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Claudia Muguet
Prólogo
PARTE I
Capítulo 1
Don Angelo
*****
Don Angelo
Don Angelo
Don Angelo
Isadora
Os dias têm sido muito difíceis. Depois que minha irmã se envolveu
com um traficante do morro e engravidou, minha família nunca mais foi a
mesma e piorou com a morte prematura dela. Isaura tinha vinte e um anos e,
aparentemente, não sofria de nenhuma doença, mas depois que Luna nasceu,
ela teve complicações no parto e morreu. Desde a morte de Isaura, meus pais
se debilitaram mais e eu precisei me desdobrar em três para dar conta deles,
de um bebê e do meu trabalho.
Sou secretária executiva numa empresa de tecnologia e, na parte da
tarde, Dr. Eduardo me deixa estagiar no setor jurídico, o que me rende um
extra, já que os medicamentos dos meus pais são caros. Amo o que faço e me
dedico totalmente a aprender e ser a melhor profissional possível. A empresa
está expandindo seus negócios e de acordo com reuniões que participo, Dr.
Eduardo quer expandir a empresa e torná-la multinacional, com isso, tem
buscado parcerias. Fico feliz de participar desse processo e me aperfeiçoar
cada vez mais tanto na questão administrativa quanto no jurídico.
Graças a Deus também temos vizinhos muito bons; em meio à
comunidade, existe gente muito boa e honesta. Conto com a ajuda de dona
Carmem e de Andressa, que olha Luna enquanto trabalho.
Saio de casa bem cedo, já que faltei ontem preciso compensar
chegando mais cedo. Passo pela portaria e Henrique logo vem cheio de graça.
— Olá, meu anjo, senti sua falta ontem. — Vem se aproximando
enquanto pego meu crachá na bolsa.
— Bom dia para você também, Henrique. — Falo já passando o
cartão. — Meu pai passou mal e tive que cuidar dele.
— Se você me desse bola, eu saberia cuidar muito bem de você. —
Fala com cara de paquerador, mas sei que se der moleza ele vem com tudo,
por isso levo na brincadeira e saio fora.
— Não sou gandula para te dar bola, Henrique, e sei cuidar muito
bem de mim. — Entro no elevador e observo a cara de decepcionado dele,
mas não tenho tempo para isso e Henrique é somente um amigo de trabalho.
Meu setor está estranhamente movimentado. Cássia me olha entrando
e se apressa em vir me atualizar dos assuntos.
— Bom dia, Cássia. O que está havendo?
— Bom dia, Isa. Isso aqui está um caos desde que o italiano gostoso
apareceu. — Franzo o cenho sem entender nada.
— Do que está falando, mulher?! — Sorrio.
— Ontem apareceu um italiano que parece um deus grego. —
Suspira. — O cara é a perfeição e com um olhar matador que deixa qualquer
calcinha pingando, e pelo que entendi, ele ofereceu uma parceria com a
Medeiros, com isso, estamos trabalhando como condenados para preparar
tudo.
— Tudo isso aconteceu em um dia? — Pergunto incrédula.
— Para você ver, e antes que me esqueça, Dr. Eduardo pediu que
fosse à sala dele assim que chegasse. Tente descobrir mais sobre ele e me
conte tudo, preciso estar preparada para um possível romance. — Rio da cara
de pau de Cássia que não perde a mania de azarar os executivos que
aparecem na presidência.
— Deixa Dr. Eduardo te escutar falando isso, sabe que ele preza
muito pela discrição.
— Não tem como ser indiferente a esse homem, Isa, ele é a
personificação de todos os deuses do olimpo. — Suspira mais uma vez. —
Pena que é inalcançável para uma reles mortal.
— Deixa eu ver o que o Dr. Eduardo quer. — Falo deixando minhas
coisas na minha mesa e me dirigindo para a sala do presidente, deixando
Cássia suspirando atrás de mim. Dou duas batidas na porta e entro.
— Bom dia, Dr. Eduardo. — Falo me aproximando de sua mesa.
— Bom dia, Isadora. Preciso que você fique no setor jurídico e ajude
a fazer um relatório para um investidor, terei uma reunião com ele ainda pela
manhã e eles ainda não me enviaram por e-mail.
— Estou indo para lá agora, deseja mais alguma coisa?
— Por ora, só isso, mas quero que participe dessa reunião, será muito
importante para o seu curriculum participar de uma fusão dessas.
— Obrigada, Dr. Eduardo. — Emociono-me com o apoio e o carinho
que ele tem por mim.
— Não por isso, Isadora. Agora vá e apressa esses documentos. —
Saio de sua sala e vou direto para o vigésimo andar para dar início ao que me
pediu.
— Bom dia, Hernani. — Cumprimento o diretor do jurídico.
— Bom dia, Isa, ainda bem que você chegou. — Vejo alívio em seu
rosto. — Preciso que organize e envie esses documentos por e-mail ao Dr.
Eduardo e faça cópias para todos os diretores e para o investidor.
— Pode deixar que num instante resolvo isso.
— Obrigado, Isa.
— De nada. — Saio de sua sala e me sento na mesa vaga, começando
a trabalhar.
Envio todos os e-mails e vou para a sala de cópias. Passo boa parte da
manhã fazendo esse trabalho. Ao olhar para o relógio, percebo que já são dez
e meia e preciso entregar os documentos para o investidor. Chego ao
trigésimo andar e está uma loucura, todos ocupados e mesas extras foram
colocadas para a assessoria jurídica.
— Graças a Deus que você chegou, Isa. — Cássia fala esbaforida. —
Dr. Eduardo pediu que levasse água e café para o investidor que está na sala
dele, mas não tive como fazer isso, está uma loucura isso aqui hoje, por
favor, faça isso para mim?
— Calma, Cássia, vou na cozinha e passo um café fresco e levo tudo.
— Obrigada, anjo.
Preparo tudo numa bandeja e sigo para a sala do chefe, bato duas
vezes na porta e entro.
— Com licença. — Vejo um homem enorme de frente para as
grandes janelas que mostram o centro histórico. — Dr. Eduardo me pediu
para trazer um café e uma água, desculpa a demora. — Ele se virou
lentamente me surpreendendo com tamanha beleza. Seus cabelos são de um
preto tão intenso que chega brilhar e os olhos azuis da cor do mar, demonstra
severidade e determinação, mas transmitem tristeza. Ele não se move e tento
sair do meu torpor e servi-lo. Com muita dificuldade, recobro o controle e
assumo o lado profissional sem dar margem para que pense o contrário de
mim, apesar de achá-lo realmente um deus grego.
— Açúcar ou adoçante, senhor? — Falo com a cabeça abaixada para
desviar dos seus olhos avaliativos.
— Açúcar, per favore. — Levanto o olhar e paraliso assim que nossos
olhos se cruzam novamente, um formigamento começa a tomar meu corpo e
desvio meus pensamentos desse homem que está mexendo comigo de forma
estranha.
— Mi dispiace, non sapevo che tu fossi italiano. — Percebo que fica
impressionado com a minha resposta em italiano.
— Não precisa se desculpar, senhorita...? — Franze o cenho
mostrando sua curiosidade. Decepciono-me quando ele fala em português,
mas trato logo de me concentrar.
— Desculpe-me novamente. — Apresso-me em me apresentar. —
Sou a secretária do Dr. Eduardo, me chamo Isadora. — Vejo-o franzir a testa.
— Prazer em conhecê-la, Isadora. — Ele se aproxima de mim e
invade meu espaço pessoal com seu tamanho e cheiro, sinto meu rosto
erubescer. Pega o café ainda me olhando.
— Com licença, senhor. — Afasto-me indo em direção à porta. —
Em breve voltarei para levá-lo à sala de reuniões. — Fecho a porta atrás de
mim e uma sensação de vazio preenche meu peito, nunca senti isso por
homem nenhum e um medo me toma. Sento-me em minha mesa e revejo
alguns relatórios. Meia hora depois, meu telefone toca e Dr. Eduardo pede
que eu acompanhe o investidor até a sala de reuniões. Meu coração acelera e
minhas mãos suam, mas preciso fazer meu trabalho. Bato na porta, entro e o
encontro no mesmo lugar que antes.
— O Dr. Eduardo o aguarda na sala de reuniões, queira me
acompanhar, por favor. — Vou em direção ao elevador e posso senti-lo
colado a mim. Assim que as portas se fecham, permaneço olhando para a
frente, mas vejo-o pelo reflexo do metal. Ele me olha com tanta intensidade
que um calor sobe pelo meu corpo e me deixa incomodada, mas de uma
forma boa, e isso me assusta. As portas se abrem e saio sem olhar para trás,
seguimos por um corredor até uma grande porta de vidro e entramos.
— Com licença. — Todos nos olham. Sinto-me incomodada por ver
cobiça de alguns homens e admiração de outros, e procuro não me importar
com ninguém até chegar à cabeceira da mesa onde Dr. Eduardo me olha com
carinho.
— Que bom que chegaram, Isadora, traga o Sr. Vicentini até aqui. —
Dr. Eduardo fala seu nome e um arrepio corre pelo meu corpo.
— Sr. Vicentini. — Testo seu nome em meus lábios e gosto como
soa. Aponto uma cadeira ao meu lado, ele se senta. Seu perfume penetra mais
uma vez em minhas narinas. — Essas são as pastas com um levantamento
completo da situação financeira da empresa. — Passo as pastas para ele e
nossas mãos se encontram; posso sentir a aspereza de seus dedos e logo puxo
minha mão.
Foi mais de uma hora entre leitura de relatórios e conversas, ficando
acertado uma visita à Itália em um mês.
Saímos para almoçar em uma churrascaria na Barra da Tijuca
juntamente com alguns diretores, e me sinto constrangida com seu olhar
intenso e investigativo, mas tenho que permanecer até o final mesmo me
sentindo exposta e atraída por esse homem que conheci hoje.
Tudo isso é novo para mim, não que eu não tenha namorado, mas
ficar atraída por um homem que não conheço e, principalmente, que mora em
outro país, assusta. Todos se despedem e sigo com Dr. Eduardo novamente
para a empresa, mas com a sensação de vazio no peito.
Capítulo 6
FLORENÇA, ITÁLIA
Don Angelo
*****
Foi uma longa noite, mas valeu a pena. O dia amanhece nublado e
uma fina garoa cai sobre Livorno. Quando entro no porão novamente, o
homem está desfigurado e logo trata de abrir o bico e contar o que Aquiles
pretende.
— Ele enviou dez homens para desestabilizar a Castellar e estudar
seus movimentos. Durante vinte dias, ficamos observando sua família e
pudemos nos movimentar pela Toscana e Milão. Aquiles quer invadir o
Forte, que é o símbolo da força e poder da Castellar, matar todos os
descendentes Vicentini e assumir o poder, causará um boato de falência da
VF Technology Company para suas ações caírem e, assim, comprar a preço
baixo e acabar com o nome de vocês. — Um ódio cresce dentro de mim; saco
a minha Colt e acerto o meio de sua testa, fazendo com que o corpo caia sem
vida.
— Diga a Agnaldo para limpar essa sujeira e mande um recado meu
para Aquiles. — Saio da sala seguido por Enrico e Filippo.
— O que faremos agora, Don? — Enrico pergunta.
— Reuniremos todas as Casas e planejaremos um contra-ataque na
Grécia. Ligue para todos e peça que venham para uma reunião no Forte até
sexta-feira. — Entro em meu quarto e vou tirando a roupa para tomar um
banho e tirar o cheiro de sangue de mim. Despachei a mulher e as crianças
para a Rússia e deixei aos cuidados de Domenico. Agora, é planejar uma ação
e acabar de uma vez por todas com a arrogância e a empáfia de Aquiles
Callas.
Capítulo 7
Don Angelo
BRASIL
Isadora
ITÁLIA
Don Angelo
BRASIL
Isadora
Don Angelo
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Saio de casa cedo, preciso estar na empresa antes que todos cheguem.
Acompanharei Chang e Romeo no setor de segurança, colocaremos em teste
um controle mais rigoroso com raio-X e detector de metal na recepção, e
infravermelho que, dentre outras vantagens, faz o reconhecimento de face.
Fui informado que Aquiles pretende infiltrar pessoas na VF e preciso estar à
sua frente.
Ao meio-dia, recebo uma mensagem de Campanaro informando que a
videoconferência estaria disponível em meia hora. Saio da sala de reuniões e
vou ao meu escritório e aguardo o seu chamado. Meia hora depois, atendo e
percebo que está em um galpão com cerca de mil homens, incluindo Manuel
Fontes.
— Don. Esses são os homens que estão insatisfeitos com Hugo
Falcão.
— Ponha na tela grande, Campanaro. — Aguardo para me dirigir aos
homens de Falcão.
— Pronto, Don.
— Olá a todos. — Todos assentem. — Sou Don Angelo Vicentini.
Hugo Falcão comprometeu nosso acordo e sofrerá as consequências, os que
forem fiéis a mim, permanecerão vivos e ganharão a minha proteção.
— Permissão para falar, Don Angelo. — Fala Manuel Ramos Fontes,
e assinto. — Somos fiéis a Castellar e estamos prontos para nos unir às
Casas e tomar o poder de Hugo Falcão. Além de nós, temos também o apoio
de outros traficantes aliados que estão sendo mortos e extorquidos por ele,
sem contar que suas famílias estão sendo obrigadas a saírem de suas casas
somente com a roupa do corpo. Todos os seus pertences estão sendo
negociados com traficantes colombianos e bolivianos em troca de drogas.
Desgraçado!
— Tomarei providências e estarão sob o comando de Campanaro.
Sejam leais e saberei retribuir.
— Seremos, Don, seremos.
— Campanaro. — Aguardo que dispense os homens para
conversarmos.
— Pronto, Don, pode falar.
— Providencie segurança para as famílias e entre em contato com
esses traficantes e firme uma aliança. Fique de olho em Falcão e na sua
mulher, algo me diz que aprontarão.
— Será feito.
— Conto com isso. — Desligo e peço Samanta para chamar Enrico e
Elisa, precisamos traçar estratégia para pegarmos Falcão desprevenido.
Capítulo 11
Hugo Falcão
ITÁLIA
Hugo Falcão
Hugo Falcão
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BRASIL
Isadora
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BRASIL
Hugo Falcão
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Isadora
ITÁLIA
DIAS ANTES
Don Angelo
Don Angelo
Foram dias bem tensos, mas tudo foi voltando ao normal aos poucos.
Retornei ao escritório e fiquei preso a muitas reuniões e não pude
atender de pronto a Campanaro que insistia em falar comigo, assim que fiquei
livre fui verificar suas mensagens.
Don, é urgente — Verifiquei às 8:50am
Por favor, me atenda — Cerca de 10 minutos depois da primeira; isso
me preocupa.
Não posso deixar o recado com Samanta, é muito grave — Meia hora
depois da última.
Foram várias mensagens da mesma forma e decidi retornar sua
ligação.
— O que foi, Campanaro? Qual era a urgência?
— Senhor... é com a família Agnelli. — Meu sangue gelou e fiquei
mudo e não ouvi mais nada. Engulo o nó que se formou em minha garganta e
respondo.
— Fale o que houve, Campanaro.
— Hugo Falcão incendiou a casa dos Agnelli. É certo que o casal
estava na casa, mas ainda não sabemos se Isadora e Luna estavam. Os
homens de Falcão estão montando guarda e não deixam ninguém chegar
perto.
Minha ira alcança decibéis imensos. Ele não pode ter matado Isadora
antes mesmo de eu ter me reencontrado com ela.
— Reúna todos os homens de sua confiança, juntamente com os
outros traficantes e invadam o morro. Preciso saber o que houve; estou
enviando Enrico para tomar conta de tudo.
— Será feito, senhor. — Desliga.
Fico em transe e as palavras de Nicolas ecoam pela minha cabeça:
Faça como quiser, Don, mas saiba que o inevitável já está acontecendo.
Pode até trazer todo o seu pessoal para este lugar, mas existem pessoas as
quais você não está protegendo o suficiente e que podem estar correndo
sérios riscos neste momento.
— Disgraziati, eu vou matar esse frocio (efeminado) e não terei
misericórdia. — Ligo para Enrico que me atende no primeiro toque.
— Arrume sua mala, você viajará hoje à noite para o Brasil; chego em
meia hora em sua casa e explicarei tudo. Peça a Elisa que nos encontre lá
também. Leve dois homens de sua confiança.
— Estou indo para casa agora, nos falamos depois.
Pego minhas coisas e desço para o subsolo, onde Filippo já me
aguarda com a porta aberta. Aviso que iremos para casa de Enrico e o ponho
a par do que está acontecendo. Chegamos juntos com Elisa, percebo o olhar
de Filippo para ela e vejo que é recíproco, mas ignoro, tenho muita coisa para
resolver.
