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Copyright

© 2024 Ly Albuquerque
Revisão: Camila Brinck
Capa: Vic Capas
Ilustração: Carlos Miguel artes
Ly Albuquerque
CONTRATO SEM VOLTA
1ª Ed.
Rio de Janeiro, 2024
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico,
inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor.
A violação de direitos autorais é crime previsto na lei nº. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Esta é uma obra de ficção.
Todos os direitos desta edição reservados à autora.
Avisos
Por favor, esteja ciente de que este livro contém cenas sexuais gráficas e pode abordar
temas sensíveis, mas sempre de forma leve.
Recomendo a leitura apenas para aqueles com idade apropriada e que se sintam
confortáveis com esses temas.
Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares, negócios, eventos ou
incidentes são produtos da imaginação da autora ou usados de forma fictícia.
Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas ou eventos é mera coincidência.
Sinopse

Um casamento por conveniência, com data certa para o divórcio, pode se transformar
em um contrato sem volta?
Em um mundo onde as diferenças sociais são evidentes, Lia é uma garota simples e
determinada que trabalha como faxineira. Órfã, a garota começa a trabalhar em tempo integral
em uma mansão cuidando da idosa Beatriz Harrison.
Do outro lado dessa divisão social está Oliver Harrison, neto mais velho de Beatriz que
possui uma vida cheia de privilégios, mas também cercada por solidão e superficialidade, o que o
tornou desconfiado, ranzinza e totalmente obcecado por trabalho.
Um engano faz com que, durante a limpeza da mansão da avó de Oliver, Lia o confunda
com o novo jardineiro e chama a atenção do herdeiro por sua humildade e ingenuidade.
Os dois, de mundos tão opostos, terão que se casar para cumprir uma obrigação imposta
por Beatriz. Um casamento onde o amor está riscado do acordo. Mas, o que fazer com a perigosa
linha tênue entre a realidade e a ficção que começa a se entrelaçar?
Dedicatória
Este livro é dedicado à beleza dos encontros improváveis e ao amor que transcende
barreiras sociais.
Que estas páginas te façam sonhar e crer no poder transformador de um coração puro e da
magia que acontece quando duas almas se encontram.
Com carinho, Ly.
Sumário
Copyright
Avisos
Sinopse
Dedicatória
Epígrafe
Ilustração
Prólogo
Capítulo 1: Perdendo Tudo
Capítulo 2: Uma nova jornada
Capítulo 3: O recomeço
Capítulo 4: O conselho
Capítulo 5: O engano
Capítulo 6: A simplicidade
Capítulo 7: A vantagem
Capítulo 8: O medo
Capítulo 9: O pedido
Capítulo 10: O baile
Capítulo 11: A ficção
Capítulo 12: A Mídia
Capítulo 13: As escolhas
Capítulo 14: As provocações
Capítulo 15: A tensão
Capítulo 16: A declaração
Capítulo 17: A diversão
Capítulo 18: A despedida
Capítulo 19: A pureza
Capítulo 20: A intimidade
Capítulo 21: O começo
Capítulo 22: O calor
Capítulo 23: A frieza
Capítulo 24: A indiferença
Capítulo 25: A cobiça
Capítulo 26: A exclusividade
Capítulo 27: A ligação
Capítulo 28: A tensão
Capítulo 29: A confusão
Capítulo 30: O impasse
Capítulo 31: A evolução
Capítulo 32: A mudança
Capítulo 33: A decisão
Capítulo 34: A teimosia
Capítulo 35: A dona de seu destino
Capítulo 36: A força
Capítulo 37: O confronto
Capítulo 38: A negociação
Capítulo 39: A viagem
Capítulo 40: A rotina
Capítulo 41: O amor
Capítulo 42: A felicidade
Epílogo
Redes da autora:
Epígrafe

“No entanto, o amor é como um jardim, requer cuidado diário, servidão de ambas as partes
e, acima de tudo, aceitar que cada flor tem sua própria maneira de desabrochar.

Beatriz Harrison
CONTRATO SEM VOLTA
Ilustração
Prólogo

No mundo, todos têm seu preço...


— Oliver, eu sei que vocês dois não terminaram muito bem, mas como empresário dela,
preciso perguntar se você pode pedir para colocarem o nome da Katie e o meu na lista da festa da
sua família? Toda a mídia mundial estará lá, será bom para a carreira internacional dela. —
Aperto o botão para encerrar a mensagem gravada antes mesmo de ouvir o pedido do assessor da
minha ex.
Malditos abutres! Todos precisam de algo que eu possa oferecer, seja o meu dinheiro ou o
poder que a minha família carrega há quatro gerações.
A raiva fervilha em minhas veias, alimentada pela constante busca das pessoas ao meu
redor por interesse e benefício próprio. Não importa quem seja, todos parecem estar dispostos a
se aproveitar da minha posição e influência. O dinheiro e o poder são como iscas irresistíveis
para esses oportunistas.
Essa sensação de ser apenas um meio para os fins dos outros se torna mais evidente a cada
ano que passa e a cada degrau que subo nas empresas da família. É como se não houvesse
lealdade verdadeira ou genuíno interesse em mim, como indivíduo.
Todos querem uma fatia do bolo que é a minha vida, sem se importarem com os
sentimentos e os danos causados.
Enfio o celular no bolso e volto a focar na minha corrida, que é algo que me faz bem, ainda
mais com as belas paisagens da casa centenária dos meus avós. O ar fresco e o cenário nostálgico
me fazem sentir verdadeiramente em casa e esquecer o tanto de problemas que me assolam.
A sensação de voltar às minhas raízes é reconfortante, e percebo que estava realmente
precisando desse tempo de conexão com minhas origens depois de tantos anos vivendo
intensamente a vida corporativa nos Estados Unidos.
No entanto, não posso ignorar a conversa que tive com minha avó ainda há pouco, quando
cheguei, não posso negar que, deixou-me totalmente balançado, sua proposta. E é quando decido
ligar para a minha irmã e lhe conto rapidamente o que vovó me propôs.
— Casar-me por contrato apenas para gerir os bens da protegida da minha avó e ganhar de
mão beijada o cargo que sempre almejei.
— Isso me parece algo muito frio — minha irmã soa reflexiva do outro lado da linha — no
entanto, tenho consciência de que você nunca amou de verdade nenhuma das suas ex-namoradas,
elas eram seus troféus para exibir.
— E elas usavam do meu poder e dinheiro e todos saíam felizes — complemento, na
defensiva.
— Oliver, o casamento é um sacramento, não é brincadeira, é algo sagrado, ela não será
uma de suas namoradas troféus, será sua esposa.
— O casamento pode me gerar respeito e demonstrar comprometimento, assim como
abafar na mídia os escândalos nos quais me meti, e vovó vai me passar a presidência das nossas
empresas, o que sonhei por toda a vida, não me parece uma proposta ruim, posso lidar com um
contrato de casamento, desde que a esposa não me cobre fidelidade ou qualquer sentimentalismo
— confesso, afinal nunca fui um homem romântico, pelo contrário, zelo pela praticidade.
— Meu irmão, eu sinceramente não vejo como isso pode dar certo, como já lhe disse, é
algo sagrado, tem todo um encanto envolvido, acho difícil que em algum momento vocês não se
enfeiticem, e... — Corto-a.
— Será um negócio, Briana, não confunda, não terá sentimentos ou encantos.
— Negócios e casamento podem não ser uma boa mistura.
— Pelo que minha avó disse, a garota é extremamente ingênua e inexperiente, decerto vai
me dar trabalho, mas só preciso de uma conversa para deixá-la a par do papel coadjuvante que
terá em minha vida.
Desacelero meu ritmo de corrida ao me deparar com uma cena inusitada. Uma loira de
costas para mim, está esfregando uma das janelas da mansão, ela usa um vestido preto elegante,
que se estende até seus joelhos. O tecido é leve e fluido, abraçando suas curvas de forma sutil.
— Depois te ligo, irmã — falo, já encerrando a ligação.
A mulher se agacha para mergulhar a esponja no balde com água, e sua generosa bunda,
grande e empinada, fica em minha direção junto dos quadris generosos e voluptuosos.
Sou louco por bundas, e essa me deixa instantaneamente enfeitiçado, o corpo ligado,
quente, o interesse me beliscou por inteiro.
Quando ela se levanta, meu olhar é atraído para sua cintura fina, como um elo delicado que
divide a parte de cima. Os cabelos loiros longos, com mechas mais claras nas pontas, chamam a
minha atenção, e abaixo uma bunda grande e arrebitada, o que me faz repreender o desejo das
minhas mãos em tocar cada parte, dou um vislumbre geral em seu corpo em formato de
ampulheta, repleto de curvas, e fica claro para mim nesse instante que a sensualidade não tem
uma forma pré-determinada.
Minha curiosidade aumenta, e desejo vê-la de frente, já imagino o quão linda é e como
deve possuir lindos seios...
Retiro os fones de ouvido e os coloco no bolso da minha calça jogger e pigarreio para
chamar sua atenção.
Quando vira para mim, meu olhar sobe de encontro ao rosto angelical, com bochechas
cheias e coradas, assim como dou atenção aos lábios carnudos, olhos expressivos cor de mel
realçados por sobrancelhas castanhas claras e bem definidas, os cabelos ondulados se espalham
em ondas espessas por cima dos detalhes em renda e babados que adornam a gola e a barra do
vestido, adicionando um toque sutil de feminilidade e charme.
Vagueio o olhar para a parte superior do vestido que possui mangas curtas e um decote
discreto, conferindo um toque de sofisticação ao seu traje de empregada.
Os seios que são de tamanho mediano, como colinas voluptuosas, suavemente moldados,
seu ventre macio e a barriga proeminente, onde ela usa um avental branco amarrado em sua
cintura.
Naturalmente linda, mesmo na simplicidade de sua vestimenta.
— Oi, você deve ser o novo jardineiro, Cosme, não é? — diz ela, enquanto analisa minha
roupa despojada de corrida. Antes que eu possa responder e solucionar o mal-entendido, a
belíssima mulher continua. — Sou Lia, eu cuido da matriarca desta casa. Quero que saiba,
Cosme, que sempre opto por funcionárias mulheres, mas gostei do seu currículo. No entanto,
tenha em mente que a casa é muito bem equipada em termos de segurança, e a dona Beatriz pode
parecer frágil, mas se você ousar fazer algo contra ela, eu saberei onde enterrar seu corpo nesse
belo jardim. — Ela sorri, com doçura, após me ameaçar de forma desconcertante, e estende a
mão gentilmente em seguida abrindo um sorriso. — Seja bem-vindo.
Lia, o nome que minha avó citou, essa será a minha futura esposa que ainda não sabe do
acordo que vovó me propôs.
Essa mulher é louca? A ameaça me pega de surpresa, e decido que gosto do seu ímpeto, ela
fita meus lábios por um segundo, mas em seguida os olhos cor de mel sobem para me encarar, e
não posso negar que haja uma certa atração pairando entre nós.
Respiro fundo e aperto sua mão firmemente, confirmando a identidade do novo jardineiro,
ainda não sei se ela está brincando comigo ou se realmente está enganada, no entanto, pago para
ver.
— O trabalho é bem tranquilo, e mesmo que não seja minha obrigação, cuidei do jardim
enquanto pude. Gosto de ver a dona Beatriz feliz, e ela ama este jardim, sempre comenta dos
momentos bons que teve aqui com o falecido marido — esclarece.
Sorrio, enquanto aprecio a ternura e o cuidado que Lia tem com minha avó, é genuíno,
sinto seu carinho por ela na forma de falar e no olhar caridoso.
— Você parece amar sua patroa — forço-me a dizer, curioso para conhecer mais sobre a
relação das duas.
Quero saber se a garota realmente ama a minha avó ou apenas o seu dinheiro e status
social.
— Ela me ensinou tudo que eu sei. Sou paga para ser sua companhia, mas, na verdade, ela
é a minha companhia, a mãe que nunca tive. — Seu olhar se perde por um momento, revelando
uma mistura de gratidão e saudade. — Quer dizer, sei o meu lugar como apenas uma empregada
aqui, mas faço tudo por ela, pela alegria daquela senhorinha danada que ilumina meus dias.
Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, Lia interrompe meu pensamento.
— Você mora na Baixada Fluminense, não é? Vi no seu currículo — diz ela, com
curiosidade genuína. — Eu também já morei lá, sei que são muitas conduções até chegar aqui.
Pedi a dona Beatriz que lhe pague a passagem de ônibus com boas poltronas e climatizado para
que você possa pegar o ônibus mais confortável. Isso deve ajudar, certo?
Aceno positivamente, apreciando o gesto de Lia em cuidar dos detalhes para facilitar
minha “pseudo” vida. Gosto da forma como ela me enxerga, como alguém sem posses, um igual.
Afinal, já nasci em uma família rica há gerações, nunca recebi o olhar empático que ela me
lança, e isso me intriga. Porém, decido compartilhar algo importante com ela, a minha verdadeira
identidade.
— Lia...— começo a dizer, mas sou interrompido.
— Venha, vamos tomar um café. Eu fiz um bolo de fubá que está uma loucura. — Ela para
por um momento, e parece refletir sobre algo, e então me encara enquanto caminhamos em
direção à cozinha. — Pensando bem, coma o bolo sozinho. Lembrei que estou de dieta.
Fico intrigado com sua decisão repentina de se restringir à alimentação.
— Dieta? — questiono, surpreso. Sei que muitas mulheres são inseguras com o corpo,
minha ex era modelo, vivia constantemente preocupada com a alimentação, mas essa garota tem
um corpo escultural, e levando em conta que seu emprego não exija restrições, não consigo
entender a motivação.
— Sim, vi na internet algumas dicas de uma coach. Já comi um punhado de salada e
frango esses dias, então é melhor tomar apenas um café puro, sem açúcar.
Observo Lia enquanto caminhamos lado a lado, seu andar chama a minha atenção para o
meneio dos quadris. Seu corpo repleto de curvas suaves e seios firmes é surpreendentemente
excitante. Imagino como aquelas curvas se encaixam em minhas mãos.
O cabelo é tão macio quanto suponho?
Longo o bastante para puxá-los enquanto a fodo de quatro encarando a bunda carnuda?
E até consigo imaginar, por um segundo, a sensação das coxas grossas enlaçadas em minha
cintura.
— Você me parece uma mulher saudável, Lia. Não vejo necessidade de tanta restrição —
comento, limitando-me a manter a compostura apesar da excitação, sou um homem contido, mas
essa garota de corpo gostoso, nesse vestido de empregada, deixou meu tesão nas alturas.
— Bem, saudável eu realmente estou, mas vim com o biotipo da minha família, todos
acima do peso, e, sinceramente, não suporto mais a luta contra a balança — desabafa, enquanto
suas bochechas coram levemente. Ela vira o rosto e abre o forno, retirando o bolo recém-assado e
colocando-o sobre a mesa de mogno.
Sento-me no banco de madeira e aguardo enquanto ela busca duas xícaras no armário e
traz o bule de café.
— Coma! — ordeno, partindo uma fatia do bolo e levo até seus lábios rosados. Quero que
ela entenda que não precisa se privar de algo tão delicioso.
— Cosme, eu... — começa, visivelmente tocada, mas a corto.
— Você é uma mulher linda e saudável. Não perca sua saúde física e mental acreditando
em pessoas que vendem uma vida disfuncional — interrompo, firme em minha convicção. Ela
engole em seco, assimilando minhas palavras. — Duas colheres de açúcar, fica bom para você?
— indico o café com um gesto e ela acena positivamente.
— Obrigada. — Lia coloca sua mão sobre a minha, e sinto uma conexão instantânea. Seu
perfume doce, juntamente com o toque suave de suas mãos, me faz arrepiar e desconhecer as
reações do meu corpo. — É que a dona Beatriz quer que eu comece a acompanhá-la em alguns
eventos, e bem, na alta sociedade eu me sinto um tanto deslocada. Todos têm o mesmo padrão de
corpo e tudo mais. Só não quero envergonhá-la, sabe?
— Ela nunca sentiria vergonha de você — afirmo com convicção.
— Como você pode saber? — questiona, com uma mistura de curiosidade e insegurança.
Um leve pigarrear chama nossa atenção e, imediatamente, Lia retira sua mão da minha e se
levanta.
— Precisa de algo, dona Beatriz? — pergunta, pronta para atender às necessidades da
matriarca.
— Pelo visto, você conheceu o meu neto. — Minha avó me desmascara enquanto olha para
a funcionária com um brilho de reconhecimento nos olhos.
— Não, este é o Cosme, o novo jardineiro. — Lia esclarece, dirigindo-se à minha avó. Ela
caminha até a dona Beatriz e a ajuda a se sentar conosco.
Percebo que ela realmente acredita que sou o pobre jardineiro e me dou conta que pela
primeira vez conversei com alguém com real interesse em mim, e não no que possuo ou
represento e não quero perder essa conexão, não agora.
— Por que a senhora diz isso? Por acaso ele se parece com algum dos seus netos ingratos
que não vêm visitá-la? — a loira brinca, tentando trazer um clima descontraído à conversa.
Sim, eu sou um dos netos ingratos, percebo sentindo uma pontada de remorso ao admitir a
verdade. Mas, olho para a minha avó e nego com a cabeça, ainda não quero revelar a minha
identidade para a garota, e vovó apenas ri.
— É, devo ter feito confusão, Lia. — Ela pisca para mim. — Vou descansar um pouco,
fique à vontade.
É, pelo visto a minha breve passagem pelo Brasil, vai ser mais interessante do que pensei.
Capítulo 1: Perdendo Tudo

Passado

— Você está demitida.


A frase que nunca imaginei que pudesse ouvir saiu da boca da minha chefe, meu pai que
no passado ajudou a construir esse prédio, e agora sou descartada como se todo esforço e
consideração que empregamos aqui não tivesse qualquer valor.
Sempre sonhei com o dia em que completaria dezoito anos, acreditando que seria o início
de uma vida adulta repleta de liberdade e infinitas possibilidades.
No entanto, como filha de um simples pedreiro, a realidade que se apresentou diante de
mim foi bem diferente.
Em vez de seguir o caminho dos meus sonhos, acabei conseguindo um emprego como
faxineira em um imponente arranha-céu, no qual meu pai havia trabalhado em algumas reformas.
Hoje, aos vinte anos de idade, percebo que a tão almejada liberdade aos dezoito anos é
reservada apenas para os ricos e privilegiados. Para alguém como eu, que sempre foi considerada
mediana na escola e estudou a vida inteira na rede pública do subúrbio, o mercado de trabalho se
revelou um ambiente implacável e selvagem.
Enquanto os jovens das famílias de classe média que meu pai trabalhava frequentavam
universidades de renome, trilharam carreiras promissoras e conquistaram oportunidades de
crescimento, eu lutava para encontrar meu lugar nesse cenário competitivo.
Cada entrevista de emprego era uma nova batalha na qual minhas qualificações sempre
pareciam insuficientes perante os olhos exigentes dos recrutadores.
A vida adulta se mostrou um desafio árduo, repleto de obstáculos e limitações que eu
jamais havia imaginado. Enquanto os filhos dos chefes do meu pai desfrutavam de viagens,
festas e descobertas, eu me encontrava presa em uma rotina exaustiva de trabalho árduo e lutas
constantes para garantir meu sustento.
No entanto, apesar de todas as dificuldades, eu não me permito desistir. Sei que preciso
continuar lutando, mesmo que o caminho pareça íngreme e a estrada tortuosa.
A esperança dentro de mim nunca se apaga, alimentada pelo desejo de alcançar uma vida
melhor e provar que, mesmo vinda de origens humildes, eu sou capaz de superar as expectativas
e construir o meu próprio futuro.
Assim, enquanto enfrentava as tarefas diárias como faxineira no arranha-céu, deixava meus
sonhos de liberdade e realização ganharem força.
Cada canto limpo, cada andar percorrido com o rodo e a vassoura, era um lembrete
constante que eu estava lá de passagem, esse não será meu destino final.
Repasso a conversa com a minha ex-chefe na mente enquanto entro na pequena sala com o
coração apertado, sabendo que minha vida está prestes a mudar para sempre.
— Lia, você é jovem e tem uma vida pela frente, trabalhe enquanto os outros dormem, esse
é o segredo. — Ela disse, e ainda em choque, ouvi calada, porque pra quem acorda às 4 da
manhã para ir trabalhar, pega transporte público cheio e faz malabarismo todo mês para
conseguir pagar as contas, dormir é o único hobby que se tem, e segundo a minha ex-chefe, até
disso preciso abrir mão.
A atmosfera sombria paira no ar assim que volto minha cabeça para o momento real, e
minha madrasta, Laura, está sentada no sofá puído, com uma expressão de desdém em seu rosto.
O cheiro de mofo impregnado no ambiente, combina com a sensação de tristeza que me
consome.
— Fui demitida! — falo de uma só vez, e em seguida fito o chão.
— Lia, sente-se. Precisamos conversar. — Sua voz é fria e cortante.
Engulo em seco, sentindo um aperto no peito enquanto me sento em uma cadeira de
madeira gasta em frente a ela. A luz fraca entra pela janela envelhecida, e lança sombras nas
paredes descascadas.
— O que está acontecendo, Laura? Por que você parece tão irritada? — Minhas palavras
saem em um sussurro trêmulo. — Eu vou arrumar outro emprego, ainda sou jovem e tenho a
idade a meu favor. — Omito a parte que tenho só a idade a meu favor, já que trabalhava sem ser
registrada na carteira de trabalho, ou seja, nem experiência possuo a meu lado.
Ela suspira, e lança um olhar de desprezo em minha direção. Seu vestido desbotado e
desalinhado parece espelhar sua falta de cuidado e consideração.
— Seu pai... ele morreu, Lia. — Assim, dito em voz alta, faz doer ainda mais. — Não
podemos mais fingir que nada mudou! Seu pai está morto! — Seu grito faz uma lágrima solitária
cair em meu rosto.
— Eu sei, Laura! Com a morte dele, eu estou completamente órfã, então não está tudo
bem, mas eu estou exausta, em todos os sentidos! — rebato, porque depois de um dia de faxina
ainda peguei o metrô lotado, como sempre, eu estava de pé durante todo o trajeto e para
economizar o dinheiro da passagem andei mais de um quilômetro da estação até chegar em casa.
— Miguel morreu em um terrível acidente. — Ela repete e eu bufo, irritada. — E com a
morte dele, te dei tempo para ajustar sua vida, mas tudo só piora — diz, enquanto caminha de um
lado a outro à minha frente. — Lia, eu agora, mas do que nunca, percebo que você não tem mais
lugar nesta casa. Não há herança, nem bens deixados. A casa é alugada, e eu certamente não vou
sustentar uma desempregada sem qualquer qualificação como você.
As palavras dela me cortam como facas afiadas, rasgando meu coração em pedaços. Eu
perco o fôlego, e tento absorver a crueldade de suas palavras, afinal, não tenho qualificação
como ela diz, mas sempre fui esforçada, trabalho pesado desde a maioridade, e antes mesmo
tentava ajudar meu pai no que podia.
— Você precisa viver a realidade, você é sozinha no mundo, eu não vou mais ter piedade,
não tenho filhos, e não vou segurar a sua barra, portanto... — Aponta a porta de casa, e fecho os
olhos com brusquidão.
Minha mãe me largou com papai meses após meu nascimento, seguiu com a vida, arrumou
outro homem, teve outros filhos e nunca ligou para mim.
Meu pai se foi há um ano, e lembro como se fosse hoje o momento em que ele beijou a
minha testa e prometeu pegar um trabalho extra para me ajudar a pagar o cursinho de
enfermagem que eu queria fazer, e meia hora depois ele apareceu no noticiário, sua bicicleta foi
atropelada por uma van superlotada em uma via expressa, e agora estou perdendo tudo o que
conheço.
— Mas... eu não tenho para onde ir... — Minha voz treme enquanto as lágrimas ameaçam
escapar. — O dinheiro que recebi de indenização do acidente do papai te dei todo para que
mantivesse o aluguel — confesso, já que por ela não ser casada legalmente com o meu pai
levaria mais tempo para conseguirmos o dinheiro então me declarei como única herdeira e dei a
ela todo o dinheiro, não era muito, mas era tudo que eu tinha. — Te ajudo nas despesas com as
contas, achei que estivéssemos bem.
Laura volta a andar de um lado a outro, sua rasteirinha gasta deslizando no chão de taco,
quando para e me olha por um segundo percebo que não há compaixão em seus olhos. Os móveis
envelhecidos ao redor parecem ecoar a decadência de nosso lar.
— Não é problema meu, Lia. Você é responsabilidade do seu pai, e foi ele que falhou em
deixar algo para você.
— Laura, se você me dissesse isso, o dinheiro da minha parte eu teria recomeçado em
algum lugar sozinha, mas você me disse que podíamos continuar juntas e dividir as contas —
falo, indignada, caindo em mim o erro que cometi ao confiar nela.
— Mas agora você está desempregada, sabe-se lá por quanto tempo, não quero mais seguir
com isso, saia da minha casa.
— Quando ele era vivo, você dizia que eu era a filha que você não teve, me conhece desde
os meus dez anos de idade, Laura. Não sou uma estranha na sua vida, somos... — corrijo com
rapidez — éramos uma família. — Diante da sua falta de atitude, me dou conta que é real, então
só me resta saber o prazo. — Você sabe que não é fácil achar uma quitinete vaga, preciso de pelo
menos um mês para alugar um quarto que seja.
— Eu tenho um namorado, Lia. — A declaração pega-me desprevenida. — E quero ter
liberdade na minha casa, você se tornou um estorvo, não posso esperar um mês.
Meus ombros caem, derrotados. Eu nunca imaginei que passaria por isso. O mundo parece
desmoronar ao meu redor, meu pai, apesar das dificuldades, sempre tentou me mostrar o lado
bonito da vida, mas agora tudo é simplesmente feio.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto, reúno coragem para me levantar.
— Tudo bem... eu vou embora. Não quero ser um fardo para você. — Minha voz está
trêmula, mas firme, não vou implorar.
Sem olhar para trás, pego uma pequena mochila e começo a juntar minhas poucas coisas.
Cada item colocado dentro da mochila é como um lembrete doloroso de tudo o que estou
perdendo.
Laura permanece sentada no sofá, observando-me com desprezo, como se estivesse
satisfeita com minha desgraça. Eu me recuso a deixá-la me derrubar ainda mais. Tenho que
encontrar forças para seguir em frente, mesmo que pareça impossível agora.
Com a mochila nas costas, olho ao redor da casa simples que costumava chamar de lar. As
paredes descascadas revelam as camadas de pintura antiga, testemunhas silenciosas dos dias
melhores que vivemos quando papai mantinha tudo bem pintado, mesmo sendo alugado, papai
gostava de ter tudo lindo para a nossa família, alugávamos casas antigas e sem cuidados e papai
realizava incríveis reparos, ele era o sonho de todo locador.
Olho para os móveis e eletrodomésticos e lembro da alegria do meu pai quando comprou
cada um deles, sempre no aperto, às vezes fazia empréstimos para conseguir comprar, por muitas
vezes trabalhava em troca do patrão lhe dar algum móvel já usado, cada item aqui tem o suor
dele, e eu acompanhei cada sacrifício.
Passo pela cozinha apertada, onde papai sempre me pedia que cozinhasse e mantivesse a
casa limpa, para que minha madrasta usasse o tempo livre para estudar e descansar e passar em
um concurso público, ele dizia que estávamos dando vida boa a ela para que em breve ela nos
desse de volta.
— Ela agora é concursada, pai — disse baixinho como se ele pudesse me ouvir. — Nós
conseguimos, graças aos nossos esforços, hoje ela está garantida na vida — falei com amargura.
Caminhei até o quarto modesto, dando um último olhar, após a morte do meu pai perdi a
vaidade, afinal, não pude comprar nada para mim, pois todo dinheiro eu dava à Laura, para que
não faltasse nada em casa.
No entanto, hoje eu caminho para fora apenas com uma mochila nas costas.
Dou um último olhar para a casa, e percebo que não posso mais me apegar a ela. É apenas
um espaço vazio agora, sem a presença acolhedora de meu pai. É hora de seguir em frente, de
enfrentar a incerteza do mundo exterior.
Com passos trêmulos, saio pela porta da frente, deixando para trás tudo o que conheci até
agora.
O futuro é incerto, mas sei que tenho que lutar para reconstruir minha vida e encontrar meu
próprio caminho.
Não importa o quanto eu tenha perdido, não posso permitir que isso me defina. Eu vou
superar os obstáculos que estão por vir, vou lutar por uma vida melhor.
Toda vez que perguntei ao meu pai como ele sobreviveu vindo tão jovem do interior de
Alagoas para o Rio de Janeiro, ele me dizia: filha, apesar de tudo, você sempre vai ter a si mesma
e a sua coragem.
É, pai, só me restou isso agora.
A rua sem asfalto estende-se à minha frente, abrigando vários barracos de madeira e lona.
O lugar, um antigo assentamento que já foi interditado pelos órgãos competentes, é um
testemunho vivo da falta de moradia decente que assola tantas pessoas. As paredes dos barracos
estão repletas de remendos improvisados, e o cheiro de precariedade e falta de saneamento
básico paira no ar com o esgoto a céu aberto.
Enquanto caminho pela rua, uma mulher negra usando como touca uma sacola plástica de
mercado no cabelo acena para mim da porta de sua modesta casa. Sorrio timidamente,
aproximando-me dela.
— Tia Gleici, obrigada por me receber. — Minha voz soa hesitante, cheia de gratidão. A
irmã do meu pai, uma mulher que beira os cinquenta anos, mora nessa casa de poucos cômodos
que abriga cinco filhos, dois netos e seu marido. — Ainda mais já tão tarde da noite.
— Eu nunca te deixaria na rua, Lia — ela diz, e reparo no quanto seus olhos e sua
generosidade lembram os de meu pai.
Sou fruto da miscigenação entre um homem de pele muito castigada pelo sol nordestino e
uma mulher branca, e apesar de ter puxado inteiramente a minha mãe, fui criada em um lar negro
e me orgulho disso. Minha raiz vem de um alagoano do interior e uma carioca moradora de
favela. O loiro dos meus cabelos é fabricado.
Inclusive, é tia Gleici a responsável pelo meu cabelo liso e loiro, já que aos fins de semana
ela usa seu quintal como salão de beleza improvisado.
Ela me recebe calorosamente, abrindo a porta e convidando-me a entrar.
— Venha, filha. — Sua voz é carregada de afeto. — Não acredito que aquela víbora te pôs
para fora.
Acomodo-me dentro da casa modesta, observando as paredes desgastadas e o mobiliário
simples. É um espaço humilde, mas cheio de amor e calor humano. Sou grata por ter um refúgio
temporário nesse momento difícil.
— Ela está no direito dela, tia — defendo-a, afinal sei que a minha tia tem um
temperamento forte, a vida dura que teve a moldou assim, então tento apaziguar os ânimos
enquanto retiro a minha mochila das costas e coloco-a no chão. — Laura não tem filhos, é
concursada, não ganha muito dinheiro, mas é o suficiente para se manter bem sozinha. Ela não
precisa de mim para nada.
Tia Gleici olha para mim com compreensão, seus olhos transbordando de empatia.
— Aquela casa vai virar uma sujeira só, ela nunca foi boa cuidando da casa, era você que
mantinha aquilo tudo em ordem — implica.
— Isso é verdade, sempre gostei de manter tudo limpo, mas ainda assim ela pode fazer
tudo sozinha, não precisa de mim.
— Não precisa, mas ela foi casada com seu pai por anos, não foram dias, você era apenas
uma menina na época que eles se juntaram. Ela podia, ao menos, ter um pouco de consideração.
E outra, ela vai ter que dividir os móveis, aquela televisão nova e grande da sala que seu pai tirou
no meu cartão e pagou, ela vai ter que te dar.
Sinto um nó na garganta, lembrando-me dos anos em que Laura fez parte de nossas vidas.
Apesar das dificuldades que meu pai enfrentava, ele sempre foi um homem bom e generoso.
Esperava o mesmo dela.
— Deixa isso de lado, tia. Estou tentando arrumar um novo emprego para que eu possa
alugar uma quitinete. Quero me reerguer e ter um lugar para chamar de meu novamente. Não
posso depender da bondade dos outros para sempre.
Assisti enquanto tia Gleici concordou, compreendendo minha determinação.
— Sei que você vai conseguir, minha querida. Enquanto isso, nossa casa está de braços
abertos para você. Não se preocupe com o tempo que precisará ficar aqui. Sua família está aqui,
disposta a te apoiar.
Suas palavras me deixaram emocionada, porque mesmo tendo tão pouco, ela não me virou
as costas. Mesmo diante das adversidades, sei que não estou sozinha. Com o apoio da minha tia e
de minha família, sei que vou enfrentar os desafios que estão por vir e lutarei por uma vida
melhor.
— E ela vai ter que dar conta também do ar condicionado, o guarda-roupa, se ela está
achando que vai ficar com tudo, está muito enganada. — As palavras ríspidas da minha tia, que
continua a reclamar, não me permitiu segurar a risada.
— Tia, eu nem teria onde colocar todas essas coisas.
— Não quero saber, Lia! — Seu grito me faz estremecer e sorrir em seguida. — Só deixei
ela posar de dona de tudo enquanto estava sendo boa para você, mas agora terá que dividir as
coisas, ela não é a única herdeira, inclusive a sua parte do dinheiro do acidente ela terá que
devolver.
— Tia, a senhora não existe — comentei indo até ela e deixando um beijo longo em sua
bochecha. — Obrigada por tanto.
— Não me agradeça, venha jantar, não tem comida chique, mas não falta feijão e arroz.
Vou te arrumar um cantinho no chão para dormir com as crianças.
Sorri com doçura, me senti grata por poder dormir com pessoas que me amam mesmo eu
não tendo nada para dar em troca.
Capítulo 2: Uma nova jornada

Um mês depois...

A vida na casa da minha tia não é fácil, o lugar é ruim de transporte público, nos dias
chuvosos temos que lidar com o medo de desmoronamento e sem contar que caminhar pelas ruas
com lama e esgoto não é a mais prazerosa das tarefas.
A comida é contada e precária, e um amigo do meu tio chegou do norte do país precisando
de abrigo até arrumar emprego, então temos mais gente na casa, meus tios possuem um coração
de ouro, não negam abrigo a ninguém, mesmo sabendo que faltará para eles.
— Filha, você sabe que eu faço faxina para uma senhora na zona sul — tia Gleici diz
enquanto passa o uniforme de porteiro do marido. — Ela comentou comigo hoje que tem uma
amiga da família, que é uma senhora que já está com quase noventa anos, e que está precisando
de uma nova faxineira. Pagam muito bem, é uma família americana — fala, enquanto continua a
deslizar o ferro pelo tecido grosso e me encara. — Eu disse que ia te levar amanhã, se a
senhorinha gostar de ti, vai te contratar.
Meu coração acelera em expectativa, por conta de não ter conseguido muitas entrevistas,
na verdade, me saí até mal na maioria delas, fico muito nervosa e me atrapalho inteira.
— Será que eu consigo a vaga? — pergunto, com um brilho de esperança nos olhos. —
Não tenho ido bem em nada.
Trabalhava em uma firma de limpeza prestadora de serviços para empresas no centro do
Rio, o trabalho era pesado, e geralmente contratavam pouca mão de obra para espaços enormes e
tínhamos que dar conta do serviço.
— Certamente pagam bem! Eu sou de confiança, e você, sendo minha sobrinha, claro que
vão te querer — tia Gleici responde com convicção, transmitindo sua confiança em mim.
— Meu problema é ir bem na entrevista. — Reviro os olhos.
— Esse é um cargo de confiança, Lia. A senhorinha quer a minha palavra que estará segura
contigo e a sua palavra que pode lidar com o serviço, nada mais do que isso.
— Sem uma mega apresentação, dinâmicas e provas de raciocínio lógico para disputar uma
vaga que paga um salário mínimo e milhares de descontos?! — caçoo e ela ri.
— Nada disso, apenas confiança que eu conquistei sendo leal a família que sempre
trabalhei.
Sorri, sentindo um misto de gratidão e ansiedade por essa nova possibilidade que minha tia
apresentou diante de mim. Uma oportunidade de trabalho pagando melhor, é algo que preciso
aproveitar.
— Tia, não sei como agradecer. — Expresso minha sincera gratidão, sentindo-me
abençoada por ter alguém como ela em minha vida. — E saiba que morro de orgulho da mulher
que a senhora sempre foi — asseguro e vejo seus olhos marejarem, mas ela é uma fortaleza,
criada para esconder suas fragilidades, assim como meu pai criado e fez comigo. Engole o choro,
Lia.
Tia Gleici me dá as costas e passa as mãos secando as lágrimas, engolindo o choro.
Quando se vira para mim, vejo-a engolir em seco e me encarar.
— Agradeça sendo a menina que você é, seu pai sentia muito orgulho do seu juízo, de
como você não corre de trabalho como uns e outros. — Ela lança um olhar de reprovação sutil ao
seu marido, relembrando uma história antiga em que ele evitava o trabalho e suas
responsabilidades. Meu pai sempre reclamava disso, inclusive. — Amanhã você vai para a zona
sul comigo. Vamos atrás dessa vaga.
Assinto positivamente, com o coração repleto de esperança e determinação. Agradeço
silenciosamente por ter essa oportunidade e rezo para que seja o começo de uma nova fase em
minha vida. Prometo a mim mesma que darei o meu melhor, lutarei para me reerguer e construir
um futuro digno.

A noite é silenciosa na humilde casa da minha tia. Os sons abafados da rua chegam até nós,
como um lembrete constante da realidade em que vivemos. Enquanto me acomodo nas singelas
roupas de cama em mais uma noite dormindo no chão ao lado das crianças, observo as
expressões serenas em seus rostinhos inocentes enquanto dormem tranquilamente, lembro da
minha infância quase tão miserável quanto a deles.
E percebo como que de geração em geração a história se repete, o quanto nos enganam
dizendo que temos chance de sair da extrema pobreza, que com estudo se conquista tudo, mas
como podemos estudar se logo jovens precisamos nos submeter a subempregos que não nos dão
tempo, disposição ou dinheiro para manter os estudos?
Olho para as paredes da casa que são simples, pintadas de branco e com algumas manchas
de umidade que denunciam a falta de recursos para manutenção. Os móveis são modestos, mas
bem-cuidados, refletindo o esforço de minha tia em manter um lar acolhedor para sua numerosa
família.
Sinto um misto de gratidão e preocupação. Estou grata por ter encontrado abrigo
temporário em meio à minha situação difícil, mas também preocupada com o futuro incerto que
se desdobra diante de mim, apesar do esforço da minha tia, não existe o mínimo de conforto
nesta casa, durmo com medo de acordar soterrada e, ainda assim, é impossível morar sozinha em
algum lugar seguro.
O emprego que minha tia mencionou pode ser uma oportunidade de ouro, uma chance de
dar um novo rumo à minha vida.
Enquanto meus pensamentos vagam, recordo das palavras reconfortantes de meu pai, que
sempre se orgulhava de minha dedicação ao trabalho e minha disposição para enfrentar os
desafios. Sua voz ecoa em minha mente, incentivando-me a não desistir, a lutar por uma vida
melhor.
Rezo em silêncio, pedindo forças e sabedoria para enfrentar os obstáculos que surgirão em
meu caminho. Desejo ardentemente que essa oportunidade na zona sul seja o ponto de partida
para minha reconstrução, uma chance de encontrar estabilidade e uma vida mais digna.
Enquanto o sono finalmente começa a me envolver, abraço a esperança e a determinação
que ardem em meu peito. Prometo a mim mesma que farei o possível para agarrar essa
oportunidade com unhas e dentes, vou trabalhar arduamente para alcançar meus objetivos.
Amanhã será um dia de desafios, mas também de possibilidades.

— Filha, você sabe o que essa família Harrison faz? — tia Gleici pergunta, olhando para
mim com expectativa enquanto o ônibus sacoleja e nem mesmo precisamos nos segurar já que o
automóvel está superlotado.
— Não faço ideia, tia — respondo, curiosa para descobrir mais sobre essa família. —
Estou sem crédito no celular para pesquisar na internet sobre eles.
Tia Gleici sorri e continua: — A empresa da família deles opera em seis áreas diferentes,
dos chocolates à comida e bebida, passando pelos produtos destinados a animais de estimação,
tudo começou há mais de cem anos e agora todos vão mantendo. Um verdadeiro império!
Fico impressionada com a informação. Nunca imaginei que estaria perto de uma família
tão poderosa e influente. A curiosidade aumenta ainda mais e obrigo tia Gleici a revelar mais
algumas partes da história.
— Onde você vai trabalhar era a casa de férias da família, já que a dona Beatriz é brasileira
e se casou com o herdeiro da família Harrison, que era norte-americano, hoje ela é a matriarca da
família. O marido dela faleceu há alguns anos, e ela decidiu voltar às origens e morar aqui
sozinha largando a família nos Estados Unidos, onde cuidam dos negócios por lá. A senhorinha
fica sozinha aqui no Rio, e está precisando de companhia.
Os olhos de tia Gleici brilham com compaixão enquanto ela continua a explicar a situação
da mulher. Sinto meu coração se aquecer com a possibilidade de ajudar alguém.
— Então eles estão procurando uma nova faxineira, de preferência alguém que possa fazer
companhia para dona Beatriz, ouvi dizer que ela voltou para cá, para morrer no país que nasceu.
Pelo que me disseram, pagam muito bem. Acho que você vai ser perfeita para o trabalho, minha
sobrinha.
Uma mistura de esperança e entusiasmo toma conta de mim. Essa oportunidade parece ser
a chave para uma mudança positiva em minha vida. Olho para tia Gleici, agradecida por ela ter
pensado em mim.
— Tia, vou ficar eternamente grata se conseguir essa vaga. Será uma oportunidade
maravilhosa para mim. Eu posso fazer companhia para a senhorinha e cuidar da casa. Tenho
certeza de que farei o melhor trabalho possível.
Tia Gleici me abraça com carinho, seu sorriso transmitindo orgulho e esperança.
— Eu sei que você vai se sair muito bem, minha querida. Vou conversar com a dona
Beatriz e fazer o possível para conseguir essa vaga. Tenho certeza de que ela vai gostar de você,
assim como todos nós gostamos.
— Motorista, vai descer! — O grito de uma mulher é acompanhado por outros passageiros
socando a lataria do ônibus e só assim o motorista parece ouvir e frear parando pouco depois do
ponto.
— Venha, Lia, é o nosso ponto.
— Tia, estamos aqui no final e tem muitas pessoas na nossa frente. — Olho preocupada e
minha tia apenas se agarra a sua bolsa e passa a minha frente.
— Relaxa que a gente consegue.
— Você pode me dar licença? — peço à moça à minha frente e ela dá de ombros.
— Você vai ter que me empurrar, não tenho como abrir passagem para você, está lotado.
— A resposta me faz suspirar resignada.
Sigo o conselho da mulher e é uma verdadeira luta conseguir chegar à porta de saída, foi
necessário empurrar várias pessoas e ao descer os degraus do ônibus ficamos com as roupas
totalmente desgrenhadas, e encaramos tudo isso com o sol ainda nascendo, saímos de casa
praticamente na madrugada.
— Vamos que ainda temos um pedaço para andar, Lia.
Com a minha barriga dolorida de fome, já que tomamos apenas um café preto antes de sair
de casa, seguimos caminhando, não reclamo, apenas mantenho a minha fé de conseguir a vaga,
para que eu possa ter alguma esperança de melhora.
— Você lembra quando era menina e seu pai te deixava comigo nas suas férias? — minha
tia pergunta, tirando o meu foco da minha barriga dolorida de fome.
— Lembro, eu ia com a senhora para as suas faxinas e tentava te ajudar. — Rimos juntas.
— Você sempre foi uma boa menina, Lia.
Toda essa batalha me faz questionar sobre o quanto minha tia já trabalhou pesado na vida e
o quanto ainda o faz.
— E a senhora, quando vai descansar? — A pergunta foge dos meus lábios e ela apenas
sorri e balança a cabeça em negativa.
— A gente nasce trabalhando e morre trabalhando, Lia, pobre não tem descanso não —
comenta enquanto seguimos caminhando agora com o sol totalmente quente sobre as nossas
cabeças. — Vou dar entrada na minha aposentadoria em breve, mas não posso largar minhas
faxinas, sabe como é.
Fico reflexiva sobre a sua fala, porque é realmente assim que acontece, desde menina
acompanho ela e meu pai nos seus trabalhos braçais, e ele morreu indo pro trabalho, como disse
a minha tia, e mesmo depois de uma vida inteira trabalhando como pedreiro no sol quente, em
sua certidão de óbito tinha a triste descrição “não deixou bens”.
Minha linha de raciocínio é cortada diante da frente da mansão da família Harrison em São
Conrado que é um verdadeiro espetáculo arquitetônico. Abundância em meio aos meus
pensamentos miseráveis.
O imponente portão de ferro forjado se abre majestosamente, revelando um extenso jardim
meticulosamente cuidado.
Caminho pela calçada de pedras polidas, admirando a exuberância das flores coloridas que
enfeitam os canteiros enquanto minha tia se apresenta ao porteiro. Arbustos bem-aparados
contornam o gramado verdejante, criando uma atmosfera de serenidade e harmonia.
Assim que a nossa entrada é liberada, reparo na mansão em si, que é um verdadeiro
símbolo de opulência. Seus pilares imponentes sustentam uma fachada revestida de mármore
branco, contrastando com as janelas de vidro que refletem o sol com um brilho radiante. Os
detalhes arquitetônicos são refinados, transmitindo uma sensação de elegância e sofisticação.
Um caminho de pedras leva até a entrada principal, onde uma imensa porta de madeira
entalhada se destaca. Acima dela, um vitral exuberante permite que a luz do sol penetre,
iluminando o hall de entrada com tons dourados e coloridos.
Ao redor da mansão, grandes palmeiras se erguem majestosas, criando uma atmosfera
tropical. O som suave da água corrente em uma fonte adiciona um toque de serenidade ao
ambiente.
A residência, rodeada por um muro de pedra, garante privacidade e segurança para aqueles
que vivem ali. O cenário é um verdadeiro cartão-postal, com uma vista deslumbrante da praia à
distância.
Enquanto permaneço diante da mansão dos Harrison, sinto uma mistura de admiração e
curiosidade. É um mundo completamente diferente daquele em que fui criada, onde o luxo e a
prosperidade são visíveis em cada detalhe.
E é nesse universo de contrastes que eu sinto que a minha nova jornada vai iniciar.
Capítulo 3: O recomeço

A mansão dos Harrison é um verdadeiro palácio de luxo e sofisticação. Ao cruzar a


imponente porta de entrada, sou recebida por um hall espaçoso, com pisos de mármore polido
que refletem a luz suave do lustre de cristal que pende do teto alto. Os móveis elegantes e os
quadros de arte nas paredes adicionam um toque de requinte ao ambiente.
Olho ao redor maravilhada, absorvendo cada detalhe do lugar. Os corredores parecem se
estender infinitamente, levando a diferentes partes da mansão. Cada cômodo que vislumbro é
decorado com bom gosto e sofisticação, criando uma atmosfera de opulência e conforto.
Tia Gleici me acompanha, sorrindo enquanto observa minha expressão de espanto.
— Você gostou, minha querida? A mansão é incrível, não é? — comenta, orgulhosa por ter
conseguido essa oportunidade para mim. — Minha patroa mora em um apartamento no Leblon,
também é lindo, totalmente diferente da vida que levamos, não é?
— Sim, nunca vi tanta riqueza — confesso, ainda muito espantada.
— Te entendo, por isso amo tanto trabalhar para ricos, quando chego na casa da minha
patroa, é como estar em um outro mundo, muito diferente do meu.
— É tudo simplesmente deslumbrante, tia. Eu nunca imaginei estar em um lugar tão
luxuoso como este — respondo, ainda tentando assimilar toda a grandiosidade do ambiente.
Enquanto caminhamos pelos corredores, tia Gleici aponta para a senhorinha próxima dos
noventa anos que será minha responsabilidade. Seu nome é Beatriz Harrison, a matriarca da
família. Vejo-a na sala de estar elegantemente decorada, com vista para o jardim.
A senhorinha está sentada em uma poltrona, envolta em uma manta macia. Seus cabelos
grisalhos são adornados com uma tiara de pérolas, e seu olhar transmite uma mistura de doçura e
sabedoria acumulada ao longo dos anos.
— Dona Beatriz, essa é a Lia, a minha sobrinha que veio se candidatar para ser a nova
faxineira da casa — tia Gleici me apresenta, com um toque de orgulho em sua voz.
— Minha amiga assegurou que você é de confiança, trabalha na família dela há muitos
anos, Gleici, portanto confio na sua sobrinha. — A senhorinha me observa com um sorriso gentil
e acolhedor. Sua voz é suave, mas carrega uma autoridade incontestável. — Lia, este é um nome
bonito e diferente, gosto do som — diz com doçura.
— Me chamo Juliana, mas prefiro ser chamada de Lia — confesso, um pouco tímida e
totalmente intimidada com todo o luxo ao redor.
— Você tem disponibilidade imediata para o trabalho? — A pergunta me faz assentir com
rapidez. — Tem a opção de ir e vir todos os dias durante a semana ou, se ficar melhor para você,
temos quartos com banheiro e pode dormir aqui durante a semana, e ir embora na folga aos fins
de semana, porém se morar aqui precisa respeitar os horários certos de trabalho. Toda a comida
da casa está a sua inteira disposição para comer quando bem entender.
Olho para a minha tia e lembro-me de sua casa apertada, condenada pelos órgãos
competentes, a geladeira constantemente vazia, a comida contada, a falta de espaço para dormir,
a condução precária e lotada para chegar aqui e ao pesar na balança que aqui terei um quarto só
para mim, com banheiro, e geladeira cheia, a escolha pode ser muito fácil.
— Faz o que for melhor para você, filha — minha tia diz.
— Prefiro ficar, dona Beatriz. — Olho para a minha tia. — Se a senhora não se importar.
— Claro que não, filha, faça o que for melhor para você, morando aqui pode fazer um
cursinho à noite, é a melhor decisão, Lia.
— Está certo, então se puder, eu prefiro ficar.
— É um prazer conhecê-la, minha jovem. Seja bem-vinda. Espero que você se sinta em
casa aqui — ela diz, sua voz soando como uma melodia delicada. — Por mim, está contratada.
Agradeço com um sorriso, sentindo-me imensamente grata por essa oportunidade, e agora
mais calma, olho para ela, finalmente a reparando detalhadamente.
Seu corpo encolhido, frágil e enrugado é testemunha do tempo que passou e das
experiências que viveu. Sua pele é pálida e delicada, ressaltando as linhas que contam histórias
de uma vida longa e cheia de sabedoria.
Seus cabelos grisalhos são finos e escassos, delicadamente penteados para trás, revelando
sua testa marcada por muitas rugas. O par de olhos azuis serenos são expressivos, levemente
enevoados pela idade, transmite uma mistura de doçura e vivacidade.
Seu sorriso é gentil e reconfortante, revelando dentes envelhecidos, mas bem-cuidados.
Apesar da fragilidade física, sua postura é ereta e elegante, como se ainda carregasse consigo a
elegância e a graciosidade de seus anos de juventude.
Dona Beatriz está com roupas elegantes e clássicas, refletindo seu gosto refinado e sua
posição na sociedade. Ela adorna-se com joias discretas, como um colar de pérolas e brincos
delicados, que conferem um toque de sofisticação ao seu visual.
— O prazer é todo meu, dona Beatriz. Estou ansiosa para cuidar do seu lar e ajudar no que
for preciso — respondo, com sinceridade em minhas palavras.
Estou determinada a ser não apenas uma faxineira, mas uma companheira leal e atenciosa
para dona Beatriz Harrison.
PRESENTE

Já se passaram dois anos desde o dia em que comecei a trabalhar nesta imponente mansão,
e hoje posso afirmar com convicção que este lugar se tornou o meu verdadeiro lar.
Durante esse tempo, consegui estabilizar minha situação financeira, aluguei um modesto
apartamento onde passo meus dias de folga e, além disso, fiz uma amizade verdadeira com dona
Beatriz.
Enquanto delicadamente passo a escova nos cabelos lisos e grisalhos dela, ouço sua voz
com um toque de nostalgia:
— Na sua idade eu já tinha dois filhos.
— A senhora precisa me dar dicas de paquera — brinco. — Afinal, para ter filhos, preciso
em primeiro lugar de um pai para me ajudar a concebê-los.
— Minha filha, eu fisguei um milionário, posso te dar muitas dicas. — Com seu
característico bom-humor, ela responde, contudo, há dias em que sua expressão se entristece ao
relembrar do marido falecido há muitos anos.
— Mas a senhora era filha de milionários também, eu duvido que um homem rico queira
casar com uma filha de pedreiro — implico e roubo um sorriso dela.
Infelizmente, os filhos e netos de dona Beatriz não a visitam com frequência. Eles moram
no exterior e parecem contatá-la apenas em momentos de doença, como se estivessem à espera
do pior. Chego a sentir que, secretamente, desejam que esse momento chegue. É triste presenciar
essa falta de conexão familiar, e por isso valorizo ainda mais a nossa amizade.
Em meio a nossa conversa descontraída, menciono, de forma um tanto autodepreciativa: —
E também eu não tenho a sua beleza, vou ter que me contentar com algum trabalhador
assalariado, dona Beatriz.
— Você é mais bonita do que eu era, imagina, se eu tivesse esse corpo violão e essa bunda
grande que você tem, nem sei do que seria capaz. — Sua sacada me faz gargalhar.
— A senhora, definitivamente, precisa me ensinar a arte da sedução, tenho muito o que
aprender, pelo visto.
— Eu tenho um neto que seria perfeito para você, Oliver tem um coração bom e é bondoso
até demais, assim como você.
Fico surpresa com sua sugestão e questiono, brincando:
— A senhora me quer na sua família, não é?! — Nós rimos juntas enquanto seleciono um
lindo par de brincos de pérolas de sua coleção.
— Claro que eu quero, você me daria lindos bisnetos, ia ter a certeza que serão boas
pessoas afinal você é digna, leal, e vai herdar muitos dos meus bens. — Novamente ela volta a
esse assunto sobre seus bens.
Entretanto, sempre me sinto um pouco desconfortável quando ela menciona a questão de
herança. Apesar de sua lucidez, às vezes acredito que, ao falar sobre deixar-me suas posses, ela
esteja começando a delirar.
Prefiro lidar com essas conversas de forma leve e discreta, pois nossa amizade é valiosa
para mim, e não quero que mal-entendidos ou expectativas irreais surjam entre nós.
— Não fale de heranças, porque a senhora ainda tem muito o que viver, inclusive vamos
aproveitar o dia.
Olho para a janela admirando o sol da manhã entrar, o quarto de dona Beatriz é um
verdadeiro refúgio de elegância e sofisticação. As paredes são revestidas com um papel de
parede floral em tons suaves, criando uma atmosfera serena e acolhedora. A luz natural que
adentra pela janela ampla ilumina delicadamente o espaço, realçando a beleza dos móveis e
objetos decorativos cuidadosamente dispostos.
No centro do quarto, destaca-se uma majestosa cama de dossel, adornada com tecidos
suaves e rendas delicadas. As colunas esculpidas do dossel conferem uma aura de nobreza ao
ambiente. A roupa de cama é feita de tecidos finos, com padrões sutis e cores suaves,
transmitindo conforto e requinte.
Ao lado da cama, encontra-se a exuberante penteadeira de dona Beatriz. Um móvel de
madeira nobre, ricamente trabalhado, com espelho ovalado e detalhes entalhados à mão. A
penteadeira está repleta de frascos de perfumes, joias finas e acessórios elegantes. A superfície
de mármore branco realça a beleza e a delicadeza dos itens ali dispostos.
Um pequeno recanto próximo à janela abriga uma poltrona estofada, onde dona Beatriz
costuma sentar-se para desfrutar de momentos de leitura ou contemplação. Uma estante de
madeira, repleta de livros antigos e preciosos, adorna a parede adjacente, revelando sua paixão
pela literatura e pela busca de conhecimento.
O quarto é preenchido com toques sutis de personalidade de dona Beatriz. Fotografias
emolduradas de momentos especiais estão dispostas em mesas e prateleiras, lembranças de uma
vida repleta de experiências e afeto. Flores frescas em um vaso de porcelana decoram uma
mesinha ao lado da janela, perfumando o ambiente com sua fragrância suave.
— E o meu jardim? — A pergunta dela me faz relembrar da mais nova contratação que fiz,
e a senhorinha me sonda com os olhos.
— Hoje chega o novo jardineiro, já pedi ao porteiro que libere de imediato a entrada dele.
Contratei-o através de uma agência muito séria e renomada. Eles fazem uma verificação rigorosa
de antecedentes e pedem referências. Afinal, somos duas donzelas indefesas e precisamos tomar
cuidado com quem deixamos entrar, não é? — respondi, tentando animá-la.
— Eu não sou uma donzela há muitos anos, Lia. E você precisa deixar de ser uma também
— disse, dona Beatriz com um sorriso travesso.
— A senhora nunca perde a chance de me lembrar disso! — Rio, admirando sua
personalidade única.
Além das tarefas domésticas, comecei a fazer um curso de cuidadora de idosos. Sempre
tive afinidade com a área da saúde e, após lidar com dona Beatriz em suas internações
frequentes, percebi que era algo que eu realmente desejava seguir. À medida que me
aprofundava nos estudos, adquiria ainda mais conhecimento para cuidar dela da melhor maneira
possível.
Quando comecei aqui, ajudava as outras faxineiras e realizava tarefas diversas. Com o
tempo, fui assumindo mais responsabilidades e me tornei quase como uma governanta.
As horas de trabalho são longas, mas sou bem remunerada, então não me importo em ficar
na mansão durante a semana. Além disso, morar sozinha torna essa escolha ainda mais tranquila.
Às vezes visito tia Gleici, mas sei que, apesar do carinho que ela tem por mim, minha
presença acaba se tornando um peso financeiro para ela, já que a casa está cheia de moradores.
Aliás, minha tia agora tem mais um neto para ajudar a sustentar.
Enquanto aguardo o jardineiro chegar, reflito sobre como minha vida havia mudado desde
que entrei nesta mansão. As oportunidades e os laços que construí me permitiram crescer e me
tornar uma pessoa mais independente.
Ainda tenho muito a conquistar, mas estou determinada a seguir em frente e aproveitar
cada desafio e cada experiência que a vida me reserva.
Capítulo 4: O conselho

Apesar de ter sido criado nos Estados Unidos, sempre passávamos as férias no Brasil que é
a terra natal da minha avó materna, e ela fez questão que todos os filhos e netos soubessem de
forma fluente o português.
Ela é brasileira e conheceu meu avô que era americano em uma das suas viagens a
negócios ao Brasil, e desde que a viu, ele nunca mais morou fora, se firmou nas terras
tupiniquins e comandou seu império de longe, indo em nossa sede na Virgínia esporadicamente.
A resistência de Beatriz Harrison em deixar a mansão em São Conrado mesmo depois de
viúva não me surpreendeu. Agora, que consegui umas férias forçadas das empresas, optei em
passar um tempo com a minha avó que me ligou, exigindo a minha presença o quanto antes, o
que me preocupou.
Decidi não a avisar sobre a minha vinda, pois quero surpreendê-la e aproveitar a
oportunidade para verificar como estão cuidando dela na minha ausência.
Admiro a estrada através da janela, e minha mente divaga pelas lembranças da infância
passada com minha avó. Ela sempre foi uma figura forte e determinada, e a decisão de
permanecer sozinha na mansão, mesmo após a morte do meu avô é um reflexo disso. Estou
ansioso para revê-la e sentir novamente seu abraço apertado e acolhedor.
Tomado pela ansiedade, assim que chego pago o táxi que peguei no aeroporto, e paro de
pé, enquanto seguro as duas malas de rodas que trouxe e observo a grandiosidade da casa, suas
paredes imponentes e a elegância que transborda em cada detalhe.
É uma construção majestosa, com seu estilo clássico e jardins bem-cuidados ao redor.
Sinto um arrepio de nostalgia ao adentrar o portão de ferro.
Caminho apressado pelo corredor principal e meu coração acelera à medida que me
aproximo da porta do quarto da minha avó. Respiro fundo antes de girar a maçaneta e adentrar o
aposento.
O quarto é espaçoso e elegante, com móveis antigos de madeira escura que emanam uma
sensação de tradição e história.
No meio do quarto, vejo minha avó sentada em uma poltrona, lendo um de seus livros
favoritos. Seus cabelos grisalhos estão presos em um coque elegante, e seus olhos brilham com
sabedoria e vivacidade. Ela se vira ao me ouvir dar dois toques na porta e logo caminhar para
dentro e seus olhos se enchem de surpresa e alegria.
— Oliver! Meu querido neto, você finalmente veio! — exclama, levantando-se da poltrona
e estendendo os braços. — Falei de você hoje, minha energia chamou a sua.
Eu sorrio e me aproximo, abraçando-a com carinho. Sinto o amor e o aconchego que só ela
é capaz de proporcionar.
— Surpresa, vovó! Vim passar um tempo com você. Como tem se sentido? — pergunto,
preocupado.
Recebo seu olhar de ternura e finalmente me sinto em casa, existem pessoas que são lar,
esta é a minha avó.
— Estou bem, meu querido. Essa velha casa ainda é meu refúgio, e você traz mais luz para
ela.
No geral, sou um homem contido, mas com ela consigo derrubar todas as minhas barreiras,
meus pais me criaram da forma rígida que a educação americana e corporativa exige, mas minha
avó é a pessoa que posso me abrir sem receber julgamentos.
— Mas me conte, como está sendo lidar com tudo? — indaga, curiosa.
Logo minha mente vagueia para os últimos acontecimentos, como caiu feito uma bomba a
notícia da retirada de produtos num total de 55 países depois de ter sido encontrado, em Portugal,
um pedaço de plástico num dos nossos chocolates, tudo isso enquanto estourava o término do
meu namoro com uma famosa modelo americana.
— Meu tio exigiu que eu tirasse férias, está tudo ainda muito quente, esse incidente
acontecer no primeiro mês sob a minha gestão fez com que os sócios exigissem o regresso do
meu tio à frente de tudo. Acho que nunca mais terei uma nova chance — confesso, ainda
revoltado com a forma como tomei uma grande rasteira da vida.
— Robert é meu filho, mas nunca prestou, não duvido que ele tenha feito isso para te
boicotar, aquele lá só vai aceitar se aposentar depois de morto, e talvez ainda volte como
fantasma para puxar seu pé — brinca, e movo a cabeça em negativa, o humor ácido que só ela é
capaz.
— De qualquer forma, ele conseguiu pegar de volta a sua posição. — Dou de ombros,
porque apesar da minha indignação, não há o que eu possa fazer, realmente neste momento o
ideal é deixar tudo esfriar. — Por que a senhora exigiu minha vinda?
— Eu soube que se separou da sua namorada, a modelo.
— Sim, mas o que isso tem a ver com a sua exigência?
— Mudei meu testamento, Oliver — sussurra e encara a porta se assegurando que não
estamos sendo ouvidos. — Preciso da sua ajuda, meu neto.
— O que está aprontando?
Sei que de acordo com a legislação brasileira, minha avó pode mudar seu testamento a
qualquer momento desde que comprovada a sua lucidez, e ela se encontra em total gozo das
faculdades mentais, o que é incrível dada a idade avançada.
— Lia, é a jovem que cuida de mim, deixei muitos bens para ela.
Dou um passo para trás, olhando-a temeroso, afinal, qualquer bem que minha avó possui é
capaz de deixar uma pessoa milionária, não é nada pequeno.
— Por que a senhora fez isso? — Não consigo disfarçar a minha surpresa.
— Porque ela merece, é como uma filha para mim.
Dou passos firmes até ela e me agacho igualando nossa altura, não cabe a mim julgar seus
desejos tendo em vista que ela é a mulher mais perspicaz que conheço, no entanto, preciso alertá-
la...
— Eu tenho certeza de que a senhora está lúcida e acredito com veemência que tem o
direito de deixar seu dinheiro para quem bem entender, no entanto, saiba que a menina vai
arrumar uma grande briga com meu tio...
— Sim, eu sei, e é aí que você entra. — Os olhos azuis como os meus encaram-me
esperançosos, levanto e me sento na beira da sua cama, porque já sei que ela possui algo, que não
vai me agradar, já orquestrado. — Vou lhe pedir um favor, Oliver, e quero que pense com calma.
— O que tem em mente?
— Você precisa se casar com a Lia.
Sorrio, de seu humor, no entanto, ela se mantém completamente séria, e meu sorriso vai
morrendo lentamente, logo sou tomado pela percepção de que ela está realmente fazendo um
pedido real.
— O quê? É, acho que vou começar a questionar a sua sanidade, vovó.
— Não tenho mais muito tempo de vida, Oliver. — As palavras me pegam desprevenido.
— A Lia é sozinha no mundo, seu tio vai massacrá-la, preciso que a proteja.
— Recebo mensalmente por e-mail os laudos dos seus médicos, a senhora está muito bem
de saúde... — Minhas palavras morrem quando ela me interrompe, pegando a minha mão e a
tocando em seu peito, onde sinto seu coração bater.
— Eu sinto, meu neto — diz, encarando-me. — E isso é algo que exame nenhum da
medicina é capaz de captar. — Sorri com doçura. — Minha missão aqui na terra está acabando e
eu sei que em breve estarei junto do seu avô, eu apenas sinto. E, sinceramente, estou cansada,
Oliver, está chegando a minha hora e quero ir em paz, descansar junto do meu marido, o amor da
minha vida.
As palavras me cativam, o amor entre os dois sempre foi o maior exemplo para todos da
família, afinal, meu avô era perdidamente apaixonado por sua brasileira de sangue quente, como
ele a chamava.
No entanto, estou longe de querer uma brasileira em meu caminho, minha vida está fincada
na Virgínia.
— Eu não preciso me casar para isso, posso ajudá-la com apoio jurídico.
— Precisa, porque eu temo que outros homens se aproveitem da nova condição de vida que
a Lia vai passar a ter, a menina foi criada sem mãe, é muito ingênua, eu creio que você vai cuidar
bem dela e dos bens até que ela tenha sabedoria suficiente para se virar sozinha.
— A senhora está ultrapassando todos os limites me pedindo isso. — Levanto-me de
supetão.
— Deixei no testamento que você ficará com a minha parte da empresa, assim que se
casar.
— Vovó... — Minha voz morre, porque isso é muito grande. — Se isso acontecer...
— Você se torna o sócio majoritário, Oliver, seu cargo na presidência será incontestável,
mesmo em meio a escândalos. — Ela ri, e em seguida ergue as sobrancelhas grisalhas. — No
entanto, o casamento é uma condição, e se me permite um último pedido, quero que se case com
a Lia, para unir o útil ao agradável.
Caminho pelo quarto, totalmente confuso.
— Ela não sabe disso tudo, ainda vou contar, mas antes precisava da sua confirmação.
Ajude-me a ir embora em paz, Oliver.
Encaro-a, totalmente confuso, em nosso meio corporativo é totalmente comum casamentos
por conveniência, para unir famílias poderosas, ou até mesmo blindar e perpetuar suas heranças,
no entanto, minha avó pretende me casar com uma mulher totalmente fora do nosso meio.
Suspiro resignado, e decido adotar a melhor tática, ganhar tempo:
— Preciso ponderar e digerir tudo isso. — Levanto-me, e caminho até ela. — Me dê um
tempo para pensar a respeito, estou realmente exausto com esse tanto de problemas.
— Pense, mas lembre-se, não tenho muito tempo, Oliver.
Beijo sua testa e deixo-a só em seu quarto.
Respiro fundo enquanto adentro o quarto de visitas da mansão, uma extensão do luxo
exagerado que permeia cada centímetro deste lugar. A mobília elegante e impecável me recebe,
exalando o aroma característico de madeira nobre e riqueza acumulada ao longo dos anos.
Deixo minha mala no chão e observo a suavidade das cortinas de seda que balançam
levemente com a brisa que entra pela janela. Sinto-me tão cansado que ao observar a cama, a
vejo muito imponente e majestosa, como um belo convite a deitar e descansar de toda a jornada
cansativa que me trouxe de volta à minha terra natal.
Os móveis antigos e preciosos contam histórias silenciosas de gerações passadas, enquanto
a luz suave dos abajures espalha um brilho acolhedor pela atmosfera. A sensação de
pertencimento toma conta de mim.
Ao olhar para as paredes adornadas com quadros e fotografias de momentos vividos por
minha família, sinto uma conexão especial com a minha avó que, apesar de tudo, sempre me
acolheu de braços abertos.
Acomodo-me em uma poltrona próxima à janela, contemplando a paisagem serena do
jardim iluminado pela luz do sol quente do Rio de Janeiro.
O celular vibra em meu bolso e o pego, deslizo meus dedos pela tela do aparelho, e
descarto a notificação relacionada a trabalho, mas pego-me percorrendo as lembranças em minha
galeria de imagens. A foto específica chama minha atenção e um sentimento de rancor se espalha
pelo meu peito. Ali está ela, minha ex-namorada, uma modelo de renome, imortalizada no
retângulo de vidro.
Observar Katie mistura repulsa e fascinação em mim. Seus traços perfeitos são realçados
por uma maquiagem impecável, que intensifica seu olhar penetrante. Seus lábios, tingidos de
vermelho intenso, são uma provocação silenciosa. Seu cabelo negro é reluzente e cai em ondas
perfeitas sobre os ombros, e enquadram o rosto que um dia foi objeto do meu desejo.
Sua beleza estonteante e seu corpo escultural são armas que ela usa para manipular e
seduzir, nunca para amar verdadeiramente.
Arrasto meu dedo pela tela e encontro uma foto em que nós dois estamos juntos e me dou
conta que não há verdadeira conexão ali, apenas um jogo vazio de aparências. E pela primeira
vez, me sinto liberto do encanto superficial.
Capítulo 5: O engano

