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Nota da autora

Olá, querida leitora! Seja bem-vinda ao universo de Marcus Collins


e Ayla Munis. Aqui, você vai encontrar um romance com uma pitada darck
e um gostinho de mistério. Nosso protagonista tem uma personalidade
possessiva e controladora, mas garanto a você que ainda no primeiro
capítulo vai querer colocá-lo em um portinho. Já Ayla é uma jovem que tem
uma personalidade leve e divertida, que vai fazer toda a diferença na vida
do nosso viúvo recluso.
A obsessão do viúvo recluso – Uma herdeira surpresa é o primeiro
livro da série os viúvos de Seatlle e é um romance recomendado para
maiores de dezoito anos, devido à linguagem imprópria e cenas explícitas
de sexo. Se você tem menos de dezoito anos, este livro não é recomendado
para você.

Com carinho,
Adri luna
Copyright © 2023 Adri Luna
Diagramação: Adri Luna
Revisão: Sônia Carvalho
Betagem: Letícia Ribas - Samanta Marinho – Jéssica Nery

Livro registrado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, em novembro de


2023.
Recife – Pernambuco, Brasil, 2023.

Todos os direitos reservados. Informamos que todos os direitos desta obra


são reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte
ou personagens deste livro, sem a autorização prévia da autora por escrito e
registrada, poderá ser reproduzido ou transmitido, seja em quais forem os
meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou
quaisquer outros.
Esta é uma obra fictícia, quaisquer semelhanças com pessoas reais vivas ou
mortas é mera coincidência.

CONTATO:
E-mail: adrianalunagaldino@gmail.com Instagram: @autoraadriluna
Para a querida Calistene Vieira. Marcus Collins é um homem dominador e
possessivos, ele sabe bem como envolver uma mulher. Esse homem de
olhar misterioso e pegada gostosa é todo seu.

Dedico este livro a todos àqueles que, como eu, trilham jornadas
repletas de encontros e desencontros, de feridas e curas. Que compreendem
que a complexidade das relações humanas muitas vezes nos confronta com
corações machucados e almas que ainda não aprenderam a receber o amor.
Que reconhecem a importância vital de nutrir o amor próprio, assumir a
responsabilidade pela nossa própria felicidade antes de buscar nos outros
aquilo que só podemos encontrar dentro de nós mesmos. Este livro é
dedicado a vocês, que seguem em busca da verdadeira essência do amor.
AGE GAP + CASAMENTO POR CONTRATO + GRAVIDEZ INESPERADA + PATRÃO X
FUNCIONÁRIA.

O herdeiro Marcus Collins é um viúvo conhecido por sua reserva e


rigidez. Envolto de um passado sombrio, ele é alvo de suspeitas
relacionadas a uma morte misteriosa. Em busca de uma nova funcionária
que aceitei trabalhar para um homem suspeito de assassinato, o seu
caminho se cruza ao de Ayla Munis, uma jovem com segredos guardados
a sete chaves.

O novo emprego será a solução para as suas necessidades urgentes


de abrigo e dinheiro. Mas quando um dos segredos vem à tona, Marcus
propõe um casamento por conveniência. O acordo é uma maneira de
encobrir o segredo dela, mas também representar para Marcus a
oportunidade perfeita de limpar a sua reputação e recuperar o controle
sobre sua imagem pública. Porém, tamanha proximidade pode trazer
sentimentos que ambos não esperavam surgir.
Capítulo 01

Marcus Collins
Estou sentado no banco dos réus, Joseph, meu cunhado, me olha
com ódio. Não é como se a nossa relação algum dia tivesse sido
maravilhosa, mas sempre nos toleramos em respeito às nossas esposas, que
eram irmãs. Os murmúrios das pessoas ecoam em meus ouvidos como um
zumbido insuportável, as opiniões estão divididas, e a mim só o que resta é
ouvir o veredito do Juiz.
— Este homem tem uma personalidade obsessiva. Ele a mantinha
como sua prisioneira, talvez confiando em seus bilhões ou no cargo que já
ocupou nas forças especiais do exército. Não posso afirmar ao certo, mas
sim garantir que entre ele e Julia Carter nunca houve uma relação saudável
— a voz de Joseph reverbera. Sua expressão de ódio e músculos
tensionados vão de encontro à minha postura que luto para transparecer
calma.
Meu advogado levanta a mão, pedindo a palavra, concedida pelo
Juiz.
— O advogado de acusação parece movido pela emoção. É
importante lembrar que a acusação deve ser baseada em fatos e provas
substanciais. Até o momento, neste tribunal, ficou claro que meu cliente
não tinha motivos plausíveis para cometer um ato tão terrível como o
assassinato de sua esposa, com quem compartilhou sete anos de sua vida. A
relação deles foi marcada por inúmeras demonstrações de afeição e
companheirismo, o que foi amplamente documentado em vídeos e fotos do
casal, mostrando que eles compartilharam momentos de felicidade e amor
genuíno. Não devemos permitir que as emoções nublem o nosso
julgamento, mas sim buscar a verdade com base em evidências concretas e
testemunhos imparciais.
— É fato que o acusado culpava sua esposa de adultério, indo ao
extremo de alegar que o filho que a vítima esperava não era dele.
— Senhor Joseph, a palavra não lhe foi concedida; por favor,
controle-se — pede o juiz.
Ele suspira, encarando-me mais uma vez, desejando, se fosse
possível, que fogo jorrasse de seus olhos.
— Essas alegações podem parecer incriminatórias à primeira vista,
mas precisamos olhar além das aparências. Essas acusações são
manifestações de ciúmes e desconfiança, e não provam a culpa do meu
cliente na morte de sua esposa. A discussão sobre a paternidade do filho em
questão deve ser encarada como um sintoma dos problemas conjugais que
enfrentavam, mas não é uma evidência direta de homicídio. É imperativo
que este tribunal não tome conclusões precipitadas com base em
suposições, mas sim examine todas as evidências disponíveis de forma
objetiva e imparcial.
— Duas mulheres e uma criança ainda no ventre perderam suas
vidas, e o senhor apresenta a explicação de problemas conjugais como
justificativa. Este homem é um criminoso, responsável pela morte das três
vítimas — Joseph diz exaltado.
— Senhor Advogado de acusação, solicito que mantenha a
compostura, ou será removido da sala de audiências — fala o juiz com um
tom calmo.
As horas se arrastam em um julgamento angustiante, o juiz
determina que as provas ainda não estão suficientemente claras, e que será
agendada uma nova data para o veredito. Viverei isso por mais algum
tempo, o que não me deixa nada satisfeito.
Na saída do tribunal, sou cercado por repórteres eufóricos em busca
da sentença que não veio. Algumas mulheres seguram placas exigindo
minha prisão, enquanto outras gritam em defesa da minha inocência. O caso
se tornou famoso, e eu, que sempre fui respeitado, me tornei um monstro.
Chego à mansão, abro uma garrafa de uísque e não me dou ao
trabalho de pôr em um copo.
— Merda! — esbravejo derrubando objetos na minha frente.
— O senhor precisa de algo? — pergunta, Peter, o meu mordomo.
— Preciso de paz, pode me conseguir isso, Peter? — grito enquanto
ando em círculos pela sala. — Grávida? — Sorrio com amargura. — Você
lembra Peter, quantas vezes a Julia, jogou na minha cara que eu não poderia
lhe dar um filho? Foram sete anos, fazendo de tudo por ela e por esse
casamento, e no final ela morre grávida. De quem era o filho, porra? —
Jogo longe a garrafa.
— O senhor precisa se acalmar — ele sussurra quando duas das
empregadas nos observam.
— Eu não a matei, eu sequer sabia que ela estava grávida. Ela me
pediu o divórcio e sabia que estava grávida. Você entende isso, Peter? Ela ia
ficar com o pai da criança. — Jogo-me no sofá, esfregando os olhos,
impedindo que qualquer gota que ameace cair deles escorra pela minha
face.
— Eu sei o quanto o senhor tratava bem a senhora Júlia — ele diz
com uma voz gentil, talvez ele seja o único que confia em mim, já que as
mulheres que nos observam têm os olhos esbugalhados.
Minha relação com Julia não era tranquila, embora eu me esforçasse
para agradar aos seus muitos caprichos. Ela nunca me amou, não sei se por
ser um casamento arranjado ou porque já amava alguém. O fato é que, não
importa o que eu fizesse, ela nunca me olhou com ternura. Meus ciúmes
cresceram ao longo do tempo. Era impossível não notar como ela tratava as
pessoas, e o quanto ela se esforçava para demonstrar afeto por mim. Essas
são as recordações boas gravadas em fotos e vídeos. Momentos falsos.
— Eu sei que não é um bom momento, mas estamos precisando de
uma empregada, mais uma pediu demissão hoje.
Mordo o lábio, passando a mão pelos cabelos. Já faz um ano desde a
morte de Júlia, e eu ainda vivo nesse pesadelo. Talvez o maior culpado seja
Joseph, que insiste em me acusar de ter matado a minha esposa, juntamente
com a dele, quando as duas faziam um passeio juntas. Cristina Carter, a
irmã mais nova de Júlia.
— Ligue para a agência e contrate outra — ordeno, com um olhar
firme para Peter.
Ele força um sorriso, mas desta vez, não repete a frase de sempre,
"nenhuma mulher quer vir trabalhar nessa casa, senhor." Já que, todas as
vezes que diz essas palavras, eu simplesmente grito para que ele ofereça o
triplo do valor se necessário. O que eu não posso fazer é permitir que a
mídia pense que nenhuma mulher trabalha na minha casa, alimentando
história sobre quem de fato eu sou.
Eu sei que Joseph não me poupará. Ele acredita firmemente na
minha culpa, e a cada oportunidade que tem, ele tenta me arrastar para o
abismo das suspeitas. A sombra de sua acusação ainda me destroça, mesmo
após um ano da tragédia que abalou minha vida. Preciso encontrar a
verdade e provar minha inocência, se o carro sofreu uma falha mecânica ou
foi sabotado, a verdade está em algum lugar.
Capítulo 02

Ayla Munis

Há um ano, cheguei aos Estados Unidos com uma bolsa de estudos


para aprimorar o meu inglês. No entanto, permaneço em Seattle,
irregularmente no país, trabalhando sem autorização. A única razão que me
mantém aqui é a necessidade de enviar dinheiro para o tratamento da minha
mãe, que reside no México com o restante o meu irmão.
Nesse momento, estou realizando a limpeza de uma agência de
empregos, um trabalho que consegui graças ao esforço da minha amiga
Fernanda, que quase implorou ao dono da agência para me dar essa
oportunidade. Ela tem autorização para viver legalmente no país e sempre
consegue trabalhos melhores, com remunerações mais vantajosas. Muitas
vezes, ela direciona alguns desses trabalhos para mim, de forma sigilosa, e
eu executo as tarefas em seu lugar. Sou imensamente grata a ela.
— Onde? — Ouço a gargalhada de uma das colegas.
— Na mansão Collins — O funcionário repete, mantendo uma
expressão séria, visivelmente irritado pelas risadas das demais.
— Ninguém vai trabalhar na casa daquele homem — outra comenta
com um ar de deboche.
— Ele está oferecendo um salário generoso, além de um emprego
estável, com refeições inclusas e moradia na mansão.
Olho para Fernanda, que balança a cabeça negativamente,
claramente desaprovando a ideia. Para mim, parece uma excelente
oportunidade, tudo o que preciso: um bom salário, alojamento e
alimentação, sem que eu precise retirar dinheiro do meu próprio bolso.
Balanço a cabeça positivamente, e ela morde o lábio, demonstrando sua
preocupação.
— Fernanda, esse emprego me permitirá enviar todo o dinheiro
necessário para o tratamento da minha mãe — argumento, puxando-a para
um canto para conversar em particular.
— Você tem certeza de que quer trabalhar na casa dele?
— Até onde sei, ele é um bilionário do ramo de segurança privada.
Inclusive, a empresa para a qual trabalhamos contrata os serviços dele, não
por pena, mas porque ele é altamente competente no que faz.
— Mas...
— Fernanda, não estou preocupada se ele é culpado ou inocente.
Após a morte da esposa, ninguém mais apareceu morto, certo? Ou
apareceu? — pergunto, interrompendo seus argumentos.
— Se isso é o que você deseja tanto, eu aceito o trabalho e você vai
em meu lugar — diz com um tom preocupado, mas não continua rebatendo.
Na volta para casa, fico assistindo pelo celular as notícias sobre o
Collins. Sua postura é séria, ereta e imponente, provavelmente resultado de
anos de treinamento rigoroso e de liderança no campo de batalha. Ele tem
uma expressão de confiança em seu rosto, que nos passa a sensação de que
é alguém que sabe como lidar com qualquer tipo de situação.
O telefone toca, interrompendo meus pensamentos, e eu atendo
prontamente, percebendo que é meu irmão do outro lado da linha.
— Ayla, quando você vai enviar mais dinheiro? — ele pergunta,
antes mesmo de perguntar como foi o meu dia.
— Como está a nossa mãe? — questiono ansiosamente.
— Transferimos ela para outro hospital, como você sugeriu.
— Ótimo, eu farei um depósito amanhã cedo, consegui um novo
emprego.
— Vou dormir então, pois começo cedo no trabalho amanhã. Estou
fazendo horas extras. Espero que você esteja bem. Eu te amo. — Encerro a
ligação, com o choro contido em minha garganta. Sinto uma profunda
saudade deles, e desejo estar ao lado da minha mãe.
Na manhã seguinte, levanto-me cedo. Fernanda já havia saído, pois
ela trabalha tanto quanto eu, visando retornar ao país e proporcionar uma
vida melhor para seus pais e irmão mais novo. Arrumo uma pequena bolsa
com algumas peças de roupa, embora não tenha muitas. Tomo um banho
rápido e mordo algumas torradas antes de sair de casa em direção à
residência do senhor Collins.
Pego um táxi e chego à mansão em poucos minutos. Fico
profundamente impressionada com o lugar, que mais parece um quartel do
que uma residência. Os homens posicionados na entrada parecem soldados,
em vez de meros seguranças, e a guarita na entrada é imponente e alta,
inspirando respeito e até certo temor.
— Nossa! — exclamo, completamente abismada com a
grandiosidade do local.
— Bom dia, senhorita — um dos seguranças me cumprimenta com
uma expressão séria.
— Bom dia, sou Fernanda, a nova funcionária — respondo,
tentando ocultar meu nervosismo diante daquele ambiente imponente.
— Pode entrar, a agência nos informou sobre a sua chegada.
— Muito obrigada — agradeço, passando por ele, ainda
maravilhada com o que me cerca.
Caminho lentamente em direção à entrada da mansão, girando em
círculos enquanto absorvo cada detalhe deslumbrante. Nunca estive em uma
residência tão grande e luxuosa como essa. Paro em frente à porta, e antes
que eu levante a mão para bater, ela se abre suavemente, revelando um
homem de estatura baixa, calvo e com um sorriso caloroso no rosto.
— Bom dia, senhorita. Você deve ser a Fernanda — ele
cumprimenta com simpatia.
— Sim, sou eu — respondo, tentando conter minha admiração pelo
luxo do lugar.
— Excelente, eu sou Peter, o mordomo desta casa. Venha, entre.
Vou levá-la ao seu quarto, para que possa acomodar suas coisas, e em
seguida mostrarei o restante da residência.
— Perfeitamente, senhor — falo acompanhando os seus passos. —
Quantas pessoas moram aqui? — pergunto após notar que o lugar é ainda
maior do que pensei.
Ele sorri parando em frente a uma porta imensa, grande e exagerada
como tudo ali dentro.
— Aqui é o seu quarto, deixe as coisas aí e vou mostrar a casa toda
para você.
Entro no cômodo boquiaberta, percebendo que ele é maior do que o
apartamento em que eu morava. A vista direta para o jardim, através de uma
imensa janela, permite que uma brisa fresca circule pelo ambiente.
— Certo, já deixei minhas coisas aqui, vamos — expresso minha
animação.
— Muito bem... Quanto à sua pergunta sobre os moradores, teremos
apenas o senhor Marcus como patrão. Ele normalmente se mantém no andar
de cima e desce apenas para as refeições, mas nem sempre. Possui um
escritório onde realiza suas videoconferências, raramente ele vai
pessoalmente à empresa. No piso térreo, temos o alojamento dos
empregados, que somos em número reduzido, totalizando quatro
funcionários, contando com você. Além disso, eu, como mordomo da casa.
Os seguranças possuem uma habitação anexa, mas alguns ainda realizam
suas refeições na cozinha da casa principal.
— E o que há atrás dessa porta? — pergunto, enquanto ouço ruídos
vindos do interior.
— Trata-se de uma sala de treinamento.
— Treinamento? — questiono, com o cenho levemente franzido,
demonstrando curiosidade.
— Sim, o senhor Collins ministra diversas modalidades de
treinamento para os funcionários que ele considera promissores. Lá fora,
temos uma parte do jardim designada para treinamento de tiro. Portanto, se
você ouvir barulhos desse tipo, não se assuste, é algo bastante comum.
Também aconselho a não se aventurar por lá, uma vez que nunca podemos
ter certeza da pontaria dos novatos.
— Claro, diga-me exatamente onde fica, que me manterei o mais
distante possível desse local — respondo, com um tom descontraído e ele
sorri.
— E, por último, só fale com o senhor Collins se ele iniciar a
conversa. Ele é conhecido por ser reservado e não gosta de intromissões. Se
você está realmente interessada nesse emprego, essa regra é crucial.
— Sem problemas, falarei apenas se ele iniciar a conversa.
— Você está aprendendo rápido — ele elogia com satisfação.
— Certamente, este emprego é de grande importância para mim, e
eu vou me esforçar ao máximo.
Após todas as instruções, Peter me encaminha para a cozinha, onde
encontro as outras duas funcionárias. Elas são jovens como eu, e
constantemente usam sorrisos, como se estivessem se divertindo enquanto
trabalham.
— Já está na hora do almoço — uma delas comenta, exibindo um
sorriso sorrateiro.
— O que é tão especial hoje? — pergunto, curiosa.
— Os seguranças vêm almoçar aqui na cozinha conosco.
— Ah, entendi. — Deve haver alguma preferência entre elas com os
seguranças. — E em relação ao senhor Collins, quando devemos arrumar a
mesa para ele?
— Ele não costuma descer, faça uma bandeja e leve para o quarto
dele — a outra responde com desdém, como se estivesse falando de um
hóspede qualquer, não do dono da casa.
— Eu? — minha voz soa surpresa.
— Claro, você precisa aprender logo. Vou ajudá-la a montar a
bandeja desta vez, para que você aprenda.
Ela pega pratos de porcelana e talheres de prata, explicando como
montar o prato de acordo com as preferências do senhor Collins.
— Ele segue uma dieta rigorosa, então é importante pesar os
alimentos. Temos uma tabela com a quantidade de carboidratos e proteínas
que ele consome diariamente. Não cometa erros, ele é capaz de perceber o
peso do prato só de olhar.
— Entendi, não vou errar.
Com cuidado, equilibro a bandeja e subo as escadas, parando em
frente ao quarto do senhor Collins. Coloco a bandeja sobre uma mesa
adjacente, que aparentemente estava ali para esse fim. Não há nenhum som
vindo do quarto, e a porta entreaberta me dá a impressão de que ele não está
presente, o que me permite entrar, deixar a bandeja e sair despercebida.
Entro silenciosamente e vejo uma mesa próxima à varanda do
quarto. Sinto um suspiro escapar dos meus lábios ao perceber o quão grande
é o cômodo. Por que alguém precisa de um quarto tão espaçoso?
— Quem está aí? — uma voz grave ressoa no quarto, e um homem
alto, com músculos bem definidos e diversas tatuagens espalhadas pelo
corpo, surge enrolado em uma toalha.
— Virgem de Guadalupe — exclamo, assustada, tentando fechar os
olhos para evitar ver o volume que está por trás do tecido felpudo. No susto,
deixo a bandeja cair, e todas as louças se espatifam no chão.
Capítulo 03

Marcus Collins

— Quem diabos é você? — grito, vendo sua perna tremer em


resposta ao meu susto.
— Perdão, senhor, perdão — ela balbucia, retirando a mão dos olhos
e se virando de costas, evidentemente envergonhada.
— Limpe tudo e saia — ordeno, mantendo minha postura usual.
— Posso esperar que o senhor esteja vestido antes de voltar — ela
diz rapidamente, correndo para fora do quarto como um foguete
desgovernado, deixando-me a sós.
Após me trocar, retorno à porta, onde encontro a jovem apertando os
dedos, visivelmente nervosa.
— Entre e limpe essa bagunça — ordeno, saindo do quarto.
— Agora mesmo, senhor — ela responde apressadamente.
Desço as escadas e chamo por Peter, que aparece no corredor.
— Pois não, senhor? — Ele me encara com uma expressão confusa.
— Quem é a garota de olhos verdes? — pergunto, franzindo o cenho
ao questionar.
— A Fernanda?
— Fernanda? O que diabos ela fazia no meu quarto sem ser
autorizada? — ele esboça surpresa, cobrindo a boca com a mão. — Por
favor, senhor, perdoe a garota. Ela chegou hoje.
— E você sequer a treinou devidamente? Ela fez uma bagunça no
meu quarto.
— Perdão mais uma vez, senhor. Permita-me ir ajudá-la. — Ele
passa rapidamente por mim em direção ao quarto.
— Preparem a mesa — ordeno, ainda na sala, consciente de que as
funcionárias conseguem ouvir tudo nessa casa.
— Imediatamente, senhor — uma delas responde, surgindo
apressadamente.
Em questão de minutos, minha refeição está na mesa, e vejo a garota
mais nova descendo as escadas com a cabeça abaixada, carregando uma
bandeja repleta de cacos. Nossos olhares se encontram no momento em que
ela passa ao meu lado, e mais uma vez ela vira o rosto rapidamente, como
se temesse meu olhar.
Que diabos. Agora as pessoas devem pensar que saio matando quem
atravessa meu caminho?
— Você! — chamo, e ela para imediatamente. — Entregue a
bandeja e permaneça aqui para me servir.
Ela assente, erguendo o peito e forçando um sorriso, como se
quisesse mostrar sua disposição para corrigir o erro.

Ayla Munis

É fim de tarde, e me encontro na janela do meu quarto, aproveitando


uma breve pausa antes de iniciar os preparativos para a ceia. A casa, para
além de sua imponência, está repleta de homens que mais parecem soldados
do que meros seguranças. Dou uma risadinha para mim mesma, apreciando
a peculiaridade do local.
Nesse momento, o telefone toca, interrompendo meus devaneios.
Atendo apressadamente, verificando que se trata de uma ligação de
Fernanda.
— Alô! — digo ao atender a ligação.
— Ayla, como estão as coisas por aí?
— Bem, tirando o fato de que eu quebrei algumas peças de louça da
era vitoriana e um cristal que valia uma fortuna, estou bem.
— Ayla! Você já está aprontando suas trapalhadas aí — Fernanda
me repreende.
— O que você esperava que acontecesse, Fê? Entrei no quarto para
deixar a comida, e o encontro seminu, com tudo à mostra. — Rio de forma
divertida, agora que o momento tenso já passou, posso me permitir
encontrar graça na situação.
— Jura? — Ela solta uma gargalhada do outro lado da linha. — Você
tem uma semana para conseguir receber o salário diretamente. Assim que
você acertar as coisas, me avise, e eu vou dizer que pedi demissão. Você
sabe que meus horários ficaram reduzidos, eles acham que estou
trabalhando nesta casa.
— Eu sei, e agradeço muito pelo esforço que está fazendo por mim.
Vou resolver isso antes de uma semana, o mordomo aqui parece ser bem
compreensivo.
— Você é uma pessoa corajosa, e sabe disso, não é? Fazer diárias
em meu nome é uma coisa, mas viver naquela casa 24 horas como outra
pessoa é outra história.
— Assim que minha mãe receber alta, eu vou embora.
— Ai, Ayla, espero que isso aconteça logo.
Por alguns breves segundos, minha respiração se interrompe, meu
olhar fixado na imagem do homem alto e com um corpo esculpido
perfeitamente, que surge no fundo do jardim, executando um exercício
diferente com uma vara que gira no ar.
— Ayla? — Fernanda chama minha atenção, interrompendo minha
contemplação.
— Fê, vou desligar agora. — Encerro a ligação e apoio meus
cotovelos sobre o parapeito da varanda, descansando meu rosto nas mãos.
— Uau! — murmuro, admirando sua impressionante habilidade.

Durante o jantar, ele continua a sua rotina solitária, consumindo a


refeição em um silêncio constante. Mesmo com risadas procedentes da
cozinha, onde os seguranças parecem descontraídos quando não estão
cumprindo seus deveres, ele permanece como uma figura enigmática, nunca
exibindo um sorriso sequer e mantendo uma expressão que desafia qualquer
tentativa de decifrar o que se passa em sua mente.
— Já estou satisfeito, retire a mesa — ele diz arrastando a cadeira ao
se levantar.
— Tenha uma boa noite, senhor — falo e ele enterra os passos para
me olhar por cima do ombro.
Torço o nariz me lembrando do que Peter me disse sobre não iniciar
interação, apenas responder.
— Descanse, você parece cansada. Peter — ele chama e em segundo
ele está em pé na sua frente. — Ordene que as outras funcionárias retirem a
mesa, a garota já pode se recolher.
— Certamente, senhor.
— Não estou cansada, senhor, posso seguir a carga horária normal
e… — Peter me olha indicando que devo sair agora e eu me calo.
— Com licença. — Abaixo a cabeça me retirando para o meu
quarto.
Macus Collins

Contorço-me na cama, preso em mais uma noite infernal, onde além


dos ensurdecedores tiros e explosões, posso ver claramente o rosto de Julia
e Cristina. Elas estão lá, de pé, ao meu lado, olhando-me com olhos cheios
de medo enquanto tento desesperadamente resgatá-las do terrível
redemoinho dos bombardeios que envolvem uma guerra interminável. Cada
segundo parece uma eternidade, e a sensação de impotência me sufoca, pois
não importa o quanto eu me esforce, não consigo alcançá-las, e a escuridão
continua a me envolver.
— Júlia! — Acordo suado, gritando o seu nome, em mais uma noite
de insônia e pesadelos. O relógio, implacável, me informa que mal consegui
desfrutar de duas horas de sono. Como é costume nas noites em que o sono
me escapa, desço pela mansão silenciosa, cujas paredes guardam memórias
de um passado que preferiria esquecer, nunca fui feliz com a Júlia, embora
esse fosse o meu desejo desde o início. E confesso me sentir culpado por
não poder dar a ela um filho que ela me dizia querer ter. Será que por isso
que você me traiu, Júlia?
Minha trajetória já é conhecida pelos meus pés, que me levam
automaticamente à cozinha. Preparo um chá, cujo vapor reconfortante
parece ser a única companhia nas horas sombrias. Enquanto tomo a bebida,
percorro as sombras da mansão, preso em meus próprios pensamentos, que,
como fantasmas, me assombram.
— Ah, senhor, Darcy, você não facilita em nada para que eu goste
só um pouco de você. — Escuto uma voz com um tom de divertimento
vindo da biblioteca, que me intriga. Com passos silenciosos, aproximo-me
da porta entreaberta, e ali, paro.
Observo a empregada nova, recém-chegada à casa, sentada em uma
das poltronas de costas para a entrada. Silenciosamente, tomo assento em
um sofá, escondido entre as numerosas estantes que preenchem o local.
Minha curiosidade despertada, fico atento, ouvindo com atenção a leitura
que ela faz, recitando trechos do livro "Orgulho e Preconceito", escrito por
Jane Austen, com uma expressão concentrada e envolvente. Cada palavra
soa como um eco que me faz relaxar preso à sua voz doce, e um tanto sexy,
quando ri entre as palavras.

"Você deve saber... Certamente, você deve saber que não posso
suportar sua falta de modéstia."
"Realmente, você é bom demais para mim", disse ele, com um ar
sério.
"Você é muito gentil para dizer essas coisas. Você acredita mesmo
que sou a melhor pessoa que já conheceu?"
"Não quero me envaidecer", respondeu Darcy, "mas confesso que
não posso imaginar ninguém sendo mais desejável."
À medida que ela recita com graciosidade cada palavra, sinto o meu
corpo relaxar, sua voz me envolve como um suave calmante. Acomodo-me
no sofá, fechando os olhos e permitindo que o sono se aposse de mim. Não
recordo o exato momento em que adormeço, mergulhando em um sono
profundo, embalado pelas palavras que ecoam suavemente em meus
ouvidos.
Capítulo 04

Marcus Collins

Desperto com uma sensação de sonolência no sofá, mas, ao mesmo


tempo, sinto-me revigorado, como se tivesse dormido mais do que o
necessário, embora o relógio na parede teime em marcar apenas seis e meia
da manhã. Uma macia coberta cobre o meu corpo, algo que não estava aqui
quando me deitei.
Fico deitado por algum tempo, contemplando o teto ricamente
decorado da biblioteca. Embora eu não tenha lido por inteiro nenhum livro
que tem aqui, eu sei boa parte de cada história que tem nessas estantes. Isso
se deve ao fato de que minha mãe costumava me contar histórias antes de
dormir, recitando com graciosidade as linhas de clássicos da literatura
inglesa. Essa biblioteca majestosa, tão presente em minha casa, torna-se
uma conexão com ela, que se apegava a mim nas noites em que rezava para
que meu pai retornasse são e salvo dos campos de batalha.
Cresci em um ambiente militar, apesar de minha família ser
proprietária de um império milionário no ramo de segurança privada, meu
pai sempre me incentivou a seguir a carreira militar, como se fosse uma
espécie de rito de passagem para os homens da família. Ao assumir o cargo
de comandante das forças especiais do exército americano, vi nos olhos
orgulhosos de meu pai a validação de minha escolha e dedicação à carreira
militar. Pensei por diversas vezes como seria no dia em que tivesse um filho
e tudo que eu passaria para ele como o meu pai fez um dia comigo.
Ouço o ranger suave da porta se abrindo e, em seguida, a nova
empregada entra na biblioteca, caminhando silenciosamente na ponta dos
pés. Seu olhar tímido e hesitante encontra o meu, mas ela logo o desvia,
virando-se rapidamente. Teria sido ela a responsável por trazer a coberta?
— Bom dia! — cumprimento-a com minha voz habitualmente
firme.
— Bom dia, desculpe se acordei o senhor. — Sua voz soa suave e
contrita e ela se vira em minha direção, mas não ergue a cabeça.
— Eu não dormi aqui. Apenas estou sentado, relaxando um pouco.
— Ah, claro. Quem em sã consciência dormiria em um sofá na
biblioteca, tendo uma cama espaçosa à disposição no próprio quarto? — Ela
devolve um sorriso, embora irônico, que, mesmo discreto, chama minha
atenção. Isso me surpreende, já que raramente troquei mais do que algumas
palavras com as outras empregadas, à exceção de Peter, que está comigo há
muitos anos.
— Como gostaria de tomar o seu café da manhã?
— Não sabe que deve sempre questionar o Peter sobre tudo nessa
casa? — pergunto, talvez ela não entenda de hierarquias.
— Certamente, senhor, farei isso.
— Leve o meu café da manhã até a varanda do meu quarto, mas
certifique-se de bater e ser autorizada a entrar, caso contrário posso não
estar de toalha da próxima vez. — Ela arregala os olhos e suas bochechas
coram. O quão inocente ela é? Isso, de fato, me desperta certa curiosidade.
— Vá, se apresse, estou com fome.
— Agora mesmo senhor — diz, com as duas mãos nas bochechas
enquanto se vira para sair da biblioteca.
Subo até o meu quarto para tomar um banho. Aproveito a água
quente que escorre sobre o meu corpo, permitindo-me fechar os olhos por
alguns minutos, desfrutando da sensação de relaxamento que a ducha
proporciona. Após o banho, troco de roupa e, em questão de minutos, ouço
uma batida suave na porta.
— Pode entrar — digo, e ela entra com um sorriso estampado no
rosto, tinha um ar de vitória, o que me faz pensar que ela ficou por trás da
porta por algum tempo, ouvindo os sons até decidir que era o momento
apropriado para bater.
— Com licença, senhor. — Ela entra no quarto, dirigindo-se
diretamente à varanda e colocando a bandeja com certo orgulho, como se
tivesse superado o desafio de não quebrar nenhuma louça hoje. Em seguida,
ela vira as costas, ensaiando uma saída rápida, do quarto.
— Aonde vai com tanta pressa? — pergunto, surpreso, e ela
rapidamente retrocede.
— Deseja algo mais, senhor? — indaga, com as sobrancelhas
levemente franzidas.
— Fique e me sirva — respondo, como se fosse algo óbvio.
— Ah, claro, isso... O que deseja comer primeiro? Vejamos... Hum...
Ovos. Proteína sempre vem antes do carboidrato — ela afirma, com
convicção.
— Não sou uma criança. Posso colocar a comida no meu prato.
Quando pedi para me servir, era apenas para que ficasse aqui à disposição,
caso eu necessitasse de algo mais — explico, tentando ser paciente.
— Sim, claro. Perdão, senhor — ela responde, e balanço a cabeça
negativamente, ainda perplexo com a atitude dela. Onde Peter encontrou
essa garota?
Observo discretamente a jovem à minha frente enquanto ela balança
a cabeça em um gesto de desculpas. Não posso evitar notar os detalhes de
seu corpo esbelto e da graça natural que ela parece irradiar. A presença dela
na minha casa e sua beleza cativante são algo que não consigo ignorar.
Seus olhos verdes, profundos e cativantes, destacam-se com
intensidade em contraste com a pele impecável. Sua boca, com lábios
rosados e convidativos, curva-se em um sorriso nervoso, e eu não posso
deixar de reparar em como eles acentuam sua beleza.
Não tenho o costume de me impressionar facilmente, mas algo nela
parece diferente. Talvez seja a ousadia de me confrontar com aquele sorriso
irônico ou a determinação que ela exibe, o que me faz pensar que ela não é
apenas uma empregada comum.
— Espero que tenha aprendido algo com a sua pequena lição de
hoje — comento, mantendo minha expressão séria, embora uma parte de
mim ache graça em sua atitude.
Ela concorda com a cabeça, e se mantém em silêncio, como se já
tivesse compreendido minha mensagem. Independentemente do que Peter
viu nela, vou garantir que ela se encaixe perfeitamente na minha casa e nas
minhas regras.
— Agora pode sair, eu não precisarei de mais nada. — Viro o rosto
para o lado oposto ao dela, encarando o horizonte à medida que ouço os
seus passos apressados saindo do quarto. Viro-me por um instante para
checá-la melhor por trás e só para ter certeza do quão bem desenhada ela é.
Sexy, é isso que ela é.
Capítulo 05

Ayla Munis

— Espero que tenha aprendido algo com a sua pequena lição de


hoje — resmungo, expressando meu desagrado. — O que tem de bonito
tem de mandão e chato.
Um susto percorre meu corpo quando ouço a voz de Peter atrás de
mim. Sem querer, minhas palavras escaparam em voz alta.
— De quem está falando, Fernanda? — ele pergunta, parecendo
surpreso com a minha observação.
— Falando de quem, eu? Imagina, eu só estava pensando alto, sabe?
Estou indo para a cozinha. — Viro-me e caminho rapidamente, torcendo os
lábios de vergonha por ter sido pega em flagrante.
— Espera, Fernanda — ele me chama. Surpresa, volto-me
lentamente, antecipando uma bronca severa por imitar o patrão.
— Quero que vá até a casa anexa e verifique o que precisa ser
reabastecido na geladeira.
— Ah, isso? — pergunto, sentindo um alívio repentino.
— Sim, se apresse. Estou indo fazer compras para a casa.
— Claro, vou agora mesmo, senhor — respondo apressadamente,
percorrendo os corredores e atravessando a enorme sala. No caminho, cruzo
com outra funcionária que me encara com um sorriso de superioridade toda
vez que passamos. Não entendo por que ela acha graça, afinal, estamos
todas no mesmo barco, suportando um chefe autoritário e exigente, que nos
trata como se fôssemos seus soldados, sempre em busca da perfeição em
nossos atos.
Ando apressada pelo jardim e avisto a casa que não fica tão distante
da mansão, de certa distância já contigo ouvir risos e conversas
descontraídas. Bato na porta com cautela, mas não me atrevo a abri-la,
mesmo percebendo que ela está entreaberta. A última vez foi o suficiente
para aprender a lição, e, considerando que nesta casa vivem dezenas de
homens, o constrangimento seria ainda maior.
— Hum… olha só quem veio fazer uma visita — um dos homens
comenta ao abrir a porta, permitindo-me entrar.
— Com licença, vou até a cozinha verificar a geladeira.
— Você tem toda a licença do mundo, princesa — ele responde com
um tom malicioso, deixando claro que suas palavras carregam insinuações.
Ignorando os comentários inconvenientes, eu sigo pelo corredor em
direção à cozinha. Embora minha missão seja verificar a geladeira, a
curiosidade me leva a vasculhar o ambiente rapidamente. Os móveis mais
simples denunciam a diferença em relação à mansão principal. Esta casa
parece ser o local de descanso dos seguranças, e tudo aqui é mais modesto e
prático.
Ao chegar à cozinha, abro a geladeira e anoto o que precisa de
reposição. Anoto tudo em uma pequena caderneta. Enquanto realizo a
tarefa, continuo a escutar o som das risadas e conversas vindas de outros
cômodos da casa. Parece que os seguranças aqui vivem de maneira mais
descontraída do que na mansão, o que é compreensível.
Retorno para a mansão balançando o caderninho em minhas mãos, o
jardim é repleto de flores, mas na casa tudo é tão sem vida, com aquelas
cores neutras e aquele cheiro forte de produto de limpeza, que poderia
facilmente ser substituído pelo perfume das flores. Entro na casa e sinto
como se estivesse abandonando um mundo cheio de vida para adentrar um
ambiente onde tudo parece mais monótono.
Regressando ao papel de empregada discreta, respiro fundo
conforme caminho pelos corredores da mansão, segurando o caderninho
com a lista de compras em minhas mãos. Embora o dever me chame, não
posso deixar de lamentar a falta de vida e cor no interior da casa, que
contrasta tão vividamente com o jardim florescente do lado de fora.
Conhecer a casa anexa dos seguranças, me fez ver como suas vidas parecem
mais relaxadas e descomplicadas, enquanto aqui dentro, tudo é sério e sem
emoção.
— Aqui está a lista que o senhor pediu, Peter. — Estendo as mãos,
entregando o papel com a relação de compras.
— Você foi rápida, Fernanda. Deixarei essa tarefa sob a sua
responsabilidade daqui em diante, aquelas garotas demoram uma eternidade
para voltar da casa dos seguranças. — Peter pega o caderno da minha mão e
dá um leve sorriso. — Agora, concentre-se em arrumar os quartos, o
almoço é responsabilidade delas. E, como eu havia mencionado, pare de se
aproximar do patrão, ele não gosta de intromissões.
— Diga-me pelo menos uma coisa que ele gosta? — Minha boca
escapa com a pergunta antes que eu possa evitar. Rapidamente, coloco a
mão sobre a minha boca, como se tentasse recolher as palavras que
escaparam.
Peter me olha com um olhar repreensivo, mas logo cede a um
sorriso discreto. — Fernanda, você ainda vai acabar se metendo em
encrenca. O senhor Collins comanda isso aqui como se fosse um quartel e
você fosse um soldado. Mantenha a compostura.
— Entendi, Peter. — Suspiro e tento mascarar a inquietação que
sinto. — O máximo que pode acontecer é ele me colocar para fazer flexões
sob a chuva, como nos filmes, certo?
Peter ri, passa por mim e dá um tapinha suave no meu ombro antes
de seguir o seu caminho.
Subo as escadas apressada e abro a porta dos quartos. Tudo está tão
perfeitamente organizado que não faço ideia do que precisa ser feito. Talvez
um espanador aqui, um leve puxão no lençol ali. A perfeição daqueles
quartos me faz sentir um pouco intimidada.
— Talvez um pouco de vida, é isso que falta — murmuro para mim
mesma, observando as flores coloridas do jardim.
Nesse momento, meu telefone toca no bolso, e me encosto no
parapeito da varanda para atender a ligação do meu irmão.
— Alejandro, está tudo bem por aí? — pergunto, ansiosa.
— Não — ele responde sem hesitar. — Não será algo de poucos
dias aqui no hospital, Ayla, a nossa mãe vai precisar de um tratamento
prolongado, e isso vai se estender por várias semanas.
— Semanas? — Fico ali, recostada na parede com os ombros
caídos. — Isso vai ser muito caro — digo, preocupada.
— Sim, você vai conseguir se manter aí por mais um tempo?
— Você sabe da minha situação aqui.
— Ayla, você não encontrou um namorado americano? —
Alejandro pergunta, com um tom malicioso.
— Do que está falando, garoto? — Meu tom de voz fica indignado.
Que tipo de pergunta é essa?
— Pensei que você poderia se casar com alguém e obter a sua
permanência.
— Alejandro, essa conversa está fora de questão. Concentre-se em
trabalhar para me ajudar e não dê ideias tolas. Me ligue quando tiver mais
notícias sobre a nossa mãe.
Volto a me concentrar no meu trabalho, só assim para me esquecer
de tudo que está acontecendo no México. Tenho que focar no que tenho que
fazer aqui para auxiliar a minha família lá.
Capítulo 06

Ayla Munis

Alguns dias depois...


É estranho admitir, mas a cada dia que passa, estou me acostumando
mais com este lugar. Acordo ao som dos pássaros e respiro o ar fresco que
invade meu quarto. Mesmo sabendo que os meus dias serão cheios de
trabalho em uma casa imensa, sinto-me feliz. Minha mãe receberá o
tratamento de que precisa, graças ao meu salário, e tenho tudo o que
necessito aqui, sem a necessidade de arriscar minha liberdade com as
autoridades de imigração.
Espreguiço-me na cama. Hoje é meu dia de folga, e decido visitar
Fernanda.
Levanto-me com um bocejo, sinto a preguiça do dia de folga
tentando me segurar na cama, mas estico meu corpo e me forço a sair. Tomo
um banho rápido, aprecio a água quente que me envolve. Escolho um dos
muitos vestidos feitos à mão pela minha mãe, uma costureira incrível. Suas
criações são únicas e sempre me fizeram sentir especial.
Enquanto me arrumo, percebo que a casa ainda está em calmaria.
Apenas alguns ruídos da cozinha quebram o silêncio. O senhor Marcus,
raramente parece dormir, e essa constante vigilância nos mantém a todos
em alerta. Todos aqui são incrivelmente pontuais em suas atividades, já que
sabem que ele está sempre observando de algum lugar.
Ao chegar à porta, Peter, me para com um sorriso amigável. Ele é
uma das poucas pessoas com quem consigo interagir com tranquilidade na
mansão.
— Aonde vai com tanta pressa? — Peter pergunta com uma
expressão terna.
— O senhor esqueceu que hoje é o meu dia de folga? — respondo,
ainda sorrindo, ansiosa para aproveitar meu raro momento de liberdade.
— Não esqueci. Vá antes que eu lhe arrume bastante serviço — ele
brinca e sorri, com um olhar divertido. — E divirta-se.
— Obrigada, senhor Peter — agradeço, e saio com um sorriso,
saltitante, pronta para aproveitar meu dia de folga.
— Senhorita, aonde está indo? — um dos seguranças pergunta,
erguendo uma sobrancelha com curiosidade.
— Vou visitar uma amiga — respondo, parando de frente para ele,
notando seu olhar inquisitivo.
— Hoje é o meu dia de folga também. Posso te dar uma carona, se
quiser, é claro. — Ele oferece com um sorriso gentil.
— Acho melhor não — digo, dando alguns passos pelo jardim em
direção à saída.
— Tem medo dos falatórios? Posso te pegar mais na frente se você
se sente desconfortável — ele insiste.
— Agradeço a gentileza, mas vou sozinha. — Dou um sorriso de
gratidão e sigo meu caminho.
Minha mãe sempre me ensinou a manter a minha dignidade e
respeito, não importa onde esteja e eu não quero que fiquem fazendo
comentários a meu respeito.

