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Copyright © 2022 por Tamires Barcellos

Todos os direitos reservados.

Revisão: Raquel Moreno


Capa: Tamires Barcellos
Diagramação: Tamires Barcellos

É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra


sem a autorização prévia da autora.

Todos os personagens desta obra são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera
coincidência.
Sumário

Nota da autora e aviso de gatilhos


Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Epílogo
NOTA DA AUTORA
AGRADECIMENTOS
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
Olá, leitor! Como é bom ter você aqui comigo!
“Acordo Perfeito” é uma comédia romântica, porém, tem algumas
situações que podem causar desconforto durante a leitura.
O livro vai abordar o luto, relacionamento abusivo e violência
doméstica. Não há cenas explícitas ou muito violentas, mas é bom que você
se atente.
Espero que goste deste romance e que se divirta!
Beijos!
“Todos veem o que você parece ser, mas poucos sabem o que você
realmente é.”
Nicolau Maquiavel
Janeiro de 2022

Yea, Alabama! Drown ’em Tide!


Every ‘Bama man’s behind you,
Hit your stride[1]

Queria que todo mundo calasse a boca, só por um segundo. Eu me


sentia no topo do mundo, enquanto uma chuva torrencial e muito gelada
golpeava a minha pele. Os pingos eram grossos e inundavam os meus
olhos, me deixando confuso. Eu já não sabia se estava chorando ou se era
apenas a água da chuva que me deixava meio cego em cima daquela ponte.
Olhei à minha volta, ainda ouvindo o grito de guerra do Crimson
Tide. Não conseguia ver ninguém, mas ouvia nitidamente, a ponto de mal
conseguir ouvir os meus próprios pensamentos. Meu peito doeu e eu
ofeguei, querendo sumir por um minuto. Apenas um minuto. Ou para
sempre.
— Noite difícil, não é? — Alguém parou ao meu lado. A ponte onde
eu estava era alta demais, mesmo assim, vi quando a pessoa se sentou ao
meu lado, sobre o guarda-corpo. Prendi a respiração.
— Desce daí. — Acho que sussurrei, mas eu poderia ter gritado. Não
faria muita diferença, na verdade, pois o barulho da chuva e do público
cantando não deixariam que a pessoa ao meu lado ouvisse.
A chuva também não me deixava ver quem ela era. Se era homem ou
mulher, se eu a conhecia ou não. Eu mal conseguia enxergar um palmo a
minha frente.
— Foi uma noite difícil para mim também. — A pessoa falou. Sua
voz... Era feminina ou masculina? Que porra, eu não conseguia distinguir!
— Parece que noites difíceis combinam com chuva.
— Só... Desce, por favor. É perigoso.
— E por que seria perigoso apenas para mim e não para você?
Eu não conseguia ver o seu rosto direito, mas conseguia sentir os
seus olhos sobre os meus. Era como se enxergassem algo além do que a
chuva permitia, como se enxergassem dentro de mim, o que me fez sentir
estranho. Eu não gostava quando viam além do que eu queria mostrar, mas,
naquele momento, a sensação foi bem-vinda.
— Eu sou um atleta.
— E daí?
— E daí que eu tenho... — O que eu tinha? Eu não tinha nada. Engoli
o nó na garganta e prossegui. — Mais equilíbrio.
A risada que a pessoa soltou ao meu lado fez o aperto em meu peito
afrouxar um pouco.
— Estamos a mais de dezoito metros do chão. Uma queda daqui seria
fatal, não importa quanto equilíbrio você tenha.
— E por que você está rindo disso?
— Não tenho medo de altura. — Podia jurar que a pessoa deu de
ombros ao meu lado. Então, eu percebi. A curva dos seios, a linha fina do
pescoço. Uma garota. Definitivamente, uma garota. — Sabe do que eu
tenho medo? — Sacudi a cabeça, mesmo sem saber se ela conseguia me ver
ou não debaixo daquela chuva toda. — De viver o resto da minha vida
sentindo medo. Creio que seria um desperdício e tanto.
Olhei para baixo, sentindo uma leve vertigem. Um relâmpago clareou
todo o céu e percebi que o asfalto havia se transformado em um rio raso. A
água da chuva corria lá embaixo, com a mesma rapidez com que o meu
coração batia.
— Eu não sinto mais medo — confessei. — Até hoje de manhã, eu
sentia, mas, agora, não sinto mais.
— Como você conseguiu se livrar do medo?
Senti meus lábios se curvarem em um sorriso amargo, antes de um
soluço escapar do fundo da minha garganta. Eu podia imaginar o que todo
mundo estava pensando naquele momento.
O quarterback do Crimson Tide havia surtado de vez.
A promessa do esporte era um fracasso total.
Ele jamais seria um atleta de verdade. É um arruaceiro, um garoto
problema idiota.
— Arrancaram esse sentimento de mim. Arrancaram ela de mim. —
Solucei de novo, apertando a beirada do guarda-corpo com as minhas mãos.
Minhas pernas balançaram. Uma queda daqui seria fatal. Que bom, talvez
fosse disso que eu precisava.
— Não sei quem é ela, mas acho que sei o que ela iria querer.
— Você não sabe! — Acho que gritei, pois senti minha garganta ficar
arranhada de repente. — Ninguém sabe!
— Tem razão, eu disse que eu acho que sei, não que sei com certeza.
Balancei a cabeça, ficando cansado demais de repente.
— Só... Fica quieta — pedi.
— Para deixar que as vozes na sua cabeça falem mais alto do que eu?
Não mesmo. Eu sei como elas podem ser poderosas, mas, sabe de uma
coisa, atleta cheio de equilíbrio? — Tentei enxergá-la através das lágrimas e
da chuva, mas falhei. — Somos mais fortes do que ela. Somos mais fortes
do que tudo. E mesmo que hoje você se sinta fraco e que amanhã ou depois
você continue achando que não tem força, você vai perceber que tem, sim.
E então, quando você se der conta disso, ninguém vai poder te parar.
Sacudi um pouco a cabeça, sentindo meus lábios se curvarem um
pouco para cima. Eu estava sorrindo?
— Isso é quase um parágrafo de livro de autoajuda.
— Bem brega, por sinal — ela salientou.
— Muito.
— Mas funciona, acredite em mim.
— Por que eu faria isso? Eu nem te conheço.
— Por isso mesmo. Se nós dois conhecêssemos um ao outro, você
poderia pensar que estou aqui porque tenho medo de te perder, mas não é
esse o caso.
— E por que você está aqui?
— Porque não quero que você se perca, pelo menos não
definitivamente. — Através da cortina que a chuva formava, vi uma mão
pequena se estender em minha direção. — Vamos lá, estrelinha dourada,
mostre para mim que você tem equilíbrio de sobra e desça do guarda-corpo
comigo.
Olhei mais uma vez para baixo. Algo me chamava para lá. A paz,
talvez. O silêncio, finalmente. O fim daquela dor que eu carregava há
semanas, do medo constante de perdê-la para sempre, a sensação que eu
tinha de que poderia encontrá-la a qualquer momento, caso me entregasse.
Eu só queria mais um abraço, mais um beijo, sentir o seu cheiro pelo menos
mais uma vez. Queria ter mais tempo com ela, não para me despedir, mas
para sentir que ela estava comigo.
— Você vai se encontrar com ela um dia. — A garota disse ao meu
lado, chamando a minha atenção. — E então, você vai ter várias histórias
para contar a ela. Coisas incríveis, que eu tenho certeza de que ela vai
querer saber com detalhes. Vocês vão sorrir juntos e se abraçar de novo. Vai
ser muito especial, eu juro. Confie em mim.
Contra todas as possibilidades, eu confiei.
Segurei a mão macia daquela garota — só podia ser uma garota — e
deixei que ela me ajudasse a sair de cima do guarda-corpo. O mundo girou
por um segundo ou dois e eu senti vontade de vomitar. O gosto da vodca
pura que tomei antes de chegar ali ainda estava forte em minha boca e
fiquei com vergonha por um momento. Será que ela tinha sentido aquele
cheiro horrível saindo de mim? Esperava que não. Sem que eu pudesse
contê-la, a garota passou o meu braço sobre o seu ombro e simplesmente
começou a me arrastar para longe dali.
Ela era bem mais baixa do que eu, mas parecia ter a força de uma
leoa. Descemos devagar pela ponte, no meio da chuva, comigo tropeçando
em meus próprios pés, até chegarmos em um carro. Ela pareceu falar
alguma coisa, que não consegui entender por causa da chuva, então, me
empurrou para o banco do carona. O barulho da tempestade ficou abafado
quando ela entrou no carro e fechou a porta.
— Agora você precisa me falar onde mora, atleta.
Meus olhos pesaram, mas acho que consegui falar para ela o
endereço da minha casa. Meu peito ainda doía e eu ainda queria chorar, mas
havia outro sentimento comigo, algo que parecia me acolher. Gostei
daquilo. Pela primeira vez em semanas, não lutei contra o sono e deixei que
ele me levasse sem amaldiçoar o mundo a minha volta.
— Logan? Logan, você precisa acordar.
Abri os olhos pesados, tomando um susto com a claridade que me
deixou cego por longos segundos. Minha cabeça... Porra, minha cabeça ia
explodir.
— Cadê... A chuva?
— O quê?
— E a garota?
— Que garota? Logan, do que você está falando? — Abri os olhos de
novo, dando de cara com a minha irmã. Ela estava sentada ao meu lado na
cama. Na cama, não na ponte, debaixo da chuva. Que merda é essa? —
Acho que você estava sonhando. — Norah quase sorriu, mas seus olhos
estavam tristes demais para que ela conseguisse fazer aquilo. Senti seus
dedos em meus cabelos e, por um momento, tentei visualizar aquela garota
sem rosto... Foi mesmo um sonho? — Nós precisamos ir.
— Acho que eu não consigo.
— Consegue, sim. De nós dois, você sempre foi o mais forte.
Aquilo estava longe de ser verdade. A prova estava bem ali, diante da
minha fraqueza, da ressaca idiota que me assolava e do fato de eu sequer
conseguir abrir a boca para contestá-la.
Norah saiu do meu quarto e eu me ergui da cama no automático.
Segui para o chuveiro, passei pelo menos meia hora debaixo da água
gelada, me dando conta de que a água da chuva em meu sonho era bem
mais brutal, tanto em temperatura, quanto em sua força. Queria me lembrar
de mais detalhes, qualquer coisa que eu pudesse me agarrar para me manter
são durante as próximas horas, que eu sabia que seriam as piores da minha
vida.
Coloquei a roupa que Norah escolheu para mim, calcei os sapatos e
olhei para a minha mão por um segundo. Lembrava-me que a mão da garota
no sonho era bem menor que a minha e mais macia, também. Por que ela
não tinha um rosto? Seria melhor ter algo físico dela para me lembrar.
Qualquer coisa.
Alguém bateu na porta, antes de girar a maçaneta e colocar a cabeça
para dentro. Tentei sorrir quando vovó Meredith entrou.
— Está pronto, querido? — Concordei com a cabeça e ela se
aproximou, tocando em meu rosto. — Vamos lá. Vamos fazer isso. Você
não está sozinho.
Eu sabia que não estava, mas era como me sentia.
Entramos no carro e o motorista nos guiou até a capela, que já estava
lotada. À frente do púlpito, estava a foto dela e o caixão aberto. Eu sabia
que deveria, mas não consegui me aproximar até o final da missa. Doía
tanto, que eu mal conseguia respirar.
Queria ter tido mais tempo com você, foi o que pensei quando
finalmente consegui chegar perto dela. Queria ter te abraçado mais e ter
dito o quanto eu te amava enquanto ainda podia. Sinto que não foi o
suficiente... Não tivemos tempo suficiente, mãe, e eu sinto muito por isso.
O resto foi apenas um borrão. O caminho até o cemitério, o enterro,
as pessoas à minha volta, os braços que me cercaram e que mal senti, as
palavras de conforto que mal escutei, os rostos à minha frente, que eu
sequer lembraria. No final, só restou a lápide, as flores, minha irmã e eu.
Queria ser mais forte por ela. Queria ser aquele que suportaria tudo por nós
dois.
Foi pensando nela que parei de chorar por um tempo e a abracei,
deixando que finalmente desabasse de encontro ao meu peito e colocasse
para fora tudo o que doía. Não era o suficiente, eu sabia, mas ajudava por
um tempo. Me ajudou durante o meu sonho, mesmo que eu não tenha
chorado no peito daquela garota. Eu mal conseguia me lembrar da sua voz
agora, apesar de me lembrar de cada uma das suas palavras.
“Não quero que você se perca, pelo menos não definitivamente.”
Acho que eu não era forte o suficiente para impedir aquilo de
acontecer, porque daquele dia em diante, a única coisa que fiz, foi me
perder.
Estávamos em agosto, mas eu ainda estava me acostumando com a
diferença entre a UCLA[2] e a UA[3]. O sotaque era diferente, o campus,
apesar de também ser gigantesco, era diferente, mas o maior diferencial era,
com certeza, o esporte que “comandava” cada faculdade.
Quando se falava da UCLA, a primeira coisa que vinha na cabeça das
pessoas, era o Bruins, o famoso time de basquete, de onde tinha saído
Raymond King[4], o jogador mais conhecido da faculdade, que estava no
que parecia ser o auge da sua carreira. Eu não era obcecada por basquete,
muito menos pelo jogador, mas estudando na mesma faculdade em que ele,
não tinha como não saber quem ele era.
Agora, quando se falava da Universidade do Alabama, a primeira
coisa que vinha na cabeça das pessoas era o futebol. Isso porque, segundo o
que soube quando cheguei à faculdade, o Crimson Tide era o time que
detinha mais títulos de campeão — ou qualquer que seja o nome dado para
isso.
Por mais que eu não entendesse muito sobre todo aquele amor pelo
time de futebol da faculdade, achava legal a forma como os alunos
pareciam ansiar pelo início da temporada e vestiam a camisa vermelha e
branca com orgulho. Claro, a cultura daquele esporte nos Estados Unidos
era gigantesca, movimentava não apenas bilhões de dólares por ano, como
fazia com que os torcedores surtassem nas arquibancadas, em casa, ou em
bares, mas eu não me importava muito com aquilo. Talvez, se tivesse
iniciado os meus estudos na Universidade do Alabama, poderia ter me
apaixonado pelo Crimson Tide, mas eu havia sido transferida há pouco
tempo, portanto, não tinha como me intitular como uma torcedora
fervorosa.
Ainda assim, deixei que Mia, uma colega de classe, me arrastasse
para a festa dada pelos jogadores do time de futebol. A casa — que mais
parecia uma mansão — onde eles moravam, estava lotada de alunos usando
as cores do time, todos bêbados demais para saber diferenciar a área da
piscina — que também estava lotada — e a sala, onde luzes estroboscópicas
formavam o ambiente perfeito para uma pista de dança. Corpos molhados
dançavam juntos, esbarrando em pessoas completamente vestidas, e todo
mundo ria.
Queria estar me divertindo como eles, mas, tirando o fato de a
cerveja estar surpreendentemente gelada em meio a uma festa de
estudantes, nada ali me deixava muito animada. Era quinta-feira, eu teria
que acordar cedo no dia seguinte. Ter ido àquela festa tinha sido um erro.
— Finalmente te achei! — Mia se aproximou de mim, segurando
duas doses de alguma coisa que, com certeza, continha muito álcool. —
Vamos lá para fora! Acho que vou cair na piscina, está um calor infernal!
Na verdade, estava um pouco frio naquele dia, mas tudo bem.
— Acho que vou embora — gritei para ela, pois uma música
eletrônica começou a tocar bem alto. Mia fez beicinho.
— Ah, não, Avalon! Você ainda é uma novata, precisa se enturmar! E
está linda com essa roupa, já vi vários carinhas te comendo com os olhos.
— Acho que estremeci. Aquilo era, definitivamente, a última coisa que eu
queria. — Fica só mais um pouco, por favor! Não seja chata.
Eu estava sendo chata? Sim, estava. Aquilo me deixou incomodada,
porque eu não queria ser a menina insuportável que estragava a festa dos
outros, por isso, disse a Mia que iria ao banheiro rapidinho e logo a
encontraria na área da piscina. Se eu me esforçasse, poderia curtir a noite
como se fosse uma jovem normal de vinte e um anos.
Mas você não é uma jovem normal, Avalon.
Expulsei aquele pensamento incômodo e fui à procura de um
banheiro. Encontrei um lavabo no andar debaixo, porém, assim que entrei,
dei de cara com um casal quase transando e fechei a porta, sentindo o meu
rosto ficar quente por ter sido pega de surpresa. Eles nem perceberam que
alguém havia aberto a porta, o que me causou um pouquinho de inveja,
também.
Tentei passar pelas pessoas que ocupavam grande parte do caminho
entre a sala e a cozinha e cheguei à escada. Alguns casais ocupavam os
degraus e se beijavam de forma bem pornográfica, mas os ignorei e
comecei a subir. Os dois copos de cerveja que tomei estavam cobrando o
seu preço e eu precisava muito fazer xixi, talvez conseguisse achar algum
banheiro desocupado no andar de cima.
Assim que passei pela primeira porta fechada e ouvi um gemido
abafado, soube que não seria tão fácil assim encontrar a porcaria de um
banheiro naquela casa enorme. Havia um total de cinco portas naquele
corredor. Cheguei à segunda e a encontrei trancada, a terceira estava
encostada e um casal se pegava na cama, na quarta, eu já estava sem
esperança e bufei quando percebi que também estava trancada à chave.
A quinta e última porta no corredor era a minha única chance.
Também a considerei como um sinal: se estivesse trancada, aquele era o
recado que o universo estava me enviando para ir embora dali sem que Mia
me visse. Eu mandaria uma mensagem para ela depois, explicando que
recebi alguma ligação importante e que precisei sair correndo da festa.
Avancei pelo corredor e testei a maçaneta. Para a minha felicidade —
ou infelicidade, já que eu queria ir embora —, a porta abriu sem maiores
dificuldades, revelando um quarto desocupado. A decoração era bonita e a
primeira coisa que me chamou a atenção, foi um quadro de medalhas
pendurado na parede. Eram muitas, a maioria dourada, outras, prateadas.
Nenhuma de bronze. Soltei um assobio, ficando impressionada. O dono
daquele quarto parecia ser um atleta e tanto.
A cama de casal era enorme, coberta com uma colcha vermelha, o
que me fez revirar os olhos. Claro que o jogador do Crimson Tide seria
viciado naquela cor ao ponto de colocar uma colcha vermelha na sua cama.
Percebi que não havia porta-retratos e que, além do quadro de medalhas,
duas prateleiras afixadas à parede na frente da cama estavam cheias de
troféus. Fora isso, não havia nada realmente pessoal naquele ambiente.
Poderia facilmente passar por um quarto de hóspedes.
Minha bexiga cheia me fez lembrar o motivo para eu estar invadindo
o quarto enorme de um jogador de futebol. Andando com as pernas quase
cruzadas para não deixar o xixi escapar, fui até o banheiro — que também
era gigantesco, com uma banheira redonda de hidromassagem que caberia
facilmente quatro pessoas — e finalmente comecei a me aliviar naquela
privada que deveria valer alguns milhares de dólares. Foi difícil não rir com
o pensamento. Minha bunda com certeza nunca tinha encostado em algo tão
valioso antes.
Não havia um botão para acionar a descarga, no lugar, havia um
sensor, que simplesmente acionou o fluxo de água sem que eu precisasse
encostar em nada. A tampa também se abaixou sozinha. Por que ricos eram
sempre tão esquisitos? Qual era o problema de abaixar a tampa do vaso
sanitário? Fui até a pia e lavei as mãos rapidamente, me dando conta de que
o isolamento acústico do banheiro era muito bom, pois eu quase não
conseguia ouvir a música eletrônica que tocava no andar debaixo.
Pensar em voltar para a festa me deixou um pouco mais desanimada,
mas ali, de frente para o espelho enorme que tomava conta de quase toda a
parede, tomei a decisão de que eu ficaria só mais trinta minutos e, depois,
iria embora. Era o máximo que eu poderia suportar. Mia já havia bebido
bastante e arrumado companhia masculina, então, não sentiria a minha falta.
Talvez, ela sequer estivesse sentindo a minha falta naquele momento.
Retoquei o batom vermelho e dei uma ajeitada em minha roupa,
finalmente pronta para escapar dali antes que fosse descoberta pelo dono do
quarto. Antes de sair, peguei meu celular na bolsa só para verificar se não
havia nenhuma mensagem perdida, mas encontrei apenas uma de Aubrey,
minha irmã:
Aubrey: Espero que esteja se divertindo muuuuuuito! Volte bem
tarde, ok? E beije na boca. Tchau!
— Beijar na boca... Tá bom — ri baixinho enquanto saía do
banheiro.
Parei abruptamente ao notar que algo havia mudado. A luz do quarto.
Das sancas de gesso no teto, saía uma luz levemente amarelada quando
entrei no cômodo, agora, ela estava lilás. E havia uma música, também.
Uma música sensual que destoava completamente da batida eletrônica que,
ali do quarto, eu conseguia ouvir com mais clareza.
— Já chegou, gatinha? Tô pronto pra você...
Então, muito de repente, um cara completamente nu saiu de dentro
do que parecia ser um closet imenso. Um grito escapou da minha boca, meu
celular caiu no chão e o cara nu, com o pênis ereto, arregalou os olhos,
puxando uma almofada em cima da cama para se cobrir.
— O que... Quem é você? — Sua voz saiu levemente enrolada, mas
em alto e bom tom.
— Eu... Eu...
Quem era eu? Qual era mesmo o meu nome? Eu já nem me lembrava
mais. Meus olhos estavam secos, completamente vidrados naquele homem
à minha frente. Eles desceram pelo seu corpo com uma lentidão que me
deixou meio tonta e fizeram o meu cérebro registrar tudo em detalhes. A
pele levemente bronzeada pelo sol, cabelos bagunçados, mandíbula forte,
barba por fazer, peitoral rígido, braços muito torneados e com veias
aparentes, abdômen sarado, aquele V definido, uma trilha de pelos que
levavam ao seu...
— Eu estou falando com você, porra! O que está fazendo no meu
quarto? Estava me roubando?
O homem parou na minha frente de repente e eu finalmente o
reconheci. Afinal, quem não o conhecia na Universidade do Alabama?
Logan Miller III, o quarterback.
O “terceiro”, vinha do fato de Logan ser herdeiro de uma família
bilionária, dona de um dos maiores escritórios de advocacia dos Estados
Unidos — com alguns escritórios espalhados pela Europa. Seu dinheiro era
antigo e a sua reputação era péssima dentro e fora da UA. E ele estava me
acusando de roubo? Mas que merda ele tinha na cabeça?
— Como é que é?
— Uma garota no meu quarto aleatoriamente? Querida, eu já vi essa
cena antes, pelo menos umas cem vezes. — Ele sorriu e cambaleou
lentamente, ainda segurando aquela almofada. Por ironia do destino, havia
um espelho enorme encostado na parede do outro lado da cama e, de onde
eu estava, conseguia ver o seu corpo todo por trás. Ele tinha uma bunda
bonita demais, o que era um desperdício, já que obviamente, Logan Miler
III era um babaca. — Ou você quer sexo ou quer dinheiro. E então, vai me
contar ou vou ter que chamar a polícia?
Encarei-o de cima a baixo, dessa vez, com outros olhos. Ele ainda era
bonito, mas do que adiantava ter um corpo espetacular e um rosto
simetricamente perfeito — pelo menos era o que eu achava — quando se
era um idiota de marca maior?
— Quer mesmo chamar a polícia? Vamos lá, chame, então. —
Desafiei, cruzando os braços. — Além de ter que provar que eu te roubei,
ainda vai ter que explicar aos policiais o porquê de ter maconha rolando
solta nessa sua festinha de merda.
— Festinha de merda? — Foi a vez dele de me olhar de cima a baixo
e eu não me senti nem um pouco atraente quando terminou a sua inspeção.
Logan ainda sorria, mas cheio de desdém. — Quer saber, acho que você
tem razão. Geralmente, minha festa é mais bem frequentada. Se alguém
como você teve permissão para entrar, é porque realmente ela se tornou uma
festa de merda.
Meu coração bateu forte, mas eu não demonstrei que aquilo havia me
afetado, porque comecei a dizer a mim mesma que não me afetou.
Conhecia caras como Logan. Riquinhos esnobes que achavam que podiam
mandar no mundo, só porque haviam nascido na família certa, com o
sobrenome certo. Aquele discurso dele não me surpreendia.
— Alguém como eu, realmente não deveria estar aqui. Não porque
não estou no mesmo nível que você, mas porque não quero que me
confundam com alguma Maria-Pompom que lambe o chão onde caras
babacas como você, pisam.
— Pelo jeito que me olhou... — Ele se aproximou um pouco mais,
apenas um passo. — Eu podia jurar que você queria lamber muito mais do
que o chão onde eu piso.
— Sim. Eu preferia lamber uma navalha.
— A que eu uso para depilar o meu saco? Ela está ali no banheiro,
fique à vontade.
— Vai se foder, Logan terceiro. — Empurrei-o pelo peito para que
saísse do meu caminho e ele cambaleou para o lado, soltando uma risada.
— Hum, parece que você sabe o meu nome.
— Claro. A cada semana sai um novo escândalo sobre você, seria
difícil não saber — falei, olhando para o chão.
Onde estava a porcaria do meu celular? Ele havia caído quando tomei
um susto, mas estava bem longe das minhas vistas.
— Aposto que você é do tipo que fica acompanhando a minha vida
pelas redes sociais.
Meu Deus, por que aquele idiota ainda estava falando? E por que não
colocava uma roupa?
— Nossa! Como você adivinhou?
— Você está no meu quarto, esqueceu? Essa foi fácil. O que está
procurando?
— Sua cueca. Vou leiloar e ficar rica.
Ele ficou em silêncio por um momento e, de repente, saiu andando.
Respirei fundo, agradecendo por finalmente ficar sozinha para poder clarear
a minha mente. Fechei os olhos por um segundo, tentando me acalmar. Meu
celular, eu só precisava encontrá-lo, então, poderia ir embora daquela casa
para sempre. Voltei a abrir os olhos e a primeira coisa que visualizei, foi a
cama.
Sem pensar duas vezes, me abaixei e olhei debaixo dela, soltando um
gritinho quando encontrei o aparelho ali embaixo. Nem verifiquei se estava
quebrado, só me ergui e o enfiei no bolso da minha saia, tomando um novo
susto quando a porta do quarto se abriu e uma garota entrou, usando apenas
um conjunto de lingerie encharcado. Ela parou ao me ver e olhou para algo
além de mim. Ainda usando apenas a almofada para esconder o pênis,
Logan saiu do closet segurando uma cueca — vermelha, claro — na mão
esquerda. Ele a jogou em minha direção e eu a peguei no ar apenas por
reflexo, antes que caísse na minha cara.
— Pronto, está até autografada.
— Mas... O que é isso? — A garota gritou com uma voz muito fina e
Logan pareceu finalmente perceber que havia mais alguém no quarto além
de nós dois. Batendo o pé, ela se aproximou e parou na frente de Logan, de
costas para mim. Com o polegar, apontou em minha direção. — O que isso
significa? Você disse que seria apenas nós dois hoje à noite, Logan!
— Calma, isso não é...
— Eu não vou te dividir com mais ninguém! — O grito dela fez os
meus tímpanos doerem.
— Olha, eu não estou aqui para...
— Cala a boca! — Ela se virou para mim, me interrompendo, então,
inclinou um pouco a cabeça para o lado. Seu cabelo castanho pingava água
com cheiro de cloro de piscina. — Quer dizer, a culpa não é sua. Eu sou
contra a rivalidade feminina. A culpa é dele!
— Minha? — Logan franziu o cenho, apoiando as duas mãos na
cintura. A almofada caiu. Não olhe para baixo, Avalon, não olhe para
baixo... — Eu não tenho nada a ver com isso! Essa maluca que invadiu o
meu...
— Não chame uma mulher de maluca! — A garota gritou, ficando
vermelha. — Quer saber? Chega! Nós não merecemos passar por isso! Há
homens melhores lá fora, amiga, é só a gente procurar. Vamos!
A menina empinou o queixo e saiu do quarto da mesma forma como
entrou, parecendo um trovão estourando no céu. Eu estava sem palavras,
tentando entender se ela estava bêbada, chapada, ou muito sóbria. Era difícil
dizer.
— Viu o que você fez? — Logan bradou para mim, caminhando
completamente nu na minha direção. — Você empatou a porra da minha
foda, sua maluca!
— Eu não fiz nada! Mal consegui abrir a boca!
— E precisou? Você invadiu o meu quarto, isso foi o suficiente! E me
devolva isso! — Ele puxou a cueca da minha mão e começou a vesti-la.
Não olhei para baixo. Fui forte daquela vez. — Tentei ser legal com você te
dando uma cueca autografada, mas você não merece isso depois do que fez.
Cai fora do meu quarto!
— O que te faz pensar que eu ia querer uma cueca sua autografada?
— Foi você quem pediu!
Comecei a rir quando me lembrei do que falei minutos antes.
— Não é possível que você seja tão burro ao ponto de não entender
um deboche. Como conseguiu entrar para a faculdade? — Comecei a andar
em direção à porta, mas parei no meio do caminho. — Ah, sim... Seu papai
gasta muito dinheiro para te manter aqui, não é? Imagino que deva até
comprar as notas azuis que dizem por aí que você tira. Acho que as fofocas
sobre você estão corretas, afinal. Você realmente não tem qualquer
credibilidade, Logan terceiro.
Sua mandíbula ficou tensa e seus dedos se fecharam em punho. Eu
parei de sorrir assim que visualizei a cena, dando mais um passo em direção
à porta. Algo nos olhos de Logan se transformou e toda a sua expressão
mudou de um segundo para o outro. Ele não parecia mais estar indignado
por ter perdido uma trepada. Ele estava com raiva.
— Sai daqui — ordenou com a voz levemente estremecida. — Sai,
ou eu juro que vou arrumar um jeito de te expulsar.
Meu coração acelerou e eu apressei o passo, saindo dali sem olhar
para trás. Atravessei o corredor extenso, a escada ainda ocupada por alguns
casais, os corpos que dançavam espremidos na sala enorme e deixei aquela
casa, permitindo que o ar gelado da noite preenchesse os meus pulmões.
Demorei pelo menos um minuto inteiro para conseguir controlar as
minhas emoções. Mesmo assim, minhas mãos ainda tremiam enquanto eu
pedia por um carro de aplicativo. Aquele riquinho de merda... Logan
realmente era tudo o que diziam sobre ele.
Mimado. Arrogante. Prepotente. Havia inúmeros outros adjetivos,
mas me obriguei a parar de enumerá-los quando o carro parou na minha
frente. Dei boa noite ao motorista e observei a casa ficar distante conforme
o carro andava pela pista. Prometi a mim mesma que nunca mais colocaria
os meus pés naquele lugar ou olharia de novo na cara de Logan Miller III.
Meu corpo já devia estar acostumado com a sensação da ressaca no
dia seguinte após uma noite carregada a muito álcool, mas o infeliz era
teimoso demais e sempre me fazia acordar com uma dor de cabeça
monstruosa e a sensação de que eu nunca mais conseguiria colocar algo
substancial em meu estômago. Ele me fazia perder a hora, também, pois me
jogava em uma outra dimensão quando eu desabava na cama.
Meu celular tocou em algum lugar bem longe, me obrigando a erguer
a cabeça do travesseiro e abrir os olhos. A claridade que entrava pela janela
me fez xingar baixinho, preenchendo o meu cérebro com aquela sensação
de que agulhas finas estavam espetando-o. Levei um tempo para conseguir
finalmente enxergar e a bagunça a minha volta me deu mais dor de cabeça
ainda.
Duas meninas estavam deitadas na cama, cada uma de um lado do
meu corpo, enquanto Ben, meu amigo, dormia de bruços aos nossos pés,
com aquela bunda branquela para cima, o que me deixou ainda mais
nauseado. Percebi que estávamos em seu quarto, não no meu, e que o
celular que despertava na mesinha de cabeceira era o dele. Quase joguei o
aparelho no chão para poder desligar o alarme, xingando mais um pouco
pelo idiota ter colocado o celular para despertar às seis da manhã em pleno
final de semana.
Então, olhei mais atentamente para o aparelho em minha mão. Ali
dizia que era sexta-feira, não sábado ou domingo.
Se era dia de semana — sexta-feira, para ser mais exato —, então,
não deveríamos estar na cama com duas gostosas. Deveríamos estar nos
arrumando para encontrar com o treinador Coben para a reunião semanal do
time.
Merda!
— Ben! — Dei um pulo da cama, catando a primeira cueca que vi
pelo chão e vestindo-a rapidamente. — Ben! — Ajeitei o cós da cueca com
uma mão e comecei a sacudir o ombro do babaca com a outra. Ele
resmungou alguma coisa incompreensível e voltou a dormir. — Benjamin,
acorda!
— Cara... Sabe que horas eu fui dormir?
— Não importa, hoje é sexta-feira!
— E daí?
— Reunião do time. Isso te diz alguma coisa?
Ben ergueu a cabeça rapidamente e quase caiu da cama ao se virar no
colchão.
— Porra, essa cama é minha! Como eu vim parar aqui? —
questionou, levantando-se e apontando para o lugar da cama onde havia
dormido.
— Não sei. Vou tomar um banho.
— E vai deixar comigo a função de acordar as meninas, não é? Seu
babaca. — Fiz a minha melhor cara de inocente para ele antes de caminhar
em direção à porta do seu quarto. — Por que você autografou a sua bunda?
— O quê? — Parei por um momento, tentando, inutilmente, enxergar
a minha bunda.
— Você autografou a sua cueca bem na altura da bunda. Como fez
isso? — Seus olhos estavam arregalados. — Você é muito esquisito, Logan.
— Mas eu não... — As palavras sumiram da minha boca enquanto eu
tentava me lembrar do que havia acontecido.
Não, eu não tinha autografado a minha bunda por cima da cueca. Eu
era um jogador de futebol, não um contorcionista, porra! Então, como
aquilo tinha acontecido? A noite passada era como um borrão na minha
mente, lembrava-me de começar a receber os convidados para a festa de
aniversário de James, meu segundo melhor amigo, e apontar para onde
estavam as bebidas. Então, as meninas começaram a chegar, o DJ
contratado colocou uma música animada e a casa ficou lotada. Muito lotada.
Talvez, tenhamos perdido o controle da quantidade de pessoas, mas chegou
um momento em que eu não me importava mais.
Nesse momento, claro, eu já tinha bebido demais. E também estava
com Savannah, uma das cheerleader, com quem, aparentemente, eu não
tinha passado a noite.
— Por quê? — perguntei a mim mesmo, baixinho, tentando me
lembrar. — Por que não passei a noite com ela?
— Ela quem?
— Savannah.
— Sei lá. Só lembro de ela voltar para a piscina, puta com você,
falando que você queria fazer um ménage e que quase tinha feito ela brigar
com uma garota. — Ben deu de ombros e se afastou, indo até a cama para
acordar uma das meninas.
Brigar com uma garota? Que garota?
Confuso, dei meia-volta e saí do quarto meu amigo, indo em direção
ao meu. Minha cama estava intacta, não tinha roupas espalhadas pelo chão,
o que indicava que eu realmente não tinha transado com Savannah. Parei no
meio do meu quarto, tentando trazer de volta as memórias da noite anterior.
Lentamente, elas começaram a surgir, fazendo a minha cabeça doer pelo
esforço, até o momento em que eu finalmente me recordei dela.
A ruiva — ou ela era loira? — maluca que invadiu o meu quarto.
Foi como levar um choque, tamanho o impacto que senti quando sua
imagem invadiu a minha mente ainda enevoada pelo efeito do álcool. Ela
usava uma blusa preta de manga comprida e gola alta, meia-calça também
preta, uma saia curta xadrez na cor amarela, um cinto preto comum na
altura da cintura e botas gladiadoras. Como eu havia memorizado aquilo,
era um mistério, mas lembro de, em um primeiro momento, achar que ela
era linda, mesmo tendo invadido o meu quarto e me confrontado daquela
forma.
Nós brigamos, era verdade, então, em algum momento, eu havia
tomado a decisão de autografar a minha cueca e dar para ela. Por que eu
havia feito isso? Talvez eu jamais fosse descobrir. Depois disso, a situação
piorou quando Savannah nos pegou juntos no quarto e decidiu que eu não
valia mais a sua atenção. Fiquei puto com a ruiva/loira, porque Savannah
era gostosa e eu estava animado para finalmente ficar sozinho com ela, mas
a invasora apenas me deu um olhar debochado e fez o que a maioria das
pessoas amavam fazer.
Julgou-me baseada no que achava sobre mim. Baseada no que as
pessoas diziam sobre mim. Aquilo não me surpreendeu, na verdade, só me
deixou com raiva porque, por um momento, cheguei a pensar que ela era
autêntica, de certa forma. Devorou o meu corpo com os olhos quando me
viu pelado? Sim, mas não foi dissimulada, muito menos tentou me enrolar
com sorrisinhos sedutores ou tirar proveito da situação. Ainda não sabia o
que ela estava fazendo em meu quarto — e sentia que nunca descobriria —,
mas estava começando a acreditar, antes de ela citar o meu pai e o dinheiro
da minha família, que talvez realmente não estivesse ali porque queria ir
para a cama comigo ou porque queria roubar alguma coisa. Agora, já não
sabia mais em que acreditar.
Decidi parar de perder tempo pensando naquilo e fui direito para o
chuveiro, deixando que a água gelada tirasse um pouco da letargia do
álcool. Quase não sentia mais o choque da temperatura sobre o meu corpo,
porque banhos como aquele haviam se transformado em uma rotina a cada
final de semana. Podia ouvir a voz do meu pai enchendo o meu saco, do
meu treinador exigindo que eu mudasse de postura, sentir o olhar meio
decepcionado da minha irmã e da minha avó sobre mim, mas ignorei
aquilo. Ignorei tudo que me causava aquele aperto horrível no peito e a
sensação de estar naufragando.
— Eu estou bem — falei para mim mesmo ao sair do box e me olhar
no espelho. — Estou ótimo, na verdade. Nunca estive melhor.
Era bom ouvir aquilo em voz alta, pois não era algo que eu ouvia
com frequência, pelo menos não naquele sentido.
“Você é o melhor, Logan”, dizia qualquer menina que passava a noite
comigo.
Eu sabia que era. O problema, de verdade, era encontrar motivação
para mostrar a todos — e a mim mesmo — que eu ainda era o melhor em
tudo.

— Cara, você está péssimo. — Foi a primeira coisa que Kevin, o


tight end do time, disse quando entrei na sala usada para reuniões no centro
de treinamento da faculdade. — Vocês três estão, na verdade.
Por três, ele queria dizer eu, Benjamin e James. Morávamos juntos,
então, era comum que também chegássemos juntos aos treinos e reuniões
que aconteciam no primeiro horário da manhã antes das aulas.
— Pelo menos estamos feios só hoje, já você, é feio todo dia — disse
Ben, arrancando risada do resto do time.
— Impossível eu estar feio hoje. Ontem foi o meu aniversário. —
James ajeitou os óculos escuros na ponte do nariz.
— Ou seja, a culpa pela nossa ressaca, é sua — falei, me jogando em
uma das cadeiras. Também ansiava por óculos escuros, mas achei melhor
não usar para poder disfarçar um pouco na frente do treinador.
— Minha? Eu não obriguei ninguém a beber!
— Isso é verdade. Eu saí de lá tão sóbrio quanto entrei — defendeu-
se Dean, que jogava na linha ofensiva.
— Porque você é um velho no corpo de um babaca de vinte e dois
anos — Benjamin riu.
— Não, porque eu sou responsável. Era dia de semana, não queria vir
com ressaca para o treino no dia seguinte.
Ouvi alguns murmúrios atrás de mim, uns zombando de Dean e
outros resmungando que ele tinha razão. Eu fiquei quieto, porque suas
palavras me lembraram de um Logan certinho demais, que brilhou durante
o seu primeiro ano e que quase nunca colocava uma gota de álcool na boca.
— Bom dia, rapazes! — O treinador Coben nos saudou ao entrar na
sala. Ele pousou a sua prancheta sobre a mesa e encarou demoradamente
cada um de nós. — Não vou perguntar por que a maior parte de vocês está
com essa cara amassada e usando óculos escuros, pois não estou lidando
com crianças aqui. Portanto, tirem a porcaria dos óculos e prestem atenção
em tudo o que vou falar agora.
James foi o primeiro a fazer o que o treinador ordenou, sendo
seguido pelos demais. Eu me ajeitei na cadeira, sabendo que o treinador iria
nos dar um sermão. Pelo menos eu não seria o único a ser comido no
esporro naquele dia.
— Eu sei que James fez aniversário ontem e sei que todos aqui
queriam comemorar junto com ele, mas precisavam mesmo ter passado
tanto do ponto? Já sei que há vídeos circulando na internet, mas não perdi o
meu tempo olhando nenhum deles, porque queria ver pessoalmente, no
rosto de cada um, o estrago feito na noite passada. — O treinador Coben
nos deu um olhar severo, antes de começar a andar de um lado para o outro.
— Preciso reforçar, mais uma vez, como o excesso de álcool pode ser
prejudicial para o rendimento de vocês?
— Não, senhor — Benjamin respondeu, seguido por todos nós.
— Preciso reforçar, mais uma vez, que a imagem que o time passa lá
fora, é importante? Que o Crimson Tide não pode ter a sua imagem abalada,
porque os seus jogadores não sabem como se comportar?
— Não, senhor.
— Preciso reforçar, de novo, que não vou hesitar em substituí-los por
qualquer jogador reserva, caso eu não esteja satisfeito com o desempenho
de cada um até o primeiro jogo da temporada?
Nós nos olhamos. Aquela, com certeza, era a ameaça mais efetiva
que o treinador Coben poderia jogar sobre o nosso colo. Ninguém ali queria
perder o seu lugar de titular no time, porque sabia que os jogadores reservas
eram bons e que estavam apenas esperando uma oportunidade para se
tornarem um titular.
— Não, senhor — respondi antes de todo mundo.
Os olhos severos do treinador Coben me encararam pelo que pareceu
ser um milênio inteiro. Senti-me como um menino de novo, prestes a ser
colocado de castigo, o que me encheu de vergonha, porque eu era um
homem. Eu era o capitão daquele time, deveria servir de exemplo para
todos, mas, pelo visto, estava afundando todo mundo comigo.
Talvez, eu devesse desistir.
O pensamento me fez estremecer, mas não deixava de ser uma boa
opção. Para quem? Quase pude ouvir meu subconsciente me perguntando.
Para o treinador, que não precisaria se preocupar se o seu
quarterback chegaria em condições de treinar. Para o time, que poderia ter
um capitão mais responsável. Para mim, que finalmente poderia afundar em
paz sem ter que pensar nas consequências.
— Cada um de vocês ocupa um lugar nesse time por uma razão. Sabe
qual é a maior delas? — questionou o treinador, voltando a falar antes de
deixar que qualquer um de nós respondesse: — A minha certeza de que eu
tenho sob o meu comando, os melhores jogadores de futebol universitário
dos Estados Unidos. Eu sei que vocês vão sair daqui direto para a liga
profissional, mas, para isso, precisam ter foco! Precisam se esforçar dez
vezes mais, dar o seu sangue, serem o que vocês nasceram para ser:
campeões. Não estou aqui para dizer que vocês não devem se divertir, mas
precisam fazer isso com moderação. Não quero o meu time se arrastando de
ressaca durante o treino, quero o meu time forte, centrado e unido. Fui
claro?
— Sim, senhor!
— Ótimo. Não quero perder tempo tendo esse tipo de conversa outra
vez. Espero que mantenham isso em mente. Agora, vamos trabalhar!
— Meu Deus, o que aconteceu nessa casa?
Eu estava destruído. Jogado no sofá, sentia o meu corpo doer como
se um rolo compressor tivesse passado por cima de todos os meus músculos
e dado ré incontáveis vezes. Ao meu lado, James e Benjamin pareciam estar
do mesmo jeito, enquanto víamos uma reprise de jogo de futebol na TV. O
treinador Coben havia pegado pesado conosco, provavelmente, para se
vingar da festa que demos na noite passada.
— Eu fico fora por uma única noite e é isso que vocês fazem?
— Gata, escuta...
— Para de chamar a minha irmã de gata — resmunguei para
Benjamin, jogando uma almofada em sua cara. Norah parou bem na frente
da TV, com as mãos na cintura, esperando por uma explicação. — Não deu
tempo de ligar para a empresa de limpeza, Norah.
— Essa é a desculpa mais idiota que já ouvi em toda a minha vida!
Era só dar um telefonema, Logan!
— Foi mal, Norah — James fez uma cara de culpado, mas durou só
por um segundo. Logo ele se ergueu do encosto do sofá e encarou para
minha irmã com os olhos cerrados. — Não, eu não vou me desculpar. É
você quem precisa se desculpar comigo.
— Eu?
— Sim! Ontem foi o meu aniversário. Onde você estava?
— Eu falei que não conseguiria vir, passei a noite na casa da Tiffany,
terminando de ajustar os detalhes para o trabalho que apresentamos hoje...
Norah parou de falar quando James se levantou.
— Estou decepcionado com você.
— Mas, James...
— Depois a gente conversa.
James passou por minha irmã e Benjamin o seguiu, dando a Norah
um olhar chateado antes de subir as escadas. Norah acompanhou os dois
com os olhos, de boca aberta, parecendo assustada.
— James está falando sério?
— Acho que sim. — Dei de ombros. James era um pouco dramático
às vezes. — Daqui a pouco ele supera isso, sabe que ele não leva esse tipo
de coisa para o coração.
— Ele estar chateado de verdade comigo, diz o contrário. — Norah
suspirou e se sentou ao meu lado, dando uma olhada geral na sala. Sim,
estava mesmo uma bagunça. Havia copos e garrafas espalhados, um vaso
quebrando perto do aparador ao lado da escada, uma mancha de bebida no
tapete e um cheiro meio azedo de cerveja no ar. — Essa casa virou um
chiqueiro.
— Sim. Ainda bem que você não estava aqui ontem.
Ainda bem mesmo. Eu poderia levar uma vida desregrada e passar
muito do ponto, mas era extremamente cuidadoso com a minha irmã.
Conhecia os babacas que frequentavam aquele tipo de festa — afinal, eu era
como eles — e queria Norah bem longe das vistas de cada um.
— Eu deveria ter estado aqui, assim, não teria vídeo de vocês na
internet virando shots de bebida e tirando a roupa antes de cair na piscina.
— Não ficamos pelados, Norah.
— Por muito pouco. — Ela cruzou os braços e me olhou com
seriedade. Precisei voltar a encarar a TV. Norah era parecida demais com a
nossa mãe, o que às vezes tornava muito difícil encará-la por tempo demais.
— Logan, estou preocupada com você.
— Não sei por quê.
— Você sabe muito bem o porquê.
Antes que minha irmã pudesse continuar, me levantei do sofá. Eu já
tinha decorado tudo o que ela estava prestes a me dizer, portanto, não
precisava ficar ali ouvindo tudo de novo pela milésima vez.
— Norah, estou cansado e cheio de dor de cabeça. A única coisa que
eu preciso, é de um analgésico e da minha cama, ok? — Aproximei-me dela
e dei um beijo em sua testa. — Eu estou bem, não precisa se preocupar
comigo. Amo você.
Subi as escadas rapidamente e entrei em meu quarto, procurando o
refúgio da minha cama para me esconder do desastre que era a minha vida.
O Maeve’s Bar era “oficialmente” o bar do Crimson Tide, onde o
time sempre se reunia depois dos jogos para comemorar a vitória. A
temporada de futebol ainda não havia começado, mas os torcedores mais
fanáticos adoravam frequentar o bar usando a camisa do time,
principalmente quando passava a reprise de algum jogo na TV.
Maeve foi amiga da minha mãe quando eram jovens e ainda morava
em Los Angeles quando eu nasci. Eu odiava depender da ajuda das pessoas,
mas, quando precisei sair da Califórnia e liguei para ela pedindo que me
acolhesse por alguns dias, Maeve prontamente se dispôs a me ajudar. Não
apenas isso, ela me deu um emprego em seu bar e permitiu que eu ficasse
no apartamento vazio no andar de cima junto com a minha irmã.
Eu pagava a ela um aluguel simbólico — bem simbólico, pois o
preço real de um apartamento de vinte metros quadrados em uma região tão
privilegiada era pelo menos o triplo do que eu podia dar a ela — e me
dedicava ao máximo no bar todos os dias, principalmente nos finais de
semana, quando o fluxo de clientes era maior.
— Mal posso esperar para a temporada de futebol começar — Maeve
disse ao meu lado, me ajudando a servir uma rodada de cerveja para a mesa
cinco.
— O faturamento vai aumentar — concluí.
— Com certeza, mas não é apenas isso. O clima muda nessa cidade,
parece que todo mundo se une para torcer pelo Crimson Tide. A última
temporada foi difícil, eles perderam em casa, mas tenho certeza de que esse
ano eles vão arrasar.
Eu cheguei à cidade depois da derrota do time, portanto, ainda não
tinha vivido aquela fase louca da temporada de futebol universitário. Tinha
um pouco de experiência com os jogos do time de basquete da UCLA, mas
sabia que o amor pelo futebol era maior, principalmente no Alabama.
Deixamos os copos cheios de cerveja sobre o balcão e Donovan logo
se aproximou para servi-los, enquanto Cindy voltava com a bandeja vazia.
— Uma rodada de tequila para aquela mesa cheia de gostosos —
Cindy informou, apontando para uma mesa no canto do bar, com seis
homens usando a camisa do Crimson Tide. — Espero que a gorjeta seja
proporcional a beleza deles.
— Ah, vai ser sim, com certeza. — Eu ri, me afastando para poder
encher seis shots de tequila.
— Você não me contou como foi a festa na casa do James McHugh!
— Cindy comentou logo atrás de mim e eu estremeci levemente. — Estou
curiosa! Vi alguns vídeos no Twitter. Você viu quando eles tiraram a roupa e
caíram na piscina? Nossa, quis muito que tivessem ficado pelados.
— Que horror, Cindy! — A funcionária de Maeve era mesmo uma
tarada.
— Vai me dizer que você não queria ter visto um deles como veio ao
mundo?
Bom, eu tinha visto, infelizmente. E a imagem de Logan
completamente sem roupa se recusava a sair da minha cabeça, o que era
contraditório, já que eu odiava aquele babaca. Era uma pena que o ódio não
transformava uma pessoa fisicamente bonita em um ser horripilante de se
olhar.
— Não mesmo — respondi, colocando os copinhos de shot sobre a
sua bandeja. — E eu vim embora antes de esse espetáculo horroroso
acontecer. A festa estava muito chata, cheia de bêbados, gente andando
molhada dentro de casa e esbarrando nas pessoas, cheiro de maconha por
todos os cômodos... Estou até agora arrependida por ter usado a minha noite
de folga para ir àquela festa. Eu poderia ter ido ao cinema com a minha
irmã, teria me divertido muito mais.
— Era uma festa de universitários, o que você achou que encontraria
lá? — Cindy me olhou como se eu fosse uma idiota, enquanto ria de mim.
— Você está parecendo uma velha ranzinza, Avalon. Na sua idade, eu me
divertia muito em festas assim.
— Deixe a garota, Cindy. Avalon não é do tipo festeira e está tudo
bem — Maeve saiu a meu favor. — Agora vá servir esses shots, o bar está
cheio e tem clientes esperando.
— Pode deixar, chefa! — Cindy pegou a bandeja e se afastou. Ao
meu lado, Maeve soltou um suspiro.
— Não ligue para Cindy, ela fala demais às vezes, mas é uma boa
pessoa.
— Eu sei disso, não se preocupe. Ela não disse nada de mais, só o
que eu já sei. Talvez, eu seja um pouco chata mesmo com todo esse lance
de festa e bebida.
— Você não é chata, só é alguém que já viveu muita coisa e que tem
objetivos diferentes das outras pessoas da sua idade. — Maeve tocou a
minha mão e me deu um olhar generoso. — Sua mãe teria muito orgulho de
você, assim como eu tenho.
Parecia que mil agulhas haviam começado a pinicar a minha garganta
de repente, mas eu engoli em seco antes que aquela sensação incômoda se
transformasse em lágrimas idiotas.
— Obrigada, Maeve, de verdade. Se não fosse por você, eu nem sei o
que seria de mim ou da minha irmã.
— Pare com isso. Se eu não estivesse aqui, você teria arrumado um
outro jeito de sair daquele lugar, porque é uma mulher muito forte, Avalon.
Nunca se esqueça disso. — Ela apertou a minha mão mais uma vez antes de
se afastar. — Agora vamos voltar ao trabalho, porque a noite está apenas
começando.
Maeve tinha toda razão. A noite estava mesmo apenas começando e
logo o bar foi ficando mais movimentado, com muitos pedidos de bebidas e
alguns petiscos saindo. Em noites de sábado, quando não tinha algum jogo
importante passando na TV, rolava um karaokê e os clientes mais
desinibidos acabavam entretendo todos os outros enquanto cantavam.
Alguns realmente tinham a voz bonita, outros, só cantavam por diversão e
estragavam algum grande clássico como músicas do Elvis Presley e do
Queen.
O bar começou a esvaziar perto das quatro da manhã, com muitos
bêbados tentando carregar outros bêbados para dentro de carros de
aplicativo. Pelo menos eles tinham a consciência de não dirigir no estado
em que estavam.
— Tudo bem, já ouvi esse mesmo discurso das últimas dez vezes em
que me ligou. Posso desligar agora?
Terminei de secar um copo e me virei em direção à voz masculina,
franzindo o cenho ao pensar que estavam falando comigo, mas logo me dei
conta de que não. Em frente ao balcão, Logan Miller III se sentou no banco
de madeira e posicionou melhor o celular entre a orelha e ombro. Quase
deixei a porcaria do copo cair. Ele olhava fixamente para a madeira lustrosa
do balcão, enquanto parecia ouvir quem estava falando do outro lado da
linha e secava uma long neck.
Pensei em chamar Maeve para lidar com a estrelinha dourada do time
do Crimson Tide. Os olhos dela sempre brilhavam quando falava deles,
portanto, tinha certeza de que ficaria feliz em atender o quarterback idiota,
que revirava os olhos enquanto falava no celular.
— Onde eu estou? Estou em casa.
Em casa, tá bom. Sacudi a cabeça, pegando um outro copo. Logan
suspirou.
— Sim, essa música está tocando no meu quarto. Não posso ouvir
música mais? Quer saber? Vou desligar. Sei que já é de manhã em Londres,
mas aqui ainda é madrugada e eu preciso dormir. Até mais.
Virei-me de frente para a prateleira de bebidas assim que Logan
encerrou a ligação. Havia um espelho que tomava conta de toda a parede
atrás da prateleira, o que me permitia ainda ter uma visão parcial dele,
mesmo estando de cabeça baixa, fingindo estar concentrada em secar o
copo. Com tanto bar espalhado por Tuscaloosa, por que ele tinha que parar
justamente no Maeve’s? Ok, a resposta poderia ser bem fácil, já que ali era
o bar favorito do seu time, mas, mesmo assim... Custava ir para outro bar?
— Me vê uma cerveja. — Ele pediu atrás de mim e eu retesei. —
Não, me dê algo mais forte. Tequila, para começar.
— Começar? Já são quatro da manhã — respondi ainda de costas. Eu
podia sentir o seu olhar cravado em minha nuca.
— E daí?
E daí?
Eu mesma comecei a me questionar sobre aquilo. Se Logan não
estava se importando em encher a cara às quatro da manhã, por que eu iria
me preocupar? Ele não era nenhuma criança e parecia saber o que estava
fazendo. Por isso, deixei de lado a minha função de secar copos e servi uma
dose de tequila. Seus olhos bateram nos meus quando caminhei em sua
direção e deixei o copinho na sua frente sobre o balcão.
Por um momento, Logan franziu o cenho e inclinou um pouco o rosto
para o lado, como se estivesse confuso. Torci para que não me
reconhecesse. Ele estava bêbado na quinta-feira à noite, talvez as
lembranças da festa fossem apenas um borrão em sua mente. O quarterback
passou longos segundos me analisando, quase me fazendo acreditar que
desistiria de tentar descobrir quem eu era, até que seus olhos se arregalaram
em reconhecimento, me deixando frustrada.
— Ora, ora, se não é a invasora de quartos alheios. — Ele me deu
aquele mesmo sorriso cheio de sarcasmo e me olhou de cima a baixo. —
Realmente, com esse seu estilo tão... peculiar, seria difícil não te
reconhecer. O que você estuda? Ah, me deixa descartar uma opção. Não é
moda, certo?
Sem tirar os olhos de cima de mim, Logan virou o shot de tequila e
engoliu tudo sem nem lamber o sal antes ou chupar o limão depois.
Nenhuma careta surgiu em seu rosto.
Não havia absolutamente nada de errado com a minha roupa. A noite
estava um pouco fria com o início do outono e eu estava trabalhando, por
isso, optei por usar um moletom antigo e uma calça jeans larga, rasgada no
joelho esquerdo.
— Eu não poderia me importar menos com a sua opinião sobre o
meu estilo. Vai querer mais? — Apontei para a garrafa de tequila e Logan
concordou com a cabeça. — Melhor aproveitar, porque o bar fecha às cinco
da manhã. Você tem exatamente trinta e oito minutos para dar o fora.
— Desde quando você trabalha aqui?
— Não sei por que isso interessa a você.
Ele soltou uma risadinha e tomou a bebida em um gole. Servi mais
uma dose.
— Por que Maeve te contratou? Você trata os clientes muito mal, isso
é péssimo para os negócios.
— E quantos negócios você já geriu? Além da sua mesada, é claro.
— Sorri para ele, não de forma amigável, vendo-o fechar a cara. Havia algo
realmente prazeroso em usar a riqueza contra os ricos. Eles ficavam
chateados quando a gente esfregava a verdade na cara deles. — Pode ficar
despreocupado, porque Maeve está muito satisfeita com o meu trabalho.
— Imagino que você deva estar no período de experiência... Não vai
durar muito.
— Na verdade, eu estou aqui desde o início do ano.
Logan parou com o shot a caminho da boca e me encarou com o
cenho levemente franzido.
— Isso é impossível. Venho aqui quase todo final de semana e nunca
te vi.
— Queria poder dizer o mesmo sobre você — ironizei.
Eu o via sempre que ia até o bar com os amigos, mas, até aquele
momento, não tinha nada contra Logan. Meu ranço surgiu na festa de
aniversário que fui praticamente obrigada a ir, onde todo aquele desastre
aconteceu. Ele bebeu o shot, depois bebeu mais dois, um seguido do outro.
Aquele cara era insano. Como podia beber tanto daquele jeito e ainda ser
um atleta?
— Você está mentindo-do. — Soluçou. Olha aí, a tequila começando
a fazer efeito. — Eu teria te visto e me lembrado de você.
— Sei que sou mesmo difícil de esquecer.
Logan bufou e tentou puxar a garrafa da minha mão. Por sorte, ele
parecia já estar embriagado o suficiente e não teve o reflexo de segurar a
garrafa com mais força quando eu a puxei de volta para mim.
— Me dê isso.
— Você está pagando pelo shot, não pela garrafa.
— Então me venda a... garrafa — soluçou de novo, mas não cedi.
— Por que quer tanto ficar bêbado? Na festa eu até entendi o seu
estado, você estava comemorando com os seus amigos, então, é normal
exagerar na bebida, mas agora eu acho que você está forçando um pouco a
barra.
— Forçando um pouco a barra? Você é o quê? Psicóloga? — Ele riu,
então, pegou a garrafa de uma vez, arrancando o bico dosador e bebendo
direto no gargalo. — Fala a verdade... — Ele se inclinou um pouco sobre o
balcão, quase me fazendo sentir a sua respiração em meu rosto. — Você é
meio fanática por mim, não é? Por isso invadiu o meu quarto... Arrumou
um emprego no bar em que eu sem-sempre frequento... Queria chamar a
minha atenção.
Meu Deus. Ele estava mesmo falando sério? Apesar da embriaguez,
Logan parecia acreditar veementemente naquela teoria maluca, o que me
fez gargalhar.
— Você é patético, sabia?
— E você é uma fã alucinada.
— Se eu fosse uma fã, deixaria agora mesmo de te admirar, porque
tudo o que estou vendo é um cara convencido, idiota e arrogante, que
parece estar bem longe de ser e agir como um atleta de verdade. — O
sorriso de Logan desapareceu e o leve rubor que tomava conta das suas
bochechas, provavelmente causado pelo álcool, deu lugar à palidez. Fiquei
um pouco arrependida. Será que havia pegado pesado demais? — Acho que
agora você já pode me dar isso.
Tomei a garrafa da sua mão e a coloquei de volta na prateleira,
mantendo um olho sobre Logan. Percebi que, de repente, ele pareceu estar
mais do que embriagado. Ele pareceu estar cansado. Seus ombros cederam
e seus olhos encararam o chão por longos minutos, antes de ele se levantar e
colocar algumas notas de dólares sobre o balcão.
— Acho que aqui tem o suficiente.
Logan se afastou sem olhar para trás, cambaleando de leve até a
saída. A porta vai e vem ficou balançando por alguns segundos depois que
ele partiu e o meu coração ficou um pouco apertado. Fui muito dura com
ele? Eu não tinha mentido em nada, ele realmente era um cara convencido e
arrogante, mas, talvez, fosse melhor se eu tivesse guardado aquela opinião
só para mim.
— Ele vai embora dirigindo?
Dei um pulo de susto ao ouvir a voz de Aubrey bem atrás de mim.
Ela estava parada na porta da cozinha, usando um pijama rosa de blusa de
manga comprida e calça e uma pantufa nos pés. Em suas mãos, havia um
pacote de Pringles.
— O que está fazendo acordada a essa hora, Aubrey? São quase
cinco da manhã!
— Perdi o sono e vim pegar um lanchinho. Agora é sério, o jogador
vai embora dirigindo? Ele parece estar muito bêbado.
Virei-me para a pia, observando a pilha de copos que eu ainda
precisava secar. Baixinho, resmunguei:
— Isso não é problema meu.
— Você que serviu a bebida para ele.
— Assim como fiz com todos os outros clientes, Aubrey. Não sou
responsável pelo que eles fazem quando saem daqui.
— É verdade, mas, se você pode evitar uma tragédia, por que ainda
está aqui dentro?
Olhei para minha irmã. Aquela pestinha tinha apenas quatorze anos,
mas a sua língua afiada ainda me meteria em grandes confusões, eu sentia.
— Não me responsabilize por algo que não é culpa minha.
— Só acho que você poderia ajudá-lo. — Seus olhos encontraram os
meus e eu engoli em seco, sentindo um nó em meu estômago. — Não custa
nada.
Respirei fundo, sentindo um pouco de raiva. Que droga! Por que
Aubrey simplesmente não podia estar dormindo, como qualquer
adolescente da sua idade? Joguei o pano de prato em sua direção e ela o
agarrou no ar, sorrindo.
— Se vai me fazer ir atrás daquele idiota, pelo menos seque esses
copos. E não quebre nenhum!
— Sim, senhora. Agora vá!
Maeve não estava no salão, mas fiz um sinal para Cindy, avisando
que daria uma saída bem rápida. Ela ergueu o polegar e eu fui em direção à
porta do bar, torcendo para que Logan não tivesse ido embora, porque agora
estava realmente com um peso na consciência. Christopher, nosso
segurança, estava de prontidão em frente à porta do bar e olhando com
curiosidade para alguém do outro lado da rua. Logo identifiquei quem era.
Logan estava parado em frente a um Audi preto — muito lindo e caro, por
sinal —, tateando os bolsos, provavelmente à procura da chave para
destrancar o carro. Eu atravessei a pista e parei na sua frente, vendo-o dar
um passo para trás.
— Caramba! Quer me ma-matar de susto, porra?
— Não. Eu quero o seu celular.
— O quê? — Ele parou por um momento, me olhando como se eu
tivesse duas cabeças. — Para quê?
— Para ligar para alguém vir te buscar.
Sua risada arrastada me provou que, realmente, Logan não estava em
condições de entrar naquele carro e dirigir.
— Quantos anos você acha... que eu tenho? Quin-quinze?
— Você está bêbado, Logan.
— Foda-se.
— E pode se meter em um acidente — continuei, ignorando sua
teimosia.
— Seria o melhor, pode ter certeza.
— Cala a boca — ordenei, me aproximando. Ele tentou dar um passo
para trás, mas o puxei de volta pelo puxador da sua calça jeans, começando
a tatear em seus bolsos.
— O que está fazendo? Isso é assédio, sabia?
Ignorei e achei, primeiro, a chave do seu carro. Coloquei-a em meu
bolso sem que ele visse e continuei a procurar pelo seu celular, finalmente
encontrando o aparelho no seu bolso traseiro. Era bloqueado, é claro, mas
só precisei posicionar o celular na frente do seu rosto para que a tela fosse
desbloqueada através do reconhecimento facial.
— Me devolve isso. — Ele tentou tirar o aparelho da minha mão,
mas não deixei. — É sério, Valente.
— Valente?
Logan deu de ombros e a sombra de um sorriso apareceu em seus
lábios.
— É que você lembra aquela personagem da Disney... Merida. Só
falta os cachos no cabelo.
Eu não ia sorrir diante daquela bobagem. Não, eu me recusava a dar
aquele gostinho a Logan, mesmo sabendo que ele estava bêbado e que,
provavelmente, sequer lembraria do apelido idiota. Voltei a mexer em seu
celular e fui direto na agenda, vendo que a última ligação tinha sido do seu
pai. Suas palavras durante o telefonema voltaram a minha mente e logo
lembrei que o homem estava em Londres, então, seria inútil ligar para ele.
O segundo contato que apareceu foi de James McHugh, o wide receiver do
Crimson Tide. Como sabia que ele era amigo de Logan, cliquei sobre o seu
nome e esperei a chamada completar.
Caiu a primeira vez, mas eu insisti, finalmente ouvindo a sua voz
meio rouca do outro lado da linha.
— Cara, por que você tá me ligando? São cinco da manhã.
— Oi, hm... É a Avalon na linha.
— Quem?
— Você não me conhece, mas eu estou aqui com o Logan, ele estava
bebendo no bar da Maeve e não está em condições de dirigir. Pode vir
buscá-lo?
— Ah, merda! — Ouvi o barulho de alguma coisa caindo do outro
lado da linha. — Segure ele aí, ok? Estou a caminho.
A ligação ficou muda.
— Espero que você não tenha ligado para o meu pai — Logan disse,
encostando-se no carro e cruzando os braços.
— Pelo que entendi, ele está na Europa, então, não fazia sentido ligar
para ele.
— Eu deveria saber que estou lidando com uma en-enxerida.
— Eu estou te ajudando, Logan.
— Não, você está se metendo onde não é chamada. Eu não preciso da
sua ajuda nem da ajuda de ninguém.
Ele tomou o celular da minha mão e o aparelho caiu. Não me abaixei
para pegar. Ele não era autossuficiente? Pois poderia muito bem cuidar
daquilo. Devagar, ele se abaixou e conseguiu pegar o celular do chão, quase
caindo para frente ao se levantar. Para a sua sorte, eu estava bem ali e
consegui apoiar o seu corpo, empurrando-o de volta para o carro. Minha
nossa, ele era muito pesado.
— Dá para perceber que você não precisa de ajuda, estrelinha
dourada. — Dei um tapinha em seu ombro e me afastei completamente. O
calor do seu corpo pareceu envolver o meu, mas ignorei o arrepio que
aquilo me causou.
— É, não preciso.
Logan cruzou os braços e olhou para longe. Eu fiz o mesmo,
querendo logo que seu amigo chegasse e o levasse para bem longe dali.
Bem longe de mim. O cara era como uma pedra no meu sapato desde
quinta-feira. O que eu tinha feito para merecer aquilo? Longos e torturantes
minutos se passaram até que, ao longe, vi um carro dobrando a esquina. O
farol começou a piscar quando se aproximou de onde estávamos, me
deixando aliviada ao perceber que era James quando parou bem atrás do
carro de Logan. Ele e uma garota de cabelos castanhos, usando um jeans
simples e uma blusa do Alabama saíram quase correndo do veículo.
— Logan! — Ela correu na direção do jogador e o abraçou
rapidamente, antes de dar um tapa forte em seu braço. — Quer me matar de
susto? O que você tem na cabeça?
— Eu? Eu não fi-fiz nada — Logan soluçou, mas percebi que tentou
pelo menos ajeitar um pouco a postura.
— Não fez porque ela não deixou. — James apontou para mim, me
dando um sorriso de desculpa. — Qual é mesmo o seu nome?
— Avalon.
— Nossa, Avalon, muito obrigada por ter impedido o Logan de entrar
nesse carro. — A garota se aproximou de mim e ergueu a mão em minha
direção. — Sou Norah Miller, irmã desse idiota.
Agora tudo fazia sentido. Eles eram mesmo muito parecidos. Apertei
a mão dela e a mão de James em seguida.
— Não precisa agradecer, eu faria isso por qualquer pessoa.
Logan me olhou por um segundo com as pálpebras pesadas por causa
da bebida e se virou para o amigo.
— Posso ir embora agora ou mais alguém vai me impedir como se eu
fosse uma criança?
— Sua irmã tem toda razão, você é mesmo um idiota, cara.
James deu um tapinha na nuca de Logan, mas logo passou o braço do
amigo pelo seu ombro, acenando um agradecimento para mim antes de
levá-lo para o carro. Obriguei-me a parar de olhar para eles dois e peguei a
chave do Audi do quarterback.
— Aqui, consegui confiscar isso antes que ele encontrasse — falei,
entregando a chave para Norah.
— Obrigada, Avalon, de verdade. Você provavelmente salvou a vida
dele hoje. Logan vem passando por uma fase muito... Complicada.
— Não precisa me explicar nada, só, sei lá... Cuida dele.
Quem eu estava pensando que era para dar aquele tipo de conselho
para irmã de Logan? Meu Deus, Avalon! Apesar da minha idiotice, Norah
sorriu.
— Vou continuar fazendo isso. Boa noite, Avalon.
— Boa noite, Norah.
A irmã de Logan ocupou o lugar do motorista e logo partiu, seguindo
o carro de James. Eu ainda fiquei ali por alguns segundos, assimilando tudo
o que havia acontecido pela última hora. De verdade, esperava que Logan
não esbarrasse mais no meu caminho.
Eu podia ouvir a agitação na cozinha conforme descia as escadas. A
risada da minha irmã pareceu formar um eco no cômodo e desmanchou
parte do aperto em meu peito que já havia se tornado o meu velho
companheiro desde a partida da nossa mãe. Gostava de saber que Norah não
sofria tanto como eu, apesar de sempre me perguntar como ela conseguiu
superar tudo tão rapidamente. Encontrei-a sentada em frente à ilha da
cozinha, tomando o café da manhã, enquanto Benjamin e James falavam
alguma merda às seis da manhã.
— Bom dia, campeão! — Ben saudou, erguendo a mão no ar para
que eu batesse. — Bom ver que ressuscitou.
— Depois de passar o domingo inteiro na cama, se ele não tivesse
ressuscitado, eu mesmo levaria o desfibrilador. — James riu, me
perturbando.
— Passei o domingo no quarto, porque não queria ver a cara feia de
vocês.
— Isso me inclui? — Norah perguntou e eu sacudi a cabeça.
— Claro que não. — Dei um beijo em sua testa antes de ir me servir
de ovos mexidos. — Posso saber o que você e o James estavam fazendo
juntos no sábado de madrugada?
Minha irmã parou com o garfo a caminho da boca e olhou para
James, que a encarou de volta, segurando a jarra de café. Benjamin soltou
um assobio muito sugestivo antes de rir baixinho e eu senti o início de uma
dor de cabeça. Não, James não faria aquilo comigo. Ele não tocaria na
minha irmã, certo?
— Pelo que eu me lembre, no sábado de madrugada, nós estávamos
buscando você no Maeve’s — James respondeu, quase cauteloso.
— Antes disso.
— Antes disso eu estava dormindo — Norah disse.
— Com o James? — Talvez eu tenha gritado. O susto que levei foi
tão grande, que a espátula cheia de ovo caiu da minha mão direto no chão.
— O quê? Claro que não! Ficou maluco, cara? Sua irmã também é
como uma irmã para mim.
— Assim como eu vejo o James e o Benjamin como meus irmãos.
— Nossa, gata, isso doeu. Ser seu irmão é um desperdício —
Benjamin massageou o peito, como se estivesse com dor, mas acabou rindo
quando Norah jogou uma uva em sua direção.
— No entanto, mesmo se eu não os visse assim e quisesse ter algo
com qualquer um dos dois, eu poderia, porque sou solteira e maior de idade.
O que significa que você não manda em mim, Logan. — Minha irmã se
levantou, me dando um olhar sério. — Você precisa parar com essa mania
de colocar medo nos caras da faculdade em relação a mim. Isso só atrapalha
a minha vida!
— Atrapalha nada, apenas te ajuda. Sem um idiota no seu caminho,
você pode se concentrar melhor nos estudos.
— Já eu acho o contrário sobre você. Sabe o que falta na sua vida?
Uma namorada! É isso, vou arrumar uma namorada para você.
Eu a encarei por alguns segundos, um pouco chocado, antes de
começar a rir. Não sabia que Norah era tão boa em contar piadas.
— Você pode tentar.
— Vou conseguir, maninho. — Ela se aproximou de mim e deu um
beijo em minha bochecha. — Você sabe que eu sempre consigo o que
quero. Agora limpe essa sujeira no chão.
Sem me dar chance de resposta, Norah se virou e saiu da cozinha
com aquela sua pose de quem realmente conseguia tudo o que queria. Com
o nosso pai aquela sua atitude sempre funcionava, mas, comigo, seria bem
diferente. Eu não precisava e não queria uma namorada. Eu estava na
faculdade, pelo amor de Deus! E não era apenas isso. O que eu poderia
oferecer para uma garota, além de sexo? Provavelmente nada.
— Cara, se eu fosse você, teria medo da sua irmã — Ben resmungou.
— Já pensou se ela decide arrumar uma namorada para nós três?
— Me deixe fora dessa, terminei o meu lance com a Megan não tem
nem dois meses.
— Lance? Vocês estavam juntos há quase um ano — falei, me
abaixando para pegar a espátula do chão. Onde ficava a vassoura naquela
casa?
— Não quero dar tanta importância para isso...
— A gente já sabe que você gostava dela, James — Benjamin disse,
apertando o ombro do nosso amigo. — Está tudo bem admitir, cara.
— Claro que eu gostava dela, só que não deu certo, bola pra frente.
— É assim que se fala. — Senti os olhos de Benjamin em cima de
mim quando abri a despensa. — O que está fazendo aí, Logan?
— Tentando achar a porcaria da vassoura.
Ele e James riram da minha cara e eu ergui o dedo na direção dos
dois.
— Seu riquinho idiota, a vassoura está na área de serviço. Eu pego
para você, mas é você quem vai varrer — disse James. Antes de passar por
mim, no entanto, ele apertou o meu ombro, como Benjamin fez com ele. —
Você sabe que eu nunca olharia para a sua irmã de outro jeito, não sabe?
No fundo, eu sabia que sim. James e Benjamin poderiam pegar a UA
inteira, mas não tocariam na minha irmã. Não apenas por causa de mim,
mas porque os dois a respeitavam e, provavelmente, a enxergavam como
uma irmãzinha.
— Sim, eu sei, mas não custa nada ficar em cima de vocês.
— Deixa de ser idiota, cara. Se eu fosse pegar alguém, seria a garota
que te ajudou no sábado. Ela é bem gostosa.
— Quem? A Valente?
Mas que porra era aquela? James a tinha visto apenas uma vez!
Como podia falar aquilo na minha cara?
— Valente? Não foi esse o nome que ela me disse. — Ele coçou
levemente o queixo. — Qual era mesmo o nome dela?
— Vocês nem sabem o nome da garota? — Ben nos encarou e
começou a rir enquanto sacudia a sua garrafa com um shake de
suplementos. — Meus amigos são mesmo dois idiotas. Tem uma gostosa na
frente deles e não conseguem gravar o nome dela. Por que me deixou ser
amigo de dois babacas assim, Deus?
— Quer saber? Não importa — falei, indo em direção à pia para
pegar uma nova espátula. Meu estômago roncava de fome. — A garota tem
um humor do cão e não é nem um pouco simpática. Nenhum de vocês
gostaria dela.
— E você gosta dela? — Ben perguntou, arqueando uma
sobrancelha.
— Lógico que não. Qual foi a parte do “ela não é simpática” que
você não entendeu?
— James disse que ela era gostosa — Ben deu de ombros, como se
aquilo fosse o suficiente.
— Ela é esquisita, se veste de forma estranha — respondi.
E era gostosa. No sábado, poderia estar usando uma roupa larga e
que revelava pouca coisa, mas na festa, ela estava com uma saia curta que
moldava muito bem a bunda durinha. E eu não sabia por que aquilo havia
ficado gravado em minha mente, já que nem fui com a cara dela.
— Eu achei que ela é linda pra caralho — disse James, ainda parado
no meio da cozinha. — Talvez eu dê uma passada no Maeve’s qualquer dia
desses, só para ser atendido por ela. Sei que trabalha no balcão, já a vi
alguma vezes por lá.
Como James a tinha visto e eu não? E por que queria tanto chegar na
garota, porra?!
— Acho que você encontra coisa melhor na faculdade.
Coisa melhor. Puta merda. Fechei os olhos por um segundo, me
sentindo realmente um idiota por ter acabado de falar algo como aquilo.
— Agora você foi um babaca, cara — Ben resmungou.
— É, foi mesmo. Tudo bem não ter ido com a cara da menina, mas
ela te ajudou no sábado, cuidou de você enquanto sua irmã e eu não
estávamos lá. Acho que você deveria engolir esse orgulho e ir falar com ela.
— Falar com ela? — Meu coração deu uma disparada meio insana no
peito. — Falar o que com ela?
— Como o quê? Você tem que agradecer, Logan.
— Agradecer? Eu não pedi a ajuda dela.
— Mas ela te ajudou mesmo assim. — Benjamin parou ao meu lado,
colocando a garrafa vazia dentro da pia. — E você tem mesmo que
agradecer por isso.
— Ou, se quiser, eu posso fazer isso por você. — James sorriu e eu
senti um nó se formar em meu estômago. — Seria a desculpa perfeita para
tentar puxar assunto com ela.
— Não. — Eu sequer pensei, só deixei a palavra escapar pela minha
boca. O olhar dos dois sobre mim me deixou um pouco nervoso, mas não
demonstrei. — Não precisa chegar perto dela, eu vou fazer isso.
— Vai mesmo?
— Sim.
— Quando? — James perguntou. — Porque, se for para ficar
enrolando, pode deixar que eu assumo a missão.
— Tenho certeza de que sim — ironizei. — Mas a Valente é assunto
meu, então, eu vou resolver.
— Assunto seu? Interessante. — Ben sorriu para mim. — Agora vai
limpar o chão. Estou ansioso para ver você com uma vassoura na mão.
— Eu também. Já volto!
James saiu em disparada e eu respirei fundo. Valente é assunto meu.
Olha o tipo de coisa que aquela garota me fazia falar na frente dos meus
amigos. Algo me dizia que, enquanto eu não resolvesse aquilo, James e
Benjamin nunca mais me deixariam em paz.

Cursar Direito foi uma escolha do Logan de dezoito anos, que ainda
no final do Ensino Médio, tinha uma boa relação com o pai e achava que
poderia conciliar o futebol com o futuro que Logan Miller II queria que ele
traçasse. No fundo, sempre soube que nunca esteve nos meus planos me
tornar um advogado e assumir os negócios da minha família, mas eu tinha o
sonho mirabolante de que meu pai entenderia o meu lado e me apoiaria
quando eu contasse que queria entrar para um time profissional depois que
me formasse.
Logicamente, ele não entendeu e tudo foi por água abaixo quando
descobriu que eu havia entrado para o time de futebol da faculdade.
Meu pai entendeu rapidamente o meu plano e a nossa relação
começou a se desgastar. Ele era um homem difícil, apesar de sempre ter
sido um bom pai e um bom marido, e tinha o costume de sempre dar a
última palavra, só que eu já não era mais um garoto que abaixava a cabeça e
satisfazia as suas vontades.
No entanto, aqui estava eu, entrando na sala de aula, ainda
matriculado no curso que era o seu sonho, só que não por causa dele. Eu
estava ali cumprindo a última promessa que fiz para a minha mãe. Ela me
entendia, mas também entendia o meu pai e havia feito dos últimos meses
da sua vida, a missão de tentar reconstruir o nosso relacionamento de pai e
filho. De um lado, ela conseguiu fazer com que ele respeitasse a minha
paixão pelo futebol e, do outro, pediu para que eu não trocasse o curso e
concluísse a faculdade de Direito. Ela já não estava mais aqui para me ver
pegar o diploma, mas eu o faria por ela, porque a amava e queria que
sentisse ao menos um pouco de orgulho de mim.
As salas do prédio de Direito da UA eram bem clássicas, todas no
estilo oval, com as fileiras de carteiras uma acima da outra. Eu me sentei
em uma das últimas e abri o meu laptop, relendo as minhas anotações da
última aula de Mediação de Conflitos e percebendo que não compareci na
semana passada. Eu era um aluno aplicado, apesar de não gostar do meu
curso, e sempre tirava boas notas, não apenas porque era uma exigência
acadêmica para que eu permanecesse no time, mas porque eu me dedicava a
ser sempre o melhor no que eu fazia.
Aquele período, no entanto, vinha sendo difícil para mim. Os
motivos eram muitos, mas percebi que, se eu queria pelo menos permanecer
no time, precisaria me esforçar mais.
A sala foi enchendo gradativamente, mas os alunos logo se calaram
quando a Sra. O’Born entrou. Ela sempre se vestia formalmente com um
terninho e usava o cabelo preso em um coque apertado no topo da cabeça,
mas era uma professora tranquila e solícita. Logo pediu para que
abríssemos o e-mail que nos enviou durante o final de semana e iniciou a
aula.
Os primeiros trinta minutos foram dedicados à explicação sobre a
matéria, que me rendeu algumas páginas de anotações no Word e algumas
dúvidas que gostaria de tirar com ela no final da aula, já que eu havia
faltado semana passada. Então, a Sra. O’Born começou a falar sobre o
projeto daquele semestre para a sua matéria.
— Vocês vão se dividir em duplas... — Aquilo era muito bom. Meu
olhar esbarrou com o de Frederick Johnson, um colega de classe, com quem
eu havia feito um trabalho no último período e ele acenou para mim.
Poderíamos formar uma dupla de novo. — Previamente sorteadas por mim.
Exclua tudo o que pensei. Aquilo não era nada bom. Eu geralmente
não tinha sorte com aquele tipo de coisa e sempre caía com algum aluno
irresponsável, que deixava tudo nas minhas costas.
— E terão que apresentar um seminário ao final do período, partir do
estudo de caso que também será sorteado. O objetivo deste trabalho, é ver
na prática como vocês mediariam conflitos no âmbito...
Tirei os óculos que precisava usar para leitura e cocei os olhos, já
pensando em como aquilo poderia ser um desastre. Torci para que a minha
dupla fosse Frederick. Eu poderia não ter sorte, mas talvez ele tivesse sorte
suficiente por nós dois.
— Eu já tenho aqui as duplas formadas e seus respectivos temas.
Estão preparados? É sempre um prazer ver como vocês amam esse tipo de
trabalho. — A professora, que devia estar na faixa dos cinquenta anos,
ainda teve a capacidade de brincar com aquilo.
Pelo menos os alunos foram sinceros ao soltarem resmungos
desanimados. Ela começou a falar o nome das duplas e fui ficando com
esperança ao ver que nem o meu nome nem o nome de Frederick foi citado.
Seria possível que o destino fosse tão bonzinho comigo e me colocasse para
fazer o trabalho com ele?
— Frederick Johnson e... Melaine Roberts.
Pelo visto, não.
Vi quando uma menina, provavelmente a tal Melaine, acenou para
Frederick, que sorriu meio bobo e acenou de volta. A garota era muito
bonita e pareceu deixar Fred meio embasbacado, porque ele não conseguiu
tirar os olhos de cima dela depois daquele aceno. Que traidor! Ele sequer
me deu um olhar de pesar por não poder fazer o trabalho comigo.
— Logan Miller III e... — Voltei a olhar para a professora, querendo
que acabasse logo com aquele suspense. Que eu fosse sorteado com um
aluno inteligente e responsável. Era só isso que eu queria. — Avalon Banks.
Quem diabos era Avalon Banks?
Estiquei o pescoço à procura da minha dupla, mas ninguém olhou
para mim de volta. Era impossível que a garota não soubesse quem eu era,
portanto, comecei a acreditar que, ou ela tinha ido ao banheiro justamente
na hora da revelação das duplas, ou não tinha comparecido à aula. De
qualquer forma, as duas opções só me provaram que, mais uma vez, eu teria
que me desdobrar para fazer um trabalho em dupla sozinho, pois a tal
Avalon provavelmente era uma aluna indisciplinada.
E você é o que, Logan? Esqueceu que não compareceu à aula na
semana passada?
Expulsei a voz incriminatória da minha cabeça e anotei o nome da
garota em meu laptop para não esquecer. Acabei perdendo o tema do
trabalho, mas perguntaria novamente à professora no final da aula. Mais
duplas foram formadas e logo a Sra. O’Born permitiu que usássemos os
últimos minutos de aula para que as duplas pudessem se reunir e começar a
debater sobre o trabalho.
Eu fiquei sentado em meu lugar, porque a minha dupla não estava em
sala. Pensei em sair, mas decidi que falaria antes com a professora e
perguntaria se poderia me passar o e-mail da garota, para que eu pudesse
explicar que teríamos que fazer um trabalho juntos. Estava terminando de
guardar o laptop em minha mochila, quando senti alguém se acomodar ao
meu lado e olhar fixamente para mim. Curioso, ergui a cabeça e, então, eu a
vi. De novo.
Bem ali, ao meu lado, com um coque displicente, vestindo uma blusa
preta que deixava uma parte da barriga de fora, calça jeans e um casaco
xadrez, estava Valente, ou melhor, a invasora de quartos e bartender do
Maeve’s.
— Você só pode estar de brincadeira com a minha cara —
resmunguei, deixando a minha mochila na cadeira desocupada ao meu lado.
— Vai me perseguir até mesmo na sala de aula?
— Acredite em mim, a última coisa que eu queria, era ter que
esbarrar com você de novo, mas a vida parece me odiar. — Ela me deu um
sorriso sardônico com os lábios pintados de vinho. Percebi que a invasora
não usava muita maquiagem, mas sempre estava com um batom forte nos
lábios. — Vamos ter que fazer esse trabalho juntos.
— O quê? Não. Eu vou fazer o trabalho com uma tal de Avalon
Banks.
Valente me olhou como se eu fosse um idiota e comecei a acreditar
que eu realmente era quando ela me estendeu a mão e disse com uma voz
ácida:
— Prazer, Avalon Banks.
Diga-me uma coisa, Deus... Eu sou uma piada para o Senhor?
Eu deveria ser, porque aquela era a única explicação plausível para o
que havia acabado de acontecer. Eu literalmente me afundei na carteira
quando a Sra. O’Born disse meu nome em voz alta logo após falar o nome
completo de Logan e fiquei daquele jeito por longos minutos, torcendo para
que algum tipo de milagre acontecesse. Talvez, a professora se desse conta
de que havia cometido um equívoco e se retratasse. Melhor ainda, ela
poderia falar que anotou errado a ordem do sorteio e que eu poderia fazer
aquele trabalho com qualquer pessoa, exceto o quarterback que amava
beber tequila às quatro da manhã.
Obviamente, nada disso aconteceu. Minha mãe costumava falar que
sempre havia um propósito maior para tudo o que acontecia em nossas
vidas. Em sua opinião, nada era por acaso. Comecei a acreditar que o
propósito maior, no meu caso, era só me fazer passar raiva a cada vez que
eu era obrigada a esbarrar com Logan. Agora, eu teria que conviver com
ele, pelo menos por um tempo, desperdiçando algumas horas do meu dia
em sua presença irritante.
Encarei-o ainda com a mão estendida em sua direção e vendo o
choque em sua expressão. Ele olhou em meus olhos, encarou a minha mão,
então, voltou a me olhar nos olhos de novo.
— Essa brincadeira não é engraçada, Valente.
— Acha mesmo que entre as coisas incríveis que eu poderia estar
fazendo neste exato momento, eu estaria aqui, brincando com você?
Logan fechou a cara e eu recolhi a minha mão, cruzando os braços e
esperando que a ficha dele caísse logo de uma vez.
— Não é possível, sinceramente... — O quarterback sacudiu a
cabeça, trincando os dentes. Os ossos da sua mandíbula ficaram aparentes.
— Vamos falar com a Sra. O’Born. Talvez ela possa abrir uma exceção e
mudar a nossa dupla.
— Logan, nós não estamos no jardim de infância! Vamos encarar
essa situação como adultos e tentar não matar um ao outro.
— Isso só prova a minha teoria de que você é, sim, fanática por mim.
Deve estar adorando essa situação, não é? — provocou, me dando um
sorrisinho de lado que o deixou muito bonito. O que não diminuía o fato de
que ele era um idiota, eu precisava me lembrar.
— Muito! Aliás, a primeira coisa que eu fiz hoje ao acordar, foi
dobrar os meus joelhos e pedir a Deus para que Ele me desse uma chance
de ficar perto de você. Afinal, com tanta coisa boa que eu poderia pedir,
com certeza eu perderia o meu tempo pedindo isso.
— Você é muito debochada!
— E você precisa parar de achar que o mundo gira em torno do seu
umbigo rico!
— Espero que vocês estejam com os ânimos alterados dessa forma
porque estão entusiasmados com o trabalho.
A voz da Sra. O’Born atravessou com muita clareza os meus
ouvidos. Muita clareza mesmo. Só então eu percebi que os alunos estavam
saindo da sala e que apenas Logan e eu estávamos sentados, discutindo
como dois adolescentes com os hormônios agitados. Minhas bochechas
ficaram quentes diante do olhar curioso da professora.
— Sim, Sra. O’Born. — Logan limpou a garganta e se levantou. — É
exatamente por causa disso.
— Ótimo! Estou ansiosa para ver o projeto de vocês, afinal, são
alunos com uma das maiores médias do curso. Tenho certeza de que vão
fazer um ótimo trabalho. Até semana que vem.
A professora acenou para nós dois e saiu da sala. Aquela informação
me surpreendeu. Logan realmente tirava boas notas? Achei que eram
apenas boatos que ele fazia questão de que corressem pelo campus. O
jogador começou a se afastar de mim, descendo os degraus e parecendo se
esquecer de que estávamos no meio de uma discussão.
— Logan, espera! Nós ainda não terminamos!
— Ashley...
— Meu nome é Avalon! — Repeti, finalmente parando ao seu lado.
Era meio injusto ter que competir com os dois metros de pernas que ele
tinha. Logan fez um gesto com a mão, como se o meu nome fosse
completamente desinteressante, e olhou rapidamente o Apple Watch em seu
pulso.
— Eu tenho uma aula em exatos três minutos e estou apertado para
mijar, então, vamos fazer o seguinte...
— Você é um porco — resmunguei.
— Obrigado pelo elogio. — O idiota me deu um sorrisinho insolente,
mas muito bonito. Eu realmente tinha que parar de pensar na beleza dele. —
Tenho uma hora livre depois das aulas antes do treino com o time, vamos
nos encontrar na Bounds Law Libary[5] e discutir um pouco mais sobre o
trabalho.
Discutir sobre o trabalho. Certo, parecia um ótimo plano para mim.
— Tudo bem.
— Não se atrase! — Ele começou a se afastar, andando de costas
para poder continuar me olhando. — Eu realmente não vou poder te
esperar, Valente. Sou o quarterback do time, você sabe...
O idiota piscou para mim e saiu da sala, me deixando sozinha. Usei
aqueles segundos para olhar para o teto e pensar em Deus. Pedi para que
Ele aliviasse um pouco a minha situação, porque não sabia como eu iria
passar as próximas semanas ao lado de Logan sem querer trucidar aquele
pescoço grosso que ele tinha.

Eu estava há pelo menos meia hora sentada na biblioteca esperando


pela estrelinha dourada do Crimson Tide. Tive tempo de sobra para terminar
o lanche que havia comprado no meio do caminho, ler um capítulo do livro
que o professor de Direito Penal havia passado e trocar mensagens com a
minha irmã que, ao contrário de mim, não tinha o menor problema com a
sua dupla da escola. Ela estava na casa de uma amiga naquele momento,
fazendo um trabalho de matemática.

Aubrey: Foi realmente um sorteio ou a professora percebeu que


vocês não se gostam e resolveu se divertir um pouquinho ao juntar vocês
dois?
Eu: Logan e eu nunca nos esbarramos na aula da Sra. O’Born.
Acredito que ele nem sabia, até o momento em que me sentei ao seu lado,
que eu estudava na mesma turma que ele.

Nunca iria admitir para ninguém, mas o modo como Logan me olhou
quando me sentei ao seu lado me afetou um pouco. Antes da situação em
sua casa e no bar, eu nem ao menos me lembrava que fazíamos aquela
matéria juntos, mas pensei que ele iria me ver quando entrei na sala naquela
manhã. Eu o vi, infelizmente. Ele tinha um lugar cativo nos fundos da sala,
sempre em uma das carteiras mais altas, por isso, meus olhos acabaram
indo naquela direção automaticamente. Logan estava digitando algo no
laptop naquele momento, mas achei que uma hora olharia para mim e iria
me reconhecer.
Não sabia por que aquilo havia se tornado uma questão para mim. Eu
sequer gostava do quarterback! O fato de ele não saber que estudávamos
juntos deveria ser uma benção, não me deixar incomodada.

Aubrey: Então eu acho que é o destino. Talvez, vocês devessem ficar


juntos.
Eu: Você está lendo muita fanfic, Aubrey!
Aubrey: Pode ser. Só queria deixar claro que enemies to lovers é
uma das minhas tropes favoritas!
Eu: Sinto em te decepcionar, mas você vai ter que continuar a se
agarrar à ficção, porque algo assim não vai se tornar realidade, pelo menos
não para mim.

— Avalon, finalmente te encontrei! — Mia parou na frente da mesa


em que eu estava sentada e puxou uma cadeira. Despedi-me de Aubrey
rapidamente e guardei meu celular na bolsa, dando um olhar culpado para
ela.
— Mia, me desculpa. Sei que saí às pressas da festa e nem consegui
me despedir.
— Você poderia ter pelo menos me mandado uma mensagem.
— Sim, eu sei. Me perdoe.
Mia sacudiu a cabeça e sorriu para mim, parecendo não estar
chateada pelo meu sumiço.
— Está tudo bem, esqueça isso. Fiquei sabendo que você vai fazer
um trabalho com Logan Miller! Sua sortuda! — Ela deu um tapinha em
minha mão e eu me sobressaltei.
— Como ficou sabendo disso?
— Tudo o que acontece com os jogadores de futebol se torna notícia,
garota! Uma menina da turma de vocês contou para uma garota, que contou
para outra, que contou para outra e então... Todo mundo ficou sabendo!
Fechei os olhos por um segundo, sem acreditar naquilo. O que iria
acontecer agora? Todo mundo ficaria de olho em mim para ver se eu ia cair
na cama do quarterback do Crimson Tide?
— Mas não se preocupe com essas fofocas, Avalon. Daqui a pouco
acontece alguma coisa mais interessante e isso vai ser notícia velha — Mia
deve ter visto a preocupação em meu rosto, pois logo me tranquilizou.
— Eu só não quero que as pessoas comecem a achar que eu sou uma
nova conquista de Logan.
— Ah, mas eu acho que isso não vai acontecer, porque Logan acabou
de ir embora com uma loira no banco do carona do carro.
— O quê? — Eu me levantei no susto, fazendo Mia se levantar
também com os olhos arregalados. — Você tem certeza?
— Claro que tenho. Eu estava longe, mas reconheceria Logan de
qualquer lugar do mundo. — Mia me olhou um pouco desconfiada. — Por
quê? Não me diga que está com ciúmes, Avalon!
— Eu? Com ciúmes daquele idiota? É claro que não! — Comecei a
recolher as minhas coisas, sentindo minhas mãos tremerem de raiva. — Ele
marcou comigo aqui para discutirmos sobre o trabalho e simplesmente me
deu um bolo! Não acredito nisso!
Talvez, pedir para que a Sra. O’Born nos colocasse para fazer o
trabalho com outra pessoa não fosse uma opção tão ruim assim. Eu preferia
que ela me visse como uma aluna imatura que não sabia lidar com desafios,
do que ter que desperdiçar mais um segundo do meu tempo com Logan.
— Ele pode ter se esquecido, Avalon...
— Claro que se esqueceu, ele tinha coisas mais importantes para
fazer.
Como levar a menina loira para a sua casa e passar aquela hora livre
com ela em seu quarto. Filho da mãe irresponsável!
— Tenho certeza de que vocês vão se resolver — Mia disse,
passando a mão pelo meu braço. — Agora eu preciso procurar logo o livro
que o professor passou na aula de hoje, antes que alguém consiga pegá-lo
antes de mim. Se precisar de qualquer coisa, é só me mandar uma
mensagem.
Eu concordei com a cabeça e a abracei meio que no automático, logo
me afastando dali e indo embora. Se não visse Logan no dia seguinte, eu
iria atrás da Sra. O’Born e insistiria para que me mudasse de dupla.

Logan faltou dois dias consecutivos.


Eu devia ter levado a minha decisão adiante sobre conversar com a
professora, mas toda vez que chegava perto da sala dela, eu me afastava.
Não sabia o porquê, mas algo parecia me pedir cautela e um pouco de
paciência. A única vez que tomei uma decisão no impulso acabou me
colocando em uma enrascada que, até agora, eu não tinha conseguido me
livrar, por isso, decidi ouvir a minha intuição.
Descobri que Logan estava na faculdade completamente por acaso. A
última aula havia terminado e eu fui ao banheiro, pois estava apertada. Duas
meninas conversavam em frente ao espelho e, enquanto eu usava o
reservado, as escutei dizendo que Logan estava lindo naquela manhã
usando uma camisa azul que marcava os músculos dos braços. Foi o
suficiente para que eu tomasse a decisão de ir atrás dele, mesmo sem ter
ideia de onde o jogador poderia estar.
No final, elas mesmas me deram a resposta ao dizer que ele estava a
caminho do centro de treinamento. Foi para lá que me dirigi assim que saí
do banheiro. Eu nunca tinha ido para aquele lado do campus, por isso,
fiquei assustada com a estrutura gigantesca. Havia um segurança em frente
aos portões do complexo e ele caminhou em minha direção quando me
aproximei.
— Hoje o treino é fechado para o público — disse antes mesmo que
eu abrisse a boca.
Eu poderia ser leiga sobre futebol, mas sabia o que “treino fechado
para o público” significava. Precisava arrumar um jeito de entrar naquele
lugar.
— Eu sei disso. Sou amiga de Norah Miller, irmã do Logan, e ela me
pediu para vir aqui dar um recado para ele.
O segurança me fitou com certa desconfiança e eu achei que falaria
um não bem grande na minha cara, no entanto, seus olhos logo se
arregalaram e algo mudou em sua expressão.
— Oh, é sobre o que aconteceu na segunda-feira?
O que havia acontecido na segunda-feira? Eu não fazia ideia, mas me
aproveitei daquilo, confirmando a cabeça com entusiasmo.
— Sim, é sobre isso! Eu posso falar com ele? Prometo que será bem
rápido.
— Ok, você tem dez minutos. Siga as placas de instruções e logo
você chegará ao campo.
— Muito obrigada!
Passei pelo segurança e mal prestei atenção em nada pelo caminho,
seguindo as placas, como o homem vestido de terno me aconselhou a fazer.
Depois do que pareceram horas, cheguei bem no momento em que o
treinador — ou técnico, eu não sabia realmente qual era o termo certo —
estava conversando em particular com Logan no canto do campo, perto dos
bancos. Percebi que o resto do time estava no meio de um treinamento
pesado, mas Logan era o único jogador que não estava entre eles.
Esperei um pouco, pensando que talvez fosse melhor eu ir embora.
Poderia falar com Logan depois, apesar de ter a certeza de que seria difícil
encontrar com ele pelo campus antes da próxima aula da Sra. O’Born. Olhei
no relógio em meu celular. Eu poderia esperar um pouco mais ou, no caso,
ficar ali até o segurança me expulsar.
O treinador do time pareceu querer me poupar daquele vexame, pois
deu dois tapinhas no ombro de Logan e se afastou. Aproveitei aquele
momento para correr para perto do jogador, antes que ele se juntasse ao
time. Para a minha surpresa, ao invés de ir até os meninos vestidos de
vermelho e branco, Logan se sentou em um dos bancos e cruzou os braços,
observando tudo de longe. Ele se sobressaltou quando entrei em seu campo
de visão.
— O que está fazendo aqui? — Se levantou, dando uma olhada a
nossa volta. — Ou melhor, como conseguiu entrar aqui? O treino de hoje é
fechado.
— Mamei o segurança. — Passar os dedos em volta dos meus lábios
foi só um adicional para ver se o quarterback mauricinho ficaria chocado.
Contive um sorriso enquanto Logan observava o meu gesto obsceno
e engolia em seco. Homens. Por que era sempre tão fácil mexer com eles?
Ele limpou a garganta.
— Deve ter sido um boquete e tanto para ele te deixar entrar.
— Eu sou muito boa em tudo o que faço.
— Fico lisonjeado por eu valer tanto esforço da sua parte. — O
sorriso que ele me deu foi quase um insulto. — O que você quer?
O treinador soprou um apito e depois gritou, dando ordens e
mandando que acelerassem na corrida. Eu os observei de longe e a
curiosidade falou mais alto:
— Por que você está aqui ao invés de estar ali? — Apontei para o
campo com a cabeça.
— Por que você está aqui ao invés de estar, sei lá, enchendo o saco
de outra pessoa?
Jesus Cristo, aquele riquinho era mesmo um ser humano intragável.
— Estou aqui porque quero saber quando vamos poder nos reunir
para discutir sobre o seminário.
— Está falando sério? Veio atrapalhar o meu treino por causa disso?
Dei uma olhada para ele demoradamente, mal conseguindo esconder
meu deboche.
— Você parece estar bem desocupado no momento. Não, melhor
ainda… Parece estar de castigo.
Dessa vez foi o meu sorriso que pareceu ter o insultado.
— Dá o fora daqui, Ashley.
— É Avalon! E, acredite, eu preferia estar em qualquer outro lugar
agora, mas, ao contrário de você, sou uma aluna exemplar, portanto, cruzei
a porcaria desse campus inteiro para ver se eu encontrava Vossa Majestade,
já que você me deu um bolo na segunda-feira e mal parece frequentar as
aulas. Não vou sair daqui até termos um encontro marcado, Logan!
— Um encontro? — Ele deu um sorrisinho e se aproximou um pouco
de mim. — Sempre soube que toda essa… animosidade, era desejo
reprimido, Valente.
Ah, meu Deus. Aquele mimadinho só podia estar de brincadeira com
a minha cara. A piada que contou foi tão boa, que eu não pude conter a
risada.
— Você não deveria ser atleta, muito menos advogado. Ficaria cinco
vezes mais rico se fosse comediante. — Dei um tapinha em seu ombro,
fazendo-o voltar a dar um passo para trás. — Você entendeu muito bem o
que eu quis dizer. E o meu nome é Avalon! Acredito que você não tenha
nenhum problema de perda de memória recente.
Ele revirou os olhos, como se estivesse entediado.
— Que seja. Me dê o seu celular.
— O quê? Pra quê?
— Para que eu possa anotar o meu número, assim, só vou precisar ter
o desprazer de te encontrar pessoalmente quando for realmente necessário.
Aquela era a primeira vez que o riquinho tinha uma boa ideia na
minha frente. Dei meu celular para ele e o observei digitar rapidamente o
seu número na minha agenda. Ao longe, vi o segurança aparecer pelo lugar
de onde entrei, parecendo procurar por alguém. Assim que seus olhos me
encontraram, percebi que era atrás de mim que ele estava.
— Parece que seu boquete não é tão bom assim, já que John está à
sua procura — disse Logan, me devolvendo o celular.
— Ou talvez ele esteja viciado. Que pena que você nunca vai
descobrir.
— Prefiro que meu pau caia antes de você colocar a boca nele.
— Nossa, mas acho que agora eu quero muito te chupar. Vai ser
ótimo ver você perdendo esse negocinho que carrega no meio das pernas.
— Negocinho? — Logan riu, cheio de si. — Valente, eu já estive nu
na sua frente e você pareceu gostar bastante do que viu.
— Essa é a sua memória de bêbado tentando te enganar, estrelinha
dourada. Eu mal consigo me lembrar do que vi, isso mostra como eu fiquei
impressionada com todo o seu tamanho. — Distanciei-me de Logan, antes
que o segurança viesse me buscar à força e o quarterback percebesse que,
daquela vez, eu estava mesmo mentindo. — Vou te mandar uma mensagem
para marcarmos a nossa primeira reunião sobre o trabalho. Se você sumir,
Logan terceiro, eu bato lá no castelo onde você mora e te arranco à força de
lá de dentro.
O babaca me soprou um beijo cheio de deboche e eu saí logo dali,
agradecendo ao segurança pelo favor. Assim que deixei o campo, peguei o
meu celular para enviar um oi para o jogador mimado e pedir para que
salvasse o meu número. Uma careta surgiu em meu rosto assim que vi o
modo como salvou o seu contato.
“Sua Majestade”.
Mudei para Babaca de Uniforme.
Aquele seria o seu nome por enquanto. Em breve, eu arrumaria um
insulto melhor.
Eu: Salvou o meu número?
Eu: Quando vamos poder nos encontrar? Hoje é o meu dia de folga e
tenho a noite livre.
Deixei meu celular de lado sobre o sofá depois de reler a mensagem
que havia enviado para Logan há pouco mais de uma hora. Ele não havia
respondido ao “oi” que enviei para ele quando deixei o centro de
treinamento mais cedo, mas uma hora teria que responder às duas últimas
mensagens que enviei.
— Fiz pipoca! — Aubrey anunciou, sentando-se ao meu lado.
Ela nem precisava avisar, pois o cheiro de pipoca já tomava conta do
apartamento pequeno e fazia a minha barriga roncar. Enchi a mão e soltei
um gemido conforme comecei a comer.
— Seus dotes culinários estão cada vez melhores — falei com a boca
cheia, vendo-a revirar os olhos.
— Vai ficar me zoando até quando por eu ter queimado aquele
miojo?
— Você nem deveria estar comendo miojo, para começar. Aquilo é
sódio puro.
— Também é cancerígeno — complementou.
— E não tem nutriente algum.
— Mesmo assim, é uma delícia. Uma pena que eu não tenha
conseguido comer, de fato.
— Certeza de que foi a mamãe que te fez esquecer. Achou mesmo
que ela não estaria de olho em você lá no céu?
Aubrey me deu um sorriso meio emocionado, afrouxando o aperto
em meu peito. Ainda doía muito a perda da nossa mãe, mesmo já tendo se
passado três anos, mas pelo menos conseguíamos falar sobre aquilo sem
nos debulhar em lágrimas toda hora. O peso daquela perda tinha se tornado
um pouco mais leve, com certeza pelo fato de termos uma a outra. O
melhor presente que minha mãe podia ter me dado, estava bem ali ao meu
lado, no formato de uma adolescente sonhadora, que era péssima na
cozinha, mas uma romântica incurável.
— Isso é injusto. Como vou esconder algo dela?
— É simples, você não vai esconder. Game over para você, pirralha!
— Ela tentou se afastar de mim, mas baguncei seu cabelo mesmo assim.
— Para com isso, sua chata! Por que você não desce e pergunta se a
Maeve precisa de ajuda? Não quero ficar te aturando pelo resto da noite.
— Estou de folga, ok? Sei que não parece, mas não sou uma máquina
— falei, pegando mais um pouco de pipoca. Aubrey acabou colocando o
pote em minhas mãos e se levantou.
— Então coloca uma série pra gente assistir, enquanto isso, vou fazer
mais um pouco de pipoca para mim.
— Ok, vou escolher, mas não será nada muito meloso!
— Vai ser meloso sim! Você precisa assistir mais conteúdos de
romance para se inspirar, Ava! Está na hora de desencalhar. — Aubrey
praticamente gritou, mesmo que a sala e a cozinha fossem praticamente um
cômodo só, com apenas um balcão dividindo-os.
Eu não me dei ao trabalho de responder, pois não adiantaria de nada.
Segundo Aubrey, eu deveria estar aproveitando a faculdade o máximo
possível, agora que, na visão dela, eu podia, mas minha irmã não sabia de
tudo sobre a minha vida. As partes mais pesadas eu sempre escondia dela,
porque Aubrey já tinha suportado muita coisa nos últimos anos. Queria que
ela continuasse a acreditar que estávamos livres no Alabama, longe de
qualquer mal.
Acabei escolhendo uma série na Netflix que continha um pouco de
romance para satisfazer a minha irmã, mas não dei play, esperando por ela.
Minha pipoca estava quase acabando quando ouvi meu celular vibrar em
cima do sofá. Quase ignorei, pensando ser algum e-mail com spam — que
era o que eu mais recebia —, mas logo me lembrei da mensagem que enviei
a Logan e deixei a pipoca de lado, limpando a mão em meu jeans para me
livrar da manteiga e poder pegar o aparelho.
Meu coração bateu um pouco mais rápido e logo acelerou
completamente. Havia mesmo uma mensagem ali, mas não era de Logan.

