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Sumário

Palermo, Itália, 1982(Clã Orsini)


Palermo, Itália, 1985. Três anos depois...
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epilogo
“Na paz os filhos enterram os pais, na guerra os pais enterram os filhos.”
Heródoto
Palermo, Itália, 1982(Clã Orsini)
—Papai! Papai! O senhor chegou!— Uma linda adolescente de quinze
anos, com aparência angelical, entrou correndo na luxuosa sala de estar,
pulou no colo do homem e o encheu de beijos.

—A princesinha do papai! Giovanna, minha doce Gio!—O homem de


meia idade, vestindo um sóbrio terno preto, sentado em sua poltrona
preferida da sala, a abraçou, retribuindo os beijos e afagos.

—Papai! Não vejo a hora de entrar para a faculdade e começar logo a


trabalhar com o senhor nas empresas! Quero ajudar administrar os negócios
da família igual ao Lorenzo!— A adolescente falou entusiasmada.

Don Enrico Orsini, a olhou nos olhos retirou lentamente uma mecha de
cabelo loiro caída em sua testa, em seguida beijou o local e falou paciente:

—Não! Os negócios da família, continuarão sendo administrados apenas


por seu irmão Lorenzo e eu! Ele será um dia o meu sucessor e você será um
dia, uma médica! A médica mais bem sucedida de Palermo.

Don Enrico, não tinha como lhe explicar que na máfia mulheres não
faziam parte diretamente da organização. Nem tão pouco revelar em que
realmente consistiam os negócios da família e a sua condição de chefe
mafioso.

—Ah papai! Não quero ser médica! Quero cursar administração e


trabalhar com o senhor, igual ao Lorenzo!—A jovem falou fazendo
beicinho—Além disso, tenho medo de sangue e detesto hospitais!

—“Medo de sangue”— Foi o que Don Enrico pensou ao olhar com uma
expressão enigmática para a filha tão inocente. No fundo ela não sabia
exatamente em que consistiam “os negócios da família.”

—Não, querida! Além do mais ainda faltam três anos para você entrar na
faculdade! Então, daqui até lá, perderá esse medo, é o que todos dizem.
Uma senhora de aparência simpática, cabelos grisalhos, vestindo um
uniforme cinza de governanta, entrou na sala e interrompeu a conversa.

—Don Enrico, o almoço está servido! Gio... não preencha o horário de


almoço do seu pai com os seus caprichos! Ele sabe o que é melhor para
você...—A governanta que estava na família a anos, e que de certa forma
desconfiava de algo, aconselhou. Don Enrico sempre pode contar com
discrição da sua fiel Gemma.

Então, foram para mesa e o almoço seguiu como sempre. Desde que
ficou viúvo, Don Enrico Orsini, fazia questão de almoçar em casa com sua
única filha, sua caçulinha temporã, o seu xodó. O seu único filho homem,
Lorenzo Orsini, nem sempre estava presente e seu pai o compreendia.
Afinal, Lorenzo já era um homem feito, vinte e sete anos, estava sendo
preparado a tempos para um dia ser o seu sucessor. Isso fazia com que sua
carga de trabalho e seus horários não fossem tão regrados como o do seu
velho pai. Além do mais Lorenzo Orsini, jovem, bonito, solteiro, fazia
sucesso com as mulheres, no melhor estilo playboy mafioso e isso de certa
forma orgulhava Don Enrico. Então, com o tempo dividido entre os
negócios da família e aventuras amorosas com belas mulheres, ele nem
sempre estava com horários disponíveis para compromissos familiares
rotineiros.

Entre a doce e mimada Giovanna e o seu irmão Lorenzo, havia uma


diferença de idade de doze anos. Isso o tornava um irmão não exatamente
companheiro, mas sim um irmão protetor. Na verdade todos a mimavam
naquela mansão, era a caçula, a temporão, a princesinha. A Princesa da
máfia...
Palermo, Itália, 1985. Três anos depois...

—Ele entrou ali! Rápido! É uma rua sem saída! Agora ele não escapa!

O carro preto, cheio de capangas do clã Martinelli, perseguia pelas ruas


ensolaradas de Palermo, sem piedade, o imponente e veloz carro esporte
vermelho. Aquela altura Lorenzo Orsini já havia percebido que não foi uma
boa ideia dispensar seus seguranças naquela tarde e trocar seu carro
blindado. Tudo isso, em nome da privacidade de uma bela e conhecida
mulher casada, mas também para impressiona-la ainda mais com o seu
novo carro esporte. Ela teria sido uma isca? Pois, bastou deixa-la e a
perseguição deu inicio...

—Droga! Maldição! Rua sem saída!— Lorenzo gritou e pôs as mãos na


cabeça em sinal de desespero! Sabia que iria morrer, a máfia era impiedosa,
ele também já fora impiedoso por várias vezes. Ainda tentou escapar, mas
antes de tentar engatar marcha ré, foi trancado pelo carro preto que o
perseguia.

Um homem alto, mau encarado, usando um terno preto, desceu


rapidamente do carro, empunhando uma pistola prateada na mão. Agia
como se fosse o chefe do bando. Os outros que estavam no carro, desceram
rapidamente e ficaram na reta guarda. Tudo isso aconteceu em questão de
segundos.

—Fim da linha, Lorenzo Orsini! Don Alessandro Martinelli lhe manda


lembranças!— Ele anunciou em voz alta, como se quisesse ser ouvido pelos
sete cantos. Após o anuncio, disparou inúmeras vezes contra o homem de
trinta anos, ainda sentado no volante do seu belo carro esporte.

Então, foi assim, numa emboscada, com trinta tiros de pistola que a vida
do playboy mafioso Lorenzo Orsini, jovem, bonito, rico, único filho homem
de Don Enrico Orsini e que seria um dia seu sucessor nos negócios,
chegava ao fim. Após os disparados o bando fugiu e o local foi tomado por
repórteres e curiosos.

Don Enrico estava em seu escritório, sentado em sua cadeira presidencial


de couro marrom, fumando o seu charuto cubano de sempre. Os mais
variados problemas da organização criminosa que ele fundou a trinta anos e
chefiava disfarçada de empresa, chegavam até sua mesa. Porém, naquela
tarde as coisas estavam incrivelmente monótonas e uma angústia
inexplicável tomava conta do seu peito. Apesar dele não ser um homem
sensível, pois já estava habituado a anos de brigas e mortes entre o clãs
rivais que disputavam o território, ele estava gostando daquela sensação
estranha no peito. Algo muito semelhante ao dia em que seu irmão, seu
braço direito, seu consigliere, foi assassinado pelo velho Don do clã
Martinelli.

—Mas, ele teve o troco!— Ao relembrar o fato, Don Enrico falou com
seus botões, enquanto observava a fumaça do seu charuto se desfazer no ar
e relembrava a morte do Don rival. Porém, quando sua esposa faleceu, não
teve como dar troco, pois foi coisa do divino.

De repente o velho chefe mafioso, se viu olhando para os dois porta


retratos de prata que decoravam a sua grande mesa de mogno escuro e
percebeu que ali estava tudo que ele tinha de mais precioso nesta vida. Em
um deles era a foto de Lorenzo, o seu orgulho, tudo o que ele esperava de
um filho homem, o filho de um Don: Jovem, bonito, inteligente,
mulherengo, corajoso, empenhado nos negócios. O filho que todo Don
desejaria ter, um perfeito sucessor. No outro porta retrato: Giovanna, a sua
princesinha, caçula temporã, jovem, meiga, dona de uma beleza angelical.
Criada para usufruir de todo o luxo e dinheiro que um grande mafioso
poderia proporcionar a sua família, ainda mais se tratando da sua filhinha,
seu xodó. Porém, sem jamais ela saber muitos detalhes ou participar dos
negócios. Don Enrico desejava vê-la em segurança, exercendo uma
profissão respeitada, dentro da lei, casada e com filhos.

O telefone tocou e interrompeu os pensamentos do chefe do clã Orsini.


Aquela era a sua linha particular, nem mesmo a sua secretária tinha acesso.
Apenas pessoas muito influentes, apadrinhados, contatos estratégicos, tinha
acesso aquele número telefônico. Então, quando aquele telefone tocava, era
sinal que algo muito sério havia acontecido. Geralmente alguma noticia
ruim, alguma informação estratégica ou um pedido de ajuda de algum
afilhado.

—Alô! Don Érico Orsini?

—Sim! Em que posso ser útil?— O Don reconheceu a voz do chefe de


policia, mas não era conveniente cumprimenta-lo de forma amigável,
telefones podiam ser grampeados. Ele também, percebeu que houve uma
pausa do outro lado da linha.

—O seu filho, senhor... o senhor Lorenzo, o futuro Don...

Ao ouvir aquilo, ele sentiu um aperto no peito, um pressentimento, o


rosto do senhor de idade, se transformou em uma máscara de dor. Contudo,
possuía a frieza de um chefão experiente, adquirida em anos de guerra
contra a família rival. Após fazer um grande esforço para manter o
autocontrole, Don Enrico falou:

—Quanto tiros?

—Trinta tiros de pistola, senhor!

—A mando do clã Martinelli?

—Ainda não se sabe ao certo, mas provavelmente! Afinal, é o seu


principal inimigo! Haverá alguma retaliação, senhor?

—Não! Por hora, não! No momento, apenas desejo o melhor agente


funerário de Palermo! Não quero que minha filha, tão sensível, veja o irmão
com o rosto desfigurado. Além disso meu filho era um homem bonito e
vaidoso, ele não gostaria de ser visto assim no caixão! E obrigada por sua
lealdade de tantos anos...

Don Enrico Orsini, desligou o telefone, até ali ele tinha conseguido
manter o autocontrole, mas estava sem reação, mal podia acreditar naquilo.
Ele olhou em volta da sua sala e de repente todo aquele luxo pareceu sem
sentido. Toda aquela guerra por dinheiro, poder, dominação de território, já
durava anos e agora seu único filho homem estava morto. Restava apenas a
sua Gio, mas uma mulher não podia chefiar uma organização mafiosa, não
era aceito pelo código da máfia. Além do mais, mesmo se aceitassem, sua
Gio não foi criada, nem preparada para isso.

—Estou velho e cansado! Agora so restou a Giovanna, minha doce


Gio, minha princesinha. Preciso protege-la! So me resta duas opções:
Vingar Lorenzo ou proteger Giovanna! Mas como eu a protegeria? Pois do
jeito que essa guerra está, ela poderá ser a próxima...

De repente uma outra ideia lhe veio a mente, Don Enrico abraçou o porta
retrato de prata em cima da mesa com a foto de Lorenzo, apertou contra o
peito e falou entre lágrimas.

—Meu filho! Meu filho! Seu pai está velho e cansado! Mas, se eu não lhe
vingar, outro alguém com o seu sangue fará isso por mim! A sua morte não
passará impune!

Depois tirou um lenço de seda do bolso do terno italiano, enxugou as


lágrimas e tentou se recompor, pois precisava ser forte. A morte do filho de
um Don mexia com a cidade, especulações, cobertura da imprensa,
afilhados vindo prestar solidariedade, entre outros.

Após se recompor, pegou novamente seu telefone exclusivo e fez a


ligação telefônica que ele jamais pensou em um dia fazer na vida:

—Aqui é Don Enrico Orsini! Desejo marcar uma audiência com Don
Alessandro Martinelli!

Então, assim foi selado o acordo de paz, entre os dois clãs mafiosos
rivais Orsini e Martinelli. Já velho e cansado, sem um sucessor homem e
para acabar com aquela guerra sangrenta, ele que temia pela segurança da
sua agora única filha, mas no fundo sentia também vontade de vingar
Lorenzo. Don Enrico propôs um acordo e foi aceito pelo jovem Don
Alessandro Martinelli: A união das duas famílias, através do casamento da
sua princesinha Giovanna Orsini e do jovem e bonito chefe do clã rival Don
Alessandro Martinelli.
Capítulo 1
Dois meses depois...

Vestida de noiva, um arranjo de flores na cabeça, a jovem loira de


cabelos cacheados na altura do ombro, estatura mediana, olhos claros, rosto
angelical, mal conseguia acreditar que em poucas horas se tornaria
Giovanna Orsini Martinelli. Uma linda festa estava se iniciando nos jardins
da mansão Orsini ,era cinco horas da tarde e pelo o que ela observou da
janela do seu quarto, alguns convidados já haviam chegado.

—Como você esta linda Gio! Venha aqui, minha menina, me de um


abraço!— A velha governanta da mansão Orsini falou emocionada.

—Obrigada, Gemma! Mas a sua opinião é suspeita...— Após retribuir o


abraço apertado, a jovem falou com delicadeza e fez beicinho enquanto
encarava a velha senhora.

—Você é a noiva mais linda que já vi! Está feliz?—A mulher


perguntou entusiasmada, tentando lhe animar.

Aquela era o tipo de pergunta que Giovanna Orsini não sabia


responder. Enquanto observava a sua imagem refletida no espelho e uma
das moças do cerimonial arrumava discretamente a calda do seu luxuoso
vestido de noiva branco de renda francesa. Ela baixou a cabeça olhou para o
buquê de flores naturais que já estava em suas mãos e respondeu após uma
breve pausa.

—Eu... eu... eu não sei!

Realmente ela não sabia. Nos últimos dois meses, ela estava vivendo
meio que no piloto automático, pois foi uma tragédia e revelação atrás da
outra. Não foi nada fácil, para a linda garota de dezoito anos, criada como
uma princesinha, receber a notícia da morte do seu único irmão. O seu
irmão mais velho, provavelmente assassinado por inimigos mafiosos.
Então, somou-se a isso a revelação de que ele e seu pai também eram
mafiosos. Na verdade a fortuna do seu pai, “os negócios” da família que ela
sempre sonhou um dia ajudar a administrar, não passava de uma grande
organização mafiosa. Onde seu pai era o chefe e seu irmão era o seu
sucessor. Contudo, como se já não bastasse, o seu casamento arranjado de
ultima hora com o chefe do clã rival e suspeito de assassinar seu irmão:
Don Alessandro Martinelli!

—“Selar a paz na família”—A jovem repetiu em tom de deboche diante


do espelho, ao relembrar as palavras usadas pelo seu pai ao convence-la. A
governanta, sempre discreta fingiu não ouvir a sua menina pensando alto.

De repente bateram na porta do quarto:

—Senhorita Giovanna?—Era uma das moças do cerimonial— Tudo


pronto para a cerimônia. A senhorita já pode descer. O seu pai também já
lhe aguarda lá embaixo.

A jovem deu uma última olhada no espelho para a sua imagem refletida
de noiva, uma linda noiva com tudo do mais luxuoso. Porém, em sua
cabeça algumas perguntas pairavam: Não conseguia entender porque tinha
que se casar com o provável assassino do seu irmão? Não seria mais
coerente e justo, abandonar os negócio ilegais, entregar o caso do
assassinato a policia e viver o luto pelo irmão? Não... pois na máfia, onde
ela nasceu e cresceu sem saber, as coisas não funcionavam dessa forma.
Além disso existiam regras, crimes e acertos de contas de ambos os lados...

—Obrigada, já estou descendo...

—Toda a felicidade do mundo para você, minha menina.—Foram as


palavras finais da governanta que estava na casa desde que Gio ainda era
um bebê, ao lhe da mais um ultimo abraço.

—Obrigada Gemma.—A jovem retribuiu com um abraço apertado.

Antes de larga-la e deixa-la descer, a senhora segurou seu rosto com as


duas mãos, a olhou nos olhos e falou:
—Não fique com essa cara! Você vai ser feliz ao lado do seu marido.
Don Alessandro Martinelli é jovem, bonito, rico, cobiçado pelas mulheres.
Aposto que tem muita moça que desejaria estar em seu lugar.

Gemma, apesar de saber que aquilo era um casamento arranjado, até


desconfiava o motivo, preferia fingir que não sabia de nada. Assim como
ela sempre fingiu durante anos e sempre usou sua discrição e lealdade em
relação ao seu patrão Don Enrico.

—Não sei Gemma...—Giovanna falou confusa—Mas, prometo tentar.


Agora deixe-me ir, pois papai me aguarda lá em baixo e já avistei da janela
vários convidados no jardim.

Giovanna deixou seu quarto de solteira e seguiu pelo longo corredor de


paredes brancas e cheio de portas dos quartos. Bem na metade do corredor
havia uma bela escada de mármore italiano que dava acesso ao térreo da
casa, para ser mais preciso, a sala de visitas. Enquanto caminhava
lentamente pelo corredor, vestida de noiva, com moças do cerimonial
segurando a longa calda do vestido, Gio parecia mais uma linda princesa
loira, saída dos contos de fadas.

Finalmente Gio chegou até a escada e la do topo, ao olhar para baixo, ela
avistou seu pai, ao lado da escada, aguardando para leva-la ao altar e
entrega-la a don Alessandro Martinelli.

Don Enrico, vestia um elegante terno preto, feito especialmente para


aquela ocasião. Afinal, apesar dele possuir vários ternos pretos elegantes,
não era todo dia que um importante chefe mafioso, casava a sua única filha.
Em seu rosto emoldurado por cabelos grisalhos, ele carregava uma
expressão solene. Aquela expressão não lembrava em nada a alegria de um
pai casando uma filha e sim obrigação, seriedade.

—Você está linda, Gio! Minha princesa!— Don Enrico falou, tentando
disfarçar a emoção que sentiu ao ver a filha, vestida de noiva, descendo
lentamente as escadas.

—Obrigada, papai, mas o senhor é igual a Gemma, também é suspeito


em falar!—A jovem respondeu mimada— E se gostou tanto do que viu,
por que esta com esta expressão séria no rosto? Afinal, foi o senhor que me
convenceu e determinou que eu deveria me casar com o tal Don Alessandro
Martinelli.

—Não vamos recomeçar com isso, Gio. Eu sou assim mesmo, um


homem sério de poucas emoções.— Ele falou impaciente.

—Sei disso, mas não comigo!—Ela respondeu fazendo beicinho, com os


mimos de sempre.

—Porque você é minha princesinha. Agora vamos! Os convidados e seu


futuro marido nos espera no jardim.— Ele lhe ofereceu o braço e ela
aceitou, na outra mão o buquê—Mas ela ainda fez uma pausa e perguntou.

—Não entendo, se o senhor diz que está velho e cansado, e se esse


homem é suspeito de ter assassinado o Lorenzo, porque o senhor
simplesmente não abandona esses negócios e entregamos as investigações a
policia. Então, recomeçaríamos uma vida nova.

Seu pai olhou sério para ela, não parecia mais aquele que a chamava de
minha princesinha e falou:

— Como filha de um mafioso, aprenda que não existe ex mafioso e


dentro da organização, temos nossas próprias leis. Agora vamos, todos
estão nos aguardando.—ele respondeu sério.

A jovem calou-se e atravessou a luxuosa sala de estar com uma aparência


resignada, até a imponente porta principal que dava acesso ao jardim.
Afinal, aquela altura, faltando apenas alguns minutos para a cerimônia, não
era mais hora para discutir aquilo.

—Esta bem papai...

Giovanna não sabia, naquele momento, descrever suas próprias emoções.


Em relação ao casamento, não estava feliz, pois não via necessidade
daquele acordo e não estava em seus planos se casar tão jovem, sem amor.
Porém, também não estava triste, já que não era apaixonada por nenhum
garoto da sua idade, em especial. Apesar de achar esquisito, estar indo rumo
ao altar casar com um inimigo, como seu pai o intitulava. Inclusive na noite
anterior não conseguiu dormir direito, pensando que dentro de vinte e
quatro horas seria Giovanna Orsini Martinelli e como seria seu noivo. Não
fisicamente, mas como seria ele como pessoa.

