tinha onze anos.
Depois a mandaram para o internato. Seu pai se preocupou com ela, mas não
o bastante para atrapalhar seu estilo de vida. Viu como se alegrou ao aceitar
sua oferta de ajuda, sem sequer pedir a opinião da filha a respeito.

Max ligou para o chofer e percebeu que agira F como um egoísta, por não
ter considerado os sentimentos dela. E se sentiu incrivelmente culpado, um
sentimento que odiava.

Sophie só desceu quando o carro chegou, e despediram-se rapidamente. Seu


pai deu um beijo em sua bochecha, e Margot deu um beijo no ar. Apenas
Timothy ficou chateado com sua partida. Ela levantou seu irmão e o abraçou,
sufocando-o de beijos e prometendo que poderia passar o verão em seu
apartamento perto do mar, mais uma vez. E sentou-se no banco traseiro do
carro.

— Você está bem? — perguntou Max, ao sentar ao seu lado e perceber que
ela chorava.

Ela limpou uma lágrima do rosto antes de olhá-lo com tristeza.

— Claro. Resolveu o problema do meu pai. Não podia ficar mais feliz. O que
espera que eu diga? — Sem esperar a resposta, ela desviou o olhar.

Max nunca a viu tão aborrecida e destroçada, e sua consciência o perturbou


de modo inesperado. Havia coagido Sophie a entrar em sua vida e intimidade
sem pensar duas vezes. Viu-a com Abe Asamov e ficou cego por uma onda
intensa de possessividade primitiva. Foi tomado por um desejo ardente de
se vingar da única mulher que o largara.

Mas agora reconsiderava...

— Um obrigado seria bom, mas não precisa. — Max pegou-lhe o queixo e a


fez olhar em seu rosto. — Mas não é tão impossível que esteja feliz com
nosso trato.

Viu seus olhos esverdeados expressarem incredulidade, e afirmou:

— Nossa química sexual é ótima... — ao perceber que ela começava a ficar


corada, se encorajou a continuar — e não sou um monstro, apesar da
impressão que teve nos últimos dias. Com uma pouco de boa vontade de
ambas as partes, podemos conviver juntos de forma agradável.

Ele inclinou a cabeça e deu-lhe um beijo rápido e forte.

— Pense nisso enquanto não chegamos e eu adianto meu trabalho.

Apoiou sua mala no colo, retirou e começou a ler alguns relatórios de


mineração de uma nova escavação no Equador.

Ele está falando sério? Conviver juntos de forma agradável!, perguntava-se,


com os lábios ainda formigantes pelo beijo. A única coisa junta ali era sua
coxa roçando na dele com o movimento do carro. E talvez não estivesse
agradável como disse, mas sim repulsiva. Deteve o olhar no perfil de Max,
tão frio, calmo e controlado. Como conseguia? Era cruel demais,
brutalmente masculino para ser associado com a palavra agradável. Ficaria
surpresa se ao menos constasse de seu vocabulário.
Chegou para o lado, deixando um espaço entre eles. Imaginava como poderia
funcionar o "boa vontade de ambas as partes". Um macho poderoso e
arrogante como Max acha que só sua vontade prevalece...

Bocejou e fechou os olhos. Mal dormia há duas noites seguidas, e estava


toda dolorida e cansada para pensar.

CAPITULO OITO

— Sophie... Sophie, acorde. — Ouviu a voz grave a distância, e abriu os olhos


devagar. Percebeu que estava com a cabeça apoiada no peito de Max, o
braço dentro de sua jaqueta. Segurava a parte de trás da sua camisa. E seu
braço envolvia-lhe os ombros. Ela sacudiu a cabeça, e murmurou:

— Caí no sono. — E ruborizou, por ter dito o óbvio. — Eu notei, com você
colada no meu peito. Mas já chegamos.

Empurrando-lhe o peito, ela sentou e passou os dedos nos cabelos. Ajeitou a


saia e, constrangida demais para olhá-lo, disse:

— Desculpe. Devo ter interrompido seu trabalho.

— Não se desculpe. Foi um prazer. — Ele riu, e saiu do carro.

Seu apartamento era no primeiro andar de uma casa vitoriana na estrada


principal, de frente para a praia.

— Bela vista. — Max comentou, olhando em volta. Esticou a mão para ajudá-
la a sair do carro.

De pé na calçada, de repente ocorreu a Sophie que não o queria em seu


apartamento. Era seu refúgio pessoal, e quando esse caso acabasse não
queria sequer que sua sombra pairasse perto de sua casa.

— Não precisa entrar — ela lançou-lhe um sorriso, que diminuiu ao cruzar


com seus olhos castanhos examinando-a com curiosidade. Por um momento,
vacilou ao admirar o homem incrivelmente atraente diante de si.

Tentou evitar o rubor que ameaçou corar seu rosto.


— Porque não dá uma volta pela vizinhança? De qualquer forma, essa limusine
não pode estacionar aqui. Brighton fica próximo e é muito interessante. Não
vou demorar a fazer minha mala, e dar alguns telefonemas. Ficaria
entediado. — Tentou soltar sua mão de maneira fortuita.

Ele levantou a sobrancelha, com sarcasmo.

— Não pode estar falando sério, Sophie. Já fiz passeios demais para um dia.
— Dispensou o motorista pelo resto da noite, e apertou forte a mão de
Sophie.

Sophie abriu a porta e entrou na elegante sala de entrada seguida de Max.

— Moro no primeiro andar — murmurou, sentindo seu olhar avaliá-la


enquanto subiam a escadaria. Destrancou a porta no primeiro patamar, que
dava para a entrada de seu apartamento. Levou-o até a sala e disse, de
forma rude:

— Não é muito, comparado com os seus padrões. — Sem hesitar, ela


descalçou os sapatos, pousou a bolsa na mesa diante do sofá e se voltou para
ele. — Mas eu gosto.

Max percorreu o corpo dela com o olhar, enfurecendo Sophie. Ele sabia que
ela não o queria ali. Disse, com calma, olhando em volta:

— Tenho certeza que gosta. É encantador.

— Quer café ou vinho? — perguntou Sophie, incomodada com o silêncio.

— Vinho, por favor. — Max andou pela sala. Tirou a jaqueta, largou-a no
braço do sofá e sentou.

— Tenho uma garrafa de chardonnay da África do Sul na geladeira. Mas não


sei se agrada a alguém com gostos tão refinados como você — disse com
aspereza.

Os temores de Sophie se confirmaram ao vê-lo à vontade esparramado em


sua casa, como se morasse ali. Nunca conseguira tirar sua imagem da mente,
e achou bom escapar um pouco para a cozinha.

Ela tirou o casaco e pendurou na cadeira de pinho. Abriu a garrafa que tirou
da geladeira e encheu duas taças grandes de cristal. Bebeu um pouco, sem
pressa. Hesitava em olhá-lo novamente, e percebeu que tinha cometido um
erro. Deveria tirá-lo dali o mais rápido possível. Recolocou a garrafa na
geladeira.

Voltou para a sala e pousou a taça de cristal na mesa.

— Desfrute. Se quiser beber mais, pode buscar. Vou fazer minhas malas,
não demoro. Ligarei para minha vizinha e poderemos ir. — Percebeu que
estava tagarelando. Ficava nervosa na presença de Max.

Uma mão forte envolveu sua cintura, e a puxou para seu lado.

— Por que fez isso?— perguntou Sophie, tentando sentar direito.

Ele a agarrou outra vez, com um braço forte em volta de seus ombros.
Examinou seu rosto rebelde e sorriu de modo malicioso.

— Sua casa é adorável, Sophie. Relaxe e aproveite. Não vamos a nenhum


lugar essa noite. Quando decidiu vir para cá, dispensei os serviços do
motorista.

Ela sentiu a mão quente sob o tecido de sua blusa. Os dedos massagearam
preguiçosamente suas costas. Ficou sem fôlego e perdeu a fala por alguns
instantes. Engoliu em seco, tentando não ceder à irresistível atração sexual.
Olhou para o relógio sobre a lareira. Saíram da Itália às 10 da manhã. Caso
se apressassem, conseguiriam voltar às 10 da noite.

— São... São apenas seis horas. — Não conseguia evitar gaguejar, mas
continuou depressa. — Eu faço as malas rápido, e se nos apressarmos
chegaremos ao aeroporto às 7 horas. O vôo dura apenas 2h30, podemos
chegar lá às 9h30.

— Fico lisonjeado ao vê-la ansiosa para voltar à minha casa. E seus cálculos
são impressionantes. Infelizmente, cara, não se lembrou do fuso horário de
uma hora mais tarde. Então não será possível. — Olhou-a com ironia.

— Não pode dormir aqui. — Sophie arregalou os olhos, horrorizada ao


admitir que ele não estaria ali se não fosse por um erro seu. Tê-lo em sua
sala já era ruim demais, mas levá-lo para seu quarto era mil vezes pior.

— Pode me dizer por que não? — perguntou Max, acariciando-lhe o pescoço


e os cabelos.

Os ombros largos estavam inclinados em sua direção. Ela sentia o corpo


másculo e viril próximo do seu. Vislumbrou a pele bronzeada por debaixo da
camisa azul desabotoada no peito. Disse a primeira coisa que veio à mente:

— Você não tem roupas.

— Está errada. Sabe que estou sempre preparado? Não que seja um
problema ficar nu. Vamos, Sophie, sabemos que o jogo começou e já ganhei.
— Puxou-lhe o cabelo de leve e inclinou a cabeça para trás, capturando-a
com seu olhar. — Chega de desculpas. Você é minha aqui ou em qualquer
lugar, por quanto tempo eu quiser.

— Apenas até a casa ser... — Ela tentou inutilmente negar sua suposição, e
foi interrompida pela risada brusca de Max.

— Depois de conhecer Nigel e Margot, sei que isso nunca acontecerá a


menos que eu os obrigue. O que não farei.

Sophie não se surpreendeu ao ver como ele compreendeu a mente de


Margot. Forçou-se a encará-lo, e disse:

— Deve ter razão. Mas ainda preferia que não ficasse aqui. Um hotel...

— Um hotel? Tem medo de que eu ache rastros de seu último amante no


quarto? — perguntou, sério.

— Não, claro que não — respondeu irada, arrependendo-se depois ao ver sua
expressão contemplativa.

— Algo mais a está incomodando? — Lançou-lhe um olhar penetrante, que a


amedrontou.

— Não tenho comida na geladeira, estou fora há cinco dias — disse,


desviando o olhar, temerosa de que ele percebesse mais do que gostaria que
soubesse.

— É só isso? Sou um homem adulto, e preciso comer. Mas deve haver algum
restaurante por aqui. Não vamos morrer de fome.

Os olhos esverdeados voltaram-se para seu belo rosto. Seu sorriso sexy a
levou de volta aos tempos de sua juventude, em que Max sorria e a
provocava. Sentiu o coração bater forte mais uma vez, como se fosse sair
do peito. Aterrorizou-se ao experimentar os incríveis calafrios na barriga
cada vez que o olhava. Forçou um sorriso, e conseguiu permanecer firme.
— Tem razão. Beba seu vinho. Preciso tomar banho e trocar de roupa.
Trepar em árvores me desarrumou toda. — Apontou para o controle remoto
em cima da mesa. — Veja um pouco de televisão, se quiser. Devo demorar.

Max fitou-a com um olhar intenso por alguns instantes, e então a deixou
levantar. Reclinou-se no sofá com calma, e disse:

— Prefiro tomar banho com você.

— Não há espaço para nós dois — disse ela sem olhar para trás. Saiu
devagar da sala e fechou a porta.

Encostou-se na parede, exausta de corpo e alma. Ao mencionar que estava


fora de casa há cinco dias, constatou chocada como sua vida mudara para
sempre. E em um intervalo tão curto de tempo. Ficou espantada com a forma
como ele dispensava suas desculpas e como reagiu. De repente, percebeu
que era inútil afastá-lo de seu quarto. Não importaria onde ou com quem
estivesse, a imagem de Max ficaria gravada em sua mente. Obrigou-se a
andar pelo corredor, em direção ao banheiro. Tirou as roupas e sentiu um
calafrio na espinha ao perceber que corria o sério risco de se viciar no
carisma sexual dele de novo. Recusava-se a chamar isso de amor...

Entrou no chuveiro com a cabeça em turbilhão. Desde quando se


conheceram, conseguiu se convencer de que havia sido só uma paixão
adolescente. Até a noite passada.

Agora, era destroçada pela luta travada entre sua razão e seu corpo. Era
uma humilhação, e um ataque ao amor-próprio ser amante de Max. Mas não
conseguia negar o prazer que sentia com o toque dos lábios e das mãos dele
sobre seu corpo, e com o encanto de ser possuída por ele. Não conseguia
mais se enganar. Desejava-o com uma ferocidade que a assustava. E não
poderia deixá-lo saber disso, senão destruiria o pouco de dignidade que
tinha.

Terminou o banho e se enxugou. Perguntava-se como era possível sentir


tanta atração por um homem tão detestável, no qual nunca poderia confiar.

Vestiu um jeans e suéter, e voltou para a sala. Havia se passado 45 minutos,


mas Max ainda lia alguns relatórios, sentado no sofá. Viu-a se aproximar, e
disse:
— Que transformação.

— Na verdade, sempre me visto assim quando fico em casa. Se existem


regras de como uma amante deve se vestir, precisa me ensinar.

Max sabia que Sophie estava zangada por ser forçada a passar por essa
situação. Não podia culpá-la.