Número desconhecido: Passando apenas para lembrar que o seu


prazo está acabando.

Quase deixei o celular cair no chão, mas consegui bloquear a tela a


tempo e esconder a mensagem da minha irmã quando ela voltou para o
sofá. Percebi que estava falando alguma coisa, mas não ouvi uma palavra
sequer.
Seu prazo está acabando.
— Ava? Está me ouvindo?
Meu prazo estava acabando e eu sabia. Só queria fingir por mais um
tempo que aquele problema não existia na minha vida.
— Desculpa, estava distraída. O que você disse?
— Perguntei se quer pipoca doce. Vi uma receita no Pinterest e
queria testar. Parece ser bem fácil.
— Para você colocar fogo no apartamento enquanto derrete o açúcar?
Não, obrigada. — Consegui brincar. Aubrey caiu direitinho, pois logo
pegou uma almofada em cima do sofá e jogou em minha direção.
— Irritante! Não vou te oferecer mais nada de hoje em diante.
Ela voltou para a cozinha enquanto eu forçava uma risada, que
morreu assim que minha irmã sumiu das minhas vistas. Geralmente, eu
conseguia agir com tranquilidade na sua frente, mas estava cogitando
inventar uma desculpa e me trancar no quarto para que Aubrey não visse
que eu estava prestes a surtar. Ela voltou com um novo pote cheio de pipoca
e despejou um pouco mais no meu, que estava quase vazio.
— Você nunca vai poder dizer que sou uma irmã ruim.
— Nunca mesmo! — Estiquei-me e dei um beijo em sua bochecha.
— Eu te amo, pestinha.
Aubrey sorriu, toda derretida. Eu amava o seu coração mole.
— Também te amo, agora dá play na série, por favor.
A série começou a passar na TV, mas eu não consegui prestar atenção
em uma única palavra dita pelos atores. Minha mente, que às vezes se
revelava ser a minha maior inimiga, começou a criar um monte de cenários
e me deixar mais preocupada do que já estava.
— Você tem tomado cuidado na escola, Aubrey?
Minha irmã demorou alguns segundos para me responder, entretida
com a série.
— Sim. Você sabe que não sou mais uma criança, Ava.
— Eu sei, mas… Os casos de violência estão aumentando. Vou
passar a te levar e te buscar na escola.
— O quê? — Aubrey praticamente gritou, virando-se para mim em
cima do sofá. — Não, você não vai fazer isso! Todas as minhas amigas já
vão sozinhas para a escola, Ava. Não me faça passar essa vergonha, por
favor!
— Vergonha? Eu só estaria te dando uma carona!
— Carona é algo que você pode me dar de vez em quando. Se passar
a me levar todos os dias para a escola, vão perceber que é muito mais do
que uma carona.
— Aubrey…
— Ava, por favor! — A danada deixou o pote de pipoca sobre a
mesinha de centro e se ajoelhou no sofá, juntando as mãos na frente do
rosto. — Por favor, é sério, não me faça pagar esse mico.
— Mico? — Eu ri, mesmo estando nervosa. — Achei que os
adolescentes da sua idade tinham inventado alguma outra gíria.
— Só falei isso para você se identificar. — Cerrei os olhos para ela.
Filha da mãe! — Viu como sou uma irmã incrível e que não merece passar
pela humilhação de ser levada pela irmã para a escola? Uma escola, aliás,
que fica a três quarteirões de onde eu moro!
Eu sabia que não tinha como argumentar contra aquilo. Se insistisse
muito no assunto, Aubrey começaria a desconfiar que havia alguma coisa
errada e aquela era a última coisa que eu queria. Por isso, decidi não ceder à
minha preocupação, que estava quase se tornando uma paranoia. Eu ainda
estava no prazo, mesmo que ele estivesse se esgotando. Não iam fazer nada
contra a mim ou contra a minha irmã.
— Está bem, esqueça o que eu disse, ok? Não vou te fazer passar
vergonha.
— É isso! Você é a melhor irmã do mundo! — Aubrey me abraçou
apertado pelo pescoço e eu retribuí, sorrindo. — Olha, você recebeu uma
mensagem!
Gelei. Sem pensar muito, afastei minha irmã e peguei o meu celular
no braço do sofá. A tela tinha acabado de se apagar, mesmo assim, virei o
aparelho para mim para que minha irmã não visse nada. Ela me olhou com
curiosidade.
— Nossa, quanto mistério. Quem é? Algum garoto lindo da
faculdade? Por favor, diz que sim!
O medo deu lugar ao alívio quando vi que era apenas uma mensagem
de Logan. Nunca pensei que o quarterback me faria sentir algo parecido
com aquilo.
— É uma mensagem do Logan — respondi no automático.
— Logan? Que Logan? — Aubrey continuou a me olhar, esperando
por uma resposta, até que seus olhos brilharam e ela voltou a se ajoelhar no
sofá. — Estamos falando daquele Logan? O jogador bonitão do Crimson
Tide com quem você vai fazer o trabalho?
— Sim, ele mesmo, mas não precisa ficar entusiasmada desse jeito,
ele só está respondendo a mensagem que enviei para ele mais cedo.
Uma resposta que eu praticamente precisei me humilhar para que ele
enviasse. A constatação disso me deixava com um gosto ruim na boca.
— Isso é ótimo! Você precisa mesmo se enturmar, Ava, e Logan
parece ser o cara ideal para fazer isso acontecer. Ele é popular!
— Ele é insuportável, isso sim.
— Não seja uma chata! Leia logo a mensagem dele.
Foi o que fiz, apenas para diminuir as expectativas da minha irmã. Li
e virei a tela para ela.
— Viu só? Não tem nada de mais, ele só disse que eu posso ir à casa
dele agora para conversarmos sobre o trabalho.
— Ir à casa dele! Isso é perfeito! — Aubrey bateu palmas, sorrindo
de orelha a orelha. — Vai logo, anda! Eu te dispenso por essa noite!
— Você já estava querendo me dispensar há muito tempo, até
mandou eu ir trabalhar.
— Eu só estava brincando, mas agora estou falando muito sério. Vai
logo, Ava! E só volte depois que se tornar amiga do quarterback!
Ah, tá bom.
E depois disso, o Papai Noel desceria pela nossa chaminé — que não
existia — apenas para nos desejar um Feliz Natal.
Apenas Aubrey acreditava em milagres, eu já era bem realista e sabia
que uma amizade entre mim e Logan jamais seria possível.
Para quem tinha prometido para si mesma que nunca mais colocaria
os pés naquela casa monstruosa de dois andares, eu tinha voltado a bater na
porta de Logan bem rápido. Sem toda aquela multidão ocupando cada
cantinho em frente à entrada da casa do quarterback, tive a oportunidade de
observar como a construção era bonita. Havia arbustos bem-cuidados na
calçada, a grama estava aparada e, pelo cheiro característico, parecia que
havia sido regada há menos de uma hora. Uma escadaria de pedra levava à
porta da frente, onde eu estava agora, esperando que alguém viesse me
receber depois de apertar a campainha.
— Vá de coração aberto, Ava! — A voz da minha irmã soou em
meus ouvidos, como se ela estivesse bem ali, ao meu lado. — Se você der
uma chance, talvez Logan possa mostrar que é um cara legal.
Ele era bem legal, sim. Eu estava há cinco minutos parada ali e até
agora o filho da mãe não tinha me atendido. Estava prestes a apertar a
campainha pela terceira vez quando, finalmente, ouvi o barulho de uma
chave na fechadura e a porta se abriu, revelando a irmã de Logan.
Ele nem mesmo veio me receber!
Realmente, uma amizade com aquele cara estava completamente fora
de cogitação.
— Avalon! Entra, por favor. — Norah me deu um sorriso caloroso e,
diferente da primeira noite em que nos conhecemos em frente ao bar da
Maeve, me puxou para um abraço. — Fiquei tão feliz quando Logan disse
que vocês vão fazer um trabalho juntos!
Pelo menos alguém havia ficado feliz, além de Aubrey, é claro.
— É... Foi uma surpresa e tanto — comentei, afastando-me dela.
Norah fechou a porta atrás de mim e me puxou pela mão, me levando
para dentro da casa. Tinha cheiro de limpeza, mas havia alguns pares de
sapatos masculinos espalhados pela sala e pacotes de batata chips em cima
da mesinha de centro.
— Não ligue para a bagunça, gostaria de dizer que moro com três
caras, mas, a verdade, é que moro com três bagunceiros idiotas, que não
sabem deixar os sapatos no hall e deixam tudo espalhado pelos cantos. Vem
comigo, estou preparando um lanche aqui na cozinha. Quer comer alguma
coisa?
— Não, obrigada. Eu vim porque preciso conversar com o seu irmão
sobre o trabalho. Temos um tempo razoável para concluir o projeto, mas
quanto antes começarmos, melhor.
— Tem toda razão! — Entramos na cozinha e Norah logo ocupou a
ilha, começando a passar pasta de amendoim em uma fatia de pão. —
Logan é um ótimo aluno, você vai ver que vai ser fácil fazer esse trabalho
com ele. Não é porque é meu irmão, mas o filho da mãe é muito inteligente.
— Legal — murmurei, forçando um sorriso.
Eu estava desconfortável ali, por mais que Norah parecesse ser uma
garota muito legal — ao contrário do irmão mais velho, logicamente. Ela
parou com a faca suja de manteiga de amendoim a caminho do pote e me
deu um olhar intrigado.
— Acho que você não gosta muito dele, não é?
— Eu? De quem? Do seu irmão? — Que pergunta idiota, Avalon!
Norah pareceu prender um sorriso e confirmou com a cabeça. Agora eu
podia afirmar com toda a certeza que estava desconfortável. Aquela
pergunta parecia uma pegadinha e qualquer deslize meu poderia ser fatal.
Limpando a garganta, respondi: — Não posso dizer que somos amigos. Eu
mal conheço o seu irmão.
— Pouquíssimas pessoas conhecem o meu irmão — disse ela,
voltando a afundar a faca no pote.
— Isso não é verdade, seu irmão é o aluno mais popular da faculdade
e está sempre rodeado de pessoas.
— Isso não quer dizer que essas pessoas o conheçam. Sabe quantos
amigos meu irmão tem de verdade, Avalon? — Sacudi a cabeça diante da
sua pergunta. — Dois e eles moram nessa casa. O resto, são apenas pessoas
que queriam muito ser amigas deles, mas não suportariam conhecê-lo de
verdade.
— Por quê? Ele é tão insuportável assim? — Consegui fazer a
pergunta com um bom humor invejável em minha voz. Para a minha
surpresa, Norah riu.
— Um pouco — confessou, mas foi de uma forma carinhosa. Como
quando Aubrey e eu implicávamos uma com a outra. — As pessoas gostam
do Logan divertido, que ama dar festas, que bebe de forma exagerada e que
sempre está feliz e receptivo, só que esse Logan é só uma máscara. Há
camadas mais profundas dele que poucas pessoas conseguem enxergar.
Só pude lembrar de mim mesma um ano atrás, fingindo viver uma
vida perfeita para que a minha irmã não precisasse se preocupar com nada.
As camadas mais profundas — toda a dor e humilhação, as lágrimas e o
desespero — eu escondia atrás de uma máscara, até que não consegui
esconder mais e tudo veio à tona.
— Que bom que ele tem vocês, então — comentei baixinho, porque
não sabia o que dizer de fato. Aquilo, no entanto, era verdade. Eu suportei
tudo sozinha, mas era bom que Logan tivesse pessoas ao seu lado.
— Sim, mas espero que ele encontre mais pessoas boas pelo
caminho. Pessoas como você.
Senti meus olhos se arregalarem e nem consegui disfarçar.
— Como eu?
— Sim, como você. O que fez pelo meu irmão no sábado foi uma
atitude muito nobre.
— Não ter deixado que ele dirigisse no estado em que estava? —
Norah concordou com a cabeça. — Aquilo foi o mínimo que uma pessoa
poderia fazer pela outra, não teve nada de especial.
— Teve sim, acredite. Meu irmão já dirigiu bêbado inúmeras vezes,
saindo de festas lotadas pelas mesmas pessoas que o rodeiam na faculdade.
Nenhuma delas o impediu antes.
Não soube o que dizer. Aquela parecia ser uma vida muito... solitária.
Rodeado de pessoas em um momento e, então, sozinho dentro de um carro,
completamente embriagado, colocando toda a sua existência em risco. Meu
coração ficou um pouco apertado pelo quarterback, mesmo que eu não
gostasse dele. Resolvi colocar a culpa por aquilo na empatia. Eu era
empática pelas pessoas, mesmo quando não ia com a cara delas.
— Fico feliz que eu tenha o ajudado, então — falei, logo percebendo
que estávamos ali há mais de vinte minutos e Logan ainda não tinha
aparecido. — E onde seu irmão está?
Norah deu uma mordida no sanduíche e me olhou enquanto abria a
geladeira e pegava uma jarra de suco.
— Ele foi tomar banho. Nós chegamos agora do hospital. Inclusive,
preciso me desculpar em nome do meu irmão. Sei que vocês iam se
encontrar na segunda-feira para debaterem sobre o trabalho, mas a nossa
avó precisou ser operada às pressas por conta de uma crise de apendicite.
Nós saímos da faculdade correndo direto para o hospital naquele dia.
— Ah, meu Deus! — Aquela, sim, era uma notícia que me pegou
completamente de surpresa. — Mas uma amiga minha disse que viu Logan
saindo da faculdade com uma mulher loira.
Norah tinha os cabelos castanhos, assim como Logan. Seria possível
que estivesse inventando aquilo para limpar a barra do irmão? Ela não iria
tão longe, certo? Afinal, havia acabado de falar sobre a saúde da própria
avó. A irmã de Logan serviu dois copos de suco e me entregou um sem me
dar chance de negar.
— Eu estudo Artes Cênicas e, naquele dia, estava ensaiando para
uma peça caracterizada como a personagem. Quando meu pai me ligou,
nem pensei em me livrar da peruca, apenas avisei a Logan e saímos juntos.
— Não achei que você perdia o seu precioso tempo ouvindo fofocas
sobre mim, Valente.
Virei-me em direção à voz de Logan e o encontrei encostado contra a
parede que formava um arco na entrada da cozinha. Seus cabelos castanhos
estavam úmidos pelo banho recente e seus músculos estavam ainda mais em
evidência, pois ele estava com os braços cruzados. O quarterback usava
uma calça de moletom cinza, que tinha um caimento perfeito na cintura
estreita, e uma regata branca simples que moldava perfeitamente seu
peitoral rígido. Talvez eu tenha olhado para ele por mais tempo do que
deveria, mas logo disfarcei, colocando uma expressão de indiferença no
rosto e dando de ombros.
— Eu não perco, mas todo mundo parece achar a sua vida muito
interessante, pois amam falar de você.
— Mas eu sou uma pessoa interessante. — Ele sorriu e Norah soltou
um suspiro ao meu lado.
— Você é um egocêntrico, isso sim.
— Concordo — comentei, sorrindo para ela.
— Por que você sorri para a minha irmã e para mim não?
Olhei para Logan, realmente surpresa com a sua pergunta. Ele queria
receber sorrisos meus? Por quê? Por sorte, Norah me salvou de ter que
responder.
— Porque eu sou a irmã mais legal, isso não é óbvio? — Ela pegou o
copo de suco, um prato com um segundo sanduíche e começou a caminhar
em direção à entrada da cozinha. — Vou para o meu quarto. Divirtam-se
fazendo o trabalho! Ah, Logan, depois me passa o número da Avalon. Acho
que nós vamos ser grandes amigas.
Norah piscou para mim e saiu da cozinha, me deixando um pouco
atordoada com aquele pedido. Não pensei que a irmã de Logan ia querer me
conhecer melhor. Nossos mundos eram completamente diferentes e, se não
fosse por conta daquele trabalho que eu teria que fazer com o seu irmão,
nós duas provavelmente nunca mais nos esbarraríamos. No entanto, Norah
parecia ser uma garota muito legal, o que eu não poderia falar de Logan, e
seria interessante passar mais um tempo conversando com ela.
— Tenho uma pizza congelada no freezer. Quer dividir comigo?
— Não sabia que um atleta podia comer esse tipo de coisa.
— Não pode, mas eu descobri nos últimos tempos que sou muito
bom em quebrar regras. — O quarterback me deu um sorriso cheio de
segundas intenções e caminhou até a geladeira enorme de duas portas. —
Se você me ajudar a comer, não vou me sentir tão culpado.
— Vou fazer esse esforço por você, então.
— É isso aí, Valente. Acho que posso começar a gostar de você
agora.
Só revirei os olhos diante daquilo, reprimindo uma vontade idiota de
sorrir enquanto Logan pegava a pizza e colocava o forno para pré-aquecer.
Eu podia sentir os olhos de Avalon sobre mim conforme eu me
movimentava pela cozinha. Não sabia dizer se ela estava me avaliando,
muito menos o que passava pela sua cabeça, mas era realmente intrigante a
forma como eu me sentia perante ela. Geralmente, olhares intensos demais
me incomodavam, mas o da garota sentada em frente à ilha da minha
cozinha só me deixava cada vez mais curioso, apesar de eu saber que ainda
nutríamos uma antipatia quase indestrutível um pelo outro.
— Que cheiro é esse? Temos pizza?! — Pude ouvir a voz animada de
James antes mesmo de ele chegar à cozinha. Meu amigo parou
abruptamente assim que viu Avalon e deu a ela o seu melhor sorriso.
Cafajeste do caralho. — Não sabia que estávamos com visita.
— Ashley só veio conversar sobre o trabalho que vamos ter que fazer
juntos.
Avalon estreitou os olhos para cima de mim quando ouviu eu errar o
seu nome de propósito e eu segurei o beijo que quis soprar em sua direção,
mal conseguindo conter um sorriso idiota. Era bom provocá-la.
— Que bom saber disso, assim, quando vocês terminarem, talvez a
gente possa sair para beber alguma coisa. O que acha, Avalon?
— Acho que você deveria arrumar algo melhor para fazer —
resmunguei, vendo o filho da mãe me dar um sorriso divertido.
— Você se chama Avalon? — O idiota me perguntou.
— Não entendi a parte do “arrumar algo melhor para fazer”. Isso
significa o que, exatamente?
Senti minha mente travar diante da pergunta de Avalon, que me
olhava de forma indecifrável. Senti-me prestes a cair em uma armadilha e o
babaca do meu melhor amigo não fez nada para me ajudar, apenas cruzou
os braços e esperou pacientemente pela minha resposta.
— Eu só falei isso para James parar de te perturbar — desconversei,
virando-me para tirar a pizza do forno assim que o timer soou.
— Eu não estou a perturbando! Estou te perturbando, Avalon?
Virei-me a tempo de ver Avalon sacudir a cabeça para James,
enquanto eu colocava a pizza sobre a bancada.
— Claro que não.
James sorriu para Avalon e arqueou uma sobrancelha para mim,
naquela pose clássica de macho que estava prestes a dar o bote. De forma
muito casual — e extremamente calculada — o babaca apoiou o cotovelo
sobre a ilha e se inclinou um pouco para cima de Valente, o que me irritou,
mesmo sem eu saber o porquê. Eu nem gostava da garota. Se ela quisesse
dar para o meu melhor amigo, eu não tinha nada a ver com aquilo.
— Então, acho que podemos sair depois que você perder o seu tempo
na presença do idiota do QB, o que acha?
— Acho que você se esqueceu de que marcamos de ir ao cinema,
James McHugh!
Norah entrou na cozinha carregando o prato e o copo vazios. James
ajeitou a postura imediatamente e ergueu as mãos em forma de rendição.
— Culpado! Desculpa, baixinha, você sabe que eu tenho a memória
péssima.
— Por que vocês vão ao cinema juntos e sozinhos? — questionei,
cruzando os braços e olhando para os dois.
Pude ouvir a risada baixinha de Avalon e acabei desviando os olhos
para ela e os seus lábios cheios pintados de vermelho. Ainda que me
irritasse, eu precisava admitir: Valente era linda e, quando sorria de
verdade, sem deboche ou ironia, prendia totalmente a minha atenção.
— Não acredito que você é do tipo de irmão que sente ciúmes,
estrelinha dourada.
— Estrelinha dourada? — James perguntou, voltando a arquear uma
sobrancelha. — Gostei desse apelido. Posso roubar?
— Fique à vontade — Avalon respondeu.
— Parem com essa merda vocês dois — ordenei, mesmo sabendo
que não tinha poder algum contra James e, menos ainda, sobre Avalon. — E
sim, eu sinto ciúmes! Homens são safados, cafajestes e cínicos, não vou
permitir que usem a minha irmãzinha.
— Ele está falando sobre si mesmo apenas, Avalon — James
ressaltou.
— O caralho que estou.
— Meu Deus, Avalon vai pensar que moramos em um hospício! —
Norah deixou tudo sobre a pia e se aproximou de mim, erguendo o dedo
indicador. — Apesar de ser surtado desse jeito, eu juro que meu irmão é
uma boa pessoa, Avalon.
— Sim, lá no fundo, bem no fundo, ele é uma pessoa legal — James
deu de ombros e Norah deu a ele um olhar afiado. Por que minha irmã
estava me defendendo para aquela garota?
“Vou arrumar uma namorada para você”, a voz dela soou
claramente em minha cabeça. Ah, não. Norah só podia estar louca. Havia
soda cáustica no sanduíche que comeu e aquela porcaria estava derretendo o
seu cérebro. Era a única explicação plausível para o que a minha irmã
estava tentando fazer.
— Eu não sou nada legal. Nada mesmo. Sou um cuzão, as meninas
sempre reclamam depois que ficam comigo, porque eu não sou do tipo
meloso ou que se apaixona e, claro, você já teve o desprazer de conhecer as
piores partes de mim, não é, Valente? Creio que nada do que a minha irmã
te disser, vai fazer com que a sua opinião mude.
Norah deu um passo para o lado e me olhou boquiaberta.
— Qual é o seu problema, Logan Miller III?
— Estou arruinando os seus planos, maninha — falei, dando um
beijo em seus cabelos. — Você não vai arrumar uma namorada para mim.
— Espere um segundo — Avalon pediu, descendo da banqueta alta
em frente à ilha. Observei a pizza esfriando sobre a bancada. Porra, eu
estava com fome e o queijo estava fumegando, mas minha atenção ficou ali
apenas por um segundo, pois logo Avalon tomou conta de tudo ao colocar
as mãos sobre a cintura e dar um olhar confuso para mim e Norah. — Que
história é essa de namorada? Acha que eu namoraria com um cara como o
seu irmão?
— Um cara como eu? O que isso quer dizer?
— Você mesmo acabou de se definir como um cuzão.
Abri a boca para me defender, mas logo a fechei, porque Avalon
tinha razão. Eu mesmo havia acabado com a minha reputação diante da
garota. Logo percebi a merda que fiz. Tinha dado munição para que Avalon
se sentisse poderosa para sempre, afinal, ela já não gostava de mim, e agora,
eu tinha dado passe livre para que ela tivesse razão em não gostar. James
me olhou e sacudiu de leve a cabeça, como se eu fosse o maior idiota do
século.
— É que você é uma garota incrível, Avalon... — Norah colocou no
rosto aquela sua carinha de cachorro que havia caído do caminhão de
mudança. — Seria maravilhoso se você e meu irmão se conhecessem
melhor.
— Seria um desastre — Avalon respondeu rapidamente e eu logo
reiterei:
— Realmente, seria uma catástrofe.
— Deus me livre de passar mais tempo do que o necessário com o
seu irmão!
— Não, Deus que me livre de ter que te aturar. Você invadiu o meu
quarto sem que a gente ao menos se conhecesse! O que faria se pegasse um
pouco mais de intimidade comigo?
— Eu não invadi o seu quarto! — Avalon ficou com o rosto
vermelho e limpou a garganta. — Quer dizer, sim, eu invadi, mas não pelos
motivos que você acredita.
— Essa história eu não conhecia — James sorriu para Avalon,
voltando a se encostar contra a ilha. — Me conta, Avalon, encontrou a
coleção dele?
Uma expressão de dúvida surgiu no rosto acalorado de Valente,
deixando-a um pouco mais bonita.
— Coleção? De quê?
— De vibradores.
Eu revirei os olhos e Norah soltou um suspiro exacerbado.
— Pelo amor de Deus, James!
— Bom, essa coleção em específico eu não encontrei, só achei uma
coleção de lingeries. — Avalon sorriu para o idiota e James gargalhou, se
aproximando dela e dando um beijo em sua bochecha.
— Eu já te amo, Avalon! Porra, acho que seremos grandes amigos.
— Chega dessa palhaçada. Vocês dois não tinham que ir ao cinema?
— perguntei, apontando para Norah e o babaca do meu melhor amigo.
— Nossa, isso quer dizer que agora eu tenho a permissão de ir ao
cinema com a sua irmã?
— Só sai da minha frente, James — pedi, ainda ouvindo-o rir.
Eu não estava irritado de verdade pelos dois saírem juntos, pois
confiava cegamente em James e sabia o motivo pelo qual havia chamado a
minha irmã para ir ao cinema. Ele queria fazer com que ela se distraísse um
pouco, depois da tensão dos últimos dias com a cirurgia de emergência da
nossa avó. O babaca podia me perturbar o quanto quisesse, mas era uma das
melhores pessoas que eu conhecia.
— Vou só trocar de roupa e já podemos sair, baixinha — disse ele
para a minha irmã. — Espero te encontrar mais vezes por aqui, Avalon.
Adorei te conhecer melhor.
— Eu poderia voltar mais vezes, mas Logan também mora aqui,
então, acho que não vai rolar.
— Graças a Deus — falei bem alto enquanto ouvia James rir e sentia
Norah me dar um tapa no braço.
— Para de ser um idiota com ela! — Minha irmã – novamente,
minha irmã –, brigou comigo por causa daquela garota. — Vamos sair
agora, mas, por favor, não se matem, ok? Ajam como duas pessoas adultas
— aconselhou Norah.
Percebi que as bochechas de Avalon ficaram vermelhas novamente,
de vergonha, dessa vez. Foi bonitinho, mas eu jamais admitiria aquilo em
voz alta. Ela e minha irmã se despediram com um abraço rápido e eu
apontei para o armário em cima da pia quando ficamos sozinhos.
— Pegue os pratos, por favor. Se quer comer, precisa fazer algo para
ajudar.
— Você é sempre tão irritante assim? — perguntou ela, dando a volta
na ilha para fazer o que pedi.
— Só com quem merece.
Pude jurar que Avalon revirou os olhos, mas como estava de costas
para mim, foi impossível ter certeza. De qualquer forma, eu não consegui
tirar meus olhos dela, observando suas pernas levemente torneadas, que
estavam desnudas, pois ela usava um short jeans muito curto e um suéter
cinza que tinha como função cobrir apenas os seus braços, já que ele
terminava acima do umbigo. Naquela noite, ela usava um par de All Star
preto no estilo Chuck, bem gasto por sinal, mas que combinava
perfeitamente com o seu estilo.
Pensando bem, Avalon não poderia se vestir de forma diferente. Ela
era uma garota cheia de atitude e isso transparecia não apenas na sua forma
de agir, mas na forma como se vestia. Poderia ser um pouco estranho e até
chocante em um primeiro momento, mas apenas dez minutos ao seu lado, já
demonstrava que Avalon não se escondia de nada. Ela parecia ser uma
pessoa que encarava qualquer desafio e eu estava vendo que era verdade.
Mesmo não gostando de mim, ela estava aqui, agora. Ela havia me ajudado
no sábado à noite, também, eu não havia me esquecido. A garota tinha
personalidade de sobra, era irritante, tinha a língua afiada, mas talvez fosse
uma boa pessoa.
Servi dois pedaços de pizza enormes para cada um de nós e pedi para
que me ajudasse a levar duas latas de Coca-Cola e talheres até o meu
quarto. A casa estava silenciosa, já que minha irmã e James estavam
terminando de se arrumar para sair e Ben ainda não havia chegado, mas
preferi ir para o meu quarto mesmo assim, pois Benjamin era imprevisível e
poderia chegar acompanhado. Ele não tinha muita noção na maioria das
vezes e sempre levava um encontro para casa.
Apontei para a minha cama com o queixo e nos sentamos de frente
um para o outro, o que acabou me dando uma ampla visão da Valente.
Percebi que seus olhos estavam marcados por um delineador fino e os cílios
estavam cheios, provavelmente por ter usado aquele negócio que os
alongava. Eu poderia me vangloriar e deixar o meu ego amaciado ao pensar
que Valente havia se maquiado apenas para poder me ver, mas logo tirei a
ideia da cabeça, porque eu sabia que aquele era o seu jeito de ser. Avalon
parecia gostar de maquiagens simples, mas fortes. Talvez, aquela também
fosse a sua forma de se expressar.
— Eu, hm... — Limpei a garganta e comi um pedaço de pizza apenas
para ganhar tempo, enquanto via um brilho curioso cruzar os seus olhos.
Parei de enrolar e prossegui: — Queria te agradecer pelo que fez por mim
naquela noite.
— Que noite?
Avalon ficou um pouco pálida de repente, mas logo me dei conta de
que era porque a vermelhidão que a tomou na cozinha, havia desaparecido.
— Vai mesmo me fazer falar, não é? — questionei sem tanta
seriedade e ela deu de ombros, tomando um gole da Coca. — No sábado, no
bar da Maeve. Sei que fui um otário com você em algum momento... Posso
não me lembrar de tudo o que falei, mas tenho essa sensação, e você só
queria me ajudar.
— Ah... — Avalon pareceu soltar a respiração e eu achei confusa a
sua atitude. Sobre o que ela achou que eu estava falando? Sobre a festa,
talvez? Mas eu não iria agradecer a doida por ter invadido o meu quarto. —
Aquilo não foi nada. Como eu disse para a sua irmã, eu faria o mesmo por
qualquer outra pessoa.
— Mas você fez por mim e sei que não gostamos um do outro, então,
obrigado mesmo assim.
— O fato de eu não gostar de você não quer dizer que eu quero que
você morra — disse ela, simplesmente, enquanto comia um pedaço da
pizza. — Apesar de eu ter desejado que você desaparecesse quando nossos
nomes saíram juntos no sorteio.
— Eu teria essa mesma sensação se soubesse que Avalon Banks era
você.
— Olha só, então você sabe o meu nome. É bom que comece a usá-
lo, estrelinha dourada.
— Acho Ashley mais bonito — provoquei, enfiando o último pedaço
da primeira fatia de pizza na boca. — Mas Valente combina mais com você.
Avalon sacudiu a cabeça e se esticou para deixar a lata de refrigerante
ao lado da minha sobre a mesinha de cabeceira. Fiquei tenso por um
segundo quando o cheiro do seu perfume me alcançou. Tinha uma leve nota
adocicada em meio ao aroma cítrico que se destacava em sua pele. Era tão
bom que, por um momento, senti vontade de enfiar meu rosto em seu
pescoço, mas logo me dei um tapa mental para expulsar aquela sensação
maluca. Ela voltou a se sentar de frente para mim e me deu um olhar
diferente do que vinha me dando até então.
— Norah me contou sobre o que aconteceu com a avó de vocês.
Imagino que tenha sido um susto. Agora eu entendi por que me deu um
bolo na segunda-feira.
O pedaço de pizza que eu havia acabado de engolir quase voltou pela
minha garganta, mas freei a sensação a tempo, tomando um gole do
refrigerante para disfarçar.
— Sim, foi mesmo um susto, mas o que importa é que está tudo bem
agora.
Tinha sido mais do que um susto. Quando minha irmã me ligou,
desesperada logo após ter recebido a ligação do nosso pai, eu senti como se
estivesse vivendo aquele dia horrível de novo do acidente da minha mãe. Eu
não suportaria perder mais ninguém da minha família agora, nem mesmo o
meu pai, com quem eu não tinha a relação mais amigável de todas, mas,
graças a Deus, Meredith Miller era uma mulher forte e logo estaria em casa.
Eu, no entanto, ainda estava tentando me recuperar do baque que
senti com o medo terrível de ter que enterrar mais alguém em tão pouco
tempo.
— Ótimo, então, vamos dar orgulho a sua avó e deixar a conversa de
lado? Tenho certeza de que ela ficará muito feliz quando você vestir a beca
e pegar o seu diploma.
Eu ri com o humor meio azedo, deixando meu prato vazio de lado.
— Não acho que a minha avó será a pessoa mais feliz da minha
família. Meu pai com certeza vai superá-la.
— Vamos dar orgulho ao seu pai, então — disse Avalon, me
entregando seu prato vazio e abrindo a bolsa que carregava consigo. Ela
tirou um iPad de lá de dentro, um modelo antigo, do qual eu tinha me
livrado há, sei lá, uns cinco anos. Seus olhos encontraram os meus ao me
ver parado no mesmo lugar. — Não tenho a vida toda, estrelinha dourada.
Mexa-se!
— Você é sempre tão irritante assim? — Repeti a mesma pergunta
que Avalon me fez na cozinha e ela revidou com a mesma resposta que lhe
dei:
— Só com quem merece.
Touché.
Levantei-me e fui logo pegar meu laptop.
Surpreendentemente, Logan era mesmo inteligente. O objetivo do
seminário era bem claro. Baseado no estudo de caso sorteado pela Sra.
O’Born — que no nosso caso, era guarda compartilhada entre um casal com
três filhos — precisávamos apresentar no seminário, o caminho que
usaríamos para finalizar aquele conflito sem que fosse necessário entrar
com uma ação na justiça.
Apesar de parecer simples, aquele era um tema complexo e que
requeria muito mais do que técnica para escrever um trabalho impecável,
por isso, havia separado alguns textos que iam além da questão judicial e
entravam no âmbito da psicologia. Estávamos lidando com crianças, afinal,
e todo o processo poderia ser desgastante demais para elas também.
Logan fez comentários pontuais e que me surpreenderam. Senti que
estava pagando a minha língua por cada pensamento que tive sobre ele
comprar o boletim impecável que todos alegavam que o quarterback tinha.
De qualquer forma, não ousei falar aquilo em voz alta, pois sentia que o ego
de Logan não precisava ser mais amaciado do que já era normalmente. E
também não éramos amigos, eu precisava me lembrar. Aquele era só um
momento de trégua entre dois estudantes acadêmicos que precisavam lidar
um com o outro para poderem se sair bem em uma matéria.
— Acho que podemos encerrar por hoje — falei, depois de anotar um
último item na lista que criei para nós dois.
Dividimos o trabalho em partes e cada um ficaria responsável por
uma quantidade específica de pesquisas, assim, não ficaria pesado para
nenhum dos dois lados. Vi pela minha visão periférica Logan concordar
com a cabeça e deixar o laptop de lado. O quarterback praticamente se
deitou na cama, apoiando-se nos cotovelos e deixando o tronco um pouco
elevado. Fiquei imaginando se aqueles gominhos que ele tinha na barriga
estavam mais rígidos naquele momento.
Ser uma mulher heterossexual era difícil demais às vezes. A gente
acabava ficando obcecada pelo físico de um cara e quase se esquecia de
como ele podia ser um babaca.
— E então, sou ou não sou um aluno exemplar?
Claro que Logan não deixaria de esfregar aquela porcaria na minha
cara.
— Não sei, não faço parte do corpo docente para poder avaliar a sua
atuação como estudante — comentei, deixando meu iPad sobre a cama e
ouvindo a sua gargalhada.
— É só admitir que sim, Valente. Não vai te matar se você deixar o
seu orgulho um pouquinho de lado.
— Eu não preciso admitir nada, pois você já é muito seguro de si.
— Bobagem, todo mundo precisa de um elogio de vez em quando.
— Você parece receber elogios todos os dias — falei, logo me
lembrando de uma questão. — Apesar de já ter me deparado com alguns
comentários depreciativos sobre você nas redes sociais.
— Tudo inveja. — Ele sorriu de lado, ficando bonito demais. Logan
tinha uma barba por fazer toda preenchida, que contornava perfeitamente os
lábios bem-desenhados. E eu não sabia por que estava perdendo o meu
tempo prestando atenção naquilo. — Vamos lá, você me faz um elogio e eu
te faço outro.
— Está tão sedento assim para ter o ego inflado? O que houve?
Nenhuma fã sua te deu bola hoje?
— Eu faltei durante os dois últimos dias, então, sim, estou sentindo
falta de um pouco de carinho.
Eu ri diante daquilo, levantando-me da cama. Logan continuou me
olhando com uma sobrancelha grossa arqueada e aquele sorriso de menino
rico e convencido. Naquele momento, duvidei muito de todo o discurso
inflamado de Norah na cozinha. Seu irmão não parecia enfrentar problema
algum com aquela expressão de quem sabia que era gostoso e que deixava
um rastro de calcinhas molhadas pelo campus. Eu, porém, não faria parte da
sua listinha de conquistas.
— Pode me emprestar o seu celular? — pedi, bolando um plano
rapidamente. Logan estreitou os olhos e me encarou com desconfiança.
— Por quê?
— Vai ser rápido, eu juro. O meu acabou a bateria.
O quarterback pareceu duvidar da minha mentira, mas me entregou o
aparelho com a tela desbloqueada. Fui rapidamente até a sua agenda
telefônica e não demorei nem um segundo para encontrar o que procurava.
— Britney, Christen, Daphne, Emily, Jordan…
— Ei! — O aparelho sumiu da minha mão e Logan parou de pé na
minha frente. — O que você pensa que está fazendo?
— Listando os nomes femininos da sua agenda. Tenho certeza de
que, se você mandar mensagem para uma delas, em cinco minutos a garota
estará aqui para te elogiar pessoalmente. Ou seja, você não precisa de mim
para inflar esse ego idiota, Logan terceiro.
— Cinco minutos é muito tempo, qualquer uma delas estaria aqui em
dois — disse ele com um olhar convencido.
— Que bom para você, já para elas... — Dei de ombros, como se
duvidasse de tudo o que já havia ouvido falar sobre ele na universidade.
— Cuidado, Valente... — Logan jogou o celular sobre a cama e se
aproximou um pouco de mim, me fazendo sentir o cheiro do sabonete que
usou para tomar banho mais cedo. O quarterback se inclinou um pouco em
minha direção e eu quase pude sentir a sua respiração em meu rosto. —
Quem desdenha muito, quase sempre quer comprar.
Respirei fundo, o que não foi uma atitude muito sensata da minha
parte, pois o cheiro de Logan agora parecia estar em todo o lugar. Uma voz
no fundo da minha cabeça gritou que eu deveria me afastar, afinal, havia
muito tempo que eu não tinha um contato íntimo com ninguém e o meu
corpo traidor parecia estar sentindo falta daquilo, mas não recuei, porque
jamais demonstraria para Logan que ele me afetava.
— Eu não preciso comprar, você está praticamente se oferecendo de
graça — retruquei e aquilo pareceu atingir Logan por um segundo. Seus
olhos se arregalaram minimamente, antes de ele jogar a cabeça para trás e
soltar uma sonora gargalhada.
— Eu? Me oferecendo para você? Por favor, Valente, você mesmo
disse que eu posso ter a garota que quiser. Você até que é bonitinha, mas
não me atrai em nada.
— Ainda bem. Seria realmente muito triste ver você chorar por eu
não sentir o menor desejo por você.
— Sou eu que não sinto nada por você — disse, dando um passo para
trás. — O lance do elogio era só para tentar quebrar o clima, mas você é a
rainha de gelo. O que acontece quando um cara toca em você? Congela até
a morte?
— Acho que você nunca vai saber.
— E alguém vai saber algum dia? Você não parece ser o tipo de
garota que deixa qualquer um se aproximar.
— Nossa, enfim você disse algo realmente inteligente! Eu não deixo
mesmo qualquer um — olhei-o de cima a baixo. — Se aproximar. Tenha
isso em mente, estrelinha dourada.
Logan abriu a boca para retrucar, mas duas batidas na porta o
interromperam. Logo a maçaneta girou e o seu outro amigo, Benjamin,
apareceu. Ele me deu um sorriso amistoso e logo se virou para Logan.
— Desculpa atrapalhar, QB, mas você tem visita.
Logan se virou para mim tão rápido quanto a menina do Exorcista.
— Não acredito! Você mandou mensagem para alguma daquelas
garotas?
— O quê? — Eu não podia acreditar. Logan realmente tinha o ego
inflado ao ponto de achar que em menos de cinco minutos alguma garota
viria correndo atrás dele por causa de uma mensagem? Eu só estava
brincando, mas o jogador claramente tinha levado a sério. — Óbvio que
não! Acha que eu perderia o meu tempo fazendo isso?
— Não sei, você tem cara de quem gosta de pregar pegadinhas nas
pessoas.
— Na verdade, não é nenhuma garota — disse Benjamin, voltando a
chamar a nossa atenção. — É o seu pai, Logan.
O clima no quarto mudou. Logan estava um pouco irritado comigo
sobre a possibilidade de eu ter enviado alguma mensagem para uma garota,
mas a expressão em seu rosto se tornou quase impassível diante do anúncio
do seu amigo. Eu me senti como um peixe fora d’água, pois os dois se
olharam naquela linguagem muda que só amigos muito íntimos conseguiam
entender.
— O que ele veio fazer aqui? — Logan questionou baixinho, ainda
olhando para Benjamin como se ele tivesse todas as respostas.
— Eu não sei, cara, ele só pediu para que chamasse você.
Senti que aquela era a minha chance de ir embora antes que eu
acabasse testemunhando algo que não era da minha conta.
— Eu já estava de saída — anunciei, pegando a minha bolsa sobre a
cama.
— Então, você é a famosa Avalon, certo? — Benjamin perguntou de
repente, entrando no quarto e me estendendo a mão. — Prazer, sou
Benjamin, o jogador mais bonito do Crimson Tide.
Minha nossa, todos os atletas eram egocêntricos daquele jeito?
Apesar do pensamento, eu não pude deixar de rir. Benjamin parecia ter o
senso de humor parecido com o de James e eu realmente gostei do outro
melhor amigo de Logan. Eles pareciam ser bem melhores do que o
quarterback.
— Vou ter que apurar meus ouvidos pelo campus para saber se esse
boato é verdadeiro — falei, apertando a sua mão.
— Ah, não, por favor, não faça isso. Logan é considerado o mais
bonito pelo voto popular, prefiro que você não receba qualquer influência e
tire as suas próprias conclusões.
— Tenho certeza de que é só porque ele carrega o título de
quarterback, as meninas gostam de puxar saco de quem usa a faixa de
capitão.
— Há-há-há, como vocês são engraçados! — Logan debochou
enquanto Benjamin ria alto, mas percebi que ele ainda estava tenso, com a
postura rígida e a cara fechada, não por estar sendo provocado, mas por
algo mais, que eu não sabia o que era. — Preciso saber o que o velho quer,
então, vamos descer. Eu te levo até a porta, Avalon.
— Pode deixar que eu faço isso — Benjamin se ofereceu, todo
solícito, enquanto saíamos do quarto do jogador. Logan o olhou
rapidamente com aquele mau humor repentino.
— Eu não me lembro de acompanhar as suas garotas quando elas
vêm te ver, Benjamin.
— Claro que não, você não acompanha nem as suas.
— Isso não é verdade...
— Eu não sou a garota dele. — Deixei bem claro, interrompendo
aquela discussão idiota e me sentindo cercada por ter aqueles dois homens
com no mínimo 1,90m de altura de cada lado do meu corpo.
— É verdade — Logan confirmou, pegando a minha mão de repente.
— Mas você veio aqui por minha causa, então, eu vou te levar até a porta.
Sei que sou um babaca, mas não tanto quanto pensa.
Não sabia se Logan havia dito aquilo para mim ou para Benjamin, só
que pareceu surtir efeito para o amigo, que riu baixinho, parecendo
surpreso, e ergueu as mãos em rendição. Acenei para Benjamin e fui guiada
até a escada por Logan, que dava passos apressados com aquelas pernas
longas e musculosas de jogador de futebol. Ele não soltou a minha mão
nem mesmo quando chegamos lá embaixo e paramos na presença de um
homem alto, vestido em um terno que, com certeza, custava um valor
obsceno, e sapatos de couro que brilhavam mais do que a minha testa
quando eu estava cheia de oleosidade.
Logan Miller II, o tubarão da advocacia. Eu o conhecia, afinal, que
estudante de Direito não conhecia a história da família Miller? Ele parecia
estar um pouco mais velho do que nas fotos que já vi no Google, com os
cabelos levemente mais grisalhos e um pouco de ruga no canto dos olhos —
que, inclusive, eram afiados como uma navalha e focaram explicitamente
na mão de Logan na minha. Eu dei um passo para o lado e me desvencilhei
do seu filho, com medo de o ricaço achar que eu poderia dar o golpe do baú
apenas tocando nos dedos do seu herdeiro.
— Boa noite — saudou com a voz potente, mas educada. Eu quase
gaguejei ao responder:
— É, sim... Boa noite. — Limpei a garganta. Que droga! Se um dia
eu quisesse ao menos um espaçozinho em um dos escritórios Miller, nem
que fosse servindo café, eu precisava dar o fora dali o mais rápido possível,
antes que o Sr. Miller II gravasse o meu rosto assustado e ditasse a regra de
que era expressamente proibido me contratar. — Eu já estava de saída... Foi
um prazer conhecer o senhor.
Olhei para Logan, quase puxando a barra da sua blusa como uma
criança de cinco anos para fazer com que me notasse, mas não foi preciso.
Ele logo disse ao pai que me acompanharia até a porta e me levou até a
entrada da sua casa.
— Eu te mando uma mensagem para marcamos um novo encontro —
disse ele, parecendo distraído. — Meu tempo vai ficar mais curto agora,
porque vamos intensificar o treino para a próxima temporada, mas vou dar
um jeito.
— Claro que vai, nós dois podemos nos odiar, mas temos um
objetivo em comum: não queremos reprovar nessa matéria. Se você se
esquecer de mim, eu venho aqui pessoalmente furar os seus olhos com as
minhas unhas.
Surpreendentemente, Logan riu, o que fez com que a tensão em seus
ombros diminuísse um pouco.
— Eu tenho certeza de que você teria coragem para fazer isso,
Valente.
— Ótimo, sendo assim, não brinque comigo.
Acenei para Logan e saí dali o mais rápido possível, entrando em
meu carro. Observei quando ele fechou a porta bonita da sua casa e percebi
que eu queria ser uma mosquinha naquele momento, só para saber o que o
Logan mais velho queria com o Logan mais novo. Como eu não podia
alimentar a minha alma enxerida, dei partida e saí logo dali.
— Quem era a garota? — Foi a primeira coisa que meu pai
perguntou quando voltei para a sala.
Encontrei-o ainda de pé no mesmo lugar, sua pasta de couro estava
no sofá, e eu podia imaginar que sua mala devia estar no Bentley preto
estacionado em frente à minha casa.
— Uma amiga da faculdade, estamos fazendo um trabalho juntos.
A sobrancelha do meu pai quase tocou a raiz dos seus cabelos
enquanto apontava para a porta.
— Aquela garota, vestida daquele jeito, estuda Direito?
Eu sabia que era muita hipocrisia da minha parte, tendo em vista que
eu fui o primeiro a julgar o estilo de Avalon, mas não gostei nem um pouco
do questionamento e, principalmente, da ironia na voz do meu pai.
— Não acredito que na sua época os estudantes de Direito se vestiam
apenas de maneira formal, pai.
— Pelo menos eles não se vestiam como se fossem a um show de
heavy metal ou andavam por aí com a unha descascando com esmalte preto.
— Porra, nem eu havia prestado atenção naquilo. — Você já frequentou
algum lugar com aquela garota? Ela me parece vagamente familiar.
Eu duvidava muito que meu pai já tivesse visto Avalon alguma vez
na vida. Provavelmente, só estava jogando aquela pegadinha no ar para que
eu caísse e comentasse se ela fazia parte do meu círculo de amigos ou não.
— O senhor não veio para cá direto do aeroporto para me questionar
sobre isso, pai. Diga logo o que quer.
Logan Miller II soltou um suspiro e apontou para a poltrona atrás de
mim, indicando que eu deveria me sentar. Eu estava muito bem de pé, mas
como não estava a fim de ter mais um motivo para ter um confronto com
ele — porque eu sabia que daquela conversa sairia uma nova discussão —,
me sentei, vendo-o se sentar no sofá à minha frente.
— Precisamos ter uma conversa muito séria acerca do seu futuro,
Logan.
— O senhor sabe muito bem o que eu quero para o meu futuro.
Meu pai me encarou novamente com as sobrancelhas arqueadas e
soltou uma risada baixa.
— Está falando sobre a sua suposta carreira no futebol?
— Isso não é uma suposição.
— Bom, eu tenho certeza de que é. — Ele cruzou a perna, apoiando a
lateral do tornozelo no joelho esquerdo, uma posição confortável demais
para quem tinha ido ali iniciar uma discussão. Percebi que, diferente das
outras vezes em que conversamos, meu pai estava muito seguro. Ele sabia
de algo que eu não sabia e aquilo me deixou tenso sobre a poltrona. —
Quero que você inicie o seu estágio em nosso escritório daqui a duas
semanas.
— Como é que é? — Foi a minha vez de rir. — Meu estágio
obrigatório só começa ano que vem.
— Um Miller de verdade já estaria dentro da empresa no primeiro
ano de faculdade. Você, com essa história de ser um astro do futebol, apenas
adiou esse momento, mas agora já chega, Logan.
— A temporada de futebol começa exatamente daqui a duas
semanas, então, não conte comigo para estar na sua empresa até que isso
seja realmente necessário — falei, me levantando. — Agora, se era só isso,
acho melhor ir embora. Minha avó perguntou por você todos os dias, mas o
seu trabalho não permitiu que você pudesse pegar o primeiro voo disponível
ou fretasse um jatinho para ir visitá-la, não é mesmo?
Vi a mandíbula do meu pai se contrair, finalmente. Era difícil pegar
em algum ponto que o tocasse de verdade.
— Sente-se, Logan, nós ainda não terminamos essa conversa.
— Eu já terminei. — Afastei-me, pensando se iria subir de volta para
o meu quarto ou se iria abrir a porta para que ele fosse embora.
Estar na presença do meu pai me fazia mal. Eu sabia que era triste
um filho se sentir assim, mas era como eu me sentia há bastante tempo. A
sensação vinha piorando a cada mês que se passava desde a morte da minha
mãe. Nossa relação, que já estava estremecida naquela época, descarrilhou
de vez desde a sua partida.
— Você sabe que eu tenho contatos em todos os lugares, não sabe?
— perguntou ele, me fazendo parar no meio do caminho. Algo me dizia que
eu não ia gostar de ouvir o que tinha para me dizer. — Então, não foi difícil
descobrir que a sua imagem perante as ligas profissionais está tão suja, que
talvez você nem consiga entrar para o Draft daqui a dois anos.
As paredes a minha volta pareceram estremecer, mas eu me mantive
firme no lugar, sem querer que meu pai percebesse o golpe certeiro que
havia acabado de me dar.
— Isso é mentira.
— Acha que eu preciso mesmo inventar isso, Logan? Será que não
percebe o óbvio? Você teve um primeiro ano brilhante, eu confesso, mas
seu segundo ano foi um desastre, sua falta no último jogo da temporada
foi...
— Você sabe muito bem por que eu faltei! — gritei, sem conseguir
mais me controlar. Dei a volta na poltrona e me aproximei do meu pai,
vendo-o ter a decência de pelo menos ficar pálido na minha frente. — Não
ouse jogar essa porcaria na minha cara!
— Não estou dizendo que a culpa foi sua, pelo menos não sobre isso,
mas tudo o que fez antes e depois, é, sim, sua responsabilidade! Ou achou
que o fato de ser um Miller o isentaria das consequências? A cada final de
semana há um novo vídeo seu na internet, sendo imprudente e
irresponsável! Boatos sobre você rolam soltos pelas redes sociais! Até de
drogado já te chamaram, Logan!
— Nunca experimentei droga na minha vida!
— Eu acredito — disse, me surpreendendo. — Mas as pessoas não,
porque você dá a elas munição para que acreditem em qualquer porcaria
que inventam ao seu respeito. Você pode achar que eu sou o seu maior
inimigo, mas essa não é a verdade, filho. Sua postura é a sua maior inimiga.
Sacudi a cabeça, sem querer ouvir mais nada. Sabia que aquela não
era a atitude correta de um homem adulto e que, em parte, meu pai tinha
razão, mas eu não conseguia lidar com tudo aquilo naquele momento.
Sentia um aperto no peito e pensei em como eu estava minutos atrás, na
presença de Avalon. Por mais irritante que fosse, a garota pelo menos
conseguiu tirar aquela sensação ruim de dentro de mim enquanto
provocávamos um ao outro, agora, eu estava aqui de novo, preso em uma
gaiola, sendo obrigado a ter toda aquela merda jogada em minha cara.
— Por isso que quero que inicie o estágio em nosso escritório —
continuou meu pai. — Você não está cursando Direito à toa, Logan, sei que
é um bom aluno, pode e deve investir em uma carreira sólida. Você já tem
tudo na mão, filho, é meu herdeiro, assim como sua irmã. Tudo o que é meu
um dia será de vocês e quero que cuide de tudo quando eu não estiver mais
aqui.
— Para com isso! — Minha voz saiu entredentes, mas meu pai não
moveu um músculo. — Você sabe muito bem que não quero ser advogado,
quero ser um jogador de futebol!
— Você não vai conseguir ser um jogador de futebol, Logan!
— Sim, eu vou! Enquanto eu ainda tiver o meu lugar no time, nada
está acabado!
— E você acha que vai permanecer como quarterback titular até
quando?
— Até onde eu sei, o treinador não me colocou no banco.
— Ainda. — A voz do meu pai parecia uma premonição, mas não
deixei que aquilo me abalasse ainda mais. — Mas seu rendimento caiu nos
últimos treinos e, com certeza, o primeiro jogo da temporada vai ser o seu
teste final. Se você falhar, Logan, creio que estará fora nos próximos jogos
e, quem sabe, durante a temporada inteira.
— Eu não vou falhar!
— É mesmo? Se você diz... — Meu pai ergueu as mãos, como se
estivesse se eximindo de qualquer responsabilidade. — Você deveria se
agarrar ao fato de que, por sorte, carrega um sobrenome forte e que sempre
terá um lugar no escritório que um dia será seu por direito. Muitos não têm
uma oportunidade como essa, Logan.
— Às vezes eu me pergunto se isso é sorte ou uma maldição — falei,
sentindo um gosto amargo em minha boca quando vi o olhar decepcionado
do meu pai.
Arrependi-me, mas não abri a boca para pedir desculpas, porque meu
pai também nunca deu o primeiro passo para se desculpar por todas as
coisas ridículas que já disse para mim. Ele pegou a sua maleta e me olhou
com seriedade.
— Diga a sua irmã que estou de volta e que ficarei na cidade pela
próxima semana. Quero que vocês venham jantar comigo quando sua avó
receber alta. Conversei com o médico e ela deve estar em casa no domingo.
— Eu sei disso. Ao contrário de você, Norah e eu estivemos ao lado
da vovó todos os dias.
— Eu tinha reuniões importantes, Logan. Cheguei a desmarcar boa
parte delas, mas quando soube que sua avó estava fora de perigo, precisei
cumprir alguns compromissos da minha agenda.
— Claro, afinal, o que é mais importante para você do que o
trabalho? — ironizei.
— Você, sua irmã e sua avó são mais importantes para mim do que
qualquer outra coisa.
Eu não acreditei, mesmo que seus olhos dissessem que era verdade.
Meu pai resmungou uma despedida e foi em direção à porta, sozinho,
porque eu só consegui me mover para me jogar no sofá quando o ouvi
partir. Suas palavras se repetiam em minha mente como um disco
arranhado, me fazendo enxergar um futuro que eu não queria para mim.
Desde pequeno, sempre quis ser uma única coisa: jogador de futebol. No
início, quando achava que era apenas um hobby, meu pai me apoiou. Ele ia
aos meus jogos na escola e torcia comigo ao lado da minha mãe, da minha
irmã e da minha avó, mas tudo mudou quando expressei o meu desejo de
um dia entrar para a liga profissional.
Logan Miller II não podia permitir que seu filho mais velho não
levasse adiante o seu legado, que ele havia herdado do meu avô. Norah
podia ser o que quisesse — e eu realmente não me ressentia por isso —,
mas eu tinha aquela responsabilidade por ser o primeiro filho, por carregar
não apenas o seu sobrenome, mas o seu nome, sendo o terceiro na linha de
sucessão como se fôssemos alguma família real estúpida.
Eu não queria e não seria uma versão mais velha e infeliz do meu
pai. Essa era a única certeza que eu tinha enquanto naufragava desde o
acidente que matou a minha mãe.
— Acabei de encontrar com o papai lá fora! Que bom que ele
chegou! — Ergui a cabeça, encontrando minha irmã e James entrando na
sala. O entusiasmo deixou o seu rosto assim que me viu. Deixando a bolsa
sobre a poltrona, Norah se aproximou e se sentou na mesinha de centro à
minha frente. — Logan, o que aconteceu?
— O que sempre acontece quando meu pai e eu estamos juntos no
mesmo lugar — resmunguei, chateado. Não queria jogar aquela porcaria em
cima da minha irmã. Ao contrário da minha relação com o nosso pai, a dela
com ele era muito boa e eu sentia que Norah ficava dividida entre nós dois.
— Vocês brigaram de novo? — Ela soltou um suspiro cansado, como
se não acreditasse. — Quando vão parar com isso, Logan?
— Quando meu pai colocar na cabeça que eu não sou uma sombra
dele ou uma massinha de modelar para que molde como bem entender!
— Eu acabei ouvindo parte da conversa — Benjamin disse, descendo
as escadas. — Achei melhor ficar por aqui quando vocês alteraram a voz.
— Você ficou ouvindo porque é um fofoqueiro — James provocou,
tentando deixar o clima mais leve. — Logan, não liga para o seu pai, você
sabe que ele tem esse sonho de que você se torne um advogado no futuro,
mas você vai provar, em campo, que nasceu para ser um quarterback.
— James tem razão, Logan. Essa temporada vai ser nossa, irmão! —
Benjamin reforçou.
Foi bom ouvir aquele incentivo dos meus amigos, mas as palavras do
meu pai sobre a liga ainda martelavam em minha cabeça.
— Se você ouviu o que ele disse, então sabe sobre o lance do Draft
— falei, encarando Ben. — Será que é mesmo verdade?
— Que lance do Draft? — James perguntou.
Eu não queria repetir nada do que meu pai disse, então, deixei que
Benjamin tomasse a palavra. Senti o impacto mais uma vez enquanto ele
contava tudo para James e minha irmã.
— Isso não pode ser verdade — Norah disse, segurando a minha
mão. — E mesmo se for, em dois anos muita coisa pode acontecer! Você
não pode ser descartado ainda.
— Se eu fizer uma temporada ruim esse ano, com certeza —
murmurei.
— Mas você não vai fazer! — Benjamin disse. — Tira isso da sua
cabeça, Logan!
— Norah, me desculpe pelo que vou falar agora, mas, Logan, acho
que seu pai só quis falar isso tudo para te desestabilizar. Ele sabe como a
sua carreira é importante para você.
— É difícil admitir isso, mas acho que James tem razão. — Norah
disse, mas não fiquei surpreso. Ela amava o nosso pai, mas nunca foi
injusta, o que significava que, quando eu estava errado, ela também puxava
a minha orelha, como parecia prestes fazer agora. — Mas o nosso pai fez
isso porque você deu brechas, Logan. Uma coisa é certa, a sua reputação,
querendo ou não, diz muito sobre você. Se continuar agindo da forma como
tem agido nos últimos meses, as palavras do nosso pai vão se concretizar. É
isso que você quer?
— Claro que não! — respondi sem pensar uma segunda vez.
— Então por que você não segue o conselho do treinador Coben,
Logan? — James perguntou. — Por que não procura a psicóloga do time?
Vai fazer bem a você.
Sacudi a cabeça, me levantando. Eu não queria falar sobre a minha
vida com ninguém, ainda mais com uma pessoa estranha.
— Já falei que não preciso disso.
— Eu acho que você precisa — Ben disse.
— Eu também — Norah concordou.
— Já falei que não!
— Então você precisa procurar outra forma de reverter essa situação!
— Norah disse, colocando as mãos na cintura daquela forma enfezada,
como a nossa mãe fazia quando eu me metia em encrenca.
— Ou seja, precisa limpar a sua imagem, irmão — Ben apertou o
meu ombro.
— Diminuir as festas, a bebida, as mulheres... As pessoas precisam
ver que você mudou — James reiterou.
— Por isso que eu disse que você precisa arrumar uma namorada! —
Norah repetiu aquela besteira mais uma vez.
— Acho que isso já seria um pouquinho demais — Benjamin disse.
— Nossa, muito obrigado pela sensatez! — pedi. — Esquece essa
história de namorada, Norah!
— Não vou esquecer! O que seria melhor do que uma namorada para
você mostrar que deixou de vez a vida de farra, mulheres e bebidas?
— Foco e disciplina — respondi de prontidão. Norah estalou a
língua.
— Sim, isso também, mas uma namorada faria uma diferença
enorme! Você nem precisaria postar nada nas redes sociais, as pessoas iriam
especular e começar a mudar a forma como falam sobre você.
— Isso é verdade... — James refletiu e Benjamin e eu olhamos para
ele como se a sua cabeça tivesse sido arrancada fora e substituída por outra
coisa.
— Como assim? Você não pode estar falando sério, James!
— Cara, quando eu estava namorando, foi o momento em que mais
tive paz. Claro que rolava um assédio ou outro por parte das garotas quando
eu ia a alguma festa ou até mesmo por DM no Instagram, mas, em geral,
ninguém falava merda sobre mim ou inventava fofocas pelo campus.
Também foi a época em que mais me dediquei ao esporte, já que eu mal ia
para a farra.
— Isso é besteira. Eu nunca namorei e tenho uma trajetória
impecável no time! — disse Benjamin.
— Mas esse não é o caso do meu irmão. — Norah cruzou os braços.
— Pensa com carinho, ok? Talvez, esteja na hora de você abrir esse coração
pela primeira vez na vida, maninho.
— Tenho coisas mais importantes para me preocupar, Norah — falei,
puxando-a para um abraço. — Mas agradeço o seu esforço em me ajudar,
ok? Agora eu vou subir. Estou com uma dor de cabeça chata, quero me
deitar e pensar um pouco em tudo isso.
Dei um soquinho no punho de cada um dos meus amigos e fugi
deles, trancando-me em meu quarto. Os pratos e as latas de refrigerantes
vazias ainda estavam por ali, mas deixei para me livrar de tudo no dia
seguinte, me dando conta de que aquele não havia sido o único rastro que
Avalon deixou para trás. Sobre a minha cama, estava o seu iPad, o seu
cheiro gostoso estava espalhado pelo quarto.
Deixei o aparelho sobre a minha mesinha de cabeceira e fechei os
olhos assim que me deitei, tentando esvaziar a minha mente por um minuto
e encontrar a solução perfeita para o meu problema.
Babaca de Uniforme: Acho que isso aqui pertence a você.

A notificação de mensagem apareceu na barrinha de cima do meu


celular enquanto eu deslizava pelo feed do Instagram. Um segundo depois,
percebi que Logan havia me enviado uma foto e abri a nossa conversa no
WhatsApp, sentindo um pouco de medo. E se ele estivesse me mandando
uma foto do seu pau? E por que diabos eu estava apreensiva sobre isso, se o
pau dele não era meu? Acreditava que o pau dele não pertencia nem a ele
mesmo, de tão rodado que era.
Deparei-me com a foto do meu iPad sobre a sua mesinha de
cabeceira e respirei aliviada por não ter sido um nude do riquinho.

Eu: Pode deixar no bar da Maeve mais tarde, por favor?


Surpreendentemente, Logan respondeu em menos de um minuto.

Babaca de Uniforme: E por que não na faculdade? Está com


vergonha de ser vista comigo? Acho que faria muito bem para a sua
reputação se nos vissem conversando, você se tornaria mais popular.
Eu: O que te faz pensar que eu quero ser popular? Tenho pavor de ter
o meu nome na boca do povo fofoqueiro daquela faculdade.
Babaca de Uniforme: Ainda acho que isso tudo é medo de acharem
que eu estou te dando uns pegas.
Eu: Você é nojento e, sim, é isso também. Deus me livre ser
confundida com uma das garotas com quem você já ficou.
Babaca de Uniforme: Você poderia ficar conhecida como a ruiva
gótica do QB. Não seria incrível?
Eu: Seria péssimo. E eu não sou gótica.
Babaca de Uniforme: Claro que você é gótica, é só olhar para as
suas roupas.
Eu: Qual é o seu problema com as minhas roupas?
Babaca de Uniforme: Nenhum, elas combinam com você. Ontem,
por exemplo, você estava muito gostosa com aquele shortinho, mas creio
que eu não possa falar isso, ou vou ser chamado de babaca mais uma vez,
certo?

Meu coração idiota acelerou, mas resolvi ignorar aquela reação


estúpida do meu corpo.

Eu: Ainda bem que você sabe.


Babaca de Uniforme: Mas saiba que você estava gostosa. Pra
caralho.
Eu: O que você espera que eu faça depois de ler isso? Que eu caia na
sua cama?
Babaca de Uniforme: Você estava na minha cama ontem.
Eu: Não por livre e espontânea vontade, pode acreditar.
Babaca de Uniforme: É mesmo? Eu achei que você estava tão
confortável...
Eu: Apenas enquanto estávamos fazendo a pesquisa, depois disso,
você voltou a se tornar esse ser desagradável.
Babaca de Uniforme: Assim você machuca os meus sentimentos,
Valente. Para provar que eu sou um cara muito legal, vou atrás de você
agora. Em que sala você está?
Eu: No momento, estou em uma sala de espera de um hospital.
Babaca de Uniforme: Como assim? O que aconteceu com você?
Não me diga que ter passado a noite de ontem comigo fez com que você
tivesse uma arritmia cardíaca.
Eu: Não me lembro de ter passado a noite com você, apenas algumas
horas enfadonhas.
Babaca de Uniforme: Enfadonhas? Eu não diria isso depois de eu
ter te causado tanta emoção. Tenho em minha memória as diversas vezes
em que seu rosto ficou vermelho na minha presença.
Eu: Vermelho de raiva.
Babaca de Uniforme: Ou de tesão? Fica aí o questionamento.
Eu: Logan, faz um favor para mim?
Babaca de Uniforme: Depende. O que é?
Eu: Vai se foder.

O quarterback irritante enviou uma figurinha soltando uma


gargalhada e eu sacudi a cabeça, surpresa por não estar tão irritada como de
costume. Achei que nossa conversa se encerraria ali, mas ele me enviou
uma nova mensagem:

Babaca de Uniforme: Agora é sério, o que aconteceu para você estar


no hospital?
Não queria admitir, mas achei legal da sua parte se preocupar.

Eu: Não aconteceu nada comigo, vim apenas trazer a minha irmã
para fazer exames de rotina.
Babaca de Uniforme: Não sabia que você tinha uma irmã. Quantos
anos ela tem?
Eu: Quatorze, ou seja, nova demais para você.
Babaca de Uniforme: Assim você me ofende, Valente. Eu jamais
ficaria com uma irmã sua, imagino que ela deva ter um temperamento
parecido com o seu.
Eu: Na verdade, ela é infinitamente melhor do que eu, ou seja,
mesmo se tivesse vinte anos, eu jamais deixaria que você chegasse perto
dela.
Babaca de Uniforme: É muito ruim não poder discordar. Eu também
não deixo nenhum filho da puta chegar perto da minha irmã, principalmente
se ele for parecido comigo.
Eu: Agora eu fiquei impressionada de verdade. Não sabia que você
era tão consciente.
Babaca de Uniforme: Viu só? Eu não sou apenas um rostinho bonito
com um corpo perfeito, Valente.

— Aubrey Banks.
O médico apareceu na recepção, chamando pela minha irmã, que
estava tirando um cochilo encostada em meu ombro. Fiz um sinal avisando
a ele que já estávamos indo e acordei a dorminhoca, que se espreguiçou
antes de se levantar. A caminho do consultório, digitei para Logan:

Eu: Minha irmã vai ser atendida agora. Pode deixar o iPad na Maeve
depois?
Babaca de Uniforme: Vou pensar no seu caso.
Revirei os olhos diante da sua mensagem. Era claro que Logan não
desperdiçaria uma oportunidade de me perturbar.

Era noite de sexta-feira, então, o bar estava em pleno funcionamento,


com a maioria das mesas ocupadas, assim como as banquetas em frente ao
balcão. No palco pequeno, onde rolava o karaokê em noites de sábado, uma
banda de rock que tocava os clássicos dos anos 80 e 90 animava os clientes.
Maeve negava, mas eu tinha quase certeza de que o vocalista, um homem
de pouco mais de cinquenta anos e que mal conseguia tirar os olhos de cima
dela, estava tocando ali pela terceira semana consecutiva porque tinha um
interesse maior na dona do bar.
Segundo Maeve, eles foram amigos durante o ensino médio, mas
Harlan, o vocalista, se mudou com a família quando passou para a
faculdade de Yale, e só agora havia retornado ao Alabama. Maeve nunca
havia se casado, seu relacionamento mais longo tinha durado sete anos
quando ela era mais jovem, e não parecia ser do tipo que gostava de se
amarrar em alguém. Já a tinha visto com alguns casos desde que cheguei à
cidade, mas nada muito sério. No entanto, Harlan a deixava visivelmente
nervosa e distraída quando estava no bar. A prova estava bem ali, diante dos
meus olhos, enquanto ela suspirava e quase deixava o copo quase
transbordar de cerveja sob a chopeira. Maeve soltou um gritinho quando
tirei a caneca da sua mão e acionei o botão para desligar a máquina.
— Ah, meu Deus, quase desperdicei cerveja, não foi? — perguntou,
fazendo uma careta. Tentando disfarçar, ela deu um tapinha na própria testa.
— Não sei onde está a minha cabeça hoje.
— Eu sei muito bem onde ela está — comentei, apontando para o
palco com o queixo.
A banda de Harlan tocava Radio Ga Ga, do Queen, e os clientes, em
sua maioria universitários, acompanhavam em um coro animado. Aquela
era uma prova de que um clássico sempre seria um clássico, não importava
quantos anos se passassem. As bochechas de Maeve ficaram coradas
enquanto ela tentava conter um sorriso.
— Para de besteira, já disse que somos apenas amigos.
— O que é melhor ainda. Melhor se interessar por um amigo do que
por um inimigo, não?
— Não estou interessada nele.
— Mas ele com certeza está interessado em você — falei, colocando
a caneca de cerveja sobre a bandeja de Cindy quando ela parou em frente ao
balcão. — Pedido da mesa dezoito. — Ela concordou com a cabeça e saiu
pelo salão. Aproveitando a folguinha de alguns segundos entre um pedido e
outro, abracei Maeve pelos ombros. — Eu acho que você não vai se
arrepender de dar uma chance ao cantor sensual.
— Você acha, é? Como pode saber disso se nem ao menos o
conhece?
— Eu não o conheço, mas você conhece.
Maeve sacudiu a cabeça e tomou um gole da sua água, tentando
escapar de mim.
— Eu o conheci a mais de trinta anos atrás, Ava. É verdade que
estamos nos reaproximando agora, mas somos duas pessoas diferentes das
que éramos quando adolescentes.
— E isso não é bom? Agora, vocês são mais maduros e experientes.
— Eu tenho mais de cinquenta anos, homens como Harlan com
certeza gostam de mulheres mais novas.
— Maeve, isso é besteira! Veja a forma como ele te olha. — Indiquei
novamente com o queixo para o palco pequeno. Harlan ainda olhava em
nossa direção, especificamente para a mulher linda ao meu lado, e piscou
para ela. Senti Maeve sorrir silenciosamente. — Não acredito que Harlan te
olharia desse jeito se por um acaso não sentisse interesse por você.
— Acha mesmo isso?
— Sim! Em que momento você se deixou tomar pela insegurança
desse jeito? — perguntei, realmente surpresa.
Maeve sempre me pareceu ser muito confiante. Ela comandava
aquele bar com punhos de ferro, separava brigas se fosse necessário, tinha
muitos amigos do sexo masculino e arrastava muitos olhares por onde
passava. Aquilo nunca havia sido um problema para ela até então, pelo
contrário, eu via como aproveitava o interesse que despertava no sexo
oposto e que só negava algum convite quando a pessoa realmente não
chamasse a sua atenção. Por que agia de forma tão diferente com o cantor
de rock?
— Eu tinha uma quedinha por ele quando estudávamos juntos, mas
Harlan nunca retribuiu o sentimento — confidenciou enquanto lia a
comanda deixada no balcão por Donovan. — Sempre me viu como uma
amiga, então, tenho medo de acabar me iludindo ao acreditar que ele possa
estar interessado por mim agora. Não sou mais uma garotinha para ficar
suspirando por aí.
— E desde quando há um limite de idade para suspirar por alguém?
Esse seu etarismo[6] está me deixando muito surpresa, Maeve.
— Não fale assim! Não sou uma pessoa preconceituosa.
— Não estou afirmando que é — falei, pegando duas canecas limpas
para encher com cerveja. — Mas está se rotulando demais apenas porque
passou dos cinquenta anos. Você é uma mulher linda, independente e
solteira, se está sentindo interesse real em alguém, e não apenas em sexo,
deve se abrir para isso.
Ela fez uma careta e percebi que não queria dar o braço a torcer e
admitir que eu estava certa, o que me fez rir um pouco. Maeve era uma
pessoa maravilhosa, mas também era um pouco cabeça-dura. Decidi não
insistir mais no assunto, até porque, sua vida pessoal e amorosa dizia
respeito apenas a ela, mas prometi a mim mesma que ficaria de olho no
desenrolar daquela possível história de amor.
Eu poderia não ser muito fã de filmes de romance, como Aubrey era,
mas também não era totalmente cética sobre relacionamentos. Não me via
envolvida com ninguém pelos próximos dez anos, no mínimo, mas queria
que as pessoas a minha volta fossem felizes quanto aos assuntos do coração.
Maeve merecia ter uma pessoa incrível ao seu lado e Harlan parecia ser um
cara muito legal, além de realmente ter todo um sex appeal com aquela
aparência de rockstar. Eles formariam um belo casal.
— Avalon. — Virei-me em direção à Cindy, que me olhava com um
sorriso cheio de segundas intenções. — Tem uma pessoa lá fora querendo
falar com você.
— Comigo? Quem?
— Não sei, Christopher apenas me disse que era um homem. Espero
que seja um gostosão, garota! Você precisa sair da seca!
Cindy se afastou e eu revirei os olhos, logo me dando conta de quem
provavelmente era o gostosão. Havia pedido para Logan me levar o iPad,
mas ele ainda não tinha aparecido, então, com certeza era ele. Maeve, que
estava ao meu lado quando Cindy passou a informação, disse que eu
poderia ir lá fora ver quem era e que seguraria as pontas ali no balcão,
então, sequei minhas mãos, que estavam úmidas por manipular canecas de
cervejas geladas, e fui em direção à porta do bar.
A calçada estava movimentada e havia uma pequena fila de espera do
lado de fora. Procurei por Logan e o seu Audi preto, mas fiquei confusa ao
não encontrar qualquer um dos dois em lugar nenhum. Será que tinha
desistido de esperar e havia entrado no bar? Não fazia ideia de quanto
tempo havia ficado ali fora me esperando, então, era possível que sim. Ou
tinha ido embora? Decidida a tirar a dúvida, me aproximei de Christopher,
que conversava com um grupo de mais ou menos seis pessoas,
provavelmente clientes, e anotava o nome de um deles na lista de espera.
— Christopher, Cindy disse que havia alguém esperando por mim
aqui fora. Era Logan Miller III? Viu se ele entrou no bar ou se foi embora?
O grupo se afastou para esperar por uma mesa e Christopher me
olhou, antes de indicar com a cabeça.
— Não, não era o quarterback, Ava. Aquele homem que está
querendo falar com você.
Eu segui o seu olhar até o outro lado da rua. Encostado em um carro
azul-escuro, estava um homem alto, todo vestido de preto, com o olhar fixo
sobre mim. Meu coração deu um salto no peito e eu dei um passo para trás.
— Você conhece aquele homem, Avalon? Se quiser, posso me livrar
dele — disse Christopher.
Ele era um grande amigo de Maeve e ex-combatente das Forças
Armadas Americana, então, não duvidava nada de que usaria os seus
punhos ou a arma que portava na cintura, para se livrar do homem. Apesar
de a ideia ser tentadora, eu sabia que se algo do tipo acontecesse, a minha
situação só iria piorar, por isso, forcei um sorriso e falei para Christopher:
— Não se preocupe, ele é um conhecido meu da Califórnia.
Pela forma como me olhou, sabia que estava desconfiando de alguma
coisa.
— Tem certeza?
— Claro. — Apertei o seu ombro e sorri um pouco mais. — Vou até
lá cumprimentá-lo.
Aproveitei quando um casal se aproximou para deixar o seu nome na
lista de espera e fugi do olhar desconfiado de Christopher. Esperei que um
carro passasse e atravessei a rua, sentindo meu coração bater mais rápido a
cada segundo. O que ele estava fazendo ali? Eu ainda estava dentro do
prazo, droga!
— Veja só se não é a minha fugitiva favorita. — Charles me deu um
sorriso frio assim que pisei na calçada.
Ele se desencostou do carro e se aproximou, mas eu cruzei os braços
e coloquei um pouco mais de distância entre nós dois, ficando de costas
para o bar, pois temia que Christopher conseguisse fazer leitura labial da
distância em que estávamos.
— O que está fazendo aqui? Até onde eu sei, meu prazo ainda não
terminou.
Era preciso ter atitude com homens como Charles. Se ele sentisse o
medo em minha voz ou visse qualquer insegurança em minha postura,
passaria por cima de mim como um rolo compressor.
— É verdade, mas é sempre bom deixar claro que eu estou mais perto
do que você imagina, linda. — Ele se aproximou um pouco mais, mas não
me movi dessa vez, olhando-o com a cabeça erguida. — Como você não
respondeu à minha mensagem ontem, achei melhor vir aqui pessoalmente.
— Não era necessário...
— Você tem apenas dez dias, Avalon — interrompeu-me. — Diga-
me, já conseguiu a minha grana?
Engoli em seco, querendo muito olhar para trás só para ter a certeza
de que Christopher estava a poucos passos de distância. Não que eu
acreditasse que Charles seria louco de fazer algo contra mim ali, na frente
de todo mundo, mas era bom estar prevenida.
— Daqui a dez dias eu te conto — respondi, ouvindo a sua
gargalhada que me deixou com um arrepio gelado na espinha.
Charles era bem mais alto e mais forte do que eu, mas eram os seus
olhos, azuis e sádicos, que me deixavam borrando de medo. Não que eu
fosse demonstrar o sentimento para ele, claro.
— Você sabe que não deveria me responder dessa forma, não é? — O
desgraçado tocou em uma mecha do meu cabelo e desceu os olhos pelo meu
corpo. — Tem uma pessoa lá na Califórnia que adoraria saber o seu
paradeiro e eu, com esse meu coração de manteiga, estou quase dando a sua
localização para ela.
Senti cada parte do meu corpo ficar gelada. Não tive nem mesmo a
reação de me afastar do toque daquele filho da puta.
— Você me prometeu que não faria isso.
— E você prometeu me pagar na data combinada, mas isso não
aconteceu, Avalon. — Charles já não sorria mais. — Eu te dei um segundo
prazo, mas algo me diz que não vou ver a cor do dinheiro. Você trabalha na
porra dessa espelunca desde que chegou ao Alabama, ainda tem que bancar
a sua irmãzinha... A não ser que esteja vendendo essa boceta escondido de
todo mundo, acho difícil que você tenha conseguido juntar pelo menos
trinta por cento do que me deve!
— Tire as mãos de mim!
— Ou vai fazer o quê? — Ele voltou a sorrir e passou a ponta dos
dedos pela minha mandíbula, quase chegando ao pescoço. — Conta para
mim, é isso que você está fazendo? Está se prostituindo? Se estiver, posso
abrir uma exceção no seu caso e deixar que me pague dando essa boceta
para mim. Sempre quis descobrir se você era ruiva de verdade.
Por um segundo, pensei em dar uma cabeçada naquele seu nariz meio
torto — que provavelmente ele já havia quebrado em algum momento —
até fazer com que um rio de sangue sujasse a sua cara, mas a presença de
alguém atrás de mim me deteve.
— Acho melhor você tirar as mãos de cima dela, ou juro que vai
conhecer o peso da minha mão se não o fizer.
Surpreendentemente, Charles deu um passo para trás, erguendo as
mãos, mas ainda sorrindo. Às minhas costas, senti o calor do corpo de
Logan, mas não consegui me virar. Não consegui nem mesmo respirar,
sentindo meus pensamentos correrem de um lado para o outro. Logan teria
ouvido alguma coisa? Ou a conversa inteira? Ele tinha que chegar justo
naquele momento? Porra! Meu coração voltou a disparar, mas agora
confuso com uma miríade de sentimentos.
— Nós só estávamos conversando. Somos velhos amigos, não é,
Avalon? — Charles não esperou pela minha resposta. — E você? Quem é?
— Depende. — Senti as mãos de Logan em minha cintura. Ele
apertou um pouco, quase como se quisesse me tranquilizar, mas tudo o que
senti foi um frenesi em meu estômago e um arrepio na base da coluna que
quase me fez perder as forças das pernas. — Para Avalon, sou namorado,
para você, posso ser o cara que vai consertar ou terminar de arrebentar esse
nariz torto que você tem.
O quê?
Eu realmente quis me virar de frente para o quarterback, mas ele
apenas me apertou mais forte, puxando o meu corpo de encontro ao seu.
Minha cabeça batia em seu peitoral, isso foi tudo o que consegui assimilar
durante um segundo inteiro. Nossa diferença de tamanho nunca ficou tão
visível. Era quase humilhante.
— Interessante. — Charles sequer se abalou. Ele olhou para Logan
com mais interesse e eu morri de medo de que soubesse quem ele era. —
Espero que você não esconda nada do seu namorado, Avalon, muito menos
o nosso... envolvimento. Não se esqueça, você tem dez dias. Ou nove. Ou
oito. Vai depender do meu humor.
Sem esperar pela minha resposta, Charles entrou em seu carro e deu
partida, deixando Logan e eu parados na calçada, com as mãos enormes do
quarterback em minha cintura. Geralmente, eu pensava e agia rápido, mas,
naquele momento, não consegui. Sentia-me presa em um looping, com os
últimos minutos passando em câmera lenta dentro da minha cabeça.
— Avalon. — Logan parou na minha frente e tocou em meus
ombros. Nunca o vi tão sério antes, nem mesmo ontem, quando soube que
seu pai o esperava na sala. — Quem era aquele homem?
— Eu... Hm... — Merda! Eu não sabia o que responder. Fechei os
olhos por um segundo, só para poder puxar ar suficiente para preencher os
meus pulmões e oxigenar o meu cérebro confuso. Aquilo me deu tempo
para poder clarear os meus pensamentos. — Por que você disse que era meu
namorado?
— Depois de tudo o que aconteceu aqui, é com isso que está
preocupada?
Logan tinha razão. Droga, ele tinha toda razão. Sacudi a cabeça,
ainda confusa, e o jogador pegou em minha mão.
— Você está gelada. Vem comigo.
Logan começou a me levar em direção ao seu carro, que estava
estacionado a alguns metros à frente de onde estávamos, e eu tentei pará-lo,
sem sucesso, obviamente, porque ele era bem mais alto, pesado e rápido do
que eu.
— Logan, espera! Eu preciso voltar para o bar, estou no horário de
expediente.
— Acha mesmo que vai conseguir trabalhar nesse estado? Você está
tremendo, Avalon, é capaz de deixar alguma daquelas garrafas cair e ainda
se cortar com um caco de vidro.
Desde quando Logan era tão dramático? Ele destravou o carro e abriu
a porta do carona. Algo me dizia que, se eu entrasse ali, minha vida ia
mudar para sempre. Eu geralmente dava ouvidos a minha intuição, mas
estava tão abalada, que sequer pensei direito, apenas entrei no carro do
quarterback e tentei me acalmar enquanto ele dava a volta e ocupava o
banco do motorista.
Eu ouvi boa parte da conversa de Avalon com aquele homem
estranho e não gostei de nada das merdas que saíram da boca do filho da
puta. Não era preciso de muito para saber que o cara tinha pinta de
perigoso. A cicatriz em sua sobrancelha, o nariz torto de quem já havia se
metido em brigas e o sorriso mal-intencionado eram indícios suficientes, o
que me pegou de surpresa, foi Avalon ter relação com uma pessoa daquele
tipo.
Ao meu lado, a garota parecia ter se acalmado um pouco mais, apesar
de balançar a perna esquerda para cima e para baixo e manter o olhar fixo
pela janela. Eu continuei a dirigir, deixando apenas que a música que tocava
no rádio preenchesse o silêncio. Ariana Grande cantava Breathin e percebi
que a letra da canção combinava bastante com o momento tenso.
Não sabia exatamente para onde eu estava indo, mas quando me dei
conta de que estava perto de um Drive-in, joguei a seta para o lado direito e
entrei no espaço aberto, já ocupado por alguns carros naquela noite de
sexta-feira. Havia barracas com cachorro-quente, pipoca e algodão-doce ao
fundo, mas desisti da ideia de sair para comprar algo logo depois que
estacionei o carro e fiquei esperando que Avalon dissesse alguma coisa.
Eu sabia que não éramos amigos — na verdade, estávamos bem
longe de ser algo do tipo —, mas jamais conseguiria ficar indiferente ao ver
uma mulher sendo cercada por um homem tão estranho quanto aquele
fodido que tocava em seu rosto. O fato de já ter algum tipo de contato com
Avalon só me fez ter a certeza de que eu precisava intervir de alguma
forma.
Se tivesse que partir para a porrada com o filho da puta, eu o faria.
Havia praticado luta quando adolescente e ainda sabia uma técnica ou outra,
seria fácil imobilizá-lo. O que me fez tomar uma atitude diferente, foi a
certeza de que o babaca deveria portar uma arma de fogo e, então, eu não
estaria colocando apenas a minha vida em risco, mas a de Avalon e das
pessoas a nossa volta também.
— Está com fome?
Eu queria perguntar outra coisa. Na verdade, queria jogar sobre
Avalon uma enxurrada de perguntas, inclusive, sobre a identidade daquele
homem, mas sabia que a garota era dura na queda e não me falaria nada,
principalmente se eu chegasse sendo invasivo demais. Seus olhos
finalmente encontraram os meus e percebi que estavam levemente úmidos.
Avalon havia chorado? E eu nem mesmo tinha visto? Puta merda!
— Valente...
— Não. — Ela sacudiu a cabeça. — Não estou com fome.
— Esquece isso — pedi, virando-me em sua direção. Um filme
qualquer começou a passar na tela do Drive-in, mas nenhum de nós dois
prestou atenção. — Quer me contar o que aconteceu em frente ao bar? —
Avalon sacudiu a cabeça de novo e eu contive um suspiro de frustração. —
Tudo bem. Eu vou sair para comprar um lanche pra gente, ok?
— Não precisa, realmente não estou com fome.
— Mas vai comer. Quando minha irmã está chateada, sempre dou
comida para ela. Geralmente funciona.
Uma sombra de sorriso surgiu nos lábios de Valente e eu me senti um
pouco vitorioso por arrancar aquela reação dela.
— Parece que você é um bom irmão.
— Eu sou o melhor, pergunte a Norah.
— Acho que você é o único irmão que ela tem, não?
— Por isso mesmo que sou o melhor, não tem ninguém para competir
comigo.
Avalon riu e revirou os olhos.
— Você é inacreditável, estrelinha dourada. Só não me traz algodão-
doce, ok? Eu odeio.
— O quê? Apenas psicopatas não gostam de algodão-doce, Avalon!
— Então é melhor tomar cuidado comigo, QB. — Ela piscou para
mim e eu senti um impacto bem em meu peito.
Nomeei a sensação como surpresa, afinal, meu corpo apenas reagiu
ao gesto inesperado de Avalon. Não foi nada de mais. Desistindo de tentar
entender o paladar estranho da garota, saí do carro e caminhei até as
barracas, comprando dois cachorros-quentes, duas latas de Pepsi e uma
barra de chocolate. Havia outros doces por ali, mas decidi não arriscar
muito, pois uma pessoa que não gostava de algodão-doce, poderia
simplesmente não gostar de doce algum.
Enquanto entrava no carro, percebi que o filme Grease estava sendo
exibido, um clássico do final dos anos 70.
— Esse é um dos filmes favoritos da minha avó — comentei assim
que me acomodei melhor sobre o banco. Dei para Avalon um cachorro-
quente e o refrigerante. — Também era um dos filmes favoritos da minha
mãe.
— Obrigada. — Ela pediu baixinho, olhando rapidamente para a tela
antes de voltar a me encarar. — Sua mãe não era muito nova para ter como
filme favorito um clássico que foi lançado em 1978?
Não passou despercebido por mim que Avalon falou da minha mãe
no passado. Então, ela também sabia sobre a sua morte, assim como todos
os alunos da UA.
— Por isso mesmo que é um clássico, ele atravessou gerações. Ela
era criança na época do lançamento, mas o filme ainda era um sucesso
quando ela chegou à adolescência.
Avalon concordou com a cabeça e deu uma mordida no cachorro-
quente, assim como eu. Nunca iria entender como um alimento
ultraprocessado como a salsicha, poderia ter um sabor tão bom.
— Minha mãe era apaixonada por Top Gun — disse ela antes de
beber um pouco do refrigerante e colocá-lo no porta-copos do carro, ao lado
do meu. — Mas por culpa do Tom Cruise, é claro.
— Por que você acha que minha mãe adorava Grease? Era por culpa
do John Travolta, por mais que meu pai não goste de admitir.
A lembrança que me invadiu foi saudosa e engraçada ao mesmo
tempo. Eu ainda um moleque, observando minha mãe provocar o meu pai
enquanto o John Travolta dançava na tela da nossa TV. Ele se fingiu de
bravo, mas logo a puxou para dançar, para a alegria da minha irmã, que era
só uma criança na época e gargalhava com as mãos na barriga. Eu também
me diverti muito naquele dia. Era triste pensar que nunca mais viveríamos
momentos como aquele. Nem ao menos me lembrava da última vez que
meu pai sorriu daquela forma.
Continuamos a comer em silêncio, mas eu mantive um olho sobre
Avalon durante todo o tempo. Assim que terminamos, peguei a bolsa de
papel onde estava a barra de chocolate e estendi para ela, vendo seu olhar
de surpresa.
— Não sabia se você gostava, mas resolvi arriscar.
— Logan... Não precisava. — Ela pegou o chocolate e me deu um
sorrisinho. — Chocolate ao leite é o meu favorito.
— Que bom! Acho que pela primeira vez, acertei em alguma coisa
com você.
Avalon continuou a sorrir para mim, o que foi mesmo surpreendente,
enquanto abria a embalagem. Percebi que fiquei realmente contente por ter
acertado o gosto da garota, apesar de ainda não saber como me sentia em
relação a ela. Uma coisa, no entanto, era certa: Avalon havia me ajudado na
noite de sábado, quando eu estava tão bêbado, que sequer conseguia
destravar o meu carro — algo que soube pela minha irmã, pois a minha
memória daquela noite era muito confusa —, então, eu meio que estava em
dívida com ela. Sentia que finalmente estava retribuindo o que fez por mim.
Ela tirou uma fileira da barra de chocolate e me ofereceu um pedaço,
que eu logo aceitei, porque era uma formiga como minha irmã mais nova.
Mais alguns minutos de silêncio se estenderam entre nós dois enquanto
devorávamos o doce e fingíamos prestar atenção no filme. Eu já não
conseguia mais me conter, queria muito que Avalon começasse a me contar
o que havia acontecido de verdade entre ela e aquele cara, por isso, precisei
contar:
— Eu ouvi uma parte da sua conversa com aquele babaca.
Avalon voltou a me fitar, sem o sorriso de antes. Percebi como ficou
tensa ao meu lado, seu rosto perdendo a cor gradativamente. Ela ainda tinha
um resquício de batom escuro nos lábios, mas só isso. Mesmo assim,
continuava linda.
— Não quero falar sobre isso.
— Quem é ele, Avalon?
— Logan, por favor...
— Por que você deve dinheiro a ele?
Aquele era o ponto crucial. Eu ouvi o filho da puta falando sobre um
prazo e perguntando sobre dinheiro. Apesar de Avalon tentar manter a
postura de dona de si, era óbvio demais que estava abalada, pelo menos
para mim, que estava acostumado a ver como era segura, quase uma rocha.
Assim que cheguei perto dela o suficiente, percebi que tremia, e quando a
toquei, tive a certeza de que eu não estava exagerando ao notar a sua
reação. Avalon estava com medo daquele cara, por mais que não quisesse
demonstrar.
— Isso não é da sua conta — disse de forma dura, voltando a olhar
para frente. — É melhor a gente voltar, Maeve vai cortar o meu pescoço por
causa desse sumiço e...
— Eu te salvei daquele cara, então, sim, é da minha conta.
Avalon me encarou e, então, começou a rir de forma debochada. Eu
trinquei a mandíbula, pedindo a mim mesmo que tivesse paciência com ela.
Eu também não gostava quando qualquer pessoa se metia em meus
assuntos, mas naquele caso era diferente. A ameaça na expressão daquele
cara era muito real para que eu simplesmente ignorasse.
— Você me salvou? O que você é agora, Logan, um príncipe de
armadura brilhante? Só falta o cavalo branco, certo? Mas acho que você é
moderno demais para isso.
— Aquele filho da puta estava tocando em você, Avalon.
— E eu me livraria dele em um segundo, se eu quisesse!
— O que isso quer dizer? Queria que ele continuasse colocando as
mãos em você? — perguntei, virando-me em sua direção. — Será que eu
entendi tudo errado e você estava gostando daquela situação? Talvez
fazendo charme para que ele pensasse que você é difícil?
Seu rosto ficou vermelho e eu soube que tinha vencido aquela parte
da discussão quando Avalon balançou a cabeça.
— Óbvio que eu não estava gostando!
— Então eu te ajudei de alguma forma, não foi?
— Você precisa ouvir isso para alimentar a porcaria do seu ego, não
é?
— Talvez. — Sorri porque, no fundo, eu era mesmo um pouco
babaca e gostava de perturbá-la. — Ou talvez eu só queira que você se
acalme e confie em mim para contar o que está acontecendo.
— Confiar em você? Logan, nós não somos amigos!
— Tem razão, mas eu ouvi a maior parte do que aquele babaca falou
para você, Valente, e quero me certificar de que você vai ficar bem.
— Eu vou ficar bem — garantiu, diminuindo o tom de voz. Vi em
sua expressão que queria muito que eu acreditasse naquilo e a deixasse em
paz, mas em seus olhos brilhavam a dúvida e a insegurança. — Não precisa
perder o seu tempo se preocupando comigo. Eu sei muito bem cuidar de
mim e da minha irmã, faço isso desde os dezoito anos, quando perdemos a
nossa mãe e ficamos sozinhas no mundo. Não vai ser aquele imbecil que
vai me derrubar.
Aquela informação me pegou completamente de surpresa e acho que
até mesmo Avalon se surpreendeu por ter jogado tudo aquilo sobre o meu
colo. Eu demorei alguns segundos para tentar descobrir o que eu poderia
falar diante de tudo o que ouvi, mas logo percebi que fazia muito sentido
que aquela fosse a história de Valente. Ela era forte de uma maneira que eu
não conhecia em nenhuma garota da nossa idade, como se já tivesse vivido
muito mais do que todas elas, apesar da cara de novinha. Agora, eu sabia o
porquê.
— Sinto muito por ter perdido a sua mãe. Eu perdi a minha há pouco
tempo e sei como a dor é insuportável — sussurrei, desviando o olhar para a
janela.
Apesar de a nossa relação ser muito difícil, eu ainda tinha o meu pai,
também tinha a minha avó, duas pessoas mais velhas, que foram a minha
âncora e a da minha irmã naquele momento tão difícil. Não conseguia
imaginar como foi para Avalon perder a mãe e se ver sozinha com uma irmã
que dependia única e exclusivamente dela.
— Eu soube disso. Sinto muito também, Logan — disse ela,
chamando a minha atenção. — É muito ruim a gente não ter o que falar
nessas horas, não é? “Sinto muito” simplesmente não serve de nada.
Eu concordei com a cabeça, porque era mesmo verdade. Tantas
pessoas haviam prestado condolências a mim e a minha família naquela
época, mas não senti consolo algum. Lidar com a perda de alguém era algo
muito solitário e eu sofria com isso todos os dias. Não se tornava mais fácil
com o passar do tempo, pelo contrário, ficava cada vez mais difícil.
— Obrigada por ter me ajudado — Avalon murmurou ao meu lado,
me pegando completamente de surpresa. — E por ter me tirado de lá, por
ter comprado o lanche... Foi muito gentil da sua parte.
— Sei que não esperava uma atitude tão nobre partindo de mim —
brinquei, mas a forma como Avalon me encarou deixou bem claro que ela
realmente não esperava. — Minha nossa, Valente, você poderia pelo menos
fingir que tinha um pouco de fé em mim?
Avalon riu baixinho, me trazendo uma sensação estranha na barriga,
como se um monte de formigas corresse por debaixo do meu abdômen.
— Desculpa, mas a sua fama não é uma das melhores, Logan
terceiro.
Por um momento, me senti dentro do campo, no momento fatídico
em que lanço a bola para James, o wide receiver, confiando que ele vai
pegá-la para continuar a nossa tática de jogo e garantir que o nosso time
fará um touchdown. Era o segundo em que tudo poderia mudar. O segundo
em que a minha cabeça deu uma guinada e o plano perfeito surgiu em
minha mente.
“Você precisa arrumar uma namorada!”
“Limpar a sua imagem...”
“Melhorar a sua reputação.”
— Logan? — Avalon voltou a entrar em meu campo de visão. —
Está tudo bem?
“Eu te dei um segundo prazo, mas algo me diz que não vou ver a cor
do dinheiro.”
“Não se esqueça, você tem dez dias. Ou oito. Ou nove. Vai depender
do meu humor.”
— É isso! — Soquei o volante com entusiasmo e Valente deu um
pulinho de susto sobre o banco ao meu lado.
— Isso o quê?
— Você — apontei para ela — vai ser a minha namorada por dois
meses e eu — apontei para mim mesmo — vou pagar a sua dívida com
aquele babaca e você vai se ver livre dele de uma vez por todas.
— O... O quê? — Avalon gaguejou, com os olhos tão arregalados,
que pensei que eles poderiam saltar do seu rosto e rolar pelo assoalho do
meu carro.
— É isso que você ouviu! Pensa bem, Valente, você precisa da grana
para pagar aquele filho da puta e eu preciso melhorar a minha fama, como
você mesmo disse. Minha imagem está manchada com a liga profissional e
eu preciso mudar isso o quanto antes, ou não terei chance de ir para o Draft
em 2024. Então, te proponho o seguinte: você se torna a minha namorada,
de mentira, é claro, e eu pago a sua dívida. É o acordo perfeito! O que acha?
Avalon piscou uma, duas, três vezes. Ela estava pálida e boquiaberta,
completamente sem reação.
— Eu... Eu acho que devia ter algum tipo de droga no seu cachorro-
quente e, agora, você está alucinando.
— Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida!
— E eu continuo achando que você está alucinando! — rebateu, me
olhando como se eu fosse louco. — Nós não nos suportamos, Logan! Como
quer que eu finja que sou a sua namorada? E, pelo amor de Deus, namoro
de mentira? Quantos anos você tem? Doze?
— É mais simples do que arrumar uma namorada de verdade e bem
mais descomplicado, também. Vai ser um acordo, Valente. Pense nisso
como uma transação de negócios.
— Ah, claro, você é como um banco querendo comprar a minha
dívida e eu vou ficar pagando juros abusivos que, no caso, é ter que
conviver com você. Não, nem pensar!
— Eu juro que vou ser o namorado falso mais fantástico do universo!
— Não!
— Comigo, você só vai ter a ganhar. Não vai ter cobrança, ciúmes e
todo o lado tóxico de um relacionamento. Eu até deixo você me colocar um
chifre de vez em quando, mas tem que ser muito bem escondido, claro,
porque não posso ficar por aí com fama de corno. — Avalon voltou a me
encarar boquiaberta, completamente estarrecida. Limpei a garganta,
pensando melhor. — Quer dizer, acho que podemos esquecer essa parte do
chifre. Serão apenas dois meses, não vamos morrer se ficarmos em celibato
durante esse tempo, certo?
Certo? Eu tinha que fazer aquela pergunta a mim mesmo. Dois meses
sem sexo. Sessenta dias. Puta merda. Eu ia morrer.
— Eu sabia que você era sem-noção, mas não a esse ponto.
— Você também não vai conseguir ficar dois meses sem transar?
— O quê? Logan, você está se ouvindo? — Eu concordei com a
cabeça, só para deixar claro que sim. — Eu não estou preocupada com
sexo! Nem lembro a última vez que transei.
Eu a olhei de cima a baixo, ficando chocado.
— Isso não é possível, você é gostosa pra caralho.
— E daí?
— E daí que é impossível um cara olhar para você e não ficar de pau
duro. — Calei-me ao ver o seu olhar assassino. — Quer dizer, eu estou te
olhando e não estou de pau duro agora, mas... Espera, preciso explicar
melhor. Você é gostosa e homens sentem tesão em mulher gostosa,
entendeu? Sendo assim, a matemática é simples, você desperta desejo
sexual nos homens, logo, eles devem chegar em você, não? Você trabalha
no bar da Maeve, lida com homens o tempo inteiro!
— E é exatamente por isso que eu tenho vontade de chorar a cada vez
que me lembro que sou uma mulher heterossexual — disse ela, revirando os
olhos. — Vamos fazer o seguinte, estrelinha dourada. Me leva de volta para
o bar, porque eu preciso trabalhar, e vamos fingir que você nunca me fez
essa proposta, ok?
— Quanto você deve para aquele cara?
— Isso não é da sua conta, Logan!
— Só me diz o valor.
— Um milhão de dólares! — disse ela, muito séria. — E aí, está
disposto a pagar?
— Não que eu acredite em você, mas, para tentar limpar a minha
imagem e chegar ao Draft daqui a dois anos? Querida, eu pagaria o dobro.
Valente me olhou como se eu estivesse completamente insano.
— Por que rico sempre acha que pode comprar tudo?
— Não podemos comprar tudo, mas o dinheiro abre muitas portas —
falei o óbvio. — Não estou fazendo essa proposta para te ofender, Valente,
não quero comprar você nem nada do tipo, estou apenas te mostrando que
há uma opção para você se livrar dessa dívida, contanto que me ajude por
dois meses. Juro que vou tentar ser uma pessoa melhor para você nesse
meio tempo. Você vai perceber que eu nem sou tão babaca quanto pensa.
Avalon passou a mão pelo rosto e respirou fundo. Eu sabia que sua
cabeça deveria estar zonza naquele momento, pois até mesmo a minha
estava, por isso, dei partida no carro e logo saí do Drive in, me dando conta
de que eu provavelmente estava mesmo insano. De todas as garotas no
mundo, resolvi fazer aquela proposta justamente para uma que não ia com a
minha cara e por quem eu nutria uma certa aversão.
Mas é melhor assim. Se não gostamos um do outro, não haverá a
menor possibilidade de acontecer alguma coisa entre nós dois.
Quase sorri com o pensamento. Eu não estava insano, eu era um
gênio, porra! Aproveitei que estávamos na estrada e voltei a ligar o rádio do
carro, dando um tapinha de leve no volante.
Avalon aceitaria a minha proposta e a minha imagem perante o
mundo do esporte iria mudar completamente.
Eu tinha certeza!
Eu jamais aceitaria aquela maluquice proposta por Logan!
O quarterback devia ter batido a cabeça enquanto comprava o lanche
para nós dois e os parafusos da sua mente — que com certeza já não eram
muitos — ficaram frouxos. Era a única explicação. Fizemos o caminho de
volta para o bar da Maeve sem trocarmos uma palavra, enquanto ele
cantarolava baixinho a música que tocava no rádio e batucava o volante
com o polegar. Sua voz rouca era até bonitinha, mas seu sorriso presunçoso,
de quem tinha certeza de que eu iria aceitar aquela insanidade, estava me
deixando irritada.
Eu sabia que não deveria ter entrado no carro dele. Deveria ter
ouvido a minha intuição, mas fui teimosa.
Era verdade que ele tinha sido fofo comigo me levando para longe de
onde tudo havia acontecido e comprando o cachorro-quente e o chocolate,
mas a magia acabou quando ele soltou aquela bomba no meu colo. Logan
estava completamente louco se achava que eu iria aceitar participar daquilo.
Não éramos mais crianças, se ele queria mesmo mudar a sua imagem, tinha
que trabalhar de verdade naquilo, e não criar uma historinha idiota de
jogador apaixonado.
Seu carro parou em frente ao bar, que ainda estava bastante cheio,
mas já sem a fila de espera, pois era quase meia-noite. Eu sabia que aquilo
não queria dizer nada, pois muitos clientes acabavam chegando por volta
daquele horário e só deixavam o bar depois das três, por isso, me preparei
para ficar de pé por pelo menos mais quatro horas.
— Antes que eu me esqueça. — Virei a cabeça a tempo de ver Logan
se esticar e pegar algo no banco de trás. — Seu iPad.
— Valeu. — Peguei o aparelho da sua mão e me preparei para
agradecer novamente por ter me ajudado, mas Logan falou mais rápido:
— Pensa com carinho na minha proposta, ok?
— Logan...
— Não, não quero uma resposta agora. É sério, Valente, só pense um
pouco, você vai ver que o meu plano beneficia a nós dois.
Eu concordei com a cabeça apenas para que ele parasse de insistir,
pois queria sair logo dali e respirar o ar frio da noite. Tinha medo de que a
presença de Logan acabasse fazendo com que os parafusos do meu cérebro
se afrouxassem também.
— Tudo bem, eu vou pensar — menti. — Obrigada pelo que fez por
mim. Apesar de você ser insuportável, hoje foi uma pessoa incrível comigo.
— Só imagine quando eu me tornar o seu namorado, de mentira, é
claro. Vou ser melhor ainda.
O idiota sorriu de orelha a orelha, me dando uma piscadinha que com
certeza era infalível com o público feminino. Ignorei o fato de a minha
barriga ter ficado gelada diante do seu gesto, pois não queria fazer parte das
meninas que se encantavam por Logan Miller III.
Despedi-me dele e saí do seu carro, encontrando com Christopher na
porta do bar. Ele me deu um olhar curioso, mas não perguntou nada,
acenando para Logan quando o quarterback buzinou para cumprimentá-lo.
Só consegui entrar depois que Logan partiu, sentindo que aquela última
hora ao seu lado parecia fazer parte de um outro universo. Tanta coisa havia
acontecido dentro daquele Audi, que eu poderia facilmente acreditar que
tinha sido um sonho muito louco e não a realidade.
— Maeve já perguntou mil vezes por você — Cindy disse, me
interceptando no meio do caminho. — Para onde você foi o com
quarterback gostoso, garota?
— Como sabe que eu estava com ele?
— Eu estava perto atendendo a mesa que fica perto da janela e vi
quando você entrou no carro dele. Sua sortuda! Me diz, ele tem pegada?
Como é o beijo? Já ouvi diversas meninas comentando aqui no bar que ele é
uma delícia na cama, mas queria saber de alguém com quem eu tenho
alguma intimidade. Me conta tudo!
Fiz uma careta ao ouvir aquilo. Será que mais alguém, além de Cindy
e Christopher, tinha me visto entrar no carro de Logan? A última coisa que
eu precisava, era que começassem a especular sobre um suposto
envolvimento entre mim e o astro do Crimson Tide.
— Não aconteceu nada disso que você está pensando, Cindy. Nós só
estamos fazendo um trabalho juntos e Logan veio até aqui para discutirmos
sobre uma pesquisa que ele fez.
— Em uma sexta-feira à noite? Com você no meio do horário de
expediente? Tá bom! — Ela riu, me dando um aperto no ombro. — Eu
entendo se você não quiser falar nada, é tudo muito recente, não é? Mas
uma hora você vai ter que me contar! Agora eu preciso voltar ao trabalho,
porque ao contrário de você, não posso dar uma escapadinha para pegar um
quarterback.
Ela me deu um tapinha na bunda, me chamando mais uma vez de
sortuda, e partiu em direção à mesa treze. Por sorte, a música alta havia
abafado a nossa conversa e os clientes pareciam estar entretidos demais
bebendo, rindo e conversando para prestarem atenção em nós duas. Segui
em direção ao balcão, onde Maeve estava se dividindo entre atender um
cliente e conversar com Harlan, que já havia encerrado o show daquela
noite. Percebi que Lisa, a ajudante de cozinha, estava por ali também,
organizando alguns pedidos. Senti-me mal imediatamente por ter deixado
Maeve na mão por tanto tempo, principalmente quando ela me flagrou
abrindo a portinha de madeira que dava acesso ao interior do balcão.
— Maeve, eu...
— Tome isso — ela colocou três comandas na mão que eu não usava
para segurar o iPad. — Cuide desses pedidos, depois a gente conversa.
Não sabia dizer se Maeve estava irritada, chateada ou as duas coisas,
mas não ousei falar nada. Coloquei o iPad em uma prateleira escondida
debaixo do balcão e comecei a trabalhar. No meu primeiro mês no bar, me
senti completamente perdida, pois não tinha experiência alguma com
bebidas alcoólicas e acabava me enrolando com os pedidos, mas, agora, eu
conseguia me mover naquele espaço de pouco mais de dois metros
quadrados de olhos fechados, por isso, em menos de meia hora, Lisa pôde
voltar para a cozinha e eu dominei completamente o atendimento para que
Maeve pudesse dar um pouco mais de atenção ao cantor charmoso que não
tirava os olhos dela.
Como previsto, o bar começou a esvaziar logo depois das três da
manhã, mas isso não significava que o trabalho havia terminado. Harlan se
manteve firme por ali, mesmo depois de sua banda ir embora, e eu senti
que, daquela vez, ele não parecia disposto a sair sem Maeve ao seu lado,
por isso, pedi licença para roubá-la por um segundo e a levei até o canto,
perto da prateleira de bebidas.
— Maeve, antes de mais nada, quero te pedir desculpas por ter
sumido naquela hora, é que...
— Eu sei que você saiu com Logan Miller — disse ela. Cindy era
mesmo uma fofoqueira!
— Não foi para fazer o que você está pensando, eu juro.
— Eu não estou pensando nada. — Surpreendentemente, Maeve
sorriu. — Fiquei irritada na hora, é claro, mas não vou brigar com você. Só
não quero que isso se repita. O dia que você quiser sair com algum
pretendente, me diga, e eu posso remanejar a sua folga.
— Não! Maeve, eu juro que não foi nada disso e Logan está bem
longe de ser um pretendente.
Ela me olhou como se não acreditasse, mas acabou falando:
— Que pena, porque ele é um gato e, apesar estar com uma fama
ruim por aí, eu sei que é um garoto maravilhoso. Espero que você possa dar
uma chance para ele.
Cindy e Maeve estavam vendo em mim e em Logan algo que
simplesmente não existia — e que jamais iria existir algum dia —, mas
desisti de tentar convencer qualquer uma das duas. Não queria falar que
Logan havia me ajudado enquanto eu estava sendo cobrada por um agiota
perigoso que havia vindo da Califórnia apenas para me ameaçar, portanto,
deixei que pensassem o que quisessem.
— Esqueça isso, ok? Agora que já me desculpei, quero que vá
embora com Harlan. Eu cuido de tudo por aqui e fecho o bar.
Maeve mordiscou a pontinha do lábio inferior, parecendo insegura,
enquanto olhava por cima do meu ombro. Sabia que estava observando
Harlan, por isso, não ousei olhar na mesma direção em que ela para que não
ficasse tão óbvio que estávamos falando dele.
— Acha mesmo que eu devo ir?
— Claro que sim! Dê uma chance para vocês dois, Maeve.
— Ah, meu Deus. — Ela estava mesmo nervosa, mas havia um
brilho de entusiasmo em seus olhos que era inegável. — Tudo bem, eu vou!
Me deseje sorte e uma noite regada a muito sexo, por favor.
Eu ri, abraçando-a rapidamente.
— Toda sorte do mundo e muitos orgasmos para você.
— Eu te amo, garota!
— Também te amo, agora vá.
Maeve passou por mim e deu a volta para sair do balcão. Eu observei
tudo discretamente pela parede espelhada à minha frente, enquanto lavava
alguns copos. Harlan jogou ainda mais charme para ela, tocando em suas
mãos e, depois, em sua cintura. O gesto me fez sentir um calafrio, pois
minha mente me transportou para o momento em que Logan me tocou
daquela maneira. Eu estava há tanto tempo sem receber um toque
masculino, que quase senti as minhas pernas se transformarem em gelatina
enquanto sentia o quarterback às minhas costas, o que, agora, me deixou
um pouco constrangida.
Será que Logan sentiu como me deixou? Eu esperava que a tensão do
momento não tivesse dado a ele o gostinho de me ver afetada pelo seu
toque. Ele com certeza acreditaria que era irresistível, quando, na verdade,
eu reagi daquela forma porque devia estar carente. Não foi por conta dele
exclusivamente, eu com certeza me sentiria daquele jeito com o toque de
qualquer pessoa. Pelo menos, foi o que passei os próximos minutos dizendo
para mim mesma, porque, de todos os homens do mundo, Logan seria o
último por quem eu sentiria algum tipo de desejo.
Maeve e Harlan se despediram e logo deixaram o bar. Pelas próximas
duas horas, me ocupei em finalizar os últimos pedidos, fechar o caixa,
dispensar o pessoal da cozinha e arrumar o salão junto com Cindy e
Donovan depois que o último cliente foi embora. Christopher me ajudou a
trancar tudo e eu logo estava livre para subir, cansada demais depois de
mais uma noite turbulenta, sendo esta completamente diferente de todas as
outras que tive desde que cheguei ao Alabama.
O apartamento em que morava com a minha irmã tinha apenas um
quarto, mas havia um cômodo pequeno que Maeve usava antigamente como
escritório e Aubrey pediu para que eu o transformasse em um quarto só para
ela. Era difícil admitir, mas minha irmã já era uma adolescente e queria ter
um espaço sozinha, por isso, me esforcei para deixar tudo do jeito que ela
queria, dentro das minhas condições.
Entrei no cômodo, que estava parcialmente iluminado pela luz que
vinha da rua, e a encontrei dormindo em sua cama de solteiro, coberta até a
cintura por um edredom rosa, sua cor favorita. As paredes receberam uma
tinta da mesma cor e agora estavam cobertas por pôsteres de bandas que ela
gostava — inclusive algumas coreanas que eu nunca conseguia gravar os
nomes. Subi o edredom até os seus ombros, pois a madrugada estava mais
fria agora com o outono chegando, e passei a mão pelos seus cabelos. Era
bom ver minha irmã tão tranquila e saudável daquele jeito, depois de tudo o
que havia enfrentado nos últimos anos.
Eu sabia que estava cometendo uma loucura quando peguei dinheiro
com um homem como Charles, mas faria tudo de novo sem pensar uma
segunda vez, pois não peguei aquele dinheiro para mim. Foi por Aubrey.
Tudo o que fiz foi por ela e não me arrependia nem um pouco. Dei um beijo
em sua testa e saí do quarto silenciosamente, indo direto para o banheiro.
Depois de um banho longo, caí na cama e demorei longos minutos
para pegar no sono, lembrando da proposta de Logan. Uma parte minha
queria aceitar, mas a outra achava tudo aquilo uma loucura. Decidi me
manter firme em negar e virei para o lado, tentando dormir.

