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Epígrafe
Sinopse
Playlist
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo
Agradecimentos
Você não vai me salvar?
Salvação é o que eu preciso
Eu apenas quero estar ao seu lado
Você não vai me salvar?
Eu não quero ficar
Apenas vagando sem rumo neste mar da vida
(Hanson)
Os opostos realmente se atraem? Ou é o destino que insiste em
cruzar caminhos tão distintos?
Connor Dickinson é um poderoso CEO que está preso ao passado, o
coração acorrentado a uma mulher que se foi há muito tempo. Sem espaço
para um novo amor, ele ocupa os dias com festas luxuosas e mulheres que
jamais irão preencher o vazio gigantesco que tem em sua alma.
Amber Michell é a personificação da doçura, sonhadora e
apaixonada pelo pai doente. Embora a vida insista em desabar sobre a sua
cabeça, ela a mantém erguida dia após dia.
Ela acredita no amor e espera o encontrar.
Ele deseja apenas brincar.
Ela é o Sol que ilumina sem permissão a sua alma escura.
Ele é o poder avassalador tomando as rédeas da sua vida.
O inesperado une duas vidas tão diferentes e é o culpado por traçar
caminhos que sempre se cruzam. Mas existe uma única regra, e ela é não se
apaixonar. No entanto é o destino quem está escrevendo esta história, e ela
pode mudar...
No Spotify
No Deezer
Sete anos antes.
Diria até uma amiga traiçoeira que nos corrói a alma e nos deixa
embriagados com a beleza acolhedora e convidativa da tristeza e solidão.
A dor é real.
Com certeza, não poderia ficar pior o meu dia. Respiro fundo,
sentindo toda a minha frustração indo direto para meus dutos lacrimais, e
justo hoje quase perdi o horário. Se soubesse que isso aconteceria, não teria
me dado o trabalho de sair de casa.
Meu pai insistiu para que eu fosse em busca dos meus sonhos, mas
que espécie de filha seria eu se abandonasse o pai doente? Ir para Nova
Iorque naquela época não era uma opção. Meu pai precisava estar
constantemente no hospital para exames de rotinas e cirurgias, cirurgias
essas que nosso plano de saúde não cobria. Tivemos sorte no início, pois a
empresa na qual meu pai passou anos de sua vida se dedicando ao trabalho
arcou com alguns dos seus gastos, inclusive despesas com o hospital e
medicamentos, mas isso não durou muito e tivemos que começar a nos virar
com o pouco que tínhamos. Então foi quase um alívio divino quando
consegui preencher a vaga na revista, como colunista de culinária. Não era
o emprego dos meus sonhos, mas me servia muito, e agora eu o perdi.
Meu chefe continua com seus pretextos idiotas de ter que fazer
cortes para as despesas. Enquanto eu me forço a não pensar que além do
emprego, perderemos também nossa casa. Por sorte tenho um pouco de
dinheiro que estava juntando para talvez comprar um carro melhor, já que a
velha picape parece estar dando seus últimos suspiros. Mas agora terei que
dar adeus ao meu tão sonhado carro novo e usar minhas economias para
pagar um aluguel e comprar os medicamentos do papai.
Pego-o de sua mão, e quando meus olhos caem sobre a quantia, que
chega a ser aproximadamente um por cento a mais do que recebo por mês,
sinto a tristeza dar lugar à raiva, que passeia por minhas veias como
chamas, aquecendo meu sangue.
— Está falando sério? — Ergo meus olhos para ele, enquanto faço a
pergunta. Só pode estar de brincadeira.
— Infelizmente, é o que posso te dar, visto que sua coluna nunca foi
um grande sucesso — desdenha, enrugando a testa.
Não sei como será de agora em diante, mas uma coisa é certa,
preciso de um emprego o mais rápido possível, senão, não sei o que será de
mim e do meu pai.
Como vou quitar a dívida do meu pai com o banco, se mal se meu
dinheiro será suficiente para chegar até o final do mês.
O que será de mim e do meu pai se eu não encontrar uma saída para
nossos problemas?
Sabe quando você acorda de um pesadelo e sente aquele alívio por
saber que tudo não passou de um sonho? Gostaria de dizer que foi
exatamente essa a sensação que tive ao tentar abrir meus olhos. A luz
ofuscante me faz gemer baixinho, voltando a fechá-los no momento
seguinte. Sinto como se meu corpo tivesse sido esmagado por uma
tonelada. Respiro fundo e mais uma vez obrigo meus olhos a se abrirem.
Levo alguns segundos até me acostumar com a claridade. Estou em um
quarto branco e há máquinas barulhentas, que se misturam com as vozes
próximas a mim.
— Ela acordou. — Ouço uma voz grave dizer. Não a reconheço, mas
o seu timbre é agradável aos meus ouvidos.
— Amber, pode me ouvir? — Dessa vez é uma mulher que pergunta.
Abro os olhos com cuidado e vejo uma jovem ao meu lado. O cabelo
castanho avermelhado ondulados, cai em torno dos seus ombros, e usa um
jaleco. — Eu sou a dra. Cooper, e você está em um hospital. Lembra-se do
que aconteceu?
— Você não vai morrer, querida. Inclusive, teve sorte por não ter se
machucado de verdade.
— Meu pai deve estar preocupado. Nunca fico longe de casa por
tanto tempo...
Ela olha sobre o ombro e eu sigo o seu olhar, mas não vejo nada.
— Verei se ele ainda se encontra aqui e peço que venha te ver. — Ela
sorri gentilmente. — Ah, falando em visitas, tem alguém lá fora querendo te
ver, ele nos disse que é um amigo. Vou liberá-lo para entrar.
Nathan é dois anos mais velho que eu. Seus músculos torneados
estão marcados pela camisa preta e justa que ele está usando. Seu cabelo
castanho ondulado está maior do que da última vez que o vi, quase tocando
seus ombros. Ele usa uma barba grossa que tomou conta completamente da
sua face. Está diferente do garoto tímido que cresceu comigo. Sorrio.
Vê-lo depois de tanto tempo faz meu coração apertar, não de uma
forma ruim, mas de emoção. Ele havia ido para Nova Iorque logo após
terminar o ensino médio para morar com sua mãe. Fez faculdade de
engenharia mecânica, sua grande paixão desde que ainda era um menino.
Recordo-me de ele brincando na oficina onde seu pai trabalhava, tentando
entender para que servia tantas chaves. Ele, literalmente, passava horas
analisando cada instrumento que seu pai usava para consertar os carros.
— Ei, você! Meu Deus! O que faz aqui? — pergunto, sem conseguir
esconder a surpresa ao vê-lo.
— Fazia muito tempo que não voltava para casa. Achei que esse era
o momento perfeito para fazer isso. E você sabe, meu velho precisa que eu
o ajude na oficina — diz, sem me fitar, o que me leva a acreditar que existe
um motivo sério por trás de suas palavras. — E pelo que parece, eu não
posso ficar longe por muito tempo. Você ainda continua com o péssimo
hábito de se meter em encrencas quando não estou por perto — brinca,
tentando mudar de assunto. Seus olhos fitam os meus e ele sorri de forma
doce. — Mas agora me diz, quando você vai aceitar que é uma péssima
motorista? Não sei onde estava com a cabeça quando te ensinei a dirigir.
— Meu pai está com ele. Digamos que o David meio que surtou
quando o cara metido que estava aqui no quarto apareceu na porta da sua
casa, falando sobre o acidente. Mas depois que te viu e falou com a médica,
ele ficou bem.
— Não, Ronnie, você pode ter feito tudo, menos o que eu te pedi.
Somos a porra de uma empresa de publicidade, oferecemos a nossos
clientes uma equipe com amplo conhecimento de mercado para desenvolver
e traçar as melhores campanhas que possam vir a contribuir com os
objetivos gerais, seja aumentar o valor de vendas, expandir a cartela de
clientes, além de melhorar a imagem da marca. Mas nunca, em hipótese
alguma, fodemos com a imagem do cliente com uma campanha de merda
dessas. Eu te dou vinte quatros horas para resolver, ou está fora!
Não sou o tipo de homem que se compadece com outros, não depois
de tudo o que tive que suportar nos últimos sete anos. Mas por alguma
razão não consigo simplesmente deixar essa garota no passado e continuar
meu caminho, mesmo isso sendo a coisa certa a fazer, afinal, nem a
conheço. Não temos nenhum vínculo, e os problemas dela, com certeza, não
são da minha conta.
— Gisela, ligue para o Daniel e agende uma reunião com ele ainda
hoje.
— Sim, senhor.
Voltar para a casa depois do que pareceu uma eternidade e
finalmente poder me certificar que meu pai está bem me deixou em paz,
mesmo em meio à turbulência que tenho que enfrentar. Papai havia me feito
mil perguntas de como aconteceu o acidente desde o momento que pus os
pés fora do hospital, porém, não quis lhe dizer a verdade, não queria que ele
soubesse que minha distração foi por estar preocupada com o que faríamos
para pagar a conta ao banco, ou como iria fazer para manter seus
medicamentos e consultas.
— Filha...
— Ouça... — falo, antes que ele continue com seu discurso. Faço um
gesto para que ele se sente ao meu lado e ele o faz, mesmo relutante. —
Preciso de um emprego, pai. Não temos muito tempo até que tenhamos que
sair da nossa casa. — Uso as palavras com cautela. — Sei que está
preocupado comigo e eu me sinto muito feliz por isso, mas temos coisas
mais importantes agora.
— Você não deveria cuidar de mim... Esse deveria ser meu dever.
— Seu único dever agora é estar bem. Deixe que do resto eu cuido.
Você já fez muito por mim durante toda a minha vida, agora é minha vez de
retribuir.
David abre a boca para falar, mas antes que o faça, o som da
campainha o interrompe.
— Srta. Amber Michell. — Ele pronuncia meu nome com voz rouca
e grave, fazendo minhas pernas tremerem. Esse é o tipo de homem que
vemos em revistas ou filmes, não na nossa frente. — É bom ver que está
bem, após seu acidente — acrescenta sério. Seus olhos de um tom azul
profundo me fitando com atenção.
— Oi, eu...
Faço que sim com a cabeça e dou um passo, fazendo menção para
que ele entre.
Connor passa por mim, tomando cuidado para que seu corpo não
esbarre ao meu. O aroma amadeirado do seu perfume viciante fica para trás,
invadindo minhas narinas à medida que ele caminha até o centro da sala,
onde meu pai está em pé, fitando-o como se tivesse acabado de ver uma
celebridade da tevê.
— Quero pedir desculpas por aparecer aqui sem avisar, mas eu quero
muito falar com a srta. Amber — ele diz, mudando de assunto.
Sua voz consegue fazer todo o meu corpo tremer feito gelatina. Não
sei como me portar na frente desse homem. Faço um gesto com a mão para
que ele se acomode no sofá. Connor assente em agradecimento, mas
dispensa, então me sento à sua frente enquanto ele parece me analisar.
— Estou bem. Eu agradeço de verdade pelo que fez, sei que não era
sua obrigação me ajudar e, mesmo assim, você o fez... Obrigada.
— Sr. Dickinson, estou muito grata por tudo o que fez para mim
enquanto estive no hospital, mas não me sinto à vontade de compartilhar
meus problemas pessoais com um desconhecido — digo com cuidado para
não soar rude.
— Com que direito fez isso? — Minha voz sai mais alta do que o
necessário.
Connor passa as mãos no cabelo, bagunçando seus fios, e fala por
entre os dentes, a voz mansa e assustadora.
Relutante, faço o que ele manda, mesmo que não tenha intenção
nenhuma de abri-lo.
— Sente-se e abra — ordena novamente. — Abra o envelope, srta.
Amber. — repete, impaciente.
— Por que sempre tem que existir um por quê? — Ele cruza os
braços no peito.
Reviro os olhos e sorrio sem humor.
— Eu não entendo. Sou grata por toda a ajuda com o hospital, mas
qual o interesse de uma pessoa na sua posição em ajudar alguém menos
favorável? — pergunto, impaciente, voltando a guardar as folhas no
envelope e o estendendo para que ele o pegue, mas ele não o faz. Dickinson
mantém sua postura de todo poderoso, seus olhos queimando em mim de
forma que intimidaria qualquer um, até a mim se não estivesse com tanta
raiva. — Eu não o conheço, sr. Dickinson, e com toda certeza você não
conhece a mim e ao meu pai. Então seja qual tenha sido o motivo que o fez
pagar a hipoteca da minha casa, não vai rolar — digo rispidamente,
abraçando meu corpo de forma protetora.
— Por que você acha que tem um motivo por trás do que fiz? Acho
cômica a sua postura. Sempre acreditei que estando à deriva no mar, ao
encontrarmos um barco, agradecemos aos céus sem interrogarmos os
motivos de ele estar ali, não acha? — Continuo desconfiada. — Está
mesmo cogitando a hipótese de que quero alguma coisa em troca? — Sua
voz é um rosnado baixo, fazendo meu corpo estremecer.
Ele segura minha mão, seus olhos firmes nos meus, prendendo
minha atenção.
— Eu sei que não é, ainda assim estou aqui. E não se preocupe, você
não me deve nada.
— Como não? Você acabou de gastar uma pequena fortuna em uma
conta que não era sua. — Minha voz sobe uma oitava. Respiro fundo,
afastando-me dele. — Não posso aceitar isso, e tenho certeza de que meu
pai também não o fará.
Ele parece surpreso.
— Não é uma fortuna para mim, nem chega perto disso. Mas já acha
tão humilhante assim, o que sugere? Que cobre de você? — questiona,
sendo irônico novamente.
Não o conheço, mas nos poucos minutos que passei em sua
presença, descobri que ele é impaciente, soberbo, detesta ser contrariado e,
claro, um deus grego.
— Sim, eu pretendo. Eu vou arrumar um novo emprego, assim
poderei pagar a você.
— Ótima escolha, srta. Michell. — Ele caminha até mim, sem tirar
os olhos do meu. — Te vejo na segunda. Receberá um e-mail com as
instruções necessárias.
— Você fez o quê? — Manson questiona, cuspindo de volta a
bebida, quando lhe conto o que fiz por Amber.
Acabo rindo ironicamente. Não existe, não para mim, e ele sendo
meu amigo de infância sabe bem disso.
— Não sei o que pretende, mas não está salvando a Hanna, Connor.
— Teve, você teve e se culpou muito por não ter estado lá, mas já
repeti mil vezes, não foi sua culpa.
— O socorro não chegou a tempo para Hanna, mas chegou para essa
garota. Você ficou lá o tempo todo, e até entendo arcar com as despesas do
hospital, mas nada justifica a quitação da dívida. E, por Deus, contratar a
garota para sua assistente... já tem a Gisela, que é perfeita no que faz —
volta a perguntar, dessa vez usando seu tom de reprovação.
Rio diante das suas palavras, voltando meu olhar para ele.
— Nunca precisei disso para comer uma mulher. Sabe bem, e outra,
não é porque você é meu melhor amigo e está com minha irmã que isso te
dá o direito de se meter na minha vida.
Viro mais dois copos, querendo tirar essa merda de névoa que
Manson deixou. E não demora muito até que uma garota ruiva, usando um
vestido justo ao corpo, ocupe o banco que outrora meu amigo esteve
sentado. Seu perfume adocicado chega até mim e eu sou obrigado a olhar
em sua direção. Ela não aparenta mais de vinte anos, mas seus grandes
olhos castanhos estão sobre mim, analisando-me com interesse.
Hoje não, sussurro a mim mesmo, mas contrariando minha
repreensão, ela vem até mim.
Ainda em transe por toda essa situação, me pergunto quem é Connor
Dickinson e por que ele está me ajudando, se somos completamente
desconhecidos? Mas antes de conseguir assimilar, ou mesmo buscar uma
resposta, meu celular vibra. Ao pegar o aparelho, vejo que acabo de receber
um e-mail. Remetente Gisela Arnês, departamento pessoal Dickinson
Publicis. Abro e vejo que é uma mensagem formal, nominal a mim, com
endereço, local e horário em que devo comparecer à empresa. E basta
apenas isso para pesquisar no Google e choque percorrer meu corpo.
Ainda não acredito que ele pagou a hipoteca da minha casa. Passei
os últimos dias pensando nos motivos que ele teria para me ajudar.
Pensando no porquê um homem como Connor, lindo, rico, poderoso e bem-
sucedido, teria interesse em me ajudar, mas não obtive nenhuma resposta
para minhas perguntas. Na verdade, talvez nem exista uma resposta para
isso.
— Amber...
