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Capa: Maya Passos
Revisão: Camilla Nunes / Susana Pierote
Diagramação: Maya Passos
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com os fatos
é mera coincidência. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida
sob quaisquer meios existentes — tangíveis ou intangíveis — sem prévia autorização
da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98,
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Sinopse
Playlist
Nota da Autora
Prólogo — Igor Reis
Capítulo 01 — Ayana Klein
Capítulo 02 — Igor Reis
Capítulo 03 — Ayana Klein
Capítulo 04 — Igor Reis
Capítulo 05 — Ayana Klein
Capítulo 06 — Igor Reis
Capítulo 07 — Ayana Klein
Capítulo 08 — Igor Reis
Capítulo 09 — Igor Reis
Capítulo 10 — Ayana Klein
Capítulo 11 — Igor Reis
Capítulo 12 — Ayana Klein
IGOR
Capítulo 13 — Igor Reis
Capítulo 14 — Igor Reis
NANA
Capítulo 15 — Igor Reis
Capítulo 16 — Ayana Klein
Capítulo 17 — Igor Reis
Capítulo 18 — Ayana Klein
Capítulo 19 — Igor Reis
Capítulo 20 — Igor Reis
Capítulo 21 — Ayana Klein
Capítulo 22 — Igor Reis
Capítulo 23 — Ayana Klein
Capítulo 24 — Igor Reis
Capítulo 25 — Ayana Klein
Capítulo 26 — Ayana Klein
Capítulo 27 — Ayana Klein
Capítulo 28 — Ayana Klein
Capítulo 29 — Igor Reis
Capítulo 30 — Igor Reis
Capítulo 31 — Ayana Klein
Capítulo 32 — Ayana Klein
Capítulo 33 — Igor Reis
Capítulo 34 — Ayana Klein
Capítulo 35 — Igor Reis
Epílogo — Ayana Klein
Conheça os outros spin-offs da série
Sinopse
Primeiro vou pedir que tu fique até o final, coisa linda. Sei
que tem umas bandidas que adoram pular a nota da autora por aí.
Sim, eu sei que me empolgo nas besteiras que falo e sim também:
eu amo ser besta e rir das minhas próprias idiotices, mas o assunto
aqui é sério.
Eu queria dizer que tô saindo daqui com o coração
quentinho, na verdade, tá tudo fervendo, inclusive minha cabeça. Eu
queria escrever uma noveleta, sabe? Coisa rapidinha e tal, dedo no
cu e viveram felizes para sempre, mas esses dois fizeram uma
confusão na minha cabeça e ainda se juntaram com o resto da
“boyband” pra me atormentar. Kkkkkkk
Sacou a referência?
E o Igor ainda queria anal, gente, pela fé, quase não dá
tempo de entregar o livro, como que eu ia meter um hot de
cinquenta páginas aí no meio? Porém, nem se preocupa, eles
colocaram fogo no parquinho e na ilha também...
Enfim, voltar para esse universo foi uma experiência
maravilhosa e eles dois curaram dores que eu nem sabia que ainda
existiam.
Espero que você se divirta, e, pelo amor de Deus, use
camisinha. (Não digam que não avisei depois).
Ah, e cuidado com os assuntos desconfortáveis que podem
surgir uma hora ou outra no meio da leitura.
Só mais uma coisinha... Agradeço demais a paciência de
vocês, porque o livro quase não saía.
Então, é isso.
Vou deixar vocês lerem em menos de um dia, como se eu
não tivesse passado muitas madrugadas pra escrever... Eu entendo,
tá? Sem ressentimentos.
Agora eu vou lá ter minhas oito merecidas horas de sono.
Um beijão e boa leitura.
Maya <3
Agradecimentos
Antes de tudo, gostaria de agradecer por ter escolhido meu
livro. É uma honra imensa ter meu trabalho nas mãos de pessoas
tão especiais como você.
Primeiramente, quero expressar minha gratidão a Deus por
ter chegado viva no dia 28, porque olha... foi uma jornada intensa,
mas Ele sempre esteve ao meu lado, me guiando e me dando
forças para continuar.
Além disso, eu sei que foi uma verdadeira loucura escolher
o dia do meu aniversário para lançar o livro e talvez por isso tenha
dado tudo errado, mas agradeço a toda a minha equipe, que não
soltou minha mão em nenhum momento, nem nos mais
desesperadores. Yas, obrigada por colocar um pouquinho de ordem
no meu caos. Belle, queria dizer que não vou mais te deixar de
cabelo em pé, mas seria mentira, já, já tem mais, obrigada. Camilla
e Susana, sou muito grata por ficarem comigo até o último minuto
revisando o texto. E tem a Nayariel também, que se infiltrou aqui no
meio e ainda ganhou homenagem no texto. Obrigada, gente, amo
vocês <3
Não posso deixar de mencionar as minhas betas, Suellen e
Patrícia, que me ajudaram a aprimorar a história e torná-la ainda
mais especial. E, é claro, minha melhor amiga Amanda, que é minha
fã número um e sempre acompanha o meu processo de escrita e
surtos.
Cá, Camis e Jess, não sei se já agradeci a vocês por esse
universo lindo que criamos juntas. De qualquer modo, muito
obrigada por todo apoio e amizade. Amo vocês <3
Também sou grata a todas as minhas amigas e colegas de
profissão que sempre me dão força; e à minha família, que é meu
porto seguro e me incentiva a perseguir meus sonhos.
Por fim, gostaria de agradecer às minhas parceiras nas
redes sociais, que surtaram muito junto comigo também. Sem vocês
não seria possível alcançar tantas pessoas e divulgar esse trabalho
incrível. Essa conquista também é de vocês.
Muito obrigada a todos que estiveram comigo nessa
jornada. Espero que meu livro traga muitas emoções e alegrias para
sua vida.
Com carinho,
Maya Passos.
Prólogo — Igor Reis
Virei-me sob os lençóis quando um barulho ressoou ao meu
lado, atrapalhando o sono mais tranquilo que já tive em uma
semana inteira. Estendi o braço ao perceber que o som vinha da
vibração do meu celular, que estava em cima da mesinha de apoio
carregando.
Pisquei os olhos, vendo minha própria imagem refletida no
aparelho e um ícone com a foto do meu pai bem acima dela. Passei
os dedos pelos olhos para limpá-los, e deslizei o polegar pela tela,
atendendo a chamada.
— Igor — meu pai pronunciou meu nome, estreitando os
olhos muito azuis. — Te acordei?
— Sim, mas tudo bem, pai — falei, bocejando e arqueando
as costas para me sentar na cama.
A verdade é que eu não dormia direito há alguns dias e,
mesmo que aqui na Dinamarca já passasse das dez, não estava
muito bem para desperdiçar algumas horas de sono.
— Feliz natal, filho — papai disse com um tom triste,
fazendo com que eu desviasse os olhos da tela.
Não queria que ele visse a tristeza e amargura refletida
neles, pois nem eu consegui me olhar no espelho esses dias.
Acabei não me dando conta também de que já era véspera de
Natal.
— Feliz natal — falei, tentando soar mais animado do que
estava em relação àquela data, mesmo que a realidade dentro de
mim fosse outra.
Eu continuava esmagado.
Mesmo um ano após tudo que houve com a Clarissa, eu não
conseguia superar a dor excruciante que sentia... e ela sempre
vinha acompanhada do sentimento de culpa.
Eu podia ter feito algo diferente, sei que podia.
— Sei que não é a melhor época para você, Igor, mas seria
menos doloroso se estivesse aqui com sua família. Só vamos partir
da Ilha após o ano novo. — Ele suspirou, vendo minha clara falta de
interesse naquela abordagem.
Não era a primeira vez que tentavam me arrastar para casa
ou eventos de família, mesmo que eu não me sentisse preparado
para voltar.
— Não sei se consigo, pai... — falei, engolindo o bolo que se
formou em minha garganta.
— Me dá esse telefone — Ouvi a voz da minha mãe seguida
de uma confusão de mãos do outro lado da tela. — Igor Macedo
Reis — Dona Ivana apareceu em meu campo de visão, os cabelos
negros, com alguns fios brancos ondulados caídos por seus ombros,
mais curtos do que quando deixei o Brasil no início deste ano. Os
olhos cor de chocolate me encaravam com seriedade e havia um
vinco entre suas sobrancelhas grossas.
— Mãe — cumprimentei, sabendo bem o que viria a seguir.
— Sem esse tom triste, querido — quase gritou, andando
por dentro do lugar até entrar por uma porta, do que devia ser o
banheiro. Pelo movimento que fez, mamãe havia apoiado o celular
na pia para falar comigo. — Chega dessa porra, Igor, você vai vir
pra cá. Quer chorar? Eu te ofereço ombro, colo, uma cama
quentinha, um copo de leite e o que mais quiser, porém, você vem
ficar conosco.
— Eu não sou mais criança, mãe. — Neguei com a cabeça
ao ouvir sobre o copo de leite e tudo mais. Mesmo que começasse a
sentir um pouco de diversão se formar dentro de mim.
Minha mãe podia ser muito brava quando queria, no
entanto, nunca fui um garoto obediente. Talvez tivesse herdado esse
traço dela mesma. Porém, apesar de minha relutância, a saudade
dos meus pais estava sempre ali, mesmo que o sentimento fosse
engolido pelo aperto no peito que sentia quando pensava em estar
em casa, além do luto.
— Não quero saber, não criei você para viver como um
andarilho, perdido pelo mundo procurando Deus sabe o que, com
medo de encarar a realidade. Acorda, filho, a dor não vai sumir tão
cedo, mas você precisa aprender a conviver com ela. — Suspirei,
sob seu tom de repreensão.
Eu definitivamente não precisava de mais nenhum sermão
sobre voltar para casa. Eles costumavam dizer que abandonei tudo,
e de fato eu havia deixado tudo para trás: minha casa e minha
empresa, que estava sendo administrada pelo meu sócio e grande
amigo. Nesse processo, também acabei afastando minha família e
amigos mais próximos, no entanto, sentia que já tinha perdido o
essencial... inclusive a minha própria vida.
— Filho, eu preciso muito que você venha para casa. —
Minha mãe apoiou as duas mãos na bancada, curvando um pouco o
corpo e abaixando a cabeça. — Não sei mais como te ajudar, Igor
— Ela fungou, passando o antebraço pelo nariz.
Doeu. Não podia mentir que eram raras as vezes em que
ela derrubava as barreiras e demonstrava vulnerabilidade para
qualquer pessoa que não fosse meu pai. Dona Ivana era a melhor
mãe do mundo, mas nem um pouco compassiva.
— Não tem jeito, mãe — Neguei com a cabeça.
Seria tão simples se eles parassem de uma vez de tentar
curar algo que talvez nem existisse mais dentro de mim. Tudo agora
era dormente: meus sentimentos, meus desejos, minha alma. Só
havia por fora a casca de um homem que andava, falava e
sobrevivia. Pois viver era um prazer do qual eu não experimentava
há algum tempo.
— Isso é algo que você vai precisar me provar, Igor — ela
falou, se inclinando sobre o móvel para chegar mais perto. —
Enquanto houver vida em você, enquanto houver um coração, há
um jeito. O fato de você sentir e viver o luto significa que ainda
existe muito do meu filho aí dentro, mas uma hora essa ferida terá
que fechar.
Fitei o teto, tentando impedir a umidade que tentava se
formar em meus olhos.
— Talvez eu precise de mais tempo — falei, como se
implorasse por isso.
Era para ser uma data feliz. Natal com a minha família era
sempre uma data de muita harmonia e alegria, contudo, para mim,
tudo isso ruiu há pouco mais de um ano.
— Você não tem tempo. — Mamãe franziu os lábios. — Pedi
para sua irmã comprar sua passagem para Barcelona, em dois dias
o Bumbum de ouro pousará no aeroporto para buscar a Ayana, e
você vem com ela, Igor.
— Mãe... — reclamei, não por sua tentativa de me fazer
voltar, mas por sua ousadia de combinar uma viagem sem me
avisar, além disso... — Espero que a passagem tenha reembolso.
— Você não me faça viajar até aí em pleno final de ano para
te ensinar uma lição! — Ela estreitou os olhos, soando muito brava
para ignorar. — Nunca bati em você, mas se for para te trazer de
volta, talvez eu faça mesmo isso.
Suspirei, baixando os ombros.
— Eu posso voltar para cá depois do réveillon? —
questionei, na tentativa de barganhar.
Ir para a Ilha com minha família no final do ano eu
suportaria, mesmo sabendo que Miguel estaria lá, no entanto, voltar
para o Rio de Janeiro talvez não fosse tão confortável agora.
— Você voltará conosco para casa. Pode ficar no
condomínio se quiser, mas não vou permitir que se isole outra vez.
— Mamãe parecia frustrada e soltou outro suspiro. — Queremos
apenas que volte a viver.
— Eu gostaria muito que fosse assim tão fácil, mãe — Me
movi, levantando para abrir as janelas.
— Nada é fácil, querido — foi mais complacente ao falar,
dessa vez. — Todos nós enfrentamos situações das quais achamos
que não há uma solução lógica ou prática para nos tirar dali, porém,
acredite em quem já viveu muito mais do que você: é quando a vida
nos quebra em pedaços que podemos nos refazer da forma que
quisermos.
Suspirei, sentindo o peso das palavras sobre meus ombros.
Era cruel e forte, mas sabia que, no fundo, mamãe tinha razão.
Passei alguns segundos em silêncio, ponderando para
tomar uma decisão.
— Posso me juntar a vocês no réveillon — falei olhando
para a tela. — Mas não prometo passar muito tempo no Rio —
avisei, antes que eles criassem alguma expectativa acerca da minha
volta.
Papai apareceu na tela, de pé um pouco atrás.
— Só em ter você conosco por um tempo vai ser ótimo,
filhão. — Seu Arthur sorriu, fazendo com que vincos se formassem
na lateral de seus olhos. — Não vamos te forçar a ficar no Rio.
Mamãe olhou para trás, cochichando algo que parecia uma
reprimenda, e papai apenas franziu as sobrancelhas e negou com a
cabeça.
— Melhor conversarmos aqui, Igor — Mamãe assumiu o
comando outra vez. — Vou pedir para Iara te mandar as
informações da passagem. Não nos desaponte, por favor — Dona
Ivana disse antes de se despedir e desligar.
Não nos desaponte.
Jogo muito, muito baixo!
Capítulo 01 — Ayana Klein
Sobressaltei na poltrona ao ouvir a voz do piloto avisando
que todos deveríamos apertar os cintos, pois estaríamos pousando
em alguns minutos. Soltei um bocejo escandaloso e barulhento,
atraindo a atenção de algumas pessoas para mim, mas ignorei,
fazendo conforme pedido.
Estava moída.
Podia sentir meus pés ainda latejando e os músculos tensos
à medida que tentava esticá-los. O espetáculo de ontem à noite,
fora a preparação e todos os ensaios precedentes cobravam seu
preço, e eu não via a hora de poder estar em uma cama de verdade,
encolhida debaixo das cobertas e ter ao menos dez horas
ininterruptas de sono, já que os cochilos dados aqui não foram o
bastante.
Apesar de amar viajar, odiava aviões e só conseguia dormir
quando meu corpo estava esgotado. Como precisei sair do teatro
diretamente para o aeroporto, nem mesmo tive tempo para avisar a
minha família que estava embarcando.
Deveria ter estado em Barcelona há seis dias, para me
juntar à Aurora, ao Noah e às crianças no avião dos Castanheira,
esse era o único motivo de vir para cá, contudo, a companhia me
colocou como substituta de última hora em um espetáculo e por isso
precisei ficar em Moscou.
Por sorte, consegui trocar minhas passagens, no entanto,
fiquei com o horário apertado para chegar ao aeroporto. Meu pai,
que era meu anjo da guarda, remarcou com seu piloto para me
buscar no mesmo local de antes para que eu não precisasse
enfrentar um milhão de conexões até chegar às Bahamas.
Pouco tempo depois, desembarquei no Aeroporto Josep
Tarradellas e, depois de passar pela imigração, me arrastei para a
esteira de bagagens enquanto ligava para o papai.
— Pocahontas — ele atendeu, parecia alarmado, mas
também aliviado.
— Acabei de pousar em Barcelona — avisei —, peguei o
voo assim que saí do teatro e não pude te ligar para avisar. O
bumbum de ouro já está aqui?
— Estamos com problema para decolar, filha, há uma
tempestade se formando perto daí e muita neblina, o piloto está
avaliando as opções.
— Ah, nossa! — Suspirei, triste. — Acha que devo procurar
um hotel?
— Com certeza! Também estamos presos aqui nas
Bahamas, bem... presos não é bem a palavra, o tempo está
oscilando bastante, mas as meninas estão conseguindo aproveitar o
sol.
Fiquei com inveja, confesso, há meses não via o mar, muito
menos curtia o calor de um dia quente na praia.
— Esperem por mim, por favor — pedi, baixando os ombros
e achando um saco ter que ficar na Espanha. Sozinha.
Ouvi uma voz do outro lado da linha falando com papai, algo
como “ele também está lá, já avisei sobre o mau tempo e não está
nada feliz”.
— Pocahontas — papai chamou. — Igor está aí no
aeroporto e já está te procurando.
Passei os olhos ao meu redor no mesmo momento,
procurando alguém que pudesse parecer com o filho do tio Turra.
Era uma bela surpresa sua presença aqui, devido a tudo que rolou
com ele no ano passado. Mesmo que eu não estivesse presente
nessa época específica, tinha minhas irmãs e primas, que não me
deixavam sem informações e fofocas. Muitas fofocas.
— Não o vejo — falei. — Mas, papai, estou muito cansada e
nem tenho onde ficar ainda, o que espera que eu faça com ele?
Não tinha a menor possibilidade de dar atenção a alguém
agora, podia sentir minhas pálpebras pesadas e minhas pernas
protestando pelo tempo que eu estava de pé.
— Iara está resolvendo isso — respondeu —, ela está
procurando um hotel.
Uma confusão de vozes se formou do outro lado da linha,
consegui identificar Zuzu, Rory, Tia Ivana e mamãe, todas falando.
— Pega um cinco estrelas, Iara, a Nana deve estar exausta,
precisa de conforto. — Zuzu falou.
— Sabe como é difícil fazer reservas de emergência em
Barcelona essa época? — minha prima perguntou.
— Não, a Aurora adorava me hospedar.
— Isso é o que você diz — Rory provocou e eu abri um
sorriso imaginando o olhar de Zuri para ela.
Fiquei apenas ouvindo o desenrolar da conversa do outro
lado, até que uma figura à frente prendeu a minha atenção.
Entreabri os lábios à medida que Igor Reis aproximava-se
de mim. Ele parecia mais maduro com a barba por fazer cobrindo
sua mandíbula. Seu cabelo era uma bagunça charmosa e os olhos,
capazes de tirar a concentração de qualquer um... mesmo que
agora eles parecessem um tanto vazios e tristes, ainda eram lindos.
Igor sempre foi atraente, um espetáculo, na verdade, e
tínhamos certa aproximação desde a infância por conta das idades
parecidas, no entanto, enquanto eu rodopiava pela casa dançando e
cantando, ele jogava bola com os meninos. Quando fiquei
adolescente, ele se tornou goleiro de um time “subalguma coisa lá”,
até que surpreendeu a todos com a decisão de cursar engenharia.
A vida nos levou para caminhos diferentes, entretanto,
nunca o olhei com algo além de respeito, ele era quase um primo
para mim, da mesma forma que considerava todos os filhos dos
meus tios como minha família, contudo, agora eu só pensava em
soltar um palavrão alto, admirando-o.
— Oi, estranha — ele falou assim que parou em minha
frente, abrindo um sorriso pela primeira vez desde que o notei.
Abri a boca para responder, mas nenhum som saiu, eu só
conseguia olhá-lo e pelo visto ele estava fazendo o mesmo. Quis
sorrir de volta, também quis abraçá-lo para perguntar como estava,
porém não consegui dizer nada além de “oi”.
Não sorri como ele fazia e isso fez com que sua expressão
se fechasse.
— Tudo bem, Nana? — Igor questionou, tocando meu
ombro. Acenei com a cabeça de forma rápida e apontei para o
celular, quando voltaram a falar ainda mais alto.
Eu precisava de uma distração, uma que não fosse alta e
musculosa no momento.
— Filha, Iara conseguiu apenas um quarto — A voz do meu
pai era hesitante. — Não sei se é uma boa ideia vocês dormirem na
mesma cama e...
— Ah, não começa — Tio Turra o interrompeu, reclamando.
— O meu filho não é como o seu — Prendi o riso com o tom de
revolta.
— Pai, somos adultos e devemos ficar aqui por pouco
tempo, certo? — falei, franzindo o cenho.
— Não é como se o Igor não estivesse meio morto por
dentro — Crispei os lábios ao ouvir a voz de tia Gabi.
— Gabriela! — Tio Turra protestou.
— O quê? Estou mentindo?
— Tudo bem — meu pai os cortou —, Barcelona deve estar
entupida de gente, Pocahontas, tome cuidado e passe o telefone
para o Igor, por favor.
Voltei a atenção para o homem, que continuava esperando
pacientemente em minha frente, porém, em vez de estender o
aparelho em sua direção, acionei o alto falante, me aproximando
para que nós dois pudéssemos ouvir.
— Pode falar, tio Jota — Igor pediu, inclinando a cabeça e
ficando com o rosto bem próximo ao meu.
— É bom ouvir sua voz, moleque — papai falou, soando
emocionado. — Espero que esteja bem.
— Estou sim — Seu hálito quente bateu contra o meu rosto
e Igor subiu o olhar para encontrar o meu.
Perto demais.
— Sua irmã conseguiu uma hospedagem para vocês em
Barcelona até que o tempo estabilize e meu piloto possa trazê-los.
Não desfaçam as malas, cuidem um do outro e tentem não fazer
nenhuma besteira.
— Pai... — Revirei os olhos.
Não fazia sentido. Eu era adulta, muito bem resolvida e livre.
Ele não fazia o estilo pai ciumento e superprotetor, mas sempre foi
cuidadoso e preocupado comigo e com os meus irmãos, no entanto,
a situação aqui era um pouco exagerada.
— O quê? Estou tentando cuidar de você — respondeu,
fingindo estar ofendido.
— Vou cuidar dela, tio — Igor garantiu.
— Você? — Estiquei os lábios e, mesmo que tentasse não
sorrir, foi impossível.
— Ótimo, avisaremos assim que o piloto for autorizado a
decolar.
— Certo — respondemos juntos e eu arqueei a sobrancelha
para ele, implicando de forma falsa.
Nos despedimos dos nossos pais, mas não desliguei o
celular quando notei que a conversa continuava por lá. Sou curiosa,
talvez isso me ferre às vezes, mas adoro estar informada sobre
tudo.
— Deixá-los dormir juntos é o mesmo que colocar pirulito
em boca de criança, você sabe, não é? — Meu pai falou, chocando
um pouco pela péssima metáfora. — Mais um casal na família.
— Isso não é totalmente ruim — tia Gabi falou, me deixando
um pouco intrigada. — Quem sabe fodendo a Nana o Igor não
supere a...
Ok. Chega.
Encerrei a chamada antes que o clima pesasse por aqui.
— Hum, tá... — Olhei para cima, e o homem me fitava de
uma maneira engraçada. — O que foi? — questionei.
— Nada. — Igor deu de ombros. — Só é bom te ver, já faz
algum tempo.
— Digo o mesmo para você — Acabei soltando um sorriso
sincero, que foi interrompido por mais um bocejo.
Por reflexo, Igor me seguiu.
— Desculpe, estou exausta — falei, esfregando os olhos.
Meu celular vibrou com uma mensagem recebida e, como
esperado, era da Iara, informando o endereço do hotel e o número
da reserva.
— É o endereço? — questionou, chegando mais perto, e eu
murmurei um sim.
Mesmo com o cérebro a ponto de desligar, não consegui
ignorar o perfume amadeirado e másculo que invadiu meus
sentidos, além de sua proximidade.
— Sim, vou só pegar minha mala e podemos ir.
Avisei, dando um passo para trás na intenção de me afastar
um pouco daquele espaço quase sufocante. Igor deve ter notado a
minha reação, pois franziu o cenho, voltando a adotar uma
expressão séria.
— Tudo bem, vamos lá!
Capítulo 02 — Igor Reis
Conheço a Nana desde que me entendo por gente, seu jeito
alegre e cheio de vida se assemelhava um pouco a mim... na
verdade, ao Igor jovem, apaixonado e cheio de sonhos.
Vim ciente de que iria encontrá-la aqui e de que seguiríamos
viagem juntos, até me preparei psicologicamente para não soar tão
derrotado em sua frente. Meu luto permanecia muito vivo, mas as
pessoas ao meu redor não precisavam vivê-lo, então decidi conter
esse sentimento obscuro por alguns dias até que pudesse ficar
sozinho e voltar a me afundar nessa poça imunda de dor e
sofrimento.
Precisava admitir que Nana me fazia sentir saudades de
uma época em que eu era feliz, vivo e risonho. Talvez aquele Igor
ainda estivesse em algum lugar dentro de mim, mesmo que trazê-lo
para fora não parecesse uma tarefa tão fácil.
Assim que conseguimos pegar suas malas enormes, fomos
para a entrada do aeroporto e arranjamos rapidamente um táxi. O
clima em Barcelona estava frio e ficar do lado de fora parecia quase
uma tortura.
— Como vão as coisas na Rússia? — perguntei para a
mulher ao meu lado, que parecia tudo, menos disposta a conversar
nesse momento.
Ela não era mais tão falante quanto me lembrava, parecia
incomodada, contudo, não tínhamos mais intimidade o suficiente
para perguntar o motivo de estar dessa forma.
— Bem — falou, virando o rosto para me olhar. — E como
você está? — questionou e abriu a boca outra vez, parecendo
escolher as palavras antes de dizê-las. — Da última vez que soube,
você estava em Pequim.
— Sim, ontem estava na Dinamarca, agora estou na
Espanha — falei, erguendo os ombros. — Não tenho mais um lar
definitivo.
Ignorei de propósito a pergunta sobre como eu estava. Era
ruim o suficiente ter que mentir para todos que insistiam nessa
questão. Talvez nunca mais estivesse completamente bem ou feliz.
Nana levou um dos pés ao colo, tirando a sapatilha para
massageá-lo.
— Em quantas cidades você esteve este ano? — Apesar de
notar o movimento pesado de suas pálpebras, parecia empolgada
com a pergunta.
— Acredito que por volta de umas cinquenta, não tenho
certeza. — Abri um sorriso torto.
Não sabia o que passava pela cabeça das pessoas quando
sabiam que escolhi viver meu luto viajando pelo mundo e tampouco
me interessava, no entanto, senti uma vontade estranha de explicar
para a mulher ao meu lado o que havia me motivado a tomar essa
decisão, não que eu fosse fazê-lo, já que aquilo desenterrava várias
lembranças do passado, algumas que não esperava reviver agora.
— Sabe que eu panejo fazer isso um dia? — Nana baixou
um dos pés, olhando para mim e trazendo o outro para cima. — Já
visitei vários lugares, claro, nossa família ama fazer isso. Mas
gostaria de sair sozinha de lugar em lugar, sem destino, vivendo um
dia de cada vez. Deve ser libertador — completou, começando a
pressionar o polegar na palma do pé.
Por pouco não puxei sua perna para o meu colo para que eu
mesmo pudesse fazer aquilo e esse desejo me trouxe um
sentimento satisfatório que durou apenas alguns segundos. Clarissa
adorava receber massagens nos pés ao chegar dos plantões, era
um momento só nosso. A percepção apertou meu peito, mas desviei
do pensamento, ignorando os efeitos dele.
— Sim! — Comprimi os lábios, mesmo tentando não soar
tão melancólico.
A verdade é que eu queria enxergar as coisas dessa mesma
perspectiva e ter tido a tal libertação que citou. Esse período que
passei fora parece ter feito exatamente o oposto e me aprisionado
às lembranças, à saudade, à culpa.
Fiquei pensativo depois daquilo e Nana pareceu notar, pois
não fez mais nenhuma pergunta, ou só estava cansada, já que
soltou inúmeros bocejos até chegarmos ao hotel.
— Foi aqui que a Iara reservou? — Virei de lado, vendo
Nana olhar para a construção impecável do hotel tão intrigada
quanto eu.
Era um exagero.
— Nem vou reclamar, dormiria até no sofá da sala vip do
aeroporto se preciso — Deu de ombros —, mas a sua irmã é
realmente exagerada — acusou, rindo.
— Aposto que foi ideia do tio Jota — falei, dando a ela um
olhar sugestivo.
— Talvez — Inclinou o rosto. — Porém, está frio aqui fora,
então...
— É, vamos! — Apanhei uma de suas malas e arrastei até a
recepção. — Pode se sentar um pouco, se quiser, eu faço o check-
in — sugeri, apontando para uma área com poltronas que havia por
perto.
Nana agradeceu e se afastou, enquanto eu ia para o balcão.
Minha irmã já havia copiado as informações para mim e a reserva
estava em meu nome, pois Iara tinha até a minha senha do banco.
Éramos insuportavelmente unidos, quase cúmplices um do outro e
ela foi a pessoa com quem mais desabafei no último ano.
A recepcionista me entregou as chaves, um flyer informativo
e um tablet com um questionário e o aplicativo que comandava
várias funções no nosso quarto, avisando que eu poderia preencher
depois que estivesse acomodado. Um carregador aproximou-se,
pedindo licença para apanhar minhas malas e colocando-as sobre
um carrinho.
— E então — Nana falou, quando já estávamos dentro do
elevador —, já tem planos? Vou precisar dormir algumas horas, mas
podemos dar uma volta no fim da noite.
— O que você quiser — falei.
Ayana estreitou o olhar e não disse mais nada. Não me
oporia a passear por aqui se ela quisesse, entretanto, me
incomodava o fato de que Barcelona fosse uma cidade
extremamente romântica. Até os hotéis tinham essa pegada, e esse
parecia ser um desses destinos de casais em lua de mel. Minhas
suspeitas foram confirmadas ao abrir a porta do nosso quarto, dei
espaço para Nana passar enquanto avaliava o lugar.
Havia uma hidromassagem grande no canto, bem em frente
à entrada, tornando impossível não ser notada. A cama king bem
arrumada nem chamava tanta atenção comparada a ela. Peguei
nossas malas com o funcionário do hotel e as arrastei para dentro,
deixando ao lado da porta principal, onde tinha uma entrada para a
antessala com um divã, uma TV grande e uma lareira. Com certeza
deveria ter algum closet por aqui, mas o procuraríamos depois.
A saída para a varanda estava do lado oposto, perto de um
espaço com cadeira e escrivaninha. Um pouco além da cama havia
uma mesa para duas pessoas com poltronas confortáveis.
Isso era muito melhor do que os lugares nos quais dormi no
último ano.
— Se você não se incomoda... — Nana começou a falar,
tirando o casaco pesado pelos braços e pendurando-o perto da
porta. — Vou tomar um banho quente e tentar dormir por algumas
horas. — Continuou a falar, descendo o zíper das botas pretas e
jogando-as para longe.
— Ok.
Fiquei com o olhar preso na mulher, enquanto despia as
roupas pesadas na minha frente. A próxima peça foi a blusa de
moletom que usava, ficando apenas com um top que ia até o meio
da barriga.
Nana se dirigiu para o banheiro, vestida com o top e calça
preta, encerrando o show e eu precisava admitir para mim mesmo
que havia gostado, mesmo que não devesse.
Tirei minhas próprias roupas e sapatos, mantendo apenas a
calça jeans, pois o quarto estava aquecido e confortável. Sentei-me
em um lado da cama e encostei na cabeceira, cruzando as pernas
na altura dos tornozelos para responder ao questionário do hotel.
Era um longo e chato formulário perguntando sobre
preferências alimentares, alergias ou restrições, qual tipo de lençóis
e travesseiros preferíamos, ou se havia alguma exigência. O menu
do chef também estava disponível para escolhermos as refeições e
os horários em que gostaríamos que fossem servidas. Teria que
esperar Ayana sair do banho, já que eu sabia muito pouco sobre
seus gostos.
Não demorou até que ela surgisse enrolada em um roupão
branco, com os cabelos negros longos presos em um coque no topo
de sua cabeça. As pálpebras ainda pesadas não negavam seu
cansaço, contudo, ela parou por um segundo assim que sua
atenção caiu em mim. Seus olhos fizeram um caminho lento pelo
meu peitoral, demorando-se mais do que o esperado ali.
Minha forma física estava na melhor fase, já que treinar se
tornou um ótimo passatempo, mas ninguém nunca se aproximava o
suficiente para me direcionar um olhar desse tipo.
Já fazia tempo.
Pouco mais de um ano, para ser exato.
E eu lidava muito bem com a abstinência, achava até que a
solidão me servia bem.
Mas aquele olhar feroz...
O movimento lento de sua garganta engolindo a saliva que
eu podia apostar ter se acumulado em sua boca.
A língua que saiu devagar, molhando o lábio inferior
carnudo.
Meu corpo reagiu. O sangue correu mais rápido e esquentou
em minhas veias, tornando a divergência entre estado mental e
físico desconfortável.
Respirei fundo, tentando aplacar toda aquela velha
sensação de estar excitado por uma mulher.
— Você tem alguma alergia? — questionei, fazendo o
possível para quebrar o momento.
— Como? — Ayana sacudiu a cabeça, parecendo voltar a
si.