— Acorda, bela adormecida! Fiz panquecas!


Escondi os olhos com as mãos assim que Aubrey afastou as cortinas,
me fazendo estremecer com a claridade. Minha mente acabou despertando
depois daquilo, por mais que eu não quisesse, e o cheiro de panquecas
chegou rapidamente ao meu nariz.
— Hm... Isso é mesmo verdade? — murmurei, tomando coragem
para abrir os olhos. Encontrei minha irmã parada na minha frente, me
olhando com desconfiança.
— O que é verdade?
— Você ter feito panquecas e não ter deixado nenhuma delas
queimar. Porque não estou sentindo nenhum cheiro de fumaça.
Ri alto quando Aubrey pegou uma almofada do chão e jogou em
minha direção.
— Eu realmente deveria deixar você morrer de fome! Não sei por
que ainda tento ser uma irmã legal! — Ela marchou em direção à porta
enquanto eu ainda ria. — Venha logo, ou eu vou comer tudo!
Uma música animada de uma das bandas que Aubrey gostava
começou a tocar na sala e eu me levantei, vendo que passava um pouco das
dez da manhã. Eu poderia dormir mais, no entanto, com a correria entre a
faculdade e o bar, eu quase não passava um tempo de qualidade com a
minha irmã durante os dias úteis, por isso, valorizava muito os nossos
momentos juntas no final de semana. Fui até o banheiro rapidinho fazer
xixi, lavar o rosto e escovar os dentes e a encontrei terminando de colocar
os talheres no balcão que separava a sala da cozinha.
— Uau! O que houve com você hoje? Acordou inspirada?
Aubrey havia arrumado o balcão com tudo o que precisávamos para
desjejum, mas havia caprichado ao colocar um arranjo de flores artificiais e
um conjunto de guardanapos de pano rosa que era da nossa mãe.
— Eu criei uma pasta no Pinterest sobre decoração, então, pensei em
não postar apenas ideias que encontro na internet, mas fotos autorais
também. Não mexa em nada! Preciso tirar algumas fotos antes.
Ela pegou seu celular e começou a tirar fotos de vários ângulos. Vi
que também gravou alguns vídeos curtos e fiquei admirando seu
desempenho. Aubrey era muito ligada em redes sociais e sempre gostou de
trabalhos manuais. Quando criança, ela amava pintar, o que era ótimo, pois
mesmo no hospital, ela podia se distrair com o hobby. Minha mãe e eu
sempre a incentivamos, mas conforme foi crescendo, seus interesses foram
mudando um pouco. Agora, ela estava muito empenhada em descobrir tudo
sobre decoração de interiores e design de ambientes.
— Pronto, podemos comer! Espero que tenha ficado gostoso.
— O cheiro está uma delícia e a decoração está linda, querida. Você
arrasou.
Ela me deu aquele sorriso de menina que eu amava, ficando
levemente corada, e logo se sentou ao meu lado. Alisei seu cabelo ruivo em
um tom mais claro do que o meu, que lembrava muito o da nossa mãe, e
logo comecei a me servir. Diferente do miojo, que ela havia conseguido
queimar, a panqueca estava maravilhosa e o café não estava aguado. Comi e
a enchi de elogios, porque, apesar de perturbarmos uma a outra, éramos
unidas demais e não poupávamos incentivos e palavras carinhosas.
Como ela havia feito o café da manhã, eu me propus a lavar tudo,
mas Aubrey acabou ajudando a guardar algumas coisas na geladeira. Eu
estava cantarolando uma música bonitinha do Justin Bieber, quando ela
começou a falar:
— Eu vi pela janela quando você conversou com um homem ontem à
noite. — A xícara cheia de sabão quase caiu da minha mão, mas eu a
segurei no último segundo, sentindo meu coração disparar. — Era o
Charles, não era?
— Aubrey...
— Por favor, não minta para mim, Ava. — Ela parou ao meu lado e
eu deixei a xícara dentro da pia, abrindo a torneira apenas para lavar as
mãos. Queria fugir do olhar sério da minha irmã, mas eu era a mais velha
ali, portanto, me mantive no lugar. — Você pegou dinheiro com ele, não
foi? Não ia conseguir pagar pelo meu tratamento apenas com o dinheiro da
venda da casa da nossa mãe, por isso, pediu mais dinheiro emprestado para
ele. Estou certa?
Apoiei minhas mãos na bancada da pia, sabendo que, uma hora ou
outra, Aubrey iria juntar os pontos e descobrir tudo. Ela já não era mais
uma criança e eu não conseguiria esconder a verdade dela para sempre. Sem
ter coragem para encará-la, confessei:
— Sim, você está certa.
— Meu Deus, Ava! Não acredito nisso. — Aubrey passou as mãos
pelos cabelos, nervosa. — Ele veio até aqui para te cobrar, não foi?
— Sim, mas você não precisa se preocupar com isso — falei,
secando as mãos no meu short do pijama para poder segurar o seu rosto. —
Eu tenho tudo sob controle, não vai acontecer nada de ruim, ok?
— Como você pode dizer isso? Se ele veio da Califórnia até aqui, é
porque você não tem nada sob controle. — Os olhos de Aubrey se
encheram de lágrimas e eu quis me dar um soco. Ela tinha apenas quatorze
anos e estava começando a ter uma vida normal, como os jovens da sua
idade. Não era para a minha irmã se preocupar com nada daquilo! — Eu
disse que não queria que você fizesse nenhuma loucura por mim, Ava...
— Ei, pare com isso! — pedi quando os seus ombros começaram a
chacoalhar de leve por conta do choro. — Eu faria qualquer coisa por você,
Aubrey. Entende o que isso quer dizer? Qualquer coisa! Não me arrependo
nem um pouco de ter pegado dinheiro com aquele homem, pois foi com ele
que eu consegui arcar com todos os custos do hospital para salvar a sua
vida! Eu faria tudo de novo, mil vezes se fosse preciso.
Aubrey chorou mais alto e eu a abracei apertado, engolindo o nó
intenso que tomou a minha garganta. Não gostava de chorar na frente da
minha irmã, pois ela só tinha a mim agora e eu precisava ser forte por nós
duas. Nos momentos mais difíceis, quando achei que não conseguiria salvar
a sua vida, eu chorava escondida no banheiro ou no canto do quarto do
hospital quando ela estava dormindo, pedindo para que minha mãe ajudasse
a Deus a operar um milagre. Ela o fez. Deus nos ouviu. Agora, eu precisava
apenas dar um jeito de me livrar daquela dívida, mas o mais importante, era
que eu tinha Aubrey viva e saudável ao meu lado.
Nunca conheci o meu pai, minha mãe era uma mulher sozinha, mas
que criou a mim e a Aubrey com muito amor, sempre se esforçando para
nos dar o melhor que podia. Perdê-la foi um golpe muito difícil, mas ter a
minha irmã ao meu lado, foi o que me manteve de pé. Aubrey tinha apenas
onze anos na época, dependia completamente de mim, e eu coloquei em
minha cabeça que não descansaria jamais enquanto ela não estivesse
curada, porque, se eu a perdesse, com certeza acabaria me perdendo
também. Por isso, eu não me arrependia de ter feito um acordo com um
homem perigoso como Charles, porque faria tudo de novo para salvar a
vida da minha irmã.
Alisei as suas costas enquanto ela se acalmava, sabendo que Aubrey
era muito mais emotiva do que eu e que não conseguia disfarçar quando
algo a abalava. Assim que seus tremores diminuíram, eu me afastei e sequei
o seu rosto vermelho pelo choro, vendo seus olhos levemente inchados.
— Co-como você vai fazer para pagar a ele, A-Ava? — ela soluçou
baixinho.
— Eu vou pedir mais um prazo — falei, pensando rápido. — Isso
provavelmente vai aumentar os juros, mas...
— Não, você não pode fazer isso! Va-vai se tornar uma bola de neve!
Quanto nós devemos a ele?
Nós. Ah, meu Deus, eu amava a minha irmã.
— Eu — deixei bem claro, porque aquela dívida era minha. — devo
a ele cinquenta mil.
— Cinquenta mil dólares? — Aubrey gritou, me fazendo estremecer.
A cada vez que pensava naquele valor exorbitante, sentia uma parte minha
se desmanchar em desespero. — Como assim? Avalon, isso é muito
dinheiro!
— Sim, eu sei, mas eu tenho uma parte da minha bolsa estudantil
reservada apenas para dar uma entrada para Charles, assim, posso pedir um
novo prazo para pagar o restante.
— E de onde você vai tirar o resto do dinheiro?
— Ainda não sei, mas eu vou dar um jeito.
Eu tinha que dar, pois não havia outra saída. Ou pagava Charles, ou
ele poderia cobrar a dívida tirando a minha vida, ou, pior ainda, tocando na
minha irmã. Aubrey balançou a cabeça, nervosa, e começou a andar de um
lado para o outro.
— Será que Maeve não nos emprestaria o restante do dinheiro? Eu
começo a lavar louça de graça todo dia para ajudar a pagar! Posso fazer
faxina na casa dela também, lavar o seu carro, colocar comida para os gatos
dela... O que acha?
— Eu pensei nisso, mas Maeve pegou um empréstimo alto no banco
meses antes de virmos para cá, para poder fazer uma reforma no bar, e está
sem margem nenhuma agora. Ela me contou isso assim que nos mudamos,
então, não tive coragem pedir nada a ela — falei, me aproximando da
minha irmã. Segurei em sua mão para que parasse de andar como uma
barata tonta daquele jeito. — Escuta, vai dar tudo certo, ok? Não quero que
você se preocupe com isso, Aubrey. Essa dívida é minha e eu vou dar um
jeito de quitá-la.
— Não, essa é dívida é nossa! Se eu não fosse uma doente idiota,
você não teria se metido com aquele bandido!
— Não! Não fale assim! — Briguei com ela, vendo seu rosto
vermelho, mas agora de raiva. — Você é a pessoa mais importante no
mundo para mim, entendeu? Não gosto quando fala assim de si mesma.
— Mas é a verdade! Eu só nasci para dar trabalho, primeiro para a
mamãe, depois para você.
— Aubrey, pare com isso! Eu sei que você já tem quatorze anos, mas
eu ainda posso te dar uns tapas na bunda e te colocar de castigo por um mês
se você continuar falando essa besteira, ouviu?
Ela revirou os olhos, contrariada, e eu a puxei para um abraço
apertado. Bem baixinho, ela confidenciou em meu ouvido:
— Só não queria que você corresse nenhum tipo de risco por minha
causa, Ava. E se não conseguir o dinheiro e ele fizer alguma maldade com
você?
— Nada disso vai acontecer, eu prometo.
— Como não? A não ser que você ganhe na loteria, eu não vejo
como vai conseguir esse dinheiro. Ou você pode se casar com um homem
muito rico e ele, por estar apaixonado, vai pagar a dívida. — Ela riu um
pouco, finalmente se livrando de parte da melancolia, enquanto se afastava
de mim. Vi a sua expressão mudar de repente, então, seus olhos se
arregalaram. — Meu Deus, Ava! É isso! Você pode pedir dinheiro
emprestado para o jogador!
— Que jogador? — perguntei lentamente, mesmo sabendo de quem
Aubrey estava falando nas entrelinhas.
— Logan Miller III! O pai dele não é um milionário foda do mundo
do Direito?
— Olha a boca, garota! — falei, dando um tapinha em sua bunda. —
E, sim, ele é, mas eu jamais pediria dinheiro emprestado para Logan.
— Por que não? Eu vi você entrando no carro dele ontem à noite.
Inclusive, foi impressão minha, ou ele te abraçou por trás e espantou
Charles de perto de você?
— Foi impressão sua — respondi, voltando para a pia para poder
terminar de lavar a louça. — Tire isso da cabeça, ok? Já não basta a
proposta louca que Logan me fez ontem.
— Que proposta?
Eu não deveria abrir a minha boca perto de Aubrey. Agora, a filha da
mãe me olhava cheia de expectativa e eu, que quase nunca conseguia dizer
não para ela, teria que contar sobre a insanidade que Logan jogou no meu
colo na noite passada.
— Ele ouviu a minha conversa com Charles e se propôs a pagar a
dívida.
— COMO É QUE É? — Aubrey gritou tão alto, que um passarinho
que voava perto da janela da cozinha, saiu em disparada. Eu estremeci,
sentindo meu tímpano pulsar. — Como você fala isso só agora? Me deixou
chorar e ficar nervosa à toa, quando o jogador deixou claro que vai pagar a
dívida! Você é uma irmã muito má, Avalon Banks!
— Eu não disse que ele vai pagar, eu disse que ele se propôs a pagar.
— E você vai aceitar, é claro!
— Oh, é claro... Que não! — Coloquei a louça limpa no escorredor e
me virei para Aubrey. — Logan e eu não somos amigos, Aubrey, na
verdade, a gente mal se suporta. É lógico que não vou aceitar.
— Eu não posso acreditar nisso. — Ela veio atrás de mim quando fui
em direção ao meu quarto. — Ava, estamos falando de uma dívida de
cinquenta mil dólares! Nós não temos esse dinheiro, mas para alguém como
Logan, isso deve ser, sei lá, o troco do café que ele toma todos os dias! Não
seja orgulhosa e aceite!
— Eu nem disse o que ele me pediu em troca. Como quer que eu
aceite se você nem sabe qual foi a proposta dele?
— O que ele quer? Imagino que não seja sexo, porque ele é bonito e,
pelo que vejo na internet, pega todo mundo. — Olhei um pouco espantada
para a minha irmã e ela revirou os olhos. — O que foi? Eu não sou mais
criança, Ava, vou fazer quinze anos em janeiro, sei muito bem o que é sexo.
— Não quero ouvir isso — pedi, tampando as orelhas, mas a fedelha
se aproximou e afastou as minhas mãos.
— Qual foi a proposta dele?
— Vou te contar, mas saiba que eu já recusei, ok? — Ela apenas
arqueou a sobrancelha, esperando. — Logan quer que eu finja ser a sua
namorada por dois meses, pois precisa melhorar a sua imagem, já que quer
seguir a carreira profissional depois da faculdade. Se eu aceitar, ele paga a
minha dívida com Charles.
Aubrey ficou boquiaberta por um segundo, com certeza pensando o
mesmo que eu, que aquela ideia era uma maluquice sem fim. No entanto,
me pegando completamente de surpresa, ela riu.
— É só isso?
— Como assim “só isso”?
— Sim, só isso! Achei que seria algo muito pior, que envolvesse
prostituição, crime hediondo ou qualquer outra coisa assim.
— Aubrey! — Sacudi a cabeça, sem reação. — Vou proibir que você
acesse a internet! Desde quando você sabe o que é crime hediondo?
— Eu não sei, só ouvi você ensaiando para apresentar um trabalho
uma vez e o termo ficou gravado no meu cérebro. — Deu de ombros, o que
me deixou aliviada, pois não queria que minha irmã ficasse pesquisando
aquele tipo de coisa na internet. As imagens e histórias poderiam ser
assustadoras e ela só tinha quatorze anos! — Posso saber por que você não
aceitou?
— Não é óbvio? — Ela apenas sacudiu a cabeça. — Logan é um
babaquinha rico, que acha que pode comprar tudo só porque tem uma conta
bancária recheada! Sem contar que é muito arrogante e prepotente, não
suportamos um ao outro, odeio passar mais do que dez minutos ao seu lado,
aceitar ser sua namorada de mentira seria uma tortura sem fim!
— Ele pode até ser isso tudo, mas tem a cura para o nosso problema.
Sem contar que é muito bonito, seria muito pior se ele fosse feio, não é?
Imagina, ter que fingir que namora um cara feio? Eca! — Eu revirei os
olhos diante daquilo. Enfim minha irmã estava demonstrando a idade que
tinha. — Você precisa aceitar, Ava!
— Não, nem pensar!
— Ava, essa é a nossa salvação, será que você não vê?
— Eu vou dar outro jeito.
— Não, você não vai. Vamos ser realistas e enxergar a verdade. Não
temos de onde tirar esse dinheiro e Logan é podre de rico. Acho que você
deveria engolir o seu orgulho e aceitar. Eu só não tomo o seu lugar, porque
sou menor de idade e terminaria de afundar a imagem de Logan, mas, se eu
tivesse dezoito anos? Ligaria para ele agora e me tornaria a sua namorada
de mentira pelo tempo que fosse necessário. — Ela se jogou de bruços na
minha cama e sorriu. — E nem seria tão ruim assim, já que ele é um gato.
— Para com isso, pirralha! — Ordenei, me sentando ao seu lado. —
Se eu aceitar, minha vida vai mudar completamente, Logan é um cara
conhecido e eu não quero e nem posso ter a minha imagem espalhada por
aí.
Aubrey ficou séria e se sentou na cama, tomando a minha mão.
— Você sabe o que eu penso sobre isso, não é? Ava, você precisa
parar de se esconder e começar a viver. É uma mulher livre, ninguém vai
poder te fazer mal. — Eu sabia que Aubrey tinha razão, mas não me sentia
segura depois de tudo o que havia acontecido. — Sabe o que deveríamos
fazer?
— O quê?
— Deveríamos criar uma lista!
— Uma lista?
— Sim! Uma lista onde fique bem claro o que pode e o que não pode
acontecer nesse namoro fake de vocês! Assim, vocês terão limites pré-
estabelecidos e você vai saber o que esperar durante esses dois meses. O
que acha?
Não queria admitir, mas era mesmo uma boa ideia. No fundo, eu
sabia que não conseguiria juntar a quantia necessária para quitar a minha
dívida com Charles — nem hoje e nem nos próximos cinco anos — e a
proposta de Logan, muito provavelmente, era única opção que eu tinha.
— Ok, vamos fazer isso — falei, vendo minha irmã dar pulinhos
sobre o colchão. — Vamos criar essa lista.
Pedi para que Aubrey esperasse eu tomar um banho longo e lavar os
cabelos antes de criarmos a tal lista que ela propôs. A verdade, era que eu
precisava de um momento só para mim, para colocar a cabeça no lugar e
pensar um pouco em tudo o que poderia acontecer, caso eu realmente
aceitasse a proposta de Logan.
Eu sempre fui muito reservada quanto a minha vida pessoal. Ser filha
de mãe solo acabou me fazendo amadurecer muito rápido, principalmente
quando Aubrey nasceu e eu me tornei irmã mais velha. Quando minha mãe
ia trabalhar, eu ficava responsável por mim e por ela, o que acabou me
deixando ter pouco tempo para ter uma vida social agitada como o pessoal
da minha idade. Nunca tive muitos amigos e acabei não frequentando
muitas festas durante a adolescência, então, era normal para mim passar
todo o final de semana em casa.
Isso mudou quando comecei a namorar quando ainda morava na
Califórnia, mas a experiência que eu tive logo me fez voltar para a minha
bolha. Desde que cheguei ao Alabama, podia contar nos dedos de uma mão
a quantas festas universitárias eu fui e em quantas eu realmente me diverti.
Era difícil me enturmar com pessoas que tinham a realidade tão diferente da
minha, mas como eu sabia que ninguém tinha culpa pelo modo como eu
vivia a minha vida, não me importava muito em não ter feito, ainda, uma
amizade de verdade com algum aluno.
Tinha Mia, é claro, mas eu sentia que éramos apenas colegas, não
amigas. Gostava dela, mas, apesar de termos a mesma idade, tínhamos
ideias e estilos de vida diferentes, o que não era ruim, mas que acabava me
fazendo demorar para confiar e me abrir. Eu gostava da minha vida do jeito
que era, sem muita agitação, com liberdade para andar pelo campus e não
estar com o meu nome na boca de ninguém, como aconteceu na UCLA
meses antes de eu pedir transferência para outra universidade, mas sabia
que isso mudaria caso eu aceitasse a proposta de Logan.
Seria um namoro de mentira, mas apenas para nós dois e,
provavelmente, pessoas próximas — isso se ele contasse a verdade para sua
irmã e seus dois melhores amigos. O resto acreditaria que éramos um casal
e o meu anonimato sumiria como fumaça ao vento. Eu seria o foco das
fofocas por semanas, até que se acostumassem com a nova versão criada
por Logan. Será que estava mesmo preparada para tudo isso? Será que os
comentários nas redes sociais sairiam da bolha do Alabama e correriam o
resto do país?
Eu não havia pedido transferência para fugir de algum crime ou algo
do tipo. Não estava sendo procurada pela polícia ou devia algo ao governo,
mas não queria que algumas pessoas na Califórnia soubessem do meu
paradeiro. Aubrey tinha razão quando falava que eu precisava parar de me
esconder, mas ainda tinha receio do que poderia acontecer, caso soubessem
onde eu estava atualmente.
No entanto, eu não podia me esconder atrás desse medo, muito
menos do meu orgulho. Logan — ou melhor, o seu dinheiro — era a minha
única salvação. Para me livrar do perigo iminente que Charles significava
para mim, eu precisaria abrir mão de tudo aquilo e aceitar a proposta do
quarterback.
Doía depender do jogador riquinho, mas, se aquela era a minha
realidade, eu iria abraçá-la. Nunca fui covarde e não começaria a ser agora.
— Serão apenas dois meses — falei para mim mesma enquanto
passava a mão no espelho embaçado pelo vapor da água quente. — Você
vai conseguir, Avalon. Já enfrentou coisa pior nessa vida, garota. Você é
forte!
Terminei de me arrumar e pentear o cabelo em meu quarto, enrolando
só um pouquinho para ir de encontro a minha irmã. Encontrei-a sentada no
sofá, com um caderno pousado sobre as suas coxas e uma caneta rosa presa
no arame em espiral. Ela sorriu, animada, e deixou o celular de lado para
poder me olhar.
— Nossa, até que enfim, pensei que tinha derretido sob a água quente
e ido embora pelo ralo.
— Eu queria muito que isso tivesse acontecido — murmurei com
deboche, ouvindo-a rir. Estreitei os olhos para ela. — Espero que Logan
seja um falso cunhado insuportável para você, Aubrey.
— Ele não será, porque eu vou ser uma falsa cunhada incrível!
Agora, sente-se aqui, vamos começar!
Sentei-me ao seu lado no sofá, vendo-a escrever algo na folha em
branco. “Lista de proibições para o falso namoro”, consegui ler segundos
depois.
— Item 1. — Ela me olhou e eu senti o meu cérebro travar. — Vamos
lá, Ava, você não quer que eu faça a lista sozinha, não é? Não se esqueça
que a minha experiência amorosa se resume a livros e séries da Netflix!
— Ok. — Parei um pouco para pensar. — Nada de posts
mirabolantes nas redes sociais dele. No máximo, uma foto nossa no feed e
sem me marcar.
— Certo. — Aubrey começou a escrever. — Item 2.
— Sem demonstrações públicas de afeto.
Aubrey me olhou como se eu fosse uma idiota.
— O intuito de um namoro falso é mostrar para todos que vocês
estão namorando, Avalon. Não faz o menor sentido não demonstrar afeto na
frente das pessoas.
Bufei, cruzando os braços. O que aquilo significava? Que teríamos
que andar mãos dadas como um casalzinho apaixonado? Que Logan teria
que me abraçar? Ou pior, me beijar? Senti os pelos da minha nuca ficarem
arrepiados só com o pensamento e, infelizmente, não foi de um jeito
totalmente ruim, o que me deixou um pouco irritada.
— Ok, sem muitas demonstrações públicas de afeto.
— Continua não fazendo muito sentido, mas, tudo bem, vou colocar
aqui — murmurou ela, contrariada, começando a escrever. — Item 3.
— Vamos passar, no máximo, uma hora juntos na frente das pessoas
e apenas quando estivermos na faculdade!
— Meu Deus, ainda bem que sou sua irmã — disse ela enquanto
anotava no caderno. — Namorar com você seria insuportável.
— Esse é um namoro falso, Aubrey — lembrei a ela.
— E daí? Para todo mundo, tem que ser real, e um casal apaixonado
não passa apenas uma hora por dia juntos, principalmente quando estudam
no mesmo lugar e fazem o mesmo curso.
— Sua função aqui é anotar, pare de dar palpite! — Ela me mostrou a
língua em um ato tipicamente infantil e eu ri, bagunçando seu cabelo. —
Vamos para o item 4. Sem, hm... Contato íntimo quando estivermos
sozinhos. Na verdade, esse deveria ter sido o item 1, pois é o mais
importante.
— Ok, sem sexo.
— Aubrey!
— Não comece, Ava. Vou ter que repetir que não sou mais uma
criança?
Por que adolescentes tinham sempre uma resposta na ponta da
língua? Esperei que ela escrevesse e voltei a falar:
— Logan não terá direito de se meter no modo como eu me visto.
— Por que ele faria algo assim? — Aubrey perguntou com uma
careta.
— Ele já disse diversas vezes que acha o meu estilo estranho, então,
é melhor deixar claro que não vou mudar uma única peça de roupa para
agradá-lo.
— Você é o meu orgulho! — disse ela, sorrindo abertamente
enquanto escrevia. — E só para constar, eu amo o seu estilo.
Sabia que ela estava sendo sincera, mesmo se vestindo
completamente diferente de mim.
— E por último, mas não menos importante, Logan não pode
estender o prazo de dois meses, então, é melhor que consiga convencer a
todo mundo de que mudou dentro de sessenta dias.
Aubrey concordou com a cabeça e terminou de escrever, arrancando
a folha do caderno e entregando-a para mim. Li atentamente cada item, só
para ter a certeza de que eu não havia me esquecido de nada.
— Agora você pode ligar para ele e dizer que aceita a proposta.
Quanto antes fizer isso, mais rápido ele pagará a dívida e, então, estaremos
livres! — Aubrey se ajoelhou no sofá e beijou o meu rosto com força. —
Eu te amo muito, irmã! Obrigada por tudo o que tem feito por mim,
prometo que vou retribuir em dobro quando me formar na faculdade,
arrumar um bom emprego e ficar rica!
Não quis desestimular a minha irmã contando que o mercado de
trabalho era muito difícil e que ter um diploma na mão não era garantia de
que arrumaria o emprego dos sonhos e ficaria rica em pouquíssimo tempo.
— Espero muito que isso aconteça, não para você me retribuir, mas
para que tenha uma vida incrível.
— Minha vida já é incrível, porque eu tenho você — disse ela, quase
me fazendo chorar. — Mas agora chega de elogio! Você tem um pedido de
namoro para aceitar.
— Um pedido falso, Aubrey — falei, pois ela estava entusiasmada
demais e parecendo se esquecer daquele fator tão importante.
— Mas não deixa de ser um pedido.
Na verdade, não era um pedido e, sim, uma proposta. Um acordo,
como Logan mesmo disse. Acordo perfeito. Só se fosse nos sonhos dele,
mas como eu não tinha qualquer opção no momento, teria que aceitar.

Vi o Audi de Logan virar a esquina faltando cinco minutos para dar o


horário que combinamos de nos encontrar. Falei por telefone que podíamos
conversar no bar da Maeve, que ficava fechado durante a tarde, mas ele
insistiu para que comêssemos alguma coisa, então, o esperei na calçada. Foi
inevitável não olhar com mais atenção para as pessoas a minha volta e os
carros que passavam pela rua, em busca de Charles, mas não o vi em lugar
algum. Esperava que já estivesse bem longe, de preferência, a caminho do
inferno, que era para onde homens como ele com certeza iriam depois de
morrer.
— Estou atrasado? — Logan perguntou ao parar o carro e descer o
vidro.
Eu me aproximei e dei a volta, me acomodando ao banco do carona.
Nunca imaginei que voltaria a entrar tão rápido naquele carro, da mesma
forma como nunca pensei que pisaria na sua casa de novo. O destino devia
rir da minha cara todos os dias.
— Na verdade, não, eu que decidi te esperar aqui fora — falei,
colocando o cinto e percebendo que fui imprudente ao não ter me lembrado
de usar aquele acessório tão importante quando andei com Logan na noite
passada. — Para onde vamos?
— Bom, como já passou da hora do almoço, pensei em irmos a uma
cafeteria, o que acha?
— Por mim, tudo bem, contanto que você pague a conta.
Logan sorriu e colocou o Audi em movimento. Ele usava um modelo
de óculos escuro muito bonito, no estilo aviador, que combinava bastante
com o formato do seu rosto.
— Eu sempre pago a conta quando convido uma garota para um
encontro, Valente.
— Isso não é um encontro — retruquei, não querendo perder muito
tempo observando a sua roupa de aparência cara, mas registrando que usava
uma bermuda jeans na cor preta e uma blusa branca que abraçava seus
bíceps. Havia uma corrente de ouro em seu pescoço também, que eu nunca
tinha visto antes.
— Tem razão, é mais do que um encontro, é um momento
importantíssimo em que você vai me dizer sim.
— Quem disse que eu te chamei para isso?
— Para que mais seria? Se fosse para negar o acordo, você apenas
me mandaria uma mensagem. Isso se chegasse a me mandar alguma coisa,
acho que seria capaz de me deixar no vácuo até nos encontrarmos de novo
para discutirmos sobre o trabalho.
Era realmente um absurdo que Logan me conhecesse tanto em tão
pouco tempo. Eu era tão fácil de ser lida daquele jeito? Sem querer
responder, aumentei o som do carro e tive que observar o seu sorrisinho
prepotente até pararmos em frente a uma cafeteria charmosa, que havia
inaugurado há pouco tempo. A atendente nos indicou uma mesa mais
intimista no canto do salão e nos entregou o cardápio. O cheiro de café
moído na hora me deixou com água na boca.
— Viu como vai ser fácil? A garçonete acredita que somos um casal.
Ergui meus olhos do cardápio, observando Logan tirar os óculos e
colocá-los no canto da mesa.
— Como você sabe disso? Ela não disse nada.
— E precisava? Só o fato de ter nos indicado essa mesa, longe do
centro do salão e das janelas, já demonstra que acha que somos um casal e
que queremos um pouco de intimidade.
— De onde você tira essas coisas? De livros de romance dos anos
oitenta?
— Dos filmes de romance da Netflix — respondeu com orgulho, me
deixando chocada. — O que foi? Não acredita que eu goste desse tipo de
filme?
— Não parece ser um gênero que combine com você.
— Valente, não se esqueça de que esse é apenas o nosso primeiro
encontro oficial, você ainda não sabe muito sobre mim — disse, apoiando
os braços sobre a mesa e se inclinando em minha direção. — Isso me fez
lembrar de que precisamos contar as nossas peculiaridades um para o outro.
Um casal precisa, pelo menos, conhecer o básico sobre o parceiro, não
podemos cair em contradição.
— Antes disso, preciso que leia a minha lista de proibições — falei,
tirando o papel dobrado de dentro do bolso da minha calça jeans. Estendi
em sua direção e Logan pegou, abrindo e olhando com curiosidade.
— Uma lista de proibições? O que seria isso?
— O nome já deixa claro, não?
Ele arqueou uma sobrancelha e começou a ler. Apenas um segundo
se passou antes de me olhar como se eu tivesse duas cabeças sobre o
pescoço.
— Por que não posso te marcar nas fotos? Você é alguma espécie de
criminosa e esqueceu de me contar?
— Já sabem o que vão pedir?
A atendente apareceu de repente do nosso lado, com um sorriso
imenso no rosto e um bloquinho e caneta nas mãos. Aproveitei para fugir da
pergunta de Logan e dei uma olhada rápida no cardápio, escolhendo
basicamente o que eu sempre comia quando ia a cafeterias.
— Um latte machiato, um muffin de queijo e um cookie, por favor.
— Perfeito. E o senhor, o que vai querer?
— O mesmo que ela, só que dois muffins, por favor. — Ela
concordou com a cabeça e anotou tudo rapidamente, pedindo licença em
seguida. Logan voltou a me encarar. — Não posso postar apenas uma foto
com você, Valente. Preciso demonstrar que estou apaixonado e não tem
forma melhor de fazer isso, do que usando as redes sociais, até porque, foi a
partir delas que eu joguei a minha imagem no lixo nos últimos meses.
— Logan, eu dei uma olhada no seu Instagram hoje à tarde...
— É mesmo? Gostou do meu story malhando? — O idiota sorriu,
todo se achando, e eu revirei os olhos.
— Você tem mais de sessenta mil seguidores!
— Hm... Sim, eu tenho, até porque, sou uma pessoa pública.
Inclusive, tenho uma empresa que cuida de todas as minhas redes sociais
e...
— São sessenta mil pessoas acompanhando a sua vida apenas no
Instagram. Não cheguei a ver o TikTok nem o Twitter, mas não quero todas
essas pessoas acompanhando a minha vida.
— Por que não? Eu acho que seria ótimo se você investisse um
pouco mais nas suas redes sociais, isso te deixaria ainda mais em evidência
depois que se formasse.
— Logan, eu quero ser advogada, não digital influencer.
— O mundo agora é digital, Valente. Você pode até tentar fugir, mas
uma hora vai perceber que ter uma rede social bem planejada e estruturada,
pode te abrir portas.
— Não acho que eu precise de algo mais do que o LinkedIn.
— E você tem LinkedIn?
— Ainda não. — Foi a vez de Logan revirar os olhos. — Mas vou
criar em breve!
— Certo. — Ele voltou a olhar para a lista, mas logo levantou a
cabeça e fez um sinal para alguém. Percebi a atendente se aproximando um
minuto depois. — Você teria uma caneta para me emprestar? Nem eu ou a
minha namorada trouxemos uma.
— Ah, claro, pode ficar com essa, eu pego outra no balcão — disse
ela, entregando a caneta para ele.
O quarterback sorriu em agradecimento e se virou para mim depois
que a atendente se afastou.
— Doeu ouvir que é minha namorada?
— Doeu mais do que as cólicas que sinto a cada menstruação.
— Não me diga que você também tem TPM e todas essas coisas? —
Eu apenas dei de ombros, sem revelar nada, e Logan suspirou. — Vou
prestar atenção nisso e te encher de chocolate ao leite quando acontecer.
— Você é esse tipo de namorado? — perguntei, ficando surpresa de
uma forma positiva. Não queria admitir, mas aquilo era bem fofo.
— Não, sou esse tipo de irmão. Nunca namorei antes. Se posso
cuidar da minha irmã, posso cuidar de você também — disse simplesmente,
como se fosse a coisa mais normal do mundo. Precisei disfarçar a vontade
de sorrir ao ouvir aquilo, enquanto Logan voltava a olhar a lista e escrevia
algo rapidamente. — Vamos alterar o item 1, ok? Posso postar mais
conteúdo sobre nós dois, mas sem te marcar?
Algo me dizia que iriam descobrir o meu username no Instagram de
qualquer forma, mas como o meu perfil era fechado, ninguém poderia
vasculhar o que eu postava na rede social.
— Tudo bem, mas adianto logo que não sou boa gravando stories.
— Não se preocupe com isso, não pretendo te filmar vinte e quatro
horas por dia. Vamos fazer só uns stories algumas vezes por semana, sem
ter uma quantidade específica. Próximo item... — Ele parou para ler. —
Sem muitas demonstrações públicas de afeto? O que isso quer dizer,
especificamente?
— Sem muitos abraços e toques... Essas coisas — murmurei,
sentindo o meu rosto ficar quente.
A atendente voltou com os nossos pedidos e logo se afastou. Eu
comecei a comer para ter com o que me ocupar enquanto o quarterback me
olhava como se eu fosse um caso perdido.
— Que tipo de namoro é esse, em que o casal não se toca?
— Não disse que não podemos nos tocar — falei logo depois de
engolir um pedaço do muffin. — Só disse que não precisamos nos tocar
muito.
— Isso não faz sentido, Avalon, assim como o item número três. Não
podemos passar só uma hora juntos e apenas na universidade. Como minha
namorada, você vai ter que me acompanhar nos jogos em casa e, às vezes,
fora de casa também.
Eu quase me engasguei. Por sorte, não estava tomando o café, ou
teria cuspido na cara de Logan.
— Como é que é? Você não me disse nada sobre isso quando me fez
essa proposta, Logan!
— Achei que fosse óbvio. Eu estou namorando porque preciso mudar
a minha imagem perante a liga profissional. Qual é o sentido de ter uma
namorada e não poder mostrar para todos que estamos juntos e que eu
mudei de postura?
— Stories e fotos no feed do Instagram não são o suficiente? Ainda
tem o Twitter, que é de onde sai a maior parte das fofocas sobre você.
— Claro que não. Eu preciso que as pessoas vejam tudo
pessoalmente, não que apenas especulem, entendeu?
Pousei o muffin sobre o prato e escondi meu rosto nas mãos por
alguns segundos. Aquilo nunca daria certo. Por que eu permiti que Aubrey
me fizesse mudar de opinião? Logan era uma pessoa pública e eu odiava
chamar a atenção, todo mundo iria saber quem eu era e eu ainda teria que
estar praticamente colada nele pelos próximos dois meses, na frente de
todos. Tudo aquilo era uma péssima ideia!
— Acho que vou desistir — sussurrei, mas foi alto o suficiente para
que Logan ouvisse.
Nós estávamos sentados em uma mesa que, ao invés de ser composta
por cadeiras, tinha dois bancos longos, um de frente para o outro, por isso, o
quarterback teve a brilhante ideia de sair do seu lugar e se sentar bem ao
meu lado. Senti o seu braço no encosto perto da minha nuca e o cheiro do
seu perfume me deixou imediatamente sem fôlego.
— Valente, olhe para mim — pediu, sem me tocar. Tomando
coragem, afastei minhas mãos do rosto e olhei diretamente nos olhos verdes
de Logan. Nós nunca ficamos tão próximos daquele jeito, pelo menos não
cara a cara, e me senti um pouco desestabilizada. — Eu já percebi que você
é uma garota discreta, apesar de chamar a atenção por onde passa com o seu
estilo despojado, e que não gosta muito de estar no meio de uma multidão,
afinal, invadiu o meu quarto naquela noite e, depois, desapareceu sem
deixar um rastro para trás, e eu respeito isso, de verdade. Só que, tendo em
vista a nossa situação, eu não acho que encontraremos uma solução melhor
para os nossos problemas que não seja embarcar nessa mentirinha
inocente...
— Nós vamos enganar todo mundo, Logan.
— Mas será por um bem maior! Você vai se livrar daquele filho da
puta e eu vou melhorar essa fama de inconsequente que conquistei
bravamente nos últimos meses. — Ele tirou o braço do encosto do banco e
cruzou as mãos na frente do rosto, me olhando como se fosse uma criança
de três anos de idade. — Por favor, não desista agora! Eu prometo que você
não vai se arrepender!
Algo me dizia que eu iria, sim, me arrepender, mas que escolha eu
tinha naquele momento? Precisava pagar a dívida, ou Charles poderia
colocar em risco a vida da minha irmã e a minha também.
Era por um bem maior, como Logan mesmo disse.
Ignorando o medinho que eu sentia e o frio na barriga, concordei com
a cabeça e soltei um gritinho de susto quando o quarterback pegou a minha
mão e deu um beijo estalado na palma.
— É isso, Valente! Sabia que você não iria fugir! — Ele soltou a
minha mão e pegou a lista junto com a caneta. — Vamos para o próximo
item.
Sem querer, olhei bem para a palma da minha mão, onde eu ainda
podia sentir os lábios de Logan pressionando a pele e o roçar da sua barba
por fazer. Um novo arrepio tomou conta do meu corpo e o meu coração
disparou, mas eu engoli em seco e fingi que nada de mais estava
acontecendo em meu interior.
Eu sabia que Valente iria aceitar! Claro que não imaginava que ela
iria surgir com uma lista de proibições, mas não me assustei quando me
entregou o papel escrito com uma caneta rosa — que eu tinha quase certeza
de que não combinava muito com o seu estilo —, porque, vindo de Avalon,
eu poderia esperar qualquer coisa. Peguei o meu café do outro lado da mesa
e bebi um pouco enquanto voltava a ler a famigerada lista. Quase cuspi a
bebida ao me deparar com item número 4.
— Não imaginei que você iria se preocupar com isso. Não é claro
que não haverá sexo entre nós dois?
Acho que falei um pouco alto demais, pois Avalon ficou com as
bochechas coradas e olhou a nossa volta com medo de que alguém tivesse
ouvido. Por sorte, as mesas a nossa volta estavam desocupadas e a
atendente estava retirando um pedido na frente do salão.
— Achei melhor deixar por escrito — murmurou, enfiando um
pedaço de muffin naquela boca que era sensual demais para ser
completamente ignorada por mim.
Escrevi ao lado do item 4: “sem sexo – entre nós dois e com qualquer
outra pessoa”.
— Eu pensei bastante sobre isso e acho que vai ser melhor assim.
Não quero correr o risco de que alguém desconfie do nosso relacionamento
ou pior, que comecem a achar que além de eu ser um cara que não leva a
sério a sua carreira, também sou um traidor.
Seria terrível passar sessenta dias na seca? Com certeza, mas para
recuperar tudo o que perdi nos últimos meses, valeria a pena. Eu sentia que
precisava ter foco total naquele acordo que estava fazendo com Valente, ou
acabaria fraquejando e ferraria com tudo de vez.
— Faz sentido, mas quero deixar claro que eu não me importaria se
você quisesse se envolver escondido com alguém — disse ela ao meu lado.
— É mesmo? E se descobrissem? Você ficaria com fama de corna
para sempre.
— Já passei por coisas piores, um chifre não iria me matar. — Ela
deu de ombros e eu fiquei um pouco preocupado. O que havia acontecido
na vida de Avalon para que algo como aquilo não a afetasse?
— Pelo visto, você encontrou apenas babacas pelo caminho.
Ela me olhou demoradamente de cima a baixo e arqueou uma
sobrancelha.
— Acho que você está coberto de razão pela primeira vez desde que
nos conhecemos, estrelinha dourada.
— Ei, vai com calma, ruiva! Eu não sou tão babaca assim —
defendi-me, erguendo as mãos. — Sei que você não teve uma primeira boa
impressão de mim, mas algo me diz que se acreditasse mesmo que eu sou
uma pessoa ruim, você não estaria aqui agora, mesmo desesperada para se
livrar da dívida com aquele pedaço de merda que te cercou ontem à noite.
Avalon desviou os olhos, com a expressão de quem não queria dar o
braço a torcer.
— Talvez, mas isso não quer dizer que eu goste de você, porque não
gosto.
— Não preciso que você goste de mim de verdade, apenas que finja
gostar. — Pisquei para ela, dando o meu melhor sorriso, antes de voltar à
lista. — Não quero me meter no modo como você se veste. Na verdade,
acho que até gosto um pouco do seu estilo.
Não tinha como ser diferente, Avalon tinha uma personalidade muito
forte e era claro que isso ficaria impresso até mesmo na forma como se
vestia. Naquela tarde, ela estava usando uma calça jeans de cintura alta, um
cropped preto que ia de ombro a ombro, com mangas compridas, os
coturnos, que já deveriam andar sozinhos de tanto que ela os usava, uma
gargantilha preta e o cabelo preso em uma trança despojada, jogada sobre o
seu ombro esquerdo. Aquela era a primeira vez que eu a via sem um batom
escuro, seus lábios estavam rosados e os cílios estavam preenchidos e
fartos. A filha da mãe estava linda e cheirosa pra caralho.
— É sério? Naquela noite no bar, você disse que eu era estranha.
— Eu estava bêbado.
— Há quem diga que bêbados não mentem — disse ela, desconfiada.
— Não precisa mudar o seu discurso agora, Logan, eu já aceitei a sua
proposta e não vou voltar atrás.
— Não estou falando isso para te agradar, eu juro. — Avalon pareceu
não acreditar muito em mim, mas eu sabia que seria difícil conquistar a sua
confiança depois de tudo o que falei no pouco tempo em que nos
conhecíamos. — Você sabe que a gente se estranhou muito no começo,
então, eu quis arrumar um motivo para te perturbar e implicar com você.
Acabei usando o seu estilo para fazer isso, o que foi uma idiotice da minha
parte. Sinto muito se te deixei chateada.
Estava sendo sincero, por mais que Valente não quisesse acreditar.
— Não me chateou, mas aceito as suas desculpas. — Ela meu deu
um sorrisinho que me deixou com a sensação de estar com um caroço na
garganta, porque, de repente, se tornou muito difícil engolir a minha própria
saliva.
— Ok, último item — murmurei, voltando a ler a lista. — Com
certeza serão apenas dois meses! Não pretendo prolongar o acordo por mais
tempo.
— Acredito que sessenta dias seja o seu limite máximo para ficar
sem sexo — disse ela, rindo de mim enquanto terminava de comer o muffin.
Os meus ainda estavam praticamente intocados, por isso, puxei o prato para
mais perto.
— Realmente. Para falar a verdade, nunca pensei que um dia eu seria
obrigado a ficar sem trepar. Essa com certeza vai ser a parte mais difícil.
— Pelo menos você tem duas mãos. — A forma nada discreta como
me olhou quase me fez ficar de pau duro, mas fui mais forte e forcei uma
risada, retribuindo o seu comentário.
— Imagino que você consiga tocar uma playlist de uma hora quando
se deita na cama a cada fim de noite.
— Uma hora? Não, isso é muito pouco. Posso ficar brincando de DJ
por três horas tranquilamente. — Eu quase me engasguei com a porcaria do
muffin e Valente riu, dando dois tapinhas bem fortes nas minhas costas. —
Desculpa, não pensei que você ficaria tão afetado, QB.
Dei um gole longo no meu latte e voltei a pegar a caneta depois de
colocar o copo sobre a mesa.
— Vamos adicionar mais um item aqui: proibido falar sobre sexo
enquanto Logan estiver em celibato.
— Só enquanto você estiver em celibato? E eu?
— Você já está acostumada, é praticamente virgem de novo.
— Há-há! Como você é engraçado, estrelinha dourada. — Ela tomou
a caneta da minha mão e fez um risco em cima do último item que eu havia
acabado de escrever. — Liberado falar MUITO sobre sexo durante o
celibato do Logan.
— Você é sádica, Valente — resmunguei, querendo cruzar os braços
feito uma criança, mas me segurando. — A partir de segunda-feira podemos
chegar juntos na faculdade, o que acha?
— Já? — Os olhos de Avalon ficaram arregalados. — Achei que
demoraria um pouco mais.
— Não posso esperar e acredito que você também não, já que aquele
babaca te deu um prazo para pagar a dívida. Inclusive, quanto você deve a
ele?
O semblante despreocupado de Avalon desapareceu lentamente e
seus olhos se desviaram dos meus. Ela enrolou um pouco para responder,
bebendo o café e, depois, pegando um pedaço do cookie. Decidi não a
apressar, porque imaginava que aquele assunto deveria ser difícil para ela.
— Cinquenta mil — murmurou.
Segurei a minha reação de surpresa. Era lógico que ela não devia um
milhão para o filho da puta, mas cinquenta mil dólares era muito dinheiro
para quem aparentemente não tinha nada. Avalon realmente acreditou que
um dia conseguiria quitar aquela dívida?
— Ligue para ele e marque um horário na segunda-feira depois das
seis horas. Vamos tirar esse filho da puta da sua vida de uma vez por todas,
Valente — falei, pegando meu copo de café e o erguendo em direção a ela.
Avalon me deu um olhar estranho, quase vulnerável, mas logo
expulsou o sentimento e ergueu o seu copo, o encostando ao meu em um
brinde simbólico. Eu continuava querendo saber o motivo para ter pegado
dinheiro emprestado com um espécime como aquele, mas decidi não
perguntar novamente, porque sabia que Valente não me contaria. Ela ainda
não confiava em mim — e eu não sabia se um dia iria confiar — e eu
respeitava a sua decisão em não querer falar sobre o assunto.
— Obrigada — disse ela, segundos após o brinde. — De verdade,
Logan. Nunca vou esquecer o que está fazendo por mim.
— Estamos ajudando um ao outro, Valente.
— Mas você está dando muito mais do que eu, obviamente.
— Será mesmo? Eu estou usando uma quantia irrisória da herança
que minha mãe me deixou, enquanto você está me dando uma parte da sua
vida que nunca mais terá de volta. Sabe que sou uma pessoa conhecida e vai
ficar marcada como minha ex-namorada daqui a dois meses. Você nunca vai
poder se livrar disso, mas eu vou recuperar esses cinquenta mil em pouco
tempo sem nem precisar me esforçar. O dinheiro rende juros sozinho na
minha conta e eu também tenho algumas aplicações... Enfim, não estou
perdendo nada, mas você está.
Avalon continuou com aqueles olhos arregalados por um tempo, até
fazer uma careta e dar um peteleco em meu ombro.
— Não precisa esfregar a sua riqueza na minha cara — brincou e eu
ri.
— Desculpa, mas só falei a verdade.
— É, eu sei. Tem gente que nasce mesmo privilegiada, enquanto
outras pessoas — apontou para si mesma —, só tomam no cu.
— Avalon, que boca suja! — Empurrei-a com o ombro, ouvindo a
sua risada pela primeira vez. Não foi escandalosa nem longa demais,
porém, foi genuína, e eu gostei. — Dinheiro não é tudo, acredite.
— Tem razão, mas é melhor sofrer sendo rica do que pobre, não é
mesmo?
Certo, daquilo, eu não poderia discordar, apesar de haver uma
exceção:
— O dinheiro faz com que as pessoas ignorem o seu sofrimento. Na
verdade, isso acontece até com nós mesmos. Uma conta bancária recheada e
um cartão de crédito sem limites fazem com que a gente se esconda atrás de
um mundo de fantasia, com festas, bebidas, garotas, e nos dá a ilusão de
que aquela sensação de euforia vai durar para sempre e que nunca mais
iremos sentir qualquer dor ou tristeza, mas isso não é verdade. O outro dia
sempre vem, carregando uma ressaca infernal, que vai além da
consequência que o álcool causa no nosso corpo... A ressaca moral é mil
vezes pior e é ela a responsável por fazer com que afundemos cada vez
mais, ao ponto de não achar que teremos mais como nos reerguer.
O silêncio tomou conta da nossa mesa depois que me calei, me
fazendo ter ciência de que eu nunca havia confessado aquilo em voz alta
para ninguém, nem mesmo para minha irmã ou para os meus melhores
amigos. Senti-me exposto na frente de Avalon e quase peguei os meus
óculos escuros e os coloquei novamente para que ela não enxergasse mais
nada dentro de mim, mas me segurei, sendo brutalmente honesto com ela
— e comigo mesmo, principalmente — pela primeira vez na vida.
— Quando a minha mãe morreu, eu também me senti perdida desse
jeito — Avalon confidenciou baixinho ao meu lado. — Claro que não
extravasei indo a festas ou bebendo, até porque, eu tinha uma irmã para
criar e não tinha dinheiro para nada, mas encontrei uma outra forma de
camuflar a dor. Me escondi atrás de um relacionamento que só me fez mal,
mas consegui me reencontrar e dei a volta por cima. — Sua mão tocou a
minha por cima da mesa e o seu olhar gentil aqueceu o meu peito de uma
forma que eu não esperava. — Você vai se reerguer também, Logan
terceiro. Não duvide disso.
Eu concordei com a cabeça, querendo muito acreditar em suas
palavras, praticamente me agarrando a elas, talvez por saber que Avalon
havia, infelizmente, passado pelo mesmo que eu. Nossas dores eram iguais
naquele aspecto.
— Acho que já esclarecemos todos os pontos, certo? — perguntei,
querendo mudar de assunto.
— Sim, só precisamos criar uma história convincente sobre o início
do nosso namoro. Você sabe, o primeiro encontro, o pedido... Essas coisas.
— Acho melhor nós começarmos, primeiro, a andar juntos pelo
campus, de mãos dadas, trocando sorrisos e carícias, para fazer com que
todo mundo comece a especular sobre nós dois. Depois, confirmamos o
boato de que estamos namorando. Até lá, já teremos criado o enredo
perfeito para contar para todo mundo.
— Certo. — Avalon soltou um suspiro meio nervoso. — Então, tenho
pouco mais de vinte e quatro horas para fingir que estou caidinha por você.
— Não apenas caidinha, mas completamente apaixonada — falei,
vendo seus olhos se estreitarem em minha direção.
— Não espere de mim uma namorada melosa, estrelinha dourada.
— Oh, eu não ousaria, rainha do gelo. — Ri quando Avalon me deu
um cotovelada de leve no braço. — Vou poder te beijar na segunda-feira?
— Oi? — Ela me olhou meio horrorizada, com as bochechas ficando
vermelhas.
— O quê? A ideia de me beijar é tão ruim assim?
— É péssima.
— Nossa, Valente, você faz um belo desserviço para a minha
autoestima!
— Desculpa, é que... Não pensei que aconteceria tudo tão rápido.
— Vamos fazer o seguinte. Deixa toda essa parte comigo e só confie
em mim, ok? Vai ser melhor se agirmos sem um roteiro, para que não fique
tudo robotizado demais. Precisa ser espontâneo.
— Eu jamais te beijaria de forma espontânea.
— Ok, já entendi que você tem uma aversão a mim...
— Não é uma aversão, eu só... Bom, até ontem a gente se odiava,
então, beijar você nunca passou pela minha cabeça.
— Posso te dizer que, da minha parte, te beijar não será nenhum
sacrifício. Você é linda, Valente — confidenciei, me sentindo um pouco
idiota por isso, porque ali estava a garota me esnobando e eu quase
abanando o rabo para ela. Como eu era sem-noção!
— Aposto que você diria isso para qualquer garota do campus — ela
resmungou, terminando de tomar o café.
— Se eu estivesse bêbado, talvez sim, mas como não é o caso, estou
apenas sendo sincero. — Ergui a minha mão para Avalon, decidido a
encerrar aquele assunto antes que eu falasse mais alguma coisa da qual
fosse me arrepender. — Temos um acordo, Valente?
Avalon olhou para a minha mão e finalmente a segurou, me dando a
sua palavra.
— Temos um acordo, Logan terceiro.
Eu sorri, satisfeito. Nada daria errado, eu sabia. Passaríamos aqueles
dois meses fingindo, depois, cada um iria para o seu lado e pronto. Talvez
pudéssemos até nos tornar amigos, mas apenas isso.
Seria moleza!
Parti para casa logo depois de deixar Avalon em frente ao Maeve’s
Bar, sentindo uma espécie de entusiasmo e ansiedade pelo que aconteceria
nas próximas semanas. Havia muito tempo que algo não me deixava
estimulado daquele jeito e a sensação era realmente muito boa e
completamente inesperada. Desde a morte da minha mãe, eu me sentia
entorpecido e ligado no piloto automático, treinando porque era a minha
obrigação, indo para as aulas porque eu dependia, também, das minhas
notas para continuar no time e me afundando em festas um dia após o outro
para permanecer desligado das minhas emoções. Agora, eu me sentia
diferente.
Ainda não queria enfrentar a realidade e pensar demais na perda que
sofri em janeiro, mas ter um novo propósito estava me tirando daquele
limbo. Minha mãe sempre me apoiou e acreditou em mim, mesmo quando
meu pai se mostrou contra a minha escolha de ser um jogador profissional,
então, eu sentia que devia aquilo a ela. Eu precisava me esforçar, não
apenas por mim, mas também pela minha mãe.
Espantei aquele pensamento antes que o aperto em meu peito ficasse
insuportável e entrei em casa, encontrando James e Norah discutindo
enquanto duelavam no videogame. Benjamin ria dos dois e gravava a briga
idiota, provavelmente para postar nos stories.
— Você rouba demais, James!
— Nada disso! Você precisa aceitar a minha vitória, baixinha. Ela foi
legítima!
— É ótimo passar um fim de tarde na companhia de duas crianças,
pessoal — Benjamin disse, narrando o vídeo. Ele apontou o celular em
minha direção e eu acenei para a câmera. — Nosso QB finalmente
encontrou o caminho de casa!
— Idiota. — Dei o dedo do meio para ele e fugi da câmera ao me
sentar ao seu lado. Quando Ben parou de filmar, perguntei: — Posso saber o
que está acontecendo aqui?
— Não é óbvio? Sua irmã não aceita perder, como sempre.
— Eu não aceito trapaça, é diferente! Eu desisto, sério. Não dá para
jogar com o James! — Norah jogou o controle ao seu lado no sofá e cruzou
os braços, emburrada.
— Quantos anos vocês têm? Dez? — questionei, vendo James me
dar o dedo do meio e Norah me dar língua. — Nossa, como são maduros.
— Eu falei que eles eram duas crianças — disse Ben, deixando o
celular de lado depois de postar o story. — Onde você estava, QB? Está
todo misterioso desde ontem, nem apareceu na festa do Parker.
— É verdade, ficamos te esperando e você nem deu as caras, também
não mandou nenhuma mensagem avisando que não iria. O que aconteceu?
Ficou com dor de barriga? Norah te acorrentou em casa?
— Eu não tenho nada a ver com isso. — Minha irmã ergueu as mãos.
— Mas também fiquei surpresa quando você chegou cedo ontem à noite.
— Não sabia que a minha vida era tão interessante assim — falei,
sendo encarado com curiosidade pelos três.
Eu não estava a fim de ir à festa do Parker. Depois da discussão com
o meu pai, senti um peso horrível na consciência e um medo maior ainda de
perder a única coisa que ainda fazia algum sentido para mim. O futebol era
uma parte essencial da minha vida, que eu acabei deixando de lado no
momento em que deveria usá-lo para me manter no foco e não me perder.
Encontrar com Avalon na noite passada e ouvir a ameaça daquele
homem contra ela acabou me dando um estalo. A insistência de Norah
sobre eu arrumar uma namorada e mudar a minha imagem me deu um soco
forte e me fez juntar as peças que estavam bem ali, na minha frente. Eu
realmente não queria me comprometer com alguém, mas nada me impedia
de fingir que estava comprometido. Relacionamentos por conveniência
aconteciam o tempo todo — pelo menos no mundo dos negócios, onde já vi
muitos filhos de amigos dos meus pais se casando com filhas de homens
ricos para fazer uma fusão em seus negócios —, eu poderia muito bem
embarcar naquela onda e, de quebra, ainda livrar Avalon daquele filho da
puta.
Depois de deixá-la de volta no bar ontem à noite, decidi vir direto
para casa e fiquei até o início da madrugada costurando as teias daquele
plano e, principalmente, reunindo motivos para convencer Valente a aceitar
a minha proposta. Foi uma sorte ela ter caído em si e decidido aceitar por
vontade própria, porque eu não sabia se teria argumentos fortes o suficiente
para mudar aquela cabeça-dura que ela tinha.
— Ei, Terra chamando Logan! — Benjamin estalou os dedos na
frente do meu rosto e eu pisquei forte, percebendo que meus pensamentos
tinham ido para bem longe dali. — Você tá muito estranho, QB. O que está
acontecendo?
— Preciso contar algo para vocês.
Esconder tudo aquilo da minha irmã e dos meus amigos não era uma
opção, pelo contrário. Eu sentia que precisava dos três ao meu lado, para
que tudo desse certo.
— O que você está aprontando, Logan? — Norah perguntou e vi
certo receio em sua expressão. — Por favor, não me diga que fez alguma
besteira!
— Não fiz, eu apenas segui o seu conselho.
— Que conselho? — questionou James, curioso.
— Arrumei uma namorada!
Xinguei-me mentalmente por não estar com o meu celular na mão
naquele momento. A forma como os três se olharam, certamente pensando
que eu havia enlouquecido, foi impagável. Permaneci em silêncio,
prendendo a risada, esperando quem iria se manifestar primeiro.
— É... Como assim? — Benjamin me olhou lentamente. — Quem é
você e o que fez com o meu melhor amigo pegador?
— Olha, se isso for uma piada, saiba que é de muito mau gosto! —
Norah resmungou, cruzando os braços.
— Só pode ser uma piada. Como esse babaca conseguiria uma
namorada assim, de um dia para a noite? — James apontou para mim, mas
olhava para a minha irmã.
— Essa seria a parte mais fácil, na verdade. Muitas garotas dariam o
braço para namorar comigo.
— Meu Deus, você é nojento de tão convencido. — Norah fez uma
careta.
— Não estou sendo convencido, apenas realista, e saiba que não
tenho orgulho em falar isso. Nenhuma dessas garotas namoraria comigo por
quem eu sou e sim pelo que eu poderia oferecer a elas.
— Sua consciência me comove. — Benjamin apertou o meu ombro e
eu não soube dizer se ele estava sendo sincero ou sarcástico. Acho que um
pouco dos dois. — Bom saber que você estava apenas fazendo uma
pegadinha com a gente, agora, vamos falar sobre uma coisa bem séria.
Nicholas nos chamou para a área VIP daquela boate que inaugurou no mês
passado. Vamos sair depois da meia-noite, ok?
Benjamin ia se levantar, mas fui mais rápido e o puxei pelo braço,
fazendo-o cair de volta no sofá.
— Espera, idiota! Não estou fazendo pegadinha nenhuma. Realmente
arrumei uma namorada.
— Você tá mesmo falando sério? — Norah se levantou, colocando as
mãos na cintura. — Logan Miller III, explica essa história agora!
— É o que estou tentando fazer, mas vocês não calam a boca.
— Eu estou quieto no meu canto. — James ergueu as mãos, antes de
puxar Norah pelo braço e fazer com que voltasse a se sentar ao seu lado. —
Deixe o seu irmão falar, baixinha, quero ouvir a fofoca com detalhes.
— É o seguinte. — Pensei em uma forma melhor de falar, mas, como
nada veio a minha cabeça, fui direto ao ponto: — Pedi Valente... Avalon
Banks em namoro.
— O quê? — James arregalou os olhos.
— Como assim, Logan?
— Você não disse que não ia com a cara dela? — Benjamin esfregou
minhas palavras na minha cara. — Não me diga que conseguiu levar a
garota para a cama e ficou apaixonado?
— Duvido! Avalon não parece ser do tipo que vai para a cama com
qualquer um — Norah disse e eu estreitei os olhos.
— Então quer dizer que eu sou qualquer um, na sua opinião,
irmãzinha?
— Você é mais rodado do que maçaneta e a Avalon parece ser uma
garota reservada, não acho que ela cairia na sua lábia com facilidade. — A
filha da mãe deu de ombros, como se aquilo explicasse tudo.
— Porra, você sabe como acabar com a moral de um homem, Norah
— James resmungou.
— Até parece! No mundo machista em que a gente vive, para vocês,
ser pegador é motivo de orgulho, enquanto para as mulheres, é motivo de
vergonha. — Como sabia que nós não tínhamos argumentos contra aquilo,
Norah continuou: — Agora explica direito essa história, Logan.
Resolvi deixar de fora toda a história sobre a dívida de Avalon,
porque sabia que aquilo era muito pessoal, e parti logo para a verdade:
— Vai ser um namoro de mentira.
Meus amigos e minha irmã voltaram se olhar, mas ignorei a reação
dos três e expliquei o meu plano. Deixei bem claro que foi a insistência de
Norah que me fez enxergar aquela possibilidade e que Avalon era perfeita
para o papel, porque era uma das poucas meninas que cagavam para a
minha existência, sendo assim, não confundiria as coisas. Os três ficaram
boquiabertos enquanto eu explicava que a mentirinha tinha prazo de
validade e que eu daria o meu sangue para mudar a minha imagem durante
aquele período — e não ter nenhuma recaída quando tudo terminasse.
— E o que você fez para convencer Avalon a aceitar? — Norah
perguntou depois de longos segundos de silêncio.
— Era isso que eu ia perguntar. Achei que a ruiva não gostasse de
você — Benjamin murmurou.
— Claro que ela gosta de mim, nós só implicamos um com o outro
— menti, sem querer admitir para Benjamin que Avalon provavelmente me
achava um cuzão.
— Olha, eu nem sei o que dizer. — James sacudiu a cabeça. Ele
parecia um pouco apreensivo. — Acha que isso vai dar certo, Logan?
— Claro que vai! Por que não daria?
— Porque mentira tem perna curta. E se alguém descobrir? — Norah
perguntou, aflita. — Você pode piorar uma situação que já está ruim.
— O pior nem é isso. E se você começar a gostar dela, cara? James
acabou de encontrar a liberdade, não quero que mais um amigo meu seja
abatido!
— Porra, Ben! — Eu ri, dando um soco de leve em seu ombro. —
Olha pra mim, cara. Acha mesmo que eu vou permitir que isso aconteça?
Avalon e eu sequer temos algo em comum, vai ser realmente uma
encenação.
Decidi deixar de fora o fato de que Valente não parecia estar nem um
pouco animada para passar aqueles dois meses ao meu lado, fingindo ser a
minha namorada. A garota iria apenas tolerar a minha presença, porque
havia feito um acordo comigo e não tinha mais como voltar atrás.
— Você fala como se fosse muito fácil mandar no coração — Norah
resmungou. — Só por causa disso, espero que fique de quatro pela Avalon!
— Tá amarrado! — Fiz o sinal da Cruz, sem nem saber se era aquilo
mesmo que eu deveria fazer para me livrar da praga jogada pela minha
irmã. — Como minha caçula, você deveria me desejar coisas boas, Norah!
— Só te desejo as melhores coisas, maninho. — A filha da mãe me
soprou um beijo. Ao seu lado, James soltou um suspiro.
— E para o seu pai, Logan? Você vai contar a verdade?
Eu havia pensado naquilo na noite passada, mas rapidamente cheguei
a uma conclusão.
— Não. Meu pai tem certeza de que eu vou fracassar no futebol na
próxima temporada, quero que ele assista de camarote o meu triunfo, a
começar pelo fato de eu estar em um relacionamento sério.
— Você sabe que não vai ser tão simples, não é? Ele vai querer
conhecer a Avalon e a vovó também.
— E ele pareceu não ir com a cara da Avalon ontem à noite —
Benjamin relembrou.
— Não preciso que ele goste dela, só quero que veja que eu estou
mudando, apesar de não acreditar em mim. — Dei de ombros, como se não
me importasse com aquilo, mas eu me importava, sim. Bem no fundo do
meu ser, eu me importava. — E então, posso contar com vocês?
Foi Benjamin quem respondeu primeiro, passando um braço pelos
meus ombros.
— Até parece que a gente te deixaria sozinho, idiota. — Ele sacudiu
o meu cabelo com a mão livre. — Mas tenho uma pergunta séria a fazer.
— Uma pergunta séria? Vindo de você? Eu duvido! — disse James,
recebendo o dedo do meio do Ben em resposta.
— Pergunta logo — pedi, curioso.
— Como vai ser um namoro de mentira... Eu posso investir na
Avalon?
— Eu não acredito nisso. — Norah riu baixinho.
— A garota é linda, Norah, e tem atitude! Essas são as melhores. —
O idiota sorriu e eu senti vontade de dar um soco naquela sua cara de
prepotente. — E então? Você não vai ficar chateado, vai? Não é como se eu
estivesse tentando furar o seu olho ou alguma merda assim...
— Na verdade, é exatamente isso — falei, me desvencilhando do seu
braço e me levantando do sofá. — Sei que é um namoro de mentira, mas a
gente vai ter que fingir na frente de todo mundo. Não quero que um amigo
meu toque na garota que eu vou ter que abraçar e beijar.
— Você fala como se a gente nunca tivesse compartilhado uma
garota na vida. — Benjamin revirou os olhos e eu senti vontade de apertar o
seu pescoço. Norah estava ali, pelo amor de Deus!
— Vocês são nojentos — ela resmungou. — Acho que eu preciso
arrumar um outro lugar para morar.
— Tire essa merda da cabeça, você fica aqui — falei bem sério.
Queria minha irmã perto de mim, onde eu pudesse ficar de olho nela e
espantar os babacas que ainda tinham coragem de cercá-la. Não era como se
eu não quisesse que Norah vivesse, mas conhecia os homens e não deixaria
que um filho da puta brincasse com os sentimentos dela. — E você —
apontei para Benjamin. — Tome cuidado com o que fala perto da minha
irmã, seu idiota do caralho!
— Ok, desculpa, Norah. — Ben ergueu as mãos, parecendo sincero.
— Mas eu não menti. Só queria saber qual é a diferença entre ficar com a
Avalon ou com alguma garota que você também está pegando em uma
festa.
Senti minha mente travar por um segundo, querendo encontrar uma
resposta coerente para dar ao filho da mãe. Nós realmente já dividimos
algumas garotas, a última vez, inclusive, tinha sido no seu quarto na festa
do James, mas eu sentia que aquilo era diferente. Sexo casual era uma
coisa, dar em cima de Valente, alguém com quem eu teria que conviver
pelos próximos sessenta dias de forma mais íntima, era completamente
diferente.
— Não é óbvio? Não estamos falando sobre sexo, Ben — James
respondeu por mim.
— Também não estamos falando de um relacionamento de verdade.
— Mas precisa parecer de verdade, sendo assim, é melhor que você
fique longe de Valente. — Apontei um dedo para Benjamin, que voltou a
erguer as mãos e me deu um sorrisinho idiota.
— Tá bom, QB, não precisa ficar bravo comigo nem dar um
showzinho de ciúmes.
— Não estou com ciúmes!
— Hm, parece que você está, sim, com ciúmes da Valente. — O
idiota se levantou. — Mas tudo bem, eu vou ficar na minha. Só quero saber
se você vai à boate hoje à noite. Pode ser a sua despedida de solteiro.
Era uma proposta tentadora. Apesar do entusiasmo com todo o plano
e a aceitação de Avalon, eu estava ansioso pelo que iria acontecer nas
próximas semanas, como o namoro iria repercutir e, se fosse sincero
comigo mesmo, pela reação do meu pai.
— Logan não vai! — Norah respondeu por mim, como se fosse a
nossa mãe. Senti quando parou ao meu lado e entrelaçou o braço no meu.
— Não quer mudar de postura? Comece agora! Se quer mesmo que as
pessoas acreditem nesse seu namoro com a Avalon, você não pode ir para
uma boate e sair beijando meia dúzia de garotas como fazia até semana
passada, Logan.
— Norah tem razão. — James disse, mas aquilo não me surpreendeu.
Ele implicava com a minha irmã, mas sempre ficava ao seu lado em todas
as discussões. — Mudar a sua imagem vai muito além de arrumar uma
namorada, QB, você precisa mostrar isso para as pessoas de forma
individual, sem ter Avalon ao seu lado.
— Ou seja, zero festas, é isso? — Benjamin fez uma careta, como se
sentisse dor. — Logan, eu sinto muito por você, de verdade.
— Não dificulte as coisas, Benjamin Ryan! — Norah brigou com ele
e Ben passou a ponta dos dedos unidos na frente dos lábios, como se fosse
um zíper.
— Tudo bem, não falo mais nada, mesmo assim... Meus pêsames,
amigo.
O idiota apertou o meu ombro e saiu da sala correndo, fugindo do
tapa que Norah ameaçou dar em seu braço. Assim que ele sumiu das nossas
vistas, minha irmã tocou em meu rosto.
— Apesar de eu achar esse plano uma loucura, estou feliz por ver que
você está se esforçando para mudar de atitude, irmão, também adorei o fato
de ter proposto o acordo para Avalon. Nós conversamos um pouco na
cozinha na quinta-feira e eu gostei muito dela. Espero que dê tudo certo.
— Posso contar com você?
— É claro que sim! — Ela se esticou e deixou um beijo estalado no
meu rosto, antes de dar um tapinha em meu ombro. — Só não faça
nenhuma besteira, ok? Avalon parece ser uma garota muito bacana, não seja
um idiota com ela.
— Eu jamais faria isso. — Ri, sem graça, porque a verdade, era que
eu vinha apenas sendo um idiota com ela.
— Pode contar comigo também, seu maluco — James riu, se
levantando para apertar o meu ombro. — E é óbvio que pode contar com
Ben, acho que ele só estava querendo te perturbar com toda aquela história
sobre a ruiva.
Ah, claro que sim. Como se eu não conhecesse aquele filho da mãe.
Benjamin era muito pior do que eu, um pegador nato, mas eu sabia que ele
não passaria por cima da minha decisão. Podia ser um idiota safado, mas
era meu melhor amigo e eu confiava nele.
— Agora, vamos arquitetar os detalhes sobre esse plano! Já pensou
na história que vão contar para aqueles que perguntarem como vocês se
conheceram e decidiram começar a namorar? — questionou Norah,
subitamente animada.
— Na verdade, não. Estava pensando em deixar esses detalhes para
depois.
— Depois quando? No final dos dois meses? Pelo amor de Deus,
Logan! Vamos planejar tudo agora!
Minha irmã me puxou de volta para o sofá e James riu da minha cara
de desespero, sabendo que eu não conseguiria me livrar da minha caçula
pelas próximas horas.
Encarei o celular pela décima vez em menos de dois minutos,
esperando ansiosamente pela resposta de Charles. O movimento no bar
estava relativamente calmo naquela noite de domingo, o que era ruim, pois
me dava mais tempo livre para ficar verificando as minhas notificações de
forma obcecada. Só queria que aquele desgraçado me respondesse logo,
nem que fosse com um mísero “ok”, confirmando que me encontraria na
noite seguinte.
Não citei na mensagem que Logan iria comigo, pois tinha receio de
que Charles recusasse. Ele era o tipo de homem que gostava de pegar uma
mulher desprevenida e, com certeza, ia exigir que eu fosse sozinha, ou não
me encontraria. Seria melhor pegá-lo de surpresa ao aparecer com o
quarterback, do que alertá-lo sobre eu ter companhia.
Donovan chegou com um novo pedido — uma rodada de cerveja e
duas mimosas — e enfiei o celular no bolso, decidida a distrair um pouco a
minha mente. Estava terminando de preparar os drinques, quando percebi
de relance uma mulher de cabelos castanhos ocupar uma das banquetas na
frente do bar. Eu teria deixado de prestar atenção nela um segundo depois,
caso não a tivesse reconhecido de imediato. A taça quase caiu da minha
mão quando ela acenou para mim e sorriu.
Norah Miller estava bem ali, com os cabelos longos caídos pelas
costas e ombros, usando uma blusa branca de mangas longas, que parecia
quase uma segunda pele. Eu sorri de volta, mas com certeza não parecia tão
feliz ou ansiosa quanto ela. Estava surpresa, na verdade. O que Norah
estava fazendo ali? Coloquei as mimosas na bandeja de Donovan, que já
estava ocupada pelas cervejas, e ele se afastou, me deixando completamente
desocupada, ou seja, livre para ir até a irmã de Logan e colocar em prática a
educação que minha mãe havia me dado.
Sequei as mãos, subitamente suadas, na minha calça jeans e me
aproximei de Norah, vendo seu sorriso se expandir um pouco mais. Ela e
Logan eram parecidos fisicamente em diversos aspectos, apesar de ela ser
mais baixa e seus olhos serem quase azuis.
— Avalon, como é bom te ver de novo! — Ela esticou as mãos sobre
o balcão e pegou as minhas, dando um aperto entusiasmado. — Desculpa
aparecer assim no seu trabalho, espero não estar atrapalhando.
— É muito bom te ver de novo também, Norah...
Ela fez um gesto com a mão, me interrompendo.
— Não precisa fingir, vi que te assustei em aparecer assim, mas eu
juro que não vim aqui para te deixar sem graça.
Norah era espontânea e eu acabei sorrindo de verdade pela primeira
vez desde que chegou. Aproximei-me um pouco mais do balcão, ficando
mais à vontade em sua presença.
— Desculpa, eu que não quis te deixar sem graça — falei, tendo uma
ideia. — O que você gosta de beber? Pode escolher o que quiser, será por
minha conta.
— Não, nada disso!
— Eu faço questão, por favor.
Norah havia ido até ali para falar comigo, aquilo era óbvio, e ela
parecia ser uma garota muito legal, apesar de ser irmã do QB irritante.
Queria deixar claro que eu não tinha nada contra ela.
— Tudo bem, pode ser uma mimosa. Vi você preparando uma e
fiquei com água na boca.
Concordei com a cabeça e me afastei para pegar uma taça de
champanhe, o espumante, suco de laranja e um ramo de alecrim. Preparei o
drinque e entreguei para Norah, que soltou um gemidinho de prazer ao
provar.
— Esse era o drinque favorito da minha mãe — comentou, com um
saudosismo no olhar que se equiparava ao meu quando eu pensava em
minha própria mãe. — Sempre que posso, tomo um desses com a minha
avó. Hoje nós fomos tomar o café da manhã com ela, e a Sra. Meredith
Miller ficou brava por não poder tomar uma mimosa em frente à piscina
antes do almoço — Nora riu baixinho e eu me lembrei que sua avó havia
passado por uma cirurgia.
— Que bom que ela já está em casa e se recuperando.
— Sim, o problema é a fazer entender que não pode exagerar. Minha
avó é uma senhora muito ativa, ou seja, ficar de repouso é um martírio para
ela. — Norah deixou a taça sobre o balcão e me olhou sem tirar o sorriso do
rosto. — A verdade, é que conforme ela vai envelhecendo, parece que se
torna uma criança de novo. É divertido, mas preocupante. Vovó não tem
limites.
— Nunca conheci a minha avó, mas imagino que seja muito bom ter
a sua por perto.
— É, sim. Os pais da minha mãe morreram quando eu era bebê e não
conheci o pai do meu pai, portanto, minha avó paterna é a minha única
referência. Agora que somos as únicas mulheres da casa, costumo dizer que
somos nós duas contra o mundo, ou seja, contra os Miller II e III. Esses dois
só nos dão dor de cabeça, mas sinto que isso vai mudar agora que tenho
uma nova cunhada.
Norah piscou para mim e eu finalmente entendi o motivo da sua
aparição tão repentina. Olhei à minha volta, só para garantir que eu ainda
estava sozinha atrás do balcão, e senti as minhas bochechas comicharem de
vergonha.
— Então, você já sabe — comentei baixinho depois de limpar a
garganta.
— Não só eu, mas James e Benjamin também. Logan nos contou
tudo ontem e preciso dizer que, no início, fiquei chocada e achei uma
loucura, mas agora eu estou amando a ideia! — Norah só faltou bater
palminhas de entusiasmo, mas parou antes que chamasse a atenção de todos
os clientes do bar. — Como você está se sentindo com tudo isso?
Fiquei surpresa por Norah se preocupar comigo. Tendo o seu irmão
como protagonista de toda aquela confusão, pensei que seu foco estaria
exclusivamente nele, mas a caçula dos Miller parecia genuinamente curiosa
enquanto esperava a minha resposta.
— Ainda estou assimilando tudo. Acho que a ficha ainda não caiu.
Aquela era a única verdade que eu sabia. Foi difícil pegar no sono na
noite anterior, tentando imaginar o que aconteceria nos próximos dois
meses. Nunca fui uma pessoa muito intuitiva, mas algo me dizia que minha
vida mudaria para sempre e eu não gostava muito daquela sensação. Depois
de tudo o que havia enfrentado, a insegurança e eu com certeza não éramos
melhores amigas, mas eu sabia que não tinha outra saída. Se queria me
livrar da dívida, precisaria me amarrar a Logan pelos próximos sessenta
dias.
— Eu entendo, sinto que meu irmão está do mesmo jeito, por mais
que não queira admitir.
— Tem certeza? Logan parecia muito seguro quando me fez a
proposta.
— Já falei que ele é bom em fingir, mas sei que no fundo está ansioso
e um pouco inseguro. Ontem eu deixei claro para ele que podia contar
comigo e decidi vir até aqui para dizer o mesmo para você. Sei que nos
conhecemos há pouco tempo, mas quero que saiba que estou ao seu lado,
Avalon. Já que vamos ser falsas cunhadas — ela sussurrou —, podemos ser
amigas também. Sem pressão, é claro.
Por mais incrível que pudesse parecer, eu me senti tudo, menos
pressionada. Norah parecia ser uma garota calma, assim como eu, mas
divertida e muito simpática. Por mais que fosse irmã de Logan e que fossem
muito unidos — era o que eu presumia, já que moravam juntos mesmo
estando na faculdade, que é uma fase da vida que muitas pessoas gostam de
experimentar a liberdade estando longe dos familiares —, ela não tinha
obrigação alguma de querer se aproximar de mim só porque seu irmão e eu
havíamos firmado um acordo.
Norah poderia ficar neutra perante tudo aquilo e ajudar apenas
Logan, mas estava ali comigo naquele momento. Senti-me especial de certa
forma, querida por ela.
— Muito obrigada — pedi, segurando a sua mão por cima do balcão,
como fez comigo quando chegou. — Será um prazer ter você ao meu lado
nesse momento, espero mesmo que sejamos amigas.
— Acha mesmo que eu vou te deixar depois que esses dois meses
terminarem? Garota, se a gente se tornar amigas, você vai ter que me aturar
para sempre! — Ela sorriu e eu concordei com a cabeça, animada com a
perspectiva de, finalmente, ter uma amiga de verdade no Alabama.

Despertei bem antes do alarme tocar e fiquei pelo menos meia hora
em frente ao meu guarda-roupa, tentando escolher um look para aquele dia.
Normalmente, eu era rápida em fazer combinações, mas o frio na barriga e
o nervosismo pelo que iria acontecer naquela manhã estavam me impedindo
de raciocinar com clareza. Como se chegar à faculdade com Logan não
fosse o bastante, Charles finalmente havia respondido a minha mensagem
no início da madrugada, confirmando que poderia me encontrar hoje no
início da noite.
Sentia que um ciclo estava prestes a se encerrar — graça a Deus —,
mas outro estava prestes a começar e esse me amedrontava da mesma
forma, apesar de ser por um motivo completamente diferente. Vestindo a
minha carapuça de mulher forte, decidi parar de adiar o inevitável e peguei
a primeira saia que vi pela frente, vermelha com estampa xadrez. Para
deixar que apenas ela desse o toque de cor no look, peguei um par de meias
pretas que terminava acima do meu joelho, um cropped e uma jaqueta de
couro — imitação, lógico — da mesma cor. Nos pés, calcei um par de botas
de cano curto.
Meu cabelo não havia acordado no seu melhor momento naquele dia,
por isso, fiz um rabo de cavalo no alto da cabeça e deixei algumas mechas
soltas na frente do rosto. Passei um batom nude, lápis de olho e máscara de
cílios, me olhando no espelho para ver o resultado. Gostei. Ainda era eu e
não parecia que eu tinha perdido quarenta minutos tentando escolher uma
roupa. Era como se eu estivesse arrumada para um dia normal de aulas.
— Uau! — Aubrey se aproximou de mim assim que entrei na sala.
— Meu Deus, você está muito gata!
— Por que está falando isso? Exagerei? Tá muito na cara que eu me
esforcei para ficar apresentável?
Estava na hora de admitir para mim mesma. Eu estava insegura pra
caralho. O palavrão era válido, porque só ele podia demonstrar a
intensidade do sentimento que oprimia o meu peito. Logan mesmo havia
dito, assim que me conheceu, que eu era estranha por conta da forma como
me vestia. Já ele era um filho da mãe muito gostoso, todo padrãozinho e se
vestia de forma que arrancava suspiro de quase todo mundo por onde
passava. O que iriam pensar quando nos vissem juntos? “A estranha e o
quarterback”, com certeza era o que diriam. E olha que estranha era um
adjetivo muito comum perto dos insultos que poderiam proferir.
Já havia passado por aquilo no passado e o medo fez com que eu me
oprimisse até quase explodir. Não iria mudar o meu estilo de forma alguma,
mas isso não queria dizer que eu era a garota mais segura do mundo. No
fundo, talvez eu estivesse bem longe de ser.
— Apresentável? Ava, você está incrível! — Aubrey se aproximou
de mim e tocou na correntinha de prata que coloquei no pescoço. — Juro
que não estou falando isso apenas porque sou sua irmã. Estou sendo
sincera. Você está linda e Logan vai ser um sortudo por chegar na faculdade
com você ao lado dele.
— Tenho certeza de que vão pensar o contrário — murmurei, já
imaginando os olhares que iria receber das meninas.
Odiava rivalidade feminina, mas ela existia e isso era inegável. Com
certeza, a maior parte das estudantes me veria como inimiga apenas por
estar de mãos dadas com Logan. Quando saísse a notícia sobre o namoro,
não queria nem imaginar o que aconteceria.
— As meninas, talvez sim, mas os meninos? Só se eles fossem
cegos! — Aubrey deu um tapinha em minha bunda e eu ri do seu
entusiasmo. — Quero que você me conte todos os detalhes quando chegar,
entendeu? Não ouse me esconder nada, Avalon Banks, ou juro que pego o
seu celular e peço para que Logan me conte.
— Você não teria coragem, nunca falou com ele pessoalmente.
— Você sabe que eu teria coragem.
Revirei os olhos, porque sim, Aubrey teria coragem. Ela era muito
mais extrovertida do que eu e cara de pau, também. Ainda me surpreendia o
fato de não ter pedido para que eu a apresentasse a Logan. Provavelmente,
ela estava apenas esperando a oportunidade perfeita para me pressionar.
Tomamos café juntas e ela logo saiu para a escola. Pedi para que
tomasse cuidado e nem precisei falar o porquê, já que agora estava ciente da
minha dívida com Charles. Até mesmo depois de quitar o que devia a ele,
eu ficaria ainda em alerta, pois não podia confiar cem por cento na sua
promessa de que me deixaria em paz.
Estava terminando de secar as xícaras que usamos, quando meu
celular anunciou uma nova mensagem. Senti o frio voltar à minha barriga
ao ver que era Logan avisando que já estava me esperando lá embaixo.
Avisei que já estava saindo e peguei a minha bolsa sobre o sofá, trancando
tudo antes de descer as escadas. Havia duas portas no fim dos degraus, uma
levava direto ao bar da Maeve e era a que eu mais utilizava a cada fim de
expediente e outra levava diretamente para a rua. Foi essa que usei, sendo
saudada pelo ar geladinho da manhã, que me fez perceber que eu havia
acertado ao escolher a jaqueta.
Ao contrário do que eu esperava, Logan estava do lado de fora do
Audi, parado contra a porta do motorista. Ele usava uma calça jeans de
lavagem escura com o caimento perfeito na cintura e, parecendo querer
combinar comigo, vestia uma blusa de manga comprida na cor preta, que
abraçava seu tórax e os braços musculosos com perfeição. O cabelo estava
meio bagunçado, como sempre, e aqueles óculos no estilo aviador me
roubaram um pouco o fôlego. Por que ele tinha que ser tão bonito? Eu
sempre me perguntava isso e acreditaria que nunca iria encontrar uma
resposta.
Assim que percebeu que eu estava na calçada, ele parou de mexer no
celular e guardou o aparelho no bolso, descendo os óculos escuros até a
ponta do nariz para poder me olhar lentamente de cima a baixo, sem
qualquer discrição. Não sabia dizer como me senti. Nervosa, com certeza,
com ainda mais frio na barriga, mas o coração acelerado e as palmas das
mãos suadas me deixaram confusa. O olhar de Logan estava mexendo
comigo? Aquilo não podia ser possível. Querendo afastar a sensação,
encurtei a nossa distância e fiz de tudo para mostrar que eu não estava nem
um pouco abalada.
— Puta merda, Valente — Logan murmurou, desencostando-se do
carro e parando na minha frente. Seus olhos estavam levemente arregalados
e os lábios entreabertos, como se estivesse sem palavras. — Você está...
Porra, eu nem sei dizer!
— Vou tentar levar isso como um elogio. — Apesar de ter tentado
soar sarcástica, minha voz saiu muito baixa, o que não causou o efeito que
eu esperava. Logan tirou completamente os óculos e soltou um assobio.
— Isso é um elogio. Bem ruim, claro, mas é. Eu só não consigo
encontrar a palavra perfeita para te descrever. Sinto muito. — Ele coçou a
nuca e me deu um sorriso de moleque que me deixou novamente sem
reação. — Só consigo pensar que sou um filho da mãe muito sortudo.
Nunca namorei antes e, a primeira vez que decido fazer isso, é com uma
gata com você.
— Isso não é um namoro de verdade, estrelinha dourada, por isso,
não precisa mentir. — Toquei em seu queixo rapidamente, vendo-o arquear
uma sobrancelha. — Sei que não sou a garota mais bonita do campus e você
também sabe disso.
— Eu não sei de nada. Você não pode colocar palavras na minha
boca, Avalon.
— Não estou colocando palavras na sua boca, você mesmo me
chamou de estranha.
Meu Deus, por que eu estava batendo tanto naquela tecla desde que
abri os meus olhos naquela manhã? Pensei que aquela insegurança toda já
não fazia mais parte de mim.
— Achei que já tivéssemos conversado sobre isso. Eu estava bêbado
e me esforçando para ser mais idiota do que já sou normalmente. Por favor,
Valente, não leve as minhas palavras para o coração.
Pelo visto, seu pedido tinha vindo tarde demais, mas decidi deixar
aquilo de lado e focar no que aconteceria naquela manhã. Quanto antes
começássemos aquela farsa, mais rápido ela iria terminar.
— Podemos ir? Não quero chegar atrasada para a primeira aula.
— A aula que nós fazemos juntos, não se esqueça.
Como eu poderia me esquecer? Foi justamente por causa daquela
aula que tivemos que começar a conviver. Era inacreditável pensar que o
anúncio do trabalho em dupla da Sra. O’Born estava completando uma
semana hoje. Havia acontecido tanta coisa no último final de semana, que
parecia ter se passado um mês.
Logan destravou o carro e eu dei a volta para entrar no lado do
carona. O veículo tinha o mesmo cheiro do dono, como se o quarterback se
perfumasse ali dentro todos os dias antes de ir para a faculdade.
— Fiquei sabendo que Norah veio aqui ontem à noite — disse ele
enquanto colocava o Audi em movimento. — Juro que não fui eu que pedi
para que ela fizesse isso.
— Eu sei que não. Gosto da sua irmã.
— É mesmo? E de mim? — Sua sobrancelha estava arqueada e um
sorrisinho perturbado pintou os seus lábios.
— Você eu apenas suporto — respondi, ouvindo a sua gargalhada.
— Valente, acho que eu tenho um novo objetivo, além, é claro, de
mudar a minha imagem.
Logan ficou em silêncio por longos minutos e eu suspirei, fingindo
que não estava nem um pouco afetada com tudo aquilo que estava
acontecendo.
— E que objetivo é esse? — perguntei, pois sabia que era por isso
que ele estava esperando para poder continuar.
— Fazer você gostar de mim. — Seus olhos se encontraram com os
meus e eu engoli em seco ao perceber que estavam bem mais claros naquele
dia. — Até o final desses sessenta dias, nós seremos melhores amigos!
— Sim, é claro — murmurei, sem acreditar. Logan tocou o meu
joelho e deu um aperto de leve, que fez com que cada pelinho do meu corpo
se arrepiasse. Que porcaria estava acontecendo comigo?
— Estou falando sério. Eu fico obcecado quando quero alguma coisa
e não desisto até conseguir! Sou assim com as minhas notas, com o futebol
e, agora, serei com você.
— Nós não podemos apenas cumprir o acordo e depois cada um
seguir a sua vida?
Era o mais seguro, com certeza. Logan era... demais. Bonito demais,
rico demais, popular demais e obstinado demais, pelo que parecia. Eu
estava fugindo de qualquer pessoa que fosse tão intensa assim. Sua mão
continuou em meu joelho enquanto ele voltava a falar:
— Valente, eu não sei o que aconteceu no seu passado, não sei por
que você precisou pegar dinheiro com aquele filho da puta, sei menos ainda
se alguém já te machucou ou não, mas eu sei de uma coisa. — Seus olhos
encontraram os meus rapidamente e a intensidade que vi neles me pegou
completamente de surpresa. — Eu sou o tipo de pessoa que não esquece o
que fazem para mim, seja algo bom ou ruim. Posso ser um babaca de vez
em quando e meter os pés pelas mãos, falar besteira, ser um escroto, mas
não sou ingrato. Quando nosso tempo acabar, você vai continuar sendo
importante na minha vida e eu estarei ao seu lado sempre que precisar.
Todos os meus amigos haviam me virado as costas quando mais
precisei. Quando vi a necessidade de sair de Los Angeles, ninguém me
estendeu a mão, todos me deixaram completamente sozinha, mesmo
sabendo que eu não tinha mais ninguém com quem contar e que tinha uma
irmã doente à tiracolo. Aquilo me fez aprender que eu não precisava de
ninguém ao meu lado, apenas de Aubrey, e foi por ela que lutei. Por isso,
não esperava que minha garganta fosse ficar apertada ao ouvir o discurso de
Logan, principalmente porque eu tinha a convicção de que ele era um cara
mesquinho, mimado e egocêntrico, que pensava apenas em si mesmo.
E se eu estivesse errada? E se Norah estivesse certa em relação ao
irmão e aquele ao meu lado fosse o verdadeiro Logan e não o babaca que
conheci semanas atrás? Eu estaria disposta a abaixar a guarda e permitir que
ele se aproximasse verdadeiramente de mim?
Eu não sabia, ainda assim, tomei coragem e toquei em sua mão por
cima do meu joelho. Logan parou em um sinal vermelho e me olhou com
surpresa, com certeza sem esperar pelo meu gesto.
— Obrigada — murmurei, engolindo o nó em minha garganta.
Logan sorriu e puxou a minha mão até o seu rosto, dando um beijo na
palma, como fez na cafeteria.
— Nós somos uma dupla agora, Valente. Os dois mosqueteiros, um
por todos...
— E todos por um — completei, rindo baixinho e sentindo o aperto
em meu peito diminuir.
Quem diria que Logan Miller III ia me fazer rir em uma manhã
turbulenta como aquela.
Quem diria...
Avalon Banks, a garota mais dura na queda que eu conhecia, estava,
definitivamente, nervosa.
Não podia mentir, eu também havia acordado nervoso naquela
manhã. Na verdade, mal dormi. Depois de uma noite turbulenta, acabei me
levantando da cama às cinco da manhã e decidi dar uma corrida pelas ruas
vazias, parando apenas para comtemplar o amanhecer frio, com os raios de
sol bem tímidos. Aquilo me acalmou um pouco, junto com as lembranças
da manhã passada.
Para a minha surpresa, meu pai decidiu não levantar qualquer
discussão à mesa de café da manhã, provavelmente, em respeito ao estado
da minha avó. Não que a Sra. Meredith Miller estivesse frágil, pelo
contrário. Se eu não a tivesse acompanhado durante todos aqueles dias no
hospital, jamais diria que esteve internada até o início daquela manhã.
Minha avó era uma mulher forte e que odiava ser paparicada, também nos
arrancava boas risadas ao contar as mesmas histórias de sempre com o meu
avô. Ela parecia ser a única capaz de tirar a tensão entre mim e meu pai,
pelo menos enquanto estávamos em sua presença.
Foi bom passar aquela manhã e o início da tarde com ela. Senti que
parecia atenta demais a mim e chegou a perguntar se eu estava escondendo
alguma coisa, mas desconversei, pois não queria falar sobre o namoro
naquele momento. Queria que meu pai descobrisse ao mesmo tempo em
que todo mundo, para que a surpresa fosse maior. Sabia que ele ia me exigir
explicações sobre o relacionamento, mas deixaria para me preocupar com
isso depois.
Precisava, primeiramente, fazer o plano dar certo agora, então, daria
atenção para uma coisa de cada vez.
Norah me ajudou a pensar em alguns detalhes e deixar a história
sobre o namoro mais crível e eu conversaria sobre isso com Valente depois.
No momento, só precisávamos chegar juntos ao campus e mostrar a todos
que alguma coisa estava acontecendo entre nós dois.
Eu já havia ficado com muitas meninas da faculdade. Em festas
universitárias, era praticamente impossível isso não acontecer, mas nunca
andei de mãos dadas com qualquer uma delas, muito menos cheguei
acompanhado para um dia normal de aula. Sabia que os olhos de todo
mundo estariam sobre nós dois, principalmente quando Avalon e eu
chegássemos juntos nos próximos dias. Logo começariam a especular sobre
um relacionamento e não apenas um caso passageiro. E era exatamente isso
que eu queria.
Estacionei o carro e olhei para a garota ao meu lado, percebendo que
parecia estar mais calma do que quando a peguei em casa. Avalon ainda
estava levemente pálida, mas forçou um sorriso quando olhou em meus
olhos.
— Ok. Vamos fazer isso — sussurrou mais para si mesma do que
para mim.
— Vai ser moleza, Valente. Confio no seu talento de atriz, afinal,
todo dia você se esforça um pouco mais para fingir que me odeia.
Surpreendendo-me, Avalon soltou uma risada que fez com que o meu
coração batesse mais rápido no peito. Porra, eu gostava do sorriso dela,
principalmente quando era espontâneo.
— Eu não finjo, estrelinha dourada.
— Então quer dizer que você ainda me odeia de verdade? Avalon,
nunca pensei que você fosse tão rancorosa.
— Vai dizer que você passou a gostar de mim? — perguntou,
desconfiada.
Eu precisei parar por um momento para pensar naquilo. Sim, no
início, eu realmente não fui com a cara dela, a achei intrometida — afinal, a
garota estava dentro do meu quarto —, debochada e mal-humorada demais,
no entanto, aquela minha percepção foi mudando aos poucos,
principalmente depois do tempo que passamos juntos em meu quarto.
Avalon ainda era debochada e levemente mal-humorada, mas não parecia
ser tão insuportável quanto eu achei que era.
— Acho que sim — respondi com sinceridade. — Se eu não gostasse
de você, Avalon, não teria feito a proposta sobre o namoro falso.
— Achei que você tinha feito a proposta para mim, porque era
conveniente.
— Sim, também foi por causa disso. — Eu não poderia mentir, foi
conveniente, mas não foi apenas por isso. — Mas foi também pelo fato de
você ser diferente de qualquer outra garota que já conheci e, antes que
pense que estou falando sobre o seu jeito de se vestir e se comportar, saiba
que não foi por isso. Foi porque você é intrigante e inteligente. E porque eu
acho que não vai se apaixonar por mim no final dos dois meses.
Foi bom colocar aquilo para fora, cheguei até a me sentir mais leve.
Avalon me encarou com as sobrancelhas arqueadas e voltou a rir.
— Você é tão convencido, Logan! Acha mesmo que qualquer garota
se apaixonaria por você só por estarem em um namoro falso?
— Sim, eu acho, mas juro que não estou falando isso porque sou
convencido. — Ela me olhou como se dissesse que nem eu mesmo
acreditava nisso e eu bufei. — Ok, posso ser um pouco convencido, mas
estou falando a verdade. Muitas meninas vivem correndo atrás de mim.
Diferente de você, elas me adoram, então, sim, eu acredito que poderiam
confundir as coisas ou pior, fingir que confundiram para tentar mudar o
status da nossa relação.
— Meu Deus, por que essas meninas se humilham por tão pouco?
— Puta merda, Avalon! Eu preciso andar com um colete à prova de
balas ao seu lado — falei, massageando o meu peito como se sentisse dor.
A filha da mãe apenas riu.
— Desculpa, não quis desmerecer você, apesar de você não ser
grande coisa. — Percebi que estava brincando apenas pelo brilho dos seus
olhos, o que me fez sorrir. Avalon estava abaixando a guarda perto de mim?
Aquilo era bom demais para ser verdade. — O que eu quis dizer, é que tem
algumas meninas que aceitam passar por qualquer tipo de humilhação
apenas para namorarem um cara popular. Acho isso uma idiotice tremenda.
— Concordo. Por isso que eu fujo delas.
— Não, você foge delas porque é um safado que quer pegar todas ao
mesmo tempo.
— Não ao mesmo tempo, eu tenho apenas um pau, não uma máquina
de fazer sexo. — As bochechas de Avalon ficaram vermelhas e eu ri alto. —
Você fica tão bonitinha quando está com vergonha, Valente.
— Não estou com vergonha! — Ela fechou a cara e desviou os olhos
dos meus, ocupando-se de destravar o cinto de segurança.
— Sim, você está, e isso é bem fofo.
— Eu não tenho nada de fofa. Cala a boca, Logan terceiro.
— Você é fofa sim, mesmo sendo gótica.
— Também não sou gótica! Logan, por favor, pode parar de me
irritar? Ou vou sair desse carro e deixar você andar sozinho pelo campus!
Ergui as mãos em rendição e pressionei os lábios um contra o outro
para impedir que o sorriso voltasse a crescer em meu rosto. Avalon bufou
baixinho e abriu a porta, o que me fez sair correndo também, pois senti
medo de que a doida cumprisse com a sua promessa e saísse correndo sem
me esperar. Ela deu a volta e parou ao meu lado, observando que o
estacionamento do campus de Direito estava movimentado. Vi alguns
olhares sobre nós dois e tomei a sua mão, puxando-a levemente para perto
de mim. Parei na sua frente e toquei nos fios de cabelo que estavam soltos
na lateral do seu rosto, sentindo o seu corpo tenso.
— Relaxa, Valente — sussurrei, olhando em seus olhos.
— Estou relaxada — respondeu, soltando um suspiro e liberando a
tensão dos ombros. — Esquecemos de planejar o nosso modo de agir. Estou
perdida.
— Você poderia me dar um beijo, o que acha? Só para começarmos
com o pé direito.
— Há-há! Vai sonhando, estrelinha dourada — debochou, me
fazendo rir. Para a minha surpresa, Avalon subiu com as mãos pelo meu
peitoral até chegar em meus ombros. Seu toque quase me fez estremecer,
provavelmente porque foi inesperado. Quantas garotas já haviam me tocado
daquele mesmo jeito e eu nunca senti nada parecido? — Assim está bom?
— Ficaria melhor se eu estivesse sem camisa...
— Queria te dar um tapa agora — ela disse entredentes, mas forçou
um sorriso. Logo percebi que era porque duas garotas estavam passando ao
nosso lado e nos olhando com muito interesse, enquanto sussurravam uma
para a outra. — Pare de ficar soltando essas piadinhas com cunho sexual.
— Era só para te fazer rir, Valente.
Pousei minhas mãos em sua cintura e fechei completamente a nossa
distância, ouvindo o seu suspiro. O cheiro do seu perfume me deixou
levemente desnorteado, enquanto meu cérebro registrava cada detalhe do
seu corpo colado ao meu. Avalon era pelo menos trinta centímetros mais
baixa do que eu, mas as botas que usava a deixavam um pouquinho mais
alta, fazendo a sua cabeça bater em meu peitoral. Ela precisou erguer a
cabeça para me olhar e eu senti algo me puxar em sua direção.
Percebi, bem naquele momento, que eu queria beijar aquela garota. E
não tinha nada a ver com a encenação sobre o nosso namoro.
A reação me deixou estático pelo que poderia ser um ano inteiro,
preso nos olhos castanhos de Valente, que me olhava com a boca levemente
entreaberta e a respiração superficial. Ela estaria sentindo o mesmo que eu?
Se sim, surtaria se eu colocasse aquele lábio inferior grosso entre os meus
dentes? Puta merda, eu estava enlouquecendo.
— Logan... Acho melhor a gente ir, já chamamos atenção o suficiente
e nem andamos pelo campus ainda.
Eu, que sempre me vangloriei por agir de forma racional perto de
uma garota, percebi naquele momento que Avalon era a voz da razão entre
nós dois. O que estava acontecendo comigo, porra? Bastou tocar na garota e
eu quase perdi a cabeça. Limpando a garganta, me obriguei a voltar a
pensar com clareza e dei um passo para trás, tomando a sua mão na minha.
Percebi que Avalon tinha razão, muitas pessoas olhavam para nós dois
agora, como se fôssemos a atração de um circo.
Será que elas haviam percebido que eu perdi o controle por alguns
segundos? Se sim, esperava que pelo menos isso ajudasse no nosso plano e
eu parecesse um cara perdidamente apaixonado por Avalon. Não que eu
estivesse apaixonado, pois logicamente não estava, mas se achassem que
sim, eu estaria no lucro.
De dedos entrelaçados, Valente e eu começamos a andar pelo
campus. Ela parecia focada, olhando apenas para frente, enquanto eu
observava discretamente a nossa volta enquanto nos dirigíamos ao prédio
de Direito. Acenei de volta para alguns conhecidos que me
cumprimentaram de longe e puxei Avalon para mais perto, soltando a sua
mão para poder passar meu braço pelo seu ombro. Sussurrei em seu ouvido:
— Acho que está dando certo, ninguém tira os olhos da gente. Somos
a sensação do momento, Valente.
Ela se virou em minha direção e me deu um sorriso de garota
apaixonada que fez o meu estômago ficar esquisito.
— E você nem precisou me beijar. Acho que vamos conseguir levar a
farsa do namoro só andando de mãos dadas. — A filha da mãe acariciou o
meu rosto sem deixar de sorrir. — Amorzinho.
Eu quis gargalhar, mas me segurei, voltando a me inclinar para
sussurrar em seu ouvido:
— Amorzinho? Esse apelido é muito brochante. Eu te chamo pelo
título de um filme da Disney e é só isso que recebo?
— Posso te chamar de Shrek, o que acha? Você foi um ogro quando
nos conhecemos.
Tirei meu braço do seu ombro e enlacei a sua cintura, apertando a
lateral do seu corpo entre os meus dedos. Avalon soltou um gritinho de
susto e eu aproveitei o momento para dar um beijo estalado no seu rosto,
dando um espetáculo para quem parava para nos observar.
— Ok, eu aceito se puder te chamar de Fiona. Vocês duas são ruivas
mesmo, e a Fiona é a esposa do Shrek...
Ela apertou levemente o meu pescoço e se esticou na ponta dos pés.
Poderia jurar que iria me dar um beijo na boca, mas a danada desviou o
rosto e sussurrou em meu ouvido:
— Mas eu não vou me tornar a sua esposa, então, prefiro que
continue me chamando de Valente, QB.
Avalon deu um passo para trás e voltou a pegar a minha mão,
começando a entrar no prédio. Eu fui logo atrás dela, rindo para mim
mesmo enquanto a observava e entrelaçava os nossos dedos. Valente era
como uma incógnita para mim e eu estava louco para desvendar cada um
dos seus segredos.