— Isso mesmo.
A loira faz sinal para que eu me sente à sua frente e digita alguma
coisa em seu computador. Assim como os demais, ela está de terno e com
cabelo impecável.
Ela sai de trás de sua mesa e faz um gesto para que eu a siga. O
corredor é longo e as paredes que separam as salas são de vidro
transparente. Enquanto sigo a secretária de Connor, aproveito para admirar
o lugar. As pessoas são elegantes e fazem jus ao ambiente. É um mundo
completamente diferente do qual estou acostumada a conviver e ao mesmo
tempo um lugar do qual sempre sonhei fazer parte. Talvez trabalhar com
Connor Dickinson não venha a ser tão ruim assim, talvez essa seja uma
oportunidade que eu tanto sonhei para crescer no meu trabalho. Entramos
em uma sala vazia, composta apenas de uma mesa grande e uma estante
com alguns livros. A decoração é moderna e ao mesmo tempo sofisticada.
Em frente à mesa, tem uma porta de madeira que dá acesso a uma sala
ainda maior, provavelmente a do Connor.
Ela arqueia uma sobrancelha e sem rodeios responde que sim – seca
e sem humor.
— Bem, espero que não seja o seu caso, para seu próprio bem.
Trabalhar com Connor Dickinson é um privilégio para poucos, pode
aprender muito e, claro, faz valer qualquer currículo. No entanto, ele preza
muito por perfeição.
Ela gira nos calcanhares e caminha até a porta, mas antes de sair,
volta-se para mim e diz:
— E não é qualquer café. Ele gosta dos feitos por Charlie, a cafeteira
do outro lado da rua. Fica bem na esquina, não tem como errar. São sete e
meia, acho melhor se apressar, o restante te passo quando voltar.
— Claro! Com leite, creme e bastante açúcar. — Dito isso, ela sai da
sala, deixando-me sozinha.
— Ah, mais uma coisa. Só lembrando que o sr. Dickinson não tolera
atrasos.
Volto meu olhar para meu amigo, que me fita com um sorriso nos
lábios carnudos.
Essa é a primeira vez que o vejo desde que lhe contei que ia
trabalhar na empresa do Connor. A última vez que ele esteve aqui, foi no
mesmo dia em que Connor apareceu na minha porta, com a minha dívida
quitada e a proposta de trabalhar para ele. Claro que meu amigo, sendo o
protetor que é, não gostou nada de saber o que Connor fez. Segundo ele,
alguém como o sr. Dickinson, rico e com uma posição social tão elevada,
não ajuda pessoas como "nós" sem esperar algo em troca. Nada do que lhe
disse naquele dia o fez ficar menos irritado com a minha decisão de
trabalhar com o Connor, o que resultou em uma briga feia e uma semana
sem falar comigo. Mas hoje, quando cheguei à minha casa, Nathan estava
aqui, fazendo o jantar enquanto meu pai assistia ao jogo de futebol. Ele se
desculpou pela forma que agiu e eu apenas o desculpei, porque sei como
sempre foi superprotetor comigo.
— Estou cansada, só isso. Ser assistente do senhor mal-humorado
não é nada fácil. — Reviro os olhos, remexendo na minha comida.
— Se não gosta de trabalhar com o cara, é só sair. Você pode
arrumar um emprego em outro lugar. — A forma como Nathan fala faz tudo
parecer fácil.
Mas nós dois sabemos que na posição que me encontro, não posso
dar uma de mal-agradecida e abrir mão do emprego. Fora que preciso do
trabalho, preciso muito.
— Você sabe que não foi assim. Não tive escolhas e claro que isso
será descontado. Sabe que se eu tivesse tido uma chance, jamais teria
deixado que ele assumisse uma dívida que não era dele. E quanto às roupas,
também expliquei que eram necessárias para o trabalho.
Ele balança a cabeça, descrente.
— Ele não fez tudo isso por pura bondade — diz, mais calmo. —
Será que não percebe as reais intenções dele?
— Não entendo por que você está com raiva! Você deveria estar me
apoiando agora, Nathan. Deveria estar me encorajando a continuar na
empresa, pelo menos até que as coisas fiquem mais calmas.
— E quando o assunto será sobre você? Porque até agora, você não
respondeu nenhuma das minhas inúmeras perguntas. Estou começando a
acreditar que você está me escondendo algo.
Aceito sua desculpa, mesmo tendo certeza de que ele não está
falando a verdade.
— Você sabe que sou sua amiga, não é? Sabe que pode me contar
tudo. Sempre foi assim, nunca escondemos nada um do outro.
— Eu não quero mais falar a respeito disso, o.k.? Tive uma semana
de fato muito estressante, e tudo o que menos quero agora é estragar o resto
da noite falando sobre meu trabalho e suas suposições a respeito do Connor.
Nathan balança a cabeça em concordância, mas o conheço o
suficiente para saber que ele não vai esquecer esse assunto tão cedo. Pelo
resto da noite, mantemos uma conversa leve, sem mencionar nada que nos
leve novamente para o assunto que envolve Connor e meu trabalho.
— Papai, isso não importa agora, o que importa é que não vamos
mais perder a casa.
— Claro que importa, Amber! Até onde sei, você não tinha dinheiro.
— E eu não tenho.
— Eu não aprontei nada, pai. Por Deus! Será que você poderia ser
menos carrancudo e apenas ficar feliz?
— Não! Não tenho como ficar feliz sem saber a origem do dinheiro
que quitou a hipoteca do banco — diz apressadamente.
Respiro fundo, levantando-me da mesa e recolhendo a louça para
levar à pia.
— O sr. Dickinson me emprestou o dinheiro — digo por fim,
torcendo para que meu pai não surte.
— Como não? Você tem tomado uma posição nessa casa que deveria
ser minha!
— Não é justo você ter que renunciar a todos os seus sonhos por
minha causa — pontua tristemente, enquanto pousa sua mão sobre a minha.
— Não estou renunciando a nada, pai. Tenho a vida toda pela frente
para realizar cada um dos meus objetivos, mas, por ora, a única coisa que
quero é garantir que você esteja bem. Você é minha família. É o que tenho
de mais importante e valioso, então apenas relaxe e me deixe trabalhar.
— Tem certeza de que é isso mesmo que você quer? Eu posso falar
com o sr. Dickinson e tentar encontrar outra forma de pagar a dívida. Você
não precisa trabalhar para ele, se isso não for o que você quer.
— Pai, não precisa falar nada com ele. Eu quero trabalhar na
empresa. O sr. Dickinson é uma boa pessoa. Ele se disponibilizou para nos
ajudar e até me ofereceu um emprego... E além do mais, eu até que estou
gostando de ser assistente pessoal dele — minto descaradamente, me
esforçando o máximo para que ele não perceba que minhas palavras são
apenas um blefe.
Ouço uma leve batida à porta antes que ela seja aberta e Amber
Michell, ou como meu amigo Manson chama, meu erro diário, entre em
minha sala. Ele afirma com tanta veemência que quero fodê-la, que isso me
faz rir, claro. Eu não quero, não quis nem por um segundo, foi só o destino.
Ela está usando um terno preto e justo ao corpo. O decote em leve V não
mostra mais do que sua pele sedosa, no entanto, deixa muito para imaginar.
Seu cabelo castanho está escovado e preso em um coque, alguns fios
teimosos caindo sobre seus ombros. A maquiagem é leve e os lábios
carnudos estão perfeitamente pintados com tom rosa-claro. O olhar
expressivo faz uma rápida varredura pela sala.
— Bom dia, sr. Dickinson. Podemos repassar sua agenda — ela diz
educadamente e me serve o café. A respiração um pouco ofegante indica
que acabou de trazê-lo. Então, se inclina sobre a mesa, colocando o copo. O
aroma suave do seu perfume chega até mim e, instintivamente, inspiro
profundamente, desejando por um momento que ela se aproxime mais.
— Obrigado — digo, mantendo-me sério. Lógico que o
agradecimento a pega de surpresa. Levo o copo à boca e a percebo
observando tudo. Tem o quê? Duas semanas, talvez três, que ela surgiu na
minha vida. Mas foram raras as vezes que estivemos aqui, com tempo o
suficiente.
Seu rosto se ruboriza pela pergunta, agora mesmo ela encara a mesa.
Ergo a mão e faço menção para que ela espere, então termino o café
enquanto assino os papéis, voltando-os à gaveta.
— Você sempre foi assim tão ágil, ou está apenas tentando se livrar
do tempo que tem comigo? — pergunto sem olhá-la.
Ergo meu olhar para ela e a encaro. Claro que isso a intimida, e acho
que estou começando a me viciar nessa sinceridade tão rude.
Ela é pega de surpresa, percebo que cora novamente, mas logo tenta
se recompor.
Faço sinal para que se levante. Ela obedece e então seguimos até a
ampla janela de vidro, onde contemplo o grande centro urbano.
— Não, você não pediu, sr. Connor. Assim como eu também não te
pedi nada.
— Não, eu não queria isso. A única coisa que eu queria era não ter
minha privacidade invadida.
— Não é todo dia que uma louca bate em seu carro, não acha?
Caminho até ela, parando a apenas um passo. Estamos tão perto que
poderia tocá-la se estendesse mão e, por um segundo, isso é tudo o que
anseio fazer. Sua respiração ofega a ponto de me dar um pequeno vislumbre
de seios no decote. Amber está furiosa, e por uma razão estranha, me sinto
excitado com isso. Minha mente desenha vários cenários, onde arranco sua
roupa e saboreio cada parte do seu corpo e a fodo muito. Sim, é uma
loucura esse tipo de pensamento, mas não posso negar que estou a um passo
de fazer isso.
— Isso é tudo por hoje, srta. Amber. Pode se retirar — falo.
— Bom dia, sr. Connor, trouxe seu café — diz, com voz trêmula e
parecendo com frio. — Antes que me esqueça, sua irmã ligou, disse que é
importante.
Sigo para reunião, e por mais que queira me concentrar nos gráficos
expostos, volta e meia a imagem dos seios de Amber vem à minha mente, o
jeito irritado de jogar o café na lixeira, suas feições nada amigáveis. Se
pudesse, acho que ela teria me fuzilado ali.
Passo por Gisela, que me olha de cima a baixo e abre a boca prestes
a falar alguma coisa, porém, permanece calada. Provavelmente, o olhar que
lhe lancei denotou que hoje não é um bom dia para suas indiretas.
A chuva ainda é intensa quando saio da empresa, mas isso não é
empecilho para que eu vá embora. Deus! Como alguém pode ser tão idiota?
Como ele ousa me humilhar dessa forma? Eu tolero tudo, o fato de ele
nunca me dar um bom dia ou agradecer por seu café, mas isso, me humilhar
como se eu fosse um lixo, não vou tolerar nunca. Estou tentando ser
profissional e engolir o fato de ele ser um imbecil, mas tudo tem limite e eu,
sinceramente, cheguei ao meu.
Já faz muito tempo que estamos nessa sala deprimente, a última vez
que fomos atualizados sobre o quadro do meu pai foi há mais de duas horas.
Ele franze o cenho e abre a boca para falar, mas desiste quando a
médica se aproxima de nós.
Sempre fora apenas eu e o meu pai, minha mãe foi embora quando
eu tinha cinco anos. As poucas lembranças dela o tempo fez questão de
apagar.
A cena faz meu estômago se retorcer. A forma como ela flerta com
ele deixa bem claro que existe intimidade ali. Será que são namorados?
Não, acho que não. A agenda de Connor é corrida demais para encaixar
uma namorada, mas, pensando bem, não tenho acesso ao seu tempo livre. O
que me leva a pensar que ele deve ter um espaço para seus encontros
sórdidos.
— Ouça, Amber, sei que está chateada com a forma que te tratei
mais cedo e você tem todo direito de estar se sentindo assim.
Fecho os olhos por um por alguns segundos e respiro fundo.
— Por favor, Connor, não quero falar a respeito disso... Meu pai
quase morreu, e nesse momento a recuperação dele é a única coisa que me
importa.
— Eu não quero falar sobre ele, Nathan... — Minha voz ressoa mais
alta do que gostaria, e isso o faz me olhar de relance.
— Há algo acontecendo que você não me contou? — Exige saber,
alterando seu olhar especulativo de mim para a estrada.
— E gostaria de ser?
— Caramba, Nathan, claro que não. — Sinto minhas bochechas
queimarem de vergonha. Mesmo na faculdade, eu nunca tive tempo para
namoros. A saúde do meu pai e o medo de perder minha única família
ocupam qualquer preocupação.
— Não? Sério? Então, por que ele foi até o hospital? — rebate, me
analisando com atenção.
— O que está tentando insinuar, Nathan? Está tentando dizer que não
me importo com você, é isso? — Arqueio uma sobrancelha e o encaro
irritada, enquanto espero por sua resposta.
— Será que você é cega, Amber? Será que não consegue enxergar o
que está bem na sua frente durante anos? — Ele parece magoado ao me
questionar.
— Não sei o que está querendo me dizer — respondo, confusa.
Assinto, mesmo ele não estando vendo. Pego minha bolsa no banco
de trás e abro a porta.
— Pelo menos me prometa que vamos conversar quando tudo estiver
mais calmo — peço com cautela, sem fazer menção de sair do carro.
— Eu prometo — responde baixo.
É a minha vez de rir, e não é porque acho que ele está blefando, e
sim porque tenho medo de que ele tenha razão. Afinal, meu corpo se
comporta de um jeito estranho quando estou próxima a ele. E talvez, sim,
ele poderia facilmente me seduzir, mas não vou lhe confessar isso.
Meu rosto todo se ruboriza. Merda, eu fiz isso, mas foi apenas em
uma ocasião, e só por curiosidade. Ele largou o celular em sua mesa e eu
precisei usar seu computador, então a notificação de uma nova mensagem
soou. Não era minha intenção invadir sua privacidade, mas não me contive
quando vi o nome de uma mulher: Foda de sábado.
Minha experiência com homens é zero. O máximo que já fiz foi dar
uns amassos em um cara da faculdade. Ler aquelas mensagens sacanas me
fez pensar em mim mesma sendo tocada dessa forma.
— Está pensando nas mensagens, srta. Michell — ele provoca, me
trazendo à realidade, agora mesmo estou tão envergonhada.
— Sabe sim... sua boca atrevida pode dizer que não se importa, mas
vejo a forma que me observa quando pensa que estou distraído, submerso
no meu trabalho. Você está incomodada com o fato de a Lexie vir aqui,
porque uma parte sua deseja estar no lugar dela. Não é errado admitir que se
sente atraída por seu chefe. Somos humanos, está tudo bem ter algum tipo
de fetiche, ainda que seja tão impróprio para um ambiente de trabalho.
Ele afasta-se de mim, indo para o outro lado da mesa, enquanto fico
paralisada, em choque. Então, ouço quando ele tira o telefone do gancho e
solta as palavras que me fazem odiá-lo.
— Bom, acredito que como tantas outras ela queria ser, no entanto,
depois que perdeu a noiva, sr. Dickinson mantém apenas fodas esporádicas.
E ela é uma dessas fodas, acredito eu. — Sorri com malícia. Agora sei
quem cuida da agenda de fodas dele – Gisela.
— Espera, ele já foi noivo? — pergunto, surpresa.
— Não sabia?
“Connor Dickinson”
Ele mentiu quando foi a minha casa e me disse que havia acabado de
assumir a presidência, isso já faz tempo, e muito provavel o fez para me
convencer a aceitar. Saio da página atual e volto a rolar a tela. Os sites não
falam muito, a maior parte das informações é repetitiva. Não há nada de
muito interessante sobre Connor. Ah não ser, claro, os luxos que ele
costuma esbanjar nas noitadas, ou as diversas mulheres exuberantes com
quem ele é visto nas noites.
Deus! Cubro minha boca com uma das mãos, quando no final da
notícia vejo a foto de Connor com sua noiva. A garota da foto é idêntica à
dra. Lexie Cooper – apesar da maquiagem forte e cores de cabelos
diferentes. Não há outra explicação. Lexie e Hanna eram irmãs gêmeas
idênticas.
Fecho a janela de pesquisa, antes de afastar o Macbook para longe,
sentindo-me ainda mais perdida do que antes. Não consigo sequer imaginar
o tamanho de sua dor ao perder a mulher que amava. Não consigo imaginar
o quanto sua perda pode ter o modificado. E o susto fica ainda maior
quando meu cérebro começa a ligar as coisas. Connor nunca se interessou
por mim, tudo que ele fez foi pensando na noiva e seu trágico acidente.
