Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PEIXOTO
Capa: Larissa Chagas
Ilustração: Giro.ink
Leitura Crítica: Ana Ferreira
Revisão: Hanna Câmara e Evelyn Fernandes
ISBN: 978-65-00-41455-4
Oi meus amores, que felicidade vê-los aqui mais uma vez, espero que
de muitas. Como está a ansiedade de vocês para esse livro? A minha está
totalmente aflorada, na esperança que eu tenha conseguido pôr nesse livro
tudo o que vocês esperam.
De alguma maneira, eles sabiam o que iria acontecer e acho que até
eu mesmo senti em meu coração, que aquele momento seria o último com
eles. Foi por isso que eu corri e os abracei uma última vez, antes de deixá-
los entrar no carro e partir.
Olho a hora e vejo que tenho menos de trinta minutos para preparar
o jantar da minha irmã, que já, já chega da escola. Então, empurro para o
fundo da mente a minha preocupação com minha namorada, e preparo o
jantar da minha pequena.
— Barbie! — minha irmã já entra gritando esse apelido que ela me deu
quando era muito pequena e que, com o tempo, eu acabei me acostumando
e gostando. — Olha o que eu fiz hoje!
Depois que ela toma banho, nos sentamos e jantamos juntos. Laura me
conta como foi seu dia na escola e, como hoje é sexta, eu a libero de fazer o
dever de casa desde que faça em algum momento do final de semana. E,
quando termina de me ajudar na louça e escovar os dentes, ela corre para a
rua. Nessa hora, todas as crianças se juntam para brincar.
Eu olho para as duas, esperando que alguém fale algo. Mas, a única
coisa que sinto, é a mesma sensação de quando vi meus pais pela última vez
e a vontade de chorar já toma conta de mim.
— O que está acontecendo, Faith? — minha voz quase não sai. Ela
coloca a mão em cima do meu peito e, quando eu acho que ela vai me fazer
um carinho, sinto algo circular ali. Quando coloco a mão por cima da sua,
ela deixa cair a aliança de compromisso que dei para ela no seu aniversário
de quinze anos, quando completamos um ano juntos. — Faith, você está me
assustando.
Faith sempre quis ser atriz, já fez vários cursinhos, mas não é algo
fácil de se conseguir. Porém, mesmo que eu a ache incrível, ela não tem
como investir em um bom curso, às vezes tem que ir para longe fazer os
testes e de condução pública, ela sempre chega atrasada ou suada, voltando
arrasada, reclamando da vida e dizendo que desse jeito não chegará a lugar
algum.
Eu me sinto um lixo por não conseguir ajudá-la, mas mal tenho para
manter a mim e minha irmã.
Ela passa por mim e sai, porém eu sigo atrás dela na intenção de
pará-la, antes de conseguir descer as escadas da varanda. Eu olho fundo em
seus olhos, implorando em silêncio para que me explique.
— Você sabe que não será sempre assim, Faith. Eu vou me tornar
advogado, e teremos uma boa vida.
Ela segura meu rosto com as duas mãos e beija a única lágrima que
escorre.
— Espero que ele te faça feliz, Faith. Que ele esteja disposto a fazer
um por cento do que eu faria por você. — Ela tenta encostar em meu braço,
mas eu dou alguns passos para trás, antes que ela consiga. — Nem tudo é
dinheiro.
Damon buzina mais algumas vezes e, sem olhar para trás, ela vai até
ele, que faz questão de sair do carro e dar um beijo em seu rosto, perto o
suficiente de sua boca. É um recado claro e que eu entendo perfeitamente.
Continuo ali, sem ter coragem de levantar o rosto e nem sei quanto
tempo passa, mas o cheirinho da minha irmã faz com que eu levante a
cabeça. Laura sentou ao meu lado, segurando uma caneca com chocolate
quente e um sanduíche na outra.
Faço uma nota mental para agradecer a Beatrice por isso depois.
Faith…
— Não fica triste, irmão. — Suas mãozinhas pequenas alisam meu rosto
e eu aceito de bom grado o carinho. — Nós para sempre, não é assim? Eu
nunca vou te deixar, tá bom? Nem como nossos pais e nem como ela.
Promessa de dedinho! — Levanta o dedo mindinho e eu entrelaço o meu ao
dela.
— Promessa de dedinho. — Beijo sua testa e, mesmo que esteja
querendo sumir, eu agradeço por tê-la comigo. — Nós! — sussurro e, pouco
tempo depois, vamos para nossa casa.
Esperei minha irmã dormir e saí tirando todas as coisas de Faith ou que
me lembre dela, de todos os cantos da casa, coloco tudo em uma caixa, e
jogo com força na lata de lixo, querendo gritar de tanta dor que sinto.
Não aguento mais essas perdas em minha vida, o que eu fiz para
merecer tudo isso?
E é nessa noite que eu faço uma promessa: jamais deixarei que alguém
tenha o domínio do meu coração. Não vou me permitir sentir novamente,
essa dor que irradia por cada célula do meu corpo.
01
7 horas da noite.
Finalmente!
Já tem anos que dinheiro não é um problema para nós. Eu dei meu
sangue nos estudos, além da faculdade, também estudava o mundo de
investimentos, eu aprendi cedo que nunca podemos contar com uma só
coisa, se temos condições de ter um plano B por fora.
Eu tenho até um plano Z.
Eu dou total liberdade para ela, até porque, tudo que é meu também é
dela, incluindo a minha cobertura que tem espaço para umas cinco famílias
grandes morarem.
Ela tem um bom ponto. E também não vai ser nada agradável ter que
ouvi-la gemendo qualquer dia desses aí, por mais que me fará falta tê-la por
perto quase todos os dias.
— Me manda as informações desse loft pelo celular. — Ela arregala
os olhos, já animada e vindo na minha direção para me abraçar. — Isso não
foi um sim, Laura. Eu preciso ver tudo antes, e só vai rolar se eu achar o
lugar bom, e saiba que terá algumas condições.
Pego rapidinho e já saio novamente com pressa, o que foi uma péssima
ideia.
Passo a mão na minha camisa, limpando uma sujeira que não existe e ela
revira os olhos, indo para a sua sala pisando com força demais no chão. Eu
só rio, mas vou até a porta de onde ela entrou e aproveito para olhar a sala
que nunca tinha reparado antes.
Tudo é muito bem organizado, e não vejo muitas coisas pessoais além de
dois porta-retratos na sua mesa. Tem um quadro grande e bem bonito, que de
longe eu pensei ser uma foto, mas agora que entrei, estou vendo que é uma
ilustração bem realista de uma mulher de costas patinando no que parece ser
uma competição.
— É você? — pergunto.
Olívia dá um grito e quando me viro em sua direção, ela está com a mão
no peito e vários papéis no chão.
— Por Deus, mulher! Não me viu? — Ela faz que não e se abaixa para
pegar. Eu me junto na intenção de ajudá-la, mas recebo um tapa na mão e me
levanto de novo. — Se fosse um sequestrador, ele nem teria dificuldade para
te raptar.
Nunca mais.
Minha irmã abre a boca para falar que vamos na Lótus, mas eu arregalo
tanto meus olhos que ela entende e apenas se despede e entra no carro.
E no final é tudo por ela, como eu falaria não para a única parte do meu
coração que nunca foi partida?
A música está bem alta, e eu sorrio quando entro e vejo aquele mar
de gente, muitos animados e dançando, outros sentados mas ainda curtindo a
noite. Já passo no bar, onde Jackson sempre está e ele me dá um copo de
whisky, e eu agradeço. Vou até onde meus amigos estão, mas meu sorriso
morre quando eu vejo Olívia e a menina que eu fiquei ontem, e pretendia
ficar com ela novamente, lado a lado, conversando animadas em uma mesa
muito próxima de onde estou.
Vou até meu closet, visto uma legging e um top da mesma cor. Sento no
puff, apenas para colocar as meias e o tênis, me levanto num pulo, puxo um
boné e saio do meu quarto.
— Bom dia, Frozen! — Passo por Kim e beijo seu rosto. Ela já
levanta a minha caneca e eu a pego, procurando uma torrada para comer
junto. — Será que algum dia conseguiremos nos tornar pessoas normais e
acordar tarde em um final de semana?
— Boa pergunta, Kim. — Vou até o sofá, e me sento ali para tomar meu
café com calma.
Kimberly é a minha melhor amiga desde que nasci. Nossas mães também
são melhores amigas, nossas avós, enfim. Nossas famílias sempre moraram
no mesmo lugar, e as nossas casas eram uma do lado da outra. Não consigo
lembrar nada que eu tenha vivido de importante sem tê-la ao meu lado,
incluindo o dia que tudo mudou para mim.
A nossa intenção era só cuidar até que ficasse bem e depois colocaríamos
para adoção, mas quem disse que conseguimos? Diferente do que
costumamos ouvir por aí, Vodka é uma gatinha muito dócil e carente, na
verdade ela é carente até demais. Mas foi impossível não ficar com ela.
Ok.
Esse é um bom ponto.
A Jess é uma amiga antiga, da minha vida no Canadá. Mas nós sempre
tivemos algumas divergências por conta da equipe, e isso muitas vezes
abalou a nossa relação, mas depois que eu saí de lá e vim estudar em
Harvard, voltamos a nos aproximar por mensagens até que ela sumiu por
quase uns dois anos. Eu via sua vida nas redes sociais, mas ela não é muito
ativa, quase não posta nada.
Mas há um mês ela mandou mensagem, disse que viria aqui com as
meninas resolver algo, que não me importa mais, e então nos vimos ontem, e
nos veremos domingo novamente, eu acho.
Faço uma pausa para deixá-la ainda mais curiosa e aproveito para vestir
meu casaco por cima do top.
— E aí que eu falei para ela que ele era um escroto, meu chefe, me
infernizava e que ouvi falar que ele não tem uma boa fama na cama… — Eu
posso ter mudado um pouco a última informação, já que a fama dele é
totalmente oposta a isso e, pela pegada que senti, bem, há grandes chances
de ser verdade. Mas a última coisa que eu quero é que alguma amiga minha
fique se derretendo por ele e falando toda hora desse homem, já basta ter que
aturá-lo no trabalho.
Como uma pessoa tão insuportável pode ser tão atraente e gostosa? Isso
é injusto. E pior ainda é ter que vê-lo quase todos os dias, mas, pelo menos
hoje e amanhã, eu não preciso ver aquela cara linda.
— Não precisa nem pedir, vou fazer um macarrão bem gorduroso para
comermos! — Eu agito o braço no ar, me sentindo vitoriosa por isso.
Saio do nosso prédio, que tem uma estrutura antiga e muito charmosa,
sem destoar dos arredores luxuosos, mas também com essa pegada mais
antiga.
A caminhada até o Central Park não demora nem cinco minutos e, assim
que chego já respiro fundo, não foi uma ideia tão boa porque está muito frio,
mas me alongo e antes de começar a correr, já coloco a minha playlist do
dia.
Paro apenas para respirar mais fundo e olho ao redor, vendo algumas
poucas famílias chegando e a maioria das outras pessoas estão praticando
algum esporte, como eu.
Olho a pequena cicatriz na perna e parece que foi ontem que tudo
aconteceu.
Meu telefone toca e olho na tela o nome da minha mãe e uma foto
sua comigo.
— Tudo bem! Seu pai está querendo viajar no próximo final de semana,
acampar. Acredita? — fala incrédula e dessa vez sou eu quem rio. — Nesses
momentos que lembro porque terminamos.
Minha mãe e meu pai são melhores amigos, e eles tinham uma promessa
meio louca de que se até certa idade não tivessem se casado, iriam casar um
com o outro. E foi o que aconteceu. Minha mãe até casou, mas era um
homem horrível que a tratava muito mal e depois simplesmente sumiu de sua
vida, graças a Deus!
E eu amo eles desse jeito, para as pessoas de fora é difícil entender, ainda
mais que meu pai se casou novamente, e a minha madrasta, que é um amor,
também virou uma das melhores amigas da minha mãe.
— Bem, não sabia que ela iria — a voz da minha mãe denuncia ela, e sei
que algo nessa informação a incomodou. — Ela falou algo, tem alguma
novidade?
— Não, mas pelo visto parece que estou de fora de alguma coisa! — o
silêncio no outro lado da linha confirma o que eu já imaginava. — Anda
mãe, me conte!
— Olívia… — Olho para Théo e depois olho para a mulher ao lado dele,
Jess.
Saio correndo em direção a minha casa, sem ouvir mais nada que sai do
fone, apenas querendo mergulhar na banheira e fingir que isso não
aconteceu.
03
— Bom, senhores, o loft que a Srta. Barbieri deseja ver, fica no 10º
andar. Ele passou por uma reforma recentemente e é um dos que mais estão
recebendo visitas, muito concorrido. — Nem entramos no elevador e ela já
começa com o papo de vendedor, querendo engrandecer o imóvel.
E ela continua pontuando tudo que acha que irá nos agradar até que
chegamos ao bendito loft, ela abre a porta e nos dá passagem.
De cara já vejo que ele é bem espaçoso, e tem um mezanino com visão
privilegiada para quase todo o resto do apartamento. Deixo que minha irmã
escute a mulher que não para de falar e vou com Jacob olhando tudo.
— Parece ser bom! — ele diz quando olha a cozinha, que é toda
mobiliada em inox e preto. — A ideia do quarto ser lá em cima é maneira, e
com certeza bem interessante para alguém jovem, consigo entender a
empolgação da sua irmã. — Caminhamos até as janelas que vai do chão ao
teto, e a vista dali é ótima.
— Tem certeza que não quer ver outro lugar? Uma casa, um apartamento
inteiro… — seu olhar fica cabisbaixo. — Só quero que tenha certeza, Lau.
Se é aqui que você quer, por mim, tudo bem.
Ela pula em meu colo e se não tivesse uma parede atrás de mim, eu
cairia. Sua risada alegre enche o meu peito de felicidade e orgulho. Orgulho
de mim, por ter conseguido chegar onde cheguei, por conseguir proporcionar
tudo do bom e do melhor para minha irmã.
Depois de tirar algumas dúvidas finais com Diana, leio o contrato que ela
espertamente já havia levado em sua bolsa, assino depois que vejo que não
tem nada errado e dou o sinal necessário para finalizar o resto do pagamento
na segunda.
Diana entrega as duas chaves, e sai dali feliz por fechar uma venda tão
rápido. Minha irmã pega uma delas e me dá, fechando minha mão com a sua
por cima e me olhando de um jeito doce, agradecida. Eu a puxo para mais
um abraço e beijo a sua testa.
Kath e minha irmã se tornaram ótimas amigas, e eu sou tão grato por
isso que nem tenho como agradecer a ela. Eu fiquei com muito medo delas
não se entenderam por causa da paixão que Lau tinha por Noah, mas acho
que no fundo, era algo bem superficial, ela não estava acostumada a ser tão
bem tratada por outro homem além de mim, e Jacob e Noah sempre iam
comigo na clínica para visitá-la. Jacob tem esse jeito todo fechado, mas meu
outro amigo é gentil demais, então acho que isso confundiu a cabeça dela.
A casa deles está ainda mais bonita do que antes. Quando Noah
topou vir morar com a Kath, eles fizeram algumas reformas aqui fora,
construíram uma academia, uma sala de jogos externa, e também
transformaram um dos quartos de hóspedes em um quarto infantil lindo para
a Milla.
— Kath, será que essa semana a sua mãe, Liz, e você podem ir até meu
apartamento para me ajudar na decoração?
Sair com modelos e algumas atrizes, fizeram com o que meu nome fosse
parar várias vezes em sites de fofoca, como o advogado galinha, rodado,
mulherengo, que fica com as clientes da sua firma.
Eles mentiram? Não! Mas não entendo o que passa na cabeça deles para
acharem que eu daria uma entrevista para afirmar tais coisas.
— Certo, beleza.
— Bom dia, Jenni. — A secretária do meu amigo, que por quase um ano
foi meu alvo, sorri para mim, mostrando seus dentes perfeitamente brancos,
contrastando com sua pele negra. Infelizmente, ela nunca me deu ideia, uma
pena. — Obrigado pelo recado, Noah me passou.
Mas dou conta, e me gabo com a certeza que sou o melhor advogado na
área para resolver os problemas que aparecem. Estudei dias demais, fiquei
ainda mais madrugadas em claro, perdi as contas de quantos seminários e
palestras fui para agregar conhecimento, e até hoje continuo estudando e
faço algumas viagens para ver outros grandes advogados em cena dentro de
um tribunal.
Fora que todo esse trabalho enche a minha conta e da C&B com muitos e
muitos zeros.
O perfume que toma conta da sala é um que conheço muito bem e por
muitas vezes dispensei algumas mulheres incríveis por estarem impregnadas
com esse cheiro, torço meu nariz disfarçadamente, enquanto termino de
digitar.
— Barbie! — Meu dedo trava na tecla “a”, e ela se repete várias vezes na
tela à minha frente e acho que eu travo também, porque essa voz… eu
infelizmente conheço bem demais. — Por favor, me escute antes de me
expulsar.
Sem acreditar no que está acontecendo, eu giro um pouco a minha
cadeira até que consigo ver a mulher à minha frente.
Faith.
— Barbie, eu precis…
Ela coloca a mão que estava para trás em cima da mesa e eu vejo um
anel com um belo diamante, e nessa hora eu tenho um estalo e me lembro
das notícias anunciando que o cobiçado Damon Stewart finalmente iria se
casar.
— Bar... Scott, eu preciso de ajuda! — Ela tenta dar a volta na mesa para
chegar perto de mim, mas eu levanto uma mão e peço para que ela nem se
atreva. — Você é a única pessoa que eu confio, que eu sei que não aceitaria
suborno para me prejudicar.
Aproximo meu rosto do dela por cima da mesa, e ignoro mais uma vez o
seu cheiro que me invade como um soco no estômago. Ela olha para cada
parte do meu rosto, como se quisesse memorizá-lo.
— Use todo o gigantesco amor próprio que você tem e saia daqui, antes
que eu chame os seguranças, Faith — o seu nome sai da minha boca com
desgosto, um nome que eu pensei que jamais falaria novamente. Ela apenas
fica me encarando com os mesmos olhos de antes, aqueles olhos da minha
melhor amiga e meu único amor. — AGORA! — perco o controle e grito.
Olívia aparece na porta segundos depois que eu grito, com uma cara de
assustada e, quando vê Faith com os olhos arregalados, vai até a mulher que
me desgraçou anos atrás e pede para que a siga, mas antes de sair me olha
feio, como se eu tivesse cometido um crime e fecha a porta depois de sair.
Olho para eles e, sem precisar pedir, eles vêm até mim quando sento no
chão e se sentam cada um de um lado, em silêncio, apenas para não me
deixar sozinho.
— A Fai…
— Nós vimos! — Jacob fala, acho que ele melhor que ninguém sabe
como é sufocante a dor de não ter mais alguém que amamos conosco. —
Não precisa falar nada, vamos ficar aqui o tempo que precisar. — Dá um
tapa em meu joelho e Noah aperta meu ombro.
E é ali, sentado no chão da minha sala que está uma bagunça, que eu
passo o resto do meu dia com os meus amigos. Noah saiu apenas para
desmarcar a agenda de nós três e voltou logo em seguida.
04
— Está tudo bem? — pergunto a mulher que eu salvei de ser jogada para
fora da sala do Scott. Pensei em levá-la até a minha, mas do jeito que ele
estava, era capaz de socar a parede que divide a minha sala da dele, apenas
para gritar com ela. — Não sei o que houve, mas ele não costuma ser assim.
— Eu o odeio, mas não posso negar que ele é sempre educado e simpático,
exceto comigo.
Ela seca uma única lágrima que deixou escorrer agora que estamos na
escada de emergência e depois olha para mim, como se estivesse pensando
no que dizer.
Bom, eles se conhecem, e acho que tem muito mais nessa história do que
eu queira saber.
Ela mexe na bolsa que deve custar o meu salário, tira um cartão e
estende para mim.
Como o Scott nem ao menos a escutou? O que aconteceu para que ele
reagisse daquela forma?
Tento dar uma espiada dentro da sala dele, mas embaçaram o vidro e não
dá para ver absolutamente nada, o vidro fica todo leitoso e nem sombras são
capazes de serem vistas aqui de fora.
Coloco o cartão da Faith em cima dos papéis que preciso que o Scott
assine, mas não sei como ele irá reagir se eu entregar, então talvez seja
melhor falar com o Noah depois, e contar o que eu sei sobre esse lugar, no
cartão não tem nenhuma informação específica, exatamente para manter a
segurança de algumas mulheres que o tem, mas ainda não tiveram coragem
de ir até lá e não podem correr o risco de que a pessoa que as agridam veja.
Desligo minha mente desses problemas que não são meus e volto a
trabalhar. A demanda de clientes de todos os advogados, além do Scott e
Noah aumentaram muito no início deste ano, e acredito que sempre seja
assim quando eles ganham um caso de alguma empresa grande ou uma
pessoa famosa, e eles ganharam ambos os casos.
Estou com trabalho acumulado, mas eu adoro. Amo viver entre os
números e, se alguém me falasse há alguns anos que hoje eu seria uma
contadora que já trabalhou em outras duas grandes empresas, que quase
imploraram para que eu não saísse, eu acharia que essa pessoa estaria louca.
Pego meu celular que está dentro da gaveta e confiro as mensagens pela
barra de notificação. Uma em específico chamou a minha atenção.
Jess: Oi, será que podemos nos ver? Eu sei que você não estava ocupada
ontem, Olívia.
Jess: Vou embora essa semana, queria poder conversar com você e
esclarecer tudo.
Jess: Por favor! A hora que você quiser.
Que saco!
Confiro se está tudo no lugar, porque tenho certa obsessão por deixar
minha sala organizada e, na mesma hora que abro a porta, vejo os meninos
saindo juntos da sala do Barbie e ele com cara de arrasado.
— Dr. Cooper! — chamo-o antes que se afaste muito, ele pede para os
meninos seguirem que ele já vai e vem até mim. — Desculpe interrompê-los,
eu só queria deixar uma coisa com você.
— Tudo bem, hoje o dia foi bem atípico por aqui — comenta, enquanto
afrouxa a gravata e confere as horas em seu relógio. — Lamento por ter
presenciado tal coisa, Olívia, eu sei que você e o Barbie não são os melhores
amigos do mundo, mas, é tudo muito complicado.
— A Faith e eles se conhecem, né? — Ele concorda. — Ela falou
comigo no corredor, preferi não me meter porque não é da minha conta.
Mas, acho que pelo menos um de vocês deveria saber que existe uma chance
dela estar sofrendo agressão doméstica. — Ele arregala os olhos e pega o
cartão quando o entrego.
Sabia que o Noah faria algo, ele é um homem muito bom e justo,
independente do que tenha acontecido, eu sei que pelo menos ele não vai
desamparar alguém que realmente precise desse tipo de ajuda.
Vou na direção que ele me indica e não demoro muito para achar a Jess
sentada em uma mesa mais afastada, batendo os pés no chão, nervosa.
— Olívia, eu não sabia como te contar. Como eu iria contar para a minha
amiga que estou apaixonada pelo ex dela? — questiona e eu ergo uma
sobrancelha.
Jogo a cabeça para trás e fecho os olhos, já sentindo a dor tomar conta
com força.
— Por que você nunca me contou? — Olho no fundo dos seus olhos,
querendo que seja sincera. — Eu jamais te julgaria, Jess. Eu sei que essas
coisas acontecem, eu sem dúvidas ficaria preocupada, mas ele é meu
passado. O único problema é que uma atitude dele mudou o meu futuro.
— Eu espero mesmo que ele tenha mudado, e que não seja mais um
homem capaz de colocar em risco quem está com ele, Jess. — Afasto minha
mão e tomo mais um pouco da minha bebida. — Mas ele é uma lembrança
eterna do que a minha vida poderia ter sido, se eu tivesse conseguido seguir
os planos que eu havia traçado para mim. — Termino o que tem na taça e
tiro um dinheiro da minha bolsa.
— Tchau, Jess.
9 anos atrás.
O som alto na casa de Théo reverbera por todos os cômodos, até aqui
no seu quarto onde estamos, e consigo sentir as paredes tremendo.
— Estou animada para a nossa viagem! Ainda nem acredito que vamos
para outro estado, finalmente competir em uma estadual. — Ele ri, animado.
Nós dois também patinamos desde criança, e foi naquela época que nos
conhecemos e viramos uma dupla promissora aqui no Canadá. Foram tantas
competições ao longo desses anos, e conseguimos entrar no profissional há
um bom tempo, e já fomos selecionados para a estadual, que é
importantíssimo para sermos vistos por olheiros de outros campeonatos e
nos classificar para as próximas etapas.
— Vai ser ótimo, amor — ele diz e já me puxa novamente para seu colo,
que eu vou sem reclamar, ficando totalmente nua quando a coberta cai do
meu corpo. Ele alisa a minha cintura e sinto seu pau endurecer debaixo de
mim.
— Vou no banheiro rapidinho! — Pulo do seu colo, mas antes lhe dou
um selinho e ele grita para que eu leve mais camisinhas. Eu pisco e corro até
o banheiro, faço um xixi rápido e depois me lavo. Olho para meu reflexo no
espelho e sorrio, feliz por tudo que está acontecendo.
— Claro que você não queria que eu mexesse mais, né? — Olha para
mim e vira o celular em minha direção. É a minha conversa com meu melhor
amigo, que não mora mais aqui no Canadá, mas eu não consigo ler o que
está escrito, só vejo que ele mandou muitas mensagens. — Até quando você
vai aceitar esse babaca dando em cima de você, porra? — fala alto e eu vou
um pouco para trás, puxando a coberta para me tapar.
— Então eu tenho que ficar aqui, achando legal você dar ideia para ele,
igual uma vagabunda? — pergunta ainda mais alto e eu o encaro, sem
acreditar no que escuto. — Você é minha noiva, merda! Tem que me
respeitar, é difícil entender?
— Que merda, amor. — Segura meu rosto com as duas mãos e eu fecho
os olhos, ainda mais arrasada que ele. — Desculpa, linda. — Enche meu
rosto de beijos. — Eu te amo para caralho, e chega a doer imaginar que eu
posso te perder para alguém. Fica, por favor.
Afasto meu rosto de suas mãos e ele deixa seus braços caírem ao lado do
seu corpo.
— Não termina comigo, amor. Eu não vou suportar ficar sem você! —
Passa a mão no cabelo, agarrando os fios em desespero.
— Dá última vez, eu disse que não teria volta, Théo. — Seco novamente
meu rosto. — Eu te amo muito, mas eu amo mais a mim. Não quero correr o
risco de descobrir, daqui a anos, que me casei com um homem agressivo e
descontrolado.
Jonas entra e trava o carro antes que Théo chegue perto, ele começa a
tentar abrir a maçaneta da porta ao meu lado e fica batendo no vidro. A essa
hora todos já saíram da casa e assistem a cena ridícula, enquanto eu fico de
cabeça baixa e choro.
O carro começa a andar e eu olho para trás, vendo Théo subir na moto e
vir em nossa direção.
Jonas acelera, na intenção de que Théo nos deixe e, quando volto a abrir
os olhos e destampar os ouvidos, eu vejo que já paramos perto do parque,
olho ao redor e só estamos nós dois, sem ninguém nos seguindo.
Viemos todos aqui para a minha casa, e dessa vez foram eles que se
arriscaram a cozinhar, enquanto eu me mantenho na mesma posição há horas,
aqui perto da piscina.
— Ei! — Minha irmã senta de lado em meu colo e apoia a cabeça em meu
ombro. — Quais as chances de você, supostamente, me tirar da cadeia se eu,
sem querer, agredir alguém? Sem querer. — Rio, e beijo sua testa.
— Me diz o que eu não consigo, Lau — brinco e ela gargalha, e depois volta
a ficar séria, fazendo carinho em meus dedos.
Ainda não consigo acreditar que isso tudo aconteceu, que depois de anos
fiquei cara a cara com Faith.
A abraço por um tempo e depois decido me juntar aos meus amigos na sala.
— O que foi? — pergunto. — Eu sei que sou o cara mais gato que vocês
conhecem, não precisam me olhar tanto assim — brinco para aliviar o clima e
parece dar certo, porque eles riem e ignoro o olhar do Jacob, que sabe que estou
forçando a situação.
Jantamos salada, um frango cremoso meio doido que, por incrível que
pareça, estava bom e depois eu e Noah, a pedido dele, fomos lavar a louça. Eu
não gostei muito, mas entendi que ele queria falar comigo.
Noah começa a jogar os restos que ficaram nos pratos no lixo, enquanto eu
lavo copos e talheres. Apenas esperando que meu amigo comece a falar.
— Bem — digo, enquanto lavo tudo no automático, até que sinto a faca
cortar o canto do meu dedo. — Irritado, frustrado... — começo a ser sincero,
enquanto vejo um pequeno filete de sangue escorrer pelo dedo. — Triste,
magoado, e com muita raiva de estar sentindo isso tudo.
Noah pede para que eu me afaste e termina de lavar a louça por mim. Me
encosto no balcão e olho para a minha cozinha, repleta de tudo do bom e do
melhor, na verdade todo o meu apartamento é assim, cada coisa que eu comprei
foi mérito meu, do meu trabalho e do meu esforço que há anos foi questionado,
que há anos foi desacreditado por Faith, e olha onde eu cheguei.
Talvez, muito do que eu seja e das coisas que tenho, eu deva a ela de alguma
forma. Vivi com meu subconsciente me lembrando das palavras dela todas as
vezes que eu pensava em desistir, ou deixar para estudar outro dia para ir a uma
festa.
Sua voz me diminuindo no pior momento da minha vida, enquanto eu era pai
da minha irmã, enquanto eu pegava todos os trabalhos possíveis para conseguir
manter a casa, nunca saiu da minha cabeça.
E encontrar com a dona da voz hoje, desencadeou toda a mágoa que eu
sempre fingi não ter.
— Sabe que não precisa ir trabalhar até estar bem para isso, né? — Noah
seca as mãos e termina de guardar cada coisa em seu devido lugar. — Posso
manter suas coisas encaminhadas por um tempo, posso vir aqui todas as noites te
atualizar. O que você precisar, irmão.
Noah me olha, eu vejo seu queixo tremer e depois ele cai na risada. Não
demorou muito e começo a gargalhar junto, sem acreditar no que eu fiz.
Vou até o meu quarto, que é um dos meus cômodos preferidos. Ele é bem
claro, tem a maior cama King Size que eu já vi na vida, janelas enormes com
cortinas escuras, um closet que mais parece outro quarto, e a TV também é
grande mas acho que nunca a usei, gosto de ficar na sala quando quero assistir
algo.
Aqui também tenho um quadro com a foto dos meus pais, nela estávamos
em uma praia, eu abraçando a minha mãe e beijando sua barriga grande que
carregava a Laura e meu pai a abraçava por trás, sorrindo.
É impossível não sorrir ao olhar a foto, é notável o carinho enorme e o amor
que a família tinha em apenas um clique.
Pego meu celular que estava carregando e me jogo na cama. Assim que ligo
a internet, aparecem muitas notificações de vários aplicativos e eu vou ver as
minhas mensagens. Outros funcionários da C&B ficaram preocupados e mando
uma mesma mensagem para todos, tranquilizando-os e me desculpando pelo
comportamento.
Ela tem bastante seguidores, e muitas fotos. Várias com o seu marido,
Damon. Um homem nojento, que achava que era o rei do mundo por ter muito
dinheiro, seu pai é dono de um dos maiores times de basquete aqui de NY, e
Damon já trabalhava com ele desde os dezesseis anos, e já tem algum tempo que
ele ficou no lugar do pai na administração da empresa, que também controla
outros grandes negócios, como uma Holding.
Ele sempre rodeou Faith, que eu achava que não dava ideia para ele porque
sempre se queixava de como ele era abusado e insistente, eu até cheguei a
confrontá-lo uma vez, e ele só falou que ela ainda seria dele.
Bom, ele estava certo. Eu que fui inocente de pensar que ela me amava
mesmo, independente de eu não ter como dar uma boa vida para ela na época.
Passo foto por foto, vendo a vida de luxo e muitas viagens. Um casamento
enorme, que eu lembro de ter saído em alguns sites de fofoca, mas recusei abrir
qualquer uma das notícias.
— Alô?
— Sr. Barbieri, desculpa pelo horário. Estou tentando entrar em contato
com o senhor há alguns dias — uma voz feminina que eu não reconheço me
responde.
— Eu sei quem ele é, e não existe a menor chance dessa reunião acontecer.
— Desligo e fico olhando para o teto, tentando entender quais as chances deles
dois reaparecerem na minha vida depois de tanto tempo.
A raiva volta a tomar conta do meu corpo e eu troco de roupa, colocando
uma mais confortável e vou até a área externa, onde tem uma esteira e um saco
de boxe. É aqui que depositarei toda a frustração desse dia de merda.
Esfrego a barba, enquanto olho para o estado da minha sala, que não permiti
que o pessoal da limpeza cuidasse. Já que fui eu quem fiz toda essa merda, eu
quem limpasse.