Ouvi o apito do treinador Coben encerrando o aquecimento e


aproveitei para secar o suor que escorria pela minha testa e quase entrava
em meus olhos. Apesar de o sol estar fraco naquele dia, qualquer treino em
campo causava a sensação de estar dentro de uma sauna. O treinador jogou
a bola para mim e a peguei no ar um segundo depois, logo ouvindo as suas
instruções.
— Logan, quero que treine aquele novo passe com James no centro
do campo. — Concordei com a cabeça e o treinador se virou para os outros
jogadores: — Benjamin, quero que treine a corrida com Liam...
James e eu nos afastamos do pessoal e começamos um leve
aquecimento, passando a bola um para o outro, antes de começar o treino do
passe. Sentia que o filho da mãe estava louco para falar alguma coisa
comigo, por isso, não me surpreendi quando deu um passo para mais perto
de mim e comentou baixo:
— Cara, não se fala de outra coisa no campus. Você e a ruiva são o
assunto de todos os grupinhos de fofoca!
Sorri, mas joguei a bola mais forte em sua direção, vendo-o franzir o
cenho.
— O nome dela é Avalon, babaca. Nada de apelidos com a minha
garota.
— Sua garota? — Sua sobrancelha se arqueou e eu revirei os olhos.
— É só modo de falar.
— Será mesmo?
— Claro que sim, decidi que vou entrar de cabeça no papel de
namorado perfeito, então, mesmo longe de Avalon, vou agir como se
fôssemos um casal.
James riu alto e eu fechei a cara, dando uma olhada a nossa volta. Por
sorte, todo mundo estava entretido com o treino e Coben olhava
atentamente o cronômetro em sua mão, provavelmente, contando o tempo
que Benjamin estava levando para correr pelo campo. Como running back,
a principal função do meu amigo era cruzar o gramado com a bola nas mãos
no menor tempo possível, passando entre os nossos adversários.
— Entrar de cabeça? No sentindo literal? — perguntou James, me
passando a bola. — Eu observei de longe a interação de vocês... Pode
mentir o quanto quiser, mas sei que está a fim da Valente.
— Avalon, James! Não ouse roubar o apelido que dei para ela! —
Passei a bola mais forte. Ok, talvez sobre o apelido, eu fosse mesmo
possessivo, mas era porque aquela porra era algo pessoal entre mim e
Avalon. — E o nosso acordo não envolve sexo.
— Você esqueceu de mencionar essa parte, mas imagino que essa
tenha sido uma exigência da ruiva. — O babaca sorriu, levemente ofegante,
ao ver o meu olhar. — Desculpa, Avalon.
— Não foi uma exigência apenas dela, nós entramos em comum
acordo sobre isso.
James continuou a sorrir e esperou recuperar a bola para voltar a
falar:
— Você nem percebeu, não é? — Jogou a bola para mim.
— Não percebi o quê? — Joguei a bola para ele.
— Você não negou, QB. — Ele segurou a bola e abriu ainda mais o
sorriso. — Não negou o que eu disse sobre estar a fim de Avalon.
Abri a boca para retrucar, mas logo percebi que era verdade. Eu não
neguei. Porra! James gargalhou e manteve a bola nas mãos, porque sabia
que eu a jogaria com força em sua direção se ela estivesse comigo. Babaca
esperto!
— O que é isso? Um treino ou uma aula de educação física, para os
dois amiguinhos estarem fofocando no meio do campo? — A voz do
treinador Coben fez James parar de sorrir na hora. — Comecem a treinar de
verdade agora, ou vou mandar os dois para o banco!
James jogou a bola em minha direção e eu a agarrei, decidido a focar
apenas no treino e não mais na ruiva gostosa que quase me fez perder a
cabeça naquela manhã.
Aubrey não me deixou em paz enquanto não me sentei ao seu lado no
sofá e contei tudo o que havia acontecido naquela manhã. A pestinha só
faltou tentar entrar na minha cabeça e acessar a minha memória para poder
ver tudo como se fosse um episódio da sua série favorita, exigindo cada
mínimo detalhe. Enquanto contava tudo para ela, comecei a reviver cada
cena louca na minha cabeça, sentindo novamente o meu coração disparar,
principalmente quando me lembrei da forma como Logan me segurou no
estacionamento.
Não queria admitir — e não iria mesmo, pois nem para a minha irmã
eu contei sobre aquilo —, mas me senti afetada pelo olhar e o toque do
quarterback. De forma consciente, eu sabia que tinha pessoas a nossa volta,
observando tudo, e que Logan estava agindo daquela forma justamente para
que elas vissem, mas meu coração idiota, que de uma hora para a outra
decidiu romper laços com qualquer veia racional do meu corpo, pareceu se
esquecer de tudo aquilo e disparou feito um louco, me deixando com a boca
seca e momentaneamente sem reação.
Fiquei com aquela cena na cabeça durante toda a manhã, tentando
entender o que diabos havia acontecido comigo para ficar daquele jeito só
porque Logan me abraçou e colou o seu corpo enorme, largo, musculoso e
cheiroso no meu. Só podia ser carência. Eu estava há tanto tempo sem
receber atenção masculina, que meus hormônios entraram em ebulição por
conta de um mísero toque e olhar.
Briguei comigo mesma no final das aulas, decidida a ser mais forte.
Se no primeiro dia de farsa eu já estava daquele jeito, o que aconteceria em
dois meses? Eu não podia ficar derretida a cada vez que o quarterback se
aproximasse ou me tocasse. Precisava lembrar a mim mesma que o que
havia entre nós dois era um acordo, com regras bem-definidas, e que o meu
corpo carente e o meu coração idiota não tinham espaço naquela equação.
Logan havia deixado bem claro que me escolheu porque sabia que eu
não sentiria nada por ele no final dos sessenta dias e tinha toda razão. Eu
realmente não nutriria nada por ele, talvez algo parecido com amizade, nada
além disso.
— Já tem alguns comentários sobre vocês dois no Twitter! — Aubrey
disse depois que eu saí do banho. Entrei em meu quarto para poder pentear
o cabelo e minha irmã veio logo atrás, se jogando na minha cama para
mexer no celular. — Não é nada de mais, só estão falando que Logan foi
visto com uma estudante de Direito no campus, mas parece que ainda não
estão colocando fé de que pode ser um relacionamento sério. Realmente, a
fama de pegador do quarterback não dá muita margem para que as pessoas
comecem a acreditar que ele está namorando.
— Será que vão demorar muito para acreditar? — questionei mais
para mim mesma do que para Aubrey, mas minha irmã logo respondeu:
— Se em dois meses vocês não conseguirem fazer com que esse
povo fofoqueiro acredite que estão namorando, então, Logan não tem mais
salvação.
Aubrey tinha razão. Logan nunca foi visto com uma mesma garota
por mais de uma vez, quando percebessem que ele estava “saindo
exclusivamente” comigo, logo começariam a suspeitar de que eu era mais
do que uma ficante do jogador.
— Citaram o meu nome? — Aquela era uma outra preocupação que
eu tinha, apesar de saber que seria inevitável descobrirem a minha
identidade.
— Ainda não, mas acredito que devem citar em breve. — Aubrey
deixou o celular de lado e sorriu para mim. — Estou animada para ver o
desenrolar desse romance!
— Não existe romance algum, Aubrey — falei, me virando para o
espelho de corpo todo que ficava na porta do meu guarda-roupa e
começando a pentear o meu cabelo.
— Eu sei, sua chata, mas não quero falar “falso romance”, porque
fica muito sem graça.
Eu revirei os olhos, rindo do seu entusiasmo. Aubrey com certeza
achava que aquele meu acordo com Logan era uma espécie de série da
Netflix ou as fanfics que lia pelo celular, mas iria se decepcionar ao final
dos dois meses. Logan e eu iríamos nos separar e cada um seguiria para um
lado.
Esse seria o desfecho e era melhor que minha irmã se acostumasse
logo com a realidade.

Pedi para que Cindy trocasse a sua folga comigo no bar, para que eu
tivesse a noite livre para poder resolver de uma vez por todas aquela
situação com Charles. Ela aceitou prontamente e eu esperei com ansiedade
pela chegada de Logan, quase roendo o esmalte vermelho que havia usado
para pintar as unhas naquela tarde. O quarterback chegou em cima do
horário marcado e saiu do carro assim que estacionou em frente ao bar, me
dando um olhar culpado.
— Desculpa! O treinador Coben comeu o nosso rabo no treino de
hoje e acabei saindo tarde do centro de treinamento. Só tive tempo de tomar
um banho em casa e colocar uma outra roupa.
Não queria admitir — pelo visto, eu não queria admitir um milhão de
coisas naquele dia —, mas achei fofa a forma como Logan parecia
desesperado para se desculpar pelo quase atraso. Para tranquilizá-lo, toquei
em sua mão rapidamente, vendo certa surpresa no seu olhar.
— Tudo bem, não se preocupe. Vamos?
— Sim, vamos.
Dei a volta e entrei em seu Audi novamente, vendo Logan ocupar o
lugar do motorista e apontar para o banco de trás. Meu estômago embrulhou
ao ver uma maleta preta parcialmente iluminada pelas luzes que vinham da
rua.
— Peguei o dinheiro hoje à tarde, antes do treino. Tem cinquenta e
cinco mil ao todo.
— O quê? Logan, eu disse que a dívida era de cinquenta mil.
— Eu sei, mas achei melhor colocar uma quantia a mais, assim, o
filho da puta não vai poder voltar querendo te cobrar mais alguma coisa.
Sacudi a cabeça, pensando seriamente em pular para o banco de trás
e tirar os cinco mil a mais de dentro da maleta.
— Você não vai fazer isso, sério. Quando estacionar o carro, vou
pegar a maleta e...
— Não. — Logan me deu um olhar sério e eu não recuei, olhando-o
de volta. — Avalon, não quero que aquele filho da puta volte a te perturbar,
ameaçando você e a sua irmã.
— Se der dinheiro a mais, Charles vai pensar o contrário, Logan. Ele
vai querer voltar a me ameaçar, porque pode achar que você é uma mina de
dinheiro, que vai engordar os bolsos dele para evitar que alguma coisa
aconteça comigo ou com a minha irmã.
— Ele não vai fazer isso. — Logan me deu um olhar muito confiante,
como se soubesse de algo que eu não sabia. — Confie em mim, Valente.
Não consegui retrucar e decidi concordar com a cabeça, mesmo
estando contrariada. Logan dirigiu até uma área afastada do centro da
cidade, chegando a um bairro que era conhecido por ter prédios industriais e
pouca área residencial, por isso, sempre ficava mais deserto à noite. Charles
havia marcado conosco em uma rua sem-saída, entre dois prédios antigos.
Senti as palmas das minhas mãos ficarem suadas quando chegamos ao
nosso destino e vi o carro do babaca estacionado ao final da pequena rua.
— Quer que eu vá sozinho? — Logan perguntou, ainda com o motor
do carro ligado.
— Não. Quero olhar nos dele e deixar bem claro que não devo mais
nada e que nunca mais quero que atravesse o meu caminho.
— É isso aí, Valente. — O quarterback apertou a minha mão por
alguns segundos e logo se virou para pegar a maleta, colocando-a em meu
colo. — É você quem deve dar isso a ele. Deixe bem claro que quem está
pagando essa dívida, é você.
— Obrigada por me deixar fingir — pedi com sinceridade.
— Fingir? Você não está fingindo nada, Avalon, realmente está
pagando a dívida.
— Nós dois sabemos que não estou, esse dinheiro é seu.
— Não estou te dando esse dinheiro, nós temos um acordo,
esqueceu? Não é como se você não estivesse fazendo nada para estar com
essa maleta em mãos.
Eu queria contra-argumentar, mas o brilho dos faróis do carro de
Charles acendendo e apagando me fez lembrar que paciência não era muito
o forte daquele babaca. Logan desligou o motor do Audi e saiu do veículo,
batendo a porta com pouca suavidade. Eu respirei fundo e logo repeti o seu
gesto, sentindo o ar mais gelado da noite atingir a pele do meu rosto como
se fosse agulhas afiadas. O jogador logo parou ao meu lado e tocou em
minhas costas, me guiando até onde Charles estava parado, em frente ao
carro que, agora, estava com os faróis apagados.
— Achei que ficariam escondidos para sempre — disse ele com a
voz pingando sarcasmo e me dando vontade de vomitar.
Seus olhos foram diretos para a maleta que eu segurava e um sorriso
nojento se abriu em seus lábios, revelando dentes muito brancos. Charles
deu um passo para frente, mas parou quando Logan avançou também,
segurando a minha cintura e me posicionando atrás do seu corpo.
— Sem chegar perto dela. Creio que a gente consiga resolver
rapidamente toda essa situação sem que você se aproxime.
— Pose de macho alfa... — Charles não tirou o sorriso do rosto e
olhou para mim por cima do ombro de Logan. — Interessante como você
tem um perfil definido para homens, não é, Avalon? Deve ser por isso que
nunca deu muita bola para mim. Você gosta dos populares.
Meu estômago se embrulhou ainda mais ao ouvir aquilo e eu retesei,
apertando com tanta força a alça da maleta, que os nós dos meus dedos
ficaram dormentes. Senti os músculos das costas de Logan ficarem mais
rígidos e sua mão em minha cintura me apertou de forma pouco casual,
quase protetora.
— Chega dessa merda!
— Não, garoto, eu digo quando essa merda acaba — Charles
retrucou e eu fiquei com medo de que resolvesse partir para a violência de
repente.
— Logan, por favor... Vamos só entregar a maleta para ele e ir
embora — pedi, tentando sair de trás do seu corpo, mas ele não deixou, me
segurando de forma firme.
— Acho que você não deve saber quem eu sou, não é? — Logan
questionou para Charles, que riu com desdém.
— Na verdade, eu sei, sim. Você é o quarterback do Crimson Tide.
Posso não ter nascido no Alabama, mas o seu time é famoso por todo o
país.
— Eu sou mais do que isso, Charles Gardner, ou deveria te chamar
de Alfred Dickson? — Fiquei surpresa quando vi o sorriso de Charles
desaparecer. — O que foi? Não esperava que eu soubesse a sua verdadeira
identidade?
— Como que você...
— Como eu descobri? Você deve saber que um homem nunca revela
os seus segredos, afinal, você é dono de tantos, não é mesmo? — Logan
parecia sorrir e eu senti o meu coração bater mais rápido. O que estava
acontecendo ali? — Você pode se esconder da gangue da qual fugiu do
Bronx, em Nova York, mas jamais conseguiria se esconder de alguém que
tem contatos tão poderosos quanto eu. Sabe o que isso significa, Alfred?
Que, se eu quiser, posso dar a sua falsa identidade para Bob Bray com um
telefonema. Acho que não é isso que você quer, certo?
Quem era Bob Bray? Charles havia nascido em Nova York? Como
Logan sabia de tudo aquilo? O agiota deu um passo para trás, assustado e
muito pálido, olhando atentamente para o início da rua, como se estivesse
com medo de que alguém fosse aparecer de repente.
— Só me dá logo a minha grana e vamos esquecer tudo isso.
— Como é? Desculpa, eu não ouvi direito — Logan debochou e eu
dei um beliscão em sua cintura para que parasse. Ele sequer se moveu.
— Eu quero a minha grana e prometo nunca mais aparecer no
caminho da sua garota, contanto que você permaneça de boca fechada,
jogador! — Charles levantou a bainha da camisa preta que usava e o meu
coração parou na boca ao ver a pistola escondida no cós da sua calça jeans.
— Meu Deus, Logan...
— Pessoas de confiança sabem que Avalon e eu estamos aqui com
você. Se não voltarmos em meia hora, elas têm a minha permissão para
entregar a sua localização e o seu novo nome para Bob Bray. Vai querer
mesmo arriscar? — Logan apertou mais firme a minha cintura, quase
fundindo a frente do meu corpo com as suas costas musculosas.
— Fique tranquilo, não vou fazer nada, só queria mostrar que não
estou aqui para batermos papo. Quero a porra do meu dinheiro. Agora!
Eu sequer pensei, apenas tive o ímpeto de jogar a maleta no chão e
chutar na direção de Charles, que se abaixou rapidamente e a pegou,
colocando-a sobre o capô do carro para poder destravá-la.
— Tem cinquenta e cinco mil dólares aí, Charles! Não ouse chegar
perto de mim ou da minha irmã outra vez, entendeu? Ou Logan vai cumprir
com o que acabou de falar aqui.
Eu não fazia ideia do que tudo aquilo significava, mas, se havia
afetado Charles daquele jeito, era porque era alguma coisa muito séria. Ele
deu uma olhada no dinheiro e pegou um bolo de notas, cheirando
profundamente, antes de voltar a guardar e fechar a maleta com clique.
— Tudo certo, dou a minha palavra de que nunca mais vamos nos ver
de novo, Avalon.
Como se a sua palavra valesse de alguma coisa, mas como era a
única garantia que eu tinha, não podia fazer nada além de torcer para que
não voltasse atrás. Seu olhar cheio de raiva fitou a mim e a Logan por mais
alguns segundos, antes de ele entrar no carro e o ronco do motor romper o
silêncio da rua vazia. Ele logo sumiu das nossas vistas e eu finalmente pude
respirar aliviada, sentindo um tremor intenso nas pernas, que ameaçava me
derrubar. Como se sentisse que eu mal conseguia ficar de pé, Logan se
virou e me abraçou com força, passando a mão aberta pelas minhas costas.
— Acabou, Valente — sussurrou contra o meu cabelo. Não esperava
que o seu carinho repentino fosse me deixar com os olhos cheios de
lágrimas, mas aconteceu. — Esse filho da puta não vai chegar perto de você
nunca mais.
Apertei os olhos com força e cerquei a cintura de Logan com os
braços, sentindo o meu coração esmurrar a minha caixa torácica. O jogador
não parou com a carícia em minhas costas em momento algum, parecendo
pronto e alerta para me segurar, caso eu caísse.
— Obrigada — pedi abafado contra o seu peito, mas Logan pareceu
ouvir. — Muito obrigada, Logan. Do fundo do meu coração. Eu juro que
nunca vou esquecer o que fez por mim.
Ia muito além do dinheiro. De alguma forma, Logan havia descoberto
algo importante sobre Charles, que o havia amedrontado e o feito recuar de
verdade. Pagar a dívida era a única opção que eu tinha para me ver livre
daquele bandido, mas certamente não me deixaria completamente segura.
Nada poderia o impedir de voltar atrás de mim, exigindo mais dinheiro ou
tentando colocar a vida da minha irmã em risco, já que sabia que Aubrey
era o meu calcanhar de Aquiles.
Logan havia colocado realmente um ponto-final naquela chantagem.
Eu não sabia como nem por que havia perdido o seu tempo tentando achar
algo contra Charles, mas agradecia profundamente e me sentia um pouco
envergonhada, também.
Logan não era só mais um jogador riquinho e metido, também não
era totalmente arrogante e egocêntrico. Ele era uma boa pessoa, com um
coração bom. Era o Logan que Norah havia descrito para mim. Pela
primeira vez desde que invadi o seu quarto naquela festa, eu me senti
verdadeiramente grata por ter a sua presença em minha vida.
Eu estava dirigindo há pouco mais de dez minutos, mas jurava que
ainda podia sentir o corpo trêmulo de Avalon colado ao meu enquanto a
abraçava. Por um momento, achei que a garota valente que eu conhecia iria
se desfazer bem ali, na minha frente, e senti uma necessidade ainda maior
de tomá-la para mim e assegurar que estava segura. Ficamos daquele jeito
por longos minutos, até Avalon respirar fundo e dar um passo para trás,
parecendo mais calma, apesar do nariz vermelho em um sinal claro de que
havia lutado contra as lágrimas. Não a julguei por não querer chorar na
minha frente, pois eu também odiava expor qualquer tipo de fraqueza diante
de outras pessoas.
— Quem é Bob Bray? — ela perguntou depois de longos minutos em
silêncio.
— Bob Bray é um traficante muito perigoso da região do Bronx, em
Nova York.
— E como você descobriu que ele tinha algum tipo de ligação com
Charles?
Sua voz soou mais calma ao meu lado e eu me preparei para contar o
que vinha aprontando desde sábado de manhã.
— Eu fiquei com receio de que apenas o dinheiro não fosse suficiente
para fazer com que esse cara sumisse da sua vida, por isso, conversei com
um amigo meu que é investigador. Você sabe que a minha família é
poderosa e que meu pai, como advogado, tem ótimos contatos. Philipe
Ward é um deles. Ele é filho de um amigo do meu pai, então, crescemos
juntos. Pedi a ele que descobrisse todos os podres de Charles e ele não
levou muito tempo para me enviar tudo o que reuniu em pouco mais de
quarenta e oito horas.
Avalon se virou para mim no banco do carona, já sem a apatia de
minutos atrás.
— Então, me conte tudo o que ele descobriu!
— Como você ouviu, Charles, na verdade, se chama Alfred. Ele
nasceu na região do Bronx e sempre foi ligado ao crime, já que seu pai
também traficava. Depois que seu pai foi assassinado, ele se tornou braço-
direito de Bob Bray, mas logo iniciou uma guerra contra o cara por debaixo
dos panos. Seu plano era matar Bob e tomar o lugar dele, mas claro que não
deu certo. Bob descobriu e Charles fugiu. Há mais ou menos cinco anos ele
vem vivendo como um fugitivo, usando identidades falsas e mudando de
cidade a cada poucos meses. Parece que ficou fixo na Califórnia desde o
ano passado, mas agora que foi ameaçado por nós dois, acredito que deva
mudar de novo de identidade e sumir do mapa.
Avalon estava boquiaberta e de olhos arregalados. Eu também fiquei
quando descobri tudo naquela tarde, não porque não acreditava que Charles
não era um bandido perigoso, mas por saber que Avalon corria perigo real
por ter pegado dinheiro com ele. Havia mais que eu não contei a ela, pois
queria poupá-la, mas Philipe também descobriu que o filho da puta já tinha
cumprido pena por tentativa de estupro quando completou dezenove anos.
Atualmente, ele tinha trinta e quatro, e senti nojo quando deixou claro que
tinha interesse em Avalon. Nada me tirava da cabeça que o desgraçado era
um aproveitador e que não a deixaria em paz, mesmo depois do pagamento
da dívida.
— Faz sentido ele se mudar a cada poucos meses. Lembro que
quando decidi pegar o dinheiro com ele no final do ano passado, soube que
ele tinha chegado na Califórnia há pouco tempo. Não sabia que ele era tão
perigoso assim, a ponto de ter traficado drogas. Pensei que fosse apenas um
agiota.
— Você não tinha como saber, Valente, e imagino que deveria estar
muito desesperada quando pegou o dinheiro com ele, não ia perder tempo
se questionando sobre a verdadeira índole do filho da puta.
— Sim, eu estava mesmo. — Ela pareceu divagar por alguns
segundos e eu torci para que me contasse o motivo, mas isso não aconteceu.
— Muito obrigada mesmo, Logan. De verdade
— Não precisa agradecer.
— Claro que preciso. Você já comeu?
— Na verdade, não. Eu disse que saí correndo do centro de
treinamento. — Olhei rapidamente para ela. — Por quê? Quer me levar
para jantar?
— Acha mesmo que eu tenho dinheiro para te levar nesses
restaurantes de riquinho que você deve frequentar? — Ela cruzou os braços,
me olhando com uma sobrancelha arqueada e me fazendo rir.
— Um fato sobre mim: eu odeio esses restaurantes cheios de
frescuras, onde um prato custa duzentos dólares e vem um pingo de comida.
Olhe para mim, Valente — apontei para o meu peitoral e engoli em seco ao
perceber o olhar interessado de Avalon —, eu sou um cara grande, preciso
me alimentar bem.
Avalon limpou a garganta e eu sorri ainda mais ao perceber a
vermelhidão que tomou conta do seu pescoço até as bochechas. Foi
inevitável pensar em como a sua pele ficaria com o atrito da minha barba
naquela região. O aperto que senti em minha virilha logo me fez expulsar a
imagem que minha mente criou.
— Bom, eu não sou a melhor cozinheira de todas, mas faço um
macarrão à carbonara que é o prato favorito da minha irmã.
— É impressão minha ou você está me convidando para jantar na sua
casa?
Avalon deu de ombros e sorriu de lado, me olhando de esguelha.
— Talvez eu esteja.
— Ah, não. Se isso é um convite, tem que ser feito direito, Valente.
Ela estreitou os olhos em minha direção e eu prendi a gargalhada,
sabendo que ficaria puta por eu insistir para que fizesse o pedido
formalmente.
— É sério que você vai me fazer falar com todas as letras, sendo que
já entendeu que é um convite?
— Sou um cara educado, isso significa que eu não invado o espaço
pessoal de ninguém... — Avalon se esticou e me deu um tapa no braço, me
fazendo rir.
— Esqueça o convite! Por um segundo, eu tinha me esquecido de
como você pode ser irritante, Logan Miller III!
— Meu nome nunca soou de forma tão sensual aos meus ouvidos.
Avalon revirou os olhos, mas vi um sorrisinho em seus lábios sem
batom. Ela parecia não ter dedicado tempo algum em frente ao espelho para
poder se encontrar com aquele filho da puta e eu gostei disso. Vestia uma
calça jeans comum de lavagem escura, uma blusa preta justa ao corpo e de
mangas longas e o All Star da mesma cor. Estava simples, mas
incrivelmente linda, principalmente por conta do coque despojado no alto
da cabeça, que deixava seu pescoço esguio à mostra.
— Aceita ou não jantar na minha casa? Última chance!
— Já que você está praticamente implorando... — Desviei de outro
tapinha. Talvez o meu lado masoquista se aflorasse na presença de Avalon.
— Eu aceito.
— Ótimo. — Ela tirou o celular do bolso e começou a digitar
rapidamente. — Vou pedir para que minha irmã coloque a água no fogo.
Não sabia explicar o porquê, mas fiquei feliz por finalmente poder
conhecer a irmã de Avalon. A garota teimosa estava se abrindo cada vez
mais para mim, eu sentia.
Avalon destrancou a porta que dava acesso ao seu apartamento, do
lado do bar da Maeve. Subimos um lance de escada e logo estávamos
realmente em frente à porta do seu lar. Eu conseguia ouvir o barulho de uma
música vinda lá de dentro e ela se virou para mim enquanto abria a porta.
— Minha irmã escuta música o tempo todo — explicou.
— Ela tem bom gosto. Quem está cantando?
— Você nem sabe o nome do artista e diz que ela tem bom gosto?
— Não preciso saber quem está cantando para ter a certeza de que é
uma música boa — expliquei e Avalon sorriu para mim, parecendo
satisfeita com a minha resposta.
— É alguma banda de K-pop que ela ama. Não me pergunte o nome,
porque ela escuta várias — Avalon explicou. Pensei que iria finalmente
abrir a porta, mas ela voltou a se virar para mim enquanto ainda segurava a
maçaneta. — Não se espante com o tamanho enorme do meu apartamento,
ok? Nem com o pé direito insuportavelmente alto e os quadros caríssimos
na parede.
— Pode deixar — concordei, vendo certa insegurança em seu olhar.
— Agora vai me deixar entrar ou pretende preparar a minha comida aqui
fora?
— Sua comida? Deixe de ser egocêntrico, estrelinha dourada.
Avalon finalmente abriu a porta e entrou primeiro, logo dando
passagem para que eu a seguisse. Não perdi meu tempo observando nada da
decoração nem mesmo a cor das paredes, pois uma garota, que não devia ter
mais do que quinze anos, estava no meio da sala, em frente à TV, tentando
imitar os passos de um grupo de coreanos que dançavam e cantavam ao
mesmo tempo. Ela sequer percebeu a nossa presença, até Avalon se
aproximar e jogar uma almofada em sua direção.
— Aubrey, temos visita — Valente apontou para mim e sua irmã
ficou estática no meio da sala, completamente ofegante e com os olhos
arregalados. — Aubrey?
— AI MEU DEUS! — Ela gritou e se atrapalhou toda ao tentar
pausar o vídeo na televisão. — Avalon, como você não me avisa que vai
trazer o jogador para casa?! Eu nem me arrumei!
— Você está ótima — falei, vendo suas bochechas vermelhas. Ela e
Avalon eram muito parecidas, apesar de seu cabelo ser em um tom mais
claro de ruivo. Aproximei-me e apontei para a TV. — Adorei a música.
— É mesmo? Avalon odeia.
— Não é verdade! — Avalon se defendeu, cruzando os braços. — Só
acho muito confuso e não consigo gravar o nome de nenhuma banda, só do
BTS, mas eles, por exemplo, têm seis integrantes! Nunca vou saber o nome
de cada um.
— Sete! São sete integrantes. Meu Deus, Avalon! E não é banda que
se fala, é grupo!
— Você precisa prestar mais atenção nas explicações da sua irmã.
— Eu também acho. — Aubrey olhou para Avalon com uma
sobrancelha erguida, antes de se virar para mim e me estender a mão: —
Prazer, sou Aubrey, a irmã mais legal.
— Você é uma pestinha, isso sim!
— Não atrapalhe a minha conversa com o meu cunhado, por favor?
— Aubrey pediu, me arrancando uma gargalhada.
Apertei a sua mão com entusiasmo, encantado por aquela garota. Era
uma miniatura de Avalon, só que sem a expressão carrancuda.
— O prazer é meu, Aubrey. Fico feliz que a sua irmã já tenha
deixado claro o status do nosso relacionamento.
— Nesse caso, fui eu que deixei claro esse status, porque, se não
fosse por mim, essa cabeça-dura não teria aceitado a sua proposta.
— Aubrey! — Avalon praticamente gritou, claramente querendo que
a irmã parasse de falar.
— O que foi? Não contou ao Logan que fui que te convenci a aceitar
esse lance de namoro falso?
— Namoro falso? — Coloquei a mão sobre o meu peito, fazendo a
minha melhor expressão de surpresa. — Avalon, você não contou para a sua
irmã que o nosso amor é verdadeiro?
Avalon abriu a boca para contestar, mas Aubrey falou primeiro:
— Isso é sério? Vocês estão juntos de verdade?
— Sim!
— Não! — Avalon respondeu junto comigo e empurrou de leve o
meu ombro, indo em direção à cozinha. — Que péssima ideia eu tive de te
convidar para jantar aqui, Logan! Já estou arrependida!
— Então foi por isso que você decidiu fazer macarrão à carbonara!
— Aubrey foi atrás dela e eu logo as segui, parando em frente ao balcão
que separava a sala da cozinha. — Está querendo impressionar o Logan!
Valente, que estava agachada pegando algo no armário debaixo da
pia, ergueu a cabeça em tempo recorde, olhando boquiaberta para a irmã.
— Lógico que eu não quero impressionar o Logan! Está doida,
Aubrey?
— Você só faz esse macarrão em datas especiais.
— Minha presença aqui é algo especial — falei, vendo Aubrey sorrir,
cúmplice.
— Não tem nada de especial na sua presença aqui. Só estou fazendo
o jantar como forma de agradecimento pelo que fez hoje.
— Não tem problema admitir que você gosta de mim, Valente —
falei, querendo atravessar o balcão para poder chegar mais perto dela.
— Valente?
— É o meu apelido para ela — respondi para a Aubrey. — Por causa
daquela personagem da Disney.
— Merida, sei! Que fofo! — Aubrey encostou a cabeça rapidamente
em meu ombro, sorrindo de orelha a orelha. — Sério, Ava, Logan não é
nada do que você disse para mim! Ele é um príncipe!
— O que a sua irmã disse sobre mim?
— Nada que eu já não tenha falado na sua frente — Avalon disse
enquanto abria um pacote de macarrão.
— Então você já disse na frente dele que o acha um gato?
Virei-me para Avalon e a encontrei com o rosto vermelho de novo e
os olhos estreitos em direção à Aubrey.
— Estou pensando seriamente em te colocar de castigo, Aubrey
Banks!
— Não pode colocar Aubrey de castigo só por ela estar falando a
verdade — defendi a minha cunhada, vendo-a erguer o polegar para mim.
— Verdade? Eu não te chamei de gato em momento algum!
— Chamou, sim. E disse que você era lindo e musculoso.
— Isso é mentira!
— Na verdade, não é mentira. Eu sou mesmo lindo e musculoso. —
Ergui o braço e forcei o bíceps, ouvindo a risada de Aubrey ao meu lado.
— Por que não diz que eu o chamei de egocêntrico, Aubrey?
— Porque eu tenho certeza de que isso você já disse para ele.
— Inúmeras vezes, aliás, apesar de eu não entender o porquê. — Dei
de ombros, ouvindo o suspiro de Avalon. Ela estava toda nervosinha, do
jeito que eu gostava.
— Não pensei que esse jantar se transformaria em um caos. — Ela
apertou a ponte do nariz. — Vamos fazer o seguinte, já que vocês parecem
ter se tornado grandes amigos, por que não vão se sentar no sofá e me
deixam em paz para cozinhar?
— Acho que é melhor mesmo, vai que ela erra a mão no sal? — falei
e Aubrey fez uma careta.
— Ou pior, confunde com açúcar!
— Não precisamos passar por isso. Vamos logo para o sofá, Aub.
Pisquei para Avalon e fui com Aubrey para a sala, finalmente
prestando atenção no apartamento pequeno. Percebi que não havia quadros
na parede, no entanto, no aparador abaixo do painel de madeira da TV,
havia alguns porta-retratos com fotos de Avalon, Aubrey e uma outra
mulher ruiva, que supus ser a mãe das duas. Quis me aproximar para ver de
perto, mas Aubrey logo puxou assunto, perguntando se eu queria assistir
alguma coisa na Netflix. Logo respondi que sim e descobrimos que
tínhamos um gosto em comum: ambos gostavam de filmes de romance.
— Não acredito! Avalon, ouviu isso? — Aubrey falou bem alto, mas
nem precisava, porque a cozinha não ficava longe da área de TV da sala.
— Sim, eu ouvi. Quem diria que o jogador com fama de pegador
gosta mesmo de filmes de romance?
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. — Fiz a minha
autodefesa, ocultando o fato de que eu nunca tinha parado para pensar sobre
aquilo.
— Logan tem razão!
— Aubrey, se Logan disser que eu sou insuportável, é capaz de você
continuar dando razão para ele.
— Mas às vezes você é insuportável — falei e Aubrey concordou ao
meu lado.
— Isso é verdade.
— Vocês não iam assistir um filme? — Avalon perguntou mais alto e
eu me virei para frente da TV com Aubrey.
— Você também sente prazer em perturbar a minha irmã? — A
menina perguntou baixinho, me fazendo rir.
— Sinto, sim. Muito, na verdade.
— Eu também! Sinto que seremos uma dupla imbatível, QB!
Ela ergueu o punho em minha direção e eu bati o meu contra o dela,
sorrindo. Aubrey me lembrava Norah quando era mais nova e, só naquele
momento, me dei conta de como sentia falta da minha irmã naquela fase em
que tudo era resolvido com um pouco de provocação e muita risada.
Eu não estava chorando com a porcaria de um filme. Recusava-me a
deixar que as lágrimas caíssem enquanto Continência ao Amor rolava na
tela da TV e Aubrey e Avalon fungavam baixinho ao meu lado. O macarrão
ficou pronto rapidamente, então, logo Avalon se juntou a nós dois na sala,
cada um com um prato, degustando da comida deliciosa e do filme que
deveria ser uma comédia romântica, mas era só uma pegadinha para pegar
trouxas como eu.
— Será que eles não vão ficar juntos? — Aubrey perguntou baixinho
e eu limpei a garganta.
— Claro que vão. É um romance, eles precisam ficar juntos no final.
— Talvez seja uma adaptação de um livro do Nicholas Sparks e a
gente não sabe — Avalon resmungou ao meu lado, de braços cruzados.
Em algum momento eu havia passado o meu braço por cima do
encosto do sofá e, agora, Valente estava praticamente encostada no meu
peito. Meu braço estava começando a ficar dormente? Sim, mas eu não iria
me mover nem fodendo.
— Eu me recuso a aceitar um final em que eles não fiquem juntos —
falei, sentindo os olhos de Avalon sobre mim. — O que foi? Eu fui sincero
quando disse que esse é um dos meus gêneros favoritos e eu já sofri demais
vendo Um Amor para Recordar quando era mais novo, para passar por
aquela mesma tortura mais uma vez.
— Esse é um dos meus filmes favoritos — Avalon confidenciou, me
pegando de surpresa.
— Meu também.
— O amor é como o vento...
— Não podemos ver, mas podemos sentir — completei a frase
famosa, olhando nos olhos de Valente. Ela sorriu abertamente para mim, me
pegando novamente de surpresa ao encostar a cabeça em meu peito.
— Agora eu realmente acredito em você, Logan terceiro — falou
baixinho, pois sua irmã estava vidrada no filme.
Eu deveria ficar quieto na minha, mas tendo Avalon tão perto de
mim, com a cabeça bem em cima do meu coração, não consegui ser forte o
suficiente para ficar indiferente e acabei descendo o braço do encosto do
sofá para poder segurá-la contra o meu peito. Esperei alguns segundos para
ver se Valente iria recuar, mas ela não se moveu, apenas soltou a respiração
devagar, olhando para a TV. Ela podia disfarçar o quanto quisesse, mas eu
sabia que estava tão concentrada naquele momento quanto eu.
— É bom que acredite mesmo, Valente. Juro que eu posso ser tudo,
menos um mentiroso — sussurrei perto do seu cabelo, querendo muito que
a sua blusa não fosse de manga comprida para que eu pudesse tocar na pele
do seu ombro.
Tive um vislumbre do seu sorriso e foi a minha vez de soltar a
respiração devagar. Se Aubrey não estivesse ali, talvez, eu fosse capaz de
esquecer tudo e mataria o desejo que estava sentindo desde aquela manhã.
A vontade insana de provar o beijo daquela garota de personalidade forte e
que me tirava do eixo.
Que bom que Aubrey estava ali, bem do nosso lado, fungando com o
filme e me fazendo segurar no último fio de consciência que havia
sobrevivido dentro do meu cérebro.
Realmente... Que bom.
Em uma montanha-russa de emoções.
Era assim que eu me sentia nos últimos dias ao lado de Logan,
andando com ele de mãos dadas pelo campus e chamando a atenção da
maior parte dos alunos. Não fazíamos nada mais do que trocar algumas
carícias em público, mas isso foi o bastante para que o boato de que o
quarterback do Crimson Tide estava tendo um caso, começasse a se
espalhar com mais força, não apenas na faculdade, mas em alguns perfis no
Twitter.
Logan resolveu que ainda não iria confirmar nada, para que o nosso
namoro não parecesse algo forçado ou repentino, e eu gostei da ideia, pois
me dava a falsa sensação de que eu ainda era apenas uma anônima, apesar
de já terem citado o meu nome em alguns tweets. Fiquei um pouco
apavorada quando Aubrey me mostrou a postagem, tinha que confessar,
mas logo me obriguei a ficar calma, porque eu sabia que algo do tipo iria
acontecer mais cedo ou mais tarde.
Apesar do desconforto com os olhares que eu recebia, principalmente
por parte das mulheres na faculdade, conviver com Logan estava sendo
completamente diferente de tudo o que eu havia imaginado que seria. Ele
ainda me irritava — de propósito, pois se divertia muito ao me ver mal-
humorada —, ainda era o atleta meio egocêntrico que conheci na festa em
sua casa, mas também era engraçado, se preocupava comigo e parecia
adorar a minha irmã. Ele e Aubrey trocaram número de celular e viviam
conversando pelo WhatsApp, confabulando contra mim e estreitando os
laços de amizade.
Era impossível não gostar de alguém que tratava tão bem a minha
irmã, mas não era só por isso que eu vinha sentindo o muro que construí em
volta de mim mesma, ser derrubado tijolo por tijolo pelo quarterback.
Logan era mesmo tudo o que sua irmã havia dito para mim: inteligente, fiel
aos amigos e diferente daquela versão que conheci quase um mês atrás.
Ainda era um perturbado de marca maior, mas não era mais um babaca que
me tirava do sério de verdade.
Eu me preocupava sobre aquela percepção que estava começando a
ter dele, pois sentia o meu coração ficar balançado de um jeito que eu não
queria. Me tornar amiga de Logan era aceitável, afinal, estávamos
praticamente vivendo juntos desde o início do namoro falso e pegando
intimidade um com o outro, mas eu não queria que passasse disso e vinha
lutando comigo mesma para não me apegar demais ao jogador. Quando eu
sentia que estava dando abertura demais, recuava, e lembrava a mim mesma
que cada toque, cada olhar e sorriso, eram propositais por conta do nosso
acordo. Eu não podia confundir as coisas.
Larguei o pincel de maquiagem quando ouvi o meu celular apitar
com uma nova notificação. Era uma mensagem de Norah e eu senti o frio
tomar conta da minha barriga pela vigésima vez naquele dia.

Norah: Já está pronta, cunhadinha? Chego aí em cinco minutos!


Eu: Sim. Vou te esperar em frente ao bar da Maeve.

Norah me enviou um polegar erguido e eu voltei a me olhar no


espelho, só para ter a certeza de que não estava faltando nada. Naquele
sábado, começaria a temporada de futebol e o Crimson Tide jogaria contra
o Utah State no Bryant-Denny Stadium, a casa do time, com capacidade
para mais de cem mil pessoas. Eu nunca tinha ido a um jogo de futebol na
minha vida e a minha estreia seria não apenas fingindo ser a namorada do
quarterback, como ao lado da sua irmã, ocupando um dos melhores lugares
do estádio e usando a camisa com o seu número.
Sinceramente? Se alguém me dissesse que algo do tipo aconteceria
comigo um dia, eu teria gargalhado na cara da pessoa. Tudo aquilo era tão
irreal que, mesmo usando a blusa vermelha do time com o número 9 escrito
“Miller” nas costas, eu ainda não conseguia acreditar. Talvez a minha ficha
caísse quando eu estivesse ouvindo a multidão cantar o grito de guerra do
Crimson Tide.
Fiquei satisfeita ao ver que a calça jeans preta havia combinado
perfeitamente com as botas de salto plataforma que escolhi. Como a blusa
do time tinha um comprimento maior do que eu gostava de usar
normalmente, fiz um nó na lateral do corpo e a deixei mais curta. Como se
Logan soubesse que eu não queria chamar tanta atenção, ele me deu um
boné do time, por isso, deixei o meu cabelo solto. O batom vermelho era a
única coisa que se destacava em meu rosto.
— Você vai chamar mais atenção do que o meu cunhado — Aubrey
disse, parando no batente da porta do meu quarto. — Está muito gata, Ava!
— Não estou ridícula com essa camisa do time?
— Claro que não! Como namorada do Logan, você precisa usar a
camisa dele. — Eu sabia que aquilo era óbvio, mas estava mexendo comigo
de uma forma diferente.
A lembrança de Logan me dando a camisa, dois dias atrás, voltou
com tudo em minha mente.

— Quero te dar uma coisa. — Ele se esticou e pegou uma caixa de


presente vermelha do banco de trás do carro. — Abra.
Pousei a caixa sobre as minhas coxas, curiosa, e levantei a tampa,
logo vendo o papel de seda branco. Tirei-o do caminho com cuidado para
não rasgar e peguei a blusa vermelha, bem menor do que a que Logan
usava, obviamente, com o seu número e o seu sobrenome nas costas.
— É linda.
— Queria que você usasse no jogo de sábado.
— Queria? — Aquilo me pegou de surpresa, pois achei que Logan
simplesmente diria que era para eu usar, para que o nosso disfarce ficasse
mais crível.
— Não quero te forçar a fazer isso, Valente, só achei que seria legal
se a minha garota estivesse usando a minha camisa.
Minha garota.
Meu coração não deveria demonstrar qualquer reação ao ouvir
aquilo, muito menos ao detectar certa intensidade no olhar de Logan. Senti
a minha boca ficar seca de repente e precisei passar a língua pelos lábios
para espantar a sensação.
— Vou pensar no seu caso, estrelinha dourada.
Logan sorriu diante da minha resposta, provavelmente, sabendo que
eu não negaria o seu pedido.

— Estou ouvindo uma buzina! Acho que a irmã do Logan chegou!


— Aubrey me tirou das lembranças e eu peguei o meu celular, vendo que
Norah havia acabado de avisar que estava lá embaixo me esperando.
— É ela mesmo. Vou descer. Comporte-se, ok? Não desça para o bar
— avisei, dando um beijo em sua testa enquanto minha irmã revirava os
olhos.
— Pode deixar, mamãe. Mais alguma recomendação?
— Sim. Deixei vinte dólares no balcão, peça algo para comer.
— Mentira! — A pestinha passou correndo por mim e cheguei na
sala a tempo de vê-la com a nota de dólar na mão. — Não acredito! Pensei
que iria para o jogo e me deixaria comendo pão com pasta de amendoim.
— Viu como sou uma ótima irmã? Mesmo assim, é só do Logan que
você puxa-saco.
— Está com ciúmes?
— Claro que não.
— Está sim! — Aubrey encurtou a nossa distância e me abraçou pelo
pescoço enquanto ria. — Só resta saber se está com ciúmes de mim ou do
Logan.
— Quer ver eu pegar esse dinheiro da sua mão e te deixar à base de
sanduíche a noite inteira, Aubrey?
— Não, nem pensar! — Ela me deu um beijo estalado no rosto e logo
se afastou, escondendo as mãos atrás das costas. — Divirta-se, maninha, e
esfregue na cara de todo mundo que você é a garota oficial de Logan Miller
III.
Evitei erguer o dedo do meio para a minha irmã de quatorze anos e
saí de casa, descendo as escadas rapidamente para encontrar com Norah.
Mais uma vez, havia pedido para que Cindy trocasse a sua folga comigo, o
que significava que na próxima semana eu não teria nenhuma noite para
descansar.
A BMW prata de Norah estava estacionada do outro lado da rua, pois
durante o final de semana a calçada em frente ao bar ficava muito
movimentada e Christopher sempre pedia para que não estacionassem ali e
atrapalhassem o ir e vir dos clientes. Acenei para ele, que gritou em minha
direção falando que estava torcendo pelo Crimson, e atravessei, logo
ocupando o banco do carona de couro em cor creme. O interior do veículo
era tão impressionante quanto o Audi de Logan e eu me senti um pouco
mais pobre por estar colocando a minha bunda sentada em um carro que
valia muitos milhares de dólares.
— Uau, você está uma grande gostosa, Avalon Banks! — Norah
sorriu para mim, dando um tapinha em minha coxa. — Acho que até eu
quero namorar com você.
— Não seja boba, você que está uma gata! — Falei, vendo sua saia
jeans branca, os tênis de plataforma da mesma cor e a camisa do time que
vestia. — Está usando o número do Logan também?
— Não, estou usando o número do James. Passei muito tempo
usando o número do Ben enquanto ele namorava, agora, passei a usar a
camisa dele.
— Não sabia que James tinha uma namorada. — Na verdade, eu não
conhecia quase nada sobre a vida dos jogadores do time de Logan. Norah
colocou o carro em movimento e fez uma careta.
— Nem me lembre daquela vaca! Eu não gosto de usar termos
pejorativos para falar sobre qualquer mulher, mas abro uma exceção para
aquela idiota.
— Por quê? Tudo bem se não quiser me contar — falei logo, antes
que pensasse que eu era uma enxerida.
— Quase ninguém sabe sobre a verdadeira história por trás do
rompimento de James e Megan, mas como sei que você é uma pessoa
confiável, vou te contar. — Norah me olhou rapidamente enquanto dava
seta para virar para a direita. — Só não conte isso para ninguém, por favor!
— Claro. Eu nem teria para quem contar, na verdade.
Bom, eu tinha sim, e essa pessoa se chamava Aubrey, mas minha
irmã era um agente neutro, que só absorvia as minhas fofocas e guardava
tudo para si.
— Megan traiu o James e ele a pegou no flagra. No meio do ato, para
ser mais clara.
Eu arregalei os olhos, um pouco chocada. Sequer sabia quem era
Megan, mas conhecia James, ele era um homem lindo com mais de um 1,90
de altura, pele preta, corpo forte e um sorriso de moleque que era
contagiante. Também parecia ser uma pessoa muito legal. Como alguém
conseguia ser tão mau-caráter daquele jeito?
— Nossa, eu nem sei o que dizer, mas agora entendi por que James
não quis que a história se espalhasse.
— Sei que deve estar pensando que era porque ele não queria ficar
com fama de corno, mas não foi por causa disso... Quer dizer, não foi
apenas por causa disso. Megan é filha do prefeito do Alabama e o pai dela
estava concorrendo a reeleição quando James descobriu tudo, se essa
história se espalhasse, seria um escândalo que poderia atrapalhar a
campanha política do pai dela. Enfim, ela implorou para que James não
contasse a verdade para ninguém e ele aceitou.
— Simples assim?
— É, simples assim. — Norah fez um bico, claramente com raiva da
decisão tomada por James. Eu estava chocada, não sabia nem o que pensar.
— Eu sei que James tem um ótimo coração e que gostava daquela vaca,
mas ela não merecia sair com fama de boa moça depois de tudo o que fez!
Sabe o que é pior? James ainda saiu com fama de traidor, porque foi visto
ficando com uma garota em uma boate dias depois do término e todo
mundo associou aquilo ao rompimento do namoro, mesmo que ele já
estivesse solteiro. Ela sequer fez um tweet desmentindo tudo!
— Que vaca! — Realmente, não tinha como defender aquela garota.
— Eu falei que poderíamos abrir uma exceção para ela.
— E onde ela está agora? Estuda na UA?
— Não. Pelo menos ela teve a decência de ir terminar os estudos na
Europa.
Ah, o lado bom de ter uma conta recheada de dinheiro. O máximo
que eu pude fazer quando decidi sair da Califórnia, foi pedir uma
transferência para a Universidade do Alabama, e apenas porque eu tinha um
lugar garantido para ficar, que não me custaria uma pequena fortuna.
— Por isso que estou usando a camisa do James hoje — Norah
voltou a falar. — Sei que muitas garotas vão estar usando a camisa dele
também, mas eu sou a melhor amiga dele, então, tenho que dar essa força.
— É muito legal que você seja amiga dos amigos do seu irmão.
— Logan tem bom gosto para amizades. — Ela sorriu divertida para
mim. — E para namoradas também.
— De mentirinha, no caso — alertei.
— É, mas nada impede que se torne de verdade, não é? Vocês
formam um casal muito bonito e eu não vejo meu irmão tão relaxado há
quase um ano. Você está fazendo muito bem a ele, Avalon, e espero que ele
esteja fazendo bem para você também.
Lembrei-me de todo o seu esforço para ter a certeza de que Charles
nunca mais voltaria a me perturbar, o seu carinho com a minha irmã e a
forma como pediu para que eu usasse a sua camisa. Sim, Logan me fazia
bem e isso me assustava.
— Seu irmão deixou bem claro que não quer nada sério e eu também
não quero. Por isso que o acordo está funcionando tão bem — desconversei
e Norah bufou baixinho, como Logan fazia de vez em quando.
— Isso é bobagem, ninguém manda no coração dessa forma.
— Por que está falando assim? Está apaixonada? — Eu era boa em
tirar o foco de mim e jogá-lo para outra pessoa. Norah sacudiu a cabeça,
parecendo sincera.
— Não estou. Como vou me apaixonar, se Logan colocou medo em
todos os machos da UA? Ninguém olha para mim, Ava.
— Por isso que eu digo que Logan é ridículo.
Decidi que eu conversaria sobre aquilo com ele. O jogador não podia
ficar aterrorizando todos os garotos da faculdade contra Norah. Chegava a
ser infantil o modo como agia com a irmã. Norah era maior de idade e tinha
o direito de viver a sua vida da forma que queria, conhecendo novas
pessoas e se aventurando no amor.
— Sim, ele é ridículo às vezes, mas o maior problema do meu irmão,
é acreditar que todos os homens são como ele e Benjamin. Só porque eles
fogem de relacionamento sério, não quer dizer que todos os homens do
planeta sejam assim.
— James é um ótimo exemplo.
— Exatamente! Mas Logan é um idiota.
— Vou ver se consigo fazer o seu irmão enxergar que você precisa de
liberdade, ok? Não prometo que vou conseguir fazer um buraco naquela
cabeça-dura, mas vou tentar.
Norah sorriu para mim e quase quicou sobre o banco do motorista.
— Por isso que eu me apaixonei por você à primeira vista,
cunhadinha! Obrigada por isso.
Eu sorri e toquei o seu ombro com gentileza. Gostava muito de
Norah e, principalmente, da relação de amizade e confiança que estávamos
construindo.
O estádio já estava lotado quando chegamos, todo mundo gritando
enquanto a Million Dollar Band, banda marcial oficial da Universidade do
Alabama, tocava o hino do time. Fiquei chocada com o mar vermelho e
branco que ocupava as arquibancadas e muito surpresa com o fato de os
nossos lugares serem tão pertos do campo. Uma amiga de Norah, que se
chamava Alicia, chegou logo depois da gente e ocupou o lugar vago ao lado
esquerdo da irmã de Logan, enquanto eu ocupei o lugar direito.
— Preciso ser sincera, sei muito pouco sobre futebol, principalmente
o universitário — falei alto para que Norah conseguisse me escutar. — Você
vai ter que me explicar o que eu não souber.
— Você sabe o básico?
— Mais ou menos.
— Um time ataca e o outro defende, a função do meu irmão é pegar a
bola, estudar a melhor jogada e arremessar para o wide receiver ou o
running back, quem estiver com a bola, tem que tentar correr o máximo
possível até a end zone e marcar o touchdown, mas há outras formas de
pontuar também. Os outros jogadores, de modo bem resumido, precisam
proteger o quarterback e dar o maior tempo possível para ele fazer o
lançamento.
Na teoria, era bem prático, mas eu já tinha passado o olho em alguns
jogos pela TV e sabia como aquele era um esporte de alto impacto, em que
tudo acontecia muito rápido e as regras eram meio complicadas. Fiquei
torcendo para que eu não ficasse tão perdida enquanto assistia, pois sabia
que seria chato ficar pedindo explicação toda hora para Norah.
De qualquer forma, eu sabia que a função de Logan era escolher as
melhores jogadas e lançar a bola para os recebedores. Como capitão do
time, era seu dever pensar e agir rapidamente, o que eu jamais conseguiria
fazer, pois minha mente poderia travar no meio de tanta tensão. Logo
avistei o time entrando em campo, enquanto as cheerleaders ainda
dançavam e agitavam o público durante os acordes finais da música tocada
pela banda.
— Vai começar! — Norah apertou a minha mão e se juntou ao coro:
— Yea, Alabama! Down ’em Tide! Every ‘Bama man’s behind you, hit your
stride!
O jogo começou com o Utah atacando. Fiquei apreensiva enquanto
todos se posicionavam e quase morri do coração quando pelo menos quatro
jogadores do Crimson se jogaram sobre o quarterback do time adversário
para impedi-lo de arremessar a bola. Talvez eu tenha fechado o olho por um
segundo ou dois, sentindo na minha alma o impacto que o jogador do outro
time deve ter sentido.
— Não fique com pena, Ava, ele é do time rival! — Norah gritou em
meu ouvido, percebendo a minha reação.
Eu sabia daquilo, mas a violência com que se jogaram sobre ele me
deixou com um pouco de pena do pobre coitado. Logo eles se
reorganizaram para a segunda jogada e, dessa vez, o quarterback conseguiu
lançar a bola para outro jogador, que começou a correr como louco pelo
campo e foi interceptado por mais dois jogadores da linha de defesa do
Crimson. A bola quase caiu no chão, mas ele conseguiu segurar e logo o
jogo recomeçou, com o quarterback conseguindo arremessar a bola oval de
forma certeira para um outro jogador que, dessa vez, conseguiu chegar a
end zone e marcou um touchdown[7].
Enquanto o público se enfurecia — afinal, estávamos no Alabama e
todos ali torciam pelo time vermelho e branco —, o Utah conseguiu fazer
um ponto extra acertando a bola no goal post que ficava na end zone do
Crimson.
O primeiro quarto do jogo acabou sem que o nosso time pontuasse e
eu percebi que estava tão nervosa, que quase sentia vontade de fazer xixi.
Houve uma pausa e o público começou a cantar mais alto, impulsionando o
time. Eu só podia imaginar como estava a cabeça de Logan naquele
momento, principalmente porque no segundo quarto, era o Crimson Tide
que iria atacar.
Logo os jogadores entraram em campo e Norah agarrou a minha
mão. Vi Logan se posicionar atrás de um outro jogador que eu não sabia
que função ocupava, e a bola foi parar em sua mão. Em um piscar de olhos,
ele foi derrubado por um gigante do Utah, que praticamente montou em
suas costas e o jogou no chão.
— Seu filho da puta, sai de cima dele! — berrei junto com as
milhares de pessoas a minha volta. Do meu lado, Norah xingava feito um
marinheiro assim como eu. — Será que ele se machucou?
— Não, meu irmão está acostumado. Esses babacas amam tentar
jogar ele no chão! — Ela gritou e percebi que estava muito mais tranquila
do que eu.
Sinceramente, eu não teria coração para acompanhar os jogos se
todos fossem naquele nível. E o pior é que eu sabia que era. O time voltou a
se posicionar e, novamente, Logan pegou a bola, passando-a para um outro
jogador.
— Vai, James! — Norah gritou e confiei de que ela sabia quem era o
jogador, porque, ao contrário de mim, ela com certeza conhecia o
sobrenome do melhor amigo de Logan.
James conseguiu avançar algumas jardas no campo — não sabia
quantas, porque estava nervosa demais para prestar atenção —, mas logo foi
jogado no chão por dois jogadores. O jogo foi paralisado por alguns
minutos e eu peguei a garrafinha de água que havia comprado na entrada no
estádio, dando um gole longo.
As próximas jogadas quase arrancaram o meu coração do peito.
Logan jogou a bola no ar para Benjamin — soube que era ele, pois Norah
gritou o seu nome —, que correu com ela praticamente debaixo da axila,
batendo com os ombros nos dois jogadores que tentaram cercá-lo e,
finalmente, atingindo a end zone do Utah State.
— Touchdown! — Norah e eu gritamos praticamente ao mesmo
tempo, dando um abraço coletivo junto com a sua amiga, que também
estava eufórica.
O estádio quase veio abaixo, principalmente quando o Crimson
conseguiu marcar o ponto extra. Agora o jogo estava empatado. Ainda
havia um tempo naquele segundo quarto e a posse de bola passou para o
time adversário, mas eles sequer conseguiram completar uma jogada. A
defesa do Crimson derrubou o jogador do Utah, que acabou soltando a bola,
fazendo com que a posse agora fosse do Alabama.
Meu nervosismo voltou com tudo ao ver Logan sendo tão duramente
marcado pelos jogadores do Utah. A defesa deles se tornou algo quase
impossível de ultrapassar, por isso, o Crimson pediu um field goal[8] — que
eu sequer saberia o que significava se Norah não estivesse ao meu lado
explicando tudo — quando chegou na sua quarta tentativa de chegar a end
zone.
A multidão foi à loucura quando a bola passou pelo Y gigante e três
pontos foram acrescentados ao placar do Crimson Tide, nos deixando com
uma pequena vantagem perante o Utah.
Houve uma nova paralisação e o terceiro quarto me deixou com as
pernas bambas. O Utah State não conseguiu marcar um novo touchdown,
mas marcou um field goal, empatando novamente com o Crimson. Logo
percebemos que aquele seria um jogo em que o vencedor sairia de campo
com uma margem de diferença muito pequena em relação ao time perdedor.
O último quarto começou e foi sofrido. Logan foi marcado demais,
assim como Benjamin e James, por isso, o nosso quarterback mudou a
jogada e lançou a bola para um outro jogador, que Norah logo disse que era
o tight end do time. Por um segundo, achei que ele conseguiria chegar na
end zone, mas foi derrubado por três brutamontes e quase perdeu a posse de
bola. O relógio corria e faltava muito pouco para chegar ao final dos quinze
minutos.
Os times se reposicionaram e Logan agarrou a bola com tudo. Ele
pareceu levar menos de um milésimo de segundo para analisar o campo e a
posição dos jogadores, antes de simplesmente começar a correr.
— O quê? — Gritei, me levantando. Acho que todo mundo se
levantou também, pois Logan cortou o meio de campo e começou a voar
em direção à end zone. Eu senti o meu coração parar na boca quando um
jogador do Utah chegou muito perto de agarrá-lo pelo braço, mas acabou
caindo no chão. — Logan, não seja louco! Passa a bola. ELE PRECISA
PASSAR A BOLA! Essa não é a porcaria da função dele?
O que aquele maluco estava fazendo?
Um outro jogador do Utah tentou interceptá-lo, mas caiu no chão,
assim como um terceiro, que ficou para trás comendo poeira. Logan não
parou, ele avançou todas as jardas e quando quase foi agarrado por dois
brutamontes, se jogou na end zone, marcando o touchdown mais
impressionante que eu — uma completa leiga — já tinha visto!
O estádio pareceu que seria jogado abaixo. Eu senti a arquibancada
tremer enquanto Norah me agarrava pelo pescoço, gritando o nome do
irmão e chorando copiosamente. Eu queria gritar também, mas estava em
choque, vendo Logan ser abraçado pelos companheiros de time, tendo o
capacete tirado da cabeça e quase sendo jogado para o alto, enquanto
tentavam pegá-lo no colo. Ele comemorou com todo mundo, mas logo
olhou para a multidão, como se procurasse por alguém. Segundos se
passaram até os seus olhos se encontrarem com os meus, então, ele veio
correndo em minha direção.
Eu senti o meu coração bater na velocidade insana das suas passadas
pelo campo. Ele passou pela equipe do Crimson Tide e chegou perto das
arquibancadas, abrindo o maior sorriso do mundo para mim antes de passar
o braço musculoso pela minha cintura e me tirar de perto da sua irmã. Eu
acordei do transe e o agarrei com as minhas pernas na altura do seu quadril,
com medo de que o doido me deixasse cair no chão a qualquer momento,
mesmo sendo tão forte daquele jeito.
— Você viu, Valente?
— Se eu vi? O mundo inteiro viu! Você é louco, estrelinha dourada!
— Segurei o seu rosto suado e sorri diante da felicidade em seus olhos. —
Eu estou muito orgulhosa de você.
— É bom mesmo que esteja e que não fique com raiva de mim,
porque agora eu vou te beijar.
Assim como foi confiante em atravessar o campo com a bola nas
mãos e marcar aquele touchdown inacreditável, Logan foi certeiro em
capturar a minha boca e me dar o beijo mais insano e profundo que eu já
havia recebido.
Eu não sabia explicar como o meu peito não explodiu, porque meu
coração chegou a falhar duas batidas, enquanto eu esquecia de como se
respirava. Logan enfiou a língua em minha boca com precisão, me
segurando forte com as duas mãos em minha bunda, enquanto eu me perdia
na sensação inebriante que aquele beijo estava me causando. O mundo a
nossa volta despareceu, não havia mais o coro apaixonado dos torcedores, a
comemoração do time ou a voz de Norah ainda ecoando em minha cabeça.
Enquanto o beijava de volta, permiti que o meu lado romântico
expulsasse do meu cérebro a realidade de que o nosso namoro era de
mentira. Fingi que aquele beijo era para mim e não para o público a nossa
volta e me entreguei a Logan de uma forma que nunca havia me entregado
para qualquer outra pessoa.
Eu deveria estar pulando que nem um louco com o meu time no
vestiário, mas ainda me sentia conectado à Valente e ao beijo que dei em
sua boca no meio do estádio, com o público vibrando e o meu coração
ameaçando explodir dentro do peito.
Não sabia o que tinha me levado até ela, só senti que eu deveria
procurá-la no meio daquela multidão de mais de cem mil pessoas e olhar
em seus olhos. O beijo não foi programado, assim como não imaginei que a
pegaria em meu colo e ficaria emocionado em ver a alegria em seus olhos
pelo que eu havia feito em campo. A magnitude daquele momento ainda
estava sendo processada pelo meu cérebro e o gosto de Avalon ainda
preenchia a minha boca.
Eu queria mais e nem conseguia entender o porquê.
— Foi inacreditável o que você fez! — Thomas, nosso inside
linerbacker[9], deu dois tapinhas em minhas costas enquanto ria de orelha a
orelha. — Sério, eu quase não consegui respirar enquanto você atravessava
o campo com aquela bola, driblando todos os outros jogadores. Foi
espetacular, Logan!
— Você foi foda pra caralho! — Benjamin passou o braço pelo meu
ombro e apontou para o meu peito. — Nosso QB está de volta, porra, e
nada vai nos impedir de ganhar esse ano!
Eu queria responder o entusiasmo deles, mas só consegui rir quando
o time todo se aproximou e me ergueu no ar, me fazendo xingar um por um
e ameaçar a vida de todos eles se me deixassem cair. Eles só me colocaram
no chão quando o treinador Coben e o treinador Fred, responsável pela
parte de defesa do time, entraram no vestiário. Fiquei com receio de que
acabasse levando uma bronca de Coben por ter agido daquela forma em
campo, mas me tranquilizei quando ele sorriu e se aproximou de mim,
apertando o meu ombro.
— Hoje você provou para todo mundo o motivo de ainda ser o
capitão desse time, Logan. Sempre acreditei em você e estou muito
orgulhoso do que fez em campo.
Ouvir aquilo me abalou de uma forma que eu não esperava. Eu sabia
que vinha decepcionando o treinador com o meu comportamento nos
últimos meses e sentia que aquele jogo era como um teste final para
permanecer no time. Não foi por isso que arrisquei aquela jogada, mas
estava feliz por ter dado certo, apesar de, no fundo, uma voz insistir em
dizer que eu não merecia toda aquela comoção.
— Não joguei sozinho, treinador. Nosso time foi impecável hoje e, se
ganhamos, é porque jogamos juntos.
— Sim, eu sei disso. Todos vocês estão de parabéns! — disse ele,
virando-se para os meninos. — Agora, vamos continuar trabalhando,
porque essa temporada será nossa, entenderam?
— Sim, treinador!
— Não ouvimos direito. Vocês entenderam? — incentivou o
treinador Fred.
— Sim, treinador!
— Agora, vocês podem comemorar. Com juízo! — Recomendou o
treinador Coben.
Os meninos foram rápidos em ocupar um chuveiro, enquanto os
outros começaram a combinar onde seria a comemoração. Logo optaram
pelo clássico: o Maeve’s Bar. Não me reuni a eles, indo direto para o meu
armário para pegar meus itens de higiene pessoal.
— Ei, vai para o bar com a gente? — James perguntou, parando ao
meu lado enquanto abria o seu armário. — Ou vai comemorar em particular
com a sua garota?
— Tá mesmo ficando sério com ela, Logan? — Thomas perguntou
do outro lado do vestiário. — Não se fala de outra coisa desde que vocês
começaram a chegar juntos na segunda-feira retrasada.
— Nosso QB está apaixonado! — Benjamin respondeu por mim e o
time inteiro se manifestou com gemidinhos que me fizeram rir.
— O que eu posso fazer? Valente me pegou de jeito.
— Valente? Ela não se chama Avalon alguma coisa? — Liam
perguntou.
— Esse é o apelido que Logan deu para ela. — James sorriu, me
dando um soquinho no ombro. — Sim, Logan é do tipo de namorado que dá
apelidos, pessoal.
— Cala a boca — retribuí o soco que me deu, rindo e sentindo um
pouco de vergonha.
Era estranho estar naquela posição, tendo a minha vida exposta
daquela maneira, mesmo sabendo que era disso que eu precisava para fazer
todo mundo acreditar no namoro de mentira. Eu só queria... Preservar de
alguma forma o que Valente e eu tínhamos, o que era uma bobagem, porque
não tínhamos nada além de uma amizade que estava apenas engatinhando.
— E sim, eu vou comemorar com a minha garota. Minha fase de
bebida e festas acabou!
— Ah, não, assim não vale! Essa comemoração não vai ser nada sem
você, Logan! — Um dos meninos disse enquanto saía do chuveiro.
— Colin tem razão — Thomas disse. — Vamos lá, vai ser só uma
cerveja! Sua garota pode ir conosco, James vivia levando a ex dele para as
nossas festas.
— Vocês não entendem, não é? Logan e Avalon estão no início do
namoro, eles não querem ficar no meio de um bando de cuzões como a
gente! — James apertou o meu ombro em solidariedade. — Vai comemorar
com a sua garota, irmão. Você merece isso.
— Eu estou com James! — Ben disse, apertando o meu outro ombro.
— Justo você? O maior galinha do time? Isso não é possível! —
Thomas brincou e se esquivou quando Ben jogou um frasco de shampoo em
sua direção.
— Eu sou galinha, sim, mas se meu amigo resolveu ser um namorado
fiel, então, eu estou com ele.
Sorri diante daquilo, grato por ter os meus dois melhores amigos ao
meu lado, dispostos a me ajudarem com todo aquele plano. Sem o apoio
deles, seria mais difícil começar a mudar a minha imagem perante o time.
Os meninos logo desistiram de me convencer e eu agradeci a Ben e James
discretamente antes de ir para o chuveiro, já pensando no que faria quando
encontrasse com Valente do lado de fora.