O Seu futuro marido para ela era um completo estranho, já que seu pai
não achou seguro nenhuma espécie de aproximação com ele, antes dela esta
oficialmente casada e ser a senhora Martinelli. Quanto ao noivo, parece que
igual ao seu pai, também, estava encarando aquilo como um negócio e
parece que também não tentou conhece-la pessoalmente. Então, tudo que
um sabia a respeito do outro, era baseado em notas de colunas sociais, onde
ele aparecia sempre acompanhado por belas mulheres. Ela já tinha
constatado que era um homem bonito, fazia o estilo homem de negócios
bem sucedido e cobiçado pelas mulheres. Porém, diferente do seu irmão,
tinha um rosto de semblante fechando.

Giovana não sabia nem ao menos o que sentir por ele, já que ele era
suspeito do assassinato do seu irmão, em compensação, para a sua
decepção, já sabia que seu irmão e seu pai também eram responsáveis por
alguns assassinatos na família do seu futuro esposo.

O tapete vermelho que conduzia a noiva até o altar armado no jardim,


estrategicamente se iniciava na porta principal da mansão Orsini. Então, as
pesadas portas da mansão se abriram, pai e filha surgiram, caminhando
lentamente rumo ao altar ao som da marcha nupcial. Sob olhares de
admiração de belas mulheres e homens elegantes, pessoas da alta sociedade,
afilhados de Don Enrico, membros da organização. Devido ao luto e as
acontecimentos, seu pais achou melhor não fazer uma festa de proporções
faraônicas, como seria o casamento de Giovanna Orsini em condições
normais. Mas, aquela não era uma situação normal...

O jardim verde e florido, com varias mesinhas brancas espalhadas ao


longo da grama, um tapete vermelho que conduzia a noiva até o altar, uma
orquestra que tocava a marcha nupcial e no altar com uma expressão séria
no rosto, Don Alessandro Martinelli. Um belo homem de trinta anos, um
metro e noventa de altura, moreno, cabelos castanhos, olhos cor de mel e
com uma leve barba sempre bem feita, aparada. Ele usava um terno italiano
preto, camisa branca por dentro e tinha uma expressão séria no rosto, que
aliás era a sua marca: bonito, charmoso, bem sucedido, cobiçado pelas
mulheres, dono de uma expressão séria e olhar de gelo.

Gio caminhava para o altar, como se estivesse meio que em um sonho


nebuloso, uma espécie de transe. Apenas enxergava ao longe o rosto de
Don Alessandro, sério a aguardando no altar. Ela tinha que admitir que era
um belo homem e que em condições normais, existiria grandes
possibilidades dela se apaixonar por ele, mas aquela não era condições
normais. Ela despertou do transe, quando ouviu já no altar, seu pai apertar a
mão do noivo, como mandava a tradição e lhe entregar, mas não ,sem antes
dizer com uma voz firme e um olhar severo.

—Eu estou lhe entregando o meu maior tesouro! Cuide bem dela! Você
me deu sua palavra.

—E ela será cumprida! Um Martinelli, tem apenas uma palavra.—O


noivo falou sério e olhou firme para don Enrico. Em seguida, don
Alessandro, gentilmente segurou a mão de Gio e ambos ficaram diante do
padre.

A cerimonia rápida prosseguiu sob os olhares dos convidados. Alguns até


curiosos e intrigados. Afinal, Don Enrico, estava casando sua única filha
com seu maior inimigo?
Capítulo 2
—Então, eu os declaro, marido e mulher! Pode beijar a noiva!— foram
as palavras finais do padre Pietro, amigo da família a anos. Don Enrico,
apesar do seu histórico como mafioso, era um homem religioso.

Aquelas palavras acordaram Gio da espécie de transe que ela estava


vivendo durante a cerimonia. Então, ao ver Don Alessandro virar-se para
ela, após as palavras do padre, simplesmente não sabia como agir. Porém, o
viu desmanchar a expressão séria no rosto, olhar para ela com um sorriso
enigmático, toma-la nos braços e colar seus lábios quentes aos dela. Aquele
beijo a pegou de surpresa, pois devido as circunstâncias do casamento e a
forma séria que ele havia se comportado durante toda cerimonia, esperava
um simples beijo, apenas para cumprir a tradição.

Os braços fortes de Don Alessandro, envolveu seu corpo delicado, mas


cheio de curvas atraentes. Gio sentiu suas mãos grandes tocarem suas costas
e ao mesmo tempo fazerem um leve carinho com os dedos na parte em que
o vestido não cobria e que ficava por baixo do longo véu de noiva.
Enquanto isso, seus lábios quentes e experientes exploravam sua boca, que
apesar de já ter sido beijada, em nada se comparava aos beijos recebido por
um namoradinho ou outro da sua idade. Aquilo lhe provocou uma arrepio
na coluna e um frio na barriga inesperado.

Quando ele a largou, ela estava sem folego e ao mesmo tempo sem graça,
não esperava um beijo tão atrevido ali na cerimonia, diante dos convidados
e do seu pai. Na verdade, não esperava, beijo caliente nenhum vindo
daquele homem bonito, mas de semblante fechado, sério. Ele a olhou e
sorriu de forma cínica, como se tivesse feito de proposito. Mas, ela não teve
tempo de questionar nada, pois a troca de olhares fora interrompida pelo
cerimonial. Eles começaram a orientar onde deveriam sentar, como noivos,
para começar a receber os cumprimentos dos convidados.

—Meus parabéns, Don Alessandro, senhora Martinelli, foi uma linda


cerimônia.—Falou um homem alto elegante, de aproximadamente
cinquenta anos. Ela observou que ele fez um gesto respeitoso ao inclinar
cabeça em sua direção e também apertou a mão do seu agora marido.

— Obrigada, Fabrizzio! —Don Alessandro, respondeu com


familiaridade, provavelmente pertencia ao seu lado. Gio não imaginava que
aquele era o seu consigliere, o conselheiro que todo chefe mafioso possuía
dentro da organização.

—Obrigada.—Giovanna respondeu tímida.

Ela não era uma garota tão tímida, mas apesar de estar em casa, não
estava se sentindo a vontade. O casamento tinha poucos convidados e
ninguém da sua idade, o seu pai não achou prudente convidar as poucas
amigas, temia que ela falasse demais, fizesse alguma confidencia no calor
da emoção. Então, maioria daquelas pessoas ela nunca viu. Uns eram da
organização do seu pai, outro membros do clã inimigo chefiados por Don
Alessandro. Isso ficava claro, pela forma diferente de olhar em relação ao
noivo ou a noiva, ao se aproximar para cumprimentar. Apesar de Gio esta
sentada lado a lado com seu marido, sozinhos na mesa recebendo os
cumprimentos, as expressões corporais de ambos demonstravam pouca
intimidade entre o casal.

A recepção seguia normal, convidados circulavam pelo jardim, uma


pequena orquestra tocava musicas clássicas em som ambiente e alguns
convidados ainda estavam a vir cumprimenta-los. Da mesa, Gio observava
seu pai, sentado em outra mesa próxima, com a aparência séria de sempre,
a conversar com quem pareciam velhos amigos, parceiros de negócios. De
tempo em tempo, Gio via seu pai, da uma discreta olhada para a lateral,
como se quisesse verificar se estava tudo bem com ela, como Don
Alessandro a estava tratando. Contudo, ali bem diante das pessoas não tinha
como seu marido fazer nada contra ela ou ser grosseiro. Aquele jeito sério e
frio, era o seu jeito normal, talvez a pouca intimidade com a noiva também
contribuísse, além do fato de estar em território inimigo. O que dava para
ver pela forma que alguns homens se posicionavam discretamente como se
fossem seus seguranças. A cada olhada do seu pai, Gio piscava e dava a
entender com o olhar que estava tudo bem, mas foi numa dessas olhadas
que ela se surpreendeu.
Gio, viu seu velho pai, arregalar os olhos, colocar a mão no peito
esquerdo e fazer uma expressão de dor. Ela se assustou, levantou
rapidamente e correu em direção a mesa dele que ficava próxima a lateral
da mesa dos noivos.

—Papai! Papai! Está se sentindo bem? —A jovem noiva, perguntava


aflita, agarrada ao pai, que estava com uma expressão pálida no rosto e
parecia sentir dor.

—Senhorita Giovanna, perdão, senhora Giovanna! É melhor levarmos


ele para o quarto! Tira-lo da festa!—Falou Luigi, o secretario particular do
seu pai.
—Sim! Por favor, ajudem! Tirem o daqui! O levem para dentro da casa,
para o seu quarto!

A jovem falava aflita, enquanto corria levantando com as mãos a saia


do seu vestida de noiva, o buque que nem ao menos teve tempo de jogar,
deixou caído no jardim. Enquanto seguia correndo acompanhando os
homens que carregavam seu pai, consciente, mas com dor. Don Alessandro,
ao longe, ainda sentado na mesa, observava a cena, não se sentia
confortável em ajudar e nem sentia vontade de ajudar a quem
provavelmente foi o responsável junto com o filho pela morte do seu pai a
três anos atrás.

A orquestra ainda tocava, quando Gio, antes de entrar na mansão, olhou


para trás brava e surpreendeu a todos, bem diferente do seu jeito meigo.

—Parem a música! Parem esta maldita orquestra!

Os músicos, ficaram sem saber o que fazer, pois o dono da casa, estava
passando mal, mas e os convidados? Afinal, deveria obedecer a jovem
noiva, quase garota? Eles olharam na direção do noivo, que impunha
respeito so com um olhar. Don Alessandro, com um aceno de cabeça, fez
que sim e a orquestra parou. Era preciso, saber o que estava acontecendo
com Don Enrico, para da continuidade a festa.

—Por aqui! Coloquem ele na cama! Devagar! — Gio falava aflita,


enquanto os homens entravam no quarto de Don Enrico e o colocava na
cama.— Luigi, ligue para o médico particular do papai, rápido!

—Sim, senhora Giovanna, ligarei imediatamente!— Luigi, falou antes de


deixar o quarto as pressas.

Don Enrico deitado na cama, sem o paletó, camisa aberta no peito,


respirava com dificuldade. Tudo levava a crer que era um infarto. Sentada
ao lado da sua cama, ainda vestida de noiva, Gio aflita, tentava disfarçar
para tranquiliza-lo.

—Calma, paizinho... o médico chegará rápido...—Ela falava com


carinho, enquanto segurava a sua mão pesada.

—Gio, minha princesinha! Agora a única que restou...— Ele falava com
dificuldade.

—Não fale assim, o senhor ainda está vivo e ainda vai viver muitos anos.
— Ela falava chorosa, enquanto acariciava a face do seu pai, deitado na
cama.

—Gio, não sei se tenho muito tempo, mas preciso lhe falar sério! Vá até
a porta e passe a chave, não quero que nos interrompa e nem ouça o que
quero falar.

—Papai... porque isso agora? Fique calado, descanse, esperemos juntos o


médico.

—Por favor, Gio, faça o que estou pedindo.

A jovem, meio a contra gosto, levantou da cama, foi até a porta do quarto
e passou a chave. Qualquer pessoa que desejasse entrar, precisaria bater na
porta e esperar abrir. Ela voltou e sentou novamente ao lado do pai na cama.
Assim, que ela sentou, Don Enrico, sentiu a dor aumentar novamente e
temendo que não tivesse mais tanto tempo pela frente para falar, agarrou o
pulso da filha de forma desesperada e falou olhando em seus olhos.

—Mate-o! —Don Enrico, falou com dificuldade e olhos saltados.


—O que? —Gio se assustou, com a expressão de seu pai, as palavras e a
pressão em seu pulso.

—Isso mesmo que você ouviu! Mate-o da mesma forma que ele matou o
seu irmão!

Assustada com aquele pedido inesperado para ela, a jovem deu um pulo
da cama, levantou-se e ficou de pé ao lado.

—Papai? O que esta me pedindo? Matar o meu marido? Eu não sou uma
assassina! —A jovem, limpou as lágrimas e falou assustada.

—Sim, o seu marido! Como esposa, você será a única que dormirá ao seu
lado sem seguranças! Vingue o seu irmão!

— O senhor me convenceu a este casamento arranjando em pleno anos


oitenta, com o pretexto de selar a paz! Achei que iria me pedir um neto para
selar definitivamente e não mais sangue!— A jovem falava horrorizada,
enquanto, colocava as duas mãos no próprio rosto e andava em volta da
cama.

—A pistola prateada que pertenceu a Lorenzo, está no criado mudo.


Leva-a consigo e na primeira oportunidade use-a contra ele!

— Não matarei! Não existe ainda provas concretas e mesmo que


existisse, não sou uma assassina! Se necessário, prefiro entregar o caso a
policia.—A jovem sentou novamente ao lado da cama e seu pai voltou a lhe
segurar pelo pulso.

—Eu não criei uma Orsini, eu criei uma fraca! Honre o sangue que corre
em suas veias! — Don Enrico falou visivelmente exaltado, aquela
discussão, estava piorando o seu estado de saúde e o médico, demorando a
chegar.

—Prefiro ser uma fraca que uma assassina! Se for preciso, honrarei o
sangue que corre em minhas veias fazendo o certo, dentro da lei e não
derramando mais sangue! — Ao dizer isso a jovem, puxou bruscamente seu
braço da mãos do pai.
Don Enrico ao ouvir aquilo, ainda apontou para a gaveta do criado mudo,
Gio entendeu o que ele ainda estava mostrando. Porém, antes que ele
falasse mais alguma coisa, o seu rosto foi tomado por uma expressão de
dor, levou a mão ao peito e deu seu suspiro final. Don Enrico Orsini, estava
morto.

— Papai! Papai! Paizinho! Fale comigo!— Gio o sacudia desesperada.


Até que levantou correndo, destrancou a porta e como uma louca vestida de
noiva, arrancou o arranjo de flores da cabeça e seu véu que a estava
atrapalhando e desceu as escadas correndo.

— Gemma! Gemma ! Luigi!!! O papai! — Foram as ultimas palavras


dela ao desmaiar na porta principal de saída para o jardim. Onde foi
amparada pelos braços fortes de Don Alessandro, que naquele momento ao
ouvir gritos dela se preparava para entrar na casa.

A festa se desfez, pela cara e desespero da noiva, todos já previam o que


deveria ter acontecido. Agora o que foi uma cerimonia de casamento, se
tornaria os preparativos de um velório. Algo que ninguém poderia prever
que aconteceria.
Capítulo 3
—Meus pêsames, senhora Martinelli!

—Obrigada!—A jovem respondeu chorosa, enquanto levava o lenço ao


nariz.—Apesar do momento, ainda percebeu o quanto soava estranho aos
seus ouvidos, ser tratada como esposa de Don Alessandro Martinelli.

Vestida com um elegante vestido tubinho preto Channel, óculos escuro


Dior e sentada ao lado do caixão do seu pai, Giovanna Orsini Martinelli,
realizava a tarefa mais dura de toda a sua curta vida: velar o seu querido
pai! Apesar de todas as descobertas e do seu ultimo pedido, ela o amava.

A sua fiel Gemma, se mantinha firme ao seu lado, com um choro


discreto enxugado por um lencinho branco na mão e abraçada a sua menina,
que a cada cumprimento, se desmanchava em lágrimas. Contudo, do seu
lado esquerdo, estava seu marido, Don Alessandro, precisava cumprir o seu
papel de marido e estar ao lado da sua esposa naquele momento tão difícil.
Um mafioso honrava e zelava pela família. Até mesmo quando para isso
precisava velar alguém que até pouco tempo atrás era um perigoso inimigo.
Na verdade se Don Enrico, não tivesse morrido de morte natural, ele seria o
principal suspeito e jamais se atreveria a estar ali naquele momento. Porém,
não foi o caso.

Don Alessandro, alto, bonito, vestia um terno preto, com camisa cinza.
Carregava uma expressão série e solene no rosto. Não se sentia a vontade
para acalentar Gio com carinho, a cada pêsames onde ela se desmanchava
em lagrimas e se abraçava a sua Gemma. Porém, foi com surpresa que num
desses cumprimentos, Gio sentiu discretamente uma mão grande, segurar
com força a dela, por trás do caixão, em sinal de solidariedade. Foi a forma
que seu marido achou de conforta-la pela primeira vez ali no velório. Gio se
surpreendeu, ficou calada e apenas olhou para ele, apesar dos óculos escuro,
com um certo ar de timidez. Enquanto isso, afilhados, membros da
organização, autoridades não paravam de chegar para prestar sua ultima
homenagem ao velho Don.

Então, as cinco horas da tarde, finalmente Don Enrico foi sepultado,


exatamente vinte quatro horas após o casamento de Giovanna. No cemitério
havia várias pessoas, mas Gio pediu para que apenas os mais íntimos
tivesse acesso ao sepultamento em si. Antigos amigos, que ela costumava
ver frequentar a mansão Orsini como convidados e que depois se trancavam
no escritório para falarem de negócios, observavam a cena um pouco mais
afastados. Alguns até olhavam com um olhar atravessado para Don
Alessandro, pois nem todos concordavam com a estratégia de Don Enrico
em unir os clã, pelos menos foi a explicação inicial dele. Contudo, ao lado
do mausoléu da família, observando os momentos finais, enquanto o corpo
era sepultado, estavam apenas a fiel governanta Gemma, Gio e seu agora
esposo. Ele como se estivesse ali como forma de cumprir o papel de genro,
apesar de tudo ser muito recente.

—Paizinho... sentirei sua falta! Não me deixe....— Gio começou a chorar


descontroladamente nos momentos finais, até que para uma garota jovem
em mimada ela tinha sido forte durante todo o velório.

Gio, se abraçou ao caixão, que já estava sendo colocado no tumulo,


parecia uma menina desamparada. A sua Gemma, ficou sem saber quem
deveria conte-la, ela ou o seu marido que estava ali do lado. Alessandro,
entendeu o olhar de dúvida e hesitação da velha governanta e delicadamente
conteve Gio, acalentando-a com um forte abraço e a fazendo encostar a
cabeça em seu peito másculo.

—Obrigada...— Gio falou baixinho, sem graça, enquanto encostava a


cabeça em seu peito e se sentindo acalentada dentro daquela abraço
protetor.

—Não precisa agradecer, sou seu marido agora e minha obrigação é


cuidar de você. Prometi isso ao seu pai e apesar de todas as desavenças um
Martinelli tem apenas uma só palavra.— Ele falou sério, enquanto Gemma,
discretamente observava a cena e se sentia mais aliviada ao ouvir a
promessa dele. Ela nutria uma afeição especial pela jovem.
—Seu marido tem razão, querida. Agora vamos... é hora de retornar para
casa. Seu pai agora descansa nos prazos do pai eterno, assim como sua mãe
e o seu irmão.

Gio não protestou, apenas deu uma ultima olhada para o jazigo, após
Alessandro, relaxar um pouco o abraço e leu com um olhar triste as
inscrições no jazigo da família: Senhora Antonella Orsini, Lorenzo Orsini,
Don Enrico Orsini. Então, ela saiu caminhando lentamente, com seu marido
ao seu lado, segurando firme a sua mão e Gemma os acompanhando.

Após cruzar os muros do lugar e um pouco antes de entrar no carro,


Gio deu uma última olhada para o imponente portão alto do cemitério de
Palermo. Ali ela estava deixando enterrado tudo de mais importante que já
houve em sua vida e agora precisava seguir em frente. Porém, não fora
preparada para tal situação...

—Vamos, querida...—Foram as palavras da sua governanta, ao tocar em


seu braço, pronunciadas de forma gentil, ao lhe ver parar e olhar para trás.

A jovem ainda hesitou um pouco, mas sentiu a mão forte de Alessandro


lhe tocar gentilmente as costas e lhe encorajar a entrar no carro, ocupando o
banco da frente.

—Vamos Giovanna!— Ele falou com seu jeito sério, mas seu olha
denunciou um pouco de carinho.

—Por favor, senhora.—Alessandro fez menção para que a governanta


também entrasse e ocupasse o banco traseiro do veiculo.

