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COPYRIGHT © 2022 KELL TEIXEIRA & BHETYS OLIVEIRA

Capa: Grazi Fontes


Revisão: Andrea Moreira
Diagramação Digital: Grazi Fontes
 
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
SUMÁRIO

Epígrafe
Sinopse
Playlist
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo
Agradecimentos
Você não vai me salvar?
Salvação é o que eu preciso
Eu apenas quero estar ao seu lado
Você não vai me salvar?
Eu não quero ficar
Apenas vagando sem rumo neste mar da vida
(Hanson)

 
Os opostos realmente se atraem? Ou é o destino que insiste em
cruzar caminhos tão distintos?
Connor Dickinson é um poderoso CEO que está preso ao passado, o
coração acorrentado a uma mulher que se foi há muito tempo. Sem espaço
para um novo amor, ele ocupa os dias com festas luxuosas e mulheres que
jamais irão preencher o vazio gigantesco que tem em sua alma.
Amber Michell é a personificação da doçura, sonhadora e
apaixonada pelo pai doente. Embora a vida insista em desabar sobre a sua
cabeça, ela a mantém erguida dia após dia.
Ela acredita no amor e espera o encontrar.
Ele deseja apenas brincar.
Ela é o Sol que ilumina sem permissão a sua alma escura.
Ele é o poder avassalador tomando as rédeas da sua vida.
O inesperado une duas vidas tão diferentes e é o culpado por traçar
caminhos que sempre se cruzam. Mas existe uma única regra, e ela é não se
apaixonar. No entanto é o destino quem está escrevendo esta história, e ela
pode mudar...
No Spotify

No Deezer
Sete anos antes.

Sempre que perdemos alguém, ficamos nos torturando, imaginando


que poderíamos ter aproveitado mais; que deveríamos ter dito mais vezes o
quanto amávamos a pessoa. Ou que se soubéssemos que aquela seria a
última vez que a veríamos, teríamos a abraçado mais forte, ficado por mais
cinco minutos em sua presença, apenas admirando ou ouvindo suas
conversas bobas e sem sentido. Teríamos beijado com mais intensidade,
demonstrado o quanto aquela pessoa era significativa em nossa vida e que
sem ela tudo iria desmoronar.
Mas, infelizmente, o mundo real não funciona assim, ele não te dá
pistas de quanto tempo você tem com alguém. E quando o fim
simplesmente chega, ele nos pega de surpresa, e, com esse imenso baque,
tudo que você conhecia como felicidade simplesmente desaparece, tirando-
nos até a mínima força de se erguer e continuar nosso caminho.
A dor é real.

Você se vê sozinho em meio a tantos planos e sonhos, e não sabe


mais o que fazer. Tudo muda e, de repente, sobras do que costuma ser você
estão lá, em um chão frio e empilhadas em caixas. E mesmo que não queira,
é arremessado no amanhã com a tosca promessa de seguir adiante.
A dor é real.

Diria até uma amiga traiçoeira que nos corrói a alma e nos deixa
embriagados com a beleza acolhedora e convidativa da tristeza e solidão.

A dor é real.

Ela está ali, em cada lembrança, em cada pensamento e em cada


instante do seu dia, te instigando a continuar inerte no lugar frio e sombrio
que você construiu para escapar da realidade.
A dor é real.
E ela não nos deixa respirar por um momento sequer. Ela nos suga
até a última gota de ânimo e nos deixa despido de qualquer outro
sentimento a não ser a saudade de tudo que tivemos e de tudo que jamais
poderemos ter.
Dias atuais

   O dia não poderia ter começado da pior maneira. Primeiro, aquela


cobrança de hipoteca atrasada e a intimação – pagamos ou iremos perder a
casa em um mês. É a casa onde nasci, onde construímos nossa família, mas
as palavras ali não deixam dúvidas que se não quitarmos a dívida da
hipoteca com o banco, dívida essa a qual eu acabo de ter conhecimento,
perderemos tudo. E agora estou aqui, diante do meu chefe, que com vagas
palavras me notifica que perdi meu emprego.

Com certeza, não poderia ficar pior o meu dia. Respiro fundo,
sentindo toda a minha frustração indo direto para meus dutos lacrimais, e
justo hoje quase perdi o horário. Se soubesse que isso aconteceria, não teria
me dado o trabalho de sair de casa.

Não chore, não chore, não chore!, imploro internamente, porque


tenho o humilhante hábito de chorar quando estou com raiva, frustrada ou
coagida. Só que não posso chorar aqui, na frente do baixinho gorducho com
cara de abóbora. Seria humilhante demais.

Mais uma vez inspiro profundamente, assimilado e imaginado o que


direi ao meu pai quando chegar à minha casa. Já é ruim o bastante ter que
vê-lo definhando a cada dia que passa por causa da sua doença e
reclamando que é um inútil, e agora terei que dizer a ele que estou sem
emprego.
Trabalho, ou melhor, trabalhava na pequena revista há um ano, desde
que me formei em jornalismo na Universidade de Portivil. Na época, minha
professora até havia me oferecido um estágio em uma renomada editora em
Nova Iorque, mas tive que recusar a proposta para cuidar do meu pai, que
estava com sérios problemas cardíacos e teve que deixar o emprego como
empreiteiro de obras em uma pequena empresa.

Meu pai insistiu para que eu fosse em busca dos meus sonhos, mas
que espécie de filha seria eu se abandonasse o pai doente? Ir para Nova
Iorque naquela época não era uma opção. Meu pai precisava estar
constantemente no hospital para exames de rotinas e cirurgias, cirurgias
essas que nosso plano de saúde não cobria. Tivemos sorte no início, pois a
empresa na qual meu pai passou anos de sua vida se dedicando ao trabalho
arcou com alguns dos seus gastos, inclusive despesas com o hospital e
medicamentos, mas isso não durou muito e tivemos que começar a nos virar
com o pouco que tínhamos. Então foi quase um alívio divino quando
consegui preencher a vaga na revista, como colunista de culinária. Não era
o emprego dos meus sonhos, mas me servia muito, e agora eu o perdi.

Meu chefe continua com seus pretextos idiotas de ter que fazer
cortes para as despesas. Enquanto eu me forço a não pensar que além do
emprego, perderemos também nossa casa. Por sorte tenho um pouco de
dinheiro que estava juntando para talvez comprar um carro melhor, já que a
velha picape parece estar dando seus últimos suspiros. Mas agora terei que
dar adeus ao meu tão sonhado carro novo e usar minhas economias para
pagar um aluguel e comprar os medicamentos do papai.

— Isso é pelo tempo que você trabalhou aqui — declara friamente,


estendendo-me um cheque após finalizar as suas desculpas idiotas.

Pego-o de sua mão, e quando meus olhos caem sobre a quantia, que
chega a ser aproximadamente um por cento a mais do que recebo por mês,
sinto a tristeza dar lugar à raiva, que passeia por minhas veias como
chamas, aquecendo meu sangue.

— Está falando sério? — Ergo meus olhos para ele, enquanto faço a
pergunta. Só pode estar de brincadeira.

— Infelizmente, é o que posso te dar, visto que sua coluna nunca foi
um grande sucesso — desdenha, enrugando a testa.

Aperto os lábios, tentando não colocar para fora todos os piores


xingamentos que tenho conhecimento. Sei que discutir com ele é perda de
tempo, e não tenho mais cabeça para continuar com essa conversa.

Aperto o cheque com força, amassando-o no processo. A vontade


que tenho é de jogar o maldito papel em sua cara ou o mandar enfiar em
algum lugar, mas, ao invés de descarregar minha ira, apenas levanto-me e,
usando o resto de dignidade que me resta, caminho até a saída, sem dirigir
meu olhar na sua direção, batendo a porta com força quando saio de sua
sala.

Arrumo minhas coisas em tempo recorde, já que não tenho muitas


sobre minha pequena mesa. Tudo coube em uma pequena caixa de sapato –
um porta-retratos, com uma foto minha e do meu pai na minha formatura,
minha agenda, grampeador e um livro que estava lendo. Me despeço dos
meus colegas, sem muito drama, afinal, não tinha tantos aqui na revista.
Mas sentirei falta do Eric e da Freya, eles eram meus companheiros nesse
tédio de revista. Espero poder voltar a vê-los em breve.

Caminho para fora do prédio, sentindo um aperto no peito. Tudo


parece estar desmoronando diante dos meus olhos e não sei absolutamente
nada o que fazer a respeito disso.

Não sei como será de agora em diante, mas uma coisa é certa,
preciso de um emprego o mais rápido possível, senão, não sei o que será de
mim e do meu pai.

Enquanto dirijo pela rodovia, sinto as lágrimas embaçarem minha


visão. Raiva, medo, frustração são apenas uns dos poucos sentimentos que
estou sentindo. Perguntas circulam em minha cabeça, atordoando-me ainda
mais.

O que farei agora?

Como vou quitar a dívida do meu pai com o banco, se mal se meu
dinheiro será suficiente para chegar até o final do mês.

O que será de mim e do meu pai se eu não encontrar uma saída para
nossos problemas?

Um soluço escapa da minha garganta e já não consigo controlar as


lágrimas. Sei que este não é o melhor momento para ter uma crise de choro,
mas não consigo me conter.
Puxo o ar, tentando acalmar minha respiração e, por fim, minhas
lágrimas. A chuva cai incessantemente e é meio difícil prestar atenção ao
trânsito, quando mal consigo enxergar por trás das lágrimas. Estou tão
confusa e perdida que por um momento fecho os olhos e respiro lentamente,
e quando dou por mim, minha picape está entrando na faixa contrária. Vejo
apenas o farol alto em minha direção, então viro o volante rapidamente,
perdendo o controle. Puxo o freio de mão com tudo, mas o que acontece a
seguir não é o que esperava.

Tudo parece em câmera lenta. Sinto meu corpo sendo jogado de um


lado para o outro, mas por sorte estou com o cinto de segurança, que me
protege de ser arremessada para fora do para-brisa. Enquanto o veículo
capota várias e várias vezes, antes de parar abruptamente, tudo o que
consigo recordar antes de apagar é da dor em meu corpo, o gosto do sangue
quente que banha minha face e de um par de olhos azuis me fitando
intensamente, do lado da minha janela.

Com certeza é um anjo...

 
Sabe quando você acorda de um pesadelo e sente aquele alívio por
saber que tudo não passou de um sonho? Gostaria de dizer que foi
exatamente essa a sensação que tive ao tentar abrir meus olhos. A luz
ofuscante me faz gemer baixinho, voltando a fechá-los no momento
seguinte. Sinto como se meu corpo tivesse sido esmagado por uma
tonelada. Respiro fundo e mais uma vez obrigo meus olhos a se abrirem.
Levo alguns segundos até me acostumar com a claridade. Estou em um
quarto branco e há máquinas barulhentas, que se misturam com as vozes
próximas a mim.

Ergo minha mão e sinto uma pequena fisgada ao perceber uma


agulha intravenosa ali. Analiso-a por alguns segundos e, instintivamente,
ergo a outra e toco minha testa, sentindo um curativo. Volto a fechar os
olhos e tento me lembrar o que aconteceu. Flashes do acidente vêm à minha
mente, me deixando apavorada.

— Ela acordou. — Ouço uma voz grave dizer. Não a reconheço, mas
o seu timbre é agradável aos meus ouvidos.
— Amber, pode me ouvir? — Dessa vez é uma mulher que pergunta.
Abro os olhos com cuidado e vejo uma jovem ao meu lado. O cabelo
castanho avermelhado ondulados, cai em torno dos seus ombros, e usa um
jaleco. — Eu sou a dra. Cooper, e você está em um hospital. Lembra-se do
que aconteceu?

— Perdi o controle do carro... —Engulo a saliva, sentindo a boca


seca. Mais flashes do acidente atormentam minha mente. Levo novamente a
mão até o lugar do curativo. Minha cabeça dói. — Por favor, me diga que
não vou morrer — peço, em desespero. As palavras saem arrastadas e eu
mal consigo reconhecer minha voz.

A médica sorri amistosamente, pousando sua mão em meu braço.

— Você não vai morrer, querida. Inclusive, teve sorte por não ter se
machucado de verdade.

— Há quanto tempo estou aqui?


— Foram apenas vinte e quatro horas. Quis te manter sedada para
garantir sua recuperação.

Levo o que parece uma eternidade para processar suas palavras. Eu


estou no hospital há um dia? Como isso é possível? Ainda consigo sentir a
sensação do carro voando, antes de capotar várias vezes. Ainda consigo me
recordar da visão daqueles olhos me fitando, pouco antes de apagar.

— A pancada em sua cabeça foi muito forte, você perdeu algum


sangue. Teve muita sorte de terem chamado a ambulância logo.

Assinto com cuidado, tentando absorver todas as informações.

— Meu pai deve estar preocupado. Nunca fico longe de casa por
tanto tempo...

— Quanto a isso, não precisa se preocupar, Amber. Seu pai foi


informado sobre seu acidente, inclusive, já veio te ver. Eu mesma estive
com ele e lhe garanti que você estava bem.

Ao olhar ao lado e notar o conforto do quarto, é impossível não


pensar em como vou pagar isso aqui. Merda!

— Quem avisou ao meu pai?

— O sr. Dickinson. E ele já se responsabilizou por todos os gastos,


então, sua única preocupação agora é ficar bem, para poder voltar para casa.

— Quem? — questiono-a, confusa.

Ela olha sobre o ombro e eu sigo o seu olhar, mas não vejo nada.

— Connor Dickinson. Ele estava aqui até agora pouco... Digamos


que foi ele quem te ajudou. Não o conhece?

A lembrança de um homem de olhar profundo do lado do meu carro


antes de apagar me vem à mente.

— Não. Posso vê-lo para agradecer?

— Verei se ele ainda se encontra aqui e peço que venha te ver. — Ela
sorri gentilmente. — Ah, falando em visitas, tem alguém lá fora querendo te
ver, ele nos disse que é um amigo. Vou liberá-lo para entrar.

— Tudo bem. Obrigada — digo, com a voz baixa.


Ela me dá um pequeno sorriso antes de caminhar até a porta, saindo
e a deixando aberta. Não demora muito até que a imagem familiar do meu
melhor amigo, que não via há quase cinco anos, surja diante dos meus
olhos.

Nathan é dois anos mais velho que eu. Seus músculos torneados
estão marcados pela camisa preta e justa que ele está usando. Seu cabelo
castanho ondulado está maior do que da última vez que o vi, quase tocando
seus ombros. Ele usa uma barba grossa que tomou conta completamente da
sua face. Está diferente do garoto tímido que cresceu comigo. Sorrio.

— Oi, Amber — cumprimenta-me com a voz rouca, dando-me um


sorriso encantador, enquanto se aproxima da minha cama. Seus olhos
esverdeados me fitam com atenção, antes de se inclinar para mais perto e
depositar um beijo doce na minha testa. — Você nos deu um baita susto,
garota — diz, enquanto desliza seus dedos em meus fios com carinho, como
sempre fazia quando eu precisava de conforto.

Vê-lo depois de tanto tempo faz meu coração apertar, não de uma
forma ruim, mas de emoção. Ele havia ido para Nova Iorque logo após
terminar o ensino médio para morar com sua mãe. Fez faculdade de
engenharia mecânica, sua grande paixão desde que ainda era um menino.
Recordo-me de ele brincando na oficina onde seu pai trabalhava, tentando
entender para que servia tantas chaves. Ele, literalmente, passava horas
analisando cada instrumento que seu pai usava para consertar os carros.

— Ei, você! Meu Deus! O que faz aqui? — pergunto, sem conseguir
esconder a surpresa ao vê-lo.

Ele puxa a cadeira e senta-se ao meu lado, buscando minha mão


livre e entrelaçando seus dedos nos meus.

— Fazia muito tempo que não voltava para casa. Achei que esse era
o momento perfeito para fazer isso. E você sabe, meu velho precisa que eu
o ajude na oficina — diz, sem me fitar, o que me leva a acreditar que existe
um motivo sério por trás de suas palavras. — E pelo que parece, eu não
posso ficar longe por muito tempo. Você ainda continua com o péssimo
hábito de se meter em encrencas quando não estou por perto — brinca,
tentando mudar de assunto. Seus olhos fitam os meus e ele sorri de forma
doce. — Mas agora me diz, quando você vai aceitar que é uma péssima
motorista? Não sei onde estava com a cabeça quando te ensinei a dirigir.

Rio do seu comentário idiota. Nathan ama me provocar. Isso é o que


ele faz de melhor.

— Cala a boca, idiota — resmungo, ainda rindo, e ele pisca com


charme.

— Senti sua falta, garota.

— Também senti a sua, Nathan, mais do que você imagina. Portivil


não tem graça sem meu melhor amigo cabeça de batata.
Ele assente, baixando seu olhar para nossas mãos entrelaçadas.

— Você viu o meu pai? — pergunto.

— Meu pai está com ele. Digamos que o David meio que surtou
quando o cara metido que estava aqui no quarto apareceu na porta da sua
casa, falando sobre o acidente. Mas depois que te viu e falou com a médica,
ele ficou bem.

— Connor Dickinson, o cara que bateu no meu carro? — brinco.

Nathan ergue uma sobrancelha, franzindo o cenho.

— Na verdade, foi o contrário. Mas você o conhece? — questiona-


me, sério.
Balanço a cabeça em negação.

— Não. Nem o vi... A médica quem falou dele.

Nathan continua sem expressão, suas feições sérias me analisam


profundamente.
— Soube o que houve — diz com pesar. — David ligou para a
revista para informá-los sobre seu acidente, então seu Godofredo nos
informou que...

Baixo o olhar, engolindo em seco.

— Estou ferrada, Nathan — Murmuro, apertando os lábios.

Nathan toca minha face, acariciando minha bochecha com o polegar,


um gesto carinhoso que me faz erguer os olhos para encará-lo.

— A gente vai dar um jeito... A gente sempre dá um jeito — diz de


um jeito reconfortante. — Estou aqui agora, Amber, e prometo que vou
cuidar de você. — Sua voz suave faz meu coração se tranquilizar.

— Estou feliz que esteja aqui — balbucio.

Ele apenas sorri, ainda acariciando minha face.


Era só mais um dia de merda, daqueles sem importância alguma, e
não teria se uma louca não viesse na contramão e batesse em meu carro. E o
certo seria prestar o socorro, dar assistência e retornar à minha vida. Mas
ela estava ali, tão assustada e com todo aquele sangue em seu rosto,
despertando vários gatilhos. Liguei para a emergência, e quando achei que
não poderia piorar, ela abriu os olhos. Bastou apenas isso para eu sentir toda
aquela merda esquisita.

O telefone toca e eu escuto minha secretária Gisela pedir autorização


para anunciar meu melhor publicitário do outro lado da linha. E sim, ele fez
merda.

— Sr. Dickinson, eu fiz o possível e...

— Não, Ronnie, você pode ter feito tudo, menos o que eu te pedi.
Somos a porra de uma empresa de publicidade, oferecemos a nossos
clientes uma equipe com amplo conhecimento de mercado para desenvolver
e traçar as melhores campanhas que possam vir a contribuir com os
objetivos gerais, seja aumentar o valor de vendas, expandir a cartela de
clientes, além de melhorar a imagem da marca. Mas nunca, em hipótese
alguma, fodemos com a imagem do cliente com uma campanha de merda
dessas. Eu te dou vinte quatros horas para resolver, ou está fora!

Desligo o telefone, irritado. Dou um murro na mesa antes de ignorar


outra ligação da minha irmã, que parece achar que o mundo passou a girar
ao redor do seu casamento. Volto a minha atenção à papelada sobre minha
mesa. E olhando todos esses dados, começo a questionar minha sanidade
mental – ou a falta dela – já que agora, mesmo com tempo fodido, estou me
dando o trabalho de focar onde não devo.

Ela é solteira, recém-formada, altura mediana, cabelo e olhos


castanhos, definitivamente não é do tipo que costumo foder em minha
cama. Não é a mais linda, diria que é necessário um segundo olhar para
notar sua beleza, mas... merda, eu simplesmente não sei o que tem naquele
olhar. Solto todo o ar dos pulmões e me concentro nos dados.

Amber Michell tem vinte três anos, perdeu o emprego recentemente,


se formou em jornalismo pela universidade de Portivil. Abandonada pela
mãe, foi criada pelo pai, que se encontra debilitado devido ao sério
problema de coração. E como se não bastasse, eles estão prestes a perder o
único bem que possuem. Sim, parece que tem gente que chama a desgraça.

Em todos esses anos, sempre me mantive atento a tudo e a qualquer


pessoa que entrasse em minha vida. Tomando cuidado para não me deixar
envolver de nenhuma forma com ninguém, e agora, estou aqui, obcecado
pela garota desastrada que bateu em meu carro. Havia mandado Manson,
meu melhor amigo e investigador, descobrir tudo a respeito dela. Sei que
parece coisa de louco, ficar investigando a vida de uma desconhecida, mas
desde o primeiro momento que pus meus olhos sobre ela, não consigo parar
de pensar naquela garota de olhos amendoados expressivos e cabelo
castanho. Ela não é alguém que tem um perfil que normalmente me deixaria
interessado. A srta. Michell é apenas uma garota comum, com uma vida
bem fodida. E após reler toda a papelada, tenho ainda mais certeza disso.

Não sou o tipo de homem que se compadece com outros, não depois
de tudo o que tive que suportar nos últimos sete anos. Mas por alguma
razão não consigo simplesmente deixar essa garota no passado e continuar
meu caminho, mesmo isso sendo a coisa certa a fazer, afinal, nem a
conheço. Não temos nenhum vínculo, e os problemas dela, com certeza, não
são da minha conta.

Tenho meus próprios problemas para resolver e Amber não pode se


tornar um deles. Venho repetindo a mim nos últimos dois dias que já fiz
mais do que o suficiente para ela, pagando as suas despesas no hospital e
me certificando que ela esteja sendo bem cuidada, mesmo assim, não
consigo não pensar em como ela e seu pai devem se sentir desesperados,
sabendo que irão perder o único bem. Eles devem ter uma história naquele
lugar. Amber deve estar sofrendo por pensar no que fazer para manter os
medicamentos do seu pai, as despesas... e droga, isso não é da minha conta!
Bato o punho sobre a mesa, espalhando alguns papéis e erguendo-me
da cadeira, sentindo a frustração tomar conta de mim.

— Ela não é problema seu, Connor! — rosno baixo, enquanto


deslizo minhas mãos sobre meu cabelo.

Encaro o porta-retratos sobre minha mesa. Hanna estava tão linda,


sorrindo para mim. Seu longo cabelo avermelhado caindo sobre seus
ombros como uma linda e hipnótica cascata de fogo. Os olhos verdes
brilhando em contraste com o sol. Ela era a única pessoa pela qual deveria
ser responsável. Ela era a única pessoa que eu deveria proteger, e eu não
estava lá quando ela se foi. Amber não é ninguém e, com certeza, não devo
nada a ela para que se aposse dos meus pensamentos assim.

Havia estado com David, pai da Amber. Vi a aflição dele ao saber do


acidente da filha. E também pude ver o alívio em seus olhos quando lhe
assegurei que ela estava fora de perigo. Pude ver a gratidão por tê-la
ajudado. Foram pequenos detalhes que me fizeram ter empatia por eles e
despertar em mim a vontade de ajudá-los.

Há muito tempo que alguém não desperta um sentimento bom em


mim, e é exatamente por isso que preciso fazer alguma coisa para que eles
não fiquem sem sua casa.

Volto a me acomodar em minha cadeira e tiro o telefone do gancho,


discando o número da minha secretária, que me atende no primeiro toque.

— Gisela, ligue para o Daniel e agende uma reunião com ele ainda
hoje.

— Sim, senhor.

Encerro a ligação e me recosto na cadeira, entrelaçando meus dedos


atrás da cabeça e encarando novamente a foto da minha noiva.

— Pelo visto, a escuridão não tomou conta completamente da minha


alma, como imaginei — digo a ela, mesmo sabendo que Hanna jamais
poderá me ouvir.
 

 
Voltar para a casa depois do que pareceu uma eternidade e
finalmente poder me certificar que meu pai está bem me deixou em paz,
mesmo em meio à turbulência que tenho que enfrentar. Papai havia me feito
mil perguntas de como aconteceu o acidente desde o momento que pus os
pés fora do hospital, porém, não quis lhe dizer a verdade, não queria que ele
soubesse que minha distração foi por estar preocupada com o que faríamos
para pagar a conta ao banco, ou como iria fazer para manter seus
medicamentos e consultas.

Estou desempregada, e mesmo que um emprego surja, será


impossível quitar a dívida ao banco. Seremos despejados em pouco menos
de um mês, mas também não digo nada disso a ele. Tudo o que meu pai
menos precisa agora é saber que os últimos acontecimentos foram por causa
desses problemas.

— Você está realmente bem, filha? — ele pergunta novamente.


Sorrio, estendendo-lhe a mão.

— Juro que estou bem, pai. — Tento tranquilizá-lo. — Me sinto tão


bem, que estou pensando em sair para procurar um novo emprego.

Papai balança a cabeça em negação.

— Não, mesmo! A médica deixou bem claro que você precisa


descansar. Está proibida de sair de casa — diz sério, me passando a
sensação de que sou uma garotinha de sete anos.

— Pai, sabemos que não posso me dar ao luxo de ficar sentada no


sofá o dia todo por muito tempo. Faz uma semana que saí do hospital, e
tudo o que temos feito é comer sopa e assistir ao futebol. Preciso sair e
encontrar um novo emprego.

— Filha...
— Ouça... — falo, antes que ele continue com seu discurso. Faço um
gesto para que ele se sente ao meu lado e ele o faz, mesmo relutante. —
Preciso de um emprego, pai. Não temos muito tempo até que tenhamos que
sair da nossa casa. — Uso as palavras com cautela. — Sei que está
preocupado comigo e eu me sinto muito feliz por isso, mas temos coisas
mais importantes agora.

— Não há nada mais importante do que seu bem-estar, Amber —


pontua, com voz grave. — Sei que está preocupada com o que pode nos
acontecer, mas não vou permitir que saia de casa e coloque sua saúde em
risco. Você sofreu um acidente que poderia ter custado sua vida. — David
puxa uma longa respiração e baixa o olhar para nossas mãos entrelaçadas.
— Posso perder a casa, filha, mas não posso perder você — fala, com voz
embargada, fazendo meu coração se comprimir.

— Não vai me perder, pai... Estou bem — asseguro, tocando seu


rosto marcado pelo tempo. — Mas não posso ficar aqui sentada e esperar
que um milagre aconteça. Sabemos que milagres assim só acontecem em
livros e em filmes. A vida real é diferente. E essa é nossa realidade, agora.
Você precisa de seus medicamentos e é minha responsabilidade me
certificar de que você fique bem. Você é tudo o que eu tenho.

Ele volta a me fitar, posso ver a tristeza em seus olhos.

— Você não deveria cuidar de mim... Esse deveria ser meu dever.

Meneio a cabeça e puxo os lábios em um sorriso.

— Seu único dever agora é estar bem. Deixe que do resto eu cuido.
Você já fez muito por mim durante toda a minha vida, agora é minha vez de
retribuir.

David abre a boca para falar, mas antes que o faça, o som da
campainha o interrompe.

— Deve ser o Nathan, ele me disse que passaria aqui — digo,


erguendo-me do sofá e caminhando até a porta. Mas para a minha surpresa
não é meu amigo que encontro.
Encaro a pessoa à minha frente e sinto como se a fantasia estivesse
misturada com a realidade. Quando me lembro daqueles olhos me fitando
com preocupação ao lado do meu carro, pensava que tinha sido uma ilusão
da minha cabeça, uma fantasia que criei num momento que pensei que fosse
meu fim, mas ele é real, extremamente sexy e lindo. E agora está bem na
minha frente, usando jeans escuro, camisa branca embaixo da jaqueta de
couro preta. Seu cabelo dourado está perfeitamente penteado. Ele é alto e
esguio, dono de uma postura confiante. Seu olhar é penetrante e intenso,
como me recordo sempre que fecho os olhos.

— Srta. Amber Michell. — Ele pronuncia meu nome com voz rouca
e grave, fazendo minhas pernas tremerem. Esse é o tipo de homem que
vemos em revistas ou filmes, não na nossa frente. — É bom ver que está
bem, após seu acidente — acrescenta sério. Seus olhos de um tom azul
profundo me fitando com atenção.

Engulo em seco, sem saber ao certo o que fazer.

— Oi, eu...

— Dickinson. Connor Dickinson — ele se apressa ao notar que estou


sem reação.

— Sr. Dickinson — digo, sem jeito, estendo a mão em sua direção.


— Como vai? — Tento não demonstrar meu nervosismo, mas pelo pequeno
sorriso que se forma no canto de sua boca, sei que falhei miseravelmente.

— Me chame de Connor, por favor — diz, pousando sua mão na


minha. Seus dedos longos apertam sutilmente os meus. E, caramba, esse
homem é um deus grego. — Será que tem alguns minutos? Eu quero falar
com você — ressalta ao se afastar, colocando suas mãos nos bolsos da
frente de sua calça.

Faço que sim com a cabeça e dou um passo, fazendo menção para
que ele entre.

Connor passa por mim, tomando cuidado para que seu corpo não
esbarre ao meu. O aroma amadeirado do seu perfume viciante fica para trás,
invadindo minhas narinas à medida que ele caminha até o centro da sala,
onde meu pai está em pé, fitando-o como se tivesse acabado de ver uma
celebridade da tevê.

— Sr. Michell, como está?

Ouço Connor perguntar com simpatia. Fecho a porta e caminho com


passos lentos até os dois.

— Melhor agora, que tenho minha filha em casa. Sei que já o


agradeci, mas quero fazer isso novamente. O senhor salvou a vida da minha
Amber — meu pai fala, emocionado, enquanto retribui o aperto de mão de
Connor.

— Não precisa me agradecer, sr. Michell. Tenho certeza de que


qualquer pessoa no meu lugar teria feito o mesmo — responde com
educação, enquanto seus olhos fazem uma varredura discreta pela pequena
sala.

— Engana-se, sr. Dickinson... No mundo em que vivemos, é muito


raro encontrar alguém bom. Alguém que perca seu tempo para ajudar um
desconhecido — papai insiste. Suas palavras parecem chamar atenção de
Connor, ele aperta os lábios e força um sorriso.

— Quero pedir desculpas por aparecer aqui sem avisar, mas eu quero
muito falar com a srta. Amber — ele diz, mudando de assunto.

Papai olha de Connor para mim, demonstrando tanta surpresa quanto


eu.

— Oh... Claro! Foi um prazer imenso revê-lo, sr. Dickinson — meu


pai diz antes de apertar novamente a mão de Connor e fazer seu caminho
escada acima, para seu quarto.

— Então, como se sente? — pergunta-me quando nos encontramos a


sós.

Sua voz consegue fazer todo o meu corpo tremer feito gelatina. Não
sei como me portar na frente desse homem. Faço um gesto com a mão para
que ele se acomode no sofá. Connor assente em agradecimento, mas
dispensa, então me sento à sua frente enquanto ele parece me analisar.

— Estou bem. Eu agradeço de verdade pelo que fez, sei que não era
sua obrigação me ajudar e, mesmo assim, você o fez... Obrigada.

— Fiquei curioso sobre que diabos te fez perde o controle daquele


jeito? Quando te resgatei do carro, você estava agitada — Connor especula,
ignorando completamente meu agradecimento. Seu olhar profundo parece
enxergar até minha alma.

Pigarreio, arrumando uma mecha do meu cabelo ondulado atrás da


orelha.

— Tive um dia ruim... Só isso.


— Se não quer falar, eu entendo. — Ele estreita seus olhos em minha
direção.

Respiro fundo, curvando meu corpo para a frente e entrelaçando


minhas mãos.

— Sr. Dickinson, estou muito grata por tudo o que fez para mim
enquanto estive no hospital, mas não me sinto à vontade de compartilhar
meus problemas pessoais com um desconhecido — digo com cuidado para
não soar rude.

Connor franze o cenho, sua expressão séria ganha um sorriso quase


irônico.

— Você teve sorte, poderia ter acontecido algo muito pior —


ressalta, como se eu não tive ciente disso.

— Eu sei... — Baixo o olhar. — Estou ciente disso, assim como


estou ciente dos seus gastos comigo no hospital... E claro, pretendo dar um
jeito de te pagar por tudo.

Agora o sorriso é de deboche.


— Espera. Você acha que vim até sua casa para te pedir dinheiro?
Acha?

Ergo meus olhos e o encaro.

— Para o que mais seria? — questiono-o, confusa.

Ele meneia a cabeça, estudando-me com atenção.

— Queria me certificar de que está bem. Sei que você perdeu o


emprego. Sei sobre seu pai doente e que sua casa está hipotecada...

Ele fala assim, como se fosse algo totalmente natural. Preciso de


alguns minutos para processar suas palavras. Como ele está sabendo de
tudo? E o que ele tem a ver com isso? Estou em choque.

— Como soube? Sinceramente, eu não consigo entender como isso


pode ter a ver com o senhor — pontuo, sentindo a raiva invadindo-me.

Connor franze o cenho, parecendo surpreso por minhas palavras.

— Está ciente que estão prestes a ser despejados, se não quitarem a


dívida com o banco? — questiona-me sério, me deixando perplexa.

— Eu não entendo, como o senhor descobriu tudo isso? Trabalha no


banco? — pergunto, eufórica.

Ele puxa seus lábios em um sorriso torto.

— Tenho meus contatos.

— Mandou alguém investigar minha vida? — pergunto, incrédula.

Ele curva seu corpo para a frente.

— Digamos que sim — confessa. Seus olhos me encaram de forma


intimidadora.

— Com que direito fez isso? — Minha voz sai mais alta do que o
necessário.
Connor passa as mãos no cabelo, bagunçando seus fios, e fala por
entre os dentes, a voz mansa e assustadora.

— Na situação que você se encontra, não deveria estar assim tão


furiosa.

— Invadiu a minha privacidade — ressalto, levantando-me do sofá.


— Quero que saia da minha casa. Agora!

Ele me lança um olhar inabalável.

— Sente-se, ainda não acabei — ordena, ignorando por completo


meu acesso de raiva.

Meneio a cabeça em negação, cruzando os braços em frente ao


corpo.

— Quero que saia! — repito, com voz firme e alta.

Connor respira fundo antes de retirar um envelope marrom do bolso


de dentro de sua jaqueta e estender em minha direção.
— O que é isso? — pergunto, olhando o envelope.

— Apenas pegue — diz rudemente.

Relutante, faço o que ele manda, mesmo que não tenha intenção
nenhuma de abri-lo.
— Sente-se e abra — ordena novamente. — Abra o envelope, srta.
Amber. — repete, impaciente.

Eu o encaro por um longo tempo antes de abri-lo e retirar algumas


folhas de dentro. Leio com atenção cada palavra, mal conseguindo acreditar
no que estou vendo.
— O que isso significa? — Ergo meus olhos para Connor, que me dá
um meio-sorriso.
— Significa que não tem mais que se preocupar em perder sua casa.
Eu paguei a dívida — responde de forma natural, como se aquilo não
significasse nada.

— O quê? Por quê?

— Por que sempre tem que existir um por quê? — Ele cruza os
braços no peito.
Reviro os olhos e sorrio sem humor.

— Eu não entendo. Sou grata por toda a ajuda com o hospital, mas
qual o interesse de uma pessoa na sua posição em ajudar alguém menos
favorável? — pergunto, impaciente, voltando a guardar as folhas no
envelope e o estendendo para que ele o pegue, mas ele não o faz. Dickinson
mantém sua postura de todo poderoso, seus olhos queimando em mim de
forma que intimidaria qualquer um, até a mim se não estivesse com tanta
raiva. — Eu não o conheço, sr. Dickinson, e com toda certeza você não
conhece a mim e ao meu pai. Então seja qual tenha sido o motivo que o fez
pagar a hipoteca da minha casa, não vai rolar — digo rispidamente,
abraçando meu corpo de forma protetora.

— Por que você acha que tem um motivo por trás do que fiz? Acho
cômica a sua postura. Sempre acreditei que estando à deriva no mar, ao
encontrarmos um barco, agradecemos aos céus sem interrogarmos os
motivos de ele estar ali, não acha? — Continuo desconfiada. — Está
mesmo cogitando a hipótese de que quero alguma coisa em troca? — Sua
voz é um rosnado baixo, fazendo meu corpo estremecer.

— Pessoas que têm dinheiro e poder como o senhor, sempre fazem


algo querendo alguma coisa em troca. Então vou deixar bem claro, não vou
dormir com o senhor. Não estou a venda! Tenho caráter e princípios —
pontuo ferozmente.
Connor me encara por alguns segundos, antes que seus olhos me
olhem de cima a baixo, avaliando-me com atenção.
— Acha mesmo que eu quero transar com você? — questiona, com
ironia, voltando a encarar meus olhos.

Pisco algumas vezes e baixo meu olhar, sentindo-me humilhada pela


forma como ele me olhou. Claro que Connor não pensou em dormir comigo
como pagamento, estava na cara só de olhar para ele... Tão estupidamente
lindo. Onde eu estava com a minha cabeça quando falei isso?

— Não questione o barco, nem o capitão dele — pontua com


superioridade —, eu só quero ajudá-la, srta. Michell. Nada além disso. —
Vendo meu constrangimento, ele muda de assunto. — Sei que não vai ser
fácil para você, muito menos para o seu pai, se perderem tudo. — Sua voz
adquire um tom mais suave.

— Por que está fazendo isso? — Ergo novamente meu olhar.


Ele dá de ombros, deslizando uma mão por seu cabelo.

— Não precisamos ter explicações para tudo, Amber. Eu sei que é


difícil encontrar pessoas que estejam dispostos a ajudar sem pedir nada em
troca, mas só quero que saiba que tudo o que estou fazendo é apenas para
me certificar que você e seu pai fiquem bem.

Suas palavras parecem sinceras, mas sou orgulhosa demais para


aceitar.
—Eu não sou sua responsabilidade sr. Dickinson, não precisa se
preocupar comigo — digo, dando um passo até ele e estendendo novamente
o envelope em sua direção. — Foi um gesto muito nobre e lindo da sua
parte, mas não posso aceitar. Olha para mim... Eu não tenho como te pagar
por tudo isso.

Ele segura minha mão, seus olhos firmes nos meus, prendendo
minha atenção.

— Eu sei que não é, ainda assim estou aqui. E não se preocupe, você
não me deve nada.
— Como não? Você acabou de gastar uma pequena fortuna em uma
conta que não era sua. — Minha voz sobe uma oitava. Respiro fundo,
afastando-me dele. — Não posso aceitar isso, e tenho certeza de que meu
pai também não o fará.
Ele parece surpreso.

— Não é uma fortuna para mim, nem chega perto disso. Mas já acha
tão humilhante assim, o que sugere? Que cobre de você? — questiona,
sendo irônico novamente.
Não o conheço, mas nos poucos minutos que passei em sua
presença, descobri que ele é impaciente, soberbo, detesta ser contrariado e,
claro, um deus grego.
— Sim, eu pretendo. Eu vou arrumar um novo emprego, assim
poderei pagar a você.

Ele balança a cabeça em negativa.

— Garota teimosa! — resmunga entredentes. Connor umedece os


lábios com a ponta da língua. — Não quero seu dinheiro, sequer preciso, só
vim deixar esses documentos aqui porque sei que...

— E eu não quero sua ajuda se não puder pagar — insisto, mesmo


diante do seu olhar ameaçador.
Connor aperta os lábios numa linha fina e fecha os olhos, suas mãos
grandes com dedos longos sobe novamente até seu cabelo cor de cobre,
deslizando-as sobre os fios.

— Tudo bem. Se me pagar vai fazer você se sentir melhor, então


vamos fazer um acordo. — Ele abre os olhos e sorri de forma relaxada. —
Estou precisando de uma assistente pessoal e acho que você se encaixa no
papel.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo com a forma como ele me
observa. Não tenho ideia do que ele vai dizer, no entanto, algo dentro de
mim me alerta que isso poderá mudar por completo minha vida.
— Você trabalhará comigo... cuidará de todos os eventos e festas da
empresa que terei que comparecer. Ficará encarregada da minha agenda
pessoal e viajará comigo quando necessário. Sabe falar outro idioma além
do nosso?

Faço uma negativa rápida. Abro e fecho a boca, organizando suas


palavras uma por uma em minha cabeça. O que diabos ele está fazendo? Eu
havia me formado em jornalismo, e o meu maior objetivo era conseguir um
emprego em uma editora renomada. Não passei tantos anos estudando para
acabar sendo assistente pessoal de um louco que surge na minha porta do
nada. Quem diabos ele pensa que é para querer esmagar meu sonho por
causa de uma hipoteca?

— Não! Isso está fora de cogitação — digo, estupefata.

— Então como sugere me pagar, já que insiste em fazer isso? — Sua


voz é intimidadora.
— Sempre há uma segunda alternativa. Mas por que precisa de uma
assistente?
Connor sorri baixinho.

— Acabei de assumir a presidência da agência de publicidade da


família, e no momento estou precisando mesmo de uma assistente.

Sua desculpa é ridícula, claro que é mentira. Respiro fundo,


sentindo-me derrotada. Mas em algo ele está certo, quando se está à deriva,
não questionamos o barco, só aceitamos a ajuda.

— Você não tem muitas escolhas nesse momento, srta. Michell —


diz friamente.

Mordo o lábio, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.


— Tem razão, eu preciso de um emprego, mas sou uma pessoa digna
e seja lá o que pretende com isso, minha dignidade não está à venda. E sr.
Dickinson, eu vou te pagar cada centavo do que gastou com a nossa dívida,
e depois disso, deixarei o cargo. — As palavras escapam dos meus lábios
como farpas.
Connor apenas sorri com satisfação, por ter vencido essa luta.

— Ótima escolha, srta. Michell. — Ele caminha até mim, sem tirar
os olhos do meu. — Te vejo na segunda. Receberá um e-mail com as
instruções necessárias.
— Você fez o quê? — Manson questiona, cuspindo de volta a
bebida, quando lhe conto o que fiz por Amber.

Tomo o restante do meu uísque e faço um gesto para que o bartender


volte a encher meu copo.

— Exatamente isso que você ouviu — respondo, voltando a beber


meu uísque que acaba de ser servido.

— Connor, existe um limite, sabia?

Acabo rindo ironicamente. Não existe, não para mim, e ele sendo
meu amigo de infância sabe bem disso.

Manson continua seu sermão, mesmo sabendo que eu não estou


ouvindo. Crescemos juntos, frequentamos as mesmas escolas e eventos da
sociedade. E se tem algo que o poder aquisitivo nos ensinou desde cedo é
que não existem limites em uma sociedade ditada pelo poder. E sim, nossas
famílias dominam a elite de Portivil.
Nosso primeiro encontro foi no campo de golfe, nossos pais são
associados e, por amor ao esporte, nos tornamos grandes amigos. Apesar de
ser mais velho que ele apenas dois anos, isso não impediu que nos
tornássemos inseparáveis. Na escola, eu o defendia dos alunos mais velhos
que passavam seu tempo aterrorizando os mais fracos. Agora Manson
cresceu, quem diria que o pequeno Smith ficaria mais alto que eu.
De todos os amigos que conquistei durante toda a minha vida,
Manson foi o único que permiti permanecer ao meu lado depois do que
aconteceu com a minha querida Hanna. Me afastei de todos e me tranquei
em um lugar obscuro, afastando minha própria família. Ele cuidou de tudo
e, pelo visto, bem até demais, já que está noivo da minha irmã caçula. Mas
sendo sincero, não existe ninguém melhor que ele, sei disso. O amor é
verdadeiro, é fácil ver quando olho nos olhos dos pombinhos. No entanto,
eu perdi meu parceiro de farra, mas é o preço a ser pago.

Depois que assumi a presidência da agência, eu vivo apenas para


meu trabalho, é o que me move, me faz bem, um escape. Me focar no
crescimento da empresa e em toda grana que posso fazer em horas é tudo o
que me importava, ao menos deixo transparecer. Mas Manson sempre me
conheceu melhor que ninguém. Feito um animal teimoso, ele ficava ao meu
lado. E quando eu perdi Hanna, meu amigo sempre teve esperança de que
em algum momento eu iria voltar à minha vida. Ele não estava cem por
cento errado, mas talvez não esperasse que eu retornasse um homem mais
pervertido.

Depois de três anos em um celibato, amaldiçoando o mundo pela


minha perda e luto, eu voltei para a minha merda vida, não como ele
esperava que fizesse. Foda sem compromisso te deixa livre de
envolvimentos emocionais, e depois de tudo, ter alguém no meu coração é o
que eu não preciso. E é fácil usar o dinheiro e a sedução para ter uma
mulher na minha cama. Uma noite em uma suíte luxuosa de hotel, e pela
manhã, esqueço a noite anterior e volto à caça novamente. Posso até repetir
uma foda, se valer a pena. Mas sempre sem envolvimentos, esse é o meu
lema. Já amei uma mulher uma vez, o destino a tirou de mim e isso me
destruiu. Não vou cometer o mesmo erro novamente, não sabendo como é ir
ao inferno.

— Não sei o que pretende, mas não está salvando a Hanna, Connor.

A menção de seu nome me traz de volta à conversa.

— Nunca tive essa intenção...

— Teve, você teve e se culpou muito por não ter estado lá, mas já
repeti mil vezes, não foi sua culpa.

— Está falando asneiras... — Finjo não me importar.

— Então por que, Connor?


— Vai à merda, Manson. Essa conversa toda está me enchendo,
porra! — Altero a voz.

— O socorro não chegou a tempo para Hanna, mas chegou para essa
garota. Você ficou lá o tempo todo, e até entendo arcar com as despesas do
hospital, mas nada justifica a quitação da dívida. E, por Deus, contratar a
garota para sua assistente... já tem a Gisela, que é perfeita no que faz —
volta a perguntar, dessa vez usando seu tom de reprovação.

— Gisela está sobrecarregada e precisa de ajuda.

— Mas ela não pediu por isso.

— Bom, eu me adiantei, e outra, qual o problema? Apenas ajudei


uma garota que não tem onde cair morta. O destino a trouxe, jogou-a bem
no meu carro. Não são sinais que dá para serem ignorados — respondo com
desdém, enquanto levo o copo até os lábios e beberico um pouco do meu
bourbon.
— Você me fez investigar a vida dessa pobre moça porque quer levá-
la para cama, e tem um ego grande demais para admitir isso — afirma sem
tirar os olhos repreensivos de mim.

Rio diante das suas palavras, voltando meu olhar para ele.

— Nunca precisei disso para comer uma mulher. Sabe bem, e outra,
não é porque você é meu melhor amigo e está com minha irmã que isso te
dá o direito de se meter na minha vida.

Manson respira fundo, mostrando toda a sua impaciência antes de


beber a sua cerveja.

— Você é um cretino, Connor! Está pensando com o pau agora, é?


Quando você vai se cansar de brincar com todas essas garotas?

— Em primeiro lugar, eu não brinco com elas... Quero dizer... De


certa forma, sim. Mas todas abrem as pernas para mim, sabendo que quero
apenas fodê-las — explico, como se essa fosse a primeira vez que tocamos
nesse assunto.
Manson inspira novamente, voltando-se para mim com os olhos
semicerrados. Sei que ele está prestes a fazer mais um dos seus discursos
entediantes sobre a vida e em como eu deveria ter coração, então falo antes
que ele tenha a oportunidade.

— Não estou com intenção de levar a senhorita Michell para a cama.


Ela é uma garota bonita, admito, mas não faz o meu tipo. Estou fazendo
isso sem nenhuma intenção a mais do que simplesmente ajudar. Ofende
saber que pensa o pior de mim.

Manson me encara por alguns segundos em silêncio, como se


estivesse se decidindo se acredita ou não em minhas palavras, antes de
enfim desistir.

— Quer saber, eu preciso ir... fiquei de encontrar a Caroline para


jantar. Temos alguns assuntos a respeito do noivado e... — ele diz, enquanto
verifica a hora no relógio do seu pulso.

Assinto, não querendo me envolver nisso.

— Te vejo depois — ele se despede e eu aceno sem muita enrolação.


Ele bate nas minhas costas, antes de deixar uma nota sobre o balcão e ir
embora.

Manson se vai, deixando o gosto amargo da verdade. Não estou


fazendo isso só porque minha noiva não teve uma chance, vai além. Qual o
problema em ajudar uma garota com a vida toda fodida? Ela ter entrado em
minha vida da mesma forma que minha noiva saiu é só a merda de uma
coincidência, nada mais...

Viro mais dois copos, querendo tirar essa merda de névoa que
Manson deixou. E não demora muito até que uma garota ruiva, usando um
vestido justo ao corpo, ocupe o banco que outrora meu amigo esteve
sentado. Seu perfume adocicado chega até mim e eu sou obrigado a olhar
em sua direção. Ela não aparenta mais de vinte anos, mas seus grandes
olhos castanhos estão sobre mim, analisando-me com interesse.
Hoje não, sussurro a mim mesmo, mas contrariando minha
repreensão, ela vem até mim.

Não estava em meus planos tirar a roupa de nenhuma mulher hoje,


mas se a caça veio até o predador, quem sou eu para negar uma boa e
inesquecível noite de foda?

 
 

 
Ainda em transe por toda essa situação, me pergunto quem é Connor
Dickinson e por que ele está me ajudando, se somos completamente
desconhecidos? Mas antes de conseguir assimilar, ou mesmo buscar uma
resposta, meu celular vibra. Ao pegar o aparelho, vejo que acabo de receber
um e-mail. Remetente Gisela Arnês, departamento pessoal Dickinson
Publicis. Abro e vejo que é uma mensagem formal, nominal a mim, com
endereço, local e horário em que devo comparecer à empresa. E basta
apenas isso para pesquisar no Google e choque percorrer meu corpo.

Dickinson´s é um grupo americano de consultoria e comunicação


fundado por Alan Dickinson. Atuante há mais de trinta e oito anos no
mercado, sua principal agência de publicidade, a Dickinson Publicis, pode
se gabar de pertencer à maior rede de comunicação e publicidade do
mundo. Hoje, comandada pelo CEO Connor Dickinson, a agência possui
vários prêmios de Cannes, incluindo dois Leões de Ouro pela propaganda e
publicidade realizada para a Freedon e a Companhia W&R Associados.

Seu investimento gira em torno de $ 27,5 milhões anualmente por se


manter na primeira posição do ranking – segundo o Ibope Monitor – como a
maior e a melhor agência de publicidade e propaganda do país.

Além da data de fundação e história, há número de funcionários e de


valor de mercado. São tantos dígitos que fica claro que eu caí de paraquedas
nesse mundo. Mas como diz o ditado, se a sorte lhe sorrir, tem por
obrigação sorrir de volta.

Isso explica porque Connor pagou a hipoteca da minha casa como se


estivesse pagando uma rodada de drinques num bar – ele faz parte da
grande elite de Portivil.

Por essa eu não esperava. E apesar das várias dúvidas e ainda


extasiada com tudo, o sono acaba me vencendo.
O primeiro dia no novo trabalho sempre é uma mistura de ansiedade
e excitação. É a premeditação do que espera e deseja que aconteça ao longo
do dia. Normalmente, eu teria passado o resto do final de semana me
planejando para o primeiro dia de trabalho. Que roupa usar, pesquisar até a
madrugada sobre a empresa. Tentar saber um pouco mais do meu chefe para
não correr o risco de fazer algo que não o agrade. Em uma época normal, eu
estaria eufórica em trabalhar em uma empresa de grande porte. Já estaria
pensando nas inúmeras possibilidades para o futuro. Mas, infelizmente,
nada disso aconteceu, e é exatamente por isso que estou encarando o teto há
cerca de dez minutos, desde que o despertador soou. Pensando se estou
sendo salva, ou embarcando em uma grande furada.

Ainda não acredito que ele pagou a hipoteca da minha casa. Passei
os últimos dias pensando nos motivos que ele teria para me ajudar.
Pensando no porquê um homem como Connor, lindo, rico, poderoso e bem-
sucedido, teria interesse em me ajudar, mas não obtive nenhuma resposta
para minhas perguntas. Na verdade, talvez nem exista uma resposta para
isso.

Respiro fundo e me obrigo a sair da cama. Mesmo que eu tenha


tempo o suficiente para me arrumar sem pressa, pretendo chegar à empresa
mais cedo para não dar motivos para o meu chefe chamar minha atenção no
primeiro dia.

Antes de entrar no banho, coloco minha roupa sobre a cama. Um


terninho azul-claro que comprei para usar no meu primeiro dia na editora.
Bem, com certeza a empresa de Connor é bem mais sofisticada do que meu
antigo trabalho e eu deveria usar algo mais adequado, porém, não posso me
dar ao luxo de fazer compras no momento que estou vivendo.

Permito-me relaxar por alguns minutos no banho e tento canalizar a


ideia de que meu dia talvez seja produtivo e que trabalhar com o sr.
Dickinson pode sim, ser algo bom. Apesar da sua atitude de invadir minha
privacidade e investigar a minha vida, ele fez algo bom para mim e para o
meu pai. E mesmo que isso seja uma incógnita para mim, quero pensar que
de fato tudo o que ele fez foi sem nenhum interesse em receber algo em
troca.

Analiso-me no espelho e fico satisfeita com a minha imagem. O


terninho ainda me veste bem, como da primeira vez que o experimentei. Ele
abraça discretamente minhas curvas e me deixa elegante. Vejo meu cabelo
solto e a maquiagem básica, apenas lápis e batom em tom rosa-claro.

Puxo uma longa respiração e mentalmente me desejo sorte pelo


primeiro dia, antes de pegar minha bolsa, celular e sair do quarto.

Encontro papai na cozinha, preparando o café.


— Não precisava acordar tão cedo para preparar o café, pai — falo
ao me aproximar dele.
— Claro que precisava. Afinal, tenho certeza de que se eu não
tivesse levantado, você sairia sem tomar café da manhã.

Sorrio e deixo um beijo em sua bochecha.


— O senhor tem toda razão quanto a isso.

— Eu sempre tenho razão, Amber. Agora, sente-se e tome seu café.

— Eu adoraria isso, papai, mas infelizmente não tenho tempo.


Preciso correr para chegar na hora marcada em meu primeiro dia.

— Amber...

— Não posso chegar atrasada no primeiro dia. Tenho que causar


uma boa impressão.

Pego uma maçã e dou outro beijo nele em despedida.

— Te vejo à noite. Te amo


— Tenha um ótimo trabalho. Te amo, querida, e boa sorte no
primeiro dia, sei que eles vão amar você.

Encaro o prédio moderno e elegante com fachada toda espelhada e o


logo da empresa em letras douradas. Pelos meus cálculos, são
aproximadamente doze andares. Me sinto malvestida perto disso aqui. Se
por fora ele é deslumbrante e intimidador, me pergunto como não será por
dentro.

Obrigo minhas pernas a caminharem em direção à entrada. Noto que


tudo metálico e simétrico enquanto sigo até o balcão de mármore e digo
para qual setor estou indo. A moça do outro lado simpática e jovial sorri de
forma espontânea. O cabelo negro está preso num rabo de cavalo elegante.
Depois de lhe passar todos os meus dados, ela me entrega um crachá e me
manda ir até o último andar.

Claro que o setor do Connor seria no último andar, penso enquanto


sigo para o elevador, que por sorte está praticamente vazio quando entro.
Aproveito o curto percurso para me preparar mentalmente para o que
me espera.

Quando as portas do elevador se abrem no meu destino, meus olhos


contemplam um lugar ainda mais sofisticado que o anterior. Portas grandes
e metálicas, bem arejado e iluminado.

Caminho até a recepcionista do andar, que sorri com simpatia


forçada quando me nota. Me apresento e ela diz que Gisela me aguarda em
sua sala, a segunda à esquerda, mais especificamente. Agradeço e vejo no
crachá seu nome. Aline.

— Bom dia. Você deve ser a srta. Michell.

— Isso mesmo.
A loira faz sinal para que eu me sente à sua frente e digita alguma
coisa em seu computador. Assim como os demais, ela está de terno e com
cabelo impecável.

— O sr. Dickinson ainda não chegou, mas deixou ordens para te


explicar como tudo funciona por aqui.

Ela sai de trás de sua mesa e faz um gesto para que eu a siga. O
corredor é longo e as paredes que separam as salas são de vidro
transparente. Enquanto sigo a secretária de Connor, aproveito para admirar
o lugar. As pessoas são elegantes e fazem jus ao ambiente. É um mundo
completamente diferente do qual estou acostumada a conviver e ao mesmo
tempo um lugar do qual sempre sonhei fazer parte. Talvez trabalhar com
Connor Dickinson não venha a ser tão ruim assim, talvez essa seja uma
oportunidade que eu tanto sonhei para crescer no meu trabalho. Entramos
em uma sala vazia, composta apenas de uma mesa grande e uma estante
com alguns livros. A decoração é moderna e ao mesmo tempo sofisticada.
Em frente à mesa, tem uma porta de madeira que dá acesso a uma sala
ainda maior, provavelmente a do Connor.

— Bem-vinda à sua sala. De agora em diante, somos colegas de


trabalho e estou à disposição para ajudá-la. — A voz de Gisela me traz de
volta à realidade.

Volto-me para ela e a encaro, confusa.

— Minha sala? — Aponto um dedo para mim.

Ela arqueia uma sobrancelha e sem rodeios responde que sim – seca
e sem humor.

— Se é mesmo Amber Michell, com certeza esta é sua nova sala.

— Eu tenho uma sala só para mim? — As palavras escapam sem que


eu consiga detê-las.

— É o que parece — ela resmunga, indo até a mesa e retirando da


gaveta um iPad e estendendo em minha direção. — Como sabe, a partir se
hoje você será responsável pela agenda do sr. Dickinson. Todo e qualquer
compromisso que ele tenha tem que estar em sua agenda. Ele é um homem
muito ocupado e seu tempo literalmente vale ouro, ou, nesse caso, alguns
milhões de dólares. Ele não tolera atrasos, erros em sua agenda e gosta do
café sempre às oito.
Suas palavras são sérias e intimidadoras. Será que todos os
funcionários do Connor têm essa postura arrogante como ele? Bem, espero
que não.

— Não tolera erros — repito, olhando firme. — Não que eu goste de


cometê-los, mas é humano, não? Faz parte do processo de aprendizagem.

— Bem, espero que não seja o seu caso, para seu próprio bem.
Trabalhar com Connor Dickinson é um privilégio para poucos, pode
aprender muito e, claro, faz valer qualquer currículo. No entanto, ele preza
muito por perfeição.

Ela gira nos calcanhares e caminha até a porta, mas antes de sair,
volta-se para mim e diz:

— Já que a partir de hoje você é a assistente pessoal do chefe, então


é dever seu trazer o café do sr. Dickson todas as manhas. Pode começar por
hoje.

Estreito os olhos para ela em confusão.

— E não é qualquer café. Ele gosta dos feitos por Charlie, a cafeteira
do outro lado da rua. Fica bem na esquina, não tem como errar. São sete e
meia, acho melhor se apressar, o restante te passo quando voltar.

— Pode pelo menos me dizer que jeito ele gosta do café?

— Claro! Com leite, creme e bastante açúcar. — Dito isso, ela sai da
sala, deixando-me sozinha.

Bem... acho que consigo lidar com essas tarefas.


Quando Gisela descreveu onde ficava o café favorito de Connor, não
me disse que era no final da rua. Eu andei quase todo o quarteirão para
chegar lá. A fila estava enorme, o que me fez perder mais tempo do que
deveria. Fiz uma nota mental de chegar mais cedo nos próximos dias para
pegar o café dele sem ter que esperar tanto.

Na volta, para completar, encontro o elevador cheio e demora uma


eternidade para chegar até o andar.
Quando coloco os pés em sua sala, Gisela me encara com ar de quem
está prestes a cair na risada.
— Faz algum tempo que o sr. Dickinson chegou. Como você não
estava, te fiz o favor de passar a agenda do dia com ele.

Eu a encaro por algum tempo, e neste momento entendo


perfeitamente o que ela fez. Conheço pessoas competitivas em lugar de
trabalho de longe, e com certeza Gisela é uma delas.

— Te agradeço muito por isso, ao menos trouxe o café — ressalto.

— Disponha. — Ela força um sorriso.


Começo a me afastar quando a ouço dizer.

— Ah, mais uma coisa. Só lembrando que o sr. Dickinson não tolera
atrasos.

Ignoro suas palavras e faço meu caminho até a sala do Connor. A


porta que divide minha sala da dele está fechada, então bato duas vezes e
espero até que ele me dê permissão para entrar. Não ouço nada, então bato
novamente e abro a porta sem sua permissão. A sala é ampla, bem arejada e
tem uma visão perfeita da cidade, deve ser lindo ver isso à noite. Há uma
mesa para reuniões e uma porta que acredito ser seu banheiro particular.
Um quadro enorme de arte moderna na parede. A mesa metálica completa o
ambiente. Ele está sentado à sua mesa, com o olhar concentrado em alguns
papéis.

— Bom dia, sr. Dickinson — falo ao me aproximar.

Ele continua sem me encarar, e à medida que me aproximo, sinto


como se meu coração fosse saltar para fora do peito a qualquer momento,
tamanho o meu nervoso. Seu perfume está por todo o ambiente e é viciante.
Em um terno azul, posso afirmar que sim, ele consegue a atenção de
qualquer mulher.
— Desculpe o atraso, é que a srta. Gisela me pediu para buscar seu
café, e como o lugar é um pouco distante, acabei demorando mais do que o
necessário.
Merda, cala a boca, Amber!, repreendo-me mentalmente, porque
tenho o péssimo hábito de falar demais quando estou nervosa.

É impossível não se render à sua beleza estonteante, Connor


Dickinson é um homem lindo.

Com mãos trêmulas, coloco o copo de café à sua frente, e neste


momento seus olhos erguem-se lentamente para mim, passeando por meu
corpo com atenção, atenção até demais. Sinto-me desconfortável pela forma
como ele demora em meu corpo antes que seus olhos encontrem os meus.
— Primeiro, não culpamos outros funcionários por nossos erros.
Segundo, tomo meu café às oito, e agora são oito e vinte e sete. Terceiro e
último, por que diabos está vestida assim? Somos uma empresa de
publicidade e imagem, srta. Michell, não pode chegar aqui desse jeito se
quer continuar a trabalhar comigo.

Merda. Me sinto péssima ao ouvi-lo e engulo em seco enquanto


tento controlar minhas emoções.

Displicentemente, ele tira o telefone do gancho.


— Gisela, quero que ensine a srta. Michell como se portar e vestir
aqui na empresa. — Desliga, então volta sua atenção para mim. —Pode
passar no RH para assinar seu contrato de trabalho. — Seu celular toca, ele
se levanta e sai atendendo a ligação.
Então começo a me questionar se vou mesmo sobreviver aqui.

Tirando o primeiro dia, que foi humilhante, a semana seguiu sem


mais contratempos. Na verdade, estou com Connor Dickson sempre ao
telefone, mas o vejo poucas vezes. Gisela me ajudou com as peças, que são
sempre sociais e em tons escuros, sob medida. Saltos scarpins e maquiagem
o mais formal possível, o cabelo também precisa estar preso. Sim, isso
resume o se portar e vestir.
O mau humor de Connor foi a parte mais complicada de toda essa
história. O cara vive estressado e dando ordens para todo mundo. Agora
entendo por que todos que trabalham com Connor parecem ter medo dele.
Sua forma perfeccionista de lidar com as coisas chega a ser exagerada, ele
não admite que ninguém cometa nenhum erro sequer. Connor intimida a
todos com seu ar autoritário, sua postura confiante de todo poderoso, seja
por telefone ou em reuniões. Confesso que boa parte do tempo em que
estive em sua presença também me senti intimidada, mas não posso
demonstrar isso a ele. Tudo o que menos quero é ser mais uma de suas
vítimas dentro da empresa.
A vida de Connor é corrida e cheia de tarefas para serem realizadas.
A sua semana tem tantos compromissos que me sinto tentada a lhe
perguntar em que momento ele tira uma pausa para relaxar ou estar com sua
família. Não consigo entender como alguém que tem tanto dinheiro e poder
pareça viver apenas para o trabalho. Connor deve ter pouco mais de trinta
anos, ele é jovem, mas age como um velho razinza de oitenta.
— Terra chamando Amber. — A voz de Nathan me faz sair dos
meus devaneios.

Volto meu olhar para meu amigo, que me fita com um sorriso nos
lábios carnudos.

— Está muito distraída — comenta, enquanto enrola o espaguete e o


leva à boca.

Essa é a primeira vez que o vejo desde que lhe contei que ia
trabalhar na empresa do Connor. A última vez que ele esteve aqui, foi no
mesmo dia em que Connor apareceu na minha porta, com a minha dívida
quitada e a proposta de trabalhar para ele. Claro que meu amigo, sendo o
protetor que é, não gostou nada de saber o que Connor fez. Segundo ele,
alguém como o sr. Dickinson, rico e com uma posição social tão elevada,
não ajuda pessoas como "nós" sem esperar algo em troca. Nada do que lhe
disse naquele dia o fez ficar menos irritado com a minha decisão de
trabalhar com o Connor, o que resultou em uma briga feia e uma semana
sem falar comigo. Mas hoje, quando cheguei à minha casa, Nathan estava
aqui, fazendo o jantar enquanto meu pai assistia ao jogo de futebol. Ele se
desculpou pela forma que agiu e eu apenas o desculpei, porque sei como
sempre foi superprotetor comigo.
— Estou cansada, só isso. Ser assistente do senhor mal-humorado
não é nada fácil. — Reviro os olhos, remexendo na minha comida.
— Se não gosta de trabalhar com o cara, é só sair. Você pode
arrumar um emprego em outro lugar. — A forma como Nathan fala faz tudo
parecer fácil.

Mas nós dois sabemos que na posição que me encontro, não posso
dar uma de mal-agradecida e abrir mão do emprego. Fora que preciso do
trabalho, preciso muito.

— Só estou trabalhando lá há uma semana! Qual desculpa iria dar


por estar largando meu emprego? Espera, talvez eu diga que o fato do meu
chefe ser um arrogante esteja me incomodando, por isso quero procurar
outro trabalho que vá me pagar bem menos do que o sr. Dickinson me
ofereceu para ser sua assistente — ironizo.
— Olha, eu tenho um dinheiro guardado, não é muito, mas seria o
suficiente para você manter as coisas em ordem enquanto não consegue
encontrar outro emprego — diz com voz suave, ignorando minha ironia. —
Você pode ir para Nova Iorque. Tenho certeza de que a sua professora ainda
pode te recomendar à editora. Sempre foi o seu sonho ir para lá... Tenho
certeza de que o David não vai se opor.

