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Trilogia Opostos

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Betrayed

Ruined

Contos da Trilogia Opostos

The Turning

The Revelry

The Halloween

Spin-Offs da Trilogia Opostos

Believer

Resumption
Livros Únicos

Summer Camp

Para Sempre Minha: A Redenção do CEO

Trilogia Recomeços

Por mim

Série Gorillas

First Time

Playing For Life


Copyright © 2022 K.A. PEIXOTO
Capa: Larissa Chagas.

Ilustração: Giro Ink e Tácyla Priscilla.

Revisão: Evelyn Fernandes e Amanda Mont’Alverne.

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência e não
foi pretendida pelo autor.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um


sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão
expressa por escrito do editor.

ISBN: 978-65-00-71751-8.
Oi, meus amores, sejam muito bem-vindos ao KaVerso.

Já deixo avisado que este livro faz parte de uma série, mas todos
podem ser lidos de maneira independente e na ordem que preferirem, porém,
vocês poderão receber algum spoiler do livro 01 – First Time – que é a
história do Christopher e da Hope, dois personagens que irão aparecer
bastante nesta história.

Em Playing For Life, vocês irão conhecer o Asher e a Juliana, um


casal que quase não tem nada em comum, além do sentimento mútuo entre
eles.

É bom também avisar que a Juliana é uma mulher desapegada, que


gosta de curtir a vida da maneira que acha melhor, sem se importar com
qualquer julgamento que possa vir a ter por conta disso. Sabe os mocinhos
que fazem o que querem e todo mundo os admira por isso? Pois bem, a
mocinha deste livro é assim.

Os dois vão arrancar suspiros, risadas, e pernas serão cruzadas em


algumas cenas! E existe uma pequena chance de ter algumas partes tristes,
até porque, não seria um livro meu se não tivesse uma pitada de drama.

Mas irei pegar leve, prometo!

Informo também que para quem já leu First Time, talvez alguns
acontecimentos se repitam, porque uma parte da história acontece ao mesmo
tempo. Mas mesmo que os livros sejam independentes, tenho que contar
tudo aqui também.

O livro é um romance contemporâneo que contém cenas de sexo


explícito, uso de palavras de baixo calão e consumo de bebidas alcoólicas,
então não é indicado para menores de 18 anos. Também contém gatilhos
como: abandono parental e abuso psicológico. Caso em algum momento a
leitura se torne difícil ou desconfortável, recomendo que a abandone
imediatamente. A sua saúde vem sempre em primeiro lugar e eu estarei à
disposição para fazer um resumo da história sem essas partes, se ainda quiser
conhecer o casal.

Acho que todos os recados foram dados, e agora eu só posso desejar


que vocês tenham uma boa leitura e uma boa experiência em conhecer a
história deste casal maravilhoso.

Com amor,

K.A. PEIXOTO!
Escute a playlist no Spotify clicando aqui
“Para todos que encontraram o amor onde menos esperavam!”
Quarterback: Lançador do time.
Running Back: Corredor do time.
Center: Responsável por fazer o snap.
Offensive Guards: Protege o quarterback com bloqueios e evita que a
defesa adversária o pressione.
General Manager: Responsável pela contratação da comissão técnica,
além da avaliação e escolha dos jogadores no draft.
Jardas: É uma unidade de comprimento. Uma jarda equivale a 0,914
metros ou a aproximadamente 91 centímetros.
Draft: É um processo de alocação de jogadores em times de uma liga
esportiva profissional.
Super Bowl: É o jogo final do campeonato da NFL.
Snap: É o primeiro movimento de uma jogada, quando o center passa a
bola para o quarterback dar início a jogada.
Endzone: A endzone é uma área de 10 jardas no final de cada lado do
campo e o objetivo principal de cada time, onde os jogadores marcam os
pontos.
Offensive Tackles: Responsável por proteger o lado cego do QB.
10 anos atrás.

Sinto o suor escorrendo pelo meu rosto e eu o limpo mais uma vez,
voltando para casa depois de ter corrido mais de 15 quilômetros pelo bairro,
tentando sempre diminuir o meu tempo para depois aumentar os metros e
repetir o processo até o próximo metro a ser incluído.

Preciso ser o melhor para conseguir entrar no time de futebol


americano da faculdade no ano que vem, quando começarem as aulas.

Recebi a carta de aceitação da faculdade há algumas semanas, mas já


venho me preparando há quase um ano para entrar no time. Independente da
faculdade que conseguisse ingressar, eu daria o jeito de ser o running back
deles.

Vou diminuindo a velocidade da corrida ao me aproximar de casa, e


estranho assim que vejo a porta da sala aberta, sem ninguém pela pequena
varanda ou na rua.

Meu pai odeia quando deixamos a casa aberta e depois que a


invadiram no ano passado, ele colocou ainda mais fechaduras para mantê-la
sempre fechada.
É a regra básica e número um da nossa casa: portas sempre fechadas,
o dia todo.

Aconteceu alguma coisa.

Empurro um pouco mais da porta, fazendo o mínimo de barulho


possível, mas a sala parece estar intacta e sem sinal de ninguém. Nem na
cozinha, que consigo enxergar de onde estou.

Entro e fecho depois de conferir que não tem ninguém que não
deveria estar aqui dentro. Sigo para a cozinha, sentindo a minha garganta
seca de tanta sede depois da corrida intensa.

Assim que abro a geladeira, escuto o barulho de choro. Fico parado


para ter certeza de que ouvi direito e o som se repete, parecendo vir do
quarto dos meus pais.

— Mãe? — pergunto alto depois de fechar a geladeira e pegar o


corredor minúsculo para chegar até o cômodo que eles dormem, que mal
cabe a cama e o guarda-roupa.

Assim que chego onde ela está, vejo-a limpando o rosto para tentar
esconder que estava chorando, mas nada seria capaz de encobrir os seus
olhos avermelhados e extremamente inchados.

E a primeira coisa que penso é que algum exame dela mostrou


alguma piora em sua saúde.

Mas, antes que eu vá até ela, vejo que o guarda-roupa está todo
aberto e onde deveria estar as coisas do meu pai, não tem nada. Apenas
alguns cabides e a aliança dele em cima de uma caixinha.

Que merda aconteceu?

Cadê as coisas dele?

— Mãe, o que houve aqui? Cadê as coisas do pai?


Vou até o lado que ela está e me sento na beira da cama, próximo a
ela. Seu olhar demora a encontrar o meu, como se buscasse algum tempo
para pensar em como responder a essa pergunta.

Seu semblante de dor me embrulha o estômago, e consigo perceber


que não é uma dor física.

É dor na alma!

— Seu pai me deixou, Ash. — A frase sai com tanta dificuldade que
eu demoro para entender, e quando isso acontece, espero que continue, na
esperança de que tenha falado algo errado. — Ele foi embora quando fui ao
mercado comprar alguns legumes para a sopa. Arrumou todas as coisas,
escreveu um bilhete e foi embora… — Ela volta a chorar depois de
conseguir falar tudo.

Mas não faz sentido!

Por que meu pai a deixaria?

Ele sempre se mostrou um marido muito apaixonado.

Sei que ultimamente as coisas não têm sido fáceis e o vejo meio
estressado pelos cantos da casa, sempre com as cartas das dívidas nas mãos.

Ela estica o bilhete para mim e eu o pego, reconhecendo a letra dele


no exato momento que bato os meus olhos na frase curta que escreveu no
papel.

“Sinto muito por não ter sido forte o suficiente, mas eu não posso
continuar a te assistir morrer na minha frente! Espero que você e o Ash me
perdoem em algum momento”.

Leio essa mesma frase até que os meus olhos começam a embaralhar
as palavras e sinto um gosto amargo tomar conta de toda a minha boca,
descendo pela garganta e fazendo o meu estômago doer.

Minha mãe mantém as mãos tampando o rosto e chora, sem acreditar


que isso está acontecendo.
Como acreditar nisso?

— Eu… isso não pode ser verdade, mãe! — Amasso o papel com
raiva, sentindo-o virar uma bolinha pequena em minha mão. — Ele não pode
ter feito isso com a gente… com você!

Sinto as lágrimas se formando em meus olhos, mas eu não quero


chorar.

O peso da realidade começa a cair em meus ombros. E a cada


segundo parece que vai piorando.

Não quero chorar por descobrir que o homem que sempre foi o meu
exemplo, a pessoa que eu me inspirava para não desistir dos meus sonhos,
acabou de nos deixar porque a mamãe está doente.

Não vou chorar por termos sido abandonados na pior fase de nossas
vidas.

Não me permito.

Não agora e nem muito menos na frente dela.

— O seu pai já estava estranho comigo há muito tempo, filho —


assume, me pegando de surpresa. — Ele já não me olhava mais como a
mulher que amava, que desejava… eu só via pena em seu olhar! — funga ao
falar e passa a parte de trás da mão no nariz. — Eu sabia que em algum
momento ele terminaria comigo, só não imaginei que seria as… — minha
mãe volta a chorar, sem conseguir completar a frase.

Eu a puxo para os meus braços e a aperto em mim.

Seu choro fica ainda mais alto e doloroso, e trinco tanto o meu
maxilar para segurar as minhas lágrimas, que sinto todo o meu rosto doer.

Eu só queria que toda a dor que ela sente, passasse para mim.

A dor física e a da alma.


Nós descobrimos há quase um ano que a minha mãe está com câncer
de mama. Já estando em um estágio avançado da doença, porque só
costumamos ir ao médico quando estamos doentes ou sentindo muita dor,
por causa da falta de dinheiro e de tempo.

A notícia deixou a todos nós muito abalados, mas a gente sabia que
juntos seríamos capazes de passar por isso, sempre foi assim, sempre fomos
unidos em tudo nas nossas vidas.

Porém, parece que depois que descobrimos o câncer, tudo foi


piorando muito rápido.

Minha mãe está fraca, seu cabelo tem caído tanto por causa das
quimioterapias que algumas partes da sua cabeça já quase não têm nenhum
fio. E ela tem tido mais dias ruins do que bons.

Parece que a casa perdeu boa parte do brilho que tinha, mas meu pai
e eu estávamos sendo fortes por ela, porque ela precisa disso. Precisa que a
gente aguente, que lutemos por ela.

Entretanto, ele foi um covarde… nem ao menos se despediu!

Não teve coragem de olhar em nossos olhos e assumir que estava


deixando a sua família em um momento tão difícil e cruel.

Isso não pode estar realmente acontecendo, tem que ser mais um
pesadelo, como os demais que tenho tido desde que ela adoeceu.

— Sinto muito, mãe! — É a única coisa boa que consigo falar,


enquanto a raiva vai crescendo dentro do meu peito.

Eu mal consigo associá-lo agora ao homem incrível que eu acreditei


que era. Como o pai, que sempre me apoiou, me amou e dormia comigo
todas as vezes que eu tinha pesadelo quando era criança, se tornou essa
pessoa que abandona a família?

Cadê o “Até que a morte nos separe”?


Deixo que a minha mãe chore até cansar e fico fazendo carinho em
suas costas.

Em algum momento, reparo que do outro lado dela tem vários


papéis, e consigo ler o primeiro.

São as dívidas hospitalares que vem se acumulando por conta do seu


tratamento e os remédios que são absurdamente caros e fora da nossa
realidade para custeá-los.

Já tem alguns meses que ela parou de trabalhar, por não conseguir
mais dar conta das faxinas que fazia. Até mesmo seus patrões mais
compreensivos tiveram que suspender os seus trabalhos, porque a mamãe
estava passando mal diariamente.

Um dos casais que ela cuidava da casa, nos ajuda até hoje.

Na verdade, não sei como estaríamos sem esse auxílio.

Eles são um casal de idosos que não têm filhos e possuem uma
condição financeira boa. Minha mãe trabalhava para eles há mais de 20 anos,
e acabaram criando uma boa relação com ela depois de tanto tempo.

Mas, ainda assim, as coisas estão difíceis, mais difíceis do que em


qualquer outro momento em que as contas apertaram.

E agora sem o meu pai para ajudar, o que iremos fazer?

Eu trabalho por meio-período em uma lanchonete, na parte da noite,


mas ganho muito pouco. E todo final de semana vou para o condomínio
onde os antigos patrões da minha mãe moram e cuido do jardim de quase
todos os moradores.

Meu dinheiro – que não é muito – agora vai todo para ajudar nas
despesas médicas da minha mãe. Mas agora, quem vai pagar as contas da
casa e colocar comida na mesa?

Meu Deus!
É coisa demais... O que eu vou fazer?

Você não podia ter feito isso, pai.

— Mãe, nós iremos dar um jeito em tudo! — digo para acalmá-la,


mas, na verdade, eu mesmo não consigo acreditar nisso. — Nós vamos
conseguir!

Ela se afasta de mim, limpa o rosto mais uma vez e balança a


cabeça, ainda em choque com essa reviravolta totalmente inesperada.

— Eu vou falar com os Adams, acho que se explicar a situação, eles


me deixarão trabalhar novamente. — Se levanta após falar, mas está tão
desnorteada que praticamente gira ao redor do corpo e volta a se sentar. —
Deus! O que de tão ruim eu fiz para estar passando por essas coisas?

Eu não tenho uma resposta para isso!

Na verdade, eu venho procurando entender o porquê de uma pessoa


como ela ter que carregar tantos fardos em uma só vida.

Nós ficamos algum tempo em silêncio, cada um tentando lidar com


os seus próprios pensamentos, e eu chego à conclusão que nada fará com que
eu acredite que exista uma justificativa por trás disso que meu pai fez.

Eles sempre me ensinaram que amor é muito mais sobre se manter ao


lado da pessoa nos momentos ruins do que aproveitar os bons.

E cadê ele aqui?

Covarde!

— Vamos fazer o que tínhamos combinado que faríamos hoje? —


minha mãe me pergunta, roubando-me dos pensamentos.

— Tem certeza, mãe? Acho que o dia já está tendo emoções demais!

Ela se levanta novamente e estende a mão para mim, com aquele seu
sorriso corajoso.
— Eu preciso disso, meu bem! Você pode fazer para mim?

— Faço tudo pela senhora, mãe! — Me levanto, ficando de frente


para ela. — Vamos fazer lá nos fundos, para não sujar tudo aqui dentro.

Ela confirma e vai pegar uma cadeira para levar até os fundos da
casa. Enquanto isso, vou até o banheiro e pego a máquina de cortar cabelo
que eu dividia com o meu pai. Aproveito também para tirar o pequeno
espelho que fica preso em cima da pia e me junto a minha mãe, que já está
sentada.

— Estou nervosa! — confessa.

— Tudo bem ficar, mãe.

Ela pega o espelho e fica se olhando por um tempo.

Puxa a faixa que tinha em seu cabelo e alguns fios caem. Quando tira
o elástico que prendia o resto em um coque para esconder as falhas, eles
caem ainda mais.

Dou a ela o tempo que precisa e desvio o meu olhar para o chão
quando tenta arrumar o cabelo da forma que fazia antes, mas eu consigo ver
a tristeza em seu olhar quando isso acontece.

O câncer transformou a minha mãe.

Ela era uma mulher alegre, sorridente, que vivia cantando pela casa e
nada era capaz de acabar com o seu bom humor.

Nada até o câncer chegar e esgotar a sua energia e felicidade.

— Pode fazer, Ash... Antes que eu perca a coragem!

Respiro fundo e ligo a máquina na tomada.

Minha mãe posiciona o espelho de uma forma que consiga ver tudo o
que irei fazer e me lança um sorriso triste pelo reflexo.
— Eu amo a senhora, mãe! — Abaixo para falar perto do seu rosto,
encarando-a pelo reflexo. — É a mulher mais forte que eu conheço e iremos
passar por tudo isso juntos, você e eu!

Ela coloca a mão por cima da minha e apenas concorda com a


cabeça, segurando o choro.

Beijo o seu rosto e volto a me posicionar atrás dela, olhando para a


sua cabeça e pensando por onde começar.

Nunca imaginei que seria tão difícil raspar o cabelo dela.

Fiz isso várias e várias vezes com vários amigos aqui do bairro,
mas... nada me preparou para isso.

Nada mesmo!

E era para estarmos os três aqui, fazendo isso juntos, um buscando


apoio no outro.

Aperto o botão que liga a máquina e a sinto tremer em minha mão.

Encaixo o pente dela bem rente à testa da minha mãe, no meio da sua
cabeça. Devagar, vou puxando para trás em um movimento até a sua nuca e
deixo que o cabelo caia no chão.

O corpo dela começa a tremer enquanto chora, mas eu não paro.


Passo a máquina ao lado dessa primeira faixa que raspei e vou repetindo o
processo até deixar metade da sua cabeça sem cabelo nenhum.

— Vai crescer depois, mãe! E a senhora é linda de qualquer jeito —


digo isso ao me agachar para abraçá-la e beijo a parte que acabei de raspar.

