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Marquesi
1ª Edição
Ri, pela primeira vez desde que o sol nascera, ao ler a mensagem.
Qualquer um poderia achar que Ivy era uma mulher gostosa com quem
Robert estava saindo, mas era só sua gata persa, gorda e muito mimada.
Robert Clark Junior e eu éramos amigos de infância. Seu pai foi um
dos grandes parceiros de meu avô, auxiliando-o em todas as questões
jurídicas, tanto de ordem profissional quanto pessoais. Havia alguns anos, o
velho Clark se aposentara e deixara a firma nas mãos do prodigioso aluno de
Harvard, que desistiu de um escritório em Nova Iorque para seguir ali,
levando o legado dos Clarks.
Fui até a sala que ele usava toda vez que estava a serviço da agência,
bati à porta antes de entrar e o encontrei debruçado sobre o computador. Ele
fez um aceno com a mão, indicando que eu devia me sentar quieto, pois
estava concentrado em algo.
— Espero que essas rugas em sua testa não signifiquem que temos
problemas iminentes — debochei ao me sentar. — Você é o único
profissional que eu desejo que continue subutilizado, porque assim evito dor
de cabeça.
Ele bufou e tirou os olhos da tela.
— Você demorou a aparecer, e resolvi dar andamento a uns processos
de outros clientes. — Sua explicação me causou risos, pois sabia bem que ele
mesmo não advogava, só dava consultorias. — Tem um advogado novo no
escritório, e ainda não sei se ele está no nível que requeremos, por isso passei
alguns desafios para testá-lo.
— E?
Robert riu.
— Ele é esperto, mas ainda não me convenceu.
— Bom, o melhor agora é você deixar sua implicância de lado e
começar a explicar o porquê desta reunião se já estivemos juntos revendo
contratos na semana passada.
Meu amigo ficou sério e suspirou, e senti meu corpo todo ficar tenso.
— Vim a pedido de sua mãe. — Robert parecia estar tão
desconfortável quanto eu. — Michelle me procurou na semana passada para
falar sobre Justin Willi...
— Pode parar. — Interrompi-o e me coloquei de pé. — Virou garoto
de recados da minha mãe agora?
— Não virei nem quero ser, mas como dizer não a ela? Sua mãe é a
pessoa mais doce que já conheci. Eu me sentiria mal se negasse. — Deu de
ombros. — Pensei em falar contigo aqui, na empresa, para evitar danos
físicos...
Balancei a cabeça.
— Não quero falar desse homem nem aqui nem em qualquer outro
local. Fim de assunto!
Preparei-me para sair da sala, mas não tive a chance de evitar ouvir o
que não queria.
— É o seu pai, Michael.
Travei os dentes.
— Foda-se quem ele é, não significa nada para mim e não deveria
significar nada para ela também!
Bati a porta e voltei pelos corredores, passando por vários
funcionários sem ao menos vê-los.
Entrei na minha sala, que antes era de meu avô, fundador da MSG
Trade havia 50 anos, que fez, de uma pequena agência de investimentos, uma
gigante no mercado, respeitada internacionalmente e detentora de uma das
maiores cartelas de investidores dos Estados Unidos.
Eles são minha família, os Griffins, meu avô, meus tios e minha mãe,
e não reconheço qualquer outra pessoa além deles!
Meu celular vibrou várias vezes no bolso, mas eu não tinha a mínima
vontade de verificar de quem eram as mensagens. Robert me conhecia bem,
sabia que ali, no trabalho, eu nunca me alteraria mais do que o normal, por
isso armou para mim aquela armadilha. Em qualquer outro lugar, eu teria
reagido muito pior, mas ali tentava manter a calma e não me descontrolar,
afinal, lidava com milhões de dólares todos os dias, não poderia demonstrar
fraqueza diante das pessoas que trabalhavam comigo.
Fechei os olhos e respirei fundo, engolindo toda a raiva que apenas o
nome do homem me causava. Não sabia mais o que fazer para afastá-lo de
nossas vidas e deixar claro que não era bem-vindo. Fazia anos que ele vinha
tentando contato comigo e, poucos meses atrás, tinha convencido minha mãe
a recebê-lo para uma conversa. Depois disso, ela começou a me pressionar
para ouvi-lo e, o pior de tudo, perdoá-lo.
Como se houvesse algo para perdoar!, pensei irritado.
Justin Williams não significava nada para mim! Até meus 13 anos de
idade, eu nem sabia seu nome e não sentia a menor falta de uma figura
paterna, afinal, tinha meu avô. Depois que vovô morreu, minha mãe achou
que deveria me contar por que eu não tinha um pai como minhas primas e
amigos.
— Mãe, eu não sinto falta, não me importo, juro! — Tentei convencê-
la, na época, que não era necessário falar de seu passado.
— Não é sobre você sentir falta, porque sei que qualquer coisa que te
disser não vai preenchê-la, mas acho que você tem direito de saber, ao
menos, quem é ele!
Tentei negar muitas vezes, porque, na verdade, nunca tinha feito
diferença alguma para mim. Nunca me sentira menos amado ou querido por
não ter um nome nos meus documentos, e pensar que ela achava que eu tinha
um “vazio” era algo tão inconcebível que não sabia como demonstrar que ele
não existia.
Deixei que me contasse, e isso só causou um ferimento que eu não
tinha antes. Não por mim, mas por ela, por perceber o quanto sofrera e
imaginar se, ao me olhar, ela se lembrava do homem que a abandonara.
Mamãe tinha só 17 anos quando nasci, era uma menina inocente e
inteligente que caiu na lábia do popular esportista mais velho do colégio.
Quando se descobriu grávida, contou a ele, mas o garoto a mandou abortar,
pois já havia sido admitido em uma universidade com renome em promover
jogadores para a liga nacional de beisebol.
Ela estava com quatro meses de gestação quando ele se mudou, por
anos não entrando em contato. Meu avô nunca soube quem era o homem que
engravidou a filha, mas isso também não fez nenhuma diferença para ele.
Acolheu mamãe e depois a mim e nunca deixou que ninguém nos fizesse
mal.
Quando descobri toda essa história, parte do meu mundo caiu, pois
Williams era um dos meus jogadores de beisebol favoritos, apesar de jogar
pelos Dodgers[1], e eu ser torcedor dos Cubs[2]. Saber que ele nunca entrara
em contato conosco para saber notícias me deixou perplexo e decepcionado
com ele como pessoa, o que afetou minha admiração pelo profissional.
Depois disso, aconteceram tantas situações ruins, e todas ressaltaram
que eu estava extremamente iludido acerca do amor e de como as pessoas o
viam. A forma carinhosa e protegida com que fui criado por minha mãe,
meus tios e, principalmente, meu avô não me preparou para descobrir o
mundo, pois eu achava que todos eram boas pessoas, inocentes e verdadeiros.
Que grande merda!
Parei de pensar em Justin Williams e em toda merda de passado e
decidi me concentrar no futuro. A MSG estava prestes a completar 50 anos,
com uma reputação sólida, um passado confiável e um presente moderno.
Acompanhamos todas as mudanças ocorridas no mundo dos negócios, bem
como nos adaptamos às novas tendências de investimentos. Tínhamos uma
gama de variedades que atendiam desde o mais cauteloso ao mais ousado
investidor. Apostávamos tanto na consolidada bolsa de valores quanto nas
criptomoedas.
Assumi o cargo de CEO da MSG depois do falecimento inesperado de
tio Mark, quatro anos antes. Ele teve um derrame e ficou dias internado até
constatarem sua morte. O natural seria meu outro tio, Matthew, assumir a
direção da empresa, contudo nossos acionistas recusaram sua indicação e me
recomendaram ao cargo, alegando que era necessário alguém mais jovem no
comando.
É claro que isso causou uma situação ruim entre mim e meu tio,
principalmente porque aceitei de pronto, afinal, trabalhava fazia anos com tio
Mark, sendo o segundo no comando, mas não durou muito, porque logo ele
decidiu se aposentar e usufruir de sua parte nos dividendos da empresa
viajando pelo mundo. Matthew passou um ano inteiro fora e, quando voltou,
foi para ser sepultado ao lado de seu pai e de seu irmão mais velho.
Eu era o último Griffin do sexo masculino vivo e o único a tocar os
negócios iniciados tanto tempo atrás por um homem que usou o pouco
dinheiro que tinha investido para abrir sua própria agência.
Eu sou um Griffin!, pensei orgulhoso.
Novamente o vibrar do telefone no meu bolso me distraiu dos
pensamentos e, dessa vez, resolvi atender.
— Oi, Martha — cumprimentei a governanta de minha mãe,
pensando que era mais um convite para almoçar na mansão, coisa que tinha
recusado desde que começaram as armadilhas para que eu me encontrasse
“casualmente” com Justin Williams. — Não vou conseguir ir al...
— Michael... — Sua voz anasalada e trêmula me fez ficar gelado. —
Ainda bem que consegui falar contigo!
— O que aconteceu, Martha? Mamãe está...
— Acabaram de levá-la para o hospital. — Martha não conseguiu
conter um soluço. — Ela passou mal...
— Qual hospital? — perguntei, já andando rápido pelo corredor e
rezando mentalmente para que nada de ruim tivesse acontecido.
Martha disse o nome do hospital, e, assim que cheguei à garagem do
prédio, entrei no carro e saí apressado, cantando pneus. Não conseguia
raciocinar normalmente, e nem mesmo todos os exercícios para a manutenção
da calma me ajudaram.
O temor se instalou no meu corpo de tal maneira que sentia as mãos
duras e frias, mesmo sendo um dia quente e úmido de verão. Dirigi feito um
louco pelas ruas da cidade, amaldiçoando o trânsito pesado e a distância entre
o centro de Chicago e o hospital para onde ela fora levada.
Parei de qualquer maneira em uma das entradas de emergência do
hospital e joguei as chaves do carro para um manobrista, correndo para a
recepção.
— Michelle Griffin... — mal conseguia falar quando me coloquei
diante da recepcionista.
Ela arregalou os olhos ao me reconhecer – provavelmente de alguma
revista de fofoca que adorava me fotografar quando eu estava em algum
evento – antes de verificar em seu computador.
— Ela foi levada para a sala de ressuscitação e...
Segurei com força o balcão.
— Como?
A mulher me deu um sorriso triste.
— Está aqui que ela deu entrada com parada cardíaca, então os
médicos...
Não ouvi mais nada depois disso, concentrado demais em duas
palavras que me arrepiaram da cabeça aos pés. Tinha perdido meu avô e tio
Matthew por causa de ataques cardíacos, além do derrame vascular cerebral
que vitimou tio Mark. Minha mãe sabia que era cardiopata havia muitos anos
e sempre tomava todos os cuidados, além de ir ao cardiologista regularmente,
então, como aquilo podia ter acontecido?
— Senhor, posso ajudá-lo em algo mais?
Neguei com a cabeça e fechei os olhos, fazendo uma prece
desesperada.
Minha mãe é tudo o que eu tenho! Não posso perdê-la!
— Saiu o resultado da biópsia da massa no pescoço de sua mãe. — A
voz calma do meu pai ao telefone não conseguia acalmar meus batimentos
cardíacos, porque eu sabia que ele sempre fora assim, mesmo nos momentos
mais desesperadores, sempre se mantinha sereno. — É câncer de esôfago,
filha.
Fechei os olhos, e uma lágrima escorreu por minha bochecha.
— Vou voltar para casa, pai.
— Não! — ele respondeu rapidamente. — Sua mãe não iria querer
que você interrompesse os estudos logo agora, que já está prestes a se formar.
Solucei.
— Mas quero estar aí com vocês! Preciso estar ao lado de mamãe e
apoiá-la...
— Ela sabe que você a apoia, Rory, mas ficaria muito triste se você
deixasse os estudos. Sabe o quanto vê-la formada é importante para Vera.
— Eu sei — balbuciei desanimada, sentindo o coração apertado ao
pensar em mamãe. — Vocês já conversaram com o médico?
Pelo longo suspiro que meu pai deu, já imaginei que não estava me
contando a história toda. Sequei os olhos com cuidado para não borrar a
maquiagem, pois ainda tinha que voltar para meu trabalho e não queria
problemas.
Mas como ficar bem depois dessa notícia?
Acomodei-me melhor sobre as caixas do depósito e esperei as más
notícias.
— Ela terá que operar para tirar a massa o mais rápido possível e
depois fazer os tratamentos de radioterapia e quimioterapia se forem
necessários.
Coloquei a mão sobre a boca para me impedir de soluçar alto. Meu
peito tremeu com o choro contido, e minha garganta doeu como se estivesse
sendo esmagada. Engoli em seco, tentando voltar a respirar.
— O seguro que vocês têm consegue cobrir tudo isso? — perguntei,
com medo da resposta.
— Ainda não sei, filha. Eu tive alguns problemas no ano passado e
acabei deixando de pagar...
Levantei-me diante da notícia.
— Vocês estão sem o seguro de saúde? Mas como fizeram para...
— Eu mexi no que restava da sua poupança... — confessou com voz
triste. — Eu sei que deveria ter conversado com você antes e...
— Pai, o dinheiro era seu, e, mesmo se não fosse, você fez o certo! —
tentei consolá-lo. — Graças a Deus eu consegui uma bolsa e não precisei usar
a poupança toda, apenas para me manter aqui em Chicago nos primeiros
meses.
Ele concordou, e eu pensei em todo o esforço que os dois, papai e
mamãe, fizeram a vida toda para que eu pudesse ir para a universidade. Ele
era um professor de artes, e ela, uma educadora infantil. Ambos não
ganhavam muito, mas sempre conseguiram economizar para minha poupança
de estudos.
Nunca me faltou nada, nem amor nem dinheiro, e acho até que fui
mimada demais pelos dois. Talvez por ter sido um “presente inesperado”,
como me chamavam, pois ambos já não esperavam conseguir um filho
quando fui concebida. Estavam casados havia mais de 20 anos, mamãe
contava com 45, e papai, com 48 anos quando vim ao mundo.
Sempre fui tratada como uma princesa, mas sempre lhes obedeci e
orgulhei. Era uma ótima aluna, além de fazer muitos trabalhos voluntários e
ajudá-los a ganhar um dinheiro extra vendendo os produtos caseiros que
mamãe fazia. Foi uma festa quando consegui entrar para a Universidade de
Chicago a fim de cursar Inglês e Literatura, com bolsa integral, e, ao mesmo
tempo, fiquei triste por deixá-los no interior, na pequena e charmosa cidade
onde nasci: Mount Carroll.
— ...ainda vou ver o que pode ser feito. Enquanto isso, vamos para
Dixon, ficar com sua tia Wanda.
— Dixon? — Meu coração se apertou, pois sabia que nenhum dos
dois gostava de ficar na casa de parentes. Eu gostaria muito de tê-los comigo,
mas, em uma cidade como Chicago, a hospedagem e todo o tratamento
seriam uma fortuna, e eu já me preocupava com o dinheiro que necessitariam
para a cirurgia e o tratamento. — E onde ela fará a cirurgia?
— Ainda não sabemos. — Papai soluçou, e não me contive mais,
chorando com ele. — Wanda quer nos ajudar, mas acho que nenhum de nós
consegue juntar o dinheiro necessário...
— Eu vou ajudar, pai! — prometi, mesmo sem saber o que poderia
fazer. — Vou conversar com amigos, abrir uma vaquinha na internet,
qualquer coisa.
— Obrigado, filha. — Ele respirou fundo audivelmente e clareou a
garganta. — Preciso voltar para perto dela agora, deve estar acordando do
cochilo.
Despedimo-nos, mas ainda fiquei algum tempo no depósito, com a
cara inchada de chorar, tentando achar soluções para ajudar minha mãe.
A última vez que a tinha visto foi no Natal, pouco mais de seis meses
antes. Achei-a fraca, magrinha, e ela me relatou constantes problemas de
garganta, além de uma rouquidão estranha que alegou ter sido dos anos em
que, infelizmente, fumou. Achei estranho, pois havia parado antes de eu
nascer, não fazia sentido dar aquele pigarro mais de duas décadas depois.
Ao longo dos meses, começaram as dificuldades para falar, comer e,
até mesmo, respirar. Foi então que encontraram uma massa pressionando o
esôfago e a traqueia.
Meses e meses indo a consultas, por isso mesmo nunca desconfiei que
estivessem sem seguro saúde.
E agora?
— Ei, você está bem?
Ergui o olhar e vi minha amiga, colega de trabalho e de apartamento,
olhando-me assustada. Fiz que não com a cabeça, e Carly me abraçou
apertado, deixando que eu desse vazão às lágrimas que tentava aprisionar.
Contei a ela tudo o que estava acontecendo, desesperada por seus
conselhos, mas tudo o que minha amiga fez foi me confortar.
— Vamos dar um jeito! — dizia alisando minhas costas.
Ela me ajudou a ir até o banheiro, onde lavei o rosto e tentei ficar
apresentável para voltar ao trabalho. Mais do que nunca, precisava do
dinheiro do salário e das comissões de venda, não podia fazer nada que
colocasse em risco o pouco que ganhava.
— Se pudesse, arranjaria outro emprego — contei, voltando para o
meio das prateleiras repletas de livros. — Se eu pegar menos matérias no
próximo semestre, talvez consiga...
— Como, Rory? Já fazemos o último horário aqui, e, mesmo que
consiga outro, como vai ter tempo para se preparar para os exames?
Dei de ombros.
— Talvez só deva desistir de me formar. — Sorri triste. — Mamãe
desistiria de qualquer coisa por mim; por que não posso fazer o mesmo por
ela?
Carly não disse mais nada, mas eu podia ouvir seus pensamentos,
porque eram os meus, só não queria admitir minha total incapacidade de
ajudar a mulher que eu mais amava nesse mundo. Eu sabia que, ainda que
conseguisse arranjar 10 empregos, não iria ter dinheiro suficiente.
— Vamos pensar com calma, sim? Quando chegarmos em casa,
poderemos pensar em todas as opções. — Ela apontou uma moça muito bem-
vestida entrando na livraria. — Enquanto isso, vá ganhar comissões!