Tiro o paletó, puxo as mangas da camisa até a altura dos cotovelos e começo
a jogar tudo dentro de uma caixa de papel, que eu havia separado, antes de vir
para cá. Levo mais de duas horas até limpar tudo e sento na cadeira, cansado e
vendo o prejuízo que causei a mim mesmo.
— Não é o que parece — rebato e ela bufa, revirando seus olhos abusados.
Me levanto, indo até a geladeira e pegando uma água, abro e viro toda.
Limpo o canto da boca quando a água escorre por ali, e volto a olhar para Olívia.
— Não é como se eu quisesse uma sorte, se é assim que você quer chamar,
novamente! — Pisco e ela ri, debochando de mim. E eu dou um sorrisinho de
lado, adoro esse jeito abusado dela.
Entro na lanchonete mais hypada de NY, que vive sempre lotada, como
agora, e fico na fila mexendo em meu celular, distraído.
Peço um café gelado com algumas frescuras que eles gostam de colocar e
um croissant de frango, e espero no balcão pelo meu pedido.
— Sr. Barbieri? — Uma mulher para ao meu lado e eu me viro para olhá-la.
— Poderia sentar conosco? — pergunta meio sem graça e eu faço uma careta,
mas sigo na direção que ela aponta e Damon acena para mim na mesa ao fundo,
colada a uma janela.
Pego meu pedido e vou até ele, colocando meu copo com força na mesa, que
respinga em sua camisa. Ele ri de lado, pega um guardanapo e tenta limpar a
mancha que já se forma.
Me sento, olho para o relógio e aviso que o tempo dele está passando.
— Acredito que minha esposa deva ter procurado você esses dias. — Não
respondo e cruzo os braços, sem paciência nenhuma. — Faith não anda muito
bem, tem tomado muitos remédios e acho que os pensamentos dela estão
confusos. Outros advogados vieram me procurar falando que ela queria ajuda
para se separar de mim, inventou qualquer coisa sobre eu ser agressivo, o que é
mentira. Sabe como são as mulheres quando elas deixam de ser nosso foco, né?
— Na verdade não sei não, e não estou entendendo aonde você quer chegar,
Damon. — Ele trinca o maxilar, mas mantém seu sorriso falso no rosto. — Não
abuse da minha boa vontade de te escutar para poder me livrar novamente de
você e sua esposa!
Ele tira um talão de cheques do bolso, e a sua assistente lhe entrega uma
caneta.
Me levanto, pego o cheque antes que ele assine e coloco dentro do meu
copo com café. Ele ri e sacode a cabeça, já pegando outra folha do cheque.
— Você é corajoso, Damon — digo, enquanto olho para fora e vejo um carro
com alguns homens nos olhando, e acredito que sejam seus seguranças pessoais.
— Mas, acredite quando eu digo que nem todo mundo é movido por dinheiro,
pelo menos não esse dinheiro sujo. E não é como se eu precisasse!
— Não quero nada que venha de você, não preciso disso! E você realmente
acha que eu me importo com tudo que aconteceu a ponto de querer me vingar?
— Rio e abaixo um pouco o rosto, ficando frente a frente com o dele. — Já se
passaram anos, eu nem me lembrava mais dessa fase da minha vida. — Não é
verdade, faço questão de lembrar de onde vim e as minhas raízes. — Eu não
jogo baixo, Damon. Isso é você quem faz, sempre fez, não é? Mas parece que
seu dinheiro não é mais o que a Faith procura! É uma pena, vocês se merecem.
Me afasto e vou embora, sem me importar se ele ainda falaria algo e muito
menos com seus seguranças que vem até a porta, mas apenas me encaram e eu
aceno com a cabeça.
Volto para a empresa e vou até a sala de Olívia, ela está no telefone e eu
fico do lado de fora esperando, até que ela faz sinal para que eu entre.
— Isso não é da sua conta, Olívia. — Ela levanta e fica na minha frente, me
olhando como se eu fosse um saco de lixo. — Eu preciso encontrá-la, mas se
você não pode me ajudar, me virarei de outra forma.
— Ela não deixou nada, e nem sei se eu passaria para você, se ela tivesse
deixado. — Meu olhar desce para a sua boca que sempre fala a coisa certa para
me irritar e a infeliz morde o cantinho dela, fazendo um biquinho que eu com
certeza beijaria.
Algo dentro de mim diz que tem alguma coisa muito errada nisso tudo, por
qual outro motivo o Damon me procuraria para me subornar com tanto dinheiro,
se a Faith realmente estivesse como ele falou que está?
Se os outros advogados deram ouvidos a ela, é porque ela deveria ter alguma
coisa para mostrar, e eles foram até o Damon já na intenção de ganharem
dinheiro, ou talvez para que ele deva um favor no futuro. A família Stewart
sempre foi muito poderosa, e entre eles também têm políticos e outros grandes
advogados que vivem com histórias contraditórias sendo ditas por aí.
E a forma que ela falou, que sabia que eu seria o único a não aceitar
suborno…
Vou até a janela e fico olhando para a rua, imaginando onde ela pode estar
nesse mar de gente.
— Nós moramos no mesmo apartamento, mas tem semanas que mal nos
vemos — Kim fala, assim que senta na minha frente, no restaurante que gosto de
almoçar perto do meu trabalho.
Realmente algumas das nossas semanas são muito corridas, tanto eu quanto
ela trabalhamos mais do que deveríamos, e tem dias que só tomo banho e caio
na cama para começar tudo de novo no dia seguinte.
Eu nem tive essa opção, tinha que treinar bastante desde cedo. Mas eu gosto
de correr, me sinto bem e muito mais disposta, mesmo que não consiga como
antes por causa do joelho.
— Agora por favor, me atualize! Sua vida é a melhor série que eu assisto —
brinca e eu rio. Antes de começarmos a fazer nossos pedidos, ela arregala os
olhos, me incentivando a falar.
Tudo era bobeira de adolescente, que ela percebeu um pouco tarde, mas eu
nunca me importei, sempre tive uma agenda corrida demais, e eu gostava da
companhia dela, sempre foi muito divertida e adorava curtir a vida. Eu a
admirava por isso, ela dizia que nunca sabemos o dia de amanhã, que
deveríamos curtir sempre que possível.
No final das contas foi ela quem me ensinou, indiretamente, que eu faço da
minha vida o que quero, e não o que as pessoas acham que é o melhor para mim.
E ela só continua reafirmando isso em suas ações, como agora que decidiu ficar
com o Théo.
Kim arruma os óculos de grau no rosto e bebe um pouco do seu suco antes
de falar.
— Não quero ser chata, muito menos diminuir as coisas que você passou,
porque eu estive lá todos os dias ao seu lado e sei como foi difícil. — Suspira e
apoia o rosto na mão. — A Jess é um ótimo exemplo de mudança. Agora, a
garota fútil não existe mais nela, aliás, não existe há anos, ter que assumir o seu
lugar na dupla com o Théo não foi fácil, ela teve que começar uma rotina muito
mais puxada e corrida de uma hora para outra, assumiu responsabilidades que
nunca foram dela. E se o Théo realmente tiver procurado ajuda, como ela disse,
talvez ele seja uma pessoa melhor hoje. Nada do que ele é atualmente, irá apagar
quem ele já foi e o que ele fez, mas, existe uma chance daquele homem não ser
mais o que conhecemos.
Ele nunca foi agressivo fisicamente, mas suas palavras doíam na pele. Eu o
amava, mas hoje sei que nunca foi o grande amor da minha vida, como eu
achava na época, porém, ainda assim, era doloroso ouvir as coisas que falava no
momento da raiva. Eu via o arrependimento genuíno em seus olhos logo depois
de falar, mas não tinha como retirar tais palavras e logo vinham as promessas de
que aquilo não se repetiria.
— Você está certa — digo, e ela sorri, orgulhosa de ter aceitado o que falou.
— Mas isso não vai mudar o fato de que não quero ter que falar com ele, muito
menos ir ao seu casamento. Na verdade, não irá fazer muita diferença na vida da
Jess, ela já estava distante há anos, e não é como se fôssemos inseparáveis.
Eu me preocupo com ela, e sempre terei um carinho enorme por conta de
tudo que já passamos juntas, mas me afastar de vez é o melhor para todos.
Eu acho incrível casais que são seguros e abertos para esse tipo de
relacionamento. Comigo não daria, não me dou bem nem com sexo casual,
imagine saber que o homem que eu amo as vezes se envolve com outras?
— E como seria?
— Na verdade, cada casal faz seu próprio combinado, de maneira que fique
confortável para ambos. Mas o que eu mais vejo são casais que escolhem datas,
tipo, a cada “x” tempo, eles saem sozinhos, e o que acontecer lá, fica lá. —
Chamo o garçom e peço para que leve nossos pratos já vazios, mas ele não sai
sem dar um sorrisinho para a minha amiga, que na mesma hora fica vermelha
igual a um pimentão.
Kim não é uma pessoa que costuma se envolver com muitas outras, ela
namorou uma única vez e o relacionamento acabou virando apenas amizade. E
sempre ignora os olhares que recebe, que são muitos, ela é uma mulher
lindíssima e chama atenção em qualquer lugar que vai.
— Frozen, isso é muito a sua cara. — Limpa a lágrima que escorreu de tanto
que riu. — Mas relacionamento aberto é algo ainda muito atípico, eu acredito
que talvez nossos netos viverão em um universo que atípico sejam
relacionamentos monogâmicos! — Dá de ombros e eu finjo um arrepio, como se
tivesse aversão ao que ela falou.
Falo com algumas pessoas que estão ali, e com a minha caneca em mãos a
coloco na máquina e escolho capuccino entre as diversas opções que o aparelho
disponibiliza.
A voz de Scott chega na sala antes dele e eu reviro os olhos com força,
sentindo uma pontadinha de dor pelo exagero.
Claro que a máquina sempre muito rápida e eficiente decidiu travar agora,
enquanto o insuportável que tem os olhos mais claros que já vi na vida fica atrás
de mim, batendo o sapato no chão incansavelmente.
Aperto o botão várias vezes, acreditando que o problema seja ali e ouço uma
risadinha baixa.
— Não está vendo que ficou ruim? — Viro um pouco para poder olhá-lo. —
Pegue na outra, bater o pé igual uma criança não vai fazer a máquina funcionar.
— Vou esperar, o café aqui sempre sai mais quente! — diz e encosta na
parede ao lado da máquina, sorrindo e me assistindo ficar irritada com a
máquina. — Não acho que seja uma boa ideia apertar tantas vezes — diz quando
me vê apertar o botão desesperadamente. — Se travou apenas a saída, quando
liberar vai s…
Paro de escutar quando vejo o café descer e sorrio para ele, mostrando que
deu tudo certo, mas sorri cedo demais. A bendita máquina não para de expulsar
líquido dela, transbordando da minha caneca, e depois de encher o reservatório
que tem embaixo, o capuccino começa a cair no chão, sujando tudo e
respingando em minhas pernas.
Olho para onde ele aponta antes de sair, e vejo minha blusa com vários
pontinhos de respingos do capuccino.
Eu engulo a vontade de chorar, porque não tenho outra roupa aqui. Jogo o
meu café na pia pequena que tem ali, pronta para limpar toda a lambança que eu
fiz, mas a senhora da limpeza diz para deixar com ela, e agradeço por isso.
— Ei, vem cá! — Jennifer segura meu pulso e vai me puxando com ela até
onde fica sua mesa. — Eu tenho uma blusa aqui que pode te servir.
Senta na cadeira e se arrasta até uma estante atrás dela, que tem portas
embaixo, ela coloca uma chave em uma dessas portas e tira dali uma blusa
social branca e me entrega.
— Não se preocupe, sem pressa! — Ela se escora em sua mesa para olhar na
direção do corredor e depois volta a me encarar. — O que tem entre vocês, hein?
— Ele é insuportável, e parece que gosta de ser assim. — Coloco para trás
da orelha uma mecha solta do meu cabelo e ela ri. — Não ria, isso é um saco!
Olho na direção do corredor e ele sai da sala nessa hora, como se sentisse
que estamos falando dele e sorri para mim, debochado como sempre. Aproveito
que ele virou e dou uma boa olhada em seu corpo, que eu já senti embaixo de
mim uma vez e sei que o que tem por trás da roupa é uma delícia.
— Viu, tensão sexual. — A secretária de Noah segue meu olhar e volta a rir.
Desisto de negar, porque é claro que meu corpo deseja mais do que tive
dentro daquele táxi, o que só prova o quão grande foi meu erro de montar no
meu chefe e beijá-lo.
Saio da minha sala e vejo que Jennifer emprestou uma blusa para
Olívia, que se agarra ao pedaço de tecido como se sua vida dependesse disso
e sorrio para ela, irritando-a ainda mais.
Que seja!
— Cuidado no caminho, não quero que você caia sem querer por causa
desses saltos enormes. — Coloco uma mão no peito e me finjo de
preocupado, mas a loira me ignora e joga os cabelos para trás dos ombros
antes de entrar em sua sala.
Pego meu celular que estava desligado durante a reunião e vejo algumas
mensagens de Noah, pedindo para que eu fosse até a sua sala quando
estivesse livre.
Nesse andar da C&B ficam poucas salas além das de reuniões, a minha,
do Noah e, agora, a da Olívia. É o andar mais claro e espaçoso, por isso
mantemos aqui as maiores salas, e onde a contadora fica deveria ser a do
Jacob, mas o insuportável preferiu ficar no último andar, junto com os
demais advogados e outros departamentos, em uma sala destacada de todas,
bem longe.
Ela podia ter ficado em uma das outras, mas achou incrível ficar ao meu
lado. E claro que é algum carma, não tem outra explicação plausível para
isso.
Pai.
Meu melhor amigo é pai, e tenho certeza que será um dos melhores,
como o seu pai é para todos nós.
Encaro meu amigo, que sempre está muito bem arrumado. Ele mantém
os ombros caídos, o que não é um bom sinal.
— Fale.
Trinco tanto o meu maxilar que tenho a sensação que meus dentes irão
esfarelar e levanto, me sentindo sufocado dentro da minha roupa. Ando de
um lado para o outro, amargamente arrependido por tê-la expulsado daquele
jeito.
— Ei, não vá por esse caminho. — Meu amigo segura firme meu ombro
e me faz parar, virando-me para ele. — Sei o que a sua cabeça está
pensando, mas não é obrigação sua ajudá-la.
Damon deve deduzir que ela tem alguma prova, ou que talvez tenha feito
exames e guardado, o que eu espero muito que tenha sido feito, e por isso o
desespero para gastar, seu bendito dinheiro, calando a boca das pessoas que
seriam capazes de ir contra ele, contra a merda do império que sua família
criou, para ajudar uma mulher.
— Você falou com ela? — Meu amigo faz que não com a cabeça, e eu
tento pensar em algo, alguma coisa que ajude-a.
— Eu sabia que você faria — por fim ele fala algo. — Você é bom
demais para deixar de ajudar alguém que precisa, e é por isso que eu tenho
tanto orgulho de ter você como um irmão.
Olho para a fachada simples e bem comum, que não anuncia que de
fato aqui é um abrigo, o que em certo ponto é bom para manter a segurança
de muitas mulheres que devem vir escondidas.
— Pode entrar e, por favor, confira se a porta foi fechada após batê-la —
o interfone fica mudo e ouço quando o trinco da porta destrava e ela abre só
um pouquinho. Preciso empurrar com um pouco de força e faço questão de
conferir mais vezes do que o necessário se está fechado.
Quando viro, vejo que é um hall bem comum, com uma escada que pega
todos os andares, um corredor e ao meu lado tem outra porta que parece
estar trancada. Como ninguém vem me receber, eu sigo por esse corredor e
ao ouvir vozes, caminho na direção delas.
Alexa é uma mulher muito bonita, de pele negra e com os longos cabelos
enrolados. Seu vestido soltinho e florido deixa um ar bem calmo e jovial em
sua aparência. Ela pede que eu a siga até uma outra pequena sala, que tem
alguns sofás e ali começo a ver alguns avisos e panfletos.
“Essa é uma área segura, fique a vontade para falar o que quiser.”
— Olívia Pierson.
— Certo, Olívia. Não sei o que a Faith te contou sobre esse lugar, mas se
você veio através dela, sei que é de confiança. — Me mantenho ao seu lado,
caminhando com calma, enquanto ela me mostra alguns cômodos. — A SFS
é um lar, como gosto de chamar, para ajudar mulheres a recomeçarem depois
de sofrerem nas mãos de quem não as merecem, e muitas vezes essas mãos
são de seus pais, tios… A Faith nos ajuda há muitos anos, na verdade foi ela
quem conseguiu nos manter em alguns momentos de aperto. Infelizmente, há
alguns meses ela veio para cá na posição oposta. — Suspira e para na frente
de uma porta, virando-se para mim. — Hoje é a segunda pessoa que procura
por ela, o que é um número alto, levando em conta que ela não tem ninguém,
além do marido e das pessoas que o cercam.
Faith está sentada na beira de uma das camas, ajudando uma mulher que
está com o corpo todo enfaixado. Assim que ela me vê, sorri com tristeza e
pede para que eu me aproxime.
Nos sentamos em um banco que tem uma vista perfeita de todo o lugar.
Faith vira para mim e apoia o cotovelo nas costas do banco para depois
apoiar a cabeça na mão, tombando um pouco para o lado.
— Como soube daqui? Eu sei que dei o cartão, mas não tem nada na
internet ou no Google que fale sobre nós.
— Eu moro aqui perto, na rua ao lado, na verdade — digo e ela faz que
sim com a cabeça. — Tenho o hábito de correr e, quando me mudei, corria
pelas ruas ao invés do parque, lembro de ter visto as iniciais na caixa de
correio, que notei que não estão mais ali. Outro dia, eu passei e ouvi duas
mulheres conversando, cogitando se entravam para ter ajuda ou não, foi o
suficiente para saber do que se tratava esse lugar.
Faith é linda, parece uma modelo da Victoria Secret’s. Seus dentes são
perfeitos, e quase brilham quando ela sorri e eu daria tudo para saber os
produtos que usa para a pele ser tão bonita, apostaria minha bolsa da Gucci
que também deve ser muito macia.
— Quando eu soube que você estava ligada a esse lugar, eu me senti
mal. O Scott a expulsou, depois eu fiquei com a sensação que, para você ter
se submetido a falar com ele e, aparentemente, saber que seria tratada
daquele jeito, é porque precisava de ajuda mesmo. — Ela desvia o olhar do
meu e foca em uma rosa branca perto de nós. — Não tenho o direito de me
meter e eu sei, mas achei que talvez pudesse ajudar de alguma forma.
— Muito gentil da sua parte. — Volta a me olhar. — Não sei qual a sua
relação com o Barbie, não quero trazer mais dor de cabeça para ele, então
acho que não cabe a mim contar do nosso passado, mas, adiantando algo, ele
foi meu melhor amigo por muitos anos. A pessoa que mais amei com todo o
meu coração.
Ela sorri de lado, e me olha da cabeça aos pés, não daquele jeito como se
quisesse me diminuir, ou algo do tipo, ela me olhou com curiosidade mesmo,
avaliando a minha aparência como qualquer pessoa faz quando vê outra.
— Não o conheço mais, já faz muitos anos desde tudo e posso estar
falando besteira, mas uma única vez, dentre todos os anos de amizade que
tive com ele, vi ele implicar com alguém do nada, sem justificativa, essa
pessoa era uma amiga que depois virou sua namorada. — Eu levanto tanto as
sobrancelhas, que acho que elas saíram voando pela minha testa afora. —
Não quero insinuar nada, desculpe. Só achei engraçado.
— Nem que ele fosse o último homem da terra, nem mesmo se ele
fizesse uma plástica e parecesse com o Chris Evans. — Ela ri, jogando a
cabeça para trás.
Nós conversamos um pouco mais sobre coisas aleatórias, para aliviar um
pouco o peso da minha presença, desse lugar e de tudo que o cerca aqui.
— Eu fico muito feliz que você tenha vindo aqui, Olívia — comenta,
enquanto descemos as escadas para que eu vá embora. — Infelizmente, só o
Barbie pode me ajudar, e acho que isso não acontecerá. Mas, como você viu,
aqui é um lugar que precisa de muito amor, e uma ajudinha em uma coisa ou
outra. Seria ótimo se você aparecesse às vezes.
Recebo um abraço dela, agradecendo mais uma vez pela minha iniciativa
e eu saio dali com a sensação que estarei mais presente nesse lugar do que
algumas horas do final de semana.
Olho para trás antes de atravessar, pedindo a Deus que ampare todas que
passaram e as que infelizmente ainda passarão por coisas assim.
10
Muito sexo, tanto sexo que parece que minhas bolas sumiram em desespero,
deixando claro que não aguentavam mais.
Aproveitei que a minha irmã dormiu na casa de alguém que ela está ficando,
que pelo visto eu não conheço e ela não quer me apresentar, e trouxe uma
mulher espetacular que já estava na minha mira há um bom tempo, e não foi
nada fácil conquistar a atenção dela. Evelyn, tenho quase certeza que é esse o
seu nome, é uma mulher linda, com tranças, que ela falou se chamar box braid,
que a deixavam ainda mais atraente, sua pele era negra e ela era dona de um
belo par de seios.
Valeu cada segundo do meu tempo que investi no flerte, que mulher
gostosa!
Essa semana eu tive que resolver muitas coisas de alguns clientes, mas
não deixei de começar a fundo uma pesquisa sobre os podres de Damon, que
claro que são muitos e não foi difícil descobrir alguns deles.
O cara é um filhinho de papai desde que o conheço, na nossa época ele já
fazia várias merdas mas seu pai sempre pagava para que o imbecil saísse livre
dos próprios erros, e muito do que ele é hoje, com certeza foi por causa dessa
educação patética.
Sério que ela me seguiu só para me encher ainda mais o saco? Que
hater!
— Diaba! — falo sozinho, mas olho para foto por mais alguns segundos,
notando o decote avantajado que fica bem valorizado nesse ângulo. — Porra,
qual o meu problema? Transei há poucas horas e já tô excitado de novo por
causa dessa mulher.
Tomo um banho bem gelado para ver se meu corpo dá uma sossegada e, só
depois disso, tomo meu café e planejo o restante do meu dia, que até agora só
tinha um almoço marcado com a Faith.
Pois é, eu tô pagando com a língua. Muitas vezes falei que nada faria me
encontrar com aquela mulher novamente e olha eu aqui prestes a conversar com
o meu passado.
— Bom dia, Barbie. — Ganho um beijo na testa e ela rouba a banana que eu
tinha acabado de descascar para comer. — O que tem de bom para fazer hoje?—
Se joga no sofá, colocando as pernas para cima.
— Eu tenho um almoço e depois estarei livre! — Sento do lado dela e jogo
as minhas pernas por cima das dela. — Algo em mente que seu irmão possa
participar? — Faço um movimento com a boca como se estivesse apontando
para a camisa e ela arregala os olhos, como se só tivesse se dado conta disso
agora.
— Sem detalhes, linda. Você é minha irmã e, acredite, isso é nojento. — Ela
ri e empurra as minhas pernas, mas as mantenho no mesmo lugar.
— Que tal uma noite de filmes? — A ideia não é ruim, e tenho certeza que a
tarde não será nada agradável. — Podemos chamar nossos amigos...
Concordo e deixo que ela resolva com eles, e aproveito para ir treinar
antes da bendita hora do almoço.
Acho que ainda não tô entendendo muito bem no que estou me enfiando.
Seus olhos marejados me encaram e ela curva a boca, igual quando fazia
anos atrás, quando estava receosa de algo.
— Faith, eu não quero as suas desculpas! Não estou aqui para falar sobre o
passado, para brigar ou para ouvir qualquer coisa que tenha a falar sobre isso. —
Um vinco aparece entre as suas sobrancelhas. — Eu vim para te ajudar, porque
nenhuma mulher merece passar pelo o que você passou, e sinto muito por isso
ter acontecido e ainda ter que ver o culpado disso tudo ser aclamado pelas
pessoas.
Ela levanta o rosto, tentando evitar que algumas lágrimas escorram, mas não
consegue. Eu fico em silêncio, dando tempo para ela.
Porra, o que tem na cabeça de uma pessoa para fazer isso? Sinto um gosto
azedo em minha boca quando algumas cenas se formam em minha cabeça e a
vontade é de enfiar a porrada nele, alguém de igual para igual.
Covarde de merda.
— Você não precisa me contar isso, Faith. — Seguro a sua mão que estava
em cima da mesa, e ela começa a chorar, sem se importar com as pessoas vendo
e eu me importo menos ainda. — Não fique assim, por favor. Daremos um jeito
nisso, você está em um lugar seguro, não está?
Ela faz que sim e tira um lenço da bolsa, limpando o rosto e o rastro de
maquiagem que escorreu junto com as lágrimas.
— Nós precisamos juntar todas as provas que você tem — mudo de assunto,
e ela entende. — Não será fácil, Faith. Se você quiser só se separar, sem
denunciá-lo, essas provas servirão para que ele não dificulte o processo de
divórcio, e com certeza fará um bom acordo para que você não fique
desamparada financeiramente, mas se você quiser fazer justiça, que é o que eu
faria, precisará ser forte. Mas a escolha é sua, porque denunciá-lo também
significa que essa história será publicada em todos os lugares, a sua imagem
estará sempre ligada a isso.
— Como assim?
Faith bebe um pouco da sua água, tentando manter um pouco de calma, que
não está dando muito certo. Muitos anos se passaram desde a última vez que nos
vimos, mas ainda reconheço alguns jeitos e olhares, o que é uma merda, para ser
bem sincero.
— Ele conseguiu bloquear minha conta, até a que era apenas minha. — Pega
a sua carteira e mostra alguns cartões. — Todos bloqueados, todos! Assim que
ele percebeu que eu saí de casa, o que demorou quase duas semanas, fez questão
de me deixar sem nenhum dinheiro.
Porra, isso só piora. O cara é milionário, tem vários negócios errados que
gera uma infinidade de dinheiro e está fazendo questão disso? Que babaca!
— Não quero seu dinheiro, Scott! — Seu orgulho se mantém firme e forte
com ela, e eu dou de ombros. Minha cabeça já está uma loucura e de um jeito ou
de outro, agora que serei um doador da SFS, estarei ajudando. Talvez eu peça
para Alexa, a mulher que me ajudou com tudo isso, direcionar um dinheiro para
ela, por algum tempo. — Só me diga o que eu preciso fazer para que esse
divórcio saia, e depois eu prometo nunca mais aparecer.
Me levanto, sentindo o meu coração doer pelo sofrimento dela, por tudo que
ela passou e o que ainda irá passar. Não tenho dúvidas que no final do divórcio o
Damon ainda irá conseguir manipular a mídia para que ele pareça um indefeso
que foi largado pela mulher.
Eu olho mais uma vez para a mulher que por muito tempo foi o meu
alicerce, e dentro de mim nada mais se agita como antes, nenhuma parte do meu
corpo fica feliz em vê-la, é quase como se o sentimento nunca tivesse existido.
Mas o homem que me tornei faz com que eu lembre que ela passou em
minha vida e fez um belo de um estrago.
Pego o telefone e ligo para o contato que sempre me ajuda a descobrir ainda
mais sujeira dessas pessoas poderosas, que acham que o mundo gira ao redor
delas.
Todo advogado tem sempre uma carta na manga, e essa pessoa é a minha
carta mais valiosa. Nada é feito de forma errada, não preciso me rebaixar a esse
ponto, mas é muito mais fácil quando se tem alguém do meio, que sempre sabe
tudo de todo mundo.
— Oi. Preciso dos seus serviços! — digo, assim que sou atendido e entro em
meu carro passando cada detalhe do caso.
11
Olívia Pierson
Desde o dia que comentei sobre a Jess, minha mãe sempre arruma uma
maneira de fugir das minhas ligações. Mas hoje eu dei um ultimato, e disse
que já sabia de tudo e que ela não precisava ficar fugindo.
— Mãe, a senhora sabe que eu não sinto mais nada por ele, né? — Paro
de frente para o celular, com a mão na cintura. Minha mãe entorta a boca,
meio duvidosa. — Não é porque nunca mais tive um namorado que ainda
gosto dele. Depois de tudo aquilo, eu fiquei muito mexida, sem saber como
recomeçar e por onde, logo depois me afundei nos estudos e agora vivo
pelo meu trabalho.
Piada.
— Estou bem, eu juro! Mas não posso negar que estou preocupada,
mãe. — Corto as verduras, mas paro para encará-la. — É o Théo, eu tenho
medo que ele ainda seja aquele mesmo homem.
Claro que meu pai faria aquilo, aliás, qual pai não faria? Mas ainda
assim, para mim, isso não é justificativa para que Théo nunca tenha vindo
me pedir desculpas, eu tive que saber por outras pessoas que ele falava para
quem quisesse ouvir, que foi sem querer, que não tinha a intenção de me
machucar.
Nunca foi homem o suficiente para olhar em meus olhos e se desculpar
por ter arruinado minha carreira.
— Mamãe, vamos deixar tudo isso para lá, certo? — Ela concorda. —
Já tem anos, eu não faço mais parte da vida de nenhum dos dois de qualquer
forma, e amo a vida que eu levo, do jeitinho que ela é.
Me despeço logo depois, sem dar chance para ela continuar com essa
história que eu deveria ter um namorado.
Eu estava com Erick há alguns meses, ele era bem legal e nos
conhecemos no dia em que pedi demissão do último emprego. Ele estava
indo para o seu primeiro dia, loucura, né? Trocamos algumas palavras e ele
teve coragem de pedir meu número, e bem, o cara era um gato, por que
não?
Mas não deu certo na cama! Ele era bom, não posso negar, mas ele me
chamou por outro nome e eu perdi total o tesão, metade do sexo eu fiz só
porque já estava lá e queria gozar, o que também não rolou.
Ironia, né?
Mas ele ser detestável não anula a sua pegada que deixou a minha
calcinha encharcada em segundos. Eu simplesmente montei no colo do
homem depois de alguns flertes, dentro de um táxi e, se não fosse pela
pouca sanidade que me restou, não me oporia se ele jogasse minha calcinha
para o lado e me comesse ali mesmo.
Ótimo, estou excitada mais uma vez lembrando daquele dia.
Paramos de conversar quando ele diz que tem que dar a janta para a sua
filha e só assim vejo o quanto está tarde, e fico com aquela sensação de
querer falar mais com ele, mas me despeço e passo o meu número quando
ele pede, ansiando que me mande uma mensagem quando tiver tempo.
Levanto e vou lavar toda a sujeira que fiz na cozinha e deixei para
depois. No final, pego o saco de lixo e o levo até a lixeira do prédio. Antes
de conseguir chegar no meu apartamento, meu vizinho abre a porta e dá de
cara comigo.
— Olívia. — Sorri com aquele jeito charmoso e cruza os braços,
enquanto se encosta no batente da porta. — Pensei que havia se mudado,
não te vejo desde — faz uma pausa, fingindo que está calculando. — Desde
o ano novo desastroso.
E por mim, eu continuaria meses sem vê-lo, mas só porque sou uma
covarde e não soube falar para ele, que sempre foi muito legal e gentil, que
nosso beijo foi péssimo.
Ele me olha sério, mas não demora muito e cai na risada, forçando o
corpo um pouco para a frente e eu fico sem entender bulhufas.
— Não precisava disso tudo, linda! — diz calmo e ainda sorridente. —
O beijo também não foi bom para mim. Acho que meu crush por você era
apenas admiração pela mulher incrível que é, e eu confundi tudo por muito
tempo.
Eu respiro tão aliviada, que até apoio uma mão na parede e dou uma
risadinha.
Eu sei que fui uma idiota e ele não merece, mas como eu já disse, não
me relaciono há tanto tempo, que fiquei meio que sem saber como agir,
porque não queria perder a amizade com ele, mas não sabia como falar sem
ele se chatear, mas, de qualquer maneira, acabei afastando alguém que eu
gosto e isso foi um erro.
— Algum plano para hoje? Tenho tantas coisas para contar. — Ele abre
a porta do seu apartamento e pede para que eu entre e comece a atualizá-lo,
enquanto termina de enviar alguns e-mails.
É incrível ter amigos famosos, não que não possamos pagar, mas
acho que ninguém gastaria dinheiro para isso por motivos de não ligarmos,
mas já que temos como aproveitar de graça, por que não?
Ela me solta assim que todos ficamos juntos, e vai para o lado de Noah,
que a olha com aquele olhar de cachorro que ama a dona.
JACOB.
SORRIU.
Kath tira da sua bolsa umas caixas e vai entregando uma para cada um de
nós e quando recebo a minha, aproveito para puxar minha amiga em um
abraço forte.
— Estou muito feliz por você, Kath. Acredite quando eu falo que não foi
só o Noah que ganhou uma pessoa especial na vida — sussurro e ela se
afasta já fungando, e eu a abraço novamente. — Te amo, linda! Obrigado por
ser a pessoa que meu irmão merece ter.