Marcus Collins

Estou na varanda do meu quarto quando vejo Fernanda sair. É


estranho, como entre tantos que trabalham comigo há um bom tempo, eu
não saiba o nome da metade deles. No entanto, dela, eu já conheço até as
pisadas. Ao contrário das outras duas que me atendem, ela sempre se
aproxima saltitante, como se tivesse o melhor emprego do mundo. Em vez
de uma expressão séria, ela sempre me olha com um sorriso nos olhos. Esse
é dos motivos que me fazem notá-la.
Um dos seguranças fica hipnotizado, observando-a enquanto ela se
afasta, e parece não desviar o olhar dela nem por um instante. Acredito que
ele sequer respirou até que ela tenha finalmente sumido pelo portão. Tenho
que admitir que ela é, de fato, deslumbrante, com um corpo absurdamente
esculpido pelos Deuses da luxúria, e sua beleza parece ter um magnetismo
irresistível e o fato dela parecer não notar o quanto é linda e agir alheia às
investidas masculinas que recebe me deixa bem curioso a seu respeito.
— Senhor Collins. — Ouço a voz de Peter seguida de uma batida
leve na porta.
— Entre — respondo.
— Devo mandar servir o café da manhã aqui mesmo, ou o senhor
prefere descer? O dia está lindo, achei que poderia aproveitar um pouco o
jardim.
— Peter, você não é pago para me dar conselhos de saúde e bem-
estar. Quero que a Fernanda me sirva — digo, mesmo sabendo que ela não
está na casa.
— Mas a Fernanda está de folga e acabou de sair.
— Folga? — Estreito os olhos enquanto o observo atentamente.
— Sim, senhor, folga. Elas têm direito a um dia de folga por
semana.
— Certifique-se de que seja ela a me servir da próxima vez.
— Certamente, senhor, ela ficará responsável por seus cuidados
daqui em diante.
— Por hoje, faça você mesmo, traga meu café da manhã.
Após o café da manhã, recebo na minha casa um dos diretores da
empresa, que me entrega alguns papéis e participa de conferências comigo.
— Senhor, não acha que deveria considerar ir à empresa pelo menos
uma vez por semana? — ele pergunta, visivelmente preocupado.
— Se você acredita que não consigo cumprir minhas obrigações por
não aparecer pessoalmente na empresa, reveja o seu cargo.
— Não se trata disso, senhor. Mas muitos comentários têm circulado
pelos corredores. Comentários maldosos sobre a sua falecida esposa e a sua
resistência à exposição.
— Eles acham que estou me escondendo? — pergunto, mantendo
um tom sério. — De fato, ser seguido por dezenas de repórteres sempre que
ponho os pés para fora desta mansão é algo que me incomoda, mas
qualquer um que ousar falar sobre o CEO na própria empresa será demitido.
Eu não tenho que provar nada a ninguém. A empresa é minha, e todos lá
são bem administrados e bem pagos para fazerem apenas o que é
necessário.
— Certamente, senhor.
— Acho que já terminamos por hoje. — Levanto-me, virando as
costas para o diretor.
Ouço os passos dele se distanciando e solto um suspiro de alívio por
não ter mais que interagir com ele, ou com ninguém, por enquanto.
— Droga! — exclamo, sentindo a dor muscular me incomodar mais
do que o normal. Devido ao meu estresse crônico e tensão muscular, às
vezes a dor se torna quase insuportável, e isso parece estar acontecendo
agora. Aciono o controle do massageador no encosto da cadeira, na
esperança de que alivie a tensão em meus ombros e costas.
Levanto a cabeça em alerta ao ouvir as risadas de Fernanda. Em um
movimento desastrado, acabo derrubando um vaso que estava sobre a mesa.
Segundos depois, ouço batidas na porta, e como de costume, ela abre
lentamente sem esperar minha autorização. Nossos olhares se encontram, e
ela arregala os olhos assustada.
— Perdão, senhor, ouvi um barulho e vim checar. — Os olhos dela
percorrem o chão repleto de cacos. — Vou buscar uma vassoura e uma pá
— ela fala rapidamente, antes que eu tenha a chance de pronunciar uma
única sílaba, e em poucos segundos retorna.
— Eu não disse para vir limpar. — Faço uma observação,
encarando-a.
— Mas está quebrado, e o senhor pode se machucar. Além disso,
colocarei um vaso ainda mais lindo aqui, com flores, se me permitir.
— Você é sempre assim? — pergunto, e ela estreita os olhos,
surpresa.
— Assim como o quê?
— Intrometida, incapaz de seguir ordens e sem o mínimo de
treinamento sobre o que é ser uma boa funcionária. — Ela para seus
movimentos com a vassoura nas mãos e me olha incrédula pelo que ouviu.
— Eu só queria ajudar.
— Não seria uma ajuda, a menos que eu tivesse pedido para você
fazer algo. Mas o que estou dizendo agora é algo que você deve aprender;
isso lhe servirá para a vida. Devemos ajudar apenas quem precisa e pede a
nossa ajuda e não seria uma ajuda, já que você é paga para isso.
— Perdão, senhor, vou me recolher, já que hoje é o meu dia de
folga, e não preciso trabalhar.
Arqueio um dos lados dos meus lábios, vendo-a sair enfurecida com
a vassoura e a pá nas mãos e devo admitir que gosto dessa personalidade
desafiadora.
Capítulo 07

Ayla Munis

No meu encontro com Fernanda, ficou claro para mim que preciso
fazer algo. Ela está sendo prejudicada enquanto espera que eu resolva a
minha situação aqui na mansão. Peter parece ser uma boa pessoa, e talvez
se eu me abrir para ele, possa conseguir a sua ajuda temporária. Levanto-
me, tomo um banho e visto meu uniforme. Desço mais cedo do que o
habitual, e como todos os dias, Peter já está de pé, dando ordens conforme
instruído pelo senhor Collins.
— Quer falar algo, Fernanda? — ele pergunta passando direto por
mim, checando se tem poeira nos móveis
— Sim, em particular, se o senhor puder me ouvir por alguns
minutos. — Ele para o que está fazendo para me encarar com curiosidade.
— Venha, vamos até a minha sala. — Peter me conduz até sua sala e
fecho a porta atrás de mim, nervosa com a reação que ele terá ao ouvir meu
pedido.
— O que tem para falar?
— Bom, primeiramente, quero agradecer imensamente por me
acolher tão bem. Sou muito grata por estar aqui…
— Pode parar, não me diga que está pedindo demissão, quer que eu
tenha um enfarte? O senhor Collins exigiu que você o servisse
pessoalmente, você sabe o quanto isso é maravilhoso? Não, você não sabe.
Isso significa que ele, enfim, gostou de alguma funcionária, então, não
continue o que ia dizer e suba para levar o café da manhã dele.
— Ele gosta de mim? — pergunto com orgulho e felicidade.
— Sim, dos seus serviços. Não seja ingênua — ele responde com
um sorriso divertido.
— Na verdade, eu não iria pedir demissão. Era apenas para o senhor
me pagar o salário em mãos, em vez de repassar para a agência.
Peter me olha desconfiado.
— Por quê?
— Bom… é que se o senhor me pagar diretamente, eu posso
economizar um pouco mais.
— É apenas isso? — ele pergunta encarando os meus olhos pidões.
— Pagarei a você diretamente, Fernanda — ele diz seguido de um logo
suspiro.
— Jura? — pergunto sem acreditar.
— Parece que estou brincando, menina? Suba, o Senhor Collins tem
hora para comer. — Peter me dá um sorriso e me conduz de volta para as
atividades do dia.
Antes de bater na porta, ouço um gemido vindo do quarto. Ele estará
com dor? Me questiono enquanto permaneço parada na entrada. Resolvo
anunciar minha presença de maneira gentil.
— Senhor Collins, trouxe o seu café da manhã. Posso entrar? —
pergunto com uma voz suave.
— Entre — ele responde ainda com um gemido, denunciando o
desconforto que está enfrentando.
Com cuidado, abro a porta lentamente e me deparo com ele estirado
sobre o colchão, com uma expressão de dor visível. Ele está vestindo
apenas uma calça de moletom, o que, devo admitir, não ajuda em nada na
minha tentativa de manter minha postura profissional, fazendo com que
meus olhos percorram involuntariamente seu corpo divinamente esculpido.
— O que está olhando? Deixe a comida sobre a mesa e saia. — Sua
voz, ainda carregada de desconforto, quebra a breve pausa de observação.
— Sair? — questiono, franzindo o cenho.
— Planeja ficar aí parada? — ele pergunta enquanto permanece
estirado na cama, tentando disfarçar a expressão de dor que está claramente
escondendo em alguma parte de seu corpo.
Dou a volta, indo até a mesa e colocando a bandeja com o café da
manhã. Em seguida, retorno lentamente ao seu lado, observando-o alisar os
ombros e o pescoço. Tensão muscular, concluo, lembrando-me das dores
que meu irmão costumava sentir após suas atividades físicas intensas. No
caso do senhor Collins, essas dores devem ser sequelas de anos servindo ao
exército.
— Vou preparar um banho quente para o senhor. Pode ajudar a
aliviar essas dores musculares — ofereço com compaixão, desejando
amenizar seu desconforto.
— Apenas saia — a sua voz reverbera.
— Tudo bem, se precisar é só chamar, senhor.

Marcus Collins

Quando acredito que finalmente ela sairá do quarto, Fernanda


retorna da porta com uma proposta inusitada.
— Vi que o senhor tem uns sais de banho divinos e relaxantes.
Prepararei o banho e serei tão rápida que o senhor nem perceberá a minha
presença.
Minha paciência já está se esgotando, e a dor se torna insuportável.
— Por que você é tão intrometida? — resmungo, exausto de nossos
embates verbais, mas a dor é implacável.
Ela não parece abalada e responde com uma sinceridade que me
surpreende.
— Perdão, senhor, mas fui educada dessa maneira. Mesmo que o
senhor me demita, eu farei o banho, na esperança de que isso alivie a sua
dor. — Ela continua com sua própria perspectiva. — Cada um de nós
carrega suas próprias dores, sejam elas físicas ou emocionais, e, no fundo,
todos desejamos a mesma coisa. — Fico tentado a perguntar o que ela quer
dizer com isso, mas antes que eu possa, ela sugere que essa conversa seja
retomada mais tarde, sinalizando para a banheira já pronta. — A banheira
está pronta. Espero que isso o conforte. Se precisar de algo mais, é só falar.
— Fique e me espere sair do banho. Quem sabe, se entende tanto
sobre dores musculares, eu precise de algo a mais.
— Certamente, senhor. Ficarei bem aqui.
Ela responde com um sorriso inocente, como se não compreendesse
completamente a malícia nas palavras que acabei de dizer.
Deito-me na banheira, a água quente abraçando meu corpo dolorido.
A tensão muscular pareceu aliviar um pouco. Fecho os olhos e respiro
fundo, tentando relaxar e afastar a dor que tem me assombrado nos últimos
dias. A sensação da água quente me faz suspirar de alívio.
Fernanda permanece do lado de fora, esperando por minha saída.
Como ela disse, carregamos nossas próprias dores, mas a presença dela aqui
parece diferente das outras funcionárias. Seu jeito intrometido e sua vontade
de ajudar me intrigam.
Lentamente, começo a massagear meus ombros e pescoço, tentando
soltar os músculos rígidos. A dor persiste, mas a água quente começa a
surtir efeito. Ainda assim, sinto que precisarei de mais do que um banho
para resolver essa tensão muscular crônica.
Após cerca de quarenta e cinco minutos saio do banheiro e lá está
ela em pé, pronta para me servir.
— Senhor Collins, precisa de algo mais? — a voz suave de
Fernanda chega aos meus ouvidos.
— Na verdade, sim. — Minha voz soa mais fraca do que o habitual.
— Preciso de uma massagem nas costas. Acho que é a única coisa que pode
aliviar essas dores.
— Massagem? — pergunta com a voz fraquejando.
— Sim, venha, se aproxime.
Ela se aproxima, parecendo um pouco hesitante.
— Não sei se sou qualificada para fazer massagens profissionais,
senhor.
— Não estou procurando por uma massagem profissional, Fernanda.
Apenas algo para aliviar a tensão. Você parece entender bem sobre isso.
— Mas… — ela tenta argumentar e eu a interrompo.
— Se apresse, não disse que queria me ajudar?
Fecho os olhos, entregando-me ao toque dos seus dedos. O calor de
suas mãos parece derreter a tensão muscular, e mesmo que eu saiba que isso
não resolverá meu problema de dor crônica, é uma sensação agradável.
Seus dedos deslizam pela minha pele, encontrando os pontos de
tensão e trabalhando neles com cuidado. Ela parece estar se esforçando, e
eu a observo passar o braço sobre a testa para enxugar o suor. Para mim, é
como uma carícia, ela não tem forças suficientes. Sinto meu corpo relaxar
sob seu toque e, por um momento, esqueço-me de toda a dor.
No entanto, tenho que admitir que esse momento é perigoso. Minha
mente começa a vagar por pensamentos inapropriados, e posso não
conseguir controlar meus impulsos. É melhor parar antes que eu não possa
responder pelos meus atos.
— Chega, agora saia, está suficiente — digo ofegante, tentando
controlar a minha vontade de me agarrar ao seu corpo pequeno e chupar
cada um dos seus peitos firmes e bem desenhados.
Capítulo 08

Ayla Munis

Sinto minhas pernas tremerem, e, sem olhar para trás, saio do


quarto. Na palma da minha mão, esfrego meus dedos como se quisesse
relembrar a textura da sua pele, como se a sensação das minhas mãos no
corpo de Marcus ainda persistisse.
Uma voz suave me traz de volta à realidade. É como um sussurro no
meu ouvido, uma lembrança do que sou aqui.
— Ayla, por favor, aterrisse, olhe para este lugar. Você é uma mísera
formiga diante de toda essa grandeza.
Respiro fundo, forçando-me a encarar a grandiosidade da mansão.
Tenho que lembrar o meu lugar, a minha posição, e o que é esperado de
mim aqui. A recuperação da minha mãe depende desse dinheiro.
Ainda ofegante, apresso-me em direção ao meu quarto. Só um
banho pode me trazer de volta ao meu estado de espírito normal. A água
quente caindo sobre mim é como um lembrete de que eu sou apenas a
empregada, é melhor manter as coisas profissionais e devo começar sem me
intrometer tanto, como ele mesmo diz.
É o início de uma noite tranquila na mansão. Estou finalizando o
jantar do senhor Collins, uma rotina que já se tornou familiar. Como de
costume, ele não desce para jantar, preferindo ficar enclausurado no
escritório ou no quarto.
Subo com o jantar, realizando o ritual que já se tornou quase
automático. Deixo a bandeja sobre a mesa de apoio e bato suavemente na
porta, aguardando a autorização para entrar, como faço em todas as
refeições. No entanto, algo é diferente desta vez. Em vez da voz grossa e
mal-humorada, ele abre a porta abruptamente, revelando sua figura
imponente, um homem de aproximadamente um metro e oitenta.
Meus olhos deslizam por seu abdômen nu, como sempre, uma visão
que não deixa de me surpreender. Até que, finalmente, encontro seus olhos,
que me observam intensamente de cima a baixo.
— Você está dois minutos atrasada — ele diz, abrindo passagem
para que eu entre no quarto.
— Peço desculpas, senhor. O trabalho na cozinha estava mais
movimentado, hoje tivemos mais funcionários lá do que o normal.
Ele estreita os olhos, como se estivesse tentando entender a
explicação.
— Fernanda, você sabe que sou prioridade. Não importa o que
esteja acontecendo na cozinha, você deve ser pontual com minhas refeições.
Está sugerindo que eu vá comer na cozinha para facilitar o seu trabalho?
— De modo algum, senhor. Eu jamais sugeriria isso. Eu me
desculpo pelo atraso e prometo que não acontecerá novamente.
Ele se senta à mesa, murmurando algumas reclamações habituais.
Eu já me acostumei com seus resmungos e me concentro em servir a
refeição, mantendo-me dentro dos limites esperados de uma boa
funcionária.
O solado dos meus pés queima, e eu tento aliviar a sensação,
alternando entre levantar um pé do chão de vez em quando.
— Sente-se — ele ordena, levando um garfo repleto de salada à
boca.
— Estou bem assim, senhor.
— Não perguntei se queria sentar.
— Claro, entendi. Foi uma ordem — respondo em voz alta, o que
deveria ser apenas um pensamento enquanto arrasto a cadeira e me sento
obedientemente. No entanto, mantenho meus olhos desviados, observando o
imenso jardim iluminado.
— Me fale um pouco da Colômbia.
— Da Colômbia? — pergunto com espanto, esquecendo-me de que,
aqui, sou Fernanda. — Ah, claro, a Colômbia. É um país incrível! Minha
terra natal é cheia de paisagens deslumbrantes. Você pode visitar Cartagena,
com suas praias de areia branca e o centro histórico incrível, que é
Patrimônio Mundial da UNESCO. E não posso deixar de mencionar
Medellín, que é uma cidade em constante evolução e é conhecida como a
Cidade da Eterna Primavera devido ao seu clima agradável. E, claro,
Bogotá, a capital, é repleta de museus, arte e uma cena gastronômica
incrível. A Colômbia tem muito a oferecer, desde selvas tropicais até
montanhas imponentes. É um lugar que eu amo de todo o coração — digo
lembrando-me das palavras de Fernanda, que sempre fala com orgulho do
seu país.
— Certo, já fiz turismo na Colômbia, a minha pergunta era mais
restrita a você. — Ele me encara como se quisesse me desvendar.
— Não tem nada de mais que eu possa falar sobre isso.
— Irmãos, pai, mãe… namorado? — pergunta sem desviar os olhos
de mim.
— Senhor, lembrei que preciso lavar os pratos, estão amontoados
sobre a pia — digo, levantando-me às pressas.
— Não gosta de responder perguntas? Eu sempre te vi tão
intrometida, não imaginei que fosse reservada.
— Pois é, parece que mudamos de posições, deveríamos voltar ao
ponto inicial onde só eu era intrometida — falo e logo me arrependo,
tapando a boca com a mão. — Perdão, senhor, eu não quis parecer…
— Saia, vá lavar os pratos, e lembre-se de mais uma lição, se não
gosta de falar da sua vida, não se intrometa na dos outros.
Contenho a minha respiração enquanto encaro o seu semblante de
deboche.
— Não vou me esquecer, senhor — digo virando as costas e
deixando o quarto. — Idiota, babaca, quando penso que andamos duas
casas para a frente, eu volto cinco. Ele é intragável.
— Fernanda? Fernanda? — A voz chama, mas permaneço imóvel,
sem identificar que o chamado é para mim, esse nome não é o meu. — Está
tudo bem? — Sinto a mão de Peter me tocar.
— Sim, claro, estou bem. — Forço um sorriso.
— Deveria ficar mais atenta, FERNANDA. — O seu tom de voz me
deixa em alerta me fazendo voltar a mim.
— Por que falou desta forma?
— Que forma? — Ele dá de ombros seguindo em frente.
— O nome Fernanda, por que pronunciou assim? — pergunto
ansiosa pela resposta.
Ele entra em uma das salas e fecha a porta atrás de si.
— Eu falei com a agência de empregos, falei que manterei os seus
pagamentos diretos, e eles disseram que você pediu demissão.
— Senhor Peter — pronunciou com a voz embargada pelo choro
que ameaçava sair.
— Quem é você afinal? — ele pergunta parando na minha frente me
encarando com os braços cruzados em frente ao peito.
— Eu preciso muito desse emprego, senhor, a minha mãe está
doente, o tratamento é caro, tudo que eu ganho mando para o México.
— México? — ele suspira com força.
— Fernanda é uma amiga, que me ajuda muito — digo já em
lágrimas.
— E você? Quem é? — pergunta sério.
— Ayla Munis, a minha mãe sofre de mal de Parkinson, o
tratamento e os remédios são caros, eu pretendia ir embora dos Estados
Unidos assim que o meu intercâmbio encerrasse, mais os dólares, eles
auxiliam a minha família.
— Você está me dizendo que é ilegal no país? — Ele anda de um
lado para outro, passando a mão nos poucos cabelos que lhe restam e eu não
hesito em me ajoelhar no chão.
— Eu imploro, senhor, não me entregue ao senhor Collins ou à
imigração, se eu for embora, a minha mãe ficará sem tratamento — peço
com o rosto banhado em lágrimas.
— Ai, ai, ai, que problema você está me arrumando, garota. Eu
perco o meu emprego se o senhor Collins descobrir e supor que eu já sabia.
— Eu juro que, se um dia ele descobrir, direi que o senhor foi
enganado, assim como todos nessa casa. Prometo, senhor, assim que eu
tiver dinheiro suficiente, vou embora.
Ele solta o ar com força enquanto me encara com o cenho franzido.
— Eu gosto de você. Há um ano, quando a senhora Júlia se foi, o
senhor Collins só piorou dentro da sua introspecção. Mas agora o vejo rindo
das suas intromissões e língua afiada.
— Isso quer dizer que não vai me entregar? — pergunto com as
mãos juntas ainda implorando.
— Isso é provisório, mas se eu sonhar que o senhor Collins está
perto de descobrir, você vai embora antes, ok?
— Sim, faremos do seu jeito. — Levanto e dou um abraço forte nele
e um suspiro de alívio sai dos meus pulmões.
Capítulo 09

Marcus Collins

Alguns dias depois...


É início de noite quando Peter entra no quarto com o meu jantar,
estreito os olhos, confuso. Por que a Fernanda não veio?
— O que faz aqui? — pergunto, levantando-me da cama.
— A Fernanda recebeu uma ligação e precisou sair urgentemente.
— Quem ligou? — pergunto e ele para o que está fazendo para me
encarar.
— Eu deveria ter perguntado, senhor? — indaga com as
sobrancelhas juntas.
— É o dia da folga dela? — quero saber.
— Não, mas ela deixou todo o serviço adiantado e não vi problemas
em permitir que ela fosse resolver um problema pessoal, assim como
acontece com todos os funcionários dessa casa.
— Quando o assunto for referente à pessoa que me serve
pessoalmente, quero ser comunicado. Não gosto quando a minha rotina é
quebrada, e você sabe disso. Agora saia e deixe tudo aí e diga à Fernanda
que venha ao meu quarto assim que chegar.
— Sim, eu direi, senhor, com licença — ele caminha em direção à
porta e eu torno a falar.
— Peter — chamo e ele enterra os passos virando-se em minha
direção.
— Quero que me entregue a ficha da Fernanda.
— Ficha? — pergunta de cenho franzido.
— Você não fez uma quando a contratou?
— Claro que fiz, senhor, mas tem algo que lhe incomoda sobre ela?
— Sim, ela não é colombiana.
— Não? — Ele se aproxima esperando que eu fale mais sobre o
assunto.
— Você conhece a padroeira do México? — pergunto me sentando à
mesa.
— A Virgem de Guadalupe?
— Sim, foi por ela que a Fernanda chamou assim que nos vimos
pela primeira vez.
— Isso não quer dizer nada, senhor, ela comentou sobre um
namorado que mora no México.
— Namorado? — meneio a cabeça para o lado esperando ouvir mais
detalhes.
— Eu também não sei muitos detalhes, mas já a ouvi em ligações
com alguém que parecia ser um rapaz, então deve ser por isso que ela tenha
absorvido alguns costumes estrangeiros.
— Tudo bem, saia. — Ele volta a caminhar apressado e sai fechando
a porta atrás de sim.
Namorado? A palavra ecoa como um incômodo em minha mente.
— E daí se ela tem namorado? — pergunto a mim mesmo.
Faço a minha refeição na varanda como todos os dias, mas hoje
pareço ansioso olhando o relógio e ligando o monitor para checar a entrada
da mansão, como se já não bastassem as minhas ansiedades e insônia, agora
estou aqui ansiando pelo retorno de uma empregada.
As horas se passaram rápido e nada do retorno dela, e como dormir
já é algo raro em minhas noites, coloco uma roupa e um sobretudo e desço
para andar pelo jardim.
Dou voltas sem rumo pelo imenso jardim, quando vejo o portão
principal se abrir, permaneço sentado no banco entre alguns arbustos.
— Eu já fiz o que me pediu, eu tive que pedir para sair do trabalho,
sabia? — Abro os olhos em alerta ouvindo a voz dela sussurrando. — Eu já
disse, estou fazendo o que posso, se ele descobre me demite, mas parece
que você não se importa com isso, apenas me deixe trabalhar em paz, e
farei o que tem que ser feito como sempre. Preciso ir agora.
— Onde esteve? — A minha voz a faz sobressaltar assustada.
— Senhor? O que faz aí escondido entre os arbustos?
— Acredita que estou escondido? — indago indo até ela.
— Não foi isso que eu quis falar, que cabeça a minha, a casa é sua, o
senhor fica onde quiser — ela começa a falar apressada, tentando conter o
nervosismo.
— Onde esteve? — volto a perguntar e eu estou realmente
interessado na resposta, mais do que o normal.
— Fui resolver um assunto pessoal.
— Não resolva assuntos pessoais durante o horário de trabalho,
Fernanda, e como eu havia lhe dito, eu sou sua prioridade enquanto você
trabalhar para mim.
— Sim, senhor. Em que posso servi-lo neste momento? — ela
pergunta mordendo os lábios rosados e carnudos, tudo nela é convidativo, e
a minha boca saliva, louco para beijá-la.
— Venha, sente-se ao meu lado. — As suas palavras ao telefone me
deixam intrigado, o que eu não posso descobrir? Sento-me esperando que
ela faça o mesmo, porém, ela permanece de pé como se no banco só
coubesse um. — Sente-se, não ouviu a minha ordem?
Ela se senta afastada com os braços em volta do corpo, eu sempre
gostei que a minha presença fosse intimidadora, mas agora, sinto-me
incomodado de vê-la agir, como se eu a amedrontasse.
— Eu não costumo ter boas noites de sono — digo quebrando o
silêncio que se instala.
— As minhas costumavam ser melhores, mas hoje, eu costumo ler
bastante até que o sono venha — ela diz com um sorriso tímido.
— Podemos nos fazer companhia até que o sono venha, escore-se ao
banco, relaxe.
— Relaxar ao seu lado? — ela diz alto, o que provavelmente era um
pensamento, pois logo os seus olhos saltam esperando de mim uma
resposta.
— Talvez eu não seja o tipo de pessoa que transmita Paz, eu vivi em
guerras toda uma vida, e ainda vivo em vigilância como se um míssil fosse
cair aqui ao nosso lado.
— Deve ter sido uma fase bem complicada, que já passou, quem
sabe agora não é hora de aproveitar o fim das guerras, pelo menos as quais
o senhor precise participar.
— Tenho travado novas batalhas — digo de uma forma dúbia,
encarando agora o seu pescoço nu, e seguindo os seus cabelos negros que
entram pelo decote. Sim, estou bem tentado em relação a ela que me atrai
de uma forma inexplicável.
— Espero que saia vencedor, senhor, e assim as suas noites se
tornem mais tranquilas.
Eu sorrio de forma contida diante da sua inocência. Tudo que quero
agora são noites quentes e agitadas.
— Por acaso ensaiou um sorriso? — ela pergunta com um tom mais
tranquilo, relaxando os ombros antes tensos.
— Você deveria tornar as coisas mais fáceis, Fernanda, não acho
seguro que fale manso assim comigo, e nem que olhe desta forma que
costuma me olhar. Sinto os seus olhos me queimando e os seus
pensamentos ganhando vida. Não sou o tipo de homem que recua diante de
olhares famintos, eu gosto de batalhas, e eu nunca perco nenhuma. — Vejo
o seu peito parar de se mover no momento em que ela para de respirar,
talvez digerindo as minhas palavras. Ela nunca esteve diante de um
predador, e eu, que sempre encarei a morte, nunca encarei olhos tão
inocentes.
Capítulo 10

Ayla Munis

A minha respiração para, os nossos rostos estão mais próximos do


que deveriam estar e a sua respiração parece entorpecer a minha mente.
Tento não demonstrar que estou nervosa, mas falho, talvez pela primeira
vez desde que comecei a trabalhar naquela casa imensa eu nunca me senti
tão encurralada. O seu comentário me pegou desprevenida, me faz sentir
como se estivesse brincando com fogo. Procuro palavras para responder,
minha voz sai mais trêmula do que o habitual.
— Sinto muito, senhor, eu... eu não tinha a intenção de parecer tão...
— Paro, procurando a palavra certa que não existe neste momento. —
Faminta — disparo, falando bobagens como sempre.
Ele me observa em silêncio, esperando que eu continue a falar
desenfreadamente.
— É só que... eu realmente gosto do que faço, do meu trabalho, de
cuidar das pessoas. Eu não... — Sou incapaz de completar uma frase, e
então, com um suspiro profundo, tento novamente. — Eu só quero ser útil,
senhor. Sei que não é minha posição cruzar certos limites, mas a última
coisa que quero é que o senhor se sinta desconfortável.
Seus olhos castanhos continuam a me encarar, e por um instante,
quase sinto como se estivesse olhando mais profundamente em minha alma.
— Eu nunca faria nada parecido, senhor, sei bem o meu lugar aqui
nesta casa. — Levanto-me apressada, tentando voltar a respirar
normalmente. — Eu vou para o meu quarto, se precisar de algo é só chamar.
Ele não move um centímetro, parece uma estátua que me encara a
fim de me intimidar e mostrar que tem controle sobre si, ao contrário de
mim, que agora busco o ar com necessidade.
— Tenha uma boa noite, Fernanda — a sua voz soa suave, porém
intimidadora.
Atravesso o jardim apressada, tentando manter as forças em meus
joelhos que vacilam.

Marcus Collins

Dois dias depois...


Saio do escritório, onde estive trancado durante todo o dia,
participando de conferências importantes para a empresa. Vejo Fernanda,
agachada e concentrada em algo que não consigo ver da posição em que
estou, hoje foi o seu dia de folga, ela está vestida casualmente, mas que
diabos faz parada em frente ao meu quarto? Ando lentamente para me
aproximar e verificar o que a mantém tão focada. Meus passos são
interrompidos quando ela se levanta e abre a porta para entrar no cômodo,
fechando-a atrás dela.
O que diabos essa garota está fazendo? — pergunto, apressando o
passo.
Meu telefone toca, e eu hesito antes de girar a maçaneta. Por um
momento, considero não atender, mas decido fazê-lo ao perceber que é meu
advogado.
— Pronto — respondo ao atender imediatamente.
— Senhor Collins, surgiu algo na investigação que é essencial que o
senhor analise comigo.
— O que seria? — pergunto, retornando ao escritório.
— Vou enviar para o seu e-mail, mas adiantarei. A sua esposa tinha
um aborto marcado.
— Aborto? — Franzo o cenho, confuso. — Por que ela faria isso?
— Minha pergunta era dirigida a mim mesmo, mas acabou saindo em voz
alta. — Isso poderia afetar o julgamento de alguma forma?
— Marcus, seu filho da puta! — Os gritos de Joseph fazem com que
eu abandone a ligação e saia do escritório como um raio.
— O que diabos você faz aqui? — rosno no andar de cima, vendo-o
parado no meio da sala.
— A Julia tinha marcado um aborto — ele esbraveja com ira.
Desço as escadas com pressa, zerando a distância entre nós, e com
as mãos em seu colarinho pergunto:
— Você deveria apresentar as suas queixas no tribunal, Joseph —
grito.
— Muito bem colocado, Joseph. Por que a minha esposa teria medo
de me revelar uma gravidez? — esbravejo. Ele fica alguns segundos em
silêncio, e volto a falar antes que ele processe a resposta que parece óbvia.
— Quem sabe o assassino que você acredita piamente que exista não seja o
pai da criança. A Júlia pediu o divórcio, ela certamente poderia querer viver
com o amante, mas o que parece é que o estado psicológico dela estava
bastante abalado, o que a fez querer abortar a criança.
— Por medo de você, por isso ela quis tirar o bebê — ele murmura,
como se processasse as minhas palavras.
— É melhor que você saia, não somos mais parentes, o elo que nos
tornava algo se foi com a Júlia. Você não é bem-vindo na minha casa.
— Eu vou provar que você foi o culpado, que você mexeu na
mecânica do carro. Já ficou provado que não foi uma falha, alguém mexeu.
— Talvez você já tivesse descoberto, se não estivesse tão
concentrado em tentar me incriminar, Joseph. — Ele levanta o olhar,
olhando fixamente para o andar de cima, e eu sigo a direção do seu olhar.
Lá está Fernanda, observando a discussão. Volto os meus olhos para Joseph,
tentando decifrar a fixação dele em encará-la daquela forma. Foi impossível
não imaginar milhões de possibilidades e conspirações contra mim vindas
dela. Eles se conhecem? Nessa etapa, eu não confio em mais ninguém.
Ela vira as costas e atravessa o corredor com pressa assim que os
meus olhos encontram os dela.
— Estou de saída.
— Conhece a Fernanda, a minha empregada? — pergunto, sentindo
a necessidade de ouvir algo dele.
— Eu não a conheço, não comece com as suas paranoias. — Joseph
vira as costas em silêncio, e eu o observo se afastando até sumir pela porta.
As perguntas e suspeitas continuam a girar em minha mente. Subo as
escadas como uma bala e a procuro nos quartos. Quando finalmente a
encontro parada na janela de um dos corredores, me aproximo mais que o
normal. Seus olhos se arregalam e seu peito se move rapidamente,
denunciando sua respiração apressada.
— O que fazia no meu quarto? — pergunto, mantendo a voz baixa,
mas firme.
— Apenas deixei algo lá — responde prontamente. Maneio a cabeça
para o lado, eu não havia ido até lá checar se o que diz é verdade.
— Conhece o Joseph? — pergunto, me aproximando, meu olhar
fixo no dela.
— Não, eu não o conheço — ela responde, mas sua respiração
ofega, e suas pupilas se dilatam, entregando a mentira. — Tem certeza? —
volto a perguntar, lhe dando a chance de ser verdadeira.
— Senhor, eu já fiz algumas faxinas na casa dele, mas não sei se
isso pode ser um problema para o senhor. — Suas pernas vacilam, e eu a
seguro pelos braços antes que ela atinja o chão.
— Trabalhou para ele? — Meu tom de voz é quase uma acusação,
ele a colocou aqui?
— Sim, ele é cliente da agência — ela responde e posso ver verdade
na sua afirmação, mas nada que tire da minha mente que possa haver um
acordo entre eles.
Largo o seu braço, caminho apressado até o meu quarto e sou
surpreendido com flores enfeitando os móveis, e a minha primeira reação é
de jogar cada vazo no chão enquanto destruo todas as rosas, a fim de buscar
algo que esteja ali para me espionar.
Não posso ficar na dúvida, ainda mais depois das diversas saídas
dela à noite e da ligação que ouvi e que considerei não investigar mais a
fundo.
Capítulo 11

Marcus Collins

Levanto-me com as mãos pingando sangue após procurar algo que a


incriminasse no meio dos cacos de vidro. Minha respiração ofegante
compete com a batida acelerada do meu coração, enquanto me viro de
costas. Ali está ela, parada na porta do quarto, seu corpo tenso, a respiração
acelerada e o rosto pálido denunciando o choque da cena que está vendo.
— Quem te deu autorização para colocar essas coisas no meu
quarto? — rosno, meu olhar cravado nela, deixando clara minha irritação.
— Eu vou tirar agora mesmo, senhor — ela responde, sua voz
trêmula e as palavras saindo entrecortadas devido ao choro que ela tenta
conter. Ajoelhando-se no meio dos cacos, como se fosse humanamente
possível catar um a um com as mãos trêmulas.
— Limpe tudo, não quero ver nada disso aqui quando eu voltar. —
Minha ordem é firme, e eu saio do quarto, deixando-a para lidar com o caos
que ela trouxe à minha casa. Minha mente está agitada, e eu preciso de
respostas, é como se tudo saísse do meu controle. — Peter, Peter — grito
indo até o meu escritório.
— Estou bem aqui, senhor — ele fala atrás de mim. Estou tão cego
que sequer o vi tão próximo.
— Venha ao meu escritório — ordeno, a voz firme e autoritária,
enquanto me viro para continuar meu caminho.
Sinto uma corrente de adrenalina correr por minhas veias quando
sua voz me alcança, e é como se um choque elétrico percorresse minha
espinha. Entro e fecho a porta atrás de mim, ele fica acuado próximo à
porta, eu o encaro de forma intensa, meu olhar cravado no dele, buscando
não apenas uma resposta.
— Quero a ficha da Fernanda na minha mesa. — Espalmo a mesa
ao mesmo tempo que grito, o impacto do meu gesto ecoando na sala
silenciosa.
Peter se aproxima com uma calma que contrapõe minha agitação, e
eu me sinto grato por sua presença, alguém em quem confio plenamente.
Conheço-o há anos, e sei que é leal à minha família.
— Qual o problema com ela, senhor? — Peter pergunta com
serenidade, totalmente avesso à minha ansiedade.
Mudo o meu tom ríspido, não consigo direcionar minha frustração a
ele, sabendo o quanto ele se dedicou a servir minha família.
— Ela conhece o Joseph, e nada me tira da cabeça que ele a colocou
aqui, com um único propósito: foder com a minha vida.
Peter parece absorver minhas palavras, pensando sobre o que acabei
de falar. Mesmo que ele não compartilhe das minhas suspeitas, ele me
respeita o suficiente para levar a sério minhas preocupações.
— Ela tem um vínculo direto com a agência, senhor, é natural que
tenha trabalhado em muitas casas em Seattle.
— Você não consegue ver o que eu vejo, Peter. Essa garota está
escondendo algo, e esse algo está diretamente relacionado a Joseph. Saia,
me deixe sozinho por um tempo. — Minhas palavras saem mais tranquilas
agora, mas meu olhar ainda carrega raiva e frustração.
— Trarei a ficha de cadastro da garota, se isso o deixa mais
tranquilo, mas quero que o senhor saiba que eu nunca colocaria aqui alguém
que fosse prejudicá-lo. — Peter reforça sua lealdade enquanto se encaminha
para a porta, exibindo anos de fidelidade inabalável.
— Eu sei disso. Pode sair, Peter.
Assim que ele cruza a porta, pego o telefone e ligo para o meu
advogado, que atende prontamente o meu chamado.
— Senhor Collins, em que posso ajudá-lo?
— Preciso que investigue alguém para mim. Quero saber tudo sobre
essa pessoa, família, namorados, amantes, qualquer vínculo que ela tenha.
Desejo um relatório detalhado.
— Quem é a pessoa, senhor? Por favor, forneça o nome.
— Vou tirar uma foto da ficha dela e encaminharei para você.
— Ficarei no aguardo. Há algo mais em que posso ajudá-lo? O que
o preocupa?
— Minha empregada. Suspeito que Joseph a tenha colocado aqui
com o intuito de me prejudicar.
— Se esse for o caso, não perca tempo. Traga-a para o nosso lado.
Não há nada que ele possa oferecer que o senhor não possa ofertar em
dobro.
— Acha prudente?
— Acho que, em tempos de conflito, todas as táticas devem ser
consideradas. No entanto, não sou tão qualificado como o senhor a ponto
de ensinar estratégias para um bom combate.
— Claro, melhor mantê-la aqui e saber o que o Joseph planeja.
— Exato. Ganhe a confiança dela.
Após a ligação, fico meditando nas palavras do meu advogado. O
que Joseph poderia ter oferecido a ela? Dinheiro? Ou… Tento bloquear os
pensamentos incômodos que começam a surgir. Será que ele a seduziu, fez
promessas de riqueza e conforto, ou pior, será que eles têm algum tipo de
relacionamento? A possibilidade me irrita profundamente, minha mente
começa a voar, e sinto cada músculo meu tensionar.
— Mantenha o foco, Marcus. Se for necessário usá-la para obter o
que deseja, não hesite em fazê-lo — afirmo a mim mesmo, tentando
recuperar minha compostura. — Fernanda, você não faz ideia em que
situação se meteu. Farei o que for necessário para proteger meus interesses,
mesmo que isso signifique jogar um jogo perigoso. — Apenas o
pensamento de recorrer a essas táticas me deixa desconfortável, mas estou
disposto a fazê-lo para não ser prejudicado.
Capítulo 12

Ayla Munis

O meu corpo inteiro treme enquanto tento limpar o sangue que


escorre dos meus joelhos e mãos. Sinto-me fraca e atordoada, tentando
processar o que acabei de fazer.
— Ele é louco, sim, é louco — afirmo com a voz trêmula, tentando
encontrar alguma lógica na situação.
Ouço batidas leves na porta, e em seguida, Peter a abre. Seu olhar é
de compaixão, e ele para no meio do quarto, analisando o meu estado.
— Como está? — ele pergunta, preocupado. Antes que eu possa
responder, a porta se abre bruscamente, e o senhor Collins entra como um
furacão.
— Saia, Peter, eu mesmo vou cuidar disso — ele ordena com um
tom de voz autoritário.
— Posso ficar e auxiliá-lo, senhor — Peter responde após me lançar
um olhar preocupado, o que me deixa ainda mais amedrontada.
— Saia! — o senhor Collins rosna desta vez, e Peter se retira com
passos hesitantes, deixando-me sozinha com o homem que me observa
atentamente.
Ele arrasta uma cadeira e se senta na minha frente, ordenando:
— Coloque a sua perna aqui. — Apontando para seu colo.
— Não é necessário, eu posso cuidar de mim — falo, puxando a
caixa de primeiros socorros para mais perto de mim, tentando manter um
mínimo de independência e controle da situação.
Sem paciência, ele estica a minha perna sobre a dele e abre a caixa
de primeiros socorros, começando a limpar o ferimento com algodão
molhado. Fico estática, observando os seus movimentos habilidosos.
— Deveria respirar às vezes, para o oxigênio circular no seu corpo
— diz com um tom debochado, o que não parece apropriado para a
situação. Ele, é de fato, um homem inconstante.
— Não consigo respirar quando me sinto amedrontada — admito,
enquanto ele continua a tratar do meu ferimento.
— Então deveria rever essas questões, não podemos manter hábitos
que possam nos matar — ele responde, parecendo disposto a dar lições de
vida no momento menos apropriado.
— Você é... — Começo a falar, escolhendo cuidadosamente as
palavras, mas, sem pensar nas consequências, solto: — Você é louco?
Ele para subitamente, e sinto os seus músculos ficarem tensos. Sua
expressão endurece, e é como se o ambiente tivesse ficado mais pesado.
— Louco? — ele questiona, com as sobrancelhas franzidas, sua voz
soando fria.
— Perdão, eu não quis dizer isso — tento me desculpar
rapidamente, percebendo que minhas palavras foram impulsivas e
inapropriadas.
— Ah, quis, você quis — ele responde, levantando-se de repente.
Seu semblante agora é diferente do que quando entrou no quarto. Ele parece
irritado, não sei se comigo, consigo mesmo, ou com a situação.
— Eu não tenho outra palavra para definir o que aconteceu hoje —
murmuro, buscando alguma compreensão.
Sem me responder, ele volta a sentar e ergue a minha perna,
colocando-a sobre o seu colo mais uma vez para cuidar dos ferimentos,
aplicando pomada e finalizando com um curativo. À medida que faz isso,
ele pega a minha mão para tratar os machucados, da mesma forma como fez
com a minha perna.
— Devo me redimir com você, talvez mostrar quem eu realmente
sou — ele fala, segurando minha mão enquanto cuida dos ferimentos.
— O senhor não tem que se redimir de nada, aqui é a sua casa, as
suas regras, e sou eu quem precisa me adequar a este lugar… se eu ainda
tiver um emprego, claro — respondo, tentando mostrar que estou ciente da
minha posição.
Ele parece refletir sobre minhas palavras, sem me olhar, focando
apenas nos machucados em minha mão.
— Você ainda quer o emprego? — ele pergunta, parando finalmente
para me encarar, sua voz ainda soa distante.
— Eu preciso dele — admito, lembrando-me da minha situação e
das responsabilidades que tenho.
— Então não vamos mais tocar nesse assunto, já está resolvido. —
Ele se levanta bruscamente e começa a caminhar em direção à porta, como
se minha resposta o tivesse incomodado.
— Você me deve desculpas — digo, sentindo a necessidade de fazer
com que ele reconheça a sua atitude exagerada comigo hoje.
Ele para no lugar, enterrando os passos, e hesita antes de se virar,
como se estivesse considerando a ideia de pedir desculpas a uma mera
empregada.
— Vou me desculpar com você à altura, jantaremos juntos — ele
finalmente concorda, comprometendo-se a fazer as pazes da maneira que
acha adequada.
— Não acho que isso seja necessário — respondo, ainda incerta,
sobre a ideia de compartilhar uma refeição com ele.
Ele solta o ar com força, como se estivesse se esforçando para agir
conforme a situação.
— Deve, ao menos, me dar a chance de me desculpar da forma que
acho correta — ele insiste.
— Tudo bem, vou considerar jantar com o senhor — cedo,
percebendo que isso talvez seja o mínimo que ele possa fazer para
compensar seu comportamento.
— Perfeito — ele admite, e então parte em direção à saída.

