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Redenção
Karol Blatt
1ª Edição
escapar.
Sam está decidido a honrar seu dever de proteger mãe e
filha.
E ele o fará mesmo que isso lhe custe sacrificar a identidade
gosto por comer apenas para dizer que seguiria seu próprio
trouxe a de Sam.
que como esta autora, também passou por algum tempo sem
Karol Blatt. ♥
Avisos: O conteúdo desse livro possui linguagem sexual
—Ursula K. Le Guin
Ela apertou o casaco em torno de si para afastar o vento
parte. Ela queria poder respirar menos aquele ar. Não faria bem
para o seu bebê. Mas a opção era respirar o ar no auge do inverno
de Washington do lado de fora do velho conjunto, o que, sem
dúvida, era muito pior. Por isso ela subiu as escadas com uma mão
as paredes.
pé. Nice vivia dizendo que aquilo era sinal de que o bebê não
tardaria. Como se ela não soubesse. Como se não se preocupasse
ela devia entregá-lo a uma família rica e amorosa. Mas ela não
queria. Não. Aquele era o seu bebê. Ela não queria se separar dele.
Nada.
De repente, ela percebeu o papel pregado pouco acima da
era inútil. — Ela soprou fumaça. — Quando sua amiga desceu com
— Billie? Mudou-se?
Ela não tinha ido tão longe para terminar assim. Não tinha
fugido no meio da noite para que seu bebê ainda continuasse
desprotegido.
As lágrimas vieram. Lágrimas de cansaço, estresse e de
todas as dificuldades e privações que enfrentara nos últimos sete
Nice. Ela não daria conta da situação, e seu bebê merecia mais. Por
Deus, aquele anjinho crescendo dentro dela merecia o melhor.
SAM
Washington D.C
Inverno, 2017
dinheiro como tirou seu amor, atenção e cuidado? Como ele pode
sentar novamente.
cansativo e tedioso.
tentou intervir, mas decidi acabar com a situação por conta própria.
hora não têm nada a ver com isso. São apenas um adendo
bancário.
senhora.
A ex-senhora Pearson começou a chorar e deixou o corpo
Minha missão era garantir, pela terceira vez, que ele perdesse o
mínimo possível para a ex-miss com quem se casara. E no final
Peter Walter sempre fazia o Direito parecer mais divertido para ele
do que para o resto de nós no fim de uma tarde. Talvez isso fizesse
precisamente.
— Foi uma coluna escrita por Elizabeth Mildred. Melhor
assim, por isso fiquei com o Direito Empresarial. Mas você tem que
perceber que aquela era do meu tipo. Ela seria uma diversão nova,
e eu andava precisando disso depois dessa última tarde. Por isso
Ele riu.
— Você é um filho da mãe com as mulheres, e mesmo
assim elas fazem fila para a sua cama, não é? — Peter balançou a
cabeça e me dirigiu um de seus olhares admirados. — Seu maldito
desde o século XIX. Mas o surto vindo do ártico não havia perdoado
sequer o sul do país. Nem o serviço de meteorologia estava
bilhete no bolso. Uma noite casual parecia ser perfeita para relaxar
Washington.
pisei no acelerador.
urgência, Mills!
— Certo, certo! É um belo dia para estar sem recepcionista
por aqui! — A enfermeira deixou os papéis de lado e se apressou
para agarrar o telefone. Então seus olhos caíram sobre mim. —
Tudo bem, senhor…
— Mead. Samuel Mead. E eu não sou…
— Roxanne.
— Certo, Roxanne Mead. — Ela assinalou na ficha antes de
me oferecê-la. — Bem, senhor Mead, não tenho escolha senão
— Seu marido está aqui, meu bem. Agora tudo ficará melhor
— anunciou e depois sorriu para mim enquanto confidenciava: — A
dilatação dela já chegou a dez centímetros em minutos. Vocês
demoraram muito, se são pais de primeira viagem. Agora a estimule
muita loucura!
Talvez eu houvesse batido a cabeça com força e…
Ela urrou.
vir…
A voz dela ficou embargada.
— Ele vai começar a sofrer se você não o ajudar — insistiu
— Sozinha?
Ela apenas assentiu com a cabeça.
Meu instinto de advogado soube imediatamente que ela
Mentira.
Eu não devia me meter mais, mas não pude evitar.
— Você ao menos tem para onde ir com um bebê?
Também não tenho roupas para a minha bebê, mas não quero a sua
pena. Eu posso cuidar de mim mesma e da minha filha… No vine a
este maldito país para desistir… Eu… Eu…
Ela irrompeu em uma nova crise de choro, e eu me senti o
pior tipo de crápula. Sutileza nunca foi o meu forte, e eu havia
abordado o assunto como o advogado de sempre, esquecendo-me
afastou de mim.
— Eu nem conheço você. É melhor você ir.
em mim.
Merda.
Como eu tinha conseguido me meter numa situação tão
responsabilidade.
— Não é mais. Estou liberando você, senhor Mead. Agora
me deixe, eu estou cansada.
minuto.
— Ah, senhor Mead. Ela precisa descansar um pouco.
Também precisa ser cuidada e examinada. — Ela colocou a criança
ROX
Diego, na Califórnia.
É claro que, naquela época, meu bebê era do tamanho de
uma amiga que conheci enquanto trabalhava nos bares, e vim para
Washington.
Tudo para conseguir o máximo de grana possível até o bebê
sido fáceis para Nice até ali. Ela tinha uma irmãzinha doente em
San Diego e uma família grande que dependia muito do pouco
salário que sua filha mais velha enviava. Então era muito bom vê-la
respirar um pouco. E não achei certo segui-la para ser um problema
SAM
desconhecida?
Mesmo duas horas depois, quando eu retornei à
ficava pior quando eu olhava para o que tinha nas mãos. Uma bolsa
de maternidade com roupas e vários utensílios comprados às
assim. Eu sempre tive cuidado e uma vigilância rígida para não ser
pego em nenhum golpe do tipo. Meu interesse em ser pai era
porta.
hospital.
E o que mais se podia esperar de um sujeito decente?
perturbado.
Possivelmente algum pesadelo, até.
Contudo, meus olhos não resistiram à tentação de analisar
seu rosto. Ela era bonita. Eu não tinha notado antes, devido à
situação. Mas agora, e mesmo com o rosto ainda inchado e um
a respeito do assunto.
— Ah, senhor Mead. Que bom que voltou — sussurrou a
mesma enfermeira que havia colocado a menina nos braços da
Por isso engoli o mau humor que subia como bile azeda
pela minha garganta e reorganizei os pertences nos ombros. Algum
dos meus desafetos pagaria por isso na segunda. Mas, naquele
ROX
forte e dominante.
Acordei sobressaltada com o cheiro, que de alguma forma
meu coração.
Ah, Deus. Não permita. Por favor…
filha.
alguma de embalá-la.
de que estava fazendo isso. Até que o olhar doce da senhora Mills
me alcançou e ela sorriu.
aquilo.
Por que aquele estranho tinha voltado? Ele sequer me
atropelara.
Mead. Ela já era uma princesa, mas agora está vestida como tal. —
do momento.
Acabei empurrando meu constrangimento para o fundo da
instante depois.
E respondeu calma. O que apenas acentuou minha certeza.
amenizar.
benevolente.
— Estava escrito no crachá do seu vestido, quando a trouxe
para o hospital.
que ser mais gentil. Cavalheiro, quem sabe, como a enfermeira Mills
erroneamente acusara-me de ser.
para a maioria.
Os olhos incríveis se alternaram entre o meu rosto e a
minha mão. Depois ela olhou para a bebê em seus braços. Mas
quando achei que seria deixado ali para sempre, Roxanne Rivera
colocou sua mão na minha.
Samuel Mead.
A mão, pequena e quente, sumiu quando a apertei, usando
— Ainda assim…
— Ainda assim, repito — interrompeu-me com um olhar
— Senhorita Rivera?
— Eu não me sinto… não sinto…
Precisei agir rápido. E com uma única passada. Então, por
mais sem nexo que parecesse, pensei no tolo herói sobre o qual
Peter falara naquela mesma tarde, mais cedo, no exato momento
masculina desconhecida.
— Isso não é o que importa. Um hospital deste calibre
precisa ter mais cuidado com seus pacientes. — A nova voz
Silêncio.
Finalmente encontrei forças para abrir os olhos.
O primeiro rosto que vi era rechonchudo e pareceu aliviado
aliviado. — Mas vamos fazer exames para nos certificar. Vou pedir
para trazerem o jantar para a senhora.
ir embora agora.
Tentei ser direta e incisiva.
Ele não se moveu diante das minhas palavras. Também não
esboçou reação.
— Senhor Mead — recomecei, pensando que ele não tinha
me ouvido. Embora fosse pouco possível. — Eu disse que…
olhar de alguém.
— Não vou embora até que se alimente bem.
E ele simplesmente foi até uma poltrona e se sentou.
SAM
dirigir a um hospital e dar à luz sozinha? Por que não ligara para
ninguém? Melhor, por que ninguém veio até ela? O pai da menina,
onde estava?
Eu sabia que perguntas como aquelas não eram da minha
alçada. Sobretudo, não tinham que ser.
remorso, ficou claro para mim que elas eram criaturas ardilosas.
Balancei a cabeça, tentando não pensar em coisas tão
inúteis. Nada disso mudava para melhor as minhas atuais
Pai.
Que sacanagem irônica do destino. Logo eu, que havia
decidido jamais sair por aí propagando meus malditos genes
problemáticos.
Sequer me preocupei em dizer a verdade à boa mulher. Ser
— Não.
— Que alívio. Porque essa, sim, seria a charge do ano. —
brincou, mas seu tom de voz estava mais sério. Escutei quando ele
se remexeu na cadeira. — Do que você realmente precisa, cara?
— De qualquer coisa. Mas seja sutil. O nome é Roxanne De
porque aquilo tudo era como levar uma pancada forte na cabeça.
Mas pensaria e perguntaria assim que entrasse naquele quarto
novamente. Faria o meu papel de deixá-la, juntamente com a
ROX
— É importante que ela consiga ter uma boa pega para não
anunciou. Sorri para ela. — E vocês, pelo visto, serão uma família
bastante protetora com relação uns aos outros.
interrompida antes que saísse pela minha boca, pelo toque agudo
de um telefone celular.
— Ah, é o meu. — A senhora Mills procurou algo dentro do
jaleco. — É claro que não costumo usar o celular durante o trabalho,
mas minha neta de cinco aninhos esteve muito doente e pode ser
celular? É que eu queria ligar para uma amiga e o meu não está por
aqui.
Pensei que ela fosse ficar desconfiada, mas não aconteceu.
Com um “É claro, meu bem” e um sorriso, ela simplesmente me
estendeu o telefone. Pensei que o mundo precisava de mais
pessoas gentis assim, dispostas a ajudar e confiar.
— Oi, Nice, aqui é a Rox. Sei que sua vida anda tumultuada
com a mudança para Indiana, mas queria te dizer que María
nasceu. Esta noite. Estou no hospital agora. — Olhei para a minha
nova razão de viver em meus braços. — Ela é linda e saudável. Só
que…
Minha voz ficou embargada.
dono nos despejou, mas não antes de Billie sumir com todos os
meus pertences. Estou sem meus documentos de imigração e sem
acesso ao meu dinheiro no banco. Por favor, me ligue de volta.
Preciso de ajuda, porque não tenho para onde ir com a minha
filha… Eu estou tão sozinha…
SAM
Não, tinha sido muito antes. Talvez quando eu a peguei nos braços.
que isso, mas faria. Não havia qualquer alternativa diante do meu
senso de honra autodidata.
— O senhor não…
instantes depois.
— Obrigada.
ressonou.
— Não queria ter ouvido a conversa. Imaginei que tivesse
a roubou?
respondeu.
— Foi pelo início da tarde.
Porra.
Ela assentiu.
problema.
Principalmente porque tudo também estava, aos poucos, se
escapar.
Entretanto, o reflexo de dor que passou por seu olhar
entreabriu os lábios.
— O nome dela é Billie. Billie Colton.
— Qual é o problema?
— Não sei se ela voltou para casa.— Ela encolheu os
ombros de forma graciosa. — Billie não se dava nada bem com os
pais. Acho que nem falava mais com eles. Pelo menos, nunca a vi
— Demorada, talvez.
Ela acariciou os cabelos da bebê antes de olhar para mim.
significava nada.
Concentre-se, Mead.
momento.
— Eu compreendi. — Assentiu.
Suspirei. O som atraiu o olhar dela até o meu. Aqueles olhos
confirmação, eu precisaria…
— Não. — Os ombros dela tremeram.
dinheiro.
Ela parecia muito obstinada na decisão. Na mesma hora,
a melhor solução.
Eu precisava repetir?
Precisava.