Detesto a forma displicente com a qual a nova diarista limpa as janelas, sou extremamente
perfeccionista com o trabalho, então mesmo não sendo mais a minha obrigação, acabo limpando
depois de já ter pedido que a menina refizesse pela segunda vez.
Dou um passo para trás, verifico se está bem limpo e sorrio satisfeita, exceto por uma
pequena parte que precisa de só um pouco de esfregão, então mergulho o pano no balde com a
misturinha de produtos que gosto e dou apenas mais uma esfregada, e acho que está bom, forço a
vista para ter certeza da limpeza, no entanto algo me chama atenção.
Um pigarreio másculo reverbera atrás de mim, e desperta minha curiosidade.
Rapidamente me viro, e me dou conta que apenas funcionários de longa data habitam essas
dependências tão perto da mansão.
Meus olhos captam um vislumbre de um corpo atlético, vestido de forma casual e
descontraída. E me veio à mente que só pode ser o novo jardineiro que começa hoje.
Talvez ele tenha percorrido uma longa distância a pé, dado o seu estado ofegante,
provavelmente para economizar o dinheiro da passagem como já fiz em meu outro emprego.
Só que o meu erro é reparar nos olhos azuis intensos que parecem penetrar a alma, os
cabelos castanhos que estão perfeitamente penteados e caindo em suaves ondas ao redor de seu
rosto quadrado e definido. Cada fio cuidadosamente colocado no lugar certo, adicionando um
toque de sofisticação e vaidade ao homem.
As maçãs do rosto pronunciadas ornam bem com o maxilar forte e compõem uma
combinação irresistível. Seus lábios rosados e carnudos parecem convidativos, e me obrigo a
parar de encará-los.
O porte físico do novo jardineiro é notável. Sua altura impressionante e sua postura ereta o
tornam uma figura diferente do que imaginei ao analisar seu currículo, afinal, os ombros largos e
seu físico atlético revelam o resultado de horas dedicadas na academia e uma disciplina
inabalável, o que não combina com um homem desempregado há mais de um ano, o julguei
muito erroneamente.
Noto que ele também repara em mim e que um leve sorriso brinca em seus lábios, o que
desperta uma sensação de excitação dentro de mim. A energia pulsante entre nós é quase
palpável, mas preciso me recompor, afinal estou no meu ambiente de trabalho.
Respiro fundo e decido agir profissionalmente:
— Oi, você deve ser o novo jardineiro, Cosme, não é? — digo, enquanto reparo nas roupas
simples que veio para o primeiro dia de trabalho. — Sou Lia, eu cuido da matriarca. Quero que
saiba, Cosme, que sempre opto por funcionárias mulheres, mas gostei do seu currículo. No
entanto, tenha em mente que a casa é muito bem equipada em termos de segurança, e a dona
Beatriz pode parecer frágil, mas se você ousar fazer algo contra ela, eu saberei onde enterrar seu
corpo nesse belo jardim. Seja bem-vindo.
Reparo que ele parece surpreso pelo meu ímpeto e acompanho sua respiração profunda
antes de apertar firmemente a mão que estendi. Então decido prosseguir:
— O trabalho é bem tranquilo, e mesmo que não seja minha obrigação, cuidei do jardim
enquanto pude. Gosto de ver a dona Beatriz feliz, e ela ama este jardim.
— Você parece amar sua patroa. — A voz grossa me seduz e imediatamente sou atraída
por sua boca bem desenhada, corrijo-me rapidamente, postura profissional, Lia. Preciso dar
sequência ao assunto. Minha chefe.
Dona Beatriz.
— Ela me ensinou tudo que eu sei. Sou paga para ser sua companhia, mas, na verdade, ela
é a minha companhia, a mãe que nunca tive. — A realidade me atinge, afinal minha mãe me
abandonou com papai ainda bebê, papai trabalhava demais, e como ele poderia me educar se foi
a vida que lhe ensinou tudo que ele sabia?! Nunca tive de fato alguém para me dar orientações na
vida, até essa senhorinha fofa. — Quer dizer, sei o meu lugar como apenas uma empregada aqui,
mas faço tudo por ela, pela alegria daquela senhorinha danada que ilumina meus dias.
Reparo em uma gota de suor deslizando de seu rosto bonito e meus pensamentos
acelerados, lembram-me sobre a questão da passagem, a agência pediu que eu tratasse
diretamente com o jardineiro, o homem deve ter andando muito para economizar, então elucido:
— Você mora na Baixada, não é? Vi no seu currículo. — Esse fato me chamou atenção
porque como morávamos de aluguel e papai era pedreiro, constantemente nos mudávamos para
ficar mais perto de suas obras mais longas, e uma vez moramos na baixada fluminense. — Eu
também já morei lá, sei que são muitas conduções até aqui na zona sul. Pedi a dona Beatriz que
lhe pague a passagem mais cara para que você possa pegar o ônibus mais confortável. Isso deve
ajudar, certo?
Assisto seu aceno positivo, e senti que de repente algo muda na forma como ele me encara,
talvez seja orgulho, admiração, ou então deduzo que talvez ele só seja tímido e por isso não
demonstra a empolgação em começar a trabalhar em uma vaga tão boa.
— Lia...— começa a dizer, mas o interrompo.
Afinal, após essa viagem tão longa, e tão cedo, suponho que ele esteja com fome. Lembro-
me do meu primeiro dia que cheguei aqui, saí de casa antes do sol nascer e minha barriga
roncava, me coloco em seu lugar por um instante.
— Venha, vamos tomar um café. Eu fiz um bolo de fubá que está uma loucura. — Olho
para o homem ao meu lado, e tento não me intimidar com a sua beleza, a pele muito clara, os
olhos muitos azuis, o perfume másculo e amadeirado que exala mesmo que esteja suado, e
instantaneamente fico envergonhada, afinal estou acima do meu peso ideal e sugerindo comer
bolo, então decido me justificar: — Pensando bem, coma o bolo sozinho. Lembrei que estou de
dieta.
— Dieta? — questiona, parecendo surpreso.
— Sim, vi na internet algumas dicas de uma coach. Já comi um punhado de salada e
frango hoje, então é melhor tomar apenas um café puro, sem açúcar.
Continuamos nossa caminhada até a cozinha, e suspiro, planejando como emagrecer ao
menos mais uns cinco quilos até o próximo fim de semana. Um milagre, é o que preciso.
— Você me parece uma mulher saudável, Lia. Não vejo necessidade de tanta restrição. —
Acho fofa as palavras de Cosme, mas ando cada vez mais insegura com o meu corpo.
— Bem, saudável eu realmente estou, mas vim com o biotipo da minha família, todos
acima do peso, e sinceramente, não suporto mais a luta contra a balança.
Fico envergonhada por me abrir com um completo desconhecido e vou até o forno, retiro o
bolo recém-assado e o coloco sobre a mesa de mogno, salivando de vontade de comer um pedaço
generoso com um café igualmente quentinho.
Cosme se senta e arrumo a mesa bem simples, pulo o banco sentando-me ao seu lado
decidida a tomar apenas meu café sem açúcar.
— Coma! — ordena com a sua voz grossa e autoritária e sinto um arrepio.
Ele parte uma fatia do bolo servindo-me, sem me dar brechas para recusa, mas decido
tentar:
— Cosme, eu... — Vou lhe dizer que estou me pesando todos os dias, mas ele me
interrompe.
— Você é uma mulher linda e saudável. Não perca sua saúde física e mental acreditando
em pessoas que vendem uma vida disfuncional. — Engulo em seco recebendo o elogio de um
homem tão bonito, talvez o mais lindo que já vi assim de perto, e ele me chamou de linda, Deus!
— Duas colheres de açúcar, fica bom para você? — Indica o café com um gesto e aceno
positivamente.
Linda, ele me chamou de linda!
— Obrigada. — Coloco minha mão sobre a dele, e apesar de achar que ele me elogiou por
pena, vejo seu corpo retesar com o meu toque, assim como prendo um gemido nos lábios com a
sensação boa das nossas peles se tocando. — É que a dona Beatriz quer que eu comece a
acompanhá-la em alguns eventos, e bem, na alta sociedade eu me sinto um tanto deslocada.
Todos têm o mesmo padrão de corpo e tudo mais. Só não quero envergonhá-la, sabe?
— Ela nunca sentiria vergonha de você — afirma com convicção, e isso me intriga.
— Como você pode saber?
Minha pergunta é quase uma negação, porque eu realmente quero que a minha patroa tenha
orgulho de mim, e recebo olhares preconceituosos de alguns de seus amigos quando vêm tomar
um chá com ela, e não quero que isso se estenda aos eventos onde estarei exposta para mais
pessoas.
Um leve pigarro chama nossa atenção e, imediatamente, retiro minha mão de Cosme e me
levanto, não quero que ninguém pense que estou paquerando em horário de trabalho.
— Precisa de algo, dona Beatriz? — pergunto, pronta para atender às necessidades da
matriarca.
— Pelo visto, você conheceu o meu neto.
Beatriz Harrison é uma mulher muito lúcida apesar dos noventa anos que possui, mas por
vezes ela alucina, e julgo que esse seja um dos momentos.
— Não, este é o Cosme, o novo jardineiro — falo pacientemente, e a ajudo a sentar
conosco, apesar dela já ter tomado seu café, ela não resiste ao meu bolo de fubá. — Por que a
senhora diz isso? Por acaso ele se parece com algum dos seus netos ingratos que não vêm visitá-
la? — brinco, tentando trazer um clima descontraído à conversa.
— É, devo ter feito confusão, Lia. — Ela pisca para o jardineiro que a olha com admiração
explícita e o entendo, ela é fascinante. — Vou descansar um pouco, fiquem à vontade.
— Tenho que ir cuidar dela, nos vemos por aí. — Despeço-me do homem bonito e
caminho logo atrás da senhorinha que tanto amo.
Capítulo 6: A simplicidade

No dia seguinte, logo cedo, encontrei Cosme próximo ao jardim e novamente o convidei
para um café, assim que chegamos à cozinha, comemos em um silêncio reconfortante, o aroma
do café pairando no ar.
Sinto os olhos azuis profundos dele sobre mim, atentos e cuidadosos, assegurando-se de
que estou me alimentando.
E fico impressionada com o fato de mal nos conhecermos, e já conseguirmos estabelecer
uma boa relação.
Além disso, é impossível não notar o quanto ele é atraente, seu físico esculpido e, ao que
pude perceber, sem aliança. E antes que eu pense demais sobre isso, decido mergulhar um pouco
mais na sua vida.
— No seu currículo dizia que é solteiro, mora sozinho? — pergunto, tentando entender um
pouco mais da sua vida.
— Digamos que... moro com a minha avó, no momento. — A confusão em sua voz me faz
questionar se estou sendo muito intrometida, mas decido apurar mais.
— Deve ter sido difícil conseguir sustentar tudo com o seu salário anterior, logo depois
você ficou desempregado, suponho que vivendo de serviços sem assinar a carteira de trabalho,
ainda bem que conseguiu a vaga aqui — digo, mas ele permanece impassível.
— E você, o que costuma fazer na sua folga, Lia? — Sua pergunta deixa claro que ele não
quer aprofundar a conversa sobre sua vida profissional, decido pegar sua deixa.
— Bem, eu comprei um apartamento na planta. Dona Beatriz me aconselhou a ter algo
meu, ela diz que preciso me preparar para a partida dela, mas só de pensar em ficar sozinha no
mundo de novo me dá calafrios — confesso. — Acabo morando aqui para economizar, sabe?!
— Mas e a sua família?
— Só tenho uma tia, mas ela já tem uma casa superlotada por filhos e netos e problemas
demais para que eu seja mais um.
Nossos olhares se encontram por um breve momento, e há uma conexão palpável, uma
familiaridade crescente que me faz sentir confortável ao abrir meu coração para esse estranho
que, de alguma forma, me faz sentir à vontade.
— Sabe como é, um povo empático é o pobre, nunca negamos abrigo a ninguém. —
Sorrio. — Minha tia ajuda a todos que pode, mesmo ela podendo tão pouco. — Seu olhar desvia
do meu e dou de ombros.
— Entendo. E então, o que costuma fazer na folga?
— Se eu contar, você jura que não vai rir? — falo e ele já começa a revirar os olhos, me
fazendo ficar emburrada.
— Lia. Estou curioso. O que é?
— Bem, eu tenho um hobby bastante incomum. Você promete não rir?
— Prometo, Lia. Estou pronto para qualquer revelação. — O juramento vem junto de um
sorriso de canto de boca que o deixa ainda mais irresistível.
— Eu amo ler romances. Sabe, aqueles livros com histórias cheias de paixão, encontros
improváveis e finais felizes.
— Sério?! Você é fã de romances melosos? — A surpresa em sua voz me faz encará-lo.
— Sim, eu admito. É a minha fuga da realidade, a chance de me perder em um mundo de
emoções intensas e reviravoltas românticas, sonhar com homens bonitos que nos fazem suspirar,
já que os da realidade só me fazem passar raiva — brinco.
— Não imaginei que alguém tão pé no chão como você se entregasse a esse tipo de leitura
— fala, e eu pego no ar seu tom de desdém.
— A vida é cheia de surpresas, Cosme. E eu gosto de me surpreender com as páginas de
um bom romance. Além disso, quem não gosta de uma dose de amor e emoção de vez em
quando?
— Bem, eu não posso negar que você tem um ponto.
— Que tal você ler um dos meus romances e me dar o seu veredito final? — ofereço e ele
ri. — Ou está com medo de se viciar? — Sua careta é impagável.
— Sem riscos. Eu aceito o desafio, ao final da leitura vou elencar todos os motivos que
esses romances são mentirosos.
— Já que você é um homem solteiro, bonitão... — Empurro seu ombro dando uma
piscadela, brincalhona. — Vou começar com algo mais leve... — minto, porque eu penso em lhe
emprestar um dos meus livros mais quente possível. E ele dá de ombros, deixando nítido que
nada o abala. — Espere aqui.
Um sorriso travesso toma conta do meu rosto enquanto eu decido fazer algo inusitado.
Com passos rápidos, corro até o meu quarto na parte dos empregados, onde guardo meus
preciosos tesouros literários.
Abro a porta e entro no pequeno cômodo, onde uma estante modesta abriga meus livros
favoritos. Meus dedos percorrem as lombadas, até que finalmente encontro o que estou
procurando: um romance adulto, cheio de cenas ardentes e paixão desenfreada. “Assinado,
minha: um herdeiro por contrato[i]” da autora Ly Albuquerque.
— Isso! Perfeito. — Dou uma gargalhada imaginando como será para o Cosme ler as
safadezas do casal furacão.
Pego o livro e seguro-o com cuidado, sentindo as batidas aceleradas do meu coração.
"Acho que você vai gostar disso, Cosme", penso comigo mesma.
Com o livro em mãos, volto rapidamente pelo corredor, a ansiedade pulsando dentro de
mim. Não posso evitar sentir uma pontinha de nervosismo, imaginando a reação de Cosme ao
receber o livro. Será que ele vai se surpreender? Talvez até ficar envergonhado?
Chego à cozinha e lá ele está, parado próximo à janela, com as mãos nos bolsos e perdido
em pensamentos. Aproximo-me com passos decididos e estendo o livro para ele, um sorriso
travesso brincando em meus lábios.
— Cosme, eu acho que você pode gostar desse livro. É uma leitura... interessante.
Com um aceno de cabeça, o jardineiro pega o livro, seus olhos brilhando com uma mistura
de curiosidade e confusão. Ele não faz ideia do que o espera.
— Ah, obrigado, Lia. Não esperava... um livro assim. — Seu constrangimento é evidente
ao notar a capa preta em tons em vermelho.
— É uma história cheia de romance e... momentos intensos. Acho que pode começar
apimentando a sua vida literária.
— Um herdeiro por contrato? — Ele franze o cenho lendo o subtítulo, e sorrio.
— Sim, a mocinha é pobre, muito lascada mesmo, e o mocinho um bilionário.
— Ah, é claro que ele é. — Revira os olhos e o ignoro.
— Mas ele se apaixona por ela e os dois se casam, o acordo é que não tenha sentimentos,
apenas um casamento por negócios para gerar um lindo bebê.
— Isso me parece um conto de fadas da Disney — debocha.
— Leia e depois me diga o quão infantil é... — sugiro debochando e ele me encara.
— Isso é muito improvável de acontecer na vida real, quero dizer, casamentos por acordo
acontecem o tempo todo na alta sociedade, no entanto, um bilionário se apaixonar por uma
mulher em condição social abaixo da sua, e vice e versa, é muito improvável.
— Eu sei, mas a mulher pobre ama sonhar com um bilionário apaixonado e protetor, e
tenho conhecimento de causa — caçoo, mas ele parece interessado. — A coisa do príncipe
encantado que cuidará de tudo, dane-se o mundo moderno, sonhar com alguém que lhe complete
nunca sai de moda.
— É sério?! O dinheiro tem todo esse poder? — Ergue uma sobrancelha enquanto pergunta
e ofego, amando esse debate.
— Claro! Veja bem, Cosme! Estou há meses sem dar um beijo na boca, e o último que dei,
foi no segurança aqui do condomínio, o Leandro. O emprestei cem reais no dia do nosso
encontro e preciso cobrá-lo todos os dias e ele sempre arruma uma desculpa.
— Lia, eu nem sei o que dizer...
— Pois é! Deixe-me sonhar com um homem rico que eu não tomaria calote. — Acabo
rindo. — Vê?! A vida real é um saco!
— Como ele pôde aceitar dinheiro seu? Isso é um absurdo. — Sua indignação me faz dar
de ombros.
— Ele me disse que precisava comprar um remédio pro filho e emprestei — respiro fundo
— nosso encontro foi legal até.
— Legal?! Pela sua entonação eu duvido muito.
— Foi sim. — Rebato olhando para o chão e segurando minha risada.
— Onde foi esse encontro, Lia?
— Na batata frita de Marechal Hermes, conhece? Ali na zona norte, a barraca é simples, e
a fila extensa. — Cosme revira os olhos.
— Isso não pode ser considerado um encontro, uma barraca que vende batata frita.
— Praticidade, de lá já pegamos cada um seu ônibus no terminal. — Dou de ombros. —
Ele mora perto, em Bento Ribeiro e eu não estava segura de ir na sua casa, então optamos por um
lugar público que cabia no nosso orçamento, era fim de mês — explico exasperada, vendo seu
olhar julgador. — E você acha que nosso encontro seria aonde? Em um restaurante cinco
estrelas? — Coloco as mãos nos quadris me divertindo da sua indignação. — Cosme, para um
homem pobre, você anda muito sonhador. — Ele ri. — No final da noite, beijo com gosto de
bacon e catupiry de má qualidade, puro suco de suburbano. — Ele balança a cabeça em negativa,
mas acaba rindo. — Vê, a vida real é um saco. — Concluo, deixando-me levar junto de sua
risada. — Dona Beatriz odeia o segurança desde então — confesso.
— Eu não me considero um homem romântico, mas o seu par me ganha de forma rude —
ele diz, se recompondo. — Eu a entendo, o odeio agora também.
— Ao menos ele correu e bateu na lataria do meu ônibus que já estava saindo quando
chegamos no ponto, e assim não o perdi. — Dou de ombros. — foi gentil.
— Muito gentil. — Revira os olhos.
— E você, conte-me sobre o seu último encontro, por favor, diga que foi melhor do que o
meu.
— Eu acabei de terminar um namoro de cinco anos — ele confessa, no entanto, percebo
que não parece abalado por isso.
— Oh! Sinto muito. É, você não está tão melhor do que eu na vida amorosa.
— Eu queria me casar e formar uma família, enquanto ela apenas queria focar na profissão.
— Nossa, como ela não queria casar com um homem lindo desse — digo e, em seguida,
levo as mãos à boca, percebendo que falei demais. — Quero dizer, você parece ser uma pessoa
boa.
Cosme solta uma risada discreta, mas seus olhos mostram um misto de melancolia e
ressentimento.
— Parece que ela não concorda com você.
— Beleza não é tudo, realmente, mas você parece um cara legal e só de querer se
comprometer, parece alguém responsável, então não entendo... — Fico pensativa por um
segundo e então o encaro. — Já sei, no seu currículo dizia que você estava sem registro na
carteira de trabalho por muito tempo. Talvez ela não quisesse se comprometer com alguém sem
um emprego estável — digo e ele me encara, não consigo descrever seu semblante, talvez seja
curiosidade a meu respeito, mas decido empurrar isso.
— Será que foi por isso? Você acha que dinheiro é importante em um relacionamento, Lia?
— A pergunta soa séria, sua testa está franzida e os ombros tensos, eu apenas relaxo, e decido
aliviar o clima.
— A julgar pelo fato de que emprestei o dinheiro que eu tinha para o cara com quem dei
apenas um beijo... — Rimos juntos, compartilhando uma cumplicidade instantânea. — Não sou o
orgulho de qualquer especialista em finanças, cá pra nós.
— Eu gosto da sua capacidade de rir de si mesma, isso é...
— Humilhante?! — sugiro e ele nega com a cabeça.
— Cativante.
As risadas preenchem a cozinha, rompendo qualquer resquício de tensão. Percebo que,
apesar de sermos estranhos, há uma conexão genuína entre nós, uma compreensão mútua. Talvez
seja o azar no amor.
Enquanto saboreamos o bolo de fubá caseiro, o clima ao redor se torna mais leve e
acolhedor, esqueço que ele é um completo gostoso, e foco apenas na parte em que somos duas
pessoas compartilhando uma refeição simples e risadas sinceras.
— Você sabe, Lia, nem sempre é fácil encontrar alguém que esteja disposto a se
comprometer de verdade. Parece que todos estão em busca de algo superficial, algo que possa
lhes trazer vantagens momentâneas. É raro encontrar alguém que valorize os verdadeiros
sentimentos, a conexão real.
Cosme encara-me com um olhar profundo, como se estivesse tentando decifrar minha
alma. Sinto meu coração acelerar e uma corrente elétrica percorrer meu corpo. Há uma química
palpável entre nós, algo que vai além das palavras e das brincadeiras, ele toca a minha mão e
acaricia o dorso de forma suave.
— Eu concordo. O mundo está cheio de pessoas que só buscam benefícios próprios, sem se
preocupar com o que realmente importa em um relacionamento. Mas acredito que ainda existem
aqueles que valorizam a lealdade, a sinceridade e o amor verdadeiro.
Nossos olhares se encontram, e há uma intensidade no ar que parece preencher cada espaço
ao nosso redor. O silêncio se estende por alguns segundos, mas é um silêncio carregado de
significado.
Retiro a minha mão da sua, porque ele é um homem recém-separado, não quero que
confunda as coisas, assim como não quero nutrir falsas esperanças e sair machucada.
— Tenho que ir cuidar da dona Beatriz, nos vemos por aí, Cosme. — Assim que digo o seu
nome, ele parece incomodado, engole em seco, mas em seguida, diz:
— Até mais, Lia.
Capítulo 7: A vantagem

Assim que termino minha corrida matinal, avisto o que julgo ser o verdadeiro Cosme,
deduzo ao vê-lo cuidando do jardim.
O homem apesar de regular idade comigo, como bem disse a Lia, possui a aparência de
muito mais velho, sua figura se curva diante do peso que parece ser as agruras da vida.
Reparo no seu corpo encurvado e seu resmungo deixa explícito alguns dentes faltando na
boca. Quando o encaro, revira os olhos com má vontade.
— O que foi agora? — a pergunta é feita carregada de impaciência. — Estou fazendo o
serviço como se deve, se veio me dar ordens... — Interrompo-o.
— Você viu a Lia, por acaso? — pergunto curioso, temendo que minha farsa tenha sido
descoberta.
— Não, desde que me contratou pela agência diretamente, ela nem sequer apareceu para
me cumprimentar. Essa gente pobre que trabalha pra gente rica é estranha demais — ele reclama,
desabafando sua frustração.
Agora entendo o tempo que ele passou desempregado, o homem possui um humor
intragável.
Assim que o ouço dizer que não viu Lia, meus ombros relaxam, a sensação de satisfação
por não ter perdido a relação que construímos me toma.
— Escute, se ela aparecer, fuja! — Peço. — Te darei um dinheiro extra, mas não permita
que ela veja você, certo?
— Só se me pagar antecipado. — O cara é realmente necessitado de dinheiro como Lia
supôs, e neste momento isso é bom para mim.
— Está certo.
Pego as informações bancárias e lhe transfiro um valor considerável, que faz o homem
finalmente sorrir.
Dou de ombros e sigo em direção à cozinha. Ao me aproximar, vejo Lia usando o uniforme
de funcionária, o vestido preto justo, que ressalta suas curvas de forma irresistível.
Tento conter meu olhar, mas é quase impossível resistir à tentação, ela tem um corpo lindo,
curvilíneo e que uniforme algum seria capaz de deixar menos estonteante.
— Bom dia! Estava indo te chamar para tomar café. — Sua voz ecoa no ar, acompanhada
por um sorriso cativante que ilumina seu rosto. E dou graças de encontrá-la antes que ela
descobrisse a farsa.
— Vamos lá — respondo, retribuindo seu sorriso.
Acompanho-a pelo imenso jardim, perdendo-me na paisagem verde enquanto reflito sobre
a necessidade de revelar minha verdadeira identidade.
A amizade que estamos construindo é leve e desprovida de julgamentos, e temo que tudo
mude entre nós quando ela descobrir quem eu realmente sou.
No meio de meus pensamentos, ela quebra o silêncio: — Sabe, estive pensando. Você
mora muito longe daqui, mas tenho um apartamento alugado que vou raramente, apenas em
minha folga. Se precisar, posso liberar sua entrada para que possa passar algumas noites lá,
enquanto estou aqui trabalhando.
Sua generosidade e disposição em ajudar aqueles que precisam aquecem meu coração, e
entendo a preocupação da minha avó, Lia mal me conhece e já quer me ajudar de todas as
formas, imagina o perigo quando herdar bens milionários, ela acabaria falida ou caindo em
golpes em pouco tempo por tanta ingenuidade.
Apenas pondero, isso ainda não quer dizer que vou aceitar o pedido da minha avó e me
casar com ela, posso ajudá-la com aconselhamento, sem precisar de um vínculo tão forte.
— Obrigado pela sua gentileza, Lia — digo, muito incomodado com toda a sua bondade, a
menina não tem uma veia maldosa sequer.
— Imagina, não fique com vergonha se precisar, viu? — Ela sorri, transmitindo conforto e
compreensão — precisei de abrigo e mão estendida muitas vezes na vida e sempre fui ajudada,
então me sinto na obrigação de ajudar a todos ao meu redor.
— Mas você precisa ter em mente que nem todo mundo tem o seu coração, eu poderia ser
um serial killer e você está me oferecendo acesso ao seu lar — respondo, ficando irritado
enquanto entramos na cozinha.
— A agência que te contratou averigua os antecedentes criminais, e se você for um
assassino em série, eu fui criada por um pedreiro nordestino, eu sei usar um inchada para chutar
bundas — ela diz e caminha rebolativa à minha frente, divertindo-me até que meu sorriso morre
ao encarar a bunda bonita e cheia. O corpo esquenta de vontade de passar a mão, estapear sua
pele, isso me faz pigarrear tentando encontrar meu autocontrole.
Observo-a com o olhar carregado de admiração, apreciando sua doçura e sua essência,
nunca conheci uma mulher assim, tão verdadeira e empática, ela sabe que Cosme não tem nada
para dar-lhe em troca, no entanto, está sempre tentando o ajudar, me ajudar, justo eu que nunca
precisei da ajuda nem empatia de ninguém.
Conhecê-la no momento em que mais desacredito das relações humanas, me faz ver tudo
por uma nova perspectiva, não vou negar, e mais do que nunca entendo a preocupação da minha
avó, o coração puro dela com toda certeza fará com que passe por apuros após receber sua parte
na herança.
Enquanto adentramos a cozinha, a fragrância do café fresco enche o ambiente, trazendo
uma sensação de acolhimento e familiaridade.
— Hoje fiz massa fresca de pão. Dona Beatriz adora. Não é minha obrigação cozinhar,
temos uma cozinheira, aliás, essa casa está cheia de funcionários. Mas eu gosto de fazer os pratos
favoritos da minha senhorinha mimada. — Ela ri docemente.
Cativa-me o carinho e a dedicação que ela tem pela minha avó.
— Entendo. É realmente muito gentil da sua parte.
— Hoje vou levar dona Beatriz para tomar sol no quintal no pôr do sol. Ela adora observar
os cachorros brincando.
Enquanto desfrutamos da refeição, o ambiente é preenchido por uma atmosfera de calma
muito diferente do caos que vivo na Virgínia.
Por um instante, esqueço as responsabilidades e preocupações que me acompanham
diariamente, e permito-me mergulhar na serenidade que a presença dela tem me proporcionado.
— Não vou poder ficar por muito tempo hoje, pois tenho que levar dona Beatriz para uma
consulta de rotina. Mas sinta-se à vontade, aproveite seu café com calma.
Logo que ela sai, tudo parece mudar, perder o encanto, ergo as sobrancelhas e tento
entender o que está acontecendo e por que ela mexe tanto comigo.

— Por que está mentindo sobre sua identidade para ela? — minha avó pergunta com uma
expressão de curiosidade quando entro no quarto de visitas. Seus olhos sábios parecem querer
desvendar meus pensamentos mais profundos.
Observo-a com cautela, e decido ser sincero, não preciso de dedos com a minha avó, ela é
a pessoa que mais me entende no mundo.
— No início, foi apenas um engano, mas à medida que conversávamos, percebi algo
especial em ter alguém ao meu redor que não conhece minha verdadeira posição social. Alguém
que me enxerga além do dinheiro e poder. — Minha voz carrega um misto de fascínio e cansaço.
— Compreendo sua perspectiva, Oliver, mas não concordo com sua decisão. — Sua
resposta vem acompanhada do tom calmo, no entanto, seus olhos refletem uma certa
preocupação. — Lia precisa se casar contigo, e certamente ela não vai gostar de saber que a está
enganando.
— Estou cansado de pessoas que se aproximam apenas por interesse, vovó. Quero alguém
que se importe comigo pelo que sou, não pelo que possuo. Eu vou revelar a verdade, mas por
enquanto, estou gostando dessa conexão genuína.
Minha avó suspira e se acomoda na poltrona perto da janela, seu olhar perdido na paisagem
além do vidro.
— Querido, a Lia tem um coração de ouro, realmente raro. Tenho certeza de que ela seria
uma boa companhia para você, mesmo se soubesse a verdade. Ela é alguém que enxerga além
das aparências e valoriza o que há dentro de uma pessoa. Não se subestime, Oliver. Você é muito
mais do que seu sobrenome ou sua fortuna.
Fico em silêncio por um momento, absorvendo as palavras sábias da minha avó. Ela
sempre teve o dom de me confortar e me fazer refletir sobre minhas escolhas.
— Eu entendo o que você quer dizer, vovó. Mas é difícil confiar plenamente em alguém,
especialmente quando minha posição social pode influenciar os sentimentos das pessoas ao meu
redor.
Minha avó me olha com ternura, segurando minhas mãos entre as suas.
— Oliver, confiança é algo que se constrói ao longo do tempo. Se você der uma chance à
Lia, mostrando a ela quem você realmente é, você poderá descobrir o quão genuína é sua
conexão. Nem tudo se resume a dinheiro ou status social. O que é verdadeiro transcende essas
barreiras. Posso considerar que vai aceitar a proposta que lhe fiz?
— Você está certa, vovó. Vou considerar suas palavras com seriedade. Mas, por enquanto,
acho melhor deixar as coisas como estão. Ainda é cedo para tomar decisões precipitadas.
Ela assente, compreendendo. Minha avó sempre teve uma sabedoria inigualável.
— Faça o que seu coração mandar, meu querido. Apenas lembre-se de que, no final, a
verdade sempre encontra seu caminho. E não esqueça que não tenho muito tempo para que se
decida.
Nos despedimos com um abraço caloroso, suas palavras ecoando em minha mente
enquanto volto para o quarto de visitas. Uma mistura de esperança e incerteza percorre meu ser.
Será que Lia seria capaz de aceitar o verdadeiro Oliver Harrison, sabendo que não sou “seu
igual” como sempre frisa?

Após um banho revigorante, deslizo meu suéter macio sobre o corpo e visto uma calça
confortável. Ao atender o celular no segundo toque, respiro fundo, preparando-me para o que
virá.
— Não preciso nem dizer que sua ex está criando todo um caso para ter o nome na lista de
convidados da nossa festa de fim de ano, não é? — A voz acelerada da minha irmã irrompe pelo
viva-voz do meu celular.
— Ela termina comigo e quer manter todas as regalias, é realmente inacreditável. — Cuspo
as palavras ainda sentindo o amargor do meu término.
— Oliver, ela ameaçou dar entrevistas falando sobre o relacionamento de vocês.
— Deixe que ela faça isso, o que ela dirá? O quanto ela amou a vida que eu proporcionei a
ela todos esses anos, até que quis aprofundar nosso vínculo, enquanto ela preferiu se manter na
superficialidade? — Aperto o telefone, esse assunto ainda me dá nos nervos.
Se fechar os olhos ainda consigo ouvir sua voz ecoar dizendo-me: “Não quero me casar,
Oliver.”
— E você acredita que aquela cretina vai contar a verdade, irmão?
Novamente, dinheiro e poder, Katie é capaz de qualquer coisa por ambos, por isso que a
pergunta da minha irmã me deixa em alerta, não duvido que a minha ex minta para me queimar
se isso der visibilidade e fama que ela tanto ama.
— E o que você sugere, Briana? — pergunto em um fio de voz, ciente de que não vou
ceder a sua chantagem.
— Oliver, você precisa aceitar a ideia da vovó, as manchetes de você se casando com uma
doméstica cairá como um conto de fadas na mídia, ninguém vai ter interesse em ouvir sua ex
enquanto você será um príncipe casando com uma plebeia.
As palavras de Briana me fazem lembrar do livro ridículo que Lia me emprestou, vou até a
minha cabeceira e o encaro, o homem na capa exala fumaça de um cigarro, e o entendo, porque
não possuo o hábito de fumar, mas preciso de algo forte no meu corpo neste instante.
— Incrível, Katie age como uma louca e sou eu quem precisa mudar de vida.
— Pense sobre isso, irmão.
Como se ter minha avó me colocando contra a parede já não fosse o suficiente, agora tenho
também a minha irmã.
— Eu vou pensar. — Limito-me a responder.
— E como está sendo aí no Brasil?
Caminho até a janela e observo Lia, ao lado da minha avó, no quintal. Um repuxar de
lábios genuíno surge em meus lábios, e minha respiração fica presa na garganta.
Ela está no jardim, brincando com um rottweiler, não me impressiona o fato que até o
cachorro de guarda fica dócil ao redor da garota. Cada movimento seu é como uma dança
delicada que hipnotiza meus sentidos.
— Está sendo melhor do que eu esperava — confesso, com um sorriso discreto.
Seus cabelos loiros caem em cascata sobre seus ombros, e o sol acaricia sua pele,
realçando sua pele clara levemente bronzeada.
Os lábios rosados se curvam em um sorriso aberto, e os olhos brilham com uma chama
inebriante olhando para a minha avó que gargalha sentada em sua cadeira de rodas.
Entendo porque minha avó quer deixá-la bem na vida, Lia realmente merece coisas boas.
— Não demore muito aí, irmão. Aqui as coisas estão acontecendo em um ritmo acelerado,
como sempre. — As palavras da minha irmã me despertam do transe, lembrando-me das
demandas da minha vida real.
E por um instante gostaria de ser o Cosme que inventei, começando em um trabalho novo,
sem muitas aspirações na vida e sem ter que lidar com tantas cobranças, apesar que não faço
ideia de como deve ser angustiante lidar com a falta de dinheiro.
— Não vou demorar, mas mantenha Katie quieta enquanto eu resolvo tudo — digo com
firmeza, enquanto minha irmã caçula, que é a relações públicas da nossa família, bufa
inconformada.
— Tudo bem. Se quer um conselho, arrume logo um anel de noivado, organize uma data e
formalize logo, essa é uma chance de ouro, Oliver, e sem contar, que você não é capaz de negar
algo a vovó, ninguém é.
— Estou levando o meu tempo — resmungo.
— Ela é uma empregada, você um herdeiro de uma família rica há gerações, ela vai ficar
totalmente lisonjeada com seu pedido de casamento, é como ganhar na loteria, não há como
negar, faça logo um movimento.
— Você não a conhece. Lia não é o tipo de pessoa que coloca dinheiro e benefício próprio
em primeiro lugar — defendo-a, levando em conta todas as nossas conversas.
— Faça um baile, uma festa com a alta sociedade carioca aí no salão da mansão da vovó.
Assim, une o útil ao agradável, movimenta o nome da família e aproveita para mostrar sua
pretendida para todos.
— Vou pensar a respeito, Briana.
— Certo, até mais, Oliver.
Ao encerrar a ligação, meus olhos permanecem fixos em Lia, que se move graciosamente
pelo jardim. Observo as curvas suaves do seu corpo, a cintura delicadamente marcada e os
quadris generosos que balançam de forma sedutora, penso que não seria nem um pouco
inconveniente tê-la em minha cama.
Cada gesto, cada movimento é uma sinfonia de sensualidade, ela é tão diferente de todas as
mulheres que tive em minha cama, e ainda assim, estou curioso sobre o que poderíamos ser.
A alegria contagiante dela preenche o ar, e sua risada melodiosa ecoa em meus ouvidos
como uma música envolvente.
Enquanto observo-a pelo vidro, meu olhar se perde em cada detalhe de sua figura. É
impossível não notar a diferença marcante entre ela e minhas ex-namoradas.
Lia é diferente dos padrões estéticos das mulheres que me rodeiam, e parece que é
justamente essa diferença que a faz ter um magnetismo irresistível, porque desde a adolescência
nunca estive tão curioso em desvendar o corpo de uma mulher.
Sua cintura fina me faz arder de vontade de pôr as minhas mãos, que anseiam por
contornar suas curvas e explorar cada centímetro de sua pele macia e sedutora.
Pergunto-me quão pequena e delicada deve ser a boceta guardada pelas coxas grossas e
quadris fartos, e totalmente inapropriado, meu pau começa a engrossar.
No momento em que a observo ela se agacha para acariciar um cachorro e a visão de sua
bunda grande e empinada desperta uma fome incontrolável em mim, uma vontade de apertá-la
com firmeza e sentir seu calor em minhas mãos.
A tentação de me perder nos prazeres carnais que seu corpo promete é quase insuportável,
mas uma voz interior me lembra da importância de respeitar seu espaço, de não objetificá-la e de
enxergá-la além de seu corpo voluptuoso.
Lia é mais do que suas curvas sedutoras. Ela possui uma personalidade única, um coração
generoso e uma mente perspicaz. É essa combinação única de atributos que me fascina e me
atrai.
Pela primeira vez na vida percebo que estou envolvido na dança sedutora entre o desejo e a
admiração, nunca desejei uma mulher que realmente admirasse, e isso me deixa totalmente
confuso sobre o que fazer a respeito.
Por ora, me afasto da janela e tento focar na ideia de Briana e como Lia vai lidar com todas
as descobertas a meu respeito.

Aproveito minha vinda ao Brasil para resolver algumas questões burocráticas da minha
vida. Após passar a manhã toda no escritório de contabilidade, decidi dar folga por toda a
semana ao verdadeiro Cosme, ao menos até que eu esteja pronto para contar a verdade à Lia.
Quando chego ao condomínio da minha avó, me deparo com dois seguranças
uniformizados na guarita, possuo apenas o crachá de visitante, o que torna o processo todo mais
burocrático para permitir meu acesso ao condomínio, mesmo que eu esteja usando um dos carros
da propriedade.
— Mansão Harrison, diga que é o Cosme. — minto o nome temendo que a liberação seja
pedida diretamente a Lia.
Enquanto aguardo, subo o vidro da janela, e sou tomado pelo conforto da película nos
vidros que me dá total privacidade.
Um dos seguranças liga para a portaria da mansão de minha avó e mantenho a janela do
carro fechada, é quando os dois começam a conversar confiantes que pela distância entre nós
somado a janela fechada, não posso ouvi-los.
— Ele foi perguntar a Lia se pode liberar o acesso, avisei que é o cara novo. — O rapaz
me faz um sinal para que aguarde e reviro meus olhos, entediado pela demora.
— Lia por acaso é a loira gostosa de bunda grande que todos comentam que vai herdar
uma bolada da patroa? — seu amigo comenta e o outro concorda, tampando o microfone do
aparelho para que a voz do amigo não vaze para o outro lado da linha. — A patroa já está com o
pé na cova.
Reparo com atenção quem seu crachá exibe o nome "Leandro", e imediatamente me
lembro da conversa que tive com Lia ontem, esse é o cara que deve cem reais a ela.
Decido me manter silencioso dentro do carro fazendo-os acreditar que não estou ouvindo
nada, aproveito para repará-lo, ele parece regular idade com ela.
— Ela é caidinha por mim, na hora certa eu vou colar ali e garantir minha parte na bolada.
— Ele ri junto do amigo, mas então tira a mão do microfone do telefone da portaria, e ouve com
atenção para logo em seguida abrir o portão a minha frente. — Liberado?! Certo.
Antes que eu possa seguir com o carro, ouço mais da conversa de ambos:
— Você é esperto, cara — o amigo diz. — Ela é gostosa, será rica e boba, o combo
perfeito.
— Aprenda com o mestre. — Assisto-o se vangloriar. — Por enquanto estou com a mãe do
meu filho, mas assim que a patroa dela morrer, me separo e vou atrás da garota, ter uma gostosa
pra esquentar a cama, além do dinheiro que vai herdar.
E uma onda de indignação e raiva toma conta de mim. Estou cansado de pessoas como ele,
que acreditam que podem tirar vantagem dos outros sem qualquer consideração. E odeio a forma
como falam dela, parecendo um pedaço de carne, como uma coisa e não como a garota incrível
que ela é.
Não sou um santo, reparo em suas curvas e na bunda bonita, porém, ela emprestou dinheiro
a ele, o cara devia ao menos ser mais respeitoso em consideração ao que ela fez, não expor a vida
da menina numa conversa de portaria.
Decido agir e saio do carro, já caminhando em direção ao segurança. Estou exausto de
indivíduos que subestimam e menosprezam os outros.
Seguro-o pelo colarinho, determinado.
— Hoje é você quem vai aprender uma valiosa lição, Leandro. — Minha voz ecoa com
firmeza, deixando claro que não vou tolerar suas atitudes desrespeitosas.
E aqui, tomo a minha decisão. Lia será a minha mulher.
Capítulo 8: O medo

Amo seguir uma rotina, porém a vida é avassaladora, surpreendente e cheia de reviravoltas
inesperadas, e é num desses redemoinhos que me encontro quando peço ao porteiro para repetir o
que disse, porque é muito inacreditável.
— Lia, o segurança está dizendo que precisa falar contigo com urgência. — O tom do
porteiro da mansão é ameno através do interfone.
— Certo, deixe-o entrar. — A aflição é evidente em minha voz, afinal, desde o nosso
encontro, Leandro não me procurou mais.
Sempre sou eu que fico atrás dele cobrando meus cem reais e agora totalmente do nada, ele
quer conversar, respiro fundo, enquanto tento me acalmar, apesar de achar tudo muito estranho.
O coração bate descompassado dentro do meu peito, enquanto espero o segurança entrar na
imponente mansão.
Atravesso o grande hall de entrada, e observo os detalhes majestosos da decoração. As
paredes são revestidas de mármore branco, e os lustres de cristal pendem do teto alto, emitindo
um brilho suave e luxuoso. Os móveis elegantes e impecáveis dão um toque de sofisticação ao
ambiente.
A luz do sol invade os amplos vitrais, criando reflexos coloridos no chão polido. Sinto um
arrepio percorrer minha espinha, uma mistura de nervosismo e admiração diante da
grandiosidade deste lugar.
Enquanto espero, minha mente vagueia pelos últimos acontecimentos. Conhecer Cosme foi
uma grata surpresa, e questiono-me sobre o que ele ia achar sobre esse avanço repentino do
Leandro.
O som dos passos se aproxima, abro a porta da mansão, que revela Leandro parado no
limiar. Seus olhos escuros me fitam com seriedade, transmitindo uma aura de importância e
urgência.
Seu uniforme, geralmente impecável, está desgrenhado hoje, denotando um descuido
incomum. A aflição que carrego dentro de mim parece ecoar em seu olhar, intensificando ainda
mais a curiosidade e o receio do que está por vir.
Determinada a encarar essa conversa de frente, dou um passo em sua direção, sentindo
meus pés pesarem a cada movimento, como se carregassem toda a ansiedade que me envolve. A
tensão é palpável no ar enquanto espero que ele comece a falar, tentando decifrar os segredos
ocultos por trás daquele semblante sério.
— O que você quer? — minha voz sai em um fio, revelando minha apreensão.
Meus lábios entreabertos expressam minha surpresa diante daquela atitude inesperada.
Meu olhar se volta para as cédulas em suas mãos, percebo enfim que é o dinheiro que ele me
devia. No entanto, a visão dos hematomas arroxeados ao redor de seus olhos choca-me
profundamente, deixando-me preocupada com sua condição.
Antes que eu possa perguntar se está tudo bem e mencionar seu filho, ele me interrompe,
com o semblante enraivecido, lançando suas palavras cortantes:
— Diga ao seu noivo que a minha dívida está paga.
— Noivo? Do que está falando? — Atropelo-me nas perguntas e ele apenas franze o cenho
irritado.
— Tenho que ir trabalhar.
A resposta brusca e a sua partida súbita deixam-me descrente de que finalmente tenha
devolvido o dinheiro que me devia.
Fico paralisada por um momento, tentando processar tudo o que acaba de acontecer. As
incógnitas se acumulam em minha mente.
Ainda parada em frente à porta de entrada, sou surpreendida pelo som de móveis sendo
arrastados no andar de cima. A confusão toma conta dos meus pensamentos, já que minha patroa,
devido à sua idade avançada, dorme no quarto do térreo.
Acredito que apenas os funcionários tenham acesso ao segundo andar, mas, nesse horário,
as faxineiras já deveriam ter ido embora.
A curiosidade se apodera de mim, e decido ir até lá para verificar se algum funcionário está
passando do horário permitido, ou espantar uma possível assombração.
No entanto, antes mesmo de dar o primeiro passo na escada, sou abordada pela enfermeira
de dona Beatriz de plantão.
— Onde você vai? — ela me questiona, franzindo o cenho. Seguro-me no corrimão
firmando-me no segundo degrau da escada, e giro o pescoço para trás, encontrando-a de pé, me
encarando com uma expressão séria.
— Vou até o segundo andar. Por que a pergunta? — respondo, um tanto intrigada.
Estranho o fato dela parecer hesitante antes de me dar uma resposta.
— A dona Beatriz deu ordens expressas para que você não suba até lá. — Sua voz
transmite uma mistura de obediência e preocupação.
A informação me deixa ainda mais curiosa, e minha mente se enche de perguntas. Por que
dona Beatriz teria dado essa ordem? O que poderia estar acontecendo no segundo andar que
justifique tal proibição?
— E por que ela faria isso?
— Não sei, mas só cumpro ordens, Lia. Então, por favor, desça!
Ergo as mãos em rendição e apenas digo: — Tudo bem.
Mas na minha cabeça começa a rebobinar o fato de dona Beatriz ter me liberado de jantar
com ela, e dar a desculpa que preciso focar mais na minha vida e não tanto na dela.
O que essa senhorinha astuta está aprontando?

Enquanto arrumo a pequena maleta com os remédios para dona Beatriz, percebo uma
sombra se aproximando pelo canto dos olhos.
Ao virar o rosto, sorrio ao reconhecer o jardineiro, mas minha expressão se transforma em
preocupação ao notar o punho avermelhado, lembrando-me da marca de soco que o segurança
exibia ontem quando esteve aqui.
— Por que você bateu nele, Cosme?! Ficou louco!? — pergunto, levantando apressada e
indo em sua direção. Apoio-me na porta da cozinha, certificando-me de que não seremos
ouvidos. — Você pode perder seu emprego se ele te denunciar.
Cosme suspira, parecendo ainda um pouco alterado pela situação.
— Ele estava te devendo e se aproveitando disso, Lia. Não consegui me segurar, precisei
me intrometer.
A frustração se mistura com a tristeza em meu olhar, enquanto meus pensamentos se
enredam nas palavras de Cosme.
— Eu já estou acostumada com isso, sabia? Ser a "gostosa" que vale um amasso, mas
nunca o bastante para andar de mãos dadas, entende? É assim desde sempre.
Uma sensação de impotência toma conta de mim, como se estivesse presa em um ciclo
interminável de desvalorização.
— Lia... — Cosme sussurra meu nome, interrompendo meus pensamentos. Seu tom de voz
é carregado de uma intensidade que me deixa arrepiada, e nossos olhares se encontram, em uma
conexão elétrica.
Engulo em seco, sentindo algo mudar ao nosso redor.
Ele ergue meu queixo suavemente, aproximando nossos rostos, e nossas bocas ficam a
centímetros de distância. Meus lábios anseiam pelo seu toque, e meu coração acelera em
antecipação.
A atração mútua é inegável, e a antecipação parece dançar no ar entre nós.
— Eu odeio que você se sinta assim — murmura, seus olhos azuis fixos nos meus lábios.
A intensidade do momento me deixa sem palavras. Nossos corpos estão próximos, atraídos
um pelo outro, mas algo dentro de mim me faz hesitar.
Ele é um homem lindo, e a atração entre nós é forte, mas será que é certo ceder a essa
tentação?
— Ninguém nunca brigou por mim desse jeito. Por que se importa? — indago, minha voz
trêmula, enquanto dou um passo para trás e me afasto levemente dele, que dá um passo para
frente insistindo, uma mistura de receio e desejo enchendo meu peito.
Cosme coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, seus dedos deslizando
suavemente pela minha pele.
— Porque venho de uma realidade em que as pessoas não são boas como você — ele
confessa, com os olhos brilhando. — Desde quando nos conhecemos, você tem causado muita
reflexão na minha vida. Você me ofereceu abrigo, facilitou minha vida, sem nem mesmo saber se
eu mereço. E isso me faz querer protegê-la de todo mal.
Uma mistura de emoções toma conta de mim. Há um desejo intenso pulsando em minhas
veias, mas também uma dose de medo. Ele acabou de sair de um relacionamento, não quero
entrar na mira de um cara mal resolvido.
— Todo mundo merece ter coisas boas na vida. — Minha voz soa suaviza, repleta de
convicção. — Quando dona Beatriz me contratou, eu estava passando por momentos difíceis.
Perdi meu pai, fui expulsa de casa pela minha madrasta, precisei buscar abrigo na casa da minha
tia, mesmo em uma casa condenada e com muitas dificuldades. Mas ela não me negou abrigo.
Acredito que todos nós passamos por momentos ruins, mas também merecemos uma mão
estendida.
Cosme ergue as mãos até minhas bochechas, seus olhos fixados nos meus lábios. A
intensidade do seu olhar me deixa sem palavras, sem saber como lhe responder.
O que ele vê em mim? Por que me protegeu dessa forma?
— Você não parece real. Tão perfeita — confessa, sua voz rouca parece carregada de
admiração e desejo. Procuro por qualquer sinal de que ele esteja brincando, mas a seriedade em
seu olhar me deixa confusa, despertando uma mistura de emoções dentro de mim. — Eu quero
que vá a um encontro comigo.
— Verdade?! E como devo me vestir? Pra onde vamos? — indago, sentindo uma mistura
de excitação e curiosidade percorrer meu corpo. — Não é melhor aproveitar seu primeiro salário
com coisas mais urgentes?
Cosme sorri, parecendo satisfeito com minha resposta. Seus olhos cintilam com um brilho
travesso, deixando-me ainda mais intrigada.
— Isso quer dizer que aceita? — ele pergunta, sua voz carregada de antecipação. — Deixa
que com o dinheiro, eu que me preocupo.
Um sorriso se forma em meus lábios, e aceno positivamente.
— Sim, eu aceito. — Não contenho a emoção que sinto, por um cara bonito me convidar
para um encontro. — E pode ser na feira do podrão no shopping, o lanche é super em conta e o
shopping é gratuito e arejado — digo, mas me calo diante da sua carranca de desgosto.
— O lugar é surpresa — ele revela, provocando ainda mais minha curiosidade. — Quanto
ao seu traje, vista-se como se sentir bem. O importante é que esteja confortável e confiante.
Enquanto trocamos essas palavras, ouço o grito distante de dona Beatriz chamando por
mim, um lembrete de que tenho que me apressar.
— Preciso ir — digo rapidamente, sentindo uma mistura de sorriso e confusão no rosto. —
Dona Beatriz está insistente na minha aula de etiqueta à mesa — reviro os olhos — cada dia ela
inventa uma novidade, já me fez tirar o passaporte, me compra vestidos caros que nunca terei
onde usar, estou enlouquecendo — resmungo e ele assente. — Ela acredita que vou fisgar algum
ricaço, como ela fisgou o marido cinquenta anos atrás. — Exalo de forma audível e Cosme dá
um repuxar de lábios irônico.
— Talvez algum dia você se case com um... — A sugestão me faz gargalhar.
— Até um tempo atrás você me disse que era impossível isso acontecer, começou a ler o
livro que te emprestei e já está sonhador? — brinco e o assisto revirar os olhos.
— É, talvez.
— Fique sonhando com o livro enquanto eu volto para a realidade, nos vemos por aí,
Cosme.
Despedimo-nos com um olhar carregado de promessas, uma conexão intensa que nos
envolve. Ainda intrigada com o que está por vir, sigo apressada para atender aos chamados de
dona Beatriz, que está cada vez mais exigente querendo me tornar uma dama da alta sociedade.

Ao entardecer, uma forte tempestade de verão se arma, e logo a minha preocupação se vai
para a minha tia Gleici, a encosta onde mora está condenada pela defesa civil e tudo que mais
quero é tirá-la daquele ambiente tão perigoso, mas infelizmente meu salário só me permite lhe
enviar dinheiro para ajudar na casa e comprar um apartamento na planta parcelado em trinta
anos.
E ainda assim, o apartamento de menos de 50 metros quadrados não cabe minha tia e sua
família numerosa, penso em vendê-lo futuramente para dar entrada numa casa para a minha tia,
ela merece tanto.
Ligo para ela que me atende no primeiro toque, e só de ouvir sua voz, sorrio um pouco em
paz.
— A chuva tia, acho que fará estragos. — Comento e ouço muito barulho ao fundo.
— Eu sei, filha. Estamos todos abrigados em uma escola pública, estou rezando muito que
essa chuva não leve embora meu barraco, Lia.
— Vai dar tudo certo, tia.
— Deus lhe ouça, reze aí também, e fique segura, querida, vou desligar porque preciso
poupar bateria.
Suspiro angustiada, queria tanto mudar a realidade da minha tia, já que não tive tempo de
mudar a vida dura do meu pai.
Olho para o céu temendo a chuva grossa, fecho os olhos com toda força e rezo baixinho,
pedindo por um milagre.
— Senhor, muda a realidade da única família que me restou, eu sei que nossa situação é
difícil, mas meu pai me dizia que o senhor é especialista em causas impossíveis. — Digo com
fervor, e logo caminho pela casa para fechar todas as janelas.
Faço uma ronda pelo térreo e fecho o que encontro aberto, portas, janelas, e logo olho para
a escada encarando o segundo andar.
Aproveito a calmaria que paira no ambiente, olho ao redor percebendo que não há ninguém
por perto e decido subir para ter certeza se tudo está fechado.
Subo os degraus com cautela, cada passo tomado como se estivesse cometendo um ato
criminoso, já que faz tempo que não venho aqui em cima.
Ao chegar ao topo da escada, me deparo com o extenso corredor, repleto de portas de
madeira que parecem esconder segredos e mistérios.
Decido seguir o caminho mais óbvio, adentrando os primeiros quartos à minha frente. O
primeiro a ser explorado está impecavelmente limpo, e a janeira meio aberta, entro e a fecho
completamente.
Porém, ao sair do quarto, meus ouvidos captam o som de um celular tocando, meu coração
bate acelerado afinal todos os empregados de dentro de casa já foram embora, será algum ladrão?
Caminho lentamente pelo corredor, seguindo para o quarto onde ouvi o som, lembro-me
que deixei meu celular lá em baixo e estou sem qualquer coisa que possa me defender, mas ainda
assim, decido seguir em frente e improvisar.
Instintivamente, minha mão toca a maçaneta da próxima porta, empurrando-a para baixo e
revelando o quarto de aparência imponente.
Meus olhos se fixam em um terno masculino, exibido com elegância em um cabide
pendurado junto à janela do quarto.
O traje é impecável, feito com um tecido fino e de alta qualidade, e sua cor escura
contrasta com o fundo claro do quarto. Detalhes em linhas retas e bem definidas dão uma
sensação de sofisticação e requinte.
Meus dedos coçam de vontade de tocar aquele terno, de sentir a textura suave do tecido
sob a ponta dos meus dedos.
Enquanto o admiro, posso sentir o aroma leve de amaciante de roupas que flutua no ar, o
modelo é ideal para ocasiões de negócios, reuniões importantes, ou até mesmo em eventos
sociais sofisticados.
Uma visão peculiar que faz minha testa se franzir. Quem poderia ser o dono desse traje?
No entanto, algo mais chama minha atenção. Viro a cabeça para o lado e meu olhar se fixa
em um homem nu, de costas para mim, no banheiro da suíte, meu olhar capta a bunda bonita.
Seus músculos definidos destacam-se em suas costas, e seu cabelo é idêntico ao de Cosme, o
novo jardineiro.
A realidade começa a se desenrolar diante de mim como uma revelação lenta e
avassaladora.
— Eu não acredito que você fez isso, Briana! — A voz que ecoa no ambiente é a mesma
que ouvi anteriormente, a voz do homem que conheci como Cosme. Ele está em uma acalorada
discussão com uma mulher do outro lado da linha do celular que tem nas mãos. — Você marcou
uma porra de festa do meu noivado para esse fim de semana sem o meu consentimento, isso é
inacreditável!
Meu coração acelera, e uma mistura de emoções contraditórias tomam conta de mim.
A surpresa, o choque e a decepção se entrelaçam em um emaranhado de sentimentos
difíceis de processar.
O homem diante de mim não é Cosme, o jardineiro humilde e encantador, mas sim alguém
cuja identidade ainda é um enigma.
Paralisada pela revelação, observo-o por mais um instante, absorvendo cada detalhe de seu
corpo escultural e a inegável semelhança com o homem que conquistou minha confiança.
As perguntas inundam minha mente, clamando por respostas que parecem escapar de meu
alcance.
— Não consigo entender como uma festa com a alta sociedade carioca pode ser algo bom,
sinceramente, não entendo. É impossível, entre um dançar e outro, mostrar para a sociedade a
minha nova namorada e acabar com todo o glamour de Katie. — Ele passa a mão pelos fios
úmidos de seu cabelo, expressando sua descrença. — Ainda não estou pronto para contar para a
Lia.
Enquanto suas palavras ecoam em meus ouvidos, uma lembrança surge em minha mente:
as palavras de dona Beatriz quando ela o viu na cozinha, proferindo com orgulho "esse é meu
neto Oliver".
Na hora, achei que ela estava blefando, e como não lembro das várias fotos que ela já me
mostrou dos seus muitos parentes, não consegui fazer a associação, mas agora tudo se encaixa.
Sinto uma mistura de raiva e decepção por ter sido enganada.
Como fui tão ingênua? Por que ele achou que podia brincar comigo, fingindo ser outra
pessoa?
As respostas para essas perguntas ainda não estão claras, mas uma coisa é certa: não
deixarei isso passar impune. Não mais.
— Tudo bem, vou perder meu sábado à noite nessa baboseira — responde, tentando
manter uma postura determinada, e é quando ele se vira.
Meu coração dispara quando ele me encara, e a verdade sobre sua identidade cai sobre
mim como uma avalanche.
Meus olhos traçam um caminho involuntário pelo seu corpo escultural, desde o peitoral
definido descendo até uma trilha que leva a seu pênis, que começa a endurecer diante dos meus
olhos.
As veias saltadas revelam sua intensa masculinidade, e um calor inexplicável se espalha
por todo o meu ventre. No instante seguinte, ele cobre toda a cintura com uma toalha branca, mas
o estrago já está feito, minha mente está preenchida com a imagem do homem que sempre esteve
por trás da máscara do jardineiro.
E agora eu o despi, de todas as formas.
— Lia, eu posso explicar. — Ele tenta, mas sua voz vacila e percebo que também está
surpreso com essa reviravolta.
Ainda em choque, dou um passo para trás, afastando-me dele.
A mistura de emoções dentro de mim é avassaladora: atração, raiva, confusão, e até mesmo
uma pitada de decepção.
Ele é meu chefe, o poderoso Oliver Harrison, que escondia sua verdadeira identidade sob
uma máscara simples. Um homem que parecia estar interessado em mim, mas que agora percebo
ser uma ilusão cuidadosamente construída.
— Prazer, Oliver. — Minha voz carrega amargura, enquanto tento processar tudo o que
acaba de acontecer. As palavras são poucas diante da enxurrada de pensamentos que se agitam
em minha mente. — Me chamo Lia, sou governanta da casa, além de cuidar e entreter sua avó.
— Respiro fundo, ignorando todo o incômodo que sinto. — Pretende ficar muitos dias? O que
gosta de comer? Farei o possível para que tenha uma boa estadia.
— Para de me tratar assim.
— É assim que devia ter sido — falo, nervosamente.
Agora, não sei ao certo o que esperar dessa situação, nem como lidar com a descoberta de
que o jardineiro Cosme, que me cativou com sua simplicidade e gentileza, é, na verdade, o meu
chefe bilionário, um dos herdeiros de dona Beatriz.
Oliver tenta se aproximar de mim, sua expressão carregada de preocupação, mas eu recuo
novamente. As palavras dele pairam no ar, esperando ser processadas por minha mente confusa.
— Lia, por favor, deixe-me explicar. Eu não queria que você descobrisse assim. Foi tudo
um mal-entendido. — Sua voz soa sincera, mas é difícil acreditar em suas palavras no momento.
Respiro fundo, e tento controlar minhas emoções. A atração que sinto por ele ainda está
aqui, ardendo como fogo, mas agora há um misto de desconfiança e incerteza.
— Um mal-entendido? Você mentiu para mim, Oliver. Você fingiu ser outra pessoa. Por
quê? — Minha voz oscila entre a mágoa e a curiosidade.
Ele suspira, parecendo pesar cada palavra antes de falar.
— Eu queria saber como era ser tratado como um homem comum, longe das pressões da
minha vida cotidiana. Queria conhecer as pessoas que trabalham para minha avó sem que elas
soubessem quem eu realmente era. Eu não planejava que as coisas chegassem a esse ponto... —
Oliver parece genuinamente arrependido.
— E por que não me contou a verdade quando começamos a conversar? Eu te contei sobre
a minha vida, como fui tola — pergunto, tentando entender suas motivações.
— Eu não esperava me sentir assim por você, Lia. O que começou com uma curiosidade se
tornou algo mais. Eu gostei de estar perto de você, sem que meu nome ou dinheiro
influenciassem a dinâmica entre nós. E tive receio de que você mudasse sua naturalidade comigo
se soubesse quem eu realmente sou.
Fico em silêncio por um momento, processando suas palavras. Há uma parte de mim que
quer acreditar nele, que quer ceder à atração que ainda sinto. Mas também há uma parte que se
sente magoada e traída.
— Eu preciso de um tempo para pensar sobre tudo isso — digo finalmente, minha voz
mais firme do que realmente me sinto. — Estou farta das pessoas me enganando, realmente
exausta.
— Eu realmente queria poder te dar esse tempo, Lia, esperava que no nosso encontro eu
tivesse a oportunidade de lhe contar tudo, porém, não temos tempo.
— Do que você está falando, Cosme? — confundo-me, mas logo conserto. — Oliver, do
que está falando?
— Nós vamos nos casar.
É, a minha vida realmente foi engolida por um redemoinho de emoções.
Capítulo 9: O pedido