Marcus Collins

Enquanto Fernanda continua a cuidar dos afazeres da casa, eu me


concentro em instalar escutas em seu quarto. Se ela está escondendo alguma
coisa, eu pretendo descobrir o que é.
— Isso! Agora é só esperar que ela abra a boca — sussurro para
mim mesmo, enquanto verifico que as escutas estão funcionando
perfeitamente.
Após finalizar a instalação das escutas, saio do quarto de Fernanda e
pego meu celular para ligar para o meu advogado. Preciso saber se ele já
tem alguma novidade sobre o que pedi.
— Alô, alguma novidade? — pergunto assim que meu advogado
atende a chamada.
— Ainda não temos informações relevantes para acrescentar, senão
o que já lhe foi informado. A Fernanda está devidamente cadastrada na
agência de empregos e, de fato, realizou alguns serviços na casa do Joseph.
No entanto, ainda não temos evidências concretas que confirmem um
relacionamento entre eles, ela prestou serviços em diversos locais pela
cidade. Contratei uma equipe de detetives e estão dedicados inteiramente à
investigação. Em breve, espero ter notícias substanciais e esclarecedoras.
— Não demore, tenho urgência nesse assunto. Quero saber o que
Fernanda está escondendo, e se ela tem relação com o Joseph.
— Perfeitamente, senhor. Toda a prioridade está sendo dada a esse
assunto. Assim que tivermos informações concretas, eu entrarei em contato
imediatamente.
Desligo o telefone, e sigo para o escritório, tenho assuntos
importantes para resolver hoje na empresa.

— Não, eu não posso ficar aqui, você precisa me dizer que tudo já
está bem por aí. — Paraliso no momento em que ouço a voz de Fernanda
no aparelho de escuta.
— Isso, continue… — falo para mim mesmo, dando total atenção às
suas palavras.
— Você não imagina o quanto está sendo difícil para mim, mas você
não se importa, você está bem vivendo a sua vida enquanto eu estou aqui
prestes a ser descoberta, eu tenho medo do que ele pode fazer comigo,
então me ajude a me livrar disso tudo.
Aperto os meus dedos em punho fechado.
— Que tipo de vigarista você é? — Esmurro a mesa.
— Eu também te amo, e estou com saudades — ela diz com a voz
partida e o silêncio se instala.
— Ama? Ama quem? Que porra, Fernanda, quem seduziu você? O
que está acontecendo aí? — grito para o aparelho, minha mente
enlouquecendo com a possibilidade de Fernanda estar envolvida com
Joseph ou qualquer outro.
Capítulo 13

Ayla Munis

Salto da cama ao som de tiros, múltiplos disparos ecoando no ar.


Minha respiração para, e o coração bate forte em meu peito, enquanto me
sento rapidamente e afasto o lençol que me cobre, uma onda de arrepio
percorrendo toda a minha pele. As palavras de Peter ecoam em minha
mente, lembrando-me de sua advertência para não me assustar com tiros.
No entanto, até este momento, essa residência sempre havia sido sinônimo
de paz e silêncio.
Com cautela, deslizo os pés para fora da cama e me aproximo da
janela, tentando identificar a origem dos tiros. As cortinas tremem com a
brisa da manhã, enquanto olho para fora, buscando pistas do que está
acontecendo.
As batidas apressadas na porta me tiram dos meus devaneios, e eu
corro para abrir.
— Ainda, está assim Ayla? — questiona Peter, me chamando pelo
meu nome, o que me faz franzir o cenho.
— Ayla? — Minha voz sai confusa.
— Esse é o seu nome, não é? — diz entrando no quarto.
— Sim, mas…
— Sem “mas”, não se preocupe, não a chamarei pelo seu nome
novamente. Se apresse, o senhor Collins acordou agitado hoje.
— Acordou? — Sorrio lembrando que ele nunca dorme.
— Você entendeu. Amanheceu, acha melhor assim? — ele diz com
graça e eu torno a sorrir.
— Sim, parece mais apropriado. Bom, tomarei um banho e já vou à
cozinha preparar o café da manhã dele.
Ele assente com a cabeça e me deixa sozinha no quarto. Tomo um
banho rápido, visto o meu uniforme e corro para a cozinha. Porém, ao
chegar à cozinha, sou recebida por uma das empregadas que me encara com
desprezo.
— Parece que a babá se atrasou — diz ela com deboche.
— Eu não tenho culpa se o senhor Collins gosta dos meus serviços,
a ponto de querer que eu o sirva sempre — respondo a desafiando, não
estou disposta a deixar sua provocação passar.
Ela repete minhas palavras com deboche:
— Claro, o sirva sempre. — Ela lança um olhar de desdém na minha
direção. — Você me surpreendeu, tinha cara de virgem recatada, mas é só
uma sonsa que está dando para o patrão. O problema é quando eles enjoam.
Nunca aprendeu que onde se ganha o pão não se come a carne, querida?
Minha expressão se transforma em uma mistura de indignação e
desdém e eu respiro fundo mantendo a postura.
— Primeiro, não seria da sua conta se acontecesse algo entre o
senhor Collins e eu. Segundo, pare de julgar os outros baseada em suas
próprias limitações. — Faço uma pausa, olhando-a nos olhos com firmeza.
— Eu tenho o meu trabalho e você tem o seu, então sugiro que foque nas
suas próprias responsabilidades.
— Sonsa. — Ela ri com deboche.
— Me dê licença que o senhor Collins aguarda o café da manhã
dele.
Passo direto por ela carregando a bandeja e faço o ritual de sempre,
mas, como das últimas vezes, sou surpreendida por alguma mudança nos
hábitos de Marcus. Ao sair da cozinha, me deparo com ele parado no meio
da sala, como se estivesse me esperando.
— Fernanda, me siga — ele diz, caminhando em direção ao jardim.
Ele está molhado, como se tivesse jogado água de uma mangueira
sobre si, e veste apenas uma calça de moletom. Eu o sigo conforme
ordenado, carregando a bandeja repleta de comida, e caminhamos alguns
metros até a parte de trás do jardim. À medida que avançamos, meus braços
começam a queimar sob o peso da bandeja.
— Deixe aí em cima. — Ele aponta para a mesa ao seu lado.
Estávamos exatamente no local onde Peter me disse pata nunca ir,
vários alvos e armas espalhadas.
— Voltarei para os meus afazeres, senhor, tenha um bom treino. —
Viro as costas apressada, retornando para a mansão.
— Eu não disse que podia se retirar — sua voz sai tranquila, mas
noto a malícia por trás delas.
Viro, voltando, o vejo pegar uma das armas, apontar para um dos
alvos e o som do tiro a seguir faz o meu corpo tremer.
— Sente medo? — ele pergunta voltando atenção para mim após
acertar bem no centro, na bola vermelha desenhada em um papel.
— Eu deveria sentir? — pergunto após me lembrar de respirar
conforme ele me aconselhou.
— Vejo que está dominando a sua própria respiração, isso é bom —
diz se aproximando.
— Por que quer que eu fique enquanto treina?
— Treina? — Ele gargalha. — Acha que preciso de treinamento? —
Olha-me com um semblante divertido, o que não é usual.
— Acredito que não.
— Vamos lá, quero que me mostre que essa sua afirmação é
verdadeira.
— Como assim? O que devo fazer para provar?
Ele me surpreende pegando a minha mão com firmeza e me leva até
um dos alvos, tira o papel duro do suporte e me entrega.
— O que devo fazer com isso? — O medo atravessa cada parte de
mim, mas aqui estou eu concentrada em respirar, dessa vez mais do que o
necessário para o oxigênio circular em meu organismo.
— Coloque sobre a cabeça e segure com firmeza.
— Não, você não vai fazer isso — Jogo o cartaz no chão e ando
apressada, mas sou contida pela sua mão que segura o meu braço com
firmeza.
— Não está segura das suas próprias afirmações, Fernanda?
Não posso acreditar que ele realmente espera que eu faça isso, mas
estou determinada a mostrar que não sou covarde. Respiro fundo, pego o
alvo do chão e, com as mãos trêmulas, coloco-o sobre a minha cabeça,
segurando-o com firmeza. Sinto o peso do papel rígido e fico imaginando o
que ele planeja. Ele exibe um sorriso que nunca vi antes e acaricia com
suavidade o meu rosto antes de se afastar e apontar a arma na minha
direção. Fecho os olhos com força quando ouço o clique do gatilho, mas
não sinto nenhum impacto. Abro os olhos e vejo que ele tem a arma
apontada para o alto. Meus joelhos cedem, e vejo seus pés se aproximando
lentamente de mim.
— Tenho uma dúvida, Fernanda — diz enquanto me ergue do chão
pelos braços. — Acreditou mesmo que eu atiraria contra você?
— Eu não faço ideia.
— Arrume as suas coisas, poucas, apenas o necessário para um final
de semana, faremos uma viagem curta, e quando voltarmos, espero que
você seja capaz de responder essa pergunta.
— Por que se importa que eu tenha uma resposta formada sobre o
senhor? — pergunto confusa.
— Espero obter a resposta para a sua pergunta também — pronuncia
com os olhos fixos aos meus, o meu peito se movimenta aceleradamente
tocando em sua pele próxima à minha. — O que tem em você que chama
tanto a minha atenção? — pergunta pressionando os meus lábios contra o
seu dedo indicador.
Capítulo 14

Marcus Collins

Tomo um banho, tentando aliviar a tensão que permeia meu corpo.


Minha mente vagueia pelo rosto de Fernanda, seus lábios convidativos, e a
vontade que tenho de possuí-la. Sim, desejo profundamente tê-la, e isso é
algo que finalmente parei de negar a mim mesmo. O aroma dela é envolto
em um mistério que anseio desvendar, como um vestígio de pólvora
deixado por soldados inimigos. É esse aroma que me leva diretamente ao
alvo que desejo conquistar.
Saio do banho e encontro Peter arrumando uma pequena mala,
conforme eu havia pedido.
— A Fernanda já está pronta? — pergunto enxugando os cabelos.
— O que tem em mente levando a menina para uma casa isolada?
— o seu tom é preocupado e eu não contenho o riso.
— O que acha que posso fazer com ela? — pergunto com um tom
zombeteiro, eu me permito ser assim com o Peter, ele me viu crescer.
— Deixe a garota em paz, ela é uma boa menina.
— Boa o suficiente para chamar a minha atenção, Peter. Chamar a
minha atenção é algo perigoso. Se apresse, ligue para o comandante trazer o
helicóptero.
— Agora mesmo, senhor — responde fechando a bolsa sobre a
cama e me deixando sozinho em meu quarto.
— Vamos de helicóptero? — ela pergunta se aproximando de mim
que já estou ao lado dele, aguardando a partida. Eu fico com o olhar preso
em sua figura, observando os detalhes que sempre notei, mas agora com um
desejo muito mais intenso.
— Sim, é o meio mais rápido de chegarmos ao nosso destino —
respondo com a voz suave, sentindo o calor do seu corpo próximo ao meu.
Ela assente com a cabeça e entra no helicóptero, sentando-se em um
dos bancos. Eu sigo, ocupando o assento ao seu lado. Enquanto o
helicóptero começa a decolar, nossos olhares se encontram por um breve
momento, e a minha vontade de tê-la me faz salivar. Ela aperta o banco com
força visivelmente nervosa.
— Nunca voou? — pergunto e logo me arrependo, claro que voou,
ela não é americana.
— Sim, não é o voo que me preocupa.
Sorrio por dentro. Claro sou eu quem a assusta.
— Não é minha intenção assustá-la.
— Então se concentre bem nisso, talvez consiga me deixar
confortável ao seu lado algum dia.
Assinto com a cabeça.
Confortável, relaxada e êxtase, esses são os pacotes de sensações
que quero causar em você. Mas claro sem me esquecer do meu objetivo
final.
O restante da viagem segue em silêncio, apenas o som do motor do
helicóptero preenche o espaço entre nós. Enquanto observo a paisagem lá
embaixo.
Ayla Munis

O helicóptero pousa e eu olho o local com curiosidade, ao contrário


da outra casa que parece uma fortaleza, essa aqui se assemelha a um lugar
que uma família viveria junto aos seus filhos. Uma imensa piscina se
estende até o interior da casa, a qual entro com curiosidade, e admirada com
tamanho luxo e bom gosto estampado na decoração. E agora olhando por
esse ângulo me pergunto o porquê de ele não ter filhos já que foi casado por
tantos anos.
— Gostou da casa? — ele pergunta me tirando dos meus devaneios.
— É uma casa incrível. O senhor nunca vem aqui? — pergunto,
ainda impressionada com a beleza do lugar.
Ele me olha por um momento, como se estivesse avaliando se
deveria compartilhar mais informações comigo.
— Sim, mas de vez em quando, não tenho mais parentes de quem eu
queira a proximidade, os meus pais não estão mais vivos, então, acabo me
restringindo ao meu lar. Agora, venha, vou mostrar o seu quarto. — Ele me
conduz por um corredor que leva a um quarto espaçoso e bem-decorado.
À medida que ele abre a porta, eu me deparo com uma vista
deslumbrante do oceano. O quarto é simples, mas elegante, com tons suaves
e uma cama king-size no centro. Há um banheiro adjacente, equipado com
uma banheira de hidromassagem.
— Espero que se sinta confortável aqui.
— Na verdade, esperei algo mais simples, como o quarto dos
empregados.
— Você não está aqui como minha empregada. — Ele me olha com
uma expressão séria.
— Nem como amiga, já que não citou ter algum quando disse que
vinha sozinho a esta casa. — Minha resposta sai com uma pitada de
sarcasmo.
Ele parece ponderar minhas palavras por um momento e depois
continua: — Parece que aos poucos você se mostra mais atenta aos detalhes
em minhas palavras ou falta delas, ou será que sempre foi e nunca
demonstrou tamanha esperteza?
— Não sei o que pensa sobre mim. — A minha voz sai com certa
insegurança.
Ele se aproxima e coloca a mão em meu ombro. — É por isso que
estamos aqui, para nos conhecermos melhor. Aproveite esse tempo para
arrumar as suas coisas e depois espero por você na cozinha.
Ele sai do quarto me deixando sozinha. Caminho até a imensa janela
e observo o exterior. Não vejo nenhum sinal de outros funcionários na casa
ou de seguranças. Estamos realmente sozinhos.
Ayla, vamos lá, se livre das suas paranoias e comece a arrumar as
suas coisas — sussurro para mim mesma, enquanto desfaço minha mochila
e organizo minhas roupas no guarda-roupa.
Depois de terminar, deito-me na cama e acabo adormecendo,
provavelmente exausta da viagem.

O cheiro de bacon assando que entra no quarto me desperta, fazendo


o meu estômago roncar. O quarto está escuro, iluminado apenas por uma
fresta de luz que vem do jardim. Levanto e tomo um banho rápido, vestindo
um dos vestidos que trouxe. Em seguida, vou à procura do senhor Collins.
Caminho pelos corredores, admirando a decoração impecável.
Pinturas nas paredes retratam cenas campestres e paisagens deslumbrantes.
Tapetes enfeitam o chão de madeira polida, e lustres suntuosos iluminam o
caminho. Quadros antigos e esculturas elegantes dão um toque de
sofisticação a cada canto.
À medida que avanço, os corredores parecem intermináveis, com
inúmeras portas que se alinham dos dois lados. Algumas estão entreabertas,
revelando vislumbres de quartos igualmente luxuosos. Outras portas estão
fechadas, escondendo segredos que despertam minha curiosidade.
Atravesso uma ampla sala de estar, onde grandes janelas permitem
que a luz acesa no jardim entre, expondo uma vista espetacular do jardim e
da piscina. O aroma do bacon fica mais forte à medida que me aproximo da
cozinha, onde vejo o senhor Collins, vestindo uma camiseta branca,
mexendo com habilidade em uma frigideira.
Ele não parece surpreso com a minha chegada, mas recupera
rapidamente a compostura. A mesa está posta, e ele faz um gesto
convidativo para que eu me junte a ele. É uma cena inusitada, ver o homem
que normalmente é tão reservado e distante cozinhando na beira do fogão.
— Espero que tenha dormido bem — ele diz, mostrando um sorriso
que não costuma mostrar. — Gosta de bacon?
— Não costumo comer à noite, mas ainda assim, gosto — digo, me
sentando à mesa.
— Eu te prometi um jantar, mas não sei fazer muita coisa.
— Onde estão todos os funcionários?
— Somos apenas eu e você aqui — ele fala com uma naturalidade
que me assusta. Por que ele quer estar sozinho comigo?
— Por que me olha assim? — ele pergunta com um dos lados dos
lábios arqueados.
— Porque viemos de uma fortaleza, onde somos cercados de
seguranças, o que teme lá que não teme aqui?
— Eu sou dono do maior grupo de segurança privada, e falamos do
maior a nível mundial, acredita que mesmo sem homens aqui, essa casa está
desprotegida? — Ele sorri. — Claro que não, sem falar que eu sozinho
posso cuidar da minha segurança e da sua, sou extremamente nocivo
quando necessário.
Eu não tenho a menor dúvida disso, embora eu não verbalize isso
em voz alta.
— Venha me ajude com o jantar, vamos comer no jardim com vista
para a piscina.
Levanto-me e vou até ele, que prepara panquecas e algumas
torradas. Estou diante de um homem que nunca vi nesse tempo em que o
conheço, e estou realmente curiosa para saber o que ele tem para me
mostrar e o que ele quer que eu mostre.
Capítulo 15

Marcus Collins

Fernanda está preparando uma salada enquanto preparo algumas


travessas de louça que serão levadas até a mesa do jardim. Inicialmente,
pensei em comer aqui mesmo, na grande mesa de jantar, mas, após vê-la
surgir com um vestido curto e solto no corpo, tive uma ideia melhor, com o
jantar sendo ao lado da piscina.
— Acha que está suficiente? — ela pergunta com um sorriso que me
faz perder a compostura e me esquecer de tudo que, de fato, estou fazendo
aqui.
— Sim, acredito que dá para alimentar um exército.
— Eu exagerei? — questiona sem jeito.
— Não tem problema, vamos, estou com fome, você não? —
pegunto, me aproximando dela de forma que consigo sentir o cheiro doce
que vem dos seus cabelos.
— Sim, estou faminta.
Caminhamos até a mesa ao lado da piscina iluminada com pequenas
luzes de leds com um tom quente.
— Aqui, coloque tudo nessa mesa — digo colocando as que tenho
na mão primeiro.
O vestido dela se movimenta com o vento igual aos seus cabelos
que agora teimam em cobrir o seu rosto.
— Não sei se foi uma boa ideia. — Ela sorri graciosa, tirando os
cabelos do rosto suavemente.
— Tudo está como deveria — digo com meus pensamentos longe
imaginando o momento em que eu estaria ajudando-a a se esquentar,
— Então vamos comer. — Ela dá de ombros antes de se sentar na
cadeira na minha frente.
Eu a observo enquanto ela se serve, e leva a comida à boca com
graciosidade. Ela é linda, gostosa e eu estou aqui feito um idiota babando
por cada gesto que ela executa.
Ao menos feche a boca Marcus, você é um homem de trinta e seis
anos, que já viu todo tipo de mulher pelada na sua frente, não aja feito um
menino deslumbrado com uma colega de classe.
— O que veio fazer nos Estados Unidos? — inicio as perguntas
despretensiosamente como quem puxa assunto para quebrar o silêncio.
— Vim estudar idiomas, eu ganhei uma bolsa de estudos.
— E por que resolveu ficar, e não me diga que foi para aperfeiçoar a
sua pronúncia porque você soa como uma nativa.
— Você acha? — pergunta com um sorriso.
— Sim, tenho certeza.
— Aconteceram muitas coisas e eu precisei ficar. Aqui tem trabalho,
e a moeda é valorizada.
— Sei, entendo perfeitamente.
Eu queria encostá-la na parece e perguntar quem é o homem que ela
ama, quem diabos é capaz de tocar aquilo que quero para mim. Sinto os
meus músculos ficarem rígidos só de imaginar outro homem a tocando.
— Não acho que foi uma boa ideia ter vindo para fora, está bem frio
— diz alisando os braços com a pele arrepiada e o bico dos seus peitos
pontudos.
Levanto, dou passos o suficiente para zerar a distância entre nós e
me abaixo, deixando os nossos rostos frente a frente.
— Sei de algo que pode esquentar. — Pisco o olho de forma
sugestiva e me afasto sorrindo quando ela arregala os olhos. — Se acalme,
estou falando de vinho. — Sorrio indo até o bar próximo à piscina e
voltando com uma garrafa de Château Margaux, um vinho francês da
melhor vinícola.
— Uau! — ela fala com espanto olhando a garrafa que acabo de
colocar sobre a mesa.
— Você conhece? — pergunto curioso.
— Sim, é um Château Margaux e a safra é bem antiga.
— Como conhece de vinhos? — pergunto curioso imaginando que
aqui na frente tem uma golpista acostumada a arrancar dinheiro de homens
carentes e reclusos. O que não é o meu caso, é claro, mas eu facilmente me
deixaria ser levado pelos seus encantos se isso me permitisse tocá-la.
— Eu costumava trabalhar na casa de um italiano que vive aqui em
Seattle. Ele tinha uma adega enorme e nos contratava para limpá-la. Mas,
antes disso, ele fazia questão de contar a história de cada vinho. Não era
para nos ensinar nada, mas sim para nos fazer perceber o quão valiosos
eram e o quanto deveríamos ter cuidado.
— Imagino então que nunca experimentou.
— Não mesmo. — Ela sorri.
— Então, aprecie sem a menor moderação — digo enchendo as
taças na nossa frente e arrasto a tábua de queijos finos, como o Brie, e
Camembert, frutas secas, como damascos e figos.
Enquanto ela saboreia o vinho, eu finjo beber dando pequenos goles,
eu estou na expectativa que ela seja o tipo de pessoas que fala demais sob
efeito do álcool.
— O que acha de sentarmos à beira da piscina? — pergunto já de pé
com a garrafa de vinho e a taça na mão.
Ela concorda com a cabeça levantando para se juntar a mim. Com
passos leves, caminhamos até a beira da piscina e nos sentamos nas
espreguiçadeiras, olhando o reflexo da lua na água.
— É tão lindo aqui à noite — ela comenta, olhando para cima, onde
as estrelas começam a pontilhar o céu noturno.
— Sim, é um dos meus lugares favoritos para relaxar — digo,
mantendo o tom casual da conversa.
Enquanto ela aprecia a vista, despejo um pouco mais de vinho em
sua taça, esperando que o álcool comece a afrouxar sua língua.
— Fernanda, você já mencionou que trabalhou para um italiano que
tinha uma grande adega. — Faço uma pausa, antes de continuar. — Há algo
mais que você queira compartilhar sobre algum período de sua vida?
Ela me olha, seus olhos um pouco nublados pelo vinho, e sorri de
leve.
— O que quer saber exatamente?
— Joseph, quanto tempo trabalhou para ele? — pergunto mesmo
sabendo da resposta.
— Aquele babaca. — Ela sorri. — Ele sempre nos chamava para
limpar a casa, quando alguma empregada da casa ficava doente.
— Sei, o que mais? — pergunto tomado pela ansiedade de obter as
respostas que procuro.
— Não tem mais. Nossa! Estou com frio — diz abraçando o próprio
corpo.
Junto as espreguiçadeiras e envolvo os meus braços em volta do seu
corpo sem nenhum aviso.
— Sente-se mais aquecida? — pergunto, me permitindo acariciar a
sua pele macia.
— O que pensa que está fazendo? — questiona com um tom
engraçado, alterado pelo álcool.
— Nada, apenas esquentando você.
Ela ergue a cabeça e nossos olhos se encontram, e eu, que sempre a
lembrei de respirar, fico completamente sem ar, encarando os seus lábios
tão próximos dos meus.
— Você é irritante — esbraveja dando um tapa leve em meu peito.
— Por quê? — quero saber, mantendo a sua mão sobre mim.
— Eu sinto vontade de te beijar e isso é muito irritante.
— Não precisa passar vontade. — Aproximo-me ainda mais,
colando os meus lábios aos dela, meus dedos enrolados em seus cabelos e
eu pressiono o seu rosto contra o meu.
— Senhor... — ela sussurra contra os meus lábios antes de
mergulharmos em um beijo exigente.
Nossos lábios se movem em perfeita sincronia, explorando o
território um do outro. Suas mãos deslizam pelos meus ombros e pescoço,
enquanto as minhas encontram o caminho até sua cintura, puxando-a mais
para perto de mim. Estou consumido pelo desejo e não há mais volta.
O beijo se intensifica, e nossas línguas dançam de forma sedutora.
Cada toque, cada suspiro, me leva a um lugar de prazer. Aperto os seus
seios por cima do vestido, fico, e gemo loco para estar dentro dela. O
mundo ao redor desaparece, e me entrego ao calor do momento.
— Não me chame de senhor, não enquanto estamos assim, em um
momento tão íntimo.
Ela interrompe o beijo, subitamente e sorri, encostando a cabeça na
espreguiçadeira e começa a falar coisas desconexas, no início.
— A Fernanda costumava achar o senhor Joseph bonito, até o dia
em que limpei a casa no lugar dela e ele sequer notou a diferença, no fundo,
somos apenas empregadas, sem rosto e sem nome — o seu tom é carregado
de amargura. — Eu não deveria ter iniciado isso, me desculpe. — Ela se
levanta tão rápido quanto a minha mente é capaz de processar as palavras
que acabo de ouvir.
— Como assim? Quem é você, então? — A minha pergunta atinge
uma mulher que agora desmaia bêbada em meus braços.
Capítulo 16

Marcus Collins

Coloco-a na cama, e a observo se encolher entre os lençóis. Suas


pernas flexionadas, me permitindo uma visão magnifica.
— Quem é você afinal? — pergunto, sentando-me ao seu lado e
acariciando o seu rosto como quem procura pistas onde não vai achar.
Levanto e vasculho as suas coisas atrás de um nome, de algo que
deixe a minha ansiedade por respostas saciada. Mas não tem nada. Encaro o
celular que está sobre a mesa de apoio e não penso meio segundo
levantando-me, para pegá-lo.
— Você ainda está aqui? — A voz dela me paralisa, como se eu
fosse a pessoa que estivesse cometendo um delito e não ela, que está se
fazendo passar por outra pessoa.
Retrocedo e me inclino para encará-la enquanto fala coisas
desconexas.
— Achei que estivesse dormindo — digo encarando os seus olhos
curiosos.
— O que tinha naquele vinho, eu estou zonza.
— Álcool, é isso que tem nos vinhos e que deixam as pessoas
zonzas — respondo o óbvio.
— Você pode fechar a janela? Aqui está frio.
— Você? — Sorrio, há alguns minutos ela nem me encarava direito
nos olhos. — Caminho até a janela, faço o que ela me pediu e sento-me na
cama, observando enquanto ela sorri como boba. — O que é tão engraçado?
— pergunto sério.
— Você é muito bonito. — Ela estica a mão para tocar em meu
rosto, e o faz suavemente. Uma onda de eletricidade passa pelo meu corpo.
Estou louco por ela, mas quem é ela?
Enquanto seus dedos deslizam delicadamente sobre minha pele.
Sinto um calor se espalhar com seu toque suave e seus olhos fixos nos
meus.
— Você é intrigante, Marcus. — Sua voz é suave e baixa. —
Quando te conheci, nunca imaginei que seria assim.
— E quem você é? — pergunto, com o meu rosto próximo ao dela,
louco para beijá-la novamente. Mas estou muito mais ansioso para
descobrir o que ela está escondendo e por que ela invadiu minha vida se
passando por outra pessoa.
— Acho que é melhor eu ir dormir, minha cabeça está pesada e mal
consigo manter os olhos abertos. — Ela esfrega levemente os olhos, lutando
contra o cansaço.
— Faça isso, durma — falo num tom gentil, ao mesmo tempo que
meus olhos estão semicerrados, analisando cada sílaba que escapa de seus
lábios.
Em seguida, pego meu celular e tiro uma fotografia dela, enviando
imediatamente para Edward, o meu advogado, que parece ter a agilidade de
uma lesma. Saio do quarto e ligo em seguida, e ele atende prontamente.
— Marcus, o que posso fazer por você? — a voz do meu advogado
soa do outro lado da linha.
— Você viu a foto que acabei de enviar, Edward? — pergunto
diretamente, sem rodeios.
— Estou olhando neste exato momento, senhor.
— Essa é a mulher que está na minha casa, utilizando o nome de
Fernanda.
— Como assim, utilizando o nome? — Seu tom de voz é confuso, e
eu suspiro, impaciente.
— Não sei o nome verdadeiro dela, mas estou certo de que ela e a
tal Fernanda são amigas, ou colegas de trabalho. Quero que descubra tudo o
que puder sobre ela. Preciso disso amanhã cedo, é uma questão urgente.
— Amanhã cedo, você terá todas as informações necessárias.
— Perfeito. — Encerro a ligação e ligo para o comandante em
seguida. Voltarei hoje para a mansão, e a deixarei aqui, até que eu saiba
quem ela é de fato.

Observo o dia nascer, como de costume, depois de alguns cochilos


interrompidos por pesadelos. Mas desta vez, devo admitir que a minha
ansiedade em saber mais sobre a mulher que deixei na outra casa também
contribuiu para perturbar meu sono.
Após um banho, desço as escadas e encontro Peter já distribuindo
tarefas para o dia. Seu olhar carrega uma expressão de espanto, surpreso
com minha chegada, o que me faz perceber que sou o único com o sono
leve, já que o helicóptero faz um barulho infernal.
— Senhor? — Peter se aproxima, curioso. — Quando chegou?
— Cheguei ontem à noite.
— E a... Fernanda? — pergunta, com um tom preocupado que
revela o quanto ele se preocupa com ela.
— Ela ficou. Preciso resolver alguns assuntos e ela vai aproveitar a
casa.
— Então deu folga a ela? — Ele parece aliviado.
— Sim, Peter, eu dei folga a ela — respondo com impaciência.
Ouço um carro estacionar, e caminho rapidamente até a entrada.
— Bom dia, senhor. — Sorrio satisfeito para Edward, que me
cumprimenta.
— Venha, vamos para o meu escritório — digo com ansiedade.
Subo as escadas apressadamente, e ele me segue de perto.
Ele entra e fecha a porta atrás de si.
— Então, quem é ela? — pergunto ansioso.
— De fato, ela é uma amiga da tal Fernanda, a menina que busquei
informações na agência.
— Certo, e por que diabos ela veio para essa casa usando o nome de
outra pessoa? — Espalmo a mesa, já sem paciência.
— Talvez não seja nada que o senhor imagine, ela apenas é ilegal no
país e deve usar o nome da amiga para poder trabalhar.
— Ilegal?
— Exato, dei as descrições dela na agência, disse que gostaria de
contratar os serviços dela, e me afirmaram ser impossível, já que ela apenas
limpava a agência, como uma forma de ajuda, depois da amiga Fernanda
insistir. Aqui estão os dados dela. — Ele arrasta o envelope sobre a mesa.
Nome: Ayla Munis
Idade: 19 anos
Endereço: Seattle, WA
Naturalidade: México.
Sorrio sem humor, jogando a pasta de lado.
— Eu sabia que ela é mexicana.
— Bom, quais os seus planos para a garota? — ele pergunta de
sobrancelha arqueada.
— Vou mandá-la embora, o que quer que eu faça com ela? —
Balanço a cabeça negativamente.
— Já pensou na possibilidade de unir interesses? — ele fala
sentando-se na cadeira em frente à minha mesa.
— Como assim, unir interesses? — questiono me sentindo um idiota
por não entender aonde ele quer chegar.
— Ela precisa de um green card, que ela pode ter se casando com
um nativo, e o senhor precisa de uma esposa, para mostrar que consegue ter
um relacionamento saudável. Isso será bem-visto pelo juiz ou pelo júri, se o
seu caso chegar a ir a júri popular — estreito os olhos estudando cada
palavra que acaba de sair da sua boca.
— Não estou disposto a joguinhos e nem de fingir amor — digo
descartando a ideia.
— Não estou dizendo para enganá-la, e sim para fazer uma
proposta, ela terá a permanência dela no país, em troca de ajudá-lo até o
senhor ser absolvido da acusação.
— Você acredita que pode ir a júri popular?
— Sim, depois da descoberta que a sua falecida esposa, tinha
marcado um aborto, as coisas não estão bem para o nosso lado.
— Que inferno! — Esmurro a mesa.
— É um fato que não será possível mudar. Ela estava grávida, tem a
simpatia das pessoas, todos vão vê-la como vítima, como o senhor sabe
para existir uma vítima tem que existir um culpado.
Eu não posso ser condenado, isso acabará com os meus planos.
Relaxo os músculos considerando a ideia, ela não tem alternativas a não ser
aceitar e eu tenho uma boa oportunidade mantendo-a em minhas mãos.
— Redija um contrato e me entregue ainda na parte da manhã —
ordeno me pondo de pé.
— Perfeitamente, senhor. Mas cuide para que pareça real, não
esqueça que forjar um casamento também é um crime.
— Está querendo me ensinar sobre leis?
— De forma alguma, senhor, é só em caso do senhor ter se
esquecido.
— Você pode ir, obrigado — falo, caminhando até a porta e saindo
da sala logo depois dele.
— Peter. — Desço as escadas procurando por ele, que surge no
corredor.
— Pois não, senhor?
— Dê folga a todos, não quero ninguém na casa hoje. Avise aos
seguranças para não entrarem na mansão. Quero a casa vazia.
Peter estreita os olhos, me olhando com desconfiança.
— Inclusive a mim? — ele questiona.
— Sim, todos. Faça isso agora, dispense todos.
— Farei imediatamente, senhor — Peter diz e some pelos
corredores, apressado.
Ayla Munis, confesso que esse nome é muito mais bonito.
Capítulo 17

Ayla Munis

Abro os olhos de má vontade, vendo a luz do dia entrar pela janela,


e viro para o outro lado, cobrindo com o travesseiro a minha cabeça que
lateja.
— Bom dia, senhora. — Ouço uma voz e sobressalto no lugar,
virando-me na cama para encarar uma mulher baixa e já de idade, parada à
minha frente com um sorriso que me deixa encabulada.
— Que droga! Você é um fantasma? — pergunto, realmente com
medo da resposta.
— Fantasma? — Ela gargalha enquanto se aproxima. — Já são
quase meio-dia, vim apenas verificar se a senhora está viva, porque eu já
estou de pé desde às cinco da manhã.
— E o que faz aqui? — pergunto ainda confusa.
— Trabalho aqui, senhora, e o senhor Collins me ordenou a preparar
um café da manhã reforçado, além de comprar este remédio. — Ela me
entrega o medicamento.
— Remédio? — Levanto-me apressada, minha cabeça lateja, mas
ignoro esses sintomas, ansiosa para saber que remédio ele me mandaria
tomar no dia seguinte à noite em que estivemos sozinhos juntos e que ele
me embebedou.
Abro o pacote ansiosa e suspiro com alívio.
— É para ressaca. — Sorrio.
— Vocês, jovens, não têm um pingo de juízo — ela diz enquanto
arruma a cama.
— Por que diz que não tenho juízo? A senhora nem me conhece. —
Torço o nariz.
— Esqueça o que eu disse. — Ela passa por mim com os
travesseiros e os coloca no armário.
— Onde está o senhor Collins? — questiono.
— Não o vi, tudo que sei são as ordens que vieram pelo telefone.
— Como assim não o viu?
— Ele foi embora ontem à noite; o helicóptero veio buscá-lo.
— Embora? — quase grito.
— Sim, mas não fique olhando como se você fosse ser mantida em
cativeiro aqui. Ele disse que o helicóptero virá buscá-la no início da noite.
— A senhora é sempre assim? — pergunto, sentando-me na cama.
— Assim como?
— Acha que sabe de tudo. — Ela ri de forma divertida.
— Essa casa sempre é tão vazia e sem vida, que confesso estar
amando ter alguém para quem cozinhar. Arrume suas coisas. Com licença,
senhora.
Jogo-me na cama, ainda sentindo a cabeça doer, refletindo sobre o
que aconteceu e o que está por vir. Não me lembro absolutamente de nada
que aconteceu ontem, e o fato dele ter ido assim, não deveria me deixar
preocupada, já que ele é inconstante, mas aqui estou eu com medo de ter
falado mais do que deveria sob o efeito do álcool
Depois de menos de meia hora de voo, chego à fortaleza do Senhor
Collins. Entro pela porta da cozinha e estranho o silêncio que vai além do
normal; a essa hora, deveriam ter funcionários trabalhando por aqui.
— Procurando por alguém? — Uma voz grossa me assusta, pois
surge atrás de mim.
— Que susto! — grito, saltando sem sair do lugar.
— Acenda as luzes — diz um dos seguranças com um tom
zombeteiro, acendendo-as.
— Vou para o meu quarto.
— Vá e não saia; o Senhor Collins deu ordens para que todos
tirassem folga hoje e nos proibiu de entrar na mansão.
— Sério, ele proibiu? — pergunto com ironia.
Ele sorri e se aproxima de mim.
— Eu te vi chegar e quis te comunicar, mas esqueci que você tem
prioridades. As regras não se aplicam a você — fala com um tom carregado
de malícia.
— Já pensou em plantar batatas? Me deixe em paz. — Passo por ele
apressada e atravesso os corredores a passos duros, entro no meu quarto,
jogando a bolsa no chão ao lado da cama e me atirando sobre o colchão
macio. Fico assim por um tempo.
Tomo um banho, visto uma camisola confortável e me sento na
varanda. Abro um dos livros que trouxe da biblioteca. Ainda é cedo, e
mesmo que a casa toda esteja fúnebre, ainda posso apreciar a vista do
jardim que nunca fica sem luz.
— Ah, fala sério, vai roncar logo agora? — resmungo com o meu
estômago. — Talvez ninguém note se eu for bem rápido à cozinha lavar
umas frutas e voltar. — Levanto-me e ando de ponta de pés, pelos
corredores, não acendo a luz ao chegar na cozinha, pego algumas frutas e
começo a lavar.
Marcus Collins

Vejo quando o helicóptero chega e Ayla desce entrando pela


cozinha, fico esperando ela entrar no quarto, o que demora mais do que o
necessário para acontecer. Permanecendo em silêncio observando o contrato
na minha mão, ainda não sei se é o certo a se fazer.
Ouço-a resmungar consigo mesma, e sair do quarto para buscar
comida na copa. Desço as escadas silenciosamente, quase invisível na
escuridão, e vou até a cozinha. Lá, encontro Ayla parada perto da pia,
ocupada com algo. Ela está usando uma camisola delicada que mostra suas
formas. Uma visão bonita, mas que quero manter só para mim. Aproximo-
me o suficiente para tocar sua pele, e ela se assusta, mas cubro sua boca
para evitar que grite, enquanto meus olhos a percorrem de cima a baixo,
parando em seus peitos firmes bem desenhados na camisola de rendas.
— Senhor! — ela diz se afastando em um pulo se apressando para
acender a luz.
— Deixe apagada — minha voz reverbera.
Ela congela a ação com o dedo sobre o interruptor.
— Então, me dá licença — diz caminhando apressada para a saída.
— O que veio fazer na minha casa? — pergunto e ela enterra os
passos virando-se para mim com um olhar confuso.
— Sou empregada, senhor — responde, como se fosse óbvio.
— Tenho uma empregada, ela se chama Fernanda, é colombiana e
tem 24 anos. — Ela engole em seco, e posso ver bem a sua expressão
assustada pela fresta de luz que entra pela janela que dá para o jardim que é
sempre bem-iluminado.
— Isso mesmo, senhor. Sou eu.
— Aproxime-se de mim — ordeno, fazendo um gesto com o dedo, e
ela obedece, abaixando mais sua camisola, abraçando a si mesma como se
isso a protegesse.
— Sim, senhor? — pergunta, parando a poucos centímetros de mim,
com as mãos ansiosas e a respiração rápida, o que pelo jeito melhorou, já
que antes ela não respirava.
— Ayla Munis, 19 anos, mexicana. É você? — Dou um passo em
sua direção, sentindo sua respiração doce em meu rosto. Ela fica imóvel,
prestes a se virar, quando eu a seguro entre meu corpo e a mesa. — Não
ande pela casa vestida assim — falo com as minhas mãos sobre a sua
cintura bem-desenhada. — Temos muitos homens com acesso à casa e você
agora é minha propriedade, só eu posso ver e tocar no seu copo.
— Senhor Collins, eu posso explicar como vim parar aqui — diz
com os olhos cheios de lágrimas.
Capítulo 18

Ayla Munis

Enxugo rápido as lagrimas que caem sem autorização sentindo o


peso do seu corpo sobre o meu.
— Explicar? — Ele se afasta e posso ver um sorriso no canto dos
seus lábios. — Venha, vamos ter essa conversa em outro local.
Eu o sigo um tanto desconfortável, não estou vestida
apropriadamente para ter nenhum tipo de conversa, ainda mais com um
homem. Ele para na frente do quarto e eu o olho assustada.
— Não vou entrar aí. — Estreito os olhos o analisando.
— Não é a primeira vez que entra no meu quarto, Ayla. — Maneio a
cabeça para o lado quando ouço o meu nome sair da sua boca. — Algum
problema em te chamar pelo seu verdadeiro nome? — questiona com
deboche enquanto entra e para na entrada estendendo a mão para que eu
faça o mesmo.
Encolho-me em meu próprio corpo ao entrar e ele se afasta indo até
o closet e voltando com um sobretudo, colocando-o sobre os meus ombros
em seguida.
— Sente-se melhor assim? — pergunta com uma voz simpática.
— Sim, muito obrigada — respondo vestindo-o.
— Sente-se, falaremos de negócios. — Ele aponta para a cadeira ao
seu lado.
— Vai me entregar à imigração? — pergunto de cabeça baixa.
— Não, a não ser que… — ele dá uma pausa, parando na minha
frente e eu levanto a cabeça para encará-lo.
— A não ser o quê? — pergunto ansiosa pelo que vai sair da boca
desse homem.
Ele inclina o corpo para a frente apoiando as mãos no braço da
cadeira, o rosto dele fica a centímetros do meu.
— Que você não aceite se casar comigo. — Arregalo os olhos e
sinto que paro de respirar.
— Co-mo A-ssim? — gaguejo.
— Eu não estou interessado em saber os motivos que te trouxeram
aqui, nem dos seus dramas familiares, ou de qualquer coisa parecida. Eu só
preciso de uma esposa, por um determinado tempo, ficaremos juntos até a
audiência. Você ganha a permissão de morar no país, e eu terei os meus
benefícios também.
— Quais? — Cruzo os braços em frente ao peito e ele gargalha
como nunca ouvi antes.
— Não se preocupe com isso. Será um contrato, na frente de todos
seremos um casal, apaixonado, e você será a esposa feliz e realizada.
— Não preciso de um marido, eu preciso de dinheiro — digo me
pondo de pé, e ele volta a me sentar pelos meus ombros.
— Pagarei um bom salário a você, em troca do seu silêncio. Você
sabe que isso é crime, não sabe? Se formos pegos, você é deportada e nunca
mais pisa nos Estados Unidos, então todos têm que acreditar que estamos
juntos.
— Não posso mentir para a Fernanda.
Ele sorri se aproximando novamente, mas dessa vez ele me ergue
colando os nossos corpos.
— Até onde eu sei a Fernanda não é ilegal no país, então se
concentre na sua vida e mantenha a sua linda boquinha fechada — diz
pressionando os meus lábios de forma provocante.
— Eu preciso pensar. — Dou alguns passos para trás e caio sentada
na cadeira.
— Ok, embora eu não considere que você tenha muitas opções, aqui
está o contrato, leia, e me entregue assinado ou não. A decisão é sua, mas
no momento em que riscar o seu nome aí nesse papel, você é minha até que
isso tudo acabe. Vai seguir as minhas regras.
Sinto vontade de amassar o papel em minhas mãos e jogar na cara
dele, mas me contenho, considerando a proposta boa já que preciso do
dinheiro. Todos os dias Alejandro faz questão de me lembrar que a conta do
hospital só cresce.
— Tudo bem, vou avaliar o contrato, tenha uma boa noite, senhor.
Saio do quarto agarrada à pasta entre os meus braços. Eu não tenho
a quem perguntar sobre, já que fui proibida, só me resta ler cada linha.