— Enrico. — Chamo da sala me direcionando para o bar no canto e
me servindo de um whiskey. Elisa volta da cozinha com um copo d’água,
Filippo fica de canto a olhando. Não é por ser minha irmã, mas admito que
Elisa é uma mulher linda, cabelos negros e compridos, estatura média e
lindos olhos azuis-esverdeados, diferente dos meus e de Enrico, herança de
nossa avó.
— Estou pronto, Don. — Enrico aparece com uma pequena mala e
em traje esporte. — Por que tenho que ir ao Brasil com urgência?
— Hugo Falcão matou a família Agnelli e preciso saber se as filhas
sobreviveram. — Só em falar meu coração acelera. — Se estiverem vivas,
traga-as para cá e as leve direto para a Fazenda.
— Faço alguma coisa com Falcão? — Pergunta com a frieza de
sempre.
— Não. Terei o prazer de destruí-lo com minhas próprias mãos. Ao
chegar lá, Miguel Campanaro te deixará informado. Ele reuniu todos os
desafetos de Hugo Falcão e a essa hora devem estar invadindo o morro. Só
tenha cuidado, estamos lidando com um território ainda desconhecido por
nós. Quem irá com você?
— Levarei Austin e Mariano e, se você permitir, quero que Romeu vá
comigo para entrar no sistema de segurança, preciso estar informado sobre
qualquer incursão da polícia brasileira, e quero hackear Hugo Falcão.
— Excelente ideia, pode levá-lo. — E um pensamento me vem à
cabeça. — Peça que ele rastreie tudo o que for de Maria Eduarda Medeiros de
Albuquerque e faça um relatório.
— Tudo bem, mais alguma coisa?
— Não, só tenha cuidado. — Falo, puxando-o para um abraço e logo
Elisa se aproxima e o abraça também. — Elisa ficará à sua disposição para
passar todas as informações e preparar seu retorno. Traga boas notícias para
mim, Enrico.
— Trarei, Don, trarei. — Falando isso, sai em direção ao seu carro e
logo some de nossas vistas.
— Elisa. — Ela se vira para mim e percebo sua fisionomia
preocupada. — Dê assistência a Enrico e suporte a Romeu junto com Chang.
— Me fala o que realmente está acontecendo, Angelo, e tentarei ir
mais a fundo nessa história.
— Vou deixar que Filippo te informe — dou uma olhada de
advertência para ele e espero que esse início de clima de romance não
atrapalhe os meus planos. — Preciso retornar ao Forte para saber se Maria
Eduarda já acordou e buscar informações para ajudar Enrico na missão. —
Saio, e deixo que eles se resolvam.
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BRASIL
Isadora
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ITÁLIA
Don Angelo
Isadora
Don Angelo
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Don Angelo
Don Angelo
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Don Angelo
Não sei quantas horas se passaram, não sei se comi, não sei quem
falava comigo, não sei se sobreviverei se perder a única mulher que despertou
algo em mim.
Enrico está em um canto do quarto, enquanto Elisa fala ao telefone,
nenhuma notícia de Isadora e estou impotente nesta cama. A porta se abre e
Dra. Francesca entra com o semblante cansado.
— Don, como está se sentindo?
— Sem rodeios, Doutora, como Isadora está?
— O tiro não atingiu nenhum órgão importante, mas ela perdeu muito
sangue, sem contar com a concussão na cabeça. A cirurgia para extração da
bala foi um sucesso e a paciente está se recuperando na UTI, logo estará no
quarto.
— Ela não corre qualquer risco?
— Aparentemente não, mas assim que ela acordar, faremos novos
exames, como uma tomografia. A pancada na cabeça foi muito forte e ela
teve todo esse estresse, mas vamos esperar que acorde e veremos o que fazer.
— Ainda preciso ficar aqui?
— Será liberado amanhã, Don, descanse e deixarei ver Isadora pela
manhã.
Olho para Enrico e sei que quer saber o que houve; Elisa me fita com
carinho, mas não estou com cabeça para isso agora. Fecho meus olhos e
descanso, amanhã quero estar bem para ver meu raio de sol.
Acordo com a claridade no meu rosto e vejo uma bandeja com café da
manhã sobre a mesa, olho ao redor e a imagem de Isadora machucada vem à
minha mente; reitero minha jura, Aquiles Callas sofrerá para morrer.
Ouço duas batidas na porta e uma enfermeira entra para tirar o meu
IV. Logo, Enrico chega com uma bolsa, onde traz roupas para mim. Mesmo
tendo uma suíte no Forte, fui impedido de sair do quarto do hospital que
temos aqui.
— Bom dia, irmão, como se sente? — Enrico exibe uma ruga na testa
e sei que está preocupado comigo.
— Sinto os efeitos do acidente, mas estou bem. Minha única
preocupação agora é com Isadora, ela presenciou coisas que não deveria,
tenho receio que passe a ter medo de mim.
— Ela é uma mulher forte e saberá separar as coisas. — Sei que ele
quer saber o que houve, mas contarei com todos juntos. — Já passou por
muitas situações difíceis e superou.
— Sei disso, mas para ela, eu sou somente um empresário e não um
mafioso. — Não posso sofrer por antecipação, tenho que me concentrar em
destruir Aquiles Callas.
— Vai me contar o que aconteceu?
— Contarei a todos juntos. Tomarei um banho e irei ver Isadora,
depois, reúna todos na sala azul e me aguardem. — Falo levantando-me com
dificuldade e indo para o banheiro fazer minha higiene. Preciso estar bem
para ver meu raio de sol.
Depois do desjejum obrigatório, sigo a Dra. Francesca até o quarto
onde Isadora está. Uma sensação de alívio me toma em saber que ela está
fora de perigo, mas sinto que isso ainda não acabou. Entro no quarto e a vejo
ainda dormindo, seu rosto está machucado por conta do capotamento e um
curativo está na sua testa, seu corpo tem algumas escoriações e hematomas.
Tomo sua mão na minha e beijo seus dedos, acaricio seu rosto e seus cabelos
e deixo um beijo em sua testa antes de sair, não sou dado a demonstrações de
carinhos com estranhos, mas ela desperta o melhor de mim. Preciso tomar
providencias e meu pessoal me aguarda para a reunião. Mais tarde volto para
vê-la.
Entro na sala azul e olhos curiosos me fitam. Elisa se apressa a vir
falar comigo, mas faço com que se sente.
— Bom dia a todos. — Falo me sentando, com uma certa dificuldade
pela dor no corpo. — Vamos direto ao assunto. Ontem, eu e Isadora, minha
nova assistente, sofremos um atentado comandado por Milena Gaudini, a
mando de Aquiles Callas. — Olho para Anderson e Nico que estão
machucados. Ainda não sei como foram resgatados. — Fomos levados ao
quartel general deles e descobri que têm um péssimo sistema de segurança. A
vulnerabilidade é muito grande e seus armamentos são antigos e velhos.
Quero que seja montado uma vigilância efetiva no local, e assim que Hugo
Falcão estiver reunido com Aquiles, atacaremos. Não ficará impune o que ele
nos causou. Tenho planos para a Srtª Agnelli, por isso, tão logo possa, será
treinada por mim em defesa pessoal e Salvatore a ensinará a atirar. Enrico,
providencie instrutor de direção defensiva e, Elisa, ajude-a com as facas.
Quero prepará-la para o que está por vir, não posso deixá-la vulnerável, a
qualquer momento. Aquiles descobrirá quem ela é e ela precisa saber se
defender.
Sei que querem saber o que aconteceu comigo e que já têm
informações de Anderson e Nico de tudo o que aconteceu na estrada. Olho
para os dois, que consentem.
— Depois que capotamos, eles nos levaram para o galpão dentro do
QG e fui torturado. Isadora presenciou tudo, mas assim que saíram, deixaram
a mesa com os apetrechos de tortura e consegui pegar uma navalha e Isadora
me soltou. Matei dois homens e fugimos em um dos carros, até Isadora ser
atingida por um tiro e corri para cá.
— Quando chegamos no local, Anderson e Nico estavam
desacordados e os trouxemos para cá; Chang rastreou seu celular, mas eles
foram espertos e levaram para Pisa. Estávamos trabalhando para te localizar,
quando chegou com Isadora ferida. — Fala Enrico.
— Precisamos de reforços para a casa de mamma e quero atualização
do que está acontecendo no Brasil.
— Kringer está com Campanaro invadindo os territórios de Falcão,
pelo que Manoel Fontes nos informou; Hugo Falcão está acuado e é questão
de dias para pedir ajuda. — Fala Filippo. — As informações sobre o
armamento procedem, mas houve um atraso por conta dessa guerra, mas,
segundo Fontes, em quinze dias eles buscarão no porto.
— Monte com Salvatore e Domenico um plano para trazermos essas
armas para cá, podemos aproveitar o mesmo container e embarcarmos como
roupas. Suborne o fiscal para liberar.
— Será feito, Don. — Fala Filippo.
— O que vai fazer em relação a Isadora, Don? — Elisa pergunta
preocupada.
— Terei que contar meia-verdade. Ela presenciou o que Aquiles e
Milena fizeram comigo e viu a minha resistência, ela sabe que em condições
normais, nenhum ser humano aguenta tanto tempo de tortura, e eu aguentei
por horas.
Duas batidas na porta e Chang pede permissão para entrar, o que me
deixa em alerta, já que ele não tem esse hábito de interromper uma reunião
com os chefes.
— Perdoe-me interromper, Don, mas é urgente. — Faço sinal para
que entre e fale. — Conferi as câmeras de segurança de todo o trajeto que foi
feito até o ataque e percebi algo estranho.
Ele se senta numa cadeira ao meu lado e digita uns comandos, pondo
a imagem no telão.
— Vou colocar a imagem desde o início e entenderá o que falo.
A imagem mostra Anderson e Nico em frente a VF Technology
Company, uma moça aparece e cai bem próximo a eles que se prontificam em
ajudar, até aí nada de mais, mas quando Chang aproxima a câmera para a
mão da moça, dá para notar quando gruda algo na blusa de Nico. Ela
agradece e se afasta. Eles voltam para o carro e logo eu e Isadora aparecemos
saindo da garagem do prédio e Nico e Anderson nos seguem.
As imagens vão até o momento que passamos do Centro de Livorno
para a autoestrada A12, que liga Livorno a Pisa. Na altura da entrada para a
cidade de Cascina, nosso carro é perseguido, mas o que chama a atenção é
que eles já nos aguardavam e isso indica que além do rastreador, a mulher
também colocou uma escuta. Chang aproxima a câmera e vemos a mesma
mulher montada em uma moto e na outra, está Milena Gandini, nos carros
estão os soldados de Aquiles.
Olho para todos que estão na sala e vejo a perplexidade em seus
rostos e um ódio me toma. Aquiles está nos monitorando.
— Quero que descubra quem é essa mulher e faça uma inspeção em
todos os carros, motos e nas roupas de todos os funcionários. Providencie
detectores para bombas e faça uma vistoria completa em quem entra nas
empresas e em nossos imóveis; se precisar, convoque alguns homens das
Casas, mas preciso disso para ontem. — Levanto-me e vou para a minha
suíte, preciso de um banho e pensar em tudo isso.
Capítulo 22
Don Angelo
Don Angelo
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O dia está muito quente em Livorno e passo na gelateria e compro
alguns gelatos para levar para casa, me sinto bem fazendo isso. Para quem
sempre foi sozinho, ter alguém me esperando me agrada muito. Chego em
casa, já escuto a voz de Luna e sorrio, encosto no batente e aprecio a
interação das duas.
— Mas, mamãe — Percebe-se sua contrariedade —, eu papei tudo, pu
que não posso comê chotolate?
— Porque é açúcar e você fica elétrica com açúcar.
— Só um mucadinho. — Faz sinal de prece. — Pu favorzinho. — Faz
um biquinho.
— Luna, não é que eu não queira te dar, é que você vai acabar
dormindo tarde e a mamãe precisa descansar.
— Eu fico com tio Angelo. — Faz carinha de pidona. — Só um
mucadinho. — Acabo rindo e elas me olham.
— Tio Angelo. — Ela corre em minha direção e abraça minhas
pernas. — Pede pá mamãe dexá eu comer chotolate!? — Olho para Isadora
que está sem graça.
— Sua mamãe é quem sabe, bonequinha. — Ela sorri. — Mas trouxe
gelato que é melhor que chocolate. — Ela arregala os olhos e corre para a
mãe.
— Posso, mamãe, posso?
Isadora me olha sem acreditar no que fiz, mas estou pouco me
lixando. Queria ter um momento de normalidade em minha vida e se para
isso eu tiver que burlar todas as regras preestabelecidas pela sociedade em
como não se deve mimar uma criança, eu burlarei.
— Só um pouco, Luna. — Ela me olha e percebo que acabei de
contrariá-la; o jeito que me olha me agrada, me sinto parte delas.
— Obá — Fala pulando. — Eu goto muito de voxê, tio.
— Deixa de ser interesseira, Luna. Precisa gostar das pessoas
independentemente de elas darem presentes ou não.
Fico frustrado pelas palavras dela, não era minha intenção comprar a
atenção ou o carinho de ninguém, muito menos despertar esse tipo de
sentimento em uma criança. Deixo os gelatos sobre o balcão da cozinha e
sigo a passos duros para a sala, indo em direção ao meu quarto, quando sinto
dedos delicados tocarem meu braço. Viro-me e encontro aquele mar do
Caribe me olhando arrependido e me sinto um sortudo desgraçado por ter
Isadora me tocando com carinho.
— Me desculpa, senhor. — Fala abaixando a cabeça. — Não queria
ser ingrata e muito menos lhe ofender, mas é que Luna precisa ser educada e
não tenho mais meus pais para fazerem isso; me sinto na responsabilidade de
dizer não, quando na verdade quero dizer sim. Não estou acostumada a ter
esse tipo de atenção e cuidado, sempre fui eu a cuidar e suprir as coisas em
casa e, muitas vezes, não podia comprar um simples picolé, o dinheiro já
estava contado para o mês. Sinto muito. — Aproximo-me dela e toco-lhe o
rosto, e sentir a textura da sua pele me dá esperança de ser melhor.
— Não precisa se preocupar com mais nada em relação aos cuidados
de Luna, Isadora. Aqui, ela terá de tudo e você será cuidada por mim.
— Não posso aceitar, senhor...
— Angelo. — Corto sua fala. — Me chame de Angelo. Estamos
debaixo do mesmo teto e não precisamos desta formalidade aqui.
— Como quiser... Angelo. — Uma sensação de prazer me toma ao
escutar meu nome em seus lábios. — Mas não posso aceitar que nos sustente,
eu trabalho e posso cuidar de Luna.
— Não falei que não pode cuidar dela, só falei que em minha casa
vocês terão o que for melhor, faço questão e não aceito que discuta sobre
isso.
— O senhor é muito mandão. — Coloca a mão na boca depois de
falar. — Desculpa, senhor.
Estreito meus olhos para ela e uma euforia cresce dentro de mim.
Nenhuma mulher ousou me criticar tão abertamente, nem Elisa tem tal
liberdade, e ela ousa me chamar de mandão?
— Creio que não entendi o que disse, Isadora. — Quero que ela fale
novamente. — Do que me chamou?
— Mandão. — Esboça um sorriso, mas se segura.
— Não goste que eu seja... mandão? — Falo me divertindo com sua
expressão quando vou me aproximando mais dela.
— Não... é... que... — Seu pequeno corpo encosta na parede e coloco
minhas mãos na altura de sua cabeça, e aproximo meu rosto do seu. — É
que...? — Seu perfume natural entra por minhas narinas e um fogo se acende
em meu corpo. — Não... estou acostumada a receber ordens de alguém que
não conheço. — Termina a frase em um sussurro e quase não escuto, meus
olhos não saem de seus lábios.
— Como disse, senhorita? — Pergunto novamente para poder sentir
seu hálito de morango ao falar.
— Não estou acostumada a re...
Tomo seus lábios nos meus e sinto como se uma bomba nuclear
estourasse em meu peito. Seus lábios são macios e seu gosto misturado com o
sabor do morango torna tudo perfeito. Nunca senti necessidade de beijar uma
mulher, mas Isadora desperta meus instintos mais primitivos e adormecidos.
Ela retribui o beijo, enlaço sua cintura e embrenho meus dedos nos seus
cabelos macios, trazendo-a mais para mim. Seu pequeno corpo se encaixa no
meu e um sentimento de posse me toma. Ela é minha.
Minha Isadora.
Minha mulher.
Capítulo 24
Don Angelo
Aos poucos vou parando nosso beijo, puxo seu lábio inferior e
encosto minha testa na sua e ao abrir meus olhos, encontro-a de olhos
fechados.
— Foi o melhor beijo que dei em toda a minha vida, Isadora, e vou te
beijar de novo.