ROX
sentenciou Billie como assunto seu, que não fazia o tipo que perdia
cinco horas, e eu… eu também não conheço o senhor. Não sei nada
sobre o senhor!
Sam Mead me olhou. Da mesma forma como me olhou
pior para conhecer um homem tão atraente quanto Sam Mead, com
um bebê saindo pela minha vagina.
Dios, pero que estaba pensando?
Graças a Deus, não tive de dar uma resposta a ele nem ao
meu próprio delírio momentâneo, porque a enfermeira Mills
finalmente ressurgiu, irrompendo pela porta.
cuidada.
Dei um beijinho rápido na testa da minha filha e a vi ir
embora. Voltei a ficar sozinha e à mercê do homem ao meu lado.
Foi quando notei que boa parte do meu seio, sobre o qual a
bochecha da minha filha repousara antes, havia ficado exposta.
Puxei a camisola, envergonhada. Ao encarar Sam, no entanto, ele
tempo.
— Vai mesmo insistir nisso?
Engoli em seco.
Eu não tinha muitas escolhas, tinha? Quer dizer, tinha a
escolha de recorrer a abrigos. Mas a assistência social poderia
feito coisas boas para mim e para a minha bebê, parecia que eu
estava enfrentando o mesmo impasse sombrio que levou minha vida
para aquele estado deplorável.
Encolhi-me.
A diferença é que agora eu tinha que proteger a vida da
minha filha.
de semana.
Não respondi. Não tinha o que dizer.
SAM
Porra.
Era a única palavra rodeando a minha mente naquele
instante. A única que parecia exprimir parte de todo aquele dia
você está muito mais para o Tom Ellis de Lúcifer. Precisa conseguir
algo vermelho e uma loira para chamar de detetive. — emendara,
rindo com vontade.
Eu não me importei.
Apesar das comparações demoníacas de Peter, minha casa
era mesmo o meu santuário. Um lugar onde eu não precisava
baixo completamente.
— Se essa maldita cozinha não fosse tão repleta de coisas
escuras…
elegância.
Ela constantemente usava um uniforme bem passado e
escuro, como a decoração da casa, mas demonstrava sua revolta
comigo sempre que podia. Na maioria das vezes, logo que eu abria
os olhos pela manhã. Além disso, às sextas-feiras, excluía
completamente a roupa meticulosa e usava qualquer coisa colorida
fingindo tentar ser um pai quando já era tarde para isso, mas
dificilmente conseguiria.
— No que depender de mim, nunca mais colocarei meus
fim. — Mas não foi isso que me deixou estressado hoje. Pelo
menos, não exatamente.
Eu tinha saído sem muitas explicações quando vim mudar
que ela queria dizer algo do tipo, “Como isso aconteceu?”, e por isso
respondi:
tinha sido roubada e não tinha para onde ir com o bebê. É uma
imigrante mexicana, aparentemente sem parentes ou amigos
próximos.
— Ai, meu Deus, pobrezinha!
— Você a ajudou.
Não era uma pergunta, era uma afirmação sem qualquer
temor.
— Por que acredita nisso? Sou o diabo engravatado,
lembra? — Sorri sem qualquer humor.
conheço bem. Sei o que faz quando está fora do mundo jurídico e
quando ninguém está olhando.
— Sexo selvagem? — disparei, irônico.
A pancada no meu braço foi mais forte dessa vez.
— A grandeza do coração de uma pessoa está em suas
ações, Sam Mead. E eu sei bem como você age quando precisam
na cintura.
Suspirei.
— Encontrarei quem a roubou junto com os seus pertences.
— Ela me encarou como se soubesse que tinha feito mais. Tive de
respirar fundo outra vez. — Ofereci dinheiro. E ofereci a proteção da
agora tinha ido até o forno e retirava algo de lá. Um prato pronto,
percebi quando ela se aproximou. — As pessoas dizem que quando
um bebê nasce, uma mãe nasce. Mas não é bem assim, não. Nós
temos muito medo quando pegamos nossos filhos nos braços pela
primeira vez. Em uma situação como a dela, as coisas devem estar
muito mais angustiantes.
sem apoio algum. Ainda mais tão longe de casa e de tudo o que
conhece.
As palavras de Lia cutucaram ainda mais a minha culpa.
Dessa vez, não pude evitar despentear o cabelo com as
mãos. Como meu dia podia ter começado tão normal e terminado
daquela forma tão escabrosa?
minha Batcaverna…
— Não acho que ela seria convencida — assegurei por fim.
— E faz sentido que seja assim. — Sim, o que não fazia sentido era
uma garota vir com um bebê para a casa de um estranho. — Mas
vou encontrar outro jeito de ajudá-la.
Era o que eu esperava porque, do contrário, minha paz de
SAM
vezes na minha mente que, por fim, precisei sair da minha cama,
desistindo do sono para esperar pela manhã.
uma pequena elite poderia erguer para inflar o próprio ego. Havia
até mesmo uma mansão no estilo Tudor a duas quadras da minha
casa.
Eu sabia que vivia uma vida para poucos, privilegiada em
estava bem escondido. Lutei contra ele por anos. Não que houvesse
sido fácil assumir o sobrenome da mulher que me vendeu, mas ao
menos o abandono dela fora um corte rápido e limpo. Não havia
exóticos.
assim, tão nítidos confessos das coisas que passei. Mas depois
pendências.
E então, como se lamentasse pela minha ideia, meu celular
ROX
Sair do hospital sem ser notada e com uma bebê foi mais
senhora.
— Tudo bem — concordei de imediato.
— O quê?
O olhar dela se tornou ainda mais desconfiado.
alterar, nervosa.
— Tudo bem.
nota de cem dólares de volta. Não tinha dado mais de três passos,
quando fui barrada por policiais.
— Podemos ver seus documentos de identificação e os da
uma criminosa.
acompanhar — rosnou.
choraminguei.
— Escute, moça. Está tudo bem. — O policial de semblante
prometo que ficará tudo bem. Nós podemos ligar para alguém da
afetuosa.
eu possuía no momento.
SAM
Saí do meu Tesla[2] sem esperar por Lia.
garota. Inferno! Tinha visto o pânico nos olhos dela. Roxanne Rivera
podia não estar ilegal no país e podia ter mesmo sido roubada, mas
consequência coerente.
cumprimentou.
Ele sabia quem eu era. Uma vantagem para mim, apesar de
não poder dizer o mesmo sobre o careca baixinho diante dos meus
olhos.
tardiamente.
— Samuel Mead — falei, firme como o meu aperto.
— Gregory Wright. Delegado. Como posso ajudá-lo?
ponto.
O delegado franziu o cenho, e seu olhar seguiu até
Roxanne.
era nítida.
— Precisarei dos documentos dela para comprovar.
— E teremos o maior prazer em oferecê-los ao senhor. Em
alguns dias, quando o serviço de imigração os liberar — garanti. —
sobrenome.
Funcionou. O delegado ficou nitidamente em choque.
E eu contava justamente com o choque da situação para
que se passara.
Ela se levantou antes que eu pudesse explicar qualquer
mão fria agarrou a minha, e ela emitiu quase sem voz: — Obrigada.
proceder.
— Muito bem — falei, mesmo sem ter nada para dizer a
seguir.
Eu detestava me sentir impotente diante de alguma coisa.
Principalmente quanto a proferir simples palavras. Isso me fazia
dizia que ela não aceitaria minha outra proposta que seria Lia levar
o bebê e eu a carregar. Estava claro o quanto ela mantinha uma
distância segura desde o hospital. Ainda assim pensei que Roxanne
fosse dispensar minha oferta. Ela não tinha aceitado minha proposta
de ficar sob o meu teto, mas estava aqui. Exatamente onde não
desejava estar, junto com dois quase estranhos. Talvez fosse coisa
demais.
— Certo — aquiesceu ela, surpreendo-me.
Ótimo.
Para um homem que planejara meticulosamente nunca se
casar, parecia que eu tinha sido contemplado com o pacote
completo.
E já estava levando-o para casa.
Eu tenho marcas que te farão duvidar.
— PINK, “Run”.
ROX
desacostumado ao conforto.
retomou a palavra.
Amália.
a minha bebê.
— E esse anjinho, já tem nome?
— Ela é linda.
Deus, minha bebê não merecia nada daquilo. Não merecia. E então
foi como se tudo caísse sobre mim de repente.
mães, não é?
Eu queria que ela dissesse alguma coisa. Que aquela quase
Deus do céu, onde é que eu tinha ido parar por causa das
minhas escolhas ruins? Onde?
Eu não queria chorar com María nos meus braços. Não
queria que minha filha visse a mulher fraca que eu era, mas não
consegui mais impedir.
De novo.
Encolhi-me com minha bebê.
Eu era, sim, uma droga de mãe.
passou. Vou preparar algum e vou trazer biscoitos. Vão fazer você
se sentir melhor, então você poderá dormir e descansar um pouco.
fraca e aflita demais para isso. O que você precisa fazer agora é se
cuidar. Não apenas pelo seu próprio bem, mas também pelo da sua
nos conhece. Não tem razão para confiar na minha palavra, mas
direi assim mesmo. Você está em uma boa casa. Meu menino é um
bom homem e ele vai ajudar você, seja no que for que precise.
— Só vou ficar uma noite — falei, mesmo sem plano algum
para o dia seguinte e nada além de desespero por toda a noite. — O
senhor Mead não terá mais que se preocupar comigo. Eu prometo.
seus braços. Sem dúvida, irritado. E tinha toda a razão para isso.
o dia anterior.
Ela riu.
— Vejo que está com fome — ofegou.
— Com fome de uma boa foda — falei, enroscando a
calcinha.
Grunhi.
Eu tinha ao menos planejado que chegássemos à cama.
Sem risco de que qualquer um dos vizinhos ricos dela ouvisse algo
sorriu.
incomodando?
porta.
escabrosa.
Principalmente porque, nos últimos meses, além de
fôssemos parecidos.
Eu desejava o mesmo.
uma amiga.
— Isso é uma expulsão ou um sinal para alguma coisa? —
Abri meu sorriso mais predador para a pele à mostra dela.
— Não sei. Mas acho que pode provar com um pouco desse
seu uísque, para descobrir.
Minha boca salivou.
passado.
Tudo em mim vibrou em alerta, e em um instante, eu me vi
esquecendo o restante. Entrei no quarto de hóspedes. Um bebê
— Porra…
Roxanne estava caída, com os olhos fechados. A cabeça
encostada de mau jeito na parede, com a testa vertendo sangue. A
dela.
Alguém a tinha marcado. Como gado de corte.
Santo Deus…
— Por favor, não deixe ele me achar…
Ela delirou sem sequer abrir os olhos. Suas mãos se
agarraram nos meus braços com força.
— Minha filha…
— Sua filha está com Lia. Respire e olhe para mim. Você
Nunca.
— Continue respirando. Eu estou aqui. Você e sua filha
estão seguras. Eu estou aqui. — Toquei o rosto úmido dela,
tinha sido tão doloroso que a opção, além de fitar o uísque, era
apertar as pálpebras com força. Manter-me na escuridão cega.
Em que tipo de lugar ela estivera antes para ser marcada
daquela forma? Quem faria algo tão cruel assim a uma mulher?
cornija da lareira.
O fogo crepitou duas vezes antes que a filha de Lia
respondesse.
— E a pequena?
— A neném está bem. Apesar do pouco tempo de vida, a
menina é saudável e forte. Neste momento, bem mais que a própria
mãe.
volta para o México. Você sabe bem como são as coisas. Sabe
como sua mãe sofreu perseguições da própria polícia, mesmo tendo
de forma trágica.
— Me desculpe. Eu não quis recordar nada daquilo.
Lena assentiu com olhos tristes, mas tranquilos.
governo que faria de tudo para se livrar delas. Eu tinha que fazer a
maldita de uma escolha complicada, mas a verdade é que não havia
escolha alguma.
Lena sorriu.
— Apesar de tudo, eu concordo com a sua decisão. — E ela
se aproximou e me beijou no rosto. — Vou ficar atenta a qualquer
de Lia. Era o espaço dela. Por isso vi-me sem saber se deveria
quebrar essa regra tácita.
A garotinha, no entanto, decidiu por mim quando começou a
chorar.
Foi no mínimo curioso, que quando parei diante da cama,
ela também parasse de se lamentar. A luz da manhã já entrava
imediatamente!
As palavras meio rudes mal tinham saído da minha boca, e
me virei para ver se Lia havia acordado. Sem dúvida, ela ficaria
horrorizada de me ver falar com uma bebê naquele tom de
repreensão. Mas, para a minha sorte, minha governanta dormia a
sono solto. Um ronco até soou mais alto dentre a pequena sinfonia
chocado.