— Nathan... Não é assim tão fácil — pontuo de imediato. — Eu


queria poder de fato fazer isso, mas meu pai jamais sairia de Portivil, e nas
condições que ele se encontra, não posso deixá-lo sozinho.
— Então, pelo menos aceite meu dinheiro e saia da empresa. Não
gosto de você perto daquele cara.
Balanço a cabeça em negação, levantando-me da cadeira e pegando
o meu prato e o levando até a pia.

— Não posso aceitar seu dinheiro.

— Por que não? — questiona, sério.

Volto-me para ele, recostando-me na pia e cruzando os braços.


— Será que preciso mesmo responder a essa pergunta, Nathan?

Ele levanta-se e caminha até mim.

— Sim, precisa — responde sem rodeios.


— Não, eu não preciso, o.k.? Mas vou responder. Eu não posso
aceitar o seu dinheiro, porque sei que você está juntando para começar sua
vida.

— Você aceitou o dinheiro de um desconhecido e até deixou que lhe


comprasse roupas novas, então, qual o problema de aceitar o meu? — Sua
voz torna-se mais grave e seus olhos me fitam com atenção, esperando por
minha resposta.
Respiro fundo, deslizando minhas mãos por meu cabelo.

— Você sabe que não foi assim. Não tive escolhas e claro que isso
será descontado. Sabe que se eu tivesse tido uma chance, jamais teria
deixado que ele assumisse uma dívida que não era dele. E quanto às roupas,
também expliquei que eram necessárias para o trabalho.
Ele balança a cabeça, descrente.

— Sempre temos uma escolha, Amber.


— Nathan...

— Você ao menos disse ao David o que aquele cara fez? Contou a


respeito do rio de dinheiro que ele gastou para pagar a hipoteca da casa e
como ele te manipulou para ficar no emprego?
Ele me bombardeia com perguntas. O rosto retorcido de raiva. Os
olhos sem deixar os meus.

Fico em silêncio apenas o olhando, sentindo-me confusa por sua


irritação.

— Ele não fez tudo isso por pura bondade — diz, mais calmo. —
Será que não percebe as reais intenções dele?

— Não entendo por que você está com raiva! Você deveria estar me
apoiando agora, Nathan. Deveria estar me encorajando a continuar na
empresa, pelo menos até que as coisas fiquem mais calmas.

Ele ri sem humor.

— Como vou te aconselhar a ficar no mesmo lugar que aquele cara?


Eu não posso fazer isso. Tenho certeza de que seu pai também pensaria da
mesma forma, se soubesse as reais intenções desse cretino.
— E quais são as reais intenções dele, Nathan? — questiono,
confusa.
Nathan estreita seus olhos e um pequeno sorriso desdenhoso surge
em seus lábios.

— Você não é ingênua, Amber... — responde simplesmente.


Respiro fundo, tentando me manter calma. Tudo o que menos
preciso agora é começar uma briga com meu amigo.

— Por que em vez de ficar fazendo suposições a respeito do meu


chefe, você não me conta o real motivo que o trouxe de volta para Portivil?

— O assunto aqui não é sobre mim. — Ele desvia da resposta, assim


como vem fazendo desde que chegou.

— E quando o assunto será sobre você? Porque até agora, você não
respondeu nenhuma das minhas inúmeras perguntas. Estou começando a
acreditar que você está me escondendo algo.

Minhas palavras parecem pegá-lo de surpresa, o choque é nítido em


sua face. Mas ele só me permite enxergar isso por meros segundos, antes de
se recompor.
— O fato de que não quero falar sobre mim, não significa que estou
escondendo algo. Passei anos em Nova Iorque e senti vontade de voltar para
casa. Quero ficar próximo do meu pai, de você. Apenas isso.

Aceito sua desculpa, mesmo tendo certeza de que ele não está
falando a verdade.
— Você sabe que sou sua amiga, não é? Sabe que pode me contar
tudo. Sempre foi assim, nunca escondemos nada um do outro.

Ele fecha os olhos por alguns segundos, antes de levar as mãos ao


cabelo.
— Por Deus, Amber... Não há nada para falar — ele diz, voltando a
me encarar. — Eu só queria voltar para casa. — Suas palavras são baixas,
denunciando seu cansaço.

Respiro fundo e caminho até ele, parando a poucos centímetros.

— Eu não quero mais falar a respeito disso, o.k.? Tive uma semana
de fato muito estressante, e tudo o que menos quero agora é estragar o resto
da noite falando sobre meu trabalho e suas suposições a respeito do Connor.
Nathan balança a cabeça em concordância, mas o conheço o
suficiente para saber que ele não vai esquecer esse assunto tão cedo. Pelo
resto da noite, mantemos uma conversa leve, sem mencionar nada que nos
leve novamente para o assunto que envolve Connor e meu trabalho.

— O que isso significa, Amber? — questiona, depois de ler o papel


que entreguei a ele.

Depois da minha conversa com Nathan na noite passada, não pude


deixar de pensar nas coisas que ele havia me dito. De fato, ainda não havia
contado ao meu pai sobre Connor ter quitado a dívida do banco. Papai sabia
que Connor havia me oferecido um emprego na empresa, o que o deixou
muito feliz, pela generosidade do homem que ajudou a salvar a vida da sua
filha.

Estive tentando durante toda a semana lhe contar a respeito do que


Connor fez, mas não sabia como meu pai reagiria. Fiquei com medo de que
meu pai, assim como Nathan, pensasse que Connor fez isso com base em
algum interesse em mim. O que é algo extremamente absurdo! Connor
Dickinson, o grande CEO da empresa de publicidade, sequer me enxerga
quando estou à sua frente, a não ser como uma funcionária. Ele jamais
olharia para mim. É até cômico pensar que assim como eu no início, Nathan
cogitou a hipótese de que meu chefe quer algo em troca pelo que fez.
Apesar de ele se mostrar um cara arrogante, acredito que me ajudou por
caridade. E é isso que espero que meu pai pense também.
— Significa que não perderemos mais a casa — respondo, enquanto
tomo um pouco do meu café.

Meu pai continua com o olhar em mim, o que me deixa apreensiva.


— Isso eu percebi. O que estou perguntando é como você conseguiu
dinheiro para pagar minha dívida com o banco?

— Papai, isso não importa agora, o que importa é que não vamos
mais perder a casa.
— Claro que importa, Amber! Até onde sei, você não tinha dinheiro.

— E eu não tenho.

— Então, onde conseguiu tanto dinheiro?


Respiro fundo, empurrando minha xícara e encarando meu pai.

— Digamos que foi um empréstimo.


Ele arqueia uma sobrancelha e recosta-se na cadeira, cruzando os
braços em frente ao peito. Os olhos fixos em mim deixa bem claro que está
à espera de uma boa explicação.
— Amber Michell, quero que me fale o que diabos você aprontou —
ordena, sério.

— Eu não aprontei nada, pai. Por Deus! Será que você poderia ser
menos carrancudo e apenas ficar feliz?
— Não! Não tenho como ficar feliz sem saber a origem do dinheiro
que quitou a hipoteca do banco — diz apressadamente.
Respiro fundo, levantando-me da mesa e recolhendo a louça para
levar à pia.
— O sr. Dickinson me emprestou o dinheiro — digo por fim,
torcendo para que meu pai não surte.

— Como assim? — questiona, confuso, girando seu corpo de forma


que possa me olhar.

Caminho até ele, parando ao seu lado.


— Ele soube da nossa situação, se comoveu e pagou a nossa dívida.
Por isso estou trabalhando na empresa. Para poder pagar o que devo para
ele.
Ele me fita com confusão.
— O sr. Dickinson só quis fazer uma gentileza, pai... Não encha sua
cabeça de minhocas. — Tento soar engraçada, mas meu pai não se
convence disso. Ele continua em silêncio. — Você sabe que se não
pagássemos ao banco perderíamos a casa — digo, como se meu pai não
estivesse ciente disso.

— Não estou preocupado com a casa, filha, estou preocupado com


você.
Sua resposta me pega de surpresa. Puxo a cadeira e sento-me à sua
frente.
— Não tem por que se preocupar comigo, pai. — Pego sua mão e
aperto seus dedos.

— Como não? Você tem tomado uma posição nessa casa que deveria
ser minha!

— Pai, já falamos a respeito disso.


— Sim, falamos. E a única coisa que eu sei é que estou vendo a
minha filha se afastar de todos os sonhos dela por causa de um velho doente
que não pode nem cuidar da própria família — afirma exasperado,
erguendo-se da cadeira e caminhando até a pequena sala. — Não vou
permitir que pague por uma dívida que não fez.
— Não há o que discutir pai. Você fez essa dívida pensando no meu
futuro. Você arriscou nosso único bem, porque queria que eu tivesse uma
formação, o que significa, que só estivemos a um passo de perder a casa por
minha causa. Então, por mais que eu não tenha ido àquele banco dar a nossa
casa como garantia pelo empréstimo que fez, essa dívida era tão sua quanto
minha. — Vou até meu pai e estendo a mão para ele. — Você fez tudo por
mim a vida toda, não é justo que não me permita retribuir todo o cuidado
que sempre teve comigo.

Ele balança a cabeça em negação.

— Não é justo você ter que renunciar a todos os seus sonhos por
minha causa — pontua tristemente, enquanto pousa sua mão sobre a minha.
— Não estou renunciando a nada, pai. Tenho a vida toda pela frente
para realizar cada um dos meus objetivos, mas, por ora, a única coisa que
quero é garantir que você esteja bem. Você é minha família. É o que tenho
de mais importante e valioso, então apenas relaxe e me deixe trabalhar.
— Tem certeza de que é isso mesmo que você quer? Eu posso falar
com o sr. Dickinson e tentar encontrar outra forma de pagar a dívida. Você
não precisa trabalhar para ele, se isso não for o que você quer.
— Pai, não precisa falar nada com ele. Eu quero trabalhar na
empresa. O sr. Dickinson é uma boa pessoa. Ele se disponibilizou para nos
ajudar e até me ofereceu um emprego... E além do mais, eu até que estou
gostando de ser assistente pessoal dele — minto descaradamente, me
esforçando o máximo para que ele não perceba que minhas palavras são
apenas um blefe.

— Tem certeza disso? — Volta a me perguntar e eu apenas assinto,


com um sorriso.
Um erro. Um pequeno equívoco do destino e cá estou eu, sendo
estúpido novamente para cair em seu jogo. Houve um tempo em que eu me
sentia satisfeito, levando minha vida regada a conquistas e sexo sem
compromisso. Houve um tempo em que toda a extravagância que eu
poderia realizar com meu dinheiro me fazia esquecer o grande buraco em
meu peito, deixado pela perda da mulher com quem um dia sonhei construir
uma família. E até então nada do que eu fazia parecia suprir a falta e a
saudade que se instalou em minha alma, desde que Hanna morreu. Nada até
uma garota de sorriso fácil bater em meu carro.

Ouço uma leve batida à porta antes que ela seja aberta e Amber
Michell, ou como meu amigo Manson chama, meu erro diário, entre em
minha sala. Ele afirma com tanta veemência que quero fodê-la, que isso me
faz rir, claro. Eu não quero, não quis nem por um segundo, foi só o destino.
Ela está usando um terno preto e justo ao corpo. O decote em leve V não
mostra mais do que sua pele sedosa, no entanto, deixa muito para imaginar.
Seu cabelo castanho está escovado e preso em um coque, alguns fios
teimosos caindo sobre seus ombros. A maquiagem é leve e os lábios
carnudos estão perfeitamente pintados com tom rosa-claro. O olhar
expressivo faz uma rápida varredura pela sala.

— Bom dia, sr. Dickinson. Podemos repassar sua agenda — ela diz
educadamente e me serve o café. A respiração um pouco ofegante indica
que acabou de trazê-lo. Então, se inclina sobre a mesa, colocando o copo. O
aroma suave do seu perfume chega até mim e, instintivamente, inspiro
profundamente, desejando por um momento que ela se aproxime mais.
— Obrigado — digo, mantendo-me sério. Lógico que o
agradecimento a pega de surpresa. Levo o copo à boca e a percebo
observando tudo. Tem o quê? Duas semanas, talvez três, que ela surgiu na
minha vida. Mas foram raras as vezes que estivemos aqui, com tempo o
suficiente.

Amber é esforçada, admito. Com sua vidinha sem um futuro


brilhante à frente, ela parece levar bem o fato de ter que cuidar do pai, estar
aqui ganhando seu dinheiro e aceitando o que a vida lhe dá.

— Sente-se. — Aponto a cadeira à minha frente.

Talvez ela tenha pensado que, como todos os outros dias, eu a


dispensaria, mas não hoje.

Termino o café e puxo alguns papéis da gaveta. Mantenho meus


olhos em qualquer coisa que não seja Amber. Fitar seu rosto e suas curvas
não é algo muito produtivo para alguém na minha posição. Não posso negar
que me sinto atraído por ela, mas tenho princípios e quero manter o
profissionalismo dentro do meu local de trabalho. E claro, contradizer meu
amigo que insiste que não há nada de bom aqui, apenas uma foda, e quando
a tiver, vou dispensar a garota.

— Está tudo bem com seu pai?

Seu rosto se ruboriza pela pergunta, agora mesmo ela encara a mesa.

— Sim, está... — diz rapidamente.

— Fico feliz por isso.

Seu rosto se fecha em uma postura séria. Desço o olhar para o


pequeno decote, e se fosse em outra ocasião, já teria tentado arrancar suas
roupas, mas essa não é uma delas.

— Podemos repassar sua agenda de hoje?

Ergo a mão e faço menção para que ela espere, então termino o café
enquanto assino os papéis, voltando-os à gaveta.
— Você sempre foi assim tão ágil, ou está apenas tentando se livrar
do tempo que tem comigo? — pergunto sem olhá-la.

— Estou apenas fazendo o meu trabalho — rebate sem rodeios.

Ergo meu olhar para ela e a encaro. Claro que isso a intimida, e acho
que estou começando a me viciar nessa sinceridade tão rude.

— Você não gosta de mim, não é? — Não sei exatamente o motivo


que me leva a fazer tal pergunta, mas confesso que há uma pequena
curiosidade aqui.

Ela é pega de surpresa, percebo que cora novamente, mas logo tenta
se recompor.

— Desculpe ser direta. Não acho que alguém na posição do senhor


se preocupe se sua assistente gosta ou não de estar aqui.

Apoio os cotovelos sobre a mesa e me inclino para a frente, sorrindo.

— E qual seria o sentindo da pergunta se não houvesse interesse na


resposta? Sei que intimido as pessoas... mas não posso afirmar com
veemência que é o que acontece com você.

— Não fui criada para me intimidar fácil, sr. Connor, principalmente


com pessoas que usam da sua posição privilegiada com esse intuito — ela
diz sem se deixar intimidar, despertando em mim ainda mais interesse.

— É isso que você pensa de mim? Que tento intimidar as pessoas


pela cadeira que ocupo? — questiono, fingindo estar em choque por sua
resposta.
Ela dá de ombros e arruma uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.

— Talvez todos os chefes se sintam coagidos a serem assim.

Sorrio diante de sua resposta, levantando-me da cadeira e sentando-


me na borda da mesa, próximo a ela. A proximidade faz sua respiração
oscilar.
— Interessante sua resposta, srta. Amber... Mas se está curiosa sobre
isso, vou te mostrar algo.

Faço sinal para que se levante. Ela obedece e então seguimos até a
ampla janela de vidro, onde contemplo o grande centro urbano.

— Isso é uma selva, srta. Amber, uma selva disposta a tudo.


Desculpe se só pareço um chefe arrogante, mas o mercado é bem mais que
isso aqui e costuma ser cruel com aqueles que se mostram frágeis. Eu não
aceito as migalhas que a vida está disposta a oferecer, eu quero o banquete e
corro atrás dele.

Ela arqueia uma sobrancelha.

— Acho que é mais fácil enfrentar a selva quando se é herdeiro e


estando em uma posição privilegiada, não?

Dou um passo mais próximo, ficando a poucos centímetros, com


nossos rostos quase colocados, ela à minha frente, mas ambos olhando para
a cidade. Vejo seu busto ofegar pela proximidade antes de olhar de relance
para seu perfil. Amber permanece como uma estátua, encurralada, quando
se dá conta de que estou perto demais. Isso a faz recuar um pouco. Ela
então se vira, me fitando em confusão.

— Eu gosto da sua ousadia, srta. Amber — digo num tom baixo. —


Principalmente por eu ser seu chefe, mas se acha mesmo isso, que sou
apenas um herdeiro idiota que se impõe, por que ainda está aqui?

— Acho que você não me deu muitas escolhas quando pagou a


minha dívida — retruca de forma petulante e eu acabo rindo.
— Me perdoe por interromper sua busca pelo emprego dos sonhos e
me intrometer em sua vida perfeita — debocho. — Mas até onde sei, não te
obriguei a vir para cá. Eu não pedi nada em troca do que fiz.

— Não, você não pediu, sr. Connor. Assim como eu também não te
pedi nada.

— Então você preferiria perder sua casa?


Ela sorri sem humor, se virando totalmente para me encarar.

— Não, eu não queria isso. A única coisa que eu queria era não ter
minha privacidade invadida.

Tento ler os sinais, é surreal o tamanho do seu orgulho. Acredito que


até mais que o meu.

— Pensei que já tivesse superado isso.

— Superado o fato de o senhor se achar no direito de invadir a


privacidade de alguém que mal conhece por mero capricho?

— Não foi isso que aconteceu.

— Então, o que aconteceu?

— Não é todo dia que uma louca bate em seu carro, não acha?

— É o suficiente para investigar a vida da louca?

Acabo soltando um riso.

— No mínimo, desperta a curiosidade, não acha? — questiono,


minha voz subindo algumas oitavas.

— Por que você quer me sondar do que penso a seu respeito? —


retruca, usando um tom de voz mais alto que o meu.

Ficamos em silêncio nos olhando, um esperando que o outro


responda.

Caminho até ela, parando a apenas um passo. Estamos tão perto que
poderia tocá-la se estendesse mão e, por um segundo, isso é tudo o que
anseio fazer. Sua respiração ofega a ponto de me dar um pequeno vislumbre
de seios no decote. Amber está furiosa, e por uma razão estranha, me sinto
excitado com isso. Minha mente desenha vários cenários, onde arranco sua
roupa e saboreio cada parte do seu corpo e a fodo muito. Sim, é uma
loucura esse tipo de pensamento, mas não posso negar que estou a um passo
de fazer isso.
— Isso é tudo por hoje, srta. Amber. Pode se retirar — falo.

E ela, como um animalzinho acuado, rapidamente me deixa sozinho.

— Quando se perde um contrato, não é apenas um cliente que se vai,


mas o trabalho árduo de um mês. Porque criar uma campanha não é
simplesmente jogar alguns dados e produzir. Você analisa tudo, o público
que ela já tem, o que pretende alcançar e traça a meta. Tudo conta, desde a
forma como o nome da empresa está escrito até seu layout. Destaque de
valores e crenças, entre outros fatores, devem ser estrategicamente pensados
para atender aos objetivos da empresa, tendo a agência de publicidade a
responsabilidade por tais  criações. E, vocês, senhores, conseguiram o
inaceitável, falharam em tudo. — Dou um murro na mesa. Merda! Estou
puto, muito. — Quer transmitir a mensagem, lacrar ou que inferno
pretendiam, deveriam saber que no mínimo precisam conversar entre os
dois grupos, não jogar com a sorte. Essa empresa sobrevive até hoje por
saber caminhar na linha tênue entre gregos e troianos. É o básico, o
mínimo, porra! — Respiro fundo, com todos esses olhos de engravatados
que deveriam saber toda essa merda em minha direção. Passo a mão sobre a
cabeça, estressado. — Quero um relatório sobre todos os danos que o
cliente teve e, claro, o responsável por toda essa merda aqui. A reunião
acabou.

Saio da sala puto, me perguntando se vale toda a droga de dinheiro


que cada contracheque paga a essa equipe. Pego o elevador e ninguém se
atreve a entrar comigo. Chego ao andar, e assim que as portas se abrem,
pelo meu semblante, Gisela se afasta, ela conhece bem os sinais. Oito e
meia da manhã e meu dia já está assim, um caos. Entro em minha sala e não
demora para Amber entrar atrás. Mal me sento e vejo que ela está
visivelmente uma bagunça, roupas e cabelo molhados. Viro para a janela e
só então observo o céu nublado e as gotas persistentes molhando o vidro.
Ela pede licença e coloca o café sobre a mesa, deixando, além dele,
algumas gotas que caíram da manga da blusa. Só então observo o rastro que
ela deixou pelo chão.

— Bom dia, sr. Connor, trouxe seu café — diz, com voz trêmula e
parecendo com frio. — Antes que me esqueça, sua irmã ligou, disse que é
importante.

— Que merda pensa que está fazendo? — pergunto, irritado. Ela


arregala os olhos. — Esse café está frio, pode jogar no lixo, e outra, olha o
que fez na minha sala. — Ela então se vira, olhando o rastro de água pelo
chão. — É paga para adiantar a minha vida, não causar problemas. Peça
para alguém limpar essa bagunça, se troque e volte quando estiver
apresentável — falo rispidamente.
— Sua irmã te...

Odeio a forma como ela me ignora.


— Se fosse realmente importante ela estaria aqui. E você, se fosse
realmente esperta, saberia disso. Agora saia.

Ela continua paralisada, incrédula.

— O quê? — ela revida.


Apesar de parecer tão estúpido, como ela não está de casaco, sua
blusa branca molhada me dá um vislumbre perfeito dos seios redondos, que
mesmo com o sutiã é impossível não notar os bicos arrepiados. E isso é o
suficiente para tirar todo o meu foco.

Irritada, Amber pega meu café e joga com brutalidade na minha


lixeira.

— Quer saber? Vai se ferrar! Nem todo o dinheiro do mundo paga


isso. — Sai pisando duro.
A cena toda me faz rir, qualquer outro funcionário me pediria
desculpas, mas não ela.
Meu telefone toca e sei que terei uma longa reunião com os sócios.
Deixo os últimos acontecimentos de lado e peço que Gisela resolva a
bagunça na sala.

Sigo para reunião, e por mais que queira me concentrar nos gráficos
expostos, volta e meia a imagem dos seios de Amber vem à minha mente, o
jeito irritado de jogar o café na lixeira, suas feições nada amigáveis. Se
pudesse, acho que ela teria me fuzilado ali.

— Sr. Dickinson, está de acordo?

Merda! A mulher está há meia hora falando e sequer sei do que se


trata. Apenas aceno e todo o meu dia passa entre sala de reuniões, gráficos e
projetos de novas campanhas. Claro, com a srta. Amber sobrevoando minha
mente. Somente quando volto à minha sala, no final do dia, é que pergunto
a Gisela sobre o paradeiro de Amber.
— Houve uma emergência médica, parece que o pai passou mal e ela
teve que ir.
— Sabe se é grave? — pergunto, realmente preocupado.

— Pelo jeito, sim...


— Merda! — é tudo que digo antes de deixar minha sala.
Estou na frente de Connor, completamente encharcada e com frio, e
agora também muito furiosa. Como ele ousa me humilhar dessa forma? Se
não fosse por causa da sua exigência estúpida de tomar sempre o café do
mesmo lugar, eu não teria sido pega de surpresa pela chuva, quando saí da
cafeteria.
O sangue corre em minhas veias e num impulso nada inteligente
pego seu café e o arremesso na lixeira, na verdade, queria jogar bem na sua
cara, mas não sou burra a ponto de fazer isso.

— Quer saber? Vai se ferrar! Nem todo o dinheiro do mundo paga


isso — digo em fúria, saindo da sua sala sem olhar para trás.

Passo por Gisela, que me olha de cima a baixo e abre a boca prestes
a falar alguma coisa, porém, permanece calada. Provavelmente, o olhar que
lhe lancei denotou que hoje não é um bom dia para suas indiretas.
A chuva ainda é intensa quando saio da empresa, mas isso não é
empecilho para que eu vá embora. Deus! Como alguém pode ser tão idiota?
Como ele ousa me humilhar dessa forma? Eu tolero tudo, o fato de ele
nunca me dar um bom dia ou agradecer por seu café, mas isso, me humilhar
como se eu fosse um lixo, não vou tolerar nunca. Estou tentando ser
profissional e engolir o fato de ele ser um imbecil, mas tudo tem limite e eu,
sinceramente, cheguei ao meu.

Caminho até o ponto de ônibus, decidida a ir para casa e nunca mais


voltar a pôr os pés naquele lugar. Quando meu celular começa a tocar
dentro da bolsa eu deixo que ele toque, porque não quero falar com
ninguém e tenho quase certeza de que é Gisela a mando do Connor, para
que eu faça alguma coisa idiota para ele.

O celular continua a tocar, e mesmo que eu queira ignorar, uma parte


minha fica em alerta, porque acredito que mesmo que Connor tenha
mandado Gisela me ligar, ela não seria tão insistente.

Retiro o celular da bolsa e vejo que quem estava me ligando era o


Nathan. Meu coração dispara dentro do peito, e quando estou prestes a
retornar à ligação o nome dele aparece na tela, então eu o atendo de
imediato.

— Graças a Deus você atendeu. — Nathan parece agitado do outro


lado da linha.

— Aconteceu alguma coisa com meu pai?


Aperto firme o aparelho na mão, pedindo a Deus mentalmente para
que o meu pai esteja bem.

— Amber, eu preciso que fique calma e venha para o hospital. O


David não está bem.

Suas palavras são o suficiente para abalar todo o meu mundo.

A sala de espera é fria, as paredes brancas são tristes, e mesmo


estando agasalhada com a jaqueta de couro de Nathan, sinto meu corpo todo
tremer.

Já faz muito tempo que estamos nessa sala deprimente, a última vez
que fomos atualizados sobre o quadro do meu pai foi há mais de duas horas.

Gisela me mandou uma mensagem mais cedo, querendo saber onde


eu estava. E apenas lhe respondi que meu pai não estava bem e eu precisei
vir para o hospital. Com toda essa preocupação na minha cabeça, nem
pensei em avisar a ela que não voltaria para a empresa. Bem, na verdade,
nunca tive planos de dar satisfação a ela ou ao Connor de que não voltaria.
Quando acordei pela manhã, não imaginei que teria um dia tão caótico, mas
a vida é imprevisível, principalmente quando se trata da minha vida.

Estremeço e um pequeno soluço escapa da minha garganta. Quando


saí de casa pela manhã, meu pai estava bem. Tomamos café juntos e
conversamos sobre assuntos banais. Ele estava bem. Não consigo entender
por que ele não me ligou para dizer que estava se sentindo mal.

— Acalme-se, Amber. – Nathan segura minhas mãos nas suas de


forma gentil. — Ele vai ficar bem.

Respiro fundo, tentando acreditar na positividade das palavras do


meu amigo, mas a falta de notícias está me deixando louca.
— Não consigo ficar calma, Nathan... Eu só quero saber notícias do
meu pai.

— Amber — Uma voz grave e familiar chama meu nome. Não


preciso olhar para saber de quem se trata. — Vim assim que soube — ele
diz, a voz ficando mais perto. Ergo meus olhos e encontro Connor me
olhando com hesitação — Como está seu pai? — pergunta, sem tirar os
olhos de mim.

— Ainda não sabemos.— Nathan responde, antes que eu consiga


formular uma resposta concreta.

Os olhos de Connor desviam dos meus para Nathan. Ele o avalia


com atenção, antes de voltar sua atenção para mim.

— Você está bem? — questiona, como se de alguma forma ele de


fato estivesse preocupado com meu bem-estar. — Precisa de alguma coisa?

— Meu pai teve um infarto, e mesmo depois que o estabilizaram no


local, ele corria o risco de ter outro. Oh droga! Meu pai pode estar morto
neste exato momento. Então, não. Eu não estou bem — respondo de forma
rude. — O que faz aqui?

— Isso não importa, Amber, eu apenas queria me certificar de que


está tudo bem — diz com a voz calma, fitando-me com preocupação.

— Não preciso de você aqui, sr. Dickinson — revido raivosa, sem


conseguir esconder meu desagrado ao vê-lo.

Ele franze o cenho e abre a boca para falar, mas desiste quando a
médica se aproxima de nós.

— Connor? O que faz aqui? — Ela se dirige diretamente a ele. E


pela forma como se derrete só por olhá-lo, tenho certeza de que eles se
conhecem muito bem.
Pigarreio irritada, chamando sua atenção para mim. Reconheço-a de
imediato. É a mesma que me atendeu quando estive internada neste mesmo
hospital. Ela olha de mim para Connor, parecendo confusa por vê-lo no
mesmo lugar que eu.

— Como meu pai está? — pergunto séria, me levantando da cadeira


e interrompendo seja lá o que há entre eles.

A médica dá outro passo, parando à minha frente. Sinto as mãos


firmes de Nathan apertarem de leve meus ombros e eu agradeço aos céus
mentalmente por ele estar me segurando, pois sei que não vou suportar se
tiver alguma notícia ruim sobre meu pai. Prendo a respiração, sentindo meu
coração bater cada vez mais forte, enquanto espero que ela me responda.

— Conseguimos controlar a pressão do sr. Michell, fizemos uns


exames e agora ele está dormindo — ela responde com um pequeno sorriso,
me fazendo soltar a respiração aliviada. — Ele teve sorte de ter sido
encontrado, se tivesse demorado um pouco mais de tempo, não sei se
teríamos salvado a vida dele.

— Não consigo nem pensar nessa possibilidade. Ele é tudo o que


tenho. É minha família — digo num murmuro triste, enquanto as lágrimas
fazem caminho por minha face.

— Ele está bem agora. Só precisamos que ele continue com o


tratamento adequado para que não volte a acontecer — diz de forma
profissional. — Pode vê-lo se quiser, mas ele está dormindo. É
recomendável que o paciente descanse, e se poupe de emoções fortes.

— Eu só quero vê-lo — sussurro.

Ela assente, fazendo menção para que eu a siga.

— Você quer que eu vá com você? — pergunta Nathan, enlaçando


um braço em minha cintura.

Olho-o de relance e balanço a cabeça em negação.

— Não é necessário. Apenas espere por mim.


Ele me dá um pequeno sorriso, enquanto ergue a mão e arruma uma
mecha do meu cabelo atrás da orelha.

— Não irei a lugar nenhum.

Forço um sorriso, e antes de seguir a médica, me permito a olhar


para Connor. Seu olhar frio e sombrio está sobre mim, seguindo cada
movimento que faço. A face livre de qualquer emoção. Eu não falo nada
para ele, e Connor, por sua vez, também não. Talvez seja melhor assim.
Desvio meu olhar do dele e sigo dra. Cooper até o andar, onde encontro
meu pai.

Me aproximo da cama e vejo um tubo preso em sua mão, levando


soro para suas veias; outros aparelhos estão monitorando seu coração, que
parece regular, na máquina ao lado da sua cama. David sempre fora um
homem forte e trabalhador, e vê-lo nessa cama, tão vulnerável, parte meu
coração. Já o vi nessa situação antes, mesmo assim, isso não torna esse
momento mais fácil.

Curvo-me sobre ele, depositando um beijo leve em sua testa,


enquanto as lágrimas rolam no meu rosto, molhando sua bochecha, antes de
puxar a cadeira e me acomodar ao seu lado.

— Nunca mais faça isso... Nem ouse me deixar, pai... Eu só tenho


você. — Engasgo, os soluços saindo com tudo da minha garganta. Deito
minha cabeça na barriga do meu pai com cuidado, para não tirar o soro de
sua mão.

Sempre fora apenas eu e o meu pai, minha mãe foi embora quando
eu tinha cinco anos. As poucas lembranças dela o tempo fez questão de
apagar.

— Eu te amo, papai – digo baixinho, desejando que ele possa me


ouvir.

Passo um tempo ao seu lado, apenas velando seu sono tranquilo.


Quando a médica volta ao quarto, pergunto se posso passar a noite com ele,
mas ela me diz que não é permitido e que meu pai será muito bem cuidado,
ressaltando que me manterá informada, caso haja qualquer mudança no
quadro do meu pai. Com isso, mesmo contra a minha vontade, eu a
acompanho para fora do quarto.

Connor está no corredor e parece um tanto atordoado quando seus


olhos encontram os meus.

— Tem certeza de que ele está fora de perigo? — ele pergunta,


direcionando seu olhar para a médica.

Arrisco a olhar para ela de relance, a preocupação do meu chefe


parece surpreendê-la.

— Sim, pode ficar tranquilo — ela responde, parecendo confusa.


Ele assente, voltando-se para mim.

— Posso falar com você?

Meu primeiro impulso é dizer não, mas algo na forma como a


médica olha de mim para ele me faz mudar de ideia.
— Claro.

—Bem... Tenho trabalho a fazer. Tenham todos uma ótima noite, e,


Connor, nosso jantar ainda está marcado para sexta?

— Sim — ele responde, parecendo sem jeito.


Ela aproxima-se dele e beija seu rosto antes de seguir seu caminho.

A cena faz meu estômago se retorcer. A forma como ela flerta com
ele deixa bem claro que existe intimidade ali. Será que são namorados?
Não, acho que não. A agenda de Connor é corrida demais para encaixar
uma namorada, mas, pensando bem, não tenho acesso ao seu tempo livre. O
que me leva a pensar que ele deve ter um espaço para seus encontros
sórdidos.

Esse pensamento me deixa ainda mais furiosa.


— O que você quer? — Não me importo da minha pergunta soar
ríspida. Depois do que aconteceu mais cedo, tê-lo no mesmo lugar que eu é
tudo o que menos quero.

Ele dá um passo e coloca as mãos no bolso da frente da calça.

— Só queria me certificar que você e o seu pai estão bem. — Sua


voz é baixa e seu olhar é intenso sobre mim.
Queria conseguir decifrá-lo, talvez assim, conseguisse entendê-lo.

— Estamos bem, agora pode ir — respondo com irritação,


quebrando qualquer contato.
Ele fica em silêncio por alguns segundos e eu peço aos céus que
Connor apenas vá embora. Deus sabe que não consigo lidar com ele agora.

— Ouça, Amber, sei que está chateada com a forma que te tratei
mais cedo e você tem todo direito de estar se sentindo assim.
Fecho os olhos por um por alguns segundos e respiro fundo.

— Por favor, Connor, não quero falar a respeito disso... Meu pai
quase morreu, e nesse momento a recuperação dele é a única coisa que me
importa.

Connor meneia a cabeça de forma positiva, antes de tirar as mãos


dos bolsos e deslizar sobre seu cabelo.

— Tire o resto da semana de folga, fique ao lado do seu pai. — Ele


começa a se afastar, mas para e me lança um olhar sobre os ombros. — E,
por favor, se precisar de alguma coisa, não hesite em me ligar.

— Você sabe que não somos sua responsabilidade, não é? —


questiono, séria.

— Sim, eu sei, Amber, mesmo assim, estarei aqui se precisar de mim


— diz e vai embora.
— Por que o seu chefe foi até o hospital?

A pergunta de Nathan me pega de surpresa. Olho-o de relance e


encaro meu amigo, que tem seus olhos presos na estrada à sua frente,
enquanto me leva para casa.

— Gisela deve ter dito a ele — respondo sem entusiasmo.


Ele me olha de relance, estudando-me com atenção.

— Não foi isso que perguntei.

Escoro minha cabeça no vidro da janela e fito a escuridão do outro


lado.
— Eu não sei, Nathan. — Suspiro, sentindo-me exausta demais para
falar qualquer assunto que envolva Connor.
— Quais são as reais intenções dele? Desculpe, Amber, mas não é
todo dia que um homem como ele passa a se preocupar com outra mulher
assim, não acha? — Respiro com pesar. Agora eu sei que não, mas não
estou com cabeça para confessar a verdade. — Você parece chateada. Por
um acaso ele fez algo a você que te desagradou? — Volta a perguntar, me
fazendo respirar fundo, antes de voltar meus olhos para ele.

— Eu não quero falar sobre ele, Nathan... — Minha voz ressoa mais
alta do que gostaria, e isso o faz me olhar de relance.
— Há algo acontecendo que você não me contou? — Exige saber,
alterando seu olhar especulativo de mim para a estrada.

Ficamos em silêncio por um momento, antes que eu lhe responda.


— Está tudo bem — minto.
E pela sua expressão, sei que ele sabe disso. Nathan me conhece bem
o suficiente para saber quando estou escondendo algo. Mesmo depois de
tanto tempo longe um do outro, ele sempre soube quando estava mentindo
através de uma simples ligação.
— Está mentindo — diz, enquanto meneia sua cabeça em negação.

— Por Deus, Nathan! O que quer que eu diga? — pergunto,


exasperada.

— A verdade, Amber. Quero me fale o que está acontecendo.


— Você quer mesmo saber o que está acontecendo? Pois bem, eu
vou te falar. Eu perdi meu emprego, sofri um acidente e quase perdi minha
casa. Sem falar que tenho que trabalhar para um cara que é um completo
idiota, que acha que tem direito de agir como se eu fosse da conta dele. Que
se acha no direito de me humilhar e, acima de tudo, se é que é preciso
relembrar, meu pai quase morreu! Eu quase perdi a única pessoa que tenho
— digo de uma só vez, minha voz saindo a plenos pulmões, parando para
respirar apenas no final da última frase. Deslizo as mãos por meu cabelo e
me recosto no banco, inclinando minha cabeça para trás.
— Já falei para você largar a droga desse trabalho! Não precisa
trabalhar para alguém que te humilha — diz, furioso, apertando o volante
com força.

— Isso está fora de cogitação. Mesmo que o Connor seja um idiota


prepotente e arrogante, e eu que sinta vontade de largar o meu emprego a
maior parte do tempo, não vou fazer isso! Eu preciso desse emprego e de
todos os benefícios que ele pode proporcionar a mim e ao meu pai —
rebato, com a voz alta e sentindo-me exausta.
Nathan não diz nada e eu aproveito para voltar a me recostar no
banco e manter meu foco nas luzes dos outros carros, enquanto tento não
me sentir incomodada pela tensão que se formou.
O percurso até minha casa parece demasiadamente longo. Nathan
não fala nada e, em parte, isso me deixa extremamente incomodada.
— Não quer entrar e me fazer um pouco de companhia? Posso fazer
chocolate quente para nós — pergunto, quando ele estaciona em frente à
minha casa.
— Está tarde e eu preciso ir para casa — responde sem me olhar.

— Qual é, Nathan! Vai ficar chateado por causa de uma bobagem?

Minha pergunta o faz me olhar.


— Não foi uma bobagem, Amber... Aquele cara está te cercando
como um predador. Será que não percebe que tudo o que ele está fazendo é
porque quer levá-la para cama?
— Ele não quer me levar para cama, Nathan. Olha pra ele, não sou
seu tipo — repito pelo que parece ser a centésima vez. Se Nathan soubesse
a forma como Connor me trata, já teria tirado esse pensamento absurdo da
sua cabeça.

— E gostaria de ser?
— Caramba, Nathan, claro que não. — Sinto minhas bochechas
queimarem de vergonha. Mesmo na faculdade, eu nunca tive tempo para
namoros. A saúde do meu pai e o medo de perder minha única família
ocupam qualquer preocupação.
— Não? Sério? Então, por que ele foi até o hospital? — rebate, me
analisando com atenção.

— Eu não sei — falo com sinceridade.

— Não sabe ou não quer me dizer? — Nathan fica ainda mais


irritado com minha falta de respostas.

— Sinceramente, não vejo como isso pode ser de alguma forma da


sua conta. Nunca te questionei a respeito da sua vida particular. Nunca me
irritei por nada que você já fez ao longo da nossa amizade.
— Nunca o fez porque está claro que nada do que eu faça faz alguma
diferença para você — esbraveja.
Solto o cinto de segurança e giro meu corpo, de modo que fico de
frente para ele.

— O que está tentando insinuar, Nathan? Está tentando dizer que não
me importo com você, é isso? — Arqueio uma sobrancelha e o encaro
irritada, enquanto espero por sua resposta.
— Será que você é cega, Amber? Será que não consegue enxergar o
que está bem na sua frente durante anos? — Ele parece magoado ao me
questionar.
— Não sei o que está querendo me dizer — respondo, confusa.

— Estou dizendo que eu sou apaixonado por você, Amber. É por


isso que voltei para esse lugar. Porque, pela primeira vez em toda a minha
vida, me senti preparado para lutar por você — ele grita, me fazendo recuar
diante de suas palavras. Sua confissão me pega de surpresa, me fazendo
emudecer. — Eu amo você, mas isso não importa, não é? Não importa
porque você sempre me verá como o seu amigo, aquele que sempre te
protegeu. — Sua voz é baixa e triste. Seu olhar ainda sobre mim.

— Nathan... — Deixo a frase no ar, porque estou confusa demais


para saber o que lhe dizer agora.
— Não precisa dizer nada. Apenas, saia do carro — diz, desviando o
olhar do meu.

Arrumo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e respiro fundo,


tentando encontrar algo sensato para lhe dizer. Mas a verdade é que fui pega
de surpresa por sua declaração. Eu nunca pensei em Nathan dessa forma, e
acreditei que ele compartilhava do mesmo sentimento.

— Não podemos simplesmente terminar essa conversa assim. —


Minha voz soa arrastada.
Ele meneia a cabeça sutilmente em negação. Seu olhar preso em
algum ponto à sua frente.
— Por favor, não vamos falar a respeito disso agora. Eu realmente
preciso ficar sozinho.

Assinto, mesmo ele não estando vendo. Pego minha bolsa no banco
de trás e abro a porta.
— Pelo menos me prometa que vamos conversar quando tudo estiver
mais calmo — peço com cautela, sem fazer menção de sair do carro.
— Eu prometo — responde baixo.

— Fique bem — digo, antes de sair do carro. E diferente das muitas


outras vezes que ele veio me deixar em casa, ele não esperou até que eu
faça meu curto percurso até a entrada de casa. Nathan sai cantando pneus e
eu continuo parada no mesmo lugar, enquanto o vejo desaparecer do meu
ponto de vista.
Duas semanas se passaram desde que meu pai sofreu um infarto.
Aquela noite de terror, onde pensei que perderia a única família que tenho.
Papai está bem agora. Está tomando todos os seus medicamentos, com uma
alimentação apropriada para seu estado de saúde e incluiu até uma
caminhada no decorrer da semana, como a médica orientou. Depois do
susto que ele me deu, estou ainda mais rígida com ele, controlando todos os
seus passos. Claro que isso o irritou, ele chegou a me chamar de “mamãe”
hoje pela manhã, quando o forcei a comer frutas no café da manhã. Ele age
como se eu estivesse exagerando por toda a minha preocupação, mas eu o
conheço bem o suficiente para saber que preciso estar atenta.

Não falei com Nathan desde aquela noite. Liguei, mandei


mensagem, mas não obtive nenhuma resposta. Cheguei a cogitar a hipótese
de ir até sua casa, mas o conheço o suficiente para saber que quando ele
está chateado é melhor lhe dar espaço. E é exatamente isso que venho
fazendo durante todos esses dias. A verdade é que me sinto triste em como
as coisas terminaram aquela noite. Em todos esses anos de amizade, nunca
vi nenhum vestígio de que Nathan sentia algo por mim além da amizade, ou
talvez ele tenha razão, talvez eu tenha vendado meus olhos para o que
sempre esteve diante de mim, porque nunca senti o mesmo.

— Preciso que você foque aqui, srta. Michell.


A voz profunda e grave de Connor me faz voltar à realidade. Ele é
outro problema. Não sei exatamente o que diabos está acontecendo comigo,
pois o desgraçado do meu chefe arrogante e estupidamente sexy anda
invadindo meus pensamentos de forma inoportuna. Inclusive a tal doutora
esteve aqui duas vezes, nessa última semana. Ela passou por minha sala,
deu um aceno discreto e ficou algum tempo com ele, trancados em sua sala.
Não sei por que me incomoda a ideia dos dois juntos, juro que tentei ignorar
o sentimento inconveniente em saber que eles estão “juntos” de alguma
forma, mas não consigo, é inevitável.
Ergo meus olhos da agenda em minhas mãos e encaro seu olhar
especulativo. Odeio o fato de ele conseguir provocar essa sensação em mim
sem esforço algum.

— Desculpe — falo sem jeito, remexendo-me na cadeira.

Ele estreita seus olhos, recostando-se na cadeira.

— Se repassar minha agenda está te deixando entediada, posso te


dispensar dessa tarefa — diz com ironia, me fazendo revirar os olhos.

Desde o dia do hospital, essa é a forma que ele vem me tratando;


sempre usando de uma falsa educação, com palavras desdenhosas e
exagerando na ironia. A princípio, isso me deixou bem irritada, mas com o
passar dos dias, apenas aprendi a ignorar sua atitude idiota. Estou
começando a acreditar que ele está agindo assim apenas para me provocar.
Deve ser por esse motivo que Connor deu ordens para que Gisela voltasse a
trazer seu café. Segundo ele, eu não fazia essa tarefa direito. Como se eu
fosse me importar em não ter que trazer-lhe mais o café todos os dias.
— Mais uma vez, peço desculpa por minha distração. Prometo que
manterei minha total atenção em seus compromissos. — Tento soar mais
educada possível, mesmo que minha vontade seja jogar a agenda bem no
meio da sua cara. — Esse horário vago irá receber sua irmã, ou alguma
visita?

Connor ri da minha pergunta.

— Está interessada em preenchê-lo? — Ele leva a mão ao queixo de


um jeito sexy, fazendo todo meu corpo estremecer.

— É o meu trabalho preencher sua agenda, não?

— É o que parece. — Dá um sorrisinho torto e, droga, como um


homem pode ser estupidamente lindo e insuportável ao mesmo tempo. —
Com minha irmã eu já resolvi, já Lexie, acho que está de plantão hoje.

— Interessante, sabe da agenda da doutora também — ressalto, mas


pela forma que ele me encara, logo me arrependo. Não sei por que diabos
eu disse isso.

Suas feições endurecem e seus olhos tornam-se intensos.

— Digamos que somos velhos conhecidos, mas isso a incomoda?


— Por que me incomodaria? O que o faz da sua vida pessoal não é
da minha conta — rebato, sem conter a acidez na minha voz.

Connor inclina-se para a frente e me encara com atenção.


— Não é bem o que demonstra, srta. Michell. Você parece ficar
irritada quando a Lexie vem aqui.

— O quê? Eu? Ah, pelo amor de Deus, sr. Dickinson! Não há


motivos para eu ter raiva disso... Já o sentimento de pena, eu posso garantir
sentir, afinal, você não me parece ser do tipo que leva alguém a sério.

— Que desprazer, srta. Michell. Quer dizer que sou apenas um


sedutor sem coração?

Eu o encaro, pasma por suas palavras. Ele é muito abusado mesmo!

— Você está dizendo isso, não eu — respondo de maneira séria e


isso o faz dar uma leve mordida em seu lábio inferior. E quando me dou
conta que estou o encarando de um jeito idiota, desvio o olhar.

— E julgando por suas palavras, eu poderia facilmente te seduzir. Se


eu quisesse, claro.

É a minha vez de rir, e não é porque acho que ele está blefando, e
sim porque tenho medo de que ele tenha razão. Afinal, meu corpo se
comporta de um jeito estranho quando estou próxima a ele. E talvez, sim,
ele poderia facilmente me seduzir, mas não vou lhe confessar isso.

— Com todo respeito, sr. Dickinson, mas de todos que conheço, o


senhor é o menos interessante, sabia? — Dou de ombros, querendo ignorar
a forma como ele mexe comigo.
— Sério? E que tipo de homem seria interessante para a senhorita?
Aquele cara que estava no hospital?

Sinto vontade de rir do seu comentário. Apesar de Nathan ser um


homem muito bonito, não o vejo com esse tipo de interesse.

— Isso não é da sua conta.

— Quem é ele? Fiquei curioso quando os vi juntos... Parecem


íntimos. — Connor ignora minhas palavras e continua falando. Seu
semblante outrora divertido, agora está enigmático.

— Minha vida pessoal não deveria te interessar.

— A minha também não, no entanto, está aqui, ultrapassando a linha


e lendo até minhas mensagens pessoais. Chega a ser cômico, não acha?

Meu rosto todo se ruboriza. Merda, eu fiz isso, mas foi apenas em
uma ocasião, e só por curiosidade. Ele largou o celular em sua mesa e eu
precisei usar seu computador, então a notificação de uma nova mensagem
soou. Não era minha intenção invadir sua privacidade, mas não me contive
quando vi o nome de uma mulher: Foda de sábado.

Revirei os olhos. Apesar de achar errado, abri o aplicativo e vi que


as mensagens eram todas de teor erótico. A forma ousada como Connor
usou as palavras para descrever o que desejava fazer com ela no encontro
me constrangia e excitada. Além de ter feito minha mente recriar a cena em
minha cabeça diversas vezes e imaginar como seria estar com Connor
daquela forma. Ele é um homem experiente sexualmente falando e, com
certeza, sabe como satisfazer uma mulher. Ao contrário de mim, que me vi
tão submersa nos cuidados com o meu pai que praticamente abandonei esse
lado. Mas, como me apaixonar e ter um relacionamento, se minha única
preocupação era não perder meu pai?

Minha experiência com homens é zero. O máximo que já fiz foi dar
uns amassos em um cara da faculdade. Ler aquelas mensagens sacanas me
fez pensar em mim mesma sendo tocada dessa forma.
— Está pensando nas mensagens, srta. Michell — ele provoca, me
trazendo à realidade, agora mesmo estou tão envergonhada.

— Não é o que está pensando, sua vida não me interessa — retruco


rapidamente em uma tentativa de me recompor. Pela forma sarcástica como
me encarar, sei que não acreditou em nada do que eu disse.

— Você é uma péssima mentirosa, Amber Michell.

— Não sei do que está falando, sr. Connor.

— Sabe sim... sua boca atrevida pode dizer que não se importa, mas
vejo a forma que me observa quando pensa que estou distraído, submerso
no meu trabalho. Você está incomodada com o fato de a Lexie vir aqui,
porque uma parte sua deseja estar no lugar dela. Não é errado admitir que se
sente atraída por seu chefe. Somos humanos, está tudo bem ter algum tipo
de fetiche, ainda que seja tão impróprio para um ambiente de trabalho.

Agora estou perplexa por sua declaração.

— Se está seguro disso, tente me seduzir, então — rebato. No


minuto seguinte levo minha mão à boca, mal acreditando no que disse. Me
levanto e ele faz o mesmo, mantendo o sorriso excêntrico no rosto.

Tento sair de sua sala, ao menos dou os primeiros passos, mas


Connor me puxa pelo braço. O choque de nossos corpos é mais forte do que
eu esperava. Estamos tão próximos que sinto sua respiração quente tocar
minha face. Seus olhos percorrem dos meus à minha boca, me fazendo
sentir como se tudo a nossa volta tivesse desaparecido. Baixo meus olhos
para sua boca entreaberta e sinto uma extrema necessidade de beijá-lo. Sei
que é errado e que eu deveria simplesmente correr para o mais longe
possível dele, mas não consigo, porque Connor é como um imã, me puxa
cada vez mais para perto.

Minha respiração oscila e ele me puxa, diminuindo o pequeno


espaço entre nossos corpos, antes de colar sua boca na minha. Ele leva uma
das suas mãos até a minha nuca, mantendo-me presa a ele, enquanto a outra
segura minha cintura fina, encaixando-me ao seu corpo. Seus lábios
movem-se apressados sobre os meus, sua língua me invade e nossas salivas
se misturam. É intenso, sexy e me faz sentir como se meu corpo estivesse
pegando fogo. Então é esse o sentimento de desejo que eu li nos romances?
O desejo tão vivo que o faz simplesmente esquecer os muitos motivos de
ser errado beijar o meu chefe?
Meus braços enlaçam seu pescoço, enquanto seus dedos afundam-se
sobre meus fios, puxando-os com força o suficiente para me fazer gemer
contra seus lábios. Connor desliza suas mãos sobre meu corpo e, por um
segundo, sinto a tensão tomar conta de mim, mas não o detenho. Suas mãos
descem até minha bunda e ele dá alguns passos para trás, levando-me junto,
até que esbarro na mesa. Ele usa uma das mãos para afastar a papelada para
longe, antes de me erguer e colocar sobre a mesa metálica. Meu chefe me
afasta o suficiente para fitar meu rosto corado e, sim, foi uma péssima ideia
estar de saia lápis hoje. Vejo seus olhos dilatados e sua boca inchada. Suas
mãos sobem por minhas coxas, levantando a saia, fazendo seu caminho até
o meio das minhas pernas. Assim como imaginei, sua mão é precisa e seu
toque selvagem, ativando todos os meus sentidos já tão loucos. Fecho os
olhos, inclinando meu corpo para trás e apenas me deixo ser seduzida pelo
desejo de ser dele aqui mesmo, sobre sua mesa. Sinto quando atrevidamente
ele passa a mão por minha virilha e afasta minha calcinha. E esse deveria
ser o momento em que eu o faria parar, mas em vez disso, solto um gemido
alto quando sinto seus dedos me invadirem, me estimulando, enquanto ele
deixa uma trilha de beijos por meu pescoço, me fazendo gemer e o puxar
para mais perto. Estou a um passo de fazer a maior loucura da minha vida –
ter minha primeira vez, e com meu chefe, aqui mesmo sobre sua mesa.
Continuo a beijá-lo loucamente, até me dar conta de que ele não está mais
correspondendo. Connor se afasta com um sorriso de vitória brincando em
seus lábios. Atrevidamente, ele retira a mão do meio das minhas pernas e
leva o dedo molhado, que há poucos segundos estava dentro de mim, à
boca. Ele solta um gemido de desejo enquanto saboreia meu gosto. É um
gesto simples, mas que me deixa ainda mais excitada.

— A senhorita tem razão, realmente eu não sou interessante para


você. — Sua voz sai carregada de ironia.
Levo alguns segundos para entender o que acabou de acontecer, e
quando isso acontece, minha vontade é que um buraco se abra bem no meio
da sala para que eu me esconda dele.

Ele afasta-se de mim, indo para o outro lado da mesa, enquanto fico
paralisada, em choque. Então, ouço quando ele tira o telefone do gancho e
solta as palavras que me fazem odiá-lo.

— Gisela, ligue para srta. Ramona e confirme minha presença.

Ele coloca o telefone no gancho e, sem dizer nada, sai da sala,


deixando-me sozinha, envergonhada e muito irritada.
Deus, eu fui tão burra. Como pude cair tão fácil em seu jogo? Não
voltei a vê-lo, mas só a possibilidade me fez trabalhar toda a manhã sob
tensão. Gisela nota isso quando vamos almoçar – sim, ela escolhe o
restaurante mais caro do centro e sempre pede apenas sanduíches, o prato
mais barato. Não é um ambiente para a nossa classe e tenho consciência
disso, mas eu precisava fugir, e como fica a quarteirões da empresa, aceitei
seu convite. É tudo tão sofisticado, e para não pedir apenas uma entrada, já
que tudo aqui é caro, peço água e um sanduíche, é o que posso pagar. Como
ainda estou distante e não participo de sua tagarelice, Gisela insiste em
saber o motivo, então uso a desculpa de estar preocupada com meu pai.

— Te enviei a lista de todos os convidados para o lançamento da


campanha, quero que amanhã cheque se cada um deles confirmou a
presença. — Aceno. — Eu amo esses eventos, tudo... desde o bufe a estar
entre a nata da sociedade — Gisela diz de um jeito tão empolgante. E eu
não entendo, porque participar não é o mesmo que pertencer. — Já escolheu
seu vestido?
— O quê? — pergunto, quase colocando meu sanduíche para fora.
— Como assim vestido?

— Somos obrigadas a ir, está em nosso contrato de trabalho.

Merda, merda, merda. Eu nem sei como virei trabalhar o restante do


mês, porque ainda não faz um mês que estou trabalhando, então ainda não
recebi, e não, eu não posso estar no mesmo lugar que o escroto do meu
chefe, não depois de tudo. Merda, estou apavorada.

— Eu não sabia disso, mas é só no próximo mês — ressalto e ela


sorri.

— Bobinha, o tempo voa. E quero estar linda.


Sabe quando acha que não dá para piorar, mas piora? Pois é, isso
acontece quando vejo Connor entrar com uma loira tão linda que me lembra
as modelos de capa de revista – postura de dar inveja, vestida com
elegância, cabelo e pele tão sedosos que é quase impossível não admirar.
Curvas impressionantes em um vestido midi. Com um sorriso suave, ela o
agradece quando meu chefe puxa a cadeira para que a garota se sente. Tem
um casal com eles, a outra, mulher que lembra um pouco Connor, está de
mãos dadas com o negro alto e forte. Meu chefe, que geralmente está
silenciosamente pensativo, agora parece um outro Connor, com semblante
bem mais convidativo. Todos estão sorrindo, e não é preciso entender de
moda para que, como diz Gisela, saber que ali está a nata da sociedade de
Portivil.
— Essa é a tal Ramona? — pergunto e não consigo disfarçar minha
decepção. Ela olha discretamente para eles, mas pela nossa posição, não
seremos vistas.

— Sim, a loira de vestido mini da Prada é a srta. Ramona Fani,


madrinha e melhor amiga da srta. Caroline Dickinson, a que veste Dior, e
tem o cabelo castanho iluminado mais lindo do mundo.

— Consegue identificar a marca só de olhar?


— Posso te dizer até os sapatos, se quiser. Manson Smith, o lindo
colírio negro forte de lábios carnudos, veste Dior, ele é amigo íntimo e
noivo da srta. Caroline, que, segundo as más línguas, contratou um estilista
para o noivo, já que ela é muito ligada a moda. E por último, nosso
chefinho, que você já conhece e sabe que sua preferência é por Louis
Vuitton.

— Ela é a namorada no nosso chefe? — Eu sei, estou sendo patética,


mas preciso saber o quão idiota eu fui.

— Bom, acredito que como tantas outras ela queria ser, no entanto,
depois que perdeu a noiva, sr. Dickinson mantém apenas fodas esporádicas.
E ela é uma dessas fodas, acredito eu. — Sorri com malícia. Agora sei
quem cuida da agenda de fodas dele – Gisela.
— Espera, ele já foi noivo? — pergunto, surpresa.

— Não sabia?

Antes que eu possa responder, o telefone de Gisela toca, ela pede


licença e atende.

Me sinto péssima, e ao olhar para os casais perfeição, posso


acrescentar aqui imbecil também. Se aquela mulher linda, alta, loira e com
um corpo exuberante é só uma foda esporádica, eu seria o quê? Diversão
barata?

Quando voltamos à empresa, graças aos céus eu não volto a vê-lo, e


isso acontece pelo restante da semana. Em uma de minhas idas à sua sala,
sou obrigada a abrir a gaveta de sua mesa, então estando em seu lugar,
tenho a visão do porta-retrato que sempre está de frente a ele, e na foto em
questão o vejo abraçado com a... espera... doutora Lexie?

Como já deu meu horário, deixo os papéis na sala de Gisela e sigo


para minha casa.

Durante todo o trajeto, fico curiosa sobre quem é Connor Dickinson.


Converso com Nathan por telefone, e apesar de ele me convidar para comer
um hambúrguer, tudo que quero é minha cama. É tempo apenas de um
banho e um rápido jantar com papai. Depois de me certificar que ele está
bem, vou direto para a cama. Tento não me torturar por minha escolha
estúpida de cair no jogo fácil de Connor, mas é impossível.

“Connor Dickinson”

Digito seu nome e aperto enter enquanto espero ansiosa pelas


informações que o Google pode me oferecer a respeito do meu chefe
pilantra. Rolo a tela, procurando alguma informação sobre a noiva, a essa
altura imagino que seja mesmo irmã da doutora Lexie. Corro o mouse pelas
páginas, mas nada do que vejo é algo que eu já não saiba.

Multimilionário bem-sucedido no mercado de publicidade. Herdeiro


de uma das maiores fortunas do país.
As páginas de fofocas adoram explorar sua imagem de milionário
excêntrico e, claro, os gastos exacerbados, assim como a intensa troca de
mulheres. E a cada nova informação, eu me pergunto por que ele me
ajudou. Não parece ser o perfil dele.

O filho mais velho de Benjamin e Jenna Dickinson assumiu a


presidência da empresa da família há mais de sete anos.

Ele mentiu quando foi a minha casa e me disse que havia acabado de
assumir a presidência, isso já faz tempo, e muito provavel o fez para me
convencer a aceitar. Saio da página atual e volto a rolar a tela. Os sites não
falam muito, a maior parte das informações é repetitiva. Não há nada de
muito interessante sobre Connor. Ah não ser, claro, os luxos que ele
costuma esbanjar nas noitadas, ou as diversas mulheres exuberantes com
quem ele é visto nas noites.

Estou prestes a desistir da minha pesquisa, quando uma notícia


antiga me chama a atenção. Aperto no site de fofocas de famosos e sou
surpreendida pelo que leio.
Acidente fatal tira a vida de Hanna Cooper, noiva do futuro
presidente de uma das maiores empresas de publicidade de Portivil,
Connor Dickinson.

“Família Dickinson arrasada pela morte prematura de Hanna


Cooper.”

Leio a notícia atentamente, prestando atenção em cada palavra. De


acordo com o que está escrito, Hanna faleceu dias antes do casamento. Era
uma noite chuvosa e ela perdeu o controle do carro, até mencionam que por
conta da demora do resgaste, infelizmente ela morreu no local.

Deus! Cubro minha boca com uma das mãos, quando no final da
notícia vejo a foto de Connor com sua noiva. A garota da foto é idêntica à
dra. Lexie Cooper – apesar da maquiagem forte e cores de cabelos
diferentes. Não há outra explicação. Lexie e Hanna eram irmãs gêmeas
idênticas.
Fecho a janela de pesquisa, antes de afastar o Macbook para longe,
sentindo-me ainda mais perdida do que antes. Não consigo sequer imaginar
o tamanho de sua dor ao perder a mulher que amava. Não consigo imaginar
o quanto sua perda pode ter o modificado. E o susto fica ainda maior
quando meu cérebro começa a ligar as coisas. Connor nunca se interessou
por mim, tudo que ele fez foi pensando na noiva e seu trágico acidente.
Sinto-me uma completa idiota por ter acreditado que em algum momento
houve interesse. Eu nunca chorei por amor, mas agora o faço por vergonha.
Vergonha de mim e minha mente que acreditou em uma bobagem dessas.

Disse a mim mesma que não agiria de forma estranha quando


encontrasse com Connor na segunda seguinte. Mas falho da pior forma
possível, quando me sento à sua frente para repassarmos sua agenda do dia.
Ele está em um elegante terno preto feito sob medida, a barba bem-feita, o
cabelo perfeitamente alinhado e o perfume viciante. O rosto com traços
fortes, sempre sério, e os olhos azuis concentrados nos papéis à sua frente.
É inevitável o pensamento de que para ele eu não sou nada. Apenas uma
louca fodida que bateu em seu carro, e devido a tudo que aconteceu à noiva,
ele resolveu acolher essa pobretona. Só não esperava que essa mesma
garota, que no princípio se mostrou tão orgulhosa, seria fácil demais.
Droga, eu o odeio! Odeio Connor Dickinson. Odeio o fato de ele ser tão
lindo, odeio o fato de ser um desgraçado sedutor, de ser meu chefe e mais
ainda por ter me feito cair em seu jogo.

Olhando-o assim, me faz questionar se no passado ele foi uma


pessoa menos irritante, mais descontraído e um pouco mais gentil com as
pessoas à sua volta. Desde o primeiro momento que coloquei meus pés aqui
na empresa, eu o vi amedrontar seus funcionários, agora, só consigo pensar
que um dia ele foi alguém diferente.

— Está tudo bem com seu pai? — Seu tom de voz faz parecer que
ele não se importa. Na verdade, ele não se importa mesmo, a idiota aqui que
fantasia algo diferente.

— Por que não estaria? — Levanto o olhar e ele não desvia o dele.

— Fico feliz por saber disso... — Volta a encarar os papéis.

— Me ajudou por causa da sua noiva... Hanna...?

A menção de seu nome o faz parar de assinar. Ele fixa o olhar em


qualquer canto, menos em mim.

— Andou pesquisando sobre minha vida, srta. Michell?

— É um segredo? Se é, deveria controlar melhor os sites de fofoca.


Mas parece que o senhor adora essa atenção, não é? — Sai entredentes,
então recebo seu olhar raivoso.

— Poderia te demitir por sua forma petulante de agir com seu chefe.
— Sua voz é um rosnado baixo.

— Se quer me demitir, então o faça. — Eu o enfrento, mesmo


sabendo que essa é a coisa mais idiota que estou fazendo.

Connor apoia as mãos na mesa e respira fundo antes de erguer seu


corpo da cadeira.

— Mesmo eu te oferecendo um cargo que te dá tempo para estar


mais presente com o seu pai, um salário digno que pode cobrir todas as suas
despesas, mesmo assim, parece que a senhorita não quer estar aqui. — Ele
me avalia como se de alguma forma esperasse que eu negasse suas palavras.
E odeio quando ele diz senhorita. — Você é uma incógnita, srta. Michell...
Fiquei sim, mexido pela forma que nos conhecemos, quis te ajudar quando
soube de tudo. E mesmo sendo difícil conviver comigo, eu quis tornar seu
trabalho aqui na empresa mais agradável, mas nada parece ser o suficiente
para a senhorita estar feliz.

Fecho sua agenda e a coloco sobre a mesa, sem desviar meu olhar do
dele.
— Não quero que faça nada, sr. Dickinson. O que o senhor me
ofereceu já é o bastante. Tenho uma dívida demasiadamente grande com
você, e, sinceramente, esse é o único motivo que me faz engolir meu
orgulho e ainda permanecer aqui, mesmo com o senhor sendo um completo
idiota, que acha que pode manipular e usar todos à sua volta, apenas porque
tem dinheiro.

Minhas palavras parecem o pegar de surpresa. Ele estreita seus olhos


em minha direção, então percebo um sorriso de canto antes de dar a volta na
mesa, parando a uma pouca distância de mim.

— Com qual direito ousa falar assim comigo? — questiona,


aumentando o tom. — Você não me conhece, Amber Michell, não sabe
nada a respeito da minha vida.                           E não está aqui porque eu te
obriguei a isso. Está aqui porque é orgulhosa demais para aceitar ajuda de
alguém. E o pior, mesmo precisando não consegue se mostrar mais grata
com quem te ofereceu a mão. E isso não é orgulho ou um admirável caráter,
é burrice mesmo.