Sempre ouvi atenta dona Beatriz contando sobre como foi romântico seu pedido de
casamento, sonhei acordada imaginando cada detalhe, ele ajoelhado com um buquê de rosas
vermelhas nas mãos, o olhar apaixonado direcionado a ela, a caixinha pequenina com o anel
solitário de diamante.
E, sinceramente, nunca imaginei que um cara fosse me pedir em casamento, ainda mais de
forma romântica como o marido dela, nada de rosas vermelhas ou anel de diamantes, no entanto,
a realidade me dá uma bofetada tão forte que desato a rir enquanto absorvo a atmosfera ao redor,
e encaro o homem totalmente estoico à minha frente e percebo que não se trata de uma
brincadeira.
Fico completamente atônita com suas palavras. "Nós vamos nos casar" ecoa em minha
mente como um turbilhão de sentimentos conflitantes.
Cosme, que na verdade se chama Oliver está aqui, com o peitoral nu, coberto apenas por
uma toalha branca que deixa pouco para minha imaginação.
Seus olhos azuis penetram os meus, buscando entender minhas reações, mas tudo o que
consigo fazer é olhar para seus lábios, e pensar em como pode ser bom sentir seu gosto.
A tensão no quarto é palpável, e meu coração dispara com a intensidade das emoções que
tomam conta de mim. Ainda me sinto confusa e magoada, mas cada vez que nossos olhares se
encontram, sinto um calor percorrer meu corpo.
Lembro de Leandro mais cedo citando “meu noivo”, o desespero de dona Beatriz para que
eu aprenda regras de etiqueta, a correria para que eu tirasse meu passaporte e visto americano,
todo esse casamento tem sido tramado pelas minhas costas.
Aliás, não houve um pedido, ele apenas afirmou que nos casaremos, eu realmente preciso
entender o que está acontecendo.
— Do que você está falando? — Minha voz sai mais rouca do que o normal, carregada de
incertezas e anseios.
— A minha avó, ela pediu que eu viesse ao Brasil com urgência, e quando aqui cheguei
recebi o pedido dela para que eu me case contigo a fim de garantir sua proteção — Oliver
explica, sua voz suave e sensual, fazendo meu corpo tremer involuntariamente.
Proteção? Eu corro algum perigo? As palavras dele me deixam ainda mais confusa, sem
entender o que realmente está acontecendo.
Olho ao redor do quarto vasculhando se há algum perigo, mas a voz dele me tira do
devaneio.
— Sim, minha avó pretende te deixar muitos bens valiosos, e meu tio, filho dela, com toda
certeza não aceitará bem. — Ele continua, e a tensão no quarto aumenta.
— Deus do céu! Eu não quero nada disso, já disse a sua avó. — Exclamo, sentindo a
frustração tomar conta de mim. — Não quero nenhum bem, onde assino que não quero?
— Imagino que tenha dito, não esperava nada diferente de você, no entanto, Beatriz
Harrison é a mulher mais teimosa que conheço, e o que tá feito, não temos como mudar. —
Oliver suspira, parecendo também estar lutando com seus próprios sentimentos e conflitos. —
Ela já colocou tudo o que quis em seu nome no testamento, está feito, Lia.
Minha cabeça está doendo, tentando processar tudo aquilo. A ideia de me casar com
Oliver, de ser sua esposa, tem um apelo sensual e caótico, além do temor pelo envolvimento com
a família Harrison e todos os desafios que terei que enfrentar.
— Não quero realmente, Oliver, não vou herdar nada e muito menos me casar — decido.
— Vou renunciar a tudo.
O barulho do trovão me assusta, a chuva ainda cai grossa lá fora, e lembro-me de minha tia
que está um abrigo com seu marido, a filha que é mão solo e as crianças que com certeza estão
assustadas, lembro da minha oração.
Não posso ser tão reticente, apesar de não querer nada pra mim, preciso agora pensar neles,
esse dinheiro pode ajudar minha tia a ter sua casa, um negócio para que a família prospere,
respiro fundo e pergunto:
— Se eu aceitasse, como seria isso?
— Nos casamos apenas de forma conveniente, seremos amigos, assim que a minha avó
falecer te ajudo a enfrentar o meu tio, e assim que tudo tiver acertado, nos separamos de forma
discreta — ele sugere, seu olhar fixo no meu, buscando uma resposta.
— Como um casamento por contrato, como do livro da Paola e o Marlon[1]? — falo,
tentando me situar, mas acabo fazendo uma careta ao relembrar do romance que li, a diferença é
que o casal se apaixona no processo.
— Um casamento por contrato, porém sem sentimentos, Lia. Somos amigos nos ajudando,
apenas isso — diz. — Sugiro que sejamos discretos com os nossos parceiros extraconjugais.
Parceiros extraconjugais... tomo um fôlego, totalmente desnorteada.
— Por que você está aceitando esse absurdo? Por que vai enfrentar o seu tio por minha
causa? — pergunto, ainda confusa e abalada.
— Queria te dar uma causa nobre, mas a verdade é que terei de enfrentá-lo de qualquer
forma, afinal, minha avó deixou no testamento a parte dela na empresa para mim ao invés dele,
então de qualquer jeito estou no fogo cruzado — ele explica, parecendo determinado — e uma
das condições para que eu assuma o cargo é que eu esteja casado, ela realmente pensou em tudo.
Nossos olhares se encontram novamente, e as emoções se misturam em meu peito, e minha
mente luta para encontrar uma resposta clara. Sinto muito medo e incerteza em relação ao futuro.
— Acho que é melhor que busque outra noiva, Oliver, não sou apta ao cargo.
— Preciso me casar o quanto antes, para que eu possa provar o meu valor diante dos outros
sócios da empresa e limpar minha imagem e, você, para que possa se estabelecer com uma boa
equipe lhe ajudando a gerir seus bens, depois estamos livres, nos divorciamos de forma discreta e
indolor.
Oliver se aproxima um pouco mais, e o calor de seu corpo parece envolver o meu. Sua mão
desliza suavemente por meu rosto, seu toque carinhoso desperta sensações avassaladoras em meu
corpo. Minha pele arde com o contato, e meu coração bate descompassado em meu peito.
Sinto minha respiração se tornar mais pesada, e minha mente se perde em meio a um
turbilhão de pensamentos e desejos.
Mas, eu retrocedo, sento-me na cama, tentando me recompor. As palavras de Oliver
ressoam em minha mente, e percebo que estou envolvida em uma situação muito maior do que
eu imaginava.
— No que dona Beatriz me meteu! — resmungo, sentindo-me perdida e vulnerável.
Oliver se senta ao meu lado, sua expressão preocupada.
— Ela quer o seu bem, e agora que te conheço, entendo os motivos dela de lutar por uma
vida melhor para você. Ela vê em você alguém especial, Lia.
— Não quero entrar no radar da sua família, eu nem os conheço, e sobre o dinheiro, eu
nem sei o que farei... — confesso, com o coração apertado. — Fui pobre a vida toda, ela não tem
que se preocupar, eu sei ser pobre, sou realmente boa nisso. Quero apenas ajudar minha tia que
está numa situação muito difícil.
Oliver suspira, compreensivo e se divertindo da minha confusão.
— É compreensível que se sinta assim. Mas saiba que estou aqui para te ajudar em todas
essas questões. Você não estará sozinha nessa jornada, Lia. Pense na sua tia, tenho certeza que
ela faria absurdos muito piores para te ajudar.
Olhar para ele apenas de toalha deixa-me envergonhada o que fica nítido que a ideia de me
casar com Oliver ainda me parece surreal e assustadora.
— Me casar com você... — repito, como se precisasse assimilar toda essa nova realidade.
— Sim. E não temos muito tempo, afinal de contas, é uma questão de tempo até que meu
tio descubra as alterações no testamento e apareça aqui — Oliver explica. — Nada vai mudar
entre nós, seremos amigos, e apenas fingiremos a nossa relação diante dos demais, nesse tempo,
podemos nos relacionar com outras pessoas, desde que sejamos discretos.
— Diga-me tudo que você tem em mente — peço, curiosa e apreensiva ao mesmo tempo.
— Esse fim de semana teremos um baile, onde vou te apresentar como minha namorada, e
já vou aproveitar e te pedir em noivado. No próximo mês, estaremos casados — ele diz, seu
olhar fixo no meu. — Temos que nos casar antes da minha avó falecer, para descartar suspeitas.
A ideia de ser sua noiva e, eventualmente, sua esposa, é ao mesmo tempo algo novo e
aterrorizante. As palavras ecoam em minha mente, enquanto minha respiração se torna mais
acelerada. Oliver permanece ao meu lado, seus olhos azuis fixos em mim, e consigo sentir a
intensidade da atração entre nós.
— Resumidamente, acabo de descobrir que você não é o novo jardineiro, e sim, o meu
chefe que se tornará meu noivo daqui a alguns dias, que vou me casar, me tornar alguém com
dinheiro e que enfrentará pessoas, eu juro, a minha cabeça vai explodir — desabafo, tentando
colocar em palavras todas as emoções conflitantes que me invadem.
Oliver suspira, parecendo compreender a turbulência que estou sentindo.
— Eu sei, mas preciso ser sincero contigo, Lia. Minha avó não nos deixou muito tempo
para nos adaptarmos a tudo isso. Sei que é um choque, mas também sei que você é forte o
suficiente para enfrentar esse desafio.
— E se eu não estiver pronta para isso? E se eu não conseguir lidar com toda essa pressão?
— pergunto, me sentindo vulnerável diante dessa nova realidade.
Ele toma minha mão em um gesto carinhoso, seus dedos acariciando os meus. O toque é
suave e provocante, e meu corpo reage instantaneamente.
— Sei que é difícil, Lia, mas é o melhor dos cenários, tenha em mente que nada mudará
entre nós, continuaremos amigos que compartilham um café e um bolo de fubá. — Sua voz é
reconfortante, e seus olhos transmitem segurança. — Apenas vamos estar mais juntos, para a sua
proteção, principalmente.
Olho para ele, perdida em meio a tantas emoções.
— Se não temos escolha... — confesso, com o coração apertado. — Então, nosso destino
está selado.
— Sim, mas lembre-se, tudo é temporário, vamos fazer dar certo.
— Um casamento por contrato — digo, com certo desgosto, afinal, como uma boa
romântica, sempre sonhei em me casar, mas nunca nessas condições.
— Sim, mas não é um contrato sem volta, tenha isso em mente, Lia.
“(...)mas não é um contrato sem volta, tenha isso em mente, Lia.
A frase dita por Oliver, eu sabia que não sairia da minha cabeça nem um minuto sequer, e
assim levantei e saí do seu quarto, totalmente sobrecarregada.
Capítulo 10: O baile

A semana passou rapidamente, e junto com ela veio toda a agitação dos preparativos para a
festa na mansão da minha avó. Não vi Lia no decorrer da semana, o que acabou sendo um alívio
para mim, pois a casa estava um caos com a chegada dos meus familiares e os fornecedores
contratados por Briana.
Creio que a garota esteja fugindo de mim e das responsabilidades que despejei sobre ela.
Agora, parado diante do salão de festas lotado, observo o ambiente com certo orgulho
misturado à ansiedade. Minha irmã se aproxima, ajustando o nó da minha gravata com um
sorriso irônico nos lábios.
— Hum, alfaiate nacional, você realmente está se esforçando para se sentir parte do Brasil.
— Relevo sua zombaria acerca do meu terno, que é tão impecável quanto os de alta costura que
normalmente uso. — No entanto, não posso negar, você está incrível, Oliver.
Olho para baixo, apreciando a perfeição do meu traje, sou um homem vaidoso e muito
exigente. O terno é feito de um tecido italiano luxuoso, de cor escura e corte impecável. O
caimento é perfeito, ressaltando meus ombros e delineando minha silhueta. Os botões são de
madrepérola, contrastando elegantemente com o tom escuro do tecido. Cada detalhe foi
cuidadosamente bem pensado, desde o colarinho perfeitamente alinhado até os vincos bem
marcados nas calças.
Ele representa não apenas o meu bom gosto, mas também o meu status e posição na
sociedade. É uma armadura que me dá segurança.
Agradeço o elogio da minha irmã com um sorriso discreto, enquanto um misto de emoções
percorre meu interior.
— Aquela ali é a filha do prefeito — minha irmã sussurra. — Bonita e de boa família, e
não tira os olhos de você... — Interrompo-a.
— Ela tem idade para ser a minha filha, tenha juízo, Briana.
— Tem idade, mas não é sua filha — resmunga e meu primo gargalha.
— As jovens são as melhores, Oliver.
— Não, odeio mulheres que nem são capazes de decidir o que realmente querem — falo de
mau humor.
Por educação dancei com meia dúzia de convidadas e me dou conta que são todas
mulheres com o mesmo perfil, e as conversas sempre são superficiais. Logo depois, troquei
algumas palavras com poucos convidados, sempre sobre dinheiro, viagens e implicitamente
tentando demonstrar poder, nada que realmente me dê vontade de aprofundar uma conversa.
Em nossa mesa, vovó balança os braços tentando dançar ao som da orquestra e sorri
docemente me encarando.
— Estou louco para conhecer a sua escolhida, irmão, não a vimos ainda — comenta minha
irmã, despertando minha curiosidade.
— Você vai adorar a Lia, vai por mim — confesso, sentindo um arrepio de empolgação
percorrer minha espinha. A ideia de apresentar Lia como minha noiva me deixa ansioso e, ao
mesmo tempo, curioso.
— A magia do casamento... — Briana provoca com um sorriso malicioso, e eu reviro os
olhos, sabendo exatamente aonde ela quer chegar.
— Eu aposto que não dou conta de uma bunda gostosa dessa — meu primo comenta,
desviando o olhar para alguma coisa atrás de mim.
Curioso, viro-me para ver o que ele está observando, e meus olhos encontram Lia.
Ela está deslumbrante em um vestido longo azul turquesa, com um ombro caído que revela
sua pele suave e sedutora. O vestido marca sua cintura delicada, ressaltando suas curvas de
forma irresistível. Uma pequena calda cai elegantemente do lado esquerdo do vestido, dando um
toque de sofisticação aos seus passos fluidos.
Meu olhar desliza para a lateral do vestido, observando a cauda que adiciona um ar de
mistério e elegância ao conjunto. No entanto, quando ela se vira procurando por algo ou alguém,
meus olhos são atraídos para a sua bunda, perfeitamente arrebitada e desenhada pelo tecido justo
do vestido.
Sinto meu corpo reagir de forma instintiva, o desejo se acendendo como uma chama dentro
de mim.
Ela é tão linda e, agora, mesmo que seja apenas para cumprir uma farsa, ela será minha
noiva e minha mulher. O pensamento me deixa ainda mais excitado, e minha mente se enche de
imagens tentadoras do que está por vir.
— Pare de cobiçar a minha mulher — digo, enquanto dou um tapinha no ombro do meu
primo.
— Eu achei que o casamento fosse de mentira, assim posso brincar com ela um pouco.
— Não, fique longe dela — ordeno.
Não consigo desviar os olhos dela, em todas as vezes que a vi estava apenas em seu
uniforme de empregada, e já a achava gostosa, mas agora vendo-a em um vestido elegante, bem
maquiada e penteada, ela é simplesmente perfeita.
— Uma mulher brasileira curvilínea, se ela for de sangue quente, será a história dos nossos
avós se repetindo — minha irmã sussurra em meu ouvido e a encaro confuso. — Um americano
que veio ao Brasil a negócios, se apaixona por uma brasileira e logo finca raízes aqui, abrindo
mão do trabalho e tudo mais.
— Briana, a única coisa em comum é o fato das nossas nacionalidades, de resto, nada bate
— assumo. — Não pretendo morar no Brasil, muito menos abrir mão de qualquer coisa por Lia,
e não vou me apaixonar por ela e nem por mulher nenhuma, não sou estúpido.
— Veremos, irmão.
Não respondo porque Lia finalmente se aproxima, seu rosto corado e bem maquiado, os
longos cabelos loiros se movem suavemente com a brisa.
Minha pulsação acelera, e parece que não existe mais ninguém no baile além dela e de
mim, o que julgo pouco racional da minha parte, afinal ela é apenas uma mulher bonita, já tive
tantas na minha cama. Nossos olhares se encontram, e posso ver o brilho da emoção em seus
olhos.
É como se o tempo parasse, respiro fundo, tentando conter a intensidade dos meus desejos.
Caminho até Lia e seguro sua mão delicadamente, levando-a até meus lábios para beijar o
dorso. Ela aceita o gesto, e sinto uma corrente elétrica percorrer meu corpo com o contato da sua
pele macia, inconscientemente, minhas narinas captam o aroma de seu perfume.
É um aroma sutil, mas inebriante, com notas doces, mas não de uma maneira enjoativa; é
mais como uma fragrância natural. Coloco sua mão em meu braço de forma cavalheiresca,
sentindo-me orgulhoso de tê-la ao meu lado.
Decido quebrar um pouco o gelo entre nós, afinal, todos ao redor estão nos observando.
Quero que ela se sinta confortável mesmo nessa situação tão inusitada.
— Você está linda — elogio, admirando-a com sinceridade.
— Sua avó que escolheu minha roupa e me deu essas joias — confessa com um sorriso
tímido, admiro os brincos de pérola, elegantes.
— Ela fez uma ótima escolha, você está deslumbrante — acrescento, apreciando cada
detalhe do seu vestido e das joias que realçam sua beleza natural.
— Tenho uma dúvida, e o verdadeiro Cosme?
— De folga, mas se me permite avisar, não tenha expectativas, ele não tem a metade do
meu charme. — Brinco para aliviar o clima e ela sorri, mas ainda está nitidamente nervosa.
Decidido a apresentá-la às pessoas importantes na minha vida, conduzo-a pela multidão até
onde estão Briana e Alexander. Eles são mais do que familiares, são meus melhores amigos.
— Venha, deixe-me apresentá-la à minha irmã e meu primo. — Indico, levando-a até eles
com um sorriso no rosto.
Ao nos aproximarmos, a garota de cabelos escuros e olhos azuis idênticos aos meus nos
cumprimenta com entusiasmo.
— Finalmente! Oliver, você não me falou que sua noiva era tão bonita! — Ela elogia com
um olhar divertido e cúmplice.
— Lia, essa é minha irmã, Briana. — Faço as devidas apresentações, e Briana sorri
calorosamente para ela.
Meu primo, um pouco mais sério, mas ainda assim simpático, também a cumprimenta.
— Prazer, sou Alexander, o primo mais novo, porém, mais sábio — ele brinca, e Lia solta
uma risadinha, parecendo mais à vontade agora.
Apresento Lia a outros membros mais distantes da família já que meus pais e meu tio não
vieram, mas sempre a mantenho ao meu lado, sempre asseguro um contato físico leve para
mostrá-la como minha escolhida. Afinal, quero tornar essa farsa o mais convincente possível.
Após as apresentações importantes, decido conduzir Lia para a pista de dança, uma
manobra para demonstrar romantismo entre um casal recém-unido. Ela aceita o convite sem
restrições, e gosto de tê-la tão próxima a mim.
Enquanto dançamos a música instrumental ao som da banda de música clássica, minhas
mãos são firmes e seguras na sua cintura quando sussurro em seu ouvido:
— Seu livro — digo, e noto a surpresa em sua expressão. — Não quer saber as minhas
impressões? — provoco um arrepio em sua pele macia.
Ela ri suavemente, curiosa para ouvir minha opinião sobre a história que me emprestou.
— Certo, diga. — Seus olhos cintilam em curiosidade. — Fico feliz que realmente tenha
lido.
Eu li, e principalmente me peguei pensando nas reações dela lendo, a curiosidade quase me
corroeu inteiro.
— Bom, eu gostei da parte em que o senhor Galvani permite que sua esposa virgem
explore seu próprio corpo e aprenda a se dar prazer, isso foi extremamente nobre e surpreendente
— elogio, enquanto relembro o choque inegável que obtive com a trama explícita, nunca tinha
lido um romance com cenas explícitas de sexo, fiquei em choque no primeiro momento, depois
consegui relaxar e embarcar na história.
— Sim, e faz dele um grande gostoso! — acrescenta, e provoca uma pequena pontada de
incômodo em mim.
Sem pensar duas vezes, aproximo meu rosto do dela, ficando a milímetros de distância de
seus lábios carnudos e tentadores. Nossos corpos ficam tensos, e o som das nossas respirações
aceleradas preenche o espaço entre nós.
— Diga mais sobre o que achou da história.
Seu pedido soa sedutor, ainda mais por ser acompanhado dos seus olhos fixos em meus
lábios, o que me faz engolir em seco, tomado pelo desejo de beijá-la.
— O que exatamente você quer saber? — respondo em um sussurro, sentindo o tesão entre
nós atingir seu ápice, ambos atraídos por um desejo incontrolável, enquanto apenas dançamos e
temos uma conversa amena aos olhos dos demais.
— O mais interessante, você sabe, a autora descreve detalhadamente beijos, toques,
sensações, tudo que é íntimo entre um casal… — ela provoca, e sua ousadia me surpreende e
excita ao mesmo tempo.
— Lia! — sussurro em seu ouvido, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. — Você
quer saber se eu me excitei?
— Não, eu quero saber se você imaginou... — ela responde, e sua voz sedutora acende
uma chama dentro de mim. Seus olhos logo se movem do meu lábio para os meus olhos,
encarando-me.
— Bom, eu… nunca transei com uma virgem — confesso, e sinto seus músculos
tencionarem, algo que eu disse a incomodou. — Então, me peguei imaginando como seria sentir
o aperto que o mocinho descreve, sabe?! — Minha voz fica rouca, e percebo que também estou
sendo sincero demais. — Não que isso me atraia, particularmente gosto de mulheres experientes
na cama, mas entendi o apelo.
A tensão entre nós se intensifica, e sinto o latejar no meio das minhas pernas, meu pau
endurecendo de forma angustiante. A atração é inegável, e os desejos que antes estavam
escondidos agora vêm à tona, sem qualquer cerimônia.
— Uau! Você realmente entrou na história — ela responde, e seu olhar revela uma mistura
de surpresa e excitação.
Decido então fazer a pergunta que me atormentou por toda a semana a cada página que li
do romance que ela me desafiou a ler.
— Você perdeu a sua virgindade com um homem gentil como o senhor Galvani? —
Minhas palavras a incomodam.
— Eu... Eu... — Suas bochechas coram, e acabo me divertindo, porque isso destoa da
garota confiante que me incentivou a ler um livro erótico.
— Vai me dizer que você é virgem, Lia? — brinco, tentando entender a origem de seu
embraço.
— Por que está perguntando? — Ela se mostra um pouco tímida, mas ainda assim
sedutora, com as bochechas coradas.
— Você ficou tensa quando falei sobre a virgindade da mocinha — explico, observando
suas reações. — E ainda mais quando questionei sobre a sua primeira vez.
— Você acha que eu sou?
— Tenho lá minhas dúvidas — respondo, com um sorriso malicioso. Sua ingenuidade e a
forma autêntica como me seduz, faz com que eu sinta que estamos prestes a cruzar uma linha
perigosa, mas irresistível.
— Tem suas dúvidas? — ela pergunta, me desafiando com seu olhar sedutor, giro-a pelo
salão mantendo nossos corpos misturado aos demais.
— Sim, sei lá, o romance que você lê é muito safado para uma virgem — confesso,
sentindo meu coração acelerar com a conversa provocante, e manter o dois pra cá, dois pra lá,
fica difícil enquanto tento controlar uma iminente ereção em público.
— E por que uma virgem não poderia ler algo safado? — Ela parece intrigada e curiosa, e
não posso deixar de notar que em momento algum ela revela se é virgem ou não.
— É que, eu li as cenas mais intensas, de sexo anal inclusive… — sussurro, sentindo a
ereção dolorosa formada, pronto, perdi a luta contra o meu pau. — A forma bruta como ele fez
aquilo foi quente, mas sabe, imagino que seja uma tortura para uma virgem ler uma cena
daquela.
— Uma tortura? — ela repete, com um sorriso travesso nos lábios.
— Sim, imaginar algo que você nunca teve. — Meus olhos se fixam nos dela, e por um
instante, sinto a necessidade avassaladora de beijá-la, mas me seguro, mantendo o ritmo da
dança.
— Eu sou boa nisso — Lia responde, com uma dose de malícia em sua voz.
— No quê?
— Imaginar algo que não posso ter — ela confessa, e seus olhos parecem brilhar com um
desejo que combina com o meu.
Nossos corpos estão tão próximos que sinto o calor emanar dela, enquanto meus dedos
deslizam suavemente por sua cintura. A cada respiração, nossos lábios quase se tocam, mas a
distância entre nós parece intransponível.
— Oliver... — Lia sussurra novamente, sua voz carregada de desejo e incerteza. — mesmo
que eu seja virgem, você continuará sem saber como é ter uma, afinal, nosso casamento é uma
mentira.
— Lia... — respondo, incapaz de desviar meus olhos dos seus lábios tentadores. — Nosso
casamento é de mentira, mas a nossa noite de núpcias será real, não posso permitir que saia
virgem depois de ter sido casada comigo. — Minhas palavras saem quase como uma promessa.
No entreolhamos, e é nítido o misto de emoções passando por seu rosto. O desejo é
evidente, mas também há medo e dúvida. Afinal, estamos prestes a atravessar uma linha
perigosa.
A música continua tocando, o ritmo envolvente nos conduzindo numa dança sensual, mas
nossos corpos parecem ter sua própria melodia, uma melodia de desejo que não pode ser
ignorada.
Eu me aproximo um pouco mais, quase colando nossos corpos, e vejo seus lábios
entreabertos, prontos para o beijo que ambos ansiamos. Nossos olhares se encontram, e eu posso
ver a rendição nos seus.
— Vamos dar um show aos convidados, Lia...
Sem mais palavras, me inclino em sua direção, selando nossos lábios num beijo
inicialmente casto, até que mergulho minha língua em sua boca. Sinto seus braços ao redor do
meu pescoço, puxando-me para mais perto dela, enquanto nossas línguas se entrelaçam numa
dança ardente.
O mundo ao nosso redor desaparece, e só há espaço para nós dois, entregues ao tesão que
nos consome. Nossos corações batem em perfeita sintonia, e nunca me senti tão incontrolável
diante de uma mulher em público.
Enquanto continuamos a dançar, nossos corpos agora ainda mais entrelaçados, sei que não
há mais volta.
Nossa noite de núpcias será real.
— Viva os noivos! — Ouço ao longe minha avó gritar!
Capítulo 11: A ficção

O beijo de Oliver selou meu destino de uma forma irrevogável, é como se eu realmente
nunca tivesse sido beijada, os homens que conheci antes eram uma mera brincadeira, esse beijo é
a verdadeira ação.
Sua boca é irresistivelmente experiente, e um braço firme em volta da minha cintura deixa-
me completamente imóvel. É injusto que ele me possua por inteiro, e eu não tenha a menor
vontade de resistir.
O toque de sua mão grande em meu rosto é habilidoso, provoca uma sensação prazerosa
em cada lugar que toca em minha pele. Nossos lábios se movem em perfeita sintonia, como se
tivéssemos feito isso a vida toda, reencontrando nosso lugar no mundo. Enquanto nossos corpos
dançam em harmonia ao som da música, sinto uma mistura de excitação e apreensão.
Sua boca suga a minha, chupando, e no caminho levando embora o meu batom, exigente
pela minha rendição.
A fragrância única e intrinsecamente masculina de Oliver combinado ao seu toque e lábios
exigentes, deixam-me ainda mais enfeitiçada por ele. Envolvo minhas mãos em seus cabelos
com firmeza, mantendo-me rente a ele, como se desesperadamente não quisesse deixá-lo escapar.
Toda a tensão e apreensão que senti anteriormente pareciam desaparecer neste beijo. É
como se nada mais importasse, apenas este momento, apenas nós dois aqui, entregando-nos um
ao outro.
E, mesmo que tudo seja apenas parte de uma encenação, eu sei que esse momento ficará
gravado em minha memória para sempre, como um momento de paixão e entrega que eu nunca
poderia esquecer.
Meus lábios se movem em sincronia com os dele, nossas línguas dançando em um jogo
sedutor e provocante. Cada toque é elétrico, um turbilhão de sensações que faz meu corpo inteiro
estremecer de desejo. Meus seios formigam, e o calor entre minhas pernas aumenta com cada
segundo que passa.
Oliver me envolve em seus braços fortes, seus dedos acariciam suavemente meus cabelos,
enquanto sua boca continua a me explorar de forma intensa e voraz. Cada pressão dos seus lábios
é como um desafio irresistível, uma provocação que me faz querer mais.
Sem pensar duas vezes, agarro as lapelas de seu terno com urgência, como se precisasse
me segurar nele para não me perder nessa tempestade de sensações. Minhas mãos deslizam por
seu peito esculpido, explorando cada músculo, sentindo a força e a masculinidade que ele irradia
apesar do tecido do terno ser uma barreira.
A música que embala o salão parece ecoar em nossos corpos, cada nota harmonizando com
o ritmo frenético dos nossos corações.
E em meio a toda essa encenação, este beijo se torna a única verdade que importa, a
verdade do nosso desejo.
Meu corpo parece estar em chamas, cada célula despertada por um desejo avassalador. A
estrutura rígida de Oliver contra mim é eletrizante, e a sensação da sua língua se entrelaçando
com a minha é como uma explosão de prazer. O gosto, o toque, tudo é mais intenso, mais real do
que qualquer coisa que eu já tenha conhecido.
Meus pensamentos se dissipam, e sou consumida. Não há pensamentos racionais, não há
preocupações ou medos, há apenas nós dois, entregues um ao outro em um turbilhão de desejo e
prazer.
Sinto o calor emanando de seu corpo, e mesmo que ele se contenha, sua respiração
irregular o entrega. Oliver corresponde ao meu toque com um gemido abafado, revelando a
intensidade do desejo que também o consome. Suas mãos firmes acariciam minha cabeça, é
carinhoso, um contraste delicioso com a intensidade de seus lábios contra os meus.
Meus dedos acariciam sua nuca, um gemido escapa dos lábios de um de nós e ecoa como
uma nota musical no ar carregado de sensualidade.
Nesse momento, não sei dizer se o som veio dele ou de mim, mas é irrelevante, pois
estamos ambos entregues.
Nossos corpos se entrelaçam com destreza e urgência, buscando se conhecer, se tocar em
cada centímetro disponível.
Meus braços envolvem seus ombros, puxando-o mais para perto de mim. Instintivamente,
estico o corpo, me pressionando ainda mais contra ele, e um tremor quente de satisfação me
invade. Meus seios roçam levemente contra o peito poderoso de Oliver, e sinto meus mamilos
endurecerem em resposta ao contato. A dúvida paira no ar, e não posso deixar de me perguntar
se ele pode sentir a reação do meu corpo ao seu toque.
A dúvida apenas aumenta minha excitação, pois a ideia de que ele possa sentir o efeito que
tem sobre mim é irresistível.
Minhas mãos instintivamente se entrelaçaram nos cabelos grossos de Oliver, e espero
ansiosamente pelo próximo toque dele. Dessa vez, o contato foi mais ousado, suas mãos
percorrem a lateral dos meus seios antes de deslizar para a minha cintura.
Um gemido escapou dos meus lábios ao sentir o arrepio que percorreu meu corpo, e uma
pulsação intensa tomou conta de mim.
Oliver corresponde ao meu desejo, suas mãos envolvem minha cintura e escorregam para
minha bunda, roçando seus quadris contra mim de forma provocante, deixando-me sentir sua
ereção potente.
Ofego diante da necessidade evidente que emana dele, e um calor intenso tomou conta da
parte de baixo do meu corpo, enquanto cedia à tentação e me esfregava nele.
O toque dele é elétrico, causa uma sensação inebriante que me faz perder a noção de tudo
ao redor. Meu corpo reage com fúria a cada carícia, cada investida.
Subitamente, ele levanta suas mãos para os meus braços e afasta sua boca da minha,
deixando-me ofegante e tonta.
Tenho certeza que meu cabelo está desalinhado, assim como a mancha de batom que ele
possui no canto da boca é uma evidência do nosso beijo ardente.
Meus lábios pulsam e formigam em consequência do beijo, e eu me sinto excitada e ao
mesmo tempo desestabilizada.
A intensidade do momento é destruidora de almas, como se estivéssemos à beira de um
precipício perigoso. Concentro-me em respirar profundamente, tentando acalmar a pulsação
galopante que toma conta de mim.
Desço os olhos lentamente, deparando-me com a visão da camisa branca e o smoking
desalinhado.
Fico tensa ao me dar conta do que havia acontecido entre nós. Ergo as sobrancelhas,
enquanto meu cérebro fornece a realidade que eu estou evitando confrontar.
Beijei loucamente meu futuro marido de mentira.
A realidade cruel e ilusória que me espera no fim dessa encenação.
Um turbilhão de emoções me envolve, e eu me pergunto como seria possível lidar com
tudo isso daqui para frente. Mas, por enquanto, eu tenho que seguir o roteiro, viver esse
casamento de mentira e enfrentar as consequências de nossas escolhas. É um caminho incerto e
perigoso, mas não tenho como recuar.
Percebo os olhares curiosos e surpresos das pessoas ao nosso redor. Algumas delas
sorriem, como se estivessem felizes por nós, enquanto outras parecem intrigadas e curiosas sobre
nossa relação.
Olho para ele, e percebo que tira um lenço da lapela para limpar seus lábios manchados de
batom vermelho, o que me deixa envergonhada. Será que todos notaram o quão íntimo foi aquele
momento? Será que estão desconfiando que nossa paixão é apenas um jogo?
— Demos um belo show para os convidados, ninguém vai questionar a veracidade da
nossa relação. — Ele parece perceber minha preocupação e, com um sorriso tranquilizador,
murmura em meu ouvido.
Eu tento disfarçar a confusão e o apavoramento que sinto, balançando positivamente a
cabeça. É verdade, para todos que estão aqui, somos um casal apaixonado, enquanto a realidade
é totalmente oposta. Estamos apenas cumprindo um acordo, seguindo um script elaborado por
sua avó, enquanto nossos corações e desejos seguem caminhos separados.
Ainda ofegante, tento controlar minha respiração acelerada, mas é difícil acalmar meu
coração que parece bater em descompasso. Minhas emoções estão à flor da pele.
Enquanto continuamos a dançar, tento disfarçar meus sentimentos, colocando um sorriso
nos lábios e fingindo que tudo está sob controle. Mas, por dentro, meu coração está em guerra,
lutando entre a razão e a emoção que me consome.
Olho ao redor do salão, vendo todos aqueles rostos sorridentes e que parecem acreditar em
nós. E, por um momento, desejo que nossa história fosse real.
Mas a realidade me atinge como uma onda fria, lembrando-me que tudo isso é apenas uma
encenação, um jogo de aparências em que eu sou apenas uma peça.
Oliver sorri com um brilho nos olhos enquanto retira do bolso a pequena caixinha azul,
combinando com a cor do meu vestido. Meu coração dispara de ansiedade, sabendo o que está
prestes a acontecer. Ele abre a caixinha com delicadeza, revelando um deslumbrante anel de
diamante solitário.
O brilho do diamante é hipnotizante, e, por um momento, o mundo ao nosso redor parece
desaparecer, deixando apenas nós dois e aquela joia cintilante. Todos ao nosso redor começam a
aplaudir e eu sorrio timidamente, sentindo minhas bochechas corarem com a atenção repentina.
Oliver pega minha mão e, de forma cavalheiresca, desliza o anel pelo meu dedo anelar da
mão esquerda, como é tradição no seu país. É um gesto simbólico, um selo em nossa farsa, uma
promessa de um futuro que, no fundo, sabemos que não será real.
Mas, apesar disso, meu coração se enche de emoção. A sensação do anel em meu dedo é
surpreendentemente real e poderosa. É como se, por um breve momento, a ilusão se tornasse
palpável, e o toque do anel no meu dedo me faz acreditar que talvez, só talvez, tudo isso pudesse
ser verdade.
Enquanto as pessoas ao nosso redor continuam a nos aplaudir, Oliver e eu trocamos um
olhar carregado de sentimentos conflitantes. Nós dois sabemos que essa é apenas uma
encenação, um casamento de mentira destinado ao fim.
Enquanto o anel repousa em meu dedo, nossas mãos se entrelaçam e nossos olhos se
encontram novamente. Em meio a toda a farsa, é como se estivéssemos nos prometendo um ao
outro, jurando que, por mais que esse casamento seja uma ilusão, nossa conexão é real.

Após Oliver deslizar a aliança no meu dedo, o resto da noite se desenrolou em um


emaranhado de cumprimentos e felicitações. Cada sorriso e abraço parecia tirar um pedacinho do
meu fôlego, à medida que a realidade do nosso noivado relâmpago se solidificava.
Enquanto a festa continuava ao nosso redor, o peso do anel de diamante no meu dedo era
um lembrete constante do acordo que tínhamos feito.
Depois de algum tempo, notei Oliver trocando olhares rápidos com a irmã, como se
estivessem em silenciosa comunicação sobre algo que eu não conseguia entender.
Logo em seguida, ele se aproximou de mim com um sorriso gentil, e senti um aperto no
coração ao perceber que estava se despedindo.
— Tenho algumas questões de trabalho para resolver na Virgínia, mas não se preocupe,
tudo ficará bem. — Sua voz soou reconfortante, mas também distante, como se houvesse um
abismo invisível entre nós.
Enquanto o vi se afastar, acompanhado pela irmã, não pude deixar de sentir uma pontada
de decepção. Nossa relação era complexa demais para ser resumida a um mero aperto de mãos e
um par de alianças. Eu queria respostas, queria entender o que ele pensava, mas parecia que
essas respostas estavam fora do meu alcance.
A noite seguiu seu curso, e conforme os convidados se dispersavam, senti a solidão se
instalando de forma insidiosa.
Eu não alimentei a ilusão de que nosso relacionamento fosse mudar após o casamento. Se
no noivado ele já se afasta, o que esperar do casamento? Enquanto observo as luzes da festa se
apagarem, percebo que esse contrato de casamento estava me levando para um território
desconhecido, onde as regras eram incertas e as emoções, incontroláveis.
Capítulo 12: A Mídia

Livrei-me da gravata com um gesto brusco, enquanto jogava duas pedras de gelo no copo
próprio para uísque e o enchia da garrafa, no quarto de hóspedes da mansão da minha avó. As
bebidas alcoólicas costumam ser minha fuga nas situações mais complicadas, uma tentativa de
acalmar os pensamentos tumultuados e as emoções conflituosas.
Ingeri o álcool com a esperança de que aquele ardor efervescente pudesse apagar o gosto
dela da minha mente, trazendo-me de volta à lucidez. Mas a bebida nunca foi uma solução
permanente, e eu sabia disso.
— Estava te procurando, Oliver!
Minha irmã Briana irrompeu no quarto, sua voz carregada de animação e curiosidade.
Suspirei, desejando apenas um momento de paz, mas a convivência com a minha irmã nunca foi
simples.
— O que quer, Briana? — Minha resposta sai mais ríspida do que eu pretendia, mas eu
estou no limite.
— Te dar os parabéns — a resposta singela vem acompanhada de um brilho malicioso nos
olhos. — Aquele beijo foi realmente quente, vocês dois impressionaram. Conseguem fingir
muito bem.
Desvio o meu olhar para o copo em minha mão, enquanto relembro o beijo com Lia. Foi
intenso, arrebatador, o tesão que eu sinto é tão insano, algo que eu não experimento desde a
adolescência, quando meus hormônios estavam em ebulição.
Ultimamente, minha vida sexual se resume a encontros casuais, mulheres dispostas e
conscientes do que fazer para me agradar na cama. Mal conseguia me lembrar da última vez que
troquei um beijo genuíno.
— Ela é linda, e bem que me avisou que é uma boa pessoa, mas você sabe como é, as
diferenças sociais...
— Farei o que for necessário para honrar o desejo da vovó — corto, minha paciência
esgotada. A última coisa que eu quero é ouvir a análise de Briana sobre o relacionamento que é,
em toda parte, uma farsa.
— Eu acredito em você, Oliver.
Não posso negar que essa noite me causou um abalo profundo. Lia estava deslumbrante,
segura de si mesma, e a maneira como ela se portara durante o baile me deixou admirado.
Nossa conversa quente, as provocações mútuas, a faísca que voava entre nós, tudo isso
culminou no beijo que compartilhamos.
Um beijo que me fez esquecer o mundo à nossa volta, que incendiou meu corpo com um
desejo há muito adormecido. Cheguei a considerar levá-la para algum canto escuro e privado
daquele salão e tornar o desejo realidade, e o mais grave, desde quando a conheci, ela foi a única
pessoa que realmente quis conversar de forma prolongada.
— Tem certeza de que vai voltar para os Estados Unidos agora? Posso segurar as pontas,
acho muito ruim você ir e voltar apenas para o casamento — Briana continuou, como se fosse
sua missão atiçar minhas feridas internas.
— Sim, vou aproveitar esse tempo para resolver a documentação da Lia e possibilitar que
ela me acompanhe sempre que for necessário — respondi, tentando manter a calma.
— Você está fugindo dela, Oliver?
A pergunta em tom de acusação perfurarou minha defesa e atingiram um ponto vulnerável
dentro de mim.
Respiro fundo, guardando a resposta que tanto me afligia. Quanto mais nos afastássemos,
menos chance haveria de que as coisas se tornassem complicadas demais.
— Talvez.
Briana revirou os olhos, como se minha hesitação fosse uma confirmação esperada.
— Homens... — ela murmura, antes de se virar e sair do quarto, me deixando sozinho com
minhas dúvidas e anseios.

Nosso noivado relâmpago caiu como uma bomba na mídia, as manchetes alardeiam sobre
o herdeiro bilionário que casará com a empregada da família, como um conto de fadas, e a
reviravolta que isso trouxe para minha vida é avassaladora.
A imprensa não para de especular, os olhares curiosos me perseguem aonde quer que eu
vá, como se eu fosse um fenômeno de circo.
A noite foi longa e inquieta, repassei incansavelmente cada detalhe do beijo que troquei
com o meu noivo. A suavidade de seus lábios, a intensidade do toque, tudo parece ter sido
gravado na minha mente de forma vívida e indelével.
Meus dedos percorrem o anel de diamantes em meu dedo, um símbolo do compromisso
que estamos fingindo ter.
Bobamente, encaro a janela da imponente mansão, observo o jardim deslumbrante lá fora.
Este seria um cenário realmente perfeito para um conto de fadas, se não fosse a trama
complicada que estamos vivendo.
Sorrio levemente ao lembrar o momento em que confundi Oliver com o jardineiro, um
equívoco que desencadeou uma série de eventos que agora parece impossível de desfazer.
A ironia da situação não passa despercebida por mim, e enquanto enfrento essa nova
realidade, sei que nada mais será como antes.
— Oliver já retornou aos Estados Unidos, mas estará de volta próximo ao casamento, no
mês que vem. Precisamos começar a organizar tudo para essa festa — dona Beatriz fala com uma
animação evidente, sua entrada repentina me pega de surpresa, fazendo meu coração disparar. —
E também temos que começar a pensar no seu enxoval.
— Não é realmente necessário. Provavelmente vou continuar morando aqui, enquanto o
Oliver estará lá nos Estados Unidos. — Minhas palavras saem um pouco hesitantes, já que
percebo que nunca discutimos os detalhes práticos da nossa vida após o casamento.
— Nada disso, minha querida. O lugar de uma esposa é ao lado do marido, não importa as
circunstâncias — dona Beatriz responde com uma convicção firme que me deixa um tanto
desconcertada. Ela parece determinada a seguir seus planos à risca.
— Bem, é que não somos exatamente um casal convencional — respondo, buscando
transmitir minha incerteza.
— Querida, um casal que se beija como vocês se beijaram ontem, não precisa de muitas
convenções. — Ela sorri com um olhar cúmplice, mas meu sorriso é acompanhado por um leve
balançar de cabeça, negando silenciosamente.
— Por que a senhora insiste tanto nesse casamento? — pergunto, buscando entender a
motivação por trás desse arranjo inusitado. — Ele e eu somos completos opostos, ele é um
homem que foi criado para o poder, eu nem criada fui, apenas fui sobrevivendo, às vezes penso
que é injusto a senhora prendê-lo a mim.
A idosa astuta suspira, olha para além da janela da mansão, como se contemplasse um
horizonte que só ela podia enxergar.
— E é exatamente isso que precisam, Lia. Não vê?! — A pergunta me faz negar e fazer
uma careta. — Oliver foi criado para ser herdeiro, poderoso, por isso teve uma vida inteira de
facilidades, agora que ele precisa lutar para ter o cargo que quer, não sabe nem por onde
começar, nunca lutou por nada na vida. Enquanto você, precisou lutar para tudo, agora quero lhe
dar algo de mão beijada, você não sabe como receber. — Suas palavras me fazer revirar os olhos.
— Vocês serão essenciais um ao outro, principalmente porque eu sou o alicerce de ambos, mas
meu prazo de validade está se esgotando.
— Não diga isso. — Franzo o cenho totalmente irritada, retiro minha mão da sua.
— Minha querida, a vida é preciosa e imprevisível. Eu já vivi muito, e sei que cada dia é
um presente. Preciso assegurar o seu futuro e a sua felicidade, mesmo que eu não esteja aqui para
testemunhar tudo. E tenho confiança de que o meu neto, com o tempo, vai enxergar o diamante
que tem ao seu lado — ela diz pegando a minha mão e alisando o anel no meu dedo. — Homem
nenhum gosta de perder uma joia, e você é uma, ele só ainda não se deu conta.
Respiro fundo, compreendendo a seriedade de suas palavras. A avó de Oliver não está
apenas interessada em garantir a segurança financeira de uma "empregada". Ela busca algo mais
profundo, mas o que me incomoda, é o fato de ultimamente ela parecer estar sempre se
despedindo.
— A senhora está em ótima saúde, seus exames estão todos bons — tento argumentar,
desejando encontrar uma maneira de convencê-la a reconsiderar.
— Filha, eu sei o que sinto. Não tenho muito tempo nessa vida, mas o dia que eu partir,
estarei tranquila porque sei que você e ele estarão bem-cuidados, e isso é o que realmente
importa para mim.
Sinto um nó na garganta, incapaz de formular uma resposta adequada para tamanha
generosidade e preocupação.
Enquanto olho nos olhos desta mulher sábia e determinada, percebo que a relação que
construímos não é apenas sobre dinheiro ou aparências. É sobre confiança, respeito e a força do
vínculo humano que pode transcender as barreiras sociais mais rígidas. É sobre criar um futuro
incerto a partir de um presente marcado por escolhas ousadas e corações abertos.
— Não gosto que fale da sua partida — afirmo, meu olhar fixo na senhora idosa que emana
uma sabedoria.
Beatriz Harrison suspira, sua expressão suave mostrando que compreendia a minha
relutância.
Ela se aproxima em sua cadeira de rodas, e eu me agacho, buscando igualar nossas alturas.
Sua mão segura a minha com ternura, seus dedos acariciando o anel de noivado que agora enfeita
o meu dedo.
— Eu sei que não gosta, também sei que não aguenta mais perder pessoas que ama, eu sei
tudo, Lia — ela fala com uma sinceridade que corta como uma lâmina, mas ao mesmo tempo me
acolhe. Seu sorriso carrega uma doçura enquanto observa uma lágrima solitária escapar dos meus
olhos. — Por isso estou cuidando de tudo. Não quero que a minha partida seja um trauma a mais
para você. Quero que entenda que é um ciclo natural da vida, não algo a lhe punir com rigor, mas
sim como um rio seguindo seu curso, querida.
Uma segunda lágrima escapa dos meus olhos, carregando com ela uma torrente de
emoções. Lembrar do desamparo que vivi antes de Beatriz entrar em minha vida é como abrir
uma ferida antiga. Mas ela aperta minha mão com firmeza e rouba minha atenção.
— Oliver precisa de alguém que cuide dele, alguém que o entenda além das aparências.
Ele parece um homem duro, mas sempre que algo desanda, é a mim que ele procura. — Ela ri
com doçura, suas rugas contando histórias de anos vividos. — Meu colo de vó, ele costuma
dizer. E é por isso que eu também preciso que cuide dele, Lia. Que seja o apoio que ele busca,
mesmo que ele não admita tão facilmente.
— Pare de dizer essas coisas. — Minha voz escapa um pouco mais ríspida do que eu
pretendia, revelando a mistura de emoções que essa conversa desperta.
Beatriz me lança um olhar compreensivo, como se pudesse ler os pensamentos que eu
tento esconder.
— Eu tenho convicção de que vocês serão muito felizes juntos, filha. — Sua afirmação soa
firme, carregada de confiança, mas também de uma sabedoria que ultrapassa os anos que
vivenciou.
É como se ela visse através das minhas inseguranças e medos, enxergando um potencial
que eu mesma nem sempre consigo enxergar.
Mordo o lábio inferior com força, uma tentativa de conter as palavras que queriam escapar.
A verdade era que, apesar das palavras provocantes de Oliver sobre nossa "noite de núpcias", eu
sinto que existem muitas barreiras e obstáculos impostos diante de nós.
Eu quero acreditar nas palavras dela, desejo fervorosamente que sua confiança se
concretizasse em uma realidade feliz para nós, mesmo que apenas como amigos.
No entanto, as incertezas pairam como sombras, me lembrando constantemente que aquilo
que parecia um conto de fadas tinha raízes profundas na realidade, na qual nem sempre as
histórias tinham finais felizes.
— Agora, vamos falar de coisa boa, tenho um presente para você. — O olhar brilhante de
Beatriz me pegou de surpresa, desviando minha atenção das preocupações momentaneamente.
— Se for mais um daqueles vestidos chiques que me presenteia... — Tentei brincar, mas
ela me interrompeu com um sorriso travesso.
— Já sei que vai dizer que não tem onde usá-los, mas agora você será esposa de um
homem poderoso, precisa estar sempre elegante. — Ela deixa escapar um risinho, como se já
tivesse antecipado minha resposta.
Essa dinâmica entre nós não é nova. Beatriz sempre me presenteia com roupas elegantes,
sapatos deslumbrantes e bolsas sofisticadas, que eu costumo deixar aqui na mansão. Afinal, além
dos eventos esporádicos nos quais a acompanhava, minha vida não tinha muitos momentos que
exigissem tais trajes requintados.
Suspiro, sorrindo para ela.
É uma ação recorrente que demonstra o carinho que ela tem por mim, mesmo que às vezes
sua generosamente me deixe um tanto desconfortável.
— Bem, quem sabe agora eu realmente tenha motivos para usá-los, não é? — brinco,
enquanto ela se levanta da cadeira de rodas com uma agilidade impressionante para sua idade.
— Essa é a atitude! Venha comigo, querida. Tenho certeza de que vai adorar o que escolhi
para você. — Ela acena para que a siga, e eu vou, curiosa e ansiosa para descobrir qual seria a
surpresa dessa vez.
Continuamos a conversar enquanto caminhamos pelos corredores da mansão. Beatriz conta
histórias de sua juventude e de como costumava se envolver em confusões, sempre com um
brilho travesso nos olhos. Seu senso de humor e sua perspicácia são impressionantes, e eu sinto
uma conexão genuína com ela.
Finalmente, chegamos a um cômodo que eu nunca tinha explorado antes. Era uma sala
ampla, com grandes janelas que deixam a luz do sol entrar e iluminar cada canto. No centro da
sala, havia um suporte de roupas com um vestido tão deslumbrante que eu não pude deixar de
arregalar os olhos.
Era um vestido longo, de um azul profundo que lembrava o céu noturno. O tecido é
totalmente macio ao toque, e a saia flui suavemente, quase como uma cascata de seda. Detalhes
em renda adornam o corpete, acrescentando um toque romântico e delicado.
— Oh, dona Beatriz, ele é simplesmente deslumbrante — murmuro, quase sem palavras
diante da beleza da peça.
Ela sorri, satisfeita com minha reação.
— Sabia que você adoraria. Acho que esse vestido é perfeito para o seu primeiro evento
como noiva. — Ela me olha com um brilho cúmplice nos olhos.
Olho para o vestido, depois para ela, e percebo a mensagem por trás de suas palavras. Esse
gesto, a escolha desse vestido, é mais do que uma simples gentileza. Era uma maneira de me
encorajar a abraçar esse novo papel, a enfrentar os desafios que estão por vir e encontrar a força
dentro de mim para enfrentar qualquer situação.
Agradeço a ela com um abraço apertado, sentindo-me emocionada e grata por ter alguém
como ela em minha vida. Aos poucos, eu começo a entender suas motivações e seu desejo
genuíno de me ver feliz.
Enquanto seguro o vestido em minhas mãos, eu percebo que estou prestes a embarcar em
uma jornada cheia de desafios. E, no fundo, eu sinto que dona Beatriz está torcendo por nós,
torcendo por mim, para que eu encontre minha própria felicidade e forje um destino que seja
verdadeiramente meu.
Capítulo 13: As escolhas

Acomodo-me na minha estável cadeira de couro preto no meu escritório, localizado no


coração da cidade da Virgínia, nos Estados Unidos. As amplas janelas oferecem uma vista
panorâmica da paisagem urbana controlada lá fora, mas meus olhos estão focados em algo
completamente diferente.
Meu olhar vagueia pela sala elegantemente decorada, mas tudo o que vejo é a imagem de
Lia, aquele beijo intenso que trocamos no baile, sua voz suave que ainda ecoa em meus ouvidos.
Ela é um paradoxo em minha mente, uma garota simples e determinada, que de alguma
forma virou minha vida de cabeça para baixo.
Minha mesa de mogno escuro está organizada com papéis e documentos, mas é como se a
presença dela permeasse o ambiente, como se seu aroma doce pairasse no ar.
Sorrio, ao encarar a fotografia da minha avó Beatriz, sentada, em uma moldura de prata ao
lado da minha mesa, um lembrete constante do papel que ela desempenhou em toda essa história.
Meu celular vibra suavemente sobre a mesa, interrompendo momentaneamente meus
pensamentos. É uma notificação, programei um alerta sempre que meu nome é mencionado em
algum canto da internet.
Ao deslizar o dedo sobre a tela, a imagem que se revela me deixa momentaneamente sem
palavras.
É Lia, irradiando beleza e confiança, iluminando um deslumbrante vestido azul escuro. A
forma como o tecido abraça suas curvas e realça sua beleza natural é simplesmente hipnotizante.
Seus longos cabelos loiros caem com graciosidade sobre seus ombros, e seu sorriso parece
genuíno.
Minha avó, está ao lado dela na foto, sentada em sua cadeira de rodas com uma expressão
afetuosa. O evento parece ser um almoço beneficente, e o título da manchete não poderia ser
mais ousado: "Noiva do Herdeiro da Família Harrison Comparece ao Evento no Rio: Eu e Oliver
Estamos Radiantes."
A surpresa me atinge. Lia está se adaptando a esse mundo de aparências de maneira
surpreendentemente natural.
Ela não apenas aceitou o papel que foi atribuído a ela, mas parece estar abraçando-o com
graça e charme. Meus olhos ficam fixos na imagem por um longo momento, incapazes de
desviar enquanto uma mistura de emoções me atravessa.
Fico orgulhoso de vê-la tão bonita representando o meu nome, carregando o anel que lhe
dei, se destacando na mídia. A transformação dela, de uma faxineira humilde a uma presença
radiante em eventos sociais, é incrível e ao mesmo tempo assustadora. Ela está se tornando uma
mulher que não apenas eu, mas a mídia e o mundo estão começando a reconhecer.
Com um suspiro, deslizo o dedo sobre a tela para fechar a notificação.
Decido, então, ligar para ela, pego o número de contato que encontrei na ficha de
funcionários da casa da minha avó. O telefone chama apenas uma vez antes de ser atendido, e
sua voz, um tanto ofegante, ecoa do outro lado da linha.
— Olá, minha noiva, como está? — brinco, cumprimentando-a de maneira cordial.
— Ah, Oliver, é você? — O espanto evidente em sua voz me diverte. — Nunca poderia
imaginar que possui o meu número já que nunca me pediu diretamente — resmunga.
— Já salva esse número, é o meu contato direto.
— Está certo.
— Por que está ofegante? — pergunto, deixando a curiosidade falar mais alto.
— Nada demais, apenas estou ajudando a nova faxineira a organizar a despensa.
— Lia, ela deve ser capaz de fazer o trabalho sozinha.
— Preciso orientá-la a fazer do jeito que eu gosto, afinal, eu cuido dessa casa.
— Mas você é a minha noiva, não tem mais que se preocupar em cuidar da casa. Afinal,
esse é o papel da nova funcionária agora.
Um breve silêncio paira entre nós, e eu posso quase sentir a hesitação em sua respiração
profunda do outro lado da linha. Nossos papéis nessa farsa de relacionamento estão começando a
se entrelaçar, e é claro que isso traz uma série de ajustes e desafios.
— Oliver, eu entendo, mas cuidar dessa casa é algo que faço há tanto tempo... Sabe, é
quase como uma parte de mim.
Sua voz é um pouco insegura, e isso me faz perceber o quanto essa situação é complicada
para ela. Tento escolher minhas palavras com cuidado.
— Eu entendo, Lia. Mas realmente não quero que se sobrecarregue com nada.
— Tudo bem, Oliver. Pode deixar.
— E não hesite em me ligar se precisar de algo ou tiver alguma dúvida. Estamos nisso
como uma equipe, certo?
— Certo, equipe. — Sua voz parece mais leve agora, e isso me tranquiliza. — Por falar em
equipe, eu conheci o verdadeiro Cosme.
— Deus, eu queria ter visto essa cena. — Sorrio de forma genuína.
— Ele correu de mim, assim que o alcancei me enxotou dizendo algo sobre perder
dinheiro. O cara não é muito certo das ideias.
Nota mental: avisar o jardineiro que nosso acordo acabou. Decido então mudar o assunto,
antes que ela perceba que tenho dedo nisso.
— Você recebeu o cartão que mandei te entregarem? — pergunto, certificando-me de que
ela tenha o melhor à sua disposição.
— O cartão black sem limites?! Sim, eu recebi. — Seu gritinho histérico me faz afastar o
celular por um segundo, divertindo-me. — Andou realmente lendo o casal furacão, não é? —
Rimos juntos, lembrando da referência a cena em que o mocinho do livro que Lia gosta oferece
seu cartão para a noiva dele por contrato.
— Ótimo que recebeu, ainda não recebi notificação de compras, use-o para comprar o que
quiser e o que precisar, não se importe com valores — falo, acomodando-me na cadeira e
relaxando. Afinal, como seu noivo, quero garantir que ela tenha tudo o que necessita, e,
sinceramente, gosto de me sentir seu provedor, de saber que posso cuidar dela.
— Oliver, eu estive pensando... — Ela leva alguns segundos em silêncio na linha, e minha
curiosidade aumenta.
— Lia?! Ainda está aí? — Seu ofego confirma que ela ainda está na ligação. — Diga, seja
o que for, o que a aflige?
— É que, sua avó me disse que devo fazer um enxoval, mas não sei se será necessário.
Suponho que você vá me deixar aqui enquanto continua morando nos Estados Unidos, não é?
Fico momentaneamente em silêncio, porque percebo que realmente não considerei a parte
prática desse arranjo. Estou tão acostumado a viver minha vida de forma independente...
— Não quero te separar da minha avó, e, embora eu não possa morar no Brasil por
enquanto, acredito que vez ou outra vou precisar que esteja aqui, para ir a eventos da empresa e
da minha família.
— Eu tenho passaporte e visto, sua avó realmente já vem planejando isso há algum tempo,
pelo jeito. — Nós dois rimos, reconhecendo a astúcia de Beatriz Harrison.
— Já que terá que vir algumas vezes, quero que se sinta bem aqui, vou te enviar o meu
endereço nos Estados Unidos. Você pode comprar pela internet coisas que gostaria e enviar. O
apartamento já está mobiliado, mas você pode escolher os itens de decoração do seu gosto — eu
falo com sinceridade, afinal, não tenho muitos vínculos com o meu espaço, passo a maior parte
do tempo no escritório.
— Certo.
— Ótimo. Se tiver alguma dúvida ou precisar de alguma ajuda, não hesite em me ligar,
Lia.
— Obrigada, Oliver. Tenha um bom dia.
— Você também, Lia. E lembre-se, estamos juntos.
— Certo, equipe. — Seu deboche é a última coisa que pego no ar antes de encerrarmos a
ligação.
Despejo o celular na mesa com um sorriso, sentindo que, aos poucos, estamos começando
a nos entender nessa teia de compromissos e expectativas. É um caminho complicado, mas com
o tempo, talvez possamos encontrar uma maneira de tornar esse casamento de mentira em algo
que realmente funcione para ambos.
Tem uma semana inteira que não falo com a minha noiva, e a ausência dela começa a se
fazer notar, afinal quando estive na casa da minha avó, era um momento bom o café com Lia
tagarelando e me divertindo.
Minha vida costuma ser solitária e focada unicamente no trabalho, mas agora que chego
em casa depois de dias dormindo no quarto que possuo dentro da empresa, há um vazio estranho.
No entanto, ao entrar na minha sala, vejo algo que chama minha atenção: ela está tomada
de caixas de papelão.
Curioso, abro um dos pacotes e percebo que são itens de decoração.
Um abajur de muito bom gosto é o que vejo primeiro. Decido ligar para Lia
imediatamente, e ela atende o telefone animada.
— Diga que o aparelho de jantar mais lindo do mundo chegou aí. — Sua voz é um alívio
para os meus ouvidos, e sinto meus ombros relaxarem ao ouvi-la.
Olho ao redor e encontro a caixa com a informação de "produto frágil". Caminho até ela,
curioso para ver o que mais ela escolheu.
— Estou segurando um abajur — confesso, admirando-o enquanto falo.
— Ótimo, esse pensei em colocar na sala. Gostei porque é bonito e prático de limpar.
— Lia, você não vai precisar limpar nada aqui — digo, com uma mistura de diversão e
surpresa em minha voz.
— Eu gosto das coisas limpas, sou sistemática, me deixa em paz, Oliver! — Sua resposta
me faz rir involuntariamente, encantado com a energia dela.
Abro a caixa do aparelho de jantar e tiro um dos pratos cuidadosamente. Admiro o design
elegante e a qualidade da peça.
— Está inteiro, é realmente muito bonito.
Compartilho com ela, sentindo uma estranha sensação de conexão ao segurar esse prato
que ela escolheu.
Nunca dei muita importância para essas coisas de casa. Afinal, a única visita que recebi
aqui era a minha ex-namorada e realmente passo pouco tempo aqui.
Nem mesmo sei a cor dos copos e pratos que já possuo. No entanto, ao ouvir os gritinhos
histéricos de Lia do outro lado da linha, de repente me animo, segurando um prato de porcelana
nas mãos.
— Preciso saber o tamanho das camas que possui aí, para que eu possa comprar jogos de
cama. Estou apaixonada por uns de poá.
— Eu não faço ideia do tamanho, Lia.
— Como assim não sabe? Quando foi comprar como fez?
— Não comprei nada daqui. Tudo foi meu assistente pessoal a mando da minha equipe de
designers.
— Isso é tão impessoal.
Olho ao redor do apartamento, onde tudo é branco e impecável. Por um momento, percebo
que parece um hospital, tudo sem cor, realmente.
— Sobre a minha cama, ela cabia a mim e à minha ex e ainda sobrava muito espaço livre.
Acho que todas do apartamento são desse mesmo tamanho — falo, tentando dar uma ideia
aproximada do tamanho, mas o silêncio do outro lado da linha me faz pensar se fui rude em
algum momento.
— Oliver... — Lia finalmente quebra o silêncio, sua voz soa um pouco incerta. — Arrume
um jeito de descobrir o tamanho das camas, de preferência sem medir com pessoas, afinal corpos
têm tamanhos diferentes.
Tento acalmar o clima, lembrando-a dos limites que estabelecemos.
— Somos amigos, não é nada demais que eu meça com corpos — brinco, mas há silêncio
do outro lado da linha.
O incômodo persiste. Parece que involuntariamente revelei algo que não deveria, decido
então mudar o assunto para algo mais ameno.
— Certo, vou entrar em contato com a minha designer para descobrir o tamanho exato.
Precisa de mais alguma medida? — Arrependo-me da pergunta no momento em que termino de
fazê-la.
— Sim! — O gritinho animado me faz afastar o celular do ouvido por um segundo. — O
tamanho da sala, quero comprar tapetes. Também preciso saber das cortinas e das toalhas de
mesa... Ah, tudo bem para você se as nossas toalhas forem maiores do que as de um casal
convencional?
Fico momentaneamente perdido, tentando acompanhar o rápido fluxo de pensamento dela.
— Acho que sim.
— Ótimo! — ela responde, e sua energia é tão contagiante que não posso deixar de sorrir.
— E a minha avó, como está? — pergunto, de repente não querendo dar fim à conversa.
Lia é uma boa amiga, e sua companhia me faz muito bem.
— Está ótima. Hoje tive uma reunião com a estilista que vai criar o meu vestido de noiva, e
dona Beatriz me ajudou com várias escolhas. É incrível como ela é lúcida e elegante.
Sinto uma onda de carinho pela minha avó, uma das pessoas mais especiais na minha vida.
— Minha avó é a melhor pessoa que conheço — confesso, relaxando ao pensar que Lia é
tão boa pessoa quanto ela.
— Cancele a ideia de um casamento discreto, sua avó tem uma lista de 600 convidados.
Ao ouvi-la compartilhar mais detalhes sobre os preparativos do casamento, eu percebo que
nossa conversa está fluindo naturalmente, como se fôssemos velhos amigos.
Solto uma risada, imaginando a reação dela ao lidar com os desejos extravagantes de dona
Beatriz.
— Por mim tudo bem, estou empenhado em fazer a vontade dela, já que insiste tanto que
ela já está nos seus últimos momentos de vida, a não ser que seja algum incômodo para você.
— Não tem problema algum, Oliver. A única coisa em que discordei foi de fazer a festa
em algum lugar luxuoso. Eu quero que seja aqui na mansão.
Sinto a sinceridade nas palavras dela e me tranquilizo.
Lia parece compartilhar do meu sentimento em relação a este lugar especial.
— Você tem razão, Lia. Tem que ser aí.
— Aqui é o nosso lugar favorito no mundo todo, Oliver.
Fico em silêncio por um momento, deixando as palavras dela ecoarem em minha mente.
Penso no aconchego que sinto por aquela casa, no quanto ela representa para mim. É o lugar
onde o amor dos meus avós se fortaleceu, onde conheci Lia, onde nos tornamos amigos e onde
nos beijamos pela primeira vez...
— É, esse é o nosso lugar favorito, realmente — confesso, com um sorriso involuntário
enquanto me deixo levar pelas lembranças e sentimentos que essa conversa desperta em mim.
Uma sensação curiosa toma conta de mim enquanto nossa conversa chega ao fim. É quase
um assombro reconhecer que, depois da minha avó, Lia é a pessoa que mais conhece meus
sentimentos. O amor que sinto por dona Beatriz e por aquela casa é algo profundamente íntimo, e
percebo que isso nos une de uma maneira única. Tenho a certeza de que ela compartilha desse
mesmo sentimento, de que ama tudo isso tanto quanto eu.
Despedimo-nos, e enquanto começo a embrulhar novamente os itens nas caixas, um sorriso
bobo surge em meu rosto.
Imagino Lia desempacotando cada peça e escolhendo onde colocá-las. A ideia de que ela
vai deixar a sua marca nesse espaço, que é tão impessoal para mim, me surpreende, mas de uma
maneira boa.
Inesperadamente, tenho a sensação de ansiedade ao pensar no momento em que ela
finalmente verá tudo em suas próprias mãos. A ideia de compartilhar essas escolhas com Lia, de
tornar este espaço mais nosso, parece mais interessante do que eu poderia ter imaginado.
Capítulo 14: As provocações