— Na verdade, acho que você parece mais um daqueles
pequenos pardais que vemos no parque. Eles têm os mesmos
olhinhos, esses olhinhos escuros e redondos com os quais você
está me procurando. E pardais não são lá os pássaros mais bonitos
ou interessantes do reino animal. Quer dizer, são interessantes
minha pele. Poderia ser uma pequena carícia, mas o mais provável
era que fosse apenas um reflexo. Ainda assim, eu me senti
aprovado para algo bem maior do que eu quando María soltou um
pequeno suspiro e se aconchegou no meu peito. Então,
instantaneamente, encontrei minha resposta. A motivação por trás
ROX
bebê nos meus braços. — Vou encontrar um lugar seguro para nós,
eu prometo.
Continuei andando em meio à nevasca, meus joelhos
frio intenso. Tudo era branco ao redor, sem vista para uma árvore ou
mesmo qualquer faixa de céu. Quando eu tinha avançado bem para
Ele.
— Roxanne!
Roxanne.
depois disso.
camada de suor frio descendo pela minha testa. Precisei lutar para
confortável.
luz do que parecia ser um fim de tarde. Neve caía do lado de fora da
— María!
Agitei-me assim que o nome chegou à minha mente. Virei-
então…
Ele.
Samuel Mead. Ele era o homem que me segurou nos braços
Ela sorriu.
— Que bom que se lembrou do meu nome. — Lia se sentou
arder.
A governanta do senhor Mead pareceu ter entendido todas
as minhas perguntas na mesma hora.
— Acalme-se primeiro, minha querida — tranquilizou Lia,
Minha filha, a médica que veio vê-la na última semana, disse que
quando você tentasse se levantar seria porque a parte mais difícil
tinha passado. — Ela sorriu e por fim se levantou. — Mas vamos
medir sua temperatura só por precaução.
noite.
Calcei as meias com o seu auxílio e pude colocar os pés no
chão sem sentir dor. Foi só quando me ergui da cama que consegui
notar que trajava um grosso suéter preto bem maior do que eu.
— É de Sam — avisou Lia quando me viu observando a
do frio. Mas não se preocupe, você pode tomar banho depois. Sam
trouxe roupas para você quando trouxe mais roupinhas para María,
há alguns dias.
— Ele… ele trouxe roupas para a minha bebê? — Senti
palavras dela, mas Lia apenas riu de sua própria piada. Então foi até
conseguir. Agora vamos, María deve estar ansiosa para ver a mãe.
SAM
Nada.
haviam detectado.
no nome.
— Earnshaw?
Aguardei a voz do meu detetive, mas foi uma voz masculina
era um fato. Eu tive que aprender muitas coisas nos últimos dias por
ter um neném no meu apartamento.
Ainda assim, apesar de todo o trabalho extra, chegar em
não adiantou.
Um ruído veio do berço.
Claro. Ela sabia que era eu.
contrário, mocinha.
Na última semana, eu havia lido sobre as diferenças do
“bom cocô” e do “mau cocô” entre um acordo de divórcio e outro.
Lena tinha me alertado para verificar esse tipo de coisa depois das
febres curtas para ver se a mudança de temperatura poderia ser um
alerta para algo mais preocupante.
sono para Lia e para mim, feito? Você tem que ter alguma pena da
minha pobre governanta. E não vai adiantar a senhorita entrar com
qualquer recurso de apelação. — María apenas ergueu os olhos
para o plano espiritual. Você é bem perspicaz para alguém que está
em sua segunda semana na Terra, pardalzinha.
Parti para a sua mais recente favorita, uma versão de La Vie
quando ela passa noites na casa dele. Mas eu não sabia disso até
aquele momento, quando meus olhos traidores perceberam
exatamente todas as coisas que não deviam.
que ela estava usando. Claro, além do meu robe azul-marinho sobre
seus ombros delicados e que chegava a arrastar-se no chão. Ela
não havia fechado esse segundo, o que levou meu olhar,
— Preciso me levantar.
As palavras saíram mais rudes do que eu presumi quando
finalmente consegui liberá-las. Roxanne recuou de imediato, como
parte que ficou presa entre uma tecla branca e outra preta do piano.
— Vou levar a menina para o quarto — anunciei.
E não esperei por qualquer resposta, antes de começar a
ROX
Desde que eu havia acordado, o restante da tarde tinha
passado como se fosse um filme absurdo, enquanto minha cabeça
voltava para o lugar e tentava assimilar a nova realidade em que eu
me encontrava.
— Sam encontrou você no banheiro, e parecia estar
apelação.”
Foram aquelas palavras, ditas em um tom tão suave, que
me acordaram. Demorei um pouco para convencer meu corpo, um
tanto quanto fraco, a se colocar de pé e sair do quarto. A essa
altura, um som de piano vinha das portas duplas calorosas no final
do corredor.
que ele estava mais à vontade quando passou a mão pelos cabelos
ainda úmidos do banho e me analisou rapidamente. Contudo ainda
havia um pouco de urgência em seus modos, como no jeito que
tamborilava os dedos no encosto da poltrona.
Hora de dar um pouco de paz ao homem, Roxanne.
— Não preciso me sentar — declarei.
Eu tive tempo suficiente para pensar, naquela tarde. As
coisas não podiam continuar como estavam. Eu não podia continuar
causando uma situação constrangedora atrás da outra.
De onde estava, ele me analisou. Segundos depois,
suspirou.
— Deveria parar de tentar fazer isso, senhorita Rivera.
Franzi o cenho.
— De mentir — prosseguiu. — A senhorita é péssima nisso.
Daqui onde estou, posso ver que um dos seus joelhos está
tremendo. Sei que está custoso ficar de pé.
Era verdade. Meus músculos tinham sentido a doença e a
falta de uso da última semana, mas esse não era o ponto.
— Ir embora?
— Irei embora agora mesmo. Lia, sua governanta, me
contou tudo o que aconteceu. O quanto estive doente nos últimos
dias… — Respirei fundo antes de prosseguir. — Não tenho dinheiro
ainda para pagar por toda a sua generosidade com todas as
despesas médicas que teve comigo e com tudo que gastou María.
SAM
sentimentos de mim.
Senti-me mal de imediato. E, por um milésimo de segundo,
ponte do nariz:
— Minha intenção é que possamos conversar, senhorita
com uma recém-nascida não muda nada. Você não tem qualquer
saber para onde iria com a filha. Ali, sob meu teto, entretanto,
parecia mais abatida. Eu precisava encontrar uma forma de mudar a
situação.
sou confiável.
— Senhor Mead, o senhor não é o problema — emitiu
nada!
— Então quem é o problema?
— Eu sou o problema — confessou, e seus olhos
anuviaram-se novamente. — Minha filha não está segura graças a
mim! Eu não tive uma vida fácil, mas isso não justifica as escolhas
terríveis que fiz… Eu a coloquei em risco e agora eu… sou eu quem
de dizer.
Não é o que me parece. Não pelo jeito que se preocupa com
sua filha.
Mas eu não disse o que pensei, porque, na verdade, sequer
queria ter pensado naquilo voluntariamente.
— Então estamos quites, porque eu também não sou um
bom homem.
Isso foi o suficiente para atrair sua atenção de volta.
tensão:
— Ah, não se preocupe. Ser um advogado de divórcios me
insistiu.
— A senhorita não aceita um não como resposta.
baixinho.
Sorri. Simplesmente fui incapaz de evitar. Para a minha
Pigarreei.
Que idiotice você está fazendo agora, Samuel Mead?
senhorita.
Roxanne começou a se afastar.
estudou.
— E por quê?
Mas não consigo entender… não consigo entender por que o senhor
uma estrangeira e sua filha seria minha única boa ação em uma
vida de pecados. Mas isso não seria verdade. Eu nunca liguei para
boas ações. Não me importava em ajudar pessoas mais do que a
ao choro de uma menininha noite após noite. Era tarde demais para
Assenti.
— Ótimo — finalizei.
— Carajo!
Ri.
— Agora isso foi um palavrão, e o meu espanhol parou no
secundário.
Mas Roxanne continuou séria.
— Não tenho dinheiro para isso — revelou, sincera. — Nem
tarde.
— Não se preocupe. Farei isso pro bono. Sem custos. —
— Certo.
coisa, mas nenhum som saiu. Em vez disso, ela voltou a baixar o
rosto, o que me fez imitar seu movimento e perceber que nossas
mãos ainda estavam entrelaçadas.
algum.
Sebastian Knighton, entretanto, era capaz de encontrar uma
agulha no palheiro. Sabia fazer as perguntas certas às pessoas
mais erradas e podres. Ele conhecia cada sujeira embaixo do tapete
como Billie Colton, uma ex-viciada com três passagens pela polícia.
Mas claro, o homem tinha de estar fora do país. E eu tinha que ter
pedido justamente para Peter, o curioso, verificar algo assim.
eu me interessar por Rox, que está cada dia melhor, mas que você
já sabe disso, uma vez que a cobre gentilmente na poltrona todas as
manhãs.
— Peter…
— Essa garota tem o tipo de nome de quem faz sexo
frente, ou eu juro que além da minha amizade, você também vai ter
que se despedir de alguns dentes.
Peter engoliu em seco, e seus olhos me levaram a sério de
imediato.
— Tá, cara. Me desculpe — pronunciou, meio rouco.
Soltei-o, satisfeito, mesmo com parte de meus pensamentos
que poderia ser ainda mais arriscado. Decidi protegê-lo, assim como
vinha fazendo com Roxanne, não revelando muito a respeito de
como o seu caso poderia se desenrolar na justiça americana. Ela
— Foi a primeira coisa que pensei, mas eles vão exigir uma
nova entrevista. O que não será bom para uma mulher sem renda e
endereço fixo. Essa maldita política de imigração não perdoa nada!
— O quê?
Peter ficou confuso, mas eu não me importei. Agarrei as
chaves do Tesla, agora apto com pneus novos de neve, e passei por
executar o serviço.
— Senhor? — Mark se levantou com os olhos arregalados.
ROX
segura e bem protegida do frio que caía lá fora, mas era difícil
aceitar que nada daquilo tinha vindo de mim. Nenhuma das peças
— Todas essas coisas… isso não é nada para Sam. Ele tem
tanto dinheiro que chega a ser uma coisa indecente, e se ele não
gastar fazendo algo bom, com certeza São Pedro não vai deixá-lo
com Sam.
Mas claro, não era tão simples assim. Em toda a minha vida,
à rotina. Era visível o fato de que ele estava insatisfeito, uma vez
dominá-la, havia me criado para ser uma mulher forte e a agir por
saudades dela. Lia vinha dormindo naquela casa, por minha causa,
nas últimas semanas. Ela havia me confidenciado que não dormia
no trabalho, mas que sabia como era ser imigrante em um país
na testa. Pensei que ela ia se afastar e sair, mas ela parou e voltou
a apertar a bolsa, um tanto nervosa.
— Posso pedir um favor?
Eu só tinha sido uma dificuldade até então, por isso
quase não ver Sam, eu tinha observado o cuidado dela com cada
refeição e com cada peça de roupa dele. Entretanto eu não sabia se
ele apreciaria a substituição.
bem cedinho.
que custar.
Sorri para ela e ganhei alguma agitação de suas perninhas
minúsculas.
SAM
atirei na cama.
Não. Meus avanços deveriam ser declarados como
para ajudá-la.
a água.
suporte. Lia deve ter se esquecido, o que não era incomum, devido
o carpete do qual Lia tinha tantos ciúmes, para evitar que ela
sacrificasse as minhas bolas, eu teria olhado para frente antes do
demais.
voaram, mas depois foram para frente por puro instinto de agarrar e
— Oh, Deus!
verificando.
ser por isso que está evitando ficar na sua própria casa, senhor
Mead. Eu nem devia ter entrado no seu quarto, mas sua governanta
me pediu para deixar leite e biscoitos como se fosse Natal, e eu vim
fazer isso. Não era meu plano cair em cima do senhor, ainda mais
estando desnudo…
Escutei uma risada tranquila às minhas costas.
as donzelas?
Eu quis morrer. Desejei que o chão abrisse sob os meus pés
e me engolisse para me salvar daquela humilhação.
— Talvez.
Cale a boca. Cale a boca, Roxanne!
Por que eu ainda não tinha saído dali? Por que eu
virei e o olhei. Ele estava como eu, com um grande sorriso no rosto,
uma expressão totalmente destoante das que eu tinha visto desde
que cheguei ali.
Aos poucos, ambos nos acalmamos, mas o contato visual
permaneceu.
— Bem, não foi tão ruim, agora que tudo terminou em
ergueu a bandeja:
— Não se preocupe, eu levo isso para a biblioteca e cuido
da bagunça no chão.
SAM
biblioteca, mas não soube mais o que fazer depois disso. Era como
se meu cérebro aguçado não funcionasse mais em sua perfeita
forma. Ao menos, não na frente de Roxanne.
casa. Era o certo. Estava na hora de ela voltar para a família, depois
daquelas semanas. Mas sem minha governanta não havia mais
formas de evitar Roxanne. Eu não poderia deixá-la noites a fio
— Posso segurá-la?