Meneio a cabeça em negação e ergo-me da cadeira.


— Você não sabe do que está falando. — Sinto a raiva começar a
surgir. Mesmo tendo dito a mim mesma que não deixaria que Connor
brincasse mais comigo, parece que estou perdendo o jogo. — Eu não quis
suas mãos em meu corpo, eu...

Ele ri diante das minhas palavras.

— Pelo que me lembro, sua resposta foi “tente me seduzir, então”.


— Ele me observa por segundos. — Eu sei muitas coisas a seu respeito e,
isso sim, me dá o direito de falar o que penso. Você — ele aponta um dedo
em minha direção —, não é ingrata, Amber. Está irritadinha por algo que os
dois quiseram, e pelos céus, foi só  um beijo. Quer ter razão, te dou razão,
mas se não sabe um terço da minha vida, não fale asneiras. Não uso meu
dinheiro para manipular ninguém. Ajudar você nunca foi algo que quis usar
para te prender em um lugar que você não quer estar. Foi você a louca que
bateu no meu carro, e sabe lá por que diabos eu levei isso adiante. Mas eu
fiz essa merda, e agora parece que não faz muito sentindo isso. Então, se é
demais para você, pegue suas coisas e vá embora.
Abro a boca algumas vezes antes de conseguir formular uma frase
sensata.

— Está me demitindo? — Ele deixou isso óbvio, perguntar é a coisa


mais idiota que eu poderia fazer.
Connor dá de ombros.

— Estou te liberando da tarefa desagradável de estar no mesmo


lugar que eu. — Ele volta a encarar os papéis, acomodando-se na sua
cadeira de couro. — Não te ofereci o emprego com intenção de receber pelo
que fiz por você e seu pai. Foi algo idiota, de alguma forma me senti
comovido, porque sabia que você estava precisando. Não quero nada que
venha de você, srta. Amber, assim como sei que você também não quer
nada que venha de mim. Aquele beijo foi algo sem sentindo e ficou claro
que os dois se arrependeram. Achei que poderíamos continuar, mas se é
demais para a senhorita, pode ir. — Sua voz é suave, posso jurar que vi um
brilho de mágoa em seu olhar por minhas palavras.

Dentro de mim se inicia uma batalha, entre pegar minhas coisas e ir


embora, e em deixar meu orgulho de lado e apenas não agir como uma mal-
agradecida por tudo o que ele fez por mim.

Ele não mentiu, eu queria o beijo, eu queria o toque, eu queria mais e


ainda quero. E a verdade é que se Connor não tivesse pagado a dívida com
o banco, eu e meu pai estaríamos na rua e, por Deus! Se não fosse o plano
de saúde que ele me deu por estar na empresa, não teria como ter arcado
com as despesas do hospital. Provavelmente, meu pai teria morrido naquela
noite, e se isso tivesse acontecido, minha vida teria acabado. Eu devo tudo
isso a Connor, porque de certa forma, ele salvou não apenas a mim, mas a
pessoa que eu mais amo nesse mundo.
— Desculpa. — A confissão escapa de minha boca, pegando a mim
e a ele de surpresa.
— Como? — pergunta, confuso.
Respiro fundo e deslizo as mãos por meu cabelo ondulado.

— Eu te pedi desculpas.

Ele arqueia uma sobrancelha e um pequeno sorriso nasce no canto de


sua boca carnuda.
— Desculpas pelo que, especificamente?

— Por tudo! Por meu orgulho e por sentir raiva de você por ter nos
ajudado. Não estou acostumada com gentileza, sr. Connor. Ninguém em
toda a minha vida jamais me estendeu a mão. Venho lutando arduamente
desde que o meu pai adoeceu para dar a ele uma vida digna. Nunca tive
ajuda de ninguém, e aí o senhor aparece do nada e... — Puxo uma lufada de
ar antes de continuar. — Eu sou grata por sua ajuda — confesso a última
frase com a voz baixa.

Dizer tais palavras em voz alta me faz sentir envergonhada. Papai


sempre me ensinou a ser gentil, e tudo o que tenho feito desde que Connor
entrou na minha vida foi o tratar com arrogância e petulância. Sempre fui
muito orgulhosa e acho que agora passei dos limites.
— Isso significa que você não vai embora? — pergunta, com um
pouco de humor, seu sorriso ficando mais amplo.
— Significa que enquanto não tiver pagado a você tudo o que gastou
comigo, terei que permanecer na sua presença desagradável — respondo
com um pequeno sorriso e, pela primeira vez desde que o conheci, me
permito baixar a guarda.

— Então, acho que teremos muito tempo para nos conhecermos e,


quem sabe, no decorrer dos dias, minha presença não passe a ser um pouco
agradável para você.

— Talvez... — digo, enquanto volto a me sentar e pegar sua agenda.


— Talvez... — ele repete minha resposta com a voz rouca. Seus
olhos me fitam com intensidade, fazendo com que meu coração fique
agitado, e por uma fração de segundo, minha mente me leva para o dia em
que Connor me beijou e, por Deus! Agora, tudo o que gostaria era poder
reviver aquele momento novamente.
Os dias que precedem a chegada do coquetel para apresentação da
nova campanha da Freedon são corridos e exaustivos. E a pressão sobre
Connor é redobrada, já que foi exatamente ele o responsável pelo sucesso
da campanha anterior. Gisela está eufórica, ela ama esses eventos e vem se
mostrando menos competitiva no decorrer dos dias, poderia até dizer que já
temos uma certa amizade. O que é bom, porque ela se ofereceu para me
ajudar a escolher o vestido que usarei na festa. E estou confiando em seu
bom gosto para moda. Como esse é o primeiro ano em que participarei
dessa festa, estou exercendo tarefas fáceis.

Mas já não posso dizer sobre meus dias com Connor, não no sentido
da convivência em si, ele tem sido gentil, no entanto, depois da nossa
última conversa, a verdade é que de certa forma foi uma decepção saber
seus reais motivos. Apesar de notar alguns olhares, não me permito mais
fantasiar coisas. No geral, nossas curtas conversas abrangem só assuntos
relevantes ao trabalho.

Nathan veio me buscar algumas vezes, e apesar de nossa última


conversa não ter saído como planejado, como em todas as outras vezes, ele
se desculpou. E eu conheço seu coração, é fácil perdoá-lo. E o mais irônico
é que em uma das vezes Connor nos viu. No entanto, ele passou por nós
com um breve aceno e simplesmente seguiu como se eu não fosse nada,
ninguém. E acho que essa é a verdade que machuca o meu ego – da porta
para fora da empresa eu não sou ninguém. O que é uma contradição, já que
nas vezes que ele demonstrou se importar, eu me comportei como uma
idiota por isso.
E por que estou lamentando se não sinto nada por ele? Foi apenas
um fetiche idiota. Contudo, nas poucas vezes que ficamos sozinhos na sala,
devo confessar que está sendo bem difícil, porque não consigo manter meus
olhos longe dele. Os pensamentos viajam por todo o lado. Nesses
momentos, eu sinto aquela sensação idiota de ser traída pelo próprio corpo.
Minha mente me leva sempre para o dia em que nos beijamos e eu pude
experimentar um pouco do que é estar com ele.

A verdade é que a atração pelo meu chefe vem crescendo a cada dia
que passa, e o fato de ele estar sendo cada dia mais gentil comigo não tem
facilitado as coisas para mim. Hoje, Gisela não veio, acho que por estar tão
empolgada acabou passando mal e a pressão alterou.

— Srta. Michell, poderia vir até a minha sala, por favor? — A voz
de Connor me traz de volta à realidade. Estive tão concentrada que nem me
dei conta que já havia passado da hora de ir embora.

Pego sua agenda e alguns papéis com a última lista de convidados,


ele pediu que eu fizesse algumas alterações. Com tudo em mãos, eu sigo
para sua sala.

Connor está sentado à sua mesa, repleta de papéis espalhados. O


cabelo é uma completa bagunça. O paletó sobre as costas da cadeira. A
gravata tem o nó frouxo e alguns botões estão abertos. É a primeira vez,
desde que estou trabalhando com ele, que o encontro tão despojado. Ele
parece preso em mil pensamentos. Atrás dele, na parede de vidro, o céu está
escuro, denunciando que a qualquer momento a chuva irá desabar.

— Pois não, sr. Dickinson.

Ele ergue os olhos para mim.

— Checou a confirmação dos convidados?

Confirmo, ele então faz sinal para que eu me sente.

Aproximo-me de sua mesa e estendo os papéis em sua direção. Seus


dedos acidentalmente tocam os meus quando ele pega os papéis e é
inevitável não sentir uma descarga elétrica percorrer todo corpo.

— Tenho te sobrecarregado nos últimos dias, não é?

— É o meu trabalho, não se preocupe...


Ele assente, baixando os olhos para os papéis. Ele os avalia
rapidamente antes de colocá-los de lado. Em um gesto frustrado, ele passa a
mão pelo cabelo algumas vezes, depois pela mandíbula, prende os lábios e
olha para os papéis, gráficos e comparativos. Levanto o olhar e o vejo voltar
sua atenção para mim.

— Não tem passado despercebido o que tem feito. Você é esforçada


e aprende rápido. Estou feliz em tê-la na minha equipe.

Não consigo disfarçar o sorriso diante da observação.

— As pessoas cometem o equívoco de achar que a primeira vez será


a mais difícil, mas não. Ela pode ser a mais frustrante, me refiro ao
processo, mas a pressão que vem após um acerto é surreal. É como se
houvesse a obrigação de só acertar, porque a maioria acredita que você já
conhece a receita. No entanto, à medida que o público muda, os
ingredientes devem mudar. É uma loucura, não é?

Essa é a primeira vez que alguém reconhece meu esforço e


dedicação em um ambiente de trabalho. Então, óbvio que ainda estou
absorvendo seu reconhecimento. Connor ri ao notar que estou longe.

Ficamos nos entreolhando por algum tempo.

— Seu namorado vem te buscar hoje?

— Não... — Eu deveria completar a frase e dizer que não temos um


relacionamento. Mas a maneira como fica esperando a resposta me faz
sorrir por dentro. Ele franze o cenho e uma pequena careta se forma em sua
face.

— Te trarei problemas se te levar?

— Não me trará, porque Nathan é apenas um amigo. No entanto, não


precisa fazer isso, meu pai está ciente que chegarei tarde e eu posso pegar
um Uber...

— Está decidido, só vou assinar esses papéis e podemos ir. Pode ir


pegando suas coisas — diz de um jeito mais autoritário.
Saio de sua sala e pego minhas coisas. Quando estou prestes a entrar
no elevador, pelo reflexo da porta eu o vejo vindo. O nosso andar encontra-
se silencioso e vazio. Somos as únicas vivas almas nesse lugar.

Ele aperta o botão para chamar o elevador e esperamos em silêncio


até que as portas se abrem e nós entramos. Mantemos uma distância segura
um do outro. Connor está à minha frente, de costas para mim, dando-me a
visão perfeita de suas costas largas e sua bunda rígida.

— Posso sentir seus olhos sobre mim, sabia?

Suas palavras me fazem corar. Ele meneia a cabeça em negação,


então desvio rapidamente o olhar, e mesmo sem ver sua face, acredito que
esteja sorrindo. Ficamos em um silêncio constrangedor enquanto encaro
meus pés. É uma descida tortuosa, estou implorando em pensamentos para
que acabe rápido, mas a imagem safada de ele lambendo seu dedo molhado
pela minha excitação não sai da minha mente, e agora sinto meus mamilos
rígidos pela lembrança.

— Graças a Deus — falo alto demais, então vejo seu sorriso obsceno
para mim — que chegamos em segurança. Tenho pavor de elevador, sabe,
e... — Tento uma desculpa idiota e isso só faz seu sorriso ganhar ar mais
safado, se é que é possível. — Boa noite, sr. Dickinson. — Dou um passo,
mas sou detida por sua mão em meu braço.

— Vou te deixar em casa. E não se preocupe, uso um carro, não um


elevador, está segura comigo. — Pisca com charme.

Tenho certeza de que não estarei.

Seguimos até o estacionamento no térreo. Quando ele desativa o


alarme do carro, entendo quando em uma de nossas conversas, perguntei
sobre os casos amorosos do nosso chefe e Gisela disse que Connor só se
envolvia com mulheres de sua classe. E agora, olhando para seu Aston
Martin DBX, vermelho metálico, fica ainda mais evidente sua colocação.
Acho que não tenho nem roupa para entrar em um carro como esse.
— Vantagens de ser o chefe — Connor diz, como se estivesse lendo
meus pensamentos. — Estou brincando, é só um carro — Fala, e no minuto
seguinte abre a porta para mim. Mal me sento no banco e, caramba, nunca
me imaginei estar em uma máquina dessas.

— Imagino que esteja com fome, srta. Michell — diz, arrancando


com o carro.

— Por quê? A carona inclui um jantar? — brinco e ele parece


surpreso.

— Ah, claro, me referia ao horário, mas podemos sim esticar até um


restaurante.

Merda! Que vergonha.


— Não, por favor, não faça isso. Foi só um comentário idiota e...

— Não se preocupe, os jantares também são seguros. Até agora, só


os elevadores que não.
Insisto para que ele me leve para a casa, mas Connor me ignora e
estaciona em frente ao restaurante que vez ou outra me atrevo a
acompanhar Gisela. Ele saindo e joga logo em seguida a chave para o
manobrista. Se durante o dia o lugar já é intimidador, à noite então me faz
paralisar na entrada. Connor, vendo minha hesitação, volta um passo e fica
ao meu lado.

— Algum problema? — Ele parece confuso.

Pigarreio e solto um suspiro.

— Já está tarde, é melhor deixarmos o jantar para outra ocasião.

Ele estreita os olhos.

— Estamos aqui, não há sentindo em voltarmos.

Sem argumentos, eu apenas assinto e o sigo para dentro.


As várias luminárias dão um ar romântico a um ambiente que já é
tão elegante. Uma jovem simpática nos cumprimenta na entrada, e por já
ser tarde, não tem dificuldade de encontrar uma mesa vazia.

A imagem da Romana ao seu lado no outro dia nesse mesmo lugar


me vem à mente, mas oposto a ela, não estou elegantemente vestida. E pela
forma como as pessoas nos olham, parece que também não estou à altura do
homem ao meu lado. E é justamente por esses olhares que me sinto feliz por
Connor escolher uma mesa num lugar mais reservado.

Ele afasta a cadeira para que eu me sente e se acomoda à minha


frente em seguida. Seus olhos me fitam por alguns segundos. É como se ele
estivesse prestes a dizer algo, mas somos interrompidos pelo garçom que
nos entrega o cardápio.

Não preciso nem olhar para saber que cada prato é acima do que eu
poderia pagar, mas como o jantar é por conta do meu querido chefe, não
terei que pedir um sanduíche. Esse pensamento me faz rir, e quando ergo
meus olhos do cardápio, Connor está me fitando com curiosidade.

— O que há de tão engraçado? — pergunta, com olhar fixo.

— Nada de mais... — minto.

Ele assente e volta a olhar o cardápio.

— Alguma preferência?

— Prefiro sua sugestão.

Ele sorri e, após alguns segundos, faz sinal ao garçom e escolhe


frutos do mar. Enquanto esperamos a entrada, Connor pede que nos sirvam
o melhor vinho da casa. Não costumo beber, na verdade, tenho sérios
problemas com o álcool, já que apenas uma taça me deixa alta, mas não
recuso a bebida.

— Então, srta. Michell, sem namorados... pelo que parece, sem


festas e um pai para cuidar. Existe diversão no seu cardápio?
Não consigo entender se está apenas tentando um assunto ou há um
real interesse em saber. Ainda assim, eu continuo.

— Às vezes vou ao cinema com Nathan, acho que isso preenche o


espaço para diversão.

Ele desvia o olhar e sorri de um jeito sexy.

— Acho que preciso começar a rever meus conceitos de diversão.

— Não vá me dizer que o cinema não está incluso na sua agenda de


diversão? — provoco e ele sorri.

— Se tratando do trabalho, eu sou um fã nato das telas, mas na vida


real eu prefiro mais o contato pele a pele, desejar, ter, saciar... Três palavras
que resumem bem meu senso de diversão.

Sinto minhas bochechas queimarem e sei que estou vermelha como


um pimentão. Seu telefone toca, e aproveitando a deixa, rapidamente pego
minha taça e viro um bom gole. Connor ignora o aparelho, deixando-o
sobre a mesa.
— Costuma ser sempre tão direto assim?

— Algumas situações pedem por isso, não acha?

— E um jantar com sua assistente pede?


— Precisa mesmo que eu diga o que nós dois já sabemos? — Abaixo
o olhar, constrangida. — Eu admiro você, srta. Michell, admiro mesmo...

— E só admira? — pergunto em um tom baixo, rouco. Levanto o


rosto e seu olhar se volta para o meu. Sinto um calor intenso por estar aqui,
tão próxima.

— Não, porém nós dois...

— Somos de mundos opostos, isso?


— Temos objetivos opostos. Você é apenas uma menina que está
começando a vida, eu já percorri o caminho e sei exatamente o que eu não
quero mais para mim.

O garçom se aproxima, pede licença e nos serve. Olho para o prato


chique à minha frente.

— E o que te leva a pensar que sabe sobre o que quero?


— Trabalhar, cuidar do pai e vez ou outra ir com o amigo ao cinema.
Me parece que seus objetivos estão bem claros.

— Você acha muitas coisas a respeito, sr. Connor, mas eu poderia te


surpreender, e muito.

— E eu confesso que amaria ser surpreendido, srta. Michell. No


entanto, antes de aceitarmos jogar, devemos no mínimo aprender as regras.

— Achei que falávamos sobre diversão.


— Mas não deixou de ser sobre isso. Contudo, o rato pode perder a
vida, mas para o gato sempre é sobre diversão. Só depende da ótica, não
acha?
— Nesse caso, eu sou o rato? — Não consigo conter o riso ao fazer
essa pergunta.

— Depende do seu ponto de vista, Amber. — Ele pende a cabeça de


lado, seu olhar ficando mais profundo e atento em mim. Nossa conversa
tomou um rumo inesperado e, sinceramente, acho que estou gostando disso.
— E qual o seu ponto de vista sobre isso?

— Eu sou o caçador, Amber. O caçador faminto que adora uma boa


diversão.

Engulo em seco por sua resposta direta. Minha boca fica seca, e
automaticamente umedeço o lábio com a ponta da língua. Seus atentos
olhos acompanham meu movimento e eu sinto meu corpo reagir pela
intensidade com que Connor faz isso. Sim, agora tenho certeza de que sou o
rato.

 
Odeio admitir, mas Manson tem razão, eu quero muito foder Amber
Michell. Desde o dia em que beijei sua boca, meti meus dedos em sua
boceta e a senti tão molhada, eu não penso em porra nenhuma a não ser
foder ela.

Meu pau lateja quando ela entra em minha sala com aquela calça tão
apertada em sua bunda deliciosa. E isso é a merda de um problema, porque
eu preciso me concentrar no trabalho, mas ela é um grande empecilho. E o
pior, inocente demais para que eu a seduza, o que, claro, provei ser fácil.
Então vem a merda da consciência, e sei que Manson tem razão, a vida
dessa menina já é fodida o suficiente para que eu faça mais merda ainda. E
não, ela não merece alguém como eu. E seria fácil mudá-la de setor, mas se
tem algo que eu detesto é não ter razão, e essa atitude faria com que
Manson levasse a vantagem.

Então eu faço essa merda, nada além de educação quando é


necessário interagir, e finjo ignorá-la enquanto meu pau lateja só por vê-la.
Quando ela sai, vou ao meu banheiro e bato uma punheta imaginando mil
formas de corrompê-la. Eu a vejo com o idiota do amigo no estacionamento
e sei que ele a quer, e me incomoda, claro que incomoda. Principalmente,
porque o que o imbecil não percebeu que sempre será só isso, um amigo. Já
comigo seria diferente se ela soubesse jogar, mas não sabe, e é justamente
isso que me impede de foder Amber Michell. Eu não quero o que vem
depois.

Eu vejo a maneira como ela desvia o olhar na tentativa de quebrar o


contato, ou como seu corpo todo se arrepia por um simples toque de mãos.
E merda, eu sei seu gosto. Talvez tenha sido exatamente isso que eu fiz
depois de prová-lo, busquei bocetas que fizessem meu pau latejar da mesma
forma, queria seu sabor em minha boca. Me afundei em algumas, admito,
mas nada chegou nem perto de me saciar, me deixando ainda mais puto. E
na manhã seguinte lá estava a minha assistente me enlouquecendo.
A PORRA DO MANSON TEM RAZÃO.
Não era caridade, nem consciência pesada, ela veio até o predador e
depois disso eu só quero saboreá-la.

E agora, mesmo ela está aqui, bem à minha frente, com o olhar
inocente demais para sequer imaginar meus pensamentos depravados e
totalmente pervertidos. Pela maneira como ela encara o prato, está em
dúvida sobre qual talher. Pedi ostras, e primeiro é preciso soltar o corpo da
ostra da concha antes que possa sugá-la e comê-la. Para tanto, seguro-a com
minha mão não dominante e, com a outra, uso o garfo para desalojar o
corpo da concha. Atentamente, ela copia meus movimentos. O quão sórdido
e escroto um homem pode ser para ter tesão no simples fato de ver uma
mulher aprender, com tanta delicadeza e ao mesmo tempo de um jeito tão
sexy, comer uma ostra?

Ela leva a concha à boca e chupa, deixando um pouco escorrer na


lateral de sua boca gostosa. Eu imagino sendo minha porra, e claro, nesse
momento meu pau lateja de dor, incomodando na calça, e tudo que penso é
ela de joelhos, me chupando.
Merda, Connor! Se controla!

— É gosmento — Amber observa, sorrindo.

Caramba, se ela continuar com isso, eu sou capaz de fodê-la aqui


mesmo, nessa mesa. Estou de pau tão duro que se levantar aqui qualquer
um percebe.

—Ela foi abandonada pela mãe, sozinha sustenta a própria casa, o


orgulho do pai. Não faz merda, Connor! — A voz chata de Manson circula
por minha mente enquanto eu tento me controlar.
— Não gostou? — pergunto em um tom rouco.

Ela arregala os olhos, constrangida.

— Não, eu não quis dizer isso, mas é diferente.


— O diferente pode ser delicioso se soubermos degustar, não acha?

— E eu estou fazendo direito?

Ela me pergunta assim, com a carinha mais inocente do mundo. Que


se foda, Manson, preciso foder essa garota.

— Tão bem que estou compelido a achar que está me enganando


com esse papinho de que é sua primeira vez.

Ela desvia o olhar e sorri timidamente.

— Tem horário para estar em casa?

A pergunta a pega de surpresa. Amber pega o celular na bolsa e


confere as horas.

— Não costumo deixar meu pai sozinho tanto tempo, mas posso
esperar o senhor comer, mal tocou nas ostras e isso é caro.

Termino meu vinho. Está claro que ela não gostou, apesar de arriscar
comer mais duas.

— Não se preocupe comigo, não quero causar problemas com seu


pai.

Ela acena, então peço a conta e não demora para estarmos de pé. Eu
a coloco na minha frente propositalmente, de forma que as poucas mesas
que ainda estão ocupadas não possam notar o volume na minha calça. Mas
faço questão, ao me aproximar do carro que já está de prontidão à porta, de
roçar em sua bunda. Quando percebe, ela se vira rapidamente, então sorrio e
abro a porta do passageiro para que ela entre. Já dentro do carro, antes de
colocar o carro em movimento, olho novamente para ela e vejo o sorriso em
seus lábios, sem saber quais minhas reais intenções.

— Acredita em destino? — Eu sei, é uma maneira ridícula de


começar o jogo.
— Acho que sim, quer dizer, eu sou do signo de peixes e, poxa,
como a previsão pode acertar tanto assim? — Mordo os lábios para não rir.
— Você acredita, não é? — ela pergunta em expectativa.

E não, eu não pertenço a essa parte imbecil da sociedade que acha


que a posição dos astros influencia diretamente em sua vida.

— Claro, não deixo de consultar o meu nem por um só dia — falo.


Seu sorriso antes tímido, agora ilumina todo o rosto. — E hoje, Amber, a
previsão disse que eu tiraria a sorte grande. Eu já estava desanimado, mas
então veio o elevador, o jantar e agora nós dois aqui. O que me faz
perguntar, como alguém pode não acreditar nisso?

— E o que mais a previsão dizia?

— Que eu iria te beijar.

Ela sorri de um jeito enigmático.

— E você acha que vai? — Arqueia a sobrancelha e seu semblante


muda.

— Acho que depende do que você leu no seu horóscopo hoje.

Ela prende os lábios, e mesmo com a pouca claridade que advém das
luzes da cidade, vejo que sim, ela entendeu aonde quero chegar. E pelo
trajeto que agora eu faço, Amber percebeu que não estamos indo para a sua
casa.

Eu não estou pensando direito, na verdade, meu pau incomoda tanto


que só quero aliviar, então ignoro as expressões pouco convencionais que
Amber faz ao me ver ultrapassar sinais e correr em alta velocidade para o
meu apartamento.

Talvez as luzes, ou então o fato de não conhecer esse lado da cidade,


onde os milionários vivem, a faz permanecer em silêncio. E a cada
quilometro adentro, ela parece ainda mais admirada. Chegamos ao meu
prédio, e mesmo relutante, quando estaciono na garagem, Amber sai do
carro e entra no elevador comigo, ainda em silêncio. Basta apenas a porta
do elevador fechar e eu apertar para o meu andar que eu a puxo, diminuindo
o espaço entre nós. Colo nossos corpos, segurando firme em sua cintura. E
antes de beijar sua boca, coloco minhas mãos em sua nuca, entrelaçando
meus dedos em seu cabelo, fazendo-a erguer o rosto delicado.

— Isso é o inferno — sussurro, prensando-a contra a parede e


fazendo com que a minha monstruosa ereção fique bem rende à sua virilha.
Ao me sentir, percebo seu olhar assustado sobre mim, então beijo seu
pescoço e a faço se arrepiar por inteira.

— Sr. Connor, eu não sei se...

— Gosta de boas mentiras, Amber? — sussurro em seu ouvido. Com


a mão dominante, pego sua mão esquerda, delicada e tão fria, e a coloco
bem em cima do meu pau, fazendo-a sentir ainda mais o que a aguarda. Ela
não desvia o olhar.

— Existem boas mentiras?

A voz rouca e respiração ofegante me fazem sorrir. Passo minha


língua safada por seus lábios, roçando meus lábios nos dela, com seus olhos
abertos ainda sobre mim.

— Existem, agora mesmo eu gostaria de te contar algumas. —


Mordisco seu lábio inferior com ousadia e ela solta um leve gemido de
prazer, tornando minha excitação sensualmente dolorosa. — Boas mentiras
são aquelas que amaríamos que sempre continuassem assim, mentiras, mas
de um jeito cruel elas se tornam verdades. — Beijo sua boca de um jeito
envolvente, enquanto me imagino chupando sua boceta ao som dos seus
gemidos e tremores de prazer. O beijo acontece lento e profundo, entre
gemidos abafados.

— E quais seriam? — ela sussurra entre o beijo.

Sentir o gosto de sua saliva em minha boca é um prazer surreal.

— A primeira é que não vai se apaixonar por mim. — Volto a beijá-


la. — A segunda é que não vai se arrepender... — Aperto meu pau em sua
virilha.

— Existe uma terceira?

— Que vai se dar conta que eu não sou bom o suficiente pra você e
pular do barco antes que ele afunde.

— Acho que não estou entendendo onde quer...

O elevador se abre, me obrigando a me afastar. Eu a puxo pela mão,


e de frente a porta digito a senha, então entramos e eu ignoro sua surpresa
por estar em meu apartamento. Ela olha tudo com admiração, desde o hall
até chegarmos à grande sala, somente nesses dois cômodos caberiam toda a
sua casa. Eu a vejo abrir a boca e amaria ouvir seus elogios, mas meu pau
latejando de dor não me permite esse tempo.

— Bem-vinda à minha casa, Amber. — Volto a beijar seus lábios,


mas agora de um jeito bem mais rude e animalesco. — Eu quero muito
você. — Mordo seu lábio. — Mas preciso que me confirme se também
quer... — Beijo sua boca e ela faz sinal positivo.

— Eu quero.

É o suficiente para pegá-la no colo e levá-la até meu quarto. Mal


chego e a jogo na cama. Apesar da sua timidez, não apago as luminárias das
laterais, querendo memorizar cada pedacinho de seu corpo. E como um
animal, vou para cima dela, louco para tirar suas roupas. Entre beijos
obscenos, desabotoo sua blusa, e enlouqueço quando vejo seus seios em um
sutiã meia-taça de renda. Desabotoo e vejo seu rosto vermelho, e antes que
diga algo, abocanho um e chupo com tanto tesão, enquanto minha mão
aperta o outro. Meu pau lateja tanto que preciso liberá-lo da minha calça,
então me afasto frustrado, são segundos que parecem eternos. Eu me livro
da minha blusa, em seguida, da calça e da cueca. Amber parece assustada
ao me ver completamente nu.

— Connor, eu...
Avanço novamente, beijando sua boca, e com mãos hábeis me livro
de sua calça, jogando em um canto qualquer. É um delírio senti-la assim, só
de calcinha em minha cama. Meu corpo cobre o seu. Minhas mãos
possessivamente passam por cada curva de seu corpo.

Substituo as mãos pela língua, eu quero beijar todo o seu corpo.


Então a viro de bruços, e ao ver sua bunda perfeita, não consigo manter
minha boca longe. Começo a passar meu pau em sua bunda maravilhosa e a
ouço gemer cada vez mais alto. Volto a beijar seu corpo, sua a pele suada e
quente. Passo a língua entre suas nádegas e Amber paralisa, então
rapidamente se vira. Eu me seguro para não rir do seu desespero.
Pacientemente, volto a beijar sua boca, vou descendo os beijos por sua
cintura fina, então abro suas pernas e meto a boca na sua virilha. Em
seguida, passo minha língua safada pelos grandes lábios e a ouço gritar de
tesão, não demoro para chupar a sua bocetinha maravilhosa. Pela forma
como ela geme, sei que está tão louca quanto eu. Continuo a chupar,
sentindo seu gosto tão maravilhoso. E porra! Como eu senti vontade dessa
boceta. Continuo chupando, brincando, trabalhando bem com a língua. Eu
não quero gozar, não assim, mas cada vez que ela grita, gemendo meu
nome, preciso me segurar. E quando percebo que ela está tendo um puta de
um orgasmo, me delicio com seu gozo em minha boca. Saio do meio das
suas pernas e noto seu olhar extasiado, coloco o preservativo. Encaixo meu
corpo no seu e vou até sua boca, dando uma deliciosa lambida antes de
beijá-la.

— Você quer muito que eu foda sua bocetinha, não quer? —


sussurro, olhando em seus olhos.
Ela solta um gemido quando começo a esfregar a cabeça do meu pau
em sua boceta inchada. Sorrio, porque agora é a minha vez. Chupei tanto
sua bocetinha que a deixei melada, então me sento entre suas pernas e enfio
um dedo, estimulando-a, depois dois, estou com muito tesão, e ele aumenta
cada vez que sinto meus dedos mais molhados por seu gozo. Já louco,
começo a colocar a cabeça e percebo que seu gemido muda um tom.
Continuo a empurrar e, porra, ela é tão apertada. Eu a vejo cravar as unhas
nos lençóis cada vez que enfio um pouco.
— Connor... — diz em um gemido.
Início um vai e vem só da cabecinha, e ao notar que Amber prende
os lábios, receosa, me aproximo e beijo sua boca e ela corresponde. Então,
já louco, enfio de uma só vez e, porra, ela é muito apertada. Como pode a
porra de uma boceta se encaixar tão perfeitamente assim? Que delícia de
mulher! Escuto um gemido mais alto, então abafo com um beijo que ela
corresponde. Amber abraça minhas costas largas, e então começo um vai e
vem que rapidamente se transforma em estocadas cada vez mais rápidas.
Ela crava as unhas em minhas costas e isso não me intimida, estou com um
tesão fodido. O barulho da cama se chocando contra a parede, rápido e com
força, me faz ter noção de como eu queria foder essa mulher. E continuo
fodendo até sentir que estou perto da minha liberação.

Porra! Ela é uma delícia. Basta apenas mais algumas estocadas para
gozar tão gostoso e juro que nada poderia me preparar para a forma como
sua boceta se encaixou tão perfeitamente no meu pau. Deito ao seu lado e
demoro segundos para me acalmar, e somente quando olho para ela deitada
à minha frente e vejo o sangue na camisinha, que me dou conta da merda
que fiz. Não era uma boceta superapertada, era uma boceta virgem.

— Você era...?
— Virgem... — diz de um jeito choroso. Puta merda! Continuo ao
seu lado, pensando em que merda faço agora. Ela se vira e me abraça,
pousando a cabeça em meu peitoral. — Isso era um problema? — O tom de
voz continua arrastado.
— Não, claro que não, mas se tivesse me dito, eu... —Merda,
Connor! — Quantos namorados já teve?

— Nenhum...

Puta merda!
Manson tinha a porra da razão, agora tenho certeza disso!
Desde que mamãe nos deixou, me lembro de papai me falar a todo
momento do quanto dói quando deixamos pessoas que não tem intenção de
ficar se aproximarem. Ele chorou por noites com sua partida, ainda que
durante o dia fingisse estar bem. O que eu nunca contei é que eu também
chorei pelo mesmo motivo. Mamãe foi embora e deixou, além da ausência,
a falta de confiança, dificuldade em acreditar e, claro, a baixa autoestima.

Pequenas vozes circulam em minha cabeça. Na posição que eu estou,


não consigo ver seu rosto, o que me faz entrar em conflito entre acreditar
que está apenas relaxando, ou decepcionado.

Permaneço na mesma posição, abraçada a ele, ouvindo seu coração


acelerado e a respiração irregular, sendo sufocada pelo silêncio que depois
de algum tempo tornou-se constrangedor.
Connor pede licença, e sem me encarar ele se levanta e segue,
abrindo uma porta na lateral espelhada, que imagino ser o banheiro. E como
se tudo isso não fosse o suficiente, agora estou aqui, me sentindo solitária
sobre lençóis sujos na cama de um estranho. Porque, sim, apesar de tudo
isso, de ter me sentindo tão seduzida, de ter amado a sensação do seu toque,
dos beijos, de ter baixado a guarda, Connor Dickinson é um estranho.

Olho à minha volta e vejo a luz fosca nas laterais de todo o teto
iluminando o quarto. Evito olhar meu reflexo na parede espelhada, porque
ela me confirma a verdade, não é um sonho – ou pesadelo, estou nua da
cama do meu chefe. Respiro fundo, e como fuga, meu cérebro se prende aos
detalhes, a mistura do bege com minúcias em azul resultam em um
ambiente lindo e aconchegante. De frente para a parede espelhada há uma
mesa para café com flores e duas cadeiras.

À esquerda, uma poltrona para dois bem aconchegante, com recosto


para os pés, e luz para leitura, uma mesinha na lateral com alguns livros.
Me viro para a cabeceira, que é um espetáculo à parte. As cortinas nas
laterais à cabeceira em tons de marrons me impedem de ver as janelas.
Então olho ao lado, e bem na mesa de cabeceira, além do abajur, tem a foto
dele com a noiva. Engulo em seco, voltando a postura anterior. A estante à
frente com decorações caras e modernas, os livros de publicidade, carpete
cinza-claro faz um contraste lindo ao tapete em cinza-escuro. Não que eu já
não tenha reparado em todo esse luxo quando eu entrei, mas parece que o
desejo cega e o meu me cegou, e agora que a venda caiu, tudo isso me conta
uma única história. Somos opostos demais.
Abraço meu corpo, sentindo-o extremamente dolorido. Connor volta
ao quarto vestido em um robe e com outro em mãos, que estende a mim,
então rapidamente cubro meu corpo.

— Coloquei a banheira para encher, imagino que queira tomar um


banho — ele diz e sei que está se esforçando para não tornar isso mais
constrangedor. Ele pega o controle e aumenta a potência das luminárias, em
seguida, nós dois olhamos para o sangue nos lençóis. Estou tão
envergonhada, e apesar de tentar disfarçar, Connor não parece melhor que
eu. No entanto, eu diria que seu semblante é de arrependimento. Então, ele
se senta próximo, estica o braço e acaricia meu rosto. — Pode tomar um
banho, eu dou um jeito aqui.

Sinto tanta vergonha que evito olhar em seus olhos. É surreal que
duas pessoas que a segundos atrás mal conseguiam se desgrudar, agora
estejam assim, levantando barreiras.

Me enrolo no seu robe e dou passos urgentes até o banheiro, que


oposto ao meu, acompanha a simetria e todo o luxo do apartamento. Entro
em sua banheira enorme e acho que se tivesse essa opção, juro que me
afogava. Me afundo na água quente, que ele preparou com sais e espuma.
Pego a esponja e sabonete, passando em minha pele e tirando o seu cheiro
que ele deixou em mim.

Me sentindo tão estranha, eu desabo, emotiva como uma


adolescente. Choro de soluçar, me sentindo tão boba e pequena. Me
perguntando como vamos superar isso.

Após minutos, finalmente me levanto e vejo que ele deixou perto da


banheira duas toalhas. Me seco e enrolada na outra, saio do banheiro e noto
que Connor trocou os lençóis.

— Suas roupas... — Há uma hesitação em sua voz ao apontar para as


peças dobradas sobre a cama.

— Obrigada. — A conversa é constrangedora.


— Está entendendo errado, não estou te mandando embora, eu só...
— Ele desvia o olhar e respira fundo.

— Tudo bem, está mesmo tarde e eu preciso ir. — Pego a roupa.

Sem dizer nada, Connor, vestido com uma bermuda, blusa e


chinelos, deixa o quarto. Quando retorna, por algum motivo estranho, ele
fica me encarando por segundos.

— Está pronta?

Assinto, sentindo um nó se formar em minha garganta.

— Tudo bem, vou te deixar lá. — Essas são suas palavras antes de
abrir a porta e sair em direção ao corredor, sem sequer olhar para mim.

Com o pouco de dignidade que me resta, eu adoraria recusar, mas me


sinto péssima demais para contestar.

Enquanto dou passos para deixar a sua casa, memórias de nós


entrando entre beijos, o coração acelerado, a vontade do outro tão evidente,
ele me encostando a parede enquanto sua mão vagava pelo meu corpo, sua
maneira possessiva de me pegar no colo e levar ao seu quarto, de me fazer
dele... tudo isso cria um abismo enorme agora, quando pego minha bolsa,
calço os sapatos e prendo o cabelo, enquanto o homem à minha frente está
observando tudo, mantendo a distância. Então isso se resume a suas fodas
esporádicas, e eu, ainda que virgem, fui mais uma. E aquela sensação de
não ter passado no teste crava no peito.

Seguimos até o carro, lógico que ele tenta uma aproximação, com
sorrisos discretos e gentilizas programadas, não aquele tipo que quebra
barreiras, mas aquele que diz exatamente como será daqui para a frente.
Enquanto Adele canta no som do seu carro, sinto que aqui dentro consegue
ser mais frio que a noite lá fora.

— A noite foi maravilhosa, Amber... eu... — ele diz as palavras


assim que estaciona em frente ao meu portão e soa tão falso que ele sequer
consegue concluir. E se comporta como se tivesse cometido o pior dos
erros. Connor se vira em minha direção e tudo que eu consigo enxergar em
suas feições tensas é que ele quer que eu caia fora o mais rápido possível.

— Obrigada, pela carona — falo, louca para me afastar.

Ele é rápido em segurar minha mão, roubando meu olhar para seu
toque.

— Te espero na segunda, não vá faltar. — Sorri e, caramba, me sinto


tão idiota.

— Claro.

Saio do carro e ele vai embora somente depois que me vê entrar.


Fecho rapidamente a porta, e se não fosse pela visão de papai sentado em
sua cadeira, tomando um café, eu choraria.

— Querida, hoje você foi até tão tarde. — Se aproxima e me abraça.


— Você ao menos comeu algo?

— Sim, papai, não se preocupe. Estou muito cansada, se não se


importa, quero apenas dormir.

Ele beija a minha testa e me dá passagem.

Vou direto ao quarto e me jogo na cama sentindo um vazio intenso.


Eu não tinha altas expectativas com isso de primeira vez, mas não era para
eu me sentir como um nada depois. Então, talvez eu tenha falhado comigo
mesma.

Abraço meu corpo dolorido, ficando em posição fetal. Os sinais não


estavam claros? O quão arrependido ele está agora? Ao menos está
pensando em mim?

Não! Chega! Eu não vou fazer isso comigo mesma. As contas estão
em dia, toda a minha dívida se resume a esse homem, que entrou de uma
forma tão louca em minha vida, e em poucos meses conseguiu o que eu
jurava que não daria a ele. Então, o que me resta é arcar com as
consequências de uma escolha estúpida. Quando o sono vem, me rendo a
ele.

Na manhã seguinte, eu não quero, mas o primeiro pensamento é


preenchido por nossa noite. Papai, inocentemente achando que estou
passando mal, me traz um chá quente na cama. Seguro sua mão após beijá-
lo e digo o quanto o amo.

— Tenho certeza de que isso irá melhorar sua dor de cabeça.

— Estou com cólica, papai, não dor de cabeça.

— Oh, então é melhor que fique na cama até se sentir bem — diz
carinhosamente.

Sorrio em agradecimento e ele sai fechando a porta, só então me dou


conta de que ainda estou com as roupas de ontem. Isso explica seu perfume
tão intenso em meu quarto.

Após um segundo banho, ainda me sinto muito dolorida. À tarde,


Nathan vem me visitar e insiste para irmos ao cinema, mas estou
desanimada demais para sair da minha cama, e é justamente aqui,
abraçados, que assistimos a um filme de guerra – seus preferidos.

Em determinado momento, comigo deitada em seu peitoral, ele pega


o telefone e diz:

— Sorria!

Claro que saio horrível na foto, mas isso não o intimida a apagar.
Fazemos cachorro-quente e ele vai embora depois das nove. Apesar de jurar
a mim mesma que não faria, domingo, depois de não ter recebido nenhuma
mensagem e tentando desesperadamente esquecer, antes de dormir, acabo
por procurar Connor no Instagram – ele é verificado, claro.

Não há postagens recentes, mas como sua irmã está marcada em uma
foto, clico em seu @ e vejo a última publicação. Ela está em um iate com o
noivo, formam um casal lindo, então vou passando as fotos e, para minha
decepção, Connor e Lexie também estão com eles. Em uma das fotos ela o
abraça. Todos sorrindo, parecem jogar em nossa cara que nunca
pertenceremos ao seu mundo. Olho a data e vejo que a postagem é de
ontem. Luto contra as lágrimas, mas não consigo ter domínio sobre elas,
assim como não consigo controlar o nó que se forma em meu peito,
causando-me falta de ar.

Desligo o celular e tento apagar a imagem de Connor e Lexie juntos,


mas sei que é impossível, então apenas rezo para conseguir dormir, afinal,
amanhã terei um longo dia na presença de Connor e pretendo não o deixar
perceber o quanto estou magoada por ser tratada como mais uma de suas
fodas.

Tive uma péssima noite de sono, o que me resulta em perder o


horário na manhã seguinte.

Chego à empresa com vinte minutos de atraso, e a primeira coisa que


Gisela diz ao me ver atravessar o hall, é que o sr. Dickinson não está em seu
melhor humor.

Ótimo! Acho que essa informação não vai ajudar muito meu dia.

— Esteve com ele? — Faço a pergunta idiota e ela confirma.


— Está trancado em sua sala, em uma reunião muito importante por
chamada de vídeo com alguns sócios, então, por favor, não entre lá até que
ele chame. — Gisela atropela as palavras, enquanto organiza alguns papéis.
— Preciso resolver algumas pendências com o gestor de campanhas, então,
fique por aqui. Caso do sr. Dickinson precise de algo, tem você para ajudá-
lo.
— Claro, fui contratada para isso — retruco sem pensar. Só quando
me dou conta da acidez da resposta dita em voz alta que percebo o mau
humor.
— Pelo visto, não foi apenas o chefe que teve uma noite ruim — fala
antes de sair.
Respiro fundo e forço minhas pernas a caminharem até minha sala.

A porta que dá acesso a do Connor está de fato fechada, mas isso


não impede que eu ouça o som de sua voz, mesmo que longe.

Acomodo-me na minha cadeira e tento focar no trabalho. Não quero


que toda a merda que aconteceu entre nós interfira na minha forma de agir e
me comportar dentro da empresa.

Começo a verificar os e-mails, encaminhando os que precisam de


sua aprovação para sua caixa de entrada. Ouço passos se aproximando, o
perfume é familiar. Viro minha cabeça e todo pensamento de que devo ser
profissional vai por água abaixo, porque doutora Lexie entra na minha sala,
usando um vestido justo ao corpo, cabelo perfeitamente penteado e preso
em um coque elegante, com seus saltos quinze.

Ela força um sorriso quando seus olhos me fitam e eu o retribuo,


mesmo que minha vontade seja apenas ignorá-la.

— Bom dia, Amber. — Sua voz gentil me faz baixar a cabeça e


corresponder em um sussurro. — Pode avisar ao Connor que estou aqui.

— O sr. Dickinson está em reunião, mas sinta-se à vontade para o


esperar, se quiser.
Por ironia do destino, a porta do escritório se abre e Connor aparece
no meu campo de visão. Seus olhos fitam os meus por breves segundos,
antes de se voltarem para dra. Lexie.

— Está pronto? — ela pergunta, com suavidade na voz.


— Sim —responde rapidamente, caminhando até ela e a
cumprimentando com um beijo no rosto. Antes de saírem, ele volta-se para
mim e, sem nenhuma emoção na voz ou olhar, apenas pede que eu cancele
todos os seus compromissos da manhã.
Confirmo com o breve sinal e os assisto irem embora. As lágrimas
ameaçam cair ao me sentir tão burra por ter me deixado ser seduzida por
meu chefe. Corro ao banheiro na tentativa débil de deixar isso passar, mas
sei que não vai, não assim. Por que diabos estou tão magoada com Connor
se ele não me prometeu nada?
Quanto tempo é necessário para você se dar conta da grande merda
que fez? Porra, eu nunca trouxe outra mulher ao meu apartamento que não
fosse Hanna! Agi feito um adolescente cheio de hormônios, loucamente
fodido de tesão, e desde o primeiro momento que empurrei meu pau em sua
boceta, eu sabia que tinha algo errado. Mas ignorei a porra toda e transei
com minha assistente virgem, depois de jurar que o não faria. E eu odeio
tanto essa parte, de ter que reconhecer que eu errei, muito.

Talvez Amber fosse daquelas que se preservavam para um homem,


com essa ilusão de se entregar a ele e serem felizes por toda a vida. E por
que diabos eu fui fazer isso? Desde o dia que ela bateu no meu carro, que
olhei em seus olhos, soube que ela seria um problema. Manson me avisou e
ainda assim me afundei nisso.

E agora estou aqui, deixando-a em sua casa, sendo um canalha


escroto, mas de uma forma tão sutil que ela mal se dá conta disso.

Parte de mim se sente perdido e confuso. Eu quebrei a promessa que


fiz a mim mesmo de não permitir que nenhuma mulher entrasse na minha
vida a ponto de partilhar com ela algo pessoal. E estava cumprindo essa
promessa até hoje, quando fiz a merda de levar Amber para meu
apartamento. Eu deveria ter feito como sempre faço com as outras que
passam por minha vida – um jantar em um lugar agradável e terminar a
noite em uma suíte de hotel. Estava tão cego de desejo, tão inebriado pela
vontade de tê-la em meus braços, que apenas me deixei levar pelo
sentimento que me envolvia naquele momento.
Dirijo devagar pelas ruas, preso a mil pensamentos. Até mesmo o
rádio está distante. Chego e vou direto ao meu quarto e rapidamente me
jogo em minha cama. Fecho os olhos e ergo a mão, tocando a foto fria de
Hanna no porta-retratos, tentando buscar na minha memória a sensação de
como era tocar sua pele. Todavia, tudo o que minha mente consegue
oferecer é a lembrança da suavidade da pele de Amber, seu cheiro doce e a
forma terna e submissa com que ela se entregou a mim.

Merda! Isso não pode estar acontecendo! Onde diabos eu estou com
a cabeça?

Tento dormir, já deveria ter feito isso, e mesmo estando tão frio lá
fora, aqui sozinho, enlouquecendo, parece pior.

Pela manhã, a sensação é de ter sido atropelado. Não desmarco meu


compromisso com Manson e minha irmã, ela queria um dia com nossos pais
no iate. E como a data da partida de Hanna está próxima e sei como Lexie
fica tão deprimida, eu a incluí no passeio. Mas juro que se soubesse como
estaria hoje, desmarcaria tudo, no entanto, não faço isso e meu dia é
preenchido com conversas entre família e amigos em meu iate de luxo.

A paisagem de tirar o fôlego deveria ao menos me fazer relaxar. Mas


não consigo e Manson percebe isso. Enquanto minha irmã e Lexie tomam
um drinque na sala de visualização semi-submersa com meus pais, eu e
Manson ficamos no bar.

— O que está acontecendo? — diz, se servindo de uísque.

— A velha tensão por novas campanhas. — Viro meu copo,


enquanto ele me analisa cautelosamente para logo dar um sorriso torto.

— Como se atreve a mentir para um investigador? — diz, esnobe. —


Perdeu mesmo o respeito.

— Eu te respeito, e muito, mas está equivocado.

— Então vamos falar sobre meu equívoco. — Solto um suspiro


farto. — Transou com a garota, não foi?

— Puta que pariu, qual seu problema? Pacto com o diabo? — Ele
solta uma gargalhada irreverente e acende um charuto. — Está errado,
passou longe, na verdade.
— Transou com ela, a garota era virgem e agora está com
consciência pesada.

— Como sabe que...


Porra, ele a investigou, e Manson é o melhor no que faz.

— Sem namorados, abandonada pela mãe, pai doente e provedora da


casa. Sem festas, diria um amigo e poucos colegas. Não, eu não errei em
nenhuma das minhas deduções, assim como não errei quando eu te disse
que estava cometendo um erro. Mas o que vai fazer agora? Se aproveitar até
se cansar e novamente deixar que a garota sinta a dor do abandono?
— Foi consensual, não há o que fazer...

— Consensual, entendo. — Vejo o sorriso irônico em seus lábios. —


Um homem experiente como você, que saberia seduzir até a minha pobre
mãe — faz o sinal da cruz —, que Deus a tenha. Está me dizendo que foi
consensual. Talvez não seja eu que esteja equivocado. — Merda, a porra do
cara, que é meu melhor amigo, está me julgando. — Então, por que essa
cara de cão arrependido? Ou no seu caso, diabo arrependido...

— Eu não estou arrependido, não mesmo, só não quero que ela crie
expectativas e se...

— Apaixone, porque você não quer se envolver — ele completa.

Eu odeio a maneira irritante como faz isso.

— Eu aprendi a perder, Manson, sei como dói, não posso me dar


esse luxo de novo.

— Mas a garota pode — ironiza. — Graças ao bom Deus que somos


amigos e sou eu o cara que vai que se casar com sua irmã, caso contrário, já
teria usado meu velho amigo Jack. — Sim, esse é o nome ridículo que ele
deu ao seu revólver.

— Fico lisonjeado por saber disso — debocho.

Ele apenas meneia com a cabeça, enchendo seu copo e o meu com
uísque.

Volto tarde para casa, e domingo, eu e Caroline almoçamos com


nossos pais. À noite, depois de um banho, uma garrafa de uísque e
tentativas fracassadas de tirar Amber da minha mente, faço o que não
deveria. Sei lá porque estou agindo assim, mas abro meu Instagram e digito
seu nome na aba de procura. Demora um pouco, mas lá está ela. São poucas
fotos, algumas com seu pai, outras com desconhecidos, a formatura, outras
com a porra do amiguinho e, claro, todas com mensagens motivacionais
ridículas.
Dou zoom em uma em particular, uma selfie do rosto, o cabelo está
solto, chapéu e sorrindo, não há vestígio algum de maquiagem, percebo
como ela tem um rosto angelical. Passo para a próxima e me incomoda vê-
la abraçada ao amigo, outra ele beijando seu rosto. Não há excentricidades,
luxos, nada, apenas ela com sua vidinha ridiculamente pacata. Ao clicar
novamente na sua foto de chapéu, vejo que marcou o @ do amigo, dando
créditos a ele pela foto. Então vou ao perfil dele e lá está sua última
postagem, especificamente ontem, Amber deitada com ele na cama,
fazendo careta. Prendo os lábios e percebo a raiva crescendo em mim.
Ignorando isso, deixo o telefone ao lado.

A segunda amanhece chuvosa, então visto um terno e casaco mais


quente. Chego à empresa às sete e Gisela já está em sua mesa. Ela me
cumprimenta com bom humor, esboçando um sorriso que desaparece
quando olho em seus olhos e apenas lhe dou um rápido menear de cabeça.

Sigo para a minha sala e meus olhos automaticamente vão até a mesa
de Amber. Ainda é cedo e falta menos de uma hora para que ela chegue, e
por alguma razão, sinto um misto de ansiedade e nervosismo com o simples
pensamento de encontrá-la. Tento afastar minha assistente dos meus
pensamentos e me concentrar na reunião com Mathews Brown e todas as
suas ideias para o novo comercial de carros. Isso é tudo o que deve importar
agora. Às sete e cinquenta, ligo para Gisela e aviso que não quero ser
incomodado e que não deixe que ninguém venha até minha sala até segunda
ordem.

Quando a reunião começa, sou obrigado a manter meu foco em tudo


o que meu cliente exige para sua campanha. Não é a primeira vez que
minha empresa presta serviços para ele, mas, como sempre, Mathews é
exigente e não espera menos do que um trabalho perfeito. Sem sombra de
dúvidas, escolhi o pior dia para essa reunião. Não tive uma boa noite de
sono e gostaria de culpar o fato de que hoje é aniversário de morte da
Hanna, mas não posso, porque o que de realmente me perturbou durante a
madruga foi a imagem de Amber na minha cama e, claro, a foto com o seu
amigo. Bem, pelo menos, ela disse que eram apenas amigos.
— Vou mandar minha equipe de marketing e planejamento te enviar
tudo por e-mail, e assim que analisarem, voltaremos a conversar —
Mathews diz antes de encerramos a ligação.

Solto um suspiro longo e deslizo as mãos por meu cabelo, sentindo a


exaustão cair sobre mim. Verifico as horas no meu relógio de pulso, já passa
das nove e quarenta, o que significa que Lexie deve estar à minha espera.
Durante todos esses anos, sempre vou sozinho até o túmulo de Hanna, mas
Lexie fez questão de me acompanhar, mesmo eu tendo dito que não era
necessário.

Pego meu celular, as chaves do carro e caminho para fora da sala.


Quando abro a porta, meus olhos vão de encontro a Amber. Não era para
esse encontro ser estranho, deveria apenas a cumprimentar como todos os
dias e seguir com minha vida como se nunca tivéssemos estado juntos, mas
agora, olhando em seus olhos tão ingênuos, só consigo pensar no grande
canalha filho da puta que sou. Desvio meu olhar para Lexie, tentando fingir
que estar no mesmo lugar que Amber não faz desejar arrancar suas roupas e
beijar todo o seu corpo.

Não é esse o caminho, porra!

— Está pronto? — Lexie pergunta, me fazendo concentrar.


— Sim — respondo rapidamente enquanto caminho até ela e a
cumprimento com um beijo no rosto.

Sinto os olhos de Amber em mim, mas ignoro. E como o filho da


puta que sou, apenas digo a ela antes de sair para cancelar todos os meus
compromissos.

O trajeto segue com Lexie falando de um caso ou outro e eu distante


demais para sequer prestar atenção. Paramos em uma floricultura a caminho
do cemitério e, como sempre, escolho as flores favoritas de Hanna – lírios.

Lexie continua a tentar engatar uma conversa, mas me limito a falar


apenas o necessário, só quero que esse dia termine logo, por diversos
fatores diferentes.

Todos os anos, enquanto a família e os amigos de Hanna celebram


uma missa, eu apenas venho ao cemitério. Trago suas flores favoritas e
passo algum tempo em silêncio, como se de certa forma ela pudesse me ver
aqui e isso bastasse. Esse ano não é diferente, porque apesar de tudo, eu não
sei o que dizer a ela.

Nos três primeiros anos de sua morte, a dor de saber que ela nunca
voltaria para mim era intensa. Pensei que não suportaria aquele sentimento
que me sufocava e me fazia sentir como se estivesse pulando em um
abismo. Eu era o canalha que ela jurava que iria redimir e redimiu. Amava a
sensualidade no olhar, o sorriso endiabrado e a maneira como ela sempre
me vencia – ainda que pelo cansaço. Acredito que beirei à loucura diversas
vezes nos primeiros anos, principalmente quando pensava que Hanna
poderia ainda estar ao meu lado, caso um motorista imprudente não tivesse
causado o acidente e tirado sua vida.
O dia de sua morte ficou marcado em minha mente e vai ser assim
por toda a minha vida. Naquele dia, há exatos sete anos, não imaginei que
aquela quinta, que havia começado tão feliz me faria perder a mulher que
eu amava e estava prestes a se tornar minha esposa, e consequentemente se
tornaria o pior dia da minha vida. Durante muito tempo, cheguei a me
culpar pelo que aconteceu, pois deveria ter insistido para que ela ficasse
comigo naquela semana, mas teimosa como era, não consegui convencê-la.

Hanna era uma boa motorista, sempre muito cuidadosa e atenta,


porém naquela maldita noite estava chovendo e um imbecil entrou na
contramão, e pelas informações que obtivemos, ele simplesmente fugiu sem
prestar socorro à minha noiva. Esse detalhe, esse pequeno detalhe sempre
me atormentou... Se o imbecil tivesse chamado o socorro, poderia existir
uma possibilidade de ela ter sobrevivido.
— Minha irmã foi uma mulher muito sortuda por ter um homem
como você, apaixonado e devoto, mesmo depois de anos da sua
morte...Você, mesmo com essa fama de pegador, nunca deixou que outra
mulher ocupasse o lugar que pertencia a Hanna em sua vida.

Lexie toca meu ombro e eu a olho de relance. Ela é tão parecida com
Hanna fisicamente, no entanto, com personalidade tão diferente. Logo que
sua irmã morreu, mesmo sendo ela a primeira que conheci e a considerando
uma amiga, eu a evitei por algum tempo, pois era como se meu coração
estivesse sendo arrancado do peito só de olhar para ela. No entanto, de um
jeito bizarro, com o decorrer dos anos, estar ao seu lado tornou-se normal,
já não associava a imagem da minha falecida noiva a ela. Era apenas Lexie,
minha velha amiga da universidade.

— Tenho meus motivos para deixar minha vida exatamente como


está — digo, sem quebrar o contato visual com ela.
— Você sabe que não é certo, Connor. A Hanna se foi há anos, e
mesmo assim, você continua se privando de encontrar alguém que vá te
fazer feliz.
— E o que te leva a pensar que não estou feliz? Olha para tudo o que
conquistei desde que assumi a presidência. Coloquei a empresa já em
evidência em outro patamar de mercado publicitário. Somos uma das mais
importantes e poderosas do país. Eu sou o melhor no meu ramo, isso me
deixa feliz para caralho.
— Não estou falando de poder, Connor — diz com a seriedade no
olhar que Hanna nunca teve, e isso me faz dar um riso torto, então ela acaba
dando um passo para mais perto. — Estou falando de amor. Estou falando
que você merece amar novamente e se permitir ser amado. Estou falando de
se apaixonar e deixar que a pessoa não apenas passe por sua cama, mas
permaneça em sua vida.

— Seu conceito de felicidade é diferente do meu, Lexie, e eu


respeito muito isso. Apesar de estranhamente não me lembrar de te ver em
companhia de alguém.
Ela dá de ombros e posso ver uma sombra de decepção em seus
olhos.

— E o que é felicidade para você? Sair com todas as mulheres de


Portivil?

— Talvez...
Ela sorri sem humor e rapidamente limpa o canto do olho.

— Desculpa, mas não acho que essa seja uma conversa apropriada
no túmulo da minha noiva.
— Como pode fazer isso com você?

— Do que está falando?

— Eu entendo que você a amou e que sofreu por sua morte, eu sei...
Eu também sofri e ainda sofro, mas eu segui em frente. Quando você vai
fazer o mesmo? Será que não percebe que... — Ela deixa a frase no ar e
meneia a cabeça em negação. — Se você soubesse... — Ela ri e uma
lágrima rola por sua face. — Se soubesse... — Ela se cala novamente,
prende o lábio entre os dentes e desvia o olhar.
— Se eu soubesse o quê? — pergunto, porque sinto que ela está me
escondendo algo.

— Nada... É melhor irmos.

Voltamos com o som do carro em um volume alto. Depois que eu a


deixo em seu apartamento, Gisela me confirma a reunião com os sócios da
Conectar Filmes. Estou interessado na proposta de integração. Sigo para lá
e depois de horas de reunião, almoço com clientes e faço uma visita a
Freedon. Só então volto para a empresa. Já anoiteceu e acredito que a
maioria dos funcionários já se foi, então sou pego de surpresa ao ver Amber
no estacionamento superior, com seu amigo. Claro, eu poderia usar a
entrada de acesso do elevador que me levaria direto ao andar do escritório,
mas meus passos são mais rápidos em direção a eles. O idiota está
amarrando seu cabelo em uma brincadeira ridícula e ela sorri, claro que
sorri, e sim, seu sorriso murcha quando me vê.

— Boa noite — falo sarcasticamente.

— Boa noite, sr. Dickinson — ela diz, acuada, não se atrevendo a


olhar em meus olhos.
— Boa noite. — O amigo sim o faz.

— Srta. Amber, sabe se Gisela deixou os documentos da campanha


da Freedon na minha mesa? — Na verdade, Gisela já me enviou e eu os
revisei e assinei. Que merda eu estou fazendo mesmo?

— Acho que sim — ela parece confusa —, mas posso confirmar


com ela se o senhor quiser — diz, ainda evitando me olhar, e porra, isso me
irrita.

— Tudo bem, obrigado.

Ela só assente.
— Vamos, Nathan?

— Claro.
O idiotazinho abre a porta do carro para ela, entra em seguida e os
dois vão embora.
Quer saber, que se foda, é isso. Ela vai acabar se casando com esse
idiota e, claro, é um problema a menos para mim.
A sensação é como ser quebrada. Ele passa por mim e sinto como se
não fosse nada, apenas uma fodinha sem importância alguma. Mal me
reconheço vendo-o ir com Lexie, e apesar de nos dias seguintes tentar me
convencer de que Connor não está me tratando com indiferença, que apenas
temos visões diferentes sobre sexo, eu não consigo deixar de me sentir tão
magoada. Tento convencer a mim mesma que ele não vem me ignorando,
que o fato de estar sempre pedindo atualizações dos seus compromissos a
Gisela é por conta da sua experiência com campanhas publicitárias. E claro,
a que acontecerá em alguns dias.

Mas a verdade é que estou apenas me enganando, tentando encontrar


uma resposta que já é tão óbvia. Eu fui só mais uma das conquistas do
Connor. A foda de uma noite, que não vale a pena, sequer o seu respeito.
Me sinto tão humilhada desde que me entreguei de bandeja a ele, mal
consigo manter minha concentração no trabalho. Estou tentando manter o
profissionalismo dentro da empresa, tentando deixar todas as minhas
frustrações lá fora, mas é impossível, porque a cada vez que o Connor evita
me olhar, falar comigo ou até mesmo ficar no mesmo lugar que eu, minha
vontade é simplesmente largar tudo e correr para o mais longe possível
dele. É indigno da parte dele me tratar com tamanha indiferença. Nunca
esperei que ele me enviasse flores, que se comportasse como se o que
aconteceu tivesse sido especial, mas também não imaginava que seu
comportamento viesse a ser tão desprezível.

Na segunda, quando ele saiu com Lexie, me senti péssima. Pensei


que teríamos a oportunidade de conversamos e, quem sabe, não transformar
a situação em algo desagradável. Mas sua atitude comigo deixa claro que
será assim que ele me quer, é assim que ele trata suas fodas e comigo não
será diferente. Seu comportamento não muda com o decorrer dos dias e eu
apenas me forço a não deixar transparecer o quanto estou melancólica com
tudo o que vem acontecendo.
Nathan percebe meu abatimento, e mesmo que eu insista que está
tudo bem, ele não acredita. Nathan me conhece bem o suficiente para saber
que tem algo acontecendo, e é exatamente por isso que ele tem estado tão
presente. Sempre que pode, ele vem me deixar no trabalho e quase todos os
dias me busca. Em algumas dessas vezes em que estava com Nathan,
Connor nos viu juntos, e parte de mim queria que ele se importasse com o
fato de que existe alguém que me ama, mas ele passou por nós como se eu
não fosse nada.
Eu poderia mentir, dizer que prefiro assim, mas não é verdade. Seus
encontros com a Lexie têm se tornado mais constantes, cheguei a sondar
Gisela no nosso almoço, com o pretexto idiota de que é bizarro que ele
mantenha um envolvimento com a gêmea da noiva morta. Como sempre,
ela soube exatamente o que me dizer para que eu me sentisse mais estúpida
ainda.

— Mesmo que exista algo entre eles, o que para mim é muito
estranho, já que ela é uma cópia da srta. Hanna, sabemos que o sr.
Dickinson não é homem de uma mulher só. Ele as troca como faz com seus
ternos. Só essa semana confirmei encontro com umas três — diz enquanto
digita em seu celular. E começo a me perguntar se já não sei o suficiente. —
Mas, mudando de assunto, você sabe quem vai levar para festa?

— Pensei que fosse trabalho.

— Não seja bobinha, Amber, claro que é, mas como boa amiga que
sou, nós duas poderemos levar, já que sou eu quem organiza a lista de
convidados.

— Mas o sr. Connor não saberá?

— Ah, querida, acha mesmo que ele será capaz de nos enxergar com
todas aquelas mulheres perfeitas cheirando a alta costura? Por favor,
Amber... — Ela ri e vira a tela do celular para mim. — Eu já tenho meu par
e você deveria encontrar o seu. Quem sabe chamar aquele seu amigo gato.
Aliás, vocês formam um lindo casal.

— Não sei se essa festa é o tipo de lugar que ele vai.