— Alergia a algum alimento ou a qualquer outra coisa. —
Reiterei. — Me deram um questionário na recepção, seria bom que
você o respondesse. — Ergui o tablet e o levantei, oferecendo a ela.
— Oh, sim! — Nana acenou, aproximando-se e subindo de
joelhos na cama pelo outro lado.
Observei-a enquanto passava os olhos pelas opções,
rolando a tela com o indicador sem muito interesse e depois
devolvendo-o para mim. Peguei de sua mão a tempo de soltar e se
jogar de bruços no colchão, agarrando um travesseiro e trazendo
para debaixo de si.
— Não tenho alergias, durmo em qualquer lugar disponível,
não pretendo ver TV enquanto estivermos aqui, nem entrar na hidro,
muito menos acender a lareira. Amo qualquer coisa doce que tiver
no cardápio e prefiro treinar pela manhã, não que eu pretenda fazer
isso, já que estou oficialmente de férias para deixar claro, mas
adoraria a sauna e uma boa massagem.
Deu um resumo de seus gostos com a voz um pouco
abafada pelo travesseiro.
— E o que peço para o jantar? — perguntei, ainda com meu
olhar sobre seu corpo debruçado.
Eu não deveria ter gostado de observar a curvatura de seu
quadril quando dobrou uma das pernas, fazendo com que a bunda
empinasse em minha direção, mas gostei.
— Qualquer coisa — falou, sem se preocupar em se virar
para olhar para mim.
— Posso ver se eles conseguem providenciar, mas não
encontrei essa opção no cardápio.
Não conseguia ver seu rosto, porém pude ouvir o sorrisinho
irônico que soltou antes de responder:
— Então pede o que você quiser comer, Igor.
Você!
Minha mente formou rápido a palavra que desfiz o mais
rápido possível, ficando em silêncio.
Escolhi duas opções diferentes que eu gostava para deixar
que ela decidisse o que queria ao acordar e afundei nos
travesseiros, passando a mão pelo rosto. Evitei bufar, já que isso
atrairia a atenção de Nana, e isso era a última coisa que eu queria
no momento.
Algum tempo passou.
Achei até que a mulher ao meu lado tivesse adormecido, já
que sua respiração parecia compassada, porém...
— Não consigo dormir — falou, virando o rosto em minha
direção.
— Por quê?
— Acho que essa sua energia está me mantendo acordada.
Soltei uma risada curta e franzi o cenho.
— Energia? — perguntei.
— Sim, você parece tenso, não sei.
Eu não estava tenso. Ou estava?
— Posso apostar que é a luz — falei, pegando o tablet e
acionando o blecaute. As cortinas se fecharam no mesmo instante,
nos envolvendo em uma escuridão quase absoluta, deixando que
apenas a luz do aparelho em minhas mãos iluminasse o nosso
redor.
— Obrigada — ela moveu os lábios em um meio sorriso,
voltando a fechar os olhos.
Desci mais o tronco e me aconcheguei na cama. Deveria
tirar um cochilo, levando em conta que a noite anterior não tinha
sido uma das melhores. Fechei os olhos, cruzando os braços sobre
meu peitoral e me concentrando em fazer meu corpo relaxar.
Alguns minutos se passaram e...
— Ainda não consigo dormir — Nana voltou a falar.
Não sei por que fiquei irritado. Talvez os meses sozinho
tivessem me deixado rabugento a ponto reprovar a companhia de
outras pessoas.
— Não vem culpar a minha energia dessa vez — reclamei.
— Estava quase cochilando.
— Sabe quando você está tão cansado que sua mente
parece não querer desligar? — perguntou.
— Sei.
— Então, acho que é isso. — Senti seu suspiro quente e
pesado sobre meu braço.
Estiquei a mão e procurei sua cabeça com cuidado,
enfiando meus dedos pelos seus fios grossos.
— O que está fazendo? — Ouvi sua voz incerta.
— Se chama cafuné — expliquei, soando irônico. — Se
você relaxar o suficiente, pode ser que durma, mas acredite quando
digo que meus dedos não vão ficar aí para sempre, então sugiro
que aproveite — avisei.
— Já te falaram que às vezes você soa muito parecido...
— Com a minha mãe? — Bufei, adiantando sua frase.
Sempre me falaram isso, mas eu discordava. Mamãe tinha uma
personalidade muito singular: forte, guerreira, gentil, decidida. Eu
estava longe de ser parecido com ela.
— Eu ia dizer com o seu pai. Todas as vezes que o tio Turra
faz algo legal tenta mascarar com alguma frase mal-humorada. —
Nana riu com o comentário, fazendo com que eu sorrisse também,
contudo, no escuro, duvidava muito que conseguisse me ver.
De qualquer modo, ela tinha razão, mas eu não estava
muito disposto a conversar agora.
— Melhor você dormir, Pocahontas, sua amostra grátis de
afago está se esgotando.
Usei o apelido com o qual tio Jota sempre se referia a ela,
apesar de preferir “Nana”.
— Ah, se essa é a amostra, as próximas têm um preço? —
questionou, com a provocação evidente na voz.
— Nana, vai dormir. — Tentei soar mais incisivo e felizmente
ela resmungou, parecendo relaxar sob o meu toque.
Capítulo 03 — Ayana Klein
— O que acha?
Tirei os olhos do celular e os ergui quando Ayana saiu do
provador.
O que eu achava?
Bem...
Ela estava linda. Muito mais coberta do que o shortinho com
estampa de abacate que usava mais cedo, porém não menos sexy.
Não sei se eram as botas até acima dos joelhos ou a meia
calça preta. Talvez o vestido de tecido grosso que se moldava ao
seu corpo... ainda tinha o sobretudo bege que, por enquanto, estava
aberto, mas logo que saíssemos para almoçar ela teria que fechá-lo,
pois a temperatura lá fora estava muito baixa. Seu corpo inteiro
coberto não deveria parecer tão sensual para mim.
— Está ótimo! — Tentei soar indiferente.
— Ótimo? — Nana girou sobre seus próprios pés, olhando
para o espelho da cabine de onde havia saído. — Ótimo está o seu
humor hoje, Igor, eu estou gata pra caralho!
Não consegui evitar minha risada alta.
— Tem razão — falei, me erguendo da poltrona e
caminhando devagar, até parar atrás dela.
Cerrei as pálpebras, sorrindo, e encarei seu olhar pelo
espelho. Tão atrevida e determinada. Linda demais.
Passei o braço ao redor de sua cintura e, apesar de não ter
encostado nela, fiquei bem atento à pausa que ela deu em sua
respiração. Seus olhos me faziam uma pergunta muda e eu quase
podia ouvir sua voz questionando qual era a minha intenção com
aquilo, porém, antes que ela falasse qualquer coisa, agarrei a
etiqueta de dentro do sobretudo e a puxei rápido.
Sorri quando ela piscou, voltando a respirar normalmente.
Dei a volta por seu corpo e a olhei de frente.
— Se já estiver pronta, acho que podemos ir almoçar. — Me
inclinei um pouco para o lado e usei as duas mãos para segurar e
puxar a etiqueta que estava na barra do vestido.
— Claro — Ela limpou a garganta antes de responder.
— Hesitação não cai bem em você, Nana — provoquei,
antes de virar as costas e deixá-la sozinha para recolher suas
roupas e bolsa antes de me encontrar.
A funcionária que nos atendeu me acompanhou até o caixa
para fazer o pagamento, havia acabado de entregar meu cartão
para a moça quando Nana apareceu ao meu lado.
— Eu não hesitei — foi a primeira coisa que falou — e por
que você está pagando pelas minhas roupas?
— Presente de Natal. — Dei de ombros, digitando a senha
na máquina.
— Já passou.
— Eu sei. — Puxei o cartão e o guardei dentro da carteira,
colocando-a no bolso da calça e virando de lado para a mulher.
— Não isso — Nana sacudiu um pouco a cabeça. — O
Natal, Igor, já passou.
— Atrasado, então.
— Eu pago o almoço e a conta do hotel, assim ficamos
quites.
— Não quero ficar “quite” — Fiz aspas no ar — com você,
Ayana.
— E o que você quer? — questionou, soando confusa.
Ela nunca tinha sido cuidada por alguém? Por um
namorado, talvez? Apesar de conhecê-la, não fazia ideia.
— Nesse momento, apenas almoçar e poder pagar pela
minha refeição, se não for muito incômodo para você. — Ironizei.
Não estava disposto a discutir por questões tão triviais, ou
melhor, eu não estava disposto a discutir por nada.
Entretanto, Nana parecia pronta para contestar, por isso a
interrompi.
— Nosso táxi chegou — avisei, apontando com o queixo
para a calçada.
Usei meu espanhol ruim para agradecer à funcionária da
loja e encarei o olhar de Nana outra vez, quando permaneceu
parada, agora com os braços cruzados na altura do estômago. Fiz
um gesto com a mão, incentivando-a a seguir em frente e, mesmo
reticente, ela se virou. Coloquei uma das mãos em seu cotovelo,
acompanhando-a.
Estava começando a estranhar um pouco as minhas
próprias atitudes. Apesar de estar ciente de que aquele era um
instinto natural meu, Nana não precisava que eu fosse aquele
homem, contudo, pela primeira vez em tanto tempo, quis ser.
Puxei-a com delicadeza para trás quando se adiantou para
abrir a porta do táxi e fiz isso para ela, no entanto, antes que Ayana
pudesse entrar, a segurei, quase sussurrando atrás de sua orelha.
— Não fique brava — pedi, e Nana parou, virando o
pescoço para mim, enquanto me fitava de maneira séria.
— Não estou brava.
Acenei com a cabeça e deixei que ela se sentasse, antes de
fechar a porta e dar a volta no veículo. Como pedi o táxi pelo
aplicativo, não precisei informar a rota ao motorista.
Já visitei Barcelona algumas vezes e havia um restaurante
aqui que meus pais adoravam. Não era longe, mas ainda teríamos
uns bons vinte minutos no trânsito.
Nana permaneceu quieta pela metade do caminho, olhando
pela janela. Sem perguntas ou falas engraçadinhas.
Talvez, algo entre nós dois estivesse rolando.
Eu sabia bem do que se tratava, mas não queria parar para
compreender. No entanto, havia um ponto onde tudo deveria ser
interrompido, um limite que eu não deveria cruzar com a filha de um
dos meus tios.
Recusava-me a ser o cara capaz de partir o coração de
alguém outra vez.
— Chegamos — avisei, quando o motorista estacionou em
frente ao prédio.
Desci do veículo e, como imaginei, Nana já me esperava na
calçada. Não estava surpreso com as suas atitudes e relutância em
me deixar tomar decisões, já que ela sempre foi durona e, apesar
desse seu jeito delicado, eu não conseguia ver nenhum tipo de
submissão ou compassividade nela. Além de tudo, esta mulher
exalava independência.
Acompanhei-a pela entrada do local e depois até o elevador
que nos deixou no último andar do prédio.
— Bom dia, tenho uma reserva no nome de Igor Reis, mesa
para dois — falei para a recepcionista, que nos cumprimentou
sorridente, conferindo a informação.
— É aqui que isso começa a parecer um encontro — Ayana
falou ao meu lado. Pela minha visão periférica, consegui ver sua
cabeça virando para todas as direções.
O lugar tinha uma das vistas mais lindas de Barcelona, dava
para ver a cidade quase inteira da mesa que reservei, além disso, a
comida era ótima.
— É apenas um almoço entre amigos.
— Em um dos restaurantes mais românticos da cidade? —
Olhei para ela sobre o ombro e seu cenho estava franzido, em um
sinal claro de confusão.
— Você não quer ficar? — Virei o corpo em sua direção, me
dando conta de que fiz planos sem seu consentimento. Não que
tivesse feito por mal, mas começava a sentir uma satisfação familiar
em tomar essas pequenas decisões. — Podemos comer em outro
lugar se preferir. Reservei aqui porque meus pais adoram este
restaurante.
— Este lugar é espetacular, Igor. Você só está me
deixando... confusa? Surpresa, talvez.
— Acreditaria se eu dissesse que também estou um pouco
surpreso? — E confuso também, porém, manteria isso apenas para
mim.
Não tivemos tempo de continuar, pois a recepcionista pediu
licença e começou a nos guiar para a mesa.
Puxei a cadeira para Ayana e dei um tempo para que ela
aproveitasse a vista, enquanto eu a apreciava.
A mulher à minha frente não havia mudado muito desde a
nossa infância, ela ainda parecia com a menina que eu conheci e
era ainda mais linda do que a adolescente que eu admirava às
escondidas. Houve uma época, talvez uns quinze anos atrás, que
eu a seguia com o olhar aonde ela fosse, contudo, Nana sempre me
apresentava aos amigos como seu primo e me tratava da mesma
forma. Deixei todo o deslumbramento de lado ao entender que ela
nunca me veria como nada além de sua família.
Depois de um tempo, Ayana começou a namorar e, então,
eu comecei a sair com as meninas da minha idade. Nos
distanciamos um pouco e aquilo foi mais do que suficiente para
esquecê-la, me levando a acreditar que tudo foi uma paixonite
adolescente, apenas. Na verdade, nem me lembrava desse
sentimento até estar aqui sentado em sua frente, olhando-a como se
não houvesse nada ao nosso redor além dela.
— Eu gosto disso — falei, atraindo sua atenção para mim.
Ela não precisou perguntar do que eu estava falando para que eu
continuasse: — Escolher restaurantes, esperar enquanto você
escolhe um vestido e depois pagar por ele. Abrir a porta do carro,
pedir o jantar. Não lembrava que gostava tanto dessas coisas.
— Ou seja, você nasceu para namorar, Igor Reis. — Nana
riu, divertida.
— E você? — perguntei, aproveitando a deixa para matar
minha curiosidade. — Deixou alguém em Moscou?
— Meu último namoro acabou há pouco mais de seis
meses.
— Sinto muito.
— Não sinta, ele era grudento e antiquado. Queria cinco
filhos, morar em uma casa grande no campo e nunca deixar a
Rússia. — Ela revirou os olhos ao me contar. — Minha única
exceção para permanecer lá era o meu trabalho e, mesmo sendo
um pouco romântica, jamais ficaria o resto da minha vida em
Moscou tendo uma família enorme me esperando no Brasil.
— Então você ainda pretende casar e ter cinco filhos, mas
no Brasil? — questionei, em tom zombeteiro.
— No máximo, firmar uma união estável com um cara legal
e adotar uma criança, mas esses são planos muito distantes.
— A Ayana que eu conheci acreditava no amor, em conto de
fadas, destino... essas coisas. — Sorri, lembrando-me de uma
versão dela que enxergava o mundo em cor-de-rosa.
— A Ayana que você conhecia foi magoada, mas tentou
outra vez, foi magoada de novo, e tentou mais uma vez. Até não
restar muito mais esperanças.
Aquilo me pegou de surpresa. Eu sabia muito bem como
amores poderiam ser cruéis, no entanto, não conseguia imaginá-la
passando por isso. Nana era uma mulher maravilhosa, linda, cheia
de vida e parecia iluminar qualquer lugar em que chegasse.
— Não me olhe assim, Igor — Ela esticou os lábios em um
meio sorriso. — Eu não mudei tanto assim, nem matei minha alma a
apunhaladas ou coisa do tipo, só priorizo outras áreas da minha vida
agora.
Não consegui responder, pois o garçom se aproximou
perguntando quais bebidas tomaríamos. Estava prestes a pedir uma
garrafa de vinho tinto, quando ela me interrompeu:
— Quero um martini com Vodka, por favor.
Virei o rosto em sua direção com as sobrancelhas erguidas,
e Ayana me encarou de volta com um ar de desafio.
— Aperitivos? — perguntei para ela, que acenou com a
cabeça.
— Dois martinis com Vodka, então. — Informei ao homem,
que anotou no bloquinho e nos pediu licença para se retirar. — Não
sabia que a ideia era ficarmos bêbados.
— Eu não fico bêbada — avisou, com um sorriso grande e
sugestivo nos lábios. — Mas não precisa me acompanhar nessa,
não quero ter que te carregar até o quarto de hotel.
— Acho você está me subestimando, garota! — brinquei,
não conseguindo segurar a risada. — Mas estou muito ofendido
agora, pois eu te carregaria se fosse necessário.
— Nunca — falou firme. — Normalmente sou a amiga que
coloca o pessoal no táxi de volta para casa.
— Cuidado ou vou começar a achar que você se tornou
careta depois adulta. — Nana soltou uma risada gostosa, se ela não
lembrava da nossa época de parceiros de crime, acabou de
recordar.
— Você ainda lembra...
— Claro que sim, eu era o cara que encobria os seus
rastros.
— E ficava pendurado em janelas. — Gargalhamos juntos
com a lembrança.
Eu tinha quinze anos e Nana dezessete quando escapamos
no meio da madrugada para ir à festa de um dos nossos amigos de
perto do condomínio. Ela já tinha feito aquilo antes, mas era a minha
primeira vez fugindo de casa no meio da madrugada. Quando
voltamos, Zuri já tinha nos descoberto e por isso acabei pendurado
em sua janela enquanto Tia Virgínia reclamava o quanto era
perigoso sair sozinha àquela hora da noite.
Se eu soltasse, provavelmente quebraria um braço ou uma
perna, ou até os dois juntos; se entrasse no quarto enquanto sua
mãe estava ali, nem queria saber quanto tempo dona Ivana me
deixaria de castigo.
— Tenho trauma de janelas até hoje, sabia? Vai ver é por
isso que me tornei engenheiro em vez de jogador.
O garçom serviu nossos martinis e perguntou se estávamos
prontos para pedir o almoço. Pedi mais um tempo, pois ainda nem
havíamos tocado no cardápio.
— Eu achei mesmo que você fosse se tornar jogador —
comentou, dando um longo gole na taça. — Por que desistiu
mesmo?
— Meu cunhado é o melhor goleiro do mundo, Nana. Meu
pai fez história como zagueiro, seu pai e o tio TH também são
exemplos até hoje. — Não precisei concluir para que ela entendesse
meu ponto de vista.
— Pressão do caralho. — Acenou, com os lábios e uma
linha fina.
— Sim, mas engenharia é a minha vocação, não trocaria por
nada.
— E você é muito talentoso — elogiou e depois voltou a
encostar a taça nos lábios, solvendo mais um gole da bebida.
Eu precisava parar de olhar, mas não conseguia.
Era difícil desviar minha atenção quando não havia nada
mais impressionante do que a mulher em minha frente, entretanto,
ainda assim, baixei os olhos para o cardápio.
Capítulo 05 — Ayana Klein
Chegamos ao hotel duas horas mais tarde e acabamos
parando em uma sessão de massagem, até me surpreendi quando
Igor insistiu em me acompanhar.
Nos serviram champagne e agora estávamos os dois
deitados de bruços, com o rosto virado um para o outro e talvez um
pouco altos pela bebida enquanto relembrávamos as piores
presepadas que aprontamos na infância. Porém, o que me mais me
chamou atenção foi o sorriso que quase não saiu dos lábios dele.
— Se você apertar um pouco mais pra cima — Igor falou
para a mulher que trabalhava com os dedos em suas costas — Isso,
assim mesmo. — Ele gemeu, enviando um arrepio direto pela minha
espinha.
Ergui um pouco a cabeça e dei mais um gole no meu
champagne, sentindo os músculos das minhas pernas tensionarem,
mesmo com as mãos habilidosas da Alba nas minhas costas.
Eu precisava dar um jeito de frear essa atração, pois, apesar
de desconfiar que não era unilateral, o homem que agora estava
com os olhos vidrados em mim não deu indícios de estar pronto
para se envolver.
Além de tudo, ele era quase meu primo. Eu chamava os
pais dele de tios e nossas famílias estavam ligadas de formas
inimagináveis. Eram laços bem estruturados que ninguém sequer
pensaria em quebrar. Não queria correr o risco de me apaixonar e
depois ter que reencontrá-lo em jantares, aniversários, festas,
feriados e relembrar que um dia tivemos algo, por menor que fosse.
Eu era o tipo de ex que desaparecia da vida da pessoa, e
com Igor isso não seria possível.
Meus irmãos me diriam que isso é besteira, Rory era casada
há anos com o Noah, filho do tio Thiago; Mine estava feliz com o
Turrinha em Yale e Eric com a Manu, ambos filhos da tia Gabi e do
tio Júnior. Namorar amigos de infância não era uma opção
repudiável, porém, eu era quase uma especialista em términos
trágicos e perita no estrago que uma separação podia causar.
— No que você está pensando, estranha? — Igor
questionou, trazendo minha atenção de volta para ele.
Estiquei os lábios, sem sorrir realmente e voltei para o nosso
assunto anterior:
— Lembra aquela vez que estouramos um rojão no jardim
enquanto tio Turra dormia por perto?
Éramos todos moleques e o Igor comprou várias daquelas
coisas barulhentas, ficamos todos tramando onde era o melhor lugar
para acender a maior de todas, até que surgiu a oportunidade
perfeita: tio Arthur cochilando na beira da piscina.
— No São João? — Ele deu risada. — Eu lembro.
— Tia Ivana saiu correndo atrás de todos nós com o chinelo
na mão. — Relembrei, sem conseguir segurar a gargalhada.
Não tinha como escapar da tia Ivana correndo, e muito
menos das sandálias que atirava vez ou outra. A sorte é que ela era
apenas uma, e nós estávamos em cinco.
— O papai deve ter passado uns três dias sem ouvir direito
de um lado.
— Nós éramos terríveis! Depois disso, fiquei uma semana
de castigo — falei, lembrando do quanto era chato ficar de molho
em casa, mas muito melhor do que as consequências da vida
adulta.
— Que bom pra você. Mamãe escondeu qualquer objeto
que gerasse entretenimento por duas semanas, mas o papai me
perdoou no outro dia. — Ele fez um som com a garganta, que soou
como um suspiro divertido. — Os dois têm atitudes muito diferentes
quando se trata de mim e da Iara, porém, também costumam
completar as frases um do outro em algumas situações. — Seu
modo de dizer aquilo, somado ao sorriso fácil em seu rosto
provavam o quanto Igor amava sua família, e eu podia apostar que
sentia falta dos pais.
Relaxei um pouco, começando a curtir mais a massagem.
— Quanto tempo você vai ficar no Rio? — perguntei por
curiosidade, pois ele havia trazido apenas uma mala de mão.
— Ainda não sei, mas não pretendo ficar mais do que
algumas semanas. — A voz de Igor se tornou um pouco lânguida, e
seus olhos se fecharam quando Julia apertou a parte superior de
seu trapézio.
— E então você volta a viajar pelo mundo?
— Sim, só que vou aproveitar a ida ao Brasil para organizar
alguns documentos, renovar meu visto para os Estados Unidos e
ver como andam as coisas na empresa — Igor explicou devagar, me
fazendo lembrar de algo importante.
— Por falar nisso, vou precisar dos seus serviços assim que
chegarmos. — Eu não tinha resolvido os detalhes ainda, no entanto,
precisaria de um projeto e uma reforma quando conseguisse alugar
um espaço para o estúdio.
— Vai reformar seu apartamento de novo? — Ele bufou uma
risada. — Pretende ficar até o fim da obra dessa vez?
Há quatro anos, papai me presenteou no Natal com um
apartamento no prédio que construiu em parceria com o Tio Turra e
a construtora de Igor. Resolvi reformá-lo antes de voltar para
Moscou, mas não tive tempo de acompanhar o andamento da obra
antes que meu recesso acabasse.
— Eu fiquei até o fim — me defendi, mas nem eu consegui
me levar a sério depois de soltar uma risada. — Todos os dias fazia
chamada de vídeo para ver como estava ficando.
— O Rafael detestava ficar andando pela obra para te
atualizar. — Ele contou e depois sorriu de olhos fechados. — Isso
me lembra de que você foi a primeira cliente a acompanhar
remotamente um projeto e agora temos um serviço assim, sabia?
Duas moças cuidam desse departamento, mandando fotos, vídeos e
informações aos clientes que não têm tempo para visitar a obra com
frequência.
— Eu melhorei consideravelmente o serviço da sua
empresa. — Me gabei, franzindo os lábios.
Igor abriu os olhos e ergueu uma sobrancelha para mim.
— Ainda não me contou por que precisa dos serviços da
empresa.
— Não preciso da empresa, preciso dos seus serviços. —
Enfatizei de forma sugestiva, sem conseguir não o provocar, mas fui
eu quem levou a pior dessa vez.
Igor passou a língua pelo lábio inferior e depois o fisgou com
os dentes, num gesto sexy pra caralho. Minha boca secou, meu
ventre contraiu e agora eu não conseguia olhar para nada além da
boca rosada.
— Então... O que você quer de mim, Ayana?
Era uma pergunta bem simples, no entanto, passível a
muitas respostas complexas. Eu queria tanto dele e ao mesmo
tempo não queria.
Talvez eu devesse esquecer o engenheiro e contratar um
terapeuta antes de tudo.
— Vou abrir um estúdio de ballet clássico. — Depois de
Dimi, Igor foi a primeira pessoa com quem compartilhei essa
informação, pois nem minha família sabia. — O plano ainda está no
papel, mas pretendo alugar um espaço assim que chegar ao Rio.
— Você saiu de Bolshoi? — questionou, bastante alerta
agora.
— Sim — a fala saiu entredentes, pois Alba havia chegado
na parte superior das minhas costas. Pelo visto, havia muita tensão
ali. — Vou voltar a morar no Brasil, começar meu estúdio de ballet
que em alguns anos se tornará uma escola com vários outros
estilos.
Também pretendia investir em um projeto social com
crianças carentes, levando arte através da dança para as
comunidades, mas ainda não podia compartilhar tudo isso sem um
planejamento assertivo.
— Uau! — exclamou. Parecia verdadeiramente
impressionado com as informações. — Isso é incrível, Nana. Claro
que te auxilio no que precisar, posso te ajudar a procurar opções e
visitar os lugares contigo.
— Você faria isso? — Ergui o rosto e os ombros, fazendo
com que Alba parasse um pouco de me apalpar.
— Claro que sim — Ele riu e estendeu o braço em minha
direção, segurei sua mão e ele continuou: — Fico no Rio pelo tempo
que você precisar de mim, só não abuse.
— Pode deixar — Sorri de volta. — Pensa que pelo menos
eu vou estar lá e não precisaremos das chamadas de vídeo.
— Sim, essa é a maior vantagem. — Igor soltou mais uma
risada gostosa, e eu já começava a me acostumar com o som,
querendo cada vez mais dele. — Você pelo menos chegou a ir ao
apartamento?
— Não — Abri um sorriso amarelo.
— Foi o que imaginei.
— Mas agora vou morar lá. — Dei de ombros.
Igor calou-se e desviou o olhar, encerrando nosso assunto.
Parecia um pouco fora do ar agora, com os pensamentos
distantes. Não quis questionar o motivo de seu bom-humor ter se
esvaído tão rápido, mas a dúvida ficou ali, me cutucando. Tinha
quase certeza de que não havia falado ou feito algo de errado, e
perguntar me colocaria em uma posição culpada.
Fiz o possível para relaxar meus músculos, soltar meu corpo
e curtir o restante da massagem.
— Hmm — gemi, impulsionando involuntariamente o quadril
para trás quando senti o pau dele pulsar contra mim.
Eu nem tinha aberto os olhos ainda, porém, a primeira
sensação foi o tesão, não o sono ou meus músculos prestes a
despertar, mas o calor ardente se acumulando na parte baixa do
meu ventre.
Aquilo só podia ser um castigo.
Em outra ocasião, adoraria aquele momento, me esbaldaria
dele e o usaria a meu favor, mas as coisas se tornam difíceis
quando o homem atrás de mim trata minha boceta como se fosse
uma criminosa. Ele nem quis vê-la, muito menos tocá-la, e ela
estava sedenta.
Merda!
O tesão ainda ia me foder, em todos os sentidos.
Igor pareceu despertar do sono, espalmando a mão aberta
na altura do meu estômago e me apertando contra seu corpo.
— Nana! — A forma como pronunciou meu nome ao pé do
meu ouvido fez com que minha boceta se contraísse.
Notei que meu corpo parecia não querer obedecer ao lado
racional da minha mente assim que esfreguei a bunda novamente
contra ele e um som suplicante saiu da minha garganta.
O homem atrás de mim exalou forte, me causando um
arrepio insano.
— Porra, Ayana! — Xingou, movendo a mão para o meu
quadril e o apertando. — Você tá me torturando. — Grunhiu.
Era óbvio que ele estava se segurando, consegui notar pelo
seu corpo totalmente tenso e travado.
— Eu? — Parei por um segundo, soltando todo o ar dos
meus pulmões e tentando não me concentrar em meus batimentos
cardíacos desenfreados. Meu canal também não parava de contrair
e eu já estava quase louca com tanta informação de uma vez em
meu corpo. — Seu pau pulsando que me acordou. De novo — chiei.
Travei os dentes quando o membro pulsou outra vez em
resposta.
Aquilo era enlouquecedor.
Eu queria apenas afastar nossas roupas, deslizar minha
boceta molhada por ele e rebolar bem devagar quando estivesse
totalmente preenchida. Sentia meu short molhado pela lubrificação
excessiva e a ausência de uma calcinha, confirmando que seria
muito fácil e gostoso ceder às minhas ideias.
— O que você quer, Ayana? — Meu corpo tremeu quando
seu nariz se arrastou pela minha nuca.
— Eu... — comecei, mas precisei parar quando senti sua
mão se mover, subindo outra vez pelo meu corpo, no entanto, aquilo
não parecia o suficiente para mim. — Me toca, Igor.
— Eu estou tocando você. — Meu ombro se ergueu por
reflexo de sua voz bem atrás da minha orelha.
— Não é o bastante — Contorci-me contra ele quando seus
lábios voltaram a passear pela minha pele.
— Me diz onde você quer.
Inferno, eu mal conseguia pensar.
— Igor — Quase supliquei e movi eu mesma sua mão pelas
partes onde queria ser estimulada, mas ele pareceu entender minha
necessidade, subindo-as para a altura dos meus seios.
Um gemido rouco escapou de mim no momento que seus
dedos capturaram um dos meus mamilos por cima da roupa. Igor
gemeu baixinho, afundando o rosto em meus cabelos, sem parar de
pressionar meu biquinho, agora ereto.
Impulsionei a bunda contra ele mais uma vez e sibilei
quando seu quadril veio ao encontro do meu, esmagando nossos
sexos no processo.
Ele mudou o foco de um seio para o outro, deixando-me
ainda mais enlouquecida. Por pouco não me virei e o montei ali,
mas queria ir no seu ritmo. No fundo, estava com medo de forçar a
barra e estragar o momento como aconteceu ontem à tarde, mas
puta que pariu, eu precisava gozar.
Eu estava ardendo de dentro pra fora enquanto nos
esfregávamos ali e seus dedos trabalhavam habilidosamente em
meus seios, sem nem tirar minhas roupas.
— Por favor — pedi, jogando a cabeça para trás com o
corpo inteiro arrepiado. — Igor, por favor.
Sua boca voltou para minha nuca, molhando dali até meu
ombro. Ele não me respondeu, mas também não parou. Tinha a
impressão de que estava se segurando e ao mesmo tempo tentando
se libertar, não conseguia entender, e naquele momento nem queria.
— Eu preciso gozar! — protestei, quase choramingando.
Senti vontade de implorar e também de brigar com ele, dizer
que, se pretendia deixar as coisas mal resolvidas como ontem, eu
preferia resolver sozinha, no entanto, sabia que a causa de todo
aquele tesão era ele e, se fosse eu ali tocando meus seios, a
sensação não seria a mesma, nem de perto.
— Coloca a mão dentro do short — Minha respiração falhou
quando ele deu o comando ao pé do meu ouvido. Sua voz
conseguia ser mais erótica do que qualquer outra experiência que
eu já vivi.
— Eu quero a sua — contestei, me esforçando para sentir,
pensar e respirar ao mesmo tempo.
— Abre as pernas, Ayana.
Porra!
Minhas coxas obedeceram de primeira, separando-se uma
da outra. Apoiei uma perna na dele atrás de mim, para ficar
confortável. Eu esperava mesmo que Igor fosse levar a mão até lá e
beliscar meu clitóris da mesma forma que fazia com os bicos dos
meus seios, mas o próximo comando veio logo depois:
— Agora, seja boazinha e leve sua mão até dentro do short.
Não tentei relutar dessa vez e entrei com uma das mãos
dentro do short, constatando que a situação ali era bem pior do que
eu imaginava. Até minha virilha estava encharcada.
— Está molhada? — perguntou, exalando com força no meu
pescoço.
Fechei as pálpebras, puxando o ar também pela boca para
ajudar. Aquele tom de voz dominante fodia minha cabeça, o que era
bem pior do que a boceta.
Igor se mexeu atrás de mim, ainda sem soltar meu peito e,
alguns segundos depois, seus dedos da outra mão agarraram meus
cabelos, puxando com tudo para trás.
— Responde pra mim, Nana. — Sua fala foi pronunciada
quase entredentes, me fazendo arquejar. — Quão molhada você
está? — Repetiu a pergunta.
— Muito. — Passei a língua pelos lábios secos, desejando
sua boca na minha.
— Coloca dois dedos dentro de você e empurra até o fundo
— fiz como ele mandou, mesmo que minha mente parecesse querer
entrar em colapso total. — Fode sua boceta com os dedos,
imaginando meu pau bem enterrado dentro de você.
— Porra! — Arqueei as costas à medida que minhas pernas
se separaram mais. — Igor — chamei seu nome como uma lamúria
desesperada.