Mas, considerando de forma mais cínica, não via por que deveria reclamar.
Não era mais uma virgem inocente, há muito tempo.

— Não que eu conheça. Com certeza existe a regra de tirar a roupa quando
eu mandar.

Ela estava linda com as longas pernas torneadas dentro de uma calça justa e
um suéter azul agarrado nos seios firmes. O cabelo louro claro, preso em
uma longa trança, o fez lembrar de quando a conheceu jovem, e do motivo de
sua separação.

Aproximou-se e segurou-lhe o rosto entre as mãos. Encarou fundo seus


olhos zangados e magoados. Enfurecido, tomou-lhe a boca tenra nos lábios
com um beijo amargurado e possessivo. Só ele tinha o direito de se zangar,
já que fora abandonado no pior momento da sua vida.

Sentiu-a envolver seu pescoço, e a maciez do corpo deslumbrante contra sua


pele. Correspondia, sem conseguir negar seus desejos. E então, indignado
consigo mesmo, assim como ela, ergueu a cabeça e a afastou.

— Onde é o banheiro? Preciso de um banho.

A forma rude como ele a rejeitou ensinou-lhe uma lição valiosa. Sophie
respirou fundo, forçando-se a levantar a cabeça e manter o rosto
inexpressivo. Devia agir o mais insensível e friamente possível para
conseguir suportar as próximas semanas ou meses.

— Primeira porta à direita, no final do corredor.

Max ouviu uma risada ao chegar na sala após alguns minutos. Ficou
observando-a, parado à porta.

Estava sentada perto da janela, com o rosto sorridente. Vê-la descontraída


e sexy abriu uma caixa de Pandora de memórias que não queria lembrar.

— Oh, Sam, você não tem jeito.


Ao ouvir o nome de Sam, ficou tenso e entrou na sala. Fez um barulho e
chamou a atenção de Sophie, que se virou e ficou séria.

— Olhe, não posso falar agora, mas vou me esforçar para voltar no dia
combinado, ok? — Desligou o telefone e levantou.

— Presumo que tenha ligado para um de seus amigos. Sam, não é? — inquiriu.
Sentou no sofá e sentiu o gosto amargo em sua boca. Quantos homens já
provaram os deliciosos encantos de Sophie?, perguntava-se. Nunca se
preocupou com isso quando esteve com outras mulheres. Suspeitava que a
raiva que sentia vinha do ciúme.

— Sim. Passamos um ano viajando ao terminarmos a faculdade.

— Que agradável.

Sophie o encarou. Então, ele conhecia a palavra agradável. Mas a forma


como a pronunciou e o tom de sua voz não soaram tão aprazíveis. Disse de
forma desafiadora, deixando claro ter sido uma boa idéia não ansiar por ele.

— Sim, foi ótimo. Agora, se estiver pronto, podemos desfrutar dessa noite
adorável caminhando na praia. Vamos ao meu restaurante italiano favorito. E
um lugar familiar. Talvez não seja requintado para você, mas a comida é
ótima.

— Fico feliz ao ouvi-la elogiar algo italiano — comentou, para irritá-la.

Sophie pensou em responder que era apenas dele que não gostava, mas sua
presença grande e ameaçadora a fez mudar de idéia. Em vez disso, falou:

— Se não se importa, vou falar com minha vizinha ao sairmos. Quero saber
como está. Não vai demorar.

Ele levantou uma sobrancelha, com zombaria.

— Vá em frente. Você está no comando.

Deixaram o restaurante depois das 11 horas. Sophie estava relaxada pela


primeira vez em dias, mas isso se devia mais aos três copos de vinho que
bebera.

Max pegou sua mão e a enfiou embaixo do braço.

— Consegue caminhar, ou devo chamar um táxi?


— Se der sorte, vá em frente. A maioria dos bares fecha às 11, e todos os
táxis ficam ocupados. Não se consegue nenhum sem marcar com
antecedência.

É claro que ele conseguiu um logo a seguir e provou que ela estava errada.
Sentaram-se no banco traseiro. Max lhe envolveu os ombros.

— Estava certa, a comida é ótima. Nunca fui servido tão rápido e com tanta
eficiência. Mas isso deve ter sido mais por sua causa. Deve ir muito lá,
conhece bem a família.

— Oh, vou sim. Duas ou três vezes na semana, quando estou aqui.

— Os filhos do proprietário parecem ser muito amigáveis com você. —


Amigável não era bem a palavra que tinha em mente. Benito e Rocco estavam
completamente vidrados nela. Mas, ao dar uma olhada em seu corpo,
entendia o motivo. Essa experiência abriu-lhe os olhos.

O dono examinou Max como se fosse pai dela. Seus filhos praticamente o
ignoraram, exceto quando o olhavam torto, quando Sophie não reparava.
Eram jovens como ela, e muito mais próximos do que gostaria.

— Sim, nos damos muito bem. Sam e eu conhecemos os dois na Austrália.


Continuaram a viagem conosco por seis meses. Voltamos juntos para a
Inglaterra e mantemos contato até hoje.

Dio! Tinha uma trilha de homens que a desejavam, e já deviam ter dormido
com ela.

— Isso não me surpreende — resmungou. Apertou seu ombro com mais força
ao ter um pensamento tão detestável. Ele viu sua reação de surpresa, e
esforçou-se ao máximo para dominar a raiva. Mas não resistia à tentação de
tocá-la. Inclinou o queixo e envolveu sua nuca.

Era uma jovem bonita e cheia de vida. E ele fora o responsável por lhe
apresentar as delícias do sexo. Libertou a intensa paixão de Sophie, no que
admitiu ter sido a experiência mais excitante e sensual de sua vida. Era
natural que tivesse arrumado outros amantes, depois da separação. Não
tinha talento para ser celibatária.

Max podia suportar vê-la ao lado de homens como Abe Asamov. Mas era
forçado a admitir ser muito mais velho ao observá-la se entrosar,
descontraída, com dois rapazes de sua idade. Percebeu que deveria
agradecer aos céus por tê-la. Seu valor era incalculável.

Tocou os lábios nos dela. Explorou sua boca em um beijo demorado e calmo,
cheio de paixão, até percorrer-lhe o pescoço.

O táxi parou, impedindo-o de continuar. Mas ainda envolvia-lhe a cintura ao


subirem a escadaria para o apartamento. Assim que a porta se fechou, ele a
virou em seus braços.

— Para o seu quarto, Sophie — ordenou. Viu o rubor de excitação em seu


rosto. Mordiscou-lhe o lábio inferior, de forma provocativa. — Quanto mais
rápido melhor, cara.

Segurou-a contra seu corpo grande e tenso. Sophie percebeu ser inevitável
o que viria a seguir, assim como a noite precede o dia. Cada célula de seu
corpo implorava pelo que ele oferecia. Porque deveria resistir?

E, livre de seu abraço, pegou sua mão. Levou-o até a porta no fim do
corredor e a abriu.

Max soltou uma risada alta ao se deparar com o quarto, decorado de forma
bem feminina. Um carpete claro de cor marfim cobria o piso. Junto à
parede, viu a cama de quatro colunas coberta por uma cortina de musselina
branca. A penteadeira e o armário antigo eram pintados da mesma cor, com
delicados desenhos de rosas. Mas o que atraiu sua atenção foi a fileira de
bonecas, vestidas com todos os tipos de roupinhas, perto da janela. E, no
chão, avistou uma casinha no estilo georgiano.

— Como consegue dormir com todos esses olhos em cima de você?

— Durmo muito bem, obrigada — respondeu ao acordar de forma repentina


do torpor sensual que Max lhe provocara. — A casa foi um presente da
minha mãe. Se não gostou, pode dormir em outro quarto.

Max envolveu-a nos braços.

— Esse está ótimo. Lembre-se do nosso trato. Eu escolho onde e quando


faremos sexo. — Aproximou-a para beijá-la mais uma vez. Mas, dessa vez,
continuou por um bom tempo.

Indefesa, ela fechou os olhos e envolveu-lhe os ombros. Inclinou-se contra o


corpo dele. Percorreu-lhe o céu da boca com a língua, enroscando-a na sua.
O sangue ferveu em suas veias. Sentiu as mãos dele por todo seu corpo. Os
dedos tocaram o cós da calça jeans, e subiram pela sua espinha, por debaixo
de seu suéter para lhe abrir o sutiã. Então, ele acariciou-lhe os seios
intumescidos.

Desceu uma das mãos para abrir-lhe a camisa. Lamuriou-se quando ele lhe
afastou a boca. Ainda de olhos fechados, com o corpo trêmulo de desejo,
sentiu quando Max a levantou e a pousou sobre a colcha branca com
babados. E com uma destreza digna de sua experiência, tirou-lhe a roupa,

Sophie abriu os olhos ao sentir a brisa fria em sua pele. E contemplou a


perfeição masculina de Max em pé perto da cama. Grande e formidável, seu
tórax musculoso com alguns pêlos encaracolados arfava.

Seu quadril e suas coxas grossas emolduravam a potência vigorosa de seu


sexo.

Quantas vezes se deitara naquela cama e sonhara com Max nu? Quantas
fantasias eróticas tivera que a deixaram insone e frustrada, onde ele
aparecia e declarava seu amor eterno enquanto ela o enlouquecia de desejo?

— Max — murmurou com voz rouca. Seus sonhos se tornavam realidade.


Lançou-lhe um olhar misterioso e sorriu de forma sedutora ao erguer os
braços em sua direção.

Ele soltou uma risada grave e sexy, que reverberou em todas as suas
terminações nervosas. Reclinou-se sobre ela e envolveu seu pescoço. Olhou
fundo em seus olhos.

— Sim, Sophie, diga meu nome.

Acariciou seu seio, sua barriga até chegar ao meio das pernas. Olhou-a
fixamente enquanto entreabria suas dobras macias e a afagava uma vez, e
mais outra. E ela estremeceu e gemeu de frustração quando o sentiu parar.
Então Max deitou-se a seu lado, e baixou a cabeça para beijá-la. Colheu o
gemido em sua boca. Suas línguas se acariciaram, em uma dança maliciosa de
desejo.

Estendeu-lhe os braços, perdida entre realidade e fantasia. Envolveu seu


pescoço com avidez. Revolveu seus sedosos cabelos pretos. Tocou seu ombro
largo com a outra mão. Roçou seu mamilo com os dedos delicados e continuou
a percorrer o corpo suave e musculoso até a barriga lisa. Tocou-o, onde
jamais o tocara antes. Segurou o membro longo e rijo, acariciando-lhe a
extremidade aveludada. Sentiu seus músculos contraírem e ouviu seu
gemido. Vangloriou-se, conforme movia com curiosidade as mãos mais
abaixo, para tocar a raiz de sua essência masculina. E então, bruscamente,
ele agarrou-lhe as mãos, inclinou-se para trás e as colocou dos dois lados do
corpo.

— Agora você quer brincar? — murmurou. Percorreu-a com os olhos de cima


a baixo. Deteve-

se sobre os seios de mamilos rosados, nos cachos dourados macios no


vértice de suas coxas. E admirou suas longas pernas maravilhosas, pára
então voltar a olhar seu rosto.

— Dio, você é perfeita.

Seu elogio alimentou os devaneios de Sophie. Seu olhar ávido queimou-lhe a


carne. Ardia de desejo por ele, um calor fluía por entre as coxas. Acariciou-
lhe os ombros largos.

Seu sorriso guardava uma promessa sensual. E Max abriu-lhe as pernas e se


colocou entre elas. Tomou-lhe a boca mais uma vez, em um beijo feroz e
apaixonado. Tocou-a onde desejava. Percorreu novamente a pele entre as
dobras sensíveis.

Sophie acompanhou o movimento irresistível de seus dedos, que a


enlouquecia de vontade. E quando ele inclinou a boca para sugar seus mamilos
endurecidos, gritou:

— Por favor, Max, por favor. — Seu corpo inteiro tremia de desejo.

Ao ouvir seu clamor, ele gemeu com rouquidão e levantou a cabeça. Viu seus
olhos esverdeados cheios de paixão. Estava tão molhada e tão pronta.
Ergueu-lhe o quadril. E com os músculos tensos e a respiração ofegante, a
penetrou. Sentiu-a apertada e quente, e se moveu com toda destreza e
autocontrole. Golpeava leve às vezes, para então dar estocadas cada vez
mais intensas e profundas. Queria prolongar esse momento. Queria apagar
todos os amantes de sua memória.
Sophie nunca experimentara um prazer tão torturante. Ele a lançava em uma
onda cada vez maior de volúpia lancinante.

Max deitou-se de costas na cama. Ergueu-a, para ficar em cima dele. As


mãos fortes seguraram sua cintura. Ficou louco de desejo ao vê-la chegar ao
auge e olhar para seu rosto. Observou-a com um brilho feroz nos olhos
castanhos. Ficou imóvel por um segundo, enquanto Sophie alcançava
impetuosamente o clímax. Ela gritou ao sentir a boca de Max em seus
mamilos enrijecidos, a força com que a preenchia inteira. Com estocadas
cada vez mais fortes, levou-a rumo ao clímax delirante.

Sophie estava em êxtase. Descia violentamente a cada espasmo crescente.


Sentiu o corpo dele dar solavancos e estremecer. Pronunciou seu nome em
um tom quase doloroso, e a acompanhou em uma incontrolável explosão
cósmica de alívio apaixonado e bruto.