— Não sei o que seria de mim sem você aqui, Ash — diz. — Eu
tenho sorte por ter você, querido! — Aperta a minha mão novamente. Sinto
os seus dedos gelados pelo suor do nervosismo. — Termine de deixar a sua
mãe careca! — tenta brincar, mas o seu sorriso não chega aos olhos.
E eu faço o que ela pede, termino de raspar o resto do seu cabelo e
passo a mão por toda a sua cabeça, conferindo se fiz tudo bem feito.

Mamãe levanta um pouco mais o espelho, e eu sei que dentro dela,


ela entende que isso é só uma etapa e que as coisas irão melhorar, mas para
uma mulher que sempre foi muito vaidosa, é doloroso.

Eu sinto a dor dela.

E por isso, tomo uma atitude.

Sem pensar muito, passo a máquina no meio da minha cabeça, igual


fiz com o seu cabelo. Quando ela vê, quase deixa o espelho cair e se vira,
tentando segurar os meus braços, mas eu me afasto e continuo passando a
máquina em minha cabeça.

— Meu filho... não! Por que você está fazendo isso?

— Porque quero que a senhora saiba que eu nunca vou deixar de


estar ao seu lado, mãe. — Não consigo mais segurar o choro e soluço
enquanto falo, sentindo alguns tufos de cabelo caindo pelo meu peito e
costas.

Minha mãe me abraça, apoiando a testa em meu peito e me apertando


em seus braços enquanto eu raspo a minha cabeça.

As lágrimas escorrem quentes pelo meu rosto, mas eu só paro quando


termino.

— Nós faremos isso dar certo juntos, mãe! — Ela vira a cabeça para
o alto, me olhando enquanto falo. — Eu irei arrumar um outro emprego, vou
trabalhar mais aos finais de semana e tudo vai correr bem.

— E-eu que deveria estar solucionando os seus problemas, não o


contrário.

Seguro o rosto dela com as duas mãos e passo os meus polegares


embaixo dos olhos úmidos, limpando as lágrimas.
— Você já fez tanta coisa por mim, mãe... é a minha hora de
retribuir!

E silenciosamente, faço uma promessa.

Eu abdicarei de tudo que puder atrapalhar a saúde da minha mãe ou


me desviar do meu foco. Darei 110% de mim para manter essa casa, tentar
diminuir a dívida e focar nos estudos e no esporte.