— Não custa nada tentar.

Assinto, cogitando essa hipótese, assim não me sentirei deslocada


diante de tantas pessoas luxuosas e de Connor, que com certeza deverá ir
acompanhado.

À tarde, depois de voltar à empresa, na sala da Gisela organizando os


últimos detalhes, recebo sua mensagem me pedindo para passar no setor de
atendimento publicitário e pegar o briefing das duas últimas campanhas
feitas para Mathews Brown, seu cliente de Nova Iorque.

Merda! Está quase terminando meu horário, ele praticamente me


evitou todo o dia, e bem agora na hora de ir embora, ele me pede isso. No
entanto, é a primeira vez que ele se dirige diretamente a mim. Não sei dizer
ao certo a que ponto me sinto mexida com isso. Acato sua ordem, então
desço ao quarto andar. Sinceramente, eu gosto das meninas do setor, apesar
de Gisela dizer que a simpatia delas é apenas ossos do ofício, mas eu
realmente aprecio isso. Pego todo o material e sigo para o nosso andar.
Entro em minha sala e vejo que sua porta está aberta. Por alguma razão
estúpida estou trêmula, mal me anuncio e ele pede que eu feche a porta.
Antes de me aproximar, solto o ar dos pulmões, tentando manter a postura.

— Aqui estão — digo, deixando os papéis em sua frente. Ele pega os


briefing, que basicamente são documentos com o objetivo de estabelecer
todos os passos e orientações necessárias para o andamento do projeto. Ele
analisa um por um sem pressa enquanto continuo parada em frente a sua
mesa, tendo que encarar sua perfeição enquanto imploro para meu cérebro
não deixar memórias inoportunas o invadir nesse momento. O fato de ele
sequer olhar em minha direção me afeta mais do que gostaria de admitir.

— Esse cara é problema, sabe, às vezes, por mais dinheiro que possa
ganhar, um trabalho não vale a pena se for custar sua paz de espírito. —
Solta um suspiro, ainda atento às linhas. Quando se dá conta do que disse,
ele desvia o olhar, em seguida, prende os lábios.

— Concordo — sussurro.

Ele coloca os papéis sobre a mesa e volta sua atenção para a tela do
computador. Com isso, giro meu corpo e começo a me afastar.

— Seu amigo vem te buscar hoje também?

Já estou a alguns passos da porta quando ele pergunta. Sua voz é fria
e sem nenhum sinal de emoção. Volto-me para ele e vejo seus olhos sobre
mim, e é vergonhoso que meu corpo reaja a esse simples gesto, depois de
ele ter agido como se eu não fosse ninguém.
— Notei que ele está vindo com frequência e... — Ele prossegue,
sem me dar tempo para pensar em uma resposta à altura.

— E...?

— Só uma curiosidade. Precisa estar mais cedo em casa, algo


aconteceu ao seu pai? Porque se for o caso, sabe que pode contar comigo.

Caramba, como ele pode ser tão ridículo.

— Me desculpe, sr. Dickinson, mas a minha vida pessoal não é da


sua conta. Aliás, nada que diz respeito a mim é da sua conta. —As palavras
saem agressivas e isso parece o surpreender.

— Posso saber por que está usando esse tom de voz comigo? —
Connor estreita os olhos, parecendo ofendido. Eu apenas rio, achando toda
a situação uma verdadeira piada. — Só perguntei porque nos últimos dias
você tem saído tarde, e como sua casa é do outro lado da cidade, fico
preocupado com sua segurança.

— Fez essa mesma pergunta a Gisela? Ou talvez para as meninas do


setor de publicidade? Porque se está preocupado com minha segurança,
acredito que o senhor, como o bom chefe que é, deve se preocupar com os
demais funcionários. Ou sua preocupação se limita só as suas fodas, porque
se for o caso, não se preocupe, eu não estou mais entre elas.

Odeio o fato de ele parecer perplexo e confuso, como se a louca


fosse eu. Ele se levanta e vem até mim, então recuo dois passos, e ao notar,
ele não se atreve a continuar.

— É o que pensa? Que só foi uma fodinha sem importância alguma?

Dou de ombros, querendo descontar toda a minha frustração e


humilhação nele.

— Não é questão de pensar, são fatos. Mas não se preocupe, é


recíproco. Ao contrário do que me disse aquele dia, não era mentira, não há
chance alguma de eu me apaixonar por você. — A voz sai com soberba,
uma mentira contada de forma tão orgulhosa que parece verdade aos
ouvidos.

Em seus lábios, se abre um sorriso irônico. Connor me estuda


minunciosamente.

— Não sabe como ouvir isso me alegra, srta. Michell, e sabe por
quê? — Agora sou eu que faço aquela cara de idiota, sem entender merda
nenhuma. Ele me lança um olhar tão safado que sinto minha pele queimar.
Em um só passo, sua mão me alcança, me puxa para seus braços em um
gesto bruto, fazendo nossos corpos se chocarem. — Porque significa que
temos os mesmos objetivos, sabemos as regras do jogo e podemos sim,
continuar a jogar.

Sentir sua respiração em meu rosto me desestabiliza. Seu olhar fixo


no meu faz meu coração bater em descompasso e minha respiração começa
a ofegar. Tento pensar com clareza, manter a calma por nossos lábios
estarem a centímetros. O frio na barriga é tão intenso que me faz parecer
uma adolescente boba implorando por atenção. Ele dá aquele sorriso
obsceno que me desestabilizava completamente antes morder o lóbulo da
minha orelha, e esse primeiro contato me faz soltar um leve gemido,
entregando o jogo.

Ele ri, lógico que ri, porque sabe que é mentira. Eu não sei jogar e,
consequentemente, estou destinada a perder. Connor volta a me encarar e
suas mãos tocam meu rosto de forma possesiva, então fecho os olhos,
absorvendo seu toque. Não demora para sentir seu beijo tão viciante.
Nossas línguas se entrelaçam urgentes, quentes, molhadas. Meus seios
enrijecem apenas por sentir sua língua tocando a minha. Ele me envolve
com seus braços fortes e me beija tão profundamente... Eu o quero, e todo
esse ressentimento é por isso. Eu o quero e quero que ele me queira. Connor
sente isso, claro que sente. Merda!

Continuo com os olhos fechados, absorvendo todo o prazer que seu


gosto desperta em mim, criando em minha mente imagens de nós dois nus.
Connor continua a me beijar, mas diferente da última vez, tem gosto de
posse.
— Acha mesmo que é só uma foda?

— Connor, por favor... — sussurro, ofegante.

Ele então me pega no colo e me senta na mesa, ficando entre minhas


pernas.

— Agora, srta. Michell, se acha mesmo que é só a porra de uma


foda, eu preciso saber se sua bocetinha quer foder tanto quanto a porra do
meu pau?

Antes que eu possa protestar, ele praticamente rasga minha blusa


com suas mãos másculas. Com a mesma brutalidade, abre meu sutiã e
afunda a boca em meus seios, chupando com tanto tesão que me deixa
extremamente molhada. Connor chupa até deixar meus seios doloridos.
Quando se afasta, os bicos estão com vasta vermelhidão. Ele então,
atrevidamente abre o zíper da minha calça e a tira, me deixando apenas de
calcinha.

Não há timidez alguma, ele sequer desvia o olhar, dá um sorriso


safado, como se estive pronto para me devorar. Já eu, tenho certeza de que
estou feito pimentão. Depois de tudo, eu sei que deveria correr, mas não
consigo. Suas mãos safadas vão entre minhas coxas, indo com urgência até
a minha calcinha. Ele a afasta sem quebrar o contato visual, e quando enfia
dois dedos em mim, gemo de tesão. Ele continua me estimulando até que
passo a gemer mais alto.

— Vai, Amber, goza pra mim.


Merda! Tento controlar meus gemidos, querendo loucamente mostrar
força, mas doida para que ele substitua seus dedos pelo seu pau tão grosso.
E mesmo que a dor de ser cortada por ele ser ainda tão vívida, eu o quero
em mim novamente. Connor continua me estimulando, e quando gozo, ele
tira seus dedos encharcados com meu líquido e, como na primeira vez, os
chupa e dá aquele sorriso tão safado.
Ele então abre a sua calça. Se na minha primeira vez tive tanta
vergonha em olhar, agora quase gozo só por ver seu pau tão imenso e duro.
E entendo porque me senti tão dolorida por dias. Ele enfia sua mão em
minha nuca, entrelaçando os dedos no meu cabelo, e volta a beijar minha
boca. É tão ridiculamente perfeito como sua língua passeia em minha boca,
despertando gemidos intensos em mim. Estou completamente envolvida, e
tudo piora quando Connor conduz uma de minhas mãos até o seu pau,
fazendo-me sentir o quão duro está. Ele preenche toda a minha mão, indo
bem além dela, e o simples fato de tocá-lo me fez perder o juízo.

Quando foi que me tornei tão pervertida, porque minha boceta


encharcada quase me faz implorar para ele me foder. Brincando com isso,
Connor se afasta novamente e inclina levemente a cabeça, descendo seus
lábios pelo meu pescoço, roçando-os entre beijos ali. Eu queria ter o
controle sobre o meu corpo como ele tem sobre o dele, mas a cada toque,
meus gemidos se tornam mais fortes.

Se havia consciência em mim até esse momento, Connor expulsou


qualquer vestígio que poderia restar. Não vendo resistência, ele me faz virar
para ficar de quatro em cima da sua mesa. Sinto quando ele esfrega a
cabeça do seu pau em minha boceta molhada. Mesmo o querendo tanto, a
dor é intensa ao sentir seu pau me abrindo em uma única estocada. Ele
então, segura meus quadris e se afasta totalmente, sei que ele vai me foder
forte e vai doer pra caramba.
A primeira vez sinto mais dor que prazer, mas ele continua, e a dor,
de um jeito louco, vai me deixando mais excitada. E no fim, sua brutalidade
me enlouquece de dor e tesão. Apesar de não ter imaginado isso, estou
gemendo como uma louca. Connor segura meus seios com força,
beliscando meus mamilos enquanto continua a me torturar, me fodendo
forte. Eu quero gritar de dor e prazer, mas estamos na sala dele e não
podemos correr o risco de ser pegos.
— Que porra de boceta molhada, Amber...

Eu sequer tenho voz, quanto mais violento ele é, mais eu gemo.

— Agora vai, goza bem gostoso no meu pau, goza ciente de que é a
porra de uma boa foda. E depois disso me diz se dá mesmo para ter só uma.
Não há tempo de revidar, a sensação maravilhosa do orgasmo me
consume. Sinto meu corpo no limite. Em toda a minha vida, nunca pensei
que enlouqueceria assim com um orgasmo, estou nas nuvens de tanto tesão.
Ofegando, Connor se afasta, me vira e bate uma punheta bem na minha
frente, deixando sua porra cair em cima de mim. Eu não queria que fosse
assim, queria senti-lo gozando dentro de mim. Provavelmente, ele não tem
preservativo aqui e optou pelo mais seguro no momento. Ao terminar, ele se
afasta. Após alguns minutos, ele me puxa para o seu banheiro. E bem
debaixo do seu chuveiro, fico admirando o homem perfeito que acaba de
me dar a melhor foda da minha vida. Tenho certeza de que estou o
encarando feito idiota, porque ele sorri com malícia e desvia o olhar.
— Nunca mais pense que é só a porra de uma fodinha, Amber,
porque está claro para mim que eu nunca poderia ter só uma fodinha com
você — diz e me beija.

Connor deixa o banheiro primeiro que eu, e quando saio, minhas


roupas estão dobradas sobre a mesa. Ele não está mais na sala, assim como
os documentos que eu havia trazido. Prendo os lábios, com a respiração
ainda ofegante. Me visto rapidamente, pego meu casaco e o fecho para que
ninguém note na blusa a falta de botões. Quando já estou no corredor de
frente ao elevador, eu o vejo saindo da sala da Gisela e se aproximar para
entrar no elevador comigo.

As portas se fecham, ele então me dá um sorriso convidativo.


Quando eu faço menção de tocá-lo, ele vira o rosto em direção às câmeras,
então olha para mim e sorri, deixando claro que pode continuar a foder sua
assistente, desde que todos os sórdidos encontros sejam de portas fechadas.
E ficam claras as regras do jogo, ter todo o prazer, mas sem se apaixonar.
Uma luta interna se inicia dentro de mim. Era essa a experiência que
eu queria para meu primeiro relacionamento? Sentir uma deusa com ele,
mas ser tratada como a fodinha discreta depois?
Saio no térreo ainda atordoada, mal me dou conta que ele me segue
até estar na frente da empresa e ver Nathan acenando.
— Uau, hoje você se atrasou, garota — diz, sorrindo. Isso me faz
sentir suja por minhas escolhas.

— O que faz aqui? — pergunto, tentando me lembrar se marquei


com ele hoje.

— Esqueceu? Noite de cinema — confere as horas —, mas acho que


perdemos a sessão.

— Boa noite. — Ouço Connor bem atrás de mim.


— Boa noite — Nathan responde baixo e parece um pouco
intimidado com sua presença.

— Não tem problema, podemos pegar a próxima sessão. — Eu o


abraço e solto um suspiro. — Obrigado por vir.

Então me viro para Connor, e apesar de tentar disfarçar, ele parece


furioso.

— Boa noite, sr. Connor, até amanhã.


Ele me ignora e se vira, indo em direção a seu carro.

Tudo bem, se essas são as regras, ainda que esteja aprendendo, eu


posso jogar.
Passo rapidamente em casa para trocar de roupa. Aviso a papai que
estou indo ao cinema com Nathan, e seu sorriso malicioso me diz
exatamente o que ele acha disso.
Eu amaria dizer que Connor sequer passa por meus pensamentos.
Mas oposto a isso, é como se ele estivesse ali, sua pele, seu toque, sua foda,
me tornando dele até em pensamentos. Quando é fim de noite, Nathan me
deixa em casa, mas não antes de perguntar se está tudo bem.

— Estou bem, por quê?

— Nesses últimos dias tem parecido tão cansada, está valendo


mesmo esse dinheiro, Amber? — Encaro seus olhos, que sempre foram tão
sinceros. E sua pergunta me faz questionar se eu mereço isso. Um
relacionamento sem compromisso que parece tão errado que precisa ser
escondido. — Amber? — Ele insiste.

— Bom, tem deixado as contas em dia, e... — As palavras ficam


presas na garganta e eu acabo pensando justamente em Connor dizendo o
mesmo sobre Mathews Brown. — Eu preciso entrar, Nathan, amanhã é...
— Eu sei, foi bom estar com você. — Ele me puxa para um abraço.

— Ah, semana que vem vou olhar um carro e juro que não vou mais
te incomodar. Falando nisso, assim que o dinheiro cair na conta, vou te
ajudar no combustível.

Ele meneia com a cabeça, em negação.

— Não precisa, Amber, sabe disso, a oficina está indo bem e...

— Claro que preciso e vou fazer. Não é meu namorado nem nada do
tipo, não posso e nem quero ser um peso para você.

Ele se afasta e ri sem humor.

— É um pouco confuso pra mim você aceitar tão fácil a ajuda do seu
chefe, entrar em uma dívida que sabe que demorará anos para pagar, e
comigo que te conheço desde a infância ser tão... — Dá um sorriso irônico.

Solto um suspiro. E é nesse momento que sinto como se Connor,


com sua “ajuda”, conseguisse exatamente o que eu jurei que não
aconteceria.
— Nathan, é diferente...

— Por que ele é podre de rico?

— Não, porque eu não tive escolha. E me conhece bem para saber


que tenho dignidade, nunca me permitiria ser um peso.

— Nunca será um peso pra mim, Amber. Faço porque eu...

— Por favor, eu não quero nunca te machucar, e se essas caronas têm


te passado uma mensagem errada, eu...

— Não passou, eu que sou um bobo iludido.

— Nathan, não faça isso, não me complique...

Ele concorda, então volto a abraçá-lo, o agradeço e então entro. Me


surpreendo ao ver papai ainda acordado.
— Ficou me esperando? — pergunto, trancando a porta da sala.

— Na verdade, eu fiquei pensando quando é que você e Nathan irão


assumir isso...

— Assumir o quê? — Acabo rindo. — Ele sempre foi meu amigo


e...
Papai se aproxima e me abraça.

— Querida, durante todos esses anos, eu te vi lutar por nós dois,


inverter os papéis e dedicar sua vida a mim como se eu fosse seu filho, mas
sabe que não é assim. Eu estou bem, Amber, e pra continuar assim eu quero
te ver ter uma vida sem ser trabalho e casa, querida. Nathan é um rapaz de
caráter, voltou por você, Josh me contou e...

— Pai, eu estou cansada, foi um dia exaustivo e, claro, se te faz feliz,


eu posso sim sair mais — brinco e ele faz uma careta. — Mas deixa esse
assunto para outro momento, eu preciso descansar.
Ele meneia com a cabeça, concordando, me beija e eu sigo para meu
quarto. O plano é esse, me deitar e descansar. Mas acontece o oposto, me
reviro nos lençóis, pensando como não me apaixonar, se desde que me
entreguei a ele, Connor não sai da minha mente.

Pela manhã, chego à empresa e vou direto à minha sala e encontro


Gisela parada a porta de Connor. Já no corredor é possível ouvir os berros
do nosso chefe. Agora entendo a mensagem dela com um pedido de “pelo
amor de Deus, chega logo”.

— O que é tão urgente assim? — questiono baixo.

Connor está de costas, com o telefone em mãos, só então percebo os


olhos dela vermelhos e inchados.

— Nosso chefe está com o diabo no corpo hoje, só pode. — Suspira


e logo pega o lenço para enxugar as lágrimas. — Já refiz isso umas três
vezes. Quando ele terminar, pode entregar a ele, por favor?

Sim, ela chega sempre uma hora antes de mim. A voz irritada de
Connor me assusta.

— Não, não é pago para fazer merda, a sua função nessa empresa é
otimizar os processos internos da agência, garantindo mais agilidade nas
etapas a serem cumpridas para a entrega das campanhas, então não me
venha com essa desculpa ridícula. Quer saber, resolve essa merda ou passe
no RH.

— Seja cautelosa, Augusto do financeiro será o terceiro a ser


mandado embora hoje, se não acatar o que o chefe quer.
— E o que ele quer?

— Pelo visto, tirar nossa paz — ironiza.

Pego a pasta de suas mãos, ela então deixa a sala. Connor desliga e
se vira, quando olho em meus olhos, ele rapidamente desvia o olhar.
— Cadê Gisela? — Me aproximo, e quando faço menção em
entregar a pasta, ele levanta a mão. — Eu não a dispensei, chame-a agora!
— ordena, bufando.

— Talvez eu possa te ajudar...

— Se pudesse, eu teria te chamado, mas disse Gisela, não seu nome.

Engulo em seco, ainda digerindo sua má resposta, e vou até Gisela e


a chamo, então entramos juntas.

— Entregue a pasta a ela, Amber. — Eu o faço, sem entender nada.


— Agora me entregue, Gisela. — Não acredito que ele está fazendo isso.
Gisela se aproxima e percebo suas mãos trêmulas ao entregar a pasta a
Connor. — Agora pode ir.
Feito bala de revólver, ela deixa a sala. Ainda incrédula e prendendo
os lábios para não rir, giro meu corpo em direção à porta.

— Foi bom o filme?


Volto a olhá-lo sobre os ombros.

— Ótimo.

Vejo-o contrair a mandíbula e um vislumbre de raiva passar por seu


rosto, mas Connor disfarça ao baixar o olhar para a pasta que Gisela
entregou a ele.

— Já que está aqui, traga meu café — ele ordena.

Eu penso falar algo apenas para o provocar, mas desisto, então


apenas saio e fecho a porta.

Encontro Gisela à espreita, na entrada da minha sala. Os olhos ainda


vermelhos pelo choro e o semblante assustado.
— Ele também gritou com você?

Assinto, passando por ela, que me segue.


— Ele me devolveu a tarefa de buscar o café — digo, bem-
humorada. Não posso deixar de rir do semblante de Gisela, que vê esse
simples ato como algo de extrema importância.

— Acha que ele vai me mandar embora? — pergunta, preocupada

— Claro que não.

Ela prende os lábios.

— Já o vi de mau humor, mas hoje... Ele está cruel. Ainda não


acredito que ele me fez entregar a pasta. — Ela funga, passando o lenço no
nariz.

— Não vamos deixar o mau humor do sr. Dickinson acabar com


nosso dia. — Toco de leve em seu ombro e ela assente após outra fungada.
— E não esquece que você ficou de me ajudar a encontrar o vestido para
festa.

Mencionar a festa faz seu rosto se iluminar.

— Pode deixar, tenho algumas ideias do que podemos escolher para


você.

Me despeço dela e sigo para o elevador. Acabo demorando mais do


que o esperado. A fila para o atendimento está demasiadamente longa. Sei
que Connor irá usar isso como pretexto para continuar sendo um babaca,
mas não me importo. Não irei permitir que Connor transforme meu dia em
um circo de horrores.

De volta à empresa, vejo Gisela admirando um lindo buquê de


margaridas que está sobre sua mesa.

— Que lindas! Ganhou de algum admirador secreto? — brinco, me


curvando para sentir o perfume das flores, que por coincidência, são minhas
favoritas.

Ela sorri de lado e me entrega um cartão.


— Quem me dera tivesse essa sorte. — Suspira e faz menção para
que eu leia.

“Me desculpa por ter sido um idiota ontem à noite.

Espero que as flores alegrem o seu dia.

Com amor, Nath”

Sorrio ao ler suas palavras. Nathan tem um temperamento forte, às


vezes acaba falando coisas no calor do momento, mas tento sempre não me
deixar afetar por essas pequenas coisas. Somos amigos há tanto tempo, e
agora, depois de tudo, percebo que sua preocupação e atenção vem se
redobrado. Às vezes, me preocupo que eu acabe o magoando de alguma
forma.

— É de algum admirador? — Gisela brinca, me entregando o buquê.

— Não. É do Nathan.

Ela sorri com malícia, mas seu sorriso logo se desfaz ao olhar sobre
meus ombros. Rapidamente se senta e começa a mexer no computador, não
preciso olhar para saber que Connor está nos observando. Os pelos da
minha nuca ficam eriçados, então lentamente giro meu corpo para encará-
lo.

Seus olhos caem para as flores em uma das minhas mãos.

— Estão de brincadeira comigo? O escritório está um caos, estou


lidando com funcionários imprestáveis e as duas estão fofocando? — ele
rosna, parecendo um animal prestes a atacar a presa, ou, no caso, as presas
indefesas. — Amber, ao menos trouxe meu café?

— Sim.
— Então o traga até a minha sala. — Ele desaparece do meu campo
de visão.
Puxo uma longa respiração antes de fazer meu caminho até sua sala.
A porta está aberta, então apenas entro sem pedir licença. Aproximo-me da
mesa e coloco o café na sua frente.

— Precisa de mais alguma coisa, sr. Dickinson? — Atrevo-me a


perguntar.

Seus olhos encaram as flores ainda em minhas mãos, então solta um


suspiro antes de subir até meu rosto.
Tento ignorar a sensação familiar de formigamento no meio das
minhas pernas e a agitação idiota em meu peito, quando seu olhar encontra
o meu.
— Hoje é algum dia especial?

— Por quê? — Ele faz menção para flores — Não. É apenas um


presente.

— Do seu amigo? — Ele arqueia uma sobrancelha.


— Sim.

— Quanto tempo o conhece? — Apoia os cotovelos na mesa e leva


uma mão ao maxilar, como se realmente quisesse saber.

— Desde a infância...
Ele deixa escapar um riso de deboche, então volta a atenção para a
tela do computador.
— Persistente, e beira a burrice, já que está claro que nunca vai
conseguir o que quer.

— Como sabe disso? O que acha que ele quer?

Ele levanta-se da cadeira, dá a volta na mesa e para ao meu lado.


Tento manter a postura, mas é bem difícil quando Connor está
literalmente a poucos centímetros de mim. Seu perfume amadeirado
preenche o pequeno espaço entre nós e eu inspiro profundamente, sem me
dar conta da loucura que estou fazendo.

Ele continua me encarando com ar de deboche e eu não sei o que


devo falar, mas meus olhos estão presos em sua face. A barba rala cobre
todo o contorno de seu maxilar. Sempre tive um fraco por homens de barba,
eles me lembram aqueles personagens sexys de livros de romance. Sorrio
com esse pensamento bobo.

— Vocês se conhecem há anos, ele te leva ao cinema, te busca todos


os dias, no entanto, não é com ele que...
— Que? — Arqueio a sobrancelha. Percebendo minha postura
rígida, Connor recua. — Não conhece Nathan. Ele é um cavalheiro, um
amigo leal e sabe respeitar uma mulher...
Ele ri amplamente.

— Imagino, mas não preciso conhecê-lo para saber o que ele quer.

— E o que você acha que ele quer? — pergunto, atrevida. Não é


minha intenção entrar em seu jogo, mas é impossível não fazer isso quando
ele está agindo como um idiota.
Connor ergue a mão e segura uma mecha do meu cabelo,
arrumando-o atrás da orelha. Ele se inclina para perto e inspira meu
perfume.

— Preciso mesmo dizer? — Ele afasta-se lentamente para olhar em


meus olhos. O silêncio é o suficiente para que ele entenda que não tenho
uma resposta.

— Nem todos têm a sorte de ter o que mais deseja, Amber —


sussurra, ergue a mão e contorna meus lábios com o dedo de forma sensual,
roubando-me um suspiro.

Caramba, ele é tão lindo, um babaca gostoso demais.


Connor se aproxima e roça seus lábios em meu pescoço.
— Connor, por favor, alguém pode entrar — protesto, apreensiva.

Rapidamente ele vai até a porta e a fecha, mas não tranca. E sem
dizer nada, volta para mim e atrevidamente toma as flores das minhas mãos,
jogando-as na mesa com certo desleixo.

Connor me puxa pela cintura, encaixando nossos corpos, enquanto


suas mãos descem até minha bunda. Sinto sua ereção já dura pulsar contra
meu ventre e me forço para não gemer. Provavelmente, ele percebe o desejo
em meu rosto, porque dá aquele sorriso obsceno que me desestabiliza
completamente.
Inclinando levemente a cabeça, ele roça seus lábios nos meus,
contornando com a língua a minha boca. Seus olhos abertos parecem me
estudar. O frio na barriga é tão intenso que me paralisa. Respiro
profundamente, antecipando a tempestade de prazer que ele me faz sentir.
Connor continua a me encarar, suas mãos tocam meu rosto e eu fecho os
olhos, desejando esconder como eu o quero. Ele volta a me beijar e é
avassalador, como uma onda devastando tudo. Parece loucura como meu
corpo reage a ele. Meus seios enrijecem apenas por sentir sua língua
tocando a minha. Ele me envolve com seus braços fortes e aprofunda o
beijo. Eu me sinto mais dele e mais entregue a essa loucura, se é que isso é
possível. O medo de ser pega junto ao tesão que enlouquece é uma mistura
um tanto perigosa para uma manhã agitada como essa.
— Você gosta, não gosta? — Ele segura meu queixo, me fazendo o
encarar. — Gosta de me provocar, Amber, mas não tem ideia de como isso
desperta os meus instintos mais sacanas.
— Connor, por favor, qualquer um pode entrar — sussurro, ofegante.

— Ninguém vai se atrever a entrar, não hoje.


Com facilidade, ele me ergue do chão e eu envolvo minhas pernas
em sua cintura. Ele caminha alguns passos, até que me coloca sentada sobre
sua mesa e volta a beijar minha boca com tesão. Quando nossas salivas se
misturam, amo sentir seu gosto em minha boca. Connor morde meu lábio e
eu solto um gemido, que se junta a outros à medida que suas mordidinhas
passam a descer por meu colo. Atrevidamente, ele desabotoa minha blusa e
chega aos seios, tirando um para fora do bojo antes de morder a auréola
com força. Volto a gemer mais quando ele passa a chupá-lo com força.
Connor coloca um dedo sobre meus lábios.

— Se você gemer alto eu vou ter que parar, e não é isso que você
quer — adverte de um jeito sensual.

Meneio a cabeça em negação. O simples pensamento de ele não me


tocar me deixa apavorada. Tento controlar meus gemidos, louca para que
ele continue a me beijar e me fazer novamente sua. Nesse momento, estou
pouco me importando com as possibilidades. Connor consegue me fazer ter
apenas um desejo – ser dele. Ele continua me torturando, chupando um seio
por vez. Então se afasta e abre sua calça, colocando seu pauzão tão duro
para fora.

— Me mostra o que essa boquinha atrevida e deliciosa sabe fazer.


Segura-me pelo cabelo e me faz ajoelhar à sua frente, colocando seu
pau enorme, duro e pulsando na minha boca. Eu nunca fiz, mas isso não o
impede de meter seu pau em minha boca. Começo a chupar e ele me segura
com mais força pelo cabelo, me faz mexer a cabeça vigorosamente.

— Me faz gozar, vai — ele diz, gemendo.

Continuo a chupar com desejo, mesmo não sabendo se estou fazendo


certo. Levanto o olhar e vejo em sua face a expressão de puro êxtase. A
cabeça levemente inclinada para trás, a boca deliciosa entreaberta. É a
imagem mais perfeita que já vi. Me sinto poderosa e muito excitada em
saber que sou capaz de dar prazer a ele. Connor continua fazendo minha
cabeça movimentar e não demora para que eu sinta sua porra quente
descendo por minha garganta. O gosto amargo e ligeiramente salgado me
faz lembrar a ostra, agora entendo o porquê de ele ter pedido aquilo no
nosso jantar.
— Puta que pariu! Eu não poderia ter desejado uma manhã melhor
que essa. — Ele sorri, convencido.
Connor estende a sua mão e me ajuda a levantar, então passa a mão
pelo cabelo e beija meu rosto, antes de ir ao banheiro. Ajeito a minha roupa
e cabelo e vou até a mesinha, pegando um copo de água da jarra. A água
desce pela garganta ainda com seu gosto, enquanto meu olhar está fixo na
rua movimentada de carros. Segundos depois, sinto seu abraço e logo em
seguida um beijo em meu pescoço.
— Acho que estou em dívida com você — sussurra.

Eu me viro, encarando seu rosto sem entender.

— Se for pelas flores que jogou, está sim — falo com charme e beijo
sua boca. É a primeira vez que parte de mim o beijo. Connor corresponde
com intensidade, e olhando em seus olhos, eu me pergunto se existe um
manual de instruções sobre não se apaixonar.

Ele sai para uma reunião e eu e Gisela combinamos de vermos


alguns vestidos no horário do almoço. E quando estou entrando no
elevador, meu celular começa a tocar. Eu o pego da bolsa e sou
surpreendida ao ver o nome de Nathan na tela. Não havíamos nos falado
desde a noite passada.

Penso em ignorá-lo, assim como ele costuma fazer comigo quando


está chateado, mas a lembrança das flores amolece meu coração.

— Oi
— Oi, garota! Que bom ouvir sua voz. Por um momento, pensei que
não fosse me atender.

— Cogitei essa hipótese, mas recebi suas flores e elas me fizeram


atender.

— Sinal de que eu acertei na escolha — brinca. Lógico que acertou,


ele sabe que amo margaridas.

Ouço sua respiração do outro lado e posso até visualizar o pequeno


sorriso em seus lábios.
— Isso significa que posso te buscar hoje? — ele pergunta,
parecendo hesitante.
— Claro, Nathan. Te esperarei.

— Certo, perfeito.

— Obrigada pelas flores, eu amei.


— Muito bom ouvir isso, te vejo mais tarde.

— Tudo bem, mas não esquece a questão do combustível, sim?

— Aham.

Encerro a ligação e encontro com Gisela na recepção da empresa.


Com sua ajuda, escolho um vestido preto e evasê longo, com uma fenda na
coxa. Ele é de alças finas e com decote em v profundo nas costas. Lindo,
por sinal. Gisela afirma que estou maravilhosa nele, que caiu perfeitamente
em minhas curvas. O dela também é longo e estilo sereia, ombro a ombro.
Voltamos à empresa, e claro que ela nota a mudança de humor de
Connor no decorrer da tarde, porém, não o vejo mais depois que ele segue
para uma reunião com clientes. Somente quando estou indo me encontrar
com Nathan é que o vejo vindo de óculos escuros, mas ele passa por nós e
nem mesmo um boa noite nos dá.

O que é contraditório, já que na terça-feira, mal chego e ele ordena


que eu tranque a porta. Sim, ele faz isso, e temos nossa maravilhosa
rapidinha pela manhã. E não importa o quanto eu tenha ficado chateada por
suas atitudes de me ignorar sempre que me vê com o Nathan, Connor
sempre dá um jeito de me fazer esquecer todos os motivos que deveriam me
fazer fugir dele.

E eu, que tinha uma vida sexual nula, passo a transar com meu chefe
todas as manhãs. Na sexta, estranho o fato de ele ainda não ter chegado,
então, antes de ir buscar seu café, passo pela sala da Gisela e vejo que a
agenda dele está aberta no computador. Espero apenas que ela saia para
vasculhar, sei que não deveria fazer isso e sinto que posso me decepcionar
com o que encontrar ali, mesmo assim eu o faço e é inevitável o aperto no
peito quando vejo que ele continua se encontrando com essas mulheres em
jantares. A última foi Angelina Paytron, a modelo famosa de Portivil.

Não sei por que me sinto triste ao saber disso. O que eu esperava?
Que Connor Dickinson renunciasse aos seus encontros com essas mulheres
lindas e ricas por causa de suas fodas matinais com sua assistente? Eu já
deveria saber que nosso relacionamento não passaria de transar às
escondidas em seu escritório, para amenizar seu mau humor.

No final, eu que fui burra por aceitar ser mais uma na sua lista.

 
Gostaria de dizer que todo o estresse que venho sofrendo esses dias é
por conta da ansiedade com a apresentação da campanha de publicidade da
Freedon, um dos nossos clientes mais importantes. Todos os anos, passamos
pelo mesmo processo e é sempre desgastante, mas não é apenas isso. Como
se não bastasse todo esse estresse, eu que jurei que seria apenas uma foda,
mas não consigo manter minhas mãos longe da minha assistente. Já era
difícil a tarefa de não a desejar antes de tê-la em meus braços, e agora isso
tornou-se quase impossível. Todos os dias, cinco tomadas da mesma velha
cena. Sempre que estamos no mesmo lugar, a louca necessidade de tocá-la e
fodê-la, de sentir o quanto ela é vulnerável, doce, sexy e, puta que pariu, sua
boceta deliciosa. Porra!

Após a morte de Hanna, me tornei um jogador e gostava de ter o


controle da situação. Eu gostava de seduzir, ter o que desejava e apenas
partir para a próxima. Admito que foi burrice da minha parte achar que com
Amber, que vejo todos os dias, seria igual. Não importa quantas vezes eu a
foda, sempre quero mais.

Com ela, parece que estamos sujeitos às leis da mesma rotina. É


piegas dizer que Amber é diferente das outras mulheres, no entanto, isso é
verdade. Ela é diferente, e não digo isso por ser inexperiente e tenha se
entregado a mim, mesmo sabendo que não passaria de sexo. Vai além disso,
é aquele sentimento ridículo que me faz recuar após nosso sexo, que me faz
engolir a porra do orgulho quando a vejo ir com o amigo. No entanto, é
mais fácil fingir indiferença e tratá-la como se ela fosse apenas mais uma
das inúmeras fodas que tive, do que admitir que se eu tivesse um pingo de
dignidade, me afastaria dela antes de machucá-la.

Não sou bom para Amber. Sei que apesar de ela agir como se não
esperasse mais, como qualquer mulher sonhadora, ela deseja mais... elas
sempre desejam.

E parte de mim sabe que eu deveria fazer o certo ao acabar com essa
merda e seguir minha vida fingindo que Amber não mexe com um lado meu
que pensei que já não existia. Só que me afastar fica difícil, quando sei que
existe um outro homem desejando o que tenho.

— É só a porra de um jogo para você. — Foi o que Manson disse.

E talvez a resposta esteja justamente em me sentir tão incomodado


com aquele moleque. Eu posso ver na forma como ele a olha, a maneira
possessiva que a abraça, principalmente quando nota a minha presença.
Mas Amber é inocente demais para perceber as reais intenções do seu
amigo, camufladas na sua bondade.

Raras são as vezes que ele não vem buscá-la. Poderia até numerar os
dias nas últimas semanas em que Amber foi embora sozinha.

Eu detesto o sentimento de posse que toma conta de mim sempre que


os vejo juntos, como um animal irracional querendo tomar o que é dele.
Mas esse é o cerne da questão, ela não é minha. A merda é que eu vou para
casa, tento esquecer essa porra e tudo que fica no pensamento é a ideia de
ele a tocando, mesmo que em um simples abraço. Mas não posso deixar
isso transparecer, então sigo meus dias fingindo que não estou puto com
todos esses sentindo conflitantes dentro de mim.

Sair com outras mulheres também não me ajudam a esquecer meu


sexo com Amber. Porque, sim, sei que serei taxado de canalha escroto, mas
fiz isso. Só que essa menina é como um vírus, infectou a porra do meu
cérebro e tudo não passou de uma conversa de meia hora, comigo deixando
o bar sem ressentimento ou vontade alguma. Amber é aquele tipo de vírus
que te contamina silenciosamente.

Merda! Preciso me livrar desses pensamentos antes que enlouqueça


de verdade.

O foda é que algumas pessoas começaram a notar. Lexie vive


dizendo como estou mudado e é estranho, porque desde que Hanna se foi e
eu passei pelo processo de luto, mantive Lexie por perto, com o pretexto de
sentirmos a mesma perda e dor. Sempre a vi com carinho e faço questão de
cuidar dela como se fosse uma irmã. Ela sempre foi meiga, sensível e muito
reservada. Ao contrário de Hanna, que era muito comunicativa, espontânea
e até mesmo atrevida. Elas tinham personalidades opostas, e acredito que
foi isso que me fez me envolver com Hanna.

Não recordo a última vez que vi Lexie com um namorado, e sempre


que a questiono ela desconversa. Agora sei os motivos que a levaram a
tomar a decisão de ficar sozinha. Lexie tem esperanças de que um dia eu a
note como mulher, e confessou isso abertamente, o que, claro, me deixou
desconsertado.

A lembrança daquela noite ainda é viva em minha mente. Foi um


choque ter que ouvir suas palavras.

"Eu te amo, mas você não consegue enxergar isso, porque tudo o
que vê quando estamos juntos é a imagem da minha irmã."

Tentei fazer com que ela enxergasse todos os motivos que faziam
aquela situação ser absurda e, sim, o fato de ela ser irmã gêmea da Hanna
estava no topo. Mas de tudo, acho que o que mais me afetou naquela noite
foi o fato de Lexie insinuar que Hanna não era quem eu sempre pensei.

E quando a questionei sobre o queria dizer com isso, Lexie apenas


me disse que se eu queria mesmo saber a verdade de quem era a Hanna, eu
deveria investigar Alexander Finar.

Se em algum momento naquela noite me senti mal por Lexie me


amar e saber que nunca seria recíproco, mudou quando ela quis jogar a
imagem da minha noiva na lama. Brigamos, obviamente brigamos, e fiz
questão de ir embora e não retornar suas ligações nos dias que se passaram.

Mesmo que suas palavras estejam martelando em minha mente


desde então, me nego a cair em seu joguinho. Estive com Hanna durante
anos e ela nunca me deu motivos para desconfiar do seu caráter.

Quando o relógio desperta na sexta pela manhã, ainda com a mente


formigando, pela primeira vez em anos, me permito ficar um pouco mais de
tempo na cama.
Angelina Paytron rejeitou todas as ofertas para estar na campanha de
Mathews, ele a quer de qualquer forma. Mas assim que a vi, acompanhada
pelo marido e não com seu empresário, disse ao meu gestor de publicidade
que era um caso perdido. Ela claramente está em outro momento da vida.
Pelo que entendi, vendendo cavalos de raça e gastando os milhões,
enquanto se dedica ao papel de mãe e esposa. Lembro-me que quando li a
notícia, achei surreal uma mulher no auge na fama, deixar tudo para cuidar
de marido e filhos, mas olhando para os dois, que apesar de terem sido
receptivos, pareciam cansados dessas propostas. Por um momento, eu me
perguntei se também chegarei a isso um dia, e imediatamente pensei em
Amber e o que ela quer para sua vida. E basta apenas isso para a porra da
garota voltar, dominando cada pensamento.

Ignoro a ligação de Gisela, em seguida de Manson e, claro,


Mathews. Ele é o último que quero falar hoje, porque antes de contar sobre
a negação de Paytron, preciso ter uma segunda opção. Merda!

Levantar e me preparar para empresa acontece de forma automática.


Quando finalmente chego e entro em minha sala, Amber não me recebe
com um bom dia, e pela forma como evita me olhar, sei que tem algo
errado.

— Não vai fechar a porta — digo, quando ela me entrega o café que
está frio, por sinal.

— Que poder de observação.

Franzo o cenho, deixando o café de lado e estudando seu semblante.

— Tem algum problema comigo, Amber? Ou seu estresse se dá


porque teve uma noite desagradável ao lado do seu amigo? Ontem foi
quinta-feira, não é o dia do cinema? — ironizo.

Que porra estou fazendo?

Ela direciona seu olhar para mim pela primeira vez desde que entrou.
Há amargura, raiva, um toque de decepção e, claro, sinto-me incomodado
com isso.

— Não ouse questionar o que faço quando você continua com seus
compromissos noturnos.

Me seguro para não rir.

— Posso saber do que estamos falando?


Ela ri sem humor.

— Eu sei que esteve com a Angelina Paytron. E não só com ela... —


Amber deixa a frase suspensa no ar, então me dou conta do que está
acontecendo aqui.

Ela teve acesso à minha agenda que Gisela é a responsável. É claro


que deve acreditar que todos os compromissos que Gisela é responsável são
com mulheres que estou transando. Lógico que eu poderia falar a verdade a
ela, dizer que ela está errada em pensar que estou transando com outras
mulheres, mas não o faço. Em vez disso, aproximo-me dela e paro a apenas
um passo. Sinto desejo de tocá-la, mas me controlo.

— Você realmente acha que preciso pedir que minha secretária


organize minhas noites de foda? — Minhas palavras soam rígidas. O
choque em sua face é transparente por alguns segundos, antes de ela se
recompor. — Primeiro, se precisasse, seu nome constaria na lista, e outra, a
modelo é casada, estava acompanhada do marido e com os dois filhos. —
Ela baixa o olhar, envergonhada. — Segundo, eu não me importo que saia
com seu amigo, não te peço satisfação do seu tempo livre, porque eu sei
exatamente o que existe entre nós. O que me leva a perguntar por que está
se importando tanto com meu tempo livre, se as regras já estão claras?

— É, você tem razão, não tenho que me importar. Na verdade, é o


oposto. Preciso mudar isso e me importar com quem realmente se importa,
o que não é nosso caso. — Sua voz soa rouca, profunda, com o olhar
intenso preso ao meu.

— Amber, eu só estou tentando te proteger...

— De você. Eu entendo. Mas não do seu pau, já que ele e seu


coração andam em caminhos diferentes. Tudo bem. Agora, se me permite,
como sua assistente, devo informar que o senhor tem uma reunião às nove.
Melhor ir antes que se atrase.

Há um limite para a burrice? Acabei de descobrir que não, porque


ultrapassei jogando Amber nos braços daquela merdinha do amigo.
E isso é uma merda, porque a primeira reunião passou, a segunda irá
iniciar e estou feito um idiota, sentado em minha cadeira pensando que
todos esses anos eu me esquivei de ter outra pessoa em minha vida pelo
medo terrível de sofrer. Foram tantas noites cansado de chorar, de amar
alguém que não voltaria, então, quem pode me culpar por ser assim?

Mas, porra, eu me importo. Acho que me importo desde o dia que vi


seu rosto pela primeira vez.

Estou com a equipe de planejamento, em brainstorm, para discutir o


conteúdo do briefing das novas campanhas e como executá-lo. Após minha
aprovação, eles encaminharão todas as informações para a área de
atendimento para organizar e reparar as ações que serão realizadas pelos
demais setores. É importante, muito, mas tudo que fica rodando na minha
cabeça é Amber com o amigo.

Mal respondo quando sou consultado, confiro tantas vezes as horas


que fica evidente meu desconforto. Quando finalmente Ronny finaliza a
reunião, sou o primeiro a sair, indo direto para a minha sala e a encontrando
vazia. Vou até a sala da Gisela, então vejo Amber no corredor. Quero me
desculpar, mas ela está de costas e no telefone. Não é minha intenção
escutar sua conversa, mas acontece.

— Nathan, não, eu preciso de um carro econômico e você entende


disso. Não quero continuar a ser um peso para você. — Com certeza, o
babaca deve estar dizendo o contrário, porque o tom de voz dela tão meigo,
e nunca usado para se dirigir a mim, parece alcançar outro patamar. — Eu
sei que não, Nathan, como também sei que sempre posso contar com você.
Mas não posso ser um peso para a pessoa em quem eu mais confio e amo.

Engulo em seco. Ouvi-la me faz paralisar e aquela sensação estranha


percorre meu corpo.

— Nath, não existe pessoa nesse mundo que eu confie mais que
você, sabe disso. Agora preciso ir, e se puder ir jantar comigo e papai, eu
vou preparar panqueca. Ainda está entre seus pratos preferidos? — Ela ri e
se despede, então o elevador se abre e Amber entra.
Ela cozinha para o amigo, vai ao cinema, confia a ponto de deixá-lo
escolher o carro, mas fode comigo — literalmente. Solto um suspiro,
percebendo que sim, tem um imbecil nessa história, mas sou eu, não ele.
Porque ao contrário de mim, ele quer o coração dela. E está conseguindo.
Merda!
Volto à minha sala, tão puto comigo, com ela, com toda essa merda.
Vou até minha mesa e ligo para Caroline, que atende rapidamente.

— Caroline, confiando em seu bom gosto, que carro gostaria de


ganhar? — Minha irmã leva um susto, depois ri.
— Primeiro, eu não preciso de um carro, tenho vários. Por que quer
me dar um?

— Não disse que é para você — falo e ouço a risada de Manson ao


fundo.
— Range Rover seria perfeito. — É Manson que responde,
intrometendo-se onde não foi chamado. Claro que ele vai querer usar isso
contra mim da próxima vez que nos encontrarmos.

— Obrigado pela ajuda.


— Posso saber para quem é o presente? — Caroline pergunta, com
um toque de humor e malícia na voz. Ao fundo, e a ouço fazer a pergunta a
Manson, que responde imediatamente que não sabe.
— Ei, não é para ficarem falando sobre minha vida — brinco e os
dois riem. Antes que ela fale mais alguma coisa, encerro a ligação.

O próximo a ser contactado é Augustus, do setor de finanças.


Brevemente dou ordens para que ele vá até a concessionária de um dos
nossos clientes e compre o carro que Manson sugeriu. Peço que escolha um
vermelho, e de preferência, que entreguem na empresa ainda hoje. Estou
ansioso para ver a reação de Amber ao ganhar o carro. Afinal, se a porra do
amigo é considerado herói por levá-la para escolher um carro, eu sou o cara
que pode lhe dar um. E vou dar.
Com a sensação de leveza dentro do peito por fazer algo bom para
Amber como forma de me desculpar por ter agito feito idiota, volto ao
trabalho. Ainda tenho outra reunião antes do falar com a equipe de
Mathews sobre a recusa da modelo. Precisamos acertar os últimos detalhes
do nosso encontro que acontecerá na próxima semana. Logo em seguida,
tenho outro compromisso com Jones, meu futuro cliente, em um almoço de
negócios. Espero que quando eu voltar, o presente de Amber já esteja na
empresa.

Tive a impressão de que os segundos se tornaram horas desde meu


pequeno desentendimento com Amber. As reuniões foram cansativas e
muitas vezes me forcei a manter o foco para não cometer nenhum erro.
Qualquer descuido que eu tivesse poderia causar grandes estragos. Mas
graças aos céus, mesmo com minha mente presa em Amber, consegui não
fazer nenhuma besteira. Quando chego ao estacionamento, avisto Augustus
conversando com um homem alto, usando o uniforme da agência de carro.
Ele assina alguns papéis e entrega as chaves do Range vermelho que está a
poucos metros de onde estou. Espero que o homem se afaste para que eu
caminhe até Augustus.

Ele me entrega os papéis e as chaves do carro antes de sair, então


sigo para meu escritório, ansioso para encontrar Amber.

Quando as portas do elevador se abrem, a primeira coisa que vejo é


Amber e Gisela conversando distraidamente. Gisela mostra algo para
Amber no celular que a faz sorrir. Acho que é a primeira vez que a vejo
sorrir dessa forma. É algo genuíno, verdadeiro. Ilumina seu rosto de
menina, então me dou conta que gosto de vê-la sorrir e que isso não é algo
que ela faça nos nossos momentos juntos. Já com amigo... Pare, Connor.

Tento afastar o pensamento e sigo meu caminho. Quando elas


percebem minha chegada, tentam disfarçar que não as peguei no flagra,
com assuntos aleatórios que não envolvem o trabalho.

Gisela me dá um aceno de cabeça e finge estar trabalhando. Amber


me segue em silêncio, mas antes que se sente em sua cadeira, eu peço para
vir comigo até meu escritório. Meu telefone toca, e ao ver que é Rony, meu
agente, eu atendo. Ele está contatando a equipe da segunda modelo.

— Senhor, o agente da srta. Madison nos informou que a agenda está


um pouco limitada.

— Dobre o valor que rapidamente eles abrem uma vaga. — Acabo


rindo. — Todos têm um preço, alguns alto, outros nem tanto, só precisa
descobrir e bingo, irá tê-la em nossas mãos.

Desligo e Amber passa por mim sem fazer contato visual. E eu,
como o louco que sou, inspiro seu perfume já tão familiar e me amaldiçoou
por sentir saudade de estar nela, mesmo tendo a fodido no dia anterior.

Fecho a porta e caminho até ela, que está parada em frente à minha
mesa. Amber olha para qualquer canto menos para mim, está
desconfortável e irritada. Estranhamente isso me incomoda e acende meu
desejo, mas complica ao ponto de não saber como conduzir essa conversa
sem acabar falando alguma merda.

Odeio sentir que estou perdendo o controle da situação.


— Você está chateada comigo.

Seu suspiro irritado não passa despercebido. Claro que eu não


poderia começar essa conversa de forma mais ridícula.

— Connor, por favor. — Sua voz é baixa e seu olhar continua


insistindo em não focar em mim.

Dou alguns passos até ela e Amber recua, batendo na mesa. Paro,
sabendo que seu jeito é um alerta para que eu não avance.
— Fui um idiota com você mais cedo e te devo um pedido de
desculpas. — Surpresa por minha atitude, ela volta seu olhar para mim. —
Talvez eu tenha me excedido e isso pode dar margem a interpretações
errôneas.
Ela meneia com a cabeça, incrédula.

— Não me peça desculpas por isso. Pelo contrário, eu quem deveria


te pedir desculpas, afinal, me intrometi na sua vida pessoal, invadi seu
espaço e me comportei como se você de alguma forma me devesse alguma
satisfação. Você, por outro lado, apenas me colocou no meu lugar. Então
não precisa me pedir desculpas, porque eu entendi perfeitamente o que você
quis me dizer — ela ironiza.

Merda! Não vai ser do jeito fácil.


— Você está interpretando toda a situação de forma errada.

— Sério? — Ela ri, demonstrando cansaço — Ah, mas você não


erra, Connor, nunca, eu que não soube interpretar suas palavras, porque
você só está tentando me proteger. Mas suas ações são contraditórias — ela
desabafa. A voz firme e triste, lágrimas brincando em seu olhar. — Eu
queria não me importar, mas estava errada quando pensei que poderia jogar
o seu jogo sujo com a mesma frieza e maestria que você. Tinha razão
quando disse naquela noite antes de irmos para seu apartamento que temos
objetivos opostos.

Ela faz menção de sair, mas rapidamente seguro seu braço. Seus
olhos caem para a minha mão e permanecem ali por algum tempo. Inclino-
me sobre ela, colocando os papéis e as chaves sobre a mesa e usando a mão
agora livre para tocar sua face. Ela fecha os olhos e um suspiro pesado
escapa de sua boca.

— Amber, eu estou arrependido — sussurro, trazendo seu rosto para


mim. Roço meus lábios em sua bochecha e ela estremece em antecipação.
Ergo seu queixo para que meus olhos possam estudar sua face. — Me
desculpe, você é importante pra mim.
Ela não diz nada, e por que diria?
Dou um sorriso de lado antes de beijar seus lábios. Ela não resiste ou
me afasta, pelo contrário, assim como as outras vezes, Amber corresponde
meu beijo com entrega e eu adoro a sensação de tê-la em meus braços.

Passeio as mãos em seu corpo e ela geme, agarrando-se a mim com


urgência. E se não fosse a última reunião que terei em poucos minutos,
arrancaria suas roupas e a foderia no meu sofá.

— Por que não terminamos essa conversa no jantar? Prometo que


não vou te levar para comer ostras, como da outra vez — sugiro, ao me
afastar.

— Não posso. Já tenho compromisso.


— Com seu amigo? — Eu sei a resposta, mas pergunto do mesmo
jeito apenas para ouvir o que ela tem a dizer.
Amber meneia a cabeça de forma positiva.

Tento disfarçar meu desagrado por ter sido dispensando por causa do
merdinha e a puxo para perto, com o intuito de beijá-la. Amber espalma a
mão na frente do meu peito e me afasta.

— Connor, melhor não — pede, mas não se afasta, então eu a puxo


novamente e dessa vez ela apenas aceita o meu carinho.

— Tenho um presente para você. — Dou um beijo no alto da sua


cabeça e me afasto alguns passos para pegar os papéis e as chaves do carro.
Estendo em sua direção com entusiasmo.

— O que é isso? — questiona, confusa.


— Eu sei que não sobrou muito do seu antigo carro para consertar
depois do acidente, e como você está sempre pegando carona seu amigo,
pensei em facilitar sua vida.
— Você comprou um carro para mim? — Ela arregala os olhos, me
fazendo rir da sua reação.
— Tomei a liberdade de escolher. É um Range Rover vermelho, mas
se não gostar, podemos trocar por algo do seu gosto.
Ela me encara e eu espero aparecer algum vislumbre de emoção que
não seja incredulidade em seu rosto.

— Você é inacreditável! Por um momento, pensei mesmo que seu


pedido de desculpas fosse verdadeiro. Mas usou isso apenas para me
manipular. O que acha que sou? Uma marionete? — Ela eleva a voz e,
sinceramente, não consigo entender a razão para tudo isso. — Acha que
pode agir como se eu fosse um nada e depois me compensar com um
presente caro? Ah esqueci, todos tem um preço, alguns altos, outros não. É
só descobri, não é? Mas adivinha, você errou. Não estou à venda, Connor
Dickinson. — Ela bufa, raivosa.
— Você está distorcendo as coisas, Amber...
— Não estou, não! Você está colocando preço em mim! Primeiro,
quitou a minha dívida, e nessa cabeça louca achou que minha virgindade
talvez seria um preço justo. A burra aqui caiu no seu joguinho. Agora, me
compra um carro porque quer continuar tendo suas fodinhas matinais. O
que virá depois? Pensa em me comprar uma coleira? Ou talvez uma
mordaça, já que preciso ficar calada sobre o que acontece aqui.
— Ah porra, garota, você entende tudo errado mesmo.

— E, claro, o problema está em mim. Chega, isso é demais! Talvez


tenha razão, eu não sou boa o suficiente para Connor Dickinson, o grande
CEO, exibir por aí, não como as mulheres que ele costuma se deixar
fotografar. Mas talvez ele me dê um apartamento, isso facilitaria muito
nossas fodas, não é?
— Amber, é apenas um presente.

— Você está tentando me comprar, Connor, e acha que eu sou idiota


demais para não perceber. É assim com seus funcionários, assim com as
pessoas à sua volta, e não seria diferente com mulheres que passam por sua
cama. Você as trata como um produto descartável, e as que não aceitam,
mima com presentes caros, colocando um preço. Mas fique sabendo que a
minha dignidade não tem preço. — Ela respira fundo e passa o dorso da
mão nos olhos, na tentativa de impedir que as lágrimas caiam.

Ainda estou chocado com sua reação, esperava tudo, menos isso.

— Quando me entreguei a você foi porque quis. Não esperava nada


de você além de um pouco de respeito. E agora está agindo como se eu
estivesse me vendendo...
Dou as costas para ela e respiro fundo, tentando procurar as palavras
certas antes de voltar a encará-la.
— Amber, é impressionante como não consegue enxergar bondade
em nada do que faça para você. E é fácil se ver como a vítima quando você
se coloca nesse pedestal de mocinha perfeita e me julga o pior dos homens.
Um manipulador escroto do caralho. Mas não foi bem assim e sabe disso.
Agora, se te ofende tanto aceitar o meu presente, posso encontrar alguém
que ficará muito feliz em recebê-lo.

Afasto-me dela e dou a volta na mesa. Retiro o telefone do gancho e


peço que Gisela venha até a minha sala. Não demora muito até que ela bata
à porta e entre. Ela olha rapidamente para Amber, que mantém os olhos em
mim.

— Gisela, você está tem sido uma excelente funcionária e gostaria


de te agradecer por seus esforços.
— Obrigada, sr. Connor — diz, sem entender.
— Não, não é só isso. E para te mostrar que eu não sou um chefe
babaca e idiota... primeiro, gostaria de saber se te ofende aceitar um
presente meu.

Ela sorri sem jeito e Amber revira os olhos.


— De maneira alguma, me sentiria honrada.
— Ótimo. — Faço menção para que ela se aproxime e lhe entrego as
chaves do carro.
Ela tem a reação que eu esperava que Amber tivesse.

— Meu Deus, sr. Dickinson! Está falando sério?


Assinto e me forço a sorrir.
— Ah meu Deus, eu não acredito. — Ela pega as chaves das minhas
mãos e sorri em êxtase pelo presente. — Posso te dar um abraço? —
pergunta, ainda emocionada. Faço um gesto afirmativo, então se aproxima e
me abraça. — Eu nunca tive dúvidas... quando estava prestes a entrar aqui,
recebi mais duas propostas e nunca sequer cogitei a hipótese de aceitá-las.
Eu tenho orgulho, sr. Dickinson, de vestir a camisa da empresa, saiba que
estou sempre à disposição para o senhor...
Nos segundos seguintes não consigo prestar atenção no que ela fala,
pois estou preso no sentimento estranho que me domina ao ver Amber pedir
licença e deixar minha sala.
Connor segue para a reunião, deixando uma Gisela abobalhada em
minha sala. Ainda estou digerindo tudo isso, pensando quando foi que me
tornei essa idiota que aceita e se contenta com migalhas. Me sento à minha
mesa e vejo Gisela vir sentar-se à minha frente, lendo os documentos.

— Eu sabia que um dia seria recompensada pelo meu esforço, mas


um Range? Tem ideia de como estou, Amber?

Me forço a sorrir, me sentindo péssima. Espero a euforia dela passar,


e quando ela vai para a sua sala, posso desabar, correndo para o banheiro e
chorando de soluçar. Por quê? Por que dói tanto se eu não sinto nada por
ele?

Volto à sala ainda secando as lágrimas e dou de cara com Gisela.


Antes que ela deduza que estou assim pelo carro, invento a primeira coisa
que me vem à mente.

— Nathan... — sussurro, não conseguindo conter as lágrimas.


— Ah, coitadinha. Ele sofreu um acidente? — Nego. — Terminou
com você?

Merda! Levo a mão ao rosto e confirmo, então ela vem até mim e me
abraça.

— Ah, querida, não fique assim, nenhum babaca merece nossas


lágrimas. — Tenta me consolar. — Olha, eu já passei por isso e...

— Já se apaixonou? — pergunto rapidamente. Ela confirma, então


voltamos à minha mesa. Assim que ela se senta à minha frente, toca minha
mão. — Então, sabe a diferença de um homem que só quer se aproveitar ou
alguém que...
— Que te ama? — ela completa. — Você percebe, e se está com
dúvida é sinal de que Nathan não sente nada por você.

Droga, tento não chorar, mas acontece o oposto.

— E intimamente, tem diferença?


— Fala no sexo? — Confirmo. — Ah, querida — coça a cabeça —,
amor é repleto de sentimento, cheio de sintonia, carinho, é muito mais sobre
dar prazer do que receber. O sexo é químico, físico, carnal, mais egoísta
também. — Suspiro. — Fodas você dispensa sem remorso, Amber, e digo
mais, quando fizer amor com alguém, nunca mais vai se contentar com uma
foda. Mas o essencial se quer evitar decepções, diminua as expectativas, é
clichê, eu sei, mas não deixa de ser verdade. Agora, Amber, não pense que
estou alheia ao seu sofrimento, mas quero ter a chance de esfregar meu
carrão na cara do pessoal do RH — diz, sorrindo. Ela é tão sincera que não
consigo não rir e acenar positivamente.

— Obrigada, Gisela.
Ela toca minha mão em uma carícia rápida e deixa a sala.

Penso sobre isso e me dou conta de que nunca houve um beijo cheio
de amor, nem promessas, sempre é sobre prazer e foda. Está claro que com
Connor eu nunca vou ter um relacionamento de verdade. Sua voz ao
telefone dizendo que todos têm um preço me faz quase vomitar, porque, no
fundo, acho que foi tudo sobre isso. Eu entrei em sua vida, e após investigar
a minha, ele estipulou meu preço.

A tarde passa e eu não consigo me concentrar em mais nada. Até


mesmo a proeza de me fazer afogar em meus pensamentos Connor
consegue. E se Gisela já não se aguentava pelo coquetel de lançamento da
campanha da Freedon que será amanhã, agora, com o carro, a mulher só
sabe falar disso.

A volta para casa parece ainda mais solitária do que normalmente


costuma ser. Pela janela do ônibus, vejo um casal de mãos dadas e isso só
me confirma que nunca, em hipótese alguma, seremos assim. E toda essa
contradição me leva à próxima pergunta. Por que continuar com isso se no
final só vou me machucar?

Em momentos como esse, nossa memória parece ainda mais vívida,


quase posso me ver na sala da minha casa quando ele surgiu com a proposta
de emprego. Eu me vejo rebatendo, afirmando que ele não me teria em sua
cama, que eu tinha dignidade. E onde estava minha dignidade quando o
deixei me foder, porque nem mesmo na minha primeira vez ele tentou ser
mais calmo. E depois se comportou como se aquilo não fosse nada, como se
eu não fosse nada. E o que a idiota fez? Continuou a foder com ele, como se
só o fato de me fazer gozar desse a ele o bilhete livre para me tratar como
sua putinha.

Merda, Amber!

Novamente sinto as lágrimas e é humilhante, como se algo estivesse


morrendo em mim. Uma dor tão indigna, vergonha, tudo...

Quando desço no ponto perto da minha casa, dou passos rápidos e


entro como um furacão, correndo para o banho. Desmorono, chorando por
mim, pela minha merda de sorte e por ter sido tão ingênua. A verdade que
dói tanto admitir é que eu acreditei, sim, no fundo, eu acreditei que era
especial, que ele se apaixonaria por mim. Mas foi só ilusão.

Saio do banho e após vestir qualquer coisa, cá estou eu, procurando


maneiras de me machucar mais ainda. Abro o Google e digito Connor
Dickinson, então clico em imagens e lá está a verdade que de tão amarga é
difícil engolir. Todas elas, tão mais perfeitas, e como disse Gisela,
cheirando a alta costura. E quem eu sou pra ele? Nada, sequer conseguiria
me imaginar em uma foto assim, porque eu não ficaria bem ao seu lado.

Abro uma foto dele com a noiva.

— Ela era especial? Costumava foder sua noiva como me fode,


gemia no ouvido dela dizendo obscenidades como faz comigo? Ou você só
fazia amor com ela? Você a fazia se sentir especial, ou costumava fazer o
que faz comigo? Conseguia ser fiel? Ela era o suficiente?
Solto todo ar dos pulmões e sinto que dói de um jeito que não
consigo ignorar. O mais difícil de admitir é que dói porque estou me
apaixonando por ele. E querendo mesmo chegar ao ápice da dor para
finalmente arrancá-lo de mim, abro seu Instagram e vasculho cada foto.
Vejo que ele ainda mantém Hanna Cooper ali, até mesmo prestou
homenagem no aniversário de morte, e depois de já ter me fodido! O mais
bizarro são os comentários de muitas das suas fodinhas. Vejo todas as fotos
deles e percebo que ele a olha como se não existisse nenhuma outra mulher,
com adoração, desejo e amor. Isso é amor. Agora entendo que ele não se
importa, nunca se importou. Connor não dá a mínima para mim.

Sozinha em meu quarto e chorando de soluçar, decido que não posso


continuar nisso, não mesmo. Não posso sempre sentir falta de quem não
deveria. E por mais que eu precise desse emprego, às vezes é preciso
queimar algumas pontes para criar uma distância e se curar. Foi assim com
minha mãe, vai ter que ser assim com Connor.

Enxugo as lágrimas e saio do quarto, encontrando papai e Nathan à


minha espera.

— Oi, filha, estava agora mesmo perguntando ao Nathan quando


vocês vão assumir esse romance. Você não me deu uma resposta, quero ver
se o Nathan vai me dar um pouco de esperança aqui.

— Por favor, pai — digo, constrangida. Será que sempre esteve tão
óbvio assim? Será que sou tão ingênua que não enxergo as reais intenções
das pessoas que me cercam?

— Pois é, David, se dependesse de mim já teríamos assumido. Eu


seria o homem mais sortudo do mundo, se ela me desse uma chance. —
Nathan entra no joguinho do meu pai. Mesmo que ele esteja agindo como
se não passasse de uma brincadeira, nós dois sabemos que não é. Porque
suas palavras são tão verdadeiras como a dor que sinto em meu peito.

— Vocês dois são tão bobos.

Aproximo-me do meu pai e beijo seu rosto, antes de ir até Nathan e


o abraçar. Quando seus braços se prendem ao meu redor, sinto que estou em
um lugar seguro, calmo, é uma pena não sentir toda aquela emoção de
quando estou nos braços de Connor. Essa comparação me faz recuar. É
errado isso. Nathan e eu somos amigos. E Connor, bem... Ele é apenas um
erro.

— Oi, garota. — Nathan me dá um sorriso doce e sua mão coloca


uma mecha do meu cabelo recém-lavado atrás da minha orelha, antes de
beijar minha testa. — Como foi o seu dia?