Sinto-me uma completa idiota por ter acreditado que em algum momento
houve interesse. Eu nunca chorei por amor, mas agora o faço por vergonha.
Vergonha de mim e minha mente que acreditou em uma bobagem dessas.
— Está tudo bem com seu pai? — Seu tom de voz faz parecer que
ele não se importa. Na verdade, ele não se importa mesmo, a idiota aqui que
fantasia algo diferente.
— Por que não estaria? — Levanto o olhar e ele não desvia o dele.
— Poderia te demitir por sua forma petulante de agir com seu chefe.
— Sua voz é um rosnado baixo.
Fecho sua agenda e a coloco sobre a mesa, sem desviar meu olhar do
dele.
— Não quero que faça nada, sr. Dickinson. O que o senhor me
ofereceu já é o bastante. Tenho uma dívida demasiadamente grande com
você, e, sinceramente, esse é o único motivo que me faz engolir meu
orgulho e ainda permanecer aqui, mesmo com o senhor sendo um completo
idiota, que acha que pode manipular e usar todos à sua volta, apenas porque
tem dinheiro.
— Eu te pedi desculpas.
— Por tudo! Por meu orgulho e por sentir raiva de você por ter nos
ajudado. Não estou acostumada com gentileza, sr. Connor. Ninguém em
toda a minha vida jamais me estendeu a mão. Venho lutando arduamente
desde que o meu pai adoeceu para dar a ele uma vida digna. Nunca tive
ajuda de ninguém, e aí o senhor aparece do nada e... — Puxo uma lufada de
ar antes de continuar. — Eu sou grata por sua ajuda — confesso a última
frase com a voz baixa.
Mas já não posso dizer sobre meus dias com Connor, não no sentido
da convivência em si, ele tem sido gentil, no entanto, depois da nossa
última conversa, a verdade é que de certa forma foi uma decepção saber
seus reais motivos. Apesar de notar alguns olhares, não me permito mais
fantasiar coisas. No geral, nossas curtas conversas abrangem só assuntos
relevantes ao trabalho.
A verdade é que a atração pelo meu chefe vem crescendo a cada dia
que passa, e o fato de ele estar sendo cada dia mais gentil comigo não tem
facilitado as coisas para mim. Hoje, Gisela não veio, acho que por estar tão
empolgada acabou passando mal e a pressão alterou.
— Srta. Michell, poderia vir até a minha sala, por favor? — A voz
de Connor me traz de volta à realidade. Estive tão concentrada que nem me
dei conta que já havia passado da hora de ir embora.
— Graças a Deus — falo alto demais, então vejo seu sorriso obsceno
para mim — que chegamos em segurança. Tenho pavor de elevador, sabe,
e... — Tento uma desculpa idiota e isso só faz seu sorriso ganhar ar mais
safado, se é que é possível. — Boa noite, sr. Dickinson. — Dou um passo,
mas sou detida por sua mão em meu braço.
Não preciso nem olhar para saber que cada prato é acima do que eu
poderia pagar, mas como o jantar é por conta do meu querido chefe, não
terei que pedir um sanduíche. Esse pensamento me faz rir, e quando ergo
meus olhos do cardápio, Connor está me fitando com curiosidade.
— Alguma preferência?
Engulo em seco por sua resposta direta. Minha boca fica seca, e
automaticamente umedeço o lábio com a ponta da língua. Seus atentos
olhos acompanham meu movimento e eu sinto meu corpo reagir pela
intensidade com que Connor faz isso. Sim, agora tenho certeza de que sou o
rato.
Odeio admitir, mas Manson tem razão, eu quero muito foder Amber
Michell. Desde o dia em que beijei sua boca, meti meus dedos em sua
boceta e a senti tão molhada, eu não penso em porra nenhuma a não ser
foder ela.
Meu pau lateja quando ela entra em minha sala com aquela calça tão
apertada em sua bunda deliciosa. E isso é a merda de um problema, porque
eu preciso me concentrar no trabalho, mas ela é um grande empecilho. E o
pior, inocente demais para que eu a seduza, o que, claro, provei ser fácil.
Então vem a merda da consciência, e sei que Manson tem razão, a vida
dessa menina já é fodida o suficiente para que eu faça mais merda ainda. E
não, ela não merece alguém como eu. E seria fácil mudá-la de setor, mas se
tem algo que eu detesto é não ter razão, e essa atitude faria com que
Manson levasse a vantagem.
E agora, mesmo ela está aqui, bem à minha frente, com o olhar
inocente demais para sequer imaginar meus pensamentos depravados e
totalmente pervertidos. Pela maneira como ela encara o prato, está em
dúvida sobre qual talher. Pedi ostras, e primeiro é preciso soltar o corpo da
ostra da concha antes que possa sugá-la e comê-la. Para tanto, seguro-a com
minha mão não dominante e, com a outra, uso o garfo para desalojar o
corpo da concha. Atentamente, ela copia meus movimentos. O quão sórdido
e escroto um homem pode ser para ter tesão no simples fato de ver uma
mulher aprender, com tanta delicadeza e ao mesmo tempo de um jeito tão
sexy, comer uma ostra?
— Não costumo deixar meu pai sozinho tanto tempo, mas posso
esperar o senhor comer, mal tocou nas ostras e isso é caro.
Termino meu vinho. Está claro que ela não gostou, apesar de arriscar
comer mais duas.
Ela acena, então peço a conta e não demora para estarmos de pé. Eu
a coloco na minha frente propositalmente, de forma que as poucas mesas
que ainda estão ocupadas não possam notar o volume na minha calça. Mas
faço questão, ao me aproximar do carro que já está de prontidão à porta, de
roçar em sua bunda. Quando percebe, ela se vira rapidamente, então sorrio e
abro a porta do passageiro para que ela entre. Já dentro do carro, antes de
colocar o carro em movimento, olho novamente para ela e vejo o sorriso em
seus lábios, sem saber quais minhas reais intenções.
Ela prende os lábios, e mesmo com a pouca claridade que advém das
luzes da cidade, vejo que sim, ela entendeu aonde quero chegar. E pelo
trajeto que agora eu faço, Amber percebeu que não estamos indo para a sua
casa.
— Que vai se dar conta que eu não sou bom o suficiente pra você e
pular do barco antes que ele afunde.
— Eu quero.
— Connor, eu...
Avanço novamente, beijando sua boca, e com mãos hábeis me livro
de sua calça, jogando em um canto qualquer. É um delírio senti-la assim, só
de calcinha em minha cama. Meu corpo cobre o seu. Minhas mãos
possessivamente passam por cada curva de seu corpo.
Porra! Ela é uma delícia. Basta apenas mais algumas estocadas para
gozar tão gostoso e juro que nada poderia me preparar para a forma como
sua boceta se encaixou tão perfeitamente no meu pau. Deito ao seu lado e
demoro segundos para me acalmar, e somente quando olho para ela deitada
à minha frente e vejo o sangue na camisinha, que me dou conta da merda
que fiz. Não era uma boceta superapertada, era uma boceta virgem.
— Você era...?
— Virgem... — diz de um jeito choroso. Puta merda! Continuo ao
seu lado, pensando em que merda faço agora. Ela se vira e me abraça,
pousando a cabeça em meu peitoral. — Isso era um problema? — O tom de
voz continua arrastado.
— Não, claro que não, mas se tivesse me dito, eu... —Merda,
Connor! — Quantos namorados já teve?
— Nenhum...
Puta merda!
Manson tinha a porra da razão, agora tenho certeza disso!
Desde que mamãe nos deixou, me lembro de papai me falar a todo
momento do quanto dói quando deixamos pessoas que não tem intenção de
ficar se aproximarem. Ele chorou por noites com sua partida, ainda que
durante o dia fingisse estar bem. O que eu nunca contei é que eu também
chorei pelo mesmo motivo. Mamãe foi embora e deixou, além da ausência,
a falta de confiança, dificuldade em acreditar e, claro, a baixa autoestima.
Olho à minha volta e vejo a luz fosca nas laterais de todo o teto
iluminando o quarto. Evito olhar meu reflexo na parede espelhada, porque
ela me confirma a verdade, não é um sonho – ou pesadelo, estou nua da
cama do meu chefe. Respiro fundo, e como fuga, meu cérebro se prende aos
detalhes, a mistura do bege com minúcias em azul resultam em um
ambiente lindo e aconchegante. De frente para a parede espelhada há uma
mesa para café com flores e duas cadeiras.
Sinto tanta vergonha que evito olhar em seus olhos. É surreal que
duas pessoas que a segundos atrás mal conseguiam se desgrudar, agora
estejam assim, levantando barreiras.
— Está pronta?
— Tudo bem, vou te deixar lá. — Essas são suas palavras antes de
abrir a porta e sair em direção ao corredor, sem sequer olhar para mim.
Seguimos até o carro, lógico que ele tenta uma aproximação, com
sorrisos discretos e gentilizas programadas, não aquele tipo que quebra
barreiras, mas aquele que diz exatamente como será daqui para a frente.
Enquanto Adele canta no som do seu carro, sinto que aqui dentro consegue
ser mais frio que a noite lá fora.
Ele é rápido em segurar minha mão, roubando meu olhar para seu
toque.
— Claro.
Não! Chega! Eu não vou fazer isso comigo mesma. As contas estão
em dia, toda a minha dívida se resume a esse homem, que entrou de uma
forma tão louca em minha vida, e em poucos meses conseguiu o que eu
jurava que não daria a ele. Então, o que me resta é arcar com as
consequências de uma escolha estúpida. Quando o sono vem, me rendo a
ele.
— Oh, então é melhor que fique na cama até se sentir bem — diz
carinhosamente.
— Sorria!
Claro que saio horrível na foto, mas isso não o intimida a apagar.
Fazemos cachorro-quente e ele vai embora depois das nove. Apesar de jurar
a mim mesma que não faria, domingo, depois de não ter recebido nenhuma
mensagem e tentando desesperadamente esquecer, antes de dormir, acabo
por procurar Connor no Instagram – ele é verificado, claro.
Não há postagens recentes, mas como sua irmã está marcada em uma
foto, clico em seu @ e vejo a última publicação. Ela está em um iate com o
noivo, formam um casal lindo, então vou passando as fotos e, para minha
decepção, Connor e Lexie também estão com eles. Em uma das fotos ela o
abraça. Todos sorrindo, parecem jogar em nossa cara que nunca
pertenceremos ao seu mundo. Olho a data e vejo que a postagem é de
ontem. Luto contra as lágrimas, mas não consigo ter domínio sobre elas,
assim como não consigo controlar o nó que se forma em meu peito,
causando-me falta de ar.
Ótimo! Acho que essa informação não vai ajudar muito meu dia.
Merda! Isso não pode estar acontecendo! Onde diabos eu estou com
a cabeça?
Tento dormir, já deveria ter feito isso, e mesmo estando tão frio lá
fora, aqui sozinho, enlouquecendo, parece pior.
— Puta que pariu, qual seu problema? Pacto com o diabo? — Ele
solta uma gargalhada irreverente e acende um charuto. — Está errado,
passou longe, na verdade.
— Transou com ela, a garota era virgem e agora está com
consciência pesada.
— Eu não estou arrependido, não mesmo, só não quero que ela crie
expectativas e se...
Ele apenas meneia com a cabeça, enchendo seu copo e o meu com
uísque.
Sigo para a minha sala e meus olhos automaticamente vão até a mesa
de Amber. Ainda é cedo e falta menos de uma hora para que ela chegue, e
por alguma razão, sinto um misto de ansiedade e nervosismo com o simples
pensamento de encontrá-la. Tento afastar minha assistente dos meus
pensamentos e me concentrar na reunião com Mathews Brown e todas as
suas ideias para o novo comercial de carros. Isso é tudo o que deve importar
agora. Às sete e cinquenta, ligo para Gisela e aviso que não quero ser
incomodado e que não deixe que ninguém venha até minha sala até segunda
ordem.
Nos três primeiros anos de sua morte, a dor de saber que ela nunca
voltaria para mim era intensa. Pensei que não suportaria aquele sentimento
que me sufocava e me fazia sentir como se estivesse pulando em um
abismo. Eu era o canalha que ela jurava que iria redimir e redimiu. Amava a
sensualidade no olhar, o sorriso endiabrado e a maneira como ela sempre
me vencia – ainda que pelo cansaço. Acredito que beirei à loucura diversas
vezes nos primeiros anos, principalmente quando pensava que Hanna
poderia ainda estar ao meu lado, caso um motorista imprudente não tivesse
causado o acidente e tirado sua vida.
O dia de sua morte ficou marcado em minha mente e vai ser assim
por toda a minha vida. Naquele dia, há exatos sete anos, não imaginei que
aquela quinta, que havia começado tão feliz me faria perder a mulher que
eu amava e estava prestes a se tornar minha esposa, e consequentemente se
tornaria o pior dia da minha vida. Durante muito tempo, cheguei a me
culpar pelo que aconteceu, pois deveria ter insistido para que ela ficasse
comigo naquela semana, mas teimosa como era, não consegui convencê-la.
Lexie toca meu ombro e eu a olho de relance. Ela é tão parecida com
Hanna fisicamente, no entanto, com personalidade tão diferente. Logo que
sua irmã morreu, mesmo sendo ela a primeira que conheci e a considerando
uma amiga, eu a evitei por algum tempo, pois era como se meu coração
estivesse sendo arrancado do peito só de olhar para ela. No entanto, de um
jeito bizarro, com o decorrer dos anos, estar ao seu lado tornou-se normal,
já não associava a imagem da minha falecida noiva a ela. Era apenas Lexie,
minha velha amiga da universidade.
— Talvez...
Ela sorri sem humor e rapidamente limpa o canto do olho.
— Desculpa, mas não acho que essa seja uma conversa apropriada
no túmulo da minha noiva.
— Como pode fazer isso com você?
— Eu entendo que você a amou e que sofreu por sua morte, eu sei...
Eu também sofri e ainda sofro, mas eu segui em frente. Quando você vai
fazer o mesmo? Será que não percebe que... — Ela deixa a frase no ar e
meneia a cabeça em negação. — Se você soubesse... — Ela ri e uma
lágrima rola por sua face. — Se soubesse... — Ela se cala novamente,
prende o lábio entre os dentes e desvia o olhar.
— Se eu soubesse o quê? — pergunto, porque sinto que ela está me
escondendo algo.
Ela só assente.
— Vamos, Nathan?
— Claro.
O idiotazinho abre a porta do carro para ela, entra em seguida e os
dois vão embora.
Quer saber, que se foda, é isso. Ela vai acabar se casando com esse
idiota e, claro, é um problema a menos para mim.
A sensação é como ser quebrada. Ele passa por mim e sinto como se
não fosse nada, apenas uma fodinha sem importância alguma. Mal me
reconheço vendo-o ir com Lexie, e apesar de nos dias seguintes tentar me
convencer de que Connor não está me tratando com indiferença, que apenas
temos visões diferentes sobre sexo, eu não consigo deixar de me sentir tão
magoada. Tento convencer a mim mesma que ele não vem me ignorando,
que o fato de estar sempre pedindo atualizações dos seus compromissos a
Gisela é por conta da sua experiência com campanhas publicitárias. E claro,
a que acontecerá em alguns dias.
— Mesmo que exista algo entre eles, o que para mim é muito
estranho, já que ela é uma cópia da srta. Hanna, sabemos que o sr.
Dickinson não é homem de uma mulher só. Ele as troca como faz com seus
ternos. Só essa semana confirmei encontro com umas três — diz enquanto
digita em seu celular. E começo a me perguntar se já não sei o suficiente. —
Mas, mudando de assunto, você sabe quem vai levar para festa?
— Não seja bobinha, Amber, claro que é, mas como boa amiga que
sou, nós duas poderemos levar, já que sou eu quem organiza a lista de
convidados.
— Ah, querida, acha mesmo que ele será capaz de nos enxergar com
todas aquelas mulheres perfeitas cheirando a alta costura? Por favor,
Amber... — Ela ri e vira a tela do celular para mim. — Eu já tenho meu par
e você deveria encontrar o seu. Quem sabe chamar aquele seu amigo gato.
Aliás, vocês formam um lindo casal.
— Esse cara é problema, sabe, às vezes, por mais dinheiro que possa
ganhar, um trabalho não vale a pena se for custar sua paz de espírito. —
Solta um suspiro, ainda atento às linhas. Quando se dá conta do que disse,
ele desvia o olhar, em seguida, prende os lábios.
— Concordo — sussurro.