Eu vou conseguir e minha mãe terá uma vida confortável e os


melhores médicos à sua disposição.
Termino o meu banho e enrolo a toalha em minha cintura ao sair da
área do chuveiro aqui do vestiário, sentindo o meu corpo dolorido dos
últimos treinos, que têm sido muito intensos.
Estamos no início de dezembro, e isso significa que temos dois
meses para estarmos totalmente preparados para o Super Bowl.
Pode parecer muito, mas o tempo voa e os jogos têm ficado mais
difíceis a cada dia. E por mais que estejamos muito confiantes por estarmos
invictos a oito jogos consecutivos, ainda não garantimos nossa vaga no
Super Bowl, então precisamos manter o sangue nos olhos para fazer isso
acontecer.
— O que tem de bom para hoje, Ash? — Calleb pergunta, enquanto
termina de se vestir. — Preciso muito beber em algum lugar, talvez conhecer
alguém diferente...
— A Bee mexeu mesmo com você, né? — pergunto, já sabendo a
resposta. — Que merda, irmão! Não queria ser eu a pessoa a te desanimar,
mas acho que ela realmente não vai voltar atrás com a decisão que tomou.
Calleb se envolveu com Phoebe na viagem que fizemos à Grécia para
comemorar o aniversário do Christopher, o quarterback do time, e da Hope,
sua namorada.
A Bee nunca escondeu que só queria sexo e o Calleb... bem, ele não é
um homem só para sexo, não mesmo. Já o vi quebrando a cara algumas
vezes, mas, o lado positivo, é que ele esquece rápido.
Porém, parece que a Bee fez um estrago um pouco maior.
— Acho que eu só preciso transar! — diz, tentando acreditar no que
fala. — Um bom sexo e uma cerveja! Não tem como não ficar bem, né?
Eu rio e dou de ombros.
Sexo.
Está aí uma coisa que não existe em minha vida, acabando com
qualquer estereótipo de jogador que pega metade do mundo e todas as fãs.
Essa era a função do Christopher, antes de namorar a Hope. Vi o meu
amigo perder o interesse em qualquer outra mulher de uma hora para a outra,
e eu vejo de perto como o assédio em cima dele é gigantesco.
Na verdade, é assim com todos nós, mas como Chris já tinha a fama
de pegar todo mundo, acho que as mulheres já deduziam que teriam maiores
chances com ele, além de ele ser a estrela do time e um dos jogadores mais
bem pagos da história.
— É, talvez sexo e cerveja seja o que você está precisando. —
Concordo pelo simples fato de não ter um contra-argumento. — E sobre o
que farei hoje, sinto decepcioná-lo, mas ficarei com a minha mãe.
— Ela está bem?
Essa é uma pergunta que, a cada dia que passa, mais odeio ouvi-la.
— Está, sim! Não é a primeira vez que passamos pelo câncer e já o
vencemos com menos recursos, então é questão de tempo para que ela esteja
bem novamente.
Calleb concorda e se aproxima, apoiando a mão em meu ombro.
— Sua mãe é uma guerreira, eu sempre rezo para que ela melhore,
Ash.
— Obrigado, Calleb — agradeço e ele sorri. — Toda oração é bem-
vinda!
Pego a minha mochila de couro, que ganhei de uma fã no ano
passado. Achei tão bonita – ela ainda teve todo um trabalho de fazer
manualmente o mesmo número que uso em campo. – que decidi usá-la para
vir trabalhar todos os dias.
Nós dois saímos juntos do vestiário até o estacionamento,
conversando sobre como tem sido os nossos treinos e o que a gente acha que
podemos melhorar.
— E o seu ombro? A Hope disse que havia melhorado.
— Ele está bom! — diz e alonga o braço, que estala ao fazer um
movimento. — Mas, fisioterapia para sempre! Sorte a nossa que temos a
Hope e ela é muito boa no que faz.
Concordo.
Hope é a nova fisioterapeuta do time e em pouco tempo aqui, já
tivemos uma melhora surreal no quesito recuperação dos traumas dos jogos.
Além de ela puxar muito a nossa orelha na hora de treinarmos, ainda mais na
parte da musculação.
Calleb e eu nos despedimos ao chegarmos no estacionamento.
Ele entra em seu carro e eu subo na minha moto, encaixando meu
capacete, passando as alças da mochila pelos meus braços e a prendendo na
frente do meu peito para não cair.
Espero que Calleb saia com o carro e vou atrás dele.
Aproveito um espaço vazio entre algumas pessoas que tem ali e
acelero a minha moto, fugindo dos paparazzis e fãs que ficam atrás de
qualquer minutinho da nossa atenção.
Eu costumo ser bem atencioso com os meus fãs e por isso todo dia
venho alguns minutos mais cedo para falar com eles, tirar fotos, autografar
algumas coisas e receber presentes que a cada dia vão ficando mais
inusitados e exóticos.
Semana passada, um rapaz trouxe o filho que havia completado um
ano no dia anterior, e me apresentou ao garoto que tem o mesmo nome que
eu.
É até maneiro, mas às vezes é assustador também.
E isso me faz questionar como o Chris consegue.
Porque além de QB do time, ele também virou modelo das maiores
marcas do mundo em vários segmentos. Ou seja, ainda mais fama, exibição
e pessoas atrás dele.
Claro que isso faz com que a fortuna dele só cresça, mas não serve
para mim, não consigo me imaginar no lugar dele.
Meu Instagram é bloqueado, não dou nenhuma entrevista que não
seja voltada para o esporte e eu nunca faço publicidade para nenhuma marca,
só o time, porque sou obrigado por contrato.
O lado da fama não é para mim, não gosto.
Ela me facilita em muitas coisas, não posso ser hipócrita, mas o ônus
dela é terrível.
O portão do condomínio que moro se abre assim que vou me
aproximando e eu desacelero ao entrar, tendo um cuidado maior por ter
muitas crianças aqui.
Estaciono minha moto dentro da garagem de casa, guardo o capacete
no suporte e a chave no quadro em que ficam todas as chaves dos veículos
que possuo.
Assim que abro a porta de casa, sinto o cheiro bom do tempero da
comida da minha mãe, que não tem outro igual. E vou direto para a cozinha,
encontrando-a com o seu avental colado ao corpo e a touca que usa para que
nenhum dos seus cachos caiam na comida.
— Hummm, o que eu fiz para merecer chegar em casa e ter uma
lasanha quase pronta me esperando? — Beijo o rosto dela ao me aproximar e
abro a geladeira atrás de alguma fruta para ir beliscando.
— Nada, querido.
Opa.
Eu conheço esse tom de voz.
Essa lasanha foi feita por algum motivo, sim.
— Mãe! — Desisto da fruta e paro ao lado dela, me escorando na
bancada da pia. Levanto o seu rosto pelo queixo, fazendo com que me
encare. — O que aconteceu?
Ela me olha com receio, mas antes de me responder, lava as mãos e
as seca no próprio avental, indo até a mesa e me chamando para sentar com
ela.
— Você não vai gostar do que eu tenho para falar, Ash.
Merda.
— O que houve, mãe? Foi algum exame? Está se sentindo mal?
Ela faz que não com a cabeça e eu me acalmo um pouco.
Me sento em sua frente, fazendo o que pediu e querendo logo saber o
que aconteceu.
— Eu estou bem, na medida do possível — responde e eu sei que
está me enrolando para não ir direto ao assunto. — Mas, hoje, quando estava
saindo da clínica, encontrei uma pessoa quando passei no mercado para
comprar as coisas que faltavam para a lasanha.
— E quem era?
Algo dentro de mim me alerta de que não irei gostar nem um pouco
da resposta dela.
— Seu pai, querido!
— Eu não tenho pai! — respondo de forma ríspida e me arrependo
na mesma hora. — Desculpa, mãe... mas não o chame assim! Ele perdeu o
direito de ter o mérito de carregar esse título quando nos deixou.
Ela suspira, mas concorda.
Eu o odeio, com todas as minhas forças.
— Eu sei, você está certo.
Me levanto da cadeira e beijo a testa dela.
— Vamos jantar? — tento mudar de assunto, fingindo que esses
minutos de conversa não aconteceram e abro o forno, conferindo se a
lasanha já está pronta. — O cheiro está incrível.
Pego as luvas e as coloco em minhas mãos antes de tirar a travessa
enorme e colocá-la em cima da mesa, onde estava o suporte para recebê-la.
Minha mãe fica em silêncio e eu me sinto mal por ter agido dessa
forma, porque sei que para ela é tão difícil quanto é para mim. Na verdade, é
ainda pior. Ela que teve que sentir a cama vazia ao seu lado por todos esses
anos, ela que sente na alma que foi abandonada pela pessoa que acreditava
ser o amor da sua vida.
Coloco os pratos, talheres e copos na mesa. Abro a geladeira para
pegar um suco e também ponho junto das demais coisas.
Me sento e nos sirvo com a lasanha que está borbulhando de tão
quente.
— Vocês se falaram? — pergunto finalmente.
Falar sobre o Daniel sempre me deixa com o estômago embrulhado,
mas eu não vou permitir que ele estrague essa refeição.
— Nos falamos sim, Ash — diz minha mãe, cortando a lasanha que
está em seu prato e acaba tendo dificuldade para juntar tudo no garfo,
claramente com os pensamentos longe. — Mas a gente não precisa falar
sobre isso.
— Precisamos se você quiser, mãe. — Dou uma garfada, sentindo a
comida que sempre me conforta, relaxar o meu corpo. Isso é tão gostoso,
meu Deus. — Nós… nós quase nunca falamos sobre ele, e eu sei que a
senhora ainda carrega uma mágoa muito grande por tudo que aconteceu.
Ela suspira, fecha os olhos lentamente, e quando volta a abri-los, eles
já estão carregados de lágrimas.
E isso é o suficiente para que eu perca o apetite.
— Seu pai está morando em NY novamente… — conta e
automaticamente começo a balançar a minha perna. — Ele abriu o seu
próprio consultório! Conseguiu realizar o sonho que sempre teve, desde
adolescente.
— Bom para ele.
— É… acho que sim! — suspira e também desiste de comer,
empurrando o prato mais para a frente. — Ele é viúvo, inclusive. A esposa
morreu em um acidente de carro há menos de um ano… e ele tem outros
dois filhos.
Hummm.
Já esperava que provavelmente ele iria seguir a vida como se não
tivesse deixado uma família para trás.
Foi fácil ir embora, então também deve ter sido fácil recomeçar.
— Sinto muito pelos filhos dele!
Minha mãe me olha com cautela, tentando identificar algum
sentimento pela minha feição. Mas ela não vai encontrar nada além de raiva,
desgosto e repulsa.
— Ele disse que se arrepende do que fez, que queria ter tido coragem
para voltar e nos pedir perdão, que pensa na gente todos os dias e que torce
muito por você, mesmo que de longe.
Não é possível que minha mãe tenha acreditado nisso.
Eu me levanto, porque já é demais para mim.
— Mãe, com todo o respeito e amor que eu tenho pela senhora, me
desculpe pelo que vou falar, mas eu quero mais é que ele se foda! — Minha
mãe arregala os olhos, porque não está acostumada a me ver desse jeito. —
Eu não estou nem aí para todas essas mentiras que ele contou, não acredito
em nem uma vírgula disso… a senhora acreditou?
Ela se levanta também, tirando os nossos pratos e jogando a comida
que estragamos fora.
— Não, Asher — responde mais séria, meio irritada. — Aquele
homem me machucou de uma maneira que nenhuma outra pessoa fez e acho
que se alguém tentasse, também não conseguiria. — Coloca os pratos na pia
e se vira para mim. — Eu me tremia de ódio, mas eu travei quando o vi. Se
quer saber, eu nem falei nada, só fiquei paralisada e ele se aproveitou disso
para falar tudo o que conseguiu, até que eu me virei e vim embora.
Me sinto aliviado em ouvir isso, muito mesmo.
Não saberia lidar se por um acaso minha mãe tentasse ter uma
relação amigável com ele, ou pior, se eles tentassem reatar.
Isso não daria certo de jeito nenhum.
Eu não estaria com a minha mãe em nenhum momento em que ele
estivesse por perto, e eu morreria por dentro em ter que me afastar dela,
morar em casas separadas e não acompanhar de perto todo o seu tratamento.
— Sinto muito que tenha passado por mais isso! — Eu a abraço,
sentindo o perfume suave do shampoo atingir as minhas narinas quando
apoio o meu queixo em sua cabeça. — Você é tudo para mim, mãe… só
quero que esteja bem!
— Eu sei, filho. E eu morrerei grata por você e tudo o que faz por
mim — diz.
A gente se afasta e arrumamos a cozinha.
Olho para a travessa de lasanha, antes de guardá-la na geladeira,
chateado por não ter conseguido comer, por ter deixado que aquele infeliz
estragasse a minha refeição favorita.
— Eu vou me deitar mais cedo, Ash — minha mãe diz quando
saímos da cozinha. — Se importa de deixarmos o filme para amanhã?
— Claro que não, mãe! — Subimos as escadas e paramos ao chegar
no segundo andar. — A senhora está bem?
— Estou… só preciso acalmar os meus pensamentos! — Concordo e
me aproximo para beijar a sua testa novamente. — Boa noite, querido. — A
gente se despede e cada um vai para um lado da casa.
O segundo andar é como se fosse duas alas totalmente independentes
uma da outra. Uma porta me leva até a minha parte, onde tem a minha suíte,
um quarto de hóspedes, minha sala de jogos, um banheiro para visitas e uma
pequena sala.
Já o lado da minha mãe tem a suíte dela, seu ateliê de arte, onde faz
seus quadros e suas pinturas, dois quartos de hóspedes e o banheiro de
visitas, assim como aqui.
Um desses quartos é onde ela fica quando está muito mal.
É todo equipado com tudo que ela possa vir a precisar, e também tem
uma cama extra para a enfermeira que cuida dela nessas fases mais
delicadas.
Odeio que tenhamos que ter um cômodo como esse, mas não
podemos fugir da realidade. É a quarta vez que a minha mãe tem câncer, e eu
não quero correr o risco de faltar algo que ela precise dentro da própria casa.
É doloroso viver assim, mas a minha mãe é a pessoa que mais ama a
vida, que mais ama viver e é extremamente grata pelas chances que Deus
sempre dá a ela.
Deus é bom conosco.
Demorei muito para entender isso, mas hoje eu compreendo.
Não é fácil termos que passar por isso e tudo que já enfrentamos.
Mas nós somos fortes o suficiente para não só ter vencido essa doença outras
vezes, como ter me tornado um homem saudável o suficiente para poder dar
a minha mãe o apoio que ela merece, em todos os sentidos.
Vou para o meu quarto, mas estou me sentindo tão irritado por saber
que minha mãe encontrou com o Daniel – na primeira oportunidade ele saiu
falando um monte de coisa, sem nem sequer perguntar se ela está bem – que
eu sei que não irei conseguir dormir.
Pego o meu celular do bolso, ignoro a maioria das mensagens que
estão ali, com a ideia de responder depois e vou direto na minha conversa
com o Calleb.
Eu: Tá fazendo alguma coisa, cara?
Eu: Preciso sair de casa, espairecer.
Fico olhando o celular e segundos depois aparece, digitando.
Calleb: Estou no Chris! Vem para cá, as rodadas de drink vão
começar agora.
Não era muito bem isso que eu tinha em mente, mas qualquer coisa
vai ser melhor do que ficar sozinho aqui dentro de casa.
Eu: Chego em 10 minutos.
Ele responde com uma foto, e nela eu vejo Chris e Hope sentados no
chão com a Claire brincando na frente deles, do lado do Troy.
E eu posso apostar que a Bee também está lá, o que vai me garantir
boas risadas. Calleb vai tentar fingir que está tudo bem, Bee vai fingir que
não olha para ele como se quisesse tirar toda a sua roupa na frente de todo
mundo, e Christopher vai alfinetá-los o tempo todo.
É, acho que é exatamente disso que eu preciso.
Eu ignoro os flashes na direção do carro que estou, ciente de que a
intenção deles é capturar o meu pai. Se mamãe e eu sairmos juntas na foto
com ele, ótimo, senão, é indiferente para eles.
— Será que um dia, apenas um, conseguiremos entrar ou sair de casa
sem esses paparazzis infelizes em cima da gente? Eles passam dos limites!
— pergunto, mas meu pai está tão distraído lendo algo no celular que nem
responde.
— Uma hora você se acostuma, filha — minha mãe responde. — E
bem, você tem chamado bastante atenção da mídia pelas suas fotos mais…
sensuais! É bom começar a aceitar que daqui a pouco eles irão atrás de você.
Tento esconder um sorriso ao ouvi-la, porque sei que esse é um
assunto que deixa o meu pai extremamente irritado e ele irritado é engraçado
demais.
— Sensuais demais para uma garota de 24 anos — resmunga, ainda
com os olhos grudados na tela do celular.
Reviro os meus olhos ao ouvi-lo.
Claro que isso ele ia responder.
— Não tem nada demais nas minhas fotos! — me defendo. — Vocês
têm que aceitar que eu sou uma mulher sexy.
Minha mãe ri ao ouvir e meu pai começa a tossir, batendo em seu
peito como se estivesse engasgado.
— Você quer me matar, Juliana Fanning — meu pai diz,
direcionando seu olhar para mim. — E ainda diz que os paparazzis ficam em
cima de nós por causa de mim… olha o seu decote, minha filha! — Balança
a cabeça em negação.
Eu abaixo um pouco a cabeça para olhar, e sorrio satisfeita pelo meu
vestido de hoje. Ele tem alças bem finas, um decote em formato de coração
que valoriza muito os meus seios e é bem longo, mas o tecido é fino e muito
fluído.
— Em algum momento, você vai entender que eu sou uma mulher de
24 anos e naturalmente sensual, algo que eu posso dizer que herdei de vocês!
— digo. — E quem vê você falando desse jeito, parece que é um homem
sério, recatado e nunquinha saiu nenhuma polêmica sobre a sua vida sexual.
Minha mãe vira o rosto pela janela, tentando prender a risada.
— Os tempos eram outros… e sua mãe e eu éramos jovens!
— Pai, por favor, você nem é tão velho assim para falar esse tipo de
coisa! — pontuo. — E eu também sou jovem. — Pisco para ele.
Ele tenta esconder um sorriso, mas seu lábio superior levanta
ligeiramente na lateral e eu sei que o venci nessa pequena batalha de
argumentos.
E além do mais, eu sou uma ótima filha, já que nunca levei problema
para casa, nunca me envolvi em nenhuma polêmica e nem muito menos
desrespeito a nossa família, que eu sei que é a coisa mais importante para
ele.