A surpresa ficou clara no olhar dela.
Eu vinha evitando pegar María no colo desde que Roxanne
Assenti.
— Tenho meu próprio método para cólicas. Pelo menos
funcionou na primeira semana e pode aliviar a dor da menina.
— Ele mesmo.
Roxanne ficou confusa por alguns instantes, mas depois
caminhou até lá na minha frente. Ela forrou o piano com o cobertor
Roxanne se alargaram.
— Sim. E se for uma noite boa, teremos, ao menos, mais
quatro. Pelo menos é o que diz no manual indiano de Shantala para
você.
Percebi que Roxanne anuiu com a cabeça, mas eu não
consegui afastar meu olhar do bebê. A pequena María, por reflexo
— É claro.
María veio para os meus braços ainda sorrindo. Roxanne
— P!NK, “Perfect”.
SAM
Contudo não havia brisa ou frio, pelo contrário, havia calor. Forte e
demais, Sammi.
delas.
Uma das mãos dela alcançou meu peito por baixo do robe, e
eu tentei me mover.
à loucura.
Ela riu.
— Ah, Roxanne…
— Eu estou…
Mas um acesso de tosse me interrompeu e demonstrou o
comigo.
Sorri.
aquele.
—Sem dúvida, vai estar longe de poder ganhar a vida agora
se mentir para mim, Samuel Mead — proferiu praticamente uma
ameaça.
Ri.
— Parece que você voltou.
Ela piscou, mas seus dedos continuaram o movimento
— Sim.
fazer?
para alguém. Uma vez na vida não ter que tomar conta de si
mesmo.
me atrevi a rir.
— Acho que já recebi propostas mais carinhosas do que
fazer uma pergunta tão ridícula. Sem dúvida, não tinha nada a ver
com o sentimento tolo, possessivo e sem razão que parecia
revelou simplesmente.
Foi uma informação e tanto, visto que nas últimas semanas
divaguei.
— Sei que não parece, visto que quando nos conhecemos
Ela negou.
foi:
— Acho que consigo chegar ao quarto.
mas gostava cada vez mais do som dele na voz doce e irritada de
Roxanne.
Abri os olhos.
Roxanne colocou o comprimido com delicadeza na minha
Assenti.
— Eu gosto.
Pareceu tão suave quanto os sons de flocos de neve contra
desliguei do mundo.
ROX
minhas mãos enquanto ele pegava no sono com a minha filha nos
braços, mais cedo.
SAM
— María.
Mexi-me na cama, e todos os meus músculos reclamaram
pelo esforço inesperado.
autenticidade.
Por isso, em vez de me mover e anunciar a minha presença,
senti-me impelido a continuar observando, ancorado ao limiar da
porta.
— Temos que garantir que ele fique bem, mi hija. Não posso
do que viu.
— Você não devia estar de pé — acusou. — E nem
praticamente sem roupa.
e quase cair.
Roxanne se enfiou debaixo de mim e me abraçou. Não tive
escolha, senão abraçá-la de volta.
correta antes.
Com o semblante levemente aborrecido, ela me levou para
antes.
— Você não precisa fazer isso, Sam. Está se sentindo mal.
Neguei.
com a eletricidade?
— Um apagão nessa parte da cidade, por causa da nevasca
atrás.
— A melhor forma de se proteger contra um medo é
enfrentá-lo — concordei, procurando continuar a conversa.
da poltrona, nem mesmo o sorriso que arrisquei fez com que seu
rosto delicado diminuísse a seriedade.
— Sam, ninguém no mundo faria o que você fez por nós,
— P!NK, “Run”.
ROX
María.
A forma como ele usou o pronome possessivo antes do
nome da minha filha foi a única parte sem ira em sua fala. Até a
segurança.
abrigo? Não lhe dei tudo o que precisava para cuidar de si mesma e
— Eu jamais o vi assim.
Contudo não o convenci disso. A mágoa em seu rosto era
visível.
admitir agora que não tem sido fácil. Eu tenho estudado dia e noite,
— Uma delas.
cuidadosa. O que fez meu coração bater mais forte e me fez dar um
passo na direção dele para recuperar a distância entre nós.
King. De costas nuas para mim e com as mãos enfiadas nos bolsos
da calça escura de moletom.
canalha.
— Você está enganada outra vez.
defender, mas garanto que posso fazer isso. Seja lá o que estiver lá
fora, na escuridão, não vou permitir que atinja você nem a bebê. Só
que havia escolhido. De onde Samuel Mead havia saído e por que
Deus havia permitido que ele se tornasse um anjo na minha vida?
— Eu confio em você, Sam.
— De verdade? — Ele recolheu uma lágrima da minha
bochecha.
— Do fundo do coração. — Coloquei minha mão sobre a
dele no meu rosto. — Mas isso não muda o fato de que preciso
contar sobre o meu passado. Se você escolher que eu continue aqui
o justo.
— Não vou abandoná-la, Rox. — Ele colocou meu rosto
impedir.
Não obstante, eu simplesmente não quis pensar mais.
SAM
Deus ajudasse um pobre diabo como eu, porque eu quis ter direito a
perturbava. Com o meu beijo, eu quis ter o poder de tirar dos seus
mim recentemente.
E eu consegui uma brechinha. A sensação foi arrebatadora
como ela se afastou rapidamente que fez meu peito pesar. Foi a
forma como ela me olhou, e assumindo toda a responsabilidade,
murmurou:
Que belo protetor você, Sam. Está mais para um cruel filho
da mãe.
Porra.
Cerrei os punhos, ficando nervoso comigo mesmo.
abraçou.
— Ah, querido… Não fique assim, Sam. Por Deus, meu
menino.
ROX
Que me fez dar um pai abominável, que agora nos caçava, para a
minha filha.
Você tem que ter aprendido a lição, Roxanne. Tem que ter
aprendido…
Porque se eu não tivesse aprendido, o que isso dizia sobre
casa.
Não. A última parte eu só devia ao dono da cobertura.
— Eu, por outro lado — afirmou Lia, sentando-se no braço
Não havia por que esconder algo que ela presenciara e nem
razões para não ser direta com a única amiga que fiz até aqui.
— Eu não devia ter feito o que fiz. Não devia ter beijado o
seu chefe.
Ela oscilou um pouco na poltrona.
— Foi você quem o beijou?
Anuí, mesmo sem conseguir olhá-la nos olhos.
como ele. Você e María são pequeninas, mas sem dúvida estão
levando a melhor no coração do meu menino.
Essa última frase me pegou de surpresa e me fez deixar de
boutique de luxo, certa vez. Uma moça americana roubou uma saia,
mas na última hora deve ter ficado nervosa demais para sair com o
que furtou e a jogou dentro da minha bolsa. Claro que o segurança
advogado.
Oh, meu Deus…
Ela anuiu.
— Sim. Ninguém o chamava de Satanás nos jornais ainda.
— Alguém disse isso sobre ele? — Não pude controlar a
indenização para mim. Ele não ficou com um centavo. Disse que eu
deveria investir em algo que quisesse. Acabei comprando a casa
que abrigou meu marido e meus filhos por anos. O lar que amo e
Só não sabia o quanto iria piorar quando ela partisse dessa vida e
me deixasse sozinha com Javier…
— Eu entendo.
— Então você pode compreender que a experiência de Sam
com uma família de verdade não é das melhores. E famílias moldam
em muito os seres humanos que nos tornamos.
nós duas.
— Tudo que Sam quer, com você e María, é uma chance de
fazer diferente. Diferente de todo o abandono que ele sofreu. — Lia
qualquer coisa do tipo. Ele tem sido um anjo para mim e para a
minha filha.
— Então qual é o problema, querida?
em palavras audíveis.
A governanta de Sam ficou em silêncio por algum tempo.
Nós duas ficamos quietas, olhando María, que parecia ter algum
mesma.
E então ela se curvou e beijou meu rosto.
que sentia.
Mas quando peguei María nos braços e segui pelo corredor,
SAM
não queria perder aquilo. Não queria macular o gosto da mulher que
me tocou. Talvez fosse estúpido o suficiente para não beijar
taça.
Hannah sorriu de um jeito que a fez parecer uma garotinha.
saber quem é essa garota tão especial que conseguiu esse milagre.
uma bebê.
Minha pardalzinha.
nas fraldas. Eu não sabia disso até segurá-la nos braços quando
nasceu, mas eu gosto. — Senti que sorria. — Ao menos da minha
pequena pardal. Ela me faz sentir que há uma razão bem melhor
para existir e que pode haver gentileza mesmo em uma pequena
pela qual vale a pena lutar. Parece que você conseguiu enxergar a
sua.
— Tenho medo de não ser bom nisso, Hannah. Não tenho
correto, Sam.
— Mesmo se eu já tiver feito algo errado?
— Sim — assentiu com um sorriso. — Por Deus, Lúcifer,
arrependimento.
Uma lágrima correu pela bochecha dela. E pela primeira
vou me trocar.
E Hannah se soltou e se afastou.
Engoli um pouco mais de vinho antes de me levantar e ir até
a janela. Eu não havia me comportado bem, mas não podia deixar
— Sam?
que o possui. Voei até Tijuana para saber, mas preciso informá-lo de
que, apesar de ter tido um início de vida sofrido, sua moça não é
uma mulher qualquer. — O detetive suspirou pesado do outro lado
seguindo pelo corredor e passei pelo quarto de Lia. Ela não tinha
ficado para dormir. Voltara para a casa, como na noite anterior.
Quando cheguei ao quarto que ocupava, fui recebida por uma lufada
de vento cortante que denunciou que eu havia cometido o erro de
a dona do homem?
Balancei a cabeça.
E me arrependi.
Sam estava sério como nunca. Não. Era mais do que isso.
— Tudo bem.
— Eu irei tomar um banho. — Ele observou o relógio de
estava vestido com o que parecia ser um suéter de Natal. Era preto
— María?
Baixei os olhos para o local que seu olhar indicava e
encontrei uma mancha nada incomum. Exceto que essa, além de
maior do que a maioria, ainda estava um tanto fresca.
Fiquei constrangida.
Eu devia estar fedendo a gorfo.
por pena. Olhar meu reflexo no vidro da janela atrás dele também
não ajudou. A vida atribulada, desde que María nasceu, tinha me
feito esquecer completamente de mim mesma.
Olhei-o, assustada.
O ar foi sugado de mim quando a compreensão me atingiu
SAM
parecia ter planejado cada palavra do que diria ali. — Eu não disse
por tempo demais, então é difícil me abrir. Mesmo para alguém que
Concordei.
— Não.
verdade era que eu não tinha. O que havia dentro de mim era um
opinião que tenho sobre a mulher que conheço de verdade. Sei que
não é o que dizem. — Estiquei a minha mão e segurei a sua sobre o
por vir.
filha.
— Não vou me casar com você — disse Roxanne, como se
plano melhor.
Ela ia discutir de novo, o que não me faria mudar de ideia,
mas tomaria mais tempo debaixo daquele céu congelante. Eu ainda
— Em casa.
Não dei espaço para ela se contrapor outra vez e comecei a
dúvida, a filha de vocês tem muita sorte. Bem, por falar nisso, como
vai aquela princesinha?
— Ela vai muito bem. Sam a mima muito.
cresce.
— Como pai, prometo fazer o meu melhor pelo futuro seguro
dela.
senhor Mead, aqui entre nós, é a Genevieve que mexe com esse
tipo de burocracia. Ela é um pouquinho preguiçosa, mas acho que
posso fazer com que consiga pôr as mãos nos papéis de sua
escondida na manga.
A senhora Mills gargalhou, mas depois acenou para que nós
a seguíssemos.
— Como ela pode ter acreditado tão fácil nas coisas que
você disse?
quisermos.
casar era outra bem diferente. Aquele casamento seria uma questão
até aceitou o fato de que gosta de bebês. De que gosta muito, aliás.
premeditado.
— Vamos.
Foi a forma como pude encerrar aquela descoberta. Ao
menos no momento.
ROX
A última coisa que eu esperava era apoio.
para casa.
— É necessária a apresentação dos documentos pessoais.
uma roupa da mesma cor que quase a fundia com o móvel. Ela não
de grau.
— O senhor é o pai?
está.
Ele pareceu compreender.
fiz uma nova escolha. Torci para que essa não fosse um equívoco,
como diziam as batidas desconcertantes do meu coração.
— Obrigada — agradeci.
Sam.
Para a minha surpresa, eu o senti se abaixar junto a mim.
Suas mãos buscaram e tomaram as minhas, recolhidas no meu
colo.
— Quando voltarmos para casa, eu quero ouvir tudo, Rox.
Senti uma lágrima descer pela minha bochecha, e meneei a
cabeça.
— Eu vou contar tudo o que você quiser saber. É o seu
direito.