Sophie desmoronou sem fôlego e trêmula em cima dele. Enterrou a cabeça


nos pêlos cacheados e macios de seu peito. Jamais desconfiara da
existência de sensações tão intensas. Enquanto ficou deitada entre seus
braços, chegou por instantes a acreditar que aquilo era amor. O delírio de
sentir seu cheiro familiar, sua força, os corações batendo quase em
sincronia. Então ele a afastou e a deitou a seu lado. Suas fantasias se
desfizeram quando o silêncio se prolongou.

De repente, sentiu que devia ser apenas uma simples atração entre os dois.
Claro que foi ótimo... Max era um perito em sexo, então devia ter... muita
prática. E ela era uma dentre várias das conquistas dele. Fechou os pulsos,
para evitar que seu lado fraco o procurasse novamente.

O movimento do colchão indicou que ele se levantara da cama, mas não olhou.
Não podia, não queria notar a mágoa em seu olhar. Ouviu a porta abrir e se
cobriu com as cobertas. Estremeceu de nojo ao perceber que ele a
transformara em uma escrava de sua sexualidade, nada mais...

Enterrou a cabeça no travesseiro. Ouviu a porta fechar... Após alguns


minutos, calculou que ele encontrara o quarto de hóspedes. Não devia
esperar nada mais dele, e devia aprender a viver com isso...

— Sophie — Max disse seu nome com gentileza. Ela se virou e arregalou os
olhos surpresa. Nu, em pé ao lado da cama, ele segurava duas taças de vinho
em uma mão e a garrafa de vinho pela metade na outra.

— Uma bebidinha antes de dormir? Ou talvez um drinque antes do segundo


round? — sugeriu, com um sorriso travesso.

Ela não conseguiu evitar e sorriu também.

Sophie bocejou e abriu os olhos. Piscou com a luz do sol na janela, e piscou
mais uma vez quando ele se pôs diante do sol.

— Max — murmurou, sentindo seu corpo contra o dele. — Você passou a


noite aqui.

— Não tinha outro lugar para ir. — Deu um beijo rápido em seus lábios
macios entreabertos. — Mas, infelizmente, preciso ir agora. — E tocou-lhe o
seio.

— Eu sei — disse.

Alisou-lhe o mamilo rosado com o polegar.

— Não temos muito tempo. Meu piloto tem que decolar em oitenta minutos.
Venha, o carro chegará a qualquer momento.

Vinte minutos depois, ela já havia tomado banho. Vestiu uma saia xadrez
vermelha e preta e um suéter preto. Entraram na limusine.

Ao entrarem no jatinho, Sophie ainda tentava entender esse novo Max mais
descontraído. Uma aeromoça serviu-lhes o café da manhã.

CAPÍTULO NOVE

Diego os esperava na lancha quando saíram do aeroporto ao meio-dia. Logo


chegaram ao palazzo. Ao entrar no elegante salão de entrada, ela se
espantou com a fila de seis adultos sorridentes. Max fez as apresentações.
Ficou surpresa ao descobrir que Diego não cuidava sozinho da casa. Maria,
sua esposa, era a cozinheira. Tessa, a filha do casal, era a faxineira,
enquanto seu marido era o jardineiro.
— Nem sabia que tinha um jardim — disse Sophie, quando a equipe de
dispersou.

— Precisa conhecer a propriedade. Diego vai levar suas malas para o quarto.
Eu lhe mostrarei os outros cômodos.

Descobriu que havia também uma sala de jogos e outra de ginástica. A


piscina ficava metade dentro da casa, e metade ao ar livre. A parte exterior
era cercada de paredes e teto de vidro.

— Pode desfrutar o quanto quiser. Preciso resolver alguns assuntos de


negócios. Mas lembre que o almoço é daqui a uma hora e meia.

O homem da noite anterior, com quem bebera vinho na cama, desaparecera.


O tirano voltava a lhe dar ordens.

— Sim, senhor— saudou. Mas ele não achou engraçado.

— Esse é meu jeito, não esqueça — respondeu, de forma brusca.

Sophie subiu para seu quarto. E encontrou a jovem Tessa arrumando suas
roupas.

— Não, por favor, deixe-me desarrumar as malas — disse, sorrindo. Pelo que
viu, não havia muito para fazer pela casa, além de esperar as ordens de seu
amo.

Sophie arrumou alguns pertences pessoais no quarto de vestir. Ao saber que


deveria dividi-lo com Max, não tinha intenção de usá-lo para nada além de
guardar suas roupas. E foi então que ele apareceu.

— Esqueci de lhe dar isso — disse, parado ao lado dela. Largou algo em cima
da mesa. — Conforme nosso trato, abri uma conta em um banco italiano para
você. Esse é seu cartão de crédito. Vamos sair depois do almoço. E por mais
que me agrade, não quero vê-la usando essa saia em público.

O que ele queria que usasse? Um saco de batata? Por muitos anos, foi dona
de si e cuidou de sua vida. Não era seu estilo seguir ordens de um arrogante
como ele. Era independente demais para viver como uma amante. Mas
precisava para ajudar seu pai.

Necessitava de uma estratégia para conseguir viver com Max, sem que a
deixasse emocionalmente arrasada ao se separarem. Ele tinha razão quando
dizia que se davam muito bem na cama. Até demais, e seria fácil se viciar
nele. Devia evitar a todo o custo que isso acontecesse.

Ao procurar um jeans no armário, de repente ela se lembrou de Max dizer


que uma amante faz sempre o que seu homem manda. Então, teve uma idéia.

Uma hora depois, desceu para a sala de jantar. Usava uma jaqueta, com
apenas um sutiã por baixo. E uma saia justa que terminava pouco acima dos
joelhos.

Duas mechas do cabelo estavam presas atrás da cabeça com uma presilha, e
o resto caía pelas costas. Usava mais maquiagem que de costume e calçava
um salto alto de sete centímetros.

Max descansava perto do carrinho de bebidas, com um copo na mão. Ao


senti-la chegar, virou-se e percorreu-a com os olhos de cima a baixo.
Examinou demoradamente o decote em V de sua jaqueta e suas longas
pernas. Parecia um comprador de escravos avaliando suas futuras posses.
Ela teve de conter o rubor de raiva que sentia lhe corar o rosto.

— Estou vendo que seguiu meu conselho. Quer uma bebida?

— Sim, claro. — Irritava-se com sua arrogância de achar que faria o que
mandasse. Chegou a pensar em dizer não, mas decidiu participar do jogo.
Max não disse que uma amante sempre diz sim? Um sorriso despontou-lhe
nos lábios. Isso podia ser divertido.

— Sempre come aqui? — perguntou, aceitando a taça de vinho oferecida. A


sala de jantar era muito elegante, embora preferisse comer em lugar mais
informal.

— Quando estou em Veneza, sim, mas isso não é freqüente.

— Prefiro comer na cozinha, pode ser?

— Se quiser. — Puxou-lhe a cadeira quando Diego trouxe o almoço.

Max estava intrigado. Sophie trocou de roupa, como sugeriu, mas não para
melhor. Embora as pernas estivessem cobertas, podia ver pelo decote que
não usava nada embaixo da jaqueta. Havia soltado o lindo cabelo, sorria e
falava com educação. Concordava com tudo o que dizia. Porque então sentia
haver algo errado?
— Aonde vamos hoje à tarde?

Max queria levá-la direto para a cama. Porém, dominou seus impulsos.
Enfurecia-se por não saber exatamente o motivo da sua mudança de atitude.

— Vamos à joalheria, para cumprir o que prometi. Dar-lhe diamantes, em vez


de cristal. — Puxou o cabelo para trás e se levantou.

— Oh, sim, tinha esquecido. — Ergueu-se em seguida. Não queria diamantes.


Mas devia consentir. Porém, não conseguiu deixar de complementar: — Mas
não precisa ter pressa.

— Sou muito ocupado. Quero resolver logo isso.

— Sim, claro. — Sophie mordeu o lábio. Falava com ela como se fosse uma
interesseira. Dirigiu-se para a porta, antes que perdesse o controle e lhe
desse um tapa no rosto. Mas não podia fazer nada, já que era mesmo o que
achava dela...

— Sophie? — A pele dela se arrepiou com a forma como pronunciou seu


nome. E sentiu-se deter por um braço que lhe envolveu a cintura. — Não
precisamos sair...

Percebeu a intenção nos olhos castanhos. O calor do braço dele contra sua
pele fez sua temperatura subir, assim como sua raiva.

— Precisamos sair, sim — disse com delicadeza. E, de repente, seu plano de


concordar com tudo pareceu fácil.

Meia hora depois, quando entraram na joalheria, foi mais difícil. O vendedor
lhes apresentou uma incrível coleção de colares, brincos e pulseiras de
diamantes.

Para cada conjunto sugerido por Max, Sophie disse sim.

— Oh, pelo amor de Deus, escolha um — Max reclamou, perdendo a


paciência. Notava seus lábios sedutores esboçarem um sorriso misterioso.

— Você escolhe. Afinal, é você quem está pagando. Tem que gostar mais que
eu.

Foi então que Max percebeu como ela havia concordado com tudo o que
falara. Por que era tão irritante, apesar de ser a fantasia de qualquer
homem?
Comprou o conjunto que lhe agradou. Puxou-a pelo braço e saíram da loja.

— Já saquei o que está fazendo, senhorita. — Virou-a em seus braços. — Vai


pular da ponte se eu mandar, Sophie? — Sentiu-a tensa em seus braços. —
Ou me beijará aqui, agora?

Notou a culpa nos olhos dela. Sabia que seu plano havia sido descoberto. Era
uma criatura muito teimosa, mas linda. Sorrindo, disse:

— Diga sim ao beijo. Sabe que deve.

— Sim — disse. Aliviada com a reação brincalhona, sentiu sua língua entre os
lábios semicerrados. Envolveu-lhe o pescoço. E foi assim que Gina os viu ao
chegar.

— Max? Mas o que está fazendo?

Ele ergueu a cabeça, com o braço em volta da cintura de Sophie.

— Ah, Gina. É médica e não sabe? — Sentiu a tensão repentina em Sophie e


a segurou mais forte. Teria que ver sua irmã algum dia, a única que
testemunhara a forma impetuosa como o tinha abandonado anos antes. —
Não sabia que estava em Veneza.

— Até médicos tiram folga. Mas estou surpresa por ainda estar aqui.
Embora veja o motivo — disse de forma irônica, apontando para Sophie.

Já era ruim ser surpreendida beijando em plena luz do dia, mas por Gina era
certamente embaraçoso, Sophie queria que a terra se abrisse sob seus pés
e a engolisse. Logo sua ex-amante, ou talvez não chegasse a ser ex. Viu a
pequena mulher morena e sua companhia, um pouco mais velha. Max fez as
apresentações, cordialmente:

— Conhece Sophie, claro. — E se dirigiu a ela. — E você? Lembra-se de Gina,


cara?

Como se pudesse esquecê-la.

— Sim — respondeu, sorrindo com educação. — É bom vê-la novamente.

Não sabia por que diabos dissera isso. Não se importaria se nunca mais visse
os dois.

— É bom vê-la também. Essa é minha amiga Rosa. Pensamos em fazer


algumas compras e ir ao café Florian. Para onde você e Max vão?

— Para o mesmo lugar, mas já terminamos nossas compras — Max


respondeu.

— Meu Deus, Sophie. Não acredito, conseguiu levar o maior machista do


mundo para fazer compras. Se ficar muito tempo com ele, talvez consiga
torná-lo metade humano.

Sophie sorriu torto, confusa com a risada sincera e a ausência de malícia na


voz de Gina.

— Eu duvido.

— Por que não tomam um café conosco? — perguntou Gina.

Uma hora depois, saíam da cafeteria. Sophie já não estava tão certa quanto
ao relacionamento de Max e Gina. Repassou o encontro em sua cabeça
enquanto voltavam para casa. Para sua surpresa, a conversa foi
descontraída. Era evidente que eram próximos e se sentiam confortáveis
entre si. Mas não sabia se era algo sexual. No entanto, sentiu certa tensão
enquanto se divertiam. Não do tipo que sempre sentiu na presença de Max.
Devia ser outra coisa, mas não sabia o que era.

Ao entrarem na casa, Sophie disse:

— Rosa é muito engraçada. E Gina foi muito agradável.

— Isso a surpreendeu? — perguntou, levantando a sobrancelha. — Ela é


sempre assim.

— Se você diz.

Ele segurou-lhe o queixo.

— Perdi alguma coisa? Ou você começou de novo com o jogo do "sim


senhor"? — Olhou fixo para o atraente contorno de seus lábios e contraiu
mais a mão.

Sophie conhecia a intenção em seu olhar, e sentiu a súbita tensão entre


eles.

— Não para os dois — respondeu rápido. Baixou os cílios para esconder sua
reação.
— Parece cansada. Descanse antes do jantar.

— Sei de que tipo de descanso está falando — disse ela com uma pontada de
sarcasmo. Afastou-lhe a mão e subiu a escada.

Mas não havia escapado completamente. Tirou os sapatos e a jaqueta no


quarto de vestir. Quando ia limpar a maquiagem, Max entrou.

— Esqueceu isso. — E pousou o embrulho da joalheria em cima da mesa.


Olhou frio para ela, pelo reflexo do espelho. — Sempre cumpro minhas
promessas, espero que faça o mesmo.

Sophie mal podia encará-lo pela manhã. Na noite anterior, ele aproximou-se
de sua cama e a obrigou a usar os diamantes enquanto faziam amor. Ou
melhor, quando faziam sexo. Nunca se sentiu tão humilhada na vida.