Ela vai falar com as outras pessoas e eu abro a caixa. Nela tem uma
pulseira masculina preta, com dois pingentes de ouro branco, um com a
inicial do meu primeiro nome, e o outro com um símbolo de direito. Olho ao
redor e cada um recebeu uma pulseira igual, mudando apenas os pingentes.
Laura, Jennifer e Emma ganharam pulseiras no mesmo estilo, mas todas de
ouro branco.
— Sério, se vocês já começaram o casamento gastando tanto, acho
melhor fazermos uma vaquinha para ajudar. — Noah faz uma careta, como
se estivesse sofrendo pelo gasto, mas logo ri e puxa Kath para um beijo.
O assunto anima a todos, por motivos óbvios, né? Quem não quer ir para
as Maldivas... E Jacob já dá seu primeiro presente como padrinho, que é
levar todos até lá com seu jatinho. O casamento, pelo o que entendi, será só
para os mais próximos e as famílias deles.
— Por que eu sou seu amigo? — reclama e bebe seu whisky. — Você é
irritante! Não tem nada melhor para fazer não?
Meu sorriso morre assim que eu entendo de quem ele está falando.
Olívia está em uma mesa com... Michael, acho que é esse o nome do
homem que ela pediu ajuda para dispensá-lo. Engraçado que, olhando daqui,
ela não parece nem um pouco incomodada de estar na presença dele.
— Vou falar com ela! — Kath levanta animada, e puxa Emma junto. As
duas passam pelas pessoas, e Kath para algumas vezes para tirar foto com
alguns fãs e depois chega até a bendita mesa.
Olívia explode em uma risada e apoia uma mão em meu braço para não
cair, enquanto ri.
— Achou legal estragar minha noite? — minha voz sai rouca e a vejo
engolir em seco, enquanto encara meu rosto muito próximo. — Sabe que
isso vai sair muito, mas muito caro mesmo para você, né?
— Você acha que eu tenho medo de você? — essa língua afiada já deve
ter colocado-a em muitos problemas. — Nem perca seu tempo, lindo! Nada
vindo de você me afeta.
Dessa vez sou eu quem rio, porque sua pele arrepiada e a respiração
pesada é a prova do contrário que ela diz. Eu jogo uma mecha do seu cabelo
para trás só para deslizar a ponta do meu dedo por seu ombro e subo um
pouco até o seu pescoço.
Seguro na nuca de Olívia, trazendo seu rosto até o meu e a beijo com
raiva. Sua boca macia e gostosa me devora, sabendo que provavelmente não
rolará outro beijo entre nós e ambos queremos aproveitar essa oportunidade.
Descolo nossas bocas e olho a nossa volta. Bem ao nosso lado tem uma
portinha, que parece um estoque e quando coloco a mão na maçaneta quase
dou um pulinho de felicidade quando ela abre.
Viro Olívia de costas, abraço sua cintura e ando grudado nela até dentro
dessa sala que realmente é um estoque de bebidas.
Bato a porta atrás de mim e quando ela tenta virar, eu não deixo e
empurro seu corpo contra a porta, mantendo o meu colado no dela. A essa
altura o seu vestido já levantou e tenho uma visão perfeita da bunda redonda
e empinada que me enlouquece todos os dias no trabalho.
— Nós não vamos transar! — ela fala entre suspiros quando eu roço meu
pau em suas nádegas. Eu levo a minha mão para a parte da frente do seu
corpo e a forço para trás, deixando suas costas coladas em meu peito.
— Nós não vamos transar — repito a frase que ela falou e finjo que vou
descer a minha mão para o meio das suas pernas. Ela logo as abre, me dando
total liberdade para chegar onde eu desejo mas não continuo, e ela resmunga.
Meu pau dói de tanto desejo e, com certeza, minha cueca deve estar
melada com a baba dele.
— Você vai ter que me pedir para ter algo de mim, linda! — Passo a
língua pelo meio das suas costas e subo até a sua nuca, arrepiando-a ainda
mais. E me afasto, mesmo querendo rasgar esse vestido e fodê-la até ela
pedir para parar.
Ela vira para mim, com seus olhos tomados de raiva, sem acreditar que
eu não continuei e, antes de sair, ela me empurra, frustrada e eu rio na frente
dela. Encosto a cabeça na parede e tenho vontade de estourar meus miolos
por ter parado.
Mas fui eu quem pediu para parar e agora estou aqui, há dias me
masturbando e pensando no desgraçado. Tudo seria mais fácil se eu fosse
uma pessoa adepta a sexo casual, não querendo me gabar porque isso nao é
do meu feitio, mas já perdi as contas das investidas que recebo todos os dias
de homens que transparecem nas ações que só querem me levar para a cama.
Que inferno!
Mando uma mensagem de voz avisando que prefiro encontrar com ele no
bar, e falo que também estou ansiosa.
Vira as costas e sai sem falar mais nada, e eu solto a respiração que
estava prendendo, me apoiando na mesa à minha frente.
— Acho que alguém não gostou de saber que você terá uma noite quente
hoje.
Me sento assim que ela sai, e abro a gaveta para pegar o relatório, que fiz
ontem mesmo, para não correr o risco de ter que ouvir alguma piadinha do
infeliz aqui do lado.
Nós não somos melhores amigas, mas algo me diz que ainda teremos
uma relação bem próxima disso. É impossível não gostar daquela mulher, ela
faz questão de deixar todos muito à vontade, e é notável que não é forçado.
Eu acho incrível a amizade dela com as outras meninas, todas ali se
apoiam, se ajudam… A Jennifer disse que no começo ficou com o pé atrás
com a Kath, mas foi só porque acabou se deixando levar pelas notícias falsas
que saíram sobre ela na época, hoje elas são bem próximas também.
Deixo meus pensamentos para depois, pego todos os papéis, prendo com
um grampinho rosa e vou até a sala de Scott.
— Entra! — ele diz, antes que eu consiga bater e assim eu faço. Como só
tenho a intenção de deixar os papéis lá, nem faço questão de fechar a porta e
coloco tudo em cima da sua mesa. — Feche a porta e sente-se, por favor.
Scott explica que acha que um dos seus clientes está sendo roubado há
algum tempo, e por isso pediu aquele relatório em que realmente é claro que
houve um roubo de vários valores baixos para uma empresa daquele porte,
que no total já somam alguns vários milhões.
Ignoro o seu cheiro gostoso e o calor que emana do seu corpo até o meu,
me fazendo querer puxá-lo pelo colarinho e beijá-lo ali, sem nenhum pudor.
Sua gargalhada ecoa pela sala, e eu quase sinto vontade de rir também.
Mas ao invés disso, ando até a prateleira que tem seus exemplares e passo a
ponta dos dedos por cima deles.
— Não brinque com isso! — Se levanta rápido e vem até o meu lado. —
Se quebrar, lembre-se que agora é você quem compra para mim. A não ser
que deixe de ser uma mulher sem palavra e dê para trás com o nosso
combinado.
Eu conheço pouco sobre o Scott, mas uma das coisas que sei é que ele é
um bom irmão. Preciso dar o braço a torcer, por mais que eu não goste dele,
todos falam o quanto ele sacrificou sua vida e lutou para dar uma condição
de vida boa à sua irmã.
— Sua irmã quer transar! — Ele olha para trás e só agora me vê. Seus
olhos vão direto para o meu decote, que agora está bem amostra com três
botões abertos. — Ei, meu rosto está aqui em cima.
— Todo mundo quer transar — pontua. — Não entendi o porquê desse
comentário.
— Por Deus, Scott! Ela quer se livrar de você e ir para não sei aonde
para transar a vontade. — Bufo e olho o painel do elevador, que parece
descer mais devagar do que o normal. — Parece até que você não sabe como
é isso — alfineto.
Tenho vontade de chorar por ele estar certo, mas aproveito o caminho até
a Lótus para me recompor, e sim, escolhi lá mesmo sabendo que
provavelmente meu chefe estará lá, mas sei que é um lugar seguro caso algo
saia dos trilhos.
Olho mais uma vez a foto do Jonathan, gravando bem esse rosto bonito e
torcendo para que não seja um fake doido se passando por esse homem, seria
uma tristeza e uma bela perda de tempo.
Assim que entro vou até onde falamos que ficaríamos, e é fácil achá-lo.
O homem deve ter cerca de 1,90 metros de altura, os dois braços tatuados e
uma barba rala que é um charme. Ou seja, chama a atenção se destoando de
outros homens que poderiam ter a aparência igual a dele, mas ele tem algo a
mais.
— Hmmm, transudo! — Eu sei que ele não quis dizer isso, mas nunca
perco a oportunidade de fazer uma piada. A Kath e ele sempre fazem
exercícios juntos, porque só assim para aquela preguiçosa não desistir da
academia, e ele também treina com a gente, ou seja, treinos em dobro.
Todos os ternos de Jacob são feitos sob medida. Todos! Deve ser
coisa de italiano, porque eu mesmo prefiro os meus Armani, que vestem em
meu corpo como se fossem feitos especialmente para mim.
— Eu ainda nem acredito que isso vai acontecer… — Noah tem ficado
tão sentimental ultimamente, que às vezes quase não o reconheço. Mas esse
brilho em seu olhar, que eu nunca tinha visto, é só mais uma prova de como
está feliz. — E o melhor disso é que teremos a nossa filha como daminha, eu
acho que meu coração não vai aguentar.
— Uma pena que não ficaremos mais do que um final de semana nas
Maldivas. — Sento na beira de um banco e bebo o resto da água que tinha
em minha garrafa. — Preciso de mais dias para fazer meu nome por lá.
Kath engasga ao lado dela e eu preciso me controlar para não rir quando
Emma arregala os olhos, como se quisesse pedir discrição.
— Te odeio! — Jacob fala depois que quase arranca meu braço fora ao
esbarrar nele. — Oi Kath! — Beija nossa amiga e depois olha para Emma
por cima dos ombros antes de sair. — Podemos conversar?
A ruiva vai atrás e mais uma vez sinto meu braço doer quando Kath dá
um soco forte ali.
— Por Deus, Barbie. Você vai me deixar de cabelos brancos antes que
Milla consiga! — Ri e depois faz uma careta. — Vá tomar um banho, você
está fedendo a gente hipócrita, que fala sobre a tensão sexual dos outros,
enquanto vive de guerra com a contadora só porque levou um fora dela.
Estalo a língua e penso se falo ou não, mas sabe como sou, né?
— Depois da aposta ridícula que vocês fizeram com ela… Digamos que
eu tenha revidado esse fora. — O queixo dela quase vai ao chão e ela
movimenta a mão, pedindo para que eu continue. — Não seja indelicada,
amiga, não gosto de contar sobre meus momentos quentes com outras
mulheres, não é legal.
— Não quero ouvir mais nada! Não vou ser cúmplice disso. — Sai sem
nem deixar que eu continue e fico ali sozinho, na academia grande, olhando
meu reflexo no espelho.
Mas eu sou um gato que está fazendo besteira, eu sei. A nossa empresa
não tem nenhuma regra sobre funcionários se envolverem entre si, mas nós
pedimos para que mantenham isso fora da C&B ou caso se torne sério, que
nos avisem para que não haja nenhum tipo de problema futuro.
Jamais falaria ou implicaria com Olívia de um jeito maldoso sem que ela
desse abertura para isso. Não tenho a intenção de ficar com ela novamente,
por mais que tenha sido ainda mais gostoso do que da última vez, e eu tenho
certeza que ela foi embora com a boceta escorrendo, querendo me sentir bem
fundo.
— INFERNO DE MULHER!
Vou tomar banho com o pau duro, mais uma maldita vez. Por causa da
mesma mulher, que é um pesadelo. Mesmo longe consegue me infernizar.
— E você acha que eu não sei? Será o meu maior investimento, e olha
que tenho um hotel cinco estrelas que me custou uma nota! Mas pelo o que
vi, terei um retorno surreal. — Ela se ajeita do outro lado da tela e noto que
seu cabelo está diferente, mais claro e mais curto. A mulher é linda mesmo.
Ignoro isso e já pego um taco de sinuca e ajeito a mesa para jogar com o
loiro que vive com a minha irmã. Só não acho que tem algo a mais porque
nenhum dos dois me esconderia tal coisa.
Bryan pega outro taco e começamos a jogar. Eu evito olhar para outro
lado que não seja a mesa, não quero acabar atraindo aquele vulcão aqui para
dentro. Já está virando normal ela entrar em erupção quando estamos juntos,
é melhor evitar.
— Não encha tanto a bola deles, Kim — brinca, mostrando que já fica à
vontade com todos os meus amigos. E eu me pergunto o porquê dessa
desgraça. — Oi Scott — fala quando finalmente me olha, mas desvia o
olhar rapidamente.
Quando eu venço mais uma vez, Bryan desiste, falando que se fosse no
vídeo game ninguém o venceria, e é verdade, eu chamo Kim para jogar e ela
vem animada, como se estivesse esperando só o convite.
Ela não falou para me provocar, e sim para deixar claro que já ouviu
sobre mim e com certeza não foi nada bom.
— Ai Kim, não precisava perder para não deixá-lo triste — Olívia fala e
faz um biquinho para mim. Um maldito biquinho. — Ele já é bem
grandinho, não ia ficar magoado se perdesse!
Kim só ri, e vai até a cozinha quando Kath pede ajuda de alguém para
trazer as comidas para cá. Simplesmente todos os meus amigos vão, até a
minha irmã.
Mas, ela fala... e quando fala parece que tudo que sai daquela boquinha
gostosa é para me irritar.
— Me olhar dessa maneira não vai fazer com que eu evapore, Barbie.
Não que uma dor de cabeça uma vez ou outra não valha a pena. A
questão é que Olívia é uma enxaqueca que não passa nunca.
Nunca.
— Relaxa, acho que é uma coisa minha e com certeza a Fro... Olívia não
notou! — Sorri, tentando disfarçar que ia falar algo, mas desistiu no meio do
caminho. Eu ergo uma sobrancelha para ela, que na mesma hora levanta,
fugindo.
Fro.
Noah começa a falar algumas coisas que planeja fazer em conjunto lá nas
Maldivas, e Olívia senta na mesinha de centro que está bem na minha frente,
para poder interagir com o assunto.
— Eu acho que a sua nova amiga tem algo para falar, Kath. — A loira
me fuzila e Kath senta do meu lado para ficar de frente para ela.
— Eu tenho algumas ótimas ideias do que fazer, mas acho melhor não
falar na frente dos meninos. — Olha para Noah, com um sorriso de criança
que vai fazer merda e sabe disso. — Prometo que não terá gogoboys!
Emma é uma peça única nesse grupo insano que nós juntos
formamos. Sem nenhuma sombra de dúvidas, ela é a mais inocente, e não
duvido nada que seja virgem ou que tenha pouquíssima experiência. É quase
um dom meu sentir isso, tipo cachorro com seu faro fino.
Olívia sorri para mim como se tivesse ganhado uma guerra quando
Kath me pede desculpas, mas diz que vai deixar nas mãos de uma das
meninas, desde que tenham boas ideias. Parece que eu não posso participar
das duas despedidas.
Que cara de pau! Olho para ela, que conversa tranquilamente com a
minha amiga, e eu nem sei em que momento ela digitou a mensagem. Estão
vendo? É o vulcão querendo avisar que a qualquer momento vai explodir.
As horas vão passando e, a cada minuto, eu vejo que Olívia se
encaixa bem demais com elas, é ridículo, mas está acontecendo. Ela já foi
convidada para as boas-vindas da Milla, que ela nem sabia que existia até
ainda há pouco, já convidou todos os meus amigos, exceto eu, claro, para ir
ao Canadá, que é onde seus pais moram e também um dia de drinks na sua
casa.
Frozen, sério?
Me levanto e vou até Olívia e passo o meu braço por seu ombro, ela bufa
e revira os olhos, já sabendo que vou implicar.
Estamos todos nos esforçando para que não saia na mídia, e esse foi
um dos maiores motivos de Kath não querer chamar muitos dos seus colegas
de trabalho. As únicas pessoas famosas que estarão lá além dela, e os pais do
Noah, serão Christopher e mais dois dos caras do time.
Inclusive o babaca que estava ficando com a minha irmã. Não gostei
daquele cara e tenho certeza que alguma coisa aconteceu e ela não quer me
falar. Para minha sorte, ela parou de ficar com ele, disse que eram
incompatíveis demais.
Amém.
E também fiquei preocupado com Noah, será o dia dele e de Kath, mas
vai ser impossível alguém ficar mais bonito do que eu.
Impossível.
— Mande-a entrar.
Ela sai, tropeçando entre os pés e eu tento não rir disso. Scarlet é uma
graça, o tipo de mulher que fica fofa por ser desastrada, mas não faz o meu
tipo, o que é maravilhoso. Não quero me tornar esses chefes que troca de
secretária a cada mês depois de ter comido cada uma delas.
Meu sorriso morre assim que Faith entra e, diferente da última vez, ela
não vem direto até a minha mesa. Fico olhando, enquanto ela anda pelo
outro canto da sala, vai até a janela e depois olha a estante atrás de mim, e
foca em uma coisa que eu sei o que é.
Coço a testa e depois a barba, me segurando para não falar nada. Faith
está passando por um inferno, e não quero ter que ficar jogando o passado
em nossas conversas, mas a cada contato nosso é mais difícil de me
controlar.
Ela fecha os olhos, e vejo seu queixo tremer. Mas isso não me abala.
Quando volta a abri-los, se senta na minha frente, sempre com muita classe e
elegância e mais uma vez desvia do porquê está aqui e pega o porta-retrato
em minha mesa.
— Ai meu Deus! É a Lau? — Olha chocada para uma foto minha e da
minha irmã, no Rio de Janeiro. Eu só concordo e ela sorri, verdadeiramente
feliz. As duas sempre se deram muito bem, Laura falava que queria ser igual
a Faith quando crescesse, o que por sorte não aconteceu. — Ela está tão
linda! Eu fiquei sabendo o que aconteceu com ela, deve ter sido…
— Faith, não force a barra! Não somos amigos desde o dia que você
virou as costas para mim e entrou no carro do Damon. Olha, eu não quero
ser a merda de um homem ignorante com você, mas não força. — Eu vejo o
brilho em seus olhos morrer e ela coloca o porta-retrato no lugar. — E, se
quer saber, minha irmã só está tão linda assim porque sua mãe me ajudou em
cada maldito dia depois que você foi embora, mesmo me prometendo que
jamais sairia do meu lado.
Começo a mostrar para ela tudo que consegui até agora, sobre as
inúmeras traições, que ela parecia não saber de tantas assim, das apostas
ilegais, de uma empresa de fachada para um clube de prostituição e muitas
outras coisas.
O infeliz é tão sujo que quando denunciado uma única vez, deu a
justificativa de que gostava de sexo bruto, e que a vítima em questão estava
se aproveitando disso para tentar tirar dinheiro dele.
Porra, me sinto ofendido em ler tal coisa. Eu gosto de sexo bruto,
gosto para caralho, e isso não incluiu costelas quebradas, olhos roxos e
rostos deformados.
Animal de merda.
— Prometo que esse homem nunca mais vai chegar nem perto de
você, tudo bem? — Ela funga e concorda. — Eu entrei em contato com a
Alexa, e hoje uma equipe de segurança vai começar a trabalhar lá. Os
homens ficarão do lado de fora, de forma discreta. E para se sentirem mais
seguras do lado de dentro, ficarão apenas seguranças mulheres.
Ela solta as minhas mãos para tapar seu rosto e chora alto,
copiosamente. Seu corpo treme e vejo seu pescoço e decote ficando
vermelhos.
Me levanto e pego uma água, que logo deixo na mesa para que ela
pegue depois e fico em pé, olhando para a rua. Minha mente nesse momento
está a mil por hora, pensando em quais outras formas eu conseguiria foder
com ele.
Sinto uma mão delicada no meio das minhas costas e meu corpo fica
tenso, mas eu permaneço onde estou, até que Faith fica ao meu lado, também
olhando a rua, enquanto limpa seu rosto.
— Talvez tudo isso seja um castigo por tudo que eu fiz a vocês...
— Não fala uma merda dessas! — Me viro para ela para falar. — Eu
perdi as contas de quantas vezes te desejei coisas ruins… que você perdesse
um voo de primeira classe e tivesse que ir de econômica, que tivesse uma
barata na sua refeição preferida, que chovesse sempre que fosse fazer uma
viagem para a praia — Ela solta uma risada quando me escuta e depois tapa
a boca. — Mas ninguém, ninguém mesmo, merece passar por tudo isso que
você passou com o Damon.
— Acho que o que mais sinto falta em você é o seu senso de humor!
— Novamente encosta em mim, só que dessa vez em meu braço. — Eu não
tenho como te pagar agora, como você já sabe, mas será a primeira coisa que
farei assim que tudo se ajeitar. E vou ser eternamente grata, Barbie. Eu sabia
que, mesmo com raiva de mim e não querendo me ver, você não deixaria de
me ajudar.
Ter Faith por perto tem trazido à tona lembranças que eu acreditei ter
bloqueado no fundo da minha mente, mas pelo visto precisava de um
mínimo gatilho para voltarem com força total.
Eu preciso treinar e transar muito para jogar fora toda essa adrenalina
presa dentro de mim.
E vem dando certo! Claro que, às vezes, uma ou outra acredita que
será a pessoa que vai fazer com que eu mude de pensamento, mas meu
problema nunca foi a minha mente e sim meu coração, que já foi traído
demais para querer se arriscar no amor novamente.
Conto para ela a ideia que tive, enquanto conversava com a Faith
ainda pouco, e me sinto leve em saber que ajudarei muitas outras mulheres.
16
— Você veio mesmo! — Sou recebida por Kath assim que chego na
sua casa, em plena quarta-feira à noite. — Vem, entra! As meninas estão no
quarto da minha filha.
Amém!
Pego uma para mim e também para as meninas que já estão com as
garrafas vazias.
— Não tenho nada a ver com isso! Nem nos falamos hoje, graças a
Deus. — Todo mundo ri da careta que faço. — Desculpe, Laura! É seu
irmão, mas não dá, ele tem prazer em fazer dos meus dias um belo inferno.
Laura olha para mim, depois para Kath e abre a boca algumas vezes
para falar, mas desiste.
Kath vira para Laura e conta que seu irmão está ajudando Faith. A
loira volta a fazer as coisas, só que em silêncio e de cara emburrada. O clima
ficou estranho e eu me arrependo na mesma hora de ter vindo, mas Jenni
colocou uma música e, pouco tempo depois, todas nós nos distraímos, menos
Laura.
Ela sorri, com os olhos cheios de lágrimas e eu consigo ver pelo seu
olhar que ela dará o máximo de si para ser a melhor mãe que a Milla poderia
ter.
Acho que ela estava quieta para não estourar, mas não adiantou muita
coisa.
Nós deixamos que ela desabafe tudo, e nisso eu descubro que Faith é
ex-namorada do Barbie, a única que ele teve, e ela ia tentar sair escondida
para fugir com um outro homem, mas que era rico.
Não que seja da minha conta a vida dele, mas poxa, história pela
metade é de deixar qualquer um louco de curiosidade.
Eu fico com vontade de falar o que sei sobre o que está acontecendo
com a Faith, mas, se Kath e Jenni que também sabem e são mais próximas
da Laura não contaram, eu que não vou me atrever, já falei demais o que não
devia.
Não é a primeira vez que escuto alguém falar sobre como ele é com a
irmã, mas ouvindo dela é diferente e quase consigo acreditar que ele tem um
bom coração.
Meu coração erra uma batida após ouvi-la falar assim, e talvez ele até
seja isso tudo para ela, mas ainda é difícil de aceitar vivendo com ele o que
eu vivo.
— Vai ter que pedir a receita ao seu chefe querido! — Ela levanta e
pega as outras carnes que ainda estavam na churrasqueira e coloca no centro
da mesa para nos servirmos mais.
Isso é tão errado, eu não deveria estar sentindo um calor no meio das
pernas.
— Você não imagina o tanto de coisas que eu falo e faço que são
excitantes, chefinho! — Isso só está ficando mais errado, por Jesus. Ele é
meu chefe, o que está acontecendo comigo?
— Vai ser um prazer ouvi-la direcionar para mim esse tanto de coisa
— diz confiante e certo de que isso um dia acontecerá.
Rio da sua confiança, que realmente é algo único. Está para nascer
um homem mais confiante do que esse à minha frente.
Não dou mais chance para que ele fale e saio, antes que acabe
vacilando e o leve para dentro da sala comigo.
— E ela terá as melhores avós desse mundo! — Pisco e saio, indo até
a sala. Tivemos que mudar os planos de churrasco para buffet porque está
muito frio, e ninguém quer virar picolé.
A calça branca é tão justa, que fico imaginando se não está doendo,
mas ela vira de costas e vejo como o tecido abraçou perfeitamente sua bunda
gostosa. E a blusa de manga comprida e gola alta vermelha deixa tudo mais
interessante.
— Só você já deve ter falado umas vinte vezes desde que cheguei. —
Para no final da escada e pega o celular, daqui consigo ver que está no
bendito aplicativo e eu chego perto, sem que ele perceba para poder ver
melhor.
— Hmm, não sabia que você era tão fã de ruivas assim! — Ele gruda
o celular no peito mas não foi tão rápido e consegui ver três perfis em que
todas eram ruivas.
Cada dia fica mais difícil resistir a essa mulher. Ela é quente, e a
língua afiada me excita demais. Eu já perdi totalmente a cabeça e joguei fora
os limites dentro da empresa. Para minha sorte, ela fez o mesmo.
Passo por Olívia, e só agora ela me vê mas finge que não viu.
— Sim meu amor! Toda sua família está aqui para te receber na sua
casa.
A criança parece ter puxado a mãe e adora uma atenção, faz questão
de falar com cada uma das pessoas que estão ali, se apresenta para as poucas
que ainda não conhece e eu fico olhando como ela é desenvolta.
Eu aperto a boca quando vejo Olívia disfarçar a cara feia que iria
fazer ao ouvir meu nome.
Essa criança vai conquistar o mundo com esse seu jeitinho, e eu vou
ser obrigado a matar todos os homens que se aproximarem dela quando ficar
mais velha.
Um paizão mesmo!
— E pelo visto você ainda gosta de brincar! — Pisco, pego seu copo
e bebo metade do seu suco. Passo a língua pelo meu lábio inferior, bem
devagar e devolvo o copo para ela. — Cuidado para não babar, linda.
Saio da cozinha antes que a gente se mate com as facas que tem lá e
me sento em um puff mais afastado quando vejo que tenho mensagens em
meu celular.
Era óbvio que ele faria tal coisa, esse foi um dos maiores motivos de
ter feito o que eu fiz. Conheço gente como ele, e sei do que são capazes para
manter seus impérios.
Logo depois vejo que ela enviou um vídeo, a câmera que fica
estrategicamente escondida gravou tudo, inclusive a placa do carro que
parou bem na frente do prédio.
Ótimo!
Eu no lugar dela estaria ainda mais puto, então não reclamo por ela
agir assim. Laura era criança, mas é óbvio que notou em algum momento
que eu estava triste, fora as vezes que eu saía do meu quarto e via um prato
com sanduíche na porta, que era o seu jeito de falar que tudo ia ficar bem.
Também tive esse medo no primeiro dia em que a vi, senti tantas
coisas que fiquei confuso e até mesmo achei que a minha reação foi por
ainda amá-la, mas depois que me acalmei e coloquei todos os pensamentos
no lugar, entendi que não existe mais nada dentro de mim que a queira, nada
dentro de mim ficou minimamente feliz por vê-la.
Então estou dando um tempo para minha irmã conseguir aceitar tudo
isso e entender que não existe a menor chance de nada acontecer comigo e
com a Faith, nem mesmo se a porra do Thanos me obrigasse a ficar com ela
para não blipar o mundo.
— Quando minha filha ficar só com você, terei que equipá-la com
protetores em tudo que é parte do corpo — Kath comenta e ri, enquanto
separa mais vasilhas com salgados e batata frita para essas crianças que
parecem ter um buraco sem fundo no lugar do estômago. — Eu estou morta,
e é meu primeiro dia oficial como mãe.
— Te amo, obrigada por sempre saber o que falar. — Ela pega a vasilha
que estava em minhas mãos e respira fundo. — Deixa que eu entro, é capaz
de não conseguir sair de lá nunca mais.
Vou até o banheiro que tem ali no corredor, mas paro antes de entrar
quando escuto a voz de Olívia no quarto ao lado.
Ela desliga o telefone e bufa. Eu me afasto antes que ela me veja e entro
rápido no banheiro, fiquei olhando para as paredes sem saber o que fazer e
acabei lavando as mãos por tempo demais.
Ok, se algum dia eu já falei que a Lótus estava cheia, eu errei. Hoje
parece que mais de uma pessoa ocupa o mesmo espaço. Para a nossa sorte,
tem um caminho separado para as áreas VIPs, o que nos salvou de passar
pelo mar de gente que está na área comum.
Ele dá um beijo rápido na testa de cada uma das meninas, inclusive eu, e
sai em direção a milhões de pessoas, de cabeça baixa, evitando que alguém
pare ele no meio do caminho.
— Já que eu vim, vou querer tequila! — Emma diz, toda animada. Kath
fez questão de emprestar uma roupa para ela. Precisamos ajustar um cadinho
porque ficou largo mas agora está perfeito. O vestido preto, de alcinha, que
bate no meio de suas coxas parece ter sido feito para ela. — Todos vão
querer também, né?
— Não! — Jacob fala, o único que nega. E Emma apenas abana a mão
na direção dele, como se já soubesse que ele falaria isso. O CEO da C&B é
claramente afetado pela ruiva e, pelo o que eu já sei, eles ficaram duas vezes
e a última quase transaram, mas Emma foi sincera e falou que era virgem, o
que fez com que ele quase saísse correndo.
Pelo menos ele não foi escroto em ter tirado a virgindade dela, sabendo
que não seria a melhor experiência para a garota que parece viver uma vida
diferente demais da dele.
E não tem nada a ver com o nome dela ser o meu apelido.
— Sujou no cantinho! — Sem nem pensar duas vezes ele passa o polegar
no canto dos meus lábios quando tiro o limão da boca, e depois lambe o
mesmo dedo. E eu quero muito desviar o olhar nesse momento, mas é uma
cena erótica deliciosa. — Quer? — O filho da mãe oferece o dedo para mim,
achando que eu vou negar, que é o que eu deveria fazer, mas...
— Por que não? — Dou de ombros, como se não fosse nada demais o
que eu estou prestes a fazer e seguro em seu punho, antes de descer a boca
por todo seu polegar, bem devagar, e depois subo com tanta pressão que as
minhas bochechas devem ter ficado fundas. — Acho que já estava limpo! —
Sorrio, e viro para o outro lado, torcendo para que ele não perceba que as
minhas pernas ficaram fracas.
Depois de toda essa cena, eu tento me manter o mais longe possível dele,
e parece que ele faz o mesmo, o que é ótimo. Do jeito que eu estou, eu
sinceramente não sei se negaria algo a ele.
Volto a frisar: não é porque ele é insuportável que deixa de ser gostoso.
E, qualquer mulher sã, que já tenha sentido o mínimo da pegada desse
homem, entenderia o porquê de eu ter ficado assim.
É o tipo de pegada que mostra que o homem sabe exatamente o que faz,
e por Deus, só meus vibradores sabem como eu queria que fosse outra
pessoa ao invés do Barbie que me deixasse assim, excitada com um mísero
toque.
Pensei que ia passar batido esse pequeno detalhe. Desde meu último
encontro com elas, agora faço parte de um grupo que já existia, no aplicativo
de mensagens. E claro que lá nós falamos de absolutamente tudo, acredite,
tudo mesmo.
Por conta disso, eu contei a elas sobre o meu encontro, e elas ficaram
mais animadas do que eu quando mandei a foto do Jonathan. E não teriam
como reagir de outra forma, ele é lindo.
— Quem nunca levou um bolo, né? — Barbie senta ao meu lado, e passa
o braço por cima das costas do sofá, fazendo parecer que estamos juntos em
um abraço. — Tenho certeza que alguém no meio de tantas pessoas toparia
te fazer companhia, sabe... para não perder a noite.
Muito em breve.
— Eu não sou como você, Barbie! Consigo sair uma noite e não levar
ninguém para a minha cama.
Ele faz uma careta, achando um absurdo o que acabei de falar e eu rio. O
cara não existe, sério.
— Menos, lindo! Bem menos, você não está com essa bola toda.
— Eu adoro ouvir suas mentiras! — Eu consigo sentir o hálito dele em
minha orelha. — Você só esqueceu que seu corpo te denuncia demais, linda.
— Ele levanta, ajeita a camisa na minha frente e depois olha descaradamente
para os meus seios, com um sorrisinho vitorioso. — Deveria usar essa blusa
mais vezes. — Pisca e sai, sabe-se Deus para onde.
Eu abaixo o olhar e é claro que meus mamilos estão duros feito pedra.