A manhã está fresca na Virgínia quando chego à imponente sede da empresa que carrega o
nome da minha família. O sol ainda se ergue no horizonte, lançando um tom dourado suave
sobre os prédios de vidro e aço que compõem o complexo corporativo.
A Virgínia é apenas um dos muitos locais onde a empresa atua, mas é o lugar considerado
como o centro de operações. É onde tudo começa, onde as decisões importantes são tomadas e
onde a visão da minha família para o futuro ganha forma.
Deixo o carro preto esportivo no estacionamento reservado para os executivos,
agradecendo mentalmente por ter chegado cedo o suficiente para garantir um lugar. Ainda que a
empresa fosse da minha família, não havia espaço para tratamento preferencial. O sucesso foi
conquistado com esforço, não com privilégios.
Enquanto caminho em direção à entrada principal, cumprimento os funcionários que
passam por mim com sorrisos e acenos de cabeça contidos. Muitos me reconhecem, afinal eu sou
uma figura conhecida nas reuniões e eventos da empresa. No entanto, eu faço questão de manter
uma certa distância e formalidade.
As relações pessoais são complicadas demais para serem misturadas com o mundo dos
negócios. O legado Harrison é uma responsabilidade que eu carrego com orgulho, mas também
com um peso significativo.
Ao entrar no prédio principal, a atmosfera muda. O zumbido das conversas, o som de
passos apressados e o brilho constante das telas de computador criam um ambiente que eu
conheço bem. É um lugar de trabalho, de decisões importantes e de estratégias muito bem
traçadas.
Minha assistente pessoal, Emily, espera por mim, seu Ipad em mãos e uma expressão
festiva. Ela rapidamente me informa sobre as reuniões agendadas para o dia e os principais
pontos que deveríamos discutir. Agradeço a ela pela atualização e vejo-a se afastar para lidar
com outras tarefas.
Caminho até minha sala, e repenso que depois da minha conversa com Lia, passei a
reavaliar as decorações dos espaços em que vivo, penso nas paredes da minha sala que são
adornadas apenas com quadros de conquistas da empresa ao longo dos anos.
Ao abrir a porta, respiro fundo controlando a irritação pela visão do meu tio
confortavelmente instalado na minha cadeira. Com um suspiro interno, seguro minha mala de
couro, lutando para controlar a aversão que sinto neste momento.
— Que surpresa in... — suportável. — Inesperada. A que devo a honra? — Minha voz
carrega um tom de sarcasmo, enquanto coloco a mala com um pouco mais de brusquidão sobre a
mesa.
Ele não se levanta, apenas me observa com um sorriso de superioridade que me irrita
profundamente.
— Eu não sei o que está por trás do seu casamento com a faxineira, mas eu vou descobrir,
Oliver. Sei que tem dedo da minha mãe nesse plano. — Sua voz é ameaçadora e seus olhos
cintilam com uma intensidade perturbadora. — E se for algo contra mim, eu vou destruí-lo.
Solto um riso curto e cínico, me inclino contra a mesa, enfrentando-o de maneira
desafiadora.
— Como eu poderia articular contra o grande presidente das nossas empresas? — Deixo
escapar um sorriso de lado, com nítido cinismo. — E além do mais, meu querido tio, eu sou um
homem noivo e apaixonado agora, sinto te desapontar, mas o mundo não gira ao redor do seu
umbigo.
Seus olhos estreitam perigosamente, e posso ver a raiva se acumulando sob sua fachada
controlada, afinal ele sabe o quanto sou frio nos meus relacionamentos.
— Eu descobrirei seu ponto fraco e vou quebrá-lo. — Sua voz é um sussurro ameaçador.
Um sorriso irônico curva meus lábios enquanto mantenho meu olhar firme sobre meu tio.
A tensão é palpável no ar, carregada com a rivalidade que sempre existiu entre nós.
— Vai ser interessante ver sua tentativa, tio. — Minha voz ressoa com uma confiança
inabalável e um desafio claro. — E, quem sabe, talvez eu me divirta com a expressão no seu
rosto quando perceber que não existe nenhum ponto fraco meu para que você possa explorar.
O olhar intenso que trocamos é como um duelo silencioso, um confronto de vontades e
ambições. Não tenho a menor intenção de recuar ou ceder sequer um centímetro, mesmo diante
do meu tio, conhecido por seu poder de manipulação. Nossa batalha está apenas começando.
Ele se levanta da minha cadeira, que estava sentado, move-se em minha direção e para a
uma pequena distância de mim. Ajusta a gravata com um movimento firme antes de me encarar.
— Vou ao Brasil visitar minha mãe alguns dias antes do seu casamento, eu ia chegar
apenas no dia da cerimônia, mas decidi chegar antes.
Seu tom não é de um pedido, mas de uma ordem sutil. Ele está me mostrando
implicitamente que está ciente de que há algo transitório, algo fora do lugar. Deixar minha avó e
Lia sozinhas com ele representaria um perigo iminente.
Diante da situação, tomo uma decisão pragmática, uma que visa a proteção de ambas.
Afinal, Lia está se tornando alvo do interesse incansável de Robert Harrison.
— Deixe seu filho encarregado de tudo aqui. Vou junto com você em nosso jatinho. Sinto
muita falta da minha noiva.
Minhas palavras confirmam suas suspeitas. Agora, mais do que nunca, Lia está sob o radar
do meu tio. E estou decidido a protegê-la conforme prometi a minha avô, da voracidade
implacável de Robert Harrison.
— Está certo, então vamos juntos.
Ele deixa minha sala, sua saída carregada de uma aura nebulosa que me deixa com um
pressentimento incômodo. Logo em seguida, meu primo entra, trazendo consigo um ar mais leve
e descontraído.
— Por que meu pai saiu daqui feito um furacão? — a pergunta dele me arranca um sorriso.
Apesar de ser filho do meu tio, Alexander é um bom rapaz.
— Assuntos de trabalho, nada demais. — Decido simplificar, já que prefiro manter meu
primo afastado das tensões e disputas de ego que ocorrem entre meu tio e eu.
— Ah, e falando em assuntos nada demais, já planejei toda a sua despedida de solteiro.
— O quê?! — exclamo.
Quase me jogo para trás na minha cadeira, incrédulo, enquanto o vejo sentar-se na minha
mesa com um sorriso travesso.
— É verdade, primo. Tenho todos os detalhes planejados. Será uma experiência
inesquecível.
Com seus vinte e seis anos recém-completos, Alexander é uma mistura de juventude e
entusiasmo. Ele acaba de se formar e gosta de curtir a vida noturna e as festas, enquanto eu
sempre fui mais voltado para uma abordagem séria e caseira da vida.
No entanto, nunca me senti obrigado a dar satisfações às minhas namoradas. Sempre estive
em relacionamentos, mas nunca prometi fidelidade a ninguém, optando por seguir as aventuras
que tinha vontade no momento. E, mesmo agora, envolvido em um relacionamento falso, mesmo
que seja um casamento, a dinâmica não será diferente.
Ademais, tenho estado tão focado na minha avó, na Lia e no trabalho, que percebo que faz
um bom tempo desde a última vez que estive com alguém sexualmente. Talvez a ideia da
despedida de solteiro não seja tão ruim assim.
— Diga que convidou um monte de mulheres deslumbrantes — falo, meio brincando, e ele
sorri maliciosamente.
— Nenhuma com uma bunda tão bonita quanto a da sua noiva, mas dá para passar o
tempo. — A réplica de Alexander me faz franzir o cenho, irritado com sua postura.
— Não fale assim sobre ela. — Minhas palavras saem mais duras do que eu pretendi.
Meu sorriso desaparece em resposta ao seu comentário. Levanto-me da cadeira, sentindo
um incômodo pela brincadeira dele. Não suporto a ideia dele ver Lia como um objeto.
— Nada demais, Oliver, sempre falamos de bundas e peitos bonitos, porra. Relaxa!
— Cuidado com as palavras, Alexander. Lia não é uma mulher para brincadeiras assim, ela
será minha esposa, exijo respeito.
Alexander ergue as mãos em sinal de rendição, com um sorriso divertido no rosto.
— Está certo, não vou mais falar da bunda bonita e arrebitada da sua esposa, mas saiba que
aprecio.
— Nunca mais diga isso, não brinque mais assim, Alexander. — Minha resposta sai firme,
deixando claro que não aceitarei esse tipo de comentário novamente.
— Se eu não te conhecesse, poderia jurar que está com ciúmes... Você precisará trabalhar
na sua possessividade, Oliver. Afinal, Briana está planejando a despedida de solteira da sua
noiva, e você sabe que sua irmã nunca faz as coisas pela metade — ele alfineta, o que só
aumenta minha tensão.
— Lia sabe disso? — Ajusto meu paletó, indignado com a ideia de que ela poderia ter uma
despedida de solteira elaborada por Briana, sem meu conhecimento ou consentimento.
— Não sei, mas Briana está extremamente empolgada com isso — ele responde, com um
sorriso divertido.
Quando percebo, estou caminhando pelo corredor, com Alexander rindo nas minhas costas.
Ambos invadimos a sala da minha irmã.
— Você é um dedo-duro, Alexander! — São as primeiras palavras que ela diz,
demonstrando já estar ciente da discussão entre nós.
— Pode cancelar tudo que organizou para a despedida de solteira da Lia — esbravejo.
— Olha só quem decidiu invadir meu ambiente de trabalho com toda essa exigência! —
Briana exclama, com um sorriso malicioso, enquanto cruza os braços e me encara de maneira
provocativa. — O grande Oliver Harrison, o homem que nunca se abala, está realmente
preocupado com uma singela despedida de solteira?
Reviro os olhos, ignorando sua provocação e focando no assunto que realmente importa.
— Não acho que seja apropriado, Briana. Lia não é como você e suas amigas, ela não
aprecia esse tipo de coisa.
Ela ri, um riso de quem claramente não concorda comigo.
— Ah, Oliver, você sempre tão certinho. Você não percebe que isso é só uma brincadeira,
uma forma de aproveitar esse momento absurdo que vocês estão vivendo?
Minha paciência está se esgotando, e minha irmã percebe isso. Ela se aproxima, apoiando-
se na mesa, o olhar faiscando de diversão.
— Querido irmãozinho, você precisa relaxar um pouco. E quanto a Lia, acredite em mim,
ela é mais do que capaz de lidar com uma despedida de solteira extravagante. Na verdade, ela
pode até gostar da ideia. Quem sabe?
Minha expressão deve estar uma mistura de desaprovação e confusão, porque Briana não
consegue mais conter o riso.
— Você é tão controlador, Oliver. Só espero que Lia não precise domar esse seu lado
quando vocês finalmente formarem um casal de verdade.
Respiro fundo, tentando manter a calma enquanto ela continua a me provocar.
— Sabe, Briana, eu só quero que ela esteja confortável e feliz. Não quero que nada a faça
se sentir desconfortável ou pressionada, e eu te conheço a ponto de saber que você é sem noção.
Alexander gargalha com a minha confissão.
Ela me observa por um momento, parecendo avaliar minhas palavras.
— Tudo bem, Oliver, eu entendo. Mas saiba que minha intenção é apenas fazer desse
momento algo divertido para ela. Afinal, não é todo dia que se é "noiva" de um bilionário viciado
em trabalho, não é?
Seu sorriso malicioso persiste enquanto ela me afasta da sua sala, e eu só posso suspirar,
sabendo que Briana provavelmente tem mais planos do que está revelando.
Minha irmã empurra-me com um sorriso travesso nos lábios, e eu recuo lentamente,
mantendo meu olhar fixo no dela. Enquanto se aproxima, profiro minha promessa com uma voz
firme, tentando manter a paciência:
— Se algo sair do controle, eu juro que eu...
Antes que eu possa terminar minha sentença, a porta da sala dela é batida com força, e eu
me encolho para evitar que atinja meu rosto. Um som de irritação escapa dos meus lábios
enquanto eu rosno baixinho, completamente exasperado com a capacidade de Briana de me
provocar.
Ela ri do outro lado da porta, e eu não posso deixar de revirar os olhos. A relação entre
mim e minha irmã sempre foi uma mistura de amor e tensão. Ela adora me empurrar aos limites,
e eu sempre me encontro no meio de suas brincadeiras, mesmo quando tento resistir.
Respiro fundo e me afasto da porta, decidindo que é melhor sair antes que minha irritação
me leve a dizer algo que possa me arrepender. Afinal, a última coisa que preciso agora é dar mais
munição para a provocação interminável de Briana.
Capítulo 15: A tensão

Faltam apenas três dias para o nosso casamento, e a tensão parece aumentar à medida que
o grande dia se aproxima. Olho pela janela vendo um carro elegante carregar Oliver que acabou
de chegar, acompanhado por seu tio.
Conheço bem as histórias sobre esse filho problemático que dona Beatriz costuma
mencionar, e, sinceramente, a última coisa que desejo tão perto do casamento é qualquer fonte de
estresse.
Decido me esconder, optando por evitar qualquer possível confronto ou situação
desconfortável. No entanto, os ruídos da conversa entre a senhorinha que tanto amo e seu filho
ecoam até a cozinha onde eu estou, e preocupada com ela, decido ficar por perto.
Uma sensação de curiosidade começa a me beliscar, e embora eu saiba que estou errada,
não consigo resistir à tentativa de espiar.
Com passos silenciosos, vou até a porta, esgueirando-me discretamente para ver o que está
acontecendo. Através da fresta da porta, posso ver dona Beatriz e seu filho, Robert, em uma
discussão acalorada.
— A senhora tem dedo nisso, mamãe, tenho certeza! — Robert fala com um tom de
acusação, e eu me sinto um pouco culpada por estar ouvindo atrás da porta, como uma
verdadeira fofoqueira. No entanto, minha curiosidade é maior.
— Querido, o Oliver veio ao Brasil por vontade própria e se apaixonou por Lia, e ela por
ele. Eles são adultos — dona Beatriz responde com uma voz tranquila, mas firme.
— Oliver nunca se apaixona, ainda mais por uma faxineira que não tem onde ser enterrada.
Não menospreze a minha inteligência, mamãe. — No entanto, a resposta dela não acalma a ira de
Robert, que continua falando com amargura.
A tensão no ambiente é afiada, e observo enquanto Robert passa a mão nervosamente pelos
poucos fios de cabelo em sua cabeça que há muito mais por trás dessa situação do que eu
imagino, e que as relações na família de Oliver são mais complexas e cheias de segredos do que
eu jamais poderia ter previsto.
— Qual é o seu temor, meu filho? — Dona Beatriz debocha, sua figura pequena e
imponente sentada em sua cadeira de rodas, dando à cena um toque quase teatral.
— Eu sei que a senhora nunca gostou de mim, e tem Oliver como seu queridinho. Temo
que possa arquitetar algo para me prejudicar na minha empresa. — Robert expressa sua
preocupação de forma direta, mirando sua mãe com um misto de desconfiança e desafio.
Dona Beatriz, de maneira sorrateira, toca seu cordão de pérolas com um gesto quase
casual, mas seus olhos brilham com uma sabedoria adquirida ao longo dos anos. Ela sorri com
doçura, como quem sabe de segredos que os outros mal arranham a superfície para descobrir.
— Robert, eu sempre te amei, meu filho, apesar das suas crenças. No entanto, conheço
cada nuance da sua personalidade. Apesar da criação que lhe dei, você sempre teve uma sede
inabalável por poder, uma vontade incansável de atropelar qualquer um que cruze seu caminho
em nome da ambição. — Ela semicerra os olhos, fixando-os no filho, que fecha as mãos em
punho como se quisesse esconder a ira que cresce dentro dele. — E quanto à empresa, lembre-se:
ela é minha! Quando seu pai faleceu, ele me concedeu o poder de decisão. Portanto, se você está
ocupando o cargo que ocupa agora, agradeça-me por isso, meu filho.
Robert se retrai, apertando ainda mais os punhos, mas sua mãe não demonstra fraqueza.
Com um movimento quase imperceptível, ela ajusta as pérolas no pescoço e ele continua a falar.
— Eu conquistei meu cargo.
— Isso, e permanecerá nele até o momento que eu achar que deve sair. — A firmeza em
sua voz é surpreendente, revelando um lado dela que nunca conheci. — Você não tem mais
poder do que eu, filho.
— É claro que tenho mais poder do que você. Ou acha que as pessoas vão acreditar em
mim, um homem de negócios, ou em uma senhora esclerosada de noventa anos?
A ameaça velada quebra o ar, fazendo-me estremecer mesmo à distância. Ela, no entanto,
reage com um riso suave, como se as palavras de Robert fossem meras brisas passageiras.
— Respondendo à sua pergunta: as pessoas vão acreditar em quem tem mais poder, mas é
aí que você se engana, meu caro Robert. A verdadeira questão aqui não é quem as pessoas vão
acreditar, mas sim em quem elas escolhem seguir. Sendo assim, eu ainda ganho. Suas ambições
podem ser vorazes, mas minha experiência é inabalável.
— Então quer dizer que você gosta de ouvir atrás da porta. — A voz de Oliver irrompe
atrás de mim, fazendo-me sobressaltar e minhas mãos voarem ao peito, sentindo o coração
descompassar com o susto.
Rapidamente, viro-me e encaro meu noivo, que está impecável em seu terno alinhado,
irradiando uma aura de confiança. Nas mãos, segura um buquê de flores do campo que ele
direciona a mim, o colorido contrastando com a elegância sóbria de seu traje.
— Pedi para o verdadeiro Cosme, o jardineiro, colher essas flores — ele explica com um
sorriso, e eu não posso evitar de sorrir bobamente em resposta.
Tem um mês desde a última vez que o vi, e ainda sinto o mesmo frisson toda vez que me
deparo com sua beleza impressionante.
— A conversa do seu tio com sua avó não parecia nada boa — confesso, deixando escapar
minha preocupação.
— Eles se entendem, vai por mim — diz, e redescubro o quão sedutora é a sua voz.
Ele me entrega o buquê, e fecho os olhos, inalo o perfume das flores recém-colhidas. Um
arrepio percorre minha espinha ao sentir sua proximidade.
— São lindas, obrigada pela gentileza. — Minha voz soa suave, quase um sussurro.
— Coloridas como o enxoval que você tem enviado para a minha casa — ele brinca, e um
sorriso malicioso dança em seus lábios.
— Estou seguindo uma paleta de cores, confie em mim, no final vai dar certo —
resmungo, sentindo um rubor nas minhas bochechas.
Seus olhos percorrem cada centímetro do meu vestido tubinho preto, que está longe de ser
básico, até os joelhos. Era o mesmo vestido que corri para vestir assim que ele enviou uma
mensagem dizendo que pousou no Brasil. Um legítimo Valentino que dona Beatriz me obrigou a
comprar. Sinto seu olhar intensamente, e meu corpo responde com um formigamento sensual.
— Você está linda. — Sua voz é baixa e carregada de uma intensidade que faz meu
coração acelerar.
— Obrigada. — Minha resposta sai quase como um suspiro, o clima entre nós está
carregado de tensão. — Tudo comprado com o seu cartão sem limites, encare como um
investimento, senhor empresário — brinco e ele sorri.
— Um excelente investimento.
— Não pretendo comprar mais roupas, eu prometo — confesso, encabulada.
— Te dei o cartão para que use, eu gosto de vê-la bem vestida, e não tenho o menor
problema de pagar por isso.
— Olhe para mim, tinha um rolo que me devia cem reais e agora tenho um noivo que me
dá um cartão sem limites — brinco, mas ele parece não gostar.
— Não mencione mais o segurança, Lia.
— Certo, senhor que mede a cama de acordo com o corpo da ex — alfineto, mas antes que
ele possa rebater, ouvimos seu tio bater uma porta com força.
Oliver pega minha mão e traz seus lábios para o anel de noivado que deslizou em meu
dedo um mês atrás. Um gesto simples, mas que envia um arrepio delicioso pela minha espinha.
— Não deixe que meu tio a assuste, estou aqui para protegê-la, não se esqueça. — Sua voz
soa possessiva, e um calor percorre minhas veias.
— Vou tentar, mas pelo pouco que ouvi, ele não vai simpatizar comigo — confesso,
sentindo-me vulnerável.
— Só seja você mesma. Ele é alguém ruim, é normal que não goste de pessoas boas. —
Sua afirmação é firme, e seu olhar me envolve como um escudo protetor.
— É assim que me vê? Como uma pessoa boa, Oliver? — Minha voz soa com um toque de
orgulho, e ele acena positivamente, um sorriso sensual brincando em seus lábios.
— A sua bondade me faz admirá-la tanto quanto admiro a minha avó. — Sua voz é
carregada de sinceridade, fazendo um sorriso brotar nos meus lábios.
Ele quer dizer que me enxerga da mesma forma que sua avó? A intensidade do momento
me faz sentir uma mistura de emoções, desde lisonjeada até um toque de ultraje.
A provocação dele me faz dar um suspiro leve, e a réplica não demora a surgir, alimentada
pelo meu desejo de testar os limites dessa tensão sensual.
— A diferença é que a sua avó você não beija como já me beijou. — Minha voz soa cheia
de insinuações e sugestões, já que nunca tocamos nesse assunto, desde quando nos beijamos,
nunca mais falamos a respeito.
— Você sabe que vou beijá-la muitas outras vezes e fazer muitas coisas mais... — Sua
resposta vem num sussurro provocador, fazendo um arrepio percorrer minha espinha. Seus lábios
roçam de leve na minha orelha, e a sensação é eletrizante. — Tudo o que um marido deve fazer à
sua esposa.
— Oliver... — Gemo, a mistura de desejo e surpresa se fazendo presente na minha voz,
enquanto minha mente se enche de imaginações sensuais.
— Mas, acaba aí, Lia. Fora disso, somos apenas amigos que se admiram e se curtem de vez
em quando. — Uma risada suave que ele solta depois dessas palavras mostra que ele também
está brincando, mas o desejo e a curiosidade exalam em mim, e é difícil ignorar o calor que flui
entre nossos corpos.
— Apenas amigos que se admiram e se curtem de vez em quando? — repito, deixando
minha voz carregada de malícia enquanto o olho de cima a baixo, com um olhar travesso. —
Amigos que transam vez em quando, é isso que quer dizer? Amigos que se beijam com
voracidade na frente dos outros, e por aí vai.
Ele parece levemente surpreso com minha resposta, mas não demora a se recuperar,
devolvendo o olhar desafiador. Nossa troca de olhares é intensa, e parece que cada palavra
carrega um subtexto de desejo e provocação.
— Lia, você está colocando uma pitada de maldade nesse olhar inocente? — ele diz, e há
um brilho de excitação nos seus olhos. — E eu pensando que éramos só dois adultos mantendo
um relacionamento bem comportado.
Aproxima-se um passo, e eu recuo outro. Nossa dança de provocação parece quase
coreografada, nossos corpos se movendo em sincronia, nossos sorrisos desafiadores se
alternando. Não posso negar que estou adorando essa troca de palavras carregadas e olhares
carinhosos, mas também sensuais.
— Relacionamento bem comportado? — Arqueio uma sobrancelha, fazendo um gesto de
dúvida. — Oliver, acho que isso não combina muito com a gente. Não é mesmo?
Seu sorriso se alarga, como se estivesse se deliciando com essa conversa. A tensão entre
nós está palpável, e embora estejamos brincando, há uma faísca de algo mais profundo, uma
conexão que vai além da amizade. A proximidade dele me deixa inebriada, fazendo com que
meu coração bata mais rápido.
— Não combina mesmo, Lia — ele sussurra, agora tão próximo que nossas respirações
quase se misturam. — Mas eu gosto desse jeito não tão comportado que temos.
Um arrepio percorre minha pele quando suas mãos acariciam de leve meus braços. Nossos
olhares estão fixos um no outro, uma energia intensa passando entre nós. Não preciso dizer mais
nada, as palavras se dissipam, e o desejo toma conta do espaço entre nós.
Nossos rostos se aproximam lentamente, como se estivéssemos presos em um feitiço,
incapazes de resistir à atração que nos puxa um para o outro. Sinto sua respiração quente contra
meus lábios, e meu coração bate tão forte que parece ecoar em meus ouvidos.
Seus lábios finalmente tocam os meus, suaves e quentes. É um beijo lento, como se ambos
estivéssemos saboreando cada momento, cada sensação que esse contato proporciona. Suas mãos
seguram minha cintura delicadamente, enquanto as minhas se enrolam em seu pescoço, puxando-
o para mais perto.
O beijo começa a ganhar intensidade, e a provocação dá lugar a um desejo arrebatador.
Nossas bocas se movem em sincronia, explorando e reivindicando, como se estivéssemos
fechando um acordo silencioso. Minhas pernas tremem, e sinto uma onda de calor percorrer meu
corpo.
Oliver me puxa ainda mais para ele, e nossos corpos se pressionam, deixando claro o
desejo mútuo que estava apenas insinuando antes. Suas mãos exploram cada curva, cada
centímetro de pele, como se estivessem gravando em sua memória a sensação do meu toque.
O beijo se quebra, mas nossas testas permanecem juntas, nossas respirações entrelaçadas.
Seus olhos azuis estão escuros e intensos, refletindo o mesmo desejo que sinto. A tensão entre
nós é quase palpável, como se estivéssemos à beira de um precipício.
— Lia... — ele sussurra meu nome, com uma mistura de desejo e dúvida em sua voz.
— Oliver... — respondo da mesma forma, incapaz de formular qualquer outra palavra.
Nossos lábios se encontram novamente, e desta vez o tesão explode de forma avassaladora.
As mãos dele exploram meu corpo com uma urgência controlada, enquanto as minhas agarram
seus cabelos, intensificando o beijo. Estamos entregues ao momento, a conexão consciente que
transcende as palavras e convenções.
Se há uma coisa que ficou clara, é que a "amizade" entre nós, definitivamente, não é tão
inocente quanto aparenta. Estamos dançando na linha tênue entre a amizade e o desejo, e cada
vez mais parece que não há como voltar atrás.
O ar ao nosso redor parece eletrificado, carregado de tensão e espera. Oliver me segura
firmemente, como se estivesse com medo de que eu escapasse, mas eu não tenho intenção de
fugir. A sensação de seus lábios nos meus, a forma como nossos corpos se encaixam tão
perfeitamente, é inebriante.
Seu beijo é como uma promessa, uma promessa de um futuro cheio de emoções e desejos
compartilhados. Cada toque, cada suspiro, é como uma trilha que estamos seguindo, levando-nos
a um lugar desconhecido, mas emocionante.
Nossos beijos continuam, intensos e apaixonados, até que finalmente nos separamos,
ofegantes e com os olhos cheios de fome. Eu sinto como se tivesse perdido o chão sob os meus
pés, como se tudo o que eu pensava saber tivesse sido virado de cabeça para baixo.
Oliver olha para mim com um misto de emoções em seus olhos. Há desejo, mas também há
algo mais profundo.
— Lia, eu... — Ele começa, mas é interrompido por uma batida na porta. Ambos nos
afastamos instantaneamente, como se tivéssemos sido pegos fazendo algo proibido.
— Lia, você está aí? — A voz de dona Beatriz ecoa pelo corredor.
Oliver olha para mim, e há uma expressão em seus olhos que eu não consigo decifrar
completamente. Nós dois sabemos que algo mudou entre nós, algo que não podemos mais
ignorar.
— Estou aqui, dona Beatriz — respondo rapidamente, minha voz um pouco trêmula.
— Precisamos conversar, minha querida — ela diz, e eu me viro sem enfrentar Oliver,
evitando compartilhar um olhar cheio de perguntas não ditas.
Enquanto saio da cozinha para encontrá-la, sei que as coisas entre mim e Oliver não serão
mais as mesmas. O desejo que estava escondido sob a superfície agora está à nossa vista, e não
há como voltar atrás.
Capítulo 16: A declaração

A ideia de dona Beatriz de trazer minha tia com seu marido, filhos e netos para
confraternizar com a família de Oliver antes do casamento parecia incrível em um primeiro
momento.
É a chance de unir as nossas origens, de mostrar a todos que a nossa relação é forte o
suficiente para atravessar as barreiras sociais.
No entanto, no momento em que entro na sala da imponente mansão da família Harrison e
os encontro aqui, deslocados e desconfortáveis, sob o olhar crítico do tio esnobe de Oliver,
percebo que foi a pior ideia possível.
É como se estivesse diante de dois mundos opostos colidindo. Minha família, vestindo
roupas simples e exibindo gestos abertos e calorosos, contrasta fortemente com a família de
Oliver, que está vestida com roupas elegantes e adota uma postura contida e formal.
Minha tia, sempre cheia de vida e risos, parece constrangida pela atmosfera austera que
paira na sala. Meu tio, que costuma brincar com todos, mantém um sorriso forçado enquanto
troca algumas palavras com o tio de Oliver, cujo olhar desdenhoso é difícil de ignorar.
Os filhos e netos da minha tia parecem não saber como se encaixar nesse ambiente, como
se estivessem navegando por águas desconhecidas.
Enquanto isso, o tio de Oliver, elegante e impecavelmente vestido, lança olhares de
desinteresse para o grupo, como se estivesse acostumado a frequentar eventos de elite.
Enquanto cumprimento os convidados e tentamos amenizar o clima desconfortável, não
posso deixar de sentir uma pontada de arrependimento.
Talvez a diferença de status social é mais profunda do que eu havia imaginado. No entanto,
eu me lembro das palavras de Oliver, de como ele me assegurou que estaríamos juntos nisso, que
ele não deixaria que nada afetasse o último desejo de sua avó.
A irmã de Oliver, Briana, entra com seu habitual ar de autoconfiança, cumprimentando as
pessoas ao redor com um sorriso que beira a arrogância. Seu primo, Alexander, segue atrás dela,
com um ar descontraído e um olhar travesso nos olhos. Eles trazem consigo uma energia que
parece mudar a dinâmica do ambiente.
Mas é a entrada do casal mais velho que chama minha atenção imediatamente. Pelas
fotografias que vi, reconheço a filha de dona Beatriz, Eleanor, mãe de Oliver, de mãos dadas ao
seu marido americano. Dona Beatriz já tinha mencionado que eles estariam presentes, mas estar
diante dos meus sogros desperta em mim uma mistura de curiosidade e nervosismo.
Olho atentamente a mãe de Oliver, uma mulher elegante e de postura impecável, exala uma
aura de autoridade natural, os filhos puxaram a ela, mantendo a linhagem de olhos azuis como os
de dona Beatriz, e cabelos escuros.
Seus olhos escaneiam a sala, capturando cada detalhe com uma precisão que denota uma
mente perspicaz. Seu sorriso, porém, é acolhedor quando ela encontra meu olhar, e um calor
reconfortante parece inundar meu corpo. Sinto um alívio momentâneo, sabendo que pelo menos
uma pessoa ali não me olha com desconfiança.
Seu marido, o pai de Oliver, parece possuir uma presença mais silenciosa, mas seus olhos
parecem absorver tudo à sua volta, como se estivesse constantemente avaliando a situação.
Sinto-me como um objeto sob sua análise, e a intensidade de seu olhar me faz enrijecer por um
momento. No entanto, quando ele se aproxima para me cumprimentar, sua expressão é cordial e
seus modos são corteses.
— Bem, família, nem todos tiveram o prazer de conhecer a minha futura esposa, Lia.
Assim como estou conhecendo hoje a sua família, é um prazer ver nossas famílias assim unidas.
— A voz segura de Oliver preenche o ambiente, e ele ergue a mão com uma taça de espumante,
um gesto que chama a atenção de todos para o centro da sala.
Nesse momento, o tio de Oliver se aproxima, um olhar inquisitivo nos olhos enquanto
estende a mão em minha direção.
— Juliana Ferreira, não é? — Sua voz carrega um tom de condescendência.
Sem recuar, ergo o queixo e aperto sua mão, mantendo minha compostura.
— Prefiro ser chamada de Lia, senhor.
— Oliver mencionou sua família estar aqui hoje, no entanto, soube que não tem mãe ou
pai. — Ele parece não se intimidar e continua, agora, tocando em um assunto delicado.
Não permito que seu olhar perscrutador me intimide, mas antes que eu possa mentalizar
uma resposta, alguém se põe à minha frente.
— Ela não tem pai ou mãe, mas pode ter certeza de que ela tem uma tia bastante protetora,
prazer, Gleici Ferreira — minha tia se apresenta, erguendo a mão para cumprimentá-lo. —
Minha Lia é órfã, mas não está jogada no mundo, se essa é a sua dúvida.
A postura protetora da minha tia faz o tio de Oliver se retirar, e vejo um traço de satisfação
no olhar de dona Beatriz. Ela, por sua vez, não deixa a tensão se prolongar e quebra o gelo com
um sorriso.
— Gostei da sua tia. — A voz da mãe de Oliver é suave, mas carrega uma certa autoridade.
— Me identifico com mães leoas, tive uma. — Seu olhar se volta momentaneamente para a
senhorinha sentada na cadeira de rodas, uma troca de olhares carregada de significado. — E hoje
também sou com as minhas crias.
Minha tia não hesita em fortalecer sua posição.
— Minha Lia vale ouro, é uma moça bem-criada e muito honesta. — Ela lança um olhar
firme em direção a Oliver, e a intensidade de suas palavras faz meu coração acelerar. — Você
está casando com uma mulher que vai edificar seu lar, não seja tolo em destruí-lo.
Uma mistura de emoções se agita dentro de mim, um misto de gratidão pela defesa
fervorosa de minha tia e um nervosismo diante das palavras diretas que ela dirige a Oliver. O
silêncio paira por um momento, e sinto a tensão no ar enquanto todos processam o que foi dito.
Oliver, por sua vez, não parece incomodado. Seu olhar encontra o meu e ele acena
positivamente, como se concordasse com as palavras de minha tia.
— Venham, fiz gelatina para vocês. — Minha voz soa fortemente enquanto chamo as
crianças, observando seus olhares se iluminarem com sorrisos tímidos, um vislumbre de
relaxamento começando a se instalar na atmosfera.
Acompanho os pequenos até a mesa onde a gelatina colorida está disponível em taças, cada
uma delas como uma pequena obra de arte. Os tons vibrantes contrastam com o ambiente,
trazendo um toque de alegria e descontração no momento.
As crianças se acomodam nas cadeiras, os olhos curiosos analisando as diferentes cores da
sobremesa diante delas. Sinto-me contente ao ver que a simples menção de gelatina já trouxe um
sorriso genuíno aos seus rostos, dissipando um pouco da tensão que pairava em momentos atrás.
— Tia Lia, que bonito! — uma das meninas exclama, apontando para a taça roxa à sua
frente.
— Sim, querida, eu gosto de deixar tudo colorido e divertido — respondo, sentindo-me
grata por conseguir arrancar esses sorrisos.
Oliver se aproxima e observa a cena com um olhar afetuoso. Ele sabe o quanto momentos
simples como esse são preciosos para mim, e sinto uma onda de carinho por ele me envolver.
— Parece uma obra de arte comestível — ele comenta, sorrindo para as crianças.
— Exatamente, a arte pode estar em todos os lugares, até mesmo na comida — respondo,
orgulhosa de meu pequeno feito.
Enquanto as crianças começam a se servir com entusiasmo, experimentando os diferentes
níveis de sabores. Os olhares de satisfação que trocam entre si me fazem sentir que meu esforço
valeu a pena. Neste instante, a diferença entre as famílias parece diminuir, e o clima se torna
mais ameno e descontraído.
Eleanor, a mãe de Oliver, mostrou-se interessada em me conhecer. Ela está extremamente
atenta a cada história contada por dona Beatriz a meu respeito. Da mesma forma, trouxeram
alguns detalhes sobre Oliver durante sua infância, revelando que ele era um menino tranquilo e
apaixonado por animais.
— Foi assim que ele, aos três anos de idade, se livrou da chupeta. Eu menti, dizendo que as
daria para o pequeno filhote de pato que ele viu no Central Park. — Todos ao redor da mesa
riem, exceto Oliver, que revira os olhos com uma mistura de embaraço e desaprovação diante
das revelações de sua mãe.
— Que fofura! — provoco, deixando que meus dedos deslizem suavemente pela pele da
sua mão, sentindo uma textura macia.
A atmosfera ao nosso redor parece mais íntima, as risadas e conversas fluindo ao redor não
conseguem apagar a sensação de proximidade entre nós. Com ele ao meu lado, sinto um calor
reconfortante que se estende desde sua mão segurando a minha até cada pequeno gesto.
Seus dedos entrelaçam os meus de forma natural, como se fosse um reflexo automático da
nossa conexão. A cada volta que ele dá no anel de noivado em meu dedo, um arrepio percorre
minha pele, enviando pequenas ondas de eletricidade que parecem atiçar algo mais profundo.
Não é apenas o toque, é o olhar cúmplice, é o sorriso discreto trocado entre nós, é a
presença constante que parece dizer mais do que as palavras.
Em meio ao ambiente familiar, com conversas e risos preenchendo o espaço, sinto uma
tensão sutil entre nós, um desejo latente que se manifesta nos pequenos detalhes.
Nossos olhares se encontram de forma fugaz, e nesses instantes, parece que as vozes ao
nosso redor se tornam um mero murmúrio de fundo.
Estamos conectados de maneira íntima e sensual, e preocupo-me em como vou lidar com
toda essa intensidade após o casamento, ao mesmo tempo em que quero me entregar a essa
relação, por mais complexa que seja.
— Vocês foram tão rápidos, por que a pressa nesse casamento? — a voz de Robert corta o
ar, sua pergunta é acompanhada por um olhar perscrutador.
Seu semblante parece farejar a nossa mentira, como se ele suspeitasse de algo oculto por
trás das aparências.
Oliver não titubeia, ele segura meu olhar e se prepara para responder. Sinto seu aperto
firme na minha mão, como um sinal de apoio mútuo.
— Lia é especial, eu soube disso desde o primeiro instante em que conversamos. Quando
ela me confundiu com o simples jardineiro, aquele que não tinha riquezas para oferecer, e ainda
assim ela fez de tudo para ajudar, ali percebi o quão incrível ela é. Ninguém jamais me olhou
daquela maneira antes, como se eu fosse mais do que meu nome ou minha posição. E então,
como um homem que preza por não deixar ir as coisas importantes na vida, decidi que não a
deixaria escapar. — As palavras de Oliver fluem como uma melodia apaixonada, preenchendo o
espaço com um ar de romance que envolve a todos. As mulheres sentadas à mesa conosco
suspiram, tocadas pela história de amor que ele descreveu com tanta sinceridade e paixão.
As funcionárias ao redor sorriem, cativadas pela narrativa romântica que ele teceu.
O calor sobe pelo meu pescoço enquanto eu fico totalmente ruborizada. Mesmo sabendo
que ele está encenando, não consigo evitar o impacto das palavras em mim.
Entretanto, Robert não se contenta com a resposta apaixonada de Oliver. Ele volta sua
atenção para mim, seus olhos frios examinando-me de cima a baixo. Sua voz é carregada de
ironia quando ele fala:
— E você, Lia, de faxineira a cuidadora da minha mãe e, de repente, noiva do herdeiro da
família. De plebeia a princesa. — As palavras são ácidas, e sua intenção de minar minha
confiança é clara.
Sinto o aperto da mão de Oliver se intensificar ao meu lado, sua reação à provocação de
Robert evidencia a tensão no ar. Mas algo lateja em mim, uma vontade de me defender, de
finalmente falar por mim mesma e mostrar a força que tenho.
— Cheguei a esta casa como uma menina que acabou de ficar totalmente órfã, em uma
situação mais precária do que a de uma plebeia. — Deixo escapar um riso ácido, respondendo à
sua ironia com sarcasmo. — Mas aproveitei cada oportunidade que tive. Como faxineira, fui a
melhor! — Minhas palavras têm uma determinação que nunca expus tão abertamente. —
Quando fui responsável por cuidar da sua mãe, fui a melhor também. Em dois anos, que você
nunca veio visitar a sua mãe, ela foi levada por mim diversas vezes ao médico, internações,
exames, todos os cuidados eu fazia sozinha da melhor maneira. Discuti com a equipe médica,
bati boca com o convênio por horas ao telefone, encarei olhares atravessados, mas desempenhei
minha função de realmente cuidar dela e de seu bem-estar, e me orgulho disso. E quando conheci
Oliver, ele viu o meu melhor, porque essa sou eu. Alguém que se entrega de corpo e alma a tudo
o que faz, que sempre busca ser a melhor no que se propõe. Então, pode ter certeza, Robert, que
Oliver terá a melhor esposa que alguém pode ter. Somos bons juntos, por isso a pressa, porque
temos certeza.
— Às vezes me parece mais um casamento por um mero contrato — Robert contrapõe, sua
voz carregada de desdém.
Oliver vira-se para mim, seu sorriso permanece, porém, noto uma sombra de preocupação
em seus olhos, como se minhas palavras o tivessem afetado.
— Bom, tio, se for um contrato, que seja um contrato sem volta, então — a réplica de
Oliver é rápida, tentando manter a leveza na conversa, mas não posso deixar de perceber a tensão
em sua voz, e todos riem.
Enquanto a conversa continua, um desejo secreto percorre minha mente, um desejo que
nunca ousei expressar: Deus, que realmente seja um contrato sem volta.
Capítulo 17: A diversão

Faltam apenas dois dias para o nosso casamento, e o peso das últimas tensões ainda pairam
no ar. O jantar de ontem havia sido carregado de desconforto, e as burocracias finais relacionadas
ao casamento consumiram boa parte do meu dia de hoje.
No entanto, quando a noite finalmente chega, a persuasão de Briana e a promessa de uma
despedida de solteira digna me convenceram a participar, ainda que relutantemente.
Após uma conversa séria com minha tia Gleici, que parecia mais empolgada com a ideia
do que eu mesma, acabei cedendo.
Ela está ansiosa para conhecer um verdadeiro clube de mulheres e, de certa forma, eu
também estava curiosa sobre como seria essa experiência.
Quando cheguei ao local, a música alta e as luzes pulsantes já me deixaram nervosa, mas a
presença das amigas de Briana, primas de Oliver e também as minhas, logo tornou o ambiente
menos intimidador. Após um par de tequilas, a tensão começou a se dissipar, e a atmosfera se
tornou cada vez mais descontraída.
Aos poucos, comecei a me soltar e a me permitir relaxar. E então, a segunda tequila fez seu
efeito e perdi o ar ao dar uma gargalhada da cena à minha frente.
Tia Gleici está empolgada, jogando notas de dez reais na sunga do gogoboy que se exibe
no camarote em que estamos. Ele dança e rebola, com o corpo melado por gel e glitter, e ela
sacode a cabeça animadamente em resposta, como se estivesse totalmente à vontade.
— Eu nunca me diverti tanto! — exclamo, meu tom de voz mais alto do que eu esperava,
mas tudo estava tão envolvente que eu não conseguia me importar.
Briana, com os olhos brilhantes, gritou algo sobre mais tequila, e todas concordaram em
meio a risadas. As amigas dela pareciam ter se transformado em minhas amigas de infância após
a ingestão de álcool.
Enquanto mais tequila é servida, nos juntamos na pista de dança, movendo-nos de forma
desconexa e descoordenada ao ritmo da música. As batidas eletrônicas invadem nossos sentidos,
e cada uma de nós se entrega à euforia do momento.
— Ahiba, abajo, a... — Tentei cantar, mas minhas palavras saíram enroladas e incoerentes.
Rimos coletivamente do nosso estado de embriaguez e do quanto estávamos nos divertindo.
Engoli o líquido restante em meu copo e me deixei envolver pelas batidas envolventes da
música, dançando sem me preocupar com o que os outros pensariam. Era estranho perceber que
a família de Oliver podia ser muito mais animada do que eu imaginava.
Em meio a toda aquela loucura, Briana se aproximou de mim, com os olhos brilhando de
entusiasmo.
— Lia, você é a melhor cunhada do mundo — ela declara, abraçando-me e me faz sorrir,
feliz por estar aqui e por fazer parte de um momento tão despretensioso e divertido.
O ambiente embriagante da festa misturado com o teor alcoólico das bebidas parece ter um
efeito estranho em minhas emoções. As palavras de Briana, pronunciadas entre risadas e danças
desajeitadas, parecem ter um peso inesperado.
Ela, uma mulher de classe e educação requintadas, ver em mim a cunhada adequada era
algo que verdadeiramente me emocionava.
O álcool sem dúvida está potencializando meus sentimentos, mas há algo genuíno nas suas
palavras que me toca profundamente.
— Eu já disse ao Oliver, e agora direi a você, o casamento é um sacramento, é sagrado,
vocês verão o quanto tudo vai mudar depois que disserem "sim" no altar — ela continua, sua
expressão em um misto de seriedade e animação.
Eu a encaro, tentando processar suas palavras no meio de todo o caos ao nosso redor. A
seriedade do assunto contrasta com a atmosfera de festa, e eu não posso deixar de me sentir
intrigada pelo que ela estava tentando me transmitir.
Aceno positivamente em resposta, mas por dentro, minhas emoções estão em um turbilhão.
É verdade que Oliver e eu temos um acordo, um casamento por conveniência que
mantínhamos pelas nossas próprias razões.
No entanto, a complexidade do momento me atingiu como um soco no estômago. Eu estou
sendo arrastada para um mundo de expectativas, responsabilidades e mudanças irreversíveis, e é
difícil ignorar a realidade desse fato.
Enquanto tento absorver as palavras de Briana, também luto contra a sensação crescente de
incerteza. Afinal, o que eu realmente queria?
No fundo, eu sei que estou a um passo de me apaixonar por Oliver, os beijos que
compartilhamos deixou isso inegável, mas também sou consciente de que ele não está disposto a
viver um casamento verdadeiro.
Ele quer seguir com o nosso acordo, um pacto de conveniência, enquanto eu, de alguma
forma, queria mais.
Enquanto a música pulsa e as pessoas ao nosso redor riem e dançam, meu interior está em
tumulto. Uma batalha entre minhas emoções e a lógica está acontecendo silenciosamente.
Sinto a vibração do celular em meu bolso, e meu coração dá um salto quando vejo que é
uma mensagem de Oliver. Com uma mistura de ansiedade e curiosidade, retiro o aparelho e leio
suas palavras iluminando a tela.
“Estou na porta do clube, vamos embora.”
A mensagem dele é direta e simples, mas move um turbilhão de emoções que corre dentro
de mim.
— Eu não acredito que meu irmão descobriu onde eu te traria, que saco! — Briana
resmunga em um tom aborrecido ao ler a mensagem sem minha permissão.
Ela solta um comentário a mais, mas eu mal ouço suas palavras, minha mente está focada
na mensagem de Oliver.
— Manda ele voltar para as prostitutas que ele estava com Alexander, Lia — ela continua,
mas suas palavras são interrompidas por minha expressão chocada.
— O quê? — Minha voz soa como um sussurro de choque, e Briana parece perceber que
falou demais. Sua expressão muda de irritação para um olhar de arrependimento quase
instantaneamente.
— Desculpa, merda, falei demais — ela balbucia rapidamente, mas o estrago já está feito.
Eu me sinto um misto de confusão e urgência, minha mente incapaz de processar completamente
o que acabei de ouvir.
— Lia! — minha tia intervém, tentando me conter, mas eu já estou me movendo,
atravessando a multidão com determinação em busca da saída do clube.
As palavras de Briana parecem ter desencadeado uma série de eventos que eu mal consigo
compreender. Guardo o celular de volta no bolso da minha calça jeans, meus dedos tremendo de
antecipação.
O chamado de minha tia se torna um murmúrio distante conforme meus passos me
conduzem pelo labirinto de risos, música alta e flashes coloridos.
Sigo um caminho determinado através da multidão, minha mente cheia de um único
objetivo: encontrar Oliver.
O ritmo da música parece distante agora, meu coração batendo mais alto em meus ouvidos.
Meus passos são rápidos e decididos, e a mistura de emoções dentro de mim é quase
esmagadora.
Finalmente, chego à saída do clube, onde uma lufada de ar fresco e a escuridão da noite me
recebem. Meus olhos se ajustam à iluminação mais suave, e lá, parado na entrada, está Oliver,
alto e imponente, com aquele sorriso que sempre faz meu coração dar um salto.
Nossos olhos se encontram, e tudo ao meu redor parece desaparecer por um momento. É só
ele e eu, e parece que o mundo diminuiu para esse momento.
Ele me analisa de baixo acima, como se conferindo se estou inteira, e percebo que repuxa
os lábios em um meio-sorriso talvez aliviado por eu ter saído do clube. Eu queria poder ler seus
pensamentos, entender o que está passando por sua mente.
Pergunto-me, o que fez ele vir atrás de mim se realmente estava com prostitutas? E é essa
curiosidade, encorajada pelo álcool, que me faz ficar diante dele e questionar:
— O que faz aqui? — minha voz sai um pouco mais afiada, cheia de emoções conflitantes.
— Você disse que eu poderia me divertir com outros homens desde que fosse discreta.
Minha pergunta o atinge, vejo seus lábios se apertarem em uma linha fina, uma sombra de
desgosto passando por seus olhos.
— Essa boate não me parece um lugar discreto — ele rebate, seu tom um pouco mais frio.
— E o prostíbulo onde você estava, era discreto? — minhas palavras saem antes que eu
possa pensar, e vejo um lampejo de surpresa em seus olhos.
Ele passa a mão pelos cabelos, uma ação nervosa que me diz que estou mexendo com ele.
— Vamos para casa, Lia.
— Estou me divertindo, Oliver, diga-me, com quantas você transou hoje? Eu devia
aproveitar para transar com outros caras hoje também, sou uma tola.
Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, ele toma uma decisão. Oliver rosna, como se
a frustração estivesse tomando conta dele, e, de repente, estou encurralada contra a parede do
clube. Seus olhos me fixam, intensos e cheios de uma fome que eu não posso ignorar.
— Você não vai dar a outro o que é meu — ele diz, com a sua voz carregada de
possessividade. Eu sinto seu corpo tão perto do meu, uma barreira de calor e tensão entre nós.
Eu o encaro, nossos olhares travados em um impasse carregado de emoções. Há tanto que
eu quero dizer, tanto que eu quero entender.
A atmosfera entre nós é carregada, como um trovão prestes a desencadear sua fúria. Eu não
vou recuar, não desta vez. Minha voz sai firme e determinada, buscando dar voz à minha
frustração e confusão.
— Nada aqui é seu, Oliver — minhas palavras são uma resposta a essa possessividade que
ele está demonstrando. Eu não vou permitir que ele me domine dessa maneira, não quando ele
deixou claro que este não é um relacionamento com compromissos emocionais.
Mas ele não recua, seus olhos ainda fixos nos meus. A intensidade da sua expressão é
quase avassaladora, e eu posso sentir meu coração batendo mais rápido em resposta. Ele está tão
perto, tão perto que posso sentir o calor do seu corpo, a eletricidade que irradia dele.
— A sua virgindade é minha para tomar — sua voz é baixa, um sussurro que ecoa entre
nós. Suas palavras me atingem como um soco, uma mistura de surpresa, raiva e algo que eu não
quero admitir.
Eu aperto os lábios, tentando conter a torrente de emoções que ameaça transbordar. Ele não
tem o direito de falar assim, de reivindicar algo.
— Com quantas você transou hoje? — minha voz é firme, a raiva exalando dos meus
poros. Eu o encaro, desafiando-o a responder, a enfrentar a verdade que está pairando no ar entre
nós.
Ele tira uma mecha de cabelo do meu rosto, um gesto suave que contrasta com a
intensidade da nossa conversa.
— Não te devo satisfações sobre as minhas fodas, Lia, não é assim que funciona entre nós
— sua voz é cortante, sua expressão tensa.
Eu levanto o queixo, sustento seu olhar desafiadoramente. Lembro das palavras de dona
Beatriz, confessando que ele nunca precisou lutar por nada, tudo sempre lhe foi dado de mão
beijada, a avó quer ensiná-lo a lutar pelo que realmente quer, talvez eu precise fazer o mesmo...
— Concordo, Oliver, assim como não lhe devo nada também, se não quer me contar sobre
suas fodas, não interrompa a minha diversão — falo, segurando o asco que me dá ter que mentir,
não tenho a intenção de me aproximar de nenhum outro homem, mas preciso ter o meu orgulho,
diante da sua inércia, decido por ele: — Ótimo, estou voltando para a boate, vou me divertir —
minha voz é firme, determinada, e eu dou meia-volta, pronta para me afastar e deixar essa
conversa para trás.
Se ele quer a minha virgindade, então o quero lutando por isso.
E surpreendendo-me ele reage, seu tom de voz mudando, quase implorando.
— Não! — ele exclama, sua voz carregada de urgência. Eu paro no meu caminho, meu
coração batendo descompassadamente.
— Então, diga, quantas? — minha voz é um desafio, um pedido silencioso por
honestidade, no entanto não posso mentir que temo a sua resposta e o que ela pode causar em
mim.
Ele suspira, e em seu olhar, vejo algo que não esperava encontrar: vulnerabilidade.
— Nenhuma — suas palavras saem quase como um sussurro, e eu mal posso acreditar no
que estou ouvindo. — Eu não gosto da relação cliente e prostituta, saber que uma mulher só vai
abrir as pernas devido ao valor que possuo no meu cartão de crédito não me excita. Não gosto
deste tipo de relação, não mais.
As palavras dele ecoam em minha mente, e eu posso sentir a verdade nelas. Há uma
honestidade crua em sua expressão, uma confissão que ele nunca pretendia fazer.
Eu o encaro, meus sentimentos oscilando entre a raiva, o choque e uma estranha sensação
de conexão. Talvez, só talvez, eu esteja começando a enxergar um lado dele que ele mantinha
escondido, um lado que eu não esperava encontrar.
Mas então, minha própria raiva e confusão começam a se misturar com as suas emoções.
Eu não sei mais o que sentir, o que pensar.
Tudo está tão complicado entre nós, tão cheio de emoções conflitantes e segredos não
ditos. Eu me sinto como se estivesse em meio a uma tempestade, tentando encontrar um lugar
seguro para me abrigar.
Capítulo 18: A despedida

Eu fixo meus olhos nos dele, buscando a verdade em sua expressão, implorando
silenciosamente por um sinal de que ele está sendo sincero.
— Se você estiver mentindo... — minha ameaça paira no ar, um aviso que mal consigo
sussurrar enquanto as palavras parecem pesar nos meus lábios.
Mas ele não recua, não desvia o olhar, ele se aproxima. Seu toque é quente e suave, suas
mãos segurando meu rosto com uma gentileza que eu não esperava. Talvez seja o álcool, ou o
calor intenso que emana do seu corpo, ou talvez seja simplesmente o olhar azul que me possui
por completo. Eu me sinto rendida, totalmente à mercê daquele olhar penetrante.
— Eu não preciso mentir, Lia — ele sussurra, sua voz carregada de sinceridade e urgência.
Seus olhos estão fixos nos meus, uma intensidade magnética que me deixa sem fôlego. — Nossa
relação não cabe mais mentiras. Já mentimos tanto para os outros que o mínimo que podemos ser
é honestos um com o outro.
Eu engulo em seco, sentindo meu coração acelerar ainda mais. Sua proximidade é
avassaladora, e é como se todo o espaço entre nós estivesse desaparecido. Minha mente se enche
de pensamentos confusos, meu corpo reagindo a cada centímetro de proximidade.
Não consigo ignorar seus olhos fixos em meus lábios por um momento, mas logo volta seu
olhar para os meus olhos. Há algo ali, algo que eu não consigo decifrar completamente, mas que
me deixa ansiando por mais.
— Você beijou alguém? — sua pergunta é um sussurro rouco em meu ouvido, e uma onda
de arrepio percorre minha espinha. Eu nego com a cabeça, incapaz de formular uma resposta
coerente.
— Oliver... — Minha voz é quase uma súplica, uma tentativa frágil de manter minha
determinação, mas as palavras se perdem em meus lábios quando ele me beija.
Seus lábios são quentes e suaves, e a sensação de seu toque me deixa sem fôlego. O beijo é
lento, cheio de uma intensidade que eu não estava preparada para enfrentar.
Sua mão encontra o caminho para a parte de trás do meu pescoço, segurando-me com
firmeza enquanto ele aprofunda o beijo.
Todo o meu corpo reage, minha mente se esvaziando de tudo, exceto da sensação dele ao
meu redor. Eu fecho os olhos e me perco no momento, entregando-me ao beijo, à conexão que
está se formando entre nós.
Nossas respirações estão entrelaçadas quando finalmente nos afastamos, e nossos olhares
se encontram mais uma vez. Há um brilho nos olhos dele, uma expressão de admiração
misturada com algo mais profundo.
— Lia... — ele sussurra, seu dedo acariciando meu lábio inferior, e eu posso sentir a
eletricidade no toque.
Nesse momento, todas as dúvidas e medos parecem diminuir, e eu me permito sucumbir à
atração que existe entre nós. Não sei o que o futuro reserva, não sei se existe alguma chance dele
abrir o coração para mim, mas de algo tenho certeza: o tesão está crepitando entre nós, tão forte
que nem mesmo as mentiras podem esconder.
— Acha que pode me beijar e depois agir como se nada tivesse acontecido? — Minha voz
está cheia de desafio. — Você vem até mim com exigências, e acha que ficaremos bem só por
que eu gosto de te beijar?
Oliver suspira, parecendo exasperado consigo mesmo.
— Não é isso, Lia. Eu não queria que as coisas acontecessem desse jeito. Eu só... — Ele
parece procurar pelas palavras certas, mas acabo interrompendo-o.
— Tudo bem. Mas agora o quê? Vamos cada um para o seu lado?
Ele me olha intensamente, seus olhos azuis buscando os meus. Estou cansada desse jogo de
gato e rato, ele me beija e em seguida me afasta.
Nunca sei se o nosso beijo não significou nada para ele, e sempre fica a esperança de que
tenha significado tudo.
— Não é isso que eu quero. Eu quero que você vá para casa comigo.
Algo borbulha dentro de mim. A raiva ainda está aqui, mas também há algo mais. Uma
sensação de conexão, de desejo e de curiosidade sobre o que realmente está conectado entre nós.
Olho para ele por um momento antes de finalmente suspirar.
— Tudo bem, vou com você. Mas não pense que estamos resolvendo alguma coisa.
Ele sorri levemente, parecendo aliviado.
— É um começo, pelo menos.
Oliver estende a mão em um gesto de oferta, mas eu ignoro seu gesto, decido caminhar à
sua frente. Sinto o rugoso toque dos paralelepípedos sob meus pés, fazendo meu salto fino
entortar levemente meus tornozelos.
Logo, porém, ele está ao meu lado, sua presença firme como um suporte para me apoiar.
— Teimosa! — Ele rosna, e uma faísca de proteção surge em seu olhar enquanto ele
ameaça me pegar no colo.
— Não, eu sou pesada, Oliver — digo, minha voz carregada de insegurança e
autoconsciência.
Ele parece disposto a desafiar minha resistência, seus olhos azuis fixos em mim.
— Você é minha noiva, Lia, e está embriagada. Acha mesmo que vou permitir que
caminhe por aí tropeçando?
— Não, é sério! — Minha resposta soa quase como um lamento, mas antes que eu possa
protestar mais, vejo o chão se afastar abruptamente. Ele me pegou no colo, como uma noiva.
Fico quieta, uma mistura de vergonha e desconforto me inundando. Enquanto Oliver me
carrega nos braços, parte de mim está irritada por não conseguir lidar com a situação sozinha,
enquanto outra parte está estranhamente grata por seu apoio.
Eu sei que ele deve ter levantado uma porção de modelos esbeltas no colo antes, suas ex-
namoradas certamente tinham uma aparência que eu não posso competir. E aqui estou eu, me
sentindo constrangida pela diferença de peso entre nós.
Oliver parece perceber minha tensão e me olha com suavidade, como se lesse meus
pensamentos.
— Você é mais leve do que pensa, Lia. E mesmo que não fosse, eu teria forças de sobra
para te carregar.
Suas palavras têm um efeito estranho em mim, aquecendo uma parte do meu coração que
eu preferiria manter escondida. Eu tento desviar o olhar, mas não posso evitar a sensação de
segurança que ele me proporciona nesse momento.
Enquanto caminhamos em direção ao carro, meu corpo relaxa aos poucos em seus braços.
Talvez seja uma combinação de álcool e proximidade com Oliver, mas não posso negar a
sensação reconfortante de estar nos braços dele, mesmo que seja por uma razão tão trivial quanto
me ajudar a evitar tropeços na calçada.
Ele abre a porta do carro e me acomoda com cuidado no banco do passageiro, me prende
ao cinto de segurança garantindo que esteja confortável antes de fechar a porta.
Seus olhos encontram os meus por um momento, um lampejo de algo indefinível passando
entre nós.
Oliver entra no carro pelo outro lado e dá a partida. A viagem de volta é envolta em
silêncio, e eu me pergunto o que ele está pensando. Enquanto as luzes da cidade passam por nós,
relembro cada uma das nossas interações. O confronto na boate ainda ecoa em minha mente, mas
também há uma estranha sensação de proximidade entre nós.
Finalmente, chegamos à imponente mansão, e Oliver estaciona o carro. Ele desce e abre a
minha porta como um cavalheiro, se vira para mim, seus olhos azuis fixos nos meus como se
estivesse ponderando algo profundo.
— Lia, eu... — Ele parece hesitar, buscando pelas palavras certas, e meu olhar se fixa nele,
curiosa. — Preciso que me guie. — Sua voz soa sincera, e antes que eu possa entender o que ele
quer dizer, ele se aproxima e me pega no colo com facilidade.
Eu fico surpresa e um pouco confusa enquanto ele me carrega através dos corredores da
mansão. Dou-lhe as instruções necessárias para chegar ao meu quarto, e logo a porta está aberta
diante de nós. Seus olhos percorrem o quarto por um momento, como se avaliasse algo.
— Você devia dormir lá em cima, em um dos quartos de hóspedes — ele comenta,
colocando-me com cuidado na cama.
Sorrio suavemente, apreciando sua preocupação.
— Aqui estou ao lado do quarto da sua avó, isso que importa. Não preciso de luxo. —
Minha voz soa firme, mas também carregada de gratidão. Este quarto, para ele, pode parecer
simples e modesto, mas para mim é um refúgio, um lugar onde eu posso estar perto dela e me
sentir segura.
— Ela já tem uma nova cuidadora.
— Mas sempre quero estar por perto, eu dou mais segurança a ela.
Oliver me olha por um momento, seus olhos parecendo mais suaves agora.
— Você é incrível, sabia? — ele diz, seus dedos acariciando suavemente o meu rosto. —
Eu não sei como lidei tanto tempo sem você na minha vida.
As palavras dele me atingem como uma brisa suave, enchendo meu coração de calor. Eu
nunca imaginei que estaríamos nessa situação, que nossas vidas seriam tão entrelaçadas dessa
forma. Mas aqui estamos, em um momento de vulnerabilidade compartilhada, onde as máscaras
caíram e estamos nos permitindo sentir algo mais profundo.
— Você também é incrível, Oliver. — Minha voz sai em um sussurro, carregado de
emoção. — Obrigada por me trazer de volta, por cuidar de mim.
E então, sem a necessidade de mais palavras, ele se inclina em minha direção e seus lábios
encontram os meus em um beijo suave e profundo. É um beijo que vai além das palavras e das
circunstâncias, um beijo que parece transcender a farsa que criou ao nosso redor.
Cada toque de seus lábios contra os meus é carregado de emoções reprimidas, de desejos
contidos e de um anseio que ambos tentamos ignorar. Nossos corações parecem bater em
compasso, como se finalmente estivessem sincronizados depois de tanto tempo. É um beijo cheio
de significado, um beijo que revela o que está escondido sob a superfície.
Quando finalmente nos separamos, ele mantém sua proximidade, seus dedos deslizando
para acariciar minha bochecha com ternura. Sinto um arrepio percorrer minha pele onde seu
toque deixa um rastro caloroso.
— Minha irmã vai levar sua tia de táxi até a casa dela. Boa noite, Lia. Descanse bem. —
Sua voz é suave, carregada de uma sinceridade que parece estar quebrando as barreiras entre nós.
Assinto com um sorriso, uma sensação de paz e contentamento pairando sobre mim.
— Obrigada. Boa noite, Oliver.
Ele se afasta lentamente, deixando o quarto e fechando a porta com um cuidado quase
reverencial.
Demoram alguns momentos até que eu ouça os passos de Oliver se afastando, deixando o
quarto. Uma parte de mim deseja poder espiar seus pensamentos, entender o que ele realmente
sente por mim, como ele me enxerga nesse emaranhado de circunstâncias e sentimentos.
Será que tenho alguma chance de tocar mais do que sua mente, de penetrar em seu
coração?
Capítulo 19: A pureza

Falta apenas um dia para o nosso casamento, e a ansiedade parece ter decidido fazer
morada em mim de forma avassaladora.
Hoje, fui surpreendida com um convite para me juntar à mesa do café da manhã com toda a
família de Oliver. Apesar de gostar dos pais dele e de sua irmã, a mera menção do seu tio Robert,
já é o suficiente para me deixar completamente desconfortável.
A ressaca da noite anterior me pegou assim que abri os olhos, e mesmo com o sol ainda
tímido lá fora, a dor de cabeça já fazia sua presença conhecida.
Felizmente, encontrei um remédio e uma garrafa de água cuidadosamente colocada na
mesa de cabeceira, como se alguém tivesse previsto a minha condição. E sorrio bobamente, ao
pensar que deve ter sido ele, Oliver.
Arrasto-me até o banheiro e tomo um banho revigorante, deixando a água quente acalmar
meus músculos tensionados.
Ainda de toalha, escolho cuidadosamente a roupa que vou usar, e opto por um vestido
simples e elegante que, pelo menos, visualmente, disfarce o desconforto que sinto.
Ao entrar na sala de jantar, deparo-me com uma cena nada familiar. A mesa está repleta de
uma variedade de alimentos, desde pães frescos até bolos tentadores, o que não é habitual, já que
dona Beatriz vivia sozinha na casa e fazia a maioria das refeições em seu quarto.
A escolha do que comer é difícil, mas decido por algo menos calórico: ovos mexidos com
bacon e uma xícara de café preto forte para ajudar a enfrentar a manhã.
Enquanto sinto os olhares curiosos da família de Oliver sobre mim, Eleanor, sua mãe, e
Briana, sua irmã, acenam animadamente. Mas é Robert, o tio problemático, que parece me
avaliar de cima a baixo com um olhar que me faz sentir como se estivesse sendo escrutinada.
Tento manter minha postura, lembrando-me de que estou prestes a me casar com um
homem complicado e que sua família é apenas uma parte da equação. No entanto, a tensão no ar
é geral, e a ansiedade que já estava presente ganha uma dimensão ainda maior.
— De dieta, Lia? — o tio de Oliver pergunta, um sorriso de canto nos lábios que parece
carregar uma sugestão oculta. Eu ergo uma sobrancelha em resposta, tentando decifrar o tom de
sua voz.
— Não, apenas me garantindo de manter as medidas para entrar no vestido de noiva. —
Minha resposta sai com um toque de leveza, mas por dentro sinto uma certa tensão.
Suas palavras parecem ter uma intenção que vai além do simples comentário sobre a minha
alimentação.
Minha mente vaga por um instante, focada no vestido deslumbrante que encomendei com
um estilista alagoano. A escolha da renda Richelieu, toda bordada à mão, foi um tributo às
minhas origens nordestinas e uma forma de homenagear meu pai.
Cada pétala delicadamente trabalhada transpondo flores em todo o tecido da saia tem um
significado especial para mim, uma lembrança da minha história com Oliver, o homem que
conheci como um humilde jardineiro.
Enquanto relembro esses detalhes, percebo que o olhar de Robert sobre mim é mais
penetrante do que nunca. Será que ele já sabe da verdade por trás da nossa história?
Tento não deixar minha insegurança transparecer, mantendo um sorriso sereno enquanto
tomo um gole de café.
Enquanto ainda estou envolta em meus pensamentos, sinto uma presença ao meu lado.
Levanto os olhos e encontro Oliver se aproximando da mesa, seu sorriso caloroso fazendo meu
coração dar um salto.
Ele usa uma camisa branca impecável, com os primeiros botões desabotoados, revelando a
linha do pescoço. Seus cabelos estão levemente bagunçados, como se ele acabasse de sair do
chuveiro, e seu olhar azul se fixa diretamente em mim.
— Bom dia, Lia. — Sua voz é suave, um timbre que parece ecoar em meu peito.
— Bom dia, Oliver — respondo, sentindo um calor se espalhar em minhas bochechas.
Ele se inclina e deposita um beijo leve em minha bochecha antes de se sentar ao meu lado.
Sinto meu estômago se agitar com um misto de nervosismo e antecipação. Estar tão perto dele
sempre me afeta de maneira intensa.
— Como você está se sentindo hoje? — ele pergunta, seu olhar perscrutando o meu rosto.
— Um pouco ansiosa, para ser sincera — respondo com um sorriso tímido. — Faltando
apenas um dia para o casamento, acho que é normal, não é?
Oliver assente, seu sorriso tranquilizador me trazendo uma sensação de conforto. Ele serve
um pouco de café em sua xícara e depois pega uma fatia de pão, parecendo relaxado em meio a
esta atmosfera tensa.
— Não se preocupe, tudo vai dar certo. — Ele diz com convicção, seus olhos brilhando
com uma confiança que me acalma.
Enquanto conversamos, sinto que a tensão aos poucos se dissipa. Oliver tem o dom de me
fazer sentir à vontade, de me envolver em sua presença de forma tão natural que é difícil não me
deixar levar.
No entanto, o tio permanece observando-nos em silêncio, um sorriso misterioso brincando
em seus lábios. É como se ele estivesse lendo entre as linhas, buscando algo que está escondido,
farejando a nossa mentira.
Enquanto estamos envolvidos em nossa conversa trivial, uma voz autoritária e familiar
irrompe. Todos os olhares se voltam para dona Beatriz, que está sentada na ponta da mesa, um
sorriso astuto brincando em seus lábios.
— Falando em casamento, tenho uma surpresa para vocês — ela anuncia, seus olhos
brilhando com uma expressão travessa.
Oliver e eu trocamos olhares intrigados, curiosos para saber qual é a surpresa que ela está
prestes a revelar.
— Sei que Oliver não pode se ausentar por muito tempo do trabalho, então como presente
de casamento, decidi que darei uma lua de mel de apenas uma semana nas Maldivas — ela
declara com um gesto teatral de suas mãos enrugadas.
Surpresa inunda meus olhos enquanto observo a idosa travessa. Uma semana nas
Maldivas? É um presente simplesmente incrível.
No entanto, Oliver parece menos entusiasmado. Seus olhos se estreitam levemente
enquanto ele troca um olhar rápido com sua avó. Seu semblante se torna pensativo, como se
estivesse ponderando algo.
— Vovó, eu realmente aprecio o gesto, mas você sabe como as coisas estão seguidas no
trabalho agora. Não acho que seja o melhor momento para uma viagem.
Dona Beatriz solta uma risada suave, balançando a cabeça como se achasse graça da
preocupação de Oliver.
— Querido, não se preocupe com o trabalho. Você precisa de um tempo para relaxar e
aproveitar com sua esposa após o grande dia. Eu já organizei tudo, e não aceito um não como
resposta.
Oliver suspira, parecendo resignado diante da insistência de sua avó. Ele olha para mim,
como se buscasse algum tipo de apoio.
— Lia, o que você acha? — ele pergunta, seus olhos buscando os meus em busca de
orientação.
Sorrio para ele, tocada pelo gesto. Não posso negar que a ideia de uma lua de mel nas
Maldivas é tentadora, afinal nunca andei de avião, vai ser realmente uma nova experiência.
— Acho que será maravilhoso, Oliver — respondo com sinceridade. — Mas entendo se
não puder.
Oliver olha para mim por um momento, como se estivesse avaliando minha opinião.
Finalmente, ele suspira e olha para sua avó.
— Tudo bem, vovó. Se você insiste, aceitamos o presente com gratidão.
Dona Beatriz sorri triunfante, parecendo satisfeita com a decisão.
— Ótimo! Tenho certeza de que será uma lua de mel inesquecível para vocês.
Logo após o café da manhã, Oliver decidiu me convidar para um passeio a sós.
Percorremos a mansão em um carrinho de golfe, explorando espaços de lazer que mesmo após
dois anos trabalhando aqui, ainda não conheço completamente.
O sol brilha radiante no céu, pintando o cenário ao nosso redor com tons dourados. O ar
fresco da manhã acaricia suavemente meu rosto, e desperta uma sensação de renovação.
Eu não consigo conter as risadas diante da imagem de Oliver, todo imponente, dirigindo
este veículo compacto. Seu sorriso contagiante revela o lado descontraído que raramente eu
tenho a chance de testemunhar.
De repente, ele decide acelerar, e o carrinho ganha velocidade, fazendo-me segurar
firmemente à beirada para não ser jogada para fora. As risadas se misturam ao ar enquanto eu
solto pequenos gritos, e Oliver parece se divertir com a minha reação surpresa.
A sensação de adrenalina e o vento bagunçando meus cabelos criam uma cena quase
cinematográfica.
Quando finalmente ele diminui a velocidade e para o carrinho, sinto um alívio misturado
com alegria.
Desço do veículo, ainda sorrindo amplamente e com um resquício de susto. Oliver também
sai e ficamos sentados lado a lado, admirando a vista do lago artificial à nossa frente.
— Queria te tirar de casa, percebo o quanto você fica nervosa na presença do meu tio —
ele explica com um olhar afetuoso, e eu assinto, ainda sorrindo com a sensação de descontração
que esse passeio me proporcionou.
— Foi uma excelente ideia. Os olhares dele me deixam completamente desconfortável.
— Com o tempo, você vai se acostumando — assegura, demonstrando confiança.
A brisa suave do lugar acaricia nossos rostos, e eu me sinto relaxada e à vontade em sua
companhia. É um destes raros momentos em que eu posso esquecer a fachada que construímos e
apenas ser eu mesma.
— Não entendo como ele pode ser filho da sua avó. Ela é tão adorável.
— Verdade — Oliver concorda, e percebo um traço de pensamento distante cruzando seu
olhar.
Nossos olhos se encontram e há algo na maneira como ele me olha que faz meu coração
bater um pouco mais rápido.
— Está nervosa para a sua primeira vez? — Ele quebra o silêncio, e eu sinto uma mistura
de surpresa e incerteza com sua pergunta direta.
— Eu nunca te disse que sou virgem, Oliver — respondo, virando o rosto para encarar a
água do lago, sentindo meu rosto corar ligeiramente sob sua atenção.
Ele fica em silêncio por um momento, como se ponderasse minhas palavras, e então quebra
meus argumentos quando diz:
— Mas você também nunca negou, Lia.
Seus olhos azuis, intensos e cativantes, estão fixos em mim, atentos a cada sinal que emito.
Esta é uma conversa que eu sei que eventualmente teríamos que enfrentar, e agora parece que
esse momento finalmente havia chegado.
O silêncio entre nós se prolongou por um instante, carregado de tensão, enquanto eu tento
encontrar as palavras certas para responder.
No fundo, há uma parte de mim que queria discutir essa questão com ele, mas outra parte
estava insegura sobre como ele reagiria.
Oliver quebra o contato visual e desvia o olhar, como se estivesse recebendo seus
pensamentos. Eu sinto meu estômago se revirar, minha mente se enchendo de perguntas que eu
não sabia como formular. Finalmente, ele suspira e volta sua atenção para mim.
Seus olhos encontraram os meus novamente, e eu enxergo uma mistura de ansiedade e
cautela ali.
— Não precisa dizer nada, só saiba que serei cuidadoso.
Eu engoli em seco, enquanto sinto o peso da sua afirmação. É difícil admitir que, apesar
das circunstâncias, estou atraída por ele de maneira tão profunda. Mas também é aterrorizante
pensar em todas as consequências que podem surgir se eu cair de amores por um homem
totalmente indisponível.
— Oliver, eu... — Minhas palavras foram interrompidas pelo som de risadas vindas de
alguns funcionários que aparecem ao longe, todos envoltos em suas atividades matinais. É como
se o mundo ao nosso redor estivesse nos lembrando das limitações que tínhamos.
Ele coloca uma mão suavemente sobre a minha, interrompendo meus pensamentos. Seu
toque é reconfortante, uma âncora em meio a uma tempestade de emoções.
— Eu não espero que você tenha todas as respostas agora, Lia.
— Ainda assim, eu preciso dizer, Oliver. — Respiro fundo e ganho coragem, para encará-
lo. — Nunca me senti à vontade para dar esse passo com outro homem, tenho as minhas
inseguranças com o meu corpo... — Baixo o olhar por um instante, sentindo uma onda de
vulnerabilidade. Mas ele segurou gentilmente meu queixo, elevando-o para que eu encare seu
olhar. — Mas, com você, sinto que tenho coragem. Sinto que posso ser eu mesma, sem medo de
julgamentos ou rejeição.
Abri meu coração e expus as minhas vulnerabilidades, e por um momento torci que ele
algum dia se apaixone por mim, como nos romances impossíveis que gosto de ler.
Capítulo 20: A intimidade

O sorriso de Oliver se transforma em um olhar intenso, repleto de desejo e admiração. É


como se ele absorvesse cada palavra que eu digo, cada sentimento que compartilho. A tensão
entre nós parece aumentar a cada segundo, carregada de eletricidade sensual.
Sua mão ainda repousa em meu queixo, e eu sinto a pressão suave de seus dedos enquanto
ele acaricia minha pele. O toque dele é suave e, ao mesmo tempo, carregado de promessas
silenciosas.
— Lia, é bom saber que se sente à vontade comigo. — Sua voz está rouca, carregada de
algo que não sei definir ao certo. — Você é incrível, forte e linda de uma maneira que me deixa
sem palavras.
Seus olhos azuis se fixaram nos meus lábios, e eu sinto meu coração disparar. Minha
respiração se torna mais profunda e acelerada, enquanto as palavras parecem insuficientes para
expressar o que está acontecendo entre nós.