Marcus Collins

Passei toda a noite em claro, ouvindo Ayla murmurar repetidamente


sobre o contrato, enquanto lia as cláusulas vezes sem conta. Fiquei intrigado
com um nome em particular: Alejandro. Quem seria esse Alejandro e por
que ela o mencionava tão frequentemente?
“Alejandro, você está vendo o que estou prestes a fazer?”
“Alejandro, você tinha que me ajudar mais.”
Fico inquieto enquanto aguardo sua resposta, ouço batidas suaves na
porta. Acalmo minha curiosidade, mantendo-me próximo à varanda, e
autorizo sua entrada daqui. A porta se abre lentamente, revelando Ayla, que
carrega meu café da manhã
Caminho em sua direção e fecho a porta atrás de mim, observando-a
entrar com um semblante preocupado. Era evidente que ela já tem uma
resposta em sua mente, e eu estou ansioso por ela.
— Parece cansada, não dormiu? — pergunto apenas para puxar
assunto.
— Tenho alguns pontos a acrescentar, antes de assinar — ela diz
sem rodeios.
— Pontos? — Sento-me à mesa apontando para a cadeira ao meu
lado. — Quais? Quer aumentar o valor?
— Primeiro, não tem nada que fale sobre contato físico — ela
começa e eu estreito os olhos lhe dando atenção.
— Sim, o que tem isso? — pergunto.
— O senhor precisa se comprometer a não me tocar, abraçar ou
realizar qualquer ato físico sem obter sua permissão expressa.
Sorrio incapaz de me conter.
— Do que está rindo? — Cruza os braços em frente ao peito,
parecendo zangada.
— Continue, Ayla.
— Dormiremos em camas separadas. Cada um terá seu próprio
quarto e o senhor citou sobre ter controle sobre mim, mas quero o direito de
sair da residência a qualquer momento, sem necessidade de justificação ou
permissão.
— Não gosta de abraços? Tudo bem, não quer que eu te toque? Ok,
incluiremos as suas exigências no contrato. Mas, lembre-se de que
precisamos manter as aparências. Portanto, dormiremos no mesmo quarto e
dividiremos a cama, como um casal normal. Não correrei o risco de um
fiscal vir verificar nossa situação e constatar que não estamos agindo como
um casal real. Quanto a beijos e abraços, acredito que demonstrações de
carinho em público sejam algo necessário para a manutenção dessa fachada.
E por último, mas não menos importante, ao assinar o documento,
você passará a ser minha esposa legalmente. Portanto, quero estar a par dos
seus passos e saber onde minha esposa vai é o mínimo que preciso. E, por
gentileza, faça o favor de não manter outro relacionamento que possa se
tornar público. Você precisará se conter até o fim do nosso contrato, para
não haver nenhum escândalo. Está claro?
Capítulo 19

Ayla Munis

Engulo em seco, completamente atônita. Como pude acreditar que


conseguiria negociar algo com ele? É insensatez pensar que ele poderia ter
qualquer interesse além de seus objetivos, principalmente com os percalços
que enfrentava na justiça.
— Transparente — consegui dizer, embora minha voz soasse
embargada.
Senhor Collins me encara, sua expressão um misto de paciência e
impaciência.
— Então, o que decidiu? — pergunta, sem rodeios.
— Vou assinar o contrato, mas…
Ele interrompeu abruptamente.
— Não me venha com “mas,” Ayla. Você está me irritando com
tantas hesitações. Acho que não deixei claro ontem: não quero saber de
nada sobre a sua vida, a não ser o necessário para responder às perguntas do
fiscal. Vou lhe passar uma lista comum de perguntas para você responder e
me entregar. Farei o mesmo. Assim você poderá estudar e se preparar para o
dia da entrevista.
— Entendi, senhor.
— Pare de me chamar de senhor, seremos casados em pouco tempo,
se acostume a me chamar pelo meu nome. — Ele para, e me encara com os
olhos estreitos. — Já pensou em como convencer a sua amiga sobre o nosso
relacionamento?
— É comum que as amigas apresentem os namorados, então, acho
que podemos começar com isso.
— Esteja pronta em uma hora, contratei uma profissional para lhe
ensinar algumas coisas que você precisa saber para me acompanhar a
alguns eventos.
Saio do quarto atônita, com mil pensamentos a girar em minha
mente. O que pensarão os outros empregados sobre isso? Como explicarei
que meu nome não é Fernanda? Que desculpa encontrarei?
Volto para a cozinha de mãos vazias, já que o senhor Collins ainda
estava fazendo a refeição quando desci.
— Que cara é essa? — Peter pergunta entrando no local.
O que diabos eu vou responder?
— Peter, preciso que contrate outra funcionária. Ayla não trabalhará
mais aqui. — Marcus entra na cozinha, nos pegando de surpresa.
— Ayla? — Peter pergunta, seus olhos fixos nos meus, cheios de
curiosidade.
— Não sabia que ela tem um nome composto? Acho Ayla muito
mais bonito. — Marcus comenta, com um tom sério.
Todos na cozinha estavam atônitos, sem entender o que estava
acontecendo.
— Mas você a está demitindo? — Peter parece chocado e confuso
enquanto o segue até a sala, e eu o acompanho.
— Eu e Ayla vamos ficar noivos.
— Mas assim, de repente? — Peter estreita os olhos, incrédulo.
— Não foi de repente, Peter, já estávamos nos olhando há algum
tempo, e nessa viagem percebi que já está na hora de assumir um novo
relacionamento. — Ele estica o braço em minha direção e entendo o convite
para me aproximar dele.
Dou alguns passos hesitantes até ser acolhida em seus braços.
— Pare de ficar com essa cara de espanto e aja como uma mulher
apaixonada — ele sussurra em meu ouvido, enquanto fico em seus braços.
— Senhor? — Peter diz com um tom de, me conte a verdade.
— Distribua bônus para os funcionários, de forma que eles lembrem
que o nome da minha noiva é Ayla, e vejam o quanto estou apaixonado e
feliz a ponto de distribuir dinheiro.
— Farei isso agora mesmo, senhor.

Marcus Collins

No fim da tarde, Edward chega à mansão, e vou pessoalmente ao


quarto de Ayla, que se mantém trancada desde cedo.
— Ayla? — Bato algumas vezes na porta, mas não obtenho
resposta. — Ayla? — chamo mais alto dessa vez e abro a porta que não está
trancada.
Entro no quarto, não encontro nem ela, nem as suas coisas e retorno
para a sala imaginando que ela se foi.
— Peter, viu a Ayla? — pergunto um pouco ansioso.
— Achei que estivesse no quarto — ele fala com um ar confuso.
— Mas não está. — Sinto a minha respiração acelerar, um medo
desproporcional.
— Você é fofo, sabia disso? — ouço a sua voz soando distante e me
apresso indo até a janela que dá para o jardim e sinto um alívio se
apossando de mim quando a vejo abaixando falando com algo ou alguém
que não consigo ver de onde estou.
Caminho apressado atravessando a sala e indo até ela que
permanece lá abaixada com os joelhos no chão.
— Ayla? — Aproximo-me, para ver com quem ela fala com tanto
carinho.
— Olha isso — ela diz com um sorriso, apontando para um filhote
de cachorro pulguento.
— Sim, estou vendo é um cachorro, se livre disso e entre, o
advogado chegou.
— Como assim se livre disso? — Ela se levanta com o animal nos
braços.
— Devolva ao local que encontrou, foi isso que eu quis dizer — falo
já virando as costas para retornar à mansão.
— Não posso ficar com ele? Juro que no dia em que eu for embora
eu o levo comigo — ela praticamente implora parando na minha frente com
o animal fedido em seu colo.
— Não, você passará bastante tempo aqui, não é como se fosse
embora amanhã e eu odeio animais.
— Mas, senh… — Ela pausa as palavras. — Macus, ele é só um
filhote, juro que faço uma casinha para ele, e ele vai ficar fora de casa, o
que me diz?
Suspiro contrariado, mas ansioso para encerrar o assunto que não
tem importância para mim.
— Certo, mantenha ele aqui fora. Agora largue e venha, o advogado
está esperando — digo buscando paciência onde não existe.
— Obrigada! — Ela vibra. — Vou deixá-lo em um local seguro,
onde eu não o perca, a casa é bem grande e vou em seguida.
— Se apresse. E, aliás, onde estão as suas coisas? — pergunto bem
curioso.
— A pessoa que contratou para as aulas foi até o meu quarto para
verificar as roupas no guarda-roupa. Após examiná-las com uma expressão
desaprovadora, fez algumas ligações e várias outras peças chegaram à
mansão. Ela ordenou que tudo fosse posto no seu quarto durante o período
em que o senhor esteve no escritório. Se isso foi invasivo, posso reverter
tudo, eu acho…
Contive a minha expressão de satisfação. No meu quarto, mais
perfeito que isso impossível.
Capítulo 20

Marcus Collins

Alguns dias depois...


Reviro-me na cama tentando encontrar uma posição confortável,
como se isso fosse suficiente para me fazer dormir. No entanto, nada
adianta. Viro-me mais uma vez, encontrando os olhos verdes de Ayla sobre
mim, observando-me atentamente, como se ela também estivesse inquieta
naquela noite.
— Estou atrapalhando o seu sono? — pergunto, sabendo a resposta
e ainda lutando para encontrar um descanso que teima em escapar por entre
meus dedos.
— O que perturba o seu sono? — ela pergunta, movendo os
travesseiros que nos separam na cama.
— Não vamos falar sobre isso — respondo, desviando o olhar.
— Às vezes tenho pesadelos terríveis, e neles perco as pessoas que
eu mais amo, é difícil voltar a dormir quando eles me assombram.
— Não queira se comparar a mim.
— Não é isso que estou fazendo agora — ela diz, com uma voz
tranquila, me forçando a retornar seu olhar.
— E o que está fazendo, então?
Ela se senta na cama, arrumando os travesseiros, libertando o
restante dos que estão da cintura para baixo.
— Posso segurar a sua mão? — pergunta, com a mão já sobre a
minha.
— Acho que isso não é nada para se fazer com alguém com quem
divide a cama — ironizo, sentindo-me ligeiramente desconfortável.
Ela aperta ainda mais os dedos ao redor dos meus.
— Sempre que você estiver se afundando em seus medos, se
concentre na minha mão segurando a sua e te trazendo de volta.
— Acho mais provável que eu te arraste para o lado escuro, do que
você me levar para a luz.
Ela sorri, irradiando tranquilidade, aquecendo meu coração.
— Você viveu tanto tempo no escuro que não se lembra o quanto a
luz é poderosa. Mas se ela não for suficiente, podemos tentar algo tão
rápido e poderoso quanto.
— O quê? — pergunto, curioso.
— O som. Se concentre na minha voz. — Ela se aproxima mais,
apoiando a cabeça em meu braço. — Eu estou aqui, com você, então volte
sempre para mim — sussurra em meu ouvido, e uma onda de tranquilidade
me invade, talvez isso seja paz, a paz que eu nunca tive. — Acredita que
consegue?
Neste momento, já estou completamente imerso em seus olhos,
entregando-me ao tom de sua voz. O inferno parece desabar, e eu puxo seu
corpo para um abraço, desejando desesperadamente sua presença, sentindo-
me dependente de sua proximidade.
— Você é tudo que eu preciso agora — admito, sem ponderar as
consequências das palavras, sem manter a guarda levantada. Não é como se
eu ainda estivesse em guerra, é como se finalmente tivesse retornado para
casa.
— Então vamos dormir, e eu estarei aqui quando você acordar. —
Relaxo a cabeça sobre os travesseiros, fechando os olhos e desejando que
sempre seja assim, acordar com ela ao meu lado.
Estou no escritório verificando uns papéis quando Peter me informa
sobre a chegada de Edward, o meu advogado.
— Pela sua expressão as notícias são boas — digo arrumando a
postura na cadeira.
— O seu cunhado surgiu com novidades.
— Joseph? — pergunto apontando a cadeira em frente à mesa para
que ele se sente.
— O Tyler. — Inclino-me cruzando as mãos sobre a mesa.
— Ele retornou? — pergunto ainda tentando me situar às novidades.
— Sim, e vai abrir uma boate, em breve será notícia nas redes
sociais.
— Que caralhos, já não basta um querendo foder com a minha vida.
— Esmurro a mesa me pondo de pé.
— Ele apresentou mensagens de áudios, com a irmã, em muitos
deles ela parece aflita com medo de alguém, mas ela não cita o seu nome,
isso é bom por um lado, mas…
— Mas, mas… sempre tem “mas” — interrompo-o já sem
paciência.
— Pela forma que ela fala, é alguém com quem ela matinha um
relacionamento, e que a estava ameaçando.
— Preciso ouvir os áudios. Não é possível que ele tenha esperado
tanto tempo para apresentar provas tão importantes.
— Eles foram enviados por e-mail, de uma conta desconhecida,
então estava no lixo eletrônico.
— Isso é o que ele diz.
— Uma pessoa que se sente ameaçada pode criar meios de se
comunicar para não ser descoberta, o que só mostra que a pessoa com quem
ela possivelmente estava, era alguém que a monitorava, e é aí que as
suspeitas voltam a cair sobre você.
— Claro, porque a maravilhosa Júlia, a herdeira invejada por
muitos, não podia ter uma vida dupla.
— Talvez fosse mais fácil usar esse argumento se essa casa não
fosse uma fortaleza.
— Eu não controlava cada passo da Júlia, e não faço ideia do que
ela fazia quando eu estava em missões. Mas você é pago para me defender,
para contornar qualquer prova que surja, derrube está merda.
Ele para com o cenho franzido quando ouve risadas e caminha até a
janela.
— No que está pensando? — questiono me aproximando.
— Essa menina, veio em uma hora ótima. Ela é sorridente,
espontânea.
— O que tem em mente, diga logo.
— Você precisa sair mais, participar de momentos assim,
descontraídos, tirar fotos e ter recordações.
— Eu tenho várias com a Júlia e não serviu de nada.
— Mas vocês não tinham filhos.
— O que, quer que eu adote uma criança? — Balanço a cabeça
negativamente.
— Parece que a sua noiva já fez isso por você.
Volto até a janela tentando ver o que ele parece estar vendo.
— Está falando do cachorro? — Solto uma risada de deboche.
— Se aproxime mais dela, seja o marido perfeito, cuide do animal
como se fosse membro da família, saiam para comer juntos, passeiem no
shopping levando o cachorrinho. Seja o reflexo de uma família, não um ex-
combatente de guerra com o cenho franzido. Se aproxime das pessoas e
ganhe o coração do júri.
— E os áudios? — pergunto o trazendo para a parte mais racional.
— Temos que descobrir quem era o homem que estava saindo com a
sua esposa e colocá-lo no banco dos réus. Ele deve ser alguém muito
influente.
— Você fala como se fosse simples.
— Nossa prioridade agora é reunir evidências sólidas para apoiar o
seu caso no tribunal. Se realmente quer se livrar dessa acusação, e que a
justiça seja feita, teremos que seguir investigando sobre a linha que já
temos. Além disso, precisamos provar que ela estava tendo um caso
extraconjugal, e uma vez que tenhamos as provas necessárias, poderemos
tomar as medidas legais apropriadas contra o outro homem. Enquanto isso,
se concentre em mostrar que tem uma vida normal e apaixonada ao lado da
sua nova esposa.
Capítulo 21

Marcus Collins

É fim de tarde e eu tento me concentrar nos papéis sobre a mesa,


mas uma risada doce me faz levantar para olhar pela janela. O que é tão
divertido?
Ergo-me da cadeira indo até a janela, as risadas ainda ecoam, mas eu
não consigo ver a dona desse sorriso entorpecedor. Desço as escadas e
caminho até a parte dos fundos do jardim, ouço barulho de água e caminho
até onde a piscina que atravessa a mansão termina, e lá está ela vestindo um
biquíni minúsculo, revelando muito do corpo que deveria ser apenas meu.
Ando lentamente queimando de ciúmes, vendo os olhares sedentos de
alguns seguranças.
— Por acaso vocês são pagos para olhar a minha mulher de biquíni?
— a minha voz reverbera, mais alta do que planejado, e os seguranças se
afastam, deixando a área vazia.
— Marcus, você terminou o que fazia? — Ela sorri enquanto se
aproxima, e eu tento controlar minha irritação.
— Não gosto de vê-la assim, exposta à vista de todos — rosno, com
os dentes trincados tentando conter a raiva.
— Estamos em casa, achei que não teria problemas. — A inocência
dela chega a ser irritante.
— Vamos para dentro, Ayla. — Pego a toalha, coloco-a em volta do
seu corpo, seguro a sua mão e juntos, nos retiramos da área da piscina.
Enquanto caminhamos de volta para a casa, sinto a necessidade de
estabelecer algumas regras claras. — Precisamos ter cuidado, manter uma
imagem respeitável em público. Não quero que ninguém olhe para você
daquela maneira novamente.
— Me desculpe, não sabia que iria ficar tão irritado.
— Não estou irritado. Se troque — falo, respirando algumas vezes
para controlar a minha raiva.
Ela entra no banheiro e retorna com um vestido, solto em seu corpo,
que cobre completamente o biquíni. Seus cabelos estão úmidos, pingando
água no chão de mármore.
— Melhor assim? — pergunta, parecendo preocupada em agradar.
— Sim, assim está melhor — respondo ainda sentindo a tensão
correr como um choque pelo meu corpo, por um momento, me pego
admirando sua beleza. Ayla é de fato atraente.
Aproximo-me dela zerando a distância que há entre nós, sem o
menor controle sobre mim, envolvo as minhas mãos em sua nuca,
envolvendo os meus dedos entre os seus cabelos, segurando o seu rosto
próximo ao meu.
— O que está fazendo? — pergunta tentando se livrar do meu braço
que a segura contra o meu corpo.
— Ayla, você é a minha noiva, em breve receberá o meu nome,
então se comporte como uma mulher comprometida — rosno.
— É melhor que você me solte, ou vou gritar — diz com os olhos
fixos aos meus.
O seu olhar reprovador me faz questionar minhas ações. Libero-a,
mas não sem antes deixar claro o meu descontentamento.
— Cuidado com as suas ações, Ayla. Lembre-se de que agora somos
um casal e devemos manter as aparências.
Ela se afasta, olhando-me com desconfiança e desgosto.
— Manteremos as aparências, Marcus, apenas as aparências, então,
não acho que um relacionamento baseado em ameaças e controle vá nos
beneficiar.
— Eu não confio em ninguém — digo sem tirar os olhos dos dela.
— Confiou em mim para entrar nesse casamento com você, mas não
pode me controlar como se eu fosse uma boneca.
Meu rosto se contorce em raiva e agonia, e agora a única coisa que
eu queria era jogá-la nessa cama e mostrar que posso não só controlá-la,
mas também dominar.

Ayla Munis

Jogo-me na cama assim que Marcus deixa o quarto. A minha


respiração está acelerada, após ficar sem respirar por alguns segundos.
— Onde você se meteu, Ayla? — murmuro para mim.
O meu telefone toca sobre a mesa de apoio e levanto-me apresada
para atender.
— Ayla — diz Fernanda do outro lado da linha.
— Por que está tão animada? — pergunto voltando para a cama.
— Conheci alguém — diz entre suspiros.
— Sério? Como ele é?
— Eu não vou te contar, vou te mostrar.
— Vai me apresentar a ele?
— Claro, deveria chamar o seu namorado. Ai, amiga, ainda não
entendo como você está com esse homem. Ele me dá medo.
— Não ligou para falar de mim.
— Tem razão, vamos nos encontrar em uma hora, e vou te levar até
a boate que ele está abrindo.
— Parece divertido, eu vou sim.
— Vou te mandar o endereço e nos encontramos, então.
Corro para o banheiro e tomo um banho rápido, escolho um dos
tantos vestidos que agora tenho disponível. Pego um verde justo, com um
decote não muito revelador.
Desço as escadas procurando por Peter, e logo o vejo, próximo à
cozinha.
— Aonde vai tão linda?
— Encontrar uma amiga, a Fernanda. Eu não vi o Marcus, pode
avisar para ele.
— Vai sair sem comunicar a ele? — o seu tom é de repreensão.
— Só vou encontrar a minha amiga, não se preocupe.
Na saída peço para um dos seguranças pedir um táxi.
— O motorista está à disposição, senhora, ele pode levá-la —
Aponta para o homem encostado em uma SUV preto. — Deixe a senhora
aonde ela está indo — ele diz sem sair do lugar e o homem entra no carro
parando ao meu lado. O segurança abre a porta para que eu entre.
Durante o caminho percebo olhares pelo retrovisor, e me sinto
desconfortável.
— Algum problema? — questiono.
— Não, senhora, só que é a primeira vez que eu a vejo tão perto.
Estive curioso para ver de perto a mulher que fez o patrão pensar em
casamento novamente — diz com um tom simpático.
— Espero não ter decepcionado, não passo de uma garota comum.
— Comum? — Ele sorri. — Nunca imaginei ninguém comum com
o senhor Collins, nenhuma mulher que aceita esse sobrenome é comum.
— O que quer dizer com isso? — Estreito os olhos.
— Chegamos ao seu destino, senhora, divirta-se.
Saio do carro estacionado ao lado de uma boate luxuosa, ando até a
entrada que mesmo com as luzes coloridas do letreiro apagadas é possível
ver o requinte do local.
— Ayla, aqui. — Fernanda acena ao lado de um homem alto, loiro e
eu me aproximo — Tyler, essa é a minha amiga, Ayla.
— Muito prazer. — Ele estende a mão e eu o cumprimento. —
Venha, vou mostrar a boate a você — ele diz andando um pouco mais à
frente enquanto andamos logo atrás.
— Uau! — falo com espanto assim que entramos no local.
— Gostou? — ele pergunta com um tom convencido.
— Sim, é linda — respondo.
— Estou ansioso para ver as pessoas dançando e bebendo aqui —
responde com um sorriso que mostra todos os seus dentes perfeitos e
alinhados.
Já tem alguns funcionários arrumando as mesas e as bebidas no bar.
— Nos sirva uns shots de tequila — ele pede a um dos funcionários.
— Vocês bebem, não é?
— Bom, eu prefiro não beber — recuso.
— Não faça desfeita, faremos apenas uma rodada, tudo bem? — ele
insiste e Fernanda me olha com um ar pidão.
— Tudo bem, apenas uma rodada — confirmo encarando os seus
sorrisos de satisfação.
Conversamos sobre assuntos aleatórios, enquanto ele parece
empenhado em deixar Fernanda bem animada, com vários shots de tequila.
— Fê, não acha que bebeu demais? — pergunto encarando os olhos
satisfeitos do homem ao nosso lado.
— Não, estou bem, Ayla, beba essa rodada comigo, vai. — Ela me
entrega e eu viro o pequeno copo.
Sinto o meu telefone vibrar em minha bolsa, e torço os lábios vendo
que se trata do Marcus.
— Preciso ir, Fê, nos falamos amanhã?
— Ainda está cedo — ela diz já alterada pela bebida.
— Foi um prazer conhecê-lo — falo me levantando.
— As amigas da Fernanda, são minhas também. Você será sempre
bem-vinda no meu estabelecimento.
— Obrigada.
Após me despedir saio à procura do motorista, que tem um olhar
aflito enquanto olha pela janela do carro.
— O senhor Collins ligou algumas vezes perguntando pela senhora.
— Vamos embora — digo me acomodando no banco do carona.
Encaro a entrada do local ainda com o coração apertado, algo nesse
homem é estranho, e eu sinto vontade de arrancar a Fernanda de lá.
Capítulo 22

Marcus Collins

Saio do escritório, e o silêncio que antes me transmitia paz, agora,


me deixa em alerta.
— Peter — chamo descendo as escadas.
— Sim, senhor? — Ele surge no meio da sala de estar.
— Onde está a Ayla?
— Ela saiu, faz umas três horas, disse que encontraria a amiga
Fernanda.
— Saiu? — pergunto sem querer acreditar.
Ela sempre teve o costume de sair no fim do expediente, mas isso
havia acabado há alguns dias desde que assinamos o contrato.
— Como ela foi?
— Eu a vi pegar o carro disponível na mansão.
Pego o celular no bolso me afastando dele e ligo para o motorista
que me atende prontamente.
— Onde você está? — pergunto sem rodeios assim que ele atende.
— Eu trouxe a senhora para encontrar a amiga em uma boate
ainda fechada para receber clientes.
— Fechada? — indago com as sobrancelhas juntas.
— Sim, ainda não está funcionando, senhor. — Encerro a ligação e
passo a ligar para ela que não me atende.
— Onde você se meteu, Ayla? — Uma dor insuportável inicia sobre
os meus ombros, é como se eu estivesse carregando sacos cheios de armas e
munições. Uma carga maior do que consigo suportar. — Merda! —
esbravejo indo até o quarto à medida em que gemo de dor.
Em poucos minutos ouço o som do carro estacionando, e sou
incapaz de me levantar, a dor me prende sobre a cama.
— Porra! Que merda! — rosno com ódio, de mim de não poder me
livrar desse inferno.
— Marcus? — Ela entra no quarto e me encara assustada.
— Não me toca! — grito e ela interrompe as suas mãos ainda no
alto.
— Desculpe, eu só queria ajudar — a sua voz sai entrecortada.
— Ajudar em que, Ayla? A me foder, porra. Onde você esteve?
— Do que está falando?
Mesmo com a dor insuportável sobre os meus ombros, eu me
levanto indo até ela que está paralisada.
— Você cheira a tequila — rosno com meu rosto próximo ao dela.
— Foram apenas dois shots.
— Que parte de manter as aparências e não se expor, você ainda não
entendeu, Ayla?
A dor se torna ainda mais insuportável e me arrasto pela cama até
atingir o chão no mesmo instante em que sinto as suas mãos sobre os meus
ombros.
— Vou preparar um banho quente, serei rápida. — Ela levanta e eu a
puxo pela mão para trazê-la ao chão. Ela cai de joelhos, seus olhos
assustados, a respiração acelerada.
— Eu só preciso que fique aqui, e a dor vai passar — Encaro os seus
olhos confusos, incapaz de entender que ela é a minha droga, que necessito
dela, necessito ter controle sobre ela e é isso que está me afundando
lentamente no inferno de onde venho. Saber que eu não a tenho.
Ela assente com a cabeça, sentando-se ao meu lado. Fecho os olhos
encostando a minha cabeça na cama e aos poucos começo a sentir um
alívio, conforme ouço a sua respiração e sinto a sua mão sobre a minha.
— Ayla, eu não sou um monstro — digo ainda com os olhos
fechados.
— Eu nunca disse que… — Abro os olhos colocando o meu dedo
indicador sobre os seus lábios, impedindo-a de continuar a falar.
— Nem todas as pessoas pronunciam em voz alta aquilo que
pensam. Sou uma dessas pessoas. Me deixe te fazer uma pergunta, o quanto
se sente atraída por mim? — A minha pergunta a pega de surpresa e ela
tenta levantar-se e eu a impeço, segurando a sua mão e trazendo-a para o
meu peito. — Imaginei tudo isso? — pergunto, necessitando ouvir dela que
eu a tenho, que ela é minha, a fim de aliviar essa agonia de não ter certeza,
da dúvida e da vontade louca que tenho de possuí-la.
— Não acho que seja hora para falar sobre isso.
— Sim, essa é a hora. Me quer o tanto quanto quero você?
— Você está me deixando ass… — Para e repensa nas palavras. —
Confusa — conclui.
— Não estamos falando de amor, estamos falando de desejo, tesão,
loucura. Seja minha, me deixe estar em você.
E antes que eu desistisse de cada palavra pronunciada. Ela se senta
em meu colo passando as pernas em volta da minha cintura, eu a agarro
com força beijando e mordendo os lábios que eu tanto desejo, a jogo no
chão arrancando o vestido que esconde de mim o corpo que quero possuir.
Os seus seios saltam e eu os chupo, com loucura um de cada vez. Tiro as
minhas roupas com agilidade e ansiedade.
— Eu ainda sou virgem — diz como quem toma um choque.
— Serei o homem mais feliz se me deixar ser o primeiro —
respondo louco para voltar ao que estávamos fazendo.
— Eu tenho sonhado em ter esse momento com você — diz jogando
o corpo para trás, me dando total autorização para explorá-la.
Sorrio satisfeito por esse privilégio e continuo a conhecer o seu
corpo, acariciando cada curva e desvendando os segredos de sua pele
macia. Suas mãos agarram meus cabelos, puxando-os levemente enquanto
ela solta gemidos de prazer. Nossos corpos estão em combustão, uma
paixão incontrolável nos consumindo.
Eu desço minha boca pelo seu pescoço, deixando uma trilha de
beijos quentes e molhados, e volto a alcançar seus seios erguidos. Chupo-os
com voracidade, alternando entre mordidas delicadas e lambidas sugestivas.
Sua respiração se torna mais rápida e sua expressão transmite uma mistura
de prazer e ansiedade.
Deslizo minhas mãos pela sua cintura, agarrando-a com firmeza,
enquanto minha língua explora seu corpo, chegando até sua boceta, rasgo a
sua calcinha e me afasto para ver a sua intimidade rosada, depilada e
ensopada.
— Caralho! — digo em um grunhido descendo e enfiando a língua
brincando com o seu ponto de prazer.
Ela gira os quadris em busca de mais contato, sua virgindade intacta,
aumenta ainda mais o meu desejo.
— Serei carinhoso, dessa vez. Vou explorá-la com cuidado para que
você sinta tanto prazer quanto eu — afirmo em um sussurro conforme
começo a explorá-la com maior intensidade.
Ela joga a cabeça para trás, seus gemidos se tornando mais intensos
à medida que o estimulo com mais força. Meus dedos dançam em seu
interior, acariciando seus pontos mais sensíveis e levando-a ao limite do
êxtase.
Sinto todo o seu corpo estremecer e ela goza gostoso na minha boca.
— Isso, goza gostoso para o seu homem — digo subindo os beijos e
os meus lábios encontram os dela em um beijo ardente e cheio de desejo.
Posiciono-me entre suas pernas, meu pau ereto lambuzado brinca
em sua entrada e eu entro lentamente.
— Abre bem as pernas, minha gostosa — digo tomado pelo desejo.
Entro mais e mais, meu corpo estremece sentido sua boceta
encharcada e apertada, louca para me receber. Encontro a sua virgindade, e
sua expressão muda em um misto de dor e prazer.
— Vai passar rápido, garanto a você — digo entrando mais e
rompendo o seu hímen.
Um grito escapa da sua boca, mas logo é abafado pelos meus beijos
enquanto entro e saio dela, sentindo-me incapaz de resistir por mais tempo,
mas resisto, parando por uns segundos, eu quero aproveitar mais dessa
boceta apertada.
— Você está me fodendo, Ayla, está difícil me conter, mas quero
mais dessa boceta. — Viro-a de costas deixando-a de quatro e volto a entrar
nela ao passo que seguro os seus cabelos com força, trazendo o seu corpo
para mim a cada estocada. — Rebola no meu pau, Ayla — quase ordeno
entre gemidos me deitando e colocando-a sobre mim encaixando-me nela.
— Assim? — ela pergunta com o rosto contorcido de prazer. A
melhor imagem que eu poderia ter.
Seguro os seus peitos acariciando os bicos e vejo-a se contorcendo
novamente, indicando um novo orgasmo e não resisto dessa vez, despejo
toda a minha porra dentro dela ainda com nossos lábios colados. Jogo-me
ao seu lado, suado e ofegante, ela não está diferente, os seus cabelos colam
em sua pele molhada.
— Foi incrível — ela diz deitada sobre o meu peito.
Sorrio satisfeito. Ela agora é minha e não será de mais ninguém.
Capítulo 23

Ayla Munis

Adormeci cansada depois de uma noite inteira nos braços de


Marcus. Sinto-me um pouco dolorida, mas ainda assim um sorriso brota em
meus lábios. Viro-me na cama para apreciá-lo enquanto dorme, mas me
deparo com os seus olhos espertos sobre mim, que ainda estou nua, tendo
apenas o lençol desenhando o meu corpo.
— Bom dia — diz com a voz rouca de sono.
— Você dormiu? — indago, de cenho franzido.
— Mas que o normal, ouvir a sua voz me acalmou quando a
escuridão se aproximava. — Um sorriso tímido surge em meu rosto, e sinto
as minhas bochechas corarem.
— Sonhou comigo? — Mordo o lábio aguardando ansiosa pela
resposta.
— Você é romântica — ele diz se levantando da cama.
— Falei algo errado? — Estreito os olhos.
— Não, vamos, tome um banho e vamos descer para tomar café da
manhã. — Sua voz soa fria, como um choque de água gelada. Mesmo
sabendo que não se trata de amor, mas sim de desejo e tesão, ele ainda é
meu primeiro, e minha mente teima em criar romance onde não há.
— Certo, eu não demoro. — Ponho-me de pé, rapidamente e vou até
o banheiro.
Enquanto me lavo embaixo da ducha quente o vejo parado me
observando da porta, eu não faço ideia do que ele está pensando agora.
Pigarreio para tirá-lo de seus pensamentos e preparo o meu melhor sorriso.
Ele, que mantém os olhos fixos nos meus, se aproxima abrindo o
box e entrando embaixo do chuveiro se juntando a mim no banho.
— Eu não deveria, mas ainda assim te quero e querer o
desconhecido é como me afundar em um abismo que luto para sair.
— Por que me acha tão nociva? — pergunto com meus olhos
cravados aos dele.
— Não é você que é, sou eu quem sou.
— Então sente medo de você mesmo?
Um lado dos seus lábios se arqueia, sua mão envolve a minha nuca e
com força, ele me traz para perto dele, arrancando de mim um beijo
violento, enquanto explora o meu corpo com a outra mão. O meu corpo
entra em combustão, é como se ele soubesse exatamente onde me tocar para
acender a chama em mim.
— É isso que você quer, Ayla? — sussurra em meu ouvido
conforme acaricia o centro das minhas pernas.
— Se eu responder que sim, não saberei exatamente o que estou
permitindo.
— Você só vai afirmar que é minha. Eu não sou o tipo de homem
que divide o que me pertence. Entende o que eu digo? — Ele aumenta o
estímulo, acelerando os movimentos que faz com o dedo que agora entra e
saem de mim.
— E o que serei sua?
— O que quiser ser, contanto que entenda que é minha. — Ele me
vira de costas inclinando o meu corpo para a frente e me penetra com tudo.
Não contenho o gemido ao sentir as forças das pernas irem embora. Com as
duas mãos em minha cintura, ele me puxa com força à proporção que entra
mais profundo e sinto aquela sensação de liberdade e de prazer ao mesmo
tempo que o seu líquido escorre pelas minhas pernas.
Marcus Collins

Após o café da manhã, Ayla vai até o jardim, fica agarrada ao filhote
cheio de pulgas que ela arrumou, mas vejo isso como algo que ela usa para
se distrair, e pode ser bom. Olho para o meu motorista sentado mais à frente
com um dos seguranças e sem que eu precise pronunciar uma palavra, ele
levanta e me segue até o escritório.
— Me dê o endereço do local onde deixou a Ayla ontem — ordeno
assim que entramos no escritório.
— Agora mesmo senhor — diz puxando um pedaço de papel e
anotando o que mandei.
— O que viu lá, quem estava no local?
Ele parece hesitar em falar, e isso me tira a paciência.
— Desembucha de uma vez — grito.
— Eu vi um homem e uma mulher, que pareciam aguardar a
senhora.
— Um homem? — pergunto lutando para acreditar.
— Sim, eu tenho certeza, mesmo com o local com baixa iluminação
posso afirmar que era um homem e uma mulher.
— Baixa iluminação? — pergunto aborrecido.
— Sim, parece ser uma boate, que ainda não está aberta ao público.
— Saia e mantenha o bico fechado. Se a Ayla quiser ir a algum
lugar, leve-a, mas me ligue assim que ela estiver lá, quero saber os locais
que ela frequenta.
— Devo ligar na frente dela?
— Você deve fazer o que mando da forma mais discreta possível —
respondo com um grito, diante da pergunta idiota.
— Entendido, senhor.
— Agora saia! — volto a ordenar.
Esmurro a mesa com força e sinto um estalo entre os meus dedos. O
sangue escorre sobre a mesa e vejo que o dedo saiu do lugar.
— Está tudo bem aí, senhor? — Peter entra após ouvir o barulho. —
Jesus! O senhor quebrou o dedo?
— Sai, Peter, eu quero ficar sozinho.
Antes que Peter cruzasse a porta, Ayla entra e se sobressalta com a
mão sobre a boca.
— Virgem de Guadalupe! O que aconteceu aqui? Peter, traga a caixa
de primeiros socorros — ela pede se aproximando de mim e pegando a
minha mão com delicadeza. — Vamos precisar de um médico.
— É só uma torção — digo puxando o dedo de volta para o lugar e
ela grita como se fosse nela a dor.
— Aqui está a caixa. — Peter retorna ofegante. E eu não entendo o
motivo de tanto alvoroço.
Gesticulo com a cabeça para que Peter saia, e ele o faz, fechando a
porta atrás de si. Ayla pega minha mão e começa a limpar o machucado,
sentada sobre a mesa com minha mão apoiada em seu colo. Observo sua
expressão e seus gestos cuidadosos. Quero sentir ódio, mostrar a ela que
não se brinca com fogo, mas, por enquanto, desejo apenas deixar que o fogo
que arde em mim, a consuma, até que ela não tenha outra opção senão ficar
presa a ele.
Capítulo 24

Ayla Munis

Enquanto faço o curativo em sua mão, ele me encara com um olhar


desafiador. Eu nunca sei o que se passa nessa mente complexa, mas percebo
que qualquer que seja o turbilhão de pensamentos, está muito distante de
me desvendar com esses olhos que, arrogantes, parecem acreditar que
sabem tudo.
— Prontinho — digo com um sorriso, finalizando o curativo.
— Obrigado, mas não precisava — ele responde, levantando-se com
certa rispidez.
— Eu sei que você é forte e pode aguentar muito mais que isso, mas
quero cuidar de você. Isso faz parte do papel de uma boa esposa. Agora
vem, quero te mostrar uma coisa. — Seguro a mão dele e o puxo, apesar da
resistência inicial, ele acaba caminhando ao meu lado.
— O que você quer me mostrar com tanto entusiasmo? — ele
pergunta, ainda com uma expressão carrancuda.
— Na verdade, eu preciso da sua ajuda. — Paro em frente a uma
mangueira e o Bolinha, o nome que escolhi para o filhote. — Vamos dar um
banho no Bolinha.
— Bolinha? — Ele franze o cenho. — Já viu como o cachorro é
magrelo? — ele provoca.
— Por enquanto. — Ergo um dos dedos para o alto. — Sua casa tem
muita comida, e daqui a alguns dias, esse cachorro estará rolando pelo
jardim.
— Isso não seria saudável para o animal, Ayla — ele responde,
adotando um tom repreensivo.
— Nossa! Como você é chato, leva tudo ao pé da letra. Eu só quis
dizer que ele será bem alimentado. Agora venha e me ajude.
— Não posso, estou machucado. — Ele levanta a mão para mostrar
sua condição.
Eu abro um sorriso malicioso e tiro a mangueira do chão.
— O que você tem em mente com isso? — ele pergunta,
desconfiado.
— Adivinha. — Ligo a mangueira, solto um jato de água sobre ele e
ele coloca os braços à frente do rosto, tentando se proteger.
Sorrio com a travessura, deixando a água escorrer sobre ele
enquanto ele tenta escapar. A risada escapa dele, e logo ele se rende à
brincadeira.
— Você está machucado e não pode se defender — provoco,
continuando a direcionar a água em sua direção.
— É nisso que você acredita? — ele pergunta, rindo de verdade.
Ele se aproxima de mim, e eu, a princípio, me afasto um pouco,
pensando que ele pode estar chateado com a brincadeira. Mas, em vez
disso, ele me surpreende com um abraço apertado e parando em seguida
com o meu rosto entre as suas mãos, me olhando fixo nos olhos.
— Obrigado por isso, Ayla. Você me fez sorrir, algo que não
acontecia há um tempo.
Ele me olha nos olhos, e por um momento, o mundo parece
desacelerar. Com as suas mãos segurando o meu rosto com delicadeza, os
nossos lábios se aproximam, selando um beijo suave e carinhoso, de uma
forma que eu nunca recebi dele.
— Agora é a minha vez de te molhar. — Ele interrompe o beijo de
repente, tomando a mangueira das minhas mãos.
Marcus Collins

Enquanto molho Ayla, que corre em círculos pelo jardim, o cachorro


me segue latindo, como se quisesse fazer parte da brincadeira. Ela se joga
no chão com a respiração ofegante, e eu faço o mesmo, me deitando ao lado
dela. Ela sorri, um sorriso capaz de acalmar qualquer tempestade. O
cachorro se deita ao meu lado, se aconchegando junto a mim.
— Ah, você está fedido — digo, empurrando o cachorro de leve.
— Não faça isso! — ela me repreende. — Não viu que ele gostou de
você?
— Gostou? — pergunto surpreso.
— Pois é, também não sei como isso pode acontecer. Olhe para
mim, Bolinha, eu sou a sua salvadora, ele nem gosta de você — diz em tom
divertido, e o cachorro parece entender o oposto, lambendo as minhas
mãos.
— Ok, garoto, vamos tomar um banho. Ayla, passe o xampu. — Ela
me entrega uma barra de sabão. — Não comprou nada para o cachorro? —
meu tom é de desapontamento.
Ayla ri da minha expressão de desapontamento e dá um peteleco no
meu ombro.
— Não se preocupe, ele vai tomar banho com o sabão só hoje — ela
diz.
— Vou te acompanhar em umas compras, o que acha? Ele precisa de
muito mais que xampu.
— Sério? — pergunta com um ar sincero de felicidade. Ela é só uma
menina, mas que me deixa louco.
Começamos a ensaboar o cachorro que, surpreendentemente, parece
gostar do banho e não oferece resistência. Ayla está sorrindo, e eu a
observo, percebendo como ela está mais à vontade agora, lidando com o
cachorro e comigo. É um momento simples, mas por algum motivo, parece
significativo.
— Acho que Bolinha me aceitou, afinal — comento, olhando o
cachorro.
Ela concorda, parecendo feliz com a interação.
— Às vezes, a gente só precisa dar uma chance, certo?
— Sim, você está certa.