Me denunciando descaradamente. Maldita hora que resolvi não usar sutiã.
◆◆◆
Olho na direção das janelas da minha sala e vejo que o céu já está
completamente preto. No andar em que trabalho já quase não escuto barulho
de ninguém, e o relógio me confirma que já se passaram quase duas horas do
meu horário.
Mas como ainda tenho dificuldade de lidar com alguns advogados, que
não colaboram nem um pouquinho, tive que começar a segunda-feira no
caos e só agora consegui resolver tudo.
Ele deve estar no corredor, porque nunca ouço nada da sua sala. A não
ser que ele grite igual a um descompensado.
Espero não ter que passar por isso tão cedo. Acho que eu morreria
juntinho com os meus pais.
Coloco o celular na bolsa, junto com todo o resto e apago as luzes da sala
antes de sair e trancar a porta.
A minha intenção era ir direto para o elevador, sem nem olhar para trás.
Mas eu consigo ouvir a respiração pesada do Barbie, como se estivesse se
controlando ou corrido uma maratona, e isso me faz virar e me deparo com
uma cena que jamais imaginei.
Coloco minha bolsa na mesinha que tem ali perto e o barulho faz com
que ele me encare, e é o suficiente para eu deixar de lado todo o ódio que
tenho dele. Seus olhos estão tão vermelhos, que se eu não soubesse que
chorou, com certeza acharia que fumou um belo de um baseado.
— Barbie, voc…
— Hoje não, Olívia. Por favor, me dê uma trégua hoje, só hoje! — sua
voz me deixa assustada, é quase um apelo e eu não sei como reagir a ele
dessa forma. — Só vá embora!
— Você não vai ficar sozinho nesse estado, vem! — Seguro em seu
braço e o forço a entrar em sua sala, ele me olha estranho. — Anda, antes
que eu desista. — Ele se deixa ser levado e eu caminho até o sofá, onde ele
senta, jogando a cabeça para trás e tapando o rosto.
— Não faça isso! — Me assusto quando bato no peito dele e ele pega o
meu celular, bloqueando a tela e o coloca em cima da sua mesa e se escora
na beira dela. Eu tento não olhar, mas é impossível não admirar seu corpo e
seus braços assim que ele os cruza. — Você já deve saber, mas hoje faz
catorze anos que meus pais faleceram. E diferente do que todos acham, eu
não superei ainda.
— Eu sinto muito, Barbie. — Coloco a mão em seu braço e ele olha para
mim. — Deve ser muito difícil, não se culpe por não ter superado. Só você
sabe a falta que eles fazem em sua vida. — Ele fecha os olhos e uma lágrima
escorre. Meu coração se aperta com essa cena, com esse Barbie com as
armaduras abaixadas. — Subo a minha mão do seu braço até seu rosto e
passo meu polegar em sua bochecha, limpando a lágrima e ele abre os olhos,
me encarando de um jeito que eu nunca vi antes.
— Você não precisa ficar aqui, Olívia. Eu nem tenho forças para me
defender de você — tenta brincar mas não dá certo, mesmo assim eu sorrio
de lado.
— Nem todo mundo consegue ser divertido e alegre o tempo todo. Você
também tem o direito de ficar triste, chorar, de sentir o luto. E eu vou te fazer
companhia até você decidir que vai para casa. — Ele apenas concorda, com
aquele olhar que diz algo que eu não faço ideia do que seja, mas eu entendo
que ele não quer ficar sozinho, mesmo que para isso, eu tenha que ser sua
companhia.
Afasto minha mão do seu rosto, pronta para me sentar no sofá. Mas a sua
mão grande cobre o meu punho e eu volto a olhá-lo, sem contestar quando
puxa o meu corpo para perto do seu, fazendo meus seios encostarem em seu
peito nu.
— Não seja legal comigo, Frozen. — Seus olhos percorrem meu rosto,
procurando por algo que não sei. — É mais fácil resistir a você te odiando.
— E sem falar mais nada, sua mão cobre toda a minha nuca e puxa a minha
cabeça em direção a sua, até colar nossas bocas em um beijo duro, um beijo
de quem quer muito isso, mesmo que seja contra a sua vontade racional.
— Então você não quer que eu arranque seu vestido agora, e enfie meu
pau bem fundo dentro da sua boceta que deve ser a porra de uma delícia? —
Ele segura minhas coxas e as aperta antes de me puxar com força contra seu
corpo, ficando na beirinha da mesa.
Tem uma coisa bem grande pressionando a minha barriga, e não tem
como isso ser o pau dele.
— Vou parar então! — fala da boca para fora, porque sua mão sobe pela
minha cintura, passeia ao redor de um dos meus seios e minha respiração
fica ofegante quando sinto seu polegar invadir meu sutiã pelo decote e
começar a massagear bem de leve e gostoso. — Não é isso que você quer?
Que eu me afaste, e continue fingindo que a gente não quer transar
loucamente nessa sala?
— Só… continua!
Sabe aquela coisa que você deseja muito, mas nunca acredita que
realmente vai acontecer? É exatamente isso que está rolando agora.
Adoro essa reação quando alguém vê o meu pau pela primeira vez.
Olívia coloca a mão por dentro do vestido e puxa a calcinha, e toda essa
movimentação me dá uma breve amostra da sua boceta depilada.
Empurro a minha calça com a cueca para fora do corpo, depois de ter
tirado meu sapato, e fico completamente nu na frente da loira que me olha
como se quisesse me devorar, literalmente.
Eu abro seus lábios com dois dedos, e passo a minha língua do seu
clitóris até o seu períneo, e me delicio com a sua excitação que escorre de
dentro dela. Aproveito para passar a língua bem devagar ao redor da sua
entrada e depois sugo, apertando a sua coxa com a minha mão livre.
— Que delícia! — ela sussurra baixinho, e vejo que se segura com força
na mesa.
Refaço o caminho até o seu clitóris e afasto o meu rosto dali para poder
encará-la quando começo a esfregar seu ponto sensível e duro. Eu quase
acho que ela vai desmaiar quando joga o corpo para trás e choraminga.
— Depois que eu começar não vou parar. — Esfrego meu pau e ela
pega uma das minhas mãos e coloca em seus seios. — Tá com pressa, amor?
— Ela geme quando eu aperto com cuidado, descobrindo que essa delícia é
natural.
Eu seguro em sua cintura e enfio todo o meu pau, sendo abraçado por
sua boceta gostosa que me aperta em espasmos.
Tiro meu pau de dentro dela quando se acalma em meu colo, puxo a
camisinha e deixo o meu gozo atingir seus seios e barriga. Uma das suas
mãos o envolve, descendo e subindo, olhando cuidadosamente.
Meu pau que mal amoleceu, já volta a endurecer quando ela abaixa
um pouco para pegar a calcinha e me dá uma visão privilegiada do meio das
suas pernas.
Levanto da cadeira e ando até ficar de frente para ela, com meu pau
já encostando em minha barriga e bem na direção do rosto da diaba, que
larga o vestido e já me engole com tudo.
Eu saí do banho já tem quase uns vinte minutos e desde então estou aqui
na frente do espelho, nua, olhando cada marca que ficou em mim da noite de
ontem e tentando entender como que as coisas foram para esse caminho.
Única justificativa para ter transado uma… ou quatro vezes com ele!
Decidi colocar uma calça social de cintura alta e uma blusa lisa, com um
blazer creme, da mesma cor da calça. Nenhuma cor chamativa, quero passar
despercebida.
— Uau, vai linda assim para o trabalho? — É a primeira coisa que Kim
fala quando apareço na cozinha e acho que não consegui o que queria com
essa roupa. Pego a caneca de café e minhas torradas de tomate seco e me
sento na bancada. — Muito trabalho ontem? Cheguei às 11 da noite e você
não estava por aqui.
Ela sorri, fofa como sempre e bebe seu café antes de falar.
— Eu e o Mika fomos ao cinema. E depois eu fui até a casa dele para
ajudá-lo com um discurso.
— Não é nada disso! Ele é legal, um bom amigo. — Sei. Me abaixo, faço
um carinho no corpo da minha gatinha e depois encho o seu pote com
comida. — ISSO É UM CHUPÃO? PIRANHA! SABIA QUE ESTAVA
MENTINDO. — Ótimo, agora toda NY sabe que eu tenho um chupão no
pescoço, que só apareceu porque meu cabelo veio todo para frente quando
me abaixei.
— Não é mais fácil colocar em um auto-falante? — Levanto e tento
tapar, mas a abusada empurra o meu cabelo para poder analisar.
— Jonathan? Hmm, não. Não foi ele! — Passo rápido por ela e pego a
minha bolsa, porque eu me recuso a contar quem foi e ficar aqui para ouvir
um belo de um discurso. — EUTRANSEICOMOBARBIENOESCRITÓRIO
— falo rápido. — Te conto quando chegar, te amo, tchau! — Saio e bato a
porta, correndo em direção ao elevador e só consigo ouvir ela me xingar
novamente.
Será que ele vai deixar transparecer o que aconteceu? Vai me procurar
novamente? Vai usar isso para implicar comigo?
Merda.
Esse é um dos motivos de não gostar de sexo casual, ainda mais com um
conhecido, se for meu chefe, pior ainda. Nunca sei como lidar depois, e
sempre me sinto estranha, como se estivesse fazendo algo errado.
E gostoso.
E bonito.
Respiro aliviada por não encontrar com Barbie até o caminho da minha
sala e entro distraída, mexendo no celular e tomando nota das coisas que
tenho que fazer hoje.
— Bom dia, Srta. Pierson — a voz dele faz com que eu me assuste e por
pouco meu celular não voa para o outro lado da sala. — Sempre muito
assustada, devendo a alguém?
Ele fica em silêncio muito tempo, e eu até acho que ele saiu da sala e
levanto a cabeça, olhando na direção de onde ele ainda está.
Da última vez que eu fui lá, conversei com algumas dessas mulheres, que
acabaram tendo que deixar tudo que tinham para trás e manter a vida.
Imagina, você ficar anos ali trabalhando para conquistar as suas coisas para
chegar um dia e ter que deixar tudo, até mesmo as roupas que não são as que
estão no corpo, para poder se manter viva.
E elas não trabalham, porque têm medo que os agressores a encontrem,
muitas delas nem se arriscam a sair do abrigo. Então, ter um dos advogados,
que são muito bons no que fazem, dispostos a ajudar de graça, é
praticamente uma ajuda divina e algo admirável.
Mas eu não posso admirar esse homem na minha frente, não de outra
forma que não seja fisicamente.
— Ótimo, até porque eu não posso entrar lá e só conversei com elas por
videochamada. — Coça a nuca e depois levanta. — Obrigada por isso,
Frozen! Até que você as vezes é bem legalzinha.
Até que não foi estranho o nosso primeiro contato depois de ontem, na
verdade ele foi ótimo em fingir que nada aconteceu. Não recebi nenhum
olhar diferente dos que ele já dava, nenhuma piada sugestiva.
Mas é assim que as coisas são, né? Transamos e ponto. Isso não irá afetar
a vida de nenhum de nós dois, e seguiremos como sempre.
Vou conseguir olhá-lo todos os dias e não lembrar de cada tapa, nem do
seu pau enorme me rasgando do jeito mais delicioso possível e nem muito
menos dele pedindo para eu gemer seu nome.
Como quem não quer nada, vou até Jennifer e pergunto se ela quer uma
água. A secretária me olha estranho, mas aceita e pega duas garrafinhas.
Nesse meio tempo, a mulher que estava de costas para mim, na porta do
Noah com ele e o Barbie, vira e sorri para Jenni.
— Mais uma versão minha para você se apaixonar, gata — Barbie fala a
última palavra em outro idioma, que eu não reconheço, e ela sorri
maliciosamente e pisca para ele, antes de olhar ao redor e me ver.
A brasileira muito simpática e que gosta de dar abraços, ri mais uma vez
e antes que consiga falar algo, Barbie a puxa.
— Olívia tem muito trabalho, Paola. Vamos lá na minha sala? — Ela faz
um bico, mas concorda.
Barbie a empurra pelos ombros, não permitindo que ela fale mais nada e
isso só me deixa mais curiosa. Até agora, a única coisa que ficou óbvio é que
eles já se pegaram, o clima sexual entre os dois é gritante.
Pego mais garrafas de água e vou para a minha sala com cuidado para
não derrubá-las. Me ajoelho na frente do frigobar e as coloco lá, junto com
alguns sucos que nem tinha notado ali.
— Ela sabia — digo por fim. — Mas, respondendo, depende para que
quer saber se estou ocupada.
A mulher começa a falar e não para nem para respirar. Do escritório até o
restaurante que fica a 100 metros de lá, eu já descobri a idade dela, o porquê
de estar aqui e que precisa arrumar algum lugar para ficar que não seja hotel,
tipo um AIRBNB.
— Isso seria o máximo! — Ela passa o dedo pelo cardápio, olhando com
cuidado o que vai pedir e escolhe uma carne nobre com batatas e molho,
como eu sou indecisa por demais, peço o mesmo que ela. — Não gosto de
ficar em hotéis que não sejam os meus, acabo sempre comparando e acho
que os meus não são tão bons.
— Essas são as fotos do meu apartamento. — Viro meu celular para ela,
que pega e começa a olhar. — É igualzinho, só que sem a decoração e
também é mobiliado.
Paola aproveita que está com meu celular e já anota o seu número,
deixando claro que espera uma mensagem, ainda hoje, sobre isso e que seria
legal ter alguém conhecido por perto.
— Bem, você deve estar me achando uma doida, né? — Sorrio sem jeito,
porque é basicamente isso que estou achando. — É que já ouvi tanto de você
, que me sinto próxima. E para sanar a dúvida estampada em sua cara, é o
Barbie que fala em você, todo santo dia. — Ela ri, mostrando os dentes
perfeitos.
Meus olhos devem ter saído da minha cara ao ouvir isso e acabo me
engasgando. O garçom vem me ajudar dando batidinhas nas minhas costas,
me socorrendo, enquanto a brasileira segura o riso.
— Mas, você teria que dividi-lo com a pessoa que deixou a calcinha na
lixeira do banheiro do escritório dele.
Dessa vez eu sinto meu rosto tão quente de vergonha, que mesmo com a
temperatura baixíssima, eu sinto calor e me abano.
Não acredito que ontem eu fiz isso. Antes de ir embora eu tive que me
lavar, e no banheiro dele tinha chuveiro. A minha calcinha estava destruída e
a joguei lá, ele disse que jogaria fora cedinho hoje.
— Parece que você foi a felizarda em ganhar o lado chato dele, porque
isso é unicamente com você — pontua. — Agora sobre não rolar outras
vezes, você acha que isso é verdade mesmo?
Por que eu estou mesmo conversando sobre minha vida particular com
uma desconhecida?
— Tenho que concordar! E também quero que saiba que eu e ele não
temos nada, ok? Foi ótimo no carnaval, mas da mesma maneira que você
chegou à conclusão que ele é problema, eu também cheguei. E o que não
falta é homem bonito em NY para esquentar minha cama esses dois meses.
A Paola é aquele tipo de pessoa que conquista fácil todo mundo, e foi
assim comigo. Eu quero convidá-la para jantar lá em casa, para sair, para
tudo. E ela tem um senso de humor maravilhoso, minhas bochechas estão
doendo de tanto rir.
— A minha amiga, Kim, vai amar te conhecer — digo depois que ela
paga a conta como prometido, depois de ter me ameaçado quando disse que
pagaria a minha, e saímos do restaurante. — Nós moramos juntas, então ela
também será a sua vizinha.
— Lindo, o mundo não gira ao seu redor, mesmo que você seja um Deus.
— Levanta e vai até a mesa alta que tem algumas bebidas, abre algumas e
cheira, mas não pega nada. — Você fala da Olívia todos os dias, achou
mesmo que eu não iria querer conhecê-la?
Paola empurra meu braço e senta onde eu estava apoiando e vira meu
rosto para ela.
— Você foi uma exceção deliciosa, e nós sabíamos que não passaria
daqueles dias. — Ela faz cara de choro e coloca a mão no coração,
encenando estar de coração partido. — E agora é minha amiga. Uma amiga
muito gostosa, mas é minha amiga.
Ela ri, e depois fica me olhando com aquela cara de quem quer falar
algo.
— Estou ansiosa para ver como a sua cabeça de cima pensa. — Gargalha
as minhas custas e eu mostro o dedo do meio para ela. — Bem, está perfeito
encher o seu saquinho que deve estar vazio depois da noite de ontem, mas eu
preciso ir lá no prédio de Olívia e resolver logo o lance do aluguel.
Najas.
Paola me abraça e sai sorridente, falando com as pessoas que passam por
ela, mesmo que não as conheça. Adoro o jeitinho da brasileira, não tem
como ficar triste perto dela.
O sexo foi incrível, memorável. Desses que se fosse para fazer ranking,
estaria no top três fácil, ficando atrás de umas putarias muito loucas que eu
nem gosto de lembrar para não ficar de pau duro.
— Dr. Barbieri, então podemos contar com a sua presença aqui para a
reunião com o cliente? Seria no final de semana mesmo, assim não
atrapalharia a sua agenda. — O homem na tela da esquerda me pergunta e
eu volto a prestar atenção, pego a minha agenda e olho os finais de semana,
que normalmente são livres, mas as vezes preciso trabalhar, e confirmo a
data que eles desejam. — Ótimo, amanhã mesmo a minha secretária entrará
em contato para lhe passar os dados do hotel e do voo.
Era disso que eu precisava, uma viagem para longe de todos, conhecer
mulheres novas e deixar a minha marca no Canadá.
O táxi para na frente de uma luxuosa e gigantesca loja de noivas e eu já
avisto Kath e a sua trupe na porta, devem estar me esperando e eu saio
depois de pagar o taxista.
BLÁ-BLÁ-BLÁ.
— Tá, agora a surpresa. — Kath vira de frente para nós, olhando para
suas amigas com amor. — Eu quem irei dar o vestido de madrinha de
presente, então vocês podem escolher qualquer vestido que seja na cor rosa
chá.
A outra mulher nos leva até uma sala enorme, que comporta dois sofás e
um pedestal, que imagino que sirva para a noiva mostrar para os
acompanhantes e também ver melhor no espelho gigante.
Eu me sento e pego outra taça. Milla fica do meu lado, contando as
histórias das suas bonecas, e que uma delas está muito mal porque se afogou
na piscina, indo contra as regras dos pais de só entrar com adultos.
Só que a conta não bate, porque além de mim, tem o Bryan, Jacob e
Jackson. Um de nós terá que entrar sozinho, e eu não me oporia se me
escolhessem, é bom que me destaco ainda mais.
Kath avisa que ela começará a escolher, e depois as madrinhas vão e eu
agradeço, porque assim eu vou embora logo depois que ela terminar.
Minha amiga é levada por uma das mulheres, e a outra já começa a
perguntar o estilo de vestidos que as madrinhas querem, para já ter em mente
os modelos certos a pedir, e com uma fita métrica começa a tirar as medidas
delas e anota tudo em seu IPad.
Todo mundo cai na gargalhada mais uma vez com essa cabecinha
inteligente que presta atenção em tudo.
— Seu pai não seria louco de não chorar — sussurro no ouvido dela, e
ela ri, colocando as mãos na frente da boca.
As meninas começam a surtar, enquanto Emma chora e assoa o nariz.
Todo mundo fica mexido com isso, e Milla deita a cabeça em meu
ombro, enquanto admira a mãe e a enche de elogios.
— Vai tudo ser perfeito e você merece isso e muito mais, amiga —
Emma fala e eu concordo.
Meu pai é um homem muito bonito, mesmo com suas rugas e o bigode,
que ele diz ser seu charme, mas ele é o único que acha isso. Além disso, é a
pessoa mais positiva que eu conheci em toda a minha vida.
Era ele quem sempre me levantava quando eu caía nos treinos, que
gritava da arquibancada para que eu tentasse mais uma vez e pernoitava
quando necessário, me acordava cedíssimo para os treinos e fazia a minha
comida.
É o meu melhor amigo! E eu sinto muito a falta de ser tão próxima dele,
mas a vida adulta tem planos que não conseguimos desviar.
— Que saudade, minha Frozen! — E também foi ele quem criou esse
apelido, não duvido nada que muitas pessoas só sabem o meu nome por
causa dos eventos de patinação, se não todos viveriam me chamando de
Frozen. — Eu quero saber quando a senhorita deixará de enrolar o seu pai
e virá me ver, pelo menos um final de semana.
Eu realmente estou no erro com eles, mas tive tantos contratempos que
não pude ir da última vez que marquei, porque todos da C&B viajaram e o
Jacob pediu para que eu ficasse de olho em tudo, o que acabou me deixando
cansadíssima, e eu desmarquei.
— Acho que posso no outro final de semana, pai. O que acha? — O
olhar dele se ilumina e ouço minha madrasta gritar em animação, antes
mesmo de colocar a cara na ligação. — Oi Amélia, bom dia! Prepara um
quarto aí que estarei chegando.
Meu pai pega o celular e se distancia de onde estava, indo para um lugar
mais tranquilo e senta no balanço que tem na varanda, me olhando com
carinho.
— Filha, eu só quero que você se cuide, tá bom? Sua mãe tem falado
que você está trabalhando muito, o que é ótimo, desde que não esteja
passando dos seus limites.
Não é a primeira vez que eu tive essa conversa com ele e nem será a
última. Meu pai é muito preocupado comigo, acho que se dependesse dele,
eu ainda moraria lá em sua casa, sendo mimada todos os dias por ele.
Partir foi mais difícil para o meu pai do que para mim. Eu já não sentia
que me encaixava lá desde o acidente, parecia que tudo que eu gostava na
minha cidade perdeu a graça.
— Pai, não se preocupe! Eu não estou passando dos meus limites. — Ele
ergue uma sobrancelha e mexe o bigode desconfiado. — Ok, só às vezes,
mas bem pouco. A empresa requer muito de mim, as demandas são
gigantescas e tem pouquíssimos dias que consegui colocar tudo em ordem,
então agora vai ser mais tranquilo.
Consigo convencer meu pai, que muda de humor na mesma hora e vai
andando pela casa até o porão, mostrando que transformou o cômodo que
ficava com coisas velhas em uma sala do lenhador.
Foi exatamente esse o nome que ele deu a sala que agora tem um sofá
enorme, televisão, alguns jogos e uma geladeira que eu sei que está cheia de
cerveja. O detalhe engraçado é que meu pai não é lenhador.
Sempre que ligo para ele ou minha mãe fico com o coração
transbordando de amor e saudades, o que só afirma para mim que eu tenho
mesmo que ir vê-los. Então quando encerro a ligação já sento na mesa onde
fica meu notebook, de frente para a janela, e procuro passagens para lá,
torcendo que tenha alguma em um bom horário na próxima sexta.
Eu não faço muita questão desses luxos, por mais que eu tenha como
bancá-los. Mas quem recusaria uma boa poltrona, melhores lanches e uma
viagem tranquila e sossegada?
Coloco todos os meus dados e compro. Pego o celular e tiro uma selfie
do lado do computador, mostrando que comprei e envio para os meus pais.
— Dessa vez você vai ficar com a Kim, Vodka. — Ela ronrona, enfiando
mais a cabeça em minha perna. — Prometo que te levo na Ação de Graças.
Agora deixa eu me arrumar porque tenho que ir no abrigo.
Quase todo final de semana eu tenho ido para lá ajudar no que tiver para
fazer. Além de financeiramente, elas sempre precisam de ajuda em outras
coisas, eu por exemplo, estou ajudando nas finanças, para que consigam ter
um controle melhor da entrada e saída de dinheiro.
Como já tomei banho depois de ter corrido, vou até o closet e procuro
uma roupa confortável. Opto por uma calça legging grossa preta, uma
camisa longa e um sobretudo. O frio ainda está firme e forte por aqui, então
também pego um cachecol e luvas.
Cantarolo junto com eles, me segurando para não dançar no meio da rua
e só paro quando alguém toca no meu ombro.
— Acho que está tudo igual como sempre. — Sorrio. — O seu advogado
continua insuportável e o trabalho nunca para, ou seja, tudo igual.
— Laura, eu...
— Laura, por favor, não faça igual ao seu irmão. Deixe eu me explicar.
Ela para antes de conseguir atravessar e vira para Faith, com os olhos
raivosos e a boca em uma linha fina de tanto que ela aperta.
— Você quer ouvir, ótimo. — Ela cruza os braços e faz uma cara como
se estivesse tentando lembrar. — Vou te fazer um resumo desses… treze
anos? — é uma pergunta retórica e Faith fica calada. — Depois que você
largou meu irmão para ficar com aquela merda de homem, meu irmão se
afundou em uma tristeza desesperadora. Ele ficava fazendo piada e rindo de
tudo para me privar da dor, mas os seus olhos denunciavam tudo, a sua
partida engatilhou todo o luto que ele evitava sentir. Barbie trabalhava tanto,
mais tanto, que a sua mãe começou a cuidar de mim, pouco tempo depois,
nós fomos morar com ela, porque fazia mais sentido e tentamos colocar a
nossa casa à venda, o que não deu certo por algum tempo. Ele se torturava
todos os dias entrando em seu quarto, gritando com a cara na almofada e
depois saía de lá com um sorriso assustador. Com o passar dos dias, ele
trabalhava mais e mais, tudo que aparecia ele fazia, tudo, para poder me dar
as coisas e manter a mente no lugar. Sabe o que faltava? Os momentos dele
com a melhor amiga, que era quem conseguia colocá-lo no lugar, nem falo
como namorada, mas como melhor amiga!
— Eu não fazia ideia que ia doer tanto para ele, éramos novos.
— Por favor, Faith. Não se faça, não para mim. — Ela aponta o dedo,
mas logo baixa. — Você não tinha a obrigação de ficar com o meu irmão
porque ele precisava ter alguém, mas você já ouviu falar em
responsabilidade afetiva? Te faltou muito. Você ia fugir, FUGIR. Que
caralho! Pensou que ele se sentiria como, depois do discurso de merda que
você fez? Eu não ouvi, mas ele fez questão de escrever tudo que você falou e
lia todos os dias, para não perder o objetivo de ser uma pessoa bem-sucedida
e nunca mais ter que ouvir de ninguém o que ouviu de você. Mas vamos
continuar, bem, sua mãe foi incrível, em todos os momentos ela foi genial,
mas infelizmente, a mudança de escola fez com que eu fizesse amizades
erradas, e com o meu irmão trabalhando e estudando muito por uma bolsa,
eu ficava me sentindo inútil, uma pedra no sapato, e foi quando achei legal
usar as coisas que os irmãos mais velhos dos meus amigos usavam. Eu
perderia horas falando tudo o que eu usei, e perderia mais horas falando
como era desesperador não querer continuar, mas o vício já estava dentro de
mim, uma criança! — Ela para um pouco, apenas para respirar fundo e
afastar as lágrimas que escorrem.
Bryan pensa em ir até ela, mas eu seguro seu braço e ele permanece onde
está. Com a respiração acelerada e os olhos úmidos.
— Eu sinto muito…
Eu acho que estou igual a uma estátua e minha boca já está doendo, de
tanto tempo que estou com ela aberta.
Bryan vai até Laura e segura sua mão, entrelaçando os dedos e beija a
sua testa. Eles se despedem de mim e vão embora. Eu e Faith ainda ficamos
ali paradas por algum tempo.
— Vamos tomar um café? Talvez com uma dose de algo bem forte
dentro? — Ela concorda e entramos no estabelecimento em silêncio,
recebendo olhares de algumas pessoas que não ouviram nada, mas dava para
perceber que era uma conversa nada amigável.
23
— Você é uma guerreira, sabe disso né? — Ela me olha, mas parece
não acreditar no que eu falo. — Faith, você errou feio com o Barbie, e olha
que eu nem gosto dele, mas foi há anos e você tinha apenas dezesseis anos!
Nada vai reparar a dor que eles sentiram, mas isso não te faz menos humana,
eu entendo que você quer o perdão deles, mas não precisa! Apenas se perdoe
e recomece sua vida da melhor forma possível. Os erros cometidos já
aconteceram, as coisas terríveis feitas a você também, infelizmente, e olha
como você é forte. Ajudando outras mulheres que passaram pelo mesmo
problema!
Não é da minha conta saber se ela ainda gosta do ex, que por acaso é
meu chefe, que eu não gosto e já transei.
— Não, que nada! — Ela sorri e empurra a porta para que entremos.
— É o seu chefe, Dr. Barbieri.
Eu travo assim que entro e olho para ela esperando que fale que é
brincadeira, mas ela continua me olhando sério e eu caio na real.
A cada dia vai ficando mais difícil manter meu ódio por esse homem.
O flat da minha irmã ficou pronto ontem e hoje viemos ajudá-la com as
coisas que tinha em minha casa e ela quis trazer, já que os móveis e a decoração
foram resolvidos pelos anjos chamados Elizabeth e Joana!
Olhando agora, pela primeira vez todo decorado, eu sei que acertei em cheio
ao gastar um rim para dar cada coisa que ela pediu. O flat ficou perfeito, a cara
do meu amor que está há uns dez minutos pontuando o que mais gostou, e a
cada hora é uma coisa diferente.
Kath entra nesse exato momento com uma cesta enorme, que tampa o rosto
dela.
Tem duas garrafas de tequila, muito limão e uma cachaça que vem escrito
bem grande que é brasileira, além de alguns frios, biscoitinhos e pastas.
— Se você ficou chateada que ele acertou, por que pediu para que
adivinhássemos? — Jacob questiona e nessas horas eu fico feliz por ele não ter
namorada, o cara é um jumento.
— Sua sorte é que é muito bonito, Jacob — Kath fala, enquanto pega uma
faca enorme para cortar os frios na tábua que ela também trouxe, personalizada
com o nome da minha irmã.
Eu deixo eles se alfinetando e vou até a varanda, onde a minha irmã está e
vou para o lado dela, olhando a vista bonita e percebo que Bryan acabou de
estacionar o seu carro. Eu aceno e ele balança a cabeça, mostrando que nos viu.
— O que essa cabecinha linda está pensando? — Ela vira para mim, se
escorando de lado no parapeito.
— Tem compromisso final de semana que vem? Vou para o Canadá na sexta,
resolver umas coisas com um cliente, quer ir? Seria legal nós dois em um lugar
diferente, fazendo Toronto tremer com os irmãos Barbieri.
— Porra, você tá com algum problema para entender? — Ela ri alto, e com
certeza meus amigos devem estar pensando que eu contei a piada mais histórica
do universo. — Pirou de vez ein!
Ela grita para que Kath venha até nós e ela chega em segundos. Minha irmã
conta que vou para o Canadá na semana que vem e Kath tem a mesma reação e
começa a rir.
— Eu queria ir irmão, queria muito mesmo. Mas eu vou trabalhar! Vai ter
um evento dos meninos do Gorillas, e o Christopher me indicou como fotógrafa.
Laura manda muito bem nas fotos, o curso que fez viajando para vários
países deixou o que era bom ainda mais profissional.
— Antes que pergunte, B vai comigo. Sua irmãzinha indefesa não ficará
solta entre vários outros homens, inclusive um que já fiquei. — Eu nem tinha
pensado nisso, e se pensasse não cogitaria o B para ir com ela, mas ele serve.
Eu olho na direção dele, que estava olhando para a nossa direção, mas vira o
rosto.
Já tem algum tempo que eu tenho achado o B estranho, parece que tem
evitado ficar perto de mim. Mas eu deixei para lá porque sei que vira e mexe ele
está na bad por alguma mulher que não sabe apreciar o coração bonito dele.
Milla ficou com os pais do Noah, que iriam levá-la para um parque e depois
para comer pizza! Ela ama e acredito que nem deve ter dado tchau para os pais
antes de sair.
— Cara, você precisa transar! — Pego um copo com caipirinha e vou até a
JBL de Laura, vinculo ao meu celular e coloco uma playlist aleatória para tocar.
— Seu mau humor está se superando! O que tá rolando?
Ele olha para os lados e quando vê que ninguém está prestando atenção
começa a falar.
— Tô, claro. Sabe que para homens é fácil. Mas gozar e se satisfazer são
coisas diferentes. — Concordo, porque é uma bela verdade. — E isso está me
deixando louco! Já fui nas mais velhas, nas com a mesma idade, submissas,
ménage… acho que tô com defeito! Sempre saio mais irritado, não com as
mulheres, mas comigo. Meu pau quebrou, é isso!
Eu rio mas paro quando ele me olha feio. O coelho deve estar realmente
desesperado para falar sobre esse assunto.
Jacob é muito privado com a sua vida íntima, para não dar chances a
ninguém de achar que pode se meter nas suas escolhas atípicas.
— Eu tenho certeza que seu pau não quebrou. — Emma passa por nós, para
sentar do outro lado e os olhos do meu amigo a seguem, até que ela senta e o
encara. E eu fico no meio desse lance de encarar dos dois. — Talvez o que você
queira não esteja no aplicativo, mas sim na sua frente, te encarando
bizarramente.