Oliver se inclina lentamente em minha direção, seus lábios a centímetros dos meus. Cada
célula do meu corpo anseia por esse contato, por sentir seus lábios quentes e macios contra os
meus.
E então, finalmente, nossos lábios se tocam. O beijo é suave no início, um toque tímido e
exploratório. Mas a chama do desejo rapidamente o intensifica, se transformando em algo mais
profundo, mais ardente.
Sua mão desliza suavemente pela minha bochecha, desce pelo meu pescoço e para em meu
ombro, enquanto a outra mão segura minha cintura com firmeza. Nossos corpos estão tão
próximos, que torna a sensação de sua pele contra a minha eletrizante.
As carícias se tornam mais ousadas, mais intensas, nossos lábios se movem em um ritmo
apaixonado e desenfreado. A cada toque, a cada roçar de pele, eu sinto meu corpo incendiar e
minha mente se perder neste momento.
Oliver afasta-se levemente, sua respiração pesada e seus olhos fixos nos meus, como se
buscasse aprovação, como se estivesse esperando que eu desse algum sinal de que queria que
aquilo continuasse.
E com um olhar cheio de intensidade e desejo, eu apenas assinto, silenciosamente dando
permissão para que nossos lábios se unam novamente, mergulhando em um beijo que transcende
todas as incertezas e temores.
Minhas mãos encontram o caminho até seus cabelos, e eu os acaricio suavemente enquanto
nossos lábios dançam em perfeita sintonia.
Oliver explora cada centímetro dos meus lábios, gravando sua presença aqui. Sua língua
desliza de maneira lenta e sedutora, aprofundando o beijo e despertando sensações que eu jamais
havia experimentado antes, fazendo pulsar o interior entre as minhas pernas.
As mãos de Oliver percorrem minhas costas, descem até minha cintura, enquanto nossos
corpos se mantêm grudados um ao outro. A sensação da sua pele contra a minha faz meus
mamilos doerem, necessitados, meu corpo inteiro responde a cada toque dele.
A necessidade e o desejo que sinto neste momento são avassaladores. E me entrego a ele
de uma maneira que nunca havia feito antes, deixando as barreiras e inseguranças de lado. É
como se todas as nossas conversas, todos os olhares carregados de significados, culminassem
neste momento de paixão desenfreada.
Nossas respirações estão sincronizadas, aceleradas pelo desejo que nos consome. Os beijos
passaram a se tornar mais profundos, mais intensos, como uma promessa de algo mais, algo que
descobriríamos juntos.
E então, com uma mistura de hesitação e desejo, nossos lábios se separam, e ficamos nos
encarando, nossos olhos refletindo a intensidade do que havíamos compartilhado.
— Lia... — A voz de Oliver está baixa como um sussurro. — Eu não esperava... isso. Mas
não posso negar que desejo você, e que estou louco para a nossa noite de núpcias.
Lutei para encontrar as palavras certas para responder. O turbilhão de emoções dentro de
mim nublou meus pensamentos, até ia dizer algo incoerente quando um som ao longe nos tirou
do nosso transe.
É o som de passos se aproximando, alguém que está prestes a nos interromper. Nossos
olhares se encontram, cheios de compreensão e um misto de frustração.
— Acho que precisamos voltar — Oliver murmura, sua voz ainda cheia de desejo.
Eu concordo, sentindo um misto de alívio e ansiedade. A admissão de seu desejo por mim
deixou-me balançada, no entanto as circunstâncias que nos cercam são complexas demais para
ignorar.
E enquanto caminhamos de volta, lado a lado, eu sei que esse é apenas o começo de uma
jornada cheia de desafios e descobertas.
— A senhora mandou me chamar? — Meus passos ecoam no quarto de dona Beatriz
enquanto entro com uma certa inquietação. Seu aceno suave é um convite silencioso para que me
aproxime.

— Sente aqui, querida. — Pede apontando para a ponta da sua cama, observo-a em sua
cadeira de rodas segurando um estojo nas mãos. Sento-me, sentindo muita curiosidade, enquanto
ela abre o estojo com cuidado. — Esse foi o jogo de brincos e colar que me casei, agora serão
seus.
— Não posso aceitar.
— Pode e vai! — diz com firmeza. — É nossa tradição, todos os meus descendentes usam
algo meu. — Ela ri. — Minha filha Eleanor casou com o meu vestido, ela o reformou para si. Já
o meu mais velho, Robert, ficou com o meu par de alianças, e também quero que meus netos
mantenham a tradição, assim sendo, guardei para Briana usar no futuro minha pulseira, e
Alexander terá as abotoaduras que seu avô usou, restou para você e Oliver meus brincos e o colar
de diamantes.
Abro o estojo e fico emocionada com as joias. Os brincos têm um design clássico, com
pequenos diamantes brilhantes que capturam a luz delicadamente. O colar é elegante e simples,
com um diamante central cercado por um desenho intricado de pequenas flores. É uma herança
preciosa e sinto a responsabilidade de honrá-la.
— São maravilhosos. — Agradeço, segurando as joias com reverência.
— Use-os com alegria, minha querida Lia. E que tragam a mesma felicidade e amor que
trouxeram para mim. Você é parte da nossa família agora, e é importante para mim que carregue
um pedaço da nossa história contigo.
— A senhora sabe que nosso casamento não é real, dona Beatriz. — Meu tom é respeitoso,
mas decidido. — Assim sendo, vou devolver as joias a Oliver quando nos separarmos, para que
ele as use com a sua esposa real no futuro.
Dou um sorriso triste, antecipando o destino das preciosas joias que ela tão gentilmente me
oferece. Seu olhar é astuto, como se lesse meus pensamentos.
— Acho mais fácil que você as guarde para dar aos filhos de vocês no futuro. — Sua
sugestão me deixa em silêncio, pensativa.
— Dona Beatriz, não alimente falsas esperanças. Eu e ele não temos nada em comum que
nos torne marido e mulher de verdade — explico, querendo que ela entenda a realidade do nosso
arranjo.
— Minha filha, você tem a faca e o queijo na mão. Faça-o se apaixonar por você, torne
tudo real. Oliver já está encantado com a sua personalidade e é evidente o desejo que há entre
vocês. — Ela fala com uma confiança que me surpreende.
— Isso não torna um casamento real — insisto, lembrando-me das claras condições
estabelecidas por Oliver desde o início.
— Não torna, mas é meio caminho andado. — Suas palavras mexem comigo, abalando
minhas convicções.
Oliver é um homem incrivelmente atraente, e é verdade que seus beijos e toques
incendeiam algo dentro de mim. No entanto, ele já deixou claro que não quer um relacionamento
convencional.
Não pretende ser monogâmico, e tampouco se importa se também serei. Sua única
exigência é que sejamos discretos em nossos casos extraconjugais. Essa parte, claro, omito para a
avó dele.
— Obrigada pelas joias. — Aceito, cedendo. — As deixarei guardadas para o que o futuro
nos reservar.
— Sábia decisão, Lia. — Dona Beatriz conclui com um olhar sábio, decido aceitar e
encerrar a discussão para não a estressar.
Capítulo 21: O começo
Faça-o se apaixonar por você, torne tudo real.
O pedido de dona Beatriz ainda reverbera em minha mente enquanto me preparo para o
casamento.
Olho-me no espelho e suspiro, admirando o vestido de noiva que escolhi para esse dia
especial. Minha tia, que está ao meu lado, enxuga uma lágrima solitária que escorreu por seu
rosto.
— Eu sei que o casamento perdeu seu encanto para a juventude de hoje, mas para mim
nunca deixará de ser motivo de orgulho ver um casal se comprometer diante de Deus a formarem
uma aliança. Seu pai estaria tão orgulhoso, Lia. — Sua voz está embargada de emoção, e ela
sorri com ternura para mim.
Sinto um aperto no peito ao pensar em meu pai, que me deixou cedo demais. Ele sempre
foi meu maior apoiador e mentor, e sei que estaria radiante de felicidade se estivesse aqui para
me ver casar. A ausência dele é uma dor constante, mas também uma lembrança do quanto ele
significava para mim.
— Eu sei, tia. — Minha voz está embargada e repleta de gratidão e tristeza. — Eu só
queria que ele estivesse aqui hoje, apesar da minha alegria, parece que falta algo — confesso.
Minha tia se aproxima e me abraça com carinho.
— Mas você está honrando a ele, filha.

Enquanto caminho para dentro da igreja lotada, de braços dados com a minha tia Gleici,
não pude deixar de sonhar que tudo isso fosse real. O olhar cálido de Oliver, sua mão na minha,
o sorriso que ele me direciona neste instante... Tudo poderia significar um amor verdadeiro, um
começo genuíno. Devia ser contra a lei um homem ficar tão poderoso em um terno.
A igreja brilha sob a luz dourada e a decoração de flores brancas cria uma atmosfera de
sonho. É como se cada pétala e vela soubessem da minha esperança, testemunhando este
momento crucial de nossas vidas. Desejei que tudo fosse real, que esse casamento fosse o início
de uma vida a dois plena de amor e cumplicidade.
Mas então, assim que Oliver beija o dorso da mão da minha tia, ela se afasta, restando-me
ficar ao lado do meu noivo enquanto encaro o padre, e tento colocar a cabeça no lugar e esquecer
essa atração insana.
É um teatro. Um intricado espetáculo que precisamos encenar para atender às expectativas
de todos.
O real motivo por trás disso é uma farsa, um acordo entre nós. E, por mais que eu deseje
que as coisas fossem diferentes, sei que tenho que enfrentar a realidade. Este casamento não é
baseado no amor que eu sonhei, mas sim em circunstâncias e compromissos.
Sinto o olhar de Oliver sobre mim, e sei que ele está se esforçando para manter a fachada
também. Seus olhos azuis encontram os meus, e há uma chama de desafio e cumplicidade aqui,
já que ambos compartilhamos o mesmo segredo.
Respiro fundo e tento afastar os pensamentos que ameaçam me distrair. Este é o nosso
papel agora, e estamos determinados a representá-lo até o fim.
A luz suave se derrama das janelas, e os rostos sorridentes dos amigos e familiares se
tornam um borrão reconfortante.
O padre começa a cerimônia, suas palavras flutuam no ar como melodias familiares. Minha
mão treme ligeiramente ao segurar o buquê de flores. A respiração de Oliver ao meu lado é
calma e tranquila.
Percebendo o meu nervosismo, Oliver segura minha mão com firmeza, e sussurra: — Você
está linda.
— Obrigada. Você também está muito elegante — sussurro de volta encarando seu terno
impecável, e logo ouço o padre pigarrear nos chamando a atenção.
— O casamento é um compromisso sagrado, uma união de duas almas destinadas a
compartilhar a jornada da vida juntas. Vocês estão dispostos a tentar fazer dar certo todos os
dias? — A pergunta nos faz dizer um “sim” em uníssono.
O padre continua com a cerimônia, e tudo se desenrola como ensaiado. Promessas são
feitas, alianças são trocadas, e finalmente somos declarados marido e mulher.
Quando nos beijamos, é muito mais do que um singelo toque de lábios, estamos selando o
nosso acordo, e não deixo de notar a mão possessiva de Oliver em minha bochecha.

O caminho para a festa é silencioso, e assim que o carro para em frente ao condomínio da
mansão, percebo que está engarrafado com o autofluxo de carros de convidados chegando para
que possamos dar início a recepção, ao meu lado, Oliver parece focado, seus olhos fixos no
caminho à frente.
E meu coração acelera quando vejo minha madrasta, Laura está aqui, parada ao lado da
guarita, vestida elegantemente e com um sorriso forçado nos lábios.
Respiro fundo e decido encarar essa situação de frente. Abaixo o vidro da janela e
pergunto, com uma mistura de incredulidade e raiva:
— O que faz aqui?
— Me deixe entrar e fazer parte da sua festa de casamento, Lia, fui sua madrasta, ajudei a
criar você. — Seu olhar vai e vem entre mim e o homem no volante, agora meu marido.
— Você me botou na rua, Laura.
A tentativa dela de amenizar as coisas me irrita mais. Oliver rosna ao meu lado refletindo a
raiva que sinto.
— De fato eu errei contigo, mas já se passou tanto tempo, eu achei que tivesse esquecido,
vamos virar a página — Laura diz.
— Virar a página? Eu cuidava da sua casa para que você pudesse estudar, a pedido do meu
pai, e quando você passou no concurso público, e meu pai morreu, me chutou sem sequer ter
consideração — defendo-me, expondo a dor que carrego por todos esses anos.
— Lia, você sempre foi tão generosa... — A voz masculina corta as palavras dela.
— Senhora, desapareça da vida da minha esposa, acredite em mim, você não vai querer ser
minha inimiga.
Ele sobe o vidro da janela, encerrando o diálogo e dando partida no carro. A sensação de
proteção e apoio que ele me oferece é reconfortante.
— Você acha que eu devia dar a ela uma segunda chance? — pergunto, encarando a
aliança de ouro em minha mão esquerda.
— Você acha que se casasse com o segurança do condomínio ela viria? — Nego com a
cabeça.
— Acho que isso responde à sua pergunta.
Enquanto nos afastamos, tento deixar para trás essa parte sombria do passado,
concentrando-me no futuro que me aguarda.
Assim que desço do carro, lido com as camadas do vestido de noiva e o véu que insistem
em me atrapalhar, logo me concentro somente no vestido de noiva arrastando levemente atrás de
mim. Estamos estacionados em frente ao salão de festas da mansão, onde a equipe de fotógrafos
nos aguarda ansiosamente para capturar as imagens que preencherão nosso futuro álbum de
casamento.
Oliver e eu, de mãos unidas, trocamos olhares que transmitem uma promessa, mesmo que
seja uma promessa construída sobre alicerces frágeis. Nossos lábios se encontram em selinhos
suaves, um ato que faz parte da encenação para as fotos, mas não posso negar que mexe comigo.
Tê-lo tão perto, sentir a eletricidade entre nós, mesmo que esteja em uma encenação,
provoca borboletas no meu estômago e um calor agradável no meu coração.
Os cliques da câmera nos acompanham enquanto assumimos várias poses, todas destinadas
a transmitir a imagem de um casal apaixonado.
Mais adiante, ao entrar no salão ricamente decorado, é como se a atmosfera mágica do
casamento tomasse conta de todos os presentes. Os convidados se voltam para nós, aplaudindo
com sorrisos calorosos e olhares amorosos. Meu marido segura minha mão com firmeza, um
sinal de apoio e presença que me tranquiliza.
A festa de casamento é um espetáculo de luzes e cores, uma explosão de moda e alegria
que enche o salão de festas da mansão. O local é decorado de forma deslumbrante, com um tema
dourado e branco que transmite um ar de luxo e sofisticação. Grandes arranjos de flores brancas
e folhas exuberantes adornam as mesas e os cantos do salão, criando uma atmosfera romântica e
encantadora.
A iluminação é meticulosamente personalizada, com brilhos cintilantes que lançam
reflexos dourados pelas paredes. Luzes de LED estrategicamente posicionadas mudam
suavemente de cor, criando uma dança hipnotizante de tons que se misturam e deslizam pelas
superfícies.
Os convidados estão elegantemente vestidos, alguns em trajes formais e outros em vestidos
deslumbrantes. A alegria e a expectativa brilham em seus olhos enquanto desfrutam do ambiente
festivo. A música ao vivo, interpretada por uma banda talentosa, enche o salão, impulsionando as
pessoas para a pista de dança, onde todos se movem em perfeita harmonia com a melodia.

O aroma delicioso da comida se espalha pelo salão, despertando os sentidos. O buffet de


Lorena, esposa de Micael D’Ângelo[2] é ricamente variado e de qualidade. A comida é uma obra
de arte culinária, servida em mesas longas e elaboradas. Os convidados desfrutam de uma
variedade de pratos deliciosos, acompanhados de vinho e champanhe em taças cintilantes.
No momento do brinde, todos os olhos estão voltados para nós, os recém-casados, que
erguemos nossas taças cheias de champanhe, compartilhando os votos de felicidade ditos pelos
presentes.
Cortamos o bolo juntos, em um gesto simbólico de nossa união. É um momento de doçura
e alegria, mas ainda há uma sombra de inquietação dentro de mim.
Oliver me puxa para a pista de dança, sua mão segura a minha cintura com firmeza. Nossos
olhares se encontram, e um sorriso se forma em seus lábios.
— Você está incrivelmente linda esta noite, Lia — ele diz, seu olhar percorrendo todo o
meu corpo. — Uma noiva deslumbrante.
— Obrigada, você também está maravilhoso — respondo, sentindo uma onda de calor
percorrer meu corpo.
Dançamos juntos, nossos corpos colados se movendo em harmonia com a música clássica.
A química entre nós é palpável, a eletricidade no ar é inegável. Cada toque, cada olhar, é
carregado de antecipação e desejo.
Com o avançar da noite, as músicas mudam de ritmo, mas nossa conexão permanece
intensa, e sou grata que ele também não queria passar a noite tirando fotos ou recebendo o
cumprimento das mais de 600 pessoas aqui. Recebo um selinho demorado, e a tensão entre nós
parece aumentar, e eu posso sentir que estamos chegando ao ápice dessa energia.
— Acho que está na hora de descansarmos, não acha? — Oliver sussurra em meu ouvido
assim que desvencilha os lábios dos meus.
Sua voz é suave, sensual, e me faz arrepiar. É um convite para darmos início a nossa noite
de núpcias, o que ele deixou esclarecido em nosso noivado que aconteceria, que ele seria o meu
primeiro homem, e o pensamento me faz corar.
— Sim, acho que está na hora — respondo, sentindo uma mistura de nervosismo e
excitação, afinal de contas, não há fuga.
Ele sorri de maneira provocante, suas mãos encontrando as minhas. Com um toque suave,
ele guia-me através da multidão até a saída do salão de festas. O ar fresco da noite beija nossa
pele enquanto caminhamos pelo jardim iluminado pela lua.
E a partir de agora, mais do que nunca, sei que ele estará para sempre marcado em minha
história.
Capítulo 22: O calor

Ao adentrarmos a majestosa mansão, Oliver decide me surpreender mais uma vez. Num
gesto repentino, ele me pega no colo, como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo.
Consigo sentir sua força e a segurança de seus braços ao redor de mim, fazendo-me soltar
gritinhos histéricos e ao mesmo tempo, uma risada nervosa.
— Oliver, o que está fazendo? — exclamo, surpresa com sua ousadia.
Ele sorri, um brilho travesso em seus olhos azuis enquanto sobe as escadas com uma
agilidade surpreendente, carregando-me como se eu fosse leve como uma pluma.
Os degraus parecem desafios mínimos para ele, enquanto eu me agarro a ele, sentindo a
adrenalina percorrer meu corpo já que da última vez que ele me pegou no colo eu estava
embriagada.
— Surpreendendo minha esposa, é claro. — Sua resposta soa como uma confiança
tranquila.
A sensação de estar nos braços de Oliver, sendo levada, é eletrizante. Rodeio seus ombros
com meus braços, sentindo o calor de seu corpo contra o meu. Ele exala o perfume amadeirado
que sempre me encanta, misturado com a suave fragrância do ambiente.
À medida que subimos os degraus, nossos olhares se encontram e compartilhamos um
sorriso cúmplice, um entendimento tácito de que esta será uma noite inesquecível.
Finalmente, ele para em frente à porta da suíte que foi de seus avós. Uma porta de madeira
maciça, entalhada com detalhes requintados que remetem a um passado glorioso. Ele me
deposita com suavidade no chão, mas nossos olhos continuam conectados, mantendo a
intensidade do momento.
— Bem-vinda à nossa suíte essa noite, minha senhora. Harrison. — Ele diz, com um toque
de brincadeira em sua voz.
E assim, entramos na suíte que um dia foi de dona Beatriz e seu marido, no segundo andar
da mansão, o último e mais distante cômodo e fico abismada porque em todos esses anos
trabalhando aqui, nunca entrei no lugar, aliás, nem para limpar ela permitia que entrassem.
O que parece ter mudado, já que hoje o lugar está impecável.
Os móveis de madeira escura combinam com a paleta de cores suaves que dominam o
quarto. Um brilho de cristal do pendente do teto lança um brilho suave sobre uma cama grande e
majestosa, coberta com lençóis de seda branca e macia.
— Sua avó sabe que ficaremos aqui? — pergunto, meu olhar percorrendo as mobílias
clássicas e a cama elegantemente decorada com pétalas de rosas vermelhas.
— Na verdade, foi ela que me ofereceu para passarmos a noite aqui — Oliver responde,
enquanto se livra das abotoaduras de seu terno.
A tensão erótica no ar é quase palpável. A porta se fecha atrás de nós, deixando-nos
completamente sozinhos na suíte.
A iluminação suave cria sombras sensuais, realçando os traços másculos do rosto de Oliver
e a curva do meu vestido de noiva. Encontro seu olhar, e é como se o mundo inteiro
desaparecesse, restando apenas nós dois.
Sinto meu coração bater descompassado enquanto ele me estuda intensamente. Tentando
desvendar todos os meus desejos com apenas um olhar.
Ele se move com uma confiança magnética em minhas costas, sua presença me envolvendo
como um ímã. A suavidade do tecido do vestido acaricia minha pele enquanto ele desliza as
alças, revelando-me lentamente.
Seus dedos, fortes e decididos, deslizam delicadamente pelo meu braço, enviando arrepios
através da minha pele, enquanto a peça de roupa desce.
— Prometo que serei cuidadoso, Lia. — Sua voz é rouca, permeada de um desejo intenso
que ecoa e faz pulsar o meio das minhas pernas.
Sinto meu coração acelerar, o som ecoando em meus ouvidos como uma trilha sonora para
esse momento tão carregado de eletricidade.
Viro-me, encarando-o com uma mescla de nervosismo e anseio, e minhas mãos alcançam
seu peito, sentindo a batida acelerada de seu coração.
Nossos olhares se encontram, e é como se todo o universo se concentrasse apenas nesse
momento. Há uma comunicação silenciosa, um entendimento mútuo do que está prestes a
acontecer.
Ele me puxa para mais perto, seu calor corporal me envolve, e nossos lábios se encontram
em um beijo ardente.
Nossas bocas se unem em uma dança apaixonada, nossas línguas se exploram em um toque
delicado de sensualidade. As mãos de Oliver encontram os fechos do vestido, liberando-o
completamente, e ele desliza o tecido pelo meu corpo, revelando-me na penumbra da suíte.
— Oliver... — murmuro seu nome, quase como um pedido, sentindo minha pele formigar
com a expectativa do que está por vir.
— Eu nunca tive uma virgem na cama, Lia, a imaginação está me deixando tão duro. —
Seu sussurro me faz apertar o tecido de seu terno, tentando me segurar, como se a minha força
fosse capaz de impedir a intensidade do momento.
Seus lábios encontram minha pele exposta, traçando caminhos de calor e desejo. Sua boca
beija meu pescoço, descendo lentamente até o início do meu colo, onde seus dentes suavemente
arranham minha pele, e enviam ondas de prazer por todo o meu corpo.
— Prometo que lhe farei gozar antes que sinta a dor de me receber como seu primeiro
homem — sua voz é um sussurro rouco que envia um arrepio pela minha espinha.
Minhas mãos percorrem o contorno de seus ombros, explorando a força e a textura de seus
músculos, enquanto ele desabotoa sua camisa com destreza após livrar-se do blazer. A ansiedade
se mistura ao desejo, e cria uma combustão interna que ameaça me consumir completamente.
Em um movimento fluido, ele retira sua camisa, revelando seu peito definido e esculpido.
A luz fraca da suíte dança sobre sua pele, delineando cada curva e contorno.
Oliver me puxa para perto, seus lábios capturando os meus novamente em um beijo que
agita uma chama em nossas almas. Sinto sua mão deslizar pelas minhas costas, desfazendo o
fecho do sutiã meia-taça branco, liberando-me de qualquer barreira que nos impeça de nos unir
plenamente.
O toque de seus dedos em minha pele nua é eletrizante.
Suas mãos deslizam pelo meu corpo, explorando cada curva, cada parte de mim como se
fossem notas em uma sinfonia que só ele pode tocar.
— Você pode apagar a luz? — peço, tendo a consciência que neste momento ele me vê
apenas no fio dental branco e cinta-liga, o que me deixa totalmente vulnerável.
Sinto-me exposta à luz, cada imperfeição revelada, coloco as mãos sobre meus seios,
envergonhada, esperando que ele não note minhas inseguranças.
— Não, a luz fica acesa, quero ver cada uma das suas expressões de prazer, Lia. — Sua
voz é carregada de desejo e confiança.
Minha respiração acelera, e meus olhos encontram os dele, cheios de luxúria e admiração.
— Você pode não gostar do que vê. — Minha confissão escapa em um sussurro, minha
voz trêmula de insegurança.
Ele abaixa o olhar pelo meu corpo, seus olhos percorrendo cada centímetro de mim. Em
seguida, ele pega minha mão e a guia até sua calça. Sinto a pressão de sua ereção contra a minha
palma, e isso me faz arfar de surpresa e desejo.
— Eu pareço não gostar do que vejo? — ele pergunta retoricamente, seus olhos ardendo
em minha pele. — Você é linda... não fique insegura, eu te desejo muito, desde quando te vi a
primeira vez queria te foder, Lia.
Sua mão desliza pela lateral do meu corpo, traçando uma linha de calor que me faz
estremecer. Ele me puxa para mais perto, e nossos corpos se encontram em um abraço íntimo e
apaixonado.
— Todas as vezes em que te via, quis tocar cada curva do seu corpo, e agora eu posso —
ele sussurra em meu ouvido, sua voz baixa e sensual.
Nossos lábios se encontram novamente, famintos e desesperados. Ele me guia até a cama,
deslizando minha calcinha por minhas pernas, deixando-me apenas com a cinta-liga e o véu na
cabeça.
Sua boca desce pelo meu pescoço, deixando uma trilha de beijos molhados que me faz
estremecer. Não há palavras entre nós, apenas gemidos suaves de prazer.
Seu corpo curva-se até meu estômago, penso em encolher a barriga, mas seus beijos são
tão suaves, como se dissesse que gosta de cada parte de mim assim, como verdadeiramente é, a
língua quente brinca em meu umbigo e fico tensa percebendo onde ele quer chegar.
Seu rosto fica de frente para as minhas coxas grossas onde ele beija e mordisca a pele, e
lentamente vou relaxando até que ele as espalha abertas, tendo acesso à minha intimidade, a qual
minha tia depilou por completo com cera quente.
— Estava louco para ver o que essas coxas grossas escondiam, mas, porra! Você é toda
linda, mais bonita do que supus — diz enquanto distribui beijos molhados na pele sensível da
minha virilha, fico mortificada com a cena diante dos meus olhos.
— Oliver... — Seguro-me nos lençóis quando sinto sua língua quente me invadir.
A língua quente brinca com meu clitóris e remexo-me inquieta, nunca fui tocada de forma
tão íntima. Reviro os olhos por tamanha intensidade, sinto minha lubrificação natural escorrer
pelas pernas enquanto enfio minhas unhas em seus cabelos totalmente fora de mim.
Por conta das agruras da vida, nunca me preocupei em me dar prazer, e o que recebo agora
de Oliver deixa-me sobrecarregada, sinto uma explosão em meu baixo ventre que faz com que
meus dedos dos pés se retorçam e minha coluna se desprenda da cama, o grito silencioso sai de
meus lábios e o rosnado dele eleva tudo ainda mais. E então a percepção me atinge, eu gozei pela
primeira vez.
Beijando-me preguiçosamente, ele sai da cama e enquanto volto à órbita vejo-o se livrar da
calça e da boxer branca, e fico hipnotizada com o corpo bem moldado deste homem, meu
marido.
Sua ereção salta com o descer dos tecidos, e pego-me apreensiva pelo tamanho, Oliver é
um homem grande em todos os sentidos, e instantaneamente fecho minhas pernas, o que o irrita
profundamente dado o som de repreensão que foge de seus lábios.
Ele retira do bolso da calça um preservativo, e isso me incomoda, quando ele senta na beira
da cama tentando abrir com a boca a embalagem eu a pego e coloco na mesa de cabeceira e
recebo seu olhar inquiridor de volta.
— É a minha primeira vez, não quero nada entre nós — explico. — Eu tomo
anticoncepcional desde nova para regular meu ciclo e acredito que esteja limpo.
— Lia, eu não fodo sem proteção. Nunca. — Frisa a última palavra e engulo em seco,
dando-me conta que enquanto ele será especial para mim, sou apenas mais uma para ele.
— Você também não fode virgens, e, no entanto, aqui está — rebato e ele volta a pegar o
preservativo, e seus olhos azuis dançam entre a camisinha e eu, tentando se decidir sobre o que
fazer. — Está tudo bem, Oliver, entendi que não confia em mim para isso e que não sou nada
especial, pode usar a camisinha — reclamo e volto a me deitar.
Ouço a embalagem ser rasgada e reviro meus olhos, tão controlador.
No entanto, ele a joga na cabeceira e volta a ficar por cima de mim, segura minha
mandíbula e obriga-me a encará-lo.
— Essa será a única vez que ficaremos desprotegidos porque é a sua primeira vez. Não
estou abrindo mão de mais nada, Lia — concordo com um acenar e beijo-o tomando a iniciativa.
Enquanto sinto o gosto da minha intimidade em sua língua, sua ereção roça em meu clitóris
e movo-me atrás de mais fricção.
— Sua boceta já está tão molhada, Lia — seu sussurro morre em meus lábios e fico
hipnotizada com seu cheiro, seus beijos, meus dedos apreciando a nuca masculina.
Meus seios tocam o peitoral de Oliver, que desce até um de meus mamilos endurecidos,
deixo escapar um gemido quando sua boca fecha em um mamilo, mordisca e belisca o ponto
sensível e em seguida faz o mesmo com o outro.
Agarro seus cabelos, totalmente rendida, me torcendo em baixo dele.
— Ai, Oliver...
— Esses gemidos são a minha perdição, Lia. — As palavras saem abafadas enquanto ele
suga um dos meus mamilos já doloridos de desejo e de sua brutalidade deliciosa.
Quando seu indicador mergulha entre minhas pernas e toca meu clitóris, em um ritmo
delicioso, entrego-me a sensação angustiante e gostosa e, ainda muito sensível, explodo
novamente, totalmente acesa, tomada pelo tesão.
Antes que eu possa me recuperar, sinto sua ereção encaixar em minha entrada melada, e
trancamos nosso olhar.
— Sua boceta está pronta para me receber... — sugere, aguardando a minha confirmação, e
não peso minhas palavras, sou sincera.
— Me faça sua mulher, Oliver — peço com a voz trêmula, achei que ele fosse negar, dizer
que nunca serei dele, mas recebo seu silêncio seguido da investida profunda em meu centro.
Sento sua carne esticar-me.
Gememos juntos, e minhas unhas arranham suas costas, a dor é visceral, queima e arde, ao
mesmo tempo que me sinto como disse, toda dele.
Minhas mãos exploram suas costas, sentindo a força de seus músculos sob minha palma, e
tento segurar um grito de dor.
— Acalme-se e me sinta, me queira, Lia. — As palavras gentis, me fazem relaxar toda a
musculatura.
No entanto ele não é apressado, sua pélvis se move lentamente, deixando-me acostumar
com a intrusão enquanto suas mãos mantêm minhas pernas abertas para recebê-lo.
— Eu não vou durar nada, você é tão apertada... — sua voz morre conforme perco os
sentidos enquanto suas estocadas ficam mais profundas.
Estamos tão encaixados que sinto minha musculatura se mover apertando o pênis dele cada
vez que ofego, e isso o faz praguejar acima de mim, os lábios são violentos nos meus, tomando,
exigindo, enquanto sinto-me rasgar em meu baixo ventre.
— Eu vou gozar, Lia, não suporto mais segurar — disse e em seguida um rugido
animalesco saiu de seus lábios e senti seu gozo jorrar dentro de mim. Somos uma só carne agora.
E quando finalmente alcançamos o clímax, é como se o mundo explodisse em cores e
sensações, e eu me sinto completa, realizada, realmente a mulher dele.
Oliver me segura em seus braços fortes, nosso suor misturado e nossos corações batendo
em uníssono.
Capítulo 23: A frieza

— Filho, nunca ia imaginar te encontrar perambulando pela mansão em plena noite de


núpcias. — A voz de minha mãe me desperta a atenção.
Permaneço com o copo de uísque nas mãos, encarando o líquido âmbar, tentando encontrar
alguma resposta, mas o silêncio me envolve, e permite que os pensamentos se desenrolem como
uma teia complicada em minha mente. Lembro-me da mulher que deixei na cama uma hora atrás,
adormecida e serena.
Sua entrega, a necessidade que tive de agradá-la quando a vida inteira as mulheres que
sempre estiveram loucas para me agradar na cama, mas com ela, eu fiquei totalmente obcecado
em fazê-la gozar, fazê-la se sentir bem, fodemos sem camisinha, eu nunca transei sem
preservativo e abri mão disso por ela, eu nunca abro mão de nada por ninguém, porra!
Fiquei necessitado de uma paz momentânea, então decidi me refugiar nesse lugar pouco
frequentado da mansão.
Minha mãe, elegante como sempre, se serve da mesma bebida que eu e se senta na mesa,
sua expressão observadora captando cada detalhe. O silêncio prolongado cria uma atmosfera
tensa entre nós, rompida por sua risada, uma tentativa de aliviar o peso do momento.
— Foi um belo casamento, a festa foi incrível, isso é bom para os negócios. — Ela
começa, tentando encontrar um ponto de contato.
Apenas aceno com a cabeça em concordância, mas sei que há algo mais que ela deseja
dizer.
— Afinal, não é sobre isso esse casamento? Negócios...
Sua voz ecoa, mas suas palavras se perdem no turbilhão de pensamentos que me envolve.
Penso no casamento dos meus pais, uma união arranjada, uma fusão de fortunas e interesses
comerciais. A lembrança me traz um gosto amargo.
— Assim como o seu e o de meu pai, ou acha mesmo que acredito nessa história de amor à
primeira vista de vocês dois?! — acuso irritado, deixando escapar a amargura acumulada.
Ela suspira, reconhecendo a ferida que acabara de tocar.
— Seu pai era filho de um dos sócios do meu pai, foi um acordo justo, mas apesar da
conveniência, nos respeitamos, somos felizes, com o tempo passamos a nos amar, tivemos você e
sua irmã, deu certo. Agora, não vejo no que essa menina pode te favorecer, ela é totalmente fora
da nossa realidade.
A palavra "favorecer" ressoa em minha mente, provocando um nó de desconforto em meu
estômago.
A menção à "menina" me irrita. Lia é muito mais do que isso, é uma mulher bondosa e
inteligente, com quem compartilhei momentos verdadeiros.
— Coisa minha, mãe — respondo de má vontade, a voz carregada de frustração,
consciente de que nossas visões estão em desacordo.
Ela dá um longo gole no copo, talvez em busca de coragem para falar o que realmente
pensa.
— A primeira noite juntos foi tão ruim assim ao ponto de você estar aqui bebendo sozinho
na noite de núpcias?
Apenas rio de mau humor, porque já tive fodas muito melhores, com mulheres experientes,
que sabiam onde me tocar, sedentas por me agradar, hoje foi tudo sobre ela, foi diferente de tudo
que já vivi, e estou apavorado com a minha falta de controle, gozei mais rápido do que um
adolescente.
Minha mente retrocede ao que aconteceu na última hora. Foi intenso, quente, inebriante.
Mas também foi desafiador. A intimidade é sempre um terreno complicado, e essa situação
coloca mais pressão, mais expectativas.
Sinto minha mãe observando-me, lendo-me como se fosse um livro aberto. Ela percebe
meu conflito. E, surpreendentemente, ela ri, como se soubesse exatamente o que está passando
na minha mente.
— Certo, então vou presumir que foi bom e você está totalmente assustado.
— Não presuma nada, estou apenas tomando uma bebida. Você sabe que detesto eventos
sociais em que sou o centro das atenções — minto, tentando disfarçar a tempestade de emoções
que me consome.
Enquanto ela fala sobre o casamento ser um bom negócio para a família, minha mente
volta para Lia. Este casamento é uma peça num jogo muito maior, e Lia é uma peça chave.
A jovem que agora é minha esposa, mas que é muito mais do que uma conveniência para
garantir uma transição suave de propriedades.
Ela é um total descontrole que estremece minha existência controlada. A cena da noite
passada, com sua madrasta tentando entrar na festa, confirma isso. Lia não possui um fio de
maldade em seu corpo.
Nossa primeira noite como marido e mulher foi um turbilhão de sentimentos. Ansiedade,
desejo, confusão, todos misturados em um coquetel explosivo.
E agora, diante da minha mãe, me sinto vulnerável, algo que raramente admito para mim
mesmo. Ela me olha, os olhos penetrantes sondando minha alma.
— Oliver, querido, já estive no seu lugar, e saiba que você é mais forte do que imagina. Sei
que os fardos da nossa família são pesados, mas você tem a chance de fazer algo diferente, de
encontrar seu caminho. O casamento é apenas um começo, não o fim. Enfrente seus medos, siga
seu coração.
Tendo como resposta o meu silêncio por mais alguns minutos, minha mãe finalmente vai
embora, dando-me a paz que tanto busco, exceto pela minha cabeça em total conflito.

Adormeci no escritório, buscando o conforto temporário de uma cadeira de couro de pelo


menos 50 anos. A noite foi uma névoa de pensamentos turbulentos, desafiando qualquer
tentativa de descanso verdadeiro.
Quando a luz suave da manhã rompe a escuridão, me viro na cadeira e levanto-me.
Após realizar minha higiene matinal em um dos quartos de hóspedes, ganho alguns
preciosos minutos até ter que enfrentar a realidade: minha esposa.
Ao regressar à suíte onde a deixei adormecida na noite anterior, meu coração bate um
pouco mais rápido, uma ansiedade silenciosa se formando dentro de mim.
Abro a porta com a esperança de que a visão da minha esposa adormecida me traga algum
conforto ou, quem sabe, a clareza que tanto procuro.
Entretanto, sou recebido por uma surpresa: Lia está de pé, já vestida com calça jeans que
realça suas curvas e uma blusa de cetim que acentua sua delicada cintura fina e seios de tamanho
médio que chupei ontem o máximo que pude.
Ela está alisando a cama já arrumada com destreza, a mesma cama que compartilhamos na
noite anterior, deixando-a impecável.
Seu sorriso é como um raio de sol, iluminando a suíte. Não há sinais de desconforto ou
tristeza, pelo menos não visíveis.
Parece que ela está pronta para o novo dia, com uma determinação admirável, e fico
momentaneamente perdido na graça natural que ela exala.
— Bom dia, Oliver. — Sua saudação é calorosa, e seu olhar se encontra com o meu. Há
algo nos olhos dela, algo que tento decifrar. Hesito, tentando encontrar as palavras certas,
preparando-me para uma possível pergunta sobre minha ausência durante a noite. — Estou
ansiosa para andar de avião. — Surpreende-me novamente ao mencionar nossa viagem às
Maldivas.
— Bom dia, Lia — respondo, meu tom buscando igualdade ao dela. — Vejo que está
animada com a viagem. É um lugar incrível. Estou ansioso para compartilhar essa experiência
com você — digo, tentando dissipar qualquer nuvem de desconforto que possa pairar sobre nós.
Lia parece determinada a manter uma fachada de normalidade, enquanto eu luto com as
complexidades do nosso casamento de fachada.
Sinto-me um ator em um palco, mas, diante dela, estou determinado a desempenhar meu
papel da melhor maneira possível, mesmo que minhas emoções estejam em conflito.
Nosso relacionamento, entrelaçado com negócios e sentimentos confusos, é uma dança
delicada na corda bamba. E, por enquanto, estamos tentando manter o equilíbrio.
Fizemos um rápido desjejum na suíte, cercados por um silêncio que parece acolhedor,
como se estivéssemos criando uma bolha temporária.
— Precisamos aproveitar cada minuto da viagem, não é mesmo? — Lia diz, quebrando o
silêncio de forma suave, sua voz cheia de animação.
— Exatamente. Maldivas é um destino espetacular — respondi, sorrindo para ela. — Será
a minha primeira vez por lá, espero que o serviço 5 estrelas funcione bem.
— Vamos de carro para o aeroporto? — A pergunta ingênua de Lia reforça a disparidade
entre nossas realidades sociais, uma discrepância que minha mãe apontou ontem.
— Não, vamos no helicóptero da minha família — respondo, percebendo a surpresa
estampada em seu rosto.
— E como faremos o check-in? Eu achava que essa história de ter um helicóptero fosse
devaneio de dona Beatriz.
— Faremos o check-in já dentro do avião, na primeira classe — explico, notando seus
lábios entreabertos de espanto.
— Primeira classe, é claro. — Ignoro a ironia em sua voz, provavelmente ela está
descobrindo agora que não vamos voar de econômica.

Lia observa o helicóptero com olhos maravilhados, claramente surpresa e fascinada. Agora
tenho a real noção que é algo completamente fora de sua rotina, uma experiência que destoava da
sua realidade cotidiana, enquanto que para mim é algo natural, não consigo me lembrar a
primeira vez que voei, provavelmente eu ainda nem tinha a consciência formada. A aeronave é
imponente, reluzindo o sol da manhã, com um toque de luxo e sofisticação em cada detalhe.
— Isto é... surpreendente, Oliver — ela diz, ainda um pouco atônita.
Caminhamos juntos em direção à aeronave, e eu gentilmente seguro sua mão, transmitindo
um pouco de conforto. À medida que nos aproximamos, o piloto nos recebe com um sorriso
profissional, pronto para nos auxiliar a embarcar.
— Permita-me, senhora — um dos membros da tripulação diz, abrindo a porta para que a
minha esposa entre.
Ela olha para mim, procurando talvez por um indício de como proceder. Sorrio a
tranquilizando e faço um gesto para que entre primeiro. No entanto, ela hesita por um momento
antes de subir os degraus, sua expressão, uma mistura de encantamento e incerteza, enquanto eu
olho de forma ríspida para o rapaz que segura a porta e cobiça a bunda da minha mulher.
— Cuidado com os seus olhos, rapaz. — Acuso e recebo um aceno nervoso, anoto
mentalmente de fazer uma reclamação formal à empresa terceirizada que o contratou.
Ao entrar, sou recebido por um interior luxuoso, couro macio e detalhes em ouro criando
um ambiente acolhedor e elegante. As janelas amplas permitem uma visão espetacular do Rio de
Janeiro com suas praias exuberantes visto de cima.
Torno-me obcecado em ver cada uma das reações da minha esposa, que está alheia
admirando tudo ao seu redor. A sensação de voar em um helicóptero é uma novidade para ela, e
isso transparece em sua expressão.
— É incrível, não é? — comento, e ela concorda com um aceno suave, vejo o fascínio nos
olhos dela olhando para o horizonte com um sorriso nos lábios ainda inchados dos meus beijos.
Contudo, a viagem é rápida e logo vejo Lia se despedir do helicóptero com um misto de
admiração e nostalgia, ela agradece ao piloto, e reviro os meus olhos, afinal para que agradecê-lo
por fazer algo que ele é pago?
— Foi uma experiência única, algo que poucas pessoas têm a oportunidade de vivenciar, e
você foi muito responsável. — Ela elogia o homem de meia-idade que fica surpreso com a
atitude.
— Querida, temos que ir — falo, detestando a atenção que ela dá ao homem. Meu toque
gentil em suas costas transmitia tranquilidade, encorajando-a para a próxima etapa da nossa
jornada.
Caminhamos lado a lado em direção ao avião que nos levará às Maldivas. O sol já começa
a pintar o céu com tons dourados e avermelhados, uma transição suave do amanhecer para a
manhã.
— Este é o passo mais longo da nossa viagem — comento, sorrindo para ela que ouve
atenta minha instrução enquanto funcionários pegam nossas malas.
Assim que entramos no avião, a tripulação da primeira classe nos saúda calorosamente. A
cabine é um espetáculo por si só, com assentos espaçosos e extremamente confortáveis, e a
atmosfera emana elegância e sofisticação.
— Permita-me acompanhá-los, senhor e senhora Harrison. — Um membro da tripulação se
aproxima e nos indica o caminho.
Lia hesitou por um momento, talvez um pouco intimidada pela grandiosidade da aeronave
e pela atenção da equipe. Olha para mim em busca de orientação, e eu sorrio, encorajando-a a
seguir adiante.
— Vai ser incrível. Vamos lá — digo suavemente, segurando sua mão.
Ela respira fundo e caminha para dentro, sendo recebida pela visão luxuosa da primeira
classe. Seus olhos brilham com uma mistura de surpresa e encantamento enquanto ela observa ao
redor.
— Isso é... deslumbrante — ela murmura, ainda absorvendo tudo.
A tripulação a guia até seu assento, e ela se acomoda com uma expressão de curiosidade.
Sento-me ao seu lado, apreciando vê-la viver suas primeiras vezes.
— Nossa, Oliver, é incrível! — Lia exclama, seus olhos brilham como estrelas. É evidente
que ela está absorvendo cada detalhe, maravilhada.
— Está apenas começando. — Sorrio, ajeitando o assento para ela. — Prepare-se para algo
realmente mágico. Maldivas é um paraíso na Terra.
Após fazer o check-in e nos acomodarmos, a aeronave começou a se preparar para a
decolagem. A ansiedade e a excitação de Lia preenchiam o ar, e a cada minuto, o cenário do
casamento e da mansão ficavam mais distante, como se estivéssemos deixando para trás um
capítulo e começando outro.
Capítulo 24: A indiferença

Enquanto chegávamos à ilha paradisíaca das Maldivas, uma visão deslumbrante se


descortinava diante de nossos olhos, e ainda assim fiquei receosa por Oliver não ter citado
nenhuma vez sequer sobre a nossa noite de núpcias, sinto-me no escuro sem saber se ele gostou,
se pretende me tocar novamente ou se a partir de agora vamos apenas fingir e nada mais.
O azul profundo do oceano se mesclava com diferentes tonalidades de turquesa, formando
um espetáculo que parece saído de um sonho.
— Uau, é simplesmente magnífico! — exclamei, maravilhada com a beleza deslumbrante
das ilhas e suas águas cristalinas. E ele apenas sorriu em concordância.
Caminhamos juntos até a hidrobase, onde o hidroavião nos aguarda para levar-nos ao
nosso destino, julgo que seja uma ilha privativa, já que até agora tudo nessa viagem fugiu da
linha econômica. O sol se pôs em tons de laranja e rosa no horizonte, tingindo o céu com uma
paleta de cores deslumbrante.
Seguimos até o hidroavião, uma máquina imponente que repousava nas águas calmas e
cintilantes. A equipe de bordo nos cumprimentou com sorrisos calorosos, nos orientando sobre
os procedimentos de segurança e nos conduzindo ao nosso assento.
A sensação de decolar da água é indescritível. O hidroavião ganhou os céus, e à medida
que subíamos, a vista se ampliava, revelando as ilhas em sua plenitude.
Olho pela janela e suspiro pelo cenário deslumbrante se estender diante de nós.
Sinto a brisa suave e o sol acariciando o rosto, e absorvo a grandiosidade da paisagem que
se desdobrava abaixo de nós.
— Como você consegue se manter tão indiferente em uma beleza como essa? — Atiro a
pergunta e os olhos azuis me examinam com minúcia.
— Já vi muitos outros lugares tão bonitos quanto esse.
— Isso devia deixá-lo ainda mais surpreso, não te tirar a gratidão por ver algo tão natural e
belo. — Minhas palavras parecem tocá-lo de alguma forma, porque seus olhos semicerram e
logo um bico se forma em seus lábios.
Dou de ombros e volto a olhar maravilhada para a janela.
Ao desembarcar do hidroavião, chegamos ao luxuoso hotel 5 estrelas com bangalôs sobre
as águas, um verdadeiro oásis de beleza e tranquilidade.
Somos recebidos pela equipe calorosa do resort, que nos cumprimenta com sorrisos
simpáticos e guias para nos acompanhar até nosso bangalô, fico lisonjeada por estar sendo tão
bem tratada simplesmente por ser a esposa de Oliver, e percebo o quanto o dinheiro e o poder
realmente movem o mundo.
Caminhamos sobre a passarela de madeira que se estende sobre as águas cristalinas do
oceano, e a cada passo, a imensidão azul que nos cerca me deixa ainda mais encantada.
O sol está começando a se pôr, criando um espetáculo deslumbrante.
Nossa acomodação é em um dos bangalôs mais distantes, o que nos garante privacidade e
uma vista espetacular.
Ao chegarmos, a equipe do hotel mostra o interior luxuoso do nosso refúgio temporário,
Oliver conversa com eles em um inglês impecável enquanto me distraio observando os detalhes.
O bangalô é espaçoso e decorado com elementos tradicionais das Maldivas, como móveis
de madeira esculpidos à mão e detalhes artesanais que refletem a riqueza cultural do país.
A cama tem vista para o oceano através de um imenso vidro no chão, proporcionando uma
visão única das águas cristalinas abaixo. Oliver fecha a porta, nos deixando a sós no ambiente, e
saio para conhecer a varanda, onde um deck particular nos dá acesso direto ao oceano. A brisa
suave e o som das ondas me envolvem, criando uma sensação de paz e relaxamento.
— Este é um verdadeiro paraíso — Oliver murmura atrás de mim, abraçando-me
suavemente, seu calor depois de tantas horas de distância é muito bem-vindo.
— Mesmo nosso casamento não sendo real, estou feliz de estar aqui com você — confesso,
permitindo-me inalar seu cheiro másculo e deixando-me levar pelo momento.
As cores da tarde começam a pintar o céu, misturando tons de laranja e rosa que se
refletem no oceano, criando um espetáculo digno de admiração. Oliver e eu ficamos aqui,
perdendo-nos na beleza natural.
— Descanse um pouco, a viagem foi longa. Vou pedir algo para comermos aqui dentro do
quarto. — Ele sugere com gentileza, e detesto que volte a me ignorar.
Quando ele ameaça se afastar, seguro sua mão, seus olhos encaram-me curiosos. Sua fuga
após nosso primeiro beijo e também depois da nossa transa, deixam-me sempre no escuro,
insegura, e ao mesmo tempo não o questiono porque sei que Oliver não gosta de cobranças, no
entanto estou em meu limite.
Acaricio a aliança que pus em seu dedo e tomo coragem para compartilhar minhas
inquietações.
— Eu fiz algo errado na nossa primeira noite? — a pergunta sai hesitante, mas dada a sua
expressão estoica, sinto que preciso saber. — Eu tentei fazer do jeito certo, mas se tiver feito
algo que você não gostou, pode me dizer... — Minhas palavras são cortadas por seu rosnado.
Ele pega meu rosto com suas mãos grandes e firmes, erguendo meu queixo, forçando-me a
encará-lo.
— Você foi perfeita.
Toda a insegurança desaparece com esse gesto e me entrego ao momento, sabendo que,
mesmo com as complexidades do nosso casamento, há uma conexão real entre nós.
Seu olhar é intenso no meu, um fogo ardente que me prende. Fico na ponta dos pés,
igualando nossas alturas, e meus lábios capturam os seus em um beijo inicialmente tímido. Por
um segundo, ele parece não se mover, fazendo-me temer uma possível rejeição.
Mas, no segundo seguinte, sua mão enlaça minha cintura, e ele morde suavemente meu
lábio inferior. Sua língua desliza em minha boca, e a recebo de bom grado, sentindo meu corpo
responder com gemidos suaves enquanto agarro a lapela de seu terno.
— Lia, você precisa descansar. A viagem foi longa e... — Sua voz morre quando desço
minha mão por sua calça, acariciando a ereção iminente.
— Eu quero você, e sei que é mútuo. — Minha voz sai em sussurros carregados de desejo,
e não preciso dizer mais nada para que ele entenda a minha intenção.
Sou pega em seus braços, e agora não me incomoda mais ser carregada por ele, pouco a
pouco ele quebra as minhas inseguranças, beija-me apaixonadamente enquanto atravessamos o
quarto em direção ao banheiro da suíte luxuosa.
Acaricio sua nuca enquanto meus lábios inferiores são sugados pelos seus. A água do
chuveiro começa a cair, quente e reconfortante, criando um cenário ainda mais sedutor enquanto
nossas roupas caem ao chão.
A luz suave no banheiro reflete em sua pele, tornando tudo mais íntimo e erótico. Ele me
encara, os olhos azuis como o oceano, cheios de desejo. Nossos corpos se unem em um abraço
sob a água quente, Oliver pega um punhado do sabonete líquido e desliza pelo meu corpo nu,
suas mãos explorando cada curva, cada centímetro, como se estivesse mapeando meu corpo para
nunca mais esquecer.
O vapor preenche o ambiente, e cria um véu de intimidade enquanto nossas respirações se
aceleram e nossos gemidos ecoam.
— Ainda dói ou sua boceta apertada pode me receber de novo? — A pergunta quente, feita
ao pé do ouvido, me faz ofegar enquanto sua mão escorregadia de sabonete acaricia meu clitóris
de forma suave. — Responda.
— Você, eu quero você de novo.
A água quente e os gemidos abafados tornam tudo ainda mais intenso, seguro-me na
parede de músculos do seu peitoral enquanto ele continua com a carícia preguiçosa em meu
ponto de pulsação.
— Sua boceta me deixou louco, Lia, eu quero tanto senti-la de novo na minha boca... —
Seus lábios mordiscam os meus brevemente até que os leva ao meu ouvido e sussurra: — E no
meu pau, eu preciso sentir seu aperto de novo, querida.
As gotas d'água escorrem por nossos corpos, seguindo o contorno de nossa pele, como se a
própria água celebrasse nossa união. Sinto a força e a ternura de Oliver ao mesmo tempo, sua
presença é como uma âncora em meio a esse turbilhão de sensações.
Ele me beija com fervor, seus lábios explorando os meus com desejo, enquanto suas mãos
percorrem minha pele com uma suavidade eletrizante, meus gemidos ficam mais altos ao passo
que seus dedos deslizam com mais firmeza em meu clitóris, e não demora para que eu me
desfaça, rendida sob seus braços.
— Tão entregue, você é perfeita. — Ouço enquanto tento acalmar meus espasmos.
Com as mãos ainda trêmulas, pego o sabonete líquido, cujo aroma é suave e convidativo, e
deslizo-o com cuidado sobre o peito de Oliver. Sua pele já está quente do banho e úmida, e cria
uma sensação escorregadia e sensual.
Meus dedos desenham trajetórias suaves, seguindo os contornos dos músculos sob a pele
macia, e posso sentir seu corpo responder a cada toque. Sinto a textura da espuma enquanto meus
movimentos se tornam mais confiantes.
Oliver fecha os olhos, e um leve sorriso brinca em seus lábios, como se estivesse
apreciando cada segundo desse gesto atrevido.
A água continua a cair sobre nós, misturando-se com o sabonete, criando uma sensação de
suavidade e limpeza.
A espuma se forma, criando uma camada sedosa que contrasta com a pele dele, agora
úmida e iluminada pelos raios de luz que atravessam o vidro translúcido do banheiro.
Quando reabre os olhos, encontra os meus, posso sentir a vibração de seu corpo sob
minhas mãos, o coração pulsando no mesmo ritmo acelerado que o meu.
Desço com cuidado a mão até seu abdômen, sentindo a firmeza de seus músculos sob meus
dedos que seguem uma dança lenta e sensual, explorando cada curva e cada linha de seu corpo.
A suavidade da espuma contrasta com a força de seus músculos, criando uma miríade de
sensações que me faz suspirar.
Oliver me segura pela cintura com delicadeza, seus olhos nunca se desviando dos meus
enquanto nos movemos juntos. Com a mão livre, ele guia meus gestos com ternura, me
mostrando como tocá-lo, assim que encosto em sua ereção.
— Aperta um pouco mais, Lia. — Sua voz é um sussurro dolorido ordenando-me.
O aroma suave do sabonete se mistura com a brisa do oceano que entra pela janela aberta,
criando um perfume único e envolvente. A atmosfera é carregada de eletricidade, quando
começo a masturbá-lo, vejo-o fechar os olhos por um segundo, entregue, e sinto-me poderosa.
— Bom? — pergunto e ele grunhe.
— Pare de perguntar e soar tão inexperiente. — O rosnado me confunde.
— Mas eu sou, Oliver.
Seus quadris começam a estocar em minha mão, enquanto seus lábios raivosos sugam os
meus.
— Quer me dizer que esse é o único pau que você tocou por toda a vida? — A pergunta me
faz ofegar, pela forma crua que é feita e assinto positivamente. — Você vai me enlouquecer, Lia.
— Então vamos enlouquecer juntos — peço.
— Fique de joelhos e me receba na sua boca. — A ordem me faz gemer e imediatamente
seguir a orientação.
Sinto-me à vontade, confiante, à medida que exploramos esse momento íntimo juntos.
Coloquei-me de joelhos no chão, e sinto a mão de Oliver juntar meus cabelos em um rabo
de cavalo, ofego assim que observo atentamente o pênis robusto, com veias proeminentes e a
cabeça rosada, lindo, pesado, um homem completo.
— Abra a boca. — A ordem soa rouca em sua boca, e abro a boca lentamente,
envergonhada, mas sentindo-me curiosa, levo as mãos para a base, e recebo a ponta deslizando
pela minha língua deixando uma trilha molhada de seu líquido pré-sêmen. — Olha pra mim
enquanto chupa o meu pau, esposa.
Tentei levá-lo por inteiro, ao máximo que eu conseguia, curiosa, e acabei me engasgado
quando senti tocar a minha garganta, observei que mal cheguei à sua metade e já estou
sobrecarregada, ele definitivamente é muito grande para mim.
— Nossa, Lia! — Gemeu enquanto me assistiu engasgar. — Tão cheia do meu pau, seja
menos gulosa, querida.
Devagar, deslizei os lábios lentamente em seu comprimento, sentindo-o pulsar em minha
língua, Oliver arfa, pragueja, e não demora a perder o controle e estocar em minha boca da
mesma forma que fez em minha boceta.
O banheiro se enche com os sons da água e da minha sucção. O calor do chuveiro e a
intimidade compartilhada nos envolvem como um abraço caloroso, nos fazendo esquecer de tudo
o mais.
— Venha, eu preciso me enterrar em você.
Ainda molhados, sou levada no colo por Oliver que me despeja com cuidado na bela cama
de casal com pétalas de rosas vermelhas.
Enquanto eu me acomodo nas macias roupas de cama, Oliver se move com elegância em
direção a uma mesa de cabeceira. Ele aperta um botão, e parte do teto começa a se arrastar,
revelando um céu estrelado acima de nós. Um suspiro de admiração escapa dos meus lábios.
— Surpresa! — ele exclama, parecendo tão animado quanto eu com a revelação.
— Oliver, é incrível! — exclamo, meus olhos brilhando com entusiasmo. A visão do céu
noturno, as estrelas cintilando, tudo isso cria um cenário incrivelmente romântico e inesquecível.
E ficou mais difícil enumerar os motivos pelo qual eu não posso me render a paixão
desenfreada que venho sentindo por meu marido.
Capítulo 25: A cobiça