Concordei e me apressei a atender a mulher, torcendo para que fosse
uma ávida leitora e que levasse livros suficientes para que eu tivesse alguma
esperança de ajudar minha mãe a se salvar.
Mais tarde, naquele dia, depois de ter tomado banho e deixado todas
as lágrimas caírem, comi um sanduíche feito por Carly e me sentei ao seu
lado no tapete da sala, aproveitando que nossa outra amiga e dona do
apartamento onde morávamos ainda não havia chegado com sua energia alta
e animação constante.
— Podemos tentar a vaquinha, já deu certo algumas vezes. — Carly
mostrou alguns exemplos. — A gente divulga na universidade e pode pedir a
Aimée que divulgue também nos eventos e...
— Divulgar o quê?
Carly e eu olhamos para trás, na direção da porta, de onde a bela e
esfuziante Aimée fez a pergunta.
Respirei fundo enquanto ela tirava os sapatos e comecei:
— Lembra que te disse que mamãe estava doente? — Ela assentiu e
se jogou no sofá à nossa frente. — É câncer, e ela precisará fazer cirurgia e
tratamento.
Seu semblante, sempre alegre, ficou pesado, ela se arrastou até a
ponta do sofá e se esticou para pegar minha mão.
— Sinto muito, Rory! O que está pensando em fazer?
— Eu queria ficar com eles, mas não quero deixar mamãe triste por
eu ter deixado a universidade.
Ela concordou.
— Eles precisam de dinheiro para o tratamento — Carly resumiu a
história.
Aimée franziu a testa sem entender.
— Achei que tivessem seguro...
— Eu também. — Balancei a cabeça desolada. — Papai parou de
pagar porque ficou caro demais.
— Puta merda! — Aimée se juntou a nós duas no tapete e olhou para
a tela do computador de Carly. — Vaquinha?
— Estamos pensando em como fazer para levantar o dinheiro —
expliquei. — Eles não têm, e eu não ganho o suficiente para ajudar.
— Posso abrir mão do aluguel do quarto — ofereceu, mas neguei,
pois sabia que, mesmo que o apartamento fosse próprio, as despesas dele
eram enormes.
Morávamos em uma área boa, nobre, perto da universidade e do
shopping onde trabalhávamos, na parte sul de Chicago. O apartamento era
grande, assim como suas despesas, por isso mesmo ela resolveu alugar os
dois quartos que não usava.
Primeiro, Aimée conheceu a Carly em um evento no café em que
minha amiga trabalhava na época. Como precisavam de mais alguém para
rachar as despesas, fui chamada para ficar no outro quarto. Carly me indicou,
pois éramos colegas nas aulas de computação. Fui morar com elas e, quando
abriu uma vaga na livraria, retribuí a indicação do apartamento,
recomendando-a para o emprego.
Éramos um trio interessante, diferentes em tudo, mas nos dávamos
muito bem. Aprendi a me vestir melhor com a promoter Aimée e a mexer no
computador com a futura programadora Carly. Em troca, ensinei as duas a
gostarem dos clássicos literários.
— Sabe a quantia necessária para fazer a operação? — Carly me
perguntou de repente.
— Ainda não, mas deve ser enorme. — Gemi de frustração. — Estou
com medo de não conseguir juntar algum dinheiro a tempo, e a situação
piorar.
As duas me abraçaram, mas logo Aimée se levantou, foi até a cozinha
e voltou com uma garrafa de vinho e três taças.
— Eu sempre digo que, para problemas que ainda não podemos
resolver, nada melhor que um bom vinho para clarear a mente.
— Não acho que...
— Não é hora de achar. — Ela interrompeu Carly, enquanto servia a
bebida. — É hora de relaxar. Nada de bom sai de uma cabeça conturbada.
Concordei com ela, pois estava desde mais cedo com uma angústia no
peito que me impedia de pensar coerentemente. Não tinha costume de beber,
e vinho geralmente me dava sono, então achei que seria uma boa ideia
entorpecer meus sentidos para poder conseguir descansar e pensar melhor no
outro dia.
A primeira taça foi praticamente virada, o que arrancou muitas risadas
de Aimée. Bebi mais devagar a segunda, já me sentindo zonza e, quando fui
reabastecer, descobri que as duas já haviam bebido todo o vinho.
— Eu queria mais! — reclamei.
— Não! É melhor ficar só assim, altinha. Não queremos ter que
segurar sua cabeça no vaso a noite inteira — Aimée respondeu com um
sorriso.
Meus olhos se encheram d’água de repente, e comecei a chorar feito
um bebê. Soluçava dentro de um abraço apertado de Carly, enquanto Aimée
alisava minhas costas.
— Imagino o que está sentido, Rory, mas, acredite em mim, para tudo
há uma solução.
Neguei, ainda sem olhá-la.
— Não posso sequer pensar em perder minha mãe. — Solucei
novamente. — Sei que deveria ser mais forte e confiante, mas me sinto
impotente.
— Eu sei — Aimée disse baixinho enquanto continuava a esfregar
minhas costas. — Perdi meus pais muito nova, tinha apenas 17 anos quando
eles morreram.
Olhei para ela, pois nunca tinha falado sobre sua vida, e eu não
imaginava que ela já não tinha os pais.
— Eu não fazia ideia. — Carly pôs meus pensamentos em palavras.
Aimée deu de ombros.
— Não gosto muito de falar sobre essa época. — Ela brincou com a
borda de sua taça. — Fiquei órfã, sozinha, sem dinheiro e lugar para morar.
Arregalei os olhos, e Carly tomou a mão dela, apertando-a em
conforto.
— Seus pais não te deixaram nada? — perguntou.
— Não, eles tinham pouco dinheiro e muitas dívidas. Eram
trabalhadores, e tínhamos uma vida confortável, mas, quando morreram em
um acidente, o dinheiro do seguro só deu para cobrir suas dívidas, e acabei
perdendo a casa porque não tinha como pagar a hipoteca. — Aimée manteve
os olhos baixos ao contar, como se sentisse culpada. — Fiquei alguns meses
em um abrigo, mas, assim que completei 18 anos, fui liberada para trabalhar.
Encontrei emprego em um café que ficava em um prédio de escritórios no
Centro. O dinheiro era pouco, e tudo o que ganhava, usava para pagar um
quartinho em Washington Park e pagar o transporte até meu trabalho. — Meu
coração se apertou ao imaginar uma garota sozinha em um dos bairros mais
perigosos da cidade. — Fiquei assim por um ano inteiro, até que um velho
advogado que tinha uma firma no prédio me fez uma proposta. — Sorriu
triste, e eu estremeci. — Já não era virgem, pois tive um namorado no
colégio, porém foi horrível e vi que não podia fazer aquilo de novo, e, quando
me recusei a um novo “encontro”, ele deu um jeito para que eu perdesse o
emprego.
— Que grande filho da puta! — Carly exclamou revoltada.
— É a vida, infelizmente.
— E o que você fez? — inquiri, pois, se algo assim tivesse acontecido
comigo, não sabia se daria conta de superar como ela.
— Morei na rua e em alguns abrigos por uns dias, até que consegui
um novo emprego, como garçonete de um bufê. Não posso negar que minha
aparência ajudava, além de eu ter concluído o ensino médio.
— Foi aí que você começou a trabalhar com eventos?
— Não, Carly, eu mal ganhava para me sustentar, pois só recebia
quando havia eventos, não tinha um salário. Mas, sim, foi lá que me
apaixonei por essa área de organizar festas. — Sorriu, mas ainda não com a
alegria de sempre. — Minha vida mudou depois que trabalhei em um evento
pequeno de uma clínica de reprodução assistida. — Suspirou. — Eu li todo o
material deles e descobri sobre as agências de mães substitutas.
— Barriga de aluguel? — Carly perguntou assustada.
Aimée concordou.
— Me inscrevi, passei na triagem e, pouco tempo depois, estava
firmando contrato com um casal cuja mulher não podia gerar. — Fiquei muda
diante do que ela me dizia, pois nunca poderia imaginar que Aimée já
pudesse ter estado grávida. — Não conheci o casal, nem soube seus nomes,
tudo foi feito com a intermediação da agência, mas conheci sua história, e
isso me ajudou a entender que, mais do que ganhar o dinheiro, eu estava
ajudando-os a realizar um sonho.
— E você conseguiu? — indaguei baixinho. — Dar o bebê?
— O bebê não era meu, apenas emprestei meu corpo para gerar o
filho deles. A agência foi maravilhosa! Tive acompanhamento psicológico,
além de uma cuidadora que esteve comigo do primeiro dia ao parto.
— Sempre ouvi falar, mas nunca conheci ninguém que havia feito. —
Carly realmente estava curiosa.
— É mais comum do que a gente pensa. Eu fiz uma vez só, mas
conheci mulheres que haviam gerado mais de uma. O dinheiro é ótimo, mas,
no meu caso, tudo o que envolveu a situação me ajudou. Consegui um
apartamento para morar, e todas as minhas despesas foram pagas pelo casal,
como alimentação e assistência médica, e, depois do parto, eles depositaram o
dinheiro. Dei entrada neste apartamento e montei meu serviço de bufê.
— Sempre achei que você vinha de uma família rica — comentei.
— Não. Acho que, de nós três, eu era a mais ferrada.
— E o bebê, Aimée? — Carly quis saber.
Ela sorriu.
— Nasceu bem, saudável. Optei por não o ver nem saber o sexo. Fiz
isso para me proteger, sabe? Porque, por mais que você saiba que não é seu,
seu corpo e os hormônios não sabem. — Concordei. — Doei meu leite para
ele durante um tempo e tive notícias por um ano inteiro de que estava bem,
seguro e amado.
— Que bom! — Minha amiga pareceu mais tranquila.
— Eu sei que, por ter dinheiro envolvido no meio, muitas pessoas
acham esquisito, mas, depois que você entende a situação e percebe que, se
não existissem pessoas dispostas a gerar para outras, muitos casais, héteros e
homoafetivos, não conseguiriam ter um filho biológico. Foi uma ajuda
mútua, não vejo como “compra”, como muitos falam, porque tenho certeza
de que, para o casal, aquela criança não tem preço.
Conversamos sobre o assunto por muito tempo mais, porém as
perguntas ficaram a cargo de Carly, pois tudo o que eu conseguia pensar era
se teria a coragem e a força emocional de Aimée.
Mais tarde, na minha cama, não consegui dormir, mesmo ainda
sentindo o torpor causado pelas duas taças de vinho. Sentei-me e peguei o
celular, abri a página de pesquisa e fiz a busca sobre o assunto que estava
martelando minha mente e impedindo-me de pegar no sono.
Escutar o bip-bip do aparelho era como ter a esperança renovada, ao
mesmo tempo em que parecia ser uma contagem regressiva. Estava havia dias
no hospital e ao lado do leito de minha mãe, esperando sua melhora, durante
os horários de visitação.
Michelle Griffin foi submetida a uma cirurgia de emergência e teve
instaladas em seu peito duas pontes de safena. Os médicos abriram o peito
dela, retiraram a safena da perna e tentaram, dentro do possível, reestabelecer
seu coração.
Agora é esperar!, foi o que o cirurgião responsável me disse assim
que ela foi transferida para a UTI. Continuava sedada e estava sendo
monitorada 24 horas. Os prognósticos eram bons, mas o susto ainda não tinha
passado.
Chorei feito um menino quando ela entrou no centro cirúrgico. Não
pude vê-la antes e temia não conseguir vê-la depois. Quando se perde muitas
pessoas da família pelo mesmo problema de saúde, a descrença em uma
melhora se instala como uma sentença da morte.
Tudo o que eu pensava era que, se a perdesse, perderia tudo! Minha
mãe era a única referência positiva de amor que me restava, meu único
motivo para ainda ter fé em pessoas boas e honestas. Sem ela, eu estaria só e
vazio, sem ninguém para amar.
Ainda tinha minhas duas primas, mas, desde que seus pais se
separaram, anos antes, perdemos a proximidade. Louise, a mais velha, filha
de tio Mark, foi viver com a mãe em Londres e lá se casou. Amanda, filha de
tio Matthew, mudou-se para a Califórnia fazia 10 anos, depois de ter se
casado com um produtor de cinema.
Mandy e eu ainda mantínhamos contato por telefone e mensagens,
porém era esporádico, geralmente em datas comemorativas, pois minha mãe
era sua madrinha. Talvez por isso, logo que soube do ataque cardíaco, ela
entrou em contato comigo.
— Como você está? — foi sua primeira pergunta.
— Estou bem, tentando ficar confiante sobre a recuperação dela —
respondi, tentando parecer melhor do que estava na realidade.
— Eu sei o quanto vocês dois são ligados, Michael, e imagino que
esteja sendo difícil aguentar tudo sozinho, por isso conversei com Joshua, e
vamos para Chicago...
— Não, Mandy! — Interrompi sua fala. — Você acabou de ter um
bebê; uma viagem até aqui será desconfortável para vocês.
— Michael, eu gostaria de estar aí... — Ela não completou a frase,
mas entendi o que quis dizer. — Tia Shelly é muito querida para mim.
— Ela sabe disso, não se preocupe.
Ouvi quando ela soluçou.
— Vai me manter informada sobre o estado dela?
Concordei, então, em mandar o boletim diário a ela sobre a saúde de
minha mãe. Foi bom saber que havia alguém do que restou da família
preocupado com ela, além dos amigos que diariamente buscavam notícias
sobre sua recuperação.
Uma enfermeira se aproximou de mim e informou que o tempo de
visita havia acabado. Aproximei-me de minha mãe e falei baixinho para que,
se pudesse ouvir, soubesse que eu voltaria no outro dia e que gostaria de vê-la
melhor.
Assim que saí da unidade de terapia intensiva, encontrei-me com
Robert.
— Como ela está hoje?
— Segundo os médicos, bem, mas ainda não tiraram a sedação —
expliquei enquanto saíamos do hospital. — O perigo ainda não passou.
— Mas vai passar! — Ele bateu nas minhas costas. — Shelly vai se
recuperar e voltar a ser a mesma pessoa incrível que sempre foi.
Apenas balancei a cabeça, desejando que ele tivesse razão.
Desde que a operação fora concluída e que minha mãe tinha sido
encaminhada para a UTI, voltei a trabalhar. O jubileu de ouro foi adiado, mas
todas as atividades da empresa permaneceram normais, com mudanças
apenas na minha rotina.
Em vez de acordar e ir direto para o Centro da cidade, seguia primeiro
para o hospital, passando uma hora ao lado de minha mãe e depois, sim, ia
para a empresa. No final do dia, a mesma coisa, antes de ir para casa –
milagrosamente no mesmo horário dos funcionários –, ficava mais algum
tempo na UTI conversando com ela.
Toda e qualquer outra atividade que tinha – encontros, festas, treino,
reuniões – foi cancelada enquanto ela não se recuperasse e estivesse fora de
risco.
— Não queria falar nada, mas sua aparência está péssima! — Robert
comentou sentado no banco do carona enquanto eu dirigia. — Entendo o
momento que está passando, mas você ainda é o CEO de uma das maiores
agências de investimento deste país. Faça, ao menos, a barba.
Neguei.
— Sinceramente, não estou me importando com isso. — Fui sincero
ao responder. — Sei que não combina comigo, que sou vaidoso e nunca
escondi isso, mas... — Suspirei. — Eu não imagino minha vida sem ela! —
desabafei. — Vou ficar sozinho caso ela...
— Ela não vai! — disse com uma certeza que me deu inveja. — E
você não vai estar sozinho, tem amigos. — Concordei com ele, embora
soubesse que não era o mesmo. Mamãe era praticamente a única família que
me restara. — E Justin...
O olhar que lhe dei o fez calar-se antes que perguntasse sobre o
canalha do meu pai biológico. O homem, que queria tanto se redimir, não
apareceu um só dia para saber da mulher com quem teve um filho, nem
sequer mandou uma mensagem ou telefonema.
— Minha mãe é a única família que tenho, ainda que o homem cujo
DNA carrego esteja vivo.
Ele balançou a cabeça assentindo e não disse mais nenhuma palavra
até chegarmos à empresa.
Já era tarde quando cheguei em casa, mas não ao meu apartamento em
Lincoln Park[3], e sim à antiga mansão de vovô em Gold Coast[4], um dos
bairros que conservam mais residências históricas de Chicago. A casa sempre
me evocava muitas lembranças, e mamãe preservou cada uma das coisas que
meu avô amava.
As paredes, com seus painéis e guarnições de madeira nobre, o piso
de carvalho de tábuas largas, além, é claro, do tradicional revestimento de
mármore branco e preto na cozinha; as obras de arte, que ele começou a
colecionar assim que sua agência obteve lucro; as esculturas, tapeçarias e
tantas coisas que tornavam a casa única.
Entretanto, nada mais me fazia ter tantas lembranças dentro daquela
mansão de tijolos vermelhos do que seu cheiro. Era incrível como eu
conseguia ainda, mesmo depois de 20 anos, sentir o cheiro da colônia de meu
avô. Era como se ele ainda estivesse por ali, sentado em seu escritório ou na
varanda dos fundos.
Depois de sua morte, uma parte do brilho daquela casa se foi, e, caso
minha mãe não retornasse, ele se apagaria para sempre.
— Senhor Michael, posso ajudá-lo?
Andrews, tão antigo quanto eu naquela casa, apareceu no hall de
entrada.
— Não, obrigado. Só vim... — Não encontrei palavras para explicar,
mas ele balançou a cabeça como se entendesse.
— A senhora Griffin ficará bem, senhor, e viverá muitos anos ainda
para ver seu sonho realizado.
Franzi a testa, sem entender.
— Qual era o grande sonho de minha mãe, Andrews?
Ele ficou constrangido, mas continuou com as costas eretas.
— Ser avó, senhor. — Ele sorriu diante do meu espanto. — A senhora
Griffin sempre disse que não queria estar velha demais para ver seus netos
crescerem, para brincar com eles e ver esta casa cheia de risadas de novo.
Estremeci ante a cena, sem poder acreditar no que estava ouvindo.