Tomo novamente seus lábios, mas, desta vez, de forma mais calma,
saboreando o momento e me entregando ao melhor que a vida pôde me
oferecer até aqui. Toco sua cintura e desço minha mão para as suas costas
num carinho cheio de cuidado, toco seu braço e volto para sua nuca. Ela está
totalmente entregue a mim e isso me dá uma satisfação que não tem como
mensurar.
Separamo-nos lentamente e ao abrir seus olhos, vejo sua íris dilatada
e o quanto ela gostou. Seus lábios estão vermelhos, levemente inchados, e
suas bochechas, coradas. Toco seu rosto e dou um selinho.
— Estava ansioso para sentir seu gosto, minha Isadora, desde quando
te vi pela primeira vez.
— Isso... isso foi errado, senhor. — Percebo sua luta interna — Sou
sua assistente, não podemos...
— Podemos e quero que aceite. — Estou sendo mandão novamente,
mas não posso recuar, eu quero esta mulher e sei que ela me quer também. —
Não te beijei por impulso, Isadora, quero te beijar há muito tempo e esta foi a
oportunidade; não quero deixar de te beijar por ser minha assistente.
— Mas é errado, senhor...
— Angelo. Já pedi que me chame pelo nome. — Sou um pouco
arrogante, mas ela precisa entender.
Faz um bico de contrariedade e não resisto, aproximo-me novamente
e a beijo. Não como os outros beijos, mas um beijo de... felicidade?
— Não precisa manter distância de mim, Isadora. — Prendo seu
corpo ao meu. — Somos adultos e não devemos satisfação a ninguém. Eu te
quero na minha vida.
— Não nos conhecemos direito, Angelo. Estou em sua casa para me
recuperar e agora...
— Agora? — Incentivo a continuar falando.
— Não sei... quando me beijou... senti familiaridade... Como se
sempre tivesse em seus braços, como se pertencesse aos seus braços.
— Você pertence, Isadora. — Estou com um tumulto de sensações em
meu peito, mas sou incapaz de soltá-la, que está aconchegada em meu peito.
— Não quero confundir as coisas, Angelo. — Olho em seus olhos
assim que ela levanta a cabeça e me encara. — Sou sua assistente e quero que
me trate como tal, não é porque nos beijamos que terei tratamento
diferenciado.
— Não terá tratamento diferenciado, só beijarei você quando der
vontade. — Ela estreita os olhos e me faz dar uma gargalhada, coisa que há
muito tempo não fazia.
— Posso sabê o poque voxes estão abaçados e nem me xamô? —
Somos despertados da nossa bolha assim que uma criaturazinha fala conosco.
Luna está com os bracinhos cruzados na altura do peito, cara emburrada e o
pezinho bate no chão. Olho para Isadora que está com a sobrancelha
levantada e, ao me olhar, caímos na gargalhada. Nunca pensei que teria uma
noite tão especial, tão comum, como estou tendo hoje. Isadora nos meus
braços e Luna querendo nosso carinho. Finalmente, acho que Deus se
lembrou de mim.
*****
Don Angelo
Don Angelo
Don Angelo
*****
Isadora
*****
Don Angelo
*****
Don Angelo
*****
*****
Não consegui dormir essa noite. A dor nos olhos de Isadora não saíam
da minha mente, sei que ela tem muitos questionamentos que farei questão de
responder, mas, por enquanto, prefiro ficar afastado.
Vou ao Forte treinar um pouco e decido não demorar para pegar Hugo
Falcão. De acordo com o Fontes, ele embarcou para o Uruguai e com toda a
baldeação que fará, fugindo da polícia, deve chegar na Itália ainda esta
semana, aí poderemos cobrar nossa dívida.
*****
Isadora
*****
Don Angelo
Há exatos cinco dias não vejo Isadora. Fui até o seu apartamento e ela
estava trancada no quarto e não quis falar comigo. Elisa também tentou, mas,
pelo visto, ela é mais durona do que pensei.
*****
Algum tempo depois, desço para a sala branca e vejo Maria Eduarda
de frente para um Hugo Falcão desacordado, e pelo seu semblante, todo o
amor que tinha por ele se esvaiu. Chego ao seu lado e o olho com desprezo.
— Nunca pensei que fosse sentir tanto ódio por uma pessoa que eu
amava. — Fala sem olhar para mim. — Pensei em formar uma família com
ele e ajudá-lo com a máfia, mas ele nunca teve o mesmo sentimento por mim,
nunca me amou e, na primeira oportunidade, tentou me matar, mas acabou
matando o próprio filho. — Uma lágrima escorre e o meu nível de raiva
aumenta com a dor dessa mulher.
— Hoje, você terá o prazer de vê-lo pagar por isso. Saiba que não o
pouparei, e se não suportar, se retire.
— Sei que não aguentarei, mas não tenho nenhum tipo de sentimento
por esse homem. Ele não merece nada de mim, entre ele e o meu filho, fico
com o meu filho.
— Boa escolha. — Volto meu olhar para Hugo Falcão e percebo que
já está despertando. Saio para a antessala e observo tudo pelo vidro. E é
impagável a cara de surpresa dele.
— Olá, Hugo. — Maria Eduarda fala, ele pisca tentando acreditar no
que vê. — Achou que eu estava morta? Lamento informar, querido. — Ela
debocha. — Fui salva e estou aqui para presenciar sua derrota.
— Como?! Não pode ser. Eu vi você se afogar. Eu te droguei.
— Sei disso tudo, Hugo. — Aproxima-se; ele olha para a barriga dela,
que já está aparente. — Quando fui para o hospital, estava desacordada por
conta do ‘boa noite, Cinderela’ que me deu, mas assim que despertei, fui
informada de tudo o que aconteceu e descobri que perdi meu filho por conta
do que você fez. — Ele a olha espantado e focaliza o olhar novamente em sua
barriga. — Ah, me esqueci de dizer, eram gêmeos. — Está espantado com
toda essa informação. — Você matou seu próprio filho e tentou me matar,
agora, terei o prazer de vê-lo sofrer e morrer.
— Você não terá coragem de matar o pai de seus filhos. — Fala com
um sorriso de deboche. — Não tem sangue frio para isso.
— Realmente, Hugo. — Fala puxando para perto dele a mesa com os
utensílios de tortura. — Não tenho coragem de matar o pai do meu filho, mas
terei o prazer de ver o que um traidor sofre nas mãos da máfia que ele traiu.
Abro a porta e sou acompanhado por Enrico, Elisa e Filippo e,
minutos depois, Nico, Anderson e Salvatore entram.
— Feliz em me ver, Hugo Falcão? — Ele olha para todos sem
entender nada.
— O que está acontecendo aqui? — A dúvida em seus olhos é nítida.
— Vocês estão de sacanagem com a minha cara? É um rito de passagem para
a Castellar?
— Não, Hugo Falcão. — Elisa se aproxima e segura seu queixo. —
Isso é o que fazemos com traidores. — Dá um soco na cara dele e sangue
jorra do seu nariz.
— Tsc tsc tsc... O que é isso, maninha? Sejamos bons anfitriões.
Senão, o que o maior traficante do Rio de Janeiro vai pensar dos italianos?
Então, Hugo Falcão. — Olha ainda desorientado pelo soco de Elisa. — Qual
foi a sensação de achar que estava nos traindo com Aquiles Callas? — Puxo
o carrinho, pego meu alicate e me aproximo dele. — Achou mesmo que me
trairia e ficaria por isso mesmo? — Seguro seu dedo da mão e arranco uma
unha e ele grita de dor. Olho para Maria Eduarda que está sentada no canto
da sala e não esboça nenhuma reação.
— DESGRAÇADO, MISERÁVEL. EU VOU TE MATAR.
Sorrio.
— Esses são elogios para os meus ouvidos, Falcão, agora vou te
apresentar meu verdadeiro nome. — Pego o martelo e acerto seus joelhos que
quebram na hora e ele desmaia. — Poxa, nem me apresentei direito. —
Todos riem.
Enrico liga o chuveiro e Hugo desperta e treme de frio. Seu olhar
procura o de Maria Eduarda, que continua com sua postura de indiferença.
— Vamos lá, Falcão, diga-me o que te levou a me trair? — Falo
trazendo comigo a arma de choque. — Quero saber o que Aquiles te
prometeu.
— Se eu contar tudo, vocês me liberam? — Dou uma gargalhada,
seguido por todos que estão na sala.
— Sabe, Hugo — Falo andando em volta dele —, desde que te vi no
dia da minha nomeação, eu sabia que você iria me trair. — Paro olhando em
seus olhos. — Mas eu gosto de dar um voto de confiança às pessoas; acredito
que elas podem me mostrar o seu melhor, mas, sabia que você não estava
disposto a sacrificar tudo que conquistou para dividir com a máfia. Se
associou com Aquiles e achou que eu não saberia. Vive em um mundinho de
traficante de merda de um país subdesenvolvido e que só porque tem um
pouco de poder, acha que tem o direito de chegar aqui e tentar tomar de mim
o que levamos anos para construir? Você é patético. Se aliou a Aquiles Callas
achando que ele te daria algum poder? Aquiles é pior que você, ele usa as
pessoas para conseguir o que deseja e você era mais um pião no jogo de
tabuleiro dele. — O medo e ódio são latentes no olhar dele.
— Como pôde tentar matar a mulher que estava ao seu lado, que te
ajudava a manter seu esquema de tráfico na elite Carioca? Ficou feliz em
rever Maria Eduarda? — Elisa pergunta.
— Ela sabia demais.
— Por que trair a Castellar? — Enrico se aproxima e pergunta.
— Vocês queriam tomar tudo o que é meu e antes de isso acontecer,
tomaria o que é seu primeiro. — Fala cerrando os dentes por causa da dor. —
Ela é uma inútil. — Fixa o olhar em Maria Eduarda. — Estava atrapalhando
meus planos com esse negócio de formar família. Tenho outras mulheres e
não seria ela a me prender.
— Resposta errada, Hugo Falcão. — Dou uma descarga de choque
em suas costelas. — Você queria informar a Aquiles Callas como a Castellar
funciona e nos deixar vulneráveis para que ele nos atacasse, com isso, você se
tornaria leal a Andragathia e assumiria a liderança no Brasil, mas a casa caiu
para você, todos os seus planos foram descobertos e ninguém te ajudará.
— Engano seu, Don Angelo. Você está certo de que me uni a
Andragathia por apoio para derrubá-lo, mas o jogo é muito maior do que
esse. — Ele olha para Maria Eduarda com nojo — Quando a sequestrei, foi
somente para ganhar dinheiro e montar minha casa de prostituição no Rio de
Janeiro, mas a idiota se apaixonou por mim e vi a chance de crescer como
traficante dos bacanas. Nunca gostei dela, mas precisava tolerar para alcançar
meus objetivos. Meu grande amor era Isaura. — Gelo. Sei que ele está
falando da irmã de Isadora. — Isaura era a menina mais bonita do morro e
sempre que ela passava, meus homens ficavam loucos e não demorou para eu
chegar nela. Foram dois anos de muito amor, mas como toda mulher
romântica e idiota, ela inventou uma gravidez e isso atrapalharia meus
planos. Comecei a ser indiferente a ela, até que um dia dei um basta e a
mandei embora. Alguns meses depois, meu soldado me informou que Isaura
foi ter o nosso bebê e eu já tinha mandado ela dar um jeito de tirar a criança,
mas não fez, então, fui ao hospital.
“O irmão do meu soldado trabalha na faxina do hospital e me deu um
uniforme para eu me aproximar e entrei em seu quarto. Injetei potássio no seu
braço, mas seu pai chegou assim que eu acabei. — Um ódio foi tomando meu
corpo e não pensei mais.
— SEU DESGRAÇADO. — Desferi muitos socos na cara dele, foi
preciso Salvatore e Enrico para me tirarem de cima de Hugo Falcão. —
VOCÊ MATOU UMA MULHER POR TER TIDO UM FILHO SEU?
COVARDE. — Esbravejo de longe e vejo Falcão desacordado.
— Calma, Don. — Enrico ainda me segura pelos braços.
Saio da sala transtornado, só em lembrar os olhos lindos de Luna e
seu sorriso carinhoso, já me enche de ódio novamente. Esse desgraçado tirou
a mãe de um bebê, matou a menina na frente do pai e destruiu uma família.
Vou para o meu quarto e tomo um banho para tentar me acalmar, afinal,
ainda não terminamos.
Capítulo 29
Don Angelo
Isadora
Já faz uns dias que não vou à VF Technology e nem vejo ninguém da
família Vicentini, o que para mim é um alívio. Saio do quarto e vou ao
playground brincar com Luna e percebo que os dois seguranças ficam de
longe me olhando. Sei que mandam notícias minhas para Angelo e que estou
sob eterna vigilância. Brincamos por uma hora e logo voltamos para casa,
não posso expor Luna a pessoas que não conheço e que correm o risco de nos
matar. Estou no meu quarto e Luna aparece correndo.
— Mamãe, poxo i na rua com Zulia? — Minha bonequinha está
animada.
— Aonde vocês vão?
— No mecado, poxo? — Julia entra arrumada e olha para Luna.
— Você é uma menininha muito apressadinha. — Segura o nariz de
Luna e olha para mim. — Vou ao mercado com Agnaldo, posso levar Luna
para dar uma volta?
— Pode. — Olho para Luna. — Comporte-se, mocinha.
— Vô obedecê, pometo. — Faz sua famosa carinha de anjo.
— Acho bom. Agora, vem cá e me dá um beijo. — Puxo seu corpinho
para perto de mim e beijo sua bochecha.
Fico sozinha em casa e aproveito para ler meu livro que há muito
tempo não leio. Vou à cozinha e preparo um chá de maçã com canela, pego
uns cookies com gotas de chocolate e sigo para a biblioteca. Deixo meu
celular na mesinha e me acomodo no sofá. Perco-me nessa leitura fascinante
e não percebo que está anoitecendo e Julia ainda não chegou com Luna.
Meu celular toca e é um número restrito, fico apreensiva em atender,
mas pode ser Julia avisando onde está.
— Alô. — Silêncio do outro lado. — Alô, Julia?
— Não, Srtª Agnelli. — Um frio percorre meu corpo.
— Quem está falando? — Minha voz sai com receio.
— Alguém que tem algo seu. — Meu coração acelera e penso em
Luna.
— Com quem estou falando? — Tento manter a calma.
— Irá me conhecer pessoalmente, Srtª Agnelli. Quero que a senhorita
venha ao meu encontro.
— Não posso ir ao encontro de alguém que não conheço. — Tento ser
firme.
— Será uma pena se a senhorita não vier, amei conhecer Luna. —
Meu coração bate descompassado e minhas mãos tremem.
— Deixe minha sobrinha em paz. — Falo com medo em minha voz.
— Me encontre na praça da República, e dê um jeito de vir sozinha.
Não avise a ninguém. Saia pela porta dos funcionários e não deixe ninguém
te seguir, tenho olhos e ouvidos onde está. Senão a velha e a criança
morrem. — Desliga, e fico paralisada, em choque.
Saio do meu torpor depois de alguns minutos e corro para o meu
quarto. Visto um jeans, calço botas e pego meu casaco, agarro minha bolsa e
desço pela escada até a saída dos funcionários. Ando pelo beco e avisto a
estrada, faço sinal para um táxi que estava passando e dou o endereço. Faço o
percurso com o coração apertado, não sei o que encontrarei e tenho receio
que essa pessoa tenha feito mal a Luna e a Julia.
O taxista me informa que chegamos à Praça da República, pago e
desço em busca de alguma pista de Luna. Olho para todos os lugares e não
vejo ninguém suspeito, até uma elegante senhora se aproximar.
— Olá, querida. — Olho desconfiada. — Me acompanhe, por favor.
Sigo a senhora até o ancoradouro e entramos em uma lancha que sai
pelo canal até o mar. Um iate nos aguarda e um homem elegante,
aparentando ter uns 50 anos, me estende a mão e, logo depois, para a senhora
que está atrás de mim. Forço minha mente para tentar lembrar de onde o
conheço, mas falho miseravelmente.
— Sou Aquiles Callas e essa é minha esposa, Sophia. — Olho de um
para o outro e minha mente tem um flash da tortura de Angelo, era ele. Tão
elegantes e educados que nem parecem bandidos, totalmente diferente do
morro.
Sou levada para dentro, numa luxuosa sala de visitas. Nunca soube de
que um barco, ou iate, pudesse ser tão luxuoso, mas meus olhos estão
escaneando o ambiente, procurando por pistas para saber onde as duas estão.
— Onde estão Luna e Julia?
— Calma, querida, sente-se, Aquiles falará o que desejamos de você.
— Sophia fala com elegância. Não quero me sentar, mas não adianta ser
teimosa. Eles já provaram ser perigosos e eu preciso da minha menina em
segurança. Sento e aguardo para saber o que querem de mim.