Turbulento, triste, caótico... um verdadeiro inferno, penso em dizer,


mas desisto.

— A mesma rotina de todos os dias — minto.

Ele estuda meu rosto com atenção. Sei que quer fazer algum
comentário, mas desiste, talvez por papai ainda estar por perto.

— Chegou cedo porque vai me ajudar a preparar o jantar? — brinco,


mudando de assunto e seguindo para a cozinha.

— Claro! Somos uma dupla e tanto aqui. — Pisca com charme.

Como eu queria amar Nathan, seria tão mais fácil, calmo e, com
certeza, ele não me faria sentir tão usada.

Um trovão soa por toda a casa, só então olho para o céu e vejo que o
dia que começou ensolarado deu lugar a um céu nublado e escuro. Tenho
certeza de que não demorará muito até que a chuva rompa em abundância.

Começo a preparar as panquecas. Enquanto misturo o ovo batido,


leite e óleo, Nathan prepara a farinha, peneirando para mim, e, sim, ele tem
razão, formamos uma bela dupla. Estar com Nathan é fácil, familiar e
seguro. Por um momento, tento visualizar uma vida ao seu lado. Uma
casinha modesta, filhos e muito amor. Nathan seria alguém que me
proporcionaria um relacionamento de verdade, seguro. Recordo-me das
palavras de Gisela sobre o amor ser repleto de sentimento, carinho e
sintonia, talvez Nathan seja isso. Dá para aprender a amar? Posso sentir
com ele a mesma sensação avassaladora antes do beijo? Connor é como
uma tempestade furiosa, devastando tudo por onde passa. Como uma onda
violenta... Connor é tudo, menos tranquilidade. Ele já me deu todos os
motivos para não quer tê-lo em minha vida, e se eu for inteligente, não
permitirei que a tempestade que é Connor Dickinson arruíne minha vida.

Bato a massa, e quando começo a fritar as primeiras panquecas,


olhando para a frigideira, sinto um beijo de Nathan em minha bochecha.

— Olha, ainda estou aqui, hein? — Escutamos papai e nós dois


rimos. A primeira fica pronta e ele experimenta.
— E então? — pergunto, sorrindo.

— Não é muito boa no volante, mas com certeza é maravilhosa na


cozinha — brinca.

Termino de preparar as panquecas antes de nos sentarmos à mesa,


comendo-as com geleia. Ao terminarmos, Nathan me ajuda com a louça
suja e papai, com a desculpa boba de ir dormir mais cedo, vai para seu
quarto para nos dar privacidade.

— Quer me contar o que realmente está acontecendo?

— Nada em especial, quer dizer, tenho uma “festa” da empresa para


ir amanhã, então, se puder me acompanhar...

Ele sorri abertamente.

— Uau, por essa eu não esperava. Quer mesmo que eu a acompanhe


em uma festa da empresa? Sabe que sou alheio àquele povo chique, não
sabe? — diz, se apoiando na pia.

— Eu não sou nenhuma expert em moda, sabia?

Ao me ouvir, ele se aproxima, me fazendo recuar um pouco.

— Você é perfeita, Amber, para mim sempre foi e sempre será a


mais perfeita. Como não enxerga isso?

Sorrio sem jeito.


— Realmente acha isso? — pergunto, olhando em seus olhos.

— Eu ainda tenho aquele casaco que me emprestou no colegial, só


guardei porque você disse que ficava melhor em mim que em você. —
Acabo rindo da lembrança. — Era uma baita mentira, mas eu acreditei só
porque você disse, então faça o mesmo por mim. Se não consegue enxergar
o quanto é linda, faça isso por mim, me dê essa credibilidade. — Ele toca
meu rosto e o acaricia. — Está tarde, você está cansada e precisa dormir.

Sorrio, acariciando sua mão.

— Vai comigo amanhã?

— Iria para o inferno se me pedisse.


Solto um suspiro e ele volta a acariciar meu rosto. Nathan me abraça,
então o acompanho até a porta, e isso se estende até o portão. Ele me abraça
novamente, quando ele faz menção de me beijar, viro o meu rosto e acaba
acontecendo no rosto. Assim que ele entra no carro e vai embora, reconheço
o carro de Connor estacionado um pouco mais à frente. Não é ele, não pode
ser. Então a porta se abre e me confirma que sim, é o Connor.

Penso em entrar, mas então noto que ele está com a mesma roupa de
hoje de manhã, a gravada frouxa e sem paletó, apesar de estar um pouco
frio e começando a chover. Ele se aproxima e parece um pouco abatido.

— O que faz aqui? — questiono, quando ele está próximo o


suficiente para me escutar.
— Bom —  Connor dá mais alguns passos —, estou aqui desde as
sete e quarenta seis. Assim que terminou a reunião e eu simplesmente vim,
e, sendo sincero, eu me fiz essa mesma pergunta tantas vezes, Amber —
diz, o tom de voz tão melancólico me desarma. — Cheguei a cogitar a
hipótese de te chamar e vim até o seu portão, então eu te vi com seu amigo,
a forma como ele te olha, o beijo no rosto... por um momento eu pensei em
ir embora, deixar toda essa merda, mas entrei no carro e refiz essa pergunta.
— Prende os lábios, em seguida, passa a mão pelo cabelo, desviando o
olhar para a grama na entrada. Um trovão ilumina toda a rua deserta.
— Eu sei que provavelmente está pensando que ele é a melhor
opção, e é, admito, porque aquele cara provavelmente não precisa inventar
mil pretextos para não pensar em você, aquele cara nunca amou antes, e o
melhor, ele não sabe o que é perder. Não sabe o que é chorar mil noites por
alguém que não vai voltar, não sabe o que é ser quebrado em tantos
pedaços, que por um momento acha que seu coração vai parar. Mas não
para, Amber, não parou quando Hanna morreu, não vai parar quando você
perceber que merece alguém melhor e decidir ir embora. — Ele puxa o ar.
— Eu sei que pensa muito pouco de mim, e talvez sim, eu fui o louco
fodido que teve que lidar com a morte prematura da noiva, em um acidente
em que o socorro não chegou a tempo. E claro, pode estar pensando que
isso me ligou a você, a maneira como tudo aconteceu. Mas uma coisa é
certa, eu não planejei aquele acidente, como também não planejei o
emprego. Eu só te vi lá, assustada, sozinha, e passou pela minha cabeça que
eu poderia fazer mais por você, mais do que fizeram por ela.
Começo a chorar.

— Mas eu não contava com essa merda toda, não contava com o fato
de me sentir atraído por você pra caralho. E, porra, se soubesse que era
virgem, eu não teria agido daquele jeito. — Connor parece transtornado.
Mesmo com a chuva aumentando gradativamente, ele se senta no meio-fio
e solta um longo suspiro, como se estivesse cansado. — Eu não planejei
comprar sua casa, te obrigar a trabalhar pra mim, muito menos quis colocar
um preço quando eu te dei o carro. E é uma merda saber que me vê dessa
forma.
— Por que está dizendo tudo isso? — pergunto, me sentando
próxima a ele.
— Porque eu vi vocês dois, vi seu sorriso tão sincero quando está
com ele. E droga, como eu poderia odiá-lo se ele faz um papel bem melhor
que o meu. Mas, sei lá, não é como se eu fosse um completo filho da puta,
Amber, eu só não queria te ver passar pelo que eu passei.
— Porque está pressupondo que eu vou embora, mas e se eu não
fosse?
Ele sorri sem humor.
— Já tive promessas que não incluíam o se, e mesmo assim não
foram cumpridas. Nós somos muito diferentes, Amber, e se tem algo que
aprendi sobre os opostos é que com a mesma força que se completam,
também se destroem. Como eu disse, pode ser novo para você, mas não é
pra mim. Eu conheço essa estrada e sei como termina, e advinha, não tem
final feliz.

— Então veio para isso? — pergunto, com lágrimas nos olhos. —


Terminar?
Ele finalmente me encara.

— Na verdade, eu tinha vindo para te levar a algum lugar, sei lá, de


alguma forma fazer você entender que eu me importo, aprender a me
desculpar de uma forma que seja mais aceitável para você. Mas olhando
para tudo isso, você, ele, me dei conta de que eu não quero ter que dividir
minhas noites com a solidão, não quero mais ver toda a minha vida, meus
planos encaixotados em um canto qualquer e ter que continuar com o que
sobra depois disso. Covarde, sim, eu sou, mas eu prefiro parar enquanto os
dois ainda estão inteiros.
Olho para a rua, com o vento soprando forte, ouvindo o balanço
como uma canção triste. Quando eu era criança, papai construiu um banco
de balanço de madeira na varanda da nossa casa. Foi logo depois que minha
mãe nos deixou. Eu sempre pedi a ele que o fizesse, mas na época ele
trabalhava muito e nunca tinha tempo. Quando sua esposa o deixou com
uma criança de pouco mais de cinco anos, ele se viu na obrigação de
trabalhar menos para cuidar de mim. Ele construiu o banco, exatamente
como eu pedi, com espaço para que duas pessoas pudessem se acomodar.
Acredito que foi uma forma de ele dizer que tudo ficaria bem e que eu
podia contar com ele.

Esse é um dos itens mais significativos da casa para mim até hoje. E
estranhamente me sinto como naquela mesma época, com a dor no peito
pela perda, mas eu tenho meu balanço, e talvez tudo fique bem.
Connor curva-se um pouco para a frente, descansando seus braços
nas pernas e entrelaçando as mãos. Seus olhos desviam dos meus por um
momento, fixando em um ponto invisível à sua frente.
— Pode até acreditar que não me importo com você, mas me
importo. Amber... — Ele volta a me encarar, a face séria e os olhos fixos em
mim. Tento conter as lágrimas que insistem em cair. — Se houvesse uma
maneira de consertar as coisas, eu faria. Sei que começamos de um jeito
errado e peço desculpas por isso. Só queria que não me odiasse depois de
tudo...

Posso sentir a sinceridade em cada uma de suas palavras. Não


esperava que Connor aparecesse na minha porta. Na verdade, não esperava
ter que falar sobre isso com ninguém e, em especial, com ele. Mas a
verdade é que o que estou vivendo é confuso, dói muito, e mesmo se eu
quisesse compartilhar, não saberia o que dizer. O silêncio se torna
desconfortável e o ar fica pesado. Outro trovão rompe no céu escuro e o
raio clareia por segundos a rua.
— Eu trouxe algo para você, mas, por favor, esquece isso de te
comprar. — Connor tira uma caixinha preta do bolso da calça e estende em
minha direção.
Hesito por um momento em aceitar, mas pego de sua mão. Quando
nossos dedos se tocam, uma corrente de eletricidade percorre meu corpo.
Respiro fundo, me perguntando se ele também é capaz de sentir isso ou é
apenas coisa da minha cabeça confusa. Abro a caixinha e me deparo com
uma linda pulseira de diamantes.
Sem esperar a minha reação, ele pega meu braço, erguendo-o o
suficiente para conseguir prender a pulseira em meu pulso. Sua mão demora
mais do que o necessário no local, seus dedos acariciam minha pele com
suavidade, fazendo-me prender a respiração com o sentimento intenso que
me atinge.

Mantenho meus olhos fixos em sua mão que continua segurando


meu pulso, me recusando a erguê-los para ele.
A noite está fria, mas sinto como se a temperatura tivesse subido
subitamente.
— Tenha uma boa noite, Amber. — Sua voz é um sussurro suave.

Ele então se levanta, segue até seu carro sem olhar para trás e
simplesmente vai embora. Levo alguns segundos para conseguir processar o
que acabou de acontecer. E apesar de achar que me sentiria aliviada por
isso, não é o que está acontecendo agora.
 
Por horas, repasso todo o meu dia. A manhã conturbada com Amber,
a briga, as intermináveis reuniões, sua conversa com o melhor amigo. Doeu
de uma forma que me deixou apavorado. Durante todos esses anos, eu me
fiz a promessa de não chorar ou amar novamente, e parece que estou prestes
a quebrá-la agora.
Não estava em meus planos aparecer à sua porta, mas eu o fiz.
Depois da nossa briga, tive um tempo após a reunião para parar e pensar no
que diabos estava acontecendo.

É surreal que algo que para mim é normal, como dar ou receber
presentes, seja incomum ou ofensivo para Amber. Fui criado em meio ao
luxo. Minha família sempre gostou de ostentar sua riqueza e não perdíamos
a oportunidade de esbanjar a nossa fortuna quando queríamos agradar
alguém. No entanto, não pensei em momento algum como Amber se
sentiria ou como veria meu gesto. Diante de tudo o que já passamos – a
quitação da hipoteca, o trabalho –, eu deveria ter pensado que Amber não
veria meu gesto como algo bondoso. Deveria conhecê-la o suficiente para
saber que se sentiria ofendida, mas não conheço. Somos de mundos
diferentes. Temos visões diferentes.

Ela parece ter todos os motivos para me odiar, para me querer longe
de sua vida, e é extremamente fodido aceitar isso. E foi justamente a minha
parte egoísta que me levou até ela. Eu só queria mostrar a ela, de alguma
forma, que ela estava errada a meu respeito. Queria provar que me importo
com ela, mas aí eu a vi com o seu amigo, e mais uma vez a verdade de que
nunca serei bom o suficiente para ela me atingiu como um soco na boca do
estômago. Deveria ter ido embora, ela nunca saberia que estive ali, à
espreita, vendo seu amigo a conquistando aos poucos e lhe dando todo
carinho e atenção que eu não serei capaz de dar.

E pela primeira vez em anos, senti um vestígio do sentimento que


jurei nunca mais deixar brotar em meu peito. Assustado com a intensidade
dos meus próprios sentimentos, me dei conta que só existe um caminho a
percorrer antes que eu perca o que sobrou do controle da minha sanidade.
Sempre foi fácil terminar meus casos de fodas, nunca

Mas com Amber é diferente. E é estranho colocar um ponto final na


relação que sequer podemos dizer que tivemos, e, de repente, estou me
sentindo um lixo por isso.
E queria muito dizer que foi uma escolha apenas por pensar em seu
bem-estar, mas estaria mentindo, pois também o fiz por mim, porque ao
contrário do que pregam por aí sobre a beleza do amor, eu sei que existe
outro lado que todos insistem em não enxergar. E esse lado machuca, nos
enlouquece... É doloroso pra cacete, enlouquecedor, e nada, nada mesmo,
faz parar a dor.

Quando vou embora, deixando-a desolada no meio-fio, a chuva já


cai em abundância, mas a ideia de ir para casa não me agrada, então mudo a
rota e vou para o lugar que sei que conseguirei um pouco de conforto. Uma
bebida forte e uns sermões do meu amigo nunca me pareceram tão
convidativos.

Ligo para o Manson e nos encontramos no bar que costumamos ir


desde a faculdade. Um lugar reservado, onde se pode beber e conversar.

Ele sabe que existe algo de errado comigo, porque em uma noite fria
como essa, não há uma alma viva que prefira continuar a sustentar suas
roupas encharcadas à sua cama quente. Ele não insiste em arrancar uma
confissão minha. Claro que não, ele é o cara me avisou desde o primeiro
momento que deveria me manter distante de Amber, e eu, como o filho da
puta que sou, não lhe dei ouvidos.
Acredito que uma parte minha, a parte que adora jogar, a viu como
um desafio. Não do tipo divertido, onde uso o meu charme para ter o que
desejo. Eu sempre soube que deveria mantê-la distante, mas ela era como
um fruto proibido, que me instigava ao pecado, cada segundo que colocava
os olhos sobre ela eu tinha mais certeza de que precisava tê-la. Acreditei
piamente que não haveria mal algum se apenas tomasse uma pequena dose
dela, no entanto, não me contentei com o pouco. E a cada dose de Amber,
eu queria mais, até me ver completamente enlouquecido para tê-la todos os
dias. Era meu novo vício.
Mas claro que não falo nada disso para Manson, direciono todo meu
mau humor para Lexie e a conversa que tivemos da última vez que nos
encontramos. Conto a Manson a respeito do homem que ela me disse para
investigar, e em como ela quis invadir minha mente para me fazer pensar
que Hanna mentiu para mim. Estranhamente, seu lado investigador não está
ativado, ele sequer parece interessado, e em algum momento até muda o
foco.

— Eu nunca parei para pensar sobre isso, mas por que diabos ela
pegou aquela estrada? E sozinha... — insisto, virando outra dose, respirando
com pesar.

— Amigo, eu não entendo aonde quer chegar, mas garanto que há


um bom motivo para deixarmos os mortos onde estão, descansando em paz.
E, mudando de assunto, Amber gostou do carro?

— Não era para ela, era para Gisela.

Sim, ele me encara por segundos, e essa frase faz tudo morrer ali. O
frio me convence a voltar para a casa, onde mesmo depois de um banho
quente e me agasalhar debaixo dos cobertores, é difícil manter os
pensamentos longe da única pessoa que eu gostaria de não pensar.

Memórias de todos esses dias sobrevoam minha mente de uma forma


a contaminar cada parte do meu corpo. Eu me certifiquei de levantar as
muralhas certas, então por que caralho estou me sentindo o bobo da corte
agora? Fechando os olhos e vendo apenas seu rosto?

São perguntas que circulam por toda noite, e pela manhã pago o
preço por isso, me sentindo como se tivesse sido atropelado por um
caminhão. Mesmo após um banho demorado, não consigo me livrar da
tensão de ter passado toda a noite pensando nela, mas covarde demais para
fazer uma ligação. No entanto, não vou e nem posso deixar minha mente se
prender a isso. Preciso manter todo e qualquer pensamento que envolva
Amber longe da minha cabeça. Hoje será uma grande noite, e apesar de ter
acompanhado e aprovado todo o processo, apresentar o lançamento da
campanha para o cliente sempre me causa ansiedade, e justamente por isso
decido me exercitar. Exercício alivia o estresse.

Mal me troco, e antes de chegar a terminar meu café para enfim ir


me exercitar, a campainha começa a tocar. Penso em ignorar e apenas seguir
para a área reservada onde fica a minha academia, porém, quem quer que
seja, parece estar desesperado para ser atendido.

São poucos os que têm acesso à entrada no prédio sem precisar ser
anunciado e, sinceramente, não estou com vontade de falar ou ver nenhum
deles.

Irritado, faço meu caminho até a sala e abro a porta sem antes olhar
pelo olho mágico. Me arrependo de não ter feito isso no momento que dou
de cara com Lexie.

— O que faz aqui? — Minha pergunta soa ríspida.

— Por que não atendeu as minhas ligações, ou respondeu as minhas


mensagens?
Deslizo as mãos por meu cabelo e respiro fundo. De todas as pessoas
que não quero ver hoje, Lexie está no topo da lista. Lidar com ela agora
definitivamente não é algo que gostaria.

— Por favor, Lexie, não quero ser rude com você, mas não quero ter
essa conversa agora.

Ela me encara por alguns segundos, com os olhos tristes presos aos
meus. Meneia a cabeça em negação, e sem esperar por um convite passa por
mim, adentrando minha casa.

Inspiro fundo, tentando manter a calma. Fecho a porta antes de ir até


ela, que já se encontra parada no meio da sala. Lexie está usando um
vestido longo e amarelo, justo ao corpo. O cabelo solto caí em ondas sobre
os ombros completam a maquiagem leve. Hoje ela parece assustadoramente
mais com Hanna do que o normal, isso chega a ser perturbador.

— Desde a nossa conversa, você vem me evitando. Te ligo, mas não


atende, tento na empresa e sua secretária diz que você está em reunião. Te
mando mensagem, e nada. Nos últimos dias, só tenho tido o seu silêncio. E
não tem noção do quanto isso dói.

— Eu tenho meus motivos, Lexie, você sabe disso!


— E quais motivos você tem? Durante todos esses anos, não fiz nada
além de tentar te ajudar a sair de limbo de solidão. Me mantive presente em
sua vida, mesmo quando você tentou me afastar. Eu estive ao seu lado
durante todos esses anos. Te apoiei, segurei sua mão. Eu dei o meu melhor
para você, Connor. Fui sua melhor amiga e deixei meus sentimentos de lado
tantas vezes, apenas porque queria te ver bem. Eu te amei em silêncio por
anos, e você me deu todos os motivos para que eu me afastasse de você
quando te vi sair com todas aquelas mulheres. Mas não fiz isso, porque eu
te amava e tinha esperança de que um dia olhasse para mim e enxergasse
mais do que o rosto da Hanna. Mas que boba eu sou, não é? Você nunca
olharia para mim, não dá forma como olhou para ela, e sabe por quê?
Porque ao contrário da minha irmã, eu nunca fui boa com manipulações.
Hanna sempre foi a gêmea que conseguia o que queria.

— Do que está falando, Lexie? — insisto, isso já está ridículo.

— Estou falando que ela sabia que eu era apaixonada por você. Ela
me ouviu falar de você durante semanas, mas na primeira oportunidade que
teve de te conhecer, não pensou duas vezes em meus sentimentos para me
provar que era melhor do que eu.

— O que diabos deu em você para fazer isso? O que você ganha em
tentar sujar a imagem da própria irmã? — Minha voz sai alterada e rude,
mas ela não recua.

— Nada! Não ganho nada! Mas estou cansada de ver você


colocando-a num pedestal. Agindo como se Hanna tivesse sido perfeita.
Como se nunca tivesse cometido um maldito erro. — Ela começa a chorar.
Que porra Lexie quer? Não estou entendendo.

— Em nome da nossa amizade, eu te peço para não falar mais nada.


Hanna está morta e eu não permito que você venha até a minha casa e tente
manchar a imagem da minha noiva.

Ela ri ao ouvir minhas palavras.

— Como pode ser assim tão cego? Eu juro que acreditei que quando
seu luto passasse, você fosse procurar saber o porquê de Hanna estar
naquela estrada deserta, quando ela já deveria estar em casa. E, de verdade,
acreditei que você não fosse engolir a história toda. — Outro riso. — Hanna
sempre foi uma ótima mentirosa, mas uma coisa ela não mentiu, você a
amava cegamente. Que sortuda ela era, não?

— Se quer me dizer algo, fale de uma vez. Não fique fazendo


joguinhos comigo. Se existe algo sobre a Hanna que eu não saiba, me conte.

Ela meneia a cabeça em negação e começa a chorar.

— Você deve achar que sou uma péssima irmã. Estou me declarando
para você e falando sobre a vida de alguém que não está mais aqui para se
defender.
— O que você sabe que eu não sei?

Um soluço alto escapa dos seus lábios. Ela cobre o rosto com as
mãos e chora copiosamente.

— Eu amava minha irmã — diz, entre lágrimas. — Mas não quero


que você viva sua vida preso a uma mentira.
Lexie enxuga o rosto e respira fundo, recompondo-se.

— Por que está fazendo isso comigo, Lexie? Por que mexer em uma
ferida que já não sangra mais?

— Eu só quero que você saiba a verdade! — grita em resposta.


— Então me conta!

Ela morde o lábio e baixa o olhar para o chão, então caminho até ela
e seguro seus ombros.

— Quem é Alexander Finar? O que ele tem a ver com a Hanna? Me


fala! — ordeno, em fúria.

Lexie me empurra, afastando-se de mim.


— Não é tão simples assim, Connor...
Acabo soltando um riso.
— Não se trata de Hanna ser melhor que você, Lexie, a verdade vai
além. Me apaixonei pela ousadia, pela sensualidade, a forma vil como
conseguia me fazer rir dos meus próprios erros. Ela era isso, Hanna me
fazia sentir bem comigo mesmo, ainda que estivesse na merda, e isso não
vou conseguir com nenhuma outra mulher. Mas me admira muito você estar
aqui, tentando manchar a imagem de alguém que sempre te amou e
defendeu. Veja bem, é só por amor a ela e pelo respeito que ela sempre teve
por você que não te coloco para fora, mas te dou a chance de sair com um
pouco de dignidade. Não sei o que anda acontecendo com você, mas pode
ter certeza, sua irmã não é a causa dos seus problemas. — Dou as costas
para ela. — Feche a porta quando sair.

Tomado pela fúria, sigo para o meu escritório. As palavras de Lexie


me atormentam, e mesmo que eu queira controlar a raiva, não acredito que
conseguirei. Como ela se atreve a fazer isso comigo? Como consegue agir
de forma tão baixa, apenas para me convencer de que tudo o que tive com a
Hanna foi uma mentira?
Durante todos esses anos, tentei bloquear a noite do acidente. Eu
quis esquecer aquele maldito dia. Me vi tão desesperado por minha perda,
que nunca sequer me passou pela cabeça investigar os reais motivos que
fizeram Hanna estar ali, naquela noite.

Ligo o computador e faço uma busca pelo nome de Alexander Finar


no Google. Sem redes sociais ou qualquer coisa que me leve a ele ou o
ligue a Hanna.

— Merda! — Bato o punho fechado na mesa com força e respiro


fundo, tentando me acalmar, então ligo para Manson, que atende no terceiro
toque.

— Preciso dos seus serviços — digo assim que ele atende,


dispensando os cumprimentos

— Hoje é sábado, cunhado, meu dia de folga — diz com humor.


— Não estou com bom humor, Manson, então serei breve. Quero
que investigue o acidente da Hanna. Descubra os reais motivos para ela
estar naquele lugar no dia do acidente, se realmente estava sozinha e...
Também quero que investigue qual a ligação de Alexander Finar com tudo
isso.
Ouço seu suspiro do outro lado da linha.

— Porra, Connor, falamos a respeito disso ontem. Deixa essa


história para lá. Já se passaram anos desde a morte da Hanna! Está na hora
de você seguir em frente e deixar essa merda onde ela deve ficar, no
passado!
— Foda-se, Manson! Não me venha com essa psicologia barata.
Você mais do que ninguém deveria me apoiar com isso! Você é meu melhor
amigo, porra! Sabe o que essa perda me custou — esbravejo.

— Justamente por ser seu amigo que estou pedindo para esquecer
esse assunto. Por que fazer isso agora? O que vai ganhar remexendo nessa
história?

— O que vou ganhar? Caralho, Manson! — Fico em silêncio. Um


sentimento de angústia inunda meu peito, dificultando a minha respiração.
Encaro a foto de Hanna sobre a mesa e penso em todos os momentos em
que passamos juntos. Os planos para o futuro... No quanto perdê-la me
mudou. — Só preciso ter certeza de que não desperdicei sete anos da minha
vida, sofrendo por alguém que não merecia. Eu tenho o direito de saber,
Manson, e ficaria muito agradecido se me ajudasse. Mas se não quer me
ajudar, tudo bem... Tenho recursos o suficiente para encontrar outro
investigador, um que esteja disposto a fazer isso para mim.

Encerro a ligação sem esperar por sua resposta. Eu juro que não
queria, mas Lexie plantou a semente da dúvida dentro de mim. E se Manson
pensa que não vou em busca da verdade, está enganado. Por mais que não
queira acreditar no que a Lexie me disse, uma coisa eu tenho que concordar,
eu deveria ter investigado o acidente. Não podia ter me fechado a ponto de
não enxergar as pontas soltas desse quebra-cabeça. Mesmo que muitos anos
tenham se passado, eu preciso saber a verdade, ainda que essa verdade
possa destruir tudo aquilo em que acreditei.
—Lembra quando nossos pais nos traziam aqui quando éramos
crianças? — Nathan é o primeiro a falar, quebrando o silêncio.

Ele me convidou a vir ao parque pela manhã, e depois de uma


péssima noite, chorando ao me lembrar da conversa com Connor, aceitei
por um único motivo – tornar prioridade aqueles que me fazem prioridade
em suas vidas.

Sorrio com a lembrança, isso foi há tanto tempo, mesmo assim, a


recordação aquece meu coração.

— Claro que sim! Como poderia esquecer? Todos os sábados


estávamos aqui, correndo ao ar livre, fazendo piquenique. Era nosso dia
sagrado de diversão em família, porque aos domingos nossos pais ficam
sentados em frente a tevê vendo jogos, falando palavrões e tomando
cerveja.

— Enquanto a gente fugia para aprontar alguma coisa — Nathan


completa, empurrando-me com o ombro.

— Você vinha aprontar. Eu só te acompanhava para que não fizesse


nenhuma merda — eu o corrijo, sorrindo.

Seus olhos caem sobre mim e ficamos em silêncio pelo que parece
uma eternidade. Seu olhar parece querer falar com minha alma, como se de
alguma forma implorasse para que eu diga o que ele quer ouvir. Eu me
pergunto, por que não posso sentir com ele tudo que sinto com Connor?

Respiro fundo, quebrando o contato visual e voltando meus olhos


para a vista à minha frente.

— Foi há muito tempo. Muitas coisas mudaram, Nathan. Não somos


mais aqueles adolescentes inconsequentes e sonhadores. — Volto a fitá-lo.

Ele umedece o lábio com a ponta da língua e assente, parecendo


desapontado com minha resposta.

— Não, não somos. Crescemos, seguimos nossos caminhos e agora


estamos aqui, agindo como se eu não tivesse dito que te amo. — Ele ri e
meneia a cabeça em negação — Eu sei que te peguei de surpresa com
minha confissão, mas diante de tudo o que vivemos, pensei que você ficaria
feliz quando soubesse dos meus sentimentos por você. — Eu o sinto me
encarando e sou obrigada a fitar seus olhos. — Eu sei que você me amou.
Houve uma época em que você sentia o mesmo que eu, mas eu era jovem e
imaturo e não podia estragar a única coisa boa que eu tinha na vida.

Suas palavras me pegam de surpresa. Seria tão mais fácil se fosse


verdade. Eu nunca o vi dessa forma, mas minha vida estaria melhor se o
tivesse visto.

— Nathan, eu não... — Prendo as palavras, não quero magoá-lo.

— Nunca fui bom o suficiente para você, nós sabíamos disso. Você
sempre foi a garotinha do David, a menina boa que tirava notas altas, e que
se não fosse por minha causa, nunca teria quebrado nenhuma regra.

— Você me ensinou a tomar destilado — digo e não consigo não rir


da lembrança.

— E o David deixou a gente sem se ver por um mês.

— Você era uma péssima influência para a filha dele.

Ele sorri, mas o sorriso não alcança os seus olhos. Sinto meu coração
falhar uma batida, pressentindo o que estar prestes a acontecer.

— Eu voltei por você, Amber. Porque acreditei que os seus


sentimentos por mim mudariam, mas parece que estou errado...

— Nathan...

Um nó se forma na minha garganta. Pisco algumas vezes, tentando


afastar as lágrimas que invadem os meus olhos, mas a verdade é que não
estou assim por ele, e sim porque o meu coração idiota fez a escolha errada.

Ele seca minhas lágrimas com os polegares.

— Eu não vou desistir de você, Amber. Eu te amei muito antes de


entender o que esse sentimento significava. Abri mão de você uma vez e me
arrependi. Não vou cometer o mesmo erro novamente, não importa quantas
vezes você me diga para desistir.
Ao me deixar em casa, ele confirma que estará aqui às dezenove, e
tudo que eu quero é que esse dia acabe.

As horas se arrastam, enquanto penso em uma forma de esquecer


Connor, Nathan e toda essa confusão que minha vida se tornou. Mas é
impossível quando a pessoa se apossa não só do seu corpo, mas de cada
milésimo de pensamento. Quando enfim preciso me arrumar, estou sem
ânimo algum e com uma tristeza profunda no peito.

Tomo um banho e faço o cabelo e maquiagem no espelho do


banheiro. Tentando assim transparecer que estou bem, mesmo sendo
mentira. Termino e forço um sorriso ao espelho, a maquiagem que ressalta
os olhos contrasta bem com minha pele. Não que eu seja especialista nisso,
mas ficou bom. Visto o vestido, girando o corpo para ver os detalhes. Além
de bem-marcado, a fenda na perna que sobe até minha coxa me parece um
pouco exagerada, agora. Volto ao meu quarto, calço os saltos e, então, pego
a pulseira que Connor me deu e coloco em meu pulso. De um jeito estranho
é lindo e triste, talvez seja coisa da minha cabeça, mas ela marca o fim de
algo que meu coração não parece concordar.

Continuo encarando o vestido tão lindo no meu corpo. Por outro


lado, nunca em toda a minha vida eu tive essa estabilidade financeira que
tenho agora, e fica nítido o quanto papai está mais sereno. E justamente isso
me faz sentir como se qualquer passo em falso que der agora pode ser
devastador, pode arruinar qualquer chance de uma boa convivência com
meu chefe.

Toco o delicado tecido, sentindo a textura em meus dedos. É de fato


um vestido perfeito.
— Você está maravilhosa, querida. — Papai se aproxima e sorri com
gentileza, ignorando o decote e a fenda na coxa.

— Obrigada, papai.

— Nathan acabou de chegar, não sei se teremos tempo para um café


— ele brinca.

— Não posso me atrasar. Estou indo a trabalho, esqueceu?

Ele confirma, então eu o abraço e nos despedimos. Na sala, ao


cumprimentar Nathan, eu amaria que meu corpo se arrepiasse por inteiro ao
receber seu olhar de cobiça, mas não acontece.

Rapidamente vamos até seu carro e, caramba, estou me sentindo


acuada, sem lugar, tensa.

— Você está perfeita, Amber — ele repete pela terceira vez. Minhas
mãos estão trêmulas e meu coração bate descompassado. — Nunca a tinha
visto com essa pulseira, ganhou de um admirador?
Prendo os lábios por segundos, pensando na resposta.

— O sr. Dickinson nos presenteou — falo sem desviar o olhar da


estrada.

— Porra! Uma pulseira de diamantes, isso é diamante, não é? Que


chefe, hein? — Odeio quando ele faz isso e, claro, dá para notar a malícia.

— Gisela ganhou um carro, foi por nosso desempenho na campanha.

— Uau! Antes, eu queria que você saísse de lá, agora acho que quero
um emprego — ironiza e eu o ignoro.

Quando chegamos, preciso me esforçar para não deixar minhas


pernas vacilarem, enquanto caminho para o salão principal do hotel cinco
estrelas de Portivil. Toda a iluminação no luxuoso espaço me diz uma única
verdade – eu não pertenço a Connor e seu mundo. Entramos na recepção e
vejo Gisela, então a cumprimento e juntas seguimos para o salão. As mesas,
o tapete, o palco, telão, flores, tudo milimetricamente pensando, planejado e
executado. Perfeição, não existe outra palavra para definir o local.

— Está lindo, Gisela.

— Eu sei — ela sorri —, fui eu que estive à frente de toda a


organização, lembra? — diz. Diferente de mim, ela está com maquiagem e
cabelo feitos por um profissional, todas da equipe estão.

Seguimos para uma mesa mais ao fundo, reconheço e cumprimento


todos os outros funcionários. E mal nos sentamos e nos é servido
champanhe.

— Não veio acompanhada? — pergunto discretamente.

— Não, mas pretendo conseguir meu acompanhante bem aqui — diz


com malícia e pisca.

Agora me sinto uma completa boba, já que só eu pareço estar


acompanhada. Os convidados começam a chegar e cada vestido é um show
à parte. Homens poderosos que exibem suas mulheres – dignas de capas de
revista – como apetrechos de luxo. Gisela fala sobre a marca, os saltos,
maquiagem, cabelo e até mesmo os ternos. Os fotógrafos que ignoraram eu
e Nathan, agora disparam seus flashs para a nata de Portivil.

Ainda sentindo aquela imensa tristeza e um persistente nó na


garganta, tento não parecer deslocada. Nathan parece atento a todo esse
teatro de exibição, e pelo sorriso, parece gostar. E bom, eu achei que estaria
preparada para ver Connor, mas quando o vejo com seu terno preto, de
braços dados a uma mulher de vestido vermelho sereia, em um corpo
exuberante e beleza exótica, percebo que eu estava errada. Lábios carnudos,
pele oliva e cabelo loiro. Linda e faz jus ao homem que agora parece
centrado em cada pedacinho dela. A mulher faz poses perfeitas para o flash
e, sim, é com esse tipo de mulher que ele ama aparecer em fotos. Agora,
mais que em qualquer outro dia, me sinto a fodinha suja do escritório, e
olhando para os dois, entendo porque ele precisava me esconder. Mordo os
lábios para não deixar as emoções transparecerem. Caramba, dá para isso
ficar mais humilhante?
Ela cochicha algo em seu ouvido e eles riem, e diferente de todas as
outras vezes, o sorriso de Connor alcança os olhos. Receptivo, ele vai até
outras mesas, e pelo que Gisela informa, são sócios, clientes, imprensa e os
executivos da Freedon. Reconheço logo atrás dele a sua irmã e noivo. Um
belo casal, por sinal.

— Você está bem? — Nathan pergunta próximo ao meu ouvido. Sua


mão estrategicamente toca a minha cintura. Olho-o de lado e assinto,
afastando-me do seu toque de forma sutil.

Connor continua cumprimentando alguns convidados e a mulher o


segue como um animalzinho abanando o rabo. Ela sorri com simpatia,
parecendo extasiada por estar ao lado de Connor. Não a julgo, qualquer
mulher em sua posição estaria feliz por ficar ao lado de alguém tão
importante quanto meu chefe.

Eles vêm em nossa direção e, pela primeira vez, os olhos de Connor


encontram os meus. Ele me encara por alguns segundos antes de notar
Nathan ao meu lado. Vejo o desagrado misturado com a surpresa estampado
em seu semblante. Uma parte de mim, a boba e iludida, apenas deseja que
ele esteja com ciúmes por nos ver juntos.
A mulher ao seu lado fala alguma coisa, chamando sua atenção. Ele
volta-se para ela e assente, antes de cumprimentar cada um dos funcionários
que está próximo a ele.  E quando enfim chega até mim, sinto como se todo
o ar tivesse simplesmente fugido para longe. Connor estende a mão em
minha direção, e quando coloco a minha sobre a sua, seus olhos caem para
a pulseira em meu pulso. Meu coração dispara e meu corpo estremece com
o simples contato. Uma sombra de sorriso, paira em seus lábios, mas
desaparece quando seus olhos voltam a me encarar, tão frios como uma
noite de inverno. Então olha para Nathan, e de forma arrogante aperta sua
mão, demorando mais do que o necessário.

— Havia me esquecido de inclui-lo na lista de convidados, porque


com certeza era imprescindível sua presença, mas fico feliz que Amber
tenha feito. Aproveite a champanhe — diz com sarcasmo, e pelo tom de sua
voz, sinto que talvez não tenha sido uma boa ideia ter trazido o Nathan.
Ele se afasta, mas não sem antes me olhar uma última vez, e esse
gesto é o suficiente para esmagar meu coração.
— Seu chefe é um babaca arrogante — Nathan comenta, baixo o
suficiente para que apenas eu ouça.

— Nathan, por favor. Não é o momento, e você mal o conhece — eu


o repreendo, sem humor.
Nathan se posiciona à minha frente.

— Você também não.


— Não estou aqui por conhecê-lo, estou a trabalho, lembra? — Eu o
encaro, sentindo-me desconfortável por toda a situação. Amaria dizer que
ele não tem razão, mas ele tem e talvez seja por isso que dói tanto.

Ele assente, visivelmente irritado por minha resposta, e abre a boca


para falar, mas Gisela me chama, dizendo que precisa da minha ajuda.
Sigo-a pelo salão, aliviada de certa forma por ela ter aparecido. Toda
essa tensão com Connor me deixa extremamente abalada, e de alguma
forma acabei transferindo isso para Nathan.
Quando entramos em um corredor pouco movimentado, um garçom
passa por nós com uma bandeja repleta de taças de champanhe. Gisela o
para e pega duas taças, me oferecendo uma, mas eu recuso.

— Não sabe o que está perdendo — diz, levando uma das taças à
boca e bebendo uma boa quantia.
— Estamos trabalhando, Gisela, e se você ficar bêbada?

Ela ri e coloca a taça vazia na bandeja, fazendo um gesto para que o


rapaz siga seu caminho.

— Acha que vou passar a noite sem desfrutar um pouco disso aqui?
— Ela ergue a outra taça ainda cheia e faz um gesto para que eu continue
seguindo-a.
— Para onde estamos indo?
— Para nenhum lugar em específico. Só vi que o ar estava ficando
tenso entre você e seu namorado, então quis ser uma boa amiga. — Ela para
próxima à saída de emergência e volta-se para mim. — Você tem cinco
minutos para me dizer o que está acontecendo.

— Não sei do que você está falando. — Franzo o cenho, confusa.


— Eu não sou cega, Amber! Eu sei que não existe nada entre você e
o Nathan... Quero dizer, é nítido que ele está caidinho por você, mas você
não compartilhada desse sentimento, então, se você não estava falando dele
quando me perguntou a diferença de amor e sexo, estava falando de outra
pessoa. E por Deus, não quero levantar calúnia a seu respeito. Até faria isso
em outra ocasião, mas não é caso, já que de certa forma nos tornamos
amigas.

— Ainda não estou entendendo aonde quer chegar...


Gisela segura meu pulso, erguendo-o até ficar à frente dos seus
olhos. Na verdade, ela apenas faz isso com o intuito de exibir minha
pulseira.

— Como amiga, estou apenas te alertando sobre as suas escolhas.


Certos riscos não valem a pena, quando o que está em jogo é seu coração.
— Gisela, eu não... — Tento me defender, mas a vergonha faz com
que as palavras fiquem presas em minha garganta.

— Não pense que estou te julgando, pois não estou! Eu, como
mulher, me sentiria honrada em ser vista por um homem como ele, mas
sabemos que homens como o sr. Dickinson tem dois tipos de mulheres, as
que ele leva para cama como um casinho sórdido, e as que ele escolhe para
exibir ao mundo. E, infelizmente, nós duas sabemos que não nos
encaixamos na segunda opção — Gisela fala sem rodeios. Ela coloca a taça
em minha mão e dessa vez não recuso. — O Nathan parece ser um cara
incrível, e se ele te ama, como parece amar, você deveria dar uma chance a
ele.
— Por que está supondo isso?

— Connor Dickinson me paga muito bem para fazer meu trabalho,


não precisa me bajular com um carro, não depois de todos esses anos
trabalhando. Na verdade, todos os funcionários lutaram muito por uma vaga
naquela empresa, com exceção, claro, de você. E revendo tudo naquele dia,
eu entendi o que estava acontecendo.

Com a respiração oscilante, nem consigo fazer a simples tarefa de


olhar nos olhos. Nesse momento, tudo o que gostaria era simplesmente
sumir para o mais longe possível de tudo isso.
— Eu não tenho nada com nosso chefe... Gisela — enfatizo e ela
sorri.
— Sim, falou bem. Para ele não é nada, espero que também não o
seja para você. É só um conselho, Amber. — Ela acaricia meu rosto. —
Afinal, eu sou a responsável por dispensar todas as fodinhas dele que
acabam se apaixonado, e partiria meu coração se uma delas fosse você. —
Engulo em seco. — Vamos, caso contrário, nosso chefinho pode notar nossa
ausência.
Ela segue pelo mesmo corredor, mas preciso de mais alguns
segundos. Quando volto para festa, vejo Gisela socializando com algumas
pessoas. Seus olhos encontram os meus por alguns segundos e ela apenas
me lança um sorriso, aquele tipo de que te faz sentir a pessoa mais idiota do
mundo. Como não pensei que Gisela iria perceber que existia algo entre
mim e o Connor? Ela é esperta. Está sempre à espreita e atenta a tudo, e eu
agi como se meu caso com Connor fosse um segredo. Claro que não era. E
o pior, eu não passo de mais uma que se deixou iludir por seu charme. Que
burra eu sou!

Encontro Nathan perto de alguns funcionários do meu setor. Ele sorri


quando me vê aproximar, e isso me faz sentir pior do que já estou.

— Desculpa por eu ter dito aquelas coisas. — Ele é o primeiro a


falar e parece de fato arrependido.
— Tudo bem... Não precisamos falar sobre isso. — Respiro fundo e
tento esconder a tristeza por trás de um sorriso. — Está se divertindo?
— Estaria mais se você ficasse aqui comigo.

— Nath... É o meu trabalho, não posso me dar ao luxo de agir como


se eu fosse uma das convidadas.

— A Gisela parece empolgada, bebendo com aquele cara, então,


acho que você não tem mais desculpa.
Olho na direção de Gisela e de fato a vejo conversando com um
rapaz alto e ruivo, com certeza é um dos convidados. Volto-me novamente
para Nathan, que me estende a mão para que eu me sente ao seu lado.
Segurado minha mão, ele a acaricia com o polegar.

Não demora e o Ronny nosso gerente de marketing inicia, chamando


a atenção de todos ao palco. Olho para Connor, que está em uma mesa
próxima ao gerente, que faz uma brincadeira sobre ele e a família e, claro,
todos riem, inclusive Caroline, que cochicha algo no ouvido da irmão. A
mulher que o acompanha agora toca seu ombro, e quando desço meu olhar,
sua mão está fixa na cintura dela, e é aí que as palavras da Gisela ganham
vida. E é tão patético me sentir assim, pensar nesse sentimento, porque
parece errado admitir que entreguei meu coração a alguém que nunca teve a
intenção de tê-lo.

Sinto um nó se formar em minha garganta e sei que se não sair o


mais rápido possível daqui, irei desmoronar na frente de todos. Finalmente
a tela se inicia e o grande comercial começa a ser recriado, com todos os
olhos atentos. Peço licença a Nathan e me afasto com passos apressados,
rezando para que consiga segurar as lágrimas tempo suficiente até estar em
um lugar seguro.

O tempo parece em inércia, enquanto reprimo minhas próprias


lágrimas para não admitir a derrota. Estou no mesmo lugar que Gisela me
trouxe, próxima à saída de emergência, desejando ardentemente que eu
tenha essa opção quando não conseguir mais estar no mesmo lugar que
Connor. Sinto mãos em minha cintura, e já imaginando ser Nathan, apenas
digo.
— Nath, eu não vou demorar, só preciso de dois minutos.

Sinto-o me puxar para si, com meu corpo recostando ao seu e o


perfume me enlouquecendo.

— Não, dois minutos não são o suficiente. Eu preciso de bem mais


— Connor diz ao me virar.

E antes que eu tenha tempo de reagir, sinto seus lábios quentes nos
meus.
Durante todo o dia, tentei me esquivar de Amber e, claro, da
conversa com Lexie. Na última conversa, ela já havia passado dos limites.
E, apesar de tudo, eu sei que me excedi, senti tanto ódio que quis humilhá-
la de certa forma. E juro que depois que ela se foi, cheguei a cogitar levar
adiante uma investigação, isso incluiu ligar para o parceiro de Manson e
anotar o contato de um cara, mas bastou apenas olhar para a foto de Hanna
que a culpa me pegou de jeito. Não, ela não merecia isso. Então deixei o
papel com o contato anotado sobre a mesa do escritório. Fui à academia e
tentei me exercitar, mas não ia rolar, não naquele momento, não hoje. E
bem agora, já na recepção do Hotel Huston, sentado à mesa com Kimberly,
Caroline e Manson, e os sócios majoritários da Freedon, não consigo me
concentrar em porra nenhuma que não seja Amber e o imbecil do amigo.
Como ela ousa trazê-lo aqui, e que porra ele está fazendo, colocando a mão
nela como se fosse seu dono? Sinto meu corpo gelar, uma espécie de fúria
toma conta de mim quando ele a toca com mais intimidade.

Olho para Kimberley ao meu lado, usando um vestido deslumbrante


vermelho com um decote magnífico, realçando seus seios, modelando suas
curvas convidativas. Seus fios loiros estão soltos, emoldurando seu rosto
impecavelmente maquiado. E apesar de já termos nos divertido algumas
vezes e eu conhecer bem sua boceta, meu pau agora lateja na calça, mas não
é por ela, e sim por Amber, que se levanta algumas vezes.

Honor Freedon me pergunta algo, e, porra, eu nem mesmo me forço


a estar nessa conversa. Apenas levanto minha taça e ele faz o mesmo,
dizendo qualquer coisa. Volto a caçar Amber pelo salão e a vejo saindo com
Gisela, e seu rosto mostra o desconforto. A maneira como rebola ao andar, a
coxa tão evidente na fenda do vestido e os bicos dos seios enrijecidos
bastam para deixar todo o meu corpo fervendo.

Quando ela volta à mesa, fico incomodado ao ver o amigo segurar


sua mão. A verdade é que mesmo eu não querendo admitir, estou louco,
doente de ciúme só de pensar que terei de vê-la com esse panaca filho de
uma puta a noite toda.
— Está distraído hoje — Kimberly diz, de um jeito sedutor.

Olho para seus olhos dourados e sua boca carnuda pintada com um
vermelho-vivo. Eu deveria querer beijá-la, deveria sentir desejo o suficiente
para isso. Kimberly é uma mulher atraente, tenho certeza de que todos os
homens me invejam por tê-la ao meu lado. No entanto, quando eu olho para
ela, a única coisa que posso dizer é que nada do que tenha de mais belo,
nem mesmo seus atrativos na cama, são mais convidativos do que cada
traço de Amber.

Seus olhos dourados perdem para o mar de chocolate que são os


olhos de Amber. E por mais que se esforce para chamar a minha atenção,
não vai conseguir, porque ela não é Amber Michell.

Ela não tem aquele cabelo marrom que cai feito cascata até o meio
de suas costas. Ela não tem os olhos mais inocentes e hipnóticos como os de
Amber. Sua pele não cheira ao perfume que me deixa louco e inebriado. E
sua voz não é como um canto de um anjo. E porra, que diabos está
acontecendo comigo?
Deus! Viro minha terceira taça de champanhe e a coloco sobre a
mesa de vidro, me sentindo amargurado, angustiado e totalmente
desnorteado. Eu não sei como lidar com essa merda de sentimentos
turbulentos que me enlouquecem, que destroçam a minha alma toda vez que
eu penso em Amber e no quanto eu a desejo. O gesto não passa
despercebido por Kimberly.

— Talvez precise de um lugar mais reservado. — Sua voz me traz de


volta, só então noto sua mão em minha perna, próxima ao meu pau. Claro
que ela percebeu que estou excitado, seu sorriso safado diz tudo.

— Kimberly, não — digo friamente, retirando sua mão.

Gisela vem até mim e sussurra que Ronny espera apenas meu aval
para iniciar a apresentação, então faço que sim. Assim que Gisela chega a
ele, não demora para o login da empresa surgir na grande dela à nossa
frente. A iluminação à nossa volta é estrategicamente diminuída, dando
assim mais foco ao telão. Ronny já está no palco, e sim, ele inicia com
aquele discurso decorado, mas que com seu talento e alguns adjetivos extras
à empresa, parece novinho em folha. As piadas, a forma de se conectar ao
público presente deixa todos vidrados em sua apresentação, e claro, isso é
um ponto extra. Ele fala sobre a trajetória da empresa e conecta à trajetória
da Freedon, traçando um perfeito paralelo até que nosso cliente passa a ter
todo o destaque. Confesso que eu também me surpreenderia com sua
excelente desenvoltura, se não tivesse totalmente focado em minha ereção
monstro e como isso está me incomodando agora. Vejo Amber se levantar
e... não, eu não suporto mais não a ter.

Me levanto, aproveitando a pouca iluminação à nossa volta. Sinto os


olhos de Kimberley em mim ao me desenvincilhar das mesas, mas não me
importo. Vou pelo corredor que horas antes vi minhas assistentes irem, e
bem lá no fundo está ela. Minha Amber.

A princípio, não consigo me mover, meus olhos estão presos ao seu


corpo. Observo a bunda deslumbrante, a cintura fina e sinto meu pau
pulsando na calça, querendo loucamente encontrar alívio em sua boceta
molhada. Suas curvas estão modeladas, deixando-as ainda mais irresistíveis.
Seu cabelo está preso em um coque, alguns fios soltos, porra, é a criatura
mais linda que meus olhos já viram. Eu poderia ficar aqui para sempre
apenas a admirando, fantasiando mil e uma imagens de como eu poderia
senti-la, como eu poderia tocá-la, fodê-la, mas estou louco demais para ficar
só na imaginação. Me aproximo, puxando-a para meus braços, encaixando
sua bunda em mim. E odeio o fato de ela acha que é o amiguinho, mas
agora ela vai mesmo ver o amiguinho, o meu, no caso. Eu a viro, dizendo
precisar de mais tempo do que seus dois minutos.

Seus olhos se derretem nos meus e seus lábios vermelhos se abrem


levemente quando roço minha boca na sua. Apesar de ressentida, posso ver
o desejo queimando em seus olhos, como se eu tivesse sobre ela o mesmo
efeito que tem sobre mim.

— Connor, por favor, alguém pode nos ver. — A voz aguda de


Amber me traz de volta à realidade.

Ela desvia o olhar, dando um passo para o lado e facilitando minha


passagem. Amber ergue seus olhos e lá está novamente a adoração em seu
olhar, o desejo queima no chocolate dos seus olhos, deixando minha boca
seca.

Toco seu rosto suavemente e sinto sua pele macia e quente.


— Não me importo, eu quero você, quero agora. — Olho ao lado e
vejo uma porta, então eu a abro e percebo que um tipo de almoxarifado. Eu
a puxo para dentro, em seguida, tranco a porta e volto a tocá-la.

Amber fecha os olhos e entreabre os lábios quando um suspiro


escapa por eles.

— O que está fazendo, não disse que era melhor o fim?

Aproximo meu rosto do dela, roçando meu nariz em sua bochecha,


inspirando seu cheiro doce e viciante. Eu quero beijá-la, quero tomá-la aqui
mesmo, sentir cada centímetro do seu corpo se encaixando ao meu. Roço
meus lábios nos seus e mordisco seu lábio inferior, fazendo-a prender a
respiração.

Seus lábios se abrem de forma convidativa e eu deslizo minha língua


por entre seus lábios, sentindo a maciez da sua boca quente.

Eu havia sentido falta disso. De sentir seus lábios nos meus, da


forma como eles se movem suavemente ao me beijar, ao provar o meu
gosto como se eu fosse seu oxigênio. Sua vida.

Seguro sua nuca, trazendo-a para mim, enquanto a outra mão desliza
em suas costas, passando por sua cintura até alcançar seus quadris,
puxando-a para perto, encaixando-a a mim.

— Connor, não. Eu não quero assim, não funciona assim — diz,


ofegante, mentindo para si mesma.

— E como você quer?

— Fidelidade, honestidade, amor...

Tudo isso deveria me fazer recuar, mas não consigo, não quando
estou com todo esse tesão explodindo em mim.

Volto a beijá-la e Amber enlaça seus braços em torno do meu


pescoço, enquanto suas mãos se afundam em meu cabelo, puxando-o com
força ao mesmo tempo que nosso beijo se intensifica.
O desejo cresce dentro de mim e o fogo arde em minhas veias, eu
quero arrancar seu vestido e fodê-la bem aqui. Atrevidamente, eu subo seu
vestido e a generosa fenda me ajuda muito. Juntamos nossas bocas de um
jeito louco antes de eu abrir o zíper da calça e tirar meu pau. Amber sorri
com malícia ao olhar para ele, em seguida, coloca suas delicadas mãos. Mas
não teremos muito tempo, então eu a pego em meu colo e ela entrelaça as
pernas ao meu redor. Afasto sua calcinha para o lado e enfio de uma só vez,
fazendo com que ela solte um grito. Continuo a fodê-la aos sons dos seus
gemidos cada vez mais altos.

Ao desgrudar nossos lábios, estamos com a respiração ofegante.


Toco seu rosto suado e noto o batom completamente borrado. Continuo
metendo com toda a força, e quando sei que estou prestes a gozar em sua
boceta tão molhada, sussurro em seu ouvido.

— Goza bem gostoso no meu pau, vai.

— Connor, não temos preservativo — Sussurra ofegante.

— Não se preocupe, estamos seguros. — Ofego. Não suportando


mais segurar, acontece. Ela primeiro, e eu, em seguida. — Eu quero você,
Amber... De todas as formas que você imagina — sussurro.

Ela fecha os olhos, seu corpo ainda sob o efeito do orgasmo.

— Eu também o quero, Connor — diz, com a voz entrecortada.

Sorrio, puxando-a para mim, buscando novamente seus lábios.

— Quero que durma comigo hoje. — Toco seu rosto e ela sorri. —
Vou te ter a noite toda. Quero chupar você... beijar cada centímetro do seu
corpo.

Amber recua, olhando-me nos olhos.

— Eu estou com o Nathan. E você também parece bem


acompanhado. — Sua voz é um murmúrio baixo e inseguro ao pronunciar
essas palavras.
Enrugo a testa, sentindo meu humor se esvair.

— Prefere ele a mim? — questiono, cético.

— Não é questão de preferência, Connor. Mas não vamos esquecer


que eu sou a fodinha do escritório, mas é com mulheres como aquela que
você gosta de ser visto.

— Bom, primeiro que aqui não é um escritório e eu acabei de foder


você — falo, colocando-a no chão. Ela ajeita as roupas, enquanto eu coloco
meu pau para dentro da calça e fecho o zíper. — Segundo, pensa muito
pouco de mim. — Ajeito seu cabelo. — Mas posso e vou te mostrar que
está errada.
Ela franze o cenho, balançando a cabeça em negação.

— Não se trata disso, eu só não...

Aperto os olhos e espero que ela conclua a frase, mas isso não
acontece. Tiro meu lenço e lhe ofereço, ela limpa o batom borrado, em
seguida eu falo o mesmo.
— A escolha é sua. O convite está aberto por hoje — digo secamente
e passo por ela, abrindo a porta e a deixando sozinha.
Eu sei que mais uma vez estou sendo incoerente em relação a
Amber. Depois de ter colocado um fim, agora vem toda essa droga de
impasse entre nós, e não importa como eu me sinta em relação a ela, ou o
quanto eu a quero, não sou eu quem irá levá-la para casa hoje. Quando
volto, a campanha acaba de ser apresentada, então as luzes voltam a
iluminar todo o ambiente e eu me sento à mesa ao som de aplausos. Não,
não posso fingir que não notaram a minha ausência, então faço o melhor ao
ignorar os olhares e sorrir.

— Quem foi a escolhida dessa vez? — Kimberly pergunta um pouco


irritada.

— Não faça cena, te convidei para vir, não garanti que iria te foder.
— Idiota — sussurra, virando a taça.
Minha boca se curva num sorriso torto. E não demora para as
pessoas virem me parabenizar por mais uma campanha de sucesso. Faço um
brinde a toda a equipe, e quando Manson se aproxima perguntando
sarcasticamente se estou bem, respondo da mesma forma.

— Melhor impossível.
Kimberley encaixa seu braço no meu. No momento que Amber e o
amigo passam por nós, seus olhos me encaram com incredulidade.

— Por favor, srta. Amber, tem um minuto?


Todos me olham surpresos, ela mesma não consegue disfarçar a
desconfiança.

— Claro, sr. Connor.

O cachorro do Manson sorri, enquanto Caroline me encara


desconfiada. Faço sinal para um dos fotógrafos e ele vem até nós.

— Vamos tirar uma foto — digo e vejo seu rosto ruborizar. — Por
favor, pode nos dar licença? — digo ao amigo e ele se afasta, consigo sentir
seu ódio por mim.

Amber estremece quando minha mão pousa em sua cintura. O


fotógrafo pede para ela olhar para a câmera, sei que está envergonhada.
Então o flash dispara.

— Obrigado, srta. Amber — sussurro.


Após um breve boa noite, ela deixa o salão com o amigo.

Todos ainda estão com olhares interrogatórios, então peço mais


champanhe enquanto Manson sorri abertamente.

— Não, eu não vou me apaixonar. — Adianto, piscando com


charme.
— Não vai — ele concorda, me surpreendendo —, porque já está. —
Agora é ele quem pisca e pega a minha irmã pela cintura e diz a ela algo
idiota sobre não demorar a ter outra cunhada em sua vida.

Dois ridículos. Mas não posso negar que sim, suas palavras me
causam desconforto. Eu não quero, essa é a principal regra, não se
apaixonar, mas o coração entende regras impostas pela razão?

Gisela se aproxima para se despedir e eu a agradeço por seu


excelente trabalho.

— Antes que eu me esqueça, pode confirmar minha viagem a Nova


Iorque semana que vem. E quero uma reserva extra, vou levar uma
acompanhante.

Ela sorri com malícia e fica evidente que sabe quem é, mas não me
importo, não mais.
Sigo Nathan, ainda atordoada com tudo o que aconteceu nesse curto
espaço de tempo. Confesso que a conversa com Gisela me desestabilizou,
deixando-me ainda mais confusa a respeito do que houve entre mim e
Connor e, sobretudo, a forma com que ele me tomou para si algumas horas
antes. O jeito como me beijou, a ânsia por me ter em seus braços, pela
primeira vez ter gozado dentro de mim sem preservativo, mas ele garantiu
que estamos seguros, e acredito nisso. Connor confunde todos os meus
pensamentos. Ele me afasta e com a mesma facilidade me traz de volta para
si. E agora, simplesmente me exibiu na frente de toda a elite de Portivil,
para me provar de alguma forma que não quer me esconder do mundo.

Deveria me sentir feliz por isso, certo? Deveria contar a Nathan o


que está acontecendo entre mim e meu chefe e voltar para ele, para o seu
lado, e deixá-lo me levar para a sua casa. Mas não é isso que faço, porque
uma parte minha, a parte sensata, está aterrorizada com esse pensamento.
Não quero me prender ao pensamento de que ele me quer ao seu lado, para
logo no momento seguinte, simplesmente me descartar, dizendo que não é
isso que almeja para sua vida. A forma que começamos foi errada. Eu, por
minha imaturidade, me deixei levar pelo sentimento desconhecido de ser
desejada e desejar alguém pela primeira vez. Mas depois de tudo, não é isso
que quero. Não quero viver esse sentimento às escondidas, eu quero mais e
não sei se Connor será capaz de viver algo verdadeiro ao meu lado.

Nathan me conduz em silêncio até o estacionamento do hotel. Ele


não disse nada desde o momento em que Connor se afastou, mas o conheço
o suficiente para saber que existem muitas perguntas que deseja me fazer e,
por Deus, eu não estou pronta para isso. Não esta noite, não agora, enquanto
ainda estou tão confusa.

Quando paramos em frente ao seu carro, faço menção de sair de


perto dele, mas sua mão segura meu braço, detendo-me.

— Agora que estamos sozinhos, exijo que me diga que porra foi
aquilo lá dentro? — A voz baixa não esconde a raiva por trás de suas
palavras.

Sinto frio na barriga e um sentimento de pânico de antecipação pelo


que está por vir. Sabia que Nathan não deixaria isso passar sem que levasse
a questão em debate.

Meneio a cabeça em negação e me afasto da sua pegada, dando um


passo para longe dele.
— Não sei do que está falando.

Ele ri e leva as mãos até a cabeça.

— Por favor, Amber... Não coloque à prova a minha inteligência. Eu


sei o que vi — rosna por entre os dentes. Seus olhos me fitam com atenção,
implorando por uma resposta que ele já sabe.

— Você apenas viu um chefe tirando uma foto com um dos


funcionários — argumento, e por Deus, o que estou fazendo? Nathan sabe...
Ele me conhece e sabe que estou mentindo. Mas é tão difícil dizer a ele,
porque não quero o magoar.

— Não... — diz, com um dar de ombros e um sorriso sem humor —


O que vi foi um babaca territorialista, mostrando para mim e para todos
naquele salão que você pertence a ele.

— Nathan, pare... — imploro, com um nó na garganta.

— Parar? Eu ainda nem comecei — esbraveja e eu me encolho. —


Desde quando está transando com ele?

Balanço a cabeça em negação, enquanto luto para não desabar.

— Fale, eu quero saber! — exige.

— Não há o que te falar. Por favor, vamos embora.

— Não vou a lugar algum até que me diga desde quando está
trepando com ele! — Sua voz sobe algumas oitavas.

Eu olho ao redor para me certificar de que não há pessoas por perto,


presenciando essa cena humilhante.

— Não tenho por que te dar satisfações da minha vida! Somos


amigos, mas isso não te dá o direito de falar assim comigo. Então vamos
embora, antes que alguém nos ouça.

Caminho até a porta do lado do carona e espero que ele destrave o


carro para que eu entre, porém, ele continua no mesmo lugar, o olhar preso
em mim com tanta raiva e decepção que me faz estremecer. Acho que
nunca o vi tão transtornado. Sinto-me aterrorizada.

— Pensei que fosse diferente das mulheres que ficam deslumbradas


por caras como o Connor Dickinson... Caras ricos, poderosos... Juro que
achei que não seria do tipo que abre as pernas para o chefe como
pagamento.

— Está me ofendendo, Nathan.

— Não estou, não. Estou apenas te falando a verdade. Você se


vendeu para aquele cara. Deixou que ele te manipulasse até que se tornou o
brinquedinho dele. Olha para você, acha mesmo que homens como o
Dickinson vão te levar a sério? — Ele ri sem humor. — A única coisa que
ele vai fazer é tirar toda a sua dignidade, e quando se cansar, vai
simplesmente te descartar como lixo, porque é isso que pessoas como nós
somos para ele. Lixos descartáveis. E não pense que porque você é bonita,
será diferente. Só me diga, por favor, que não foi burra a ponto de ter
deixado que ele fosse seu primeiro.
Suas palavras são cruéis e já não consigo me conter.

Ele ri mais alto, e num ataque de fúria, bate o punho no capô do


carro.

— Que merda, Amber! — rosna. — Não acredito que se entregou de


bandeja para ele. — Balança a cabeça decepcionado e desliza as mãos por
seu cabelo. — Estou tão decepcionado e enojado, que não consigo nem
olhar para você.

Respiro fundo e tento manter a calma, mas a verdade é que além da


tristeza, estou furiosa por suas palavras.

— Somos amigos há anos e eu te amo, mas isso não te dá o direito


de falar assim comigo.

— E o que espera que eu faça? Que te dê os parabéns por ser a puta


que trepa com o chefe?
Saio do meu lugar e caminho até ele, parando a poucos centímetros
de distância.

— Não fale assim comigo! — ordeno, já não conseguindo conter a


raiva que corre em minhas veias.

— Como eu fui idiota... Enquanto eu estava aqui, te esperando,


fazendo de tudo para que você me desse uma chance para te provar o
quanto te amo, você estava com ele... O que eu sou para você, Amber?
Algum tipo de estepe que você deixa guardado para usar futuramente? É
isso que estava fazendo? Desde que voltei, eu tive muita serventia para
você. Te busquei no trabalho, te levei para sair... Eu fiz tudo por você, mas
olha que ironia, não foi comigo que foi para cama... Você me usou, como a
boa manipuladora que é... Me manteve ali, me dando migalhas de
esperança, para quando o Connor te chutar, eu estar aqui, para consertar o
estrago que ele fez.