Enquanto observo Ayla se secar, o meu celular vibra na mesa de


apoio. Com curiosidade, pego o aparelho e vejo que a mensagem é de
Edward, acompanhada de fotos nossas no jardim. Como parte da estratégia,
eu havia contratado alguns fotógrafos para nos flagrarem em momentos
como aquele. Além disso, mantemos drones voando sobre a propriedade,
prática corriqueira para a equipe de segurança monitorar o terreno e agora
também servirão para as fotos.
Sorrio ao ver as fotos, sabendo que isso só aumentará o interesse da
mídia sobre o nosso casamento.
— Você sabe que em breve você vai estampar os sites de fofoca? —
questiono me aproximando dela que penteia os cabelos em frente ao
espelho.
Ela me olha com preocupação, mas logo dá de ombros.
— Eu já estava preparada para isso. Afinal, você é o famoso.
— Em alguns dias o fiscal virá, verificar a nossa convivência.
— Estou pronta para isso — diz exibindo um sorriso.
Tiro a escova da sua mão e ela me olha pelo reflexo do espelho com
um misto de surpresa e confusão.
— Algum problema?
— Não, só vou te ajudar com isso. — Encaro o seu sorriso ainda do
reflexo.
— Não tem ninguém nos vendo aqui, eu acho — diz arqueando as
sobrancelhas, estranhando a demonstração de afeto.
Tive um casamento arranjado com a Júlia, a empresa da família dela
tinha problemas, e eu fui a solução. Por muito tempo pensei ter conquistado
o carinho dela, mas nem de longe tive com ela o que tenho em dias com
essa menina de sorriso fácil. Eu tenho lutado contra os meus demônios,
contra as minhas desconfianças, e percebo que tenho que protegê-la da
minha personalidade possessiva.
— Talvez seja o momento perfeito para algumas brincadeiras
inofensivas — respondo, piscando um olho para ela através do espelho.
Ela solta uma risada suave e concorda.
— Do que quer brincar? — indaga, pondo-se de pé.
— Vamos continuar com a mesma que já estamos. — Ela franze o
cenho.
Deslizo as minhas mãos pela sua cintura, puxando o seu corpo para
se colar ao meu, criando uma proximidade que nos faz sentir a respiração
um do outro.
— O que está fazendo? — Ayla sussurra, seus olhos encontrando os
meus.
— Apenas continuando o jogo — respondo com um sorriso. —
Desse jeito, vamos nos conhecer ainda melhor.
— Não estávamos brincando disso — responde tentando se afastar e
torno a puxá-la dessa vez pela nuca grudando o seu rosto no meu.
— Você tem as suas técnicas para me molhar e eu tenho as minhas
para te deixar molhada — digo com malícia tomando os seus lábios em um
beijo exigente.
Sinto o seu corpo relaxar e por um momento, esquecemos o mundo
lá fora, os arranjos de casamento, e tudo que nos trouxe até aqui, e somos
apenas nós dois. E é impossível não ver o quanto estou viciado nela e o
quanto ela me deixa louco.
Capítulo 25

Marcus Collins

Algumas semanas depois...


Recebemos a primeira visita do fiscal, e, considerando as
circunstâncias, acho que foi boa. Não há nada que entregue a nossa farsa, e,
às vezes, sinto como se estivesse interpretando um papel vinte e quatro
horas por dia. Estou preso em um personagem que distribui beijos e
agrados. Ayla, que agora dorme sobre o meu peito, me olha com carinho, e
eu me pego admirado de como conseguimos manter essa fachada tão bem
quando achei que seria possível.
Recebo instruções diárias do meu advogado, como se ele estivesse
ditando um roteiro que devo seguir. No entanto, as coisas fluem
naturalmente, e eu me pego sorrindo como um bobo apaixonado, mesmo
que a situação tenha começado como um acordo estritamente profissional.
— Já está acordado? — ela pergunta se espreguiçando.
— Sim, eu dormi muito bem essa noite — falo, sendo sincero, o
cheiro dela me acalma e a voz dela sempre me traz de volta.
— Jura? — pergunta sentando-se na cama.
— Sim, eu juro. Você sabe que está me deixando viciado, e que
talvez eu não deixe você ir embora quando tudo isso acabar.
— Eu não tenho pensado muito no futuro — ela responde com uma
maturidade assombrosa.
— Tenho pensado bastante — admito com pesar, afinal essa não é a
primeira vez que me envolvo em um relacionamento que se inicia com um
acordo.
O telefone dela vibra sobre a mesa de apoio, e ela o pega com
tranquilidade, checando o que provavelmente são mensagens.
— Algum problema? — pergunto, diante da sua expressão
preocupada, enquanto ela encara a tela.
— Nenhum, não conosco. — Força um sorriso.
A resposta dela foi, de fato, a mais adequada. Ela é inteligente e já
entendeu como as coisas funcionam entre nós. Ela não me pergunta nada
sobre a Júlia ou a audiência, e eu não pergunto nada sobre a vida dela. Não
é que eu não queira saber mais sobre seus assuntos; é apenas que não quero
compartilhar com ela minhas angústias e medos. Não quero arrastá-la
comigo para o inferno em que minha vida se transformou. Sinto um aperto
no peito, uma vontade de dizer a ela que pode se abrir comigo, que estou
pronto para fazer o mesmo, mas não é isso que, de fato, acontece e sinto
lágrimas queimando nos meus olhos.
— Vou tomar um banho — digo, levantando-me apressado, tentando
conter minha fraqueza.
Meu pai costumava dizer que homens não choram, mas eu o vi
chorar no leito da minha mãe. Ele se sentia culpado pela ausência e pela
falta de sensibilidade com que a tratava muitas vezes. Lembro-me de
perguntar algumas vezes para ela se era verdade que os homens não
choram, e sorrio lembrando-me de sua resposta: “Homens choram, eles só
não sabem lidar com as lágrimas.” Então eu posso chorar? Pergunto a ela, já
com a voz embargada. “É claro que pode, mas me prometa que, quando o
fizer, seja porque está feliz, tão feliz que a felicidade transbordou pelos seus
olhos.”
— Eu não estou seguindo seus conselhos, mãe — murmuro para
mim enquanto as gotas de água caem sobre a minha cabeça. — Continuo
sem saber como administrar tudo o que sinto, e reprimo qualquer coisa que
me faça parecer fraco.
Ayla Munis

Afasto-me para a varanda para responder às mensagens de


Alejandro. Mas logo o meu telefone toca.
— O que aconteceu exatamente? — pergunto assim que atendo.
— A mamãe tem perguntado por você, quando eu for á clínica farei
uma chamada de vídeo.
— Você sabe que se fizer isso vai me fazer querer voltar correndo
para o México — digo com a voz embargada.
— Sinto muito que você precise fazer isso, pelo dinheiro. Como
estão os preparativos para o casamento?
— Preparativos? Não é como sonhei, não existe um príncipe me
esperando no altar. Eu me sinto sozinha, queria poder contar com você.
— Aguenta só mais um pouco — a voz dele falha do outro lado da
linha. — Ele te trata bem?
— Não se preocupe com isso, estou bem em relação a isso.
Viro-me mudando de posição, e me assusto vendo Marcus, escorado
na porta de vidro prestando atenção a mim, e à conversa.
— Te ligo outra hora — falo encerrando a ligação.
— Eu não queria atrapalhar — diz virando as costas e eu o sigo.
— Não atrapalhou nada.
Ele me encara com um semblante fechado, como quem tenta conter
a raiva prestes a explodir.
— Vou te esperar lá embaixo, para tomar o café da manhã.
— Desço em alguns minutos — digo, vendo-o sair do quarto.
Tomo um banho rápido e vou até ele, encontrando-o na posição
imponente de sempre.
— Acredito que depois da próxima visita do fiscal, já podemos
realizar a cerimônia de casamento — diz, sem nem esperar que eu me
acomode à mesa.
— Isso é bom. — Sorrio, sentando-me ao lado dele.
— Vou chamar algumas pessoas para te ajudar a organizar a festa.
Faça do jeito que quiser, sem economizar.
— Acha necessário tudo isso?
— Claro, tudo tem que ser muito luxuoso, para que ninguém diga
que economizei. Sei que nada disso compensará o fato de não ser um
príncipe encantado no altar, mas pelo menos você estará entretida. — Ele
espalma a mesa, e eu me assusto com a reação inesperada, mesmo que eu
note o esforço que ele está fazendo para manter a calma.
— Me desculpe — falo, sentindo a raiva dele me queimar.
Ele se aproxima de mim, colando os lábios em meu ouvido e
sussurra:
— Não quero discutir com você aqui, mas acredito que esqueceu
que o nosso contrato dizia que todos deveriam acreditar na veracidade do
nosso casamento.
— Não se preocupe com isso.
— Com o que não devo me preocupar, Ayla?
— O fato de eu dizer que o casamento não é o dos sonhos não
significa que eu tenha dito que não seja real.
Ele se levanta da mesa furioso, e eu fico lá por alguns segundos sem
saber como reagir. Logo tomo a atitude de me levantar e ir até ele, que entra
no escritório, mas deixou a porta entreaberta como se já me esperasse.
— Eu não vou te perguntar com quem você falava ao telefone,
porque a nossa relação não envolve isso, mas a nossa relação envolve que
você faça todos acreditarem nesse casamento, Ayla — rosna assim que
entro no escritório e fecho a porta atrás de mim.
Isso para mim, parece uma cena de ciúmes, eu até acreditaria ser, se
ele não jogasse na minha cara a cada minuto que não somos um casal real, e
recue sempre que tento contar mais detalhes sobre mim, detalhes que
estariam anulando essa discussão agora.
— Não vai dizer nada? — grita vindo até mim.
— Eu diria tudo se você quisesse ouvir, mas como esse não é o caso,
seguiremos o combinado.
Ele se aproxima de mim rapidamente, seus olhos fixos nos meus, e
de repente, sua boca encontra a minha com posse, como se estivesse
reivindicando algo. Eu reajo surpresa no início, mas depois cedo ao beijo,
deixando que ele saiba que o quero, e como eu gostaria que isso tudo fosse
real.
Capítulo 26

Marcus Collins

Semanas depois...
A claridade do dia quebrando pela janela me desperta. Esfrego os
olhos, tentando afastar a sonolência, foi mais uma noite que dormi bastante.
Levanto-me lentamente sem acordar Ayla e piso em algo, mas não com
muita força, e um ganido suave ressoa. Olho para baixo e vejo Bolinha ali,
encolhido, olhando para mim com olhos suplicantes.
— Como diabos você entrou aqui? — murmuro, surpreso. Ayla tem
ordens para deixá-lo no jardim. Ele chora baixinho, e uma pontada de
preocupação surge dentro de mim.
Bolinha continua a choramingar, e agora ele arrasta uma das patas, o
que me deixa ainda mais apreensivo.
— Droga! — exclamo quando ele arrasta a pata de novo. Ayla
acorda assustada com meu alvoroço.
— O que aconteceu? — ela pergunta, ainda sonolenta.
— Machuquei ele — respondo, parecendo um tanto desesperado.
— Ele quem? — pergunta, ainda despertando.
— O cachorro, Ayla.
— Ai, não. — Ela desce da cama e vai pegar Bolinha no chão.
— Ele deveria estar no jardim, Ayla — digo, lançando a ela um
olhar acusador.
— Vamos levá-lo ao veterinário, e depois você resmunga o quanto
quiser.
— Se troque também, vou ligar para um veterinário vir aqui.
Nós nos trocamos rapidamente e eu desço ao lado dela que segura o
cachorro nos braços.
— Você deveria olhar por onde pisa — ela me adverte, paro no meio
da escada incrédulo com o que ouço.
— O que quer dizer com isso? — Franzo o cenho.
— Marcus, ele está com dor, você já se olhou no espelho? Você
poderia tê-lo esmagado. — Ela deixa cair lágrimas dos olhos, e sinto meu
coração se apertar. Respiro fundo e a abraço, tentando acalmá-la.
— Acalme-se, tudo ficará bem, eu não pisei com força, você vai ver.
Com um analgésico, isso será resolvido. — Tento acalmá-la com palavras,
depois a beijo suavemente.
Nesse momento, somos surpreendidos pelo som da garganta sendo
coçada, vindo da sala de estar. O fiscal de imigração está ali, assistindo à
cena com as sobrancelhas arqueadas.
— Cheguei em uma hora ruim? — ele pergunta.
— Aguarde só um pouco, o nosso bebê está machucado — Ayla fala
com um tom dramático, e sei que ela não interpreta, apenas está sendo ela.
— Fique à vontade, senhora — ele diz educadamente, e continua
nos observando o que é o trabalho dele.
— Meu amor, sente-se, vou ligar para o veterinário e em alguns
minutos ele chega — digo da forma mais romântica possível.
Ligo e em menos de meia hora ele está lá. Tento manter uma
conversa com o fiscal enquanto o veterinário analisa a situação do cachorro.
Ele o examina com cuidado, verificando a pata machucada e a expressão de
dor no rosto do animal. Depois de alguns minutos de avaliação, ele se vira
para nós.
— A lesão não parece ser grave, felizmente. Bolinha teve sorte de
não ter sofrido uma fratura. É uma torção na pata traseira. Nada que não
possa ser tratado. Vou administrar um analgésico e prescrever alguns dias
de repouso para o Bolinha. Ele ficará bem com cuidados adequados.
Ayla solta um suspiro de alívio, abraçando o cachorro com carinho.
Sinto-me também aliviado, por não causar um dano maior ao cachorro.
O veterinário, continua oferecendo instruções detalhadas sobre
como cuidar da pata machucada de Bolinha e o medicamento a ser
administrado.
— Certifique-se de seguir as instruções de medicação e manter o
repouso estrito.
— Obrigado — digo acompanhando o veterinário até a porta e volto
a minha atenção ao fiscal. — Bom, parece que agora vamos conseguir
atendê-lo.
— Não se preocupe, eu vou deixar a autorização para que vocês
realizem o casamento.
— Sério? — Ayla mostra um lindo sorriso que acompanhou a sua
expressão de surpresa.
— Sim, e em breve acredito que terão muitas crianças correndo pela
casa. — Endureço a postura ouvindo as suas palavras que vieram
acompanhadas de um sorriso gigante de Ayla.
— Ah, eu quero uns três — Ayla responde se aproximando de mim.
Claro, ela certamente quer filhos. Ayla é jovem, cheia de sonhos e
desejos, e não tenho dúvidas de que encontrará alguém que possa
compartilhar e realizar todos esses sonhos com ela. À medida que observo o
cachorro Bolinha se acomodar confortavelmente no colo de Ayla, percebo
que, além de ser um homem envolto em um mar de problemas e
responsabilidades, eu sei que nunca serei capaz de lhe proporcionar a
família completa que ela merece. Minha mente vagueia por pensamentos
sombrios sobre meu passado e sobre como ele afetou meu presente. Percebo
que carrego um fardo que talvez seja pesado demais para Ayla, que, de
alguma forma, se tornou parte dessa complicada história.
— Coloque a cama do cachorro aqui no quarto, Ayla, assim evita
que ele acabe piorando a situação — falo enquanto ela administra as
medicações receitadas para ele.
— Está falando sério? — seu tom de surpresa vem acompanhado de
um sorriso que estou viciado em receber.
— Sim, mas deixe do seu lado da cama.
— Obrigada, obrigada… — Ela se apressa em me abraçar e eu
retribuo o carinho beijando-a em seguida.
— Preciso que você foque no casamento agora. Sete dias são
suficientes para você organizar uma festa?
— Sete? Para o tamanho que você quer precisaria de um ano — diz
jogando-se na cama.
— Não temos todo esse tempo, eu tenho pressa com isso, liguei para
uma equipe especializada em eventos, eles vão te ajudar. Faça algo menor,
cinquenta pessoas, farei uma lista e você também pode chamar as suas
antigas colegas de trabalho.
— Não acho que seja necessário. — Ela torce o nariz.
— É claro que é necessário, e muito mais necessário é você mostrar
empolgação, você está entrando em um casamento bilionário, qualquer
mulher estaria radiante e comprando joias para enfeitar até as pontas dos
cabelos. Aja como uma mulher comum e saia para gastar o que as suas
amigas levariam uma vida para acumular.
— Posso ficar com o dinheiro das joias? Tenho planos melhores
para ele. — Ela aperta os lábios, me olhando com um olhar tão inocente que
chego a duvidar que, de fato, essa atitude é real.
— Joias são dinheiro, Ayla, de que mundo você vem?
— Tudo bem, podemos ir comprar joias juntos, o que acha?
Considero esse tipo de coisa igual a flores, é bem mais interessante ganhar
ao invés de comprar.
Olho ainda sem querer acreditar, não é como se eu estivesse
ofertando flores, são joias as quais estou lhe permitindo escolher as que ela
quiser.
— Faremos como quiser — respondo.
Sento-me ao seu lado, olhando para o cachorro, que, apesar de
minha desaprovação, está estirado na nossa cama, posicionado entre os
travesseiros, iluminado pela luz da manhã. No entanto, fico em silêncio,
desejando proporcionar a ela todos os sonhos que sempre almeja. Mas
reconheço que sou incapaz de lhe dar o essencial, uma família e um lar
feliz.
Capítulo 27

Ayla Munis

Alguns dias depois, dia do casamento...

Olho para o jardim da varanda, ao mesmo tempo que viro para trás e
encaro o meu reflexo no espelho. Estou em um vestido digno de princesa, a
casa está enfeitada com flores delicadas em um tom rosa-claro com branco.
Tudo tão lindo para uma farsa que desejo algumas vezes que seja verdade.
Não tenho muita ideia de quem, na verdade, era o Marcus, apenas
conheço aquele me dá afagos no meio da noite, e que me beija com posse.
Gosto disso, gosto do seu toque possessivo, e dos seus beijos avassaladores,
e amo quanto os seus olhos queimam em ciúmes quando acha que cruzei a
linha de um relacionamento que nunca existiu.
No entanto, mesmo sabendo que tudo isso não passa de um jogo de
aparências, não consigo evitar me entregar a essa fantasia. É como se uma
parte de mim desejasse que essa história fosse real, que eu pudesse viver
um conto de fadas com meu príncipe encantado.
— Continua nessa varanda, Ayla, só espero que esteja pronta, em
breve os convidados chegam e ao contrário do que dizem, não é nada
educado se atrasar. — Viro ouvindo a voz de Marcus atrás de mim e ele
paralisa no meio do quarto com os olhos brilhantes. — Você ficou linda
nesse vestido — diz me encarando como se nunca tivesse me visto antes.
— Você sabe que dá azar ver a noiva antes do casamento — zombo.
— Posso garantir que até o azar ao seu lado é sorte — diz se
aproximando com um olhar que me incendeia.
— Vamos apenas assinar um papel onde beneficia a ambos, mas
juro que me sinto como se estivesse te entregando algo precioso. Estou
nostálgica.
— Apesar de estar ciente de que ambos estamos sendo beneficiados,
nunca me senti tão à vontade com alguém como me sinto agora com você.
Você me deu muitas coisas valiosas, muito mais do que o dinheiro jamais
poderia comprar. São coisas que acredito que nunca poderei comprar — diz
enquanto segura meu rosto entre as mãos.
— Você já tem tudo, o que eu poderia lhe dar? — Sorrio baixando a
cabeça, sentindo-me pequena entre as suas mãos.
Ele envolve os braços em volta da minha cintura, eu levanto o rosto
para encará-lo e fecho os olhos esperando o beijo que ele se prepara para
dar conforme aproxima o rosto do meu. Nossos corpos estão tão próximos
que consigo sentir a eletricidade pulsando dentro de mim. O coração
acelera, ao passo que ele pressiona seu corpo contra o meu. Suas mãos
percorrem suavemente minhas costas, fazendo-me arrepiar, e eu me entrego
completamente a esse momento. Nossos lábios estão a apenas milímetros de
distância, e eu posso sentir sua respiração quente contra minha pele.
Finalmente, nossos lábios se encontram e eu percebo que estou
totalmente dependente disso. Dependente dos seus beijos intensos que me
fazem perder o fôlego. Nossas línguas se entrelaçam em uma dança sensual,
explorando cada centímetro da boca do outro. Sinto suas mãos deslizando
pela minha cintura, subindo até meus seios, acariciando-os com força,
provocando-me arrepios de prazer.
— Marcus, acho que deveríamos parar, você acabará com o meu
vestido e a minha maquiagem — digo ofegante ainda entre os beijos.
Ele se afasta também ofegante passando as mãos pelos cabelos
enquanto fica de costas para mim como quem busca o autocontrole.
— Eu quero te foder agora — diz retornando e me beijando com
mais posse. — Tira o vestido. — A sua voz soa como uma ordem, que ele
delega com desespero ao tentar achar meios de se livrar de tantos panos e
tule.
— Senhor, os convidados começaram a chegar, precisa descer para
recebê-los — ouvimos uma das funcionárias responsáveis pelo evento falar
atrás da porta.
— Que caralhos! Desço assim que estiver pronto, e os demais
podem esperar — rosna.
— Tudo bem, senhor. — Ouço a resposta sem jeito da mulher
seguido do som dos seus saltos se afastando da porta.
— Se acalme, teremos tempo depois da cerimônia. — Sorrio me
afastando, mas ele me agarra arrancando o meu vestido e todos os botões
vão ao chão, e eu sequer tive tempo de assimilar tudo antes que ele se
arraste pelo meu corpo parando em meus pés.
— Quero você agora! — diz me jogando sobre a cama e me
beijando com desejo enquanto explora o meu corpo. Em seguida faz o
mesmo tirando tudo que veste sem o menor cuidado, levando as minhas
mãos até o seu corpo.
Acaricio seu corpo, sentindo seu peito forte e musculoso sob minhas
palmas. Um arrepio percorre minha espinha quando ele desliza sua mão até
minhas coxas, intensificando ainda mais o desejo que arde dentro de mim.
Seus dedos, agora livres para explorar, começam a acariciar minha pele
sensível, provocando arrepios deliciosos que se espalham pelo meu corpo.
Cada toque é cuidadoso e calculado, como se ele conhecesse cada
centímetro do meu ser, despertando em mim uma entrega total ao prazer
que ele é capaz de me proporcionar. Ele lentamente afasta minha calcinha,
revelando minha intimidade para ele.
— Delícia! — geme, espalmando a minha intimidade antes de entrar
em mim sem aviso. Arqueio as costas, sentindo uma onda de prazer
dominar o meu corpo, à medida que ele chupa os meus seios, alternando
com leves mordidas. — Goza para mim, Ayla.
— Ah! — grito, me contorcendo cravando minhas unhas em suas
costas.
— Isso! — ele geme. — Goza! — A ordem faz o meu corpo
obedecer sem hesitar, e em segundos estou me desmanchando, ele me toma
com beijos mais exigentes, a sua barba por fazer arranha a minha pele ao
mesmo tempo que ele entra com mais força. — Eu vou gozar — anuncia
puxando os meus cabelos enquanto os dedos da outra mão sobre a minha
bunda são cravados em minha pele. — Caralho! — diz ofegante se jogando
ao meu lado na cama.
— Isso é loucura! — Sorrio me virando para ele. — Eu não tenho
mais um vestido para me casar e acho que vou precisar me maquiar e
arrumar os cabelos novamente.
— Não se preocupe, em alguns minutos você terá um exército aos
seus pés e ficará pronta em menos de uma hora.
— Você é louco! — Gargalho.
— E você é minha, e eu cuido do que me pertence.
Ele me beija mais uma vez nos lábios e se levanta indo em direção
ao banheiro. Ouço batidas na porta e me levanto indo até ela.
— Quem é? — indago ainda nua, incapaz de abrir para verificar.
Sem ouvir resposta do outro lado, vejo um envelope ser empurrado por
baixo da porta, com o meu nome em cima e uma observação abaixo.
“ Ayla, leia quando estiver sozinha”
— Quem era na porta? — Marcus sai do banheiro e eu sobressalto
no lugar.
— Só mais funcionários vindo nos apressar. — Forço um sorriso
escondendo o envelope atrás de mim.
Capítulo 28

Marcus Collins

Os poucos convidados já estão sentados em seus devidos lugares e


eu aceno para os que agora me veem chegar.
— Você está magnífico nesse traje militar Marcus, tantas conquistas
em… — diz Evans, um antigo colega de trabalho tocando em minhas
insígnias e distintivos militares.
— Muito obrigado, espero que aprecie o evento — falo, tentando
me desviar para dar atenção a outras pessoas.
— Pelas fotos a sua esposa parasse ser bem jovem. — Retorno com
o tom de malícia com que ele fala.
— Qual o problema com a minha esposa? — Encaro-o desejando
poder cortá-lo ao meio.
— Marcus, venha quero lhe mostrar algo. — Meu advogado se
aproxima me puxando pelo ombro. — Aproveite a festa, senhor — deseja
educadamente a Evans que aos poucos vai ficando para trás.
— O que está fazendo? Me solte! — Esbravejo arrumando o terno
em meu corpo.
— Estou te salvando do seu gênio ruim. Não queremos uma cena
em um dia como esse.
— As pessoas parecem gostar de testar o limite da minha paciência.
— Relaxa, Marcus. Em breve você estará se casando com uma
menina doce e encantadora.
— Não acha que está notando muito a minha mulher? — quero
saber, encarando-o já de punhos cerrados.
Antes que ele conseguisse pronunciar algo em sua defesa, estreito os
olhos e expulso o ar dos pulmões com força ao ver Tyler entrando na minha
casa, com um ar debochado, de quem caça confusão. Edward, segue os
meus olhos e se apressa colocando a mão em meu ombro, como se cinco
dedos frágeis e um braço raquítico pudessem conter a ira que sinto agora.
— Relaxa, hoje é o seu casamento. — Ele assopra em meu ouvido.
— Que se foda, eu o quero longe daqui! — Caminho até ele com
fúria e ódio, que precisarei de muito autocontrole, pois poderia facilmente
matá-lo a qualquer momento.
— Cunhado, quanto tempo. — Ele sorri com deboche, algo que não
é usual de sua parte.
— O que veio fazer aqui, acredito que os Carter não foram
convidados para o evento.
— Vim acompanhando a Fernanda. — A mulher de um metro e
sessenta se aproxima olhando tudo ao redor com admiração.
— Onde está a Ayla? — ela indaga segurando no braço de Tyler que
o curvou com o propósito de apoiar a mão da garota.
— Então você é a amiga da Ayla? — Estreito os olhos observando a
expressão vitoriosa de Tyler, que não está fazendo nada além de usando a
garota para me atingir.
— Sim, eu sou, muito prazer. — Ela estende a mão educadamente e
eu a cumprimento. Ela parece inofensiva, à primeira vista, mas, não posso
concluir nada por hora. — Até que enfim pudemos nos conhecer
pessoalmente, a Ayla fala muito de você.
— Ah, isso realmente ela faz com muita frequência. — Levanto a
cabeça encarando Tyler, que fala com escárnio.
Não me dou ao trabalho de perguntar se ele a conhece, está muito
claro que sim, eu só não sei o quanto isso me afeta.
— Parece que o luto não durou muito para você — ele fala assim
que a mulher se afasta ainda explorando a mansão.
— Nem todos se afundam no luto eterno, assim como você. Já
considerou voltar a viver? Ah, você veio acompanhado, isso já pode ser
considerado um sinal que seguiu em frente da morte da sua esposa? —
indago com deboche, sabendo que esse não é o caso, já que ele está preso a
um luto eterno depois que a esposa faleceu e isso muito antes das irmãs
morrerem.
— Ayla está vindo — Fernanda nos interrompe com entusiasmo se
agarrando aos braços de Tyler que força um sorriso para a pobre garota que
não faz ideia de onde está se metendo.
Ando apressado até o altar, o coração pulsando com expectativa
enquanto aguardo ansioso para testemunhar o novo vestido dela. Talvez, em
meio à tradição que diz que os noivos não devem vislumbrar suas futuras
esposas antes da cerimônia, a solução encontrada foi rasgar o vestido
original, substituindo-o por outro. Afinal, almejo sorte com esse casamento.

Ayla Munis

Após a cerimônia, que foi simples e sem muito falatório por parte do
celebrante, estou finalmente livre para aproveitar a festa. Marcus me
carrega com ele para onde vai, e eu encaro Fernanda de longe louca para ir
falar com ela.
— Você parece tenso. Vem aqui, eu vou te apresentar Fernanda
adequadamente. — Puxo-o atravessando o jardim. — Fê, vocês já se
falaram, mas quero apresentá-los oficialmente. Esse é Marcus Collins, o
meu esposo — digo com orgulho as últimas palavras.
Eles trocam sorrisos discretos e ela me abraça sussurrando palavras
de felicitações em meu ouvido.
— Faça a minha amiga feliz — seu tom ecoa como um aviso e eu
acho graça.
— Feliz? — Tyler, o homem com quem ela vem saindo diz ao se
aproximar. — Você sabe como se faz isso, Marcus? — Marcus lança um
olhar de ódio para ele que o encara com deboche enquanto leva à boca a
taça cheia de champanhe. — Abra os olhos, Ayla, se eu fosse você dormiria
com um olho aberto e outro fechado, como os cães de rua que vivem à
espreita do perigo.
— Tyler! — Fernanda o repreende à medida que tento voltar a
respirar.
— Vamos, Ayla, a festa continuará sem a nossa presença, se despeça
da sua amiga. — Faço o que ele me pede com pressa, vendo que está a
ponto de explodir afrouxando a gravata como se o ar lhe faltasse.
— Sim, vamos. Nos falamos outro dia, Fernanda. — Aceno já
distante tentando acompanhar os passos de Marcus que parecia fugir de
uma bomba prestes a explodir.
— O que diabos a sua amiga faz com ele? — ele pergunta assim que
cruzamos a porta do quarto, tirando a camisa, já que o terno e a gravata
foram largados pelo caminho.
— E como vou saber? — Dou de ombros.
— Você vem encontrando com eles? — pergunta como se eu
estivesse sendo acusada de um crime.
— Apenas uma vez — respondo com sinceridade. — Qual o
problema com ele? — Quero saber, preocupada com a Fernanda.
— Isso não é relevante — ele diz enquanto anda de um lado para o
outro.
— Como não? O que ele quis dizer com aquilo? — exijo a resposta.
— Ele quis dizer que posso te matar, Ayla. — Sobressalto com o
impacto das palavras dele.
— E por que ele insinua isso? — temo a resposta.
— Sério, que não sabe? Você está casada com um homem acusado
de matar a esposa, e aquele lá fora é meu ex-cunhado, irmão da Júlia.
Nesse momento, eu me dei conta de que nunca me perguntei se, de
fato, ele havia feito isso. Foi como se uma borracha tivesse sido passada em
minha mente no momento em que cruzei a entrada dessa casa, e eu tivesse
esquecido tudo o que já ouvi falar sobre ele. Uma espécie de amnésia
seletiva, onde as informações desapareciam.
— Você não fez isso. — Sorri de nervoso e ele nota.
Ele caminha lentamente zerando o espaço entre nós, e com o meu
rosto entre as suas mãos, ele responde:
— Nunca mais me olhe com medo, Ayla, eu posso suportar isso de
todos, menos de você. Agora vamos que o helicóptero nos espera para nos
levar à lua de mel.
Capítulo 29

Marcus Collins

Chegamos à casa, onde eu trouxe Ayla da outra vez. É um lugar


tranquilo, reservado, situado em uma ilha, algo que certamente ela não
notou na primeira visita, já que, mesmo com o mar como vista das janelas, a
área verde ainda predominava no jardim.
— Eu não havia notado que estive em uma ilha antes — ela diz
assim que pousamos, confirmando o que eu já havia concluído. Essas são as
primeiras palavras desde que saímos da festa de casamento.
— Você parecia tensa da primeira vez, não que não esteja agora,
mas acho que depois de dormir na mesma cama que eu por tantos dias,
talvez esteja um pouco mais tranquila. Estou errado? — indago, entregando
as malas a um funcionário que nos recebe na chegada.
— Nós já havíamos concordado em não falar muito sobre nós dois,
então. — Ela dá de ombros. — Está tudo bem.
Sorrio com um pouco de deboche, como se estivesse provando do
meu próprio veneno, me embriagando nas regras que eu mesmo impus. Mas
o fiz para protegê-la de uma verdade dolorosa, a qual desejo com todo o
meu ser esquecer.
— Eu não planejei trabalhar nesse final de semana, mas surgiram
alguns assuntos que preciso resolver. Aproveite a casa, a piscina, mas não
vá à praia sem mim, o mar aqui é bem agitado.
— Certo, vou tomar um banho e descansar. — Ela passa direto por
mim, e eu puxo o seu braço, segurando a nuca com a outra mão, trazendo o
seu rosto para junto do meu.
— Não vai dar um beijo no seu marido? — questiono, com a testa
colada na dela, que abre um sorriso capaz de trazer luz a essa vida
complicada que tenho. Sem aviso, ela me beija, buscando minha língua com
a necessidade de quem busca água em meio ao deserto. — Agora suba,
descanse, e vamos aproveitar juntos o resto do dia.
Tranco-me no escritório e ligo para Edward que me atende depois
de quatro toques.
— Como estão as coisas? — pergunta atendendo, estamos nos
falando com tanta frequência que até a postura dele mudou um pouco,
ficando mais relaxada e falando de forma, mas casual às vezes, o que
sinceramente não me incomoda vindo de alguém que vem trabalhando com
empenho.
— Não sei como as coisas estão — digo sentindo uma pressão
enorme sobre os meus ombros.
— Se refere ao Tyler?
— Sinceramente não sei o que pensar. Eu já havia descartado
envolvimento entre eles, mas daí é muita coincidência, não acha?
— Não, eu não acho, talvez eles queiram que você acredite nesse
envolvimento para te verem surtar. — Solto o ar dos pulmões com força,
me jogando na cadeira. — Apenas siga com o combinado, seja o marido
perfeito, volte a ir à empresa nem que sejam duas vezes na semana, e exiba
a sua esposa troféu.
— Vou continuar de olho nela. Ninguém consegue atuar vinte quatro
horas por dia.
— Aproveite a lua de mel, eu estou resolvendo tudo por aqui, e
estamos indo muito bem.
— Obrigado — falo encerrando a ligação.
Acordei mais cedo que Ayla, e vim ao escritório checar alguns
documentos, a dor sobre os ombros persiste, mas me levanto da cadeira
com a intenção de subir e verificar Ayla no quarto, mas o barulho da piscina
me faz mudar a rota e caminho até o jardim da casa. Lá está a minha sereia,
com um biquíni comportado, mergulhando e deixando as suas belas pernas
à mostra no movimento gracioso. As gotas de água brilham em seu corpo à
luz do sol, criando um espetáculo que me faz esquecer momentaneamente
qualquer preocupação.
Aproximo-me da piscina, tirando a camisa e ficando apenas com
uma bermuda de moletom.
— Você acordou cedo — digo assim que ela me nota na borda.
— E você não dormiu — afirma com um tom repressor.
— Sinto dores sobre o ombro.
— Deveria ter me dito, eu posso fazer uma massagem.
Ayla se aproxima da borda, e seus olhos percorrem meu corpo,
detendo-se nos meus ombros.
— Vamos, sente-se aqui — ela sugere, apontando para a beira da
piscina.
Obedeço, sentando-me à beira da água. Ayla se ajoelha atrás de
mim, e suas mãos começam a massagear os meus ombros tensos. Ela é o
motivo da minha dor, a causa das minhas novas angústias. Sinto a
necessidade constante de saber onde piso, mas tenho medo de me jogar com
os dois pés.
— Isso está melhorando — comento, fechando os olhos para
aproveitar o momento.
Ela continua a massagem, e a sensação é tão agradável que acabo
relaxando completamente. Ayla se inclina para a frente, aproximando-se
mais de mim, e seu toque se torna mais suave.
— Como está se sentindo agora? — ela pergunta.
— Ótimo, na verdade. Você tem mãos mágicas — brinco.
Ela ri suavemente, e sem pensar, viro-me para encará-la. Seus olhos
encontram os meus, e há uma centelha de algo intenso entre nós. Eu a quero
tanto que não consigo pensar em nada que não seja que isso tudo vai da
merda.
— Marcus — ela sussurra meu nome, e antes que eu possa
raciocinar, nossos lábios se encontram em um beijo lento e cheio de desejo.
O suave toque dos seus lábios é como uma chama que se acende dentro de
mim, afastando por um momento todas as sombras do passado. — Eu nunca
fiz amor na piscina — sussurra em meu ouvido, deixando o meu pau duro
como uma rocha, louco para me enterrar nela.
— Você não deveria me provocar, Ayla.
— O que fará se eu continuar com as provocações? — Mostra um
sorriso travesso.
— Eu não recuo a provocações, Ayla, e você sabe disso. — Enterro
os meus dedos em seus cabelos puxando a sua cabeça para trás e traçando
um caminho com a língua começando pelos seus peitos que mordo por cima
do biquíni, cada centímetro dela se arrepia. Ela solta um gemido abafado
pelo beijo seguido do meu dedo que posiciono em seus lábios, ela chupa
fazendo o meu pau ter espasmos só de imaginar essa boca me devorando.
— Caralho! — exclamo sentindo que posso gozar só de imaginar. — Quero
foder na sua boca gostosa — digo encarando-a com desejo e loucura. Ela
morde os lábios lambendo em seguida. — Puta que pariu, Ayla, você vai me
deixar louco.
— Deveríamos ir ao quarto?
— Ajoelha! — ordeno de pé, já com o meu pau para fora pulsando
por ela.
— E se algum funcionário aparece? — pergunta olhando para os
lados.
— Estamos em lua de mel, minha linda, você acha que eles têm
autorização de passar com a sombra perto de nós? Agora deixe de falar e
me devore — digo, arrastando o dedo polegar pelos seus lábios.
Ela estende a mão ainda tímida, sem saber ao certo o que fazer. Eu a
seguro pela mão e a guio até um canto mais afastado da área da piscina. Ali,
inclino-me contra a parede, enquanto Ayla, ajoelhada diante de mim,
começa a acariciar meu membro com as mãos. Sua timidez se dissolve
lentamente, dando lugar à sua ousadia de sempre.
Ela abre a boca e engole o meu pau, me levando ao delírio. Sua
língua desliza provocadoramente pela glande, e seus olhos brilham de
prazer e luxúria. Fecho os meus e me perco na sensação deliciosa que é
estar dentro dessa boquinha.
Gemidos escorrem dos meus lábios ao mesmo tempo que eu me
contorço de prazer. Ayla intensifica seus movimentos, alternando entre
chupar lentamente e tomar todo o meu comprimento de uma vez. O ritmo
acelerado e a pressão perfeita me levam ao limite.
Minha respiração se torna pesada e descontrolada, minha mão se
firma em seus cabelos, indicando que estou próximo de gozar. Ela olha para
mim, os olhos cheios de luxúria e desejo, intensificando ainda mais minha
excitação.
Os espasmos percorrem cada centímetro do meu corpo.
— Eu vou gozar — anuncio fodendo sua boca. — Isso, bebe toda a
porra do seu homem. Ayla continua a me estimular com sua boca,
aproveitando cada gota sem desperdiçar.
Eu recupero o fôlego lentamente, ao passo que Ayla se levanta com
um sorriso um pouco tímido por trás de um olhar safado que ela sempre tem
quando estamos fodendo. Limpo o canto dos seus lábios e passo a linha
pela sua boca, mordendo os seus lábios em seguida.
— Você está ciente de que vou te pagar com juros o que acabou de
fazer. Não vou parar antes de você gozar gostoso na minha boca e depois
de novo no meu pau e de novo sobre os meus dedos até que você esteja
fraca e ainda assim pedindo para sentir mais prazer.
— Então me deixe exausta — ela diz ates que eu a puxe para mais
perto afastando o seu biquíni e me enterre na sua boceta deliciosa.
Capítulo 30

Marcus Collins

Alguns dias depois...

Desço após me arrumar para ir à empresa e encontro Ayla


concentrada na tela do celular. Ela tem uma ruga entre as sobrancelhas e o
nariz enrugado, o que me deixa bastante curioso sobre o que desperta tais
expressões na minha querida esposa.
— O que lê aí de tão interessante? — pergunto dando um beijo no
topo da sua cabeça e ela levanta o olhar para me encarar.
— Estão falando sobre você no site, Fernanda me mandou o link
agora pela manhã.
— Leia para mim — peço me sentando ao lado dela.
— Grande Retorno de Marcus Collins à Empresa após Casamento
com Estrangeira — ela começa enfatizando a última palavra como se isso
fosse algo incômodo para ela. — Em uma reviravolta surpreendente,
Marcus Collins, o notório empresário que anteriormente optava por uma
vida mais reclusa, anunciou seu retorno à empresa familiar. Collins,
herdeiro de uma das maiores fortunas do país e ex-comandante das forças
especiais do exército americano, agora planeja frequentar a sede do grupo
Collins pelo menos duas vezes por semana. A decisão de Marcus de voltar à
rotina empresarial veio logo após seu casamento com Ayla Munis, uma
estrangeira cujo casamento gerou intensa especulação na mídia. A garota de
dezenove anos, conquistou o coração do empresário em um casamento que
atraiu a atenção de muitos. — Ela força um sorriso como se o comentário
fosse ofensivo.
— O que te incomoda é o fato de enfatizarem a sua idade para
mostrar a todos o quanto sou velho para você? — pergunto totalmente
acomodado na cadeira estudando cada expressão dela.
— Não sei o que me incomoda, tudo me parece bem desconfortável,
sei lá, é como se eles tentassem o tempo todo levantar especulações, coisas
maldosas, sabe?
— Sei, é exatamente isso que eles fazem — respondo com um tom
de deboche. — Continue — peço observando o contorcer dos seus lábios
lendo mentalmente o resto da notícia.
Ela suspira como se um peso estivesse sobre o seu ombro e volta a
ler:
— O casamento não foi isento de controvérsias, já que Marcus
Collins enfrenta sérias acusações na justiça. Ele está sendo acusado pela
morte de sua esposa anterior, a bela e talentosa Júlia Collins, herdeira do
grupo Carter, sob alegações de ciúmes. O processo judicial tem sido um dos
mais comentados nos últimos tempos, com muitos questionando a
veracidade das acusações. Alguns analistas sugerem que suas últimas
atitudes podem ser uma estratégia para melhorar a imagem pública de
Marcus, enquanto outros acreditam que seu retorno à empresa pode ser um
sinal de confiança renovada na sua inocência. Ainda é cedo para dizer como
essa reviravolta afetará a vida de Marcus Collins, tanto no aspecto
profissional quanto no pessoal. A presença da jovem Ayla ao seu lado
durante eventos empresariais também deve ser um ponto focal, já que ela
traz uma nova dinâmica para o império Collins. Os olhos da mídia
permanecerão atentos a cada passo de Marcus e Ayla, à medida que eles
tentam navegar pelos desafios do casamento e da vida empresarial em meio
a um cenário repleto de incertezas e especulações jurídicas.
— Sugiro que pare de ler notícias e que não assista televisão esses
dias, ou isso afetará ainda mais você — o meu tom é tranquilo, mas estou
atento às reações dela, que sim me importam para cacete.
— Eu que devo ser reclusa agora? — indaga com desgosto.
— Não faça isso, Ayla, não fique agindo como se não soubesse de
toda essa merda. — Arrasto o prato sem o menor cuidado, acertando uma
jarra de suco que cai e espalha o líquido pela mesa.
— Está me usando para parecer inocente?
— Qual o seu motivo de se casar comigo, Ayla?
— Eu…
— Não foi uma pergunta para você me responder em voz alta, ela é
reflexiva. Você tem os seus motivos, eu tenho os meus — falo
interrompendo-a de continuar.
— Vou subir agora. — Ela arrasta a cadeira com pressa e dá alguns
passos, mas me levanto e a seguro pelo braço.
— Alguma vez te dei motivos para você agir desta forma comigo?
A sua amiga está muito próxima do Tyler, e talvez do Joseph, você precisa
se afastar, Ayla. Ou você está comigo, ou você está com eles — digo
encarando os seus olhos que me olham com uma mistura de receio e
acusação. — Agora suba, descanse, teremos um almoço hoje com os
diretores da empresa.

Ayla Munis

Subo as escadas, apressada, me trancando no quarto, como se me


privar da presença dele fosse possível. Pego a pequena caixa de joias que
antes continha uma bailarina que girava enquanto a música lenta soava, mas
que agora esconde o bilhete anônimo que recebi no dia do casamento.
Querida Ayla,
Você deve ficar atenta a um passado sombrio que o Marcus
esconde. Investigue mais antes de confiar completamente. A verdade está
escondida, e sua segurança está em jogo. Mantenha-se atenta aos sinais e
lembre-se de que por trás dos gestos afetuosos pode haver sombras.
Cuidadosamente,
De alguém que se importa com você.
Aperto o papel contra o peito sentindo vontade de fugir, ao mesmo
tempo que me recordo do que eu e Marcus vivemos até hoje, de longe eu
diria que ele tem atitudes normais, mas também devo considerar a vida de
guerras em que viveu. Grito, tentando tirar o peso sobre o meu coração. E
se eu estiver ajudando um assassino a se livrar do seu castigo? E se ele
tentar algo contra mim quando eu não for mais útil.
— Ayla, Ayla… — murmuro andando de um lado para o outro.
Ouço batidas na porta e me apresso guardando o bilhete de volta na
caixa. Destranco-a e vejo Abigail em pé com um buquê de flores.
— O que é isso? — pergunto com o cenho franzido. Ela é
intrometida e nunca esqueço que nunca nos demos bem, no período em que
trabalhei com ela na cozinha.
— São para a senhora. Devem ser do senhor Marcus — seu tom foi
de deboche. — Se bem que a senhora Júlia nunca recebeu flores antes —
conclui arrumando as rosas em um vaso.
— Você já trabalhava aqui? — indago com curiosidade.
— Sim, eu vi a senhora Júlia chorar em silêncio. Tadinha, não deve
ter sido nada fácil se manter casada com um homem controlador por tantos
anos.
— Saia, eu não quero mais ouvir nada — ordeno, dando-lhe as
costas.
— Com licença, senhora. — Ouço o seu sorriso de deboche
enquanto as suas pegadas se afastam até ela fechar a porta.
Apresso-me procurando pelo cartão que vi em cima das flores e me
sento abrindo-o com pressa.
Ayla,
Cuidado com Marcus. A verdade pode não ser o que parece.
Proteja-se.
De alguém que se importa com você.