— Srtª Agnelli, já ouviu falar em nomes como Castellar e
Andragathia? — Limito-me a negar com a cabeça — Seu pai nunca
mencionou esses nomes em casa?
— Não, senhor.
— Vou ser direto. — Fico tentando achar coerência em tudo o que
está acontecendo, mas não acho e parece que estou vivendo um pesadelo.
Volto minha atenção para o que ele está falando e tento manter o controle das
minhas emoções. — Durante muitos anos, almejamos o poder e o controle de
toda a Itália, mas infelizmente, a família Vicentini Ferrari tem o controle de
toda a Europa, assim como a Ásia, África e Estados Unidos e, agora, Brasil.
A Andragathia surgiu da briga por divisão do poder entre Antônio Vicentini
com o seu avô, Jarbas Agnelli. Os Agnellis estruturaram sua própria máfia, a
Andragathia — Não consigo acreditar que minha família era envolvida com
algo tão sujo —, que sobreviveu muito bem por algum tempo, mas por conta
da luta por territórios se enfraqueceu e, com isso, se associaram à máfia
Grega para manter o controle sobre os Cassinos e pontos de drogas. Meu pai,
Ícaro Callas, teve um papel muito importante na formação da Andragathia,
desenvolvendo junto com Jarbas Agnelli estratégias para tomar os pontos da
Castellar. Foram anos de guerra, mas falharam, o que levou a morte de
muitos membros. Seu avô e o meu morreram e eu e seu tio, Tenório Agnelli,
assumimos.
Surpreendo-me com essa informação. Tio? Como assim tio? Meu pai
sempre falou que era filho único e que seus pais morreram em um acidente, o
que esse homem está falando?
— Construímos uma máfia mais fechada com um código de honra
antigo e ultrapassado, precisávamos abrir para ganhar mais associados e criar
uma máfia tão forte quanto a Castellar e lutarmos de igual para igual. Mas
Tenório não queria que nos associássemos à máfia Irlandesa, o que levou à
insatisfação de alguns que se voltaram contra ele que, infelizmente, morreu
em uma emboscada. Desde então, assumi o controle da Andragathia.
Recentemente, fui informado sobre uma herdeira Agnelli e te procurei, mas
Don Angelo chegou em você primeiro. — Ele para de falar e me dá uma
olhada significativa — Você é herdeira legítima da Andragathia e me ajudará
a destruir a Castellar, a começar por seu líder maior, Don Angelo Vicentini
Ferrari.
Arregalo meus olhos diante dessa história espetaculosa. Vem à minha
mente o que ouvi no escritório de Angelo e começo a entender o que ele
disse.
— Preciso que assuma seu lugar como herdeira da Andragathia e lute
conosco para tomar o controle e o poder da máfia.
— Eu não entendo. — Suspiro. — Meu pai nunca me contou essa
história e, agora, estou presa em algo que não faz parte de mim. Se você tem
a liderança da Andragathia, o que quer comigo?
— Como disse, você é herdeira direta de Jarbas Agnelli, o fundador
da Andragathia. E, por direito, agora é a nossa líder. — Ele titubeia nessa
afirmação e vejo que isso não o agrada, e percebo a troca de olhares com sua
esposa.
— Soltem Luna e Julia e faço o que me pediram. — Fico de pé e tento
negociar a vida da minha sobrinha, mas Sophia me faz sentar novamente
segurando em meu braço.
— Só soltaremos a criança e a velha quando estivermos com Don
Angelo. — Sophia fala com muito mais frieza do que o seu marido, até o
momento.
— Eu não posso. — Sinto uma lágrima escorrer.
— Deixa de ser idiota! — Sophia se coloca de pé e me olha com
raiva. — Ele só fez isso para juntar as duas máfias e tomar o controle de tudo,
depois te descartaria como faz com todas as mulheres que passam por sua
cama.
Fico sem palavras e novamente a conversa no escritório vem à minha
mente. Será que tudo o que fez por mim foi para me enganar?
— Tenho uma proposta para te fazer e não estou te dando a opção de
dizer não. — Pega um notebook e coloca na minha frente e logo a imagem de
Luna e Julia aparecem, elas estão aparentemente bem. — Se juntará a nós e
assumiremos o controle de tudo, poderá criar sua sobrinha com todo o
conforto, pois, como Signora Della Notte (senhora da noite), poderá
comandar a Organização assim como seu avô e seu tio fizeram.
— Eu não sei lidar com a máfia e muito menos comandar algo assim,
sou uma advogada, luto pela justiça, e quer eu faça coisas contra as leis deste
país? Não conseguirei usar de violência com ninguém e muito menos ordenar
algo assim. Creio que escolheram a pessoa errada.
— Não me tome por tolo, menina. — Se exaspera. — Não há diálogo,
muito menos acordo. Don Angelo não pensará duas vezes antes de meter uma
bala na sua cabeça. Você ficará conosco e te treinaremos, e quando estiver
pronta, o confrontaremos. Como disse, não tem opção, ou faz o que mando
ou sua sobrinha e a velha morrem de forma dolorosa. — Engulo o choro e
tento controlar minhas emoções. Trago à memória ensinamentos que meu pai
me passava em como gerir conflitos e tento agir como meu pai agiria.
— Como faremos isso? — Falo tentando transmitir segurança.
— Voltará para casa e pegará tudo o que é seu, terei um homem te
esperando no Centro e não tente nenhuma gracinha. Don Angelo te caçará e
assim que tiver certeza de que está comigo, tentará me pegar, mas ficará
vulnerável e aí, atacarei.
— Quais garantias tenho que não machucará Luna e Julia?
— A minha palavra como Capo.
— Não confio na sua palavra.
Ele gargalha. — Garota esperta. Mas é a única coisa que tem.
— Venha, querida. — Olho com nojo dessa mulher. — Nosso
soldado a acompanhará. — Sigo até a lancha que me aguarda próximo à
embarcação e seguimos para o porto em silêncio.
Sentada no banco traseiro do carro, tento processar tudo o que está
acontecendo e não consigo achar nenhuma saída sem que coloque a vida de
Luna e Julia em perigo. Sou deixada no beco onde peguei o táxi e entro no
prédio sem ninguém me ver. Sigo pelas escadas de emergência, entro em casa
e encontro tudo escuro. Desabo no chão, meu choro é tão descontrolado que
meu peito dói, busco forças dentro de mim para passar por esse pesadelo e
faço uma jura: Aquiles Callas sofrerá tudo o que estou sofrendo e se há em
mim sangue da máfia, peço a Deus perdão, pois, todos pagarão, a começar
por Don Angelo.
Capítulo 31
Don Angelo
Percebo que algumas palavras estão borradas, o que leva a crer que
estava chorando, mas por que ela diz que precisa se tornar forte por ela e
Luna? E o que quis dizer com ‘um dia eu possa perdoá-la’?
Anderson entra e me avisa que Chang tem imagens. Sigo para a sala e
encontro Filippo, Salvatore e Nico de pé próximo ao sofá, Chang sentado
com o notebook à mesa, logo as imagens preenchem a tela.
Vejo o momento que Julia sai com Luna. Isadora atende um
telefonema e pouco tempo depois, sai apressada e segue pelas escadas de
incêndio. A câmera corta para a parte externa de trás do prédio e ela entra em
um táxi e segue em direção ao Centro. Chang vai passando as imagens por
toda a extensão da via, troca para as imagens de satélite e aproxima, Isadora
desce do carro e segue para a Praça da República. Chang acessa a imagem de
segurança da Praça e Isadora está à procura de alguém até ser abordada por
uma mulher elegante, ao aproximar a imagem vejo se tratar de Sophia Callas.
Um pavor me toma, um ódio cresce em mim e soco o braço do sofá atraindo
a atenção de todos.
— Continue, Chang. — Falo entredentes e a imagem volta.
Elas seguem para o ancoradouro e somem pelo canal em uma lancha.
Chang adianta a imagem; depois de um longo tempo, a mesma lancha aporta
no ancoradouro e uma Isadora transtornada e em prantos desembarca seguida
por um homem, que reconheço muito bem. Besouro, homem de confiança de
Aquiles Callas. Ele a deixa na parte de trás do prédio e ela volta pelas
escadas, entrando em casa sozinha. Às seis da manhã, ela sai pelo mesmo
local e encontra Besouro à sua espera, seguem para o QG de Aquiles Callas.
Meu sangue ferve e meus olhos queimam de ódio e me viro para todos que
estão na sala.
— Monte uma invasão ao QG de Callas e vamos resgatar Isadora e
Luna. Matem tudo que tiver vida na merda daquele buraco. — Eles me olham
e não se movem. — Eu dei uma ordem!
Enrico e Elisa entram e impedem todos de sair, contrariando as
minhas ordens.
— Ninguém sai desta sala. Precisamos conversar. — Enrico fala.
— SOU EU O CHEFE DESSA MÁFIA E SOU EU QUEM DÁ AS
ORDENS, ENRICO, E NÃO OUSE DESFAZER UMA ORDEM MINHA.
— Grito irritado com a ousadia dele. — VÃO, AGORA.
— Não — Elisa fala.
Tiro minha Glock da cintura e aponto para a cabeça dela e todos
paralisam. Meu olhar para Elisa é tão mortal que uma lágrima escorre pelo
seu rosto, mas estou pouco me fodendo para isso.
— O chefe sou eu. — Falo sem deixar dúvidas. — Quer morrer? —
Ela está paralisada, mas não há vestígio de medo. — Se não, não interfira nas
minhas ordens. — Sinto a mão de Enrico na minha e o olho com ódio.
— Se acalme, Don. Temos informações sérias e não podemos tomar
uma atitude de cabeça quente. — Enrico tenta apaziguar a situação.
Abaixo minha arma, mas continuo encarando Elisa, inconformado
pela atitude dela em ir contra as minhas ordens. Enrico assume a palavra.
— Quando Elisa me informou o que estava acontecendo, corri para o
Forte e descobrimos uma movimentação dos gregos. As câmeras de
segurança mostraram um avião sendo taxiado no aeroporto de Florença.
Aquiles Callas e Sophia embarcarem com Isadora, Luna e Julia e mais seu
pessoal com destino à Grécia. Ao que parece, Aquiles convenceu Isadora a
assumir seu lugar na Andragathia. Liguei para Toro e ele confirmou as
minhas suspeitas e ficará de olho em tudo e nos manterá informados.
Não consigo acreditar que ela me traiu. Por que não conversou
comigo? Por que fui tão burro a ponto de achar que ela sentia o mesmo que
eu? Pela primeira vez na vida me sinto impotente, sem condições de pensar
direito, sem voz de comando. Sigo até a porta sem olhar para trás e vou
embora na esperança do aperto que estou sentindo no peito desaparecer e
tudo não passar de um pesadelo.
Capítulo 32
BELGRADO
Don Angelo
*****
ITÁLIA
Don Angelo
*****
*****
Don Angelo
Seu corpo relaxa e me permito viver este momento sem qualquer peso
ou responsabilidade, somente ser Angelo Vicentini, um homem que
descobriu o amor, mas que perdeu por sua insensatez.
A música termina e a conduzo para a sua mesa. Não há ninguém
sentado, e permaneço ao seu lado. Trocamos palavras ásperas. Não reconheço
essa Isadora que está na minha frente. Pego duas taças que estão com o
garçom que se aproxima de nós. Ela reluta em ficar junto a mim, mas
acabamos brindando e bebendo. Sinto-me estranho e peço licença.
Direciono-me ao banheiro, mas não consigo chegar. Tudo escurece.
Capítulo 35
Don Angelo
Depois de dias sem água e comida, e tendo que tomar minha própria
urina, uma movimentação do lado de fora chama minha atenção, ouço
pessoas falando em árabe, vozes masculinas e vez ou outra, ouço o Italiano.
A porta do container é aberta e a claridade cega meus olhos. Um homem
trajando roupas muçulmanas e de capuz se aproxima e me entrega um cantil
com água, um embrulho com comida e uma roupa. Cheiro e provo para ver se
tem alguma substância que vai me fazer perder os sentidos novamente, mas
não encontro nada. Devoro o sanduíche e bebo toda a água do cantil.
Aproveito para reparar no ambiente, visto-me com dificuldades por conta do
pequeno espaço. Assim que termino de comer, um gancho puxa a jaula para
fora e sou içado para dentro de uma caminhonete velha sob o olhar atento de
um grupo de homens. Seguimos pelo deserto até uma cidade abandonada,
onde um outro grupo de homens fortemente armados está nos esperando. Eles
retiram a jaula e me levam para um porão, puxam-me da jaula e me colocam
amarrado num poste. Espero que comecem com as torturas, mas nada
acontece.
Ouço passos firmes e um barulho de salto alto até ouvir a voz da
pessoa que mais odeio no mundo, tirando Stefano. Eles se aproximam e
trazem com eles uma mesa de tortura, sei que agora que vai começar
realmente o espetáculo.
— Como vai, Don Angelo? Creio que não preciso te apresentar a Srtª
Nardine, não é mesmo? Sei que já sabe quem ela é e o porquê dela está aqui.
— Como sempre um covarde, não é mesmo, Aquiles? Precisou me
drogar para me pegar.
— Não fui eu que te droguei, meu caro Don. Foi a líder suprema da
Andragathia, a Signora Della Notte, à qual você conhece muito bem.
Todas as minhas dúvidas caem por terra com essa revelação, então,
Isadora se aproveitou do momento que estávamos sozinhos e me drogou para
me capturar.
— Vejo que está decepcionado. — Ele gargalha — Ela é uma
excelente estrategista e tem sido uma ótima líder para a Andragathia. Foi uma
pena você não ter percebido isso antes. — Faz uma pausa e finge pensar. —
Ou melhor, foi muito bom você não ter percebido isso antes, pois, agora,
usamos nossa melhor arma contra a Castellar.
— Precisou uma mulher assumir para que você tivesse alguma vitória
sobre nós, Aquiles? Tsc tsc. — Faço barulho com a boca e nego com a
cabeça. — Como pensei. Você nunca foi um bom Capo, sempre visou o
poder e o dinheiro acima de tudo, sempre passou por cima das regras e, para
alcançar o poder, precisou matar Tenório Agnelli; é ardiloso como um rato,
não respeita seus liderados e usa de meios baixos para conseguir o que quer.
— Sim, esse sou eu. — Ri novamente — Deixe-me te contar uma
pequena história, Don Angelo, e quem sabe você entenderá melhor os meus
motivos para te odiar.
— Vamos lá, Aquiles, estou mesmo ficando entediado. — Ele me
olha com raiva, mas estou pouco me fodendo para isso.
— Sempre irônico, quero ver se no final ainda terá esse senso de
humor. — Ele respira fundo e começa a contar sua história. — Meu pai, Átila
Callas, conheceu Giuseppe Pellegrini em uma viagem à Itália. Ele era um
menino em busca de sucesso e dinheiro nas ruas de Milão, mas tinha tino
para passar a perna nos outros, roubando joias e carteiras de quem parasse
para assistir seu show. — Fico atento a esse nome, foi o mesmo que Stefano
falou que era meu pai. — Após roubar a carteira de meu pai, Giuseppe se
escondeu em um beco e logo foi encontrado pelos capangas de Átila, os dois
se tornaram ótimos amigos e Giuseppe se tornou seu braço direito na
Andragathia. Aproveitando o dom que o moleque tinha, meu pai o treinou
para ser seu informante, e com 18 anos, assumiu um posto de confiança, mas
minha mãe, se é que posso chamar a vadia assim, se apaixonou por Giuseppe
e traiu meu pai e como fruto desse amor eu nasci. Meu pai nunca desconfiou
e aos 19 anos, Giuseppe já demonstrava para o que veio.
Anos se passaram, e Giuseppe se infiltrou na Castellar, que o recebeu sem
questionamentos. Assumiu um posto baixo, mas ganhou a confiança de todos
e logo se tornou segurança particular de Stefano. Ele foi informante da
Andragathia por 5 anos, mas caiu de amores por sua mãe, Giordana, e traiu a
Andragathia. Stefano matou Guiseppe quando descobriu que ele havia traído
sua confiança, mas já era tarde demais, o filho tão esperado para assumir a
Castellar havia nascido e sido apresentado como herdeiro da organização
criminosa mais importante do planeta.
Não confio nas palavras de Aquilles, mas pedirei a Chang que
intensifique nas buscas por informações.
— Para que eu pudesse me vingar de todos da Castellar, incentivei
meu pai a nutrir ódio mortal por todos da Castellar e, assim, poderíamos
batalhar e matar nossos rivais. Quando meu pai morreu e eu assumi, matei
Tenório e vivi esses anos todos buscando a minha vingança contra o homem
que tirou de mim o meu verdadeiro pai, mas como Stefano está decrépito,
foquei minha vingança em você, pois, assim, atingiria toda família Vicentini.