— Shhhh! — Ele massageou meu couro cabeludo com a
ponta dos dedos, como se tentasse me acalmar, mas que inferno,
eu não queria me acalmar, queria sua mão em outra parte do meu
corpo que não fossem meus seios ainda cobertos.
— Aaah! — berrei, sem saber identificar se era pelo tesão
ou pela frustração.
— Me diz se é gostoso... — pediu, voltando a encostar os
lábios na minha orelha. — Me fala se sua bocetinha está
esmagando seus dedos agora.
— Igor — quase gritei, ouvindo o tremor na minha própria
voz. — Eu tô queimando!
— Tira os dedos, linda — Sua mão alisou minha cabeça e
seus dedos finalmente deixaram meus mamilos, por um momento
achei que ele fosse me masturbar, contudo, apenas colocou a mão
por dentro da minha blusa, percorrendo a minha barriga com as
unhas, numa carícia leve. — Esfrega seu clitóris do jeito que você
faz quando quer gozar — mandou, fazendo círculos por perto do
meu umbigo.
O tesão lancinante chegava a causar dor e não havia nada
que eu pudesse fazer além de seguir suas ordens e acabar logo
com aquela agonia.
Gemi alto ao circular o nervo pulsante e apertei os olhos
quando o orgasmo começou a se formar. O toque constante de Igor
causava pequenos choques por minha pele e fazia com que meu
corpo começasse a se contorcer.
Minha respiração ficou irregular, meus gemidos cada vez
mais altos, mas não o suficiente para me impedir de ouvir os dele,
mesmo que baixinhos atrás de mim.
Sensual pra caralho!
Os espasmos se tornaram violentos à medida que minha
boceta contraía, liberando toda a tensão do meu corpo. Chamei seu
nome, chiei palavras que eu nem mesmo entendi, enquanto o braço
dele me segurava firme, colando minhas costas em seu peitoral nu.
Senti a mordida dolorida em meu ombro e a pressão de seu
membro contra minha bunda voltar forte e contínua.
Ele estava gozando?
Esperei alguns segundos enquanto me acalmava e consegui
escapar do seu abraço para me virar e ficar de frente para ele.
Como esperava que fosse, Igor parecia um pouco assustado, em
dúvida, mas havia algo novo ali. Vergonha, talvez?
Levei uma das mãos ao seu rosto e toquei seus lábios com
os meus devagar, ele devolveu o beijo e eu lhe ofereci mais um,
usando minha língua dessa vez. Igor gemeu, perdendo-se na minha
boca e trazendo sua mão de volta para segurar firme os cabelos da
minha nuca.
Aquela tinha sido, de longe, a experiência mais
prazerosamente inusitada da minha vida, e o gostoso me segurando
com força contra seu corpo não dava sinais de que nos
interromperia. Contudo, o celular tocando alto atrás de mim empatou
a foda com maestria.
Capítulo 08 — Igor Reis
Nana e eu saímos do avião direto para o calor de Freeport,
nos livramos dos casacos pesados e arrastamos nossas malas para
dentro do aeroporto.
Depois de sermos liberados pela imigração, encontramos
nossos pais nos aguardando na saída, ambos encostados em um
SUV preto e com as pernas cruzadas na altura do calcanhar.
Enquanto Tio Jota falava e gesticulava animadamente sobre
algum assunto, papai mantinha os braços cruzados e o olhar
escondido por trás de seus óculos pretos no estilo aviador. Quando
Nana os avistou, ela apressou o passo e começou a quase correr
em direção a eles.
Abri um sorriso largo quando meu pai me viu, tirando os
óculos e sorrindo com os olhos à medida que eu me aproximava.
Abri um sorriso largo para o meu pai, que refletia a felicidade
de revê-lo. Ele tirou os óculos escuros estilo aviador e, com um
olhar radiante, retribuiu o meu sorriso à medida que eu me
aproximava.
— Minha princesa! — Tio Jota abriu os braços para sua
filha.
— Papai! — Nana se encaixou em um abraço cheio de
saudade e afeto.
Aproximei-me de maneira silenciosa e abracei meu pai, que
fez questão de dizer o quanto estava feliz em me ver antes de me
soltar. Senti uma enorme nostalgia dentro daquele abraço e uma
conexão profunda com o Igor menino, que via o pai como um herói e
queria seguir todos os seus passos.
E quem me dera ser ao menos metade do homem que seu
Arthur é.
Papai me largou e então tio Jota me puxou:
— Que bom ver você inteiro, garoto! — Dessa vez não foi
preciso me sentir uma criança, já que o velho bagunçou meu cabelo
como se eu fosse um moleque, mesmo sendo um pouco mais alto
do que ele.
Sabia que essa não era nem uma amostra de todos os
abraços que teria que dar ou receber. Minha mãe e irmãs também
me encheriam de abraços, e perguntas. Porém, diferente do que
pensei, não estava nem um pouco arrependido de ter vindo.
Depois de guardar a minha bagagem no porta-malas, e tio
Jota colocar a de Nana, nós dois nos acomodamos no banco de trás
do carro, enquanto papai assumia o volante com seu amigo ao lado.
Os dois engataram em uma conversa animada sobre os planos para
o churrasco que seria em breve. Tentei acompanhar a conversa,
mas vez ou outra minha atenção era desviada para a mulher
sentada ao meu lado, que observava o dia através da janela.
— Vocês estão muito quietos. — Tio Jota olhou para trás
pelo espaço entre os bancos, alternando o olhar entre mim e Ayana.
— Só estou cansada, papai. — Nana esticou os lábios
fechados em um sorriso.
— Na ilha tem muito lugar ótimo para descansar,
Pocahontas, eu só não aconselho as redes, minha coluna não
aprovou. — Sorri quando o tio fez careta, levando a mão para atrás
das costas.
— Ele fala isso porque tá velho — papai provocou, sem tirar
a atenção do trânsito.
— Você esquece que é três anos mais velho do que eu,
papito.
— Que porra é essa de papito?
— Não sei, gostei de como soa.
— Agora fodeu! — Meu pai fechou a expressão, voltando o
olhar para a estrada.
De um lado, o mar azul claro parecia quase uma pintura; do
outro, havia uma vegetação densa e muito verde. O lugar era um
paraíso.
— Por onde você andou, Macedinho?
— Estava em Copenhagen antes de ir para Barcelona.
— Lugar bonito, fui lá com a Bela quando comemoramos
dez anos juntos. Temos fotos lindas no Tivoli.
— A decoração de Natal desse ano foi maravilhosa, a
cidade estava lotada de gente, mas chegou a fazer zero graus —
comentei.
Ele e papai começaram uma outra conversa, agora sobre as
melhores e mais bonitas cidades para passar as festas, mas que
eram tão frias quanto belas. Os velhos também amavam viajar.
Após quinze minutos de estrada, paramos em uma marina.
Colocamos nossas malas na popa da lancha antes de meu pai e tio
Jota se enfiaram dentro da cabine. Pulei para dentro do barco e dei
a mão para Nana, que tinha uma careta assustada no rosto.
— Você tem medo de navegar também? — abri um sorriso
irônico, questionando-a.
— Quando o papai e o tio Turra são os pilotos? Sim, tenho!
Olhei para o lado, vendo a porta da cabine aberta enquanto
os dois coroas conversavam algo sobre os controles.
— Relaxa, tem salva-vidas ali. — Sorri mais, estendendo
meu braço para incentivá-la a aceitar ajuda. — E eu sei nadar.
— Não brinca com isso, idiota! — Nana repreendeu e
mesmo assim pegou minha mão e pulou para dentro,
desequilibrando-se um pouco no processo.
— Te peguei! — falei, segurando seu corpo contra o meu
para impedi-la de cair.
— Obrigada. — Olhou para cima, deixando nossos rostos
bem próximos.
Parei por um segundo, admirando a mulher corada e com os
cabelos esvoaçados dentro do meu abraço. Ela estava corada e
linda sob o sol. Tive vontade de me inclinar, deixar um selinho
naqueles lábios deliciosos e sorrir para ela, dizendo de forma
silenciosa que não precisava me agradecer por uma coisa tão
pequena, mas ganharia um beijo sempre que fizesse, no entanto,
aquela não era nossa realidade.
Soltei-a devagar e peguei um dos coletes salva-vidas para
oferecê-la.
— Não precisa. — Afastou-se, dando passos incertos pela
lancha que não era tão grande assim, pelo menos não o suficiente
para ela, que parecia querer uma certa distância de mim.
Lembrei-me de suas palavras no avião e preferi ir para a
proa ficar um pouco sozinho. Lidar com a indiferença de Ayana
neste momento era o menor dos problemas, comparado a me
envolver com ela.
Em poucas semanas estaria na Europa outra vez e ela no
Rio de Janeiro, nos falaríamos apenas em ocasiões como essa, ou
aniversários, festas talvez, já que eu não pretendia voltar a morar no
Rio sob quaisquer circunstâncias.
Tudo voltaria a ser como antes e Ayana seria uma bela
lembrança da minha infância e adolescência outra vez.
Capítulo 10 — Ayana Klein
Sentei-me no banco e segurei firme no guarda-corpo
quando começamos a acelerar, nos distanciando da marina. Não
tinha medo de navegar, de fato, mas pilotar era um hobby que papai
e tio Turra tinham adquirido recentemente. Eles podiam ser muito
bons ou muito ruins, não tinha como prever. É uma experiência
parecida com estar viajando de carro com um recém habilitado:
você tenta confiar, mas não tira os olhos da estrada. A diferença é
que aqui não havia estrada. Só água.
Inclinei um pouco o pescoço e olhei para a frente da lancha,
vendo Igor sentado, com os joelhos dobrados e os braços apoiados
sobre eles. Acho que essa situação já havia nos confundido além do
necessário. Ele não queria se entregar, e eu não me contentaria
com migalhas. Não que planejasse manter um relacionamento
longo, me casar vestida de noiva e ter cinco filhos. Eu levo sexo
casual numa boa, contudo, o fato de nem ao menos querer me tocar
já dizia muito sobre ele.
Então, não! Jamais imploraria, e não ficaria aqui para fazer
parte desse joguinho estranho. E mesmo que me sentisse atraída
por ele o tempo inteiro, não tinha responsabilidade em consertar
ninguém, muito menos acreditava em toda essa “magia do amor”
que cura as pessoas.
— Cadê o Igor? — Desviei meu olhar para tio Arthur, parado
na porta da cabine.
Ergui o queixo e o apontei para frente do barco. Com dois
passos, tio Turra estava olhando pelo corredor. Ele suspirou e
balançou a cabeça de um lado para o outro de forma discreta, mas
foi impossível não notar.
— Como foram esses dias com ele, princesinha? — Ergui as
duas sobrancelhas quando ele se virou para mim.
— É... — Desviei o olhar por um segundo. — Foi tranquilo,
tio.
— Jura? — indagou dando uns passos para frente até estar
sentado ao meu lado no banco. — Ele não tentou ficar sozinho ou
afastar você? Se ele chegou a ser rude, pode me dizer, Nana.
— Não! — neguei rapidamente. — O Igor foi ótimo, me
levou àquele restaurante que você gosta, que fica no terraço de um
prédio.
Ele também me deu um orgasmo e alguns beijos, mas não
era algo possível de ser compartilhado.
Tio Arthur baixou a guarda um pouco e relaxou a postura,
parecendo aliviado.
— Já os levei nesse restaurante mesmo, a comida é ótima e
a vista linda. — Ele abriu um sorriso pequeno, deixando os vincos
nas laterais dos olhos mais evidentes. — Igor teve uma fase
bastante depressiva e não deixava ninguém se aproximar. Ivana e
eu chegamos a viajar para encontrá-lo e ele nos mandou embora.
No outro dia, fez check-out no hotel em que estava ficando e
desapareceu por algumas semanas.
Aquela informação era nova para mim, eu sabia de parte da
história, mas pelo visto não tudo.
— Ele parece mais leve agora, tio — falei, tentando
tranquilizá-lo. — Não posso te garantir que ele está bem, mas não
foi desagradável comigo em momento algum.
Pelo menos não até eu o pedir um beijo.
— Fico muito feliz em ouvir isso, princesa — disse e se
levantou. — Vou lá ficar de olho no seu pai para ele não nos
afundar. — Piscou pra mim, falando um pouco mais alto do que
antes.
— Eu ouvi isso, seu merda! — Papai gritou de dentro da
cabine.
Eu tinha me esquecido do quanto tê-los juntos era divertido,
a coisa toda conseguia ficar ainda melhor quando se juntavam com
o tio TH e o tio Júnior.
Não demorou para começarmos a nos aproximar de uma
ilha. Consegui ver um casarão enorme e moderno, além de muita
vegetação atrás dele. À medida que nos aproximávamos, camas,
redes, coqueiros e espreguiçadeiras ficavam mais evidentes. Dos
lados e atrás de mim havia apenas água, fazendo com que a
imagem da ilha ali, no meio do nada, se tornasse mais
extraordinária.
Papai acelerou a lancha pela lateral, parando em uma
pequena marina, onde tinham mais três embarcações de tipos e
tamanhos variados.
— O acesso aqui é apenas de barco ou helicóptero, tem um
heliporto atrás da casa. — Papai me explicou da porta da cabine,
com certeza deve ter visto minha expressão embasbacada.
— Uau! — foi a única coisa que consegui dizer.
— Nós nos superamos dessa vez. — Tio Turra se juntou a
ele oferecendo a palma da mão para meu pai bater.
— Deixa só o Mascotinho ver isso. — Papai rebateu com um
sorriso irônico.
— Thiago também vai gostar... ou não! — Tio Turra deu de
ombros, dizendo.
— Do que os senhores estão falando? — perguntei,
franzindo o cenho.
— Nada — papai foi o primeiro a responder, desviando o
olhar.
— É, nada!
Cerrei as pálpebras, desconfiada do que eles tinham
aprontado, mas deixei pra lá quando Igor juntou-se a nós. Peguei
minha bolsa e aceitei a ajuda do meu pai para sair do barco,
enquanto Igor e tio Turra descarregavam as malas e mais alguns
suprimentos que trouxeram de Freeport.
Os próximos minutos se tornaram uma confusão de gritos,
beijos, abraços, mãos e muito carinho da minha família. Meu
coração chegou perto de explodir de tanto amor e alegria. Chorei
abraçada com a minha mãe, que não via desde que me visitou há
quase um ano e meio. Zuzu quase não largava o meu pescoço e eu
finalmente pude conhecer minha sobrinha mais nova, a Ariel.
— Mais um pouco e você só a conhecia no ensino médio. —
Noah zombou, carregando a bebezona em um dos braços.
Quase mostrei o dedo do meio para ele, mas, antes que o
fizesse, Noé arregalou os olhos, negando rápido com a cabeça e
olhando na direção de Aurora.
— Qualquer sinal feio e palavrão que você solta ao lado das
crianças é menos cinquenta reais — explicou baixinho. — Eu já nem
tenho mais aposentadoria.
Gargalhei, estendendo os dois braços na direção de Ariel.
— Vem com a titia, princesa! — chamei, reproduzindo
aquela voz boba que fazíamos para falar com crianças ou animais
de estimação.
— Mamãe! — A pequena começou a chorar, debatendo-se
para sair dos meus braços.
Fiz uma careta engraçada e a coloquei no chão, para que a
menininha corresse até as pernas da mãe.
— Daqui a pouco ela se acostuma — Rory falou, erguendo
Ariel no colo enquanto caminhava na minha direção. — Vamos falar
com sua titia, meu amor.
— Tudo bem, mana. — Sorri, tranquilizando-a.
Eu falei com a bebê algumas vezes por chamadas de vídeo,
acho que em breve iria lembrar-se de mim. De qualquer forma,
agora que voltaria a morar no Brasil, ficaria mais perto dos meus
sobrinhos. Ser tia viraria um hobby, eu tinha certeza.
— Nana! — Jasmine gritou, correndo em minha direção com
os cabelos enrolados em uma toalha.
Abri os braços e a girei no ar, como ela gostava quando era
criança.
— Oi, caçulinha! — A apertei forte nos meus braços.
Ela já era adulta e uma mulher casada, mas nunca deixaria
de ser a minha irmãzinha mais nova.
— Eu fui tomar banho, não achei que vocês fossem chegar
tão rápido — falou, se desculpando por não ter me recebido.
Mamãe nos chamou para dentro e minhas irmãs e eu fomos
caminhando e conversando pela grama. Procurei Igor de forma
discreta com os olhos, o vendo mais afastado, conversando com tio
Júnior, Gabi, tio Turra, Tia Ivana e Iara, que ainda estava abraçada
ao irmão.
Acabei abrindo um sorriso bobo, pois era bom ver a família
reunida novamente. A dele e a minha também.
Agora que estávamos aqui na ilha, cercados por tantas
pessoas, não haveria mais brechas para qualquer tipo de
envolvimento entre nós, além disso, eu estava dando início a uma
nova etapa da minha vida e não poderia permitir que ninguém
ficasse no meu caminho.
Tudo que aconteceu em Barcelona ficou para trás.
Capítulo 11 — Igor Reis
Eu esperava poder subir para conhecer meu quarto e
aproveitar para tomar um banho, porém, Eric, Manu e o papai
entraram pela porta da cozinha dois minutos depois de Igor subir.
Nos reunimos do lado de fora junto com todo mundo, um
som alto foi ligado, as bebidas apareceram e a festa começou.
Estava mesmo os achando quietos demais.
Trouxe meu almoço para o lado de fora e fiquei em uma
mesa no canto observando a todos: tio Júnior na churrasqueira,
fingindo que vez ou outra não esquecia da carne e a deixava
queimar. Papai puxando a mamãe para um samba em um canto, tia
Ivana dançando enquanto tio Turra observava, pois ele era um
desastre dançando.
Tio Thiago apareceu um tempo depois, de mãos dadas com
Thiago e João, meus sobrinhos gêmeos que já estavam enormes.
Noah apareceu, entregou Ariel nos braços de Tia Bianca e
chamou os filhos, correndo e se jogando com eles na piscina sob os
gritos de Aurora, perguntando se o marido havia ficado louco.
Dei risada, vendo como minha irmã havia se tornado uma
ótima mãe. Era tão bom estar aqui, não importava o lugar em que
estivéssemos, eles eram meu lar.
Estava na metade da minha refeição quando Igor apareceu,
segurando uma bandeja nas mãos.
— Não consegui te esperar — falei, sem me desculpar, já
que ele havia demorado.
— Tudo bem. Acabei demorando mais um pouco para deixar
Iara aproveitar um cochilo. — Colocou a refeição sobre a mesa,
sentando-se de frente para mim.
Dei uma breve olhada ao redor, vendo parte da nossa
família olhar na direção dele. Seus pais, Turrinha, tio TH... Eles não
encaravam de forma rude, mas não sei se Igor ficaria confortável ao
notar.
— É bom estar de volta? — perguntei por curiosidade.
Tinha presenciado sua interação na cozinha com Miguel.
Não podia escolher um lado e julgar quem estava certo ou errado na
situação, entretanto, senti pena dos dois, pois sabia que a ex-noiva
de Igor era melhor amiga de Miguel. Os dois sofreram uma grande
perda e eu nem podia imaginar como se sentiam.
— É bom — falou, terminando de mastigar sua primeira
garfada. — Melhor do que imaginei, confesso.
— Fico feliz — Sorri.
— Você estava certa, afinal.
— Sim, estar sempre certa é um fardo que eu carrego —
Suspirei dramaticamente e Igor gargalhou.
Desviei a atenção por um segundo, vendo tia Ivana e Iara se
encarando com os olhos mais abertos e um meio sorriso nos lábios.
Voltamos a comer por alguns minutos, até eu acabar de me
alimentar. Igor encostou os talheres no prato e estalou os dedos das
mãos, enquanto me olhava.
— Achei que você estivesse brava.
— E eu estava. Mas já tentei passar mais de cinco minutos
com raiva de você e nunca funcionou. — Ele abriu outro daqueles
sorrisos raros e genuínos que ficavam bonitos demais em seu rosto.
— Isso é bom.
Não sabia se realmente era. Eu tinha uma facilidade imensa
em cortar pessoas da minha vida, podia até discordar, discutir, dar
as chances que fossem, no entanto, quando alguém errava comigo,
costumava ser apenas uma vez.
— Bom pra você — concordei. — Vou subir para pôr um
biquíni — Arrastei a cadeira para trás, mas, antes de me levantar,
precisei deixar mais um comentário sobre o assunto anterior. — Eu
não culpo você pelo que aconteceu. Nesse caso, pelo que nem
chegou a acontecer. Não vou ficar brava, nem fingir que você não
existe, porém, como você mesmo citou outra vez: eu mereço mais
do que beijos interrompidos e ordens sussurradas no ouvido.
Afastei-me antes que ele respondesse, pois nem
deveríamos estar tendo essa conversa aqui sob o olhar de tanta
gente.
Se Igor fosse esperto, faria o mesmo que eu estava
tentando fazer e fingiria que nada daquilo aconteceu em Barcelona.
IGOR
A ilha não era tão pequena quanto parecia de longe e não
seria um problema se eu precisasse de um tempo sozinho, no
entanto, a minha vontade era de estar ali com minha família e aquilo
se intensificou após Ayana voltar.
Os cabelos, que antes estavam presos por um coque, agora
voavam livres em todas as direções quando ela passou pelas portas
duplas da sala. Seu corpo bem desenhado estava coberto apenas
pelo biquíni vermelho e a saia curta que usava.
Linda. Linda pra caralho.
— É só travar os dentes — Minha irmã apareceu atrás de
mim, falando.
— O quê? — Olhei sobre o ombro com as sobrancelhas
franzidas.
— Quando não conseguir segurar o seu queixo caído, é só
travar os dentes. — Ela estava zombando de mim, a peste.
— Meu queixo está onde deveria.
— Uhum! — desdenhou, franzindo os lábios. — Você tá
quase babando e olhando apenas em uma direção. — Iara se
aproximou mais e arrastou uma cadeira até o meu lado, sentando-
se. — Eu achei que sua paixonite tivesse ficado no passado. — A
infeliz sorriu.
— E ficou — falei, olhando para todos os lugares, menos
para Nana, o que era uma tarefa bem difícil agora.
Tio JP aumentou o som, puxando Zuri e Ayana para
sambarem com ele bem no meio do jardim dando um verdadeiro
show para quem estivesse olhando. Nana saiu rebolando do lugar e
puxou Aurora e mamãe para a festa. Gabi foi a próxima, Júnior foi
logo depois e levou minha madrinha junto.
— Ficou? — Iara voltou a perguntar minutos depois, quando
eu já nem lembrava mais do que estávamos falando.
Precisei me concentrar ao máximo para tirar a atenção da
rodinha de pagode e voltar ao assunto.
— Ela é linda, sabia? Olhar não significa que quero alguma
coisa. — Tentei soar indiferente.
Nunca olhei para nenhuma das meninas com outros olhos,
Aurora, Zuri, Yasmin, Milena... eram todas parte da minha família.
Jasmine nasceu quando eu tinha quase dez anos, na minha
adolescência ela ainda era uma criança. Além disso, o Turrinha
sempre foi apaixonado pela pirralha. Mas com Ayana sempre foi um
pouco diferente, sempre houve uma atração ali, mas precisou ser
desconsiderada.
— Tá bom. — Iara deu de ombros. — Já conversou com a
mamãe? — perguntou, mudando de um assunto ruim para um não
muito melhor.
— Acho que tenho que acertar as contas com muita gente,
não é?
— Combinamos de não tornar isso um grande evento, mas
você deveria ao menos dizer que estava com saudades, sabe? Ela
é durona, porém tiveram noites que sequer dormiu por sua causa.
Cocei a barba, memorizando mais esse motivo para me
sentir um merda.
— As palavras “sinto” e “muito” na mesma frase já estão
perdendo o sentindo pra mim — confidenciei a uma das únicas
pessoas que sabia que não iria me jugar. — Eu me sinto mal por
tudo isso, mas fiz o que achei ser melhor naquele momento. Por que
ninguém entende?
— Porque não envolveu só você ou os seus sentimentos,
irmão.
— Eu não podia ficar ali e fingir que estava tudo bem. Meu
apartamento está cheio de caixas com convites, decorações de
casamento, planos, você sabe... Se hoje eu nem sei como vou
encarar aquilo tudo, nem consigo imaginar como me sentiria há um
ano, no meio daquela confusão.
Suspirei, engolindo o nó que se formou na minha garganta.
Ainda tinha tanto com que eu precisava lidar.
— Eu limpei seu apartamento. — Inclinei o pescoço um
pouco para o lado e baixei a cabeça quando senti a umidade se
formar nos meus olhos. — Achei que mamãe e papai te
convenceriam a voltar para casa e tirei tudo de lá. Cássia levou as
roupas da irmã e todos os outros pertences dela.
Apertei os olhos e balancei a cabeça.
— Obrigado. — Não sabia se estava mais triste ou aliviado.
— Não tem o que me agradecer, Igor, e como já falei:
também não se sinta mal por suas decisões. Entendo o sentimento
da mamãe o do papai por terem você longe naquela fase difícil, e eu
também fiquei mal a ponto de me oferecer para ficar com você,
lembra? — ela falou e eu acenei com a cabeça. — Mas você é um
homem adulto que tomou uma decisão. Não foi nada saudável se
isolar dessa forma depois de um momento difícil, porém foi o seu
modo de reagir. Não dá para querer administrar como todos a sua
volta vão se sentir pela forma como você resolve viver.
— Você é boa nisso, doutora — falei, orgulhoso da minha
irmã médica superinteligente.
— Estou sendo sua irmã, seu abusado. Sou neuropsicóloga
infantil e você nem tem mais idade para ser meu paciente.
— Mas você é ótima com os adultos também, incluindo os
que não marcam consultas.
— Eu sei, sou muito boa mesmo, concordo. — Ela se gabou
e eu sorri.
O clima mudou outra vez, levando embora um pouco do
meu sentimento ruim.
O dia estava sendo como um turbilhão de emoções,
passando de feliz e leve a triste e melancólico em um piscar. No
entanto, era necessário lidar com isso, até porque, em algum
momento eu teria que passar por todas as conversas, pedir todas as
desculpas e arcar com as consequências.
A música continuou a tocar e de forma inconsciente voltei a
atenção para o meio do jardim. Uma canção mais animada havia
começado e Nana parecia radiante, sorrindo enquanto aprendia
uma coreografia com as irmãs. Até tio Jota entrou no meio,
reproduzindo a dancinha do TikTok.
Iara e eu demos risada do lugar e tio Thiago apareceu com
o celular, filmando tudo.
— E se alguém entrar? — Nana parou um segundo para
perguntar e eu me afastei, olhando para seu rosto, procurando
algum receio ou arrependimento ali, no entanto, ela parecia apenas
excitada.
— A ideia de ser flagrada gemendo enquanto eu passo a
língua pelo seu corpo te assusta... — Pausei, testando sua reação
antes de continuar: — ou excita?
Ela abriu um sorriso lento e sensual, prendendo a pontinha
do lábio inferior com os dentes.
Como imaginei, apesar do medo envolvido, o perigo também
contribuía com o momento, tornando-o mais excitante.
— Você fode com a minha cabeça, porra! — falei, um tanto
perturbado, antes de voltar a beijá-la com força.
O jeito que respondia a mim e ao meu beijo, me dando
acesso ao seu corpo, derretendo-se nos meus braços enquanto eu
parecia prestes a devorá-la, era enlouquecedor.
Nana passou as mãos pelos meus ombros arrastando minha
camisa, até que estivesse escorregando por meus braços. Tirei
minhas mãos dela por um segundo para deixar o tecido cair, mas
não demorei a voltar.
Um som baixo e rouco de satisfação saiu da minha garganta
quando suas unhas passearam por meus ombros, costas e
desceram por minha lombar.
No início era apenas uma carícia gostosa, ao passo que
continuávamos explorando a boca um do outro, excitados, buscando
mais proximidade do que o possível. Em um determinado momento,
seus gemidos foram ficando mais intensos, e suas unhas já não
acariciavam mais, elas se arrastavam com uma força dolorosa em
meu couro. Apertei os dentes sobre seu lábio inferior como forma de
protesto, contudo, em vez de reclamar, Nana se contorceu,
arquejando, pedindo por mais.
Meu pau latejou em resposta. Ela gostava de brincar e eu a
mostraria o quanto era bom naquilo.
Segurei firme sua nuca com uma das mãos e enfiei a outra
por dentro de seu short, agarrando a bunda nua com a mão inteira,
à medida que minha boca se abria ainda mais sobre a sua. Éramos
apenas nós dois ali entre arquejos, línguas e lábios, toques ousados
e um tesão fodido, que arrancava a minha capacidade de raciocinar.
Ergui seu corpo com apenas uma das mãos e Nana soltou
um gritinho estrangulado, apoiando-se em meus ombros para
equilibrar o corpo. Coloquei-a sentada sobre a bancada e tirei o
banco da frente, voltando a me encaixar entre suas pernas.
— Vou te provar inteira agora — avisei, antes puxar a parte
da frente de sua blusinha para baixo e enfiar o rosto entre seus
seios, beijando tudo ali, até que meus lábios estivessem sobre o
mamilo ereto.
O som que saiu de sua boca quando a suguei ali pela
primeira vez talvez ficasse para sempre se repetindo em minha
mente, em um loop infinito, de tão sensual que era. E o gosto dela
me atiçava, obrigando-me a mamar cada vez mais duro enquanto a
mulher arqueava as costas, oferecendo-se inteira para mim.
Alisei suas pernas nuas com as duas mãos de uma vez,
esquentando a pele, construindo a expectativa de tocá-la. Tive
vontade de deixar tapas naquelas coxas gostosas, contudo, os
estalos chamariam atenção para o que estávamos fazendo. Apesar
que os gemidos de Nana já faziam muito bem esse papel.
Fechei os dentes de leve ao redor de seu bico sem a
intenção de machucar, esperava que ela fosse gostar, só não
contava com o seu pedido:
— Mais forte! — Nana pediu com a voz afetada, subindo
uma das mãos para agarrar firme em meu cabelo.
— Você quer foder duro, gostosa? — perguntei admirado,
louco por aquela descoberta.
— Faz o que quiser comigo, Igor, só não seja gentil agora.
Não pude responder. O que eu diria? Que ela era perfeita
pra caralho?
Mordi mais forte como pediu e depois lambi, ouvindo o
barulho de seus dentes trincando à medida que se esforçava para
não gritar.
Meu pau pulsava louco dentro da boxer, estava tão duro que
me causava agonia. Nós dois precisávamos da atenção dela ali,
mas minha cabeça fodida só queria continuar ouvindo aqueles sons
produzidos por Nana, enquanto eu estimulava seu corpo.
Lambi mais seus seios e subi uma das mãos por sua coxa,
alcançando a barra do short, que não serviu de obstáculo para que
eu a enfiasse ali, e então foi a minha vez de gemer contra sua pele,
sentindo a boceta molhada e livre, pois ela não havia vestido sequer
uma calcinha.
— Porra, Ayana! — me afastei para dizer, com a voz rouca e
entrecortada.
Fiz com que ela se inclinasse e lambi seu pescoço e colo,
passando os dedos pela carne quente e melada de sua vulva.
— Quero seus dedos dentro de mim — ela falou, jogando o
pescoço para trás, ao passo que eu brincava com sua entrada,
Afastei a boca de seu corpo para olhá-la, apreciando a
forma como ficava linda quando estava entregue a mim.
Dei-lhe esperanças de afundar meus dedos em seu canal,
porém não o fiz, subindo-os de volta para seu clitóris. Nana apoiou
as duas mãos atrás de si e rebolou, procurando por mais atrito, no
entanto, meu toque continuou como uma carícia leve, nada que a
possibilitasse gozar, ao menos não por enquanto.
Abri mais suas pernas e me inclinei, beijando a parte de
dentro das coxas antes de colocar seu short para o lado de modo
que eu pudesse ver a boceta brilhando pela lubrificação. Impaciente,
meti meu rosto inteiro entre as pernas dela, sentindo o gosto doce
em minha língua conforme a explorava.
Chupei sua boceta como se não existisse nada mais
saboroso no mundo inteiro, e talvez não houvesse mesmo. Não
naquele momento. Seus gritinhos estrangulados se tornaram uma
música insana e sensual para os meus ouvidos, entretanto,
consegui uma centelha de consciência para me atentar em tapar
sua boca com minha mão para abafar o barulho.
Tentava mantê-la no lugar com um dos braços, mas Ayana
não parecia disposta a ficar quieta, impulsionando o quadril em
direção à minha boca enquanto arquejava contra a palma da minha
mão. Quando contornei a língua ao redor do nervo pulsante, ela
perdeu de vez o controle, deitando as costas na bancada, abrindo
mais as pernas para mim e enroscando os dedos em meus fios para
forçar minha cabeça contra si, ao passo que tentava erguer a
bunda.
Endireitei a postura, não aguentando mais aquela tortura,
mesmo que fosse deliciosa. Abri o botão da bermuda e estiquei os
lábios em um sorriso quando Nana bufou um som de insatisfação.
Ela queria gozar, mas só faria isso quando estivesse totalmente
preenchida por mim.
Antes que a mulher ainda insatisfeita e teimosa resolvesse
pular da bancada, pensando que poderia tomar as rédeas da
situação, a puxei em um impulso, colocando-a sobre seus próprios
pés antes de virá-la de costas para mim e terminar de tirar minha
roupa. Chutei minha bermuda e masturbei meu pau devagar,
sentindo uma urgência que nunca experimentei antes.