Em seguida Alessandro assumiu o volante do seu lamborghini preta, em


um momento tão intimo, achou melhor dispensar o motorista. Então, seus
seguranças entraram no carro de trás e seguiram os escoltando, enquanto se
dirigiam a mansão Orsini. Gio se manteve calada durante todo o caminho,
não tinhas mais lágrimas e estava se sentindo meio que anestesiada pelos
acontecimentos. Porém, quando os portões da mansão se abriram e seu
marido estacionou o carro no estacionamento reservado as visitas, a ficha
caiu para ela ao ouvir suas ordens.
—Giovanna, como minha esposa, quero que arrume toda as suas coisas e
a partir de hoje a noite você já dormirá comigo na mansão Martinelli. Ela
agora é o seu novo lar.— Ele falou sério, enquanto a encarava ainda dentro
do veiculo.

—Heim? Como assim? Já hoje? Preciso de um tempo! — ela protestou.

—Não! Agora sou responsável por você! Não era isso que seu pai queria
ao arranjar o nosso casamento? Não acho prudente, você ficar mais alguns
dias sozinha, apenas com os empregados, nesta casa. Você é jovem demais,
esta vivendo uma fase difícil e seu pai tinha inimigos!

—Eu não estou sozinha! Estou com a Gemma, ambos somos muito
afeiçoadas. — Gio tirou os óculos escuros que usou durante toda
sepultamento e o encarou ainda sentada no banco da frente e ele no volante.

A governanta no banco de trás, ouvia a conversa aflita, pois não queria


discursões entre o jovem casal, mas não se sentia a vontade para se
intrometer. Ainda mais em se tratando das ordens daquele homem tão sério
e que ela foi acostumada a ouvir falar como um inimigo. Além do mais ela
também achava, que se Gio ia morar com seu marido e da continuidade ao
casamento, que você logo de uma vez. Mas estava triste, pois não queria se
separar dela e também não queria se aposentar como governanta ainda.

— A senhora Gemma, virá conosco! Já que você diz que são muito
ligadas e a mansão Martinelli é grande. Ela pode ser uma espécie de
secretaria pessoal exclusiva sua.— Ele falou com uma expressão
compreensiva e a governanta ficou muito feliz em ouvir aquilo, mas não se
sentiu a vontade em agradece-lo de forma entusiasmada.

—Obrigada, Don Alessandro.

—Obrigada, ficou feliz em poder levar a Gemma comigo.

— Não precisa agradecer, quanto aos empregados da mansão Orsini,


falarei com o meu advogado para providenciar de forma legal a demissão
deles. Não tem sentindo manter esta casa aberta, sem ninguém morando
nela.
O casal e a governanta entraram na casa, cada um se sentindo
desconfortável a sua maneira. Gemma, por entrar usando a porta principal,
destinada a familiares e visitas. Alessandro, por está na casa daquele que
foi o maior inimigo do clã Martinelli, mas agora era oficialmente seu sogro
e estava morto. Gio por entrar na casa em que ela nasceu, brincou, correu,
sorriu, foi mimada, tudo isso pelo seu pai, seu irmão Lorenzo e agora estava
vazia. Apenas os empregados a espera das ordens finais para fechar a
mansão, que nem seria dada por ela e sim pelo advogado do seu marido.

Alessandro, entrou na casa e parou no meio da luxuosa sala de visitas


se sentindo pouco a vontade. Apesar de já ter estado ali no dia do
casamento, tudo foi muito breve e a morte de don Enrico durante a festa
causou tumulto que não deu para pensar em muita coisa.

—Espere aqui na casa. Gemma, providencie algo para Don Alessandro


beber, enquanto arrumamos as nossas coisas.

—O que deseja beber senhor?

—Aceito um bom copo de whisky.

—Quanto a você Giovanna, que pare de me chamar de Don Alessandro,


não sei se você lembra, mais estamos casados a mais de vinte e quatro
horas.

—claro que eu lembro, foi força do hábito!

— Claro, senhor! Providenciarei.

A governanta tocou uma sineta e um mordomo surgiu, pouco tempo


depois, Alessandro, estava sentado na luxuosa cadeira preferida de Don
Enrico, sem nem ao menos saber disso. Mas Gio e a senhora Gemma,
lembrou e se olharam como se comunicassem mentalmente.

Gio subiu a luxuosa escada que dava acesso ao andar superior onde
ficava os quarto. Mas no meio da escada, parou e olhou para trás, se
dirigindo ao marido que estava na sala.
—Espero que você seja um homem paciente, ao menos que queira nos
deixar e nos duas iremos em seguida para a mansão Martinelli, terá que
esperar um pouco! Pois, tenho muita coisas pessoais para levar. O meu
armário é enorme.— Gio falou de forma atrevida, em revanche pelo jeito
que ele havia lhe corrigido.

—Não, minha querida, não sou um homem paciente, nem com o tempo
nem com garotas mimadas. Estou fazendo algumas concessões temporárias
para você, devido a toda situação difícil e tão recente que você está
vivendo. Mas quanto as roupas, peguem apenas as peças mais necessárias
pessoais e do seu enxoval de noiva, pois não tenho a tarde toda. Os
empregados podem arrumar todo o resto e enviar amanha para a sua nova
casa.

—Então, você pode ir e a Gemma e eu iremos em seguida! Posso dirigir


ou pegamos um taxi, pronto!

—Não! Eu retornarei hoje para casa, levando comigo a minha esposa!—


Ele falou de forma autoritária e isso a deixou se argumentos. Além de está
cansada emocionalmente, para protestar.

Quando Gio chegou até seu quarto de solteira, todo um filme se passou
em sua mente. Desde o beijo de boa noite que seu pai costumava vir lhe da
todas as noite até olhar pela janelas ver a piscina e lembrar do Lorenzo que
era um exímio nadador e quando ele estava disponível, ambos se divertiam
juntos na piscina. Um sentimento ruim de angustia e saudade lhe apertou o
peito e ela somente não derramou mais lágrimas, porque os olhos pareciam
estarem secos pelas próximas horas, já que havia chorando muito desde o
velório e sepultamento do pai.

Gio pegou duas grandes malas vermelhas abriu seu armário e tentou
observar rapidamente o que deveria levar, o que era básico. Considerando
que ela era uma moça vaidosa, cheia de roupas, sapatos, cremes joias.
Então, ela tentando escolher, começou a colocar nas malas as suas peças
favoritas. Até que chegou numa parte do guarda roupa em que estava seu
enxoval de noiva, eram mais peças intimas já que a casa onde iria morar já
era toda montada e pertenceu aos pais do seu noivo que agora morava nela
apenas com os empregados. De repente caiu a ficha e ela pensou.
Nossa...se tudo tivesse corrido normal, hoje seria a minha noite de
núpcias... Não sei se estou pronta, mas também não sei o que passa pela
cabeça deste homem que pra mim ainda é quase um estranho. Posso até
levar inicialmente algumas peças, mas hoje a noite eu não serei dele!

Então, Gio terminou de encher as duas malas, olhou para elas e para o
seu quarto com um ar melancólico.

—Terminei... acho que isso me basta por uns dez dias... Agora vou até o
quarto do papai. Gostaria de me despedir, pois não sei se quero ficar
voltando sempre aqui...

A jovem saiu do quarto, caminho pelos corredores sem ninguém,


Gemma estava fazendo suas próprias malas, os empregados estavam
ocupados e seu marido a aguardava na sala de visitas. Ele não se sentiria
confortável em subir, se via como na casa de um inimigo, um estranho e ele
tinha razão.

Quando Gio entrou no quarto do seu pai, algumas lágrimas lhe rolaram
pela face. Ela se recordou de tudo que vivei ali, quantas vezes menina,
correu e pulou na cama para acorda-lo. Contudo, os seus olhos verdes se
escureceram ao lembrar dos momentos finais que passou ali ao lado da sua
cama e do seu pedido final. Como ela amava o seu pai, apesar de ter sabido
depois que ele não era tudo menos um santo e como ela ficou magoada com
o pedido final dele. A voz com ele a chamando de covarde por não achar
certo ser a vingadora de Lorenzo, ainda lhe ecoava em seus ouvidos e lhe
doía o peito. Enfim, ela resolveu sair dali, já havia se demorado demais, seu
marido devia já ta impaciente na sala. Porém, ela gostaria de levar um
lembrança significativa do lugar, foi quando ela olhou para o criado mudo
e abriu uma gaveta. O criado mudo indicado pelo seu pai e nele estava a
pistola prateada que pertenceu ao seu irmão Lorenzo...

Enfim, Gio desceu as escadas, Gemma de pé junto ao seu marido que


ainda estava sentando, agora lia um jornal, já os aguardavam. Usando uma
roupa, já trocada o vestido tubinho preto que usou durante todo velório e
sepultamento, Gio surgiu nas escadas usando um vestido solto florido e uma
bolsa a tiracolo bege.
—Estou pronta! Gemma, por favor, peça alguma funcionários para pegar
minhas malas no quarto e por no carro.
Capítulo 4
A mansão Martinelli era bem vigiada e cercada por muros altos,
erguidos com pedra calcária branca. O portão principal, por onde entrava os
veículos chamava atenção, com grades acobreadas e as iniciais A M
cravadas bem no centro do enorme portão, de forma que as letras se
separavam a cada abertura dele. Seguranças de terno preto e armados
protegiam a entrada do lugar.

AM, provavelmente Alessandro Martinelli...

A jovem pensou, enquanto da janela do carro, com o marido ao volante,


olhava em silêncio, com olhos curiosos e um pouco de desanimo por toda a
situação que estava vivendo.

Quando o carro cruzou os portões, Gio pode observar a beleza do


lugar, enquanto seu marido dirigia lentamente rumo a entrada principal da
casa que ficava a uns quinhentos metros do portão. Ela já estava habituada
ao luxo e a viver em uma grande mansão, mas percebeu que a sua nova
casa possuía um estilo diferente da mansão Orsini. A casa lembrava um
pouco a imponência do império romano, o mármore as colunas redondas,
as estátuas do jardim, somado a alguns toques de modernidade.

O carro seguiu devagar por uma estradinha de pedras cinzas que


começava no portão e ia até a porta principal da casa. Gio, por um instante
lembrou da estrada de pedras amarelas do filme O Mágico de OZ. Porém,
aquelas possuíam pedras cinzas. Nesse trajeto ela observou o lindo e
florido jardim, repleto de rosas vermelhas que contrastavam com os
canteiros brancos e peças de decoração paisagística também brancas, a cor
que prevalecia no lugar. Era quase sete horas da noite, o jardim era todo
iluminado por pequenos postes decorativos, colocados em locais
estratégicos. Um pouco mais a frente Gio enxergou uma linda fonte
redonda jorrando água em forma de cascata, era branca, feita de mármore
italiano e o água jorrando fazia um barulho gostoso aos ouvidos. Além de
uma enorme piscina ao longe. Enfim, Alessandro estacionou em frente a
entrada principal da casa.

A casa vista de fora era uma enorme construção branca. Uma escadaria
em formato arredondado com apenas três degraus dava acesso a um hall
ladeado por colunas de mármore . Após subir este degraus e cruzar o hall a
poucos metros estava uma enorme porta de carvalho com fechadura em
ouro velho que dava acesso a entrada na casa.

—Bem vinda ao seu novo lar.— Alessandro a encarou esboçou um


sorriso meio torto que era uma mistura de charme e sarcasmo.

—Obrigada! Mas creio que demorará um tempo para que eu considere


esta casa o meu novo lar! Ainda mais numa situação tão as avessas...

—Você se acostumará! Afinal, seremos apenas nós dois e os empregados.


Como senhora da casa, deve se sentir a vontade para fazer adaptações no
que lhe desagradar. Móveis, decoração, coisas do tipo.

Gio o fitou em silêncio, não achou prudente lhe comunicar que não tinha
a intenção de assumir o posto de senhora da casa já de forma tão atuante.
Pois, até pouco tempo atrás ela so cuidava de seus livros, roupas,
acessórios, fazer compras e se divertir com amigas. Mas ela não queria que
ele a achasse tão fútil, isso so reforçaria a imagem que ele parecia ter dela
de uma garota jovem e mimada. Afinal, depois ela ficou sabendo que todos
já sabiam que seu pai era um mafioso e ela era vista como a filhinha
mimada, a princesinha da máfia. Contudo, uma curiosidade lhe veio a
cabeça. Algo que ela nunca lembrou em perguntar a alguém ou procurar
saber por colunas sociais.

—E a sua mãe? A senhora Martinelli? Não a vi em nosso casamento e


creio que ela não gostaria que eu mexessem em nada na casa.

—A minha mãe faleceu a anos, minha querida.— Ele falou com deboche
direcionado a sua esposa.

—Sinto muito... Eu não sabia...


— Ela faleceu no parto da minha irmã mais nova, Gabrielle, mas ela não
mora conosco. Ela estuda moda em Paris.

— Entendo... e o seu pai? Aposto que ele ainda deve querer conservar
muita coisa do que sua mãe deixou.

O homem fez uma certa pausa, mudou o jeito de olhar para um olhar
mais duro e falou sério olhando em seu rosto:

— Quanto ao meu pai, Don Francesco Martinelli, foi morto a três anos
atrás, numa emboscada armada pelo clã rival! Por que acha que fui
promovido a Don? Mas os mandantes estão mortos... Ah! e pelo visto você
não acompanha as noticias dos jornais, exceto colunas sociais.

Ele falou de forma fria e com um certo tom de rancor pelo acontecido e
satisfação pelas mortes de quem fez aquilo. Gio, não sabia de nada, mas
desconfio que pelo tom de voz dele, a família dela, poderia sim estar
envolvida nas mortes.

— Eu não quero saber de negócios escusos! Assim como não quis saber
dos negócios do meu pai e muito menos dos seus! Agora apenas peço
respeito pela memória do meu pai enquanto eu estiver ao seu lado.

—A memória do seu pai, será respeitada, ninguém se referirá a ele de


maneira desrespeitosa nessa casa.

—Obrigada!

—Porém, lamento informar, minha cara que como esposa de um Don ou


capo, como preferir chamar, você não terá a opção de manter totalmente
alheia! A começar pela sua segurança e dos filhos que nós iremos ter. Mas,
não é hora de falarmos sobre isso. — Alessandro saiu do carro, arrodeou e
foi até a porta do passageiro, num gesto de cavalheirismo, a abriu para Gio
descer.

Do banco de trás a governanta ouvia em silêncio toda conversa do


casal, ela estava sem graça em presenciar daquela forma a conversa dos
patrões e sentiu alivio quando encerraram. Após Alessandro abrir a porta do
veiculo, Gio desceu lentamente do carro, vestia um vestido leve de malha
azul escuro que lhe caia bem na sua pele clara e seus cabelos loiros, usava
uma bolsa tiracolo bege. Antes de arrumar suas coisas e se despedir da casa
onde viveu, tomou um banho e trocou a roupa do sepultamento.

—Venha amore mio— Apesar do gesto cavalheiresco, ele falou em tom


de deboche. Gio percebeu e não agradeceu. Desceu calada.

Em seguida foi a vez da Gemma:

— Seja bem vinda senhora

—Obrigada. — A governanta agradeceu tímida, aquele homem a deixava


sem graça. Ainda mais sabendo que ele e a família fora inimigos de Don
Enrico e Lorenzo por tantos anos.

Diante da casa, um senhor de uns cinquenta anos, vestido com um


uniforme preto dos empregados, o aguardava, como se fosse uma espécie de
motorista, carregador, algo do tipo.

—Boa noite, senhor!

—Boa noite, Genaro! Por favor, retire as malas do porta mala, leve-as
para dentro da casa e em seguida leve meu carro até a garagem.

—Claro, senhor.

O homem olhou de forma discreta para Gio e a senhora de cabelos


grisalhos que os acompanhavam. Sabia que o patrão havia se casado a
pouco mais de vinte quatro horas e que durante a festa de casamento o
sogro havia falecido, o que acabou com a discreta comemoração e tornou o
inicio do casamento um pouco fora do comum. Afinal, os noivos
riquíssimos não viajaram, nem sequer tiveram tempo de uma noite de
núpcias.
Don Alessandro tossiu propositalmente e falou:

—Esta é minha esposa, a senhora Giovanna Orsini Martinelli.


Ao ouvir a junção dos sobrenomes, o homem aparentou um certo
espanto, mas disfarçou.

—Muito prazer, senhora. Seja bem vinda!

—Obrigada. — Gio respondeu desanimada, mas tentou esboçar um


sorriso. O dia havia sido difícil e estava se sentido desconfortável ali.

Quando Gio entrou no lugar, ao correr os olhos numa visão geral pela
enorme sala de visitas, se surpreendeu com o lugar. A decoração era uma
mistura do clássico ao moderno. Paredes brancas como a neve, sofás de
veludo vermelho, cortinas beges, vários espelhos adornados com ouro
velho, além de algumas peças de decoração colocadas em lugares
estratégicos. Era um estilo bem diferente da mansão Orsini, que possuía
uma decoração pesada, bem ao gosto do seu velho pai. Dizem que era desde
época da sua falecida mãe que ela não tinha recordações dela viva.

— A casa passou por uma reforma na decoração. Deixei várias peças


da época do meu pai e acrescentei mais algumas ao meu estilo, quis da o
meu toque pessoal. Contudo, se quiser mudar algum detalhe, fique a
vontade, podemos chamar a decoradora.— Ele se explicou ao perceber o
quanto Gio parecia surpresa com a decoração da casa.

—Não, obrigada. Tudo está perfeito. Além do mais, não me sinto a


vontade para isso.

—Pois deveria, já que agora é a senhora da casa.

Ela apenas o encarou com olhos verdes escuros e não respondeu. A


forma como Alessandro era tão cheio de si e como a tratava já estava lhe
irritando. Então, ele pegou sua mão e a guiou atravessando a enorme e
luxuosa sala de visitas, até chegar ao inicio da escada que dava acesso ao
andar superior da casa. Logo atrás vinha a senhora Gemma e o senhor
Genaro, este depositou as malas no chão e se retirou em silêncio.

Então, ao lado da escada, três empregados, uniformizados de preto e


detalhes branco, os aguardavam como se fosse uma espécie de solenidade
para serem apresentados a nova patroa.
—Carlota, esta é Giovanna Orsini Martinelli, a minha esposa e nova
senhora da casa.

A mulher de aproximadamente sessenta anos, era baixinha, gordinha,


morena e usava os cabelos grisalhos presos em um coque no alto da cabeça.
Usava um impecável uniforme preto que dava para perceber que era a
governanta da casa. Ela não tinha a expressão amável, característica de
Gemma, mas parecia ser uma boa mulher. Ela olhou de forma respeitosa
para Gio.

—Seja bem vinda, senhora Martinelli! Estou ao seu inteiro dispor.—


Ela falou séria.

—Obrigada.—Gio respondeu pouco a vontade. Aquele “senhora


Martinelli”, ainda lhe soava muito estranho aos ouvidos.

—A Carlota é nossa governanta e está na casa desde que eu nasci. Não


liguei para esta cara brava dela. Assim que ela tiver um novo bebê
Martinelli para cuidar, se transformará num amor de pessoa.

Aquele comentário pegou Gio de surpresa e a deixou corada. Apesar de


todos saberem que era obvio a chegada de filhos um dia na vida de um
casal. Ela não esperava naquele momento por aquele comentário que
beirava a indiscrição e que seu marido pretendia um bebê para logo. A
forma descontraída como ele falou também a pegou de surpresa, já que ele
era tão sério e formal. Contudo, ela lembrou da forma como ele também a
surpreendeu na hora do tradicional beijo de casamento. Parece que o seu
marido, era um pouco imprevisível...

Então, chegou a vez de Gemma ser apresentada, a esta altura Alessandro


já havia percebido o olhar de ciúmes que sua governanta direcionava para
ela.

—Esta é a senhora Gemma, ex governanta da mansão Orsini. Ela viu a


minha esposa nascer e com o fechamento da mansão, ela veio como uma
espécie de secretária pessoal que cuidará das coisas dela.
Ao ouvir a cara de poucos amigos da senhora Carlota se desfez em
instantes. A mulher abriu um sorriso amigável, a sua maneira, e a
cumprimentou.