Eu só gosto de me sentir bem comigo mesma, de me sentir uma
grande gostosa quando me olho no espelho. E se isso acarreta em chamar a
atenção das pessoas, não posso fazer nada.
Claro que eu posso já ter feito uma coisinha ou outra das quais eles
não se orgulhariam, mas quem é que nunca fez algo escondido dos pais?
Meus avós vivem dizendo que os dois eram terríveis, e que quando a minha
mãe começou a namorar com o meu pai, eles viviam em cenas
constrangedoras, flagrando a própria filha em momentos íntimos pela casa
quando achavam que não tinha ninguém.
— Querida, você viu quem estará lá no evento? — minha mãe diz,
um tempo depois.
— Não, quem?
— Kendrick.
— Ele voltou para NY mesmo?
— Sim! — meu pai responde, respirando fundo e massageando as
têmporas, ficando tenso só de mencionar o nome dele. — Espero muito que
ele não tente fazer uma cena!
Kendrick é o meu ex e ele não aceitou quando eu quis terminar o
nosso relacionamento, há quase 2 anos, e isso nos gerou alguns momentos
complicados.
E o maior problema nisso tudo é que os pais dele são melhores
amigos do meu pai. Os três se conheceram na escola, foram para a mesma
faculdade e eu os amos como se fossem tios de sangue.
Ken e eu crescemos juntos, vivíamos colados e, com o tempo,
acabamos criando interesses diferentes um no outro. Ele tem 26 anos, então
quando eu tinha 14 e ele 16, vi meu amigo franzino se tornar um adolescente
bonito, alto e que chamava a atenção por onde andava.
Não demorou nadinha para que eu criasse uma paixão boba por ele,
então na minha festa de 15 anos, a gente ficou escondido e não paramos
mais. Até que um dia, resolvemos contar para os nossos pais, que já
suspeitavam que estava rolando algo além de amizade entre nós.
Nosso namoro foi muito controlado, eles tinham medo de que
fizéssemos alguma besteira, porque estávamos sempre juntos, por isso
sempre tinha alguém nos rondando, para ter certeza que não passaríamos dos
limites que eles achavam viáveis para a nossa idade.
Claro que não adiantou.
Com 16 anos, eu perdi a virgindade, foi bem fofo e mágico, porque
eu o amava.
Ken foi incrível, muito cuidadoso e amoroso.
Só que esse excesso de fofura permaneceu todas as vezes em que
transávamos e começou a se tornar um problema.
Minhas amigas sempre me contavam como se sentiam incríveis
quando transavam, que gozavam, que terminavam já querendo mais e eu só
achava bom. Nada de altos arrepios e nem muito menos de gozar.
Tive que assistir a alguns vídeos para entender o que de fato era ter
um orgasmo e aí eu tive a certeza que tinha algo de errado. Só não sabia se
era comigo, com ele ou com nós dois.
Ken e eu sempre conversamos sobre tudo e isso era o ponto alto do
nosso relacionamento, mas ele ficou muito ofendido quando falei sobre isso.
Mesmo sendo extremamente delicada, sabendo que a performance do sexo
para os homens está totalmente ligada ao ego, ele se chateou.
E depois dessa conversa, as coisas entre nós dois só pioraram.
Ele queria transar toda hora, tentando me mostrar que poderia ser
incrível na cama, me dando o que ele achava que estava faltando, mas estava
tudo tão robótico, que ficou pior que antes. E isso afetou todas as outras
questões do nosso relacionamento.
Depois de muito tentar fazer dar certo, terminei com ele pouco antes
do meu aniversário de 22 anos. Não fazia sentido tê-lo ao meu lado e fingir
para todos que estávamos bem, quando na verdade não estávamos.
Só que o Ken surtou com o nosso término.
Ia atrás de mim em todos os lugares e era assustador, porque ele
sempre me encontrava, mesmo quando eu não postava nada nas redes
sociais.
Uma vez, ele acabou me vendo ficar com outro homem e o puxou
para longe de mim, deu um belo soco na cara dele e foi expulso do bar que
estávamos.
Ele ficou uns 6 meses indo atrás de mim nos lugares, acabando com a
minha noite e eu indo embora com ele, porque tinha medo de que
acontecesse algo.
Hoje eu entendo que ir embora com ele, todas as vezes que fazia
merda, era a pior escolha, porque a intenção dele era exatamente essa! Ken
sabia que eu iria me sentir muito culpada se algo acontecesse a ele.
E a gente achou que não tinha como fazer algo pior do que já estava
fazendo, mas ele inventou de puxar briga com o quarterback do Taurus, time
do papai, em um evento privado.
Na cabeça doentia do Ken, nós estávamos ficando, o que era mentira,
porque de jeito nenhum me envolveria com alguém do time, e ele fez um
show horrível.
Foi uma das cenas mais assustadoras que eu assisti, ele estava
descontrolado.
Isso tudo só não vazou, porque o evento era exclusivo e todos lá
gostavam muito do meu pai e não foram maldosos em expor o
acontecimento.
Nelly e Elvis, pais do Ken, decidiram que seria melhor para ele se
afastar um pouco para poder se cuidar, porque era óbvio que não estava bem.
Ele nunca foi um homem agressivo, explosivo e nem muito menos doentio
como estava sendo.
Ken só aceitou ir para o Canadá, porque o Elvis disse que não o
deixaria trabalhar com ele enquanto estivesse daquele jeito. E o maior sonho
do Ken é seguir os passos dos pais. Só por causa disso, ele foi.
— Se ele voltou, significa que os pais dele acreditam que tenha
melhorado — falo, tendo total certeza que Nelly e Elvis não fariam nada que
prejudicasse nenhum dos envolvidos nessa história louca. — E se está bem,
precisa voltar a viver como antes! Se o problema todo era basicamente saber
lidar quando estivesse perto de mim, hoje será um ótimo teste.
— E é só por confiar muito no Elvis que eu disse que tudo bem o
Ken ir, mas também deixei claro que qualquer pequena demonstração de que
ele vai arrumar confusão, os seguranças irão tirá-lo do evento na mesma
hora, sem conversa.
Viro o meu rosto em direção a janela, vendo o carro se aproximar do
Museu onde será o evento de hoje e peço ao Universo que tudo seja
tranquilo, porque não daremos sorte de manter em segredo alguma confusão.
São quase mil convidados, impossível controlar o que eles vão falar
por aí.
E fofoca é uma coisa que sempre se espalha da forma mais errada
possível, nunca é apenas o que aconteceu.
O carro entra na fila para poder nos deixar na frente do evento, como
as demais pessoas. Eu fico vendo quem vai saindo dos outros veículos, me
distraindo com cada look escolhido por eles.
É muita gente famosa, parece até esses eventos de premiações
musicais ou de cinema.
Mas aprendi desde criança que tinha que agir de igual para igual, sem
ir atrás de quem sou fã para pedir fotos ou autógrafos. Até hoje preciso me
controlar em certos momentos. Ainda lembro a primeira vez que vi Ryan
Gosling e tive que ir ao banheiro surtar sozinha.
Hoje sou amiga próxima de muitos desses famosos e tenho uma boa
relação com outros. Inclusive, meu pai morreria se soubesse de algumas
pessoas que já me envolvi de uma forma muito discreta.
Acho que ele me mataria, antes de morrer, se descobrisse que um
ator que frequenta muito a nossa casa, meio que também já frequentou a
minha cama. Mas como eu resistiria ao homem que sempre é chamado para
fazer adaptações de filmes baseados em livros de romance incríveis?
Impossível.
— Julie, minha filha… Hoje tem jogadores de outros times aqui! É
um evento realmente grande e cheio de pessoas que querem dar uma rasteira
em seu pai, então, por fav…
— Não fale nada sobre o nosso time, não flerte com nenhum inimigo,
seja simpática, mas não tanto para que as demais pessoas não achem
estranho e se limite a duas taças da bebida que for tomar — interrompo-o e
falo por ele, imitando a sua voz.
Eu escuto essas mesmas coisas há tanto tempo – até mesmo quando
estava namorando o Ken – que já sei cada palavrinha do que ele vai falar.
Meu pai sorri, orgulhoso.
— Você nunca me decepciona, meu amor.
Eu apenas devolvo o sorriso para ele e espero o nosso motorista abrir
a porta para segurar na mão dele e descer, tomando cuidado com o vestido
longo.
— Obrigada, Timothy! — Ele sorri para mim e ajuda a minha mãe
também.
Papai ajeita o seu paletó, olhando ao redor e distribuindo alguns
sorrisos na direção dos fotógrafos, que nunca esperam a gente chegar até o
local em que paramos e ficamos à disposição deles por alguns minutos.
Não posso negar que eu amo como sempre fico lindíssima nessas
fotos, então não me importo com esses minutos que perdemos aqui.
Quando o meu pai se dá por satisfeito, nós entramos e ele é abordado
por alguém no mesmo segundo que coloca o pé lá dentro. E como a mamãe e
eu já estamos acostumadas, cumprimentamos o homem que o parou e nos
afastamos para ir até a nossa mesa.
— Aquele ali não é o rapaz que te buscou lá em casa esses dias? —
minha mãe pergunta, sem tirar o sorriso do rosto, evitando qualquer
expressão que chame muita atenção para nós.
Eu dou uma olhada rápida, e vejo que ele já estava olhando para mim
e apenas sorrio.
— Sim! Estava me vigiando pela câmera de novo, mãe?
— Eu apenas sou uma mãe curiosa, querida — diz, e eu seguro uma
risada. — Ele é um gato, meu Deus!
— Pelado é ainda mais bonito — sussurro e ela precisa abaixar a
cabeça para controlar a risada.
Eu amo a relação que tenho com os meus pais.
Sei o quanto sou sortuda em tê-los também como amigos, a ponto de
falar sobre qualquer coisa. Claro que com o meu pai eu evito falar da minha
vida sexual, porque das poucas vezes que falei, pensei que ele morreria na
minha frente, mas com a mamãe nós não temos esse problema.
Bradley vem em nossa direção, assim que chegamos à mesa.
— Boa noite, Sra. Fanning! É um prazer conhecê-la pessoalmente.
Eu me chamo Bradley, sou amigo da sua filha — ele se apresenta à minha
mãe, com um sorriso tão bonito que chega a aparecer as suas covinhas.
— Boa noite, Bradley — minha mãe responde, exalando simpatia e
elegância em uma simples frase. — É sempre ótimo conhecer os amigos da
minha filha! Fique à vontade para se sentar conosco, caso queira.
— Eu agradeço o convite, mas vim com alguns amigos! — Ele
desvia o olhar da minha mãe para mim, me dando uma olhada dos pés à
cabeça, antes de voltar a sorrir. — Boa noite, Juliana! Você está lindíssima.
— Obrigada, Bradley. — Ele me cumprimenta com dois beijinhos no
rosto. — Você também está ótimo, como sempre.
— Se em algum momento estiver disponível, seria ótimo passar um
tempo com você.
Bradley é um homem bem legal. Acho que tem 27 anos, se não me
engano. Eu o conheci em uma festa há alguns meses e já ficamos umas
quatro ou cinco vezes.
Ele é muito bom no que faz, muito mesmo.
Mas eu sinto que ele é uma pessoa que está atrás de um
relacionamento e eu não quero estar em outro tão cedo.
Talvez com uns 30, eu pense em namorar novamente, mas por ora, eu
quero é curtir a minha vida da melhor forma possível.
— Claro, eu vou até você! — digo, finalizando a nossa conversa e
me sento quando ele vai embora, com um sorrisinho de quem acredita que
terá um final de noite interessante.
Talvez aconteça, a ideia não é ruim.
Mamãe e eu começamos a conversar sobre algumas pessoas que
passam por nós e toda hora somos paradas por alguém que vem nos
cumprimentar. A maioria dos convidados nós já conhecemos ou pelo menos
já vimos em algum lugar.
De longe, vejo o meu pai falando com o dono do Gorillas, que é um
outro time de futebol americano aqui de NY.
Nosso maior rival em campo, que tem feito uma ótima temporada.
Para a tristeza do meu pai, não sou fã de futebol, nenhum deles, e não
sei de quase nada além do que ele me conta desse meio. E todas as vezes que
vou aos jogos nem presto atenção no que acontece em campo.
Só sei quem é o dono do outro time, porque mamãe acabou de falar.
Meu pai também é um homem muito elegante e educado, então eu o
vejo sorrindo e conversando de forma descontraída com o dono do time
rival. E ao lado deles também está o Christopher Galanis, que é impossível
alguém não conhecer.
Ele sempre esteve na mídia por milhares de motivos, inclusive pela
sua vida íntima muito agitada. Mas agora ele namora com a Hope Donavan,
que está junto dele, mostrando que são um casal lindíssimo e apaixonado.
Confesso que vez ou outra eu entro no Instagram deles apenas para
ficar babando em como os dois formam um casal maravilhoso e parecem ser
muito apaixonados um pelo outro.
Minha mãe se mantém entretida na conversa com duas mulheres que
se juntaram a nós aqui na mesa. Ambas são esposas de dois homens que
trabalham com o papai, e eu não suporto nenhuma delas.
É uma competição sem fim de quem é mais fútil.
E para a minha sorte, eu não preciso ficar dando atenção a elas,
porque a mamãe está aqui.
Dou uma rápida olhada ao redor, à procura de alguém legal o
suficiente para tornar essa noite um pouco agradável. Mas a única coisa que
vejo é o bar. E para melhorar, tem pouquíssimas pessoas lá, porque a maioria
estão espalhadas pelo salão.
— Boa noite, senhorita! — o barman me atende, com um sorriso
simpático e mãos ocupadas preparando um drink. — O que deseja?
Dou uma leve olhada em todas as garrafas atrás dele, na dúvida do
que pedir.
— Esse aqui, que eu não sei o nome, é bem gostoso! — o homem ao
meu lado fala, ganhando a minha atenção.
Nossa.
Que homem!
Será que eu o conheço? Parece um rosto que eu já vi… um belíssimo
rosto, inclusive.
— Hummm, parece ser doce demais — pontuo ao ver uma taça
bonita, com um degradê entre amarelo e laranja. — E é exatamente de algo
muito doce que eu preciso! — concluo e ele sorri, mostrando que consegue
ser ainda mais bonito. — Me vê um desse, por favor, bem caprichado no
álcool! — digo ao barman, que confirma com a cabeça.
— Faça dois, por favor — o homem fala e em seguida termina de
tomar todo o conteúdo da sua taça, virando-a como alguém que tem o hábito
de fazer tal coisa.
— Dia difícil? — pergunto, genuinamente curiosa.
Ele passa o dedo no canto da boca e eu não consigo desviar o olhar
dessa pequena cena, que envia um leve calor entre as minhas pernas.
Droga!
Péssimo evento para eu ficar interessada em alguém.
Mas também, precisava ser tão bonito?
— Está tão óbvio assim? — Ele apoia os antebraços no balcão e vira
ligeiramente o rosto na minha direção, com os olhos fixos aos meus. — A
vida adulta é um saco e estou nela há tempo demais para falar tal coisa,
inclusive!
Sorrio ao ouvi-lo, porque é algo que costumo falar quase todos os
dias.
— Eu não poderia concordar mais com isso!
O barman entrega as nossas taças e nós brindamos.
— Um brinde à vida adulta!
— Que é um saco! — Bato a minha taça na dele e dou um gole na
bebida. — Humm, bem gostosa! — Me viro um pouco no banco, ficando de
frente para ele. — A gente se conhece de algum lugar? Tenho a sensação de
já ter lhe visto.
O homem ao meu lado, o qual ainda não sei o nome, me olha como
se procurasse na memória algum registro sobre mim.
— Vai soar como um flerte, mas… eu não esqueceria um rosto como
o seu se já o tivesse visto antes.
Foi um flerte brega? Sim!
Ele conseguiria me levar para algum lugar mais reservado e me
beijar depois desse flerte que nem é real? Com certeza!
— Uma pena não ser um flerte de verdade. — Pisco para ele e bebo
mais um pouco.
Vejo um sorrisinho desses que é capaz de destruir o coração de
alguém, brotar no rosto dele, e no momento em que ele também vira o corpo
para ficar de frente para mim, um perfume que antes vivia impregnado em
minha pele, atinge as minhas narinas.
— Ju…
Merda, Ken! Tinha que aparecer agora?
— Oi, Kendrick. — Com muito desgosto, viro o meu rosto na
direção do homem que já foi o meu melhor amigo e também a pessoa que eu
pensei que ficaria comigo o resto da vida, independente de como seria.
Os olhos dele parecem perdidos, demonstrando nervosismo e
também a falta de tato para conseguir falar comigo.
Ele demora tempo demais para responder, e fica um clima
estranhíssimo.
— Vou deixá-los à vontade! — O homem que eu estava começando a
achar que conheceria melhor, se levanta e pede licença, antes de sumir no
mar de gente que tem nesse evento.
— Desculpa, eu não queria interromper — Ken diz, ainda todo sem
jeito, como se fosse um menino tímido falando com alguém desconhecido.
— Podemos conversar?
— Tem certeza que aqui é o melhor lugar para termos essa conversa?
— digo e já me levanto, tentando encontrar o meu pai entre as pessoas, mas
é impossível de onde estou.
— Ju… eu não vim arrumar problemas, juro! Só quero… tentar
resolver as coisas entre nós dois agora que voltei. Nossas famílias vivem
juntas e eu não quero que isso pare de acontecer porque eu voltei.
Eu o olho, bem fundo em seus olhos, tentando encontrar vestígios do
meu amigo, e só por ele aparentar estar mais calmo e controlado, eu
concordo com o seu pedido e nós vamos para o segundo andar do Museu,
onde tem a varanda externa, que é menos movimentada e barulhenta.
Mando uma mensagem para a minha mãe contando onde estou e com
quem, para que saiba onde me encontrar se eu não aparecer em uns 40
minutos, só para garantir que está tudo bem mesmo.
Infelizmente, depois de tudo o que rolou, não consigo mais confiar
nele.
Eu realmente não gosto de vir nesses eventos.
Hoje, por exemplo, tem uma mistura de tudo aqui.
Atores, cantores, jogadores de vários esportes, filantropos,
milionários e mais uma porção de gente que eu não tenho noção de quem são
e o que fazem. E sempre que todas as espécies, se assim posso chamá-los, se
juntam, é uma troca de falsidade por todo lado.
Antes de ir até o bar, fiquei em uma conversa de 20 minutos com um