— Preciso ajudar na administração dos hotéis da minha família. Volto na


noite de domingo. Até eu chegar, não pode sair desacompanhada. Diego irá
aonde quiser, entendeu?

Seis semanas depois, uma Sophie muito diferente olhou para o mesmo
espelho do quarto de vestir. Colocava um brinco de diamantes para
comparecerem a um jantar beneficente. Max havia voltado há cerca de uma
hora. Passara uma semana inteira no Equador. Estavam atrasados porque
demoraram no banho que tomaram juntos...

Max era um amante incrível e resoluto. Havia desistido há muito tempo de


tentar resistir. Era também muito generoso. Seus lábios se torceram ao ver
o próprio reflexo. Usava um vestido de noite verde-esmeralda que revelava
mais do que cobria seu corpo. Calçava sapatos de cetim. Seu pescoço era
adornado por um colar de diamantes. Parecia o que realmente era, a amante
de um homem rico.

Não tinha defesas na cama. Seu forte instinto de defesa a impediu de


revelar seus sentimentos cada vez mais profundos por Max. Porém, sua
imagem no espelho a agradava. Podia bancar a mulher refinada e indiferente
ao lado dele.

Para sua surpresa, isso funcionava. Eles se davam muito bem, como Max
dizia. E ele sempre a excitava com seu erotismo. Conhecedor de cada nuance
de suas reações, a fazia implorar por alívio e a levava à beira do êxtase.
Algumas vezes gozavam juntos, em outras ele a sucedia. De qualquer jeito,
terminavam ofegantes, exaustos... E calados. Sophie não se atrevia a abrir a
boca. Achava que Max só a procurava para conseguir o que queria, então não
tinha por que falar. Geralmente, ele ficava até amanhecer e faziam amor
mais uma vez. E sentiu algumas vezes, enquanto estava presa em seu abraço,
que era muito mais do que apenas atração sexual.

Com o passar das semanas, Sophie desenvolveu sua rotina própria para
tornar a vida suportável. Passava muito tempo na cozinha, a parte da casa
que mais gostava. Gostava de Maria, Tessa e de seus três filhos. E adorava
lecionar inglês para os mais novos, embora os adultos também aprendessem
muito com suas aulas.

Logo percebeu que Max trabalhava muito. Às vezes, ficava muito


concentrado na leitura de relatórios. Quando estava na Itália, passava dois
ou três dias no escritório em Roma. E sempre em uma sexta-feira.

No mês anterior, Sophie o acompanhara uma vez à cidade. Ele trabalhou o


dia inteiro. À noite, saíram para fazer compras e jantar em um restaurante
bem aconchegante. E, por fim, foram para a cama da cobertura. A
experiência a agradou, pois por algum motivo não se sentiu como uma amante
em Roma.

Mas, na manhã seguinte, sentiu-se assim quando Max foi para o escritório.
Saiu do banho. Ao procurar a escova de dente no armário do banheiro,
encontrou um perfume e vários cosméticos femininos. Também um frasco de
remédio sob prescrição, com o nome de Gina no rótulo e um prendedor de
cabelos preto. Como ela tinha cabelos curtos, sabia que não lhe pertencia.

Franzia as sobrancelhas agora, ao colocar o outro brinco. Recusara o convite


de Max para ir a Roma. Deu a desculpa de que estava no período
inapropriado do mês. Ele refutou, dizendo que havia várias maneiras de se
ter prazer sexual. E só parou de insistir quando ela disse estar indisposta,
embora também não tenha acreditado. Só o ouviu responder, com um sorriso
debochado:

— Faça como quiser.

Sabia ser a única mulher que Max trouxera para o palazzo, conforme Maria
lhe contara. Para uma mulher conservadora e romântica como ela, significava
que se casariam. Mas Sophie não quis desiludi-la. Havia aceitado dividir a
cama com ele. Sendo honesta consigo mesma, admitiu que não conseguia
resistir aos seus encantos. No entanto, não podia aceitar que dormisse com
outras em Roma.

Ele viajava bastante. Presumia que continuava a visitar os negócios da


família, embora não lhe desse maior satisfação. Ou, talvez, ficasse em
Roma. Parou de chamá-la para acompanhá-lo à cidade, o que não a incomodou.
E ela nunca lhe perguntava onde estava quando ligava, para não parecer
interessada.

Mas ela desfrutou da oportunidade de conhecer Veneza. Embora não tivesse


tanta liberdade, já que Diego recebera ordens de acompanhá-la para onde
fosse. Mas, ao menos, ele era um ótimo guia. Visitou a igreja de San Marco,
o Café Florian. Foram ao Guggenheim e à Accademia, e a outras galerias de
arte menores. Encantou-se com as inúmeras igrejas, repletas de obras-
primas impressionantes, que só se espera encontrar em museus.

Não era à toa que a cidade era considerada a mais romântica do mundo. E
seria muito melhor se pudesse passear pelas vielas estreitas, pizzarias e
cafés com alguém que amasse. Alguém como Max...

Admitia sentir sua falta quando ele viajava. Tornava-se cada vez mais difícil
se convencer de que o odiava e que apenas se sentia atraída sexualmente.
Não conseguia tirá-lo da cabeça. Como agora, pensou franzindo a testa.

— Por que faz essa cara? — perguntou uma voz grave.

Max chegou perto. Parecia preocupado de verdade. O coração de Sophie


apertou no peito. Como estava lindo com o paletó pendurado no braço, a
calça preta e um smoking branco contrastando com a pele bronzeada. No
entanto, Max sempre lhe parecia atraente. E, nesse instante, descobriu que
o amava. Era impossível continuar se enganando. Sempre o amou e o amaria.
E a constatação a aterrorizou.

Sophie voltou a olhar para o reflexo no espelho. Tentou se recompor do


choque de saber o que sentia de verdade por ele.

— Estava pensando se os brincos caíram bem — respondeu por fim. Olhou-o


de novo, com a esperança de parecer calma.

— Estão excelentes, como você — declarou ele, largando o paletó sobre a


cama. Reconheceu o olhar que lhe lançou, e o sorriso leve em seu rosto. Não
havia nem meia hora que cederam à tentação. E com a descoberta
assustadora de que o amava, se ressentia com sua facilidade em deixá-la
excitada.

Ergueu o queixo, com um olhar zangado.

— Você pagou por isso — repreendeu. E viu sua reação impetuosa.

— Verdade — disse Max, e se aproximou. — Também paguei por seus


serviços.

E estendeu o braço.

— Estamos atrasados — ofegou, se afastando.

— Oh, Sophie, você só pensa naquilo... não que eu esteja reclamando. — E,


segurando sua mão, pediu que o ajudasse a colocar as abotoaduras. — Nunca
consigo colocar a da direita.

— Você, Max Quintano, consegue qualquer coisa — disse, ao admirar os


pêlos escuros no pulso dele enquanto o ajudava.

— E é isso que a aborrece, minha linda. Envolveu-lhe os ombros e a


aproximou de si. Cobriu seus lábios com um beijo intenso e demorado.

— Que tal ficarmos aqui e esquecermos da festa? Fiquei muito tempo fora e
ainda não me cansei de você.

— Está mesmo pedindo minha opinião? Essa é a primeira vez. Normalmente


faz o que quer.

— Verdade — disse, soando como um macho viril e arrogante. Deslizou a mão


até seu bumbum. Sorriu ao senti-la tremer. — Mas você gosta.

— Talvez. Mas está louco se pensa que me arrumei toda só para você tirar
minha roupa.

— Sou louco é por você — disse com um sorriso irônico que a atordoou. Foi
uma pequena indicação de que Max gostava dela. Uma pitada de esperança
em seu coração. Envolveu sua cintura e acrescentou: — Mas eu prometi ir a
esse jantar, então só a deixarei nua quando voltarmos. Se bem que podemos
namorar um pouco na lancha. O que acha? — perguntou, com um arquear
safado de sobrancelhas.

Sophie assentiu com a cabeça. Riu ao pensar que falava como um pirata
fanfarrão. Em momentos como esse, não podia evitar acreditar que eram um
casal feliz normal.

Chegaram ao jantar beneficente oferecido pelo Hotel Cypriani. Entraram no


elegante salão de mãos dadas. Logo avistaram Gina entre um grupo de
pessoas ilustres. Ria de algo que lhe disseram, e ao ver Max irrompeu em
sua direção.

— Max, caro. — Agarrou-se em seu braço e ficou na ponta dos pés para lhe
dar um beijo na boca. Ainda colada nele, voltou-se para Sophie. — Estou
surpresa de ver você por aqui. Não imaginei que gostasse disso. Mas
precisamos de toda a ajuda possível. Max, não o vejo há semanas. Estou
feliz que tenha vindo.

Gina deixou bem claro que estava mesmo interessada nele, e que apenas
tolerava a presença dela ao seu lado. Sua recém-descoberta de que o amava
a tornou sensível demais e despertou uma onda dolorosa de ciúmes. Desde
quando o beijo nos lábios passou a ser cumprimento normal em público?

De repente, lembrou-se de algo que lhe revirou o estômago. O pai Quintano


havia reprovado o relacionamento entre Max e Gina, mas após sua morte
ninguém poderia impedir que ficassem juntos, se casassem.

E então o desejo para torná-la sua amante fez sentido. E o sangue gelou em
suas veias, percebeu em que situação se envolvera. Max era um homem
muito ativo sexualmente, o que ela sabia muito bem. Uma mulher nunca lhe
seria suficiente. Na adolescência, tinha se tornado sua noiva, porque podia
estar grávida. E então Gina seria sua amante. Agora a situação se invertia.

— Tem razão, não gosto muito disso. — E Sophie não se referia ao jantar, e
sim ao relacionamento entre os dois. — Na verdade, se pudesse eu iria
embora agora.

Não via motivo para continuar fingindo. Uma relação a três nunca lhe fora
nem lhe seria aceitável. E tentou soltar sua mão.
Max apertou o maxilar forte, com raiva. Deliciava-se tanto com seu corpo,
que quase se esquecera do motivo pelo qual ela o largara. Justificou sua
atitude se convencendo de que era jovem, e que ficou amedrontada ao
pensar em se amarrar a alguém doente. Agora confirmava o quanto não se
preocupava com nada além das próprias vontades. Como podia desejar uma
mulher tão cruel, que aceitou com prazer ser amante de Abe Asamov, e de
sabe quantos mais?

Encarou com seriedade seu rosto lindo e inexpressivo, e seu olhar frio.
Enfatizou, com indiferença:

— Gina organizou esse jantar beneficente para vítimas de câncer. — Sorriu


com frieza. Torceu a mão de Sophie nas costas para puxá-la contra si, no
que parecia um gesto carinhoso. Murmurou em seu ouvido: — Vai ficar e será
educada. Finja ser minha namorada, o que sei que faz muito bem. Afinal,
paguei por isso — lembrou-a com um sibilo suave. Sentiu-a tensa e a apertou
com mais força.

Então, voltou sua atenção para Gina.

— Tenho certeza de que será um sucesso. Não ligue para Sophie, não quis
ofender. Quis, coral

— Não, estava brincando — disse, desanimada. Eles é que a faziam de boba.


Reconhecia que amava Max, apenas para constatar meia hora depois que
nada mudara.

Sophie sentou na cadeira que ele puxou, feliz por se livrar de seu abraço
dominador. Mas só resolveu ficar em homenagem à memória de sua mãe.
Estava enojada e fervendo de raiva. Mais uma vez ele mudava do amante
provocador para voltar a ser o porco autoritário e insensível. Notou o tom
de ameaça em suas palavras, e a clara demonstração de lealdade a Gina. E a
última gota de esperança de que havia mais do que sexo entre eles evaporou.

Arrumou a saia de seu vestido, tentando manter a compostura. Levantou a


cabeça e notou o arranjo das cadeiras à mesa. Gina sentava-se do outro lado
de Max. Por que isso não a surpreendeu?

Deu um sorriso forçado ao ser apresentada aos outros convidados, médicos


em sua maioria. Aceitou o vinho e tentou ignorar Max ao máximo. Ficou
agradecida por Gina puxá-lo para conversar.

Passou-se algum tempo, e beberam alguns copos de vinho. A conversação


ficou mais animada. Mas Sophie quase não tinha vontade de falar.

Ao seu lado, Max se portava como o verdadeiro macho dominante e


sofisticado. Falava com bastante desenvoltura e astúcia. De vez em quando,
comentava algo com ela. Quem o visse tocar seu braço e encher seu copo
pensaria ser um namorado gentil. Apenas ela via a raiva contida no olhar
dele. E precisava se esforçar para responder com educação. Pouco se
importaria se nunca mais falasse com ela.

Já o tinha esquecido uma vez, e poderia fazê-lo de novo. Mas a dor em seu
peito não passava, por mais que a ignorasse.

Ficou com a cabeça abaixada durante todo o jantar, para evitar olhá-lo.

Quando serviram o café, a conversa começou a ficar tumultuada. Discutiam


sobre como arrecadar dinheiro para pesquisas de câncer que beneficiassem
também os pacientes envolvidos. Mas ela não prestou atenção. Precisava de
todo o seu controle para conseguir ficar na mesa com Gina e Max. Revirava-
se na cadeira só de pensar nos dois juntos. E sabe se lá quantas outras
tiveram o prazer de experimentar sua destreza sexual.