— Esbocei um meio-sorriso, Sophia fechou a cara. — Comecei trazendo para
o meu lado a sua doce e amada Isadora, que assumiu seu posto ao meu lado e
junto com todos aqueles que te odeiam, nos tornaremos a maior liderança
criminosa do planeta, eliminando o nome Vicentini Ferrari do mapa.
— Estou tão emocionado com sua história, que se pudesse eu choraria
em solidariedade. — Debocho. — Você sempre foi egoísta e agora me vem
com esse papo fajuto de que somos irmãos? Me poupe, Aquiles. Tudo o que
quer é assumir meu posto, nunca se contentou em ser um mafioso de quinta
categoria, sem respeito às outras Organizações e nem ser conhecido
mundialmente. O que você quer é status e poder, coisa que não consegue por
méritos próprios. Você é a escória da raça humana e é uma vergonha para a
máfia; homens como você só servem para trabalhos sujos.
— CALA A BOCA, SEU MERDA. — Grita descontrolado, eu sorrio.
— VOU ACABAR COM A SUA VIDA, DESGRAÇADO. — Uma
chicotada rasga minha pele e logo uma infinidade de açoites dilaceram minha
carne.
— Você vai matá-lo antes do tempo, Aquiles. — Guilhermina tenta
controlar a ira de Aquiles. — A Signora Della Notte não gostará de saber o
que está acontecendo aqui, as ordens foram claras, não podemos matá-lo.
— Desgraça. — Resmunga, joga o chicote na mesa e se retira junto
com Guilhermina, me deixando pendurado e com vergões em minhas costas.
Dois homens entram e me tiram do poste, pondo-me deitado de
bruços sobre uma cama algemado, logo, outro chega com remédio e aplica no
local onde levei os açoites. Foram cinco dias sem me mexer e sempre sendo
cuidado pelos mesmos homens.
Sou retirado da cama com violência e posto em uma jaula submersa, a
água estava gelada e minhas mãos, amarradas para cima. Não consigo me
mexer, um balde de sanguessugas é jogado dentro da água e posso sentir
quando grudavam em minha pele.
Três dias fico dentro daquele poço, três dias sem comida, três dias
mergulhado nas minhas próprias fezes e urina, três dias que prometia a mim
mesmo que quando pegasse Aquiles, ele sofreria dez vezes mais.
Sou içado da água, retirado da gaiola e posto sob um chuveiro com
jato forte de água fria para lavar meu corpo fétido, um pedaço de sabão é
jogado aos meus pés e o pego para me lavar e tirar de mim os excrementos. O
mesmo homem que trouxe minha comida me lança um Jabâliyah e o visto.
Como toda a comida e bebo a água do cantil, sou levado algemado nos pés e
nas mãos para o mesmo quarto em que estava, sou preso no pé da cama e
algemado na cabeceira, mas estou pouco me importando, tudo o que quero é
dormir um pouco e preparar meu corpo para o que está por vir.
*****
FAIXA DE GAZA
Perdi as contas de quanto tempo estou aqui. Pelo que pude entender,
fui trazido para Faixa de Gaza e estou em poder do Hamas, um grupo
terrorista.
Comecei a observar alguns pontos soltos e pude entender que Aquiles
se juntou a Hamas prometendo assumir a Castellar e dar a eles o controle da
Casa azul, matar Yuri Kringer e obter informações que podem destruir o
Estado de Israel, mas o que não consegui entender ainda é o que ele ganharia
com isso.
Estou numa espécie de masmorra; ontem rasparam minha cabeça e
perdi um pouco de peso, mas ainda estou resistente e entendo que toda a
tortura que Stefano me fez passar está servindo para alguma coisa. Ouço
passos no degrau da escada de madeira improvisada, Sophia Callas surge,
vestida com elegância, mas com a soberba que já lhe é peculiar.
— Está sendo bem tratado, Don Angelo? — Percebo o sarcasmo em
sua voz. Não respondo nada. — Sabe, Don, sempre te achei um homem
bonito e charmoso, desde novo, mas era inacessível para alguém como eu; a
nossa diferença de idade não me permitia. — Fico intrigado. Não me lembro
de ter conhecido Sophia antes.
— Não me lembro de já ter sido apresentado a você. — Ela sorri e
puxa uma velha cadeira para se sentar em frente à minha cela.
— Nos conhecemos quando você foi com Stefano ao leilão de virgens
nos Estados Unidos, eu estava lá, fui eu quem vendeu aquela garota para ele.
— Vadia.
— Como pôde vender uma menina para aquele doente?
— Negócios, meu bem. — Sorri. — Quando o vi no quarto com ela e
mostrava toda a sua masculinidade de todas as formas, desejei estar no lugar
daquela menina e ser possuída por você, mas Stefano me pegou olhando e
assim que me chamou para dar a última parte do pagamento, me segurou e
apanhei como um homem. Fui jogada na sarjeta, só porque o desejei. Passei a
noite sangrando em um beco. Aquiles me encontrou, cuidou de mim e depois
que contei o que houve, nos casamos e hoje, vendo-o assim, sem nenhum
resquício do todo poderoso Don Angelo, percebo que é mortal como qualquer
um de nós. — Ela dá uma olhada à sua volta, como que extasiada pela
situação em que me encontro. Como um prisioneiro. — Influenciar Isadora
foi fácil. A menina boba e assustada não existe mais, agora ela é forte, é a
Signora Della Notte. Ataca seus opositores sem que eles a vejam, e você foi
um deles. Ouvimos tudo o que conversaram na noite do baile e fomos nós
que mandamos o garçom te entregar a taça com o remédio. Isadora não sabia
que faríamos isso e não sabe para onde te trouxemos, mas é questão de dias
até descobrir, já que é a nossa líder agora. Sei que morrerei por suas mãos,
pois, traí a Capo, mas morrerei feliz por vê-lo sofrer desse jeito.
— Como você mesma falou, nunca te vi e mesmo que visse, sentiria o
cheiro de vagabunda à distância. — Seus olhos se arregalam e engole a saliva
com dificuldade. — Espero que Isadora seja tão boa Capo como sou como
Don, pois a morte é pouco para traidores como vocês.
— Ela aprendeu com Aquiles e fará com você pior do que ele tem
feito até agora, afinal, é você que está preso aí, não eu.
— Se ela aprendeu com Aquiles, então, provavelmente, sairei
andando pela porta da frente. Aquiles é o pior exemplo que alguém pode ter.
É a escória da máfia, renegado por seus “aliados”, e seus homens não têm por
ele nenhum tipo de lealdade; o mesmo que faz com seu Capo, faz com você,
te trai e te submete às suas vontades só porque te tirou da sarjeta.
— CALE-SE. — Sei que consegui desestabilizá-la. — Não sabe o que
está falando. Aquiles tem sido um bom marido e o que depender de mim,
você só sairá daqui morto.
— Ainda bem que sua palavra não tem nenhuma relevância aqui. —
Olhamos para o alto da escada e uma Isadora toda imponente desce os
degraus.
Olho para a mulher que me traiu e procuro dentro de mim o ódio, mas
tudo o que sinto é um puto tesão em ver uma mulher que esbanja
determinação e ousadia. Ela se aproxima da cela e me olha com desdém, mas
observo que procura pelo meu corpo qualquer tipo de lesão ou ferimento
grave. Ela se volta para Sophia e a olha de forma dura.
— Retire-se e me aguarde no cômodo superior. — Sophia sai, mas
ainda me olha com um ar de deboche.
— Como está, Don Angelo? Gostando de nossas acomodações?
— Estou sendo muito bem tratado, Capo, seus soldados são ótimos
anfitriões. — Falo com deboche.
— Vejo que continua com sua costumeira ironia. — Aproxima-se
mais. — Mas, de nada ela te valeu até agora, correto?
— Acredito que não tenha vindo até aqui para debater onde empregar
a minha ironia. Diga o que quer.
— De você, nada.
— Então, por que seu pau mandado me trouxe para cá? Por que você
me drogou no baile e por que está aqui agora?
— Por quê, por quê, por quê? Pensava que era mais inteligente que
isso, Don. Tudo o que Aquiles deseja é tomar o seu lugar e tudo o que desejo
é tomar o lugar de direito do meu pai.
— Você já é uma Capo.
— Não, não sou. Aquiles ainda é o Capo, mas isso está mudando.
Tenho buscado aliados e acredito que por acaso do destino, muitos deles não
concordam com a gestão de Aquiles e desejam que um herdeiro legítimo da
Andragathia assuma o poder, mas, para isso, terei que me casar.
Perco o foco quando a palavra casamento é mencionada. Como assim
se casar? Nunca permitirei que ela se case para fortalecer a Andragathia.
— Meu noivo desembarca na próxima semana e nos casaremos em
quinze dias. Infelizmente não estará lá para celebrar esse momento histórico,
pois, ainda estará refém, junto com os “amigos” de Aquiles.
— Nunca que a Castellar permitirá que uma Agnelli assuma o poder.
— Sim, a Castellar permitirá, pois, jamais poderá ir contra o Lorde
Negro.
Fico em choque. Aleksander Ivanov se casará com Isadora Agnelli
para tomar o poder de todas as máfias e seremos subjugados a eles. Um plano
muito bem elaborado e que me pegou totalmente despreparado.
— Isso nunca irá acontecer. Quando os Capos perceberem que
Aleksander Ivanov quer assumir o controle de todas as máfias, haverá guerra
e muita gente irá morrer.
— Ora, Don Angelo. — Fala com falsa tranquilidade. — Não foi você
mesmo que queria se juntar a mim para tomar o poder? Como pode agora ser
contra a minha união com Aleksander?
— Eu nunca te usaria para isso, eu estava te protegendo de gente
como Aquiles Callas, que destrói tudo que toca, mas, pelo visto, ele
conseguiu seu intento e, hoje, você é um fantoche nas mãos dele.
— Não sabia que “proteção” tinha sido substituído pela palavra
“sedução”. Se eu me lembro bem suas palavras, você disse que me seduziria
para juntar as duas máfias. Agora, não me venha com lições de moral, você
queria fazer o mesmo que Aquiles, me manipular e assumir a minha herança
mafiosa, para depois tomar o poder. Mas eu não vim aqui para te dar
satisfação dos meus atos. Você será levado para a Síria e ficará aos cuidados
de alguns soldados, saiba que monitorarei de perto tudo o que fizer e depois
do meu casamento, decidiremos o que faremos com você.
— Obrigado por me informar, Capo. — Falo com ironia novamente.
— Fico feliz que ainda viverei mais esses dias, e adorarei conhecer os
aposentos da Síria.
— De nada. Depois me agradecerá como deve. — Sai sem olhar para
trás.
*****
Mais uns dias se passam, acredito que mais ou menos quinze, se é que
meus cálculos estão corretos, e não vi mais Aquiles ou Isadora.
O casamento seria essa semana e logo o inferno estaria instaurado em
todos os países que a Castellar predominava, só espero que Enrico esteja
sendo o Don que a Castellar precisa nessa hora.
Sou levado para uma sala de banho e faço minha higiene, minhas
roupas são trocadas por novas; eles mantêm minha barba que cresceu
bastante nesse um mês e quinze dias que estou enclausurado, e o cabelo já
cresce. Sou alimentado como nunca havia sido desde que saí da Itália. Meu
corpo está mais magro e meus músculos menos trabalhados, mas ainda tenho
forças para lutar. Colocam-me em um quarto no andar superior das celas e
um soldado mantém a guarda na porta. Não estou algemado e muito menos
amarrado, as janelas estão fechadas com cadeados grandes e com tábuas que
impossibilitam a visão. O chão é de concreto frio e a porta é de madeira, o
que dificulta qualquer ação que eu possa ter. Deito-me na cama que está
limpa e cheirosa e o cansaço me vence, durmo por horas e meu corpo
agradece.
A porta se abre e o mesmo homem que me trouxe, traz minha
refeição. Fico desconfiado com o que está acontecendo, pois estou sendo bem
tratado e isso não é normal. Alimento-me e volto a dormir, fiquei muitos dias
dormindo em um colchão no chão úmido e fedorento dentro de um cubículo
no subsolo de uma construção abandonada que serviu de ponto de apoio para
tropas inimigas na guerra contra a Síria.
Um estrondo forte soa no andar de baixo e isso me acorda, fico em
estado de alerta, tiros estão sendo disparados e coisas sendo quebradas. Ouço
vozes alteradas e não entendo o que falam, carros estacionam no pátio e uma
voz de comando se sobressai. Posiciono-me atrás da porta para me proteger
de quem quer que seja e espero até que me alcancem no quarto improvisado.
Uma forte batida na porta e dois homens entram me procurando por todos os
lados e assim que se afastam da porta, saio em disparada, mas sou alcançado
por uma pessoa e quando me viro, me surpreendo.
— Você?
Capítulo 36
Isadora
Nesses três meses que estou com Aquiles Callas, pude entender o que
ele deseja de mim. Ele é manipulador e sem escrúpulos nenhum, usa as
pessoas para alcançar seus objetivos e destrói depois que os alcança. Minhas
únicas companhias são Julia e Luna, que todos os dias chora pedindo para
voltar para casa. Estou nas mãos de Aquiles e tenho buscado reunir provas
que eu possa usar contra ele.
Sou obrigada a fazer aparições em festas e ser exibida como a Signora
Della Notte, título dado a mim por Aquiles para demonstrar sua lealdade à
herdeira da Andragathia.
Vivo em Atenas, onde sou treinada diariamente até a exaustão por
Besouro, e acabamos desenvolvendo uma amizade e aos poucos descubro o
que quero sobre Aquiles.
Percebo que seus homens não são totalmente leais a ele e muitos se
submetem ao que ele quer por medo de suas famílias serem punidas. Começo
a formular um plano em minha mente, mas para isso, precisarei de Besouro.
Estamos indo para o complexo de apartamentos no Centro de Atenas e noto
que Besouro quer me falar alguma coisa, mas fica calado. Espero chegar no
apartamento e assim que entramos, viro-me para ele que está fechando a
porta.
— Agora você pode me falar o que está te afligindo. — Ele me olha
sem demonstrar nenhum tipo de reação.
— Srtª Agnelli. — Se aproxima de mim e me olha nos olhos. —
Tenho profundo respeito pela minha Capo e lhe devo respeito e obediência, e
nunca faria nada que a prejudicasse.
— Seja claro, Besouro.
— Peço que o que falarmos aqui, fique aqui. Não posso pôr minha
mulher e meus filhos em risco. — Confirmo com a cabeça. — Aquiles Callas
está planejando sequestrar Don Angelo e a usará para isso, caso não faça,
matará a Sra. Julia. — Meu sangue gela. Como ele pode querer passar por
cima de mim desse jeito?
— Quando será isso, Besouro?
— No baile de Caridade que haverá daqui a quinze dias na Itália.
— Você estará comigo nesse dia?
— Não. Ficarei em Atenas para cuidar de Luna e dona Julia.
— Obrigada pela informação, Besouro. Cuidarei pessoalmente desse
assunto quando chegar a hora.
— Senhorita, cuidado com Aquiles. Ele não mede esforços para
alcançar o que quer.
— Terei, fique tranquilo. — Sigo para o meu quarto e tento assimilar
o que Besouro me falou.
Tomo um banho e vou até o quarto de Luna. Deito-me ao seu lado e
inalo o cheirinho do seu cabelo, e silenciosamente oro a Deus e peço uma luz
para que eu possa sair dos domínios de Aquiles. Sou vencida pelo cansaço e
acabo dormindo junto a Luna.
De manhã, pego meu café preto, inalo o aroma e degusto sem pressa,
sob os olhos atentos de Julia.
— O que se passa, menina? — Olho-a por cima da caneca enquanto
bebo.
— Nada, Julia. — Tento passar tranquilidade, mas sei que Julia já me
conhece um pouco e sabe quando algo me aflige.
— Não tente me enganar, menina, já te conheço e sei que essa
cabecinha está cheia. Quer conversar?
— Não consigo te esconder nada, não é mesmo? — Ela nega com a
cabeça.
Luna vai para a sala e liga a TV num canal de desenho; Julia se senta em seu
lugar e segura a minha mão.
— Isa — Respira fundo e solta o ar devagar —, sei que nos
conhecemos há pouco tempo, mas tenho idade para ser sua avó, estamos
nessa juntas e sei que aquele homem asqueroso está te chantageando para te
manter aqui. Sei também que se ele pudesse, já teria me matado, só não fez
ainda porque precisa de você. Não quero que me esconda o que está sentindo,
somos o mais próximo de família que eu e você temos e estamos juntas nisso
tudo. Confie em mim, com o conhecimento que tenho por trabalhar por anos
com o Don, posso te ajudar.
Olho para Julia e enxergo nela uma grande amiga e percebo a
sinceridade de suas palavras. Quem sabe ela não me ajuda a sair disso sem
machucar ninguém?