Ele coloca os papéis sobre a mesa e volta sua atenção para a tela do
computador. Com isso, giro meu corpo e começo a me afastar.
Já estou a alguns passos da porta quando ele pergunta. Sua voz é fria
e sem nenhum sinal de emoção. Volto-me para ele e vejo seus olhos sobre
mim, e é vergonhoso que meu corpo reaja a esse simples gesto, depois de
ele ter agido como se eu não fosse ninguém.
— Notei que ele está vindo com frequência e... — Ele prossegue,
sem me dar tempo para pensar em uma resposta à altura.
— E...?
— Posso saber por que está usando esse tom de voz comigo? —
Connor estreita os olhos, parecendo ofendido. Eu apenas rio, achando toda
a situação uma verdadeira piada. — Só perguntei porque nos últimos dias
você tem saído tarde, e como sua casa é do outro lado da cidade, fico
preocupado com sua segurança.
— Não sabe como ouvir isso me alegra, srta. Michell, e sabe por
quê? — Agora sou eu que faço aquela cara de idiota, sem entender merda
nenhuma. Ele me lança um olhar tão safado que sinto minha pele queimar.
Em um só passo, sua mão me alcança, me puxa para seus braços em um
gesto bruto, fazendo nossos corpos se chocarem. — Porque significa que
temos os mesmos objetivos, sabemos as regras do jogo e podemos sim,
continuar a jogar.
Ele ri, lógico que ri, porque sabe que é mentira. Eu não sei jogar e,
consequentemente, estou destinada a perder. Connor volta a me encarar e
suas mãos tocam meu rosto de forma possesiva, então fecho os olhos,
absorvendo seu toque. Não demora para sentir seu beijo tão viciante.
Nossas línguas se entrelaçam urgentes, quentes, molhadas. Meus seios
enrijecem apenas por sentir sua língua tocando a minha. Ele me envolve
com seus braços fortes e me beija tão profundamente... Eu o quero, e todo
esse ressentimento é por isso. Eu o quero e quero que ele me queira. Connor
sente isso, claro que sente. Merda!
— Agora vai, goza bem gostoso no meu pau, goza ciente de que é a
porra de uma boa foda. E depois disso me diz se dá mesmo para ter só uma.
Não há tempo de revidar, a sensação maravilhosa do orgasmo me
consume. Sinto meu corpo no limite. Em toda a minha vida, nunca pensei
que enlouqueceria assim com um orgasmo, estou nas nuvens de tanto tesão.
Ofegando, Connor se afasta, me vira e bate uma punheta bem na minha
frente, deixando sua porra cair em cima de mim. Eu não queria que fosse
assim, queria senti-lo gozando dentro de mim. Provavelmente, ele não tem
preservativo aqui e optou pelo mais seguro no momento. Ao terminar, ele se
afasta. Após alguns minutos, ele me puxa para o seu banheiro. E bem
debaixo do seu chuveiro, fico admirando o homem perfeito que acaba de
me dar a melhor foda da minha vida. Tenho certeza de que estou o
encarando feito idiota, porque ele sorri com malícia e desvia o olhar.
— Nunca mais pense que é só a porra de uma fodinha, Amber,
porque está claro para mim que eu nunca poderia ter só uma fodinha com
você — diz e me beija.
— Ah, semana que vem vou olhar um carro e juro que não vou mais
te incomodar. Falando nisso, assim que o dinheiro cair na conta, vou te
ajudar no combustível.
— Não precisa, Amber, sabe disso, a oficina está indo bem e...
— Claro que preciso e vou fazer. Não é meu namorado nem nada do
tipo, não posso e nem quero ser um peso para você.
— É um pouco confuso pra mim você aceitar tão fácil a ajuda do seu
chefe, entrar em uma dívida que sabe que demorará anos para pagar, e
comigo que te conheço desde a infância ser tão... — Dá um sorriso irônico.
Sim, ela chega sempre uma hora antes de mim. A voz irritada de
Connor me assusta.
— Não, não é pago para fazer merda, a sua função nessa empresa é
otimizar os processos internos da agência, garantindo mais agilidade nas
etapas a serem cumpridas para a entrega das campanhas, então não me
venha com essa desculpa ridícula. Quer saber, resolve essa merda ou passe
no RH.
Pego a pasta de suas mãos, ela então deixa a sala. Connor desliga e
se vira, quando olho em meus olhos, ele rapidamente desvia o olhar.
— Cadê Gisela? — Me aproximo, e quando faço menção em
entregar a pasta, ele levanta a mão. — Eu não a dispensei, chame-a agora!
— ordena, bufando.
— Ótimo.
— Não. É do Nathan.
Ela sorri com malícia, mas seu sorriso logo se desfaz ao olhar sobre
meus ombros. Rapidamente se senta e começa a mexer no computador, não
preciso olhar para saber que Connor está nos observando. Os pelos da
minha nuca ficam eriçados, então lentamente giro meu corpo para encará-
lo.
— Sim.
— Então o traga até a minha sala. — Ele desaparece do meu campo
de visão.
Puxo uma longa respiração antes de fazer meu caminho até sua sala.
A porta está aberta, então apenas entro sem pedir licença. Aproximo-me da
mesa e coloco o café na sua frente.
— Desde a infância...
Ele deixa escapar um riso de deboche, então volta a atenção para a
tela do computador.
— Persistente, e beira a burrice, já que está claro que nunca vai
conseguir o que quer.
— Imagino, mas não preciso conhecê-lo para saber o que ele quer.
Rapidamente ele vai até a porta e a fecha, mas não tranca. E sem
dizer nada, volta para mim e atrevidamente toma as flores das minhas mãos,
jogando-as na mesa com certo desleixo.
— Se você gemer alto eu vou ter que parar, e não é isso que você
quer — adverte de um jeito sensual.
— Se for pelas flores que jogou, está sim — falo com charme e beijo
sua boca. É a primeira vez que parte de mim o beijo. Connor corresponde
com intensidade, e olhando em seus olhos, eu me pergunto se existe um
manual de instruções sobre não se apaixonar.
— Oi
— Oi, garota! Que bom ouvir sua voz. Por um momento, pensei que
não fosse me atender.
— Certo, perfeito.
— Aham.
E eu, que tinha uma vida sexual nula, passo a transar com meu chefe
todas as manhãs. Na sexta, estranho o fato de ele ainda não ter chegado,
então, antes de ir buscar seu café, passo pela sala da Gisela e vejo que a
agenda dele está aberta no computador. Espero apenas que ela saia para
vasculhar, sei que não deveria fazer isso e sinto que posso me decepcionar
com o que encontrar ali, mesmo assim eu o faço e é inevitável o aperto no
peito quando vejo que ele continua se encontrando com essas mulheres em
jantares. A última foi Angelina Paytron, a modelo famosa de Portivil.
Não sei por que me sinto triste ao saber disso. O que eu esperava?
Que Connor Dickinson renunciasse aos seus encontros com essas mulheres
lindas e ricas por causa de suas fodas matinais com sua assistente? Eu já
deveria saber que nosso relacionamento não passaria de transar às
escondidas em seu escritório, para amenizar seu mau humor.
No final, eu que fui burra por aceitar ser mais uma na sua lista.
Gostaria de dizer que todo o estresse que venho sofrendo esses dias é
por conta da ansiedade com a apresentação da campanha de publicidade da
Freedon, um dos nossos clientes mais importantes. Todos os anos, passamos
pelo mesmo processo e é sempre desgastante, mas não é apenas isso. Como
se não bastasse todo esse estresse, eu que jurei que seria apenas uma foda,
mas não consigo manter minhas mãos longe da minha assistente. Já era
difícil a tarefa de não a desejar antes de tê-la em meus braços, e agora isso
tornou-se quase impossível. Todos os dias, cinco tomadas da mesma velha
cena. Sempre que estamos no mesmo lugar, a louca necessidade de tocá-la e
fodê-la, de sentir o quanto ela é vulnerável, doce, sexy e, puta que pariu, sua
boceta deliciosa. Porra!
Não sou bom para Amber. Sei que apesar de ela agir como se não
esperasse mais, como qualquer mulher sonhadora, ela deseja mais... elas
sempre desejam.
E parte de mim sabe que eu deveria fazer o certo ao acabar com essa
merda e seguir minha vida fingindo que Amber não mexe com um lado meu
que pensei que já não existia. Só que me afastar fica difícil, quando sei que
existe um outro homem desejando o que tenho.
Raras são as vezes que ele não vem buscá-la. Poderia até numerar os
dias nas últimas semanas em que Amber foi embora sozinha.
"Eu te amo, mas você não consegue enxergar isso, porque tudo o
que vê quando estamos juntos é a imagem da minha irmã."
Tentei fazer com que ela enxergasse todos os motivos que faziam
aquela situação ser absurda e, sim, o fato de ela ser irmã gêmea da Hanna
estava no topo. Mas de tudo, acho que o que mais me afetou naquela noite
foi o fato de Lexie insinuar que Hanna não era quem eu sempre pensei.
— Não vai fechar a porta — digo, quando ela me entrega o café que
está frio, por sinal.
Ela direciona seu olhar para mim pela primeira vez desde que entrou.
Há amargura, raiva, um toque de decepção e, claro, sinto-me incomodado
com isso.
— Não ouse questionar o que faço quando você continua com seus
compromissos noturnos.
— Nath, não existe pessoa nesse mundo que eu confie mais que
você, sabe disso. Agora preciso ir, e se puder ir jantar comigo e papai, eu
vou preparar panqueca. Ainda está entre seus pratos preferidos? — Ela ri e
se despede, então o elevador se abre e Amber entra.
Ela cozinha para o amigo, vai ao cinema, confia a ponto de deixá-lo
escolher o carro, mas fode comigo — literalmente. Solto um suspiro,
percebendo que sim, tem um imbecil nessa história, mas sou eu, não ele.
Porque ao contrário de mim, ele quer o coração dela. E está conseguindo.
Merda!
Volto à minha sala, tão puto comigo, com ela, com toda essa merda.
Vou até minha mesa e ligo para Caroline, que atende rapidamente.
Desligo e Amber passa por mim sem fazer contato visual. E eu,
como o louco que sou, inspiro seu perfume já tão familiar e me amaldiçoou
por sentir saudade de estar nela, mesmo tendo a fodido no dia anterior.
Fecho a porta e caminho até ela, que está parada em frente à minha
mesa. Amber olha para qualquer canto menos para mim, está
desconfortável e irritada. Estranhamente isso me incomoda e acende meu
desejo, mas complica ao ponto de não saber como conduzir essa conversa
sem acabar falando alguma merda.
Dou alguns passos até ela e Amber recua, batendo na mesa. Paro,
sabendo que seu jeito é um alerta para que eu não avance.
— Fui um idiota com você mais cedo e te devo um pedido de
desculpas. — Surpresa por minha atitude, ela volta seu olhar para mim. —
Talvez eu tenha me excedido e isso pode dar margem a interpretações
errôneas.
Ela meneia com a cabeça, incrédula.
Ela faz menção de sair, mas rapidamente seguro seu braço. Seus
olhos caem para a minha mão e permanecem ali por algum tempo. Inclino-
me sobre ela, colocando os papéis e as chaves sobre a mesa e usando a mão
agora livre para tocar sua face. Ela fecha os olhos e um suspiro pesado
escapa de sua boca.
Tento disfarçar meu desagrado por ter sido dispensando por causa do
merdinha e a puxo para perto, com o intuito de beijá-la. Amber espalma a
mão na frente do meu peito e me afasta.
Ainda estou chocado com sua reação, esperava tudo, menos isso.
Merda! Levo a mão ao rosto e confirmo, então ela vem até mim e me
abraça.
— Obrigada, Gisela.
Ela toca minha mão em uma carícia rápida e deixa a sala.
Penso sobre isso e me dou conta de que nunca houve um beijo cheio
de amor, nem promessas, sempre é sobre prazer e foda. Está claro que com
Connor eu nunca vou ter um relacionamento de verdade. Sua voz ao
telefone dizendo que todos têm um preço me faz quase vomitar, porque, no
fundo, acho que foi tudo sobre isso. Eu entrei em sua vida, e após investigar
a minha, ele estipulou meu preço.
Merda, Amber!
— Por favor, pai — digo, constrangida. Será que sempre esteve tão
óbvio assim? Será que sou tão ingênua que não enxergo as reais intenções
das pessoas que me cercam?
Ele estuda meu rosto com atenção. Sei que quer fazer algum
comentário, mas desiste, talvez por papai ainda estar por perto.
Como eu queria amar Nathan, seria tão mais fácil, calmo e, com
certeza, ele não me faria sentir tão usada.
Um trovão soa por toda a casa, só então olho para o céu e vejo que o
dia que começou ensolarado deu lugar a um céu nublado e escuro. Tenho
certeza de que não demorará muito até que a chuva rompa em abundância.
Penso em entrar, mas então noto que ele está com a mesma roupa de
hoje de manhã, a gravada frouxa e sem paletó, apesar de estar um pouco
frio e começando a chover. Ele se aproxima e parece um pouco abatido.
— Mas eu não contava com essa merda toda, não contava com o fato
de me sentir atraído por você pra caralho. E, porra, se soubesse que era
virgem, eu não teria agido daquele jeito. — Connor parece transtornado.
Mesmo com a chuva aumentando gradativamente, ele se senta no meio-fio
e solta um longo suspiro, como se estivesse cansado. — Eu não planejei
comprar sua casa, te obrigar a trabalhar pra mim, muito menos quis colocar
um preço quando eu te dei o carro. E é uma merda saber que me vê dessa
forma.
— Por que está dizendo tudo isso? — pergunto, me sentando
próxima a ele.
— Porque eu vi vocês dois, vi seu sorriso tão sincero quando está
com ele. E droga, como eu poderia odiá-lo se ele faz um papel bem melhor
que o meu. Mas, sei lá, não é como se eu fosse um completo filho da puta,
Amber, eu só não queria te ver passar pelo que eu passei.
— Porque está pressupondo que eu vou embora, mas e se eu não
fosse?
Ele sorri sem humor.
— Já tive promessas que não incluíam o se, e mesmo assim não
foram cumpridas. Nós somos muito diferentes, Amber, e se tem algo que
aprendi sobre os opostos é que com a mesma força que se completam,
também se destroem. Como eu disse, pode ser novo para você, mas não é
pra mim. Eu conheço essa estrada e sei como termina, e advinha, não tem
final feliz.
Esse é um dos itens mais significativos da casa para mim até hoje. E
estranhamente me sinto como naquela mesma época, com a dor no peito
pela perda, mas eu tenho meu balanço, e talvez tudo fique bem.
Connor curva-se um pouco para a frente, descansando seus braços
nas pernas e entrelaçando as mãos. Seus olhos desviam dos meus por um
momento, fixando em um ponto invisível à sua frente.
— Pode até acreditar que não me importo com você, mas me
importo. Amber... — Ele volta a me encarar, a face séria e os olhos fixos em
mim. Tento conter as lágrimas que insistem em cair. — Se houvesse uma
maneira de consertar as coisas, eu faria. Sei que começamos de um jeito
errado e peço desculpas por isso. Só queria que não me odiasse depois de
tudo...
Ele então se levanta, segue até seu carro sem olhar para trás e
simplesmente vai embora. Levo alguns segundos para conseguir processar o
que acabou de acontecer. E apesar de achar que me sentiria aliviada por
isso, não é o que está acontecendo agora.
Por horas, repasso todo o meu dia. A manhã conturbada com Amber,
a briga, as intermináveis reuniões, sua conversa com o melhor amigo. Doeu
de uma forma que me deixou apavorado. Durante todos esses anos, eu me
fiz a promessa de não chorar ou amar novamente, e parece que estou prestes
a quebrá-la agora.
Não estava em meus planos aparecer à sua porta, mas eu o fiz.
Depois da nossa briga, tive um tempo após a reunião para parar e pensar no
que diabos estava acontecendo.
É surreal que algo que para mim é normal, como dar ou receber
presentes, seja incomum ou ofensivo para Amber. Fui criado em meio ao
luxo. Minha família sempre gostou de ostentar sua riqueza e não perdíamos
a oportunidade de esbanjar a nossa fortuna quando queríamos agradar
alguém. No entanto, não pensei em momento algum como Amber se
sentiria ou como veria meu gesto. Diante de tudo o que já passamos – a
quitação da hipoteca, o trabalho –, eu deveria ter pensado que Amber não
veria meu gesto como algo bondoso. Deveria conhecê-la o suficiente para
saber que se sentiria ofendida, mas não conheço. Somos de mundos
diferentes. Temos visões diferentes.