Eu gostava de sexo lento, porém intenso. Preferia torturar
minha parceira até que estivesse lânguida e louca para receber o
meu pau, mas com ela eu tinha pressa, mesmo não querendo que o
momento terminasse, eu não queria mais esperar nem um segundo
para tê-la.
Quando subi o olhar, Nana estava com o queixo apoiado no
ombro, me observando com o olhar guloso.
— Empina essa bunda gostosa pra mim, gostosa— Mal
reconheci minha própria voz ao ordenar.
— Porra, achei que você nunca fosse pedir — ela disse,
antes de apoiar os cotovelos na bancada e ficar na ponta dos pés
com o quadril projetado em minha direção.
Me acariciei, enquanto tirava um segundo para olhar a
perfeição que era a mulher. Segurei na lateral de sua bunda com
uma das mãos, afastando o short que eu não queria tirar. Ela ficava
gostosa pra caralho com aquele baby doll curtinho, despertando os
meus desejos mais sujos.
Me aproximei e pincelei minha glande por sua vulva,
gemendo pelo atrito quente dos nossos sexos. Queria muito
conseguir prolongar o momento, sentir prazer em cada pedacinho
de seu corpo, no entanto, já não aguentava mais me segurar.
Trinquei os dentes, fazendo um tremendo esforço para não a
penetrar de vez e causar algum desconforto.
Deixei o ar escapar com força, sentindo seus músculos me
envolverem à medida que nossos sexos se encaixavam pouco a
pouco, entretanto, a mulher impaciente se moveu, rebolando e
engolindo todo o meu pau de uma vez.
Foi a minha vez de gemer alto, me dando conta do quanto
sentia falta daquele contato íntimo. Da eletricidade correndo pelas
veias, do sangue quente e dos arrepios pelo corpo. Era foda pra
caralho! E o fato de ser Nana ali, levava-me ao limite do prazer.
— Isso! — chiei, louco ao ver meu pau se perdendo dentro
dela quando movia o quadril. — Rebola em mim, Nana. Rebola pra
mim.
Levei uma das mãos até seus cabelos e agarrei um
punhado deles, fazendo com que seu corpo se curvasse mais
conforme puxava sua cabeça para trás. Queria tanto ver seu rosto,
sua expressão tomada de prazer enquanto a penetrava por trás,
porém, ao mesmo tempo, não tinha coragem de sair daqui. Não
agora.
Abri a boca sem consegui parar de grunhir ao sentir seu
canal me esmagando ao mesmo tempo que ela rebolava gostoso, e
aquela visão de sua bunda mexendo contra mim era o paraíso.
— Ayana! — chamei alarmado, sentindo como se todo meu
sangue tivesse se acumulado na minha pelve.
Apertei seu quadril com uma das mãos, tentando conter um
pouco seu movimento frenético, porém ela não estava disposta a
parar. Chiei ao vê-la levar uma de suas mãos até o meio de suas
pernas para se tocar. Sua boceta contraiu, me apertando e soltando,
fazendo com que meu membro tocasse quase todos os lugares
dentro dela ao mesmo tempo.
— Porra, Ayana! — protestei mais alto, tentando fazer com
que ela maneirasse um pouco, ou eu não aguentaria mais do que
alguns segundos daquela forma. — Espera! — pedi, puxando o ar
com dificuldade e projetando o quadril para trás para sair de dentro
dela.
Agi rápido, virando seu corpo de frente para o meu em um
impulso e fazendo com que suas pernas abraçassem meu quadril.
Precisou apenas de um ajuste pequeno para que meu pau estivesse
dentro dela novamente, contudo, diferente de antes, eu tinha um
pouco mais de controle agora.
Beijei-a com força, segurando firme dos dois lados de sua
bunda, que cabiam perfeitamente na palma da minha mão.
Tudo sobre Ayana parecia projetado para se encaixar em
mim.
A apertei, impulsionando nossos quadris na direção um do
outro, engolindo os choramingos que ela soltava sempre que eu
chegava até o fundo.
Ajoelhei-me no chão, trazendo seu corpo comigo na mesma
posição e me sentei sobre meus próprios calcanhares,
acomodando-a em meu colo. Podia sentir toda sua boceta se
esfregar contra meu púbis enquanto mantinha meu pau enterrado
dentro dela. Pelo menos daquela forma meu acesso à sua boca,
pescoço e seios era ilimitado e eu me aproveitei daquilo, fazendo o
possível para me distrair do meu orgasmo prestes a se libertar.
— Goza, Ayana — sussurrei ao pé do seu ouvido, sabendo
exatamente todos os efeitos que aquele ato causava nela. — Goza
com meu cacete todo enterrado na sua boceta.
Voltei a beijar sua boca conforme nossos gemidos altos se
misturavam um ao outro e eu me derramava dentro dela, usando
uma das minhas mãos para ajudá-la a quicar em mim e segurando
firme em seu cabelo com a outra.
O pior de tudo é que, mesmo esporrando em seu canal, não
queria parar. Sentia-me pronto para recomeçar tudo mais uma vez,
e outra, e talvez mais algumas, todavia, Ayana havia relaxado em
meus braços.
NANA
Após o café da manhã, os meninos foram para o campo que
havia no quintal da casa. Tia Ivana seguiu com eles para apitar o
jogo e tia Bianca seria a narradora, pois, de acordo com tio Thiago,
o narrador sempre tinha a melhor perspectiva da partida, e ele não
confiava o suficiente na Macedão e em seus conflitos de interesse.
Eu, as meninas e as crianças ficamos na piscina. Eu estava
louca para tomar um banho de mar, porém queria aproveitar para
matar a saudade das minhas irmãs e me aproximar dos meus
sobrinhos. Ariel parecia mais feliz comigo agora e eu estava
amando aquilo.
— Vai me falar a verdade do porquê saiu de Bolshoi? —
Zuzu indagou assim que tivemos um espaço maior. Imaginei mesmo
que por seus olhares ela só estava esperando um momento
sozinhas para me perguntar.
Tia Gabi, Mine, Manu, mamãe, Aurora, Iara e minhas primas
gêmeas, filhas do tio Thiago, estavam na outra borda conversando
animadas sobre a entrevista que a irmã de Igor daria em um
programa de televisão.
— Porque eu quis — inteirei, segurando a neném na boia.
Ariel sorria e batia animada na água com os braços enquanto os
irmãos desciam no escorrego pequeno que havia na borda. — Você
está louca para escorregar também, não é? — perguntei, com
aquela vozinha boba.
Peguei ela nos braços e saí da piscina parecendo uma
contorcionista com apenas uma mão livre. Como imaginei, Zuri nos
seguiu, mas permaneceu dentro da água.
— Fica no fim do escorregador. — Apontei para lá, afinal,
alguém tinha que pegá-la.
Zuzu passou alguns segundos me olhando com seu melhor
olhar petulante, mas fez o que eu disse.
— Não acredito que você investiu sua vida inteira lá para
sair agora, sinceramente... — Ela começou o discurso lá de baixo.
Ignorei sua fala por alguns segundos, segurando na mão da
minha sobrinha enquanto ela sorria e dava gritinhos descendo pelo
brinquedo.
— Peguei você! — Zuzu agarrou ela no fim e Ariel
gargalhou, pedindo para ir de novo.
Peguei-a dos braços da Zuri e a posicionei outra vez no
topo. Era um momento muito fofo, contudo, a minha irmã não estava
disposta a me deixar em paz.
— Ayana, você pode me falar ou eu posso descobrir por
minha conta. E se eu souber que aqueles filhos da puta te
diminuíram ou fizeram você se sentir mal, a coisa não vai ficar
bonita.
Suspirei, me segurando para não revirar os olhos. Eu tinha
muito orgulho dela, mas odiava quando começava com aquele
mood advogada sanguinária.
— Eles começaram a sugerir que faltava pouco para
pendurar minhas sapatilhas — falei, contrariada com aquilo.
— Não é a companhia que toma essa decisão, como assim
eles sugeriram?
— Disseram que, pela minha idade, meu rendimento não
era mais o mesmo de quando cheguei lá. — Encaixei minha
sobrinha no topo do escorregador outra vez e comecei a ajudá-la a
descer.
— Sabe que isso é mentira, certo? — Zuri inclinou um pouco
o pescoço, me olhando como se eu tivesse três chifres.
— Claro que eu sei, por isso entreguei minha demissão
antes de qualquer coisa. Se eles me queriam fora, tiveram do meu
jeito.
— Isso não faz o menor sentido, Nana. — Minha irmã negou
com a cabeça, pegando Ariel e colocando-a na boia, em vez de
entregá-la para mim.
A bebê começou a chorar, pois é claro que queria brincar
mais um pouco.
— Sua malvada — acusei, fazendo careta.
— Deixa que eu a pego agora— tia Gabi se aproximou com
o rosto melecado de protetor e uma tela gigante na cabeça — Vão
discutir em outro lugar, mas depois voltem com a fofoca inteira, por
favor.
— Não tem fofoca, tia. — Dei de ombros, andando pela
borda até me sentar na espreguiçadeira que ficava ao lado da mesa
onde deixei meus objetos pessoais.
Sem se contentar, Zuzu veio atrás de mim.
— Você está com sede de sangue, mana, mas não tem um
caso pra você aqui. — Deitei-me de costas, apoiando o antebraço
na testa para proteger meus olhos do sol.
— Meu instinto diz que há mais do que você quer contar.
— Sempre há mais — Olhei um pouco de lado, vendo-a se
sentar na espreguiçadeira à minha direita. — No entanto, nada que
valha seu tempo. Eu estou feliz, Zuzu, passei anos na Rússia
sozinha, vivendo entre trabalho, estudos, casa...
— Dimitri... — ela completou e eu sorri, já sentindo
saudades do meu melhor amigo.
— Sim, o Dimi. — Concordei com a cabeça. — Mas eu
finalmente posso ficar perto da minha família agora e ainda
continuar fazendo o que amo. Quero começar o projeto do meu
estúdio e vou usar todo o prestígio que a Bolshoi me trouxe.
— Tem certeza de que está tudo bem? — perguntou outra
vez.
— Tenho absoluta certeza.
Sabia que meu sobrenome havia aberto muitas portas para
mim e aquilo fazia com que eu me sentisse mal sempre que
pensava em me lamentar ou revoltar por qualquer problema dentro
do teatro que me envolvessem direta ou indiretamente.
Eu não podia reclamar agora, não podia me lamentar e
muito menos fingir que era uma pobre coitada. Cresci em uma
família milionária e cheia de regalias, estudei nas melhores escolas,
frequentei as melhores academias de dança e tive tudo que
qualquer criança sonha. O fato de ser negra nunca me tornou menor
ou menos talentosa, meus pais fizeram questão de me dizer isso a
vida inteira, e eu sempre acreditei neles fielmente, mesmo com os
olhares enviesados, o racismo velado e a representatividade quase
inexistente por cada lugar que passei.
No início da minha carreira, mal havia com quem me
comparar, nem sapatilhas com meu tom de pele existiam à venda
nas lojas, e eu sempre precisei pintar todas com a minha cor. As
bailarinas eram sempre brancas e perfeitas como bonecas de
porcelana. Elas não possuíam um fio de cabelo fora do lugar.
Nunca. O ballet clássico transmite uma aura de perfeição e eu
sempre fui obrigada a ser mais perfeita do que todos ao meu redor
para me destacar. Ser muito boa não era o suficiente. Não para
mim.
No entanto, nada daquilo me impediu de crescer. Eu sabia
bem onde queria chegar, corri atrás dos meus sonhos e nunca me
contentei com menos do que eu merecia.
— Quero começar um projeto social — falei, ganhando a
atenção da minha irmã. — Com crianças e adolescentes da
comunidade, porém, primeiro preciso que meu estúdio aconteça, só
então vou poder encontrar a melhor forma de administrar esse
plano.
— Uau! Isso é muito foda, Nana — Zuri falou,
impressionada.
— Sim, mas ainda é um plano.
— Seu pai e seus tios vão amar essa ideia — tia Gabi falou
de dentro da piscina, com os braços apoiados na borda. Ela estava
ouvindo a conversa, claro! — Eu os usaria se fosse você. A
escolinha de futebol tem um programa assim, tenho certeza de que
isso pode te ajudar.
— Vou conversar com eles sim, tia — Ergui o pescoço,
sorrindo para ela.
Olhei um pouco além, vendo parte dos meninos correndo
em nossa direção. Noah, Eric, Turrinha e Miguel se jogaram de
cabeça na piscina, gritando, espirrando água para todos os lados e
molhando as meninas, enquanto o restante vinha caminhando mais
atrás, contudo, meus olhos focaram apenas em um deles.
Seu corpo estava coberto somente pelo calção branco. O
peitoral nu revelava a frase tatuada na costela esquerda, que eu
pude ver bem de perto na madrugada passada. Os ombros largos e
abdome definidos eram um puta espetáculo.
Peguei meus óculos escuros na mesinha próxima e os
coloquei, assim poderia secá-lo o quanto quisesse sem que
ninguém notasse. Igor parou, conversando animadamente com tia
Ivana e tia Bianca, ficou ali por alguns minutos e depois se afastou,
indo em direção à casa. Contive a vontade de segui-lo com o olhar,
em vez disso, relaxei os ombros contra a espreguiçadeira, sentindo
minha pele aquecida pelo sol forte.
Fechei os olhos tentando me distrair, mas meus
pensamentos insistiam em me levar até a madrugada insana que
tive. Pensar nisso agora não era a escolha mais inteligente, visto
que apenas o pensamento fazia meu pulso acelerar.
Vencida, comecei a observar minha família na piscina e ao
redor dela. Ainda estávamos no meio da manhã, porém o dia
prometia render, e mais tarde ainda teríamos a virada de ano.
Olhei para o tal do Kostas, conversando com papai e tio
Turra, mas seus olhos estavam em Zuri, que parecia completamente
alheia a ele.
— Zuzu — chamei, e ela tirou um pouco a atenção do
celular.
— Hum?
— E esse Kostas, hein? — questionei em um tom sugestivo.
— O gringo arrogante que se acha a última bolacha do
pacote? — ela ergueu as sobrancelhas, me olhando sob os cílios
volumosos. — O que tem ele?
— É gato... — falei e Zuri fez uma careta de nojo,
encenando um tremor. — Por que ele veio?
— Não tenho a menor ideia, mas, ficaria muito feliz se
esquecêssemos ele aqui no meio do nada.
Dei risada da implicância dela e baixei um pouco os óculos,
voltando a encarar o homem, que desviou o olhar ao perceber que
eu tinha notado.
Não demorou muito até que eu ouvisse o toque do meu
celular na mesa. Sorri, acreditando ser meu melhor amigo, pois só
havíamos nos falado ontem à noite, contudo, a mensagem vinha de
um número estranho.
~Desconhecido: Quer vir aqui em cima?
Abri o perfil, vendo a foto de Igor sério, mas ainda assim
lindo. Ele deve ter conseguido meu número no grupo da família, o
mesmo que ele não interagia há séculos.
Eu: Hmm, o que vou ganhar com isso?
Sorri ao apertar em enviar, imaginando a expressão dele ao
ler. Saí da tela e salvei seu contato, pois não o tinha.
Igor Reis: Você pode descobrir vindo aqui, linda.
Mordi o lábio inferior, dando uma breve olhada ao redor.
Zuzu parecia alheia a tudo, mexendo em seu próprio celular. Todos
os outros estavam conversando, ninguém interessado em meu flerte
virtual.
Levantei-me e vesti a camisa branca de Igor novamente. Só
havia decidido usá-la para testar sua reação e valeu a pena, mas
também corri o risco de alguém notar, mesmo que fosse uma
camisa branca de botões como qualquer outra.
Todavia, caso me perguntassem, poderia até dizer que foi
do Dimitri.
Saí quieta sem olhar para trás, pois poderia levantar
suspeitas. Confesso que ficar nesse “esconde-esconde” garantia
toda a diversão e o tesão do nosso envolvimento.
E era nisso que eu me assegurava quando tentava me
convencer de que só estava sendo tão intenso pelo fato de ser
escondido, não tão proibido, mas ainda assim um pouco
problemático.
Subi as escadas quase correndo e entrei no corredor onde
ficavam os nossos quartos, Igor esperava encostado em sua porta,
olhando de forma ansiosa para a entrada. Ele abriu um sorriso
quando me viu e mal esperou que eu chegasse perto o suficiente
antes de me puxar para dentro do cômodo e me encurralar contra a
parede. Foi tudo tão rápido que mal tive tempo de respirar entre
uma ação e outra.
— Ficar apenas olhando pra você nesse biquíni é a porra de
um castigo. — Inclinou-se, deixando um selinho em minha clavícula.
— Digo o mesmo pra você, desfilando sem camisa por aí —
falei, respirando fundo para controlar meu batimento cardíaco ao
mesmo tempo que erguia mais o pescoço para dar-lhe acesso.
— A ausência da camisa é só para exibir as marcas das
suas unhas nas minhas costas. — Ele riu contra minha pele, sabia
que estava brincando, mas me apavorei por nem ter chegado a
lembrar desse detalhe.
— Alguém notou? — questionei, arregalando os olhos.
— Mamãe e tia Bianca — falou, sem parar de deixar beijos
pelo meu pescoço, contudo, agora eu estava mais tensa do que
excitada. — Eu disse que dormi com a janela aberta e passei a noite
inteira sendo atacado por mosquitos.
— Elas acreditaram nisso? — perguntei, rindo da pior
desculpa que já tinha ouvido antes.
— Claro que sim, ganhei até um repelente.
— Você é um péssimo mentiroso, Igor. — Acusei.
— E você não deveria ficar tão gostosa assim com a minha
camisa. — Ele passou a língua entre meu pescoço e mandíbula, me
fazendo estremecer.
— Me chamou aqui para pegá-la de volta? — provoquei,
ansiosa para ter sua boca na minha.
— Não mesmo — Seus lábios estavam próximos ao lóbulo
da minha orelha agora. — Pode levar todas as minhas camisas se
quiser, elas ficam muito melhor em você.
— Hmmm, é uma ótima ideia, pois assim você vai ser
obrigado a passar o dia inteiro sem elas.
— Você conseguiria tirar os olhos de mim caso
acontecesse? — Ele fechou os lábios sobre meu lóbulo, chupando-o
da mesma forma que fazia com meus mamilos.
— De forma alguma. — Arquejei, tirando as costas da
parede ao me contorcer e ele finalmente reagiu, tomando meus
lábios com aquela sede incontrolável.
Gemi com suas mordiscadas breves sobre meu lábio inferior
e me controlei o máximo que pude para não arranhar sua pele outra
vez. Igor brincava com minha língua como se elas já fossem mais
do que íntimas, e a cada som que saía de sua garganta eu me
perdia mais naquele beijo.
As coisas começaram a ficar insanas quando ele agarrou
minha bunda com as duas mãos de uma vez, me erguendo para
enrolar as pernas ao redor de seu quadril. Pude sentir o pau dele
pulsando contra a parte interna da minha coxa e arquejei, tentando
me esfregar nele.
Eu sabia que nós não podíamos transar aqui essa hora, pois
as chances de sermos flagrados eram muito grandes, e as coisas
podiam ficar bastante esquisitas por aqui se isso acontecesse.
O cara quase viúvo que sumiu no mundo tentando superar a
perda da noiva do nada aparece transando com uma de suas
amigas de infância. Esquisito demais. Além disso, acarretaria uma
série de consequências, como esperanças de que eu fosse curá-lo
de alguma forma milagrosa com o poder sobrenatural do meu amor.
Eu não acreditava em nada daquilo.
Esquivei-me do seu beijo, puxando o ar com força para
recuperá-lo e colocando a minha cabeça no lugar.
— Não podemos fazer isso agora, muito menos aqui — falei,
encostando minha testa em seu ombro.
— Eu sei — Igor alisou minhas costas e deu um passo para
trás, me ajudando a colocar os pés no chão. — O que acha de
fugirmos após o almoço? — questionou, com um olhar cheio de
esperanças.
— Fugir para onde? — Franzi o cenho.
Estávamos no meio do nada, em uma ilha, com tanta gente
conhecida que era quase impossível passar desapercebido.
— Tem uma trilha depois do campinho e o papai me falou
que dava em uma praia com piscinas naturais. Dá pra chegar lá pela
areia também — contou, entusiasmado.
Confesso que era muito bom ver os olhos dele brilhando
com aquela expectativa.
— Tem alguma forma de sairmos de fininho? — perguntei, já
topando aquela ideia maluca.
— Acho que nem precisamos ir escondidos — Estreitei os
olhos, como se ele estivesse ficando louco. — Podemos dizer que
vamos correr, nos exercitar, conhecer a ilha, dar uma volta... — Deu
as opções.
— E se alguém decidir vir conosco?
— Acho que, se dissermos que vamos correr um pouco,
ninguém vem — afirmou, mas estava pensativo.
— Sua mãe não corre com o seu pai quase sempre?
Tia Ivana tinha uma rede de academias, era formada em
educação física, trabalhava como árbitra e ainda era a personal
trainer da família. Ela não deixava de se exercitar um dia sequer.
— Eles estão indo todas as manhãs, pelo que me disseram.
— Então pode funcionar — falei. — Eu digo que quero ir
correr e aproveitar para dar uma volta por aí e você se oferece para
vir junto. — Sugeri.
— Você bem que podia me convidar, hein? — Sorriu,
mexendo as sobrancelhas de um jeito engraçado.
— Posso perguntar se alguém quer vir comigo e aí você se
oferece.
— Fechado. Acho que todos vão estar sonolentos depois da
refeição, o jogo não foi brincadeira. — Ele colocou uma mão na
minha cintura, dando dois passos para frente e voltando a me
imprensar entre seu corpo e a parede.
— Nossa família não brinca quando o assunto é futebol.
— Não mesmo — Inclinou o pescoço para me dar um
selinho — Estou ansioso para a nossa escapada — Capturou meu
lábio inferior entre os seus, me incitando a corresponder o beijo.
Ouvi algumas vozes ao longe, acompanhadas por passos.
— Se não descermos agora, vão acabar nos pegando antes
de escapar. — Avisei, me esforçando o máximo para não me
esfregar contra seu corpo.
— Tem razão — ele disse, se afastando. — Você vai na
frente — Sorriu, olhando para baixo onde o pau estava demarcado
sob a bermuda.
— Ok — Dei risada, passando as mãos pelo meu cabelo e
colocando minhas roupas no lugar.
Eu quase saí direto, mas me lembrei dos riscos e abri uma
fresta da porta, espiando o corredor no mesmo momento em que
Iara entrou nele. Fechei rápido e de forma barulhenta, para o meu
total desespero.
— Sua irmã — colei minhas costas na porta e sussurrei para
Igor, que continuava parado no meio do cômodo.
— Merda! — Fez careta, vindo em minha direção.
Igor colou o corpo grande contra o meu, segurando a
maçaneta ao meu lado com uma mão e levando o dedo indicador da
outra até os lábios, sinalizando que eu fizesse silêncio.
Acenei e fechei os olhos, mas aquilo não foi uma boa ideia.
Comecei a sentir o cheio de seu perfume de forma mais
intensificada e o calor da sua pele suada contra a minha. Eu era
alta, mas ele tinha uns centímetros a mais, além dos ombros e peito
muito largos.
Igor devia se exercitar muito bem agora, pois desde sempre
ele foi mais magro, tinha partes mais definidas, mas não era do tipo
grandão, tanto que seu rosto continuava mais fino como sempre, no
entanto, o corpo atlético já contava outra história.
Voltei a abrir os olhos quando ela bateu na porta atrás de
mim, mexendo na maçaneta, enquanto chamava pelo irmão. Mas a
porta nem chegou a se mexer por conta do peso do corpo dele.
— Igor? — Olhei um pouco mais para cima outra vez,
assustada, com o coração batendo na minha garganta.
Ele me olhou de forma calma, inclinando o pescoço para
trás e respondendo:
— Oi, marrentinha. Subi para tomar um banho.
— Ah... Tá tudo bem?
— Tá sim. Por quê? — ele perguntou e desceu um pouco os
olhos me observando e me dizendo em um mover de lábios sem
som: “calma”.
Acenei com a cabeça, respirando fundo.
— Nada... Você e o Miguel já conversaram?
— Ainda não, mas está tudo bem, mana. Te encontro lá
embaixo.
— Tá bem. — Ouvi o som de seus passos começando a se
afastar, mas ela parou alguns segundos depois. — Ah, Igor...
— Hum?
— Você viu a Nana por aí?
Arregalei mais os olhos, perdendo toda a tranquilidade que
eu tinha adquirido alguns segundos atrás.
— Ela está na piscina — ele falou com uma certeza que não
existia.
— Não está. Mas Zuri pediu para chamá-la caso eu a
encontrasse.
— Quando subi ela estava ao lado da Zuri — Igor continuou
respondendo — Se eu a vir por aí, aviso.
— Ok.
Demorou alguns segundos até termos certeza de que ela já
havia ido embora.
— Essa foi por muito pouco — falei baixinho, levando uma
das mãos até meu peito esquerdo.
— Seria tão ruim assim se ela descobrisse? — Igor me
perguntou, mas não demorou um segundo para que ele mesmo
respondesse. — É, seria. Ela me encheria muito o saco e depois
contaria para a mamãe — Ele fechou os olhos, sacudindo a cabeça
de um lado para o outro com rapidez.
— Pois é!
Eu não tinha interesse em começar uma relação agora, não
com tantos projetos para realizar. Igor era bom de cama, gostoso e
me atraía muito, contudo, não podia criar esperanças aqui, além
disso, ele já havia confirmado que não tinha a menor pretensão em
ficar definitivamente no Rio.
— Eu vou descer — falei, me sentindo um pouco
incomodada por estar remoendo aquele assunto.
Ele apenas acenou e eu saí, dessa vez sem espiar antes
pelo corredor.
Se eu fosse inteligente o suficiente, pararia de transar com
ele agora, assim, não correria risco nenhum de me apegar. Mesmo
que não me apaixonasse de fato, lidar com apego era tão
desconfortável quanto. Porém, deixaria para pensar nisso quando
voltássemos para o Brasil.
Eu tocaria minha vida, ele também, e essa viagem seria
apenas uma boa lembrança.
Capítulo 17 — Igor Reis
Alguns minutos após o último orgasmo de Nana, o tempo
começou a mudar. Uma nuvem pesada avançou pelo céu em nossa
direção, trazendo primeiro os chuviscos e depois a chuva mais forte.
Foi no mínimo engraçado nosso desespero, correndo para
pegar nossos objetos pessoais e roupas na areia. Vesti minha
bermuda e ajudei Ayana a se ajeitar também, colocando o boné em
sua cabeça e deixando um beijo na ponta do seu nariz, mesmo em
meio a toda aquela pressa para encontrar um refúgio.
Os bonés não ajudavam em quase nada a nossa proteção
contra os pingos da chuva e nem louco eu ficaria embaixo dos
coqueiros, já que eles balançavam descontrolados com o vento.
— Acho que precisamos ir debaixo de chuva mesmo — falei
para ela, me dando conta de que não havia nada aqui para nos
abrigar.
— Também acho melhor — disse, estendendo a mão para
mim.
Em vez de pegar sua mão a abracei pelos ombros, ajudando
a proteger um pouco seu corpo dos pingos, que eram fortes a ponto
de doer a pele.
Andamos por alguns metros e, em uma parte do caminho, vi
uma árvore grande e apontei, correndo junto com ela para o lugar.
— Ufa! — Suspirei, me escorando no tronco para descansar
um pouco.
Os uivos do vento atingindo as árvores eram até um pouco
assustadores, porém, ao menos aqui embaixo poucos pingos nos
atingiam.
— Acho que não demos muita sorte — Nana gritou por cima
do barulho da tempestade, fazendo uma careta assustada e
apontando para um galho.
Virei o pescoço, vendo o animal marrom esverdeado com as
unhas cravadas em um dos galhos. As patas lembravam a de um
jacaré e o corpo o de um camaleão, mas os olhos eram menores e a
pele passava a impressão de ser mais áspera.
— Eu acho melhor a gente ir embora daqui. — Ayana foi
dando passos de costas para fora do abrigo natural que a árvore
nos proporcionava.
Eu nunca tinha encontrado com um bicho desses, mas sabia
que eles não atacavam, a menos que fosse para se defender.
— Ele não vai nos incomodar, Nana. — Tentei fazer com
que ela se acalmasse um pouco. — Na verdade, nós quem estamos
no ambiente dele.
— Por isso mesmo é melhor a gente ir. — Ela arregalou os
olhos e o medo começou a tomar conta da sua expressão.
— Ei, calma. — Sorri, ajeitando a postura e me aproximando
dela. — Ele mal se mexe.
— Igor, o rabo dele caiu! — Nana levou uma mão à boca,
falando apavorada e eu virei o pescoço, vendo parte da calda do
bicho no chão, se mexendo.
— Vamos embora. — Voltei a abraçar seus ombros e nos
guiar para longe da árvore.
Por sorte, mesmo que ainda estivesse forte, a chuva havia
aliviado um pouco. Andamos por uns cinco minutos até Nana
começar a gargalhar, parei em sua frente, estranhando a forma
nervosa como ria.
— O que foi?
— Você viu aquele bicho? — Conseguiu dizer em meio a
soluços.
— Sim — gargalhei também, um pouco pela situação e pela
sua reação.
Ela deve ter sentido mesmo muito medo, já que agora seu
corpo estava tentando liberar a tensão involuntariamente.
— Tá tudo bem, Nana — Passei meus braços ao redor de
seus ombros trêmulos. — Eu não ia deixar a iguana jantar você —
falei, tentando amenizar um pouco a situação.
Alguns segundos se passaram e o riso foi perdendo a força,
até que ela se acalmou por completo dentro do meu abraço.
— Ele era muito feio — disse, mais calma.
— Eu sei. — Afastei-me e olhei em seu rosto antes de me
inclinar para lhe dar um selinho. — Não vamos mais nos afastar
tanto assim da mansão, tá bem?
— Mas como a gente vai transar? — ela fez beicinho
perguntando e foi a minha vez de gargalhar.
— Você estava aí tremendo de medo de um iguana e agora
está preocupada onde vamos transar? — perguntei e ela acenou
devagar, confirmando. — Aquela casa é enorme, Nana. Vamos dar
um jeito. Iara me contou que tinha até uma biblioteca. Depois
podemos explorar.
Sugeri, me aproximando e puxando seu lábio inferior entre
os meus.
— Eu também posso fugir pra sua cama de madrugada —
ela disse, com a boca encostada a minha.
— Hmmm, isso pode ser perigoso — falei, subindo uma das
mãos para os cabelos de sua nuca e puxando-os.
Beijei sua boca gostosa, sentindo a água da chuva se
misturando às nossas salivas enquanto os pingos escorriam por
entre os nossos corpos.
Talvez, nosso beijo nunca perdesse essa intensidade e
fascinação gostosa. Era sempre como da primeira vez.
Passei a tarde inteira tirando tudo que comprei das
embalagens. Como já tinha armários em casa, aproveitei para
guardar os itens de cozinha. Fora eles, também havia comprado
cabides, caixas organizadoras, lixeiros, um aspirador de pó e duas
mesinhas aparadoras pequenas e muito charmosas que deixei na
sala. Coloquei a bailarina que ganhei em cima de uma delas e me
animei ao ver tudo começando a ganhar forma.
Uma parte dos móveis chegariam amanhã à tarde; alguns
menos essenciais, como mesa de centro e rack para TV, deixei para
comprar depois. Também não havia comprado uma televisão ainda.
Mas, como Igor citou, com o tempo eu organizaria tudo.
O importante é que eu estava feliz.
Em Moscou, sabia que, por mais tempo que ficasse, uma
hora acabaria voltando pra casa, e por isso tentava não me apegar
a nada, porém, aqui era um pouco diferente. Eu queria me envolver
em cada pequeno detalhe, pois tinha certeza de que moraria aqui
por bastante tempo. Construiria boas lembranças nesse lugar e,
quem sabe, criaria filhos aqui também.
Espantei os pensamentos melancólicos e tranquei o
apartamento, saindo para ir dormir no condomínio.
Àquela noite, levei a ideia do estúdio e projeto para tio Turra,
que chamou tio Thiago, tio Júnior e meu pai para nossa pequena
reunião.
— Você já tem um espaço, Pocahontas? — papai
perguntou, sentado à minha frente, na cozinha da casa do tio Arthur.
— O Igor começou a ver isso pra mim. Contei minha ideia a
ele ainda em Barcelona.
— Ah, então foi isso que ele sabia naquele dia na mesa do
café da manhã? — Tio Thiago concluiu, levando uma das mãos à
barba.
— Exatamente. — Concordei. — Por falar nisso, onde ele
está? Ficamos de ver os locais juntos.
Perguntei, tentando disfarçar que minha vontade, na
verdade, era encontrar com ele e quem sabe conseguir fugir, como
fazíamos na ilha.
— Ele saiu de manhã para ir à empresa e deve ter se
empolgado, pois ainda não voltou.
— Acha que o Macedinho fica no Brasil dessa vez? — papai
perguntou ao tio Turra e aquilo era algo que eu também queria ouvir
dele, apesar de já saber da resposta.
— Ele conseguir estar de volta já é muito bom, mas não
parece muito animado para ficar — tio Arthur voltou a falar, apesar
do tom desanimado, também parecia conformado.
— Talvez ele encontre um bom motivo. — Tio Thiago olhou
sutilmente para mim e eu franzi o cenho.
Ele desconfiava. E isso significava que qualquer vacilo daria
certeza a ele.
— Eu acho que ele não se afastar já é um grande passo —
Tio Júnior falou pela primeira vez, eu nem sabia que ele estava
prestando atenção na conversa, já que ficou calado por bastante
tempo.