Demorei mais do que o esperado para deixar o vestiário, mas, assim


que saí, meus olhos bateram em Norah e Avalon do lado de fora do estádio.
Elas conversavam junto com Alicia, uma amiga de curso da minha irmã, e
só me viram quando cheguei perto o suficiente para chamar a atenção. Nada
discreta, Norah puxou Alicia pela mão e disse que precisavam ir ao
banheiro, deixando-me sozinho com uma Avalon que parecia olhar para
qualquer direção, menos para mim.
— Gostou do jogo?
Que merda de pergunta era aquela? Logo me dei conta de que eu
estava perdido. Precisava pelo menos admitir aquilo para mim mesmo.
Como se fazia para chegar em uma garota que havia te abalado com apenas
um beijo? Eu não sabia, pois nunca me senti daquele jeito na vida. Valente
forçou um sorriso e finalmente me encarou, mas evitou os meus olhos.
— Eu adorei e quase morri do coração inúmeras vezes. Você está
bem?
Tirando a parte de que eu não sabia como lidar com o que havia
acontecido entre nós dois em campo, sim, eu estava.
— Claro. Por que eu não estaria?
— Porque aqueles brutamontes te derrubaram várias vezes. Como
você pode estar intacto?
Eu ri diante da sua dúvida, mas precisei engolir um comentário que
estava na ponta da minha língua. Avalon estava com cenho franzido e uma
ruguinha se formou entre as suas sobrancelhas. Quis muito dizer que ela
estava linda pra caralho.
— Você nunca assistiu a um jogo? — Ela apenas sacudiu a cabeça.
— O que aconteceu hoje é normal, Valente. Além de treinarmos algumas
técnicas de como cair e nos proteger, de alguma forma, dos impactos, há
também todas as proteções que usamos por debaixo do uniforme.
— Ainda assim... É violento demais — comentou como se sentisse
dor por mim e por todos os jogadores. — Mas o que importa é que vocês
venceram e que você foi incrível naquela última jogada. Eu quase perdi a
voz de tanto te xingar.
— Por que me xingou? — Aquilo era surpreendente.
— Como por quê? Pelo que entendi, a sua função é passar a bola,
então, de repente, você começou a correr com ela nas mãos que nem um
louco... Sério, Logan, quase morri do coração achando que daria tudo
errado.
— Que bom que você tem tanta fé em mim. — Ri, dando um passo
em sua direção. — Não fiz aquilo do nada, percebi que James e Benjamin
estavam cercados pelos jogadores do Utah e que havia um buraco no meio
do campo deixado pela defesa deles, então, eu me agarrei a essa falha e
corri em direção à end zone. Foi arriscado, eu sei, mas quando tomamos
esse tipo de decisão, precisamos levá-la até o fim.
— E se um deles te derrubasse?
— Então eu agarraria a bola com toda a minha força para que não a
tomassem de mim.
— Você é louco. — Ela sorriu, sacudindo de leve a cabeça. — Mas é
extremamente talentoso e tenho certeza de que vai muito longe nesse
esporte. Fico feliz que você esteja tão empenhado em mudar a sua imagem
e que leve o futebol a sério. Qualquer time da liga profissional só vai ter a
ganhar se fechar um contrato com você.
— Uau. — Engoli em seco, sentindo o meu coração bater mais
rápido. — Não esperava receber um elogio tão grande assim vindo de você,
Valente.
— Nossa, assim parece que eu não tenho coração, estrelinha dourada!
— Você acabou de me mostrar que tem um coração enorme —
brinquei, vendo Norah se aproximar devagar com a sua amiga. Percebi que
minha irmã queria me dar tempo, por isso, agi rápido e praticamente sem
pensar. — Quer ir para a minha casa comigo? A gente pode... não sei,
assistir alguma coisa e tomar uma cerveja... Cerveja não, um suco ou
qualquer coisa assim... Ou o que você quiser beber, é claro.
Merda.
Merda.
Eu estava divagando igual a um garotinho virgem de quatorze anos
de idade, que não sabia como chamar uma garota para ir ao cinema.
— Pensei que você ia comemorar com o time, não achei que ia
querer ficar comigo.
— Não, eu tenho que levar a sério a minha nova imagem de atleta
exemplar. — Voltei a brincar, mas percebi que Valente se fechou um pouco,
principalmente quando deu um passo para trás.
— Eu preciso ir para casa, minha irmã está sozinha e já está ficando
tarde.
Não era nem nove da noite ainda, mas Aubrey era menor de idade e
elas moravam em cima de um bar. Pelo menos, essa foi a desculpa que dei
para mim mesmo para justificar a recusa de Avalon, já que ela não pareceu
se preocupar daquela forma com Aubrey quando ficou até tarde na festa que
dei em minha casa na noite em que nos conhecemos.
— Ah, claro. Tem razão, precisa mesmo ficar com ela — murmurei,
enfiando as mãos nos bolsos do meu jeans. — Quer que eu te acompanhe
até em casa? Estou sem carro, mas posso ir com você de Uber.
— Imagina, Logan, não precisa.
— Tem certeza? — Algo me dizia que eu poderia ser mais insistente
sobre levá-la para casa, mas fiquei inseguro depois que recusou o meu
convite. Não queria ser inconveniente.
— Sim. — Avalon se aproximou e eu prendi a respiração quando se
esticou e deixou um beijo rápido em meu rosto. — Você arrasou hoje,
estrelinha dourada. Espero que continue assim. Nos vemos na segunda-
feira.
Ela se afastou e tirou o celular do bolso. Vi de longe quando abriu o
aplicativo do Uber e observei enquanto ia para longe de mim, em direção a
um grupo pequeno de pessoas que, provavelmente, também esperavam pelo
carro de aplicativo.
“Vai até ela. Vocês nem falaram sobre o beijo!”, uma vozinha chata
soou em minha cabeça e deixou o meu estômago gelado, quase me
impulsionando na direção de Valente. “Não seja idiota, Logan, vá!”
Eu ia. Eu juro que ia, mas um carro parou rente à calçada e Avalon
entrou no veículo, desparecendo das minhas vistas de um segundo para o
outro. Engoli o caroço que se formou em minha garganta, sentindo vontade
de me dar um soco e, ao mesmo tempo, querendo convencer a mim mesmo
de que aquilo foi o melhor para nós dois. O que eu falaria sobre o beijo?
Que não foi planejado? Que eu não conseguia tirar aquele momento da
minha cabeça? Que eu ainda podia sentir a maciez dos seus lábios ou o
gosto da sua boca?
Avalon claramente correspondeu porque sabia que beijos faziam
parte do nosso acordo. Provavelmente, para ela, aquilo não tinha tido a
menor importância, assim como deveria ser para mim. Eu não inventei toda
aquela história de namoro falso para ficar abalado com apenas um beijo,
porra! O que estava acontecendo comigo, afinal? Não podia sair de um
limbo — que para mim significava festas, bebidas e mulheres — e cair em
outro, que tinha os cabelos ruivos com as pontas loiras, usava roupas
escuras e que havia ficado gostosa pra caralho usando a minha camisa.
Porra, eu nem tinha agradecido por Avalon ter usado a minha camisa.
Que grande filho da mãe eu era!
— Cadê a Avalon? — Norah perguntou, entrando em meu campo de
visão.
— Foi embora.
— Como assim “foi embora”? Sozinha? — Confirmei com a cabeça.
— Logan! Por que deixou que Avalon fosse embora sozinha?
— Porque ela quis. Me ofereci para ir com ela, mas ela recusou.
— Mas vocês não estão namorando? — Alicia perguntou, chamando
a minha atenção. — Pelo menos, é o que todo mundo está dizendo na
internet. Gravaram o beijo de vocês e não se fala sobre outra coisa no
Twitter.
A garota me mostrou o seu celular e eu peguei o aparelho da sua
mão, dando uma olhada na rede social. Engoli em seco ao ver os tweets, a
maioria afirmando que Avalon e eu estávamos em um relacionamento sério
e que eu estava perdidamente apaixonado. Paralelo a isso, havia vídeos
meus correndo pelo campo com a bola, enquanto todo mundo declarava que
eu era o melhor jogador universitário da atualidade. Senti meu peito ficar
comprimido diante de tanta atenção e tive dificuldade para respirar.
— Logan. — Norah tocou em meu braço e eu dei um passo para trás,
levemente aturdido. — Acho melhor irmos para casa, eu estou com o meu
carro, posso te levar.
Eu tinha ido para o estádio no ônibus do time, então, aceitar a carona
da minha irmã seria o ideal, mas até mesmo a sua presença naquele
momento estava me sufocando. Eu sabia do que precisava quando ficava
daquele jeito. A pressão, às vezes, se tornava absurda e só uma coisa
conseguia me tirar daquela prisão.
— Não precisa, eu vou pedir um Uber.
Não deixei que Norah tentasse me impedir. Devolvi o celular para
sua amiga e passei pelas duas, pegando o meu próprio aparelho e chamando
um carro de aplicativo. Coloquei um endereço qualquer no centro de
Tuscaloosa, bem longe de onde eu sabia que o time e os torcedores estariam
comemorando. O carro chegou em menos de um minuto e eu entrei, sendo
obrigado a sorrir para o motorista quando ele me reconheceu e me
parabenizou pelo jogo.
Perdi-me no tempo que levamos para chegar e logo percebi que eu
estava em uma rua lotada por bares. Sabia que eu não deveria estar ali,
afinal, era do que eu estava tentando me livrar, mas meus pés me fizeram
entrar em um deles sem que eu conseguisse me controlar. O ambiente
escuro do interior do bar me ajudou a não ser reconhecido e logo peguei
uma mesa nos fundos, sentindo falta de um boné ou qualquer outra coisa
que pudesse me esconder dos olhares dos curiosos. Um atendente se
aproximou e eu pedi uma garrafa de gin.
Prometi a mim mesmo que seria a última vez que eu iria ceder àquele
tipo de coisa. Eu só precisava me livrar de toda pressão, da sensação que eu
tinha de que, mesmo começando a agir de forma correta, não adiantaria de
nada, porque a única pessoa que eu gostaria que estivesse ali para me ver
brilhar, já não estava mais comigo. Eu evitava pensar na minha mãe, mesmo
sonhando com ela quase todas as noites e acordando com a dor de que
nunca mais a veria. Comecei a lutar para sair daquele buraco, porque
precisava dar um sentido para a minha vida, mas, será mesmo que tanto
esforço valeria a pena?
Minha mãe conseguia me ver de onde estava agora? Ela também
sentia a minha falta todos os dias? Ela se revoltava, assim como eu, por ter
partido tão cedo? Será que brigava com Deus, exigindo voltar? Porque eu
passei os últimos meses brigando com Ele e exigindo que a trouxesse de
volta para mim, da forma que fosse. Nada da minha mãe ficou para trás, a
não ser suas roupas, seus sapatos, suas joias, a porcaria da herança ou meras
fotos, que não ajudavam de nada.
Ela havia partido e eu não sabia como lidar com isso. Eu não queria
lidar com isso.
Uma garrafa de gin, um copo e um balde de gelo apareceram na
minha frente. Minhas mãos tremiam quando desenrosquei a tampa e me
servi, dando um gole e sentindo a minha garganta queimar. Meu último
pensamento coerente, foi de que eu esperava que minha mãe não estivesse
me vendo agora, porque ela não merecia ver o que o seu filho estava se
tornando naquele momento.
Sentei-me no sofá após passar a última hora conversando com
Aubrey e comendo os dois pedaços de pizza que ela havia deixado. Quem
olhasse para aquela carinha fofa, não pensaria que minha irmã era uma
draga quando o assunto era comida, mas aquilo me deixava feliz. Durante
anos, Aubrey teve dificuldade para se alimentar e se viu presa em uma dieta
muito restrita por conta da sua condição de saúde, portanto, era bom ver que
ela agora podia ter uma vida normal e que aproveitava isso a cada
oportunidade que tinha.
Eu me esforçava para que ela continuasse a se alimentar bem com
legumes, verduras e frutas, mas amava vê-la comer pizza, hambúrguer e a
porcaria do miojo que tanto gostava — esse, ela só comia muito raramente,
pois o teor de sódio me assustava e me fazia ter o máximo de precaução.
A pestinha me surpreendeu quando disse que assistiu ao jogo, pois,
assim como eu, ela não ligava muito para esportes, mas ligava para Logan
— é claro. Ela também fez questão de falar que nosso beijo foi
televisionado e que, agora, a internet estava em polvorosa.
Eu me segurei ao máximo, mas, com o apartamento praticamente em
silêncio depois que ela havia ido dormir e a TV ligada apenas para não me
deixar no escuro, peguei o meu celular e abri o Twitter, vendo o nome de
Logan nos trending topics. Os tweets se dividiam entre o seu touchdown
espetacular e o nosso beijo. Todos afirmavam que estávamos namorando e
que nunca viram Logan agir daquela forma com uma garota.
Talvez eu tenha passado mais tempo do que o aceitável vendo os
diversos vídeos sobre o nosso beijo na rede social. Impressionante como
todo mundo no estádio resolveu filmar, por isso, havia filmagens de
diversos ângulos e distâncias. Alguns, filmaram o telão do estádio, onde o
nosso beijo passou ao vivo em um close que me deixou um pouco
perturbada e com o coração acelerado.
Sem pensar muito, passei os dedos sobre os meus lábios. Meu
cérebro reproduzia aquele momento com uma exatidão impressionante e eu
quase podia sentir a boca de Logan na minha e a sua língua exigindo
passagem. Meu corpo inteiro reagiu, da mesma forma que no estádio.
Fiquei arrepiada, com os mamilos sensíveis e o meio das minhas pernas
pulsando de uma forma que me deixou meio assustada.
Não era certo sentir aquilo, principalmente porque eu sabia que
aquele beijo não tinha tocado Logan da mesma forma que fez comigo. Eu
me envolvi durante o ato e me permiti esquecer do nosso acordo por um
momento, mas agora eu precisava voltar à realidade. Logan beijava
inúmeras garotas até duas semanas atrás, o que aconteceu entre nós dois,
para ele, com certeza não havia passado de uma brincadeirinha, uma parte
da mentira que precisávamos contar para todo mundo.
E havia dado certo, não era mesmo? Todo mundo estava comentando
sobre nós dois e afirmando que estávamos em um relacionamento. Perfis
ligados ao esporte estavam comentando sobre o jogo daquela noite e
colocando Logan em um pedestal pelo que havia feito em campo. Eu
imaginava que ele deveria estar em êxtase naquele momento,
acompanhando tudo pelo celular e sorrindo de orelha a orelha.
O quarterback merecia aquilo e eu estava feliz de verdade por ele.
Esperava mesmo que estivesse feliz, porque havia se esforçado demais
naquele jogo e vinha lutando para mudar a imagem ruim que havia caído
sobre si nos últimos meses. Eu só precisava colocar a minha cabeça no
lugar e deixar de dar importância para aquele beijo e para os momentos que
passávamos juntos.
— Faltam só mais seis semanas — comentei baixinho, bloqueando a
tela do celular. — Você consegue passar por isso sem se envolver pela
estrelinha dourada, Avalon.
Já era quase meia-noite, por isso, desliguei a TV e decidi ir me deitar.
Fui até a cozinha apenas para encher a minha garrafa de água, pois sempre
acordava com sede durante a madrugada, mas parei no meio do caminho
quando ouvi o barulho da campainha soar pelo apartamento. Ninguém
apertava aquela campainha, apenas as amigas de Aubrey quando vinham
visitá-la, de resto, qualquer pessoa que me conhecia, batia direto na porta do
apartamento, porque subia as escadas pela porta do interior do bar.
Como eu tinha acesso às câmeras de segurança que Maeve havia
instalado do lado de fora, peguei meu celular e entrei no aplicativo. Podia
ser apenas algum bêbado sem-noção que queria zoar com quem morava ali,
mas era bom checar. Demorou um pouco para carregar, mas, assim que a
imagem se abriu, eu senti um impacto em meu estômago. Precisei puxar o
zoom apenas para ter certeza de que eu não estava vendo coisas, mas logo
percebi que era real. Logan estava encostado de um jeito esquisito na porta
lá embaixo, e se movimentou, virando para a frente da porta e apertando
novamente a campainha, antes de encostar a testa contra o batente.
Deixei meu celular sobre a bancada da cozinha e peguei as chaves no
aparador, destrancando a porta e descendo as escadas de dois em dois
degraus. Percebi que estava fora de forma quando parei ofegante e enfiei a
chave na fechadura lá embaixo, abrindo a porta e soltando um gritinho
quando um Logan completamente embriagado perdeu equilíbrio e se apoiou
em mim, quase me fazendo cair de bunda no chão.
— Meu Deus! Logan!
Ele riu baixinho de forma débil e eu me posicionei melhor, pegando-
o pelos ombros. Logan conseguiu se firmar minimamente e tentou focar os
olhos pesados e vermelhos em meu rosto.
— Valente... Tentei... tentei ficar longe, mas... não sei... acho que eu
queria te ver... de novo. — Ele soluçou no final e deu um passo para mais
perto, quase invadindo o meu espaço pessoal.
— Logan. — Segurei o seu rosto e ele cambaleou, me fazendo firmar
melhor os meus pés no chão para o caso de cair novamente sobre mim. —
O que houve? Por que bebeu desse jeito de novo?
Ele não estava bem? Eu tinha certeza de que Logan estava bem
quando vim embora! Ele parecia feliz, estava rindo, brincando, e ainda
afirmou que não iria comemorar com os amigos, porque precisava manter o
foco no plano de mudar a sua imagem. O que havia acontecido? Percebi o
olhar de dois caras curiosos às suas costas e fechei a porta na cara deles.
Esperava que não tivessem reconhecido Logan.
— Porque eu... sinto a falta... dela.
Seus olhos se encheram de lágrimas e eu engoli em seco diante da
sua resposta.
— Dela quem? — perguntei baixinho.
Logan gostava de alguém? Estaria apaixonado por alguma outra
menina e eu nunca percebi? Se sim, ele escondia aquilo muito bem, pois
sequer desconfiei. Aquilo não deveria mexer comigo, mas mexeu, mesmo
eu lutando para ignorar o sentimento ruim que se instalou em meu peito.
— Da minha mãe. — Os lábios dele tremeram e os meus se abriram
sem que eu tivesse qualquer controle, apesar de eu estar sem palavras. Sua
cabeça tombou e aquele gigante de 1,90m escondeu o rosto em meu
pescoço, apertando com força a minha cintura. — Eu sinto a falta dela todos
os dias. Todos... os dias!
— Logan... — Passei minha mão pelos seus cabelos e ele soluçou
mais alto. Suas lágrimas molharam o meu pescoço e escorreram devagar em
direção ao meu peito.
— Nunca vou entender o por... o porquê... de ela ter ido embora. Eu
nunca vou aceitar isso! Nun... Nunca!
Eu sabia como aquilo era difícil e como doía, por isso, resolvi não
falar nada e deixei que ele chorasse pelo tempo que precisava. Logan
perdeu a força nas pernas aos poucos e eu nos levei ao chão, torcendo para
que ninguém abrisse sem querer a porta do bar que dava acesso ao
apartamento, pois não queria que vissem Logan daquele jeito. Ele me
agarrou como se eu fosse uma espécie de boia de salva-vidas, soluçando e
murmurando coisas incompreensíveis em meu ouvido.
Pelo pouco que sabia, sua mãe havia morrido há menos de oito
meses. Era muito recente e Logan provavelmente estava passando pelas
fases do luto. Eu sabia muito bem o que era aquilo e precisei pesquisar a
fundo quando me vi sozinha com a minha irmã, que, além de doente, não
aceitava a forma repentina como nossa mãe partiu. Ela tinha apenas
quarenta e nove anos quando sofreu um AVC isquêmico, que a tirou de nós
sem que ao menos nos desse tempo de nos despedir.
Eu me vi completamente perdida, tendo apenas dezoito anos e me
tornando responsável por uma menina que necessitava de cuidados mais do
que especiais. Foi o momento mais difícil da minha vida, em que tive que
tomar decisões que adolescente algum deveria ter que tomar. Como se isso
não fosse o bastante, ainda precisei lidar com a minha dor de forma
silenciosa, para poder cuidar da dor da minha irmã.
Eu me vi naufragando naquela época e a pessoa que foi minha “boia
de salva-vidas” quase me afundou de vez. Enquanto minha irmã passava
pela negação, pela raiva, a barganha, a depressão e a aceitação[10], eu me
via presa sem poder expressar de fato tudo o que eu sentia, prestes a
explodir.
Foi difícil sair do fundo daquele poço, mas eu consegui. E queria
muito que Logan conseguisse também. Ele vinha se esforçando tanto nas
últimas semanas, não pensei que se sentisse daquela forma, mas eu deveria
desconfiar. Também sempre fui boa em esconder os meus sentimentos dos
outros. Pessoas enlutadas, quando ainda estão presas nos três primeiros
estágios do luto, são boas em descontar a sua dor de forma inesperada.
Logan fazia isso com a bebida e eu acreditava que com as festas, também.
Era quase um pedido de socorro, que ele conseguia camuflar com aquela
fama de garoto problema mimado e arrogante.
Longos minutos se passaram até ele finalmente se acalmar. Quando
senti o seu corpo pesar um pouco mais sobre o meu, me dei conta de que ele
estava quase dormindo e sacudi devagar o seu ombro. Seu rosto vermelho e
inchado pelo choro entrou em meu campo de visão quando ele ergueu a
cabeça.
— Vamos subir? Eu te ajudo.
Ele olhou em direção à escada e fez uma careta, mas logo concordou
devagar com a cabeça. Levantei-me primeiro e lutei para ajudá-lo a se
erguer. Depois, passei o seu braço pelo meu ombro e pedi para que apoiasse
a outra mão no corrimão para que não derrubasse nós dois. Foi difícil ajudar
aquele gigante a subir, mas deu certo e logo entramos em meu apartamento.
Fui direto para o meu quarto, mas Logan murmurou e pousou uma mão
sobre a barriga, fazendo uma careta.
— Acho que vou... vou vomitar.
— Ah, merda!
Virei-me e fui direto para o banheiro. Nem tive tempo de acender a
luz. Com o cômodo parcialmente iluminado pela luz que vinha do corredor,
ajudei Logan a se ajoelhar em frente ao vaso sanitário e ergui a tampa antes
de ele começar a despejar o álcool que ainda agia em seu estômago. Segurei
a sua cabeça com as mãos e ouvi passos no corredor em meio ao barulho de
ânsia que Logan fazia. Aubrey acendeu a luz e arregalou os olhos
sonolentos ao se deparar com o quarterback naquela posição meio
humilhante.
— Ava...
— Volte para o quarto, Aub.
— Mas... mas é o Logan! O que aconteceu com ele?
— Exagerou na bebida. Depois nós conversamos, ok? Volte para o
quarto e durma.
Ainda boquiaberta, Aubrey lançou um olhar de pesar para Logan e
saiu do banheiro, me deixando sozinha com o jogador. Eu permaneci
segurando a sua cabeça até ele terminar, ignorando o meu próprio enjoo e
fazendo de tudo para não olhar para o interior do sanitário. Logo dei
descarga e fiz com que Logan se sentasse no chão, encostando a sua cabeça
contra a parede.
Ele mal conseguia ficar com os olhos abertos e só pareceu despertar
quando encostei uma toalha úmida em sua testa, limpando o suor
acumulado ali. Limpei o seu rosto devagar, depois o seu pescoço, até tirar
os vestígios de vômito dos seus lábios.
— Valente... — Logan abriu um pouco mais os olhos e eu respirei
fundo, não querendo ser impactada por eles.
— Oi, estrelinha dourada.
Ele sorriu bem de leve e ergueu a mão direita. Seus dedos tocaram a
lateral do meu rosto com uma gentileza que me fez sentir vontade de chorar.
— Quantas... Quantas vezes você... já cuidou de alguém... assim?
Que tipo de pergunta era aquela? Engoli o nó em minha garganta e
tentei encontrar a minha voz.
— Algumas vezes — murmurei, sem querer me lembrar. — Mas a
pessoa que eu cuidei naquela época, não valia a pena o meu esforço. Ela só
me fez perder tempo.
— E eu... eu valho... a pena?
Havia medo em seu olhar. O sentimento era sincero demais e me
deixou ainda mais vulnerável, apesar de eu saber a resposta.
— Vale. Você vale a pena, Logan. — Deixei a toalha de lado e peguei
seu rosto em minhas mãos. Eu sabia que ele não se lembraria disso no dia
seguinte, mesmo assim, precisei falar. — Você cuidou de mim e da minha
irmã no momento em que mais precisei, agora, eu vou cuidar de você.
Prometo que vou te ajudar a sair desse buraco, ok? Não vou deixar você se
afundar mais. Você vai se reerguer, estrelinha dourada, nem que seja na
marra! Não vive me chamando de cabeça-dura? Você vai ver que vou fazer
jus a esse elogio.
Funguei baixinho, porque, mesmo sendo durona, não consegui
impedir que as lágrimas caíssem, e Logan sorriu. Foi tão bonito e
verdadeiro. Foi calmo e singelo, e desacelerou as batidas do meu coração.
Percebi que estava aliviada pelo quarterback estar ali comigo, pois eu o
manteria seguro naquele momento em que estava tão vulnerável.
Ajudei-o a se levantar e o levei para o meu quarto, deixando seu
corpo gigantesco cair sobre a minha cama. Logan apagou um segundo
depois e eu me ocupei em livrá-lo dos sapatos e meias. Tirei a carteira e o
seu celular do bolso, vendo a tela se acender e mostrar algumas notificações
de mensagens e chamadas perdidas. A maioria eram de Norah, mas havia
mensagens e ligações de James e Benjamin também. Decidida a tranquilizar
a sua irmã, peguei o meu celular no balcão da cozinha e mandei uma
mensagem para ela, avisando que seu irmão estava comigo. Ela me ligou
um minuto depois.
— Avalon! Me desculpe ligar a essa hora, mas é porque Logan quase
matou a mim e aos meninos de preocupação! Por que esse idiota não disse
que tinha ido para a sua casa?
Percebi que Norah acreditava que Logan tinha ido diretamente me
encontrar. Como não queria mentir para ela, falei logo a verdade:
— Norah, seu irmão chegou aqui há pouco mais de quarenta minutos.
Ele bebeu bastante antes de vir para cá, mas agora está dormindo.
Segundos de silêncio se passaram até Norah parecer ter alguma
reação.
— Eu não acredito nisso. — Apenas pelo tom da sua voz, percebi
que estava prestes a chorar. — Não, não quero acreditar que meu irmão
está fazendo isso de novo, não depois de ter se esforçado tanto para
melhorar e, principalmente, do jogo incrível que fez hoje!
— Eu entendo, mas acho que, talvez, a noite de hoje tenha sido
demais para ele. Pode ter acionado algum gatilho, mas não acredito que isso
fará com que Logan regrida. Se ele quisesse desistir, não teria vindo para
cá.
Precisava me agarrar àquilo, porque não queria acreditar que Logan
iria abrir mão de tudo o que vinha conquistando. Sua imagem estava
melhorando e sua carreira iria decolar se continuasse jogando como havia
jogado naquela noite. Eu não deixaria que ele desistisse. Da mesma forma
que lutou para me livrar das garras de Charles, eu lutaria para livrá-lo
daquele ciclo vicioso em que estava.
— Tomara que você esteja certa, Ava. Eu vou até aí buscá-lo com
James, ok? Sinto muito se meu irmão te deu algum trabalho.
— Não precisa, de verdade. Ele está dormindo agora, pode passar a
noite aqui.
— Tem certeza? Não quero que Logan te atrapalhe.
— Não vai me atrapalhar em nada. Amanhã, depois que ele acordar,
eu te mando uma mensagem para vir buscá-lo.
— Está bem. Obrigada, Ava. De verdade, muito obrigada, se Logan
foi até você, é porque se sente bem ao seu lado. Ele confia em você, assim
como eu. Você faz muito bem a ele.
— Ele me faz muito bem também, apesar de me irritar de vez em
quando — brinquei apenas para fazer com que Norah risse, o que deu certo.
— O amor começa assim. — Ouvi uma voz masculina do outro lado
da linha. Norah pareceu brigar com a pessoa, mas isso não adiantou de
muita coisa, pois logo ouvi a sua voz de novo. — James aqui. Obrigado por
cuidar do meu amigo, Valente. E não o deixe descobrir que te chamei pelo
apelido, porque o babaca fica bravo. Ele é possessivo.
— Pode deixar, vou guardar o seu segredo.
Norah voltou a me agradecer e logo nos despedimos. Pelo menos
agora ela poderia ir dormir tranquila, pois sabia que seu irmão estava em
segurança. Peguei um copo grande de água e duas aspirinas para que Logan
tomasse quando acordasse e fui para o meu quarto, percebendo que aquela
seria a primeira vez em que iria me deitar ao lado de um homem depois de
tanto tempo. Não fiquei nervosa como sempre imaginei que ficaria, pois,
assim como Logan confiava em mim, eu também confiava nele.
Deixei o copo e os comprimidos sobre a mesinha de cabeceira e me
deitei ao seu lado, observando o seu semblante calmo até pegar no sono.
Percebi que estava morrendo de ressaca antes mesmo de abrir os
olhos.
Eu conseguia ouvir o toque do meu celular ao longe, mas a minha
cabeça pesava demais e o meu corpo não parecia nem um pouco disposto a
se mover sobre a cama. Eu conhecia muito bem aquela sensação, apesar de
não me orgulhar nem um pouco disso. A dor de cabeça infernal, o enjoo
incessante e a vontade de permanecer na cama até tudo desaparecer como
em um passe de mágica.
Gemi ao abrir os olhos pesados e me deparar com a luz do sol, a
minha arqui-inimiga em momentos como aquele. Voltei a fechar as
pálpebras e tateei sobre a mesinha de cabeceira, quase jogando o que
pareceu ser um copo no chão, até achar o meu celular.
— Oi. — Minha voz estava péssima. Torci para ainda ser bem cedo e
poder usar o sono para justificar a rouquidão.
— Acordei você, Logan?
Abri os olhos em um estalo ao reconhecer a voz grave do meu pai.
Tentando focar a visão, afastei o celular da orelha e vi que o relógio na tela
marcava oito horas. Soltei um suspiro inaudível de alívio enquanto voltava
a posicionar o aparelho entre o meu ombro e pescoço.
— São oito da manhã de um domingo, pai. O que você acha?
— Sinto muito, achei que você tivesse acordado cedo para se
exercitar, mas deveria saber que iria descansar até mais tarde depois de
ontem. Fez um bom jogo, aliás.
Bom jogo.
Eu poderia ter enfiado a cara no álcool na noite passada, mas sabia
que tinha feito muito mais do que um bom jogo.
— Obrigado.
— Eu estou ligando, porque quero que você e a sua irmã almocem
comigo e com a sua avó hoje.
— Pai... Eu estou morto do jogo, não queria sair de casa...
— Quero que leve a garota com você. — Sua voz séria me
interrompeu e eu fiquei estático sobre a cama.
— A garota?
— Sim, a que você beijou ontem no jogo. Todo mundo está
comentando que ela é sua namorada. Se isso for mesmo verdade, quero
conhecê-la de forma apropriada. Você não nos apresentou formalmente
naquela noite na sua casa.
Claro que meu pai não se esqueceria de Valente com facilidade.
— A garota tem nome, pai, e se chama Avalon.
— Ótimo, leve a Avalon para o almoço. Agora preciso desligar. Até
mais tarde, filho.
A ligação ficou muda e eu suspirei, jogando o celular ao meu lado na
cama. Eu sabia que precisaria apresentar Avalon para o meu pai em algum
momento, mas não queria que fosse hoje, comigo nesse estado. Eu mal
conseguia me lembrar do que havia acontecido na noite passada, depois que
abri a porcaria da garrafa de gin!
Cocei os olhos e encarei o teto, tentando puxar alguma memória
coerente, mas meu cérebro se recusou a colaborar. Ao invés disso, comecei
a me dar conta de que aquele teto branco não tinha nada a ver com as
sancas de gesso do meu quarto. Eu também nunca dormia com as cortinas
afastadas, pois odiava ser acordado pela claridade do dia. Um olhar a minha
volta me fez tomar ciência, pela primeira vez desde que despertei, que eu
não conhecia aquele cômodo.
Aquele não era o meu quarto.
Onde diabos eu estava?
Sentei-me na beirada do colchão e afastei o edredom marrom das
minhas pernas, vendo que eu ainda vestia a roupa da noite anterior. Meus
sapatos estavam alinhados aos pés da cama e o quarto pequeno tinha um
aroma que eu percebi que conhecia muito bem, mas que minha cabeça
ainda confusa não tinha identificado de onde. Passei as mãos pelos cabelos,
tentando me lembrar do que havia acontecido na noite passada, até que a
porta do quarto se abriu devagar e eu quase caí para trás sobre o colchão
quando Aubrey colocou apenas a cabeça para dentro do cômodo.
— Você já acordou! — Ela sorriu de orelha a orelha e abriu
totalmente a porta, enquanto gritava em direção ao corredor: — Ava, o
Logan acordou! — Minha cabeça pulsou dolorosamente, mas não consegui
ter nenhuma reação, enquanto via a irmã de Valente voltar a olhar para
mim. — Como você está? Avalon deixou esse remédio para você tomar
quando acordasse.
Acompanhei o movimento de Aubrey e vi o copo d’água e dois
comprimidos em cima da mesinha de cabeceira. Uma mesinha que,
obviamente, não era minha, apesar de eu ter encontrado o meu celular sobre
ela ainda de olhos fechados minutos atrás. Puta merda. O que eu estava
fazendo na casa de Avalon, porra?
— É, hm... Como eu vim parar aqui? — perguntei baixinho para
Aub, que apenas deu de ombros.
— Não me pergunte. Só sei que você chegou de madrugada e que
vomitou enquanto a minha irmã segurava a sua cabeça para você não se
afogar no vaso sanitá...
— Aubrey!
Avalon entrou no quarto de repente, pousando as mãos sobre os
ombros da irmã e levando-a para a porta. Eu sabia que tinha que assimilar
as palavras da Banks caçula, mas meus olhos se detiveram nas pernas da
Banks mais velha, que estavam descobertas. Valente usava um pijama preto
com bolinhas brancas, bem simples, mas o short... Porra, ele moldava a sua
bunda e deixava as suas pernas bonitas de fora.
— Por que você está me colocando para fora?
— Porque você tem uma língua que não cabe na boca! Não disse que
ia fazer panquecas? Vai logo!
— Meu Deus, como você é chata, Avalon!
Ainda reclamando, Aubrey saiu do quarto e Valente se virou para
mim depois de encostar a porta. Mantive meus olhos fixos nos dela, para
não cair na tentação de admirar o seu corpo coberto pelo conjunto de
dormir. Avalon não usava sutiã, foi o que percebi no milésimo de segundo
que levei para olhar em seus olhos. Aquela informação ficou piscando em
meu cérebro como um letreiro em néon e eu quis me dar um murro na cara.
— Bom dia, estrelinha dourada. Como está se sentindo?
Como eu estava me sentindo?
Com tesão, percebi. Com um puta tesão em Avalon e aquilo era
inapropriado pra caralho! Sem graça, puxei um travesseiro para o meu colo,
pois sentia meu pau começar a endurecer, e encarei Valente, que não parecia
ter percebido que tinha um tarado filho da puta na sua cama.
— Confuso — falei, me dando conta de que eu não estava mentindo.
Lentamente, as palavras da sua irmã inundaram a minha cabeça,
junto com flashes da noite passada. Lembrei-me vagamente do momento
em que saí do bar e que pensei em Avalon. Então, entrei em um carro de
aplicativo e, de repente, eu estava em frente à sua porta, tentando manter a
minha postura ereta enquanto recebia o olhar do segurança do bar da
Maeve. Ele me perguntou alguma coisa e acho que respondi, então, eu
estava nos braços de Avalon, chorando no ombro dela.
Chorando? Puta que pariu.
E Aubrey realmente não mentiu. Eu vomitei e Avalon esteve comigo
o tempo todo. Não. Eu não podia acreditar naquilo. Joguei-me para trás
sobre o colchão, soltando um gemido de vergonha enquanto escondia os
meus olhos com o braço. Queria que um buraco se abrisse bem naquele
momento e que eu fosse engolido, sugado, levado para bem longe dali, tão
longe, que Avalon nunca mais precisaria olhar na minha cara.
— Essa parte é sempre muito ruim, não é? Quando as memórias
voltam e dão um murro na nossa cara. — A voz de Valente estava bem mais
próxima do que um minuto atrás e logo entendi o porquê quando senti a sua
mão sobre o meu joelho. — Está tudo bem, Logan, eu juro.
— Não. Não está nada bem.
Estava tudo péssimo, na verdade.
O que tinha dado na minha cabeça ontem à noite, para que eu
decidisse bater na porta de Avalon estando embriagado daquele jeito?
Quando algo assim acontecia, eu ia direto para casa e me refugiava em meu
quarto até estar apto para aparecer na frente da minha irmã e dos meus
amigos. Nunca agi daquela maneira antes! Sempre tive consciência de que
ninguém, além de mim mesmo, precisava lidar com as minhas merdas,
então eu agia sozinho.
O que havia mudado? O quê?
— Está falando sobre ter bebido ou ter vindo aqui para casa?
Não havia julgamento na voz de Avalon e foi por isso que tomei
coragem para olhar em seus olhos. Havia sido covarde o suficiente na noite
anterior. Depois de ter dado trabalho para a ruiva, precisava pelo menos
parar de fugir como um idiota.
— Os dois, mas, principalmente, por ter vindo para cá te perturbar.
Eu nem sei o que dizer, Avalon. Estou morrendo de vergonha — admiti,
fechando os olhos rapidamente para não ter que ver a sua reação de pena ou
qualquer merda do tipo.
Senti quando o colchão sofreu uma pequena ondulação ao meu lado e
percebi que Avalon havia se deitado. Respirando fundo, abri os olhos e a
encontrei deitada ao meu lado, apoiando a cabeça na mão direita. Seu corpo
estava de frente para o meu e o seu rosto sem um pingo de maquiagem, tão
próximo, me fez perceber pela primeira vez que ela tinha sardas bem claras
no topo do nariz.
— Acho que você deveria sentir vergonha se tivesse agido como um
babaca. Como das primeiras vezes em que nos encontramos, sabe? — Eu
quis me encolher ao ouvir aquilo, me dando conta de que nunca tinha
pedido desculpas a Avalon por ter agido como um cuzão com ela
antigamente. — Mas não foi isso que aconteceu, então, não precisa se
envergonhar por nada. Todo mundo tem um momento de fraqueza alguma
vez na vida, Logan. A diferença, é que algumas pessoas têm mais
momentos assim do que outras.
— Mas eu nunca perturbei ninguém nos meus momentos de
fraqueza, só você.
Para a minha surpresa, Avalon sorriu e cutucou de leve o meu peito.
— Que privilégio o meu, QB. — Sem que eu esperasse, seus dedos
tocaram a linha do meu maxilar, me fazendo engolir em seco. — Fiquei
feliz por você ter batido na minha porta, Logan.
Foi inevitável fazer uma careta ao ouvir aquilo.
— Por quê?
— Porque você estava passando por um momento difícil e sem
qualquer capacidade para ficar vagando sozinho por aí. Você podia ter
sofrido um acidente ou qualquer coisa assim. Estando aqui, eu pude te
ajudar, de certa forma.
Sacudi o rosto para tentar ignorar a sensação das minhas bochechas
ficando quentes de vergonha.
— Você segurou a minha cabeça enquanto eu vomitava. Isso vai além
de apenas me ajudar.
— Não leve em consideração o que a Aubrey disse, sério. Ela pode
exagerar bastante quando quer.
— Não precisa dourar a pílula comigo, Valente — falei, tocando em
sua mão que ainda estava sobre o meu rosto. — Eu me lembro, vagamente,
desse momento em específico. Sei que Aubrey disse a verdade.
Avalon fez uma careta muito bonitinha, como se não quisesse que eu
tivesse me lembrado daquele momento constrangedor, mas logo sorriu.
— Então você deve se lembrar de que disse que iria me amar para
sempre por ter te ajudado, certo?
Eu não deveria, mas ri ao ouvir aquilo.
— Não tenho qualquer lembrança sobre isso, inclusive, acho que
você está mentindo.
— Eu seria incapaz de mentir sobre um assunto tão sério, Logan
terceiro. — O sorriso dela... Puta merda, por que o sorriso daquela garota
tinha que ser tão impressionante? — Estou decepcionada por pensar isso de
mim.
— De uma coisa eu me lembro — falei, levando a palma da sua mão
para perto da minha boca. Dei um beijo sobre a pele quente e delicada,
vendo o sorriso de Avalon estremecer e um suspiro escapar dos seus lábios
cheios. Os lábios que provei pela primeira vez na noite passada e que queria
muito beijar de novo. — Não agradeci o que fez por mim.
— Não preci...
— Preciso, sim. — Interrompi, dando um outro beijo nela, em seu
pulso, daquela vez. Vi a pele do seu braço ficar toda arrepiada e o meu pau,
que já havia perdido a ereção, deu um outro sinal de vida dentro da calça.
— Preciso agradecer por um monte de coisa, Valente. — Beijei novamente
o seu pulso, pressionando os lábios exatamente no local onde pulsava as
batidas do seu coração. Ele estava acelerado, assim como o meu. — Sinto
que estou saindo do buraco em que me enfiei nos últimos meses desde a
noite em que você invadiu o meu quarto. Sua opinião forte, seu jeito nada
meigo de esfregar a verdade na minha cara e a sua forma de lidar comigo
têm sido essenciais de uma forma que não consigo explicar. O fato de eu ter
vindo parar aqui nessa madrugada prova isso. Nunca procurei o colo de
alguém em momentos assim, mas procurei pelo seu.
— Logan...
— Não consigo me lembrar com exatidão do que me fez colocar o
endereço da sua casa e o não o da minha no Uber, mas consigo me lembrar
da sensação de que eu precisava de você, e você me aceitou aqui, mesmo eu
estando naquele estado tão deplorável.
— Para com isso, você não estava em um estado deplorável. — Sua
voz estava bem séria e aquela ruguinha surgiu entre as suas sobrancelhas
quando franziu o cenho. — Só estava triste e vulnerável, Logan.
— Sim, mas eu não deveria estar.
— Por que não?
— Porque a noite de ontem foi incrível! Eu fiz o melhor jogo da
minha carreira, dei aquele beijo em você, vi as pessoas comentando coisas
boas sobre mim depois de tanto tempo. Eu deveria estar feliz, Valente, mas
não consegui me sentir assim. — O desespero em minha voz era nítido até
mesmo para mim, mas Avalon manteve a calma, desvencilhando a mão dos
meus dedos para poder tocar em meu rosto.
— Quando eu entrei no carro para poder sair da Califórnia, também
pensei que ficaria feliz, mas tudo o que fiz, foi chorar. Minha irmã dormia
no banco de trás e eu precisei parar o carro em um acostamento, no meio de
uma estrada deserta, porque sentia que meu peito iria explodir se eu não
colocasse para fora toda a dor, o medo e a tristeza que eu sentia. Era para eu
estar chorando de felicidade, mas não tinha qualquer resquício de alegria
em mim, Logan.
— Por que não? — repeti a mesma pergunta que fez para mim,
torcendo muito para que Avalon tivesse uma resposta para me dar, já que eu
não sabia o que dizer para ela.
— Porque eu acho que a gente tem medo de abrir mão
completamente do que nos machuca. Ao mesmo tempo em que queremos
nos ver livres das amarras que nos prendem ao passado, temos medo do que
iremos encontrar lá na frente.
— Porque a dor é a única coisa que a gente conhece — concluí,
finalmente entendendo.
Se eu me agarrasse ao presente, como iria viver sem a raiva que
sentia por ter perdido a minha mãe? Como conseguiria aproveitar
plenamente as coisas boas que estavam por vir, sem me agarrar ao fato de
que eu não poderia aceitar a sua morte? Racionalmente, eu queria sair
daquele poço em que havia me enfiado desde janeiro, mas em meu interior,
o medo e a sensação de que eu não merecia viver momentos bons, já que
minha mãe também não estava aqui para aproveitar tudo comigo, ainda me
prendiam.
— Quando você perceber que é capaz de viver sem o peso dessa dor,
vai entender que pode e deve aproveitar os momentos bons da vida —
Avalon disse baixinho, tocando a minha bochecha com o polegar. Só
naquele momento eu percebi que uma lágrima havia escapado dos meus
olhos. — Tenho certeza de que é isso que a sua mãe quer, Logan. De onde
ela estiver, pode ter certeza de que ela quer te ver feliz.
Abri a boca para responder, mas tudo o que consegui fazer, foi
respirar fundo para poder segurar a represa que pareceu prestes a se romper.
Não queria chorar novamente como um bebê na frente de Valente. Ela
sorriu para mim com o semblante emocionado e deixou um beijo em minha
testa antes de se levantar.
— Vou na cozinha ver o que a minha irmã está aprontando. Deixei
uma escova de dentes nova e uma toalha limpa no banheiro para você, caso
queira tomar um banho. Vem se juntar a nós duas para tomar café, ok?
Avalon ia sair do quarto, mas fui mais rápido e me levantei,
conseguindo pegar a sua mão antes que ela abrisse a porta. Seu corpo
voltou em direção ao meu e, sem pensar demais, a abracei bem forte,
precisando inclinar um pouco os meus joelhos para ficar mais próximo da
sua altura. Um arrepio desceu pela minha coluna quando Avalon retribuiu o
abraço, tocando a minha nuca com as mãos macias.
— Obrigado, Valente — pedi baixinho em seu ouvido, sentindo o seu
cheiro tão próximo em meu nariz. Era o mesmo aroma que perfumava o seu
quarto. — E me perdoe por todas as vezes em que fui um escroto com você.
O dia em que quiser chutar as minhas bolas, é só avisar.
— E se eu quiser fazer isso agora? — Havia um tom de risada em sua
voz.
— Posso pelo menos me recuperar da ressaca antes? Acho que não
vou conseguir lidar com a dor de cabeça e a dor no meu saco ao mesmo
tempo.
— Você é um idiota, estrelinha dourada. — Ela finalmente riu, mas
senti seu corpo estremecer quando deixei um beijo na curva do seu pescoço.
Quis lamber bem ali e subir com beijos pela sua mandíbula,
bochecha, até chegar a sua boca, mas me controlei porque, primeiro, eu
estava com um bafo horrível e, segundo, tinha medo de que Avalon
realmente chutasse as minhas bolas por eu estar me aproveitando da sua
confiança. Afastei-me lentamente e observei seus olhos fugirem dos meus
enquanto suas bochechas enrubesciam.
— Eu vou, hm... Ver a minha irmã.
Avalon abaixou a cabeça e praticamente voou para fora do quarto, me
deixando parado perto da cama e confuso pra caramba.
Seria possível que Valente estivesse atraída por mim?
Eu não teria tanta sorte, teria?
Não, não teria.
Mas, e se por um acaso, eu tivesse me tornado um sortudo do
caralho?
Porra, eu precisava descobrir!
— O que é isso? Um banquete?
Aubrey havia arrumado a bancada da nossa cozinha com
praticamente tudo o que havia em nossa geladeira, além das panquecas,
ovos mexidos e o bacon que tinha feito minutos antes. O apartamento
estava perfumado pela comida e a minha barriga roncou, por isso, não
esperei que minha irmã respondesse antes de pegar uma tira de bacon de
cima do prato. A pestinha deu um tapa na minha mão.
— Não coma ainda, vamos esperar o Logan!
— Agora eu entendi o porquê de tudo isso. Você é muito puxa-saco,
Aubrey.
— Não sou puxa-saco... Quer dizer, não sou tão puxa-saco, é que eu
gosto do Logan e ele estava mal ontem. Mamãe sempre dizia que a comida
é capaz de deixar alegre até a alma mais triste.
Ah, meu Deus!
Tinha como não amar aquela garota? Nossa, eu amava aquela
pestinha de um jeito que fazia o meu coração doer. Dei a volta no balcão e a
apertei com força entre os meus braços, ouvindo-a reclamar enquanto
tentava fugir de mim.
— Eu te amo, Aub.
— Eu sei disso. — Ela riu, dando um tapinha em minha bunda. — E
eu também amo você.
— Uau! Tudo isso é para mim?
A voz de Logan soou em minhas costas e eu me virei, precisando
engolir o acúmulo de saliva em minha boca ao me deparar com ele
terminando de vestir a camisa. Ele tinha a barriga trincada. Em algum
momento eu havia me esquecido daquilo, mas agora tinha certeza de que
aquela imagem jamais deixaria a minha mente. Seu cabelo estava úmido do
banho recente e ele estava lindo pra caramba. O fato de estar usando a
mesma roupa da noite anterior era só um detalhe que meu cérebro mal
registrou.
Alguma coisa muito estranha estava acontecendo comigo. Eu sentia
que meus neurônios estavam começando a se tornar uma gelatina quando eu
estava perto de Logan. E o meu corpo também não colaborava. Por que
meus mamilos pareciam estar prestes a perfurar a blusa do meu pijama?
— Sim, é para você! — respondeu a minha irmã, me tirando do
transe.
— Bom saber que você cozinhou tudo isso e não vai comer nada,
Aubrey — comentei.
— Não fique assim, Valente, eu deixo vocês comerem comigo. —
Logan sorriu e se aproximou da minha irmã, tocando gentilmente o seu
ombro. — Obrigado, Aub. Não fique triste se eu não conseguir comer tudo,
ok? Não vou mentir para você, estou com uma ressaca horrível.
— Se você sabia que ia ficar assim, por que bebeu tanto?
Às vezes, eu esquecia que minha irmã ainda tinha alguns resquícios
da infância. A supersinceridade era algo que ela ainda não havia deixado de
lado.
— Aubrey. — Chamei a sua atenção, mas Logan apenas riu.
— Essa é uma ótima pergunta. — O quarterback puxou uma das três
banquetas em frente ao balcão e se sentou. — A ressaca deveria ter mais
poder sobre a gente, mas depois que ela passa, o nosso cérebro parece
esquecer a sensação horrível que ela causa em nosso corpo. É por isso que a
gente bebe de novo. — Ele enfiou uma uva na boca e pousou uma mão no
coração, voltando a falar depois de engolir: — Mas agora eu vou fazer um
juramento na frente de vocês duas.
— Vamos ser suas testemunhas? — Aubrey perguntou.
— Exatamente. — Logan limpou a garganta antes de continuar. —
Prometo nunca mais beber como fiz ontem. A partir de hoje, vou tomar
apenas cerveja e com moderação.
Parei ao seu lado e toquei em seu queixo, querendo que olhasse em
meus olhos.
— Não deveria ter feito esse juramento na minha frente, estrelinha
dourada.
— Por que não?
— Porque eu vou cobrar essa promessa e só vou parar, no dia em que
você decidir me enxotar da sua vida.
— Bom, então você não vai parar nunca, porque esse dia não vai
chegar, Valente. — O jogador piscou para mim e eu senti os meus lábios
tremerem de leve enquanto eu sorria. Talvez as minhas pernas tenham
tremido também, assim como o meio das minhas coxas. Droga. Logan
pegou um morango sobre o balcão e o levou até a minha boca. — Você
também precisa comer.
Dei uma mordida e me afastei rápido de Logan quando ouvi Aubrey
soltar uma risadinha animada. Minha nossa. Por um momento, eu esqueci
completamente que a minha irmã estava bem ali, do nosso lado.
— Vocês já estão agindo como um casal! Isso é tão fofo!
— Mas nós somos um casal — Logan disse enquanto colocava uma
panqueca em seu prato.
— De mentira — ressaltei.
— Isso é só um detalhe, Valente.
— Um detalhe muito importante. — Muito mesmo, tão importante,
que eu precisava voltar a me lembrar com mais frequência.
— Inclusive, temos um compromisso hoje — disse ele sem me olhar.
Logan enfiou uma quantidade enorme de panqueca na boca e voltou a falar
sem nem mesmo engolir: — Vamosalmoçarcomomeupai.
— O quê?
— É alguma coisa com o pai dele — Aubrey disse ao meu lado.
— O que aconteceu com o seu pai? — Eu não tinha entendido
absolutamente nada.
Logan engoliu a panqueca e me encarou com um olhar de quem
estava prestes a me pedir desculpas.
— Vamos almoçar com o meu pai — disse com mais calma e eu
paralisei. — Hoje.
— Meu Deus, você vai conhecer o seu sogro! — Aubrey me deu uma
cotovelada nada modesta no braço, me fazendo reagir com a dor rápida. —
Isso tá ficando sério mesmo, Ava!
— Por quê? — perguntei, ignorando o entusiasmo da minha irmã.
Aquela não era uma boa notícia, o pai do Logan era... Logan Miller II, pelo
amor de Deus! E eu o vi na casa do jogador naquela noite. O homem me fez
tremer na base com aquele terno caro e os sapatos de couro. — Por que eu
tenho que ir? E por que tem que ser hoje?
Meu cabelo estava péssimo. Os fios estavam implorando por uma
reconstrução há semanas e eu vinha empurrando com a barriga, cheia de
preguiça de cuidar deles. Minha pele também estava horrível, eu sentia que
podia surgir uma espinha no meio da minha testa a qualquer momento, pois
era o que sempre acontecia comigo depois que a minha menstruação ia
embora. Eu simplesmente não estava no meu melhor momento para
conhecer, oficialmente, o tubarão da advocacia, muito menos para ser
apresentada como sua nora!
— Meu pai viu o nosso vídeo e ficou sabendo sobre o boato de que
estamos namorando, então, decidiu nos intimar para almoçar com ele.
Minha irmã também vai — Logan informou, talvez na esperança de me
deixar menos intimidada. — E a minha avó estará conosco, você vai ver
que ela é incrível. Você não ficará sozinha em momento algum, Valente, eu
prometo.
O que eu podia fazer? Inventar uma dor de barriga para não ir?
Nunca fui covarde e sabia que esse momento chegaria cedo ou tarde,
portanto, apenas concordei com a cabeça. Quanto antes eu conhecesse o Sr.
Miller II, melhor. Esperava que aquele fosse o nosso primeiro e último
encontro como “nora e sogro”. O próximo seria quando eu alcançasse um
lugar bem alto dentro do seu escritório de advocacia e passasse a trabalhar
diretamente com ele — isso se eu conseguisse ser admitida depois de me
“separar” do seu filho.
Logan ficou por mais um tempo conosco, beliscando os ovos e o
bacon que Aubrey fez. Eu sentia que ele também estava tenso, mas pelo
menos minha irmã conseguiu fazer com que ele risse com as besteiras que
dizia. O jogador se despediu logo depois do café da manhã, avisando que
me pegaria uma hora em ponto. Assim que ele saiu, eu fui direto para o
chuveiro. Precisava pelo menos dar um jeito naquele cabelo, para chegar de
forma apresentável na casa do pai de Logan.

Talvez eu tenha tirado todas as minhas roupas do armário e jogado


sobre a cama, em busca do look perfeito. Depois de muitas combinações
que não me agradaram em nada, acabei optando por uma calça jeans de
lavagem clara, com a cintura alta. Arrematei com um cinto preto e um
cropped branco, que deixava um pedaço pequeno da minha barriga de fora.
Nada vulgar. Nos pés, coloquei uma sandália de salto alto e ouvi a minha
irmã assobiar enquanto eu me olhava no espelho.
— Você está uma gata, Ava! Nossa, eu amo essa argola prateada no
seu cinto — disse ela, apontando para o acessório. A argola ficava perto do
passador da calça e dava mesmo um charme.
— Acho que vou tirar a sandália.
— Por quê?
— Estou achando exagerado... E não combina muito comigo.
Aquela sandália era da minha mãe e nunca consegui me desfazer. Era
um modelo clássico, que nunca saía de moda. Só optei por ela porque eu
tinha apenas coturnos, botas e All Stars em minha sapateira.
— Acho que um tênis branco ficaria perfeito!
— Boa ideia!
Eu tinha um tênis branco de plataforma que só tinha usado duas
vezes. Troquei a sandália por eles e, além de ficar mais confortável, me
senti muito mais como eu mesma. Optei pela maquiagem de sempre,
mantendo o batom vermelho, e deixei o meu cabelo solto. Estava pronta
para conhecer, de verdade, o Sr. Logan Segundo.
O quarterback chegou no horário marcado e Aubrey me desejou
sorte antes de eu sair para encontrá-lo. Como já tinha se tornado um
costume, Logan me esperava do lado de fora do carro, mexendo no celular e
usando aqueles óculos incríveis. O filho da mãe estava lindo com uma calça
jeans preta e uma blusa de botões azul. Assim que percebeu a minha
presença, Logan guardou o celular e tirou os óculos, soltando um assobio
longo como Aubrey.
— Puta merda, Valente. Quer me matar do coração?
— Você não é um atleta? Deveria ser mais resistente.
— Não sei se meu coração resiste à sua beleza. Desculpa. — O idiota
sorriu e se aproximou, me pegando de surpresa ao tocar em minha cintura e
se inclinar para deixar um beijo em meu rosto. — Você está linda.
— Obrigada. Você também caprichou hoje — falei, passando a mão
pelo seu peitoral. Era bem firme e eu fiquei toda arrepiada. — Ficou um
gato com essa blusa.
— Você está mesmo me fazendo um elogio?
— Acho que acordei de bom humor hoje.
— Você sabe o porquê, não é? — Sacudi a cabeça, sem entender
aonde ele queria chegar. — Porque você dormiu a noite toda ao meu lado.
Eu ri e me desvencilhei do seu toque, sem querer que ele percebesse
que estar em seus braços me deixava abalada. Logan veio logo atrás de
mim, abrindo a porta do carona como o cavalheiro que eu sabia que ele não
era, pois se lembrava raramente de fazer aquele gesto.
— Quem disse que eu dormi ao seu lado? — perguntei assim que ele
ocupou o lugar do motorista. — Posso muito bem ter dormido com a minha
irmã.
— Duvido que você fosse perder a oportunidade de passar uma noite
grudada em mim.
— Grudada em você? Me poupe, Logan terceiro.
Ele riu e colocou o carro em movimento, me dando uma olhadinha
rápida.
— Dormiu comigo ou não?
— Você nunca vai saber.
— Não seja malvada, Valente! Conta, por favor.
— Talvez, se você implorar um pouquinho mais, eu conto. Você pode
se ajoelhar também, se quiser.
— Quer saber? Não precisa me responder, vou perguntar à sua irmã.
— Ele deu de ombros e eu estreitei os olhos, vendo o seu sorriso sacana.
— Ela vai responder o que eu disser para ela responder.
— Sua irmã jamais me enganaria, não cabe mentiras na nossa
relação.
— É um saco saber que ela realmente não mentiria — falei, cruzando
os braços e ouvindo a gargalhada de Logan.
— Está com ciúmes, Valente?
— Claro que não! Entre mim e você, é claro que minha irmã me
escolheria.
— Hm, eu não tenho tanta certeza disso.
— Cala a boca! — Mandei, dando um tapinha em seu ombro
enquanto o idiota ria. — Se você me irritar, vou dizer ao seu pai que você é
um péssimo namorado.
— Ele já acredita nisso, meu bem, nós precisamos provar o contrário.
Meu bem.
Obriguei meu cérebro a fingir que aquelas duas palavrinhas não
tinham saído da boca de Logan.
— É sério?
— Sim. Meu pai não leva muita fé em mim, pode ter certeza de que
ele vai nos receber com certa desconfiança.
— O que quer dizer? Que ele acredita que o nosso namoro é falso?
— Não sei se ele chegou a pensar tão longe. Acho que, talvez, ele
acredite que a nossa relação não vai durar.
— Por isso que ele nos chamou para almoçar? Para te colocar contra
a parede, de certa forma? — Logan apenas concordou com a cabeça e eu
me senti mal por ele. — Sinto muito, Logan.
— Está tudo bem. Meu pai e eu temos uma relação difícil. Ele não
aceita a minha escolha de ser jogador e acredita que eu vou falhar. Se isso
acontecer, vou realmente precisar usar o meu diploma e trabalhar no
escritório da família.
— Pelo menos você já tem um emprego garantido — brinquei só
para aliviar o clima e Logan riu um pouco. — Mas não acredito que você
vai falhar. Vem se esforçando bastante, fez um jogo incrível ontem. Não vai
precisar usar o seu diploma de Direito, o diploma de “estrelinha dourada”
vai garantir o seu futuro.
— Que bom que você tem fé em mim, Valente — disse, parando em
um sinal vermelho. — Sei também que deve estar pensando que esse é um
problema de menino rico.
— Sim, esse é um problema de menino rico — confirmei, porque era
mesmo. Só famílias ricas tinham problemas tão “difíceis” quanto aquele.
— Mas o futebol é a minha vida. Sempre fui apaixonado pelo campo,
pela adrenalina, até mesmo pela violência que você temeu ontem. Acho que
eu ficaria perdido se tivesse que parar.
— Você não vai precisar parar, Logan — falei, tocando em sua perna.
Ele pousou a mão sobre a minha e entrelaçou os nossos dedos. — A não ser
que você queira.
— Eu não quero — disse com muita certeza.
— Então é a isso que você precisa se agarrar, a essa paixão que você
nutre pelo esporte. Foque no seu objetivo e você vai conseguir. Nunca
pensei que eu diria isso, mas, estou aqui para te ajudar. Até virei a sua
namorada de mentirinha por causa disso.
— Nunca pensei que eu diria isso, mas você é a melhor namorada do
mundo, Valente. — Ele deu um beijo na junção dos meus dedos e sorriu
para mim. — O cara que conseguir o seu coração de verdade vai ser um
sortudo do caralho.
— Que coração? Acho que não tenho um.
— Ah, você tem, sim. — Logan riu e voltou a colocar o carro em
movimento. Eu olhei discretamente para a minha mão e passei o polegar
por cima do local onde ele beijou, sentindo a minha pele ficar arrepiada.
Nós logo mudamos de assunto e começamos a falar sobre o
seminário. Nossa pesquisa estava bem adiantada, mas concordamos que
seria melhor mostrar o que já tínhamos pronto para a Sra. O’Born, apenas
para confirmarmos que estávamos seguindo pelo caminho certo.
Logo chegamos a um bairro rico, que eu só havia visitado uma vez, e
Logan virou em inúmeras ruas, todas compostas por mansões, até parar em
frente aos portões pretos e enormes, que se abriram sem que ele sequer
precisasse se identificar. O jogador buzinou para os seguranças assim que
passou pelos portões abertos e dirigiu por pelo menos mais três minutos
antes de chegar a uma mansão monstruosa, daquele estilo que tinha quatro
colunas brancas e que exalava muito dinheiro.
— Caralho — murmurei sem conseguir conter o xingamento.
Eu não sabia absolutamente nada sobre arquitetura, portanto, jamais
poderia dizer se a mansão era em estilo vitoriano ou qualquer coisa assim,
mas era linda. Toda pintada de branco, com uma escadaria de mármore que
levava à entrada principal e cercada por um jardim muito bem-cuidado.
Coisa de milionário. Nunca me senti tão pobre em toda a minha vida.
— É, também acho um exagero — Logan disse ao meu lado
enquanto tirava o cinto de segurança. — Mas meu avô comprou essa casa
para a minha avó como presente de casamento. Creio que vai ser aquele
tipo de imóvel que vai passar de geração para geração.
— Acho que a sua próxima geração vai ser muito feliz morando aqui.
Logan riu baixinho.
— Não sei se eu moraria aqui, caso tenha filhos algum dia, mas a
minha irmã com certeza adoraria. Ela ama essa casa.
— Eu posso chamar o meu apartamento de casa, isso aqui está em
um outro nível, Logan. — Bufei ao ouvir a sua risada. — Você é muito
riquinho, jamais entenderia o que quero dizer.
— Desculpa, eu sei que é uma mansão, mas nasci e vivi aqui até ir
para a faculdade, portanto, só consigo chamar esse lugar de casa.
— Sim, acho que estou cobrando muito de você. — Apertei
levemente a sua bochecha, como uma tia chata faria. — Pobre menino rico.
O idiota pegou a minha mão e mordeu de leve os meus dedos, me
fazendo soltar um gritinho de susto, não porque doeu, mas porque eu senti
aquela mordida em lugares inapropriados do meu corpo.
— Você é insuportável às vezes, Valente — brincou. — Está pronta?
— Eu nasci pronta, estrelinha dourada — menti.
— É bom que pelo menos um de nós esteja preparado.
Que ótimo discurso motivacional. Se Logan, que convivia com o pai
desde o nascimento, estava daquele jeito, como eu deveria me sentir? Nós
saímos do carro e ele segurou a minha mão, me levando até as escadas. A
porta se abriu antes mesmo de chegarmos perto dela e Norah apareceu com
um sorriso enorme. Ela me abraçou com entusiasmo depois que encurtamos
a nossa distância.
— Como é bom te ver de novo, Ava! Obrigada por ter cuidado do
idiota do meu irmão.
— Eu ouvi isso, Norah — Logan disse. Ele não tinha soltado a minha
mão, portanto, precisei retribuir o abraço de sua irmã com um braço só.
— Mas era para você ouvir mesmo. — Ela se afastou e deu um
soquinho em seu ombro. — Nunca mais fique sem atender o celular,
entendeu? Você quase nos matou do coração, Logan!
— Vocês ainda não tinham se visto? — perguntei, pois sabia que
Logan tinha ido para casa se arrumar para o almoço.
— Não, eu vim cedo para tomar café da manhã com a minha avó.
Inclusive, ela está louca para te conhecer, Ava! Venham!
Norah saiu andando e eu senti um frio na barriga. Não tinha mais
como fugir, eu estava prestes a conhecer toda a família de Logan como sua
namorada.
Que Deus me ajudasse.
Passamos por um hall onde facilmente caberia a minha sala e a
minha cozinha e seguimos para a enorme sala de estar, de onde era possível
ver a escada que levava ao segundo pavimento daquela casa monstruosa. O
porcelanato do piso brilhava tanto, que eu podia ver o meu reflexo, o que
me permitiu perceber que eu estava boquiaberta. Logo cerrei os meus
lábios, com medo de que o pai de Logan pensasse que eu era uma idiota que
nunca tinha visto uma mansão na vida. Bom, pessoalmente, eu nunca tinha
visto mesmo, mas não precisava deixar isso tão claro para ele, certo?
Uma senhora muito bem-vestida com um vestido comportado entrou
na sala, acompanhada por uma mulher uniformizada, que logo percebi que
deveria ser a governanta da casa. Elas conversavam amigavelmente e
sorriam uma para a outra, até que a senhora mais velha bateu os olhos em
Logan. Seu semblante se transformou em pura felicidade e tive a certeza de
que ela era a avó do quarterback.
— Meu querido, como é bom ver você!
Logan se aproximou da avó, me levando pela mão, e se abaixou para
dar um beijo em sua testa. A senhora era muito bonita e, apesar das rugas
espalhadas em lugares estratégicos do seu rosto, parecia ainda ser muito
jovem. Seus cabelos eram castanho-claros, quase loiros, com pouquíssimos
fios brancos. Ela deveria tingi-los. Também usava pouca maquiagem,
apenas um batom nude e um pouco de blush nas bochechas.
— É muito bom ver a senhora também, vovó. Como tem se sentido?
— Como se eu tivesse vinte anos de novo. Já falei para você e sua
irmã pararem de ficar se preocupando comigo. — Seus olhos claros
bateram em mim e seu sorriso pareceu duplicar de tamanho. — Não vai me
apresentar à sua namorada?
— Claro. Vovó, essa é Avalon Banks e, Valente, essa é minha avó
Meredith Miller.
— É um prazer conhecer a senhora — falei, apertando a mão que
estendeu para mim.
Para a minha surpresa, a Sra. Miller me puxou para um abraço muito
entusiasmado. Logo me dei conta de que ela e Norah eram muito parecidas
na personalidade, as duas eram efusivas e simpáticas. O pai de Logan podia
ser assim, mas algo me dizia que ele não era e eu havia trocado apenas
poucas palavras com o homem.
— Você é ainda mais bonita do que no vídeo que vi no Twitter! —
Ela passou a mão pelo meu rosto e me olhou com um carinho que aqueceu
o meu coração. — Finalmente Logan trouxe uma garota para casa! Estou
feliz pela sua escolha, querido.
— Obrigado, vovó. Agora, que história é essa de que a senhora viu
um vídeo no Twitter?
— Norah fez uma conta para mim na semana passada.
— É verdade e a ensinei a usar a rede social — Norah disse,
passando o braço pelo ombro da avó. — Agora nossa avó está conectada,
Logan.
— Nada vai passar despercebido por mim. — Ela olhou para nós dois
e eu senti o meu rosto ficar quente pelo sorriso que nos deu. — O beijo foi
lindo e muito romântico.
— Vovó! — Logan resmungou e percebi que estava prestes a ficar
vermelho assim como eu.
— O que foi? Só estou falando a verdade. Se seu avô fosse jogador
de futebol, eu o faria me dar um beijo como aquele, principalmente depois
de um jogo incrível como o que você fez ontem, querido. Estou muito
orgulhosa de você.
Logan sorriu como um menino e eu mal consegui piscar. Era nítido
como ele amava a avó e fiquei muito feliz por ter uma boa relação com ela.
Ele logo me apresentou a Grace, que era mesmo a governanta da casa, mas
não pudemos esticar muito a conversa, pois uma voz masculina e bem forte
tomou conta de toda a sala:
— Que bom que estão todos reunidos!
O pai de Logan. Soube antes mesmo de me virar em sua direção. Ele
estava terminando de descer a escada, enquanto enrolava a manga da blusa
social cinza que usava. Mesmo usando jeans o homem continuava elegante
e o fato de não sorrir o tornava meio intimidante. Norah foi correndo em
sua direção e ele a abraçou pelos ombros, dando para ela um sorriso
amistoso. Percebi rapidamente que os dois não pareciam ter qualquer
problema de relacionamento.
— Pai, Logan e Avalon acabaram de chegar. Grace já pode servir o
almoço?
— Claro. — Ouvi Grace pedir licença antes de se retirar da sala
depois que o patrão respondeu, mas não olhei em sua direção, pois fiquei
com medo de piscar e o Sr. Miller II achar errado. Ele se afastou
gentilmente de Norah para poder puxar Logan para um abraço rápido. — É
bom ver você, filho.
Logan parecia ainda mais tenso do que antes. Sua mão continuou na
minha e a forma como deu dois tapinhas nas costas do pai deixou isso bem
claro. Eles logo se afastaram e os olhos do Logan mais velho caíram sobre
mim sem qualquer discrição, me analisando como se eu fosse um rato de
laboratório.
— Então, você é a famosa Avalon Banks.
— Não sei se sou famosa. — Tentei brincar, apertando a mão que me
estendeu e lutando para não tremer. — É um prazer conhecer o senhor.
— O prazer é meu.
— Ela não é linda? — perguntou a Sra. Miller, apontando para mim e
sorrindo. — Logan arrumou uma princesa!
— Avalon é linda mesmo e Logan é um sortudo por ela ter se
apaixonado por ele.
— Ei! Você é minha fã ou minha hater? — Logan perguntou para a
irmã, fazendo-a rir.
— Acho que sou um pouco dos dois.
— O que é hater? — A matriarca da família Miller perguntou.
— Hater é um termo usado na internet para se referir às pessoas que
não gostam “gratuitamente” de alguém, vovó.
— Ah, sim. Como aquelas pessoas que falavam mal do seu irmão?
— Exatamente.
— Mas elas tinham razão no que falavam. O comportamento de
Logan dava brechas para que as pessoas comentassem coisas ruins sobre ele
— comentou o Sr. Miller, cortando completamente o clima descontraído na
sala. Por sorte, Grace apareceu dizendo que o almoço estava servido e a
conversa se encerrou por ali.
Logan me guiou até a sala de jantar com o semblante fechado. Eu
queria me inclinar e sussurrar em seu ouvido que estava tudo bem, mas
preferi ficar quieta, porque eu não sabia se, de fato, estava tudo bem. Pela
forma como seu pai o abraçou para cumprimentá-lo, cheguei a pensar que o
quarterback podia ter exagerado um pouco quando disse que seu
relacionamento com o homem mais velho era difícil, mas agora eu já não
sabia mais o que pensar.
Concordava que Logan tinha um comportamento duvidoso algumas
semanas atrás. Eu mesma não gostava dele e dava razão aos comentários
que diziam que o jogador era arrogante, mimado e prepotente, mas eu não o
conhecia. Convivendo com ele, percebi que Norah tinha razão quando dizia
que Logan usava uma máscara na frente das pessoas. Ele também estava,
claramente, passando por um momento difícil depois da morte da mãe. Se
eu, que o conhecia há tão pouco tempo, era capaz de perceber isso, como
seu pai, que o havia visto nascer, não percebia?
Ele realmente acreditava que Logan merecia todo o julgamento que
recebia na internet? Se sim, era por que aquele tipo de situação era
favorável a ele? Logan deixou bem claro que o pai o queria no escritório,
dando seguimento ao legado da família. Talvez, o Sr. Miller II acreditava
que o filho poderia desistir do futebol se continuasse a alimentar todo o hate
que recebia na internet.
Sacudi discretamente a cabeça, espantando o pensamento. Não,
aquilo era cruel demais. Um pai de verdade jamais desejaria o mal do filho,
ainda mais por causa de um capricho. Muitas empresas, que começaram de
forma familiar, seguiam até hoje com um prestígio enorme sendo
gerenciadas por terceiros. O fato de Logan ou Norah não quererem se
envolver com os negócios da família, não queria dizer que todo o legado
viraria fumaça.
O Sr. Miller II tomou a cabeceira da mesa de doze lugares, enquanto
sua mãe e Norah se sentaram ao seu lado direito e Logan e eu nos sentamos
do lado esquerdo. Grace anunciou o que prato principal seria carne de
cordeiro e eu fiquei mais tranquila por não ser algo difícil de comer, como
uma lagosta inteira, por exemplo. Começamos a nos servir e o pai de Logan
voltou falar enquanto todos comiam:
— Conte mais sobre você, Avalon. Logan chegou a comentar comigo
que você cursa Direito.
Precisei engolir rapidamente o pedaço da carne que estava comendo
para poder responder:
— Sim, é verdade. Assim como Logan, também estou no terceiro
ano.
— E como vocês se conheceram? Foi durante alguma aula?
Tentei me lembrar do plano que armamos semanas atrás para o caso
de recebermos aquele tipo de pergunta, mas minha mente deu um branco.
Como se soubesse disso, Logan respondeu por mim:
— Nós já nos conhecíamos de vista, mas nos aproximamos por causa
do trabalho acadêmico que estamos fazendo juntos.
— O que “conhecer de vista” significa? Se conheceram em algumas
dessas festas malucas que você participa?
— E se for? Logan é jovem e Avalon também, filho. Eles precisam
aproveitar a vida — Sra. Miller disse, dando uma piscadinha para mim e
para Logan.
— Logan participava dessas festas, pai. Ele deixou isso de lado e
agora está focando no futebol, na faculdade e no namoro com Avalon —
Norah partiu em defesa do irmão.
— Na verdade, nós nos conhecemos na biblioteca. Logan estava
devolvendo um livro que eu precisava pegar emprestado, então, trocamos
algumas palavras — inventei, tocando no joelho de Logan por debaixo da
mesa, pois percebi que ele balançava a perna sem parar. Ele tomou a minha
mão discretamente e a apertou em um sinal de gratidão.
— Interessante — respondeu o seu pai. Fiquei tentando imaginar o
que aquele comentário significava, mas os olhos sérios de Logan Miller II
eram uma incógnita. — Fiquei sabendo que você trabalha em um bar... É
verdade?
— Como ficou sabendo disso? — Logan perguntou com uma
seriedade que foi estranha para mim.
— Ouvi sua irmã comentar com a sua avó.
— Sim, é verdade — confirmei. — Existe algum problema em
trabalhar em um bar?
— Não, claro que não. — Sua voz formal não me deixou brechas
para saber se estava falando a verdade ou se estava debochando
discretamente. Ele parou por um momento e olhou para Logan. — Não vai
comer?
— Não estou com muita fome.
Algo mudou na expressão do pai de Logan. Talvez, se eu o
conhecesse há mais tempo, saberia o que aquele olhar para cima do
quarterback significava, mas por nunca ter convivido com ele, não soube o
que pensar. Só percebi que ele pareceu se armar um pouco mais, ajeitando a
postura impecável sobre a cadeira e cortando a carne de cordeiro como uma
precisão impressionante.
— Imagino que você já deva ter visto Logan diversas vezes no bar
em que trabalha...
— Algumas vezes, sim, como qualquer outro universitário — cortei-
o e sua sobrancelha se arqueou ligeiramente.
Eu estava nervosa, era verdade, mas a arrogância do pai de Logan fez
com que o tremor leve em meu corpo fosse substituído por uma espécie de
raiva silenciosa. Queria entender aonde aquele homem elegante queria
chegar com todos aqueles comentários ácidos.
— Logan não deveria ser como qualquer outro universitário.
— Pai, por favor — Norah pediu, mas Logan ergueu a mão.
— Não, deixe-o falar. Todos nós já conhecemos esse discurso, mas
Avalon ainda não. Acredito que meu pai queira mostrar a sua linha de
raciocínio para ela.
— O que quero dizer, é que meu filho tem uma reputação e um nome
a zelar. Não acho certo que esteja envolvido em tantas fofocas na internet,
principalmente se quer mesmo ser um jogador profissional.
— Talvez o senhor esteja desatualizado — falei, vendo não apenas os
seus olhos, mas o de todos à mesa sobre mim. — Desde ontem, as únicas
coisas que vejo na internet sobre o seu filho, são elogios. Todos estão
comentando sobre Logan, é verdade, mas estão parabenizando-o pela sua
atuação no jogo contra o Utah State, inclusive, perfis oficiais de esporte.
Acho que a imagem de Logan já não é mais atribuída a algo ruim, o que é
bom, pois mostra que ele está, sim, zelando pelo seu nome e construindo
um legado incrível, que com certeza vai inspirar inúmeros jogadores pelo
país.
Norah sorriu discretamente, diferente da sua avó, que me mostrou
praticamente todos os dentes depois que me calei. Não tive coragem de me
virar para ver a reação de Logan, pois a adrenalina por ter respondido o seu
pai durante um rompante de indignação estava passando e eu estava quase
com vergonha, apesar de saber que eu não tinha errado em nada do que
falei. Vi o pomo de Adão de Miller II subir e descer antes de ele dizer:
— É, Logan fez um bom jogo ontem à noite.
— Não. — Logan cortou o pai e apertou rapidamente a minha mão
antes de entrelaçar os nossos dedos. — Eu teria feito um bom jogo se não
tivesse feito aquele touchdown nos últimos minutos. Depois daquela jogada,
eu fiz um jogo excelente, pai, ainda que o senhor não reconheça.
Foi a minha vez de sorrir, mesmo que discretamente, como Norah.
Estava orgulhosa. Depois de tudo o que Logan havia passado na última
noite, era muito bom ver que estava dando valor à sua participação no jogo
e dizendo em alto e bom tom que tinha feito algo incrível em campo.
— É verdade. — Seu pai pareceu finalmente reconhecer – ou fingir
que reconhecia. — Eu devo parabéns a você, filho.
— Deve mesmo! — comentou a Sra. Miller, dando um olhar severo
ao filho. Foi bonitinho ver que, mesmo com a idade avançada e tendo um
filho adulto, ela ainda agia como se ele fosse uma criança.
Sr. Miller pousou a mão sobre o braço de Logan e disse com
sinceridade:
— Você realmente fez um jogo incrível ontem à noite. Parabéns.
Aquele homem me confundia. Ao mesmo tempo em que parecia
pronto para cobrir o filho de críticas, realmente era sincero no elogio em
que fazia. Qual era o problema dele?
— Obrigado — Logan disse simplesmente, desvencilhando do toque
do pai para poder comer. Eu imaginava que a ressaca ainda estava
deixando-o enjoado, por isso, estava comendo pouco.
Norah logo puxou um assunto qualquer à mesa e o clima foi se
tornando menos pesado. Foi durante a sobremesa — uma mousse de
chocolate meio amargo que estava deliciosa — que o pai de Logan voltou o
seu foco para mim.
— No que quer se especializar, Avalon?
— Quero lutar pelo direito das mulheres e defender aquelas que
sofrem violência doméstica.
— Isso é incrível, Avalon! — Norah disse e Logan apertou a minha
mão debaixo da mesa.
— É uma área que combina muito com você — disse o jogador.
— Precisamos de mais mulheres que lutem por nós. Estou feliz por
ver o futuro bem na minha frente, querida. — A avó de Logan me deixou
emocionada e eu sorri, sem ter muito o que dizer.
— É uma área muito promissora — disse o pai de Logan.
— Sim, mas eu não viso o dinheiro. Quer dizer, não viso apenas o
dinheiro. Essa é uma luta especial para mim.
Eu poderia dizer pessoal, mas não queria me expor demais na frente
da família de Logan. Assim que os empregados vieram recolher à louça, eu
pedi licença para ir ao banheiro e Grace me guiou até o lavabo que ficava
perto da escada que levava ao segundo andar da mansão. Enquanto me
aliviava, permiti que os meus músculos relaxassem e tentei me livrar
completamente da tensão que ainda sentia.
Não sabia o que pensar sobre o pai de Logan. Ele não era conhecido
como um tubarão à toa, eu sabia, mas pensei que dentro de casa ele seria
alguém mais relaxado e simpático. O homem era arrogante, mas, ao mesmo
tempo, parecia se preocupar com os filhos. Logan Miller II era,
definitivamente, uma pessoa estranha, que fazia perguntas que pareciam ser
sem sentido, mas que, para alguém que se interessava pela área do Direito,
sabia que fazia parte de um quebra-cabeça montado por ele.
Ele jogava iscas para pescar informações, como qualquer advogado
esperto. Um passo em falso e ele com certeza pegaria a mentira que Logan
e eu estávamos contando. Pelo menos, eu acreditava que tinha me saído
bem, principalmente quando fiz aquela defesa ferrenha do quarterback —
que havia sido totalmente intencional, eu precisava ressaltar. Só senti que eu
precisava mostrar a Logan II que seu filho estava melhorando e que, mesmo
não querendo, ele precisava admitir isso.
Lavei as mãos e retoquei o meu batom rapidamente, tomando um
susto ao me deparar com as vozes de Logan e seu pai vindo de algum
cômodo perto dali assim que saí do lavabo. Percebi que eles estavam na
sala, perto da janela, e fiquei sem saber o que fazer. Deveria me aproximar e
interromper a conversa dos dois ou ir direto para a sala de jantar procurar
por Norah ou sua avó?
— Acha que eu não sei que está de ressaca, Logan? — Ouvi o seu pai
perguntar em um tom bravo. — Já te vi assim muitas vezes! Juro que
cheguei a pensar que você estava mesmo mudando esse comportamento
típico de moleque sem responsabilidade, mas acho que me enganei!
— Não vou mentir, realmente bebi ontem à noite.
— Por quê? Se está tão feliz por ter feito um jogo excelente, por que
exagerou na bebida?
Lá estava, a versão preocupada do pai de Logan. Escondi-me perto
da escada para poder observar a interação entre eles. Seu pai estava de
braços cruzados, enquanto o jogador olhava pela janela, com as duas mãos
nos bolsos da calça jeans.
— Porque eu me lembrei da mamãe. — Não pensei que Logan seria
sincero, mas percebi que sua confissão fez a postura do Miller mais velho
mudar. Ele descruzou os braços e tocou o ombro do filho. — Não sei o que
falar além disso.
— Não precisa falar mais nada, eu entendo. Isso não quer dizer que
eu acho que agiu de forma correta.
— Sei que não agi, pai, e prometi que foi a última vez.
— Sua namorada estava com você?
— Não, mas ela me ajudou a ficar melhor depois.
— Você confia nela? Realmente a conhece, Logan?
— Sim para as duas perguntas. — Ele se virou para o pai e eu engoli
em seco, sentindo o meu coração disparar. Eles podiam mudar de assunto.
Eu odiava ser o centro de uma conversa. — Eu... gosto da Valen... Da
Avalon. Eu a chamo de Valente e às vezes me confundo. — Ele riu e eu
senti a mousse de chocolate se revirar em meu estômago. — Na verdade, eu
gosto muito dela, pai. Desde o dia em que nos conhecemos, Valente tem me
ajudado a mudar a forma como eu enxergo as coisas. Ela não tem medo de
me enfrentar e me dar uma série de esporro se eu faço alguma besteira,
também tem estado ao meu lado nos momentos mais importantes, me
incentivando a melhorar e manter o foco no que realmente importa. Avalon
me faz muito bem.
— Ela também parece gostar muito de você. — Seu pai ainda estava
sério, enquanto eu sentia que minhas pernas poderiam falhar a qualquer
momento. — Só não quero que você se machuque, ok? Tenha cuidado.
Certo, seu pai não tinha ido muito com a minha cara, aquilo ficou
bem claro. Mas quem se importava? Logan havia acabado de fazer um
discurso falando que gostava de mim e não parecia ter sido apenas para
convencer ao seu pai. Eu poderia estar me iludindo, mas achei que o
jogador havia sido sincero. Será que estava sendo uma boba? Eu esperava
que não. Decidida a sair do meu esconderijo, entrei na sala e Logan se virou
para mim, saindo de perto do pai para encurtar a nossa distância.
Ele me deu um sorriso caloroso e o meu coração ameaçou explodir
no peito. Sem que eu esperasse, o quarterback se inclinou e deixou um
selinho demorado em meus lábios, me fazendo estremecer. O filho da mãe
sentiu, eu soube no momento em que sorriu com a boca ainda na minha e
apertou a minha cintura, me deixando arrepiada da cabeça aos pés.
Tinha sido um simples selinho! Eu precisava aprender a me controlar
melhor, pelo amor de Deus!
— Minha avó e Norah estão esperando por nós dois na área da
piscina — ele avisou.
Pensei que iríamos embora, mas, ao contrário do seu pai, a sua avó
era uma companhia muito mais agradável, portanto, eu apenas concordei
com a cabeça. O Logan mais velho disse que precisava fazer uma ligação,
mas logo nos encontraria do lado de fora, e seguiu em direção a algum
cômodo daquela casa gigantesca. Quando me vi sozinha com Logan, dei um
soquinho na altura das suas costelas.
— Você não me disse que teria beijo na boca! — sussurrei.
— Se você chama esse selinho de beijo na boca, então, ontem nós
trepamos em público — ele disse baixinho em meu ouvido, fazendo meu
clitóris pulsar. Jesus Cristo!
— Meu Deus, você é nojento, Logan!
Ele riu alto e me puxou em sua direção quando ameacei andar em
direção à piscina — que eu sequer sabia onde ficava. Suas mãos voltaram a
cercar a minha cintura e eu precisei jogar a cabeça um pouco para trás para
poder olhar em seus olhos.
— Obrigado por tudo o que disse ao meu pai durante o almoço.
Poucas pessoas conseguem deixar aquele homem sem palavras.
— Eu o deixei sem palavras?
— Sim, deixou. — Ele sorriu de forma carinhosa e subiu as mãos até
a faixa nua de pele em minha barriga, um pouco abaixo das costelas. Se
Logan conseguia sentir a minha pele arrepiada, não demonstrou, mas com
certeza sentiu a forma como apertei os músculos duros dos seus braços
entre os meus dedos. — Mas me deixou sem palavras também. Estou até
agora sem saber direito o que dizer.
— Não precisa dizer nada, eu só falei tudo aquilo, porque queria que
seu pai visse que você tem se esforçado, Logan. Ele precisava reconhecer
aquilo e acho que deu certo.
— Meu pai é uma pessoa difícil, mas não é alguém ruim.
— Não estou aqui para dizer que ele é ou não, mas de uma coisa eu
sei, o homem é arrogante.
— Ele é.
— E um pouco chato, também.
— Isso com certeza. — Logan riu baixinho. — Mas acho que ele
gostou de você.
— Hm, eu duvido muito. Talvez, se eu fosse uma garota rica, que não
trabalha em um bar, as coisas fossem um pouquinho diferentes, mas eu não
ligo. Seu pai pode pensar o que quiser de mim, não vai mudar em nada na
minha vida.
— Mesmo?
Concordei com a cabeça, pois estava falando a verdade. Eu poderia
ter um sonho bobo de um dia trabalhar em um dos seus escritórios
conceituados? Com certeza, mas sabia que eles não eram os únicos no
mundo e eu lutaria para crescer em qualquer lugar que me desse uma
oportunidade.
— Eu deveria saber disso. Você não se abala por pouca coisa,
Valente. A não ser por um selinho meu — sussurrou, abaixando um pouco a
cabeça em minha direção.
— Eu não me abalei!
— Se abalou, sim. — Logan olhou para além de mim e sorriu
discretamente, antes de voltar a me encarar e sussurrar: — E vai se abalar
novamente, porque minha avó está olhando em nossa direção e eu vou te
beijar de novo.
Eu ainda quis me virar para ver se estava falando a verdade, mas
Logan segurou a minha nuca com uma mão e me beijou delicadamente. A
pressão em meus lábios foi aumentando aos poucos, conforme ele foi
tomando mais espaço, até que pediu a passagem da sua língua em minha
boca. Eu dei sem pensar duas vezes, suspirando quando o beijo começou de
verdade.
Eu não deveria estremecer. Meu coração, com toda certeza, não
deveria ficar acelerado, mas não consegui impedir nenhuma dessas reações,
porque Logan dominou cada espaço dentro da minha cabeça e se tornou o
centro de tudo enquanto mantinha a boca sobre a minha e me fazia
enlouquecer no meio da mansão chique do seu pai.
Era oficial: todos sabiam que eu estava em um relacionamento sério.
Acabei confirmando os boatos ao postar uma foto com Avalon no
domingo, em frente à piscina da casa do meu pai. Minha avó era
apaixonada por água, quando jovem, praticava natação e havia até mesmo
participado de alguns campeonatos, por isso, quando meu avô comprou a
mansão, pediu para que o arquiteto fizesse um oásis particular para ela.
A área da piscina era muito bonita, cercada por muito verde e uma
cascata que elegante. Avalon ficou encantada e eu aproveitei o momento
para abraçá-la pelo ombro e contar a história do ato romântico do meu avô.
Norah, que deveria estar muito atenta a nós dois, tirou a foto enquanto
estávamos distraídos e me mostrou apenas quando chegamos em casa. Eu
fiquei estático enquanto observava nós dois na tela do seu celular.
Valente sorria com o rosto inclinado em minha direção e eu a olhava
com uma cara de bobo. Demorei a me reconhecer na foto e quase acusei
Norah de ter feito alguma manipulação digital na imagem, mas desisti antes
de falar qualquer coisa, porque eu sabia que minha irmã jamais faria algo
do tipo. O Logan estranho naquela fotografia era só um reflexo de quem eu
me tornava ao lado de Avalon, um cara mais relaxado, sorridente e
encantado pela ruiva abusada e feroz.
Antes de postar a foto, enviei para ela por WhatsApp e esperei que
me desse o aval para postar. Avalon demorou a me responder e cheguei a
pensar que não permitiria, mas me surpreendeu ao fazer uma chamada de
vídeo ao invés de responder um simples “sim” ou “não”. Comecei a rir ao
me deparar com Aubrey do outro lado da tela quando aceitei a ligação.
— Pode postar, cunhado! Eu deixo!
— Onde está a sua irmã?
— Tomando banho. — Estava explicado o porquê de a pestinha estar
falando baixo e olhando para algo além do celular a cada poucos segundos.
— Eu juro que não fico bisbilhotando as mensagens de Ava, é que o meu
celular está carregando e eu estava usando o dela para ver um vídeo de
receita no YouTube. Vou fazer cookie e mandar para você pela minha irmã.
— Tenho certeza de que vão ficar deliciosos! Você gosta de cozinhar,
Aub?
— Eu achava que não, mas agora que posso me aventurar mais na
cozinha, estou percebendo que amo! Às vezes eu deixo alguma coisa
queimar ou passar muito do ponto, mas Ava diz que é normal, pois ainda
estou aprendendo.
Ela era muito novinha, então, Valente tinha mesmo razão. Inclusive,
acreditava que só agora estava deixando que a irmã fosse mais
independente e preparasse algumas refeições. Avalon parecia ser bem
protetora com Aubrey, o que lembrava a forma como eu mesmo tratava
Norah.
— Sua irmã tem razão, mas não diga a ela que eu falei isso.
— Eu já ouvi, estrelinha dourada! — Aubrey arregalou os olhos e
soltou uma risada enquanto perdia a posse do celular. Avalon apareceu na
tela com o colo nu e salpicado de gotas de água, deixando a minha garganta
seca. Percebi que começou a se afastar da irmã e entrou em seu quarto,
fechando a porta. — Posso saber o que você e minha irmã estavam
conversando pelas minhas costas?
— Claro que não, era um assunto particular. Você está apenas de
toalha ou é impressão minha?
Avalon estreitou os olhos e, de repente, trocou a câmera frontal pela
traseira. Tive uma visão ampla da sua cama arrumada, sem entender ao
certo o que ela estava fazendo, até que uma toalha branca apareceu na tela,
caindo diretamente sobre a colcha.
— Estava. Agora, não estou mais.
— Avalon! — Desencostei-me da cabeceira da minha cama e
aproximei o celular para mais perto do meu rosto, ficando chocado com a
ousadia da garota. — Você está... Está...
— Nua? Sim.
Meu pau sofreu um espasmo muito forte dentro do meu short de
dormir. Podia jurar que o filho da puta ficaria duro em tempo recorde e eu
nem mesmo tive um vislumbre do seu corpo nu. Ao fundo, pude ouvir a
risada de Valente ante o meu silêncio.
— O gato comeu sua língua, QB?
A danada trocou novamente a câmera e apenas o seu rosto lindo e
livre de maquiagem apareceu em meu campo de visão.
— Desce o celular e me prova que está pelada — desafiei,
encontrando a minha voz.
— É claro que eu vou te dar o gostinho de me ver nua. — Ela
sacudiu a cabeça, fazendo algumas mechas de seu cabelo escaparem do
coque frouxo. — Só nos seus sonhos isso vai acontecer, estrelinha dourada.
Agora eu preciso desligar.
Avalon me soprou um beijo e simplesmente encerrou a chamada,
deixando a tela do meu celular voltar para a nossa conversa no aplicativo.
Ainda chocado, deixei o celular sobre a cama e passei a mão pelo cabelo,
confuso pra caralho com aquele rompante da garota. Avalon nunca havia
feito qualquer insinuação sexual para cima de mim. Quer dizer, eu sabia que
não poderia chamar aquilo de insinuação sexual, mas, mesmo assim, era
uma brincadeirinha perigosa e que encurtava um pouco os limites que
estabelecemos previamente.
Será que Valente estava querendo me passar algum recado? Estaria
me enviando sinais de que estava, realmente, a fim de mim? Ou eu estava
maluco e vendo coisa onde não existia?

Valente: Pode postar a foto. Eu fiquei muito bonita, aliás.

Li a mensagem assim que a tela do meu celular se acendeu com a


notificação. Meu pau estava semiereto e eu ainda estava confuso, mas
respondi mesmo assim:

Eu: E o que tem a dizer sobre mim?


Valente: Você está ok.

Minha risada soou mais alta do que a série que coloquei para passar
na TV. Aquela, sim, era a Valente que eu conhecia, mas precisava confessar
que estava muito animado para conhecer a sua versão desinibida, que ficou
nua para mim do outro lado da tela, mesmo sem me deixar ter um único
vislumbre do seu corpo bonito.
— QB, se eu não soubesse que tudo isso não passa de uma
encenação, eu acreditaria que você está de quatro pela ruiva gostosa.
O comentário de Benjamin ao meu lado me fez voltar para o
presente. Estávamos na sala de vídeo do centro de treinamento, esperando o
treinador Coben chegar para estudarmos o último jogo do Texas Longhorns.
Nós o enfrentaríamos no sábado, em um jogo fora de casa, o que fazia com
que a tensão aumentasse um pouco, principalmente porque o time
adversário também não havia perdido o primeiro jogo no último sábado.
Benjamin soltou um gemido quando dei um tapa na sua nuca. Talvez
tenha sido mais forte do que nós dois esperávamos, mas o babaca mereceu.
— Já falei para você parar com essa merda, porra! Respeite a minh...
Respeite a Avalon!
— Você ia falar minha garota. — O idiota sorriu e eu sacudi a
cabeça. Por sorte, a sala ainda estava vazia e dois jogadores reservas
conversavam perto da porta, longe de nós dois.
— Não ia nada.
Eu ia, sim, da mesma forma que falei com James durante o treino na
semana passada. A diferença daquele dia para o agora, era que ali eu tinha
plena consciência de que estava apenas testando as palavras na minha boca
para que elas começassem a soar de forma natural na frente das outras
pessoas. Aqui, com Benjamin, o pronome possessivo simplesmente surgiu
sem que eu precisasse pensar uma segunda vez.
Porra, eu estava ferrado. Eu sentia que estava. Avalon estava
alugando um tríplex na minha cabeça e tomando conta de tudo aos poucos,
sem que eu tivesse o menor controle para impedi-la. Sentia que estava
piorando desde ontem, com aquela videochamada em que tirou a toalha e a
deixou sobre a cama.
A manhã de hoje foi uma tortura. Buscá-la em casa, sentir o seu
cheiro dominando o meu carro, andar ao seu lado de mãos dadas pelo
campus, sentar-me ao seu lado na aula da Sra. O’Born, ouvir sua voz
sensual enquanto mostrávamos para a professora toda a pesquisa que
fizemos para o seminário... Eu mal consegui prestar atenção nas pessoas
que nos olhavam de forma ainda mais curiosa e cochichavam sobre nós dois
pelos corredores do prédio de Direito, porque só tinha olhos para ela.
Sentia-me um bobo, sem qualquer controle sobre as minhas emoções.
A verdade, era que eu estava impressionado com Avalon. O almoço
na casa do meu pai foi difícil, cheguei a pensar que ele estragaria tudo com
aquela ladainha de sempre, mas Valente me surpreendeu ao falar tudo
aquilo na cara dele, sem medo de enfrentar o homem que fazia com que
qualquer pessoa de fora tremesse na base. Até eu me sentia sufocado em
sua presença, mas Avalon, com aquela sua personalidade forte, fez algo que
nem mesmo eu estava fazendo por mim de maneira adequada.
Valente me defendeu, praticamente da mesma forma que eu a defendi
daquele filho da puta que estava ameaçando a sua vida e a vida da sua irmã.
Eu ainda estava sem palavras, sentia que não havia agradecido o suficiente.
Acreditava que nada do que eu falasse, poderia demonstrar como fiquei
surpreso e grato pelo que havia feito por mim.
— Tá me ouvindo? — Benjamin estalou os dedos na frente do meu
rosto e eu pisquei, saindo do transe. Ao seu lado, vi James rindo, e percebi
que a sala estava praticamente lotada. — Eu não acredito que estou
perdendo a batalha de novo.
— Que batalha? — Do que o babaca estava falando?
— Mais um soldado será abatido... — Ben lamentou se jogou contra
o encosto da cadeira, passando a mão pelo rosto. — Vou perder mais um
amigo.
— Não estou entendendo nada, Benjamin.
— Ele acha que você está gostando mesmo da Valente — James
disse baixinho, sem querer chamar a atenção dos outros meninos do time.
— Tipo, gostando de verdade.
— Eu não estou achando, eu tenho certeza! Olha a cara dele! —
Benjamin apontou para mim de forma indignada. — Está igualzinho a você
quando começou a se apaixonar por aquela que não deve ser nomeada.
— É bom mesmo que não fale o nome dela — James resmungou.
— Ele está igual a você, não está?
— Quer parar de falar como se eu não estivesse aqui? — pedi, dando
uma olhada geral na sala. — Não sei o que estou sentindo, ok? Só acho que
Valente é uma garota muito foda, linda, gostosa e que vem mexendo
comigo... Mas isso não quer dizer que estou me apaixonando.
Eu nunca tinha me apaixonado na vida e não queria que o sentimento
surgisse tão cedo. Eu precisava focar exclusivamente na minha carreira.
Depois do que havia acontecido nos últimos meses, tinha medo de me
distrair com qualquer outra coisa e falhar de novo.
O futebol sempre foi o meu sonho e, agora, ele estava trazendo um
novo sentido para a minha vida. Era algo real ao qual eu poderia me agarrar,
a única coisa que eu tinha certeza de que dependia exclusivamente de mim
para dar certo. Não queria que nada tirasse o meu foco.
— Não cabe a nós dois dizermos se você está se apaixonando ou não,
irmão, mas, quer um conselho? — James perguntou e eu apenas concordei
com a cabeça. De nós três, ele sempre foi o mais calmo e centrado, o que
tinha a melhor opinião sobre assuntos sentimentais. — Não dê as costas
para o que vem sentindo por Avalon. Eu não te vejo tão bem assim há
longos meses e sei que ela está te fazendo muito bem. Isso é importante e
muito especial, cara.
— É, James tem razão. — Benjamin disse meio contrariado, quase
me fazendo rir. — Se for para você ficar bem de verdade, eu aceito perder
mais um amigo para as algemas douradas.
— Algemas douradas? — Eu ri de verdade, sem acreditar no que
estava ouvindo.
— Sim. As alianças.
— Cala a boca, idiota! — James sacudiu o cabelo de Ben enquanto
ria. — Não acho que Logan vai se casar tão rápido.
— Esse babaca parece ser mais emocionado do que você, James!
Desde que a ruiva gost... Desde que Avalon surgiu — ele consertou o
termo, olhando rapidamente para mim. Deve ter visto o desgosto em meu
olhar pela forma como se referia a ela —, Logan vem se tornando um
cachorrinho adestrado!
— É assim que começa! — David, um dos nossos reservas, apontou
para o dedo anelar direito. — E então, em um piscar de olhos, você vai estar
com isso aqui no dedo e uma lista de padrinhos de casamento. Acredite,
escolher os padrinhos é difícil pra caralho!
Ótimo, Benjamin havia falado alto demais e, agora, o time todo
estava olhando para a minha cara. Pela forma como me encaravam, percebi
que não tinham ouvido nada sobre o namoro falso, o que me deixou
aliviado.
— Para Logan não será difícil, os dois padrinhos dele estão bem aqui
— Benjamin apontou para si mesmo e depois para James, que concordou
com a cabeça.
— É oficial, então? Já está pensando em casamento, Logan? —
Alguém perguntou.
— Porra, nunca pensei que o QB se amarraria tão rápido! Até ontem
ele estava passando o rodo em todas as festas que ia — outro babaca
comentou.
— O amor é assim, chega de forma inesperada...
— Deus me livre passar por isso, tenho só vinte anos!
— Olha só o que vocês fizeram! — resmunguei entredentes,
praticamente me deitando no banco para fugir dos olhares curiosos.
Benjamin e James riram alto do meu lado.
— Pensa bem, é melhor que fofoquem sobre um suposto casamento
do que sobre sua fama de pegador sem limites — Benjamin sussurrou.
Revirei os olhos, endireitando a postura quando o treinador entrou na
sala. Ele logo mandou que todos se sentassem e ligou o refletor para passar
as principais jogadas do Texas no telão. Desliguei a mente e foquei nas
táticas para o próximo jogo, pensando que era melhor me agarrar ao que eu
poderia controlar — como as jogadas e as principais formas de desarmar o
time adversário — do que ao que eu não podia controlar.
Nesse caso, estava me referindo muito mais ao que sentia sobre
Avalon do que sobre os comentários dos meus companheiros de time.

Eu deveria ter ido direto para casa depois que saí do centro de
treinamento, mas acabei desviando o caminho e, agora, estava entrando no
bar da Maeve. O movimento estava fraco, mas apenas porque era segunda-
feira e ainda não havia passado das sete horas da noite. Encontrei Avalon
com o olhar, do outro lado do balcão, servindo duas canecas de cerveja e
rindo de alguma coisa que Maeve havia comentado baixinho em seu
ouvido. Ela estava linda usando uma calça cargo de cintura alta e um
cropeed preto nada vulgar. Os cabelos estavam presos naqueles dois coques
divididos ao meio no topo da cabeça.
O que antes poderia parecer estranho aos meus olhos, agora, só
parecia ressaltar ainda mais a beleza e a personalidade de Avalon. Eu não
conseguia imaginá-la usando qualquer coisa cor-de-rosa ou calçando algo
diferente dos sapatos e botas pesadas que tanto adorava. Era uma droga ter
que admitir que eu adorava até mesmo aqueles coques que ela amava fazer.
— Como é bom ver você, Logan! — Maeve me viu antes de Avalon,
por isso, pude acompanhar a reação da ruiva ao descobrir que eu estava ali.
Valente se virou em minha direção com os olhos arregalados e os lábios
pintados de vinho entreabertos. Quis morder cada um deles antes de enfiar a
língua em sua boca. Puta merda, eu só havia beijado a garota duas vezes e
já parecia um viciado! — Estávamos falando de você, acredita?
— Acredito, porque Avalon é louca por mim e não consegue ficar
sem o meu nome na boca — provoquei, vendo os olhos de Valente se
estreitarem para cima de mim.
Maeve riu e colocou as duas canecas de cerveja sobre o balcão,
entregando-as para um casal que estava ali de pé. Eles se afastaram e eu me
sentei na banqueta mais próxima de Avalon.
— Vocês estão namorando, então, isso é normal — disse Maeve,
dando um olhar sorridente para nós dois. — Inclusive, formam um casal
lindo.
Logo percebi que Avalon não havia contado para Maeve sobre o
nosso acordo e sorri mais amplamente, apoiando meus braços no balcão
para poder me inclinar em sua direção.
— Eu concordo — falei, sem tirar os olhos de cima da minh... De
cima de Avalon. — Senti saudades, Valente. — E nem estava mentindo.
Avalon mordeu a pontinha do lábio inferior, me deixando hipnotizado
e dando um olhar rápido para Maeve. Percebi que parecia meio insegura, o
que não era típico dela, pois sabia que sempre tinha uma resposta na ponta
da língua para me dar.
— Também senti saudades — respondeu, dando um passo para
frente.
— Beija logo ele, garota! — Maeve disse de repente, batendo com o
pano de prato na bunda de Avalon. — Não precisa ficar com vergonha, você
sabe que, antes de ser sua chefe, sou sua amiga!
As bochechas de Avalon coraram e eu sorri, resolvendo parar de
provocá-la. Para que voltasse a ficar confortável, tomei apenas as suas mãos
nas minhas e beijei os nós dos seus dedos, observando a forma como
respirou fundo.
— Avalon é um pouco tímida — falei e Maeve concordou com a
cabeça.
— É, eu sei, por isso que vou deixar os pombinhos em paz. Volto
daqui a pouco.
A dona do bar piscou para mim, como se dissesse que era para eu
aproveitar o momento sozinho com Avalon, e eu sorri em agradecimento.
Não que fosse puxar a garota e dar um beijo de desentupir pia na sua boca
— algo que eu queria muito, tinha que confessar —, mas queria mesmo
ficar a sós com ela por um tempinho. Queria fazer um pedido para Avalon e
não podia esperar mais.
— Ela não sabe que o nosso namoro é de mentirinha — Avalon
sussurrou, mesmo que estivéssemos sozinhos ali na área do balcão.
— Eu percebi.
— Achei que... — Ela limpou a garganta e apertou os dedos nos
meus. — Pensei que iria me beijar.
Aquilo me surpreendeu e eu sorri um pouco mais.
— Queria que eu te beijasse, Valente?
Como se tivesse acordado de um transe, Avalon sacudiu a cabeça e
tentou tirar as mãos das minhas, mas não deixei.
— Claro que não.
— Queria, sim. Admita.
— Óbvio que eu não queria. Não seja tão convencido, estrelinha
dourada.
Ela podia mentir o quanto quisesse, mas eu tinha certeza de que
queria, sim, que eu a beijasse. Quase joguei tudo para o alto e segui os meus
instintos, mas resolvi me acalmar. Nem mesmo eu sabia ao certo o que
estava sentindo, não podia confundir Avalon também.
— Quer beber alguma coisa? — perguntou, mas eu sacudi a cabeça,
negando. — Quer comer algo?
Sim, você.
Ah, merda!
Engoli em seco ante o pensamento e sacudi a cabeça com mais força.
Puta que pariu, precisava me controlar!
— Vim até aqui, porque quero te fazer um convite.
— Um convite? — Ela me olhou meio desconfiada.
— Sim. — Parei por um momento, me sentindo um pouco inseguro.
Avalon aceitaria ou acharia que era uma péssima ideia? Eu só descobriria se
perguntasse. — Nós vamos jogar contra o Texas no sábado e eu queria que
você fosse comigo.
— Ah, sim, é claro que vou. — Ela aceitou prontamente, me
deixando surpreso. — Eu posso tentar trocar a minha folga de novo com a
Cindy ou com o Donovan, caso ela não possa me substituir aqui no bar. O
jogo vai começar no mesmo horário de semana passada? Sua irmã também
vai? Eu fico um pouco perdida e Norah acaba me explicando a maior parte
das jogadas.
Claro que Avalon tinha aceitado. Ela não entendeu onde o jogo
aconteceria.
— Minha irmã não vai, porque, dessa vez, não jogaremos em casa.
— Valente me olhou sem entender e eu esclareci: — Vamos jogar no Texas.
Avalon arregalou os olhos e abriu e fechou a boca duas vezes antes
de responder:
— Você quer que eu vá com você para o Texas?
— Isso mesmo.
— Mas... É permitido levar namoradas? Eu nem tenho dinheiro para
fazer uma viagem dessas.
— Você não precisaria arcar com nada, eu vou pagar por tudo. Sobre
levar namoradas, você não vai oficialmente com o time, viajará sozinha, só
que vou conseguir uma suíte para você no mesmo hotel em que vamos ficar.
Talvez o treinador Coben fosse me matar, caso descobrisse, mas
valeria a pena.
— Por que você quer que eu vá?
— Porque... Eu não quero ficar sozinho quando o jogo terminar.
Tenho medo de... sabe, acontecer aquilo comigo de novo.
Era ruim admitir aquilo em voz alta, mas eu estava com receio de
surtar mais uma vez. De alguma forma, Avalon havia se tornado um porto
seguro para mim desde que bati em sua porta completamente bêbado e eu
não queria abrir mão disso. Se ela estivesse ao meu lado, eu me sentiria
mais confiante para não deixar que as memórias surgissem.
Uma parte minha ficou esperando que Avalon dissesse que ela não
era psicóloga ou qualquer coisa assim para lidar com as minhas merdas —
até porque, foi a primeira coisa que eu disse para mim mesmo quando a
ideia surgiu enquanto eu tomava banho no vestiário do centro de
treinamento —, mas ainda mantive a esperança de que ela fosse aceitar.
— Eu só preciso confirmar se a mãe da amiga de Aubrey não se
importa de ficar com ela no final de semana. Se ela confirmar que minha
irmã pode dormir lá, eu vou com você.
Não havia nenhum tipo de julgamento nos olhos límpidos de Valente
e o nó em meu peito começou gradativamente a diminuir. Grato, voltei a
beijar as suas mãos e me segurei muito para não tomar a sua boca na minha.
— Obrigado, Valente.
— Não precisa agradecer, estrelinha dourada.
Os torcedores do Texas estavam enfurecidos por estarem perdendo
para o Crimson Tide. Eu sentia as arquibancadas tremerem enquanto eles
pulavam e quase rugiam feito animais. Podia imaginar como devia ser
horrível perder dentro de casa, mas não conseguia tirar o sorriso do rosto
enquanto via o ataque do Crimson desarmar a defesa deles e marcar um
novo touchdown.
O Crimson estava vencendo com trinta pontos contra os dezenove do
Texas e o relógio deixava bem claro que o time adversário não teria mais
qualquer chance de virar aquele placar tão desigual. O fim da partida
coroou mais uma vitória de Logan ao lado do seu time e eu avancei em sua
direção quando ele apareceu correndo em meu campo de visão, vindo para
mais perto de mim.
Daquela vez, eu já estava preparada para o beijo. Pelo menos, foi o
que pensei, mas logo percebi que estava sendo muito inocente. Eu nunca
estaria preparada o suficiente para o ímpeto com o qual Logan me beijava
após uma partida. Ele parecia transferir toda a sua euforia para mim
enquanto me abraçava e enfiava a língua em minha boca, me deixando mole
em seus braços e sem qualquer capacidade de formar um pensamento
coerente.
— Vocês arrasaram, estrelinha dourada — me esforcei para falar
quando ele deixou o meu lábio inferior escapar do cativeiro formado pelos
seus dentes.
Cada pelo do meu corpo ficou arrepiado e eu senti a minha calcinha
ficar molhada. Decidi não lutar contra aquilo. Meu corpo jamais seria
indiferente a um beijo como aquele, eu não poderia cobrar muito de mim
mesma naquele momento.
Senti que Logan falaria alguma coisa, mas alguém da comissão
técnica do time começou a gritar o seu nome e o jogador precisou me soltar.
Antes de se afastar completamente, ele acabou sussurrando em meu ouvido:
— Amo ver minha camisa em você. Fica gostosa demais, Valente.
Eu fiquei estática que nem uma idiota enquanto Logan corria de volta
para o centro do campo para encontrar com o time. Sabia que deveria
acompanhar a multidão até a saída do estádio e pedir um Uber diretamente
para o hotel, mas senti medo de que minhas pernas não conseguissem
suportar o peso do meu corpo, caso eu me movesse — e ainda havia o peso
da umidade em minha calcinha.
Boceta traidora!
Respirei fundo e coloquei a minha cabeça no lugar, começando a
acompanhar as pessoas para fora do estádio. Por sorte, os torcedores
enfurecidos do Texas se acalmaram um pouco mais e eu consegui passar
longe de um ou dois grupinhos que pareciam loucos para arrumar confusão.
Seguindo a recomendação de Logan, pedi um Uber e fui direto para o hotel,
pois, segundo o jogador, eles demorariam um pouco mais para deixar o
estádio e não seria seguro ficar ali sozinha.
Assim que entrei na minha suíte, liguei para Aubrey e me certifiquei
de que estava tudo bem. Eu confiava em deixar que ela passasse o final de
semana na casa de Hannah, porque a mãe da menina era solteira, portanto,
não havia homem algum para colocar a segurança da minha irmã em risco.
Aub comentou que tinha visto o jogo e ficou chateada quando eu disse que
não estava com Logan, pois queria parabenizá-lo. Por fim, agradeci mais
uma vez a mãe da sua amiguinha por ficar com ela naquela noite e fui direto
tomar um banho.
O voo para o Texas me deixou ansiosa durante toda a manhã. Eu
nunca havia entrado em um avião antes e fazer isso sozinha me deixou
apreensiva, mas até que curti a viagem. Agora, o que estava me deixando
com um frio na barriga era a expectativa idiota de ver Logan mais uma vez.
Será que conseguiria falar com ele pessoalmente ainda hoje? E por que eu
estava tão ansiosa para isso?
— Avalon Banks! — Chamei a minha atenção em frente ao espelho
do banheiro bonito enquanto me secava, mas acabei rindo da minha própria
cara. — Você está muito ferrada, garota!
Eu vinha fazendo — e sentindo — coisas por Logan que acreditei
que nunca mais sentiria por ninguém, mas o que me assustava de verdade,
não era nem o fato de estar mexida pelo quarterback. Logan era um homem
lindo, charmoso, com um sorriso safado que me desestabilizava e um olhar
intenso que me desarmava. Ter uma quedinha por ele seria considerado
normal, certo? Estávamos convivendo diariamente, compartilhando toques,
sorrisos e, o principal e mais preocupante de todos, beijos. Beijos que não
deveriam ser nada mais do que parte do nosso acordo.
Então, ficar sensibilizada, de certa forma, não me surpreendia. Nem o
fato de o meu corpo corresponder, pois atração física era algo que não dava
para controlar. O que me assustava no meio de tudo isso, era a intensidade e
a rapidez com a qual eu estava me envolvendo com Logan Miller III.
Eu esperava ter algum tipo de tolerância para os seus toques e beijos,
não me sentir tão brutalmente atraída por cada um deles. Achei que nossa
convivência se tornaria mais fácil, porque nos acostumaríamos um com o
outro, não que eu fosse me sentir à vontade ao seu lado e que riria das
besteiras que saíam da sua boca.
Cheguei a acreditar que precisaria acompanhar Logan em um dos
jogos fora de casa, apenas porque, para o mundo, eu era a sua namorada.
Nunca pensei que o quarterback me chamaria, porque confiava em mim e
acreditava que, tendo a minha presença por perto, ele não teria uma outra
crise de ansiedade e acabaria recorrendo à bebida de novo.
Eram aquelas pequenas coisas que vinham me afetando muito mais
do que deveriam. Junto com elas, vinha o medo de acabar me envolvendo
de uma maneira irreversível e o receio do que isso resultaria no final do
nosso acordo. Eu sairia apaixonada que nem uma idiota no final daqueles
dois meses? Ou pior, ficaria com o coração partido?
Logan deixou bem claro que não queria um relacionamento e eu
estava cem por cento de acordo com ele. Meu coração não podia se
envolver naquele trâmite todo, porque nós dois sabíamos que não tínhamos
sorte no quesito romântico e sempre quebrávamos a cara. Achei que a
última experiência pela qual passamos tinha sido o estopim para que o
órgão idiota parasse de vez de se iludir, mas, talvez, eu estivesse enganada.
Passei a próxima hora jogada na cama e ignorando a curiosidade de
entrar no Twitter e ver se alguém havia gravado o novo beijo que Logan me
deu. Para me distrair, fiz login na minha conta da Netflix e fiquei zapeando
pelas inúmeras opções, até ouvir o meu celular apitar com uma notificação
de mensagem. Meu coração deu uma acelerada idiota quando identifiquei
que era Logan.

Babaca de Uniforme: Se eu levar hambúrguer e milk-shake, você


me deixa bater na porta do seu quarto? Leve em consideração que eu estou
sendo educado e pedindo, ao contrário de você, que simplesmente invadiu
os meus aposentos que nem uma fã desesperada.

Era um fato: Logan nunca se esqueceria daquela porcaria.

Eu: Não sei. O milk-shake é de morango com Nutella?


Babaca de Uniforme: Esse é o seu sabor preferido?
Eu: Sim.
Babaca de Uniforme: Ok, anotado. Chego aí em poucos minutos.
Eu: Não me lembro de ter permitido nada, QB.
Babaca de Uniforme: Você não me deixaria trancado, sozinho e
solitário do lado de fora, Valente. Sei que aí dentro desses peitos bonitos,
tem um coração.
Eu: Você nunca viu os meus peitos, não tem como saber se são
bonitos ou não.
Babaca de Uniforme: Nunca vi, mas tenho criatividade de sobra
para imaginar. Tenho certeza de que eles são lindos, assim como a dona.

Afundei no colchão, sentindo que eu poderia me tornar uma poça, tal


qual um sorvete sob o sol. Nunca me senti tão brega e tão excitada na vida.

Babaca de Uniforme: Te deixei sem palavras?


Eu: Lógico que não!
Babaca de Uniforme: Não acredito que te deixei sem palavras,
Valente! Saiba que o meu arsenal de putaria é enorme, posso ficar a noite
inteira sussurrando cada palavra no seu ouvido.
Eu: Bom saber, vou deixar você mofando do lado de fora do meu
quarto.
Babaca de Uniforme: Hahaha, vou fingir que acredito! Agora é
sério, daqui a pouco estou batendo aí. Beijos e me espere nua.

