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Isabel Martinez.

Copyright © 2022 Isabel Martinez.


Livro: Sob a mira da máfia
Capa: Crazy hot books.
 

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Sumário
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Epílogo
 
 
 
 
 
 
 
Procurando amor em todos os lugares errados

Procurando por nós em todos os rostos errados

Estou sempre procurando por luxúria, quando estou bêbada e acabada

Procurando amor, acho que devemos conseguir isso


(Wrong Places- H.E.R)
Prólogo

Eu acho que todo mundo já teve a ideia ou leu algum post nas redes
sociais de alguém falando: " Queria pegar não sei quantos mil de um agiota
depois pagar não sei quanto para sumir com ele".

A ideia é que depois disso você viva bem com os muitos "mils" que

te sobram.

Digamos que eu li um desses posts e pensei "por que não?".

Tudo pareceu dar muito certo, mas é claro que eu não sabia que o

cara que me arrumou dinheiro era da máfia.

E agora toda a família dele está atrás de mim, não só querendo o


dinheiro, mas querendo saber o paradeiro do homem que eu mandei matar.

E é aí que minha história começa.


Capítulo 1

A mulher estava parada em frente ao espelho, as lágrimas brotavam


em seus olhos sem que ela pudesse controlar, mais um relacionamento
fracassado, mais uma vez um término que ela teria que encarar e fingir que

não estava sentindo nada, que não estava sofrendo.

As pessoas que acreditavam que ser bissexual era fácil é porque não
sabiam a confusão que realmente é gostar de homem e de mulher. Corinna
conseguia ser péssima nas duas coisas.

Não existia em seus 28 anos de vida um só relacionamento que


tivesse dado certo, todos tinham acabado e sempre da pior maneira possível.
Era realmente impressionante como ela conseguia se envolver com uma

pessoa pior do que a anterior.

Seu telefone tocou tirando-a de seus devaneios e ela avançou sobre a

cama pegando-o, era uma mensagem de sua única amiga, Samila.

“ Ei, que tal irmos ao cinema daqui a pouco, uma pipoca, muito
refrigerante e uma bela comédia romântica.”

Nada de comédia para ela, muito menos romântica.

“ Hoje não, preciso de uma programação animada, que tal bar e


beber até esquecer o nosso nome?”
“ Brigaram outra vez? Aí, amiga. Essa mulher não é pra você!”

“Terminamos!”

Ela esperou a mensagem por cinco minutos, via o digitando e nada,

logo em seguida digitando outra vez.

“ Sinto muito!”

Ela suspirou e a outra mensagem veio em seguida.

“ Passo na sua casa nove horas, muita bebida, música alta e nada de

tristeza, te amo, garota.”

Sorriu deixando o celular de lado e partiu em direção ao banheiro,

precisava de um longo banho para dar uma animada em seu corpo.

Saiu secando os cabelos e entrou na rede do passarinho, precisava


falar bobagens que ninguém leria, quem sabe assim seu peito aliviaria um

pouco.

Assim que abriu na tela inicial apareceu um meme.

“ Eu depois de pegar 1 milhão com um agiota e pagar 20 mil para


matá-lo.”

Ela riu curtindo e compartilhando e logo pensou, quem seria louco o

suficiente para fazer isso? Talvez ela fosse se conhecesse alguém que

pagasse tanto.
Afastou o pensamento e foi se arrumar, colocou uma calça jeans
escura e uma blusa preta com muito brilho, por cima uma jaqueta vermelha,

o look perfeito para dar uma animada, os cabelos castanhos longos soltos e

escovados, para completar o visual, um par de salto alto preto.

Caminhou para a cozinha e pegou uma comida congelada na

geladeira e colocou no microondas, aquela não era uma massa congelada


qualquer, era a melhor massa de toda a Sicília feita pela Nona Carmem que

tinha um restaurante enorme a duas ruas de sua casa e praticamente tudo o

que ela comia vinha de lá.

Fizera amizade com Carmem quando ainda era criança e agora

aquela amizade lhe rendia deliciosos pratos congelados feitos especialmente

para ela. Claro que ela pagava também, quando podia.

Não ter um trabalho fixo, às vezes, era complicado, quase sempre na

verdade, mas Corinna não desistia, nunca desistiria.

Depois de comer uma travessa de lasanha sozinha, ela foi escovar os

dentes e esperar que a amiga passasse em sua casa para pegá-la, o que

aconteceu meia hora depois.

— Oi, amiga! — Samila riu a abraçando assim que ela entrou no

carro.

Samila Torres era alta, muito alta, loira natural, olhos azuis, magra e

amiga de Corinna desde a escola, as duas eram excluídas e sofriam bullying


juntas. Samila era chamada de girafa, além de ser alta desde a infância,

ainda possuía muitas sardas por todo o corpo e hoje, sempre que possível,
não as deixava visível nunca.

Já Corinna além de usar óculos de grau ainda era acima do peso,


claro que agora ela lidava melhor com isso, sempre que podia.

Ela amava seu corpo, porém durante a infância havia enfrentado


grandes batalhas, muitas mais do que ela gostaria, ou do que uma criança

realmente deveria enfrentar. Talvez seus pais ou sua tia tivessem a ajudado
se ela contasse para algum deles, mas não era uma coisa que ela

compartilhou com nenhum adulto na época, somente ela e sua amiga


sabiam, ninguém além.

Claro que aquilo havia deixado alguns traumas, mesmo que se

amasse, se olhar no espelho algumas vezes ainda era difícil, as distorções


ainda estavam lá e o desejo de mudar seu corpo permanecia ali escondido,

por mais que negasse muitas vezes, se ela pudesse mudaria quem era.

As dores ainda estavam ali, vivas em alguma parte de sua memória,


mesmo que escondidas e trancadas a sete chaves, a ferida sangrava vez ou
outra.

— Oi, está linda! — ela sorriu olhando a amiga, usava um vestido


preto de manga que ia quase até a altura do joelho e usava uma meia fina

preta com uma bota de cano curto.


— Preciso estar bem para qualquer coisa, né? — falou gargalhando e

então deu um toque no volante de leve. — Então, para onde vamos hoje?

Corinna ficou alguns minutos pensando e depois sorriu.

— Já sei, me deixa dirigir. — falou a encarando, mas a amiga não se

moveu. — Anda, eu dirijo.

— Meu carro é novo e a última vez que dirigiu quase nos matou.

— Prometo que dessa vez não acontecerá a mesma coisa. — Corinna


riu e empurrou a amiga de modo leve que saiu do lugar meio a contragosto

e então ela deu partida seguindo para onde tinha imaginado.

O caminho seguiu com Corinna deixando o carro morrer três vezes e


quase batendo uma ou duas vezes, mas no final chegaram bem ao destino

que ela havia imaginado.

— Chegamos! — falou sorrindo e tirando o cinto.

— Até que enfim. — Samila suspirou e depois olhou a fachada do

lugar. — Espera, aqui é...

— Isso mesmo, vamos. — ela sorriu e saltou para fora do carro


sendo seguida pela amiga que não parecia nem um pouco feliz com a

escolha que ela havia feito.

Estavam na boate mais famosa da Sicília, conhecida por estar em um


local privilegiado, além de também ser muito frequentada por mafiosos e
outras pessoas poderosas.

As duas entraram sorrindo e observando o local, homens e mulheres


se misturavam mais era visível o quanto alguns tinham mais poder do que

outros, Corinna estava com aquela ideia martelando em sua cabeça e


pensou em fazer uma tentativa, por que não?

— O que passou na sua cabeça de vir para cá? Aqui só tem... — ela
falou mais baixo, mesmo que não a ouvissem, ela realmente estava com

medo. — Aqui só tem gente errada.

— Você já pensou como seria sua vida se você tivesse muito

dinheiro? — Corinna falou ignorando responder à pergunta dela.

— Claro que sim, muitas vezes, mas depois acordei do sonho e fui
trabalhar hora essa. — respondeu revirando os olhos, o que estava passando
na cabeça maluca de sua amiga?

— E se não fosse um sonho? — ela sorriu de lado.

— Do que está falando?

— Eu vi uma coisa e estou pensando seriamente em testar... —


Corinna falou rindo e exibindo os dentes muito brancos que contrastavam

perfeitamente com os lábios vermelhos e chamativos.

— Não vou vender droga! — a resposta foi imediata.

— Isso nem passou pela minha cabeça.


— Não vou roubar droga!

— A ideia também não é essa! — Corinna deu de ombros e


caminhou em direção ao Bar, sentou no banco alto e esperou até que uma

bebida chegasse, era infalível. Samila fez o mesmo, mas seu coração ainda
estava descompassado, ela ainda estava com medo de toda aquela completa

loucura.

— Tá o que vamos fazer? — perguntou por fim, quase dez minutos


depois.

As duas tomavam uma bebida colorida que o barman havia feito na

frente delas, tinham pedido para dobrar a dose de vodca por isso o gosto da

fruta era praticamente impossível de ser sentido.

Corinna olhou e sorriu para a amiga levantando a taça em sinal de


brinde, ali começava a maior loucura de sua vida.

No fundo ela sabia que estava se metendo em algo que daria muito

errado, porém quando não se tem nada para perder, não existe razão para

não tentar.
Capítulo 2

A morena sentiu os raios de sol queimando suas costas e despertou


sentindo o mundo girar assim que abriu os olhos, a cabeça doía mais do que
tudo, que ressaca era aquela?

Olhou calmamente ao redor na esperança que estivesse em casa, para

sua alegria, estava...

Sentou devagar e tudo parecia rodar cada segundo mais do que antes,
que cachaça era aquela? Ela não queria saber.

Os olhos estavam pesados, estava enjoada e a cabeça doía muito,


mais do que da última vez sem dúvida alguma, ela não se lembrava do que

tinha feito depois do terceiro ou quarto copo de bebida.

Estava nua e as roupas espalhadas pelo quarto, como ela tinha

chegado ali? Não lembrava. Caminhou direto para o banheiro e entrou


debaixo do chuveiro, a água quente pareceu limpar a alma dela e não

somente o corpo, sorriu relaxando e permitindo que o corpo voltasse para o


lugar aos poucos enquanto a água parecia fazer uma massagem nos

músculos tensos.

Observou que estava com alguns arranhões nas coxas, joelhos, tinha

caído? Realmente não se lembrava, a noite era um completo vazio Ela


nunca havia tido um apagão como aquele, mas para tudo tem uma primeira

vez...

Quando saiu do banheiro secando os cabelos viu que o celular

vibrava sem parar, suspirou caminhando até uma mesa onde estava a bolsa e
o celular que não parava de tocar. Era Samila que ligava e o celular tinha

mais de 10 chamadas perdidas do que ela imaginava ser dela, para sua

surpresa já eram quase 15 da tarde.

Deus, ela nunca tinha dormido tanto tempo.

— Alô? O que foi, garota? A Sicília está pegando fogo? — Corinna


perguntou rindo enquanto ouvia a amiga ofegante do outro lado.

— Onde você está? Fugiu? O que você fez? — A voz era

preocupada e a amiga parecia estar correndo, correndo muito.

— E por que eu faria isso?

— Amiga estão te procurando, eles querem a sua cabeça! — a voz

de Samila saiu ainda mais nervosa, porque a amiga não respondia logo de
uma vez.

— Me procurando? Querem minha cabeça? — Corinna literalmente

parecia não entender as palavras dela. — Que tipo de piada é essa doida?

Eu acabei de acordar, diga isso mais tarde, está bem? — falou querendo

desligar, realmente estava cansada, doía e agora seu estômago começava a

roncar, precisava muito comer e de muita, muita água.


— Garota, para de dizer idiotices, o cara que você pegou o dinheiro
é um mafioso, MAFIOSO. — Ela gritou do outro lado da linha e depois fez

uma longa pausa, pausa essa que pareceu fazer Corinna despertar de uma

vez. — Amiga, escuta, sai dessa casa, sai agora e vai para qualquer lugar do

mundo, mas some da Sicília porque eles não estão a fim de conversar.

Caralho, caralho, que merda!

— Tabom, já entendi que a coisa é séria, onde você está? — ela


colocou uma roupa preta, uma blusa de frio com capuz e pegou sua bolsa

saindo de casa ainda com o telefone no ouvido, trancou a porta correndo

sem se preocupar com mala ou qualquer outra coisa. Ela parou por um

instante e então perguntou para a amiga. — Onde está o dinheiro?

— E você me pergunta isso? — ela pareceu querer gritar outra vez.


— Essa merda está toda com você em uma porra de saco preto.

Corinna voltou correndo e procurou o saco, encontrou, era uma

merda de saco de lixo. Quem coloca dinheiro vivo em saco de lixo? Ela não

sabia, mas não importava, pegou uma mala de viagem e colocou o saco

dentro, voltando a sair.

— Beleza peguei, onde eu posso te encontrar? Onde você está? —

falou sentindo o coração saltar em sua boca, Deus o que ela tinha feito? Em

que merda de furada tinha se metido?


— Estou longe, longe o suficiente já, você estava muito bêbada e

não quis ir comigo, não se preocupe, estou bem. — suspirou. — Guarda


esse dinheiro, daqui uns dias eu te ligo, maluca.

A ligação foi desligada e Corinna continuou a caminhar com pressa


pelas ruas, estava com um maldito sapato que vivia desamarrando o
cadarço, mas óbvio que ele era o que estava mais fácil para ela.

Olhava para os lados com discrição sem saber ao certo se alguém a

estava encarando ou se estava ficando doida, mas entre uma opção e outra a
melhor era correr, correr muito e sumir dali antes que terminasse morta em

uma vala sem que ninguém soubesse quem ela era.

Merda, merda, o que ela tinha feito?

Um mafioso? Puta que pariu!

Eles cortariam sua língua, arrancariam sua unha, ela já havia visto

merda de filmes de máfia o suficiente para saber como aquela história


terminava, tudo terminaria mal, muito mal.

Talvez furasse seu corpo para o sangue sair…. Isso realmente

existia? Ela não tinha certeza na verdade, mas não estava nem um pouco
disposta a ficar ali e descobrir se era mesmo verdade ou não.
Capítulo 3

Algumas horas antes...

— O que? Pegar dinheiro de uma pessoa daqui? — Samila apontou

devagar olhando o lugar. — Só pode estar louca mesmo, né? — riu.

— Procuramos alguém que esteja vendendo drogas... — falou

pensativa. — Não o chefe óbvio, um funcionário, né, ou algum agiota?

— Agiota? — Samila arregalou os olhos balançando a cabeça.

— Isso mesmo e depois pagamos outra pessoa para dar um “susto” e


pronto.

— O que você bebeu antes de chegar até aqui? Só pode ter sido uma
coisa muito forte, não tem outra opção... — ela revirou os olhos e pediu

uma bebida levantando a mão e apontando para o whisky, precisava de algo


forte.

— Você topa ou não? — Corinna voltou a perguntar.

— Roubar dinheiro de alguém e mandar matar depois? — a amiga

perguntou arqueando a sobrancelha.

— Nem um nem outro. Pegar dinheiro emprestado e mandar dar um

susto na pessoa. — falou calma e mais baixo, por que ela tinha que falar tão
alto?
— Por que não? — a amiga riu balançando a cabeça e falando com

ironia.

Um segundo drink chegou às mãos de Corinna e ela bebeu tudo

virando de uma só vez.

— Perfeito então! — piscou para a amiga que seguia sentada

enquanto ela se levantava. — Não vá embora, eu volto logo mais.

Por mais que Samila tivesse dito que topava, ela nunca imaginou que

Corinna fosse realmente conseguir tal coisa, quem seria o louco de

emprestar tanto dinheiro para uma doida no meio de uma boate? Ela
esperava que ninguém, mas estava errada.

Quase uma hora tinha se passado, Samila seguia no mesmo lugar,

por mais incrível que isso pudesse parecer, dançara uma ou duas músicas na
pista de dança, mas ela era mais do tipo observadora por isso preferia ficar

olhando as pessoas dançando e bebendo do que de fato fazer aquilo.

— Pronto! — ela ouviu a voz da amiga mais do que bêbada soar no

seu ouvido.