— Ontem fiquei sabendo que haverá um baile de caridade na Itália e
que Aquiles me levará. Mas o que me deixou preocupada é que ele quer me
usar para sequestrar Don Angelo. Sei que será impossível, pois, Anderson,
Nico, Salvatore e Filippo sempre fazem sua segurança, mas algo me diz que
ele está armando alguma coisa; as peças não se encaixam, tem alguma coisa
faltando.
— Vamos pensar como se fosse Don Angelo que estivesse planejando
tal intento. — A olho com a testa franzida. — O que ele faria para Aquiles
baixar a guarda? — Ficamos presas em nossos pensamentos por um bom
tempo.
— Ele vai fazer uma armadilha para atrair Don Angelo, depois, vai
pegá-lo.
— Don Angelo não cairia numa armadilha. — Fala com
conhecimento de causa. — A menos que... — Pensa mais um pouco e se
volta totalmente para mim. — A menos que espalhe um boato e deixe Don
Angelo vulnerável.
— Como assim, Julia?
— Me lembro uma vez que Don Stefano espalhou um boato sobre a
Andragathia e deixou Tenório vulnerável. Tenório deixou todos os seus
seguranças guardando o QG e saiu somente com um segurança, que acabou
morrendo na emboscada e Tenório conseguiu fugir. Aquiles não é um homem
muito criativo e, no mínimo, deve estar copiando a ideia.
— Ele pegará Don Angelo no baile.
— Ele deve ter espalhado que vai invadir a Castellar, o que deixará
todos guardando o Forte. Como tem o evento, Don Angelo deverá ir somente
com um segurança, o que o deixará vulnerável. Ele te usará para distração do
Don, pois sabe que ele tentará uma aproximação. Cabe agora decidir o que
fará a respeito.
Fico pensando e nada me vem à mente, olho para Julia que está do
mesmo jeito.
— Já sei o que farei. — Olho para Julia. — Mas para sua segurança e
de Luna, não te falarei agora, deixa eu formular um plano em minha cabeça e
assim que pôr em ação, se prepare para voltarmos à Itália.
Vou para o meu quarto me preparar para o treinamento. Hoje será
diferente, trarei Besouro para o meu lado e ele me falará os passos de
Aquiles.
ITÁLIA
Isadora
*****
Isadora
Vinte dias... vinte longos dias que não consigo obter informações de
onde Angelo está. Reuni meu pequeno exército de homens de confiança e
temos olhos e ouvidos em todos os lugares. Retornamos à Grécia no dia
seguinte ao baile e, uma semana depois, voltamos para Livorno, para a
felicidade de Julia e Luna, mas ainda estamos sob forte vigilância; meu
treinamento está indo melhor que o esperado. Faz dois dias que não vejo
nenhum dos Callas e descobri que viajaram e só retornarão em uma semana.
O que me deixa tranquila é que Augusto foi com eles e aguardo ansiosa seu
retorno. Aproveito que estou sozinha e começo a fazer pesquisas sobre a
Castellar e um novo nome surge, Aleksander Ivanov, um moreno lindo e
perigoso, que me acende uma esperança.
Traço um plano junto com Matteo. Atrairemos Aleksander Ivanov até
o ginásio de treinamento e pedirei sua ajuda para resgatar Angelo onde quer
que esteja.
Hoje, o dia amanheceu chuvoso em Livorno e o frio começa a dar as
caras, mas nada me impede de ir ao ginásio, afinal, precisaria pôr meu plano
em prática.
Após exaustivos alongamentos e exercícios, sigo para um banho e me
preparo como uma Capo para receber o Lorde Negro no escritório da
academia.
Meia hora depois, Matteo entra e logo atrás está Aleksander Ivanov
com toda a sua elegância e postura.
— Sr. Aleksander? — Aproximo-me com a mão estendida. — Sou
Isadora Agnelli, Capo da Andragathia. Ou, quase isso.
— Muito prazer, Srtª Agnelli. Estou muito curioso para saber o que
uma Capo, ou quase isso, da máfia rival deseja comigo.
— Vamos nos sentar, Sr. Aleksander, e logo esclarecerei. —
Acomodamo-nos na poltrona que fica no canto da sala e Matteo se posiciona
logo atrás, junto com o segurança do Sr. Ivanov. — Pois bem, vamos ao
assunto que o fez vir aqui a meu pedido. — Respiro fundo e solto o ar aos
poucos. — Aquiles Callas sequestrou Don Angelo e preciso de pessoal e
suporte para resgatá-lo. — Ele me olha como se uma outra cabeça tivesse
surgido no meu ombro.
— Deixa ver se entendi. A senhorita me chamou aqui para informar o
que todos nós sabemos?
— Não. Te chamei aqui para me ajudar a resgatar Don Angelo. —
Levanto-me, indo até a janela. — Sr. Ivanov, apesar de ser a Capo desta
organização, Aquiles Callas tem feito coisas sem meu conhecimento, e uma
delas foi sequestrar Don Angelo, a quem devo muito. Sei que é difícil confiar
numa Capo da máfia rival, mas meu avô foi um grande amigo da família
Vicentini e juntos criaram a Castellar. Sei que houve a divisão, mas meu tio-
avô Tenório nunca invadiu os territórios ocupados pela Castellar, diferente de
Aquiles que quer usurpar o que não lhe pertence, assim como fez com o meu
tio.
— Conheço essa história, senhorita, faz parte de cada um de nós.
— Sei que conhece, mas o que não sabe é que eu e minha sobrinha
estamos sendo mantidas em constante vigilância e que fugi da casa do Sr.
Vicentini porque Aquiles sequestrou minha sobrinha, ameaçando de morte.
Me resignei na minha miséria até agora, mas não posso permitir que Aquiles
Callas destrua o pouco que restou da memória do meu avô e quero vingar a
morte do meu tio.
— O que sabe até agora sobre o paradeiro de Don Angelo?
— Meu soldado de confiança foi junto com Aquiles em uma viagem,
creio que foram ao cativeiro de Don Angelo. Em uma semana eles retornarão
e saberei melhor.
— Irei ajudar, Srtª Agnelli, mas terá que ficar em sigilo, não podemos
envolver todas as Casas e muito menos as máfias da Irmandade. Faremos
tudo com cautela, assim que estiver tudo pronto, o regataremos.
— Faremos dessa forma, mas ainda preciso de um grande favor. —
Faço uma pausa para dar tempo de raciocinar e me preparar para o que ele irá
falar. — Nessa ausência de Aquiles, pude ver os fundamentos da Andragathia
e suas normas. Sei que é comum o Don anterior estipular regras para o seu
sucessor, e com meu tio não foi diferente. Ele sabia que meu pai havia
formado família no Brasil e que algum dia seu herdeiro reclamaria a herança,
por isso, ele estipulou algumas cláusulas — Pego o papel da bolsa. — Entre
essas se destacam duas: 1º - Fica acordado com os presentes colaboradores e
futuros colaboradores que o Don deverá se casar com qualquer membro
direto ou indireto da Castellar, para que possa permanecer uma máfia pura;
2º - O herdeiro só poderá assumir seu papel como Don após o casamento,
anulando qualquer aliança que não estiver de acordo com os interesses de
ambas as máfias.
“Para eu assumir a Andragathia e destituir a aliança feita pelo meu tio
Tenório Agnelli com a máfia Grega, terei que me casar com um membro de
uma das Casas da Castellar e assumir meu lugar como Don da Andragathia.
Preciso que se case comigo, nem que seja de fachada, para que eu possa
assumir o poder e destruir Aquiles Callas.
— Senhorita. — Ele se coloca de pé e se aproxima de mim. — Esse
tempo todo que estamos procurando por Don Angelo, tenho ouvido o quanto
ele a tem em alta estima. Sei que é uma situação atípica e que para recuperar
seu posto como Don, terá que seguir seus planos. Não quero causar nenhuma
ruptura com a Castellar, mas se para salvar Don Angelo das mãos de Aquiles
eu tenho que me casar com a senhorita, então, me casarei, mas preciso que
empenhe sua palavra como Don que meu Capo voltará com vida.
— Tem a minha palavra.
Ele assente. — Para quando deseja a cerimônia? — Eu penso e
calculo o tempo para resgatarmos Angelo.
— Um mês.
— Prepare tudo; assim que estiver organizado, nos casaremos.
— Obrigada por me ajudar, Sr. Ivanov, e assim que resolver tudo isso,
conversarei com Don Angelo e uniremos as Organizações.
— Faça isso por meio do casamento, senhorita. Percebe-se o quanto o
ama. — Arregalo meus olhos em espanto. Somente por amor que arriscaria a
minha vida para salvá-lo.
— Obrigada mais uma vez, e nos vemos em breve. — Ele se retira me
deixando absorta com os meus pensamentos.
Chego em casa já anoitecendo e encontro Frank me espionando. Passo
direto para o meu quarto e após um banho, jogo-me na cama pensando em
tudo o que Aleksander Ivanov me disse. Percebo que deixei minha raiva
abalar o amor que descobri sentir por Angelo, mas não permitirei mais que
Aquiles destrua o legado dos meus antepassados. Quando tudo isso terminar,
conversaremos e colocaremos tudo em pratos limpos. Assim espero.
*****
FAIXA DE GAZA
Isadora
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ITÁLIA
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Don Angelo
Don Angelo
Hoje faz quinze dias que fui resgatado e tenho um encontro aqui no
Forte com Aleksander Ivanov e sua esposa. Temos muitas coisas a serem
esclarecidas e, infelizmente, terei que olhar o casalzinho feliz.
Arrumo-me em meu terno Stuart Hughes, quero mostrar boa
aparência e que já estou recuperado.
Sigo para o escritório e o casal está sentado cada um em uma poltrona
de frente à minha mesa. Assim que entro, Aleksander se coloca de pé, mas a
petulante permanece sentada como se fosse a dona da situação.
Cumprimento Ivanov calorosamente, mas ela, trato com indiferença,
mas por dentro queria agarrá-la e beijar aqueles lábios em formato de
coração. Ela me olha com frieza e sei que será uma longa e exaustiva
conversa. Sento-me à mesa.
— Antes de tudo, quero agradecer por permitir Elisa participar do
resgate. Sei que ela o ameaçou e peço que a perdoe, mas devo confessar que
foi bom rever um rosto amigo. — Olho com desdém para Isadora.
— Sua irmã sabe ser convincente quando quer. E não há o que
perdoar. Fazemos loucuras por aqueles que amamos. — Ivanov fala, e dá um
olhar significativo à esposa.
— É claro. Estou pronto para ouvir o que tem a me dizer, Aleksander.
Nos tornamos próximos e me sinto traído por você, em todos os sentidos.
— Don, eu nunca te trairia. Vim aqui para esclarecermos tudo isso e a
única coisa que te peço é que me escute e, depois, faça o seu julgamento.
— Não é o que suas atitudes demonstraram, mas estou ouvindo e farei
a minha avaliação dos fatos. O que não entendo é porque a Capo da
Andragathia está sentada na minha frente e ninguém fez nada para que isso
não acontecesse. Independente de ela ser sua esposa, ela é inimiga e não sou
complacente com meus inimigos.
— Peço perdão sobre isso, Don, mas Isadora foi parte fundamental
em todo o plano e terá que ser ouvida primeiro.
Olho para Isadora que está com seus olhos focados em mim e em
nenhum momento abaixou a cabeça; me enfrentou de igual para igual e isso
me incomoda, mas não deixo transparecer.
— Que seja.
Ela respira fundo e Aleksander segura sua mão, e isso me incomoda,
mas demonstro indiferença.
— Depois que eu ouvi a conversa de vocês em seu escritório, procurei
saber o que era Andragathia e descobri que meu avô era um mafioso. Fiquei
muito perdida com todas aquelas informações e preferi não me envolver com
nada disso. Queria cuidar de Luna, trabalhar e terminar meus estudos.
Confesso que comecei a planejar uma forma de voltar ao Brasil.
“Julia e Luna foram sequestradas por Aquiles e se eu não fosse ao seu
encontro, ele as mataria. Não pensei duas vezes, fui e tive que sair da sua casa
e me juntar a Aquiles para ele não perder o poder. Com a convivência e a
fidelidade de alguns homens, descobri que Andragathia estava atrelada a
Castellar e que nossos avós eram muito amigos, mas que se separaram por
divergências de ideais. A Andragathia perdeu seu foco quando Aquiles
assumiu, não mexia somente com cassinos e agiotagem, mas também com
tráfico de drogas, mulheres e crianças, sem contar com venda ilegal de órgãos
e assassinatos.
— Não está me contando nenhuma novidade até agora.
— Deixe-me terminar e saberá onde está a novidade. — Responde
sem ter medo.
— Continue.
— No dia em que fui te ver na Faixa de Gaza, descobri que Sophia
havia envenenado meu tio-avô, Tenório Agnelli, a mando de Aquiles para se
vingar de Stefano Vicentini.
— Se me lembro bem, você confirmou que havia me sequestrado e,
no dia do baile, a última pessoa com quem falei foi contigo e logo apaguei.
Então, não me venha com essa história de sentimentalismo barato para cima
de mim. Não estou nisso há pouco tempo e sei identificar uma mentirosa de
cara.
— Não tenho necessidade de mentir. Estou aqui somente para
esclarecer os fatos e não me importo se você acredita ou não. Não quero que
a amizade entre meu marido e a Castellar seja abalada por minha causa; foi
eu quem pediu a ajuda de Aleksander para te salvar.
— Você é muito dissimulada. — Gargalho. — Primeiro me sequestra
e, depois, me salva. Qual o seu jogo, Agnelli?
— Como disse, não me importo com o que pensa de mim. Quero
esclarecer suas dúvidas e, se depender de mim, nunca mais olharei para essa
sua cara fingida.
— Eu? Fingido? Não fui eu quem te drogou e sequestrou; não fui eu
que te levei para uma zona de guerra e te torturei; não fui eu quem te deixei
com fome e sede e, muito menos, quem te deixei numa gaiola com suas fezes
e urina. Então, não venha aqui dizer que me salvou. Isso tudo aconteceu
porque achei que poderia confiar na mulher que um dia eu conheci no Rio de
Janeiro e que me encantou, hoje, o que sinto por você é desprezo e nojo por
tudo o que se tornou. — Seus olhos estão presos nos meus e se enchem de
água, mas logo ela se recompõe e volta a me olhar com frieza.
— Você tem razão, Don Angelo. Realmente eu sabia o que Aquiles
iria fazer com você no baile, mas não pude impedir, sabe por quê? Minha
sobrinha e Julia estavam em casa com o pau mandado de Aquiles e ele
poderia matá-las, e entre a minha sobrinha e você, eu sempre escolherei
proteger minha única família.
— Don. — Aleksander interrompe a guerra de frieza entre mim e
Isadora. — Termine de escutá-la, há muita coisa que precisa ser esclarecida.
— Tudo bem. — Suspiro fundo. — Continue, Sra. Ivanov.
— Agnelli Ivanov, Don Angelo. — Fala com sarcasmo.
— Que seja, pouco me importo qual seja seu nome.
— Mas se importará depois que terminar e saiba que não aceitarei
suas desculpas.
— Não pedirei, não se preocupe.
— O desejo é recíproco. — Que ódio dessa mulher. — Continuando
de onde o senhor me interrompeu. Nos meses em que Aquiles me manteve
presa, pude estudá-lo e descobri algumas coisas, e dentre essas coisas, era que
teria que me casar para assumir a Andragathia, mas faltava a peça principal,
por que ele queria me usar para te destruir, já que eu estava em seu poder?
Ainda não tinha a resposta. Foi aí que descobri através das minhas pesquisas
um novo membro da Castellar, Aleksander Ivanov, Capo da máfia Sérvia.
Matteo, meu amigo e treinador, me ajudou a atrair Aleksander até a academia
e pude contar a ele tudo o que sabia. — Olho para Aleksander que me olha de
volta e vejo que não há nenhuma reação contrária ao que ela fala. —
Precisava de alguém com influência para te resgatar, não sabia como
funcionava essas coisas no meio da máfia, muito menos a quem podia confiar
para pedir ajuda sem que você corresse riscos. — Fico abismado por fingir
preocupação. — Estava disposta a arriscar falando com um Capo da máfia
Sérvia, associado da Castellar. Achei em Aleksander um excelente aliado,
disposto a tudo para te salvar. Mas para que tudo corresse bem, era necessário
que eu assumisse meu papel na Andragathia, ser o Don definitivamente e
destituir o poder de Aquiles Callas.
— Pelo visto você se aproveitou dessa situação para alcançar seu
objetivo maior. Muito cômodo da sua parte usar um dos meus aliados para
isso, assumiria seu papel de Don e ganharia a confiança de todos da Castellar.
Bem engenhoso o seu plano.
— Diferente do senhor que usa a ingenuidade das pessoas para
conseguir seus objetivos mais escusos, eu fui honesta e sincera com
Aleksander e tenho sido até agora. Se o senhor parar de me interromper,
gostaria de acabar logo e sair daqui.