Ele não podia estar falando sério. Era lógico que Logan estava apenas
brincando com a minha cara. Um pouco nervosa, fui até o banheiro e
molhei a nuca para ver se o calor que se alastrava sobre a minha pele
diminuía um pouco, bem como a vermelhidão em minhas bochechas. Não
queria dar o braço a torcer e dar razão ao que Logan disse para Maeve, mas,
sim, eu era um pouco tímida, pelo menos no que dizia respeito a toques,
beijos e até mesmo sexo. Estava longe de ser virgem, mas minhas
experiências sexuais não foram boas e eu sentia que era um pouco atrasada
naquele aspecto.
Se Logan soltasse aquelas piadinhas sexuais na minha frente, como
eu iria reagir? Na verdade, como eu deveria reagir? Não sabia como
incentivar aquele tipo de coisa e tinha medo de ser grossa demais ao
responder. Também não tinha certeza se eu deveria incentivar, sendo que,
uma hora atrás, eu estava justamente pensando que não poderia me
envolver com Logan.
Mas sexo e sentimentos eram coisas diferentes, certo? Talvez, eu
pudesse me agarrar a coisa física e deixar o meu coração de fora do jogo.
— Não foi você que colocou o sexo como um item proibido, Avalon?
— sussurrei para mim mesma, dando um tapa em minha testa. — O que
está acontecendo com você?
Aceitar vir para o Texas foi um erro. No Alabama, pelo menos, eu
tinha o bar para me refugiar, tinha a minha irmã para cuidar e um monte de
matéria para estudar. Ali, naquela suíte de hotel, a muitos quilômetros de
distância da minha casa, eu estava com a cabeça vazia e o corpo com
hormônios demais em ebulição para pensar com clareza.
Estava decidida a mandar uma mensagem para Logan, avisando que
eu estava cansada da viagem e que iria dormir, quando ouvi o barulho da
campainha soar pela suíte. Um arrepio desceu pela minha coluna, me
fazendo morder o lábio com força. Percebi que, se eu recuasse e me
escondesse, acabaria agindo da forma que mais odiava no mundo: com
covardia. Já tinha passado por muita coisa para não ter coragem de passar
apenas algumas horas ao lado de Logan. Eu daria conta.
Saí do banheiro e sequei as palmas das mãos levemente suadas no
meu short do pijama. Não esperava, de fato, pela visita do jogador, mas
pelo menos o conjunto não era indecente. O cetim preto moldava a minha
bunda e a curva dos meus seios, mas não deixava nada de mais à mostra.
Respirei fundo e abri a porta, dando de cara com Logan segurando dois
sacos de papel e ostentando um sorriso no rosto.
— Por um momento, achei que realmente me deixaria aqui fora.
— Eu deveria — respondi, encontrando um pouco da Avalon durona
dentro de mim, só para disfarçar que eu estava nervosa. Logan abriu ainda
mais o sorriso e entrou na suíte. — Mas, como estou com fome, pensei
melhor e decidi te receber.
— Se não consigo te conquistar com a minha personalidade
encantadora, farei isso pelo estômago.
— E por que você quer me conquistar, estrelinha dourada?
Logan pousou os sacos com o lanche sobre a mesa no canto da suíte
e se virou para mim, me olhando de cima a baixo com uma lentidão que me
deixou com os nervos agitados. Realmente, meu corpo estava decidido a ser
um traidor naquela noite. Sem conseguir me conter, acabei olhando-o
também, notando como estava bonito usando uma regata branca e uma
calça de moletom azul-escura.
— Quero conquistar a sua amizade — disse com a voz levemente
rouca e com um olhar que parecia falar mais do que as palavras que
escaparam da sua boca. — Porque gosto de você, Valente.
— Já sou sua amiga, Logan — confidenciei, me aproximando dele.
Sem conseguir manter mais daquele contato visual intenso, mexi dentro do
saco de papel e peguei um pouco de batata frita. — Achei que isso estivesse
claro.
— Você nunca disse com todas as letras.
— Você gosta de me ouvir falar o óbvio, não é? — Eu ri, vendo-o
concordar com a cabeça e me dar um novo sorriso. — De alguma forma,
você fez com que os meus sentimentos mudassem. Ainda é um babaca
irritante? Sim, mas é um babaca que eu gosto.
— Porra, Valente! — Logan me puxou em direção ao seu peito pela
cintura, me fazendo arfar de susto. Precisei apoiar minhas mãos em seus
ombros largos para poder manter o equilíbrio. — Você não pode falar esse
tipo de coisa e achar que eu vou ficar indiferente. Esse babaca aqui — ele
apontou para si mesmo com o polegar, antes de voltar a pousar a mão
grande em minha cintura. — está muito feliz por saber que se infiltrou
nesse seu coraçãozinho de pedra.
— Não foi isso o que eu disse...
— Mas foi o que eu entendi, é o que importa. — Seu sorriso
irritantemente bonito desapareceu das minhas vistas quando o jogador se
inclinou e deixou um beijo longo em minha bochecha, perto demais dos
meus lábios. — Obrigado por estar aqui, Valente.
— Você já me agradeceu — murmurei, sentindo o meu coração
disparar.
Logan tocou a testa na minha e percebi que já não sorria mais. Ele
não parecia triste, pelo contrário. Parecia quase emocionado, apesar de eu
não conseguir olhar em seus olhos por estar com o rosto praticamente
colado ao meu.
— Nunca será o suficiente — sussurrou, tocando o nariz levemente
no meu. Senti meus olhos ficarem pesados, tão pesados, que precisei fechá-
los. Tudo aquilo era... intenso demais. Ao ponto de eu quase não conseguir
respirar. — O time não entendeu o motivo de você ter vindo para cá, o
treinador meio que me comeu no esporro por causa disso, achando que eu
não iria me concentrar antes do jogo por ter a sua presença aqui, mas eu
ignorei todos eles, porque sabia que ter você ao meu lado hoje era o que me
daria forças para fazer um bom jogo e não cair em tentação depois. Ainda
não é fácil, Valente. Eu sinto que não mereço comemorar mais essa vitória,
porque não é justo eu estar feliz depois de ter perdido a minha mãe, mas eu
estou tentando. Tenho certeza de que era isso que ela iria querer.
— Não, Logan, é isso que ela quer — afirmei, tocando em sua nuca e
em seus cabelos. Não tive coragem de abrir os olhos e algo me dizia que os
dele estavam fechados também. — Sua mãe continua dentro de você. Sente
isso? Sente o amor dela dentro do seu coração? — Senti quando concordou
com a cabeça, seu nariz tocando o meu para cima e depois para baixo. —
Isso é tudo o que importa. Eu sei que a distância física machuca, sei que é
difícil aceitar que nunca mais vamos ver aquela pessoa que nós tanto
amamos, mas quando começamos a compreender que os sentimentos nunca
morrem, a dor se torna mais suportável e o medo e a raiva começam a
desaparecer lentamente.
Logan não disse nada, apenas respirou fundo, como se estivesse
contendo as lágrimas, e me abraçou bem forte pela cintura. Eu sentia todo o
seu corpo forte colado ao meu, sua respiração ainda agitada em meu rosto e
sua boca muito perto da minha. Eu o queria ainda mais próximo de mim.
Naquele momento, o meu próprio medo desapareceu, qualquer dúvida que
eu tinha antes, sumiu completamente, e um ímpeto que surgiu do fundo do
meu peito, me fez acabar completamente com aqueles ínfimos centímetros
que nos separavam.
Pela primeira vez, eu beijei a boca de Logan.
Na verdade, pela primeira vez, eu tomei a decisão de beijar a boca de
um homem.
A constatação foi como um murro diretamente no meu peito. Por um
segundo, eu quase vacilei, mas o gemido rouco e a necessidade com a qual
Logan me agarrou, me fizeram seguir em frente. Seus braços fortes
impulsionaram o meu corpo e, assim como aquela primeira vez no campo
de futebol, eu cerquei a sua cintura estreita com as minhas pernas, enquanto
nossas línguas se encontravam com um desespero que eu nunca senti antes.
Era para ter sido um beijo calmo e emocionante, mas, quando me dei
conta, estava sendo um beijo intenso e dilacerante. Era como eu me sentia.
Dilacerada por Logan, mas de uma forma boa. Não havia medo ou qualquer
ameaça, não havia voz alguma no fundo da minha mente, me alertando para
fugir, deixando claro que aquele era um sentimento perigoso, porque eu
confiava em Logan. Contra todas as possibilidades, eu aprendi a confiar
naquele garoto irritante, que me provocava, me tirava do sério, mas que
havia sido o único a me dar a segurança que eu sequer sabia que precisava.
Senti Logan caminhar pelo quarto comigo ainda sobre o seu colo e se
ajoelhar na cama, até colocar o meu corpo sobre o colchão. Os travesseiros
tocaram a parte de trás da minha cabeça e o seu corpo pesou sobre o meu
quando o jogador se deitou sobre mim. A emoção ainda me deixava com
um nó na garganta, mas o gemido baixo que soltei quando Logan mordeu o
meu lábio inferior começou a dissipá-lo. Eu pulsava. Sentia os meus
músculos estremecerem enquanto as mãos pesadas e masculinas
desenhavam a curva da minha cintura e subiam em direção às minhas
costelas.
— Valente... — Logan sussurrou, parando por um momento e
tocando a testa na minha. Não quis abrir os olhos. Senti medo de que aquela
magia fosse acabar, caso o fizesse. — Olhe para mim.
— Não.
— Por favor.
Havia uma súplica dolorosa no tom de Logan e eu não pude mais
recusar. Abri os olhos devagar, encarando os dele quando distanciou um
pouco o rosto do meu.
— O que estamos fazendo? — perguntou e eu sacudi a cabeça,
querendo rir. Estávamos perdidos.
Puta merda, estávamos completamente perdidos.
— Eu não sei. — Fui sincera e Logan soltou um suspiro de alívio
quando me viu sorrir. Toquei em seus braços fortes e subi até o seu pescoço,
sentindo a veia grossa pulsar desesperadamente ao ritmo do seu coração. —
Eu só quero... Só quero viver isso, Logan. Quero viver o agora.
— Quer transar comigo?
— Por que você tem que ser tão explícito?
Ele deu de ombros e riu, tocando a testa na minha.
— Não sei, eu só... Caramba, eu já fiz isso inúmeras vezes, mas
parece que essa é a primeira.
— Obrigada por esfregar na minha cara a sua vida sexual ativa,
Logan terceiro.
— Não! — Ele levantou a cabeça e arregalou os olhos, parecendo
apavorado. — Não foi o que eu quis dizer, eu... Droga, Valente, estou
nervoso! Viu como eu só falo merda? Eu sou um tapado mesmo!
Logan saiu de cima de mim e se deitou ao meu lado, colocando o
braço sobre os olhos. Isso me deu tempo para olhar para todo o seu corpo e,
bem, para o seu pau muito duro sob a calça de moletom. Minha boceta
piscou de forma meio desesperada, quase me matando de vergonha. Se ela
pudesse gritar, estaria implorando para que o quarterback a fodesse.
— Logan... — Toquei em seu braço, mas ele sacudiu a cabeça.
— A gente vai estragar tudo se fizer isso, não é?
— Nós não precisamos fazer nada.
— Mas eu quero. — Ele tirou o braço da frente dos olhos e desceu a
mão até a ereção, fazendo uma careta ao ajeitar o membro enrijecido. —
Merda, eu quero pra caralho.
— Talvez a gente devesse comer.
— Acho que eu deveria comer, sim. Deveria comer você —
murmurou e eu ri. Meu Deus, que caos era aquele que estava acontecendo
naquele quarto de hotel? Logan sacudiu a cabeça e riu também. —
Desculpa. Eu sou um idiota.
— Sim, você é — concordei, tocando em seu rosto. — Mas é um
idiota que me deixou excitada. — Droga, eu podia sentir o meu rosto
prestes a pegar fogo.
— Você não pode falar esse tipo de coisa, Valente. Não agora, por
favor.
— Só não queria que você pensasse que está sozinho nessa — falei,
olhando rapidamente para o seu pau ainda duro debaixo da sua mão. Logan
estava segurando o pobre coitado como se ele fosse saltar de dentro da calça
a qualquer momento. — Vou pegar o lanche.
Levantei-me da cama com as pernas bambas, ainda tentando entender
o que havia acabado de acontecer entre nós dois. Esperava que o gelado do
milk-shake e a sensação de barriga cheia, fizessem com que o clima entre
nós dois voltasse ao normal.
Eu era um idiota!
Puta que pariu, eu era o maior idiota de todos os tempos!
Estava de pau duro, sentindo as pernas trêmulas como se tivesse
acabado de sair do campo, e com uma vontade imensa de bater com a
minha cabeça na parede.
Por que eu fui abrir a minha boca e falar que eu já tinha trepado
inúmeras vezes? Porra, Logan! Ok, Valente sabia que eu não era virgem,
mas que garota gostaria de ouvir isso da boca de um homem? Se fosse
Avalon me falando aquela merda, eu teria brochado com toda certeza.
Com que cara eu tocaria nela de novo agora?
Eu queria me matar.
Queria que o colchão formasse um vácuo e me engolisse para
sempre.
— Milk-shake de chocolate? Não achei que você fosse tão previsível.
Arrisquei abrir os olhos e encontrei Avalon caminhando em minha
direção, segurando o saco de papel com o meu lanche em uma mão e o
milk-shake na outra. Decidi parar de ficar lamentando a minha gafe e me
sentei na cama, pegando os itens da sua mão. Ela logo retornou à mesa para
pegar a sua parte e voltou para a cama, se sentando ao meu lado.
— Desculpa por eu ter falado aquilo, Valente, juro que...
— Logan, está tudo bem. Eu não fiquei chateada. — Pude ver em
seus olhos que estava sendo sincera e fiquei um pouco mais aliviado. —
Você não me deve nada e é um homem solteiro, apesar da nossa mentirinha.
Dei uma mordida no hambúrguer, pensando em ser sincero com ela
enquanto mastigava e engolia.
— Eu sei disso, mas, se fosse você me falando aquilo, eu ficaria meio
puto.
— Por quê?
— Não sei, eu apenas ficaria.
Avalon sorriu com o canudo do milk-shake entre os lábios, me
fazendo imaginar como aquela boca bonita ficaria maravilhosa no meu pau.
O filho da mãe, que parecia se recusar a amolecer, deu uma fisgada
dolorosa dentro da minha calça.
— Está me dizendo que sente ciúmes de mim, Logan?
— Não é ciúmes, é só... Não sei ao certo. — Senti-me um idiota de
marca maior. Eu sequer sabia explicar como me sentia. — Não gosto de
pensar que algum babaca já beijou a sua boca.
— Você não acha que eu sou virgem, acha?
— Apesar de não estar escrito na sua testa, eu acredito que não seja.
— Não sou mesmo — respondeu e eu fiquei sem saber o que dizer.
Que bom para ela. E para o idiota que tirou a sua virgindade. Por que aquilo
estava me incomodando? — Mas também não sou muito experiente no
quesito sexual. Acho que é por isso que eu nunca senti vontade de transar
com ninguém desde que terminei com o meu ex.
Era a primeira vez que Avalon me contava algo realmente pessoal
sobre a sua vida e aquilo me deixou animado. Valente estava começando a
confiar em mim. Era bom saber que nossa relação de amizade estava
tomando novas proporções.
— Foi um relacionamento curto?
— Durou quase três anos.
Conhecia casais que se separaram com um mês de namoro, então,
quase três anos, a meu ver, era tempo pra caramba. Quis saber mais sobre
aquela história, perguntar o motivo do término, mas me segurei. Conhecia
Valente o suficiente para saber que ela não gostava de ser pressionada e eu
queria esperar o seu tempo para que me contasse os detalhes da sua vida
antes de se mudar para o Alabama.
— E o sexo com ele era... estranho — ela continuou.
— Estranho como?
— Ele foi o meu único parceiro, então, não sei ao certo como
explicar isso, mas eu sentia que era meio mecânico. Ele só fazia a parte dele
e pronto, não se preocupava muito comigo.
— Desculpa falar isso, mas ele era um filho da puta então, Valente.
Para a minha surpresa, Avalon riu.
— Ah, isso ele era com certeza.
— Sexo tem que ser bom para todos os envolvidos. Não faz o menor
sentido um lado sentir prazer e o outro não. Ele te deu um orgasmo alguma
vez na vida?
Suas bochechas ficaram coradas, mas Avalon respondeu mesmo
assim:
— Não. Hoje, eu me sinto uma idiota ao pensar sobre isso, porque
agora alcanço o orgasmo sozinha e sei como é, mas, quando namorei com
ele, eu era inexperiente e acreditei que sexo era apenas aquilo.
— Você não é idiota, ele que é um babaca — afirmei, vendo-a
terminar de comer o seu hambúrguer. Eu já tinha devorado o meu segundos
atrás. — Estou falando sério, Valente. Você mesmo disse que era
inexperiente, então, não tem que se culpar por ter confiado na forma como
ele conduzia o sexo entre vocês.
— Eu me culpo sobre muitas coisas em relação a ele — disse
baixinho, desviando os olhos dos meus. — Hoje, o meu maior medo, é que
minha irmã se envolva com algum homem como ele no futuro.
— Ele te machucou? — Avalon apenas concordou com a cabeça e eu
senti vontade de esmurrar alguma coisa. A cara do filho da puta do seu ex,
para ser mais exato. Como não podia, me controlei e coloquei as
embalagens vazias dos nossos lanches no chão, para poder me aproximar
dela e pegar a sua mão. — Aubrey não vai se envolver com nenhum idiota
assim, porque estaremos ao lado dela para protegê-la, ok? Se algum filho da
puta ousar tocar em um fio de cabelo dela, eu vou acabar com a raça dele.
— Você vai, é? — Avalon sorriu, mas pude perceber que estava um
pouco emocionada.
— Claro que sim. Na verdade, acredito que nem precisarei partir para
a violência. Eu protejo muito bem a Norah, nenhum idiota ousa chegar
perto dela na faculdade.
— Foi muito bom você ter tocado nesse assunto! — Seus olhos se
estreitaram para cima de mim e eu senti no fundo do meu ser que tomaria
algum esporro. — Não é certo a forma como você age com a sua irmã,
Logan! Precisa parar de tentar afastar todos os homens do caminho dela.
Norah é adulta, se não percebeu, merece encontrar algum cara bacana e
iniciar um relacionamento.
— Blá-blá-blá, não vou dar ouvidos a isso — falei, deixando as suas
mãos para poder voltar a me deitar na cama. Avalon deu um soquinho em
minha costela e eu fiz uma careta. — Eu conheço os homens, Valente.
Nenhum deles presta!
— Isso inclui você, então?
— Talvez, apesar de eu nunca ter enganado qualquer garota com
quem já me envolvi. O problema, é que são poucos os homens que agem
como eu. A maioria parece sentir algum tipo de prazer mórbido em iludir
uma garota... Não quero que minha irmã passe por isso.
— Eu entendo que você quer protegê-la, assim como eu quero
proteger a minha irmã, mas precisa entender que o máximo que pode fazer
por Norah, é aconselhá-la para que não se envolva com algum idiota. Não
pode proibir a sua irmã de viver, Logan!
Esfreguei os olhos com as duas mãos, quase sentindo dor de cabeça.
Eu sabia que Avalon tinha razão, mas era difícil simplesmente parar de agir
daquela maneira. Norah era minha irmãzinha, porra! Como eu iria respirar
em paz, sabendo que poderia estar conhecendo algum babaca por aí,
correndo o risco de ter o coração partido? Senti o colchão afundar um
pouco ao meu lado e retesei de leve quando Avalon tocou em meu peito.
— Você é um bom irmão, Logan, e Norah te ama muito. Ela vai
saber te ouvir, caso você perceba que ela pode estar se envolvendo em
alguma furada. Se eu tivesse um irmão mais velho como você, com certeza
o escutaria.
— Deus me livre ser seu irmão, Valente!
— Nossa, acha que sou uma irmã ruim? — Ela riu, sem entender
aonde eu queria chegar.
— Claro que não, sei que você é uma irmã maravilhosa. O que estou
querendo dizer, é que eu jamais ia querer ser seu irmão, porque seria muito
doentio ficar de pau duro por sua causa.
Ela fez uma careta enquanto ria, fazendo o meu coração acelerar de
forma esquisita no peito.
— É, tem razão.
— Geralmente, eu tenho mesmo.
— Não seja um idiota, estrelinha dourada. — Seu dedo indicador
tocou a ponta do meu nariz, antes de ela se afastar e tocar no interruptor ao
lado da cama. Apenas a luz do abajur ficou acesa e a tela da TV. — Vamos
assistir um filme?
— Está cansada de ouvir a minha voz?
— Um pouco — brincou, me entregando o controle. — Vou confiar
no seu gosto, Sr. Amo Filmes de Romance.
Animei-me e acabei escolhendo uma comédia romântica chamada
Casa Comigo, estrelada por Amy Adams e Matthew Goode. Havia assistido
apenas uma vez, anos atrás, e acreditava que Avalon iria gostar. Ela se
acomodou ao meu lado e resolvi aproveitar o momento para poder tocá-la
com um pouco mais de intimidade.
— Vem aqui, Valente — pedi, estendendo o meu braço por baixo da
sua cabeça para que ela se deitasse sobre ele e ficasse de conchinha comigo.
Pensei que Avalon iria retrucar, mas acho que realmente avançamos
muitos passos naquela noite, pois ela se acomodou sem reclamar. Nunca
pensei que admitiria isso, mas aquela posição era perfeita — não sabia se
continuaria a pensar assim depois que meu braço ficasse dormente. Eu
podia sentir a parte de trás do corpo de Avalon sem qualquer impedimento,
enquanto passava meu braço livre pela sua cintura e respirava o cheiro
suave da sua pele na região do pescoço. A parte ruim, era a luta para não
ficar de pau duro, mas eu confiava que venceríamos aquela batalha.
Ri baixinho quando algo cruzou a minha mente. Logan Miller III de
conchinha com uma garota, sem nem ao menos ter transado com ela.
Aquilo era inacreditável. James e Benjamin iam gargalhar da minha cara
quando eu contasse.
— O filme nem começou direito e você já está rindo? Francamente,
Logan — Avalon comentou baixinho, mas senti um tom de risada em sua
voz.
Decidi deixar que ela pensasse que eu estava achando graça do filme,
porque não queria dar outra bola fora com a ruiva depois da besteira que
falei momentos atrás.
— Eu gosto de comédia romântica. Acostume-se com isso, Valente.
— Não sei se vou conseguir me acostumar.
— Eu sei que tenho um estereótipo...
— Acho bonitinho o fato de você ter consciência. — Ela riu mais
alto quando subi minha mão pela sua barriga e fiz cócegas em suas costelas.
— Para com isso! Desculpa, eu vou deixar você falar, juro!
— Continuando... — Voltei a tocar em sua barriga, sentindo seus
músculos ainda trêmulos. — Eu sei que tenho um estereótipo, mas vou
muito além do que as pessoas acham que sabem sobre mim.
— Eu percebi. — Avalon virou um pouco o rosto em minha direção e
pude observar o seu sorriso bonito sob a luz fraca do abajur. — Você é
legalzinho.
— Legalzinho? Ah, não. Eu sei que você pode me fazer um elogio
melhor, Valente.
— Hm, deixa eu pensar...
— Não demore muito, ou vou sair daqui com o coração partido.
Valente tocou de leve a minha mão sobre a sua barriga, subindo com
as pontas dos dedos pelo meu pulso até o meu braço. A carícia leve me
deixou todo arrepiado.
— Você é muito intenso, Logan. Gosto de observar o seu jeito e
venho fazendo isso desde que a gente se conheceu. Você é muito leal aos
seus amigos, carinhoso com a sua irmã, preocupado com as pessoas a sua
volta, inclusive comigo e com a minha irmã. É muito talentoso e dedicado,
protetor e corajoso... E agora eu vou parar de falar, porque acho que já
amaciei demais o seu ego.
Precisei respirar fundo, porque tive a sensação de que o meu coração
ia parar na garganta. O filho da mãe estava batendo tão rápido, que cheguei
a acreditar que ele pensava que estávamos em campo, no meio da
adrenalina do jogo. Avalon me deu um sorriso um pouco sem graça, talvez
se dando conta de que havia falado demais, e voltou a olhar para a TV, mas
eu puxei o seu rosto na direção do meu para que voltasse a encarar os meus
olhos.
— Valente?
— Sim?
— Eu preciso te beijar. Preciso te beijar agora mesmo.
Ela arfou e o ar quente que escapou da sua boca tocou a minha
bochecha.
— Então me beija.
Sabia que depois do que havia acontecido momentos antes entre nós
dois, eu deveria me controlar e apenas assistir ao filme ao lado dela, mas
não pude mais segurar o desejo que Valente fez transbordar em meu sangue
depois de ouvir tudo aquilo que me disse, por isso, sequer cogitei hesitar.
Simplesmente colei os meus lábios nos dela, procurando a sua língua com a
minha e sentindo o meu pau endurecer de novo ao ouvir o seu gemido
baixinho de encontro a minha boca.
Minha mente me alertou para a nossa conversa e o seu desabafo
sobre a forma como o filho da puta do seu ex-namorado a negligenciava
durante o sexo, por isso, não me movi sobre o seu corpo ou insinuei que iria
despi-la. Tendo o controle do beijo e sentindo a sua respiração arfante, desci
minha mão do seu rosto e contornei de leve os seios por cima do tecido liso
do seu pijama, sentindo na ponta do meu polegar o mamilo teso. Avalon
gemeu mais alto e tentou se virar de frente para mim, mas enrosquei minhas
pernas nas dela e a deixei na mesma posição, apenas com o rosto virado
minha direção, e mordi de leve o seu lábio inferior para poder seguir para o
seu pescoço.
— Quero ir devagar com você, Valente — sussurrei, prendendo o
lóbulo da sua orelha entre os meus dentes. Ela estremeceu, roçando a bunda
gostosa no meu pau e me arrancando um gemido. — Confia em mim?
Era importante que sua resposta fosse positiva, porque, se Avalon
hesitasse, eu pararia naquele momento. Algo me dizia que aquele babaca
nunca se importou com o que ela queria e eu jamais agiria como ele.
— Confio. — A certeza em sua voz entrecortada fez com que o meu
pau babasse de encontro ao tecido da minha calça. Senti tanto tesão, que
pensei que iria explodir.
Graças a Deus eu era bem mais alto do que Avalon, assim, fiquei na
altura perfeita para voltar a beijar a sua boca sem que ela precisasse ficar
com o rosto muito virado em minha direção. Dei uma utilidade perfeita para
o braço que estava debaixo da sua nuca, usando a mão para tocar de leve
em seus seios por cima da blusa, enquanto a outra, passeava pela curva
sensual da sua cintura até o quadril. Avalon gemeu quando voltei a tocar em
sua barriga, erguendo apenas um pouco a barra da sua blusa para poder
tocar a sua pele arrepiada.
Eu queria deixá-la nua, queria ver em detalhes cada cantinho do seu
corpo, decorar cada marquinha, cada pinta, tocar em seus seios e puxar os
mamilos, explorar a sua pele com a minha boca e chupar a sua boceta, mas
não menti quando disse que iria devagar. Queria engolir Avalon, mas, ao
mesmo tempo, queria conquistá-la aos poucos.
Já havia feito sexo desenfreado durante toda a minha vida e era
sempre a mesma coisa. Cair na cama — quando havia uma por perto —,
ficar pelado, chupar, ser chupado e, então, meter de verdade. Era gostoso,
mas não era aquilo ali. Não era sentir o gosto de Avalon profundamente,
perder o fôlego em meio ao beijo e parar por uns segundos para poder
começar tudo de novo, sentir o tremor do seu corpo com o meu toque em
seus seios, apertar a sua cintura nua entre os meus dedos, sentir sua pele
arrepiada, quase enlouquecer de desejo com a sua bunda roçando em meu
pau devagar, me fazendo melar pra caralho o tecido da calça.
Não me lembrava de já ter curtido algo assim, nem mesmo quando
era adolescente. Provavelmente, Avalon também nunca vivenciou algo
igual, então, aquela seria uma primeira vez para nós dois, de certa forma.
— Diga-me até onde eu posso ir — sussurrei de encontro a sua boca.
Avalon lambeu meu lábio inferior devagar, abrindo os olhos pesados
de desejo para me olhar. Sua mão tocou a minha por cima da sua cintura e
um arquejo deixou a sua boca antes de ela falar.
— Quero que me toque no lugar em que quiser.
Boceta.
Foi a palavra que brilhou em minha mente como se fosse a porra de
um letreiro em néon. Senti-me meio idiota, mas pelo menos fiquei aliviado
por não ter deixado o pensamento escapar em voz alta.
— E o que você... quer que eu faça? — ela perguntou em meio a um
gemido quando chupei a pele do seu pescoço.
— Quero que curta o momento.
— Mas... e você?
— Eu estou curtindo pra caralho a sua bunda. — Fui sincero,
sorrindo ao ouvir a sua risada baixinha. Subi com a boca até a sua orelha e
mordi novamente o lóbulo antes de sussurrar: — Esta noite, eu vou gozar
roçando nela.
Meu pau e eu concordamos que ele não precisava dar as caras
naquela noite. A sarrada na bunda de Avalon estava deliciosa e eu queria
me concentrar exclusivamente em explorar o seu corpo com as minhas
mãos e fazê-la gozar.
Eu seria o primeiro homem a dar um orgasmo para aquela garota.
Meu peito inflou de orgulho e me senti como um homem das
cavernas, pois quis muito dizer que eu seria não apenas o primeiro, mas o
único, porque Valente era só minha. Reprimi o sentimento ao beijá-la,
porque ainda não entendia o que tudo aquilo significava e não queria perder
tempo analisando naquele momento. Meu foco era Avalon.
— Mostra esses peitos lindos para mim, Valente — pedi, levando a
sua mão até a alça fina da blusa que vestia.
Avalon respirou fundo e se sentou na cama, arrancando a blusa do
pijama em um safanão. Eu engoli em seco, obrigando-me a ficar deitado no
mesmo lugar e não partir para cima dela como um ogro faminto, louco para
chupar aqueles mamilos rosas. Agradeci mentalmente a Deus pela luz do
abajur estar acesa e me dar o privilégio de ver aquele par de seios perfeitos
quando Avalon voltou a se deitar ao meu lado.
Eles eram mais cheios do que pensei e infinitamente mais bonitos,
também. Os mamilos durinhos pareciam implorar pela minha língua, mas
engoli o desejo naquela noite e os toquei com a minha mão, preenchendo a
palma com seio direito, roçando o polegar no bico intumescido e ouvindo
Avalon gemer mais alto o meu nome. Mordi seu ombro de leve e fiz o que
estava doido para fazer desde que toquei em seu peito por cima da blusa:
belisquei o mamilo e puxei com delicadeza, apreciando o seu gemido
entrecortado enquanto movia de leve meu quadril de encontro a sua bunda.
— Logan... Faz de novo. — Repeti o gesto, só que no seio esquerdo.
Avalon choramingou, enfiando o rosto em meu braço abaixo da sua cabeça
e estremecendo. — Ah, meu Deus. Isso é gostoso...
— Você que é gostosa. — Minha voz saiu rouca pelo desejo.
Encaixei minha mão em seu pescoço e deixei a outra brincando com os seus
mamilos, enquanto procurava a sua boca com a minha. Avalon me deu o
que eu queria, mas só toquei meus lábios nos dela, enquanto roçava meu
pau com mais pressão. — Acho que no fundo eu sempre te quis aqui,
Valente. Na cama comigo, gemendo pra mim.
— Então o seu ódio era tesão reprimido? — Não seria Avalon se não
tivesse uma resposta afiada na ponta da língua.
— Talvez. Mas se o meu era, então o seu também era.
A safada sorriu entre os meus lábios, me fazendo gemer ao morder o
inferior com um pouco mais de força do que eu esperava.
— Você nunca vai saber, estrelinha dourada.
Ela jamais iria admitir, mas não tinha importância, pois, no fundo, eu
já sabia a verdade. Tomei a sua boca na minha e larguei o seu pescoço para
poder tocar os seus seios com as duas mãos. Brinquei com eles até sentir
que pressionava demais as coxas, provavelmente cheia de tesão naquela
bocetinha, e não consegui mais me conter. Deixei a mão esquerda cuidando
dos mamilos duros e desci a direita por sua barriga, até chegar na barra do
seu short curto de dormir.
Não precisei falar nada. Sem qualquer discrição, Avalon afastou as
coxas, jogando a perna por cima da minha e deixando o caminho livre para
que eu explorasse. Meus dedos invadiram o seu short e a calcinha,
encontrando a bocetinha livre de pelos e com os lábios babados de
lubrificação. Meu próprio pau ficou melado, quase me fazendo esquecer do
nosso acordo de que ele deveria ficar dentro da calça naquela noite.
— Caralho, Valente... — Desci o dedo médio entre os lábios
delicados, roçando no clitóris inchado e arrancando um gemido longo da
sua boca. — Que delícia de boceta... Tá toda meladinha.
— Nunca fiquei... desse jeito antes — ela sussurrou em meio a um
gemido quando pressionei mais forte o clitóris. Meu dedo deslizava de tão
excitada que ela estava. Eu estava salivando, puta que pariu.
— E não vai ficar para mais ninguém — afirmei entre os seus lábios,
apertando um peito e roçando sua entrada encharcada com a ponta do dedo.
Avalon arquejou quando penetrei a pontinha. — Só para mim. — Mordi seu
lábio e meti o dedo lentamente, sendo sugado para dentro pelo seu canal
vaginal. — Essa bocetinha apertada vai ser só minha a partir de hoje.
Foda-se, eu era um homem das cavernas em relação a Valente!
Ela se contorceu quando meti mais um dedo e deixei a minha palma
calejada roçar em seu clitóris. Sua bocetinha era pequena e minha mão era
grande demais. Nunca pensei que algo tão desproporcional pudesse ter um
encaixe perfeito, mas era como eu sentia, pois podia tocar toda aquela
região, dando atenção ao grelinho enquanto metia os dois dedos na boceta
gostosa e toda babada. Avalon gritou e eu pressionei meu pau com mais
força em sua bunda, sentindo que nenhum de nós dois demoraria muito para
gozar.
— Ah, minha nossa, Logan! — Valente gemeu, franzindo o cenho e
praticamente respirando o ar que eu soprava em sua boca.
Meu coração estava disparado e meu pau doía dentro da calça. Deixei
que meus dedos formassem um leve gancho dentro de Avalon e ela gritou,
estremecendo com força.
— Me deixa ser o seu primeiro, Valente... — pedi entre os seus
lábios, metendo em sua bunda e em sua boceta ao mesmo tempo. — Goza
gostoso pra mim...
Belisquei seu biquinho duro e aumentei a pressão em seu clitóris,
finalmente sentindo Avalon se desfazer entre os meus braços. Ela gemeu o
meu nome tão alto, que chegou a perder a voz, enquanto pulsava ao redor
dos meus dedos e gozava sem controle. Foi lindo. Nunca na vida eu me
senti tão realizado ao fazer uma mulher gozar, nem fiquei tão vidrado em
suas reações. O rosto de Valente era como uma pintura, contorcido em
prazer, com as bochechas vermelhas e os lábios inchados pelos meus beijos.
Seu ventre tremia, sua pele estava arrepiada e a boceta completamente
melada. Tudo aquilo por minha causa.
Caralho.
A constatação me bateu com tanta força, que eu comecei a gozar sem
nem mesmo me dar conta. Foi a minha vez de gemer mais alto, enquanto
movia meu quadril em direção a sua bunda gostosa e esporrava em grande
quantidade em minha calça, sentindo o pau pulsar e doer levemente por
estar tão excitado e sensível. O fato de ainda estar com os dedos na
bocetinha de Valente, sentindo-a piscar daquela forma gostosa, só tornou
tudo mais intenso.
Mal podia esperar para sentir tudo aquilo estando dentro dela. Queria
sentir Avalon gozando na minha língua, sentada em minha cara, depois em
meu pau, quicando sobre mim. Queria chupar seus peitos, lamber o seu
cuzinho, comer ela de quatro... Puta merda. Valente iria me enlouquecer.
Queria retomar meu fôlego, mas não pude deixar de beijar a sua boca
enquanto ainda sentia o torpor delicioso do orgasmo. Foi um beijo lento,
gostoso, enquanto eu tirava os dedos de dentro dela e tocava de leve o seu
clitóris, sentindo-a estremecer e resmungar.
— Está sensível? — perguntei baixinho perto da sua boca e Valente
concordou com a cabeça. Pude sentir que ela sorria e respirei aliviado. Por
um segundo, senti medo de que ela tivesse se arrependido. Com o coração
partido por ter que parar de tocar a boceta gostosa, tirei minha mão de
dentro do seu short e não me contive. Chupei meus dedos com desejo,
vendo Avalon me encarar boquiaberta. — Hm, você é uma delícia, Valente.
— Meu Deus! — Ela escondeu o rosto com as mãos e riu baixinho,
fazendo os seios gostosos sacudirem de leve. Aquilo era demais para o meu
coração. Meu pau ainda estava semiereto e não parecia dar sinais de que iria
amolecer tão cedo. — Você é safado demais, Logan!
Puxei suas mãos para longe e finalmente saí de trás do seu corpo,
apenas para partir para cima dela. Valente abriu as coxas para me receber e
mordeu de leve o lábio quando rocei no meio das suas pernas.
— Eu disse que tinha um arsenal enorme de putaria. É melhor que
você se acostume. — Toquei seu nariz com o meu e Avalon enfiou os dedos
em meus cabelos, arranhando de leve a minha nuca. — Da próxima vez,
vou provar o seu gosto diretamente aqui — pressionei por cima do seu short
com o meu pau. —, lambendo a sua bocetinha até você gozar.
— Quem disse que vai ter próxima vez? — provocou.
— Nós dois sabemos que vai.
Aquilo poderia complicar muito as coisas, eu sabia. Sexo não fazia
parte do nosso acordo e Avalon mexia comigo de uma maneira que eu não
conseguia entender, mas decidi que não ia recuar. Queria experimentar tudo
aquilo, porque confiava em Valente, da mesma forma que ela confiava em
mim.
Beijei a sua boca devagar, sentindo a textura macia da sua língua e o
seu sabor delicado em meus lábios, praticamente perdendo a noção do
tempo e querendo começar tudo de novo. Foi o toque estridente do seu
celular que nos tirou daquele transe. Sem querer me distanciar dela, beijei o
seu pescoço e deixei que tateasse sobre a cama até achar o aparelho. Ela
atendeu com a voz ofegante e, por eu estar perto demais, acabei ouvindo
uma voz masculina do outro lado da linha:
— Oi, Avalon, é o James, tudo bem? Logan ainda está aí?
Levantei a cabeça e Avalon respondeu com os olhos levemente
arregalados:
— Hã, sim, ele está sim.
— Não queria atrapalhar vocês, mas Logan precisa voltar. Pode
avisar a ele para mim?
Merda. Avalon franziu o cenho, mas respondeu que me avisaria e
eles se despediram.
— Como James tem o meu número?
— Eu passei para ele e para Benjamin hoje de manhã. Achei melhor
que nós três tivéssemos o seu contato, caso acontecesse alguma coisa. —
Fiz uma careta e encostei minha testa na dela. — Não queria ir, mas meio
que temos um toque de recolher quando estamos em outra cidade. Cada
jogador precisa estar em seu quarto às onze horas.
— Ah... — Vi em seus olhos que estava decepcionada, mas ela logo
franziu o cenho. — Mas você... Você, hm...
— O quê?
— Você... — Ela olhou para a junção dos nossos corpos e ficou
vermelha. Finalmente entendi o que queria saber, mas deixei que falasse em
voz alta, quase provocando-a e perguntando onde estava a Avalon confiante
que eu conhecia. — Você gozou?
Achei melhor mostrar ao invés de responder. Tomando a sua mão na
minha, fiz com que Valente se sentasse enquanto eu me ajoelhava na frente
do seu corpo. Nem precisava fazer com que ela me tocasse, só a mancha na
frente da calça já era suficiente, mas não perderia jamais aquela
oportunidade. Avalon reprimiu um sorriso ao morder os lábios quando
coloquei a sua mão por cima do meu pau.
— Isso responde a sua pergunta?
— Sim, mas... Você ainda está duro.
— Porque estou morrendo de tesão por você, Valente. Acho que só
vou voltar a amolecer depois que te comer umas cem mil vezes.
— Como você é idiota! — Ela riu e deu uma apertadinha no meu
pau, me fazendo gemer. — Vai embora, não quero ser acusada de sequestrar
a estrelinha dourada do time.
— Esse seria um crime bem grave — falei, me apoiando melhor na
cama para poder aproximar minha boca da dela. — Mas eu faria uma visita
íntima todos os dias enquanto você estivesse presa.
— Eu iria recusar.
— Depois de ter gozado desse jeito na minha mão? Duvido.
Engoli a sua resposta com um beijo longo, querendo prolongar os
minutos em sua presença. Como não podia mais demorar, me afastei depois
de deixar um selinho em sua boca e me despedi. Avalon vestiu rapidamente
a blusa do pijama, escondendo os seios perfeitos de mim, e me acompanhou
até a porta do seu quarto.
— Vai mesmo sair andando por aí assim? — perguntou ao abrir a
porta, apontando para a frente da minha calça.
Estava bem óbvio o que havia acontecido, mas eu pouco me
importei.
— Pode ter certeza de que eu estou melhor do que os outros babacas
do time, que com certeza estão gozando agora batendo punheta no banheiro.
— Logan, você é um porco! Vai logo.
Ri e dei um outro beijo nela antes de finalmente partir. Não encontrei
com ninguém dentro do elevador nem nos corredores, mas James me
esperava acordado e mexendo no celular. Nosso quarto era compartilhado e
a luz estava acesa. Senti que ele ia falar alguma coisa, talvez me dar um
esporro por eu ter demorado tanto, mas, ao notar a mancha em minha calça,
o babaca simplesmente interrompeu o que iria dizer e começou a rir.
— Você gozou nas calças? Puta merda, Logan, eu não acredito!
— Cala a boca — pedi, mas estava rindo.
— Quantos anos você tem, cara? Treze?
— Vai se foder, babaca. — Fui direto para o banheiro, enquanto
erguia o dedo do meio para ele. — Você ainda vai encontrar alguma garota
que vai te deixar com tanto tesão, que também vai gozar na calça.
— Duvido!
Fechei a porta do banheiro, mas continuei a sorrir, não por causa de
James, mas por ainda estar com a mente e o corpo — talvez o coração
também, já que ele se recusava a desacelerar — ligados em Valente.
Demorei tanto a pegar no sono, que acabei acordando um pouco
atrasada, mas qualquer pessoa no meu lugar também não conseguiria
dormir depois de tudo o que havia acontecido enquanto Logan ainda estava
em meu quarto.
Parecia que o jogador havia marcado o meu corpo com ferro em
brasa. Se eu fechasse os olhos, conseguia sentir a pressão das suas mãos em
minha pele, a forma como acariciou os meus seios, os seus dedos dentro do
meu short, me deixando louca enquanto me tocava e me fazendo gozar tão
intensamente pela primeira vez na vida. Eu me masturbava de vez em
quando, principalmente quando não conseguia relaxar o suficiente para
dormir e precisava dos hormônios liberados pelo orgasmo para poder
apagar, mas nunca havia sido nada tão forte daquele jeito.
Era como se eu fosse uma faísca e Logan fosse o álcool. Juntos, nós
dois explodimos.
Não fazia ideia de como ficaríamos a partir de agora, estava até com
um pouco de vergonha em olhar para ele depois de tudo o que fizemos na
noite passada, mas conversei comigo mesma enquanto estava no banho e
coloquei em minha cabeça que nós dois éramos adultos e que não havíamos
feito nada de errado. Conseguiríamos lidar com as consequências daquela
noite, caso houvesse alguma.
Arrumei todos os meus pertences na mala pequena que havia levado
comigo, pois precisava ir para o aeroporto logo depois do café da manhã, e
desci para a área do restaurante, onde sabia que Logan estava me
esperando. Estava saindo do elevador quando ouvi o alarme do meu celular
tocar no bolso, me lembrando de que Aubrey precisava tomar a sua
medicação diária.
Como sabia que minha irmã às vezes se esquecia de tomar o remédio
— principalmente quando estava na companhia das amigas — liguei para
ela. A pestinha com certeza estava dormindo, pois só foi me atender quando
insisti pela terceira vez, já entrando no restaurante e vendo uma mesa
grande ocupada por todo o time do Crimson.
— Oi. — Sua voz de sono me fez revirar os olhos.
— Você não colocou o celular para despertar, Aub?
Logan se levantou da mesa e veio em minha direção. Os meninos do
time os zoaram em meio a risadas, me fazendo ficar um pouco
envergonhada, mas ele deu o dedo do meio para todo mundo e logo me
alcançou, me dando um beijo rápido nos lábios. Ignorei minhas pernas
trêmulas e sorri para ele enquanto ouvia Aubrey do outro lado da linha:
— Hannah e eu fomos dormir tarde e eu acabei esquecendo, Ava.
Desculpa.
Eu sabia que isso iria acontecer, mas decidi não chamar a sua atenção
naquele momento. Deixaria para conversarmos em casa. Aubrey precisava
ser mais responsável, já não era mais uma criança.
— Tudo bem, mas vai tomar o remédio agora, ok? Já se levantou? Já
pegou o comprimido na mochila? Só vou desligar depois que você tomar.
Ouvi o seu bufar do outro lado da minha e segurei uma risada, vendo
Logan me olhar com o semblante confuso.
— Estou indo agora.
— Sua irmã está doente?
Apenas Maeve e algumas poucas amigas de Aubrey sabiam sobre a
sua condição de saúde. Desde que chegamos no Alabama, decidi que não
contaria detalhes sobre a minha vida para qualquer pessoa, apenas para
aqueles em quem eu realmente confiava. Depois da noite de ontem, em que
Logan e eu nos aproximamos de forma mais íntima, percebi que eu já
confiava no quarterback e sequer havia me dado conta.
Não pensei antes de falar alguns detalhes sobre o meu antigo
relacionamento, as palavras simplesmente escaparam sem que eu
percebesse. Logan me deixava confortável e não ter visto julgamento em
seu olhar acabou me dando um empurrãozinho para me abrir um pouco
mais. Sentia que eu podia fazer isso mais vezes, principalmente em relação
a minha irmã, já que ela e o jogador se davam tão bem.
— Ava? Já tomei o remédio. Posso voltar a dormir agora?
— Pode, mal-humorada. Amo você.
— Também te amo. Manda um beijo para o Logan.
— Sua fã número um te mandou um beijo — falei para ele, que
sorriu e se inclinou para falar perto do celular:
— Um beijo, Aub.
Ela riu do outro lado da linha — para Logan, não para mim, afinal,
era uma puxa-saco dele — e nos despedimos.
— Os meninos querem te conhecer. Vem cá.
Logan pegou a minha mão e me levou em direção à mesa ocupada
por todos os integrantes do time — o que significava que tinha gente pra
caramba reunida e falando alto. Nem se eu quisesse, conseguiria gravar o
nome de todos, mas foi divertido passar alguns minutos ao lado de todos
eles, principalmente porque todo mundo ali zoava com a cara de Logan.
Percebi que eles se tratavam como família e até o treinador, que o jogador
disse que tinha dado um esporro nele por ter me convidado para assistir ao
jogo na noite anterior, me tratou muito bem.
James e Benjamin deixaram claro que queriam me conhecer melhor e
Logan prometeu que me levaria na casa deles na próxima semana. Os dois
pareciam ser bem divertidos, como Logan, e fiquei ansiosa para me
aproximar um pouco mais deles e, claro, rever Norah quando eu fosse à
casa do quarterback.
— Vamos pegar uma mesa só para nós dois? Se nos sentarmos com
eles, não vamos conseguir ouvir nem os nossos próprios pensamentos —
Logan disse ao meu lado e eu concordei com a cabeça.
Os meninos do time estavam animados demais depois de terem
vencido na noite passada e comentavam sobre o jogo. Eu me sentiria um
peixe fora d’água se me sentasse com eles, pois não teria qualquer
comentário para fazer sobre o assunto. Depois de me servir no buffet junto
com Logan, nos sentamos em uma mesa mais afastada e o jogador voltou a
falar:
— Você não me respondeu sobre a sua irmã. Está tudo bem com ela?
— Sim. Quer dizer, agora realmente está tudo bem com ela, mas os
últimos anos foram difíceis.
— Como assim? — Ele deixou de lado a xícara de café e me olhou
com mais atenção.
— Aubrey nasceu com uma malformação no trato urinário —
expliquei, vendo a surpresa e a preocupação tomarem a expressão do seu
rosto. — Por isso, desde muito pequena, sempre viveu em hospitais,
fazendo inúmeros tratamentos para que os seus rins não perdessem
completamente a capacidade de funcionar.
— Nossa, eu não podia imaginar. Ela ainda faz esse tratamento? Por
isso que você estava com ela no hospital naquele dia?
Surpreendi-me com o fato de Logan se lembrar disso. Na época, nós
ainda não éramos amigos e ele sequer conhecia Aubrey, não achei que tinha
dado importância ao que falei por mensagem.
— Não mais. Aubrey acabou tendo uma complicação muito severa e
seus rins passaram a funcionar com apenas quinze por cento da sua
capacidade. Por causa disso, minha irmã entrou na fila do transplante aos
doze anos. Foi a época mais difícil da minha vida. Eu estava completamente
sozinha, pois minha mãe já tinha falecido na época, e precisei vender a
nossa casa para poder custear o tratamento dela. Aubrey estava
sobrevivendo por causa da hemodiálise e eu estava desesperada.
Lembrar daquela época acabou me fazendo perder a fome, por isso,
empurrei para o lado o prato com pão de forma e ovos mexidos.
— O valor que recebi pela venda da casa simplesmente evaporou em
menos de um ano com todos os custos do hospital. Foi por isso que eu
peguei o dinheiro com Charles, pois não sabia mais o que fazer e minha
irmã dependia das sessões de diálise para ficar viva.
— Puta merda, Valente! — Logan pegou a minha mão entre as suas e
deu um beijo nos nós dos meus dedos, me encarando com os olhos
arregalados. — Agora eu entendi o porquê de você ter pegado o dinheiro
com um homem como ele. Vinha tentando imaginar o motivo, mas nenhum
deles parecia ser plausível o suficiente. Não passou pela minha cabeça que
poderia ser por causa de alguma doença, pois você e Aubrey são saudáveis,
aparentemente.
— Ela é saudável agora, porque conseguiu fazer o transplante de rim.
— Era impossível falar sobre aquilo e não me emocionar. Logan abriu
aquele sorriso bonito, que tirou um pouco do meu fôlego. — Nós
morávamos na Califórnia até o início desse ano, mas como eu não tinha um
emprego fixo lá e passei a morar de aluguel após a venda da casa, minha
situação financeira ficou muito apertada. Maeve era uma grande amiga da
minha mãe e disse que eu poderia trabalhar em seu bar e morar no
apartamento do andar de cima se viesse para o Alabama, por isso, pedi
transferência da UCLA para cá.
Aquele não havia sido o único motivo, mas decidi deixar para contar
o resto da história depois.
— Então, para continuar dando conta do tratamento da minha irmã
no Alabama, peguei o dinheiro com Charles antes de partir. Nunca imaginei
que ao chegar em Tuscaloosa, receberia uma ligação do hospital onde
Aubrey continuaria o tratamento, avisando que havia chegado a hora de ela
realizar o transplante, pois havia um rim de um doador compatível com ela.
Com o dinheiro que peguei com Charles, consegui custear a internação e a
cirurgia da minha irmã. Agora, ela leva uma vida normal, só precisa ir às
consultas mensais e tomar os imunossupressores todos os dias para que não
ocorra qualquer rejeição do órgão transplantado.
— Valente, isso é incrível! — O sorriso de Logan era, de longe, o
maior e mais bonito que me deu. E o mais emocionado, também. —
Alguém já disse como você é foda? Espero que já tenham dito, porque é
verdade. Tudo o que você fez pela sua irmã... Eu nem sei o que dizer além
disso. Você é foda, forte e muito corajosa.
— Ou louca, né? Já que peguei aquele dinheiro todo com Charles
sem nem saber como iria pagar. — Ri, sentindo meu coração bater
acelerado. — Mas eu faria tudo de novo por ela. Aubrey é muito mais do
que minha irmã. Quando minha mãe morreu, ela era muito novinha e eu
tive que criá-la, mesmo sem saber como educar um outro ser humano... Eu
a amo como se fosse minha filha.
— Tenho certeza de que ela te ama da mesma forma, consigo ver isso
nos olhos dela.
— É bom que ela me ame mesmo, pois sou a única irmã que ela tem
— brinquei, apertando o canto dos olhos com a mão que Logan não
segurava. — Desculpa, eu fico um pouco emocionada quando falo sobre
isso.
— Não precisa se desculpar, eu imagino como deve ter sido difícil,
mas você conseguiu, Valente. — Seus olhos brilhavam de admiração, me
deixando um pouco envergonhada. — Sua mãe com certeza está muito
orgulhosa de você.
— Isso foi golpe baixo — murmurei, sentindo meus olhos
marejarem. — Espero que ela saiba que dei o meu melhor para cuidar de
tudo.
Logan arrastou a sua cadeira para mais perto e tocou o meu rosto
com as mãos, secando a lágrima boba que escapou pelo cantinho do meu
olho.
— É claro que ela sabe. Inclusive, tenho certeza de que foi ela que
me colocou no seu caminho, para que você não precisasse se preocupar com
mais nada. — Como o bobo que era, Logan olhou para o alto e disse: —
Valeu, sogrinha. Prometo não decepcionar a senhora.
— Seu idiota! — Foi impossível não rir e Logan me acompanhou.
Ele estava leve naquela manhã, bem diferente de como ficou uma semana
atrás após o primeiro jogo. — Mas talvez isso possa ser verdade. Se não
fosse por você, acho que nunca teria me livrado daquela dívida com
Charles, ou melhor, Alfred — citei seu nome verdadeiro.
— Eu já te conheço muito bem, você daria um jeito, Valente. — Ele
piscou para mim e precisou olhar para trás quando alguém do time o
chamou. — Droga, preciso ir. O seu voo é daqui a pouco, certo?
— Sim. Já deixei tudo arrumado, vou só pegar a minha mala e fazer o
check-out.
— Tudo bem. — Nós ficamos alguns segundos em silêncio, acho que
sem saber o que falar depois da noite de ontem, mas Logan sacudiu a
cabeça e sorriu de leve, espantando a tensão. — Nos vemos mais tarde? Ou
apenas amanhã, se você achar melhor.
— Podemos nos ver mais tarde, mas estarei trabalhando no bar.
— Não tem problema, eu fico sentado em frente ao balcão, te
fazendo companhia. — Pegando-me de surpresa, Logan tocou em minha
nuca e me puxou para mais perto do seu rosto, passando o nariz levemente
pelo meu. — Estou com saudade da sua boca, Avalon. Posso te beijar?
— Acho que você já não precisa mais pedir para me beijar, estrelinha
dourada.
Eu não sabia de onde tinha surgido a coragem para falar aquilo, mas
me parabenizei mentalmente ao sentir o sorriso de Logan perto dos meus
lábios antes de ele me beijar. Por um momento, esqueci completamente que
estávamos dentro do restaurante do hotel, tendo, muito provavelmente, os
olhos do seu time em cima de nós dois. Apenas me entreguei ao beijo
delicioso de Logan, lamentando baixinho quando ele precisou se afastar.
Senti que ele também queria mais, no entanto, não tínhamos mais tempo.
Despedimo-nos com mais um beijo e eu respirei fundo depois que ele
partiu, me dando conta de que aqueles dois dias no Texas pareciam ter
mudado completamente a minha vida.
Cheguei em casa no início da tarde e fui direto de carro até a casa de
Hannah buscar a minha irmã. Ela veio tagarelando durante todo o caminho,
contando como foi divertido passar aquela noite ao lado da melhor amiga.
Quando finalmente se acalmou, expliquei a ela que eu havia contado para
Logan sobre o seu histórico de saúde, mas Aubrey não se preocupou.
Diferente de mim, ela não tinha problemas em falar sobre a sua vida para
outras pessoas, principalmente para aquelas de quem gostava.
— Só não quero que ele mude a forma como me vê. Não sou mais
uma garotinha doente.
— Acho que Logan jamais faria isso, Aub.
Ela sorriu, satisfeita, e foi logo colocando alguma música das suas
bandas — ou melhor, grupos — favorito=as para tocar quando chegamos
em casa. Fiz um wrap para comer, já que Aubrey havia almoçado na casa
da amiga, e avisei que passaria o resto da tarde fazendo trabalhos da
faculdade. A maior parte estava adiantada, pois eu usava qualquer hora
vaga para estudar e fazer pesquisas, mas gostava de estar dentro do prazo e
ter os trabalhos finalizados bem antes da data de entrega estipulada pelos
professores.
Mal vi a hora passar, só percebi que estava prestes a anoitecer,
quando meu celular tocou o alarme que eu havia programado para me
lembrar de tomar banho e me arrumar para o trabalho. Após deixar meus
livros e cadernos organizados, fui direto para o chuveiro e me deparei com
uma mensagem de Logan assim que peguei meu celular sobre a bancada,
depois de tomar banho e me enrolar na toalha. Era uma foto sua na cama,
apenas de cueca boxer branca e cara amassada de sono.
Talvez eu tenha dado um zoom na sua região pélvica, pois o volume
muito considerável me deixou curiosa e com o clitóris pulsando.
Babaca de Uniforme: Acabei de acordar. Sonhei que estava
chupando a sua bocetinha e agora estou de pau duro, Avalon.

Eu ri e decidi trocar o nome do seu contato em meu celular. Logo


após a alteração, abri o aplicativo da câmera e posicionei em um ângulo que
pegasse da minha boca para baixo, dando uma visão privilegiada do meu
corpo coberto pela toalha.

Eu: Fiquei molhadinha ao ler isso.

Havia ficado nítido na foto que eu ainda estava com a pele molhada
por causa do banho, então, eu jamais perderia a chance de fazer aquele
trocadilho. A resposta de Logan chegou em poucos segundos.

Estrelinha Dourada: Você não pode brincar assim comigo, Valente.


Não tem pena de mim?
Eu: Por que eu teria pena de você?
Estrelinha Dourada: Porque eu estou sozinho nessa cama, com uma
ereção gigantesca e, mesmo assim, você fica zoando com a minha cara.
Eu: Eu não fiz nada disso, realmente estou molhada. Não viu na
foto?
Estrelinha Dourada: Eu vi. Se estivesse aí, estaria lambendo cada
gota da sua pele até chegar na sua boceta. Ela estaria meladinha para mim
de novo?

Encostei-me contra a bancada pequena da pia, precisando apertar as


coxas para conter o tesão que me percorria lá embaixo. O que eu deveria
responder? Nunca tinha trocado mensagens daquele estilo antes.

Eu: Sim.
Aquilo parecia muito pouco, por isso, enviei:

Eu: Na verdade, acho que ela está ficando melada agora.

Minha nossa. Senti minha pele ficar ainda mais úmida e não era mais
por causa da água do chuveiro. De repente, a temperatura no banheiro ficou
alta demais.

Estrelinha Dourada: É mesmo? Toca ela para mim. Quero que você
tenha certeza.

Resolvi sair do banheiro, pois só tinha um no apartamento e Aubrey


poderia querer usar, e fui direto para o meu quarto, passando a chave
discretamente. Deixei a toalha sobre o encosto da cadeira em frente à minha
mesa de estudos e me sentei na cama, sentindo a pele sensível ao tocar o
edredom. Com um pouco de vergonha, como se Logan estivesse bem ali,
me vendo, afastei as coxas e toquei a minha boceta, soltando um suspiro
quando resvalei no clitóris inchado e, como eu acreditava, molhado pela
minha lubrificação.
Afastei minha mão do meio das minhas pernas e tirei uma foto dos
meus dedos melados, enviando para o quarterback.

Estrelinha Dourada: Puta merda, Valente. Toca bem gostoso essa


bocetinha e goza pensando em mim.
Estrelinha Dourada: Não lave esses dedos depois.
Estrelinha Dourada: Quando eu chegar no bar, vou chupá-los na
frente de todo mundo e ficar com o seu gosto na minha boca pelo resto da
noite.

Ah, meu Deus.


Eu ri, nervosa, e fiquei boquiaberta quando Logan me enviou uma
foto do seu pau ainda dentro da cueca, bem maior do que antes. Havia uma
mancha da sua lubrificação perto do cós da roupa íntima, moldando
perfeitamente a sua cabeça robusta. Senti que eu poderia gozar só
observando aquela obra-prima. Tomando coragem, digitei:

Eu: Vou me tocar pensando que é a cabeça do seu pau no lugar dos
meus dedos.
Estrelinha Dourada: É isso que você quer, Valente? Quer gozar
roçando no meu pau?
Eu: Sim.
Estrelinha Dourada: Vamos fazer isso em breve. Agora, eu vou
gozar pensando em você.

Queria pedir para que ele gravasse, mas eu estava excitada demais e
quase atrasada para o trabalho, por isso, deixei o celular de lado e me
acariciei com vontade, chegando ao orgasmo tão rápido, que precisei
morder a minha mão esquerda para não gemer alto demais e chamar a
atenção de Aubrey na sala.
Levei alguns minutos para me recuperar, jogada de costas na cama,
olhando para o teto e sorrindo como uma idiota, dopada de endorfina e
ocitocina. Só voltei a me sentar quando o celular vibrou com uma nova
mensagem.

Estrelinha Dourada: Espero que esteja viva, Valente. Nos vemos


daqui a pouco.

Sorri e deixei o celular de lado, correndo para me arrumar.


Logan entrou no bar chamando a atenção de praticamente todos os
clientes. A maior parte se aproximou dele para parabenizá-lo pelo jogo da
noite anterior e tirar algumas fotos, o que me deu tempo para apreciar a sua
beleza de longe.
— Será que eu preciso pegar um babador para você? — Maeve
perguntou ao meu lado, rindo baixinho.
Sacudi a cabeça e voltei ao trabalho, arriscando um olhar para a
minha chefe e amiga.
— Está tão na cara assim que eu estou gostando mesmo dele?
— Está escrito na sua testa, Ava! — Ela sorriu com alegria e eu fiz
uma careta. Que ótimo! Agora todo mundo podia ver o que o quarterback
estava fazendo comigo. — E isso é muito bom! Você merece se apaixonar
de novo e ter um relacionamento saudável e feliz.
Maeve sabia sobre o meu passado com Tucker, meu ex-namorado.
Quando liguei para ela, perguntando se não teria como me ajudar, caso eu
me mudasse para o Alabama, contei toda a minha história com aquele
babaca. Acreditava que era por isso que Maeve nunca tinha me pressionado
a aceitar qualquer convite que eu recebia dos clientes que frequentavam o
bar, pois sabia que eu não tinha um bom histórico e que era difícil de me
abrir para qualquer pessoa.
— E aquele garoto ali — ela apontou para Logan, que olhava para
mim enquanto um torcedor usando a camisa do Crimson falava com ele. —,
parece mesmo gostar de você. Conheço o Logan, de longe, é claro, mas ele
sempre foi um cliente assíduo aqui do bar. Senti que ele se perdeu depois da
morte da mãe, mas parece estar se encontrando novamente agora que está
com você. É muito bom que estejam dando uma chance para o amor.
Amor? Meu Deus, Maeve precisava ir com calma, com muita calma.
— Não chegamos nesse nível ainda — comentei, separando três
copinhos de shots para que Donovan servisse a mesa três.
— Mas chegarão em breve, acredite em mim. — Ela apertou o meu
ombro, me dando um olhar confiante.
— Você está muito romântica desde que começou a namorar com
Harlan, Maeve.
Ela e o cantor de rock haviam oficializado o relacionamento quase na
mesma época em que Logan e eu começamos a namorar de mentirinha.
Estava feliz por ela, principalmente porque sentia que Harlan gostava de
Maeve de verdade.
— O amor nos deixa assim, querida! É inevitável. — Seu sorriso se
ampliou quando olhou além de mim. — Inclusive, meu namorado acabou
de chegar. Não é incrível falar isso? Meu namorado. Me sinto como uma
adolescente de novo!
Animada, ela me deixou sozinha atrás do balcão e foi de encontro ao
cantor robusto, que deu um beijo apaixonado em sua boca. Eles foram
direto para a porta que dava acesso ao corredor, onde ficava o escritório de
Maeve, e eu sacudi a cabeça, sem querer pensar no que fariam quando
estivessem a sós.
“O mesmo que você quer fazer com Logan, Avalon”, uma vozinha
soou em minha cabeça, mas logo a espantei, colocando os shots na bandeja
de Donovan e sendo surpreendida com a chegada de Logan assim que o
funcionário se afastou. O quarterback se sentou à minha frente no balcão,
todo sorridente, com os cabelos levemente desarrumados e uma correntinha
bonita no pescoço, se destacando sobre a blusa preta que usava.
— Como é a sensação de ser famoso? — perguntei, me aproximando
e apoiando os braços no balcão.
Logan tomou as minhas mãos nas suas e levou a direita até o seu
rosto, dando um beijo no dorso.
— É boa — respondeu, olhando em meus olhos enquanto pegava os
meus dedos médio e indicador e os levava até os seus lábios. Eu prendi a
respiração quando, discretamente, ele os colocou na boca, chupando de
forma sensual. Precisei apertar as coxas, porque, de uma forma muito louca,
eu senti aquela chupada bem na minha boceta. — Mas o seu gosto é melhor
do que qualquer outra coisa, Valente. — Sua voz saiu rouca, afetando ainda
mais o meu coração disparado.
Logan deixou um beijinho singelo em meus dedos antes de abaixar a
minha mão e se apoiar com um cotovelo no balcão, encurtando
completamente a distância entre as nossas bocas. Ele me beijou com
intensidade, sem se importar com o fato de que estávamos no meio de um
bar lotado, com praticamente todos os olhos virados em nossa direção, já
que ele era conhecido por todo mundo e chamava a atenção por onde
passava.
Seu objetivo parecia ser me deixar louca em pleno horário de
expediente. Eu havia gozado antes de descer e já sentia vontade de começar
tudo de novo com apenas um beijo. O que Logan estava fazendo comigo?
Ele deixou o meu lábio inferior escapar depois de dar uma mordidinha nele,
gemendo baixinho.
— Acho que vou precisar de pelo menos uns cem beijos como esse
para poder aguentar a tortura que vai ser te ver desse lado do balcão e não
poder te agarrar.
— Veja isso como um exercício para treinar a sua paciência, QB.
— Ou como um estudo de caso sobre como disfarçar uma ereção no
meio de um bar lotado — disse ele, me fazendo rir. — Preciso de uma
cerveja para tentar me acalmar, Valente.
— Tem certeza?
— Sim, vou tomar apenas uma enquanto fico babando em você.
Concordei com a cabeça tentando, inutilmente, conter um sorriso
bobo, e peguei uma caneca de cerveja para o jogador.
Passamos as próximas horas conversando, provocando um ao outro e
trocando alguns beijos. Em certo momento da noite, Maeve se juntou a nós
dois atrás do balcão e eles começaram um papo animado sobre o jogo de
ontem à noite. Ao contrário de mim, Maeve era apaixonada por futebol, fã
de carteirinha do Crimson Tide — por isso, inclusive, que o bar era todo
decorado nas cores do time — e havia sido cheerleader na sua época de
faculdade.
— Acho que você ficaria linda em um uniforme de cheerleader,
Valente — Logan me provocou, dando um gole em sua água com gás. Ele
cumpriu com a promessa e ficou mesmo apenas com uma cerveja, partindo
para a água logo depois.
— Só nos seus sonhos eu me vestiria de vermelho e branco e
balançaria pompons, Logan terceiro.
Ele riu por trás da garrafa de água e voltou a prestar atenção em
Maeve, que perguntou algo sobre o ataque do próximo time que o Crimson
enfrentaria. Eu os deixei conversando e mandei mensagens para Aubrey,
pedindo para que fosse dormir, pois já passava das onze da noite e ela
precisaria acordar cedo no dia seguinte para ir para a escola. Depois de
receber o seu ok, voltei a minha atenção para Logan, segurando a mão que
me estendeu por cima do balcão enquanto ele e Maeve ainda conversavam.
Foi inevitável me lembrar daquela mesma mão entre as minhas
pernas na noite passada. Os dedos de Logan eram elegantes e longos e a
palma era levemente calejada por causa do esporte que praticava. Do dorso
da sua mão até o cotovelo, subiam veias grossas, que o deixavam ainda
mais sexy. Fiquei imaginando se havia veias saltadas em seu pau também.
Naquela noite em seu quarto, eu só consegui constatar que ele era grande e
grosso, pois o quarterback logo o escondeu dos meus olhos com a
almofada.
— Não cabe — Logan disse de repente, chamando a minha atenção.
Olhei rapidamente a nossa volta, vendo que Maeve tinha se afastado
para conversar com Harlan na ponta do balcão. Dei-me conta de que Logan
estava falando comigo.
— O que não cabe?
— O meu braço na sua boceta. Sei que ele é bonito, mas não cabe,
Valente.
— Pelo amor de Deus, Logan! — Ele riu quando dei um tapa em sua
mão e se aproximou um pouco de mim.
— Mas o meu pau cabe com certeza, mesmo a sua boceta sendo
pequena e apertadinha — sussurrou, me dando uma piscadinha.
— Cala a boca — pedi, pousando dois dedos em seus lábios e
tentando não sorrir feito uma idiota. Ele se desvencilhou para voltar a falar:
— Maeve deixou escapar que você tem um intervalo de meia hora
para tirar daqui a pouco. Estava pensando que a gente poderia comer
alguma coisa rapidinho.
— Na verdade, meu intervalo começa agora — falei, dando uma
olhada no relógio em meu celular. — Podemos ir, se você quiser.
Logan assentiu e eu avisei a Maeve que estava tirando meu intervalo.
Saímos juntos do bar, sentindo o vento mais frio do outono enquanto
atravessávamos a rua em direção ao seu carro. Como eu não tinha muito
tempo, passamos em um drive-thru de comida mexicana e pedimos tacos
para a viagem, começando a comer depois que Logan estacionou em uma
rua pouco movimentada naquele início de madrugada.
Devoramos tudo em poucos minutos, conversando por cima da
música que tocava no sistema de som do seu carro. Quando Stuck With You,
de Ariana Grande e Justin Bieber, começou a tocar, eu sorri, surpresa.
— Não sabia que você gostava desse estilo de música.
Logan deixou no banco de trás as embalagens vazias de comida e se
virou para mim, pegando em minha mão e me puxando em sua direção com
delicadeza.
— Viu como eu continuo te surpreendendo? — perguntou, olhando
rapidamente para as próprias coxas. — Vem aqui.
— Estamos no meio da rua, seu doido.
— Não sabia que você era tão medrosa. Estou te chamando de
Valente à toa?
Estreitei os olhos para e ele subi em seu colo, sentando-me de frente
para o seu corpo. A saia xadrez que eu usava subiu um pouco, quase
mostrando a minha calcinha. Toquei o seu pescoço largo, dividida entre
estrangulá-lo por ser tão perturbado ou acariciá-lo por viver colocando um
sorriso bobo no meu rosto nos últimos dias.
— Satisfeito?
Suas mãos subiram lentamente pelas minhas coxas, me fazendo
respirar fundo para tentar conter o arrepio que se espalhou pelo meu corpo.
— Vou ficar quando você colocar essa boca na minha.
Lentamente, aproximei meu rosto do dele, resvalando os nossos
lábios e fugindo quando ele tentou me beijar. Logan riu baixinho, tentando
de novo, mas fugi mais uma vez, até que ele pareceu perder a paciência
com o meu joguinho e me agarrou firme pela bunda, por baixo da minha
saia, me puxando para mais perto em seu colo e tomando a minha boca em
um beijo profundo.
Foi impossível conter um gemido quando senti a sua ereção sob a
minha boceta, crescendo rapidamente dentro da bermuda jeans que ele
usava. Rebolei devagar, curtindo o momento enquanto o quarterback
apertava a minha bunda entre os dedos e me deixava comandar toda a ação,
inclusive, o ritmo do nosso beijo, que se tornou menos violento e mais
sensual, me tirando o fôlego.
Mordi o seu lábio e desci com a boca pela linha do seu maxilar,
sentindo sua barba por fazer me arranhar de leve, até chegar em seu
pescoço cheiroso. Logan xingou baixinho com a voz rouca quando o lambi
e depois chupei, apertando mais forte a minha bunda e fazendo mais
pressão com o seu pau duro no meio das minhas pernas. Eu sentia o meu
clitóris pulsar e a minha calcinha ficar toda molhada de encontro a sua
bermuda.
— Dá esses peitos para mim, Valente — Logan pediu, subindo as
mãos pela minha cintura por debaixo da blusa. — Está escuro aqui,
ninguém vai ver.
Realmente, estávamos debaixo de uma árvore grande, que nos
escondia da iluminação pública. Além disso, os vidros do carro de Logan
eram protegidos por uma película muito escura, que impedia que vissem o
interior do veículo. Concordei com a cabeça e deixei que erguesse a minha
blusa até a altura dos seios. O tecido era grosso, por isso, eu não usava
sutiã. Logan gemeu quando eles ficaram bem no seu campo de visão,
praticamente tocando o seu rosto.
— Porra, como eles são lindos. — Joguei a cabeça para trás quando
suas mãos se encheram com os meus seios. Eu era bastante sensível ali e
Logan parecia saber exatamente como tocá-los para me deixar louca. —
Abre a minha bermuda e esfrega essa bocetinha em mim enquanto eu chupo
seus peitos, meu bem. Quero que goze enquanto eu mamo neles.
Meu clitóris pulsou a cada palavra que escapou da boca de Logan.
— Acho que a minha boceta ama a sua boca suja — confidenciei
enquanto levava meus dedos até a sua bermuda.
O jogador riu baixinho e me ajudou a despi-lo, abrindo o fecho ao
mesmo tempo em que eu descia o zíper. Mordi o lábio com força ao ver a
ereção marcando a sua cueca. O líquido pré-ejaculatório manchava o tecido,
me deixando com água na boca. Sem conseguir tirar os olhos daquela
região, enrolei a minha saia e me sentei em cima do se pau, gemendo junto
com Logan ao rebolar lentamente sobre ele.
— Que delícia — sussurrei, arranhando a sua nuca e me contorcendo
ao sentir sua barba por fazer arranhar a pele do meu pescoço. Logan deu um
tapinha estalado em minha bunda e eu me sobressaltei, rebolando mais
forte.
— Coloca a calcinha de lado, quero só a minha cueca entre nós dois.
— Você está limpo? — perguntei, sondando os seus olhos.
— Sim. Faço exame regularmente por causa do time.
— Eu também estou e tomo anticoncepcional — informei, vendo os
seus olhos quase brilharem no meio da penumbra do carro. — Quero sentir
você.
Confiava em Logan de uma forma que nunca pensei que faria. Queria
viver aquela experiência com ele.
— Puta merda, Valente! Só não vou te comer agora, porque, quando
eu fizer isso, quero que seja na minha cama, com você bem aberta para mim
e sem ter hora para ir embora. — Ele me beijou com força rapidamente,
quase me arrancando uma risada. — Afasta a calcinha para mim.
Levei a mão até o meio das minhas pernas e coloquei a peça íntima
de lado, vendo Logan abaixar a cueca e deixar o pau pular para fora.
Lamentei por estar escuro demais e não poder ver o membro
completamente. O jogador tocou uma punheta rápida com a mão direita e
me tocou lentamente com os dedos da mão esquerda, me fazendo soltar um
suspiro muito alto.
— Meu Deus, Avalon. Vem cá, esfrega essa bocetinha babada em
mim.
Ele me guiou, segurando-me pela cintura, e gememos juntos quando
comecei a subir e descer em seu pau. Era uma delícia e, por ser bem grosso,
manteve os lábios da minha boceta abertos, com ele encaixadinho no meio.
— Ah, Logan... — Joguei a cabeça para trás mais uma vez, gemendo
de forma meio alucinada quando ele meteu um mamilo em sua boca. A
pressão me fez estremecer e aumentar a velocidade dos quadris. — Não
para!
Seus dedos apertaram a minha bunda com força e o meu clitóris
escorregou com facilidade pela base do seu pau até a cabeça desenhadinha e
robusta. Eu já não sabia mais se o que me mantinha tão melada era apenas a
minha lubrificação ou se a de Logan também escorria pelo seu pau, mas a
questão era que o roçar dos nossos sexos era delicioso demais. Seria difícil
segurar o orgasmo, principalmente quando os quadris de Logan começaram
a acompanhar os meus movimentos.
— Encoste as costas no volante. — Sua voz saiu quase
irreconhecível. Fiz o que pediu, e franzi o cenho quando ele me deu o seu
celular. — Acenda a lanterna para mim. — Minhas mãos estavam trêmulas,
mas consegui pressionar o ícone da lanterna na tela. — Agora ilumina aqui,
Valente.
Senti seus dedos voltarem a colocar minha calcinha de lado e
iluminei a região. Precisei pressionar os lábios um contra o outro quando
Logan guiou o pau bonito — e com veias salientes, do jeitinho que imaginei
— até o meio das minhas pernas e tocou a minha boceta de baixo para cima
com a glande rosinha e bruta, toda melada pela minha lubrificação e a dele
também. O contato com o meu clitóris me fez resfolegar e estremecer com
violência.
— Eu disse que iria realizar o seu desejo, não disse? — perguntou
ele, voltando a sondar a minha entrada e subindo muito lentamente até o
clitóris. — É bom?
— Sim... Muito, meu Deus!
O nervo pulsou de forma dolorosa e eu choraminguei, rebolando
contra a cabeça do seu pau em busca de mais contato. Logan massageou
meu clitóris com mais força, sem conseguir tirar os olhos do meio das
minhas pernas.
Era uma visão pornográfica. A cabeça bruta do seu pau ocupando
todo o espaço entre os lábios da minha boceta, me masturbando da mesma
forma que imaginei mais cedo enquanto me tocava. Era estímulo demais e
me senti ficar cega por alguns segundos quando o orgasmo atravessou o
meu corpo e pareceu se concentrar especificamente em meu clitóris, que
pulsava sem parar.
Acho que gritei, mas só consegui voltar a ter foco quando Logan
bateu com o pau em cima do grelinho inchado e sensível, dando golpes
sucessivos, até o primeiro jato de porra cobrir os meus lábios vaginais.
— Caralho, Valente! — Ele gemeu entredentes, se tocando bem
rápido e gozando sem parar.
O líquido branco e espesso cobriu a minha boceta inteira e deixou
todo o interior do carro cheirando a sexo. Eu tremia de forma quase
incontrolável e acabei deixando o seu celular cair em algum lugar quando
ele me puxou de encontro ao seu peito, tocando as minhas costas com as
mãos abertas.
— Eu queria ter gravado isso para rever toda hora. — Deixei escapar,
escondendo meu rosto em seu pescoço. Logan riu abaixo de mim, dando
um tapinha em minha bunda.
— Devo realizar essa sua fantasia também ou não?
— Vai querer colocar em prática tudo o que eu disser?
— Se você quiser, sim. — Afastei meu rosto do seu pescoço para
poder olhar em seus olhos sob a penumbra do carro. — Eu não sei o que
significa tudo isso que está acontecendo entre nós dois, Valente, mas quero
que saiba que estou gostando. Não porque está rolando sexo, mas porque eu
sinto que estou criando com você uma conexão que nunca criei com
ninguém.
Eu não esperava que Logan fosse falar algo tão sério naquele
momento, com nós dois praticamente nus e seu esperma ainda escorrendo
pelos meus lábios vaginais, mas gostei do que ouvi. Gostei muito.
— Eu me sinto da mesma forma.
— De verdade? Sei que já namorou antes e...
Logan parou de falar quando sacudi a cabeça em negação.
— Tucker era um idiota que se aproveitou de mim em um momento
que eu estava muito frágil, Logan. — Desabafei, tentando impedir que um
nó se formasse em minha garganta. — Eu tinha acabado de perder a minha
mãe e achei que podia confiar nele, acreditei que ele me ajudaria e seria um
porto seguro para mim naquele momento, já que eu precisava ser forte por
mim e pela minha irmã, mas eu apenas me enganei. Sabe tudo o que você
fez por mim quando soube da minha dívida com Charles? — Logan apenas
assentiu. — Ele não fez nem meio por cento para me ajudar. Não falo sobre
dinheiro, mas sobre se importar e se preocupar comigo. Você, que não era
nada meu, fez muito mais do que ele jamais ousou fazer.
— Onde ele está agora? — Logan perguntou, tomando meu rosto em
suas mãos. — Juro por Deus que se esse filho da puta ousar chegar perto de
você de novo, eu vou...
— Você não vai fazer nada — falei, vendo-o bufar. — Estou falando
sério, Logan. Tucker faz parte do meu passado e é lá que ele vai ficar. Eu
estou começando a viver de verdade pela primeira vez desde que cheguei ao
Alabama... Não quero que a sombra dele fique pairando sobre mim. Quero
me libertar de verdade das amarras que ele colocou a minha volta.
Logan me puxou de volta para o seu peito e me abraçou muito forte
durante longos minutos. Eu podia sentir o seu coração disparado e a forma
como parecia tentar controlar o que sentia ao respirar fundo. Seus lábios
tocaram a minha testa com delicadeza e ele disse baixinho:
— Não sei o que esse desgraçado fez com você, Valente, mas quero
que saiba que eu jamais te machucaria de qualquer forma. Ao contrário
dele, eu me importo e me preocupo com você.
— Eu sei disso. Se não confiasse em você, jamais estaria aqui agora,
Logan. — Ergui minha cabeça e tomei seu rosto em minhas mãos, dando
um beijo carinhoso na sua boca. — Obrigada por se importar de verdade
comigo.
Ele sacudiu a cabeça, como se dissesse que eu não precisava
agradecer, e voltou a me beijar delicadamente, desacelerando as batidas do
meu coração.
Pela primeira vez em longos e tortuosos meses, havia apenas
comentários bons sobre mim na internet. Após a vitória do terceiro jogo
com um placar de 63 pontos contra 7 do UL Monroe, o medo dos
torcedores de que eu fosse fazer uma temporada ruim havia ficado para trás.
Os canais de esporte teciam apenas elogios à minha atuação em campo e os
perfis de fofoca da faculdade davam destaque para o meu namoro com
Avalon.
Também era a primeira vez em muito tempo que eu me sentia
verdadeiramente bem.
A última semana havia sido uma loucura, com alguns trabalhos e
provas, portanto, Valente e eu não tivemos nenhum momento a sós, mas
ficamos juntos no campus e curtimos de verdade a companhia um do outro
sem estar encenando na frente dos alunos. Não sabia dizer se eles tinham
sentido alguma diferença entre nós dois, mas, com certeza, a nossa sintonia
ficou mais clara para eles da mesma forma que ficou para mim.
Quando eu não estava com Avalon, pensava nela e sentia a sua falta.
Quando estava com ela, perdia a noção do tempo e lamentava ter que me
afastar. Chegava a ser estranho lembrar de como eu me sentia quando nos
conhecemos, a antipatia que nutrimos um pelo outro, o fato de que eu a
achava estranha, apenas por não se vestir ou se portar como as outras
garotas. Valente tinha a língua afiada e aquele nariz empinado de dona da
razão, mas, agora que a conhecia de verdade, percebia que ela se escondia
um pouco atrás de toda aquela atitude, como eu fazia ao me esconder atrás
das bebidas, das festas e das garotas com quem ficava.
Avalon tinha apenas vinte e um anos, mas já havia enfrentado tanta
coisa. A morte da mãe, a doença da irmã, o relacionamento ruim com
aquele filho da puta chamado Tucker, que havia me deixado sem dormir por
algumas noites, preocupado com o que ele podia ter feito contra ela, a
mudança para outra cidade, sozinha com a sua irmã mais nova, a dívida
com aquele traficante desgraçado.
A garota era forte por tudo o que já havia vivido e me inspirava,
mesmo sem saber.
O treinador Coben entrou no vestiário e eu me levantei, deixando de
lado qualquer distração, preparado para entrar em campo com o meu time.
Jogaríamos contra o Arkansas naquela noite e eu me sentia confiante,
mesmo sem Avalon na arquibancada, pois aquele jogo seria na casa do time
adversário.
Após repassar conosco as falhas da defesa do Arkansas, o treinador
nos desejou um bom jogo, deixando claro que confiava no nosso time.
Olhei para James e Benjamin, vendo que estavam tão confiantes quanto
Coben e eu.
Aquele jogo era nosso e só sairíamos do campo com uma vitória.

— Nós somos fodas, puta que pariu!