Ela parece ter todos os motivos para me odiar, para me querer longe
de sua vida, e é extremamente fodido aceitar isso. E foi justamente a minha
parte egoísta que me levou até ela. Eu só queria mostrar a ela, de alguma
forma, que ela estava errada a meu respeito. Queria provar que me importo
com ela, mas aí eu a vi com o seu amigo, e mais uma vez a verdade de que
nunca serei bom o suficiente para ela me atingiu como um soco na boca do
estômago. Deveria ter ido embora, ela nunca saberia que estive ali, à
espreita, vendo seu amigo a conquistando aos poucos e lhe dando todo
carinho e atenção que eu não serei capaz de dar.
Ele sabe que existe algo de errado comigo, porque em uma noite fria
como essa, não há uma alma viva que prefira continuar a sustentar suas
roupas encharcadas à sua cama quente. Ele não insiste em arrancar uma
confissão minha. Claro que não, ele é o cara me avisou desde o primeiro
momento que deveria me manter distante de Amber, e eu, como o filho da
puta que sou, não lhe dei ouvidos.
Acredito que uma parte minha, a parte que adora jogar, a viu como
um desafio. Não do tipo divertido, onde uso o meu charme para ter o que
desejo. Eu sempre soube que deveria mantê-la distante, mas ela era como
um fruto proibido, que me instigava ao pecado, cada segundo que colocava
os olhos sobre ela eu tinha mais certeza de que precisava tê-la. Acreditei
piamente que não haveria mal algum se apenas tomasse uma pequena dose
dela, no entanto, não me contentei com o pouco. E a cada dose de Amber,
eu queria mais, até me ver completamente enlouquecido para tê-la todos os
dias. Era meu novo vício.
Mas claro que não falo nada disso para Manson, direciono todo meu
mau humor para Lexie e a conversa que tivemos da última vez que nos
encontramos. Conto a Manson a respeito do homem que ela me disse para
investigar, e em como ela quis invadir minha mente para me fazer pensar
que Hanna mentiu para mim. Estranhamente, seu lado investigador não está
ativado, ele sequer parece interessado, e em algum momento até muda o
foco.
— Eu nunca parei para pensar sobre isso, mas por que diabos ela
pegou aquela estrada? E sozinha... — insisto, virando outra dose, respirando
com pesar.
Sim, ele me encara por segundos, e essa frase faz tudo morrer ali. O
frio me convence a voltar para a casa, onde mesmo depois de um banho
quente e me agasalhar debaixo dos cobertores, é difícil manter os
pensamentos longe da única pessoa que eu gostaria de não pensar.
São perguntas que circulam por toda noite, e pela manhã pago o
preço por isso, me sentindo como se tivesse sido atropelado por um
caminhão. Mesmo após um banho demorado, não consigo me livrar da
tensão de ter passado toda a noite pensando nela, mas covarde demais para
fazer uma ligação. No entanto, não vou e nem posso deixar minha mente se
prender a isso. Preciso manter todo e qualquer pensamento que envolva
Amber longe da minha cabeça. Hoje será uma grande noite, e apesar de ter
acompanhado e aprovado todo o processo, apresentar o lançamento da
campanha para o cliente sempre me causa ansiedade, e justamente por isso
decido me exercitar. Exercício alivia o estresse.
São poucos os que têm acesso à entrada no prédio sem precisar ser
anunciado e, sinceramente, não estou com vontade de falar ou ver nenhum
deles.
Irritado, faço meu caminho até a sala e abro a porta sem antes olhar
pelo olho mágico. Me arrependo de não ter feito isso no momento que dou
de cara com Lexie.
— Por favor, Lexie, não quero ser rude com você, mas não quero ter
essa conversa agora.
Ela me encara por alguns segundos, com os olhos tristes presos aos
meus. Meneia a cabeça em negação, e sem esperar por um convite passa por
mim, adentrando minha casa.
— Estou falando que ela sabia que eu era apaixonada por você. Ela
me ouviu falar de você durante semanas, mas na primeira oportunidade que
teve de te conhecer, não pensou duas vezes em meus sentimentos para me
provar que era melhor do que eu.
— O que diabos deu em você para fazer isso? O que você ganha em
tentar sujar a imagem da própria irmã? — Minha voz sai alterada e rude,
mas ela não recua.
— Como pode ser assim tão cego? Eu juro que acreditei que quando
seu luto passasse, você fosse procurar saber o porquê de Hanna estar
naquela estrada deserta, quando ela já deveria estar em casa. E, de verdade,
acreditei que você não fosse engolir a história toda. — Outro riso. — Hanna
sempre foi uma ótima mentirosa, mas uma coisa ela não mentiu, você a
amava cegamente. Que sortuda ela era, não?
— Você deve achar que sou uma péssima irmã. Estou me declarando
para você e falando sobre a vida de alguém que não está mais aqui para se
defender.
— O que você sabe que eu não sei?
Um soluço alto escapa dos seus lábios. Ela cobre o rosto com as
mãos e chora copiosamente.
— Por que está fazendo isso comigo, Lexie? Por que mexer em uma
ferida que já não sangra mais?
Ela morde o lábio e baixa o olhar para o chão, então caminho até ela
e seguro seus ombros.
— Justamente por ser seu amigo que estou pedindo para esquecer
esse assunto. Por que fazer isso agora? O que vai ganhar remexendo nessa
história?
Encerro a ligação sem esperar por sua resposta. Eu juro que não
queria, mas Lexie plantou a semente da dúvida dentro de mim. E se Manson
pensa que não vou em busca da verdade, está enganado. Por mais que não
queira acreditar no que a Lexie me disse, uma coisa eu tenho que concordar,
eu deveria ter investigado o acidente. Não podia ter me fechado a ponto de
não enxergar as pontas soltas desse quebra-cabeça. Mesmo que muitos anos
tenham se passado, eu preciso saber a verdade, ainda que essa verdade
possa destruir tudo aquilo em que acreditei.
—Lembra quando nossos pais nos traziam aqui quando éramos
crianças? — Nathan é o primeiro a falar, quebrando o silêncio.
Seus olhos caem sobre mim e ficamos em silêncio pelo que parece
uma eternidade. Seu olhar parece querer falar com minha alma, como se de
alguma forma implorasse para que eu diga o que ele quer ouvir. Eu me
pergunto, por que não posso sentir com ele tudo que sinto com Connor?
— Nunca fui bom o suficiente para você, nós sabíamos disso. Você
sempre foi a garotinha do David, a menina boa que tirava notas altas, e que
se não fosse por minha causa, nunca teria quebrado nenhuma regra.
Ele sorri, mas o sorriso não alcança os seus olhos. Sinto meu coração
falhar uma batida, pressentindo o que estar prestes a acontecer.
— Nathan...
— Obrigada, papai.
— Você está perfeita, Amber — ele repete pela terceira vez. Minhas
mãos estão trêmulas e meu coração bate descompassado. — Nunca a tinha
visto com essa pulseira, ganhou de um admirador?
Prendo os lábios por segundos, pensando na resposta.
— Uau! Antes, eu queria que você saísse de lá, agora acho que quero
um emprego — ironiza e eu o ignoro.
— Não sabe o que está perdendo — diz, levando uma das taças à
boca e bebendo uma boa quantia.
— Estamos trabalhando, Gisela, e se você ficar bêbada?
— Acha que vou passar a noite sem desfrutar um pouco disso aqui?
— Ela ergue a outra taça ainda cheia e faz um gesto para que eu continue
seguindo-a.
— Para onde estamos indo?
— Para nenhum lugar em específico. Só vi que o ar estava ficando
tenso entre você e seu namorado, então quis ser uma boa amiga. — Ela para
próxima à saída de emergência e volta-se para mim. — Você tem cinco
minutos para me dizer o que está acontecendo.
— Não pense que estou te julgando, pois não estou! Eu, como
mulher, me sentiria honrada em ser vista por um homem como ele, mas
sabemos que homens como o sr. Dickinson tem dois tipos de mulheres, as
que ele leva para cama como um casinho sórdido, e as que ele escolhe para
exibir ao mundo. E, infelizmente, nós duas sabemos que não nos
encaixamos na segunda opção — Gisela fala sem rodeios. Ela coloca a taça
em minha mão e dessa vez não recuso. — O Nathan parece ser um cara
incrível, e se ele te ama, como parece amar, você deveria dar uma chance a
ele.
— Por que está supondo isso?
E antes que eu tenha tempo de reagir, sinto seus lábios quentes nos
meus.
Durante todo o dia, tentei me esquivar de Amber e, claro, da
conversa com Lexie. Na última conversa, ela já havia passado dos limites.
E, apesar de tudo, eu sei que me excedi, senti tanto ódio que quis humilhá-
la de certa forma. E juro que depois que ela se foi, cheguei a cogitar levar
adiante uma investigação, isso incluiu ligar para o parceiro de Manson e
anotar o contato de um cara, mas bastou apenas olhar para a foto de Hanna
que a culpa me pegou de jeito. Não, ela não merecia isso. Então deixei o
papel com o contato anotado sobre a mesa do escritório. Fui à academia e
tentei me exercitar, mas não ia rolar, não naquele momento, não hoje. E
bem agora, já na recepção do Hotel Huston, sentado à mesa com Kimberly,
Caroline e Manson, e os sócios majoritários da Freedon, não consigo me
concentrar em porra nenhuma que não seja Amber e o imbecil do amigo.
Como ela ousa trazê-lo aqui, e que porra ele está fazendo, colocando a mão
nela como se fosse seu dono? Sinto meu corpo gelar, uma espécie de fúria
toma conta de mim quando ele a toca com mais intimidade.
Olho para seus olhos dourados e sua boca carnuda pintada com um
vermelho-vivo. Eu deveria querer beijá-la, deveria sentir desejo o suficiente
para isso. Kimberly é uma mulher atraente, tenho certeza de que todos os
homens me invejam por tê-la ao meu lado. No entanto, quando eu olho para
ela, a única coisa que posso dizer é que nada do que tenha de mais belo,
nem mesmo seus atrativos na cama, são mais convidativos do que cada
traço de Amber.
Ela não tem aquele cabelo marrom que cai feito cascata até o meio
de suas costas. Ela não tem os olhos mais inocentes e hipnóticos como os de
Amber. Sua pele não cheira ao perfume que me deixa louco e inebriado. E
sua voz não é como um canto de um anjo. E porra, que diabos está
acontecendo comigo?
Deus! Viro minha terceira taça de champanhe e a coloco sobre a
mesa de vidro, me sentindo amargurado, angustiado e totalmente
desnorteado. Eu não sei como lidar com essa merda de sentimentos
turbulentos que me enlouquecem, que destroçam a minha alma toda vez que
eu penso em Amber e no quanto eu a desejo. O gesto não passa
despercebido por Kimberly.
Gisela vem até mim e sussurra que Ronny espera apenas meu aval
para iniciar a apresentação, então faço que sim. Assim que Gisela chega a
ele, não demora para o login da empresa surgir na grande dela à nossa
frente. A iluminação à nossa volta é estrategicamente diminuída, dando
assim mais foco ao telão. Ronny já está no palco, e sim, ele inicia com
aquele discurso decorado, mas que com seu talento e alguns adjetivos extras
à empresa, parece novinho em folha. As piadas, a forma de se conectar ao
público presente deixa todos vidrados em sua apresentação, e claro, isso é
um ponto extra. Ele fala sobre a trajetória da empresa e conecta à trajetória
da Freedon, traçando um perfeito paralelo até que nosso cliente passa a ter
todo o destaque. Confesso que eu também me surpreenderia com sua
excelente desenvoltura, se não tivesse totalmente focado em minha ereção
monstro e como isso está me incomodando agora. Vejo Amber se levantar
e... não, eu não suporto mais não a ter.
Seguro sua nuca, trazendo-a para mim, enquanto a outra mão desliza
em suas costas, passando por sua cintura até alcançar seus quadris,
puxando-a para perto, encaixando-a a mim.
Tudo isso deveria me fazer recuar, mas não consigo, não quando
estou com todo esse tesão explodindo em mim.
— Quero que durma comigo hoje. — Toco seu rosto e ela sorri. —
Vou te ter a noite toda. Quero chupar você... beijar cada centímetro do seu
corpo.
Aperto os olhos e espero que ela conclua a frase, mas isso não
acontece. Tiro meu lenço e lhe ofereço, ela limpa o batom borrado, em
seguida eu falo o mesmo.
— A escolha é sua. O convite está aberto por hoje — digo secamente
e passo por ela, abrindo a porta e a deixando sozinha.
Eu sei que mais uma vez estou sendo incoerente em relação a
Amber. Depois de ter colocado um fim, agora vem toda essa droga de
impasse entre nós, e não importa como eu me sinta em relação a ela, ou o
quanto eu a quero, não sou eu quem irá levá-la para casa hoje. Quando
volto, a campanha acaba de ser apresentada, então as luzes voltam a
iluminar todo o ambiente e eu me sento à mesa ao som de aplausos. Não,
não posso fingir que não notaram a minha ausência, então faço o melhor ao
ignorar os olhares e sorrir.
— Não faça cena, te convidei para vir, não garanti que iria te foder.
— Idiota — sussurra, virando a taça.
Minha boca se curva num sorriso torto. E não demora para as
pessoas virem me parabenizar por mais uma campanha de sucesso. Faço um
brinde a toda a equipe, e quando Manson se aproxima perguntando
sarcasticamente se estou bem, respondo da mesma forma.
— Melhor impossível.
Kimberley encaixa seu braço no meu. No momento que Amber e o
amigo passam por nós, seus olhos me encaram com incredulidade.
— Vamos tirar uma foto — digo e vejo seu rosto ruborizar. — Por
favor, pode nos dar licença? — digo ao amigo e ele se afasta, consigo sentir
seu ódio por mim.
Dois ridículos. Mas não posso negar que sim, suas palavras me
causam desconforto. Eu não quero, essa é a principal regra, não se
apaixonar, mas o coração entende regras impostas pela razão?
Ela sorri com malícia e fica evidente que sabe quem é, mas não me
importo, não mais.
Sigo Nathan, ainda atordoada com tudo o que aconteceu nesse curto
espaço de tempo. Confesso que a conversa com Gisela me desestabilizou,
deixando-me ainda mais confusa a respeito do que houve entre mim e
Connor e, sobretudo, a forma com que ele me tomou para si algumas horas
antes. O jeito como me beijou, a ânsia por me ter em seus braços, pela
primeira vez ter gozado dentro de mim sem preservativo, mas ele garantiu
que estamos seguros, e acredito nisso. Connor confunde todos os meus
pensamentos. Ele me afasta e com a mesma facilidade me traz de volta para
si. E agora, simplesmente me exibiu na frente de toda a elite de Portivil,
para me provar de alguma forma que não quer me esconder do mundo.
— Agora que estamos sozinhos, exijo que me diga que porra foi
aquilo lá dentro? — A voz baixa não esconde a raiva por trás de suas
palavras.
— Não vou a lugar algum até que me diga desde quando está
trepando com ele! — Sua voz sobe algumas oitavas.
— Por Deus, Amber, não diga agora que está apaixonada por ele.
Porque se me disser, aí sim, vou ter certeza da sua burrice.
— A escolha é sua...
— Amber?
Connor então assente, retira seu paletó e o coloca em torno dos meus
ombros, antes de me levar até o seu carro.
— Uma chance?
Não se passou muito tempo desde a última vez em que estive aqui,
aquela noite em que estávamos tomados pelo desejo incontrolável um pelo
outro. A noite em que me entreguei por completo a ele, mas a sensação é
que se passou uma vida desde aquela noite. Tantas coisas aconteceram
nesse curto espaço de tempo. E hoje, diferente daquele dia, seguimos em
silêncio para seu andar. Connor está ao meu lado, a mão segurando a minha,
mas nenhum faz menção de se aproximar mais do que isso. Existe uma
tensão diferente no ar, é estranha e indecifrável.
Connor digita a senha e a porta se abre. Entramos em silêncio e ele
me guia pelo hall de entrada até a sala, perfeitamente decorada. Paredes
brancas com detalhes dourados, quadros de arte moderna. Tudo tão
simetricamente perfeito.
— Quer beber alguma coisa? — Connor pergunta, sem se afastar.
Seus braços enlaçam minha cintura, puxando-me de encontro a ele.
— Não, obrigada.
Ele roça os lábios nos meus e sua respiração oscila, tornando-se tão
pesada quanto a minha. Inspiro seu perfume e fecho os olhos, sentindo a
urgência em meu corpo de sentir seu toque.