— Concordo, Mascotinho. Ele pode viver onde quiser,
contanto que não nos afaste outra vez. Além do mais, Igor quer
fazer mestrado em Munique, e eu não acho que isso seja ruim,
muito pelo contrário. — Tio Arthur concluiu.
— Tem razão, exceto a Moana, todos os meus filhos já
moraram fora do país. A Manu e o Turrinha moram fora, o Noah já
jogou em times Europeus. A minha bailarina aqui passou anos na
Rússia. — Papai apontou para mim com um sorriso orgulhoso que
eu retribuí. — As crianças voam, papito.
— Ah, não. De novo com essa merda, João Paulo?
E assim eles começaram a conversar ou discutir, não sabia
realmente como eles definiam o ato de implicar um com o outro sob
livre demanda. Depois começaram a falar do Possante que chegaria
ao Rio na semana seguinte e da primeira viagem que queriam fazer:
Angra.
Fiquei um pouco perdida no meio da confusão deles e
resolvi que era hora de sair de fininho. Eles mal notaram quando
deixei a sala e fui para a porta de entrada, ao abri-la, dei de cara
com Igor chegando.
Ele vestia um terno preto com uma camisa branca por baixo
e os primeiros botões abertos. Era tão injusto ele ficar atraente de
qualquer forma...
— Oi — Abri um sorriso lento, cheio de boas e más
intenções. — Acabei de perguntar por você ao seu pai.
— Falou com eles sobre o estúdio? — questionou, um
pouco sério demais. Diferente de como estava mais cedo.
— Sim, eles adoraram a ideia. Só falta mesmo começar a
ver o espaço — comentei fechando o sorriso, já que ele não havia
retribuído.
— Falei com um dos meus corretores. Ele localizou e me
encaminhou algumas opções, vou te enviar tudo. — Eu estava
mesmo ouvindo aquilo?
O tom de Igor era tão profissional que parecia estar
fechando um negócio.
— Você está bem? — questionei, confusa agora.
— Sim, sim. E você? Conseguiu organizar tudo no apê?
Pisquei e inclinei o pescoço para trás, confusa pra caralho.
Olhei ao redor para conferir se não havia ninguém nos observando e
tudo estava quieto. A casa de Tio Thiago, a minha casa, até a casa
de Aurora ainda tinha as luzes apagadas, ela devia estar no
parquinho com as crianças.
— Aconteceu alguma coisa? — Cerrei as pálpebras ao
questionar.
Mesmo que não estivesse me tratando mal, aquilo era muito
diferente do Igor de Barcelona e das Bahamas. Aquele Igor era frio
e apático, muito diferente do cara que enfiava a língua na minha
boceta dias atrás.
— Está tudo bem, Ayana — disse de forma enfadonha.
Suspirei, observando a expressão entediada em seu rosto,
enquanto meu coração acelerava e o estômago embrulhava de uma
maneira muito ruim.
Pela primeira vez na minha vida inteira, me senti usada.
Embora eu tivesse me aproveitado bastante do nosso tempo juntos;
ainda que eu soubesse de todas as implicações e consequências de
me envolver com ele; apesar de saber esse tempo todo que Igor
partiria em algum momento, eu não esperava por aquela atitude.
Talvez por isso estivesse sentindo o baque. Não conseguia
acreditar como as coisas haviam mudado tanto do início da manhã
até aqui. Esse cara na minha frente, com as mãos nos bolsos da
calça e o olhar sem vida parecia outra pessoa.
Olhei para seu rosto, sentindo uma mistura de confusão e
raiva. Queria gritar, xingá-lo e ao mesmo tempo arrancar a verdade
dele. Perguntar o que eu havia feito de errado. Será que eu havia o
pressionado demais?
Mas não disse nada. Apenas virei as costas e atravessei a
rua, entrando na casa dos meus pais. Não tinha ideia de como lidar
com essa situação, contudo, sabia que uma coisa era certa: eu não
merecia ser tratada daquela forma. Não merecia ser jogada fora.
Não assim.
Olhei outra vez para a última mensagem furiosa dela e
comecei a digitar outro pedido de desculpas. Talvez fosse o
centésimo que escrevi na última semana e eu sempre terminava da
mesma forma, apagando tudo tão rápido quanto digitei.
A verdade é que meu coração acelerava só em pensar nela
e apertava ao lembrar o quanto deveria estar magoada com a minha
indiferença.
Nem eu sabia que era capaz de fingir tão bem, porém,
nesse momento não era sobre mim, e sim sobre Ayana. Pular de
cabeça em uma relação com ela poderia nos levar para o mesmo
problema do meu relacionamento anterior.
Por mais que eu tentasse me convencer de que Ayana e
Clarissa eram pessoas diferentes e não havia o mínimo de
semelhança entre as duas, nada tirava de mim a sensação de que o
problema, na verdade, era eu.
E por isso eu tinha certeza de que me afastar era a melhor
coisa a se fazer.
— Suas malas já estão prontas? — Levantei a cabeça ao
ouvir a voz de mamãe, nem tinha notado sua entrada na cozinha.
— Estão sim. Consegui um apartamento bem legal em
Munique também.
— Isso é ótimo, filho. — Ela sorriu, pegando um copo no
armário.
Mamãe estava suada e vestia roupas de treino,
provavelmente tinha voltado agora de sua corrida matinal.
— Vocês vão me visitar assim que possível, não é? —
perguntei e ela me olhou um pouco surpresa.
— Claro que vamos. — Mamãe acenou, sorrindo. — Qual é
mesmo o tempo de duração do seu doutorado?
— Eu ainda não passei, mãe.
— E você ainda tem alguma dúvida de que vai conseguir?
— Ela me olhou com aquela expressão confiante, como se eu fosse
o cara mais esperto do mundo. Bem coisa de mãe.
Deveria explicar para ela que é um programa muito
concorrido, um dos melhores do mundo, no entanto, aproveitei para
roubar um pouco daquela sua fé em mim antes de sair de casa.
Queria passar na empresa antes de almoçar com minha
irmã, pois era meu último dia no Rio. Minhas passagens estavam
marcadas para amanhã cedo e por esse motivo também estava indo
me despedir de Iara.
No entanto, ao sair do condomínio, me vi indo em outra
direção.
Tentei me controlar.
Fiquei o tempo inteiro empenhado em me convencer de que
havia ficado louco, porém, quando dei por mim, já estava
estacionando o carro na calçada do prédio que não só construí,
como morei.
Seu Luís, o mesmo porteiro, me reconheceu e liberou minha
entrada assim que me viu, dizendo o quanto era bom me ver.
Ergui a mão para apertar o botão de número 23 no elevador
e só então me dei conta de que estavam um pouco trêmulas. Nada
conseguia apagar as emoções que senti na última vez que estive
nesse lugar, mas eu queria ser corajoso e enfrentar os meus
próprios demônios agora.
Quando o elevador parou, dei alguns passos para fora dele
e entrei no corredor.
Algumas cenas se desenrolavam diante dos meus olhos e
me vi cercado pelas lembranças de dias felizes, mas também pelas
sombras dos meus erros passados. Tentei afastar esses
pensamentos, me concentrar no presente, entretanto, a dor parecia
tão forte que era quase palpável.
Parei em frente a porta de Nana e respirei fundo uma, duas
vezes antes de apertar a campainha.
Meus ouvidos estavam quase surdos devido ao barulho
cadenciado das batidas frenéticas do meu coração. Entretanto,
ainda consegui ouvir os latidos vindos do outro lado da porta.
Ela tinha um cachorro agora?
Toquei a campainha mais uma vez, por precaução.
Segundos se passaram, segundos que se transformaram em
minutos e eu continuava ali, parado em sua porta, até notar que ela
não estava em casa.
Saí de lá um pouco frustrado pela viagem perdida, mas
ciente de que não tinha direito de invadir o espaço dela dessa
maneira e que, na verdade, eu nem deveria estar aqui. Porém, ao
mesmo tempo, a saudade que sentia por ela era tão forte que
parecia que ia me engolir por completo.
Na verdade, eu não estaria me sentindo tão mal se tivesse
aberto o jogo, porém, de qualquer forma, tinha certeza de que
Ayana me daria motivos para ficar. Me diria para não ter medo.
— A moradora do 2301 não está em casa? — perguntei ao
porteiro, ansioso por qualquer migalha de informação.
— Saiu de carro há mais ou menos meia hora. Algum
problema? — Seu Luís questionou.
— O cãozinho dela está agitado — falei para disfarçar.
— Ah, a Gretchen late por qualquer coisa, mas ela é dócil.
— Franzi o cenho quando ele falou, e o porteiro precisou explicar. —
A cadela da dona Ayana, o nome dela é Gretchen.
— Ah, sim. — Meneei a cabeça, antes de agradecer e sair
de lá.
Sentei-me no carro e peguei meu celular, olhando outra vez
para nossas últimas mensagens. Eu tinha feito tudo para me afastar
e, apesar da saudade que me fez vir até aqui, não podia voltar atrás
agora.
Droga!
Eu aguentei firme a semana inteira e agora estava tão
próximo de perder o controle e ligar, implorar por um momento
juntos.
Passei as mãos pelo meu rosto, frustrado, tão cansado de
lutar contra mim, contra tudo. Liguei o carro e saí dali, fazendo o
possível para colocar minha cabeça no lugar novamente.
Meus dias estavam sendo uma loucura. Tirei a semana para
visitar os espaços que Igor havia sugerido, pois, mesmo que nesse
momento nós o odiássemos — entenda nós como eu e a Gretch, já
que venho desabafando muito com ela ultimamente — os locais
eram bons demais para serem ignorados.
Descartei as três primeiras opções pelo tamanho que julguei
insuficiente; o que vi ontem não tinha um piso adequado e precisaria
de uma boa reforma, contudo, hoje tudo indicava que as coisas
seriam melhores, visto que o espaço ficava em cima de outro bem
popular por aqui.
Magnólia Montenegro[6] era uma das bailarinas mais
conceituadas do Rio de Janeiro e tinha vários estúdios de dança
contemporânea, incluindo esse em Curicica. Além da expectativa
para conhecê-la, havia também o benefício de ter um estúdio de
ballet infantil vizinho a uma academia de dança voltada para um
público bem diferente do meu.
A matemática era muito simples: as mães poderiam deixar
as crianças no ballet enquanto faziam suas aulas no andar inferior.
Acho que até eu me inscreveria para aprender lap e strip-dance com
a mulher. Ela era, definitivamente, a melhor nessa área.
— Como pode ver, tudo está perfeitamente apto para se
tornar um estúdio de dança — o corretor falou quando terminamos a
tour. — Você pode adaptar os banheiros com vasos sanitários
menores e fazer as mudanças de que precisa, contanto que não
mexa muito na estrutura original.
— Claro — falei, dando mais uma olhada ao redor.
Conseguia imaginar as barras espalhadas pelo meio do
espaço, as crianças transitando de tutu, meu nome em alto relevo
em uma dessas paredes. Eu me via ali.
Saí do estúdio esperançosa e fiz chamada de vídeo para
minha mãe do carro.
— Oi, filha — Dona Virgínia atendeu com um sorriso.
Ela estava com um chapéu enorme na cabeça e roupas de
banho.
— Acho que encontrei o espaço perfeito para o estúdio,
mamãe — falei, mas parei um segundo para perguntar: — Onde a
senhora está?
— Isso é ótimo, Pocahontas! — papai apareceu ao lado
dela, sorrindo. — Estamos no Iate, quer vir pra cá?
— Não posso ir hoje, papai, quem sabe na próxima? — Dei
um sorriso amarelo, ainda não muito segura em navegar com ele
pilotando, porém, longe de mim jogar água fria em seu novo hobby.
Passei alguns minutos em chamada com eles, falando sobre
o lugar e, ao desligar, senti uma vontade imensa de falar com Igor e
agradecer pelas indicações, mas a quem eu queria enganar? A
vontade de ligar era apenas porque sentia sua falta. Essa era mais
uma das artimanhas do meu cérebro para me fazer ir atrás, nem
que fosse para ouvir a voz dele. Entretanto, eu não cederia. Ele
sequer havia respondido à minha última mensagem e aquilo já
significava muito.
Sacudi a cabeça, decidindo que Igor não estragaria meu dia,
pelo menos não hoje.
4 meses depois...
A vida seguiu seu rumo.
Dias viraram semanas que se transformaram em meses.
Meu estúdio estava pronto e eu já tinha feito entrevistas com
as possíveis candidatas a recepcionistas e auxiliares. Comecei a
pesquisar sobre serviços de marketing e social media, e agora só
faltava mesmo marcar a data da inauguração. Aquilo me animava
bastante, já que agora eu vivia exclusivamente para o trabalho.
E também evitava tudo que dizia respeito a Igor Reis.
Quando falavam seu nome em alguma conversa, eu fazia
questão de sair de perto, excluí o contato dele e até tentei ficar com
outros caras nesse tempo, apesar de tudo me trazer de volta para
Igor.
Eu comparava o jeito de andar, de falar e a forma como me
tratavam. Até o tamanho da mão deles era insuficiente, comparadas
as de Igor. Beijei apenas um, e foi a experiência mais ridícula da
minha vida.
Não encaixava, não tinha graça. Não era ele.
Sentia vontade de arrancar meu coração sempre que ele
apertava ao lembrar daquele imbecil, pois eu não tinha a menor
ideia de como lidar com aquele sentimento.
Estava na pior há meses por algo que durou pouquíssimos
dias.
Era agonizante notar como ele se infiltrou em mim tão
rapidamente. Mesmo tentando seguir em frente, eu não conseguia
parar de pensar nele. No modo como seus olhos azuis transmitiam
afeto e seu sorriso me fazia sentir a pessoa mais sortuda do mundo
por recebê-lo.
Igor me fez acreditar que eu estava ajudando a reconstruí-
lo, mas agora eu quem estava quebrada e o pior de tudo é que a
minha vida inteira parecia afetada por aquilo.
Não comia e nem dormia bem, os dias pareciam se arrastar,
e eu me sentia a porra de uma adolescente dramática que levou um
chute do primeiro namorado e se comportava como se a vida
tivesse acabado ali. Eu mesma tinha raiva até de mim.
Ultimamente, nem dançar me animava. Esforçava-me para
me alongar todos os dias, pois era parte crucial da minha rotina,
mas os rodopios me deixavam tonta a ponto de a cabeça latejar.
Fazia um mês que eu mal conseguia me manter acordada
quando chegava em casa e aquilo me levava a crer que havia algo
de errado com minha saúde. Também vinha sentindo cólicas fora do
meu período menstrual, que já estava bem estranho, e meu útero
parecia inchado.
Depois de muito relutar e de muitos avisos de mamãe sobre
me puxar pelos cabelos até o hospital se eu não marcasse uma
consulta com um médico, precisei reagir e, para poupar tempo,
escolhi uma ginecologista que também atendia como clínica geral.
Eu cuidava bem da minha saúde, fiz exames ginecológicos
preventivos há pouco mais de um ano e tinha aproveitado para fazer
minha primeira mamografia, mesmo que ainda estivesse longe dos
quarenta. Queria me certificar de que minha saúde estava em dia.
Os resultados foram perfeitamente normais.
Uma parte de mim começava a acreditar que meu
emocional estava me sabotando.
Era Igor fodendo com a minha vida indiretamente.
— Ayana Castanheira — A médica chamou quando chegou
a minha vez.
Cumprimentei-a ao entrar em seu consultório e, como
padrão de uma consulta, ela me perguntou qual era a queixa.
Detalhei tudo: o mal-estar, a falta de apetite, a tontura ao tentar
dançar algumas vezes, as cólicas fora de época e enxaqueca
insuportável.
— Tem menstruado normalmente? — a mulher, que parecia
ter mais ou menos a minha idade, perguntou e eu acenei. — Notou
algum aspecto diferente no período?
— Fora as dores, o fluxo também ficou estranho — contei.
— Eu me mudei há alguns meses de Moscou. Minha rotina inteira
foi modificada e achei que as mudanças no corpo tivessem a ver
com isso.
— Pode ocorrer — ela refletiu. — Qualquer tipo de estresse
pode impactar seu ciclo menstrual, pois ele mexe com a mesma
região do cérebro que produz o FSH, o hormônio que influencia na
sua ovulação e consequentemente no seu ciclo.
— Estresse é o que mais tenho tido de uns meses para cá
— falei de forma enfadonha e a médica sorriu.
— Você tem vida sexual ativa? — ela questionou. — Vi aqui
que é solteira, usa o implanon como método contraceptivo, mas tem
se relacionado com frequência?
— Não. — Crispei os lábios ao dizer.
Meu vibrador tinha trabalhado bastante nas últimas
semanas.
— Tudo bem — Ela terminou de digitar no computador e se
virou para mim. — Vou prescrever alguns exames e dar uma olhada
no colo do seu útero antes de fazermos um ultrassom abdominal pra
ver como estão suas trompas, ovários e útero.
— Ok — acenei.
A médica me deu alguns minutos para que eu me trocasse
após me guiar para outra parte do consultório. O constrangimento
começou ali, quando apoiei os pés no suporte de modo que ela
conseguisse ver até minha alma através do canal vaginal, mas tudo
bem, era aceitável, toda mulher passava por isso.
Fitei o teto branco e tentei relaxar, apesar de ser meio
impossível, mas a doutora foi muito gentil, me avisando de todas as
suas ações. Primeiro ela inseriu o espéculo e eu travei um pouco os
dentes com o contato incômodo e gelado.
— Ayana. Você lembra o último dia do seu ciclo menstrual?
— Hmmm... — Pensei um pouco, achando embaraçoso
conversar enquanto ela olhava dentro de mim. — No dia quatro, eu
acho.
— E qual foi a última vez que você teve relações sexuais?
— Mesmo que ela questionasse de forma tranquila, aquilo acendeu
um milhão de alertas na minha cabeça.
— Início de janeiro. Dia seis, talvez.
Estávamos quase em maio. O que uma coisa tinha a ver
com a outra?
— Tudo bem — a médica falou, tirando o espéculo devagar.
— O que foi? — Ergui um pouco o pescoço, olhando para
ela pelo vão entre minhas pernas? — Eu tenho câncer? — Arregalei
os olhos, morrendo de medo de sair dali com apenas dois meses de
vida contados.
— O quê? — A própria médica se assustou. — Não!
— Então eu peguei alguma IST? — Levei uma das mãos à
minha testa, começando a ficar agitada. — Só era o que me faltava,
o filho da puta vai embora sem nem me dizer um “tchau, se cuida” e
ainda passa uma IST pra mim. Onde diabos eu estava com a
cabeça quando me envolvi com ele, hein? — me desenrolei a falar,
nervosa demais com as possibilidades.
— Ayana, preciso que você relaxe e mantenha a calma. —
Ela pediu, com a voz pacífica. — Consegue fazer isso?
— Tudo bem — Respirei fundo, agora um pouco
envergonhada. — Me desculpe.
— Sem problemas, querida. Vamos mudar de maca agora,
tudo certo até aqui.
Me recompus e levantei como a médica pediu. Ela liberou
que eu vestisse a calcinha, o que me deixou um pouquinho mais
confortável, e pediu para que eu me deitasse na outra maca.
Doutora Sabrina, li seu nome no jaleco, pois àquela altura já
havia esquecido, colocou o gel na minha barriga e, como havia
informado antes, começou a fazer o ultrassom. Sentia-me mais
confortável agora, com as pernas devidamente fechadas, enquanto
ela movia o aparelho pelo meu abdômen.
— Como eu desconfiei... — falou pensativa, talvez mais
para si do que para mim, mas agora eu queria saber.
— O quê? — Arregalei os olhos.
— Você não tem nenhuma IST, Ayana — Ela sorriu e eu
suspirei de alívio. — Mas tem um bebê.
— Como é? — Franzi as sobrancelhas, achando que não
tinha ouvido direito.
— Você está grávida. E pelo tamanho, ele tem umas
dezesseis ou dezessete semanas.
— Puta que pariu — Apertei os olhos, aturdida, e levei as
mãos para massagear a lateral da minha testa quando começou a
latejar.
Em um primeiro momento, talvez eu não tivesse sentido
tanto o impacto do significado daquela frase, porém, à medida que
os segundos passavam, minha respiração ficava mais curta e meu
sangue parecia gelado.
A voz da doutora me chamando foi ficando cada vez mais
distante, enquanto eu me perdia em minhas próprias lembranças...
Todo o flashback mental me afundou mais ainda na lama, de
modo que comecei a soluçar sem ao menos perceber. Ainda
conseguia sentir uma mistura de raiva, nojo e decepção sempre que
me lembrava da forma como tudo ocorreu, de seu carinho inicial e
sua indiferença final. E agora isso: eu carregava um filho dele.
Não! Eu carregava um filho meu que era dele por tabela,
mas, ainda assim, estava dentro de mim.
— Ayana! — Abri os olhos quando a médica voltou a me
chamar. — Sei que é uma notícia impactante e deve haver muitos
sentimentos conflitantes envolvidos, mas respira fundo, tá bem?
Acenei energeticamente com a cabeça, tentando fazer com
que pelo menos os soluços cessassem, já que as lágrimas se
recusavam a parar de cair.
— Quer que eu chame algum familiar seu? — Dra. Sabrina
perguntou, interrompendo um pouco o exame.
— Pode pegar meu celular no bolso da calça? — pedi,
passando o antebraço pelo meu nariz para limpá-lo.
— Claro! — Ela se levantou e foi até a parte do trocador,
voltando logo em seguida com meu aparelho em mãos.
O peguei e disquei o número de Aurora.
— Oi, Nana! — minha irmã atendeu, animada.
— Rory, você pode vir me buscar? — perguntei, com a voz
embargada.
— Você tá chorando? — seu tom de voz mudou
completamente e eu me senti pior por assustá-la. Que droga! —
Nana, onde você tá?
— Estou em uma clínica, vou te passar a localização por
mensagem. — respirei fundo e falei mais calma. — Pode vir sozinha
e não contar nada pra ninguém?
— Você tá me deixando preocupada, Ayana. Me conta o que
aconteceu. — Consegui ouvir a vozinha de Ariel no fundo e os
meninos gritando enquanto brincavam.
— Rory, só vem rápido... Juro que estou bem, não se
preocupa.
— Tudo bem, tô esperando o endereço.
Me despedi rapidamente e desliguei, enviando logo minha
localização e colocando o aparelho ao lado do meu corpo.
— Podemos esperá-la para continuar... — A médica sugeriu
e eu acenei em negativo de forma energética.
— Já me acalmei — Puxei o ar com força —, vamos lá!
— Você é uma mulher forte, Ayana! — Ela elogiou, me
dando um sorrido doce.
A coitada deveria estar com medo de presenciar mais um
colapso meu.
— Obrigada — Respirei fundo outra vez para me acalmar.
— Então, você quer saber o sexo?
— Já dá pra ver? — Arregalei os olhos.
— Claro que dá. Você descobriu a gestação um pouco mais
tarde do que o comum, mas não se preocupe, acontece bastante
também...
— Eu achei que estivesse segura com o implanon —
desabafei, segurando a vontade de chorar outra vez.
— Vamos investigar para saber o que aconteceu. Preciso
que você olhe a data exata da colocação, só assim poderemos
levantar alguma hipótese.
— Tudo bem... — falei. — Pode me contar o sexo.
— É uma menina — a médica disse sem precisar conferir.
— Eu vi de primeira, mas não tinha certeza se você queria saber.
As coisas foram desandando aos poucos daí em diante, de
modo que eu não consegui mais conter as lágrimas. Dra. Sabrina
colocou os batimentos para que eu ouvisse e os soluços retornaram.
Tudo parecia inacreditável, era difícil de aceitar que havia
alguém crescendo dentro de mim e, porra, mais difícil ainda quando
essa pessoinha ligava minha vida com a de Igor para sempre.
Saí da consulta com várias vitaminas e alguns
medicamentos prescritos, uma lista de exames para fazer e um
encaminhamento para a obstetra na mesma clínica. Quando
cheguei à área da recepção, Aurora me esperava impaciente, com
os braços cruzados e a perna balançando incessantemente.
— Eu te liguei um monte de vezes — minha irmã reclamou.
— Estava quase entrando e começando a gritar seu nome para ver
se te encontrava.
— Desculpe, a consulta ainda não tinha acabado. — Parei
na frente dela, fungando pelo nariz ao mesmo tempo que me
controlava para não chorar.
— Meu Deus, é ruim assim? — Aurora arregalou os olhos,
ficando com o rosto muito vermelho.
— Eu tô grávida. — Cuspi as palavras junto a um soluço e
mais lágrimas.
— Nossa! — Rory franziu as sobrancelhas, um pouco
assustada.
— É uma menina — Meu rosto contraiu quando tentei me
controlar. — Estou com dezessete semanas.
— Vem, Nana... — Ela pegou no meu braço e me puxou. —
Vou chamar um Uber e nós vamos sair daqui.
— Eu estou de carro — falei, apontando para o
estacionamento. — Droga, esqueci que você detesta dirigir.
— Não tem problema — Pegou minha mão, me levando na
direção que apontei. — Vamos.
Me acalmei e dirigi por uns vinte minutos até o meu
apartamento. Aurora me deu um copo de água com açúcar e se
sentou comigo no sofá, esperando pacientemente meu tempo.
Quando finalmente me acalmei, comecei a falar:
— O pai é russo. — Foi a primeira idiotice que eu disse. —
Eu tenho um implante, não sabia que podia engravidar.
— Vai dar tudo certo, mana — Aurora se aproximou, me
abraçando pelos ombros. — É um bebezinho... Você está aqui no
Brasil agora, com sua família, cercada de pessoas que te amam.
— Eu sei, mas é tão...
— Assustador, sim. — Ela riu. — Mesmo sendo uma notícia
feliz, surgem tantas dúvidas quanto à maternidade...
Aurora começou a me contar sobre sua experiência e
passamos horas no meu apartamento conversando.
Por fim, pedi para que não contasse a ninguém ainda, e ela
concordou, porém perguntou sobre o pai do bebê.
— Eu nem o conheço, Rory — menti, mas na realidade
havia um fundo de verdade. Todas as certezas de que tinha sobre
Igor se foram no momento em que ele resolveu me ignorar. — Estou
sozinha. — Dei de ombros.
— Você jamais estará sozinha, Nana — minha irmã falou
antes de me abraçar para descer, pois Noah a esperava lá fora.
Capítulo 27 — Ayana Klein
Os dias seguintes não foram fáceis, tinha a adaptação com
as vitaminas, com a gravidez, com a ideia de ser mãe e tudo mais.
Estava cheia de dúvidas sobre o melhor momento de
inaugurar o estúdio agora, já que eu não sabia se daria conta de
tudo.
Gravidez não era doença, óbvio, porém, quando idealizei o
meu empreendimento, não contava com um bebê como parte do
pacote. Em alguns meses eu teria que parar com as aulas por causa
do parto, e como explicaria isso para os pais? Se era meu nome que
estava na porta, não tinha como simplesmente sumir, e aquilo
acabou me frustrando bastante.
Minha barriga também começou a crescer. Parecia até que
a bebê estava esperando apenas que eu a descobrisse para se
mostrar de fato. Agora a curva acentuada que ela fazia era muito
visível, e se tornava ainda mais difícil escondê-la.
No fim de semana acabei indo ao shopping e comprando
algumas coisinhas muito fofas e ainda inúteis para ela, mas aquilo
me ajudou a me acostumar mais um pouco com a ideia de ser mãe.
Entretanto, não consegui contar para meus pais nessa primeira
semana.
Sabia que era estupidez da minha parte e que mamãe e
papai ficariam felizes com a notícia. Eu era uma mulher adulta e
independente gerando um bebê. No entanto, a questão da
paternidade me segurava no lugar. Eles questionariam, óbvio. Fora
isso, se a notícia chegasse em Igor, ele poderia desconfiar.
Uma parte de mim estava torcendo para que ele
continuasse sendo babaca ao ponto de ignorar a possibilidade de
ser o pai, mas eu não tinha certeza se faria isso.
Na semana seguinte, a brecha que eu precisava surgiu, pois
ninguém na nossa família falava de outra coisa a não ser sobre a
aprovação de Igor no doutorado. Se ele havia acabado de realizar
seu sonho, talvez nem se atentasse à notícia da minha gravidez, até
porque, já fazia cerca de cinco meses desde que ficamos pela
última vez.
Além disso, comparado ao fato de que teríamos mais um
doutor na família, era possível que ninguém fizesse as perguntas
relevantes, aquelas que ligavam todos os pontos certeiros, como o
número de semanas, apesar que eu também poderia mentir sobre
isso.
Por hora, havia decidido que a melhor opção era criar a
minha bebê sozinha e, em um dia de muita coragem, peguei o carro
e fui até o condomínio informar isso aos meus pais. Minha barriga
de quase vinte semanas já não era possível ser escondida e eu
também não queria.
Havia aceitado no mesmo dia em que descobri e agora já
estava cem porcento adaptada à ideia de que seria mãe. Na
verdade, eu já era mãe.
Quando estacionei em frente à garagem da casa dos meus
pais já passava das onze, o que significava que era quase a hora do
almoço e eu estava faminta. Não bati na porta ou toquei a
campainha, apenas entrei e gritei por minha mãe enquanto largava
a bolsa no sofá.
— Ela lembrou que tem família. — Ouvi a voz de papai do
andar de cima e sorri.
— Eu ouvi isso, pai! — falei mais alto. — Nunca esqueci.
Estava morta de saudades, pois passei mais de duas
semanas inventando desculpas para não os ver. Seu João Paulo
começou a descer as escadas, ainda sem parar para me olhar por
completo. Óbvio que eu estava esperando que ele visse por conta
própria agora que já não era mais possível esconder, e isso
aconteceu quando ele pisou no último degrau da escada.
Papai olhou para minha barriga saliente, franziu o cenho e
subiu o olhar para o meu rosto. Eu lhe dei um sorriso amarelo e ele
desceu os olhos novamente, agora arregalando-os. Passamos
alguns segundos naquele loop, onde ele descia e subia o olhar,
confuso.
— Pocahontas... — papai falou, levando a mão para coçar a
cabeça. — Filha... você tem ganhado peso ou...?
Agora ele parecia desconcertado, e eu não pude segurar a
risada.
— Estou grávida, pai. — Contei de uma vez. — Quase vinte
semanas. — Exibi todos os meus dentes, encenando um sorriso
perfeito para mascarar parte do meu nervosismo.
— Bela! — ele berrou. — Desce aqui agora!
— O que houve? — Mamãe apareceu no topo das escadas,
olhando curiosa para nós. — Nana? — As sobrancelhas de dona
Virgínia saltaram e ela começou a descer com pressa.
— Filha, eu sou cardíaco. — Papai levou a mão ao peito
dramaticamente, começando a se aproximar.
— Não é, não! — Franzi as sobrancelhas.
— Tem razão, não sou. Só não estava preparado para isso.
— Ele parou perto do sofá grande e se sentou. — Você tá saindo
com alguém? Podia ter nos contado.
Chegamos ao problema até mais rápido do que pensei.
Sentei-me ao lado dele e mamãe se juntou a nós com muitas
perguntas impressas no rosto, mas, por sorte, começou pela mais
simples.
— Então era por isso que você estava passando mal? —
dona Virgínia perguntou.
— Sim... eu não sabia que a gravidez era uma possibilidade,
tomei um belo de um susto. — Contei, suspirando. — O pai é russo.
— Menti na maior cara dura, torcendo para que eles não
desconfiassem.
— Como assim o pai é russo? — papai indagou.
— Na minha última semana em Moscou, saí com algumas
amigas para comemorar e... — Parei, achando que inventar uma
história agora era ir longe demais. — Acho que não preciso entrar
em detalhes, certo?
Mamãe acenou, com os olhos arregalados.
— Ele vem para o Brasil quando o bebê nascer? — mamãe
perguntou. — O que vocês combinaram?
— Mãe... — falei devagar. — Foi só uma noite e só sei o
primeiro nome do homem.
— Hum — ela acenou devagar, pensativa e depois começou
a falar, em um rompante. — Vou ligar pra o Maurício Madeira, ele já
fez um milagre assim antes... Quero o nome do lugar que você foi,
as características desse homem e o nome dele. Suas amigas o
viram?
Surtei quando mamãe ergueu o celular, começando a digitar
furiosamente.
— Mãe, para! — Praticamente gritei ao pedir. — Nada de
ligar pra o detetive. Não vamos procurar pelo pai do bebê porque eu
vou criar a Naninha sozinha.
— Naninha? — Ela parou, perguntando.
— Sim, é uma menina. — Sorri, esperando que dona
Virgínia amolecesse um pouco e foi justamente o que aconteceu.
— Eu prefiro Tiana — papai falou do meu outro lado e eu o
olhei.
— A princesa e o sapo?
— Sim.
— Vamos chamá-la de Tiana por enquanto, então. — Ele
sorriu, satisfeito.
O coração dele nós já havíamos ganhado, faltava só dona
Virgínia ceder com a procura do pai que eu não queria.
— Mãe?
— Filha... precisamos estar prevenidas. E se ele for um
mafioso?
— Mais um motivo para não o procurar, né? — Suspirei,
organizando na mente as ideias do que dizer para convencê-la. —
Eu pensei muito sobre isso, sabe? Ir atrás de um cara na Rússia
pode complicar tanto a minha vida e a da Tiana. — Olhei de soslaio
para papai, vendo-o sorrir quando falei o nome. — Eu estou aqui
com vocês e, apesar de estar com muito medo, sei que não vou
ficar sozinha.