Minha mãe nunca falara nada sobre netos, mas vez ou outra jogava alguma
indireta sobre eu sossegar com alguém e me casar. Sua candidata preferida
era Lane Johnson, filha de um grande amigo da família, o senador
Christopher Johnson.
Lane morava em Nova Iorque havia pelo menos uns cinco anos, onde
seguia sua carreira de influenciadora digital de moda e estilo de vida.
Formada em jornalismo, ela encontrou nas mídias sociais uma forma de
exercer sua profissão e ainda viver do jeito que sempre gostara, sob um
grande holofote.
Tinha dezenas de milhões de seguidores, era considerada uma
celebridade e frequentadora das melhores festas das personalidades mais
exclusivas do país e internacionais. Apesar de não entender muito bem do
mundo dela, eu a admirava pelo que conseguira construir e tudo o que
conquistara.
Sempre fomos amigos e, quando ela estava na cidade visitando seus
familiares, saíamos juntos, assim como ela me socorria toda vez que eu
precisava de acompanhante para um evento mais sofisticado ou algum em
que não tinha a quem levar.
Obviamente que não ficávamos somente na amizade!
Lane, além de uma companhia agradável, trepava muito bem, e nós
dois nos beneficiávamos dessa convivência, afinal, tanto ela quanto eu
sabíamos que era somente sexo e lidávamos muito bem com isso. Logo que
ela voltava para Nova Iorque, seguia sua vida, não me ligava ou procurava
saber o que eu estava fazendo, muito menos falava sobre os flagras que a
imprensa me dava com outras mulheres, assim como eu não me importava
quando a via viajando com algum homem ou saindo para jantares e festas.
Apesar de já ter explicado muitas vezes para minha mãe o tipo de
arranjo que Lane e eu tínhamos, ela ainda insistia que, um dia, eu iria
perceber o quanto gostava dela e me casaria.
— Só espero que não perceba isso muito tarde, Michael. —
Costumava encerrar nossas discussões com essa frase, o que me fazia rir. —
Eu quero te ver feliz.
— Eu sou feliz, mãe! — Beijava-a. — Não acho que precise me
apaixonar para estar feliz.
Ela balançava os ombros.
— Talvez não precise mesmo, mas só vai saber se experimentar.
Eu ria, mas por dentro não achava graça. Já havia experimentado
gostar de uma mulher, nem sabia se estava apaixonado, mas achei que ela
valia a pena.
— Netos? — pronunciei a palavra em voz alta, ainda parado no hall
da mansão com Andrews me olhando.
Ele não disse mais nada, apenas ficou parado, encarando-me como
quem sabia de muitas coisas, mas não iria contar. Respirei fundo e sorri.
— Acho que ela vai ter que viver mais uns anos para realizar esse
sonho!
— É o que espero, senhor! Que ela viva muito para poder ver outra
criança crescendo nesta casa.
Engoli em seco, porque não me passava pela cabeça a ideia de ter um
filho, porque, primeiro, eu necessitava de uma mulher para ser a mãe dele e,
segundo, geralmente isso requeria aliança, um padre e uma vida em comum.
Não, de jeito algum!
Subi as escadas que levavam direto para os quartos e entrei no de meu
avô, que, mesmo depois de todos aqueles anos, ainda estava como o havia
deixado antes de sua morte.
Em cima da cornija da lareira, esculpida em mármore, havia muitos
porta-retratos da família. Michael Stanley Griffin era um homem apaixonado
por seus filhos e netos e fazia questão de estar sempre cercado por eles fosse
pessoalmente ou através das fotografias.
Sorri diante das imagens de meus tios, minha mãe e meus primos. As
minhas fotos eram de quando ainda era um rapaz, um adolescente, pois não
mudaram e nem adicionaram nenhuma fotografia, atualizando-as para os dias
atuais.
De repente, a foto principal, a maior, situada no centro da cornija, fez-
me prender o fôlego. Peguei o porta-retratos e olhei com carinho para meu
avô, ainda jovem, segurando no colo minha mãe, que contava com uns dois
anos de idade, e com meus tios sentados a seus pés.
Um homem sozinho criando seus três filhos era uma coisa que devia
chocar na época. Ele não era muito de falar sobre como fizera para conciliar
os cuidados com as crianças e o trabalho, mas eu avaliava que não tinha sido
fácil.
Ele não voltou a se casar. Mesmo depois de divorciado, eu nunca
soube de nenhum envolvimento seu com mulher alguma, embora não
duvidasse que ele tivesse tido seus casos às escondidas. Era um homem
completamente dedicado à família e ao negócio que construíra para ela.
Um homem sem esposa, mas que criou seus filhos com tamanha
primazia que nenhum deles sentia falta de uma mãe. Mais uma referência de
amor incondicional, verdadeiro, em que eu acreditava.
Minha mãe quer netos!, pensei, olhando a foto e pensando que, se
meu avô conseguira, eu também poderia.
— Michael Griffin... — chamei-me em voz alta, tentando deter meus
pensamentos, contudo não pude contê-los. Fechei os olhos, fiz uma prece e,
em seguida, uma promessa.
E que Deus me ajudasse, porque, mesmo com medo, queria muito
cumpri-la!
Minhas mãos frias eram sinônimo de que eu estava mais nervosa do
que aparentava, embora seguisse sentada na cadeira com as costas eretas e o
queixo levantado.
É seu único recurso, Rory!
— Ainda podemos nos levantar e ir embora... — Aimée falou
baixinho.
— Não, eu vou fazer isso.
Ouvi seu suspiro longo e imaginei o que estava pensando, afinal,
quando lhe contei o que pensava fazer para ajudar meus pais a conseguirem o
dinheiro astronômico para a cirurgia e o tratamento pós-cirúrgico, ela tentou
me demover da ideia de qualquer maneira.
— Eu acho que você não tem o perfil certo para isso. Não contei
minha história para incentivá-la. Não me arrependo do que fiz, mas não voltei
a fazer, mesmo diante de uma oferta enorme de dinheiro.
Concordei com ela.
— Você fez porque estava desesperada. — Ela balançou a cabeça. —
Assim como estou agora.
— Rory, é diferente! Eu já era muito mais endurecida
emocionalmente que você, apesar de ser mais nova. Sabia que daria conta de
não me apegar àquela criança, mesmo assim foi difícil. Eu chorava cada vez
que meu leite vazava, imaginando se o bebê não estava com fome, mesmo
que, racionalmente, eu soubesse que estava bem-cuidado. Nosso corpo é
programado para cuidar, para se importar. Às vezes essa programação falha,
mas não é comum.
— Eu sei. — Chorei sem fazer barulho algum, apenas deixando que a
lágrimas caíssem. — Mas preciso fazer! Quanto mais tempo demorar para
mamãe se operar, pior ela ficará. E eu não me perdoaria se algo acontecesse a
ela por eu nem mesmo tentar.
Foi então que Aimée entendeu que eu estava convencida e que não
mudaria de ideia, com ou sem seu apoio.
— O que Carly acha disso?
— Não falei com ela ainda.
— E Jack?
Dei de ombros.
— Não temos nada um com o outro, estávamos apenas conversando.
Ele é boa gente, me trata bem, mas... — Suspirei. — Melhor deixar como
está.
Não era hora de eu pensar no barman de onde íamos toda sexta-feira
após sair da livraria. Trocávamos algumas palavras, ele demonstrou seu
interesse por mim – o que me lisonjeou, pois era um homem muito charmoso
–, e minhas amigas ficaram animadas, incentivando-me a sair com ele.
Eu até queria, não podia negar. Jack, além de agradável e bonito, era
muito engraçado e estava sempre me fazendo rir. Só que nunca nos
encontramos fora do bar, pois nossos horários não eram compatíveis.
— Você vai gostar de Ayleen — Aimée voltou a falar e me fez deixar
nossa conversa de dias antes de lado. — Ela me ajudou muitos anos atrás, e
tenho certeza de que irá ajudá-la também.
Ela mal acabou de falar, e uma senhora sorridente e com o rosto sem
uma ruga sequer entrou na sala e se sentou à mesa conosco.
— Aimée, que bom vê-la novamente! — cumprimentou minha amiga.
— Aquele último evento que organizou para nós estava memorável, até
indicamos seus serviços para outros colegas.
— Eu sei e agradeço muito, Ayleen. — O jeito cativante de Aimée era
algo que me deixava admirada. Ela conseguia se relacionar com qualquer tipo
de pessoa e sempre com um sorriso e com palavras gentis. — Deixe-me
apresentá-la a uma amiga, Aurora Ryan.
Estendi a mão para saudá-la e sorri.
— Pode me chamar de Rory, por favor.
— É um prazer conhecê-la, Rory! Ascendência irlandesa como eu?
— Acho que sim. Meu pai nunca soube muito bem a origem de sua
família.
Ela sorriu e apontou meus cabelos ruivos e os olhos verdes.
— Seus traços não negam. — Concordei. — Em que posso ajudá-las?
— Eu contei a ela que gerei uma criança intermediada por vocês a um
casal que não podia engravidar — Aimée começou a explicar. — Falei sobre
o acordo e mais ou menos como funciona e...
— Eu decidi me candidatar. — Terminei a frase.
— Entendo. — Ayleen continuou séria. — Posso perguntar por quê?
— Motivos financeiros. — Foi tudo o que eu disse.
Ela trocou olhares com Aimée, então pegou alguns papéis.
— Vamos precisar de uma série de exames e, depois disso, faremos
uma entrevista, e você passará por nossa psicóloga. — Concordei. — Temos
que garantir sua saúde, não só física, mas emocional. — Entregou-me um
formulário. — Preencha com atenção todos os campos, por favor.
Antes de dar o primeiro passo, tirei uma última dúvida:
— Se eu for aprovada, quanto tempo para que consigam um contrato
para mim?
Ela sorriu.
— Somos rápidos, não se preocupe.
Olhei nervosa para Aimée e comecei a responder cada uma das quase
cem perguntas que esquadrinhavam a minha vida. Depois fui encaminhada
para uma sala de exames laboratoriais, onde colheram vários e vários tubos
de sangue.
Descobri que a agência possuía uma clínica integrada e que tudo era
feito por eles, sem outros envolvidos. Suas dependências suntuosas não
escondiam o tipo de clientes que a mantinha, pessoas ricas que podiam pagar
uma assistência de excelência.
— Assim que saírem os resultados, entraremos em contato para
informar a data da entrevista — Ayleen informou antes de irmos embora.
— E o contrato?
— No mesmo dia, caso seja aprovada. Depois disso, vamos em busca
de alguém da nossa lista de clientes à espera.
— Obrigada por tudo!
Ela tocou meu braço.
— Vai dar tudo certo, não se preocupe!
No retorno para o apartamento, Aimée e eu voltamos mudas dentro do
táxi. O clima era estranho, apesar do dia bonito e da música animada que saía
do aparelho de som. Internamente, eu só rezava para que desse tempo e que
eu pudesse dizer ao papai para acertar tudo da cirurgia e dar o cheque que o
hospital pedira como garantia, pois teria como cobri-lo.
Fui direto ao meu quarto assim que chegamos e troquei a roupa que
usava pelo uniforme da livraria, pois ainda teria que trabalhar. Por sorte,
havia conseguido a reunião na agência no horário da aula, que conseguiria
repor mais tarde, e não do trabalho, pois perderia o dinheiro do dia que tinha
faltado.
Uma batida à porta me fez desacelerar a correria de me aprontar e
congelar ao ver Carly na entrada do quarto.
— Diz para mim que você não levou essa ideia absurda à frente!
Fechei os olhos, imaginando que Aimée tinha-lhe contado.
— Ainda não fui aprovada pela agência — respondi sem olhá-la.
Ela xingou.
— Eu deveria surrar a Aimée por tê-la levado! Rory, isso não é para
você!
Tentei não me irritar ao perceber o quanto elas me achavam fraca,
frágil, quando, na verdade, eu seria capaz de qualquer coisa para salvar quem
eu amava.
— Já está decidido, Carly.
— Não me contou porque sabia que eu tentaria tirar essa ideia da sua
cabeça, não foi? — Não precisei responder. — Eu iria mesmo! — Ela se
aproximou de mim. — Nós podemos achar outro jeito e...
— Não tem outro jeito! — gritei. — Qualquer outro jeito vai demorar
demais, e isso pode ser pior para ela, não entende? — Comecei a soluçar. —
É a minha mãe doente, Carly, deixe-me fazer o que posso para ajudá-la a
ficar boa de novo!
— Só temo que, ao tentar ajudá-la, você se prejudique.
Sorri triste.
— Ela faria o mesmo por mim, assumiria qualquer risco, eu sei. Por
que não posso fazer o mesmo?
Foi então que ela me puxou para um abraço, e eu soube que, apesar de
não concordar, iria me apoiar.
— Estaremos juntas nessa! Aconteça o que acontecer, estaremos ao
seu lado.
— Obrigada! — Sequei o rosto e me afastei. — Precisamos ir, não
posso perder nem um dólar desse salário!
Ela riu e concordou como se eu estivesse brincando, mas era a pura
verdade. Enquanto não tivesse um contrato de gestação assinado, eu não
poderia desperdiçar um centavo sequer.
Por favor, que eu seja aprovada!
“Ainda não sei, mas estimo que seja em breve. Porém, antes,
preciso de um favor.”
“Não, detesto voo comercial, mas foi o que deu para conseguir
assim, em cima da hora.”
Balancei a cabeça, achando graça, pois, ainda que sua família tivesse
dinheiro, nunca pôde se dar ao luxo de ficar viajando de jato fretado a todo
momento, como ela fazia agora. Normalmente eu conseguiria uma “carona”
para ela no jatinho da MSG, contudo, daquela vez, foi impossível.
“Rory saiu mais cedo com uma das amigas e ainda não retornou.
Tentei contato com ela, mas não me atende. O motorista não sabe para
onde elas foram. O que devo fazer?”
“Alguma notícia?”
“Aconteceu algo?”
“Eu estava aflita querendo notícias. Fico feliz que ela tenha
gostado!”
“Eu queria você aqui agora! É uma tortura ficar duro só por
trocar mensagens contigo.”
Puta que pariu! Arranquei a toalha e segurei meu pau com força.
“Quando quiser!”
Minha vontade foi responder que iria buscá-la naquele momento, mas
logo ela enviou uma mensagem de boa-noite, e fiquei apenas com a fantasia
dela, que já era minha companhia por semanas!
Parei de correr e passei em um restaurante na beira do lago para
comprar água. Ainda não sabia para onde levaria Aurora naquela noite, pois
tudo em que pensava era em tê-la na minha cama. Então um anúncio me
chamou a atenção, e sorri, resolvendo o dilema.
É perfeito!
— Você está linda!
Soltei o ar ao ouvir o elogio de Aimée e sorri para o espelho.
— Então é esse? — perguntei ainda insegura.
Ela gargalhou e assentiu.
— Nunca te vi tão nervosa por causa de um encontro.
Minha amiga tinha razão. Desde que recebi o convite para sair com
Michael, estava acelerada, ansiosa e, por esse motivo, acabei contando para
Aimée e pedindo sua ajuda para escolher o que vestir, já que não fazia ideia
de para onde ele iria me levar.
É claro que ela quis saber todos os detalhes de como nós dois
voltamos a nos encontrar, mas não tive coragem de admitir para ela que
Michael era o homem que havia me contratado para gerar um bebê. Eu
poderia me apoiar na desculpa perfeita do contrato de confidenciabilidade
que me impedia de falar detalhes sobre o contrato principal, porém não contei
simplesmente porque sabia que ela iria ser contra que eu me envolvesse com
ele.
Com razão, é claro!
Reconhecia a loucura que estava prestes a fazer, mas já havia dado
como perdida a batalha contra meu corpo, contra o enorme desejo que sentia
por ele. Talvez eu conseguisse sair daquele envolvimento incólume, e a
experiência colocasse fim àquela explosiva atração.
Pensar positivo era a melhor atitude a se ter, ainda mais sabendo que
eu não teria mais como resistir e entregaria meu corpo e meu prazer àquele
homem.
Alisei o vestido, ainda me sentindo nervosa, e foquei em terminar de
me arrumar. Optamos por uma roupa básica, um vestido preto, sem muitos
detalhes. Nos pés, usava uma sandália de tiras com salto alto – o que
certamente ajudaria na hora dos beijos –, e acessórios lindos emprestados por
Aimée.
— E sobre meus cabelos? — Toquei as mechas ainda úmidas do
banho. — Seco-os com o secador e a escova ou...
— Eles ficam lindos quando secam ao natural, formam ondas que eu
daria um bom dinheiro para fazer iguais em um cabeleireiro. — Levantou-se.
— Vamos fazer a maquiagem?
Nesse momento, coloquei-me à disposição dela, pois era sempre
Aimée que maquiava a mim e a Carly quando íamos sair. Aprendi muito com
ela durante os anos em que moramos juntas, com seu senso refinado de estilo
e por estar sempre antenada com o que acontecia no mundo da moda.
Para falar a verdade, não entendia muito bem por que minha amiga
não namorava, embora tivesse seus casos – ou eu achava que os tivesse,
porque nunca a via com ninguém. Aimée era linda, charmosa, inteligente e,
com a crescente fama como uma promoter incrível, ela estava se tornando
uma profissional bem-sucedida e requisitada.
Sempre que surgia o assunto, ela alegava que estava focada na
carreira, em fazer seu nome, e que as outras coisas podiam esperar.
— Apaixonar-me neste momento da minha vida só me traria dor de
cabeça — alegava quando a conversa girava em torno de relacionamentos. —
Não posso me distrair, tenho uma meta e preciso alcançá-la.
Não sabia qual era o objetivo dela especificamente, mas que tinha a
ver com segurança financeira e realização profissional. Apesar de trabalhar
feito louca e viver tentando conseguir mais trabalho, ela sabia se divertir
também. Dizia que frequentar festas também era parte de seu negócio, pois,
além de fazer contatos, ficava sempre de olho no que estava acontecendo e no
que poderia melhorar e inovar.