Esse é o efeito que Connor tem sobre mim. Ele me faz questionar
tudo e, ao mesmo tempo, me faz perder a cabeça, agir de forma impulsiva e
desejar desesperadamente que o tempo pare a cada momento que estou em
seus braços.
Ele me confunde por completo, me faz pensar e acreditar que o que
sente por mim não é apenas desejo, me faz pensar que me quer não apenas
em sua cama, mas em sua vida.
Seu beijo é terno, doce e intenso, despertando em mim sensações
diferentes de todas as outras vezes em que me tocou. É como deveria ter
sido em nossa primeira vez juntos.
Abro os olhos e nesse momento sou sugado por seu olhar intenso e
penetrante, carregado de sentimentos que eu nunca vira antes em nem uma
mulher, nem mesmo em Hanna.
— Não quero que volte a ver seu amigo... Não quero que saia com
ele nem com nenhum outro homem — ordeno, com a voz baixa. Seus olhos
me avaliam sem entender. — Você é minha Amber —falo, acariciando seus
lábios com os meus.
Seguro seu cabelo e a puxo para mim, enquanto suas mãos enlaçam
meu pescoço. Sinto o calor de suas costas em meu peito e sua cabeça jogada
para trás, apoiada em meu ombro. Mordo seu pescoço, segurando-a firme
nos quadris.
Ela geme alto e fala coisas incoerentes, enquanto seguro seus seios,
aperto sua cintura e a deixo novamente de quatro, segurando seu cabelo
com uma das mãos e a preenchendo com veemência, rude e selvagem.
E quando sinto que não posso mais aguentar, saio de dentro dela,
deitando-a em minha cama e derramando meu prazer entre seus seios
pequenos e convidativos, gemendo e tremendo, então desabo ao seu lado,
exausto e satisfeito.
— Preciso de um banho — diz, com um sorriso na voz.
— Srta. Amber, presumo que toda essa tensão seja porque quer um
aumento, afinal, agora é uma celebridade de Portivil— brinco e ela revira
os olhos.
— Nós vamos...
— Eu não sei se...
— Amber a viu?
— Não, quer apenas falar com o senhor, e disse que não vai embora
até conseguir.
Um gelo percorre meu corpo. Amber não fala sobre a mãe
abertamente, não entendo por que diabos essa mulher está me procurando.
— Não, não, ela não sabe. Mas quero lhe fazer uma surpresa, porém,
pelo meu estado, deve imaginar que não estou em meu melhor momento. —
Sua voz parece um ronco de motor, claramente bêbada. — Mas quando eu
vi as fotos, vi o senhor, eu soube que poderia lhe pedir ajuda para
reencontrar minha Amber.
Ela agora me olha com ódio. Continua a falar, mas não faz pergunta
alguma sobre Amber, apenas fala de si mesma e das angústias da vida,
ressaltando o quando sofreu por estar longe da filha e como é uma vítima. E
não suportando mais seu cheiro forte, pergunto de quanto precisa. É uma
quantia ridícula para mim, mas bem mais que alguém precisa para dar uma
repaginada. Faço um cheque, e quando a mulher o pega da minha mão, seus
olhos ganham um brilho sinistro.
Deixo a empresa logo após a mulher sair, e como pode ser tão cínica
em acusar o sr. Michell, se o homem sozinho criou a filha? Suspiro com
pesar por Amber ter esse tipo de mãe. Não acho que ela vá mesmo procurá-
la, ficou claro que apareceu apenas pelo dinheiro.
Pelo horário, sigo diretamente para casa de Amber, e não demora
para ela vir até mim, sorrindo como um anjo.
Assim que faço o retorno, ela percebe para onde estamos indo. Sim,
mas antes de ela ir embora, perguntei a Amber se ela quer ir ao cinema, o
que prontamente aceitou. Não existe cinema porra nenhuma, mas ela não
precisa saber até chegarmos lá.
Ela joga a cabeça para trás, dando mais acesso às minhas carícias.
Circulo a língua ao redor do seu mamilo rígido, mordendo-o em seguida.
Amber geme alto, contorcendo-se sobre meu pau.
Caminho pelo corredor, até chegar ao meu quarto, então acendo a luz
e a coloco em pé, de frente à cama. Amber avalia meu corpo, e logo abaixo,
minha ereção pulsante e crescente, quase rasgando o tecido da calça preta.
Arranco seu vestido e calcinha, deixando-a apenas com seus saltos. Seu
olhar percorre meu corpo e um sorriso sensual e satisfeito nasce em seus
lábios.
— Amber... Minha Amber — sussurro, tocando sua face.
— Ainda sente falta dela, a Hanna. — É a primeira vez que ela fala
diretamente sobre minha falecida noiva, e sinto-me desconfortável, pois não
sei até que ponto posso falar sobre esse assunto sem que isso a magoe.
— Sim, mas não precisamos falar dela. Como você enfatizou, não
foi uma escolha...
— Por favor, Connor... — Ela se afasta, apoia a cabeça na mão e me
encara.
Respiro fundo, deito-me de costas e fito o teto. Falar sobre a Hanna é
sempre difícil para mim.
— O que aconteceu?
— Hanna se submeteu a alguns exames, tentando encontrar a
resposta de não conseguirmos, ela estava bem e saudável... Depois de vários
exames com todos os resultados satisfatórios, foi a minha vez de tentar,
então descobrimos que meus espermas não eram bons, ou seja, não
importava o quanto tentássemos, o problema estava em mim, eu não
conseguiria — confesso. Uma pequena parte de mim deseja que Amber
tenha a mesma reação de Hanna e que aceite essa realidade, como ela
aceitou. No entanto, não é o que seu semblante me diz. Ela abre e fecha a
boca algumas vezes, como se de alguma forma estivesse tentando encontrar
as palavras certas para dizer.
— Por isso disse na festa que estávamos seguros? Por isso passou a
dispensar o preservativo? — Ela pergunta, confirmo em um breve aceno.
— Eu não posso ter filhos, Amber, e a Hanna abriu mão do seu
sonho de ser mãe porque me amava. Ela tinha a opção de ir embora, de
encontrar alguém que pudesse dar a ela o que eu não podia, mas ela ficou...
Foi a maior prova de amor que alguém já me deu.
Eu a abraço forte, então beijo sua testa e, pela primeira vez, entendo
que não é porque Amber se entrega tão perfeitamente a mim que está
disposta a fazer o mesmo sacrifício que Hanna, e de uma forma cruel isso
dói, me deixando inseguro sobre nosso futuro juntos.
Connor me deixa em casa, quando entro me deparo com papai à
minha espera. Respiro fundo enquanto tranco a porta, já premeditando o
que ele vai dizer.
— Eu não queria ter que te falar isso, mas acho que está trilhando
um caminho complicado, Amber. — Sua sinceridade quase me faz chorar e
ele nota isso. — Você gosta dele.
Isso foi uma pergunta? Não, não foi. Papai está afirmando o óbvio.
Sigo para meu quarto, rolo na cama, procurando o corpo quente que
a pouco tempo atrás estava me aquecendo, no entanto, ele não está aqui,
nunca vai estar, e parece que será sempre assim. Sento-me na cama,
sentindo todo meu corpo dolorido, resultado das últimas horas com Connor.
Fechando os olhos, eu penso em nós. Nunca em toda a minha vida havia me
sentido dessa maneira, plena, desejada, completa... Nunca em toda a minha
vida tinha sido tocada e amada como agora. Então, por que me sinto
andando sobre cacos cortantes?
— Nathan...
Na manhã seguinte, acordo cedo e saio antes que meu pai se levante.
À manhã está fria, e pelo movimento no ponto de ônibus, parece que tudo
está atrasado. Demoro para chegar à empresa, e esse atraso é tudo que eu
não precisava.
— Ônibus...
— Está tudo bem com seu pai? — pergunta, como costuma fazer
quando eu me atraso.
Uma de suas mãos aperta minha cintura com força, enquanto a outra
brinca com uma mecha do meu cabelo. Eu estou sem ar e trêmula. Deus! Se
ele continuar me encarando com esse olhar profundo e faminto, não sei se
vamos conseguir esperar até depois do jantar. Se bem que a ideia de transar
com Connor bem aqui me parece tentadora.
— No entanto, creio que é mais prudente te alimentar antes do que
eu tenho em mente — sussurra em meu ouvido.
— Você não acha que é muito nova para conhecer essa música?
Connor vem até mim, pega a taça e coloca ao meu lado, então segura
meu rosto com ambas as mãos, me obrigando a encarar seus olhos.
— Não sei quais os motivos que fizeram sua mãe ir embora, mas de
uma coisa eu tenho certeza, ela perdeu a oportunidade de estar ao lado da
mulher e filha maravilhosa que é você, Amber.
Não consigo não sorrir diante de suas palavras.
Ele estende a mão para mim e faz um gesto para que eu sente em seu
colo. Descanso um braço ao redor dos seus ombros, e com minha mão livre
acaricio seu rosto. Connor aperta minha cintura com uma das mãos,
enquanto a outra simplesmente brinca com uma mecha do meu cabelo.
— Obrigada por esta noite — digo, sem tirar os olhos dos seus. —
Estava tudo perfeito.
Connor toca meu rosto, e seu toque é suave, fazendo meu coração
dar pulos em meu peito.
— Ah, Amber! Você é tão... Gostosa — diz quando seu dedo toca
meu centro úmido — e quente — sussurra, fechando os olhos e buscando
minha boca.
Uma vez, me falaram que a felicidade traz também o medo, e na
época eu não entendi, mas ao olhar para Connor e sentir tudo que ele me
transmite, não posso negar que tenho medo. Medo de perder, medo de me
machucar, medo de acordar e perceber que tudo não passou de um sonho.
Mas é real, a felicidade finalmente bateu à minha porta e trouxe com ela o
amor. Não falamos mais sobre o fato de ele não poder ter filhos, no entanto,
não quero deixar que esse assunto faça sombra no momento perfeito em que
estamos vivendo.
— Bom dia, filha — papai diz, assim que desço o último degrau.
— O que faz acordado tão cedo? — Vou até ele e beijo seu rosto.
— Eu sei que está, filha... mas vou logo avisando, que ele nem ouse
te fazer sofrer... Posso estar velho e doente, mas ainda sei usar minha arma.
— Espero que não, Amber... mas para onde vão dessa vez?
— Sr. Michell.
Eles trocam um rápido aperto de mãos e, em seguida, Connor pega
minha mala. Me despeço do meu pai e sigo Connor até o carro.
Seguimos pelo cais de mãos dadas até o seu iate. É a primeira vez
que vejo um tão de perto e é incrivelmente lindo!
É simplesmente perfeito.
Ele pega minha mão e subimos uma escada que nos leva para o
terceiro pavimento do barco, e para a minha surpresa, encontro não apenas
Caroline e seu noivo, como também os pais de Connor.
— Apenas Philipe.
Acho que isso faz parte de sondar se sou boa o bastante para
permanecer na vida do filho, e se for mesmo isso, não os julgo por
quererem protegê-lo.
Os rapazes fazem churrasco, enquanto as mulheres os observam,
tomando champanhe e aproveitando o sol. No final, não me sinto como se
fosse uma peça sobrando em um quebra-cabeça... Eles me fizeram sentir
como se eu me encaixasse ali.
Estou feliz, e pela primeira vez desde que assumimos ao mundo que
estamos juntos, nossa diferença social não me incomoda. Tudo está
perfeito. E mesmo que isso seja tão oposto à minha realidade, só quero estar
ao seu lado.
A noite jantamos sob a luz do luar. Ainda bem que tive a brilhante
ideia de colocar algo mais sofisticado para usar. Uma música lenta toca ao
fundo. Brindamos em comemoração ao aniversário de Connor. A conversa
flui, entre risos e algumas piadas, enquanto os pais de Connor contam
histórias de sua infância. Escuto cada uma delas com atenção. Aprender
mais sobre o homem a quem entreguei meu coração é algo que amo.
Quanto mais eu o conheço, mais anseio conhecer. No final da noite, todos
se despedem e vão para suas cabines, porém, Connor e eu permanecemos
aqui. Não estamos com pressa que a noite acabe.
— E agora tem?
Ele me dá um pequeno sorrio e toca meu rosto.
Sua língua desliza entre meus lábios, antes de seus lábios cobrirem
os meus, em um beijo possessivo, rude.
Suas mãos descem por meu corpo, e nunca me senti tão feliz por
estar usando um vestido. O calor de sua mão em minha pele me faz gemer.
Enlouquecida, afundo meus dedos em seu cabelo, puxando-o no processo.
Connor desliza suas mãos por entre minhas penas e eu apenas me abro para
que ele toque em minha boceta úmida.
Ele afasta minha calcinha para o lado e solta um gemido abafado
quando sente minha umidade.
Agarro seus braços com força, cravando minhas unhas em sua carne,
enquanto Connor aumenta a velocidade de suas investidas. O desejo que
sinto me consome inteiramente e já não consigo controlar meus gemidos.
Sua boca faz caminho em meu pescoço até meus mamilos rígidos.
Sua língua brinca com os bicos endurecidos, fazendo com que me contorça,
quase chegando ao ápice do prazer.
— Connor! — digo seu nome entre gemidos abafados, quando ele
morde levemente meu mamilo.
— Ah, que bom que chegou. Pode buscar o café para nosso
chefinho? Hoje estou bem atarefada.
— Ele já chegou?
— Sim, mas pediu para não ser incomodado, está há meia hora
trancado naquela sala com visita. — Gisela pega alguns documentos na
gaveta.
— Eu não sei o que quer, mas com toda certeza não sentiu minha
falta — falo e sinto a dor de anos expressa em minha voz. Me seguro para
não chorar... Eu preciso ser forte, ela não vai me ver fraquejar. — Por favor,
vá embora — peço ao olhar para papai e ver o sofrimento em seus olhos.
Nunca foi segredo o quanto ele a amou e sofreu por ela, e como não a
colocou para fora, suspeito que ainda ame. E isso dói, claro.
Ela olha para ele, em seguida, torna a me encarar, seu semblante
muda e vejo um sorriso debochado.
— Olha isso, conseguiu fisgar um rico e quer ignorar sua pobre
mãe?
— O quê?
— Ah não chora, Amber, ele que falou para eu vir, te pedir perdão,
dizer que me arrependia. E eu vim, vim só pra isso, ele tem um bom
coração... vai...
Choro tanto que a vista fica embaçada. Tudo vai ficando escuro, é
demais pra mim...
Acordo no hospital com papai ao meu lado no quarto. O médico
entra e estranho o fato de ele pedir para o meu pai sair.
Não, eu não estou grávida, não posso estar grávida. A não ser que
Connor, não, não... A noiva tentou por anos, ele me disse isso, eu...
— Devo de prescrever as vitaminas, ou quer apenas o
encaminhamento para o obstetra?
— Tenho outras fotos dela, mas não vai gostar de vê-las... São muito
íntimas — diz e faz um gesto com a mão.
Volto-me para ele, entendendo o que ele quis dizer, e uma onda de
fúria percorre meu corpo. Avanço até ele, segurando-o pela gola da camisa
gasta e o pressiono contra a parede. Ele ri com humor, como se minha
reação o divertisse.
Ele ri, deslizando a mão livre por seu cabelo sujo e oleoso.
— Você não entende, não é? — Ele meneia a cabeça em negação. —
Eu sempre estive com a Hanna... Antes mesmo de você entrar na vida dela e
deixá-la deslumbrada com todo o seu dinheiro.
— O quê?
— Está mentindo...
Tudo a minha volta parece girar em câmera lenta diante dos meus
olhos. Dou alguns passos para trás, tentando me agarrar a algo que não me
deixe cair. A dor de saber a verdade é intensa em meu peito, tão
insuportável quanto a dor que senti quando a perdi. Com muita dificuldade,
consigo caminhar para fora do chalé. O ar me atinge com força e eu puxo a
respiração algumas vezes, antes do meu estômago revirar e eu vomitar ali
mesmo.
Pego a estrada de volta e nem mesmo sei como consigo, são apenas
vislumbres de consciência e dor, sempre dor. Não me sinto pronto para falar
com ninguém, e sei que a essa altura, Amber deve estar desesperada por
notícias minhas. Me obrigo a ligar para Gisela e pedir que cancele todos os
meus compromissos. Foi o máximo que consegui fazer, além de me
permitir chorar e me entupir de álcool em cada bar de estrada que
encontrava. Quando volto a ter um pouco de consciência, estou próximo ao
prédio do Manson, com a noite já posta. Toco o interfone e ele me atende
preocupado, então vou ao andar e a primeira coisa que escuto são suas
reclamações sobre não atender o telefone.