—Seja bem vinda! Tenho certeza que nos daremos muito bem.
—Claro! Obrigada.— Gemma respondeu alegre e aliviada.

Enfim, Alessandro já impaciente encerrou as apresentações.

—Creio que estamos todos cansados. Carlota, mostre a senhora Gemma


onde será a suas acomodações na ala dos empregados. Providencie também
que a mala da minha esposa seja colocada em meu quarto. Aliás, nosso
quarto.

Ouvir aquilo fez com que Gio sentisse um frio na barriga, pois achava
que devido aos acontecimentos, ela naquela noite ocuparia o quarto de
hospedes e não já o do seu marido. A proposito, se tudo tivesse corrido
normal durante a cerimonia e festa, aquela seria a noite de núpcias...

—claro senhor, providenciarei. O jantar será servido as oito horas como


de costume?

—Eu não estou com fome. Acabei de enterrar o meu pai. Tudo que eu
quero é deitar e descansar. Inclusive por hoje gostaria de ocupar o quarto de
hospedes.

Aquele pedido, deixou a governanta confusa, sobre onde mandaria pôr


as malas da nova senhora da casa. Ela ficou calada a espera da ordem de
Alessandro, que manteve o tom de voz calmo, mas não gostou da ideia de
Gio não compartilhar sua cama naquela noite.

—Eu sei, amore mio, que você perdeu seu pai e que precisa descansar.
Você comerá sim algo leve e descansará a noite inteira, mas em nossa cama!
Carlota, mande por as malas onde eu disse e nos leve as oito horas um
jantar leve no quarto— Ele falou firme.

—Esta bem, senhor. As oito horas mandarei levar o jantar ao quarto.


Deseja mais alguma coisa?
—Não, pode se retirar. Agora irei mostrar o quarto a minha esposa.— Ao
falar isso, ele olhou para Gio e deu um sorriso enigmático, os seus olhos
cor de mel brilharam.

Gio, apesar de não ter gostado da ideia de não poder dormir naquela noite
no quarto de hospedes, ficou sem reação ao ouvir o fim das apresentações e
os empregados se retiraram da sala. A governanta, seguida por Gemma, se
retiraram da sala de visitas, os deixando a sós.

—Venha, querida. Enfim sós...— Ele falou com um pé no primeiro


degrau da escada e a mão estendida para ela.

—Talvez eu preferisse...

Foi a reação de Gio que estava se sentindo cansada e pouco a vontade.


Parecia que estava num sonho nebuloso e sombrio, devido a tantos
acontecimentos inesperados.

—Você não está em condições de preferir coisa alguma hoje. Abandone-


se e deixe-me cuidar de você. Verá que não mordo...

Ela segurou a mão dele, com uma expressão meio indecisa no rosto. Eles
subiram devagar a enorme escada de corrimão acobreado que dava acesso
aos quartos no andar superior. Ele a frente , enquanto ela segurada em sua
mão seguia um pouco mais atrás.

Em um casamento normal, aquela seria a noite da tradicional noite de


núpcias. Mas aquele não foi desde o inicio um casamento normal, ainda
mais depois dos últimos acontecimentos. Então, haveria espaço para algo
do tipo aquela noite?
Capítulo 5
—Bem vinda ao nosso ninho de amor, amore mio!—ele falou com um
olhar enigmático e um sorriso meio torto nos lábios.

Alessandro abriu a porta do seu quarto, se posicionou bem ao lado e


estirou o braço em um gesto de apresentação, convidando Gio a entrar.
Enquanto a outra mão segurava maçaneta. A jovem entrou com passos
lentos, segurando a sua bolsa tiracolo junto ao corpo. As suas malas já
haviam sidos colocadas no local por um empregado.

Ela, parada no meio do quarto, passou os olhos por todo o ambiente de


forma rápida. Em seguida se virou para o marido que havia acabado de
fechar a porta do quarto e se aproximava dela.

—Apesar do seu tom debochado, você usou palavras que cairiam bem se
o nosso casamento tivesse sido realizado por amor. O que não foi o caso...

—Sei que não foi o caso, minha querida, porém, não vejo porque
tenhamos que tornar isso um suplício. Eu por exemplo, me sinto um
afortunado, com tão bela e jovem esposa.

—Ah, não? Então, o poderoso e frio Don Alessandro Martinelli,


cobiçado pelas mulheres, está disposto a bancar o esposo apaixonado?—
Ela falou de forma sarcástica enquanto se virava de frente para ele.

—Quando a vi poucos meses atrás, em uma coluna social, você chamou


minha atenção. Mas, como filha do meu maior inimigo, era impossível para
mim. Contudo, um golpe do destino tornou isso possível.— Ele deu dois
passos e se aproximou ainda mais dela, aquela aproximação já estava a
incomodando.

De repente lembranças desagradáveis vieram a mente dela, quando ele


tocou na rivalidade que existia entre ele e o seu falecido pai.
—Uma armadilha do destino, não é mesmo? Eu também nunca imaginei
que o meu pai era um mafioso e que eu me casaria com o seu maior
inimigo, assassino do meu irmão!

De repente o tom amigável e beirando ao galanteador sumiu, Alessandro


se irritou e assumiu um semblante duro. Seus olhos cor de mel brilharam de
raiva.

—Giovanna, não sou um santo! Mas, eu não mantei o seu irmão! Apesar
de não me faltar motivos para isso...— Ele falou enquanto a segurava pelo
pulso.

Ela não esperava esta reação dele, ao provoca-lo. Contudo, ele falou de
um forma tão segura, parecia transmitir tanta verdade no olhar, na voz, que
Gio ficou intrigada e tentada a acreditar. Além do mais, ele era o principal
suspeito e inimigo, mas com o currículo do seu irmão, que ela descobriu
depois, talvez não fosse o único interessado na morte dele.

—Estou cansada, é melhor não falarmos sobre isso hoje.

Gio respondeu tentando fingir frieza na voz, não queria que aquele crime
ficasse impune, mas também não queria que se tornasse um assunto
constante entre os dois. Caso ele fosse culpado, que pagasse dentro da lei.
Quanto a ela, se isso fosse comprovado, pediria o divórcio, sairia daquele
mundo mafioso e aplicaria sua fortuna em algum negócio dentro da lei.
Ingenuamente, ela acreditava que poderia ser assim... A princesinha da
máfia, renegando as suas origens...

—Esta bem, Giovanna. Sei que você está muito cansada hoje, que foi um
dia muito difícil para você. Não é todo dia que se enterra um pai.

Um pai que me deixou com a missão de lhe matar... Agradeça por eu não
ter nascido com tendência ao crime...—Ela pensou.

Don Alessandro continuo, enquanto ela ouvia em silêncio, se ele pudesse


ler os seus pensamentos...
—Então, apesar desta ser a nossa noite de núpcias, você esta livre para
agir como se sentir confortável. Exijo apenas uma coisa: Que durma aqui
comigo em nosso quarto. Não quero falatórios dos empregados amanha.

Gio achou aquele acordo dele bem razoável e compreensivo da parte


dele. Ainda mais vindo de um homem com fama de sério, duro em relação a
algumas emoções. Contudo, ela sentiu uma enorme vontade provoca-lo.
Uma espécie de revanche por ele ter lhe feito passar vergonha com um
beijo tão caliente e inesperado ali diante de todos os convidados da
cerimônia. Ficou sem graça até mesmo diante do seu pai. Imagina ver a sua
menininha nos braços de um homem e sendo beijada daquela forma.

—Entendo... receio de ter sua masculinidade arranhada por fofocas? —


Ela deu um passo mais a frente, se aproximou ainda mais dele e encarou
com uma expressão atrevida.

Aquilo mexeu com os brios e orgulho masculino do seu marido, que


rapidamente a enlaçou com um só braço em torno da sua cintura, a trazendo
de forma brusca para si, ficando ambos com os corpos colados. Então, ela
sentiu a respiração quente dele em seu pescoço delicado e macio. Assim
como também sentiu o quanto a masculinidade dele estava viva e naquele
momento pulsava, colada ao seu corpo. Apesar dela não ter experiência,
sentiu uma mistura de medo, frio na barriga e uma moleza gostosa subindo
pelas pernas até o ultimo fio de cabelo da sua cabecinha loira.

—Como pode sentir, não tenho o que temer, a minha masculinidade esta
bem viva e pronta para tomar posse da minha esposa! Basta apenas um sinal
seu...— Ele falou ofegante ao seu ouvido.

—Eu... eu... estou cansada, quero tomar um banho e dormir— ela falou
desconcertada e se desvencilhou dele, tentando parecer calma.

—Claro, minha cara! Também preciso de um banho, mas como sou um


cavalheiro, as damas primeiro. O banheiro fica logo ali.— Ele falou e
apontou para um porta no final do quarto enorme.

—Obrigada!
Gio, foi até uma das malas, abriu, pegou uma camisola de seda cor de
rosa, bem ao seu estilo princesinha e atravessou o quarto em direção ao
banheiro. Nesse percurso, ao passar na lateral da enorme cama de casal,
estilo hotel cinco estrelas, ela olhou discretamente e pensou em como seria
ter que dividi-la com seu marido já naquela noite.

Será que ele cumprirá a promessa e me deixará dormir ou devo me


precaver? — Ela pensou enquanto girava a maçaneta da porta do banheiro.

A jovem entrou no banheiro luxuoso, mas não se surpreendeu, era


muito parecido com o que possuía em seu antigo quarto de solteira, com
exceção da decoração masculina e séria. Gio prendeu seus cabelos loiros
com uma fivela, se despiu totalmente e entrou devagar na banheira, a água
morna estava uma delicia, mas achou melhor não demorar. Afinal,
Alessandro avisou que também desejava tomar um banho em seguida. Além
disso ela estava afim de deitar logo numa cama macia, fechar os olhos e
ficar quietinha até o sono chegar. Mesmo que isso tivesse que ser feito já
em sua nova cama, tendo que dividi-la com seu marido. Então, sem
demorar ela terminou o banho, se secou com uma toalha felpuda branca,
vestiu sua camisola de seda cor de rosa que ia até um palmo acima do
joelho e vestiu o hobby que fazia parte do conjunto por cima.

Quando Gio saiu do banho, encontrou seu marido deitado na cama,


descalço, sem camisa, exibindo o peito musculoso e liso, vestindo apenas a
calça esporte que usava ao chegar da rua. Em suas mãos havia um livro
aberto que ele parecia ler enquanto aguardava a sua vez de tomar banho.

Nossa... que homem, mas e agora o que devo fazer? Apesar de ser meu
marido, é muito estranho dividir o quarto com um homem... — Ela pensou
ao observar a cena de intimidade.

A cena deixou a jovem surpresa ao perceber que seu marido gostava de


ler e pelo título ele não era apenas um mafioso poderoso, mas também um
homem culto. Porém, não foi apenas isso que chamou a sua atenção,
observou também o quanto ele ficava sexy ao exibir seu peitoral
musculoso, de uma pele morena lisinha sem pelos. Aquilo a deixou sem
graça, pois ainda havia pouca ou quase nada de intimidade entre ambos.
Então, ela tentou disfarçar e desviou o olhar.
—Pronto, acabei o banho, o banheiro é todo seu.

Alessandro levantou lentamente os olhos do livro, a viu caminhando sem


graça em direção a cama. A sua camisola de seda cor de rosa curta, onde
um robe na mesma cor disfarçava o colo exposto, as alcinha, ainda deixava
a mostra as pernas longas e roliças. Ele respirou fundo propositalmente.

—O perfume que acabou de tomar conta de todo o quarto já denunciou


isso. A proposito, adorei o cheiro do seu hidratante.— ele falou de forma
sedutora e deu o seu clássico sorriso torto para um lado. Aquele gesto
aliado ao seu rosto comprido bonito, barba rala sexy, mexia com qualquer
mulher, experiente ou não...

—Hum, obrigada. Não sei dormir sem antes passar meu hidratante
morangos com champanhe.— Ela respondeu sem graça, mas tentando
disfarçar.

—Ele tem um cheiro gostoso, na verdade você toda parece ter um cheiro
delicioso.

Ele falou provocante, enquanto a observava atravessar o quarto em


direção a cama parecendo a própria Barbie de camisola cor de rosa e sentar
na borda da cama do lado oposto. Estava tensa, dava para sentir isso no ar e
ver no seu rosto, as ele parecia fingir não perceber.

—Vejo que gosta de ler.

—Sim, somente troco um bom livro por algo muito interessante. Uma
bela e cheirosa mulher, por exemplo...
—Por favor, dispenso os galanteios, estou cansada. Então, gostaria que
fosse logo tomar o seu banho para que eu possa após isso, apagar a luz,
deitar e descansar.

—Ah claro!— ele sentou rapidamente na cama e pôs o livro no criado


mudo ao lado— E como sou um cavalheiro, quando a dama merece, pode
apagar a luz e deitar. Eu me trocarei no banheiro.
—Obrigada! Muito grata pelo seu cavalheirismo.— Gio respondeu com
deboche, mas no fundo agradeceu.

—Não tem porque agradecer. Ah! Caso precise lhe salvar de algum
monstro do escuro é so gritar. Estarei no banho.

Então, ele finalmente levantou da cama e se dirigiu até a porta do


banheiro. Gio ainda o observou discretamente, enquanto ele de costas para
ela caminhava. Exibindo a sua bela altura em torno de 1,90 e excelente
forma física.

Como é bonito, alto, charmoso. Mas, não vou quero me apaixonar pelo
provável assassino do meu irmão! Ele é tão diferente do todos os garotos
que já paquerei. Aliás, ele não é um garoto e sim um homem feito...

Foi o que ela pensou antes de finalmente deitar de vez na cama, apagar a
luz e devido ao cansaço mergulhar em um sono profundo. Nem chegou a
ver quando o seu marido terminou o banho e voltou a cama, banhado,
usando apenas a calça do pijama de seda creme e com cheiro de loção pós
barba.
Capítulo 6
O caixão preto e luxuoso descia lentamente na sepultura, o barulho das
correntes que o ajudava a descer, ecoava no ar fazendo um ruído sinistro.
Giovanna chorando observava a cena bem ao lado, de repente ela tenta se
jogar dentro da sepultura em busca do caixão. Contudo, diante dos seus
olhos, surgem já mortos, seu pai Don Enrico e Lorenzo. Ambos tentavam
lhe falar algo, mas as vozes saiam incompreensíveis, resultando em uma
confusão de sons.

—Mate-o!—Don Enrico, com um olhar impiedoso, exigia sério.

—Calma! Ele não!—Protestava Lorenzo.

—Ele sim!— Seu pai concluía.

Então, Gio em sonho, grita alto e acorda assustada, tremendo e chorando.


Havia sido vitima de um pesadelo no meio da noite, natural para um dia de
tantas emoções fortes. Porém, o grito foi real, despertando seu marido que
dormia ao lado.

—Papai! Lorenzo!—A jovem gritou desesperada ao despertar no


escuro chorando.

Após gritar, Gio passou os braços em volta do próprio corpo e deitou de


lado em posição fetal, como se quisesse simular um abraço apertado.
Apesar da pouca intimidade e da cama enorme, Alessandro comovido com
a cena, se aproximou devagar, deslizando sobre os lençóis e no escuro a
abraçou forte.

—Calma...calma... foi só um pesadelo. Calma, princesinha, estou aqui...


— Ele a acalentava com voz carinhosa, enquanto a abraçava.

Ambos deitados lado a lado na cama, de frente um para o outro, enquanto


ele acariciava sua cabeça apoiada em seu ombro e falava baixinho ao seu
ouvido.
—O papai! O Lorenzo...

—Eles se foram querida...agora descansa em paz, mas eu estou aqui para


cuidar de você. Foi um dos propósitos do nosso casamento lembra?—Ele
falava com carinho enquanto fazia carinho em sua nuca.— Acabar a guerra,
unir os clãs, proteger você...
Gio ainda estava tão atordoada que nem lhe veio a lembrança de que
aqueles eram os propósitos que foram dito a ele e de inicio a ela também.
Porém, iam contra ao pedido final do seu pai antes de falecer.

—Sim... obrigada...—Ela sussurrou com a cabeça ainda enterrada em


seu ombro, enquanto tentava conter as lágrimas e se conscientizar de que
havia sido um pesadelo.

Aos poucos Gio se acalmou nos braços de Alessandro. Ele se mostrou


meigo e compreensivo de uma forma que ela jamais imaginou que ele
pudesse ser em um momento assim. Não combinava com seu semblante
sério, bonito, mais de cara fechada. Desde que ela a abraçou forte e
sussurrou em seu ouvido palavras para acalenta-la, ela aos poucos foi
ficando quietinha em seus braços fortes. Enquanto isso com uma das mãos
ele acariciava suas costas e dava leves beijinhos em seus ombros nus.

—Linda... abandone-se e me deixe cuidar de você, princesinha...— Ele


com sua voz grave, falou baixinho ao seu ouvido.

Então, quietinha nos braços do seu marido, Gio permaneceu assim por
uns vinte minutos, recebendo carinhos inocentes como se estivesse sendo
acalentada para dormir. De repente, já passado o susto, sentiu que as mãos e
o toque dele pelo seu corpo aos poucos havia se tornado algo sensual. As
mãos que antes faziam massagens circulares em suas costas expostas pela
camisola, agora desciam lentamente acariciando de leve seus seios fartos e
redondos, enquanto a sua boca mordiscava o lóbulo da sua orelha delicada.
Paralelo a isso ela sentiu o abraço ficar mais caliente e o membro rijo
pressionar entre suas pernas. Quando ela percebeu se assustou um pouco e
tentou se desvencilhar dele, mas sem muita certeza.

—Calma, amore mio, a palavra final sempre será sua, mas confie em
mim, se entregue e deixe as coisas acontecerem naturalmente...—
Alessandro sussurrou ao seu ouvido—Virgem como eu imaginei....

—Sim...

—Eu tinha certeza que sim... mas em pouco tempo serás minha de corpo
e alma...
Aquilo derrubou as defesas de Giovanna, que mesmo com receio por ser
sua primeira vez, se entregou se reservas encantada com seu jeito sexy e ao
mesmo tempo gentil. O quanto ele havia sido carinhoso lhe acalentando ao
despertar do sonho ruim. Além do clima mágico de penumbra que reinava
no quarto, as cortinas abertas, a brisa da noite entrando pela janela, a luz do
luar iluminando parte da cama do casal.

A jovem ficou encantada e meio que hipnotizada, ao sentir após um


delicado beijo quente e macio na boca, seu marido baixar as alças da sua
camisola, beijar seu pescoço, ombros em seguida os seus mamilos eretos.
Enquanto ela apesar de inexperiente, ofegante, mordia os lábios no
aconchego do quarto escuro. Então, ela sentiu Alessandro delicadamente
retirar toda a sua camisola puxando-a para baixo, com a língua brincar
com seus mamilos e ir descendo devagarinho brincando com os seus corpo.
Até que ela sentiu sua boca descer ainda mais e ele delicadamente lhe
afastar as coxas grossas roliças.

—O meu botãozinho de flôr... virgem, feita para mim....— Ele sussurrou


antes de mergulhar em sua intimidade.
A partir dai Gio se abandonou totalmente nos braços do seu marido,
deixando que ele de forma carinhosa lhe mostrasse os encantos do amor.
Ela se surpreendeu com esse lado dele, pois não imaginava nunca carinho,
gentileza vindo daquele homem, mesmo se tratando da primeira noite de
uma mulher. Ele com sua voz grave falava palavras sexys e galanteios ao
seu ouvido, enquanto a conduzia na arte o amor. Ela se surpreendia com as
reações do próprio corpo. Não ouve dor, seu marido era um homem
experiente, soube preparar o terreno, de forma que ela se abriu para ele
como uma rosa desabrochando. Então, num turbilhão de sensações até
então não totalmente conhecidas por ela, ela sentiu um calor que vinha do
fundo da alma, coração acelerar, voz ofegante, sinos tocarem e
institivamente cravou as unhas nas costas dele, sem conseguir conter as
palavras.
—Ah!... A...Alessandro...