— Continue com seu teatro.
— Estúpido. — Fala baixo, mas escuto e tenho vontade de rir, mas
mantenho a postura. Respira fundo e continua: — Descobri que para destruir
o poder de Aquiles, precisaria me casar e Aleksander aceitou ser meu marido
por contrato até eu ganhar a confiança dos associados e caminhar com
minhas próprias pernas. Ficamos noivos e recebi o apoio dos associados;
destituí Aquiles da função de Capo rebaixando-o a Break. — Arregalo os
olhos em espanto. Um Break é o posto mais humilhante para um Capo, é
como se fosse o último grau da desonra. — Decidimos resgatá-lo no dia do
nosso casamento para não levantar suspeita, pois, sairíamos em lua de mel e
ninguém desconfiaria. Viajamos para a Síria e junto com os soldados de
Aleksander, que já estavam cuidando de você, te libertaríamos e Aquiles
perderia qualquer influência na máfia, já que seu principal rival estava de
volta para enfrentá-lo. Estou casada com Aleksander Ivanov por contrato e
temos seis meses a cumprir, até a passagem oficial do poder para as minhas
mãos. Sei que está se perguntando, o que eu ganharia em te deixar viver?
Ganharia o respeito da máfia e honraria a educação que recebi, de ser grata às
pessoas que nos fazem o bem. Você me ajudou quando meus pais morreram
me trazendo para a Itália, salvou a vida de Luna e, em retribuição, ajudei a
salvar a sua. Não espero nenhum tipo de agradecimento, muito menos sua
amizade, e a partir daqui não te devo mais nada e nem você a mim.
— Sabe o que ainda não entendi? Por que quer assumir a
Andragathia, se até pouco tempo atrás você nem sabia que era herdeira da
máfia?
— Meu avô lutou para construir seu nome e reputação, meu tio-avô
morreu defendendo a Organização de um crápula como Aquiles e meu pai
morreu por não querer se envolver com seu passado mafioso. Devo a eles.
Preciso reerguer uma máfia com a visão desses homens e trazer descanso aos
seus espíritos. Sou uma Agnelli e assumirei a Andragathia para vivermos
tempos de paz.
— Bonito discurso, fico emocionado com suas palavras, mas a
realidade é diferente. Ser um mafioso requer muitas coisas das quais você não
tem metade. Aceito esses termos por enquanto, mas não pense que abaixarei
a guarda, me tornarei mais vigilante, porque de você... não espero nada de
bom.
— Não me conhece e não sabe qual a minha capacidade e, muito
menos, estou pedindo que aceite alguma coisa. Só estou aqui para que meu
marido não pague por algo que não fez, e espero que seja grato a ele por ter te
salvo, coisa que nem seus melhores homens fizeram por você.
Levanto-me exasperado com as últimas palavras dela, e dou um
murro na mesa.
— Creio que nosso assunto já terminou. Gostaria que saísse da minha
presença.
— Com o maior prazer; e passe muito mal, Estúpido.
Ela dá um beijo na boca de Aleksander, o que me deixa com ódio
mortal. Faltam pouco fundirem suas línguas e me seguro na cadeira para não
arrancar as mãos dele de cima dela. Essa mulher é a minha ruína. Ela sai toda
elegante sem olhar para mim, me deixando puto, e um Aleksander totalmente
embasbacado para trás.
*****
Don Angelo
Don Angelo
Don Angelo
Don Angelo
*****
KOSOVO
Don Angelo
LIVORNO, ITÁLIA
Enrico
***
ALBÂNIA
Don Angelo
Já passa das cinco horas e o cansaço é grande. Afrim nos conduz para
uma fábrica abandonada, caminhamos até o subsolo e aguardamos um
elevador que nos levará para o subterrâneo.
— Aqui é um dos nossos esconderijos e descansaremos até obtermos
informações precisas de onde Aquiles e Guilhermina estão.
Vejo o cansaço e preocupação nos olhos de Isadora. Puxo-a para mim
e vamos até os alojamentos, não deixarei que ela fique sozinha no meio de
um bando de homens, ela dormirá comigo.
— Aqui é o alojamento feminino. — Afrim fala, mas a mantenho em
meu abraço.
— Ela dormirá comigo.
Afrim olha para a Signora e ela assente.
— Obrigada, Afrim, mas dormirei com o meu noivo. — Um arrepio
corre por toda a minha espinha e um frio se aloja na minha barriga ao ouvi-la
me chamar de noivo.
— Como quiser, Signora. — Ele nos conduz para outro alojamento e
abre a porta de uma suíte. — Aqui é o alojamento do nosso Capo, fiquem à
vontade.
— Obrigado. Qualquer novidade nos mantenha informados.
— Com sua permissão, senhores.
— Preciso de um banho e de dormir, essas últimas horas foram bem
difíceis.
— Venha. — Abro a porta de um banheiro simples, mas
aconchegante. — Tome seu banho primeiro, vou logo depois.
Tomamos banho em separado e me deito com ela na cama estreita; o
cansaço nos vence e dormimos de conchinha. Foi o melhor sono que tive em
anos.
*****
Don Angelo
Don Angelo
O cansaço nos venceu e dormimos juntos mais uma vez. Foi a melhor
noite de sono que pude ter dentro do meu conforto. Isadora me traz paz e
tranquilidade, coisa que nunca senti em toda a minha vida. Acordamos um
pouco mais tarde e pudemos usufruir um pouco mais da presença um do
outro, mas tínhamos assuntos pendentes a tratar e não poderíamos mais adiar.
Tomamos nosso café em meu quarto e depois de ela ir checar a sobrinha,
Isadora foi se trocar para a reunião com todas as Casas e todos os
Colaboradores da Andragathia.
Entramos de mãos dadas na sala de reunião e todos se colocaram de
pé. Sento-me na cabeceira superior e Isadora na inferior, todos os Capos da
Castellar do meu lado direito e todos os colaboradores da Andragathia do
meu lado esquerdo. Cruzo meu olhar com meus irmãos e assumo a postura de
Don.
— Temos alguns pontos a esclarecer, mas antes, quero informar que
Aleksander Ivanov está fora de risco e já está no quarto recebendo todo o
tratamento para voltar a compor a mesa. — Isadora dá um leve sorriso de
felicidade e acabo fechando mais a cara por conta do ciúme. —Todos aqui
sabem a história que une a Castellar e a Andragathia. Nunca foi a intenção de
Jarbas Agnelli que a Andragathia se tornasse rival da Castellar, mas as
circunstâncias levaram a essa rivalidade e culminou com o meu sequestro e o
sequestro da segunda herdeira pelo mesmo homem, Aquiles Callas. Para que
Isadora Agnelli assuma oficialmente a Andragathia, sem nenhuma manobra
para enganar os senhores — Aponto para todos os membros da Andragathia.
—, eu, Don Angelo, líder da Castellar, peço oficialmente a mão da Srtª
Isadora Agnelli em casamento. — Há murmúrios na sala, na maioria de
aceitação.
Enrico se levanta de seu lugar e se dirige a Isadora.
— Srtª Agnelli. Signora Della Notte, está de acordo com a proposta
de unir a máfia Andragathia com a Castellar através do casamento com Don
Angelo Vicentini Ferrari?
Ela olha para Enrico, para cada um dos homens da Andragathia
presentes e, depois, para mim. E seu sorriso se abre com olhos lacrimosos.
— Sim.
Todos os presentes na sala se levantam e aplaudem com alegria e
alívio por saberem que a partir de agora não haverá mais guerras entre nossas
Organizações.
Cada um se aproxima para nos dar os parabéns, e durante longos
minutos ficamos assim, um segurando a mão do outro, enquanto cada um
recebe os cumprimentos de seus homens.
Ainda havia dois assuntos para serem resolvidos: Bianca e Aquiles.
Convido todos para participarem do interrogatório e deixo bem claro que
somente eu e Isadora daremos ordens para qualquer ação. Encontramos
somente Aquiles na sala branca e assim que todos se acomodaram, eu e
Isadora nos aproximamos dele.
— Finalmente o casal vinte resolveu aparecer para conversarmos,
estava ficando entediado nesta sala toda branca e com essa música clássica
tocando sem parar, pensei que fosse mais eclético, Don Angelo. — Olha
Isadora ao meu lado e sorri. — Como vai, Signora Della Notte?
Ele olha para todos os membros das duas máfias e começa a rir.
Aproximo-me mais e seu sorriso some, mas a arrogância continua intacta.
— Nunca pensei que fosse viver para ver tal fato, as duas maiores
Organizações criminosas da Itália unidas no mesmo ambiente, só para mim?
— Gargalha — Vocês são patéticos. Bastou uma mulher assumir para todos
viverem em paz e amor? Onde foi parar os homens temidos e respeitados, os
mafiosos que não mediam esforços para acabar com algum membro da
Castellar? Viraram pau mandado de uma mulher? Tenho vergonha de
mafiosos como vocês.
— Acabou, Aquiles? — Isadora se aproxima. — Acabou de dar seu
show?
Ele olha para ela com desdém e cospe em seu rosto e
automaticamente meu punho acerta seu nariz. O sangue jorra e a postura de
Aquiles muda, passa a se conter para não sofrer maiores consequências.
Como todo valentão, muda de postura quando ele é o alvo.
— Você é um homem sem escrúpulos e merece tudo de ruim que irá
acontecer com você agora. Não pouparei esforços para impingir a você todo o
tipo de sofrimento; clamará por clemencia e ela não chegará; pedirá a morte e
ela rirá de você e quando achar que é seu fim, aí é que estaremos começando.
Pagará por tudo o que fez à minha família e será enterrado como indigente
para que ninguém ache sua lápide para chorar.
Isadora vai até o canto da sala e traz o mais novo método de tortura,
testaremos em Aquiles, e se tudo der certo como pensamos que dará, será
nossa mais nova arma.
— Don. — Ela me chama para ajudá-la nos ajustes. — Pede a
Anderson e Austin que coloque Aquiles na cadeira, amarre e ponha o
capacete e se vira para preparar a seringa.
— Não se preocupe, Aquiles, ainda não é o começo. — Ele olha a
agulha imensa e começa a se debater. — Sentirá uma pressão no seu cérebro
e logo sua língua começará a soltar tudo o que queremos saber. — Introduz a
agulha pela jugular e injeta o líquido.
— Vamos aguardar até fazer efeito, Isadora, e depois, começaremos
as perguntas. — Ela assente e nos afastamos.
Aguardamos por cerca de quinze minutos e logo percebemos que ele
estava pronto para começar a falar.
Aquiles contou tudo o que fez desde que assumiu a Andragathia e o
sequestro de Luna. Contou que fez alianças com algumas máfias fora da
Europa, entre elas o grupo Yadiees. Descobrimos que essas máfias pagaram
uma fortuna para fazer parte da Castellar e que Aquiles deu garantias que,
assim que assumisse, os traria para compor a mesa. Foram longas horas de
interrogatório.
Deixamos Filippo e Matteo com Aquiles e fomos para o nosso quarto,
precisávamos conversar e pensar numa solução para as merdas que Aquiles
fez.
— Estou exausta, Angelo, não sei o que fazer, nunca precisei lidar
com gente perigosa, o máximo de bandido que tive que lidar foram os do
morro e, mesmo assim, eram meninos que cresceram ali mesmo e nos
conheciam.
— Vamos resolver tudo isso, Isa. — Ela me olha e dá um leve sorriso.
— É a primeira vez que me chama assim.
— Sempre quis te chamar com mais intimidade, mas tinha receio de
não gostar.
— Meus amigos me chamam assim e fico feliz que me chame assim
também.
— Quero criar vínculos contigo e termos coisas clichês de casais.
Quero construir uma história de vida com você e viver cada dia como se
fosse único.
— Humm... Um Don romântico!?
— Aprendendo a ser, Isa. — Aproximo-me dela e a tomo pela cintura.
— Quero descobrir o amor na forma mais sublime e demonstrar a minha
admiração por você todos os dias.
— Meu Deus, meu noivo é um romântico adormecido?
— Adormecido, não. E por falar em noivo... — Alcanço o bolso
interno de meu paletó e tiro um caixa de joia. Abro-a e Isadora leva a mão
aos lábios, emocionada e surpresa. — Você não pode ficar noiva sem um anel
digno de uma princesa, não é mesmo?
Ajoelho-me de frente a ela e seguro uma de suas mãos.
— Sempre achei que nenhuma mulher era digna de usar uma joia tão
significativa para mim, mas quando te vi pela primeira vez, soube que havia
perdido o meu coração para você. Hoje, essa joia não significa nada diante do
amor que sinto por você. Essa joia é apenas um objeto que demonstra que
temos um compromisso, porque a minha maior riqueza passou a ser a mulher
que tem o meu coração.
Coloco o anel em seu dedo anelar, levanto-me e a seguro pela cintura.
— Agora que estamos a sós, posso beijar minha noiva?
Ela envolve o meu pescoço com seus braços.
— Deve.
O beijo, que começa romântico, como a ocasião merece, torna-se mais
ardente. Nossas línguas duelam e se unem em urgência; nossos corpos se
esfregam e se aquecem já prontos para o arrebatamento sexual e sensual que
tanto ansiamos. Sim, a minha Isadora está tão “quente” quanto eu.
— Mais tarde, quero você só para mim. — Digo assim que afastamos
nossos lábios e ela me olha espantada. — Pedirei um jantar e conversaremos
sobre o nosso casamento.
Ela assente e depois de mais um beijo, ela se retira para o seu quarto.
Ligo para meu restaurante preferido e peço um jantar digno da mulher
que tem meu coração. Tomo um banho e me preparo para a noite, quero que
seja diferente e que Isadora se sinta especial. Sei que terei que ir com calma,
mas eu a amo e terei paciência de esperar o tempo que for preciso para tê-la
entregue a mim.
Capítulo 49
Don Angelo
Passar esse tempo com Isadora em meus braços tem sido a melhor
sensação de toda a minha vida. Ela representa conforto e segurança para um
homem cansado do peso e das responsabilidades impostas pela vida.
Descobrir novos sentimentos é aterrorizante, mas, ao mesmo tempo,
satisfatório. Sei que vou errar muito com ela, mas também vou acertar; quero
viver tudo isso de forma intensa e segura. Não somos mais tão jovens, e já
está em tempo de formar a minha família. Quero ter filhos e sentir toda a
emoção de segurá-los nos braços e quero tudo isso com Isadora, a
brasileirinha que arrebatou o meu coração.
Estamos na sala de jantar, e após a refeição que tivemos, estamos
dançando uma música baixa, vinda do aparelho de som.
Abaixo o meu olhar para captar um sorriso tímido em seus lábios, seu
queixo encosta no meu peito e me curvo para lhe beijar, nosso beijo é cheio
de promessas e sei que cumpriremos cada uma delas. O destino já nos
separou por muito tempo e não permitirei que nada nem ninguém arranque de
mim meu maior tesouro.
— Está cansada? — Beijo o topo de sua cabeça.
— Não. Gosto de ficar assim com você, sinto que estou em casa, que
seus braços são o meu lar.
— Porque são. Vamos nos casar em um mês. Precisamos organizar as
coisas.
Ela dá um sorriso de contentamento.
— Quem diria... Achei que seríamos só eu e Luna na vida e, agora,
aqui estou eu, prestes a me tornar uma noiva!
— Não estará mais sozinha. Você tem Luna, a mim e construiremos a
nossa família.
— Tem certeza de que é isso que quer?
— Absoluta. Não sei mais viver longe de você, aprendi a me importar
com tudo que diz respeito a você e Luna. Entraremos com o processo de
adoção de Luna e ela será a nossa filha.
— Eu já sou a mãe dela, Angelo.
— Mas eu não sou o seu pai. Quero que ela tenha referências boas de
um pai presente e tenha orgulho de me levar a festinhas da escola e me
apresentar para seus amiguinhos como seu pai.
— Desse jeito eu me apaixono mais por você.
Seguro sua cintura e trago sua boca na minha e nos beijamos com
intensidade e logo nossas mãos estavam por todos os cantos de nossos
corpos. Separo minha boca da dela e olho em seus olhos.
— Te quero tanto. — Esfrego minha ereção em sua barriga.
— Também te quero. — As bochechas dela ficam rosadas, mas vejo
desejo em seu olhar.
Tomo novamente sua boca na minha e a levanto, ela enrosca as pernas
na minha cintura e a prendo contra a parede. Beijo seu pescoço e volto para
seus lábios, cheio de tesão e desejo.
— Diga para eu parar, Isadora. — Falo em súplica, mas rezando para
prosseguir.
— Nunca. Te quero.
Essas palavras foram a gota d'água para elevar meu desejo ao
extremo. Subo as escadas com ela nos braços e não desvencilhamos nossos
lábios um do outro, o desejo ardente toma nossos corpos e procuro me
controlar o máximo e lembrar que Isadora é a minha mulher, que merece ser
tratada com cuidado e delicadeza, que ela é virgem e serei seu primeiro e
único homem.