— Descarregou, porra! — falo, alterado.
— A verdade dói, sim, droga, mas dói mais ainda saber que você,
meu melhor amigo, sabia e decidiu esconder a merda toda...
Não, eu não quero contar o que aconteceu. Não quero sua piedade.
Minhas mãos descem por seu corpo e eu tento arrancar sua blusa,
desesperado para sentir sua pele, mas me dou conta de que Amber está me
detendo. As mãos pressionadas contra meu peito, me fazendo recuar. Ela
parece assustada.
— Você me ama?
Ela estreita os olhos, confusa por minha pergunta.
Inclino meu rosto para mais perto e roço meus lábios nos seus.
— Então faça amor comigo — sussurro contra seus lábios.
— O que está acontecendo com você? Por que não fala comigo?
— Eu não quero falar sobre isso, Amber!
— Não se preocupe. Isso não é nada, minha linda. — Toco seu rosto,
tentando tranquilizá-la.
— Ah meu Deus, me perdoe por isso, me sinto tão envergonhada.
Nunca imaginei que ela fosse capaz de fazer isso.
— Já disse para não se preocupar com isso.
Ela assente. Sei que tem mais a dizer, mas por alguma razão, Amber
parece apreensiva.
— Não foi apenas isso que me trouxe aqui. — Ela tira um papel da
bolsa e me entrega. Tento enxergar as letras, e depois de segundos, consigo
juntar as sílabas... Positivo.
— O que isso significa? — Merda de álcool no cérebro, mal consigo
raciocinar.
— Connor, eu não transei com nenhum outro que não fosse você,
eu...
Gargalho alto, sentindo as malditas lágrimas circulando em meus
olhos, então luto contra elas.
— Você soube me enganar direitinho... Devo te dar os parabéns por
isso!
— Chega, Amber! Não sei qual era seu plano com o imbecil do seu
amigo, mas esse filho não é meu! Eu sei disso, você também! — grito,
fazendo-a encolher no lugar.
Um soluço alto escapa de sua boca e seu olhar é tão profundo e triste
que poderia enganar a qualquer um, até mesmo a mim em uma outra época,
claro, mas não agora. Não hoje.
Suas palavras me fazem rir. Talvez tenha sido meu sexto sentido que
nunca me permitiu confessar meus sentimentos a ela, já prevendo essa
desgraça.
— Sério? — debocho. — Sabe quem também me amava? Hanna...
Ela me amava e abriu mão de seus sonhos por mim, e sabe o que é mais
irônico? Tudo era uma grande mentira! Então pega a porra do seu amor e dê
o fora daqui antes mesmo que eu te coloque para fora! — Dou um passo em
sua direção e paro. Eu a encaro pelo que parece uma vida. Mesmo tendo
motivos para a odiar, e eu juro que eu quero sentir isso por ela, não consigo,
porque eu a amo. E é errado pra caralho admitir isso agora, quando, com a
mesma facilidade que teve em me devolver a alegria de viver, está me
tirando. Sem piedade nenhuma.
— Vai embora, Amber. Pegue o que te resta de dignidade, se é que
você tem alguma, e vai embora. Não apenas da minha vida, mas também da
minha empresa.
Não quero mais voltar a vê-la.
— Não nessa vida. Agora dê o fora — digo, enquanto passo por ela e
sigo para o meu escritório.
Mesmo sabendo da sua traição, não me sinto preparado para vê-la
indo embora. Talvez nunca me sinta, e a prova disso é a dor insuportável em
minha alma.
Quando eu lia nos livros sobre ter um coração partido, da dor
dilacerante em sua alma e em como tudo passa a não ter sentido, eu
realmente acreditava que era pura imaginação, licença poética, mas não
existe nada de poético quando seu coração é dilacerado em tantos pedaços
que fica difícil tentar seguir.
Nunca acreditei que alguém poderia sentir uma dor tão intensa a
ponto de desejar arrancar o próprio coração do peito usando as próprias
mãos. O pior é que o sentimento é mil vezes mais intenso do que eu sequer
consegui imaginar um dia ou li em um livro. Porque desde aquele dia em
que Connor praticamente me chutou de sua vida, meus dias parecem iguais.
Eu juro que realmente acreditei que essa dor fosse amenizar com o passar
do tempo, mas estava enganada, porque já se passaram sete dias e ainda me
sinto como se fosse um nada. Como se tudo o que vivemos não tivesse
importância alguma.
A dor é real, palpável e corrói mais que ácido. Entra fundo na alma,
e tudo que meu coração experimenta é um espiral de dor que parece se
alimentar a cada lembrança. Eu não deveria estar me sentindo assim...
Como se, de alguma forma, minha vida não fizesse mais sentido, como se
de fato tivesse perdido alguém que estava predestinado a ficar ao meu lado.
Eu posso me considerar uma tola por ter acreditado nesse amor, por ter
sequer cogitado a hipótese de que Connor não fosse capaz de me amar.
Estávamos fadados ao fracasso desde o início, mas entreguei meu coração
para ele mesmo sabendo que corria o risco, e dei a ele permissão para que o
descartasse quando não mais o quisesse... Eu fui tão idiota... Me deixei
iludir por suas atitudes comigo. A forma como me tocava, me beijava...
Connor brincou comigo. Me fez sentir como se eu fosse especial, diferente
das outras que passavam por sua cama, e quando viu que já tinha
conseguido o que queria me descartou, assim como Lexie me disse que ele
faria.
Tem dias que parece que não vou suportar. E, sinceramente, eu não
queria ter que voltar à empresa e pedir minha demissão, mas ele é o
milionário, não eu. Ele não precisa manter um pai, ele não tem um bebê no
ventre, mas eu sim, e sequer tive coragem de relevar ao meu pai. É doloroso
admitir, mas uma pequena parte minha se prendeu ao fio de esperança de
que Connor voltaria atrás e me procuraria, que diria que tudo não passou de
um mal-entendido, claro que levaria um tempo para aceitar, no entanto,
seria mais fácil perdoá-lo. Mas não aconteceu e eu preciso resgatar o que
me restou de dignidade e amor-próprio e retomar a minha vida.
Engulo em seco. Que burra eu sou! Merda, ouvir isso dói tanto!
Baixo o olhar para o chão e tento não me sentir abalada por suas palavras.
Connor está bem... Isso deveria me fazer seguir em frente, afinal, se ele
pouco se importa, eu não deveria ser a única a sofrer, mas mentirei se disser
que saber disso me alegra.
Sinto um toque em meu ombro.
Gisela assente em concordância. Ele pega o café das suas mãos e nos
dá as costas, mas não caminha muito antes de parar e falar alto o suficiente
para todos ouçam.
— E, não esqueça de fazer as reservas no restaurante para mais
tarde. Confirme o horário com a Lexie. — Então se vai, e mais uma vez
sinto como se estivesse sendo quebrada em milhões de pedacinhos.
Seu pai sorri amplamente ao me ver e me dou conta que senti sua
falta. Depois do meu acidente que mudou toda a minha vida, me afastei das
pessoas que sempre se importaram comigo, e sr. Josh é uma delas. As raras
vezes que ele esteve em minha casa, eu estava na empresa ou com o
Connor. E agora eu percebo que durante todos esses meses, minha vida
girou em torno dele. Da dívida que tenho com ele e depois para caber em
seu mundo. Ironicamente, minha vida parece estar sempre mudando
drasticamente e eu não tenho controle nenhum sobre isso.
— Amber. Querida! Quanto tempo — Josh vem até mim e me dá um
abraço de urso. — Que saudade de você!
— Também senti saudade.
Ele se afasta e pega um pano do bolso de sua calça jeans gasta e joga
em Nathan, que assustado dá um pulo e acaba acertando a cabeça no capô.
Ele se vira para o pai e sei que está prestes a dizer alguma coisa, mas
para quando me nota. Ele retira os fones de ouvido e vem até mim. O olhar
surpreso por minha visita parece ganhar intensidade ao se aproximar.
Nathan franze o cenho, posso ver em suas feições que ele sabe que
existe algo de errado.
— Pai, se importa de ficar aqui um pouco, enquanto converso com a
Amber?
— Claro que não, filho. Podem ir.
Nathan faz um gesto com a mão e eu saio da oficina com ele bem
atrás de mim. Seguimos para sua casa em silêncio. O lugar é pequeno e
modesto, repleto de boas recordações de nossa infância juntos.
— O que ele fez? — pergunta sem rodeios, virando-se para mim.
— Aquele filho da puta te deixou, não é? É por isso que você está
aqui, nitidamente abalada... Porque ele te deixou como eu disse que ele
faria — diz baixo, mas seu olhar é de pura fúria.
Balanço a cabeça afirmando, mas não há voz, e o choro que vinha
segurando acaba me vencendo. Nathan vem até mim, puxando-me para seus
braços. Eu apenas me agarro a ele, desejando que de alguma forma, meu
amigo consiga me salvar dessa dor.
Parece uma eternidade em seu braço. Como eu daria minha vida para
amar Nathan.
— Eu sinto tanto, Amber, você não merece passar por isso. Aquele
filho da puta, ele me paga... — Nathan continua a amaldiçoar Connor.
— Nathan, Connor não abandonou só a mim, eu estou grávida —
falo, olhando em seus olhos e o vendo paralisar.
— Mas não precisa ser... — fala, convicto, e juro que não entendo.
— Amber, o filho da puta te abandonou, te machucou e se ele acha que o
bebê é meu, podemos fazer ser...
— Mas eu quero, e te juro que vou ser um pai para esse bebê como
se ele fosse meu...
— Loucura é esse bebê não ter um pai, loucura é você não ter apoio
algum na gravidez, e claro, seu pai ficaria arrasado.
— Papai sabe que estive com Connor, não tem como...
— Então vamos esperar uns meses, ele vai entender se isso vier com
um pedido de casamento.
— Pode me dar um tempo para pensar? Ainda está tudo tão recente e
confuso, eu...
— Tudo bem, mas não se esqueça de que, ao contrário daquele filho
da puta, eu estou e sempre estarei com você...
Rejeito o que parece ser a vigésima ligação de Manson. Não, eu não
estou sendo infantil, mas quando o único filho da puta que não deveria trair
sua confiança o faz, precisa começar a rever seus critérios de amizade.
Dessa vez, apesar de me sentir tão na merda como quando soube da
morte de Hanna, não vou me enterrar em um luto por quem não merece,
apesar de meu coração se comportar dessa forma. Quero me forçar a
parecer bem, ainda que nas madrugadas eu mal consiga desligar meus
pensamentos.
Esse lugar era meu santuário, meu porto. Essa sempre foi a solução,
me afundar na porra do trabalho e continuar. Eu não posso mais fingir que
estou bem.
Meu celular toca, então faço sinal para ele enviar tudo para meu e-
mail. Ele assente, saio de sua sala e nada me prepara para ver Amber no
corredor. Está com Gisela, e apesar de implorar internamente para
conseguir ignorá-la, a porra do seu cheiro atiça todos os sentimentos que eu
finjo esquecer durante o dia. Um cubo de gelo, é exatamente assim que
enclausuro todos os meus sentimentos. Ela praticamente se esconde atrás de
Gisela.
Me dirijo diretamente à minha assistente, evitando encarar seus
olhos castanhos culpados. Acho que estou indo bem, porque ambas mal
percebem minha voz um pouco vacilante. Eu estou sofrendo não apenas por
ter descoberto a traição de Hanna e Amber, mas por ter traído minha
promessa de não entregar meu coração novamente a alguém. Eu só preciso
manter a máscara, sendo indiferente, mas ao olhar para seu ventre e ver que
ela tem um bebê dele ali, acabo sendo um escroto imbecil. Gisela não
entende a situação. Não conversamos sobre Amber, pensar nela já causa dor
o suficiente, não preciso falar, ainda assim, Gisela entra no jogo e confirma
quando a peço para fazer seu acerto.
— Pode ser...
Tudo que eu faço é seguir até sua pequena mesa para dois próxima à
janela. Atrevidamente e sem cerimônia alguma, vou à sua cozinha e preparo
meu prato, então me sento à mesa. Frustrada, ela não se serve, apenas se
senta à minha frente. Me sirvo uma taça de vinho, enquanto dou a primeira
garfada em seu espaguete.
— Não atende Manson, nem sua irmã, e, claro, seus pais apenas para
uma formalidade e evitar preocupações. É assim mesmo que quer seguir? Já
trilhou esse caminho e ele não te levou à cura nem à felicidade.
— Mas isso não é sobre você. É sobre Hanna, ela não prestava.
— Então parece que eu tenho um faro para mau caratismo, porque
Amber também fez o mesmo.
Lexie me analisa por segundos, então começa a juntar os pontos.
PORRA, NÃO!
— Eu só preciso de um tempo.
Pego as chaves do meu carro e deixo seu apartamento rapidamente.
Agora entendo a mágoa no olhar, a decepção, a dor.
Um carro com farol alto passa por mim, parando em seu portão,
então reconheço o motorista. Vejo David descendo do veículo, que é
desligado, em seguida Amber, e, para minha desgraça, quem os acompanha
é Nathan. David se despede e o ouço agradecendo a Nathan pelo jantar, e é
justamente aí que me pergunto por que eu nunca incluí seu pai em nenhum
dos nossos programas? Ele entra, deixando os dois debaixo da chuva fina.
Talvez eu mereça ver Nathan pegar suas mãos entre as dele, beijá-las e fazer
um sorriso discreto surgir nos lábios dela. Ela está com um vestido simples,
floral, sapatilhas e sem maquiagem, tão linda. O imbecil então tira a jaqueta
e coloca sobre ela. E vê-los juntos machuca, machuca demais.
Dói vê-lo tocar seu rosto, abraçá-la e beijar sua face, dói quando ele
toca seu ventre e beija, me fazendo morrer por dentro. Mas a culpa é minha,
eu fiz burrada, fui um escroto de merda. Amber não o convida para entrar e
isso acende uma pequena chama de esperança em mim. Ela entra e ele
finalmente vai embora. Corro até sua porta e bato desesperadamente.
Quando ela a abre, sua surpresa logo é tomada por decepção.
— Não saí para te escutar, só não quero que meu pai te veja ou
escute sua voz, então, por favor, vá embora. — Sua voz é tão fria quanto
seu olhar.
Sinto um frio percorrer meu corpo. Manson tem razão, eu irei perder
a única coisa boa que me aconteceu em anos se não conseguir seu perdão.
— Eu sei que mereço isso, sei que não tem motivos para falar
comigo, mas por favor... eu... — Olho em seus olhos tão tristes. — Eu te
amo, Amber.
— Me acho idiota por sentir as verdades que você teve que encarar,
mas eu sinto, afinal, colocou Hanna em um patamar tão alto, que ninguém
parecia compatível. E deve mesmo doer ter que descontruir toda essa
perfeição que criou dela. No entanto, sentir não significa que estou
aceitando tudo que fez comigo. Acabou, Connor, e não é nosso filho, você
abriu mão dele quando soube e ainda me fez acusações dolorosas. Agora ele
é só meu.
Olho para seu rosto, procurando desesperadamente me ver em seus
olhos, mas não tem sinal algum, só dor e lágrimas; a menina que bateu sua
lata velha no meu carro, a mesma que me encarou com o rosto todo
ensanguentado e que me fez estremecer com aquele olhar; a garota tímida e
determinada que eu instiguei a trabalhar comigo, de olhar inocente, que
despertou em mim tantas emoções e sentimentos que me deixaram
confusos; a garota pela qual eu me apaixonei loucamente e me vi obrigado a
tê-la comigo como um capricho, um brinquedo e que agora tem o poder de
destruir por completo, porque apesar de jurar que nunca iria me apaixonar,
ela tem meu coração. Não apenas ele, mas minha felicidade. A mesma
menina que bagunçou toda a minha vida e me fez querer mais. Que agora
parece me odiar, mas que não consigo viver sem.
Sinto um aperto no peito, porque por mais que eu insista, parece ter
um abismo enorme entre nós. Eu a quebrei, falei que nunca a deixaria e a
deixei, fiz pior que sua mãe, e sei que não mereço seu perdão. Olhando em
seus olhos, eu não quero falar mais nada. Quero apenas tomá-la em meus
braços e abraçá-la forte contra meu peito. Quero sentir a maciez de sua pele
e sentir o seu perfume único e embriagante. Eu quero amá-la e não permitir
que jamais volte a se afastar de mim. No entanto, eu sei que para isso
acontecer terei que ser honesto, não apenas com ela, mas comigo mesmo.