A forma como os olhos dela brilham ao admirar o teto que se abria para a luz da lua, sua
expressão de curiosidade e a gratidão que ela sente por cada detalhe novo em sua vida me
cativam profundamente.
Meu plano original era simples: na noite de núpcias, tiraria sua virgindade para que esse
não fosse mais um obstáculo. Afinal, depois do nosso divórcio, ela provavelmente encontraria
outros homens, e explicar a virgindade após um casamento seria no mínimo intrigante.
Era apenas um meio para um fim.
No entanto, esta viagem que minha avó nos presenteou, combinada com o fato de ter Lia
compartilhando o quarto e a cama comigo, transformou tudo em um grande afrodisíaco.
Observá-la nua, encharcada e mordendo os lábios enquanto encara o teto me deixa
inebriado. Meus olhos percorrem suas curvas, e recordo o quão prazeroso foi ter sua boca no
meu pau, apesar de sua inexperiência. Ela estava meio impaciente, com uma grande dose de
pudor, mas ainda assim, o sabor de sua entrega foi incrível.
Nunca fui um homem paciente o suficiente para ensinar qualquer coisa a alguém, mas com
ela, é diferente. Sinto prazer em ver seu esforço para me agradar, em dar-lhe ordens, em ensiná-
la, em proporcionar-lhe prazer, mesmo que nunca tenha sido um homem altruísta.
Impaciente, querendo de volta a sua atenção, levo minha boca em seu mamilo, e isso não
tem a ver com altruísmo, é puro fogo, amei chupar seu peitinho e ouvir o gemido nervoso que
escapa de seus lábios, e agora ela definitivamente esquece a lua e vem ver estrelas comigo.
É dar prazer a ela e receber em dobro, porque assim que ouço sua voz fina dizer: — Ai,
Oliver!
De imediato meu corpo volta à vida, latejando, gotejando de desejo por ela.
Ajeito meu pau em seus lábios melados, e brinco roçando-o na entrada que estou louco
para foder novamente, sua pélvis se move em busca de mais atrito, e gosto do seu olhar de puro
tesão direcionado a mim.
Ela cola nossos lábios, receosa, e enfio minha língua na sua, exigente, tomando tudo que
ela me dá, sinto o meu gosto em sua boca e isso atiça todo o sentimento de posse que há em mim
quando penso que fui o único pau que ela esteve fodendo.
Descolei nossos lábios, porque a necessidade me tomou inteiro.
— Está pronta pra mim? — A pergunta é feita enquanto já começo a penetrá-la, seu acenar
positivo carrega uma dose de dor em sua face, sei que sou grande demais para a sua bocetinha
muito pequena e apertada, no entanto, sei que ela pode me aguentar, e ainda sentir muito prazer.
Não resisti e fiquei apenas observando seu rosto se transformar enquanto sentimos sua
carne molhada sendo esticada, me recebendo, suas unhas fincaram em minhas costas, travei a
mandíbula, sentindo demais.
Sexo não costumava ser assim, era apenas sobre prazer, então por que sinto a necessidade
de observá-la, de saber se está gostoso para ela também? Empurro devagar, preocupado, muito
atento as suas reações, mesmo sabendo que ela está molhada e pronta para mim.
Quando Lia revira os olhos, fico alucinado, tão apertada que a cada inspiração sinto a
boceta apertar, e quando ela expira solta-me, o movimento de sucção tão nítido, quente, que é
difícil manter a lucidez. Empurro de novo, e de novo, numa luta interna entre ir fundo e duro,
mas controlando-me para não a machucar.
— Porra, você é tão gostosa, tão minha.
O som de embate molhado causado pela fricção entre nossos corpos é enlouquecedora,
quando a sinto mais receptiva e acostumada ao meu tamanho, paro de me segurar e a penetro do
meu jeito, fundo, forte, e recebo seus gemidos e unhas cravadas em minha pele.
Sempre fui amante de posições diferenciadas, mas gosto de tê-la assim por baixo de mim,
apenas com as penas abertas me recebendo, a observo, sinto-a, vejo seu orgasmo ser construído,
e neste momento me enterro até as bolas e gosto do quão fundo consigo chegar.
— Toma mais, está gostoso? — Exijo saber.
— S-sim... — Seu ofego como resposta me enlouquece.
Beijo sua boca, possessivo, desesperado, me retiro por inteiro e em seguida volto a meter,
nos fazendo gemer juntos e sinto-a me enluvar por inteiro.
Suamos, enquanto a penetro, a devoro nessa cama, assim por cima consigo submetê-la, e
Lia me beija, grita, geme o meu nome, me arranha, implora por mais e eu dou, saio e entro,
apertado, cada vez que meto é mais escorregadio, meu pré-sêmen misturado a lubrificação
natural dela, nosso banho e o suor, estou completamente impregnado dela.
Quando ela se contorce, abre os lábios e não sai nenhum tipo de som, sei que atingiu seu
ápice, a boceta lateja, fazendo um movimento de sucção irresistível no meu pau e não consigo
segurar, jorro socando fundo dentro dela.
E só aí dou conta que mais uma vez a fodi sem preservativo.
No entanto, ao invés de ficar contrariado, empurro mais fundo não querendo que ela perca
nenhuma gota do meu sêmen.
O que está havendo comigo?
Encaro-a ainda sensível, e vejo o rubor em seu rosto, esta devia ser a última vez, já estou
mudado demais, no entanto a quero muito mais e não estou acostumado a passar vontade.
Rolo para o lado, e decido ter um pouco de espaço, vou até o banheiro na expectativa que
uma ducha sozinho me faça colocar os pensamentos no lugar.
Mas a única coisa que consegui ter em mente é o quanto quero me afundar nela de novo,
senti-la em outras posições, como um bom amante de sexo anal, quero ter todos os seus buracos
para mim, a minha disposição, e isso me irrita, porque deixa as coisas muito confusas para ela.
Ligo o chuveiro e as gotas quentes caem sobre mim, enquanto meu corpo parece se
queimar. Na minha mente, há um turbilhão de pensamentos, uma batalha interna que tenho
evitado.
Afinal, sou um homem vivido. Experimentei muitas coisas ao longo dos anos e aprendi a
separar o tesão de sentimentos amorosos. Cresci para ser o herdeiro das empresas da minha
família, uma responsabilidade que me obrigou a deixar os sentimentos sempre de lado e tomar
decisões racionais, principalmente nos negócios. Fui criado assim, para essa finalidade.
Mas Lia... ela é diferente. É jovem demais, carente, órfã. Sou o seu primeiro homem, o
único a tocar seu corpo de forma tão íntima. E isso me faz questionar tudo. Sei que meu desejo
por seu corpo pode confundi-la. Fazer com que ela acredite que há algo a mais entre nós.
No entanto, temos um acordo. Um casamento de conveniência para que ela herde as
riquezas da minha avó. Não pode haver espaço para sentimentos. Isso é algo que tenho repetido
para mim mesmo, mas, no fundo, sei que as coisas podem ficar complicadas. É difícil não sentir
nada quando se está tão perto de alguém, ainda mais sendo ela tão vulnerável.
Mas tenho em mente que após esta viagem vamos delimitar distância, assim será mais leve
para nós.
Saio do banheiro, envolto apenas por uma toalha presa à cintura, os cabelos ainda pingando
água. Meus olhos se fixam nela, em pé no quarto, usando uma camisola de seda preta que abraça
suas curvas. Seus olhos brilham enquanto ela admira o espetáculo marinho que se desenrola sob
nossos pés, onde o chão é de vidro, permitindo-nos observar os peixes e os corais.
Decido vestir uma calça de moletom, optando por ficar confortável. Me aproximo
lentamente, abraçando-a por trás, fazendo com que sua bunda roce no meu corpo. Minha boca
encontra sua bochecha, e meu olfato é preenchido com o aroma dela.
— Vou pedir que nos tragam o jantar no quarto. Parece que você quer admirar cada detalhe
desse lugar — brinco, e ela responde com um aceno afirmativo. — O que gostaria de comer?
— Não faço ideia do que tem aqui para comer — revela sua incerteza quanto às opções
culinárias, fazendo-me sorrir, contido.
— Vou pedir frutos do mar, tudo bem? — pergunto, e ela responde com um simples
movimento de ombros.
O jantar transcorreu agradavelmente, com Lia me contando sobre os presentes
extravagantes que ganhamos de minha família e amigos. Enquanto a escutava, percebi a
discrepância entre nossos mundos. Nossas realidades eram tão diferentes que, em um contexto
normal, poderíamos parecer de planetas diferentes. No entanto, ali, sob as estrelas e naquela suíte
deslumbrante, essas diferenças pareciam menores.
Conforme a noite avança, a tensão aumenta. Sei que não tenho para onde fugir desta vez.
Será a nossa primeira noite dormindo juntos, e a inquietante mistura de ansiedade e desejo torna
o ar eletricamente carregado.
Lia está sentada na beira da cama, a camisola deixa suas costas nuas refletindo o brilho
prateado que vem de fora. Ela olha para mim, seus olhos brilhando com um misto de desejo e
incerteza.
Avanço em sua direção, o desejo ardendo em mim. Seguro seu queixo com delicadeza,
inclinando seu rosto para cima e capturo seus lábios em um beijo faminto.
Nossas bocas se encontraram em uma dança excitante, nossas línguas se entrelaçando em
um ritmo sensual.
Suas mãos se movem por meu peito, enquanto eu acaricio suas costas, sinto a suavidade de
sua pele sob meus dedos. Lentamente, aprofundamos o beijo, deixando que o desejo queime
entre nós.
Lentamente, empurrei-a suavemente para trás, fazendo-a deitar na cama. Seu olhar estava
fixo em mim, cheio de antecipação e desejo. Enquanto eu me aproximo, sinto a tensão erótica no
ar tornar-se quase insuportável.
Nossas mãos exploram os corpos um do outro com urgência, retiro sua camisola e saio da
minha calça na sequência, e ela logo fecha a mão em meu pau já duro como rocha, é como se
estivéssemos famintos pelo toque do outro.
Ela o acaricia, massageia com delicadeza enquanto sugo seu lábio inferior, quando a mão
me aperta parece inflamar meu desejo ainda mais.
— Quer fechar a noite fedendo comigo? — pergunto com a boca ainda colada na dela.
— Sim! — ela diz enquanto guia meu pau à entrada da sua boceta, já muito molhada.
Não meço as consequências, apenas permito-me mergulhar em seu centro quente, as
paredes apertando-me, enquanto fico por cima a fodendo devagar, até que se acostume e eu
possa fazer do jeito que gostamos, fundo e forte.
Enfio meu dedo em seus lábios e ordeno áspero: — Chupa!
Em seguida abro mais suas pernas e apenas passo levemente o dedo na entrada do seu ânus
muito apertado.
— Estou louco para te foder aqui também — confesso e ela ofega. — Não hoje, mas você
vai deixar? — pergunto e ela acena, mordendo os lábios receosa. — Diga, você vai me deixar
foder seu cuzinho, Lia?
— Sim. — A afirmação me faz rosnar e socar fundo em sua boceta, imaginando como será
delicioso marcá-la por inteiro.
Quando caio exausto na cama após deixá-la cheia do meu esperma, na penumbra do
quarto, nossas respirações pesadas e sincronizadas preenchem o espaço.
Lia vem até mim se coloca deitada sobre o meu peito, o corpo quente e exausto
pressionado contra o meu. Deixando-me consciente de cada batida do seu coração.
Os dedos dela deslizam preguiçosamente pelo meu peito, traçando padrões imaginários
enquanto o silêncio é quebrado apenas por suaves suspiros de contentamento.
Minhas inseguranças anteriores haviam se dissipado, substituídas por um sentimento de
plenitude e conexão. Neste momento, não existem discrepâncias sociais ou dúvidas.
Enquanto os minutos passam, nossos corpos nus se acalmam e se mantêm entrelaçados,
como se temêssemos quebrar o feitiço mágico que nos envolve se nos separarmos.
E, quando finalmente fecho os olhos, adormeço com Lia aninhada em meu peitoral, a
sensação de paz e contentamento me envolvendo como um abraço caloroso. A lua brilha sobre
nossas cabeças, e tudo o que eu posso pensar é como a vida pode ser surpreendentemente
complexa.
Capítulo 26: A exclusividade

Acordo com a luz suave da manhã infiltrando-se pelo quarto. Lia repousa ao meu lado,
seus cabelos desalinhados espalhados pelo travesseiro, e uma expressão serena em seu rosto
angelical. Ela está vestida, o que me faz perceber que, em algum momento, saiu da cama sem
que eu tenha percebido.
Por um breve instante, a visão do corpo dela, vestida em sua camisola de seda e
adormecida, dança em minha mente, provocando uma sensação de desejo. Afinal, eu sou um
homem comum, com instintos e desejos. Mas depois da noite passada, da forma como me
entreguei a ela, decido ser respeitoso e não a despertar.
Com cuidado, deslizo da cama, à medida que me ergo, uma ereção matinal imensa se faz
presente, pulsando com urgência. Mas, não quero que ela se sinta pressionada a fazer nada,
especialmente após nossa noite intensa.

Levanto-me com cautela, garantindo que cada movimento seja silencioso, e pego o roupão
que está pendurado na porta do banheiro. Meus passos me levam ao banheiro, mas pelo caminho
pego o telefone e peço que o café da manhã seja servido no quarto.
Enquanto me ocupo da minha higiene matinal, lembro-me da promessa que fiz a mim
mesmo de manter as coisas simples. No entanto, Lia desperta algo dentro de mim que não
consigo ignorar.
Mas, ao mesmo tempo, sinto que algo está mudando em mim. E essa sensação de mudança
me assusta, mesmo que eu não admita.
De roupão, atendo o serviço de quarto e pego a bandeja, não deixando que o garçom entre
e veja a minha esposa descomposta, só de pensar na possibilidade de outro vê-la na camisola
indecente me irrita.
Quando volto para dentro do quarto, ela já está fora da cama, distraio-me colocando os
itens do café da manhã na mesa da varanda de nossa suíte de luxo enquanto Lia se mantém no
banheiro.
A vista para o oceano de Maldivas é espetacular, mas não tão espetacular quanto minha
esposa. Lia sai do banheiro deslumbrante em seu biquíni vermelho, suas curvas desenhadas de
maneira perfeita capturam minha atenção, e a saída de praia longa e branca, elegantemente
transparente, deixa pouca margem para a imaginação.
Observo-a com um olhar faminto enquanto ela se movimenta graciosamente, o cenário
paradisíaco quase ofuscado pela beleza dela.
Quando passa por mim, meus olhos pousam de imediato em sua bunda, grande, empinada,
e meu pau ganha vida ao perceber o fio dental vermelho entre as bandas firmes, quase nua.
Rosno, frustrado.
— Você está linda. — Um elogio escapa dos meus lábios, e vejo um rubor surgir em suas
bochechas. O efeito que ela tem sobre mim não diminui, mesmo depois de tê-la visto nua, tocado
onde quis, fodê-la incansavelmente, a fome ainda está presente.
Recebo a mensagem da confirmação da reserva de um dos restaurantes de luxo ao redor
que reservei, para nós dois jantarmos, e essa é a minha deixa para tentar distrair meu corpo do
seu seminu nesse biquíni safado.
— Quando você achava que eu era o jardineiro, aceitou ir a um encontro comigo, e agora
que sabe a verdade, ainda aceita? — pergunto, curioso para saber sua reação.
Há uma luta interna nos olhos dela, uma batalha entre o bom senso e a atração que
compartilhamos.
— Sim, eu aceito. — Sua voz carrega um leve tom de incerteza, mas sua resposta é a que
eu mais desejava.
Um sorriso se forma em meus lábios. Ela não foge de nós, apesar de tudo o que aconteceu.
— Então esta noite, temos um encontro, Lia. — Minha voz é impregnada de desejo, e meu
olhar ardente a devora como se quisesse consumi-la ali mesmo.
Sorrio, percebendo sua luta interna, e me aproximo dela. Passo minhas mãos em sua
cintura, sentindo o seu calor sob meus dedos.
— Sente-se, vamos tomar café da manhã, senão não vou conseguir tirar as mãos de você
— confesso, e surpreendendo-me, ela rouba um selinho, estalando a boca na minha rapidamente,
e em seguida foge, sentando em sua cadeira, com o rosto vermelho de timidez.

Lia foi dar um mergulho na parte privativa do mar que rodeia o nosso bangalô sobre as
águas enquanto precisei de alguns minutos dando telefonemas de trabalho antes de me juntar a
ela.
Quando olhei através do vidro que separa nosso bangalô do oceano, ali estava ela, sorrindo
como criança em seu brinquedo novo. Lia desliza graciosamente na água cristalina, o sol das
Maldivas dançando em sua pele. É uma visão hipnotizante.
Seu corpo reluzia por conta de algum óleo que espalhou na pele, o biquíni possuía tiras
finas que atraía atenção aos lugares certos, os seios redondos, os quadris largos, a água escorre
por seu corpo, como gotas de diamantes, enquanto ela se move com uma graça que é, ao mesmo
tempo, provocante e inocente.
Uma maldita provocação sensual que me deixa sem fôlego. Encerrei a ligação e joguei o
celular na mesinha, e olhei para a minha sunga branca, que revela uma baita ereção, mas não dei
importância, fui até a minha esposa, caminhando silenciosamente.
De repente, Lia se virou na água, notando minha presença, e um sorriso travesso aparece
em seus lábios quando seu olhar parou em minha sunga, ela sabia que era culpada pelo desejo
aqui tão evidente.
Ela vem nadando em minha direção, emergindo da piscina natural que circunda nosso
bangalô. A água escorre de seus cabelos, e seus olhos brilham com uma intensidade que me
arrebatou.
Ela chega perto, tão perto que eu posso sentir o calor do seu corpo na água. Suas mãos
deslizam pelo meu peito, e deixam um rastro de desejo úmido em sua passagem. Sua boca se
encontra com a minha em um beijo que ardia de paixão e promessa, a garota está ficando cada
vez mais ousada, me beijando, tomando atitude, e eu gosto disso.
Nossos corpos se tocam na água, e um arrepio percorre minha espinha, principalmente
quando ela desliza suas mãos pelos meus ombros, suas unhas levemente arranhando minha pele,
me fazendo arrepiar. Ela se gruda a mim, as pernas grossas envolvem minha cintura enquanto eu
a seguro e a permito explorar meu corpo.
Aos poucos, nossos corpos se movem em uníssono, a boceta moendo contra a minha
ereção, e o ritmo das ondas acompanha o compasso do nosso tesão.
— Você acha que alguém pode nos ver aqui? — pergunta, sussurrando em meu ouvido, e
rosno, tentando manter o autocontrole.
— Quer correr o risco? O medo de ser visto pode ser muito excitante, não acha? — Assim
que comento, sinto sua mão descer para dentro da minha sunga.
— Você acha que pode ser ruim, na água?
— Tem que ser devagar, porque você perde a sua lubrificação natural, e pode ser doloroso.
— Então, só um pouco para eu ver como é. — O pedido faz explodir qualquer fagulha de
autocontrole que eu vinha mantendo.
Coloco sua calcinha para o lado, e mordisco o lóbulo da sua orelha enquanto deslizo dois
dedos para dentro da sua bocetinha.
— Estava louco para te foder com esse biquíni — confesso, penetrando lento, e sentindo
seu abraço ao meu redor.
— Ai, Oliver.
— Quer o meu pau no lugar dos meus dedos, esposa?
— Sim! — murmura rebolando os quadris, necessitada de mais.
Pus meu membro pulsando para fora da sunga, o acaricio apenas uma vez e respiro fundo,
ciente que devo ser cuidadoso com ela, nos entreolhamos enquanto começo a penetrá-la,
lentamente, sentindo cada reação do seu corpo ao me receber.
— Nossa, Oliver, isso é incrível! — diz, enquanto joga a cabeça para trás expondo o
pescoço esguio que não me controlo e chupo a pele, não me importando de deixar a minha
marca, afinal, ela é minha.
— Você é tão gulosa, querida, desde que me deu sua virgindade, não parou mais de abrir
as pernas para mim.
— É que... — Gaguejou, entregue em sua névoa de prazer — é tão bom. — Geme. — Mais
forte, eu posso aguentar, marido. — O pedido me descontrolou.
Aperto seu corpo e estoco sem cuidado, com vontade, enterrado até o fundo em seu ventre,
tirando e enfiando repetidamente, grunhindo e apertando a bunda gostosa que seria só minha.
— Bom, esposa? — Instigo e ela se aproxima da minha boca e suga meu lábio inferior
como já fiz com ela.
— Delicioso, marido.
A provocação me faz encará-la, segurar sua mandíbula e chupar seu queixo, sua boca,
chupo a língua quente e dou estocadas sem pena, sentindo o quanto ela pulsa e me recebe com
desejo.
— Se você gemer muito alto, pode chamar atenção para nós — esclareço, sentindo que ela
está perto, e então surpreendendo-me, ela crava os dentes no meu ombro, no exato momento em
que a boceta me aperta com ferocidade.
Jogo minha cabeça para trás e não seguro, explodo dentro dela, o corpo sensível, ainda
cheio de prazer, louco por mais, parece que nunca é suficiente com ela.
— Deus, que ninguém tenha visto. — O riso nervoso, a deixou ainda mais linda, a
respiração ainda abalada.
— Você não parecia se importar um segundo atrás.
Quando ela desce do meu colo, desvencilhando nossos sexos, fico irritado, dando tudo de
mim para não a pegar no colo e a levar para dentro do nosso quarto e continuar fodendo o resto
do dia.
Conforme nadamos juntos na água cristalina e morna, na área comum do hotel, percebo
outros homens nas proximidades lançando olhares descarados na direção de Lia. A
possessividade queima dentro de mim.
Sou consciente que seu corpo em formato de ampulheta somado ao olhar angelical e
cabelos longos e cheios, é atraente e desperta desejo, mas não posso evitar essa sensação
incômoda quando outros homens a veem de biquíni fio dental.
Um grunhido involuntário escapa dos meus lábios, e eu a puxo para mais perto, marcando
meu território.
— Olhe só para ela, que corpo gostoso — um homem comenta em inglês, com um sorriso
indecente no rosto e ela permanece alheia.
Eu aperto o punho, lutando contra o desejo de mergulhar até mais perto dele e confrontá-
lo. Em vez disso, puxo Lia para trás de mim, minhas palavras saindo ríspidas.
— Acho que é melhor irmos embora, antes que eu me estresse com esses caras te
cobiçando na cara dura. — Meu tom é possessivo e rude.
Ela ergue uma sobrancelha, um sorriso travesso brincando em seus lábios.
— Eles não estão me olhando — diz, parecendo descrente.
— Eu falo inglês fluente, Lia, e entendi muito bem o que ele disse a respeito do seu corpo.
— E você tem ciúmes, Oliver? — ela sussurra provocativamente. — Que outros homens
me queiram?
— Se você está ao meu lado, usando a porra da aliança que botei no seu dedo, então
ninguém tem que te olhar com cobiça. — Rosno em resposta, beijando-a ferozmente. Minha
necessidade de marcá-la como minha é avassaladora, mesmo que nosso casamento seja apenas
um acordo de negócios.
Nossos lábios se encontram em um beijo intenso, quase possessivo. É um ato impulsivo,
uma demonstração de possessão. A química entre nós é inegável, e essa atração só cresce desde
que começamos essa viagem.
À medida que nos beijamos, os outros homens na praia se afastam, percebendo que ela é
minha, mesmo que de uma forma temporária. O orgulho incha dentro de mim enquanto eu a
seguro firmemente.
Lia quebra o beijo, olhando-me com um brilho nos olhos.
— Não precisa ficar com ciúmes, Oliver. Você é o meu marido, eu sempre vou respeitá-lo.
— Eu sei disso. — Minha voz é áspera, mas carregada de desejo.
Ela sorri, suas mãos deslizando sobre meu corpo.
— Não sou cega, Oliver, aqui tem mulheres belíssimas de biquíni, só te peço que... — Ela
fecha os olhos brevemente, como se buscasse força. — Você disse que se tivermos outros
parceiros devemos apenas ser discretos, então se for cobiçar alguém, não me deixe perceber. —
A última parte ela diz sussurrando, como se fosse difícil falar as palavras.
Sinto um aperto no peito ao ver a preocupação em seus olhos. Eu disse que nosso
casamento seria aberto, mas há algo nisso que me incomoda, algo que mexe comigo. Talvez seja
o fato de estarmos na nossa lua de mel, e, por ora, quero tudo exclusivamente para mim.
Só por agora.
— Quando voltarmos, por enquanto, vamos aproveitar a viagem sendo exclusivos, certo?
— pergunto, buscando uma conexão apenas nossa.
Ela sorri, concordando com a cabeça.
— De acordo.
Capítulo 27: A ligação

Sinto-me renovada e radiante após um dia na praia sob o sol. Estamos prestes a ter nosso
primeiro encontro real, o que me enche de expectativa e nervosismo.
O vestido de seda preto abraça o meu corpo, ressaltando as curvas que Oliver parece tão
interessado por explorar. Meu cabelo está penteado em um coque alto, e os cachos desfiados
caem de forma delicada, emoldurando o meu rosto. Ao me olhar no espelho, sinto-me bonita e
confiante.
Passamos o dia na praia, aproveitando o sol e as águas cristalinas. Oliver estava ao meu
lado a maior parte do tempo, embora às vezes ele precisasse lidar com assuntos de trabalho no
celular. No entanto, o fato de surgir dele a sugestão que ficássemos exclusivos durante esta
viagem me deu um novo ânimo.
É evidente que Oliver está gostando da minha companhia, e quando estamos sozinhos, ele
me faz sentir desejada e sensual de uma maneira que eu nunca experimentara antes.
É como se o mundo desaparecesse quando estamos juntos, e a maneira como ele explora o
meu corpo me faz sentir poderosa, como se eu fosse a única mulher no mundo capaz de despertar
tamanho desejo.
Ao ouvir a voz de dona Beatriz no viva-voz do celular de Oliver, corri saindo do banheiro.
Me deparei com ele, vestindo um terno de três peças, absolutamente deslumbrante. Quase perdi o
fôlego, cobiçando-o intensamente. A sofisticação e a beleza dele eram de tirar o fôlego, e havia
momentos em que eu mal conseguia acreditar que esse homem incrivelmente atraente realmente
me desejava.
— Vovó quer ver você — ele diz, enquanto seus olhos me analisam por inteiro, e logo seu
rosto fica estoico, não me entregando nenhuma reação.
Caminho até o lado dele e encaro a tela do celular, a cuidadora de dona Beatriz segura a
câmera para que ela nos veja. Seu rosto enrugado, mas com um brilho nos olhos, me faz sorrir
imediatamente.
— Ei, está se comportando? — pergunto, minha voz embargando, já estou com saudade
dela.
— Não se preocupe comigo, filha — diz, e sorrio ao ouvir sua voz. — Você está linda, a
pele bonita... — Pego no ar o que está sugerindo e reviro os olhos. — Oliver foi cuidadoso?
Olho envergonhada para ele, e ouço a gargalhada dela do outro lado da linha.
— Se ele for um idiota me avise, como avó dele, ainda posso puxar as orelhas.
— Vovó — ele a repreende. — Lia, está sendo muito bem tratada, e será sempre assim, foi
o que prometi, não foi?
Meu rosto cai um pouco, o sentimento de que sou sua obrigação, seu juramento, algo que
só está ao lado por obrigação, o que não deixa de ser uma verdade.
— Sim, estamos cumprindo nossa parte, pode ficar tranquila — asseguro e agora é ele a
erguer uma sobrancelha para mim.
— Está certo, aproveitem muito, em minha lua de mel o avô de Oliver me pegou em todos
os lugares do hotel — a confissão me faz rir e Oliver ostenta uma careta.
— Eu não precisava ter essa imagem, vovó.
— Vou desligar, aproveitem bastante — ela diz, e a tela escurece, deixando-nos sozinhos
novamente.
Em completo silêncio, fomos levados ao restaurante em um carrinho de golfe. O local
estava à meia-luz, criando um clima romântico e envolvente. Passamos por uma ponte que se
estendia sobre águas cristalinas, e era um vislumbre mágico.
Somos conduzidos a uma mesa, onde Oliver fez o pedido em inglês, o que me deixou um
pouco curiosa, já que não entendo a língua. Enquanto olho ao redor, percebo que as pessoas que
frequentam esse restaurante ostentam uma vida de alto padrão, vestindo roupas de grife e
irradiando sucesso.
— Pedi vinho para nós — Oliver esclarece.
— Certo.
Logo, as duas taças chegam, e bebemos em silêncio. O que contrasta com a minha mente
com um turbilhão de pensamentos.
Oliver me olha de maneira misteriosa, e eu ainda estou tocada pelo que o ouvi falar com
sua avó. Toda a confiança que eu tinha até então escorreu pelos meus dedos. Ele realmente me
deseja, ou está apenas cumprindo uma promessa? Ele queria essa exclusividade, ou estava
apenas tentando me agradar?
— Este restaurante é altamente recomendado pela experiência gastronômica excepcional.
Espero que goste. — Ele tenta puxar uma conversa.
— Não sou exigente com comida — confesso. — Eu como de tudo — digo, sem vontade
de aprofundar o assunto.
Pouco depois, uma bancada com alimentos crus foi trazida à nossa mesa. Olhei tudo com
curiosidade, e o chef veio até nós, se apresentando e falando em inglês com Oliver.
— Lia, ele vai preparar um churrasco para nós. Tem carne de cordeiro, lulas, peixe,
vegetais. Espero que goste — esclareceu e acenei com positividade.
A refeição transcorreu deliciosamente, e fiquei surpresa com a escolha de Oliver de uma
sobremesa que me encantou. Quando terminei minha quarta taça de vinho, senti-me um pouco
mais corajosa. O enigma que era Oliver começou a me intrigar profundamente.
Encarando Oliver diretamente, pergunto o que está me atormentando desde a ligação com
sua avó.
— Você está apenas fazendo sexo comigo por causa do acordo? — Soltei a pergunta de
uma vez, e ele tirou os olhos de sua taça, imediatamente fixando-os em mim. — Não me deseja
realmente?
Sua mandíbula se contrai, e ele apoia os cotovelos na mesa, silencioso. Talvez estivesse
pesando suas palavras, talvez estivesse ganhando tempo para formular algo que não me magoe.
— Seja sincero, por favor — suplico, enquanto viro o último gole do vinho. — Quer saber,
melhor não ser sincero, pode mentir para mim — acrescento, desviando meu olhar do dele e
encarando o prato. — Será doloroso demais descobrir que o único homem que permiti que me
tocasse só o fez por pura obrigação.
Ele suspira e me encara com uma seriedade fria.
— Você pediu sinceridade, certo?! Então não volte atrás no seu pedido, porque serei
cruelmente sincero agora. — Suas palavras me constrangem, e o encaro curiosa, percebendo um
toque de raiva em seu tom. — Poucas coisas na vida são sinceras, Lia, mas um pau duro, sempre
é. — Arregalo os olhos e vistorio ao redor para ver se alguém ouviu. — Mesmo que eu ame
minha avó, se eu não te desejasse, não conseguiria forjar uma... várias ereções, então sim, eu
desejo você, muito.
Suas palavras me pegaram de surpresa, e uma onda de calor percorreu meu corpo. Oliver
foi incrivelmente direto.
Permanecemos em silêncio por um momento, nossos olhos se encontrando em meio à
tensão que se instalou entre nós. As palavras cruas de Oliver haviam mexido comigo, e eu estava
dividida entre a felicidade por ele me desejar e a incerteza sobre o que isso significava para o
nosso casamento.
Oliver parecia estar tentando decifrar minhas emoções enquanto eu, hesitante, me
esforçava para expressar o que estava sentindo. Falar sobre nosso casamento de conveniência e
sua honestidade crua a respeito do desejo eram tópicos difíceis de lidar.
O restaurante à meia-luz proporcionava uma atmosfera romântica, mas a tensão pairava
entre nós. Depois de um silêncio desconfortável, Oliver finalmente quebrou o gelo.
— Por isso está tão silenciosa agora à noite? — ele pergunta, estudando meu rosto em
busca de qualquer reação.
Suspiro, decidindo que é melhor trazer à tona o que está me incomodando.
— Sim, a forma como você falou ao telefone, soou como uma obrigação... — eu comecei,
mas fui interrompida por ele.
— Mas não deixa de ser, Lia. Você é a minha obrigação e eu a sua, concordamos com isso,
o bônus é que o tesão é mútuo, é assim que as coisas são. — A frieza de suas palavras cortou
como uma faca afiada.
Suas palavras soaram como um soco no estômago, lembrando-me da natureza real do
nosso acordo. É verdade que, no papel, éramos obrigados a cumprir um compromisso por
conveniência, mas algo dentro de mim espera que haja mais, algo genuíno que até sinto que está
florescendo entre nós.
Eu não posso deixar de sentir a frieza em suas palavras, que parecem tirar qualquer calor
do nosso relacionamento. Ele chama o garçom e pede a conta, enquanto eu olho para o lado,
preocupada com a noite que viria. É difícil ignorar o fato de que, após esse clima tenso,
estaríamos dividindo a mesma cama.
Caminhamos de volta ao nosso bangalô em silêncio, o peso da conversa ainda pairando
sobre nós. Dentro do quarto, há uma tensão palpável no ar. Enquanto nos preparamos para
dormir na mesma cama.
A noite promete ser longa e cheia de pensamentos conflitantes. Eu não tenho certeza de
como isso afetará nossa lua de mel e o que acontecerá a seguir. Teremos que aprender a navegar
nesse território incerto juntos, e a incerteza me consume enquanto deitamos lado a lado na
enorme cama luxuosa.
Capítulo 28: A tensão

Acordo sozinha na cama, e noto que Oliver já está do lado de fora, na varanda, usando
apenas um calção de banho. Ele está imerso em uma ligação de negócios, falando com uma
seriedade que o caracteriza, disparando ordens em inglês. Sua expressão é séria, e ele parece
totalmente focado na chamada.
Visto meu biquíni branco, com pequenos laços na lateral da calcinha, me aproximo dele
quando chego na mesa com as comidas. Meu marido encara-me brevemente enquanto continua
sua conversa no celular e me sento sozinha para comer.
Quando Oliver se vira, me dando as costas, com um toque de ousadia aproveito a
oportunidade para observá-lo. Ele mal percebe a atenção, concentrado na conversa pelo telefone.
É impossível não notar a beleza desse homem. A bunda grande e empinada, as costas
largas e musculosas, cada detalhe contribui para uma aparência extraordinária. Só de olhar para
ele me faz sentir falta da intensidade de nossos momentos juntos, de senti-lo dentro de mim.
— Bom dia! — As palavras escapam de seus lábios quando ele finalmente encerra a
ligação. Apenas aceno com a cabeça em resposta. — Estava te esperando para tomarmos café da
manhã.
— Muito gentil da sua parte. — Respondo com um toque de ironia. Afinal, sua atitude de
ontem não tinha sido nada gentil.
— Pensei que poderíamos passar o dia na praia privativa.
A sugestão me pega de surpresa. Ontem, quando estávamos naquela praia, compartilhamos
momentos íntimos, mas ainda não me sinto pronta para repetir isso. Suas palavras rudes de
ontem ainda doem.
— Prefiro ficar na outra praia. Eles têm sorvete liberado lá, e estou ansiosa para provar
mais sabores. — Falo, tentando suavizar a recusa com um toque de humor.
Sua expressão endurece um pouco, nitidamente descontente com a minha escolha, mas ele
simplesmente assente.
Passamos o dia na praia mais movimentada, onde as águas cristalinas beijam a areia
branca, e uma brisa suave balança as palmeiras. É um cenário de cartão-postal, e o sol ilumina a
paisagem com tons de azul e verde.
Oliver e eu caminhamos pela praia de mãos dadas, observando as pessoas se divertindo e
relaxando sob o sol tropical. Conversamos sobre coisas triviais, evitando qualquer tópico sério.
Parece que ambos queremos esquecer a conversa tensa da noite anterior.
Decidimos dar um mergulho no mar, e em todo o tempo ele fica nadando ao meu redor,
seu cheiro me deixa nervosa, louca de desejo para tê-lo por cima de mim, meu mamilo traidor me
entrega, endurecendo exatamente no momento em que ele foca a sua atenção ali.
— Hoje o dia está lindo, não é?! — Puxo assunto, e me agacho na água escondendo o meu
seio de sua visão.
Mas ele se aproxima, invade meu espaço pessoal e deixa-me ofegante.
— O dia podia estar muito mais bonito, principalmente se eu estivesse dentro da sua
boceta, mas não é ruim como um todo. — Diz, e fico mortificada, principalmente quando sua
mão belisca meu mamilo embaixo d’água.
Me desvencilho e dou-lhe as costas, indo nadar um pouco mais distante e ouço seu
rosnado.
Mais tarde, voltamos para as espreguiçadeiras sob um guarda-sol. Oliver chamou um
garçom e pediu algumas bebidas, incluindo um coquetel exótico que me surpreendeu com seu
sabor delicioso. O dia estava passando rapidamente, e, à medida que o sol se punha, o céu se
pintava de cores quentes e deslumbrantes.
Assim que chegamos no quarto ao anoitecer, fui pega de surpresa por seus braços fortes,
puxando-me para ele, enquanto a porta se fecha atrás de nós com um baque.
Oliver está perto, muito perto, e sua presença dominante me faz tremer de ansiedade e
desejo.
— Chega de besteiras, Lia. — Sua voz soa rouca e autoritária. A mão firme agarra minha
mandíbula, forçando nossos rostos a ficarem próximos. — Eu não corro atrás de ninguém.
Meu coração bate forte em meu peito, e eu não posso desviar meus olhos dos dele. Sinto a
tensão sexual entre nós crescer exponencialmente, uma eletricidade que me deixa ansiando por
mais.
— Não estou pedindo que corra atrás de mim, Oliver, aliás, nunca te pedi nada. — Minha
voz sai um pouco trêmula, mas a raiva e o desejo borbulham dentro de mim.
Ele não afasta seus olhos dos meus, e seu olhar penetrante me faz sentir nua, como se
pudesse enxergar cada pensamento meu.
— Então para de fazer jogo duro. — Sua expressão é uma mistura de impaciência e desejo.
— Você sabe que eu quero transar e você também está com tesão.
Eu respiro fundo, tentando encontrar minha coragem.
— Não quero ser sua obrigação, vamos seguir nossa vida sozinhos, mesmo casados no
papel, como combinamos, é melhor assim. — Minha sugestão parece sair como uma pedra
áspera de minha garganta, tão difícil de pronunciar.
Oliver franze o cenho, e sua mandíbula se contrai. Mas ele não recua.
— Não, enquanto estivermos aqui, estou fodendo você. — Sua voz é firme, sem espaço
para argumentos.
Eu o encaro, desafiadora.
— Porque realmente quer ou por causa desse casamento de mentira? — As palavras saem
como um desafio, uma tentativa de desvendar seus verdadeiros motivos. — Seja sincero, se não
fosse pelo pedido da sua avó, você nunca nem teria olhado para mim como mulher.
Há um momento de silêncio tenso entre nós, e nossos olhos estão presos duelando um no
outro. E eu estou determinada a obter uma resposta honesta.
— Só se eu não tivesse olhos para não te olhar. — A resposta vem de Oliver em um
sussurro profundo e carregado de desejo, seus olhos queimando minha pele. — Quando vai
entender que eu morro de tesão por você?
— Você é mimado, Oliver, me quer só para satisfazer seu ego e me fazer ceder. — As
palavras saem de meus lábios, carregadas de frustração e desafio.
Ele sorri, de uma forma que denota uma calmaria que eu não estou segura se ele realmente
possui.
— Eu sou mimado, Lia, mas ainda assim estou aqui atrás de você, não estou?
Antes que eu possa responder, seus lábios se chocam nos meus, exigentes e famintos. Sua
mão apalpa minha bunda com possessividade, enquanto a outra desfaz o laço lateral da minha
calcinha do biquíni. O contato de sua pele quente contra a minha me faz tremer de desejo.
Instintivamente, levo minhas mãos ao seu peitoral, com a intenção inicial de afastá-lo, mas
quando sinto a textura de sua pele sob meus dedos, algo em mim muda.
Minhas unhas arranham sua carne, instigando-o, desafiando-o, querendo mais do fogo que
ele claramente está disposto a me dar.
Os lábios de Oliver exploram os meus de forma intensa, como se estivesse tentando provar
um ponto. Suas mãos percorrem meu corpo, apertando minha bunda, deslizando pelos lados da
minha cintura. Uma mistura de raiva e desejo ferve entre nós, uma tensão que não podemos mais
negar.
Ele me empurra suavemente, fazendo-me recuar até que minhas costas encontram a parede.
Seu olhar está ardente, faminto, como se estivesse disposto a provar que seu desejo por mim é
mais do que um capricho ou uma obrigação.
Nossos corpos se pressionam um contra o outro, as roupas se tornam um incômodo. A
sensação da pele de Oliver roçando na minha é eletrizante. Seus lábios viajam pelo meu pescoço,
trilham um caminho de beijos e mordidas, enquanto suas mãos exploram minhas curvas.
Deixo escapar um gemido, meu corpo cedendo ao desejo, à paixão que ele incendeia em
mim.
A raiva e a tensão dão lugar a uma necessidade desenfreada, e eu quero que ele me tome,
me possua. Eu o puxo para mais perto, nosso beijo se torna ainda mais urgente, nossas línguas
dançam em um ritmo frenético.
— Porra, Lia, passei o dia todo louco pra desfazer os laços desse biquíni, doido para foder
sua boceta até enchê-la com o meu sêmen. — O sussurro ao pé de ouvido é acompanhado de
uma mordida na ponta da minha orelha.
Não é só desejo físico, é uma conexão. No meio dessa batalha de beijos e toques, percebo
que talvez não importe como tenhamos chegado aqui, o que importa é o que estamos
compartilhando neste momento. É paixão, desejo, e, de certa forma, é real.
— Me diz que se eu colocar o dedo na sua bocetinha vou encontrá-la molhada.
— Oliver... — ofego, muito rendida, arrepiada.
Ele me vira com brusquidão de frente para a parede do quarto, cola sua ereção na minha
bunda e fecho os olhos sentindo-o roçar aqui.
— Todos os homens estavam olhando para você, mas nenhum pôde fazer um movimento,
porque você é minha. Toda minha.
Não controlei o gemido que fugiu de meus lábios quando recebi o agarre bruto em meus
cabelos, juntando-os e em seguida ele mordisca minha nuca.
Seu dedo desliza entre minhas coxas, e me dou conta que Oliver já desfez todos os laços do
meu biquíni e me possui totalmente nua a sua mercê.
Abro mais as pernas e como recompensa ele dedilha meu clitóris, quando começa a descer
o dedo, sei o que ele vai encontrar. Fecho os olhos mortificada.
— Toda melada, brigar comigo te deixou excitada, esposa? — A pergunta me faz ofegar
enquanto enfia seu dedo em mim. — Olha como você me deixa duro, a sua recusa enquanto vejo
o quanto me quer, só me deixa mais louco pra foder você.
Quando ele tira os dedos, os desliza para cima, em meu ânus, e fico totalmente alerta.
— Oliver, o que está fazendo?
— Ainda não estou fazendo nada, mas farei. — O dedo força em minha entrada, e mesmo
molhado é difícil recebê-lo. — Deus, você é toda apertada, Lia.
— Ai, tira! — Choramingo incomodada e excitada, minha boca diz não, mas meus quadris
rebolam, minha musculatura relaxa, o recebo, e estou apavorada e curiosa ao mesmo tempo.
— Você quer dá pra mim, para de pudores.
— Isso é sujo, Oliver. — Confesso, e ele mordisca minha orelha.
— Nada do que você faz comigo é sujo, eu sou o seu marido.
Quero dizer que é o meu marido de mentira, que um dia ele vai me largar, mas não tenho
forças, o quero tanto que fica impossível negar.
Ofego quando ele finalmente retira os dois dedos de dentro de mim, mas logo ele cospe na
mão e lubrifica seu pau, solto uma respiração profunda, e mantenho-me quieta.
— Não vai caber, Oliver, é sério. — Tento convencê-lo, mas ele apenas rosna.
— Você está pronta para me receber, querida, apenas relaxe.
A glande força no lugar virgem, e ouço o gemido de Oliver enquanto sinto seu dedo em
meu clitóris, e tudo parece um afrodisíaco, um prazer além da dor.
Perco o ar enquanto sinto seu forçar de quadril, reviro os olhos, abalada, e deixo sair um
grito quando ele mete até o fundo, tomando tudo de mim.
— Me receba, me queira, Lia. — Pede enquanto seus dentes mordiscam minha pele, tão
pecaminoso e quente, que não consigo raciocinar.
— Você vai me rasgar. — Soluço, e ele beija minha pele suada pelo nervosismo, para
então, todo enfiado em mim, seu dedo voltar a masturbar meu clitóris.
— Vai me deixar comê-la aqui todos os dias? Desde quando vi sua bunda grande e
empinada eu fiquei louco por isso.
— Oliver... — O ofego não o fez recuar, pelo contrário, ele volta a se mover, estocando
lento e fundo, como faz com a minha boceta até que eu goste e esteja gemendo.
— Você vai se acostumar com o meu tamanho... — Seus sussurros, me deixam mole,
rebolo em seu dedo, querendo gozar, necessitada, e recebo um tapa em minha bunda.
Praticamente cavalgo seu dedo, e ele fica parado, provavelmente observando o vai e vem
da minha bunda em seu pau no processo, gememos juntos e outro tapa me acerta, tenho certeza
que ficarei totalmente ardida depois de tudo, mas agora me permito ficar enlouquecida.
Oliver sai por completo, para no mesmo instante entrar fundo, praguejando, juntando meus
cabelos em um rabo de cavalo, cola meu rosto na parede e me pega de forma bruta e firme, me
alargando, socando fundo, e eu apenas movo meu clitóris em seus dedos, tremendo, sentindo o
quão profundo será esse orgasmo.
— Goza pra mim, Lia! — O pedido me quebra — deixa seu marido ver você gozar
enquanto é sodomizada nesse cuzinho quente e apertado, goza pra mim.
Perco o controle do meu corpo, me debato, grito, gemendo, totalmente entregue aos
espasmos.
Sinto-me muito sobrecarregada, afinal Oliver chupa meu pescoço, seu dedo está em meu
clitóris, seu pau totalmente enterrado no meu ânus ardido e sua boca dizendo-me coisas sujas ao
mesmo passo que afirma que é o meu marido.
Os jatos de esperma explodem quentes dentro de mim, e me amparo na parede enquanto
ele desliza para fora.
Minhas pernas fraquejam depois de tudo, de tanto, e de forma surpreendente, sou pega no
colo e despejada com cautela na cama, seu olhar azul ainda parece esfomeado.
— Ainda não acabei com você. — Sua sentença me fez arrepiar.
De medo, curiosidade e muito desejo.
Capítulo 29: A confusão

Afasto-me para que Lia possa descansar por alguns minutos da nossa transa insana
enquanto vou até o banheiro. Minha mente está a mil por hora, e ainda estou tentando entender o
que está acontecendo comigo.
Essa atração, esse desejo descontrolado por ela... é algo que nunca vivi antes.
Abro o chuveiro e deixo a água quente cair sobre meu corpo. O vapor enche o ambiente,
criando uma atmosfera densa e quente. Eu tento relaxar debaixo da água, mas meu corpo está
eletrizado, como se cada célula estivesse desperta e ansiosa. Minha cabeça está cheia de
pensamentos confusos.
E, à medida que a água quente do chuveiro desce pelo meu corpo, deixo que as sensações
me inundem enquanto penso no dia inteiro até aqui, na tensão e no desentendimento com Lia.
Não brinquei quando disse a ela que nunca precisei correr atrás de ninguém.
Sempre tive mulheres aos meus pés, dispostas a satisfazer meus caprichos, sem fazer
muitas perguntas. Então, por que Lia, essa garota cheia de inseguranças e joguinhos emocionais,
tem o poder de me enlouquecer, de me deixar desesperado por sua atenção?
Seu desprezo durante o dia na praia me corroeu por dentro. Eu estava explodindo de raiva,
mas não sabia como lidar com aquilo. A verdade é que eu a queria de um jeito que nunca quis
ninguém antes.
Seu corpo, seus gestos, seu jeito de olhar o mundo... tudo me deixa fascinado. Mesmo em
meio à raiva e ao desentendimento, meu desejo por ela era avassalador.
Estava explodindo de raiva quando chegamos no quarto, como um mimado, assim como
ela me chamou, e o desejo me incendiou e cegou, num ponto que a quero tanto que nem mesmo
consigo lembrar porque estou tão enfurecido.
Saio do banheiro, me secando com desleixo, nu, já excitado, fervilhando, e cada vez que
lembro do prazer que foi foder de maneira mais bruta com ela, a delícia de fazer sexo anal
olhando aquela bunda grande e arrebitada, fico ainda mais irracional.
De pé em nosso quarto, ela segura uma camisola, e me aproximo jogando a peça no chão
junto com a minha toalha, não vamos precisar de qualquer tecido entre nós hoje.
— Oliver, estou ardida... — Ela cora ao confessar, e isso me excita mais do que tudo.
— Eu sei, vou cuidar de você. — Asseguro.
Encosto minha boca em seus lábios macios, seguro sua cabeça com as duas mãos e tomo a
boca suave na minha, enfio minha língua, possessivo, passional, já não me reconheço mais ao
redor dela, e decido por ora, deixar essas dúvidas de lado.
Sempre receptiva, ela retribui, gemendo em minha boca, afobada, arqueja quando desço
meus beijos por seu queixo, pescoço, inalo o cheiro dela mesclado com o meu, a pele quente,
encho minha palma com seu seio redondo, amasso e belisco os mamilos deixando-os pontudos, e
rosno ao lembrar que ela é minha, sou o único homem a tocar e sentir seu corpo.
A cabeça cai para trás, afogueada, Lia aperta o lençol enquanto esfrego meu rosto na pele
sensível antes de fechar os lábios no mamilo endurecido. Minha.
— Oliver... — o arquejo surge quando começo a sugar um mamilo e belisco o outro, suas
coxas se abrem, receptivas, e tenho a total certeza que se descer a mão, vou encontrar a boceta já
lubrificada.
— Diga, o que quer? Tenho que satisfazer a minha esposa. — Instigo.
Sou totalmente surpreendido quando ela fecha a mão em meu pulso e o desliza para baixo,
em sua boceta, sorrio ganancioso, e esfrego delicadamente meu polegar no clitóris sensível.
— Isso é tão bom, Oliver. — Sorrio, gostando de ouvi-la, percebo que a cada vez se torna
mais solta na cama.
— Bom?! E isso aqui? — Pergunto enquanto desço até ficar cara a cara com a boceta
rosada.
Dou uma lambida do clitóris ao cuzinho, e recebo suas mãos apertando meus cabelos, paro
a minha língua no buraquinho da sua boceta que passei o dia desesperado, e ela me suga como
uma boca, quente, apertada, necessitada tanto quanto eu.
— Rebola na minha língua, esposa.
Usando minha língua e meus lábios chupo a minha mulher como a mais suculenta fruta,
sinto sua lubrificação escorrer, melando meu rosto, os gemidos rascantes enchendo o quarto, seus
quadris largos moendo contra o meu rosto, e Deus sabe que eu não queria que isso nunca tivesse
fim.
Desvencilho-me apenas quando sinto os tremores de seu corpo, o gozo a tomando, e
fazendo-a dizer palavras desconexas, acaricio minha ereção que a essa altura doí de tanto tesão, a
ponta do pau babando de desejo, a puxo para a beira da cama e ordeno: — fique de joelhos.
Ela obedece, e logo que a vejo de quatro, fico louco, abro a polpa de sua bunda e vejo o
cuzinho, avermelhado pela invasão e vazando meu sêmen, Lia enrijece, e olha para trás,
envergonhada. Se ela soubesse como me deixa louco...
— Oliver...
Respondo o gemido dando um tapa em sua bunda e seguro seus cabelos com uma mão,
enfio a glande na entrada da sua boceta melada, e sinto o quanto ela é pequena demais para mim,
entra apertado, estrangulando, e vou fundo, assistindo suas mãos apertando o lençol, a boceta me
sugando, os gritos de Lia junto do seu quadril ondulando necessitada, denuncia que essa acaba de
se tornar sua posição favorita.
Não posso negar que acaba de se tornar a minha favorita também.
Paro de me segurar, ciente que ela está acostumada com o meu tamanho e começo a
penetrar do jeito que gostamos, socando fundo, a preenchendo por inteiro, sentindo minhas bolas
doerem do impacto, jogo a cabeça para trás revirando os olhos, me segurando para não gozar.
— Porra... — praguejo, desconexo e desleixado.
A sensação insana dos nossos sexos molhados se chocando, seu corpo quente e gostoso a
minha mercê, saber que possuo todos os seus buracos para mim é quase demais para suportar.
A olho através do espelho da penteadeira e vejo ali o desejo, a decadência, a face corada,
os cabelos colados no suor, os peitinhos balançando no ritmo das minhas estocadas, minha
mulher, só minha. Pele na pele.
Saio por inteiro, porque apesar de gostar da posição, eu sinto a necessidade de gozar
olhando em seu olhos, então a deito na cama e fico por cima, voltando a meter enquanto tomo a
sua boca na minha.
Lia me beija de volta, as unhas me arranhando, as pernas abraçando meu quadril, para me
deixar ir fundo, quando ela tira a boca da minha, suga e mordisca o meu pescoço, soco ainda
mais forte, cedendo a qualquer controle que ainda possuía.
Seu orgasmo vem forte, longo, a boceta me aperta com tudo, e colo minha testa na dela
enquanto me derramo por inteiro, os jatos de sêmen totalmente socados dentro dela.
— Minha. — Rosno como um animal.

Os poucos dias que passamos de lua de mel nas Maldivas foram intensos, depois da nossa
briga, praticamente fodi a minha esposa em cada canto do quarto de hotel, com pausas para
almoçarmos e jantarmos fora.
Pela manhã íamos a praia privativa, e o pequeno passeio sempre acabava com meu pau
enterrado na boceta pequena que se tornou meu vício.
Assim que pousamos no Brasil, sinto o peso das responsabilidades se abaterem sobre mim.
Meu e-mail está abarrotado de questões burocráticas que precisam ser resolvidas, e minha irmã,
sempre ansiosa, está louca para saber quando vou voltar para a Virgínia.
Eu sei que tenho que retornar o quanto antes, mas confesso que ainda não quero me afastar
da minha esposa. Apenas o pensamento de nos separarmos me deixa irritado, mas entendo que
essa distância temporária é necessária.
— Você cuidou bem da minha menina, Oliver? — Minha avó, curiosa como sempre, não
demora a perguntar assim que Lia sobe as escadas para buscar nas malas seus presentes, e nos
deixa a sós.
— A senhora sabe que sim, vovó. — Respondo com convicção.
— Não a magoe, Oliver. Ela pode parecer forte, mas é uma menina muito sofrida.
— Vovó, não comece. — Suspiro, desejando evitar uma conversa intensa.
Ela revira os olhos, parecendo resignada.
— Está certo, vou confiar em você. — Minha avó encerra o assunto, mas sei que suas
preocupações com Lia estão longe de desaparecer.
No entanto, sei que essa promessa de não magoar Lia tem tudo para dar errado quando
recebo uma mensagem de número desconhecido em inglês.
Minhas mãos ficam tensas e meu coração dispara quando vejo o nome no final da
mensagem: minha ex-namorada. A mensagem é curta e direta, dizendo que ela acaba de chegar
ao Brasil e que precisa me ver com urgência. Mas ela nunca veio ao Brasil, e esse fato me gera
espanto.
O nó de preocupação se aperta no meu estômago, e percebo que, mais cedo ou mais tarde,
terei que impor essa distância entre eu e Lia, para que ninguém saia machucado nessa equação.
Capítulo 30: O impasse

Sei que passada a nossa lua de mel, eu devo impor distância entre nós, no entanto de forma
irracional, decido passar a noite com Lia na suíte que pertenceu aos meus avós, e quando vejo
seu sorriso tímido, percebo que foi a melhor escolha que poderia ter tomado.
— Um doce pelos seus pensamentos. — Brinco, enquanto me aproximo e acaricio seu
rosto. Ela se move em direção à minha mão, buscando o meu afago, como uma gatinha.
— Estava lembrando da nossa noite de núpcias, esse lugar ficou marcado para sempre pra
mim. — Ela confessa, e eu continuo a observando. Ela está tão linda, mais desinibida ao meu
redor, ainda não é a mesma de quando achava que eu era um simples jardineiro, mas sem
dúvidas com menos pudores do que assim que nos tornamos noivos.
A suíte, com seu toque de nostalgia e história de família, torna tudo mais intenso, e agora
olhando-a me dou conta que minha avó está certa; ela é especial, e devo protegê-la e cuidar dela
da melhor maneira possível.
Mesmo com todas as complicações que surgem desde o início do nosso casamento, há uma
amizade genuína e bonita entre nós, e eu estou determinado a nutrir essa conexão.
— Eu estive pensando, queria ir na Virginia, conhecer seu apartamento e o enxoval lindo
que comprei. — Lia diz, suas mãos se apertando uma na outra, evidenciando seu nervosismo.
— Pretendo levá-la assim que tudo estiver mais calmo. — Respondo, sabendo que nem tão
cedo vou ter calmaria, ainda mais quando meu tio descobrir que ela está no inventário da minha
avó.
— Como assim mais calmo? Não está tudo bem com o trabalho?
— Eu estive na presidência das empresas, mas um erro fez com que eu tivesse que
devolver o poder para o meu tio. Agora preciso mostrar que sou de confiança ao conselho, creio
que o casamento pode mostrar comprometimento, e pretendo ficar mais no radar do meu tio.
— Mas se você e seu tio não se dão bem, e o poder está nas mãos dele, e pelo pouco que
vi, posso ter certeza que ele ama essa posição, creio que ele não vai te ajudar nessa missão de
parecer de confiança.
— E que escolha eu tenho? — Dou de ombros, e ela morde os lábios.
— Não entendo nada do seu meio empresarial, mas meu pai sempre me disse que se você
quer algo bem feito, então faça com as suas próprias mãos. Ele era pedreiro e dizia que o coração
da obra são os homens que trabalham nela, assim como imagino que o coração das empresas
Harrison deve ser os funcionários da fábrica. — Lia expressa suas ideias, e elas me fazem franzir
o cenho. — Estou falando besteiras, não é? Sei que o ensinamento de um pedreiro não deve
caber em uma empresa multinacional, estava divagando... — A interrompo, muito intrigado.
— Na verdade, você me deu uma excelente ideia, Lia.
— Sério?
— Sim, meu avô sempre se preocupou em visitar as fábricas pelo mundo, algo que meu tio
nunca se deu o trabalho, sempre deixando essa parte para que terceiros o façam. Pode ser uma
boa ideia voltar com algo que meu avô tanto prezava quando era vivo, sem contar que a maioria
do conselho pode ver como uma honraria as tradições que eles tanto pregam orgulhosos.
— Fico feliz em ajudar com ideias. — Lia sorri, aliviada por suas palavras terem tido um
impacto positivo.
— Não ache que as ideias do seu pai são simples porque ele era pedreiro, sabedoria nunca
é demais. — Confesso enquanto coloco um punhado de seus cabelos atrás de sua orelha, e ela
cora, seu olhar tão irresistível.
Desfaço o laço do roupão longo que ela usa e revelo a bela camisola de seda rosa bebê que
ela veste. Minhas mãos deslizam suavemente por sua pele, explorando a suavidade de sua
clavícula e descendo até a curva de sua cintura.
Sua respiração fica mais pesada enquanto nossos corpos se aproximam, o desejo pulsando
entre nós, essa maldita fome que nunca é saciada.
— Eu gosto tanto do seu cheiro. — Ela diz, sua voz carregada de desejo, enquanto suas
mãos acariciam minha nuca e ela desce beijos por meu queixo recém-depilado e meu pescoço.
Sinto uma corrente elétrica percorrer minha espinha quando sua boca encontra a minha, e
cedo ao tesão que me consome, pensei de apenas dormimos para descansar da viagem de volta
ao Brasil, mas não paramos de foder desde quando nos casamos, hoje não será diferente.
Ela espalma suas mãos em meu peitoral, pressionando-me para trás e deixo-me ser guiado
até que eu tenha as costas coladas na parede do quarto. Suas mãos percorrem meu corpo,
explorando cada centímetro.
Cada toque deixa-me mais necessitado, fazendo meu corpo inteiro ansiar por mais.
Seu olhar é um mistério para mim, mas quando suas mãos descem lentamente pelo meu
corpo, a sensação é eletrizante.
Ela desfaz o cinto da minha calça demonstrando nervosismo e inexperiência o que me
deixa ainda mais louco, seus dedos deslizam pelo couro com um toque suave, mas decidido.
Meus lábios formam um sorriso cúmplice, revelando meu desejo incontrolável.
Observo-a atentamente, meus olhos cheios de luxúria, enquanto deixo que ela tome a
iniciativa. Sua expressão é uma mistura de curiosidade, desejo e confiança.
Sua proximidade é intoxicante. Estamos tão focados um no outro que os problemas que
conversávamos desaparecem.
Lia desce a minha calça junto da minha boxer branca e fica agachada em seus joelhos, a
visão me deixa duro feito pedra.
— Quero sentir seu gosto, marido. — As palavras ditas de forma envergonhada, me faz
jogar a cabeça pra trás e fechar os olhos por um momento, essa mulher é a minha ruína.
No instante em que o meu olhar encontra o seu estudando-me enquanto meu pau salta livre
para fora da cueca e encosta em sua bochecha, fico louco para me enterrar por inteiro nela
novamente.
— Chupe! — Ordeno e ouço seu gemido satisfatório.
Não fui delicado ao agarrar um punhado de seus cabelos e forçar seus lábios a abrirem e
me receberem. Começo a foder sua boca com a mesma intensidade que sempre faço com a sua
boceta.
Sinto-a engasgar quando chego em sua garganta, e conforme ela se afasta, leva consigo um
fio da minha lubrificação, que ela apenas lambe, sem qualquer pudor ou nojo.
Rosno, totalmente entregue, enquanto Lia começa a me lamber por inteiro, quando desce
até minhas bolas perco o controle e os gemidos que liberto são involuntários, eu simplesmente
amo foder com a minha mulher.
Quando ela volta a me chupar percebo que aliviei o agarre em seu couro cabeludo, e ela me
recebe até a garganta, a boca pequena muito esticada, fazendo esforço para sugar, os olhos
criando lágrimas enquanto a penetro com firmeza.
— Lia, melhor você parar, eu vou gozar assim... — Queria dizer que ainda quero meter em
sua boceta, mas me faltam palavras, o tesão me consumiu por inteiro.
— Hoje é sobre você, Oliver, apenas me sinta. — Suas palavras me levam a nocaute.
Permito que ela me chupe, por inteiro, não perco nenhum de seus movimentos,
praguejando a cada vez que sinto sua garganta e em seguida a vejo engasgar.
— Vem aqui. — Rosnei, com mais ferocidade do que pretendia.
Sento na ponta da cama, e ergo Lia sob meu colo com as pernas abertas, com ela assim por
cima, a penetro de uma vez e suas unhas cravam em meu ombro, o grito de surpresa pela
intromissão escapa de seus lábios e apesar de senti-la já lubrificada, me culpo porque sei que ela
é pequena demais para mim.
— Eu sou pesada, cuidado... — Interrompo suas inseguranças a beijando.
— Te machuquei?
Nunca precisei esperar ou ter paciência na cama, mas a simples ideia de machucá-la ou lhe
causar algum desconforto me causa repulsa.
— Não, só me dê um momento... — sua voz soa frágil, e acaricio seu rosto, tirando um
punhado de cabelos e os colocando atrás da orelha. — Você é demais para mim.
— Não, eu sou a sua medida certa, esposa.
Lentamente ela começa a mover os quadris em um rebolado vagaroso que quase me deixa
doido de vontade de socar fundo, mas me controlo e respeito o seu pedido.
Vê-la mordendo os lábios molhados de tanto me chupar, de olhos fechados, enquanto
rebola no meu pau, é uma visão e tanto, a observo atento enquanto Lia testa subir e descer em
todo o meu comprimento e em seguida geme mostrando gostar da posição.
— Me monta, Lia.
Gostando da sensação de preenchimento, ela começa a ir e vir, permitindo-me colocar as
mãos em sua bunda e descê-la cravando até o fundo.
Chupo seu lábio inferior enquanto a mantenho aterrada em mim, subindo para logo em
seguida descer e obter mais, não demora até que eu sinta a boceta me apertar, e sua cabeça se
mover pra trás, rasgando-a em um orgasmo.
E me deixo ir juntamente, fazendo o meu melhor hobbie recém descoberto: gozar fundo na
minha esposa.