— Pronto? Pronto, o que louca?

— Consegui o nosso dinheiro! — ela falou risonha e sentou pedindo

uma dose de bebida e colocando uma nota sobre o balcão para pagar. —

Que tal beber até cair?


Samila olhou a amiga e viu um saco preto em sua mão.

— O que é isso? — falou apontando o saco.

— Ué, dinheiro, não é o que fui buscar? — Corinna riu e sentou

bebendo a dose que acabara de ser colocada em sua frente, o homem pegou

o dinheiro olhando o valor da nota, mas nada falou, deveria ser só mais uma

riquinha bêbada.

— Vamos embora daqui. — Samila falou a puxando pelo braço e

olhou a amiga.

— Ei, ei! Agora a festa ia começar! — Corinna riu olhando o espaço

que ficava para trás.

Samila colocou a amiga no carro e deu a volta entrando também.

— O que você fez? — ela perguntou antes de dar partida.

— Peguei dinheiro com um moleque, não se preocupe era um

vendedor de droga, tinha cara de que já estava bem chapado e então dei a

volta e paguei 30 mil para um cara dar um bom susto nele. — Corinna

falava algumas coisas enroladas, mas nada que Samila não pudesse

entender.

Ela olhou a amiga que estava com um machucado na perna e outro

no braço direito.
— Onde arrumou esses machucados aí? — falou enquanto ainda a

olhava de lado.

— Cai.

— Precisamos nos esconder? — disse quase em um sussurro.

— Claro que não, o susto que ele vai dar no menino vai ser

suficiente para ele nunca mais me procurar e ele estava tão chapado
também que eu duvido muito que se lembre do meu nome.

Samila tinha os olhos arregalados, mas não parou até chegar na casa

da amiga. Assim que pararam, Corinna tirou uma quantia do saco e deu
para a amiga.

— Isso é por você me aturar por tantos anos. — a amiga riu e deu

um beijo nela assim que Samila pegou o dinheiro. — Te amo, garota. —


colocou o saco sobre os ombros e caminhou para a porta de casa. — Paris

amanhã?

— Sim! — A mulher riu dentro do carro.

— Perfeito, nos encontramos lá! — Corinna falou jogando um beijo


e entrando em casa.

As horas que seguiram antes que ela dormisse foram recheadas de


todas as bebidas alcoólicas que ela encontrou em casa, depois quando o dia

estava clareando ela foi ao restaurante de Carmen e deixou uma quantia


considerável de dinheiro e escreveu no envelope que era o pagamento por

todas as comidas deliciosas que a mulher tinha feito para ela em todos
aqueles anos.

Sem conseguir pensar em mais nada voltou para casa e foi dormir,
no dia seguinte pegaria o primeiro avião para longe dali, nunca mais
voltaria e dessa forma nunca mais seria encontrada.
Capítulo 4

Já passavam das dez horas da noite quando Corinna olhou para a


televisão do quarto de hospital, estava muito, muito dolorida, o corpo
praticamente todo enfaixado e ela se sentia cansada e sonolenta.

Tudo parecia rodar, mas ela não se importava com isso totalmente, já

fazia quase um mês desde que ela conseguira o dinheiro para ter a vida dos
sonhos, os primeiros dias assim que ela saiu da Sicília foram vividos de
maneira dolorosa com ela imaginando o que eles fariam quando a
pegassem, com sonhos muito realísticos dela sem dedos, sem língua e

outras coisas que não gostava nem de pensar naquilo, mas os pensamentos
foram sendo apagadas e o medo também foi embora quanto mais dias se
passavam.

Sua amiga devia estar enganada, “eles”, muito provavelmente não


faziam ideia de quem ela era e o jovem deveria estar muito bem agora.

Mas para dificultar a vida deles um pouco mais, ela decidira passar
por algumas cirurgias, coisas que ela desejava mudar, algumas coisas em

seu rosto, tudo que funcionaria para que ela não fosse encontrada por foto

caso a estivessem procurando, pelo menos em sua cabeça aquela ideia


funcionava muito bem.
Cortou o cabelo e pintou também, estava longe o suficiente da Itália,

precisava acreditar que sua vida daria certo agora.

Eram coisas que funcionavam em filmes? Algumas vezes sim...

Funcionariam com ela? Ela rezava que sim.

— Você está de alta! — Samila entrou no quarto falando com ela e

rindo. A amiga também tinha feito alguns procedimentos, porém no mesmo

dia que saíra da Sicília e agora já estava praticamente recuperada.

— Perfeito. Não aguento mais ficar aqui. — ela sorriu se sentando e

suspirou diante da dor.

Sua vida era mesmo uma completa loucura.

Seria muito leviano de sua parte dizer que ela não se sentia culpada

por tudo aquilo, porque literalmente era culpa dela, de sua loucura e
principalmente de sua impulsividade que muitas vezes parecia não ter

limites, mas ela queria uma vez meter as caras e encarar as consequências e

o estava fazendo com perfeição, ainda que de certa forma estivesse fugindo

de muita coisa, de tudo na verdade.

...

Os dias de recuperação passaram lentos, porém nada tediosos para as

duas mulheres, Corinna seguiu o repouso dos primeiros dias da maneira

mais correta possível, mal saiu da cama e teve a amiga para ajudá-la nas

coisas mais banais possíveis.


Ficar parada era para Corinna uma forma de lembrar de sua família,
mais especificamente de seus pais que já haviam falecido a algum tempo,

mergulhar naquelas lembranças era doloroso, mais do que qualquer

sentimento físico que ela já tinha sentido em toda a sua vida.

Seus pais tinham morrido de forma trágica e muito suspeita, eles

moravam em um lugar em que isso era praticamente normal, então a polícia


obviamente não fez o necessário para investigar a morte deles.

Durante muito tempo tentou investigar aquilo, mas não conseguiu e

como era jovem e inexperiente aquilo acabou se perdendo no tempo.

Ela ainda era uma criança quando se viu sozinha no mundo, tinha

ido morar com uma tia que estava muito doente e no lugar da senhora

cuidar dela, ela que acabou cuidando da mulher até que ela partisse deste
mundo.

A senhora de cabelos longos e grisalhos, havia cuidado da pequena

Corinna com todas as forças que podia, dado para aquela pequena criança

travessa um amor incondicional ainda que não da maneira como desejava.

Angel, a tia faleceu quando Corinna tinha 16 anos, durante os dois


anos que seguiram sua perda a jovem fugiu e se escondeu, não queria ir

para um orfanato e não seria criada por qualquer outra pessoa que ela nunca

tivesse visto na vida.


Sua mãe ainda em vida havia escolhido Angel como sua cuidadora

legal e a tia por sua vez disse para ela com todas as letras que ela não podia
confiar em ninguém, nem acreditar em nenhuma pessoa, então ela fez

exatamente o que a tia mandou e o que sempre soube fazer de melhor.

Se escondeu.

Quando finalmente completou seus 18 anos, ela se mudou para uma


casa simples e muito discreta, tinha vendido a casa da tia para ter um

dinheiro e também para sumir dos rastros e a casa seguinte era mais
afastada, e bem menor que parecia ficar disfarçada entre as outras casas.

Samila não compreendia muitas coisas da vida da amiga, mas não


falava nada quando não era solicitada, ajudou a amiga e por muitas vezes
ela ficou em sua casa no período antes que ela completasse seus 18 anos,

mas Corinna nunca aceitou morar com ela e a família e nem permitiu que
eles dissessem onde ela estava por medo que a levassem para longe, isso era

algo que não podia acontecer de modo nenhum e não aconteceu.


Capítulo 5

Quase 2 meses e meio tinham se passado desde que Felipo sumira,


Francesca estava morando em Nova York quando recebeu uma ligação de
seu pai para que fosse no dia seguinte para a Sicília.

A jovem Francesca Ginevra Esposito havia completado 30 anos a

pouco mais de uma semana, em meio ao sumiço de seu irmão caçula, Felipo
um rapaz que tinha completado 18 anos pouco antes de seu sumiço.

O homem que mais parecia uma criança era totalmente rebelde e

inconsequente, vivia jogado nos bares e salões de jogos de seus pais,


bebendo e usando drogas e o dia de seu sumiço não fora nem um pouco
diferente.

O Dom Francisco, seu pai. Era o chefe da Máfia Siciliana, o homem


que possuía olhos por todos os lugares simplesmente tinha perdido o seu

filho mais novo.

Como ele fora retirado da Sicília era uma pergunta que ela já tinha
ouvido milhares de vezes desde que chegara e que não conseguira

responder nenhuma das vezes já que parecia não ter uma resposta.

O que sabiam é que uma mulher estava envolvida nisso, uma jovem

de cabelos longos e castanhos não muito alta e aparência assustada e claro

que aquela descrição não ajudava, porra nenhuma.


Francesca não se lembrava de ter batido em tanta gente desde sua

adolescência que não parecia, mas estava muito longe em suas lembranças.

Porém, desde que pisara os pés em casa outra vez parecia que tinha

entrado em um ringue de luta livre e ainda assim o irmão continuava


sumido.

A mulher de cabelos ruivos era a filha do meio da família Esposito,

ela decidiu cedo que preferia se afastar, seus estudos estavam em primeiro
lugar e ela como mulher não poderia liderar nada e as ordens sempre

estariam para seus irmãos, por isso queria fazer seu próprio nome e

construir o seu próprio império sem usar o nome de sua família.

Aquela ideia tinha funcionado muito bem até o dia em que recebeu a

ligação, se afastar era uma coisa, ver a sua família em meio aos tiros era
outra completamente diferente e nesse caso, o sangue sempre vinha antes de

qualquer outra coisa.

Existiam muitas pessoas no maldito bar no dia em que o irmão

desaparecera e por coincidência a fita do lugar tinha sumido na manhã

seguinte.

Francesca acreditava que a mulher que tinha conversado com ele

antes que sumisse era da máfia rival, não existia outra possibilidade e muito

provavelmente tinha sido mandada ali para capturar o garoto idiota.


Mas a grande questão para ela era, qual máfia? E por que até agora
não tinham entrado em contato? Ou mandado alguma parte do corpo dele

em uma caixa?

Essa pergunta ecoava em sua mente o tempo todo, mas ela ainda não

tinha conseguido uma resposta e a verdade é que aquilo a irritava de uma

maneira inexplicável.

— O encontrou? — Francesca ouviu o Dom falar e deu um longo e


doloroso suspiro, somente queria uma noite de sono, apenas uma, mas a

cada segundo que passava isso parecia mais impossível.

— Não, papai. Ainda nada. — falou colocando o celular sobre o

balcão e alongou o corpo que estava cansado e dolorido como se ela tivesse

levado uma surra e não o contrário como realmente tinha acontecido.

— Ainda nada? Você já está aqui há semanas, como nada? — ele

pareceu esbravejar e Francesca respirou fundo contando até três

mentalmente.

— O futuro Dom que deveria fazer isso. — ela murmurou baixo

irritada e ele pareceu ouvir.

— Quem deveria fazer isso é quem eu designei e essa pessoa é você.

— ele estava parado em frente a ele, os olhos claros impassíveis, o homem

parecia uma parede de gelo intocável não se abalava por nada, o próprio
filho estava desaparecido e mesmo que ele a tivesse mandado encontrá-lo,

ele não parecia realmente preocupado com aquilo.

Ela passou a mão sobre os cabelos curtos, estava tão cansada que

agora parecia nem conseguir pensar direito, estava dormindo duas no


máximo quatro horas por dia desde que havia chegado ali, essa falta de
sono estava sendo cobrada de forma incessante.

— E eu estou fazendo, Dom. Mas não é tão fácil quanto parece. —

ela falou baixo, mas a voz era clara, estava chateada, exausta, queria paz,
queria que o homem saísse do pé dela.

— É sua obrigação!

— Não, não é. — ela respondeu o encarando, era a primeira vez

naquele dia que ela realmente olhava o homem nos olhos. — Não é minha
obrigação e você sabe disso muito bem!

— Você faz parte da…

— Não faço, nunca fiz. — ela cortou antes que ele terminasse. — Eu
sou uma mulher, sou a maldita filha do meio e sou apenas mais uma entre

as tantas mulheres Esposito!

— Você é a filha do Chefe. — ele falou seco ainda a olhando nos


olhos sem mover um único músculo do rosto sequer.
— E logo serei a irmã do Chefe, a tia do Chefe, mas nunca serei a

maldita Chefe! — ela parecia cuspir suas palavras, o homem podia ver o
fogo brilhar nos olhos dela, mas se mantinha do mesmo jeito.

— Você é uma mulher.

— Até a última vez que verifiquei era. — vociferou e pela primeira


vez o viu arquear apenas um pouco da sobrancelha. — Olha me deixe
sozinha, preciso descansar um pouco. — suspirou dando as costas para o

homem e caminhando em direção a pia, precisava beber algo, talvez


somente uma grande dose de Whisky resolvesse aquela situação.

— Descansar?

— Sim, Dom. Eu sou um ser humano, eu preciso descansar as vezes,


preciso dormir, beber, comer. — falou com ironia. Aquela conversa tendia a
ficar pior cada segundo mais, ela estava irritada, estava uma pilha enorme

de nervos.

— O seu irmão está desaparecido. — ela voltou a olhá-lo nos olhos,

a voz dele estava diferente, ela poderia jurar que havia sentido a voz dele
tremer um pouco.

— Eu sei disso muito bem e se ele não fosse meu irmão, nem aqui

nessa maldita cidade estaria. — ela espalmou as mãos no balcão. — Eu


procurei aquele idiota em cada canto dessa maldita cidade, entrei nos becos

mais podres, nos lugares mais escuros e fétidos e ainda não o encontrei, a
tal mulher parece ter tomado a porra de um chá de sumiço. — Francesca
respirou fundo novamente sem tirar os olhos dele. — Eu preciso apenas de
uma maldita noite de sono, apenas uma para poder colocar a cabeça no

lugar e então voltar a procurá-lo com todas as minhas forças, porque pode
ter certeza que a coisa que eu mais quero no mundo é encontrá-lo. Quanto

mais rápido ele estiver aqui, mais rápido eu estarei bem longe.

Os olhos de gelo dele estavam cravados ao dela, o ar parecia


rarefeito, ela queria sair dali correndo, trancar a porta e não sair mais, aliás

ela queria pegar um avião para longe, bem longe dali e voltar a sua vida
fingindo que eles não existiam, mas ela sabia que as duas opções não

funcionam com o Dom.

— Nós somos a sua família. — ele falou grave.

— Que azar o meu.

— Pare de agir como uma criança mimada.

— Pare de me tratar como uma maldita adolescente! — ela rebateu

no instante seguinte.

Foi a vez dele suspirar e contar até dez, estava perdendo a paciência
com ela.

— Nossa conversa acabou. — declarou caminhando para o quarto

sem esperar resposta alguma dele.


— Você não diz quando…. — ele falou caminhando atrás dela e a
ouviu bater à porta, o vento bateu em seu rosto e ele conseguiu dar um
passo atrás antes que a madeira batesse também, ouviu a chave ser virada e

ela se afastar, sabia que não adiantava fazer mais nada naquele momento
então parou e ficou ali pensando no que dizer.

Francesca sabia que ele estava parado do lado de fora, não ouvira ele
se afastar, seus ouvidos eram muito bons, bons até demais, não seria

enganada assim.

— Ache-o, você tem 1 mês. — ele gritou do lado de fora e por um


segundo ela sentiu o corpo tremer.

— Ou o que? — gritou de volta ainda parada no mesmo lugar,


afastada da porta para se ele a quisesse derrubar.

— Não vai querer saber o que… — ele vociferou e deu um soco na

porta. — Ache-o, isso é uma ordem, seu tempo está contando. — e sem

mais ela o ouviu finalmente se afastar.

Pensou em correr para a porta e mandá-lo enfiar o tempo onde bem

entendesse, mas só daria mais razão para chamá-la de criança mimada, por
isso não falou nada, apenas caminhou em direção ao banheiro.
Capítulo 6

Depois de um banho longo e quente Francesca deitou sobre o mar de


cobertores que estavam em sua cama e dormiu durante doze horas seguidas,
quando despertou era como se fosse outra mulher, precisava daquilo da

mesma forma que precisava de ar para respirar, tomou outro banho longo e
colocou uma roupa sabendo que sairia novamente atrás do irmão.