— Tem toda razão, meu amor — mamãe disse, um tanto
emocionada. — Estamos com você e com essa bebezinha.
— Tiana — papai corrigiu.
— Nana, você vai mesmo chamar minha netinha de Tiana?
— Mamãe cerrou as pálpebras para papai, desafiando-o.
— Por enquanto, sim — falei.
— Rá! — seu João Paulo gritou.
— Pai, melhor você pegar leve — aconselhei, rindo.
Almoçamos e fiquei com eles pelo resto da tarde
conversando. Sabia que não demoraria muito até a notícia se
espalhar, mas queria postergar o momento pelo máximo de tempo
que eu conseguisse.
— Você está se alimentando direitinho, filha? — mamãe
perguntou quando anunciei que iria embora.
— Agora estou tentando comer melhor — contei, já
caminhando para a porta junto com ela. — Estava tão acostumada
com a culinária de Moscou que agora parece tudo novo de novo.
— Vem morar com a gente por enquanto, Pocahontas —
Papai apareceu do meu outro lado. — Aqui nós vamos ficar de olho
em você e te alimentar direitinho.
— Nem pensar — falei, assustada. — Eu gosto do meu
cantinho, pai, mas prometo que vou aparecer mais vezes.
— Ou nós vamos até sua casa — mamãe avisou.
— Podem ir me ver sempre que quiserem — falei. — Vou
adorar ter vocês lá comigo.
Quando papai abriu a porta, Zuri vinha caminhando pela
passarela de entrada, digitando no celular distraidamente. Minha
irmã estava linda demais com um terninho branco e os cabelos
soltos balançando à medida que caminhava.
— Uau, que gata! — elogiei, e ela ergueu o olhar.
— Nana! — Abriu um sorriso, mas não demorou muito até
que o fechasse, espantada. — Nana?!
— Sim, estou grávida, vinte semanas, é uma menina e o pai
é russo. Não o conheço, nem quero conhecer, e detetives estão
proibidos. — Mentir estava se tornando muito mais fácil do que eu
imaginei.
Daqui a pouco eu passaria a acreditar que o pai do bebê era
mesmo russo.
— Puta merda! — Ela falou, levando a mão até o peito.
Zuzu marchou em nossa direção e me pegou pela mão,
arrastando-me de volta para dentro.
— Eu estou indo emboraaaa! — gritei enquanto era
rebocada.
— Nem pensar, eu acabei de chegar. — Zuri parou,
chutando os sapatos e jogando a bolsa e o celular de vez no sofá.
— Você vai me contar essa história direitinho, Nana.
Precisei ficar por mais algumas horas e terminei jantando
com eles e Aurora, que fez um belo teatro fingindo surpresa ao ver
minha barriga.
Saí do condomínio tarde da noite, com a barriga cheia,
algumas marmitas para comer nos dias seguintes (cortesia do meu
pai) e o coração aliviado por não precisar mais me esconder, pois
agora, até Jasmine e Erik estavam cientes de que seriam tios pela
quarta vez.
Capítulo 28 — Ayana Klein
Quando contei para os meus pais sobre minha primeira
consulta com o obstetra, mamãe logo me indicou o médico que fez o
parto da Jasmine, do Turrinha e dos bebês da Rory.
Aurora encheu um pouco meu saco, dizendo que não
recomendava quebrarem a tradição. Até a Zuri entrou no apelo,
usando todos os argumentos para me convencer a marcar uma
consulta com o tal milagreiro das vaginas. Sim, elas o chamavam
dessa forma, porém, mesmo sentindo um pouquinho de vergonha
alheia, acabei topando.
Uma hora antes da consulta, minha irmã mais velha fez uma
chamada de vídeo para mim. Apoiei o celular no balcão da cozinha
e atendi, continuando a comer o meu almoço.
— Oi, Zuzu — falei.
— Você está pronta? — ela questionou, andando por dentro
de casa. — Nós vamos passar aí para te buscar em alguns minutos.
— Nós? — Franzi as sobrancelhas, questionando.
— Nossa, Ayana... — Minha irmã parou, cerrando as
pálpebras pra mim. — Você achou mesmo que nós te deixaríamos ir
sozinha?
— É... — Parei, sem saber o que dizer, pois eu já estava
mais do que preparada para ir só.
— Esses anos morando sozinha só podem ter afetado o seu
cérebro. — Minha irmã me olhou com tédio. — Por isso eu ainda
moro com o papai e a mamãe.
Dei risada, quando ela arranjou mais uma justificativa para
ainda morar na casa dos nossos pais depois dos trinta anos.
— Eu não esperava mesmo que vocês fossem, mas fico
feliz por tê-las comigo. — Minha voz embargou um pouco no fim da
frase.
Descobri recentemente que toda essa sensibilidade era por
conta dos hormônios da gestação. Acredito também que pelo
mesmo motivo havia sentido tanto a falta de Igor quando foi embora,
além da raiva e da solidão. O que explicava muita coisa, já que eu
não costumava ser essa mulher tão sentimental.
— Acho mesmo bom, pois eu cancelei todos os meus
compromissos para ir a essa consulta com você.
— Então estarei esperando, Zuzu.
— Chegamos em vinte minutos — Minha irmã passou pela
porta de entrada, colocando os óculos escuros no rosto.
Nos despedimos e eu voltei a comer um pouco mais rápido,
para não as deixar esperando. Com vinte minutos quase contados,
seu Luís interfonou, avisando que me esperavam lá embaixo, em
frente ao prédio, e eu desci.
Sabia que mamãe viria e também que Aurora não perderia
por nada, já que insistiu para que eu me consultasse com o doutor
Bernardo, no entanto, não contava com a presença da Tia Gabi.
Tentei disfarçar minha tensão assim que a vi de longe, sentada ao
lado de Zuri no banco da frente e me aproximei delas.
— Oi — Dei um sorriso amarelo para todas elas.
Se tia Gabi estava aqui, isso significava que toda a família já
sabia.
— Uau, Nana — ela foi a primeira a me cumprimentar. —
Que barrigão lindo!
— Obrigada, tia! — Passei a mão por minha barriga,
fazendo carinho na Tiana, antes de puxar o cinto de segurança. —
Mas tô precisando de roupas novas. Esse vestido foi a única coisa
que entrou em mim hoje! Antes de encontrá-lo, até cogitei ir de
pijama.
— Podemos ir ao shopping depois da consulta, o que
acham? — Aurora lançou a ideia.
Zuri manobrou para fora da calçada do prédio, nos
colocando em tráfego.
— Só não podemos demorar, pois o Kostas irá jantar lá em
casa hoje — mamãe falou.
— Aff — Zuzu bufou do banco da frente. — Não vou jantar
em casa, mãe.
— Pra não ouvir ele te chamar de mimada, sendo que você
é realmente mimada? — Aurora provocou, fazendo com que minha
irmã mais velha virasse o pescoço rapidamente para a fuzilar com o
olhar.
— Olha pra frente, Zuri — mamãe a repreendeu e ela voltou
a atenção para o trânsito, apesar de estarmos atrás de uma fila de
carros no sinal.
— Eu não sou mimada, você que é, princesinha...
— Você ainda mora com o papai e com a mamãe, mana.
Não existe mulher no mundo mais filhinha de papai do que você.
— E daí? — Zuri deu de ombros. — Se dependesse do
papai, até você moraria conosco. Sabe disso, né?
— Isso é verdade — mamãe concordou.
— Até eu e o Júnior moraríamos com vocês... — tia Gabi
falou e nós demos risada.
— Ele perguntou se eu não queria passar uns dias lá antes
de ontem— contei —, mas estou tão feliz no meu apê novo.
— Ficou incrível mesmo — tia Gabi concordou. — Igor fez
um ótimo trabalho, e aquele seu espaço pra ensaiar está um show!
— A respiração ficou presa na minha garganta com a simples
menção ao nome dele. — A propósito... vocês dois têm se falado?
— Não — respondi rápido, olhando pela janela para que
ninguém notasse a mágoa que meus olhos deviam estar
transmitindo.
— Nas Bahamas vocês dois pareciam próximos. — Prendi o
ar outra vez quando ela falou.
O ambiente já pequeno do carro caiu em um silêncio
incômodo, me causando uma sensação ruim de claustrofobia, e eu
precisei me recompor rapidamente para responder:
— Sim, ficamos muito amigos em Barcelona, porém, ele mal
falou comigo aqui no Rio. — Dei de ombros.
Fiquei quieta o resto da conversa, enquanto ela falava sobre
a mudança dele que, dessa vez, havia sido muito tranquila. A
verdade é que eu não queria saber de nada daquilo, pois reabria
uma ferida mal curada em mim.
O fato de ele ter ido consciente e tranquilo só inflamava
mais o sentimento de insignificância que guardei. Ele teve tempo e
todos os meios para ao menos me avisar, contudo, achou que eu
não era digna de receber nem um adeus.
Em contrapartida, aquilo me incentivava mais a manter
aquela farsa do pai russo. No que dependesse de mim, jamais
saberiam que Igor era o pai da Tiana e ele nunca mais voltaria para
minha vida e brincaria com os meus sentimentos. Por mim, o idiota
podia se explodir na Alemanha.
Por sorte, a fofoca nunca tinha apenas um foco e não
demorou até que elas começassem a falar de outro assunto
aleatório. Quando dei por menos, já estávamos estacionando na
clínica.
A consulta foi agendada por hora marcada e eu era a
primeira paciente após o horário de almoço, por esse motivo,
acabamos trombando com o doutor assim que entramos na
recepção.
— Olha só quem está de volta! — O médico, que estava na
faixa dos seus cinquenta anos, abriu um sorriso ao ver tia Gabi e
Aurora entrarem na frente.
Meu queixo quase caiu, pois o homem era um Josh
Duhamel da vida: com a barba bem desenhada e os cabelos
grisalhos perfeitamente penteados para trás. A camisa branca de
botões parecia até apertada em seus braços musculosos e o sorriso
era de matar... Tipo, de matar mesmo.
— Puta merda! — exclamei baixinho para mamãe, que
estava ao meu lado. — Agora entendi por que vocês o chamam de
milagre.
— Ayana! — mamãe me repreendeu, mas seu tom era de
riso. — Ele é casado com o meu ginecologista.
— Ah! — exclamei. — Mas... dá gosto de olhar, não é?
— Isso porque você não viu o marido dele — Zuzu falou
entredentes, abrindo um sorriso para o médico.
— Então você deve ser Ayana — Ele se aproximou,
estendendo a mão para me cumprimentar. — Já notou que elas só
continuam voltando aqui porque eu sou bonito, não é?
Dei risada com sua frase e o cumprimentei de volta.
— Ele gosta de fingir modéstia, mas sabe que é o melhor.
— E amo colocar bebês no mundo — Dr. Bernardo voltou a
falar, sorrindo.
Pela simpatia, já havia me ganhado, e como médico
também foi excelente. Além de ouvir muito bem e explicar as
próximas etapas da gestação com muita riqueza de detalhes, ele
conseguiu me deixar super à vontade, mesmo que não
estivéssemos sozinhos no consultório.
Fizemos um ultrassom morfológico e foi impossível não me
emocionar ao ver os traços da bebê.
— São dez dedinhos nas mãos, mamãe — Dr. Bernardo
disse, apontando para a tela onde mostrava a imagem das duas
mãozinhas de Tiana perto da boca.
Meu coração se encheu de amor e as lágrimas começaram
a cair, não teve jeito.
— Olha essa boquinha — falei e olhei para trás, mostrando
às meninas.
Àquela altura, a única que não chorava era Zuri, no entanto,
consegui ver os olhos dela brilhando, vidrados na tela.
Ganhei uma cópia das imagens em 5D, assim como Rory,
Zuzu, mamãe e tia Gabi. No fim, todas saímos de lá satisfeitas.
— Eu disse que ele era o melhor! — Rory se gabou,
enquanto caminhávamos para o carro.
— Eu nem quero mais consultar outro — falei, morrendo de
felicidade por ter visto minha filha.
Não pude evitar de pensar em Igor em meio àquele
momento de vulnerabilidade emocional. Qual seria sua reação ao
ver a filha? Será que se emocionaria também? Afastei todas as
questões do pensamento e foquei no momento e em todos os
sentimentos bons que aquela consulta havia me trazido; o que Igor
sentia agora importava muito pouco.
Por recomendação do doutor Bernardo, comecei uma rotina
de exercícios físicos e voltei a dançar aos poucos. O médico falou
que a dança me faria muito bem, era só tomar os cuidados devidos
e parar imediatamente caso me sentisse mal; e a atividade física
também ajudaria, inclusive com o parto.
Confesso que a parte do parto me deixava um pouco tensa,
já que era minha primeira experiência, e o que se comentava sobre
o assunto não era nada reconfortante, contudo, eu estava seguindo
todas as recomendações.
Mandei mensagem pra tia Ivana e ela fez um cronograma de
treinos pra mim, de modo que eu conseguisse praticar aqui mesmo
no prédio. Os primeiros dias foram bem dolorosos, pois além de
passear com Gretch e me alongar todas as manhãs, eu havia
parado totalmente com a musculação e com o cardio, sentia
preguiça até de me vestir para treinar.
Aquilo só podia ser da gravidez também, já que sempre fui
muito disposta e disciplinada com os exercícios.
Também comecei a sentir alguns movimentos sutis dentro
de mim, porém, por enquanto eram muito leves. Sabia que em breve
Tiana começaria a chutar e a se agitar com mais frequência e
estava muito ansiosa por isso.
Coloquei a mão na lateral da minha barriga, torcendo para
sentir alguma coisa, enquanto encarava a porta do closet, buscando
alguma centelha de coragem para me arrumar e descer para fazer
ao menos uma caminhada, até porque nem com Gretchen eu havia
passeado hoje, e logo, logo ela começaria a latir desesperada.
Entretanto, antes que eu me levantasse ou fizesse qualquer
movimento, a campainha começou a tocar sem parar.
As únicas pessoas autorizadas a subir sem se identificar
eram meus pais e meus irmãos e, seja qual deles fosse, tinha
pressa.
— JÁ VAI! — gritei do corredor, com a cadelinha no meu
encalço.
Ela já não latia tanto para as visitas, o que era muito bom...
O toque incessante continuou e aquilo começou a me
aborrecer. Se eu tivesse absoluta certeza de que não era papai ou
mamãe no corredor, soltaria um ou dois palavrões.
Abri a porta com raiva, já pronta para perguntar o motivo da
pressa e xingar muito, caso fosse Rory ou Zuzu, no entanto, as
palavras travaram na minha garganta. Meu sangue gelou e consegui
ouvir os batimentos fortes do meu próprio coração. Eu não sabia o
que dizer ou como reagir ao homem parado na minha porta.
O olhar perturbado de Igor foi do meu rosto para a minha
barriga, voltando outra vez para os meus olhos.
Minha respiração encurtou e a mágoa voltou a me
espezinhar, tão forte e real dessa vez que eu só conseguia senti-la.
— Por quanto tempo pretendia esconder de mim? — Ele foi
o primeiro a falar, sério, taciturno.
Passei alguns segundos observando suas feições: as
olheiras profundas, o olhar preocupado, o rosto pálido. Ele não
parecia bem, mas eu não podia lidar com seus problemas, não
quando havia uma série de conflitos dentro de mim.
Da mesma forma que abri a porta, a fechei com força.
Deixando-o plantado no corredor.
— AYANA! — ele gritou. — Abre essa porta, Nana, vamos
conversar.
Foi então que Gretch começou a latir e o barulho fez com
que eu cerrasse as pálpebras, começando a massagear a lateral da
minha cabeça. Ignorei totalmente a presença dele e fui até a
cozinha beber um copo com água enquanto Igor continuava
berrando meu nome do lado de fora.
Puxei o ar com força, me concentrando em minha própria
respiração. Tinha lido que rompantes emocionais não faziam bem
na gestação e eu não queria me descontrolar agora.
Na verdade, não iria.
Capítulo 29 — Igor Reis
— Ayana, eu não vou sair daqui até você falar comigo —
gritei outra vez, encostando a testa na porta e respirando fundo para
controlar a minha respiração.
Voei quatorze horas até aqui e nada me preparou para o
baque de vê-la carregando minha filha.
Porra!
Era minha, eu sabia.
Toda essa farsa de pai russo era uma maneira de me
manter distante, pois me lembro muito bem de quando disse que
não transava há séculos antes de mim. Além disso, era só somar
dois mais dois e ficava nítido se comparado ao tempo de gestação
em que Gabi me disse que ela estava.
Não transamos uma única vez com camisinha e eu havia
perdido as contas do quanto gozamos naquela porra de ilha.
— Nana, abre essa porta, vamos conversar — Tentei, dessa
vez mais calmo, mas continuei ouvindo apenas latidos do outro lado
da porta. — Eu fico o resto do dia aqui sentado se for preciso,
Ayana.
Merda!
Passei a mão pelos cabelos, quase arrancando-os de tanta
frustração e colei minhas costas na porta, deixando meu corpo
escorregar até que estivesse sentado no capacho.
Os últimos meses tinham sido uma merda, no entanto, ao
contrário de como ocorreu no ano passado, todos os dias eu ligava
para os meus pais fingindo felicidade por estar na Alemanha. Aquilo
também me ajudava a mentir para mim mesmo que continuar
morando lá, mesmo sem querer, foi a melhor decisão que eu havia
tomado.
Estudei que nem um desgraçado para conseguir a vaga no
doutorado, sabendo bem que, caso não fosse aprovado, minha
primeira atitude seria voltar para o Brasil, e eu não queria motivos
para isso.
Fiz tudo que estava ao meu alcance para ficar longe e ao
mesmo tempo não preocupar ninguém, esperando que Ayana
tocasse sua vida, mesmo que tirá-la da cabeça fosse meu maior
desafio.
Eu fechava os olhos e via seu sorriso, seu rosto, sua luz.
Fui embora decidido que era o melhor para ela, porém, meu
peito vivia apertado de saudades. Eu sentava para estudar e não
demorava até me distrair com o site de passagens aéreas. Fiz isso
mais vezes do que conseguia contar, sempre segurando o impulso
de embarcar no primeiro voo de volta ao Rio de Janeiro.
Troquei o número de celular, desativei as redes sociais e fui
firme ao meu propósito, tirando do meu alcance qualquer pequena
facilidade que me levasse até ela, mas, ainda assim, era tudo inútil.
Ayana estava nos meus melhores sonhos e piores
pesadelos.
Tinham os sonhos bons em que eu podia sentir a
eletricidade correndo nas minhas veias enquanto a beijava e tomava
seu corpo para mim. Porém, tinham os ruins, onde eu a tinha nos
meus braços, sem vida e gelada, enquanto minha família inteira
gritava ao redor que era minha culpa. Aquilo fodia minha cabeça de
formas inimagináveis.
No início eu acordava chorando, abraçado ao meu próprio
corpo e perdia o sono por dias, evitando ver as mesmas cenas.
Há dois meses resolvi procurar um terapeuta, que ligou os
pesadelos ao dia que Cássia me confrontou no restaurante, e
começamos a trabalhar a questão da culpa que eu sentia. Fiz
progresso nesse tempo de consultas, pouco, mas o bastante para
ter coragem de entrar no primeiro avião quando vi aquela foto no
grupo da família.
Fiz de tudo para não encontrar um motivo que me trouxesse
de volta quando na realidade ele já existia e crescia no ventre da
mulher que eu amava.
Fiquei sentado ali por um longo tempo, por vezes segurando
a cabeça entre as mãos e por outras encarando a porta do meu
antigo apartamento, pensando em entrar lá e tomar um banho, pelo
menos, no entanto, não queria sair daqui e perder a chance de falar
com Ayana, pois uma hora ela teria que sair e não tinha nenhum
outro lugar por onde pudesse passar.
Quase caí quando a porta foi aberta, mas me endireitei com
rapidez e levantei, ficando de pé para encará-la, porém, Nana me
ignorou, recolhendo as chaves e pendurando a bolsa em um dos
ombros, segurando a cadelinha embaixo do braço.
— Pra onde você vai? — perguntei.
— Não é da sua conta.
— Nana... — Quase cantei seu nome em tom de súplica.
Não queria discutir, nem a deixar com raiva, apesar de já ter
feito isso, mas precisávamos ter uma conversa.
Ela me ignorou mais uma vez, atravessando a porta de
modo que fui obrigado a sair da frente ou me atropelaria. A
cadelinha rosnando para mim dos braços dela também era um aviso
para que eu me afastasse.
Ayana trancou o apartamento e seguiu para o elevador, e eu
apanhei minha mochila do chão, jogando sobre o ombro para
acompanhá-la.
— Nana, fala comigo — pedi devagar, entrando no elevador
junto com ela.
— Se você não sair de perto de mim, eu vou de escada. —
Ela arqueou uma das sobrancelhas, me desafiando a ficar ali e eu
dei alguns passos para trás, saindo da caixa de metal.
— Ayana, eu só quero conversar — Tentei mais uma vez
enquanto ela apertava o botão no painel e depois voltou para o
centro e endireitou a postura, me olhando com raiva.
— Desculpe se dei a entender que tinha qualquer
possibilidade de conversarmos. — As portas do elevador se
fecharam e eu fiquei ali, parado, encarando o metal frio, provando
da porra do meu próprio veneno e, puta merda, como doía.
Em vez de descer vinte e dois andares de escada, peguei o
elevador de serviço e cheguei ao estacionamento bem a tempo de
ver Ayana acelerando para fora do prédio.
Não deu tempo de segui-la, mas desconfiava que ela iria
para o condomínio e, de qualquer modo, eu teria que ir até lá
também para desmentir toda essa baboseira de pai russo.
Eu estava aqui.
Com todos os meus medos, receios e dúvidas, mas estava
aqui e merecia no mínimo a oportunidade de criar a minha filha.
Dirigi o carro que aluguei quando cheguei ao aeroporto por
cerca de vinte minutos e o porteiro liberou minha entrada assim que
me identifiquei. Ninguém sabia da minha chegada, na verdade, nem
desconfiavam.
Há três dias Gabi colocou algumas fotos no grupo da
Grande Família, onde Ayana estava distraída, vendo roupinhas cor
de rosa em uma loja. E por si só as fotos já fizeram meu coração
palpitar, com todos os sentimentos de uma vez, incluindo a
saudade, no entanto, o que me quebrou foi o ultrassom que
mostrava o rosto totalmente formado de um bebê. A boquinha
desenhada parecia muito com a minha e o nariz era de Ayana.
Talvez eu estivesse ficando louco, pois se recém-nascidos
não se parecem com ninguém, fetos devem se assemelhar ainda
menos, mas eu conseguia nos ver nos traços da bebê.
Uma conversa começou a se desenrolar e o tio JP soltou
que a Tiana estava com vinte semanas.
Tiana...
Minha filha já tinha até nome e todos sabiam, menos eu.
Estacionei na calçada dos meus pais e comecei a subir os
degraus, mas voltei ao ouvir a risada da minha mãe vinda do outro
lado da rua. Ótimo, estavam todos reunidos, assim eu deixaria tudo
às claras de uma vez por todas.
Estava tão focado em dar a notícia que entrei sem bater e
segui o emaranhado de vozes até a cozinha, me deparando com os
quatro casais sentados à mesa no meio de um jogo de tabuleiro.
— Puta que pariu! — Gabriela arregalou os olhos a me ver.
— Macedinho? — Tio Jota falou, erguendo as sobrancelhas.
— Igor? — mamãe chamou, me observando um pouco
incerta. — É muito bom te ver, mas, aconteceu alguma coisa?
— Eu sou o pai — falei de uma vez e tio Jota inclinou um
pouco a cabeça, parecendo confuso.
— Porra, eu sabia! — tio Thiago gritou, comemorando e
atraindo a atenção de todos.
— Merda, perdi quinhentinhos — Júnior lamentou.
— Espera aí, vocês dois apostaram? — minha madrinha
olhou do marido para Júnior.
— Puta merda, agora entendi! — Tio Jota se levantou,
exclamando. — Bela, o pai da Tiana não é mafioso.
— Claro que não! — falei.
— E por que a Nana não contaria que você é o pai? —
papai cruzou os braços e franziu o cenho, questionando.
Bem, aqui eu estava fodido, pois meus pais eram
maravilhosos, contudo, em hipótese alguma encobriam ou faziam
vista grossa para as minhas atitudes erradas.
— Eu a magoei — contei, suspirando e massageando minha
testa com todos os dedos.
— Calma, Macedinho — tio Jota se aproximou de mim, me
puxando pelo braço. — Você vai se sentar e explicar essa história
direitinho.
— E eu espero que você tenha um bom motivo para ter
deixado a Ayana sozinha e grávida — mamãe falou, cerrando as
pálpebras para mim.
— Eu não sabia, tá bom... — falei, cansado. — Descobri
quando a Gabi mandou aquelas fotos no grupo.
— Mas o que você fez com a minha filha a ponto de ela
precisar mentir para todos nós? — Tia Virginia questionou.
— Nós dois ficamos pela primeira vez em Barcelona —
comecei, mas logo fui interrompido por tio Jota.
— Eu avisei, sabe? — ele reclamou, revoltado. — Aí veio
você — Apontou o indicador para o meu pai — com a história de
“meu filho não é igual ao seu, pipipi popopo” — Fez uma voz fina,
como se estivesse imitando seu Arthur.
— João Paulo, deixa o menino terminar — tia Virgínia pediu
e ele silenciou, entortando os lábios.
— Só que, quando voltamos pra cá, me dei conta de que
sequer conseguia ir ao apartamento dela. Ainda havia muitas
mágoas e sentimentos conflitantes dentro de mim, por isso, resolvi
que era melhor parar de alimentar a relação. Cortei o contato com
ela e fui embora sem me despedir.
— Cara, você é muito burro — meu padrinho xingou,
inclinando o corpo pra frente e colocando as duas mãos cruzadas
em cima da mesa. — Ela não deve nem querer olhar na sua cara
agora.
— E com razão — papai concordou.
— Não foi só sexo — afirmei, mesmo que estivesse em
frente aos meus pais e aos dela — Tivemos uma conexão e em
poucos dias eu já estava apaixonado. — Dei uma pausa,
observando todos os rostos chocados. — Justamente por me
apegar tão rápido resolvi que deveria parar. Eu tive medo.
— De viver a mesma relação problemática que teve com a
Clarissa? — Júnior perguntou e eu acenei. — Faz sentido. — Todos
olharam para ele, buscando uma explicação. — Ele sofreu um
trauma, qualquer um no lugar dele teria medo. Quanto tempo você
ficou solteiro depois que voltou para o Brasil, Arthur? — Ele olhou
para o meu pai, erguendo uma das sobrancelhas, e depois fitou a
mesa ao redor, parecia procurar por alguma coisa. — É, acho que o
Turra é o único exemplo aqui, porque vocês dois eram péssimos. —
Apontou do tio Jota para o tio Thiago.
— Olha o respeito, Mascotinho — tio Jota o repreendeu. —
Eu sempre fui homem pra casar.
— Hum... — tia Virgínia entortou os lábios e franziu as
sobrancelhas, zombando da fala dele.
Balancei a cabeça, notando que eles já haviam se desviado
do assunto, e resolvi voltar a falar:
— Não sei se vocês me entendem, mas mesmo que não
estejam dispostos a isso, nada vai me fazer desistir da minha filha.
— Ela é minha filha — a voz de Ayana soou atrás de mim e
eu virei com rapidez, vendo-a na entrada da cozinha com uma
embalagem de açaí em mãos e uma colher de plástico na outra. —
Sério que você veio tentar ganhar a aprovação popular? — Bufou,
raivosa. — Você pode até convencê-los, Igor, mas eu não quero
você na minha vida.
— Nana, vamos conversar...
— Não, não e não! — ela falou, dando alguns passos para
frente e erguendo um dedo para falar. — Não vem fingir agora que
eu sou relevante na sua vida. Não finja que eu importo, até porque,
na hora de ir embora, você sequer lembrou que existo.
— Eu fui até lá, sabia? — me levantei, dizendo. — Um dia
antes de ir embora, mesmo cheio de lembranças ruins, fiquei
minutos na sua porta e você não estava em casa.
— Não interessa. — Revirou os olhos, negando com a
cabeça. — E como você tem tanta certeza de que a filha é sua?
— Nós dois sabemos que ela é — Balancei a cabeça,
chateado por sua recusa, mas sem poder culpá-la por ter tanta
raiva. Eu que fiz essa merda toda e agora precisava me virar para
desfazer.
— Tudo bem — Ela acenou, suspirando —, então vai ser o
seguinte: quando a bebê nascer, você vai ter direito de nos visitar
uma vez na semana e ficar algumas horas com ela. Quando Tiana
tiver idade o suficiente, dois finais de semana serão seus. Enquanto
isso, ela está crescendo dentro de mim e olhar pra sua cara me
causa náuseas, então, me faça um enorme favor, e fique o mais
longe possível de mim.
— Filha, calma... — tia Virgínia pediu.
— Estou calma, mãe. — Ela se virou, começando a sair do
cômodo, mas parou na entrada. — Ah, vou dormir aqui hoje, porque
estava sendo incomodada no meu apartamento.
Dizendo aquilo, Ayana saiu de vez, fazendo com que eu
voltasse a enfiar a cabeça entre as mãos.
Capítulo 30 — Igor Reis
Mamãe, tia Virgínia, tia Bianca e Gabi acabaram indo atrás
de Ayana, para ver se ela estava bem, e eu fiquei sentado, olhando
apático para o centro da mesa onde o jogo agora estava
abandonado.
— Você ama minha filha, Macedinho? — Tio Jota perguntou,
atraindo minha atenção para vê-lo me fitando de uma maneira muito
séria.
— Amo mais do que consigo lidar agora, tio. — Fui sincero,
não havia o que esconder. Não depois de tê-la engravidado. — Não
acho que seja o melhor para a vida dela e também tenho muito o
que superar antes de merecê-la por completo, mas eu a amo.
Suspirei ao colocar aquilo para fora. Parecia até que estava
tirando um peso dos meus ombros ao admitir.
— Então faça por merecer e ela vai te perdoar — disse com
uma tranquilidade de quem tinha certeza, no entanto, eu não tinha
tanta fé quanto ele.
— Vocês estavam aqui há alguns minutos — Olhei ao redor
para meu pai, padrinho e cunhado, vendo todos quietos me
observando. — Viram a forma como me disse para ficar longe. Ela
me odeia.
— Ela não te odeia, filho — tio Jota me interrompeu, falando
com calma. — Ela só está grávida e brava.
— Além disso, você acha mesmo que é o primeiro a passar
por isso? Quando conheci sua madrinha, ela não queria me ver nem
pintado de ouro — tio Thiago falou, com um dos braços pendurados
no encosto da cadeira e a postura relaxada.
— Sua mãe me detestou de primeira, e claro que a culpa foi
minha, mas eu consegui conquistá-la depois. — Papai sorriu,
parecendo orgulhoso e convencido ao mesmo tempo.
— Na verdade, ela quem te conquistou — Tio Jota
provocou.
— Ah, sim. Vamos falar da Virgínia então, porque ninguém
aqui é mais pau-mandado que você, João Paulo.
— Eu não sou pau-mandado, imbecil. — Tio Jota ignorou
meu pai, olhando diretamente para mim agora: — Sua tia achava o
diabo mais santo do que eu.
Olhei para Júnior, que continuava quieto em seu lugar,
apenas observando nossa interação.
— Não vai dizer nada, Mascotinho? — meu padrinho o
perguntou.
— A Bibi sempre foi louca por mim. O que eu posso dizer?
— Deu de ombros.
Os outros três homens na mesa começaram a falar de uma
vez só e, apesar de me esforçar muito para entender qualquer
coisa, era difícil.
— Tá bom! — falei mais alto do que eles e consegui suas
atenções de volta. — Então, como vocês fizeram?
— Eu nunca a levei pra pescar. Tem dado certo — papai
falou, e eu cerrei as pálpebras e balancei a cabeça sem entender. —
Eu não vou dar detalhes da minha intimidade com sua mãe, Igor.
— Melhor não insistir, Macedinho, vai por mim — tio Jota
aconselhou, esbugalhando os olhos e acenando com a cabeça. —
Eu apenas mostrei a sua tia quem eu sou de verdade. Ela desperta
o melhor de mim. Sempre.
— Eu fiz um plano junto com esses três otários — tio Thiago
falou, bebendo um gole de sua cerveja e fazendo uma careta para o
líquido, que devia estar quente agora.
— É isso! — tio Jota se levantou em um rompante. — O
plano!
— Ah, não! — tio Thiago lamentou. — Isso não foi uma
ideia, cara.
— Mas pode dar certo — Júnior concordou, se levantando.
— E lá vamos nós — papai levantou também, balançando a
cabeça em negativo. — Levanta, Thiago, ninguém mandou você
abrir o bico, porra.
Eles saíram da cozinha e eu fui obrigado a segui-los até
pararmos em um quartinho nos fundos da garagem, cheio de
muambas dentro.
— Isso é um depósito de lixo? — perguntei, vendo uma pilha
de copos de requeijão em um canto, uma sandália virada com um
prego embaixo e mais um monte de objetos aleatórios.
— Mais um insulto e eu deixo você se virar sozinho,
Macedinho — tio Jota ameaçou.
— Desculpe — Espalmei as mãos na frente do corpo.
— Notaram que de tempos em tempos nós quatro
acabamos aqui? — papai falou, encostando o quadril em um birô
velho que havia ali.
— Meu plano de jogo é uma tradição, queridos — tio Thiago
se gabou.