— Nunca te prometi nada, sabe disso! E sinto muito se você se sente


como se tivesse te usado, mas nunca faria isso com você ou com qualquer
outra pessoa. Por favor, não haja como se o que aconteceu entre mim e o
Connor fosse da sua conta, porque não é! Faz parte da minha vida, minhas
escolhas, e isso não tem nada a ver com me vender a ele. Se eu me
entreguei ao Connor, foi porque eu quis e não para pagar o que ele fez.

— Por Deus, Amber, não diga agora que está apaixonada por ele.
Porque se me disser, aí sim, vou ter certeza da sua burrice.

— É verdade... Eu estou apaixonada por Connor Dickinson, e se isso


me faz ser burra aos seus olhos, tudo bem. — Dou de ombros — Não me
importo, sabe por quê? Porque em toda a minha vida, eu nunca senti por
ninguém o que sinto por ele... O que sinto quando estou com ele.

— A que ponto se rebaixou, Amber... Se contentar em ser a amante


do chefe... Isso beira ao ridículo. O que seu pai vai achar de tudo isso,
quando ele souber?

— Sou adulta, Nathan! Eu faço minhas escolhas, e se não consegue


lidar com isso sem se sentir ofendido, pode ir embora! Não fique aqui, não
permaneça na minha vida!

Ele me encara, incrédulo por minhas palavras.

— Então é isso, está me dispensando? Está escolhendo-o?

— Não estou te dispensando, estou apenas te dando a chance de não


ficar ao lado de uma pessoa que você pensa tão pouco dela, e quanto a
escolha... Não há o que escolher... Eu nunca te amei dessa forma. Nunca o
vi com paixão e desejo... E mesmo que o Connor nunca sinta por mim o que
sinto por ele, não vou ficar com você, Nathan... Então, por favor, vá
embora.

— É isso mesmo que quer? Se eu for, não vou voltar.

Dou um passo para trás e faço um gesto em direção ao carro.

— A escolha é sua...

Ele assente e, em silêncio, segue para o carro. E o vejo dar partida, e


sem olhar em minha direção, vai embora. Mesmo que eu esteja com raiva,
não consigo não sentir tristeza, porque, de certa forma, estou perdendo uma
parte importante da minha vida.

As lágrimas molham meu rosto e eu apenas deixo que elas caiam


sem impedi-las. De todos os cenários que poderia imaginar para esta noite,
esse foi o único que pensei que fosse impossível acontecer.

— Amber?

A voz já familiar chama meu nome e eu estremeço, fechando os


olhos e abraçando meu corpo. Não me atrevo a olhar para ele. Estou tão
esgotada e frágil, que qualquer contato com Connor pode ser capaz de me
desestabilizar ainda mais. E como se soubesse exatamente o que estou
pensando, ouço se despedir de algumas pessoas, em seguida seus passos
aproximando-se e não demora muito para que seus braços estejam em volta
do meu corpo, puxando-me para junto de si. Com as costas pressionadas em
seu peito e sentindo-me estupidamente segura tão junto a ele, eu choro.
— Ei, o que houve? — Connor gira meu corpo, fazendo-me ficar de
frente para ele. Suas mãos tomam meu rosto, obrigando-me a encará-lo. —
Fala o que aconteceu. — Sua voz é carregada de preocupação.

— Só quero ir para casa.

Connor então assente, retira seu paletó e o coloca em torno dos meus
ombros, antes de me levar até o seu carro.

— Por que seu amigo foi embora? — Connor faz a pergunta


enquanto dá a partida no carro.

— Porque ele acha que estou cometendo um grande erro —


respondo baixo. — O problema é que há uma grande probabilidade de ele
estar certo, mas sou tão idiota, que ainda me prendo ao pequeno fio de
esperança.
Sinto seus olhos sobre mim, mas não me atrevo a olhá-lo.

— Isso tudo é tão ridículo! — digo e rio de mim mesma. — Toda


essa situação é tão... Absurda! Onde estou com a cabeça? Por Deus! —
Cubro o rosto com as mãos e inspiro fundo. O silêncio é perturbadoramente
pesado, e eu só quero que Connor diga que estou errada e que podemos
fazer isso dar certo.
— Você acha mesmo que essa situação também não é confusa para
mim? Que não me questiono todos os dias o que estamos fazendo? Não
quero que pense que é apenas a porra de uma foda, Amber. O simples
pensamento de que você me vê como um babaca que está apenas te
seduzindo para te comer às escondidas me deixa maluco! Você tem me visto
como o pior dos homens e estou tentando te provar que está errada — ele
diz e eu me obrigo a olhar em sua direção. Connor mantém a atenção à sua
frente, mas posso ver a tensão e o conflito em sua face. — Sabe, eu não vou
mentir, queria muito te ver como uma simples foda, mais uma das minhas
conquistas, seria bem mais simples... Mas não dá, Amber... — Ele me olha
de relance e a sombra de um sorriso aparece em seus lábios. — Você mexe
comigo de uma forma que eu não gostaria, e isso tem me deixado confuso,
então, por favor, se você quer que o que temos dê certo, só peço que tenha
paciência comigo e que confie em mim quando digo que você não é a porra
de uma foda. Não estou te escondendo do mundo, estou te protegendo dele.
Minha vida é caótica, Amber. Eu tenho um passado que me atormenta e
uma jornada cheia de cicatrizes que ainda tenho que lidar, mas isso não
significa que não a quero em minha vida. — Ele estende uma mão,
entrelaçando seus dedos nos meus. — Apenas confie em mim e me dê a
chance de provar que está errada a meu respeito.

— Uma chance?

Ele sorri e assente.


— Uma chance... É só isso que peço.
— Tudo bem... — digo, e rezo para não estar tomando a decisão
errada.
Ele leva minha mão até seus lábios, depositando um beijo terno
sobre ela. Seu gesto me aquece a alma.

— Passa a noite comigo, por favor.

Seu olhar é intenso sobre mim, e mesmo havendo razões importantes


que me levem a recusar o seu pedido, não o faço, porque, nesse momento,
nada me parece mais certo do que estar com ele.

Não se passou muito tempo desde a última vez em que estive aqui,
aquela noite em que estávamos tomados pelo desejo incontrolável um pelo
outro. A noite em que me entreguei por completo a ele, mas a sensação é
que se passou uma vida desde aquela noite. Tantas coisas aconteceram
nesse curto espaço de tempo. E hoje, diferente daquele dia, seguimos em
silêncio para seu andar. Connor está ao meu lado, a mão segurando a minha,
mas nenhum faz menção de se aproximar mais do que isso. Existe uma
tensão diferente no ar, é estranha e indecifrável.
Connor digita a senha e a porta se abre. Entramos em silêncio e ele
me guia pelo hall de entrada até a sala, perfeitamente decorada. Paredes
brancas com detalhes dourados, quadros de arte moderna. Tudo tão
simetricamente perfeito.
— Quer beber alguma coisa? — Connor pergunta, sem se afastar.
Seus braços enlaçam minha cintura, puxando-me de encontro a ele.

— Não, obrigada.

Ele me encara sério, seus olhos percorrendo meu rosto em silêncio,


como se procurasse as palavras certas para me dizer. Meu coração bate em
descompasso contra o peito, e essa simples aproximação é o suficiente para
desestabilizar meu corpo.

— O que você quer de mim, Amber? — pergunta, com a voz rouca.


Mas não parece esperar por uma resposta. Ele sabe o que quero. Sei que
mesmo que não lhe diga com todas as palavras, ele sabe a resposta, porque
é óbvio isso...
Connor toca meu rosto. É suave, aquecendo-me por completo. Seus
dedos contornam meus lábios entreabertos e um pequeno suspiro escapa
deles.

Ele fecha os olhos e inclina a cabeça para mais perto, descansando


sua testa na minha. Sua respiração é pesada em minha face. Ele cheira a
champanhe e bala de menta, e eu nunca pensei que essa combinação
pudesse ser tão convidativa.

Ele roça os lábios nos meus e sua respiração oscila, tornando-se tão
pesada quanto a minha. Inspiro seu perfume e fecho os olhos, sentindo a
urgência em meu corpo de sentir seu toque.

Connor se afasta o suficiente para olhar em meus olhos. Não nos


movemos, não dizemos nada, apenas continuamos nos encarando, como se,
de alguma forma, estivéssemos confessando o que desejamos sem proferir
uma palavra. Só quando ele me puxa para si, quando seus lábios tocam os
meus, que uma chama diferente se acende em meu coração, talvez seja a
esperança de que, de alguma forma, ele sinta o mesmo por mim.

Seguro a frente da sua camisa, puxando-o para mais perto, tentando,


de algum jeito, fazer com que ele sinta a minha necessidade de estar com
ele. Porque é isso que sinto, enquanto seus lábios movem-se sobre os meus
e suas mãos seguram minha cintura, colando nossos corpos.

Meu corpo estremece e implora por sua atenção.

Esse é o efeito que Connor tem sobre mim. Ele me faz questionar
tudo e, ao mesmo tempo, me faz perder a cabeça, agir de forma impulsiva e
desejar desesperadamente que o tempo pare a cada momento que estou em
seus braços.
Ele me confunde por completo, me faz pensar e acreditar que o que
sente por mim não é apenas desejo, me faz pensar que me quer não apenas
em sua cama, mas em sua vida.
Seu beijo é terno, doce e intenso, despertando em mim sensações
diferentes de todas as outras vezes em que me tocou. É como deveria ter
sido em nossa primeira vez juntos.

Seu toque... Seu toque é como brasa em meu corpo, aquecendo-me


por completo.
Seus lábios são macios e atenciosos, deslizando por minha pele de
forma terna, fazendo com que cada partícula do meu corpo se agite,
desperte.
Minha mente se desliga do mundo lá fora e tudo o que importa agora
é esse momento. A única coisa que importa é Connor e a urgência que
tenho em senti-lo. Connor me pega no colo e me leva até seu quarto,
colocando-me de pé em frente à sua cama. Suas mãos estão em meu corpo,
tirando meu vestido. Seus olhos me contemplam em adoração e luxúria,
enquanto ele arranca as próprias roupas.
Avanço sobre ele, tenho pressa de me sentir sua, como nunca havia
sentido antes. Eu o quero, preciso dele assim como anseio pelo ar, mas ele
não parece ter pressa. Connor quer aproveitar cada segundo.
Ele avança sobre mim, deitando-me em sua cama. Sinto-o hesitar em
estar dentro de mim, quando seu corpo nu cobre o meu. Quando seu rosto
paira sobre o meu, uma de suas mãos seguram as minhas no alto de minha
cabeça, e a outra desliza em minha face, contornando meus traços.

Vejo o desejo em seus olhos, mas há algo mais, um sentimento


diferente. Amor, talvez? A parte louca, insana e sonhadora, que existe em
mim deseja que, de fato, seja amor.

— Eu quero que você seja minha — murmura baixo e com voz


rouca.

Um tremor percorre meu corpo e eu fecho os olhos, tentando conter


a emoção que toma conta de mim.
Connor não me dá tempo para formular uma resposta, sua boca
cobre a minha, fazendo todo e qualquer pensamento ir embora. Ele sabe que
o quero. Conhece a urgência que meu corpo sente por seu toque. Não
preciso lhe dizer em voz alta que já sou sua, desde o primeiro momento em
que ele me tocou, para que ele tenha plena consciência disso.

Eu me entrego a ele como nunca havia me entregado antes, é


intenso, verdadeiro e assustador.
Ele me penetra, lento e profundamente, e meu gemido se perde em
seus lábios, que não deixam os meus por um segundo sequer.

Connor não tem pressa e eu também não. Cada toque exala


sentimento, e agora entendo o que Gisela disse sobre a diferença entre fazer
sexo e amor. Lento, profundo, sendo dele. Aproveitamos cada segundo e
cada sensação, nos esquecemos completamente do mundo lá fora.

E de uma coisa eu tenho plena convicção, nunca, não importa o que


aconteça quando o sol nascer, nunca vou esquecer desse momento, em que,
pela primeira vez, fizemos amor e nos entregamos por completo, nos
despindo de nossas armaduras e quebrando todas as regras.
Depois de um tempo, Connor me traz uma bebida, então aproveito e
envio uma mensagem a papai dizendo que dormirei com Gisela, com a
anuência dela. Claro que me sinto mal pela mentira, mas amanhã pretendo
falar a verdade.

— Seu pai? — ele pergunta.


Confirmo, colocando o celular ao lado, então me detenho alguns
segundos na foto da sua noiva. Ele me entrega um chá quente.
— Foi difícil, muito. — Sua voz parece fragilizada. — Os convites
já haviam sido enviados, nós... — Ele encara a foto da noiva, então se senta
ao meu lado. — Ninguém está preparado para isso, ainda é difícil falar
sobre...
Estico meu braço e acaricio seu rosto. Ele fecha os olhos com força,
parecendo trazer as lembranças daquele triste dia.

— O sol estava começando a surgir atrás das nuvens, que antes


estavam carregadas de um cinza tão profundo, que fazia aquela manhã
parecer quase fim de tarde. — Respira com pesar. —As poucas pessoas que
estavam no cemitério já tinham ido embora há algum tempo, mas eu
continuava ali, em frente ao seu túmulo, olhando fixamente para sua foto
perfeita. — Mantém o olhar baixo. — Meus olhos pareciam secos, sem
vestígios de lágrimas, e mesmo que por dentro estivesse gritando e aos
prantos, por fora eu permanecia frio feito gelo. Me lembro que minha
cabeça estava vazia e meu coração batia fraco e de um jeito desesperado no
meu peito. O nó em minha garganta impedia que minha respiração saísse
regular.

— Sinto muito, Connor — digo, em um sussurro.


— Tudo estava perdido... Toda a nossa história e nossos planos
estavam perdidos. Não haveria mais uma vida plena e feliz para nós dois.
Não acordaria mais todas as manhãs e olharia para seu rosto lindo, não me
sentiria o homem mais amado da face da Terra.
— Eu sei que parece estúpido manter as fotos e tudo mais, mas
naquela manhã eu prometi que nunca mais amaria outra mulher... Jamais
deixaria que meu coração a traísse... Não importasse quanto tempo eu
vivesse, meu coração seria apenas dela... Eu a amaria até o último momento
da minha vida. Apenas ela. E agora você está aqui... — Seu tom de voz me
deixa em dúvida se ele aprecia ou lamenta a minha presença.

Um sorriso involuntário surge em meus lábios quando nossos olhos


se encontram.
— Eu não sei a profundidade da sua dor, mas sei o que é ter alguém
que amamos em um dia, e no outro ela simplesmente não estar mais lá.
Ele toca meu rosto, e sinto a suavidade de sua pele contra ele. Deixo
o chá ao lado e ele me puxa para seus braços, deitando-se e me fazendo
deitar em seu peitoral. E por um momento, no silêncio do seu quarto, quero
acreditar que sim, somos pessoas quebradas, que sabem como perder dói,
mas que isso não nos impede de tentarmos seguir. Mesmo com nossas
feridas, podemos amar e aprender a confiar em nosso amor.
— Oi — sussurro.

— Você estava me observando dormir? — Amber ergue uma


sobrancelha confusa, e um sorriso tímido nasce em seus lábios tentadores.
— Você é linda, mas quando está dormindo é uma obra de arte.
Amber ergue a mão, tocando meu rosto com ternura. Seus dedos
delicados e pequenos contornam minhas sobrancelhas, descendo por meu
nariz, até delinear meus lábios.

Um pequeno suspiro extasiado escapa da minha garganta, seu toque


é tão suave que chega a ser uma tortura.

— Você é perfeito — diz, com voz baixa e cheia de admiração.

Abro os olhos e nesse momento sou sugado por seu olhar intenso e
penetrante, carregado de sentimentos que eu nunca vira antes em nem uma
mulher, nem mesmo em Hanna.

Acaricio seu cabelo bagunçado, sentindo-me sortudo de certa forma


por tê-la aqui comigo.

— O que foi Connor? — pergunta, olhando-me de um jeito aflito.

Respiro fundo, puxando-a para mais perto de mim.

— Não quero que volte a ver seu amigo... Não quero que saia com
ele nem com nenhum outro homem — ordeno, com a voz baixa. Seus olhos
me avaliam sem entender. — Você é minha Amber —falo, acariciando seus
lábios com os meus.

Ela toca meu peito me afastando, deixando-me confuso a princípio.

— E quanto a você? — pergunta, séria, olhando-me diretamente nos


olhos. — Vai continuar trepando com outras por aí?

Sorrio, relaxando meu corpo e segurando seu quadril de modo que


minha ereção se aperte contra sua barriga sensual.

— Serei apenas seu, Amber — sussurro em seus lábios.

Um leve tremor percorre sua pele, fazendo os pelos de seu corpo se


eriçarem.
Deslizo minha língua entre seus lábios, explorando sua boca com
devoção, sugando seus lábios com força, descendo meus lábios por seu
queixo até a linha delicada de seu pescoço, beijando sua pele ardentemente,
roçando minha barba por fazer em sua pele branca e delicada, deixando-a
vermelha.

As pequenas mãos de Amber agarram meu cabelo com força,


enquanto minhas mãos exploram seu corpo. Uma mão segura com força sua
bunda, enquanto a outra agarra seu cabelo, puxando-o de leve para trás,
para que minha boca tenha livre acesso para acariciar a pele nua do seu
pescoço e descer mais além, até encontrar seus seios pequenos e duros, com
os mamilos rígidos e rosados, me convidado a acariciá-los com a língua.

Passo a língua levemente em seu mamilo rígido, antes de sugá-lo


com força, enquanto minha outra mão alcança as coxas de Amber,
separando-as para que eu possa explorar seu sexo.

Meu pau pulsa enlouquecidamente, quando sinto sua umidade em


meus dedos.

—Porra! Amber, você está tão molhada — rosno, mordendo de leve


seu mamilo.

Ela se contorce e um gemido alto escapa de sua garganta, quando


penetro um dedo dentro dela, deliciando-me com a sensação de tê-la se
contorcendo sob meu toque, enquanto me deleito com seu corpo.

Sua pequena mão agarra o meu pênis, fazendo-me gemer alto e


buscar seus lábios, enquanto pressiono o polegar em seu clitóris,
massageando, ao mesmo tempo em que penetro outro dedo dentro dela.
Amber fecha os olhos com força, fazendo movimentos leves em meu
pau, subindo e descendo, aumentando minha ereção e o desejo de fodê-la
até me cansar de desejá-la, se é que isso algum dia será possível.

Afasto-me dela, me posicionado entre suas pernas. Eu quero sentir o


seu gosto maravilhoso em minha boca, quero que ela liberte o seu prazer
em minha língua, quero dar-lhe o melhor orgasmo que ela já teve.
Agarro suas coxas com força, abrindo-a lindamente para mim. Seus
grandes olhos chocolate me olham com submissão, enquanto me abaixo,
depositando beijos quentes em cada lado de suas pernas, até encontrar seu
centro úmido e quente.

Ela arfa e se contorce quando enfio minha língua dentro dela,


saboreando seu gosto, sugando os seus grandes lábios bem-feitos com
força, enquanto massageio o seu clitóris.

Amber agarra meu cabelo com força, enquanto intensifico meus


movimentos, mal conseguindo controlar o desejo de estar dentro dela.

— Connor... — grita, enquanto seu pequeno corpo se contorce e


treme, libertando seu prazer em minha boca, deixando-me satisfeito e
pronto para saciar meu desejo.

— Agora é minha vez — digo, segurando seus quadris e girando,


colocando-a de quatro e enterrando duro e forte dentro dela. —Ah! — grito,
quando a sinto se contrair, apertando meu pau com força, quase me levando
a um orgasmo instantâneo.

Seguro seu cabelo e a puxo para mim, enquanto suas mãos enlaçam
meu pescoço. Sinto o calor de suas costas em meu peito e sua cabeça jogada
para trás, apoiada em meu ombro. Mordo seu pescoço, segurando-a firme
nos quadris.

— Você é tão apertada, Amber — digo, com a voz rouca em seu


ouvido, enquanto a penetro mais fundo.

Ela geme alto e fala coisas incoerentes, enquanto seguro seus seios,
aperto sua cintura e a deixo novamente de quatro, segurando seu cabelo
com uma das mãos e a preenchendo com veemência, rude e selvagem.

E quando sinto que não posso mais aguentar, saio de dentro dela,
deitando-a em minha cama e derramando meu prazer entre seus seios
pequenos e convidativos, gemendo e tremendo, então desabo ao seu lado,
exausto e satisfeito.
— Preciso de um banho — diz, com um sorriso na voz.

Olho-a de relance e ela morde o lábio, fazendo meu pau exausto


pulsar.

— Um banho parece ótimo — afirmo, erguendo uma sobrancelha e


buscando seus lábios.

Passo a esponja no corpo de Amber, mal contendo minha ereção.


Esfrego a esponja entre seus seios, demorando um pouco naquele local, e
desço para as suas pernas.

— Connor... Desse jeito não vamos conseguir tomar banho. — Sua


voz é um sussurro.

Beijo seu pescoço suavemente e subo mordendo o lóbulo de sua


orelha.

— Quem manda ficar me provocando — digo, em seu ouvido,


pressionando minha ereção em sua bunda.
Ela vira-se para mim, seus olhos escurecendo com um desejo
gritante.

— Você que está me provocando — diz, erguendo uma sobrancelha.

Enlaço sua cintura, trazendo-a para mim.

— Amber — rosno, roçando meus lábios nos seus.

Ela passa a língua em meus lábios, sugando as gotas de água de um


jeito sensual, deixando-me ainda mais duro, se é que isso é possível.

Agarro seus quadris, girando seu corpo e a colocando contra a


parede, então puxo seu cabelo para o lado e mordo seu pescoço.

— Você gosta de provocar, não é? — rosno em seu ouvido.

Abro suas pernas, puxando seu quadril para trás, deixando-a


empinada para mim. Toco seu sexo e rosno baixinho, sentindo-a úmida e
pronta para me receber. Seguro meu pau entre as mãos e penetro-a com
força, fazendo-a gritar.

Amber se apoia na parede com ambas as mãos espalmadas, enquanto


eu continuo a penetrando com força. Segurando seus quadris e mordendo
seu ombro, beijando seu pescoço e me perdendo nas diversas sensações que
é estar dentro dela.

Após o banho, seguimos para a cozinha e eu a observo enquanto


prepara o café, com cabelo preso em um coque malfeito, uma blusa minha
que vai até a metade das coxas e descalça. Ela sorri, enquanto permaneço
sentado, esperando o café. Amber é uma moça simples, nunca em todo o
meu tempo com Hanna, ela preparou o café ou quis fazer um chá, minha
noiva tinha aversão à cozinha, e claro, andava sempre com camisolas de
seda e pele maquiada. É errado essa comparação entre elas, é muito errado,
mas acontece de forma natural. E não posso mentir que a forma simples e
sorrisos fáceis de Amber me encantam muito.

Depois do café, Amber declina meu convite para almoçarmos juntos.


Quando a deixo na casa do pai, sei que ela espera que eu entre ou algo
assim, apesar de não expor em palavras, seu olhar deixa clara a decepção
quando eu começo a me despedir. Eu a entendo, mas não estou pronto para
essa conversa ainda.

Na segunda, quando chego à empresa, meu café já está sobre a mesa,


mas não a vejo, imagino que esteja com Gisela. E sim, posso confirmar isso
quando, minutos depois, as duas vêm até a sala. Gisela me entrega alguns
documentos para assinar e diz que tudo já está pronto para a viagem de
Nova Iorque, então deixa a sala. Enquanto saboreio o café, Amber continua
com olhar interrogatório. Abro o site de fofocas e nossa foto está lá.

— Srta. Amber, presumo que toda essa tensão seja porque quer um
aumento, afinal, agora é uma celebridade de Portivil— brinco e ela revira
os olhos.

— Eu fiquei horrível na foto, nem sei como eles publicaram.

— Bom, agora você também é como essas mulheres com que


costumo ser fotografado — ironizo. — E sim, você estava linda, é linda, na
verdade. Mas mudando de assunto, seu pai disse algo sobre ter dormido
fora, porque sim, eu o vi na janela quando a deixei.

Amber desvia o olhar.

— Tivemos uma conversa, mas... — Ela prende os lábios.

— Quer que eu fale com ele? — Sim, estou sendo um babaca,


deveria partir de mim e não uma sugestão dela. Mas quero que seja especial
quando acontecer.

— Vai a Nova Iorque?

— Nós vamos...
— Eu não sei se...

— Está no seu contrato de trabalho, lembra? — Termino o café e


faço sinal para ela vir até mim. Me levanto e a abraço, então ela solta um
longo suspiro.

Acabo indo para a próxima reunião, e assim segue meu dia.

A viagem teria sido monótona – encontrar com clientes, extensas


reuniões e contratos fechados. No entanto, estar com Amber todas as noites
foi a melhor parte. Em uma das noites, um tanto bêbada, ela me beijou e
disse que me amava. Tudo que fiz foi corresponder ao beijo, no entanto,
isso mexeu comigo. A última pessoa que amei está morta, e no fundo, a
palavra se tornou gatilho para mim. Amber não notou que não correspondi,
e acho que só no segundo dia que ela entendeu que não estava a trabalho.
Eu a levei nos melhores restaurantes e a fiz conhecer a elite de Nova Iorque.
Mas confesso que o melhor foi acordar ao seu lado. Talvez, o filho da puta
do Manson tenha razão, eu estou apaixonado.

Voltamos em um domingo, e já não é segredo que estamos juntos,


seja para Gisela ou Manson e minha irmã, que insiste que eu devo levá-la a
um jantar para apresentá-la aos nossos pais. Duas semanas, eu a tendo todos
os dias, roubando-a em algumas noites. A essa altura do campeonato, seu
pai já sabe sobre nós, apesar de ainda não termos tido uma conversa a
respeito. Mas as coisas andam tão bem, uma perfeição que me dá medo,
sim, estou com tanto medo de perder Amber que acho que se mudarmos
nosso status, de alguma forma o destino vai me ferrar novamente. É
loucura, eu sei, mas um medo que me faz recuar, e muito, quando todos
dizem que devemos dar o próximo passo.

Lexie me enviou mensagens, fez algumas ligações e, sim, estou


tentando mantê-la distante, mas quando sua insistência se torna
insuportável, acabo levando-a para um almoço, onde evito palavras e ignoro
todas as vezes que ela tenta jogar alguma sombra sobre Hanna.

Na sexta, após Amber já ter ido prometendo me encontrar para um


cinema à noite, me surpreendo quando Gisela me liga em minha sala.
— Sr. Dickinson, tem alguém querendo ver o senhor.

— Gisela, sabe que não atendo ninguém sem ser previamente


agendado.

— Sim — ela parece constrangida —, mas é a mãe da Amber... E


pelo que parece, já está há três horas o esperando.

— Amber a viu?
— Não, quer apenas falar com o senhor, e disse que não vai embora
até conseguir.
Um gelo percorre meu corpo. Amber não fala sobre a mãe
abertamente, não entendo por que diabos essa mulher está me procurando.

— Deixe-a entrar — falo rapidamente.

Leva cerca de dez minutos até que Gisela venha e a anuncie em


minha sala. Uma senhora de meia-idade, a raiz branca mais grossa contrasta
com o tom loiro amarelado de seu cabelo, olhos expressivos e sinais de uma
pele bem cansada. Usando uma blusa de pizzaria e calça jeans surrada, ela
sorri. E a forma como faz olhando diretamente para a sala e não para mim,
me deixa desconcertado. Então vejo em sua mão uma foto imprimida em
folha A4, eu e Amber, no restaurante em Nova Iorque. Seus dentes
amarelados ficam mais evidentes quando ela se aproxima e estende a mão.
Sinto o cheiro de uísque barato. E sim, apesar de não serem tão parecidas,
vejo alguns traços dela em Amber.
— Prazer, sr. Connor, sou mãe de Amber. Primeiramente, eu quero
dizer que estou muito feliz em saber que minha Amber está sendo tão bem
acompanhada, com alguém rico como o senhor — diz, e pela malícia, fica
evidente o motivo de ela estar aqui.

— Amber sabe que está aqui?


Ela sorri sem jeito, e porra, cheira tão forte que faz meu estômago
embrulhar. Estranho a forma como os olhos dela desviam da pergunta.

— Não, não, ela não sabe. Mas quero lhe fazer uma surpresa, porém,
pelo meu estado, deve imaginar que não estou em meu melhor momento. —
Sua voz parece um ronco de motor, claramente bêbada. — Mas quando eu
vi as fotos, vi o senhor, eu soube que poderia lhe pedir ajuda para
reencontrar minha Amber.

— Pelo que me consta, eles ainda moram no mesmo lugar.


— Oh, sr. Connor, não seja maldoso. O senhor é rico, quero apenas
que me ajude a parecer melhor para a minha filha. Sei que é horrível pedir
dinheiro assim, mas sou uma pobre mãe que busca ajuda de alguém que
parece bom e ama minha filha. Não sei se te contaram, mas eu fui embora
fugida de David, aquele homem é um monstro e...

— E deixou a filha com ele? A mercê de seus cuidados?

Ela agora me olha com ódio. Continua a falar, mas não faz pergunta
alguma sobre Amber, apenas fala de si mesma e das angústias da vida,
ressaltando o quando sofreu por estar longe da filha e como é uma vítima. E
não suportando mais seu cheiro forte, pergunto de quanto precisa. É uma
quantia ridícula para mim, mas bem mais que alguém precisa para dar uma
repaginada. Faço um cheque, e quando a mulher o pega da minha mão, seus
olhos ganham um brilho sinistro.

— Muito obrigada, sr. Connor, Amber com certeza ficará feliz


quando souber que ajudou sua mãe.
— Prefiro que ela não saiba sobre isso, senhora...?

— Farele. Natali Farele.

— Sra. Farele, prefiro que Amber não tenha conhecimento do nosso


encontro.
— Eu entendo...

Ela pega novamente em minha mão e finalmente deixa a minha sala.

Deixo a empresa logo após a mulher sair, e como pode ser tão cínica
em acusar o sr. Michell, se o homem sozinho criou a filha? Suspiro com
pesar por Amber ter esse tipo de mãe. Não acho que ela vá mesmo procurá-
la, ficou claro que apareceu apenas pelo dinheiro.
Pelo horário, sigo diretamente para casa de Amber, e não demora
para ela vir até mim, sorrindo como um anjo.

— Seu pai disse alguma coisa?

— Connor, eu não sou criança — fala e rapidamente eu a puxo para


um beijo. — Mas sinto te informar que ele está na janela, então vamos —
brinca.

Assim que faço o retorno, ela percebe para onde estamos indo. Sim,
mas antes de ela ir embora, perguntei a Amber se ela quer ir ao cinema, o
que prontamente aceitou. Não existe cinema porra nenhuma, mas ela não
precisa saber até chegarmos lá.

— O cinema mudou de enderenço? — provoca.

— Um filme mais ousado, onde nós iremos atuar. — Pisco com


charme.

E o caminho até meu apartamento é uma loucura. Logo estamos com


as nossas bocas grudadas e minhas mãos passeando por toda a extensão das
suas coxas. Minha gravata é arrancada e a camisa está aberta.

Quando paro o carro na garagem, saio e em seguida abro a porta para


ela, ajudando-a a sair. Eu a envolvo pela cintura e a puxo para meus braços,
enquanto caminhamos cegos até o elevador. Estou inebriado de desejo, seu
cheiro tão doce deixa-me zonzo, e minhas mãos estão em cada centímetro
do meu corpo.

— Eu a quero tanto — sussurro em seu ouvido e mordo o lóbulo de


sua orelha, arrepiando-a e percebendo suas pernas fraquejarem.
Busco sua boca, sugando sua língua. Ela tem um gosto viciante, sei
que estou me perdendo nele, sendo dela e essa é a melhor sensação que eu
já provei na vida.
Toco seus seios sobre o tecido rendado do vestido e os sinto
enrijecer. Ela arqueia o corpo quando minha boca desce por seu pescoço,
passando por seu busto, mordendo seu seio por cima do tecido, fazendo
Amber se contorcer e agarrar meu cabelo.

As portas do elevador se abrem e eu não sei como, nem quando


aconteceu, só que quando dou por mim, já estamos em meu apartamento.

Ela arranca meu paletó e camisa, enquanto minhas mãos lutam


contra o fecho do seu vestido.
— Droga — resmungo, no minuto seguinte ouço o som do tecido se
rasgando. — Eu juro que te compro outro — falo, buscando seus lábios.
Meu corpo cai de encontro ao sofá e minhas mãos a puxam, de
forma que fica sentada sobre mim, com as pernas em cada lado do meu
quadril. Puxo seu vestido para baixo, exibindo seus seios, avaliando-os com
admiração.

— Você é linda — sussurro, umedecendo os lábios com a ponta da


língua antes de cobrir um dos seus seios com minha boca.

Ela joga a cabeça para trás, dando mais acesso às minhas carícias.
Circulo a língua ao redor do seu mamilo rígido, mordendo-o em seguida.
Amber geme alto, contorcendo-se sobre meu pau.

— Você é deliciosa — falo, buscando o outro seio e fazendo o


mesmo movimento sobre ele.
Amber agarra meu cabelo e busca meus lábios com fervor, enquanto
minhas mãos habilidosas desfazem seu coque, seu cabelo caindo feito ondas
por suas costas. Minha boca busca seu pescoço, mordendo sua pele de
forma rude, enquanto uma de minhas mãos está no meio de suas coxas,
afastando para o lado o tecido de sua calcinha e mergulhando um dedo na
sua boceta úmida.

— Ah! — geme, arqueando o corpo.


— Você está tão molhada, Amber. — Minha voz sai rouca e
inebriada de prazer e luxúria. — Eu quero foder você, Amber... Quero
agora. — Ergo-a sem desgrudar nossos corpos. Ela está com as pernas em
volta de minha cintura enquanto minhas mãos seguram sua deliciosa bunda
e minha boca chupa seu seio.

Caminho pelo corredor, até chegar ao meu quarto, então acendo a luz
e a coloco em pé, de frente à cama. Amber avalia meu corpo, e logo abaixo,
minha ereção pulsante e crescente, quase rasgando o tecido da calça preta.
Arranco seu vestido e calcinha, deixando-a apenas com seus saltos. Seu
olhar percorre meu corpo e um sorriso sensual e satisfeito nasce em seus
lábios.
— Amber... Minha Amber — sussurro, tocando sua face.

Ela fecha os olhos, saboreando sensação suave e quente dos meus


dedos traçando um caminho lento e sensual por meu pescoço, passando por
entre seus seios até a altura dos seus quadris. Eu a puxo para mim,
pressionando minha ereção em sua barriga e mordendo seu queixo antes de
sugar seu lábio.

— Diga que é minha — ordeno, buscando seus olhos.


Ela morde o lábio, pousando suas mãos em meu peito. Enlouqueço
quando ela desce até a frente de minha calça e toca minha ereção.
— Sim, eu sou sua — diz num sussurro baixo.

E é nesse momento, quando sorrio e meus lábios buscam os seus,


que ela se dá conta da verdade que acabou de dizer.

Sim, ela é minha. Desde o primeiro momento que se perdeu em


meus olhos, desde o primeiro momento que provei seus lábios, e agora, eu
tenho certeza de que não importa o quanto eu tente me afastar dela, eu
nunca irei conseguir, pois eu estou ligado a Amber.

Deito-me ao seu lado, minha respiração é ofegante tanto quanto a


dela. Amber fecha os olhos por um segundo, enquanto sua respiração fica
calma e minha cabeça volta a funcionar. E é nesse momento que penso na
mulher que infelizmente é sua mãe. Fico de lado, apoiando a cabeça no
braço.

Seus olhos perdem o brilho e seu sorriso se desfaz. Então percebo


que ela está olhando para a foto de Hanna.
— Ainda sente falta da sua mãe? — Minha mão toca seu rosto.
— É diferente. Sua noiva sofreu um acidente fatal — continua atenta
a foto —, não foi uma escolha, já minha mãe quis nos deixar...

— E desde que ela foi embora, nunca teve notícias?


— Não, mas às vezes gostaria de ter, sei lá, queria que ela voltasse
apenas para dizer que se arrependeu, que sentiu minha falta, mas não vai
acontecer, não ela.
Percebo sua tristeza, então a puxo para meus braços.

— Ainda sente falta dela, a Hanna. — É a primeira vez que ela fala
diretamente sobre minha falecida noiva, e sinto-me desconfortável, pois não
sei até que ponto posso falar sobre esse assunto sem que isso a magoe.

— Sim, mas não precisamos falar dela. Como você enfatizou, não
foi uma escolha...
— Por favor, Connor... — Ela se afasta, apoia a cabeça na mão e me
encara.
Respiro fundo, deito-me de costas e fito o teto. Falar sobre a Hanna é
sempre difícil para mim.

— Eu a conheci ainda na faculdade. Na verdade, eu conheci


primeiro a Lexie, e foi através dela que conheci a Hanna. Foi impossível
não me apaixonar... Hanna era espontânea, divertida... Me fazia rir como
ninguém... Era minha parceira e... — Um sorriso involuntário surge em
meus lábios e eu viro o rosto para encarar a foto ao lado da cama. — Ela era
tudo para mim. Ela me fez querer isso sabe, casamento, família...

— Filhos? — Amber pergunta, me deixando constrangido.


— Bom, ela queria... uma casa cheia deles.

— Mas você, não... — deduz.


Volto-me para Amber e ela sorri, não o sorriso genuíno que ilumina
seu rosto, mas um que ela usa para tentar esconder a tristeza. Sinto-me mal
por ser o causador desse sentimento. E apesar de ser desconfortável, prefiro
que ela saiba agora.
— Lembra quando te disse que estávamos seguros quanto a não usar
preservativo? — Ela confirma. — Tentamos por algum tempo... ter filhos.
O sonho da Hanna era ser mãe, e mesmo com nossa família dizendo que era
uma loucura, afinal, éramos jovens e tínhamos acabado de terminar a
faculdade. Mas tínhamos pressa em começar a viver e queríamos
ultrapassar todo o processo de noivado e casamento...

— O que aconteceu?
— Hanna se submeteu a alguns exames, tentando encontrar a
resposta de não conseguirmos, ela estava bem e saudável... Depois de vários
exames com todos os resultados satisfatórios, foi a minha vez de tentar,
então descobrimos que meus espermas não eram bons, ou seja, não
importava o quanto tentássemos, o problema estava em mim, eu não
conseguiria — confesso. Uma pequena parte de mim deseja que Amber
tenha a mesma reação de Hanna e que aceite essa realidade, como ela
aceitou. No entanto, não é o que seu semblante me diz. Ela abre e fecha a
boca algumas vezes, como se de alguma forma estivesse tentando encontrar
as palavras certas para dizer.

— Por isso disse na festa que estávamos seguros? Por isso passou a
dispensar o preservativo? — Ela pergunta, confirmo em um breve aceno.
— Eu não posso ter filhos, Amber, e a Hanna abriu mão do seu
sonho de ser mãe porque me amava. Ela tinha a opção de ir embora, de
encontrar alguém que pudesse dar a ela o que eu não podia, mas ela ficou...
Foi a maior prova de amor que alguém já me deu.

Amber solta um suspiro longo e se aproxima, aninhando-se em meus


braços.
— Ela era uma mulher especial — murmura baixo.
— Sim, ela era — confirmo, beijando o topo da sua cabeça. Bom,
não era exatamente isso que eu esperava ouvir.

Ela ergue o rosto para mim e sorri, tocando minha face.

—A propósito, amei o filme. — Muda de assunto, me fazendo rir.


— Podemos repetir a sessão, agora com os comentários dos
produtores.

Ela solta uma risada.


— Não posso dormir hoje, então deixa para próxima.

Eu a abraço forte, então beijo sua testa e, pela primeira vez, entendo
que não é porque Amber se entrega tão perfeitamente a mim que está
disposta a fazer o mesmo sacrifício que Hanna, e de uma forma cruel isso
dói, me deixando inseguro sobre nosso futuro juntos.
Connor me deixa em casa, quando entro me deparo com papai à
minha espera. Respiro fundo enquanto tranco a porta, já premeditando o
que ele vai dizer.

— Preparei o jantar. — Típica frase para iniciar um assunto.


— Pai, eu já jantei e...
— Está acontecendo alguma coisa? — A voz sai em um tom sério.
Ele permanece sentado à mesa, seu prato vazio ainda está à sua frente.

— Eu estou bem. — Me aproximo e digo, forçando um sorriso.


Papai torce a boca, num gesto reprovador. Ele sabe que eu estou
mentindo.
— Amber, as coisas modernizaram, eu sei, não que eu esperasse que
sr. Dickinson viesse aqui e te cortejasse como se fazia antigamente. Mas
sequer falar com seu pai não me parece o melhor caminho.

Engulo em seco. Já tivemos uma conversa como essa e eu disse


sobre Connor, mas claro que papai esperava bem mais que só eu dizer. Solto
um suspiro alto demais. Ele tem razão. Connor não demonstrou interesse
em vir. Não vou mentir que é sempre desconfortável olhar para as fotos de
sua falecida noiva e a forma como ele a endeusa. O fato de não ter se
importado com Connor não poder ter filhos me faz sentir inferior, porque,
no fundo, eu me importei. Sinto um aperto no peito com esse pensamento.

— Eu não queria ter que te falar isso, mas acho que está trilhando
um caminho complicado, Amber. — Sua sinceridade quase me faz chorar e
ele nota isso. — Você gosta dele.

Isso foi uma pergunta? Não, não foi. Papai está afirmando o óbvio.

Ergo meus olhos novamente para ele.

— Amber... Ele é um homem bom. Ajudou-nos quando mais


precisamos, no entanto... — Papai parece procurar as palavras mais gentis,
como se eu ainda fosse uma criança. — Sr. Connor vive em um mundo
totalmente diferente do nosso.

Durante todos os momentos intensos que tive com o Connor, ignorei


esse fato, mas a verdade é que somos muito diferentes.
— Eu sei — digo, com voz baixa. — Eu sei — repito ainda mais
baixo, dessa vez não para que meu pai ouça, mas para que eu entenda isso.

— Mas... Se existe amor de ambas as partes... A diferença social não


é nada. Contudo, que ele saiba respeitar os seus limites no mundo dele e
você saiba respeitar os dele. — Suas palavras me pegam de surpresa. Ergo
meus olhos a tempo de ver um lampejo de um sorriso satisfeito em seus
lábios. Ele toca minha mão, apertando os nós dos meus dedos. — Eu só
quero que seja feliz, filha, é meu bem mais precioso. Claro que eu esperava
uma conversa de pai para genro, mas se está bem para você assim, tudo
bem para mim. Só não quero que sofra, querida.

— Obrigada. — Sorrio e seguro sua mão.

Papai levanta-se da cadeira, inclinando-se sobre a pequena mesa e


depositando um beijo na minha testa. Não somos de trocar afeto sempre,
então o seu gesto sai um pouco desajeitado. Mesmo assim, não importa. Eu
amo o seu carinho do mesmo jeito.

Sigo para meu quarto, rolo na cama, procurando o corpo quente que
a pouco tempo atrás estava me aquecendo, no entanto, ele não está aqui,
nunca vai estar, e parece que será sempre assim. Sento-me na cama,
sentindo todo meu corpo dolorido, resultado das últimas horas com Connor.
Fechando os olhos, eu penso em nós. Nunca em toda a minha vida havia me
sentido dessa maneira, plena, desejada, completa... Nunca em toda a minha
vida tinha sido tocada e amada como agora. Então, por que me sinto
andando sobre cacos cortantes?

Deito-me em minha cama, olhando para a escuridão do meu quarto.


Tão opostos e pode parecer idiotice, mas todas as vezes que ele fala da
noiva, em seu olhar acende um brilho intenso. A perfeita que o amou tanto,
que mesmo vendo seu sonho de ser mãe ruir, colocou seu amor ao homem
de sua vida em primeiro lugar. A verdade é que ele a ama e eu nunca serei
como ela.

Fecho os olhos, tentando controlar a frustração, enquanto mil e uma


coisas passam por minha cabeça. Ele me disse tantas coisas que me levaram
a acreditar que de fato sente alguma coisa por mim, não apenas mero desejo
de me levar para cama, ele havia me dito que será apenas meu. Mas depois,
a forma como Connor a exalta, a maneira como me sinto tão inferior a ela...
Imagens dos nossos últimos momentos juntos vêm à minha mente e eu me
perco nas sensações que cada lembrança me faz sentir.

Acordo num sobressalto com o toque insistente da campainha. Olho


no meu relógio de pulso. Onze e meia da noite.

Quem poderia ser a uma hora dessas? Exceto...

Antes que meu pensamento continue seu raciocínio, me levanto da


cama e corro até a porta, ciente de que vou encontrar a imagem perfeita do
homem que eu tanto amo, no entanto, a decepção toma conta de mim
quando Nathan aparece no meu campo de visão.

A calça jeans escura contrasta com a camisa cinza e jaqueta de couro


preta. Fumando um cigarro, ele mantém a pinta de bad boy.

— Oi, Amber. — Ele força um sorriso quando seus olhos parecem


detectar a decepção que sinto por vê-lo. — Desculpe se é uma péssima
hora, e sei que já me desculpei por telefone e você me disse que me
perdoou, mas eu preciso ver isso em seus olhos.

Mordo o lábio, forço um sorriso e balanço a cabeça em negação.

— Não, é que eu... apenas fiquei surpresa em te ver a uma hora


dessas. — Tento parecer normal, no entanto, meu coração bate
descompassado, aumentando ainda mais a sensação vazia de estar
cometendo um erro.
— Desculpe pela hora... Eu vim mais cedo, mas seu pai disse que
você não estava.

Passo as mãos no cabelo e forço um sorriso.


— Eu estive ocupada — falo meio sem jeito.

— Claro. — Seus lábios se curvam em um sorriso triste e magoado.


Por mais que eu não sinta nada por ele, Nathan é uma pessoa
especial e eu não quero que ele fique chateado comigo.

— Nathan...

— Eu entendi, Amber... Só que eu me recuso a aceitar que você seja


tão parecida com as outras mulheres — diz, sério. Seu tom é grave, sua voz
é uma acusação impiedosa. — Você é linda e inteligente, Amber. Não
acredito que o rostinho bonito daquele imbecil te cegou a ponto de você não
perceber o que de fato ele quer.

Eu quero me defender de suas amargas palavras, no entanto, eu não


sei se posso me arrepender. O coração está cego, mas a razão, ainda que
apenas um terço dela, me diz que no fundo vou sofrer mais do que já sofri.

Nathan toca meu rosto.

— Não deixe ele te usar, Amber, você é melhor do que qualquer


outra que passou pela cama dele. — Nathan me olha atentamente e eu temo
que as lágrimas invadam meus olhos. Eu não posso mentir para ele, não
posso dizer que nada está acontecendo entre mim e o Connor, porque
Nathan sabe a verdade, ele me conhece, afinal. — Pense nisso, certo? E se
por um acaso você achar que eu valho a pena... Eu ainda estarei te
esperando. — Ele inclina-se, depositando um beijo no canto de minha boca.

Antes que eu possa reagir ou formular qualquer frase, ele me dá as


costas e vai embora. Observo enquanto ele entra em seu carro e dá partida,
e então quando vejo que está longe do meu campo de visão, as lágrimas
vêm com tudo.

Na manhã seguinte, acordo cedo e saio antes que meu pai se levante.
À manhã está fria, e pelo movimento no ponto de ônibus, parece que tudo
está atrasado. Demoro para chegar à empresa, e esse atraso é tudo que eu
não precisava.

— Bom dia, Gisela — cumprimento assim que chego ao nosso


andar.
— Aconteceu alguma coisa? — questiona, notando o meu atraso.

— Ônibus...

Ela meneia com a cabeça. Vou até a sala de Connor, passando


primeiro pela minha, e entro sem bater. Ele está em pé em frente à grande
parede de vidro, contemplando a beleza da cidade. A calça social preta e a
blusa branca ficam perfeitas em seu corpo, o paletó está nas costas da
cadeira, como de costume. A visão dele, mesmo que de costas, é de tirar o
fôlego.
Ele está ao telefone, e pelo visto, seu humor não é dos melhores. Ele
então se vira e coça o queixo impacientemente, parece que a pessoa do
outro lado o interrompeu no meio de uma frase e eu sei o quanto ele odeia
quando fazem isso. A respiração impaciente deixa claro que é um cliente, se
fosse um funcionário, estaria na rua.

— Está tudo bem com seu pai? — pergunta, como costuma fazer
quando eu me atraso.

Confirmo, então Connor se aproxima e me beija, em seguida se


afasta, me pede para enviar alguns e-mails e segue para as intermináveis
reuniões.

Duas horas depois, já havia mandado todos os e-mails e tinha


organizado a sua agenda, deixando em aberto alguns horários do dia
seguinte que precisam ser preenchidos.

Saio para almoçar com Gisela. Desde que Connor e eu assumimos


nosso relacionamento, meus almoços com ela diminuíram bastante, então,
como até essa altura ele não voltou para sua sala, resolvi acompanhá-la.

Desde a noite da festa de lançamento, não tocamos no assunto de


nossa conversa. E tendo em vista como as coisas seguiram entre mim e
Connor, ela se mostrou indiferente ao assunto. Nunca me fez perguntas
sobre o que tinha com Connor ou me tratou de forma diferente por eu estar
saindo com o chefe, o que é bom, porque odiaria que nossa amizade tivesse
ficado estranha. Quando retornamos para a empresa, Connor está em sua
sala, revisando alguns papéis. Ele pede para manter o dia de amanhã em
aberto, pois terá algumas coisas pessoais para resolver, mas não entra em
detalhes.

Quando nosso expediente acaba, Connor me leva até minha casa


para que eu possa pegar algumas peças de roupas, com a desculpa de que
teremos uma noite diferente. Crio vários cenários em minha mente, mas
nenhum deles inclui Connor na cozinha, preparando nosso jantar.

Ele adora me surpreender e hoje não está sendo diferente. Acabamos


de sair de sair do banho, onde fizemos amor pelo que parece a milésima
vez, e juro que nunca me canso. O conjunto de moletom dá a ele um ar
relaxado, com seu cabelo úmido e um pouco bagunçado. Mesmo assim,
todo despojado, continua lindo. A imagem perfeita da perdição, minha
perdição.

—As enchiladas estão quase prontas. Tenho que virar as quesadillas.


Elas precisam de mais alguns minutos. Jantaremos daqui a pouco — diz
com orgulho e vem até mim, que continuo sentada sobre o balcão de
mármore. Connor se posiciona entre minhas pernas, apoiando as mãos em
minha cintura. — Mas confesso que estou faminto por outra coisa no
momento. — A voz rouca e sexy faz meu corpo se derreter.

Uma de suas mãos aperta minha cintura com força, enquanto a outra
brinca com uma mecha do meu cabelo. Eu estou sem ar e trêmula. Deus! Se
ele continuar me encarando com esse olhar profundo e faminto, não sei se
vamos conseguir esperar até depois do jantar. Se bem que a ideia de transar
com Connor bem aqui me parece tentadora.
— No entanto, creio que é mais prudente te alimentar antes do que
eu tenho em mente — sussurra em meu ouvido.

Sinto um arrepio percorrer meu corpo e desaparecer no meio das


minhas pernas. Um suspiro pesado que mais parece um gemido escapa da
minha garganta sem que eu perceba.
— Amber... — ele diz meu nome baixinho e eu fecho os olhos. Seus
lábios roçam nos meus suavemente, antes de sua língua abrir caminho entre
meus lábios e encontrar a minha.
Afundo meus dedos em seu cabelo, despenteando-o completamente.

— Eu não quero ser alimentada de comida mexicana — digo,


quando ele se afasta.

Connor me dá seu sorriso torto perfeito e morde o lábio.


—Eu cozinhei para você — diz, dando um passo para trás. Ele passa
as mãos no cabelo e seus olhos me avaliam da cabeça aos pés. Um sorriso
devasso nascendo em seus lábios em seguida.
— Você está... — Um suspiro lento e totalmente erótico escapa da
sua boca. — Tão... Perfeitamente sexy usando minha camisa.

Sorrio, sentindo minhas bochechas corarem.

Connor nos serve com vinho, me entrega uma taça e, em seguida,


pega um pequeno controle e o aperta. Uma música suave e romântica
preenche o ambiente.

—Faithfully do Journey? Não sabia que você apreciava rock —


digo, com um sorriso.

Connor ergue uma sobrancelha e sorri.


— Eu adoro os clássicos — declara, a voz cheia de orgulho.

— Você nunca para de me surpreender?

— Você não acha que é muito nova para conhecer essa música?

Baixo o olhar e sorrio.


— Minha mãe costumava ouvir — digo vagamente e sinto um aperto
no meu peito ao falar dela. — Sabe... Quando eu era pequena e ela ainda
estava em casa, sempre me pegava no coloco e dançava comigo pela sala...
Acho que é uma das poucas recordações felizes que tenho dela. — Mordo o
lábio e volto meu olhar para Connor, que parece pensativo.
— Sinto muito que ela tenha ido embora.
—Também sinto — baixo o olhar para taça em minhas mãos —, mas
ela fez sua escolha, não é? —Ergo meus olhos para ele, que continua parado
no lugar, com os olhos presos em mim —Acredito que papai e eu não
éramos suficientes para ela. A vidinha pacata de dona de casa e maternidade
devem tê-la deixado entediada. — Forço um sorriso, mas sei que não
consigo esconder a tristeza com esse gesto. De todos os assuntos
relacionados à minha vida, esse sempre foi o que nunca gostei de
mencionar, principalmente em momentos como esse, que deveriam apenas
me deixar feliz.

Connor vem até mim, pega a taça e coloca ao meu lado, então segura
meu rosto com ambas as mãos, me obrigando a encarar seus olhos.
— Não sei quais os motivos que fizeram sua mãe ir embora, mas de
uma coisa eu tenho certeza, ela perdeu a oportunidade de estar ao lado da
mulher e filha maravilhosa que é você, Amber.
Não consigo não sorrir diante de suas palavras.

— Obrigada — murmuro, puxando-o para um beijo.

— Espero que você goste de comida mexicana. — Muda de assunto,


afastando-se de mim e indo até o forno, tirando as enchiladas.
— Eu adoro.

Ele tira as quesadilhas da frigideira e as coloca numa travessa cheia


de tacos duros e moles. Tem até burritos. Ele preparou um pouco de cada
coisa.

— O resto está na mesa. Traga minha taça de vinho, por favor.


Ele pega a travessa e segue para a varanda. Eu o sigo com as duas
taças de vinho e encontro a varanda iluminada pelo luar.
Connor coloca a travessa na mesa e pega as taças das minhas mãos,
colocando-as sobre ela, em seguida, puxa a cadeira e me ajuda a sentar.
Sinto-me maravilhada e ainda mais apaixonada com seu gesto.

— Eu vou servi-la — diz ao meu ouvido, causando-me arrepios.

Ele prepara meu prato e senta-se à minha frente, se servindo em


seguida. Observo enquanto ele baixa o olhar para o prato antes de voltar-se
para mim, com um sorriso torto nos lábios.
—Eu estou muito feliz que você esteja aqui. Comigo — diz de um
jeito sedutor.
— Eu também estou muito feliz. — Seguro sua mão sobre a mesa e
aperto os nós dos seus dedos com carinho.

Connor segura minha mão e a leva aos lábios, depositando um beijo


suave.

Voltamos a nossa atenção para nossos pratos. Bastou a comida tocar


em minha língua para eu ter certeza de que tudo está melhor do que eu
imaginei. Connor é uma caixinha de surpresa. Quanto mais eu o conheço,
mais percebo que existe muito do homem à minha frente que não tenho
conhecimento.
Saboreio o jantar, e já satisfeita, recosto-me na cadeira e tomo um
pouco da minha segunda taça do vinho.
— Estava muito bom.

Connor sorri timidamente e toma um pouco do vinho.


—Tudo que eu faço é bom, srta. Michell — diz, com tom brincalhão.

— Tão modesto — provoco-o e ele apenas me dá uma piscadela.

Ele estende a mão para mim e faz um gesto para que eu sente em seu
colo. Descanso um braço ao redor dos seus ombros, e com minha mão livre
acaricio seu rosto. Connor aperta minha cintura com uma das mãos,
enquanto a outra simplesmente brinca com uma mecha do meu cabelo.
— Obrigada por esta noite — digo, sem tirar os olhos dos seus. —
Estava tudo perfeito.
Connor toca meu rosto, e seu toque é suave, fazendo meu coração
dar pulos em meu peito.

— A noite ainda não acabou — sussurra com a voz aveludada e


sensual. Connor segura minha nuca e me puxa para si, fazendo nossos
lábios se encontrarem. A princípio, nosso beijo é lento e sensual, mas logo
transforma o momento mágico em uma tortura erótica.
— Eu preciso mais do que isso — sussurro, com a boca na sua.

Connor descansa uma de suas mãos em minha perna, seus dedos


brincando com o tecido de sua camisa, puxando-o para cima.

— Você quer mais que isso? — pergunta em meu ouvido. Sua


respiração faz cócegas e me deixa em êxtase.

Sinto minha respiração falhar, me deixando impossibilitada de


pronunciar qualquer palavra, enquanto sua mão sobe lentamente até o meio
das minhas pernas. Ele afasta-se de mim e me encara com incredulidade.

— Você está... — Ele me olha de uma forma divertida e sorri de um


jeito safado.
Mordo o lábio e faço que sim com a cabeça. Estou sem calcinha. Eu
queria dar a ele um presente esta noite. Queria ser ousada. Sei que ele gosta
disso.

— Ah, Amber! Você é tão... Gostosa — diz quando seu dedo toca
meu centro úmido — e quente — sussurra, fechando os olhos e buscando
minha boca.

Arqueio meu corpo para facilitar sua carícia.


— Você quer mais que isso? — pergunta, com voz rouca.
Sinto sua ereção pulsar embaixo de mim e me contorço. Eu não só
quero mais, como necessito disso.
— Sim — digo num gemido.

Connor sorri e tira seu dedo de dentro de mim e o leva à boca,


saboreando meu gosto.

— Tão deliciosa — sussurra.


Sinto-me queimar por dentro. Connor me ajuda a levantar do seu
colo e, em seguida, se levanta.
— Eu vou te dar tudo o que você precisa.

 
Uma vez, me falaram que a felicidade traz também o medo, e na
época eu não entendi, mas ao olhar para Connor e sentir tudo que ele me
transmite, não posso negar que tenho medo. Medo de perder, medo de me
machucar, medo de acordar e perceber que tudo não passou de um sonho.
Mas é real, a felicidade finalmente bateu à minha porta e trouxe com ela o
amor. Não falamos mais sobre o fato de ele não poder ter filhos, no entanto,
não quero deixar que esse assunto faça sombra no momento perfeito em que
estamos vivendo.

Os dias ao seu lado têm sido assim, perfeitos. De fato, é como se


estivesse vivendo em um sonho... Um sonho lindo do qual não quero
acordar jamais. Papai tem aceitado meu relacionamento com Connor. Eles
até chegaram a se falar em um dia em que Connor veio me deixar em casa.
Bem, não foi nenhuma conversa profunda, apenas se cumprimentaram e
iniciaram um assunto sobre a possibilidade de chover ou não no dia em
questão. Foi a conversa mais longa que tiveram em todos esses dias,
contudo, já é um começo. Pelo menos eles estão tentando um contato e isso
é importante para mim.

Nathan enviou mensagens corriqueiras e até propôs um almoço, e


mesmo que eu sinta falta do meu amigo eu cresci o vendo ter essas atitudes
impulsivas, depois se arrepender, e apesar de ter normalizado suas ações,
achei melhor recusar dessa vez. Sei dos seus sentimentos por mim e sei
também o que ele acha a respeito do meu relacionamento com o Connor. E
tudo o que menos quero agora é Nathan me dizendo o quanto estou sendo
burra ao aceitar Connor na minha vida. Gostaria muito de fazê-lo enxergar a
pureza do que temos. Fazê-lo ver que existe algo bonito entre nós e que,
sim, podemos ter um futuro juntos. Nathan acredita cegamente que não
passo de algo descartável para Connor, e confesso que eu também cheguei a
pensar assim, mas hoje eu sei que estive errada sobre isso. Apesar de todo o
caos que foi o início do nosso relacionamento, Connor me provou que
posso confiar nele. Ele não me vê como uma conquista, como uma foda...
Ele me quer em sua vida. E fico imensamente triste por Nathan não
participar desse momento tão lindo da minha vida.

— Bom dia, filha — papai diz, assim que desço o último degrau.

— O que faz acordado tão cedo? — Vou até ele e beijo seu rosto.

— As paredes são finas, Amber, e você está desde as cinco da manhã


abrindo e fechando gavetas, não há como ser de outra forma — resmunga e
aponta para a pequena mala ao meu lado. — Pelo visto, não vai passar o fim
de semana em casa de novo...

Rio e enlaço meu braço ao dele, antes de seguirmos para a cozinha.

— Exatamente. Mas manterei meu celular ligado, caso você precise


de mim.

Ele resmunga algo baixinho e vai até o armário, pegando duas


xícaras e nos servindo com o café que acabou de passar.

— Tem passado muito tempo com ele, filha... Sabe que me


preocupo. — Ele me entrega a xícara.

— Eu sei que se preocupa, mas não há razões para isso... Eu estou,


papai, feliz como nunca estive — digo e minhas palavras o amolecem. Vejo
surgir em seu semblante cansado a sombra de um sorriso. Ele abre os braços
em um convite para um abraço, o qual aceito de imediato.

— Eu sei que está, filha... mas vou logo avisando, que ele nem ouse
te fazer sofrer... Posso estar velho e doente, mas ainda sei usar minha arma.

Rio e beijo seu rosto novamente, antes de me afastar.

— Não vai precisar usá-la, papai.

— Espero que não, Amber... mas para onde vão dessa vez?

— Não sei... Ele disse que é surpresa.

Connor me informou na noite passada que passaremos um fim de


semana juntos. A única coisa que ele pediu foi que eu leve biquínis e roupas
leves, então acredito que não será nada chique, como de costume.

A campainha toca e sei que é Connor. Ele é sempre muito pontual.


Me despeço de papai e vou até a porta, e claro que meu pai me segue.

— Bom dia — Connor é o primeiro a falar. Ele me puxa para um


abraço e um beijo rápido.
— Bom dia... — murmuro e aninho-me ao seu lado.

— Sr. Dickinson. — Papai surge no nosso campo de visão, com a


postura reta e o queixo erguido.

— Sr. Michell.
Eles trocam um rápido aperto de mãos e, em seguida, Connor pega
minha mala. Me despeço do meu pai e sigo Connor até o carro.

Durante o percurso, insisto para ele me contar para onde está me


levando, porém, tudo que recebo é um sorriso e a resposta rápida de que em
breve eu saberei. Acabo desistindo e foco minha atenção na paisagem. O
dia está de fato lindo e ensolarado. Relaxo e aproveito a viagem, até que
percebo aonde estamos indo.

Quando chegamos à marina e vejo todos os barcos luxuosos é que


entendo onde passaremos nosso final de semana e, claro, instantaneamente
a foto dele ao lado de Lexie, aproveitando uma tarde juntos, vem à minha
mente. Afasto essa lembrança para longe, não vou permitir que coisas do
passado tenham poder para sabotar meus dias felizes.

Seguimos pelo cais de mãos dadas até o seu iate. É a primeira vez
que vejo um tão de perto e é incrivelmente lindo!

Não entendo de barcos, mas pela arquitetura que conecta a


modernidade ao luxo, sei que deve ter custado muito caro.

— Bem-vinda a bordo, linda! — Connor deixa a mala ao seu lado e


me puxa para um abraço.

— Então, essa era a surpresa, capitão? — brinco, apoiando as mãos


em seu peito e erguendo o rosto para ele.

Connor sorri, um sorriso largo e verdadeiro que ilumina seus olhos.


Eu amo seu sorriso.

— Vem, deixa eu te apresentar o lugar.


Tiramos os sapatos ali mesmo, antes de subirmos um pequeno lance
de escada que nos leva para o interior da embarcação.

Logo na entrada da embarcação, vejo a sala de estar equipada com


um grande sofá em forma de “C”, com linhas curvas e poltronas em tom
creme. Apenas alguns passos à frente, na parte central do convés principal,
encontra-se a cozinha, disposta como uma ilha. Ao lado, uma grande mesa
com oito lugares e uma janela ao fundo que vai do chão ao teto,
proporcionando uma visão completa do mar.

Todos os móveis e decorações, do convés principal ao pavimento


inferior, diversificam texturas em marfim, madeiras nobres e couro,
combinações destacadas pelo sistema de luminárias circulares totalmente
embutidas nos tetos e móveis.

É simplesmente perfeito.

— Antes de te mostrar a suíte principal, quero te levar até o


flybridge... Faz parte da surpresa.

Ele pega minha mão e subimos uma escada que nos leva para o
terceiro pavimento do barco, e para a minha surpresa, encontro não apenas
Caroline e seu noivo, como também os pais de Connor.

— Surpresa... — ele sussurra em meu ouvido.

Olho-o de relance, de fato muito surpresa por encontrar seus pais.


Nós sequer havíamos conversado sobre um possível encontro com sua
família e eu nunca toquei no assunto, porque não queria parecer
desesperada para conhecê-los. E agora que estou de frente para eles,
gostaria que Connor tivesse me antecipado o encontro. Connor coloca a
mão no meio das minhas costas, enquanto forço minhas pernas a irem até
eles.

Caroline é a primeira a me cumprimentar com um abraço e sorriso


largo e, sim, ela é tão linda e elegante como em todas as vezes que a vi, em
seguida, Manson.
A mãe de Connor me olha com atenção e não consigo não sentir um
pouco de desconforto por toda essa análise e, de repente, penso que não
estou vestida à altura para esse encontro.

— Então você é a garota que devolveu o sorriso ao meu filho. — É


óbvio que não foi uma pergunta, e mesmo se tivesse sido, meu nervosismo
não me permitiria responder. Ela caminha com passos elegantes até mim. O
cabelo da mesma cor do de Connor contrasta com a pele clara. Ela é uma
mulher linda e sua semelhança com os filhos é nítida à distância. — É um
prazer conhecê-la, querida. Connor falou muito a seu respeito.

Sorrio com timidez e aceito o seu abraço caloroso.

— O prazer é meu, sra. Dickinson.

— Ah, não, por favor, sem formalidades. Me chame apenas de


Janeth, afinal, estamos todos em família agora.

Assinto e meus olhos vão de encontro ao pai de Connor, que está


agora ao lado do filho.