— Claro, ótima ideia. Vou levantar e sair puxando Emma pelos cabelos e
transar com ela ali no quarto da sua irmã, rapidinho. — O doente fala essa
merda olhando para a menina, e eu tenho certeza que ele perdeu a sanidade.
Me levanto porque não vou ficar nessa. Hoje tá todo mundo estranho nesse
lugar! Era mais fácil eu ter saído e encontrado uma mulher muito gostosa para
transar.
Pensar em transar faz com que meu pau se contraia sozinho e eu choramingo
enquanto bebo mais uma caipirinha e entro no Instagram, me torturando vendo
os perfis de algumas mulheres que já fiquei, mas que seria uma baita dor de
cabeça mandar uma mensagem perguntando se quer tomar um drink.
Rio sozinho e concluo que estou ficando estranho igual a todos que estão
aqui.
Posto uma foto que tinha tirado no Brasil e ficou na galeria para depois. Na
legenda eu escrevo apenas saudades e coloco a bandeira do país. As curtidas
começam a chegar com força e quando abro a aba de notificações vejo que uma
pessoinha curtiu.
Mando mensagem pelo outro aplicativo e vejo que ela ficou online na hora.
Já que eu não vou transar, não custa encher o saco de alguém.
Frozen diabinha: Achei que você iria querer receber pelo menos uma
curtida.
Frozen diabinha: Sua autoestima deve sofrer quando não recebe muitos
likes!!!
Frozen diabinha: Diaba?? Qual é a desse apelido agora, chefinho?
Aparece digitando mas toda hora some e volta, eu desisto de ficar olhando e
subo no quarto da minha irmã, que está sentada na beira da cama conversando
com Kath.
Não, muito pelo contrário. Me arrependo de não estar dentro dela nesse
exato momento.
Coloco a mão por dentro da calça e sinto que minha cueca já tem um ponto
molhado, da minha excitação. E aliso o meu pau por cima do tecido, fazendo
exatamente o que Olívia falou que eu faria.
Mando uma foto que só aparece minha mão dentro da calça. Deveria ter feito
isso? Claro que não! Mas não penso direito quando o assunto é sexo e Olívia
juntos.
Pronto! Agora foi totalmente direto e não tem como não entender que eu
quero que ela continue falando putaria, enquanto bato uma. Está nas mãos dela
continuar ou não.
Manda uma foto que só aparece do pescoço até os seios. Uma das alças está
arriada, quase aparecendo todo o seu seio, e consigo ver com perfeição que ela
está tão excitada quanto eu.
Eu apoio a minha cabeça na parede, seguro o celular com uma mão e aliso
meu pau com força com a outra. Tentando imaginar a mão dela ali, mas não
adianta.
Se fosse outra pessoa, eu teria ido a pé e pedido para subir. Mas não
posso transformar isso em algo ainda mais pessoal.
Vejo o número do prédio que está no endereço, paro na vaga que tem
bem na frente da portaria. Desligo o carro e abro a janela apenas para tirar uma
foto do prédio e mando na conversa.
Por alguns segundos eu pensei que teria vindo à toa, mas a contadora
parece querer tanto quanto eu. E mais uma vez vamos deixar para nos preocupar
com isso depois.
A porta do meu carro abre e o cheiro gostoso dela é a primeira coisa que
me atinge, e depois é a sua beleza no aspecto mais natural possível.
Seu cabelo está solto e não tão liso como vejo na empresa e também não
há sinal de nenhuma maquiagem. Ela está com a mesma blusinha de alça por
baixo de um sobretudo e uma saia jeans tão curta que quase vejo a sua calcinha.
— Oi, diabinha! — Pisco e ela ri. Eu ligo novamente o carro e dirijo uns
oito minutos até chegar em um estacionamento que está fechado, perto do Rio
Hudson. O movimento aqui a essa hora da noite é mínimo, e digamos que eu
tenha a chave. — Espera aí rapidinho.
Deixo os faróis acesos e abro o cadeado com a chave. Volto para a o
carro, entro e dessa vez é Olívia quem sai para fechar.
— Vou querer saber por que você tem a chave desse lugar? — Eu rio,
porque sabia que ela ficaria ansiosa, mas isso é conversa para outro momento.
— A gente pode conversar, o que eu acho que não dará certo por motivos
óbvios, ou podemos. — Empurro meu banco todo para trás, tiro a minha camisa
e abaixo um pouco o banco. — Terminar o que começamos pelo telefone.
Ela mantém a camisinha na mão mas estica seu corpo até a alavanca do
meu banco e o abaixa o máximo que dá. A loira na minha frente faz um
malabarismo sem igual e antes que eu consiga entender o que está acontecendo,
ela pede para que eu segure em sua cintura e coloca a boceta na minha cara,
formando o 69 mais sensual que eu já vi.
Volto a subir até seu ânus e passo a ponta da língua repetidas vezes por
ele, ao mesmo tempo que enfio dois dedos na sua boceta e começo a estocá-la
com eles.
O que essa mulher faz com a boca deveria ser merecedor de um prêmio.
Talvez eu mesmo dê a ela um prêmio de melhor boquete da história, e eu não
saberia contar quantos já tive em toda a minha vida.
Tiro os dedos de dentro dela para esfregar seu clitóris com a intensidade que
eu lembro perfeitamente que ela gosta e não demora muito para que eu sinta
suas pernas tremendo de leve, desço minha boca novamente até a sua boceta e
lambo até a última gota que escorre.
— Estou sem forças — diz, enquanto eu ajudo a se sentar em meu colo. Ela
olha para meu pau duro e morde o lábio inferior, antes de me encarar como
quem encara um bolo de chocolate. — Acho que ainda tenho alguma força sim!
Ela olha a camisinha que estava segurando, caída no chão do carro, e pega
outra embalagem quando eu entrego a minha carteira. Assisto-a rasgar, e depois
encapar meu pau com perfeição. A loira posiciona um joelho em cada lateral do
banco e eu rasgo sua calcinha para ajudá-la a ter mobilidade. A cena dela
apoiando as mãos em meu peito, descendo pelo meu pau devagar e gemendo no
mesmo ritmo, é meu momento favorito desse ano até agora.
Sua boceta é apertada e abraça meu pau de um jeito muito gostoso. Quando
ela consegue pôr tudo dentro, apoia a cabeça em meu ombro, e o contrai com
força, me fazendo arrepiar em todos os cantos do meu corpo.
— Não faça isso, amor.
— Safada! — sussurro depois de morder seu lábio inferior. Puxo seu cabelo
sem machucar, apenas o suficiente para deixar seus seios em uma distância que
eu consiga me deliciar nos dois.
Olívia para os meus movimentos, e apoia as duas mãos nas minhas coxas,
curvando um pouco seu corpo para trás, e começa a rebolar rápido, roçando
nossas virilhas e esfregando sua bunda no início da minha coxa, cada vez que
repete o movimento.
Abraço a cintura dela, e arrasto o meu corpo para frente. Com os pés,
termino de tirar a calça e abro a porta, sentindo o frio lá de fora machucar, mas o
fogo entre nós dois é maior e saio com ela encaixada em mim, no meu colo.
Puxo o seu sobretudo, e o coloco no capô do meu carro.
Ela se afasta, mas eu a puxo pela nuca e colo minha boca em sua orelha para
falar:
Ela joga a cabeça para trás e grita, rebolando enquanto eu empurro outra vez.
Saio apenas para entrar todo de novo, e nós continuamos nessa de gemer, estocar
e rebolar.
Meu sangue parece estar todo no meu pau e eu mordo meu lábio, enquanto a
seguro pela cintura. Jogo meu corpo um pouco sobre o dela, para conseguir
chegar em seu clitóris e o massageio.
— Vamos entrar, está frio! — digo, e ela entra pelo lado do motorista, e pula
para o banco do carona. Eu entro logo depois, levanto o banco e deixo minha
cabeça tombar para trás, sentindo minha respiração acelerada.
Olívia começa a se vestir e eu faço o mesmo. Vejo seu olhar curioso passear
pelo meu corpo, depois me olha, e balança a cabeça em negação.
— Você é gata pra caralho! — admito em voz alta, e ela sorri timidamente.
O que é interessante se você for levar em conta que há alguns minutos, ela
estava jogando a boceta na minha cara. — Às vezes até consigo esquecer que é
uma chata!
— É só um lanche, sei lá. — Olho para o relógio que tem no painel do meu
bebê. — Te tirei de casa no horário da janta, mas posso te deixar em casa então.
Eu mudo a rota e vou até uma lanchonete perto de onde eu morei até os
dezessete anos, com isso acabo passando na minha antiga rua e vejo as duas
casas que já tiveram tanta importância para mim e acabo desacelerando quando
vejo que a família que comprou a minha casa ainda mora lá.
Meu coração se aperta, e minha atenção vai para a casa onde Faith morava
quando a porta se abre e a própria sai lá de dentro.
— Barbie, ela não pode me ver aqui — digo desesperada quando a vejo
vir na direção do carro. Mas parece que o homem do meu lado não escuta
minha súplica, então eu tenho a incrível ideia de me tapar com o sobretudo.
Faith fica olhando assustada para ele, e depois olha para a casa.
— Barbie, se eu soubesse que minha mãe estava mesmo doente, eu teria
vindo. O Damon falou que provavelmente voc…
— Você pensou em algo? Qualquer outra coisa que não fosse o dinheiro,
sua carreira que, pelo visto, não rolou, e outra pessoa que não fosse você
mesma?
Por que ela ainda insiste em querer falar com eles? Já não basta todo
sofrimento? Para que procurar mais?
— Caralho Faith, não faça isso! — Eu penso, mas acabo falando e eles
escutam. Eu me tampo a tempo de ver se ela me viu, e os dois começam a
falar baixo, o que me irrita porque queria saber o resto.
Depois do que pareceu serem muitas horas, mas na verdade não deve ter
nem passado dois minutos, voltei a ouvi-los.
— Pode deixar que seu segredo com a Olívia ficará bem guardado
comigo! — Merda, ela me viu e deduziu tudo. — Eu sabia que essa
implicância de vocês dois tinha algo a mais.
Eu escuto isso, e me incomodo com as suas palavras. Não sei se ele sabe
que estou ouvindo, mas tinha necessidade de falar essas coisas para a sua ex?
Enquanto eu, pateticamente, me escondo?
Espero a porta do carro bater e eu tiro o sobretudo de cima de mim e o
visto.
— Perdi a fome!
— Scott, eu realmente não preciso passar por essas coisas, ok? Para
quem gosta de deixar claro que não gosta da ex, você se justificou demais. E
eu nem tenho nada a ver com essa merda toda de vocês dois. — Visto o
sobretudo antes de sair e olho para a mão dele que aperta a minha coxa e
depois solta.
— Eu não quis te ofender, na verdade eu nem sei porque falei aquilo com
você aqui dentro.
— Desculpa, linda. Não era para você ter ouvido, mas é a verdade. A
única coisa que eu posso te oferecer é sexo e minha amizade, mas acho que a
segunda coisa não rolaria, de qualquer forma.
O constrangimento dele é notável, e eu entendo que essa seja a vida dele.
Na verdade é o estilo de vida de muitas pessoas hoje em dia, só que para
mim não dá, eu não tenho como continuar transando com ele, depois
continuar o odiando no trabalho e ainda descobrir que ele é um homem
admirável.
Eu nunca, de jeito nenhum, posso ter algum sentimento por esse homem
na minha frente, que está sendo sincero mesmo que a sinceridade não seja o
que eu queria.
— Vodka, você é uma gatinha muito sortuda só por ser gata. — Ela mia,
e eu ainda acho que esse bichinho entende as coisas que eu falo.
Coloco ela no sofá, no cantinho que gosta de ficar e pego meu celular
que nem lembrava que tinha esquecido no balcão. Vou para a cozinha
olhando as notificações que chegaram, enquanto eu estava fora e abro a
conversa com Jonathan.
Eu não me sinto tão atraída por ele, nem um terço do que eu me sinto
pelo Barbie, mas a verdade é que terei que aprender a ignorar essa atração
entre nós dois, e talvez assim eu consiga prestar mais atenção no Jonathan
como homem.
Eu e Barbie estamos mais afiados do que nunca, e hoje eu terei que ficar
na merda da fila para comprar um novo boneco para ele. Mas o pior nem tem
sido isso, parece que depois de sábado está mais difícil resistir a ele, e a
recíproca é verdadeira.
Quase nos beijamos todas as poucas vezes que ficamos sozinhos, mas
nenhum dos dois tomou coragem de continuar. O que é ótimo, porque isso
não pode acontecer mais, por um milhão de motivos.
Olho para o computador e vejo que ainda tem cento e vinte e duas
pessoas na minha frente na fila. Eu acabei esquecendo de entrar no site um
pouco antes, e se eu não conseguir tenho certeza que ele vai me infernizar,
essa edição é assinada pelo Stan Lee, e ele foi claro no quanto precisa tê-la.
— Vinte e dois mil dólares por um boneco? — quase grito quando chega
a minha vez e vejo o preço disso. — Eu compraria uma bolsa lindíssima com
esse valor, que homem estranho!
Meu telefone toca e eu vejo que é o ramal da sala dele, já ligo no alto-
falante e continuo vendo outras coisas no meu computador.
— Boa tarde, Srta. Pierson. Agradeço por sempre cumprir com a sua
palavra, e conseguir ajudar o seu chefe a completar a coleção.
Essa reunião está me dando úlceras, porque não sei qual a necessidade da
minha presença. Todas as reuniões que nós tivemos sempre foram só nós
quatro, não entendo agora a necessidade de ter todos lá, e vou ter que esperar
ainda mais dias para descobrir.
— Ah, antes que eu me esqueça — ele faz uma pausa dramática. — Você
está deslumbrante hoje, diabinha. Eu fico esperando ansioso para vê-la andar
de um lado para o outro, isso sempre alegra meus dias… quando não está me
provocando!
Ele desliga e eu nem consigo dar uma boa resposta. E o pior é que eu
estou sorrindo, por saber que ele repara em mim mais do que eu noto. É
ótimo para a autoestima saber que estamos sendo desejadas, ainda mais por
esse homem.
Saio da empresa rumo a Lótus e claro que já vejo meus novos amigos na
área em que eles sempre ficam, dou tchau de longe e vou para o lado
totalmente oposto, onde encontro Jonathan com um sorriso bonito no rosto, e
o corpo forte bem marcado em uma camisa longa branca, que mais parece
uma segunda pele.
— Diga isso para o loiro lá do outro lado, que não parava de me encarar
de cara feia. E depois que trocamos de lugar, vi que você também fez o
mesmo.
Que vergonha! E eu achando que nem dava para notar. Que homem
observador também.
— Isso daria uma ótima fanfic — Rio e ele concorda —, mas é diferente,
com o meu chefe é só atração, nada além disso.
Ele apoia o braço na mesa e vira o corpo um pouco para trás, flagrando
Barbie nos olhando, e depois volta a sentar de frente para mim.
— Atração é uma coisa que tem, muito. Mas eu apostaria que tem algo a
mais também.
Eu rio de verdade das besteiras gigantes que o homem na minha frente
fala.
— Vai ser um prazer, e seria legal uma mulher jovem na rotina dela. As
avós dela são tão antiquadas, e eu acho que vou morrer no dia que ela falar
que deu o primeiro beijo, ou que está gostando de alguém.
O homem quase chora e tampa o rosto com uma das mãos, mostrando o
quanto está preocupado.
No final, o Tinder me deu alguém que eu sei que será um amigo para a
vida toda. O problema é que sozinha será ainda mais difícil não pensar no tal
loiro que me seca a distância, deixando claro que está vendo cada passo que
eu dou aqui dentro.
26
Pena que está frio, vi que tem praias lindas por aqui.
Eu saio do hotel depois que confiro que peguei tudo, e acabo indo de táxi
para o restaurante porque estava ventando muito e o frio parecia que ia
rasgar meu rosto.
— Olá, boa noite! Seja bem-vindo. Mesa para quantos? — sou recebido
por uma mulher linda, que sorri educadamente. E faço questão de deixar
claro que estou sozinho, nunca se sabe, né?
Ela me leva até uma mesa que tem uma vista bonita para o lado de fora,
e agradeço com mais educação do que o necessário e em troca ganho um
sorriso um tanto caloroso.
— Desculpe, me distraí com meu marido. — Ela sorri assim que fica de
pé, em segurança. — Obrigada, outro tombo não seria muito legal para a
minha coluna.
— Tudo bem, não foi problema nenhum! — Sorrio de volta para eles e
todos nós viramos para a mesma direção quando ouvimos uma voz que eu
conheço muito bem.
— Pai, o senhor está com tanta pre… — ela chega ao lado deles mas
trava, igual a mim, quando me vê. — O que você está fazendo aqui? Está me
seguindo?
— Aceito!
— É Olívia! Será um prazer conhecer o seu pai e ver de onde vem tanta
inteligência.
Ela me olha feio, muito feio e tenho certeza que, se pudesse, pegaria a
primeira faca que aparecesse e passaria em meu pescoço sem nem cogitar.
O pai dela gosta do que ouve e a olha com muito amor, e é bem fofo.
Lembro que meu pai sempre me olhava assim, como se eu fosse a coisa mais
preciosa da sua vida.
Por incrível que pareça a conversa vai fluindo bem, e eu pego Olívia me
olhando diferente, com simpatia, várias vezes. O pai dela com certeza é o
seu fã número um, e faz questão de enaltecê-la em muitas coisas.
— Pai, por favor… — ela suplica para que ele pare de falar sobre a vida
dela.
Dessa vez eu não consigo controlar e a cerveja sai da minha boca quando
tusso. Eu bato em meu peito algumas vezes, arregalando os olhos e Amélia
me estende uma toalha.
— Como sabe? — já pergunto em uma afirmativa, não tenho saco para
joguinhos de mentira. — Tenho certeza que Olívia não contou.
— Eu conheço aquela menina a minha vida toda! Sou amiga do pai dela
desde que éramos pequenos, mas só ficamos juntos depois que os pais dela
se separaram. — Ela chama o garçom e pede mais uma rodada de cerveja. —
Mas o foco não sou eu, e sim vocês, e o pouco que sabemos é que vocês não
se dão muito bem. Mudança radical, não?
— Como assim?
Ok, isso não é muito legal. Mas não tive a oportunidade de saber mais
nada porque os dois voltam, e começamos a falar de coisas que não
envolvessem o passado de Olívia.
O jantar foi ótimo, e eu insisti para pagar a conta, já que eles foram tão
amigáveis em me chamar para jantar com companhias, mesmo que a
diabinha não tenha ficado muito feliz com isso.
— Por que não leva ele até o bar do seu primo? Todos estão com
saudades de você.
Dessa vez eu não me meto, e finjo que estou olhando para o chão, para
deixar que ela decida sem pressão se quer ou não.
— Tá bom. — Eu olho para ela, e ela sorri de volta para mim. — Ficará
por sua conta, vamos! — Nos despedimos deles, e ela começa a andar para o
outro lado, eu vou caminhando em seu lado, em silêncio. — Desculpe por
eles, mas acredite que seria muito pior se fosse a minha mãe.
— Eu gosto de pais como os seus, levando em conta que sua mãe deve
ser minimamente parecida. — Ela concorda. — É um tipo de relação que eu
acho que teria com os meus, sabe? Se eles não tivessem falecido.
Encerramos esse assunto depois que ela fala isso, e começo a ouvir um
pouco sobre o Canadá e seus costumes. Não é um lugar longe de NY, mas
existe uma rivalidade grande entre as pessoas, ainda mais entre times de
todos os esportes possíveis.
— Não sabia que você vinha para o casamento! — ele fala e limpa o
balcão com um pano. — Legal que tudo ficou para trás, passado é passado,
né? Inclusive estão todos aqui.
A loira vira rápido e olha para a mesa que ele aponta, e eu sigo para
olhar na mesma direção. A mesa está composta por umas vinte pessoas, e eu
reconheço a amiga dela, que eu fiquei na Lótus, que está olhando assustada
em nossa direção, com um homem ao lado, igualmente assustado.
Antes que a gente consiga sair, os dois vêm até nós e Olívia coloca no
rosto o sorriso mais falso que eu já vi na vida.
Eu fico olhando para o homem, que passa o braço pela cintura dela e não
é difícil entender que ele é o ex que vai casar com a sua amiga.
Que situação!
— O convite era para três pessoas, mas vamos apenas eu e ele mesmo.
Eles entendem que queremos ficar sozinhos, e Olívia não dá tempo para
que eles desistam e já saímos do bar na mesma hora.
— Não custava fazer uma cena com você por alguns minutos. E ainda
tirei uma casquinha, o que facilita muito.
Parece que o meu sábado terá muito mais emoções do que eu havia
planejado.
27
— Não quero ser uma piada lá! — resmungo, enquanto pego a bolsa
dourada, e confiro se tem ali dentro tudo o que eu preciso, mas falta uma boa
dose de coragem.
Escuto os dois antes de descer a escada, mas eles param de falar assim
que Barbie me vê descendo. Seus olhos me encaram com um brilho
diferente, e ele vai até o final da escada para me receber.
— Você está perfeita, meu amor. — Segura em minha mão quando chego
até ele e sussurra em meu ouvido antes de dar um beijo em minha bochecha.
— Tenho hora para trazê-la de volta, Celeste?
Minha mãe fica com as duas mãos no peito, olhando para nós dois como
se fossemos nós a casar.
Eu me despeço dela e, quando saímos de casa, vejo que tem um táxi nos
esperando. É impossível não lembrar do ano novo, quando nos sentamos
lado a lado, e sua mão se acomoda na fenda enorme que tem na minha coxa
esquerda.
— Será que esse motorista ficará muito chocado se você fizer igual ao
dia do Réveillon? — fala baixo, com a voz arrastada e cheia de malícia.
Minha pele se arrepia e ele aperta minha coxa, subindo um pouco mais,
ficando perto demais de onde não deve. — Eu adoraria reviver aquela noite,
e olha que engraçado, novamente estamos em uma situação que eu estou a
ajudando.
Sim, eu já tinha pensado nisso. Como minha mãe mesmo disse, não
tenho as melhores ideias quando estou nervosa, e parece que Barbie costuma
estar próximo quando estou nesses momentos.
— Homens e seu incrível jeito de achar que ter dinheiro resolve tudo.
— Não tudo!
Parece que nós dois fizemos um pacto silencioso de não agirmos aqui,
como agimos em NY. E não é difícil ver o lado do Barbie que é bem mais
interessante, a versão que a maioria das pessoas gostam e admiram.
A viagem até o salão dura uns vinte minutos, e nós dois vamos
conversando sobre coisas da empresa, e também falamos da nossa época da
faculdade. Foi uma bela novidade saber que foi a fase em que ele menos se
relacionou com outras mulheres, porque seu foco eram os estudos e sua
irmã, que na época estava internada na clínica de reabilitação.
Também contei com detalhes como foi a conversa muito calorosa da sua
irmã com sua ex, que ele já sabia que tinha acontecido, mas não acreditava
que a irmã disse tudo aquilo.
— Ela te ama muito, Barbie. Parecia uma leoa defendendo os seus
filhotes, a minha admiração por ela cresceu ainda mais. — Não pontuo que
também me senti mal por Faith, eu sei separar muito bem as coisas e entendo
que por mais que ela só tivesse dezesseis anos e foi totalmente influenciada
por um homem poderoso, que sabia falar as coisas certas, suas ações
machucaram muito outras pessoas.
São dois pesos e duas medidas. E acaba que todos foram vítimas de um
homem que tem tudo o que quer, quando quer.
— Minha irmã é a minha vida! — sua voz é calma, já notei que é sempre
assim quando fala dela. — É o meu coração fora do peito.
Ele sai primeiro e estende a mão para mim. Seguro nela e saio do carro,
sentindo o frio bater forte nas partes do meu corpo que estão descobertas e
andando logo para dentro, que é climatizado.
A mãe do Théo sempre foi ótima comigo, e foi ela quem fez o papel do
filho em ir me procurar e se desculpar todos os dias por ele. Eu a adoro, e
espero que no dia que eu tenha uma sogra, ela seja assim.
— Diana, que bom ver você. — Nos abraçamos e ela faz um carinho em
meu rosto, com aquele olhar de quem se sente culpada por tudo, mas eu
sorrio, tentando fazê-la se sentir melhor. — E Jess não mentiu quando falou
que seu namorado era lindíssimo.
Ela nos leva até a mesa que ficaremos, que para o meu azar está minha
antiga treinadora e seu marido, além de mais um casal que eu desconheço.
Fodeu!
— Acredito que você já deva ter visto todas as diversas gravações das
competições dela? — uma pergunta sem maldade, na verdade o orgulho está
estampado em seu rosto. A mão de Barbie voltou para o meu joelho, e ele
não para de fazer carinho em momento nenhum.
— Infelizmente não! Mas eu vi que ela tem vários CDs, e algumas fitas
escondidas em uma caixa. Eu jurava que eram filmes pornôs, para os dias
que eu não tivesse lá isso tudo. — Todo mundo explode em uma gargalhada
e é impossível não rir, Barbie é engraçado até quando não quer ser. — Acho
que estou aliviado agora, mas muito curioso.
— Sua namorada foi a melhor patinadora que já passou por mim, e olha
que já treinei muitas. Ela era dedicada, forte, e a mais esforçada. Deixava de
sair, dormia cedo, fazia exatamente tudo certo. — Ela vai chegar ao ponto
crucial da história, já estou vendo. — Uma pena que tenha acontecido tudo
isso, uma grande pena. Mas, como sempre foi uma menina muito evoluída,
eu imaginei que desculparia o Théo, foi tudo um acidente horrível.
Merda! Eu não tenho como fugir dele agora, e concordo em cutucar uma
ferida que já tinha cicatrizado.
28
Eu o procuro pela festa, e vejo ele indo atrás da minha namorada de mentira
assim que ela vai para o banheiro. E é claro que eu não a deixarei sozinha com
ele.
Peço licença e também me levanto e paro um pouco antes de onde eles estão
quando escuto as suas vozes.
— Quanto que você ouviu? — Vira para mim e se escora na pia. — Quanto
que você já sabe da minha vida para me infernizar depois, para jogar na minha
cara todo santo dia na empresa?
Ela olha para o chão, e morde a boca para não chorar. Eu seguro em sua
cintura e a coloco sentada no balcão, antes de levantar seu rosto para mim, e
beijar a lágrima que escorre pelo canto.
— Não faça isso, amor. Ele não merece nada de você, nem mesmo uma
única lágrima. — Ela concorda, mas o queixo treme de um jeito fofo, igual
criança antes de chorar. Mas Olívia é uma mulher forte, e ela segura o choro. —
Aquela mulher do quadro era você, né?
— Era eu! — confirma e depois olha para a minha mão em sua coxa. Ela
coloca a sua por cima da minha e posiciona um pouco abaixo do seu joelho,
numa parte que tem um relevo diferente. — Essa cicatriz foi de uma das
cirurgias que eu fiz depois do acidente, a única que eu não tirei depois, para me
lembrar o quão foi difícil recomeçar, mas também para me dar forças nos dias
difíceis, ela é um aviso gritante que eu posso me reinventar quantas vezes eu
quiser. Que eu sou muito mais do que a patinadora, a filha, a noiva…
Eu já tinha visto a cicatriz, mas pensei que tinha sido algum acidente na
infância. De maneira nenhuma iria conseguir adivinhar tudo isso.
— Você é tudo o que você quiser, meu amor. Além da mulher mais linda e
gostosa que eu conheço. — Ela ri e dá um tapinha em meu peito —
— Não seja tão legal comigo! Lembra que não posso me apaixonar? —
brinca, e eu sorrio, concordando. — Obrigada, Barbie. Não sei como seria
passar esse dia sem você.
A loira gostosa puxa meu corpo contra o dela e invade a minha boca com a
sua língua. Uma sensação de saudade e alívio enchem meu peito, e enfio a mão
por dentro do cabelo dela, ditando o ritmo do beijo.
E é a primeira vez em muitos anos que eu beijo alguém apenas para curtir o
momento, apenas para ter a sensação de que posso fazer isso a hora que eu
quiser, sem uma segunda intenção por trás disso.
Meu coração não para de acelerar e acho que vou ter um infarto aqui, no
meio das pernas dela, manchando nossos rostos com o seu batom vermelho. Mas
se isso acontecer, pelo menos será depois do beijo mais gostoso que já dei em
minha vida.
Seus dedos fazem carinho em meus braços, e eu volto a segurar seu rosto
com as duas mãos, não querendo que ela escape de mim. Mas nos afastamos
para tomar ar, e ela me olha com carinho.
Nós voltamos para o salão depois dela ter se acalmado e nos limpado, o que
foi bem difícil porque o batom era bem vermelho, mas para mim não seria
problema nenhum ficar na festa sujo desse jeito.
Nesse momento, nós estamos suados feito porcos porque dominamos aquela
pista de dança, não teve nenhum casal mais entrosado do que nós dois. E certeza
que nas fotografias só dará a gente.
Daqui eu vejo que a Jess foi falar com ela, e parece uma conversa tranquila,
mesmo que minha namorada de mentirinha esteja com os olhos arregalados e
rindo ao mesmo tempo.
Eu pego meu celular e fico rindo das fotos que tiramos juntos, mas tem uma
que virou minha favorita. A treinadora dela pegou uma pose muito boa nossa,
estávamos dançando, ela rindo e jogando a cabeça para trás e eu olhando para
ela feito bobo.
— Mentira?
— Juro! Ela veio se explicar né, da situação de vocês dois, e me contou que
uma vez eles foram para longe e se aventuraram, aí agora sempre que eles
viajam, tiram pelo menos um dia para saírem sozinhos e o que acontecer lá, não
é da conta do outro. — Ela ri e suga o canudinho com vontade. Minha mente me
tortura, enquanto pensa que podia ser meu pau ali. — Doidera, né? Jamais faria
isso.
— Barbie, eu não gosto de dividir o que é meu — diz bem direta. — E você
não tem cara de que gostaria de deixar a sua namorada sentar em outro.
— Mas daí se eu ficar com elas apenas uma vez, não tem nada disso. — Ela
ri de novo e balança a cabeça, como se eu estivesse falando algum absurdo. —
Por que você tem essa aversão a sexo casual? Para mim você parece ser boa
nisso, levando em conta que já transamos duas vezes. E eu com certeza transaria
novamente, com esse vestido… e eu posso apostar que debaixo dele tem uma
lingerie sensacional.
Ela passa a mão pelo pescoço, afastando o suor e bebe mais do seu drink.
É, não queremos.
— É uma pena! — Passo a minha mão por baixo do seu vestido, e só paro
quando chego perto da sua virilha. — O quarto do meu hotel tem uma vista
linda, a banheira é enorme, e eu te faria uma massagem que você jamais
esqueceria.
— Você joga muito baixo, Barbie — sua voz sai em um sussurro e eu beijo
seu queixo antes de beijá-la rapidamente. — E só vai piorando, não consigo
pensar desse jeito.
Ela ergue a postura novamente, mas morde o lábio com força. A safada vai
ainda mais para frente na cadeira, ficando pertinho de mim. Eu coloco toda a
mão em sua boceta, usando o polegar no clitóris e deixando que outros dois
dedos repitam os mesmos movimentos na sua entrada.
— Seria mais fácil falar não, se você não fosse a merda do homem mais
gostoso que eu já dei. — Ela tenta fingir que nada está acontecendo, mas seu
rosto vai ficando corado a cada minuto que eu continuo a brincadeirinha, e sua
respiração está mais agitada do que o comum.
— Estamos empatados, amor! — falo com meus lábios encostados nos dela.
— Acho que nunca fiquei tão viciado em foder a mesma boceta. — Ela geme
baixinho, e eu rio para abafar o som. — A tortura de não te sentir é igual a sua,
ou, se duvidar, ainda pior.
Olívia coloca a mão em cima da minha, e direciona meus dedos para dentro
da sua boceta. Dessa vez sou eu quem preciso me controlar para não gemer, e
sorrimos juntos para o casal que passa por nós e se despede, sem nem imaginar
que eu estou fodendo ela com os meus dedos.
— Vamos embora! Não quero ser presa por arrancar a sua roupa aqui na
frente de todo mundo e transar em cima dessa mesa, Barbie. — Eu tiro a mão do
meio das suas pernas e já a puxo para sairmos dali, sem dar chance que se
despeça de qualquer pessoa.
Sua mão aperta minha ereção por cima da calça e latejo de desejo.
— Eu te comeria bem aqui — falo quando paro de beijar sua boca para
descer os beijos até seu decote farto.
Ela olha rapidamente para o quarto, e depois já se abaixa para tirar os saltos,
enquanto eu vou tirando os meus sapatos e a minha roupa. Seu vestido cai aos
seus pés, assim que ela arrasta o zíper até o quadril. E eu sabia que ela estava
com uma lingerie que me deixaria louco.
A calcinha é pequena, e tem algumas tiras que sobem pela sua barriga e vai
até o sutiã que não tem alças, do mesmo formato do decote do vestido. Ela
coloca a mão na cintura, e me desafia com o olhar.