Ela gemeu alto, enquanto arqueava o corpo involuntariamente e se


agarrava ainda mais a ele. Enquanto ele ouvia seu sussurro de prazer com o
seu ego masculino satisfeito. Enfim, eles adormeceram abraçados.
Capítulo 7
Gio virou de um lado para o outro, estranhando a cama, que apesar de
também macia, não era a sua cama de costume. De repente sentiu um
pequeno raio de sol no rosto e abriu lentamente os olhos. Ela olhou ao
redor do quarto, se lembrou que agora era um mulher casada e que estava
em seu novo quarto, o quarto do casal. Quando ela se apoiou nos dois
braços e tentou se se levantar de costas, sentar na cama, encostada a
cabeceira, o lençol escorregou e expos parte da sua nudez.

—Meu Deus... não foi um sonho...

Ela falou, levando a mão a boca, ao mesmo tempo em que levantava o


lençol para constatar que estava totalmente sem nada por baixo do lençol de
seda. Além disso viu sua camisola e o pijama masculino jogados no chão ao
lado da cama e nos lençóis brancos, algo que parecia uma gota de sangue.

—A noite de núpcias! A nossa noite de núpcias aconteceu mesmo....


Agora sou uma mulher...— Ela falou baixinho, enquanto agarrava os
lençóis junto ao corpo e corava as bochechas ao relembrar os momentos
íntimos entre ela e o marido.

Somente em pensar no momento em que ele a possuiu de verdade, a


mistura de delicadeza, carinho e virilidade, a fez surgir uma sensação nova
em seu intimo. Era um rubor que lhe tomava a face e uma moleza gostosa
que subia pelas suas pernas e a fazia latejar por dentro de forma muito
intima. Ela deu graças a Deus por Alessandro já ter acordado mais cedo e a
deixado ali sozinha na cama, pois provavelmente sentiria vergonha a
primeira vez que o encarasse a luz do dia, após aquela noite. Fora uma noite
de muitas descobertas, carinhos, desejo, acompanhada de um nervosismo
inicial.

Gio, consultou o relógio em cima do criado mudo ao lado da cama e viu


que já eram quase dez horas da manhã. Apesar de estar em lua de mel, seu
marido devia ter saído para trabalhar, não era algo comum para o momento,
mas aquele não era um casamento comum. Ao lembrar da ocupação do
marido, por trás das empresas de fachada, igual seu pai e seu irmão, um
filme se passou em sua mente e ele ficou triste por alguns instantes.

—Como será a rotina dele? Acorda todo dia, sai para trabalhar em um
escritório luxuoso igual era o do papai e de lá dar suas ordens fora das
leis? Será que ele ameaça e mata pessoas?— Ela pensou triste, pertencer
aquele mundo, não lhe agradava.

De repente olhou para a sua bolsa tiracolo que havia deixado no sofá do
quarto desde a noite passada, se lembrou do que havia dentro e que não
queria que ninguém visse: A pistola niquelada de Lorenzo. Ela passou o
lençol em volta do corpo bem feito para cobrir a sua nudez, levantou rápido,
foi até a bolsa, retirou a pistola e a segurou com as duas mãos.

—Meu Deus... o que farei com isto? Não tenho coragem de matar
alguém, nem mesmo se fosse o assassino do meu irmão. Mas, por hora
acho melhor esconde-la comigo. — Ela pensou.

Então, Gio olhou para o criado mudo do seu lado da cama, havia uma
gaveta com chave. Ela abriu e viu que estava vazia, sinal de que Alessandro
não guardava nada nela, devia ser uma gaveta esquecida. Ela pegou a
pistola e guardou nesta gaveta, passou a chave e a guardou no bolso da
tiracolo.

—Pronto! Se Alessandro perguntar o porquê de estar trancada, direi que


são coisas minhas e que não lembro onde está a chave.

Quando ela olhou para o relógio de pulso, viu que já era dez horas e
meia. A noite de “amor” a deixara exausta a fazendo além de acordar tarde,
ainda a deixara preguiçosa, lenta. Era tarde para tomar café e um pouco
cedo para o almoço. Então ela olhou para o travesseiro do marido, ao lado
do dela e viu algo que ainda não havia percebido: Um pequeno bilhete.

“Bom dia, amore mio!

Espero que tenhas dormido tão bem quanto eu. A noite foi
maravilhosa, mas o dever me chama e não almoçarei em casa.
Alessandro”

Gio pegou o bilhete que de inicio nervosa não havia notado, leu e apertou
contra o peito, enquanto, sem perceber, esboçava um sorriso involuntário e
fazia um cara de felicidade.

—Se ele não vem almoçar em casa, vou almoçar no shopping, fazer
algumas compras para me distrair. Ainda não me sinto a vontade nesta
casa.— Ela pensou.

A jovem tomou um banho de banheira demorado, depois saiu do banho


enrolada num roupão felpudo branco. Após isso foi até as suas malas que
ela ainda não havia tido tempo de mandar os empregados desfazerem e
tirou um vestido. Ela escolheu um vestido creme com estampas florais
vermelhas, ele possuía uma saia rodada até a altura do joelho, sem mangar e
um decote em forma de V, um estilo bem romântico. Depois calçou
sandálias vermelhas de salto médio, pegou sua bolsa também vermelha e
saiu do quarto em busca de alguém que lhe entregasse as chaves de algum
carro disponível na casa, pois o seu ainda estava na mansão Orsini. Depois
pediria a Alessandro para providenciar a vinda dele, gostava de guiar seu
próprio veiculo desde que tirou a carta de habilitação. Seu pai sempre
insistia que ela usasse motorista, mais ela preferia assim, se sentia mais
livre.

Gio desceu as escadas de mansinho, olhando para os lados, como se


estivesse explorando o terreno da sua nova casa. Contudo, acabou sendo
surpreendida pela senhora Carlota bem no meio da sala. Parecia até que já
estava a espreita a vigia-la.

—Bom dia, Carlota!

—Bom dia, senhora! O almoço será servido logo mais, ao meio dia. Don
Alessandro quase não almoça em casa. Acredito que ele deve ter lhe
avisado sobre isso.

—Sim, claro! Eu também não almoçarei em casa hoje. Estou precisando


espairecer, me distrair, irei almoçar no shopping e aproveito para fazer
compras.
—Claro, senhora. Irei pedir ao Genaro para lhe levar e os seguranças
reserva da casa podem lhe acompanhar.—a governanta falou de forma
respeitosa e fez menção de se retirar.

—Não, Carlota! Espere! Gosto de dirigir, não vejo necessidade de um


motorista. Além disso, prefiro ir sozinha.— A jovem explicou.

—Entendo, senhora, mas e os seguranças? Don Alessandro ficará furioso


ao saber que saiu sem eles.
—Humm... façamos o seguinte: Basta me dar as chaves de um dos
carros da casa e eu me entenderei com meu marido quando ele chegar!
Nunca usei seguranças, não será agora que irei usar.

A velha governanta achou aquela atitude muito imprudente da parte da


sua jovem patroa, ainda mais para o tipo de negócios que a família exercia,
mas achou melhor não se argumentar. Deixasse que o patrão resolveria
mais tarde. Ela foi até uma mesinha no canto da sala enorme, abriu uma
gaveta, pegou umas chaves e lhe entregou.

—Estas são as chaves da mercedes vermelha. Pedirei ao Genaro para a


trazer da garagem e estacionar na porta da casa para a senhora.

—Obrigada, Carlota. Aguardarei na porta principal.

Era por volta do meio dia quando Gio chegou a um famoso shopping
bem frequentado pela nata da sociedade de Palermo. Estacionou o carro no
local, em seguida procurou um restaurante dentro do shopping, queria
comer algo gostoso, antes das compras. Adorava fazer compras, mas não de
estomago totalmente vazio e a principal finalidade do passeio era almoçar
fora. Apesar dela não ser uma italiana que apreciasse excesso de massas e
mesa farta. Gostava de comer com moderação, pois achava que seu corpo já
tinha curvas demais, não era conveniente exagerar a mesa e engordar.

—Deseja uma mesa senhora? Temos uma mesa ali na ala vip.

—Desejo sim, abrigada!

—Queira me acompanhar!
—Ele fala como se já me conhecesse e me respeitasse...— Gio pensou. O
que era muito lógico, afinal, quem não reconheceria a filha de Don Enrico
Orsini e esposa de Don Alessandro Martinelli em Palermo.

Olhar as vitrines após a refeição foi demasiadamente agradável, porém,


as cenas da noite passada não saiam da sua mente. Gio já estava até com
receio de devido a sua inexperiência e todo o encanto da noite, ter se
apaixonado por seu marido, algo que não estava em seus planos. Ela aceitou
casar, convencida por seu pai, que usou vários argumentos convincentes de
que era o melhor a se fazer no momento, mas se apaixonar pelo provável
assassino do seu irmão estava fora dos seus planos.

Era por volta das duas e meia da tarde quando Gio deixou o shopping e
vinha guiando devagar no transito estressante de Palermo

—O céu de Palermo, sempre lindo, claro e brilhante! Bem que o carro


poderia ser um conversível....— ela pensou com seu botões, enquanto
guiava devagar e admirava a vista.

De repente ela se surpreendeu, ao passar ao lado de um charmoso café


com mesinhas na calçada sob a sombra de um toldo, ela avistou algo que
quase a fez bater em um poste. Ainda ouviu o xingamento do motorista ao
lado.

—Meu Deus! Eu não acredito! Alessandro?— Ela falou sozinha


espantada.

Sentado em uma das mesinhas brancas na calçada ensolarada, seu marido


vestindo um elegante blazer cinza e camisa branca, óculos escuros Ray Ban,
conversava com uma mulher, estilo mulher fatal. Era um mulher bonita,
morena, cabelos negros escovados, bem vestida, sexy, com idade próxima
aos trinta. Apesar de não estarem trocando carinhos em público, pareciam
bem íntimos pela forma de gesticular e expressões nos rostos. Aquilo
deixou Gio muito triste e decepcionada, na hora surgiu uma onda de raiva e
ciúmes que ela nunca imaginou sentir por alguém . Porém, ela resolveu
seguir viagem para casa, não iria fazer um escândalo, dando a ele o
gostinho de achar que ela estava com ciúmes ou poderia já esta apaixonada
por ele. Quando fosse conveniente ela o questionaria e tiraria aquela
historia a limpo.

Gio chegou em casa chateada e arrasada com o que viu, mas não podia
falar ou demonstrar para aquela que havia algo errado. Então, ela achou
melhor se trancar em seu quarto e ficar calada e evitar comentar até mesmo
com Gemma que ultimamente andava muito amiga de Carlota. De qualquer
forma era meio da tarde, ela era novata na casa, tinha perdido o pai a pouco
tempo, ninguém estranharia se ela se trancasse no quarto até final da tarde
ou a hora do jantar. A casa mesmo estava silenciosa, na verdade parecia ser
uma característica da mansão Martinelli, poucos empregados circulando, o
patrão trabalhando e o silêncio.

— Ainda bem que o Alessandro só chegará inicio da noite! Não quero


protagonizar uma cena de ciúmes, ainda mais assim com a cabeça quente
e também não quero olhar na cara dele agora. Cínico! No dia seguinte a
nossa noite de núpcias! — Ela pensou ao se trancar no quarto e deitar na
cama.
Capítulo 8
Era por volta das seis e trinta da tarde, quando Alessandro abriu a
porta do quarto furioso.

—A Carlota já me contou que a senhora saiu hoje pela manhã sem


seguranças!— ele falou enquanto jogava com força a pasta executiva no
sofá do quarto e desatava o nó da gravata.

—Ela não precisava ter lhe contado nada! Tenho dezoito anos e sei me
cuidar sozinha. Ah! e sua governanta é muito fofoqueira, se quer saber.

—Não, a Carlota não é fofoqueira e você pelo visto não sabe se cuidar
sozinha! A Carlota são meus olhos dentro desta casa e você é herdeira do
clã Orsini, que possuíam muitos inimigos e não somente a mim!

—Ah não? De qualquer forma meu pai e Lorenzo estão mortos! Se


deviam algo já pagaram. Nunca usei seguranças e não irei usar agora.

—Eles terem pagado ou não, talvez não seja o suficiente! Você ficou
sendo a única herdeira do clã agora comandado por mim e esposa do chefe
do clã Martinelli!

—Eu não tenho nada haver com isso! Por mim tudo seria vendido e
recomeçado vida nova, de uma forma legal, dentro da lei!

—Belas palavras, mas não é tão simples assim! Aceite seu destino, minha
cara: Quem nasce na máfia, morre na máfia!

A jovem sentou na cama, cruzou os braços e bateu o pé com cara de uma


garota mimada chateada. Mas, o seu marido não se intimidou com aquilo.

—E não me venha com birra de garota mimada, pois sou um homem


ocupado!
—Aham... eu vi bem qual era uma das suas ocupações hoje a tarde...—
Ela pensou, mas achou melhor calar.

—Agora irei tomar um banho e as oito horas o jantar será servido! Não
gosto de jantar sozinho, quero a companhia da minha esposa na mesa ao
meu lado.— Ele concluiu se dirigindo para a porta do banheiro, fingindo
não ligar para a cara de chateação dela.

—Droga! Droga!— Ela falou, enquanto socava o colchão, assim que ele
entrou no banheiro e fechou a porta.

Após algum tempo Alessandro saiu do banho, usando apenas uma toalha
branca em volta da cintura, expondo todo o seu físico moreno e bem
definido. Gio, apesar da raiva, ao ver aquela cena a fez sentir um calor que
lhe subiu pela corpo inteiro, a deixando sem graça e ruborizada. Afinal,
ainda era sete e trinta da noite, o quarto ainda estava com as luzes bem
acessas. Ela tentou disfarçar para que ele não percebesse.

—Você deveria ao menos pôr um robe ou se trocar no banheiro!

—Qual o problema, amore mio? Não tem nada que você já não tenha
visto ontem a noite.

Aquele comentário debochado fez com que a sua raiva voltasse.

—Não seja grosseiro!

—Ora Giovanna, não se comporte como uma criança mimada, pois você
já é uma mulher! Minha esposa e senhora desta casa. Espero que esteja
pronta, pois está na hora de descermos para o jantar.

— Sim, já estou pronta. Podemos ir se quiser.

—Ótimo!

Dom Alessandro desceu para o jantar usando calça esporte creme e


camisa polo azul marinho que realçava ainda mais seus olhos cor de mel. O
cabelo ainda úmido lhe dava um charme especial. Gio, que já havia se
trocado antes dele chegar do trabalho, vestia um vestido tubinho vermelho,
o que realçava ainda mais seu loiro e desenhava as formas do seu corpo
bem feito, acompanhado de sandálias creme de salto médio.

Devido a briga no quarto o clima na sala de jantar não era dos melhores.
Eles apenas trocavam palavras monossílabas e eram educados um com o
outro diante dos empregados que serviam a refeição.

—Não vai comer mais um pouco? Esta massa está uma delicia.

—Não, para mim já basta. Não gosto de exagerar a mesa. Além o mais
estou sem apetite.—ela respondeu seca.

—Hum... pois lhe advirto que para gerar um futuro herdeiro dos Orsini
e Martinelli precisa comer bem para ficar forte e saudável.

—Herdeiro? Que papo é esse? Mal nos casamos e isso ainda não está em
meus planos.— ela falou surpresa e irritada.

—Por que o espanto? Ninguém lhe avisou que um casamento, quase


sempre resulta em bebês, Giovanna?— Ele falou de forma cínica, a
encarando com uma das sobrancelhas arqueada e os talheres parados quase
cortando a massa.

—Detesto quando alguém próximo a mim, me chama por Giovanna,


parece até que vai me dar uma bronca.—ela falou ainda irritada.

—Ah! Perdão: Gio! E obrigada por me considerar próximo.— ele falou


debochado.

—De nada!— Ela retribuiu o deboche, enquanto levava vagarosamente


uma azeitona espetada num garfo até a boca.

—Então, quero um herdeiro! Quanto a você não vejo motivos para não
querer: Estamos casados, você é saudável, caso queira fazer uma
faculdade terá ajuda de babás. Sem falar na Carlota que vai adorar um bebê
para ajudar a cuidar.

—Mas não estava em meus planos, ainda não pensei sobre isso. Então,
realmente não sei...— ela respondeu confusa e ainda teve vontade de dizer
peça para a sua amante...

—Então, deveria saber, amore mio, pois não sei se você percebeu, não
usei preservativo ontem a noite. A menos que você já tivesse se prevenindo
e usado anticoncepcional. Você está usando?

—Não... Não estou....— A ficha caiu para Gio que ela devia ter se
prevenido antes disso, consultando uma ginecologista, visto
anticoncepcional, mas todo o tumulto desde o anuncio do casamento a fez
esquecer daquele detalhe tão importante.

—Então... lamento informar, mas talvez o nosso herdeiro já esteja a


caminho.

Aquilo pegou Gio de surpresa a fazendo engolir no seco e fechar a cara


durante todo o final do jantar. Aquilo que seu marido lhe disse a pegou de
surpresa em relação a já querer um herdeiro e também lhe lembrar que não
usaram nada na noite anterior.

Após o jantar, Alessandro foi para o seu escritório privado ver alguns
papeis e Gio foi direto para o quarto com a cara amarrada. Chegando no
quarto se trocou para dormir e pegou um dos livros do marido para ler, mas
aquela tal mulher e agora a pressão por um herdeiro não lhe saiam da
mente.

—Se ele acha que hoje a noite vai ser igual a noite passada, esta muito
enganado! Ele deverá retornar ao quarto bem disposto a providenciar nosso
herdeiro, mas eu não esqueci dele e a tal mulher! Ele diz que é um
cavalheiro mas acho melhor me prevenir caso ele exagere na pressão...

Ao comentar consigo mesma, ela olhou para a gaveta do seu criado


mudo meio pensativa, aproveitou que estava sozinha pegou a chave da
gaveta em sua bolsa e a destrancou. A pistola prateada que pertenceu ao seu
irmão, brilhou no fundo da gaveta, ali diante dos seus olhos verdes escuros.
Ela sentiu um arrepio na espinha, não gostava de armas. Ainda assim ela a
pegou com cuidado e pôs a pistola embaixo do seu travesseiro. Depois
deitou a cabeça nele e ficou a ler seu livro ou melhor tentando ler.
Era umas dez e meia da noite quando Alessandro entrou no quarto. O
ambiente estava na penumbra e sua esposa fingia dormir. Contudo, a sua
experiência lhe dizia que ela não estava dormindo. No fundo ele até achou
engraçado a sua ingenuidade em achar que poderia engana-lo tão
facilmente. Ele não acendeu a luz, passou direto para o banheiro, tomou um
banho rápido, vestiu apenas a calça do pijama de seda, a noite estava quente
e se deitou na cama ao lado dela.

Alessandro se aproximou devagarinho da sua esposa que deitada de lado,


de costas para ele, fingia dormir. Ele acariciou seu cabelos cacheados, os
afastou um pouco e lhe beijou o pescoço macio, enquanto com a outra
mão acariciava sua costas e começou a deslizar a mão em busca dos seus
seios quase expostos pela camisola branca, decotada de alcinhas.
—Me deixe em paz, estou com sono...— Gio falou chateada, fingindo
cansaço, enquanto tirava as mãos dele de cima dela.

—Ainda chateada? Não seja infantil, querida, estamos em lua de mel e


sei que você não está com sono.— Ele apenas se afastou um pouco e falou
com ela ainda de costas, num tom que beirava o divertido.

—Você não tem uma bola de cristal para adivinhar o que estou sentindo
ao não!

—Não tenho, mas tenho experiência o suficiente para saber que se existe
algum motivo para você esta assim de cara amarrada, bem diferente de
ontem, em nossa segunda noite de casados, este motivo não é o sono.— Ele
fechou a cara e falou sério.