Nossas empresas são uma potência global, com operações em mais de 80 países,
abrangendo todos os cinco continentes.
Durante minha estadia no Brasil, reconheço uma oportunidade valiosa: a chance de
conhecer e vistoriar nossa maior fábrica no país, localizada na pulsante cidade de São Paulo.
Com o intuito de otimizar meu tempo e agilizar o deslocamento, tomei a decisão de
realizar uma viagem expressa a bordo do helicóptero da família diretamente até as instalações
fabris.
Essa abordagem ágil me permite uma imersão mais eficaz na operação e uma visão precisa
de seus processos e funcionamento.
Essa iniciativa não apenas fortalece meus laços com a equipe local, mas também permite
que eu adquira um entendimento mais profundo e prático da nossa fábrica no Brasil.
Ao mesmo tempo, demonstra ao conselho da empresa o meu comprometimento e
envolvimento direto com as operações da organização.
Essa visita torna-se uma referência positiva e inspiração para replicar a abordagem em
nossas outras unidades fabris pelo Brasil.
As palavras de Lia, que enfatizam a importância de uma liderança presente e do
conhecimento aprofundado das operações e dos colaboradores, ganham ainda mais peso e
relevância para mim.
Após a visita a São Paulo, marquei uma reunião ao final do dia com o presidente da fábrica
no Rio de Janeiro, solicitando organizar uma visita à nossa unidade fabril na cidade.
Tomamos apenas um copo de uísque durante o encontro, focando na tarefa em mãos e
garantindo que tudo fosse planejado especificamente.
À medida que a reunião chega ao fim, no rooftop do hotel em Ipanema, ajusto meu terno
com um senso de satisfação, pronto para encerrar o dia.
Meus pensamentos vagam de volta para a noite anterior, registrando os momentos íntimos
compartilhados com minha esposa, uma experiência verdadeiramente alucinante.
Anseio pelo jantar na mansão antes da noite cair, gostando da ideia de compartilhar a
refeição na companhia de minha avó e, especialmente, de testemunhar a interação entre ela e
minha esposa.
Despeço-me do diretor e caminho para o elevador, a ansiedade de voltar para casa me
surpreende, afinal por toda a vida eu apenas vivi para trabalhar.
No entanto, quando as portas do elevador se abrem, minha ex está diante de mim,
desencadeando instantaneamente uma série de emoções inesperadas.
— Oliver, eu sabia que aceitaria meu convite para nos encontrarmos durante minha
estadia. — Katie pronuncia, em sua língua mãe, o inglês. Sua voz é tão familiar, mas não mais
atraente.
— Você está equivocada, eu estou aqui apenas para negócios, Katie. Apesar de ter
recebido sua mensagem, não a li por inteiro para saber onde você está hospedada. — Eu
esclareço, observando os lábios rosados e cheios que são o resultado de procedimentos estéticos
se torcerem em uma careta de frustração.
Katie está impecavelmente vestida, como a modelo internacional que é, radiante e
elegante. No entanto, essa imagem já não me desperta o desejo que costumava.
— Mas já que nos encontramos, pelo acaso do destino, venha até o meu quarto. Vamos
conversar.
— Estou indo embora. Não tenho nada para falar contigo. — Decido me distanciar, mas
Katie não está disposta a me deixar partir tão facilmente. Ela insiste, segurando meu braço com
firmeza.
— Por favor, Oliver. Eu juro que só preciso de um minuto. — Seu rosto mostra uma
expressão ansiosa, e eu, lembrando das ameaças que minha irmã mencionou sobre ela dar
entrevistas difamando minha imagem, sinto uma onda de raiva.
— Está bem, Katie, você terá um minuto. — Cedo, permitindo que ela me conduza até seu
quarto de hotel enquanto o elevador sobe.
Já dentro do quarto, assim que a porta se fecha atrás de nós, Katie se aproxima e tenta
roubar um beijo, mas eu estendo a mão para importar uma distância segura entre nossos corpos.
Eu sei que a foda com a minha ex é deliciosa, sei que ela é solta, experiente, capaz de
atrocidades na cama, tenho total convicção disso, o sexo anal que tanto sou fissurado, ela me
cedia em todas as nossas transas, sem dificuldades.
No entanto, isso não me excita, estou em outro momento da vida, e neste momento o que
me deixa totalmente duro é saber que a mulher que vou foder é unicamente minha, que posso
meter fundo sem camisinha, simplesmente porque confio que só o meu pau entrou ali, não quero
uma mulher capaz de fazer atrocidades na cama, quero a minha mulher, seu canal apertado que
foi moldado para mim, sua pureza, suas curvas, seus gemidos sinceros, suas descobertas.
A mulher à minha frente não acende mais nenhuma fagulha de desejo em mim.
— Eu sou um homem casado agora. — Sinto a necessidade de enfatizar, para que ela
entenda que está é uma decisão definitiva.
— E daí? Eu não sou ciumenta, Oliver. Nunca fomos exclusivos. — Ela rebate,
acompanhando as palavras com um sedutor morder de lábios enquanto se aproxima de mim. —
Eu sinto falta dos passeios que fazíamos, da forma como éramos bons na cama... — Seus olhos
se arregalam à medida que eu dou um passo para trás, me afastando dela. — Eu acho que fui
burra. Agora que entendo eu quero uma família com você, Oliver.
Honestamente, se ela me dissesse isso há três meses atrás, eu ficaria balançado. No
entanto, agora me pego pensando: o que ela teria a agregar à minha vida? Que valores ela
transmitiria aos filhos que teríamos? Hoje eu enxergo que querer formar uma família é algo mais
profundo do que ter ao lado alguém que sente apenas tesão, e tirando o sexo, sempre fomos
totalmente incompatíveis.
Ela, abandonou a família ainda muito nova para seguir o sonho de ser modelo, é totalmente
desapegada as suas raízes, não tem rumo certo, enquanto eu gosto de estabilidade, vivo pela
minha família, sou fincado nas minhas raízes. Para Katie seu trabalho, seu corpo, são as suas
prioridades, enquanto que para mim, há muito mais em jogo.
— Tarde demais, como eu já disse, sou um homem casado agora. — Reafirmo, mas Katie
revira os olhos, desdenhosa.
— Você nunca foi fiel a mim nem a nenhuma outra antes de mim, e todo mundo sabe que
você não deseja aquela mulher gorda.
Eu respiro fundo, contendo minha raiva.
— Meça as suas palavras ao falar da minha esposa. Eu entendo a sua intenção. Você não
sente a minha falta, e sim da vida de luxo e despreocupação que estar comigo proporcionava. E
eu não te julgo era uma via de mão dupla, você usufruía, e eu também. Uma mulher bonita ao
meu lado para exibir, mas eu mudei. Agora, busco mais do que uma mulher-troféu. Busco mais
do que uma relação onde eu tenho que dar coisas para receber.
Katie olha para baixo, perdendo um pouco do seu ar confiante.
— Oliver, eu sei que vai se arrepender. Você tem o meu número. É só ligar, e eu estarei
mais do que disposta a te lembrar como somos bons juntos.
— Katie, a única razão pela qual entrei neste quarto foi para te dar um aviso muito claro.
Da próxima vez que você ousar usar a mídia com a intenção de me citar ou citar minha família,
você destruirá sua carreira. — Intimo e vejo sua face empalidecer. — Você sabe muito bem que
tenho o poder e a influência certa para fazer isso, e não hesitarei em usá-los contra você.
O poder do dinheiro é uma realidade em qualquer lugar do mundo, e essa lição aprendi
desde muito jovem. Minha família está longe de ser perfeita, e já testamos inúmeras vezes como
nossa riqueza e reputação pode destruir aqueles que ousaram nos desafiar.
— Eu estava desesperada, só fiz essa ameaça por isso. Não vou fazer isso, pode ficar
tranquilo. — Fala se atropelando, amedrontada.
— Eu não estou preocupado, mas você deveria estar. — Aviso, com meu olhar firme.
Respiro fundo e saio do quarto, aliviado por me ver livre da presença dela.
Caminho pelo corredor do hotel com passos decididos. O encontro com Katie me lembrou
de parte do meu passado que preferia esquecer. Uma vida de vazio, mulheres e nenhum
compromisso real. Eu costumava ser assim, mas agora as coisas são diferentes.
Assim que chego à mansão tenho a sensação de renovo. A atmosfera aqui dentro é como
um refúgio, um contraste em relação ao meu dia agitado.
Lia me recebe com um sorriso caloroso na sala, vestida de maneira simples, mas
encantadora. Seus cabelos loiros caem em cascata pelos ombros, e seus olhos brilham com uma
mistura de curiosidade e ansiedade.
— Como foi o dia? — ela pergunta, e por um momento, pondero se devo contar sobre o
rápido encontro com minha ex.
No entanto, lembro que não lhe devo prestar explicação sobre tudo o que acontece no meu
mundo. Nossa relação já é complexa o suficiente.
— Foi tudo ótimo. — Decido desconversar, evitando entrar em detalhes. — Amanhã terá
um coquetel na fábrica aqui no Rio. Gostaria que fosse comigo. Acho que pode ser positivo
perante o conselho da empresa sermos vistos juntos. Se não for um incômodo para você, é claro.
Lia sorri, seus olhos brilhando de felicidade.
— Imagina, claro que estarei lá para você. — Ela se aproxima e timidamente fica na ponta
dos pés e me rouba um selinho.
Aproveito o momento, sabendo que estamos sós na sala. E colo nossos lábios e aprofundo
o beijo que começa suave, mas que aos poucos se intensifica. Minha língua encontra a dela, e um
gemido escapa dos meus lábios.
Tudo parece tão certo.
Sinto a textura macia dos lábios de Lia contra os meus, e o sabor do desejo permeia este
momento. Suas mãos deslizam suavemente pelos meus braços, deixando um rastro de arrepios na
minha pele.
Aos poucos, nos afastamos, com os olhos ainda fixos um no outro. Lia sorri, seus lábios
corados e inchados pelo beijo.
Minha mão encontra a dela, entrelaçando nossos dedos. Justo eu que não gosto de ter
dúvidas, não tenho uma resposta pronta, porque, de fato, não entendo completamente o que está
acontecendo entre nós. Mas sei que estou gostando muito.
Capítulo 31: A evolução

Sentamos a mesa, com dona Beatriz na cabeceira e eu de frente para Oliver, e aproveito os
momentos em que ele está compenetrado em sua salada para observá-lo, tão lindo que parece de
mentira.
— Oliver, sua esposa pediu que atrasassem o jantar para esperar por você. — Dona Beatriz
me entrega e fito meu prato, desconcertada.
Sinto que apesar de avançarmos com a nossa relação, Oliver ainda é muito temeroso com
as minhas demonstrações de afeto, e isso me deixa receosa.
— É que eu sei que ele gosta de jantar com a senhora. — Explico-me, sem conseguir olhar
para ele.
— Obrigado pela atitude, foi muito gentil da sua parte, Lia Na próxima vez não precisa
esperar, não quero que mudem a rotina por mim. — A resposta dele é meio seca, mas apenas
ignoro.
— Está certo. — Respondo, e logo dou atenção a carne que preciso cortar em meu prato.
Sinto uma vibração sutil no ar desde que Oliver voltou da fábrica. Seus passos parecem
mais pesados, sua expressão mais concentrada do que o habitual. Decido dar-lhe espaço,
supondo que talvez ele precise processar algo por conta própria.
Durante o jantar, Dona Beatriz indaga sobre a visita à fábrica, e Oliver, com sua
característica eloquência, começa a compartilhar sua experiência com os funcionários e com o
conhecimento do espaço.
Enquanto ele fala, seus lábios desenham palavras com elegância, seus olhos azuis irradiam
intensidade e suas palavras envolvem a mim e a sua avó ao redor da mesa.
Tento disfarçar minha atenção focando no prato, mas é difícil desviar o olhar dele, e
relembro os momentos quentes que já compartilhamos e imagino o que ainda estar por vir.
Após auxiliar Dona Beatriz a se acomodar para a noite, dou algumas ordens a sua nova
cuidadora, e sigo para a suíte que compartilhamos, encontrando-a vazia. Um frio momentâneo
percorre minha espinha com a incerteza de que ele talvez não deseje mais nossa rotina de dormir
juntos. Mesmo assim, opto por seguir respeitando seu espaço.
Decido tomar um banho prolongado, permitindo que a água quente relaxe meus músculos
tensos, e deixo escapar de meus lábios uma das músicas favoritas de dona Beatriz, um hábito
acalentador que acalma meus pensamentos mais inquietos:
Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres que só dizem sim
Por uma coisa à toa, uma noitada boa
Um cinema, um botequim
E se tiveres renda
Aceito uma prenda, qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa, um sonho de valsa
Ou um corte de cetim(...)
Quando o shampoo termina de escorrer dos cabelos, abro os olhos e vejo Oliver de pé na
porta, observando-me.
Um impulso nervoso faz com que uma das minhas mãos se mova involuntariamente para
os seios, enquanto a outra tenta esconder a leve saliência na minha barriga que me incomoda
tanto. Ele franze o cenho, uma expressão que sei que não é de desaprovação, mas sim de
confusão.
Oliver sempre insiste para que eu não esconda meu corpo dele, até mesmo as partes que eu
menos gosto. Apesar disso, a insegurança com minha própria imagem persiste.
— Continue cantando. — A ordem me pega desprevenida, quebrando o silêncio que se
estabelece.
A surpresa me toma de assalto, enquanto ele começa a se desfazer do seu terno, ainda me
observando atentamente.
A ideia de ser vista desse jeito, vulnerável e imperfeita como me sinto neste momento,
acende um feixe de insegurança, mas ao mesmo tempo, sua atitude me faz sentir uma estranha
mistura de desejo e nervosismo. O obedeço cantarolando:
E eu te farei as vontades
Direi meias verdades sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que és o maior e que me possuis(...)
Oliver desce por último sua calça junto da cueca, e reparo em seu membro enrijecido, as
veias que o contornam, a ponta rosada, a carne grossa que senti em todas as partes do meu corpo
e que só de olhar faz meu centro contrair em antecipação.
Sob essa luz difusa do banheiro, ele se aproxima e desliza a porta do blindex, invadindo
silenciosamente o meu banho.
Sinto seu calor próximo a mim e, mesmo de olhos fechados momentaneamente, retomo
meu cantarolar, uma tentativa de disfarçar a tensão que seu olhar intenso provoca em minha pele.
Cada movimento dele parece criar uma corrente elétrica que percorre todo o meu corpo,
provocando arrepios sutis:
Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte, te afasta de mim
Pois já não vales nada, és página virada
Descartada do meu folhetim[3].
Assim que termino de cantar, ele agarra-me pela cintura, e sussurra em meu ouvido: — me
lave, e deixe-me com o seu cheiro.
Não consigo negar.
Pego o sabonete líquido e faço espuma em minhas mãos sob o olhar atento e fumegante
dele em meus mamilos endurecidos pela atenção, passo as mãos em seu peitoral, e sinto como
sua pele é quente e firme, enquanto a espuma é espalhada, aproximo-me e beijo seu pescoço,
vendo sua pele arrepiar.
— Lia... — O sussurro me incentiva, e sugo a região, sabendo que vou deixar a minha
marca aqui.
Sinto quando seus dedos descem e beliscam meus mamilos, tento conter um gemido, mas é
luta perdida sempre que ele me toca, na ponta do pé, consigo chupar a ponta da sua orelha e ele
fica ofegante, quando despeja sua ordem em meu ouvido: — quero sua bundinha hoje de novo.
Arrepio-me inteira enquanto estico meu pescoço dando-lhe total acesso para que
mordisque e deixe suas marcas como sei que ele gosta.
— Oliver, você é muito grande para mim. — Confesso, um tanto atordoada, de tesão e um
pouco de medo.
— Você gostou quando fizemos na nossa lua de mel, apesar dos seus pudores.
— Foi gostoso, mas fiquei latejando por uns dias. — Minhas palavras fazem com que ele
rosne, e fico totalmente rendida em nossa névoa de prazer enquanto ele brinca em meu pescoço.
— Se você soubesse o quanto me excita saber que te deixei latejando por mim, Lia...
Sob a chuva de água quente, nossos olhares se encontram por um fugaz instante, um
segundo carregado de mil pensamentos.
Pergunto-me se algum dia vou ter por alguém o que sinto por Oliver: o desejo incendiário,
o afeto ardente, o anseio de cuidar e ser cuidada por ele.
Esses pensamentos se dissolvem de repente quando seus lábios capturam os meus, sem
reservas, dominantes, como só ele sabe ser, em um beijo que rouba meu fôlego.
— Pensou em mim hoje? — Sua pergunta, tão abrupta, me deixa aturdida. Meus lábios,
ainda molhados pelo nosso beijo interrompido, confirmam com um movimento silencioso. Ele
pressiona, seu olhar denota um misto de urgência e desespero. — No que pensou? Conte-me. —
A exigência vem acompanhada pela firmeza de sua mão em minha mandíbula. Sinto sua ânsia e
necessidade.
— Em tudo que você faz comigo. Cada toque, cada beijo, a forma como me olha e permite
que eu o toque. Já vivemos tanto, mas ainda assim, anseio por mais. — Minha confissão faz
surgir um silêncio entre nós, e ele pressiona sua testa contra a minha.
Entendo que algo parece deslocado em sua mente, e sinto o desejo de ser seu porto seguro,
aquela esposa que genuinamente o conforta após um dia difícil de trabalho.
Por isso, decido surpreendê-lo, seguro sua ereção e recebo seu olhar tenso, começo a
mover o punho para cima e para baixo espalhando sabonete que faz com que deslize suavemente
na pele macia.
— Parece irracional e fora de moda, mas saber que sou seu único homem, mexe demais
comigo. — O jeito confuso, o olhar perdido, me entregam que talvez seus sentimentos por mim o
deixem mexido tanto quanto eu estou.
— E saber que você é o meu marido, meu homem, também mexe comigo, Oliver.
— Abra as pernas para mim, deixe-me ver se está molhada para o seu homem, Lia. — O
pedido me arrebata, sinto o rosto pegar fogo quando seu dedo médio entra em mim com
facilidade devido a todo o creme que eu já mantenho, a verdade é que desde que o vi parado na
porta do banheiro, já me excitei esperando pelo que faremos.
Seu dedo entra e sai lentamente enquanto sua boca castiga a minha, Oliver chupa meu
lábio inferior, suga a minha língua, e um segundo dedo entra em mim tão fácil quanto o outro.
— Preciso meter em você, Lia — Feroz, me vira para a parede e abre minhas pernas, por
trás, guia seu pau em meu centro que pulsa necessitada por sua atenção e perco o fôlego, o
primeiro impulso sempre é doloroso.
Mas Oliver não me dá tempo dessa vez, penetra sem dó, enquanto segura meus cabelos
unidos em um rabo de cavalo, estapeia minha bunda, e colada a parede fria apenas consigo
gemer e me empinar mais para recebê-lo por completo.
Gozo, sentindo que ele alcança um ponto em meu corpo que me faz perder qualquer
controle, no entanto Oliver tira o seu pau e o ouço cuspir na mão e em seguida seu dedo penetra
meu ânus, o melando.
— Oliver... — Choramingo, virando a cabeça, temerosa, e ele apenas continua o ir e vir
com o dedo.
— Vai doer menos dessa vez. — Percebo que é mentira no instante em que ele me penetra,
consigo virar o rosto e vejo seu olhar alucinado para baixo, ele observa cada detalhe enquanto
come a minha bunda.
— Ai, Oliver. — Gemo, totalmente perdida, entregue nessa loucura, culpada por entregar
tudo a um homem que não quer ser meu de verdade e ao mesmo tempo é o meu marido.
Totalmente fora de controle, ele sai de mim apenas pra me levar para a nossa cama, onde
me deita de bruços, e por cima fode a minha bunda o quanto quer, me vira o avesso, não consigo
raciocinar, apenas sentir, me submeter, agarrar os lençóis e quase morrer de prazer ao ouvi-lo
gemer e praguejar, chamar meu nome, fora de si, e me iludir que ele é meu. Só meu.
Grito, e tremo inteira, gozando ao mesmo tempo em que o sinto me encher com o seu
esperma, desabo na cama e sinto seu corpo rente ao meu, tão perdido quanto eu nessa loucura.
Os primeiros raios de sol começam a infiltrar-se pelo quarto, trazendo consigo o anúncio
do início de um novo dia.
Sinto o toque suave dos lábios de Oliver no meu rosto, despertando-me com delicadeza,
enquanto ele já está impecavelmente vestido, pronto para enfrentar o mundo com seu terno e
gravata perfeitamente alinhados.
— Tão injusto você acordar todo lindo enquanto eu pareço ter sido atropelada por um
trator. — Resmungo, olhando para a bagunça dos meus cabelos e o fato de estar nua, após cair
sobrecarregada depois do nosso sexo ardente. Seu sorriso travesso preenche o quarto.
— Eu devia ter pegado mais leve com você ontem. — Sua resposta contém uma pitada de
humor.
— Quanto tempo tenho até que tenhamos que ir a fábrica?
Arrasto-me para fora da cama, carregando um travesseiro na minha frente para cobrir a
nudez, tentando arrumar minimamente minha aparência.
— Uma hora, mas antes vá tomar café. — Ele sugere. Tento me desvencilhar, mas sua mão
segura a minha, trazendo minha atenção de volta para ele.
— Lia, eu... — Começa a dizer, mas interrompe a fala ao erguer uma sacola.
Curiosa, olho para o conteúdo enquanto ele a abre, revelando um conjunto deslumbrante de
diamantes. Fico completamente surpresa.
— Certo, é para eu usar hoje? — Pergunto, examinando as peças com admiração, enquanto
ele apenas me mostra totalmente calado.
— Não, é para usar quando quiser. — Sua resposta é tímida, e pela primeira vez vejo
Oliver corar.
— Usar quando quiser? Então isso é um presente? — Indago, surpresa com sua timidez.
— Acho que é assim que chamam. — Ele responde, meio desconcertado.
— Obrigada, é lindo. — Declaro, observando as joias com admiração.
— Roubei a ideia do homem do livro que você me emprestou. — Oliver conta, as mãos
enfiadas nos bolsos de sua calça. Uma tentativa um tanto tímida de explicar o gesto. — A esposa
dele ficava feliz em receber joias.
— Então, você me quer feliz e por isso me deu joias? — Indago, tentando entender sua
motivação por trás do presente. — Achei que tivesse me dado apenas para usar hoje.
— Na verdade, eu as encomendei durante a nossa lua de mel. Como são exclusivas,
precisavam de uns dias para serem confeccionadas. — Ele revela, mostrando-me um pouco do
seu planejamento.
— Uau! É realmente incrível, obrigada. — Expresso minha gratidão, sentindo-me tocada
pelo pensamento por trás do presente.
Caminho até ele e o abraço, num gesto espontâneo e genuíno.
— Não vou te beijar porque ainda não escovei os dentes. — Brinco, querendo diminuir o
clima um pouco constrangedor e Oliver revira os olhos com a brincadeira.
— Você está mesmo se sentindo bem? Eu posso realmente tentar ser mais suave e... — O
interrompo com a minha fala.
— Oliver, eu gosto de tudo. — Deixo escapar, e percebo que talvez tenha revelado mais do
que pretendia. — Preciso ir me arrumar, obrigada mesmo.
Desvencilho-me do abraço e me viro, praticamente fugindo para o banheiro, trancando-me
ali sozinha.
Coloco meu presente na bancada do banheiro, agacho-me as olhando com veneração.
Significam o quanto ele também está gostando de mim apesar de não admitir.
Observo as joias mais uma vez e sorrio, sentindo-me balançada entre a esperança e o medo
de criar expectativas.
Meu coração acelerado tenta encontrar uma razão lógica para o gesto de Oliver, mas a
sensação de calor em meu peito me diz que há algo mais profundo por trás desse presente. Tentar
não criar expectativas torna-se um desafio diante da emoção genuína que isso desperta em mim.
Capítulo 32: A mudança

Cuidadosamente, escolho um vestido midi azul-marinho, buscando equilíbrio entre


elegância e conforto para a visita à fábrica.
Seus detalhes em renda na cintura dão um toque de delicadeza ao tecido de seda. Optei por
um par de sapatos de salto baixo, para me manter confortável durante o compromisso, mas sem
perder a feminilidade.
Ao sair do banheiro, deparo-me com Oliver à espera. Seu olhar, ao encontrar o meu, é
como se fosse a primeira vez que me vê vestida desta maneira.
Ele está encostado na parede, e o modo como seus olhos percorrem cada detalhe do meu
vestido, apreciando com admiração, faz-me sentir única.
— Uau, você está deslumbrante. — Sussurra, com um sorriso surpreso e orgulhoso. —
Este vestido... Você está incrível.
Percebo a sinceridade em suas palavras. Seus olhos transbordam com um brilho de apreço
genuíno enquanto observa cada traço do tecido azul que se ajusta suavemente ao meu corpo.
O olhar de Oliver é uma mistura de surpresa e admiração, e isso me toca profundamente.
Sinto-me apreciada por ele, especialmente após a insegurança que ainda carrego ao me vestir
para eventos corporativos, traz um sorriso espontâneo aos meus lábios.
É reconfortante saber que meu esforço é não apenas notado, mas também valorizado por
ele.
— Que bom que gostou, fiz algumas compras no seu cartão. — Brinco, mordendo os
lábios.
— Eu lhe dei para que compre o que quiser, e vejo que fez bom uso. Vamos?
— Espera, coloque o colar em mim. — Faço o pedido mostrando a peça que ele me
presenteou, dou passos seguros e fico de costas para que ele coloque a peça em meu colo.
Sinto sua respiração em minha nuca que está nua devido o penteado de rabo de cavalo com
alguns fios soltos, e ele acaricia minha pele da nuca enquanto prende a peça.
— Você cobriu as marcas que deixei. — Diz, tateando o meu pescoço no exato ponto onde
sua boca me sugou ontem.
— Achei que não seria de bom tom chegar marcada na fábrica.
— Seria bom para que todos saibam que você é minha.
Ouvi-lo dizer que sou sua, me faz sorrir aproveitando que de costas ele não pode ver, fico
quieta esperando que ele se corrija ou diga que é apenas pelo contrato, mas logo aparece ao meu
lado, me estendendo o braço em um gesto cavalheiro para que eu caminhe ao seu lado.
Tomamos o café da manhã com dona Beatriz que nos faz rir com suas histórias,
principalmente a que narra a primeira vez que acompanhou o marido nas visitas a fábricas, já
estava grávida de seu filho mais velho e só descobriu depois.
— Precisa se alimentar melhor. — Aproveito a brecha em suas histórias e reclamo com a
senhorinha que tem comido apenas papas e caldos reparei desde quando cheguei da lua de mel.
— Não ando muito bem do estômago, digere melhor a comida assim.
— Então vou marcar um médico para ver isso. — Rebato, já olhando para a sua cuidadora
sentada ao lado da patroa dando-lhe colheradas do mingau de aveia.
— Não precisa querida, é só uma fase. — Sua voz é serena, mas o olhar cúmplice que ela
troca com Oliver, me deixa em alerta que os dois compartilham de algo que não sei.
— Vamos, Lia. — O chamado do meu marido confirma ainda mais a minha suspeita.
Decido por hora deixar o assunto de lado, no entanto assim que voltarmos para casa, vou
marcar uma junta médica para dona Beatriz.

Ao sairmos da casa, percebo um carro novo estacionado do lado de fora, um Audi preto
imponente. Expresso minha surpresa, e meu marido simplesmente dá de ombros com um sorriso
enigmático.
— Decidi ter um carro para mim aqui no Brasil. — Ele explica, enquanto caminhamos até
o veículo.
— Achei que não fosse ficar muito tempo por aqui. — Comento, revelando meu receio,
enquanto me acomodo no assento do carona.
— Agora com a ideia de visitar as fábricas, talvez eu realmente fique por mais tempo do
que pretendia. — Ele responde, ligando o carro.
Observo os seguranças partirem em outro veículo atrás de nós, imagino que ele dispensou
o motorista para termos mais privacidade.
Olho pela janela, contemplando a deslumbrante paisagem da zona sul do Rio de Janeiro.
Mesmo depois de quase morar aqui desde que comecei a trabalhar com dona Beatriz, não
consigo me acostumar com tanta beleza.
Cada canto me fascina, e sempre me pego maravilhada com a paisagem, encontrando
beleza nos mínimos detalhes.
O barulho do celular de Oliver tocando me chama a atenção e acho chiquérrimo quando o
som da voz da irmã dele irrompe o interior do carro todo tecnológico.
— Estou dirigindo, seja direta, Briana. — Ele diz, e quase rio, gosto da implicância de
irmãos de ambos.
— Vou ser muito direta, Oliver pode ficar tranquilo. — A indignação em seu tom, me faz
ficar curiosa, se é implicância de irmãos ou algo mais grave. — Acabei de pagar uma fortuna a
um paparazzi que continha fotos suas entrando no quarto de hotel da sua ex ontem.
Fico paralisada, mantenho o olhar fixo na paisagem lá fora, fingindo não ouvir as palavras
da irmã dele, disfarçando sobre o quanto me machuca a descoberta. Ontem, ele esteve com a ex,
em um quarto de hotel.
— Briana, estou dirigindo, depois conversamos. — Ele encerra a ligação e não me atrevo a
olhar para ele, e Oliver nem tenta, se mantém dirigindo o carro, e agradeço silenciosamente por
isso.
Luto para conter as lágrimas teimosas que pinicam em meus olhos, não posso chorar, afinal
de contas concordei com isso, ele me disse que seríamos exclusivos apenas em nossa lua de mel,
nada além.
Mas porque saber que ele esteve com outra dói tanto? Depois ele dormiu comigo, como ele
pôde?
Sinto um nó na garganta ao chegar à fábrica, como se cada passo fosse uma batalha
interna. A presença antes reconfortante de Oliver ao envolver sua mão em minha cintura é
repelida instantaneamente por minha raiva contida. Não posso desabar agora, pois sei que
qualquer confronto resultaria em lágrimas e um colapso emocional.
Ele parece entender minha reação e não insiste, permanecendo ao meu lado enquanto
seguimos para cumprimentar as pessoas importantes da fábrica.
Apesar dos cumprimentos e das risadas preencherem o ambiente, tudo parece distante,
como se eu estivesse presa em um túnel isolado.
A tentativa de sorrir é meramente um gesto mecânico, uma expressão contida que não
reflete a verdadeira turbulência que se passa dentro de mim.
Sinto um turbilhão de emoções me invadindo: irritação, angústia, uma sensação de
diminuição. Decido ir ao banheiro, buscando um breve refúgio, e na solidão digito no meu
celular "namorada de Oliver Harrison".
A tela exibe uma série de imagens de sua ex-namorada, uma mulher deslumbrante, uma
modelo americana cuja carreira leva a inúmeras viagens internacionais, a restaurantes refinados,
sempre envolta em luxo, assim como Oliver.
Enquanto giro minha aliança no dedo e encaro meu reflexo no espelho, percebo que, apesar
de vestir roupas de marca, usar joias e maquiagens importadas, nada disso altera a realidade.
Nada disso muda quem sou de verdade, de onde vim.
E vem golpe ainda mais duro ao me deparar com uma das manchetes sobre nós:
"Escândalo: o herdeiro de uma família tradicional se casa com faxineira".
É um baque. Todo esse luxo ao meu redor não altera a verdade: ele e eu viemos de
realidades completamente distintas. Como pude me iludir pensando que ele poderia se apaixonar
por mim?
Agora enxergo como fui tola, boba apaixonada, se ele me enganou fingindo ser o
jardineiro, poderia facilmente me iludir que gostava de mim, aliás, ele nem tentou, Oliver apenas
foi gentil e isso me fez apaixonar, eu sou o problema, não ele.
Sigo em frente recolhendo meus cacos emocionais, guardando o celular na bolsa de mão e
sigo para fora com o melhor sorriso que consigo reunir para cumprir o papel que prometi: ser a
esposa perfeita.
Oliver conduz a visita com sua costumeira destreza, explicando detalhes técnicos e falando
sobre a história do negócio. A cada palavra que ele profere, eu tento focar minha mente, mas é
como se meu cérebro estivesse em suspenso, reticente a absorver qualquer informação.
— Lia, você gostaria de experimentar uma das amostras? — A voz de Oliver me traz de
volta à realidade, mas o tom dele soa mais como um esforço para mascarar a tensão.
— Não, obrigada. Estou bem. — Minha voz sai fraca, as palavras soando menos
convincentes do que esperava.
Seguimos a visita em silêncio, eu desviando meu olhar para os tanques de chocolate e as
esteiras transportadoras, tentando fugir das recordações dolorosas que me assombram. O ritmo
das máquinas, antes uma melodia reconfortante, agora ecoa como um lembrete constante da
dissonância em meu coração.
Oliver continua explicando cada detalhe, mas suas palavras perdem a nitidez em meio ao
tumulto interior que assola minha mente.
Saímos da fábrica, retornando à mansão em um silêncio que parece pesar toneladas.
Desvio meu olhar para a janela, como se apreciasse a paisagem, mas na verdade, tudo parece
vazio, oco, sem vida.
O cenário externo não passa de um borrão diante dos meus olhos turvos, onde o vazio
interior parece refletir-se.
Sinto o peso do cansaço e da dor emocional enquanto me arrasto para dentro da mansão.
Decidi refugiar-me no quarto e tentar encontrar alguma paz naquele caos que tomou conta de
mim.
Tento girar a maçaneta da porta da suíte, querendo ficar só, mas Oliver interrompe minha
fuga ao segurar a porta. Ele entra decidido, seus olhos fixos em mim, buscando respostas que,
neste momento, talvez eu nem saiba dar.
— Só quero saber uma coisa, preciso me preocupar com doenças? — Minhas palavras são
disparadas, carregadas de angústia e raiva, e ele parece surpreso com o tom áspero em meu tom.
— O que você está falando? — A pergunta dele, me atinge como uma acusação. Seus
olhos estreitos, uma ruga marcando sua testa.
— Você esteve num quarto de hotel com a sua ex ontem, não precisa ser muito esperta
para saber o que rolou, e logo depois eu transei com você sem preservativo. Então quero saber se
preciso me preocupar com doenças. — Cruzo os braços tentando conter a minha ira.
— Você acha que te colocaria em risco, Lia? — A pergunta me magoa, porque deduzo que
usou proteção com a outra, não sei se isso me alivia ou indigna por ter a certeza que transaram, já
que ele nem sequer negou.
Soa até nojento pensar que ele esteve com outra mulher intimamente horas antes de estar
comigo em nossa cama, que a beijou como fez comigo, que a tocou como fez comigo. Mas, faz
parte do combinado, então me abstenho em dizer:
— Certo, então não se esqueça que o nosso combinado é ser discreto, estou cumprindo a
minha parte, cumpra a sua também.
— Como assim está cumprindo a sua parte, por acaso se encontrou com alguém? — Ele
altera a voz e caminha em minha direção irritado. — Eu falei ontem sobre ser seu único homem e
você não me disse nada que.... — Corto-o.
— Eu não me encontrei com ninguém, mas já que você anda vendo a sua ex, não espere
que será o único para mim. — Digo apenas para feri-lo, torço para que sinta o mesmo ciúme
doloroso que está rasgando o meu peito agora, mas sei que é em vão, Oliver nem mesmo se
importa.
— Lia, para de dizer essas merdas. — Rosna, alisando os cabelos com a mão e o olhar
perdido.
— Não é merda, é o nosso acordo, você transa com quem quiser e eu também. — As
palavras deslizam para fora da minha boca como lixas, ásperas e deixam amargor em minha
língua ao proferi-las.
— Você é minha. — Oliver me olha com intensidade, sua voz em um nítido tom de
urgência.
Respiro fundo, tentando conter a emoção que se agita dentro de mim.
— Só sou sua se você for meu também, Oliver.
Seus olhos azuis encontram os meus, e não perco a expressão de hesitação que passa por
seu rosto.
— Eu nunca fui exclusivo com nenhuma mulher. — Sua resposta não me surpreende,
apenas demonstra o grande mimado que ele sempre foi.
— Você não sabe o que é abrir mão, porque nunca precisou. Herdeiro de uma família
renomada, todos se ajustam aos seus desejos, mas não é assim comigo. Sou sua esposa, e você
gosta disso, não é verdade? Gosta de ser casado comigo, Oliver. Aprenda a ceder.
Ele parece atordoado, como se estivesse tentando compreender as palavras que acabaram
de ser pronunciadas.
— Lia, eu acho que estamos confundindo demais as coisas.
Respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que ameaçam cair.
— Está certo, façamos como combinamos então, vamos voltar a encenar e viver uma
mentira, só seja mais discreto e pode contar com a minha discrição também.
Ele sai da suíte, com uma expressão de conflito. Ouço a porta do quarto de hóspedes se
fechar, e me deixo cair na cama, sentindo-me dilacerada pela conversa.
Ele procurou por outra logo que voltamos da nossa lua de mel, e essa outra é a sua ex,
uma modelo famosa e igualmente viajada. Ela tem tudo que o mundo considera perfeito. Como
posso me sentir indiferente sobre isso?
De repente, todas as minhas inseguranças vêm à tona. Como pude me permitir sonhar que
ele poderia amar alguém como eu? Afinal, não passo de uma simples subalterna que se viu
envolvida em um conto de fadas da vida real, uma mulher com um corpo fora do padrão de
modelo internacional.
Só agora percebo que mergulhei de cabeça em um abismo, onde a dor da realidade é
muito mais profunda do que eu poderia imaginar. Afinal, o amor que sinto por ele é real, mas
talvez eu tenha esquecido que a reciprocidade nem sempre é garantida.
Como pude ser tão tola?
Capítulo 33: A decisão

Jogo-me na cama do quarto de hóspedes e, frustrado, decido ligar para minha irmã, que
atende de forma descontraída. Porém, assim que ouço a sua saudação, não consigo controlar a
explosão de frustração:
— A Lia estava no carro comigo e ouviu suas merdas.
— Minhas? — Ela gargalha de forma irônica. — Você que se encontra com a sua ex, e a
merda é minha?
— Não é tão ruim quanto você faz parecer.
— Acredite em mim, se o paparazzi publicasse as fotos, ia ser muito mais ruim do que faço
parecer, o conselho ia te comer vivo por se envolver em um escândalo como esse.
— Porra, Briana! — Passo as mãos nos cabelos, nervoso.
— O que a Lia disse?
— Um monte de besteiras, que vai se encontrar com outros homens
— Bem feito, ela está certa.
— Você é mesmo minha irmã? — A pergunta retórica a faz rir.
— Oliver, você nunca foi fiel a nenhuma mulher, e nunca cobrou que fossem fieis a você,
mas se te incomoda que a Lia soubesse, ao ponto de você me ligar todo passional, significa que
se importa com ela.
— Onde você quer chegar com isso?
— Se você se importa com ela a esse ponto e está chateado com a ideia de que ela se
encontre com outros homens, talvez você deva levar isso a sério.
— E o que você quer que eu faça? — Pergunto de péssimo humor.
— Seja honesto e decida o que você realmente quer, Oliver. Resolva isso, antes que perca
alguém que realmente te importa.
A ligação termina e fico aqui, perdido em meus pensamentos, tentando digerir o que minha
irmã disse. Será que estou subestimando meus próprios sentimentos por Lia? Será que ela tem
razão?
Eu poderia contar a verdade a Lia, explicar que não houve nada demais com a minha ex,
afinal eu genuinamente quero ficar bem com a minha esposa.
No entanto, não estou acostumado a me justificar ou a dar satisfações a ninguém, e não
quero começar a fazer isso com ela. Sou obstinado quanto à minha liberdade, mas detesto vê-la
chateada comigo. O pensamento de imaginar Lia com outro homem é avassalador.
A indecisão me corrói por dentro. Abro uma garrafa de uísque e penso em tomar um gole.
A perspectiva de que essa situação possa se repetir, de perder alguém que, contra todas as
probabilidades, acabou por se tornar importante para mim, atormenta-me profundamente.
O som do meu celular, chama a minha atenção. O número do meu primo me desperta, e
assim que o saúdo, percebo a ansiedade em seu tom:
— Meu pai está enfurecido, o conselho gostou de sua atitude de visitar as fábricas do
Brasil, de estreitar os laços, sem contar que te sentem mais maduro por ter se casado e estar
levando o trabalho mais a sério.
— Isso é excelente. — Tento soar otimista.
— Meu pai está furioso, você deve imaginar.
— Ele sempre está. — Brinco.
— E a vovó, como está?
— Bem, mas está cada vez mais cansada, tem ficado mais no quarto e só sai de lá na horas
das refeições, percebo que está comendo menos e tem mais facilidade em comer comidas
pastosas.
— Será que o que ela disse é real, que apesar dos médicos dizerem que está ótima, ela
realmente está indo embora?
— Creio que sim, Alexander, apesar dos exames de sangue estarem ótimos, ela parece
estar desligando aos poucos.
— Isso é realmente uma merda, Oliver.
— Eu sei, e tenho a Lia aqui, suponho que ela não vai lidar bem com essa perda.
— Cuide delas aí, eu e Briana damos conta de tudo por aqui.
— Eu sei, obrigado primo.
— Não me agradeça, somos uma família, cuidamos uns dos outros, foi assim que vovó nos
ensinou.
Cuidamos uns dos outros, a frase me desmonta por dentro.
Sento-me na beirada da cama, perdido em meus pensamentos, relembrando cada instante
que compartilhei ao lado de Lia.
Em meio a esse exercício mental, tudo o que ela é e representa ecoa em minha mente. Me
dou conta de que ela é, de fato, tudo o que sempre precisei, uma esposa admirável.
— Ah, Juliana Ferreira, o que você está fazendo comigo? — Divago, encarando o teto.
Seu olhar curioso sobre a vida, a maneira como irradia sabedoria e humildade, sua
generosidade, além de seu corpo escultural que me atrai como um ímã.
Enquanto meus olhos percorrem o quarto de hóspedes, percebo o vazio aqui. Esta cama
parece excessivamente grande e o ambiente, demasiado vazio sem a presença dela.
Lembro-me de suas camisolas que me deixam louco, do seu toque gentil e ao mesmo
tempo perspicaz. De repente, uma sensação desconfortável toma conta de mim: a simples ideia
de dormir sem minha esposa ao meu lado me causa um desconforto profundo, quase uma
aversão.
É como se este espaço estivesse vazio demais sem a presença dela para preenchê-lo.

Após um banho para tentar acalmar a mente, ando pela casa de robe felpudo branco, deixo
meus pés me levarem sem um destino específico.
Ao descer as escadas, decido visitar o quarto da minha avó, onde sua nova cuidadora está
sentada ao lado da cama.
A luz suave do quarto ressalta a beleza serena da senhora de cabelos brancos. Ela parece
adormecida, mas assim que me aproximo, vejo seus olhos azuis se abrirem, revelando um sorriso
tranquilo.
— Não queria te acordar, só queria dar uma olhada em você, vovó. — Digo suavemente.
— Estou bem, querido, não se preocupe comigo. — Ela afaga gentilmente minhas
bochechas, um gesto carinhoso que sempre me conforta desde a infância. — Tive um sonho com
o seu avô hoje.
Seu sorriso se alarga ao mencionar meu avô, uma lembrança que sempre a deixa feliz. A
cuidadora, ao lado, parece já familiarizada com esse tipo de relato.
— Ela sempre menciona isso, sobre sonhar com ele. — A cuidadora comenta, como se
para me informar sobre a frequência dos sonhos dela, o que me deixa alerta em relação à sua
saúde mental.
— Você o amava muito, não é? — Pergunto, não só por curiosidade, mas para oferecer um
pouco de conforto e atenção.
— Amor? O que sinto não tem explicação. Sabe, os jovens hoje em dia temem o
comprometimento de ter um lar, e eu entendo, afinal o casamento é uma dança delicada. — Fala
encarando-me profundamente, porque até antes de me casar, eu era esse tipo de pessoa. — No
entanto, o amor é como um jardim, requer cuidado diário, servidão de ambas as partes e, acima
de tudo, aceitar que cada flor tem sua própria maneira de desabrochar.
— Ela tem dito algumas frases soltas assim, senhor, que não fazem sentido. — A
cuidadora diz, e minha avó revira os olhos, e quase a acompanho, porque para mim tudo que ela
acabou de dizer é precioso.
— Nem tudo precisa fazer sentido. — Vovó se defende. — Nem sempre precisamos ser
compreendidos. — Olha acusatoriamente para a cuidadora e dispara: — Às vezes, só precisamos
ser pacientes, ouvir mais e falar menos.
Sinto-me tocado com as suas palavras, de certo modo tudo isso me faz lembrar do
desentendimento com a minha esposa.
— A senhora falou sobre servidão, o vovô abria mão de muitas coisas para te agradar? —
Pergunto e ela sorri e nega com a cabeça.
— Ele era um homem sábio, Oliver. Seu avô era empenhado em me fazer feliz, em me
servir, e em troca ele sempre ganhou uma esposa querendo-o fazer feliz de volta, disposta a tudo
para o agradar, por isso te digo, servidão de ambas as partes é um ingrediente valioso em um
casamento. — Começa a se ajustar na cama, fecha os olhos, mas antes de voltar a dormir, ela diz:
— Nosso casamento era como uma sinfonia, todas as notas, suaves ou não, eram essenciais para
a harmonia final. Espero que você e Lia dancem da mesma forma, porque depois de tantos anos
sozinha posso te garantir, dançar a dois é muito melhor.
Deixo um beijo em sua testa, e converso um pouco com a cuidadora a respeito de suas
condições.
Assim que as deixo sozinhas no quarto, sinto-me exausto e emocionalmente
sobrecarregado após todo o dia tenso. Preciso espairecer um pouco e resfriar a cabeça. Decido
caminhar um pouco. A casa está silenciosa, mas as luzes da cozinha estão acesas, revelando a
presença de alguém.
Caminho até o local que está iluminado apenas pela luz da lua que entra através do vitral
da janela, e logo vejo a silhueta de Lia, envolta em uma camisola branca, sentada à mesa,
tomando um copo de leite.
Meu coração tamborila desgovernado no peito assim que seu rosto se eleva, e nossos olhos
se encontram por um breve instante antes dela desviar para a janela.
— Desculpe, eu... não queria incomodar — murmuro, me sentindo um intruso em seu
espaço privado.
Ela balança a cabeça suavemente.
— Não é um incomodo, sente aqui. — Aponta para o seu lado, e recordo-me que por tantas
vezes conversamos francamente sentados aqui enquanto ela achava que eu era o humilde
jardineiro.
Sento-me à seu lado, permanecendo em silêncio por um momento, sem saber o que dizer
ou como abordar a situação. Observo suas mãos segurando o copo, e mesmo sob a luz fraca da
cozinha, consigo ver o quanto ela é linda.
— Saudades de quando eu era o Cosme? — Brinco, e ela sorri por um segundo e me
encara.
— Digamos que o Oliver faz coisas mais... Interessantes. — Ela cora ao dizer, e não
consigo tirar os olhos dela. — Mas, sinto falta da amizade do Cosme, eu gostaria de te detonar
para ele hoje. — Rimos juntos, e o clima logo está leve entre nós.
— Eu gostava de ser o Cosme, seu amigo, mas não posso mentir, prefiro mil vezes ser o
seu marido.
— Eu também prefiro que seja assim. — Confessa, e logo desvia o olhar, fico sem palavras
com a sua confissão. — Você também não consegue dormir? — Lia pergunta, quebrando o
silêncio de maneira amigável.
— Acho que não, muita coisa na cabeça. — Respondo, um pouco surpreso pela
tranquilidade em sua voz. Ela se levanta e vai até a pia deixar seu copo vazio, e logo estou por
perto, praticamente invadindo seu espaço pessoal.
Não consigo evitar de notar como ela está gostosa nesta camisola, a forma como seus
cabelos caem suavemente sobre os ombros, o corpo violão abraçando o tecido fluido, a maneira
como segura o copo. Meu pau pulsa e aumenta o calor que sinto por baixo do roupão que visto.
Sem pensar muito, ergo minha mão e sinto a textura suave de sua pele, limpando um
fragmento de leite em sua bochecha. Seus olhos encontram os meus enquanto ela acompanha o
movimento da minha mão, e um silêncio suave paira entre nós.
— Apesar de tudo que aconteceu, nossa briga, eu... não quero que durma no quarto de
hóspedes. — Sua voz revela uma vulnerabilidade que não esperava encontrar depois de nossa
discussão. E percebo que ainda estou acariciando seu rosto, como se fosse algo natural entre nós.
— Não consigo dormir sem você.
Seus olhos revelam o mesmo desejo que o meu, desde quando nos casamos temos provado
de um tudo em nossa cama, e sempre é gostoso. Saber que o seu desejo de proximidade é
semelhante ao meu, me afeta profundamente.
Olho-a nos olhos, o rubor sutil enfeitando suas bochechas. Não planejo minhas palavras,
elas simplesmente surgem.
— Eu também não quero ficar distante, querida. — A admissão parece escapar de mim
antes que eu perceba, e surpreendentemente, vejo seus olhos arregalados, reagindo à minha
sinceridade.
Não me arrependo, ao lembrar das palavras da minha avó: “Seu avô era empenhado em me
fazer feliz, em me servir, e em troca ele sempre ganhou uma esposa querendo-o fazer feliz de
volta, disposta a tudo para o agradar, por isso te digo, servidão de ambas as partes é um
ingrediente valioso em um casamento.”
Sinto meu coração acelerar enquanto desço meus dedos em seu ombro e delicadamente
deslizo para baixo a alça fina de sua camisola, sinto que ela me deixa tocá-la justamente pela
minha admissão de a querer por perto, e sinceramente a quero tanto ao ponto da loucura, dou um
passo em sua direção, doido para possuir sua boca, mas ouço:
— Oliver, acho melhor não... — Lia titubeia, desviando o olhar do meu, mas coloca suas
mãos no nó do meu roupão e fica brincando ali. Seu rosto demonstra um misto de desejo e
incerteza.
O calor aumenta na cozinha, e a tensão entre nós é explosiva. Eu me vejo dividido entre a
atração que sinto por ela e o desejo de explicar tudo, sei que não quero lhe dar explicações, mas
ao mesmo tempo quero terminar a noite dentro da sua boceta que foi feita para mim, e já entendi
que para isso acontecer, vou ter que abrir mão das minhas crenças, a porra da servidão que minha
avó martelou em minha cabeça.
— Não houve nada com a minha ex ontem, acredite em mim. — Faço uma pausa,
segurando o olhar dela com firmeza, recebo seus lábios entreabertos e o olhar confuso no meu,
torcendo para que dê certo, continuo: — Fui até lá para resolver questões que ela andava me
ameaçando, mentiras que poderia fazer mal a mim e a minha família. Ela tentou me chantagear,
mas me mantive firme. Só isso, Lia. — Minha voz sai mais suave, repleta de sinceridade.
Lia solta o nó do roupão, e sinto o tecido se afastar do meu corpo. Sua expressão muda,
como se estivesse processando minhas palavras, e um suspiro escapa de seus lábios entreabertos.
Conseguimos nos comunicar através do silêncio, e a atmosfera tensa começa a se dissipar.
— Mas ela não tentou algo? — A pergunta me faz engolir a seco, só agora me dou conta
que ela jogou na minha cara e pela primeira vez, a recusei sem qualquer remorso.
— Tentar, ela tentou, não vou mentir, nossa relação era carnal, fácil, e isso me atraia
muito, no entanto não a desejo mais, dei o meu recado e logo fui embora.
— Fácil. — Ela diz, testando a palavra em seus lábios. — Tudo o que eu não sou, não é?!
— Ri sem humor, e ergo seu queixo.
— Porra, você é a mulher mais difícil que já tive. — Digo e ela apenas fica quieta
encarando-me. — Nossa relação é a mais difícil que já tive, por muitas vezes eu não tenho tato,
não sei como agir ou falar, mas eu quero te fazer feliz, Lia. — Confesso. — Você me chamou de
mimado, que nunca precisei lutar pelo que realmente quero porque sempre tive tudo na mão,
fácil. E você tem razão, eu não sei lutar, mas quero aprender, para te fazer feliz, não gosto de te
ver chorar como vi hoje, não gosto de dormir sem você, odeio quando desvia o olhar do meu.
— Oliver, eu imaginei tantas coisas, o tempo todo me peguei pensando em você a tocando
como me toca, dizendo as coisas sussurradas que me diz... — Ela murmura, baixando o olhar.
— Não pense, é só você que eu desejo. — Aproximo-me lentamente, meus olhos
capturando os dela. Sinto sua respiração ofegante, e uma chama de compreensão parece se
acender entre nós.
O tempo parece congelar enquanto nossos olhares se encontram, compartilhando um
entendimento mútuo e uma nova proximidade que se desenha entre nós.
— Por que não me contou antes? Me martirizei tanto.
— Vou ser sincero, Lia. Não é do meu feitio prestar esclarecimentos, mas não quero vê-la
irritada comigo e tampouco procurando outros homens.
— Mas você quer o relacionamento aberto, Oliver. — Suas mãos desprendem do nó do
meu roupão como se eu tivesse uma doença contagiosa, o desdém em seu tom não me passa
despercebido.
— Eu não consigo lidar com a ideia de compartilhar você, de imaginar você com outra
pessoa. — Minha voz sai mais baixa, carregada de uma sinceridade que eu não sabia que estava
guardando.
Ela parece processar minhas palavras, os olhos ainda refletindo surpresa. Nesse momento,
me dou conta do quão importante nosso casamento é para mim, mais do que eu quero admitir.
Não sou de ceder, mas a ideia de Lia com outros homens me incomoda mais do que
deveria.
— Oliver, isso é inesperado. — Ela dá um passo para trás, afastando-se de mim. — Não
sei se entendi bem.
— É simples. Não quero que estejamos com outras pessoas. — Olho fixamente para ela,
tentando transmitir a seriedade da minha decisão.
— Mas e a liberdade que queria? — Questiona, ainda hesitante.
Suspiro, sentindo uma necessidade urgente de que ela compreenda.
— Não quero compartilhar você com ninguém, Lia. Estou disposto a ser exclusivo se isso
significa que você não vai procurar outros caras.
Ela mantém o olhar em mim por um momento, como se estivesse avaliando a sinceridade
das minhas palavras.
Lia permanece em silêncio, como se ponderasse minhas palavras. A atmosfera está
carregada de expectativa e receio. Pergunto-me se a confissão acabou de arruinar a única
oportunidade que tínhamos de consertar as coisas.
E então, para minha surpresa, ela avança na minha direção, colando seus lábios nos meus
com uma fome evidente. Seu beijo é intenso, como se quisesse expressar algo que as palavras
não podem alcançar.
O nó do meu roupão se desfaz sob suas mãos ágeis, e finalmente, entendo o que minha
avó quis dizer sobre ceder para fazer minha mulher feliz.
Nesse momento, percebo que talvez a vulnerabilidade não seja tão ruim quanto pensava.
Talvez, abrir mão de certas crenças seja o que precisamos para construir algo delicioso para nós
dois, a porra da sinfonia que vovó citou.
Os lábios de Lia se movem nos meus com uma urgência, como se estivesse tentando dizer
algo sem palavras. Sinto a textura suave de sua pele, e a proximidade dela dissipa parte da tensão
que pairava no ar. O roupão desliza pelos meus ombros, caindo no chão, e a fria madrugada
parece aquecer com a chama do momento.
A entrega de Lia é visceral, uma resposta que transcende as complexidades da conversa
que tivemos momentos atrás. O toque dela é uma promessa de compreensão, de aceitação, e
talvez até de perdão. As mãos dela exploram meu corpo, como se estivesse mapeando cada
centímetro com uma necessidade voraz.
Nossas respirações se encontram em um ritmo acelerado, e quando nos separamos para
buscar ar, nossos olhares permanecem conectados. Há algo novo aqui, um entendimento tácito de
que estamos dispostos a tentar, a fazer concessões para que esse casamento, inicialmente
arranjado, possa transformar-se em algo autêntico.
A luz suave da cozinha destaca a expressão nos olhos de Lia, uma mistura de desejo e
vulnerabilidade. Eu, por minha vez, sinto a realidade da situação: não estamos apenas
esclarecendo mal-entendidos, mas construindo pontes entre nós.
Nesse instante, de mãos dadas, seguimos juntos para a nossa suíte.
E apesar de não saber muito a respeito, entendo quando a deito em nossa cama com
cautela, tiro sua camisola e a beijo lentamente, que estamos fazendo amor, essa não será apenas
uma foda desesperada.
Lia, abre as pernas acolhendo-me, seus gemidos baixos me enlouquecem e estoco devagar,
sentindo sua textura, como está quente, molhada, pulsando.
Em contrapartida, nos entreolhamos enquanto nos perdemos um no outro, seus olhos não
deixam os meus. Acaricio seu rosto, beijo sua boca com ternura.
E quando gozo, jorrando dentro dela, me dou conta que a vida realmente parece boa.
Capítulo 34: A teimosia

Após uma noite regada a muito sexo de reconciliação com Oliver, sou surpreendida pela
manhã ao encontrá-lo já fora da cama. Desço para tomar café e me deparo com dona Beatriz
sendo alimentada pela cuidadora.
— Não gosto de vê-la assim, comendo papinha. — Resmungo, preocupada, e ela ri com
desdém.
— Querida, você precisa parar de se preocupar comigo e colocar suas energias no seu
casamento.
— Dona Beatriz, posso lhe servir algo? Uma água ou chá? — Pergunto, ainda preocupada
com sua aparência apática à mesa.
— Não, minha querida, só quero um pouco da sua companhia. Sente-se. — Seu sorriso
frágil me desmonta, e me sento ao seu lado direito.
— Como está se sentindo? Vou levá-la ao médico para uma consulta, não estou
convencida de que esteja bem.
— Ah, velhice, minha querida, é como uma visita inesperada que fica mais tempo do que
planejamos. Mas não quero falar sobre mim. Quero falar sobre você e Oliver. — Ela dispensa
sua cuidadora com um gesto e ficamos a sós.
— Sobre nós? Dona Beatriz, eu... — Sou interrompida pela senhorinha astuta.
— Shh, minha criança. Quero que escute com o coração aberto. Vi muitos amores em
minha vida, alguns floresceram, outros desvaneceram. O de vocês é intrigante.
— Intrigante como? — A curiosidade me belisca.
— Vocês têm uma centelha, uma conexão especial. Mas, como toda joia, precisa ser polida
para brilhar ainda mais.
— Polida? — Reflito por um instante.
— Sim, minha querida. É preciso paciência, compreensão e, acima de tudo,
comprometimento.
— Às vezes, parece difícil... — Falo insegura, pois, apesar de estarmos bem, não sei ao
certo o que pensar sobre o nosso futuro, se é que temos algum futuro juntos.
— Dificuldades são como tempestades passageiras. Fazem estragos, mas também
purificam e fortalecem. No entanto, quero lhe dizer uma coisa essencial.
— O que é?
— Nunca esqueça a importância da amizade. Sejam amigos antes de tudo. Compartilhem
risos, sonhos, e estejam lá um para o outro, mesmo nos momentos difíceis. — O seu pedido soa
como uma despedida, e deixo isso passar porque não quero contrariá-la, não antes de conversar
com seu médico.
— Dona Beatriz, eu... eu prometo tentar. — Ela aperta minha mão assim que me
comprometo.
— Isso me deixa feliz, minha criança. A vida é muito incerta, mas o amor verdadeiro é
como uma bússola que guia os corações.
Deixo de lado os conselhos de dona Beatriz quando recebo em meu celular a mensagem da
defesa civil, o que me distrai de nossa conversa, afinal no corpo da mensagem está alertando
sobre a iminência de uma tempestade. Imediatamente, ligo para a minha tia, mas a ligação não é
atendida.
— Droga! Tomara que minha tia esteja em um lugar seguro, tem uma chuva forte vindo.
— Lia, assim que você receber os bens que vai herdar de mim, não hesite, ajude sua tia
imediatamente.
— Pare de dizer essas coisas, ainda vai demorar muito até que isso aconteça. — Falo,
levantando-me da mesa com um movimento brusco.
— Você sabe que não.
— Dona Beatriz... — A alerto, e ela sorri com doçura.
— Você precisa me libertar, querida. Quero descansar, encontrar o meu marido...
Uma lágrima solitária escorre dos meus olhos, e grito pela cuidadora.
— Pois não? — A menina surge esbaforida.
— Amanhã cedo vou ao médico dela. Avise-o para que me receba.
— Mas peguei os resultados dos exames dela esta semana; estão todos excelentes...
— Mesmo assim, dessa vez quero ir pessoalmente.
— Como quiser, senhora.
A noite avança, e o vento lá fora começa a soprar forte, prenunciando a chegada da
tempestade. Em minha mente, a preocupação com a segurança da minha tia aumenta, mas, por
ora, estou presa na mansão, incapaz de agir.
Dona Beatriz, com seus olhos sábios, parece compreender a agonia que me consome.
— Não fique aflita, querida. A tempestade passará. E, quando amanhecer, você poderá ir
ao encontro da sua tia.
— Eu espero que sim. — Murmuro, sentindo a ansiedade se acumular em meu peito.
— Às vezes, na vida, precisamos enfrentar tormentas para apreciar os dias de sol com mais
intensidade. — Dona Beatriz sussurra, quase como se conversasse consigo mesma.
A noite avança com trovões distantes e o som da chuva batendo nas janelas. O espetáculo
da natureza lá fora contrasta com a atmosfera serena do quarto de dona Beatriz. Estamos imersas
em pensamentos, cada uma lidando com suas próprias preocupações.
Finalmente, após um silêncio prolongado, ela quebra o encanto.
— Conte-me mais sobre como você e Oliver estão lidando com as adversidades.
— É complicado. Às vezes, parece que estamos caminhando em direções opostas.
— O casamento é uma jornada de altos e baixos, minha querida. Vocês são dois mundos
diferentes, mas a beleza está na dança que vocês podem criar juntos.
Sinto-me grata por essas palavras sábias, mesmo que carreguem a melancolia de quem as
pronuncia. Dona Beatriz parece querer transmitir lições que vão além do que meus ouvidos
podem compreender.
Aos poucos, o cansaço se instala, e a senhora adormece. Enquanto permaneço deitada ao
seu lado na cama de casal, observo a chuva lá fora, perdida em pensamentos sobre meu
casamento e sobre a incerteza que o futuro reserva.
No silêncio da noite, sou despertada pelo toque caloroso de mãos familiares que, a
princípio, me fazem soltar um pequeno grito de surpresa. Rapidamente, reconheço Oliver, que
me pega no colo com uma destreza que denota familiaridade.
Instintivamente, enrolo meus braços ao redor de seu pescoço, apreciando a segurança que
sua presença sempre proporciona.
Ele me carrega suavemente para fora do quarto da avó, e começamos a subir as escadas em
direção à nossa suíte. Em seu colo, sinto-me como se estivesse sendo transportada para um
mundo seguro, longe das tormentas que agitam a vida lá fora.
— Já te falei que sou pesada. — Resmungo, ainda envolvida por uma sonolência
reconfortante.
— Não para mim, querida esposa. — Ele responde com um sorriso, sua voz carregada de
um tom suave.
Minha cabeça repousa em seu corpo cheiroso enquanto ele me deposita suavemente em
nossa cama. Observo com carinho enquanto se despe do terno, a luz fraca do quarto delineando
seus contornos. Há algo tão íntimo nesse momento, a quietude da noite e a proximidade
reconfortante.
Deixo escapar um suspiro contente ao me aconchegar sob os lençóis familiares,
agradecendo pelo refúgio que a cama proporciona e pela presença tranquilizadora de Oliver ao
meu lado.
Sua expressão cansada, mas determinada, me faz lembrar que a noite não foi comum.
— Chegou tão tarde. — Reclamo, deixando-me cair no papel de esposa dengosa, mas a
resposta de Oliver é mais séria do que o habitual.
— A chuva, a cidade está caótica, tem árvores caídas, lutei muito para conseguir chegar em
segurança. — Seus olhos, que normalmente irradiam confiança, mostram uma inusitada
vulnerabilidade.
A menção da chuva é como um alarme em minha mente. Lembro-me da situação precária
em que minha tia Gleici se encontra, e a ansiedade se instala.
— Deus! Preciso tentar ligar para a minha tia. — Minhas mãos tremem enquanto procuro
pelo telefone.
— Por que? — A voz calma de Oliver contrasta com minha agitação.
— O lugar que ela mora é condenado pela prefeitura, pode cair a qualquer momento.
— Me dê o número dela e o endereço, deixe-me resolver tudo. — Oliver, sem hesitar,
oferece sua ajuda.
Confiante em suas habilidades, cedo os dados necessários e, em seguida, me retiro para um
banho demorado, procurando acalmar meus nervos. Ao sair, envolta na suavidade de uma
camisola, encontro Oliver na poltrona, apenas de cueca boxer, segurando um copo de uísque.
— Já está resolvido, querida, sua tia está segura. — Sua voz é um bálsamo para minha
ansiedade.
— Obrigada. — Agradeço, aproximando-me.
— Não me agradeça, aparentemente é isso que bons maridos fazem. — Seu tom é leve,
mas há algo mais profundo em seus olhos.
— Você é um bom marido, Oliver. — Falo, ajoelhando-me no chão à sua frente, e recebo
suas mãos acariciando meu rosto.
— E você é uma esposa incrível. — A resposta, carregada de sinceridade, acalma as
tempestades que a noite trouxe consigo.
Oliver continua acariciando meu rosto, seus olhos refletindo um misto de carinho e algo
mais que não sei ainda decifrar.
— Lia, eu... — Oliver parece procurar as palavras certas, como se quisesse expressar algo
profundo, algo que normalmente não compartilhamos.
— O que é, Oliver? — Encorajo-o, mantendo contato visual.
Ele suspira, como se a gravidade do que está para dizer pesasse em seus ombros.
— Eu não quero que tenha preocupações, sempre que algo a afligir, você me conta — Sua
voz é firme, mas há uma vulnerabilidade nela, uma rachadura na armadura que ele normalmente
usa.
— Certo, então suponho que fará o mesmo, certo? — Questiono, sentindo meu coração
bater mais rápido enquanto assisto seu olhar surpreso.
Oliver se ajoelha diante de mim, segurando minhas mãos.
— Eu gosto de como isso parece. — Seus olhos, intensos, buscam os meus em busca de
uma resposta.
— Eu também gosto disso, Oliver. — Digo, e vejo um sorriso sutil se formar em seus
lábios.
— Não quero mais segredos, Lia. Quero que possamos confiar um no outro. — Ele parece
determinado.
— Estamos juntos nisso, Oliver. — Respondo, apertando suas mãos.
Os olhos dele brilham com uma mistura de alívio e alegria, como se uma carga tivesse sido
retirada de seus ombros.
— Agora, deixe-me cuidar de você. — Ele se levanta, me pegando no colo com facilidade
e me levando até a cama.

O médico, sério e ponderado, conclui a análise dos exames enquanto minha atenção é
momentaneamente desviada pela mensagem tranquilizadora de minha tia. O alívio se mistura
com a tensão que paira no ar quando o médico pigarreia, chamando minha atenção de volta para
a sala.
— Doutor, eu quero que o senhor seja cruelmente sincero comigo a respeito da saúde dela.
Decidi vir sozinha ao geriatra, ando muito preocupada acerca da saúde dela. — Minhas palavras
saem, mostrando a vulnerabilidade que sinto.
O médico se recosta, mostrando compreensão em seus olhos, cientes do peso da situação.
— Lia, de acordo com o que me relatou, o fato dela só comer comida pastosa, o cansaço, a
confusão, provavelmente seus órgãos vitais estão começando a parar lentamente. Ao longo dos
anos, os órgãos e estruturas do corpo se desgastam.
A palavra "parar" ecoa na sala, e um frio percorre minha espinha.
— Acha melhor internar? — pergunto, ainda que a resposta esteja pesando no ar.
Ele retira o óculos, revelando olhos cansados que contam histórias de muitas conversas
difíceis.
— Os exames de sangue estão bons. Se quer que eu seja sincero... — Ele pausa por um
momento, me encarando diretamente, como se quisesse que suas próximas palavras fossem
absorvidas completamente. — Ela está bem, em casa, no lugar que ama, confortável. Prefere
internar aqui, deixá-la presa, exposta a infecções hospitalares que podem deixá-la realmente
debilitada?
Cada palavra dele é um soco de realidade, e uma luta interna começa dentro de mim
enquanto pondero sobre a escolha que se desenha diante de nós.
Meus lábios entreabrem, como é difícil as duas perspectivas.
— O senhor sugere que eu a veja morrer de braços cruzados?
— Amar também é deixar ir.
O médico fala com uma compreensão pesarosa, e eu tento assimilar a situação. Dona
Beatriz está em um limiar, e eu, entre a decisão de interná-la ou permitir que ela passe seus
últimos dias no conforto do lar, cercada por recordações que acumulou ao longo de uma vida.
— Lia, entendo que essa seja uma decisão difícil. Mas é importante levar em consideração
o desejo dela. Seu estado, embora frágil, permite que ela esteja em casa, onde se sente segura e
amada. — O médico tenta ser compassivo.
Meu coração pesa com a responsabilidade dessa escolha. Amar também significa deixar ir,
assim como o médico disse. Mas a ideia de perdê-la, mesmo que saiba que é inevitável, é
devastadora.
— Pense com cautela. — O médico sugere, percebendo a batalha interna que travo.
Concordo com a cabeça, agradecendo pela compreensão. Ele se retira do consultório, me
deixando sozinha com a decisão que paira sobre mim como uma nuvem escura.
Meus pensamentos se voltam para dona Beatriz, que, mesmo frágil, continua a me ensinar
sobre o amor, a vida e a importância de escolhermos o caminho que mais respeita os desejos
daqueles que amamos.
Enquanto olho pela janela, observo o céu, dividida entre o desejo de prolongar a presença
dela ao meu lado e a compreensão de que há momentos em que o maior ato de amor é permitir
que a jornada de alguém chegue ao fim em paz.
— Leve o desejo dela em consideração, todos esses mais de dez anos cuidando dela me
fazem acreditar que ela ia preferir ir embora na casa que tem memórias lindas com o marido do
que ficar presa ao hospital.
Levanto-me, sentindo o peso da decisão sobre meus ombros. O médico me entrega os
resultados dos exames, seus olhos expressando uma mistura de empatia e compreensão.
As palavras dele reverberam na minha mente. Casa. A palavra ressoa com significados
profundos. Dona Beatriz deseja partir em paz, na familiaridade do lar que construiu com seu
amado. Por mais difícil que seja aceitar, sei que o médico está certo.
— Obrigada, doutor. Por enquanto vou mantê-la em casa. — Respondo com a voz
embargada, tentando mostrar gratidão, apesar do turbilhão de emoções.
Saio do consultório, levando comigo o fardo da responsabilidade e a tristeza que envolve
o que está por vir. Não sei como vou lidar com a perda iminente, mas prometo a mim mesma
proporcionar à dona Beatriz o conforto e a dignidade que ela merece nos seus últimos momentos.
Capítulo 35: A dona de seu destino

Na tentativa de desanuviar minha mente sobre a saúde de dona Beatriz, pedi que o
motorista me trouxesse ao sítio no interior da cidade onde está minha tia.
Ao adentrar o sítio, sou imersa em um espetáculo visual encantador. Os campos se
estendem suavemente, preenchidos por uma diversidade de cultivos que dançam sob a brisa
suave. Os tons verdes são dominantes, pintando um quadro de serenidade e abundância.
Galinhas correm em grupos, ciscando a terra em busca de pequenos grãos. Patos passeiam
despretensiosamente, aproveitando a liberdade proporcionada pelo amplo espaço.
A casa, nada modesta em sua arquitetura, ergue-se como uma testemunha silenciosa do
tempo e do bom gosto. As janelas, adornadas por cortinas que balançam suavemente, sugerem
uma história de anos vividos, de histórias compartilhadas ao redor de uma mesa rústica e de
noites iluminadas por estrelas.
O aroma da terra molhada após a chuva recente impregna o ar, despertando uma sensação
de renovação. As plantações, meticulosamente organizadas, sussurram segredos de paciência e
trabalho árduo.
Ao longe, as montanhas se erguem majestosamente, suas silhuetas recortadas contra o céu
que passa por uma metamorfose de cores conforme o sol se prepara para se despedir, lembrando-
me que não posso demorar a voltar para casa.
Logo, vejo minha tia brincando com sua netinha.
— Lia, que visita boa!
— Precisava de te ver, como estão?
— Ótimos! Quero te agradecer, o emprego que seu marido nos deu vai ajudar demais.
— Emprego? Não estou sabendo. — Confesso, e minha tia sorri.
— Ele nos disse que o último caseiro desse sítio faleceu recentemente, nos ofereceu para
cuidarmos daqui, vai empregar todos nós, eu, minha filha e meu marido, e de quebra podemos
morar aqui, não é incrível?
— Claro. — Falo, ainda muito surpresa.
— Vou deixar fechado o meu barraco, afinal, aqui tem tudo do bom e do melhor.
— Fico muito feliz, tia.
Nos abraçamos, e a gratidão que sinto por Oliver não tem tamanho. Ele realmente vai
ajudá-los muito, lhes proporcionar um emprego digno, um teto seguro e essa paz. É tudo que
minha tia precisa para sua vida, tudo que sonhei poder lhe dar algum dia.
— Não posso demorar porque a viagem é longa. — Confesso, já sentindo falta do meu
marido.
— Certo, venha apenas conhecer o lugar rapidamente.
Fazemos um rápido tour, e eu reparo que o local não recebe visitas há muito tempo, afinal,
está empoeirado. Tenho certeza de que, em alguns dias, estará impecável, visto que minha tia é
como eu, apaixonada por limpeza.
Ao deixar este cenário, levo comigo não apenas a imagem visual, mas também a sensação
de ter experimentado um refúgio longe da agitação urbana, um lugar onde o tempo parece
desacelerar para permitir a contemplação da beleza simples da vida.
Quando me despeço de tia Gleici, tenho um sentimento ruim, afinal vou ter uma conversa
com Oliver nada leve e preciso me preparar para esse momento.