Ele negou.
— Não quero ouvir porque tenho direito. Quero ouvir para
que essa dor a deixe. E então quero confortá-la. Com um chá
Vou tomar cuidado para que não seja nada do tipo que passe para o
leite e provoque cólicas em María depois.
E com essa declaração e um sorriso, ele se afastou. Beijou
ter.
Aparentemente, Samuel Mead era o único que havia
porém, ele ainda insiste. Diz que está na cidade e que sabe que ela
está por aqui. É triste demais ver como os parentes ficam desolados
quando alguém desaparece...
SAM
sobre a moça.”
casa?
— Foda-se. Não importa mais. — Segurei a mão dela e a
compreender que preciso da suíte que uso no Gran Lee Hotel, e ela
mas desta vez apenas assentiu e fez o que pedi. Sua mão
celular.
telefone.
— Chegaremos em Baltimore em uma hora — avisei. —
— Eu… Sam, meu Deus, eu sinto muito pela sua casa. Você
perdeu tudo…
agitada, mas agora ela já está mais calma. Vai acabar cedendo e
dormindo.
rosto delicado.
— Você não precisa dizer nada, se não estiver pronta.
governanta.
nunca, mas eu notei que suas mãos estavam trêmulas antes que
Então, quando pensei que ela não teria forças para falar, Roxanne
me surpreendeu, procurando o meu olhar.
narcotraficantes de Tijuana.
ROX
sua casa para mim e tinha sido punido com uma terrível destruição.
Até mesmo Lia, que havia cuidado de mim e da minha filha, poderia
que fez. Então eu passei a viver nas ruas, sozinha. Descobri cedo
que abrigos embaixo das pontes não eram seguros para uma
garota, havia muitos homens como o meu padrasto por lá. Por isso,
encontrei proteção em uma rua de galpões da cidade, com algumas
meninas que tinham seus pontos de trabalho ali. Estar com outras
homens, como elas. Eu não quis. Era jovem, virgem, e tudo que o
sexo representava na época para mim era uma violação que poderia
ser brutal.
Sam…
— Estou ouvindo — disse ele depois de engolir o uísque
Roxanne.
Mas a mão dele se fechou num punho tenso sobre a
não tem nada para comer, um pedaço de pão muda tudo. Se ele
tivesse me oferecido dinheiro, eu teria fugido. Mas era pão. Ele não
conseguir fitá-lo.
dormir no lugar depois de limpá-lo, o que para mim foi ótimo, já que
a outra opção era continuar passando as noites em um abrigo de
papelão.
Quando voltei o olhar para Sam, ele finalmente me olhou. A
isso. Ela se desligou de mim depois. Sei que não é uma justificativa
para o que fiz, mas eu já tinha vivido boa parte da minha vida sem
ruim.
— Eu aceitei entrar para a família. Mesmo depois que eles
me contaram quem eram de verdade. Permaneci, sabendo dos
frio, e era tão bom me sentir protegida. Não ter que me preocupar
com a fome ou com a chance de ser estuprada todas as noites. Mas
descobriu sobre você. Não acreditei quando ele me disse que você
era de origem humilde, mas que também era perigosa, porque
pertencia a uma das famílias mais poderosas do narcotráfico.
me roubaram de mim.
— Não, Roxanne. Você não é dele. Você não pertence a ele
e nem a ninguém. Nenhum homem tem o direito de feri-la ou de
— Samuel...
— Eu jurei jamais voltar a colocar os pés lá. E com a
separação do sobrenome que fiz anos atrás, ninguém imaginará,
Lia. Roxanne e María estarão completamente seguras.
Lia ficou lívida.
— O quê? Mas você não pode... Deus, Sam! Você está
braços.
— Fique com ela e reúnam malas com o que precisam para
— PINK, “Run”.
SAM
contraía seu semblante nas noites em que velei seu sono, agora
também fiz com María, acabei erguendo a mão para tocar suas
detetive havia descoberto, sobre uma garota que havia sido adotada
Roxanne vivera, perto do que ela havia enfrentado nos últimos anos,
vez pela maçã do seu rosto elegante, mas justo nesse movimento,
medo.
Ela ficou em silêncio por alguns instantes. Talvez para me
Pelo contrário.
Era a vida real. Milagros devia estar revirando toda
gosto adorável.
Um gosto que eu ansiava provar mais uma vez.
E que ficou mais difícil de negar a mim mesmo quando ela
voltou a acariciar o meu queixo.
isso.
— Tive uma boa visão da sua namorada o beijando na
boca…
— Não.
importaria.
Fiquei confuso.
— Roxanne…
afundar. — Eu sei que depois das escolhas que fiz, da vida boa e
rica que vivi no clã, mas às custas do sangue de outras pessoas,
isso não seria justo. Uma mulher como eu não merece um homem
— Sam…
você, está enganada. Você pode ter tomado caminhos ruins, porque
a vida não lhe deu oportunidades melhores, mas eu, não. Eu fiz
conclusão rápida.
fez rir:
Porque estou cansado de vê-la sofrer. Quero lhe dar motivos para
ROX
nobre.
Mas era.
Diferente do meu, o beijo de Sam começou com toques
cuidadosos. Os olhos ainda nos meus nas vezes breves em que nos
suas carícias, e eu o fiz, até que de repente não havia mais nada
— Sammi…
A emoção nova ardendo em meu peito me desnorteava.
— Estou aqui. — Ele me guiou novamente, espalhando
compartilhávamos.
Foi sublime.
Quando Sam se afastou para que recuperássemos o fôlego,
meus olhos pareciam ver coisas pela primeira vez. Assim como os
meus sentidos.
— Vamos devagar com isso, Roxanne — pediu enquanto
você.
— Não significa, Sam. — E por mais surpreendente que
fosse, eu tinha absoluta certeza de cada palavra.
— Fico feliz que não, mas ainda sei que precisa de tempo.
— Ele entrelaçou nossos dedos. — É perfeitamente compreensível
Assenti.
— Você tem razão. Eu preciso me sentir melhor com as
minhas próprias emoções e também preciso que María esteja em
segurança antes de tudo. Preciso pôr a minha vida no lugar.
não tive tempo para falar qualquer coisa, porque María começou a
chorar do nosso lado, exigindo a sua parcela de atenção.
— Acho que alguém já quer entrar para o nosso “nós” —
María.
— O avião que fretei seguiu os parâmetros sigilosos que
solicitei.
Balancei María. Mais por nervosismo do que por
necessidade, já que ela estava calma, bebendo seu leite e fitando
Sam com atenção. Ela se esquecia da mãe com ele por perto.
— Não vou me perdoar se tiver colocado toda a família dela
em risco.
nome. Mal falo com o meu pai desde os meus dezoito anos e
dispensei o sobrenome dos Huntington quando me tornei advogado.
Por isso nem a mídia irá especular sobre o Texas e ninguém vai se
situação perigosa…
— Sam… — Toquei o braço dele.
— Não se preocupe, Roxanne. Ele concordou em nos
cabelos e olhos escuros. Mas tem que sorrir menos, para se parecer
mais comigo.
Senti meus olhos se encherem de água.
era mais do que isso. Ele poderia ter bons sentimentos por mim,
mas pela minha filha eles eram ainda maiores. E María sentia isso.
Talvez já o amasse, mesmo com a pouca consciência que tinha.
SAM
realidade indiferente.
Merda.
ele pedira tantas vezes antes nos últimos tempos. Não havia
esperado sequer por sua reação, após dizer sim. Se tivesse, talvez
difícil.
falar.
Encarei-o.
Eu sabia que não podia ser verdade. Nem sua fala nem
suas emoções. Entretanto, foi difícil resistir à tentação de me apegar
a qualquer uma delas, mesmo sendo um homem adulto de
raciocínio lógico.
— Eu li na coluna social, de um jornal de Washington, que
vez que não houve tempo para executá-la antes da nossa fuga
urgente. Como os jornais poderiam estar divulgando qualquer
história? Apesar de todas essas dúvidas, o que me ouvi
perguntando a Wallace foi outra coisa:
No entanto, meu pai já falava por cima, numa voz que traduzia
animação e receio:
ontem.
— Não, Wallace.
Roxanne e María, para mantê-las a salvo ali. Mas não poderia fingir
aconteceria. — Minha voz saiu dura, mas não havia como contornar
estabilidade.
— Para que eu o conhecesse — explicou e se aproximou
Huntington.
Ele balançou a cabeça. O olhar triste, mas resignado.
— Sei que não fui o pai que você merecia, Samuel. Eu errei
muito com você, garoto. Errei por anos, por isso entendo. Estou
realmente feliz que, apesar de tudo, você tenha vindo até aqui e que
Roxanne. — Neguei com a cabeça, aflito. — Não sei por que viemos
cresci. A dor que isso causou estava de volta, mesmo após anos de
braços do meu pai e ter certeza de que ele não a magoaria como
fez comigo?
— Não vou deixá-lo magoá-la — sussurrei para Roxanne.
— Eu prometo.
apertou de volta.
chocalho que havia sido meu com lágrimas gordas nos olhos.
do que o inverno que a congelava pelo lado de fora. Fiz isso por
elas, e foi quando eu soube de imediato que, por elas, não haveria
coisa alguma no mundo que eu não enfrentasse.
ROX
forçado a vir?
A casa de fazenda, branca como a neve ao redor dela, era
mim antes, mas era o que ele estava fazendo com coragem naquele
momento.
Nunca deixaria de soar como um erro ter vindo para a
avistava suas olheiras profundas. Meu coração doía por vê-lo tão
triste e abatido, no entanto, eu não tinha coragem de bater na antiga
porta de ligação entre nossos quartos para falar com ele.
envolvidos.
Só que, mesmo grave, isso não era desculpa. Eu precisava
encontrar algo que pudesse fazer para ajudar. Precisava pensar até
achar qualquer coisa que ajudasse a resgatar aquele homem que
pedia por ajuda, noite após noite.
tomar.
— Senhor Huntington — comecei e coloquei a xícara de chá
de camomila sobre a bandeja antes de encará-lo. — Preciso ser
Mas não é só nisso que meu filho deixou de acreditar. Por minha
causa, meu garoto deixou de acreditar em família e em qualquer
outra coisa boa que pudesse vir a ter nessa vida.
— Senhor Huntington…
— Wallace, por favor. Já faz três dias que nos sentamos
nesta sala com conversas avulsas sobre o mau tempo, como
silêncios inúteis.
Foi o suficiente para me dar coragem.
— O que aconteceu de fato com a mãe de Sam? Por que
Foi mais fácil dizer que ela só estava interessada no dinheiro. Mas
eu era jovem, rico e mimado. Não sabia cuidar de uma mulher como
marido quando nos casamos. Uma prova disso é que ela sempre
— Mas hoje percebo que não era culpa dela ser tão arredia.
Wilhelmina só não tinha o desejo de ser mãe. Eu queria muito ser
pai e não respeitei isso, então a feri. E pessoas feridas, mesmo não
sendo más, podem fazer coisas terríveis.
Pensei no que Sam me disse sobre ser um advogado
Wallace suspirou.
— E foi o que fiz. Wilhelmina quis se vingar de mim e criou
um escândalo para o nosso divórcio na época. O acordo mais caro
abandonei também.
O homem diante de mim começou a derramar lágrimas.
Estendi minha outra mão para consolá-lo, antes de perceber
nas minhas vistas. Sempre ouvindo calado a dor que não consegui
resolver. E então, na idade certa, ele quis ir embora para longe. Eu o
mandei. Deixei que fosse embora com raiva. Deixei que nutrisse
se recuperar de uma tontura forte. Então andou pela sala. Foi até a
lareira e a atiçou. Quando terminou, ele se levantou, mas não se
virou para mim. — Nos últimos dois anos, eu percebi que havia
perdido tempo demais na minha covardia silenciosa. Percebi que
tinha que buscar o perdão do meu filho. Insisti com ligações diárias
que ele não atendia. Pensei ter vencido quando ele disse que viria.
Quando ele me ligou, nessa última semana, eu acreditei que Deus
estivesse me dando uma chance de me redimir por todos esses
anos. Mas não era isso. E por que seria? Não se conserta trinta
anos de abandono com uma reunião de família, não é? Ele nunca
teve boas lembranças nem recebeu carinho nesta casa, para gostar
de estar aqui.
Eu não sabia o que dizer. Não agora que entendia todo o
peso da situação.
SAM
da minha reprimenda.
— Compreendo o risco, Mead. E você mesmo está se
Respirei fundo.
Merda.
sentir raiva outra vez. Eu vinha ligando e sendo recusado por seus
México.
Roxanne e María?
Silêncio.
— E se estiver?
Senti meu punho se fechar.
evite que sua mulher saia. Fique atento a tudo que o cerca e
continue mantendo sua presença em sigilo. Lembre-se de que
homens como Milagros têm olhos em todos os lugares, e o seu
finalizou a ligação.