Calça e blusa preta e uma bota da mesma cor, seu guarda-roupa era
basicamente todo da mesma cor, as diferenças eram apenas os modelos,
todas as peças tinham o mesmo tom, preto.

Quando saiu do quarto viu um prato sobre o balcão coberto com um


bilhete.
 
“Coma tudo, não está se alimentando direito, te amo querida.
Saudades!” Mama

Ela sorriu deixando o bilhete de lado e pegou o prato levando ao

microondas, era uma macarronada, por isso diziam que Italianos só comiam
massas. Revirou os olhos dos próprios pensamentos e abriu a geladeira

pegando uma garrafa de água, sua vontade na verdade era uma taça de

vinho, melhor uma garrafa inteira de vinho, mas tinha que sair, por isso
aquela não era a melhor ideia.
Colocou a água ao lado do bilhete e pegou um par de talheres,

ouvindo o aparelho apitar avisando que já estava quente, pegou o prato e


sentou para enfim comer.

Saboreou cada pedaço do prato até que ele estivesse limpo,


realmente precisava comer direito e também estava com saudade da mãe, de

sua comida, de seu carinho, mas ela escolheu ir embora e ficar longe de

tudo aquilo e isso significava ficar longe de sua mãe também.

Claro que ela falava com a mãe por telefone, videochamada e tudo

mais, mas não era igual falar pessoalmente, sentir o calor do corpo dela, o

cheiro de maçã que a mãe tinha, ver o sorriso fácil que nascia em seu rosto

toda vez que a via aparecer no corredor ou que levava um susto de algum
dos filhos.

Sofia Ginevra Esposito era a mulher mais magnífica de sua vida,

sempre tinha sido, a mãe a entendia, aceitava e não via problema em nada

do que ela dizia ou vivia, muito diferente do pai.

Francisco Esposito, o Dom. Seu pai, era uma homem sério, frio,

treinado para ser o melhor e realmente era, mas a relação dos dois não era

boa, nunca fora, Francesca jamais aceitava ser colocada de lado apenas por
ser uma mulher e isso tudo piorou ainda mais quando ela descobriu que era

lésbica.
O Dom não aceitava aquilo, não era uma possibilidade, ela tinha sido
prometida em casamento pouco depois de seu nascimento e o casamento

seria com um homem, ela teria um marido assim que completasse 21 anos.

Aquele casamento nunca aconteceu porque a jovem jamais aceitaria

casar com um homem apenas para satisfazer os desejos do pai, não se

importava se ele era o Dom ou a porra que fosse, nunca se casaria com
homem nenhum e nem com alguém que não gostasse.

Esse era o caso de seu prometido.

Ela fugiu dois dias antes do casamento, mas não antes de sequestrar

o homem e espancá-lo até ele jurar que não iria atrás dela e que diria que a

ideia de cancelar o casamento fora dele, obviamente todos sabiam que a

ideia era dela, mas fingiam que aceitavam aquela mentira mal contada.

O homem apareceu no casamento com o olho roxo, em uma falsa

postura altiva dizendo que não queria mais nada com Francesca e saiu

deixando todos lá parados sem ação enquanto ela aquela altura já estava

longe da Sicília o suficiente para que ninguém pudesse atentar contra sua

vida ou obrigá-la a se casar.

Claro que aquele feito dela não passou despercebido por seu pai, o

homem ocupava o lugar de Chefe por uma razão e sabia muito bem o que a

filha era capaz para ter o que queria. Foi atrás da jovem, mas ela não o

respondeu, não aceitou voltar e ainda matou um de seus homens.


Francesca não tinha sido educada para matar, roubar ou até espancar

qualquer pessoa, mas claro que ela havia visto aulas, ouvido ensinamentos e
sempre foi esperta o suficiente para fazer o que fosse preciso quando quer

que fosse.

— Eu quero vídeos, fotos ou que tiver do dia do desaparecimento do


meu irmão. — Francesca falou colocando uma caixa pequena de metal

sobre o balcão enquanto encarava o homem que estava de costas para ela no
balcão.

— Criança, eu já falei que eu não sei de nada. — o homem

respondeu com uma voz sorridente e quando se virou seus olhos foram de
imediato para o metal cintilante, ele ficou sério por alguns segundos, mas
logo arqueou uma sobrancelha. — O que pensa que vai fazer?

— O que for preciso para que eu tenha o que eu quero, cansei de


conversar. — Ela falou séria. Deu a volta no balcão e pegou um copo em

seguida uma garrafa de conhaque, ia mesmo precisar, serviu uma dose e


bebeu de uma vez com os olhos grudados aos dele. — Então, meu caro.
Como vai ser? Vai me dizer ou vou precisar cortar seu dedo fora?

Ela viu com o canto do olho quando ele fez um sinal com a mão e

apenas sorriu de lado.

— Escolha errada! — falou batendo o corpo sobre o balcão ao

mesmo tempo que seus homens entravam no espaço e ele levava uma
coronhada na cabeça. — Odeio quando eles fazem isso.
Capítulo 7

— Então agora você está morando onde? Não posso imaginar uma
italiana fugindo da Itália… kkkkk — Corinna leu a mensagem e pensou se
responderia com a verdade ou qualquer outra coisa.

Fazia algumas semanas que ela tinha entrado em um site de

relacionamento, de início só para paquerar e jogar conversa fora.

Rir das pessoas que estavam lá ou qualquer outra coisa aleatória que
passava em sua mente.

Ficar presa em casa estava enlouquecendo-a, já. Essa foi uma


alternativa que deu muito certo, pelo menos no começo.

Ela tinha criado um perfil com nome falso, mas sua foto de agora,
não que ela acreditasse que as pessoas que estavam atrás dela entrariam em

um site de relacionamento, mas nunca se sabe.

Depois de alguns dias, ela conheceu Marian, uma mulher italiana

que morava nos Estados Unidos e que era muito bonita por acaso, as duas
estavam conversando desde então, ficavam horas jogando conversa fora,

falando dos assuntos mais aleatórios possíveis.

Corinna não podia negar, que realmente estava interessada nela e


queria mais do que ficar falando pela tela do computador.
— Eu estou no Rio de Janeiro, ainda estou me ajustando a cidade,

para falar a verdade não conheço nada, mas não vai faltar tempo para isso.
— ela respondeu depois de algum tempo. Falar isso não mudaria nada, era

só uma mulher aleatória, nada além disso.

— Eu não conheço a cidade, mas adoraria conhecer… Podemos

marcar de sair qualquer dia, conhecemos juntas. — as mensagens chegavam

e o coração de Corinna saltava no peito. Que merda.

— Claro! Mas acho que é uma longa viagem, não?

Foi a única coisa que ela respondeu, pensou duas ou três vezes se
falava mais alguma coisa ou sumia.

Esse era o momento em que ela deveria bloquear a mulher e nunca

mais falar com ela? Sumir?

Seria muito suspeito, claro, mas isso era mesmo um problema? Ela

não sabia na verdade e talvez nem quisesse realmente saber.

— É sim, mas os aviões estão aí para que esses encontros


aconteçam, hahaha. Marcamos depois uma data para esse encontro

finalmente acontecer, agora preciso ir, beijos! — Antes que ela pudesse

responder viu que a mulher tinha ficado off, então apenas respirou fundo e

saiu do computador.

Foi para a cozinha pegar algo para comer e viu Samila sentada no

sofá da sala.
— Não vai sair hoje? — Corinna perguntou sentando ao lado da
amiga e observando com atenção a televisão, um dos seus seriados favoritos

estava passando: Sob Pressão Para Corinna esta era a maior vantagem de

morar ali, sem dúvida alguma.

Não precisar esperar séculos para assistir ou passar a noite em sites

cheios de vírus e propagandas intermináveis.

— Hoje não! Quero apenas pipoca, chocolates e refrigerante de


companhia. — Samila suspirou arrumando a coberta sobre as pernas.

— Nem a minha companhia quer? — falou como se estivesse

ofendida, mas as duas sabiam que não.

— Sempre quero sua companhia, você sabe disso. — Samila riu e

deu um tapa de leve no braço da amiga que a abraçou apertado em seguida.

— Obrigada por entrar nas maiores loucuras comigo, te amo!

— Te amo, também sua doida. — ela olhou para o quarto e depois

para Corinna. — E sua nova "amiga". — fez as aspas com os dedos dando

muita ênfase. — Acha que vai dar em algo?

— Não sei. — A loira se afastou um pouco jogando o corpo sobre o


sofá e suspirando, pensar nisso a deixava muito nervosa, os

relacionamentos em que ela estava envolvida, mais falhava do que dava

certo.
— Mas você está gostando das conversas, não? Estão de papo a

bastante tempo…

— Sim, estou gostando. — Corinna suspirou novamente e passou as

mãos sobre os cabelos. — Ela parece ótima, mas meu radar não é dos
melhores, disso eu tenho total certeza.

— Isso eu não posso negar! — Samila gargalha e volta a prestar


atenção na televisão por alguns segundos. — Ao mesmo tempo, sei lá sabe,

as vezes você só está com medo que dê certo dessa vez.

O olhos atentos da outra se fixaram sobre ela, a amiga podia estar

certa, realmente queria que estivesse, isso significava que uma vez em sua
vida ela teria um bom relacionamento, alguém se apaixonaria por ela de
verdade e enfim ela poderia amar e ser amada da mesma maneira.

— Eu espero que sim! Tomara! — deu um sorriso e então se

levantou jogando uma almofada sobre a outra e caminhando em direção a


cozinha finalmente para buscar algo para as duas comerem.

Corinna daria uma chance para o amor, daria o braço a torcer, quem

sabe no final tudo desse certo e ela estivesse mesmo enganada.

 
A música estava alta e Corinna não era capaz de ouvir nem seus

próprios pensamentos, ela tinha um copo de uma bebida aleatória na mão e


sorria largamente, era sua primeira festa depois da recuperação, os cabelos

estavam dourados e curtos, bem escovados, as unhas curtas vermelhas e ela


usava um vestido da mesma cor das unhas justinho, depois de gastar tanto

dinheiro com procedimentos estéticos ela precisava mostrar tudo aquilo,


exibir o corpo que ela comprara.

— Amiga, eu vou dormir na casa do Arthur! — ela ouviu Samila

falar e assentiu, Arthur era o agora namorado da amiga, um jovem


brasileiro que elas tinham conhecido pouco depois de chegarem.

O rapaz falou algo que Corinna não foi capaz de entender e ela

apenas assentiu e seguiu para a pista de dança. Pelo menos alguém dormiria
bem.

Se para ela já era difícil flertar, em outro idioma era ainda pior. Ela já

estava liberada pelo médico não somente para flertes ou beijos, mas para
transar, mas esse fato não acontecia a tanto tempo que ela começava a

pensar que tinha esquecido como se fazia.

Quando tivesse que transar precisaria relembrar dos velhos e bons

tempos.

Bebeu suspirando controlando a excitação que pareceu dominá-la

naquele momento, a bebida era melhor do que ela esperava e bebeu tudo de
uma vez, voltou ao bar fazendo um sinal de um e apontando para o copo.

Na maioria das vezes se comunicava assim, quase ninguém entendia


Italiano e ela falava mal inglês, além de não falar nada de Português.

Outro copo foi colocado para ela que sorriu pegando e dizendo um “

Obrigada!”, entendia poucas palavras e julgava ser suficiente para aquele


momento.

Foi para o centro da pista outra vez e de longe avistou uma mulher

que possuía um olhar perdido, mas um lindo olhar, olhos azuis brilhantes,
cabelos ruivos na altura do queixo, usava roupas pretas, um conjunto de

calça e jaqueta de couro, estilo roqueira que ela adorava.

O corpo midsize não parecia muito diferente do seu antes da


cirurgia, imaginou como ela seria por baixo da roupa preta, como queria
mergulhar no corpo dela, suspirou rindo e sentindo o rosto queimar.

A mulher nunca ficaria com ela, nem ia entender o que ela estava
falando, ainda que para esse tipo de coisa não necessariamente se precise

entender o que a pessoa está dizendo, é uma coisa mais corporal, e a língua
dos corpos é somente uma, fica evidente quando existe desejo, quando duas
pessoas querem aquilo ou não. Muitas vezes, nenhuma palavra é necessária.

Antes que ela pudesse perambular o olhar pelo salão, os olhos azuis
da mulher encontraram os dela. Corinna não conseguiu mais desviar, ficou
ali parada encarando-a enquanto ela se aproximava. Por uma fração de
segundos foi como se todas as pessoas à volta delas sumissem.

A mulher se aproximou com o rosto sério, não tinha nada nas mãos e

nem parecia estar bebendo, o que a surpreendeu já que estavam em um


lugar badalado demais para que alguém não tivesse nada na mão, ainda

assim apenas sorriu de lado enquanto ela parava em frente a ela.

— Boa noite… — ela arregalou os olhos levemente quando a ouviu


falar em um italiano perfeito demais, perfeito até para uma aprendiz. Mas a

pergunta era: Como a mulher sabia que ela era Italiana?

— Boa noite… — sorriu tentando transparecer uma tranquilidade

que ela não tinha mais a alguns segundos.

Sem que ela precisasse falar mais alguma coisa a mulher avançou
contra ela a beijando e ela sorriu retribuindo, não importava quem ela era

naquele instante. Suspirou enquanto os lábios da outra pareciam devorar os

seus.

Pensou ter ouvido as pessoas falarem algo a sua volta, mas não

parecia importante, não naquele momento pelo menos, suspirou quando a


mulher se afastou e sorriu para ela beijando seu pescoço e a segurando mais

perto, ouviu um suspiro baixo e desejou sair dali, queria ir a um lugar onde

não tivesse que parar até que o corpo não aguentasse mais.
Capítulo 8

Aos poucos Corinna foi despertando, sentia a cabeça dolorida, muito


dolorida, os olhos estavam se acostumando com o ambiente pouco
iluminado e ela sabia que as coisas não estavam bem, algo naquela merda

toda tinha dado muito errado.

— Finalmente a princesinha despertou. — ouviu uma voz feminina


falar do outro lado da sala e olhou em direção a voz, mas nada viu apenas o
escuro.

— Eu não sei que merda aconteceu, mas você pegou a pessoa errada.
— ela falou com a voz baixa, sentia a garganta seca e a verdade era que
queria sumir, correr dali, mas era impossível e sabia disso muito bem.

Puxou as mãos, mas estavam amarradas na cadeira atrás das costas,


os pés também estavam, se ela se movesse demais a única coisa que

conseguiria era cair no chão e quebrar a cara, nada além disso.

Suspirou frustrada e ouviu os passos da mulher se aproximando, ela


parecia furiosa.

— Não, eu não peguei a pessoa errada, Corinna Marino. — Sim, ela


estava furiosa e sim sabia quem ela era, maldição, a mulher estava falando

em italiano, era a porra da mulher da balada.


Maldição, o desejo é sempre o pior inimigo da sabedoria. Devia ser

ela que estava à sua procura, ela que queria sua cabeça, e Corinna tinha se
entregado de bandeja a Italiana bonitinha.

— Como você sabe o meu nome?

— Eu sei tudo sobre você!

— Então sabe que eu não fiz nada! — respondeu afiada e ouviu a


mulher dar uma risada amarga.

— Está mentindo para si mesma, a mim não engana.

Corinna engoliu seco, será que ela tinha pego Samila também? Onde
a amiga estaria, olhou para o lado à procura da amiga, mas pareciam estar

sozinhas ali.

— Não adianta procurar saída, não vai sair daqui, não antes de me

dizer o que eu quero pelo menos. — a mulher seguiu falando e ela voltou a

olhar para o nada.

Aquilo era a maior mentira que a outra podia dizer, já tinha visto

filmes o suficiente para saber que não sairia dali com vida.

— Eu não vou falar nada, nem te conheço, não sei quem é, nem sua

cara consigo ver. — esbravejou, não tinha mais nada a perder mesmo.