James bateu com o punho no meu e no de Benjamin, antes de
encostarmos nossas long necks em um brinde animado. Estávamos no
quarto de hotel depois da partida contra o Arkansas, da qual saímos
vencedores em um placar de 49 pontos contra 26 do time adversário. O
treinador Coben provavelmente comeria o nosso fígado se soubesse que
estávamos bebendo escondido no quarto, mas valia a pena correr o risco
para poder comemorar com os meus melhores amigos.
— Essa temporada é nossa, vocês sabem disso, não é? — Benjamin
perguntou, enfiando uma porção de amendoim na boca.
— Com certeza, cara — James concordou.
— Essa temporada precisa ser nossa — falei, dando mais um gole na
minha cerveja. — Perder não é uma opção.
— Sabemos como essa vitória é importante para você, irmão.
— Ben está certo. O time inteiro está lutando por esse objetivo,
Logan. Você sabe que ninguém ali te julgou por você não ter comparecido
ao último jogo da temporada passada, não sabe?
Virei o rosto em direção à janela, pensando em me esquivar da
pergunta de James, mas como estava cansado de agir de forma covarde em
relação àquele assunto, voltei a encarar os meus melhores amigos.
— Eu sei, mas é impossível não me culpar, de certa forma. Sei que
aquela derrota aconteceu por culpa minha.
— Claro que não, Logan...
— Eu sumi sem dar qualquer explicação, James.
— Sua mãe morreu naquela tarde, Logan. Quer explicação maior do
que essa? — Benjamin questionou, me dando um olhar sério que era atípico
da sua personalidade. — Você precisa parar de se cobrar tanto, irmão.
Ninguém ali esperava que você fosse comparecer depois que soubemos da
notícia. Nenhum de nós culpa você por aquela derrota.
Tomei mais um pouco da cerveja, querendo que, junto com ela,
descesse o nó que começava a apertar a minha garganta. Depois de
segundos em silêncio, ouvindo apenas a música que tocava pela TV, James
perguntou:
— Essa é a primeira vez que você fala abertamente sobre aquele dia.
Percebeu isso?
Olhei para ele, surpreso. James tinha razão. Eu sempre me esquivei
de falar sobre aquele dia terrível, que considerava como o pior da minha
vida. Lembrava-me de ter acordado com uma sensação boa no peito, pois
havia sonhado com a minha mãe. Ela estava bem e dizia que tinha muito
orgulho de mim, que sabia que eu conquistaria todos os meus sonhos e que
jamais iria me abandonar. Senti esperança de que ela acordaria do coma em
breve e passei o início daquela manhã no hospital, conversando com ela,
tendo a certeza de que estava ouvindo tudo o que eu dizia.
Até aquele momento, eu não tinha dado certeza de que iria jogar ou
não. Minha mãe havia sofrido um acidente de carro gravíssimo em Los
Angeles três semanas antes e tinha sido transferida para o Alabama há
poucos dias. Eu não tive cabeça para focar nos treinos, preocupado demais
com o seu estado de saúde e cobrando junto com o meu pai respostas das
autoridades, porque tudo o que sabíamos, era que um carro desgovernado
havia batido no dela por trás.
Minha mãe perdeu o controle do veículo, que se chocou contra uma
árvore. O impacto foi muito forte, pois, ao que tudo indicava, ela havia
apagado ao bater a cabeça contra o volante e o seu pé tinha afundado no
acelerador. O airbag não funcionou e a parte da frente do seu carro ficou
completamente destruída. As pernas da minha mãe ficaram presas nas
ferragens e ela sofreu um traumatismo cranioencefálico.
Depois de ter passado aquela manhã com ela, senti que eu poderia
dar o meu melhor no jogo, porque sabia que era aquilo que minha mãe
queria de mim. Prometi em seu leito que conquistaria a temporada ao lado
do meu time e que dedicaria aquela vitória para ela. Cheguei a avisar ao
treinador que eu iria jogar, mas, antes de sair de casa para ir para a
concentração, meu pai recebeu uma ligação do hospital avisando que minha
mãe havia sofrido morte cerebral.
Foi como se o mundo tivesse desabado sobre a minha cabeça. Eu
perdi completamente a minha capacidade de compreensão, o choque me
paralisou, nem mesmo o choro alto de Norah alcançou os meus ouvidos. Eu
me senti... oco. Não consegui chorar, não consegui gritar, não consegui
pensar. Só me lembrava de ter pegado a chave do meu carro e dirigido por
horas, até parar em um bar sujo na beira de uma estrada e beber até
praticamente perder a consciência.
A partir daí, minha memória era uma confusão de imagens sem
sentido, barulho de chuva, gritos de guerra do time e uma garota
desconhecida ao meu lado, me impedindo de me jogar de uma ponte. Não
sabia o que era real ou não, mas acreditava que a última parte era só fruto
de um sonho louco, produzido pela minha mente bêbada.
Só fui descobrir sobre a derrota do time dias depois e a culpa por ter
deixado os meus companheiros na mão se acumulou ao lado da dor de
perder a minha mãe. Meu lado racional sabia que eu não podia me culpar
pela derrota do Crimson, mas eu não conseguia evitar. Os sentimentos
negativos que me sufocavam, apenas colaboraram para que eu entrasse no
ciclo ruim que me levou a ganhar a fama da qual estava lutando para me
livrar agora.
Era engraçado perceber que eu finalmente estava me sentindo leve
pela primeira vez em muito tempo. Ainda havia certa culpa por estar me
desprendendo de hábitos ruins, pois parte de mim acreditava que estar me
afundando no poço era o que eu merecia, mas eu vinha lutando para me
convencer de que eu merecia mais do que aquilo.
Minha mãe não ia querer ver o seu filho se perder da forma como eu
vinha me perdendo. Tinha certeza de que, se pudesse, ela estaria dando um
puxão em minha orelha e me comendo no esporro se estivesse ao meu lado.
Era por ela que eu estava me reerguendo, pois queria que se orgulhasse de
mim, pelo menos um pouco, onde quer que estivesse.
— Sim, eu percebi — respondi à pergunta de James, percebendo que
havia ficado os últimos minutos em silêncio.
Como sabiam que aquele assunto era difícil para mim, meus amigos
não me cobraram, apenas me esperaram começar a falar. Era por isso que eu
amava aqueles dois babacas como se fossem meus irmãos.
— Eu sinto que estou, aos poucos, me libertando daquela dor terrível
que me paralisava ao pensar na minha mãe. Ainda não consigo aceitar a
sua... A sua morte. — Era até difícil falar. — Mas a raiva que eu sentia já
não tem a mesma força de antes, e aquele sentimento de que eu não merecia
me sentir bem ou feliz, também já não me sufoca com a mesma intensidade.
Isso não é estranho? Vocês não acham que eu deveria me culpar por estar
vivendo sem... sem tê-la ao meu lado?
— Claro que não, Logan. É o contrário, cara, você precisa viver,
precisa dar valor ao homem que a sua mãe criou com tanto carinho —
Benjamin disse, colocando a garrafa vazia de cerveja na mesinha de centro
da suíte que estávamos ocupando. Daquela vez, o quarto era triplo, por isso,
conseguimos ficar juntos.
— Acha que ela ia querer que você fosse infeliz? — James
perguntou. — Nenhuma mãe quer isso para um filho, irmão. Era isso que
nós vínhamos tentando te dizer há meses e você se recusava a escutar. Sua
mãe, onde quer que esteja, quer te ver bem e feliz, Logan, como tem estado
nas últimas semanas.
— Eu já não me lembrava mais da última vez que você tinha sorrido
ou gargalhado de verdade, sem estar sob a influência do álcool. Você se
lembrava, James?
— Não. — James limpou a garganta, como se estivesse emocionado,
e me deu um sorriso. — Mas, então, uma certa ruiva apareceu... Lembra
disso, Ben?
— É, eu me lembro bem. Uma ruiva gostosa que tirou esse babaca do
sério.
— Cadê o respeito, porra? — Benjamin se esquivou quando joguei
uma almofada em sua direção, rindo da minha cara. — Idiota.
— Viu como você fica quando falamos sobre Valente?
— É Avalon, James! Puta que pariu!
Os dois riram de mim e eu cruzei os braços, me sentindo um pouco
idiota por estar com ciúmes. No fundo, eu sabia que os dois só queriam me
provocar e eu estava caindo como um bobo.
— Você fica todo irritadinho. Assume logo que a garota mudou a sua
vida nesse mês em que ficaram juntos e que você está louco por ela, QB. —
Ben arqueou a sobrancelha em minha direção.
Olhei para os meus dois melhores amigos, tentando entender como
eu havia chegado ali, naquele momento fatídico, sendo colocado contra a
parede.
— Talvez eu esteja — murmurei, vendo os dois gargalharem. — Eu
disse talvez! Nunca senti nada disso antes, ok? Estou confuso.
— Isso é normal. A gente demora a perceber que está apaixonado,
Logan — James disse, terminando a sua cerveja.
Percebi que a minha ainda estava acima da metade, em cima da
mesinha de centro. Sequer me lembrava de ter a deixado sobre o móvel.
Demorei a me dar conta do que James disse.
— Será que estou apaixonado? — Meus olhos estavam arregalados.
Benjamin deu de ombros.
— James disse que você gozou nas calças, então, deve estar.
— Você contou essa porra para ele? — Peguei outra almofada, que
estava no chão, e joguei em James, que agarrou no ar enquanto ria de mim.
— Seu filho da puta!
— Eu não podia guardar aquela cena só para mim!
— Você é um babaca. — Sacudi a cabeça, tentando não rir. Se eu
estivesse no lugar de James, também contaria, então, nem pude fingir por
mais tempo que estava com raiva. — Mas o que a gozada na calça tem a ver
com paixão, Benjamin?
— Para mim, é bem óbvio. Você gosta dela e não quer apressar as
coisas, sente um tesão do caralho, mas não pode transar ainda... Gozar nas
calças foi a solução que você encontrou para não ficar com as bolas roxas.
— É uma boa analogia — James concordou e eu revirei os olhos. Eu
tinha péssimos amigos.
Péssimos.
Os piores.
— Não posso acreditar em você, Ben. Nunca se apaixonou na vida.
— Graças a Deus. — O babaca riu, safado. — Mas James já se
apaixonou e concorda comigo.
— Mas eu nunca gozei nas calças.
— Então não foi uma paixão de verdade — Benjamin respondeu,
recebendo o dedo do meio de James.
Os dois começaram a discutir como dois adolescentes e eu aproveitei
para pegar o celular e ligar novamente para Avalon. Havia tentado falar
com ela ainda no ônibus do time, a caminho do hotel, mas tinha chamado
até cair na caixa postal. Como era sábado e eu sabia que a maioria dos
torcedores se reuniam no bar da Maeve para ver o jogo, deixei para tentar
falar com ela depois, pois sabia que devia estar louca atendendo um monte
de clientes.
Daquela vez, Valente atendeu no terceiro toque, aparecendo toda
linda na tela do meu celular. Não pude deixar de sorrir quando ela afastou
um pouco a câmera e mostrou que vestia a minha camisa.
— Valente, não acredito que está usando a camisa. Pensei que só
vestiria quando fosse me assistir jogar.
— Mas eu te assisti jogar, só que pela TV. — Virei o celular quando
James e Benjamin começaram a cumprimentá-la. — Oi, meninos!
Parabéns, vocês arrasaram hoje. Ben, o que foi aquele touchdown? Pensei
que as paredes do bar iam cair, de tanto que todo mundo aqui comemorou.
Benjamin sorriu de orelha a orelha.
— Gostou, Valente? Ei, espera, babaca, eu não terminei de falar com
ela! — Benjamin reclamou quando virei o celular em minha direção de
novo.
— Quando você aprender que o nome dela é Avalon, deixo que volte
a falar com a minha garota.
— Está com ciúmes, estrelinha dourada?
— Hm, estrelinha dourada... Posso roubar, Valente? — James
perguntou, me olhando com deboche.
— Acho melhor não. Talvez, eu seja um pouco ciumenta com
apelidos também.
— Puta que pariu, vocês são bregas demais. Acho que estou com
diabetes — Benjamin comentou.
Avalon ia responder, mas olhou além da câmera do celular quando
alguém chamou por ela. Apesar do falatório e da música que tocava no bar,
pude perceber que era uma voz masculina. Podia ser um cliente qualquer
pedindo uma bebida, mas quando Valente sorriu e foi simpática demais,
entendi que era alguém que ela conhecia.
— Dylan! Minha nossa, o que você está fazendo aqui no Alabama?
— Os olhos de Avalon estavam arregalados, mas ela não parava de sorrir
daquela forma espontânea e animada, como quando sorria para mim. Franzi
o cenho, sentindo um gosto amargo na boca.
— Vim aqui te ver. Você sumiu, Avalon Banks!
Ele foi vê-la? Quem era aquele idiota?
— Valente?
Avalon voltou a olhar para mim e fez um sinal, como se pedisse para
o idiota esperar.
— Logan, um colega da UCLA acabou de chegar aqui, acredita?
Com certeza você o conhece! — Avalon virou o celular e se filmou perto de
um cara ruivo. Ele estava atrás do balcão, onde eu sempre me sentava, perto
demais da minha garota, enquanto Valente estava do lado de dentro, como
sempre. — Esse é o Dylan[11]! Ele jogava basquete no UCLA Bruins, mas
agora está jogando no Golden State Warriors!
Finalmente o reconheci. Dylan Ferrazzo, o ala armador que havia
sido draftado naquele ano. Como ele e Valente se conheciam? Podiam
estudar na mesma faculdade, mas, assim como a Universidade do Alabama,
a UCLA era enorme.
— Prazer, cara! Porra, que jogaço foi esse? Vocês foram fodas
demais em campo! Essa temporada tá no papo!
— Valeu. Foi um prazer te conhecer também — falei, mas, no fundo,
queria fazer uma série de perguntas ao idiota.
Que história era aquela de que ele havia ido ao Alabama apenas para
ver a minha garota?
Que interesse tinha em Avalon?
Será que os dois haviam ficado em algum momento, quando ela
morava na Califórnia?
Será que mantinham contato?
O que ele queria com ela?
E o principal: por que Avalon não me apresentou como seu namorado
para ele?
— Logan? — Voltei o meu foco para o celular e percebi que Avalon
tinha se afastado do babaca e estava perto da parede com prateleiras de
bebidas. — Está tudo bem? Você ficou calado de repente.
Não estava nada bem. Eu estava do outro lado do país, longe de
Avalon, enquanto um filho da puta qualquer estava perto dela, com certeza,
interessado e doido para colocar as mãos na minha mulher! Quer dizer...
Avalon era minha, certo? Nós estávamos juntos, pelo menos, para o mundo
todo.
Mas não para aquele babaca, pois Avalon não disse a ele que
estávamos namorando. Por que ela não disse?
— Preciso desligar, Avalon. Estou com sono.
Ela piscou, parecendo surpresa, mas logo olhou para trás quando
alguém a chamou. Será que era o tal do Dylan? Porra!
— Claro, você precisa descansar mesmo, imagino que esteja
quebrado depois do jogo de hoje. Quer dizer, você não se machucou, não
é? Sempre fico chocada com a forma como aqueles brutamontes vão para
cima de você.
— Eu estou bem, não se preocupe. Vai atender o seu amigo. Beijos!
Acenei para ela e desliguei, sentindo o meu coração disparar de
forma violenta no peito. Minhas pernas e mãos tremiam. Puta merda, o que
estava acontecendo comigo? E por que eu tive que encerrar a chamada de
vídeo daquele jeito tão escroto? Porra!
— Eu não acredito. — A voz risonha de James me fez lembrar que
ele e Benjamin continuavam ali, bem na minha frente. — Você acabou de
ter uma crise de ciúmes, Logan Miller III?
Senti o impacto das suas palavras bem em meu estômago, como se
fosse um soco. A dimensão do que eu havia acabado de fazer e da forma
como estava me sentindo, me fez arregalar os olhos.
— Não — neguei, sem veemência alguma. — É claro que não!
— Cara, você está tremendo de ciúmes! — Benjamin riu alto,
jogando a cabeça para trás. — É oficial, você está de quatro por essa garota!
— Não estou tremendo! — falei, me levantando e fechando as mãos
em punhos para disfarçar. — Eu só não entendi o que aquele babaca foi
fazer lá! Vocês o ouviram falando que tinha ido ao Alabama apenas para ver
a Avalon? Quem ele pensa que é? O que quer com ela?
— Eu acho que foi apenas uma maneira de dizer, Logan. O Golden
State jogou ontem à noite no Alabama, provavelmente, Dylan sabia que
Avalon trabalhava no bar da Maeve e foi lá cumprimentá-la. Até onde eu
sei, o cara tá namorando uma menina chamada Kim e parece ser louco por
ela — James disse, me estendendo o seu celular. — Olha aí o Instagram
dele. Eu o sigo na rede social, porque você sabe que adoro basquete.
Dei uma olhada no perfil do idiota, fazendo uma careta. A cada seis
fotos, pelo menos quatro eram com uma garota muito bonita, sempre com
declarações apaixonadas. Sem conseguir me segurar, cliquei em seus stories
e vi uma série de vídeos sobre a sua atuação na noite passada e a
localização do Alabama. Então, em um story postado há menos de dois
minutos, vi ele e a namorada no bar da Maeve, em um boomerang, dando
um beijo na boca.
Ele não havia ido até o Alabama apenas para ver Avalon ou porque
estava interessado nela. O cara tinha levado a namorada dele para o bar,
porra!
Puta que pariu. Eu era um idiota.
Entreguei o celular para James e cocei a cabeça, me dando conta de
que, além de ter sido dominado pelo ciúme, havia sido um babaca ao
desligar na cara de Valente daquele jeito.
Precisava consertar aquela merda, antes que a garota geniosa
resolvesse me dar um chute na bunda.
Eu tinha planos de dormir até mais tarde naquele domingo, mas
Aubrey me acordou às oito da manhã, toda entusiasmada para se despedir
de mim. Era aniversário de uma das suas amigas e elas iriam se reunir para
passar a manhã e a tarde juntas em um parque, sob a supervisão dos pais da
garota, claro. Acabei perdendo o sono depois que Aubrey saiu com os pais
da amiguinha e fiquei jogada no sofá, tentando prestar atenção em um
episódio de Friends enquanto tomava café da manhã.
Era difícil me concentrar em qualquer coisa depois da forma estranha
como Logan se despediu de mim na noite passada. Tinha ficado rolando na
cama ao me deitar de madrugada, tentando entender se eu tinha dito algo de
errado. Aquela sensação me deixava um pouco sufocada e insegura, com
certa culpa, também, ainda que eu não soubesse o que de fato tinha
acontecido ou se eu havia feito alguma coisa para causar aquela situação.
Resquícios que um relacionamento ruim deixavam para trás.
Cheguei a pensar em enviar uma mensagem para Logan, só para
perguntar se estava tudo bem, mas desisti. Talvez, ele estivesse mesmo
cansado e eu que estava agindo como uma boba, me preocupando à toa. Foi
o que repeti constantemente para mim mesma para me convencer de não
havia nada de errado, mas o aperto em meu peito insistia em me fazer sentir
o contrário.
O barulho de duas batidas em minha porta me fez deixar a tigela de
cereal quase vazia sobre a mesinha de centro e me levantar. Achei estranho
que estivessem batendo diretamente na porta do meu apartamento àquela
hora da manhã, mas talvez fosse Maeve querendo pedir alguma coisa.
Meu coração deu um pulo assustado quando vi Logan assim que abri
a porta, com uma mochila do time nas costas e uma mala de mão ao seu
lado. Ele me deu um sorriso de desculpas e olhou em direção à escada.
— Encontrei com Maeve ali embaixo e ela abriu a porta para que eu
subisse. Fiz mal?
— Não! Entra, por favor. Você veio direto do aeroporto? — Era a
única explicação para ele estar com aquela mala.
— Sim, eu não podia esperar nem mais um segundo para vir te ver,
Valente.
Logan entrou e deixou a mochila e a bagagem em um canto. Eu ainda
estava confusa com a sua presença ali e demorei para fechar a porta e passar
a chave, olhando para ele como se fosse uma miragem. Meu coração se
apertou um pouco mais. Sabia que havia alguma coisa errada!
— Por... Por quê? — questionei, ficando nervosa.
Logan se aproximou de mim e me surpreendeu ao tocar em meu
rosto. Por um milésimo de segundo eu quase me encolhi. Senti cada pelo do
meu corpo ficar arrepiado pelo sentimento repentino que cruzou o meu
peito. Não causado por Logan, mas por tudo o que eu havia vivenciado no
passado e que parecia ter saltado em minha mente após a forma abrupta
com que o quarterback rompeu a nossa ligação.
— Você está tremendo? — Logan tocou o meu rosto com a outra
mão e me deu um olhar preocupado. — Avalon, o que houve?
— Na... nada.
— Como nada? Vem aqui. — Ele me puxou delicadamente em
direção ao seu peito e me deu um abraço bem forte, fazendo com que
lágrimas idiotas enchessem os meus olhos. — Valente...
Logan parou de falar quando um soluço escapou do fundo do meu
peito. Foi como se a parede forte que construí ao redor do meu peito e da
minha mente tivesse ruído, não conseguindo suportar a avalanche de
emoções que simplesmente transbordou sem que eu tivesse qualquer
controle da situação.
Eu queria parar de chorar, mas não consegui.
Queria parar de me lembrar daquela época terrível, mas minha mente
não me obedecia.
Queria me livrar do medo e da sensação de impotência, mas meu
coração não colaborava.
Queria me livrar da culpa, mas ela se recusava a ir embora.
Agarrei-me a Logan com uma força que eu nem sabia que tinha,
cruzando meus braços em sua cintura e encharcando seu peito com as
minhas lágrimas. Era difícil respirar, minha garganta pinicava como se mil
agulhas estivessem enfiadas nela e o meu peito doía.
Meu Deus, eu odiava aquela sensação. Odiava me sentir tão fraca e
inútil outra vez!
— Eu estou aqui, meu amor. — A voz grave de Logan ultrapassou a
pressão em meus ouvidos, atingindo diretamente o meu coração. — Estou
aqui, Valente, nada de ruim vai acontecer, eu prometo.
— Des... Desculpa.
— O quê?
— Descul... culpa — solucei, tentando fazer com que ele me
entendesse, tentando repetir aquela palavra milhares e milhares de vezes.
De novo. — Desculpa, desculpa...
— Não! Pare com isso. — Logan me afastou do seu peito e voltou a
tomar o meu rosto em suas mãos. Eu mal conseguia enxergá-lo através das
lágrimas, mesmo assim, ele secou cada uma que caía. — Você não tem que
se desculpar por nada, Valente. Não sei o que aconteceu, mas não foi culpa
sua, entendeu? Não foi culpa sua.
— Mas vo... Você ontem... Você desligou o tele... telefone e... E...
Eu não conseguia parar de soluçar e tremer. Logan voltou a me puxar
em direção ao seu peito e passou as mãos devagar pelas minhas costas. Eu
podia sentir como seu coração estava acelerado, quase tanto quanto o meu.
— Preste atenção nisso aqui — pediu muito baixinho. — Tente
respirar na velocidade do meu toque. Assim... Isso, meu bem.
Ele subiu e desceu as mãos pelas minhas costas muito devagar, em
uma carícia que me fez chorar de novo, mas sem ser de desespero. As
lágrimas começaram a cair porque aquela era a primeira vez em muito
tempo que alguém cuidava de mim. A última vez que fui tocada daquele
jeito, foi quando minha mãe estava viva. Eu quase não conseguia me
lembrar mais.
Lentamente, minha respiração foi desacelerando, assim como as
batidas frenéticas do meu coração. Eu podia ouvir os batimentos de Logan e
aquilo também serviu para me distrair do turbilhão de pensamentos,
lembranças e emoções que minha mente parecia jogar de um lado para o
outro, como uma bolinha de ping pong. Não saberia dizer quanto tempo se
passou enquanto ficamos ali, parados no meio da minha sala, apenas com o
volume baixo da TV interrompendo o silêncio, misturado aos soluços
esporádicos que eu não conseguia controlar.
Sem falar nada, Logan me levou até o meu quarto e fez com que eu
me deitasse, se deitando ao meu lado em seguida e se virando em minha
direção. Ficamos de frente um para o outro e olhar em seus olhos me
transmitiu paz, apesar de ele estar visivelmente preocupado e carregando
um outro sentimento que não entendi o que era. Esperei ser invadida pela
vergonha após o meu rompante, mas o fato de não haver qualquer
julgamento em seus olhos me deixou surpreendentemente calma. Ainda
assim, a sensação de que eu deveria pedir desculpas não me deixou em paz.
— Logan, eu... Eu preciso me descul...
— Não. — Ele pousou dois dedos sobre a minha boca e franziu
levemente o cenho. Só naquele momento percebi que seu nariz estava
levemente vermelho e que seus cílios estavam úmidos. Logan havia
chorado junto comigo? Por quê? — Não posso deixar que você diga isso de
novo. Simplesmente não posso, Avalon.
— Por quê? — Minha voz não era nada mais do que um sussurro.
— Porque a culpa é claramente minha, não sua.
— Não é. Fui eu que...
— O quê? O que você fez?
— Eu... Eu...
Parei por um momento, tentando explicar o porquê de a culpa ser
minha, o que eu havia feito, mas percebi que eu não sabia. E era por isso
que me sentia tão mal, porque, ainda que eu não soubesse o que havia feito,
sentia que se ele tinha agido daquela forma antes, era por minha causa.
Porque, antigamente, sempre foi por minha causa, mesmo quando eu
não sabia o motivo.
— Você não sabe, não é? — Logan perguntou e eu engoli em seco,
sem querer confirmar ou negar. — Você não sabe, porque não fez nada,
Valente. Eu que fiz. Fiquei com ciúmes de você por causa daquele jogador
de basquete e acabei agindo como um idiota, desligando daquele jeito. Foi
por isso que vim direto para cá do aeroporto, porque precisava me desculpar
com você. Nunca imaginei que te encontraria assim. Pensei que estaria com
raiva de mim.
— Por que eu estaria com raiva de você?
— Porque a Avalon que eu conheço, estaria dando um chute no meu
saco e deixando bem claro que eu agi feito uma criança. — Ele tocou em
meu rosto e trincou a mandíbula, como se estivesse com raiva, mas percebi
que não era de mim. — Só que a Avalon que eu conheço ainda não tinha me
mostrado essa versão machucada e traumatizada por aquele filho da puta.
Como ele sabia daquilo? Senti meu queixo tremer e as lágrimas
voltarem a inundar os meus olhos.
— Logan...
— Quantas vezes aquele desgraçado culpou você por algo que ele
mesmo havia feito, Valente? — perguntou, franzindo o cenho novamente.
— Quantas vezes ele te machucou e conseguiu se infiltrar na sua cabeça?
Eu queria fechar os olhos e fingir que não estávamos prestes a ter
aquela conversa, mas sabia que eu precisava falar. Eu precisava falar com
alguém, pelo menos uma vez, e Logan era a pessoa em que eu mais
confiava naquele momento.
— Muitas vezes — confidenciei baixinho, sentindo Logan tentar
secar as minhas lágrimas. — Ele era ciumento de uma forma doentia e
sempre quando vinha para cima de mim, deixava claro que a culpa era
minha. Porque eu havia falado com alguém, dado um sorriso, um aperto de
mão... Qualquer coisa. Não era como você age com os seus amigos, era...
Diferente.
— Ele ia para cima de você? — Concordei com a cabeça e Logan
fechou os olhos com força, como se soubesse o que eu queria dizer e não
suportasse o peso da resposta. — Valente... Aquele filho da puta tocou em
você?
— Uma vez.
— Puta que pariu! — Logan estava com o rosto vermelho de raiva,
mas parou de xingar para me ouvir.
— Depois disso, eu o denunciei para a polícia. Eu fiz isso porque...
Ele me bateu enquanto minha irmã estava no cômodo ao lado, praticamente
dopada por causa dos remédios para dor depois de uma crise e eu pensei....
Pensei que se ele teve coragem de fazer aquilo mesmo sabendo que ela
estava ali, do nosso lado, se eu desse qualquer outra chance para ele, em
qualquer outro lugar, ele ia... Ele poderia me...
— Não! — Logan me puxou para mais perto, colocando minha
cabeça sobre seu peito. Ele beijou a minha testa repetidas vezes e voltou a
passar a mão trêmula pelas minhas costas. — Não diga isso. Acabou,
Valente. Ele não vai fazer nada com você. Nunca mais.
— É o que eu falo para mim mesma desde o dia em que cheguei ao
Alabama.
— Foi por isso que você resolveu sair da Califórnia, então?
— Não foi o único motivo, mas foi o principal. Eu soube que ele
seria liberado, pois a família tem certa influência, então, liguei para Maeve
e pedi ajuda. Eu não tenho qualquer parente além da Aubrey e Maeve era
uma amiga de infância da minha mãe.
Logan me abraçou mais forte, com o coração batendo acelerado de
novo. Ficamos minutos daquele jeito, até que ele falou:
— É engraçado pensar que, mesmo bêbado, eu consegui dar para
você o apelido perfeito. Acho que enxerguei a sua força mesmo antes de te
conhecer, Avalon. Você é, com certeza, a pessoa mais valente e corajosa que
eu já conheci na vida.
— Eu sou? — Ri baixinho, ainda chorando um pouco. Logan voltou
a colocar a minha cabeça no travesseiro ao seu lado e me olhou com uma
admiração que me tirou o fôlego.
— Você é. E eu tenho certeza de que esse é apenas um dos motivos
para eu ter me apaixonado por você.
Os meus lábios se separaram sem qualquer controle, destruindo o
sorriso que eu estava dando para o quarterback.
— O... O quê?
— Você ouviu bem, Valente. — Ele me deu um sorrisinho, ficando
com as bochechas vermelhas de novo. Não era de raiva. Não, estava bem
longe disso. — Eu poderia dizer que não sei como isso aconteceu, mas,
pensando agora, eu acho que sei, sim. Aconteceu no momento em que
encontrei uma ruiva doida dentro do meu quarto. Ela me falou umas
verdades, apontou o dedo na minha cara e saiu pisando duro. Depois desse
dia, qualquer passo que eu dava, me levava até ela. Tudo conspirou para
que eu a reencontrasse infinitas vezes, mesmo quando eu dizia para mim
mesmo que ela era insuportável.
— Acho que ela também te achava um insuportável.
— E eu era mesmo. — Ele riu. — Eu fazia de tudo para ser
insuportável, porque era a única forma que eu encontrei para suportar a
minha dor. Só que essa ruiva me mostrou, através da sua valentia, que eu
também poderia ser forte para lidar com aquilo que me machucava. Ela me
inspirou, mesmo sem saber. E me inspira cada vez mais.
— Ah, meu Deus. — Passei a mão pelo meu rosto, precisando tirar o
rastro de lágrimas que ainda o banhava. — Para com isso, meu coração vai
explodir, estrelinha dourada.
— Espero que seja de sentimentos bons.
— Claro que é. Não percebeu ainda, Logan? — Ele franziu o cenho.
Meu Deus, era um tapado mesmo, mas eu gostava dele mesmo assim. —
Mesmo dizendo para mim mesma que eu nunca mais confiaria em qualquer
outro homem, comecei a confiar em você sem nem perceber. Deixei você
entrar na minha vida, na minha casa, na vida da minha irmã, sem em
momento algum colocar em dúvida as suas ações ou intenções. Tudo isso
porque, antes de a minha parte racional entender, o meu coração já confiava
em você.
— Puta merda! Tá querendo dizer que está apaixonada por mim,
Valente?
— O que você acha?
Não era possível que depois de todo aquele discurso, Logan ainda
não tivesse entendido. Estava prestes a dar um tapinha em sua cabeça, para
ver se seu cérebro começava a funcionar, quando o quarterback abriu
aquele sorriso que me tirava o fôlego e simplesmente se deitou sobre mim,
jogando seus mais de noventa quilos de puro músculo sobre o meu corpo
pequeno.
— Logan! — Eu ri, sentindo seu rosto em meu pescoço, me fazendo
cócegas com a sua barba por fazer. — Para com isso, seu doido!
— Não consigo! — Logan fez uma trilha de beijos da minha orelha
até alcançar a minha boca. Esperei que me beijasse, mas ele voltou falar: —
Tem noção de que eu passei o caminho inteiro até aqui, pensando em como
iria sobreviver depois que você risse da minha cara e dissesse que jamais
iria se apaixonar por mim?
— Então, já estava nos seus planos se declarar?
— Sim. Eu passei praticamente a noite toda acordado, pensando na
forma como havia agido. Os meninos fizeram questão de esfregar na minha
cara que eu estava com ciúmes e me mostraram que o jogador de basquete
tinha uma namorada. Na minha cabeça, ele tinha vindo até aqui porque
estava interessado em você.
— Dylan? Interessado em mim? Não! — Sacudi a cabeça, fazendo
careta só em pensar naquilo. — Ele é apenas um colega... Quer dizer, acho
que posso chamá-lo de amigo, o único que realmente me ajudou quando
precisei. Nós tínhamos pouco contato na faculdade, mas quando ele soube
que eu havia perdido a minha mãe e que minha irmã estava doente, quis me
ajudar. Eu recusei, é claro, mas nos aproximamos um pouco... Quando
resolvi vender a minha casa para poder conseguir manter o tratamento de
Aubrey, Dylan se prontificou a comprar, mesmo sem precisar. Foi para ele
que vendi. Na época, ele ainda queria que eu continuasse na casa, mas eu
não quis, porque não queria morar de favor em uma casa que um dia havia
sido da minha mãe... Enfim, tenho carinho e gratidão por Dylan, nada mais.
— Não precisava me explicar nada disso, Valente. Eu fui um idiota
agindo daquela forma, percebi assim que desliguei o telefone. Se soubesse
que o que eu havia feito, iria fazer você reagir desse jeito, tinha fretado um
jatinho ontem à noite para vir te ver.
— Meu Deus, Logan, você é muito riquinho mesmo! — Ri, vendo-o
dar de ombros. — Você não tinha como adivinhar. Foi um gatilho, só isso.
— Toquei em seu rosto, finalmente me sentindo bem depois do que havia
acontecido. — Quando eu tiver com uma condição financeira melhor, vou
procurar um psicólogo.
— Jura?
— Sim. Alguns traumas a gente não consegue vencer sozinho.
— Talvez eu faça isso também. Um dia.
— Vai ser muito bom para você, Logan.
Ele concordou com a cabeça e passou o nariz de leve no meu, me
arrancando um suspiro.
— Sabe o que seria muito bom para mim agora, Valente?
— O quê?
— Um beijo seu.
Sorri, sentindo meu coração bater forte de novo, mas por um motivo
completamente diferente.
— Então me beija e não pare nunca mais.
Logan não hesitou em fazer o que pedi.
Ter a boca de Valente na minha naquele momento era, realmente, a
única coisa capaz de fazer com que a raiva que eu sentia pelo filho da puta
do seu ex, parasse de borbulhar em minhas veias.
Havia a raiva que eu sentia por mim mesmo, também. O
arrependimento pela forma como agi com ela e a culpa por saber que eu
havia despertado um gatilho tão forte, que fez com que se desesperasse
daquele jeito. Enquanto eu vivesse, não conseguiria esquecer a reação de
Avalon. E eu realmente não queria que aquele momento escapasse da minha
memória, usaria como aprendizado para nunca mais ser um idiota com a
minha garota.
Senti meu pau endurecer entre nós dois enquanto descia meus lábios
pela linha da sua mandíbula até o pescoço. Era um momento inapropriado
pra caralho para aquele idiota lá embaixo começar a se animar, por isso, não
segui o ímpeto de chupar a pele de Valente como eu queria e apenas
espalhei beijos até a sua orelha, ouvindo seu suspiro abaixo de mim. Suas
mãos se infiltraram em minhas costas por debaixo da blusa, mas me afastei
um pouco, deixando um beijo em sua boca antes de me deitar ao seu lado.
— O que houve? Por que parou?
Meu pau pulsou ao notar a respiração ofegante de Avalon e os
mamilos duros sob a blusinha fina que usava. Merda.
— Porque eu não quero atropelar as coisas, Valente. Sei que você
está sensível agora, não seria certo a gente...
As palavras ficaram presas em minha garganta quando Avalon se
sentou em meu colo e tirou a blusa, ficando nua na minha frente da cintura
para cima. As cortinas do seu quarto estavam levemente afastadas, o que
permitia que a luz do dia iluminasse parcialmente o cômodo e me desse
uma visão privilegiada daqueles peitos lindos, com os biquinhos duros que
pareciam implorar pela minha boca. Engoli em seco, sentindo meu pau
babar na cueca quando Valente se movimentou lentamente sobre ele.
— Eu quero você — ela sussurrou, levantando minha blusa aos
poucos. O contato dos seus dedos com a minha pele me deixou todo
arrepiado. — Preciso de você, Logan.
— Valente...
— E sim, eu tenho certeza. — Ela parou quando a minha blusa ficou
enrolada abaixo do meu peitoral e olhou em meus olhos. — A não ser que
você não queira.
Porra, como eu não ia querer? Percebi aquele raio de insegurança em
seu olhar e me sentei na cama, tomando a sua cintura em minhas mãos para
fazer com que sentisse com mais intensidade o meu pau duro de encontro a
sua bocetinha.
— Parece que eu não quero? — Ela sorriu de leve e rebolou sobre o
meu colo, me fazendo respirar mais forte. — Eu quero você pra caralho,
Valente.
— Então está esperando o que para me pegar?
A certeza em sua voz me fez ficar ainda mais duro. Dei-me conta de
que depois da troca que tivemos naquela manhã, seu desabafo sobre o que
sofreu nas mãos daquele filho da puta e as declarações que fizemos um para
o outro, estávamos prontos para dar aquele passo. Eu me sentia um pouco
nervoso, pois era a primeira vez que ia para a cama com uma garota por
quem eu realmente nutria sentimentos, mas o sorriso de Avalon me fez
esquecer de tudo. Ou quase tudo.
— E a sua irmã? — Olhei meio alarmado para a porta, notando que
não a havia fechado quando a trouxe para o quarto.
— Aubrey não está em casa. É aniversário de uma amiga dela e só
deve voltar à noite.
— Graças a Deus! — Porra, as coisas que o tesão me fazia falar! —
Quer dizer, nada contra a sua irmã, mas...
— Eu sei. — Avalon riu baixinho, aproximando o rosto do meu e
dando uma mordida em meu lábio inferior. — Só fique quieto e me beije,
estrelinha dourada.
— Está com pressa? — Avalon concordou com a cabeça e soltou um
suspiro quando subi minhas mãos pelo seu corpo. Alcancei os seus seios e
toquei de leve os mamilos com o meu polegar, vendo-a fechar os olhos. —
É uma pena, pois não estou com a menor pressa essa manhã. Eu quero
degustar você, Valente. Devagar. Quero conhecer cada cantinho do seu
corpo com as minhas mãos e a minha língua. Só depois eu vou te comer e te
fazer gritar até perder a voz.
Seu gemido soou abafado quando a beijei, explorando lentamente a
sua boca com a minha língua, enquanto circulava os biquinhos duros bem
devagar. Eu sentia sua pressa conforme rebolava em meu pau, mas, apesar
do tesão que me enlouquecia, eu realmente queria ir devagar naquela
primeira vez, pois sabia que Avalon nunca tinha sido venerada como
merecia. Queria cuidar dela, fazê-la enlouquecer de prazer e garantir que
nunca mais se sentiria insegura de novo.
Controlei a intensidade do nosso beijo, dando mordidinhas em seus
lábios enquanto a colocava novamente deitada de costas na cama. Suas
pernas se abriram para mim, fazendo com que o short que usava se
enrolasse no alto das suas coxas. Eu quase podia sentir a sua bocetinha
piscar de encontro a minha calça jeans, que incomodava um pouco a minha
ereção. Deixei que Valente puxasse a minha blusa e desabotoasse minha
calça, ajudando-me a me livrar em tempo recorde das peças de roupas,
meias e sapatos, ficando apenas de cueca para poder voltar à minha atenção
para a ruiva deliciosa deitada à minha frente.
Sua respiração ofegante fazia os seios descerem e subirem, chamando
a minha atenção, mas explorei primeiro o seu pescoço, roçando devagar o
meu pau na sua boceta ainda escondida pelo short e a calcinha. Valente
gemeu mais alto em meu ouvido quando pressionei na altura do seu clitóris,
ao mesmo tempo em que deixava um chupão na curva do seu pescoço e
ombro. Puta merda, meu pau estava babando e pulsando pra caralho. Era
como se o filho da mãe soubesse que, daquela vez, não ficaríamos apenas
na sarrada e que finalmente comeríamos a bocetinha gostosa de Avalon.
— Logan... Você vai me matar assim — Valente choramingou,
mordendo o lábio com força quando passei a língua pelo biquinho duro e
sensível do seu seio. — Chupa logo!
Garota impaciente.
Sorri e lambi mais uma vez, partindo para o outro seio e repetindo o
processo até nós dois não aguentarmos mais de tesão. Quando coloquei o
mamilo gostoso em minha boca e dei a primeira chupada, Avalon pareceu
se desmanchar sob mim. Observar as suas reações era um prazer à parte,
pois Valente não escondia nada. Ela era receptiva, gostosa pra caralho e
seus gemidos me deixavam louco para gozar.
Mamei gostoso em seus seios, até os biquinhos dobrarem de tamanho
e ela se contorcer abaixo de mim, rebolando como dava em meu pau.
Cumprindo com a minha promessa, beijei cada cantinho exposto da sua
barriga, mordiscando abaixo do umbigo, até chegar ao seu short. Tirei a
peça junto com a calcinha e precisei engolir o excesso de saliva em minha
boca quando Avalon voltou a separar as coxas e me mostrou a bocetinha
toda melada, com o clitóris inchado e a entrada piscando.
— Puta merda, Valente. — Abaixei-me e beijei a parte interna da sua
coxa direita, sentindo seus músculos estremecerem sob a pele arrepiada. —
Afaste mais os lábios da boceta. Deixe-a bem abertinha para eu chupar.
Um gemido escapou da sua boca quando mordisquei sua pele macia
perto da virilha. Com os dedos trêmulos, Avalon fez o que pedi, separando
os lábios magrinhos da boceta e ficando ainda mais exposta. Seu cheiro era
tudo o que eu conseguia sentir, me deixando maluco de tanto tesão. Sem
conseguir me conter mais, esfreguei meu nariz em seu osso púbico,
guardando seu cheiro mais íntimo em minha memória, e passei a língua
pela xoxota gostosa, lambendo uma parte da sua lubrificação desde a
entrada até o clitóris durinho.
Avalon gritou o meu nome e se contorceu violentamente sobre a
cama quando comecei a chupar. Fui devagar, mas ela estava excitada e
sensível demais. Segurei sua cintura para que não saísse do lugar e dei
lambidinhas lentas em seus lábios vaginais, esperando que se acalmasse
para poder começar tudo de novo.
— Essa boceta é minha. Sabe disso, não sabe? — Avalon se ergueu,
apoiando os cotovelos no colchão para poder me olhar. Suas bochechas
estavam vermelhas de tesão e os lábios inchados pelos meus beijos. —
Responda, Valente.
— Eu... Eu sei.
— Ótimo. Agora, sempre que eu quiser, você vai tirar a calcinha... —
Passei a língua devagar pelo grelinho, sem tirar meus olhos do rosto dela.
— Vai abrir essas pernas bonitas... — Outra lambida. — E vai me deixar te
chupar e te comer sem reclamar.
Avalon sorriu e me surpreendeu ao movimentar o quadril de encontro
ao meu rosto, roçando a boceta melada em minha boca.
— Espero que você tenha bastante disposição e que queira me comer
sempre.
— Eu sou um atleta, Valente. O que mais tenho é disposição.
Seu sorriso desapareceu quando mordeu o lábio com força, gemendo
abafado ao me sentir voltar a chupar a sua boceta. Meu pau doía dentro da
cueca e eu sentia que podia gozar apenas mamando naquele grelinho
inchado, mas me controlei, afastando meu quadril do colchão para não cair
em tentação e ficar roçando ali enquanto estava com o rosto entre as coxas
de Avalon.
Caprichei na língua e na chupada, deixando meu nariz e meu queixo
participarem da brincadeira, até sentir seus lábios inchados pela fricção com
a minha barba e a sua lubrificação escorrer lentamente em direção ao meu
pescoço. Quando enfiei dois dedos em seu canal apertado e meti curtinho,
sugando o clitóris para dentro da minha boca, Avalon perdeu
completamente a compostura e começou a gozar forte, rebolando de
encontro ao meu rosto e nos meus dedos, permitindo que eu provasse o
sabor único do seu orgasmo na ponta da minha língua.
Foi delicioso. Memorável. Seu rosto jogado para trás, uma das suas
mãos em minha cabeça, os seios gostosos balançando de leve, sua pele
ficando toda arrepiada, o tremor forte em suas coxas e a boceta babando
bem na minha boca. Caralho. Eu precisava comer aquela garota. Precisava
gozar dentro dela e não parar nunca mais.
Esperei que se acalmasse, dando beijinhos longos em seus lábios
vaginais e virilha, até me ajoelhar entre as suas coxas e puxar a minha cueca
para baixo. Meu pau estava enorme, duro e com a cabeça toda melada. Eu
sabia que não duraria muito na primeira rodada, mas recompensaria Valente
na próxima.
— Vem aqui — pedi, sentando-me no meio da sua cama e tocando o
meu pau. A forma como Avalon lambeu os lábios enquanto me olhava
quase me fez perder a cabeça. — Nem pense nisso. Se me pagar um
boquete agora, eu vou durar meio segundo.
Valente riu e se ergueu, vindo para perto de mim. Ela entendeu o que
eu queria, pois logo passou as pernas pelas minhas e esfregou a bocetinha
molhada em minha coxa. Senti seus beijos em meu pescoço e estremeci
quando tomou o meu pau na mão, batendo uma punheta devagar.
— Eu quero que você goze na minha boca — sussurrou em meu
ouvido. Meu pau sofreu um espasmo na sua mão e uma gota generosa
escapou da frestinha da cabeça. Precisei apertar a sua cintura com força
para não cair em tentação.
— Não. Quero que a nossa primeira vez seja comigo gozando dentro
de você. — Avalon me olhou e eu a beijei lentamente por um segundo,
antes de voltar a falar: — Nunca transei com ninguém sem camisinha,
Valente.
— Também nunca fiz sem camisinha, mesmo quando ele insistia.
Porra, não queria que Avalon se sentisse pressionada por mim.
— Eu quero fazer da forma como você preferir. Tenho camisinha na
mochila, se quiser transar com preservativo.
— Não quero. Eu confio em você, Logan, da mesma forma que está
confiando em mim para fazer isso. — Gememos juntos quando ela passou a
cabeça do meu pau pela sua entrada encharcada. — Quero que você goze
enterrado dentro de mim... Que me deixe toda melada com a sua porra que
nem fizemos no carro naquela noite.
Puta merda.
Caralho.
Foi por muito pouco — por muito pouco mesmo — que eu não gozei
assim que Avalon se calou e começou a se sentar no meu pau. Sua careta de
desconforto me fez pensar rápido e beijá-la, enquanto levava minha mão
direita até a sua bocetinha, tocando de leve o clitóris. Gememos juntos
conforme ela me engolia apertado e descia até o talo, provando que éramos
como duas peças de um quebra-cabeça. O encaixe perfeito. Ela ficou parada
quando chegou ao fim, pulsando gostoso à minha volta e me fazendo
respirar fundo para conter o orgasmo que ameaçava explodir.
Nunca havia sido tão intenso. Meu coração nunca disparou daquele
jeito e meus sentidos nunca ficaram tão aflorados como naquele momento.
Foi inevitável me questionar como eu tinha passado vinte e um anos sem
vivenciar algo como aquilo. Era sublime, gostoso, irresistível.
Lentamente, Valente começou a rebolar com meu pau no fundo da
sua boceta, sem desgrudar a boca da minha. Ajudei-a com uma mão em sua
cintura e a outra ainda em seu clitóris, masturbando-a devagar para que
curtisse o máximo possível. Seus gemidos se tornaram meu combustível e
me fizeram inflamar conforme ela aumentava os movimentos e me apertava
em seu interior, indo para frente e para trás, dando umas reboladinhas
gostosas, realmente fazendo amor com o meu pau e apreciando o momento
como se fosse a primeira vez.
E realmente era, pois Avalon havia deixado bem claro que nunca
tinha sentido prazer com outra pessoa antes. Aquilo só me deu mais orgulho
de ter conquistado a sua confiança e me fez sentir um pouco mais
possessivo sobre ela. Aquela garota era minha, porra, e filho da puta
nenhum no mundo mudaria aquilo.
— Quero quicar em você — ela sussurrou em meus lábios,
colocando uma de suas mãos sobre a minha em sua cintura. — Me ajuda.
Impulsionei seu quadril para cima bem de leve, guiando-a para subir
e descer em meu pau. Apoiada sobre os seus joelhos, Avalon começou
devagar, mas logo aumentou a velocidade quando levei uma mão a sua
bunda, apertando a nádega macia e dando um tapinha de leve, antes de
voltar a ajudá-la com o movimento.
— Caralho, Valente — gemi com a voz rouca, sentindo uma pressão
deliciosa bem na cabeça do meu pau conforme ela subia e descia. — Que
delícia comer você.
Ela riu baixinho e me apertou de leve conforme subia, aumentando a
pressão e me fazendo gemer mais alto.
— Acho que sou eu que estou comendo você.
— Tem razão. E tá me comendo gostoso pra caralho — falei, dando
outro tapa em sua bunda. — Quica bem gostoso pra mim, vai.
Avalon subiu e desceu mais rápido quando tirei os dedos do seu
clitóris e passei a ajudá-la com as mãos em sua cintura. Senti minhas bolas
ficarem mais pesadas e a pressão em meu pau se tornar quase insuportável
com a chegada iminente do orgasmo quando comecei a acompanhá-la mais
forte com o quadril, metendo bem fundo e rápido em seu interior.
— Minha nossa, Logan... — Avalon sussurrou, tocando o nariz no
meu e fechando os olhos. — Acho que vou gozar de novo. Não queria que
fosse tão rápido...
— Não segura — pedi, descendo meus lábios pelo seu pescoço até
chegar em seus seios. — Eu vou gozar também, Valente. Preciso encher
essa bocetinha gostosa com a minha porra.
Senti quando explodiu antes que começasse a gritar o meu nome. Seu
canal vaginal me apertou com força conforme ela gozava, me fazendo
perder a batalha e esporrar bem forte dentro dela. Gozei como nunca antes,
apertando a sua cintura com força enquanto a fazia subir e descer pelo meu
pau e metia de forma desenfreada ao movimentar meu quadril de encontro
ao seu corpo.
Só parei quando Avalon enterrou o rosto em meu pescoço e perdi as
forças, me jogando de costas no colchão. Sentia nossa pele suada e sua
respiração tão ofegante quanto a minha. Nós dois tremíamos e sua boceta
ainda me apertava delicadamente. Passei as mãos lentamente pela sua
bunda e subi pelas costas até chegar em sua nuca e infiltrar meus dedos em
seu cabelo, puxando seu rosto para perto do meu. Beijei-a devagar, sentindo
a safada rebolar no meu colo.
— Seu pau ainda está duro — sussurrou, esfregando-se sobre mim.
Pude sentir o seu clitóris roçar o meu osso púbico e pulsei em seu interior.
— Está. — Virei na cama, colocando-a debaixo de mim. Lentamente,
saí um pouco da sua boceta e meti de novo, ouvindo o seu gemido. —
Quero te comer mais, Avalon.
Não menti quando disse que estava cheio de tesão por ela. A prova,
era a forma como a minha ereção se recusava a ceder. Avalon cruzou as
pernas em minha cintura e apertou com força, se tornando mais estreita em
torno do meu pau. Minha porra em seu interior tornou tudo mais
escorregadio e gostoso. Podia sentir que o meu esperma escapava um pouco
mais a cada vez que eu metia, melando as minhas bolas.
— Eu quero continuar dando pra você — confidenciou, me fazendo
perder a cabeça.
Acelerei um pouco mais o movimento do meu quadril, entrando e
saindo de dentro da sua bocetinha melada e roçando meu osso púbico em
seu clitóris. Avalon gemeu de encontro a minha boca, arranhando minha
nuca, minhas costas, até descruzar as pernas da minha cintura e chegar em
minha bunda. Afastei bem as suas coxas com uma mão e a comi bem
gostoso, sem querer parar nem mesmo para respirar.
— Vou cuidar de você, Valente — garanti, olhando em seus olhos
enquanto metia. — Nunca mais você vai se sentir insegura ou sozinha de
novo.
Era uma promessa e aquela eu faria questão de cumprir. Os olhos de
Avalon marejaram, mas ela piscou algumas vezes e dispersou as lágrimas,
abrindo um sorriso que fez o meu coração disparar.
— Eu sei. Confio em você, Logan terceiro.
Cobri seu sorriso com os meus lábios e gememos juntos quando o
orgasmo chegou de repente, atingindo nós dois quase ao mesmo tempo.
Marquei-a como minha naquele final de manhã, gozando mais uma vez
dentro dela e tendo a certeza de que nada no mundo iria nos afastar.
Fechei os olhos, sentindo a água morna do chuveiro começar a cair
em minhas costas. Durante longos segundos, apenas apreciei a temperatura
gostosa, enquanto minha mente não fazia qualquer esforço para tentar parar
de se lembrar do que havia acontecido em minha cama momentos atrás.
Logan e eu juntos, da forma mais íntima que dois seres humanos
poderiam ficar.
Sua boca em toda parte do meu corpo, sua mão em minha pele, seu
pau dentro de mim, me deixando louca. Eu ainda estava melada entre as
pernas com os seus fluidos e os meus, sentindo uma dorzinha gostosa de
quem havia sido bem-fodida. Era uma sensação nova, que eu estava doida
para explorar cada vez mais. Será que conseguiria transar com ele de novo
ainda naquele dia? Do jeito que estava excitada, com certeza.
Ri de mim mesma, me sentindo uma boba. Era como se eu fosse uma
adolescente de novo, só que, dessa vez, sem toda a pressão e
responsabilidade que eu tinha quando era mais nova.
— Está sorrindo desse jeito porque está pensando em mim?
Abri os olhos, vendo Logan entrar no box junto comigo,
completamente nu. Perdi o fôlego por um segundo, observando cada nuance
daquele corpo alto, enorme e gostoso, com o peitoral musculoso, a barriga
trincada, o V pronunciando na cintura estreita e o pau bonito que, mesmo
relaxado, ainda era grande e com as veias levemente pronunciadas. O
quarterback abriu ainda mais aquele sorriso convencido, dando um passo
em minha direção e me pegando pela cintura com as mãos grandes até colar
os nossos corpos.
— Nem precisa responder, seu olhar já disse tudo, Valente.
— Disse? Então ele mentiu. Não estava pensando em você.
— É mesmo? E no que estava pensando?
— Estava pensando no seu pau. — Sua sobrancelha se arqueou e
aquele sorriso pareceu se expandir ainda mais. — Ele é muito mais
interessante do que você.
— Tem certeza disso? Porque, antes de gozar sobre ele, você gozou
nos meus dedos e na minha língua.
— Eles também são excelentes.
— Como o dono — salientou, encostando-me contra a parede. Fiquei
toda arrepiada quando passou a barba por fazer em meu pescoço. — Mas
tudo bem, não me importo se você preferir o meu pau, afinal, ele fez um
ótimo trabalho aqui — sussurrou, tocando entre os meus lábios vaginais
com o dedo médio e indicador. — Além de te fazer gozar duas vezes, ainda
deixou essa bocetinha ainda mais deliciosa toda melada de porra.
Seu dedo médio me penetrou de leve, me fazendo gemer baixinho e
apertar as coxas. Percebi que eu estava com tesão de novo, mesmo estando
sensível. Logan me beijou com intensidade, enquanto me comia devagar
com o dedo e massageava meu clitóris com o polegar, me fazendo
estremecer. Minhas pernas ficaram bambas, mas ele me manteve estável ao
me segurar pela cintura, acariciando-me devagar e esfregando de leve o pau
duro em minha virilha.
— Quero você de novo — murmurou entre os meus lábios, tirando o
dedo de dentro de mim para poder esfregar a palma da mão em toda a
minha boceta. — Está muito sensível?
Sacudi a cabeça, lutando para manter os olhos abertos enquanto ele
me enlouquecia lá embaixo.
— Aguento mais uma — avisei, abrindo mais as coxas. — Aguento
quantas você quiser.
Aquilo, na verdade, era mentira, porque eu já me sentia um pouco
assada, mas uma terceira rodada com certeza eu aguentaria. Logan sorriu
entre os meus lábios, como se soubesse que eu estava prometendo transar
mais vezes apenas porque estava empolgada, e me deu mais um beijo
intenso e gostoso antes de me virar de frente para a parede. Apoiei a testa
no azulejo frio, enquanto o quarterback afastava o meu cabelo molhado das
costas e beijava a minha nuca bem devagar, me deixando toda arrepiada.
— Prometo fazer com carinho — sussurrou, descendo as mãos até a
minha cintura. Mordi o lábio com força quando ele separou as minhas
nádegas e roçou a cabeça robusta do pau em meu cuzinho até chegar em
minha entrada, flexionando os joelhos para ficar mais ou menos da minha
altura. — Mas depois que essa bocetinha gostosa estiver recuperada, vou te
colocar de quatro no meio da minha cama e te foder sem piedade, Avalon.
Precisei levar minha mão até a sua nuca para poder puxar o seu
cabelo, jogando a cabeça em seu ombro quando ele beijou o meu pescoço.
Logan me provocou, roçando aquela glande gostosa em minha entrada,
enquanto descia uma mão pela minha barriga e alcançava o meu clitóris. O
jogador massageou o feixe de nervos bem devagar, enquanto agredia a pele
sensível do meu pescoço com a sua barba e os dentes, dando mordidinhas
que me faziam ficar cada vez mais excitada.
— Logan... Me come logo.
— Pede por favor.
Eu ri, sacudindo a cabeça.
— Nunca.
— Então não vou te comer. — Eu podia sentir o seu sorriso em
minha pele, me deixando cada vez mais arrepiada. — Você sabe que eu
gozo fácil quando estou com você, não é? Posso chegar ao orgasmo em
segundos só sarrando na entrada apertadinha da sua boceta.
— Faça isso, contanto que continue me masturbando — falei,
virando o pescoço o máximo que podia para poder olhar em seu rosto. —
Vamos gozar os dois.
Logan estreitou os olhos para mim e subiu a mão esquerda até o meu
pescoço, apertando de uma forma deliciosa. Seus lábios se chocaram com
os meus, mas ele não me beijou.
— Você é geniosa pra caralho, garota — sussurrou, tirando a mão do
meio das minhas pernas para poder ajustar o encaixe do seu membro em
minha entrada. Sem que eu esperasse, Logan meteu tudo de uma vez, me
fazendo perder o ar. — Da próxima vez, vou te fazer implorar.
Sorri entre os seus lábios e calei a sua boca com um beijo, sentindo-o
me comer com mais força do que na nossa primeira vez, esquecendo-se
completamente da promessa que havia me feito minutos atrás. Não
reclamei. Foi tão gostoso, que perdi completamente a noção do tempo e
espaço. Eu sentia Logan em todo o meu corpo, na minha boca com a sua
língua incansável, sob o meu nariz com o seu cheiro delicioso, em minha
pele com o seu toque forte e dentro de mim com o seu pau me fodendo de
forma insaciável.
Seus dedos voltaram a tocar o meu clitóris e não consegui conter o
gemido quando o jogador deixou os meus lábios e começou a sugar a pele
da minha nuca, ainda me segurando firme pelo pescoço. Logan investiu
pesado, respirando ofegante, gemendo abafado e estocando em meu
interior. A cabeça do seu pau massageava um lugar específico dentro de
mim que me fazia estremecer e implorar para que não parasse nunca.
Podia sentir a pressão do orgasmo se construindo em toda a minha
região pélvica e se concentrando em meu clitóris, onde Logan masturbava
suavemente, em um contraste poderoso com a forma com que me comia. Os
músculos da minha barriga começaram a tremer, deixando bem claro que eu
não aguentaria mais.
— Vou gozar — avisei, sentindo os dentes de Logan se fecharem em
minha nuca em uma mordida gostosa. Minhas pernas vacilaram, mas ele me
manteve mais apertada contra o seu corpo pelo agarre em meu pescoço e
parou bem fundo dentro de mim, rebolando intensamente. — Ah, meu
Deus, puta que pa...
Não consegui terminar o gemido, pois gozei tão forte, que senti a
minha cabeça rodar. Logan me puxou para um beijo, continuando a rebolar
daquela forma sensual e estarrecedora em meu interior, prolongando o meu
orgasmo por segundos que pareceram não ter fim. A sensação maravilhosa
se expandiu por todo o meu corpo, me fazendo perder a força nas pernas e
quase cair. Logan me segurou firme pela cintura e voltou a meter curtinho
em minha boceta, chamando o meu nome de forma desesperada, prestes a
chegar ao orgasmo.
— Goza na minha boca — pedi, sentindo-me salivar para provar o
seu sabor.
Eu não era fã de sexo oral, mas, até me envolver intimamente com
Logan, eu sequer era fã de sexo. Com ele, eu sentia que estava vivendo tudo
pela primeira vez e queria colecionar todas as experiências possíveis. Ele
desacelerou o movimento e perguntou baixinho em meu ouvido:
— Tem certeza?
— Sim. Não me faça implorar, QB.
— Não por isso.
O safado sorriu e, delicadamente, saiu de dentro de mim, virando-me
pela cintura para que eu ficasse de frente para o seu corpo. Sem que ele
precisasse pedir, me ajoelhei, tomando seu pau longo e grosso em minhas
mãos. Ele estava todo babado por minha causa e eu estava louca para sentir
o seu gosto misturado ao meu. Logan tocou em meu cabelo, formando um
rabo de cavalo, e me olhou de cima com a expressão cheia de tesão.
— Bota a língua pra fora, Valente — ordenou e eu obedeci. Talvez,
na cama, eu pudesse ser submissa a ele de vez em quando. Logan tomou a
ereção das minhas mãos e se tocou, enquanto ainda me mantinha cativa
pelo cabelo com os dedos da mão esquerda. Bem de leve, ele deu batidinhas
em minha língua com a glande robusta do seu pau, me fazendo gemer. —
Chupa só a cabeça.
Olhando em seus olhos, apoiei minhas mãos em sua coxa e fechei os
meus lábios sobre a glande melada, controlando um gemido ao sentir o seu
sabor e o meu na ponta da minha língua. Logan mordeu o lábio inferior com
força e fincou os pés afastados no chão quando desci pela base do seu pau
até onde conseguia aguentar. O gemido escapou da sua boca ao me sentir
aumentar a pressão do boquete.
— Não sabe quantas vezes eu imaginei essa boquinha em volta do
meu pau, Valente — confidenciou, pegando a minha mão direita e
colocando-a em torno da sua ereção. — Masturba a parte que não consegue
chupar. Vou gozar muito rápido, meu bem.
Eu sabia que iria, pois ele estava quase tendo um orgasmo dentro de
mim minutos antes. Fiz como me pediu e masturbei a base do seu pau,
enquanto chupava a cabeça e descia até onde conseguia. Sua glande
transbordou em minha língua o líquido pré-ejaculatório e me preparei para
o primeiro jato quando Logan gemeu mais alto e os músculos da sua barriga
tremeram visivelmente.
Engoli quando ele começou a esporrar em minha boca, sentindo seu
sabor levemente salgado e amargo. Não era o melhor gosto do mundo, mas
tomei cada gota, me sentindo poderosa por deixar aquele homem de 1,90m,
todo lindo e gostoso, tão louco por mim enquanto o chupava. Passei a
língua pela cabeça bonita quando Logan terminou e deixei que me puxasse
para cima pelas axilas segundos depois, tomando minha boca na sua.
— Porra, eu posso me viciar em sentir o meu gosto na sua língua —
sussurrou depois de deixar meu lábio escapar por entre os seus dentes. Suas
mãos tocaram gentilmente as minhas costas e eu sorri.
— Você é um safado, Logan Miller III.
— E você não fica atrás, Avalon Banks. Fui muito bruto com você?
— Não, mas talvez eu não consiga andar direito pelo resto do dia.
Logan gargalhou, fazendo o barulho da sua risada formar um eco no
banheiro.
— Isso significa que eu não vou poder te comer de novo antes de ir
embora?
— Acho que não. — Sacudi a cabeça, sendo levada para debaixo do
chuveiro por ele.
— Mas uma chupadinha eu vou poder te dar, não vou?
Bom, aquilo eu jamais iria negar.
Eu queria impressionar Valente de alguma forma. Como aquela seria
a primeira vez que ela iria à minha casa — a que eu dividia com meus
amigos e minha irmã — oficialmente como minha namorada, acabei
exagerando um pouco e comprei quase todo o cardápio do restaurante de
comida mexicana onde compramos tacos naquela vez em que quase
transamos em meu carro.
Em minha defesa, cheguei a perguntar à Aubrey qual era a comida
favorita de Avalon e ela disse que era macarrão à carbonara. Eu não queria
que Valente comesse exatamente a mesma comida que fez para mim quando
fui ao seu apartamento pela primeira vez — também desisti de tentar
cozinhar quando percebi que a receita era complexa para um total amador
como eu, que seria capaz de queimar até mesmo a água de cozimento do
macarrão.
Esperava que Valente gostasse de outras belezinhas mexicanas além
dos tacos que comemos naquela noite.
Era a primeira vez que ficaríamos juntos de verdade depois daquele
domingo fantástico em sua casa. Com a correria dos treinos e da faculdade,
mal conseguimos passar um tempo de qualidade juntos. Como Avalon
estava de folga naquela quinta-feira, resolvi chamá-la para jantar comigo,
com meus amigos e minha irmã e, de quebra, passar a noite. Ela não aceitou
em um primeiro momento, mas, quando Maeve disse que levaria Aubrey
para sua casa, Valente concordou.
Estava ansioso para vê-la, como se eu não tivesse beijado a sua boca
ainda naquela manhã. Puta merda, eu estava parecendo um menino
desesperado pelo presente de Natal.
Acomodei todas as bolsas com comida no banco traseiro do meu
carro e saí do drive-thru do restaurante. Estava quase chegando em casa
quando meu celular tocou. Cheguei a pensar que poderia ser Avalon
avisando que tinha chegado mais cedo, mas parei rente à calçada quando vi
o nome de Philipe Ward no visor.
— Philipe, enfim retornou às minhas ligações!
— Desculpa, Logan, eu estava fora do país e acabei precisando usar
um outro número para fazer e receber ligações. Só agora estou
conseguindo retornar todas as chamadas que recebi nesse número. Do que
você precisa?
Philipe era o investigador que coloquei na cola de Charles na época
em que paguei a dívida de Avalon. Nós não éramos propriamente amigos,
mas eu o considerava um colega e sabia que era um ótimo profissional.
Acima de tudo, ele era discreto e respeitava o sigilo de cada cliente para
quem prestava serviço.
— Preciso que você descubra tudo sobre um cara chamado Tucker.
Infelizmente, eu não tenho o seu sobrenome, mas sei algumas informações
básicas sobre ele.
— Certo. Diga-me tudo o que você sabe.
— A principal informação, é que ele é o ex-namorado de Avalon
Banks, minha atual namorada. Pelo que entendi, eles estudaram juntos na
UCLA e se relacionaram entre 2019 e 2021. Acredito que até o início ou
meado de 2021 — falei, me baseando na informação que Valente me passou
ainda no hotel, quando disse que o namoro durou quase três anos. — Ele
tem passagem na polícia, porque ela o denunciou por agressão.
— Por um momento, achei que você seria aquele tipo de namorado
que gosta de saber todo o passado da garota, mas acho que agora entendi
o porquê de você querer saber sobre a vida desse cara. Quer ter certeza de
que ele vai se manter distante da Avalon, certo?
— Sim. Também quero saber como está a sua vida no momento e se
ainda mora na Califórnia.
Queria estar mil passos a frente daquele filho da puta. Se Avalon
tinha saído de Los Angeles quando ele estava prestes a ser solto, ele poderia
muito bem querer encontrá-la. Agora que estávamos juntos e que o nosso
relacionamento era de conhecimento de todos, o babaca podia facilmente
descobrir onde ela estava morando e vir atrás dela.
— Quero fotos dele, também. Todo material fotográfico ou em vídeo
que você encontrar. Preciso gravar as feições desse filho da puta.
— Pode contar comigo, Logan. Vou começar a investigação hoje
mesmo e logo retorno o contato te passando tudo o que descobri. Se ele tem
mesmo passagem pela polícia, vai ser mais fácil encontrá-lo.
— Foi o que pensei. Não insisti para que Avalon me dissesse o seu
sobrenome, porque não quero que ela se preocupe com o fato de eu estar
investigando a vida do seu ex. Só estou fazendo isso para protegê-la, nada
mais.
Queria descobrir o paradeiro do idiota para ir atrás dele e quebrar a
sua cara? Com certeza, mas não faria isso porque, primeiro, eu sabia que
Avalon odiaria se eu agisse dessa forma e, segundo, eu não me sujaria por
tão pouco. Valente estava comigo agora, eu poderia protegê-la daquele
desgraçado. Aquilo era tudo o que importava.
Philipe e eu nos despedimos e fui direto para casa. Aproveitei que
Benjamin e James estavam na sala e fiz com que os dois me ajudassem a
pegar todas as embalagens de comida do carro.
— Quantas pessoas virão para a festa? — James questionou quando
terminamos. Nossa mesinha de centro estava lotada e ainda tinha algumas
embalagens em cima da mesa de jantar.
— Acho que exagerei um pouco — comentei, coçando a cabeça. —
Ainda bem que tenho três dragas em casa, sei que não desperdiçarão toda
essa comida.
— Você está se incluindo nessa conta, no caso? Não conte comigo
para comer nem vinte por cento de tudo isso — disse Norah enquanto
descia a escada. Ela se aproximou de mim com um sorriso no rosto e me
abraçou forte pela cintura. — Mas achei muito fofo da sua parte montar
esse banquete para Avalon.
— Quando você vai assumir que esse namoro não é mais de mentira?
— Benjamin perguntou, me xingando quando dei um tapa em sua mão ao
tentar pegar um burrito. — Que droga, cara, eu estou com fome! Não comi
nada desde o treino, porque você disse que ia ter um jantar especial.
— Um jantar que só será servido quando a minha garota chegar,
porra!
— Sua garota? Você acabou de assumir, Logan — James riu da
minha cara, jogando-se no sofá. — Game over para você, irmão.
Dei de ombros e desisti de responder quando ouvi o barulho da
campainha.
— Acho que a sua garota chegou — Norah sorriu para mim.
— Graças a Deus, porque estou com fome.
Ben retribuiu o dedo do meio que ergui em sua direção e fui direto
para a porta. Estava um pouco nervoso, mesmo sem saber ao certo o
porquê. Meu coração disparou quando girei a maçaneta e vi Avalon do lado
de fora, usando um vestidinho curto na cor vinho, que combinava
perfeitamente com o batom em seus lábios, e aqueles coturnos que quase
nunca deixavam os seus pés.
— Valente, você está linda. — Puxei-a para mim pela mão, sabendo
que havia três pares de olhos curiosos sobre nós dois. Não liguei, tomando a
sua boca em um beijo curto e sentindo seu cheiro delicioso.
— Ah, meu Deus, então o namoro agora é de verdade mesmo? —
Norah soltou um gritinho e bateu palmas, fazendo Avalon sorrir enquanto se
afastava de mim.
— Eles ainda não sabiam?
— Deixei para contar quando nós dois estivéssemos juntos.
— Avalon! — Minha irmã surgiu do nosso lado de repente e deu um
abraço forte em Valente, toda animada. — Não acredito que agora você é
minha cunhada de verdade! Estou tão feliz! O que o panaca do meu irmão
fez para merecer uma garota incrível como você?
— Porra, Norah. Pensei que você me amasse.
— Eu te amo, irmãozinho. — A peste apertou a minha bochecha. —
Mas precisa concordar comigo que Avalon é muita areia pro seu caminhão.
— Eu não me importo em dar mil viagens — falei, passando o braço
pelos ombros de Avalon.
— E foi por isso que ele me conquistou. Apesar de ser irritante, seu
irmão é persistente — Valente piscou para Norah, que não conseguia tirar
aquele sorriso enorme do rosto.
— Estou muito feliz por vocês, de verdade. Agora, nós podemos
comer? Diz que sim, Valente, por favor. Esse idiota está matando a gente de
fome há horas!
— Podemos processá-lo por maus-tratos, o que acha? — Avalon
perguntou para Benjamin, que deu um soquinho no ar.
— É exatamente por isso que minha avó sempre dizia que
precisávamos ter um advogado na família!
— Eu também estudo Direito — falei.
— Você não conta — James respondeu.
— E por que você já está do lado daquele idiota e contra mim? Seu
namorado sou eu, Valente.
— Porque você eu já conquistei, agora, preciso conquistar a
confiança dos seus amigos.
Benjamin e James riram alto, acompanhados por Norah.
— Já confiamos em você de olhos fechados, ruiva — James disse. —
Agora é sério, também estou morrendo de fome. Vamos comer, por favor!
Fui com Avalon até o sofá e nos sentamos lado a lado, começando a
comer, enquanto Benjamin foi pegar as cervejas. Prometemos que só
tomaríamos duas, porque teríamos treino em campo no dia seguinte para o
jogo de sábado contra o Texas A&M. Fiquei quieto por alguns minutos, só
observando o entrosamento dos meus melhores amigos com a minha
namorada, gostando muito de saber que estavam realmente se dando bem.
Benjamin já não reclamava mais por eu ter perdido a minha
carteirinha de solteiro e James não se incomodava por eu estar namorando,
mesmo tendo passado por uma desilusão fodida com a sua ex. Eu realmente
tinha os melhores caras ao meu lado e a melhor irmã do mundo também,
que sempre me apoiava em tudo e que tinha toda razão quando dizia que eu
precisava de uma garota ao meu lado. Não que Avalon fosse a cura dos
meus problemas — eu tinha plena consciência de que não era esse caso —,
mas me aproximar dela e começar a me apaixonar mudou o meu foco e a
forma como eu estava vivendo a minha vida.
Ainda queria curtir algumas festas com a minha namorada e uma boa
cerveja com os meus amigos, mas meu objetivo não era mais esquecer a dor
que eu sentia e, sim, aproveitar cada momento ao lado das pessoas que eu
realmente amava e que se importavam comigo.
Esperava que minha mãe estivesse orgulhosa de mim, onde quer que
estivesse.
Foi um jogo difícil pra caralho.
Novamente no Texas, sem Avalon dessa vez, nosso time de defesa
teve dificuldade ao lidar com o ataque do Texas A&M. Eles terminaram o
primeiro e o segundo quarto com alguns pontos de vantagem e só
conseguimos empatar no terceiro quarto, deixando a decisão para o último
tempo de jogo. Perder realmente não era uma opção, pelo menos não para
mim, por isso, dei o meu sangue para ter aquela vitória nas mãos.
Terminamos o jogo com 24 pontos contra 20 do Texas A&M. Não foi
a nossa melhor noite como um time, sabíamos, mas pelo menos saímos de
campo sem o gosto amargo da derrota e tendo em mente os pontos francos
onde precisávamos melhorar, principalmente o nosso time de defesa.
— Logan Miller?
Estava saindo do vestiário junto com o time para ir para o ônibus,
quando dois homens mais velhos vestidos em ternos caros se aproximaram
de mim. O treinador Coben, que parecia saber que os dois estavam me
aguardando, disse que me esperaria no ônibus e se afastou junto com o resto
do time. O homem mais alto, de cabelos grisalhos e olhos escuros me deu
um sorriso animado e estendeu a mão em minha direção.
— É um prazer finalmente poder falar com a estrela da temporada!
Eu me chamo Teddy Smith e esse é meu sócio, Graham Kennedy.
Fiquei paralisado por um momento, apertando as mãos dos dois
homens no automático. Eles não eram quem eu pensava que eram... Certo?
— Teddy e Graham da SK Sports?
— Exatamente — Graham respondeu, sorrindo tão amplamente
quanto Teddy. — É bom saber que já nos conhece.
— Quem não os conhece? São simplesmente os maiores agentes da
atualidade! Caramba, é realmente um prazer falar com os senhores.
A SK Sports havia se tornado uma das gigantes do mundo esportivo
há mais ou menos um ano, se tornando a responsável pelo agenciamento
dos maiores atletas dos Estados Unidos. Tudo mudou quando Smith e
Kennedy resolveram fazer a fusão das suas empresas e criaram uma nova
marca, se reinventando no mercado. Eles haviam fechado um contrato
milionário com o quaerterback draftado pelo Clemson Tigers no ano
passado e vinham aumentando a sua cartela de atletas a cada dia. Ter os
dois ali na minha frente parecia um sonho.
— Por favor, nos chame apenas de Teddy e Graham — Sr. Smith
insistiu. — Sei que deve estar cansado depois da atuação impecável no jogo
de hoje, mas queríamos marcar uma reunião com você. Nada muito sério,
apenas para conversarmos.
— É claro que eu aceito! — Eu queria pular como um menininho de
quatro anos, mas me segurei, tentando acalmar as batidas loucas do meu
coração.
— Estaremos no Alabama na próxima semana. Dê-me o número do
seu telefone e meu assistente entrará em contato para que possamos marcar
um horário e local — Sr. Kennedy pediu.
Dei a ele o meu contato, ainda sem acreditar que aquilo realmente
estava acontecendo. Trocamos mais algumas palavras e eles se afastaram
após se despedirem, acompanhados por um segurança enorme. Demorei um
pouco para me lembrar do que eu deveria fazer naquele exato momento. Ir
para o ônibus do time. Ok, eu podia fazer isso. Só não podia acreditar na
minha sorte por ter chamado a atenção de homens tão importantes quanto
Teddy e Graham.
— Acho que você gostou da surpresa — disse o treinador Coben
assim que me aproximei.
O time já estava no ônibus, mas ele me esperava ali fora com um
sorriso orgulhoso.
— Eu ainda não consigo acreditar! Quer dizer, não conversamos nada
de mais, mesmo assim... Estamos falando de Teddy Smith e Graham
Kennedy, treinador!
— Eu sei, filho. — O treinador tocou em meu ombro com carinho.
Ele era duro quando precisava ser, mas era aquele seu jeito expansivo que
fazia com que levássemos cada uma das suas palavras em consideração. —
Teddy e Graham estão acompanhando os jogos desde o início da temporada.
Eu arregalei os olhos, completamente em choque.
— Por que o senhor não me disse?
— Porque não queria que você se distraísse pensando na presença
deles. Sabia que estavam de olho em você e sentia que queriam ver o seu
desempenho, principalmente depois do seu touchdown fantástico no
primeiro jogo. É muito bom ver que você vem contrariando as estatísticas
depois da última temporada, Logan. É por isso que eles querem conversar
com você, pois sabem do seu potencial e veem em você o mesmo que eu, o
futuro do esporte. Você tem um dom, garoto, é muito talentoso. Vai longe,
mas é preciso manter o foco e continuar a ter disciplina.
— Eu... Eu nem sei o que dizer. — Não sabia mesmo. Estava mais do
que chocado, as palavras do treinador me atingiram como um tapa, não de
uma forma ruim, mas de uma forma que me fez despertar.
Tornar-me um jogador profissional sempre foi o meu maior sonho e
aquilo estava muito perto de se tornar real, caso eu continuasse me
dedicando e dando tudo de mim. Era o que eu continuaria fazendo,
independentemente de qualquer coisa.
— Não precisa dizer nada, só continue fazendo um excelente
trabalho. Agora, vai para o ônibus.
Agradeci e me juntei ao meu time no veículo, vendo alguns olhares
curiosos em minha direção, principalmente de Benjamin e James. Como
eles sabiam que eu contaria tudo quando estivéssemos no hotel, logo
voltaram a conversar com os outros jogadores. Ocupei uma das poltronas e
sorri, tirando o celular do bolso. Precisava contar aquela novidade para
Valente. Tinha certeza de que ela iria surtar junto comigo!

— Estou tão feliz por você!


Avalon me abraçou com força assim que entramos em seu
apartamento na noite seguinte. Como ela tinha apenas trinta minutos de
intervalo — e nós nos atrasamos para voltar naquela vez que saímos de
carro — decidimos que ficaríamos em seu apartamento mesmo. Aubrey já
devia estar dormindo, pois passava das onze da noite, por isso, encontramos
a sala silenciosa e com a luz apagada.
Não fizemos alarde e fomos direto para o seu quarto. Eu sabia que
não podíamos extrapolar muito do horário permitido por Maeve, mas não
consegui controlar a reação do meu pau conforme caminhava com Valente
em direção à sua cama, após trancar a porta. Ela sorriu entre os meus lábios
quando caímos no colchão, afastando as coxas deliciosas para que eu me
acomodasse entre elas, bem perto da sua boceta escondida pela calcinha.
Naquela noite, Avalon usava a mesma saia xadrez amarela da primeira vez
em que a vi dentro do meu quarto.
— Sabia que, mesmo estando bêbado pra caralho na festa do James e
agindo como um escroto com você no meu quarto, eu te achei linda com
essa saia? — confidenciei, subindo a saia curta pelas suas coxas.
— Isso é mentira, eu sei que você me achou esquisita.
— Um pouco, mas te achei uma grande gostosa também. Eu era um
idiota naquela época, Valente, não leve meus comentários ruins em
consideração.
— Acho que não levei, afinal, me apaixonei por você do mesmo
jeito. — Ela riu e passou as unhas pelas minhas costas quando pressionei
sua boceta com a minha ereção. — Me conta melhor sobre os agentes! Você
disse que recebeu a ligação de um deles, mas não me deu os detalhes.
Ok, se iríamos conversar, eu precisava sair de cima dela, ou não iria
me concentrar. Deitei-me ao seu lado e Avalon apoiou queixo sobre o meu
peito para poder olhar em meus olhos.
— O assistente do Sr. Kennedy me ligou hoje para marcarmos a
reunião. Será amanhã, às sete da noite, em um restaurante. Estou muito
animado, Valente! Pela forma como me cumprimentaram no sábado, eles
pareciam realmente interessados em mim, e depois do que o treinador
Coben disse, acho que talvez eles possam me fazer alguma proposta.
— Isso é tão incrível, Logan! E você pode ser agenciado por eles
mesmo ainda fazendo parte do time da faculdade?
— Sim. As regras da NCAA[12] mudaram no ano passado e, agora, os
atletas podem ser agenciados e patrocinados por algumas marcas, só não
pode haver divergência com nenhuma marca que patrocina o nosso time.
— Tem noção de que você está cada vez mais perto de realizar o seu
maior sonho? — Valente perguntou com um sorriso emocionado. Ela se
apoiou melhor na cama e tocou em meu rosto com a mão direita. — Estou
muito orgulhosa de você e muito feliz por estar ao seu lado.
— Eu não conseguiria nada disso sem você, Avalon.
— Eu não fiz nada, só fingi que era sua namorada.
— Não, você fez muito mais e sabe disso. Seus conselhos, seu apoio,
essa sua língua afiada que nunca me deixou sem resposta e a forma como se
infiltrou na minha vida, me ajudaram a mudar o meu foco. Desde o
momento em que você entrou em meu caminho, eu sinto que a minha vida
tem mudado de direção.
Avalon sorriu e escondeu o rosto em meu pescoço, soltando um
gritinho quando a puxei para cima do meu corpo.
— Não vale me fazer chorar nos meus trinta minutos de intervalo,
Logan terceiro.
— Segundo os meus cálculos, não temos mais trinta minutos.
Valente ergueu o rosto e passou o nariz no meu, rebolando de leve em
minha ereção.
— Então acho melhor nós aproveitarmos esse tempinho que ainda
resta.
Eu concordei com todo prazer, ajudando-a a colocar a calcinha de
lado, enquanto Avalon liberava o meu pau da calça. Devagar, ela se
acomodou sobre ele, abafando um gemido em meu pescoço quando me
levantei da cama com ela em meu colo, com o meu pau todo em seu
interior, e caminhei até a sua mesa de estudos. Coloquei-a sentada sobre o
tampo de madeira e afastei seu cabelo do rosto, começando a comer a sua
bocetinha devagar enquanto tomava os seus gemidos em minha boca.
Eu sabia que tínhamos apenas alguns minutos, mas fiz deles a nossa
eternidade enquanto fazia amor com a minha garota.

Voltamos para o bar dez minutos atrasados, mas Maeve não se


importou muito, pois estava ocupada demais beijando a boca do seu
namorado fortão com pinta de roqueiro. O bar estava relativamente calmo,
já que era domingo e já passava da meia-noite, mas percebi que a área dos
banheiros estava movimentada quando precisei ir até lá para mijar. Havia
três mulheres esperando do lado de fora, enquanto os homens se
beneficiavam do mictório e faziam a porta do banheiro masculino abrir e
fechar em velocidade recorde.
Eu estava prestes a entrar quando um cara usando um casaco preto
com capuz esbarrou em mim ao sair. Ele se virou e se desculpou, me dando
um vislumbre de uma tatuagem em seu pescoço e mechas do cabelo
platinado caindo um pouco sobre a testa. Acenei para avisar que eu havia
recebido seu pedido de desculpas e entrei no banheiro, sentindo meu celular
vibrar no bolso da calça enquanto usava o mictório. Após lavar as mãos,
peguei o aparelho e vi que era uma mensagem de Benjamin. Tomei um
susto ao ver uma foto de James jogado em uma cama que eu não conhecia.

Ben: Megan estava aqui na festa, cara. Resultado? James bebeu todas
para não ter que encarar a ex e agora eu preciso levá-lo para casa. Pode vir
me ajudar? Não quero que aquela vaca o veja assim.

Não me sentia culpado ao ler o insulto à ex-namorada do meu melhor


amigo. Nesse caso, ela merecia ser chamada de coisa pior. Avisei a Ben que
estava a caminho e pedi para que me enviasse o endereço da festa.
Encontrei com Avalon no balcão, servindo duas meninas animadas e que
falavam alto demais, certamente embriagadas.
— Valente, vou precisar ir. James bebeu demais e vou ajudar Ben a
levá-lo para casa.
— Meu Deus. Ele está bem?
— Está. Quer dizer, espero que esteja. Ele viu a ex-namorada e
acabou enchendo a cara.
— Norah me contou sobre a história deles dois. James não merecia
aquilo. Cuide dele, ok?
— Pode deixar. — Estiquei-me e dei um beijo em sua boca por cima
do balcão, já lamentando ter que ir embora. — Venho te buscar amanhã
para ir pra faculdade.
Avalon concordou com a cabeça e eu parti, indo salvar o meu melhor
amigo, do mesmo jeito que ele sempre me salvou quando precisei.
Norah ficou meio desesperada quando chegamos em casa arrastando
um James apagado de tanto álcool. Cheguei a pensar que deveríamos levá-
lo para o hospital, mas como ele acabou vomitando quando o tiramos do
carro, percebi que só estava bêbado demais e não em coma alcoólico. Ela
nos ajudou a colocá-lo na cama e se prontificou em passar a noite com ele
depois que o despimos e limpamos o rastro de vômito em sua boca.
— Era assim que eu ficava quase todo final de semana? — perguntei
a Ben quando deixamos o quarto de James.
— Exatamente assim. A diferença, é que você ainda conseguia
aguentar a ressaca no dia seguinte por já estar acostumado com tanto álcool,
já James... Porra, ele vai sofrer — falou enquanto pegava uma garrafa de
água de dentro da geladeira. — É por isso que eu nunca quero me
apaixonar. Olha o que acontece depois que você quebra a cara.
— Você fala como se todo relacionamento fosse terminar mal, o que
não é verdade.
— Pode até não ser, mas eu não vou dar sorte para o azar.
Encarei meu melhor amigo, vendo-o secar a garrafa de água.
Diferente de James, que era um homem negro e bem alto, Benjamin era
alguns centímetros mais baixo do que nós dois e tinha a pele mais clara,
como a minha, e os cabelos pretos, que combinavam com os olhos
castanhos. O babaca era boa-pinta e fazia muito sucesso com as garotas.
Perguntava-me se, um dia, ele deixaria de se influenciar pelo passado ruim
com os pais e daria uma chance para gostar de alguém.
Agora que sabia que o amor fazia bem a nossa alma, queria que meus
amigos também vivenciassem aquela experiência com uma garota incrível,
que merecesse de verdade aqueles dois babacas.
Logo subimos para o segundo andar e, depois de dar uma nova
olhada em James, que continuava apagado, fomos direto para a cama.
Fiquei um tempinho atualizando Valente sobre o estado do meu amigo e
acabei pegando no sono rapidamente depois que nos despedimos, sentindo a
sua falta ao meu lado depois que dormiu comigo naquela quinta-feira.
O dia seguinte foi tumultuado, primeiro com a aula da Sra. O’Born e
a pressão que estávamos sentindo por estar tão perto de apresentarmos o
trabalho, depois, com uma prova surpresa que o professor de Direito Penal
aplicou no último tempo. Acreditava que havia tirado uma boa nota, mas
era difícil ficar cem por cento confiante. Os treinadores resolveram
suspender o treino em campo para podermos analisar o último jogo e os
pontos fracos do nosso time de defesa.
Foi bom não ter muito desgaste físico naquele dia, pois estava
nervoso para o jantar com os donos da SK Sports. Tentei liberar parte da
ansiedade na academia, sendo acompanhado de perto pelo nosso preparador
físico, e ainda consegui alguns minutos com Avalon em seu apartamento
antes de ter que ir para casa me arrumar.
Aluguei Valente em uma chamada de vídeo para que me ajudasse a
escolher a roupa perfeita e logo estava pronto, usando o meu jeans mais
novo da Ralph Lauren, uma blusa branca de botões e um par de sapatos de
couro que havia ganhado do meu pai — em sua vã esperança de que, um
dia, eu fosse usá-los com um terno de três peças inglês dentro de um
escritório.
Meus amigos e minha irmã me desejaram boa sorte e parti para o
restaurante, chegando alguns minutos adiantado. Fiquei esperando no bar,
tomando uma água com gás e uma rodela de limão, tentando relaxar ao
ouvir a música ambiente que tocava pelo salão. Era um restaurante fino, um
dos preferidos do meu pai. Não tive como evitar a lembrança dele e da
minha mãe quando jantávamos juntos ali, mas logo dispersei a memória,
pois não queria ficar emotivo.
— Logan, como é bom revê-lo!
Virei-me no banco ao ouvir a voz de Teddy e me levantei, apertando
a sua mão e a de Graham. Percebi que havia um outro homem com eles e
que não era o segurança que os acompanhou no sábado. Ele aparentava ter a
minha idade e a tatuagem no pescoço e o cabelo platinado me pareciam
vagamente familiar.
— Este é meu enteado, Aaron Young — disse Teddy, tocando nas
costas do rapaz.
Cumprimentei-o e logo percebi de onde o reconhecia.
— Você estava no bar da Maeve ontem à noite, não estava?
Aaron sorriu, simpático, e concordou com a cabeça.
— Sim, eu estava.
— Estamos hospedados no hotel Hilton e um dos funcionários disse
que o Maeve’s Bar era o ponto de encontro dos torcedores do Crimson Tide.
Aaron ficou curioso para conhecer — disse Teddy.
— Você é bom em gravar fisionomias. — Aaron sorriu.
— Acho que foi a tatuagem no pescoço.
— Ou o cabelo platinado. Aaron gosta de mudar o visual de tempos
em tempos, igual ao meu filho. Não é à toa que são amigos — disse
Graham.
O maître se aproximou para poder nos acompanhar até a mesa e
Graham foi contando que Gabe, seu único filho, estava viajando fazendo
uma especialização em Londres. Não comentou o que ele estava estudando,
mas também não me interessei muito, pois meu foco estava em outro lugar
naquela noite.
— Espero que não se importe por eu estar presente, Logan — disse
Aaron assim que nos sentamos. — Agora que me formei, estou começando
a trabalhar com o meu padrasto.
— Claro que não me importo. — Na verdade, ter à mesa alguém da
minha idade me deixava menos tenso.
— Aaron jogava na mesma posição que a sua no Ensino Médio, mas
sofreu uma lesão no joelho esquerdo e precisou desistir da carreira — disse
Teddy.
— Nossa, eu sinto muito, Aaron. Sofrer uma lesão grave é o maior
pesadelo de qualquer atleta.
— É, eu sei bem disso. Foi difícil aceitar no começo, mas Teddy me
fez enxergar que eu ainda poderia trabalhar com esporte, se era realmente o
que eu amava. Por isso, estou aqui.
Fiquei feliz por ver o seu otimismo. Em seu lugar, eu estaria
completamente perdido e com certeza não conseguiria me livrar do
sentimento de frustração por não poder mais jogar. Um atendente veio
anotar os nossos pedidos e o assunto à mesa começou a se encaminhar para
o que eu ansiava quando Teddy e Graham passaram a falar sobre seus
atletas agenciados e os resultados do último ano da SK Sports — o que eu
já sabia, pois acompanhava de perto o crescimento da agência.
Nossa comida chegou e Teddy perguntou se eu já tinha recebido
alguma proposta de outros agentes ou publicidade. Fui sincero ao responder
não para a primeira pergunta e sim para a segunda.
— Uma marca de suplementos entrou em contato comigo no início
do ano, mas eu não levei adiante o contato.
— Se importaria de falar o porquê? — Aaron perguntou.
— Eu havia acabado de perder a minha mãe e não tive cabeça para
pensar em assuntos profissionais.
— Nós soubemos do que aconteceu. Sentimos muito, Logan — disse
Graham. Eu apenas concordei com a cabeça e tomei um gole do vinho para
poder me livrar da sensação incômoda de aperto na garganta.
— É por isso que é tão importante que você tenha um profissional ao
seu lado, que cuide de toda essa parte para você. Tem interesse em ter um
agente, Logan? — Teddy perguntou. — Nós da SK Sports com certeza
temos um enorme interesse em agenciá-lo.
— Seu desempenho na temporada está impecável e aquela imagem
ruim que caiu sobre você no semestre passado parece ter ficado totalmente
para trás — Graham comentou.
— Eu acompanhava de perto a sua vida pelas redes socais, sem estar
do lado dos haters, é claro — salientou Aaron. — E concordo com Graham.
Você conseguiu transformar completamente a sua fama nesses últimos dois
meses. Foi impressionante, cara.
— Obrigado. — Não consegui conter o sorriso orgulhoso que se
abriu em meus lábios. — Dediquei-me muito em minha carreira e na minha
vida pessoal para isso acontecer. Sei que perdi o controle da situação no
início desse ano, mas prometi a mim mesmo que não deixaria a minha
carreira afundar por irresponsabilidade minha. Foquei na faculdade, me
dediquei ao máximo ao meu time e me cerquei de pessoas que realmente se
importavam comigo. Isso fez toda diferença.
— É essa a imagem que um atleta tem que passar. Você é a
inspiração para a nova geração que está chegando, Logan. Precisa mesmo
dar um bom exemplo. — Graham sorriu. — Seria um prazer e uma honra
ter você no nosso time de agenciados. Sei que prometemos que essa seria
uma conversa informal e realmente é, mas queremos muito que se torne
uma parceria incrível entre a SK Sports e Logan Miller III.
Porra, finalmente! Achei que esperariam chegar à conta para falar o
que eu tanto queria ouvir.
— Eu que me sinto honrado por receber esse convite de uma empresa
que tem crescido tão rapidamente quanto a SK Sports. É claro que podemos
nos reunir para uma conversa formal e pensar em todos os detalhes para,
quem sabe, fecharmos uma parceria.
Jamais diga sim de imediato a qualquer proposta. Havia aprendido
aquilo desde cedo com o meu pai e cursar Direito vinha me preparando para
momentos como aquele. Teddy e Graham sorriram, satisfeitos com a minha
resposta e Aaron propôs um brinde.
— Acredito que esse será apenas o primeiro de muitos jantares em
que estaremos juntos — disse ele, erguendo a taça de vinho.
Eu sorri, animado, e brindei com os homens à mesa, sentindo algo
diferente em meu peito. Entusiasmo e uma outra coisa que não entendi
muito bem. Parecia apreensão, mas percebi que aquilo era normal, pois eu
estava prestes a dar um grande passo em minha carreira depois de ter
passado os últimos meses no fundo do poço. O novo assustava, mas eu
estava mais do que pronto para viver aquela nova fase da minha vida.
Era noite de festa. Tudo bem que a comemoração era bem intimista
em um canto do bar da Maeve, tendo apenas Norah, James, Benjamin,
Logan e eu, mas não deixava de ser uma festa. Ben propôs um brinde,
sorrindo de orelha a orelha.
— Ao futuro agenciado da SK Sports! — disse baixinho só entre a
gente, para não chamarmos ainda mais atenção.
Era noite de quarta-feira e o bar estava cheio, mas ninguém parecia
realmente preocupado com o fato de as estrelas do Crimson Tide estarem
ali, pois já era comum ver jogadores do time no Maeve’s Bar. Brindamos e
eu sorri ao ver o entusiasmo de Logan. Ele estava tão feliz! Ainda precisava
marcar de fato a reunião e conversar com o seu pai para que ele o
acompanhasse durante toda a negociação do contrato, mas isso era mero
detalhe. Sua felicidade era contagiante, eu só não conseguia relaxar
totalmente por pura paranoia da minha cabeça.
Olhei a nossa volta discretamente, procurando por algo que eu sequer
sabia o que era. Só tinha a sensação ruim de que estava sendo observada, o
que era um absurdo porque a fase de curiosidade dos alunos da faculdade já
havia terminado há algumas semanas, desde que se conformaram que
Logan e eu estávamos juntos. Cheguei a pensar que, talvez, alguém poderia
estar desconfiando de que estávamos mentindo, mas isso também não tinha
qualquer cabimento, pois agora estávamos juntos de verdade.
Era apenas coisa da minha cabeça. Eu tinha certeza. Logan me puxou
para que eu me sentasse em seu colo, arrancando um gritinho de susto do
fundo da minha garganta.
— Por que está tão quieta, Valente? — sussurrou no pé da minha
orelha, me deixando arrepiada com o contato da sua barba em meu pescoço.
— Não estou quieta, é impressão sua. — Tomei seu rosto em minhas
mãos e dei um beijo rápido em sua boca, vendo o seu sorriso. Era muito
bom ver Logan tão animado daquele jeito.
— Tem certeza? Você parece preocupada.
— Estou preocupada, sim, mas com o trabalho que me aguarda ali —
falei, apontando para o balcão onde Maeve servia alguns clientes. Ela havia
me dado alguns minutos para comemorar com Logan, mas eu não queria
abusar. — Prometo escapar de tempos em tempos para vir aqui ficar com
vocês.
— Nós não vamos demorar muito, parece que não, mas os meninos e
eu estamos mais responsáveis.
Observei Ben e James conversando com Norah e percebi que
estavam apenas na segunda cerveja da noite — exceto James, que disse que
beberia apenas uma, pois ainda se sentia nauseado por conta da ressaca que
o atingiu no dia anterior. Ele parecia até meio constrangido enquanto falava
aquilo e eu achei bem fofo. Dos três amigos, James parecia ser o mais
passional, enquanto Benjamin demonstrava ser totalmente racional. Logan
ficava entre os dois, como o equilíbrio perfeito.
— Isso é muito bom. — Maeve me olhou do balcão e eu senti que
estava precisando de mim. — Vou voltar ao trabalho. Estou muito feliz por
você, estrelinha dourada.
Logan me segurou firme pela bunda e meteu a outra mão em minha
nuca entre os fios do meu cabelo. Eu podia sentir seu pau começando a se
animar de encontro as minhas nádegas, o que me fez rir.
— Olha o que você faz comigo, Valente. Estou ficando de pau duro e
nem posso te comer.
— Deixe para amanhã. É minha noite de folga, talvez você possa
dormir comigo.
— Talvez? Não existe talvez. Eu vou dormir com você e engolir cada
um dos seus gemidos para que Aubrey não ouça nada.
Fiquei toda arrepiada, ansiando por aquele momento. Estava viciada
em Logan e na forma como o quarterback me deixava louca quando me
tocava ou me beijava. Como se soubesse disso, ele capturou a minha boca
na sua, silenciando o mundo a nossa volta enquanto me beijava de forma
sedutora e me deixava excitada. Precisei interromper o beijo quando senti
meus mamilos começarem a despontar sob o sutiã que eu usava.
— Preciso ir — sussurrei entre os seus lábios antes de dar mais um
selinho em sua boca e me levantar.
Avisei ao pessoal na mesa que iria trabalhar um pouco e me afastei,
olhando mais uma vez para os rostos dos clientes no bar. Não havia
ninguém ali que justificasse aquele sentimento estranho em meu peito.
Alguns clientes eu já conhecia por serem assíduos, outros eu me lembrava
da fisionomia por serem estudantes da faculdade e alguns eu nunca tinha
visto, mas que não apresentavam qualquer periculosidade. O que estava
acontecendo comigo, afinal?
Sacudi a cabeça e tomei um copo enorme de água para me livrar de
qualquer torpor causado pela cerveja que tomei com Logan. Logo me
concentrei no trabalho, sempre mantendo um olho em meu namorado e seus
amigos enquanto atendia aos clientes. Em certo momento, minha bexiga
apertou por eu ter tomado tanto líquido e pedi licença a Maeve para usar o
banheiro. Fui ao do bar mesmo, porque estava mais perto, e me tranquei em
uma das cabines depois de esperar na fila pequena do lado de fora.
Levei poucos minutos para voltar para o salão, mas acabei sendo
interceptada no meio do caminho pelos braços fortes do quarterback. Logan
riu baixinho quando dei um tapinha em seu peito por quase ter me matado
de susto e me empurrou em direção à porta do corredor que levava ao
escritório de Maeve e à porta que dava acesso ao meu apartamento.
— Precisei te sequestrar só um pouquinho para poder me despedir —
disse ele de encontro ao meu pescoço, me fazendo soltar um suspiro nada
discreto.
O corredor estava parcialmente iluminado pela luz fraca acesa no teto
e não havia ninguém ali, pois Maeve estava no bar. Logan deixou uma trilha
de beijos do meu pescoço até a minha boca, me deixando com as pernas
bambas quando enroscou a língua lentamente na minha, quase fazendo
amor com os lábios nos meus.
— Você está me torturando — sussurrei quando afastou o rosto para
voltar a beijar o meu pescoço.
— Você que está me torturando toda linda desse jeito, Valente. — Ele
mordeu o lóbulo da minha orelha, fazendo minha calcinha ficar encharcada.
— Será que não dá tempo para uma rapidinha?
— Não.
— Tem certeza? Prometo te fazer gozar em cinco minutos. — O
safado encaixou o pau duro bem no meio das minhas pernas, massageando
meu clitóris por cima da minha calça jeans.
— Sabia que tem câmeras aqui no corredor?
— Hm... É mesmo? Será que Maeve vai se importar muito em ver
um pornô nosso?
— Acho que ela vai se importar, sim. Talvez até me demita.
— Ela não faria isso, sei que te ama. — Logan sorriu e me deu mais
um beijo antes de dar um passo para trás. — Amanhã você não vai escapar
de mim, Valente.
— Não vou querer escapar.
Ficamos só mais alguns segundos ali, dando mais alguns beijos longe
de todo mundo, antes de Logan precisar ir. Havia passado um pouco da
meia-noite quando ele, Norah e os amigos deixaram o bar, e pude me
concentrar melhor no trabalho. O fluxo de clientes só começou a diminuir
depois de uma da manhã, mas aquela sensação de estar sendo observada
persistiu até pouco depois das duas, quando apenas um grupo de amigos
ficou bebendo perto do balcão.
Eles só deixaram o bar perto das três horas e eu me sentia esgotada
enquanto ajudava Cindy, Maeve e Donovan a limpar o salão e deixar tudo o
mais adiantado possível para a noite seguinte, já que eu estaria de folga.
— Ava, pode subir aqui por dentro mesmo, Christopher e eu
fechamos o bar — Maeve disse assim que Cindy e Donovan foram embora.
Despedi-me dela e de Christopher, que estava ali dentro desde que os
rapazes saíram, ajudando-nos a colocar tudo em ordem. Passei pelo
corredor, distraída enquanto tateava o bolso da minha calça em busca do
meu celular e do meu chaveiro. O aparelho eu encontrei rapidamente no
bolso lateral, mas o molho de chaves eu não achei em lugar algum.
— Será que deixei cair? — perguntei a mim mesma assim que abri a
porta que dava acesso à escada que levava ao meu apartamento.
Olhei para trás, pensando em voltar ao bar para procurar, mas
paralisei com a mão na maçaneta assim que ouvi um assobio que eu
conhecia muito bem. O barulho de chaves se chocando uma contra a outra
se tornou abafado em meus ouvidos quando a sua risada ecoou pelas
paredes que me cercavam.
— Procurando por isso, princesa?
Os nós dos meus dedos ficaram brancos diante da força com que
apertei a maçaneta. Eu não queria me virar. Mal conseguia respirar.
— Não me diga que te assustei! Desculpa, princesa, realmente não
foi a minha intenção. Você parecia tão animada enquanto beijava o
jogadorzinho... Achei que ficaria feliz também ao me ver. Ou ao ouvir a
minha voz, já que até agora não se virou para me olhar.
Girei a maçaneta com mais força, pensando rapidamente nas opções
que eu tinha. Não eram muitas, na verdade. Eu poderia correr pelo corredor,
gritando por Maeve e Christopher, na esperança de que ainda estivessem no
bar para me ajudar, ou poderia usar o celular que estava na minha mão e
ligar para alguém. Para Logan. Ele viria correndo, eu sabia.
— Se eu fosse você, não faria nada imprudente, Avalon. — Sua voz
soou mais alta, mas percebi que ele não estava tão perto de mim. — Você já
foi descuidada demais ao não perceber quando peguei a chave no seu bolso
enquanto estava na fila para ir ao banheiro. Não se arriscaria em fugir de
mim agora e me deixar aqui sozinho, tão perto da sua irmãzinha... Se
arriscaria?
Eu não pude evitar. Estava apavorada, tremendo dos pés a cabeça,
mas senti o meu sangue ferver quando aquele filho da puta citou a minha
irmã. Tucker, que estava sentado no terceiro degrau da escada, riu da minha
cara quando parti para cima dele e empurrei o seu peitoral com toda a
minha força. Ele mal se moveu. Parecia esperar pelo meu ataque e estava
mais forte do que a última vez em que o vi. E mais tatuado, também.
— Não ouse falar da minha irmã! Nem pense em chegar perto dela,
ouviu? — Gritei na sua cara, fazendo uma careta de dor quando puxou o
meu pulso com força, quase torcendo-o em um ângulo estranho.
— Não grite comigo. Você sabe que nunca gostei dos seus
escândalos, Avalon.
Ao contrário de mim, Tucker não gritava. Era impressionante como
ele conseguia controlar o tom de voz, mesmo quando estava com raiva.
Aquilo me apavorava ainda mais; a sua confiança ao fazer o que queria,
como queria, sempre que queria, sem sequer elevar o tom de voz. Puxei o
meu pulso do agarre dos seus dedos e consegui me livrar, mas apenas
porque ele deixou. Ter consciência disso quase me fez perder o controle da
bexiga.
— Eu só quero conversar, princesa. — Tucker abriu aquele sorriso
perverso de novo. Quem não o conhecia, acharia que estava sendo apenas
simpático, mas eu sabia muito bem o que existia por trás de todo aquele
charme. Ele bateu no espaço ao seu lado no degrau. — Sente-se aqui.
— Vá embora! — ordenei, apontando para a porta atrás de mim, por
onde ele provavelmente havia entrado, já que roubou a minha chave. — Eu
já te denunciei uma vez, não vou hesitar em fazer isso de novo, Tucker!
— Eu acho que você vai, sim. — Ele continuou a sorrir, me causando
mal-estar. — A não ser que você queira prejudicar aquele filho da puta que
estava tocando no que me pertence.
Tucker se levantou e eu dei um passo para trás, depois mais outro e
outro, tentando encontrar uma rota de fuga que não existia. Seu corpo largo
ocupava quase todo o espaço entre a escada e a porta que dava acesso ao
bar. Àquela altura, Maeve e Christopher com certeza já tinham ido embora
e eu não teria como me trancar em nenhum cômodo do salão, pois Maeve
mantinha o escritório trancado depois que saía, bem como a cozinha. Teria
só o banheiro como esconderijo, mas sabia que Tucker me pegaria antes
mesmo que eu chegasse ao salão do bar. Ele era mais alto, mais forte e,
mesmo depois de ter sofrido uma lesão no joelho, ainda corria como
ninguém.
Eu também jamais o deixaria sozinho aqui, sabendo que poderia
entrar em meu apartamento e machucar a minha irmã. Por isso, só pude
virar o meu rosto para o lado quando ele me cercou de encontro à porta que
dava para a rua, fechando os olhos com força quando seu hálito com cheiro
de álcool tocou a minha bochecha.
— Ele sabe que fui eu que tirei o seu cabaço, Avalon? — perguntou
com a voz baixa e rouca de raiva. Seu punho se chocou contra a porta, bem
ao lado da minha cabeça, me fazendo estremecer. — Sabe que fui o
primeiro a violar o seu corpo? A beijar essa sua boca atrevida? Ele sabe que
você é minha? — Sua língua tocou a minha bochecha e eu senti vontade de
vomitar. Tucker riu ao pé do meu ouvido. — Não, com certeza ele não sabe.
Você é uma putinha que gosta de enganar caras populares como ele e eu. No
fundo, Logan é uma vítima. Ele caiu no seu papinho de menina indefesa
assim como eu caí!
— Sai... Sai de pert...
— Sair de perto de você? Depois de tanto tempo longe? Nunca,
princesa. — O ar ficou preso em minha garganta quando Tucker agarrou o
meu pescoço. Os dedos da sua outra mão tocaram o meu queixo com força,
puxando o meu rosto em sua direção. — Estou decepcionado, Avalon.
Achei que estaria com saudade de mim, no entanto, quando cheguei aqui
dois dias atrás, cheio de saudade de você, a encontrei com aquele jogador...
Claro que eu sabia que estavam juntos, afinal, o cara é conhecido e todo
mundo ama comentar sobre a vidinha de merda que ele tem, mas pensei que
seria algo passageiro. Fiquei triste quando o vi beijando a sua boca.
Beijando a sua boca várias vezes!
Sua voz saiu entredentes e eu gemi entrecortado quando me puxou
pelo pescoço apenas para bater a parte de trás da minha cabeça contra a
porta. O mundo rodou por um minuto inteiro e pensei que eu fosse
desmaiar. Tentei puxar em minha memória algum golpe de autodefesa que
vi em vídeos na internet, mas nada apareceu. Eu estava apavorada, confusa,
com dor e mal conseguia respirar. Lágrimas tomaram os meus olhos quando
entendi que estava sozinha à mercê daquele homem. De novo.
Eu sabia que não estava louca. Aquela sensação de estar sendo
observada não era apenas paranoia da minha cabeça. Tucker estava por
perto, algo dentro de mim tentou me alertar, mas não dei atenção suficiente.
Como pude ser tão burra? Por que não percebi a sua presença antes?
— Estou com nojo de você — Tucker cuspiu, literalmente. Sua saliva
atingiu o meu rosto e eu ofeguei, quase agradecendo por estar prestes a
chorar e as lágrimas me impedirem de olhar na sua cara. — Tenho vontade
de tirar a sua roupa agora e te foder só para tirar o cheiro daquele filho da
puta da sua pele!
— Na... não! — Implorei, tremendo tanto, que temi cair aos seus pés.
— Por... por favor, na-não, Tucker...
— Não vou fazer isso. Não quero ser o responsável por desintoxicar
você. Quero que faça isso sozinha.
Ele me largou de repente e eu respirei fundo, preenchendo os meus
pulmões com o máximo de oxigênio possível, enquanto me apoiava contra
a porta. Observei-o dar alguns passos para trás e se encostar na parede ao
seu lado, ainda de frente para mim. Tucker cruzou os braços e voltou a
sorrir.
— Você vai largar aquele filho da puta. — Sacudi a cabeça com
violência, sentindo meu rosto ficar banhado pelas lágrimas que começaram
a cair sem que eu fizesse qualquer esforço. Tucker arqueou uma
sobrancelha e me olhou como se sentisse graça do meu desespero. — Não
sei se você continua tão burra quanto era antes, mas isso não foi uma
pergunta, Avalon. Você vai largar aquele jogador de merda ou ele nunca
mais vai entrar em um campo de futebol de novo.
Eu ofeguei, paralisada. Ele não... Tucker não podia... Não. Não!
— Você não vai encostar nele! — Falei, mas queria gritar. Queria
arranhar aquele rosto debochado e arrancar seus olhos maldosos com as
minhas unhas, mas não consegui fazer nada. Sua presença, sua voz, me
paralisavam.
— Eu realmente não vou. Não é socando a cara dele que eu sinto
prazer. — Ele olhou bem para o meu rosto e entendi o que quis dizer. Por
muito pouco, não me curvei para vomitar em seus sapatos caros. — Mas
conheço alguém que conseguirá foder com a vida do seu namoradinho com
um estalar de dedos.
Seu sorriso foi se tornando maior conforme ele voltou a falar. Cada
palavra que saía da sua boca parecia me atingir como um soco, bem do jeito
que Tucker gostava, me fazendo quase fundir o meu corpo à porta às
minhas costas. Assim que se calou, ele voltou a se aproximar, tocando o
meu queixo com uma gentileza que apenas me machucou mais.
— Você tem quarenta e oito horas para se livrar dele. Se eu o vir
tocando em você, beijando você, não vou hesitar em cumprir com a minha
ameaça, Avalon. Entendeu? — Meu queixo tremeu e Tucker o apertou com
força, me fazendo gemer de dor. — Diga se entendeu.
— Enten... entendi — solucei, vendo-o voltar a sorrir e dar um novo
passo para trás.
Tucker deixou o meu chaveiro cair no chão e me puxou pelo braço
para me tirar de perto da porta. Meu coração ameaçou explodir de medo e
de alívio quando ele tocou a maçaneta.
— Foi muito bom te ver de novo, princesa. Dessa vez, eu não vou
deixar você escapar de mim, tenha isso em mente.
Tucker saiu e eu caí no chão, perdendo completamente a força nas
pernas e chorando tão alto, que o barulho da minha voz ecoando pelas
paredes machucou o meu ouvido. Em pânico, ainda consegui pegar o
chaveiro do chão e trancar as duas portas com as mãos trêmulas, mas, após
isso, a minha mente simplesmente desistiu de me fazer pensar ou agir com
clareza.
Ele estava de volta.
Meu monstro particular estava de volta e, dessa vez, nada o impediria
de me destruir.
Estava prestes a sair do carro, assim que estacionei em frente ao bar
da Maeve, quando Avalon saiu pela porta ao lado do bar junto com a sua
irmã. Estava uma manhã fria naquele meado de outubro, mas me assustei ao
ver que Avalon usava um cachecol ao redor do pescoço. Pelo menos para
mim, um casaco estava suficiente para me proteger da baixa temperatura,
mas Valente parecia estar sofrendo mais do que qualquer outra pessoa
naquela manhã.
— Bom dia! — saudei as duas, recebendo um abraço rápido e
animado de Aubrey, antes de me aproximar de Valente. Ela ficou tensa
quando a puxei pela cintura e se esquivou discretamente quando tentei
beijá-la. — O que houve?
Avalon desviou os olhos dos meus e tentou me afastar, tocando em
meu peito, mas não deixei que escapasse.
— Eu... Eu acho que estou um pouco gripada. Não quero passar
nenhum vírus para você.
Estranhei. Valente estava ótima ontem à noite. No entanto, aquilo
explicava o porquê de estar usando aquele lenço no pescoço.
— O que você está sentindo? — perguntei, tocando em sua testa. Não
parecia estar com febre. — Quer ir para o hospital?
— Não. Eu só quero deixar a minha irmã na escola antes de ir para a
faculdade. — Avalon conseguiu escapar dos meus braços e ergueu a mão
para me mostrar uma chave. — Vou levá-la de carro.
— Isso é completamente desnecessário, Ava. A escola é aqui perto e
sempre vou sozinha! Posso saber o que deu em você hoje?
— Já falei para não discutir comigo, Aubrey! — A resposta irritada
de Avalon me assustou um pouco. Nunca a tinha visto falar daquele jeito
com a irmã.
— Ei, fique calma, ok? — Passei a mão em suas costas e Avalon
ficou dura sob o meu toque, sem olhar para mim. — Não precisa ir
dirigindo, podemos deixar a sua irmã na escola e depois seguimos para a
faculdade.
— Não precisa, eu vou pegar o carro e...
— Na verdade, essa é uma ótima ideia! — Aubrey disse, quase
batendo palminhas no meio da calçada. — Chegar com Logan vai ser bem
melhor do que chegar apenas com você, Ava. Ao invés de rirem de mim por
estar sendo levada para a escola pela minha irmã mais velha, vão ficar com
inveja ao ver que o motorista é o quarterback do Crimson Tide.
Eu ri, erguendo o punho para que Aubrey o tocasse com o seu. Era
bom ver o seu entusiasmo por uma coisa tão boba. Na época em que era
adolescente, me sentia da mesma forma quando queria impressionar o
pessoal da escola. Avalon não respondeu nada, apenas concordou com a
cabeça e saiu de perto de mim, marchando em direção ao carro. Ela tomou
o lugar do carona, enquanto Aubrey se sentou no banco de trás. Demorei
um pouco mais para dar a volta e ocupar o lugar atrás do volante, dando
uma olhada questionadora para Valente.
Que merda estava acontecendo?
Aubrey me guiou até a sua escola — um percurso que durou,
literalmente, menos de cinco minutos de carro — e se esticou para dar um
beijo na bochecha de Avalon.
— Eu te amo, sua chata, mesmo quando acorda de mau humor.
Obrigada pela carona, cunhadinho!
Aubrey acenou e saiu do carro, sorrindo de orelha a orelha quando
desci o vidro da janela e acenei para ela. A calçada estava lotada de alunos,
portanto, eu sabia que o assunto daquela manhã seria o fato de ela ter sido
levada para a escola por mim. Gostei de fazer a sua alegria naquela manhã
estranha de outono. Voltei a colocar o carro em movimento, dando uma
olhada novamente em Avalon. Ela estava com os braços cruzados e o rosto
virado para a janela. Parecia fingir que eu não estava ao seu lado e perdi
completamente a paciência.
— Agora que estamos sozinhos, você vai me contar o que está
acontecendo? — Percebi quando ela fechou os olhos por um tempo longo
demais e acrescentei: — A verdade, Valente, não uma desculpa qualquer.
Eu poderia acreditar naquela história de resfriado, se Avalon não
estivesse agindo de forma tão estranha — para não dizer fria. O modo como
enrijeceu quando a toquei, sua resposta atravessada para Aubrey, seu
silêncio tortuoso e sua fuga do meu olhar deixavam bem claro que a garota
estava mentindo para mim. Eu só queria saber o porquê.
— Nosso acordo termina no sábado — disse de repente, olhando para
frente ao invés de me encarar.
— Que acordo? — Eu realmente estava confuso, mas Avalon me deu
aquele olhar como se dissesse que eu sabia muito bem sobre o que ela
estava falando. Então, eu entendi. — O nosso acordo sobre o namoro falso?
— Não me lembro de nenhum outro.
— Porra, dois meses passaram voando. — Ri um pouco ao me dar
conta. Tanta coisa havia acontecido naquelas quase oito semanas. Puta
merda. — E o que é que tem?
— Não é óbvio?
— Não para mim.
— Não vamos mais precisar fingir, Logan. No sábado, tudo vai
acabar.
Eu voltei a rir, sem levar fé alguma naquela besteira que Valente
estava falando.
— Aubrey disse que você acordou de mau humor, mas acho que
estava enganada, meu bem. Você acordou cheia de disposição para fazer
piadas.
— Não estou brincando. — Avalon finalmente me olhou e eu parei
de rir ao ver a seriedade em seus olhos levemente vermelhos e inchados. —
Você cumpriu com a sua parte no acordo, eu vou cumprir com a minha,
depois disso, acabou.
— Avalon... O quê?
— Não me lembro de você ter algum problema de audição.
— Mas... Que porra é essa? — Dei seta para entrar em uma rua
residencial e parei o carro rente à calçada, virando-me para Avalon. Ela
ainda estava de braços cruzados, mas agora olhava fixamente para frente.
— Avalon, olhe para mim — pedi, tocando em seu joelho. Ela moveu a
perna para longe e entendi, finalmente, que não queria o meu toque. —
Valente, apenas olhe para mi...
— Para com isso, ok? — Ela me encarou e fiquei confuso ao ver seu
rosto vermelho e os olhos rasos d’água. — Não é difícil de entender, Logan!
Nós fizemos um acordo, o prazo termina no sábado e não precisaremos
mais mentir para ninguém. Simples assim!
— Eu não estou mentindo sobre nada, Avalon! Achei que estivesse
bem claro que estávamos juntos de verdade agora.
— Achou errado.
— Achei errado? — Aquela porra continuava sem fazer sentido
algum, mesmo comigo falando em voz alta. — Mesmo depois de eu ter
falado para você que estou apaixonado e de você ter me dito que retribuía
os meus sentimentos, eu entendi tudo errado? É isso?
Avalon soltou uma risadinha debochada que me deixou puto pra
caralho.
— Não acho que você esteja apaixonado por mim, Logan. Sabe do
que me dei conta? — Ela não esperou pela minha resposta. — De que
estávamos nos enganando. É isso. Ficar tanto tempo perto um do outro
acabou mexendo com a nossa cabeça. Percebi que não sinto por você tudo o
que eu acreditava que sentia e que ter a sua presença ao meu lado todos os
dias está me sufocando. Quero voltar a viver sozinha, como eu era antes de
aceitar esse acordo idiota.
Eu olhava para Avalon e ouvia as suas palavras, mas não as
compreendia. Nada daquilo fazia o menor sentido.
— Nós estávamos bem ontem. O que foi que aconteceu para você
chegar com esse discurso idiota hoje?
— Acho que eu tive um momento de lucidez. — Ela deu de ombros,
como se tudo aquilo não significasse nada, e voltou a olhar pela janela. —
Nós conseguimos o que queríamos, certo? Eu me livrei da dívida, a sua
imagem está brilhando de tão limpa... Podemos encerrar tudo por aqui.
— Valen...
— E você pode parar de me chamar por esse apelido estúpido
também — cortou-me, me dando um olhar sério. — Isso é vício de
linguagem, sabia? Quanto antes começar a me chamar pelo meu nome,
melhor será.
— Melhor para quem? — Talvez eu tenha falado um pouco alto
demais, mas não consegui me controlar. Meu coração batia de forma
descompensada e minha mente tentava procurar algum motivo plausível
para aquela merda estar acontecendo. — Puta merda, Valente! O que tudo
isso significa?
— Você ainda não entendeu? — Ela falou mais alto também, ficando
com o rosto vermelho e se virando em minha direção. — Eu não quero
mais, Logan! Acabou!
— Por quê?
— Por quê? Não... Não precisa ter um porquê!
Sua voz vacilou e percebi que estava prestes a chorar. Mil alarmes
soaram em minha cabeça. Sem me importar se estava ou não irritada
comigo, toquei em seus ombros, com medo de que tivesse um outro ataque
de pânico como o que teve em seu apartamento naquele dia.
— Aquele babaca está te ameaçando de novo? É isso?
Avalon quase ficou pálida e seus olhos se arregalaram.
— O... O quê?
— Charles! Alfred, ou qualquer que seja o nome dele — citei o
agiota. — Ele está te ameaçando de novo? É por isso que está nervosa desse
jeito? Meu amor, se for isso, a gente vai para a polícia agora. Meu pai tem
muitos contatos, a gente coloca esse filho da puta na cadeia em um piscar
de olhos, já que a ameaça que fiz de entregá-lo ao traficante de Nova York
não valeu de nada.
— Não. — Avalon sacudiu a cabeça de forma veemente. — Não tem
nada a ver com Charles.
— Então o que é? Meu Deus, Avalon, depois de todo esse tempo
juntos, eu achei que você confiasse em mim!
O queixo dela tremeu e seus olhos voltaram a se encher de lágrimas,
mas Valente não deixou que nenhuma caísse. Como se estivesse
incomodada com o meu toque, ela empurrou as minhas mãos para longe do
seu corpo e voltou a se afastar, quase encostando as costas contra a porta do
carona do meu carro.
— O problema não é você, eu só... Eu não quero mais. — Ela
sacudiu de novo a cabeça e passou a mão pela bochecha quando uma
lágrima caiu. — Eu não gosto de você como pensa, Logan. Acho que eu
nunca vou conseguir gostar, porque... Eu ainda gosto dele.
— Dele quem? — Percebi que eu estava com muito medo daquela
resposta.
— Do meu ex. Eu ainda sou apaixonada por ele. Sei que ele não
merece, mas não posso mandar na forma como me sinto.
Não consegui falar nada por longos segundos, observando Avalon
voltar a limpar as bochechas vermelhas e desviar os olhos dos meus. Ela
tremia, mas percebi que eu me sentia da mesma forma. Os músculos do
meu corpo simplesmente trepidavam, como se eu não tivesse qualquer
controle sobre eles. E eu realmente não tinha.
Naquele momento, percebi que eu não tinha controle sobre nada.
— Você... — Limpei a minha garganta quando minha voz saiu
embargada. — Você está mentindo.
— Não estou.
— Está.
— Não, eu não...
— Você está mentindo! Está mentindo, porra! — Soquei o volante e
Avalon deu um pulo ao meu lado. — Eu posso nunca ter me apaixonado
antes, mas sei reconhecer quando alguém está sentindo o mesmo que eu.
Até ontem, você estava louca por mim, Avalon! Você se desmanchava com
o meu toque, beijava a minha boca de forma apaixonada, fazia planos
comigo, e agora vem com toda essa merda para cima de mim? Eu não
acredito em você, porra!
— Até ontem você trepava com um monte de garotas e curtia cada
momento com elas. Por que eu não posso ter feito o mesmo com você?
— Quer saber o que eu curtia? — perguntei, vendo-a engolir em seco
e arregalar um pouco os olhos. — Eu curtia a sensação do orgasmo. Era só
isso que eu curtia, Avalon, como uma necessidade fisiológica. Por alguns
segundos, a minha mente conseguia se desligar de toda merda que vinha
acontecendo e eu relaxava, mas isso durava exatamente o que eu falei:
alguns segundos. Era por isso que eu bebia, porque o álcool era bem mais
eficiente em me manter entorpecido por mais tempo.
— Então, você trocou tudo isso por mim. — Sua voz soou trêmula
enquanto ela forçava uma risada. — Que saudável, Logan! Parabéns!
— Não, eu não troquei por você. Eu mudei, Avalon. — Não consegui
impedir que a porra dos meus olhos ficassem marejados, mas não deixei
que lágrima alguma ousasse cair. — Eu mudei quando comecei a me
apaixonar por você. Minha mente se expandiu e eu percebi que não
precisava de álcool ou festas, nem precisava de sexo, porque aquela
necessidade cega de não querer sentir nada, começou a sumir antes mesmo
de eu tocar em você desse modo. O meu amor por você, Valente, me fez ver
que eu não precisava mais me autodestruir, me fez entender que, mesmo
sofrendo a dor do luto, eu ainda poderia sentir coisas boas, ainda poderia
lutar para ser feliz.
Ao contrário de mim, Avalon não conseguiu conter as lágrimas por
mais tempo. Ela começou a chorar de forma quase desesperada, tentando
conter os soluços, enquanto seus ombros tremiam. Ainda de olhos
arregalados, ela juntou as mãos na altura do queixo e implorou baixinho:
— Você não pode... não pode... falar isso para mim... não pode...
— Por que não? — Tomei seu rosto em minhas mãos, já me
preparando para a sua luta, mas Avalon me surpreendeu ao fechar os olhos e
se render ao meu toque. Sentir as suas lágrimas sob os meus dedos quebrou
o meu coração. — Eu amo você, Avalon. Amo cada parte sua. A teimosa, a
debochada, a de língua afiada, a corajosa, a forte, que enfrentou um mundo
de problemas e nunca pensou em desistir. Eu também amo a parte medrosa,
a tímida, a que fica vermelha quando falo sacanagem e a que precisa de
carinho e cuidado, mesmo quando você diz que não. Eu simplesmente amo
você por inteiro, Valente, e mesmo que você não me ame de volta, acredito
que esse sentimento nunca vai mudar.
Avalon ofegou, separando os lábios molhados de lágrimas para
respirar, ainda tremendo e soluçando. Era como naquela manhã em sua
casa, mas, ao mesmo tempo, era diferente. Naquele dia, ela estava com
medo, hoje, ela parecia estar sofrendo e carregando o mundo em suas
costas. Eu não conseguia entender. Queria poder olhar em seus olhos e
encontrar todas as respostas que precisava, mas ela simplesmente encostou
o rosto em meu peito e chorou mais um pouco, estremecendo quando passei
minha mão na parte de trás da sua cabeça.
— O que foi? — Passei os dedos de leve no mesmo local, sentindo-a
estremecer de novo. — Avalon, você está com dor?
Que merda era aquela?
Tentei afastar o seu rosto do meu peito, mas ela me impediu,
afundando-se mais contra ele. Bem baixinho, Valente disse:
— Eu não posso deixar que ele destrua essa oportunidade que você
está tendo. Eu sei o quanto você está feliz por ter chamado a atenção
daquela agência... É o seu sonho, Logan. Eu sinto muito.
— O quê? — Finalmente consegui olhar em seus olhos ao afastar o
seu rosto do meu peito. Avalon estava com os olhos mais inchados ainda,
vermelhos assim como o seu nariz e as bochechas. — Do que você está
falando?
— Não importa, eu só... Eu só preciso ficar longe de você.
— O caralho que precisa! Olha para mim — pedi quando tentou
fechar os olhos. — Explica isso direito, Avalon.
— Não posso...
— Sim, você pode. A Avalon que eu conheço enfrenta qualquer
coisa. Por que está se escondendo agora?
— Porque eu não quero estragar o seu futuro! — Ela chorou mais. —
Será que não entende?!
Meu celular começou a tocar, assustando a nós dois. Por estar
conectado ao sistema de som do carro, o barulho alto fez com que Avalon
escapasse das minhas mãos e voltasse a se afastar, passando as mãos pelo
rosto. Silenciei a ligação, vendo na tela do console que era meu pai quem
estava querendo falar comigo, e voltei minha atenção para Avalon. Antes
que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela foi mais rápida:
— Precisamos ir, já perdi a primeira aula, não quero perder a
segunda.
— Estou pouco me fodendo para a aula. Quero saber que merda está
acontecendo, Valente. Se tem algo a ver comigo, você não pode esconder.
— Não tem nada a ver com você.
— Não? E toda essa história sobre a agência? Sobre destruir o meu
futuro? — Ela ficou pálida e o meu celular tocou de novo. Voltei a silenciar
a ligação, esperando pela sua resposta. — Você disse que não pode deixar
que ele destrua essa oportunidade que estou tendo... Quem é ele? — Insisti.
— Charles? É ele? Sei que disse que não era, mas, se for ele, você pode me
dizer e...
— É o meu ex-namorado! — disse baixinho, mas eu ouvi. Eu ouvi
nitidamente e senti o meu coração disparar. — Ele... Ele é...
Meu celular tocou de novo e fiquei tentado a jogar a porcaria do
aparelho para fora do carro, mas resolvi atender de uma vez por todas, só
para deixar bem claro para o meu pai que eu não podia falar naquele
momento.
— Pai, estou ocupado! Ligue depois e...
— Logan, você precisa vir agora para casa. — Seu tom de voz
nervoso ecoou pelo veículo e me impediu de desligar. — Descobrimos
quem estava no outro carro naquela noite.
— Porra! E qual é o nome do filho da puta? — perguntei, já
colocando o Audi em movimento.
— Tucker Aaron Young.
A única coisa que rompia o silêncio dentro do carro, era o motor
suave do Audi enquanto Logan passava feito um raio pelos portões enormes
da mansão do seu pai. Os pneus cantaram quando ele parou de forma
abrupta, me fazendo estremecer, antes de ouvir o baque da porta se
fechando. Um segundo depois, Logan abriu a minha porta, me puxando
pela mão para que eu saísse do veículo.
Ele me olhava de forma séria e assustada, quase com raiva, mas eu
não sabia se era de mim ou por toda aquela situação. Imaginava que Logan
também conseguia ver o medo em meus olhos, apesar de eu não conseguir
falar nada. Ainda estava presa na voz imponente do seu pai falando aquele
nome que me aterrorizou nos últimos anos.
Tucker Aaron Young.
O que ele havia feito contra a família de Logan? De que noite o Sr.
Miller II estava falando? Eu me sentia completamente perdida.
Entramos na casa luxuosa e Logan seguiu diretamente para a sala,
ainda segurando a minha mão. Seu pai, sua avó e Norah estavam no
cômodo, acompanhados por um homem que eu não conhecia. A senhora de
idade segurava a mão da neta, que estava visivelmente nervosa. O que
estava acontecendo ali?
Logan se aproximou das duas, dando um beijo na testa de cada uma,
antes de ir para perto do pai, que estava de pé ao lado do sofá. Eles se
abraçaram muito rapidamente, apesar de o Sr. Miller ter prolongado o
aperto no ombro do filho. Logan logo voltou a pegar a minha mão assim
que seu pai deu um passo para trás.
— Logan, sabia que estava esperando por uma ligação minha. — O
homem que eu não conhecia se aproximou, apertando rapidamente a mão
de Logan e me dando um aceno com a cabeça. — Mas, dada as
circunstâncias do que descobri, achei que seria melhor se eu conversasse
com você e com o seu pai ao mesmo tempo.
— Talvez seja melhor você se sentar antes de ouvir o que Philipe tem
a dizer, filho — aconselhou o Sr. Miller. Logan balançou a cabeça.
— Não quero me sentar. Quero saber qual é a probabilidade desse
Tucker ser o mesmo Tucker que namorou com a Avalon. — Sua voz saiu
entredentes, mas seu aperto em minha mão não se tornou mais forte. — E
se ele é enteado de Teddy Smith.
— Minha resposta é sim para todas as perguntas. — O homem
desconhecido respondeu de forma direta, quase fria, como um profissional
faria. Ele pegou um iPad em cima do sofá e estendeu para Logan. — Tenho
algumas fotos dele.
Senti a minha respiração ficar ofegante quando Logan soltou a minha
mão para segurar o aparelho e começou a passar as fotos. Tucker estava
bem ali, em vários momentos da sua vida, cercado de amigos e em meio a
festas, do jeito que ele gostava quando estávamos juntos. Então, de repente,
surgiu na tela uma foto dele atual e eu senti minhas pernas ficarem bambas.
Era como se ele estivesse na minha frente de novo, com o pescoço cheio de
tatuagens e o cabelo platinado, como na noite anterior.
— Filho da puta!
Eu dei um pulo para trás quando Logan jogou o iPad contra a parede
da sala, quase atingindo a TV enorme em cima da lareira. Sua avó e Norah
soltaram um grito assustado e o seu pai tentou o segurar pelo ombro, mas
foi em vão.
— Esse desgraçado... Esse filho da puta desgraçado jantou comigo
duas noites atrás! Ele se sentou à mesa ao meu lado, caralho! — Gritou,
furioso, dando um chute na mesinha de centro. O arranjo de flores bonito
caiu com tudo no piso de porcelanato. — Ele bateu na minha garota e
matou a minha mãe, porra! Mesmo assim, teve a coragem de olhar na
minha cara e apertar a minha mão! Como se nunca tivesse feito nada contra
duas das mulheres que eu mais amo no mundo!
— Logan, fica calmo...
Eu precisei me sentar. Vi de relance o Sr. Miller tentar acalmar Logan
junto com Norah e sua avó, mas não consegui ter qualquer reação. Suas
palavras se repetiam em minha mente como um disco arranhado.
“Ele bateu na minha garota e matou a minha mãe.”
“Matou a minha mãe.”
Como? Por quê? Eu não conseguia respirar. Minha mente tentava
freneticamente juntar as peças daquele quebra-cabeça enorme. Não
consegui ter sucesso, simplesmente porque faltavam peças. Parte de toda
aquela história era desconhecida para mim.
— Como que ele... — Respirei fundo para tentar fazer com que
minha voz soasse menos trêmula. — Como Tucker matou a sua mãe?
Logan parou de repente ao ouvir a minha voz e se virou em minha
direção, assim como seu pai, sua avó e sua irmã. Nenhum deles conseguiu
me explicar nada. Foi o homem chamado Philipe que tomou a palavra. Eu
sentia que já tinha ouvido aquele nome em algum lugar, mas não me
lembrava de onde.
— Ele estava conduzindo o veículo que se chocou contra a traseira
do carro da mãe de Logan. Pelas filmagens das câmeras de segurança da
rodovia em que aconteceu o acidente, ficou nítido que ele estava sem o
controle da direção, mesmo assim, conseguiu fugir do local.
Eu tinha conhecimento de que a mãe de Logan havia sofrido um
acidente de carro e ficado em coma por algumas semanas antes de morrer,
mas não sabia que aquele desastre havia sido provocado por alguém.
Por Tucker.
Meu Deus do céu.
Precisei tirar o cachecol do meu pescoço e me livrar do casaco que
vestia, sentindo minha pele comichar. Um suor gelado desceu pela minha
nuca e minha boca ficou seca. Qual era a probabilidade de ser justamente
ele o culpado pela morte da mãe de Logan e Norah? O que tudo aquilo
significava?
— Avalon? — Norah se aproximou de mim a passos largos, me
dando um olhar alarmado. — O que é isso?
— O quê? — Do que ela estava falando?
— No seu pescoço. Você está toda roxa.
Toquei a região no automático, estremecendo ao me dar conta de que
eu tinha tirado o cachecol em um ato impulsivo. Minha pele machucada
protestou quando a esfreguei, querendo fugir dos olhos de todo mundo.
Logan não deixou. Ele parou na minha frente assim que me levantei do sofá
e olhou dentro dos meus olhos ao tomar o meu rosto em suas mãos.
— Ele esteve lá ontem à noite, não esteve? — Eu queria dizer que
não, mas só pude concordar com a cabeça e tentar lutar contra as lágrimas
que tomaram os meus olhos. Logan tocou a testa na minha e disse baixinho
entredentes: — Eu vou matar aquele filho da puta!
— Logan, não!
Eu ainda tentei segurá-lo pelos pulsos, mas ele escapou de mim com
muita facilidade, saindo de casa em uma velocidade quase impossível de
alcançar. O Sr. Miller e Philipe pediram para que ficássemos ali e foram
atrás dele, mas, mesmo de dentro da sala, pude ouvir o barulho dos pneus
do carro de Logan cantando.
— Meu Deus, ele não pode fazer isso! — falei, pegando nas mãos de
Norah ao meu lado. — Ele não pode matar o Tucker, não pode destruir a
sua vida por causa daquele infeliz!
— Fica calma, Ava. Meu pai foi atrás dele, vai ficar tudo bem.
A Sra. Miller também disse alguma coisa, mas eu não consegui ouvir,
sentindo um aperto ruim demais em meu peito e querendo ir atrás de Logan.
Nunca odiei tanto Tucker como naquele momento.