— Você é ainda mais bonita pessoalmente — diz com simpatia e me


abraça rápido.

— Obrigada, sr. Dickinson.

— Apenas Philipe.

Connor passa um braço por minha cintura e me puxa para perto do


seu corpo.

— Bem... Acho que agora já conhecem a minha namorada.


Meu coração dá cambalhotas dentro do peito ao ouvi-lo dizer isso.
Apesar de não ser mais segredo que estamos juntos, ele nunca havia feito
um pedido formal.

— Você fez um milagre, Amber... Connor te contou que essa é a


primeira vez em anos que ele comemora o próprio aniversário? — É
Manson que fala.

Eu levo alguns segundos para processar o que ele acabou de dizer.


Olho para Connor confusa e ele apenas sorri com um dar de ombros.

Bem, acho que as surpresas não vão parar por aqui...

— Então é seu aniversário?

— Não é nada de mais...

— Claro que é... E eu deveria saber disso — sussurro, envergonhada.


Gisela nunca comentou sobre isso.

— Tudo o que eu quero e preciso está bem aqui. — Ele inclina a


cabeça para perto e beija meu rosto.
Não sei ao certo ao que ele se referiu, mas não posso deixar de me
sentir tocada por suas palavras. Não percebi quando o iate começou a andar,
e pela conversa entre seu pai e Manson, noto que todos parecem animados.
Enquanto as horas vão se passando, consigo me sentir mais à
vontade para conversar com os pais de Connor. Eles parecem saber muito a
meu respeito, mesmo assim, me fazem muitas perguntas, como onde me
formei, por que escolhi cursar jornalismo, sobre meu pai, e até mesmo se
pretendo atuar na minha área futuramente.

Acho que isso faz parte de sondar se sou boa o bastante para
permanecer na vida do filho, e se for mesmo isso, não os julgo por
quererem protegê-lo.
Os rapazes fazem churrasco, enquanto as mulheres os observam,
tomando champanhe e aproveitando o sol. No final, não me sinto como se
fosse uma peça sobrando em um quebra-cabeça... Eles me fizeram sentir
como se eu me encaixasse ali.
Estou feliz, e pela primeira vez desde que assumimos ao mundo que
estamos juntos, nossa diferença social não me incomoda. Tudo está
perfeito. E mesmo que isso seja tão oposto à minha realidade, só quero estar
ao seu lado.

A noite jantamos sob a luz do luar. Ainda bem que tive a brilhante
ideia de colocar algo mais sofisticado para usar. Uma música lenta toca ao
fundo. Brindamos em comemoração ao aniversário de Connor. A conversa
flui, entre risos e algumas piadas, enquanto os pais de Connor contam
histórias de sua infância. Escuto cada uma delas com atenção. Aprender
mais sobre o homem a quem entreguei meu coração é algo que amo.
Quanto mais eu o conheço, mais anseio conhecer. No final da noite, todos
se despedem e vão para suas cabines, porém, Connor e eu permanecemos
aqui. Não estamos com pressa que a noite acabe.

Connor desce rapidamente até a suíte e volta com uma coberta, e


juntos vamos para a proa. Deito ao seu lado e ele nos cobre. Aninho-me em
seu peito e suspiro fundo, amando a sensação de segurança que sinto
sempre que estamos assim.

— É verdade o que Manson disse? — pergunto, sem olhá-lo. — Que


essa é a primeira vez em anos que comemora seu aniversário? — completo.

Ele solta um suspiro relaxado, me puxando para mais perto.


— Não tinha motivos para festejar. — Sua voz é baixa. Ele acaricia
meu cabelo e beija o topo da minha cabeça.
Apoio-me em seu peito e busco seu olhar.

— E agora tem?
Ele me dá um pequeno sorrio e toca meu rosto.

— Achei que isso fosse óbvio, Amber. — Estreita os olhos e seus


lábios tocam os meus em um beijo cálido. — Eu tenho você, linda... — diz
contra meus lábios e eu me derreto. — Eu tenho um pedido. — Ele se afasta
e me encara. O olhar é intenso preso ao meu, me despertando sentimentos
que nunca pensei que fosse capaz de sentir. — Me promete que isso nunca
vai acabar? — Suas mãos descem por meu corpo. — Que não importa o que
aconteça, você vai permanecer ao meu lado?
— Não vou a lugar algum, Connor — sussurro e o puxo para mim,
mas ele hesita.

— Prometa, Amber. — Sua voz é como uma súplica e seu olhar


implora por minha resposta.
— Eu prometo, Connor... Eu te amo.

Sua boca pressiona a minha, beijando-me como nunca havia beijado


antes. Não há urgência, não há dúvidas, tampouco medo. É como se de
alguma forma, ele estivesse enfim me dando acesso ao seu coração apesar
de não retribuir o eu te amo. E é intenso, mágico e sei que nesse momento
sou capaz de tudo para que Connor se sinta tão feliz e completo como eu
estou.

— Eu quero você, Amber — sussurra contra meus lábios. E apesar


de querer tanto que ele diga que me ama, Connor não o faz, apenas me puxa
para um beijo mais intenso.

Sua língua desliza entre meus lábios, antes de seus lábios cobrirem
os meus, em um beijo possessivo, rude.

Minhas mãos deslizam pela frente de sua camisa, sentindo seus


músculos rígidos sob o meu toque.
— Deus, Amber! — Connor exclama, quando mordo o seu lábio
com força, pressionando meu corpo ao seu. Sinto sua ereção crescendo
pressionada em minha barriga, e tudo o que eu quero nesse momento é
senti-lo dentro mim.

Suas mãos descem por meu corpo, e nunca me senti tão feliz por
estar usando um vestido. O calor de sua mão em minha pele me faz gemer.
Enlouquecida, afundo meus dedos em seu cabelo, puxando-o no processo.
Connor desliza suas mãos por entre minhas penas e eu apenas me abro para
que ele toque em minha boceta úmida.
Ele afasta minha calcinha para o lado e solta um gemido abafado
quando sente minha umidade.

— Porra, Amber... — ele rosna contra meu pescoço, e beija e chupa


minha pele, forte o suficiente para deixar marcado. Sua boca desce por meu
colo até encontrar meu seio. Os bicos rígidos estão salientes por baixo do
tecido fino do vestido frente única. Com agilidade e rapidez, Connor
consegue desatar o nó que prende a frente do vestido, expondo meus seios.
Ele os devora, chupa, morde, acaricia com a língua travessa. — Eu quero
muito provar cada pedacinho do seu corpo, linda, mas não agora... Estou
louco para foder essa bocetinha deliciosa...

Ele não espera por uma resposta, afasta-se e rapidamente retira o


short e cueca e se posiciona entre minhas pernas, puxando o lençol sobre
nossos corpos e deslizando para dentro de mim.

A sensação de ser preenchida por ele é inimaginável. É o tipo de


sensação que nos faz pensar que estamos tocando o céu.
É simplesmente a melhor coisa que já senti na minha vida.

Agarro seus braços com força, cravando minhas unhas em sua carne,
enquanto Connor aumenta a velocidade de suas investidas. O desejo que
sinto me consome inteiramente e já não consigo controlar meus gemidos.
Sua boca faz caminho em meu pescoço até meus mamilos rígidos.
Sua língua brinca com os bicos endurecidos, fazendo com que me contorça,
quase chegando ao ápice do prazer.
— Connor! — digo seu nome entre gemidos abafados, quando ele
morde levemente meu mamilo.

Suas investidas tornam-se mais rápidas e fortes, levando de mim


tudo o que resta da minha sanidade. Não demora muito para sentir meu
corpo inteiro ser tomado por uma onda incontrolável de tremor.

— Isso, amor! Goze para mim — ele rosna em meu ouvido. —


Estou quase lá. — Connor pressiona sua boca em meu pescoço, sugando
minha pele, enquanto torna seus movimentos mais intensos e fortes e,
quando finalmente goza, ele chama meu nome.

A semana inicia e mal acredito que meu fim de semana perfeito já


passou, apesar de que, estar em um iate navegando no mar não foi a melhor
sensação. A todo momento meu estômago embrulhava, e no domingo à
noite, quando cheguei à minha casa, tive a sensação de nunca ter vomitado
tanto.
Mas hoje é um novo dia, e quando chego à empresa, agora que todos
sabem sobre nós, os sorrisos e cumprimentos são mais corriqueiros. Subo
ao andar e no corredor me deparo com Gisela, com cara de poucos amigos.
— Bom dia, Gisela.

— Ah, que bom que chegou. Pode buscar o café para nosso
chefinho? Hoje estou bem atarefada.

— Ele já chegou?
— Sim, mas pediu para não ser incomodado, está há meia hora
trancado naquela sala com visita. — Gisela pega alguns documentos na
gaveta.

— E sabe com quem?


— Com a gêmea da falecida. A propósito, ele pediu um café para ela
também, pode trazer?
Merda! Fecho os dedos, sentindo um ciúme gigantesco. Gisela
continua atenta aos documentos, e saber que ele está com Lexie de portas
trancadas me faz apressar os passos depois de um breve aceno.

Chego à minha sala e me deparo com sua porta fechada, é errado eu


sei, mas a forma como Connor está alterado me permite escutar tudo.

— Lexie, estou cansado dessa merda, dessa sua insistência. E que


porra é essa, me passar um endereço? O que pensa que eu sou?
Não dá para ouvir sua resposta, parece que mesmo em meio a tensão,
a doutora não perde a compostura.
— Não, eu não fiz essa merda, não tem por que alimentar essas
loucuras que você tenta implantar em mim. — Escuto a voz dela, mas não
dá para entender. — Droga, Lexie, eu não entendo por que insiste nisso.
Chega! O que tenho que fazer para me deixar em paz? Te foder, é isso que
quer? — ele grita e, em seguida, escuto dar um muro na mesa. A cadeira
arrasta, fazendo um gruindo no chão, em seguida, passos pesados. Corro
para a minha mesa e não demora para as portas dele se abrir. Seus olhos são
um misto de fúria e impaciência, tão transtornado que passa por mim e
parece nem me enxergar.

Engulo em seco enquanto o vejo desaparecer. E antes que eu possa


me recuperar, sentindo meu coração falhar algumas batidas, dra. Lexie
surge enxugando lágrimas. Seus passos seguem em direção à porta, mas se
detém em minha mesa e seu olhar se volta para mim.

— Um conselho, aproveite Connor enquanto ainda é interessante


para ele, porque assim como um dia eu também fui e ele se cansou, ele
também vai se cansar de você. E vai ser assim que ele irá te tratar, como um
objeto que perdeu o valor... — Solta um suspiro e segue para a porta,
deixando a sala.
Gostaria de responder, mas sinto seu perfume no ar e não demora
para sentir meu estômago revirar. Corro para o banheiro, e a mesma cena de
domingo volta a se repetir, com detalhe de que não consigo sequer voltar à
minha sala, então invento uma desculpa e Gisela me deixa trabalhar na dela.
Connor não volta à empresa. Envio mensagens que sequer são
visualizadas e à noite, quando já estou na cama, me sinto aflita. Eu não
quero deixar que Lexie contamine o que temos com seu veneno, mas não
posso ignorar que sim, suas palavras me causaram desconforto, a forma
rude como ele a tratou, um dia ela também será direcionada a mim?
Não, ele não fará isso. Me agarro a coberta com a esperança de que
na manhã seguinte eu o verei e poderemos falar sobre isso.

Sinto minha cabeça latejando, tateio ao lado na mesinha de cabeceira


e pego o celular. Não há mensagem alguma de Connor, sequer ligação. E
antes de pensar se devo ou não ligar, o revirar do meu estômago parece
atingir o cérebro. Me levanto, sentindo o chão frio, e corro ao banheiro e
quase coloco a alma para fora. Droga! O que está acontecendo?
Não consigo voltar a dormir. Assim que o dia amanhece, vou para a
empresa, e Gisela, como de costume, já chegou. Pergunto por Connor e dói
a possibilidade de ela saber mais que eu.
Mas não, ela não sabe. Passo mal o dia todo, e no almoço, quando
nota que estou enjoada, Gisela solta a pergunta que me desestabiliza por
completo.
— Você está grávida?

— Não, claro que não, impossível. — Minha resposta concisa faz o


assunto morrer, ela então me oferece um remédio que ajuda a passar o dia.
A tarde passa e sei que ele está bem, apesar de ignorar minhas
mensagens e ligações. No almoço, Gisela chegou a mencionar que falou
com ele. As palavras de Lexie sobrevoam o tempo todo, me fazendo em
pedaços, e quando acho que não dá mais para piorar, volto para a casa, e ao
abrir a porta um choque percorre meu corpo. Deus, não, ela não... Minha
mãe está em nossa sala, e assim que me vê corre em minha direção, me
prendendo em um abraço que me sufoca. Seu cheiro de bebida misturado a
cigarro faz meu estômago revirar. Sem corresponder ao abraço, vejo papai
com a cabeça baixa, tão atordoado quanto eu.
— O que faz aqui? — pergunto, ainda na defensiva, ignorando o
quanto doeu e ainda dói saber que ela me deixou. E, pelo visto, não foi a
melhor escolha, já que não aparenta estar bem. Ela tenta um sorriso.

— Amber, minha linda filhinha, senti tanta saudade. — Sua voz


dançante denuncia seu estado de embriaguez.

— Eu não sei o que quer, mas com toda certeza não sentiu minha
falta — falo e sinto a dor de anos expressa em minha voz. Me seguro para
não chorar... Eu preciso ser forte, ela não vai me ver fraquejar. — Por favor,
vá embora — peço ao olhar para papai e ver o sofrimento em seus olhos.
Nunca foi segredo o quanto ele a amou e sofreu por ela, e como não a
colocou para fora, suspeito que ainda ame. E isso dói, claro.
Ela olha para ele, em seguida, torna a me encarar, seu semblante
muda e vejo um sorriso debochado.
— Olha isso, conseguiu fisgar um rico e quer ignorar sua pobre
mãe?

— O quê?

— Cala a boca, Natali. — Papai se levanta e tenta segurar seu braço


para colocá-la para fora.
— Tire a mão de mim, seu merda! Olha para você, David, um pobre
fodido que mora nesse mesmo barraco há anos, não conseguiu sequer
descolar uma grana com o rico e tá com inveja de mim... — Dá uma risada
de bêbada.
— O quê? — pergunto, perplexa. — Você disse o quê? — Me
aproximo e a seguro pelos braços, com o coração acelerado e cabeça
rodando.

— Fui até o rico. Te vi na foto com ele e fui lá. — Ri novamente,


está tão bêbada e cheirando tão mal.
— Ele te deu dinheiro? — pergunto, me sentindo envergonhada.
Prendo os lábios para não chorar.
— A primeira vez foi no escritório grã-fino dele, depois eu o vi num
restaurante chique, e ao contrário de você, pagou meu almoço e me deu
outro cheque, me tratou que nem gente, diferente de você...

— Meu Deus! Que vergonha! — As lágrimas descem, agora entendo


o motivo de ele estar me evitando, minha mãe está subornando-o. Estou tão
envergonhada que quero me afundar em um buraco.

— Ah não chora, Amber, ele que falou para eu vir, te pedir perdão,
dizer que me arrependia. E eu vim, vim só pra isso, ele tem um bom
coração... vai...
Choro tanto que a vista fica embaçada. Tudo vai ficando escuro, é
demais pra mim...
Acordo no hospital com papai ao meu lado no quarto. O médico
entra e estranho o fato de ele pedir para o meu pai sair.

— Amber Michell, como se sente?

— Um pouco fraca, mas pode me dizer o que houve?


— A senhora desmaiou, a fraqueza se dá pela anemia. Tem tomado
as vitaminas?

— Vitaminas? — pergunto, surpresa.

Ele tira os olhos da ficha médica para encarar os meus.


— Imagino que a senhora saiba que está grávida, certo?
— O quê? — Sinto um choque percorrer todo o meu corpo.

Não, eu não estou grávida, não posso estar grávida. A não ser que
Connor, não, não... A noiva tentou por anos, ele me disse isso, eu...
— Devo de prescrever as vitaminas, ou quer apenas o
encaminhamento para o obstetra?

E é assim que todo meu mundo desaba.


 
Começa com um sentimento de raiva, aos poucos vai preenchendo
cada célula do seu corpo e não consegue enxergar mais nada além desse
vazio de merda que parece cortar o peito.
Olho para a estrada vazia, enquanto tento racionar com clareza. Eu
quero ignorar Lexie, mas porra, ela simplesmente jogou essa merda de
endereço e foi como ser atropelado por várias lembranças.

Você pode esquecer a hora, às vezes o dia, mas nunca a sensação. E


eu não esqueci, não esqueci como foi tocar seu corpo sem vida e recuar
perante o gelo da morte. Não esqueci aquela estrada tão sombria, seu carro
completamente destruído, o lugar...

Merda! Porra, Connor!


Dou um murro no volante, pego a porra do endereço e a visão, já
embaçada pelas lágrimas, me impede de ver com clareza. Viro o volante,
parando no acostamento. Eu poderia voltar para a empresa. Poderia ter ido
para meu apartamento ou para a casa dos meus pais. Eu poderia conversar
com meu pai ou minha mãe sobre essa merda. Poderia ligar para o Manson.
Ele sempre sabe o que dizer, por mais que às vezes tudo o que diga seja
besteira, mas eu não consigo, não olhando para a porra desse endereço.

Passo as mãos no cabelo e procuro uma garrafa de uísque esquecida


no porta-luvas. Apesar de não beber mais com frequência, como fiz nos
primeiros anos da sua morte, isso ficou como um amuleto, então sempre
tenho uma aqui. O gosto é amargo e desce queimando pela garganta. Tomo
uma segunda dose e não alivia o que eu sinto. A raiva de antes começa a dar
lugar a um sentimento de traição, me levando à beira da loucura.

Tento bloquear todas as minhas lembranças relacionadas a Hanna,


mas é impossível. Fecho os olhos com força. Meu peito dói, dificultando a
passagem do ar. Eu não deveria, não poderia estar duvidando dela,
manchando sua imagem e tudo que vivemos... mas e se esse mesmo tudo
não passou de uma mentira?

Com meus demônios, pego novamente a estrada, o celular jogado em


um canto qualquer do carro, o som alto o suficiente para silenciar as vozes.

À medida que a garrafa vai se esvaziando, penso em voltar umas três


ou quatros vezes enquanto posso quase ouvir sua risada. Mas sabe-se lá por
que, eu continuo. Continuo até não suportar mais. Sozinho na estrada, eu
encosto o carro e acabo dormindo, cansado demais de toda a merda.

O sol da manhã queimando meu rosto me faz acordar. Demora um


pouco, para em meio a uma imensa dor de cabeça, entender que porra está
acontecendo. Pego o telefone, sem sinal, não sei por quanto tempo dirigi ou
onde estou, mas quando volto para a estrada vejo a placa, preciso sair do
carro tamanho o mal-estar. É um gatilho, a porra de um imenso gatilho estar
no mesmo lugar onde seu corpo foi encontrado. Passo pelo local e juro que
posso vê-la sentada lá, sorrindo. Minha consciência me mata por isso. Volto
a atenção a porra do papel, e depois de quase cinco quilômetros, percebo o
desvio da estrada. Vou até onde o carro permite, depois disso só mesmo
caminhando. É loucura, eu sei, mas preciso acabar com essa merda e nunca
mais olhar para a cara da Lexie na minha vida.

De longe, avisto entre as árvores o que lembra uma casa


abandonada, então me aproximo. Antes de chamar, tento espiar pelas
janelas, mas as cortinas bloqueiam a visão. Bato à porta, mas ninguém
atende, então um sorriso torto escapa nos lábios. Olha aonde a porra de uma
mentira me levou.

Quando penso em desistir, a porta se abre com um rangido alto das


dobradiças enferrujadas. O homem à minha frente me lembra a imagem dos
anos que passei sofrendo pela morte de Hanna. Apesar de aparentar ter a
mesma idade que eu, está claro que ele já desistiu da vida.

— Connor Dickinson — ele diz meu nome com extremo deboche.


Não consigo entender como esse cara me conhece. — Eu imaginei que um
dia viesse, mas, sinceramente, você demorou. Não acha que é tarde demais
para uma visita? — Ele me encara pelo que parece uma eternidade. — Não
existe mais razões para estar aqui, Connor. Vá embora e me deixe em paz.
— Ele faz menção de fechar a porta, mas o detenho.
Sem dizer nada, entro em sua casa, que está ainda mais deteriorada
por dentro. Meus dedos roçaram as tiras soltas do papel de parede quando
adentro a casa. Sinto um arrepio percorrer minha coluna e meu estômago
revira ao olhar para o que já foi um aparador, bem ao lado de sua poltrona.
Engulo a bile que sobe por minha garganta. Com as mãos trêmulas,
pego o porta-retratos e o encaro, sentindo-me como a porra de um idiota.

— Então é verdade? — Ouso perguntar. Parte de mim, a parte que


amou a Hanna desesperadamente e que pensou que a vida havia acabado
quando ela partiu, quer apenas que ele minta, mas eu sei a resposta e isso
doí pra caralho.

Ouço seus passos aproximando-se de mim, e num movimento


rápido, ele toma o porta-retratos de minhas mãos e devolve ao local, antes
de caminhar até o centro da sala e pegar a garrafa de uísque quase vazia.

— Te ofereceria uma bebida, mas como vê... Não tenho o suficiente


para dois. — Ele leva a garrafa à boca e toma uma boa quantidade.

Ele bate a mão no bolso da calça jeans surrada em busca de algo.


Noto sua blusa xadrez faltando botões, a barba desleixadamente grande e o
cabelo já sem corte.

— Te fiz uma pergunta — insisto.

O homem parece sequer se importar.

— Tenho outras fotos dela, mas não vai gostar de vê-las... São muito
íntimas — diz e faz um gesto com a mão.

Só então percebo as demais fotos de Hanna espalhadas pela sala. Em


algumas ela está sozinha, sorrindo para câmera de forma leve e feliz.

Volto-me para ele, entendendo o que ele quis dizer, e uma onda de
fúria percorre meu corpo. Avanço até ele, segurando-o pela gola da camisa
gasta e o pressiono contra a parede. Ele ri com humor, como se minha
reação o divertisse.

— Eu exijo saber a verdade — rosno por entre os dentes, antes de o


soltar com violência. — Quero ouvir de sua boca há quanto tempo você e
minha noiva estavam tendo um caso.

Ele ri, deslizando a mão livre por seu cabelo sujo e oleoso.
— Você não entende, não é? — Ele meneia a cabeça em negação. —
Eu sempre estive com a Hanna... Antes mesmo de você entrar na vida dela e
deixá-la deslumbrada com todo o seu dinheiro.

— O quê?

— É isso mesmo, Dickinson... Você quem entrou no meu caminho.


Que se deitou com a minha mulher... Ela era minha e éramos felizes... Eu
não tinha muito o que oferecer para a Hanna, mas fazia alguns trabalhos
como fotógrafo e tinha possibilidades de conseguir um bom contrato com
uma agência. Você foi a merda que estragou tudo. — Ele dá meia-volta,
acende um cigarro e se senta na poltrona. — Eu queria poder dar uma vida
boa para ela, mas aí, naquela merda de dia, a Lexie chegou empolgada,
dizendo que estava estudando com o grande herdeiro da empresa de
publicidade Dickinson... — Ele deixa a frase suspensa no ar. A fisionomia
se retorce como se a lembrança causasse desgosto. — Eu notei o brilho no
olhar da Hanna ao ouvir a irmã falar de você e da sua família... E não
demorou muito até que ela estava metida com sua turma... Saindo para
lugares que eu não podia pagar. — Ele ri com amargura. — A família dela
nunca aceitou nosso namoro, como dizia sua mãe, eu era um zé ninguém.
Não tinha o que oferecer à sua filha, ao contrário de você, Dickinson, que
nasceu e cresceu em berço de outro. Dentro da elite de Portivil. Você era o
pretendente perfeito para a Hanna, e por mais que ela me amasse, porque
sei que ela me amava... Hanna amava mais o seu dinheiro, o luxo que você
poderia proporcionar a ela. — Meneia a cabeça em negação e desliza a mão
por seu cabelo.

— Eu não acredito nisso, eu...

Ele gargalha ao me ouvir.

— Hanna, ao contrário de Lexie, era ambiciosa e destemida. E se


tinha uma coisa que nunca abria mão, era de correr atrás do que queria. E
para minha desgraça, você era um alvo fácil. — Solta uma tragada, me
encarando com deboche. — Coitado de você, achando que era o destino lhe
entregando a mulher da sua vida, quando foi o demônio que articulou tudo,
cada passo que daria. Ela te estudou durante semanas para saber a melhor
forma de agir para te conquistar. Com quem andava, até mesmo as mulheres
com quem saia.

— Está mentindo...

Seu sorriso torna-se mais amplo.

— Pensei que fosse um homem mais inteligente, Dickinson! Juro


por Deus, que acreditei que depois da morte da Hanna, você conseguiria
enxergar quem era ela de verdade. Que abriria os olhos para todos os jogos
que ela fez com você e buscaria saber a verdade. Mas você não veio e os
anos foram passando, e olha só para você... Ainda preso à ideia de que
Hanna era a mais perfeita das mulheres. Enxergando apenas o lado bondoso
que ela te mostrava, mas sinto dizer que você não a conhecia... Não como
eu.

— Ela nunca... — As palavras ficam presas na garganta, mal me


seguro de pé.

— Confesso que no início foi divertido. Hanna me convenceu de que


seria fácil tirar dinheiro de você para fugirmos juntos, mas tudo fugiu do
controle. O que deveria ser um relacionamento de meses, tornou-se anos e
eu tive que assistir a você exibir a minha mulher como um troféu. E eu te
odiei tanto por poder dar a Hanna tudo o que ela desejava. E eu ficava aqui,
com as sobras que ela estava disposta a oferecer, vendo-a cada dia mais
vislumbrada com tudo o que você tinha, enquanto todos os meus planos
para um futuro melhor simplesmente se desfaziam diante de mim e eu não
podia fazer merda nenhuma. Porque estava preso a Hanna e ao amor que
sentia por ela. Ela não manipulou apenas você, Connor, agora eu vejo que
ela manipulou a mim também. Renunciei à minha vida, aos meus sonhos,
por causa dela. Porque ela dizia me amar e me fez acreditar que um dia iria
te deixar e que partiríamos juntos, como havia me prometido. — Ele passa
as mãos pelo rosto, e o sorriso de antes dá lugar às lágrimas. — Durante
muitos anos, me perguntei se você nunca desconfiou de nada.

Engulo o nó em minha garganta e respiro fundo, tentando acalmar a


tempestade devastadora dentro do meu peito. A sensação é de ser quebrado
em milhões de pedaços.

— Eu acreditava nela, porra... Não existia motivos para sequer


pensar que ela estava me engando — confesso, a voz rouca e arrastada.

— E não achou estranho o carro dela ter sido encontrado numa


estrada tão distante da principal? Sua noiva sai no meio da noite e vem
parar em uma estrada deserta, e você nunca sequer pensou em ir atrás para
saber a verdade do que aconteceu? — Ele faz as perguntas e eu gostaria
muito de ter respostas para elas, mas a verdade é que não tenho.

Quando Hanna morreu, todas as buscas pela verdade daquela noite


foram ocultadas pela dor da perda. Tudo que eu tinha era uma mensagem no
celular que iria se encontrar com amigas em uma casa na montanha, que
precisava espairecer e curar o estresse pré-casamento, e justamente isso a
faria se desconectar naquele fim de semana.
Eu estava no fundo poço, sem forças para continuar a viver. A
mulher que eu amava havia sido arrancada de mim e essa era a única
verdade que eu sabia. Mas Alexander tem razão, eu deveria ter ido atrás da
verdade. Deveria ter insistido em saber o que Hanna fazia naquela estrada.
Eu tinha recursos para contratar o melhor investigador, já que naquela
época, Manson estava começando em seu trabalho. Deveria até mesmo ter
falado com Manson e, talvez, ele tivesse me ajudado. Ele tinha pessoas de
confiança trabalhando com ele. Mas calei todas as minhas perguntas, e
agora, começo a me perguntar se, no fundo, eu não estive apenas com medo
de saber a verdade sobre o acidente, sobre Hanna. De uma coisa eu tenho
plena certeza... Sofrer por sua perda é mil vezes mais convidativo do que
sofrer por sua traição.

— Aquela noite brigamos... Eu exigi que ela te deixasse, caso


contrário, estaria tudo acabado entre nós — ele diz, a voz arrastada e
rancorosa. — Acho que não preciso dizer o que ela escolheu, não é?

Ainda estou em choque, sentindo cada confissão me rasgar por


dentro. E todas essas fotos espalhadas me jogam a verdade na cara, e dói,
dói tanto que mal consigo respirar.
— Ela também me destruiu, Connor... Arruinou minha vida e me
humilhou como ninguém nunca fez e foi embora. Mesmo que ela me
amasse, eu não podia dar a ela o que você podia e, é claro, sua ambição
falou mais alto. Ela escolheu seu dinheiro, tenho certeza de que Hanna teria
tirado até o último centavo de você, se não tivesse morrido naquela noite.
Puxo uma respiração, mas é difícil mandar ar para meus pulmões.
Minha cabeça gira e meu coração parece estar prestes a saltar da minha
caixa toráxica. Alexander continua falando, mas não consigo acompanhar
suas palavras.

Tudo a minha volta parece girar em câmera lenta diante dos meus
olhos. Dou alguns passos para trás, tentando me agarrar a algo que não me
deixe cair. A dor de saber a verdade é intensa em meu peito, tão
insuportável quanto a dor que senti quando a perdi. Com muita dificuldade,
consigo caminhar para fora do chalé. O ar me atinge com força e eu puxo a
respiração algumas vezes, antes do meu estômago revirar e eu vomitar ali
mesmo.

Pego a estrada de volta e nem mesmo sei como consigo, são apenas
vislumbres de consciência e dor, sempre dor. Não me sinto pronto para falar
com ninguém, e sei que a essa altura, Amber deve estar desesperada por
notícias minhas. Me obrigo a ligar para Gisela e pedir que cancele todos os
meus compromissos. Foi o máximo que consegui fazer, além de me
permitir chorar e me entupir de álcool em cada bar de estrada que
encontrava. Quando volto a ter um pouco de consciência, estou próximo ao
prédio do Manson, com a noite já posta. Toco o interfone e ele me atende
preocupado, então vou ao andar e a primeira coisa que escuto são suas
reclamações sobre não atender o telefone.
— Descarregou, porra! — falo, alterado.

— Onde você estava? — questiona, ainda irritado.


Quando coloco minhas mãos em seus ombros, ao olhar em meus
olhos, ele percebe que estou na merda. Me sento com ele no sofá e começo
contando a porra toda. Finalmente, quando percebo que ele não se
surpreende, pergunto:
— Você sabia?

Ele desvia o olhar.


— Amigo, eu...

— Só me responde, droga! Você sabia? — grito tão alto, Manson


apenas meneia com a cabeça.

— Mas só descobri depois da morte, a estrada, Hanna estar ali não


se...

— Ah merda! — Me levanto rapidamente, com as mãos na cabeça.


Não, ele não, merda! — Manson, porra, descobriu assim que a desgraçada
morreu e não me contou? — Estou tão puto que sou capaz de socá-lo se ele
se aproximar.

— Levou meses, sabe como investigações funcionam, e tive medo.


Você não reagia, tive medo de que a verdade te quebrasse ainda mais...

— A verdade dói, sim, droga, mas dói mais ainda saber que você,
meu melhor amigo, sabia e decidiu esconder a merda toda...

— A sua irmã achou melhor... Queríamos que mantivesse uma


lembrança boa de alguém que foi tão importante na sua vida.
Acabo soltando uma gargalhada, parece que é verdade isso de o
corno ser o último a saber. Dou passos em direção à porta, mas quando ele
segura meu braço tentando me deter, eu me viro e dou um murro em seu
rosto, fazendo-o cair no chão.

— Vai se ferrar, você, Caroline, todo o mundo...


Chego à minha casa e vou direto ao bar no canto da sala, deixo o
copo vazio no balcão e tomo o uísque na garrafa. A raiva me faz ir
quebrando todas as fotos com a vadia, as decorações, tudo. Só paro quando
a bagunça no centro da sala se assemelha à minha própria bagunça. Tomo
outro gole da bebida e fecho os olhos tentando me concentrar apenas no
gosto do uísque e não na dor incessante que persiste em me lembrar cada da
traição de Hanna. Desejo apenas que essa garrafa seja suficiente para me
fazer esquecer, pelo menos por algumas horas, o quão miserável me sinto.

A campainha toca e o barulho irritante preenche todo o apartamento.


Ignoro, porque não quero ver ou falar com ninguém neste momento. A
pessoa do outro lado continua insistindo, sem dar uma pausa.

Há apenas três pessoas que poderiam estar me procurando, Amber,


Manson e Lexie, e as duas primeiras com certeza não se dariam o trabalho
de vir aqui. Afinal Amber deve estar irritada por meu sumiço,
principalmente porque sei que ouviu minha conversa com Lexie. Manson
não se atreveria a aparecer, não depois de tudo, e eu quero é que ele vá para
o inferno, ele sabe o quanto sofri com a morte de Hanna. Como teve
coragem de me esconder a verdade sobre esse assunto? Manson acreditou
mesmo que estava me fazendo um favor, mas não estava... Todos os anos
chorando por uma mulher desgraçada que nunca me amou. Só sobra Lexie,
que de todos foi a única que tentou abrir meus olhos, mas que não estou a
fim de ouvi-la agora. Me jogo no chão, me afundando na dor. Manson não
me protegeu de uma dor maior, ele apenas me tirou o direito de saber a
verdade. E isso, não sei se consigo perdoar. A campainha toca novamente.

— Porra! Eu já vou! — grito, me levantando e pegando a garrafa.


Vou com ela até a porta e a abro, encontrando Amber à minha frente.
Ela está com os lábios contraídos e seus olhos estão úmidos e tristes.
Parece surpresa por me ver na merda. Meu coração dá um salto dentro do
peito ao vê-la. Estava tão preso à minha dor, que não enxerguei que tudo o
que eu preciso para ficar bem é ter Amber ao meu lado. Eu só preciso dela.
Puxo-a para dentro, e sem que espere, beijo sua boca, querendo sentir seu
gosto, querendo que de alguma forma ela alivie tudo aqui dentro. Porque
ela pode, é a única que pode. No entanto, o gosto do uísque a faz recuar, ou
talvez seja minha aparência de merda. Essa não é a reação que estava
esperando.
— O que está acontecendo com você? — Sua voz sai aguda e
desesperada.

Não, eu não quero contar o que aconteceu. Não quero sua piedade.

— Eu só preciso de você. — Avanço sobre ela novamente e


pressiono meus lábios contra os seus. Eu a beijo com loucura e desespero,
beijo como se minha vida dependesse disso, e talvez dependa.

Minhas mãos descem por seu corpo e eu tento arrancar sua blusa,
desesperado para sentir sua pele, mas me dou conta de que Amber está me
detendo. As mãos pressionadas contra meu peito, me fazendo recuar. Ela
parece assustada.

— Para, Connor! — diz alto o suficiente para me fazer afastar.

Deslizo as mãos por meu cabelo, puxando-o forte antes de caminhar


de volta para a sala, com ela me seguindo. Seus olhos se arregalam quando
chegamos e ela se depara com toda essa bagunça.

— Connor... — Ela começa, mas paralisa. Posso ver a confusão


refletida em sua face. E isso me quebra um pouco mais.
— O quarto está inteiro, só para constar — falo, forçando um
sorriso.

— Você sumiu... Não atendeu minhas ligações... O que está


acontecendo?
Comprimo os lábios e meneio a cabeça em negação. Não posso
trazer toda essa merda para Amber. Não posso simplesmente contaminar o
que temos com a porra do meu passado.
— Estou aqui agora... É o que importa.
Ela vem até mim, segura meu rosto entre as mãos e eu fecho os
olhos por alguns segundos, apreciando a sensação de conforto.
— Fala comigo, por favor... — implora, com a voz chorosa.

Seguro sua cintura, puxando-a para mais perto. Neste momento, eu


só preciso senti-la.

— Você me ama?
Ela estreita os olhos, confusa por minha pergunta.

— Ama? — insisto impacientemente.

— É claro que amo. Você sabe disso...

Inclino meu rosto para mais perto e roço meus lábios nos seus.
— Então faça amor comigo — sussurro contra seus lábios.

— Connor, precisamos conversar...

— Por favor, Amber. Eu preciso de você.


Não espero por sua resposta, deslizo minha língua entre seus lábios e
a beijo. Ela corresponde, e por um momento me sinto vitorioso, mas não
demora muito para que ela me afaste. Insisto novamente, e quando percebo
que meus esforços não vão me dar o quero, recuo frustrado.

— O que está acontecendo com você? Por que não fala comigo?
— Eu não quero falar sobre isso, Amber!

Ela puxa uma respiração.


— Certo, então eu falo... A minha mãe... — suspira — eu sei que ela
tem te procurado para pedir dinheiro.

— Não se preocupe. Isso não é nada, minha linda. — Toco seu rosto,
tentando tranquilizá-la.
— Ah meu Deus, me perdoe por isso, me sinto tão envergonhada.
Nunca imaginei que ela fosse capaz de fazer isso.
— Já disse para não se preocupar com isso.

Ela assente. Sei que tem mais a dizer, mas por alguma razão, Amber
parece apreensiva.
— Não foi apenas isso que me trouxe aqui. — Ela tira um papel da
bolsa e me entrega. Tento enxergar as letras, e depois de segundos, consigo
juntar as sílabas... Positivo.
— O que isso significa? — Merda de álcool no cérebro, mal consigo
raciocinar.

— Connor, estou grávida — ela diz.

Levo o que parece uma eternidade para processar suas palavras, e


quando isso acontece, começo a rir alto. Ela me olha surpresa. O que diabos
eu fiz para ter duas filhas da puta na vida?

Olho para ela... merda, eu me vi seduzido desde o primeiro dia, me


apaixonei pela foda, mas me viciei em fazer amor, amei sua companhia e
me apeguei a ela. E agora Amber simplesmente vem aqui e diz que está
grávida, mesmo sabendo que eu não tenho a porra de um esperma saudável,
sequer chegam ao óvulo. Eu tento bloquear todas as minhas lembranças
relacionadas a nós, mas é impossível. Fecho os olhos com força e sinto meu
peito doer, dificultando a passagem do ar. Tudo o que eu quero é arrumar a
merda da bagunça que está minha vida. Quero poder voltar com minha
rotina normal... Quero simplesmente que os dias voltem a ser como eram
antes de Amber aparecer em minha vida. Mas o imbecil aqui não só deixou
que ela entrasse, mas parece ter entregado a ela seu coração, que já não vale
muito. Tento me recompor, recuperando o pouco do orgulho.

— E eu devo dizer o quê? Agradecer aos céus pelo milagre? —


pergunto, irritado, fazendo-a recuar alguns passos. — E sabe o que é pior?
Eu achei mesmo que você era diferente, que todas aquelas saídas com a
porra do amigo eram só isso mesmo, amizade. Mas, me diz, ele te comia
antes ou depois de mim?
Amber parece transtornada.

— O quê? Não, eu não...


— Ah porra, você achou mesmo que eu iria acreditar que esse filho é
meu? Quando a puta da Hanna tentou isso por anos e não conseguiu? E
adivinha, ela era uma puta bem mais inteligente e sagaz que você — digo e
espero de verdade que isso a machuque tanto quanto machuca a mim.

Amber está paralisada no lugar. Seus olhos presos em mim brilham


com a presença das lágrimas. Seus lábios tremem e sei que está prestes a
chorar. Odeio vê-la assim...
Porra, Connor, ela é uma mentirosa! Não se deixe enganar.

— Connor, eu não transei com nenhum outro que não fosse você,
eu...
Gargalho alto, sentindo as malditas lágrimas circulando em meus
olhos, então luto contra elas.
— Você soube me enganar direitinho... Devo te dar os parabéns por
isso!

— Connor, você está entendendo errado...


— Jura? — grito, já não conseguindo conter as malditas lágrimas. —
Eu confiei em você, Amber! Permiti que entrasse na minha vida e ocupasse
um lugar que... — Levo as mãos à cabeça. As lágrimas rolam por minha
face e eu me amaldiçoo por isso. Por ser tão fraco, por ter entregado meu
coração a alguém tão baixa. — Eu estava até mesmo disposto a arcar com
os subornos da sua mãe se a quisesse por perto. E olha para você, tramando
com o amiguinho de merda. Quer saber, você é igual ou pior que a Hanna...
— Por Deus! Connor! Do que está falando? — Ela tenta me tocar,
mas me esquivo, enojado.
Eu daria tudo para isso não ser real.
— Por que fez isso comigo? Qual sua intenção com tudo isso? Me
humilhar? Jogar na minha cara que você me enganou durante todo esse
tempo? O que estava pensado? Que eu iria aceitar essa gravidez e assumir
esse filho, enquanto você e o seu amante riam de mim pelas costas?

— Eu nunca te enganei, Connor... por favor, eu preciso que acredite


em mim...

— Chega, Amber! Não sei qual era seu plano com o imbecil do seu
amigo, mas esse filho não é meu! Eu sei disso, você também! — grito,
fazendo-a encolher no lugar.
Um soluço alto escapa de sua boca e seu olhar é tão profundo e triste
que poderia enganar a qualquer um, até mesmo a mim em uma outra época,
claro, mas não agora. Não hoje.

— O quer para sumir da minha vida? Um cheque? Posso fazer isso...


Só me diz o seu preço. Eu te dou o que quiser, se isso significar que nunca
mais voltarei a vê-la.

— Não faz isso, por favor... — suplica em lágrimas. — Você me


conhece, Connor... Sabe que jamais faria isso com você. Eu te amo.

Suas palavras me fazem rir. Talvez tenha sido meu sexto sentido que
nunca me permitiu confessar meus sentimentos a ela, já prevendo essa
desgraça.
— Sério? — debocho. — Sabe quem também me amava? Hanna...
Ela me amava e abriu mão de seus sonhos por mim, e sabe o que é mais
irônico? Tudo era uma grande mentira! Então pega a porra do seu amor e dê
o fora daqui antes mesmo que eu te coloque para fora! — Dou um passo em
sua direção e paro. Eu a encaro pelo que parece uma vida. Mesmo tendo
motivos para a odiar, e eu juro que eu quero sentir isso por ela, não consigo,
porque eu a amo. E é errado pra caralho admitir isso agora, quando, com a
mesma facilidade que teve em me devolver a alegria de viver, está me
tirando. Sem piedade nenhuma.
— Vai embora, Amber. Pegue o que te resta de dignidade, se é que
você tem alguma, e vai embora. Não apenas da minha vida, mas também da
minha empresa.
Não quero mais voltar a vê-la.

— Então é isso? Acabou? — ousa perguntar.


Não digo nada. Quero apenas que ela vá embora, porque Deus sabe o
quanto está sendo difícil ter que arrancá-la da minha vida.

Amber inspira profundamente, enxuga as lágrimas com o dorso da


mão e desvia o olhar para a bagunça em minha sala.
— Pode se arrepender disso... — A voz chorosa persiste.

— Não nessa vida. Agora dê o fora — digo, enquanto passo por ela e
sigo para o meu escritório.
Mesmo sabendo da sua traição, não me sinto preparado para vê-la
indo embora. Talvez nunca me sinta, e a prova disso é a dor insuportável em
minha alma.
Quando eu lia nos livros sobre ter um coração partido, da dor
dilacerante em sua alma e em como tudo passa a não ter sentido, eu
realmente acreditava que era pura imaginação, licença poética, mas não
existe nada de poético quando seu coração é dilacerado em tantos pedaços
que fica difícil tentar seguir.
Nunca acreditei que alguém poderia sentir uma dor tão intensa a
ponto de desejar arrancar o próprio coração do peito usando as próprias
mãos. O pior é que o sentimento é mil vezes mais intenso do que eu sequer
consegui imaginar um dia ou li em um livro. Porque desde aquele dia em
que Connor praticamente me chutou de sua vida, meus dias parecem iguais.
Eu juro que realmente acreditei que essa dor fosse amenizar com o passar
do tempo, mas estava enganada, porque já se passaram sete dias e ainda me
sinto como se fosse um nada. Como se tudo o que vivemos não tivesse
importância alguma.

A dor é real, palpável e corrói mais que ácido. Entra fundo na alma,
e tudo que meu coração experimenta é um espiral de dor que parece se
alimentar a cada lembrança. Eu não deveria estar me sentindo assim...
Como se, de alguma forma, minha vida não fizesse mais sentido, como se
de fato tivesse perdido alguém que estava predestinado a ficar ao meu lado.
Eu posso me considerar uma tola por ter acreditado nesse amor, por ter
sequer cogitado a hipótese de que Connor não fosse capaz de me amar.
Estávamos fadados ao fracasso desde o início, mas entreguei meu coração
para ele mesmo sabendo que corria o risco, e dei a ele permissão para que o
descartasse quando não mais o quisesse... Eu fui tão idiota... Me deixei
iludir por suas atitudes comigo. A forma como me tocava, me beijava...
Connor brincou comigo. Me fez sentir como se eu fosse especial, diferente
das outras que passavam por sua cama, e quando viu que já tinha
conseguido o que queria me descartou, assim como Lexie me disse que ele
faria.

Ele soube me enganar direitinho, e agora, estou sozinha, gerando um


filho que foi rejeitado pelo pai. E isso dói. Dói bem mais do que ele pensar
que sou uma mentirosa.

Quando tomei a decisão de procurar Connor, não pensei que as


coisas tomariam esse rumo. Juro que acreditei que ele receberia a notícia da
minha gravidez de outra forma. Em outro cenário, ele ficaria sim surpreso,
afinal, ele e Hanna haviam tentado tanto ter um bebê, e por causa de um
diagnóstico não conseguiram, mas ele não duvidaria de mim... Não
duvidaria do meu caráter... Em outro cenário... Connor não iria me julgar,
dizendo-me todas aquelas palavras que me machucaram e ainda machucam,
pois ele saberia que o amo e que jamais o engaria... Mas a realidade é
oposta a toda essa ilusão e preciso aprender a lidar com ela.

Tem dias que parece que não vou suportar. E, sinceramente, eu não
queria ter que voltar à empresa e pedir minha demissão, mas ele é o
milionário, não eu. Ele não precisa manter um pai, ele não tem um bebê no
ventre, mas eu sim, e sequer tive coragem de relevar ao meu pai. É doloroso
admitir, mas uma pequena parte minha se prendeu ao fio de esperança de
que Connor voltaria atrás e me procuraria, que diria que tudo não passou de
um mal-entendido, claro que levaria um tempo para aceitar, no entanto,
seria mais fácil perdoá-lo. Mas não aconteceu e eu preciso resgatar o que
me restou de dignidade e amor-próprio e retomar a minha vida.

Me olho no espelho e desconheço meu próprio reflexo. Papai notou


que havia algo errado, deduziu que terminamos e com um menear de cabeça
eu confirmei quando ele perguntou. Pedi que me desse alguns dias e eu
mesma falaria sobre isso, no entanto, estou aqui, tendo que fazer meu
retorno à empresa e sequer tenho coragem de admitir isso.

Pego o ônibus enquanto luto contra as lágrimas, não consigo desligar


meus pensamentos, desejando que nossas memórias desapareçam, mas ele
parece estar impregnado a cada parte de mim. Respiro fundo quando desço
do ônibus, parando de frente a tudo o que terei que abandonar a partir de
agora, e isso me quebra um pouco mais. As lembranças dos dias em que
vivi ao seu lado, nossos beijos, nossa entrega, tudo parece tão irreal e é
demasiadamente difícil me manter forte quando caminho em direção à
recepção, e então ao elevador. Juro que quase posso nos ver ali.

Internamente imploro para entrar e sair sem que ninguém que eu


conheça note minha presença, mas por ironia do destino, que parece mesmo
não querer cooperar, antes que as portas se fechem, escuto a voz de Gisela
me pedindo para segurar. Ela entra no elevador, está eufórica falando ao
telefone, enquanto segura um café. Parece surpresa por me ver, mas não diz
nada. Apenas força um sorriso, parecendo atenta à pessoa do outro lado da
linha. Ela concorda com o que é dito a ela é encerra a ligação.
— Minha vida está uma loucura sem você — diz e me abraça
desajeitadamente. — Como você está?

Em pedaços, mas isso ela já percebeu. Apenas forço um sorriso.

— Ele está te sobrecarregando? — Ouso perguntar, tentando parecer


bem, e me odeio por isso. Mas não posso continuar me torturando dessa
forma.

Ela revira os olhos e bufa irritada.

— Me sobrecarregando? Parece o próprio diabo, e está colocando


todos loucos aqui! Acredita que só essa semana ele demitiu duas pessoas?
— Outro revirar de olhos. Então vê os sinais da derrota em meu rosto e
desviar o olhar. — Eu sinto muito, Amber, já era previsível que não
acabaria bem. Eu só não esperava que perdesse seu emprego.

— Foi o que ele disse? Que não terminamos bem?

Ela coça a cabeça e faz um bico torto, claramente desconfortável.

— Na verdade eu deduzi, nosso chefe jamais me daria uma


satisfação sobre seus casos. — Ao notar que falou demais, ela se desculpa e
é aí que me lembro bem dela me dizendo que não queria ser a pessoa a me
dispensar. Ela me alertou sobre isso, eu que me fiz de burra e cega. —
Desculpa, sinto muito, eu...

— Tudo bem, não mentiu, Gisela. E mesmo que a verdade pareça


cruel, ela jamais deve ser ignorada. — Forço um sorriso e ela concorda.

—Lexie agora é uma presença constante na agenda... Os almoços ao


menos, eu...

Engulo em seco. Que burra eu sou! Merda, ouvir isso dói tanto!
Baixo o olhar para o chão e tento não me sentir abalada por suas palavras.
Connor está bem... Isso deveria me fazer seguir em frente, afinal, se ele
pouco se importa, eu não deveria ser a única a sofrer, mas mentirei se disser
que saber disso me alegra.
Sinto um toque em meu ombro.

— Deveria ter pelo menos te mandado uma mensagem... Mas não


sabia o que dizer... — ela diz baixinho e eu sou obrigada a erguer os olhos
em sua direção.

— Tudo bem. No final, você esteve certa o tempo todo.

Ela assente e posso ver a piedade em seu olhar.

— Sinto muito, de verdade.

As portas se abrem no setor do RH, e como se toda a merda não


bastasse, Connor está bem à nossa frente. Congelo e Gisela, notando isso,
sai comigo. Ele está tão lindo. Merda, como depois de tudo eu ainda sou
capaz de pensar isso Connor nos encara e tudo que vejo em seu olhar é
rancor.

— Gisela, ainda não enviou os e-mails com os reajustes e eu preciso


que faça hoje, já disse. — Baixo o olhar, pedindo aos céus que ele me
ignore. — Srta. Michell, se veio para passar no RH, deveria ter feito isso há
algum tempo, presumo que está bem atrasada. Mas como sou generoso e sei
que precisa do dinheiro, não vou deixar que sua falta de compromisso
prejudique seu pai e... — Ele olha para o meu ventre. — Acerte com ela,
Gisela, todo esse mês de trabalho e o próximo.

É tão humilhante que sinto minhas pernas fraquejarem. Sinto


vontade de dizer que não quero nada que venha dele. Quero gritar em sua
cara que ele não tem direito de falar e agir de forma tão cruel comigo. Que
ele vai se arrepender por me tratar como se eu fosse uma qualquer, mas não
tenho voz. Engulo todas as palavras que estão presas em minha garganta e
as emoções que sei que estão prestes a explodir, caso passe mais tempo em
sua presença.

Gisela assente em concordância. Ele pega o café das suas mãos e nos
dá as costas, mas não caminha muito antes de parar e falar alto o suficiente
para todos ouçam.
— E, não esqueça de fazer as reservas no restaurante para mais
tarde. Confirme o horário com a Lexie. — Então se vai, e mais uma vez
sinto como se estivesse sendo quebrada em milhões de pedacinhos.

Sigo Gisela em silêncio até a sala de RH. Assino alguns papéis e


recebo de suas mãos um cheque com a quantia que Connor ordenou. Nunca
me senti tão suja em toda minha vida como quando pego o maldito cheque.
Sinto como se esse fosse meu preço por todas as vezes que deixei que ele
me fodesse, porque sim, está claro que Connor nunca fez amor comigo,
porque ele nunca me amou. Gisela tenta puxar conversa enquanto
terminamos de assinar toda a papelada, mas não a ouço de verdade. Então
me limito a balançar a cabeça e sorrir, e quando resolvo tudo, saio da
empresa o mais rápido que posso. Deus sabe que não suportaria outro
encontro com Connor.

Minha respiração falha à medida que me afasto da empresa.


Caminho em meio às pessoas na calçada, sentindo-me completamente sem
chão. As lágrimas embaçam minha visão e sinto como se não tivesse ar
suficiente para me manter respirando. Cubro o rosto com as mãos, enquanto
as lágrimas rolam por minha face.

Um soluço abafado escapa de meus lábios antes que eu possa detê-


lo, e caminhar parece se tornar uma tarefa difícil neste momento.

Paro perto de uma parada de ônibus e respiro fundo, tentando me


acalmar. Preciso me acalmar. Não apenas por mim, mas principalmente por
meu bebê. Mas é tão difícil, porque a cada batida do meu coração, relembro
das palavras de Connor e da sua frieza.

Engulo em seco, sentindo como se tudo ao meu redor estivesse


desmoronando. Minhas pernas fraquejam, temo que eu possa desmaiar
como da outra vez. Eu deveria simplesmente voltar para a casa, contar ao
papai o que está acontecendo e aceitar a dura realidade que terei que
enfrentar de agora em diante, mas não o faço, pois não me sinto preparada
ainda para encarar essa verdade. Então, com as mãos trêmulas, pego meu
celular e digito o endereço no aplicativo do Uber da única pessoa que sei
que nunca vai me virar as costas.
Nathan está na oficina, usando um macacão velho sujo de óleo,
curvado com o corpo dentro do capô de um carro. Está tão entretido em seu
trabalho que nem vê quando me aproximo dele.

Seu pai sorri amplamente ao me ver e me dou conta que senti sua
falta. Depois do meu acidente que mudou toda a minha vida, me afastei das
pessoas que sempre se importaram comigo, e sr. Josh é uma delas. As raras
vezes que ele esteve em minha casa, eu estava na empresa ou com o
Connor. E agora eu percebo que durante todos esses meses, minha vida
girou em torno dele. Da dívida que tenho com ele e depois para caber em
seu mundo. Ironicamente, minha vida parece estar sempre mudando
drasticamente e eu não tenho controle nenhum sobre isso.
— Amber. Querida! Quanto tempo — Josh vem até mim e me dá um
abraço de urso. — Que saudade de você!
— Também senti saudade.

Ele se afasta e pega um pano do bolso de sua calça jeans gasta e joga
em Nathan, que assustado dá um pulo e acaba acertando a cabeça no capô.

Ele se vira para o pai e sei que está prestes a dizer alguma coisa, mas
para quando me nota. Ele retira os fones de ouvido e vem até mim. O olhar
surpreso por minha visita parece ganhar intensidade ao se aproximar.

— Oi — diz hesitante, encarando-me com atenção. Pega um pano do


bolso de trás e passa nas mãos sujas de graxa.
— Oi — digo em resposta e forço um sorriso.

Nathan franze o cenho, posso ver em suas feições que ele sabe que
existe algo de errado.
— Pai, se importa de ficar aqui um pouco, enquanto converso com a
Amber?
— Claro que não, filho. Podem ir.

Nathan faz um gesto com a mão e eu saio da oficina com ele bem
atrás de mim. Seguimos para sua casa em silêncio. O lugar é pequeno e
modesto, repleto de boas recordações de nossa infância juntos.
— O que ele fez? — pergunta sem rodeios, virando-se para mim.

Balanço a cabeça em negação. Não sei ao certo o que lhe dizer ou


como dizer. Tudo está tão confuso e eu me sinto tão cansada.
Meu coração dói e minha alma está completamente ferida. Como
dizer a Nathan que Connor me deixou exatamente como ele disse que faria?
Como lhe dizer que Connor teve o que queria, não apenas meu corpo, como
também o meu coração, e que agora ele simplesmente me tirou de sua vida,
carregando um filho que ele jura que não é dele? Como lhe dizer que a dor
por tê-lo perdido é tão profunda que sinto como se não pudesse respirar? O
choro está preso em minha garganta como uma enorme bola de gude, mas
me obrigo a mantê-lo ali.

— Aquele filho da puta te deixou, não é? É por isso que você está
aqui, nitidamente abalada... Porque ele te deixou como eu disse que ele
faria — diz baixo, mas seu olhar é de pura fúria.
Balanço a cabeça afirmando, mas não há voz, e o choro que vinha
segurando acaba me vencendo. Nathan vem até mim, puxando-me para seus
braços. Eu apenas me agarro a ele, desejando que de alguma forma, meu
amigo consiga me salvar dessa dor.
Parece uma eternidade em seu braço. Como eu daria minha vida para
amar Nathan.

— Eu sinto tanto, Amber, você não merece passar por isso. Aquele
filho da puta, ele me paga... — Nathan continua a amaldiçoar Connor.
— Nathan, Connor não abandonou só a mim, eu estou grávida —
falo, olhando em seus olhos e o vendo paralisar.

São eternos segundos até que ele finalmente esboça reação.

— Caramba, Amber, seu pai já sabe? — Nego rapidamente. — E


pretende manter a gravidez.
— Lógico. Só não sei como vou conseguir bancar tudo até ter esse
bebê, mas ele vai nascer.

— Mas ele... ele vai ajudar financeiramente, não?


— Eu não quero. Connor sempre acreditou que não podia ter filhos,
e não sei por que acredita que o trai com você e o filho é seu — falo,
tentando conter as lágrimas quando Nathan volta a me abraçar forte. — Mas
é dele, eu tenho certeza.

— Mas não precisa ser... — fala, convicto, e juro que não entendo.
— Amber, o filho da puta te abandonou, te machucou e se ele acha que o
bebê é meu, podemos fazer ser...

— Nathan, eu não posso impor essa responsabilidade a você, não


tem nada a ver com isso.

— Mas eu quero, e te juro que vou ser um pai para esse bebê como
se ele fosse meu...

— Nathan, isso não é certo...


— Amber, eu amo você e vou amar esse filho também. Só precisa
me dar uma chance.

— Mas isso é loucura...

— Loucura é esse bebê não ter um pai, loucura é você não ter apoio
algum na gravidez, e claro, seu pai ficaria arrasado.
— Papai sabe que estive com Connor, não tem como...
— Então vamos esperar uns meses, ele vai entender se isso vier com
um pedido de casamento.

Sinto meu coração disparado ao desviar o olhar.

— Nathan, eu não sei se poderia...


Ele se afasta, segurando em minhas mãos.
— Me deixa ser o papai desse bebê, me deixa te amar e ter a honra
de me casar com você.
Não sei o que responder, claro que eu queria ter ouvido isso quando
contei a verdade a Connor, mas foi tão oposto.

— Pode me dar um tempo para pensar? Ainda está tudo tão recente e
confuso, eu...
— Tudo bem, mas não se esqueça de que, ao contrário daquele filho
da puta, eu estou e sempre estarei com você...
Rejeito o que parece ser a vigésima ligação de Manson. Não, eu não
estou sendo infantil, mas quando o único filho da puta que não deveria trair
sua confiança o faz, precisa começar a rever seus critérios de amizade.
Dessa vez, apesar de me sentir tão na merda como quando soube da
morte de Hanna, não vou me enterrar em um luto por quem não merece,
apesar de meu coração se comportar dessa forma. Quero me forçar a
parecer bem, ainda que nas madrugadas eu mal consiga desligar meus
pensamentos.

Descobrir a teia de mentiras da Hanna me quebrou, mas pensar em


como Amber me enganou tão fácil me faz sangrar todos os dias, porque ao
contrário de Hanna que morreu, Amber está aqui, bem viva, e não apenas
fisicamente, mas em mim. Nesses últimos dias, tenho implorado
incessantemente para que nossas memórias desapareçam, mas elas nunca
desaparecem. Sinto seu cheiro em minha cama, nas minhas roupas, em
mim, juro que em alguns momentos posso sentir seu gosto em minha boca.
E nas poucas horas que chego a dormir, é com ela que eu sonho. E talvez
essa seja a forma mais cruel de enlouquecer.

E quando chego à minha sala na empresa, apesar de toda pose de


estar bem, parece que tenho mentido para mim mesmo, porque jurei que a
esqueceria em um estalar de dedos, mas cada dia fica evidente que não vou
superá-la fácil. Talvez eu seja um otário masoquista, condenado a se
apaixonar pelas golpistas. E o que ela pensou? Que seria fácil me fazer
acreditar que o filho é meu? Mal sabe ela todos os malditos exames que
Hanna me fez fazer, ao menos nisso a vadia estava mesmo disposta a abrir
mão, pelo menos, até que seu plano de casamento estivesse consumado.

Passo as mãos no cabelo e tomo minha segunda dose de uísque,


virou algo habitual – de novo. A raiva que eu senti no início parece ter dado
lugar a mágoa e dor. E tudo que eu faço nessa merda é tentar bloquear todas
as minhas lembranças relacionadas a Amber, mas é impossível. Fecho os
olhos com força. Meu peito dói, dificultando a passagem do ar.

Quero minha vida de volta, tudo está terrivelmente de cabeça para


baixo. De uma forma estranha, Gisela não sabe mais deixar minha agenda
de acordo com meus padrões. Meus e-mails são digitados lentos demais e
nunca ficam como eu quero. Até a forma como ela me serve o café parece
errado e sei que o único problema aqui sou eu.
Eu sinto falta de como a sala ficava mais agradável com a presença
dela, então me forço a pensar em qual desculpa ridícula ela e o imbecil do
Nathan iriam inventar. Em como eles deviam debochar de mim quando
estavam juntos. Respiro fundo, fechando os punhos e implorando aos céus
para dessa vez sobreviver. As horas passam e novamente me pego sentindo
falta de como ela chegava quase sempre atrasada, e de como seu perfume
preenchia minha sala. Sinto falta de sua companhia e até das brigas. Sinto
falta de tudo que seu olhar me causava, e acima de tudo, sinto falta de seu
toque, seus beijos, sua pele, de estar nela e fazer amor com ela.

Porra! Para Connor!

Coloco meu copo na mesinha de centro e relaxo meu corpo no


encosto do sofá. Esse lugar costumava ser um refúgio nas horas de tristeza,
no entanto, tudo aqui me parece triste e morto. Respiro fundo e passo as
mãos por minha face.

O que diabos está acontecendo comigo?

Esse lugar era meu santuário, meu porto. Essa sempre foi a solução,
me afundar na porra do trabalho e continuar. Eu não posso mais fingir que
estou bem.

Quando o Joe do RH envia um e-mail para Gisela dizendo já está com


currículo e mapeamento de todas as possíveis candidatas a ocupar a vaga de
Amber, desesperado por distrações, desço até o andar e vou até ele. Claro
que Joe fica boquiaberto, no entanto, demonstra agilidade ao analisar cada
candidata e dizer os motivos para contratá-la.

Meu celular toca, então faço sinal para ele enviar tudo para meu e-
mail. Ele assente, saio de sua sala e nada me prepara para ver Amber no
corredor. Está com Gisela, e apesar de implorar internamente para
conseguir ignorá-la, a porra do seu cheiro atiça todos os sentimentos que eu
finjo esquecer durante o dia. Um cubo de gelo, é exatamente assim que
enclausuro todos os meus sentimentos. Ela praticamente se esconde atrás de
Gisela.
Me dirijo diretamente à minha assistente, evitando encarar seus
olhos castanhos culpados. Acho que estou indo bem, porque ambas mal
percebem minha voz um pouco vacilante. Eu estou sofrendo não apenas por
ter descoberto a traição de Hanna e Amber, mas por ter traído minha
promessa de não entregar meu coração novamente a alguém. Eu só preciso
manter a máscara, sendo indiferente, mas ao olhar para seu ventre e ver que
ela tem um bebê dele ali, acabo sendo um escroto imbecil. Gisela não
entende a situação. Não conversamos sobre Amber, pensar nela já causa dor
o suficiente, não preciso falar, ainda assim, Gisela entra no jogo e confirma
quando a peço para fazer seu acerto.

Volto à minha sala, sinto lágrimas quentes molharem meu rosto, e


pela primeira vez em anos, eu não me importo em limpá-las.

Dias passam e são todos ridiculamente iguais, a dor é sufocante e eu


estou cansado de tudo. Estou farto de sempre ter meu coração fodido por
acreditar em pessoas erradas. Eu só quero poder fazer a coisa certa. Quero
consertar as coisas e poder ser feliz. Eu mereço isso. Mereço por todos os
anos que eu sofri pela morte da filha da puta da Hanna. Mereço por ter
novamente acreditado em alguém que brincou comigo. Eu mereço uma
segunda chance por tudo o que já passei.

Respiro fundo novamente. O telefone toca e na tela se acende o


nome de Lexie. Já perdi as contas de quantas vezes saímos desde então, eu
sei o que ela quer, e sei que preciso ser sincero com ela. Foi a única que
quis me alertar e sempre teve razão, sim, eu não posso deixar que minha dor
me cegue a ponto de não ver que estou perdendo a única coisa boa que me
aconteceu há anos. Lexie.

— Connor, eu sei que temos feito isso há algumas semanas, mas


quer jantar comigo, de novo? — diz e parece apreensiva pela resposta. Sei
disso porque até mesmo dispensou o famoso olá. — Diferente das outras
vezes, que tal hoje ser no meu apartamento, um vinho, algo preparado por
mim e, claro, uma agradável conversa.

— Claro... — Ouvir minha voz me soa estranho, porque eu sei


exatamente o que ela espera com isso, mais intimidade. E por que não? Eu
já me sinto tão fodido mesmo, errei em todas as minhas escolhas se tratando
da merda do amor, então, por que diabos não devo deixar que Lexie seja a
aposta da vez agora? — Qual o horário? — pergunto e percebo seu sorriso
aliviado.

— Às dezenove, o que acha?

— Pode ser...

— Nossa, eu... eu... — Está radiante, eu sei e é uma pena não


compartilharmos desse mesmo sentimento.

— Eu vou gostar, Lexie, do jantar, do vinho e com certeza da


companhia. — repito isso tantas vezes para mim mesmo com a esperança
de converter a mentira em verdade.
— Eu não vou te decepcionar — diz antes de nos despedirmos.