Ao menos ele estava vindo para cá.
Ainda assim, soltei o telefone na mesa sem qualquer
do colegial.
Mas eu não podia continuar da mesma forma.
Você as trouxe até aqui pela segurança delas, e não para se
tornar mais um problema.
Levantei-me.
Sebastian tinha razão. Eu precisava dormir um pouco.
me deitar.
Aceitei isso também e baixei o vidro para sair do escritório.
achar meu quarto, apesar de todas as portas, que deviam ter sido a
perturbação séria.
olhou.
Por algum motivo, meus pés estagnaram no chão diante do
Intenso.
e depois.
ROX
rosto forte.
— Você poderia ter me dito o quanto isso seria difícil para
que seria comum para qualquer pessoa que está ficando doente de
tristeza. Fiquei aliviada por isso. Por ele ainda permitir minha
aproximação.
— Não tínhamos tempo — revelou. — Além disso, não é tão
difícil.
por algum tempo, mas não podia mais suportar vê-lo preso em si
mesmo.
— Eu perguntei. Você mal falava comigo há três dias, então
Furioso.
tudo ficaria bem. Fazendo tudo ficar bem. Era hora de retribuir o
favor.
— Eu deixei María com seu pai — repeti, convicta.
— Sam…
sem força alguma, quase com um toque de desespero que fez meu
peito apertar. — É você quem precisa tomar cuidado, não eu! Eu
vocês. Por favor, acredite em mim. Sei que agora você conhece
minha história, mas preciso que alguém acredite que posso ser
melhor.
María nascer. Eu segurei sua mão e cuidei dela. Eu… — Ele parecia
perdido, e eu senti tudo dentro de mim voltar a desabrochar. — Sei
que estamos fingindo aqui por motivos de segurança. Sei que ela
não se parece comigo de verdade. Também sei que não sou o pai
de sangue de María e que não tive um bom exemplo, mas…
Você não precisou de exemplo algum para ser bom para ela. Ela
não poderia ter um pai melhor do que você, e eu sei que ela já o
ama. Muito.
A mão dele amparou a minha bochecha, e seu polegar
recolheu uma lágrima minha.
— E você?
— O quê?
— O que sente por mim, Roxanne?
segunda parte. — Então queria que me deixasse fazer isso por você
esta noite.
Sorri.
A pequena declaração dele só me deixou mais certa do meu
intuito ao ir até ali. Pela primeira vez em muito tempo, eu podia
escolher por mim mesma. Podia agir acima das preocupações. Das
perseguições, do medo e até mesmo do risco de morte iminente.
Porque tinha uma razão clara para fazê-lo. E eu só tinha conseguido
escuridão.
Eu queria ser o mesmo para ele.
— Me permita tirar essa tristeza de você, assim como você
hospital.
— Quero cuidar de você esta noite. Dar a você boas
lembranças. — Apertei as mãos uma na outra, torcendo para eu ser
SAM
— Roxanne…
escuridão.
— Então qual é?
Oh, Deus.
males, Roxanne. Ainda não está pronta para uma intimidade assim.
— É o contrário. Sempre estive pronta para você, Sam —
comigo.
— Sabe o quê? — insistiu.
mim.
Roxanne segurou minha mão. Ela tremia um pouco quando
— Sim — confessou.
Deixei o seio pesado com grande custo e segurei seu rosto.
Já que as confissões estavam em sessão, acreditei que também
deveria colocar as minhas na mesa.
você merece, porém não sou. Você já deve ter percebido como falho
Tudo com o qual venho sonhando. E não sei fazer amor, portanto,
ROX
— Ah, Roxanne…
era uma carícia para consumir, para marcar. E Sam não foi o único
proibi descobrir.
Sam também não perdeu tempo. Suas mãos foram rápidas
— Sam…
— Porra! Você não pode fazer isso comigo, Rox. Não pode
Gemi e me arrepiei.
— Não pude evitar — sussurrei contra os seus lábios.
tocar.
— Me deixa ainda mais duro saber que seu desejo por mim
— O quê?
— Quero que seja inesquecível para nós dois — disse,
paciente.
— Não entendi.
— Você disse que eu poderia tê-la do jeito que preciso,
para mim.
coloquei meus olhos em você. Quero que saiba de tudo isso. Quero
um pouco.
— Mais tarde?
— Ah, Sam…
Ele estava me contando mais coisas com aquelas palavras
e com aquele olhar desviado. Porém, ele roubou qualquer
E conseguiu.
Minha mente se encheu dele. Da força do seu beijo. Do seu
cheiro e das batidas fortes do seu coração contra o meu peito.
Sam sorriu.
— O que eu disse fica para depois. Não precisamos
conversar agora. Nossos corpos é que precisam. — Ele assoprou
meu mamilo direito, que se arrepiou. — É isso que você veio me
oferecer, não é? Seu carinho.
Assenti.
para sempre.
Sam tinha razão.
A conversa teria que ficar para depois. Eu poderia cometer
um erro terrível diante daquele olhar bonito dele para mim, e não
queria fazê-lo sentir-se obrigado a nada, depois que tudo aquilo
entre nós acabasse.
Sam Mead.
— Você é a esposa de um advogado, afinal.
— Esposa de mentira.
— Sam…
— Estou falando demais. Facilite as coisas para nós e volte
a me beijar para que eu possa operar direito.
começar. Dobre os joelhos outra vez para mim, meu amor. Você
está molhada demais contra a minha perna. Terei de resolver isso
com a boca, se quiser que dure o tempo que pretendo.
Nada dócil. Nada vagaroso. Do jeito que ele queria e do jeito que eu
também precisava. A língua chicoteando meu clitóris e depois
lambendo toda a minha fenda molhada.
olhos e veja.
Fiz o que ele me instruiu, e o que vi me deixou trêmula.
Meus quadris cavalgavam em sua direção, sem medo. E
lidar e tinha entrado em sua vida com a certeza de que não confiaria
em homem algum. Só que, mesmo assim, ele tinha se esgueirado e
atingido um ponto vital.
Ele negou.
— Não, Rox. Nós dois somos. — Ele me beijou com
delicadeza. — Vamos tentar isso juntos. Devagar.
ele te causou.
E ele entrou em mim.
Gememos juntos.
mais fundo.
— Como está, Rox?
Arranhei suas costas molhadas de suor com força, mas ele
não reclamou.
— Preciso que seja mais forte, Sam.
— Quer o meu pau assim dentro de você?
substituindo o vazio, até que não restasse nada além dos meus
gemidos intensos e do rosnar baixo dele contra a pele do meu
pescoço.
— Faça como queria. Goze empalada no meu pau,
Roxanne. Sou seu — sussurrou contra o meu ouvido.
SAM
Ri. Mais uma vez não era o melhor momento para isso, mas
Então era assim que era amar de verdade? Uma alegria que
parecia não compreender limites?
bem como nunca. Também sabia agora que minha intuição estava
correta quando cheguei. A presença de Roxanne aqui no meu
momentos atrás.
tornando brilhante.
Ri outra vez.
meu olhar nos seus seios expostos, antes de voltar ao seu rosto. —
Você só precisa me dar alguns minutos.
cicatriz.
Suspirei. — Mas sinto que vou passar muito tempo querendo sarar
tudo que ele machucou em você.
— E quanto a você?
Franzi o cenho.
Roxanne se empertigou, ficando séria de repente. Ela se
o meu pai.
Roxanne estendeu a mão e cobriu a minha na cama.
— Você acreditou em mim antes de tudo, Samuel. Também
certa, eu nunca havia falado do meu pai para ninguém desde que
saí do Texas. Peter sempre soube o básico. Entretanto, eu nunca
Então…
Então eu queria contar.
ao meu lado. — Acho que prefiro tê-la nos meus braços antes de
continuar com isso.
tranquilizador assim.
— Antes disso, eu era um garoto solitário. Não conseguia
sequer ter amigos na escola que frequentava, porque era muito
quieto. Eu convivia com o medo absurdo de desagradar as pessoas
fizesse.
Roxanne me apertou mais.
— Eu também era quieta na escola. Principalmente depois
que meu pai morreu. Foi por isso que comecei a ler muito.
Assenti.
instante…
Minha voz embargou na última frase.
— Ah, Sammi…
Ainda assim, decidi continuar falando sobre coisas que
jamais me permiti dizer em voz alta antes.
— Eu sonhava com a minha mãe quando morava aqui. Não
de quem me impôs esse ódio. Com Wallace foi mais fácil, eu saí do
enganado.
acostumei a carregar.
Levantei-me nu.
— Eu sou igual, Roxanne.
do que não quero para María. Achei que podia ser… — Minha
garganta travou com a dor que chegou de uma vez. — Achei que
podia ser quem ela precisa, mas não posso. Eu sou como Wallace.
— Você não é seu pai. Você não é sua dor. E aprendi com você que
certas coisas valem para os dois lados: Então você não é o seu
passado.
não desistiu.
— Venha.
deitar. Mas dessa vez foi ela quem me teve em seus braços. Deixei-
me ser envolvido por seu corpo quente e macio. A sensação de ser
aninhado por ela foi a coisa mais doce que já senti na vida.
— Você não precisa seguir por esse caminho para sempre,
— Tempo?
meus ombros.
— Sim. Tempo de ser você mesmo e não a repercussão de
— Eu já sou, Roxanne.
—Então pare de ser, Sam. Ou pare de fazer o que acha que
— Rox, eu…
encontrei você.
nossa performance.
Eu sabia que era uma fuga momentânea. Ela também. No
ROX
até na nuca. Terminei sujo até a testa também, e nós dois tivemos
que tomar um banho para não a assustar quando acordasse.
braços.
os meus. — Não queria deixá-las aqui, mas não será muito seguro
nem mesmo para mim, e o rancho conta com proteção.
anterior.
— Pensou no que falei sobre repetirmos a noite passada?
— Será que eu dormi com uma mulher e acordei com outra
reforçou.
— Você me disse isso primeiro.
— Sim — anuiu. — E às vezes precisamos ouvir outra
preso nele. Nenhum de nós pode mudar o que passou, mas ainda
há tempo para consertar o presente.
Parecia que Sam havia tomado uma grande decisão. Suas
está posto para você e deixei fórmula preparada para María, caso
ela recuse o seio, como faz às vezes pela manhã. A arrumadeira,
Magda Martinelli, vai ajudá-la se precisar de alguma coisa, enquanto
— Ah, María, o que a sua mãe fez agora? O que Sam está
planejando fazer por nós?
nele.
Eu não o deixaria simplesmente planejar e executar o que
bem entendesse, sob o preço que estivesse disposto a pagar,
apenas para cuidar de nós.
Sam não era o único que tinha o direito de proteger quem
amava.
SAM
Wallace. — Essa velharia não faz o seu tipo. Vi uma matéria com
uma foto dos seus carros esportivos.
nela.
falando?
estender o assunto.
King’s Ranch.
Wallace assentiu.
para me olhar.
— Eu tive uma razão para voltar para casa. E não foi porque
Roxanne quis conhecê-lo. Ela apenas estava me protegendo
quando disse aquilo.
anos.
Senti uma ardência atrás dos olhos, mas a bani. O momento
não era propício para nada de cunho tão emocional, e o foco era
configurar, com a ajuda de Wallace, o plano que concebi para
proteger as duas mulheres da minha vida. Eu tinha pleno
descontasse todo o mal que fiz você carregar em mim de volta. Mas
fato neste mundo, Samuel. Então prometi a mim mesmo que lutaria
por você até que a morte viesse me buscar. Era a única prova de
amor que eu poderia oferecer ao meu único filho e a quem
machuquei tanto.
Senti as lágrimas fincando suas garras na minha garganta.
algum tempo.
tempo demais e sei que não há conserto para o que fiz. — Ele
mesmo quebrou nosso pacto tácito de silêncio, algum tempo depois.
— Mas quero que saiba que pode contar comigo agora. Ficarei do
ouvir.
O apoio que eu precisava.
Ainda.
III.
julgamentos.
apenas:
— Sentem-se.
Wallace e eu tomamos nossas cadeiras. E somente nesse
longe para me dar a porra de uma notícia que eu já tinha? Era óbvio
em seguida.
Sebastian pigarreou.
— Como eu dizia, Mead, não será fácil, mas não é
impossível.
boas chances de que isso funcione, caso ele esteja fora de si, como
parece estar. Uma armadilha com elementos certos pode ser o
caminho mais eficiente, e com os agentes da DEA, sem dúvida,
e atraente.
— Samuel, o que você está me pedindo é terrível.
Decidi pegar pesado. Era o único jeito de conseguir executar
prometi.
Foram apenas duas frases, mas tiveram um efeito mais
importante em mim do que eu poderia ter premeditado.
Levantei-me também.
— Knighton, espere. Aonde você vai?