— O que você quer, me assustar? — grito para as flores, tirando-as


do vaso e as jogando no chão, onde piso sem dó destruindo cada botão. —
Marcus não me faria mal, temos um acordo, nosso relacionamento não é
real.
Capítulo 31

Ayla Munis

— Ayla… Ayla… — Ouço uma voz distante me chamar e abro os


olhos lentamente. — Acorde. — A imagem de Peter parado ao lado da
cama vai ficando nítida à medida que desperto.
— Peter? — me sento apressada na cama.
— O senhor Collins ligou algumas vezes perguntando se você já
estaria pronta para o almoço.
— Nossa! virgenzinha de Guadalupe, eu esqueci, dormi demais.
Que horas são? — pergunto já de pé, atordoada.
— Calma, você tem duas horas para ficar pronta — ele diz com
tranquilidade e olho ao redor em busca dos destroços das flores. — Mandei
que limpassem tudo, você dormiu tão pesado que nem ouviu. O que está
acontecendo, querida?
Torço o lábio me sentando novamente e ele faz o mesmo ao meu
lado.
— Eu não sei, são muitas notícias sobre o Marcus e sobre a ex-
esposa. Como era a relação dos dois, Peter? — pergunto e ele torce os
lábios como se não quisesse falar sobre isso.
— É complicado. Só posso lhe dizer que o lar está mais harmônico
com você, o senhor Marcus até sorri, e vejo como ele te olha, parece
apaixonado.
— E não era assim com ela?
— Não foque no passado, o que ele tinha com a senhora Júlia não
chega aos pés do que percebo que vocês têm, então não fique ouvindo
retalhos e fragmentos, confie no seu marido. Agora se levante, se troque e
vá encontrá-lo. — Ele se levanta indo em direção à saída e me deixa
sozinha com meus pesadelos a respeito do meu marido de fachada.
Entro no banheiro, ainda me arrastando, determinada a encarar a
realidade que me assombra. Deixo os pingos gelados do chuveiro caírem
sobre a minha cabeça, uma espécie de choque para me forçar a despertar.
Saio enrolada na toalha e escolho um vestido florido, um específico que me
faz parecer doce e angelical sempre que o visto. Marcus adora o tom azul
misturado com as flores rosas que o adornam. Sigo para a penteadeira, onde
faço uma maquiagem leve, realçando a minha beleza natural. Em poucos
minutos, já estou na entrada da mansão, aguardando o motorista que foi
tirar o carro da garagem. Tudo ao redor parece calmo, mas a tempestade
dentro de mim continua a rugir como um leão faminto prestes a me devorar.
Sigo em silêncio durante todo o caminho, observando atentamente a
movimentação da rua, perdida em meus pensamentos, até que o carro
finalmente estaciona em frente a um restaurante luxuoso. É mais um desses
estabelecimentos chiques que tenho frequentado com Marcus, ambientes
que nunca imaginei que visitaria um dia, pelo menos não como cliente.
Mesmo que as pessoas ao redor especulem diversas coisas sobre nós dois,
percebo que nos olham com respeito, como se deixassem claro que, no final
das contas, nada mais importa quando se tem dinheiro.
A recepcionista me leva até o Marcus assim que entro no local, e lá
está ele, junto a outros empresários e suas esposas, que me olham com
curiosidade
— Me desculpem o atraso. — Sorrio sem graça.
— Está mais que justificado. Você está encantadora, meu amor —
Marcus diz se aproximando e me beijando suavemente nos lábios. Ele puxa
a cadeira ao seu lado me ajudando a sentar.
Eu ainda não conheço essas pessoas, então, naturalmente, sinto-me
um pouco deslocada. No entanto, faço um esforço consciente para focar
apenas em Marcus, que, por sua vez, me olha e sorri como se quisesse
transmitir tranquilidade. Sua mão delicadamente acaricia a minha sobre sua
perna, um gesto sutil que escapa à observação de todos. É um carinho
oculto entre nós dois, indo de encontro ao nosso acordo de exagerar em
demonstrações públicas de afeto. Parece que, naquele momento, ele não se
importa com quem está ao redor, concentrando-se apenas em me
proporcionar um gesto de carinho, como se isso fosse verdadeiramente sua
vontade.
No final do almoço nos despedimos, ele dispensa o motorista, e
seguimos juntos para casa.
— Você veio com esse vestido para que eu me sentisse mais velho?
— pergunta com um tom divertido.
— Achei que gostasse dele — respondo no mesmo tom.
— Eu gosto de você, em qualquer roupa, principalmente sem —
responde com a voz carregada de malícia.
Ele muda a rota, desviando a entrada que nos leva até a mansão e
estaciona em frente a um parque.
— Vem, caminharemos um pouco. Mas não solte a minha mão,
tenho medo de perdê-la entre as flores. — Acho graça de suas palavras e ele
me observa enquanto sorrio.
— Você já veio muito aqui? — pergunto laçando meus dedos entre
os dele.
— Não, não costumava apreciar as flores antes de ter uma em minha
cama.
— Por que está sendo assim hoje? questiono, galanteador.
— Quer mesmo saber, Ayla? — Aproxima-se de mim, me parando
embaixo de uma árvore que nos priva totalmente da luz do sol que resiste a
ir embora num fim de tarde.
— Quero — respondo sem delongas, o meu pé batendo no chão
nervosa com o que virá a seguir.
— Eu nunca fui romântico em toda a minha vida, aprendi que eu
deveria ser duro nas palavras, impor respeito e que a minha esposa deveria
me servir incondicionalmente.
— E o que mudou? — pergunto quando ele pausa.
— Eu nunca me abri para sentimento nenhum, até conhecer você.
Eu juro que não me importo com o que te trouxe até mim, ou suas
intenções, ao aceitar estar ao meu lado, contanto que você nunca considere
ir embora e me deixe voltar para o lugar de onde você me tirou.
— Eu não consigo entender o que você está falando. — Viro-me de
costas, a fim de fugir desta conversa, mas ele me puxa de volta pela cintura,
colando os nossos corpos, segurando a minha nuca, me impossibilitando de
olhar para qualquer lado que não sejam os seus olhos.
— Eu estou falando que quero você, e vou fazer você esquecer
qualquer um que insista em invadir os seus pensamentos. Você é minha,
Ayla. — E, com essas palavras, ele me beija, um beijo cheio de posse e
intensidade, como se quisesse afirmar seu domínio sobre mim.
Eu não quero admitir o quanto já me sinto dele, com a mesma
intensidade com que desejo saber quem ele é de fato.
Capítulo 32

Marcus Collins
Desperto com o peso das pernas de Ayla sobre mim, ela está
completamente nua, após tomarmos um banho e adormecermos juntos
depois de várias seções de sexo. Ouço o seu telefone vibrar sobre a mesa de
apoio ao seu lado e não resisto em tirá-lo de lá para checar a mensagem.
“Ayla, estou esperando que você me mande mais dinheiro, você me
disse que ficaria mais fácil conseguir grana assim que se casasse e foi só
por isso que permiti que esse homem tocasse em você. Se apresse, as contas
não esperam.”
Alejandro.
Sinto uma onda de raiva percorrer meu corpo ao ler as palavras.
Aperto o telefone com força entre meus dedos, considerando a possibilidade
de ler mais, mas Ayla se move entre as cobertas, e eu coloco o aparelho de
volta no lugar, tentando conter a tempestade que se forma dentro de mim.
Ayla abre os olhos lentamente, encarando-me com uma expressão
sonolenta. Tento esconder qualquer sinal de raiva e, ao invés disso, forço
um sorriso. E me pergunto o que será que acontece se paro de lhe oferecer
dinheiro com tanta facilidade?
— Bom dia, meu amor. Dormiu bem? — pergunto, tentando conter
a minha fúria.
Ela boceja e estende os braços na minha direção. Aceito o convite,
abraçando-a. Contudo, a mensagem persiste como uma sombra no fundo da
minha mente, alimentando a chama dos ciúmes.
— Eu que pergunto a você, é o seu sono que me preocupa. Por que
você tem tantos pesadelos?
— Reflexos da guerra, foram muitas noites vigilante, a vigilância
me mantém vivo.
— Você não precisa mais se preocupar com isso — diz alisando os
meus cabelos.
— Vou tomar um banho — digo indo ao banheiro, vendo-a sentar-se
na cama e olhar a tela no celular com um semblante preocupado.
— Marcus, você acha possível me adiantar dinheiro? — ela
pergunta parada na porta.
— Para quando precisa? — indago sabendo que não tenho intenção
de lhe fornecer nem um centavo de dólar para ela dar a outro homem.
— Hoje? — sua resposta é cheia de insegurança.
— O que precisa que é tão urgente, pergunto porque eu estou com
alguns problemas, preciso de uma semana para fazer saques.
— Uma semana? — questiona com uma expressão preocupada.
— Não se preocupe, em uma semana lhe darei mais. — Sinto cada
parte de mim tremer, de raiva. Quero prendê-la contra parede e perguntar
quem é ele.
Ela abre o box e se aproxima enquanto analiso o seu corpo nu
perfeito sobre a luz fraca que entra pela pequena janela no alto.
— Você não parece bem — fala se aproximando de mim.
Uma enxurrada de pensamentos invade a minha mente e ajo
conforme eles surgem, me aproximando, traçando um caminho entre os
seus peitos e alisando a sua escápula nua, parando em seu pescoço, sentindo
as minhas mãos tremerem em volta dele.
— O que está fazendo? — Ela me olha assustada, com a respiração
ofegante, e eu a viro prendendo-a entre o meu corpo e a parede, ainda com
minhas mãos em volta do seu pescoço. — Pare de me olhar assim, você está
me assustando. — Tenta me empurrar, mas com apenas uma das mãos
seguro os seus braços em cima da sua cabeça.
— Eu já te disse, Ayla, não me olhe com medo. Eu nunca
machucaria você. — Deslizo os meus dedos encontrando os seus lábios e os
pressiono antes de beijá-la com loucura e dependência. — Me diga, o que
preciso fazer para que você seja apenas minha, o que você quer? Minha
fortuna, meu coração, minha vida? Estou disposto a te entregar tudo, Ayla.
— Então comece me falando o que posso esperar de você — diz
com um tom desafiador.
— O que mais quer que eu te prometa?
— Como era a sua relação com a Júlia? — Afrouxo a mão e coloco
meus braços contra a parede, baixando a cabeça, deixando que a água leve
embora o inferno que vagueia os meus pensamentos agora.
— Por que é tão difícil para você confiar no que você está vendo?
— Porque posso estar tendo uma miragem, e enxergando aquilo que
eu quero ver.
Viro as costas e pego a toalha sem dizer uma única palavra e ouço
os seus passos me seguindo até o quarto.
— Vou passar na empresa agora pela manhã, Ayla — falo, enquanto
me visto, mas o silêncio ecoa de uma forma que faz meus ouvidos doerem.
Viro-me e ela está sentada me observando, como se me estudasse,
ou tentasse ler só um pouco a minha mente.
“Não faça isso, minha linda, não queira entrar nesse labirinto
escuro, não queira se afundar nessa larva que me puxa para o inferno”
— Ayla — falo me aproximando e colocando o seu rosto entre as
minhas mãos. — Ouça bem o que eu vou te falar agora, porque talvez eu
não consiga repetir essas palavras, mas elas estão me queimando e me
sufocando e eu preciso dizê-las. EU-TE-AMO — pronuncio pausadamente,
sentindo um alívio tocar a minha alma. Mas ela permanece em silêncio,
embora uma lágrima ensaie cair dos seus olhos.
— Se apresse, você vai se atrasar para o trabalho — alerta com a
voz entrecortada, levantando-se para se afastar de mim.
— Retorno no fim da tarde — declaro deixando o quarto.
Ayla Munis
Ouço os seus passos se afastando até ouvir a porta bater atrás de
mim. Tomo um banho e me troco rápido para ir encontrar Fernanda.
“Eu preciso conversar com alguém, ou eu vou enlouquecer se não
puder desabafar”
Desço as escadas apressada, mas sou contida por Abigail.
— Senhora — ela grita andando apressada em minha direção.
— O que você quer agora? — meu tom é irritado e impaciente.
— Só vim lhe entregar essa carta que chegou há pouco — responde
estendendo um envelope igual aos outros.
— Quem lhe entregou? Me diga! Como é a pessoa, é homem ou
mulher. Fala! — grito de forma histérica.
— Não sei, senhora, um dos seguranças me entregou.
Puxo o envelope de suas mãos sem o menor cuidado e caminho em
direção ao jardim, onde avisto o motorista que acena para que eu o espere.
Em poucos segundos ele estaciona na minha frente e sai do carro para abrir
a porta para mim.
— Aonde vamos, senhora? — pergunta já ao volante.
— Apenas saia daqui, logo lhe direi o caminho.
Abro o envelope com minhas mãos trêmulas.
Cara Ayla,
Espero que este recado chegue até você a salvo. Há algo sobre
Marcus que você precisa saber. Sua vida pode estar em risco, e eu sinto a
responsabilidade de compartilhar essas informações. Não acredite em tudo
que ele diz. Marcus Collins é mais perigoso do que parece. Sei de segredos
que ele esconde, e você está envolvida em algo que vai além do que
imagina. Se deseja saber a verdade, apareça hoje às 19h no parque perto
da sua casa. Estarei lá para lhe contar tudo o que sei. Não fale com
ninguém sobre este bilhete.
Preocupo-me com sua segurança.
Alguém preocupado.
Aperto o papel contra a minha mão enquanto me permito chorar.
— Está tudo bem, senhora? — pergunta o motorista me olhando
pelo retrovisor.
— Sim, me leve a uma praia, distante — peço e ele pega a estrada
que nos leva a uma das praias.
Eu não quero envolver a Fernanda nisso, e eu preciso pensar no que
fazer.
Capítulo 33

Marcus Collins
Após um dia improdutivo, passando horas pensando em Ayla,
finalmente retorno para casa.
— Peter — chamo assim que cruzo a entrada da mansão.
— Pois não, senhor.
— Onde está Ayla?
— Ela saiu, pouco depois de você, e ainda não retornou.
— Eu instruí o Borges para me informar quando Ayla deixasse a
residência. — Expresso minha irritação, dirigindo-me rapidamente ao
escritório, seguido de perto por Peter, que adentra o local logo após mim. —
O que você quer? — questiono com as duas mãos na cintura.
— Se me permite, gostaria de falar sobre a senhora Ayla — diz com
um tom preocupado.
— O que quer falar sobre ela? — pergunto de cenho franzido.
— Tenho notado ela diferente, estressada, sem fome, como se
estivesse em alerta. Não é mais a garota de sorriso fácil que chegou aqui, e
anda me fazendo perguntas sobre o senhor e a senhora Júlia.
— Maldição! — Esmurro a mesa.
— Não acha que deveria contar a ela o que aconteceu entre vocês, e
o principal o que aconteceu no dia em que a senhora morreu?
— Cala a boca, Peter, ninguém deve saber sobre isso, ninguém
entenderia, e muito menos Ayla, ela já me olha com medo e se souber do
que, de fato, aconteceu ela vai me ver como um monstro, e eu não quero
que ela vá embora, Peter, eu a amo.
— Se a ama, considere contar tudo, antes que alguém faça isso,
talvez a versão que ela vá ouvir seja ainda mais assustadora.
— Não! Eu vou me livrar dessa acusação, e tudo voltará ao normal.
Terei uma vida com a Ayla, afastarei tudo que atravessa o nosso caminho,
seja quem for, nada ficará entre mim e ela.
— Peço desculpas pela intromissão senhor — diz saindo do
escritório e me deixando sozinho.
Pego o telefone e ligo para o motorista que atende prontamente.
— Onde está a minha esposa? — pergunto antes mesmo que ele
consiga dizer qualquer palavra.
— Estamos na Madison Beach, senhor.
— Que parte do “você deve me ligar e me informar sobre o
paradeiro da minha esposa” você não entendeu?
— Me desculpe, senhor, mas ela está apenas deitada na areia há
horas, eu não vi motivos para ligar e incomodá-lo. — Ouço um suspiro
preocupado do outro lado da linha.
— O que houve? — pergunto, alarmado.
— Não sei, ela estava aqui, agora mesmo, e…. Aonde ela foi? —
indaga com a voz trêmula.
— Que caralhos! Procure por ela e me ligue assim que a vir — digo
encerrando a ligação.
Passo a ligar para Ayla, mas o telefone só dá desligado.
— Porra, Ayla! — grito batendo com o telefone contra a mesa.
Ayla Munis

Aguardando um momento de distração do motorista, vou até o


calçadão da praia e paro um táxi, em direção ao parque próximo à mansão,
onde pretendo encontrar a pessoa responsável pelos bilhetes misteriosos.
Ao chegar ao parque, observo ao redor, buscando por qualquer sinal
da pessoa que tem enviado os bilhetes misteriosos.
— Ayla? — Ouço o meu nome e me viro reconhecendo o rosto na
minha frente.
— Senhor Joseph?
— Não imaginei que conseguiria vir, mas aqui está você — diz se
aproximando.
— Então foi você quem me mandou os bilhetes? — pergunto ainda
com dúvidas.
— Sim, venha, sente-se. Temos muitas coisas para conversar.
— Não sei se é apropriado, você está processando o meu marido, se
alguém nos vê juntos pode prejudicá-lo. — Viro as costas dando passos
apressados.
— Não quer saber como ele matou a esposa? — O seu tom é calmo
e convencido, como se soubesse o tamanho da minha curiosidade.
— Seja breve. — Retorno e me sento ao lado dele. — Vou ouvi-lo
apenas porque quero que pare de me enviar bilhetes, então diga tudo que
tem para dizer.
Ele mostra um sorriso satisfeito, como quem acaba de conquistar
uma aliada, o que não é o caso.
— Vamos começar pela relação entre Júlia e Marcus. Eles se
casaram por contrato, era um acordo comercial, Marcos é incapaz de
demonstrar sentimentos, Ayla. Retraído, agressivo, possessivo, esse é o
verdadeiro Marcus, que suponho que você já tenha conhecido.
As palavras me acertaram como uma bala, mas me mantive com um
olhar sereno aguardando por mais informações.
— Júlia, andava apavorada, assustada. Dava para notar o seu
semblante estressado. Algo a estava assombrando. E o que ela dizia era que
precisava fugir. Mas do que exatamente, Ayla?
— Não faço ideia.
— Do Marcus, claro. Sempre controlando a vida dela, querendo
saber detalhe, onde foi, com quem foi, sempre achando que ela poderia
estar com outro. Na noite em que ela morreu, foram encontradas marcas em
seus punhos e pernas.
— O que isso significa? — pergunto com medo da resposta.
— Ela foi algemada.
— Você está exagerando. Eu conheço o Marcus, ele é explosivo,
tem os traumas dele, mas ele nunca faria mal a alguém.
— Sério? Se você acreditasse em suas próprias palavras, não teria
vindo até aqui.
— Eu só vim para pedir que você pare de me mandar bilhetes e
tentar me assombrar — digo com a voz firme prestes a me levantar.
— Júlia havia marcado um aborto — ele volta a falar e eu fico de pé
esperando que ele conclua.
— O que isso tem a ver com a morte dela?
— Marcus não pode ter filhos, e isso é a maior prova de que ele a
queria morta. Ele descobriu a gravidez e ficou a ameaçando. Ouça, isso:
“Ele vai me matar, eu estou grávida”
— Às vezes as coisas não são como parecem — falo me referindo
ao fragmento de áudio que acabo de ouvir.
— O pior cego é aquele que não quer ver. Mas caso resolva me
ajudar, e fazer com que a justiça seja feita, venha depor no tribunal, eu sei
que você já conheceu o Marcus que descrevi.
— Você está enganado — digo virado as costas dessa vez sem
considerar ouvir mais uma palavra que venha dele.
— Pense bem, Ayla, me ajude a fazer com que a justiça seja feita.
— Não me procure mais — peço já distante dele o suficiente para
não ouvir nenhuma coisa que ele deseje retrucar.
Volto à mansão, mergulhada em confusão, sem entender totalmente
em quem confiar. Apesar de todos os sinais de alerta, encontro-me
apaixonada por Marcus, uma contradição que ecoa em cada parte de mim,
enquanto uma voz interior sussurra que eu preciso fugir.
Capítulo 34

Ayla Munis

Caminho apressada pela sala, envolta em um silêncio profundo e a


escuridão de sempre. Subo as escadas em direção ao quarto onde Marcus
provavelmente se encontra. Ao girar a maçaneta e entrar, eu o vejo
prostrado, visivelmente atormentado, com dor, e essa imagem parte o meu
coração em milhares de pedaços.
— Marcus? — falo em um tom alarmado.
Ele não vira para me olhar, permanecendo no chão curvado.
— Vem, vou te ajudar a ir para a cama. — Seguro em seu braço e
ele puxa com força me fazendo cair sentada no chão.
— Que diabos você quer, Ayla? — indaga com uma expressão de
dor.
— Estava tentando…
— Você está fodendo com a minha vida, porra! — Pulo ainda
sentada com o susto.
— Me desculpe, eu não sei lidar com isso. — Levanto enxugando as
lágrimas que teimam em cair.
— Isso tudo foi um erro, não deveríamos ter nos casado. Eu baixei a
guarda e deixei que você entrasse na minha vida.
— Estou sempre atrás da porta, vivendo as sombras, com medo.
Você me assusta com a mesma intensidade com que me traz paz e vontade
de jogar tudo para o alto e viver uma vida a dois — falo ainda de pé, de
costas para ele, soluçando entre as palavras.
— Eu não acredito em você — diz baixo dessa vez, inclinando a
cabeça para trás apoiando-a sobre a cama.
— Deveria considerar tomar um medicamento para aliviar a dor.
— Pare de falar, me deixe sozinho, volte para o lugar de onde veio.
Da praia? De um encontro? Que porra você fazia, Ayla?
Sento-me ao lado dele me arrastando pela cama alta e repouso a
minha cabeça em seu ombro, lentamente, ainda temerosa com a sua
possível reação. Ele não se move e eu permaneço na posição.
— Se você me ama, como diz, escancare a porta de uma vez, e me
deixe entrar — imploro.
Ele vira a cabeça e passa a me encarar, a dor ainda estampa os seus
olhos e sua expressão é de agonia.
— Minha pequena, se você soubesse o que tem atrás da porta, você
ficaria embaixo das cobertas — seu tom de voz carrega um humor ácido.
— Os monstros não existem, eles moram na nossa cabeça até o dia
em que resolvemos espantá-los de lá. Eles se alimentam dos nossos medos.
Marcus precisa de uma ajuda psicológica e isso é nítido. Tanto
tempo em guerra o levou a um inferno que ele mesmo criou, o mesmo que
ele se mantém cativo por correntes que não existem.
Levanto o vestido e sento-me em seu colo de frente para ele, com as
pernas em volta da sua cintura. Coloco a sua cabeça entre os meus seios, e
quando o sinto relaxando em meus braços, levanto o seu rosto com minhas
duas mãos, nossos lábios se encontram com intensidade. Desço os lábios
beijando de língua o seu pescoço, ombros, peito e sinto a sua intimidade
crescer entre as minhas pernas.
Ele não vai me fazer mal, ele já teria feito se o quisesse, mas em vez
disso, eu o vejo brigando com seus demônios, e me pergunto se eu deveria
ficar ou fugir?
Sigo beijando cada parte sensível do seu pescoço, deixando uma
trilha de beijos molhados e mordidas leves. Deslizo minhas mãos por suas
costas, sentindo a tensão em seus músculos diminuir, à medida que minhas
carícias se intensificam. Minhas unhas arranham levemente sua pele, e todo
o seu corpo se arrepia.
— Você quer acabar comigo, Ayla — diz entre gemidos.
Ele se põe de joelhos e tira a minha roupa com urgência, fazendo o
mesmo com a calça de moletom que usa. Joga-me no chão, se posicionando
entre as minhas pernas e passa a beijar o meu corpo, dando leves mordidas,
enquanto as suas mãos exploram cada curva do meu corpo. Ele rasga a
minha calcinha, mais uma. É insano como gosto disso. Sinto sua respiração
acelerar, seus dedos se entrelaçam nos meus cabelos, e ele puxa a minha
cabeça para trás beijando e chupando o meu pescoço.
Suas mãos deslizam até os meus peitos, acariciando-os e apertando-
os suavemente entre seus dedos. Sua respiração se torna ainda mais pesada,
meu corpo se contorcendo de prazer sob o seu toque. Nossos lábios voltam
a se encontrar em meio a suspiros e gemidos, e nossas línguas se entrelaçam
com dependência.
— Eu quero você — sussurro em seu ouvido.
Com um movimento suave, desço minhas mãos até sua intimidade.
Seu corpo estremece sob meu toque.
— Eu já sou seu. Você está me deixando louco, Ayla. Não brinque
com fogo.
— Me queima. — Arqueei as costas sentindo os seus dedos me
penetrarem com força.
— Que delícia! Que boceta gostosa.
Levanto-me e encaixo-me em seu colo, guiando-o para dentro de
mim com urgência, louca para sentir essa agonia que me queima cessar. Ele
aperta a minha cintura com força fazendo movimentos de sobe e desce e o
quarto é invadido pelo barulho de nossos corpos se chocando.
— Que boceta apertada. Rebola para mim — ordena e eu o obedeço
sem pensar, sentindo meu útero se contrair e uma sensação maravilhosa
invadir o meu corpo que estremece. — Isso, goza no meu pau.
Ele me coloca de quatro e entra com tudo puxando os meus cabelos
para trás. Sinto a sua intimidade vibrar dentro de mim, ele puxa os meus
cabelos trazendo o meu corpo para junto do dele e estimula o meu ponto
sensível. Aos poucos sinto a sensação voltar ainda mais forte.
— Vou gozar — anuncia, ao mesmo tempo que sinto um orgasmo
explodir novamente em mim.
Caímos no chão exaustos, continuamos abraçados, nossas
respirações recuperando o ritmo lentamente.
— Marcus, eu também amo você — digo e tenho o silêncio como
resposta, mas um alívio invade cada pedaço de mim, por ter enfim
entendido o que sinto por ele.
Capítulo 35

Marcus Collins
— Você tem certeza de que viu o Joseph? — pergunto ao motorista
que acompanhou Ayla ontem.
— Sim. Assim que senti falta da senhora, liguei o carro e a procurei,
vi quando ela entrou no táxi e eu a segui até o parque próximo à residência.
Ela encontrou com ele no local.
— Tudo bem, saia!
Arrasto para o chão tudo que tenho sobre a mesa do escritório,
descontando nos objetos o ódio que me consome.
Não sei o que pensar. O que fazer.
— Uau! — Levanto os olhos para ver o dono da voz surpresa. —
Cheguei em uma hora ruim? — pergunta Edward, o meu advogado.
— Péssima.
— Problemas? — indaga, fechando a porta atrás de si.
— O casamento foi um erro — falo com a respiração pesada.
— Mas está tudo saindo como planejado, a mídia ama a Ayla e
vocês formam um casal bonito.
— Ela vai me levar para o buraco. — Esmurro a mesa.
— Sobre o que está falando?
— O meu motorista a viu se encontrando com o Joseph. Aquele
filho da puta. Eu vou acabar com a raça daquele miserável. — Abro a
gaveta, tiro a arma que está nela, e caminho apressado em direção à porta.
— Ei, aonde vai com isso?
— Resolver esse assunto com aquele filho da puta.
— Marcus, espera, espera… — Ele me segue aos gritos, mas ignoro
entrando no carro e saindo cantando pneu.
Chego rápido até a casa de Joseph, não preciso atravessar a cidade
para encontrá-lo, já que as nossas esposas queriam morar próximas uma da
outra. Os seguranças abrem o portão assim que identificam o carro, isso é
uma falha do caralho, que já aconteceu até na minha casa.
— Joseph — grito saindo do carro, em questão de segundos ele
surge com um ar tranquilo.
— O que você faz aqui? — Seu tom de voz é de desdém.
— Vou deixar uma coisa clara para você. Não faço ideia do que
exista entre você e a Ayla, mas agora somos casados, e eu não estou
disposto a perdê-la.
Um sorriso cínico estampa os seus lábios.
— Está me dizendo que mesmo que eu esteja comendo a sua
mulher, você ainda a quer?
— Desgraçado do caralho! — Saco a arma e a aponto para ele. Os
seguranças me cercam apontando armas para mim.
— Atira, só assim vou ter o gostinho de ver você ser preso, seu filho
da puta.
“Que merda eu estou fazendo?” abaixo a arma com as minhas mãos
ainda trêmulas.
— Fica longe da Ayla, ou mato você — cuspo as palavras com ódio.
— Você vai pagar pelo que fez, Marcus, em breve todos vão saber
quem é você, o respeitado comandante. Um assassino do caralho, porra.
— Você está avisado, Joseph. Ayla é minha esposa, não chegue mais
perto dela ou posso não me controlar da próxima vez, e te garanto que ir
preso por enfiar bala nessa sua cara vai me deixar bem feliz — digo
voltando para o carro
— Puxem as câmeras de segurança, ele me ameaçou, vou apresentar
o vídeo à polícia, para que esse louco não possa se aproximar de mim.
Retorno quando ele finaliza a provocação.
— Nem mesmo o exército pode me deter, Joseph! — Ele ergue as
mãos ao me ver me aproximando, e sem pensar, lanço um soco que o
derruba ao chão. — Agora você tem as provas que precisa. Está avisado,
deixe minha mulher em paz — pronunciei as palavras antes de retornar ao
carro.
Na volta encontro o carro do meu advogado, ele freia bruscamente e
paro o carro no acostamento.
— Que porra você fez, Marcus? — pergunta vindo até mim que
ainda tenho a respiração pesada
— Nada que eu realmente queira, pode ter certeza. Quero matar
aquele filho da puta. — Esmurro o volante.
— Assim, vai ficar difícil eu conseguir manter a sua defesa.
— Estou pouco me fodendo para tudo isso. Não aguento mais esse
inferno, porra.
— A Ayla era para te ajudar, não te deixar surtado. Esse era o plano
— ele diz sentando-se ao meu lado no carro.
— Me apaixonei por ela.
— Que merda! Você sempre soube que existe uma mínima chance
dela estar ali para levar informações.
— Se esse era o caso, ela não fará mais.
— Sério que acredita nisso?
— Sim, eu acredito.
— Se acredita tanto, deveria perguntar tudo que tem vontade a ela,
começando por essa história do Joseph, do Tyler, e do tal Alejandro que
você diz que manda mensagens para ela.
— Que se fodam todos, ela é minha e ponto final. Eu não quero
ouvir nada dela, não quero saber se outro a tocou, ou algo do tipo.
— Ah, então estamos na frente de alguém que quer viver uma
ilusão. — Zomba.
— Estão sendo os melhores dias da minha vida. Ela consegue curar
as minhas dores, me trazer de volta dos meus tormentos, ela me traz de
volta, é o que eu preciso para me manter lúcido.
Ele balança a cabeça negativamente várias vezes, inconformado
com a resposta.
— Não quero saber de Tyler, Joseph, Alejandro. Não quero saber
nada sobre isso. Eu a quero e ponto final. Farei ela me amar, e ela vai querer
ficar mesmo quando toda essa merda acabar.

Ayla Munis

Abro os olhos lentamente, o dia parece normal, exceto por um


pequeno aperto estranho no estômago. Espreguiço-me na cama, tentando
dissipar essa sensação, mas ela persiste. Não é fome, nem mesmo uma dor,
é algo diferente. Tomo um banho rápido e desço para tomar meu café da
manhã. Enquanto caminho para a cozinha, as lembranças da noite passada
fluem pela minha mente e mordo os lábios me recordando daquelas mãos
fortes me envolvendo.
— Bom dia, Ayla — Peter fala com animação.
— Bom dia, Peter, você viu o meu marido?
— Ele saiu logo cedo, não parecia coisa boa, o advogado correu
atrás dele em seguida.
Torço os lábios.
— Quando tudo isso vai ter fim?
— Só quando o juiz der um veredicto e nem sei se assim esse
assunto será encerrado. Bom, venha, sente-se que vou lhe servir algo.
Olho para o café, mas algo me impede de tomá-lo. Não tenho apetite
para nada.
— Não, perdi a fome Peter — digo levantando-me.
— Saco vazio não para em pé, meu amor, nunca ouviu essa frase?
— Marcus entra pela porta da cozinha, falando com um tom divertido.
Eu e Peter nos olhamos. Ele havia me dito que as coisas estavam
tensas, mas aqui está Marcus, esbanjando um sorriso nada normal para uma
manhã.
— Não sinto fome — falo com uma careta e ele sorri sentando-se ao
meu lado
— Hum, vamos ver, devo fazer torradas para você?
— Vai cozinhar para mim? — pergunto com um tom tão incrédulo
quantos os olhares das empregadas que estão na cozinha.
— Sim, eu vou.
Eu não sinto vontade de comer nada, mas me forço diante da sua
boa vontade, e mastigo algumas torradas. Meu estômago revira logo em
seguida, mas disfarço, para não o deixar preocupado. Isso não deve passar
de uma virose.
Capítulo 36

Marcus Collins

Com os olhos completamente abertos, observo o nascimento do dia


mais uma vez, incapaz de encontrar o sono. Antes os meus pesadelos
terminavam comigo sendo consumido no fogo, agora eu apenas sigo uma
luz que me deixa cego a cada segundo que me aproximo, e no final ela se
apaga me deixando em completa escuridão. Não preciso de um psiquiatra
para compreender meu medo. Ayla é essa luz que se apaga, me deixando só.
Por isso, aqui estou, encarando-a, tentando gravar cada linha do seu rosto,
capturando seu cheiro, pois não desejo enfrentar a solidão novamente.
Como um cão de caça feroz e focado, irei encontrá-la, até mesmo no
inferno, para que viva ao meu lado até o fim dos meus dias.
— Bom dia — Ayla diz com a voz rouca enquanto se espreguiça.
— Você não parece descansada — afirmo vendo o tom preguiçoso
que vai contra a forma com que ela encara a manhã todos os dias.
— Não me sinto disposta, você tem razão.
— O que está sentindo? — meu tom é preocupado.
— Só um cansaço, sono, e nem um pouco de fome.
— Vou chamar um médico para você.
— Não precisa, vá trabalhar, eu vou ao médico e lhe conto o que
tenho, mas deve ser uma virose — fala desdenhosa.
— Tem certeza de que não quer que eu lhe acompanhe? — Ela
balança a cabeça em negativa.
— Na pior das hipóteses, o médico vai me encher de vitaminas.
Acredite em mim, isso já aconteceu algumas vezes.
— Confio plenamente — digo beijando-a.
Levanto-me para tomar um banho, eu tenho uma reunião importante
hoje, algo que eu deixaria facilmente de lado se Ayla sentisse que precisava
da minha companhia.
— Ah, não! Bolinha! — ela grita e saio do banheiro enrolado na
toalha. — Marcus, me desculpe, eu juro que dou um jeito nisso — Seu tom
é desesperado e mesmo surpreso com tamanha bagunça em meus sapatos,
permito que um riso divertido saia da minha boca. — Você não está
zangado? — ela pergunta incrédula.
— Por meia dúzia de sapatos destruídos por dentes sapecas? — Ela
relaxa o ombro e me abraça em lágrimas.
— Eu achei que ficaria furioso, eu achei que… — funga, soluça e eu
afasto-a para encará-la em tamanho desespero.
— Ayla, são só sapatos, meu amor, posso comprar novos, agora se
acalme, okay?
— Hum rum, eu vou me acalmar — afirma pegando o cachorro em
seu colo.
— Tome um banho, vou levá-la ao médico, você não me parece
bem.
— Não se preocupe com isso, Marcus. Juro que estou bem, foi só
um susto.
— Eu tenho uma reunião importante agora pela manhã, me espere, à
tarde, vou levá-la ao médico — ela assente com a cabeça e volta a alisar o
cachorro em seu colo.
Termino o banho e me troco, procurando um sapato que ainda sirva
para usar até o meu assistente me trazer novos pares.
Ayla Munis

Após avistar o carro de Marcus partir, tomo um banho rápido e


desço as escadas como um raio, sem tocar em qualquer comida, nem
mesmo uma simples fruta me entra. Seja lá o que for que eu tenha, decidi
encarar sozinha caso eu esteja com os meus dias contados. Com o histórico
de doenças na família, temo ter apenas seis meses de vida. Não quero que
Marcus me olhe com piedade durante esse tempo.
“Ai, Ayla, pare de pensar bobagens, você está sendo dramática”
repreendo a mim mesma forçando um sorriso em seguida.
— Para onde vamos, senhora? — indaga Borges, o motorista assim
que entro no carro.
— A uma clínica, vou fazer uns exames.
Ele dá partida no carro sem dizer mais uma única palavra. Eu sei
que ele conta cada respiro que dou ao Marcus, mas não o culpo, ele deve ter
ordens para isso.
— Chegamos, senhora — diz parando em frente a uma clínica não
tão longe da mansão.
— Obrigada. — Sorrio gentilmente antes de descer.
Entro no local, preencho uma ficha na recepção e aguardo ser
chamada pelo médico, o que não demora muito.
— Senhora Ayla Collins. — Eu o ouço me chamar pelo nome de
casada.
— Aqui. — Levanto a mão indo até ele.
Eu o sigo até o consultório, e fecho a porta atrás de mim assim que
entramos.
— Sente-se, senhora. — Ele aponta para a cadeira em frente à mesa
e me acomodo esfregando uma das mãos na outra.
Respiro fundo tentando me acalmar.
— Bom dia, senhora Collins. Como posso ajudá-la hoje? — o
médico pergunta enquanto folheia alguns papéis em sua mesa.
— Bom dia, doutor. Eu estou aqui porque estou com alguns
sintomas estranhos ultimamente e gostaria de saber se ainda vou viver
bastante ou se estou com os meus dias contados. — Ele segura um sorriso,
me olhando como se estivesse diante de uma louca neurótica.
— Faremos alguns exames de rotina para ter um diagnóstico. Mas
antes, me conte um pouco sobre esses sintomas que você está sentindo —
pergunta largando tudo sobre a mesa e me olhando com atenção.
— Bom — começo. — Estou indisposta, com muito sono, não
consigo comer e sinto que se não controlar a minha ânsia de vômito, sou
capaz de colocar todos os meus órgãos para fora.
— Hum… Ayla.
Após ouvir tudo, o médico pede para que eu faça um exame de
sangue. Ele me explica que esses exames darão um parecer sobre o meu
caso.
Sigo as instruções do médico e vou para a sala de exames. Algum
tempo depois, o médico retorna com os resultados em mãos.
— Ayla, tenho uma ótima notícia para você — o médico diz,
animado, gesticulando com a mão para que eu o siga até o consultório
novamente.
— Ótimas notícias? Então ainda vou viver muito — falo com um
tom divertido.
— A senhora não tem nenhuma doença que vá levá-la a óbito, então
fique tranquila. — Permite-se rir dessa vez. — Me desculpe, só achei graça
na forma que falou.
— Tudo bem, já estou acostumada a arrancar sorrisos com todo o
meu drama.
— Bom, vamos ao que interessa, ao resultado, acredito que está
ansiosa para saber o motivo de tais sintomas.
— Sim, me diga logo, não faça suspense.
— A senhora está grávida. Meus parabéns.
Fico estática por um momento, sem reação. Meu rosto demonstra
choque. A notícia parece tão surreal.
— Grávida? Mas... o meu marido... Como isso é possível? —
pergunto, gaguejando ainda tentando assimilar a informação.
— O que tem o seu marido? — ele questiona com o cenho franzido.
— Ele não pode ter filhos.
O médico sorri compreensivamente e se aproxima, colocando a mão
em meu ombro.
— Ayla, a medicina tem suas surpresas. É realmente raro, mas nem
sempre um diagnóstico de infertilidade é definitivo. Às vezes, ocorre uma
pequena chance de fertilidade, mesmo com todas as dificuldades. Além
disso, existem outros fatores que podem influenciar o processo de
concepção.
— Obrigada, doutor — digo levantando-me da cadeira ainda
atordoada.
— Vou lhe receitar algumas vitaminas, para melhorar o seu mal-
estar e seu cansaço, espere só até eu preencher a receita.
Espero em pé, nervosa e pego-a da sua mão sem dizer mais uma
única palavra, tento me recompor voltando para o carro.
— Algum problema, senhora? — o motorista pergunta.
— Não, passe na farmácia, preciso comprar algumas vitaminas antes
de voltar para casa.
Capítulo 37

Ayla Munis
Retorno para casa com tudo que o médico me receitou, o meu
coração batendo a ponto de sair pela boca.
“Eu estou grávida, ele vai me matar”
O áudio apavorado da Júlia veio à minha mente como um soco no
estômago, e eu subo as escadas correndo me prostrando no vaso sanitário e
vomito.
— O que vou fazer agora? — me pergunto, enquanto escovo os
dentes, retorno para a cama em lágrimas e logo adormeço.