jornalista que é muito renomado, mas todos sabem que é ele quem vaza
algumas informações mais pessoais dos famosos para os sites mais
conhecidos de NY. Porém, ninguém tem coragem de confrontá-lo
exatamente por isso.
Eu mesmo sou um desses.
Pouquíssimas pessoas sabem da saúde da minha mãe, contudo, a
primeira coisa que ele me perguntou ao me ver, era se a minha mãe estava
bem. É quase que uma suave ameaça, deixando claro que ele sabe o que
acontece por trás dos bastidores.
E uma das últimas coisas que eu quero é o sensacionalismo em cima
da vida da minha mãe, ou um monte de urubus atrás dela, querendo ser os
primeiros a conseguir uma informação direto da fonte.
— Eu realmente não sei como vocês conseguem! — Hope diz assim
que se aproxima de mim, que estava tentando me esconder das pessoas
inconvenientes perto da porta. — Olha lá… ele nasceu para isso! — Aponta
com o queixo para o namorado, incrédula.
Christopher realmente nasceu para ser uma estrela, e de fato é.
Fico me perguntando se em algum momento isso se torna cansativo
para ele.
— Acostume-se, Hope! Seu namorado gosta de ser o centro das
atenções.
Ela bufa e concorda, sabendo que estar com ele significa estar na
mídia o tempo todo.
— Espero que eu consiga me acostumar logo! — afirma. — E ele
poderia ter guardado só um pouquinho o brinquedo dentro das calças! Parece
que NY inteira já esteve na cama com ele.
Ela não tem noção de metade das coisas que o meu amigo já fez, mas
vou poupá-la dessa informação. Eu mesmo não gostaria de saber o que a
mulher que está comigo já fez ou deixou de fazer com outras pessoas.
Caso eu estivesse em um relacionamento, óbvio.
Não me importa o que viveu antes de mim, não é da minha conta,
mas não deve ser nem um pouco divertido saber.
Lamento pela Hope, porque sei que algumas pessoas são maldosas e
passam de mais do limite, para intimidá-la e constrangê-la.
— Mas, você tem a garantia que nenhuma outra mulher será capaz de
ganhar a atenção dele da forma que conseguiam antes — pontuo, e ela abre
um sorriso, sabendo que é verdade. — Aquele homem é apaixonado demais
por você, Hope.
Vejo o momento em que Hope olha para ele, que parece sentir que
está sendo observado, e encontra o olhar dela.
Ok, eles são fofos como os casais de filmes românticos que a minha
mãe adora assistir, e eu ainda fico chocado com como o Christopher
realmente mudou por ela.
Ou melhor, pelo amor e por tudo que ele sente, que deve ser muito
mais incrível do que as coisas que sentia antes, então ele mudou para
conseguir tê-la sempre ao seu lado e manter esse sentimento em sua vida.
Porque, na verdade, não acredito que ninguém muda por alguém e sim por si
mesmo, pelo que está sentindo e por quão bom pode ser esse sentimento.
Duas mulheres se aproximam de onde estamos para falar com ela, e
eu saio de perto antes que acabemos chamando a atenção de mais pessoas.
Eu só quero ir embora.
Olho ao redor, procurando uma outra toca para ficar e vejo que tem
um corredor que leva a uma escada e vou para lá, percebendo que quase
ninguém anda por aqui.
Ótimo.
Subo as escadas devagar, vendo alguns quadros espalhados pelas
paredes e imaginando onde será que eles colocaram as obras de arte que
foram retiradas do salão.
E por que fazer um evento no Museu?
Pessoas poderosas realmente têm umas manias bem estranhas.
— Ken, fico feliz que você realmente tenha se curado daquela
obsessão assustadora, porém, não consigo mais nos imaginar como amigos!
Paro alguns degraus, antes de chegar no segundo andar, ao ouvir a
voz da mulher com quem conversei ainda há pouco.
— Por quê? A gente podia só fingir que nada daquilo aconteceu.
— Fingir que nada aconteceu? — Sua voz sai fina, como alguém
que não acredita no que acabou de ouvir. — Não é porque aceitei que
vivêssemos em paz, que vou esquecer tudo o que rolou, Ken. As coisas que
você fez, acabaram com a admiração que tinha por você como homem e
amigo.
Fica um silêncio entre os dois e eu sei que não deveria estar ouvindo,
mas também não quero voltar lá para baixo.
— Eu… eu não sei se consigo seguir a minha vida sem você presente
nela de alguma forma.
— Eu estarei presente, amo a sua família da mesma forma que amo
a minha, só que as coisas entre nós dois serão rasas e eu não estou disposta
a mudar essa decisão, Kendrick. Lamento que as coisas tenham tomado esse
rumo, mas foi a maneira que encontrei para me proteger e sei que você
entende os meus motivos para isso.
De novo o silêncio.
O que deve ter acontecido com eles?
Acho que namoraram.
— Não vou desistir da sua amizade, Julie. Irei reconquistar a sua
confiança e respeito de algum jeito!
Escuto o barulho dos sapatos dele e desço alguns degraus, apenas
para fingir que comecei a subir as escadas agora.
O rapaz me encara quando passo por ele, mas não retribuo o olhar e
sinto o seu queimar a minha nuca enquanto continuo a subir, até que sumo
da sua linha de visão.
Ao chegar no segundo andar, vejo que não tem ninguém na enorme
varanda além da mulher que agora sei que se chama Julie, sentada em um
banco perto da mureta com uma vista incrível para o jardim enorme, e eu.
Caminho devagar até onde ela está, apenas para me certificar que
está bem, e depois planejo ir embora para a minha casa, não aguento mais
ficar nesse evento chato e que não agrega em nada na minha vida.
No bar, enquanto conversamos e iniciamos um possível flerte,
precisei manter o controle para não encará-la como um psicopata e foi bem
difícil, porque ela é linda.
Seus olhos verdes se destacam na sua pele marrom clara e o seu
cabelo é preto feito a noite. A boca dela chamou tanto a minha atenção, que
eu imaginei como seria beijá-la lá mesmo no bar, na frente de todos, sem me
preocupar em talvez alguém acabar gravando o momento.
— Atrapalho? — pergunto ao chegar ao lado dela, mas me mantenho
de pé.
Ela levanta a cabeça para me olhar e dessa vez o seu sorriso não
chega até os seus olhos.
— Oi, homem bonito do bar! — diz e bate com a mão na parte vazia
do banco, do outro lado dela. — Sente-se! A vista daqui é uma das mais
bonitas de NY. Eu amava quando o meu pai me trazia aqui quando eu era
criança, corria todo esse jardim e voltava com a roupa encardida para casa.
No bar, eu já havia percebido que ela é uma pessoa bem simpática, e
eu gosto de pessoas assim, sempre me identifico, mesmo que em muitos
momentos eu seja mais sério e quieto.
— Oi, moça bonita do bar! — respondo ao me sentar onde ela
indicou. — Você está bem?
— Estou… por que a pergunta? — Ela vira o rosto para me olhar. —
Ah, você ouviu? — Apenas concordo com a cabeça. — Está tudo bem, sim!
Um problema do passado em uma pessoa do meu presente e provavelmente
do futuro também.
— Isso parece ser um pouco… confuso!
— Uma dica: não namore alguém próximo demais da sua família,
porque existem grandes chances dessa pessoa se manter presente, mesmo
que vocês terminem.
— Dica anotada!
Ela sorri ao me ouvir e volta a olhar para a frente, e eu faço o mesmo.
Realmente a vista daqui é lindíssima, uma parte de NY que os
prédios não tomaram conta e tem muita vegetação, dando uma falsa
sensação que é uma cidade calma e tranquila.
— Me diga, homem bonito, o que faz nesse evento? Claramente você
não tem interesse em estar no meio das pessoas que estão aqui.
— Está tão na cara assim? — Ela solta uma risada abafada e
concorda. — Bom, digamos que meu chefe me obrigue a vir em alguns
eventos como esse, para fazer uma boa imagem com as demais pessoas. E
você, por qual motivo está aqui?
Vejo pelo canto do olho quando ela mexe no cabelo, tirando a parte
que cai por seus ombros e jogando todo para trás.
— Meu pai… é importante que a família sempre esteja junto com ele
nesses eventos.
Eu não faço ideia de quem seja o pai dela, mas como vi muitos
políticos lá embaixo, talvez seja um deles. E é bom saber, porque assim eu
evito falar algo que possa se transformar em mais um desconforto na noite
dela.
— E acho que você também não gosta, pelo visto…
— Não me sinto muito à vontade em eventos como o de hoje, muita
gente que eu não conheço e preciso ter cuidado com quem converso. — Ela
volta a me olhar, com os olhos cerrados. — Inclusive, deveria estar tendo
cuidado com você!
— Comigo? Acho que sou o menor dos seus problemas aqui.
Ela faz um biquinho ao me ouvir, tendo toda a minha atenção
destinada a sua boca.
— Eu preferia que você concordasse, jogasse uma cantada bem
barata, só para deixar claro que você é desses homens bem cafajestes, que
destroem todos os corações que se aproximam de você e que seria um sonho
provar ser um problema para mim hoje.
Solto uma risada, porque é engraçado a forma que ela fala, e o som
da sua gargalhada se mistura à minha, segundos depois.
— Sinto decepcionar, mas eu não sou um cafajeste! E … por mais
que eu queira te beijar desde a nossa rápida conversa no bar, não quero me
aproveitar do seu momento de chateação.
Ela me olha como se eu fosse uma aberração e demora um pouco até
falar algo:
— Eu estou impressionada!
— Impressionada? — pergunto para ter certeza se era de fato isso
que ela queria falar.
— Sim! — Me olha com curiosidade, como se eu realmente não
fosse desse mundo. — Qualquer outro homem não se importaria com nada
além do fato de eu estar te dando mole em um lugar onde, aparentemente,
não tem mais ninguém além de nós dois.
De fato seria uma ótima oportunidade e não tem uma parte do meu
corpo que não queira senti-la nesse exato momento.
— Tenho certeza que vou me arrepender de não aproveitar essa
oportunidade, mas sei reconhecer quando alguém está frustrado com algo
e…
— E você não quer que eu me arrependa depois! — ela termina por
mim e eu concordo. — Eu estou impressionada mesmo… Isso não é uma
pegadinha, né? — Ela vira a cabeça para um lado e depois para o outro,
procurando por algo.
A reação dela não me surpreende, até porque, não é a primeira vez
que tenho a chance de ficar com alguém, mas por algum motivo que eu
considero maior, acabo não ficando.
E sempre me olham como se eu fosse um alienígena.
— Não é uma pegadinha, fica tranquila! — Me levanto do banco e
estico a minha mão para ela, que aceita e se segura em mim para levantar.
Seu toque é tão suave e macio que quase nem parece que tocou em
mim. Reparo também que as suas unhas são bem grandes, pintadas em um
tom vermelho que combina com o batom em seus lábios.
— Ainda não estou acreditando que um homem com a aparência
igual a sua não é um cafajeste — diz quando começamos a andar em direção
às escadas. — Não me leve a mal, é que … você é bonito demais para ser
um homem decente.
Eu preciso parar de andar quando começo a rir, colocando as duas
mãos em cima da barriga e sentindo todo o meu corpo tremer.
— Ok… eu já ouvi muitas coisas, mas que eu sou bonito demais para
ser decente é a primeira vez! — Passo o polegar no canto do olho, limpando
a lágrima que começa a escorrer depois de uma rápida crise de riso. — Só
estou confuso! Devo me sentir lisonjeado ou ofendido? — brinco.
— Lisonjeado, com certeza! — Ela para um pouco mais à frente,
próxima às escadas. — Eu achava que era algum tipo de lenda urbana essa
história de que um homem muito atraente ainda pode ser decente… — Seus
olhos verdes e curiosos passeiam pelo meu corpo de um jeito sutil e depois
ela encara o meu rosto novamente. — Eu gostei de você, espero ter a sorte
de te encontrar novamente em outra situação.
Ela pisca, se vira e desce as escadas, sem falar mais nada.
Eu continuo parado no mesmo lugar, vendo-a sumir, sem conseguir
tirar o sorriso bobo do meu rosto.
Merda! Esqueci de perguntar o nome dela.
Bom, vou me contentar com o Julie que ouvi o ex chamá-la.
E, espero mesmo que a gente tenha a sorte de nos encontrarmos
novamente por aí.
Quais seriam as chances de um raio cair duas vezes no mesmo lugar?
Eu deveria ter aproveitado essa chance, que merda!
Desço as escadas o mais rápido que consigo. Claro que não vou fazer
nada demais, mas eu poderia pelo menos pedir o número dela, ou alguma
rede social, ou chamá-la para um jantar… Qualquer coisa para garantir que a
encontre uma outra vez.
Mas parece que ela não está em lugar algum, como se nem tivesse
vindo aqui. Depois de procurá-la por alguns minutos, eu aceito que até o
Universo deve estar me achando um idiota de ter perdido essa chance e vou
embora, sabendo que não tem mais nada de interessante aqui para mim.
Seguro o suporte com os quatro cafés que comprei na Starbucks na
quadra anterior, e antes de entrar na editora, paro na frente das portas duplas,
olhando a fachada com o nome Editora Angel, com uma letra bonita mas que
chama bastante atenção por ser em um tom amarelo, destoando das demais
lojas mais neutras.
Empurro uma das portas e o cheiro maravilhoso dos livros
misturados a um perfume suave de rosas atingem minhas narinas assim que
entro.
É um cheiro que automaticamente me conforta.
— Bom dia! Seja bem-vinda à Editora Angel. — Uma mulher que
não parece ter mais de 20 anos me cumprimenta, por trás de um balcão, com
um sorriso simpático. — Posso te ajudar em algo?
Eu me aproximo de onde ela está, olhando a recepção bonita e
aconchegante.
— Hoje é o meu primeiro dia, sou a Juliana.
— A leitora crítica, né? — Eu concordo. — A Angelina está ansiosa
para te conhecer! Vou te levar até a sala dela.
Ela sai de trás do balcão, mas antes de seguirmos, eu ofereço um dos
cafés.
— Não sei qual vocês gostam, então trouxe expresso e latte.
— Mandou bem! — Ela pega um expresso e já toma um gole. —
Todos nós aqui consumimos muito café e chá. Inclusive, a Angel fez questão
de criar um espaço superespecial para tomarmos café, conversarmos ou
simplesmente relaxarmos.
Isso é legal e eu com certeza passarei neste espaço algumas vezes.
Eu a sigo assim que começa a andar, e no caminho, ela vai me
explicando o que é cada sala que vamos passando e também promete que me
mostrará o segundo andar, que é onde a parte da impressão acontece.
— Angel, a Juliana chegou! — Ela coloca só a cabeça para dentro da
sala ao falar, e depois abre toda a porta, pedindo que eu entre. — Me procure
depois da reunião, vou amar te mostrar tudo que ainda falta.
Eu a agradeço e ela pega mais um café, informando que vai levar até
o escritor que está em uma das salas trabalhando, depois fecha a porta atrás
de mim.
— Com o tempo você se acostuma com o excesso de energia da
Bonnie — Angelina fala para mim ao sair da sua mesa e vir na minha
direção. — Estava ansiosa para te conhecer pessoalmente, Juliana.
— Eu digo o mesmo! — Sorrio para ela e ofereço o café, que ela
pega na mesma hora e eu fico com o que sobrou para mim. Nós nos
cumprimentamos rapidamente e ela se encosta na mesa. — Preciso dizer que
o pouco do que eu vi aqui, achei incrivelmente lindo.
Ela olha para a sala cheia de orgulho, com um sorriso vitorioso no
rosto.
— Essa editora é um sonho que eu pensei que nunca conseguiria
realizar! — diz e parece voltar ao passado por algum tempo, mas depois me
encara novamente. — Sente-se, vamos conversar um pouco.
Eu faço o que ela pede, me sentindo nervosa.
Ela volta a se sentar e pega um papel que já estava em sua mesa, e de
longe, consigo ver que é todo o meu histórico.
— Juliana, confesso que estou um pouco curiosa… Por mais que
você não tenha experiência profissional, não esperava que alguém com todo
o seu histórico se interesseira por essa vaga. E, eu preciso informar que
pesquisei um pouco mais sobre você, além do que está nesse papel!
— Eu imaginei que faria isso!
— Você é filha de um grande executivo…
— Mas não precisa se preocupar, ele não será um problema.
Ela sorri e coloca o papel novamente na mesa.
— Não, a questão não é essa! Mas, você viu o salário, né? — Faço
que sim com a cabeça. — Não me leve a mal, é que não é comum ver a filha
de um bilionário procurando um emprego comum, com um salário tão baixo
para o seu padrão de vida.
— Eu imagino que deve ser estranho mesmo, mas… desde os 18 que
tento descobrir o que quero estudar, ficava me sobrecarregando ao procurar
por alguma faculdade que eu me identificasse, mas nada nunca pareceu ser o
certo para mim — explico, lembrando de cada vez que me frustrei nessa
busca. — Os meus pais nunca me pressionaram a isso, mas, em uma
conversa com a minha mãe no ano passado, ela me alertou que talvez a
minha vocação estivesse envolvida nos livros, que é algo que eu amo desde
pequena. Depois dessa conversa, eu comecei a me interessar por tudo que
acontece nos bastidores da criação de um livro. Há pouco tempo vi a vaga e
aqui estou.
Angelina me escuta com atenção enquanto eu falo.
— Acredito então que iremos fazer um ótimo trabalho juntas! A
nossa editora, como acredito que já saiba, é voltada para romances em geral.
Então o seu trabalho seria direto com os nossos escritores, pontuando tudo
que você acredita que poderia melhorar em suas histórias. Essa é uma parte
muito importante para eles, que às vezes acabam não enxergando uma coisa
ou outra na própria escrita.
— Preciso confessar que não fazia ideia que existia uma função
assim, mas tenho certeza que sou capaz de ajudar com tal coisa. Posso não
ter vivido muitos romances, mas diga qualquer livro ou filme desse tema,
que eu com certeza já terei lido ou assistido.
Angelina sorri.
— Nada melhor que uma leitora assídua de romance para ajudar a
criar um. — Concordo plenamente. — Bom, se você realmente tiver
interesse na vaga, ela já é sua.