A mulher se aproximou aparecendo em um pequeno fio de luz que

ficava um pouco a frente de onde estava, deveria estar ali para que a tal
mulher a pudesse ver.

E sim, ela estava certa, era mesmo a mulher da balada, ruiva, os

cabelos penteados para trás pareciam grudados à cabeça com gel, um

penteado incomum, mas que ela gostou. Deus, gostou? A mulher estava ali

para matá-la e ela reparando na beleza dela? Só podia estar louca mesmo,

não tinha outra opção para ela.

— Me diga, onde está meu irmão! — a voz era baixa e grave, ela
deveria estar furiosa e isso fez o coração da loira bater mais forte.

O pior não era morrer, o pior era o que vinha antes da morte.

— Eu não sei quem é seu irmão, sério, não sei. — ela falou sentindo

a voz tremer, droga não queria parecer desesperada, mas ela realmente

estava desesperada.

Os olhos da outra pareceram percorrer todo o seu corpo e um sorriso

pequeno e de canto surgiu quando ela percebeu que Corinna estava

entrando em desespero.

Ela devia sentir o cheiro do medo e Corinna tinha certeza que o seu
estava por todos os lugares.

— Eu posso ficar o tempo que for necessário aqui. — a voz saiu em

um sussurro e então os olhos cravaram ao dela. — Porém quanto mais

tempo eu passar aqui mais pedacinhos eu vou tirar e mandar para sua
família. — ela pareceu degustar a última frase com um prazer que a loira

jamais tinha sentido na vida.

Bom, se ela estava planejando mandar algum pedaço de seu corpo

para sua família teria que matá-la.

— Pode tentar, quero ver encontrar alguém para isso. — falou

revirando os olhos e viu a mulher estreitando o olhar e se aproximar


parecendo soltar fumaça.

— Não me desafie, maldita. — A mulher apertou sua mandíbula e


puta merda, ela era forte, Corinna sentiu como se ela pudesse arrancar seus

dentes fora.

— Minha família está morta, idiota! Não tem ninguém para você

ameaçar. — Corinna cuspiu as palavras como dava ainda sentindo as mãos


da ruiva em seu corpo.

A mulher se afastou um pouco parecendo repensar como se estivesse


em dúvida do que faria agora.

— Está mentindo!

— Não tenho por quê. — tentou dar de ombros, mas não era

impossível daquele jeito. Ela virou o rosto para o lado, às vezes sentia
vontade de chorar quando falava de seus pais, de sua família, mas tentava

sempre se controlar e manter a postura impassível, precisava ser forte para


sobreviver aquela merda toda.
— Está falando a verdade…. — a mulher observou em um sussurro

praticamente inaudível e então ela pareceu ser tomada pelo medo.

Corinna entendia o que aquilo queria dizer, se ela não tinha ninguém,

se não tinha família, não tinha o que temer, não tinha pelo que lutar, ela
sabia disso muito bem, por isso que se metera naquela merda colossal, não
existia alguém que pudesse ser ameaçado, alguém que pudessem matar por

causa dela, bom na verdade tinha Samila, mas ela não estava ali.

— Você deve ter alguém para quem eu possa mandar, sempre tem!
— ela deu de ombros e Corinna sentiu que o coração parava por um

segundo antes que ela falasse.

— Não tenho.

A mulher riu, maldição, sabia que ela estava mentindo.

— Mentira. Viu, todo mundo sempre tem alguém. — ela sorriu

largamente, aquela notícia parecia ter dado a ela um novo motivo para
continuar tudo aquilo, Corinna podia dizer que a notícia tinha sido

praticamente um gozo para a outra.

— Eu não tenho ninguém. — falou seca tentando parecer


convincente, mas sua mentira já tinha sido pega.

— Eu já sei que tem. — ela se virou de costas voltando a caminhar

para as sombras onde estava antes, mas parou e a encarou. — Até porque
mesmo que não tenha uma família de sangue, tem sua família da máfia, não
é? — arqueou uma sobrancelha.

Máfia? Que merda de ideia era aquela?

— Que? Tá maluca? Que merda de máfia, eu não me meto com

essas coisas! — falou quase gritando, mas era mentira, ela tinha roubado o
dinheiro da máfia, mesmo que sua intenção inicial não fosse essa, era o que
ela tinha feito no final.

— Pare de mentir! — a outra gritou. — Eu vou começar a arrancar


suas unhas para cada mentira que contar! — ela seguia gritando e Corinna

engoliu seco fechando os olhos tentando não sentir a dor que aquela fala
causava.

Merda, merda, merda.

— Eu não tenho merda de família da máfia nenhuma. — ela falou

puxando o ar e tentando não pensar em suas unhas sendo arrancadas, mas


agora a maldita imagem parecia não querer sair da sua cabeça de jeito

nenhum.

— É claro que tem! Você estava fazendo o serviço deles quando


pegou o meu irmão! — os olhos azuis saltaram na direção da loira que

pareceu não entender a fala dela. — Não se faça de sonsa, você pediu
dinheiro ao meu irmão, ele te deu dinheiro e depois você sumiu com ele,

com a ajuda da sua família.


— Que? Não, não tem família nenhuma, que merda! Você não está
me ouvindo? — ela vociferou com raiva gritando e a mulher voltou, quase
voando e apertando sua boca outra vez.

— Controla a porra da boca, garota! Eu estou perdendo a paciência


com você. — ela suspirou. — Você está mentindo outra vez e eu já disse o

que vou fazer…

Corinna permaneceu em silêncio então ela voltou a falar.

— Me diga o nome da pessoa que eu tenho que ligar para falar com

meu irmão!

— Eu já disse que eu não sei! Não sei!

— Eu vou te dar um tempo para pensar melhor nessa sua resposta.

— ela suspirou e a soltou se afastando.

— Ei, não me deixa aqui, eu preciso ir no banheiro. — Corinna falou

a olhando de costas.

— Faça aí mesmo, não vai sair dessa sala até o meu irmão estar

seguro. — sem mais a mulher saiu enquanto Corinna se remexia na cadeira


tentando se apertar, queria sair dali, estava apertada, precisava ir ao

banheiro, que merda era aquela que ela tinha se metido?


Capítulo 9

Do lado de fora, a cabeça de Francesca parecia não parar um


segundo, por que a mulher tinha que ser tão bonita, tão gostosa? Puta
merda!

Claro que ela já tinha matado pessoas, essa era uma coisa que mais

hora menos hora, você tinha que fazer na máfia, mas ela nunca tinha
matado uma mulher, isso era algo que ela não fazia, não importava a razão.
Agora estava ali com uma mulher para matar, uma que tinha pego a porra
do idiota do seu irmão e para piorar a desgraçada era belíssima, tinha um

perfume suave que a fazia querer foder com ela ali mesmo.

Ela passou as mãos pelos cabelos com calma, tentando colocar as

ideias no lugar, a mulher não tinha postura nenhuma de uma integrante da


máfia, demonstrava emoções demais para uma pessoa treinada, ainda mais
uma que foi designada para o sequestro de um membro de outra família.

Suspirou dando um soco na parede, maldita missão suicida essa que


ela tinha entrado.

Sim, ela estava morrendo pouco a pouco e não se perdoaria por

matar uma pessoa inocente, não gostava disso, não queria essa porra em sua
consciência pelo resto de seus dias.
Ela tinha visto o rosto da mulher pelas fitas da segurança e claro

havia dado um jeito de descobrir o nome dela, esse tinha sido o menor
problema naquele dia. O rosto dela estava um pouco diferente assim como o

cabelo, mas era um disfarce para que não a encontrassem, o que não seria

deixado de lado por Francesca, a mulher era uma rastreadora.

A ruiva viu pela câmera quando conversou com um membro de

outra máfia que estava ali em um canto da festa olhando para Felipo e
pouco depois o homem foi lá pegando-o e o levando para fora do

estabelecimento, depois disso nada do irmão.

Era óbvio que a cena pelo dinheiro era um fingimento apenas pelo

menino, agora eles já estavam com o irmão a dias até dinheiro haviam
recebido por tudo aquilo, por que ainda não tinham entregado o idiota?

Sim, Felipo era um idiota, não tinha explicação para ele, como podia

cair em uma dessa? Ele era muito mais treinado do que ela, sabia muito

mais e ainda assim tinha caído, como? Como não escapara ainda?

Deu outro soco na parede tentando contar até dez, mas parecia mais

impossível a cada segundo que passava, será que ele estava morto? Se

estivesse fatiaria ela e mandaria a cabeça para o chefe da máfia.

Caminhou uns passos pegando o celular sobre uma mesa e abriu a

foto, precisava descobrir quem era o maldito homem.


Capítulo 10

Já deveria ter passado mais de uma hora quando a porta foi aberta
novamente, Corinna já estava no limite de seu corpo, tudo doía, a cabeça
principalmente provavelmente pela ressaca, queria sua casa, sua cama,

queria ir na merda do banheiro.

— Olha, eu estou cansada, tô muito cansada de verdade. — a voz


dela era chorosa, estava implorando realmente, não queria ter que se mijar.
— Eu não sei onde ele está, tá bom, não sei o que aconteceu, mas eu não
tenho nada a ver com isso.

A ruiva caminhava na direção dela com uma cara que parecia ainda
pior do que a que ela tinha quando saiu, ela estava ferrada e não existia

outra possibilidade para sua história.

— Quem é ele? Me fala o nome desse babaca! — ela apontou o

telefone quando esfregando no rosto da loira que olhava sem conseguir

focar na pessoa.

Era um homem e falava com ela no bar, no dia do dinheiro.

— Eu não sei, inferno! — Corinna esbravejou a cada segundo que


passava ela ficava mais irritada, claro que estava com medo, apavorada na

verdade, porém a raiva era crescente, queria sair dali, poder voltar para
casa, descansar, ela não sabia onde o garoto estava, só queria ficar em paz,

mas no fundo sabia que isso não aconteceria tão cedo.

— E por acaso essa aqui não é você? — viu os dedos da outra

apontarem para a tela de maneira quase incessante, batendo e apontando


onde ela estava.

— Sim, sim sou eu, mas eu estava muito bêbada, nem lembro dessa

hora.

A mulher revirou os olhos e se afastou uns dois passos virando de

costas, ela parecia contar, deveria estar tão puta quanto ela com toda aquela
merda, mas não tinha o que fazer.

— Você não sabe de nada, não viu nada, muito conveniente, não é?

— ela cuspiu as palavras se virando com a sobrancelha arqueada.

A paciência dela parecia ter ido para o espaço já, e pelo canto do

olho ela viu a caixa de metal no canto da sala sobre uma pequena mesa,

estavam somente as duas ali naquele espaço, mas ela sabia o que aquela

caixa significava, por algum motivo existia uma lembrança sobre ela, que

Corinna não sabia de que momento de sua vida era.

— Eu não conheço esse cara, não sei quem ele é e nem o nome dele,

muito provavelmente foi a única vez na vida que vi ele, lembraria dessa

cara feia se o tivesse visto outra vez.


Ela viu o brilho de ódio surgir no olhar da outra e sentiu segundos
depois um soco em sua face, o ar faltou e nem gritar ela foi capaz.

Corinna sentiu o gosto do sangue em seus lábios ao mesmo tempo

que a visão pareceu falhar, tinha certeza que não estivesse sentada iria cair

no chão, o coração pareceu bater ainda mais forte, parecia que ela havia

dado um passo em direção a morte, porém tinha certeza que isso era
impossível, porque ela já estava com os dois pés dentro da cova desde o

momento em que tinha visto a ruiva na balada.

— Pode me bater até me matar se quiser, a resposta será a mesma, eu

não sei quem é esse homem e nem sei onde ele está ou o seu irmão. —

falou amarga ainda com o rosto de lado.

— Não fale do meu irmão!

— Quer que eu fale ou fique calada?

— Pare de me provocar! — a ruiva respondeu e ela viu a mulher

fechar a mão ao lado do corpo, fechou os olhos se preparando para o

próximo soco, mas ele não veio.

A mulher deu a volta e puxou seus braços da cadeira.

Ela gritou com o apertão, o que ela ia fazer quebrar seu braço? Mas

ela a empurrou para que se levantasse.


— O que vai fazer? Mergulhar minha cabeça em um tanque de água?

Fingir que está me cortando com sangue falso? — falou sem ver a mulher
que estava atrás dela a empurrando para andar.

— E onde descobriu essas coisas? Com sua família?

— Não! Já falei que não tenho merda de família nenhuma, aprendi

com filmes, séries e livros, muitos livros.

Ela ouviu uma risada irônica e parou de caminhar para olhar para a

ruiva, sem entender o motivo da risada.

— Assistiu tanta coisa, leu tanta coisa e não aprendeu que não se
pode roubar da máfia? — ela arqueou uma sobrancelha e Corinna engoliu
seco voltando a caminhar.

— Eu não sabia que ele era da máfia, achei que era só um drogado
idiota. — respondeu de má vontade, claro que se ela soubesse disso jamais

teria se metido com isso, era idiota, mas não tanto.

O silêncio pareceu tomar conta do ambiente e ela ficou


desconfortável, era ainda pior do que ela perguntando coisas que Corinna

não tinha respostas.

Elas pararam de frente para uma porta, que não era a mesma que ela
tinha passado momentos antes, a ruiva puxou as mãos e abriu as algemas a

empurrando para dentro do cômodo que era um banheiro.


— Se tentar fugir ou pegar algo para me bater, eu dou um tiro na sua

cara. — ela falou fria e fechou a porta. — Quando for sair dê dois toques na
porta e não demore.

Não que fugir não tivesse passado pela cabeça da loira, mas no
momento em que ouviu sobre o tiro na cabeça, essa possibilidade
desapareceu como fumaça no ar, podia pagar para ver? Claro.

Mas duvidava muito que a mulher não estivesse com vários homens

do lado de fora da porta assim que ela pisasse do outro lado o tiro na cara ia
vir, mesmo que não fosse da ruiva que estava ali do outro lado da porta.

Suspirou e foi fazer o maldito xixi, sua cabeça rodava e o banheiro


fedia, fedia muito, mas pelo menos não teria que fazer nas calças, isso já
parecia bem melhor.

A pia estava podre e ela duvidava que poderia “lavar a mão” ali,

abriu a torneira cheia de nojo e pensando que era melhor não ter feito isso, a
água saiu e ela limpou a mão, limpou o canto da boca que ardia e bebeu

aquela água de procedência muito, muito duvidosa.

Deu os dois toques e esperou, lógico que ela não iria demorar ali,
estava tão sujo que ela nem conseguia respirar direito e para ajudar não

tinha janela nenhuma, o que queria dizer que o ar fedia a xixi e outras
coisas que ela nem gostaria de pensar.
— Vire de costas com os braços para trás. — ela ouviu a voz antes
que a porta se abrisse e fez.

— Pronto! — falou respirando fundo e fechando os olhos.

Ela queria mesmo era ter coragem para tentar fugir, já estava com a

cabeça encomendada, que morresse lutando, mas era covarde demais para
isso.

A porta foi aberta e a algema foi colocada novamente, pouco tempo

depois estava no mesmo lugar, na mesma posição e a mulher tinha se


afastado dela e estava de costas ainda.

Sua cabeça não parava, ela não conseguia pensar em nada que

pudesse dizer que a ajudasse a sair dali, cada segundo parecia um mais
perto de sua própria morte.
Capítulo 11

— Olha se eu soubesse de algo para ajudar eu diria, diria mesmo. —


Francesca ouviu a frase ser dita pela mulher idiota e irresponsável atrás dela
e sentiu vontade de atirar de uma vez por todas nela e acabar com aquela

merda toda.

— Você é a culpada por tudo isso! Acredite, você vai ajudar, tem que
ajudar! — disse sem querer se virar para olhá-la. Parou um segundo e
fechou os olhos abrindo logo depois, ela era esperta, não podia falhar
naquele momento. — Eu quero que me conte tudo.

— Tudo o que? Eu já disse que não sei de nada.

— Para de se fazer de idiota, como você conheceu meu irmão? O


que queria?

— Dinheiro, eu queria dinheiro.

— Quanto?