Fiquei espantada quando a conheci, assim que me mudei para seu
apartamento. Achava-a deslumbrante e muito agitada, falando rápido,
comendo rápido e sempre correndo de um lado para o outro. Aimée odiava
perder tempo e parecia aquele coelho do filme da Alice, sabe? Sempre dizia
estar atrasada, mesmo que não estivesse.
Relaxei um pouco enquanto ela me maquiava, tentando pensar em
outra coisa que não em Michael. Entretanto, minha mente insistia em voltar
meus pensamentos ou lembranças para o homem, ainda que eu a forçasse a
pensar em outras coisas.
Ele havia me ligado na noite anterior para contar sobre a reação de
sua mãe ao presente. Fiquei feliz ao saber que ela havia gostado e conversei
com ele com um sorriso bobo – e preocupante – na cara. Adorava ter a
percepção do quanto ele me queria, e Michael não escondia isso.
O domingo demorou a passar e, para piorar, eu mal conseguia me
concentrar em qualquer leitura que tentasse. Acabei descendo para a
academia e corri por 40 minutos na esteira, o que ajudou a abrir meu apetite
para desfrutar do delicioso almoço de Erika.
— Vou deixar algum lanche preparado para você comer mais tarde —
avisou-me enquanto lavava louça. — Vou tirar folga hoje e só estarei de volta
amanhã à tarde.
Imediatamente pensei que aquilo tinha sido ideia de Michael, para que
não houvesse ninguém no apartamento quando retornássemos do encontro.
Safado!, pensei, assentindo.
— Não precisa se preocupar comigo. Amanhã eu vou para a
universidade e almoço por lá, pode deixar.
À tarde, liguei para meus pais e fiquei mais aliviada ao saber que
minha mãe já estava conseguindo se alimentar sozinha. Ambos estavam
muito confiantes na recuperação dela, principalmente quando começasse a
fazer a radioterapia.
Aproveitei e conversei com tia Wanda sobre o dinheiro para o
tratamento, e ela confirmou que o empréstimo que pedira seria liberado
quando precisasse. Fiquei preocupada com o valor das parcelas, pois o que eu
tinha guardado não daria para cobri-las até que o bebê nascesse e eu
recebesse o resto do dinheiro.
— O pessoal da comunidade está se mobilizando para ajudar no
tratamento dela. — Quase não pude me conter de tão feliz que fiquei com a
notícia. — Vai dar tudo certo, Rory!
Sim, eu acreditava nisso com todas as minhas forças!
Troquei algumas mensagens com Michael, mas foram rápidas, apenas
combinando como seria a noite. Ele não quis revelar para onde iríamos, disse
que seria surpresa, mas perguntou algumas coisas sobre o que eu gostava ou
não de comer.
Quando comecei a pensar em uma roupa para vestir, percebi que
precisava de ajuda para decidir. Ainda não tinha contado às minhas amigas
sobre Michael e sabia que não poderia lhes dizer tudo, mas precisava do
apoio delas, por isso liguei para pedir ajuda.
Carly estava com o mesmo homem com quem desaparecera na noite
em que fomos ao bar onde Jack trabalhava, mas Aimée não só ficou animada
com a notícia como se disponibilizou a ir até meu apartamento para me
ajudar pessoalmente.
— Comprou camisinhas? — perguntou de repente, passando
iluminador na base do meu pescoço e colo – o que, segundo ela, ajudava a
destacar meus seios –, e pisquei nervosa. — Rory!
— Eu não pensei nisso! — confessei.
Ela balançou a cabeça e foi até sua própria bolsa, de onde tirou um
pacote.
— Uma mulher sexualmente ativa tem sempre que estar prevenida,
porque alguns homens usam a desculpa de não ter camisinha para trepar sem
proteção, e isso, normalmente, já é um risco, mas, na sua situação...
Prendi o fôlego, concordando com ela.
Sim, Michael queria ser pai, mas deixou bem claro que não queria que
isso o deixasse ligado a nenhuma mulher, motivo pelo qual escolheu
contratar uma barriga de aluguel. Certamente ele se preveniria, mas seria bom
que eu demonstrasse a ele que também estava prevenida.
— Obrigada por lembrar! — agradeci à minha amiga.
— Amigos cuidam uns dos outros. — Suspirou, olhando-me com
admiração. — Eu sei que sou ótima com pincel e maquiagem, mas, puta
merda, você está maravilhosa!
Concordei, sentindo-me linda com a maquiagem elegante e bem-feita
que ressaltava o que havia de melhor em meu rosto, mas sem tampar todas as
sardas, como alguns maquiadores faziam. Eu amava cada um daqueles sinais,
aprendi que eram parte de mim, a valorizá-los, e Aimée sabia como me
deixar ainda mais bonita sem ter de os esconder.
Ela borrifou uns jatos de perfume em mim, fazendo-me rodar em
volta da nuvem de aroma, e me senti de volta ao colégio, arrumando-me para
o baile, rindo com minha mãe e minhas amigas. Foi uma sensação ótima!
— Acho melhor eu ir agora, porque ele já deve estar chegando. —
Pegou sua bolsa e a maleta de maquiagem. — A que horas vocês
combinaram?
— Não combinamos! — Ri. — Ele me perguntou a que horas podia
me pegar, e eu disse que iria avisá-lo quando estivesse pronta. — Aimée
franziu a testa. — Ele mora aqui perto, pelo que entendi.
Acompanhei minha amiga até a porta e, assim que ela saiu, peguei o
celular para mandar mensagem:
“Até mim!”
Não tentei mais saber de nada, pois, se ele havia decidido fazer uma
surpresa – de novo –, eu entraria na brincadeira e desfrutaria do momento
Cinderela.
Tomei banho e lavei os cabelos para que pudessem secar
naturalmente e formar as ondulações que ele tanto gostara no iate. Não tinha
tempo para chamar Aimée, por isso me maquiei da maneira mais básica
possível, que era o máximo que eu conseguia fazer com rapidez. Tentei
colocar o vestido sozinha, mas o longo fecho nas costas impediu-me de
concluir o intento, então, assim que calcei as sandálias – lindas e sexy –, fui
atrás de Erika para que me ajudasse.
— Meu Deus, nunca vi mulher tão linda! — Colocou as mãos sobre a
boca. — Parece uma sereia quando anda!
— Ariel? — brinquei, pois sempre me chamavam assim na infância.
— Gostou mesmo? Não consigo me maquiar melhor do que...
— Está perfeita! — Ela deu a volta em mim e parou às minhas costas.
— Ah, o fecho aberto! Posso fechar?
— Por favor! — pedi aliviada, enquanto colocava os únicos brincos
de ouro que possuía e que foram presentes de minha madrinha – já falecida –
quando nasci. — O que acha?
— Linda! — Erika riu. — Eu não queria ser indiscreta, mas sou! —
Riu com vontade. — Minha irmã comentou que o senhor Griffin apresentou
uma mulher à mãe. — Fiquei vermelha na hora, denunciando-me. — Ela não
disse o nome, mas elogiou a beleza da moça, bem como seus compridos
cabelos vermelhos e os olhos verdes sorridentes.
— Nunca comi um pudim tão gostoso! — elogiei, desistindo de tentar
negar que era eu.
— Ah, ela fez pudim de nozes! Queria impressionar!
Aproximei-me dela e beijei sua bochecha.
— Cozinhar bem é um dom da sua família, não é?
Erika deu de ombros.
— Não gostamos de nos gabar, mas sim, somos ótimas na cozinha!
A campainha soou de repente, fazendo com que eu desse um pulinho
de susto. Erika atendeu rindo e anunciou que Joseph estava à minha espera.
— Para onde vamos? — perguntei a ele, confiante de que me diria.
— Não estou autorizado a falar da rota, senhorita.
Ordens do chefe!, ironizei mentalmente com a frase que eu mais
odiava ouvir quando me mudei para o apartamento e conheci a governanta e
o motorista.
Durante o trajeto de carro, fui tentando descobrir para onde estávamos
indo e somente quando reconheci a estrutura à minha frente foi que me dei
conta de que ele não escondera nada de mim, era eu que não havia entendido.
— Espero que a senhorita faça um bom voo! — Joseph me desejou,
abrindo a porta do carro perto da sala de embarque, onde uma mulher
uniformizada – e linda! – me esperava.
Tremi dos pés à cabeça ao descer do veículo, pois nunca tinha voado
na vida. Não podia acreditar que faria isso pela primeira vez em um jatinho
particular e sozinha!
Michael estava em Nova Iorque, mas, quando disse que Joseph iria
me levar até ele, presumi que já havia voltado, não que eu iria para lá
encontrá-lo!
A recepcionista da sala que ele usava no aeroporto me explicou o
procedimento, inclusive que eu voltaria no dia seguinte com o senhor Griffin,
e tive que esperar uns 30 minutos até ser novamente abordada pela moça e
conduzida até a aeronave.
Ao contrário do que pensei, não iria sozinha, pois, além do piloto e
copiloto – obviamente –, foram comigo mais duas moças que cuidavam do
serviço do senhor Griffin.
O jatinho era lindo, mas eu estava tão nervosa que só perguntei sobre
o banheiro, temendo passar mal. O tempo de voo era de menos de duas horas
até Manhattan, e de lá eu seguiria de helicóptero – Senhor Deus! – até o local
onde Michael estava me aguardando.
A princípio foi tenso, fechei os olhos, rezei e pedi perdão por todos os
meus pecados, mas depois relaxei, tomei até uma taça de champanhe a fim de
ficar mais calma.
Acabei cochilando e acordei quando avisaram sobre o pouso e a
necessidade de eu recolocar o cinto de segurança. Desci no aeroporto ao lado
das moças, e outra recepcionista me levou até o local onde um carro me
aguardava para irmos até o heliponto.
Se voar no avião foi mais tranquilo do que eu havia imaginado, não
podia dizer o mesmo do helicóptero! Senti que ia morrer a qualquer momento
e fiquei aliviada quando, menos de 15 minutos depois de ter decolado, ele
pousou em cima de um prédio.
— Graças a Deus! — Fiz o sinal da cruz.
A porta da aeronave foi aberta, e abri um enorme sorriso ao ver
Michael, de smoking – como ele podia ficar ainda mais lindo?! –, estendendo
a mão para me ajudar a descer.
— Fez boa viagem? — questionou assim que pisei no chão do
heliponto.
Ri.
— Ainda bem que não me contou como eu chegaria até você, porque
duvido que eu viria!
Ele gargalhou e me enlaçou a cintura.
— Não gosta de voar?
— Nunca tinha voado para saber! — Ele pareceu surpreso, e meu
rosto queimou de vergonha. — Eu disse que nunca havia saído de Illinois!
— Eu voo dentro de Illinois! — rebateu. — Ficou com muito medo?
— Adorei o jatinho, mas... — fiz sinal com a cabeça para o
helicóptero parado atrás de nós — aquilo ali é a treva!
— Desculpe por isso! É que eu estava com pressa por causa do
horário!
Ergui a sobrancelha enquanto caminhávamos para um elevador.
— Horário de quê?
Piscou.
— Da ópera que iremos ver! Gosta de Puccini?
Parei admirada.
— A qual delas vamos assistir?
— Tosca.
Pelo sorriso que dei, ele adivinhou que amei a notícia. Mamãe amava
óperas, mas só as ouvia ou via um vídeo ou outro, nunca podia ir a um teatro
a fim de as assistir ao vivo, então fazer aquele tipo de programa naquela noite
era emocionante demais para mim.
Eu não tinha palavras para lhe agradecer o privilégio, por isso fiz a
única coisa que podia expressar o sentimento: beijei-o longamente.
— Obrigada!
Michael suspirou.
— Depois desse beijo, começo a reavaliar a ideia de passar algumas
horas em um teatro...
Gargalhei.
— Nem se atreva! — Apoiei-me no braço que me estendia. —
Prometo que compenso essas horas.
Olhou-me intensamente.
— Eu levo promessas a sério.
Pisquei.
— Eu também!
A ideia de levar Aurora até Nova Iorque surgiu de repente, quando
um dos clientes da corretora me presenteou com dois ingressos para o teatro.
Assim que vi que era uma ópera italiana clássica, logo pensei que ela adoraria
assistir a ela, mas logo descartei o pensamento, lembrando-me de que a
situação entre nós já estava complicada demais.
Eu não lembrara que teria que viajar, a senhora Robinson foi quem
me fez recordar na noite anterior à viagem, mandando-me os compromissos
de Nova Iorque. Avisei Aurora e, mesmo longe, não deixei de falar com ela
nenhum dia, o que nunca havia feito com mulher alguma com quem me
envolvera até então.
Além disso, não pude tirá-la da cabeça e, cada vez que ia até a janela
da minha suíte e avistava o mar, recordava-me de que Aurora nunca o tinha
visto e sentia uma estranha necessidade de ser eu a mostrá-lo a ela pela
primeira vez.
Acordei com a fixa resolução de tê-la comigo e liguei para uma
amiga, dona de uma boutique exclusiva em Chicago, pedindo-lhe que
escolhesse um modelo digno de uma sereia de longos cabelos vermelhos,
depois ajustei todos os detalhes com o piloto e a equipe que cuidavam do
jatinho da empresa – que já iria me buscar no outro dia – e adiantei a viagem
deles.
Com tudo já certo, passei o dia inteiro ansioso, decidido a fazer
surpresa, a ver novamente os olhos dela brilharem como no dia do iate.
Queria impressioná-la, mesmo sabendo que Aurora não esperava isso de
mim.
Joguei uma olhada rápida para o lado e contive um gemido ao vê-la
no vestido que Valery escolheu. A design de moda realmente acertou em
cheio no meu pedido, e Aurora foi alvo de vários olhares apreciativos,
invejosos e especulativos.
Não tive como me esconder da imprensa, infelizmente, ainda mais se
tratando de uma noite especial, beneficente. Os repórteres estavam todos
postados na entrada do teatro.
— Fique calma e aja naturalmente — aconselhei quando paramos
para receber a chuva de flashes.
Alguns tentaram descobrir o nome dela e quem era, mas não respondi,
apenas a conduzi para dentro, deixando o mistério no ar. Sabia que iriam
atrás da informação que omiti, mas, como Aurora não era conhecida, teriam
grande dificuldade para descobrir.
O espetáculo foi intenso e perfeito, e a vi suspirar, prender o fôlego e
chorar em vários momentos. Eu sorria a cada expressão de seu rosto ou de
seu corpo, adorando presenciar os sentimentos que uma ópera bem montada
causava em quem sabia apreciar sua arte.
Ópera é assim: não dá para esconder ou fingir!
Eu já havia tido várias acompanhantes antes para diversos eventos
culturais, mas nenhuma se entregou tanto quanto Aurora. Perdi-me olhando-
a, desfrutando da maneira como parecia sentir cada acorde tocado e vibrar a
cada nota que a soprano principal emitia.
Notei também como acompanhava algumas músicas, mexendo os
lábios em algumas melodias, como minha mãe também fazia, e segurei sua
mão com força, deliciado por ela estar se divertindo tanto, por poder
proporcionar-lhe mais um momento que, certamente, ficaria gravado em sua
memória.
Após o espetáculo, fomos jantar em um dos restaurantes mais
apreciados do momento na Big Apple, cuja reserva consegui apenas porque
conhecia o chef que assumira recentemente a cozinha, e ele nos arranjou uma
mesa.
— Minha mãe ficaria deslumbrada se pudesse assistir tão de perto a
uma de suas óperas favoritas — comentou enquanto falávamos sobre música
clássica e riu. — Era o jeito que ela me ninava, e dizia me acalmar quando eu
estava agitada. Assim, cresci ouvindo Vivaldi, Puccini, Verdi e tantos outros.
— Talvez venha daí seu gosto por literatura latina, já pensou sobre
isso? — questionei-lhe. — Aprendeu desde cedo a admirar as línguas
derivadas do latim por ouvir tantas árias em italiano.
Ela concordou.
— Acho que sim! Eu amo italiano, falo um pouco, mas encontrei
mais facilidade em aprender o espanhol, talvez por ter contato com pessoas
nativas desse idioma.
— Minha mãe fala várias línguas; não sei se chegaram a falar disso.
— Aurora negou. — Pois é! Ela sempre amou estudar, e sua grande obsessão
são as línguas. Fala espanhol, alemão, francês e alguma coisa de grego. —
Ela arregou os olhos, surpresa. — Sem contar o latim, que dominou ainda na
adolescência apenas para ler seus filósofos favoritos sem tradução.
— Sua mãe fala latim?
— Podia ensinar um padre a rezar a missa se quisesse! — brinquei. —
Ela disse que espera uma nova visita sua, principalmente porque percebeu
que eu não havia conseguido lhe mostrar os jardins.
Aurora ficou vermelha.
— Como ela soube disso?
Gargalhei.
— Acho que estava testando uns binóculos, inspirada em uma amiga
fofoqueira.
— Binóculos? — Ela achou que eu estava brincando. — Quem usa
isso hoje dia? Com tantas câmeras de segurança instaladas para todos os
lados, dificilmente alguém consegue fazer as coisas às escondidas.
Ri ao me lembrar da mãe do Robert.
— Acredite se quiser, dependendo da pessoa que porta esse objeto, é
mais indiscreta do que mil câmeras de segurança!
Terminamos de comer em clima descontraído, rindo, falando sobre
muitos assuntos diferentes e, sobretudo, tocando-nos a cada oportunidade. Eu
pegava em sua mão sobre a mesa, tocava em sua coxa sob a toalha, embolava
meus dedos em seus cabelos usando a desculpa de que estava tirando alguns
fios de seu rosto, tudo isso porque desejava tocá-la.
Ainda estava surpreso com a falta que senti dela nos poucos dias que
estivemos longe e com a vontade pungente que estava de abraçá-la, beijá-la
da cabeça aos pés e me afogar no interior de seu corpo.
O mesmo motorista que nos levou do prédio onde aluguei o heliponto
até o teatro nos deixou no hotel onde eu estava hospedado. Subimos juntos,
de mãos dadas, e, enquanto dividíamos o elevador com mais dois casais,
passei meu braço por sua cintura, acariciando seus quadris.