— Você já tinha planejado tudo, né? — Me aproximo, só de cueca. E me dou
conta que ela sabia que existia grande chances da noite terminar assim. — Porra,
você é a diaba mais perfeita. — Aperto sua bunda e forço seu corpo contra o
meu.
— Bem, não custava vir pronta para te deixar de queixo caído. — Ela beija
meu maxilar, depois meu pescoço e passa a língua ao redor de um dos meus
mamilos. Eu urro, porque é gostoso demais sentir sua língua quente em meu
corpo. Essa mulher é tão gostosa que se pedisse para comer meu cu, acho que eu
deixaria. — E hoje serei eu a ditar as regras.
Me empurra para a cama e eu deixo que meu corpo caia para trás, e me
ajeito para assisti-la quando fica em pé na cama.
Não é mais novidade para nenhum de nós dois, que eu não consigo
resistir a ele. Meu corpo parece gritar por ele sempre que estamos juntos, e
eu me descobri confiante o suficiente para ser livre quando transamos, falar
e fazer o que eu quiser.
E já que estou aqui, vou aproveitar cada minuto e aceitar o que ele tem
de melhor para dar, mas não sem antes provocá-lo.
Rebolo de frente para ele, descendo até o limite, antes de sentar em seu
colo, ele geme por não poder me sentir e eu mordo o lábio. Passo minhas
mãos pela minha barriga, subo uma até o pescoço, desço a outra para o meio
das minhas pernas e enfio dois dedos dentro de mim e gemo.
Me ajoelho no meio das suas pernas, e passo a língua por todo o seu pau,
só para provocá-lo um pouco mais.
— Não minta, Barbie. — Passo a língua por seus lábios e deixo que
minha bunda se esfregue em seu pau, e vejo como ele se controla para não
encostar em mim. É uma delícia ter esse poder sobre ele.
— Caralho, amor! — Aperta com raiva os lençóis, e vejo seu peito subir
e descer com brutalidade. Eu continuo os movimentos sem desviar meu
olhar dele, mas o tesão me desconcentra e eu começo a cavalga-lo forte,
fazendo barulho na cama cada vez que sento com força. — Eu vou gozar
desse jeito! — choraminga.
Barbie solta meu cabelo e pede para que eu me segure antes de prender
suas mãos em meu quadril e estocar rápido, um vai e vem delicioso. Nessa
hora eu já nem sei quem geme mais, e eu aviso que vou gozar.
Ele joga o corpo em cima do meu e pede apenas dez segundos para
conseguir andar, ainda se mantendo dentro de mim e eu aperto o pau dele
com a boceta, e ele sai na mesma hora.
Eu rio, porque já esperava que ele fosse me perguntar uma coisa dessa.
— Olívia… eu sinto muito por tudo! Eu quis tanto socar a cara dele. —
Barbie dá uns beijos na parte de cima do meu pé e em meu tornozelo.
— Tudo bem, já faz muito tempo. Eu nunca quis ter filhos, e ainda não
quero. Mas foi um baque na época saber que me tiraram esse direito, de
conceber um filho, caso eu mudasse de ideia. — Barbie me puxa pelo pé e
eu vou me segurando para não tombar para trás, e ele só para quando eu
sento em seu colo e me dá um selinho.
Minha diabinha.
Não preciso me esforçar para saber que quebrei uma das regras que ele
estipulou para ser meu namorado de mentirinha.
Esfrego a testa quando leio um processo chato, que já toma mais do meu
tempo do que o necessário, mas nenhuma das partes quer colaborar, então com
certeza isso ainda demorará a sair.
Já tem duas semanas desde a viagem para o Canadá, que foi sensacional em
todos os sentidos, só que essa viagem me aproximou ainda mais da Olívia, o que
é maravilhoso, mas me preocupa.
Eu adoro estar com ela, nossos momentos a sós, juntos, são incríveis. Somos
mais compatíveis do que imaginávamos, e não falo apenas no sexo. E eu tenho
quase certeza que a minha diabinha está nutrindo sentimentos por mim, e isso é
uma merda.
Estou sendo egoísta, e eu sei. Não quero perdê-la, mas eu sei que a qualquer
momento aquele vulcão adormecido dentro dela vai explodir feio, e vai sair
queimando todo mundo que estiver na frente.
Eu gosto dela, claro que gosto. Impossível ficar esse tempo que já estamos
ficando e não criar nenhum vínculo, mas eu me afastaria antes de me apaixonar,
pelo simples fato de não saber mais amar uma mulher da forma que ela merece,
e o que eu entregaria a ela em troca do seu coração? O meu está tão remendado,
que a qualquer momento pode despedaçar todo.
Deixo para pensar nisso outra hora quando vejo Damon e o advogado
chegando na mesa da minha secretária. Eu me levanto e vou até a minha porta.
— Damon Stewart! — Ela se vira e me olha, com aquele sorriso falso. —
Que ótima surpresa, venha até a minha sala.
— Parece que você conseguiu o que queria! — Coloca a pasta da C&B que
tinha sido enviada para ele com os documentos do divórcio. — Se era isso que
você queria, sua namoradinha de volta, ela é toda sua. Faith não é mais a minha
esposa, eu fingirei que ela nunca existiu e não tocarei no precioso nome daquela
sem-teto de merda.
Ele se abala, mas mantém seu sorriso falso, tentando manter a pose.
— Claro que não. — Sorrio igual a ele. — Se era só isso, acho que já
estamos conversados. — Olho a pasta antes de falar, para garantir que as suas
assinaturas estão em todos os lugares necessários.
— Obrigado pela generosa e inocente oferta, mas eu estou bem onde estou.
— Ele ri e sai da sala, sem acreditar que eu rejeitei uma oferta como essa. —
Espero não ter que vê-lo nunca mais pessoalmente, Stewart. Acho que daqui
para frente será só nos noticiários.
Ele olha sem entender, mas vira e vai embora.
Mal sabe que em breve irá para a mídia, um arquivo que foderá a vida dele
de tantas maneiras, que não terá ninguém que aceite ajudá-lo, nem a sua família
que honra a falsa imagem de uma família tradicional e amorosa.
Eu volto para a sala e ligo para Faith, perguntando se pode encontrar comigo
na casa da sua mãe, ela estranha o pedido, mas diz que em vinte minutos estará
lá.
Fico sentado no alto da escada, onde tenho uma vista privilegiada de quase
toda a casa que foi meu lar quando eu já não tinha mais um. Lugar onde vivi
ótimos e péssimos momentos, e também o lugar que vi minha irmã quase
morrer, se afundando nas drogas.
A porta da sala abre e Faith olha surpresa para as mudanças, até mesmo a
porta não tem mais o quebrado.
— Ficou lindíssimo, Barbie! — Passa a mão em um dos sofás, e depois
mexe em um porta-retrato, que é uma foto dela com a mãe, quando era pequena.
— Por que essa foto está aqui?
— Seu divórcio saiu! — Ela deixa cair uma caixinha, que era onde a mãe
guardava dinheiro e achava que ninguém sabia. — Você está livre do Damon,
Faith. É muito rica, como sempre desejou. — Ela coloca as duas mãos na boca,
chocada. — Agora você é uma mulher livre, ele não pode se aproximar e nem
falar de você. E eu indicaria que fizesse o anúncio em suas redes sociais logo,
em poucas semanas vai sair uma notícia dele nada boa, e você não vai querer
estar vinculada indiretamente.
Estico um dos envelopes para ela, que se senta e lê que realmente está
divorciada. Ela começa a rir e chorar ao mesmo tempo, e eu consigo imaginar o
alívio.
— Tem mais uma coisa. — Dou o outro envelope, que tem a escritura da
casa e todos os outros documentos no nome dela, apenas esperando para serem
assinados. — Essa casa é sua, eu a comprei e agora é sua. — Seu choro só
aumenta e ela me olha sem entender. — Eu amei a sua mãe como se fosse a
minha, e eu sei que ela gostaria de ver a filha aqui, bem e feliz. Você tem muito
dinheiro agora, pode ser demolida e fazer uma mansão se quiser.
Faith levanta e se joga em meu peito, antes que eu consiga me afastar. Seu
choro é de dor, alívio, alegria, e eu não consigo deixar de abraçá-la. O choro fica
ainda mais alto quando sente meus braços ao redor do seu corpo e eu encosto o
queixo em sua cabeça, é a mesma sensação de antes, quando a minha melhor
amiga precisava de mim.
Ela abre um sorriso enorme, igual quando éramos crianças e ela ganhava
doces dos meus pais.
Sento na poltrona de frente para a TV, e apoio uma perna em cima do joelho
da outra.
— Diferente? Acho que não. Só não estou mais gritando com você, e
tentando entender que você também não teve tanta culpa como eu achava antes.
— Não, não é diferente assim. Tem um brilho novo em você, algo diferente
mesmo. — Dá de ombros, e eu acho que a emoção dela está embaralhando os
seus pensamentos.
Uma brisa leve, diferente de todas que eu já senti, toca meu rosto e depois as
minhas mãos, em momentos distintos e eu tenho a sensação de ter sentindo o
toque de algumas pessoas em mim. E me viro, olhando para a calçada que
dividia as nossas casas, e meu coração é preenchido de amor quando vejo três
silhuetas perfeitas dos meus pais e da mãe da Faith.
Vou embora, ainda olhando toda hora para o mesmo lugar, sem conseguir
parar de rir e chorar.
31
A reunião com os advogados foi adiada mais uma vez, e acabou ficando para
hoje, agora.
Saio da sala na mesma hora que Olívia sai da dela, eu arrumo a minha
gravata por costume e caminho ao lado dela até a sala de reunião.
Eu nunca tinha notado que depois que as duas advogadas que tínhamos
saíram, só restaram homens. Credo, muito cheiro de saco em um ambiente só,
Deus que me livre, chega a me dar coceira.
— Boa tarde a todos! — Jacob fala, sério como sempre. — A reunião será
bem rápida e prática. — Ele pede para que todos abram a pasta à nossa frente, e
vejo que são vários gráficos, que ele ama, do rendimento de todos os advogados,
e claro que o meu e do Noah são os melhores disparados, mas a cada página que
vamos passando, a coisa piora. — Com a ajuda da Srta. Pierson, eu pude
constatar que alguns de vocês não tem feito nem o mínimo por semestre, e como
está no contrato de cada um, existe uma demanda mínima para se trabalhar aqui,
não somos um escritório de brincadeira, todos os dias chegam diversos casos
que ficam disponíveis por uma semana para que vocês escolham o que vão
pegar.
Não é a primeira vez que contratamos alguns advogados que querem mais o
status de falar que são advogados da C&B do que de fato trabalhar, e
infelizmente é difícil saber quem é assim até que os dados nos mostrem.
Eu presto atenção no meu amigo, que é bem direto e nada fofo ao falar com
os demais, mas eu entendo, é difícil termos o respeito de alguns dos nossos
funcionários, ainda mais quando muitos deles têm idade para serem nossos pais
e não fazem nem metade do que fazemos.
Mas eu aperto a caneta que estava entre meus dedos quando uma mão
abusada para direto no meu pau. Eu quase viro a cabeça para a Olívia, mas
ficaria na cara que algo está acontecendo, então eu mantenho as mãos em cima
da mesa, tentando controlar a respiração.
— Eu não preciso de um babá. — Ela aperta meu pau quando ouve, mas é
gostoso. — Ela mal saiu das fraldas, Jacob.
O homem barbudo na nossa frente, fica roxo de raiva, mas apenas concorda
e se mantém calado. Eu aproveito que estão todos olhando para ele, e olho para
Olívia, que ergue uma sobrancelha, mas se mantém séria.
— Senta na cadeira, amor. — Ela me olha assustada, mas não pensa duas
vezes antes de se sentar e eu puxo a cadeira até o meio da sua sala. Abro a
minha calça e abaixo o suficiente para pôr o pau para fora. — Eu não vou gozar
sozinho!
Travo a sua cadeira, coloco suas pernas em meu ombro e mordo sua coxa
onde o tecido do vestido tampa depois de tê-lo levantado, e sinto minha boca
salivar de desejo quando vejo a calcinha pequena, que mal cobre sua boceta
gostosa e carnuda.
— Tem que ficar quietinha! Igual das outras vezes. — Ela já se segura nos
braços da cadeira, e eu não faço cerimônia quando arrasto a calcinha para o lado,
e já enfio a língua em sua boceta, e pelo visto alguém também estava excitada
enquanto me provocava. — Porra, eu não enjoo nunca.
Fodo sua boceta com a minha língua e brinco com seu cuzinho, que a cada
dia eu tento ter mais intimidade para conquistar aquela parte. Ela ainda não
liberou, mas adora sentir meu dedo entrar um pouco, e é isso que eu faço. Molho
meu dedo com a própria lubrificação dela e começo a esfregar o dedo ali,
sentindo-o piscar e vou enfiando um pouquinho, até ela falar para eu parar.
Meu pau cutuca a minha barriga e, com certeza, deve estar sujando minha
camisa com o líquido pré-ejaculatório, mas eu mordisco de leve seu clitóris, sem
machucar e termino de enfiar todo o meu dedo, sentindo seu cu se apertar e
relaxar, tentando acostumar. E ela se esfrega tanto em meu dedo, quanto na
minha boca, e eu meteria nela agora, se não fossemos tão escandalosos.
Com a minha mão livre começo a bater uma punheta com força, sem deixar
de fodê-la com o dedo e estimulá-la. Ela começa a apertar a cadeira com força, e
quando sinto o seu gozo escorrer, passo a língua para sentir cada gota, tiro meu
dedo de dentro dela, e levanto rápido, colocando meu pau perto do rosto dela,
que o engole e termina o trabalho para mim, só me liberando depois que eu gozo
tudo dentro da sua garganta.
Sorri de lado, mas o sorriso não chega aos seus olhos e eu penso em
perguntar se está tudo bem, mas tenho medo de ouvir o que sei que a qualquer
momento terei que ouvir.
— Eu tenho que resolver algumas coisas, os outros advogados estão bem
irritados, é preciso começar a acostumá-los com a minha presença.
Ela sai e vai para trás da sua mesa, separando algumas coisas em silêncio
e eu saio da sua sala quando percebo que estou sobrando.
Não é a primeira vez que ela fica estranha quando eu falo alguma coisa,
mas ela nunca fala sobre e eu deixo assim.
— Sabe que já tem umas rugas aparecendo do lado dos seus olhos, né? E
isso é porque você é um cazzo! — tento imitar o palavrão em italiano que ele
fala toda hora e o infeliz ri de mim.
Em uma competição seria difícil decidir quem fica mais sério, é surreal.
E acho que foi o Jacob que mandou esse homem me dar tantas alfinetadas, perdi
as contas de quantas já foram desde o primeiro dia.
— Agora é o senhor! Por favor, não se mexa tanto, meus alfinetes ficam
cegos de tanto que lhe furo.
Que alfaite mais abusado e cara de pau.
— Eu que deveria pedir para não me furar, não é nada legal. — Meus
amigos riem e eu os ignoro, e visto o terno, que dessa vez parece ter ficado
perfeito.
Eu tiro a roupa ali mesmo, na frente de todos para o velho poder preparar
nossos ternos para levarmos, e depois já visto novamente a que eu vim.
Eu morri.
— Por favor, Barbie. Você pensa que a gente é idiota igual a você? — Noah
arregala os olhos para o italiano, que dá de ombros e eu fico meio perdido. —
Todo mundo sabe que vocês dois estão se pegando.
Fico quieto, porque não queria que fosse algo que outras pessoas soubessem.
Quando tudo der merda, não quero que fiquem olhando diferente para ela, ou
com pena, ou com aquele olhar de que era óbvio que eu faria isso.
— Claro! Mas eu estou me contradizendo, porque falei que não fico com
ninguém igual adolescente, ou como se estivesse me encaminhando para um
namoro, e que raramente dormia com a mesma mulher novamente. E o que eu
estou fazendo? Tudo ao contrário.
Jacob bufa, e levanta para poder acertar as contas com o velho chato igual a
ele.
— Eu sei disso, sei pra caralho. Mas eu adoro estar com ela, do jeito que
estamos. Não quero namorar, assumir nada e nem deixar de ser livre, mesmo
que eu só esteja ficando com ela. — Esfrego o rosto com as duas mãos e respiro
fundo. — Já tem alguns dias que estou notando que ela está se entregando para
mim, e porra, eu queria muito poder retribuir…
— Mas seu coração não confia mais em ninguém — termina por mim e eu
concordo. — Irmão, nada daqui em diante vai ser fácil, se ela realmente está na
sua. Mas talvez você devesse reparar no que sente por ela também. Te conheço
há anos, e nunca vi você se preocupar desse jeito.
Meu telefone vibra ao meu lado, e eu não preciso olhar para saber que é
Barbie. Mas hoje eu realmente não estou querendo vê-lo. Desde o Canadá
temos ficado direto, mas toda hora ele fala algo para não me deixar esquecer
que só transamos, que não passará disso e que ninguém pode saber.
— Hoje não.
Fico em silêncio assistindo, mas fico toda hora olhando para o meu
celular, e quase sempre aparece uma nova notificação de mensagem dele. É
quase como se sentisse que eu quero me afastar.
Eu preciso me afastar.
— Sabe que não vai resolver nada assim, né? — Dou uma pausa e olho
para a minha amiga, que eu tenho certeza que tem uma escuta dentro da
minha cabeça. — Vocês tem que conversar, Olívia. Não deve ficar
escondendo a sua mágoa para evitar enfrentá-lo. — Totalmente sem jeito ela
se estica e faz um carinho estranho em mim. — O lado positivo nisso é que
ele nunca mentiu, e o lado negativo é que a verdade dele é uma merda.
Eu rio, porque não tenho o que fazer. Me dei conta que estava
apaixonada e mesmo assim quis embarcar nisso, quis o que ele tinha para
oferecer, mas só estou ficando ainda mais apegada, enquanto ele
provavelmente está de boa. O sexo é bom, quente, estamos sempre
disponíveis um para o outro, então acho que por conta disso ele tem ficado
comigo direto, mas até quando isso vai rolar? Uma hora ele vai cansar da
mesmice.
— Não acredito que está assistindo a série sem mim, Srta. Pierson. —
Faz uma cara séria, e consigo ver que está deitado em sua cama. Ele vira o
celular e a TV mostra que alguém assistiu até metade do episódio. — Isso é
o tipo de traição mais grave que existe.
— O que foi, amor? Estou preocupado, sei que está me evitando e ainda
assim estou insistindo. — Vejo seu peito subir e descer pesado, e a
preocupação ronda seu rosto. Cada vez que ele me chama de amor, eu morro
um pouquinho. — Quer conversar?
Quero, quero muito. Mas a conversa mudará tudo entre nós dois, e ainda
não quero isso.
Meus seios pesam na mesma hora que ele fala isso, e eu choramingo,
querendo que ele estivesse aqui.
Como sempre a nossa conversa sempre vai para esse lado, o que eu
adoro, é uma das coisas que mais gosto nessa nossa relação estranha. Barbie
é safado o tempo todo, mas também é amoroso, cuidadoso, preocupado.
— Laura veio dormir aqui hoje, já que você fugiu de mim. Vou lá ficar
com ela, nos vemos amanhã na empresa, beijos linda. — Dá um sorriso lindo
antes de desligar.
— Maldivas vai ser a última vez de verdade — falo para o teto, que não
me responde, mas parece que ri de mim. Quem em sã consciência escolhe
Maldivas para ser o último momento de um casal que nem existe? — Como
eu sou patética.
◆◆◆
— Eu não poderia escolher algo melhor! Nem nos meus sonhos seria
tudo perfeito assim. — Kath tem ficado muito sensível nos últimos dias e é
super compreensivo.
Eu não tenho esse sonho de casar, e ter filhos como muitas pessoas tem.
Sei que já fui noiva, e isso ter acontecido só confirma que isso realmente não
é para mim, foi tudo na emoção do momento. Desde pequena, como os meus
pais me contam, eu já falava que queria ter animais de estimação, e nada de
filhos. Claro que em algum momento tudo pode mudar, mas já tenho vinte e
cinco anos e continuo com esse pensamento, igualmente ao casamento, e a
única pessoa que fez com que eu mudasse de ideia, me mostrou que não
valeu a pena. Mas, nunca se sabe o dia de amanhã.
Não acredito que preciso me casar para ser feliz com a pessoa que eu
amar, não me oporia caso o meu suposto namorado quisesse, mas talvez eu
não fosse a noiva mais animada e preferiria ter algo mais minimalista e
íntimo.
Mas eu fico muito feliz pelas pessoas que tem esse sonho e conseguem
realizar, é quase como se eu tivesse realizando algo para mim. E é
impossível não querer o melhor para a Kath e o Noah, eles são pessoas
incríveis e um grande presente em minha vida.
Por mais que eu e o Noah não interajamos muito, eu sei que ele é uma
pessoa que eu posso contar. Ainda lembro que me salvou quando eu perdi o
controle e quebrei um dos brinquedinhos do Barbie.
— Vai amar mais quando tiver orgasmos múltiplos — Kath fala e a gente
gargalha, enquanto Emma fica vermelha e pega um drink chamado tesão de
urso. — A noite será quente só por conta dos comes e bebes.
Eu tinha tirado uma foto minha antes de sair de casa, sentada na varanda,
em uma pose que valoriza ainda mais a minha bunda e coxas. Aproveito o
momento agora e posto com uma legenda com emoji de noiva, drinks e
aquelas bonequinhas dançando.
— Credo! — Emma ri, e eu me toco que ela sempre está nas baladas
conosco e ainda não tem idade para isso. Mas, bobagem minha. Hoje em dia
ninguém faz questão de ver as identidades de ninguém, e ela está sempre
rodeada de pessoas mais velhas, que tem aparência de adulto mesmo, e deve
acabar passando batida.
Nenhum dos dois tem a intenção de ter uma despedida de solteiro igual a
dos filmes, que fazem várias merdas e depois traem. Então a ideia de juntar
as duas depois, foi legal e será ótimo vê-los sugando canudinhos de pênis.
33
Nem demos chance para os dois que estão jogando falarem muito,
puxamos eles, Jackson pagou a conta e nós saímos dali tão rápido que
parecia que assaltamos um banco. Entramos de novo na limousine, que foi
uma cortesia da Olívia, que alugou para Kath também.
— Poker é um saco, igual a você. — Ignoro qualquer coisa que ele possa
vir a falar, e abro o meu Instagram.
De cara já vejo todos os stories da minha amiga. Olívia aparece em quase
todos, e dá para ver que elas estavam se divertindo de verdade, diferente da
gente. Depois eu volto a rolar a página inicial, e a diabinha aparece ali, em
uma pose sensual para caramba, o que já rendeu vários comentários de
vários homens.
E Emma, bem, ela está dançando do jeito que a gente sabe que só dança
quando já tomou tequila demais. E eu não consigo resistir a olhar para o
italiano, que encara a cena chocado, mas cruza os braços e procura um canto
para sentar.
— Certo. — É a única coisa que eu falo, porque ela realmente está certa.
— Bem, ela pode fazer o que achar melhor, eu não me importo.
Não preciso ser um Sherlock para notar que os dois são próximos, e cada
vez que ele fala algo em seu ouvido eu engulo em seco, achando que vai
rolar um beijo entre os dois. E mesmo com a chance disso acontecer, eu não
desvio o olhar.
— Sim, para os íntimos. Você é…? — Aperto a sua mão com mais força
do que o necessário e ele ri, mas tira a mão do meu aperto.
— E está falando isso para que? — Cruzo os braços, não tenho muita
paciência para essas coisas.
— Só não quero que fique um climão entre vocês dois porque me viu
com ela lá embaixo. — Ele me olha de cima a baixo, e sorri de lado. — Não
sou de me meter, talvez nem tenha valido a pena, é claro que os interesses
não são recíprocos. — Ele dá um tapinha em meu ombro e entra no
banheiro.
É claro que todo mundo adora a ideia, eu também adoraria se Olívia não
estivesse bem na minha frente, mas não serei o único a negar, até Jacob
topou. Ficamos em círculo e começaremos pela minha irmã, depois a pessoa
do lado e assim por diante.
— Vocês são tudo um bando de safados, esse jogo não rola para mim —
Emma reclama, mas pede para falar antes de sair da brincadeira. — Eu
nunca tive que aturar um homem de trinta anos que não sabe lidar quando
uma mulher fica com ele e o mundo dela continua a girar normalmente, sem
ser ao redor dele. OPA, EU BEBO! — Ela vira o copo, rindo sozinha, e
ainda pega o do Jacob e bebe.
Os dois saem, com ela andando na frente e parando toda hora para
dançar um pouco e ele fica igual a um segurança.
— Então quer dizer que você já transou com alguém daqui? — pergunto
a Olívia baixinho quando chego por trás dela. — Que homem sortudo!
Sua pele suada se arrepia e ela me olha por cima do ombro, com um
sorrisinho safado.
E mais uma vez eu vou passar a noite dentro do meu lugar preferido,
vendo o sol raiar, enquanto a minha diaba geme meu nome loucamente.
34
A noite foi maravilhosa, e é sempre muito animado estar com todos eles
juntos. É incrível como cada um tem seu jeito, mas todos juntos parecem
uma coisa só.
Rio baixinho com as fotos e vídeos que vou achando no meu celular, que
eu nem lembrava que tinha registrado. Mas o último vídeo é proibido para
menores de dezoito anos, e disso eu lembro. No auge do tesão eu falei para o
Barbie gravar, enquanto me comia de quatro.
Eu acordei mais cedo que ele, fui correr para jogar o resto do álcool para
fora do corpo, tomei um banho e voltei para cama já arrumada, esperando a
Bela Adormecida. Minhas malas já estão me esperando na porta.
— Bom dia, pombinhos. — Kim dá uma caneca de café para nós dois e
tomamos bem rápido, estamos com tanta pressa que ele demora a perceber
que acabou de ser visto por Kim. — Não se preocupe, Barbie. Não é a
primeira vez que te vejo indo embora bem cedo.
Percebo que ele fica sem graça, mas apenas sorri e já sai puxando as
minhas malas.
Queria que ela fosse comigo, para não me deixar fraquejar no momento
certo, mas infelizmente terei que resolver os meus problemas sozinha.
É um babaca mesmo.
Ele volta alguns minutos depois e fica aliviado quando acha o celular ali,
e percebo quando vira um pouco o aparelho em outra direção, garantindo
que eu não veja o que tem ali, que eu com certeza não olharia, mas isso me
irrita em um nível que não sei explicar.
Consegui sentar ao lado da Jô, que veio sozinha. Pelo o que eu entendi,
ela começou a namorar o treinador de um time de futebol há pouco tempo, e
ele estará lá com alguns meninos do time, mas só conseguirão chegar horas
antes da cerimônia no sábado.
Volto para o jatinho, e tirando Jackson e Kath que estão dormindo, todos
os outros saíram e vou até o banheiro. A porta tem uma trava estranha, e eu
morro de medo de ficar presa, então só encosto e lavo o meu rosto com
força.
A sós.
— Acha mesmo que eu não darei um jeito para ficar com você, amor? —
Sua mão grande alisa um dos meus braços e novamente ele beija meu
ombro, e dessa vez pressiona o pau na minha bunda. — Estou com saudades,
e dormimos juntos de ontem para hoje… a senhorita está me viciando
demais!
Viro de frente e seguro seu rosto com as duas mãos, e o beijo. Nossos
últimos beijos têm gosto de despedida, e acho que nós dois sentimos isso.
Barbie alisa meus braços, depois a cintura e o quadril. Eu só mantenho seu
rosto em minhas mãos, aproveitando cada momento.
Depois de uma viagem muito longa, com duração de muitas horas, nós
chegamos no aeroporto da capital, de lá pegamos um táxi e fomos até o
embarque dos barcos e hidroavião.
O resort que eles escolheram foi o mais foda de todos, Soneva Javi, e fica na
Ilha de Medhufaru. De longe, dentro do barco, já tínhamos avistado a
grandiosidade e estrutura do lugar, que é algo sem igual.
Claro que todos nós já vimos muitas fotos, até porque esse pedacinho da
Ásia é um tanto quanto conhecido, e um dos lugares mais desejados por todos
para viajar. Mas está longe de ser uma viagem acessível. As diárias são
caríssimas, e tudo que vende aqui tem um valor bem alto.
Ela fica perfeita sem maquiagem, é a versão dela que mais amo. E agora
com o sol batendo em seu rosto e seu sorrisinho de lado, me revira o estômago,
mas do melhor jeito possível.
— Linda, né? — Kath fala ao meu lado. — A paisagem aqui é linda! —
Pisca e sai quando um funcionário diz que os carrinhos já estão disponíveis para
nos levar aos quartos.
O bangalô é enorme, todo de madeira. Ele tem uma sala, uma área para
refeições interna, e o quarto é logo depois da sala, contendo uma cama de casal
enorme, com um véu que cai ao redor dela, e de frente para ela tem uma janela
que pega toda a parede, mostrando o mar perfeito de águas cristalinas.
Coloco as minhas malas no sofá-cama que tem ali, e é quando noto que o
chão do quarto é quase todo de vidro, e vejo vários peixes passando pela água,
tranquilos, seguindo a sua vida.
Eu vou até a varanda, onde tem um espaço com cadeiras confortáveis, além
de uma piscina privativa com borda infinita e uma escada que dá direto dentro
do mar.
— Perfeito, né? — B diz quando aparece do meu lado, olhando tudo igual
bobo, como eu. — Eu nem fui embora e já quero voltar novamente.
No jatinho ela jogou uma direta para mim, que foi quase um soco daqueles
de quebrar o nariz. Eu fiz um comentário inocente e sincero, porque realmente
acho que me sentiria atraído por Olívia até o meu último dia de vida, mas isso
engloba o fato de estarmos juntos todos esses anos, e eu, sem querer, toquei no
ponto problemático entre nós dois.
Eu preciso conversar com ela, e será o mais rápido possível. Mas depois de
Maldivas, aqui eu ainda pretendo transar com ela tendo essa vista linda à nossa
frente, e também com a lua nos banhando.
Dou uma olhada rápida ao redor, e vejo que para uma sexta-feira tem muitas
pessoas, e várias dessas são mulheres lindas, que faria qualquer homem
enlouquecer, até mesmo eu, se fosse há um tempinho atrás. Mas como querer
outra mulher quando eu tenho a mais sensacional comigo?
— Acho que vou dar um mergulho no mar. — Bryan sai e leva seu copo
com a bebida e eu só dou um tchauzinho. As bebidas das meninas ficam prontas,
mas quando pego para levar, apenas Olívia está lá.
Me sento na espreguiçadeira em que minha irmã estava, e a loira vira o rosto
para o meu lado e pega o drink.
— Para você? Sempre amor. — Ela sorri e volta a olhar para a frente.
Eu sento do lado dela, ficando na bendita cadeira longa feita para pegar sol e
coloco a sua mão em meu colo para fazer um carinho entre seus dedos.
— Eu não quero que o clima fique estranho entre a gente aqui. — Recebo a
atenção dela, que tira os óculos e levanta um pouco do corpo, ficando cara a cara
comigo. — Nós sabemos que precisamos conversar, e não consigo imaginar que
sairemos felizes dessa conversa.
— Eu ainda não consigo acreditar que deixamos tudo chegar nesse ponto —
ela sussurra, sendo sincera e a sua voz é quase dolorosa. — Não foi inteligente
da minha parte ter beijado meu chefe no táxi. — Sorri sem humor. — Ali eu
decretei a mim mesma uma sentença dolorosa, Barbie. Desde aquele maldito
dia, eu nunca mais consegui parar de pensar em você, e só foi piorando.
— Mas a questão é exatamente essa, Olívia. — Largo a sua mão e viro seu
rosto para o meu, para que me olhe e entenda que o que falarei é a única
verdade. — Eu não tenho mais um coração para ser machucado, da mesma
forma que não tenho um coração para te entregar, para te amar como você
merece, para bater forte por você todas as vezes que você aparece deslumbrante.
O fato é que ela não precisa saber que meu coração tem batido tão forte há
algumas semanas, que às vezes parece que ele vai saltar para fora do meu peito.
— Exatamente como o meu faz cada vez que te vê — o peso dessa frase é
grande, e eu me sinto sufocado em ouvir isso. Fico em silêncio, encarando-a. Ela
é forte, certa no que diz e não tem problema em assumir seus sentimentos, o que
eu acho admirável.
Queria ter um terço da coragem que ela tem, queria conseguir deixar de lado
esse medo que me assombra, esse medo que me transformou em um homem que
optou há anos por não amar mais ninguém e que agora sente forte em seu peito
que vai perder uma mulher incrível, e não faz nada para mudar isso.
— Acho que não adiantou muita coisa, né? Estamos aqui, em Maldivas, e já
nos despedindo um do outro. — Olha para a piscina e depois para algumas
pessoas. — Dentro de mim, mesmo que eu quisesse, tinha uma fagulha de
esperança que acreditava que esse final de semana poderia mudar as coisas para
nós. Com o clima de casamento, longe de casa… Pensei que poderia ser mágico
o suficiente para mudar algo em você. Mas, é só perda de tempo mesmo.