Ao adentrar a imponente mansão, deparo-me com Oliver, um retrato de serenidade em


meio à grandiosidade da casa. Seus olhos encontram os meus, e sem palavras, meu corpo
encontra o conforto que só os braços dele podem oferecer.
Corro até ele, uma corrida desesperada por um refúgio, por algo tangível para aliviar o
peso da notícia que carrego.
Abraço-o como se a solidez dos seus braços pudesse conter a agonia que ruge dentro de
mim. As lágrimas, companheiras silenciosas durante o dia, agora encontram liberdade para
escorrer.
Num pranto dolorido, deixo escapar as angústias que guardei enquanto tentava ser forte
diante do médico, mas agora, nos braços de Oliver, a fragilidade se revela.
— O médico... o diagnóstico para dona Beatriz é... é avassalador. — As palavras saem
entrecortadas, afogadas entre soluços. — Ele sugere que a deixe em casa, livre para a morte. Não
sei o que fazer.
Oliver, com a serenidade que lhe é peculiar, acolhe minhas palavras com paciência. Seus
lábios tocam o topo da minha cabeça, um beijo que carrega consigo a promessa de conforto.
— Se acalme, querida. — Sua voz é um bálsamo, e seu abraço, uma âncora. — O médico
está sugerindo o que ela quer. Precisamos respeitar os desejos dela. Agora, mais do que nunca,
devemos ser fortes. Oferecer a ela momentos incríveis dentro das limitações que a vida impôs.
— Eu não consigo aceitar, Oliver, todo mundo que me apego me deixa. — Fungo,
segurando-o com força, como se pudesse evitar que ele também se desvanecesse.
Ele responde com uma segurança que transcende as palavras:
— Eu não pretendo deixá-la nunca.
O calor reconfortante de suas palavras me faz encará-lo. A lembrança do nosso acordo
prévio surge, mas Oliver, com uma firmeza que desconcerta, corta-me antes que eu possa
mencioná-lo:
— Eu não me importo com o combinado, Lia. Você tinha razão. Eu gosto que seja a minha
esposa, e realmente gosto de ser seu marido. Gosto da nossa relação, e estou muito disposto a
tornar tudo real, se você também quiser.
Nossos olhares se entrelaçam, e um sorriso, mesmo entre lágrimas, surge nos meus lábios.
— É tudo o que eu mais quero, Oliver. — Sorrimos nos entreolhando.
— Sobre a minha avó, não se culpe, ela é teimosa e só faz o que quer...
Antes que ele possa defender seu ponto, um grito agudo ecoa do quarto de dona Beatriz, a
voz estridente da sua cuidadora.
O ar que me falta pela corrida é imediatamente substituído por uma onda de desespero
quando entro no quarto. A cuidadora está aqui, fazendo massagem no peito imóvel de dona
Beatriz, que repousa serenamente na cama.
— O que houve? — Minha voz sai ofegante, um eco do meu coração acelerado.
Ela responde com um tom grave:
— Ela não está respirando.
O movimento rítmico das mãos sobre o peito dela parece uma dança desesperada para
trazer de volta algo que se foi.
Sento-me ao lado de dona Beatriz, lágrimas já turvando minha visão.
— Não me deixe, volte pra mim. — Imploro, enquanto sinto as mãos de Oliver em meus
ombros, uma presença de conforto em meio ao caos. A cuidadora parece exausta, e minhas
lágrimas caem sem controle.
— Dona Beatriz! — Grito, como se a força do meu chamado pudesse trazê-la de volta,
mas é em vão. — Não desista! — Falo com a cuidadora. — Quer que eu fique no seu lugar? Liga
para o bombeiros.
Oliver se agacha, fecha os olhos da avó com uma ternura inimaginável. Retira com
suavidade as mãos da cuidadora e, olhando para a mulher que cuidou de cada detalhe da minha
vida, diz:
— Descanse em paz, vó. Seja feliz com o seu marido, que tanto queria reencontrar.
Obrigado por cuidar de todos os detalhes. Fique tranquila; nós nos cuidaremos a partir daqui.
E neste momento, eu sei que nada será como antes.
O vazio no quarto é palpável, como se uma peça vital tivesse sido removida, deixando
para trás uma paisagem emocional desoladora.
Capítulo 36: A força

Como um filme acelerado, todos os eventos se desenrolam diante dos meus olhos.
A mansão, que antes era um refúgio de tranquilidade, agora está repleta de policiais,
advogados da família e a comoção incontornável do luto.
Oliver se transforma momentaneamente em um executor de tarefas práticas, informando a
todos sobre o falecimento, coordenando a logística para trazer os familiares da Virginia para o
Brasil, decidindo sobre os trâmites do velório.
Enquanto isso, eu me vejo em um estado de atordoamento, uma testemunha impotente em
um momento de dor.
De repente, deparo-me com o corpo dela sendo cuidadosamente levado embora no seu
cobertor favorito. Um cobertor que, em outro momento, testemunhou a alegria da sua noite de
núpcias.
Fui eu mesma que a envolvi, em uma ação que parece surreal, como se eu estivesse
vivendo no automático, guiada pela inércia dos acontecimentos.
Mesmo abalada, uma força estranha toma conta de mim. Ordeno aos funcionários da casa
que preparem a mansão para as visitas que inevitavelmente chegarão para o velório mais tarde.
Dou instruções para garantir que nada falte, que as bebidas estejam geladas, que a comida
seja servida, as roupas de cama alinhadas nos quartos de hóspedes, aviso que usem a melhor
prataria da casa, afinal ela merece uma despedida a sua altura.
É como se, ao me afundar nas tarefas práticas, eu pudesse temporariamente escapar da dor
cortante que insiste em rasgar meu peito.
Enquanto lido com os detalhes, evito encarar o vazio deixado pela partida dela, pois sei
que, se o fizer, a dor será avassaladora.
Vou para o quarto dela, um espaço que antes irradiava aconchego e histórias vividas, e
agora é permeado pela ausência abrupta que parece preencher cada centímetro do ambiente.
Aqui, encontro a cuidadora, que está sentada, perdida em seus próprios pensamentos,
encarando o mundo lá fora como se buscasse respostas que nem mesmo o sol já nascendo pode
fornecer.
— Como foi? Ela sentiu dor? — Pergunto, tentando conter a emoção que ameaça
transbordar a qualquer momento.
A cuidadora desvia o olhar da janela e me encara, seus olhos compartilham a tristeza que
se espalha pelo quarto.
— Não, dei janta, a deitei, ouvi suas histórias de sempre com o marido, todas que você
deve conhecer. — Rimos fracamente, como se as lembranças pudessem, por um breve momento,
aliviar o peso do momento presente. — E então ela se calou, achei que tivesse dormindo, mas vi
uma lágrima solitária cair de seus olhos abertos, já sem vida, e comecei em vão a massagem
cardíaca, fiz tudo que pude, Lia.
A dura realidade da perda se infiltra em cada palavra, e meu peito parece comprimido,
prestes a explodir sob o peso da tristeza.
— Eu sei. — Fungo, ainda muito desolada. — Assim que os policiais te liberarem, vá para
casa descansar.
— Está certo.
— Eu pensei em interná-la contra a sua vontade. — Balanço a cabeça em negativa,
recordando a conversa dolorosa sobre internar dona Beatriz. — Oliver tem razão, ela fazia tudo a
sua maneira, partiu do jeito que quis, em casa, teimosa. — Brinco, tentando injetar um pouco de
leveza em um momento tão pesado.
Assim que fico sozinha no quarto, suspiro profundamente, sentindo o peso do dia se
acumular em meus ombros. O cansaço, físico e emocional, torna-se quase palpável, mas resisto a
me render a ele.
— Lia... — A voz de Oliver, carregada de fadiga, preenche o espaço quando ele adentra o
quarto. Seus olhos, espelhos de exaustão, encontram os meus. Ambos compartilhamos o fardo
desse dia tumultuado, mas Oliver, hábil em esconder as emoções, mantém a serenidade. —
Separe a roupa preferida dela para o velório.
— Vim aqui no quarto para fazer isso, mas não acha que seria melhor os filhos dela ver
esses detalhes?
Ele se aproxima, e sua presença traz consigo a aura de um conforto familiar.
— Bem... — Oliver pondera. — Meu tio e minha mãe ainda vão demorar muitas horas
para chegar, mesmo de jatinho, e além do mais, os advogados disseram que vovó deixou um
documento te nomeando como inventariante e testamentária.
— Dona Beatriz!
— Lia, assim que meu tio chegar, você vai ter que recolher a sua dor e ser forte, senão ele
vai te engolir viva. — Eu aceno positivamente. — Vamos enfrentar mais essa juntos, certo?
Concordo enquanto me aproximo e enlaço Oliver em um abraço. O calor dele se mistura ao
meu, e por um momento, a dor parece mais distante.
— Ela sabia que íamos precisar um do outro quando ela fosse embora. — Deixo escapar a
verdade crua.
— E ela estava mais do que certa. — A resposta de Oliver é acompanhada por um abraço
reconfortante, e eu me permito afundar nesse abraço como se ele fosse uma âncora em meio à
tempestade de emoções que nos cerca.
No aperto caloroso de seus braços, a solidão e a dor se tornam mais suportáveis.
— Vamos tomar um banho, você precisa se alimentar, não jantou, descansar um pouco,
afinal ao amanhecer tudo estará caótico por aqui. — A voz de Oliver, um farol na escuridão,
orienta-me.
O escuto atentamente e permito que cuide de mim, como se cada gesto fosse um curativo
para as feridas que a perda de dona Beatriz abriu.
Juntos, caminhamos até a nossa suíte, e no banho, nossos corpos se entrelaçam em abraços
que transcendem palavras.
O toque é uma válvula de escape para a tristeza que compartilhamos. A carícia é uma
tentativa de suavizar o peso da dor da ausência que paira sobre nós.
Na cama, uma ceia silenciosa nos aguarda. Apesar da falta de apetite, abro a boca,
permitindo que Oliver me alimente.
O gesto é recíproco, ele abre a boca recebendo o alimento que lhe dou, uma dança
simbólica de cuidado mútuo. Em meio à tristeza, encontramos consolo nos pequenos atos de
amor e gentileza.
Neste momento de dor, estamos cuidando um do outro, compartilhando o peso da perda e
encontrando conforto na presença um do outro.
Cada pedaço de comida torna-se uma forma de carinho, uma tentativa de nutrir não apenas
os corpos cansados, mas também as almas machucadas pela partida de dona Beatriz.
Após a silenciosa ceia, Oliver e eu nos deitamos na cama, ainda envoltos pelo luto que nos
cerca. Não há palavras que possam aliviar a dor, mas a presença um do outro se torna um
bálsamo reconfortante.
Oliver rompe o silêncio com um suspiro profundo.
— Lia, sei que está doendo. A perda da minha avó é um golpe difícil. Estamos aqui juntos,
e vamos superar isso.
Assinto, incapaz de formular palavras diante da magnitude da tristeza que carrego. Oliver
acaricia meu rosto com ternura e, em um gesto gentil, beija minha testa.
— Vamos enfrentar o que vier juntos, como ela queria. Amanhã será um dia difícil, com os
familiares chegando e os preparativos para o velório, mas não vou deixar você enfrentar isso
sozinha.
Seus olhos refletem uma determinação que me dá forças. Enquanto ele fala, percebo que,
de alguma maneira, nossa relação se fortaleceu com essa adversidade.
A tristeza nos uniu de uma forma que palavras não conseguem expressar.
— Oliver, eu... — tento começar, mas a voz falha. Ele sorri gentilmente, entendendo que
as palavras são insuficientes.
— Não precisa dizer nada agora. Descanse. Amanhã será um novo dia, e estaremos aqui
um para o outro.
Com um último beijo na testa, ele apaga a luz, e nos abraçamos, buscando consolo mútuo
na escuridão da suíte.
Capítulo 37: O confronto

O dia do velório amanhece cinza e pesado, parecendo refletir o luto que paira sobre a
mansão. O jardim imaculado é invadido por uma profusão de cores sóbrias, onde funcionários e
floristas trabalham incansavelmente para decorar o espaço, transformando-o em um cenário
digno da última despedida de uma matriarca magnífica.
A entrada principal da mansão é adornada com um arco de flores brancas e lilases, criando
um portal sereno que conduz os visitantes ao interior, onde uma cerimônia será realizada. À
medida que caminho pelos corredores, testemunho uma profusão de coroas de flores, cada uma
contendo mensagens de condolências e homenagens à dona Beatriz.
Os arranjos são majestosos, com lírios e rosas, flores que exalam uma fragrância suave,
preenchendo o ar com um perfume reconfortante.
Ao lado do caixão, repousam as coroas mais grandiosas. Uma delas é um espetáculo de
orquídeas brancas e antúrios vermelhos, uma homenagem da empresa que foi fundada pelo seu
marido.
Outra é uma explosão de girassóis, cada pétala representando a luz que ela trouxe a tantas
vidas.
Caminho entre as coroas, cada obra de arte floral, prestes a oferecer minhas próprias
condolências. As lágrimas são contidas, mas a tristeza permeia o ambiente.
A sala onde o velório ocorrerá está impecavelmente decorada, com velas acesas,
iluminando retratos de dona Beatriz em momentos felizes.
Um suave murmúrio de conversas ressoa à medida que os convidados começam a chegar,
rostos conhecidos e estranhos, todos unidos pela reverência à mulher que deixou uma marca
indelével em suas vidas.
— Senhora, os filhos e netos de dona Beatriz chegaram. — Avisa-me uma das
empregadas.
Como estou certa que tudo está em ordem por aqui, caminho para o outro lado da casa, em
busca de Oliver.
Ao entrar na sala de estar, vislumbro meu marido abraçando sua irmã Briana, cujo choro
ecoa pelos corredores.
É um lamento doloroso, uma expressão crua de perda. Observo a cena com respeito,
sabendo que esse é um momento íntimo para a família.
Contudo, a harmonia é interrompida pela presença imponente do tio de Oliver, Robert, um
homem que parece exalar uma aura de intriga e desconforto. Sua postura autoritária sugere que
ele não se agrada da minha presença.
— Menina, nos dê licença, esse momento é só para a família. — O intragável tio de Oliver
é quem diz.
Não aceito ser silenciada, enfrento Robert com firmeza. Meus passos são determinados, e
minha voz, embora carregada de respeito, transmite a clareza de meu lugar na vida de Oliver e,
por extensão, na família:
— Senhor Robert, caso não se lembre, eu sou esposa do Oliver, portanto sou da família. —
Me imponho, e ele me encara, semicerrando os olhos, apesar do medo que possuo, não retrocedo.
— Além do mais, fui informado pelos advogados da vovó que a Lia é a herdeira
testamentária de 50% de toda a parte disponível dos bens da vovó, portanto, tão essencial nas
decisões quanto você e minha mãe. — Oliver me defende.
— Isso é um absurdo, ela se aproveitou da idade avançada da minha mãe para fazer com
que lhe fosse doado tudo isso. — O grito de Robert é estridente, e me assusta, todos ficam tensos
com a reação.
— Dobre a língua para falar da minha mulher. — Oliver dá um passo à frente me
tampando e encarando o tio.
— Vamos todos nos acalmar. — Senhora Eleanor, mãe de Oliver, intervém entre o filho e
o irmão. — Vamos primeiro velar o corpo, depois conversamos sobre as questões jurídicas.
Os dois assentem, mas permanecem se encarando, seguro a lapela do terno de Oliver e
entro em seu campo de visão e peço:
— Vamos lá ficar perto do caixão, quero aproveitar todos os últimos momentos que
teremos juntas. — Cochicho e ele concorda.
O velório se desenrola, e permaneço ao lado de seu caixão, um farol solitário no oceano de
condolências.
Acaricio delicadamente seu rosto, como se pudesse despertar um último sorriso nos lábios
que agora repousam em uma quietude eterna. Meu toque é um afago de despedida. Os beijos
depositados suavemente na testa revelam a saudade que já se aninha no peito.
Lágrimas deslizam silenciosas, observo com pesar o corpo que já não exala o "cheirinho
doce" que tanto me reconfortou.
O perfume da memória se mistura com a fragrância das flores, criando um aroma agridoce
que permeia o ambiente, marcando o adeus a uma figura que foi mais do que uma matriarca, foi
a base de muitas histórias e afetos.
Foi feito um cortejo até chegarmos ao cemitério, e me vejo imersa em uma atmosfera de
grandiosidade e história.
Surpreendo-me com a exuberância do lugar, que se estende diante de uma vista
deslumbrante do Cristo Redentor, erguido como um guardião silencioso sobre a última morada
de tantas personalidades.
Caminhamos entre os túmulos, e a magnitude do cemitério se revela com cada lápide, cada
mausoléu.
Entre as sepulturas, encontro nomes célebres da política, arte, televisão e cinema. O túmulo
de Carmen Miranda é uma extensão do espírito alegre da artista. Carlos Drummond de Andrade
repousa em um jazigo que parece ecoar seus versos imortais.
A emoção me invade ao deparar-me com os túmulos de Tom Jobim, Cazuza, Dorival
Caymmi e outros ícones que dona Beatriz tanto admirava.
Imagino-a, sentada com todos eles contando seus causos.
Os túmulos imponentes, adornados com esculturas que homenageiam grandes
personalidades, são uma obra de arte à parte.
A cada passo, sinto-me em um museu a céu aberto, contemplando não a morte, mas sim, a
celebração da vida dessas figuras que marcaram suas respectivas áreas.
É um cemitério que transcende o luto, torna-se um local de reverência à história e à arte
que permeiam nosso país.
O calor sufocante parece intensificar-se enquanto o padre pronuncia palavras de conforto e
o caixão, agora fechado, é revestido por mensagens de afeto. Ao meu lado, Tia Gleici carrega sua
garrafinha de água, e a toalha de mão que usa para secar o suor.
Então, Oliver sussurra sobre a necessidade de se ausentar por um instante para tratar algo
com um sócio. Assinto, concentrada na cerimônia que se desenrola diante de nós, quando, sem
aviso, a voz de Robert rasga o ar.
— Sua pilantra, não pense que vai ficar com o dinheiro da minha família.
Um arrepio percorre minha espinha, e me viro para encará-lo, os olhos faiscando com
acusações infundadas na frente de todos.
— Você vai ter o que merece, sua interesseira, golpista! — As palavras maldosas ecoam
até que uma ação inesperada corta o silêncio pesado.
Tia Gleici, em um movimento surpreendente, lança o conteúdo da garrafinha de água
diretamente no rosto de Robert. O líquido frio o atinge, molhando-o por completo. Fico de boca
entreaberta, atônita diante da cena.
— Se refresca e pense muito bem antes de acusar minha sobrinha de qualquer coisa. — O
desafio nas palavras dela é claro, uma defesa inabalável diante das acusações injustas.
No rastro do tumulto, Alexander surge, envolvendo o pai de forma impositiva, arrastando-
o para longe. Enquanto observo essa cena, Oliver, com uma carranca que traduz indignação, se
aproxima.
— Nós vamos processá-lo, ele nunca mais vai ousar te insultar. — A determinação em sua
voz ressoa, ecoando a promessa de justiça.
Imagino o quanto seria difícil enfrentar esse homem, Robert, sem o apoio inabalável da
minha tia e de Oliver. Nesse momento, percebo quão meticulosamente dona Beatriz planejou
cada detalhe, inclusive a proteção e amparo que Oliver proporciona.
Capítulo 38: A negociação

Após o enterro da minha avó, minha tarde se desdobrou em um labirinto jurídico.


Encontrei-me em uma delegacia junto de Lia, onde nossas palavras se transformaram em uma
queixa formal contra meu tio.
Solicitei, então, a abertura de um inquérito policial, buscando a investigação dos crimes de
ameaça, injúria e difamação que ele lançou contra Lia.
Detalhamos, cuidadosamente, os eventos ocorridos durante o velório, indicando duas
testemunhas-chave que poderão corroborar para a nossa versão dos fatos.
A burocracia legal se estendeu diante de nós, um passo necessário na busca por justiça e na
proteção de Lia contra as acusações injustas e agressivas de meu tio.
Após deixar minha esposa repousando em nosso quarto, depois de um dia difícil,
direciono-me ao quarto de hóspedes onde minha irmã, ainda profundamente abalada, está
sozinha.
Embora meu coração esteja mergulhado na tristeza, sinto a responsabilidade que minha
avó depositou sobre mim para ser a fortaleza da família.
É hora de enfrentar os desafios que se avizinham, começando por oferecer apoio a cada
membro da família.
— Você está ciente de que agora terá responsabilidades na empresa, precisará assumir o
cargo que vovó lhe prometeu. — Ela diz, assim que me vê entrar, e sei que a cobrança é mais por
sentir minha falta do que qualquer outra coisa.
— É... — Minha resposta surge um tanto incerta. — Eu sei. Preciso conversar com a Lia
sobre isso, afinal, ela tem um forte vínculo com esta casa, e não sei por quanto tempo ficaremos
fora do Brasil.
— Acha importante que ela vá junto?
— Muito. — Minha confissão parece surpreender minha irmã. — Estamos juntos, e vamos
tentar fazer com que esse casamento seja real.
— Fico tão feliz por vocês, ela é uma mulher incrível.
— Eu sei. Sou realmente sortudo.
Abraço minha irmã com firmeza, permitindo que ela descanse agarrada a mim por alguns
preciosos minutos.
Em seguida, encaminho-me para o escritório, onde encontro minha mãe, entregue a uma
dose de uísque, buscando refúgio na bebida diante da dor da perda.
A expressão em seu rosto denuncia a complexidade de sentimentos que a acometem neste
momento difícil.
— A última vez que nos encontramos aqui no escritório, era eu o confuso bebendo. —
Brinco e ela sorri, mas percebo um tom de amargura em seu olhar.
— Mamãe realmente amava a Lia. — Ela comenta, e eu consigo captar uma ponta de
ressentimento.
— É compreensível. Não podemos ignorar que, no final da vida, negligenciamos bastante a
dona Beatriz. Não a visitamos por anos. A Lia era a única companhia dela nesta casa.
— Eu trabalho, tenho meu casamento para cuidar. Mamãe era teimosa, poderia muito bem
morar perto de nós.
— Um conselho, se me permite: não se lamente pelo que passou. Devemos ser gratos que
ela teve a Lia ao seu lado, lutando por ela, enquanto vivíamos nossas vidas.
— Não sei se concordo com isso, dela receber dinheiro nosso.
A conversa mistura arrependimentos, ressentimentos e questões financeiras, enquanto
todos tentam processar o luto de maneiras diferentes.
Minha paciência fica por um triz quando a minha mãe expressa preocupações sobre o
dinheiro deixado para Lia. Concordo com a decisão da minha avó, afinal é apenas parte da
herança dela e o que minha mãe e meu tio receberão já é substancial.
— Não é dinheiro nosso, é dinheiro da minha avó, e ela deixou para quem julgou que
precisava e merecia. Além disso, o que você e meu tio vão receber como herdeiros diretos já é
uma fortuna, fora o que já possuem da herança do vovô.
Minha mãe se levanta e se aproxima de mim, lançando-me um olhar penetrante.
— Você sabia que ela herdaria todo esse montante o tempo todo?
— Não, eu sabia que vovó deixaria alguns bens, mas não fazia ideia que seria 50% de sua
herança. De qualquer forma, isso não muda nada. Nossa família continuará bilionária por muitas
gerações.
— Só não vou me opor porque ela é sua esposa. Sei que a fortuna será gerida por você, que
é meu sangue, meu filho.
— Fico feliz em saber que você não vai se opor à vontade da sua própria mãe. Eu esperava
que você fosse justa. — Faço uma alfinetada sutil.
Nos encaramos por um instante, e no minuto seguinte, ela deixa o copo em cima da mesa
centenária e sai, deixando-me sozinho.
A tensão e as emoções são palpáveis, refletindo a complexidade da nossa família.
Percebo, mais uma vez, o intricado novelo de relações que minha avó habilmente teceu. O
apoio da minha mãe torna-se fundamental para agilizar o processo do inventário, evitando que se
arraste por décadas até chegar às mãos de Lia.
Vovó tinha uma visão clara do futuro ao incentivar meu casamento com Lia.
Ela antecipou que, unindo nossas vidas, garantiria o respaldo da minha mãe.
Caso contrário, Lia estaria lançada aos lobos, sem apoio, e tenho certeza de que minha mãe
não hesitaria em tornar todo o processo ainda mais oneroso para ela.
A trama intricada desenhada por minha avó se desdobra, revelando sua maestria em
antecipar e influenciar os movimentos daqueles ao seu redor, mesmo após sua partida.
No entanto, o meu tio... Vou ter que me preparar para a cartada final.
Caminho a passos decididos, pelos corredores da casa, e bato no quarto que foi dele por
toda a vida. Quando a porta se abre, ajeito minha postura e o encaro antes de dizer:
— Vamos negociar, tio.
Capítulo 39: A viagem

Dois toques discretos na porta capturam minha atenção, e, prontamente, me levanto com a
promessa de "já vou". Envolvo-me em um roupão para apresentar uma imagem mais composta
antes de abrir a porta.
Ao destrancar a entrada, meu relaxamento é evidente ao identificar Briana, a irmã de
Oliver, do outro lado.
— Desculpe por te acordar, mas preciso saber de Oliver se devo reservar dois lugares no
jatinho para vocês, e a partida seria já amanhã.
— Não estou sabendo dessa possibilidade de viagem — confesso, curiosa.
— Um dos desejos expressos da vovó era que Oliver assumisse o posto mais alto na
empresa, superando meu tio.
— Ah, é verdade — recordo-me, conectando as peças do quebra-cabeça, percebendo que
essa era a parte do acordo que levou Oliver a decidir se casar comigo.
A ficha cai, e percebo a magnitude do impasse em que nos encontramos. Oliver,
assumindo o cargo de liderança na empresa, terá que estabelecer sua residência na Virginia.
Enquanto isso, eu enfrento a questão da herança de dona Beatriz, com a responsabilidade
adicional de verificar e cuidar de algumas das propriedades que estão visivelmente
negligenciadas.
Em meio a esse turbilhão de tarefas, também temos o compromisso de manter nosso
casamento em movimento, dando vida à promessa que fizemos.
É como se estivéssemos equilibrando malabares, tentando harmonizar duas esferas de vida
que parecem divergir.
— Certo, então vou continuar o procurando pela casa, bom descanso, Lia.
Despeço-me de Briana e permito que a solidão se instale por um momento.
Na penumbra da noite, envolta pela dualidade de sentimentos, o céu noturno, pontilhado de
estrelas, parece refletir a complexidade de emoções que dominam meu coração.
A saudade de dona Beatriz é uma presença palpável. Cada canto da mansão, cada sombra
nos corredores, sussurra memórias daquela que foi não apenas a matriarca, mas também minha
amiga e confidente. A ausência dela é uma lacuna profunda, e meu peito se aperta com a dor da
perda.
Ao mesmo tempo, a alegria espreita após a certeza de que Oliver deseja manter nosso
casamento, de que estamos dispostos a enfrentar desafios juntos, é um raio de luz que rompe a
escuridão.
É como se dona Beatriz, em sua sabedoria, tivesse tecido fios invisíveis que nos ligam,
como se ela soubesse que realmente íamos nos apaixonar.
Respiro fundo, absorvendo a noite e seus contrastes. O futuro se estende diante de mim
como um vasto horizonte, repleto de desafios, mas também de possibilidades.
Neste momento de introspecção, prometo a mim mesma abraçar tanto a saudade quanto a
alegria. Dona Beatriz pode não estar fisicamente presente, mas seu legado de amor, sabedoria e
resiliência continua a me guiar.
E com Oliver ao meu lado, enfrentaremos o desconhecido, confiantes de que, no tecido
intricado da vida, cada desafio é uma oportunidade de fortalecer os laços que nos unem.
No silêncio da suíte, Oliver entra com o peso do mundo refletido em seus olhos fundos.
Cada linha em seu rosto conta histórias de um dia intenso e desafiador. Sem pensar, vou ao
seu encontro e envolvo-o em um abraço, buscando conforto em sua presença sólida.
Seu paletó, que carrega vestígios do dia tumultuado, torna-se minha âncora quando o
agarro e inspiro seu cheiro.
— Você precisa descansar — afirmo, mas minhas palavras carregam a compreensão de
que a fadiga vai além do físico, estendendo-se até as profundezas da alma.
Oliver, ainda envolto na seriedade das responsabilidades que o aguardam, suspira, e seus
braços envolvem-me em resposta.
A dualidade do momento paira no ar, entre a necessidade urgente de repouso e a inevitável
demanda por diálogo e decisões.
— Necessito, mas ainda há tanto para resolver, e precisamos conversar — murmura, e sua
voz carrega o peso das responsabilidades que agora repousam sobre nós.
Caminhamos em direção à cama, um refúgio temporário desse turbilhão. A suíte, que antes
era um santuário privado, agora tornou-se um palco para as conversas difíceis e as decisões
cruciais que moldarão nosso futuro.
Ao nos sentarmos, o silêncio inicial é interrompido pelo suspiro compartilhado, uma
expressão mútua de exaustão e resiliência.
Estamos unidos pelo compromisso de enfrentar o desconhecido juntos, mesmo quando as
circunstâncias conspiram para nos desestabilizar.
A atmosfera na suíte ganha um novo tom quando abordo a questão que paira entre nós:
— É a respeito da viagem à Virginia que você quer conversar? — pergunto, e o olhar de
Oliver antecipa uma conversa que transcende as formalidades cotidianas.
Antes que ele possa articular completamente seus pensamentos, corto-o com uma
determinação surpreendente:
— Você é meu marido, estarei onde você precisar que eu esteja. — A confiança em
minhas palavras parece surpreendê-lo. — O que preciso levar na mala? Apenas me oriente sobre
o que levar e quando, e vou estar pronta para irmos.
A expressão de Oliver passa de surpresa para gratidão, e ele responde com gestos
afetuosos. Beija o topo da minha cabeça, desce para minha bochecha e, finalmente, sela nossos
lábios. A troca silenciosa de promessas paira no ar, uma promessa de enfrentar os desafios
vindouros juntos.
Assentindo, nossos corpos se envolvem em um abraço, como se essa união física pudesse
solidificar os votos não ditos. Em meio ao peso das responsabilidades, encontramos refúgio nos
braços um do outro.
— Finalmente vou conhecer o enxoval que fiz com tanto carinho. — Brinco, buscando
aliviar a tensão que permeia o ambiente.
— E esse enxoval finalmente vai sair das caixas de papelão. — Rimos, permitindo que
um lampejo de leveza dissipe momentaneamente a complexidade da situação.
Internamente me pergunto o que me aguarda na Virginia.
Capítulo 40: A rotina

A marcação da leitura do testamento de dona Beatriz para o próximo mês nos dará um
período considerável morando na Virginia.
Assim que aterrissamos, entendo o desespero de Oliver em me comprar roupas de frio
adequadas, mesmo que eu o tenha mostrado que possuo casacos de moletom.
Apesar de minha insistência sobre a praticidade e suficiência dos meus agasalhos, Oliver
permaneceu decidido a garantir que eu estivesse devidamente preparada para o inverno rigoroso
da região.
Seus olhos, marcados por uma preocupação genuína, revelam agora uma vertente protetora
que, ao mesmo tempo, me comove e me faz sorrir diante de sua razão.
É evidente que, para ele, meu conforto e bem-estar são prioridades absolutas. Talvez essa
atenção minuciosa seja uma expressão do receio de me ver enfrentando desconfortos em um
ambiente tão distinto do que estou acostumada.
E agora o entendo, afinal estou verdadeiramente assustada com essa temperatura negativa.
O frio cortante faz meus lábios doerem e até os pelos do meu nariz parecem congelar, uma
experiência completamente desconhecida para mim.
Agradeço mentalmente quando entramos no carro e sinto o calor reconfortante do
aquecedor.
Essa simples mudança de ambiente me traz um alívio imediato, porque, sinceramente,
estava cogitando seriamente pegar o próximo voo de volta ao calor escaldante do Rio.
A sensação de passar do frio congelante para o ambiente aquecido do carro é como
encontrar um oásis no meio das geleiras, e começo a reconsiderar minha disposição para
enfrentar esse inverno rigoroso.
— Você está bem? Aquecida? — Oliver pergunta, preocupado, enquanto eu aceno
positivamente, tentando movimentar meu corpo que parece congelado.
Enquanto possuo casacos enormes que aumentam meu tamanho umas 3 vezes, gorro e
luvas, Oliver está apenas em um sobretudo elegante.
— Como vocês conseguem viver nessa temperatura tão extrema? Deus do céu! Não me
imagino ficando nua, nunca vamos transar aqui nessa cidade, Oliver. — Faço um comentário
descontraído, mas com uma pitada de preocupação genuína.
Ele ri do meu devaneio, mas parece entender a seriedade por trás das minhas palavras.
— Em casa, temos um aquecedor potente. Você não vai sentir tanto frio, prometo. E sobre
transar, bem, vamos encontrar maneiras de aquecer as coisas. — Ele pisca, tentando me
tranquilizar.
A ideia de morar em um lugar com invernos rigorosos começa a parecer mais palatável,
especialmente com a perspectiva de um ambiente acolhedor em casa. Ainda assim, acho que vai
levar um tempo para eu me acostumar com essa mudança radical de clima.
Olho através da janela enquanto ouço Oliver dar ordens ao motorista e conversar em inglês
ao telefone com uma tal de Emily, que segundo ele é sua assistente pessoal. A paisagem da
Virginia é verdadeiramente encantadora.
As vastas extensões de terra se estendem até onde a vista alcança, pintadas em tons de
verde e dourado. Colinas ondulantes desenham um cenário pitoresco, pontuado por árvores
majestosas. Há uma serenidade palpável no ar, e o silêncio é quebrado apenas pelos suaves
murmúrios do vento e pelos ocasionalmente audíveis sons da natureza.
As estradas serpenteiam por entre as colinas, revelando vistas panorâmicas que capturam a
beleza desta região. A Virginia, com sua atmosfera tranquila e cenas bucólicas, parece um
refúgio onde o tempo desacelera, convidando à contemplação e ao apreço pela natureza que a
envolve.

Assim que entro no apartamento de Oliver, sou envolvida por uma atmosfera de tons claros
que permeiam todo o ambiente. Os móveis e a decoração se alinham em uma paleta de brancos
suaves, cremes e nuances de cinza, criando uma estética que, à primeira vista, pode parecer mais
a sala de espera de um clínica do que aconchegante.
As paredes, pintadas em um tom neutro, proporcionam uma tela de fundo para obras de
arte minimalistas, conferindo uma sensação de modernidade e simplicidade elegante. A
iluminação, suave e difusa, realça a tranquilidade do espaço, mas também contribui para uma
impressão de formalidade.
Ao observar mais de perto, noto que cada detalhe foi cuidadosamente selecionado, desde
os tapetes de texturas macias até os móveis de linhas limpas. O apartamento parece projetado
para a funcionalidade e o conforto, embora a estética minimalista possa inicialmente transmitir
uma sensação de frieza.
Engulo minhas críticas enquanto me dirijo diretamente para as caixas no fundo da sala,
sentindo uma ansiedade crescente à medida que me preparo para descobrir mais sobre o novo
capítulo da minha vida nesse ambiente que, à primeira vista, parece distante do conceito de um
lar acolhedor.
— Achei que fosse querer descansar. — Ele diz, com uma nota brincalhona em sua voz.
— Não, preciso ver esse enxoval aqui antes.
Oliver se acomoda ao meu lado no chão e começamos juntos a desembrulhar os itens que
escolhi com muito carinho.
Ele me deixa à vontade para organizar tudo do meu jeito, e começo a percorrer o amplo
apartamento, imaginando como vou personalizar cada canto.
As peças do enxoval ganham vida à medida que as arrumo nos espaços designados. Cores
suaves e texturas aconchegantes começam a transformar o ambiente inicialmente neutro.
Oliver observa, paciente e interessado, enquanto eu me movo pela sala, imaginando onde
cada objeto encontrará seu lugar definitivo.
A experiência é um exercício de descoberta e expressão, uma chance de fazer deste espaço
uma verdadeira casa. À medida que as caixas se esvaziam e os detalhes se revelam, o
apartamento de Oliver deixa de parecer apenas um local temporário e começa a se transformar no
cenário onde parece que realmente há vida.
Quando ele aparece um pouco depois de mencionar que ia preparar algo para nós, vejo-o
com um sorriso acolhedor, convidando-me para jantar algo que foi ele quem cozinhou.
— Não é nada elaborado. Macarrão com queijo, tradição americana. — Ele diz, enquanto
observa o refratário quente na mesa posta.
— Certo, macarrão e queijo nunca podem dar errado. — Brinco, sentando à mesa ao seu
lado e servindo-me.
Saboreamos uma refeição simples, mas reconfortante.
— Esta é nossa primeira refeição juntos em seu lugar. — Comento.
— Eu gosto de tê-la aqui. — Ele diz tocando minha mão.
— Gosta até mesmo das minhas intervenções estéticas no seu lugar? — Brinco e ele sorri.
— Na verdade, não tenho muito apego a este apartamento, já que, na verdade, fico mais na
empresa do que aqui.
— Passa mais tempo trabalhando do que em casa? — Arregalo meus olhos. — Eu era
assim com a sua avó, mas isso porque éramos companheiras uma da outra.
— Eu entendo. — Ele intensifica o aperto em minha mão e sorri fracamente. — Passo
tempo demais trabalhando, existe a necessidade de me provar o tempo todo. — Confessa.
— No Brasil, você não sentiu tanta pressão.
— Não, lá é diferente. — Ele diz, mas não aprofunda. — Lia, amanhã vou precisar passar
o dia na empresa, não queria que ficasse sozinha em um lugar novo que não conhece, mas não
tenho como fugir disso.
— Não se preocupa comigo, vou passar o dia amanhã decorando tudo aqui.
Assim que terminamos de jantar, Oliver me surpreende com a suíte transformada em um
lugar de clima romântico. A banheira está cheia, envolta por espumas delicadas e pétalas de rosas
vermelhas que flutuam na água perfumada.
— Que linda! — Comento, observando a atmosfera romântica que ele preparou, louca de
vontade de mergulhar nesse cenário encantador.
— Pensei em tomarmos um espumante juntos na banheira, para relaxar um pouco da
viagem, o que acha? — Ele diz às minhas costas, e sua voz suave, combinada com a
proximidade, me causa um arrepio na pele.
— Excelente.
O ambiente está preenchido com uma suave luz de velas, criando uma atmosfera
acolhedora e relaxante. As pétalas de rosas parecem dançar na água enquanto Oliver abre uma
garrafa de espumante. O som do champanhe sendo despejado nas taças ecoa no quarto, e o aroma
doce da bebida se mistura ao perfume das rosas.
— Parece que você pensou em todos os detalhes. — Agradeço, enquanto ele me entrega
uma taça.
— Na verdade pedi a minha assistente pessoal. — Confessa.
— O que vale é a intenção.
— Quero que sua primeira noite aqui seja especial. — Seus olhos refletem a luz das velas,
transmitindo ternura.
Diante um do outro nos despimos, nos entreolhando, sem afobação, quando ele fica nu,
acaricia seu pênis já ereto, enquanto me olha. Mordo os lábios sentindo a necessidade de me
entregar a ele, meu marido.
— Venha! — Estende a mão e a pego.
Entramos na banheira, e o calor da água contrasta com o frio que senti lá fora. As bolhas de
espuma criam uma espécie de refúgio privado. Brindamos a essa nova fase, aos desafios que
enfrentaremos juntos.
— À Virginia, ao nosso novo lar. — Oliver propõe o brinde, e nossas taças se encontram.
Beberico e em seguida colo meus lábios nos dele, sinto o gosto do espumante em sua
língua enquanto a sugo, ele me coloca sentada em cima de seu colo, e não demora a me penetrar.
— Senti tanto falta disso. — Rosna, enquanto tento me acostumar com seu tamanho, nunca
é fácil.
Ele belisca meus mamilos e mordisca meu pescoço, começo a rebolar, levando-o fundo,
enquanto a agua da banheira se movimenta.
— Você disse que nunca transaria nesse país, não é?! — Ignoro seu deboche porque já
estou totalmente entregue ao clímax.
Quando ele junta meu cabelo em um rabo de cavalo em sua mão e agarra firme minha coxa
com a outra, seguro-me na borda, porque sei que as estocadas serão insanas.
E não poderia estar mais certa, apenas me rendo e reviro os olhos quando o orgasmo me
atinge.
A mudança para a Virgínia trouxe consigo uma avalanche de mudanças na minha rotina.
Meu dia, antes preenchido com a agitação da mansão e a companhia dos empregados, agora
transcorre silenciosamente no amplo apartamento.
Oliver, consumido pelo trabalho, só retorna quando a noite já engoliu o dia, na maioria das
vezes o sono me leva antes que eu possa vê-lo chegar.
A barreira do idioma intensifica a sensação de isolamento. Sem conseguir me comunicar
plenamente com os locais, vejo-me relutante em explorar sozinha os arredores, o que me deixa
confinada à nova morada. O frio, quase insuportável para alguém acostumado ao clima tropical,
se torna também um desafio diário para sair de casa.
No íntimo, anseio pelos dias ensolarados no quintal da mansão, pela presença dos
funcionários que se tornaram uma espécie de família, e pelo calor humano de Oliver, que agora
parece uma visita dentro de casa.
Os dias aqui na Virgínia têm se estendido como uma vasta planície de solidão. Apesar do
calor acolhedor da nossa nova casa, há um frio emocional que parece mais penetrante do que a
temperatura gelada lá fora. Oliver, imerso no trabalho, é como um espectro que entra e sai,
muitas vezes me deixando esperando por um retorno que ocorre tarde demais, quando a
escuridão já tomou conta.
Hoje, porém, uma alegria inesperada atravessou a monotonia. Briana, a irmã de Oliver,
veio me visitar. Sinto que a visita foi a pedido do meu marido, tentando aliviar a minha solidão.
Inspirada, limpei a casa meticulosamente e preparei um lanche reforçado, buscando criar
um ambiente acolhedor para ela.
A conversa entre nós duas flui leve, e as xícaras de café se tornam aliadas nesse momento
descontraído.
— Então, como está sendo viver o sonho americano? — provoca ela, e meu sorriso se
mistura a uma expressão de quem está tentando se adaptar.
— Sinceramente? Entendo completamente por que dona Beatriz e o marido fugiram para a
mansão e largaram os negócios. — soltei, expressando as pequenas frustrações cotidianas.
Briana ri alto.
— Não é assim tão ruim...
— Não tem ralo no banheiro? Não tem tanque, não tem ralo na cozinha. Estou louca para
jogar água no chão desse apartamento para sentir realmente limpo. — Despejo meus devaneios e
ela gargalha.
— Lia, você é muito divertida, tenho que vim vê-la mais vezes. — Respira fundo, após a
risada e pergunta. — Me diga ao menos uma coisa boa daqui.
— Uma coisa boa aqui são os produtos de limpeza, têm uns milagrosos, mas sinto falta de
jogar água no chão. — Faço um bico, brincalhona.
— Lia, você é realmente adorável. — Briana diz, retribuindo o sorriso, e por um instante, a
saudade de casa parece mais suportável.
Sentadas no sofá impecavelmente branco, me aproximo de Briana com uma pergunta
inquieta pairando no ar.
— Queria te perguntar como estão os ânimos entre Robert e Oliver, ele não me entrega
nada, e fico realmente preocupada. — A encaro, sentindo o peso da ansiedade.
— Contrariando a todas as expectativas, os dois estão se dando muito bem. — Briana
responde, e a surpresa se reflete em meu rosto.
— Sério?!
— Sim, e o mais estranho é que até agora o Oliver não foi nomeado como presidente das
empresas.
— Era a vontade da dona Beatriz. — Penso alto.
— Eu sei, mas desconfio que isso esteja prestes a acontecer. Afinal, desde quando voltou
para cá, Oliver tem treinado o Alexander para assumir seu cargo.
— Ele sonhou muito com essa presidência. — Falo sem ânimo.
— E como vai ser quando ele assumir? Vai morar aqui de vez?
— Ainda não conversamos a respeito, mas suspeito que sim. — Dou de ombros. — Estou
muito feliz por ele, Briana, muito feliz mesmo, e ao mesmo tempo, muito triste por mim.
— Imagino, Lia. — Briana responde, e suas palavras ecoam, preenchendo o espaço com
uma mistura de sentimentos.
— Aqui é a vida dele, o trabalho, mas não me encaixo, sinto falta de ter um quintal, cuidar
do jardim, tomar sol todos os dias, ter com quem conversar, ir visitar minha tia, nem sei como
vou fazer para retocar meu cabelo loiro. — Desabafo, e rimos juntas da minha forma aleatória.
— E tenha certeza que depois que ele assumir a presidência, a vida ficará ainda mais
exigente, viagens a todo tempo, ele vai precisar se empenhar cada vez mais.
— Eu imagino que sim.
— Mas, tenho certeza que encontrarão um meio termo.
Fico quieta por um momento, ponderando sobre as palavras dela, porque infelizmente não
compartilho dessa mesma certeza.
O futuro parece um nevoeiro, e eu tento encontrar algum vislumbre de clareza.
Capítulo 41: O amor

Na véspera da nossa viagem de regresso ao Brasil para a leitura do testamento de dona


Beatriz, temos uma noite de gala, a festa das empresas da família Harrison, que todos acreditam
que será o momento em que Oliver será nomeado presidente das empresas.
Ele está deslumbrante em seu terno impecável, uma obra-prima de elegância e sofisticação.
O conjunto é negro, um tom profundo que realça a nobreza do tecido.
Seu paletó, cortado com precisão, delineia seus ombros largos, e a camisa branca de linhas
nítidas ressalta a força de sua postura.
A gravata, da mesma tonalidade do terno, está cuidadosamente ajustada, realçando a
seriedade da ocasião e adicionando um toque refinado à sua aparência. Seu cinto e sapatos,
também pretos, completam o conjunto com perfeição.
Seus olhos, enquanto me observam, são um misto de determinação e ternura. Eu, ao ajustar
a lapela, sinto-me um contraponto de sua elegância, mas ele sempre faz questão de destacar que
sou sua verdadeira joia.
Ajeito a gravata de seu terno impecável, e ele mais uma vez me olha do jeito profundo que
sempre me apaixona.
— Você está tão linda. — Repete pela terceira vez, e isso não acalma meu coração bobo
batendo acelerado.
O vestido prateado abraça meu corpo de maneira elegante, com seu corte impecável que
marca minhas curvas de forma sutil.
Os cristais que adornam a peça cintilam sob as luzes, espalhando brilho por onde eu passo.
O decote em V, ousado na medida certa, acrescenta um toque de sensualidade à minha
imagem. A saia longa flui suavemente até o chão, conferindo um ar de graciosidade a cada
passo.
Sinto-me como se estivesse envolta em uma aura de confiança, mesmo que a insegurança
ainda piscasse em algum lugar dentro de mim.
— Preciso me desculpar, neste último mês estive muito ausente, prometo recompensá-la
em breve. — O tom cansado em sua voz denota as longas horas dedicadas à empresa, um esforço
que não passa despercebido por mim.
Os olhos dele, embora cansados, carregam um brilho de sincera gratidão por minha
compreensão.
A sinceridade do seu pedido de desculpas encontra eco em meu coração, e a promessa de
recompensa em breve lança uma ponte de esperança sobre as águas agitadas da ausência.
Minha mão encontra a dele, em um toque suave que transcende as palavras não ditas, uma
tentativa de transmitir que, apesar da distância, estamos conectados por laços mais profundos.
— Sinto muito a sua falta. — Confesso. — Mas entendo que o seu trabalho exige muito do
seu tempo, só espero que isso não nos afaste mais. — Calo-me tentando não chorar, para não
borrar a maquiagem que a maquiadora brasileira que Briana me arrumou.
— Lia... — Os dedos de Oliver deslizam suavemente pelos meus cachos soltos no coque
lateral, um gesto carinhoso que busca me confortar. — Sinto muito a sua falta também, mas do
que podia prever.
Minha resposta, após um breve silêncio, é um compromisso. Reconheço os desafios que a
nova posição poderá trazer, mas estou aqui para apoiá-lo.
— Creio que será nomeado presidente das empresas hoje, e apesar de saber que será um
desafio grande, saiba que estarei aqui para você. — Minha voz, embora firme, esconde uma
pontada de vulnerabilidade, a expressão de uma verdade simples: eu estaria ao seu lado, não
importando as tempestades que o futuro nos reserve.
— Mesmo odiando morar na Virginia, ficará por mim?
— Eu odeio aqui, mas amo você, então eu sempre ficarei onde precisar de mim. —
Confesso a verdade em meu coração, eu amo esse homem. — Mesmo congelada, estarei aqui
para você. — Brinco e ele sorri.
— Diga novamente o que sente por mim. — O pedido é feito em um rosnado possessivo, e
sem nenhum pudor repito:
— Eu te amo, Oliver.
Recebo um beijo casto em minha testa, e logo o celular dele toca, quebrando o nosso
momento.
— Precisamos ir agora. — Ele diz, e meu coração se quebra um pouco por não receber seu
amor de volta, mas logo visto o meu melhor sorriso e o sigo.
— Estou pronta.
A festa da empresa desdobra-se em um espetáculo de sofisticação e formalidade. O salão,
decorado com requinte, exibe cores sóbrias e detalhes que transpiram elegância.
Lustres suntuosos irradiam uma luz suave sobre a multidão, que se move com uma
coreografia de cumprimentos e conversas, uma sinfonia de línguas que variava entre o inglês e
outros idiomas menos familiares.
As pessoas, imersas em suas vestimentas deslumbrantes, cruzam olhares rápidos enquanto
circulam entre pequenos grupos.
As conversas são, em sua maioria, em inglês, criando uma barreira linguística que eu
enfrento com um sorriso polido e cumprimentos simples.
Os rostos, por vezes, parecem distantes, ocupados com discussões de negócios e acordos
corporativos.
Enquanto eu navego por esse mar de formalidade, tento permanecer graciosamente à
margem, sorrindo e respondendo aos cumprimentos com um "Hi" educado.
O cenário, embora deslumbrante, é um desafio cultural mas mantenho a elegância que
Dona Beatriz havia me ensinado. Em meio à multidão, sempre tenho Oliver por perto.
A atmosfera pulsante da festa envolve cada canto do salão, e meu marido permanece ao
meu lado, trocando palavras com outros executivos em uma conversa de negócios. Aproveito a
brecha para escapar até o bar, onde uma caipirinha oferece um gostinho de casa.
Enquanto degusto a bebida, posso sentir o calor do olhar de Oliver queimar minhas costas,
uma conexão que transcende as palavras.
Em um momento de distração, meu olhar captura uma figura feminina cujo rosto me
parece estranhamente familiar.
Ergo levemente as sobrancelhas, tentando desvendar o mistério. Então, como se um véu se
levantasse, Briana aparece ao meu lado, trazendo clareza à situação.
— Oliver vai me matar, eu não sei como Katie entrou. — As palavras de Briana, cheias de
urgência, penetram minha consciência.
É a modelo ex-namorada de Oliver, Katie, a mulher que agora me encara. Os seguranças já
se aproximam para contornar a situação.
— Está tudo bem. — Comento, tentando manter a calma diante do inesperado.
Meu olhar percorre Katie de cima a baixo, uma beleza que parece ter sido esculpida por
mãos habilidosas. Apesar do desconforto da situação, uma ponta de admiração escapa enquanto
observo a mulher que, em algum momento, esteve profundamente ligada a Oliver.
Observo enquanto um segurança sussurra algo no ouvido de Katie, e o vermelho de raiva
toma conta de seu rosto ao seguir para a saída, acompanhada de perto pelos seguranças.
A tensão se dissipa, mas Briana não deixa o momento passar em branco.
— O que está sentindo ao vê-la? — Ela pergunta, curiosa, e respondo com um simples dar
de ombros.
— Eu podia me sentir insegura, mas não é o que sinto. O que construí com Oliver parece
algo muito sólido. — Encaro Briana, transmitindo a confiança que tenho na relação. Um sorriso
escapa de seus lábios, concordando com minhas palavras. — Ele gosta de mim como um todo,
elogia meu caráter, meus princípios, ouve minhas ideias, reclamações, cuidou de mim quando
fiquei vulnerável após a morte de dona Beatriz e me permitiu cuidar dele também. A ex dele é
uma modelo, uma mulher lindíssima, mas eu... Nós dois, somos mais que isso.
Briana reflete por um momento, depois sorri em entendimento.
— Você amadureceu, Lia.
— É realmente o que sinto. — Confesso, reafirmando a solidez dos laços que compartilho
com Oliver.
— Eu fico tão feliz que tenha essa segurança, meu irmão mudou muito desde que te
conheceu, é mais empático, se preocupa mais com a família, em querer agradar. Você foi uma
mudança boa na vida dele.
As palavras de Briana tocam meu coração, e neste momento emocionante, meu marido
surge ao meu lado com um toque de ciúmes na voz rouca.
— Achei que fosse casada comigo, não com Briana. — A rouquidão em sua voz entrega
que não gostou de minha ausência.
— Não seja ciumento, irmão. — Briana cutuca, e tento esconder uma risadinha.
— Queria te deixar à vontade, como me achou? — Defendo-me.
— Eu posso estar no meio de uma multidão, e ainda assim não vou perder você de vista,
querida esposa. — Ele me assegura com ternura, dissipando qualquer nuvem de ciúmes no ar.
No mesmo momento em que Robert surge no palco, ele começa a falar em inglês, e eu
suspiro, afinal, não entendo uma palavra sequer.
— Você fica tão sexy falando inglês, enquanto seu tio permanece sem graça. — Sussurro,
e ele sorri.
Então, Alexander sobe ao palco, ao som de aplausos e não entendo o motivo até que Briana
encara o irmão de lábios abertos.
— Você abriu mão da presidência? — Ela diz, parecendo pálida, e então encaro meu
marido.
— Sim — ele assume. — Ficará nas mãos de Robert e depois seguirá para você ou
Alexander.
— Por que você abriu mão do cargo que sua avó deixou? Era parte do acordo... — Digo,
muito confusa.
— Eu não abri mão, o cargo que ela me deixou é o de ser seu marido, de formarmos uma
família e disso não estou abrindo mão.
— O que está dizendo, Oliver?
— Que a minha rotina antiga não me cabe mais, meus sonhos mudaram, ser presidente das
empresas e não ter tempo para mais nada além disso, não é o que quero. Passei o mês inteiro
treinando meu primo para assumir o meu lugar, por isso minha ausência.
— E o que você quer? — Pergunto, sentindo as lágrimas caírem, tamanha a emoção.
— Eu quero gerir as empresas do Brasil, morar na mansão que foi a melhor parte da minha
infância, jantar e tomar café da manhã todo dia com você, criar nossos filhos correndo soltos em
um quintal, numa casa com ralos — ele brinca — e ser tão feliz quanto meus avós foram.
— Oliver, eu te amo. — O abraço, e recebo seus braços em volta da minha cintura.
— Eu também te amo, querida, e quero te fazer muito feliz.
— Oliver... — Ele aproxima nossos corpos, seus olhos fixos nos meus, enquanto acaricia
suavemente meu rosto.
— Agora é real, sem acordos envolvidos, na alegria, na tristeza, na saúde e na doença, por
todos os dias da minha vida, Lia.
— Na alegria, na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias da minha vida, Oliver.
Seus lábios encontram os meus em um beijo apaixonado, que vai além das palavras.
Agora, mais do que nunca, sinto que é genuíno. É como se este momento marcasse, de fato, o
rasgo em todos os contratos e acordos que estabelecemos.
Capítulo 42: A felicidade

O sol da manhã banha nosso quintal, revelando um cenário que se tornou tão familiar e
amado. Lia está no jardim, cuidando das flores que Cosme plantou com tanto carinho, apesar de
seu costumeiro humor carregado, enquanto eu preparo o café da manhã.
— Beatriz! Deixa os cachorros em paz! — Lia grita pela segunda vez, e nossa filha,
pequena exploradora, ignora as advertências e continua correndo atrás dos cachorros.
O cheiro do café e bolo de fubá, como era em nosso início, se mistura ao perfume das
flores, e, por um instante, o tempo parece congelar, permitindo-nos saborear o presente, sem
esquecer de nosso passado.
Assim que decidimos morar definitivamente no Brasil, a ideia de ter filhos se tornou mais
concreta. Paramos de prevenir, e não demorou até que os sintomas de enjoo e tonturas
anunciassem a notícia mais esperada.
O dia em que o exame de sangue confirmou a gravidez foi, sem dúvida, um dos mais
felizes da minha vida.
Lia, radiante, segurava o teste e olhava para mim com lágrimas de alegria nos olhos.
Naquele momento, percebemos que nosso casamento estava prestes a dar um novo e maravilhoso
passo.
À medida que os dias se desenrolavam, o ventre de Lia crescia, e com ele, a expectativa e a
ansiedade em nossos corações.
Lia, com seu sorriso radiante, mergulhou de cabeça na jornada da maternidade. Seus
enjoos foram superados com o tempo, e eu me encontrava cada vez mais encantado por ela.
Compartilhávamos sonhos sobre como seria segurar nossa pequena nos braços, e a cada
ultrassom, a conexão com aquele serzinho crescente se fortalecia.
A ansiedade pré-paternidade me transformava em um feixe de nervos, mas o brilho nos
olhos de Lia e a forma como ela acalmava meus medos tornavam cada momento mágico.
Compramos roupas de bebê, preparamos o quarto, e toda a casa estava impregnada com a
doce expectativa de uma nova vida que estava prestes a começar.
O dia do nascimento chegou, e mesmo que a experiência tenha sido repleta de emoções
intensas, nada se comparou ao instante em que segurei nossa menina pela primeira vez. Seus
olhos, pequenos e curiosos, encararam-me como se já soubesse que eu seria seu pai.
A chegada de Beatriz trouxe uma nova dinâmica à nossa casa. As noites mal dormidas
eram compensadas pelos sorrisos adoráveis e pela sensação de que éramos, agora, uma família
completa. Lia se revelou uma mãe extraordinária, e eu, um pai orgulhoso.
Nossos dias eram preenchidos com risadas de criança, choros noturnos, e descobertas
diárias. O quintal da mansão, que antes parecia vasto e tranquilo, tornou-se o palco de aventuras
infantis, com nossa filha correndo como se fosse a brincadeira mais divertida do mundo.
Nossa pequena Beatriz, que carrega consigo o nome da bisavó, está no auge dos seus dois
aninhos. Enquanto ela corre pelos corredores da casa, suas risadas contagiantes enchem cada
cômodo com uma energia vibrante.
Já estamos nos preparando para a chegada do segundo filho, um novo capítulo que trará
consigo um mistério: o sexo do bebê ainda é desconhecido, e decidimos descobrir apenas no
parto.
Se dependesse apenas de mim, encheríamos a casa com o som de crianças correndo e
brincando, formando uma família grande e barulhenta.
A paternidade, para mim, é uma experiência mágica. Mas Lia, com toda a sabedoria e
compreensão que lhe são características, tem suas razões para querer encerrar nesta segunda
gestação.
Ela conhece os desafios da gravidez, do parto e do delicado período pós-parto, e respeito
profundamente cada uma de suas decisões.
Enquanto esperamos pela chegada do novo membro da família, aproveitamos cada
momento com Beatriz, testemunhando seu crescimento e participando ativamente de suas
descobertas.
E mesmo com a incerteza sobre o futuro, a casa já está repleta de amor, risadas e a
promessa de mais memórias para serem criadas juntos.
— Tia, está linda essa horta orgânica. — Lia elogia, e Gleici através da chamada de vídeo
mostra as mudas que estão para crescer.
Quase todos os fins de semana são dedicados ao sítio que agora pertence a Lia, um pedaço
de terra que ela herdou e que sua tia cuida com tanto carinho. Beatriz, explora os campos e
brinca muito com os primos, desenvolvendo uma paixão natural pelos animais que lá habitam.
No início, eu ajudava minha mulher na administração dos bens que herdou, mas Lia logo
se familiarizou com a gestão e, hoje em dia, ela não só cuida do sítio, mas também está cursando
Administração, além de aprimorar seu inglês, uma habilidade que se tornou útil nas ocasionais
viagens ao nosso apartamento na Virginia.
As negociações com meu tio foram complexas, nós dois precisamos abrir mão, ele da briga
para tirar os bens de Lia, e eu abri mão da presidência, algo que não me cabia mais, e, no fim, ele
concordou com a vontade expressa por minha avó no testamento.
Optei por abrir mão da presidência das empresas em prol da harmonia familiar e da minha
realização já que gostei de lidar com as empresas do Brasil.
Afinal, compreendi algo que meu avô já sabia: nossas brasileiras, com seu sangue quente,
amam essa terra, e é um prazer satisfazer seus desejos.
— Papai! — A menininha que é a cópia da minha mulher me pede colo estendendo as
mãos pequeninas sujas de terra, e a pego no mesmo instante, deixando que marque meu suéter.
Dengosa como a mãe, ela logo deita a cabeça em meu ombro e acaricio seus cabelos
castanhos como os meus.
Lia se aproxima e acaricio sua barriga de seis meses, ela sorri para mim e agradeço
mentalmente a minha avó, nunca me senti tão rico e poderoso como agora.
— Em pensar que tudo começou como um contrato, hein. — Ela diz, parecendo ler a
minha mente. — Nunca poderia imaginar que toda a trama de dona Beatriz nos levaria a este
momento, à nossa casa, aos nossos filhos correndo por aqui. É como um sonho.
Envolvo-a em meus braços, aconchegando-a.
— Minha avó teria ficado orgulhosa em nos ver aqui, juntos, construindo nossa própria
história.
Lia assente, perdendo-se por um momento nas lembranças.
— Dona Beatriz sempre soube o que estava fazendo ao nos unir. — Ela sorri. — Ela era
muito sábia.
— Assim como nós aprendemos a ser. Afinal, nosso amor segue tão bonito quanto foi o
dela com o meu avô.
Olhamos para o horizonte, onde o sol se põe, tingindo o céu com cores vibrantes.
— A vida pode nos surpreender de formas inimagináveis, e estou grata por cada capítulo
que escrevemos juntos. — Ouço-a com atenção, e nos sirvo um pedaço de bolo de fubá, suco
para a grávida e café para mim. A vida é boa.
E, antes que eu tenha que sair para trabalhar desfrutamos de um café da manhã juntos,
sabendo que nossa história continua, cheia de amor, superações e alegrias, porque, afinal, o
verdadeiro amor é uma jornada sem fim.
E aqui, no calor de um quintal brasileiro, entre risadas e brincadeiras, nossa família
floresce como as flores do jardim de nossa história.

Fim.
Epílogo

Alguns anos depois...

Observo meus filhos brincando com Cosme, o jardineiro mal humorado aparentemente
ama as minhas crianças e se apegou muito ao meu casalzinho.
Meu filho Miguel, que leva o nome do meu pai, demonstra ser tão valente quanto o homem
que herdou o nome, e Beatriz é tão inteligente e dona de si quanto sua bisavó foi.
Ao longe, Oliver chega do trabalho, imagino que esteja exausto, afinal, passou o dia em
Brasília, mesmo tendo a possibilidade de dormir lá para descansar, ele prefere sempre voltar para
casa e ficar comigo e com as crianças, diferente do homem que foi no passado, que praticamente
morava na empresa.
Afinal, com dois pequenos redemoinhos de energia, a energia dele é mais gasta brincando
de pega-pega no quintal do que em salas de reuniões.
A vida, que uma vez parecia tão complicada e cheia de acordos e estratégias, agora é
simplesmente encantadora. E, mesmo com todos os luxos que o dinheiro pode proporcionar,
Oliver descobriu que a verdadeira riqueza está na simplicidade de uma vida vivida com amor.
Então, aqui estamos nós, vivendo o nosso "felizes para sempre".
Assim que ele sela nossos lábios em um beijo casto, seguro a lapela de seu terno, dou uma
olhada para as crianças e as vejo distraídas, então sussurro:
— Para relaxar, separei uma camisola transparente para mais tarde. — Digo e seus olhos
faíscam de desejo no mesmo momento.
— Certo, acho que já está na hora de relaxar então.
— Nada disso — aponto para os nossos filhos sujos de terra no quintal — ainda temos que
colocar os dois para o banho, jantar e contar histórias de dormir.
— Vamos começar agora — Ele dá um tapa na minha bunda e sorrio. — Te amo. — Ele
sempre se declara, e eu sempre me derreto ao ouvi-lo dizer.
E o meu marido, o homem que antes só entendia de contratos, agora entende que o mais
importante de todos é o compromisso que fazemos com o coração.
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Obrigada por me acompanhar nessa aventura,


Com amor,
Ly Albuquerque
[1]
Livro Assinado, minha: Um herdeiro por contrato
[2]
Personagens do livro O bebê do CEO solitário.
[3]
Folhetim
Canção de Gal Costa

[i]
Livro Disponível na Amazon e Kindle Unlimited

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