— Muito! — a loira respondia no mesmo segundo.

— Muito quanto?

— 500 mil. — ela falou simples e Francesca arregalou os olhos, era

mesmo muito dinheiro.


— E ele te deu? — Francesca tentou não parecer tão chocada, mas

era impossível àquela altura.

— Sim, deu. — Corinna falou sentindo um nó surgir em sua

garganta, estava se sentindo culpada e realmente era culpada.

— E aí você o matou! — Francesca concluiu ainda olhando, seu

rosto era frio, mas o coração estava desesperado.

Ela não queria ter que falar isso para seu pai, não queria ser ela a dar

a notícia que um de seus filhos tinha morrido depois de ter sido passado

para trás, isso não seria bom.

— Não, a ideia era pagar alguém para sumir com ele. — ela falou
devagar como se cada palavra pudesse ser a última. — Mas ele não parecia

perigoso, por isso só paguei para darem um susto nele.

A mulher revirou os olhos se afastando um pouco e perguntou: — E

quanto custou esse susto?

— 50 mil, paguei 50 mil para darem um susto nele para que não
fosse mais atrás de mim. — Corinna naquele momento queria cobrir o

próprio rosto, queria fugir, sumir dali, mas ela sabia muito bem que isso era

impossível, que ainda que quisesse primeiro não poderia cobrir seu rosto

para esconder a vergonha e segundo fugir era uma possibilidade totalmente

remota.

— Que tipo de idiota você é, em?


— Que? — a loira a olhou, estava realmente muito ofendida com
aquilo.

— Que espécie de idiota você é que acredita que 50 mil fazem

alguém dar um “susto” em outra pessoa? — os olhos da ruiva pareciam que

iriam saltar a qualquer instante.

— E quanto custa um susto?

— Nada! Nada, sua idiota! — ela deu um soco no braço da cadeira e

Corinna engoliu seco sentindo que o mundo girava um pouco mais.

— Pode parecer óbvio para você que trabalha com essas coisas, mas

eu nunca tinha feito nada assim, não sei quais são as regras do crime. — ela

falou ofendida e ouviu a mulher rir e virar de costas passando as mãos nos

cabelos.

Ela sentia vontade de calar a boca, mas era impossível e cada palavra

que saia de sua boca parecia deixar a outra ainda mais puta.

— As regras do crime são: 1-Nunca pagar para dar um susto em

alguém 2 - Nunca fazer isso com uma pessoa da máfia rival 3-Nunca roubar
o chefe 4-Nunca roubar a máfia 5 - E não menos importante: nunca se

apaixonar.

Ela apontava os dedos, mas a última era mais para que ela mesma se

recordasse.
— Anotado! E não se preocupe, a última eu não correria o risco. —

falou revirando os olhos.

— Mas todas as outras você fez com perfeição, não é?

— Eu não roubei o chefe! — falou, recordando que essa também não


tinha feito.

— E você acha que o dinheiro que ele te deu veio da onde? — A


ruiva a olhou como se fosse óbvio.

— Merda! Merda! Eu não sabia. — tentou se defender, em vão.

— Pois é, mas roubou e é somente isso que importa e nada além.

Corinna a olhou nos olhos, precisava falar alguma coisa, tentar dizer
algo que pudesse tirá-la dali, ajudar com que ela se salvasse pelo menos em

um momento inicial. Era isso ou estaria totalmente perdida.

— Eu posso te ajudar! — ela falou quase em um sussurro e com uma


certeza que lhe tomava o peito, ela voltou a repetir e sorriu. — Eu posso te

ajudar! Posso ajudar você a encontrar o seu irmão.

Francesca arqueou uma sobrancelha e com um sorriso sarcástico


nascendo no canto do rosto perguntou: — E como posso saber?

— Primeiro eu preciso sair desse lugar imundo! — Corinna

respondeu como se tivesse certeza do que ela estava falando, mas a verdade
é que ela estava se enfiando em uma roubada ainda maior e não fazia ideia

de como poderia encontrar o irmão dela.


Capítulo 12

Dois dias tinham se passado desde a proposta que Corinna tinha feito

para a ruiva misteriosa e sanguinária, a mulher para a surpresa dela havia


aceitado a proposta de que ela a ajudasse, ela possuía alguns termos, mas
diante da situação que Corinna se encontrava, praticamente tudo era

aceitável.

Por essa razão lá estava ela de volta à Sicília, se o irmão da mulher

tinha sumido ali, aquele lugar era um perfeito ponto de partida para a busca,
ainda que ela se sentisse com mais medo ali do que longe, mas não podia
fazer nada além de aceitar aquilo e se contentar.

Nesse período ela se concentrou em realmente pensar em uma


possibilidade para encontrar o garoto, sabia que a ruiva só tinha aceitado

aquela merda toda porque queria o irmão de volta, se percebesse que ela

não valia nada sua cabeça estaria a prêmio e ela morreria no segundo
seguinte.

Não tinha mais o seu telefone e nem acesso algum a qualquer coisa

que fosse que pudesse tirá-la dali.

Mas para quem ela ligaria? Quem poderia salvá-la daquela merda

toda?
A polícia sem dúvida não seria, ela tinha quase certeza que eles

estavam juntos.

Por enquanto ela se contentaria com o fato de ter tomado um banho

decente, não usar um banheiro podre e nem estar amarrada e o fato de sua
amiga estar bem longe dali e não poder se ferrar por causa das roubadas que

ela arrumava, literalmente.

— Então, agora eu posso saber como você vai encontrar o meu


irmão? — A voz atrás dela a fez dar um salto, o coração quase saiu pela

boca e ela se virou olhando para os olhos de gelo da outra. — Então?

— É…. É, eu pensei em voltar à boate e ver se ele aparece, primeiro.

— Corinna falou tentando controlar seus batimentos o que parecia mais

impossível a cada segundo.

— Partindo da ideia de que eu já não tenha feito isso, não é? E que

de uma maneira lógica, o idiota nunca mais apareceria aqui depois de ter

pego o meu irmão.

— É. — falou como se fosse óbvio, que ridículo era lógico que ela já

tinha revirado a cidade atrás do maldito careca.

— Então? Agora que a sua primeira ideia maravilhosa já foi

descartada, qual a próxima ideia genial! — falou com desdém.

— Pode parar de ser tão irônica. — exclamou tentando pensar.


— Pode falar algo que preste? — os olhos da outra estavam cravados
aos seus e isso causava mais desconforto do que ela realmente desejava.

— E se eu der uma volta pela cidade? Sozinha, claro.

— Nem pensar!

— Mas…

— Não existe a mais remota possibilidade que isso aconteça.

Corinna suspirou passando a mão nos cabelos, estava nervosa e ter

ela ali não ajudava em nada.

— O seu tempo está acabando.

— Eu sei, eu sei, pode me deixar pensar. — ela gritou e depois

fechou os olhos mordendo os lábios e abriu vendo a mulher com uma


sobrancelha arqueada em sua direção. — Desculpe… Só estou nervosa.

— É bom que esteja mesmo, sua vida depende disso. — ela deu um

sorriso de lado e Corinna ficou com ódio daquilo.

Maldita mulher desgraçada, linda, porém não menos desgraçada.

A Italiana estava sentada com uma camisa listrada em preto e branco

e uma calça de couro, a perna esquerda dobrada sobre a direita e o cotovelo

da mão esquerda sobre o joelho da perna dobrada, uma posição clássica de

qualquer filme de máfia, será que eles aprendiam como ser mafiosos

assistindo os filmes?
Se fosse assim ela sabia muito disso, até poderia se tornar uma um

dia.

A camisa estavam um pouco aperta e ela podia ver o volume dos

fartos seios, só um pouco, mas era suficiente para fazer a excitação correr
por suas veias, se a mulher não fosse tão desgraçada talvez transasse muito
com ela, essa possibilidade não era tão ruim, por que as duas não poderiam

ter chegado aos finalmente antes dela se declarar inimiga de Corinna?

Ela não teria reclamado, a ruivinha parecia ser uma mulher que
valeria a pena toda a raiva que viria depois.

— Pare de me analisar, eu não gosto disso. — ela ouviu as palavras


saírem dos lábios da mulher raivosa a sua frente, sem sequer a olhar nos
olhos.

— Não... Não estou analisando.

— Sei! — falou pigarreando e uniu as duas mãos esfregando-as


como se pensasse.

— Ele estava com um outro homem. — Corinna falou quase em

sussurro.

— O que?

— Ele estava com outro homem, eu obviamente não sei o nome, mas

talvez eu reconheça se o vir de novo, ele não estava naquela foto que me
mandou.

A ruiva a olhou com atenção parecia estar ponderando se ela estava


falando a verdade ou não, será que ela seria capaz de mentir a esse ponto?

Não, a vida dela estava em jogo, mesmo uma doida saberia que existem
limites para certas coisas, esse era um deles.

— Então, iremos até lá, essa noite. — falou decretando.

— Você também? — a loira perguntou confirmando se havia ouvido

certo.

— Claro que eu também! Não ouviu quando eu disse que não vai
sair sozinha?

— Isso é muito estupido! — respondeu afiada.

— Estupido é você imaginar que eu vou deixar você sair sozinha


depois de você roubar dinheiro da minha família e sumir com o meu irmão.

— ela vociferou entredentes.

Corinna deu um passo para trás, mas não deixou que a insegurança
dominasse o seu rosto.

— Ok, você vai então... — falou pensativa.

— Como se eu precisasse da sua permissão. — a outra levantou

parecendo incomodada com aquilo tudo.


— Está bem, mas precisamos dar um jeito em você. — ela falou se
virando e caminhando em direção ao guarda-roupa onde suas coisas
estavam.

Antes que elas voltassem, Corinna tinha pedido para que fossem até
onde estava morando, rezou o caminho todo para que sua amiga não

estivesse ali e para sua sorte, não estava, pegou várias roupas e no minuto
que a ruiva se virou ela escreveu um bilhete e escondeu torcendo para que
Samila encontrasse.
Capítulo 13

Eram quase onze horas da noite no momento em que Corinna e


Francesca entraram pela porta principal da boate, a loira estava com um
vestido azul marinho tubinho justo até a metade da coxa e por cima uma

blusa brilhante preta de mangas longas, um salto alto da mesma cor do


vestido e os cabelos soltos, pranchados e ondulados.

Francesca usava um vestido vermelho de mangas longas, um decote


em v além de uma fenda na perna direita. Aquele nunca seria um modelo
que ela usaria e ela obviamente não o tinha em seu armário, era uma roupa

de Corinna que ela nunca tinha usado e que achou a oportunidade perfeita.

Usar roupas diferentes seria uma forma de não dar tão na cara quem

ela era.

As duas se sentaram nas cadeiras do balcão e Corinna sorriu batendo

os dedos na madeira olhando discretamente para os lados, Francesca foi

fazer um sinal para pedir algo, mas Corinna segurou sua mão e abaixou
mudando o olhar.

— Não peça nada, já já alguém vai oferecer alguma coisa. — ela

falou voltando a sorrir discretamente.

— Eu posso comprar a merda da minha própria bebida. — falou com

ironia puxando o vestido para baixo. — Por que mesmo eu vesti essa merda
de roupa?

— Porque você quer encontrar o seu irmão. — falou com raiva. —

Então cala a boca e faz o que eu digo.

A contragosto a mulher fez o que a loira estava dizendo e ela estava


certa, não se passou nem cinco minutos e duas taças de champanhe foram

colocadas na frente das duas por um homem sorridente.

— Odeio essa merda. — falou com desprezo olhando a taça.

— Que bom, tome! E sorria, você tem vários dentes na boca. —

falou bebendo.

— Que eu não tenho vontade de mostrar para nenhum dos idiotas

que estão aqui, incluindo você, é claro, principalmente para você.

Corinna deu uma risada irônica.

— Não mais do que cinco taças dessas e você me mostraria não só o

seu sorriso mais o que esconde dentro da calcinha. — falou a olhando nos

olhos e virou a taça de uma só vez colocando-a em seguida sobre o balcão

enquanto a outra parecia chocada com sua ousadia. — Vou dançar.

Francesca a olhou sair e bebeu o champanhe de uma vez também,

precisava beber algo para esquecer a imagem da outra nua em sua frente,

maldição.
Ela era linda, deveria ser… Era melhor nem imaginar o que deveria
ser, assim que terminou a primeira taça uma segunda foi servida para ela e

outra colocada para a loirinha, ela bebeu as duas e suspirou, estava na

terceira, mais duas e talvez transasse com a outra, não era essa a promessa?

E por que ela estava preocupada? Por que estava contando?

Só podia estar louca, não existia outra possibilidade.


Capítulo 14

Seis taças de champanhe depois Francesca estava na pista, dançando,


com mais uma taça nas mãos, a bebida naquele momento até parecia boa, o
coração estava saltando e ela até estava esquecendo o motivo pelo qual

estava ali, olhava a loirinha dançar e cada movimento dela a fazia querer
mais fazer com que ela cumprisse o que havia dito a pouco para ela.

— Qual seu nome? — ela ouviu e suspirou piscando algumas vezes.

— O que?

— Qual seu nome? Você não me disse! — a loira falou parando em


frente a ela.

— Francesca. — respondeu bebendo um pouco mais. — Francesca


Ginevra Esposito.

— Ginevra… — falou como se estivesse pensando. — Um

sobrenome interessante.

— Sim. — respondeu bebendo o que ainda tinha na taça e fazendo


um sinal, precisava beber muito mais.

— Ali. — os olhos da loira voaram para o outro lado do salão.

— Ali o quê? — perguntou distraída.


— Ali o cara, o cara que estava com o careca. — ela apontou e os

olhos de Francesca voaram junto ao dedo dela.

Baixo, cabelos castanhos, um terno fino muito discreto, mas não

parecia alguém desconhecido, analisou por alguns instantes tentando se


recordar, maldita bebida.

— Não, você deve estar enganada. — ela falou quando se recordou

de quem era.

— Tenho certeza que era ele, certeza absoluta. — ela falou

afirmando e baixando o dedo antes que alguém visse. — É ele, o cara falou
com ele muito próximos, como amigos de longa data.

— Merda, maldição. — Francesca praguejou baixinho suspirando.

— Qual o problema? — ela arqueou a sobrancelha, não estava


entendendo.

— Nada! — entregou a taça para a loira e saiu passando por ela e

fazendo um sinal com a mão, não mais do que 5 segundos depois vários
homens a estavam seguindo.

Ela caminhou até o homem e o empurrou na parede pressionando o

peito dele contra a madeira fria.

— Isso é jeito de dar boa noite? — a voz dele irônica confirmou o

que a loira estava dizendo, ela não precisava de nada além daquilo para ter
certeza que era verdade.

— Qual a tua? — ela cuspiu as palavras.

— Eu que tenho que perguntar isso, não? Afinal você que está aqui

com cara de quem quer me matar! — ele riu fazendo um sinal para que ela

o soltasse, mas a mulher não o fez.

— E eu tenho motivo para isso, não? — respondeu com a cara


fechada.

— Não sei, tem? — perguntou como se não se importasse, porque

realmente não se importava.

— Para de ser cínico!

— Não estou sendo!

— Você sequestrou o meu irmão! — ela quase gritou.

— E você me deixou plantado no altar à sua espera. — ele falou

calmo e frio. — Estamos quites, não acha?


Capítulo 15

Maldição, que o inferno se abrisse ali em seus pés e o maldito que


ela segurava fosse para as profundezas do inferno, era isso que Francesca
queria, mas essa merda não aconteceria nem em mil mundos.

Como ela não pensou nessa possibilidade? Era escrota demais por

isso não pensou.

Como o maldito homem podia ainda estar esperando aquilo? Uma


merda de possibilidade de se vingar?

Deu um soco na cara dele que caiu assim que ela soltou.

— Seu porco, asqueroso. Onde ele está? — falou assim que ele a
olhou e viu um sorriso surgir no rosto dele em meio a pequena mancha de
sangue.

— Não é assim que se trata alguém que está com seu irmão.

— É melhor que fale logo, ou vou quebrar o seu nariz agora! — ela

gritou e ele se levantou passando as mãos na roupa como se tentasse


desfazer um vinco inexistente.