— Não é perda de tempo! — a corrijo. — Ficar com você não é perder meu
tempo, de jeito nenhum Olívia. Porra, eu amo o tempo que passamos juntos.
Eu aliso a sua coxa, sem saber o que falar, ela espera que eu fale algo e
quando mais nada sai da minha boca, ela afasta a minha mão e levanta sem me
encarar e vai para outro lugar.
Eu amo você.
Muitas coisas nessa vida doem e machucam, muitas coisas mesmo. Mas
se declarar, falar um eu te amo e não ouvir nada de volta, é uma dor que
marca a alma.
Eu sabia que não teria resposta, sabia que no momento em que abrisse
meu coração para ele, me machucaria. Na verdade, já estava me machucando
há dias, há meses. Só fechei com chave de ouro.
E porra, dói.
Mas não vou sofrer nesse final de semana, não vim de tão longe para
chorar e estragar o casamento dos outros. Eu só preciso manter o meu copo
cheio e aquele homem o mais longe possível de mim.
Quando a música acaba todos batem palmas e nós voltamos para o nosso
lugar, mas no meio do caminho eu tropeço em uma pedra que não tinha visto
e já me preparo para sentir o impacto do meu corpo na areia, mas o que sinto
são mãos fortes me segurando. Me equilibro e volto a ficar de pé, me
virando para agradecer a gentil pessoa que me ajudou.
— Falo sim. — Seu olhos ficam pequenos quando ele sorri, e é a coisa
mais fofa, destoando do seu corpo bruto e barba muito cheia. — Inclusive,
me chamo Bernardo. — Estende a mão e eu aperto.
— Olívia! — Ele solta a minha mão e coloca as suas dentro dos bolsos
de sua bermuda. — Você é daqui? — puxo assunto, porque é a melhor
opção. Não custa nada fazer amizade, vai que o homem que me amará um
dia está nessa ilha também.
— Jura? Uma amiga nossa também é de lá. — Procuro por ela no meio
dos meus amigos, e a encontro dançando e brincando com Milla na areia e
mostro a ele. — Ele não parece estar muito a fim de papo então já me
preparo para ir embora.
— É uma pena! Seria ótimo para o meu ego que está muito abalado. —
Rio, para suavizar, mas é verdade. — Bom te conhecer, Bernardo. Espero
esbarrar com você novamente por aqui.
Ele ergue uma sobrancelha, como sempre faz quando o chamo pelo
nome e eu coço a testa, ficando irritada quando ele vai para o outro lado que
eu também vou.
É muita cara de pau em uma pessoa só. Ele continua me olhando sério,
esperando uma resposta e eu sorrio, debochada.
— Eu dou ideia para quem eu quiser, da mesma forma que você faz o
que você quiser com as gêmeas stripper, ou seios grandes lótus. E O QUE
ACONTECE NÃO É DA MINHA CONTA TAMBÉM.
— E você ficou em silêncio — tento não gritar, mas a essa hora nós já
devemos ser a atração principal do luau. — Então para mim isso foi um
claro “não temos mais nada depois daqui”. E olha que já não tínhamos
merda nenhuma além de muito sexo, então por que caralhos não me deixa
em paz, SCOTT?
Eu fico olhando para ele, sem conseguir entender o que deve passar na
cabeça desse homem, porque para mim nada mais faz sentindo, e eu
simplesmente saio dali, vou até onde a minha bike está e volto para o quarto
antes que eu faça uma merda e afogue esse loiro na praia.
Tiro toda a minha roupa e entro no chuveiro interno, nos quartos tem
também um chuveiro que fica lá fora, e deixo a água morna cair em meu
corpo e encosto a testa na parede, deixando que a água leve embora toda a
minha raiva.
Escuto a porta bater, deduzo que é Laura e me sinto ainda pior. Deve ter
ficado um climão de merda quando fui embora, e todos devem ter ido para
seus quartos também.
— Já vou liberar o chuveiro para você — digo para Laura quando ouço
que entrou no banheiro, e me viro. Só que não é ela quem eu encontro me
olhando. — O que você está fazendo aqui, Barbie?
Depois disso a sua boca toma a minha e sinto seu coração bater forte
quando nossos peitos colam um no outro, e eu sei que estamos na mesma
sintonia em muito mais sentimentos do que ele quer admitir.
37
A boca de Olívia tem um gosto doce, e acho que é a primeira vez que eu a
beijo com calma de verdade. Aproveitando cada segundo desse momento,
mesmo que meu pau doa de ansiedade para estar dentro dela.
— Não posso te dividir — repito, enquanto beijo seu pescoço, depois o vão
entre seus seios e chupo um dos seus mamilos, devagar mas com pressão. Ela
remexe em meu colo enquanto se excita, e esse movimento faz com que a
cabeça do meu pau pressione a entrada da sua boceta, eu empurro só um pouco,
para sentir o aperto gostoso e ela geme, fazendo o restante do trabalho ao descer
com um pouco de dificuldade pela posição que estamos.
Seguro em sua bunda, e eu a ajudo a descer mais, engolindo todo o meu pau
e começo os movimentos de vai e vem, que se intensificam naturalmente pela
posição e o esforço que tenho que fazer para entrar todo.
Eu não negaria nada a ela, por mais que ela pense ao contrário. Então sem
sair de dentro dela e deixando que ela suba e desça no meu colo, enquanto
caminho bem devagar para a cama, eu mamo seu outro seio enquanto aperto sua
bunda com força.
Paro na frente da cama, coloco meus joelhos em cima do colchão e a deito
com cuidado, deixando seus cabelos molhados encharcarem a cama e no seu
olhar eu sinto que esse sexo será diferente de todos os outros.
A beijo com carinho, e ela me prende bem pertinho do seu corpo quando
abraça minha cintura com suas pernas, e desse jeito consigo ir um pouco mais
fundo e a cada hora vai ficando ainda mais gostoso.
Eu não consigo parar de beijá-la, e é incrível como cada célula do meu corpo
vibra, enquanto nossos corpos estão em sintonia. E porra, eu queria poder ter
isso para sempre.
Ergo o corpo quando ela desfaz o nó com as pernas em mim, e levanto uma
delas até o meu ombro, puxando um pouquinho para cima o seu quadril e mudo
o ritmo, enfiando uma vez com força e ficando alguns segundos parado depois
da intensidade da estocada, e repito isso incontáveis vezes, enquanto beijo seu
tornozelo e aliso a sua coxa.
Eu ainda continuo comendo sua boceta aqui na cama, e espero que chegue
quase ao seu limite, aí eu saio dela e ajudo a ficar de pé. Abraço-a por trás, e
vamos coladinhos para o lado de fora, enquanto roço meu pau em sua bunda.
Eu desço a escada primeiro e tento não pensar nos vídeos com tubarões que
vi aqui nas Maldivas, e ela senta em um degrau, apoia as pernas em meu ombro
e eu separo seus lábios, para passar a língua em cada pedacinho da sua boceta,
tendo a visão perfeita dessa parte do seu corpo.
Coloco a mão no ventre dela, colocando sua bunda em mim e beijando cada
cantinho das suas costas, enquanto ela rebola a cada vez que eu entro todo, e
criamos um ritmo gostoso assim.
Eu preciso de um pouco mais de tempo e fico ali, até que sinto algo passar
no meu pé que está na água e pulo para a varanda, ficando com o pau molinho
depois do susto, mas eram só uns peixinhos.
— Suas roupas! — Ela aponta para um amontoado de roupas em cima do
sofá-cama, enquanto veste uma calcinha e a sua blusa do BTS. — E devolve a
chave do quarto para a sua irmã.
Eu visto a cueca, mas paro de frente para ela quando se deita e puxa a
coberta para cobrir seu corpo.
— Achei que poderia dormir aqui. — Engulo o orgulho para poder falar
isso, que é algo que sempre fazemos quando dá. — Minha irmã disse que iria
dormir com a Jô e a Milla.
— Eu não quero que você durma aqui, Barbie. — Essa foi a primeira
porrada. — Não quero que durma comigo, deixando mais claro. Nem aqui e nem
em lugar nenhum. — Porrada número dois.
O que está acontecendo?
— Eu pensei que nós estávamos bem depois disso. — Aponto o dedo para
ela, depois para mim e depois para todos os cantos que transamos. — Você vai
mesmo me expulsar depois de toda a intensidade que tivemos agora?
— Nós estamos bem, Barbie. — Ela levanta, vai até a porta e abre. — Essa
sou eu, sendo quem você quer, sendo o que você quer. — Visto só a bermuda e
calço o chinelo, mas paro na frente dele, ainda sem entender merda nenhuma. —
Não era sexo sem compromisso que você queria? Nada de sentimento, apenas
me comer e não ter que lidar com responsabilidade afetiva? Então, agora é isso
que você terá de mim. Daqui para a frente, é isso que teremos ou nada. Mas para
você não será difícil, né amor? É o mestre disso. Talvez assim você goste um
pouquinho de mim, já que estarei mais próximo do que é ideal para você.
Mas, Olívia não é simplesmente a garota que eu gosto. E acho que precisei
ouvir essas coisas da sua boca, ouvir o que eu sempre falo para todas, o que eu
falei para ela, para entender os meus sentimentos.
Empurro a porta do quarto quando vejo que está aberta, mas fecho rápido
quando escuto Bryan gemer alto, e é inevitável não rir, porque o babaca parece
nunca ter dividido quarto com ninguém, era só ter trancado a porta e colocado
uma cueca na maçaneta, ou meia, ou gravata, ou um papel escrito: tô fodendo.
— Isso, Bryan. Continua assim! — Meu riso morre quando a voz que eu
escuto lá dentro é da minha irmã. Eu travo, meu pensamento congela e eu não
sei o que fazer. Eu quero entrar e empurrar ele para longe dela, porra, é a minha
irmã e ele é meu amigo há anos.
— Se veste, Laura. Seu quarto é o outro! — Nem olho para ela, meu foco
total é no homem de trinta e um anos na minha frente, que mantém o maxilar
trincado e fica com as duas mãos na frente da porra do pau que ainda está duro.
Ela veste uma camisa dele e a calcinha, e eu me afasto antes que ela encoste em
mim. — Sai Olívia, com você eu falo depois.
Ela nem teima, apenas sai e quando escuto a porta bater e dou um soco
no peito do B, com tanta força que ele perde o ar e cambaleia para trás.
— Agradeça o meu amor por Noah, porque se não teria sido na cara. Mas
não quero estragar o casamento dele. — Ele se apoia na parede mais próxima,
puxando o ar com dificuldade — QUE PORRA VOCE TÁ PENSANDO DA
VIDA, CARALHO?
Eu o empurro, irritado. Ainda sem acreditar que esse filho da puta estava
comendo a minha irmã, no quarto que estamos dividindo.
— Como que você está apaixonado depois de ter transado uma ve… —
Lembro da despedida de solteiro, em que eu achei ter visto que ele bebeu na
pergunta se já transou com alguém da rodinha e agora tudo faz sentido. — Isso
está acontecendo desde quando?
— Desde o carnaval, Barbie. — Ele dá uns passos para trás quando vou em
sua direção mas eu desisto. Na minha cabeça começa a tudo se encaixar, a
camisa que eu vi na minha irmã e reconheci, as vezes que ela escondeu o
telefone quando eu chegava perto, o perfume familiar em suas roupas. Estava
bem na minha cara, e eu não vi. — Isso não vai muito além cara, sua irmã é
igual a você. Me fez assinar um contrato, com regras, e uma delas é que eu não
poderia me apaixonar, mas quais as chances de eu me apaixonar logo pela sua
irmã? Porra, ela é quase doze anos mais nova do que eu. Acha que eu tô feliz?
O desespero dele é real, mas isso me preocupa ainda mais. Bryan não tem
um bom histórico em como lidar com as mulheres que ele fica, na verdade, acho
que não teve nenhuma que ele não pensou que seria a mulher da sua vida. E
minha irmã não é assim, e eu nem sei se eu quero vê-la apaixonada novamente,
a primeira vez a matou, literalmente, por alguns minutos.
— Vocês dois são dois babacas, dois traidores de merda. — Pego uma
garrafinha de água no frigobar e bebo ela toda em um gole só. — Eu juro Bryan,
por tudo que é mais sagrado na minha vida, pelo amor que eu tenho pelo seu
irmão e toda gratidão a vocês e sua família. Eu te coloco a sete palmos abaixo da
terra, antes de te ver fazendo mal para a minha irmã, e sei que você se lembra do
que aconteceu há três anos. Não sei o que rola entre vocês e no que isso vai dar,
mas ela é uma mulher em eterna recuperação, uma pessoa nunca deixa de ser ex-
viciada, e eu nunca vou esquecer que por causa de um homem, eu quase a perdi.
Então é bom você pensar em cada coisinha antes de fazer algo com ela, os
lugares que vocês vão, o que você fala. E sim, isso é claramente uma ameaça. —
Ele anda de um lado para o outro, mas concorda com tudo o que eu falo. — Se
eu souber de um único dia que ela tiver deixado de ir nas reuniões para trepar
com você, a primeira coisa que eu vou arrancar do seu corpo vai ser esse seu pau
ridículo.
— E desculpa pelo soco, mas foi o mínimo depois de descobrir desse jeito
que você está comendo a minha irmã. — Sento na cama, mas levanto rápido
quando lembro que eles estavam ali. — Essa viagem só piora. — Me jogo no
sofá-cama e rezo para que o casamento chegue logo e possamos ir embora.
38
Estou feliz? Não. Mas eu sei que ele ficou abalado, e ele tem que sentir
na pele como é ouvir o que ele fala. Em nenhum momento o julguei por
querer viver assim, aliás, até julguei, mas é um direito dele. Mas ele não
podia falar que queria só sexo quase todos os dias, mas dormir na minha
casa, me mandar bom dia todos os dias, e desejar bons sonhos antes de
deitar. Não poderia ter falado várias vezes o quanto estava viciado em mim,
ou como era bom assistir seus filmes favoritos comigo, ou até mesmo se
preocupar em fazer comidas saudáveis para mim, que adoro comer besteira.
Ele não poderia ter feito tudo isso e me pedir para não me apaixonar.
Em que universo uma pessoa não se apaixona por alguém assim? Que
tem o bônus maravilhoso de ser quente como o inferno no sexo. O infeliz foi
o único homem que despertou em mim um lado que eu não sabia que existia,
despertou a minha melhor versão na cama, onde eu sou segura e confiante.
A massagista aperta forte meu ombro, e diz que estou muito tensa. Isso
me desperta um pouco e eu viro o rosto para o lado, dando de cara com a
noiva que também está tendo seu momento de princesa, o tão esperado dia
da noiva. E ela fez questão de chamar todas nós, até eu, que ainda sou uma
amiga recente.
Me sinto um pouco culpada depois que ela conta, porque ele só voltou
porque eu o expulsei do quarto em que estou com ela, que eu pensei estar de
verdade com a Jô, porque em momento nenhum, até a hora que acordei para
vir para cá, ela voltou para o quarto.
A história piora quando conta que tomou café com Bryan e ele mostrou
um hematoma se formando em seu peito, onde Barbie deu uma porrada.
Mas, no final eles se entenderam do jeito dele, mas Barbie não está falando
com ela, e esse foi o motivo de ter chorado tanto.
Os dois são fofos demais, aqueles irmãos que nem em filmes nós
assistimos, de tão parceiros e amorosos que eles são um com o outro. Então
eu imagino que ele deve ter se sentido traído em ser o último a saber que sua
irmã está ficando com seu amigo.
E ela rompeu a regra deles de não se envolver com nenhum amigo dele,
e nem ele com as amigas dela.
— Vocês vão se acertar, Lau — digo, e sento na beira da maca que ela
está deitada. — Aquele homem ama você mais que tudo, não vai aguentar
ficar muito tempo sem falar com a irmã dele.
A fotógrafa que vai fazer o ensaio do dia da noiva chega, e nós nos
animamos quando chegam as comidinhas e bebidas. Kath pede o tempo todo
para que deem água a ela toda vez que vermos que pegou outra taça de
bebida, ela não quer ficar bêbada antes do sim.
Pego em meus braços e procuro por um bilhete, que acho no meio delas,
endereçado a mim.
“Desculpe por tudo, eu sou um babaca e acho que não sou mais capaz
de amar. Nunca quis te magoar, me apegar a você foi fácil porque tudo com
você é suave, a não ser o sexo. Eu queria que essa fosse uma carta falando
que vou tentar mudar por nós, que me dê outra chance ou até mesmo
correspondendo o que me falou mais cedo, mas esse não seria eu. Não irei
atrasar mais a sua vida, e estarei sempre torcendo para que um homem
menos fodido do que eu, apareça e te faça feliz como você merece. Beijos,
minha diabinha!”
Eu não posso chorar, não vou aparecer com a maquiagem toda borrada
por causa dele. Tudo que aconteceu entre nós já estava fadado a isso, antes
mesmo de começar, já era certo que daria em nada de bom para mim, eu
senti isso todos os dias que ficávamos juntos, sempre tinha a sensação que
poderia ser o último, e de fato ontem foi.
Seus olhos encontram os meus e vejo ele vacilar o andar, mas logo volta
a olhar para frente e sorrir, como antes.
Todos se ajeitam em seus lugares no altar, e aproveito para tirar uma
foto. Todos estão lindos. Os meninos com um terno bege, Noah está todo de
branco, e as meninas de rosa chá, incrivelmente do mesmo tom, sem destoar
nem um pouquinho.
Eu seguro na mãozinha dela, quando Noah aponta para mim e pede para
que ela se sente ao meu lado.
Mas é isso que eu quero, né? Que ela siga o rumo dela, e eu vou voltar a
viver do meu jeito, como já vivo há anos e bem. Só preciso parar de desejá-
la tanto, acho que transar com outra pessoa pode resolver esse problema.
Todo mundo pega os celulares para gravar o momento dos votos dos
noivos, e eu sorrio já sabendo que será emocionante.
Eu entrego a caixinha de aliança para ele, que repete tudo que o padre
manda depois que terminam os votos e depois é a vez de Kath que treme
muito, mas consegue colocar a aliança na mão do meu amigo.
Ficamos algum tempo ali, para tirar as fotos que a fotógrafa pediu e, logo
depois, vamos juntos para a área onde será a festa, e somos surpreendidos
em como tudo ficou muito lindo e a cara deles.
O salão tem dois ambientes, um fechado e outro que pega uma parte da
praia. Mesas e cadeiras estão espalhadas por todos os cantos, e eu vou até
onde Jackson está e me sento ao seu lado, aceitando de bom grado a cerveja
que me é oferecida.
— Isso foi incrível, né? — Aponto com o queixo para os dois, que
dançam junto com a Milla, que fica rodando a saia do vestido e balançando
os bracinhos. — É difícil de acreditar quantas vezes eles poderiam ter se
encontrado quando iam nas minhas festas, ou na Lótus, mas precisou tudo
aquilo ter acontecido para finalmente ficarem juntos.
— Você não consegue se dar conta nem dos seus sentimentos, né? — Ri,
desacreditando de mim. — Nos votos deles, falaram sobre como é que se
sentem quando amam alguém, talvez você realmente não tenha sentimentos
pela contadora, mas os seus olhos brilham feito um farol, e seu sorriso que é
frouxo, fica ainda mais quando está perto dela, até mesmo quando vocês
viviam como cão e gato.
Procuro a loira aqui dentro com o olhar, mas não a encontro. E meu
amigo ri do meu lado, erguendo as sobrancelhas como se estivesse provando
que está certo.
— Você não está pensando direito — digo. — As emoções do casamento
estão afetando o seu juízo.
— Talvez, mas não é porque eu gosto dela, que deixarei de viver. E isso
significa que quando ela despertar esse sentimento por mim, caso aconteça,
eu possa não querer mais. Amores vão e vem, aprendemos com a vida a
desamar e amar outras pessoas, precisamos disso, nos reinventar em todos os
aspectos da vida.
Jackson sempre foi um cara que enxerga as coisas na frente, mais ciente
do que os demais, das consequências de nossas ações. Ele é cauteloso, e sabe
a hora certa de falar e fazer as coisas, como agora. Essa conversa vai ficar
martelando em minha cabeça, e o safado sabe disso.
— Espero que isso não aconteça com você, Barbie. De correr atrás da
Olívia quando for tarde demais, eu sou solteiro e sei que a vida sem
compromisso é tentadora, mas eu quero ver você arrumar alguém que te
ature, que aguente as suas infinitas chatices com treinos, dieta, Marvel.
Alguém que vai estar esperando feliz para te ver todos os dias. Não sei se ela
seria essa pessoa, mas pela forma como ela te olha, eu apostaria que sim.
Levanto com a ideia de ir até ela, jogar tudo para o ar e sei lá, tentar
o que ela quiser, o que for preciso para ficar com ela. Pergunto a Emma se
ela a viu, e a ruivinha me diz que ela está lá fora, perto do bar.
Isso foi a última coisa que eu precisava para entender que eu amo a
mulher que está dançando com outro, uma música que deveria dançar
comigo. Só comigo! Mas eu não vou sair puxando-a de lá, porque, depois de
ontem, não sei mais o que esperar da minha diabinha.
Eu a terei de volta, nem que para isso eu tenha que sacrificar um dos
meus amigos. Sei lá como essas porras funcionam, mas no Google deve ter
algum tipo de pacto ou simpatia, e se tiver que dar um deles para o
sacrifício, eu farei isso.
A promessa que fiz para mim, anos atrás, não me vale mais de nada,
já que meu coração decidiu passar por minhas ordens e se entregar para a
loira que atormenta os meus dias desde que entrou na C&B.
40
Quais as chances de uma viagem para as Maldivas não ser tão boa
quanto imaginamos que seria? A minha experiência lá, foi uma merda e a
única coisa boa, de fato, foi o casamento dos meus amigos, que estavam
lindos e ainda mais apaixonados do que nunca.
— Você tem que comer mais, Frozen! Ficou a manhã toda vomitando.
Ela fala do vômito e sinto meu estômago embrulhar. Eu uso todas as
forças que tenho para levantar e andar rápido até o banheiro, abro a tampa do
vaso e vomito a sopa e a água que tomei ainda pouco.
Apoio a minha testa no vaso depois que dou descarga, e deixo o meu
corpo escorregar. Parece que eu peso uma tonelada e não consigo levantar
sem a ajuda da minha amiga.
Puxo Vodka que estava perto dos meus pés e a abraço, como se fosse um
ursinho de pelúcia, e ela se ajeita igual a um caracol e, em poucos segundos,
já está dormindo novamente.
Tomo o bendito remédio e torço para não vomitá-lo mais uma vez. E
nesse meio tempo pego o celular que estava debaixo do meu travesseiro e
vejo que tenho algumas mensagens não respondidas.
Mas, ontem, quando estávamos vindo, Barbie veio falar comigo e eu não
tinha como fugir dele dentro de um jatinho. A conversa foi bem rápida,
porque ele quis novamente tocar no assunto que já está morto, Barbie e
Olívia juntos não existe mais e quando existiu foram apenas migalhas de
algo que poderia ter sido legal.
— Eu vou falar com ele. — Minha amiga sorriu, porque era exatamente
isso que ela queria que eu fizesse. — Você é uma manipuladora!
E mais uma vez, e com certeza não a última, a Kim está certa.
Uma foto nossa aparece na tela do meu celular, que eu esqueci que tinha
salvado no contato dele, e olho um pouco antes de atender no viva-voz.
— Até que enfim, já estava pegando as minhas coisas para ir até a sua
casa saber se estava viva. — Kim me olha como se falasse “eu disse" e eu
reviro os olhos para ela. — Como você está? Precisa de alguma coisa? O que
o médico disse que era? Eu tenho uns contatos de excelentes médicos, posso
te levar at…
— Ótimo, vou levar uma comida bem leve para você. Kim falou que
você está vomitando tudo que come. — Olho feio para a minha amiga que
sorri sem graça, e aproveita o momento para sair do quarto. — Eu chego aí
em umas duas horas, aproveite para descansar.
Levanto e vou andando devagar até o banheiro para fazer xixi, e tomo
uma chuveirada para tirar o suor nojento que grudou em todo o meu corpo.
A água quente é uma delícia, enquanto cai do meu corpo, mas ao sair do
banheiro eu sinto ainda mais frio.
Seco bem o cabelo e me enrolo em outra toalha, pronta para usar meu
pijama de inverno do BTS, que ganhei da minha madrasta maravilhosa, que
adora me mimar com coisas da minha boyband favorita.
— Não deveria ter ido tomar banho sozinha.
Meu coração tenta sair do meu peito quando eu levo um susto ao ouvir a
voz de Barbie, que já tem em suas mãos exatamente o pijama que eu pensei
em usar e uma calcinha simples, bem maior das que ele costumava ver em
mim.
— Sabe que eu já te vi nua muitas vezes e não precisava ter virado, né?
— O encaro sem ter forças para responder qualquer coisa. — Eu não ficaria
olhando para seu corpo com maldade com você nesse estado diabinha, não
sou esse tipo de homem.
— Que horas que eu comi? — Ele ri, e senta na poltrona reclinável que
estava perto da TV, mas ele arrastou até a beira da cama.
— Não lembra? Eu falei para a Kim que devia ser delírio por causa da
sua febre alta. — Ele se recosta na cadeira, ficando a vontade. — Assim que
eu cheguei você me expulsou, me xingou de muitas coisas, falou que era
mentira que me amava, que foi uma aposta que fez com meus amigos, se
embolou na informação, mas aceitou a comida e depois dormiu.
Tampo o rosto com a coberta, sem acreditar que eu fiz tudo isso e que ele
me viu naquele estado péssimo. É o meu fim mesmo!
Eu sei que ele falou isso em relação a eu estar doente, mas mal sabe o
quanto aquilo vale para muitas outras coisas.
— Eu não vou sair daqui, tá bom? — Reclina a cadeira, e fica
praticamente deitado. Eu queria poder falar para ele deitar na cama comigo,
mas estou decidida que dele não quero mais nada, ele nem mesmo deveria
estar aqui, mas não serei ingrata e dispensar a ajuda dele.
Sussurro um obrigada e pego no sono logo depois.
41
Quando soube que ela tinha ficado doente, um desespero bateu em mim.
Não sou bom em lidar com isso, eu vi minha irmã adoecer várias vezes
quando era criança, e muitas dessas vezes eu nem tinha como comprar os
remédios, então ficava plantado ao lado dela para não deixar piorar, dava
chás que eu via na internet que ajudavam. Mas isso me tornou uma pessoa
um pouco assustada, e qualquer coisa boba, como uma virose, já me deixa
tenso.
É um doente, mas eu sei que ele se sentia mais tranquilo ao saber que
tinha alguém ali com ele o tempo todo, no fundo, ninguém quer ficar doente
e ter que ficar sozinho também.
— Vocês são burros demais! É claro que você gosta dela, só foi burro
mesmo. — Ela encosta na beira do braço do sofá, e fica me olhando como se
pensasse no que vai falar. — Olha, vou ser bem sincera. Eu conheço a minha
amiga desde que me entendo por gente e sei que o sentimento dela é
verdadeiro, vou te dar a merda de uma chance de mostrar que realmente se
arrepende. Então conta comigo para te ajudar, mas você vai ter que ser muito
bom nos argumentos para que ela queira te dar uma outra chance também.
Olívia quando coloca uma decisão na cabeça, é difícil de fazer mudá-la.
— Eu estou disposto a fazer qualquer coisa. Posso ir em cima de um
prédio alto e ficar batendo no peito e gritando o nome dela se for preciso
para ter a atenção dela.
— Você é engraçado e deve ser isso, uma das coisas que ela mais gosta
em você — reflete, enquanto ri. — Já vou deixar avisado que eu ainda tenho
meu réu primário, então não me importaria de te jogar na frente de um
ônibus em movimento se magoar a minha amiga de novo.
Ela me ajuda a fazer uma cama para mim, ali no sofá, depois que
terminamos de conversar, e mais uma vez me ameaça e depois me deseja
boa sorte, deixando claro que irei precisar.
Sentir saudades dela nesse nível só me faz ter ainda mais certeza que eu
a amo.
É difícil não sorrir enquanto assisto. O filho da puta merece isso e muito
mais
Meu telefone toca e quando eu vejo o nome de Faith saio dali e vou até a
minha sala para atendê-la.
— Não consigo acreditar que você fez isso. — Ela ri do outro lado. —
Agora tudo faz sentido, todas aquelas cláusulas para que os pagamentos para
mim fossem sempre feitos por uma de suas empresas. Você já tinha tudo
planejado e sabia que ia dar essa merda gigantesca. — A animação dela é
contagiante.
— Eu disse que acabaria com a vida desse infeliz. E o que seria melhor
do que tirar dele todo o poder e dinheiro?
— Não precisa pagar, Faith. Mas tudo bem, doarei esse dinheiro para o
abrigo. E se prometer não queimar a comida, eu vou sim… mas sobre a
Olívia, eu fiz merda! — conversar com Faith tem se tornado uma coisa fácil,
como antigamente. Claro que a nossa amizade jamais será a de antes, mas
estamos caminhando para uma boa amizade, e, por conta disso, eu conto
tudo o que eu fiz.
Eu rio da nossa conversa, e quando vejo que tem mensagem de hoje mais
cedo de Olívia, já abro na mesma hora.
Minha diabinha: Oi, quando acordei você já tinha ido e não consegui
agradecer. Não sei se já sabe, mas eu tive uma reunião com Jacob pelo
telefone e ficarei trabalhando remotamente por duas semanas, e aproveitarei
para ir ao Canadá.
Minha diabinha: Eu preciso desse tempo para mim, preciso colocar as
coisas no lugar, e não consigo ser igual a você. Lidar com tudo como se nada
entre nós dois tivesse acontecido, então eu vou para lá e me afastar por essas
semanas. E quando voltar, nós recomeçaremos do zero como funcionária e
chefe, deixando para trás tudo, inclusive a implicância boba que tínhamos
antes. Pelo menos eu a deixarei para trás.
Minha diabinha: Obrigada pelos cuidados e também por ter me dado o
que tinha para dar. Mas eu li o seu bilhete nas flores, e você estava certo.
Preciso seguir meu caminho, e por isso esse tempo para mim será crucial. E,
por favor, não me procure.
Eu ia mandar uma mensagem para ela, mas a foto sumiu e sei que me
bloqueou. Um pequeno desespero bate em meu peito e eu fico sem saber o
que fazer. Se eu ligar ou mandar mensagem me explicando e falando que
também a amo, vai parecer que estou forçando a barra.
Mas talvez ela ainda não tenha ido! É a minha chance de conversar,
esclarecer tudo e dar o tempo que ela precisa, para conseguir pôr os
pensamentos no lugar sabendo toda a verdade.
Pego a chave do meu carro e acho que nunca desci pelos elevadores tão
rápido, mas com certeza eu assustei quem estava no caminho, enquanto
corria igual em um filme, quando o idiota percebe que está perdendo a
amada e tem que literalmente correr para não perder o amor da sua vida.
Meu bebê faz um som lindo quando é destravado, e eu entro pronto para
usar toda a potência de todos os cavalos que ele tem, mas o trânsito que eu
me deparo quando saio do estacionamento, deixa claro que chegar na casa da
Olívia não será fácil.
Coloco uma música para tentar me distrair, e é claro que na rádio iria
estar tocando BTS. É quase como um sinal, só não consigo entender se é
positivo ou não.
Perco uns 20 minutos no trânsito, mas chego na sua casa e estaciono no
primeiro lugar que eu vejo. Assim que eu saio do carro encontro Kim
descendo as escadas, toda arrumada. Deve estar indo ao trabalho.
— Ela já foi, Barbie. O pai dela fez questão de buscá-la de carro aqui, e
ele nunca vem porque não gosta de dirigir tanto e não curte aviões.
Eu coloco as mãos na nuca, e olho para os lados, sem acreditar que ela já
foi e eu nem consegui me explicar.
— Eu te falei que ela te afastaria, é o jeito que ela tem de lidar com as
coisas. Ela precisa se manter longe até se acostumar com a ausência e a
“coisa” não ter mais importância. — Ela me dá um tchau e segue seu
caminho, eu me apoio na parte de cima do meu carro e tenho vontade de
socar a minha cabeça ali. — Olha, ela está longe e fica difícil de ajudar. —
Viro para o lado quando Kim volta e procura alguma coisa na bolsa. — Mas
eu sei que a mãe e madrasta dela podem te ajudar, talvez eu já tenha
conversado uma coisa ou outra com elas. — Ela pega um cartão da sua
clínica e anota ali os números das duas, que pelo visto sabe de cabeça e antes
de me entregar me olha séria. — Pense bem o que vai falar com elas, e não
faça com que eu me arrependa. — Mais uma ameaça para a listinha gigante
que ela tem feito em tão poucos dias.