— Como esta noite foi difícil! — comentei baixo para que somente
ela escutasse.
— Foi? Por quê? — Apesar da pergunta, gemeu quando passei a mão
descaradamente na sua bunda antes de voltar a abraçá-la.
Uma senhora que estava um pouco à nossa frente olhou-nos de
esguelha, e a presenteei com um sorriso charmoso que a fez se virar
novamente para frente.
— Você tem noção de como está linda? Passei um inferno esses dias
querendo foder você, fantasiando com como poderia te fazer gozar. — Senti
quando Aurora se arrepiou. Ela fechou os olhos e liberou lentamente o ar. —
Também foi difícil passar horas ao seu lado sem poder tocar seu corpo nu —
aproximei-me de sua orelha —, imaginando como te deixar molhada, pronta
para me receber inteiro.
— Michael... — murmurou.
— Eu sei! É uma tortura desejar tanto assim, não é? — Deslizei os
dedos no decote nas costas do vestido. — Essa noite não vamos dormir,
vamos foder até o amanhecer!
O elevador parou no nosso andar, e, desviando-nos das pessoas,
saíamos rapidamente em direção ao corredor. Eu não soube se havia dado
tempo de as portas se fecharem antes que a agarrasse, segurando-a pela bunda
e apertando-a contra meu pau duro, para beijá-la cheio de saudade.
Entramos na suíte ainda entre beijos, enquanto eu descia o fecho nas
costas do vestido a fim de livrá-la rapidamente da peça. Aurora estava
belíssima com a roupa, mas eu sabia que nada poderia superá-la quando
estava totalmente nua.
O tecido deslizou rápido para o chão, talvez por conta do peso de
tantos cristais que estavam costurados nele. Afastei-me para olhá-la e gemi
entredentes diante da visão maravilhosa que ela era.
Aurora não usava sutiã e levava sobre sua pele apenas uma pequena
calcinha branca. Gravei cada detalhe de seu corpo, desde as pernas longas e
firmes, os quadris marcados, a cintura fina e os seios cheios e com pontudos
mamilos rosados.
— Não é justo apenas eu estar despida! — reclamou com um sorriso.
— Você não está despida! — Apontei a calcinha. — Tire-a!
Aurora ergueu a sobrancelha, deu um passo para fora do vestido
embolado no chão e fez o que pedi, lentamente deslizando a delicada peça
por suas coxas, abaixando apenas o tronco ao fazê-lo, ficando com a cabeça
baixa e os quadris para cima.
Ele usava sandálias de salto alto que quase não consegui enxergar em
razão da comprida barra do vestido, mas que agora formavam uma imagem
totalmente sexy: Aurora nua, apenas com os saltos nos pés, a bunda para
cima e uma expressão safada me olhando.
— Você é foda! — Venci a distância entre nós e, sem deixar que ela
se erguesse, apoiando a mão com força em sua lombar, toquei sua boceta por
trás, esfregando meus dedos por entre seus lábios até que ficassem
completamente molhados. — É uma delícia!
Chupei meus dedos melados, deliciando-me com o sabor dela, e voltei
a metê-los entre suas coxas, só que, dessa vez, ampliei a exploração,
concentrando-me em acariciar seu ânus.
— Sente prazer assim? — perguntei com a voz rouca, tenso de tanto
tesão.
— Sim! — ela gemeu e rebolou contra minha mão.
— E assim?
Abaixei-me e substituí meus dedos pela língua, enfiando-a dentro do
seu cu e lambendo em volta dele enquanto excitava seu clitóris, fazendo-a
pingar de prazer.
Levantei-me, ajudei-a a firmar-se e andei de costas até cair sobre o
sofá, arrastando-a comigo. Reclinei-me no encosto, virando o pescoço para
trás ao máximo e a puxei para cima.
— Fica em pé no sofá e se agacha na minha boca!
Aurora não questionou, apenas cumpriu meu desejo, colocando meu
corpo entre suas pernas e sentando-se sobre meu rosto. Eu me sentia como se
estivesse num parque de diversões, esbaldando-me com tudo o que mais
gostava. Agarrei seus quadris e a comi profundamente, abocanhando todo o
seu sexo.
Ela vibrava sobre mim, eu podia sentir cada movimento reflexivo de
prazer que seu corpo emanava. Os seus gemidos preencheram o vazio
daquela fria suíte de hotel, na qual tinha passado as noites desejando tê-la
comigo. Ela estava lá, entregando-se de corpo e alma como sempre fazia,
vivendo cada nova experiência dentro e fora do quarto comigo.
Senti e ouvi quando gozou, pois suas coxas se apertaram, dificultando
minha respiração, e, somente quando suas pernas ficaram bambas, ela voltou
a buscar apoio no sofá, sentando-se ao meu lado.
Aurora sorria, mas eu não podia fazer o mesmo. Sentia a dor da
vontade consumindo-me, precisava estar em seu corpo e, por isso, quando ela
me tocou por cima da calça com a clara intenção de me masturbar e chupar,
neguei com a cabeça.
— Depois!
Arranquei a roupa com tanta pressa que senti alguns botões da camisa
voarem. Tive dificuldade em desamarrar a gravata-borboleta, pois acabei
dando-lhe um nó, e a calça ficou embolada nos sapatos. Chutei tudo para
longe sob os olhares apreciativos de Aurora e a coloquei de quatro sobre o
sofá. Esfreguei meu pau na sua boceta molhada de gozo, deliciando-me com
a sensação quente e escorregadia de sua entrada, então subi um pouco e senti
a textura de seu cu, urrando com a vontade de abri-lo para me receber.
— Eu gostaria de...
— Eu também! — ela gemeu em resposta.
— Caralho, Aurora!
Enfiei-me em sua boceta com uma só estocada e não consegui me
manter parado, movendo meus quadris com força, fazendo-a balançar e as
molas do sofá rangerem dentro dele.
Apoiei um dos pés no assento, conseguindo assim ir mais fundo
dentro dela, e a ouvi gritar. Bati em sua bunda, apreciando a marca da minha
mão que se formou, vermelha, no local, e a peguei pelos cabelos, fazendo-a
arquear-se até que pudesse ver seu rosto.
— Eu quero você toda!
— Você me tem toda! — afirmou sem tirar seus olhos verdes dos
meus. — Tudo em mim é seu!
Porra, como reagir a essa declaração?!
Era claro que Aurora estava falando sobre o sexo, não sobre suas
emoções, porque havíamos combinado e... deixei o pensamento de lado
quando ela se pôs a mexer os quadris junto a mim, fazendo-me ver estrelas
tamanho prazer.
Coloquei meu dedão na boca, umedecendo-o e, antes de enterrá-lo no
seu delicioso e de um rosa vivo buraquinho, cuspi para facilitar a penetração.
Aurora estremeceu inteira, e fiquei preocupado com a reação,
temendo tê-la machucado, pois senti-a tão tesa que mal conseguia mover meu
dedo.
— Tudo bem?
— Sim! — gemeu alto.
Continuei estocando em sua boceta e com meu dedo em sua bunda,
sentindo mais espaço, ainda que continuasse sendo apertado demais. Apenas
a imaginação de como seria pôr meu pau no lugar do polegar me fazia apertar
a mandíbula de vontade.
Eu precisava experimentar!
Saí de dentro dela, o pau latejando, inchado como se fosse explodir a
qualquer momento. Segurava-me o máximo que podia para não encostar nele,
porque estava por um fio.
Voltei a chupá-la, bebendo seus deliciosos líquidos, chupando o
clitóris saliente. Abri bem as bochechas de sua bunda, expondo o alvo do
meu desejo, e passei a lambê-lo com o fito de deixá-lo lubrificado e
escorregadio. Inseri minha língua toda dentro dele, mexendo-a, abrindo
caminho.
Apoiei-a no braço grosso e muito acolchoado do sofá e encaixei-me
entre suas coxas, beijando suas costas, mordendo sua nuca.
Comecei a entrar devagar, mesmo porque estava bem difícil, e meu
tamanho não ajudava. Coloquei minha mão por debaixo de seu corpo,
estimulando seu clitóris para que sua excitação a ajudasse a relaxar. Tremi e
gemi a cada centímetro vencido e, quando notei que era o máximo que
conseguiria ir, movi-me devagar, enquanto Aurora gemia cada vez mais alto.
— É uma delícia! — sussurrou, rebolando de leve.
— Delícia nem chega perto!
Estava me controlando para ir devagar, mesmo porque não nos
havíamos preparado para aquilo e eu não achava que cuspe fosse suficiente
para mantê-la lubrificada. Então me deixei apenas sentir o prazer dos
pequenos movimentos, alargando-a, afundando-me cada vez mais nela,
mexendo meus dedos empapados em seu sexo.
Aurora retesou-se de repente, e sua respiração acelerou. Ela agarrou o
tecido do sofá, arqueou o corpo e gritou em êxtase, gozando forte,
intensamente e contagiando-me com seu prazer.
Tive tempo apenas de me puxar para fora dela e logo assistir à minha
porra jorrar por suas costas, tão espessa e acumulada, como se eu estivesse
havia meses sem colocar nenhuma gota para fora.
Despenquei sobre ela, aspirei forte o cheiro de sua pele suada,
deliciosa, misturado ao de sexo bem-feito, de orgasmo, que enchia o
ambiente.
— Tudo bem? — perguntei assim que me acalmei, afastando-me dela
e a ajudando a se levantar.
— Parece que fui atropelada por um trator! — Riu, não conseguindo
ficar de pé.
— Machuquei você?
Negou.
— Não, foi melhor do que pensei que seria. — Franzi a testa com a
declaração. — Sempre tive curiosidade e...
— Nunca tinha feito isso? — Puta que pariu! Senti-me um
adolescente desvirginando um cu com cuspe!
Aurora ficou vermelha.
— Não.
Abracei-a, sentindo-me um troglodita por nem mesmo ter-lhe
perguntado.
— Se eu soubesse, teria tido mais cuidado! Há formas de facilitar e
diminuir o incômodo.
Ela pareceu bem interessada.
— Esqueci completamente do incômodo quando você me masturbou.
Nunca tive um orgasmo tão intenso!
Sorri animado, cheio de expectativas sobre as próximas vezes.
Poderíamos experimentar muito mais coisas juntos! Acessórios, pomadas e...
Freei o pensamento, apavorado com a sensação de permanência que cada vez
mais aquela relação adquiria.
— Um banho? — perguntei, decidido a não pensar mais em nada e
esperar chegar a Chicago para avaliar tudo e resolver o que iria fazer com
Aurora.
Tínhamos ainda um contrato de gestação, e o prazo que o médico
pedira depois do aborto já estava quase no fim. Ela poderia, então, fazer outra
tentativa e, se tudo desse certo, iria engravidar de um filho meu. Apenas meu!
Olhei para ela, entrando no chuveiro, linda e ainda com as marcas do
sexo intenso que fizemos, e percebi que não a via mais no papel de barriga de
aluguel. Não daria certo, complicaria tudo!
Eu já sabia o que teria que fazer.
Achei que, nem se vivesse mais cem anos, conseguiria esquecer a
noite especial que Michael me havia proporcionado. Foram tantas
descobertas, tantas primeiras vezes que parecia tudo um sonho.
O avião, o helicóptero, a ópera em um grande teatro, fotos para a
imprensa, Nova Iorque e o mar, cujo esplendor pude ver da janela da suíte
onde passamos a noite – de novo na mesma cama, dormindo abraçados –
pareciam coisas de filme de romance ou de um bom livro clichê que
arrancava suspiros ao final.
Todas as coisas que ele e eu havíamos compartilhado eram
maravilhosas, mas nada se comparava a estar em seus braços.
Eu estava total e irremediavelmente apaixonada!
Fiquei igual boba vendo-o tomar banho, depois tive um sorriso
grudado na cara ao vê-lo trabalhar por alguns minutos, assim que tomamos
café, em seu inseparável iPad, acompanhando a movimentação dos mercados
no final de semana, dias em que as bolsas de valores não operam, mas que os
acontecimentos podem afetá-las na segunda-feira.
— Sem contar os outros tipos de investimentos que operamos —
comentou enquanto se vestia. — Nós lançamos uma criptomoeda há alguns
anos e temos acompanhado seu intenso crescimento, enquanto outras se
dissolvem ou a superam. A MSG trabalha com todo tipo de investidor, mas
nosso carro-chefe é o investimento de risco.
Fiz-lhe algumas perguntas que qualquer outra pessoa leiga faria a fim
de entender melhor como o trabalho dele funcionava e fiquei surpresa com o
quanto sua rotina era pesada. Achei que, como CEO, ele trabalharia menos,
mas, mesmo fora da corretora, Michael ficava conectado o tempo todo.
— Domingo à noite, as bolsas da Ásia abrem, e, consequentemente,
começa a jornada de trabalho da minha equipe. Meu trabalho é global, por
isso não fica restrito ao nosso fuso horário.
Quando ele ficou pronto, vestido casualmente com uma camisa, calça
e tênis, acabei olhando desanimada para o vestido de noite.
— Nós vamos direto para o aeroporto, não?
— Não, mas não se preocupe. — Ergueu uma sacola. — Tenho que
prever alguns comportamentos no meu trabalho e, claro, previ que você não
teria roupa para vestir hoje.
Eu nunca poderia imaginar que Michael compraria roupas para mim,
e ele havia feito isso duas vezes e, em ambas as ocasiões, acertara com
precisão! A calça de linho cru e a blusa de seda sem mangas na cor rosê me
encantaram, mas o que conseguiu tirar meu fôlego foi a lingerie de renda
chantili em uma cor nude, delicada e feminina.
Eu estava parecendo alguém que nasceu em berço de ouro, essas
mulheres de revistas, elegantes e que usam um traje simples, mas grita que é
caro. Não fazia ideia do preço de cada peça, mas as etiquetas de marcas
famosas me deram uma ideia.
Almoçamos em um bistrô e, quando fomos para o aeroporto, de
helicóptero novamente, consegui ver a emblemática Estátua da Liberdade
mais de perto, pois Michael pediu ao piloto que fizesse um pequeno tour
sobre Manhattan.
O voo de volta para Chicago foi muito mais tranquilo, passei o tempo
inteiro conversando, namorando e, basicamente, sentada no colo de Michael
todo o trajeto. Ele me provocou a viagem toda apenas para me ver corar por
causa das comissárias de bordo que estavam conosco.
— Elas já devem estar acostumadas a ver você com mulheres aqui —
brinquei em algum momento.
— Já, sim, mas posso garantir que nenhuma viajou no meu colo. —
Piscou safado. — Lamento não ter um jatinho maior.
— Para quê? — Michael não precisou responder, sua expressão dizia
tudo. — Hum, deve ser interessante!
— Em outra oportunidade, dispenso a tripulação de cabine e aí
poderei te fazer gozar nas alturas!
Outra oportunidade... Próximas vezes! Ainda que eu tentasse manter
minha esperança à deriva do que poderiam significar todas essas palavras,
não conseguia. Falávamos com a naturalidade de quem quer uma relação com
permanência, de quem conta com a certeza de estarem juntos no futuro.
E essa impressão só aumentou quando, ao chegarmos a Chicago,
Michael propôs passar o final de semana – de tempo firme – no iate,
aproveitando o lago e o sol.
— Se suspirar mais uma vez, vou desistir de assistir ao filme. —
Aimée interrompeu meus pensamentos com um sorriso malicioso. — É meu
dia de folga. Você podia pelo menos fingir que está curtindo minha
companhia em vez de ficar suspirando pelo seu final de semana de filme.
Suspirei mais alto.
— Não dá, desculpa! — Ela gargalhou. — Nem nos meus sonhos
mais fantasiosos, eu poderia imaginar estar assim, tão apaixonada!
Minha amiga parou de sorrir, e vi uma ruga de preocupação surgir em
seu semblante.
Ela me ligara ainda bem cedo, antes de eu sair para a universidade e,
anunciando que finalmente teria a noite de segunda-feira livre, me convidou
para fazermos algo juntas. Carly estaria trabalhando na livraria, mas, assim
que chegasse, se reuniria a nós, por isso decidimos ficar no apartamento dela
assistindo a um filme.
Estudei na parte da manhã e continuei minha pesquisa à tarde. Joseph
estava à minha espera na saída da universidade e me deixou em casa. Erika
estava de folga, por isso juntei uma muda de roupas para dormir no
apartamento das meninas, pois não queria ficar sozinha.
O final de semana com Michael foi maravilhoso! Nós exploramos o
lago o máximo que conseguimos, aproveitando os últimos sinais do sol de
verão, antes que o outono começasse e depois viesse o rigoroso inverno de
Chicago.
Despedimo-nos no domingo à noite, e ele seguiu sozinho para seu
próprio apartamento, porque precisaria voltar a Nova Iorque e passaria a
semana por lá.
— Se você pudesse me acompanhar... — falou de repente, mas logo
balançou a cabeça. — Serão dias intensos, reuniões atrás de reuniões, eu
provavelmente não conseguiria lhe dar muita atenção caso você fosse.
Senti falta dele. Era estranho dormir sozinha depois de passar vários
dias dividindo a cama à noite e fazendo sexo ao amanhecer.
— Rory? — Aimée me chamou de volta dos pensamentos, e sua voz
me dizia tudo sobre o assunto que iria começar. — E seu contrato com a
agência?
Respirei fundo.
— Nada mudou.
Ela franziu a testa.
— Mas você acha que deve continuar com isso? E se o
relacionamento com Michael Griffin der certo? Acha que ele vai entender
quando você engravidar?
Senti-me mal por nunca ter dito a ela que meu contratante e Michael
eram a mesma pessoa, o que, a meu ver, só complicava ainda mais minha
situação.
— Você disse que muitas mulheres mantêm seus relacionamentos,
mesmo alugando o ventre e...
— Sim, mas quando elas já têm um relacionamento, e o cara
concorda. Agora, como você vai explicar para Michael a situação? Fico com
medo de você acabar prejudicando um relacionamento que poderia ser ótimo,
afinal, já está apaixonada, e, pelo que me contou do final de semana, se ele
não estiver, certamente está a um passo de admitir que adora você.