— É melhor você tomar cuidado, ou posso mandar dar um tiro na

cara dele e mando a cabeça em uma caixa de presente para você! — ele
falou limpando a boca e pelo canto do olho ela viu seus homens se

aproximarem.

— Se pretendesse fazer isso, já teria feito a muito tempo, não teria

dado aviso nenhum. — ela falava em um tom mais ponderado agora, estava
procurando maneiras de matá-lo sem que ninguém soubesse.

— E quem disse que não o fiz? — ele sorriu de lado irônico e ela

revirou os olhos.

— Você não tem culhão suficiente! — respondeu sorrindo sabendo

que os homens dele estavam ouvindo e o sorriso dele se desfez.

— Escuta aqui! — ele falou com o dedo em haste avançando sobre


ela.

— Francesca! — ela ouviu a voz da loira e suspirou querendo dar


um soco nela também, isso era hora?

— Então, essa é sua putinha? — ele perguntou com nojo olhando a

mulher de cima a baixo e Francesca se viu querendo matá-lo logo, seria


rápido e muito doloroso.

— Puta uma ova, babaca! — Corinna respondeu pisando no pé dele

e dando um chute entre suas pernas.

O babaca se contraiu gritando e os homens a sua volta se

aproximaram para protegê-lo, mas era tarde demais.


— Você tem 24 horas, nada mais. — ela o olhou e balançou a cabeça
com desprezo. — E não me teste, Américo, não terei piedade de você. —

ele a olhou e ela passou uma mão sobre os lábios. — Se fizer qualquer coisa

com ele eu mesma mato cada pessoa da sua família, começando pela sua

irmã mais nova!

Ela se virou de costas saindo e o ouviu rir em desafio.

— Você não tem controle nenhum aqui e nunca encontraria a minha


família, eu não sou como você! — ele se levantou com a ajuda dos seus

homens.

— Não encontraria Sophia na casa da sua tia Filó a duas horas e

meia daqui, ou não encontraria Suzanne na casa que você tem no porto

junto com a sua mãe que por acaso está grávida, não? — ele falou ainda
virada de costas e depois se virou de frente para ele.

O homem estava quieto, o sorriso desfeito e ela sorriu satisfeita.

— Realmente, você não é como eu e nem pense em tirar ninguém da

onde está, vou considerar isso um aviso de guerra, eu tenho homens a posto

esperando por um telefone, só isso. — ela se aproximou pensativa. —


Talvez eu devesse começar pela sua mãe, não acha? Ela e seu irmão que

ainda nem nasceu. — A fala de Francesca era seca e ele pareceu ficar sem

voz.

— Não ouse…
— Você tem 24 horas e o tempo está contando. E nem pense em

fazer qualquer idiotice, eu tenho olhos em todos os lugares. — ela


sussurrou.

— Se tivesse, Felipo estaria aqui.

— Se eu estivesse aqui ele não teria sumido, mas eu vou encontrá-lo,

nem que eu precise matar cada um dos seus parentes vivos e depois matar
você, arrancando seus órgãos primeiro e vendo você estrebuchar como um

verme, porque é isso que você é! — ela cuspiu as palavras sobre ele e saiu
sem dizer mais uma palavra sequer.
Capítulo 16

Claro que as palavras do idiota escroto haviam mexido com Corinna,


mas a preocupação agora era outra. Ela não podia se preocupar com uma
suposta ideia de que a ruiva italiana estava gostando dela.

Ainda que aquela ideia a agradasse muito, muito mesmo.

— O que faremos? — ela perguntou percebendo que o silêncio da


outra crescia a cada segundo mais.

— Vamos nos esconder aqui na frente e esperar até que o

incompetente saia para buscar meu irmão. — ela falou suspirando e


atravessando a rua e Corinna a seguiu.

— Como tem certeza que ele fará isso? — a loira pergunta e recebe
um olhar atravessado da outra.

— Eu tenho certeza porque o conheço, porque sei o quanto ele tenta

incansavelmente parecer o melhor e fracassa em todas as suas tentativas. —

Francesca se acomodou e sentou checando a arma e suspirando.

Corinna nada disse, apenas sentou e esperou sem saber ao certo o

que esperar a partir daquele momento.

Longos minutos se passaram, para a loira que estava de cócoras atrás

de um carro pareceram intermináveis, seus braços doíam e suas pernas


pareciam que não aguentariam um segundo mais sequer firmes.

O homem saiu tranquilo, mas com as mãos sobre o pescoço como se

tentasse melhorar a dor que existia ali, a ruiva estava com os olhos cravados

em todos os movimentos do homem, nada passaria despercebido por ela.

Ele fez um sinal para um segurança que estava parado a alguns

metros e trocou não mais do que três ou quatro palavras com ele, palavras

essas que Francesca não conseguia decifrar mesmo com esforço.

O segurança se afastou e foi falar com outro homem que entrou no

carro e logo Américo entrou em um carro também.

— Nossa vez, loirinha! — a ruiva falou chamando a atenção de


Corinna que parecia ter deixado seus pensamentos a transportarem para

outro lugar.

As duas começam a caminhar agachadas até a moto e sobem

colocando os capacetes para logo irem atrás de Américo que já está a uma

distância considerável.

Corinna apertava a cintura de Francesca mais do que era necessário,

isto é claro não era pela velocidade da moto e nem pela tensão do momento,

isto era resultado do que a proximidade da mulher causava nela, do

nervoso, o caos completo que viravam sua mente e eu estômago quando a

olhava nos olhos.


Francesca também não podia negar que a proximidade da outra
mexia com ela, ainda mais daquele modo, podia sentir o calor do corpo dela

junto ao seu, a sensação de enlouquecer parecia aumentar cada segundo

mais, porém ela tinha um propósito ali, estava ali para recuperar o seu

irmão inconsequente e nada além disso, mesmo que desejasse, não podia

esquecer do seu trabalho.

O carro parou e as duas pararam também, saindo do mar de

pensamentos que a proximidade uma da outra causou. Respirando fundo e

fingindo que nada havia acontecido ali, elas esperaram pelos próximos

passos de Américo para saber o que fazer dali por diante.

O homem saiu do carro e caminhou em direção a um galpão

abandonado, algumas luzes foram acesas e homens se posicionaram em

frente aos espaços.

— Acha que seu irmão está aí? — a voz de Corinna era tão baixa

que mal se podia entender.

— Tenho certeza que sim!

— O que faremos então?

— Você, nada! Vai ficar quieta aí e eu vou lá pegar ele. — Sem

esperar uma resposta da outra, Francesca saiu caminhando e parou em

frente a um carro.
O coração de Corinna batia tão forte que ela podia sentir cada

membro de seu corpo se contraindo junto com as batidas dele, a ruiva


estava parada em um carro apenas alguns passos dela e muitos do galpão,

ela deu duas batidas no vidro e a mulher parada observando a cena fechou
os olhos imaginando o que viria a seguir, tiros? Gritos? Ela não sabia ao
certo na verdade, porém sabia que não podia esperar nada de bom daquilo,

mas em resposta… silêncio.

Ela abriu os olhos outra vez e só então se deu conta de que contraia

as mãos, muito mais do que o necessário na realidade, as palmas estavam


marcadas por suas unhas e os nós dos dedos brancos pela pressão que ela
exerceu naqueles minutos se contraindo por completo pelo que viria.

Os homens que estavam no carro não pareciam ser inimigos de

Francesca e sim aliados, com armas em punho eles partiram para cima dos
que estavam parados em frente ao galpão, socando e atirando e em poucos

segundos ela avistou outros carros chegarem e pararem com homens saindo
correndo deles e partindo para o confronto, ela realmente esperava que

todos aqueles homens estivessem do lado da ruiva, ou ela estaria ferrada


naquele momento.

Com sua atenção nos homens que chegavam ela acabou se distraindo

e perdendo a mulher do seu campo de visão, não era difícil achá-la é claro,
a única mulher em meio a todos aqueles homens, cabelos cor de chama do

fogo, tudo não parecia difícil, mas era na realidade.

Depois de um longo suspiro, ela se sentou agachada abraçando os

próprios pés e desejando que tudo ficasse bem, que a mulher ficasse bem.

Talvez o melhor a se fazer naquele momento era sair dali, escapar,


fugir para onde quer que fosse, dar um jeito da outra nunca mais encontrá-
la, mas como poderia? Ela queria ver outra vez aqueles olhos que eram

como o mar mais profundo, os cabelos rebeldes vermelhos sobre um lençol


branco, os corpos suados se enlaçando um ao outro em meio aos gritos de

prazer. Céus, estava ficando louca.

Ela suspirou ofegante passando as mãos ao lado do corpo e contendo


a onda de excitação que passou por cada centímetro de sua pele, aquele não

era o momento para isso, mas se fosse ela sem dúvida aproveitaria e muito.

O que seguiu foram barulhos altos de tiro, gritos e o som das pessoas
lutando, Corinna se encolheu se escondendo, ir lá e lutar era uma coisa que

ela jamais faria, ela não demoraria mais do que dois minutos para levar um
tiro e morrer, disso ela sabia muito bem, então era melhor ficar onde estava.

As horas passaram mais rápidas do que a jovem Corinna poderia


imaginar, ela despertou sentindo a cabeça doer, levantou da cama com as

mãos sobre a cabeça, abrindo os olhos devagar e sentindo que tudo rodava,
no momento que seus pés pisaram no chão sentiu uma enorme pressão na
parte de cima da cabeça como se fosse explodir, apertou os olhos e depois
os abriu outra vez.

Talvez não para sua sorte, porém para sua felicidade estava deitada
na cama de Francesca, deu um sorriso de lado e uma sensação diferente

tomou conta de seu corpo, alívio…

Corinna levantou da cama devagar olhando o espaço com calma,

estava sozinha, buscou na memória as lembranças do que tinha acontecido


até que ela chegasse ali, mas o último que se lembrava era dos tiros e dos

gritos das pessoas lutando, os barulhos eram tão altos que ela ainda sentia
dor de cabeça só de lembrar.

A loira viu o computador ligado sobre a mesa e caminhou em

direção a ele sentando-se na cadeira e abrindo uma guia da internet, se


conseguisse mandar uma mensagem para Samila talvez a amiga

conseguisse chamar a polícia, ainda que sua esperança parecesse naquele


momento escorrer por suas mãos a cada segundo mais.

Assim que a guia abriu ela viu o site de relacionamento que ela fazia

parte se abrir e o perfil de Marian aparecer, sentiu uma dor no coração e a


boca ficar amarga, a mulher que ela estava conversando todo esse tempo, a
Italiana que ela pensava dia e noite era a mesma que estava pronta para

matá-la do outro lado da porta.


Corinna deveria ter imaginado, como ela poderia encontrá-la? Como
saberia que era ela? Idiota! Era assim que ela se sentia.

Ruivas deveriam mesmo ser bruxas, porque a maldita mulher a tinha

enganado, torturado, quase a matado, ainda assim ali estava ela pronta para
o que quer que viesse a seguir, sem medo do que quer que fosse.

Ouviu o rangido da porta e virou o rosto vendo a mulher dos seus

sonhos…. pesadelos entrar.

— Você me enganou! — Foi a primeira coisa que veio à sua mente.

— Acho que o certo é, bom dia! Obrigada por salvar a minha vida e

não deixar que um dos homens que eu mesma coloquei em minha vida me

dessem um tiro no meio da testa sem que eu sequer pudesse me defender.

— Os olhos azuis estavam atentos sobre ela.

— Eu não vou te agradecer, merda nenhuma! — ela se levantou da


cadeira e fuzilou a outra com o olhar enquanto indicava a tela do

computador mostrando o que queria dizer.

— Além de ser ladrona, ainda é intrometida.

— Ladra!

— O que? — a ruiva a encarou sem entender.

— É ladra.
Francesca a encarou pensando no melhor a dizer e então riu

balançando a cabeça e fechando a tela do computador enquanto parava de


frente para Corinna quase colada nela.

— Ladrona também é o feminino de ladrão, ainda que pareça errado,

não está, mas sim, você é uma ladra também, e muito intrometida. — os

olhos dela faiscaram como se uma ideia perversa passasse em sua mente e

ela parecia gostar muito dela. — Eu deveria te dar umas boas palmadas por
isso.

Corinna sentiu um arrepio percorrer toda a extensão do seu corpo, a

ideia era péssima, porém, parecia muito boa também.

— Você não ousaria. — foi o único que saiu de seus lábios em meio

a um sussurro que pareceu deixar a outra ainda mais instigada para realizar

aquela promessa.

— Você duvida? — A declaração veio carregada de tesão e o olhar


pesado desceu para os lábios da outra.

O silêncio pareceu aquecer o ambiente, um calor que começava a

queimar a pele das duas mulheres, tornava a respiração das duas ainda mais

pesada e os corações começavam a bater mais rápido que o normal.

Francesca levou a mão direita à cintura de Corinna e a esquerda até

sua nuca puxando os cabelos dela e dando um beijo sem permitir que a
outra tivesse qualquer reação que fosse.
A surpresa durou apenas um segundo e no seguinte as mãos de

Corinna estavam apertando o corpo de Francesca contra ela, o fogo do

desejo as consumia por dentro, ela não queria só um beijo, não queria só
uma língua em sua boca, queria aquela língua percorrendo seu corpo, queria

a língua entre suas pernas a fodendo sem piedade, fazendo ela gritar até

ficar sem ar para conseguir emitir qualquer som que fosse.

Alguma coisa caiu na cozinha fazendo um barulho alto e as duas se

afastaram arfando, lábios vermelhos inchados, corações em salto dentro do


peito, uma pulsação latente entre as pernas que parecia ser impossível de ser

contida se não com o término daquele momento.

— Francesca! — Uma voz masculina ecoou do outro lado da porta e

a ruiva respirou fundo passando a mão sobre os cabelos se arrumando, mas

o rosto vermelho e a boca inchada eram impossíveis de serem disfarçados.

— Fique quieta e não saia daqui a menos que eu mande. — A ordem


veio baixa, porém firme e a mulher saiu sem sequer ouvir uma resposta ou

ver um aceno da loira.

Francesca saiu fechando a porta devagar e respirando fundo várias

vezes como se isso fosse acalmar seu coração e apagar o que quase

aconteceu dentro do quarto.

Não, não iria apagar e ela nem queria que isso acontecesse, muito
pelo contrário, ela queria voltar para o quarto, rasgar a roupa de Corinna e
fazer a mulher revirar os olhos de prazer, a imagem da loira vermelha com a

boca inchada estava dominando sua mente naquele momento e ela queria
que fosse eterna.

— O que foi? — Os olhos dela cravaram com o do Don que estava

parado na ilha da cozinha com um braço apoiado sobre o mármore e o outro

em seu bolso, ao lado dele um copo com Whisky pela metade e do outro

lado da ilha um copo de vidro quebrado no chão.

O homem a olhou de cima a baixo, claro que o rosto vermelho a


delataria, mas naquele momento essa era a menor de suas preocupações.

— É assim que você trata nossos prisioneiros? — o homem começou

a ficar vermelho e ela balançou a cabeça revirando os olhos.

— Só as que me agradam! — ela devolveu pegando um copo e

virando a garrafa sobre ele se servindo de uma dose, se iria ouvir desaforo,

que pelo menos estivesse bebendo alguma coisa.

— Francesca COLOCAR NOME COMPLETO! Não admito que


fale assim comigo. — o homem já estava da cor de um pimentão e ela

bebeu o encarando.

A bebida desceu amarga, rasgando, mas estar ali era mais doloroso

do que qualquer bebida poderia ser.

— Eu vou pegar o dinheiro dela, te entregar e depois disso vou

voltar para casa. — a fala era fria e ele não gostou.


— Essa é a sua casa!

— Não, não é! Essa nunca foi a minha casa e nunca será, você não
me aceita, não me respeita, eu nunca servi para você, sempre fui uma

vergonha e ainda assim é para mim que você liga quando precisa de

salvação. — ele tentou falar algo, mas ela esticou a mão para que ele se
calasse. — Eu não quero te ouvir e não vou. — os olhos dela estavam

grudados aos dele. — Eu cansei, cansei de tentar mudar para te agradar,

tentar ser uma pessoa que eu não sou, fingir e dissimular como se fosse

errado ser quem eu sou, não é! Não é errado e eu não estou nem aí se você
pensa o contrário.