Chego ao meu quarto e ela fica extasiada com o que vê. Pedi que o
preparassem com pétalas de rosas e velas aromáticas; as luzes estavam baixas
e o ar romântico deu um charme especial, o que fez minha mulher se
emocionar.
— Angelo... — Uma lágrima escorre pelo seu rosto.
— Falei que hoje seria uma noite especial, amore mio.
— Eu te amo, Angelo. — Me beija com tanto carinho que acende um
desejo insano em mim.
Sinto suas mãos subirem pelo meu peito e começar a desabotoar a
minha camisa, ajudo-a a retirar minha roupa e logo cuido de deixá-la
confortável. Ao retirar sua blusa, vejo-a sem sutiã e seus seios lindos e
rosados ficam à mostra e minha boca saliva para sentir seu gosto. Seguro-os
em minhas mãos, se encaixam com perfeição em minha palma, ela fecha os
olhos com o contato.
Desço meus lábios pelo seu pescoço e chego ao vale dos seus seios.
Busco com minha boca seu seio direito enquanto minha mão explora sem
pressa o esquerdo. Isadora está em êxtase e seus gemidos me embriagam.
Minha ereção está monstruosa, mas hoje à noite é somente dela.
Cuidarei para que sua primeira vez seja a mais especial de todas, mesmo que
esteja sendo uma tortura para mim. Tomo-a em meus braços e a conduzo até
a cama, ela se deita e me olha com expectativa. Sei do medo e receio que
tem, por isso, apresso-me em tranquilizá-la.
— Eu te amo e não farei nada que não queira.
— Eu quero, só estou com um pouco de medo.
— Não precisa ter. Serei cuidadoso e jamais machucaria um pedaço
de mim.
— Eu te amo, Don. — Essa palavra acendeu tudo em mim, mas não
quero estar com ela como Don. Fui o Don com todas as outras mulheres, mas
com a minha mulher quero ser Angelo, somente Angelo.
— Quero que me chame de Angelo. Você é a única mulher que pode
me chamar assim. — Ela me olha com intensidade e um lindo sorriso brota
em seus lábios.
— Eu te amo, Angelo. Meu Angelo.
Retiro seu short e me surpreendo com uma calcinha branca toda de
renda que faz meu pau ganhar potência máxima.
Puxo lentamente por suas lindas pernas e sem tirar os olhos de seu
rosto, que vai ganhando uma coloração rosada novamente e isso me encanta.
Pego uma camisinha na mesa de cabeceira e retiro minha cueca a fazendo
corar ainda mais.
— Sou seu homem, Isadora. Isso tudo pertence a você agora. —
Seguro sua mão e a levo para o meu membro que estremece ao sentir seu
toque. — Você é a minha mulher e tudo que tem aqui — Toco sua intimidade
que está molhadinha para mim. — é meu.
Seus olhos estão nublados de desejo e aproveito para excitá-la ainda
mais. Passo minhas mãos sobre sua perna e meus lábios acompanham os
movimentos de minhas mãos, seus gemidos de prazer são música para meus
ouvidos. Chego próximo à sua virilha e exalo seu cheiro e minha boca saliva
de desejo de sentir seu gosto.
— Quero que se abra para mim, Isadora. Vou me embriagar do seu
mel. — Ela aos poucos abre as pernas e fico maravilhado com tamanha
beleza e perfeição.
Passo meus dedos por toda a extensão de sua intimidade e sinto seu
mel em meus dedos. Aproximo minha boca e ela fecha as pernas.
— O que está fazendo, Angelo? — Pergunta com a voz rouca de
tesão.
— Quero sentir seu gosto, beber do seu mel e te preparar para me
receber. Abra suas pernas para seu homem, amore mio.
Ela abre as pernas e abocanho sua fonte de prazer como se fosse
alimento para a minha sobrevivência. Seu gosto é divino e me entorpece,
sugo e chupo seu ponto sensível e penetro meu dedo e sinto o quanto é
apertada, acelero o movimento e logo ela chega ao orgasmo em minha boca e
bebo tudo o que me oferece. Retiro meu dedo de dentro dela e chupo e seus
olhos se abrem em admiração. Tomo sua boca e seu gosto se mistura ainda
mais ao nosso beijo, posiciono-me no meio de suas pernas e aos poucos vou
penetrando. Ela é tão apertada que sinto como se estivesse estrangulando meu
membro, sei que deve ser dolorido, por isso, vou respeitando seu tempo,
mesmo que tenha vontade de fazer movimentos rápidos e fortes.
Vou entrando aos poucos até sentir a barreira. Forço um pouco
rompendo a barreira, seus olhos se arregalam e uma lágrima escapa, espero
um pouco e a beijo com intensidade para tirar o foco da dor e deixá-la mais
excitada. Devagar consigo me acomodar mais dentro dela e faço movimentos
leves e contínuos.
— Angelo. — Sua voz sai suave e cheia de tesão.
— Oi, amore mio.
— Quero que se movimente mais um pouco. — Sei que está
começando a sentir prazer.
— Como quiser. — Acelero meus movimentos e achamos o nosso
ritmo.
A entrega de Isadora ao nosso amor é total. Nossos corpos se
encaixam com perfeição e, pela primeira vez em minha vida, faço amor com
uma mulher. Assim como hoje é sua primeira vez, também é a minha. Ela me
estragou para qualquer outra mulher e nunca mais deixarei que saia da minha
vida, ela tem meu coração, minha mente e meu corpo para sempre.
O desejo cresce a cada movimento e sinto as paredes de sua
intimidade me apertarem e logo ela encontra o seu prazer e me encanto com
sua carinha de desejo, duas estocadas depois me derramo dentro dela no
maior gozo que já tive em minha vida; minhas forças são consumidas e caio
de leve sobre seu corpo desfalecido de prazer. Saio de dentro dela e retiro a
camisinha, amarro e me levanto para jogar no lixo do banheiro. Encho a
banheira com água morna e volto para o quarto e vejo o lençol sujo de
sangue. Tomo Isadora em meus braços e ela encosta a cabeça em meu peito e
a levo para o banheiro.
— Amore mio. — Ela me olha com um olhar cansado. — Tome um
banho, já venho me juntar a você.
Ajudo-a a entrar na banheira e se acomodar e volto para o quarto para
retirar a roupa suja de sangue. Sinto orgulho de ter sido o primeiro e único
homem da vida da mulher que meu coração escolheu. Troco a roupa de cama
e me junto a Isadora na banheira; sento-me atrás dela e a coloco entre minhas
pernas; ela encosta a cabeça em meu peito e com a esponja passo sabonete
líquido em seu corpo, tomamos um banho relaxante e assim que a água
começa a esfriar, levanto e me seco, puxo Isadora para os meus braços e
cuido de secá-la e levá-la para a cama.
Seu corpo está cansado, assim que a acomodo, deito-me do seu lado e
a trago para os meus braços, beijo sua cabeça e ela se aconchega em meu
corpo e logo adormecemos com nossos corpos cansados e saciados pelo
prazer.
*****
Acordo com o sol entrando pelas janelas e vejo Isadora nua ao meu
lado e ainda em um sono profundo. Pego uma mecha de seu cabelo e sinto
seu cheiro de baunilha, aconchego-me em seu corpo e me pego sorrindo ao
lembrar da nossa noite. Oficialmente ela é minha mulher.
Meu celular vibra sobre o criado-mudo e leio a mensagem de Enrico.
Alessandro e Samanta já estão no Forte.
Tomo um banho e me visto, vou até a cama e acaricio o rosto da
minha doce Isadora e saio em busca de um café e providencio uma bandeja
com seu desjejum para quando ela acordar. Deixo um lírio branco em uma
pequena jarra e um bilhete.
Bom dia, amore mio! Tenho um compromisso agora cedo, mas fiz
questão de preparar seu café da manhã e te deixar um lírio, para que não se
esqueça do quanto te amo. Te espero na sala branca para cuidarmos de
Bianca.
Do seu
A.V
Don Angelo
*****
*****
Os dias correm e as semanas passam rápido demais e hoje é o jantar
na casa de mamma.
Estou esperando Isadora descer com Luna e aproveito e degusto meu
whiskey. Ouço passos no andar de cima e as duas mulheres da minha vida
apontam no topo da escada, lindas como sempre, mas meus olhos focam na
minha mulher que desce com um vestido branco com transparência nas
pernas, ressaltando suas coxas. Sinto meu pau ganhar volume e um misto de
orgulho e ciúme me toma, mas me controlo, não quero deixá-la triste.
— Estão lindas. — Beijo a cabeça de Luna que está com um laço e
dou um beijo suave nos lábios de Isadora. — Vamos?
— Vamos. — Luna pula e bate palma.
Guio as duas para o carro e acomodo Luna na cadeira e afivelo seu
cinto de segurança, ajudo Isadora a se sentar e fecho a porta dando a volta e
me acomodando no lugar do motorista. Sigo para a casa de mamma
acompanhado por dois carros com seguranças. Depois do atentado de
Aleksander e o sequestro de Luna, aumentamos a segurança, agora, soldados
das duas máfias nos acompanham.
Estaciono na porta da casa e Alessandro abre sem olhar para mim. Sei
que não me perdoará nunca, mas uma traição é punida com a morte.
Entramos e somos recebidos por Elisa e Enrico que estão acompanhados de
Aleksander Ivanov, que abraça Isadora e beija Luna com intimidade e isso
me incomoda, mas não falo nada. Mamma surge da cozinha e abraça Isadora
e pega Luna no colo.
— Como está a princesinha da vovó? — Luna olha para Isadora
buscando alguma reação, mas Isadora sorri.
— Eu tô bem, vovó. — Mamma enche seu rostinho de beijos. —
Você é minha vovó?
— Sou. Agora tenho uma netinha linda e vou encher de mimos.
— Vai estragar a criança. — Enrico se pronuncia e arranca risada de
todos.
— Se tivessem me dado netos antes não precisaria mimar a única que
tenho.
— Vai demorar um pouco, mamma. Peça a Angelo, já que se casará
no final de semana.
Isadora aperta minha mão e percebo que fica pálida, a conduzo para a
sala e ela se senta e me apresso em pegar um copo d’água para ela.
— Está melhor? — Pergunto preocupado.
— Foi uma queda de pressão. Não me alimentei bem hoje e esqueci
de comer durante a reunião com os Capos.
— Vou preparar algo para comer enquanto o jantar não sai.
— Não precisa, amor. Já estou melhor.
— Mesmo assim pegarei alguma coisa, já volto. — Vou à cozinha e
encontro Georgia e uma outra senhora preparando o jantar. Cumprimento
com formalidade e vou até a geladeira pegar queijo, peito de peru e maionese,
faço um sanduíche e levo com suco para Isadora e Luna.
Chego na sala e vejo Isadora conversando com Aleksander e não
gosto do que vejo, a proximidade dos dois me incomoda e começo a ter
sensações desconhecidas por mim. Sinto uma mão no meu ombro e vejo
Enrico ao meu lado olhando a mesma cena.
— Controle-se, Angelo, eles são amigos. Aleksander quase morreu
para protegê-la e a ajudou a te salvar, se ele tivesse interesse nela não teria
dado o divórcio facilmente.
— Não gosto de outro homem perto dela, Enrico, me sinto estranho e
tenho vontade de quebrar a cara do desgraçado.
— Isso se chama ciúme, Angelo. — Gargalha e chama a atenção de
Elisa, que vem ao nosso encontro.
— O que os homens da minha vida estão cochichando?
— Não sou homem de cochichos, Elisa. — Falo para esclarecer.
— Deixa de ser ranzinza, Angelo. — Olho Enrico que ainda ri de
mim.
— Deixe-o em paz, Enrico, e lembre-se que você está indo pelo
mesmo caminho. — Olho meus irmãos e sinto que estou perdendo algo.
— Por que diz isso, Elisa? — Vejo-o ficar nervoso. Será que o seu
caso com a sobrinha do Padre Nicola está mais adiantado?
— Acho que quando Enrico se apaixonar será pior do que você. —
Fala sorrindo. — Ele é possessivo e a última mulher que se envolveu não
aguentou e saiu. — Gargalhamos juntos com a cara de Enrico.
— Ainda não encontrei a mulher que vai domar meu coração. — Fala
com determinação.
— Quero estar de camarote quando isso acontecer; lembre-se que
você também tem prazo para se casar, então, acho bom começar a procurar a
futura Sra. Enrico Vicentini.
— Você está de porre? — Enrico pergunta fazendo-nos rir. — Só
pode estar. Acha que preciso ficar procurando mulher? Elas se matam por
mim e quando for para eu me casar, farei um contrato de um ano e, depois,
voltarei para a minha vida de solteiro.
— Acho que isso está fora de cogitação, Enrico. — Falo ainda com a
bandeja de sanduíche e suco nas mãos. — Não pode haver divórcios na
máfia.
— Mas não falaram nada sobre ser viúvo.
— Cruzes! — Elisa se espanta.
O jantar foi servido e a conversa seguiu agradável. Convidei Enrico e
Elisa para meus padrinhos e Isadora chamou Aleksander e Julia para os seus.
Casaremos na capela da Fazenda, a recepção será no mesmo lugar e antes de
embarcarmos para a lua de mel, haverá outra cerimônia de união das
Organizações.
Capítulo 51
Don Angelo
Don Angelo
*****
Tudo está pronto para o funeral de Stefano. Seu velório está sendo na
Fazenda e toda a elite de Livorno fez questão de estar presente, afinal, se
tratava de um grande empresário que mudou o desenvolvimento da cidade
trazendo algumas empresas para cá. Dentre os presentes se encontravam
políticos, empresários, mafiosos e alguns funcionários das empresas e outras
pessoas que eu não conhecia. Nossa segurança estava completa e atenta a
tudo. Isadora e Luna eram vigiadas por Matteo e Austin e mamma e Elisa por
Filippo e Aleksander. Fico próximo ao caixão e olho para o homem que foi
responsável por grande parte dos meus traumas e profiro uma única frase.
— Já vai tarde.
Olho procurando por Isadora e não a encontro, vou até Austin e ele
diz que ela foi até o banheiro. Sigo para dentro da casa e vejo um homem
branco, de cabelos negros e mais baixo do que eu, de costas para mim e uma
Isadora assustada olhando para mim, como se pedisse por socorro. Apresso
meus passos e não consigo escutar o que ele diz. Isadora desmaia.
Capítulo 53
Isadora
Enrico
Agradecer às pessoas por uma história tão intensa como esta é uma
responsabilidade muito grande, mas quando somos cercados por sua amizade
e carinho, tudo fica mais fácil. Por isso, minha homenagem vai para essas
pessoas que, mesmo sem perceberem, foram o meu alicerce nessa caminhada.
Minha amiga e companheira de desafios (e loucuras) Vânia Nunes,
que me enxergou como nem mesmo eu me via. Obrigada por me emprestar
seus ouvidos e me desafiar quando achei que iria desistir.
A Julliana Muguet, minha filha amada, que é a primeira com quem
compartilho a ideia de uma história e sempre me motiva a prosseguir.
A Flávia Soares, que me apresentou um mundo novo dentro da escrita
e junto com seu blog, Apogeu Literário, tem me ajudado a difundir minha
escrita.
Existem também pessoas que ainda não tive o prazer de conhecer,
mas que acreditaram na minha capacidade de trazer novas emoções através
da página de um livro e, hoje, fazem parte do grupo do WhatsApp e do
Facebook, minhas Leitoras Apaixonadas. Obrigada por estarem comigo
nessa caminhada e transformarem este livro em sucesso. Agradeço a você
que chegou até esta última página. Obrigada a todos.
SOBRE A AUTORA
Desde muito nova, aprendi qual era o meu lugar junto ao meu pai:
nenhum. De que valor seria uma filha para o grande Stefano Ferrari?
Mulheres na máfia são usadas como moeda de troca e nada mais. O que
deveria me pôr para baixo, acabou sendo meu maior incentivo, e com a ajuda
do meu tio Domenico, eu também me tornei uma arma letal, e o melhor, sou
a peça surpresa em qualquer situação.
A ascensão da Castellar e a felicidade de minha família foram o
incentivo para que eu fosse a fundo descobrir o segredo que se tornou a base
de nossa interação familiar, e, ao mesmo tempo, desse de cara com os
inimigos que colocariam à prova todo o poderio que construímos até então.
Junte a isso a possibilidade de, finalmente, eu fazer as pazes com o meu
passado e poder reivindicar o coração daquele que tem mexido comigo nos
últimos meses, Aleksander Ivanov. Eu tenho sangue da máfia em minhas
veias e lutarei para manter a ordem e a paz em nossos domínios.
Eu sou a Consigliere da Castellar. Eu sou Elisa Vicentini Ferrari.