— Não se preocupe, Mead. Eu vou cuidar dos seus
palavras com raiva. Ele apenas firmou uma mão no meu ombro
direito e assegurou:
— Acredite em mim, Mead. Como acha que defendi
— JEWEL, “Hands”.
ROX
apaixonada.
Eu sempre me perguntava, a cada nova noite maravilhosa,
dia.
— Sam…
— María está sob os cuidados do meu pai e da senhora
caminho que já lhe era familiar, passando pela minha barriga quente
e afundando entre as minhas coxas um instante depois. O que ele
ensopada, Rox.
— Oh, Sammi…
quando fazíamos amor nada mais parecia existir. Estar nos braços
então fiquei na posição que ele parecia apreciar mais e senti suas
mãos nos meus quadris. Depois, sua boca descia pela minha
mais na região onde minha cicatriz ficava. Mas daquela vez, em vez
dentro de mim.
— Eu sinto o mesmo, Sammi.
abriu e esfregou sua ereção protegida entre elas, mas apenas até
se ajustar melhor e começar a esfregar contra o meu sexo.
Grunhi e desci a mão para me abrir para ele e deixá-lo me
o meio das minhas coxas, onde a cabeça do seu pau surgia úmida
do nosso desejo. A visão era erótica o suficiente para fazer todo o
Apesar de tudo que nos rodeia, me sinto em paz quando estou aqui
com você. E feliz.
jeito de descobrir.
— Apenas omitir.
que iria fazer compras. Mas isso mudou quando suas saídas ficaram
mais frequentes no decorrer dos últimos dias, assim como os
— Eu sei.
— Mas não há nada certo ainda, Rox. Por isso eu escolhi
terminaram.
Dizer toda a verdade que pode não significa que não esteja
escondendo algo para nos proteger. — Estendi a mão e segurei o
Ele discordou.
— Nosso. Porque não vou deixar você passar por mais nada
— confessei. — Não vou saber lidar com isso. E não posso aceitar
que faça mais algum sacrifício por nós.
garganta.
me perder.
Dizer que não vai tentar ser meu herói, pensei. Mas
nossa segurança.
Sam debateu internamente. Era visível sua luta contra suas
cogitação, Roxanne.
— Não, eu não vou mais permitir isso, Sam. Como pode
— O quê?
Fiquei confusa com suas palavras, mas então Sam respirou
combinar assim?
escolhas.
dele com a minha filha. Não era difícil compreender por que, apesar
das circunstâncias, eu havia me apaixonado tão rápido por um
homem assim.
Apaixonar-se, não…
Mas eu decidi empurrar o pensamento, assim como decidi
não pressionar mais Sam sobre o assunto de antes. Ele era mais do
que digno da minha confiança. Então eu também desci da cama e
comecei a procurar pelo meu robe.
— Não se preocupe. Eu vou buscá-la. É a minha vez.
ganha.
— Você sabe que já sou expert na troca de fraldas. Não há
como me superar, mi amor.
— Ela está.
Sua preocupação com María deveria me despertar alguma
emoção negativa, já que ele jamais se mostrara preocupado
comigo. Mas não despertava. Pelo contrário, apaziguava a mágoa
que existia dentro de mim.
vontade em ajudar.
— Diga e resolverei. Já lidei com a burocracia dos
documentos com seu amigo Peter, como me pediu: os papéis que
Sebastian sozinho, para evitar que ela descobrisse mais. Não tenho
dúvidas de que ela me seguiria, se eu fosse até a cidade mais uma
vez — revelei. — Em todo caso, agora não posso mais voltar com
minha palavra.
Wallace compreendeu as entrelinhas daquela frase muito
bem.
— Mas você tem um plano — emitiu em seguida.
— Um jeito de controlar a situação. Sim, eu tenho —
que precisar, Sam. Na verdade, imagino que seja até mais seguro.
Acenei positivamente.
— Ótimo. Era apenas disso que eu precisava.
ele.
Olhei para o aparelho.
passatempo.
— Posso? — Wallace surgiu novamente perto de mim e
estendeu a mão.
ROX
completamente inusitado.
Ainda assim, era o que estava acontecendo.
sutis.
Até mesmo com o pai Sam estava diferente. Era visível que
ele ainda ficava desconfortável na presença de Wallace, mas ele
na árvore.
em minhas mãos.
dentro de mim.
Olhei para a bailarina delicada novamente e fiquei sem
palavras.
— Quando você… quando você fez isso?
Girei a peça e vi que havia uma surpresa adicional. Meu
fui à cidade.
— O meu nome também está aqui.
rancho.
Senti meu estômago pesar de um jeito ruim.
— Sammi…
— Não, não… — Ele se curvou e beijou meus lábios com
alargou quando ele olhou para María. — Quero dizer, nós fizemos
tudo ao contrário. Tivemos um bebê primeiro, então fomos morar
conversa. Deus sabe que não era daquilo que eu precisava naquela
noite tão importante. Mas Sam se antecipou.
— Ah, Sam…
Aproximei-me e tomei seus sentimentos para mim com um
entre nós.
Quando nos afastamos, até Sam sorriu de um jeito que lhe
pareceu difícil.
E eles se foram.
Observei-o se afastar sem poder fazer nada.
SAM
Família.
mim?
mesa dizendo que esperaria por mim no quarto. Claro, não sem
nesta última semana, talvez ela já desconfie que você tenha algum
plano. — Meu pai emendou: — As mulheres sempre percebem as
coisas antes.
— Eu sei.
momento, eu estou feliz por termos esse Natal. Estou feliz por
estarmos juntos.
instante, seu olhar se desviou para María nos meus braços. Mais
lágrimas verteram de seus olhos.
— Você será bem melhor do que eu nisso.
— Em quê?
— Em ser pai. Você será um ótimo pai para a sua
pardalzinha, garoto.
Dessa vez foi impossível segurar as lágrimas que chegaram
aos meus olhos. Eu nem mesmo sabia se veria María mais uma vez
depois do dia seguinte.
pelo que ama. Você é um homem bom, meu filho. E tenho muito
orgulho disso.
Havia algo no olhar dele. Uma certeza clara. Nós havíamos
demonstrar algo contra o meu plano. Mas ali, pela forma como ele
me observava, considerei pela primeira vez que ele pudesse estar
mudando de ideia.
— Você não fará nada para me impedir, fará? É o que
preciso fazer.
O semblante dele ficou um pouco mais contrito, entretanto
que não quero mais guardar essas mágoas entre nós. Não agora
que sei do que é capaz por mim.
Eu não sabia se aquilo era um perdão. Sinceramente,
SAM
María das mãos dela e deixei sobre o cesto no estofado aos pés da
cama. Em seguida, a trouxe pela cintura para mim com uma mão, e
com a outra toquei seu rosto bonito.
Seu parto foi a cena mais bonita que eu já presenciei na minha vida.
Ri.
— Também.
quis fugir da responsabilidade que poderia ser tudo aquilo. Quis ter
o poder de apenas pegar Roxanne e María e desaparecer.
Desaparecer em uma noite mais feliz e onde o futuro para nós não
soasse tão incerto como o do dia de amanhã. Entretanto essa
pescoço.
Era uma combinação perfeita. Eu duro e ela completamente
molhada para mim.
Enfiei minha mão entre nós e a toquei. Roxanne gemeu,
enterrando a cabeça no meu pescoço para mordiscá-lo.
— Sammi…
me beijou de novo. Dessa vez, porém, foi sua mão que se colocou
entre nós. — Deite-se, Sammi.
pará-la.
Mas falhei de forma miserável quando ela me tomou com a
boca. Não achava ser possível, mas fiquei ainda mais duro quando
a senti me lamber e depois me sugar para dentro de seu calor.
próprios quadris.
— Não, Rox…
Não era assim que eu planejava aquilo. Não era para ela
de um jeito inesquecível.
daquilo.
minha testa.
— Ah, Sam…
Havia alguma coisa em sua voz, mas que foi encoberta pelo
Estocada.
Gemido.
Suor.
Desejo.
momento.
Também senti que lágrimas desciam pelo canto dos meus
pressa.
As costas suaves de Roxanne tremeram como se ela
— Vamos…
ROX
ali.
“Não pode ter um bebê no asfalto sujo e congelado de
Washington.”
Sempre.”
trazer lágrimas, mesmo quando era real e puro. Mesmo quando era
a coisa mais bonita que alguém poderia ter na vida. Temendo perder
vou dizer agora, eu deixei escrito para você em uma carta. Você vai
encontrá-la em cima dos papéis que queria me dar como presente
que era difícil respirar. Mas eu não desisti. Não poderia. Lutei contra
para que entenda tudo o que fiz, mais tarde. — Permiti que minha
mão deslizasse da forma mais suave possível por seu queixo bem-
viveria dor na minha vida, mas hoje me vejo agradecida até mesmo
por cada ferida e tropeço, porque todos os caminhos tortuosos e até
muito pouco sobre isso agora. Sei que, com você, ela estará segura
em cada passo que der para desbravar o que a vida lhe trouxer. E
ter minha paz também. Saber que as duas pessoas que eu amo
estarão a salvo e felizes.
Um ruído quase alto demais escapou da minha garganta.
ainda entendível.
— Amo você, Rox…
Passei a mão pelas minhas lágrimas para que elas não
de Natal para vocês. Por favor, diga à minha filha que a amei mais
do que tudo que tive e que me senti abençoada por tê-la. Por ter
vocês dois.
Outro soluço ameaçou romper tudo que havia dentro de
mim, e percebi que aquele era o meu limite. Aquele seria o máximo
que eu poderia fazer para me despedir, antes de desabar
completamente.
Engolindo tudo o que fazia meu peito queimar, eu me afastei
do corpo quente do homem que eu amava. Depois desci da cama
forma.
E então eu fiz o que devia fazer.
Segurei a sacola de pertences com força e caminhei para a
pedi.
E fechei a porta antes que minhas pernas não
conseguissem mais responder.
não cederia sem uma última luta. Por isso me aproximei e peguei o
menor revólver exposto na parede. O feito causou mais ruído do que
eu gostaria. Mas, no final, enfiei-o na sacola sem pensar muito e
tempo. Não para mim. Seu marido vai querer a minha cabeça
depois de perceber o que aconteceu.
— Sam estará seguro, e isso é tudo o que importa para
mim.
O amigo de Sam foi direto.
— Ele disse o mesmo sobre você e a criança. O que me faz
quebrar meu colega para sempre. Está certa do que quer fazer?
Isso não será fácil, e o preço poderá ser alto.
— O senhor quer que eu desista? — perguntei com a voz
estrangulada.
Eu não precisava repensar algo que já estava sendo difícil o
suficiente.
SAM
estendi a mão para tocá-lo, percebi que o local estava gelado. Não
era incomum. Com uma bebê, um de nós sempre acabava fora da
imediato.
mas ela não para de chorar. Procurei pela senhora Mead, para que
pudesse descobrir o que estava acontecendo, porque sei que ela
sempre se levanta bem cedinho desde que chegou aqui. Mas não a
dias. Então calculei que ela pudesse estar dormindo ainda. Mesmo
Mary, desapareceu.
— O quê?
estava acontecendo.
— Espere, senhora Martinelli, a senhora está me dizendo
tudo. Não há ninguém nos jardins, nos celeiros e nem no haras. Não
há ninguém no rancho além de nós três.
de mais força.
Ao chegar perto do celular, notei que não se tratava de uma
— Não, Rox…
Outra frase que parecia surgir de um sonho escolheu esse
“Querido Sammi,”
Era assim que começava o texto. Com duas palavras que
revelavam carinho. Mas o que elas guardavam em seguida fez um
som feio escapar do meu peito. Tão feio que logo senti Magda ao
meu lado, afastando dos meus braços uma María que voltou a
chorar.
— Senhor Mead, meu Deus… O que está acontecendo,
senhor Mead?
Sem María, de repente, eu estava sem força alguma e caí
no chão. Sentado no meio do quarto sem me preocupar nem um
de mim.
Nada disso poderia ter qualquer significado agora. Na
verdade, todo o meu mundo parecia em queda livre de qualquer
sentido, enquanto eu lutava para conseguir finalizar a leitura das
palavras naquele papel marcado por lágrimas.
ele para mentir para você sobre como e quando seria montada a
emboscada que criaram para Milagros.
Eu sempre acordei ao ouvi-lo falar com María no berço,
fiz ligações enquanto fingia ler no haras. Pedi para assumir o seu
lugar na estratégia que estavam tramando e que acontecerá nesta
não podia deixar você fazer mais esse sacrifício. Não podia mais
permitir que continuasse a travar todas as minhas batalhas, Sammi.
uma delas, Sam. Você segurou a minha mão quando ninguém mais
queria segurar. Você me ajudou a trazer a melhor parte de mim a
este mundo, e acho que você a amou desde aquele primeiro
instante. Ela é tão minha quanto sua. E é por isso que não temo em
deixar minha filha aos seus cuidados por escrito. Sei que será um
María ficasse com você. Sei que serão felizes juntos. Com direito a
que eu esteja. Obrigada por tudo o que fez por mim e obrigada por
entrar na minha vida naquela tarde coberta de neve, Samuel Mead.