— Seu plano? — Papai franziu o cenho, olhando feio para
ele.
— Tudo bem, nosso plano. — Meu padrinho corrigiu.
— O pior é que funciona — Júnior afirmou.
— De um jeito muito perturbador, mas funciona. — Seu
Arthur acenou com a cabeça, pensativo.
— Então, vamos lá! — Tio Jota puxou um lençol, exibindo
um quadro branco com um dos pés remendados. Nele havia escrito
a frase: Plano Invertido e alguns tópicos sem nexo nenhum.
Quem sugeriria aquilo a alguém?
Dar atenção a outras garotas, exibir seu tanquinho sempre
que possível e jogar uns olhares 43.
Que porra é olhar 43?
Ele usou o próprio lençol para apagar todo o conteúdo que
havia nele antes que eu terminasse de ler e depois pegou alguns
pincéis marcadores.
— Eu só não comprei pincéis novos — O dono das
bugigangas olhou meio desanimado para as canetas.
— Dá isso aqui! — Júnior puxou da mão do homem, abrindo
as tampas e lambendo de uma por uma.
— Que porra é essa? — perguntei, horrorizado.
— Pior que essa merda funciona, moleque — meu padrinho
falou, mas revirou os olhos com uma careta de nojo.
— Confia! — tio Jota completou.
— Cara, não fala confia. — Papai negou com a cabeça.
— Tá arrepiado, Turra? — tio Jota zombou. — Sei que você
fica todo eriçado quando ouve essa palavra.
— Vai se foder, seu puto! — papai xingou.
Era difícil acompanhá-los, visto que eu não dormia há umas
trinta e seis horas, estava sem tomar banho há quase vinte e quatro
e não comia desde o avião. Contudo, a adrenalina estava me
mantendo de pé.
— Aqui, JP. — Júnior devolveu os pincéis.
— Valeu, mascotinho. — Tio JP deu tapinhas nas costas do
meu cunhado e começou: — Primeiro precisamos de um bom nome.
— O plano perfeito? — sugeri.
— Hum... — tio Jota pareceu pensativo. — Muito comum.
— A tática infalível! — Júnior sugeriu e tio JP apontou,
empolgado.
— Boa! Mandou bem, Mascotinho.
— Agradeça ao Luan Santana — ele falou e fechou a mão
em punho na frente dos lábios começando a cantar: — Eu vou
postar só pra doer em você, uma foto acompanhado, num baile
lotado.
Cerrei as pálpebras, olhando confuso para ele.
— Se fizer isso aí que ele cantou, eu quebro sua cara. — tio
Jota apontou para mim, ameaçando.
— Ele não é louco — Papai virou o pescoço para mim, me
questionando com o olhar. — Não é?
— Claro que não! — me defendi.
— Então, Tática infalível... — Tio Jota escreveu no quadro
ao mesmo tempo que tio Thiago começava a andar pelo espaço
pequeno, falando:
— Pela minha vasta experiência em planos, se a Nana já se
envolveu com você, mas está te detestando agora, só tem um jeito
de você fazer ela te aceitar de volta. — Ele parou de falar, olhando
para todos de um por um.
— Hum? — Júnior inclinou o pescoço para frente,
esperando.
— O quê? — papai perguntou.
— Provando que você ainda vale à pena. Qual é, idiotas,
essa era muito fácil. — Meu padrinho parou em frente ao quadro,
pegando um dos pincéis e escreveu:
1 – Se mudar para o apartamento ao lado do dela.
— Ele está certo, Macedinho. Isso vai mostrar que você
superou — tio Jota falou, levando a mão até o queixo coberto pela
barba.
— Mas eu não superei — falei, olhando para todos eles.
— Então você finge que superou, cara — Júnior disse,
pegando um dos pincéis. — Se vira.
2 – Fazer o café da manhã dela todos os dias.
3 – Atender a todos os desejos dela, por mais
estranhos que sejam.
Meu cunhado escreveu, parando para explicar.
— Você precisa cuidar da Nana, mesmo que ela grite na sua
cara que você faz tudo errado. — Ele riu.
— Vai por mim, elas fazem mesmo isso. — Tio Jota
balançou a cabeça, concordando, e foi o próximo a escrever no
quadro.
4 – Pedir para sentir o bebê mexer, mesmo que
ela negue todas as vezes.
5 – Ir com ela em todas as consultas.
— Boa! — papai aprovou — As mulheres amam um pai
atencioso. E isso nos leva a...
Ele se desencostou do birô, pegando o pincel da mão de
Júnior e escrevendo:
6 – Comprar itens para o bebê e compartilhar
com ela sua empolgação.
— Isso vai derreter o coração dela — papai explicou,
sorridente.
— Mas você precisa pedir desculpas sempre que tiver a
oportunidade — tio Jota aconselhou.
— E dizer o que sente por ela sempre que possível —
Mascotinho completou.
— Você também podia começar a decorar o quarto da bebê,
pedir ajuda e ideias para ela, assim vai se mostrar participativo e
aos poucos vai ganhando o coração da Nana de novo — meu
padrinho aconselhou.
— Isso é perfeito! — tio Jota falou, voltando a escrever no
quadro:
7 – Pedir desculpas sempre que a oportunidade
surgir.
8 – Afirmar o que sente por ela com frequência.
9 – Começar a arrumar o quarto da bebê.
— Nós mandamos muito bem dessa vez — Papai apoiou as
duas mãos nos quadris, acenando com a cabeça.
— Então, é só seguir passo a passo que vai ser sucesso,
moleque — Meu padrinho se aproximou, deixando tapas no meu
ombro.
— Não me faça me arrepender de ter te aconselhado,
Macedinho — tio Jota falou, mais sério do que antes.
— Antes vamos em casa tomar um banho e dormir um
pouco, porque você parece acabado — seu Arthur falou, já me
puxando pelo braço.
Tio Jota encostou ao meu lado e aproximou um pouco nariz,
fungando.
— Tomar banho deveria ter sido o meu primeiro conselho —
falou, inclinando o pescoço para trás logo depois e fazendo uma
careta.
Neguei com a cabeça, sem energia para pensar em
qualquer resposta que fosse e segui o conselho do meu pai, e deixei
a sala, não sem antes olhar uma última vez para o quadro.
Capítulo 31 — Ayana Klein
— Acorda! — Senti alguém puxando meu pé e pisquei os
olhos, confusa.
— Me deixa dormir, inferno! — xinguei, chutando a mão
gelada.
— Vamos ter que cobrar cinquenta reais da titia, não é meu
amor? — A voz de Aurora ficou fina e engraçada, e Ariel respondeu
a ela em seu próprio idioma.
Abri os olhos, vendo Zuzu e Rory com minha sobrinha nos
braços paradas ao lado da minha cama.
— Bom dia, flor prenha do dia! — Rory inclinou a cabeça,
me olhando de cima, com as pálpebras cerradas.
— Você enganou a gente direitinho, Ayana Klein
Castanheira.
Enganei?
Passei alguns segundos para descobrir do que estavam
falando: Igor.
— Agora vocês já sabem... — ouvi minha própria voz
arranhada pela rouquidão e sentei na cama, me arrastando para
encostar na cabeceira.
— Confesso que estou até mais aliviada, pois já tinha
começado a juntar evidências para te defender caso o tal pai russo
descobrisse a gravidez e resolvesse te processar por sequestro —
Zuzu falou, sentando-se no fim do colchão.
— Quê? — Franzi o cenho, confusa.
— Qual é, Nana... Você acha mesmo que pode engravidar e
tudo ficaria por isso mesmo? Nós te apoiamos porque somos sua
família e eu iria até o fim para sustentar sua decisão, mas o pai tem
tanto direito quanto a mãe de participar das fases da gestação e do
desenvolvimento da criança já nascida.
— Merda! — Suspirei, limpando os olhos com as pontas dos
dedos.
— Já perdeu cem reais. — Rory tapou os ouvidos da filha,
olhando feio pra mim. — Pega leve, garota, ainda são sete da
manhã.
— Vocês que vieram me acordar às sete da manhã — falei,
irritada. — Não podem reclamar do meu mau humor.
— Nana, viemos dizer que, com o Igor sendo o pai, as
coisas ficam menos complicadas — Rory completou, soltando Ariel
na cama, de modo que minha sobrinha começou a engatinhar por
cima dela.
— Não ficam nada de menos complicadas — cortei sua
certeza, começando a desabafar. — O Igor não sabe o que quer, ele
é confuso e covarde. Eu não quero criar um filho com um cara fraco.
— A gente já entendeu, mana — Zuzu acenou —, mas ele é
mesmo o pai? — questionou.
— Sim — respondi e revirei os olhos.
— Então, você vai ter que aprender a conviver com ele, meu
amor. — Zuri parecia muito complacente, o que era uma surpresa.
— O cara veio da Alemanha depois de passar no doutorado
dos sonhos só pra assumir a Tiana, mana. — Aurora entrou em
defesa dele. — Isso é um bom sinal.
— Ele não fez mais que a obrigação — Zuzu falou.
— Eu quero que ele se foda — falei quase ao mesmo
tempo.
— Menos cento e cinquenta — Aurora voltou a contar. —
Meu pix é o meu número de celular.
— Eu me apaixonei por ele, sabe? — comecei a desabafar,
ignorando a minha irmã, abraçada às minhas próprias pernas. —
Parecíamos estar indo bem, ele conversava comigo, eu acolhi os
sentimentos que ele sentia, fiquei ao lado dele, porém, do nada, Igor
mudou comigo e foi embora sem ao menos me dizer um adeus.
Vocês imaginam como fiquei? Eu me senti usada, descartada... e,
mesmo tendo a porra do coração mole, me recuso a deixar qualquer
filho da puta me tratar dessa forma.
— Duzentos e cinquenta — Aurora suspirou, olhando para a
filha, que parecia alheia a nossa conversa enquanto brincava de
sacudir o meu celular.
— Cala a boca, Rory, depois você manda a conta. — Abanei
a mão. — Se for pra xingar em paz, eu prefiro pagar.
— Ou eu posso levar a minha princesinha daqui — papai
entrou no quarto e Ariel gritou, abanando os bracinhos.
— Não acredito que você estava ouvindo atrás da porta,
papai — Zuzu acusou, rindo.
— Claro que não, passei aqui por acaso — disse, erguendo
a pequena.
— Hum... — Rory franziu as sobrancelhas como se não
acreditasse.
— Continuem, meninas — Ele fez um galanteio, antes de
sair do quarto, mas disse do corredor: — Vejo vocês na mesa de
café da manhã.
Quando teve certeza de que papai havia se afastado o
suficiente, Zuri voltou a falar:
— Você sabe que não precisa aceitar o Igor de volta, não é?
Deixá-lo ir em uma consulta por mês e informar como está a saúde
da bebê é o suficiente. Depois que ela nascer, você com certeza vai
precisar de ajuda, e ele é o pai. A única pessoa que vai amar mais a
Ti do que ele é você.
Merda, ela estava certa.
— E querer privá-lo do básico pode acabar comprometendo
o bom funcionamento das nossas famílias, mana. — Rory se sentou
ao meu lado, falando devagar. — Sei que você está bastante
chateada, mas não é um estranho pedindo para participar da vida
da filha. É o Igor. Ele cresceu com a gente e olha diferente pra você
desde que era moleque.
— Pera... o quê? — Franzi o cenho, olhando diretamente
para minha irmã.
— Ah, não, Ayana. — Aurora balançou a cabeça. — Não me
diz que você não notava... ele só faltava babar!
— É — Zuri deu risada. — Teve uma época em que vocês
ficaram tão próximos que achamos que os dois estavam namorando
escondido.
— Isso é loucura, gente — Neguei com a cabeça, tentando
buscar na memória algum momento em que Igor agiu diferente
comigo. — Sempre fomos amigos.
— Você sempre o tratou como amigo, ele te comia com os
olhos e fazia qualquer coisa que você pedisse.
— Vocês estão viajando legal — acusei, incrédula.
— Enfim, Nana — Minha irmã mais velha revirou os olhos
—, não posso te forçar a nada, mas acho que você deveria
reconsiderar um pouco essa história de privá-lo da vida da Tiana e
da sua. Esse é meu conselho como advogada — Ela parou um
pouco, se inclinando em minha direção. — Como sua irmã, sugiro
que infernize a vida dele até que ele se arrependa de ter te
engravidado.
Gargalhei quando ela sussurrou o último conselho e Aurora
pegou um dos travesseiros, jogando-o em Zuri.
— Vou pensar direitinho, meninas — falei, baixando um
pouco a guarda.
— Mas, então, mata aí minha curiosidade... — Aurora pediu.
— Vocês ficaram só em Barcelona ou foderam na ilha toda
também?
— Rory! — fiz careta e neguei com a cabeça, repreendendo-
a.
— Qual é, você tá aí grávida, não vem se fazer de recatada
agora — minha irmã devolveu.
— Ela tem razão — Zuri acenou.
— Não transamos em Barcelona — contei. — A primeira vez
foi na ilha, um dia antes do réveillon... e todos os dias depois.
— Como vocês conseguiram se esconder? — Zuzu
perguntou. — Meu quarto era ao lado do seu, safada.
— Então... Fizemos no chão da cozinha, no mar, no mato,
em todos os banheiros do térreo, embaixo das escadas e na
biblioteca. Menos no quarto — falei, sentindo meu corpo esquentar
ao lembrar de todos os orgasmos que ele me deu.
— Porra! — Rory quase berrou, levando uma das mãos à
boca.
— Então, se tem algo que ele faz, é foder bem? — Zuri
perguntou, franzindo os lábios.
— Foi bom enquanto durou — Dei de ombros e comecei a
me arrastar para fora da cama. — Será que podemos descer? Eu tô
com fome.
Dessa forma, consegui convencê-las a levantar e cortar
aquele papo meio constrangedor.
Capítulo 32 — Ayana Klein
Fiquei dois dias na casa dos meus pais, apesar da certeza
de que Igor estava do outro lado da rua, confiava que ele não
invadiria meu espaço, e felizmente isso não ocorreu.
No outro dia após o café da manhã, precisei encarar minha
realidade e ir para o meu apartamento. Eu já tinha me acalmado, o
susto havia passado e agora todos sabiam que eu e Igor nos
envolvemos em algum momento entre Barcelona e a Ilha nas
Bahamas.
Tio Turra e tia Ivana eram avós da Tiana e confesso que
essa parte era ótima, mas o pai dela ainda me dava dor de cabeça,
como nesse momento em questão.
Assim que saí do elevador, me deparei com dois homens
estranhos, ambos carregando caixas enormes nas mãos. Foi só me
aproximar da minha porta para notar o apartamento vizinho vazio,
cheio de pessoas andando por ele. Um barulho de furadeira
insuportável e gente falando alto.
Era o inferno!
Fiquei alguns segundos parada, um pouco incrédula e
irritada, pois, pelo visto, passaria o dia ouvindo aquilo. Entrei em
casa com Gretchen embaixo do braço e tranquei a porta, largando a
bolsa, chaves e chutando os sapatos. Liguei o sistema de som no
maior volume que consegui e fui me alongar.
O pandemônio continuou no dia seguinte, sendo a primeira
coisa que ouvi pela manhã. Levantei-me puta, vendo no relógio que
ainda nem havia passado das oito e caminhei com raiva até a porta,
abrindo-a sem me importar por ainda estar de pijama, no entanto,
dei de cara com Igor.
— Eu quero dormir, porra! — gritei brava, pouco me
importando com quem estava perto dele.
O imbecil me olhou de cima a baixo, demorando um tempo
maior na minha barriga redonda e descendo pelas minhas pernas.
— Vamos parar um pouco, pessoal — ele falou alto, olhando
ao redor. — Continuamos depois do almoço.
Fiquei quieta, vendo-o dispensar seu pessoal por minha
causa, e não posso negar que me senti muito poderosa naquele
momento.
— Opa, desculpe senhora.
— Tenha um bom dia.
Os homens foram passando entre mim e Igor enquanto
falavam. Contei seis deles.
— O que diabos você acha que está fazendo, Igor? —
perguntei quando ficamos sozinhos.
— Reformando o meu apartamento — falou, como se não
fosse muito óbvio. — Estou voltando a morar no Brasil e não vou
ficar na casa dos meus pais já que tenho meu próprio apê.
— Nossos pais têm outros prédios espalhados pelo Rio de
Janeiro — falei, cruzando os braços bem acima da curva da minha
barriga e atraindo o olhar dele para lá. — Tinha que vir morar logo
aqui?
— Vou fazer o que for melhor para você e para nossa filha,
Ayana, então estarei aqui, você querendo ou não.
Falou firme, sem hesitar ou pestanejar. Eu já tinha ouvido
sobre o peso que este lugar tinha para ele e mudar-se para o
apartamento ao lado do meu com essa determinação era corajoso,
um pouco fofo e também perturbador. Talvez mais perturbador do
que corajoso.
— Vocês estão bem? — ele perguntou devagar, me olhando
com aquela intensidade natural que tinha.
— Estamos — Acenei e fechei a porta sem me despedir.
Nem percebi o quanto a minha respiração estava pesada e
o coração acelerado antes de entrar e ser acolhida pelo silêncio do
meu quarto outra vez. Meu corpo ainda reagia ao dele, pelo visto, e
aquilo era muito, muito ruim.
Já fazia mais de uma semana desde que mudei para o
prédio que havia jurado nunca mais voltar ou morar. As coisas
tinham acontecido muito diferentes do que planejei, mas aquele
lugar não me incomodava mais. Diante dos meus problemas atuais,
a tristeza que eu sentia por estar ali ficava até pequena.
Ayana estava mesmo determinada a não me aceitar de volta
e aquela discussão no nosso café da manhã fracassado deixou isso
bem claro.
Contudo, eu persisti, fui lá no dia seguinte e ela aceitou o
café, mas não me convidou para entrar. No outro dia, fechou a porta
na minha cara outra vez e só falava comigo em meias palavras.
Comecei a deixar bilhetes de desculpas junto à refeição e até pedi
para sentir a bebê, porém ela negou.
Ainda parecia brava, e eu nem podia culpá-la.
Me partiu o coração saber como ela se sentiu após a minha
ida, o que era muito irônico, já que o único motivo pelo qual me
afastei foi para não a ver sofrer. Eu me sentia um idiota por isso,
mas não sabia mais o que fazer para me redimir.
Mas eu estava sendo paciente e focando também na minha
própria vida. Voltei a trabalhar e a ir ao futebol aos domingos,
treinava com minha mãe todos os dias e comecei a me sentir em
casa no Rio de Janeiro outra vez. Há muito tempo eu não me sentia
dessa forma e aquilo me trouxe esperança de que as coisas fossem
se ajeitar aos poucos.
Saí do elevador meio desajeitado, com um monte de
sacolas nas mãos, tentando caber no corredor junto com elas. Tinha
ido ao shopping com Iara, e eu e minha irmã nos empolgamos um
pouco e quase trazíamos a loja inteira. Queria que Nana estivesse
conosco, mas ela não me atendeu quando liguei na hora do almoço,
nem respondeu às minhas mensagens.
Seu Luís me disse que ela não saiu durante o turno dele e
seu carro continuava na garagem também, o que era estranho.
Toquei sua campainha três vezes antes de ela me atender,
com as pálpebras cerradas e o rosto sonolento.
— Você tá bem? — perguntei, soltando todas as sacolas no
chão.
— Acho que estou resfriada — contou, voltando para dentro
da casa e se deitando no sofá.
A segui preocupado e me sentei próximo, levando a mão até
a sua testa para ver se estava com febre, mas parecia normal para
mim.
— Quer ir ao hospital?
— Claro que não, Igor, é apenas um resfriado — reclamou,
como se a ideia fosse ridícula.
— Já aconteceu antes?
— Sim, eu só não sabia que estava grávida ainda.
Acenei devagar, fazendo um plano mental para derrubar a
gripe.
— Já comeu hoje? — questionei, já entrando em sua
cozinha.
— Tomei café da manhã tarde e dormi depois do analgésico.
Vi a louça suja em cima da bancada ao lado de uma cartela
de paracetamol. Ela tinha frutas em casa, o que era bom, pois
poderia fazer um suco.
— Você tem comida aqui?
— No congelador tem refeições prontas, mas não precisa se
preocupar, Igor, eu vou levantar para esquentar. — Seu tom de voz
estava anasalado por causa do nariz entupido e apesar de dizer que
se levantaria, sequer se mexeu.
Comecei a vasculhar sua cozinha, colocando uma das
marmitas no micro-ondas e pegando pratos, talheres e laranjas para
fazer um suco. Pelo menos ela tinha todos os utensílios domésticos.
No meu apartamento só tinha duas panelas e seis copos, já que me
livrei de tudo que havia lá.
O café da manhã de Ayana era encomendado e todos os
dias eu buscava cedo na mesma padaria, tinha até feito amizade
com os donos de tanto que eu aparecia por lá.
Servi sua comida no prato e despejei o suco no copo,
levando até onde ela estava ao mesmo tempo que a cadelinha de
Ayana veio do corredor, correndo ao notar a porta aberta.
— Ela quer passear — Nana avisou. — Pode fechar a porta
pra ela não sair? — pediu e eu acenei, entregando a comida em
suas mãos quando ela se sentou e colocando o copo sobre a
mesinha lateral.
Peguei a cadelinha, apoiando-a embaixo de um dos braços
e puxando todas as sacolas para dentro do apartamento para fechar
a porta.
— O que é isso tudo? — ela perguntou, apontando para as
sacolas com o garfo.
— Algumas coisas que eu comprei. Quer ver? — falei
empolgado e ela deu de ombros, acenando. — Você não vai
acreditar no que eu encontrei...
Comecei a procurar a embalagem verde no meio da
bagunça e, quando achei, ergui a fantasia minúscula de abacate.
— Pra combinar com o seu pijama. — Sorri, vendo Nana
olhar estranho para mim enquanto sorria. — O que foi? Você ainda
nem viu o restante.
Fui mostrando os itens aos poucos à medida que ela se
alimentava. O bebê conforto lilás, as fraldas de pano, as toalhas
engraçadas com capuz. Os bodys que Iara me ajudou a escolher,
uns mais simples e outros com babados muito fofos.
Desembalei tudo, espalhando os itens pela sua sala e
notando o olhar de Nana brilhando cada vez mais. Era aquela
emoção que eu queria ver em seus olhos quando estava comigo;
não raiva, mágoa e rancor.
Ela terminou de se alimentar e tomou todo o suco,
colocando o copo e o prato em cima da mesinha.
— Também comprei algumas roupinhas — ela compartilhou
comigo. — Mas acho que já está na hora de planejarmos o
quartinho, não é? Ainda não fui escolher os móveis.
Cocei a cabeça quando ela falou aquilo, lembrando do que
havia feito dias atrás.
— Espero que você não fique brava comigo — Tirei o celular
do bolso e abri o aplicativo de uma loja para itens infantis. — Eu vi
esse berço de madeira redondo e achei incrível, acabei comprando
sem te perguntar — Me aproximei, mostrando a ela a imagem na
tela. — Mas dá tempo trocar — falei, um pouco incerto.
— Acho ótimo que fuja um pouco do padrão branco ou rosa.
— Nana pegou o aparelho da minha mão, rolando as fotos para o
lado. — Será que conseguimos encontrar os outros móveis da
mesma cor?
— Posso pedir para fazer sob medida caso não
encontremos.
— Então está perfeito. — Ela sorriu e, acho que por
costume, tirou do aplicativo, colocando na tela inicial e vendo a foto
do ultrassom morfológico como meu papel de parede.
Nana me entregou o aparelho e ficou me olhando com a
expressão pensativa. Minutos depois voltou a falar:
— Você está curtindo mesmo a ideia de ser pai, não é? —
perguntou e eu senti minha própria respiração se amontoar na
garganta.
A verdade é que descobrir que eu seria pai me deu um novo
propósito. Quando a vi grávida naquelas fotos e depois olhei para o
rostinho de um bebê meu, crescendo dentro dela, só pensei em ser
um homem melhor para as duas.
Eu queria ser um pai incrível e, se um dia Ayana me
permitisse, seria um parceiro incrível para ela também.
— Estou ansioso, Nana — contei, um pouco melancólico. —
Não tem um dia em que eu não pense em ter a Tiana nos meus
braços. — Sorri e inclinei o pescoço, olhando para ela a tempo de
ver uma lágrima escapar.
— Malditos hormônios — ela falou embargada, passando as
costas da mão pela bochecha.
— O projeto do quarto está pronto — contei, tentando mudar
de assunto para não a fazer chorar. — Você quer ver?
Ayana acenou rápido e eu fui ao meu apartamento pegar o
notebook para mostrá-la.
Essa tinha sido a primeira abertura real que ela tinha me
dado, mas tomei cuidado para não forçar a barra, pois eu sabia que
costumava ir sempre com muita sede ao pote.
Aos poucos provaria para Ayana que valia à pena, porém,
sem meter os pés pelas mãos outra vez.
Naquele dia ficamos conversando até tarde. Ela deu
algumas sugestões para o projeto e eu anotei para modificar.
Guardei tudo que comprei em seu closet e Nana me mostrou os
itens que já tinha comprado também.
Fizemos uma lista de coisas realmente necessárias para
receber a bebê e planos para o futuro, como pais ansiosos e
sonhadores.
Foi difícil me despedir, pois queria abraçá-la para dormir e
acordar vendo seu rosto bonito, entretanto, estava focado em pegar
leve.
Assim que entrei no meu apartamento, abri o grupo no
WhatsApp que tinha com meu pai, tio Jota, Júnior e meu padrinho.
Era lá que eu os informava de tudo que acontecia, e eles também
me ajudavam em algumas questões. Tio Jota havia criado uma
figurinha e mandava todas as manhãs quando Ayana acordava. Foi
assim que sobrevivemos à semana da reforma.
TÁTICA INFALÍVEL.
Eu: Fizemos progresso!
Contei animado e apoiei o celular no espelho para escovar
os dentes antes de dormir.
Tio Jota: Ela já te aceitou de volta?
Eu: Ainda não, mas pelo menos conversamos sem ela gritar
comigo.
Júnior: Isso é muito bom.
Padrinho: Foco no objetivo, garoto, você merece mais.
Tio Jota: Minha filha que merece mais.
Pai: Os dois merecem mais...
Meu pai colocou um emoji revirando os olhos logo abaixo da
mensagem.
Júnior: Isso, se casem, amo bolo de casamento.
Tio Jota: Estou de olho, Macedinho, não me decepcione.
Eu: Pode deixar.
Pela primeira vez desde que pisei no Rio de Janeiro, dormi
animado e esperançoso, em vez de receoso pelos pesadelos,
mesmo que estivessem cada vez menos recorrentes.
Capítulo 34 — Ayana Klein
Quando Igor voltou e resolvi tentar incluí-lo em minha vida,
não imaginei que os sentimentos ruins fossem desaparecer tão
rápido, dando lugar a alguns que já existiam e a outros novos,
sentimentos esses que eu nem sabia que podia desenvolver: afeto,
admiração, orgulho...
Ele parecia mais vivo agora, mais feliz, empolgado com a
gestação e cheio de esperanças para o futuro. Tiana nem havia
nascido ainda e Igor já se mostrava um pai excelente e muito
cuidadoso.
As reformas para o quarto da bebê haviam começado e ele
fez questão de lacrar temporariamente a porta de acesso ao meu
apartamento, de modo que toda a bagunça, poeira e destroços da
parede quebrada passava apenas pelo seu, contudo, não pude
deixar de notar que ele usou essa circunstância para passar mais
tempo aqui, e eu fui deixando.
Ele ainda fazia meu café da manhã diariamente e comecei a
responder às suas mensagens no meio do dia perguntando se
estávamos bem. Eram detalhes sutis, passos quase invisíveis que
ele dava para dentro do meu coração outra vez.
Fomos juntos à minha consulta esse mês e o homem
parecia uma criança quando ouviu os batimentos cardíacos da filha.
— Você tá chorando? — deitada na maca, perguntei ao
mesmo tempo que dava risada.
— A maioria deles choram... — Doutor Bernardo falou,
tentando amenizar o lado dele. — Ou melhor, os melhores pais
choram, querida — piscou para mim e eu revirei os olhos, rindo.
— Vem cá — Estiquei o braço, para pegar a mão dele. — Eu
também chorei na primeira vez.
Igor colocou sua mão quente e suada na minha e eu a
apertei de leve, passando um pouco de conforto para ele.
Todos os dias eu me via ansiosa pela sua chegada, algumas
vezes até pedimos comida juntos no meu apartamento. Inclusive,
começamos até a ver uma série juntos e estávamos nos
relacionando como bons amigos, todavia, ficava cada vez mais
difícil olhar para ele e me lembrar do que aquela boca, corpo e mãos
eram capazes. Era como se meus hormônios estivessem em
ebulição, e o meus vibradores já nem eram suficientes para aplacar
o tesão.
Algumas vezes ele aparecia na minha porta pela manhã
suado e sem camisa; coincidentemente, isso sempre ocorria depois
que eu mandava bom dia para o papai. Eles ainda continuavam
sincronizados nisso.
Comecei a sentir tesão nele outra vez sem nem notar.
E agora eu tinha um grande problema.
Tentei me segurar, disfarcei e passei a me estimular sozinha
mais de uma vez por dia, contudo, naquele dia em particular,
acordei extremamente frustrada e Tiana parecia ter notado, já que
quase dava cambalhotas na minha barriga.
Mandei uma mensagem rabugenta para o meu pai e ele
respondeu perguntando se estava tudo bem, respondi que sim e
não demorou muito até a campainha tocar. Suspirei e me levantei,
pronta para receber o pai gostoso e idiota que eu tinha dado a
minha filha.
Abri a porta com meu pijama de abacate, alisando a barriga
que estava bem mais redonda, mas não tão grande. Tinha certeza
de que estava descabelada e com a cara amassada, no entanto,
não me importei muito com isso em um primeiro momento.
Me senti horrível ao descer os olhos devagar pelo homem
vestido com calças jeans e camisa branca com os primeiros botões
abertos e as mangas estendidas até os cotovelos. Sua barba
parecia recém-feita e os cabelos estavam cortados de um jeito
descontraído e moderno. Os olhos azuis pareciam me explorar da
mesma forma que eu fazia com ele.
— Bom dia — ele sorriu e puta merda!
Eu tinha que ser muito forte para manter as pernas
fechadas.
— Bom dia — respondi fingindo tédio e voltei para dentro do
apartamento, bem ciente de que ele me seguiria.
— O que houve, estranha? — E ainda tinha o apelido que
voltou junto com nossa intimidade. — Você parece frustrada.
— Sua filha está treinando pra as próximas olimpíadas
dentro da minha barriga — reclamei, fazendo-o gargalhar ao mesmo
tempo que deixava meu café da manhã sobre a bancada.
— E qual a modalidade? — perguntou, divertido.
— Não tenho a menor ideia, mas deve ser algo muito radical
— contei, parando entre a sala e a cozinha.
Igor parou de sorrir, me olhando por um segundo antes de
perguntar:
— Posso sentir?
Eu não tinha o deixado tocar na minha barriga ainda. Já
fazia um tempo desde a última vez em que pediu, e eu havia
negado, porém, as coisas pareciam diferentes agora. Não existia
mais nenhum sentimento ruim entre nós. Igor conseguira apagar
tudo.
Estendi a mão e Igor pareceu surpreso, respirando com
mais intensidade, mas se aproximou, me dando o que pedi. Segurei
seu pulso e trouxe até o lado em que a bebê parecia mais à vontade
para se mover, encostando sua palma ali.
Meu corpo reagiu ao toque quente e minha própria
respiração encurtou à medida que ele esperava, com a mão enorme
cobrindo pouco mais de um quarto da minha barriga.
Senti seu cheiro, o calor familiar do corpo dele e seu hálito
gostoso tocar meu rosto. Fechei os olhos, engolindo em seco,
enquanto tentava ignorar o desejo latente.
— Nossa! — ele riu quando a bebê se moveu sobre sua
mão. — Isso é incrível, Nana — quando falou, Tiana voltou a se
agitar, fazendo com que ele se divertisse ainda mais.
Abri os olhos, observando suas íris azuis muito brilhantes
agora. Minha pulsação aumentou e o ar saiu entrecortado pelo meu
nariz. O tesão parecia falar muito mais alto que a razão, e Igor
notou, fechando o sorriso e umedecendo os lábios com a pontinha
da língua.
Porra!
A mão dele se moveu, alisando minha pele por completo.
Seu toque parecia queimar em mim, me tentando ainda mais a fazer
aquela loucura.
— Você tá esperando o que pra me beijar, Ayana? — ele
perguntou com o tom de voz rouco e baixo.
— Quem disse que eu quero? — provoquei, fingindo um
controle que não existia em mim.
— Consigo te sentir vibrando daqui — Sua voz era quase
um sussurro. — Você pode não querer, mas seu corpo quer. —
Como se quisesse provar sua teoria, Igor inclinou mais o pescoço,
roçando a ponta do nariz em minha bochecha.
Apertei os olhos, puxando o ar uma, duas, três vezes mais
forte antes de avançar sobre ele, gemendo ao sentir sua boca outra
vez sobre a minha.
Igor me agarrou pela cintura, tentando colar nossos corpos,
mas sorriu nos meus lábios ao ser barrado pela barriga. Senti suas
duas mãos sobre o meu rosto, demonstrando uma ternura que eu
não precisava naquele momento.
Agarrei seus cabelos e o beijei de maneira quase violenta,
desesperada, com fome, ao passo que ele se inclinava sobre mim
colocando um dos braços por baixo dos meus joelhos e o outro nas
minhas costas para me erguer.