— Por que não fazer um leilão de beijos da Sophie? — E ao ouvir seu nome,
ergueu a cabeça. Um homem sentado à sua frente, que notou antes ter
olhado para seu decote, sugeriu em voz alta: — Os pacientes também
poderiam concorrer. Se eu estivesse muito doente, o beijo de uma mulher
linda me deixaria melhor. — Todos riram e olharam para ela.

Gina deu risada.

— Isso nunca funcionaria. Sophie é bonita, decorativa, mas não gosta de


gente doente. Talvez os enfartasse. Não é, querida? — satirizou, e todos
riram.

O comentário a magoou, e por alguns instantes ficou muda. Gina mal a


conhecia, como podia declarar algo a seu respeito? Olhou para todos
sentados à mesa. Nenhum deles a conhecia de verdade. Então por que se
daria ao trabalho de discutir?
— Se você diz — murmurou.

— E eu não permitiria de qualquer maneira —; Max complementou, e pegou


sua mão.

Sophie evitou seu toque, e seu olhar. Pegou a taça de bebida e a sorveu.
Queria ir para longe daquele lugar.

Uma mão cheia de veias afagou a sua, pousada sobre a mesa.

— Foi uma brincadeira. Nós, médicos, perdemos um pouco a sensibilidade.


Não leve tão a sério — falou o professor sentado do seu outro lado. O único
a perceber o que todos ignoraram.

Sophie ficou emocionada e grata por suas palavras. Virou de costas para
Max, com os olhos úmidos, para conversar com o atento senhor. Tentou
sorrir e disse:

— Muito obrigada. Mas esse é um assunto difícil para mim. Minha mãe teve
câncer de mama quando eu tinha onze anos. Cuidei dela por dois anos, até
que faleceu.

— Esqueça o que disseram. Dê-me a honra de dançar com a senhorita. — O


professor levantou e se dirigiu a Max:

— Se me permitir, sr. Quintano.

Max olhou para ele. E encarou Sophie sério. A miserável teve a ousadia de
ignorá-lo. E cativou o prof. Manta bem na sua frente. O velho parecia um
bobo, como se tivesse descoberto a cura do câncer. Como diabos ela fez
isso?

— Fique à vontade. — Não podia fazer nada com Gina agarrada em seu braço
de novo. E desde quando Gina passou a ser tão falastrona?, pensou.
Observou furioso Sophie e o professor na pista de dança.

— Sente-se melhor agora? — o médico perguntou a Sophie.

Ela sentiu-se relaxada em seu abraço formal.

— Sim, estou bem. Não costumo ser tão emotiva. Mas o comentário de que
não gosto de doentes atingiu meu ponto fraco. E não achei engraçado. Sabe,
o aniversário da morte da minha mãe foi há três dias. — Exatamente quando
descobriu que amava quem não merecia seu afeto.
— Você é uma pequena amável e emotiva. E não tem que se envergonhar por
isso — tranqüilizou-a, de forma gentil.

Sophie sorriu.

— Não tenho nada de pequena.

— Talvez não, mas é muito feminina. Algo que minha experiência diz que
pode se perder em algumas médicas, com o passar dos anos.

— Feminina eu sou. — Riu. Apreciava o homem distinto cada vez mais, apesar
de ser um pouco machista.

— Agora, vamos mudar de assunto. Fale-me sobre você. Está em viagem de


férias? O que faz quando não está visitando nossa bela cidade?

Não se importava se sabia ou não de sua ligação com Max.

— Estou visitando um amigo, sou uma lingüista e trabalho como tradutora.


Dou aulas de vez em quando.

Para sua surpresa, o prof. Manta lhe ofereceu um emprego. Pertencia ao


conselho de diretores da escola particular de seu neto. Procuravam por uma
professora de idiomas que lecionasse até o final do período letivo, enquanto
a professora regular estava de licença médica.

— Estou lisonjeada. Mas não sei se poderei — disse. Guardou o cartão do


professor e prometeu confirmar no dia seguinte.

Max não podia acreditar no que viu. Ela pegara um cartão do velho bode. E
quando se aproximaram da mesa, não agüentou mais. Levantou e olhou severo
para o risonho professor. Segurou firme Sophie pela cintura.

— Está na hora de irmos embora.

Sophie sentiu-o envolvê-la de forma possessiva, e ficou tensa. Mas se


recusou a olhá-lo. Em vez disso, despediu-se do prof. Manta e dos outros
convidados. Ignorou Gina, mas Max despediu-se demoradamente da irmã. E
nem se importou em desculpar-se pela falta de modos de Sophie.
CAPITULO DEZ

— Está quieta demais, cara. Chateada porque a afastei da sua última


conquista? — Inclinou a cabeça na sua direção ao saírem do salão.

Seu tom de voz era delicado, mas podia-se detectar sua raiva.

— Não é uma conquista. O professor é um cavalheiro, o que você não sabe


ser.

—Talvez não. Mas eu sei que você não é nenhuma dama também. — Sorriu
com crueldade. — Está disponível para quem der o lance mais alto, que agora
sou eu. Então me dê o cartão dele, não é para você.

— Nossa! Você é mesmo muito baixo!

Ele mal conseguia conter a raiva, o que por segundos a fez pensar se sentia
ciúmes. Não... Para isso ele precisaria gostar dela, mas estava preocupado
apenas em compensar o que gastou. Como acabara de deixar claro.

— Acontece que o prof. Manta me ofereceu um emprego. Nem todos se


interessam apenas pelo meu corpo. Esse parece ser um traço típico de você
e Gina.

Ele zombou:

— Um emprego? Sabemos qual. Detesto dizer, cara, mas por mais distinto
que seja, não pode pagar seu preço.

Estava pronta para responder a verdade, mas chegaram ao saguão. Um


funcionário trouxe seus casacos.

Que diabos! Por que se dar ao trabalhar de explicar? Não mudaria o que
Max sentia por ela. Considerava-a uma mulher vivida, cheia de amantes. E
isso graças a Abe. E constatou que não se importava mais em lhe contar
nada, após o que vira naquela noite.

Observou-o alto, moreno e inexpressivo, enquanto pegava o caro casaco de


pele. Era mais um de seus presentes, que ela não apreciava. Ajudou Sophie a
colocá-lo, e lhe envolveu os ombros.

A noite estava horrível, com a neblina densa e uma chuva fina. Felizmente a
lancha já os esperava. Ela embarcou, livrando-se do seu braço dominador.
Foi até a cabine pequena e se sentou.

Ouviu Max falar com Diego no convés. Esperava que ele ficasse por lá.
Apoiou a cabeça e fechou os olhos. Podia sentir uma pontada de dor de
cabeça, o que não a surpreendia. Nem conseguia acreditar que, algumas
horas antes, saíra sorrindo de casa. Confiante de que conseguiria lidar com
seu relacionamento. Iludia-se de que se entrosavam bem, e que ele
começava realmente a gostar dela. E, então, a noite se tornara um completo
desastre. Serviu para obrigá-la a encarar a realidade que não queria, nem
podia aceitar. E percebeu que corria sério risco de viver num mundo de
ilusão. Bom, não mais...

Levantou-se e saiu da cabine. Max estava recostado no telhado. Diego


estava no volante, e se virou para dizer-lhe:

— Bem na hora, signorina Sophie. — Sorriu para ela, ao se aproximar do cais.

Ela sorriu de volta, e ignorou a figura imponente de Max. Aceitou a mão do


empregado para ajudá-la a desembarcar. E não esperou. Correu direto para
seu quarto e fechou a porta. Chutou os saltos altos. Tirou os brincos e o
colar, os colocou na caixa. Despiu o vestido e se enfiou em um roupão. Sem
os sinais de domínio de Max, sentia-se aliviada.

Sophie trancou a passagem entre os dois quartos. Só devia se preocupar


com os sinais interiores do domínio dele. E suspeitava que seriam mais
difíceis de lidar. Tomou um banho rápido, fez uma longa trança no cabelo e
se vestiu com um corpete, que para Max passava por uma camisola. Abriu as
portas e voltou para o quarto. Encontrou Max em pé, segurando um copo de
uísque.

— Fugindo apavorada, Sophie? — Max a encarou com um olhar penetrante.


— Ou está me desafiando?

— Nenhum dos dois. Precisava com urgência me limpar, depois de passar a


noite com você e Gina.

— O que diabos quer dizer com isso?

Ela estremeceu e sentiu calafrios na barriga ao perceber sua raiva.

Vendo-a tremer, sua fúria diminuiu ao notar como corou e ficou séria. Foi
então que se deu conta dos diversos comentários anteriores que fizera
sobre Gina. Só se encontraram algumas vezes. Não fazia sentido. Bebeu o
resto do uísque e pousou o copo na mesa. Deu alguns passos para trás.

— No jantar, você deixou evidente sua repulsa. Entendo que a assusta


pensar em quem sofre de câncer, como ocorre com muitas pessoas. Mas o
que tem contra Gina?

Sophie ficou pálida. Bom, pensou Max, furioso, pois ao menos esclareceria
tudo de uma vez por todas.

— Quero a verdade, não estou disposto a ouvir insinuações dissimuladas.

Seu comentário hipócrita sobre o medo de lidar com doentes a deixou lívida
de ódio. Ele é quem era o falso. O rancor brotava de seus olhos.

— Oh, por favor. Acha que sou idiota? Você e sua amada meia-irmã Gina
estão juntos há anos, e todos sabem. Minha nossa, ela se lançou nos seus
braços hoje. Beijaram-se como velhos amantes. Foi nojento.

— Basta — esbravejou. Ela involuntariamente deu um passo para trás. Foi


inútil. Max agarrou seus braços e a puxou contra si.

— Ah, não, você não vai... — Ela começou a se debater, tentando fugir. Max
cravou os dedos em sua carne macia, e ela ordenou com violência: — Pare!
Está me machucando!

— Não dou a mínima. Esmagaria qualquer um que insinuasse o que acabou de


dizer.

Sophie o encarou com audácia.

— Não consegue encarar a verdade. Esse é seu problema.

Max percebeu como Sophie estava resoluta e convicta do que dizia. Ficou
atônito.

— Você realmente acredita que... — Não conseguia nem dizer. Sacudiu a


cabeça e a afastou. — Mas que opinião nojenta tem de mim.

— Opinião não, verdade.

— Gina é minha meia-irmã, e só isso. Beijou-me porque estava feliz em me


ver, o que é muito comum em nossa cultura. E o resto é fruto da sua
imaginação.

Ela admirou seu rosto adorável e a forma como sua trança se elevou sobre o
seio ao inspirar fundo. Perguntava-se como uma jovem tão linda podia
conceber idéias tão perversas. Deviam ser ciúmes. E isso não lhe parecia
ruim, apenas exagerado.

— Se está enciumada...

— Eu? Não se gabe. E nem precisa mentir. Eu estava lá, lembra? Sete anos
atrás. A adolescente boba e apaixonada. Marnie me avisou que você tinha
várias mulheres, e não a ouvi. Chegou a me mostrar um artigo de revista
sobre você, com fotos de algumas delas. E me contou também sobre seu
romance com Gina, e que seu pai não aprovava seu relacionamento. Mas me
recusei a acreditar que era esse tipo de homem. Fui a garota tonta que
seduziu. E só me pediu em casamento porque pensava que eu podia estar
grávida.

E Sophie continuou, com os olhos cheios de raiva:

— A idiota que acreditou em você, até ouvir sua conversa com Gina. Pelo
menos ela lhe disse para me contar a verdade... sobre seu caso amoroso, se
quisesse casar comigo. Escutei vocês discutindo que eu não era avançada
para aceitar isso. E você me chama de nojenta? Só pode ser brincadeira!

Estava tão desnorteada com as lembranças que tentou apagar, que não o viu
empalidecer.

— E quando Gina lhe perguntou por que se casaria comigo, você respondeu
que tinha sido descuidado e poderia ter me engravidado. Foi então que abri
os olhos. Aí começaram a descrever como seria minha vida. A noivinha
grávida ficaria em casa, com o marido fora toda noite com a amante.
Voltaria cansado demais para fazer amor com a esposa boba. Meu Deus,
aquilo foi uma revelação. Nunca me esqueço de você analisar que só fazia
alguns dias. E se tivesse sorte, não precisaria me contar nada. Bom, deu
sorte. Não engravidei. Eu não tinha a menor vontade de entrar numa relação
a três. Assim como não quero agora. Então, não tente me iludir com a
desculpa de que faz parte da cultura italiana ou outra coisa. Eu vi vocês se
abraçando e dizendo que se amavam. Achei o remédio dela em Roma no
gabinete do seu banheiro mês passado, além de outros pertences femininos.

Parou um pouco e completou:

— Só me surpreende como Gina pode tolerar isso. Eu não tenho opção, como
sempre me lembra. Você é desprezível. — Por um instante, pensou que ele
lhe daria um soco. Estremeceu ao ver seu rosto contorcido pela raiva e o
olhar furioso.

— Cale a boca... Cale essa boca.

Max ouviu tudo com horror, que logo se transformou em uma raiva
indomável. Queria agarrá-la com força e sacudi-la. Não podia acreditar que
a mulher com quem fizera amor nas últimas semanas estivesse todo o tempo
pensando coisas tão horríveis a seu respeito.

Repassou tudo o que acabara de ouvir. Relembrou da conversa com Gina, das
circunstâncias do momento. E podia ver por que ela considerou as fofocas e
entendeu tudo errado.

— Dio mio! — Max envolveu sua nuca. Sentia sua pulsação rápida na ponta
dos dedos. Passou o braço por sua cintura e a puxou contra si.