— Francesca…

— Eu disse que não queria te ouvir! — ela gritou. — Para o inferno

você e essa maldita família, eu vou embora e nunca mais vou voltar, não

importa o quanto me ligue, grite, implore, se mandar seus homens, eu os

mato um por um até que sobre somente você! — ela estava com o dedo em
haste apontado para ele e os olhos vermelhos tentando conter as lágrimas

que brotavam.

— E aí vai me matar também?

— Não, esse feito é seu, papai! Quem me matou foi você, muitos

anos atrás, ainda assim eu estou aqui servindo a você como a boa filha que

sempre fui, fazendo o que nenhum deles jamais teria feito por você, mesmo
que você tenha me matado um pouco mais a cada dia durante todos esses

malditos anos. — ela suspirou e se virou de costas engolindo o nó na


garganta. — Eu quero que saia daqui e que nunca mais me dirija à palavra.

Francesca quis gritar mais alto, desejou jogar todos os copos de


vidro sobre o pai, mostrar o quanto ela sentia raiva por aquilo.

— Eu ainda serei seu pai! — foi o que ele escolheu dizer, que

péssima escolha.

— Não, não será, quando essa porta se fechar atrás de mim, eu juro

que nunca mais volto a não ser no meu caixão. — a fala fria foi direcionada

para ele e os olhos se encontraram. — Eu não me importo mais com o que


pensa ou o que quer que seja que passe na sua cabeça.

Com o coração quase saltando para fora do peito a jovem entrou em

seu quarto outra vez, a cabeça apoiada na porta e os olhos fechados,

lágrimas pesadas escorriam de seus olhos enquanto ela tentava conter o


soluço que começava a se formar em sua garganta, ele não merecia aquilo,

não merecia suas lágrimas, ela suspirou tentando se conter.

Aquelas lágrimas não eram para ele, era somente dela, da dor que

estava tanto tempo dentro de seu peito que a estava matando por dentro, do

buraco enorme que cresceu cada dia mais durante aqueles anos em que ela
não esteve naquela casa, toda mágoa não curada.
— Acho que ele não quis dizer o que disse. — A voz veio do fundo
e Francesca suspirou baixo, por um momento ela tinha se esquecido que a

outra estava ali.

Do outro lado do quarto estava o motivo da sua briga, a razão pela

qual ela estava de volta para a Itália, de volta para a casa que um dia muito

tempo atrás foi o seu lar, a dona dos pensamentos mais loucos que ela teve
por semanas, a mulher que estava sob a mira da máfia e sobre todas as

ordens do seu coração.

— Ele quis e ele já me disse coisas muito piores do que isso.


Capítulo 17

Corinna saiu do quarto por algum tempo, queria dar tempo para que
Francesca pudesse se recompor sozinha, a ruiva sabia que não teria como
ela fugir, então só sair do quarto não era uma opção tão ruim.

Exceto pelo fato que o pai ainda estava parado no mesmo lugar na

cozinha.

Os olhares se encontraram assim que ela fechou a porta e a loira


pensou em voltar para o quarto, era melhor enfrentar a fúria da italiana lá

dentro, ou acabar com a dignidade dela e a ver se acabando de chorar.

O homem com cara de assassino cruel a olhava sem sequer piscar, o

rosto envelhecido não parecia se mover e o peito estufado não subia e


descia, ele não deveria nem respirar.

— Aí está o motivo de toda essa confusão. — ele falou baixo e


passou o olhar pelo corpo dela, depois revirou os olhos batendo os dedos

sobre a mesa.

— Eu sou a responsável por uma confusão. — ela fez um sinal com

o dedo. — Toda essa confusão, acredito ser culpa sua. — Corinna mostrou
o cenário e depois o encarou.
— O que disse, garota? — A voz ficou grave e ele se aproximou

inflando os ombros e a cobrindo.

— Está surdo também? Eu sei que gente velha tem essas coisas,

mas….

— Escuta aqui!

— Você que tem que escutar, né? Eu estou escutando bem. — a


jovem devolveu no segundo seguinte.

Corinna não estava com medo, não naquele momento, medo é uma

sensação que existe somente quando se tem algo a perder, aquele não era o

caso, ela tinha apenas a sua vida, nem isso mais, estava ali na casa deles,
depois de quase matar o filho de um mafioso, depois de roubar o dinheiro

da máfia. Aquela mulher parada em frente ao chefe da máfia não possuía


nada que ele não pudesse tirar com um estalar de dedos.

Por isso não existia razão pela qual ela não pudesse dizer qualquer

coisa que passasse por sua cabeça naquele momento, por mais idiota que a

ideia pudesse parecer.

— Sabe o que acontece com quem fala demais? — o homem seguia

na mesma posição.

— O que? — a voz dela era de puro desdém.

— Acorda com a boca cheia de formiga.


— É, eu já ouvi isso em alguns filmes… — ela deu de ombros e
desviou do homem caminhando até a geladeira.

— Eu não estou brincando, garota! — ele se virou na direção dela.

— Nem eu, já ouvi mesmo em um filme! — ela pegou queijo na

geladeira e colocou sobre o balcão, procurou no armário uma tábua e

começou a cortar os queijos e colocar sobre a tábua, em seguida abriu outro

armário vendo o que poderia comer dali.

— Essa casa não é sua para que saia pegando tudo. — o homem

pareceu se desviar da conversa.

— Estou com fome, se estiver pode comer também. — ela pegou

algumas coisas que começou a colocar ao lado dos queijos depois procurou

uma garrafa de vinho, devia ter uma em algum lugar por ali.

Não demorou para que ela achasse e colocasse sobre a ilha para abri-

lo.

— Minha filha vai matar você!

Corinna o olhou e deu um meio sorriso.

— E depois ela vai embora e você nunca mais a verá.

Ele a encarou e parecia que ele mesmo queria fazer o serviço.

— Adivinha? — ela perguntou colocando o vinho em uma taça.

— O que? — O Don pareceu não entender.


— Isso eu não ouvi em um filme e sim por trás da porta. — ela deu

uma piscadela para ele e bebeu o vinho.

— Eu poderia matar toda a sua família na sua frente e fazer com que

assistisse. — o pai de Francesca seguia parado no mesmo lugar a encarando


e falando.

O homem parecia pensar em um milhão de maneiras de torturá-la,


Corinna podia ver a fumaça que saía da cabeça do homem de tanto que ele

pensava, isso na verdade a deixava com vontade de rir.

— Sinto muito, senhor! Você chegou muitos anos atrasado, meus

pais morreram quando eu era uma criança ainda e minha tia antes que eu
me tornasse uma adulta, sou apenas eu e eu, assim como sua filha será
assim que acabar com a minha vida. — ela declarou olhando nos olhos dele

e depois virou todo o conteúdo que ainda estava na taça, a bebida descia
mais amarga do que ela estava acostumada, mas essa não era uma

preocupação real na verdade.

— Isso nunca vai acontecer! — se aproximou alguns passos, porém


ainda estavam separados pela ilha.

— Vai, vai sim. Eu sei, você sabe e ela tem certeza disso. — Corinna

apontou para a porta do quarto. — Você quer que ela seja alguém que ela
não é, uma pessoa que você sabe que no fundo ela jamais poderia ser, quer

cobrar dela uma função que ela nunca será gratificada para fazer. Você quer
que Francesca seja você, Don Francisco. — a mulher voltou a encher a taça

e encheu outra mantendo em sua frente. — Talvez ela até se torne um pouco
mais parecida com você quando me matar, entretanto se isso acontecer ela

também terá força o suficiente para subir porta a fora e garantir que você
nunca mais a encontre nem que gaste todas as suas forças e aí eu e ela

estaremos na mesma posição. Sozinhas, fodidas e na sob a mira da máfia.


— a loira virou a taça outra vez e empurrou a taça na direção dele. — Um
brinde à você!

Sem falar mais uma palavra sequer ela saiu da cozinha e passou
porta a fora deixando o homem parado ali na mesma posição sem saber o

que fazer a seguir.

Depois de caminhar durante alguns minutos ela deu de cara com


Felipo, o jovem ainda estava machucado, um olho roxo, braço enfaixado,
Corinna engoliu seco analisando a fisionomia dele, antes que pudesse

escapar dali sem falar nada o homem a encarou.

— Pensei que nunca mais fosse te ver! — a voz era baixa, rouca,

quase inaudível.

Ele passou muito tempo gritando e não estava sendo fácil aquela

recuperação.

— Pensou que nunca conseguiria me matar? — ela tentou dar um

sorriso irônico, mas não conseguiu.


— No começo sim, depois sei lá, só esperei que aparecesse para
pedir mais dinheiro, dizer que tinha me sequestrado. — ele tossiu fazendo
cara de dor. — Esperei até que você aparecesse para me matar e acabar com

tudo de uma vez.

Ela pode ver a dor nos olhos dele, era de verdade, ele também estava

sozinho, a culpa parecia consumi-la cada segundo mais, a loira queria poder
dizer que não era culpa, que não era isso que ela tinha pedido, mas a
verdade é que não importava pelo que ela havia pago, a culpa era dela e

ponto final.

— Me desculpe. — ela declarou verdadeira por fim. — Eu realmente


sinto muito, de verdade, se eu soubesse, se imaginasse…

— Que eles te pegariam? — o homem arqueou uma sobrancelha e

ela balançou a cabeça negando, isso não era importante.

— Que eles fariam mal para você! Que iriam quase te matar! Eu não
me importo de ter sido pega.

— Está falando isso porque minha irmã ainda não te torturou.

— Ahh, ela fez isso sim. — engoliu seco. Não estava falando do
tempo amarrada e sim de toda a conversa mentirosa que a outra inventou,

isso sim era uma verdadeira tortura, cruel, falsa, ardilosa.

— Eu te perdoo. — Felipo falou a encarando. — Não ligo na


verdade! — ele deu de ombros. — Eu sempre amei Francesca por ter
coragem de sumir e não dar sinal de vida.

— Acho que ela não fez isso por coragem e sim por tristeza. —
Corinna devolveu com um olhar atento.

— Eu sei disso, queria que fosse diferente, mas acho que nunca será,

ele não se importa na verdade.

— Sinto muito por isso.

— Eu também! — Era verdade, ele sabia e ela também.

O clima pareceu ficar mais pesado, mesmo com as desculpas, com

os sentimentos, as coisas pareciam não se resolver como Corinna imaginou

que seria.

— Se você quer ficar com ela, tem que saber que isso vai ser
frequente. — Felipo falou depois de algum tempo e a loira o encarou como

se tentasse entender o que estava acontecendo.

— Ela quem? Como assim frequente?

— Minha irmã. — ele a encarou. — Eu vi como ela ficou e ouvi

uma conversa dos meus pais. — ele deu de ombros outra vez, aquele

parecia ser um gesto natural para ele. — Você dormiu por dois dias e ela
ficou bem preocupada. — ele a olhou com atenção.

— Sua irmã e eu, nós… É…


— Não precisa se explicar. — ele esticou a mão. — Não tenho o

mínimo interesse, mas se quiser entrar para uma família da máfia, esse não
vai ser o primeiro sequestro que vai participar, nem o primeiro que vai

mandar acontecer.

Corinna abriu a boca com menção de declarar algo, mas fechou logo

em seguida, abriu outra vez e fechou novamente.

— Ainda que eu quisesse, acho que não seria muito bem recebida

nessa família, estou errada? — Ela arqueou uma sobrancelha e ele riu pela
primeira vez desde o início daquela conversa.

— Não, não está. Mas por Francesca talvez valha a pena tentar, não?

— o olhar dele desviou do dela e Corinna virou o corpo olhando na mesma

direção que ele.

Don Francisco estava parado na porta, a bengala apoiada em uma

das mãos e a outra no bolso, os cabelos brancos, a cara fechada, o rosto


ainda um pouco avermelhado, nada parecia abalar a jovem Corinna, ela

ainda estava com muita raiva dele.

Naquele momento, desejou que ele tropeçasse e caísse de cara no

chão, assim talvez um pouco da sua raiva se transformasse em alegria ao rir

de sua desgraça, porém ela sabia que isso não aconteceria.


Francesca estava com os cabelos molhados, os olhos ainda um pouco

vermelhos, mas o rosto aparentava estar mais tranquilo, usava um vestido

salmão na altura da metade das coxas, delineava perfeitamente o corpo da


mulher e ela teve que se conter para não demonstrar isso tanto.

Duas horas haviam se passado desde a discussão com seu pai, depois
de muito chorar, ela saiu para gritar mais algumas verdades para o pai, mas

o mesmo já tinha saído da cozinha, então ela deitou sobre a cama e ficou

algum tempo pensando em como arrumaria sua vida.

Ela teria mesmo coragem de passar pela porta e fingir que eles não
existiam mais? Agir como se fosse sozinha no mundo? Queria muito

conseguir cumprir o que havia prometido para ele.

Com uma taça de vinho na mão e comendo um dos queijos que

Corinna colocou na tábua, ela observava com atenção a loira que estava

sentada do outro lado da ilha da cozinha, também tinha tomado banho e


agora estava com um vestido azul que era de Francesca e ficava largo nela,

não muito, mais o suficiente para que o colo dela ficasse mais a mostra que

o normal.

A mulher em frente a Francesca já tinha tomado uma garrafa inteira

de vinho sozinha e agora estava na segunda, enquanto ela finalizava a


primeira, o rosto da loira estava ruborizado, e pela cabeça da ruiva, diversos
pensamentos que envolviam ela vermelha, nua e gritando de prazer, ou

melhor gritando o nome dela.

O desejo dos seus pensamentos pareceu tomar conta de seu corpo,


agora seus mamilos estavam marcando na roupa, tenros, o centro de seu

corpo latejava, enquanto imagens de Corinna entre suas pernas apareciam

em flash 's na sua cabeça sem parar.

— Eu preciso do dinheiro. — foi a primeira coisa que ela falou, a

única que veio em sua cabeça e que a tirava daquele mar de desejo
profundo.

— Que? Que dinheiro? — Os olhos castanhos pareciam brilhar ainda

mais, os lábios vermelhos brilhantes, uma gota do vinho escorreu pela

lateral de sua boca e ela passou a língua para retirar.

Francesca desejou que ela mesma pudesse passar a língua ali,

percorrer pelo pescoço, pelo colo, desenhar todo o corpo dela com a língua
até chegar em sua boceta, onde foderia ela sem pena.

— O dinheiro que roubou da minha família. — Disse pigarreando e

virando toda a taça de vinho, Deus ela precisava sair dali.

— O dinheiro está aqui. — apontou o próprio corpo. — Silicone,

lipo, rinoplastia.

— Eu quero o dinheiro de volta. — Queria só não, ela precisava, era

sua última escolha, matar Corinna não era uma opção para ela, não mais.
 

— Fique à vontade. — abriu os braços. Ela realmente queria que a

outra pegasse o dinheiro, percorrendo todo o corpo dela.

— Se precisar vou chupar cada milímetro do seu corpo até que eu o

tenha de volta.

— Estou prontíssima para isso. — indagou sorrindo.

Francesca não precisou dizer nem uma palavra mais, largou a taça

sobre a ilha e deu a volta avançando sobre a mulher que sorria, as duas se

beijaram e tudo pareceu entrar em combustão, Corinna segurou nos cabelos


dela e puxou enquanto ela apertava sua cintura e a puxava para perto de seu

corpo.

O beijo das duas tinha gosto de vinho e tesão, Corinna gemeu entre o

beijo e puxou o lábio inferior da outra mordendo e se afastou arfando.


Sentiu seu corpo ser levantado do chão e colocado sobre a ilha, rindo, se

jogou sobre a pedra gelada, um arrepio percorreu todo o corpo ao mesmo

tempo que ela sentia seu vestido ser erguido.