Fecho os olhos e passo as mãos pelo cabelo. Eu nunca fui de pedir
desculpas, nunca precisei na verdade, e agora não sei como parecer sincero,
mesmo sendo.
— Quer se casar comigo? — falo, desesperado por uma solução.
Juro que esperava uma reação explosiva vinda do meu pai, mas foi o
contrário. Papai não me julgou em momento algum e me apoiou com a
minha decisão de ter o bebê. Ele sabe das inúmeras dificuldades que iremos
enfrentar de agora em diante, mesmo assim não pode deixar de me dizer o
quanto está feliz por ser avô e que fará tudo para me ajudar. Até se ofereceu
para encontrar um emprego para me ajudar com as despesas, mas claro que
não o deixei fazer isso. Tenho alguns meses antes da gravidez ficar
evidente, e sei que posso conseguir um emprego. Porque depois não será
fácil, já que a maioria das pessoas parece não gostar de grávidas. O que me
conforta é que estou tendo o apoio das pessoas que verdadeiramente me
amam.
Nathan, por exemplo, tem estado sempre ao meu lado. Vem todos os
dias me ver e continua insistindo para que eu o deixe cuidar do meu filho.
Acho nobre de sua parte querer criar um filho de outro homem como fosse
seu, mas não posso me comprometer com outro enquanto esse meu coração
relutante ainda for de Connor. Nathan está lutando por mim e eu o amo
muito por isso, mas nada do que ele me faça me faz de fato querê-lo manter
em minha vida dessa forma. O amor que sinto por ele não se compara ao
que sinto por Connor, e mesmo que parte de mim saiba que estou sendo
uma tola por não o aceitar, eu não consigo tomar essa decisão, porque sei
que nunca vou amá-lo como ele me ama.
— Filha, eu sei que está magoada com tudo o que aconteceu, mas
agora não existe apenas os dois... Há uma vida sendo gerada por você, e
mesmo estando chateada com o sr. Dickinson, sabe que ele tem direito de
participar da vida dessa criança.
— Você parece alguém que eu conheço — ele diz e o ouço rir, como
se isso fosse algo divertido. Viro meu rosto em sua direção e vejo o olhar
preso em Connor. — Você é orgulhosa, assim como eu... E eu gostaria
muito de que pelo menos essa parte você não tivesse herdado do seu velho
pai.
— Quando sua mãe foi embora, ela voltou alguns meses depois. Ela
me contou que estava sóbria há alguns dias e que queria voltar para casa,
para nós, mas eu estava tão ferido e magoado por ela ter nos deixado, que a
mandei embora. Não queria que você voltasse da escola e a encontrasse,
porque eu sabia o quanto o fato de ela ter nos deixado tinha te afetado. —
Ele força um sorrio e volta o olhar para mim. É nítida a sua tristeza ao
relembrar o passado. — Tentei me convencer durante todos esses anos que
fiz o que era certo para mim e, principalmente, para você. Mas hoje eu vejo
que fui apenas orgulhoso. Estava com tanta raiva e tão magoado, que tudo o
que eu queria era que sua mãe sentisse pelo menos um terço do que eu
estava sentindo. Eu tive a chance de ajudá-la... Poderia ter lutado mais pela
mulher que tanto amei, lutado para reconstruir nossa família, mas não o fiz,
porque fui orgulhoso e turrão. Então, não cometa o mesmo erro que eu,
filha.
Há alguns dias, mamãe bateu à nossa porta. Ela estava sóbria e pediu
ajuda. Papai não se opôs a ajudá-la e a deixou ficar aqui. Ele até cedeu o
seu quarto para que ela ficasse. Ela se dispôs a ir para uma clínica, mas
estamos procurando alguma que seja acessível para pagarmos.
— Ela é sua mãe, não poderia fechar a porta para a mulher que me
deu meu bem mais precioso. — Ele se aproxima e eu o abraço forte.
— Todos somos responsáveis por nossas escolhas, filha. Sua mãe fez
uma escolha há alguns anos que custou nossa família, mas ela não teve cem
por cento da culpa. Sei que o fato de eu estar doente e ter que trabalhar
menos e tê-la sobrecarregado com tantas responsabilidades foi demais para
ela. Sua mãe renunciou a tudo por nós. Faculdade, o sonho de ter um bom
emprego. Mesmo tendo me deixado quando mais precisei que ela ficasse,
um dia essa mulher me amou. E estou fazendo isso, porque quero que saiba
que todos merecem uma segunda chance. — Ele coloca a mão em meu
ombro e sorri. Sei que a última frase foi direcionada para Connor. — Eu
adoro o Nathan, você sabe disso, e se eu pudesse escolher, você se casaria
com ele hoje mesmo. Ele te ama, mas tem um grande porém, você não o
ama, filha, e mesmo que esteja com medo por tudo o que vai ter que
enfrentar, não vale a pena abrir mão da sua felicidade por causa disso.
— Não é, mas melhor se arrepender pelo que fez, do que pelo que
escolheu não fazer. Esse arrependimento corrói a alma. Se não quer o sr.
Dickinson em sua vida e na vida do meu neto, tudo bem, podemos lidar
com isso. Estou aqui por você sempre e nunca vou abandonar vocês. Mas
acredito que mantê-lo longe não é o que você quer de verdade.
— Então o que te impede de ir até lá e dar uma chance para que ele
te prove que de fato te ama?
— Amber, não deixe que o medo te impeça de ser feliz. Você não
pode viver o hoje, se sua preocupação é o amanhã. Viva o agora. É o que
temos.
Não digo nada, então papai vem até mim e me abraça forte. Suas
palavras circulam por minha mente, e pela primeira vez em dias, me
questiono se devo ou não dar uma segunda chance ao Connor.
— Não, ele sequer imagina isso, mas Connor merece ser feliz — sua
irmã ousa dizer com paixão. É claro que ela quer isso, são irmãos.
— Tudo bem — ele diz, apesar de sua noiva não parecer tão feliz
com minha resposta.
Os dois fazem um pequeno gesto afirmativo e se disponibilizam a
me ajudar com o que precisar. Mas tudo que eu quero no momento é que
me deixem sozinha. Eles se despedem rapidamente e eu respiro fundo ao
fechar a porta.
As horas se arrastam, e não sei por que incomoda tanto não ver o
carro de Connor estacionado na calçada. Afinal, não era isso que eu queria?
Que ele parasse de insistir? Volto ao quarto e começo a me sentir incômoda
todas as vezes que olho para a rua. Ele desistiria, em algum momento
desistiria, e poxa, são duas semanas. Por que isso me incomoda tanto? Olho
suas últimas mensagens, sim, eu deveria tê-lo bloqueado, mas não o fiz
porque primeiro tenho que expulsá-lo do meu coração.
— Connor, eu... — sussurro, mas ele coloca seu dedo sobre meus
lábios.
— Tenho certeza de que vai se arrepender muito mais se não nos der
uma segunda chance.
— Amber, por favor. Seu pai mal enxerga e sua mãe deve estar
dormindo — diz, com voz sedutora, abaixando meu vestido.
Levanta meu vestido até que suas mãos encontrem minha pele nua e
quente.
Beijo seu cabelo e o aperto com mais força contra meus seios. A
sensação de tê-lo em meus braços novamente é reconfortante, e por ora,
sentir o calor do seu corpo é a única coisa que eu quero.
— Case-se comigo, Amber — diz, acariciando minhas costas.
Exalo o ar profundamente, antes de me afastar para o encarar.
Seus olhos me interrogam silenciosamente. Eu quero poder lhe dar
todas as respostas.
— Case-se comigo, por favor — ele pede novamente.
Mordo o lábio e fecho os olhos, ainda sem dizer nada, então apenas
saio de cima dele e ajeito o vestido. Quando estávamos recompostos, abro a
porta do carro e saio, em seguida, eu o vejo fazer o mesmo.
Caminhamos em silêncio um ao lado do outro até o portão da minha
casa, por sorte não vejo sinal dos meus pais.
— Eu sinto muito por tudo, Amber, toda a merda que eu te fiz — diz
num sussurro, me impedindo de entrar. Ele ajeita uma mecha do meu cabelo
atrás da orelha e varre o chão com o olhar. Seguro seu queixo, forçando-o a
me encarar. — E desculpe insistir, mas eu não quero que esse momento
termine — declara, mordendo seu lábio inferior.
Afasto-me, segurando seu rosto com ambas as mãos.
— Fica comigo.
Connor parece surpreso.
— Esta noite? — pergunta, confuso.
— Não. Não apenas esta noite. Fique comigo todos os dias. Mas, por
hoje, quer dormir aqui, comigo?
Ele sorri, toca meu rosto, em seguida, me dá um beijo cálido.
— Durmo em qualquer lugar, contanto que seja com você — diz
docemente, enlaçando meu pescoço. — Eu só quero estar com você. —
Roça os lábios nos meus e meu corpo todo estremece com a suavidade da
sua boca úmida de encontro à minha.
É como viver um sonho, meu sonho de felicidade. Connor entra e eu
chamo meus pais, ele mesmo fala sobre querermos recomeçar. E como
papai diria, à moda antiga, me pede em casamento para meu pai. Minha
mãe está terrivelmente envergonhada, mas Connor, percebendo isso, fala
diretamente olhando para ela que irá recebê-los como seus pais, porque
agora somos uma família. Palavras lindas e emocionantes que fazem não
apenas eu e minha mãe chorarmos, até papai fica emocionado. Quando ele
termina, ela pede perdão a Connor, pelo constrangimento; a mim, pelo
abandono; e a papai, por toda a vida que poderiam ter tido. No fim, Connor
promete pagar sua reabilitação e ela aceita, aquecendo meu coração.
Fico mais um tempo na cama, sentindo seu cheiro que está nos
lençóis. Mas tem algo inadiável, e é justamente isso que me faz levantar.
Nathan. Ele esteve ao meu lado nos momentos em que mais precisei de um
apoio emocional. Confessou seu amor e se propôs a ficar comigo, mesmo
sabendo que esse sentimento não era recíproco. É difícil, mas preciso que
ele saiba por mim que decidi dar uma segunda chance ao Connor.
Na viagem até sua casa, me pego ensaiando minhas palavras. O Uber
para em frente à sua casa, então pago a corrida. Quando começo a me
aproximar da entrada, escuto vozes mais alteradas. Eu me aproximo e
reconheço Nathany, a loira que estudou comigo, parecem entretidos em um
assunto sobre um filme. Ele conta uma piada, e abruptamente sai debaixo
do carro, se levanta e antes que ela diga algo, ele a puxa para seus braços e
a beija.
Ela diz algo sobre estar cansada desses joguinhos e ele nunca a
assumir, então percebo o que está acontecendo. Não que esperava que
Nathan estivesse em um celibato enquanto eu me entregava a Connor, mas
faz todo seu discurso soar contraditório. E por incrível que pareça não dói,
na verdade, oposto a isso, eu sinto alívio. E com esse alívio que me deixo
ser vista. Quando percebem, os dois parecem sem graça, mas noto o quanto
o rosto de Nathan empalidece. Ele se afasta da garota, que parece confusa
com toda a situação e rapidamente vai embora.
— Amber... Eu... Eu posso explicar. — Ele vem até mim e desliza as
mãos por seu cabelo ainda úmido do banho.
— Eu sei... mas você pode amar outra pessoa. Alguém que vai te
amar com a mesma intensidade e que queira viver algo lindo ao seu lado.
— Perfeita!
— Gisela te ligou umas quatro vezes, e não só ela, acho que metade
da empresa o fez. Até mesmo uma certa doutora — diz, com toque de
ciúme na voz.
— Ah eles são, mas dá para relevar, pela idade não vão durar muito
— brinco e a abraço forte, beijando sua boca.
— Claro que vão, seu bobo.
— Eu amo você e amo nosso filho. Não vejo a hora de poder chamá-
la de minha sra. Dickinson.
— Quem?
— Eu.
Não sei exatamente o que sentir, ela esteve aqui desde o início, é
alguém que sempre me ajudou.
— Não tem que se desculpar porque não foi você, Connor, foi eu que
criei uma ilusão, fui eu quem quis me apaixonar, fui eu que fiquei presa a
um sentimento por anos, achando que depois de Hanna você me enxergaria
como mulher. Mas então veio Amber, e seria crueldade da minha parte
culpá-la por minhas frustrações, se a verdade que fui eu que me neguei a
enxergar que você nunca me viu assim. Nunca houve interesse real, mesmo
assim projetei, acreditei e continuei a me iludir. — Ela seca as próprias
lágrimas. — Nunca me prometeu nada, Connor, isso não é sobre você, é
sobre mim. Minhas escolhas. E agora que não tem mais venda, eu preciso
encarar as consequências e seguir.
— É o que fazemos, não é? Sempre seguimos — completo. Ela vem
até mim e me abraça forte, então correspondo, sensibilizado. — Eu não
desejo nada além de felicidade a você, Lexie, mais que a mim mesmo, para
ser sincero.
— Eu sei, e justamente por isso vim aqui, para dizer que estou
encerrando esse ciclo e que não te desejo nada além da felicidade. Então,
Connor, seja feliz hoje, amanhã, sempre, porque você merece muito.
— Espero que esteja com fome, fiz algo especial para nós...
— Sua futura esposa ama cozinhar, então, vai sim, ter que se arriscar.
Aperto sua cintura com uma das mãos e com a outra simplesmente
brinco com uma mecha do seu cabelo.
Acaricio seus ombros nus até a fina alça do seu vestido. Meus dedos
afastam a alça lentamente, fazendo-a deslizar pelo braço, em seguida,
deposito um beijo casto e demorado na sua pele, deixando-a em chamas.
Passeio minhas mãos por sua pele, enquanto suas mãos acariciam
meu corpo. Minha boca saboreia cada centímetro da sua, seu queixo, seu
pescoço, seus ombros, sua clavícula e, por fim, seus seios.
— Eu não sei por que a vida me deu você, mas não vou ficar
questionando-a por esse presente maravilhoso, e não vou nunca, nunca te
perder de vista. — Toco seu rosto, sem nunca deixar de olhar em seus
olhos. — Você é a criatura mais doce e especial que a vida poderia colocar
no meu caminho. Você é tudo o que sempre quis, Amber. Me ensinou tanto,
em tão pouco tempo. Me ensinou o verdadeiro significado do amor e da
felicidade. Você e esse bebê são o meu mundo, o meu lar, e não importa o
que aconteça, sei que sempre vamos encontrar o caminho de volta um por
outro.
— Eu te perdi uma vez e isso foi o suficiente para perceber que não
existe vida, não se não a tiver ao meu lado. Te dou minha palavra de que
serei o homem que você precisa. Vou amar e cuidar de você em todos os
momentos de nossas vidas. Te fazer sorrir nos dias em que a tristeza de
abater, e ser seu porto seguro em dias de tempestade. Eu vou ser seu lar,
assim como você é o meu. Vou cuidar de você e do nosso filho. Protegê-los
com minha vida, se preciso for. Case-se comigo, minha Amber, e seja
minha por toda vida.
As palavras flutuam entre nós, e não contenho a emoção, enquanto
as lágrimas rolam por sua face. E ao olhar para os outros, percebo que todos
estão emocionados. Amber ajoelha-se à minha frente, tomando meu rosto
entre as mãos, igualmente emocionada.
Não é um bom momento para tentar ter razão, não quando sua
mulher está na sala de parto, parindo o terceiro filho. Nos casamos dois
meses depois de irmos morar juntos, e Theo veio primeiro, depois Lilly e
agora nosso pequeno Lois. Lexie não veio para nosso casamento, mas nos
desejou felicidades, fiquei realmente feliz quando ela me apresentou o
namorado por uma chamada de vídeo. Afinal, eu sou testemunha que
recomeços, apesar de às vezes dolorosos, podem nos devolver a vida.
Caroline e Manson se casaram um tempo depois de nós, e assim como eles
foram os nossos, fomos seus padrinhos.
Fim.
Este livro foi um desafio para nós, autoras, e juntas queremos deixar
nosso eterno agradecimento à nossa beta maravilhosa, Patrícia Mariano, que
aceitou estar nessa caminhada conosco, abraçando verdadeiramente este
livro. Muito obrigada, Pati, seus conselhos foram maravilhosos e muitas
vezes nos indicou o caminho a seguir. Eterno agradecimento a você!
Amamos vocês!