— Acredita mesmo nessas besteiras? Sua tola! Deu ouvido às fofocas e


pensou o pior de mim.

— As revistas não mentiam.

— Eu tinha menos de trinta anos. Claro que dormi com algumas mulheres. —
Sua mão apertou o pescoço dela. — Mas sua cabeçinha juvenil e tola
entendeu tudo errado.

— Ouvi o que disse, lembra? — Recusava-se a ser intimidada pela elevada


proximidade de seu corpo eriçado de fúria.

— Isso é o que pensa. Não escutou tudo.

— Eu...

— Cale a boca e escute — vociferou. Segurou seu queixo e forçou-a a olhá-


lo. — Naquele dia, Gina e eu não falávamos de um relacionamento a três.
Nunca passei por isso na minha vida. E só tenho uma relação fraternal com
minha irmã. Por acaso, ela gosta de mulheres e namora Rosa. Devia ter mais
juízo para não considerar fofocas de uma mulher de meia-idade como
Marnie.

— Ela disse que todos sabiam. — Sophie se defendeu, mas a revelação de


que Gina era lésbica, e de seu namoro com Rosa... Bom, ao menos explicava a
tensão que sentiu no dia em que foram à cafeteria. Perdeu um pouco de sua
convicção anterior. — E ela não tinha por que mentir sobre isso.

— Duvido muito. E, na verdade, Gina só estava me apoiando, como uma boa


irmã. Porque, dois dias antes, eu soubera que podia estar com câncer no
testículo. Por isso me aconselhou sobre o casamento. Deu sua opinião
médica, me alertando que você descobriria caso eu começasse o tratamento.
Isso explica tudo?

Max examinou as expressões em seu rosto. Sorriu com tristeza e continuou:

— Ela a trata com certa prudência porque entendeu você dizer, naquele dia,
que não queria viver com um doente. Ou, em suas palavras, seguir a vida que
eu lhe traçara. E uma mulher séria. Considera-a bonita, mas superficial. Não
pode culpá-la. Sua piada foi meio estúpida, mas válida se considerar sua
experiência passada.

A palavra "câncer" revirou seu estômago. Ficou paralisada de choque. Max a


encarava sério. Um turbilhão em sua mente a impediu de desviar o olhar.
Tinha certeza de que nenhum homem, e especialmente um tão arrogante e
másculo como Max, mentiria sobre câncer no testículo.

Mas ainda custava a acreditar, ao considerar que fez amor com ela sem
problemas anos antes. E sua destreza sexual com certeza não diminuíra com
o tempo, muito pelo contrário.

— Tem certeza de que ficou doente? Parecia ter bastante disposição.

— Sim, fiquei doente. Não se preocupe, superei tudo e agora estou bem.

Ela o fitou, de modo incerto. Relembrava palavra por palavra da conversa


daquele dia fatídico. Já a tinha repassado mil vezes, depois de se
separarem. Servia para lembrá-la de quanto ele era canalha, na esperança
de curar-se do seu amor impossível. Será que se enganara? A explicação que
acabara de ouvir esclarecia muitas coisas. Se Gina era lésbica, como disse...
Lembrou-se de como Max lhe estendeu a mão no final da conversa, quando
ela disse que ia embora.
— Quando me pediu para conversar com vocês dois... era sobre sua doença?

— Claro. Foi sua mente tola que pensou ser outra coisa.

Chocada, Sophie olhou para o rosto apenas a alguns centímetros do seu e


murmurou:

— Você teve mesmo câncer no testículo?

— Sim — disse. Seu olhar desolado se perdeu, ao reviver lembranças ruins.

Sophie empalideceu.

— Oh, meu Deus! Desculpe, lamento muito. O que vocês devem ter pensado
de mim?

Por isso Gina a tratava de forma tão indelicada. E agora entendeu por que
Max sentia tanta raiva dela. Queria seu corpo, mas a considerava insensível.

— Se eu soubesse... — Fitou-o com compaixão. Precisava, queria lhe contar,


mas o quê? Que nunca o teria abandonado? Que o amava? Não tinha
coragem.

— Se eu soubesse que estava doente... Mas ele a interrompeu:

— Não teria feito diferença. O diagnóstico foi precoce, o tratamento foi


rápido e não teve reincidência. Não preciso da sua piedade... — Aproximou-a
de si. Desceu a mão em seu pescoço até tocar um de seus seios. — Apenas
do seu corpo. Isso não mudou.

Olhou-a fixo em silêncio por intermináveis segundos. Então, riu.

— E antes de se torturar, saiba que tinha razão. Eu queria seduzi-la. Recebi


a notícia terrível pela manhã, e a levei para a cama de noite para reafirmar
minha virilidade. Gina diz que os homens costumam agir dessa forma
impulsiva.

— Muito obrigada. Foi um prazer poder servi-lo.

— Ficou irritada, de repente. Mas também excitada ao sentir sua mão por
debaixo do roupão.

Max ironizou:

— Eu é que agradeço. Estivemos enganados todo esse tempo? Não importa.


Prefiro o que temos agora.
Olhou-o triste. Entendeu o que disse. Nunca quis uma esposa, só uma
amante. Nada mudara... Inclusive seu poder de atração devastador. Mas ela
não queria só isso...

Como se lesse os pensamentos de Sophie, ele sorriu de forma arrogante e


baixou a cabeça.

Ela murmurou:

— Não... — E disse, mais enfática: — Não.

Empurrou seu peito com força e se virou. Mas ele a deteve, ao capturar suas
mãos e envolvê-la nos braços.

— Sim.

Balançou a cabeça de um lado para outro, mas Max a fez recuar até cair em
cima da cama.

Seu corpo esplêndido ficou por cima dele, e Max lhe beijou a boca. Ela
tentou manter os lábios fechados, mas ele os contornou com a língua e
mordiscou de leve. Com um suspiro indefeso, Sophie os abriu. Ele segurou
sua cabeça entre as mãos e lhe deu um beijo tão intenso e possessivo que
lhe tirou o fôlego.

— Esqueça o passado — murmurou, tirando-lhe o roupão. — Me importo


apenas com o presente.

— Mas... — Seus lábios a calaram uma, e mais outra vez até fazê-la gemer
de prazer. Ao parar, para se despir, ela o admirava, ávida. Max voltou-se
para ela, e retirou seu corpete para cobri-la com seu corpo.

Mais tarde, deitada em seus braços após o auge da paixão, Sophie o abraçou
forte e acariciou seu peito. A rebeldia anterior desaparecera ao pensar em
tudo o que ele passara.

Amava-o, e sentia compaixão pelos momentos difíceis que atravessara. E


murmurou:

— Lamento por tudo o que passou, Max.

Ele praguejou e levantou da cama de forma brusca. E disse com frieza,


antes de sair do quarto:
— Já lhe disse que não preciso da sua compaixão piegas. Nunca precisei.

CAPÍTULO ONZE

Sophie levantou tarde na manhã seguinte. Não descansara de noite e se


sentia mal. Era incapaz de esquecer seu enorme engano. Era uma
adolescente tão boba e não tinha mudado muito. Alimentou em segredo a
esperança de que Max começaria a amá-la, após esclarecer os motivos de
sua desconfiança na conversa que tiveram. Mas ele logo tratou de
desapontá-la. Quando aprenderia?

Era um grande homem em todos os sentidos. Tinha sucesso, dinheiro e


confiança em si mesmo para vencer tudo ou qualquer pessoa que o impedisse
de conseguir o que queria. Sorriu consigo mesma. Nem mesmo o câncer
conseguiu derrotar sua potência viril, se considerasse seu vigor na cama.
Mas ele não passara a noite em seu quarto, e isso disse tudo...

Era sexta-feira e devia ter viajado a Roma. Imaginou se contaria a Gina


sobre a conversa, mas se deu conta de que não importava. Continuaria a ser
apenas a amante, e nada mais.

Vestiu-se e desceu para a cozinha. Serviu-se do café pronto sobre o fogão.


Tomou um gole, quando Maria entrou apressada.

— Eu é que deveria servi-la. Devia ter tocado a sineta — censurou-a. E pediu


para que sentasse. — Agora, o que quer no café da manhã?

Sophie puxou uma cadeira e sentou, com um sorriso descontente. Todos


tinham um emprego. E não era seu estilo ser uma desocupada. Podia sentir o
café amargo, como ela, mas o bebeu até o fim. Se não tomasse alguma
providência, o estilo de vida de luxo que Max lhe oferecia a tornaria cada
vez mais angustiada.

Pegou uma banana da fruteira.

— Não se preocupe. Isso já está bom.

Encontrou então o cartão do prof. Manta...


As revelações da noite anterior não mudaram nada. Apenas sabia agora o
que Max pensava dela ao se reencontrarem. Não apenas a via como uma
promíscua cheia de amantes, mas como uma insensível que abandonava
doentes. Condoía-se por tudo o que deve ter sofrido, mas ele deixou bem
claro que não queria sua compaixão. E o pior é que lhe contou o que sempre
suspeitou, que a seduzira de propósito apenas para reafirmar sua
masculinidade ameaçada.

Não queria sua preocupação ou piedade. Então não podia fazer nada além de
continuar com a farsa de ser sua amante, até que se cansasse do sexo. E,
examinando seu passado, isso iria demorar.

Mas estava cansada de seguir suas ordens. Ligou, então, para o professor.
Combinou de encontrá-lo do lado de fora do colégio.

Disse a Diego que não iria de lancha. Preferia ir sozinha de vaporetto, como
todos os moradores locais. E saiu antes que ele a conseguisse deter. A
sensação de liberdade era arrebatadora. Encontrou-se com o professor.
Após uma entrevista rápida com o diretor do colégio, aceitou trabalhar duas
manhãs da semana seguinte até o Natal. O prof. Manta insistiu em levá-la ao
Café Florian, antes de ir para seu consultório. E foi lá que Max a encontrou...

Na noite anterior, Max ficara furioso ao saber que Sophie o considerava


capaz de tantas depravações. Mas, ao invés de discutir sobre a raiva e o
ressentimento que lhe ardiam no peito, levou-a para cama. Fizeram amor
com muita paixão, que para ele era a melhor forma de se comunicarem.

Mesmo nos tempos mais loucos da sua vida, nunca ficara com duas mulheres
ao mesmo tempo. Exigia fidelidade em todos seus relacionamentos.
Aprendeu isso após seu romance com Berenice, na universidade, quando
descobrira que ela dormira com metade de seus amigos enquanto
namoravam.

Ao amanhecer, nos primeiros raios de sol da alvorada, sua raiva havia


passado. Finalmente começou a pensar direito. Voltou ao quarto de Sophie
para conversar, mas a viu dormindo. Disposto a acordá-la, puxou o lençol,
mas parou. Estava tão perfeita, encolhidinha como um bebê, com a trança
infantil caindo pelo ombro e sobre um dos seios. Não teve coragem de
despertá-la.
Por muito tempo a contemplou, e percebeu que não podia ficar bravo com
ela. Foi inocente e imatura. As fofocas a seu respeito, às quais nunca dera
atenção, impressionaram uma jovem ingênua como ela. Acreditou nos boatos,
que sempre cercam a vida de alguém rico e com seu estilo de vida. Por isso
se sentiu insegura, e tirou conclusões erradas de uma conversa ouvida pela
metade. Ele era mais velho e experiente, e devia esperar por isso. Sua
obrigação era ter lhe contado a verdade, fazê-la ouvir o que dizia. Mas
perturbado com seu drama pessoal, resolveu que não queria mais vê-la.

Não estava orgulhoso pela forma como a tratara nas últimas semanas. Tinha
seus motivos, pois achava que o abandonara por ser insensível.

Deixou-a dormindo e partiu. Tinha um pensamento na mente: compensá-la


por tudo o que lhe fez.

Instruiu os empregados para não a perturbarem, e passou duas horas lendo


relatórios. Ligou para o centro de assistência a doentes terminais, que
ajudava em Roma todas as sextas-feiras, dizendo que não poderia ir.
Combinou almoçar com seu advogado, disposto a anular o vergonhoso trato
que obrigara Sophie a assinar. Pensou em recomeçar tudo. Por fim, correu
até a joalheria para surpreendê-la com um presente...

Mas foi ele quem ficou surpreso. Ficou observando por um tempo, sob a
sombra dos edifícios. Sophie estava sentada na cafeteria, sorrindo para o
prof. Manta. Usava um elegante conjunto vermelho, e seu cabelo estava
preso por uma faixa de veludo. O rosto tinha pouca maquiagem. Parecia
relaxada e feliz.

Colocou a pequena caixa de veludo no bolso. Não ia surpreendê-la com um


presente, mas com sua presença. Sabia que não era diferente de como a
julgava, foi um idiota por pensar o contrário. Mas não desistiria do que lhe
pertencia. Era sua amante sexy e sensual, e bem desobediente. Tinha
certeza de que não a perderia para um velho. Endireitou-se e, com um olhar
determinado, atravessou a praça.

— Sophie, não esperava vê-la aqui. — Viu-a levantar a cabeça e olhá-lo com
cautela.

— Max, que surpresa. Pensei que estava em Roma. Vai para lá toda sexta-
feira.

O choque de vê-la com o professor quase o fez perder o controle. Percebeu


que ela estava nervosa, apertando e mexendo as mãos sobre o colo.

É bom mesmo que esteja aflita, ele pensou.

— Claro que não. Almoçarei com meu advogado. — Voltou-se para o prof.
Manta — Buongiorno, professore. Permesso! — perguntou ao apontar para a
cadeira.