Achei que me levaria para cama, na verdade, aquela era a
minha expectativa, no entanto, Igor tinha outros planos. Ele se
sentou em uma poltrona que eu tinha na sala, me colocando sobre o
seu colo sem parar de me beijar.
— Igor... — chamei, rebolando sobre seu colo à medida que
sentia seu pau endurecer embaixo de mim.
— Você tem pressa, não é? — ele perguntou, porém não me
deixou responder, beijando-me com força por mais alguns
segundos. — Mas eu não quero uma rapidinha, Nana. Quando eu te
comer outra vez, vou passar horas metendo em você.
Esqueci o quanto ele sabia o que dizer e, caralho, aquilo
piorou consideravelmente o meu estado de excitação.
— Eu preciso gozar — falei, apertando o queixo dele com
minha mão. — E se você sair daqui sem resolver o meu problema,
nunca mais te deixo pisar neste apartamento — ameacei, vendo um
sorrisinho sacana nascer na lateral do seu rosto.
— Eu disse que estaria aqui para cuidar de você, lembra? —
Alisou minhas coxas de uma maneira muito sensual, fazendo com
que minhas pernas se separassem em expectativa. — E eu vou
cuidar de todas as suas necessidades, Ayana, incluindo o tesão.
Igor segurou minha nuca, tomando o controle do beijo, e
moveu a língua habilidosa sobre a minha enquanto subia a outra
mão por minhas pernas, fazendo-me arquejar. Abaixou as alças da
blusinha, puxando a peça para baixo para libertar meus seios, e não
demorou muito até que eu sentisse a pressão de seus dedos em um
dos mamilos. Arqueei as costas, gemendo alucinada contra sua
boca enquanto espasmos eram enviados diretamente para a minha
boceta.
Seus lábios fizeram um caminho lento e excruciante pela
minha mandíbula e pescoço até chegar aos seios, prendendo um
dos bicos entre os dentes e arrancando um grito rouco da minha
garganta.
— Continua, porra, assim mesmo! — implorei com a voz
entrecortada, incitando-o a continuar com a tortura gostosa.
— Eles parecem muito mais sensíveis do que antes — falou,
brincando com a língua ao redor do biquinho.
Choraminguei, desesperada por mais, perdida pela forma
como ele ligava meu corpo.
— Mais um pouco disso e eu gozo sem você nem tocar
minha boceta — contei ofegante, fazendo com que Igor chupasse
forte, quase de maneira dolorosa, fazendo com que meu canal se
contraísse por conta própria.
A palpitação no meio das minhas pernas era quase um
tormento e a mão de Igor ainda estava parada ali no meio delas.
— Me toca — exigi, impaciente. — Eu sei que você adora
me enlouquecer, Igor, mas eu não aguento mais. — Esfreguei a
bunda sobre sua pelve outra vez, sentindo o pau pulsar embaixo de
mim.
— Você é insana pra caralho! — ele falou, subindo a mão
pela minha coxa. — Tudo em você me enlouquece, Ayana —
continuou, colocando a mão dentro do meu short e começando a
explorar a minha intimidade. — Incluindo essa sua mania de não
usar calcinha. Puta que pariu! — rugiu quando seus dedos entraram
em contato com a vulva encharcada.
Seus dedos finalmente encontraram meu clitóris inchado,
causando um tremor por todo o meu corpo enquanto eu gozava,
movimentando o quadril sem controle em busca de mais atrito.
Meus gemidos altos foram abafados por mais um beijo faminto, e
Igor não parou de me estimular até que os espasmos diminuíssem.
— Vamos para a cama? — implorei, sentindo meu corpo
ainda ligado e aflito por atenção. Desci minhas mãos dos seus
ombros para os botões da camisa, começando a abri-los com as
mãos um pouco trêmulas.
— Eu ainda não acabei com você, linda — ele falou,
rodeando minha entrada com as pontas dos dedos e me fazendo
arquejar de tesão a ponto de esquecer o que estava fazendo.
Dois dedos foram me abrindo ao passo que eu contraía ao
redor deles, ansiosa por aquele estímulo que sabia ser capaz de me
tirar do chão. Igor passou a entrar e sair devagar, porém, me
segurou no lugar quando ameacei agitar os quadris.
— Para de brincar com meu juízo — reclamei, voltando a
puxar seus cabelos entre meus dedos. Sabia que estava fazendo
seu couro cabeludo arder pela força em que colocava, mas ele
também fazia meu corpo arder com aquela calma irritante.
— Como você quer, amor? — falou ao pé no meu ouvido,
fazendo com que minha pele inteira se eriçasse. — Assim? —
Curvou os dedos para cima, tocando em um ponto sensível dentro
de mim.
Esqueci como respirava, arquejando sem parar enquanto
ele repetia o movimento, levando meu corpo a se contorcer sobre
seu colo.
— Não para — pedi, jogando o pescoço para trás e
apertando os olhos.
— Olhos em mim, Ayana — Sua voz grave reverberou sobre
todo meu corpo conforme ele diminuía a intensidade do movimento.
— Quero que você goze me olhando, vendo como eu sou bom em
te enlouquecer — completou, me motivando a abrir as pálpebras e a
endireitar o pescoço para fitá-lo.
Ele voltou a me estimular com a expressão concentrada e
determinada, o pau pulsando embaixo de mim e a respiração
entrecortada. Pelo visto, eu não era a única a me perder em tesão
aqui.
Não demorou muito até que minhas pernas começassem a
tremer outra vez, e foi necessário um esforço quase sobrenatural
para manter minhas pálpebras abertas à medida que meu corpo
inteiro esquentava e explodia, liberando a tensão acumulada. Minha
visão nublou e eu gritei, perdida nas sensações alucinantes.
Foi intenso... muito mais do que qualquer outro orgasmo que
Igor já havia me dado. Não sabia como isso era possível, já que ele
ainda estava todo vestido e minhas roupas também continuavam em
meu corpo, mesmo que não cobrissem mais os lugares certos.
Quando a onda passou, o homem tirou os dois dedos de
dentro de mim devagar, enfiando entre os próprios lábios e
gemendo ao sentir meu gosto neles.
— Você é tão gostosa quanto eu me lembrava — disse,
fazendo com que eu inclinasse o pescoço, apoiando minha testa em
seus ombros.
Ele me enlouqueceria qualquer dia desses.
Capítulo 35 — Igor Reis
— Você tá brincando? — Nana perguntou quando eu
levantei com ela no colo dizendo que precisava ir trabalhar.
— Infelizmente não — falei, franzindo os lábios. — Você
precisa comer e eu tenho duas reuniões agora pela manhã.
Coloquei seu corpo sentado sobre a poltrona e apoiei uma
mão em cada lado do encosto, me inclinando para deixar um selinho
em seus lábios.
Meu pau estava sofrido, apertado pela cueca e o jeans, sem
mais espaço para pulsar. Só pensava em libertá-lo e me enfiar
dentro dela, porém, tinha mesmo que ir embora. Não só pelos
compromissos, mas também pela minha urgência. Eu só me via
sendo rude com Ayana, a comendo freneticamente enquanto a ouvir
gritar pelo meu nome, contudo, ela nem havia tomado café da
manhã ainda.
Além disso, não queria apenas uma transa em um momento
de desespero seu.
Queria que me aceitasse de volta em sua vida e retomar as
coisas de onde paramos para que finalmente pudesse chamá-la de
minha. Sabia que poder ter acesso ao seu corpo e fazê-la gozar
assim era um progresso enorme, já que há dois meses ela gritou
que não me queria em sua vida.
No entanto, precisava pegá-la de volta, provar que eu podia
fazê-la feliz, ser o cara para ela, o homem que não fugiria outra vez
quando se sentisse inseguro.
Acho que eu havia mesmo aprendido a lição, pois numa
dessas, quase perdi minha família. E não havia nada mais
importante no mundo para mim do que eles.
Mesmo deixando Ayana brava em casa, segui para a
empresa. Fiz tudo da mesma forma que vinha fazendo desde que
voltei, inclusive a mensagem no almoço.
Eu: Alimentou nossa filha?
Mandei a mensagem de uma forma diferente dessa vez.
Nana: Já.
Ela vinha me respondendo bem esses dias, em alguns dias
até conversávamos, e Nana me contava detalhes do seu dia. Às
vezes ela ia passar a tarde com os pais, ou até mesmo inventava
algum programa com Aurora ou Zuri, mas hoje ela parecia mal-
humorada.
Eu: De mal humor, linda?
Nana: Não se faz de sonso, Igor.
Nana: Você foi embora. Porra!
Dei risada quando respondeu. Sabia bem que ela estava
irritada por aquilo.
Eu: Parece até que foi você quem precisou sair de pau duro
daí.
Nana: Você não pode reclamar. Se tivesse me dado quinze
minutos, eu resolvia seu problema.
Eu: Não quero só quinze minutos, Ayana.
Quase completei com um “quero a porra da vida inteira”.
Talvez fosse muita “forçação” de barra dizer isso, então
mantive o comentário. Fiquei encarando a tela por minutos, vendo-a
digitar e parar em seguida várias vezes, até finalmente mandar:
Nana: Eu quero mais.
Eu: Mais o que?
Nana: Mais de você, do seu beijo, da sua língua, do seu
corpo.
Droga! Era muito cedo para comemorar?
Eu: Está me aceitando de volta?
Perguntei, esperançoso. Mais uma vez a mensagem
demorou e os segundos pareciam passar mais lentamente,
aumentando ainda mais a minha ansiedade.
Nana: Melhor conversarmos quando você estiver aqui.
Eu: Tudo bem, chego mais tarde.
Eu queria sair correndo para casa e foi quase o que fiz, no
entanto, mais uma vez segurei a minha impulsividade. Mesmo que
contasse cada maldito minuto.
Não consegui me concentrar em porra nenhuma, muito
menos entender meia dúzia do que me diziam. Só pensava na
mulher me esperando em casa, pela primeira vez em muito tempo,
ansiosa por mim.
Acabei saindo da empresa duas horas antes e dirigi como
um louco, sem aguentar mais guardar todos os sentimentos que eu
tinha. Eles pareciam querer explodir dentro de mim agora e algo me
confirmava que aquele era o melhor momento. Não dava para
perder a chance.
Toquei sua campainha furiosamente, como da primeira vez
em que estive aqui assim que retornei da Alemanha. Conseguia
sentir o sangue quente fluindo pelas minhas veias e meu coração
bater descompassado.
Ayana abriu a porta em um rompante, fazendo minha mão
sobrar no ar. Fiquei parado, respirando pesado enquanto a mulher
me olhava confusa. Minutos se passaram conforme a minha mente
fervia, tentando juntar as palavras para dizer algo realmente
coerente.
— Você tá passando bem? — Nana perguntou, inclinando o
rosto para frente.
— Sou apaixonado por você desde que entendi a existência
do sentimento — Coloquei para fora, gesticulando de uma forma
muito esquisita. — Você me tratava como um irmão e então resolvi
deixar de lado aquele afeto, achando que era apenas coisa de
adolescente confuso. Aí você foi embora para a Rússia e foi uma
das épocas mais tristes da minha vida.
Encostei o braço no batente da porta um pouco acima da
minha cabeça.
— Nossa! — ela esbugalhou um pouco os olhos,
exclamando.
— Sempre que você voltava, aquele sentimento renascia e
eu tentava sufocá-lo. A ideia de voltar a gostar de você quando sua
vida era o ballet, os espetáculos e vinha ao Brasil apenas uma vez a
cada dois anos era muito assustadora, porém eu não conseguia
parar de te olhar, te desejar, de imaginar uma vida junto a você.
— Por que nunca me contou sobre isso? — Ayana negou
com a cabeça, parecendo confusa.
— Você estava vivendo seu sonho, fazendo sucesso em sua
carreira, e eu só tinha uma atração unilateral. — Suspirei, buscando
os termos certos para continuar: — Tudo mudou em Barcelona. Eu
sabia que estava quebrado e magoado demais, por esse motivo
tentei evitar..., mas como eu resistiria a você, Nana?
Senti o sangue se acumular mais em meu rosto,
evidenciando o meu nervosismo.
— Quando chegamos ao Brasil, eu já te amava tanto que
achei que havia algo de errado comigo. Tinha certeza de que faltava
pouco para me mudar de vez para o Brasil, por você, para ficar com
você, e aquilo me assustou. Então me afastei e voltei para aquele
lugar obscuro em que me acomodei durante todo aquele tempo
antes de te reencontrar. Queria tanto você, e algo dentro de mim
gritava que eu não te merecia, e eu não tinha ideia do que fazer
para te merecer, Ayana. — Penteei meu cabelo para trás com os
dedos, só então notando que minha mão tremeu por todo o tempo
desde que chegara aqui. — E ainda não sei como, mas estou
tentando todos os dias.
Vi o exato momento em que seus olhos umedeceram e
droga! Minha intenção não era fazê-la chorar, eu só queria
verbalizar todos os sentimentos que havia guardado dentro de mim
por tanto tempo.
— Eu amo você, Ayana — falei, erguendo a mão para sua
bochecha e capturando com o polegar uma lágrima que escapou. —
Amo cada pedaço teu e serei o homem mais feliz do mundo se você
me aceitar de volta.
Ela pareceu assustada por alguns segundos, parando para
me encarar com as íris negras brilhantes, mas depois Ayana reagiu,
me puxando pela camisa para dentro do apartamento e batendo a
porta atrás de nós.
— Eu te quero de volta — ela falou antes de me beijar com
desespero e parar alguns segundos depois. — Se pisar na bola
comigo outra vez, faço um inferno na sua vida.
— Nunca mais — prometi com convicção, andando com ela
para o sofá e fazendo com que se sentasse no meu colo. — Eu
passei o dia inteiro sem te tirar da cabeça. Tem noção?
— E você me deixou molhada e frustrada — ela reclamou,
se segurando em meus ombros e ajeitando a postura, de modo que
se encaixasse em mim de pernas abertas.
Tirei sua blusa com pressa e passei a língua por seu corpo,
parando no mamilo durinho e sensível. Mamei ali, ficando ainda
mais duro ao ouvir os sons que começaram a sair de sua garganta.
Eu queria ir devagar, queria mesmo, mas Nana não
facilitava em nada para mim. Ela tirou minha camisa de qualquer
jeito e depois começou a abrir o botão da calça.
— Estou tentando ir com calma — Arfei ao sentir suas mãos
envolverem o meu pau.
— Você tem todo tempo do mundo pra ir com calma. Depois
— falou, se levantando para terminar de tirar as roupas.
Olhei-a de cima abaixo, guardando na memória o quanto
ficava ainda mais linda com a barriga saltada, abrigando a nossa
menina.
— Vai sentar em mim assim? — perguntei com o tom
entrecortado quando senti minha glande em contato com a boceta
que, puta merda, já estava molhada.
Ayana desceu devagar, arrancando um gemido rouco do
meu peito.
— Gostosa demais! — falei afetado ao senti-la me
acomodar inteiro e mexer o quadril como se se preparasse. — É
incrível quando você engole meu pau assim inteiro.
— Essa sua boca suja... — Ayana suspirou, se contorcendo
como se apenas minhas palavras a deixassem excitada.
— Rebola pra mim — Subi as mãos por suas pernas até
encaixar em seu quadril, incentivando-a a se mover. — Vem tomar o
que é seu, cachorra.
Ayana gemeu, movendo o quadril como mandei e cravando
as unhas em minha pele nua. Quase perdi o controle e esporrei
dentro dela nos primeiros segundos em que começou a quicar,
tirando parte do meu pau e voltando a engoli-lo de novo, e a visão
disso era de enlouquecer.
— Sua boceta foi feita pra mim, porra! — rugi, sentindo-a me
apertar.
Levei a mão até seu clitóris quando já não aguentava mais e
me perdi junto a ela, ouvindo nossos gemidos se misturarem pela
sala silenciosa.
Transamos de novo naquela mesma posição quando a
primeira onda passou, mas de forma mais lenta. Depois a levei para
o chuveiro e fodemos outra vez antes do banho, e durante também.
Quando nos deitamos na cama, Ayana subiu em mim novamente e
a brincadeira recomeçou. Se aquilo não era saudade, não sabia que
nome deveria dar.
Eu:
Papai:
Tio Jota:
Tio Jota:
Padrinho:
Papai: Lá vem você com essas gracinhas, TH.
Padrinho: Nada mais fiel ao momento do que essa imagem.
Você me ama, Turra, para de fingir que não.
Tio Jota: Tô orgulhoso de você, Macedinho, mas se magoar
minha filha...
Papai:
Papai: Eu prefiro essa daqui.
Júnior:
Júnior:
Júnior: Mandou bem demais, cunhadinho.
Júnior: A tática foi mesmo infalível.
Padrinho: Tem certeza de que quer começar essa guerra,
Turra?
Padrinho:
Tio Jota:
Papai: Meu filho tá nesse grupo, filho da puta.
Mascotinho:
Papai:
Eu: Pai... Eu sei, tá?
Eu: Eu e todo mundo...
Contei, caso ele não estivesse ciente. Tia Cecília até havia
me convidado para ir no clube uma vez, mas BDSM definitivamente
não era a minha praia.
Papai:
Tio Jota: Ferrou. Vou ali socorrer seu pai, Macedinho.
Tio Jota: Cuida da minha filha.
Tio Jota:
Dei risada da loucura deles e fechei o grupo, indo escolher
uma comida decente para mim e para a minha bailarina.
Epílogo — Ayana Klein
Nós tínhamos entrado na trigésima sexta semana de
gestação, e minha barriga agora parecia prestes a explodir a
qualquer momento. Era pesada e incômoda de se carregar para lá e
para cá. Parecia um pesadelo.
Igor, que agora praticamente morava dentro do meu
apartamento, se mostrava cada dia mais cuidadoso. Ele me ajudava
a me trocar e não me deixava carregar nada, parecia até que eu não
tinha mais mãos.
Todos os dias me abraçava por trás e entrelaçava as mãos
grandes embaixo da minha barriga, sustentando o meu peso e o da
Tiana ali.
Era um alívio enorme!
Minhas roupas não entravam mais e nem meus sapatos
fechados, já que meus dois pés pareciam duas bolas de futebol. Igor
também fazia massagens neles toda noite, ajudando a drenar o
líquido acumulado ali.
Essa semana talvez estivesse sendo a mais difícil, pois meu
obstetra havia me aconselhado a parar de dançar, quando Igor
contou sobre o último tombo que levei. Briguei com ele depois da
consulta, sem conseguir controlar os meus hormônios, porém,
quinze minutos depois, nos reconciliamos quando ele me comprou
açaí. Tiana amava açaí.
Eu ainda podia me alongar todos os dias, mas ainda assim,
não dançar me desanimou um pouco. Contudo, estava me
agarrando ao mantra de que tudo isso era temporário. Todas as
fases da gravidez e da neném, por mais dolorosas que fossem,
eram passageiras e aquilo me deixava um pouco melhor.
A nossa vida parecia fluir muito bem, com Igor voltando a ter
uma vida de verdade, indo ao futebol, trabalhando todos os dias,
mesmo que fosse parar por alguns meses após o parto por sua
escolha. E ele também estava se consultando com um terapeuta.
Aquilo me impressionava demais. Na verdade, era um
grande passo em seu processo de superação. Não havíamos
definido um rótulo ao nosso relacionamento ainda, mas ele estava
sendo bom para mim e aquilo era mais do que suficiente.
Me mexi inquieta na cama àquela manhã, sentindo um
pouco de dor abdominal.
— Tá tudo bem? — Igor perguntou de frente para mim,
passando a mão por minha barriga.
Eu gostava daquela posição, com a minha barriga apoiada
na dele. A bebê parecia se acalmar dessa forma, mas Igor vivia
reclamando que queria ficar mais perto, e eu respondia que
ninguém mandou me engravidar.
— Sim, só o incômodo com a posição mesmo — respondi
com a voz rouca e fechei os olhos para voltar a dormir.
— Tá bem, amor. — Ele se inclinou, beijando minha testa e
depois se arrastou pela cama, parando para falar com minha
barriga. — Você precisa deixar sua mamãe dormir, filhota — Abri
apenas um olho quando ouvi sua voz sussurrada e senti o hálito
quente contra a pele da minha barriga. — Senão, depois ela fica
muito irritada com o papai.
Dei risada, me divertindo um pouco com o quanto ele era
bobo. Igor subiu outra vez e eu o olhei, vendo a preocupação
impressa em sua expressão.
— Se piorar, me liga que eu volto correndo, tá? — Penteou
os fios do meu cabelo rebelde para trás com os dedos de forma
carinhosa.
— Uhum... — respondi sonolenta e ele riu, me dando o
próprio travesseiro para que eu colocasse uma das pernas em cima.
Normalmente eu conseguia voltar a dormir com certa
facilidade, mas naquele dia ouvi todos os passos dele por dentro do
apartamento, ignorando a dor chata e contínua que estava sentindo.
Doutor Bernardo havia avisado sobre as contrações e os
possíveis incômodos, me levando a crer que era tudo comum nesse
último trimestre. Levantei-me quando Igor ainda estava em casa
tomando café da manhã e me alimentei junto com ele.
Ignorei as dores a manhã inteira, no entanto, à tarde as
coisas começaram a piorar. Mandei mensagem para o meu médico
e ele avisou que estava de plantão na maternidade, mandando que
eu fosse para lá. Imediatamente me arrumei e peguei a bolsa com
os documentos, porém, antes de sair, liguei para Igor.
Não queria alarmar ninguém porque poderiam ser apenas
contrações de treinamento, contudo, ele gostaria de saber que eu
estava indo ao hospital.
— Oi, linda! — disse ao atender.
— Estou indo encontrar com o doutor Bernardo na
emergência, você quer ir pra lá?
— Tá tudo bem? — Igor parecia alarmado.
— Tá sim, amor. São só algumas contrações, não se
preocupa.
Ouvi um barulho de algo caindo, seguido de uma porta
batendo.
— Você não vai sair — ele disse com a voz aflita. — Ayana,
me espera em casa, não vou demorar.
— Igor... — chamei devagar. — Está tudo bem — falei,
sabendo bem a raiz de sua preocupação.
— Por favor, Nana, não sai. — Senti meu coração afundar
ali. Ele estava com medo, dava para ouvir pelo seu tom.
— Me sentei no sofá — falei, tentando mantê-lo calmo. —
Não precisa correr, estamos te esperando.
Ele havia me contado toda a história do início: o
relacionamento conturbado com aquela mulher tóxica, as coisas que
aconteceram no dia do acidente fatal e as acusações da irmã dela
quando ele voltou para o Rio.
Igor dizia que talvez esse sentimento de culpa não passaria,
porém, ao menos agora ele conseguia conviver com os seus
próprios demônios.
— Já estou no carro, não desliga.
— Dirige devagar — pedi, agora eu quem estava alarmada.
— Tiana precisa de você vivo para nascer. — Soprei e coloquei a
mão na barriga, sentindo o útero contrair.
— Você acha que ela já vai nascer? — Agora ele parecia
mais empolgado e nervoso do que assustado.
— Não tá na hora ainda, mas se isso for a dor de
treinamento, quero estar muito drogada na hora do parto. — Travei
os dentes quando voltou a doer.
— Respira fundo — Sua voz soou no alto-falante —, se
lembra de como aquela mulher louca ensinou?
Por louca ele queria dizer a doula que contratei para um
possível parto humanizado.
Continuamos conversando pelo resto do caminho até que a
porta do apartamento se abriu e Igor me olhou, preocupado e
aliviado.
— Finalmente... — falei, sorrindo para tentar aliviar sua
tensão, mas ele estava suando.
Igor me ajudou a levantar e pegou minha bolsa com uma
das mãos, colocando a outra ao redor da minha cintura para me
ajudar. Eu até conseguia andar sozinha, mas deixei que ele me
ajudasse porque o homem parecia mesmo aflito.
— Quando descobri minha gravidez, achei que você fosse o
pior pai que eu poderia ter escolhido para a Tiana — contei quando
estávamos no corredor.
— Isso é pra me animar, Nana? — perguntou, me olhando
horrorizado. — Não tá funcionando!
— Eu posso terminar? — Ergui uma sobrancelha,
desafiando-o a me interromper mais uma vez.
— Vai lá, me detona mais. — Fez careta.
— Puta merda, como você é dramático — xinguei.
— Não sou dramático, eu fiquei assustado pra caralho
quando você me ligou dizendo que ia pra emergência. — Ele
apertou o botão do elevador, resmungando.
— Igor — falei mais alto, esperando que ele calasse a boca.
— Eu quero terminar de falar antes que a contração volte, será que
eu posso?
— Tudo bem, me desculpa. — Ele franziu os lábios e baixou
os ombros.
— Vou pular para o final — falei, começando a sentir aquela
agonia precedente à dor. — Você é o melhor pai que eu poderia ter
escolhido e, puta merda, eu amo você! — falei o final gritando e
curvando o corpo quando senti a pressão. Parecia que meu útero
sairia sozinho.
Igor me segurou e soltou uma risada, me ajudando a ficar de
pé.
— Eu também amo você — ele disse, beijando minha testa.
— Tá doendo pra caralho, Igor, se você rir mais uma vez
ninguém nunca mais vai ver seus dentes — ameacei.
— Você disse que me amava pela primeira vez — ele
justificou. — Eu estou feliz em ouvir.
O elevador parou no nosso andar e ele deu um passo para
dentro, esperando que eu fosse também, mas eu estanquei no lugar
ao sentir o líquido descendo pelas minhas pernas.
— Eu acho que ela vem agora — Igor arregalou os olhos,
me olhando de cima a baixo.
Fiquei aliviada, não podia mentir, e ao mesmo tempo com
muito medo, já que era do meu corpo que uma criança sairia aquele
dia.
Foi doloroso e também tempo emocionante.
Igor não soltou minha mão em nenhum momento e nossas
famílias fizeram um verdadeiro caos na sala de espera do hospital,
todos ansiosos pela nossa pequena.
Sete horas de trabalho de parto e muitos palavrões depois,
Tiana nasceu com seus três quilos e cento e cinquenta gramas
berrando a plenos pulmões. Eu chorei, Igor chorou, meu pai chorou
e até o tio Turra, provando o quanto os homens dessa família são
emocionados.
— E agora, qual o nome dela? — perguntei a Igor, que não
parava de olhar para a filha nos braços.
Já estávamos no quarto, pois ficaríamos em observação
aqui por algum tempo. A pequena já tinha sido amamentada e agora
era ninada por Igor na poltrona. Eu estava exausta, mas também
não conseguia tirar os olhos deles dois. Minha filha tinha as íris
azuis como as do pai e a boca dele também, com o arco do cupido
bem desenhado. Era perfeita e negra como eu.
— Você consegue chamá-la de algo além de Tiana? — ele
riu ao perguntar. — Não consigo mais associar nossa princesa a
nenhum outro nome.
— Quanto o papai te pagou? — perguntei, franzindo o
cenho.
As enfermeiras barraram nossos pais do andar, pois não era
hora de visitas. Tio Thiago até tentou subornar uma delas, mas a
mulher foi firme. Não duvido nada que nesse meio tempo papai
tivesse bolado algo mirabolante para que o nome escolhido por ele
fosse da bebê.
— Nada — Igor ficou confuso, negando com a cabeça. —
Chamamos ela de Tiana esse tempo inteiro, achei que você
gostasse do nome.
— Eu gosto — falei, percebendo que eu realmente curtia.
— Então... Tiana Castanheira Reis?
— Sim, acho que temos um nome. — Sorri, sentindo as
pálpebras pesarem.
— Seu avô vai ficar maluco — Igor falou para a neném,
sorrindo daquele jeito terno e feliz.
Acho que ele finalmente havia encontrado uma felicidade
que merecia. E esse arranjo nos fazia muito feliz também.
FIM
Reveja Igor, Nana e Tiana no livro da Iara, filha mais nova do
Arthur Reis.
O livro sai em algum momento entre hoje e para sempre kkkk
Brincadeira, tá pertinho.
Conheça os outros spin-offs da série
SÉRIE ARTILHEIROS: ORDEM DE LEITURA DOS SPIN-
OFFS
PLANO INVERTIDO:
https://a.co/d/6lhU6CF
Clichê invertido – New adult – Enemies to lovers - Irmã do melhor amigo – Eles são
vizinhos – Futebol
“Dizem que algumas escolhas mudam a nossa vida para sempre.
No meu caso, isso aconteceu quando fiz um garoto chorar.”
Aurora implicou com Noah, o melhor amigo de seu irmão e vizinho de frente deles, durante
toda a vida. Na adolescência, aprontou as maiores barbaridades.
Só não estava preparada para a versão de 19 anos do garoto que sempre esnobou. O
jogador, recém-contratado pelo Bluedogs, cresceu em todos os aspectos.
Agora ela terá que correr atrás do prejuízo e conquistá-lo, sem saber que a indiferença
demonstrada por ele faz parte de um plano cujo objetivo é exatamente ficar com a garota
que ele amou desde que se entende por gente.
Ela é debochada
Ele é um príncipe
Ela é o caos
Ele é a paz
Ela está disposta a tudo para vencer
Ele também
Mesmo que isso signifique seguir à risca as ideias mais insanas que já viu na vida.
Plano Invertido é um spin-off da Série Artilheiros e traz como protagonistas Aurora
Castanheira, filha do JP (livro 3), e Noah da Silva, filho do TH (livro 1).
Por ser uma nova geração, o livro pode ser lido de forma independente.
Gatilho: Relacionamento abusivo que não envolve o casal principal; traumas do passado.
JOGO PROIBIDO:
https://a.co/d/03iFVT7
New Adult - Romance Jogador de Futebol - Amor Proibido
Duda Marques pega e não se apega, jogador em campo e no amor, é um safado de
carteirinha.
Recém-contratado como centroavante no Bluedogs, está de volta ao Rio de Janeiro, sua
cidade natal.
Agora, além de precisar provar seu valor como titular do time de coração, próximo da
família, vai resistir à sua maior tentação: segurar com todas as forças o desejo que sente
por Maitê, sua prima.
Ela é uma artista sinestésica, que sente o sabor das cores e palavras.
Apaixonada pelo jogador desde a infância, Maitê é uma garota sonhadora e ingênua
demais para perceber que sempre foi correspondida.
Ele é um cafajeste.
Ela é romântica.
Ele é baladeiro.
Ela mal sai de casa.
Eles são primos e se amam ardentemente.
A união dos dois pode separar a família e macular a amizade intensa entre seus pais.
Quanto vale lutar por um amor proibido?
Duda e Maitê irão descobrir.
Jogo Proibido é o segundo livro do spin-off da Série Artilheiros.
JOGADA DE SORTE
https://a.co/d/bzRZshn
New adult – Romance proibido – Jogadores de futebol - Eles vão dividir o mesmo
teto e a mesma cama
Eric é um jogador de futebol cafajeste e que não pretende se apaixonar. Manuela é a filha
de seu tio favorito, que sempre foi apaixonada por ele.
Em um Natal, eles acabam tendo que dividir o mesmo teto e é tempo o suficiente para virar
a vida perfeitamente caótica do zagueiro de cabeça para baixo.
Em pouco tempo, ele percebe que a garotinha cresceu e é a mulher mais encantadora que
já conheceu.
Ele é insano
Ela é focada
Ele é um cafajeste
Ela só amou um homem
Ele é yin
Ela é yang
Mas o destino tem um jeito curioso de fazer almas gêmeas se encontrarem.
Jogada de sorte é um conto spin-off da Série Artilheiros e traz como protagonistas Eric
Castanheira, filho do JP (livro 3), e Manuela Fernandes, filha do Mascotinho (livro 4).
Por ser uma nova geração, o conto pode ser lido independente dos demais.
Não há gatilhos, mas saliento que se trata de um conto e não um romance. Leia também a
nota da autora.
JOGADA DE RISCO
https://a.co/d/g6kx82b
New adult – Friends to enemies to lovers – Eles são vizinhos — Found family
“— Turrinha, você é do tipo que fala safadeza no sexo? — Pergunta animada — meu Deus!
Por que perdemos tanto tempo?”
Eles cresceram juntos.
Eles são melhores amigos.
Eles são rebeldes.
Eles são hackers.
Eles são apaixonados um pelo outro desde sempre.
Eles são filhos de Agenorzinho e João Paulo.
Eles são Jasmine e Turrinha, conhecidos por serem dois gênios. Tão inteligentes, quanto
inconsequentes.
“Se antes eu já fazia tudo por ela, agora eu seria capaz de qualquer coisa. Sabemos que,
às vezes, burlar as leis não é um problema para mim.”
Jogada de risco é um spin-off da Série Artilheiros e por ser uma nova geração, o livro pode
ser lido de forma independente.
Conteúdo +18.
[1]
O Ballet Bolshoi é a Companhia do Grande Teatro Acadêmico para Ópera e Ballet de
Moscou. Bolshoi possui um grande naipe de profissionais, como: bailarinos, mímicos,
cantores e músicos adultos e infantis. E anualmente produz em média de quatro
espetáculos por mês, entre balés e óperas.
[2]
Querida.
[3]
Gatinho
[4]
No ballet clássico são saltos curtos e rápidos.
[5]
(Chicoteado) Um termo aplicado a um movimento de curto chicoteamento do pé
levantado, que passa rapidamente na frente/atrás do pé de apoio (como o Flic-flac) ou
chicotadas maiores ao redor do corpo de uma direção para outra.
[6]
Protagonista do livro Não Foi Amor à Primeira Vista da autora Kel Costa.