— Eu quero, com certeza!

— Ótimo! — Ela consegue parecer ainda mais animada do que eu.


— Sendo assim, vamos conhecer a sua sala.
Nós duas saímos do cômodo em que estávamos e seguimos um outro
corredor, que eu ainda não havia passado.
A Angel criou um espaço para que os seus escritores também possam
vir trabalhar aqui, caso seja da vontade deles. E essas salas não são muito
grandes, mas são extremamentes confortáveis, com boa iluminação e tudo
que eles podem precisar para escreverem.
— Isso tudo é muito incrível, Angelina… é um conceito totalmente
diferente das editoras que costumamos ver.
— Pode me chamar só de Angel. E a minha ideia foi exatamente
essa, ser diferente! — diz, se mostrando uma pessoa muito simpática e
gentil. — O que acha dessa sala? — me pergunta ao pararmos na frente de
uma delas, que tem uma janela bem grande, um sofá de couro, além de uma
mesa bem equipada e uma estante vazia, pronta para ser preenchida de livros
e acessórios.
— Acho que é a mais bonita de todas.
— Então essa será a sua! Você pode decorá-la se quiser, mudar os
móveis de posição ou até mesmo pintar as paredes. Faça com que fique o
mais agradável possível para você!
Eu já estou sorrindo há tanto tempo que minhas bochechas
começaram a doer.
— Obrigada, Angel… Eu nem acredito que isso está realmente
acontecendo.
Já tinha algum tempo que eu estava frustrada por ser apenas a filha
de um homem muito rico. Mesmo que eu sempre esteja estudando algo,
como idiomas, porém, isso nunca pareceu ser o bastante.
É claro que o salário daqui realmente não é suficiente para quase
nada do meu estilo de vida, mas, ainda assim, estarei trabalhando com algo
que gosto. E talvez essa seja apenas uma porta para algo grandioso
profissionalmente.
Um homem sai de uma sala que ela disse que estava fechada e chama
a nossa atenção pelo barulho.
— Ah! Jonathan… essa é a Juliana, nossa leitora crítica! — Angel
diz, assim que o homem nota a nossa presença.
— Prazer, Juliana. Eu me chamo Jonathan, sou um dos autores da
editora. — Ele sorri para mim, mostrando os dentes impecáveis. — Boa
sorte para você, irá precisar de muita com o meu livro.
— Não dê ouvidos a ele! — Angel fala para mim e depois olha para
ele. — Eu passei a noite em claro porque não consegui parar de ler o
rascunho que me enviou, Jon.
Jonathan dá um sorriso meio tímido, e eu acho fofa a sua reação.
Não é sempre que vemos um homem adulto ficar com as bochechas
coradas ao ouvir um elogio.
— Para onde envio um e-mail para receber esse rascunho? — digo.
— Está com tempo agora? Eu acabei de imprimir as modificações
que fiz mais cedo.
Peço um minuto a ele e aproveito para deixar a minha bolsa na sala
que agora é minha, coloco rapidinho meu telefone para carregar e depois vou
até ele, que entrou em sua sala novamente.
— Qualquer coisa você pode me chamar, tá bom? — Angel diz. —
Mas você estará em boas mãos! — Ela some pelo corredor e eu encosto a
porta, indo até a mesa do Jonathan.
A energia da editora é inexplicável.
Até agora, todos que eu conheci, parecem ser pessoas agradáveis e
boas de se conviver, o que é ótimo. Canso de ver meu pai esgotado
mentalmente por lidar diariamente com pessoas que ele não gosta.
Pode ser a animação do primeiro dia, mas eu estou sentindo, pela
primeira vez, que esse é o meu lugar e onde eu realmente deveria estar.
— Só para garantir, você tem mais de 21 anos, né? — Jonathan me
pergunta, enquanto grampeia o rascunho.
— Eu tenho 24!
— Algo contra a escrita erótica?
Meu rosto esquenta no mesmo instante em que ele fala.
— Com certeza não.
Ele sorri e me entrega o rascunho.
— Pode ser totalmente sincera, tá bom? Eu escrevo livros para o
público feminino, então ter uma mulher me ajudando é extremamente
crucial. Aí tem os primeiros 10 capítulos, que para mim, são os mais difíceis
de fazer… não tenha medo de ser cruel comigo, se necessário.
— Eu serei, pode deixar — brinco. — Vou começar a ler agora, irei
fazer algumas anotações no próprio rascunho e te passo tudo por e-mail,
pode ser?
— Claro! — Ele anota o e-mail em um post it e me dá. — Mas,
também podemos conversar sobre as suas anotações, assim fica mais fácil de
me fazer entender o seu ponto de vista.
— Combinado! — Saio da sala dele logo depois e vou para a minha.
Me encosto atrás da porta assim que a fecho e seguro o rascunho dele
em meu peito, com um sorriso que parece que vai rasgar o meu rosto.
Preciso me segurar para não gritar, mas não me contenho e começo a
pular pela sala, balançando as folhas e comemorando em silêncio que
finalmente achei algo que eu goste.
Me recomponho alguns minutos depois e rio sozinha de mim.
Na minha mesa tem um notebook, blocos, cadernos, canetas e vários
acessórios em grande quantidade, que acredito que seja para deixar em
estoque, à medida que eu for usando. Deixo apenas algumas dessas coisas e
guardo as demais no gaveteiro que tem embaixo da mesa.
Tiro um tempo para observar bem a minha sala, já imaginando tudo
que irei adicionar aqui, os livros que trarei e uma boa cortina para essa janela
enorme.
Me sento na cadeira, descobrindo que ela é bem confortável e deixo
que meu corpo afunde um pouco sobre ela.
Pego o rascunho que o Jonathan me deu e leio as primeiras
informações que ele colocou na frente, que é basicamente um resumo da
personalidade dos personagens.
A mocinha é divertida, solteira-convicta e apaixonada pela vida. Já o
par dela, é um homem um pouco mais contido, educado e extremamente
cavalheiro.
E ao ler essas informações, é impossível não lembrar do homem que
conheci no evento do final de semana.
Por que eu não perguntei o nome dele?
Acho que a conversa foi tão fluida e natural, que eu simplesmente
esqueci disso.
Mas ele não saiu da minha cabeça! Fiquei realmente surpresa pela
forma que agiu comigo. Até cheguei a acreditar que ele só não estava
interessado, mas o seu olhar deixava claro que existia sim, um interesse.
Ele é um dos homens mais bonitos que já vi em minha vida.
Sua pele negra, o sorriso lindo, a barba muito bem cuidada… tudo
nele parecia estar perfeito, como se tivesse sido cuidadosamente calculado
para ser a porra do homem mais lindo do evento.
O mais chocante de tudo, é que ele não parecia se importar nem um
pouco se estava chamando a atenção das pessoas ou não.
E ele foi tão gentil!
Não estou acostumada com essa gentileza gratuita. Normalmente, os
homens são gentis comigo quando têm algum interesse, seja ele qual for. Ou
então se for uma pessoa que já é do meu convívio e tenha algum carinho por
mim, como o meu pai, ou o Elvis.
Foi uma boa surpresa conversar, mesmo que por pouco tempo, com
uma pessoa como ele. Mas isso só me deixou com mais vontade ainda de
conhecê-lo, descobrir quem ele é, a sua história, sua vida.
Talvez ele seja um babaca e aquilo tenha sido um surto momentâneo,
ou talvez ele tenha feito de propósito para que eu ficasse pensando nele. Mas
acho que a segunda opção é apenas a minha imaginação fértil, de quem lê
muitos livros.
Eu não tenho a mínima noção de quem ele seja e nem muito menos
como encontrá-lo.
— Estou parecendo esses mocinhos com uma pegada psicopata de
romances mais pesados! — falo sozinha e balanço a cabeça, na intenção de
afastar os meus pensamentos.
Começo a ler a história e minutos depois me vejo totalmente presa no
enredo, totalmente alheia a qualquer outra coisa que não seja as palavras
desse rascunho.
Pego uma das canetas para circular algumas partes, também anoto
algumas coisas no caderno, inclusive as partes que mais achei interessantes
até agora e vou me surpreendendo a cada página que passo.
Se nos primeiros três capítulos eu já estou tão animada, não tem
como esse livro não ser um sucesso!
Prendo o cinto mais uma vez na minha cintura, e confiro se a corda
fixada nele, que fica entrelaçada ao peso do chão, está firme.
É a última corrida do treino e eu decidi colocar mais peso,
totalizando 110.
— Você é doido! Sabe disso, né? — Christopher diz ao meu lado,
secando o rosto. — Isso é peso demais, Ash.
Eu sei que é, ainda mais para a última corrida.
Mas eu preciso bater mais um último recorde na NFL.
Já entrei para o número um de alguns recordes históricos, mas eles
nunca foram algo que almejei. O único que sempre quis desde que comecei
em um time profissional, é o de maior quantidade de jardas percorridas em
uma única temporada.
Meu objetivo é bater 3.000, e faltam pouco mais de 600 jardas para
isso.
Mas, para isso, eu preciso dar o máximo de mim. Não sei quantos
jogos ainda teremos, estamos no mata a mata. Qualquer erro mínimo nós
seremos desclassificados e já era.
— A ideia é que realmente seja muito pesado!
A lógica é bem simples: quanto mais rápido eu conseguir correr com
muito peso, melhor será para correr ainda mais quando estiver sem esse peso
extra.
Respiro fundo algumas vezes e ignoro que as minhas coxas já estão
latejando de tanto treinar.
Olho o campo à minha frente e defino o ponto mínimo que quero
chegar em até 30 segundos. Respiro fundo mais uma vez e começo a correr.
Meu corpo sente o impacto do peso e eu preciso fazer força para
manter a postura correta.
Sinto minha respiração queimar, meu peito doer e as canelas arderem
a cada vez que piso no chão, mas eu continuo até chegar ao final da quadra e
escuto os meninos gritando e rindo, o que é um bom sinal.
Desabo com tudo no chão, caindo de costas no gramado e sentindo
todo o meu corpo latejar.
— Porra, você não existe! — Calleb fala assim que chega onde eu
estou, jogando uma toalha em cima do meu rosto. — Você é uma máquina
de correr, puta merda! — diz muito animado, e isso faz com que eu sorria.
Pego a toalha que ele jogou em mim e seco o meu rosto.
— Quanto tempo? — pergunto ao Chris quando ele estende a mão
para me ajudar a levantar.
— 18 segundos!
— Até que ponto do campo?
— Até aqui, Bolt. Você fez 18 segundos, estando extremamente
fatigado, carregando 100 quilos além do seu peso em um percurso de quase
100 metros — Christopher diz, indignado. — Como você ainda não se
tornou o melhor running back da história? Inacreditável.
Tiro o cinto e me alongo rapidamente, me sentindo com as energias
totalmente renovadas, depois de saber que fui muito melhor do que pensei
que seria. Meu corpo está me surpreendendo nesses últimos tempos.
— Valeu, Chris!
Nós três vamos em direção ao vestiário, mas Gavin para na minha
frente, com aquele sorriso que me irrita, atrapalhando a minha passagem.
— Cuidado com a coluna, Asher… imagina se algo acontecesse e
você tivesse que ficar no banco?
— Não preciso que você se preocupe comigo, Gavin! — Desvio
dele, esbarro em seu ombro com o meu e ignoro as demais coisas que ele
fala.
Gavin é insuportável, um adolescente mimado no corpo de um
homem.
Ele queria ser a estrela do time, o jogador mais bem pago, uma
celebridade amada por todos, mas esse é o papel do Christopher aqui no
Gorillas, e automaticamente ele se tornou um babaca não só com o Chris,
mas também com as pessoas mais próximas dele.
E, pensando bem, acho que não tem ninguém do time que realmente
goste dele.
— Esse cara é inacreditável! — Chris resmunga.
Calleb e eu apenas concordamos, mas não falamos mais nada. Gavin
e Christopher nunca tiveram um bom relacionamento, não por causa do
Chris, que até certo tempo tentou fazer com que tivessem pelo menos uma
boa convivência, mas o center nunca colaborou para que isso desse certo.
E depois que a Hope veio trabalhar aqui, claro que o Gavin tentou
algo com ela, mas não conseguiu. Ele só ficou com ainda mais inveja
quando descobriu que ela e o Chris estavam juntos.
— Vocês estão de bobeira hoje? — Christopher pergunta quando
entramos no vestiário.
Vou até o meu armário e já pego a minha toalha, sabonete e uma
cueca.
— Hoje a minha mãe tem aula de pintura, estou livre — respondo.
— Eu estou sempre livre, irmão — Calleb responde.
— Kath me convidou para fazer uma surpresa para as crianças do
orfanato do marido dela, o que vocês acham de ir?
Christopher explica que a ideia da surpresa é mais como um
incentivo às crianças a criarem interesse por esportes e outras atividades.
Como a Kath e o Noah têm ótimas conexões, eles convidaram algumas
pessoas que podem contribuir de alguma maneira para isso.
E eu achei a ideia incrível.
— Claro, eu com certeza topo.
— Conta comigo também — Calleb diz.
Entro em um dos chuveiros e tomo um banho bem quente, tentando
relaxar o corpo que ainda está agitado com o treino puxadíssimo de hoje.
Fecho os meus olhos e deixo que a água caia sobre mim. Minha
mente na mesma hora traz a imagem da mulher que conheci no evento e o
meu corpo fica ainda mais em alerta.
Procurei por ela no Instagram, mas, nenhuma das Julie que achei, era
ela. Tentei também lembrar das pessoas que estavam lá, fui em seus perfis e
procurei nos seguidores, mas nada.
Até mesmo achei o Instagram do tal Kendrick, mas não tinha nada lá.
Foi uma busca frustrante.
Foco o meu pensamento em qualquer outra coisa que não seja ela e a
sua boca perfeita, mas acabo precisando colocar na água fria para acalmar
uma parte do meu corpo que acordou assim que a imagem dela veio à minha
mente.
Depois de alguns minutos, consigo terminar o banho, me seco, e ali
dentro mesmo, coloco a cueca e volto até o meu armário.
Ponho o restante da roupa, separo a suja para pôr no saco da
lavanderia e me despeço dos meninos, prometendo chegar no orfanato até as
7 horas, como o Chris pediu.
Vou colocando o capacete enquanto ando até o estacionamento e ao
subir na moto, dou uma olhada rápida no meu celular. Minha mãe mandou a
foto das crianças que estão no ateliê para as aulas de hoje.
Ela dá aulas de graça para crianças com câncer e que não têm
dinheiro para pagar pela atividade. Três vezes por semana, a casa fica cheia
delas, que estão repletas de esperança que conseguirão reverter o seu estado
de saúde, e elas enchem a casa de alegria.
No início, eu não conseguia nem estar perto delas sem chorar ao
descobrir o estágio de cada uma, mas com o tempo, fui me acostumando e
aprendendo muito com elas.
É incrível como lidam muito melhor que qualquer outro adulto. A
inocência e a falta de conhecimento a fundo da doença, permitem que levem
de forma mais suave.
Eu mando um coração em resposta à foto e vou para casa, querendo
chegar a tempo de falar com as crianças e me arrumar para ir ao orfanato.
Por causa do Chris, acabei conhecendo a Kathellen e o Noah, além
também de outros amigos deles, mas de uma forma muito superficial.
Chris sempre fala muito bem de todos eles, sem exceção. E agora,
vendo-os juntos, consigo entender o porquê da admiração dele.
O orfanato é um projeto em que todos se envolvem e dá para ver que
é algo que eles gostam mesmo, não vieram só pelo simples fato de virem.
Elizabeth, mãe do Noah, fez um pequeno tour conosco e nos contou a
história do Open Arms. E estar em um lugar assim me traz sensações
diferentes.
Sempre me imaginei sendo pai de algumas crianças, mas nunca
pensei em adotar.
Adotar é o maior ato de amor que os pais serão capazes de fazer
pelos filhos.
— Vamos lá para o jardim? Montamos tudo lá, assim ficamos
confortáveis e as crianças amam quando decoramos a área externa à noite —
Elizabeth diz e nos leva até lá.
O jardim está todo iluminado, tem alguns pufs no chão e várias
barracas com temas diferentes de esportes, além de outras atividades
educacionais e de entretenimento.
Assim que algumas crianças nos veem e nos reconhecem, elas se
agitam e algumas correm até a gente.
Fizemos questão de vir com nossas camisas do time. Também
trouxemos algumas bolas autografadas, bonés e outros itens que ficaram no
carro do Christopher e no do Calleb.
Me abaixo para falar com elas, recebo alguns abraços e uma das
meninas agarra o meu braço e não solta mais.
Eu me levanto e a coloco em meus ombros, segurando-a pelas costas
para que não caia. Ela solta uma gargalhada quando começo a me balançar,
fazendo o grito de guerra do Gorillas.
Depois, coloco-a novamente no chão e vou até a barraca onde os
meninos e a Hope estão.
— Eu quero ser running back quando crescer! — um menino, que
aparenta ter uns 7 anos, comenta assim que me vê, com os olhos brilhando.
— Eu adoro correr, a tia Ana até briga comigo porque eu corro pelos
corredores.
— Mas dentro de casa não pode correr… imagina se você se
machuca? Um running back não pode se machucar! — falo para ele, que me
olha atento. — Se você me prometer que não vai mais correr dentro de casa,
eu venho aqui alguns dias te ensinar tudo o que precisa saber para ser o
melhor corredor da história.
— Melhor que você? — me pergunta e eu concordo. — Prometo que
não corro mais em casa, nunquinha!
Ele diz isso e já sai correndo até os outros amigos para contar o que
falei.
Eu amo crianças, isso é um fato. Elas conseguem tirar o melhor de
mim e sempre me sinto mais leve quando estou perto delas.
— Como eu faço para conseguir ter algumas aulas com você? — Na
mesma hora que eu escuto a voz, penso que é o meu cérebro me pregando
uma peça.
Mas eu me viro e vejo a Julie sorrindo, em uma versão muito
diferente da que eu vi no evento do final de semana.
— Minha mãe costuma dizer que o mundo é muito pequeno! — digo.
— Mas eu prefiro acreditar que o Universo está sendo generoso comigo!
Ela abre um sorriso ainda maior.
— Eu acho que o Universo está sendo extremamente generoso.
Me afasto dos meus amigos, que já estavam olhando com curiosidade
para nós dois. Acho que ela também percebeu, porque sem falar nada,
apenas me acompanha para um pouco mais longe deles.
— Quais as chances de nos encontrarmos logo aqui? Você é amiga de
algum deles? — Aponto para a direção que está a Kath e todos os seus
amigos.
— Ah, não! Eu até conhecia alguns deles de uns eventos, mas eu vim
a trabalho. — Ela vira para o outro lado e aponta para a barraca cheia de
livros. — Trabalho em uma editora e a minha patroa é cliente do Barbieri.
Ele contou sobre o projeto e ela quis participar.
— Você trabalha em uma editora? — Ela confirma. — Isso parece
ser incrível! Introduzir o hábito de leitura nas crianças também é algo muito
importante, que na maioria das vezes acaba sendo algo esquecido.
— Eu penso da mesma forma! — Passa a ponta dos dedos na franja,
arrumando-a. — Então, você é jogador de futebol americano, Asher
Murphy?
Ela coloca um pouco mais de ênfase ao falar o meu nome, e isso me
deu um leve arrepio na espinha.
— Como você sou… ah, minha camisa, claro! — Ela concorda e ri.
— Agora acho que seria justo eu também saber o seu, porque já sei que não
é Julie. — Franze a testa, sem entender. — Eu ouvi o seu ex te chamar assim
— explico.
Ela dá uma rápida revirada nos olhos e ainda assim continua linda.
Merda! Que mulher perfeita, que saco!
— Juliana! — Estende a mão para mim. — Prazer, finalmente.
Seguro a sua mão e sinto um arrepio que ouriça todos os pelos do
meu corpo, mas o contato é tão bom que acabo demorando mais do que
deveria para soltá-la.
— Faz sentido…
— O quê?
— Vamos supor que eu possa ter procurado por você no Instagram,
mas não achei pelo nome Julie — explico e novamente ela sorri de um jeito
meigo, destoando totalmente da mulher fatal que é.
— Acho que quase ninguém me chama de Juliana, porque não é um