— Prego — disse o professor e levantou. — Como está o centro de


assistência? Ainda em ampliação?

— Sim.

— Bom trabalho, Max — congratulou o professor, com um tapinha nas


costas. — Preciso ir agora. Vou lhe dar o prazer de acompanhar Sophie até
sua casa. E um homem de sorte. E posso lhe dizer, minha jovem, que San
Bartolomeo está muito grato por seus serviços. Arrivederci.

Max a encarou por algum tempo.

— Explique-se.

Com o fôlego vacilante, Sophie recusou se deixar intimidar por sua


imponência. Alto, vestido com um terno executivo e com uma expressão
severa e irada no rosto, Max parecia mesmo perigoso.

— Já falei. O professor perguntou se eu queria lecionar idiomas no Colégio


San Bartolomeo, onde seus netos estudam. A professora regular está de
licença até o Natal, e precisam de alguém. Liguei hoje, e lhe disse que
estava interessada. Acabamos de falar com o diretor. Trabalharei todas as
terças e quintas, a partir da próxima semana. Tudo bem para você, meu
senhor?

Ele ficou surpreso com sua veemência, mas não podia culpá-la depois do que
sugerira sobre o professor na noite anterior. Quando, na verdade, ele lhe
oferecera um emprego.

Perguntou-se no que mais estava errado a respeito dela. Mas não permitiria
que o desafiasse depois de tê-lo desobedecido.

— Diego não a acompanhou? Disse para não sair sem ele. Desobedeceu as
minhas ordens.

Afastou sua cadeira e levantou.

— Não o deixei me ver sair. E eu... me esqueci das suas ordens. Agora, me
permite pegar o vaporetto e voltar para casa?

Olhando-a sério, ele se levantou e lhe segurou o braço.

— Quanta docilidade. Mas vou escoltá-la de volta, e mais tarde


conversaremos sobre sua idéia de trabalhar.

— Não tenho o que conversar. Já aceitei o emprego.

— Eu sou seu emprego. Tem cartões de crédito e uma mesada generosa.

— Uma remuneração, você quer dizer? — Sophie ouviu-se praguejar,


sentindo Max agarrar forte seu braço ao caminharem para o cais.

— Chame como quiser, mas gaste o maldito dinheiro. Faça compras, qualquer
coisa que mulheres fazem. Não precisa lecionar para crianças.

— Mas eu amo crianças e odeio fazer compras. Max apertou seu braço com
mais força.

— Toda mulher que conheci adorava gastar muito com compras.


Experimente, e vai aprender a gostar.

— Pode ser o seu tipo de mulher, mas não sou assim. Não me conhece
mesmo, Max — disse ela, com um tom calmo ao encará-lo.

O vaporetto chegou e as pessoas desembarcaram.

— Eu me importo, sim, com as pessoas, apesar do que você e Gina possam


pensar sobre mim. Só fiquei no jantar de ontem, depois da piada grosseira
dela, em respeito a minha mãe. Ela morreu de câncer. Meg e eu cuidamos
dela por dois anos. Só estou aqui porque me preocupo com meu irmão
Timothy. Se não me quisesse apenas pelo sexo, teria percebido isso.

Sentiu-o largar seu braço e o viu contrair o maxilar. Podia não gostar, mas
estava farta de fazer suas vontades.

— Depois de ontem à noite, sei o que pensa de mim. Acha que sou
experiente, interesseira e que não me importo com ninguém. E sabe o que
me dá nojo? Mesmo assim, não teve escrúpulos para se aproveitar do meu
corpo. Que tipo de homem isso o torna?

Sem esperar por resposta, Sophie entrou no vaporetto e sentou.

Logo depois, um Max inexpressivo sentou a seu lado.

— Não tinha que encontrar seu advogado? — perguntou, com desprezo.


Tentava se afastar dele, mas estava imprensada contra a janela.

— Non importante. Precisamos conversar.

— Sei que tipo de conversa. Vai me mandar fazer algo, geralmente na


horizontal. Está perdendo seu tempo. Toda tarde de sexta dou aula de
inglês prós filhos de Tessa, e jantamos juntos. Eu não fico à toa quando você
viaja.

Reparou na expressão nervosa dele, e sentia a tensão em seu corpo


musculoso.

— Se acha que não vou para o San Bartolomeo, esqueça. A única coisa que
me deixa sã é pensar em trabalhar. Eu aceitaria qualquer trocado para
mandar você e meu pai para o inferno, e voltar para minha vida. Então, não
insista.

— Não me importo que trabalhe — disse Max. Pensar que ela poderia deixá-
lo era insuportável.

— Acho bom — resmungou, pega de surpresa com a resposta. Achou que


Max já estava se cansando dela. Virou-se para a janela, e por algum motivo
lágrimas brotaram em seus olhos.

— É aqui que descemos. — Pegou seu braço e a levou para fora do barco.

— Tem certeza? Não foi aqui que o peguei ao sair.

— Esse é mais rápido. — E, segurando seu braço, andou a passos largos. Ela
tropeçava, na tentativa de acompanhá-lo. Sem diminuir o passo, quase a
arrastou pela escada da entrada do palazzo.

Ela não fazia idéia do motivo de tanta pressa. Tentou livrar sua mão ao
entrarem na casa.

Max parou diante dela e a olhou demoradamente. Seus olhos brilhavam


ardentes. Pensou ouvi-lo dizer algo, mas Diego o interrompeu:
— Signor, está de volta.

— Sim, e quero lhe falar.

Sophie aproveitou que Max estava distraído e subiu para seu quarto. Tirou
os sapatos com um chute, como sempre. Depois tirou a saia e vestiu a roupa
velha que usava para fazer ginástica e andar pela casa quando Max não
estava.

Ouviu seu estômago roncar. Pensou em comer algo na cozinha. Quando


colocou a mão na maçaneta, a porta se abriu. Cobriu o rosto com a outra mão
e cambaleou contra a parede.

— Sophie!

Lacrimejante, viu Max entrar de supetão. Ela piscou os olhos e empurrou a


porta.

— Você deve ter quebrado meu nariz, seu grande imbecil. Meus dedos vão
ficar roxos por semanas. Não sabe bater na porta? Está maluco? — gritou,
ao se endireitar. Esfregava a mão dolorida.

Não percebeu a tensão violenta em Max. Suas costas estavam doendo depois
de bater contra a parede.

— Sim, maluco por você — disse impetuoso, parado à sua frente. Ele passou
as mãos sobre o rosto, ombros e braços dela. — Dio! Nunca vou me perdoar
se a machuquei.

Sophie perdeu o fôlego ao encará-lo, com os olhos arregalados, e notar a


preocupação e a paixão no olhar dele. Não podia acreditar no que
testemunhava. Ele anunciou:

— Vou chamar um médico. Meu amor, não suportaria viver sem você.

— O que disse? — perguntou, surpresa.

O semblante austero e sofisticado que Max apresentava para todos


desapareceu. Estava fora de si.

— O médico. Disse que vou chamar um médico.

— Não, depois disso. Diga outra vez. — Precisava ouvi-lo dizer meu amor
para acreditar que era possível.
Ele segurou-a pela cintura. Olhou fundo em seus olhos, e, com uma voz
rouca, cheia de ternura, afirmou:

— Não suportaria viver sem você.

Ela notou como Max estava vulnerável e se surpreendeu ao ver seu lindo e
arrogante amante tão inseguro.

— Não quero perdê-la de novo.

— Por quê? — perguntou, ofegante. Sua esperança crescia a cada segundo.

Max ficou tenso, segurou sua cintura com força, e um rubor ardente corou
sua pele ao encará-la.

— Oh, acho que sabe, Sophie. — Ainda tinha dificuldade em pronunciar as


palavras. Mesmo quando sua felicidade dependia de convencer a mulher em
seus braços a ficar com ele. — Meu amor.

Ele disse meu amor mais uma vez. Nunca podia imaginar que aconteceria.
Sophie sentiu seu coração palpitar. Precisou de toda a coragem para
perguntar:

— Sou mesmo seu amor, Max?

— Sim. Eu a amo, Sophie. Sei que não acredita depois de como a tratei, mas
é verdade.

De repente, conseguia repetir as palavras que teve tanta dificuldade de


pronunciar. Poderia até dizê-las um milhão de vezes, se isso a convencesse a
ficar.

Ela esperou ansiosa para ouvir essa resposta. Respirou fundo e só então o
tocou. Passou os dedos pelos cabelos dele e embalou sua cabeça entre as
mãos.

— Você me ama? — Sophie esperou. E viu a resposta, que ele já não tentava
esconder, em seu olhar reluzente.

— Assim como eu o amo, Max.

Contou finalmente a verdade que escondeu por anos. Porque o impossível


aconteceu, Max a amava. Lágrimas embaçaram sua vista. Seu rosto se
iluminou com um sorriso de pura felicidade.
— Você me ama? Depois de tudo o que lhe fiz? — perguntou ele, com o
coração sufocado pela dúvida.

— Amei você desde que nos conhecemos. Ainda o amo e sempre amarei.

— Oh, Sophie, não mereço você. — Beijou-a cheio de paixão. Ela


correspondeu com todo o amor de seu coração.

Ele abraçou-a e a levantou para deitá-la gentilmente na cama. Despiu-se com


rapidez, com a ajuda de Sophie para tirar o terno e a calça.

Suspirando, Max deitou ao lado dela e a envolveu nos braços. Entrelaçados,


ele viu o desejo pulsante no fundo dos olhos esverdeados. E deleitou-se na
paixão gloriosa de seu beijo.

Max a amava, e Sophie gemeu o nome dele ao sentir os lábios em seus seios.
As mãos a acariciavam, até ela estremecer de desejo torturante em cada
nervo de seu corpo. O amor libertou seus mais profundos e ávidos anseios.
Ela percorreu o corpo musculoso dele, dos ombros largos até o quadril.

— Sophie — gemeu, acariciando-lhe as costas. Em frenesi, ela apertou as


pernas em volta de seu

quadril ao senti-lo se lançar dentro dela com uma potência vigorosa e


selvagem que tocou-lhe o âmago. Em um ritmo feroz extraordinário, seus
gemidos ecoaram em uníssono um prazer de intensidade cósmica ao
chegarem ao nirvana. Suas almas se uniram. Deitaram-se, enlaçados e
ofegantes, trêmulos e sem fala. Até que Max disse:

— Sophie, meu amor. — Deu-lhe um beijo tão carinhoso que a fez lacrimejar
de felicidade.

Ao recuperarem o fôlego, envolveu-a nos braços para acomodá-la ao lado.


Max disse, observando seu rosto corado:

— Acho que a experiência sexual mais intensa que já tive foi quando fizemos
amor pela primeira vez. Mas agora... — Estava sem palavras. — Dio, como a
amo.

Beijou seus lábios devagar e com uma ternura incomensurável. Depois,


afastou uma mecha de cabelo de sua testa.

— Sei que tratei você de forma abominável e sei que minhas desculpas nunca
serão o bastante.

— Shh... Não tem mais problema — murmurou, levando um dedo aos lábios
dele. — Não me importo, só preciso saber que me ama.

— Não. — Ele pegou-lhe a mão e beijou as juntas dos dedos feridas. —


Machuquei você... a feri de várias maneiras. Preciso me explicar. — Largou
sua mão.

Ela começou a acariciar de forma provocante o peito másculo.

— Tem certeza?

— Preciso falar. Não cederei à tentação até fazê-lo... — disse com um


sorriso e segurou-lhe novamente a mão.

— Desmancha-prazeres — Sophie brincou.

—Talvez. Eu passei tempo demais me comunicando através do sexo com


você. Preciso dizer a verdade agora.

— Isso não soa muito bem. — Sophie se debruçou no cotovelo para olhá-lo.
Pousou o outro braço sobre seu tórax largo, acariciando os pêlos
encaracolados com os dedos. — Tem certeza de que não prefere fazer
outra coisa?

— Malvada. Sei o que está tentando fazer, mas me recuso a desviar do


assunto.

— Que pena!

Pegou-lhe a mão sobre seu peito.

— Falo sério, Sophie.

Ela ficou calada ao ver seu olhar intenso e determinado.

— Eu a quis desde o minuto em que vi você na Sicília. Mas Alex, que era
responsável por você, me pediu para não tentar nada por ser muito nova. Eu
concordei. Até porque eu gostava de mulheres maduras, experientes, e não
de adolescentes românticas. Por favor, não se ofenda, estou tentando dizer
o que achava ser verdade.

O fato de Alex ter pedido para Max não se aproximar explicava por que ele
não a tocou da primeira vez, e ela admirou seu comedimento.
— Logo percebi que não conseguia ficar longe de você. Convenci-me de que
um flerte com uma garota bonita não faria mal nenhum. E não pensava em
nada mais. Gostava de ser um homem livre. Mas na noite em que a levei para
jantar, eu quase... Quando estávamos no carro. Bom, não preciso dizer que
precisei de toda a minha força de vontade para não entrar em seu chalé e
fazer amor com você. Fui embora no dia seguinte, determinado a não vê-la
novamente. Achava que havia mil garotas interessadas, e não devia me
envolver com uma adolescente. Cheguei a me convencer de que não era o
momento certo. Pensei em esperar para encontrá-la alguns anos depois. Mas
após alguns dias, eu já estava mudando de idéia. Viajei para a Rússia.
Planejava aliviar minha frustração sexual com uma mulher que conhecia lá.
Mas não consegui. Voltei para Roma e marquei um encontro com uma antiga
namorada naquela noite.