Quarenta minutos se passam desde a ligação e eu continuo com a


expressão de uma criança assustada. Sem a porra da certeza se o meu plano
de resolver as coisas irá dar certo dessa vez, no entanto, estou contando com
isso. Tomo outra dose de uísque. Estranhamente, meus dias de merda
parecem se arrastar. Opostos aos dias que foram felizes, eles sempre
acabam antes de um piscar de olhos. Já acabei praticamente com toda a
garrafa na tentativa de me acalmar ou poder clarear meus pensamentos.
Mas a dúvida persiste, o que farei quando estiver em seu apartamento?
Sirvo-me de outra dose e encaro a cidade agitada lá fora. A imagem de
Amber vaga com perfeição em minha mente. Cada traço é uma lembrança
dolorosa dessa mulher.

Respiro fundo e fecho os olhos por alguns segundos. Graças ao


álcool, meus pensamentos estão inquietos e meu peito doí. E justamente
com ele correndo em minhas veias, às sete da noite, que saio do escritório
indo direto para o apartamento de Lexie. Fingindo estar bem o suficiente
para um encontro, quebrado demais para sequer me encontrar.

E é justamente aí que começo a pensar que Amber poderia ter


mentido um pouco mais, poderia ter levado isso um pouco mais adiante.
Merda, talvez se ela fosse mais esperta, esse imbecil aqui aceitaria estar na
condição de trouxa novamente, porque, porra, essa dor é tão cruel e parece
não ter fim.

Estaciono o carro, querendo loucamente Amber, mas entrando na


vida de Lexie. Me livro da gravata e saio do carro. Toco a campainha e seu
sorriso sincero me faz me arrepender por essas merdas que pensei até aqui.
Entro depois de beijar seu rosto, que perde o sorriso ao sentir o cheiro de
uísque. Mas isso tem sido tão comum, que não entendo o porquê do
constrangimento.

— Você me disse que me amou no meu pior momento, então, parece


que estou nele novamente e acho que preciso que me ame um pouco mais
agora — falo isso e a abraço.

Lexie retribui e faço a pior burrice que poderia ao olhar em seus


olhos. Eu a beijo, beijo querendo sentir o gosto de Amber, beijo querendo
causar toda essa merda em meu corpo, querendo sentir a porra da conexão,
querendo coisas que meu coração amava sentir e não sente mais. Querendo
que de alguma forma Lexie possa chutar essa dor.

Mas tudo que vem à mente é que eu quero Amber. Eu a quero e


quero sentir novamente tudo que ela despertava em mim, mas tem um
porém, ela não me quer. Não para ser seu único, e então percebo que eu sou
o filho da puta destinado a estar sempre se intrometendo na vida de algum
casal. Hanna e Alexander, Amber e o filho da puta do amigo, sempre
destinado a amar a pessoa errada.

Me afasto frustrado, limpo minha boca e percebo a merda que estou


fazendo. Passo a mão pelo cabelo, forço um sorriso e me viro para sua sala,
tentando disfarçar. Tentando fazer a porra do meu melhor por alguém que
realmente merece.

— Connor, o álcool nunca é a melhor solução — ela diz.

Tudo que eu faço é seguir até sua pequena mesa para dois próxima à
janela. Atrevidamente e sem cerimônia alguma, vou à sua cozinha e preparo
meu prato, então me sento à mesa. Frustrada, ela não se serve, apenas se
senta à minha frente. Me sirvo uma taça de vinho, enquanto dou a primeira
garfada em seu espaguete.

— Está uma delícia — digo antes do meu estômago revirar. E sim, é


pelo uísque que tomei o tempo todo.

— Não atende Manson, nem sua irmã, e, claro, seus pais apenas para
uma formalidade e evitar preocupações. É assim mesmo que quer seguir? Já
trilhou esse caminho e ele não te levou à cura nem à felicidade.

— E que porra me recomenda, Doutora Lexie? Já que cuida tão bem


dos corpos, pode ajudar a curar um coração, talvez... Mas droga, duas vezes
enganado, talvez três, não me parece algo tão simples assim, não do tipo
que resolve com medicação ou cirurgia.

Ela desvia o olhar, em seus olhos dançam a decepção.


— Eu não sou o homem ideal de ninguém, Lexie. Eu tentei fazer sua
irmã feliz e tudo que ela queria era a porra do dinheiro.

— Mas isso não é sobre você. É sobre Hanna, ela não prestava.
— Então parece que eu tenho um faro para mau caratismo, porque
Amber também fez o mesmo.
Lexie me analisa por segundos, então começa a juntar os pontos.

— Espera, tudo isso é por Amber? — O rosto enrijecido parece que


lhe dá a resposta. — Está apaixonado por ela?

— Não, eu não estou — minto, me forçando a dar mais duas


garfadas. Viro uma taça de vinho e então me sirvo outra. — Mas me diz, me
ama mesmo, Lexie? Me ama a ponto de querer se casar? — Lexie desvia o
olhar. — Me ama?
— Sabe que eu amo... — A voz cálida e ao mesmo tempo insegura
me faz olhar em seus olhos. — Te amo desde o primeiro dia, Connor, e
desde aquele dia, sonho em ser sua, em me casar com você, ter uma família.
Acabo rindo.
— Então também não sirvo para você, Lexie, porque eu não posso
ter filhos. A não ser que o conceito de família para você se refira a apenas
nós dois, ou outros métodos de termos filhos.

— Por que acha que não pode ter filhos?

— Sabe que Hanna tentou várias vezes e...


— Sim, e ela não podia ter filhos porque não ovulava, nunca ovulou,
um problema anatômico que não me lembro ao certo os detalhes.
Sinto como se o chão desaparecesse.

— Não, eu... nós... eu fiz exames... — falo, implorando para nisso a


filha da puta não ter mentido.

— Todos adulterados, com certeza. Hanna era narcisista, inventou


tudo isso para te fazer sentir culpado.
— Lexie, eu fiz o espermograma e...

— E quem pegou o resultado para você?

Olhando em seus olhos, mal acredito que Hanna chegou a esse


ponto.
— Ela, não foi? Hanna não podia ter filhos, Connor, era ela e não
você, eu tenho certeza disso.

— Porra, Lexie, não me diz que...

Droga! Eu não acredito que... Passo a mão pela mandíbula,


frustrado.

— Connor, eu tenho certeza de que ela era capaz disso, mas


podemos fazer um exame e...
Me levanto rapidamente, me sentindo sufocado. Dou um murro em
sua parede e sinto meus ossos trepidarem. Passo a andar de um lado ao
outro.

Como eu pude ser tão burro? Se for verdade, se... Amber...

PORRA, NÃO!

— Connor... — Ela tenta se aproximar, mas faço sinal para que se


afaste.

— Eu só preciso de um tempo.
Pego as chaves do meu carro e deixo seu apartamento rapidamente.
Agora entendo a mágoa no olhar, a decepção, a dor.

Sigo por ruas, sentindo as lágrimas queimarem meu rosto. Odiando


cada sinal vermelho, odiando cada carro à minha frente. A estrada, a chuva
que começa a cair, minhas merdas de escolhas.
Quando paro em sua calçada, sei que está tarde para bater à sua
porta, mesmo assim eu faço. Está tudo escuro e ninguém atente. Ligo em
seu telefone, mas cai na caixa postal. Me sento no acostamento, chorando
como criança. Ligo para Manson, como se nunca tivéssemos nos afastado, e
ele não só atende como me escuta pacientemente. E apesar de todos os
contratempos, verdadeiras amizades estão sim em seus momentos felizes,
mas só se provam reais quando estamos afundando, e mesmo condenados,
os amigos continuam ali, tirando a água do barco. E Manson sempre vai
estar aqui, mesmo quando meu barco já não tiver mais como ser salvo.
— Connor, implore a ela perdão antes que seja tarde demais para os
dois. E que sirva de aprendizado, você não deveria ter julgado Amber pelas
atitudes da Hanna. Assim como eu não deveria ter decidido esconder tudo,
e sinto muito por isso. Mas assim como eu estou assumindo a culpa, assuma
a sua e salve seu relacionamento com a mulher da sua vida — ele diz, e
como sempre é tão sensato.

Quando desligo, envio rapidamente uma mensagem a Amber.


Me perdoa, eu fui um imbecil, vamos conversar...

A mensagem sequer chega a ela, e quando me canso das minhas


lágrimas, volto ao carro me odiando por cada merda de palavra que falei a
ela. Eu sequer quis escutá-la, e agora, como vou convencê-la a me escutar?

Um carro com farol alto passa por mim, parando em seu portão,
então reconheço o motorista. Vejo David descendo do veículo, que é
desligado, em seguida Amber, e, para minha desgraça, quem os acompanha
é Nathan. David se despede e o ouço agradecendo a Nathan pelo jantar, e é
justamente aí que me pergunto por que eu nunca incluí seu pai em nenhum
dos nossos programas? Ele entra, deixando os dois debaixo da chuva fina.
Talvez eu mereça ver Nathan pegar suas mãos entre as dele, beijá-las e fazer
um sorriso discreto surgir nos lábios dela. Ela está com um vestido simples,
floral, sapatilhas e sem maquiagem, tão linda. O imbecil então tira a jaqueta
e coloca sobre ela. E vê-los juntos machuca, machuca demais.

Dói vê-lo tocar seu rosto, abraçá-la e beijar sua face, dói quando ele
toca seu ventre e beija, me fazendo morrer por dentro. Mas a culpa é minha,
eu fiz burrada, fui um escroto de merda. Amber não o convida para entrar e
isso acende uma pequena chama de esperança em mim. Ela entra e ele
finalmente vai embora. Corro até sua porta e bato desesperadamente.
Quando ela a abre, sua surpresa logo é tomada por decepção.

— Amber, por favor, me escute...


Ela olha para trás, preocupada com o pai, então sai e fecha a porta
atrás de si.

— Não saí para te escutar, só não quero que meu pai te veja ou
escute sua voz, então, por favor, vá embora. — Sua voz é tão fria quanto
seu olhar.
Sinto um frio percorrer meu corpo. Manson tem razão, eu irei perder
a única coisa boa que me aconteceu em anos se não conseguir seu perdão.
— Eu sei que mereço isso, sei que não tem motivos para falar
comigo, mas por favor... eu... — Olho em seus olhos tão tristes. — Eu te
amo, Amber.

Amber morde o lábio. Um sorriso sem humor nasce em seus lábios.

— Você é inacreditável, Connor. — Ela me lança um olhar furioso e


passa as mãos no cabelo. — Você me ama? Ama mesmo? E descobriu isso
quando? Antes ou depois de todas as humilhações? Quer saber, não
importa, só pegue a porra do seu amor e dê o fora antes que eu chame a
polícia.
Ela usa minhas palavras contra mim. Em outra ocasião, eu teria
deixado meu orgulho falar mais alto e, provavelmente, teria ido embora. No
entanto, eu não posso mais permitir que nada me afasta dela.
— Eu sei que você está com raiva e eu não tiro sua razão, eu... eu só
preciso te contar uma coisa. Se depois que você me ouvir ainda quiser que
eu vá embora, eu vou entender.
— Raiva? — Ri novamente. — Você me humilhou, praticamente me
chutou me acusando de algo que sequer imaginei ser capaz de fazer...

— Amber, a Hanna me traiu — eu a interrompo e ela arregala os


olhos. — Ela queria apenas meu dinheiro e eu descobri da pior forma
possível. — Amber faz menção em me interromper, mas continuo: —
Hanna me envolveu em uma teia de mentiras, inclusive que eu não podia ter
filhos, mas era ela...

Amber prende os lábios e seu sorriso tão triste ganha proporções


devastadoras. Suas lágrimas rolam sem que ela possa as conter.

— Eu era virgem, nunca nenhum homem havia me tocado, você


sequer teve sensibilidade quanto a isso, me fodeu, como amava dizer. Você
me envolveu e admito, fui uma presa fácil. Nunca se importou de fato com
meus sentimentos. Eu não só te entreguei meu corpo, mas meu coração, e
você jogou fora, descartou como se não fosse nada. Renegou não só a mim,
mas meu bebê.
— Nosso filho. E sim, eu fui imbecil, mas, por favor, foi tudo junto.
Hanna, você. Eu sei que fui culpado por toda essa merda, mas não consigo
viver sem você, por favor, eu te amo. — Minha voz é quase uma súplica e
eu me amaldiçoo por isso.

Amber olha-me intensamente, e pela primeira vez desde que abriu a


porta, ela parece realmente me enxergar. E isso é reconfortante e
terrivelmente assustador. Um suspiro cansado escapa dos seus lábios.

— Me acho idiota por sentir as verdades que você teve que encarar,
mas eu sinto, afinal, colocou Hanna em um patamar tão alto, que ninguém
parecia compatível. E deve mesmo doer ter que descontruir toda essa
perfeição que criou dela. No entanto, sentir não significa que estou
aceitando tudo que fez comigo. Acabou, Connor, e não é nosso filho, você
abriu mão dele quando soube e ainda me fez acusações dolorosas. Agora ele
é só meu.
Olho para seu rosto, procurando desesperadamente me ver em seus
olhos, mas não tem sinal algum, só dor e lágrimas; a menina que bateu sua
lata velha no meu carro, a mesma que me encarou com o rosto todo
ensanguentado e que me fez estremecer com aquele olhar; a garota tímida e
determinada que eu instiguei a trabalhar comigo, de olhar inocente, que
despertou em mim tantas emoções e sentimentos que me deixaram
confusos; a garota pela qual eu me apaixonei loucamente e me vi obrigado a
tê-la comigo como um capricho, um brinquedo e que agora tem o poder de
destruir por completo, porque apesar de jurar que nunca iria me apaixonar,
ela tem meu coração. Não apenas ele, mas minha felicidade. A mesma
menina que bagunçou toda a minha vida e me fez querer mais. Que agora
parece me odiar, mas que não consigo viver sem.

Sinto um aperto no peito, porque por mais que eu insista, parece ter
um abismo enorme entre nós. Eu a quebrei, falei que nunca a deixaria e a
deixei, fiz pior que sua mãe, e sei que não mereço seu perdão. Olhando em
seus olhos, eu não quero falar mais nada. Quero apenas tomá-la em meus
braços e abraçá-la forte contra meu peito. Quero sentir a maciez de sua pele
e sentir o seu perfume único e embriagante. Eu quero amá-la e não permitir
que jamais volte a se afastar de mim. No entanto, eu sei que para isso
acontecer terei que ser honesto, não apenas com ela, mas comigo mesmo.
Fecho os olhos e passo as mãos pelo cabelo. Eu nunca fui de pedir
desculpas, nunca precisei na verdade, e agora não sei como parecer sincero,
mesmo sendo.
— Quer se casar comigo? — falo, desesperado por uma solução.

A postura confusa de Amber me traz de volta à realidade. Seu corpo


fica tenso, então ela se vira para mim, com os olhos em chamas.

— Pergunta ridícula, está bêbado, Connor.


— Não, eu não estou. Quer dizer, estou um pouco, mas isso não quer
dizer que não quero me casar com você. Eu sei que fiz muita merda, Amber,
mas preciso te ter de volta — falo, com lágrimas escorrendo. Mesmo minha
bagunça visível não parece comovê-la.
— Acha mesmo que sou idiota a esse ponto? Desculpa, mas não tem
como eu te entregar duas vezes meu coração. Acabou, Connor, nunca mais
volte aqui.

Todas as palavras parecem travadas, fico desesperado para engolir o


maldito nó que se forma em minha garganta.
— Amber, por favor, estou te implorando.
Ela desvia o olhar. Amber morde o lábio e balança a cabeça em
negação. Em seus olhos brilham as lágrimas que ela quer esconder. Eu não
queria causar isso, mas precisava falar. Precisava antes que fosse tarde.

— Nem em outra vida eu conseguiria te perdoar. Vá embora! — Seu


tom de voz aumenta. — Vai agora! — diz, dando mais ênfase em cada
palavra.

Respiro fundo e fecho os olhos.


— Não, Amber. — Passo as mãos pelo rosto. — Não posso ir, eu não
consigo. — Olho-a por um momento. Seus olhos estão sem emoção e
úmidos. Ela abre a boca para falar, mas a fecha no momento seguinte,
então, quando a vejo se virando para entrar, seguro seu braço. E no exato
momento sinto uma bofetada.
— Nunca mais toque em mim — diz, se soltando e deixando claro
que eu a perdi.
Confessar ao papai tudo o que aconteceu entre mim e Connor foi a
conversa mais emotiva e difícil que tivemos. Foi difícil falar da gravidez, de
como ele terminou comigo por acreditar que o filho não era dele, falar sobre
Nathan me propondo assumir meu bebê e, claro, a visita inesperada de
Connor, dizendo que me amava e que Hanna o fez acreditar que ele não
podia ter filhos.

Juro que esperava uma reação explosiva vinda do meu pai, mas foi o
contrário. Papai não me julgou em momento algum e me apoiou com a
minha decisão de ter o bebê. Ele sabe das inúmeras dificuldades que iremos
enfrentar de agora em diante, mesmo assim não pode deixar de me dizer o
quanto está feliz por ser avô e que fará tudo para me ajudar. Até se ofereceu
para encontrar um emprego para me ajudar com as despesas, mas claro que
não o deixei fazer isso. Tenho alguns meses antes da gravidez ficar
evidente, e sei que posso conseguir um emprego. Porque depois não será
fácil, já que a maioria das pessoas parece não gostar de grávidas. O que me
conforta é que estou tendo o apoio das pessoas que verdadeiramente me
amam.

Nathan, por exemplo, tem estado sempre ao meu lado. Vem todos os
dias me ver e continua insistindo para que eu o deixe cuidar do meu filho.
Acho nobre de sua parte querer criar um filho de outro homem como fosse
seu, mas não posso me comprometer com outro enquanto esse meu coração
relutante ainda for de Connor. Nathan está lutando por mim e eu o amo
muito por isso, mas nada do que ele me faça me faz de fato querê-lo manter
em minha vida dessa forma. O amor que sinto por ele não se compara ao
que sinto por Connor, e mesmo que parte de mim saiba que estou sendo
uma tola por não o aceitar, eu não consigo tomar essa decisão, porque sei
que nunca vou amá-lo como ele me ama.

Observo a chuva através da janela do quarto. Está mais fina, mesmo


assim persistente, assim como Connor, que continua vindo na expectativa
de que eu vá conversar com ele. Tem sido assim durante todos os dias,
intermináveis mensagens, várias chamadas, e desde a última vez que nos
falamos, seu carro parece ter encontrado um lugar fixo em minha calçada.
Ele tem vindo sempre no mesmo horário, o que me leva a acreditar que
venha diretamente da empresa, já que sempre está usando terno. Não me
atrevo a ir até ele, tampouco me sentir tocada por sua atitude. Connor me
machucou mais do que qualquer pessoa em toda minha vida, e sinto como
se não pudesse perdoá-lo. Eu o amo tanto e gostaria de conseguir consertar
as coisas, não apenas por mim, por nós, por nosso filho, mas quando penso
em suas palavras e na forma como me humilhou, é como se todo o meu
amor se encolhesse dentro de mim, dando lugar apenas ao desejo de
conseguir tirá-lo para sempre do meu coração.

— Ele continua lá fora — papai diz ao se aproximar, entrando no


quarto. Suspiro e assinto. — Não acha que deveria falar com ele?

Sinto uma fisgada em meu peito por sua pergunta.

— Não. — Tento manter a voz firme, porém, sinto lágrimas


embaçarem minha visão, odeio o fato de ser tão emotiva.

— Filha, eu sei que está magoada com tudo o que aconteceu, mas
agora não existe apenas os dois... Há uma vida sendo gerada por você, e
mesmo estando chateada com o sr. Dickinson, sabe que ele tem direito de
participar da vida dessa criança.

Fecho os olhos e coloco as mãos sobre meu ventre.

— É o meu filho, papai... Connor perdeu o direito de ser pai no


momento que duvidou de mim.

— Você parece alguém que eu conheço — ele diz e o ouço rir, como
se isso fosse algo divertido. Viro meu rosto em sua direção e vejo o olhar
preso em Connor. — Você é orgulhosa, assim como eu... E eu gostaria
muito de que pelo menos essa parte você não tivesse herdado do seu velho
pai.

— O que quer dizer com isso?

— Quando sua mãe foi embora, ela voltou alguns meses depois. Ela
me contou que estava sóbria há alguns dias e que queria voltar para casa,
para nós, mas eu estava tão ferido e magoado por ela ter nos deixado, que a
mandei embora. Não queria que você voltasse da escola e a encontrasse,
porque eu sabia o quanto o fato de ela ter nos deixado tinha te afetado. —
Ele força um sorrio e volta o olhar para mim. É nítida a sua tristeza ao
relembrar o passado. — Tentei me convencer durante todos esses anos que
fiz o que era certo para mim e, principalmente, para você. Mas hoje eu vejo
que fui apenas orgulhoso. Estava com tanta raiva e tão magoado, que tudo o
que eu queria era que sua mãe sentisse pelo menos um terço do que eu
estava sentindo. Eu tive a chance de ajudá-la... Poderia ter lutado mais pela
mulher que tanto amei, lutado para reconstruir nossa família, mas não o fiz,
porque fui orgulhoso e turrão. Então, não cometa o mesmo erro que eu,
filha.

Há alguns dias, mamãe bateu à nossa porta. Ela estava sóbria e pediu
ajuda. Papai não se opôs a ajudá-la e a deixou ficar aqui. Ele até cedeu o
seu quarto para que ela ficasse. Ela se dispôs a ir para uma clínica, mas
estamos procurando alguma que seja acessível para pagarmos.

— É por isso que a deixou ficar? Porque se sente responsável de


alguma forma, por minha mãe estar tão debilitada com o vício?

— Ela é sua mãe, não poderia fechar a porta para a mulher que me
deu meu bem mais precioso. — Ele se aproxima e eu o abraço forte.

Mamãe tem se mostrado de fato empenhada a mudar, e não sei dizer


como me sinto sobre isso. É estranho tê-la em casa, já que sempre fomos
apenas eu e papai. Mas confesso que uma parte de mim – aquela garotinha
que sempre ansiou por notícias – gosta que esteja aqui. E papai parece feliz
com sua presença, então... Tudo o que quero é que ela fique bem.

— Todos somos responsáveis por nossas escolhas, filha. Sua mãe fez
uma escolha há alguns anos que custou nossa família, mas ela não teve cem
por cento da culpa. Sei que o fato de eu estar doente e ter que trabalhar
menos e tê-la sobrecarregado com tantas responsabilidades foi demais para
ela. Sua mãe renunciou a tudo por nós. Faculdade, o sonho de ter um bom
emprego. Mesmo tendo me deixado quando mais precisei que ela ficasse,
um dia essa mulher me amou. E estou fazendo isso, porque quero que saiba
que todos merecem uma segunda chance. — Ele coloca a mão em meu
ombro e sorri. Sei que a última frase foi direcionada para Connor. — Eu
adoro o Nathan, você sabe disso, e se eu pudesse escolher, você se casaria
com ele hoje mesmo. Ele te ama, mas tem um grande porém, você não o
ama, filha, e mesmo que esteja com medo por tudo o que vai ter que
enfrentar, não vale a pena abrir mão da sua felicidade por causa disso.

— Não é tão simples assim, papai.

— Não é, mas melhor se arrepender pelo que fez, do que pelo que
escolheu não fazer. Esse arrependimento corrói a alma. Se não quer o sr.
Dickinson em sua vida e na vida do meu neto, tudo bem, podemos lidar
com isso. Estou aqui por você sempre e nunca vou abandonar vocês. Mas
acredito que mantê-lo longe não é o que você quer de verdade.

— Mas ele me magoou muito.

— Infelizmente, quando escolhemos o amor corremos o grave risco


de nos magoarmos, mas isso não significa que também não podemos nos
arrepender e corrigir nossos erros. Está claro que ele a ama, filha. Só um
homem verdadeiramente apaixonado e arrependido fica na porta de uma
garota todos os dias, mesmo estando embaixo de chuva. — Olhamos para
fora, para Connor, e sinto como se meu coração fosse saltar do peito. —
Você o ama, não é?

— Sim... Com todo o meu coração... — confesso, com a voz


trêmula.

— Então o que te impede de ir até lá e dar uma chance para que ele
te prove que de fato te ama?

— Eu não sei se devo. E se ele me abandonar novamente? Eu não


suportaria, pai. Somos tão opostos e o passado dele... parece que o maldito
passado sempre vai nos assombrar. Queria muito resolver as coisas com o
Connor, mas sinto como se estivéssemos tão distantes agora.

— Amber, não deixe que o medo te impeça de ser feliz. Você não
pode viver o hoje, se sua preocupação é o amanhã. Viva o agora. É o que
temos.

— Então acha que devo perdoá-lo?


— Acho que deve fazer o que seu coração mandar. Se vocês se
amam de verdade, sei que vão conseguir encontrar o caminho de volta um
para o outro.

Não digo nada, então papai vem até mim e me abraça forte. Suas
palavras circulam por minha mente, e pela primeira vez em dias, me
questiono se devo ou não dar uma segunda chance ao Connor.

Horas se tornam dias e eu continuo me recusando a conversar com


Connor. E não é apenas com ele, em casa, nas vezes que mamãe tenta uma
aproximação, eu não sei como me portar. Papai sempre se faz de ponte, e só
o fato de ela não sair de casa por vergonha de se encontrar com Connor –
apesar de ele vir só à noite – diz muita coisa. Nossos jantares a três agora
são silenciosamente constrangedores. Quando a campainha toca, já
mentalizo o que dizer a Connor, mas me surpreendo ao abrir a porta e
reconhecer sua irmã e o noivo. Meu coração gela ao pensar que algo pode
ter acontecido a Connor, já que hoje não o vi, e confesso que até esse atraso
me incomoda.

Manson é o primeiro a me dirigir a palavra, me pedindo para


conversar.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto antes de deixá-los entrar.

— Connor está bem. — Sua irmã é imediata.

— Amber, estamos aqui porque de alguma forma nos sentimos


culpados pela situação. — Ao notar os olhares curiosos dos meus pais,
Manson pede um minuto.

Eu os deixo entrar, não passa despercebido o olhar curioso de


Caroline, mas não me importo, ela provavelmente nunca pisou em uma casa
simples assim. Meus pais nos dão privacidade e é Manson que começa a me
contar como se envolveram e quem era Hanna. Como um bom investigador,
ele expõe fatos chocantes, desde como descobriram após sua morte, e que
justamente pela dependência emocional que Connor criou de Hanna,
tiveram medo de que a verdade pudesse arruiná-lo.

— Hanna era uma narcisista, conseguia sempre se fazer de vítima.


Ela o afastou de todos nós, porque é isso que narcisistas fazem, te afastam
de sua rede de apoio a ponto de você só confiar no que eles dizem. E depois
disso foi fácil Connor sempre acreditar nela — Caroline desabafa.

— Foi ele quem pediu para vocês virem?

— Não, ele sequer imagina isso, mas Connor merece ser feliz — sua
irmã ousa dizer com paixão. É claro que ela quer isso, são irmãos.

— Connor errou comigo, Caroline — insisto. E percebendo a


fragilidade dela, Manson toma a palavra e, sim, eles têm uma conexão
muito bonita.

— Nós sabemos, mas se eu não conhecesse e visse Connor meu


irmão, não achasse que ele merecesse, não estaria aqui. Por favor, só
converse com ele novamente. Vocês pareciam tão felizes juntos, não sabe
como...

— Connor sequer me deu o benefício da dúvida.

— É complicado pensar com clareza quando se está tão machucado.


Somos como animais, Amber, mediante a dor, atacamos — Manson reforça.
— Ele foi enganado de uma forma cruel, fria, e naquele momento
acreditava estar passando por isso de novo.

— Meu irmão sofreu muito, Amber.

— E eu também, Caroline, entendo você e Manson, e agradeço por


virem aqui, pela preocupação. Prometo pensar sobre tudo, mas no momento
prefiro me resguardar.

— Tudo bem — ele diz, apesar de sua noiva não parecer tão feliz
com minha resposta.
Os dois fazem um pequeno gesto afirmativo e se disponibilizam a
me ajudar com o que precisar. Mas tudo que eu quero no momento é que
me deixem sozinha. Eles se despedem rapidamente e eu respiro fundo ao
fechar a porta.

As horas se arrastam, e não sei por que incomoda tanto não ver o
carro de Connor estacionado na calçada. Afinal, não era isso que eu queria?
Que ele parasse de insistir? Volto ao quarto e começo a me sentir incômoda
todas as vezes que olho para a rua. Ele desistiria, em algum momento
desistiria, e poxa, são duas semanas. Por que isso me incomoda tanto? Olho
suas últimas mensagens, sim, eu deveria tê-lo bloqueado, mas não o fiz
porque primeiro tenho que expulsá-lo do meu coração.

Penso em dar uma volta para espairecer, e é justamente quando estou


na rua, que reconheço seu carro vindo. Ele estaciona rapidamente e sai,
vindo em minha direção. É instintivo me abraçar, mas recuo. Eu precisava
disso, amo e odeio na mesma proporção o fato de me sentir tão segura em
seus braços. Olho em seus olhos e vejo o homem que eu amo, tão
perfeitamente lindo, com seu perfume amadeirado, lembro-me do seu corpo
másculo cobrindo o meu. Eu o amo, amo tanto que preciso me controlar
para não ceder ao imenso desejo.

— Por que tem dormido na calçada? Deveria dormir em casa. —


Tento controlar minhas emoções.

— Qualquer lugar onde você estiver é casa para mim. — A voz


rouca tão próxima faz todo meu corpo estremecer. — Amber, eu fui idiota,
imbecil, e não mereço o seu perdão, eu sei, mas como eu vou continuar sem
você, se minha vida toda se resume a nós juntos?

— Connor, eu... — sussurro, mas ele coloca seu dedo sobre meus
lábios.

— Só me escute, por favor? Naquela merda de dia, eu vi sete anos da


minha vida serem transformados em uma mentira, uma mentira cruel e
insana. Eu nunca deveria ter duvidado de você, sequer me deu motivos para
isso, mas estava tão machucado que acabei magoando a pessoa que só me
ofereceu amor. — Consigo sentir a fragilidade de suas palavras. — Eu sei
que magoei você, mas juro que sou um homem arrependido, e se me der
uma chance de provar isso, eu prometo merecer... Me deixe cuidar de você,
do nosso filho, por favor?
— E se eu te perdoar, posso me arrepender por isso?

— Tenho certeza de que vai se arrepender muito mais se não nos der
uma segunda chance.

— E como tem tanta certeza disso?


Connor não responde, apenas se aproxima e sinto como se estivesse
flutuando quando seus lábios quentes encostam aos meus. Ele cola sua boca
à minha. Em um delicioso desespero, invade minha boca com sua língua.
Como senti falta da sua saliva se misturando à minha. Saboreando o doce
gemido que sai de meus lábios por senti-lo, lentamente meu corpo vai
implorando por mais prazer. Ele entende isso e não demora para estarmos
em seu carro, com sua língua bailando em sincronia com a minha, enquanto
suspiramos em agonia.
Suas mãos rápidas começam a desabotoar meu vestido, enquanto minhas
próprias mãos enlouquecem tentando tirar sua blusa. Então me dou conta de
que estou na frente da minha casa e meus pais estão lá, provavelmente nos
vendo.

— O que foi? — Connor pergunta, ofegante.

— Meus pais estão...

— Não dá para ver...


Sua resposta apressada me faz rir. Ele volta a me beijar e não
consigo manter minhas mãos longe. Minha pele se arrepia quando seus
lábios descem por meu pescoço.

— Connor, meus pais... — falo, ofegante, ao sentir sua deliciosa


ereção em minha barriga.
— Então vamos para outro lugar, só me deixe ser seu e ter você —
diz, me puxando para beijá-lo. É loucura como ele desperta tanto desejo em
mim.
— Não, por favor — falo, tentando conter seu toque, mas sentindo
meu corpo em chamas.

Me ignorando, ele toca meu rosto, afastando a mecha do meu cabelo.


Sinto um leve tremor percorrer meu corpo e isso é apenas um estímulo para
que ele continue a me tocar.
— Connor, não faça isso — digo, com voz rouca, quando seus dedos
traçam um caminho lento por meu pescoço.

— Amber, por favor. Seu pai mal enxerga e sua mãe deve estar
dormindo — diz, com voz sedutora, abaixando meu vestido.

— Tem bola de cristal?

— Tenho, duas. E estão à disposição para consulta hoje — fala e


leva minha mão ao seu pau. Gemo ao senti-lo tão grande em minha mão.
Fecho os olhos e minha respiração vai ficando irregular.
— Nós mal conversamos, e...

Connor me lança um sorriso safado, com seus lábios vermelhos por


nossos beijos.

— Você é o que eu quero — diz, me deixando hipnotizada com sua


beleza.

Um leve suspiro escapa da minha garganta.


— Eu não quero passar por isso de novo, Connor — sussurro, num
fio de voz.

Ele avança pela bainha do meu vestido e sobe a mão, agarrando


minha coxa.

— Não vai passar, eu juro.


Fico tensa à medida que seus dedos brincam por baixo do tecido até
minha coxa, se aproximando lentamente da minha boceta.
— Eu sei o que eu disse a você, sei que errei — diz, inclinando-me
para perto dele. — Mas também sei o que eu quero. — Roça seus lábios nos
meus e morde meu lábio levemente.

Sua mão aperta minha coxa e sobe mais um pouco, em uma


excitante tortura, até encontrar a renda da minha calcinha.
— Connor, isso não é certo, meus... — Tento me afastar, entretanto,
ele é mais rápido ao me segurar pela nuca, trazendo-me para ele.

— O que não é certo é continuarmos assim, longe um do outro —


rosna, com a boca na minha. — Eu a quero, Amber, por toda a minha vida,
e sei que você também me quer. — Afasta minhas pernas uma da outra e
puxa o tecido da minha calcinha com força, até que o tecido se rasga. Eu
amo cada sensação. — Eu sei que você me deseja tanto quanto eu te desejo.
— Connor enfia seu dedo em mim e geme de prazer, sentindo-me pulsar e
desejar loucamente que ele entre em mim o quanto antes.
— Diga que estou mentindo e juro que jamais voltarei a tocá-la —
sussurra, massageando meu clitóris. Gemo, mordendo o lábio, me
contorcendo de prazer. — Diga — ordena, buscando meu pescoço e
beijando-o com fome, mordendo e chupando minha pele.

— Connor... Eu... Por favor, pare. — Minha voz é quase inaudível.


Uma mistura de incoerência e ilusão.
Ele sabe que estou blefando. Connor mergulha um dedo dentro de
mim e eu afundo os dedos em seu cabelo, puxando-o para mim. Seguro seu
queixo e o beijo ferozmente nos lábios, sugando sua língua e me deleitando
com seu gosto doce e suave. Connor entreabre os lábios, correspondendo-
me com a mesma paixão e intensidade. Me puxa para meu colo, de forma
que fico montada sobre ele. Connor afasta o tecido dos meus seios,
deixando-os à mostra.
Arranco sua gravata e abro os botões da camisa com pressa,
arrancando alguns. Ele sorri satisfeito, mordendo seu lábio e passeando as
mãos por meus seios e descendo por minha cintura.

Levanta meu vestido até que suas mãos encontrem minha pele nua e
quente.

Ele suga meus seios com fome, brincando com os mamilos


endurecidos com a língua, enquanto me contorço em cima dele, esfregando-
me de forma ousada e sensual em sua ereção.

— Eu preciso de você — diz ofegante, segurando meu queixo e


fazendo-me encará-lo.
— Só aqui? — provoco, sorrindo maliciosamente.

— Todos os dias — sussurra, passando a língua em meu pescoço e


descendo até meus seios sensíveis.

Connor desafivela seu cinto com dificuldade, ainda brincando com


meu mamilo, antes de conseguir libertar seu pau tão delicioso. Olho para
ele, mordo o lábio e sorrio.

— Você é impossível — sussurra, com a voz rouca de prazer.


— Quando se trata de você, nem imagina o quanto. — Puxo-o para
mim e seus lábios se moldam perfeitamente nos meus. Arqueio meu quadril
e deslizo lenta e maravilhosamente em seu pau.

Sinto que meu corpo vai explodir a qualquer momento com a


sensação maravilhosa de estar com ele dentro de mim, mas me contenho,
querendo aproveitar cada segundo. Agarro seu cabelo e começo a me mexer
com movimentos lentos. Ele arqueia seu quadril, me ajudando a conduzir
nossa coreografia sexual.
Gemo alto e agradeço aos céus por ele ter colocado uma música para
tocar quando entramos. Busco sua boca à medida que nossos movimentos
se intensificam, contraindo em torno do seu pau, enquanto ele tenta se
controlar para não gozar.
A sensação de estar com ele dentro de mim é maravilhosa.
Incomparável. Única. Ele é meu homem, mais do que nunca tenho certeza
disso.

— Goze para mim, minha Amber — rosna em meu ouvido,


movendo-me com força.

— Connor... — gemo, agarrando seus ombros e falando algumas


palavras sem sentido.

Ele morde meu mamilo, afundando com força dentro de mim, me


fazendo mexer mais rápido. E quando estou prestes a ter um intenso
orgasmo, mordo seu pescoço com força, cravando minhas unhas em sua
pele.

Quando ele faz o mesmo, me mordendo com força, fico ciente de


que amanhã terei um hematoma em minha pele. Eu quero continuar me
movendo com ele dentro de mim, mas à medida que intensifico meus
movimentos, meu orgasmo fica mais próximo e já está impossível me
conter.
— Goze — ele diz entre dentes, e sente quando acontece.

— Eu odeio amar você, odeio — falo, trêmula, sentindo o prazer


intenso que ele é capaz de me proporcionar.
Connor me aperta contra seu corpo e eu descanso minha cabeça em
meu pescoço. Estamos ofegantes e com o coração acelerado.
Será que sou uma idiota por perdoá-lo tão rápido? Talvez, mas eu já
não sabia se ficar longe dele era a coisa certa a fazer.

Beijo seu cabelo e o aperto com mais força contra meus seios. A
sensação de tê-lo em meus braços novamente é reconfortante, e por ora,
sentir o calor do seu corpo é a única coisa que eu quero.
— Case-se comigo, Amber — diz, acariciando minhas costas.
Exalo o ar profundamente, antes de me afastar para o encarar.
Seus olhos me interrogam silenciosamente. Eu quero poder lhe dar
todas as respostas.
— Case-se comigo, por favor — ele pede novamente.

Mordo o lábio e fecho os olhos, ainda sem dizer nada, então apenas
saio de cima dele e ajeito o vestido. Quando estávamos recompostos, abro a
porta do carro e saio, em seguida, eu o vejo fazer o mesmo.
Caminhamos em silêncio um ao lado do outro até o portão da minha
casa, por sorte não vejo sinal dos meus pais.

— Eu sinto muito por tudo, Amber, toda a merda que eu te fiz — diz
num sussurro, me impedindo de entrar. Ele ajeita uma mecha do meu cabelo
atrás da orelha e varre o chão com o olhar. Seguro seu queixo, forçando-o a
me encarar. — E desculpe insistir, mas eu não quero que esse momento
termine — declara, mordendo seu lábio inferior.
Afasto-me, segurando seu rosto com ambas as mãos.

— Fica comigo.
Connor parece surpreso.
— Esta noite? — pergunta, confuso.

— Não. Não apenas esta noite. Fique comigo todos os dias. Mas, por
hoje, quer dormir aqui, comigo?
Ele sorri, toca meu rosto, em seguida, me dá um beijo cálido.
— Durmo em qualquer lugar, contanto que seja com você — diz
docemente, enlaçando meu pescoço. — Eu só quero estar com você. —
Roça os lábios nos meus e meu corpo todo estremece com a suavidade da
sua boca úmida de encontro à minha.
É como viver um sonho, meu sonho de felicidade. Connor entra e eu
chamo meus pais, ele mesmo fala sobre querermos recomeçar. E como
papai diria, à moda antiga, me pede em casamento para meu pai. Minha
mãe está terrivelmente envergonhada, mas Connor, percebendo isso, fala
diretamente olhando para ela que irá recebê-los como seus pais, porque
agora somos uma família. Palavras lindas e emocionantes que fazem não
apenas eu e minha mãe chorarmos, até papai fica emocionado. Quando ele
termina, ela pede perdão a Connor, pelo constrangimento; a mim, pelo
abandono; e a papai, por toda a vida que poderiam ter tido. No fim, Connor
promete pagar sua reabilitação e ela aceita, aquecendo meu coração.

No quarto é difícil conter as mãos safadas de Connor. Fazemos amor


novamente, dessa vez controlando qualquer ruído, e apesar das condições,
sempre é perfeito me chupando, me fazendo dele – porque sim, ele disse
que precisava urgentemente de uma dose do meu gosto em sua boca. Pela
manhã, sou acordada por seu telefone, Gisela, mas não atendo, mesmo ela e
outros insistindo muito. Quando ele acorda, faz mil juras de amor, e apesar
de suas gracinhas, lamento muito quando ele diz que precisa ir, mas
prometendo voltar. Ele me beija e também ao nosso bebê que está em meu
ventre, prometendo voltar o mais rápido possível.

Fico mais um tempo na cama, sentindo seu cheiro que está nos
lençóis. Mas tem algo inadiável, e é justamente isso que me faz levantar.
Nathan. Ele esteve ao meu lado nos momentos em que mais precisei de um
apoio emocional. Confessou seu amor e se propôs a ficar comigo, mesmo
sabendo que esse sentimento não era recíproco. É difícil, mas preciso que
ele saiba por mim que decidi dar uma segunda chance ao Connor.
Na viagem até sua casa, me pego ensaiando minhas palavras. O Uber
para em frente à sua casa, então pago a corrida. Quando começo a me
aproximar da entrada, escuto vozes mais alteradas. Eu me aproximo e
reconheço Nathany, a loira que estudou comigo, parecem entretidos em um
assunto sobre um filme. Ele conta uma piada, e abruptamente sai debaixo
do carro, se levanta e antes que ela diga algo, ele a puxa para seus braços e
a beija.
Ela diz algo sobre estar cansada desses joguinhos e ele nunca a
assumir, então percebo o que está acontecendo. Não que esperava que
Nathan estivesse em um celibato enquanto eu me entregava a Connor, mas
faz todo seu discurso soar contraditório. E por incrível que pareça não dói,
na verdade, oposto a isso, eu sinto alívio. E com esse alívio que me deixo
ser vista. Quando percebem, os dois parecem sem graça, mas noto o quanto
o rosto de Nathan empalidece. Ele se afasta da garota, que parece confusa
com toda a situação e rapidamente vai embora.
— Amber... Eu... Eu posso explicar. — Ele vem até mim e desliza as
mãos por seu cabelo ainda úmido do banho.

— Nathan, não precisa explicar.


— Claro que precisa... Olha, não é o que você está pensando.
— Nathan, eu não estou pensando nada. Nunca quis que ficasse me
esperando, e sendo sincera, estou feliz e aliviada por saber que não foi
assim. Apesar de em vários momentos você fazer parecer.
— Amber, eu sou homem e... — Ele desvia o olhar.

— Não precisa explicar, de verdade — eu o tranquilizo. — Quero


que seja feliz, Nath...

— O que quer dizer com isso?


— Que só passei aqui porque quero que saiba por mim que decidi
voltar com o Connor. A gente conversou e queremos esse bebê, criarmos
nosso filho...

— E foi fácil assim? Ele foi lá e... — Pergunta, irritado.


— Tão fácil como está sendo agora, ignorando as vezes que tentou
me fazer sentir culpada quando fazia o mesmo que eu.
Nathan passa uma mão sobre o rosto e respira fundo. Ele olha para o
lado por alguns segundos, antes de voltar-se para mim.
— Você sabe que eu te amo... Que sempre amei...

— Eu sei... mas você pode amar outra pessoa. Alguém que vai te
amar com a mesma intensidade e que queira viver algo lindo ao seu lado.

Ele assente e prende os lábios, respirando fundo.


— Então é isso? Vocês vão ficar juntos e criar o bebê em uma
mansão em um bairro luxuoso de Portivil? — ele diz e não é em tom
zombeteiro, sinto-me aliviada por isso.
— Não sei, não me importo com isso, só quero estar ao lado do
homem que amo e ser feliz com nossa família.
Ele me encara sério.

— Você está feliz, não é?


Assinto. Nathan não diz nada, apenas me puxa para um abraço
apertado. Apesar de querer acreditar no contrário, essa reação só é possível
porque ele foi pego. E justamente por isso, sei que a partir de hoje muitas
coisas irão mudar, e pela primeira vez, estou ciente de que estamos
seguindo caminhos distintos.

— Espero mesmo que seja feliz, Amber.

— Já sou, Nathan, e espero que você seja também.


— Isso é um adeus?
— Não, apenas um até breve.

Nos abraçamos, e mais aliviada, eu sigo de volta o meu caminho.


 
— Como foi a estadia? — Sua voz sonolenta me faz abrir os olhos.

— A cama, não vou mentir, é um pouco desconfortável — brinco e


ela sorri.
— E a companhia? — Amber arqueia a sobrancelha. Juro que eu
poderia desenhar seu rosto milhões de vezes e ainda não me cansaria dele.

— Perfeita!

Toco seu rosto, acariciando-o sem quebrar o contato visual.


— Vem morar comigo?

— Quando foi que a proposta decaiu? Depois da noite em um


colchão duro, o case-se comigo se transformou em um vem morar comigo?
— Ela esnoba enquanto continuo preso ao seu olhar.

— Eu faço o que você quiser, desde que isso me mantenha sempre


em sua vida.

Amber se aproxima, beija minha boca calidamente, depois repousa


sobre meu peitoral.

— Gisela te ligou umas quatro vezes, e não só ela, acho que metade
da empresa o fez. Até mesmo uma certa doutora — diz, com toque de
ciúme na voz.

— E por que não atendeu ou me acordou?

— Não sou mais paga para isso, sr. Dickinson.

— Ah, claro srta. Amber, me desculpe.

— Tudo bem. — Ela levanta o olhar, me observando atentamente. —


Quer mesmo se casar comigo? Minha bagagem é um pouco pesada, dois
idosos e um bebê. — Ela toca o ventre e rapidamente levo a minha mão até
ele, acariciando.

— Meu filho e você nunca serão um peso, Amber.

— Esqueceu de incluir meus pais — diz, desconfiada.

— Ah eles são, mas dá para relevar, pela idade não vão durar muito
— brinco e a abraço forte, beijando sua boca.
— Claro que vão, seu bobo.

— Eu amo você e amo nosso filho. Não vejo a hora de poder chamá-
la de minha sra. Dickinson.

— Eu amo quando me chama de srta. Michell, mas acho que posso


aprender a amar a sra. Dickinson.

Eu a viro na cama, e enquanto distribuo beijos por seu delicioso


corpo, sussurro sra. Dickinson para provocá-la.

Meu telefone toca novamente e eu me amaldiçoo por ter que deixá-


la, mas prometo voltar em breve.

Passo rapidamente no apartamento, e depois de um banho rápido,


cumprimento às pressas a diarista e sigo para a empresa. Feito um idiota, eu
não consigo parar de sorrir e todos percebem isso. Entro no elevador e mal
chego ao andar para Gisela vir correndo. Enquanto me acompanha, vai me
atualizando até a minha sala.

— O senhor tem visita — diz, apressada. Me viro, parando à sua


frente.

— Quem?

— Eu.

A voz de Lexie me paralisa. Conversamos depois da cena patética no


seu apartamento. Contei tudo, desde a gravidez até as minhas várias
tentativas de redenção com Amber. Após um breve cumprimento, abro a
porta da minha sala e faço sinal para que ela entre. E somente quando o faz
é que percebo a mala que ela carrega.

— Vai mesmo aceitar a proposta dos Collins? — Sim, não havia me


esquecido da proposta que ela mencionou que recebeu para ir trabalhar em
outro estado enquanto faz mais uma especialização.

Lexie está emocionada.


— Só vim me despedir, espero que não esteja atrapalhando. — Sua
voz é instável.

Não sei exatamente o que sentir, ela esteve aqui desde o início, é
alguém que sempre me ajudou.

— Lexie, eu... — Desvio o olhar, um tanto emocionado. — Desculpa


por tudo, eu sinto muito se...

— Não tem que se desculpar porque não foi você, Connor, foi eu que
criei uma ilusão, fui eu quem quis me apaixonar, fui eu que fiquei presa a
um sentimento por anos, achando que depois de Hanna você me enxergaria
como mulher. Mas então veio Amber, e seria crueldade da minha parte
culpá-la por minhas frustrações, se a verdade que fui eu que me neguei a
enxergar que você nunca me viu assim. Nunca houve interesse real, mesmo
assim projetei, acreditei e continuei a me iludir. — Ela seca as próprias
lágrimas. — Nunca me prometeu nada, Connor, isso não é sobre você, é
sobre mim. Minhas escolhas. E agora que não tem mais venda, eu preciso
encarar as consequências e seguir.
— É o que fazemos, não é? Sempre seguimos — completo. Ela vem
até mim e me abraça forte, então correspondo, sensibilizado. — Eu não
desejo nada além de felicidade a você, Lexie, mais que a mim mesmo, para
ser sincero.

— Eu sei, e justamente por isso vim aqui, para dizer que estou
encerrando esse ciclo e que não te desejo nada além da felicidade. Então,
Connor, seja feliz hoje, amanhã, sempre, porque você merece muito.

Eu a abraço mais forte, ainda a agradecendo por tudo. Lexie promete


enviar notícias, e, bem assim, com um último abraço e a promessa de
sermos felizes, nos despedimos com um emocionado adeus.
Os dias seguintes são bem agitados com a mudança de Amber para o
meu apartamento e a internação da sua mãe em uma clínica de reabilitação.
São dias cheios de emoções, devo confessar que a parte mais tensa é
protagonizada por Amber arrumando suas coisas para mudar para seu novo
lar. Ela chora a cada segundo e David apenas fica na sala, fingindo que não
está triste por ver a única filhar ir embora. Mas a verdade é que nunca tive
pretensão de separar Amber do seu pai, principalmente sabendo das
condições de saúde do David. E é justamente por isso que tento convencer
meu futuro sogro a ir morar conosco. Claro que ele não aceita de imediato,
dá inúmeras desculpas para não ter que sair de sua casa, e uma delas é que
não quer atrapalhar essa nova fase e muito menos continuar a ser um peso
para Amber, que não se dá por vencida. Ela é tão teimosa quanto o pai e, no
fim, ele aceita que o melhor é estar por perto. Não no mesmo apartamento,
mas aceita estar no mesmo prédio, pelo menos até a sra. Farele estar bem
para sair da clínica.  

Com a ajuda de Caroline, consigo organizar um almoço para reunir


as duas famílias, no sábado. Quero pedir oficialmente Amber em
casamento, e Gisela fica responsável por reservar um restaurante apenas
para nós. Eu tenho pressa, tenho pressa em torná-la minha esposa, em ser
dela para sempre, e quero que tudo seja perfeito. Manson, sendo meu
padrinho, me ajuda com a escolha do anel de noivado. O que acaba sendo o
mais difícil, já que quero algo único e especial.

Chego ao apartamento e é uma satisfação enorme saber que Amber


está à minha espera. Sim, estou apaixonado pra caralho por minha futura
esposa.

Ela está na cozinha, preparando o jantar, e pelo visto acabou de sair


do banho. Eu me aproximo e a agarro por trás, amo a sensação de ter sua
bunda encostada no meu pau.

Ouço sua risada preencher a cozinha e meu coração transborda. Ela


gira seu corpo, enlaçando meu pescoço com seus braços, e me beija nos
lábios rapidamente, antes de se afastar. Seus olhos são cheios de amor
presos aos meus. Sorri, ficando ainda mais linda. Eu amo o seu sorriso.
Amo a forma como ela me faz sentir especial com apenas um olhar. Eu amo
cada detalhe que a fazem ser única.

— Espero que esteja com fome, fiz algo especial para nós...

—Então... devo arriscar? — provoco.

— Sua futura esposa ama cozinhar, então, vai sim, ter que se arriscar.

Ergo uma sobrancelha e sorrio. Escorado na ilha da cozinha, eu a


puxo para sentar-se em meu colo. Amber descansa um braço ao redor dos
meus ombros, e com a mão livre acaricia meu rosto.

Aperto sua cintura com uma das mãos e com a outra simplesmente
brinco com uma mecha do seu cabelo.

— Obrigado por ter me aceitado de volta — digo, sem tirar os olhos


dos dela e tocando seu rosto suave.

— Isso é apenas o começo de nossas vidas — sussurra com a voz


aveludada e sensual.

Seguro sua nuca e a puxo para mim. Nossos lábios se encontram, e a


princípio nosso beijo é lento e sensual, mas nossas bocas não se desgrudam
e amo as sensações que ela me causa.

— Connor, eu preciso me concentrar aqui — fala em um sussurro, se


referindo ao jantar.

— Você me atiçou e agora preciso mais do que isso — sussurro, com


a boca na dela.

Acaricio seus ombros nus até a fina alça do seu vestido. Meus dedos
afastam a alça lentamente, fazendo-a deslizar pelo braço, em seguida,
deposito um beijo casto e demorado na sua pele, deixando-a em chamas.

— Você quer mais que isso? — pergunto, com a boca encostada em


sua pele. Minha respiração faz cócegas nela, deixando-a em êxtase e
impossibilitada de pronunciar qualquer palavra. Acaricio sua bunda,
subindo lentamente a saia do vestido até sua cintura. Afasto rapidamente,
encarando-a incrédulo.

— Você está... De novo...

Ela me olha de uma forma divertida e sorri de um jeito safado,


mordendo o lábio e fazendo que sim com a cabeça. De novo, ela está sem
calcinha.

—Ah, Amber! Você é tão... gostosa — sussurro quando meu dedo


toca sua boceta molhada. — Tão quente. — Fecho os olhos e busco sua
boca. De um jeito provocativo, ela arqueia seu corpo para facilitar minha
carícia.
— Você quer mais, não quer? — pergunto, com voz rouca.

Sentindo minha ereção pulsar embaixo dela, Amber se contorce de


prazer. Ela não só quer mais, como necessita disso tanto quanto eu.

— Sim — confirma num gemido.


Sorrio, tirando meu dedo de dentro dela.

— Tão deliciosa — sussurro.

Amber abre os olhos a tempo de me ver com o dedo na boca,


olhando-a de um jeito atrevido. Então ela faz o mesmo, pegando meu dedo
e chupando de forma provocativa. Tão erótica.
Eu não sei se posso ficar mais excitado do que já estou. Eu a ajudo a
sentar na ilha.
— Eu vou te dar tudo o que você precisa. — Umedeço meus lábios
com a língua antes de abrir suas pernas atrevidamente. Minha boca passa a
fazer uma trilha de beijos em seu pescoço.

— Eu te quero tanto... Eu preciso tanto de você. — Me afasto para


olhar em seus olhos profundamente e a invado com tudo. Amo a sensação
de estar dentro da minha mulher. Toco seu rosto, acariciando sua bochecha
suavemente, descendo para seus lábios entre abertos. Fecho meus olhos
com força, sentindo minha respiração falhar enquanto, em um vaivém do
caralho, faço amor com minha futura esposa, na ilha da cozinha.

— Eu te amo — falo, roçando minha boca na dela.

Amber arfa, agarrando-se com força a mim, enlaçando suas pernas


em minha cintura.
— Eu te amo — sussurra contra minha boca antes de devorar meus
lábios.

Nossas mãos trabalham em perfeita sincronia, como uma dança


ensaiada e coreografada para esse momento. Um dueto dançando uma
dança íntima e sensual.

Passeio minhas mãos por sua pele, enquanto suas mãos acariciam
meu corpo. Minha boca saboreia cada centímetro da sua, seu queixo, seu
pescoço, seus ombros, sua clavícula e, por fim, seus seios.

Sinto a urgência crescer dentro de mim, e cada partícula do meu


corpo grita seu nome, embriagado no desejo que corre quente nas minhas
veias, se misturando com meu sangue.
Sugo com fome seus mamilos. Ofegando e tremendo, Amber afunda
seus dedos em meu cabelo. Puxo seu quadril com força, fechando os olhos e
buscando ar suficiente para me manter em pé. Eu a beijo vorazmente,
penetrando-a com força.

— Você é deliciosa. E é apenas minha — sussurro.

Nossos lábios se movem no mesmo ritmo perfeito. Devorando-se


como se essa fosse a única forma de nos mantermos vivos. Amber grita
meu nome enquanto eu a penetro cada vez mais forte, até não conseguir me
segurar mais.

— Na próxima, juro que vou mais de devagar — confesso, fazendo-


a rir.
— Meu futuro marido é tão insaciável. — Segura minha cabeça com
ambas as mãos e olha em meus olhos.

— Te darei tudo o que você quiser. Te darei o mundo se você me


pedir.

— Eu só quero você. — Ofega, me puxando para si.


Volto a beijá-la e o mundo gira ao meu redor. Eu esqueço-me de tudo
o que nos levou a ficarmos separados. Somos apenas nós nos amando,
feitos dois adolescentes apaixonados. Duas pessoas que se amam e que
necessitam um do outro, assim como necessitam do ar para respirar. Amber
aninha-se em seus braços, a cabeça descansando em meu peito.

Nossas respirações já estão regulares, e só ouço as batidas do meu


coração. Olhando para trás, consigo enxergar com clareza que nunca fui de
fato feliz, não como estou hoje. O amor que sinto por Amber é diferente do
que eu sentia por Hanna,  agora consigo entender que nunca a amei de
verdade. Estive tão cego pela dor, me torturando anos a fio pela perda de
alguém que nunca sentiu carinho por mim, que não me dei conta que todo
esse tempo não conhecia de fato o verdadeiro significado do amor. E foi
com Amber que descobri. Acredito que a amei desde o primeiro momento
que a vi, mas fui teimoso demais para admitir isso. Precisei perdê-la para
ver que meu mundo inteiro se resumia a ela.

— Por um momento, pensei que jamais voltaria a ter você aqui —


digo num sussurro. Amber Afasta-se o suficiente para me encarar. Arrumo
uma mecha de cabelo atrás de sua orelha e respiro fundo. — Tive tanto
medo de que você não me perdoasse... De que não me quisesse mais.

— Como pode pensar nisso? Eu o amo, Connor, e nada pode mudar


o que eu sinto.
O sorriso mais perfeito que meus olhos já viram nasce em seus
lábios e todo o seu rosto se ilumina.

— Eu não sei por que a vida me deu você, mas não vou ficar
questionando-a por esse presente maravilhoso, e não vou nunca, nunca te
perder de vista. — Toco seu rosto, sem nunca deixar de olhar em seus
olhos. — Você é a criatura mais doce e especial que a vida poderia colocar
no meu caminho. Você é tudo o que sempre quis, Amber. Me ensinou tanto,
em tão pouco tempo. Me ensinou o verdadeiro significado do amor e da
felicidade. Você e esse bebê são o meu mundo, o meu lar, e não importa o
que aconteça, sei que sempre vamos encontrar o caminho de volta um por
outro.

Podemos medir a felicidade? Bom, eu tenho não certeza sobre isso,


mas sei que há momentos que o sorriso da minha futura esposa alcança
patamares não visto antes por mim que quase me faz acreditar que
podemos, sim, medir a felicidade.
Não por uma régua qualquer, mas a do amor. Ela sorri genuinamente
quando entramos no restaurante e vê toda nossa família reunida. E apesar
dos cumprimentos e culinária maravilhosa, esse mesmo sorriso se eleva
quando peço licença a todos e me ajoelho diante dela. Existe momentos que
sim, palavras são dispensáveis, no entanto, quanto eu olho em seus olhos e
vejo a emoção tão saltitante, eu sei que cada uma que eu falar agora ficará
gravada em nossa história.
— Amber Michell, minha vida não era vida antes de encontrar você.
Mesmo com o sol mais brilhante, meus dias eram escuros. E você mudou
todo o meu mundo no momento em que nossos caminhos se cruzaram.
Depois de tudo o que passei, acreditei piamente que nunca voltaria a me
apaixonar, mas aí você me encontrou, naquela tarde chuvosa, literalmente
colidindo comigo. — Sorrimos com a lembrança, que parece tão distante.
— Me obrigando a rever todos os meus conceitos sobre a vida e o amor.
Amber, parece clichê dizer que foi com você que descobri o verdadeiro
significado do amor, mas é a verdade. Você me ensinou a amar e eu soube o
que era de fato ser amado. Sou grato a você por não ter desistido de mim,
de nós. Eu desejo ardentemente que seja minha esposa, e juro, perante Deus
e nossa família, amá-la por todos os dias da minha vida. Prometo cuidar de
você e do nosso filho, sempre dando o meu melhor para os dois.
Ela prende os lábios, na tentativa de conter as lágrimas. 

— Eu te perdi uma vez e isso foi o suficiente para perceber que não
existe vida, não se não a tiver ao meu lado. Te dou minha palavra de que
serei o homem que você precisa. Vou amar e cuidar de você em todos os
momentos de nossas vidas. Te fazer sorrir nos dias em que a tristeza de
abater, e ser seu porto seguro em dias de tempestade. Eu vou ser seu lar,
assim como você é o meu. Vou cuidar de você e do nosso filho. Protegê-los
com minha vida, se preciso for. Case-se comigo, minha Amber, e seja
minha por toda vida.
As palavras flutuam entre nós, e não contenho a emoção, enquanto
as lágrimas rolam por sua face. E ao olhar para os outros, percebo que todos
estão emocionados. Amber ajoelha-se à minha frente, tomando meu rosto
entre as mãos, igualmente emocionada.

— Já sou sua e continuarei a ser para sempre. — Beija-me


suavemente nos lábios. — Eu quero ser sua, e não apenas hoje, mas para
sempre, porque você é o único homem que eu já amei na vida, e olhando
em seus olhos, eu sei que ao seu lado é o meu destino, eu te amo.
— E você me disse que era estéril. — Ela me lembra, sentindo a dor
de uma contração que se aproxima.

Não é um bom momento para tentar ter razão, não quando sua
mulher está na sala de parto, parindo o terceiro filho. Nos casamos dois
meses depois de irmos morar juntos, e Theo veio primeiro, depois Lilly e
agora nosso pequeno Lois. Lexie não veio para nosso casamento, mas nos
desejou felicidades, fiquei realmente feliz quando ela me apresentou o
namorado por uma chamada de vídeo. Afinal, eu sou testemunha que
recomeços, apesar de às vezes dolorosos, podem nos devolver a vida.
Caroline e Manson se casaram um tempo depois de nós, e assim como eles
foram os nossos, fomos seus padrinhos.

— Te juro que esse é o último, Connor, nunca mais vai me fazer


passar por isso — ela diz ao segurar forte minha mão.

Não concordo ou discordo, amo bebês e mais ainda fazê-los. Talvez


por isso eles não têm tanta diferença de idade. Ela continua me
amaldiçoando, e sim, eu conheço o que vem depois disso, dor, xingamentos,
promessas de nunca mais, e declarações de ódio ao marido, então ele nasce,
ela o segura nos braços e esquece todas as maldições que me lançou por
engravidá-la. Daí em diante são só declarações de amor eterno ao nosso
bebê. Pois é, mas eu não posso negar que também fico assim, um pai bem
babão.

Hoje eu entendo bem o conceito de felicidade e amo minha família,


Amber foi meu sol, irradiou a luz que faltava em minha vida. Juro que não
saberia mais, ainda que quisesse, andar no escuro.

São mais duas horas de trabalho de parto até conhecermos o rostinho


do nosso terceiro filho e nos apaixonamos perdidamente por ele assim que o
vemos. Os pais dela ficaram com os irmãozinhos mais velhos, já os meus,
assim como Caroline e Manson, estão na janela de vidro, ansiosos
esperando para conhecerem o novo membro da família.

Amber chora de felicidade e beija nosso pequeno Lois quando a


enfermeira me entrega e eu o levo até ela, depois o aproximo do vidro e
todos sorriem feito bobos, contemplando nossa obra de arte.

A enfermeira o leva e eu fico com Amber, que se prepara para irmos


ao quarto. Quando nosso filho volta aos nossos braços e os pais dela vêm
com nossos dois mais velhos curiosos para conhecerem o irmãozinho, fica
evidente que sim, há como medir a felicidade e posso dizer que a nossa está
completa.

Como prometido, sua mãe nunca mais colocou álcool na boca, e


junto a David, estão escrevendo uma nova página. Gisela continua ao meu
lado, ela e Amber desenvolveram uma verdadeira amizade e agora suas
visitas são constantes em nossa casa. Sim, com a chegada das crianças,
optamos por morar em uma casa perto de Caroline e Manson. E falando em
amizades, Nathan também se casou, e apesar de Amber jurar que o convite
chegaria, já faz dois anos e ainda estou esperando por ele.

É engraçado que por anos eu tenha achado que um acidente havia me


tirado o direito de ser feliz, e que seja justamente por um acidente que a
mulher que mais amo tenha vinho parar na minha vida. Sim, o destino pode
nos pregar algumas peças, no entanto, não importam as circunstâncias, se
realmente acreditarmos no amor e confiarmos nele, nós o encontramos. É
intenso, único e nunca, por nada ele acaba. Minha felicidade é constante, e
eu aprendo cada dia um pouco mais sobre isso. Amber, Theo, Lilly e Lois
fazem cada dia meu valer a pena, e é com minha mulher que sei que não
importa qual caminho seguiremos, no fim sempre dá certo, porque eu os
tenho ao meu lado.

Fim.
Este livro foi um desafio para nós, autoras, e juntas queremos deixar
nosso eterno agradecimento à nossa beta maravilhosa, Patrícia Mariano, que
aceitou estar nessa caminhada conosco, abraçando verdadeiramente este
livro. Muito obrigada, Pati, seus conselhos foram maravilhosos e muitas
vezes nos indicou o caminho a seguir. Eterno agradecimento a você!

Agradedemos também à nossa revisora, Andrea Moreira, à Grazi


Fontes que fez a capa mais perfeita que poderíamos imaginar e claro, sua
diagramação maravilhosa. À Vanessa Pavan, minha assessora que sempre
me indica o caminho com paciência e dedicação,  e a você, querido leitor,
que dedicou seu precioso tempo nos prestigiando ao dar uma chance de ler
e apresentar o nosso trabalho.
Sonho que se sonha só é apenas um sonho, mas o que se sonha junto
é realidade.
Raul Seixas.

Amamos vocês!

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