Marcus Collins
Saio da empresa o mais rápido possível. Ayla não me ouviu quando
pedi que me esperasse para ir ao médico com ela, e eu já recebi a notícia de
que ela saiu pálida do consultório.
— Peter, Ayla desceu para comer? — pergunto parando na porta da
cozinha.
— Não. A senhora saiu logo cedo e retornou indo direto para o
quarto, provavelmente comeu algo no caminho.
— Não, ele veio direto para casa. Prepare algo, algumas frutas,
coisas leves e leve até o meu quarto.
— Farei agora mesmo, senhor.
Subo até o nosso quarto, abro a porta lentamente, a vejo dormindo e
ao lado tem a sacola de farmácia. Vou apressado e pego para checar o que
contém nela.
— Vitaminas — digo em um suspiro de alívio.
Tiro o paletó, a camisa e me deito ao lado dela, passando o braço em
volta da sua cintura e beijo as suas costas.
— Você já chegou? — ela pergunta despertando e virando-se para
mim.
— Não tive um segundo de paz. Eu não deveria ter ido e te deixado
doente.
— Não precisa se sentir culpado, como eu havia dito, é só uma
virose.
— Então por que esses olhos estão inchados? Quem te fez chorar?
— indago, beijando-os.
Tem algo a perturbando, isso é nítido em seu semblante caído e sua
voz fraca.
— Achei que tivesse uma doença terminal, então chorei de
felicidade.
— De onde você tirou isso? — Estreito os olhos, curioso.
— Do meu histórico de doenças na família.
— Seria muita maldade da parte de Deus contar os seus dias ao meu
lado depois de toda uma vida à sua procura.
Ela ergue uma das mãos e alisa o meu rosto, ainda mantendo o
semblante triste que me preocupa.
— Venha, deite a cabeça sobre o meu peito, eu cuidarei de você.
— Marcus, como você sabe que o que sente por mim é amor? — me
questiona enquanto aliso os seus cabelos.
— Eu não faço ideia do que seja amor, Ayla, mas tenho certeza de
que o que sinto por você pode ter esse nome, já que eu não consigo
controlar as minhas ações em relação a você. No final das contas, acredito
que isso seja amar, quando paramos de ser racionais e desejamos que o
outro seja feliz acima da nossa própria felicidade.
— Você amava a Júlia? — a pergunta dela me pega de surpresa, não
deveríamos estar falando de Júlia.
— Eu vou buscar algo para você comer, pedi a Peter, mas ele está
demorando.
— Marcus, por favor. Eu preciso saber — diz segurando o meu
braço me impedindo de levantar.
— Não quero que compare o que temos com o que eu tinha com a
Júlia, eu lhe garanto que não chega nem a um por cento, a intensidade dos
sentimentos que sinto por você e isso não é algo que me orgulhe. Talvez eu
tenha feito ela sofrer sem que, de fato, esse tenha sido o meu desejo. Mas
ainda não estou pronto para ter essa conversa com você. Ayla, eu preciso
que você me conheça e não ache que sou um monstro.
— Você a matou?
— Se fui o culpado de alguma forma, tenha certeza de que nunca foi
a minha intenção. Eu nunca machucaria você, Ayla, então não tenha esses
pensamentos.
Volto a me deitar na cama, passando os braços em volta dela, e a
beijo com suavidade na testa.
— Eu amo você, Ayla, não duvide disso.
Ayla Munis

Com o passar dos dias fico mais disposta, o que percebo que
diminui a preocupação de Marcus em relação à minha saúde, aos poucos
estou voltando a comer, eu e ele passamos boa parte do dia juntos. Às vezes
me pego pensativa nos cantos da casa, mas me recomponho sempre que ele
se aproxima, embora o seu olhar curioso revele que ele acredita que
escondo algo dele.
Eu não sei como contar a ele sobre a gravidez, mas também não é
uma coisa que eu possa adiar por uma vida. O meu telefone vibra sobre a
mesa e eu me apresso em atender a chamada de Fernanda.
— Amiga — digo ao atender.
— Ayla, você pode vir hoje? Tenho um tempo livre, ando
trabalhando dobrado, mas hoje sou sua — ela pergunta, me deixando feliz
em saber que vou poder enfim desabafar.
— Sim, claro, vou me arrumar e chego aí em alguns minutos.
— Fechado, então. Te espero.
Tomo um banho rápido e desço as escadas. Resolvo não ir com o
motorista dessa vez, apenas dessa vez. Eu gostaria de me sentir dona dos
meus próprios passos e ter uma conversa tranquila, sem que eu precise
informar onde estive ou com quem. É um desejo que parece pequeno, mas
que, em meio a tanta vigilância, se tornou um luxo para mim.
— Senhora, o carro está pronto, posso acompanhá-la. — Ouço o
motorista quando já estou próxima à saída.
— Não se preocupe, irei de táxi hoje. — Por sorte havia um
passando na esquina da mansão.
Em poucos minutos, chego ao apartamento de Fernanda, que acena
para mim da janela assim que desço do táxi. Subi e ela já estava na porta
pronta para me abraçar assim que apontei na porta.
— Ayla, estou te achando diferente — diz dando voltas ao meu
redor.
— Pare, você vai me deixar tonta — meu tom é de repreensão.
— Vai, não seja boba. Vem, senta aqui, me conta tudo, como está lá
com o gostosão?
— Fê — volto a repreender e ela gargalha,
— Ai, amiga, estou só te zoando.
Meu semblante muda e ela maneia a cabeça com os olhos estreitos.
— Ayla, o que está acontecendo? Você está me deixando
preocupada.
— Estou grávida — respondo sem delongas.
— Grávida? — Ela se levanta como quem acaba de receber um
choque da cadeira e coloca a mão na boca. — Quem é o pai?
— Que pergunta idiota, Fê, é claro que é o meu marido.
— Mas ele não era infértil?
— Era o que eu também pensava, mas o médico disse que nem
sempre esses exames são conclusivos e que existem vários fatores para que
eu possa ter engravidado.
— Você já disse a ele?
— Estou com medo da reação dele.
— E não é para menos, já que a ex-esposa morreu grávida, de um
filho que ele disse que não era dele.
— Nossa, como você me deixou mais tranquila agora.
— Amiga, não posso te passar falsa segurança. — Ela se senta ao
meu lado enquanto dou um longo suspiro já sem unhas para roer.
— Não sei o que fazer — admito.
— Você não tem alternativa, Ayla, você precisa contar para ele e
deixa que ele desabafe todas as incertezas dele, no final, um DNA resolve
esse assunto. Só não sei o quanto esse processo vai te quebrar.
— Sei que não posso esconder uma gravidez por muito tempo.
— Então encha o peito de coragem e conte tudo a ele, fala na frente
dos empregados, do tipo, surpresa, você será pai! Ele não surtaria na frente
de todos, só não faça durante a refeição, ele pode morrer engasgado.
— Fernanda, você ainda está brincando?
— Não, estou tentando te fazer voltar a respirar. Não fique
apavorada, você me disse que ele falou as três palavras mágicas, então vá
fundo e conte a ele.
Reúno toda a coragem que não tenho e me levanto do sofá, depois
de soltar o ar com força dos pulmões.
— Eu não tenho outra alternativa, tenho?
— Não, você não tem.
Capítulo 38

Ayla Munis

Chego à mansão no final da tarde, e apesar da aparente


tranquilidade, percebo um olhar desconfiado do motorista, que rapidamente
desvia os olhos ao me notar. A sala está vazia, então subo diretamente para
o quarto. Marcus está debruçado na varanda e ignora minha chegada. Solto
um suspiro impaciente, exausta de todo esse controle e pressão.
Deixo minha bolsa cair sobre a mesa, junto ao celular, e me
encaminho para o banheiro. Um banho parece ser a solução para acalmar
minha mente agitada.
Tomo um banho demorado, ainda pensando em como falar sobre a
gravidez. Isso deveria ser motivo de alegria e não estar causando tanta
agonia como agora.
— Onde esteve? — ele pergunta, vindo da varanda assim que saio
do banho, ele tem uma garrafa de uísque nas mãos e uma expressão
cansada.
— Fui visitar a Fernanda — digo enquanto coloco uma roupa.
— Deveria ter ido com o motorista.
— Apenas hoje, eu quis sentir que não estava sendo controlada —
meu tom é impaciente.
Ele vai até a gaveta e puxa jogando tudo sobre a cama com certa
rispidez e ele repete com outra e mais outras.
— O que está procurando?
— Sinto falta de um conjunto de joias que eu te dei.
Arregalo os olhos, me privando de respirar por alguns segundos,
mas logo me recomponho.
— Você disse certo, você me deu, então faço o que eu quiser com o
presente. Ou eu tinha que devolver no final do contrato?
Vejo a sua expressão se fechar como de um demônio furioso, e ele
joga o meu celular sobre a cama com fúria. Pego o aparelho e leio a
mensagem que está na tela.
“Ayla, o dinheiro que você mandou foi suficiente, não se sacrifique
mais, volte. Estou com muitas saudades de você.
Eu te amo, Alejandro.”
— Quem é ele? Que sacrifício você está fazendo? Achou um idiota
que banque os seus homens? — a sua voz reverbera com ódio.
— Você não tem o direito de ler as minhas mensagens, Marcus —
digo em voz alta.
— Quem é ele, Ayla? — ele grita segurando o meu braço contendo a
força que poderia torá-lo ao meio se quisesse.
— Há quanto tempo você está lendo as minhas mensagens?
— Isso não interessa.
— É claro que interessa. As coisas são ainda piores do que imaginei.
Eu não te devo satisfações, ainda mais quando tudo isso que está
acontecendo é culpa sua.
— Minha? — Ele larga o meu braço com uma expressão incrédula.
— Você saberia quem ele é se tivesse perguntado para mim. Vendi
as joias, Marcus, porque precisei de dinheiro. Isso não me serve para nada,
eu não ligo para nada disso — grito enquanto jogo roupas e sapatos e as
demais joias da gaveta no chão.
— Quem é ele, Ayla? — pergunta novamente ainda mais furioso.
— Meu irmão, Marcus, Alejandro Munis.
— Eu não acredito em você.
— Isso já não é problema meu. — Dou de ombros virando as costas
para ele que me puxa pela cintura e vira meu corpo segurando o meu rosto
contra o dele.
— Sabe por que eu nunca te perguntei? Porque eu sempre tive medo
da resposta. Então, por favor, Ayla, seja honesta comigo.
— Vim para os Estados Unidos para estudar e fiquei porque preciso
do dinheiro, a minha mãe está doente, eu estou custeando o tratamento dela,
o meu irmão ficou para cuidar dela.
— E é por isso que se sacrifica em dormir comigo todas as noites?
— Sinto a dor que rasga o seu peito, as palavras saem sofridas, ainda em
busca de alguma palavra minha que lhe dê conforto.
— Nunca foi um sacrifício.
— Ayla, estou fodido, eu não sei mais viver sem você. Quando esse
contrato acabar e você me disser que voltará para o México… — Ele se
cala me soltando e virando as costas com a respiração ofegante.
— É a minha família, Marcus, e eu sinto falta deles.
— E eu, o que sou para você? — Ele volta a zerar a distância entre
nós, colando a sua testa a minha.
Tento falar que ele também é minha família, junto ao nosso filho
ainda em meu ventre, mas sinto medo.
— Me ajude, Marcus, por favor, me ajude a não desistir de você.
Sinto seu corpo estremecer, seus braços fortes me envolvem com
firmeza, e ele controla sua força por medo de me machucar, mas não faz o
mesmo com os laços invisíveis que nos apertam até nos sufocar.

Marcus Collins
Deixo Ayla sozinha no quarto, enquanto tomo um ar no jardim, o
mesmo ar que busco com desespero a fim de permanecer vivo. Ela merece
alguém melhor do que eu, mas sou egoísta demais para deixá-la ir. Lembro-
me das brigas entre os meus pais, de ver a minha mãe chorar a cada crise de
ciúmes. Eu não quero isso, mas eu não consigo evitar.
“Você vai matá-la, Marcus”. A minha mente grita me alertando.
Ouço passos, mas não me viro, apenas olho por cima do ombro
quando eles cessam um pouco atrás de mim.
— Trouxe um pouco de água, o senhor começou a beber cedo — diz
Peter, colocando a jarra e os copos sobre a mesa do jardim.
— Obrigado.
— Eu ouvi os gritos no quarto, espero que tenham se entendido.
— Não sei o que fazer, Peter.
— Confiar na mulher que você ama, já é um bom começo. — Ele
coloca a mão sobre o meu ombro como se quisesse me consolar.
— Eu não consigo baixar a guarda, O medo de perdê-la me deixa
apavorado, descontrolado, eu vejo ameaça em todo lugar. Sinto medo de
estar repetindo tudo que aconteceu com a Júlia.
— Vejo amor, compreensão, empatia, carinho, respeito sempre que
ela te olha. Você achou alguém disposto a lutar, a sentir, e vejo vontade nela
em ficar, de não desistir. Leve isso em conta, Marcus, Ayla te ama.
— Eu também a amo.
— Eu sei, eu conheço você desde jovem. Sei que você é capaz,
acredito em você, Marcus.
Capítulo 39

Marcus Collins

Volto para o quarto no fim da noite, mais calmo e louco para abraçá-
la. Ayla está deitada aparentando dormir, porém, quando me aproximo a sua
respiração irregular me diz o contrário.
Tiro as roupas e tomo um banho, retornando em seguida, visto uma
calça de moletom e me deito de barriga para cima apoiando a cabeça sobre
os meus braços.
— Você está dormindo? — sussurro.
— Estou sem sono, talvez eu devesse caminhar um pouco, não sei,
talvez isso me distraia e o sono venha — diz levantando-se.
— Está desconfortável em dividir a cama comigo? — pergunto e
recebo o seu silêncio como resposta.
Eu já estou fodido o suficiente para me dar ao luxo de ter qualquer
tipo de orgulho.
— Não vai, ver você se afastando de mim é bem pior que a morte
lenta na mão dos inimigos.
— Você não tinha o direito de ler as minhas mensagens, Marcus. Há
quanto tempo isso está acontecendo?
Levanto-me da cama parando na frente dela que me olha com
decepção.
— Me perdoa. — Caio de joelhos em seus pés me agarrando em
suas pernas me inclinando até os seus pés. Eu nunca me ajoelhei aos pés de
ninguém.
Ainda de caça baixa vejo-a se abaixando ficando de joelhos na
minha frente.
— Me perdoa. — Levanto o rosto quando ela repete as minhas
palavras. — Por não conseguir fazer você sentir todo o amor que cresceu
em meu coração.
É como se ela entendesse a minha mente na mais profunda
escuridão e ainda assim quisesse ficar.
Subo as minhas mãos contornando as suas curvas, parando em seus
peitos cobertos por uma renda fina, acariciando-os suavemente enquanto
nossos lábios se encontram em um beijo tranquilo esperando ser
correspondido. Sinto seu corpo arrepiar sob meu toque, e as batidas do seu
coração aceleram.
— Não me deixa, Ayla — imploro entre os beijos.
Suas mãos percorrem minha pele, deixando um rastro de calor e
desejo por onde passam. Explorando cada parte de mim, elas descem
lentamente pelo meu peito e abdômen, até alcançarem o limite das minhas
calças.
— Então, por favor, não pare de lutar contra os seus demônios,
continue tentando se controlar e se permita confiar.
— Me ajuda — volto a implorar, e abaixo a minha calça como se
estar dentro dela fosse o lugar mais seguro, como se vê-la gemer me
trouxesse a estabilidade que eu preciso.
Nossos lábios voltam a se encontrar e eu a beijo com loucura,
puxando seus lábios com o dente, apertando os seus peitos e arrancando a
camisola que me impede de sentir a sua pele quente sobre a minha.
Ela me masturba e estremeço com o estímulo, chupando os seus
peitos. Puxo os seus cabelos levando a sua cabeça para trás, e traço um
caminho pelo seu pescoço arrastando a minha língua até encontrar os seus
lábios novamente. Deito-a sobre o piso de mármore, me posicionando entre
as suas pernas, esfregando o meu pau em sua entrada deliciosa, molhada e
pronta.
Não é só sexo, mas preciso dele para reafirmar que ela é minha.
Aos poucos entro nela, com calma e sentindo a sua boceta apertar
meu pau dentro dela.
— Caralho! — urro, lutando para não gozar só de senti-la.
— Faz com força — ela pede com as costas arqueadas. Ah, minha
linda, não me peça o que não pode aguentar, se soubesse o que tenho
vontade de fazer não me pediria isso.
Puxo o seu corpo e ela se senta com as pernas em volta da minha
cintura.
— Rebola — peço, sentindo os seus seios roçando na minha pele.
Eu os levo até a boca chupando um a um. — Isso, goza para o seu homem.
— Tiro-a de cima de mim, colocando-a de quatro e a penetro com força
enquanto estimulo o seu clitóris. — Goza, Ayla — ordeno estocando forte,
e me desmancho em um orgasmo com ela, que cai sentada no chão
ofegante.
Com minhas mãos em seus cabelos puxo o seu rosto o apertando
contra o meu.
— Vou ser o homem que você quer que eu seja, Ayla, eu não
perderei você.

Ayla Munis

Algumas semanas depois...


Passo a mão pelo colchão procurando pelo meu homem, que
costuma me acordar com beijos, mas ele não está mais na cama me fazendo
soltar um suspiro de tédio. Alejandro me liga incessantemente, cobrando
que eu vá ao México, ver a nossa mãe que recebeu alta do hospital e ficará
recebendo tratamento em casa. Deus e a virgem de Guadalupe sabem o
quanto quero vê-los, mas antes preciso conversar com Marcus sobre o
nosso filho, e arrastá-lo comigo para onde quer que eu vá.
Tomo um banho rápido e percorro os corredores. Comer ainda é
bem difícil e eu estou lutando ao máximo para mostrar que tudo está bem.
Desço as escadas à procura de Marcus, mas os gritos vindos do escritório
me fazem retornar ao andar de cima e paro em frente à porta.
— Júri popular? — Marcus indaga furioso.
— Eu disse que isso poderia acontecer.
— Sim, você me disse que poderia mudar o cenário, também — ele
grita.
— Fale baixo, se não quer que nos escutem — o advogado alerta.
— Eu fiz tudo que você me propôs, me casei, dei banho em
cachorro pulguento, desci para tomar café da manhã todos os dias e voltei a
frequentar a empresa. — Sinto o meu sangue gelar pela forma fria com que
se refere a tudo que estamos vivendo.
— Está tudo indo bem, Marcus, se formos a júri popular temos
chances de absolvição.
— Cacete! — Ouço murros sobre algo que parece ser a mesa.
— Adote uma criança — o homem sugere.
— Pare, já fiz o bastante, eu nem posso e nem sonho mais em ter
filhos.
— A Ayla vai querer ter filhos.
— Ayla tem a mim e isso já basta.
— Não deixe que ela se desvie para outro lado, a presença dela com
você durante o julgamento é muito importante. Resolveu as questões do
envolvimento dela com Joseph?
— Ela está apaixonada, está tudo sob controle. Esmago qualquer um
que cogite tocar nela.
— E sobre o homem das mensagens?
— É outro, que planejo saber a fundo quem, de fato, ele é.
Como assim, saber a fundo? Que merda está acontecendo aqui?
Quem é você, afinal?
— Bom, Marcus, vou ao tribunal, para participar do sorteio dos
nomes que vão compor o júri e até lá siga como combinado, leve a Ayla a
locais públicos, e mostre que você é o marido perfeito.
Marcus fica em silêncio enquanto ouço os passos do advogado em
direção à porta e me escondo em um quarto próximo.
— Ouvindo atrás da porta, senhora? — Sobressalto no lugar
notando a presença de Abigail.
— Isso não é da sua conta. — Viro as costas para sair do quarto.
— Fuja enquanto é tempo, nem imagino o que esse louco vai fazer
quando descobrir a sua gravidez — ela diz e eu arregalo os olhos. Como ela
sabe? — Eu sou mulher, Ayla, estou atenta às suas mudanças. Ao contrário
da senhora Júlia, você ainda pode fugir e criar essa criança em segurança.
Me diga quando quiser ir embora e eu lhe ajudo a escapar.
Capítulo 40

Ayla Munis
Ando apressada retornando para o quarto fechando a porta atrás de
mim, e me arrasto por ela até encontrar o chão onde me encolho abraçando
as minhas pernas.
— O que faço, o que eu faço? — Encolho a cabeça entre as pernas
tentando manter a minha respiração estável. — Foi tudo uma mentira, Ayla,
parte de um plano sujo — afirmo para mim.
“Estou grávida, ele vai me matar” o áudio da Júlia retoma a minha
mente, as palavras de Joseph, os alertas de Tyler.
— Merda, merda, merda! — Levanto-me apressada, sem saber ao
certo o que fazer.
Ouço a porta abrir atrás de mim e tento me recompor.
— Ayla, já tomou café da manhã? — Marcus se aproxima,
envolvendo os braços em volta da minha cintura, apoiando o queixo sobre o
meu ombro.
— Estava terminando de me arrumar para descer. — Forço um
sorriso virando-me para encará-lo.
— Olha só quem está aprontando por aqui. — Ele se abaixa
inclinando o copo para olhar embaixo da cama e puxa Bolinha voltando
com ele em seus braços. — Não temos mais sapatos inteiros aqui para você,
rapazinho. — Eu o observo com um semblante sério, tentando entender o
que ele tem na mente. Vi o tom da voz que ele acabou de usar para se referir
ao cachorro e agora… Eu não sei o que pensar.
— Me dê ele. — Eu me aproximo esticando o braço para pegar
Bolinha de seus braços, mas ele desvia.
— Está com ciúmes? — pergunta com um tom divertido. — É nas
minhas roupas que ele se esconde quando quer dormir, e você está com
ciúmes. Não sabia que a senhora Collins era tão ciumenta assim.
— Você parece preocupado — jogo verde, tentando fazê-lo falar,
buscando explicação, querendo ouvir dele que tudo que escutei não passa
de um mal-entendido.
— Está tudo bem. Essa semana receberemos alguns repórteres aqui,
eles vão fazer uma matéria para revista. Espero que não se importe. Eles
querem conhecer a nossa casa e a nossa rotina. Devemos comprar roupinha
para o Bolinha? — Sinto o meu estômago embrulhar e contenho o vômito.
— Com quem você estava no escritório, eu ouvi gritos. — Quero
saber sendo mais direta dessa vez, e ele estreita os olhos com um semblante
preocupado.
— O que você ouviu exatamente?
— Falaram algo que eu não podia ouvir? — questiono mostrando
que sei mais do que falei até agora.
— Ayla, vamos conversar sobre isso.
— Preciso de espaço, Marcus — Ando em passos largos trancando a
porta do banheiro e me prostro sobre o vaso sanitário incapaz de controlar o
enjoo que volta com mais força e vomito o pouco que tinha comigo ontem à
noite.
O meu telefone vibra em meu bolso e pego-o me sentando no chão
ignorando as batidas na porta.
“Ayla, algo deu errado
Alejandro”
Antes que eu conseguisse digerir a mensagem, o telefone toca.
— Alejandro, o que aconteceu? — pergunto aflita.
— Ayla, a nossa mãe, você precisa vir — pronuncia com urgência.
— Alejandro, por favor, me diga exatamente o que aconteceu. —
Tento manter a calma, mas o desespero em sua voz é nítido.
— Eu não sei, porra, ela se sentiu mal, Ayla, eles não me deixam
entrar no quarto.
Sinto um aperto no peito ao escutar as palavras desesperadas do meu
irmão. Ele parece agitado, quase sem controle.
O medo me consome enquanto minhas mãos tremem, tento me
levantar, mas minhas pernas cedem. O ar parece escasso e um vazio
agonizante toma conta de mim.
— Ayla, Ayla, abre a porta, vamos conversar.
— Preciso ir embora, agora — digo ao abrir a porta.
— Ir embora? — Ele estreita os olhos.
— Agora. Eu preciso ir agora. — Ando como louca pelo quarto sem
saber ao certo o que fazer.
— Ei, espera, vamos conversar, eu não sei o que você ouviu, mas
posso explicar.
— A minha mãe, ela…
— Ayla, fala comigo. — Ele me chacoalha tentando me fazer voltar
a mim. — O que aconteceu com a sua mãe, podemos resolver, certo? Você
senta e se acalma.
— Não, Macus, não podemos resolver, os seus problemas não são
mais importantes que os meus. Preciso ir para o México agora.
— Espera uma hora, vou resolver umas questões e vou com você.
Sento-me na cama, sem dar muita importância para o que ele diz,
apenas traçando os meus próximos passos.
Marcus Collins

Entro no escritório como uma bala, e ligo para Edward, que não me
atende prontamente, o que me deixa muito nervoso.
— Que porra está fazendo, já te liguei seis vezes — grito.
— Estava resolvendo a questão do júri, Marcus.
— Esquece isso por hora, eu preciso sair do país, Ayla precisa ir ao
México — declaro com urgência.
— Você não pode sair do país, ainda mais depois do processo que
Joseph abriu sobre invasão domiciliar, ameaça, agressão…
— Eu sei o que fiz a Joseph, porra, eu preciso sair do país.
— Impossível.
Esmurro a mesa apertando o celular na outra mão.
— Ayla, Ayla… — Saiu da sala aos gritos.
— Ela acabou de sair, parecia nervosa — Peter diz surgindo na sala
do andar de baixo.
— Saiu? Porra! — Corro até o jardim e vejo Borges como o idiota
que é dando de ombros quando me vê surgir na porta. — Inútil do caralho,
você só tem um trabalho, colar na minha esposa quando ela sair e o que
você está fazendo aqui?
— Ela saiu muito rápido, já tinha um táxi esperando, não tive
tempo…
— Você está demitido, agora sai da minha frente.
— Mas senhor… — ele tenta protestar, mas ignoro.
Pego o carro e dirijo com as mãos tremendo ao volante, em alta
velocidade em direção ao aeroporto, o coração bate descompassado no meu
peito. A sensação de desespero toma conta de mim, enlouqueço com a
possibilidade de perder Ayla. Ligo incessantemente para o seu celular,
implorando para que ela atenda.
Quando enfim chego ao aeroporto e estaciono o carro em uma vaga
qualquer, salto para fora e corro desesperadamente pelos corredores,
empurrando as pessoas no meu caminho, implorando para que elas abram
espaço.
Percorro cada sala de embarque, cada corredor, cada loja, mas ela
parece ter desaparecido no ar, contudo, continuo procurando na esperança
de encontrar aqueles olhos brilhantes que tanto amo. O desespero me faz
chorar, lágrimas de angústia e impotência escorrem pelo meu rosto. O suor
frio escorre pela minha testa enquanto minha respiração se torna curta e
rápida.
— Marcus. — Escuto o meu nome atrás de mim.
— Procure os voos para o México, Edward. Encontre a Ayla —
ordeno segurando a gola da sua camisa tentando descarregar a minha fúria.
— Marcus, se acalme, ela não vai ser engolida pela terra.
— Você não entende — começo a falar. — Tinha algo errado no tom
da sua voz, e ela me olhou como se eu fosse uma incógnita que ele desejava
desvendar. Ela nos ouviu hoje pela manhã e eu não sei exatamente o que ela
entendeu.
— Você está colocando coisas na cabeça, vamos voltar, eu tentarei
conseguir autorização para você sair do país.
— Ela ainda não saiu dos Estados Unidos, vamos até o apartamento
da Fernanda.
Capítulo 41

Ayla Munis

— Ayla, bebe água e me explica o que aconteceu exatamente —


Fernanda pergunta, sentando-se no imenso sofá branco que fica no centro
da sala de Tyler.
— Preciso voar até o México, algo aconteceu com a minha mãe.
— Saem voos a cada uma hora, não entendo o motivo do alvoroço
— Tyler fala com um tom de deboche —, mas animais não são permitidos.
— Ele dá de ombros apontando para Bolinha que está nos meus braços.
— Posso ficar com ele, até você retornar. — Fernanda olha com
reprovação para o homem sentado ao seu lado.
— Marcus deve ter ido ao aeroporto à minha procura, devo esperar
as coisas se acalmarem ou ele tentará me impedir de ir.
— Marcus não sabe da sua ida? — Ele inclina o corpo em minha
direção apoiando os cotovelos sobre os joelhos.
— Ele sabe, só não concorda, e eu não quero ir com ele, preciso de
ar. — Ele gargalha pondo-se de pé.
— Você não conseguirá pegar o voo se ele está à sua procura.
— Ele não pode me impedir — falo entredentes.
— Se esse fosse o caso, você teria ido diretamente ao aeroporto e
não teria vindo pedir ajuda. Hoje é o seu dia de sorte, Ayla. — Ele pega o
telefone que está sobre a mesa de centro e o põe no ouvido após discar uns
números. — Preparem o jatinho, quero ele pronto para viajar ao México em
menos de uma hora. — Encerra a ligação com um sorriso convencido. —
Agora, é só aguardar.
— Não aja como se fosse uma pessoa de bom coração pronto a me
fazer um favor. — Reviro os olhos para tanta hipocrisia. Um quer a
desgraça do outro e esse é o único motivo da bondade súbita. — Fê, não
diga o meu endereço a ninguém, vou desembarcar em um aeroporto da
cidade ao lado e pego um ônibus até a minha casa — sussurro em seu
ouvido.
— Não direi nem sob tortura, amiga, pode ficar tranquila.
Eu não tenho tempo suficiente para explicar tudo que aconteceu a
Fernanda, mas terei tempo para fazê-lo depois que eu estiver em minha
cidade e souber notícias da minha mãe.
Conforme prometido, em poucos minutos Tyler volta com as chaves
do carro nas mãos.
— Vamos, Ayla, vou te levar até o aeroporto para você embarcar, o
comandante já está nos esperando.
Sinto meu coração apertado ao me despedir de Fernanda, as
lágrimas escorrendo incansavelmente. Não faço ideia se retornarei a Seattle.
Por mais incerto que seja meu relacionamento com Marcus, escondido lá no
fundo, existe essa pequena esperança de que tudo tenha sido um grande
mal-entendido. Quero acreditar que ele aparecerá de repente, correndo em
minha direção no México, declarando seu amor. Sei o quão tolo isso parece,
ansiar por algo assim, especialmente quando estou partindo sem nem deixar
meu endereço.

O avião pousa no México, e eu aspiro o ar com nostalgia assim que


desço da aeronave.
— Senhora, Tyler deixou um carro disponível para levá-la até a sua
residência — diz o comandante.
— Não é necessário, a minha casa fica a algumas quadras daqui.
— Sendo assim, melhor, deixo a senhora lá e retorno em poucos
minutos — insiste quase me empurrando para dentro do veículo.
Vou em silêncio indicando um trajeto qualquer e paro em uma casa
simples qualquer no meio de um povoado que condiz com a casa.
— É aqui, muito obrigada pela gentileza.
— Por nada, senhora, tenha um bom dia — responde educadamente,
dando partida no carro assim que desço do veículo.
Caminho até a praça local, assim que vejo o carro sumir entre as
ruas pouco movimentadas, de lá tomo um táxi até a rodoviária e em menos
de duas horas estou em Guadalajara.
Ainda no aeroporto tomei a decisão de desligar o aparelho
telefônico, sabendo que só voltarei a ligá-lo quando estiver plenamente
pronta para enfrentar tudo novamente e entrar em contato com Marcus.
Afinal temos um vínculo eterno que não pode permanecer em segredo para
sempre.
Pego um táxi e vou direto para o hospital San Javier onde a minha
mãe tem se tratado, sigo o caminho com aflição, ansiosa para cruzar as
portas do local e poder vê-la.
O táxi para em frente ao hospital e eu desço. Sinto um nó na
garganta e minhas mãos tremem levemente. Respiro fundo, tentando
acalmar meus nervos e me recompor antes de me dirigir à recepção.
— Boa tarde, estou procurando minha mãe, Estelita Munis. Ela está
internada aqui, quem devo procurar? — Minha voz sai um pouco trêmula.
A atendente sorri gentilmente e verifica as informações em seu
computador.
— Sim, a senhora Estelita Munis está internada no quarto 307, você
pode subir direto.
Agradeço com um sorriso tímido e caminho apressada pelos
corredores do hospital. O ar parece mais pesado à medida que me aproximo
do quarto.
Finalmente, chego ao quarto 307 e vejo a porta entreaberta. Respiro
fundo mais uma vez e, lentamente, empurro a porta com cuidado. Lá
dentro, vejo minha mãe deitada na cama, pálida e frágil, e Alejandro
sentado ao lado dela dormindo.
— Ayla? — fala surpreso vindo até mim e me abraçando apertado.
— Você quer que eu morra, moleque? — pergunto caindo em
lágrimas.
— Eu estava assustado, eu achei que…
— Para, não fala mais nada. Estou aqui, ficarei aqui — digo o
impedindo de continuar o que iria dizer. — Como ela está?
— Minha Ayla — o meu corpo paralisa quando ouço a voz dela.
Ela abre os braços e eu me aproximo para um abraço fraco. Sinto a
fragilidade do seu corpo. Choro em seu ombro, deixando as lágrimas
molharem sua camisola.
— Achei que tinha me esquecido — diz baixinho.
— Eu não consegui vir antes, mas estou aqui agora. Não posso mais
ficar longe da senhora.
— Eu sei, meu amor. Eu senti sua presença todos os dias. Mesmo de
longe, você esteve sempre comigo.
Capítulo 42

Marcus Collins
Estou com o carro estacionado em frente ao prédio da Fernanda há
mais de quatro horas. Em algum momento ela retornará para casa ou sairá
se ela estiver se escondendo dentro dele.
— Marcus, já chega, vamos embora — Edward diz com a voz
impaciente.
— Ninguém está te segurando aqui, vá embora e me deixe em paz
— resmunguei com o olhar inexpressivo fixo na entrada do prédio.
— E deixa que você cometa uma loucura? Está cada dia mais difícil
te defender.
— Você é muito bem pago para isso, então pare de choramingar.
Arrumo a postura, vendo um táxi se aproximar do prédio e
estacionar. A garota magra e de cabelos compridos sai do carro segurando o
meu cachorro nos braços, espero mais uns segundos, porém, é apenas ela.
— Ela esteve com Ayla — afirmo saindo do carro.
— Você deixou homens no aeroporto e eles não viram a Ayla, ela
ainda deve estar no país.
Ignoro a voz irritante de Edward que fica me atormentando como se
fosse capaz de tirar da minha cabeça qualquer coisa que eu queira fazer.
— Onde está a Ayla? — Quero saber, me aproximando da garota
que interrompe os passos e se vira lentamente em minha direção.
— Ela não está mais no país, achei que vocês tinham conversado
— diz naturalmente como uma bela fingida.
— Me diga onde é a casa dos pais dela no México — meu tom sai
como uma ordem e ela estreita os olhos, mudando a expressão para um
sorriso de deboche.
— Se você que é o marido dela não sabe onde ela tem residência no
México, como acredita que eu sei? — Aperto os punhos tentando me
controlar enquanto ela sorri com ironia.
— Certo, Fernanda, já entendi que não está disposta a me ajudar.
— Aproximo-me dela que recua alguns passos. — Quero apenas o nosso
cachorro. — Estico os braços para pegar Bolinha que balança o rabo para
mim.
— Ayla me pediu para cuidar dele. — Ela aperta o animal em seus
braços.
— Quando Ayla ligar, informe que tudo está da forma que ela
deixou, a casa dela, o marido dela e o cachorro que ela adotou. Estão todos
no devido lugar aguardando o seu retorno. — Pego Bolinha dos seus
braços e retorno para o carro, enfurecido.
Edward abre a porta do carona, mas o impeço de entrar.
— Vá fazer o seu trabalho. Me arrume uma autorização para deixar
o país — falo impedindo-o de entrar.

Peço que homens sejam enviados por todo o México, em cada


estado, cidade, bairro e rua. Não descansarei até obter informações sobre o
paradeiro de Ayla.
— Entendido, senhor. Faremos o possível para obter notícias em
breve.
— Arrumem suas malas, quero novidades ainda hoje — diz o chefe
de segurança saindo do meu escritório.
— Trouxe algo para comer. — Peter entra com uma bandeja nas
mãos.
— Não sinto fome. — Jogo-me na minha poltrona, ligando-a para
fazer massagem nas minhas costas que doem.
— Ayla vai retornar em breve, não entendo o motivo de tanto
alvoroço — afirma tentando me passar tranquilidade.
— Ayla foi embora como uma fugitiva, ela não deixou endereço, o
telefone está indisponível e ela ainda planejou levar o nosso cachorro.
— Algo de grave aconteceu com a mãe, eu a ouvi repetir isso
enquanto andava na sala de um lado para o outro à espera de um táxi.
— Você é o culpado dela ter ido. Deveria ter subido e me avisado.
— Perdão, senhor, mas a menina não estava sendo mantida contra a
vontade nesta casa, ela foi apenas acudir a mãe e o irmão que estão
precisando dela.
Levanto os olhos encarando-o.
— O que sabe sobre isso?
— O mesmo que o senhor como marido deve saber, que a mãe sofre
de mal de Parkinson e que o irmão estava providenciando todo o tratamento
enquanto ela estava aqui trabalhando para enviar dinheiro para o
tratamento.
— Saia, Peter. Me deixe sozinho — ordeno, tamborilando com os
dedos sobre a mesa.
Envio uma mensagem para o chefe dos seguranças, informando que
eles devem concentrar as buscas em hospitais especializados na tal doença.
Ayla Munis
Alguns dias se passaram, e eu me concentro na minha mãe, que
voltou para casa e recebe tratamentos com medicamento e fisioterapia.
— Ayla, quando vamos poder ter uma vida normal, ir à rua
tranquilamente e voltar a trabalhar? — Alejandro pergunta sentando-se à
mesa onde eu me forço a comer.
— Não sei ainda o que fazer, temos dinheiro por um bom tempo, eu
vendi as joias que o meu marido me deu.
— Marido? — Ele ri com deboche.
— Sim, sou legalmente casada, Alejandro, como quer que eu o
chame?
— Você planeja voltar?
— Você precisa saber de algo. — Inclino-me na mesa. — Estou
grávida — sussurro para que a minha mãe que faz exercícios na outra sala
não ouça.
— Gráv… — Levanto tampando a boca dele que grita. — Por que
eu nunca te vejo falar com ele? Você até desligou o celular, alugou uma
casa nesse fim de mundo, nos mantém presos aqui. Você tem medo dele?
— Isso é um problema meu.
Ele tira o celular do bolso e o arrasta pela mesa.
— Não será que é por causa disso? — Solto o ar com força vendo as
notícias sobre a audiência de Marcus.
— Onde encontrou isso?
— Quando você me disse o nome dele, comecei a fazer buscas sobre
notícias. Ele é perigoso — afirma. — Esqueça esse homem — conclui
levantando-se da mesa após pegar algumas torradas.
Vou até o computador do quarto e pesquiso pelas notícias. Marcus
será jugado em poucos dias.
“O senhor Collins enfrentará em alguns dias um julgamento
significativo, acusado de causar a morte de sua esposa anterior, ele será
submetido a júri popular. A situação se tornou ainda pior com a saída do
país de sua atual esposa, deixando-o mais vulnerável perante a opinião
pública e o sistema judiciário. A ausência de seu apoio emocional pode
minar sua defesa e impactar o olhar do júri sobre ele. Enquanto isso, os
promotores estão determinados a provar sua culpa e trazer justiça para as
famílias envolvidas. O desfecho desse julgamento sombrio terá
consequências duradouras para a cidade, já que estamos falando de um
julgamento que envolve famílias com grande importância econômica para
o país.”
Cada linha que leio é como uma afirmação de que fui usada para
que ele mostrasse a todos outro lado e as lágrimas escorrem pelo meu rosto,
lembrando-me de tudo que vivi ao lado dele acreditando ser real.
Capítulo 43

Marcus Collins
Eu me encontro isolado no meu quarto, com as cortinas
completamente fechadas, impedindo que qualquer vestígio de claridade
penetre. A ausência de ruídos é extremamente opressora, porém, em alguns
instantes, é interrompida pelo suave ronronar de Bolinha, que se tornou o
meu fiel companheiro. Ele é o único resquício que tenho de tudo que vivi
com Ayla.
Ouço batidas na porta e levanto-me sem vontade.
— Quem é? — grito.
— Chegou uma caixa para o senhor — diz a empregada do outro
lado da porta.
— Deixe no chão e saia. — Ouço os passos dela se afastando e abro
para pegar o objeto encostado na parede do meu quarto.
Abro as janelas sentindo o incômodo da luz atingir os meus olhos.
Jogo o conteúdo da caixa sobre a mesa e meus joelhos tremem com o
conteúdo.
“Caro Collins, quão bela é a sua esposa, claro que não chega aos
pés da Júlia, que era uma dama. Mas eu costumava apreciar a encantadora
Ayla nos eventos, e penso em como seria tê-la em minha cama, assim como
tive a Júlia por tantos anos. Alguns podem dizer que é uma obsessão, mas
costumo dizer que você tem um bom gosto para mulheres. Acompanho a
passagem da sua linda esposa no México, ela pouco sai de casa, o que é
uma lástima. Bom, mas vamos ao que interessa, que tal dizer no tribunal
como sabotou o próprio carro para que a sua bela esposa morresse? Ela
gostava de sexo selvagem, então apenas diga que as marcas em suas
pernas foram consequências de uma noite quente de puro tesão. Sim, nós
brincamos desse tipo de coisa. Mas o que é mais interessante é que você a
matou porque ela estava grávida de outro homem. No caso, eu! Pense com
carinho a respeito, e garanto que a sua bela esposa ficará bem onde está”
Arrasto as fotos pela mesa, todas elas mostram Ayla em diversos
eventos, momentos nos quais ela ficou sozinha por alguns minutos, mas
dentre essas está Ayla, em um lugar que não reconheço.
— Ninguém ameaça a minha mulher, seu filho da puta. — Esmurro
a mesa.
No mesmo instante ligo para o chefe dos seguranças que atende
prontamente.
— Sim, senhor? — pergunta do outro lado da linha
— Seus incompetentes do caralho, como vocês ainda não acharam
a Ayla?
— O México é grande, senhor, estamos procurando sem muitas
pistas.
Solto o ar com força dos pulmões desligando o telefone. Eu mesmo
estaria procurando e já teria encontrado se eu não estivesse preso no país.
— Sim! Por que não pensei naquele filho da puta antes? — eu me
pergunto discando para um delinquente de quinta.
— Ora, ora, ora. Comandante? — ele debocha atendendo.
— Maxwell, preciso dos seus serviços. — Ele gargalha do outro
lado da linha.
— Meus serviços? — pergunta com deboche.
— Quero que encontre alguém, no México.
— Ah, que pena não posso viajar agora. — Zomba. — Mande seus
soldadinhos fazerem o serviço. Passar bem, senhor Collins.
— Os meus funcionários são treinados para proteger, e eu preciso de
alguém que seja treinado para matar sem sentir remorso depois.
— Matar? — Sua voz soa interessada.
— Ache a minha esposa no México e mate quem tentar machucá-la.
Eu mesmo faria se pudesse sair do país.
— Esposa. — Torna a gargalhar. — Ela deve estar fodendo com
outro, parte para outra.
— Maxwell! — grito.
— Tenho alguns dias livre, ficará me devendo um belo favor. Devo
arrastá-la de volta até a América?
— Me passe o endereço e mate quem ousar tocá-la.
Ouço uma risada contida.
— Pelo menos nisso combinamos, comandante, somos possessivos
com o que nos pertence. Mande fotos e tudo que sabe sobre a sua esposa,
em breve terá o que me pediu.