— Não sei se gosto dessa decisão — Sophie murmurou.

— Não houve nada, juro. Na sexta-feira de manhã, recebi a resposta dos


meus exames médicos. Recomendava que eu consultasse um especialista. Fui
no mesmo dia, e então descobri a possibilidade de estar com câncer. Logo
marquei um almoço com Gina. Ela me explicou da grande chance de cura, e
que não chegava a afetar a virilidade. Mas, como precaução, eu devia
congelar meu sêmen, para o caso de perder a fertilidade.

— Oh, Deus! Deve ter sido horrível para você! — disse Sophie, limpando as
lágrimas dos olhos e apertando-lhe a mão. Mas ele afastou a mão dela. E ela
notou, triste, que ele ainda não estava preparado para aceitar sua
compaixão.

— Não, me senti furioso... E assustado. Não acreditava no que me acontecia.


Nem sabia mais se teria muita vida pela frente. Agora parece egoísmo, mas
a única coisa em que pensava era que teria de ser o seu primeiro. E peguei o
avião para a Sicília.

Típico de seu impulsivo e arrogante, porém adorável, Max. E ao pensar isso,


deu uma risadinha. Ele a repreendeu:

— Não foi engraçado. Quando a vi na piscina, só podia pensar em fazer amor


com você. E a seduzi deliberadamente. Mas, naquela noite, tive a experiência
mais incrível da minha vida.
Max contornou-lhe os lábios com carinho.

— Gostaria de dizer que a amava. Mas devo admitir que minha impulsividade
pode ter sido uma reação inconsciente à idéia de estar com câncer. Talvez
quisesse provar não haver nada de errado comigo. Mas quando adormeceu
em meus braços, pensei que não seria ruim caso tivesse engravidado.
Quando a pedi em casamento, falava sério. É claro que mais tarde, quando
Gina chegou, tudo acabou. E sabemos por quê.

Sophie compreendia sua incerteza, mas escolheu acreditar que a amava


desde o começo.

— Foi culpa minha. Devia ter ouvido você.

— Não. Eu era mais velho e devia ter explicado. Mas eu a considerei uma
garota desalmada. Queria tirá-la da minha cabeça a todo custo. E me
concentrei em vencer a doença, o que consegui com facilidade. Mas esquecê-
la não foi tão fácil.

— Ainda bem, fico feliz. — Sophie acariciou o ombro dele e esticou a perna
sobre suas coxas.

— Sim, bem... Estou tentando me confessar, Sophie. Enquanto você está


tentando fazer outra coisa. Não vai funcionar. Ao menos por enquanto.

Ela respondeu subindo em cima dele, apertando os seios contra seu peito.

— Ok, vá em frente.

— Quando a vi tão linda no jantar, ao lado de Abe Asamov, fiquei possesso.

— Nunca estive com Abe, como pensou. Passei férias da universidade na


Rússia. E ensinava inglês para sua esposa e filhos. É apenas um amigo. Não o
via há anos. Ele estava só brincando naquele dia.

— Bom, não importa agora. — Max acreditava nela, ao menos devia se


quisesse ter paz de espírito. — Mas enlouqueci na hora. Estava ajudando nos
negócios da minha família e soube que seu pai nos devia. Então, achei que era
o destino. Nunca devia ter obrigado você a se tornar minha amante. Mas
quando aceitou, e parecia corresponder às minhas carícias, me convenci de
que era só isso o que queria. Até a noite passada. Saí correndo daqui porque
não queria sua compaixão. Mas voltei e a vi adormecida, e soube que estava
apaixonado. Queria recuperar o amor que uma vez disse sentir por mim.

— Devia ter me acordado — Sophie disse com carinho.

Ele alisou sua bochecha e afastou a longa mecha de seu cabelo.

— Não. Decidi não cometer erros dessa vez. Combinei de almoçar com o
advogado para anular o contrato humilhante que a fiz assinar. Aí saí para lhe
comprar um presente. Quis surpreender você e perguntar se podíamos
começar de novo. Mas foi você quem me surpreendeu. Enlouqueci de ciúmes
ao vê-la com o professor.

Sorriu pesaroso, recriminando-se.

— Mas foi pior. Descobri que ele lhe ofereceu um emprego. E, além disso,
me revelou sobre sua mãe, e recusou minha oferta de gastar dinheiro como
todas as mulheres que conheci faziam.

Ela não gostou de ouvir sobre as mulheres, mas ignorou. Agora ele era todo
seu.

— Eu a julguei errado diversas vezes. Tinha razão ao dizer que não a


conheço. Fiquei imobilizado, paralisado de medo. Estava certo de que a
perderia quando entrou no vaporetto. Fui atrás, disposto a remediar o que
fiz e ficar com você.

— Conseguiu — disse Sophie, comovida. Aquele Max, seu amante arrogante e


magnífico, não deixou dúvida de que a amava de verdade. Envolveu sua nuca.
— Se já terminou de falar... Posso fazer o que quero agora? — Beijou do seu
pescoço até a omoplata e alisou com os dedos seu mamilo.

— Depende do que quer — disse Max, com um gemido abafado.

Sophie sentou de pernas abertas sobre ele. Inclinou a cabeça para trás, e
falou com um brilho no olhar:

— Quero fazer amor com você. Sempre me deixa morrendo de vontade.

Max nunca ouviu, sentiu ou viu algo tão sedutor em toda sua vida. Seu rosto
lindo ficou corado, o cabelo caía sobre os ombros, cobrindo os seios firmes,
e suas coxas o envolviam.

— Sirva-se. Fique livre para fazer o que quiser — murmurou.


No silêncio da tarde, com o sol brilhando pela janela, foi exatamente o que
Sophie fez. Libertou-se.

Parecia uma criança que ganha doces. Beijou e lambeu cada centímetro de
pele, começando pelo tórax para percorrer seu umbigo e ir mais para baixo.
Até descer e ficar ajoelhada entre suas pernas e ver como ele estava
excitado. Deslumbrada, acariciou a parte interna de suas coxas.

— Nunca soube que um homem podia ser tão... belo. Você é perfeito.

Por instantes, Max olhou-a de forma estranha e perguntou:

— E quem é Sam?

Sophie ficou confusa e murmurou:

— Quem é? Será minha dama de honra em fevereiro.

— Sua dama de honra? Sam é uma mulher? Diga para mim, Sophie, quantos
amantes teve?

— Bom... — Fingiu ficar pensativa, ao perceber que Max estava mesmo com
ciúmes, desde quando se reencontraram. Primeiro desconfiou de Abe, agora
de Sam. — Deixe-me ver, tem você...

Puxou-a para lhe dar um beijo feroz e possessivo. Então, agarrou suas coxas
e penetrou na sua suavidade úmida e quente, em um acesso de paixão.

Sophie desmoronou por cima dele. O coração quase explodiu ao sentir os


espasmos do clímax mútuo percorrer todo seu corpo. Sentindo-se calma,
envolvida firme em seus braços e sendo acariciada nos cabelos, fechou os
olhos.

— Está bem? — Max perguntou.

Ela o ouviu perguntar com a voz rouca. Olhou então para ele com um sorriso
lânguido.

— Surpresa, mas nunca estive melhor.

— Surpresa... Ah, sim, surpresa! — exclamou ele, e a afastou. Levantou da


cama e pegou sua calça, procurando algo no bolso.

Sophie pensou que era hora de saírem do quarto. Sabe lá o que os


empregados deviam pensar. E deslizou as pernas para fora da cama, apenas
para vê-lo ajoelhar-se à sua frente.

— Max? — Para sua surpresa, ele pegou sua mão esquerda.

— Quase esqueci da surpresa. — Abriu a caixa de veludo, com um anel de


esmeralda e diamantes. — Casa comigo? Eu juro que a amarei e honrarei até
morrer.

Lágrimas desceram pelos olhos dela.

— Era essa a surpresa?

Ela engoliu o choro. Ele queria casar com ela, e chegou a comprar a aliança.

— Sim. Agora só precisa dizer sim. — Colocou o anel em seu dedo.

— Sim — disse ela, chorando.

Seus lábios e corações encontraram-se em um beijo sem igual, uma


declaração de amor e promessa de futuro.

— Tem certeza?

Sophie olhou para Max, cheia de amor e alegria. Tocou as pérolas em seu
pescoço, que ele acabara de lhe dar para comemorar o dia de seu casamento.
A comovente cerimônia transcorreu em uma igreja de Veneza. Os amigos e
familiares dela vieram da Inglaterra e compareceram também os conhecidos
e parentes de Max.

Sam e Gina foram as damas de honra, e Timothy foi o pajem. Gina assumiu
publicamente sua preferência sexual ao saber das fofocas e dos problemas
que seu segredo causara. E sua mãe aceitou bem o fato.

O café da manhã da festa do matrimônio foi oferecido em um restaurante


elegante, e agora voltariam de gôndola para casa. Trocariam de roupa e
usariam um transporte mais moderno para viajar em lua-de-mel para Paris.

— Confie em mim — disse Max.

Nunca vira Sophie tão extraordinária, em um longo vestido de veludo


branco. Seu cabelo magnífico estava solto, adornado com uma grinalda de
botões de rosa. Parecia uma princesa medieval. Ficou sem fôlego, pois seu
coração já era dela.

Pegou a mão de Sophie e a ajudou a subir na embarcação. Sentando-se,


puxou-a para seu lado.

— É uma tradição em Veneza que, no dia do casamento, os noivos andem em


uma gôndola.

— Você não é daqui... — ela provocou.

Os convidados se reuniram no cais quando o barco, coberto de flores,


começou a se mover.

— Verdade. Mas se não nos casássemos, Diego e Maria nunca teriam nos
contado.

— Você é uma gracinha, Max Quintano! — Sophie riu.

— E você é minha esposa, signora Quintano — disse com orgulho e sincera


satisfação. Não podia resistir, o beijo da igreja não o satisfizera. Abraçou-a
e a beijou mais uma vez.

A gôndola se moveu, e os convidados os saudaram de novo. Mas os dois,


abraçados, não ouviam nada além de seus corações palpitando como se
fossem um.

Mais tarde naquela noite, depois de consumarem o casamento, deitaram-se


entrelaçados em uma enorme cama da suíte nupcial do luxuoso Hotel
Parisian. E Sophie lhe deu seu presente de casamento.

— Lembra quando Gina insistiu para que congelasse seu sêmen, no caso de
ficar infértil? — Sentiu-o tenso e beijou seu maxilar. — Bom, não será
preciso. Eu estou grávida.

Ele agarrou sua mão e se entreolharam. Notou a umidade nos olhos


radiantes de Max.

— Isso é incrível. Um milagre. Tem certeza? Como? Quando?

— Bom... — Ela cruzou os dedos nos seus e o acariciou, segura de que a


amava.

— Bom, um cara uma vez entrou no meu quarto, riu das minhas bonecas, fez
amor comigo é depois saiu. Aí ele voltou com uma garrafa de vinho, e
fizemos amor de novo. — Ela sabia exatamente o momento. Max sorriu ao
lembrar e apertou mais forte sua mão.
— Todas aquelas bonecas que você tinha me fizeram esquecer de usar
proteção. — Puxou-a para si.

— Eu devia ter dito que algumas daquelas bonecas eram símbolos de


fertilidade.

Max soltou uma gargalhada, inclinando a cabeça para trás.

— Ah, Sophie, amore mio, você é preciosa. E toda minha, agora e para
sempre. — E começou a mostrar o que queria dizer com sua paixão
entusiasmada.
063 — JÓIA DO DESERTO — SHARON KENDRICK
Três bilionários em breve descobrirão a verdade sobre seus ancestrais
Havia cinco anos desde que Alexa partira, levando consigo um precioso
segredo. Ao descobrir ser filho de um poderoso sheik, Giovanni de
Verrazzano a quis de volta, como esposa, em seu reino. Mas como ele
reagiria ao descobrir que tinha um filho?
Mão perca o segundo volume da trilogia Herdeiros do Deserto.

064 — DELÍRIOS DO MEDITERRÂNEO PURA SEDUÇÃO — CATHY


WILLIAMS
Theo Miguel abandona as mulheres assim que elas falam em "compromisso".
Heather não tem a elegância e o estilo que normalmente o atraem, mas há
algo de apaixonante em seu jeito ranzinza. Ela parece alguém de quem se
aproveitar até cansar. Mas ele não a conhece, e não faz idéia do que o
espera...

65 - PROMESSA DO CORAÇÃO — KATE WALKER


Forçada a se casar, Skye Marston teve, antes das núpcias, uma noite de
paixão com um homem que jamais veria novamente. Ao chegar à Grécia para
conhecer sua futura madrasta, Theo Antonakos vê, para sua surpresa, que
já a conhece intimamente. Ele a quer de volta... como sua esposa!
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061 — O DOMÍNIO DO SHEIK — SHARON KENDRICK


Três bilionários em breve descobrirão a verdade sobre seus ancestrais...
Quando o bilionário Xavier de Maistre descobre que é o próximo a assumir o
reinado de Kharastan, não parece ávido por seus direitos. Até conhecer a
advogada inglesa Laura Cottingham, que confirma a notícia. Xavier decide
que irá abraçar sua herança e ceder ao desejo de possuí-la. Mas Laura
estará disposta a ser amada pelo príncipe do deserto?
Não perca o primeiro volume da trilogia Herdeiros do Deserto

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