Logan
“Estamos hospedados no hotel Hilton.”
A voz de Teddy ficava se repetindo em minha mente em um looping
que não cessava, enquanto eu acelerava pelas ruas. Não sabia se ainda
estavam na cidade, mas resolvi arriscar mesmo assim, pois algo me dizia
que Philipe não me passaria a localização daquele filho da puta caso eu
pedisse. Desliguei o meu celular na segunda vez que meu pai insistiu em
me ligar e ignorei o seu Bentley vindo logo atrás do meu Audi, metendo o
pé no acelerador.
“Estamos hospedados no hotel Hilton.”
O sorriso simpático demais de Aaron surgiu em minha memória,
sendo ofuscado pelo momento em que ele esbarrou em mim na porta do
banheiro do bar. Há quanto tempo aquele desgraçado vinha observando
Avalon? Toda aquela história de agenciamento fazia parte de algum plano
dele? O que havia falado para ela ontem, que a deixou tão assustada a ponto
de tentar terminar comigo? Como teve coragem de tocar nela de novo?
Vislumbrei o hotel a alguns metros à frente e parei de supetão logo
atrás de um carro luxuoso, que havia estacionado segundos antes de mim.
Saí sem me preocupar em fechar a porta, quase empurrando uma senhora
que estava na minha frente para poder passar por aquelas portas giratórias
ridículas. Um segurança me olhou e tentou se aproximar, mas logo alcancei
o balcão, chamando um dos atendentes. Uma mulher uniformizada se
aproximou.
— Como posso ajudá-lo, senhor?
— Tucker Aaron Young. Preciso saber se tem alguém com esse nome
hospedado aqui. Se sim, me informe o número da suíte.
— Desculpa, senhor, mas receio não poder ajudá-lo. Nós não
passamos esse tipo de informação.
— Eu estou exigindo que verifique. Agora!
— Logan! — Senti o toque do meu pai em meu ombro, mas me
desvencilhei.
— Se o senhor insistir, terei que chamar o segurança.
— Não será necessário — meu pai disse, tentando me puxar de novo.
— Me solta! — Saí de perto dele, olhando para o lobby imenso do
hotel. Onde estava aquele filho da puta?
— Seja racional, Logan, por favor! — Meu pai pediu, parando na
minha frente. — Acha que eu também não quero socar a cara desse garoto?
— Seus olhos pareciam estar prestes a soltar faíscas de tão puto que estava,
mas sua voz soava baixa e controlada para não chamar ainda mais atenção.
— Acha que não estou louco para me vingar? Ele matou a mulher que eu
mais amava na vida, porra! Mas não podemos perder a razão. Temos tudo
na mão para colocar esse desgraçado atrás das grades para sempre!
— Por causa de um acidente de trânsito? Tá bom.
Eu ri, mesmo sabendo que não havia sido apenas um acidente de
trânsito, ainda assim... Era muito pouco e o padrasto daquele desgraçado
tinha muito dinheiro.
— Não apenas por isso. Philipe descobriu outras coisas — meu pai
sussurrou, prendendo a minha atenção. — Mas não posso falar sobre isso
aqui. Venha comigo, filho, por favor. Pense em Avalon, a garota ficou
assustada com a forma como você saiu. Ela precisa de você.
Lembrei do seu pescoço roxo e do medo em seus olhos, o choque em
sua expressão ao descobrir como Tucker havia invadido não apenas a sua
vida, mas a minha também. Eu queria muito meter a porrada naquele
desgraçado até ele perder a consciência, mas meu pai tinha razão. Avalon
precisava de mim e, para ser sincero, eu também precisava dela. Deixei que
ele me guiasse em direção à porta giratória do hotel, ainda sentindo a raiva
aquecer o meu sangue, mas uma voz às minhas costas nos fez parar no meio
do caminho.
— Logan, como é bom ver você de novo! — Virei-me junto com
meu pai e vi Teddy Smith caminhar em nossa direção. Ele sorria animado,
como na primeira vez em que nos vimos, e fechou completamente a nossa
distância. — Parece que estava lendo o meu pensamento. Ia pedir para que
meu assistente entrasse em contato com você amanhã de manhã para
marcarmos uma reunião formal. Graham precisou viajar, mas eu ficarei no
Alabama até segunda-feira e...
— Onde está o seu enteado?
Teddy franziu o cenho e meu pai apertou o meu ombro em um aviso
mudo. Ignorei. Não sabia se teria outra chance de chegar perto daquele filho
da puta de novo. Jamais desperdiçaria aquela chance.
— Aaron? Ele está no bar tomando um drinque com uma garota...
Não esperei ele terminar. Já tinha ido àquele hotel algumas vezes e
sabia muito bem onde ficava o bar. Meu pai gritou o meu nome, mas não
dei ouvidos, passando por alguns hóspedes, atravessando totalmente o lobby
até chegar ao bar luxuoso que ficava perto dos elevadores que levavam às
suítes. Não demorei muito a encontrar o desgraçado, pois reconheceria em
qualquer lugar do mundo aquele cabelo platinado e o pescoço tatuado que
seria esmagado por mim em menos de um segundo.
— Seu filho da puta!
Ao contrário dele, que era um covarde, eu o peguei de frente,
empregando no soco que dei em seu rosto, a mesma força que utilizei ao
jogar o iPad contra a parede na casa do meu pai. Tucker só conseguiu
segurar o nariz que sangrava antes de tombar com tudo do banco em frente
ao balcão do bar e cair no chão. A loira que o acompanhava gritou,
alarmada, mas não perdi meu tempo olhando para ela. Parti para cima
daquele desgraçado com toda a fúria que eu sentia.
Soquei-o por ter empurrado a minha mãe para a morte. Soquei-o por
todas as vezes que machucou a minha garota. Soquei-o por deixá-la com
medo, por ter a assustado, por ter partido o seu coração e a sua alma no
momento em que esteve mais frágil. Soquei-o por ter ousado se aproximar
dela mais uma vez, por ter a deixado com marcas roxas, por ter a feito
chorar.
Seu sangue espirrava no chão escuro do bar, as falanges dos meus
dedos estavam arrebentadas, pessoas gritavam à minha volta, mãos
tentaram me tocar, mas me desvencilhei de todas elas, desfigurando a cara
daquele filho da puta que havia tocado em dois dos meus bens mais
preciosos.
Ele estava quase apagando quando o peguei pelo pescoço e apertei.
Seus olhos inchados tentaram me encarar, mas fiz questão de chegar bem
perto, para que ele nunca mais se esquecesse do meu rosto ou das palavras
que eu estava prestes a dizer na sua cara:
— Ontem foi a última vez que você chegou perto da minha mulher.
— Ele tentou abrir a boca, mas apertei o seu pescoço com mais força,
rompendo a passagem de ar. — Foi a última vez que você ousou machucar
alguém que é importante para mim. Só estou te deixando vivo hoje, porque
não quero perder nenhum dia da minha vida longe de Avalon, mas se você
apenas pensar em chegar perto da sombra dela, uma vez que seja, eu juro
que não vou ser tão condescendente. Você vai morrer, e vai ser de uma
forma tão dolorosa, que vai implorar para nunca ter nascido.
Alguém finalmente conseguiu me tirar de cima de Tucker e ele caiu
praticamente desmaiado. Senti que meu pai me abraçou por trás pela
cintura, como se estivesse com medo de que eu fosse terminar o que
comecei, e o deixei me afastar dali. Muitos hóspedes se aproximaram,
alguns filmavam, mas eu não me importei.
— Meu Deus! Olha o que você fez com o meu menino! — Teddy se
ajoelhou ao lado de Tucker. — Seu jogadorzinho de merda! Sua carreira
está arruinada! Entendeu? Eu vou te afundar, seu filho da puta! Ninguém
vai se lembrar que um dia existiu um Logan Miller III dentro de campo!
Alguém chama a porra de uma ambulância!
Meu pai me tirou de perto de todo mundo junto com Philipe, mas não
registrei quase nada a minha volta. Me colocaram dentro do banco traseiro
de um carro depois de pedirem para que os curiosos se afastassem e o
veículo saiu da frente do hotel em tempo recorde. Os próximos minutos se
tornaram um borrão. Senti como se eu tivesse apagado, apesar de estar de
olhos abertos, encarando meus dedos arrebentados e sujos de sangue.
Sem que eu esperasse, meu pai pegou a minha mão e começou a
passar o lenço, que sempre carregava em seu paletó, em cima dos meus
dedos sujos. A maior parte do sangue estava seca, mas ele não parou,
limpando tão cuidadosamente quanto fazia quando eu era criança e ralava o
joelho.
— Eu tenho tanto orgulho de você. — Sua voz grave e levemente
embargada soou pelo carro. — Sei que nunca falei isso, sei que acabei me
tornando um pai duro demais, exigente demais e que acabei perdendo
momentos importantes da sua vida desde que entrou para a faculdade. Acho
que acabei fazendo com você o mesmo que meu pai fez comigo. Ele queria
que eu fosse o seu reflexo e eu queria que você fosse o meu. Me arrependo
por ter ignorado todas as vezes que sua mãe tentou me alertar sobre o modo
como eu estava agindo, por eu não ter parado para enxergar que vinha te
afastando cada vez mais. Depois que ela se foi, eu apenas... Me perdi. Eu
me perdi como você, Logan, só que de forma diferente. Você se perdeu em
meio às bebidas e às festas e eu me perdi dentro de mim mesmo, no
trabalho, no meu modo irritantemente exigente, como sua mãe dizia.
Ele parou por alguns segundos e percebi que seus olhos estavam
cheios de lágrimas, assim como os meus.
— Estou falando tudo isso agora, porque não quero que se torne tarde
demais entre nós dois também. Não quero perder o meu filho como perdi a
minha esposa. — Meu pai chorou baixinho pela primeira vez desde o
enterro. Quantas vezes ele havia chorado sozinho? Por mim, pela minha
mãe, por tudo? — E eu senti muito medo de perder você até aquela menina
chegar.
— Avalon?
— Quem mais seria? — Ele sorriu de leve por entre as lágrimas. —
Ela te salvou uma vez e então, te salvou de novo. Eu não queria enxergar,
mas essa é a verdade.
— Do que está falando? — Meu pai voltou a limpar os meus dedos,
mas vi que ainda chorava. — Pai?
— Eu o ouvi perguntar para a sua irmã sobre uma garota no dia do
enterro da sua mãe. Você falou algo sobre a chuva e sobre ter estado em
uma ponte.
— Não. Eu não falei sobre a ponte. Eu falei sobre a garota e a chuva,
mas não sobre a ponte. — Aquela era uma das poucas certezas que eu tinha
sobre aquele dia.
Guardei a história sobre a ponte para mim, pois Norah vivia me
enchendo o saco para procurar um psicólogo. Mesmo acreditando que tudo
aquilo não havia passado de um sonho, preferi não contar, pois não queria
que minha irmã se preocupasse com a possibilidade de eu cometer alguma
loucura contra a minha vida, apesar de ter sentido essa vontade naquela
noite em que soube da morte da nossa mãe.
— É, acho que você não falou mesmo.
— Então como você sabe? — Tirei minha mão debaixo da dele,
obrigando-o a me encarar. — Como você sabe sobre a ponte, pai?
— Avalon me contou. — Ele soltou a bomba desarmada sobre o meu
colo e a senti explodir bem na minha cara. — Foi ela que te fez desistir de
pular e que te levou para casa naquela noite. — Seu soluço ecoou pelo carro
e, sem que eu esperasse, suas mãos me puxaram em sua direção em um
abraço apertado. — Eu não conseguia me lembrar direito da menina que
bateu no meu portão de madrugada, alegando que estava com você dentro
do carro, porque... Meu Deus, Logan, eu senti tanto medo! Você estava
completamente apagado, molhado pela chuva, sujo de vômito... Eu só
conseguia me lembrar que ela tinha os cabelos ruivos e do seu pedido para
que eu cuidasse de você. Ela me contou o que você queria fazer e eu... Eu
acho que nunca soube como lidar com aquilo. Eu preferi acreditar que era
mentira... Eu fui um pai terrível. Eu sou um pai terrível, Logan!
Eu estava atordoado. O peito do meu pai tremia pelo choro incontido
e minha cabeça rodava, tentando processar toda aquela informação e puxar
as memórias daquela noite. Eu me lembrava da chuva e da ponte.
Lembrava-me da garota ao meu lado e da forma como foi insistente e
cuidadosa. Lembrava-me perfeitamente das suas palavras:
“Foi uma noite difícil para mim também.”
“Sabe do que eu tenho medo? De viver o resto da minha vida
sentindo medo. Creio que seria um desperdício e tanto.”
“— Só... Fica quieta — pedi.
— Para deixar que as vozes na sua cabeça falem mais alto do que
eu? Não mesmo. Eu sei como elas podem ser poderosas, mas, sabe de uma
coisa, atleta cheio de equilíbrio? Somos mais fortes do que ela. Somos mais
fortes do que tudo. E mesmo que hoje você se sinta fraco e que amanhã ou
depois você continue achando que não tem força, você vai perceber que
tem, sim. E então, quando você se der conta disso, ninguém vai poder te
parar.
— Isso é quase um parágrafo de livro de autoajuda.
— Bem brega, por sinal.
— Muito.
— Mas funciona, acredite em mim.
— Por que eu faria isso? Eu nem te conheço.
— Por isso mesmo. Se nós dois conhecêssemos um ao outro, você
poderia pensar que estou aqui porque tenho medo de te perder, mas não é
esse o caso.
— E por que você está aqui?
— Porque não quero que você se perca, pelo menos não
definitivamente. Vamos lá, estrelinha dourada, mostre para mim que você
tem equilíbrio de sobra e desça do guarda-corpo comigo.”
Estrelinha dourada. Meu Deus, Avalon!
“— Você vai se encontrar com ela um dia. E então, você vai ter
várias histórias para contar a ela. Coisas incríveis, que eu tenho certeza de
que ela vai querer saber com detalhes. Vocês vão sorrir juntos e se abraçar
de novo. Vai ser muito especial, eu juro. Confie em mim.”
Eu confiei.
Eu confiei naquela noite e vinha confiando todos os dias desde então.
Desde que a vi dentro do meu quarto e fui um cara escroto do caralho com
ela.
Antes mesmo de eu saber, meu coração confiou em Avalon, porque,
de alguma forma muito louca, ele sempre soube que ela era nossa. Nossa
garota para amar, cuidar e confiar.
— Por que não me contou isso antes, pai? — perguntei, me afastando
do seu peito. Ele tocou a minha nuca e apertou de leve.
— Porque, como eu disse, eu não tinha certeza se era ela ou não. Só
descobri naquele almoço lá em casa. A forma como me encarou... Foi bem
peculiar, da mesma forma como falou comigo naquela noite.
— Você devia ter me contado. Esse almoço aconteceu semanas atrás!
— Eu sei, mas percebi que Avalon não tinha contado para você
também, então decidi deixar nas mãos dela a decisão de te falar ou não.
Ela não tinha falado nada. Puta merda, fui um babaca com ela no
começo de tudo e Valente nunca deu a entender que tinha cuidado de mim
em um momento tão particular. Eu deveria saber que Avalon jamais faria
isso. Não era do seu feitio usar a dor de alguém em benefício próprio.
— Por que mudou de ideia?
— Porque, depois de hoje, eu entendi que a vida de vocês está mais
interligada do que nunca. Eu não acreditava em destino, mas acho que
agora acredito. Sua mãe estaria rindo da minha cara agora e falando “eu te
avisei”. — Contra todas as possibilidades, meu pai riu.
Ele riu de verdade. E foi bom pra caramba assistir. Puxei-o para um
outro abraço, sentindo toda a nossa animosidade ficar para trás.
— Na verdade, ela deve estar rindo de você — falei ao me afastar.
— Com certeza, mas acho que ela está feliz, principalmente. Afinal
de contas, ela também salvou uma vida muito importante depois que partiu.
— Do que está falando?
Percebi que estávamos entrando em casa e só então me dei conta de
que alguém estava guiando o carro. O Bentley do meu pai tinha aquela
frescura de separar a parte de trás do veículo, dando privacidade ao
passageiro, por isso, não fazia ideia se ele tinha ido até o hotel com algum
segurança ou se era Philipe quem estava ao volante.
— Sei que vai ficar puto comigo, mas investiguei a vida de Avalon
depois daquele almoço.
— Pai! Puta que pariu, não acredito!
— Fica calmo, eu só queria ter certeza de que ela era mesmo uma
boa garota. Não ia usar nada do que descobri contra ela. — Revirei os olhos
ao ouvir aquilo e o Sr. Miller II prosseguiu. — Enfim, acabei descobrindo
que a Aubrey passou por um processo de transplante de rim.
— Sim, eu sei disso. O que é que tem?
— A data da cirurgia da menina foi muito próxima da morte da sua
mãe, Logan. Realmente muito próxima, algo em torno de dois dias depois.
Então, entrei em contato com Richard, diretor do hospital onde sua mãe
ficou internada aqui no Alabama e onde ocorreu a cirurgia da irmã de
Avalon. Sei que o tipo de informação que pedi a ele é confidencial, mas,
como somos amigos de longa data, Richard abriu uma exceção e me
confirmou ontem de manhã que o rim que Aubrey recebeu, era da sua mãe.
— O... O quê?
A pergunta havia escapado de forma automática, pois eu estava
completamente em choque. O carro parou em frente à nossa casa e vi
Avalon pela janela. Ela estava sentada nos degraus que levavam à porta da
mansão e se levantou toda desajeitada, ainda chorando e parecendo estar
desesperada.
— Sua mãe salvou a vida da irmã de Avalon, Logan — meu pai
tocou em meu ombro, mas não consegui tirar os olhos de Valente. Ela
desceu a escada correndo, parecendo louca para me ver. — Se você tinha
alguma dúvida de que essa garota é a mulher da sua vida, é melhor que não
tenha mais.
Eu não tinha. Desde que beijei Avalon pela primeira vez, eu sabia.
Porra, no fundo do meu ser, minha alma já sabia no momento em que ela
me encontrou na porcaria daquela ponte!
Não consegui responder ao meu pai, apenas saí do carro e encurtei
completamente a distância que me separava de Avalon, tomando-a em meus
braços. Nosso beijo teve gosto de lágrimas, desespero, amor, saudade e
esperança.
Ah, Valente...
Minha Valente.
Agarrei a minha garota entre os meus braços e prometi a mim mesmo
que não a soltaria nunca mais.
— Nunca mais me dê um susto como esse, ouviu? — Tomei o rosto
de Logan em minhas mãos e beijei cada centímetro de pele que minha boca
conseguiu alcançar. Ele estava suado, mas não me importei. — Você ouviu,
Logan?
Afastei seu rosto do meu e ele concordou lentamente com a cabeça.
Percebi que chorava, assim como eu, e que me olhava de forma diferente.
Era como se quisesse me falar um monte de coisas, mas estivesse exausto.
Eu imaginava que realmente estava.
— Por que vocês não vão lá pra cima? — O pai de Logan parou ao
nosso lado de repente. Eu estava tão desesperada, que havia me esquecido
completamente de que ele também estava dentro do carro. — Seu quarto
está arrumado, Logan. Tome um banho, enquanto providencio remédio e
gazes para cuidar das suas mãos.
Dei um passo para trás, ficando assustada ao tomar as mãos de Logan
nas minhas. Sua pele estava suja de sangue e as falanges estavam
praticamente em carne viva.
— Meu Deus, Logan... O que você fez?
— O que você acha que eu fiz? — murmurou. Senti o meu coração
disparar e olhei para o Sr. Miller em busca de uma resposta mais clara.
— Ele... Ele matou...
— Não. — Soltei o ar que estava prendendo, sentindo minhas pernas
ficarem bambas de alívio. — Mas deu uma lição naquele filho da puta que
ele nunca mais vai esquecer. Agora, eu vou cuidar pessoalmente para que
ele pague na justiça por todo crime que já cometeu, inclusive, o que fez
com você ontem à noite. — O pai de Logan me pegou de surpresa ao
acariciar gentilmente as minhas costas. — Você foi muito corajosa ao
denunciá-lo da primeira vez, Avalon. Quero que saiba que você não está
mais sozinha.
— Obrigada. — Agradeci sinceramente, tentando parar de chorar.
Como vítima de um relacionamento abusivo e de violência
doméstica, eu sabia como era difícil dar o primeiro passo e pedir por ajuda.
Na primeira vez, o fiz muito mais por Aubrey do que por mim, mas, agora,
eu denunciaria Tucker novamente tendo a certeza de que estava fazendo
aquilo para me proteger. E para proteger outras mulheres que tivessem o
azar de cruzar o seu caminho e despertar a sua obsessão.
Sr. Miller apertou o ombro do filho e voltou a reforçar que
deveríamos ir para o seu quarto. Logan estava meio aéreo, por isso, eu
tomei as rédeas da situação, pegando em seu pulso, pois seus dedos estavam
machucados, e levando-o para dentro de casa. Norah veio correndo abraçar
o irmão e sua avó veio logo atrás. As duas o encheram de perguntas, mas o
Sr. Miller disse que explicaria tudo a elas e pediu para que deixassem
Logan tomar um banho.
Subimos a escada e, no segundo pavimento, Logan me guiou até o
seu antigo quarto. Ainda tinha a aparência de um quarto de adolescente —
um adolescente bem rico —, com as paredes pintadas de azul e cinza, vários
troféus em prateleiras e pôsteres de jogadores de futebol americano. Não
consegui prestar mais atenção no ambiente, pois Logan logo me levou para
o banheiro da suíte. Havia uma banheira no canto, perto do box.
— Como faço para ligar aquilo ali? — perguntei, apontando para ela.
Logan foi me passando as instruções e eu liguei a banheira, usando
uma essência de banho para perfumar a água, já que sais estavam fora de
cogitação por conta dos seus dedos machucados. Assim que começou a
encher, voltei a me aproximar dele e o ajudei a tirar a camisa suada,
percebendo, apenas naquele momento, que estava respingada de sangue, e
parti para a calça enquanto ele chutava os sapatos para longe.
Tentei imaginar como ele havia conseguido encontrar Tucker e como
tinha deixado a cara daquele idiota. Pelo estado da sua mão, com certeza o
rosto dele havia ficado pior, e eu fiquei feliz, apesar de estar muito
preocupada com Logan e morrendo de medo de que aquilo o prejudicasse
de alguma forma.
Ouvi duas batidas na porta e me afastei do jogador, encontrando com
a sua irmã no quarto. Norah me estendeu uma maleta pequena de primeiros
socorros e me abraçou rapidamente, sussurrando em meu ouvido:
— Obrigada por cuidar dele.
Ela se afastou antes que eu pudesse responder e saiu do quarto,
fechando a porta atrás de si. Voltei para o banheiro, encontrando Logan
fazendo uma careta ao lavar as mãos na pia.
— Não quero que você fique suja com o sangue daquele filho da puta
quando entrar na banheira comigo — explicou quando me aproximei.
— Não vou entrar na banheira com você. Quero que você relaxe
enquanto eu limpo os seus machucados.
— Você pode fazer isso depois — disse Logan, virando-se para mim.
Suas mãos ainda molhadas tocaram a minha cintura e me puxaram de
encontro ao seu corpo alto e forte. — Preciso ficar perto de você agora,
Valente. O máximo que eu puder.
Eu jamais conseguiria negar um pedido como aquele, mesmo me
sentindo um pouco envergonhada por estarmos na casa do seu pai. Deixei
que Logan me ajudasse a me despir e fomos juntos para a banheira, que
estava cheia pela metade. O jogador se sentou e me puxou para o seu colo,
de frente para o seu corpo, me dando um abraço apertado e escondendo o
rosto entre os meus seios. Não havia nada sexual ali, era como se Logan
estivesse buscando o conforto que precisava em mim, assim como eu fazia
com ele.
Não queria mais chorar, mas algumas lágrimas teimosas encheram os
meus olhos e molharam a minha bochecha, conforme eu acariciava o cabelo
macio de Logan. Ainda naquela manhã, eu acreditei que nunca mais estaria
desse jeito com ele. Pensei que Tucker ia estragar mais uma parte da minha
vida e arrancar o quarterback de mim. Sua ameaça ficou soando de forma
clara em meus ouvidos durante toda a madrugada, espalhando o seu poder
sobre a minha mente como fazia quando estávamos juntos. Senti-me
dominada por ele de novo, só que daquela vez, foi de uma forma bem mais
cruel.
— Sinto muito — sussurrei entre os cabelos de Logan, sentindo sua
respiração entre os meus seios. — Sinto muito por tudo, Logan.
Sentia-me culpada, mesmo sabendo que eu não tinha nada a ver com
a morte da sua mãe. O fato de Tucker ser o responsável pesava muito forte
sobre mim. Com certeza tudo aquilo não havia passado de uma
coincidência, afinal, eu sequer conhecia Logan naquela época, mas Tucker
era meu ex-namorado e agora eu estava envolvida com o quarterback. Tudo
aquilo era muito confuso. Tinha certeza de que o destino deveria estar rindo
da nossa cara naquele momento, achando muito engraçado entrelaçar as
nossas vidas daquela maneira.
— Não se desculpe, você não tem culpa de nada, Valente, pelo
contrário.
Os lábios de Logan subiram pelo meu tórax até alcançarem o meu
pescoço. Ele beijou cada hematoma provocado pelos dedos de Tucker, com
uma delicadeza que quase me fez chorar novamente.
— Você é uma vítima daquele desgraçado — sussurrou, passando as
mãos pelas minhas costas. — Pode ter certeza de que cada soco que dei
nele, foi pensando em você. Queria ter feito muito mais, Valente. Queria ter
te conhecido bem antes. Eu nunca deixaria que ele se aproximasse. Eu teria
cuidado de você e da sua irmã quando mais precisaram, faria de tudo para
que você nunca se sentisse sozinha ou acuada, assustada por aquele verme.
Ele jamais teria tocado em você.
Tomei seu rosto em minhas mãos e beijei sua boca bem devagar,
sentindo meu coração bater forte no peito. Deus sabia como eu também
queria ter conhecido Logan antes. Tudo teria sido tão diferente.
— Você já fez muito por mim hoje — falei, passando meu nariz
sobre o dele. — Me desculpe por ter agido daquela forma no carro, por ter
falado todas aquelas coisas. Era tudo mentira, Logan. Eu fiquei desesperada
quando Tucker me contou que o padrasto dele era dono da SK Sports. Ele
disse que se eu não me afastasse, faria com que o padrasto dele arruinasse a
sua carreira. Senti medo de acabar prejudicando você de alguma forma. Eu
nunca iria me perdoar se isso acontecesse, porque sei que o seu maior sonho
é ser um jogador profissional.
— Eu imaginei que ele tivesse te chantageado de alguma forma
quando você confirmou que ele tinha aparecido no bar ontem.
— Ele fez mais do que isso. Tucker conseguiu roubar o meu chaveiro
e ficou esperando por mim na escada. Maeve já tinha ido embora àquela
altura e eu fiquei sozinha com ele.
— Poderia ter me ligado, Valente.
— Pensei em fazer isso, mas ele me cercou, eu fiquei sem reação. —
Revirei os olhos para mim mesma, como fazia na época em que estávamos
juntos, me sentindo uma estúpida. — Geralmente, eu sempre fico sem
reação perto dele e Tucker sabe disso.
— Ele é um covarde! — A voz de Logan saiu entredentes. — Sequer
reagiu quando parti para cima dele, porque, com certeza, só sabe agir de
forma violenta com as mulheres. Com os homens, coloca a porra daquele
rabinho mimado entre as pernas.
— Ele é exatamente assim. — Tinha lembranças dos seus ataques de
ciúmes e de como partia apenas para cima de mim, mas agia de forma
alegre perto dos seus amigos.
— Enquanto ele estiver solto, você e sua irmã vão ficar na minha
casa, ok?
— Tudo bem. — Não ia discutir sobre aquilo, pois realmente não me
sentia segura depois do que havia acontecido ontem. — Você acha que o
padrasto de Tucker se aproximou de você por minha causa?
— Eu não sei, Valente. Talvez sim. Você não sabia que a família dele
era envolvida com esporte?
— Na época em que estávamos juntos, seu padrasto tinha uma
agência pequena e o nome era outro. Não me lembro exatamente qual era
agora.
— Smith Sports. — Concordei com a cabeça. Era exatamente aquele
o nome. — Teddy e Graham Kennedy se tornaram sócios no ano passado,
por isso, a agência agora se chama SK Sports.
— Provavelmente, eu já não estava mais com Tucker quando isso
aconteceu. Eu tive poucas semanas para arrumar a minha mudança depois
que o denunciei. Só queria sair de uma vez por todas de Los Angeles, pois
sabia que ele seria solto em breve e não queria mais estar na cidade quando
isso acontecesse. Não adiantou muito, porque eu ainda estava morando lá
quando ele ganhou a liberdade, mas pelo menos não se aproximou de mim
até eu sair da cidade.
— Ficar comigo te colocou na mira dele de novo — Logan concluiu.
— Eu sabia que isso poderia acontecer, mas pensei que depois de
todos esses meses, Tucker já teria se esquecido de mim. Ele é popular na
UCLA, vivia cercado por garotas. Sua família conseguiu abafar a minha
denúncia e, quando ele ficou afastado da faculdade, espalharam pelo
campus que ele estava viajando. Ou seja, mesmo preso, nada respingou
nele.
— Eles não vão poder fazer isso agora, pode ter certeza. Meu pai vai
cuidar de tudo, Valente. Aquele filho da puta vai pagar por tudo o que fez.
— Descobriram mais alguma coisa sobre ele, além de ter causado o
acidente da sua mãe?
— Meu pai disse que sim, mas não conseguiu me dar os detalhes
ainda. Espero que sejam crimes suficientes para deixá-lo mofando na cadeia
para sempre.
— O padrasto dele tem muito dinheiro, Logan. Você sabe que rico
não fica preso por muito tempo.
— Eu concordaria com você se meu pai não fosse Logan Miller II. —
Logan me deu aquele sorriso de moleque convencido, aquecendo o meu
peito. — O velho não vai descansar enquanto não fizer Tucker pagar por
todos os seus crimes.
— Seu pai nem é tão velho assim.
— Ah, não? — O quarterback arqueou uma sobrancelha. — Está de
olho no meu pai, Avalon?
— O quê? Claro que não! Seu nojento! — Logan riu quando joguei
água em sua cara, afastando-se um pouco de mim. — Só estou falando que
seu pai não é nenhum idoso.
— Estou brincando, Valente. Sei que você gosta de um novinho. —
Apontou para si mesmo. — Principalmente de um novinho que dá trabalho,
afinal de contas, você já vem me aturando há bastante tempo.
— Isso é verdade — concordei, sorrindo.
— Desde aquela noite na ponte. — Logan soltou de repente, quase
me fazendo engasgar com a minha própria saliva. Ele passou a ponta dos
dedos pelo meu rosto, contornando desde a minha sobrancelha até o meu
queixo. — Por que não me disse que era você comigo naquela noite,
Valente?
— Você... Você se lembrou?
— Eu achava que era um sonho. Aquela noite ainda é muito confusa
na minha cabeça, lembro muito mais das suas palavras do que da sua
fisionomia.
— Então, como sabe que era eu?
— Meu pai me contou hoje.
Fitei-o, boquiaberta, lembrando-me do momento em que parei em
frente aos portões da sua casa pela primeira vez. Eu tinha certeza de que
Logan tinha me dado o endereço errado, porque estávamos claramente
diante de uma mansão. Chovia muito e os seguranças não me deram
qualquer atenção quando eu disse que estava com um morador daquela casa
no meu carro. Na época, eu não sabia o nome de Logan e ele estava
completamente apagado no banco do carona, portanto, nenhum dos homens
que falou comigo pelo interfone me levou a sério, até um carro chique parar
do nosso lado.
— Era o seu pai naquela noite?
— Sim.
— Eu não o reconheci. — Já tinha visto algumas poucas fotos de
Logan Miller II na internet naquela época, mas não tinha gravado a sua
fisionomia ainda. — Aquela noite foi uma loucura. Eu tinha acabado de
chegar na cidade e precisava passar por aquela ponte para poder ir para o
bar da Maeve. Foi a minha irmã que te viu sentado no guarda-corpo. Eu
parei no acostamento e tentei ligar para a polícia, mas meu celular estava
descarregado, então, fui até lá.
— Você nem sabia quem eu era?
— Não. Eu não fazia a menor ideia, só queria te impedir de cometer
aquela loucura. Eu estava me borrando de medo, Logan. Toda vez que
penso que me sentei ao seu lado e que você poderia se jogar... Sinta isso. —
Peguei a sua mão com cuidado e encostei a palma em meu peito. — Meu
coração dispara.
— Tem ideia de que você me salvou naquela noite, Avalon? — Ele
continuou a sentir as batidas do meu coração, que ficaram ainda mais
aceleradas. — Eu estava tão perdido, tão desolado... A única coisa que eu
queria, era me livrar daquele sentimento horrível e me encontrar com a
minha mãe, mas, de alguma forma, você conseguiu transpassar a dor que eu
sentia e me convenceu a desistir. Eu confiei em você naquela noite, Valente.
Confiei cegamente e venho confiando desde então, mesmo sem saber que
era você comigo naquela ponte.
Eu não sabia o que dizer, pelo menos não naquele momento, por isso,
tomei a boca de Logan na minha, querendo que ele sentisse o quanto eu
estava emocionada através daquele beijo. Ele retribuiu intensamente,
acariciando de leve o meu pescoço e descendo em direção aos meus seios e
costelas, até chegar em minhas costas e puxar o meu corpo para ainda mais
perto do seu. Pude sentir o início da sua ereção, mas não fizemos nenhum
avanço sexual, apenas nos beijamos por longos minutos, até ele deixar o
meu lábio inferior escapar por entre os seus dentes.
— Eu nunca mencionei aquela noite, porque não queria que você
revivesse aquela dor. Confesso que cheguei a pensar que você iria me
reconhecer quando descobri quem você era e que estudava na UA,
principalmente depois que nos aproximamos, mas como nunca deixou
transparecer nada, achei melhor ficar quieta.
— Se eu tivesse te reconhecido, nunca teria sido o cuzão que fui com
você... Ou talvez eu fosse, porque estava em um momento péssimo da
minha vida. — Logan sacudiu a cabeça, fazendo uma careta. — Sinto muito
por ter sido tão idiota, Valente.
— Eu também não facilitei.
— Sei que me tratava daquele jeito porque eu fui um escroto
primeiro.
— Verdade. — Sorri, vendo-o revirar os olhos. — Não é muito louco
que nós estejamos juntos agora, depois de tudo isso? Parece que os nossos
caminhos foram feitos para se cruzarem, Logan.
— Eu acho que é exatamente isso, pelo menos, foi no que passei a
acreditar depois do que o meu pai me contou quando estávamos no carro.
— Sobre a ponte?
Logan balançou a cabeça e simplesmente soltou a informação na
minha cara, sem ao menos me preparar antes.
— Sobre a sua irmã ter recebido o rim da minha mãe.
Minha boca caiu aberta, conforme eu sentia a minha mente travar.
Meus olhos se arregalaram tanto, que cheguei a pensar que eles saltariam do
meu rosto.
— O que você disse?
Não era possível. Aquilo simplesmente não era possível... Ou era?
— Foi o que você ouviu. Meu pai é um pouco paranoico sobre a
nossa segurança e investigou a sua vida. Sim, eu o xinguei por causa disso,
pode ficar tranquila — comentou rapidamente, mas não me importei com
nada daquilo. — Ele descobriu sobre o transplante da sua irmã e desconfiou
de que ela poderia ter recebido o órgão da minha mãe por conta da
proximidade do falecimento dela e da cirurgia de transplante. Minha mãe
sempre deixou muito claro que queria que todos os seus órgãos fossem
doados, caso houvesse essa possiblidade, então, o meu pai atendeu ao seu
pedido.
— Que ato bonito — falei, me sentindo tocada. A mãe de Logan era,
com certeza, uma mulher muito especial. — Mas como o seu pai pode ter
certeza de que Aubrey recebeu o rim dela? Ninguém tem acesso a esse tipo
de informação.
— Meu pai é amigo do diretor do hospital e ele confirmou tudo.
Aubrey realmente recebeu o rim da minha mãe, Valente.
— Meu Deus...
Eu estava chocada. Queria falar mais alguma coisa, mas, o que eu
poderia dizer diante de tudo aquilo? Não havia palavras. Não havia nada
que pudesse expressar o que eu estava sentindo naquele momento, por isso,
abracei Logan bem forte. Meu coração estava tão acelerado, que senti medo
de que ele pudesse escapar da minha caixa torácica. Em minha mente, só
consegui visualizar os momentos em que Aubrey e Logan estiveram juntos,
a rapidez com que se conectaram, o carinho que o quarterback sentia pela
minha irmã e que ela retribuía de forma tão genuína. Lágrimas tomaram os
meus olhos, tamanha a emoção que senti.
— Acho que isso explica a ligação tão bonita que você tem com a
minha irmã — falei bem baixinho em seu ouvido, antes de me afastar para
poder olhar em seus olhos. — Não sei se percebeu isso, mas vocês se
tornaram amigos tão rapidamente! E ela sempre gostou de você, Logan.
Lembra daquela noite em que fui atrás de você depois que saiu do bar da
Maeve?
— Aquela noite em que você me impediu de ir embora dirigindo e
ligou para James ir me buscar?
— Sim — respondi e Logan concordou com a cabeça, deixando claro
que se lembrava. — Foi Aubrey que insistiu para que eu não te deixasse ir
embora sozinho. Mesmo sem nunca ter trocado uma única palavra com
você, minha irmã já se importava. Ela é muito especial, eu sei disso, mas
depois de toda essa história... Não sei, só consigo pensar que vocês têm uma
ligação que nada neste mundo pode explicar. É algo maior do que a nossa
compreensão.
Os olhos de Logan ficaram marejados, mesmo assim, ele sorriu.
— Eu amo a Aubrey da mesma forma que amo a Norah e acho que
agora consigo entender o porquê. — Logan tomou o meu rosto em suas
mãos. — Essa é a primeira vez que eu vejo que houve algum propósito na
morte da minha mãe, Valente. É a primeira vez que eu sinto que ela não
partiu em vão.
— Logan...
— Também é a primeira vez que eu sinto que ela está feliz, onde quer
que esteja. Tenho certeza de que ela está sorrindo de alegria por ter salvado
a vida de Aubrey e por vocês duas estarem comigo agora. Sua irmã ter
recebido o rim dela é uma forma de mostrar que minha mãe sempre vai
estar ao meu lado.
— É claro que ela vai estar sempre ao seu lado, meu amor. — Beijei
as suas bochechas banhadas por lágrimas. — Obrigada por vocês terem
realizado esse pedido dela. Vocês salvaram a vida da minha irmã, Logan. Se
eu a perdesse... Eu nem sei o que seria de mim. Nunca conheci o meu pai, e
o de Aubrey morreu antes mesmo de ela nascer. Ele e minha mãe tinham
apenas um caso, então, mesmo se estivesse vivo e a reconhecido como
filha, não acredito que eu teria muito vínculo com ele. Aubrey é tudo o que
eu tenho, é a minha única família.
— Agora vocês têm a mim e a minha família também, aos meus
amigos... Nunca mais estarão sozinhas, Valente. Eu prometo.
Eu sabia que era verdade. Nossas vidas estavam entrelaçadas e algo
me dizia que eu nunca mais me sentiria sozinha de novo.
De um segundo para o outro, todo o esforço que fiz para limpar a
minha imagem nos últimos meses foi jogado no lixo. Tudo isso porque
alguém filmou a surra que dei em Tucker e postou na internet. O vídeo
viralizou em poucas horas e a hashtag “quarterback agressor” entrou nos
trending topics do Twitter.
Logicamente, todos aqueles que estavam compartilhando a porcaria
do vídeo e dando a sua opinião sobre o caso, não faziam a menor ideia do
motivo por trás daquela agressão, mas isso não significava nada no mundo
da internet. Uma mentira, quando contada muitas vezes, acabava se
tornando verdade, e a fofoca se tornava muito mais interessante para os
internautas quando eles podiam inventar uma história por trás daquilo que
estavam compartilhando.
Muita gente estava falando besteira. Alguns inventaram que eu e
Tucker já tínhamos uma rixa na época da adolescência, por ele ter jogado na
posição de quarterback em Los Angeles — sendo que eu sequer o conhecia
—, outros, descobriram que ele e Avalon tinham namorado no passado e
postaram que eu havia dado uma surra nele por causa de uma crise de
ciúmes. A SK Sports se posicionou a favor de Tucker — claro — e postou
um tweet onde deixou claro que tomariam medidas judiciais contra o que eu
havia feito.
Pedi para que um dos nossos funcionários buscasse Aubrey na
escola, pois com certeza não seria seguro que ela fosse para casa sozinha
naquele momento, e passei o resto da tarde reunido com o meu pai, Philipe,
Avalon, meus amigos, minha avó e Norah em casa, junto com alguns de
nossos melhores advogados e o meu social media[13].
Philipe contou que havia descoberto que Tucker havia cometido uma
série de agressões e assédio contra mulheres desde que saíra da cadeia e que
uma modelo chamada Elle Davis estava tentando processá-lo por tê-la
dopado e estuprado em uma festa. Sua amiga a havia encontrado desmaiada
e nua em um quarto, após ter sido levada até o cômodo por Tucker.
Teddy vinha tentando abafar todos aqueles casos, comprando o
silêncio de algumas vítimas e tentando fazer o mesmo com Elle, mas não
estava obtendo o resultado esperado. Meu pai logo montou uma estratégia
para entrar em contato com Elle e com as outras vítimas, junto com Avalon,
para que entrassem com uma ação conjunta contra Tucker, sendo
representadas por ele.
Para tentar diminuir, pelo menos um pouco, os comentários sobre
mim na internet, ficou decidido que eu faria um vídeo explicando o motivo
pelo qual agi daquela maneira. Foi Avalon quem deu a ideia, reforçando que
poderia estar ao meu lado para explicar que Tucker era um agressor, agindo
daquela forma corajosa que eu tanto amava. Como não queria que ela
tivesse que se expor tanto, preferi gravar o vídeo sozinho, citando Avalon e
o fato de ela já ter denunciado Tucker antes por agressão e, mesmo assim,
ele ter tido a coragem de se aproximar dela mais uma vez.
Não foi fácil ter que falar tudo aquilo na frente de uma câmera, mas o
fiz sem hesitar. Por recomendação do meu pai, deixei claro que a forma
como agi não foi correta, mas não consegui falar que tinha me arrependido,
pois não queria mentir. Qualquer pessoa que tivesse ao menos um pingo de
caráter e empatia, se colocaria em meu lugar e teria feito o mesmo que eu
— talvez, teria feito até pior e matado Tucker de uma vez.
Will, meu social media, editou rapidamente o vídeo e o publicou em
todas as minhas redes sociais ainda naquela noite. Decidi que eu só veria o
resultado de tudo aquilo no dia seguinte, pois estava exausto e precisava
ficar quieto um pouco, longe de toda aquela confusão. Deixei que meu pai
decidisse a melhor maneira de conduzir todo o resto do plano e fui embora
com Avalon, Aubrey, Norah e meus amigos. A irmã de Avalon estava
visivelmente nervosa com tudo aquilo, por isso, assim que chegamos em
casa, fiz questão de abraçá-la rapidamente e dar algum conforto para a
garota.
— Não precisa ficar com medo, ok? Você e sua irmã não estão mais
sozinhas, nós vamos cuidar de vocês.
— Eu sei, só não acreditava na possibilidade de Tucker se aproximar
e tentar machucar Ava de novo. — Aubrey olhou para Valente, que estava
conversando com Norah alguns metros à nossa frente. — Agora eu entendi
por que ela estava tão nervosa hoje de manhã. Eu deveria ter ficado
acordada até mais tarde ontem à noite, se estivesse na sala, eu teria ouvido
os dois juntos lá embaixo e poderia ter ligado para você. Ele não teria
machucado a minha irmã mais uma vez.
— Não, Aubrey, não pense assim. — Voltei a abraçá-la quando vi
seus olhos ficarem marejados. — Você não teve culpa de nada, assim como
Avalon também não teve. Aquele filho da pu... Aquele infeliz — achei
melhor não xingar muito na frente da menina. — é o único culpado,
entendeu? E agora, ele vai pagar.
— Promete, Logan? Promete não deixar Tucker chegar perto da
minha irmã de novo?
— Eu prometo. — Garanti, dando um beijo rápido em seus cabelos
antes de afastá-la para que Aubrey pudesse limpar as lágrimas que
molhavam as suas bochechas. — Pode confiar em mim, Aub.
— Eu confio — ela sussurrou, me dando um sorrisinho triste.
— Ei. — Avalon se aproximou e arregalou um pouco os olhos ao
notar a irmã. — Aub, por que está chorando?
— Porque ela está emocionada por estar aqui conosco. — Foi James
quem respondeu. Ele estava por perto, devia ter ouvido a minha conversa
com Aubrey.
— Fiquei sabendo que você gosta de cozinhar, Aubrey — Benjamin
disse ao entrar na sala.
— Sim, eu gosto. Não sei fazer muita coisa, mas gosto de me arriscar
seguindo receitas da internet.
— Eu também! — disse ele, me fazendo franzir o cenho. Benjamin
na cozinha era um desastre. O babaca mal sabia bater um shake de proteína,
sempre errava as medidas.
— Adoro cozinhar também — James comentou. Outro mentiroso do
caralho.
— Que tal se a gente tentasse fazer uma pizza? — Propôs Benjamin.
— Ah, meu Deus! Eu posso filmar? — Norah perguntou ao se
aproximar. — Preciso guardar esse momento para a posteridade!
— Só se a Aubrey aceitar nos ajudar — disse Ben.
Aubrey tentou conter um sorriso animado e encarou Avalon com os
olhos parecidos com os do gato do Shrek.
— Eu posso, Ava?
— Contanto que não coloque fogo na casa, é claro que pode.
— É mais fácil aqueles dois atearem fogo na casa, acredite em mim
— falei, abraçando Valente pela cintura.
— Idiota! Só por causa disso, não vai comer nem um pedaço! —
Benjamin me deu a língua ao invés de me dar o dedo do meio,
provavelmente, em respeito a Aubrey. — Vamos lá, Aub! Vamos mostrar
para esse babaca que nós somos Masterchefs!
Foi bom ver a tristeza de Aubrey sendo substituída por um sorriso
enorme enquanto seguia para a cozinha com os meus dois amigos idiotas e
a minha irmã. Fiz uma nota mental de agradecer aos três por terem tido
aquela ideia, pois sabia que só estavam tentando se aventurar na cozinha,
para distraírem a menina de toda aquela situação.
— Seus amigos e sua irmã são incríveis. — Avalon me abraçou pela
cintura, com certeza, pensando a mesma coisa que eu.
— Claro que são. Eu sou incrível, não poderia estar cercado por
pessoas diferentes de mim.
— Cala a boca, estrelinha dourada. — Ela riu e me olhou nos olhos.
Era bom ver que, assim como Aubrey, Avalon já não carregava o mesmo
peso de horas atrás. — Logan?
— Sim?
— Eu amo você.
Eu nunca tinha levado um tiro — graças a Deus —, mas o impacto
que aquelas palavras causaram em meu peito, com certeza, era bem
parecido com o impacto de uma bala penetrando o corpo e atingindo o
coração. Fui pego completamente de surpresa, no meio da minha sala, por
uma Avalon que me fitava com os olhos levemente rasos d’água. Porra!
— Valente...
— E não estou falando isso só porque você me disse hoje de manhã.
Estou falando porque, depois de tudo o que eu já passei, tinha certeza de
que nunca mais permitiria que outra pessoa mexesse com os meus
sentimentos ou entrasse no meu coração, mas você, estrelinha dourada,
acabou fazendo isso sem que eu percebesse.
— E quando você percebeu que me amava?
— Ontem de madrugada, quando senti a dor de perder você.
Olhei em direção à cozinha, ouvindo a risada dos quatro reunidos no
cômodo, e decidi deixá-los se virando com a pizza para aproveitar aquele
momento com a minha garota. Já que Norah estava gravando tudo, eu
poderia rir da cara deles depois ao assistir o vídeo. Tomei Avalon pela mão
e fui com ela para o meu quarto, pressionando-a de encontro à porta
fechada depois que girei a chave na fechadura. Meus dedos estavam
cercados por band-aids, mas isso não me impediu de infiltrá-los nos cabelos
de Valente e puxar o seu rosto para perto do meu.
— Você nunca vai me perder — garanti baixinho. Passei meu nariz
levemente pelo de Avalon, sentindo a sua respiração tocar os meus lábios.
— Posso não ter o dom de prever o futuro, Valente, mas de uma coisa eu
sei. — Dei uma mordidinha em seu lábio inferior, ouvindo-a ofegar. — O
destino fez de tudo para nos colocar de frente um para o outro. Ele te
reservou para mim e eu me sinto um sortudo do caralho por conta disso.
Nunca vou desperdiçar o presente que me deu. Jamais abrirei mão de você.
— Mas eu tenho medo, Logan. O pai de Tucker é muito poderoso e
ele te ameaçou. Eu vi no vídeo que está rolando pela internet.
— Não importa. Eu largaria tudo, Avalon, inclusive a minha carreira
no futebol, apenas para ter você para sempre na minha vida.
Aquilo, realmente, era algo que nunca pensei que sentiria um dia. O
futebol era a minha vida, sempre foi o meu maior sonho, mas Avalon havia
se tornado maior do que qualquer coisa dentro de mim. Logicamente, eu
queria ter os dois, mas entre a minha carreira e aquela garota... A minha
escolha era óbvia.
— Você não vai precisar desistir da sua carreira — Avalon garantiu,
me olhando toda emocionada. — Vamos lutar juntos para que isso não
aconteça. Foi por causa disso que nos aproximamos pela primeira vez,
lembra? Você vai ser um jogador de muito sucesso, Logan, eu estarei na
primeira fila para te aplaudir.
— Sim, eu tenho certeza disso, e estará carregando um filho meu. É
isso que eu quero para o nosso futuro, Valente. Uma carreira de sucesso
para nós dois e um monte de filhos para nos deixar de cabelo em pé.
Avalon riu e eu beijei o seu pescoço delicadamente, querendo muito
que aqueles hematomas horríveis deixassem a sua pele o mais rápido
possível.
— Contanto que os filhos venham daqui a muitos anos, está tudo
bem.
— Quando você quiser, meu bem. Enquanto isso, a gente vai
praticando, afinal, essa com certeza é a melhor parte de fazer um filho.
— Fica quieto, Logan.
Silenciei a sua risada com um beijo e senti a necessidade de liberar
toda a frustração daquele dia da melhor forma possível: comendo a minha
garota. Acho que Avalon sentia o mesmo que eu, pois foi rápida em me
ajudar a tirar todas as roupas e soltou um gemido arfante quando a levei
para a cama, completamente nua.
Tive cuidado ao deitar a sua cabeça no travesseiro, pois ela me
confidenciou que a parte de trás doía um pouco depois do que o filho da
puta havia feito com ela na noite anterior, e abri as suas pernas para mim,
observando a boceta linda ficando toda melada pela sua lubrificação.
Nós dois gememos quando coloquei um mamilo na boca e toquei
entre os seus lábios delicados até acariciar o clitóris. Infelizmente, eu não
poderia penetrá-la com os meus dedos, mas Avalon não pareceu se importar
nem um pouco com isso enquanto rebolava de leve o quadril e arranhava
minha nuca, pedindo para que eu aumentasse a pressão no biquinho duro e
delicioso do seu seio. Mamei com vontade em cada um deles, até sentir a
minha ereção doer de tão dura que estava.
— Vem, Logan — Valente pediu, erguendo o quadril em direção ao
meu. — Eu quero você.
— Quanto? — perguntei, segurando meu pau duro com uma mão e
passando a glande babada pela sua bocetinha gostosa. Avalon estremeceu
quando massageei a cabeça em seu clitóris inchado.
— Muito. Não me torture demais.
Não conseguiria nem se quisesse. Tomando seus lábios nos meus
para que seu gemido saísse abafado, meti o meu pau em sua boceta,
penetrando até restar apenas as minhas bolas para fora. Avalon pareceu me
sugar em seu canal estreito, estremecendo e arranhando minhas costas
enquanto eu começava a comê-la devagar. Minha língua acariciava a sua
com paixão e meus quadris comandavam o espetáculo lá embaixo,
ondulando para frente e para trás, metendo o meu pau na boceta apertadinha
de Valente.
Mordi seu lábio inferior com mais força do que pretendia ao
aumentar a velocidade das investidas. O prazer me deixou cego por alguns
segundos e apenas o instinto me guiou, enquanto Avalon tentava controlar o
volume dos gemidos e acompanhava os movimentos com os seus quadris.
Senti seus espasmos em volta do meu pau, ficando ainda mais estreita e me
enlouquecendo, massageando a glande sensível e todo o meu comprimento
enquanto eu entrava e saía.
Quando senti que estava prestes a gozar, saí do seu interior e me
ajoelhei aos pés da cama, puxando-a com força pelo quadril. Avalon gritou
de susto, mas acabou mordendo a própria mão para controlar o gemido
quando caí de boca em sua boceta, enfiando minha língua em sua entrada
gostosa e esfregando meu nariz em seu clitóris. Seu orgasmo chegou com
força, fazendo-a fechar as coxas em volta da minha cabeça e se contorcer
pelo colchão. Meu pau pulsava incontrolavelmente enquanto eu a comia
com a boca, a língua, os lábios e o nariz, bebendo o seu prazer e quase
gozando sem nem estar metendo em seu interior.
Senti meu queixo e as minhas bochechas ficarem melados enquanto
roçava minha barba em seus lábios sensíveis e sentia o tremor dos seus
músculos. Dei uma lambida longa em seu clitóris ainda durinho, chupando-
o delicadamente por alguns segundos, até sentir que eu não poderia
aguentar mais. Eu iria explodir se não voltasse a estar dentro de Avalon.
Ergui-me e a virei de bruços, deixando-a com as pernas para fora da
cama e apenas a parte de cima do seu corpo sobre o colchão. Mantive suas
coxas fechadas entre as minhas pernas e me masturbei rapidamente ao
observar os seus cabelos espalhados sobre o meu edredom, as costas nuas e
a bunda gostosa ficando empinadinha para mim. Avalon virou o rosto em
minha direção e se empinou um pouco mais, apertando o edredom entre os
dedos.
— Vem — pediu manhosa. Seu rosto estava vermelho e a sua
expressão de estar sendo bem-fodida me deixou ainda mais louco para
gozar. Apesar do tesão, decidi não meter de uma vez. Voltei a me abaixar e
separei as suas nádegas com as mãos, dando um tapinha em cada uma antes
de apertá-las entre os meus dedos e lamber o seu cuzinho gostoso, que
piscava todo excitado. — Ah... Meu Deus, Logan!
Avalon tentou separar as coxas, mas não deixei, descendo com a
língua até a entradinha perfeita da sua boceta. Penetrei ali de novo, metendo
e tirando a ponta dura da minha língua, até sentir a sua lubrificação descer
com mais força, preparando a sua bocetinha para um novo orgasmo.
Quando ela chamou desesperadamente pelo meu nome de novo, me ergui e
mirei a cabeça bruta do meu pau entre os seus lábios vaginais por trás,
entrando apertado em sua boceta gostosa enquanto mordia de leve a sua
nuca.
— Como eu amo comer você — gemi baixinho em seu ouvido,
rebolando todo enterrado em seu interior, quase gozando tamanha a pressão
que sentia com as suas coxas delicadas apertadas entre as minhas, bem
maiores e mais fortes. — Como eu amo você, meu amor. Minha Valente
gostosa.
— Só sua — ela gemeu baixinho, levantando um pouco a cabeça e
gemendo de olhos fechados. — Sou só sua, Logan. Para sempre.
Eu sabia. Porra, como eu sabia!
Tomei a sua boca na minha e apertei seu quadril com uma mão,
apoiando a outra na cama para poder foder a sua boceta com mais força.
Engolimos os gemidos um do outro enquanto o baque do meu quadril em
sua bunda ecoava pelo quarto, junto com o barulho gostoso de coisa melada
a cada vez que eu entrava e saía do seu canal apertado. Avalon
choramingou, desesperada, e eu gemi mais alto, sentindo que não poderia
segurar mais.
O primeiro jato de porra a atingiu bem fundo na boceta, no momento
em que me enterrei ao máximo, com toda a minha força. Não consegui ser
delicado, mas acho que Valente não queria que eu fosse, pois começou a
gozar junto comigo, puxando o edredom e mordendo o meu lábio inferior.
Meti sem parar, prolongando o meu orgasmo e o dela, sentindo meu pau
pulsar em desespero e sua bocetinha me sugar até o fundo.
Gostoso pra caralho. Porra, comer aquela garota sempre seria gostoso
pra caralho.
Parei todo enterrado na xoxota gostosa, respirando fundo ao lamber a
pele suada do seu pescoço. Valente sorriu, relaxando completamente,
enquanto eu voltava a meter devagar, ainda duro e, com certeza, pronto para
mais uma rodada.
— Vou te comer de novo no chuveiro — avisei, dando um tapinha
em sua bunda. Valente riu de olhos fechados.
— Você sabe que a gente precisa descer, não sabe?
— Você está ansiosa para comer aquela pizza? Se é que vai sair
alguma pizza daquela cozinha.
— É melhor que saia, porque você me deixou com fome, Logan
terceiro.
— Deixei? — Passei meu nariz pela sua bochecha, sentindo o seu
rosto subir e descer em um “sim” mudo. — Meu pau também está com
fome, então, vamos fazer o seguinte: ele te come mais uma vez e, depois, eu
te alimento. O que acha?
— Acho que é uma ótima ideia.
Graças a Deus.
Saí de dentro de Valente e a peguei em meu colo, ouvindo a sua
risadinha enquanto a levava para o banheiro da minha suíte, com o pau duro
pra caralho, doido para voltar para o casulo da sua boceta de novo.
Após o desastre feito na cozinha por Aubrey, Benjamin e James,
tivemos que pedir uma pizza por aplicativo. Devoramos na sala, rindo ao
assistir o vídeo gravado por Norah. Era como se estivessem no meio de uma
guerra, com farinha de trigo para todo lado, James e Benjamin brigando e
Aubrey tentando colocar um pouco de ordem naquela bagunça, ficando
irritada por eles estarem medindo tudo errado. Acho que, depois daquela
experiência, minha irmã com certeza descobriu que trabalhava muito
melhor sozinha.
Apesar de tudo, foi bom ver que ela se divertiu e que estava mais
leve. Sua tensão durante o dia foi nítida, mas passar aquele momento na
cozinha com os amigos de Logan a distraiu completamente. Se aquele era o
objetivo dos dois, alcançaram com sucesso. Assim que Aubrey subiu com
Norah para dormir — ela ficaria no quarto da irmã de Logan, pois a casa
possuía quatro suítes —, eu me aproximei de Benjamin e James e dei um
abraço apertado em cada um, agradecendo pelo que haviam feito naquela
noite pela minha irmã. Poderia não ter muita intimidade com os dois ainda,
mas já eram muito especiais para mim.
Logan também os abraçou, agradecendo não só pelo cuidado com
Aubrey, mas por terem largado tudo para passar aquela tarde ao seu lado. O
treino em campo foi cancelado por conta de toda aquela situação
envolvendo Logan, mas soube que os outros jogadores ficaram no centro de
treinamento para trabalharem na academia com o preparador físico. Ben e
James simplesmente faltaram para poderem dar apoio ao melhor amigo, me
deixando com o peito aquecido ao ver a união tão bonita que existia entre
os três.
Conversei com Maeve por telefone, explicando melhor tudo o que
havia acontecido para ela e agradecendo por seu apoio. Ela disse que eu
poderia ficar afastada o tempo que fosse necessário até tudo se ajeitar e que
poderia contar com ela para o que precisasse.
Antes de dormir, já aconchegada a Logan, fiz uma prece silenciosa,
agradecendo a Deus por ter protegido a nós dois e pedindo que não deixasse
nada de ruim acontecer com a carreira do quarterback. Pedi também para
que a justiça fosse feita e que Tucker pagasse por tudo o que havia feito
contra mim e todas as outras mulheres que seu padrasto vinha tentando
silenciar nos últimos meses.
Ele era claramente um predador. Se continuasse livre, com certeza
chegaria longe demais e poderia acabar com a vida de alguma mulher
inocente — inclusive a minha, já que ainda parecia ser obcecado por mim.
Entendi que Deus havia ouvido a minha oração quando acordei com
a voz agitada de Logan falando pelo celular. Tomei um susto, mas o seu
sorriso animado fez com que o meu coração começasse a desacelerar.
— Tudo bem! Claro, vou passar o recado para Valente. Obrigado por
tudo, pai. Também te amo. — Logan desligou e se aproximou da cama a
passos largos, sentando-se ao meu lado e segurando as minhas mãos. —
Valente, o meu vídeo viralizou e um dos jornais mais importantes do país
publicou uma reportagem sobre o Tucker, finalmente trazendo a público a
sua prisão por ter agredido você!
Eu fiquei em choque, mas Logan me mostrou a tela do celular. Minha
boca caiu aberta ao ver que seu vídeo já tinha mais de dez milhões de
visualizações em menos de quinze horas de publicação apenas no
Instagram. Ele mudou a página e me mostrou a reportagem do jornal. O
jornalista conseguiu acesso à denúncia que fiz contra Tucker no ano
passado e à sua detenção que, infelizmente, durou muito menos tempo do
que deveria, graças à influência do seu padrasto.
— Meu Deus! — Tomei um susto ao ouvir o toque do meu celular.
Logan me entregou o aparelho e vi que era um número desconhecido.
— Provavelmente, são jornalistas querendo que você dê alguma
entrevista. Meu pai aconselhou para que não os responda por enquanto,
disse que é melhor entrarmos primeiro com a ação conjunta com as outras
vítimas de Tucker. Todas com quem ele entrou em contato, aceitaram
denunciá-lo. Algumas já estão vindo para o Alabama hoje mesmo.
— Claro. Eu não estava pensando em dar entrevista alguma, acho
que não vou querer me expor tanto assim. Quero apenas que a justiça seja
feita e que todos conheçam quem é o Tucker de verdade.
— Isso vai acontecer, meu bem. — Logan me deu um beijo longo e
carinhoso, tocando o meu rosto ao se afastar. — O fato de ele ter sido
denunciado antes por você, com certeza deu coragem para que essas
mulheres aceitassem o denunciar agora. É por sua causa, Valente, que tudo
isso está acontecendo. Você já está começando a ajudar muitas mulheres
que são vítimas de filhos da puta como Tucker, sei que vai inspirar muitas
pessoas com a sua coragem e a sua força.
Não podia acreditar que Logan ia fazer eu começar o dia chorando
como uma doida, mas não pude conter as lágrimas ao abraçá-lo.
— Eu sempre soube que era isso que eu queria fazer, ajudar mulheres
que passam por qualquer situação de vulnerabilidade. Eu cresci vendo
minha mãe lutar sozinha para cuidar de duas filhas, Logan. Ela batalhou
muito e sempre me disse que eu não deveria ter medo de nada, que eu
deveria ser forte e corajosa para enfrentar qualquer adversidade. Foi o que
fiz quando ela se foi, quando me vi sozinha com a minha irmã doente e
quando Tucker chegou ao ápice da sua violência e me bateu pela primeira
vez. Não quero que mais mulheres passem por isso sozinhas. Quero ajudar
quantas eu puder.
— E você vai, porque você é a mulher mais forte que eu conheço. É a
minha Valente — ele sussurrou, emocionado, dando um beijo carinhoso em
meus lábios. — A garota mais foda do mundo.
Não sabia se eu era, mas, com certeza, continuaria lutando para um
dia ser.

As semanas seguintes poderiam ser definidas com uma única palavra:


caos.
Conheci todas as seis mulheres com quem Tucker se relacionou nos
últimos meses e que se tornaram sua vítima. Elle Davis era a que tinha a
denúncia mais grave contra Tucker. Sua amiga a havia encontrado
desacordada no quarto e a levado direto para o hospital, onde foi feito um
exame que comprovou a substância em seu organismo e o estupro. Havia
câmeras no local da festa, que gravaram Tucker entrando com Elle no
quarto — praticamente sendo arrastada por ele, pois mal conseguia ficar de
pé — e saindo vinte minutos depois, sozinho.
Entramos com a ação conjunta e, diante de tantas provas, a prisão de
Tucker foi decretada. Vê-lo sendo surpreendido na casa de Teddy em Los
Angeles e saindo algemado me fez gritar, literalmente, de felicidade. Uma
emissora de TV passou tudo ao vivo e não pude conter as lágrimas de
alívio.
Na internet, não se falava sobre outra coisa. Eu ainda evitava dar
entrevistas, mas algumas vítimas quiseram contar tudo o que haviam
sofrido nas mãos daquele infeliz. A SK Sports sofreu inúmeras quebras de
contrato e Kennedy, sócio de Teddy, deixou bem claro que a parceria entre
eles estava desfeita. Inclusive, ele conversou pessoalmente com Logan, se
desculpando por tudo e deixando bem claro que não sabia que Tucker era
meu ex-namorado, muito menos que havia tentado usar o nome da empresa
para ter qualquer tipo de vantagem.
Acreditamos nele, porque não achávamos que um homem sério como
Graham Kennedy iria se sujeitar a participar de uma chantagem feita pelo
enteado do seu sócio. Sobre Teddy, não sabíamos se ele estava ciente ou
não dos planos de Tucker, mas eu não duvidava que estivesse, já que o
protegia de tudo e sempre dava um jeito de abafar qualquer denúncia contra
ele.
O homem mais velho não tinha filhos e, pelo que eu sabia, era casado
com a mãe de Tucker desde que o infeliz era adolescente. Com certeza, o
via como um filho, o que, claro, não justificava o fato de passar a mão pela
cabeça daquele abusador, mas explicava a sua atitude de sempre dar um
jeito de abafar as merdas que ele fazia.
Em meio a tudo isso, a temporada de futebol continuou avançando e
algo surpreendente aconteceu: o pai de Logan começou a ir em cada jogo
do filho. A relação dos dois vinha melhorando cada dia mais e a felicidade
do quarterback era genuína. Seu pai estava finalmente aceitando que ele
queria ser um jogador profissional e apoiando a sua escolha. Eu estava
imensamente feliz por Logan, pois sabia que ele merecia reconstruir a sua
relação com o pai e estreitar cada vez mais os laços que tinha com ele.
Com a prisão de Tucker e o seu julgamento prestes a ser marcado,
pude voltar para o meu apartamento com Aubrey — apesar da insistência
de Logan para que eu fosse morar de vez com ele — e focar na faculdade,
pois as provas estavam chegando. Aubrey e eu passamos o Dia de Ação de
Graças com a família de Logan e nos divertimos muito durante o almoço
em frente à piscina.
Sentia que Miller — única forma que encontrei para me referir ao pai
do quarterback, pois eu simplesmente não conseguia chamá-lo de Logan e
ele havia insistido para que eu deixasse o “senhor” de lado — gostava
verdadeiramente de mim e da minha irmã. Nossa proximidade se tornava
cada dia maior e Aubrey, com o seu jeitinho todo expansivo e simpático,
logo conquistou a todo mundo. Talvez, por ela carregar um pedacinho de
Agatha Miller — mãe de Logan —, todos ali sentissem por ela um carinho
ainda mais especial.
— Valente!
Eu estava concentrada, terminando de ler o último parágrafo do texto
que escrevi para apresentar o seminário ao lado de Logan — o que
aconteceria dali a exatamente quarenta e cinco minutos —, quando o
quarterback surgiu de repente em frente à mesa que eu ocupava na
biblioteca. Os poucos alunos a nossa volta o encararam, uns com
curiosidade, outros com raiva por ele estar atrapalhando o silêncio. Eu
estava ansiosa com a apresentação do seminário, portanto, ver a agitação de
Logan só me deixou mais nervosa ainda. Sem conseguir me conter, me
levantei.
— O que houve? Por favor, não me diga que esqueceu de imprimir a
parte escrita do trabalho, Logan!
— Claro que não, está aqui. — Ele colocou o trabalho impresso
sobre a mesa e me puxou pela mão. Senti a sua palma suada e fiquei
preocupada.
— Você está se sentindo bem? Está tremendo e suando frio, Logan!
— Shiu! — Um menino murmurou com a cara amarrada. Segurei-me
para não dar o dedo do meio para ele.
Recolhendo rapidamente as minhas coisas de cima da mesa, Logan
me puxou pela mão e me levou para os fundos da biblioteca, entrando na
sala pequena que era usada como almoxarifado. O jogador passou a chave e
deixou todas as nossas coisas sobre uma mesa que havia ali perto,
aproximando-se de mim em seguida com o celular na mão.
— Saiu a lista, Valente!
— Lista? Que lista?
— A lista de indicados para o prêmio Heisman!
Pensei que meu coração ia parar na boca.
— Ah, meu Deus! Logan! E então? Você foi indicado, não foi? —
perguntei, quase arrancando o celular da sua mão. — Fala logo!
Seu sorriso enorme foi a minha resposta. Antes que ele abrisse a
boca, eu já estava me jogando sobre o seu colo, ouvindo-o soltar uma risada
alta enquanto eu o prendia pela cintura com as minhas pernas.
— Eu fui indicado, Valente! Eu fui indicado, porra!
Graças a Deus estávamos trancados naquela sala, ou seria capaz de o
aluno chato partir para cima de nós dois com o escândalo que estávamos
fazendo. Tomei o rosto do quarterback em minhas mãos e o beijei mil e
uma vezes, na testa, nas sobrancelhas, na ponta do nariz, nas bochechas, até
alcançar a sua boca. Eu estava tão feliz por Logan, que sentia que meu
coração poderia explodir!
Semanas atrás, se alguém me perguntasse se eu sabia o que
significava o prêmio Heisman, eu com certeza diria que não. No entanto,
quando se namora um quarterback tão incrível quanto Logan e vê o jogador
fazer uma temporada tão impecável quanto ele vinha fazendo, você começa
a entender melhor sobre todas as nuances do esporte.
O Troféu Heisman era o prêmio anual dado para o melhor jogador de
futebol universitário da temporada. A atuação de Logan estava impecável e
ele havia conseguido repetir aquele touchdown incrível do primeiro jogo em
uma das suas últimas partidas. As chances de ele ser um dos indicados ao
prêmio eram enormes e estávamos ansiosos para que a lista saísse logo.
— Eu ainda não consigo acreditar, Valente! — Logan me colocou no
chão e tocou a testa na minha. Ele estava ofegante e o sorriso não saía do
seu rosto. — Depois de tudo o que aconteceu no último ano, acreditei que
eu faria uma temporada mediana, apesar de saber que daria o meu melhor.
Nunca pensei que eu conseguiria jogar tão bem, menos ainda que seria
indicado para o prêmio.
— Sempre soube que você seria indicado. Você merece demais, meu
amor. — Beijei de novo a sua boca, mal conseguindo me conter de tanta
felicidade. — Se dedicou muito, vem dando um show em campo a cada
jogo, está chamando cada vez mais a atenção da mídia com o seu talento.
Achou mesmo que não seria indicado?
— Não queria nutrir falsas esperanças, mesmo com a Dra. Samantha
tentando trabalhar essa parte comigo.
Logan finalmente havia aceitado a começar a frequentar um
psicólogo há algumas semanas. A Dra. Samantha Stuart era psicóloga do
time do Crimson Tide e alguém que Logan já conhecia, por isso, se sentiu
confortável em começar a se consultar com ela. Eu tinha finalmente
conseguido estabilizar as minhas finanças e comecei a me consultar com
uma psicóloga incrível chamada Penelope Lovell.
Era bom estar sendo acompanhada por uma profissional naquele
momento tão conturbado da minha vida, tendo que lidar com o assédio da
mídia — que ainda não tinha desistido de me fazer dar entrevista — e a
ansiedade pelo julgamento de Tucker, que só aconteceria em meado de
janeiro. Ele seguia preso, o que me deixava aliviada, mas sentia que só
conseguiria ficar em paz depois que ele fosse julgado e condenado a muitos
anos de prisão.
— Acho melhor você deixar tudo isso de lado e começar a aceitar
que é um jogador espetacular. Inclusive, é melhor que deixe um espaço
reservado naquela sua prateleira de troféus, pois eu tenho certeza de que
esse prêmio vai ser seu.
Logan sorriu e caminhou comigo até encostar as minhas costas na
parede ao lado da porta. Havia uma estante cheia de pastas de documento
ao nosso lado e a poeira quase me fez espirrar.
— O melhor prêmio de todos já está bem aqui, nos meus braços —
sussurrou, dando um beijo em meu pescoço e me arrancando uma risada.
— Ah, não! Isso foi tão brega, Logan Miller III!
— O amor me deixa brega, o que eu posso fazer?
— Nesse momento? Você pode me beijar — respondi, erguendo o
meu rosto em sua direção. — Estou um pouco nervosa com o seminário,
acho que um beijo seu vai diminuir a minha ansiedade.
— Não sei por que está nervosa, se nós vamos arrasar hoje. — Seus
lábios tocaram os meus, me deixando toda arrepiada. — Mas eu posso ser o
seu remédio e curar a sua ansiedade, Valente.
Brega.
Brega demais.
Mas eu amava aquele quarterback gostoso, abusado e que tinha um
jeito todo peculiar de ser romântico.
Logan me beijou, lentamente no começo, mas foi aumentando a
intensidade até me deixar louca de tesão. Senti a sua ereção no pé da minha
barriga, gemendo em sua boca quando levantou a minha saia e colocou a
minha calcinha de lado, tocando-me devagar.
— Vou te deixar bem calminha, Valente — sussurrou, dando uma
mordidinha no meu lábio inferior antes de me virar de frente para a parede.
Segurei forte em uma das prateleiras da estante quando o senti pressionar a
cabeça do pau em minha entrada.
— Logan... E se alguém nos pegar? — Ainda tive a clareza de
perguntar.
— Se você gemer bem baixinho, ninguém vai descobrir que eu estou
te comendo gostoso aqui dentro.
Sua mão grande tampou a minha boca assim que começou a me
penetrar. Fechei os olhos com força, quase me desmanchando de encontro
ao seu corpo conforme Logan começou a me comer. Seus lábios em meu
pescoço e minha nuca me deixaram louca e o barulho do seu quadril
batendo contra a minha bunda começou a ecoar pela sala pequena.
— Porra! Que delícia, Valente.
Logan saiu de dentro de mim e me virou de frente, segurando meu
pescoço com uma mão e levantando minha coxa com a outra antes de voltar
a me penetrar. Adorava quando me comia por trás, mas daquele jeito era,
com certeza, o meu preferido. Eu poderia beijá-lo e sentir o seu osso púbico
roçar em meu clitóris quando ele rebolava em meu interior, me deixando
doida.
O quarterback engoliu todos os meus gemidos e meteu curtinho em
minha boceta, mantendo-me presa pelo pescoço da forma que sabia que eu
gostava. Precisei arranhar as suas costas ao sentir a pressão iminente do
orgasmo, pressionando meus seios sensíveis em seu peitoral.
— Goza pra mim, Valente, e geme bem baixinho, só para eu ouvir —
pediu e eu obedeci.
Seu nome escapou abafado dos meus lábios em direção aos seus,
enquanto eu gozava bem gostoso no seu pau. Logan não parou de meter, me
beijando forte e apertando o meu pescoço a cada investida em meu interior.
— Vou gozar e você vai apresentar o trabalho com a minha porra
dentro dessa boceta. Ouviu, meu bem? — Concordei com a cabeça, quase
gozando de novo só com o som rouco da sua voz. Logan aumentou o
movimento do quadril, estremecendo quando começou a gozar forte em
meu interior. — Caralho! Nossa, como eu amo você, Valente...
Engoli os seus gemidos e estremeci junto com ele quando parou no
fundo da minha boceta, pulsando bem gostoso e me deixando toda melada.
Foi maravilhoso, como sempre. Ainda mais sensual por conta de
onde estávamos. Logan me beijou devagar, quase me fazendo esquecer de
tudo e pedir por uma próxima rodada, quando tive um estalo. O seminário!
Puta merda!
— Logan! Nós vamos nos atrasar!
Ele arregalou os olhos e saiu de dentro de mim, colocando a minha
calcinha no lugar antes de puxar o celular do bolso.
— Puta merda, temos cinco minutos!
Nem tive tempo de ajeitar o cabelo ou desamassar a minha roupa.
Pegamos todas as nossas coisas e saímos do almoxarifado correndo.
Agradeci mentalmente por não encontrarmos ninguém pelo caminho até a
saída e corremos até o prédio de Direito — Logan bem mais rápido do que
eu, mas ele pelo menos estava carregando a maior parte das nossas coisas.
Fomos direto para a sala onde aconteceria a apresentação dos
trabalhos e paramos ofegantes ao encontrarmos com Norah, Benjamin,
James, a avó e o pai de Logan na porta, prestes a entrar. Os cinco nos
olharam de forma esquisita e eu senti o meu rosto queimar de vergonha.
Ainda bem que tínhamos chegado correndo, isso explicaria a vermelhidão
que com certeza tomava conta das minhas bochechas.
— Onde vocês estavam? — O pai de Logan perguntou.
Ótimo dia para o seminário ser aberto aos familiares dos alunos!
— Tinha esquecido a parte escrita no carro e fomos correndo buscar
— Logan inventou uma desculpa e eu esperava que tivesse sido
convincente o bastante.
Passamos na frente deles, afinal, éramos os alunos atrasados, e
ocupamos o nosso lugar na primeira fileira. A sala de apresentação se
assemelhava a uma sala de teatro, só que bem menor, com um palco
pequeno onde apresentaríamos o trabalho.
— Como eu estou? — perguntei a Logan, aproveitando que todas as
luzes ainda estavam acesas.
O quarterback sorriu e passou a mão pelos fios bagunçados do meu
cabelo.
— Com cara de quem acabou de ser bem-fodida.
— Seu idiota!
Logan riu, mas não pôde falar mais nada pois a Sra. O’Born tomou a
palavra e chamou a primeira dupla que iria se apresentar. Graças a Deus,
não começava por nós dois. Discretamente, o quarterback arrumou o meu
cabelo e se aproximou para sussurrar em meu ouvido:
— Você está linda, Valente, como sempre. Estou louco para limpar
essa bocetinha gozada com a minha língua quando sairmos daqui.
Sorri, afundando-me um pouco na poltrona enquanto cruzava as
pernas. De repente, me vi ansiosa de novo, mas por um motivo
completamente diferente. Mais duas duplas se apresentaram e logo a Sra.
O’Born nos chamou. Do palco, pude ver nossos amigos e os familiares de
Logan. Seu pai estava orgulhoso, apesar de já saber que o filho não seguiria
os seus passos no futuro.
Senti o nervosismo me deixar quando comecei a falar a minha parte e
fiquei toda boba ao ver a confiança de Logan quando tomou a palavra.
Juntos, fizemos uma apresentação impecável que durou mais ou menos
quinze minutos, tempo estipulado previamente pela professora. Ela se
aproximou com um sorriso orgulhoso e nos deu um abraço animado.
— Parabéns, meus queridos! Vocês foram incríveis!
Eu não sabia se a professora estava dizendo aquilo para cada aluno
que terminava de se apresentar, mas não pude conter a minha euforia.
Logan e eu havíamos conseguido! Minha nossa! Encontramo-nos com todo
mundo do lado de fora, quando todas as apresentações terminaram, e
recebemos abraços apertados de todos.
— Tem certeza mesmo de que não quer ser um advogado? Você fez
uma apresentação incrível, filho — o pai de Logan ainda tentou insistir, mas
vi em seus olhos que só estava querendo perturbar o filho mais velho.
— Tenho certeza, pai. Eu só dou o meu melhor em tudo o que me
proponho a fazer — respondeu, todo convencido.
— Você é um Miller, querido! Não podia ser diferente! — Sua avó
comentou com orgulho.
O pai de Logan se aproximou de mim e tocou em meu ombro
gentilmente, me dando um olhar um pouco mais sério, apesar de manter o
sorriso no rosto.
— Você foi formidável, Avalon. Gostei de ver a seriedade em seu
tom, seu domínio sobre o tema. Ficou bem claro que você não havia apenas
decorado o texto, mas que entendia sobre o que estava falando. Foi
empolgante te assistir.
— Nossa, muito obrigada, Miller. Sua opinião é muito importante
para mim.
Tinha que confessar, eu ainda era um pouco tiete de Logan Miller II.
O cara era um dos melhores advogados do país! E ele era meu sogro!
Aquilo não era incrível?
— Quero saber se posso ter você como estagiária em meu escritório.
— Ele soltou o convite de repente, como se estivesse me chamando para ir
com ele na esquina comer um cachorro-quente e não me fazendo a proposta
da minha vida. — Quero que trabalhe diretamente comigo. Não pense que
estou te chamando apenas porque é namorada do meu filho, pois sou muito
ético e responsável quanto a assuntos profissionais. Estou te chamando
porque vejo em você um potencial gigantesco e quero que seja parte do meu
time o quanto antes.
Eu olhei boquiaberta para Logan, que me encarava com um sorriso
enorme e quase gritava para que eu aceitasse. Seus amigos, sua irmã e sua
avó me olhavam do mesmo jeito, enquanto eu me sentia a maior boba da
história, com a sensação de que estava sonhando.
— Está mesmo falando sério?
— Lógico que sim. Não costumo brincar quando o assunto é
trabalho.
— Você não costuma brincar em momento algum, pai — comentou
Norah, rindo baixinho. — Aceita logo, Avalon!
— Eu... Meu Deus, é claro que eu aceito! Desculpa, é que sempre foi
o meu sonho conseguir um estágio em seu escritório, mas nunca pensei que
isso fosse acontecer um dia.
O pai de Logan sorriu e apertou o meu ombro mais uma vez antes de
se afastar.
— Seja bem-vinda ao meu time, Avalon.
Pensei que eu fosse desmaiar, mas Logan se aproximou de mim e me
pegou no colo, rodopiando feito um doido no meio do corredor.
— Parabéns, Valente! Você merece essa oportunidade! — Ele deu um
beijo estalado em minha boca e se virou para Miller. — Você vai ter ao seu
lado a estagiária mais foda do mundo, pai!
— Imagino que sim — respondeu ele.
Acho que Norah disse algo sobre estar atrasada para a aula, mas
Logan me beijou de novo, dispersando a minha atenção. Bem baixinho, ele
disse entre os meus lábios:
— Podemos ir embora para comemorarmos as conquistas de hoje na
cama?
Nós tínhamos mais duas aulas, mas, depois de tudo aquilo, eu não
ligava para mais nada.
— Vamos logo, estrelinha dourada. Nos leve para bem longe daqui.
Logan sorriu e atendeu ao meu pedido.
Janeiro de 2023

— Um, dois, três e já!


O time do Crimson Tide ergueu o troféu de campeões da temporada
de 2022 do futebol universitário. Fogos soaram no céu e eu comemorei ao
lado de Norah, abraçando bem forte a minha cunhada ao ver meu namorado
e nossos amigos lado a lado, junto com os outros jogadores.
Estava tão orgulhosa! Depois de conquistar o Troféu Heisman em
dezembro, Logan merecia encerrar aquela temporada com chave de ouro. A
vitória do Crimson em cima da Georgia era a cereja do bolo. Ele deixou o
troféu com os meninos e se aproximou de mim, dando um beijo intenso em
minha boca.
— Parabéns mais uma vez, estrelinha dourada!
— Eu não teria conquistado nada disso sem você — disse ele. A
música começou a tocar bem alto, pois aquela era a festa oficial de
comemoração do time, mas a voz de Logan soou bem clara em meus
ouvidos. — Foi a sua presença ao meu lado, Valente, que me impulsionou a
chegar até aqui. Eu te amo.
— Nós ajudamos um ao outro, meu amor. Eu também te amo demais.
Seu beijo me deixou sem fôlego, mas logo tivemos que nos separar
quando fãs se aproximaram para pedir foto com Logan. Eu me afastei um
pouco, observando o movimento intenso em sua casa e rindo baixinho ao
me lembrar da primeira vez que havia ido a uma festa naquele lugar. Minha
vida mudou completamente depois daquela noite louca e eu era
extremamente grata por isso.
— Avalon? — Virei-me ao ouvir uma voz feminina me chamando.
Uma garota um pouco mais alta do que eu, com os cabelos pretos e
cacheados, se aproximou me dando um sorriso tímido. Ela segurava um
drinque e estava linda com um vestido vermelho. — Desculpa te
incomodar. Eu me chamo Zoe.
Ela me estendeu a mão e eu a apertei, retribuindo o seu sorriso.
— É um prazer, Zoe. Nós nos conhecemos?
— Não. Quer dizer, eu me sinto próxima de você, de certa forma,
apesar de não nos conhecermos pessoalmente. — Ela fez uma pausa,
parecendo respirar fundo, e eu me aproximei um pouco mais. — É que a
sua história me encorajou a pôr um fim no meu último relacionamento. O
meu ex-namorado era abusivo, mas eu sempre aceitava as suas desculpas
após cada discussão e agressão. Foi ao começar a acompanhar você nas
redes sociais, que encontrei forças para romper aquele ciclo e denunciá-lo
para a polícia.
Não consegui falar nada, apenas puxei Zoe para um abraço, pois
sabia que em momentos como aquele, um gesto de carinho era mais
importante do que qualquer coisa que alguém poderia dizer. Assim que
iniciei o estágio com o pai de Logan, tive a ideia de criar uma página no
Twitter e abrir o meu perfil no Instagram para poder ajudar outras mulheres
a saírem de relacionamentos abusivos.
A ideia deu muito certo, talvez pelo meu nome ainda estar em
evidência por conta da denúncia contra Tucker. Consegui milhares de
seguidores rapidamente e vinha recebendo cada vez mais relatos de
mulheres que estavam se empoderando e criando coragem para sair de
relacionamentos abusivos. Como eu ainda não podia advogar por ser
estudante, Miller e eu começamos a criar um projeto juntos. Uma ação
social, onde reuniríamos vários advogados para ajudar as vítimas que me
procurassem através das redes sociais e que não tivessem condições de
pagar por um profissional sério e competente para defendê-las.
Ainda não havíamos começado, pois estávamos vendo os últimos
detalhes, mas em breve, anunciaríamos o projeto para todo mundo. Eu
estava animada e muito confiante de que daria certo, principalmente agora
que Tucker havia sido condenado por assédio sexual, estupro, violência
doméstica e homicídio culposo, quando não havia intenção de matar, pelo
acidente da mãe de Logan.
— Fico muito feliz que você tenha dado esse passo, Zoe — falei ao
me afastar. — Espero que muitas mulheres também tomem essa iniciativa.
Se precisar de qualquer coisa, basta falar comigo.
— Muito obrigada, Avalon. No momento, eu só quero aproveitar a
minha liberdade e ajudar outras mulheres que passaram pelo mesmo que eu.
A empatia era o que movia o mundo. Pelo menos, era o que eu
acreditava. Zoe e eu conversamos por mais um tempo, até ela precisar se
afastar quando suas amigas chegaram. Logan me puxou para um beijo e eu
deixei para contar sobre Zoe para ele no dia seguinte, pois sabia que aquela
seria a noite em que ele iria extravasar pela primeira vez em longos meses.
O quarterback merecia. Afastei-me rapidamente dele para usar o banheiro
no andar de cima e acabei parando em frente ao quarto de Norah quando
ouvi a sua voz e outra masculina.
— Essa é uma péssima ideia, Norah! Ficou louca? Se seu irmão
descobre, ele me mata!
Era a voz de James. Eu tinha certeza!
— James, por favor! Eu juro que Logan não vai nem desconfiar! Eu
só preciso que você me ajude a ser uma garota normal!
— Você é uma garota normal.
— Uma garota normal estaria aproveitando essa festa para beijar na
boca, mas os garotos têm medo de chegar perto de mim por causa do meu
irmão!
— Seu irmão nem tem os ameaçado mais.
— Eu sei, mas todos eles parecem estar traumatizados. Se você me
ajudar, acho que isso vai mudar. — Ela ficou alguns segundos em silêncio,
mas logo voltou a falar. — Eu só quero ser um pouco mais... Sexy. Você
podia me dar umas dicas, já que agora é solteiro e vive ficando com
meninas por aí. O que te atrai nelas? Não é só a beleza física, tenho certeza!
Coloquei a mão na frente da boca, impedindo que uma risada
escapasse. Norah estava pedindo para que James a ensinasse a seduzir os
garotos da faculdade? Ah, meu Deus!
Afastei-me antes de ouvir a resposta dele e entrei no quarto de
Logan, puxando o meu celular do bolso da calça jeans. Digitei uma
mensagem rápida para a minha cunhada preferida:

Eu: Ouvi sem querer a sua conversa com James. Eu AMEI! Estou
preparada para te ver passando o rodo na faculdade inteira, cunhada. Conte
comigo!

Aquilo seria incrível. Logan iria morrer e eu iria me divertir horrores,


tinha certeza. Mal podia esperar para acompanhar aquela história!
Que coisa boa saber que você chegou até o final desse romance! É
muito bom ter você aqui comigo mais uma vez.
Estou fazendo essa segunda nota, porque quero reforçar as
mensagens passadas nesse livro.
A doação de órgãos é extremamente importante! Se você quer ser um
doador, deixe isso bem claro para os seus familiares. Não estamos pensando
em morte, mas, sim, em vida. Há milhares de pessoas na fila de transplante
neste momento e eu acredito que a nossa missão na Terra é sempre ajudar
ao próximo. Espero que a história da Aubrey tenha tocado o seu coração.
A violência doméstica é, infelizmente, um tema que parece ter se
tornado comum na nossa sociedade. Todos os dias nos deparamos com
casos de feminicídio e, apesar do choque de saber que inúmeras mulheres
passam por isso, às vezes, fechamos os olhos quando vemos alguma
situação de abuso em nosso convívio. Não ignore os sinais! Se você
conhece alguma mulher que está passando por essa situação, ofereça ajuda.
Se por um acaso você está passando por algo parecido, não tenha medo,
converse com alguém da sua confiança, procure a polícia. Precisamos nos
proteger e, claro, protegermos umas as outras.
O luto é um tema delicado e muito sensível. Se você conhece alguém
que está passando por essa situação, ofereça seu carinho e apoio. Se está
percebendo que a pessoa precisa de alguma ajuda em especial, converse
com ela e a ajude a procurar um profissional.
Espero que a história de Logan e Avalon tenha te tocado para além
do romance e das cenas quentes. Que ela tenha te ajudado a ampliar os seus
horizontes.
Muito obrigada por estar ao meu lado em mais uma aventura. Até a
próxima!
Com amor, Tamires Barcellos.
Sinto que agradecer sempre é fundamental, principalmente neste
livro, que está sendo lançado no final de 2022, um ano que foi tão incrível
para mim em todos os sentidos!
Meu primeiro agradecimento vai para Deus, porque eu sei que sem
Ele, nada seria possível. Obrigada por estar sempre ao meu lado,
iluminando a minha mente, me dando inspiração, me abençoando com esse
dom e me guiando por um caminho melhor. Te amo, Deus.
Mãe, obrigada por estar sempre ao meu lado, mesmo estranhando
quando eu te deixo vendo filme sozinha aos domingos para poder escrever,
hahaha. Te amo muito, obrigada por todo o apoio e ser a minha melhor
amiga.
Luana, obrigada por estar comigo em todos os momentos, aturando
os meus surtos quando eu chego te contanto sobre um novo enredo, mesmo
sabendo que eu só devo escrever em 2050. Te amo, migs!
Minha família, sei que vocês não vão ler isso aqui (só minhas tias
têm o hábito de leitura, mas só leem livro físico, hahaha), mas agradeço
mesmo assim por todo o apoio e carinho. Amo vocês!
Bruna Pallazzo e Laryssa, minhas betas maravilhosas e amigas,
obrigada por estarem comigo e por terem lido cada linha dessa história
enquanto estava sendo escrita e sem uma única revisão. Vocês são
guerreiras! Amo vocês!
Minhas parceiras maravilhosas, obrigada por todo o apoio,
divulgação e surtos! Ter vocês ao meu lado tornou esse lançamento ainda
mais especial.
Minhas meninas do WhatsApp, amo vocês!
E a você, leitor, que chegou até aqui. Muito obrigada por estar
sempre comigo, acompanhando e divulgando cada lançamento. É por você
que escrevo. Espero te encontrar novamente muito em breve.
Com amor, Tamires Barcellos.
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O que eu e Raymond King tínhamos em comum?
Isso mesmo que você pensou, nada.
Além de ele ser o popular da faculdade e eu ser uma estudante que gostava de passar
despercebida — apesar de fazer parte de uma fraternidade —, Ray King se achava a última
garrafinha de água do deserto e fazia questão de alimentar a fama de pegador.
Eu só queria distância de caras assim.
O problema, é que o destino sempre gostou de brincar com a minha cara e acabou me fazendo
acordar na cama de King, no dia do almoço de Ação de Graças. Como se isso não fosse a pior coisa
que poderia ter acontecido comigo, nossos pais nos flagraram juntos naquela situação
constrangedora.
Agora, por causa de uma impressão errada, eu estava no meio de uma mentira, com Raymond
King fingindo que era o meu namorado.
Tinha como piorar? Claro que sim, afinal, meu nome é Chloe Davidson, sou uma azarada de
marca maior e, talvez, eu esteja me apaixonando por Ray King.
E esse era o pior — ou o melhor — erro que eu poderia cometer.
- Best Mistake é um livro único
- Romance para maiores de dezoito anos;
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A Chama Entre Nós
Criado desde os cinco anos de idade por Bruce Harlow, o Vice-Presidente dos Flame Wolves
MC, Damon Christ cresceu aprendendo a amar, proteger e lutar pelo moto-clube que o acolheu
quando ainda era uma criança. Sua lealdade para com o patch que carregava era inabalável, só não
era maior do que uma única coisa: o seu amor por Madison, filha de Bruce.
Dez anos mais nova do que ele, Damon viu Maddy nascer e se tornou o seu protetor e melhor
amigo. O sentimento genuíno que nutriam um pelo outro servia de porto seguro para a vida violenta
que Damon levava dentro do moto-clube e era na companhia de Madison que ele conseguia encontrar
o seu equilíbrio, até começar a perceber que o amor que sentia pela princesinha dos Flame Wolves
estava se transformando em um sentimento proibido.
Dividido entre a culpa por estar apaixonado pela filha do homem que considerava como seu
pai de coração e o desejo de assumir o que verdadeiramente sentia por Madison, Damon se vê
acorrentado pelo medo de perder as duas coisas que mais importavam em sua vida: o clube e sua
garota.
Quando uma onda de ataques ao MC se inicia e uma guerra se instaura entre os Flame Wolves
e seus inimigos, Damon tem sua lealdade posta em prova e se vê prestes a lutar a maior batalha da
sua vida, da qual tinha certeza de apenas uma coisa: ele sairia como um vencedor pelo clube e pela
sua garota. Ou morreria tentando.
- "A Chama Entre Nós" é o primeiro livro da série Flame Wolves MC. Cada livro
contará a história de um casal, no entanto, é aconselhável que leia na ordem de lançamento;
- A história contém linguagem gráfica de violência, sexo e palavras de baixo calão. Não
recomendada para menores de 18 anos;
- Leia a nota da autora no início do e-book.
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Christian Wolf foi criado pelo seu pai para se tornar o Prez dos Flame Wolves MC, perdendo
boa parte da sua infância para a violência e sendo moldado para lidar e exterminar qualquer tipo de
ameaça que pudesse colocar o seu clube em risco. Convicto de que sabia exatamente como seria o
seu futuro, Christian vivia para proteger o seu MC, seus irmãos de patch, sua avó e Connor, seu
irmão caçula, até Maya Cooper aparecer em sua vida e despertar sentimentos que ele não sabia e não
queria lidar.
Mesmo sabendo que poderia ser um risco se envolver com qualquer pessoa próxima aos Flame
Wolves, Maya não consegue se afastar de Connor, seu melhor amigo da faculdade. E, em um piscar
de olhos, o que era para ser apenas uma amizade entre ela e o caçula dos Wolf, se transforma em uma
teia quando ela se vê dentro do moto-clube, próxima de todos os irmãos e, principalmente, de
Christian, o Vice-Presidente do MC.
Christian não queria romance e Maya também não, no entanto, o desejo intenso que começa a
os envolver se torna mais forte do que tudo e logo se transforma em uma paixão avassaladora e
incontrolável, que poderia ser vivida intensamente se Maya não carregasse um segredo que pode
transformá-la em uma traidora perante o moto-clube.
Em meio a uma guerra travada entre os clubes rivais, segredos do passado que podem destruir
tudo o que conhecem e a iminência de uma traição, seria o amor de Christian e Maya forte o bastante
para resistir?
É chegada a hora do MC travar mais uma batalha, onde a vitória pode custar um preço mais
alto do que qualquer um poderia imaginar.
- "Chamas na Escuridão " é o segundo livro da série Flame Wolves MC. Cada livro
contará a história de um casal, no entanto, é aconselhável que leia na ordem de lançamento;
- A história contém linguagem gráfica de violência, sexo e palavras de baixo calão. Não
recomendada para menores de 18 anos;
- Leia a nota da autora no início do e-book e atente-se aos gatilhos.
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À Sua Espera
Dono de uma das maiores fazendas de criação de cavalos do Brasil, Ramon Baldez estava
acostumado a comandar o seu império com punhos de ferro. Reconhecido como um profissional
sério e respeitado, pensava que tinha todos os âmbitos da sua vida sob controle, até descobrir que o
seu sócio, Abraão Rodrigues, havia sofrido um grave acidente de carro.
Com o sócio em coma, Ramon se vê diante de um enorme dilema: tomar para si a
responsabilidade de lidar com Gabriela, a filha de Abraão, que se vê sem o pai, seu único parente
vivo. Sabendo que não poderia dar às costas para a jovem de dezenove anos, ele a acolhe em sua
fazenda, enquanto Abraão está em estado grave no hospital.
Ramon acreditava que cumpriria o papel de amigo da família ao estar ao lado de Gabriela
naquele momento tão difícil para a menina. O que ele não poderia imaginar era que, ao assumir a
responsabilidade de cuidar dela, iria descobrir que esteve durante toda a sua vida à espera de
conhecê-la, para encontrar o seu verdadeiro amor.
Mas como ele poderia aceitar que estava perdidamente apaixonado por uma menina? Seria ele
capaz de se entregar a esse sentimento, sendo quase dezenove anos mais velho do que ela.
E o mais importante: conseguiria lidar com o fato de Gabriela reascender um passado que, para
ele, já estava enterrado?
Ramon irá descobrir que, às vezes, a vida toma caminhos inexplicáveis para juntar dois
corações que se amam.
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Todas as Suas Cores


Advogado renomado e muito conhecido no território nacional, Caio Alcântara leva uma vida
sem complicações. Acostumado a enxergar o lado bom e simples de tudo, tem como lema aproveitar
cada oportunidade que a vida estiver disposta a lhe dar e isso reflete, também, no modo como
enxerga as pessoas ao seu redor.
Ao perceber que o seu melhor amigo está apaixonado, mas que não quer dar o braço a torcer
por conta de segredos do passado, Caio coloca na cabeça que fará de tudo para que ele não perca a
oportunidade de se entregar a esse sentimento. É então que, por um acaso do destino, seu caminho se
cruza com o de Luna, uma jovem cheia de vida, que começa a despertar a sua curiosidade.
O que era para ser apenas uma conversa para armarem um presente surpresa para a mulher por
quem o seu melhor amigo está apaixonado, se transforma em algo mais, depois que Caio presencia
uma conversa em que Luna deixa bem claro que o vê como algo além do advogado e amigo do
patrão da sua mãe.
Conhecido por nunca deixar de lado algo que desperte a sua atenção e o seu sorriso, Caio se
aproxima de Luna e uma grande amizade nasce entre eles, mas ele logo perceberá que o seu coração
clama por algo mais e fará de tudo para conquistar a menina de cabelos coloridos, olhar intenso e
personalidade forte, que esconde parte da sua alma por trás de todas as suas cores.
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Rage
Amber Bloom só tem um objetivo na vida: destruir o seu pai.
Filha de um dos empresários mais prestigiados e ricos do mundo, Amber foi criada sob regras
rígidas, consciente de que seu futuro estava nas mãos de seu pai, um homem frio e arrogante, que
nunca fez questão de lhe demonstrar carinho ou afeto.
No entanto, quando começa a desconfiar de que a fortuna e o poder de seu pai não são
provenientes apenas da empresa que havia fundado décadas atrás, Amber decide começar a investigá-
lo e o que o descobre a faz conhecer um homem que desperta e rouba completamente o seu coração.
Rage só tem uma coisa em mente: matar o homem que é obrigado a chamar de Mestre.
Sequestrado ainda na infância e jogado em um quarto escuro, Rage vê sua vida passar em meio
a torturas, enquanto é obrigado a se submeter a um homem que o humilha de todas as formas.
Completamente destruído, sem saber há quantos anos está preso, ele só pensa em uma coisa, matar o
Mestre. As consequências que encararia depois não lhe faria a mínima diferença; ele não se
importava, pois sabia que já estava morto por dentro.
Pelo menos era o que pensava, até uma mulher com olhos de anjo aparecer em seu caminho.
A vida une uma alma corrompida pela maldade humana a uma alma com sede de justiça e o
amor nasce entre eles.
Mas seria o amor forte o suficiente para derrotar um inimigo impiedoso, que fará de tudo para
destruí-los?

- "Rage" é um romance dark;


- Contém cenas sensíveis como violência e estupro sem romantização;
- Proibido para menores de 18 anos.
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A Morte de um Solteirão

Gosto de pensar que sou um homem livre, um verdadeiro solteirão e nada nunca abalou essa
minha convicção. Veja bem, aos trinta anos, bem-sucedido, com tempo livre para sair, curtir e transar,
a palavra “relacionamento” pode ser tão fria quanto um iceberg ou tão ruim quanto a própria morte.
Sem contar que, sabemos, romance, amor e paixão, são verdadeiras baboseiras. Um casamento
é muito lindo na hora do sim, mas, depois do sim? A palavra “divórcio” brilha tão forte quanto o sol
no verão do Rio de Janeiro. Sem contar as traições, que, convenhamos, não existiriam se as pessoas
não se escondessem atrás de um amor falso.
É por isso que sou totalmente contra a qualquer tipo de relacionamento sério. Sexo é muito
bom, mas fica melhor ainda quando se pode ir embora na manhã seguinte sem ressentimentos ou
cobranças. Foi para isso que nasci — sim, nasci, pois se falar que fui criado para isso, mamma me
corta a cabeça — e estava muito bem com a minha vidinha do jeito que era, até Alice Carvalho
aparecer em meu caminho e me desestabilizar completamente. Nem se eu pudesse, conseguiria
explicar o que senti quando a vi pela primeira vez e quando, inesperadamente, ela reapareceu em
minha vida.
Por isso, soube que precisava tê-la em minha cama, mas ela disse “não”. E persistiu no “não”.
Mas eu estava louco para ouvir um “sim” e, em meio ao desespero, fiz algo impensável: prometi a ela
que, se aceitasse ficar comigo, poderíamos passar um tempo tendo sexo casual, sem nos envolvermos
com outra pessoa. “Ficantes fixos”, nomeei.
Não, não era um relacionamento. Não tinha nada de romantismo. Era apenas dois adultos se
encontrando algumas vezes por semana para fazerem sexo.
Mesmo assim, nunca pensei que essa inocente proposta poderia promover uma morte...
A minha morte.
A morte de um solteirão.
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A Voz do Silêncio
A vida simples que Marina Alencar levava sendo professora, muda drasticamente em uma
tarde que deveria ter sido normal como todas as outras. Ao ser atropelada, Marina é socorrida por um
homem que havia testemunhado o acidente. Mas ele não era um homem comum.
Alto, bonito e com lindos olhos azuis, ele era encantador. Bem-humorado e com um coração
enorme, o homem que a ajudou no momento em que ela mais precisou, acabou se tornando o centro
do seu mundo.
Apaixonar-se por ele foi inevitável, assim como entregar o seu coração em suas mãos e confiar
em cada uma de suas palavras.
Marina nunca acreditou em contos de fadas, mas quando se viu vivendo um, achou que
príncipes encantados realmente existiam.
Mas quando o amor começa a ser sufocado pela dor e pelo medo, tudo muda de figura e resta
apenas o silêncio.
Um silêncio ensurdecedor.
Um silêncio que precisa ser ouvido.
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O Astro Pornô

Emma Glislow é uma mulher de vinte e dois anos. Cursa faculdade de odontologia, ama ler e é
apaixonada por seu noivo, Frederick. Tudo em sua vida sempre foi perfeito e em ordem, até que seu
noivo a trai de forma descarada.
Seu mundo magnífico é destruído em um segundo, enquanto ela passa uma semana inteira
trancada no quarto, sem falar ou ver ninguém.
Quando finalmente resolve sair da fossa, uma noite de bebedeira e balada com sua melhor
amiga parecia ser o lance perfeito para tirar da cabeça, a cena de seu noivo trepando com uma vadia.
Mas o que ela não sabia, era que em meio a essa noite super divertida, uma proposta lhe seria
feita e em meio a todas as tequilas e margaritas ingeridas por ela e sua amiga, ela aceitaria e assinaria
um contrato.
O contrato que a colocaria de cara com o maior astro pornográfico do momento.
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A Paixão do Rei
O misterioso Dominick Andrigheto Domaschesky, Príncipe de Orleandy, país que se estende
por boa parte da Europa, se vê diante do trono de Rei muito mais cedo do que gostaria.
Com o falecimento de seu pai, o Rei Patrick, Dominick com seus trinta anos de idade, assume
o reinado como principal sucessor ao trono. Se sentia preparado e firme para assumir o poder, seu pai
o havia preparado para aquilo e ser Rei já estava em seu sangue.
Se sentia confiante para tudo, menos para o que seus conselheiros lhe propuseram: achar a Rainha
ideal.
Totalmente adverso a relacionamentos, Dominick tinha colocado em sua cabeça que jamais se
casaria. Tinha gostos diferentes, não tinha paciência para cortejar uma mulher fora da cama e ao
menos pensava em colocar uma aliança no dedo, mas, segundo a filosofia de seu pai, "um Rei não é
nada perante a sociedade, sem uma Rainha ao seu lado".
Com tudo conspirando contra seu favor, Dominick chega à conclusão de que sim, iria se casar,
mas seria do seu jeito. Com a ajuda de seu melhor amigo e conselheiro, Dimir, ele entra em um
mundo diferente, desaparece por algumas semanas e volta com a Rainha perfeita ao seu lado.
Kiara Neumann era uma mulher sem opções na vida. Em um dia não tinha nada, não tinha uma
história para contar e nem um futuro para imaginar. No outro, havia se tornado noiva do Rei de
Orleandy e era amada e ovacionada por todo um povo que amava seu país.
Mas como ela era noiva se ao menos se lembrava de sua vida? Poderia confiar na palavra de
Dominick, que não fazia a mínima questão de ser cortês com ela? Como poderia se casar se ao menos
o amava? Ou melhor... Seria ela capaz de amar um homem tão frio quanto aquele Rei? Em meio a
segredos, sedução e todo um reino a ser comandando, Dominick seria capaz de se apaixonar por sua
doce esposa? Talvez sim, mas se segredos do passado começassem a rondar o casal, o mundo frágil
de contos de fadas seria abalado para sempre.
[1] Alabama Fight Song (grito de guerra).
[2] Universidade da Califórnia em Los Angeles.
[3] Universidade do Alabama.
[4] Protagonista do livro Best Mistake, de Tamires Barcellos.
[5] Biblioteca do curso de Direito da Universidade do Alabama.
[6] Preconceito, intolerância ou discriminação contra pessoas com idade avançada.
[7] A grande pontuação do esporte, garante 6 pontos ao time e uma tentativa de ganhar um ponto
extra.
[8] O Field Goal acontece quando a equipe opta por chutar a bola. Se ela passar pelo goal poast (Y
gigante que fica na end zone do time adversário) três pontos são marcados. Se o chute sair errado, o
time adversário começa a sua jogada no ponto do campo em que o field goal foi chutado.
[9] Faz parte da defesa do time. É o responsável por ocupar a parte central do campo e comandar o
restante da equipe.
[10] Estágios do luto.
[11] Dylan é personagem secundário do livro Best Mistake.
[12] NCAA – National Collegiate Athletic Association é uma associação composta de 1281
instituições, conferências, organizações e indivíduos que organizam a maioria dos programas de
esporte universitário nos Estados Unidos.
[13] Profissional responsável pela gestão dos perfis de redes sociais.

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