A calcinha foi colocada de lado e Francesca mergulhou entre suas

pernas, o grito saiu de seus lábios no segundo seguinte ao mesmo tempo


que a ruiva beijava entre suas pernas, ela tentou fechá-las, mas a mulher se

meteu entre elas dando um riso baixo e passando a língua desde seu monte

de vênus até a entrada de sua vagina, ela contraiu o corpo quando sentiu
uma mão fria puxar seu mamilo direito e a língua quente rodar sobre seu

clitóris.

— Santo Deus! — ela gritou levando as duas mãos acima da cabeça

e apertando a beirada da pedra, o corpo tremelicou enquanto a língua entre


suas pernas parecia tomar gosto do que fazia.

Ela sentia a excitação correr por suas pernas e o coração bater cada

vez mais acelerado. Corinna inclinou o corpo para conseguir ver a mulher

ali, que visão, o baixo ventre se contraiu no mesmo instante que um grito
forte escapou de sua garganta e ela sorriu sentindo o gozo tomar conta de

cada parte de seu corpo.

Dois minutos depois ela sentiu sua mão ser puxada e colocada entre

suas pernas, ela olhou para Francesca que se afastou encostando o corpo no

armário e tirou a própria calcinha a deixando deslizar por suas pernas e


depois tirou devagar seu vestido, ficando apenas com um sutiã rendado

branco praticamente transparente.

O coração de Corinna saltou mais forte no peito e ela se apoiou em

um dos cotovelos passando o olhar por todo o corpo da mulher, as auréolas


estavam escuras e o bico dos seios marcados no sutiã quase rasgando a

renda, o corpo branco levemente avermelhado, alguns poucos pelos

vermelhos estavam ali entre as pernas dela onde a ruiva levava as mãos.
A loira riu sacana quando percebeu o que a outra queria e se tocou
levemente abrindo a boceta e dando para ela um show completo, Francesca

se tocou suspirando, fechou os olhos por um instante e depois olhou para a

outra, Corinna tinha os lábios abertos e os olhos fechados, a cabeça


inclinada para cima enquanto os dedos frenéticos se moviam entre as pernas

dela.

Ela moveu o rosto e os olhares se encontraram, uma pontada

percorreu todo o corpo de Francine, da cabeça até o centro de suas pernas.

— Ahh, Francesca eu quero que você me foda! Que me foda com

força! — Corinna falou em sussurro.

Ela foderia, sem dúvida alguma foderia e muito.


Capítulo 18

Quinze dias se passavam de forma lenta e tortuosa e Francesca se


aproximou mais de Corinna, isto a deixava tensa, com um pouco de raiva
talvez, entender os buracos na vida da mulher tornava tudo ainda mais

difícil.

Por mais incrível que pudesse parecer, a loira devolveu o dinheiro


que ainda tinha e até disse que venderia sua casa para pagar mais uma parte.

Francesca não aceitou que ela vendesse a casa, seus problemas não

se resolveriam assim.

Ela acertou todos os problemas do sequestro do irmão e depois de

tudo resolvido a única coisa que faltava era encerrar a história de Corinna,
história essa que ela não desejava que se encerrasse.

— E então, o que vai acontecer daqui para frente? — A voz de


Corinna tirou Francesca de todos seus devaneios.

— O que quer dizer? — A ruiva a analisava com calma.

— Seu pai quer todo o dinheiro de volta e o meu corpo jogado na

vala mais próxima. — Ela bebeu seu Martini enquanto olhava a mulher que

parecia mais tensa que o normal. — E você parece querer me matar de


outras coisas.
As duas estavam em uma boate, a mesma que tudo aquilo tinha

começado.

Se aquela fosse a última noite da loira, não existia melhor maneira

de encerrar toda aquela história.

— Eu não sei o que vou fazer… Ainda não decidi. — Ela respondeu

a olhando nos olhos.

— Que tal roubar um mafioso e fugir com o dinheiro dele? —

Corinna falou risonha batendo a taça no balcão.

— Até que não parece uma má ideia. — Francesca respondeu rindo.

As duas balançaram a cabeça rindo e voltaram a beber, pensar em

como aquela história se resolveria parecia mais ser um problema do que

uma solução na verdade.

Conforme as horas passavam e a bebida subia e elas caminharam

para a pista de dança, os movimentos sincronizados pareciam uma

performance sexual, mas elas não se importavam com o que estava


acontecendo ao redor.

— Acho que os subordinados do seu pai chegaram. — Corinna

sussurrou olhando para a ruiva em sua frente.

Francesca se virou observando os homens de terno chegarem no

ambiente, claro que eram subordinados dele, ou melhor, eram os capangas


de seu pai, o que queria dizer que o tempo dela de pensar tinha acabado.

Ela voltou o olhar para a loira que tinha parado de dançar, o corpo

prostrado no meio da pista de dança, os olhos arregalados como se estivesse

esperando a qualquer momento um tiro no meio do peito ou no meio de sua

testa.

— E aí, vai ser você ou eles? — o sussurro veio dolorido dessa vez.

— Nenhum dos dois, acho que essa é a hora de colocar em prática a

sua ideia outra vez. — Francesca pareceu soletrar as palavras e olhou para a

direção oposta.

— O que? Você só pode estar doida, nunca mais eu entro em uma

roubada dessa! — Os olhos arregalados cresceram ainda mais.

— Você já entrou nessa roubada, minha querida! — A ruiva piscou

para ela e a puxou pelo braço. — Tarde demais.

A música tocava alto cada segundo mais e conforme as batidas

aconteciam o coração de Corinna saltava um pouco mais no peito como se

ela pressentisse a merda que aconteceria em seguida.

Elas correram por entre os corredores tumultuados e saíram por uma


porta de acesso aos funcionários, a ruiva apertou o alarme de um carro que

apitou e a olhou de lado.

— Entra, sem perguntas.


Corinna entrou no banco do carona no segundo seguinte sem pensar

duas vezes e viu a outra entrar no banco do motorista.

— O que estamos fazendo? — ela perguntou enquanto a encarava.

— Quer viver ou não? — respondeu ainda com os olhos fixados


nela.

— Claro que eu quero!

— Então pronto. — sem esperar qualquer resposta que fosse ela deu
partida no carro.

As duas saíram e não demorou para que a loira percebesse que


estavam sendo seguidas.

— Eles vão nos matar! Vão nos matar! — ela falou alto apertando as

mãos no cinto contra o peito, seu coração sairia pela boca a qualquer
momento, o carro estava a 120 por hora e Corinna estava prevendo que a

qualquer momento elas iriam bater e morrer, não era assim que ela queria
que sua vida acabasse. — Eu disse que queria viver, VIVER!

— E você vai viver, maluca, para de gritar! — Francesca respondeu


sem a olhar nos olhos com o rosto focado na estrada.

Corinna olhou para trás e viu algumas malas no banco passageiro.

— O que você está planejando?


— Viver! Eu vou viver e você também! — Os olhares se

encontraram por apenas um instante e depois ela voltou a atenção para a


estrada. — Pega a mala, tem roupas e algumas coisas para trocarmos.

Corinna foi para o banco de trás, começou a trocar de roupa e


prendeu os cabelos colocando um rabo de cavalo falso, pegou uma troca
para Francesca e uma peruca para ela de cabelo castanho longo, posicionou

na cabeça da mulher enquanto ela começava a se despir como podia.

Francesca desacelerou o carro e entrou em um túnel saindo em


direção ao Shopping, ela olhou pelo retrovisor vendo que eles estavam a

uma distância considerável, o suficiente para que elas conseguissem entrar


no estacionamento.

Assim que chegaram, Francesca se trocou e as duas saíram do carro

levando duas malas de viagem.

Corinna saiu apressada e sentiu o braço ser segurado pela outra.

— Ande devagar, temos que nos misturar no meio das pessoas. — A

voz saiu tranquila e ela arrumou a peruca em seus cabelos.

— Ok, vamos.

As duas começaram a andar, entrar e sair nas lojas, transitando entre


as pessoas. A ideia de Francesca era tentar disfarçar o máximo possível o

caminho que estavam fazendo.


— Não vamos conseguir enganá-los assim! — Corinna declarou
parando de caminhar e a olhando de costas.

— Isso é o que você pensa, eu sou a melhor, para de bobeira e

vamos!
Capítulo 19

Mais de 24 horas tinham se passado, Francesca e Corinna desciam


de mais um avião depois de entrar, a loira já estava cansada de tanto trocar
de avião em tantos aeroportos.

— Estou cansada, muito cansada, preciso tomar banho, fazer uma

refeição decente e dormir em uma cama de verdade! Sério! — Corinna


falou assim que sentaram na sala de espera.

— Vamos para um hotel, deitar e dormir um pouco. — a ruiva falou

puxando a mala para a entrada do aeroporto.

As duas pegaram um táxi, enquanto Corinna procurava um hotel no

celular, depois de quase meia hora as duas estavam deitadas na cama depois
de um longo e merecido banho.

— Eu acho que essa foi a maior loucura que eu já fiz em minha vida.
— a loira riu enquanto puxava o edredom para cobrir seu corpo.

— Talvez a segunda maior loucura, a primeira foi roubar meu pai. —


ela sentou na poltrona observando a mulher com atenção.

— É, foi sim. — Corinna riu. — Ele vai nos achar, não vai?

— Não, nunca vai, eu sou boa no que faço, muito boa, acredite ou

não! — ela piscou para a mulher deitada.


— Eu sei sim, em muitas coisas que você é boa.

Francesca riu e se levantou da cadeira caminhando em direção a

Corinna e deitando na cama sobre ela, beijou a boca de leve sorrindo, beijou

outra vez e outra.

— Eu sou realmente boa nisso. Muito! — ela riu leve beijando o

pescoço, a bochecha, mordendo o queixo e Corinna a puxou para o beijo, as

línguas se enlaçaram enquanto as mãos apertavam uma a obra.

A coberta entre elas não era capaz de impedir que o calor dos corpos

fosse sentida por ambas, Francesca suspirou entre o beijo se afastando um


pouco e depois voltou a beijá-la sorrindo.

Corinna sentiu a mão fria por baixo do edredom e um arrepio

delicioso percorreu por sua espinha e ela arfou fechando os olhos e se


deixando levar pelo prazer que ela sabia que viria quando os dedos gelados

tocassem entre suas pernas.

— Don Francisco, não conseguimos encontrar Francesca ou a

garota! — O homem falou na porta aparentando estar sem jeito de ter que

dar aquela notícia.

— Como não a encontraram? Minha filha não pode ter desaparecido!

— ele falou se levantando de sua cadeira. — Aquela garota não pode ter

sequestrado outro de meus filhos.


O homem pigarreou como se não concordasse e recebeu um olhar
seco do Don.

— Tem algo mais a dizer?

— Bom, não acreditamos que ela tenha sido sequestrada. — ele

conclui se aproximando com uma carta.

— O que é isso? — ele pegou o papel e leu. Estava escrito “ Para


Don Francisco”, era a letra de Francesca, mas ele duvidava que ela tivesse

escrito. Não importava o que estivesse ali dentro.

— É uma carta senhor, a senhorita Esposito deixou, não sabemos o

que tem dentro, mas pensamos que gostaria de saber.

O Don suspirou e se sentou novamente.

— Podem ir, porém continuem procurando, tenho certeza que ela

não desapareceria.

O homem assentiu e se retirou, deixando que o Don lesse a carta

com privacidade.

“ Caro Don Francisco, talvez devesse começar essa carta com um


papai, mas eu disse que a partir do momento que passasse pela porta você

não ocuparia mais esse cargo, então vou te tratar pelo título ainda que eu

não acredite que você o mereça.


Eu estou indo embora, da Itália, da sua vida e do seio desta família,

estou levando Corinna comigo, é claro, não vou matá-la e nem permitir que
o faça.

Durante muitos anos tentei conversar com você, falei incontáveis


vezes sobre quem eu sou e que isso nunca iria mudar, você preferiu se cegar
e fingir que eu não existia, então parabéns, desejo realizado!

Eu te juro que em todo o resto de sua breve existência, você nunca

mais me verá. E ainda que me procure, não vai me encontrar, quando achar
que está perto de uma pista estarei a quilômetros de distância, sumir do

mapa será a minha missão de vida a partir de hoje e a minha maior


diversão.

Eu vou conhecer o mundo e ser feliz, muito feliz como você nunca foi

e jamais será, você é uma pessoa horrível e isso não tem nada a ver com o
que faz, você é morto por dentro e eu espero que em breve esteja por fora.

Adeus! E obrigada pelos 10 milhões, peguei como um adiantamento

da minha herança, eu imaginei que fosse me deserdar depois disso.

Com Amor, Francesca Ginevra Esposito, fazendo votos de que você

morra logo e sozinho como sempre mereceu!”

 
Don Francisco leu aquelas palavras, uma, duas, três vezes sem

acreditar no que estava escrito ali. Ele então se levantou da cadeira e


caminhou ao cofre escondido atrás do quadro da família, abriu sentindo o

coração falhar e quando finalmente o último número da senha foi digitado e


ele abriu seus olhos se arregalaram junto a um aperto no coração.

Vazio, a filha tinha levado cada uma das notas que estava ali, duas

armas e toda a coleção de joias que seria dela um dia.

Maldita fosse Francesca!

O polegar da mão esquerda de Francesca estava sobre a mandíbula

de Corinna e os outros dedos sobre o pescoço, apertando e sorrindo


enquanto a olhava tremer embaixo de seus dedos, a outra mão estava sobre
as pernas da mulher, dois dedos bombaram para dentro do corpo dela rápido

e incessante.

— Não para, não para! — ela ouviu o grito que veio assim que a

loira abriu os olhos.

— Não vou parar! — Os olhos faiscaram.

— Mais rápido, quero forte! — ela gritou fechando a boca e


umedecendo a garganta.
O corpo tremia e o baixo ventre estava contraído, as sensações
dominavam o seu corpo e ela não conseguia nem respirar direito.

— Relaxa, respira fundo, não prende a respiração. — ela ouviu o

sussurro da mulher em seu ouvido.

Ela fez o que a ruiva mandou, se concentrou em respirar, não prender


a respiração por mais difícil que pudesse parecer e alguns segundos o corpo
foi arrebatado pelo gozo, ela sentiu todo o corpo ser levado pelo mar da

satisfação, o tremor tomou conta de cada membro do seu corpo assim como
uma sensação de formigamento.

— Ahhh Francesca! — ela gemeu fechando os olhos.

Sentiu a mulher deitar ao seu lado rindo baixo, beijou sua testa e as
duas se olharam.

— Te amo! — ela declarou e a outra sorriu.

— Eu também.

Elas ficaram alguns segundos caladas e então Corinna a encarou.

— O que faremos agora?

— O que quisermos, temos dinheiro para não trabalhar, conhecer o


mundo e vivermos como desejarmos.

— E posso saber como temos tanto dinheiro? — a loira perguntou.


— Ué, roubamos da máfia! — ela piscou. — Estaremos para sempre
sobre a mira da máfia.

Corinna tinha os olhos arregalados enquanto Francesca sorria, se

levantou e abriu a garrafa de champanhe a olhando.

— Um brinde ao resto de nossas vidas e bem-vinda minha querida, a


vida da máfia! — ela encheu as taças e entregou uma para a loira que estava

sentada agora.

As duas brindaram.

— Um brinde a nós! — Corinna sorriu maliciosa!

Fim!
Epílogo

Aposto que agora você está imaginando o que aconteceu depois de


tudo isso, não é?

Eu posso te dizer….

Como meu cunhado disse, se eu quisesse entrar para uma família da

máfia aquela não seria a primeira coisa errada que eu faria e realmente não
foi. Nós saímos da Itália, e formamos a nossa própria família da máfia em
outro lugar com o dinheiro que Francesca tinha roubado.

Criamos novas leis e com tudo o que Francesca sabia sobre outras
famílias ganhamos ainda mais dinheiro e contatos.

Eu não podia imaginar que minha vida se transformaria dessa forma,


porém não desejaria outra coisa.

E Samila? Bom, ela se juntou a família e foi a melhor Consiglieri

que poderíamos desejar.

Quanto a Don Francisco? Nunca mais ouvimos falar dele.

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