Sua,
Roxanne Rivera.”
felizes.”
e tudo havia sido real. Ela tinha partido. Descobriu o meu plano e
Não posso permitir que isso aconteça. Não vou deixar que Milagros
coisas sem que eu me desse conta. Como eu pude ter sido tão
estúpido? Uma mulher como ela jamais ficaria parada, permitindo
que eu resolvesse sua vida. Por isso ela estivera tão tensa durante
os últimos dias. Por isso concordara em fazer amor comigo sem
Mas nós éramos uma família. Não foi apenas Roxanne que
qualquer forma.
Ele tinha ido com ela para cumprir sua promessa a mim. Ou
a tinha seguido, uma vez que também desaparecera na calada da
noite.
ROX
a viagem.
ao meu destino.
palavras. Juan nunca teve esse tipo de caráter. Ele jamais seria
sacrifício de amor.
rodovia congelada.
para o que parecia ser um aterro sanitário. Ao menos era o que dizia
na placa congelada exibindo o horário de funcionamento sobre o
das minhas mãos já estavam em carne viva, graças à força com que
mantive minhas unhas cravadas nelas, é que eu ouvi o som de algo
E então, de repente:
— Revistem-na.
— De novo.
A pancada no estômago me lançou no chão, mas não
terminou assim. Minhas costelas foram chutadas com tanta força
que minha ânsia de antes se transformou em realidade, e eu vomitei
no chão do galpão.
— Chega! Voltem aos seus postos.
esse favor. Ele segurou meus cabelos com força e ergueu meu rosto
para ele.
— Mi dulce. Há quanto tempo… Senti saudades. Muitas
saudades.
usava.
meu rosto que parecia também verter sangue. Pensei que pudesse
meu bebê.
E ele era o mesmo homem aparentemente inofensivo que
com a gravata suja de sangue. — Por que você fugiu do pai da sua
dele, e minha voz saiu num rosnado baixo. — É um fato… Nós dois
sabemos disso.
soltou e suspirou.
— Pode ser que sim. — Juan se afastou e deu de ombros.
— Pode ser que não. Isso vai depender das suas respostas e
o fogo brilhar nas mãos dele. Entretanto, logo que a dor das
pancadas contra o meu corpo cedeu, voltei a pensar mais
racionalmente.
Tempo, lembrei-me. Era isso que eu precisava garantir.
tudo a perder.
— Você me prometeu que iria parar de fumar. — falei assim
Juan sorriu.
dulce. Prometeu que não tentaria fugir de mim outra vez, por causa
de um bebê indesejado. Mas me fez prossegui-la por todo esse
mais. Sua boca pairou sobre a minha quando ele forçou meu queixo
ensanguentada.
— Gosto de deixar cicatrizes em você, Roxanne. A dor é
assim, você passou todo esse ano pensando que poderia me fazer
você...
Juan esbravejou:
para sempre. Eu só tinha você para confiar depois que meu pai se
Juan riu.
— Fora? Depois de ele brincar de casinha e foder com a
minha mulher? — Ele negou com a cabeça. — Não, Rox. Sua
pagar caro por ter ousado tocar no que é meu. Mas não se
preocupe. Vou contar a você todos os meus planos. Na verdade,
aceitei estar aqui porque quero que testemunhe como todos os que
tentaram nos separar vão encontrar seu fim mais doloroso. E vou
começar isso agora. — Juan procurou pelo homem loiro de antes.
— Ajude-a a se levantar.
vômito.
— Juan... — gaguejei quando ele se afastou para me
encarar.
um sinal para alguém que devia estar atrás dos canos às suas
costas.
— Ouça o som, Rox. — Ele levou uma mão à orelha em
concha.
E eu o ouvi com perfeição, enquanto tudo em mim era
devastado.
ergueu a arma com o braço livre. Mas não a apontou para mim. Ele
a colocou contra a cabeça da minha filhinha, o que me fez ficar
completamente paralisada como ele ordenou.
planejar essa armadilha com o seu amante. Você achou mesmo que
eu não saberia que esse encontro repentino se tratava de uma
emboscada?
melhor oportunidade para ter de volta o que é meu. E foi fácil cercar
aquele rancho ianque quando todos saíram e só restou uma
velhinha com a minha filhinha inocente.
SAM
ele! — Atirei-o contra o monitor que antes ele vigiava. — Onde ela
está? Onde está Roxanne?
ao segurá-lo.
— O quê?
Ele cuspiu sangue no chão antes de responder.
Juan Milagros.
Sebastian passou por mim. — Mas não temos mais tempo para
o som.
do monitor.
Não.
Era um pesadelo. Só poderia ser. Aquela realidade já era
puta!
Sebastian não se importou nem um pouco com os meus
estava prestes a sair pela porta, tudo que o homem no qual confiei
cegamente fez, foi me lançar um olhar que, apesar das palavras que
vieram a seguir, não demonstrava qualquer arrependimento de fato.
ROX
então…
Não era minha María.
Era uma boneca. Parecia um bebê recém-nascido, quase
real, mas era uma boneca com o mesmo cobertor. E emitia sons,
chão.
— Que porra está acontecendo aqui? — Juan se aproximou
depressa.
ardeu pela surra de antes, mas ainda assim aguentei firme e mirei o
revólver antigo nele com as mãos trêmulas.
— Mi dulce…
— Coloque essa arma no chão ou eu vou estourar seus
olhos frios no meu rosto e depois estudou a arma nas minhas mãos.
— Você não teria coragem, corazón. Sempre foi gentil,
isso eu pedi a meu pai que a adotasse. Por isso tive paciência
Não pestanejei.
morresse, minha filha estaria segura para sempre. Era uma escolha
terminar.
Ele caiu berrando de dor sobre um joelho, mas ainda
Ele foi ferido no braço que segurava a arma, e Juan teria chance
para atirar mais uma vez e matá-lo, se não tivesse sido baleado
coisa, mas seu fôlego se esvaiu antes e ele caiu inerte no chão.
dos canos.
— Senhor Huntington!
Curvei-me sobre o homem que havia salvado a minha vida,
E ele riu.
via.
Ele não teve receio algum de correr em meio ao
se preocupe, garoto.
seu pai tirou a atenção dele e me salvou. Só estou viva por causa
dele.
— Fiz apenas o que combinei com Sebastian nos últimos
do pai.
o suficiente…
Sam soluçou.
SAM
da minha pequena.
Além da costela fraturada que atingiu o pulmão e o perfurou,
pai já tinha finalizado sua cirurgia com sucesso, mas não podia
contar, além de María, era Sebastian. Ele havia chegado nos últimos
cabecinha dela.
sério. — Esta foi a melhor forma que encontrei para resolver o seu
problema. Milagros precisava saber da nossa intenção de
emboscada para acreditar que estava um passo à frente de todos.
puder evitá-lo.
— Minha Rox é assim. Ela não teria aceitado a sua negativa
— proferi.
De uma forma ou de outra, Roxanne teria feito alguma
coisa. Ela jamais aceitaria ficar sentada sem fazer nada enquanto
eu resolvia tudo. Essa era sua natureza. Obstinada, corajosa. Capaz
de tudo pelas pessoas que amava. Ela não fugiu de sua essência
desgrenhada, coisa que não era de sua natureza. Ela se jogou nos
meus braços, do jeito que alguém pode se jogar quando a outra
sei se voltará para nós. E também não sei como vou viver sem ela,
Lia...
demais.
antes de ela dar à luz à María? — Minha raiva retornou com todo o
direito. — Qual de vocês é Billie Colton?
segurando agora?
senhora Litchfield.
A garota loira, com uma barriga levemente inchada pelo que
mim em apresentação.
— Sou Nice Litchfield. Amiga de Roxanne. — Aceitei o
— Nice…
comigo para Indiana, mas não levei. Aceitei quando ela disse que
não queria ir… Rox nunca me contou sobre o pai do seu bebê.
Também não me disse que estava fugindo. Eu nunca a teria deixado
em Washington se soubesse.
— A senhora Litchfield encontrou Billie antes do seu
endereço que tinha procurei por Billie para tentar saber qualquer
Em Tulsa. Como não tinha mais onde procurar por ela viajei até lá.
Acabei encontrando Billie, mas apenas para descobrir que ela não
sabia muito mais do que eu sobre Roxanne.
Sebastian.
— Claro, Sam.
María, então…
Então estou feliz.
sonhos delas também. Mas isso não estava nas minhas mãos.
Estava nas mãos de Deus e nas mãos de um médico.
naquele momento.
Mãos tentaram me conter de imediato, mas ninguém me
ROX
para fora, mas meu abdômen se contorceu em uma dor surda que
me fez abrir os olhos e lutar para respirar dentro da máscara de
ventilação.
— Acalme-se, Rox. Está tudo bem, você está bem. — A
mão dele deixou a minha e encontrou a minha testa, fazendo-me
deu certo e acabou. Milagros está morto e meu pai está bem. Está
descansando da cirurgia em um quarto aqui perto.
Tentei assimilar tudo que ele dizia, entretanto, levei um
pouco mais de tempo. Minha mente estava lenta, assim como minha
visão estava meio borrada.
— Não estou enxergando bem. — Afastei a máscara de ar
bochechas.
Vi a angústia em seu semblante.
perder você... Mas o medo, às vezes, serve para coisas boas, afinal.
O medo de perder alguém, ao menos, serve para enxergarmos
como cada segundo de vida é precioso e como gastamos isso sem
sombria, embora eu ainda possa tocar piano para vocês duas nas
noites de inverno e possamos ter uma biblioteca com livros do
Stephen King.
— A palavra do Rei. — Tentei falar com um sorriso, mas
acabei chorando.
— Não são…
— E posso trocar meus carros conversíveis por SUV’s. São
mais confortáveis para crianças e mais seguros. Podemos sair do
Nossa família.
E quando Sam me soltou, eu li meus próprios pensamentos
em seus olhos.
— Billie voltou?
— Sim.
— Aquela ladra. Ela trouxe... — Tentei falar com vigor, mas
SAM
primeiro dia em que a tive nos braços. Mas também me ensinou que
lutar pelo amor é a única coisa capaz de nos tornar melhores. —
cartel, de verdade?
Foi um alívio.
abraço e de cada “eu te amo mil milhões” que ganhei como o Tony
das quais talvez você sinta falta, mas nunca quis nos dizer, mi hija.
Concordei.
jovem demais.
—Compreender nossa própria história e a história da nossa
— Papá…
— Seu nascimento mudou a minha vida e me tirou da
escuridão. Amar você foi a coisa mais extraordinária que já me
— Pai…
— Obedeça.
Ele suspirou, desanimado, e franziu os olhos verdes que
sempre.
— Nós também te amamos — disseram María e Roxanne
juntas.
Miguel ficou calado. Tirando os olhos que herdara da mãe, o
cabelo.
seguida.
María apenas suspirou, aborrecida, jogando sua franja
porta.
— Onde estão meus netos preferidos? — Ele se ajoelhou de
imediato.
Ele riu.
seu pai.
prometeu, depressa.
— É, mãe. O abuelo nunca passa dos limites. — María
também o defendeu.
tudo.
pescoço.
Suspirei, apaixonado.
— Rox...
confiar no meu coração de novo, mas você foi meu milagre, Samuel
Mead Huntington. Então, obrigada por cuidar de nós e nos dar essa
vida aqui no Texas com tanto amor. Obrigada por essa família
Sammi.
— Ah, Rox... Eu prometi que seríamos felizes, não foi? E
sortudo do mundo.
Caso encerrado.
Inesperada Redenção foi mais que um livro para mim. Ele
tinha tudo contra si mesmo quando resolvi fazer dele meu próximo
lançamento. Sinceramente, quando retornei à produção deste livro,
eu não tinha muita coisa além de força de vontade e personagens
esse caminho tortuoso que foi fazer esse livro respirar. E esses
obrigada por sua visão biônica desse livro e por apagar os incêndios
abro uma página em branco para digitar. O que eu faço por aqui é
sempre pensando em vocês. Que Deus guarde a todos nós, e até a
nossa próxima aventura.
[1]
A Ivy League é um grupo formado por oito das mais prestigiadas universidades
dos Estados Unidos.
[2]
Marca de automóveis que produz, entre outras coisas, veículos elétricos de alto
desempenho.
[3]
Termo aplicado originalmente a painéis de alta qualidade em carvalho.
[4]
Árvore de O Senhor dos Anéis.
[5]
Fenômeno climático que ocorreu na década de 1930, nos Estados Unidos,
caracterizado por tempestades de areia.