—Pois é isto que estou sentindo: Sono!

—Pois, quanto a mim é isto que estou sentindo: Desejo!— Ele falou ao
abraça-la novamente por trás, colando seu corpo ao dela e lhe fazendo sentir
seu membro rijo de encontro as suas nádegas.

Ao sentir aquilo, ela foi tomada por um calor que subia dos pés até o
ultimo fio de cabelo, acompanhado de uma moleza gostosa. Por um
momento ela pensou em ceder e se entregar, afinal também estava
começando a querer, mas lhe veio a mente a cena dele todo intimo
conversando com aquela mulher como se fossem amantes. Aquilo lhe deu
novamente uma onda de raiva, mas não queria jogar isso em sua cara, não
daria o braço a torcer que estava com ciúmes.

—Pare, Alessandro! Me deixe em paz!— Ela ainda deitada de costas o


empurrou com os cotovelos.

—Vem cá, não seja boba! Sei que você também quer... Está apenas com
alguma birra infantil e não quer me falar o motivo.—Ele falou irritado e a
abraçou por trás novamente.

Então, neste momento a sua veia Orsini falou mais alto. Rapidamente
Gio, que já estava com uma das mãos embaixo do travesseiro, o empurrou
com o cotovelo do braço livre e com a outra mão puxou a pistola mirado
em direção a ele. O brilho da pistola na escuridão do quarto, encandeou a
visão do seu marido que se afastou rapidamente permanecendo ainda em
cima da cama com as mãos rendida. Apesar de toda a sua experiência no
submundo da máfia, aquilo o pegou de surpresa. Pois, não esperava que sua
esposa que fazia o estilo patricinha e princesinha frágil, delicada, fosse
capaz de algo assim. Não sabia sequer que possuía uma arma escondida
com ela, ali no quarto.

—Largue esta arma, Giovanna!— Alessandro, falou sério, com olhar


severo e mãos para cima, enquanto se afastava dela na cama.

—Não se aproxime! Posso ter esta aparência delicada, jeito meigo e cara
de princesinha Disney, mas nunca se esqueça que em minhas veias corre o
sangue Orsini!— Ela falou com olhos saltados, enquanto os braços
trêmulos, segurava a pistola com as duas mãos em direção dele.

—Largue esta arma! Não tem necessidade disto! Saiba que todas as
mulheres que tive em meus braços foram por livre vontade delas e com
você, mesmo sendo minha esposa, não será diferente!

Ao ouvir aquilo, Gio ficou confusa e se descuidou um pouco.


Alessandro vendo isso em seus olhos e ao perceber que a pistola ainda
estava travada, se jogou em cima dela com o intuito de desarma-la e
conseguiu.
—Eu já desarmei homens experientes, imagine uma garota como você,
sua bobinha! Agora isso fica comigo.— Ele falou com voz compreensiva,
segurando a arma, depois a colocou na gaveta do seu criado mudo e passou
a chave.

Então, ao ser desarmada, Gio virou de costas na cama e caiu num choro
convulsivo com a cabeça enterrada em seu travesseiro.

—Me devolva a arma do meu irmão... era uma lembrança dele...

—Não! Ela agora, ficará comigo, use como lembrança uma fotografia.
Você não tem prática e nem maturidade para portar uma arma.— ele falou
sério sentado próximo a ela na cama.

Gio continuo a chorar, aquilo o deixou comovido, não podia esquecer que
ela tinha apenas dezoito anos, estava frágil emocionalmente e que eles mal
se conheciam ainda. Aquilo explicava muito da reação exagerada que ela
acabava de ter ao apontar uma arma contra ele. Então, ele se aproximou
mais, fez um carinho em seus cabelos a virou de frente para ele, ela cobriu o
rosto com as mãos, ele descobriu de forma gentil, beijou sua testa e a
abraçou com carinho .

—Pronto, pronto... não chore mais, minha princesinha. Não sou o


monstro que alguns dizem. Não quero que nunca mais sinta medo de mim
esta bem ?— ele perguntou gentil enquanto beijava a ponta do seu nariz
afilado.

—Esta bem...— Ela falou tímida.

—Sabem, acho que precisamos espairecer, principalmente você. Fomos


convidados para uma festa amanha a noite, um aniversário de casamento.
Acho que deveríamos ir. O que acha? Deseja ir?

—Sim... gostaria. Já a algum tempo não vou a uma festa...

—Então, amanhã iremos! Quero você bem linda, para que todos vejam
que tive o privilegio de casar com a bela Giovanna Orsini, agora senhora
Martinelli. Agora durma....
Assim, abraçadinha ao seu marido, Gio adormeceu....
Capítulo 9
—Don Alessandro, seja bem-vindo a nossa casa! É uma honra
comemorarmos o nosso aniversário de casamento em sua presença.

Uma mulher elegante usando um vestido de festa azul turquesa, pele


branca, cabelos negros, bem maquiada e cheia de joias, os cumprimentou na
entrada da mansão, ao lado do marido.

—Obrigada, senhora! A minha esposa e eu também nos sentimos


honrados pelo convite.— ele falou educado, cumprindo um protocolo de
etiqueta, mas não que estivesse ali contra a vontade.

Alessandro, por motivos de segurança não era tão chegado a festas e


badalações, a não ser festas privadas e com segurança como aquela. Afinal,
era uma festa da cúpula da sua organização, de certa forma, estava seguro e
em casa, além dos seus seguranças privados

—Bem- vindo a nossa casa, Don Alessandro!—Um homem de terno


escuro, o cumprimentou de forma respeitosa com um aperto de mão firme,
era o marido da mulher. Os anfitriões.

—Obrigada, Michael! Esta é minha esposa, Giovanna Orsini Martinelli.

O casal se entreolharam involuntariamente ao ouvir o sobrenome Orsini,


o que causou um certo desconforto no ar, mas cuidaram logo de disfarçar.
Afinal ,lembraram que até bem pouco tempo aquele sobrenome era do
principal inimigo da organização chefiada por Alessandro.

—Seja bem-vinda a nossa casa, querida!— A mulher se derreteu em


bajulações—Venha comigo e lhe colocarei em uma divertida mesa so com
mulheres.

—Ah claro, mas não posso ficar com meu marido?


—Ah meu bem... eles sentarão numa mesa a parte, só com homens,
somente discutirão assuntos masculinos e de negócios . Você não achará
nada divertido, pode apostar.— a mulher falou com jeito, a pegando pelo
braço.

Gio olhou para Alessandro sem saber como agir diante daquela
proposta. Ele diante do casal de anfitriões usou todo o seu charme e
educação. Algo em que ele era muito bom, quando desejava ser...

—Acompanhe ela, querida, aposto que será mais divertido para você.—
em seguida ele se dirigiu a mulher— Ela é toda sua, só peço que devolva,
ao final da festa, a mulher da minha vida.

Sem que o casal, compreendesse exatamente o que Gio falou, já que


neste exato momento a orquestra começou a tocar. Gio olhou para ele com
ar de deboche e retribuindo o que ela achou que seria uma piada .

—Obrigada: que-ri-do!

Assim da festa, saiu levando Gio praticamente arrastada pelo braço,


tamanha era sua bajulação com a esposa de Don Alessandro, a senhora
Martinelli. Ela queria acomodar a esposa do chefão, na melhor mesa
feminina da festa, entre as esposa dos gerentes da alta cúpula e não dos
apenas soldados. Esposas que estivessem a sua altura.

Gio, vestia um elegante vestido longo de festa vermelho, que colava ao


seu corpo com um decote sensual, ao final do vestido havia um acabamento
sereia na barra que quase cobria as sandálias prateadas. Usava um conjunto
de brincos e colar de brilhante, presente do seu pai quando ela fez quinze
anos. Na época em que ela sonhava em ajudar a administrar os negócios
da família .

— Aqui querida! Meninas, esta é a senhora Giovanna Martinelli, esposa


de Don Alessandro, deixarei ela aqui na mesa a cargo de vocês. Espero que
toda se divirtam.

Ela foi colocada na mesa junto a outras mulheres tão chiques quanto ela e
com esposos importantes dentro da organização. Contudo, eram mulheres
mais velhas e com mais tempo de casadas, todas na faixa dos trinta,
quarenta anos. Então, apesar de muito bem recebida na mesa por ser a
esposa do chefão, nem todos os assuntos interessavam a ela, casa, marido,
filhos pequenos. Ela ficou ali respondendo uma pergunta ou outra, dando
um sorriso sem graça, procurando ser gentil e educada. Isso vez com que
ela não se integrasse totalmente a conversa predominante na mesa e
passasse a observar dali da sua cadeira, detalhes da festa. Talvez por seu
pai nunca ter dado aquele tipo de festa na mansão Orsini, ela nunca havia
observado certas coisas.

—Será que todas aqui sabem que nasci no clã rival e que meu casamento
foi arranjado num ato de desespero do meu pai?— ela pensava enquanto
observava festa e também discretamente algumas senhoras da sua mesa.

Era uma festa para comemorar as bodas de dez anos de um dos


comparsas, uma espécie de gerente. O evento foi armado nos jardins da
mansão que pertencia ao casal. Era uma casa bem grande, luxuosa, jardim
bonito, mas não chegava a ser tão grande como a mansão Martinelli. Os
jardins estavam bem iluminados e decorado, homens e mulheres exibiam
ternos italianos, vestidos de festa e joias , parecia que era uma forma de
ostentar sem correr perigo com atentados de inimigos ou chamar atenção de
autoridades da lei.

O clima geral da festa era agradável, a orquestra começara a tocar as oito


horas, no momento em que eles chegavam a festa. Agora estava tocando a
canção Roberta de Pepino De Caprio, alguns casais com taças de
champanhe nas mãos já ensaiavam alguns passos agarradinhos no pista
estilo carpete vermelho, armado na grama verde.

Um detalhe que chamou sua atenção foi que apesar de ser uma festa, um
momento de diversão e descontração, parecia existir uma certa hierarquia
subentendida . A festa era na verdade composta, noventa por cento por
mafiosos do clã Martinelli. Existia uma enorme mesa comprida coberta por
uma toalha branca, onde estavam sentados praticamente todos os homens da
festa que tinha aproximadamente cinquenta convidados, na cabeceira estava
Alessandro, um lugar reservado a ele. Apesar da música dava para perceber
que todos conversavam alto, barulhentos, comiam bem, bebia, sorria ,
enquanto misturavam assuntos de negócios com diversão local. Por isso as
mulheres eram em mesas separadas...

Quanto ao público femininos, a maioria eram esposas dos que estavam na


grande mesa. Elas ocupavam charmosas mesinhas brancas e redondas
distribuídas em longo do jardim em volta da mesa grande masculina. Nestas
o assuntos maridos, casa, filhos, moda, receitas culinárias prevaleciam. A
festa em si estava até divertida, Gio estava mesmo precisando se distrair,
ver gente nova depois de tantas emoções fortes nos últimos dois meses.
Contudo, ela sentiu um certo alivio quando viu seu marido se aproximar,
chegar até a mesa, cumprimentar toda as senhoras, algumas até o cobiçaram
com o olhar e a chamar para irem embora para casa.

—Gostou da festa, amore mio?— Alessandro perguntou, enquanto


guiava o seu carro de luxo preto no trajeto de volta para a mansão.

—Sim... não era o estilo de festas que eu costumava ir com algumas


colegas quando solteira, mas serviu sim para espairecer.

—Hum, que bom que pelo menos serviu para isso. Não quero você tensa,
nervosa. Quero que seja feliz.

—Acho que estamos sendo seguidos!— Ela falou assustada


interrompendo o clima da conversa.

—Não, são os nosso seguranças. Ainda não se acostumou?— Ele falou


ao olhar pelo retrovisor do veiculo e se certificar ao enxergar um carro preto
cheio de homens vindo logo atrás.

—Creio que ainda não...


Gio respondeu sem firmeza na voz e mudou o rumo da conversa, não
queria trazer de volta o assunto que já havia sido motivo de discussão entre
os dois. Não naquela noite em que tudo parecia tão leve.

—A noite está tão bonita, estrelada.— Ela comentou ao olhar pelo vidro
do carro.
—A noite está bela e você mais bela ainda. A sua cara esta ótima, creio
que aquelas tacinhas de espumante lhe fizeram bem.

—Como sabe? Que bebi?— Ela perguntou sorrindo.

—Ah... você não achou que eu ia solta-la numa festa entre estranhos
para você e não observa-la não é?— Ele deu um sorrisinho torto, estilo
cafajeste.

—Realmente você acertou, estou me sentindo ótima, leve. Foram apenas


três taças, mas não tenho o hábito de beber álcool .

Quando chegaram a casa, Gio subiu devagar as escadas, não estava


bêbada, apenas um pouco mais leve de todos os acontecimentos ruins que
haviam acontecido nos últimos meses ,desde a morte do seu irmão. Mas ela
achou melhor por precaução, tirar as sandálias de salto alto e por na mão,
com a outra mão subiu segurada ao corrimão. Enquanto seu marido vinha
logo atrás com um sorriso sexy, uma expressão divertida no olhar. Estava
achando divertido a ver assim tão sorridente e feliz, coisa que ele nunca
tinha visto, desde o dia que se encontraram pessoalmente na cerimonia de
casamento até a sua chegada a mansão Martinelli.

—Precisa de ajuda para continuar?— ele perguntou divertido, ao vê-la


desequilibrar um pouco.

—Não, eu estou bem ! não estou de pileque....— ela respondeu


sorridente.

Quando chegou ao quarto, enquanto Alessandro jogou seu terno em cima


do sofá do quarto, desmanchava o nó da sua gravata e tirava a camisa, Gio
tirou os brincos de brilhante e colocou no porta joias deixado em cima da
mesinha. Mas, quando ela ergueu novamente os braços em volta do
pescoço para abrir o fecho do colar, sentiu um pouco de dificuldade, nunca
foi boa naquilo, ainda mais com algumas taças de espumante

—Posso?—A voz grave do seu marido, falando por trás dela e junto ao
seu ouvido.
—Sim, claro...

Ele abriu devagar o fecho do colar, ao mesmo tempo que deu uma
lambida sexy em seu pescoço para em seguida assoprou o lugar ainda
úmido e lhe falar ao ouvido.

—Você, estava a mulher mais linda e sexy da festa...

Ele falou junto a sua nuca, enquanto com a outra mão retirava o colar e o
depositava o colar no porta joia em cima da mesinha. Ele continuo
massageando levemente os seus ombros expostos pelo vestido vermelho de
alças e grande decote.

—Ah... você é um galanteador...— Ela falou sorridente e com voz


dengosa. Já estava sentindo o arrepio de sempre na espinha.

—E se eu fosse? Não posso soltar galanteios para a minha esposa?— Ele


falou ao seu ouvido, de pé por trás dela, enquanto sua mãos enlaçava a sua
cintura fina.

—Claro que pode...

—Hum... então serei mais ousado. Me permita lhe dizer que este seu
vestido sexy me causou várias ereções hoje durante a festa. Todas iguais a
esta...

Ele ainda por trás a apertou ainda mais forte com o braço em volta da sua
cintura fina e fez com que ela sentisse o seu membro rijo por baixo da
calça pressionando suas nádegas bem desenhadas pelo vestido. Porém,
dessa vez ela não sentiu medo ou vontade de repeli-lo, sentiu o calor e a
moleza nas pernas de sempre, além de ficar ofegante ao sentir as suas mãos
fortes, deslizarem pela parte da frente do seu vestido em busca dos seus
seios redondos e ficarem com os polegares acariciando os mamilos
intumescidos pelo desejo.

—Você deseja fazer amor comigo esta noite não é?— Ela perguntou
ofegante e ainda meio tímida enquanto aquele calor incontrolável e frio na
barriga que ela sentia quando ele a tocava, tomava conta de todo o seu
corpo.

—Sim, amore mio... e você não?— ele lhe perguntou com a boca colada
ao seu ouvido e ainda colado por trás dela.

—Sim... Eu quero... Será igual a aquela noite?— Ela perguntou tímida e


curiosa, mas cheia de desejo.

—Na primeira noite, eu fiz amor com a jovem e hoje quero fazer amor
com a mulher! A minha mulher... Deixe-me mostra-lhe todos os segredos
do amor, a linha tênue que existe entre a delicadeza e a paixão quando duas
pessoas estão se amando na cama.

—Eu...eu sou toda sua Alessandro...

Então, ele a tirou do chão a carregou nos braços em direção a cama,


onde a depositou bem no centro e com delicadeza. Desta vez fora algo mais
quente, mais ousado, Gio apesar da pouca experiência hora era guiada pelo
seu marido, hora pelo extinto de fêmea. Depois dos corpos já totalmente
sem roupa rolarem pela cama e se amarem freneticamente, entre beijos,
lambidas, gritos e sussurros, foi com satisfação que Alessandro sentiu as
unhas da sua esposa cravarem em suas costas e ouvir ela gritar seu nome
alto no momento do clímax.

—A... A... Alessandro!— para depois desabar exausta.

Após isso, os corpos permaneceram abraçados, relaxando, até que


quando o nível de adrenalina voltou ao normal...

—Você já iniciou a pílula, princesinha?

—Nossa... esqueci que ainda não havia...

—Então, acho que nosso herdeiro pode já esta mesmo a caminho viu?

—Não tem problema....— ela respondeu dengosa e se abraçou ainda mais


a ele.
Assim adormeceram, despidos e abraçadinhos....
Capítulo 10
Dois meses depois...

—Por aqui senhor temos uma mesa ali em nossa área vip.—Um garçom
falou educadamente, indicando o caminho estirando um dos braços em
direção a mesa.

Alessandro vestindo calça esporte preta e camisa azul escuro, a sua cor
favorita por realçar seu olhos cor de mel, entrou no restaurante, caminhando
devagar e com uma das mãos pousada gentilmente sob as costas de Gio.

—Sente-se querida—ele falou ao puxar delicadamente uma das cadeiras


da mesa.

—Obrigada.—Gio sentou devagar e colocou sua bolsa no colo.

—Sente-se melhor?

—Sim, foi so um mal estar ao sair do carro. O dia esta quente, o sol forte
ao sair do carro no estacionamento...

—Ah... que ótimo! Então podemos pedir nosso almoço? Seu marido
falou enquanto do lado oposto da mesa, puxou uma cadeira, sentou-se
diante da jovem e abriu o cardápio.

—Sim, claro...—ela falou sem muita certeza, estava se sentindo


estranha, mas não queria estragar o passeio. Não era sempre que Alessandro
tinha um tempo livre somente para os dois.

O dia estava lindo, o sol brilhante no céu azul de Palermo, naquele


sábado seu marido havia decidido deixar um pouco os negócios de lado e
lhe convidar para almoçar fora. Escolheu um restaurante localizado no
centro da cidade, a fama era de que além ser bonito e bem frequentado,
tinha uma tradicional comida italiana maravilhosa. O lugar era bem
decorado com mesinhas redondas cobertas por toalhas vermelhas, flores em
todas as mesas. Gio ficou feliz com a ideia, mas ao descer do carro no
estacionamento, sentiu uma leve tontura e precisou ser amparada. Agora já
parecia está tudo bem.

Os pratos foram pedidos. Enquanto isso ambos começaram a conversar,


ao mesmo tempo que Alessandro fazia carinho em sua mãos delicada,
pousada em cima da mesa e a olhava nos olhos. Ele tinha esse hábito de
paquera-la como se a tivesse vendo pela primeira vez e já não fosse marido
e mulher. Aquilo as vezes a deixava sem graça, quando ele a encarava
diante das pessoas com um olhar carinhosos e sexy, ele se divertia ao
perceber isso. Enfim os pratos chegaram.

—Humm... este carpaccio ao molho está com uma cara ótima!—Seu


marido falou animado, enquanto colocava o guardanapo no colo e pegava
os talheres.