nome comum aqui e lá em casa sempre pronunciamos como os brasileiros, já
que meu nome é em homenagem a minha avó materna — conta. — A
pronúncia confunde um pouco as pessoas, então desde nova optei por
Julie… Mas, então você procurou por mim no Instagram, posso saber por
quê?
Uma coisa que percebi sobre ela, mesmo sendo a segunda vez que a
vejo, é que é uma mulher direta, que não fica de rodeios com o que deseja
falar.
Isso é um ponto muito positivo.
— Porque eu me odiei por não ter perguntado o seu nome e também
por não ter arriscado em pedir o seu número!
— O meu nome você já sabe… — Me encara com o seu olhar afiado,
mas é a sua boca entreaberta que chama a minha atenção. — E eu também
posso te dar o meu número, mas…
— Julie, você pode ajud… ah, oi! — Uma mulher se aproxima da
gente para falar com ela, e seu olhar constrangido denuncia que percebeu
que interrompeu algo além de uma conversa. — Hum, desculpa. Vou pedir
ajuda a outra pessoa!
Julie solta uma risadinha, antes de falar:
— Tudo bem, Angel. O que você precisa?
— Tem 60 caixas com os livros infantis que eu comprei de outra
editora para as crianças, vamos precisar de toda ajuda possível — diz e já me
encara, em especial os meus braços. — Alguma chance de você nos ajudar
também?
— Claro! — digo e em seguida assobio, chamando a atenção do
Chris e do Calleb, que já o reconhecem. Faço um sinal com a cabeça para
eles virem até aqui e explico o que temos que fazer.
A mulher, que depois se apresentou para a gente como Angelina, é
dona da editora onde a Julie trabalha, e nos levou até uma van, que estava
com as 60 caixas cheias de livros e nós começamos a levar até a biblioteca
do orfanato.
Jacob, Noah e Barbie também nos ajudaram.
Os demais ficaram com as crianças, tentando distraí-las da
curiosidade de ver o que estávamos fazendo.
Perdi as contas de quantas voltas dei e quantas caixas trouxe aqui
para dentro, mas faço uma parada quando a esposa do Jacob aparece com
uma bandeja e vários copos de água.
— Eu estava precisando disso! — Pego um dos copos e viro na
mesma hora. — Deve ter uns 100 livros em cada caixa para pesar tanto.
Ela ri ao me ouvir e oferece mais um copo, que eu também pego no
mesmo segundo.
— Dei uma olhadinha no que tem dentro e realmente são muitos
livros! — diz e espera os outros também beberem tudo para encher
novamente os copos. — Vocês estão sendo muito gentis em ajudar e não
estou falando só de carregar todas essas caixas… as crianças daqui são todas
muito especiais e nós tentamos realmente ser um lar para elas.
A energia desse orfanato realmente é diferente de qualquer outro que
eu já tenha visitado. Tanto que a gente vê isso refletido nas crianças, que são
amorosas entre elas e também com as demais pessoas.
— Essas crianças levarão todos vocês no coração até o último dia
delas na Terra! — digo a ela, que sorri, com os olhos lacrimejando.
— E todas elas marcam nosso coração de algum jeito.
Emma volta até a cozinha depois de tentar disfarçar as lágrimas que
escorreram sutilmente dos seus olhos e eu volto a carregar as caixas que
ainda faltam.
Juliana e eu nos encaramos todas as vezes que passamos um pelo
outro, e eu me sinto um adolescente paquerando no intervalo das aulas,
apenas encarando de longe, sem falar nada.
— Vocês foram incríveis! — Angelina diz quando terminamos,
arrumando a última caixa nas pilhas que fomos fazendo. — Obrigada, gente.
Saio da biblioteca quando eles começam uma conversa aleatória que
não me interessa muito, e sinto as minhas costas doerem um pouco de tanto
ficar me abaixando para pegar as caixas.
A mãe do Noah programou um jantar para todos os convidados e a
equipe do buffet está começando a arrumar tudo lá fora. Aproveito esses
minutos antes do jantar para encontrar um lugar mais tranquilo e ligo para a
minha mãe.
— Oi, querido, tudo bem aí? — diz assim que me atende.
— Tudo sim, mãe! Você teria amado vir aqui, o projeto é muito legal.
— Com certeza irei em uma próxima vez… talvez eu leve alguns
pincéis e tintas.
— Vou falar com a Elizabeth, tenho certeza que ela toparia uma
atividade assim com as crianças daqui.
Nós nos falamos rapidamente e eu confirmo se ela realmente não está
precisando de ajuda com as crianças, mas têm duas mães que ficaram lá e a
estão ajudando.
— Amo a senhora, mãe! Qualquer coisa me liga, beijos. — Espero
que ela se despeça e depois desligo.
Depois de colocar o celular no bolso, decido voltar lá para baixo e
continuar a minha conversa com a Juliana. Não tenho a intenção de perder
mais uma oportunidade com ela.
— Merda, merda, merda! — Escuto assim que saio do cômodo em
que estava e vejo a Juliana tentando limpar a blusa branca que está usando.
— Precisa ser tão desastrada assim, Juliana?
É engraçado vê-la irritada com ela mesma.
— Precisa de ajuda? — pergunto ao me aproximar.
Ela levanta a cabeça e eu vejo que além da blusa, sua bochecha
também está suja.
— Você por acaso teria uma blusa no bolso para me emprestar? —
Estica o corpo o suficiente para que eu veja a enorme mancha de molho. —
Eu esbarrei em uma das cozinheiras que estava com um vidro de molho! E o
estrago nela foi bem maior — bufa, irritada.
Tento pensar em algo para ajudá-la e lembro de uma coisa.
— Não é a roupa mais interessante de se usar, mas eu tenho uma
outra camisa do Gorillas no meu carro. — Ela arregala os olhos ao me ouvir,
e não entendo o que isso significa. — Também tenho uma camisa social que
ganhei ontem de uma fã, mas ficou muito pequena.
— A camisa social seria ótima! — diz. — Posso ir até o seu carro
com você? Assim ninguém precisa ver que estou toda suja!
Rio e concordo, mas antes de sairmos do corredor, me aproximo mais
e passo o polegar em sua bochecha, tirando o molho que a sujou.
— Obrigada, Asher — diz, me olhando de baixo pela nossa diferença
de altura. — Você deve estar pensando o que houve com a mulher que
conheceu no evento e quem é essa na sua frente.
— Olha, estou pensando em muitas coisas e você passou longe de
acertar. — Eu deveria ter me afastado dela, mas continuo perto. E queria
estar ainda mais perto. — Mas tem uma coisa se repetindo em meus
pensamentos.
Seus olhos verdes se fixam em mim, ansiosos por uma resposta.
— E o que é essa coisa?
— Que você é linda… linda de uma forma que me deixa sem jeito,
sem saber como reagir e tendo que pensar algumas vezes antes de falar, para
não acabar falando nada de errado.
Suas bochechas dão uma leve corada quando me escuta e seu sorriso
ganha um brilho diferente.
— Não lembro a última vez que um elogio me deixou sem graça…
mas é de uma forma positiva! — diz e vejo o momento em que seu olhar
desce para a minha boca. Durou poucos segundos, mas o meu corpo
esquentou com a mínima possibilidade de um beijo. — E se eu te contar que
fiquei pensando em você esses dias, empatamos?
Me aproximo mais dela, quase encostando o meu corpo no seu. Suas
mãos tocam os meus braços e novamente sinto como se tivesse tomado um
choque leve, que não é forte o suficiente para doer, mas tem a potência de
deixar todo o meu corpo em alerta.
— Eu sou um homem competitivo, Julie! Não gosto de empates…
— Eu também não! Como iremos resolver isso? — Ela gosta de
provocar, outra coisa que também já notei. E eu normalmente não gosto de
ser provocado, mas por ela, está sendo algo extremamente interessante.
No exato momento em que eu seguro a sua cintura com as duas
mãos, escutamos alguém subindo com uma criança chorando. Nos afastamos
como se estivéssemos fazendo algo errado.
Juliana solta uma risada e eu fico apenas indignado em como sempre
tem algo para atrapalhar.
— Tudo bem com vocês? — Ana, uma das senhoras que trabalham
aqui no orfanato, nos pergunta quando nos vê.
Nós respondemos que sim e Juliana explica sobre o acidente com o
molho. Ana até oferece uma blusa para ela, mas para a minha sorte, ela diz
que já tem outra para pegar e agradece.
Vamos até o meu carro, estacionado bem na frente da casa, e abro a
porta de trás para pegar a sacola com a minha camisa.
— Vai ficar bem grande, mas acho que é melhor do que ficar com
essa suja de molho — digo e entrego para ela, que coloca a camisa na frente
do corpo e confere que realmente ficou enorme.
— Tudo bem, eu consigo dar um jeito! — Julie olha ao redor, vendo
se tem mais alguém na rua. — Vou trocar aqui mesmo! Você vigia para
mim?
Deus… isso é um teste?
Apenas faço que sim com a cabeça, abro também a porta da frente,
fazendo meio que uma cabine para ela e fico de costas, tampando a única
parte que não tinha nada para protegê-la.
Ouço a sua risada baixinha e o barulho da roupa enquanto se troca.
E é um inferno que não demora nem 2 minutos, mas foi tempo o
suficiente para ficar pensando que ela ficou apenas de sutiã e deve ser uma
cena linda de ver.
— Prontinho, grandão!
Me viro e ela ainda está abotoando os últimos botões de cima.
Eu vi um pouco da renda do seu sutiã, o que não é nada demais, ou
pelo menos não deveria ser. Mas a mulher é a porra de uma obra de arte e
está deixando a minha cabeça enlouquecida.
Isso não é normal, que loucura!
— Ficou bem melhor em você do que ficaria em mim! — Ofereço a
ela uma sacola para guardar a sua blusa manchada e ela aceita.
Fecho as portas do carro e depois as travo, guardando a chave
novamente em meu bolso. Juliana termina de se arrumar, tentando fazer com
que a camisa não fique tão grande, e eu assisto, surpreso em ver que ela
realmente conseguiu deixar razoavelmente boa em seu corpo.
— Aprovado? — Dá uma voltinha para que eu veja.
— Aprovadíssimo… fica com ela para você!
— Tem certeza? Foi um presente de uma fã.
— E eu sou grato a essa fã por ter tido como te ajudar.
— Você é realmente uma pessoa interessante, Asher… mas parece
que o Universo talvez queira que sejamos só amigos.
Eu ergo uma sobrancelha ao ouvi-la.
— Por que você acha isso?
— Sempre tem alguma coisa para atrapalhar que fiquemos à sós.
Olho ao redor e não tem mais absolutamente ninguém na rua além de
nós dois. Isso me faz acreditar que talvez só não fosse o momento, ainda…
pelo menos, até agora.
— Vamos descobrir então se isso é verdade!
Coloco a minha mão em sua nuca, trago o seu rosto com cuidado de
encontro ao meu e finalmente a beijo.
Sinto os lábios do Asher grudarem aos meus e eu não estava
preparada para a sensação gostosa que tomou conta de todo o meu corpo
nesse primeiro contato.
Eu tinha toda certeza que ele me beijaria de forma delicada ou até
mesmo cuidadosa, mas a sua boca devorou a minha no mesmo instante que a
tocou, e eu não poderia ter gostado mais disso.
Seguro em um dos seus braços e encaixo a minha outra mão em sua
nuca, igualmente como fez comigo. Aproveito para passar minhas unhas de
leve naquela região, sentindo o corpo dele se arrepiar no mesmo instante.
Asher faz com que eu ande para trás, encostando as minhas costas
em seu carro e colando o seu corpo no meu.
Consigo sentir cada definição do seu abdômen e seus dedos afundam
em minha cintura. Ele me levanta um pouco, fazendo com que eu fique na
ponta dos pés e me beija com ainda mais vontade.
Sua língua é macia e seus lábios grossos engolem os meus.
Passo a mão em um dos seus braços, querendo sentir mais dele, que
parece querer o mesmo, enquanto me toca com a sua mão enorme em vários
lugares.
Nossas respirações se misturam entre o beijo, mas nenhum dos dois
têm coragem de parar nem para respirar direito.
Porém, um farol alto que passa pela rua faz com que nos afastemos
um pouco, apenas o suficiente para nos encararmos por alguns segundos,
antes de ele dar alguns passos para trás.
Na mesma hora, sinto vontade de puxá-lo para perto e terminar esse
beijo dentro do carro, mas isso seria loucura demais.
— Não sei se você está tão certa sobre o que falou ainda há pouco.
Eu preciso de alguns segundos para entender sobre o que ele está
falando.
— Isso ainda não foi o suficiente para que eu tenha certeza que o
Universo não quer nos atrapalhar. Vou precisar testar mais algumas vezes!
— Ele sorri de um jeito malicioso, mas sutil. — Talvez você não seja tão
cavalheiro assim, Asher… não é assim que se beija uma dama — brinco.
— Pelo que eu aprendi em Bridgertons, acho que deveríamos
primeiro casar e depois nos beijar! — fala e para na minha frente. Do nada,
começa a se abaixar, como se fosse ajoelhar e eu sinto o infarto tomando
conta do meu corpo aos poucos, mas ele para no meio do caminho e ri alto.
— Acho melhor nada de casamento!
Deus… eu me assustei de verdade.
Mas assim que o susto vai embora, uma gargalhada toma conta de
mim, fazendo o meu corpo todo tremer.
— O que eu já sei sobre você te vendo pela segunda vez… você é
extremamente gentil, um gostoso, beija muito bem, tem senso de humor e já
assistiu uma das séries que eu mais gosto! — digo, depois de conseguir
controlar a risada. — Pode me emprestar o seu celular, por favor? —
pergunto.
Obviamente, ele fica confuso com o meu pedido, mas não se opõe e
me entrega o aparelho já desbloqueado.
Ele simplesmente nem pestanejou, apenas me entregou sem ter noção
do que eu faria.
Gostei disso.
Digito o meu número e salvo apenas como Julie.
— E o que eu sei sobre você é que é uma mulher muito direta,
divertida, gostosa em um nível muito perigoso e beija muito bem… bem a
ponto de eu querer novamente! — A voz dele foi ficando mais rouca a cada
item que ia falando, e se a minha calcinha não tinha ficado encharcada antes,
agora, com certeza ficou.
— Você tem o meu número agora! — Entrego o celular para ele, que
confere o contato que aparece na tela e depois guarda o aparelho no bolso.
— Adoraria vê-lo sem me preocupar com alguém aparecendo e nos
atrapalhando.
Ele concorda e depois esfrega o rosto e a cabeça, como se estivesse
nervoso.
— Porra, Julie! Você é direta demais…
Eu rio da sua reação e nós voltamos para onde todos estão, tentando
soar o mais inocentes possível, mas o olhar afiado de um dos amigos dele, o
Christopher, deixa claro que ele sabe muito bem que aconteceu algo.
— Eu vou ajudar a Angelina lá dentro, ela deve estar tentando
separar os livros para facilitar tudo para a Ana e a Elizabeth — digo quando
paramos, prontos para cada um ir para um lado. — Obrigada pela camisa…
foi um ótimo pretexto para conseguir uns minutos sozinhos! — Pisco e
depois me afasto.
Ouço a risada dele ao longe e corro até o banheiro, me sentindo meio
boba, como se tivesse acabado de dar o meu primeiro beijo.
Encaro o meu reflexo no espelho e fico grata por não ter usado batom
vermelho hoje. Tento arrumar melhor a camisa dele, solto o meu cabelo que
estava com a parte de cima presa e ajeito a minha franjinha.
A boca avermelhada não nega que acabei de beijar alguém e eu tento
me lembrar de um beijo que tenha gostado tanto.
Para a minha sorte, a maioria dos homens que beijei faziam um
ótimo trabalho, alguns foram capazes de marcar o suficiente para eu querer
repetir a dose, mas… sei lá! Acho que por mais que eu estivesse muito a fim
do Asher, não esperava que fosse rolar mesmo ou que seria tão bom.
Meu cérebro deu pane, na verdade.
Sinto o meu telefone vibrar no meu bolso e assim que tiro, vejo o
nome do meu pai brilhar na tela e o atendo na mesma hora.
— Querida, você quer uma carona? Sua mãe falou que você estava
perto de onde tive a reunião! Estou saindo agora, posso te buscar aí.
Uma carona seria incrível, e com sorte, eu o convenceria de entrar
para conhecer o projeto e as… MERDA!
Ele não pode vir aqui de jeito nenhum! Não enquanto o Asher ou o
pessoal do Gorillas estiverem, isso não daria em boa coisa.
— Não precisa, pai! A Angelina vai me dar uma carona. — Isso não
é uma mentira, ela realmente disse que me deixaria em casa se eu ficasse até
a hora que fosse embora. — Ainda vou jantar e acredito que em umas duas
horas chego em casa.
— Tudo bem, então. Qualquer coisa me liga! Beijos, querida.
Meu pai desliga e sinto o meu coração agitado feito uma britadeira.
Eu fiz merda!
Uma merda das grandes, gigantesca!
Eu fiquei com o running back do maior adversário do time do meu
pai.
Não tinha noção de quem ele era até vê-lo com os outros dois
jogadores e com a camisa do time. Na mesma hora, joguei no Google e vi
que era ele, o que justifica eu ter achado o seu rosto meramente familiar no
evento.
E ao descobrir isso, eu deveria tê-lo evitado a todo custo, não ter ido
até ele, como fiz. E nem muito menos tê-lo beijado ou passado o meu
número.
O que eu estou fazendo da minha vida?
Se meu pai descobre, ele não conseguiria me matar porque o seu
coração pararia antes, apenas por causa disso. Uma das poucas coisas que
pede para que eu não faça é me envolver com alguém de outro time… Até
mesmo do time dele, caso acontecesse, ele não se sentiria tão traído do que
com um adversário!
E não é qualquer adversário… é o Gorillas!
— Jon, isso está SEN-SA-SI-O-NAL! — falo pausadamente, assim
que entro em sua sala e ele sorri orgulhoso, arrumando o óculos no rosto. —
Tem uma coisa ou outra que acho que se alterar vai deixar ainda melhor, mas
nada com a história em si, só talvez a troca de umas palavras, a inclusão de
mais ênfase em outras.
Ele se levanta e pega o rascunho que havia me dado, que agora
contém várias anotações, post its e reações.
— Uau… você marcou bastante coisa!
— Não se preocupe, a maioria delas foi das coisas que eu achei
muito boas.
Ele folheia as páginas e depois coloca em cima da mesa.
— Eu tenho mais alguns capítulos aqui. — Vai até a impressora e
reúne as folhas que estavam ali, grampeia todas juntas e me dá. — Tem o
primeiro beijo e também a primeira cena de sexo do casal.
Era exatamente disso que eu precisava, cenas de sexo!
Meu corpo está mais sedento do que o normal, e eu não transo há
algumas semanas. Meus vibradores estão sendo usados todos os dias, às
vezes até mais de uma vez.
Preciso passar no sex shop, inclusive.
— Acho que vou ler essas páginas em casa, então… — digo e ele ri,
mas concorda.
— É uma boa ideia! Acho que é a cena de sexo mais picante que eu
escrevi até hoje.
Jon havia me falado que uma das partes em que mais estava receoso
era o sexo do casal no livro. Os últimos que lançou, publicados através de
um pseudônimo por causa do seu antigo trabalho, não tinham cenas picantes
descritas, mas ele se arriscou em um conto e deu muito certo.
Porém, Jonathan ainda está inseguro, porque está escrevendo para o
público feminino.
Confesso que estava muito animada para chegar nessa parte, pois
tudo o que ele escreveu até agora está muito bom. Se as cenas eróticas forem
tão boas assim, tão intensas quanto as interações do casal que ainda nem se
beijou, esse livro vai ser um estouro.
Será a primeira vez que ele publicará como Jonathan e eu estou
fazendo o máximo que posso para ajudá-lo a fazer deste livro uma obra-
prima.
— Provavelmente lerei tudo hoje e amanhã já venho com as minhas
anotações!
Saio da sua sala e vou até a minha, só para arrumar as minhas coisas
para ir embora.
Angel nos dá a liberdade de trabalhar de casa, já que o que fazemos
também pode ser feito fora do escritório. E isso é bom, nos dá uma
autonomia maior. Mas, tirando o fato de preferir ler cenas eróticas
acompanhada de um vibrador, o restante do trabalho eu prefiro fazer aqui.