Sorri feito boba ao ouvir a opinião dela.
— Você acha? Não sei, não consigo ter uma opinião sobre o que ele
sente por mim.
— Mas sabe o que sente por ele, não? Por isso estou preocupada.
Suspirei.
— Não tenho como desistir do contrato, ainda que queira muito.
Minha mãe precisa continuar o tratamento, e eu não teria como arcar com o
empréstimo feito por tia Wanda.
— Entendo, mas... — Ela pareceu hesitar antes de continuar: — Você
já contou ao Michael a situação de sua...
— Não! — neguei enfaticamente. — Não quero que ele saiba! Não
quero que tenha pena de mim ou me ofereça dinheiro, não é por isso que
estou saindo com ele.
— Eu sei, amiga, mas... o homem é multimilionário e poderia...
— Eu sei, mas não! Já fico constrangida com os lugares aos quais ele
me levou e as roupas que comprou para mim, ainda que entenda que fez isso
para que eu o acompanhasse. Não teria coragem de contar a ele sobre minha
mãe para pedir dinheiro. Por isso que é melhor que eu continue com o
contrato!
— Bom, se você acha que é o melhor...
Voltamos a assistir ao filme, mas não consegui me concentrar em
nada além da ideia de que, em poucos dias, teria que fazer outra tentativa de
engravidar implantando o embrião, e aí tudo poderia mudar.
Pensei sobre o que Aimée sugeriu, mas não me sentia bem ao pedir
ajuda ao Michael, ainda mais estando em um relacionamento indefinido com
ele. Simplesmente não dava!
Carly chegou tarde e cansada da livraria, por esse motivo, ficamos
apenas mais alguns minutos acordadas, conversando, e fui dormir pela última
vez no quarto que foi, já que as meninas conseguiram outra pessoa para
ajudar nas despesas do apartamento por, pelo menos, um ano.
— É o tempo em que você vai ajeitar sua vida, então, depois que
resolver o contrato e ficar um pouco com sua mãe, poderá voltar a morar
conosco, se quiser — Aimée explicou quando me contou sobre ter alugado o
terceiro quarto.
— Tudo bem, é claro que vocês precisam de mais alguém aqui para
contribuir.
— E, quando vier para cá, pode dormir comigo ou com a Carly, não
é?
Minha outra amiga concordou de pronto, deixando claro que eu
sempre seria bem-vinda a ficar com elas.
Não pude deixar de sentir um aperto no peito ao pensar no quanto
tudo havia mudado e no que viria pelos próximos meses. Um frio cruzou
minha espinha, e a possibilidade de vir a sofrer por qualquer motivo, fosse
Michael ou minha mãe, pareceu-me muito real.
— Ela vai ficar boa, foi só uma infecção piorada por conta da sua
baixa imunidade. — Confortei meu pai depois de ter conversado com o
médico.
Eu tinha chegado a Dixon na tarde anterior e segui direto para o
hospital com o propósito de esperar notícias sobre o quadro de minha mãe.
Encontrei meu pai sentado em uma cadeira, parecendo ter envelhecido uns 10
anos desde a última vez que o tinha visto.
Abraçamo-nos fortemente, e pude, enfim, chorar em seus braços por
toda a tensão que passei durante a viagem, temendo chegar e encontrá-la
morta.
— Os médicos estão fazendo exames para apurar o que houve e tratá-
la com o medicamento certo — ele contara desanimado. — Ela estava tão
bem, e, de repente, começou a ter febre e convulsões.
Passamos a noite inteira na recepção do hospital, sentados em
cadeiras duras, tomando café e conversando. Ele quis saber detalhes da minha
pesquisa, ouviu atentamente tudo o que eu havia conseguido e questionou
sobre o trabalho na livraria.
— Não estou mais trabalhando lá, consegui outro emprego mais
rentável e tenho conseguido economizar bastante para ajudar no tratamento.
— E que trabalho é esse?
É claro que eu não tinha pensado em uma resposta para essa pergunta,
então respondi a primeira coisa que me veio à cabeça:
— Estou trabalhando com uma senhora filantropa que ama literatura.
O nome dela é Michelle Griffin. — Meu pai ficou impressionado. — Vocês
têm recebido o dinheiro que mando para as despesas da casa de tia Wanda?
— Temos, sim! — Ele suspirou. — Eu queria que você não tivesse
essa preocupação; era eu quem devia estar arcando com tudo!
— Não pense nisso, pai, o senhor é o melhor marido do mundo e faz
tudo pela mamãe! — Beijei sua bochecha, e ele ficou vermelho como um
tomate.
Passei a noite toda conferindo o telefone e estranhando não ter notícia
alguma de Michael. Nunca o encontrava online no aplicativo de mensagens, e
todas as minhas ligações eram encaminhadas para sua secretária eletrônica.
Estava começando a sentir uma angústia estranha, mas, por ainda
estar à espera de notícias do quadro clínico de mamãe, não consegui dar
muita atenção ao meu feeling.
— O doutor disse que, em alguns dias, ela deverá estar melhor e
poderá retornar para casa. — Voltei a falar com meu pai, e ele sorriu aliviado.
Tia Wanda, que havia saído para comprar café, retornou, então pedi a
ela que fizesse companhia ao papai e saí do hospital, disposta a fazer uma
ligação.
— Oi, Rory! — Erika atendeu. — Está tudo bem?
— Sim, estou quase resolvendo meu assunto aqui, mas queria saber se
Michael entrou em contato à minha procura.
— Não falei com ele por esses dias e, como Joseph não está por aqui
porque você não está, não sei se ele já retornou de Nova Iorque.
Agradeci a ela, conversei mais alguns instantes e fiquei parada com o
telefone na mão, dividida entre preocupada e temerosa. Rolei minha lista de
contatos até chegar ao nome de Shelly Griffin, mas não confirmei a ligação.
Era uma sensação horrível sentir que estava atrás de uma pessoa que
sabia como me contatar, mas não entrava em contato comigo, e eu não
entendia o porquê. Internamente, eu me dizia que devia ter acontecido algo de
importante e que por isso ele não estava tendo tempo para falar comigo, mas
achava uma desculpa rasa demais, afinal de contas, duvidava que ele não
tivesse um minuto para me mandar um “oi”.
Mas e se aconteceu algo que o impossibilita de entrar em contato?,
foi o derradeiro pensamento que tive antes de ligar para Michelle.
— Rory, que bom que me ligou! Como vai?
— Boa noite, Shelly! Eu estou bem, e a senhora?
Esperei a resposta com o coração batendo a mil.
— Estou ótima! Pensei que iria vê-la por aqui hoje, mas Michael
acabou vindo sozinho. Espero que não tenha sido nenhum problema que a
impediu de acompanhá-lo.
Senti como se meu coração tivesse parado ao saber que Michael
estava lá, na casa da mãe dele, em Chicago e que, por algum motivo, não
estava falando comigo.
É proposital, então!, pensei, imaginando uma desculpa para ter ligado
sem que ela percebesse que eu não sabia que Michael estava lá.
— Ah, não, estou bem! Queria apenas lhe agradecer novamente pelo
chá de ontem, foi muito bom!
— Sim! Eu estava agora mesmo conversando com Michael e com
Lane sobre sua visita e quase perdi sua ligação, pois havia deixado o celular
aqui, dentro de casa, e nós todos estamos no jardim, jantando. Tem certeza de
que não dá tempo de se unir a nós?
Michael e Lane estão jantando com a mãe dele!
— Não dá, estou em outra cidade, mas obrigada pelo ... — tive que
engolir em seco para continuar a conversa — convite.
— Sinta-se sempre convidada!
Desliguei o telefone, olhei para a entrada do hospital, mas não pude
seguir para lá. Andei pelo estacionamento sentindo grossas lágrimas
descerem pelo meu rosto. Era horrível não saber o que estava acontecendo e
mais ainda ter a sensação de ter sido deixada de lado, esquecida.
Eu entendia que ele era um homem ocupado e que nem sempre
conseguíamos nos falar, mas daquela vez era diferente. Não era o tempo
corrido que o impedia de conversar comigo, era pura falta de interesse.
O que teria acontecido durante os últimos dias em Nova Iorque? Por
acaso ele havia voltado a se encontrar com Lane e, por isso, decidira se
afastar de mim? Mas por que não me disse nada?
Eram tantas perguntas sem resposta que eu me sentia a ponto de ficar
louca, por isso achei que seria melhor voltar para junto dos meus familiares e
me concentrar em minha mãe.
— Oh, minha querida, tudo vai dar certo! — tia Wanda me consolou
assim que apareci na recepção do hospital com os olhos inchados e o rosto
vermelho. — Temos que ser fortes para enfrentar isso tudo com ela!
— Eu sei! — Tentei sorrir e me sentei ao lado do meu pai para mais
uma noite longa naquele hospital. — Pai, por que não vai para casa
descansar? Eu estou aqui. Assim que tiver mais notícias, falo para o senhor.
— É uma boa ideia, Isaiah! — Minha tia me apoiou. — Bruce está em
casa, vá fazer companhia a ele!
— A senhora também deveria ir, tia! — interferi. — Posso passar a
noite aqui, e amanhã vocês voltam descansados.
— Tem certeza de que quer ficar sozinha aqui, filha?
— Tenho! — Beijei-o. — Boa noite!
O sorriso morreu assim que me vi sem meu pai e minha tia. Fiquei
naquela recepção, sozinha, acompanhando o movimento das pessoas que
chegavam e saíam, dos profissionais da área de saúde e daqueles que, como
eu, eram acompanhantes de alguém internado.
Não consegui nem mesmo cochilar como havia feito noite passada e
vi o dia amanhecer lentamente, até que o movimento do hospital aumentasse
e os sons das pessoas nas ruas e dos carros chegassem até mim.
Saí para comprar um café e, quando dei o primeiro gole, recebi a
ligação de Ayleen, da agência de barrigas de aluguel.
— Bom dia, Rory, como vai?
— Vou bem, embora tenha pensado em falar contigo.
— É mesmo? O que houve?
Respirei fundo.
— Sei que a próxima tentativa deve ocorrer em alguns dias, mas tive
um problema de saúde na família e estou fora de Chicago. Vou tentar voltar
antes, mas...
— Ah, querida, não se preocupe com isso! — Não tive tempo nem de
me sentir aliviada, pois ela logo explicou: — O seu contrato foi cancelado
por parte do contratante. — Deixei o café cair da minha mão, mas nem me
movi, completamente em choque com a notícia que não poderia ter chegado
em pior hora. — Nós substituímos você, mas o bom é que ele abriu mão do
adiantamento que fez, deixando-o como uma espécie de indenização.
Indenização?!
Meu sangue esquentou ao imaginar que Michael Griffin me deixara
uma espécie de compensação por ter dormido com ele, ainda que não tivesse
tido a coragem de me dizer que não queria mais e que iria romper o contrato.
Filho da.... Não consegui xingar a Michelle, mas senti uma revolta tão
grande que me deixou sem palavras.
— ...nós já temos outro interessado, então podemos começar as
negociações. O que acha?
— Desculpa, mas do quê?
Não prestei atenção ao que havia dito.
— De conseguirmos já outro contrato.
Senti um gelo na espinha, um tremor que percorreu todo o meu corpo
como a anunciação de algo ruim chegando. Era impossível pensar em
engravidar daquele jeito de novo, passar por todo o processo de negociação,
ter todas as incertezas de volta.
Mas eu precisava do dinheiro mais do que nunca!
Sentia-me com o coração destroçado, apunhalado, desprezado, sem
querer tomar nenhuma decisão, apenas ficar quietinha lambendo minhas
feridas para que cicatrizassem. Porém, eu não tinha esse tempo, precisava de
algo, de algum milagre, para conseguir arcar com todas as responsabilidades
do tratamento de minha mãe.
O que fazer?
O vento frio da noite, vindo do lago, sempre teve o poder de me
acalmar nos momentos mais tensos da minha vida. Eu vinha sempre para o
jardim a cada vez que um problema surgia na adolescência, e esse ritual não
deixou de existir depois que me tornei adulto.
Ali estava eu de novo, plantado como uma das inúmeras árvores,
imóvel como se tivesse criado raízes que me prendessem àquele chão. Não
dava para ver muita coisa além dos arbustos iluminados pela luz própria para
jardim, em um tom de verde, mas eu conhecia aquela paisagem de cor; não
era necessário ter claridade.
Respirei fundo, e o aroma pungente das flores que estavam plenas
durante o verão me envolveu. Aquele cheiro me trazia recordações,
principalmente de meu avô. Ele se sentava embaixo do pergolado, em uma
poltrona alta e confortável, e lá tomava seu café e fumava seu charuto.
Era um ritual que o acalmava quando as coisas estavam confusas no
trabalho, e me trazia uma sensação de segurança vê-lo ali, digerindo seus
sentimentos sozinho, sem descontar suas frustrações em ninguém, lidando
com o estresse da forma como sabia.
Eu o achava realizado e feliz, nunca me questionava nem sequer lhe
perguntava como se sentia por ser só. Sim, porque ele era sozinho! Era mais
do que não ter uma companheira, era não confiar em ninguém – nem mesmo
nos seus amigos mais chegados – para dividir suas angústias e preocupações.
Michael Stanley Griffin era uma fortaleza, mas até que ponto isso o
tornara solitário?
Respirei fundo, sem entender por que meus pensamentos estavam
tomando aquela direção. Não havia motivo para questionar a vida que meu
avô escolhera para si, então por que o assunto continuava voltando à minha
mente?
— Sua mãe me disse que estava aqui.
A voz de Lane Johnson me assustou e tirou um pouco da paz que eu
estava desfrutando, pelo menos aparentemente.
— Não sabia que ela tinha conhecimento da minha presença. — Fui
sincero, pois entrara na propriedade e havia seguido direto para o jardim, sem
nem passar pelo interior da mansão. — Como vai?
— Confusa. — Ela sorriu, colocando-se ao meu lado. — Vim fazer
uma visita de cortesia a Shelly, mas iria procurá-lo amanhã para
conversarmos.
Franzi a testa, sem entender a seriedade que sua voz imprimia na
frase.
— Aconteceu algo?
Ela riu e balançou a cabeça.
— Aconteceu. — Encarou-me. — Achei que tinha algum tipo de
entendimento entre nós. — Novamente fiz careta, sem entender do que ela
falava. — E, quando vi aquelas fotos suas em Nova Iorque com uma
desconhecida, senti algo estranho...
Ah, puta que pariu!, pensei, entendendo que teríamos uma discussão
de relação sem ao menos ter uma relação!
— Nós sempre saímos com outras pessoas, Lane. Você tem até uma
sessão no seu perfil com “dates do final de semana”. — Ri, pois sempre achei
bizarro aquilo.
Ela não acompanhou meu humor, e isso me deixou tenso.
— É diferente! Sempre saímos com pessoas do nosso meio, do nosso
nível, e, quando você ia a Nova Iorque, eu era a sua acompanhante para
eventos como aquele. — Fiquei parado, sentindo apenas minha jugular
pulsando firme no pescoço, querendo saber aonde ela chegaria com aquela
conversa. — Fiquei surpresa ao saber que você levou uma ninguém para lá,
bancou roupas e sabe-se lá mais o que para uma universitária pobretona. —
Riu. — Achei que isso era a estratégia de Robert, que nós sempre
recriminamos.
— Não vou discutir minha vida pessoal com você — respondi seco.
— Precisa? — Ela pegou o telefone, abriu uma foto – uma que
tiraram na ópera em Nova Iorque – e me mostrou o que havia escrito
embaixo dela. — Achou mesmo que eles não iriam atrás dela? — Balançou a
cabeça. — Foi humilhante para mim responder a várias perguntas de
seguidores sobre o que eu achava.
Eu lia a legenda sem poder acreditar que era real.
— Quem escreveu isso? — inquiri puto, meus dedos apertando o
telefone tamanha a raiva.
— Algum site de fofocas. — Ela mostrou o nome do perfil. — Uma
mulher que se presta a fazer qualquer coisa por dinheiro, Michael? Era um
fetiche? Porque, sinceramente, nunca imaginei que você precisava pagar para
fod...
— Não fala merda! — Interrompi-a. — Isso tudo aqui é...
— Mentira? — Lane pegou o telefone da minha mão e se pôs a ler em
voz alta. — Diz aqui que sua “garota misteriosa” já foi acompanhante de luxo
e que, há alguns anos, vendeu seu corpo para gerar um bebê sob encomenda,
tal qual uma cadela de canil! Fico me perguntando qual foi o trabalho que ela
estava prestando para você...
— Chega, Lane, isso tudo é...
— O clima está ótimo, não? — minha mãe comentou, caminhando em
nossa direção, e tentei não transparecer minha raiva pelas coisas absurdas que
escreveram sobre Aurora. — Está tudo bem? — ela me inquiriu,
cumprimentando-me. — Rory não veio contigo?
Porra, mãe, agora não!
Pelo olhar chocado de Lane, ela sabia que minha mãe estava se
referindo à mesma mulher das fotos. Fechei a expressão, deixando bem claro
que, se ela dissesse algo, iríamos ter problemas.
— Ela está atolada com coisas da pesquisa. Vim direto para cá a fim
de ver você!
— Lane vai nos fazer companhia para o jantar — anunciou animada,
sem perceber o clima tenso. — Por falar em jantar, vou entrar para pedir algo
especial para Martha. — Piscou. — Podem conversar mais um pouco aqui
fora. Quando tudo estiver pronto, peço para chamá-los!
Concordei, ainda querendo saber quem era o responsável por publicar
tantas mentiras sobre Aurora em uma página qualquer de fofocas de rede
social. As inverdades do post me enojavam, pois eu sabia que Aurora nunca
havia sido garçonete de um pub de luxo de Chicago, seu primeiro emprego na
cidade fora na livraria. Ela era do interior e não havia morado em um prédio
usado para encontros de prostitutas em uma área violenta da cidade, pois, de
acordo com o que me contara, saíra de uma pensão direto para o apartamento
que dividia com as amigas.