Gio olhou para os bifes fininhos e vermelhos decorados no prato. Ela,


como uma jovem italiana, já havia comido aquilo várias vezes, mas naquele
momento ele não pareceu agradável aos seus olhos. Então, de repente o seu
estomago revirou e em sua boca surgiu um liquido amargo. Não deu tempo
explicar nada, ela arregalou os olhos, colocou a mão na boca e caminhou
em direção ao toalete o mais depressa e discreta que conseguiu.

—Giovanna!—Ela ainda ouviu a voz do seu marido, mas não pode parar
ou tirar a mão da boca para responder.

Gio vomitou o que ainda restava do café da manhã no vaso do


banheiro. Depois tentou se recompor passando uma água na boca, no rosto,
retocando a maquiagem e o batom. Ainda sentou por alguns minutos no
sofá que havia no local. Depois retornou a mesa.

—Gio, o que houve? Está tão pálida... Foi ao toalete?

—Sim e vomitei muito, foi este bife...

—Mas você não chegou nem ao menos a tocar nele...

—Não precisou. Bastou olhar para ele e meu estomago embrulhou...


Ao ouvir aquilo, Alessandro fez uma cara de espanto e ao mesmo tempo
seus olhos brilharam. Sentados na mesa, frente a frente, ele pegou
delicadamente a sua mão.

—Amore mio, creio que você está grávida...

—Heim? Eu o que?

—O nosso herdeiro está a caminho...

Aquilo pegou Gio de surpresa, não que ela não desejasse ou fosse
inocente ao ponto de não saber que sexo sem prevenção resultava em bebês.
Mas ela achava que não aconteceria tão rápido com eles e ela sempre teve
alguns atrasos mensais.

—Nossa... eu... estou atrasada a quase três meses...

—E por que não me avisou?—ele levantou uma sobrancelha negra e a


encarou com um olhar inquisidor.

—Porque nunca fui certinha igual um relógio, sempre tiver alguns


atrasos...

—Esta bem. Então, façamos o seguinte: Tente comer um pouquinho e


assim que terminarmos aqui, compraremos um teste de gravidez no
caminho para casa.

—Ah... li numa revista feminina, está novidade, dizem que o resultado


sai rapidinho e tem grande probabilidade.

—Sim, ainda mais em seu caso que é so para confirmar algo que já
desconfiamos.

Então, o tal teste de gravidez foi comprado em uma farmácia a caminho


de casa. Assim que chagaram a mansão, os dois foram direto para a suíte
do casal, não so para descansar juntos pós almoço naquele raro dia de folga
dele, mas para fazer logo o teste. Foi com surpresa que enquanto
Alessandro aguardava a responda, deitado de costas na cama, com as mãos
cruzadas acima da cabeça, ela visualizou as duas listinhas no palito que
acompanhava o teste.

—Meu Deus! Quer dizer positivo...—Foi a sua reação ao arregalar os


olhos, segurando o palito com a mão diante do rosto. Em seguida olhou
para a barriga e pôs uma das mãos em cima.

Quando Gio saiu do banheiro para o quarto, ainda boquiaberta, com uma
das mãos em cima da barriga, Alessandro rapidamente se levantou e sentou
na cama com o rosto entusiasmado.

—E então?

—Estou... estou grávida— ela falou tímida e se aproximou dele sentado


na cama.

Alessandro segurou a sua mão e a puxou para sim, fazendo com que ela
sentasse em seu colo.

—Graças a você, neste momento sou o homem mais feliz do mundo.—


Ele lhe falou enquanto beijava seu ombro, testa e em seguida terminando
com um beijo apaixonado na boca.

Gio passou os braços em torno do pescoço do marido e retribuiu o beijo.


A brisa de inicio da tarde entrando pela janelas, batendo nas cortinas e um
passarinho cantando na varanda deixou o quarto com um clima ainda mais
romântico.

—Gio... você já consegue me amar? Porque eu sim...

—Sim... mas, precisava saber quem...

—Xi... não deixemos que nada de ruim este momento tão mágico e
único.—Ele a interrompeu de forma gentil colocando o dedo indicador
próximo a sua boca em sinal de silêncio.

Alessandro puxou Gio para o centro da cama e a deitou


delicadamente. Devagarinho ele foi tirando peça por peça: Vestido, sutian,
calcinha até que ela ficou completamente nua. Em seguida ele ficou meio
que deitado de lado com a cabeça apoiada em um dos braços a contemplar
sua nudez com olhos semicerrados, enquanto desenhava com a ponta dos
dedos traços invisíveis em seu corpo.

—Eu já desconfiava que estava grávida... na verdade somente precisava


de uma confirmação...

—Como sabia?—Ela perguntou, tentando controlar a respiração


ofegante. Entre eles a linha entre o desejo e carinho era muito tênue.

—Seus seios, estão maiores, redondos e ainda mais bonitos. Os seus


quadris estão mais largos, seu ventre mais redondo. Você está mais bonita,
mais mulher. Somente em olhar para você já é um convite para o amor...

—Então... quer dizer que estou mais atraente?

—Sim... ainda mais atraente aos meus olhos. Hoje mesmo seu corpo
está me atraindo feito um imã e lhe asseguro que eu poderia passar a tarde
inteira contigo nesta cama lhe amando...

Gio, já totalmente despida, deitada na cama de frente, olhou para ele de


forma atrevida, ele que ainda estava deitado de lado com a cabeça apoiada
no cotovelo a contempla-la, passou os braços em volta do pescoço dele,
arqueou todo o corpo pra frente em direção ao dele e falou lhe olhando nos
olhos.

—Então, venha... sou toda sua...

Então, a brisa da tarde e o passarinho da varanda foram testemunha de


uma tarde de amor muito caliente e romântica. Onde acompanhado de
beijos molhados, caricias, sussurros e gemidos, corpos suados e
apaixonados rolavam na cama, exalando amor e desejo.
Capítulo 11
Quatro meses depois...

—Genaro, pode guardar as sacolas no porta malas ,por favor!—Gio falou


educadamente e lhe entregou algumas sacolas de lojas infantis. Ela adorava
fazer compras maternas, mesmo após o enxoval já está pronto.

Após entregar as sacolas ao motorista, ela entrou devagar no banco


traseiro da mercedes preta e ele assumiu o volante. Adorava guiar o próprio
carro, mas a barriga de seis meses estava enorme e os bebês não paravam de
chutar nas horas mais inesperadas. Sim, os bebês, tamanha foi a sua
surpresa em saber no pré-natal que não esperava um bebê e sim dois! Eram
gêmeos, mas eles preferiram não saber o sexo por enquanto. A felicidade de
Alessandro ao saber que eram dois, triplicou.

—Podemos ir, Genaro!

—Claro, senhora!

Eram umas cinco horas da tarde, os trânsito começava a engarrafar, as


pessoas já estavam começando a sair do trabalho, das escolas, isso
significava mais carros nas ruas o que exigia mais atenção do motorista. O
senhor Genaro guiava lentamente, atento a tantos veículos, também ao
estado da patroa, enquanto Gio olhava a paisagem pelo vidro da janela. Até
que ao olhar para o mesmo café do passado, sentiu um aperto no peito, seus
bebês se remexeram na barriga. Ela mal podia acreditar no que estava
vendo, so que dessa vez não mais na calçada e sim na parte de dentro, onde
o vidro do lugar revelava em parte: Seu marido e a tal mulher de antes!
Aquela que ela avistou no passado, no dia seguinte a sua noite de núpcias.
Igual como no passado, eles conversavam sorridentes um para o outro, não
trocavam carinhos públicos, mas pareciam íntimos mesmo. Ela era sim uma
bela e elegante mulher morena, so que bem mais velha que Gio que havia
feito dezenove anos.
Aquilo fez com que seu sangue fervesse e subisse a cabeça, teve vontade
de mandar Genaro parar o carro imediatamente, ir até eles e avisar que a
farsa havia acabado. Mas o instinto materno a fez pensar nos seus bebês,
teve receio de emoções ainda mais fortes fazer mal a seus filhos e além de
receio de não se aguentar sob as pernas de tanto que estava trêmula de
raiva. Achou melhor seguir para a mansão, mas assim que seu marido
chegasse para o jantar colocaria tudo em pratos limpos. Era um cínico,
mentiroso, quem garante que não estava até mentindo quando dizia não ter
tido culpa na morte do seu irmão, apesar de serem inimigos.

—Adultero! Traidor! Assassino...—ela cerrou os dentes e falou baixinho.

—Disse alguma coisa, senhora?

—Não, Genaro. Prossiga em direção de casa, estou muito cansada, desejo


chegar logo. — Na verdade ela queria era se refugiar em seu quarto, chorar
sozinha e esperar seu marido chegar para um conversa.

Gio chegou em casa e assim que se trancou no quarto, ficando sozinha,


caio na cama com a cabeça no travesseiro e caiu em um choro sem fim. Se
ela pudesse enterraria a cabeça no travesseiro, mas o tamanho da sua
barriga não lhe permitia isso.

—Cínico! Cafajeste! Mentiu para mim todo esse tempo! Continua a me


enganar com aquela mulher e talvez tenha faltado com a verdade em tudo
mais que me disse.— Ela falava enquanto chorava e esmurrava o
travesseiro.

Alessandro chegou do trabalho era umas sete horas da noite, como de


costume. Estranhou ver sua esposa deitada na cama aquela hora.

—Cheguei, querida.— Ele falou enquanto, como de costume, jogou a


pasta executiva em cima do sofá junto com o paletó e foi tirando a gravata.

Ela não responde, ele acho que havia algo errado, se aproximou mais um
pouco em direção a cama.
— Tudo bem? Está sentindo algo? Deitada a esta hora... ou está
descansado para o jantar?— ele se aproximou mais e a olhou no rosto—
Você andou chorando... o que houve? Aconteceu algo?

Na cama mesmo Gio partiu para cima dele, tentando lhe esmurrar,
enquanto ele surpreso se defendia, tentando segurar seus pulsos sem a
machucar.

—Aconteceu que você é um traidor! Mentiroso! Adúltero! Assassino!—


Ela falava brava, entre lágrimas e o rosto transtornado.
—Calma! Está louca? Se acalme, você está grávida! Não faz bem para
você e nem para os nossos bebês! Por que está agindo assim?

—Eu vi! Igual ao dia seguinte a nossa noite de núpcias! Vi novamente


você e uma mulher conversando de forma intima num café hoje a tarde.
Igualzinho a primeira vez!

Alessandro olhou para ela e respirou fundo, fez uma expressão de quem
foi pego no flagra. De certo não gostou dela ter visto os dois e tentou se
explicar.

—Gio, não deixe que os seus olhos lhe engane. Aquela mulher não é o
que você está pensando...—ele falou de forma cautelosa.

—Nunca é o que nós esposas estamos pensando não é mesmo? Eu não


sou idiota! Sou jovem, estou grávida, mas não burra ou cega! Aposto que
durante todo esse tempo vocês mantiveram o caso pelas minhas costas!

—Eu não mantenho caso algum com mulher alguma!


—Você é um cínico, mentiroso! Está me enganando! Aposto que
também foi quem deu a ordem para executar meu irmão e sempre me
enrolou dizendo que não!

Ao ouvir aquilo, Alessandro se afastou da cama, colocou as duas mãos


na cabeça num gesto de impaciência .

—Giovanna, eu não matei o seu irmão e vou lhe provar isso! Se existe
algum sangue em minhas mãos não é o do seu irmão...
—Eu não acredito! E quer saber? Quero o divórcio! Hoje mesmo irei
dormir no quarto ao lado e amanha arrumarei as malas e voltarei junto com
a Gemma para a mansão Orsini de onde eu nunca deveria ter saído! Os
meus advogados procurarão você para acertar a papelada.

—Calma ai, mocinha— ele se aproximou novamente da cama, onde


ela ainda estava sentada na borda e falou com o dedo indicador apontado—
Você não sabe o que está falando!

—Sei sim! Quero o divórcio!—Ela falou atrevida.

—Pois saiba, que um mafioso preza a sua família e você faz parte dela.
Além de não ser qualquer uma para decidir isso assim, lembre-se de quem é
e da posição que ocupo.

—Está decidido! Irei dormir no quarto ao lado e amanha deixarei esta


casa.

—Você é Geovanna Orsini Martinelli, herdeira do clã Orsini, esposa do


chefe do clã Martinelli e carregando meus herdeiros na barriga! Preciso
dizer algo mais?

—Ainda assim irei!

—Então já que insiste complementarei: Você não vai a lugar nenhum e


não ouse me desafiar! Agora se você quer dormir no quarto ao lado até se
acalmar não a impedirei. Quero que você fique calma em consideração a
você e ao seu estado. Ah! E esqueça aquela mulher, ela não é o que você
está pensando.

—Como já disse: Todo dizem isso! Apesar da minha pouca idade e


inexperiência por ter sido criada dentro de uma redoma de cristal, não sou
idiota. Irei sim, agora mesmo dormir no quarto ao lado. Ah! e não me
espere para o jantar, pedirei o jantar no quarto.

—Tudo bem... em respeito ao seu estado não irei discutir com você.
Quero que se acalme.
De forma brusca, Gio abriu a sua parte no armário enorme e colocou
algumas peças básicas numa mala de rodinhas. Alessandro sentando no sofá
do quarto, apenas observava enquanto fingia examinar alguns papeis que
ele trouxe na pasta. Quando ela se preparou para deixar o quarto...

— Precisa de ajuda? Apesar da mala parecer leve e ter rodinhas para


arrastar?

—Não! Amanha pedirei a uma empregada para pegar o resto das minhas
coisas.

Ela fez menção de atravessar o quarto puxando a mala em direção a


porta de saída.

—Espere! Não precisa se cansar, fazendo este trajeto, apesar de bem


curto. Acho que nunca percebeu que está parte do armário esconde a porta
de comunicação para o quarto ao lado. Basta abri-la e estará no outro
quarto.— ele falou com ar divertido.

—Porta de comunicação?— Ela perguntou surpresa e desconfiada.

—Sim! Este aqui era o quarto do papai e o da minha mãe ficava ao lado.
Eles preferiam assim por uma questão de conforto. Na reforma mandei o
arquiteto não fechar a porta, preferi deixar-la discreta e foi dai que surgiu a
ideia de embuti-la como a ultima porta do armário.

—Hum! Então, acho que o quarto ao lado não é uma boa ideia! Mas não
faz mal esta mansão tem vários quartos.

—Ah! Pare com isso Gio... não se preocupe, jamais tentarei usar esta
porta e lhe surpreender . Mas se isso lhe fizer sentir mais segura, tem uma
tranca por dentro, pode passar se desejar.

Quando ela desapareceu arrastando a mala pela porta de comunicação


rumo ao quarto vizinho, Alessandro sentou na cama, pôs uma mão na
cabeça e falou sozinho:
—Ah Gio, Gio! Como é mimada e imatura! Além de explosiva e sem
experiência em relação ao mundo que nasceu e cresceu sem saber que
fazia parte dele. Mas, por enquanto é melhor que você não saiba de nada,
me preocupo com os nossos bebês...

Quando Gio entrou no quarto, viu que era um quarto tão luxuoso quanto
o que ela ocupava com o seu marido, mas com uma decoração mais
feminina e delicada. Apesar de ter sido o quarto da sua sogra falecida a
muito tempo, não tinha nada velho ou empoeirado. Era um quarto mantido
em perfeita ordem, como se estivesse a espera da próxima senhora
Martinelli que um dia chegaria para ocupa-lo e esta senhora chegou...

Assim que ela chegou entrou fechou a porta de comunicação com uma
tranca interna que havia na porta e falou:
—Esta porta só se abrirá novamente por uma boa explicação
acompanhada de um motivo muito forte! — Ela falou decidida.
Capítulo 12
Já se passaram dois meses que o clima entre Gio e Alexandre havia
mudado. Desde aquela discursão eles dormiam em quartos separados,
trocavam apenas algumas gentilezas diante dos empregados. Além disso,
quando ele tentava se aproximar, Gio ainda muito magoada e sem confiar
mais nele respondia apenas com monossílabas. A sua barriga estava
enorme, pois o tempo passou e já estava com quase oito meses de gravidez,
ainda mais que eram gêmeos.

Ela sentia falta dos carinhos do marido na cama. Mas, não era apenas
falta de fazer amor com ele, gostava também da forma que ele acariciava
sua barriga a noite a sós na cama, saudades de dormir abraçadinhos. Porém,
não daria o braço a torcer, pois ele a traiu duplamente, além de ter um caso
com aquela mulher, talvez tivesse até mesmo assassinado o seu irmão e
ficado negado isso para ela todo esse tempo.

Gio estava na sala de visitas folheando uma revista sobre bebês quando
seu marido chegou do trabalho um pouco mais cedo do que de costume. Ela
até estranhou o horário e se previsse aquilo, teria evitado em ficar ali na sala
como se fosse a espera dele igual era num passado recente. Ele vestia um
elegante terno azul escuro, gravata vermelha e segurava sua pasta de couro
preta.

—Boa noite Gio! Ah! perdão, Giovanna.—ele se lembrou que ela não
desejava mais ser chamada assim por ele.

Alessandro se aproximou de forma cínica, fingindo ignorar que eles


ainda não haviam feito as pazes, tentou lhe da um beijo na bochecha, mas
ela se esquivou. Ele parecia bem humorado, entusiasmado, como se algo
bom houvesse acontecido. Então, ele sentou no sofá ao lado dela e ela
demonstrou claramente desconforto ao se afastar um pouco o evitando.

—Ainda com isso... já lhe disse que não tenho nada com ninguém e
também não cometi nada do que esta pensando durante esse tempo todo....
— Ele falava de forma carinhosa, tentando mexer em seus cachos loiros,
enquanto ela sentada no sofá com braços cruzados e cara emburrada fingia
que ele não estava ali. Enquanto isso ele olhava também para a barriga
redonda dela que o vestido floral de tecido leve realçava mais ainda.

—Posso tocar? São meus filhos também...

Por um instante ela o encarou em silêncio com os seus olhos verde


escuro demonstrando mágoa.

—Pode...— Ela respondeu sem graça e confusa.

Alessandro passou a mão com carrinho no barrigão da esposa e sentiu


seus bebês chutarem. Ele ficou encantado, a semanas estava com saudades
daquilo. Gio percebeu seus olhos brilharem.

—Um mafioso com sentimentos, que contraditório...— ela falou em tom


de deboche.

—Gio, não vamos começar com acusações... hoje foi um dia cansativo,
mas também muito especial para mim. Por isso cheguei mais cedo. Quer
saber por quê?

— As coisas mais importantes que eu precisava saber você me escondeu!


Não vejo porque saber de mais alguma coisa sua agora. Não tenho interesse
por administração de certos negócios.— Ela falou mal criada.

Alessandro respirou fundo como se fosse perder a paciência.

—Tudo bem! Ok! Não quero que se aborreça, ainda mais numa fase tão
avançada da gravidez. Jantaremos juntos hoje a noite?

—Não! Pedirei meu jantar no quarto.

Alessandro a olhou de forma carinhosa, enquanto ela como uma menina


mimada emburrada permanecia no sofá fingindo não ver isso. Ele pegou
sua pasta de trabalho que ele havia deixado ao lado dele no sofá, a abriu,
tirou um grande envelope marrom e lhe entregou.
—O que é isto? — A jovem perguntou ao receber o envelope com um
olhar desconfiado.

Gio fez menção de abri-lo, mas o marido a impediu tocando em seu


braço.

—Não! Não quero que abra agora no calor da emoção. Quero que após o
jantar abra com calma em seu quarto.

—Por que isso?

—Porque me preocupo muito com sua gravidez, com você e nossos


filhos. Neste envelope tem documentos importantes e respostas para
algumas coisas que lhe interessam. Mas primeiro prometa que somente
após o seu jantar no quarto, como você deseja, é que você com calma o
abrirá...

—Se for da sua organização criminosa, não me interessa!

—Da nossa organização você quer dizer. Mas, não! Não é! Então,
prometa que abrirá sim hoje a noite, mas da forma que eu lhe pedi.

—Sim, prometo...— Ela falou segurando novamente o envelope e o


olhando desconfiada.