Estou na galeria de arte. Cristina, esposa de Joseph, passava horas


aqui, era como sua segunda casa. É possível vê-la em suas esculturas
marcada por texturas fortes, e alguns até com traços sóbrios.
— Por que me chamou até aqui? — A voz de Joseph me tira de uma
enxurrada de pensamentos nostálgicos.
— Eu sei que evita esse lugar, mas ainda não se desfez do Ateliê de
Cristina.
— Não pronuncie o nome dela com a sua boca suja — esbraveja.
— Enfim, vamos ao que interessa. — Jogo a caixa sobre uma das
várias mesas distribuídas no local.
— O que é isso? — Estreita os olhos analisando.
— Isso foi enviado pela pessoa que matou a Júlia e a Cristina por
tabela.
Ele força um sorriso, passando a mão pelo rosto.
— Está desesperado, Marcus?
— Não, inclusive depois de muito olhar o conteúdo da caixa,
considero assumir a culpa pela morte das duas se eu não descobrir quem é o
filho da puta que me mandou as ameaças.
Ele me olha com desconfiança tirando as mãos que pousavam em
sua cintura e abre a caixa.
— São fotos da Ayla — diz com um ar de riso.
— Leia a carta. — Entrego o pedaço de papel em suas mãos.
Ele se senta abrindo a folha escrita com letra de forma.
— Mas que merda é essa?
— A pergunta é o que o fez tomar essa atitude mesmo sabendo que
no final das contas eu sairia lesado na história?
— Fechar o caso com você preso, é óbvio. Talvez não seja só você
que vive dias de cão. Enquanto você estiver procurando o culpado, a pessoa
que realmente fez não ficará em paz.
— Isso quer dizer que acredita em mim?
— Estou só respondendo à pergunta para a sua teoria.
— A Júlia passava horas com a Cristina nesse ateliê, deve existir
algo que você não notou.
— Não tem nada lá. Vasculhei cada centímetro.
— Joseph, eu sei que na sua mente você quer justiça rápida, mas eu
também quero, não só pelo inferno em que estou vivendo, mas para ter a
Ayla de volta.
— Vá em frente, procure o que quiser naquele ateliê. Mas não pense
que somos amigos, isso é apenas uma trégua para você tentar me provar que
estive errado todo esse tempo.
Capítulo 44

Ayla Munis
Encaro o celular em minhas mãos apertando entre os dedos. “Será
que ele tentou me ligar?” “Será que ele está comendo bem?”
É impossível viver sem pensar em como seria se eu não tivesse me
escondido, se ele teria vindo.
— Ayla, estamos precisando comprar algumas coisas no mercado —
diz Alejandro encarando a geladeira aberta.
— Podemos ir agora, ainda é cedo e tem poucas filas — respondo.
— Acho lindo ver os meus dois filhos unidos e sem brigar. Vocês
costumavam se atracar quando criança. — O tom de voz da minha mãe me
deixa ainda mais nostálgica, talvez sejam os hormônios da gravidez.
— Ainda brigamos, mamãe, só que agora eu não puxo mais os
cabelos dela, mas acho que ela sente falta dos meus puxões de cabelo.
— Se atreva que eu corto a sua mão fora, seu atrevido — respondo
com um tom divertido e todos caímos na gargalhada.
É bom estar com eles novamente, mesmo que meu coração sangre
de saudades daquele ogro sem sentimentos.
— Então, quando vai parar de fugir e vai me apresentar o seu
marido? — Alejandro pergunta enquanto caminhamos até o mercado.
— Eu não sei, quando eu estiver pronta.
— Sei, no dia que o tribunal disser que ele é inocente. Você tem
medo dele?
Paro alguns segundos processando a pergunta.
— Tudo em mim diz que ele é inocente. Quero acreditar nele, até
pelo nosso filho, quero contar que ele será pai.
— Então entra em contato com ele e resolve logo isso, para a nossa
vida voltar ao normal.
Entramos no mercado e Alejandro percorre os corredores enchendo
o carrinho.
— Alejandro, vou precisar usar o banheiro, escolha tudo que retorno
daqui a alguns minutos.
Ele assente com a cabeça e eu vou em direção à saída já que o
banheiro fica na entrada próximo ao estacionamento.
— Não faz nenhum movimento, passa a bolsa. — Sobressalto
sentindo uma mão me puxar e em poucos segundos estou encarando uma
arma apontada para mim.
A voz ríspida e ameaçadora ecoa novamente, me obrigando a agir
rapidamente.
— Por favor, não me machuque — digo com a voz trêmula.
Com um movimento rápido, ele estende a mão e agarra a alça de
minha bolsa, tentando arrancá-la do aperto que dou, segurando-a com força
contra o meu corpo.
Vejo alguns clientes percebendo o que está acontecendo e um deles
grita:
— É um assalto!
— Vadia do caralho! — Ele puxa a alça com mais força me
lançando contra o chão, sinto a minha cabeça se chocar contra algo e a
minha vista escurece à medida que vejo as pessoas se aproximando.
Abro os olhos com dificuldade, a minha cabeça lateja e a minha
vista demora a ir se acostumando, ficando nítida lentamente.
— Não sabia que a esposa do comandante era tão jovem. — Viro o
rosto para o lado, com os olhos arregalados.
— Quem é você? — pergunto ao homem alto com as partes do
corpo à mostra repleto de tatuagens, sentado me olhando como se eu fosse
alguma espécie de animal em extinção. — Onde está o meu irmão?
— Não sou pago para responder perguntas. Mas tenho uma, você é
louca de reagir a um assalto?
— Sai daqui! — tento gritar mais minha cabeça doí.
— Até o seu irmão voltar da cafeteria temos trinta minutos,
considerando que ele vai derramar café na camisa e uma enfermeira,
digamos que muito bem apessoada, vai ajudá-lo a se trocar, com aquela
máquina de mulher não dou mais de meia hora para ele. Mas enfim, vamos
ao que interessa.
— Quem te mandou aqui?
— O seu marido está preocupado com você, Ayla, a única ordem
que ele me deu foi que não permitisse que ninguém machucasse você.
Falhei, mas eu ainda não havia te encontrado, então, tecnicamente, a culpa
foi do infeliz destino que fez com que eu encontrasse você tarde demais.
— Ele mandou você me procurar? — pergunto curiosa.
Ele tira um maço de cigarro do bolso e ensaia acendê-lo quando a
porta se abre.
— Senhor, não pode fumar aqui dentro — diz a enfermeira com um
tom repressor.
— Tudo bem, vou até o terraço e volto em alguns minutos. — Ele
olha o relógio, e sorri com malicioso. — Tenho certeza de que o seu irmão
está na segunda rodada.
— Do que você está falando?
— Até breve, Ayla. — Ele mostra um sorriso sacana enquanto cruza
a porta.
Retomo a minha atenção para a enfermeira.
— Como está o meu filho? — pergunto ansiosa.
— O bebê está bem, não se preocupe. Você ficará em observação
por uns dois dias, o médico ainda não definiu ao certo.
— Obrigada. — Sorrio de forma simpática.
— Administrarei remédio para dor, a pancada foi feia — ela diz e eu
concordo com a cabeça.
Em alguns minutos Alejandro retorna arrumando os cabelos, e com
um sorriso cínico.
— Onde você estava?
— Fui tomar um café e por que está tão alterada?
— Marcus me encontrou.
— E daí, ele nem pode sair do país — ele afirma com tranquilidade.
— Não pode? — Franzo o cenho.
— Ayla, vai dizer que não sabia? O homem está sendo processado
pela morte de alguém, é óbvio que ele não pode sair do país. — Ele se joga
na poltrona com um ar relaxado colocando os pés no puff na sua frente
enquanto a minha mente agitada vagueia por tudo que está acontecendo.

Marcus Collins

O meu telefone toca sobre a mesa, eu mantinha meus olhos fixos


nele ansioso por essa ligação, então atendo antes do segundo toque.
— Estava com o telefone na mão, comandante? — ele zomba.
— Me diga quais são as notícias — pergunto ansioso ignorando o
seu péssimo hábito de fazer piadas.
— Bom, você não me disse que seria papai.
— Do que está falando?
— Encontrei a sua esposa desacordada em um hospital, e ela está
grávida de poucos meses. Estou te enviando o endereço e algumas fotos.
Deixo o telefone cair no chão tentando processar a informação.
Capítulo 45

Marcus Collins
Em poucos segundos o celular vibra no chão, e várias fotos chegam
por mensagem
“Só poderei ficar aqui poucos dias, então arrume um jeito de vir
cuidar da sua mulher.
Maxwell Miller”
Tento controlar a respiração acelerada, mas tudo só piora. A minha
vista escurece e os meus joelhos tremem.
Disco o número de Edward e ele atende prontamente.
— Preciso sair do país agora — falo com urgência antes que ele
consiga pronunciar qualquer palavra.
— Não dá, Marcus, sinto muito.
— Irei de qualquer forma.
— Isso será considerado uma fuga e você assumirá a culpa. Tenha
calma, só mais um pouco de paciência.
— Você não entende. Ayla está grávida.
Ele fica um tempo em silêncio, tão chocado quanto fiquei ao receber
a notícia.
— Quem é o pai?
— Acredito que vou precisar fazer essa pergunta pessoalmente.
Ayla Munis
— Ele já foi embora? — pergunto com o olhar fixo na porta, mas
em segundos o cheiro forte de cigarro invade o quarto antes mesmo que ela
se abra.
— Perguntando por mim? — questiona com um ar convencido e
debochado.
— E quem é você? — Alejandro se ergue da poltrona de peito
estufado.
— Maxwell Miller. — Ele estende a mão e Alejandro mantém a dele
no bolso ainda com os olhos estreitos. — Só estou fazendo um favor para
um velho inimigo. — Recolhe a mão e a leva ao bolso também.
— Vai ficar de babá da minha irmã? — Alejandro zomba.
— Pois é, garoto, tem coisas que só fazemos pelos nossos piores
inimigos, e essa é uma das coisas.
— Alejandro, vá cuidar da nossa mãe, eu ficarei bem. — Ele vira a
cabeça para me encarar me olhando como se eu tivesse dito uma loucura.
— De jeito nenhum — murmura com os braços cruzados nos
peitos.
— A nossa mãe não pode ficar sozinha, vá e tranquilize ela.
— Você tem certeza? — Quer saber, olhando para o homem que
parece alheio a nossa conversa, jogado no sofá.
— Sim, eu tenho.
Alejandro vem até a cama e beija a minha testa.
— Fique com o telefone na mão, e me ligue se precisar de algo —
sussurra.
Espero Alejandro cruzar a porta e coço a garganta chamando a
atenção do cara que se acha o rei da cocada.
— Você contou a ele sobre a gravidez? — pergunto com esperanças
de que ele não tenha dito.
— Eu não sabia que você queria fazer uma surpresa.
— Você pode me levar até Seattle?
— Claro que posso. Faremos isso assim que ganhar alta.
Sorrio para ele, agradecida, mas bem preocupada em como Marcus
recebeu a notícia da gravidez.

Marcus Collins

Três dias depois...

— Você tem certeza que pedir para adiantarem essa audiência foi
uma boa ideia, Marcus? — Edward pergunta pela milésima vez ao meu lado
no carro a caminho do julgamento.
— Sim, e conto com a sua competência para me livrar dessa merda,
preciso ir ver a Ayla.
— Toda essa pressa para poder ir vê-la?
— Só não fugi porque você me conteve.
O carro finalmente estaciona em frente ao imenso fórum, onde uma
multidão de fotógrafos e repórteres aguarda ansiosamente. Mais uma vez,
as opiniões se dividem entre as pessoas que seguram cartazes, como se toda
a situação tivesse alguma relevância na porra da vida delas.
— Pronto? — questiona Edward.
— Eu já nasci pronto — respondo, abrindo a porta e sendo
imediatamente cercado pelos repórteres sedentos por respostas. Meus
seguranças formam um círculo protetor ao meu redor, impedindo-os de se
aproximarem ainda mais.
— O que espera do resultado de hoje, senhor Collins?
— A senhora Collins não virá à audiência que é tão importante?
— Vocês estão separados?
— O senhor Collins se pronunciará somente após o fim da audiência
— intervém Edward, enquanto cruzamos a porta de entrada.
Respiro fundo, mantendo minha postura, sabendo que cada olhar,
cada palavra dita e até mesmo meu silêncio serão julgados. Tudo o que
posso fazer nesse momento é confiar na justiça e na capacidade do sistema
de separar a verdade da mera especulação.
Aqui estou novamente, sentado entre Edward e seus auxiliares,
enquanto Tyler ocupa o lugar oposto, ao lado de Joseph. Ambos parecem
tranquilos e confiantes, ao passo que eu sinto um medo enorme de ser
condenado injustamente e não ter a chance de ouvir pessoalmente as
respostas que preciso de Ayla.
— Bom dia a todos. Sou Thomas e serei o juiz responsável por este
caso envolvendo os Collins e os Carter. Daremos início aos procedimentos
desta vara para lidar com este caso. O advogado de acusação tem a palavra.
— Obrigado. Para iniciar este julgamento, gostaria de chamar a
primeira testemunha, a senhora, Ayla Collins.
— Ah, Ayla! — O meu coração para no mesmo instante, vendo-a
entrar com um leve inchaço em sua barriga já aparente. Ela caminha
graciosamente em direção à cadeira onde vai depor, sem sequer me dirigir
um olhar. Cada parte de mim congela diante de sua presença.
— Marcus, sente-se bem? — Edward questiona me vendo afrouxar
a gravata.
— Não, peça uma pausa, eu preciso de ar.
— Meritíssimo, o meu cliente não está se sentindo bem, peço uma
pausa
— Concedido, voltamos em quinze minutos.
Levanto-me da cadeira tão rápido que sinto uma leve tontura.
— Marcus, se acalma — pede Edward em meu encalço.
— Como posso ter calma? Ela está com eles esse tempo todo — falo
arrancando a gravata que me sufoca.
— Vem, entra na sala, toma uma água, e vamos ver o que ela dirá.
— Onde ela está? Preciso falar com ela, ela tem que me explicar, eu
preciso ouvir dela, porra. — Esmurro a mesa à minha frente e sinto a mão
de Edward sobre o meu ombro.
— Eu não sei o que falar, se ela quiser nos foder, ela vai.
— Aquele filho da puta do Maxwell disse estar de olhos nela, mas
ela está aqui e aquele desgraçado não me disse nada. Isso que dá confiar em
bandido de merda.
— Senhor, o juiz retomará a audiência em três minutos — diz um
dos assistentes de Edward.
— Coloque a gravata, se recomponha, já estou trabalhando a sua
defesa em minha mente considerando o que ela disser.
— Todos podem me trair, Edward, menos ela. Acho que ela ainda
não entendeu, ela não tem outra alternativa a não ser ficar comigo, eu nunca
a deixarei ir.
Capítulo 46

Ayla Munis

O meu pé bate no chão impaciente, e nem toda a água que me


oferecem pode me acalmar.
— Ayla, vamos, o juiz já vai retornar — chama Tyler da porta.
Busco forças em meus joelhos para me pôr de pé. Eu nunca estive
em um tribunal antes, e estou apavorada de não conseguir dizer tudo que eu
quero.
— Pronta? — Joseph pergunta me encontrando no corredor.
Respiro fundo e confirmo com a cabeça.
— Por favor, todos se levantem. Vamos dar início à audiência.
Senhora Collins, por favor, se aproxime e fique ao meu lado — inicia o
Juiz.
Eu me levanto, caminho em direção ao juiz, posiciono-me ao lado
dele e aguardo as instruções. Marcus está de cabeça baixa, a respiração
ofegante, indo contra o seu estado normal de autocontrole. Ele está falhando
em manter a postura indiferente de sempre.
— Senhora Collins, você entende a importância de prestar um
depoimento verídico perante este tribunal?
— Sim, Excelência. Estou plenamente ciente da importância de ser
honesta e verdadeira em meu depoimento — respondo e minha voz sai mais
baixa do que eu gostaria.
— Ótimo. Antes de prosseguirmos, peço que coloque sua mão
direita sobre a Bíblia ou faça o gesto que lhe for significativo, e repita
depois de mim o juramento.
Coloco minha mão direita sobre a Bíblia.
— Juro dizer a verdade, somente a verdade, em relação aos fatos
deste caso. Prometo ser honesta e imparcial, respeitando as leis e direitos
que regem esta audiência — diz o Juiz e eu repito as suas palavras.
O juiz assente com a cabeça, satisfeito com meu juramento.
— Muito bem, senhora Collins. Seu depoimento será essencial para
o desenrolar desta audiência. Por favor, retorne ao seu assento para prestar
seu testemunho. O advogado de acusação tem a palavra.
Um dos advogados do escritório de Joseph se põe de pé, parando
entre mim e o júri.
— Senhora Collins, poderia descrever a sua relação com o réu,
Marcus Collins, nos últimos meses? — pergunta com os braços levemente
dobrados para a frente.
— Quando cheguei à mansão, comecei a trabalhar na arrumação do
local e a nossa relação era estritamente profissional, mas ao longo do
tempo, começamos a nos conhecer melhor e a desenvolver uma amizade.
Marcus sempre foi gentil, atencioso e prestativo. Foi impossível não me
apaixonar por ele. — Mordo o lábio contendo um sorriso bobo só de
lembrar dos nossos dias. — Eu não consigo acreditar que Marcus seja
capaz de tirar a vida de alguém, muito menos de cometer um ato tão frio e
cruel como provocar a morte da pessoa com quem ele dividia a vida. Estou
aqui hoje para defender a sua inocência, pois tenho certeza de que ele é
totalmente inocente. — Ele ergue a cabeça e os meus olhos encontram os
dele que estão surpresos.
— Existe algo que queira acrescentar ou esclarecer sobre o
relacionamento entre o senhor Collins e a vítima? — o advogado auxiliar
continua.
— Não tenho muitos detalhes sobre como era o relacionamento dele
com a Júlia Carter. — Paro, lembrando-me do quanto esse assunto é
desconcertante para ele. — Apesar de não ter muitos detalhes sobre o
relacionamento deles, eu não consigo imaginar o meu marido sendo capaz
de machucar a Júlia de propósito.
— Apenas isso, meritíssimo.
— O advogado de defesa quer perguntar algo? — o juiz pergunta.
— A resposta da senhora Collins foi satisfatória.
— Então seguiremos para a próxima testemunha. Obrigada, senhora
Collins, pode retornar ao seu lugar.
Passo ao lado de Marcus e mais uma vez os nossos olhos se
encontram. Controlo a minha vontade de abraçá-lo e dizer o quanto eu senti
saudades.

Marcus Collins

O cheiro de Ayla invade as minhas narinas, me lembrando a


dependência que sinto por ela, é como se a minha vida dependesse disso
para que eu permaneça vivo e em paz.
— Senhor Joseph, caminhe até a cadeira para prestar o seu
depoimento. — A voz do juiz me tirou do meu transe e vi Joseph andar em
câmera lenta até a cadeira, o meu cérebro para de funcionar por alguns
minutos enquanto ele faz o juramento.
Ele se senta no acento das testemunhas com o que parece um livro
velho em suas mãos. Os meus músculos enrijecem e sinto a mão de Edward
sobre o meu ombro.
— Vamos ver o que ele tem a falar — sussurra.
O Juiz dá voz ao auxiliar de Joseph.
— Senhor Joseph, em algum momento a Cristina, sua esposa
comentou sobre a relação de Marcus Collins com a Senhora Júlia Collins?
— Cristina não precisava dizer nada, sempre foi nítido o sentimento
de posse do senhor Collins com a falecida esposa, e nós que convivíamos
com eles sempre ficamos atentos a isso. Júlia surgia com marcas roxas pelo
corpo, começou a demonstrar nervosismo acima do normal, e coisas
mínimas a assustavam.
— O que é isso em suas mãos? — o seu assistente pergunta.
— Um diário, que mantive em minha mesa de apoio por muito
tempo. Era da Cristina, e lê-lo ainda é doloroso, mas há alguns dias
encontrei com Marcus, e ele me apresentou uma carta onde ele sofre
ameaças por parte de alguém, acredito que ela já esteja anexada ao
processo. Fiquei em dúvida pela primeira vez. O meu objetivo é que o
verdadeiro culpado pague pelo que fez, e isso indefere da minha opinião em
relação ao relacionamento do casal. Eu gostaria de ler um trecho das
últimas folhas que a minha esposa escreveu em seu diário.
O juiz assente com a cabeça e ele prossegue:
“Hoje, eu iria acompanhar a Júlia para retirada do bebê que ela
espera. Sinto-me quebrada, eu ficaria com o bebê se ela concordasse, mas
ele nunca deixaria que essa gravidez avançasse. Júlia precisa contar a
Marcus, tenho certeza de que ele pode ajudá-la, mas em vez disso Júlia
continua evitando dormir na mesma cama que seu marido, e esconde as
marcas de agressão espalhadas pelo corpo. Ela grita que ama o agressor,
um homem poderoso, casado, e que não tem a menor intenção de assumir
esse relacionamento…”
— Isso não é suficiente para provar a inocência do acusado — diz o
promotor público interrompendo a leitura.
— Posso continuar? — Joseph pergunta ao Juiz que faz sinal com as
mãos para que o Promotor se contenha.
“Agora ela está vindo me encontrar depois de uma briga com o
Marcus, parece que ele viu as marcas espalhadas pelo corpo dela, esse
seria o momento exato para Júlia pedir ajuda. Ela é teimosa e se agarrou à
promessa de que ele tiraria o Marcus do caminho para que eles pudessem
ficar juntos. Isso para mim foi uma ameaça à vida do seu esposo, só a Júlia
não percebe o abismo em que está entrando. No final de tudo isso ela
sequer saber quem realmente é o pai dessa criança que ela espera, embora
ela deseje a todo custo que não seja do Marcus, o homem a quem ela negou
o direito de ser todos esses anos fazendo-o acreditar que não pode ter
filho”
As minhas mãos tremem e os meus olhos se enchem de lágrimas.
— Como assim? — pergunto sem me importar onde estou. — O que
mais tem aí, Joseph?
Capítulo 47

Marcus Collins

Encaro Joseph esperando ansioso pela resposta.


— Ela só vai até aqui. Você era para ter morrido naquele acidente,
sabotaram o seu carro para que você saísse do caminho.
— Não estou falando sobre isso. Como assim ela não sabia quem
era o pai?
— Peço ordem no tribunal — exige o Juiz. — O acusado e a
testemunha poderão conduzir esse tipo de conversa em outro momento. Por
enquanto, encaminharemos o material para uma perícia caligráfica.
Portanto, a sessão está adiada até lá.
Levanto-me apressado procurando por Ayla em meio às pessoas
sentadas atrás de mim, mas não a encontro.
— Onde está Ayla? — pergunto para mim mesmo, porém, em voz
alta, o que fez Edward achar que era para responder.
— Talvez ela tenha fugido novamente — zomba e eu ignoro
atravessando a sala em passos largos e olhando cada parte dos corredores à
sua procura.
Corro pelos corredores e saio do fórum ignorando o mar de
fotógrafos e repórteres que me cercam.
— Saiam da minha frente — imploro com urgência para que eles me
deem passagem. Quando enfim coloco os pés no primeiro degrau, que me
dá uma visão do meu carro estacionado, lá está ela encostada de cabeça
baixa e um boné que esconde o seu rosto, impedindo qualquer um de notá-
la, menos a mim.
— Ayla — grito ainda do alto e ela ergue o rosto me encarando com
os olhos que eu tanto amo. Um sorriso tímido se forma em seus lábios.
— É a senhora Collins. — Ouço os burburinhos dos repórteres que
agora correm para cercá-la.
Desço as escadas com pressa, e arranco o boné da sua cabeça,
evitando que ele me impeça de me perder em seus lábios.
— Estou te entregando a minha vida, Ayla, se você partir, prefiro
morrer ao sobreviver definhando em nossas lembranças. — Selo as minhas
palavras com um beijo cheio de saudades e dependência.
— Qual o resultado da audiência? — os repórteres voltam a
incomodar o meu momento com perguntas que não quero responder e
simplesmente ignoro.
— Me perdoa por ter deixado você sozi… — Ayla começa, mas
coloco meu dedo indicador em seus lábios a impedindo de continuar, me
jogo de joelhos me abraçando ao seu corpo enquanto beijo o seu ventre.
— Você está me fazendo o homem mais feliz do mundo.
— Tem herdeiro a caminho?
— A senhora está grávida?
— Mas o senhor não é estéril?
Mais uma vez ignoro a enxurrada de perguntas sobre assuntos que
não têm nada a ver com a vida deles.

Cruzamos as portas da mansão, e mesmo que eu quisesse jogar Ayla


contra a parede e fodê-la gostoso como venho desejando há tantos dias,
existe algo que quero fazer primeiro e garantir que nunca mais haja mal-
entendidos entre nós.
Atravessamos a sala e subimos as escadas com pressa e a tranco no
escritório. Ela me encara confusa enquanto abro a gaveta e espalho sobre a
mesa tudo sobre o caso de Júlia.
— A partir de hoje, não haverá mais mal-entendidos entre nós.
— Sinto a sua respiração acelerar, encarando as fotos do dia do acidente
estampadas em vários jornais, e os títulos que me pintam da pior forma. —
Era isso que eu não queria compartilhar com você, o título de monstro,
abusador da própria mulher. Eu não queria que você me visse da mesma
forma como me pintaram nessas notícias.
— Mas você não fez, você não provocou o acidente, você não a
agredia — diz em lágrimas ainda encarando os pedaços de papel sobre a
mesa.
— Tive medo de que você duvidasse do meu caráter, Ayla, até
porque eu não tinha nada que provasse a minha inocência a não ser o
testemunho de pessoas que dependem do salário que eu pago para viver. Ela
tinha marcas de agressões pelo corpo, marcas no tornozelo e pulsos, e eu sei
que não sou o tipo de homem que passa confiança. Sou possessivo,
controlador e amo da forma errada. Preciso aprender a te amar como você
merece, eu só te peço paciência, eu buscarei ajuda, Ayla. Serei um homem
que um dia dormirá tranquilo, e que irá buscar a esposa depois dela passar
uma noite se divertindo com as amigas. Serei alguém que te merece e serei
para o meu filho o exemplo de pai que eu nunca tive. Eu deveria ter visto os
sinais em Júlia, eu deveria ter visto além da minha posse, eu deveria ter
colocado os meus ciúmes de lado, ter perguntado a ela o que estava
acontecendo e talvez ela ainda estivesse viva.
— Você não teve c…
— Sim, eu tive culpa — digo a interrompendo de continuar. — Se
eu tivesse tentado enxergá-la além do meu orgulho de homem ferido. Eu
não cometerei o mesmo erro de novo.
Ayla agora tem o corpo colado ao meu e alisa o meu rosto com
carinho, encontro os meus lábios no dela jogando no chão tudo que tem
sobre a mesa e pela cintura eu a coloco sobre ela posicionando-me entre as
suas pernas.
Posso sentir o seu calor irradiando através dos nossos corpos. Eu a
beijo com necessidade. Minhas mãos começam a explorar cada centímetro
dela, traçando as curvas de sua cintura e os contornos de suas costas, desço
as mãos chegando em suas coxas onde afundo os meus dedos.
— Como senti falta do seu cheiro — digo espalhando beijos pelo
seu copo. — Tira essas roupas — imploro tirando as minhas.
— Esperei que as arrancasse como sempre — responde com um
sorriso malicioso.
— Com o maior prazer.
Ela geme quando em um único movimento arranco o vestido
repetindo o movimento na calcinha que me privava da visão maravilhosa
que é o seu copo nu.
Eu me perco em seu toque, em seu perfume e no sabor inebriante de
seus beijos, como se nada mais importasse no mundo, e, de fato, nada mais
importa.
— Me fode com força — ela geme
Com as minhas duas mãos em sua cintura, entro arrancando dela um
gemido. O meu tesão só aumenta vendo-a se contorcer alucinada de prazer.
Chupo cada um dos seus peitos e volto a me deliciar com os seus beijos.
Sinto a sua boceta se contrair.
— Isso, goza para mim. — Saio dela e desço os beijos para sua
boceta encharcada. — Goza na minha boca — digo, fodendo-a com a
minha língua enquanto estimulo o seu clitóris.
— Ah! Assim… — ela geme estremecendo e entregando tudo que
chupo como se devorasse a mais sebosa fruta.
Coloco-a de pé com o corpo inclinado sobre a mesa e entro
lentamente, brincando com a sua entrada, com o meu pau pulsando de tesão
e não resisto muito tempo tendo um orgasmo que me faz perder as forças
das pernas.
— Caralho — gemo me encostando na mesa tentado voltar a mim.
— Eu te amo — ela diz.
— Vocês são a minha vida.
Ayla se tornou meu santuário, minha confidente e minha amante,
sei que encontrei algo verdadeiramente precioso e mesmo que eu não fosse
o pai dessa criança eu aceitaria se esse fosse o preço a pagar para acordar
com esse rosto lindo sorrindo para mim todos os dias. Eu o amaria com toda
a minha alma.
Capítulo 48

Marcus Collins
Alguns dias depois...

— Nem posso acreditar que esse inferno enfim acabou — digo me


jogando no sofá após horas de julgamento.
— Acabou, meu amor — Ayla comemora.
Joseph entra em seguida ao lado de Tyler.
— Podemos conversar em particular? — Joseph pede com um
semblante sério parando no meio da sala.
— Vamos ao escritório. — Levanto e beijo Ayla rapidamente.
Entramos e Tyler fecha a porta atrás de si enquanto Joseph suspira
parado em frente à porta.
— Esse seu olhar me diz que você não disse tudo no tribunal —
constato.
— Não, eu não disse.
— O que mais falta?
Tyler se aproxima com um sorriso sombrio.
— O nome do desgraçado que fez isso com as minhas irmãs — ele
afirma.
— Vocês sabem quem foi? — ele confirma com a cabeça.
— Jordon Stewart — Joseph pronuncia com ódio.
— O governador? — pergunto incrédulo. — E por que não disse
tudo? Esse filho da puta!
— Eu não disse o nome dele, porque ele ficaria em alerta, e dessa
forma eu não poderia entregar a ele o que preparei — Joseph diz com um
sorriso malicioso.
— O que planeja fazer?
— O mesmo que ele nos fez, afinal o desgraçado tem filha mulher.
— Vai matá-la? — falo com um tom repressor.
— Existem muitas formas de acabar com a vida de alguém sem que
ela precise morrer, aliás, morrer seria ainda melhor do que a farei passar.
Ele sentirá exatamente o que nos fez. A morte da minha esposa não ficará
impune.
— Mas ele está ameaçando a minha esposa — lembro-o.
— Marcus, sei que pode garantir a segurança da Ayla, quanto ao
resto não precisa se preocupar, ele ficará bem ocupado para pensar em
qualquer outra coisa. Garanto-lhe, viva a sua vida nova ao lado da sua
esposa, em breve estarei livre para ser feliz novamente — Joseph diz com a
voz carregada de rancor.
— Te devemos um pedido de desculpas. — Tyler se aproxima com
as mãos estendidas.
— Sem ressentimento? — indaga Joseph.
— Vamos esquecer isso tudo — respondo apertando a mão
estendida a Tyler e abraçando Joseph em seguida.

— Ah, não, Bolinha, como você consegue comer tanta porcaria? —


Ouço da porta do quarto, Ayla resmunga e eu entro parando em choque no
lugar.
— O que esse cachorro fez? — indago irritado vendo pedaços de
camisas rasgadas espalhados pelo quarto.
Ele se esconde embaixo da cama enquanto recolho os pedaços do
chão com indignação.
— Ayla, isso não é um cachorro, é um pequeno monstro devorador,
eu só não entendo por que ele nunca destruiu nada seu — resmungo.
— O que acha de um passeio para comprar novas camisas. — Ela se
aproxima com um sorriso maroto.
— Acho que devo montar uma confecção dentro da nossa casa, já
que o nosso cachorro que me ver andar pelado e descalço por aí.
— Pelado? — Ela sorri. — E deixar à mostra tudo que é meu?
Mordo o lábio controlando a minha vontade de jogá-la na cama,
querendo manter toda a minha energia para mais tarde.
— Três dias — digo e ela me olha confusa.
— Três dias? — Dá de ombros.
— Esse foi o prazo que Edward garantiu que conseguiria resolver as
pendências que me impedem de ir com você ao México.
— Você jura? — Ela abre um sorriso de orelha a orelha.
— Você acha que a sua mãe e o seu irmão gostariam de vir morar
aqui no país?
— Você está falando sério?
— Claro que estou, vai ser bom tê-los por perto, se eles quiserem
vou pedir para Edward resolver esse assunto.
Ela me abraça ao mesmo tempo que sinto algo puxar a minha calça,
olho para baixo e vejo Bolinha sacudindo a cabeça com os dentes presos à
minha roupa enquanto rosna como se achasse ser um cachorro com o dobro
do seu tamanho.
Ayla Munis

Quatro dias depois...

O jatinho pousa no aeroporto de Guadalajara e um carro já nos


espera para nos levar até a casa da minha mãe. Olho encantada para Marcus
que segura Bolinha nos braços. Sim, ele fez questão de trazê-lo.
— Você sabia que eu não conheço o México? — ele diz quando
entramos no carro.
— Jura? Eu sempre achei que você já tinha visitado o mundo
inteiro.
— Não o mundo inteiro, também não conheço o Brasil, o que acha
de passar a nossa Lua de Mel lá?
— Lua de Mel? — Olho confusa.
— Você acha que não vamos nos casar novamente? — pergunta
colando a testa na minha.
— Só se você prometer não rasgar o meu vestido antes da cerimônia
— desafio.
— Isso eu não posso prometer, ainda mais quando estou aqui me
controlando para não rasgar as que você veste agora. — Ele aperta os meus
seios por cima da roupa e não resisto gemendo como uma boba. — Não
vista o vestido até que eu diga que é a hora. — Ele gargalha.
— Chegamos — digo quando o carro estaciona em frente à casa.
Marcus desce do carro torcendo o nariz para minha casa humilde.
— Prometo que você e a sua família terão sempre o melhor de agora
em diante.
Alejandro abre a porta e corre para me abraçar, a minha mãe surge
logo atrás sendo empurrada na cadeira de rodas por uma enfermeira que
Marcus fez questão de pagar e deixar à sua disposição. O meu irmão abraça
Marcus que em seguida inclina o corpo para cumprimentar a minha mãe.
— É um prazer conhecê-los pessoalmente — diz gentilmente.
— Eu que estou feliz em conhecer o esposo da minha menina.
Vamos entrar — ela fala e eu a levo para dentro.
Foi importante para mim ver Marcus aqui, junto à minha família.
Ele fica sentado ao meu lado, alisando o meu ventre enquanto Bolinha
repousa a cabeça em seus pés. Enfim posso respirar tranquila sabendo que
tenho tudo que eu sempre sonhei, a minha mãe recebendo o tratamento que
precisa, o meu irmão sendo chamado para trabalhar na empresa de Marcus,
todos bem e felizes. Inclusive Marcus que terá o que achou que nunca teria,
o nosso filho que cresce saudável, e já é muito amado. Eu tenho a eles e
fora isso não preciso de mais nada.

Marcus Collins

Estamos deitados no banco do carro que está com o capô baixo,


olhando as estrelas no céu mexicano. Ayla tem a cabeça sobre o meu peito.
— Ayla, tem algo que eu gostaria de te perguntar.
— O quê? — ela pergunta levantando a cabeça para me encarar.
— O que te convenceu a voltar para Seattle? — questiono curioso e
ela gargalha.
— O seu inimigo de longas datas é bem convincente.
— Maxwell? O que ele te disse?
— Ele se levantou da poltrona do hospital e se aproximou da cama
me encarando com aqueles olhos carregados de maldade e malícia. Aliás,
você não tinha ninguém melhor para mandar? — ela pergunta soltando
outra gargalhada.
— Ayla, o que ele disse? — indago ansioso pela resposta.
— Ele me perguntou por que eu havia fugido sem te avisar e eu
expliquei o que você sabe. Então ele se virou para mim e disse:
“Criança, não se deixe enganar com meias-palavras jogadas ao
vento. Confie no homem que foi capaz de me pedir um favor, sabendo que
terá que pagar com algo ainda maior. Você não sabe que quando um
homem que segue às leis à risca e pede favor a alguém que vive alheio a
elas nesse mundo, é porque ele está disposto a entregar a alma ao diabo se
isso for necessário. Ele fez isso por você.”
— O que vai ter que fazer em troca desse favor? — ela pergunta
ainda me encarando.
— Ele ainda não me pediu nada, mas considerando que ele é
residente em tempo integral do inferno, devo me preparar para quando ele
vier cobrar.
— Você está me assustando. — Ela bate em meu ombro.
— Então vamos mudar de assunto e aproveitar para deixar a marca
dos nossos corpos nus nas areias dessa praia.
Ela morde os lábios passando a língua por eles em seguida e eu
entendo que a nossa brincadeira começa no bando do carro mesmo.
Epílogo

Ayla Munis

Três anos depois...

É Natal, estou encostada na varanda, e apesar do frio, sinto-me


aquecida apreciando a cena de Marcus e Maitê, a nossa filha. É o primeiro
Natal em que eles brincam juntos na neve.
— Maitê, cuidado! — grito da varanda quando ela escorrega, mas
depois não contenho o sorriso ao vê-la se divertindo tanto lá fora. Ela, com
sua jaqueta cor-de-rosa e um gorro fofo, corre na neve enquanto Marcus a
acompanha, fazendo anjos e jogando bolas de neve para o alto ao mesmo
tempo que Bolinha corre atrás dos dois sendo atingido por bolas que Maitê
joga. Eu nunca o vi sorrir tanto, é a visão do cenário perfeito de
cumplicidade e amor paterno.
Faço uma moldura com os dedos como se com esse gesto eu fosse
capaz de capturar esse momento mágico. Eu não poderia estar tão grata por
ver o homem que encontrei mergulhado em um mundo de sombras, agora
esbanjar tanta doçura e se mostrar um pai tão incrível.
— Maitê, olha quem chegou — ele diz vendo o carro de Alejandro
entrando na propriedade. — A vovó e o titio.
— Vovó… — Ela corre conforme pronuncia as palavras e abraça a
minha mãe sendo pega no colo pelo meu irmão que a abraça com força.
Ele olha para a varanda e eu aceno de longe, descendo em seguida
para recebê-los.
— Como está a minha irmã e o meu garotinho que cresce nessa
barriga tão linda?
— Embora o peso tenha me deixado bem cansada, estamos bem —
respondo o abraçando.
— Acho que se não começarmos a fazer os biscoitos agora, não os
serviremos aos convidados no jantar de Natal hoje à noite. Quem será que
pode me ajudar? — brinca a minha mãe.
— Eu! Eu! — Maitê responde saltando em sua direção.
É mágico ver como a minha mãe tem respondido bem aos
tratamentos, a medicina aqui nos Estados Unidos é muito mais avançada, e
isso tem sido de grande ajuda.
— Bom, tudo que quero agora é chocolate quente e ficar embaixo
do cobertor com a mulher mais linda de todo o planeta. — Marcus me
envolve em seus braços beijando o meu rosto em seguida.
É reconfortante saber o quanto ele se esforça para dar o melhor de si
a cada dia. Marcus não é apenas meu parceiro, mas também meu
confidente, meu defensor. Ao longo dos anos, ele continua buscando
orientação de um psiquiatra, lidando com os traumas da guerra e uma
infância desafiadora e abusiva com o pai. Sua transformação é evidente,
especialmente no seu empenho em ser um pai exemplar e amoroso para
nossa filha. A minha mãe o venera e o meu irmão se tornou o seu braço
direito, ele não só me acolheu e amou, mas também acolheu toda a minha
família como se fosse a dele.

Marcus Collins
Ouço as gargalhadas de Maitê que se arruma com a avó no quarto
enquanto tomo um uísque com Alejandro.
— O que você acha da Briana? — ele pergunta como se estivesse
visualizando-a em sua frente.
— A filha do diretor? — questiono já sabendo a resposta, noto os
olhares entre eles em todos os eventos.
— Sim, ela mesma.
— Soube que foi prometida ainda no ventre da mãe ao filho de um
CEO, mas, se a quiser muito, te coloco na empresa como vice-presidente e
algumas ações, quem sabe assim você possa entrar na disputa.
— Faria isso por mim? — Sorri enquanto fala com um tom
incrédulo.
— Claro, nada deixa a minha esposa mais feliz do que ver você
felizes, então digamos que farei por mim.
— Senhor, os convidados estão chegando — diz Peter em um tom
alto no meio da sala.
— Já estamos descendo — aviso, já caminhando para a escada.
Joseph entra ao lado de Tyler que segura uma caixa enorme.
— Alguém avisa a Maitê que passei na casa do Papai Noel e trouxe
o presente dela.
Em poucos segundos ela vem descendo ao lado de Ayla,
divinamente linda e gostosa em um vestido vermelho justo ao seu corpo.
Maitê corre para abrir o presente deixando a casa repleta de papel picado.
— Ainda não é hora de abrir os presentes — digo a repreendendo.
— Não seja tão chato, deixe ela abrir os presentes — Joseph fala
entregando mais alguns que tira de um saco vermelho imenso.
— Você não pode trazer tantos dessa forma, ela achará que você
assaltou o Papai Noel no caminho. — Gargalhamos com a piada e nos
sentamos à mesa.
Esse de fato é um Natal diferente de todos, já que nunca contei com
a presença dos meus ex-cunhados desde a morte da Júlia e da Cristina.
No fim da noite, quando todos haviam ido embora e a minha sogra e
cunhado dormiam, eu e Ayla nos deitamos sobre cobertas na varanda,
olhando o céu que está lindo nesta noite.
— Ayla, quando você descobriu que me amava? — pergunto sem
encará-la.
— Bom, aconteceu tão gradualmente que eu sequer posso afirmar o
momento exato, mas acredito que percebi o quanto estava interessada em
você quando no dia em que gritei te vendo de toalha e desejei por um
segundo que você tivesse saído do banheiro sem ela. — Gargalha.
— Nossa! Desde o primeiro momento, então? Igual a mim. — Ela
arregala os olhos com a confissão.
— Igual a você? — Sorri.
— Você me ensinou o verdadeiro significado de amor e cuidado,
ninguém nunca me entendeu como você. É como se você lesse minha mente
e soubesse exatamente em que ponto tocar. A sua voz me traz paz, o seu
sorriso renova as minhas forças, e o seu cheiro me acalma. Eu nunca
poderia ser feliz sem você ao meu lado, então, obrigado por escolher ficar e
me amar.
Ayla olha para mim com os olhos brilhando, emocionada com as
minhas palavras. Eu me inclino lentamente em sua direção, segurando seu
rosto suavemente em minhas mãos. Lentamente, nossos lábios se encontram
em um beijo cheio de amor e cumplicidade.
Eu finalmente entendi que o amor verdadeiro não se trata de ter o
controle sobre tudo, e sim sobre deixar livre sabendo que se estamos aqui é
porque escolhemos ficar. E agora, com Ayla ao meu lado, sei que encontrei
a pessoa que completará minha vida e meu coração.

Fim
Vire a página...
Cena Bônus

Que tal conhecer mais sobre Maxwel Miller? Ele se intitula um filho
da puta. Nascido em um bordel amar não está em seus planos, aliás o que é
amor? Ele se quer sabe, já que sempre teve em sua cama de prostitutas á
casadas. Monogamia não é algo que ele acredita.

Maxwell Miller
— Então de quanto é a dívida? — pergunto caminhando até bar que
fica na sala.
— Me dê um prazo para pagar a dívida — Posso sentir o cheiro do
seu desespero, da vontade que ela tem de fugir de mim.
— De quantos dias precisa? — quero saber, enquanto levo o copo de
whisky até a boca.
— Não sei, um mês? Ou o senhor poderia parcelar, o que me diz? —
o seu tom sugestivo e carregado de desespero me fez conter o riso.
— Vamos lá — ligo a tela do computador na minha frente e viro
para ela ver o quanto ela deve no cassino. — Parece que você gostou de
jogar — digo com sarcasmo.
Ela se joga no sofá o qual uso para foder as mulheres que entram, e
o meu pau reagiu aquela imagem, me imagino fodendo com ela varia
posições possíveis.
— Então, vai me manter presa aqui em trabalho escravo até que eu
pague isso?
— Escrava? — Sorrio me levantando e caminho na direção dela,
que está encolhida no sofá.
— Me acha atraente? — Estreito os olhos esperando a resposta.
— O quê? — Ela sobressalta assustada.
Eu não tenho dúvidas que ela se sente atraída por mim e toda essa
conversa está me deixando sem saco, não costumo ter conversas nesse
sofá.
— Amanhã mando um motorista buscá-la, ele te levará ao heliporto
e você vai voar até uma casa de campo, que me pertence, assim como
helicóptero e tudo isso aqui que você está vendo.
— Está achando que eu sou prostituta?
— De jeito nenhum, se esse fosse o caso, eu não estaria aqui
gastando saliva com você, nesse exato momento você estaria com o meu
cacete enfiado na sua boca, e me fazendo gozar como uma boa profissional.
Respiro com força passando a mão pelos cabelos e me aproximo
pretendo o seu corpo conta o meu.
— Emily, esse é o seu nome, não é? — Ela me encara com os olhos
arregalados, se privando da respiração. Me inclino e fico na sua altura, com
meus lábios colados a sua orelha. — Desça e se ofereça, ou aceite a minha
proposta, para mim, é indiferente como vai conseguir o dinheiro, embora eu
esteja louco para te foder. Posso facilmente esperar que você se acostume a
abrir as pernas por dinheiro e volte se oferecendo, mas lhe garanto que não
encontrara um homem mais generoso do que eu nesse cassino. Aceitar seria
algo inteligente da sua parte. Agora, saia, tenho coisas mais importe para
fazer.
Gostou? Fica ligado no meu perfil que esse será o nosso próximo
lançamento. https://www.instagram.com/autoraadriluna/

Vire a página....
A obsessão do viúvo recluso – A herdeira surpresa é o primeiro da
série “Viúvos de Seattle”
em breve o Joseph e o Tyler ganharão um livro.

Rejeitada pelo viúvo ranzinza – O livro do Tyler que será escrito por
@alicewalterautora
A vingança do viúvo arrogante – o bebê não planejado – O livro do
Joseph que será escrito por @S.d.marinho.autora. Fiquem ligadas lá no
perfil delas para não perder o lançamento
Agradecimentos
Quero expressar minha profunda gratidão a todos aqueles que, direta ou
indiretamente, contribuíram de maneira significativa para que este livro
finalmente atingisse este ponto. Em especial, gostaria de estender um
agradecimento especial às minhas leitoras beta, cuja contribuição foi
excepcional. Sou grato à minha Assessora Jackeline Siqueira por todo o seu
empenho. Por último, mas definitivamente não menos importante, quero
estender meus calorosos agradecimentos às minhas valiosas leitoras, que
optaram por embarcar nesta jornada literária comigo, compartilhando não
apenas palavras, mas também sentimentos e experiências. Obrigado por
fazerem parte desta história. Sei que vocês estão ansiosas para que o nosso
viúvo ganhe o mundo e que todos descubram o quanto ele é maravilhoso.
Obrigado por me incentivarem a me dedicar cada dia mais. Vocês são
incríveis.

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