A única verdade da fofoca era sobre ela ser agenciada como barriga
de aluguel, mas eu não sabia se ela já havia gerado para alguém antes de eu
contratá-la.
Eu não acreditava que ela pudesse ter mentido tanto para mim. A
Aurora que eu conhecia não teria inventado uma história totalmente diferente
daquela que alegavam ser dela. Ou teria?
Assim que minha mãe se afastou o suficiente, Lane começou a rir.
— Você a apresentou para Shelly? — Gargalhou, mas, como
permaneci parado, tenso, sem esboçar nenhuma reação, ela ficou séria e
arregalou os olhos. — Você não sabia de nada disso! — Sorriu. — Sério?
Michael Griffin, o homem mais desconfiado do mundo, foi enganado por
uma vagabunda interesseira?
Meu sangue ferveu. Aproximei-me de Lane, e ela recuou um passo.
— Não se refira a ela assim! — rosnei, puto, e ela assentiu,
visivelmente assustada com minha expressão. — Não sei de que esgoto
vieram essas pessoas que escreveram essas mentiras sobre Aurora, mas pode
acreditar, Lane, vou descobrir. — Imediatamente ela ficou vermelha, então eu
soube que estava envolvida. — Esteja segura de que vão perder muito,
principalmente credibilidade.
Ela respirou fundo.
— Eles não costumam inventar nada; se a informação está lá, é
porque é verdadeira!
Ri, notando a forma como sua voz tremia.
— Veremos!
Saí do jardim pisando duro, querendo socar alguém. Mandei uma
mensagem rápida para Robert e notei as inúmeras que Aurora havia deixado
no meu telefone desde o dia anterior.
Eu não havia falado com ela desde antes de sair de Nova Iorque.
Queria ter feito uma surpresa, mas o surpreendido fui eu, com aquela
declaração de amor sonolenta.
Ainda sentia uma espécie de frio na barriga ao lembrar-me das
palavras, sem entender o que era essa sensação que a mera lembrança me
causava. Precisava de tempo para pensar, havia ido até a mansão exatamente
para isso, mas, devido ao que Lane me mostrou, não tinha como mais manter-
me afastado de Aurora. Nós precisávamos conversar não apenas sobre as
mentiras que foram publicadas, como também sobre a quebra do contrato que
pedi para Robert providenciar.
Cliquei em cima de seu nome com o fito de ler as mensagens que ela
havia deixado, mas não consegui ler nem mesmo a primeira, pois Robert me
ligou.
— O que houve? Qual a urgência? — ele perguntou em tom de
brincadeira.
— Preciso de uma informação sobre uma página na internet. Quero o
nome dos responsáveis e um belo processo em cada um deles.
— Porra! — Ouvi quando ele baixou o som alto que soava ao fundo
da ligação. — Do que você está falando?
— Divulgaram uma série de merdas sobre Aurora, e quero saber
quem está por trás disso! — gritei, sem paciência, enquanto entrava no carro
e dava a partida.
— Que tipo de informação? Tem certeza de que se trata de mentira?
Falei o nome do site para ele, sabendo que iria atrás da tal matéria
enquanto falávamos ao telefone. A ligação entrou no sistema multimídia do
carro, então pude guiar tranquilo conforme ele lia a postagem.
— Michael... aqui está que ela é uma barriga de aluguel e... bem, foi
assim que a conhecemos.
Bufei.
— Tenho certeza de que ela tem alguma cláusula de privacidade do
nome com a agência. Como podem ter descoberto essa informação?
— Às vezes ela mesma contou para alguém, o que me deixa muito
aliviado por já termos findado o contrato com ela.
Freei o carro bruscamente e só não me envolvi em um acidente sério
porque não havia nenhum outro veículo atrás do meu.
— O quê?! Quando?
— Hoje! Você não me pediu para resolver isso? Fiz o documento de
acordo com tudo o que você me pediu e já estou analisando outra candidata,
mas agora alguém de fora de Illinois, para não corrermos risco de...
— Caralho, Robert, ela já sabe? — Meu coração estava disparado, e
eu mal conseguia coordenar meus pensamentos, porque queria ter conversado
com Aurora antes de cancelar o contrato e torcia para que a agência não
tivesse contado a ela. — Eu disse que queria falar com ela primeiro!
— Entendi que você ia fazer isso hoje! — justificou-se. — Não falou
com ela?
— Não, porra! — Uma buzina alta me fez voltar à realidade de que
estava parado no meio da rua. — Droga, Robert, não quero outra candidata!
— O quê? Michael, você está me deixando louco! Era para ter
cancelado ou não a merda do contrato?
— Era, mas só depois de eu ter conversado com Aurora!
— Para quê? Você não quer mais que ela gere seu filho e não vai mais
dormir com ela, tudo resolvido! A garota ganhou um bom dinheiro sem
fazer...
— Cala a boca! — gritei, acelerando o carro para chegar rápido ao
apartamento dela. — Cara, só descobre quem é o responsável por essa
página! Você já fez muita merda por hoje!
— Vá se foder, Michael! Fiz apenas aquilo que tínhamos combinado!
Eu ia adivinhar que você ficou protelando falar com a garota?
— Aurora! — ressaltei com raiva. — O nome dela é Aurora!
Desliguei a ligação e pedi, através do comando de voz, uma chamada
para o telefone dela, mas fui logo desviado para a caixa de mensagens.
— Merda!
O trânsito estava mais pesado em Lincoln Park, por isso demorei o
dobro do tempo que levei para sair do bairro de minha mãe apenas para
cruzar as ruas até o prédio de Aurora.
Desci do carro com toda pressa e passei pela portaria correndo como
um doido, atropelando o porteiro, que me cumprimentou assim que as portas
do elevador se abriram.
Estava tenso, andava de um lado para o outro, então lembrei que não
havia conseguido ler as mensagens dela no aplicativo e as abri finalmente.
— Puta que pariu! — xinguei alto, socando a parede de metal do
elevador.
Toquei a campainha do apartamento e logo fui atendido por Erika.
— Boa noi...
— Aonde Aurora foi? — perguntei sem rodeios.
Erika arregalou os olhos.
— Não sei, ela apenas chegou aqui apressada dizendo que precisava
sair da cidade por uns dias e que iria entrar em contato com o senhor.
Na mensagem que me mandou, Aurora dissera apenas que tinha de
resolver umas coisas pessoais e que por isso iria ficar alguns dias fora, mas
que retornaria a tempo para fazer a implantação.
— Ela saiu da cidade ontem e não me mandou nenhuma indicação de
onde possa estar. — Andei de um lado para o outro na sala. — Não atende
meu telefone, cai direto na caixa de mensagens!
— Ela entrou em contato comigo perguntando sobre o senhor e...
— Liga para ela! — pedi, e Erika aquiesceu, pegando seu celular.
Esperei que ela me dissesse que o telefone estava desligado, apenas
caindo na caixa de mensagens, mas não foi o que aconteceu.
— Oi, Rory. Desculpe ligar a essa hora da noite, mas o senhor Griffin
está aqui querendo falar... — Ela franziu o cenho e me olhou como se visse
um monstro. — Tem certeza? Não é melhor você ouvir o que... — Pedi o
aparelho a Erika, que me passou como se estivesse em choque.
Não perdi tempo perguntando nada, queria apenas dizer a ela que as
coisas se atropelaram e que eu havia desistido do contrato porque... Droga,
eu nem sei o que dizer!
— Aurora, precisamos conv...
Ela desligou sem falar nada, e senti como se o chão tivesse sumido
sob meus pés. Uma dor intensa, bem no meio do meu peito, fez-me perder o
fôlego, e tive que me escorar no móvel para me manter de pé.
— Ela disse que o contrato foi cancelado e que a amiga dela virá aqui
amanhã de manhã para recolher seus pertences. — Erika falava como se não
pudesse acreditar. — Eu achei mesmo que o contrato pudesse ser cancelado,
mas... não assim! — Olhou-me como se quisesse ler minha alma. — Achei
que vocês estavam apaixonados!
Apaixonados! Parece que essa única palavra ficou reverberando
dentro de mim, como uma bola de demolição, açoitando cada parede que eu
julgava estar devidamente sólida e bem construída.
Balancei a cabeça, ainda não querendo ver o que parecia que era
óbvio. Eu era um lobo solitário como meu avô, não iria me casar nunca nem
ser abandonado! Não acreditava em paixão, em amor entre um casal, tudo
isso era efêmero demais e só iria servir para trazer desgaste e dor.
Não obstante, eu precisava falar com Aurora, necessitava dizer a ela o
que publicaram, saber se era verdade, ainda que não me importasse em nada
com tudo aquilo. Tinha de explicar que havia cancelado o contrato para
protegê-la, porque eu não era o homem certo para ser amado, simplesmente
porque não poderia amá-la de volta... ou achava que não poderia.
— Para onde ela foi, Erika? — Minha voz soou tão débil, tão sofrida
que mal a reconheci.
— Não sei, mas estava muito preocupada. Acho que pode ser algo
com sua família.
Concordei, lembrando-me de que seus pais eram idosos e que ela era
filha única. Busquei o nome de sua cidade natal na memória, mencionada em
alguma conversa entre nós, mas o nervosismo me impedia de lembrar.
Caminhei até o porta-retratos sobre o aparador da sala, vendo o casal
já de cabelos grisalhos, sorridente, abraçado, olhando um para o outro como
se não houvesse mais ninguém no mundo, e reconheci, pela primeira vez, um
olhar apaixonado.
O mesmo que eu tinha na cara toda vez que via Aurora!
Não pude dormir, passei a noite toda dentro do quarto de Aurora –
lugar em que nunca havia entrado antes – esperando que o dia amanhecesse
para poder falar com Aimée e assim ter alguma pista do paradeiro dela.
Continuei tentando ligar, mandando mensagens que sabia que não
chegariam, pois estava totalmente bloqueado, e isso me mostrou o tamanho
do ressentimento que Aurora estava sentindo por eu não ter tido coragem de
conversar com ela antes que o idiota do Robert resolvesse a questão do
contrato.
Merda!
Passei aquela merda de noite me autocriticando por ter agido como
um garoto, e não como um homem, por ter evitado pensar no que estava se
passando entre nós de verdade por pura covardia.
Vaguei pelo quarto, conhecendo um pouco da intimidade de Aurora,
ainda que me sentisse um tipo de invasor, já que nunca havia sido convidado
a entrar naquele ambiente. Notei a mesa de cabeceira com um livro lido pela
metade. Na cama, havia muitas almofadas e algumas pelúcias bem antigas, e,
na outra mesinha, um porta-retratos com uma foto dela vestida de beca,
discursando possivelmente em sua formatura do ensino médio.
O closet dela era arrumado. Aurora não tinha muitas roupas, e
certamente o destaque era o vestido de noite que usara quando a levei à
ópera. Toquei uma camisola de tecido leve e romântico e, assim que agitei o
tecido, pude sentir o perfume de Aurora.
Tirei a peça do armário e a encostei no nariz, enquanto uma pressão
comprimia meu peito de tal forma que me causava frio na barriga.
A compreensão de que havia feito merda e que talvez não pudesse
consertá-la me assustava. Eu não sabia que me custaria tanto pensar em
perder Aurora, mas a mera possibilidade me deixava tão angustiado quanto
fiquei quando minha mãe infartou.
Vi o dia clarear sentado na beirada da cama, com a camisola dela na
mão e, ainda nas primeiras horas da manhã, ouvi a movimentação de Erika,
provavelmente preparando um desjejum que eu não iria consumir.
— Bom dia! — cumprimentei-a assim que apareci na sala, e ela
sorriu.
— Bom dia! Estou preparando algumas...
— Estou sem fome, Erika, obrigado. — Interrompi-a, e ela assentiu
rapidamente, desligando o fogão e tirando a frigideira de cima dele.
— Ontem era o dia de eu ir até o mercado, mas, depois do telefonema
de Rory, fiquei sem saber o que fazer. — Ela estava desconfortável. — Como
parece que ela não irá mais voltar...
— Pode ir ao mercado hoje, preciso mesmo de um tempo sozinho
aqui.
Vi quando ela respirou fundo, abriu a boca para falar algo, mas não
continuou. Desapareceu na área da cozinha que não era avistada da sala e,
quando retornou, estava com uma bolsa no ombro.
— Caso precise de algo, estarei com o telefone — ofereceu, e lhe
agradeci, vendo-a sair do apartamento e deixando-me completamente a sós.
Entendi sua preocupação, afinal, sem Aurora, não havia mais motivos
para eu manter não só o apartamento, como também o emprego dela. Se eu
fosse continuar querendo contratar uma barriga de aluguel, poderia até deixar
tudo como estava, mas já não era esse meu desejo.
Sentei-me no sofá com as mãos sobre o rosto, sentindo-me cansado,
confuso e, sobretudo, culpado.
Nunca quis magoar alguém, muito menos Aurora, precisava apenas de
um tempo para esclarecer a cabeça, ordenar pensamentos e sentimentos, só
que talvez tenha demorado demais para fazer isso.
Decidi, então, ligar para Robert a fim de esclarecer o que ele havia
comunicado à agência de maternidade de substituição, porém, antes que eu
pudesse fazer a chamada, o interfone tocou.
Meu coração acelerou, pois sabia não se tratar de Erika. Era Aimée, a
amiga de Aurora, e autorizei que o porteiro a deixasse subir.
Esperei na porta e a vi assim que o elevador chegou ao andar.
Certamente, ela não esperava minha presença, pois arregalou os olhos e
titubeou antes de sair.
— Precisamos conversar — disparei sem rodeios.
Ela respirou fundo e não entrou no apartamento.
— O que faz aqui? — Olhou para dentro da sala. — Chame Erika, por
favor.
Senti sua postura tensa e percebi que Aurora havia contado a ela sobre
nós e sobre o que acontecera.
— Onde está Aurora?
Aimée franziu a testa e riu.
— Se você não sabe, não sou eu quem vai lhe dizer! — Perdeu a
paciência e entrou, empurrando-me no processo. — Erika? — chamou,
procurando a governanta. — É Aimée. Vim buscar as coisas de Rory.
— Ela não está — informei, fechando a porta. — Aurora não me
atende nem recebe minhas mensagens. Eu sei que você sabe onde ela está e
preciso conversar...
— Cara, deixe minha amiga em paz, ok? Ela não está em um bom
momento, e você também não ajudou, terminando com ela como um grande
babaca faria.
— O que está acontecendo com Aurora? — Não me importei nem um
pouco com a ofensa, pois só prestei atenção ao que ela disse sobre o
momento da amiga. — Por que ela saiu da cidade tão de repente?
Aimée bufou.
— Mais uma vez repito: não vou dizer nada! — Sua voz soou mais
irritada. — Você não teve a mínima consideração com a minha amiga, tratou-
a feito um objeto do qual se cansou e jogou fora sem se preocupar com os
sentimentos dela! — Riu. — Quem perdeu foi você, porque duvido encontrar
uma pessoa tão incrível quanto a Rory! Ela gostava de você, não do seu
dinheiro e posição! Prova disso foi que nunca tentou se aproveitar do seu
status, nem quando precisava tanto!
— Eu não queria que ela tivesse sabido do término do contrato
daquela forma! Nunca foi minha intenção fazer com que se sentisse
descartada! Eu estava confuso, tentando resolver as coisas, e meu advogado
atropelou tudo. — Aimée estava paralisada, olhando-me como se tivesse
visto um fantasma. — Eu juro que queria conversar com Aurora antes,
explicar porque era melhor que...
— Espera! — ela gritou e se sentou tremendo. — De que contrato
você está falando?
O jeito assustado com que ela me olhava me fez sentir um frio na
barriga. Eu imaginava que Aimée sabia de tudo, afinal, Aurora morava com
ela antes de se mudar para o apartamento que aluguei, e as duas estavam
sempre juntas.
— Aurora não disse a você por que morava aqui? — questionei
devagar, sem saber se estava cometendo uma indiscrição que pudesse
prejudicar a amizade das duas.
— É claro que disse, eu sabia do contrato desde o começo, mas não
imaginei que você soubesse. — Apontou para mim. — Muito menos que era
o homem que a havia contratado. — Seu rosto se transformou em uma
máscara raivosa. — Seu grande filho da puta! — Colocou-se de pé. — Você
exigiu que ela dormisse contigo para continuar o contrato? Foi por isso que
não o cancelou quando ela sofreu o aborto?
Merda!
— É claro que não! — Ela não pareceu acreditar. — O que aconteceu
entre mim e Aurora não teve nada a ver com aquele maldito contrato! Isso
sempre ficou bem claro entre nós!
Aimée cruzou os braços.
— Ficou mesmo? Você não se aproveitou do desespero dela para tirar
vantagem? Não seria surpresa e explicaria muito o jeito que a abandonou
agora.
Abandonei?!, pensei apavorado, sem saber o que estava acontecendo.
— Ficamos dois dias sem nos falar! — perdi a paciência e gritei de
volta. — Eu precisava pensar e...
— A deixou sozinha no pior momento e ainda cancelou o contrato
sem conversar com ela! — Aimée bufou. — Você é um grande canalha,
Michael Griffin!
Abri a boca para perguntar a ela o que estava acontecendo com
Aurora, mas não tive tempo, pois passou por mim como uma bala, abriu a
porta do apartamento e saiu.
Ainda tentei ir atrás dela, mas o elevador estava parado no andar, e
rapidamente Aimée entrou nele, quando as portas se fecharam.
— Caralho! — Soquei a porta externa, frustrado por não ter
conseguido nenhuma informação e me sentindo ainda pior do que estava
antes, pois, ao que parecia, alguma coisa muito importante tinha acontecido.
Eu precisava encontrar Aurora!
— Minha mãe ficou encantada com a sua. Acho que você perdeu o
posto de melhor amiga dela! — ouvi Michael dizer do quarto, enquanto eu
olhava para o teste de gravidez, temendo colocá-lo em contato com a urina
que havia coletado.