—Ok! Agora vou para o escritório examinar alguns papéis até a hora do
jantar. Jantar este, que a senhora não me dará a honra da sua companhia.

A jovem ficou calada, observando ele se levantar do sofá, se retirar da


sala. Em seguida ela olhou para o envelope com seus grandes olhos verdes
musgo arregalados, curiosa e se sentiu tentada a abri-lo. Porém, se lembrou
da promessa que havia feito ao marido e também ficou com receio de ainda
não está preparada para grandes emoções. Então, ela colocou o envelope
marrom embaixo do braço, levantou do sofá com cuidado, seguiu até o
rumo das escadas que levava aos quartos no andar superior. Ali com o
envelope embaixo do braço, uma mão no corrimão e outra na barriga Gio
subiu lentamente as escadas.
Era umas sete horas da noite, quando Gio após um banho relaxante, ligou
para a copa e pediu o seu jantar no quarto. Sempre precisava deixar claro
que era em seu quarto, ao lado do quarto do marido, alguns empregados
ainda faziam confusão e se confundiam.

—Hum... que delicia... —Ela falou ao abrir a tampa que cobria o prato
em uma bandeja de prata e ver um generoso pedaço de lasanha de frango. A
gravidez a havia deixado cheia de desejos.

Enquanto comia na mesinha do quarto, ela olhava para o envelope


marrom largado no sofá do quarto. Ela estava sim muito ansiosa e curiosa,
mas ao mesmo tempo tinha um certo receio, medo. Afinal o que havia ali
dentro de tão importante? Quais revelações ela estava prestes a saber?
Seria algo relacionado a Lorenzo?

Eram oito horas da noite quando Gio pegou o envelope e sentou na cama.
Ao abrir e colocar a mão dentro dele, percebeu que havia uma porção de
folhas, parecia uma espécie de relatório. Então, ela puxou devagar todo o
conteúdo e espalhou em cima da cama. Ela ficou surpresa, quando viu que
além de várias folhas de papel, encadernadas numa espécie de dossiê,
haviam várias fotos. O seu coração acelerou quando viu a primeira das
foto, pegou-a com a mão e apertou contra o peito com os olhos cheios de
lágrimas.

—Lorenzo... meu irmão... Desculpe a minha falta de coragem, não te


vinguei! Sei que sou uma fraca, mas eu não nasci para matar, eu nasci para
amar...— Ela falou emocionada.

Após essa emoção forte ela enxugou as lágrimas olhou para as outras
fotos que ela havia espalhado na cama. Então, ela ficou surpresa em ver
uma mulher bonita em outra foto, que ela reconheceu como a tal mulher
que ela já havia visto duas vezes com o seu marido. No verso da foto havia
escrito: Allegra Mansini, esposa de Victorio Mansini. Em seguida ela viu
fotos da mulher com um homem mais velho que o tal Victorio seu marido e
outras fotos dela com Lorenzo como se fossem íntimos, algumas até se
beijando.
Gio pegou novamente a foto da mulher, que formava um casal com o
homem mais velho.

—Victorio Mancini... Meus Deus, este é o politico influente que faleceu


num acidente de carro, um pouco antes do meu casamento. Então esta
mulher era a esposa dele? Realmente eu tinha a impressão de já tê-la visto
em alguma coluna social.

Gio estava surpresa e confusa, relembrar Lorenzo que ela nunca esqueceu
de tão recente, ainda mais ver aquela sua rival a quem ela nutria tanto
ciúmes e raiva. Agora ela sabia o seu nome, que também era da alta
sociedade, mas talvez por ser mais velha que ela, nunca se cruzaram em
nenhum evento, loja, coisas do tipo. Dava para ver numa das fotos, tiradas
provavelmente por um detetive no passado, que ela e Lorenzo,
provavelmente também foram amantes.

—Me parece que a tal mulher, possui uma queda por mafiosos! Mas,
onde seu marido entra nesta história? Ele mandou matar meu irmão por
ciúmes?— A jovem pensou confusa.

Então, chegou a vez de Gio pegar o relatório e ler. Ele possuía cerca de
vinte páginas e na primeira leitura, ela o devorou em minutos. Depois
voltou, leu e releu incrédula .

—Meu Deus... então foi isso... A morte de Lorenzo, a tal mulher, o caso
do meu marido...— ela falou surpresa em voz alta com olhos arregalados,
enquanto com as duas mãos segurava o relatório suspenso na altura do
rosto.

Apesar de toda a emoção que aquilo provocou nela, pois mexeu de forma
muito profunda com seus sentimentos e fantasmas do passado, ela sentiu
um alivio enorme no peito ao concluir a leitura do relatório. Leitura que ela
repetiu várias vezes, como se não acreditasse no que estava lendo. Enfim,
ela ainda sentada na cama, jogou o relatório em cima do colchão junto com
as fotos ainda espalhadas.

—Meu marido, o pai dos meus bebês é inocente! Ele sempre esteve
falando a verdade...
Ela falou baixinho enquanto acariciava a barriga e sentia os gêmeos
chutarem forte como se comemorassem algo. Junto a isso veio lágrimas aos
olhos, mas dessa vez não de tristeza, mas de felicidade e emoção.

O relatório feito por um detetive profissional, explicava que o seu irmão


Lorenzo foi morto a mando de um politico importante italiano, por está
tendo um caso com a esposa dele, a tal Allegra Mansini. Sendo que este
politico por golpe do destino faleceu poucos tempo depois em uma acidente
de carro. Lorenzo foi morto por esta tendo um caso com sua bela e infiel
esposa que nutria uma atração por mafiosos. O senhor Victorio Mansini,
para que o seu nome não fosse ligado ao assassinato, prejudicando a sua
reputação como politico, subornou soldados do clã Martinelli, para que
todos pensassem que o assassinato tivesse sido a mando do chefe do clã
Martinelli, Don Alessandro, a quem todos sabiam que era o seu principal
inimigo. Seu marido, nunca teve nada de significativo com a tal mulher,
apenas usando seu charme e a fama de que ela nutria fetiche por mafiosos
tentou seduzi-la para conseguir informações estratégicas. Parece que tudo
que Alessandro desejava, por isso a aproximação e contratação do detetive,
era limpar sua imagem perante a ela. Conclusão: O politico Victorio
Mansini foi que mandou assassinar seu irmão Lorenzo e seu marido
Alessandro não tinha caso com mulher alguma.

—Alessandro... preciso falar urgente com ele, agora!— Ela falou


emocionada e recolhendo as coisas do envelope.

Gio com as mãos trêmulas, recolheu rapidamente o conteúdo que


pertencia ao envelope e tentou colocar novamente dentro dele, mas
percebeu que algo estava bloqueando a entrada do material novamente ao
envelope, algo que ela ainda não tinha visto. Então ela pôs a mão dentro e
sentiu que ainda havia um pequeno papel no interior dele e o puxou para
fora. Foi neste momento que ela viu um papel em forma de bilhete, como se
fosse uma carta escrita a mão.

“ Para que a mulher da minha vida, mãe dos meus filhos, não ache que
o seu marido e pai dos seus filhos tem as mãos manchadas do mesmo
sangue que corre em suas veias. Além de também provar que não sou um
adultero, traidor! Fiz tudo isso por você!”
Te amo, amore mio!

Alessandro.

Ao ler aquele bilhete, o coração da jovem acelerou. Ela pegou tudo de


uma so vez e empurrou dentro do envelope de qualquer jeito, o deixando
em cima da cama. Depois olhou para a porta de comunicação trancada e
pensou em destranca-la e correr imediatamente para os braços do seu
marido, que aquela hora deveria está lendo algo na cama.

Quando Gio atravessou o quarto em direção a tal porta, parou no meio


do quarto ao ver sua imagem refletida no espelho. Ela estava com uma
camisola de seda creme, bem solta, confortável para uma grávida, colocou a
mão na barriga enorme, mas não se sentiu feia, gorda, se sentiu sedutora e
sexy, viu que uma grávida também podia exibir um toque de sensualidade
em suas curvas. Ela foi até o armário, que aquela altura já estava com quase
todas as suas coisas ali, decidiu escolher uma nova camisola para marcar
aquela momento especial. Depois de escolher a dedo e se trocar, caminhou
até a porta de comunicação e a destrancou devagar....
Capítulo 13
—Seja-bem vinda, amore mio...

Alessandro deitado de costas na cama, no quarto a meia luz, usando


apenas a parte de baixo do pijama de seda preto, falou ao ver a porta de
comunicação se abrir e Gio surgir vestida numa linda camisola de seda
vermelha. Ela estava linda: Os cabelos loiros soltos encaracolados
brilhantes lhe dava uma aura de fada. A camisola de seda ia até a altura do
seus pés, mas com uma fenda enorme a direita que começava no inicio da
sua coxa grossa e roliça. A barriga de oito meses estava enorme e bem
evidente no delicado tecido de seda que deixava as suas formas bem
desenhadas. Porém, isso não a deixa menos mulher e sexy, pelo contrário,
junto a isso se via ainda os seios inchados quase saltando do decote de
renda e alcinhas. Transformando todo o conjunto numa cena
demasiadamente sexy. Aquilo mexeu com os hormônios do seu marido de
uma forma que ele não conseguiu conter uma ereção involuntária ao vê-la.
No fundo ele já sabia que ela já havia aberto o envelope e o porquê dela
está de volta, mas não esperava que ela retornaria assim tão deslumbrante.

—Alessandro...—Gio falou baixinho enquanto atravessou o quarto em


direção a ele na cama.

Alessandro sentou devagar na borda da cama para recebe-la e quando a


sua esposa chegou mais perto ela a puxou delicadamente a fez sentar em
seu colo. Ele estava deslumbrado com sua volta e toda aquela exuberância
ali pertinho dos seus olhos, como ela havia desabrochado como mulher
durante a gravidez.

—Psiu! Silêncio... se está aqui é porque acredita em mim não é mesmo?

—Sim! Eu te amo Alessandro...

—Eu também te amo, amore mio...


—Então, que não percamos tempo com explicações desnecessárias no
momento.— ele falou enquanto a olhava no olhos e com o dedo indicador,
acariciava a linha entre o decote da camisola e os seios quase expostos. Em
seguida os dois se beijaram de forma caliente e apaixonada.

Alessandro ainda com Gio no colo deslizou em direção ao centro da


cama. Depois a deitou gentilmente de costa na cama e de frente para ele,
com cuidado em sua barriga e por alguns minutos ficou a contemplar meio
encantado a sua beleza, deitado meio de lado, com a cabeça apoiada no
cotovelo direito.

—Eu pensei em mesmo acreditando em você, não vir. Quero dizer, não
vir assim...— Ela falou baixinho, tímida, se referindo a camisola sexy, mas
caia muito bem numa grávida, e a forma inesperada que ela surgiu na porta.

—Foi? E por que?— ele perguntou baixinho com os olhos cheios de


desejo.

—Ah... estou gordinha, minha barriga, oito meses já né...

Ele olhou para ela, puxou devagar as alças da sua camisola, expondo
seus seios enorme a luz aconchegante do abajur e falou enquanto acariciava
sua barriga.
—Pois saiba, que aos meus olhos nunca vi uma mulher tão sexy. Você
está linda amore mio e esta barriga apenas a torna mais bela ainda.

Ao dizer isso ele a virou de lado, frente a ele e a abraçou de forma


carinhosa. A sua boca sedenta a beijou, enquanto suas mãos acariciava suas
costas, quadris e nádegas redondas.

O encaixe dos corpos eram perfeitos em vários ângulos e posições, assim


eles fizeram amor a noite inteira, numa mistura de ternura, carinho e desejo.
Foi com imensa satisfação que Alessandro ouviu Gio chegar ao clímax
uma, duas, três... Mas, enfim o dia deu sinal de que estava próximo a
amanhecer e seus corpos já estavam mais do que saciados.

—Minha princesa, que se transformou numa linda mulher.... Está


cansadinha não é? —Ele perguntou carinhoso.
—Sim.... morta de feliz e satisfeita, mas exausta...

—Claro amore mio... espero que eu com esse meu desejo excessivo por
você não tenha exagerado...

—Não, amor, estou bem! Apenas cansada, já são quase quatro horas da
manhã acho.

—Claro, querida, então venha, vamos descansar.

Então, delicadamente e ajudada por ele, com muito cuidado devido ao


estado dela já avançado, Gio virou de lado na cama e deu as costas para seu
marido. Alessandro veio por trás e a abraçou, assim ambos ficaram
encaixados numa conchinha perfeita, enquanto ele lhe beijava de leve o
pescoço e acariciava sua barriga, onde os bebês chutavam de felicidade
pela reconciliação. Assim, ambos adormeceram....

Então, dois dias depois na sala de espera do consultório...

—Ai amor... será que vai demorar?—Ela perguntou ansiosa.

—Calma, é por hora marcada, creio que a atendente está vindo ali lhe
preparar para o exame.— Alessandro respondeu paciente.

—Ainda bem. Estou ansiosa para saber o sexo dos nossos bebês!
—Para quem no inicio da gravidez optou por não saber, a senhora está
bem ansiosa viu? —ele falou bem humorado, brincando com a ponta do
nariz afilado dela.

—Ah amor, mas agora eu quero...

A atendente da clinica se dirigiu até os dois que estavam sentados nas


luxuosas poltronas de couro da recepção. Afinal era uma clinica bem
frequentada, os herdeiros dos clãs Martinelli e Orsini não faziam
acompanhamento pré-natal em qualquer clinica comum.

—Senhora Martinelli? É a sua vez. Por aqui, querida, quanto ao senhor


poderá nos acompanhar se desejar. — A mulher falou de forma educada e
respeitosa.
—Claro! Desejo sim. — Ele respondeu entusiasmado.

Eles entraram no consultório, a médica os recebeu educada e de forma


amistosa. Era jovem, deveria ter no máximo uns trinta anos. Por um
momento Gio se recordou da cena quando ela no colegial ,as vezes, sentava
no colo do seu pai e dizia que queria ser administradora para ajudar a
administrar os negócios da família, e seu pai lhe dizia que não, ela seria
uma médica.

Gio foi orientada a se deitar na maca, estilo uma cama acolchoada,


enquanto seu marido sentou numa cadeira ao lado bem próximo a ela.
Alessandro, enquanto o exame iniciava e prosseguia, olhava a tela, ao
mesmo tempo que beijava e acariciava a delicada mão da sua esposa. Os
dois olhavam para a tela do monitor, mas não compreendia muita coisa,
dava para ver o que já sabiam, eu eram dois bêbês.

—Parabéns! Vocês serão pais de dois lindos garotos!— A médica


anunciou sorridente.

—Heim?— Gio e Alessandro, exclamaram iguais.

—Sim! São dois meninos.

Gio e Alessandro não tinha preferência por sexo dos bebês, mas aquilo os
pegou de surpresa. Ambos se olharam emocionados, ela ainda deitada e ele
sentado ao lado segurando com carinho a sua mão.

—Por favor! Finjam que eu não estou aqui!— a médica do seu jeito
jovial e simpático brincou— Ou melhor, irei sair por alguns minutos e
vocês ficarão a sós.

Assim que a médica saiu, Gio ainda deitada, virou o pescoço para o lado
e eles se beijaram apaixonados, enquanto Alessandro segurava a sua mão
com carinho. Em seguida ele levantou, acariciou a sua barriga e deu vários
beijinhos nela com Gio ainda deitada na maca.

—São dois meninos...— Ela falou emocionada


—Eu ouvi, meu amor, está feliz?—Ele perguntou de pé ao lado da maca.

—Sim, muito e você está?

—Sim, sou o homem mais feliz do mundo!

—Fico feliz em saber disso. Quais nomes daremos?— ela perguntou.

—Alguma sugestão?— ele falou compreensivo.

—Quero ouvir a sua primeiro...


—Claro... sabe amor, quando me foi feito a proposta de casar com você,
foi para selar a paz entre as famílias...

—Sim, foi...— Ela ainda se recordou do ultimo pedido do seu pai ,mas
não achou conveniente falar.

—Então, porque não damos ao nossos filhos os nomes dos nossos pais e
avós deles?

—O nome do meu pai? Mas... certa vez você insinuou que ele matou o
seu...

—Não falemos disso agora, se o meu tivesse tido a oportunidade teria


feito o mesmo com o seu... Assim é a vida entre clãs mafiosos rivais,
querida...

—Entendo....

—Então, por mim eles se chamarão: Enrico Orsini Martinelli e Francesco


Orsini Martinelli.

—Combinado! Está decidido! Alessandro... você é o mafioso de melhor


coração que eu conheço...

—Não, querida! O meu amor por você foi quem transformou meu
coração...
Os dois se olharam novamente e ensaiaram aproximar o rosto para mais
um beijo, mas foram interrompidos pelo retorno da médica ao consultório.
Afinal, ela já havia dado tempo demais para os dois ali sozinhos.
Epilogo
Quinze dias depois...

—Tem certeza de que quer mesmo fazer isso, neste momento? Não
poderia esperar até os nossos bebês nascerem?—No banco traseiro do
veiculo Alessandro perguntou segurando firme a sua mão e a olhando nos
olhos.

—Sim, tenho! Eu quero.— Gio sentada ao seu lado no banco traseiro da


mercedes preta, respondeu.

—Tudo bem! Então, irei com você.— Ela a beijou na testa e saiu do
veiculo, em seguida contornou o carro e abriu a porta num gesto
cavalheiresco e a ajudou a descer. O Genaro poderia fazer isso, mas ele
preferiu assim.

Gio saiu do carro devagar, estava pesada, já estava entrando nos nove
meses e os bebês já estavam a caminho.

—Genaro, nos aguarde aqui, por favor!— ele ordenou ao motorista .


Alessandro e Gio subiram devagar a escadaria do cemitério de
Palermo. Cruzaram os portões altos de grades acobreadas e caminharam
entre os antigos jazigos do lugar. Muitas famílias importantes estavam
enterradas ali. Gio caminhava devagar com uma mão na barriga e outra
segurando a mão do seu marido. Até chegar diante do jazigo de mármore
italiano branco pertencente a família Orsini. Ela ficou de pé diante dele a
contemplar o tumulo e Alessandro, meio que de lado a abraçou.

Então, Gio se aproximou bem perto do tumulo, seu marido se afastou um


pouco para lhe dar mais privacidade. Ela acariciou com as mãos as fotos da
sua mãe Antonella que ela não se recordava viva, do seu pai Don Enrico, do
seu irmão Lorenzo e falou baixinho.

—Lorenzo... desculpe eu não ter vingado a sua morte! Mas não nasci
para matar, nasci para amar...Mas entregarei a justiça dos homens.— Ela
falou enquanto com dedos delicados acariciava sua foto de porcelana no
tumulo.

—Pai, desculpa por ser uma fraca, como o senhor me disse antes de
morrer. Mas me orgulho disso, pois se eu fosse forte teria cometido uma
injustiça e hoje não estaria tão feliz e esperando os seus dois netos. A paz
finalmente foi selada, mas não as custas de traição ou vingança, mas sim
graças ao amor!

Então, ela se afastou um pouco e voltou para o lado do seu marido e de


pé diante do túmulo falou.

—Eu sou a prova viva , pai que a vingança não é quem deixa a alma leve
e lavada, mas sim o amor! Graças a este amor carrego na barriga os
herdeiros que realmente uniu os dois clãs, pois carregam seu nome e o do
pai do Alessandro. Mas desta vez escreverão uma nova história, pois quero
que sejam homens de bem e que não perpetuem a descendência de
mafiosos...

Ao pronunciar isso, ela virou de frente para o marido e o abraçou mais


forte.

—Vamos para casa querida, você já fez o que o seu coração pedia e eu
estou muito orgulhoso de você!

Então, eles saíram caminhando devagar de mãos dadas em direção ao


portão de saída do cemitério. Agora era repousar e esperar a chegada de
Enrico e Francesco, os herdeiros que escreveriam uma nova história na
família.

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