Meu pai me ajuda com as malas quando chegamos na sua casa, ainda
estou fraca e com febre, mas bem melhor do que ontem. Parece que a
comida e os cuidados do Barbie realmente são de outro nível.
Deixar a Kim para passar esses dias aqui foi horrível e vou sentir
saudade de vê-la. Há anos que nos vemos todos os dias ou quase todos.
Mas, eu preciso desse tempo para mim e Jacob foi incrível, como eu pensei
que seria. E depois que instalei o aplicativo no meu computador, consigo
fazer absolutamente tudo a distância.
Ele meio que já sabia o que eu queria quando disse que precisava
conversar, mas ficou aliviado em saber que não era demissão, porque senão
teria que jogar o amigo do último andar se me perdesse como funcionária.
Os três sabem tudo que aconteceu, ou quase tudo né, porque não preciso
contar aos meus pais tantos detalhes da minha vida, como a parte sexual, por
mais que a minha mãe não me prive de saber da dela, é horrível.
O meu pai veio quieto a viagem toda, apenas me fazia um carinho ou
outro e sei que ele está irritado, não comigo, mas com o Barbie. E
provavelmente culpado, porque se não fosse por aquela noite no Canadá, em
que eles convidaram meu chefe para sentar conosco, talvez não tivéssemos
ido longe. Eu já gostava dele antes, mas foi ali que eu entreguei meu
coração, na banheira, junto com o homem mais lindo e doce que conheci.
— Vai ser ótimo passar esse tempo aqui com vocês! Estava precisando
disso antes de tudo, agora ainda mais.
— Nada que um colo de mãe não resolva. — Sorrio para a minha mãe.
— E da sua madrasta também, sabe que não consigo ficar muito tempo
sentada, né? — Todos nós rimos e entramos. O cheiro do cordeiro, que meu
pai faz é sem igual, já me atinge e meu estômago ronca.
Esse era o meu lugar favorito aqui, a piscina vivia cheia nos verões
quentíssimos, e eu fazia questão de entrar todos os dias com meus amigos, as
meninas da patinação e o Théo.
No fundo do quintal, nós temos uma casinha pequena, que serve para
guardar materiais diversos, e também é uma oficina do meu pai, que quase
nunca é usada. Ele é desastrado e já quase perdeu um dedo.
Atrás dessa caixa tem outra, que é a que pedi que jogassem fora, mas
pelo visto nunca foi feito.
Patins.
Eu puxo essa caixa também e vejo seis dos meus melhores patins que
tive em toda a minha rápida carreira. O meu preferido é o primeiro que eu
vejo, tiro o saco a vácuo e passo o dedo pelo protetor da lâmina e tenho
vários flashs do dia em que usei pela primeira vez. Ele é lindo, todo branco e
com alguns brilhos rosa.
— Era o que você mais gostava! — meu pai diz atrás de mim e me viro
para ele. — Não tive coragem de jogar fora, querida. Pensei que no futuro,
você quisesse tê-los como recordação.
— Você fez bem pai! — Levanto e bato uma mão na outra para tirar a
poeira delas. — No final de semana vou ao ginásio, eu vi que vai ter uma
competição lá. Com certeza deve ter algumas meninas precisando de patins
de boa qualidade, e esses parados aqui, não servem de nada mais para mim.
Meu pai segura meu rosto com as suas mãos, e sorri. Me olhando com
admiração.
— Você é maravilhosa, meu amor. E a sua ideia é tão digna como você, e
tenho certeza que vai amar ver como o ginásio está. — Beija a minha testa, e
pede para que eu vá descansar um pouco, enquanto separa tudo e tira a
poeira dos sacos para levarmos no domingo.
O meu quarto aqui ainda está intacto. Quando eu era mais nova, me
dividia entre a casa dos meus pais, na minha mãe tudo era rosa e bem
feminino. Agora, no meu pai, já era mais neutro, mais adulto, como eu
gostava de falar. E combina muito mais comigo hoje em dia.
Enquanto eu estava lá no quintal, as duas arrumaram as minhas roupas
no guarda-roupa, então tenho menos um trabalho a ser feito. Mas em
compensação, pego o notebook, sento na cama com ele em meu colo. Vejo
todos os e-mails desses dois dias que estive afastada.
Pego o meu celular e, não vou negar que fico decepcionada em não ter
mensagens do Barbie. Eu sei que bloqueei seu contato, mas por um segundo
pensei que talvez ele tentasse pelo Instagram, e-mail... qualquer coisa. Mas o
que eu poderia esperar dele, né?
Eu o amo, mas o meu amor por mim é maior, e vou fazer o que for
necessário para passar por isso. E foi bom tudo ter acontecido no início, acho
que se eu continuasse me enganando e aceitando o pouco que ele me dava, o
tombo seria bem maior.
Abro o aplicativo do Instagram e vou no perfil dele, dou uma última
olhada por todas as fotos atuais, só para me torturar um cadinho e depois
deixo de o seguir. Decidida a deixar tudo para trás.
— Ah, ele está ótimo. Ainda nos falamos uma vez ou outra, mas sabe
como é a vida adulta, né? Nem todos os amigos da infância e adolescência
vem para essa fase da vida, e tudo bem. — Eles concordam, e eu puxo e
aperto o casaco mais em mim. — Ele mora na França, casou com a
professora do curso de pintura, mas falou que tudo só aconteceu depois. —
Rio. — Eu duvido!
— Ele era tão lindo! — minha mãe comenta e eu concordo. — Deve ter
se tornado um homem ainda mais lindo.
Jonas é um dos homens mais bonitos que eu conheço, com meus onze
anos, eu tive uma paixonite por ele, que graças a deus não deu em nada,
porque éramos ótimos como amigos. Isso com certeza teria atrapalhado tudo.
— Eu vou deitar, gente! Meu corpo está mais cansado do que o normal.
— Levanto com a ajuda do meu pai e vamos juntos até meu quarto depois
que eu dou um beijo nas duas. — Fala papai, está desde cedo com essa cara.
— Pai, por favor. Não se desculpe! — Rio. Meu pai é muito fofo e
protetor, seria engraçado se Barbie aparecesse por aqui, acho que meu pai
pegaria um dos seus jarros de plantas e tacaria na cabeça dele. — Eu estou
bem, só triste e um pouco decepcionada porque sei que ele seria ótimo se
quisesse se envolver, mas não é o fim do mundo, e não preciso dele ou de
outro homem para ser feliz.
Antes eu ainda fosse a coração de gelo, que eu era no auge dos meus
poucos treze anos.
43
Olho para o terreno, que até alguns dias atrás era apenas um estacionamento
antigo, totalmente abandonado nesse lugar tão bonito em NY.
Bryan estica todo o projeto em cima de uma mesa que um dos seus pedreiros
acabou de construir. Se me dessem o material que ele usou e um passo a passo,
eu não teria conseguido fazer de jeito nenhum, e o homem fez em uns quinze
minutos. É incrível.
Na hora, eu ainda não sabia o que queria fazer aqui, mas eu senti que tinha
que comprar. A ideia me veio poucos dias depois quando estava ajudando minha
irmã a encaixotar as suas coisas e vi que ela ainda guarda as fotos de quando
estava muito doente, viciada. Acho que deve ser a maneira dela de se lembrar o
que passou e não cometer o erro de voltar a usar quando os dias ficam difíceis. É
o que eu acho.
Mas a ideia veio toda na minha cabeça naquela hora, e logo procurei Bryan,
que tem uma empresa de engenharia onde é o engenheiro principal. Estávamos
conversando há semanas, sua equipe veio algumas vezes para ver o terreno, tirar
as medidas e enquanto isso ele comia a minha irmã escondido.
Pelo menos sei que o encantador de irmãs é bom em guardar segredo, ainda
não quero que ninguém saiba.
— Tudo o que você quiser e mais um pouco. Com o dinheiro que você
investiu dá para fazer um prédio comercial de luxo, então essa quase mansão
será fácil de fazer.
— Não é fácil nesse sentido, rapazes. Eu sei que vocês pegam pesado. —
Ele mesmo ri da sua gafe. Continuamos andando pelo terreno e tendo ainda mais
ideias para o meu projeto. Isso será a coisa mais incrível que eu já fiz, e o Bryan
é o melhor em construção.
Para a minha sorte, Kath e Noah passaram a lua de mel deles para o meio do
ano, e assim eu terei os dois para me ajudar, junto com os demais. E a primeira
ajuda da Kath foi algo que nem eu acreditei que ela conseguiria, mas a esposa do
meu amigo é foda, e famosa. Conseguiu no mesmo dia que eu pedi.
Noah não acreditou que eu iria realmente fazer isso, ficou rindo um tempo e
depois topou, deixando claro que estará lá para tudo. E que se ele se machucar
por causa da minha ideia, ele vai quebrar as minhas duas pernas. Pareceu até o
Jacob, que disse que arrancaria minha cabeça do pescoço. Acho que eles estão
andando juntos tempo demais.
Recebo uma mensagem e aproveito para ler no elevador, enquanto vou para
o escritório.
Celeste: A competição vai começar 1 hora da tarde em ponto.
Celeste: Dura em torno de 3 horas, e é esse tempo que você terá para fazer a
sua parte. E rapaz, não me decepcione uma segunda vez.
Celeste: Te espero na sexta à noite para as aulas, tchau.
Porra, ainda não consigo acreditar que com tantas coisas para serem feitas,
eu escolhi logo isso. O mais difícil, o mais complicado e com risco de todos
saírem machucados dessa merda. Mas vou confiar no meu potencial e no dos
meus amigos.
O italiano vai direto no bar que Noah tem e enche um copo com whisky.
Meu amigo me olha com aquela cara de que sabe que deu merda, e eu me escoro
na mesa dele, esperando que Jacob fale algo.
— Meu pai está aqui em NY. — Opa, alerta vermelho para caralho. — E o
infeliz está me intimando a encontrá-lo. Quem ele pensa que é, porra? Só porque
eu saí da merda do saco dele não significa nada além disso. — Ele vira o copo e
enche outro. — Se ele veio até aqui, saiu de onde é rei para vir aqui, boa coisa
não é. Eu conheço aquele homem, vai aprontar ou já aprontou e está tentando se
livrar da merda.
— Nunca quis tanto que você tivesse criado todo esse teatrinho como quero
agora! — diz para mim. — Não estar aqui no final de semana vai ser perfeito,
porque aí quando os cachorros de estimação dele vierem me procurar — no
caso, ele está falando dos seguranças pessoais do pai. — Nenhum deles me
achará por aqui. E como não vamos com o jatinho, também não dá para me
rastrear. Me diz como estão as coisas, preciso me distrair.
O pai dele é muito desconfiado de tudo, e tem umas pessoas que trabalham
para ele que tem acesso a tudo do mundo todo, os famosos hackers. Inclusive
um deles deu muitas aulas ao Jacob, que também é bom nisso, mas não faz uso
do que aprendeu, porque não daria certo um criminoso ser o CEO da C&B.
— Acho que metade já foi resolvido. Consegui entrar em contato com o
ginásio, falei com a treinadora dela, a mãe e a madrasta. Kim conseguiu reservar
os acessórios que precisamos, os ingressos do show já estão em mãos. E que
porra cara hein. Kath conseguiu o vídeo e o resto será tudo resolvido lá.
— Eu errei com ela, mas não sou tão idiota assim de ir na cara e coragem
falar com ele. Mas a madrasta dele o convenceu a fazer uma chamada por vídeo
comigo, daqui a pouco, inclusive.
Ele cai em uma gargalhada depois que escuta Noah e até eu rio, porque
não consigo imaginar isso de jeito nenhum.
— Sua Harley será minha por um mês se você for contagiado por nós
dois, e apareça com uma namorada ao seu lado.
Ui, eles estão pegando pesado para valer. E selam o acordo com um
aperto de mãos, eu só rio da doideira, por que quais as chances?
Aproveito também para atualizar Paola, que teve que voltar para o
Brasil logo depois do casamento de Noah e Kath, mas algo me diz que ela ainda
irá aparecer muito por aqui depois de ter conhecido um ajudante de chef, do
restaurante dos amigos da Kath. Inclusive, ela me ajudou muito em trabalhar a
ideia do que farei para Olívia, perdi as contas de quantos áudios recebi dela
gargalhando após achar algo legal.
— Eu quero primeiro pedir desculpas ao senhor por ter tido que buscar sua
filha e ficar com ela por algo que eu fiz, por um erro idiota que eu cometi. —
Ele ergue uma das suas sobrancelhas, e acho que fui bem. — Nunca menti para
ela, nem muito menos me aproveitei de alguma forma por ser chefe dela, jamais
faria isso com ninguém, sou totalmente contra mentiras, doa a quem doer. Mas o
problema é que as minhas verdades doeram demais em sua filha, o que resultou
nisso tudo. E ela não merecia não ser correspondida, não merecia ter se
entregado e não receber nem um terço do que estava me dando. — Respiro
fundo, pegando fôlego. — E antes que os 60 segundos acabe, quero que saiba
que eu amo a sua filha.
— O senhor nunca errou com a sua esposa sem querer? Eu não vou mentir
que fui egoísta, eu sabia que ela estava se apaixonando, mas melhor do que
ninguém o senhor deve saber que ela é uma pessoa cativante, que é impossível
querer pouco dela. E eu estou disposto a provar como for preciso que eu a quero,
com todo o meu amor.
Ele apoia o queixo com a mão, e alisa o bigode com dois dos seus dedos.
— Ok.
— Ok?
— Eu já estou por dentro de tudo, vi todas as mensagens que você mandou
para minha esposa e a mãe da Olívia, já tinha dado um segundo voto de
confiança a você antes. — Ham? Ele ri da minha cara. — Queria ver até onde ia
a sua coragem, meu jovem. E eu sei que ninguém é perfeito, mas não me engano
com as pessoas, e você já estava caidinho pela minha filha quando veio ao
Canadá pela primeira vez.
Eu respiro tão aliviado que até abaixo a cabeça por alguns segundos, sem
acreditar que vou manter todos os membros do meu corpo em seus devidos
lugares. Ele continua rindo de mim.
Ele desliga e eu nem me despeço, mas é nesse momento que deixo meu
corpo escorregar pela cadeira, ainda não acreditando que até agora, tudo está
dando certo, o resto vai depender apenas da minha diabinha, e torcer para que
ela ache legal na vida real o que ficava falando que era fofo e lindo nos filmes.
Hoje eu acordei bem mais cedo que já acordo, o dia ainda nem tinha
clareado e eu estava correndo ao redor do Parque dos Patinadores, e além de
pássaros e alguns bichinhos, só havia eu na rua.
No final, apostei em uma calça jeans branca, com alguns rasgos na coxa,
uma bota de cano longo preta, dando um ar meio sexy, a blusa era grossa e com
gola alta, que eu prendi na parte da frente da calça e deixei soltinha atrás.
Eu sei que vou reencontrar pessoas que não vejo há anos, e muitas delas vão
perguntar a mim sobre o acontecido, fazer cara de pena, perguntar se não tem
como eu voltar, coisas do tipo que todo mundo pergunta. E já estou preparada
para isso, fugi anos demais, e quando venho para cá, fico desviando das pessoas
para não ter que falar sobre o que aconteceu.
Salto para fora da picape dele, e o vento joga o meu cabelo todo para o lado
contrário que estava. A primavera chegou com tudo e deve estar em torno de
15ºC, o que é bem gostoso, mas venta bastante.
— A treinadora já está avisada que iríamos trazer os patins, e separou seis
meninas para escolher — meu pai disse, e eu concordo. Pego uma das bolsas
com três deles e ele pega os outros.
Minha mãe e Amélia vão andando na frente, já tem uns dois dias que elas
estão estranhas, parecem até que estão escondendo algo de mim. Mas eu vou me
preocupar com isso depois.
Logo na recepção já paro para falar com algumas funcionárias que ainda
trabalham ali e fui muito bem recebida, vamos passando devagar pelo corredor e
fico olhando os nomes de cada sala e o que mudou.
E eu estou ali, tem várias fotos, medalhas que eu não lembrava e até alguns
troféus. Aproximo o rosto para ler uma biografia que fala sobre a minha
passagem na patinação e eu sinto o meu coração se encher de orgulho, é difícil
não ficar emocionada.
Olho para ela, que sorri para mim. Ela fala com orgulho e está tão
emocionada quanto eu.
— Oi Jess. — Dou um abraço rápido nela. — Eu não tinha noção que existia
isso aqui, ninguém nunca me falou.
— Acho que seus pais não falaram porque queriam que você viesse aqui por
vontade própria, e não porque ficou sabendo da homenagem. — Ela aponta para
o outro lado, e nós vamos até lá embaixo, onde vejo a treinadora com algumas
meninas. — Você sempre fez muita falta aqui, sabe como todos te amam onde
quer que você vá. Aqui não foi diferente, e se prepare para os surtos das meninas
quando elas te verem, são todas suas fãs.
Jess não exagerou quando me preparou para os surtos. Assim que as meninas
me veem, já correm em minha direção, falando um monte de coisas juntas. Elas
falam que já viram todos os meus vídeos, uma diz que não consegue de jeito
nenhum fazer um salto triplo, a outra diz que a roupa que ela vai usar hoje foi
inspirada em uma minha e eu rio e tento dar atenção a todas.
— É verdade que esse era seu apelido porque você parecia fazer parte de um
todo na patinação? Como se fosse a continuação do gelo? — pergunta a mais
alta, que ficou com o patins rosa claro.
Sorrio ao lembrar disso. Foi exatamente assim que um repórter local definiu
meu apelido quando ouviu as pessoas gritando meu nome em uma competição.
Não tinha absolutamente nada a ver, mas depois achei mais interessante explicar
que era isso do que falar que com treze anos eu tinha um coração de gelo.
— Isso é incrível — uma delas fala, e senta para poder calçar os patins. —
Queria que você pudesse patinar conosco.
— Eu também queria, linda. Mas vai ser um prazer vê-las usando meus
patins agora, bem rapidinho. — Olho para a treinadora, para saber se pode. Eu
sei que eles são rígidos em relação a pista, que tem que estar perfeita antes de
uma competição. Mas ela diz que sim e manda ir para o lado onde ainda não foi
polido.
Elas se empenham para fazer seus melhores movimentos sem ser saltos para
não se machucarem sem querer, antes da competição, e depois vem até mim
perguntando se está bom e o que poderiam mudar.
Passo uma hora conversando com elas, dando dicas e tirando várias fotos
juntas. Até mesmo uma dancinha para um aplicativo famoso nós fizemos, e foi
bem legal. Depois elas foram se arrumar e fazer os alongamentos.
Me sento junto com a minha família e roubo o pacote de pipoca do meu pai.
A música da Bela e a Fera começa a tocar, e a abertura será feita com Jess e
Théo, que já estão na pose inicial, se olhando com amor e ansiosos. Eles
começam a deslizar no gelo delicadamente, cada um para um lado e se
encontram no meio, quando ele a levanta e gira três vezes. Jess mantém os
braços e cabeça erguidos, sorrindo para todos. Depois desce e juntos vão
dançando e entrelaçando os pés, fazendo vários “s” perfeitos.
— Mas acabou? — meu pai pergunta e eu estranho. Ele sabe que depois que
os jurados vão embora, é porque não tem nada mais para ser visto. Só que eu
olho ao redor e vejo que ninguém levantou, estão todos ali ainda. As luzes
brancas se apagam e ficam apenas os refletores no meio da pista. — Ih, acho que
tem mais alguma coisa.
Um grupo enorme entra, e todos estão usando uma capa preta com capuz que
tampa quase todo o rosto deles.
Parece que, entre esse grupo, um deles tenta se destacar, levantando a perna
igual cachorro quando vai mijar e tentando manter o equilíbrio e eu não consigo
deixar de rir. Preciso colocar a mão na frente da boca para não cair na risada,
bem alta.
Eu coloco as duas mãos na boca, não sei se estou mais em choque pela
apresentação, pela música do One Direction ou por ele ser muito, muito
desafinado. Barbie continua cantando, só que dessa vez seus amigos o
acompanham, e eu começo a rir.
— Amor, eu sou um idiota — ele começa a falar depois que a música acaba,
e eu desço todos os degraus até a mureta que separa a arquibancada da pista. E
ele vem até mim. — Me perdoa! Eu jamais quis te machucar, e nem te magoar.
Eu não conseguia ver o que era óbvio, e eu tive que ouvir você falar que não me
queria, tive que deixar você ir para entender que eu te quero muito, porra, eu te
quero demais. Esses dias tem sido uma loucura sem você, é um inferno não
poder te amar, porque eu já te amava mesmo sem saber. Na verdade, acho que
meu coração foi seu no primeiro momento que te vi na empresa, e por isso nos
estranhamos. Eu não sabia mais o que era amar alguém, eu acreditava que não
tinha mais nada de bom dentro de mim para oferecer a você, mas eu fui burro.
Eu não quero te perder amor, eu faço o que for preciso para provar que eu te
amo. Eu te amo amor, eu te amo! — fala mais alto o final, e eu vejo que tem
gente chorando na arquibancada.
Ele sai da pista e vem para onde eu estou, pisando ainda mais estranho com
os patins fora do gelo.
— Você acha mesmo que eu faria tudo isso, que eu ficaria uma semana
inteira vendo todos os filmes românticos possíveis para me inspirar neles, traria
meus amigos e me declararia na frente de todo mundo para fazer uma piada? —
Sua mão quente toca meu rosto, e é tão bom senti-lo novamente. Meu coração
volta a errar todas as suas batidas. — Eu te amo demais, amor. Essa é a maior
verdade, em tempos, na minha vida, e eu quero te dar tudo que você quiser. Eu
até me mudaria para cá se você quisesse.
— E eu tenho uma pergunta para te fazer… Mas antes tem uma mensagem
no telão para você. — Me viro e meu coração quase para quando vejo todos os
meninos do BTS na tela, e quase morro quando alguém dá play.
Eu volto a olhar para Barbie e tanto ele quanto seus amigos estão com uma
blusa escrito namora comigo, e embaixo uma foto dos meninos do BTS com as
mãos juntas, como se estivessem implorando por um sim.
Isso não poderia ser mais a cara do Barbie, e eu caio na risada novamente.
— É claro que sim, claro que eu aceito ser a sua namorada! — Eu a puxo
para um abraço e a levanto do chão, tomando muito cuidado para não cair nessa
merda de patins. — Eu te amo, e hoje com certeza você ganhou qualquer parte
do meu coração que ainda não era seu.
A coloco no chão, e beijo todo o seu rosto, enchendo-a de selinhos entre suas
risadas gostosas. As pessoas da arquibancada começam a aplaudir, e eu a abraço
novamente. Radiante em tê-la de volta.
— Eu te amo amor, e vou falar essas palavras todos os dias de nossas vidas,
você merece saber o quanto é amada a cada segundo. — Aliso seu rosto, e vejo
que as pessoas começam a sair do ginásio, enquanto nós continuamos abraçados,
nos olhando com muito amor.
— Sabe, meu coração sempre errou as batidas perto de você, mas agora,
sentindo seu peito contra o meu e seu coração batendo igual ao meu, entendo
que não eram batidas erradas, mas sim a sincronia do nosso amor dentro de nós.
— Eu concordo, e sempre senti isso e não entendi o que era.
— Fiquei louco quando me mandou aquelas mensagens amor, você não pode
me deixar novamente. E entenda que eu sou um homem carente, talvez você
enjoe de mim, mas eu espero muito que não.
Me sento para tirar os patins, e depois a puxo para sentar de lado em uma
das minhas pernas.
Ela se acaba de rir, e porra, eu tô muito feliz. Ela está aqui na minha frente,
mostrando que me ama e me perdoou, e eu ainda estou tentando raciocinar e
aceitar tudo.
Todas as luzes se apagam e nós sabemos que é hora de ir. Deixo que a minha
diabinha me conduza para fora, e fico incomodado de estar descalço mas não
reclamo porque nada será capaz de estragar o meu dia hoje.
— Onde estão todos? Pensei que nos esperariam — fala quando só vê o meu
carro no estacionamento, e eu abro para que ela entre.
— Acho que você não vai querer que eles nos acompanhem para onde
vamos. — Entro e sorrio maliciosamente, colocando a mão em sua coxa, bem no
alto, quase encostando na sua boceta. — Eles foram para a casa do seu pai que
fez comida para todos, mas pensei que poderíamos ter um tempo só nosso antes
de ir lá.
Sem dúvidas é um banho bem rápido mesmo, eu lavo meu corpo com tanta
pressa, que acabo lavando novamente para ter certeza que tudo ficou bem limpo.
Me seco e enrolo a toalha na cintura, e antes de sair pego duas camisinhas.
— A água estava uma del… — minha voz morre quando encontro em cima
da cama, a mulher mais linda e quente que eu conheci totalmente nua. E pronto,
já estou duro. — Porra, você está uma delícia.
Essa mulher, minha mulher, é linda de todos os jeitos. Adoro todas as suas
facetas, mas sem dúvidas a safada, que não tem vergonha de nada, me ganha de
um jeito sem igual.
— Estou com saudades demais para fazer amor — diz quando separa seus
lábios dos meus e arrasta o corpo um pouco para baixo, ficando totalmente
deitada. — Podemos repetir o amor que fizemos em Maldivas depois, agora eu
quero aquele Barbie que quase arranca os meus cabelos e que me enforca.
Pego sua mão e a coloco no meu pau. Ela entende o recado e começa a subir
e descer devagar e, de onde estou, passo dois dedos pelos lábios da sua boceta e
sinto que está pronta para mim, como sempre. Seu clitóris recebe a minha
atenção, e eu o massageio, enquanto ela remexe o corpo na cama, sensível.
— Porra!
Levo o corpo um pouco para frente e aliso a sua barriga até chegar em seus
seios. Mas passo por entre eles, envolvo a minha mão em seu pescoço, e ela ri
de prazer quando me sente apertá-lo um pouco.
Eu sinto todo o meu corpo latejando, além do meu pau e as minhas bolas. E
eu juro que, se pudesse, enfiaria até elas dentro dessa mulher que me aperta, me
excita e me enlouquece.
Saio de dentro dela e abaixo para sentir seu gosto. Chupo a sua boceta e
prendo o seu clitóris entre os dentes, com cuidado, antes de começar a
movimentar rapidamente a minha língua ali.
— Eu estou sensível, vou gozar. — E ela goza na minha boca, assim que
termina de falar, e nem espera para ficar de joelhos na cama e pedir para que eu
deite com ela. — Me come de lado, amor — sussurra, enquanto arranha o meu
peito.
Olívia joga a perna direita por cima da minha, e eu enfio meu pau. Essa
posição é incrível, e parece que tudo fica mais apertado e quente. Eu enfio e tiro
meu pau todo várias vezes, e preciso parar os movimentos quando ela chupa o
meio de dois dos meus dedos, e depois engole ambos.
— Caralho! — Dou um tapa forte na sua bunda e ela geme, sem parar de
chupar os meus dedos como se fossem o meu pau.
Ela abaixa a perna, e eu tive todo cuidado para continuar enfiando forte, mas
sem errar o lugar e machucá-la. Seus gemidos baixinhos parecem quase uma
súplica tímida de que quer mais, e eu penso em coisas aleatórias para não gozar
agora.
Ela mesma se afasta de mim e volta a ficar de joelhos, eu pulo da cama todo
desajeitado e visto a camisinha no meu pau, que tá duro feito pedra.
Olívia bate na cama, pedindo para que eu sente e passa as pernas ao redor do
meu corpo. Senta, encaixa a boceta no meu pau e desce só uma vez, me
encarando.
— Não vou deixar você tomar as rédeas na primeira vez que vai comer meu
cu. — Me movimento dentro da sua boceta, devagar. — Seu pau é grande
demais, deve ter uns dezoito centímetros?
— Isso deveria me desencorajar. — Ergue o corpo e meu pau sai dela e bate
em meu umbigo. Ela se ajeita, segura o felizardo pelo talo e apenas o posiciona
na entrada do seu cuzinho. — Mas deve ser uma delícia ser comida assim!
Desce um pouco quando se sente pronta e a cabeça entra toda. Não sei quem
geme mais alto e seguro com força a sua cintura, querendo me controlar. Mais
um pouquinho do meu pau entra e ela joga a cabeça para trás, gemendo e
alisando um dos seus seios. Eu caio de boca no outro, e dessa vez ela vai
descendo nele todo bem devagar, no seu ritmo, que é delicioso.
— Vou gozar de novo, me come assim por baixo. — Essa é a minha deixa e
eu faço os mesmos movimentos que ela, só que de baixo para cima e ela
choraminga em meu ouvido, rebolando a bunda em meu pau, enquanto fodo seu
cu gostoso. Me controlo o tempo todo para não machucá-la e gozo na mesma
hora em que ela grita e joga o corpo para a frente. — Porra, isso foi
incrivelmente bom. — Sai devagar de cima de mim, me dá um selinho e diz que
vai tomar uma ducha para poder receber uma massagem.
Abusada!
Eu continuo ali, olhando para o meu pau encapado e já sonhando com o dia
que isso vai acontecer novamente.
Nós voltamos para NY no dia seguinte. Os pais dela não se importaram,
porque sabiam que era aqui que ela realmente queria estar. Eu conversei com
todos eles, me desculpei mais uma vez e todos pareceram ficar tranquilos em
relação ao nosso recente namoro.
Agora estamos saindo do meu carro para irmos trabalhar, e ela foi pega de
surpresa quando eu disse de manhã que iríamos entrar de mãos dadas, para todos
entenderem que estamos juntos, caso alguém não tenha visto na internet a foto
que tiramos no ginásio e eu postei logo para afastar as outras meninas.
Olívia até que ficou bem tranquila quando fui mostrando todas as mensagens
que recebi de algumas mulheres, sem acreditar que eu estava namorando, outras
me xingando falando que eu menti sobre não namorar e pouquíssimas desejando
sinceros parabéns.
— Amor, tem certeza que quer fazer isso? — pergunta, assim que o elevador
chega no andar do escritório. E dou um beijo em sua bochecha, antes de
responder.
— Cada pessoa desse mundo saberá que você é minha, meu amor. — Pego
em sua mão e entrelaço nossos dedos. As primeiras a ficarem chocadas são as
recepcionistas, depois que chegamos ao andar das nossas salas, todos os outros
funcionários olham de rabo de olho, e eu paro bem onde todos consigam ver e
ouvir. — E ai de quem falar alguma besteira ou especular qualquer merda sobre
você. Eu te amo, e não me importo de gastar meu réu primário para te defender.
Ela ri, e sopra um beijinho quando cada um de nós entra em sua devida sala.
Eu fico sorrindo e me sento, tendo a certeza que eu fiz a melhor escolha do
mundo.
6 anos depois.
Fico olhando para o rio, pensando em tudo que passei até chegar
aqui. Lembrando de cada batalha que lutei, dos momentos de dificuldade
que pareciam nunca acabar e também de cada dia incrível que passei com
meus amigos e minha família.
Coloco uma mão no bolso, pensando em dar uma volta e falar com as
pessoas. Mas aí eu sinto uma coisa nele e tiro para ver o que é.
Enfim, fizemos uma boa obra porque tivemos que incluir um gatil
bem grande e confortável para Vodka e seus quatros filhotes, e eu precisava
ter o quarto sagrado, que é onde ficam todos os meus exemplares, filmes e
tudo que eu tenho da Marvel. Foi difícil aceitar ser avô tão novo, mas deu
tudo certo e eu amo as minhas crianças, estou sempre lá dentro.
— Ela ficou molhada demais, precisei ficar sem. — Eu sabia que ela não
iria deixar barato, e agora sou eu quem tenho que me controlar para não ficar
excitado na frente de todo mundo.
— A atenção de todos, por favor! — Bato na taça que está meu suco, e
todos me olham. — Eu quero agradecer mais uma vez por todos que vieram,
a todos que me ajudam seja financeiramente, com trabalho ou me apoiando
nos dias em que fica difícil em conciliar a C&B e aqui, essa festa é para
todos vocês. — Eles batem palmas e eu também. — Um agradecimento
especial aos meus amigos, vocês são a família que eu não tive, mas pude
escolher para ser minha, e mesmo quando não me quiserem lá, eu estarei.
Vocês sabem que eu gosto de perturbar. — Ouço a risada de alguns. — E a
minha namorada, que me apoia e me atura mais do que qualquer um. Eu te
amo, e amo todos vocês.
Espero que todos vocês tenham sentido as emoções que tentei pôr em
cada palavra, e que não tenham ficado com muita raiva do Barbie.
Esse casal ainda dará muito o que falar, e arrancará risadas por onde
estiverem. Talvez uma lágrima ou outra, mas faz parte, né? E, do fundo do
meu coração, espero muito que tenha conseguido alcançar as expectativas
que vocês depositaram nesse casal, que eternamente irão implicar um com o
outro, mas cheios de amor.
Obrigada mais uma vez por estarem aqui comigo, eu encontro com vocês
em breve!
Com amor,
K.A. PEIXOTO.
Instagram: @autorakapeixoto
Twitter: @autorakapeito