Tive que esperar até de manhã para fazê-lo, pois era recomendada a
primeira urina do dia, e quase não dormi por causa disso. Não havia voltado a
passar mal, e ninguém mais tinha tocado no assunto.
Tomamos o chá juntos, com meus pais e Aimée, e, mais tarde, Carly
se juntou a nós. Só fomos embora depois que Erika chegou com mais uma
enfermeira. Eu estava feliz por saber que ela ficaria com meus pais, porque
conhecia seu instinto protetor e o quanto era responsável com horários e
recomendações.
A enfermeira era a que ficara com Michelle Griffin após a cirurgia e
tinha uma maravilhosa recomendação feita por minha sogra. Eu estava
tranquila em deixá-los lá com meus pais, mesmo porque estávamos a poucas
quadras de distância, e eu passaria um tempo com eles todos os dias.
— Amor, você ainda vai demorar aí? Preciso tomar banho para ir
trabalhar, não posso chegar à empresa cheirando a sexo matutino quente,
causarei inveja em todos os meus analistas.
Não ri da piadinha como sempre fazia, tensa demais por causa do
exame. Tomei coragem, enfiei a ponta da caneta no líquido amarelado e a
tirei, olhando no relógio o tempo que a instrução mandava esperar para que
o...
Meu Deus!
Comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo e não consegui abafar meus
ruídos. Obviamente, não demorou muito para que Michael abrisse a porta do
banheiro e me encontrasse naquele estado.
— O que houve? — Olhou-me dos pés à cabeça procurando algum
machucado. — Aurora?
Estendi a caneta em sua direção, e ele franziu a testa. Provavelmente
nunca tinha visto um teste de gravidez de perto antes.
— Shelly sabia!
— O que minha mãe... — Ele fitou o visor da caneta e me olhou
boquiaberto. — Como?
Gargalhei.
— Matou a aula de educação sexual?
Ele voltou a ler a caneta, seus olhos brilhando de lágrimas.
— Eu achei que íamos nos casar primeiro...
Ri, percebendo seu choque.
— Bom, então acho que deveríamos ter conversado sobre métodos
contraceptivos. — Abracei-o. — Não está feliz?
— É mesmo verdade? — Assenti. — Oh, meu Deus! — Sorriu. —
Oh, meu Deus! Nós vamos ter um filho!
— Vamos! Seu desejo se realizou!
Ele negou.
— Você é o meu desejo! — Beijou-me. — Nosso filho será nosso
presente!
Tudo na vida depende de como você escolhe viver, mas ainda assim
não há via de sucesso.
E, afinal, o que é o sucesso? Depende do objetivo de cada um! Uma
pessoa pode nunca atingir a marca de 1 milhão de dólares durante toda a sua
vida, nem vir a conseguir um emprego espetacular ou mesmo o
reconhecimento, mas ser considerada bem-sucedida se estiver feliz com o que
conquistou.
O sucesso é isso, a satisfação, a felicidade!
Havia meses que eu finalmente me via como um homem de sucesso, e
isso nada tinha a ver com o bom desempenho da corretora ou por termos
conseguido colocar nossa moeda em foco mundial, valorizando-a
absurdamente através dos projetos que vinculamos a ela; tão-somente tinha a
ver com a felicidade que eu nem sabia que poderia existir.
Aurora entrou na minha vida através de uma decisão tomada, uma
escolha que fiz diante da possibilidade de perder a única pessoa que amava
naquele momento, mas entendi que, de qualquer maneira, nós estávamos
destinados a nos encontrar. Prova disso foi ela ter me impressionado tanto
naquela livraria e a atração incontestável que sentíamos um pelo outro,
mesmo quando não era para a sentirmos.
Incialmente, eu podia ter imaginado que ela era um meio para atingir
aquilo que tanto queria, um filho, mas então descobri que ela era o meu
objetivo. Eu desejava ser pai, mas, quando me apaixonei por Aurora, percebi
que meu desejo era estar com ela!
Fomos agraciados com uma gravidez inesperada, mas previsível
diante das nossas ações, e isso resultou em um casamento tão inesperado
quanto – pelo menos para pessoas de fora do nosso círculo de convívio.
Deve ter sido um verdadeiro susto para quem só acompanhou nosso
relacionamento quando finalmente nos acertamos e oficializamos, sem saber
que já tínhamos meses de convivência.
Os sites e páginas de fofoca nomearam nosso iminente matrimônio de
“o casamento relâmpago” e, é claro, logo atribuíram nossa união à barriga
saliente e linda de minha mulher. Como se, nos tempos atuais, alguém ainda
se casasse sob a pistola de uma arma por ter engravidado uma moça.
Talvez a mídia estivesse esperando que, da mesma forma que nos
casamos “do dia para a noite”, iríamos nos separar rapidamente, mas, se
dependesse de mim, seria o relâmpago mais longo da história da natureza!
— Vai ficar aí sentada olhando para o pôr do sol enquanto os
convidados se divertem? — minha mãe perguntou, sentando-se ao meu lado
sob o pergolado do jardim.
— Eu gostaria que ele tivesse se sentado aqui sentindo a mesma
alegria que eu sinto agora — confessei. — Vovô era tão incrível que merecia
ter sentido isso!
Percebi o toque em minha mão.
— Talvez ele sentisse pelos filhos, pela empresa. Não foi como se a
vida dele tivesse sido permeada de tristezas e dissabores.
— Eu o via aqui e me imaginava como ele ao envelhecer. Sentado em
paz, com a sensação de dever cumprido, recordando com satisfação tudo o
que havia feito em minha vida. — Olhei-a. — Agora, desejaria que ele
tivesse se sentido como estou me sentindo hoje.
Busquei Aurora com o olhar e a vi sorridente, sentada em uma mesa
ao lado dos pais e de nossos amigos, o rosto redondo, os seios cheios e,
embora eu não conseguisse ver de onde estava, a enorme barriga de quase
oito meses de gestação.
Pensei novamente em meu avô e no que ele havia sentido quando sua
amada esposa esperava seus filhos e pensei entristecido que, talvez, ele mal
tivesse acompanhado qualquer uma das vezes em que Daisy gerara uma
criança, pois estava sempre trabalhando, empenhado em conseguir se tornar
um homem poderoso.
Sabia que, por causa dele, eu podia ter mais flexibilidade no trabalho.
Ainda passava muitas horas por dia empenhado em manter a corretora no
patamar em que a colocamos, mas sabia que tinha a tranquilidade de ter um
nome já respeitado no mercado e que não precisava provar mais nada a
ninguém.
A base construída por Michael Stanley Griffin me possibilitava
concentrar-me no que ele deixou de lado no passado: minha família. E sua
história servia de exemplo de um futuro que eu não queria ter.
Todos os dias, fazia questão de demonstrar à Aurora o quanto ela era
importante e amada. Nós conversávamos muito e sobre qualquer assunto,
dividíamos angústias e problemas, comemorávamos nossos feitos.
Ela havia se formado havia pouco tempo, e, mesmo um pouco
cansada em razão de a barriga já estar pesada, comemoramos muito essa
etapa conquistada em sua vida, a realização de um sonho, o primeiro de
muitos!
De repente, Aurora me olhou, percebendo que eu estava observando-a
e sorriu, chamando-me para estar junto ao pequeno grupo de amigos. Estendi
a mão para minha mãe e a levei comigo. Assim que me aproximei de minha
esposa, beijei o topo de sua cabeça.
— Já está na hora? — perguntei ansioso.
— Esperando Aimée dar o sinal. Assim que ela... — Apontou para
frente. — Agora está na hora!
Aurora se colocou de pé e pegou minha mão. Aimée arrastou uma
enorme caixa para o centro do jardim gramado e, pelo microfone, anunciou o
que todos estavam esperando:
— Chegou a hora de sabermos se teremos uma menina ou um menino
daqui a alguns meses! Convido os papais Rory e Michael para virem
descobrir!
Meu coração disparou, e percebi que estava nervoso, apesar da
aparente serenidade no meu semblante. Aurora quis que suas amigas
mantivessem o segredo até aquele dia, o que me deixou totalmente ansioso
para saber se teríamos um filho ou uma filha, embora não tivesse predileção
alguma; só de saber que teríamos um bebê, já estava maravilhoso para mim.
Colocamo-nos no centro das atenções, ao lado da caixa misteriosa
toda forrada de papel preto, com enormes interrogações nas cores rosa e azul.
Aimée entregou para Aurora uma tesoura e a instruiu a cortar a fita que
mantinha a caixa fechada.
— Quer fazer isso comigo?
Olhei nossa pequena e amada plateia e vi nos rostos de nossas mães,
do pai dela e de nossos amigos o quanto estavam se divertindo com a
brincadeira. Senti-me contagiado com aquela alegria, como uma criança na
manhã de Natal, e aquiesci, pegando em sua mão que segurava a tesoura.
— Três, dois, um... — Aimée puxou o coro numa contagem
regressiva.
Cortamos a fita, a caixa se abriu, e dela saiu flutuando, até uma certa
altura, um enorme balão preto com interrogações preso com uma linha
transparente. Todos caíram na risada, e Aurora me olhou com as faces rubras
e os olhos brilhando de felicidade.
Não resisti e a beijei, arrancando aplausos dos espectadores.
— Ei, apressadinhos, calma aí! Vocês têm mais uma etapa! — Aimée
provocou, entregando-me um objeto pontiagudo para furar o balão.
— Está pronta? — inquiri a Aurora, e ela concordou.
Novamente começaram a fazer a contagem regressiva, e, quando
encostei na parede inflada do balão, milhares de papéis brilhantes caíram
sobre nós, mas novamente sem revelar a cor que definiria o sexo.
— Aiméee! — Aurora ralhou com a amiga, rindo muito das
pegadinhas a que estava nos submetendo.
— Vocês não viram? — Pela cara da amiga de Aurora, era óbvio que
ela sabia que a gente não tinha visto, mas a pergunta parecia fazer parte da
brincadeira. — Acho que vocês vão precisar da ajuda da tecnologia! Carly!
A amiga meio nerd entrou em ação, posicionando um refletor à nossa
frente. Segundos depois, todas as luzes que iluminavam o jardim foram
apagadas, ficando apenas as que iluminavam o chão dos caminhos entre os
canteiros.
Outro balão foi trazido, a luz do tal refletor foi acesa, e novamente
Aimée me instruiu a espetar a enorme massa flutuante, não sem antes fazer
outra contagem.
Quando o balão explodiu, liberando seu material brilhante, vi minha
esposa ser inundada com a cor azul. Não comemorei, esperando se tratar de
mais uma pegadinha e que todo aquele brilho mudasse de cor de repente, mas
então vi Aurora chorar e sorrir ao mesmo tempo e me dei conta de que, sim,
aquela era a cor!
— É um menino? É isso? — sondei olhando em volta, enquanto todos
se abraçavam, e ninguém me dava atenção.
Até que, de repente, olhei para a tela que estava passando a gravação
que Carly fazia e me vi também inundado de azul.
— Puta que pariu, é um menino!
Saí correndo em direção à minha esposa, que já havia sido arrasta
pelos convidados para abraços, e a peguei no colo, rodando-a no ar enquanto
comemorava a revelação.
— Feliz? — Aurora me questionou.
— Muito, mas não por ser um menino, mas por ter você, por estarmos
aqui, todos bem e felizes, comemorando mais uma vida, mais um Griffin que
chegará ao mundo.
— Precisamos escolher um nome agora que sabemos o que é.
Fiz careta.
— Vamos fazer outro evento para isso? — Comecei a rir. — Não sei
se minha dignidade me permite fazer papel de idiota de novo. — Pela
expressão dela, não entendeu o que eu quis dizer. — Depois você vai ver a
gravação de Carly e vai entender do que estou falando!
Para minha total consternação, esse momento não foi muito depois,
pois logo ouvimos as gargalhadas das amigas dela, que passavam o vídeo
várias vezes, voltando ao momento em que fiquei perdido e perguntando para
ninguém qual era o sexo.
— Olha, eu poderia virilizar esse vídeo na rede social! — Carly
provocou às gargalhadas.
— Nem brinca com isso! — respondi, tentando não rir. Mas, assim
que consegui ver minha cara no vídeo, não pude resistir mais!
Porra, eu estava feliz pra caralho, tinha todos os motivos do mundo
para rir, inclusive de mim mesmo!
— Amo você, mesmo quando faz cara de cachorro que caiu da
mudança! — Aurora declarou no meu ouvido.
Abracei-a e vi, ainda perto da mesa à qual estavam sentadas, nossas
mães emocionadas e abraçadas também.
Eu não poderia estar mais feliz!
J. Marquesi sempre foi apaixonada por livros e, na adolescência,
descobriu seu amor pelos romances. Escreveu sua primeira história aos 13
anos, à mão, e desde então não parou mais. Só tomou coragem de mostrar
seus escritos em 2017, tornando-se uma das autoras bestsellers da Amazon e
da Revista VEJA.
Série, Os Karamanlis
THEO, livro 1
-> Disponível em e-Book Compre aqui!
KOSTAS, livro 2
-> Disponível em e-Book Compre aqui!
ALEXIOS, livro 3
-> Disponível em e-Book Compre aqui!
MILLOS, livro 4
-> Disponível em e-Book Compre aqui!
QUÍMICA PERFEITA
Disponível em e-Book
Compre aqui!
SINOPSE
Raffaello Ferrero conquistou fama e prestígio no mundo dos vinhos, tornando-se
um dos enólogos mais disputados pelas vinícolas europeias. Obcecado por achar a
química perfeita capaz de produzir um vinho perfeito, Raffaello é informado da morte
de seu único parente vivo e precisará retornar ao Brasil, após 20 anos longe, para
decidir o que fará com a herança que nunca quis e que estava reservada ao seu amado
irmão mais velho, falecido há alguns anos.
Disposto a vender a vinícola e retornar à Europa, Raffa será surpreendido pela
notícia de que tem um sobrinho, um garoto de pouco mais de dois anos, fruto de um
relacionamento do irmão com uma ruiva de quem nunca ouviu falar, e que só
apareceu após sua morte, com o pequeno herdeiro a tiracolo.
Poderá ele confiar naquela mulher? Como impedir seu coração de se apaixonar
pelo guri tão esperto?
E a mais complexa questão: como impedir-se de sentir a química perfeita que
parece pulsar entre ele e a mãe do garoto?
Série Família Villazza
Atenção:
1) Classificação do livro: 18+;
2) Pode conter gatilhos;
3) Contém SPOILER do livro Segredo Obscuro - da Série Família Villazza.
UM CEO DE NATAL
Disponível em e-Book
Compre aqui!
SINOPSE
Bem-vindos a Penedo, lar de verão oficial do Papai Noel!
Júlia Virtanen ama o Natal e todos os significados dele! Descendente de
finlandeses, ela trabalha com orgulho e afinco na loja de doces de sua família,
no sul do estado do Rio de Janeiro.
Sonhadora, batalhadora, apesar de ter sofrido uma grande perda ainda
criança, Júlia crê na magia do Natal... bem, talvez não a ponto de acreditar
que o "bom velhinho" atenda a um pedido fajuto, feito por sua prima em seu
nome, afinal, o que ela mais precisa é salvar a sua loja tão especial, e não de
UM CEO DE NATAL.
Atenção:
Recomendado para maiores de 18 anos;
Livro único.
UM DOCE DE NAMORADO
Disponível em e-Book
Compre aqui!
SINOPSE
Digo Virtanen conquistou a vida que sempre sonhou! Solteiro, bonito e
bem-sucedido, o confeiteiro se tornou também o garoto-propaganda da
franquia da Casa Virtanen.
Com a aproximação do Dia dos Namorados, uma megacampanha
publicitária é montada, e Digo acaba parando em uma casa de acolhimento de
idosos, onde conhece uma mulher que mexe com ele como nenhuma outra.
Dulce Maria de Macedo é uma mulher tão doce quanto seu nome.
Diretora de um lar para idosos, ela sempre dedicou sua vida ao próximo.
Discreta, elegante e religiosa, a ex-noviça se surpreende quando descobre que
um casal de velhinhos do seu lar foi escolhido para estrelar um comercial de
TV e não só isso: uma propaganda ao lado do intitulado "doceiro gostosão"
Rodrigo Virtanen!
Atenção:
1) Conteúdo indicado para maiores de 18 anos;
2) Contém spoiler de Um CEO de Natal.
ENCONTRO NÃO MARCADO
Disponível em e-Book
Compre aqui!
SINOPSE
Melissa Boldani passou a vida toda apaixonada por um amigo que
nunca a viu como mulher. Então, em uma noite sozinha em Nova Iorque, Mel
se vê em um clube onde poderia ser quem quisesse e se deixar guiar pela
fantasia.
Adam Stone sempre tentou atingir as expectativas das pessoas, mas
estava cansado de ser quem não era. Até que a "misteriosa" do clube o faz
relembrar como é bom ser livre de todas as amarras que ele mesmo se impôs.
Uma noite sem nomes e usando máscaras é capaz de mexer com a vida
de duas pessoas em um encontro não marcado que estava destinado a
acontecer.
Atenção:
1) Há spoiler da Série Família Villazza;
2) Conteúdo indicado para maiores de 18 anos;
3) Pode conter gatilhos.
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indicando-o para futuros leitores. Obrigada.
[1] Nota da autora: Los Angeles Dodgers é um time de beisebol.
[2] Nota da autora: Chicago Cubs é um time de beisebol.
[3] Nota da autora: Lincoln Park é um dos bairros mais ricos de Chicago, próximo de
parques, museus e de uma vasta gama de entretenimentos.
[4] Nota da autora: Gold Coast é o distrito histórico de Chicago, construído após o
Grande Incêndio de 1871, habitado por milionários. Hoje o bairro é uma mistura de
mansões, casas geminadas e arranha-céus.
[5] Nota da autora: um dos apelidos de Chicago.
[6] Nota da autora: gentílico usado para quem nasce em Chicago.
[7] Nota da autora: Flybridge é uma área aberta, acima do cockpit, usada para pilotar a
embarcação e utilizada, também, como área de lazer.