Além de ser um lugar com uma ótima energia, eu estou amando
conhecer e fazer amizade com alguns funcionários.
Ontem mesmo, conheci a filha do Jon e ela é uma criança linda,
inteligente e educada. Eu também acabei descobrindo a história da mãe dela,
que faleceu enquanto dava à luz.
Não consigo imaginar como deve ter sido difícil para ele, o turbilhão
de sentimentos entre a morte da esposa e o nascimento da sua filha, além da
ausência materna na vida da garotinha linda, que adorou a decoração mais
puxada para o rosa da minha sala.
Pego as minhas coisas, coloco tudo dentro da bolsa e me despeço das
meninas antes de ir embora no primeiro táxi que aparece quando saio da
editora.
Me distraio com a rua e um outdoor me chama a atenção, com o
anúncio de um jogo dos Gorillas e, pela milésima vez no dia, lembro da
incrível burrada que fiz.
Para a minha sorte, o Asher não me mandou mensagem e eu deveria
estar feliz com isso, assim eu não teria que ignorá-lo. Mas a verdade é que
estou incomodada, e desde o dia do orfanato, toda vez que o meu celular
vibra, eu acho que é ele.
Não faz sentido nenhum eu estar me sentindo assim, foi só um beijo.
Um beijo muito bom, que me proporcionou muitos sonhos quentes e
momentos incríveis com os meus vibradores… mas ainda assim foi só um
beijo. Eu não deveria estar tão interessada nele.
Até procurei-o pelas redes sociais, mas só encontrei as páginas que
os fãs clubes dele fazem. Provavelmente o seu perfil é privado, com um
nome diferente, que não dá para saber que é ele.
EU NÃO DEVERIA ESTAR PROCURANDO POR ELE OU
ESPERANDO QUE ELE APAREÇA.
O que eu tenho na cabeça, meu Deus?
O taxista para na portaria do condomínio onde moro, digito a senha
para liberar a nossa entrada, e vou mostrando o caminho a seguir.
O condomínio é quase um bairro inteiro de tão grande, tem até uma
parte de comércio aqui dentro, facilitando a vida de quem não quer ter que ir
longe para comprar algumas coisas. Dando uma segurança maior às pessoas
famosas que moram aqui e não querem sair em notícias sensacionalistas.
— Obrigada! — Pago pela corrida, deixo o troco para ele e saio do
seu carro, indo em direção às escadas para a porta principal da mansão dos
meus pais.
A casa é uma das maiores do condomínio e já foi até para uma
revista de renome na área de imóveis e decorações. É o orgulho da minha
mãe, que faz de tudo para mantê-la perfeita.
Eu sempre achei grande demais para apenas três pessoas, mas temos
tantos funcionários, que sempre tem alguém em algum cômodo.
— Chegou cedo, meu amor! — minha mãe diz, assim que entro e a
encontro mexendo nas flores de um dos vasos do hall de entrada. — Como
foi o dia?
Vou até ela e beijo a sua bochecha.
— Foi ótimo, como tem sido todos os dias. — Roubo uma das flores
que estava mexendo e coloco na minha orelha. — E você, conseguiu
resolver as coisas da viagem?
Ela respira fundo ao me ouvir falar da viagem e seus ombros caem
um pouco.
— Está complicado, Julie. — Termina de mexer no vaso e nós vamos
até a sala, onde sentamos em um dos sofás. — Sabe que seu pai não se dá
bem de jeito nenhum com a família dele, mas a sua avó…
— Está morrendo, eu sei — termino por ela.
Meu pai é o que as pessoas costumam chamar de filho bastardo, ou
seja, um filho feito fora do casamento. Meu avô, que já faleceu e era a única
pessoa que eu gostava daquela família, traiu a minha avó com a empregada.
A coisa mais clichê possível.
E a esposa dele, que não é a minha avó de verdade e adora deixar
isso bem claro, não deixou que ninguém de fora soubesse que o papai era
fruto de uma traição e finge que é a mãe dele.
Meu avô tinha incontáveis amantes, mas a minha avó não se
importava, desde que ele não tivesse filhos com nenhuma outra além dela.
A situação é complicadíssima.
Os meus avós são de uma família muito poderosa em Dubai,
envolvidos em política e muitas outras coisas que a gente finge que não sabe.
O meu pai é o filho mais velho, deveria ter sido o sucessor do meu avô, mas
é claro que a minha avó nunca permitiria tal coisa, e por conta disso, papai
veio para NY quando completou 18 anos.
Conheceu minha mãe pouco tempo depois e se casaram após alguns
meses em uma viagem a Las Vegas. Só depois do casamento, minha mãe
apresentou os pais dela a ele.
Meu pai me contou que pensou que fosse alguma brincadeira de mau
gosto, pois a mulher com quem havia se casado e comia cachorro-quente de
1 dólar na barraquinha com ele, era filha de um casal muito rico, assim como
os pais dele.
A viagem a Las Vegas foi paga por ela, mas ela disse que ganhou o
dinheiro em um concurso de beleza.
Eu amo a história dos dois e amo ainda mais que meus avós maternos
sempre foram incríveis e acolheram o meu pai como filho deles. Também
foram eles que o apoiaram financeiramente quando quis arriscar em abrir o
seu próprio negócio.
E deu muito certo!
Hoje, meu pai está na lista dos homens mais ricos do mundo e ainda
assim, não deixou o dinheiro mudá-lo. É uma das pessoas mais incríveis que
eu conheço!
— Eu sei que Dubai não é mais um lugar que ele gosta de ir desde
que o pai morreu, mas nós sabemos que toda a família virá atrás dele por
causa da herança e toda a parte burocrática.
— Mas ele não quer nada que venha deles, mãe.
— Eu sei, querida. Porém, o seu avô colocou no testamento que
depois da morte da sua avó, Jayden seria o sócio majoritário da empresa.
Deixo que as minhas costas se choquem no sofá e bufo.
Por que o vovô faria isso? Não faz sentido! Ele sabia que o meu pai
não queria nada e se por um acaso mudasse de ideia e aceitasse, sua vida
seria um inferno.
— Vou conversar com ele, mãe! Acho que consigo convencê-lo.
Ela sorri de forma doce e concorda.
— O que você não pede que ele não faz, meu amor? — pergunta de
forma retórica. — Você é a vida do seu pai, ele te ama mais do que ama a si
próprio. E eu não poderia me sentir mais realizada por conta disso.
Isso faz com que eu me sinta uma traidora por ter ficado com o
Asher.
Definitivamente, isso não vai se repetir, de jeito nenhum.
Viro as carnes que estão na churrasqueira e depois coloco a espátula
no suporte, antes de ir até a cozinha para pegar o purê de batatas e a salada
que fiz mais cedo para acompanhar o churrasco.
Não sou o melhor cozinheiro e faço poucas coisas na cozinha, mas se
tem uma coisa que eu mando muito bem é no churrasco e em seus
acompanhamentos.
Depois que a minha vida e a da minha mãe mudaram, tive que
aprender muitas coisas para conseguir ajudar em casa. Inclusive na pior fase
do tratamento, em que ela ficou muito fraca e mal conseguia ir ao banheiro
sozinha.
Aprendi a cozinhar, arrumar a casa decentemente e também tive que
aprender a ter cuidado com a minha mãe, em vê-la mal e suportar o meu
sofrimento para não sobrecarregá-la ainda mais, a dormir ao lado dela e ter o
sono bem leve para que qualquer coisa que acontecesse, eu ouvisse e
pudesse ajudá-la.
Nós normalmente não tínhamos dinheiro para churrasco. Mas,
quando comecei em um emprego que me pagava melhor, juntava o máximo
de dinheiro possível e sempre que alguma vitória acontecia, eu dava um jeito
de comemorarmos.
Restaurantes eram algo fora da nossa realidade, então aprendi a fazer
churrasco com carnes mais baratas e que muitas vezes nem eram usadas para
tal coisa. E hoje, posso me dar ao luxo de escolher o que eu quiser,
independente do valor.
— Isso está com uma cara ótima! — Hope comenta quando começa a
me ajudar com a mesa, arrumando os talheres e copos. — Tem certeza que
isso tudo de comida é só para nós sete? A Claire nem conta, na verdade.
Nós dois olhamos na direção da filha deles quando ela toca em seu
nome.
A nossa garotinha começou a andar há algum tempo e mesmo que
não tenha muito equilíbrio, ela anda o tempo todo, cai, levanta e anda mais
um bocado.
— Eu te garanto que não vai sobrar nada! — digo, sabendo que os
meus amigos se empolgam quando eu faço churrasco e comem muito mais
do que o normal.
Ela ri, porque sabe que é verdade.
— A sua piscina sempre teve essa proteção? — Christopher pergunta
quando chega perto da gente com a Claire em seu colo. — Eu tenho certeza
que já pulei nela algumas vezes e não lembro de nada no caminho.
— Não, uma equipe veio aqui colocar no início de dezembro —
explico. — Agora eu tenho uma afilhada de 1 ano e não quero que a casa
seja perigosa para ela.
Tanto Hope quanto ele me olham surpresos e abrem aquele sorriso
que os pais sempre destinam a quem preza pelos seus filhos.
— Claire tem sorte de ter você e o Calleb como padrinhos dela! —
Chris diz. — E é ótimo saber que a casa está segura, qualquer dia a deixarei
aqui para tentar fazer mais um filho.
— Christopher Galanis! — Hope o repreende, com o rosto tão
vermelho que parece que vai explodir. — Primeiro: não pense que vai
colocar um filho dentro de mim tão cedo! E segundo: pare de me fazer
passar vergonha.
Eu rio deles e volto para a churrasqueira, conferindo tudo.
Pego a travessa para colocar o milho e os legumes assados, ponho na
mesa e volto para tirar algumas carnes e cortá-las para podermos almoçar.
Minha mãe sai de casa de braços dados com a Bee, e pelos olhos
avermelhados dela, acredito que tenha contado a sua história.
Poucas pessoas sabem tudo o que ela passou, e quem ouve a história,
sempre se emociona, porque tudo que aconteceu em sua vida foi muito
intenso e demais para uma pessoa só.
— O cheiro estava nos matando lá dentro! — mamãe diz ao ver a
mesa toda posta. — Vocês deveriam vir almoçar aqui todo final de semana,
adoro quando o Ash faz churrasco.
Todos nós nos sentamos, e eu preciso segurar uma risada quando
Calleb espera Bee sentar para ficar o mais longe possível dela.
Tenho quase certeza que vi os dois em uma pequena discussão mais
cedo, perto da piscina. Eu nem sabia que eles tinham voltado a se falar, mas
pelo visto durou pouco tempo.
— Vem cá, minha princesa! — Eu roubo a Claire do colo do
Christopher e a coloco sentada em uma das minhas pernas. — Fiz um filé de
frango para você, está uma delícia.
Ela me olha sem entender nada, mas solta um risinho gostoso e
começa a mexer na minha barba, como costuma fazer.
Coloco um pouco de comida para ela no meu prato e vou dando
devagar, em porções pequenas, enquanto ela vai brincando com o meu
relógio, cordão e a parte rasgada da minha calça.
— Como os seus pais estão, Chris? — minha mãe pergunta ao meu
amigo. — Precisamos marcar outro encontro com eles!
— Eles com certeza irão adorar vê-la novamente! Vou te passar o
número deles, assim vocês se comunicam melhor.
Claire come toda a comida do prato e eu ainda dou mais alguns
pedaços de frango na sua mão, deixando que ela coma sozinha e se lambuze
toda.
— Trouxe outra roupa para ela, né? — Lembro de perguntar à Hope,
só depois de ela ter se sujado toda, mas para a minha sorte, ela concorda.
Coloco mais comida no prato, mas dessa vez para mim. Calleb pega
a afilhada do meu colo, para que eu coma sem me distrair com ela.
— Asher… — Christopher me chama com um tom de voz que eu sei
que vem merda por aí. — Lá no orfanato, aquele dia que nós fomos… —
arregalo os olhos para ele, querendo que não fale nada de mais —, …você já
conhecia aquela mulher?
— Que mulher? — mamãe pergunta, sem conter a curiosidade.
— Juliana, mãe. A senhora não conhece! É uma amiga recente, que
eu conheci em um evento — explico e ela fica me observando com os olhos
semicerrados e provavelmente imaginando um monte de coisa.
Vejo a Hope sussurrar algo para o Chris, provavelmente tentando
fazer com que ele cale a boca, mas o infeliz gosta de perturbar e nem ela é
capaz de controlá-lo.
— Ah, sim! Imaginei que vocês se conheciam, porque teve uma hora
que eu estava indo lá para fora na intenção de ir até o meu carro pegar uns
bonés e eu vi você… ajudando-a! — Largo os talheres ao lado do prato e
respiro fundo. — Ela estava engasgada? Não sabia que você fazia respiraç…
— Jogo o guardanapo na direção dele, o que o faz rir, interrompendo o que
iria falar.
O quão a Claire ficaria traumatizada em ver o padrinho afogando o
pai?
— Você tá vendo coisa demais, Christopher — respondo.
— Tem certeza? Bom… talvez eu esteja precisando usar óculos.
— Vou te falar o que você tem que usar.
Ele ri e se levanta, recolhendo as coisas sujas da mesa junto com a
Bee, mas evitando a todo custo chegar perto de mim.
— O que tem demais, querido? — mamãe pergunta. — Você é um
homem lindo e muito famoso. Imagino que deva ter muitas pretendentes por
aí.
— Não tenho, mãe.
— Ah, tem sim! — Hope diz, com uma mão na cintura. — Não tem
um santo dia que eu não receba mensagens de mulheres perguntando sobre
você e o Calleb. TODO. SANTO. DIA. — Ela pega a garrafinha de água da
Claire e entrega ao Calleb, que ainda está com ela em seu colo. — Você
finge que não as vê em todos os cantos!
— É verdade, Audrey — Bee confirma. — Umas amigas
descobriram que eu o conheço e quase imploraram para que eu arrume uma
maneira de fazer um encontro entre eles acontecer.
Isso é um pouco de exagero.
Realmente vejo algumas mulheres interessadas em mim, já me
envolvi com uma ou outra, mas sempre parece que tudo é muito sem
emoção.
Também não vejo motivo para compartilhar tal coisa com a minha
mãe.
— Querido, você tem que aproveitar! A mulher da sua vida não vai
simplesmente cair em seu colo… enquanto isso, vá transar, beijar na boca.
— Eu pisco algumas vezes ao ouvi-la. — Eu mesma sinto falta de fazer
essas coisas.
— Meu Deus do céu! — Levanto da mesa meio tonto, sem querer
ouvir mais nada nesse momento de sinceridade dela. — Por favor, mãe…
poupe o seu filho dessas informações!
— Que menino bobo… ele acha que nasceu como? Do ovo? —
Todos riem do que ela fala, até a Claire, que não entende nada, mas se
contagia pela risada de todos ali.
Mas, por mais que eu tenha ficado constrangido, fico ainda mais
surpreso.
Estou tão acostumado em ser só nós dois, que nunca pensei que ela
sentia falta de receber atenção de um homem. Por mais que eu evite as
lembranças, me recordo que minha mãe e o Daniel eram um casal de muito
contato físico, e infelizmente, as paredes eram finas demais para eu saber
coisas que não deveria sobre a vida sexual deles.
E a gente nunca, em nenhum momento em todos esses anos,
conversamos sobre ela ir a encontros, conhecer pessoas novas. Na verdade,
nem sei como se sente em relação a isso.
Me afasto dos meus amigos que se distraem entre si e dou uma volta
pelo jardim enorme da minha casa, indo onde todos sabem que eu vou
quando sumo.
Quando estava escolhendo uma casa nova para minha mãe e eu,
queria muito que tivesse um espaço que fosse tranquilo e que eu pudesse
ficar sozinho, no meio da natureza, ouvindo os meus pensamentos e sentindo
o vento e a paz de um lugar calmo.
Não é muito fácil ter algo disso em NY, mas achei essa casa que
havia acabado de ser construída e me apaixonei no mesmo momento. Ela
tem absolutamente tudo que eu sempre desejei nos melhores dos meus
sonhos, quando ainda era adolescente e acreditava que algum milagre
aconteceria e eu teria dinheiro o suficiente para comprar um imóvel desse.
E o maior motivo de ter comprado, foi esse espaço onde eu trouxe a
única lembrança da casa que morei durante toda a minha infância e
adolescência: o banco com suspensão, que é também um balanço.
Ele é bem rústico, todo de madeira e fica embaixo de uma árvore
grande, que faz uma boa sombra nos dias mais ensolarados.
Em dias como o de hoje, que a temperatura está muito baixa, só é
possível ficar aqui se estiver muito bem protegido do frio, porque o vento
parece que vai cortar o nosso corpo como se fossem várias agulhas rasgando
a pele.
Me sento no banco e tiro dos bolsos da jaqueta as luvas que guardei
quando fui fazer o almoço e às visto novamente.
O banco começa a balançar levemente assim que sente o meu peso, e
o vento gelado em meu rosto faz com que eu estremeça um pouco.
Fecho os meus olhos e aproveito a paz.
Alguns minutos depois, ouço os passos de alguém e, ao abrir os
olhos, vejo a minha mãe abraçando o próprio corpo por causa do frio. Ela se
senta ao meu lado e eu passo um dos meus braços ao redor dela.
— Não está muito frio para você, mãe?
— Está muito frio para qualquer pessoa, filho — diz, esfregando suas
mãos desprotegidas uma na outra. — Posso te fazer uma pergunta?
— Pode, claro!
Tenho certeza que é algo relacionado ao que Christopher falou mais
cedo.
— Você nunca trouxe nenhuma mulher para casa, no Google quase
não tem nenhuma foto sua acompanhado de alguém e eu nunca o vi
suspirando por aí, ou com o olhar apaixonado. — Ela se vira um pouco para
me olhar. — Isso é por minha causa, né?
Sinto as minhas sobrancelhas quase se unirem ao ouvir a sua
pergunta.
— Por que você acha isso, mamãe?
Ela suspira, se afasta um pouco de mim, e segura uma de minhas
mãos.
— Você passa tempo demais comigo, Ash — pontua. — Quando os
meninos não conseguem te arrancar de casa quase à força, você nunca sai.
Sei que não vai a encontros, que não tem nenhuma…. é ficante que fala, né?
Enfim! Já tem quase 30 anos, meu amor. Precisa viver a sua vida, já abdicou
muito dela por mim!
— Eu faria tudo de novo, mãe.
— Eu sei, filho. O ponto da conversa não é esse! Estou realmente
preocupada… não irei durar para sempre e não quero que termine a vida
sozinho porque passou tempo demais cuidando de mim.
Eu suspiro e olho em outra direção.
Por mais que eu não me arrependa nem um minuto, realmente deixei
de curtir a vida, como a maioria das pessoas na adolescência e início da vida
adulta, curtem. Eu só estudava, trabalhava e cuidava dela, nada além disso.
Hoje, eu praticamente só trabalho, aproveito a vida com ela e eu sei o
motivo disso.
Não tem um dia que eu não tenha medo de perdê-la. Já chegamos
perto disso algumas vezes e eu fiquei apavorado, me sentindo sem rumo só
com a possibilidade muito perto de nós.
Eu sei que infelizmente ela não será eterna, mas ainda não é a hora.
E eu me acostumei a não ter alguém. Na verdade, foi fácil, porque
nunca tive alguém no sentido romântico, então só segui do jeito de sempre.
— Mas e você, mãe? — pergunto, me tirando do foco da conversa.
— Depois do Daniel, nunca mais esteve com ninguém.
Minha mãe não é uma pessoa de ficar constrangida com algo, então
quando o seu rosto ganha um tom mais avermelhado, eu acho suspeito na
mesma hora.
— Nós nunca falamos disso, mas… lembra do Dr. Steven?
— Lembro, claro. Inclusive, eu o encontrei em um dos jogos da
semana passada, dei dois ingressos a ele — conto, distraído do real motivo
de ela tocar em seu nome.
— Nós dois saímos algumas vezes.
Fico por um segundo esperando que ela fale que é brincadeira, mas
minha mãe fica me olhando séria e um pouco sem graça.
— Agora tudo faz sentido — digo ao lembrar de quantas vezes eu o
vi no quarto onde minha mãe ficava no hospital, das vezes que ele ia comer
com ela ao invés de estar com qualquer outra pessoa em outro lugar e a
preocupação extrema pelos resultados dos seus exames.
Ele de fato é um médico muito atencioso, mas sempre achei que era
um pouco mais com ela.
Simplesmente agora tudo faz sentido.
— E o que você acha disso?
— O que eu acho? — repito a pergunta para ter certeza e ela
concorda. — Penso que deve fazer o que acha que é melhor, mãe. Não
deveria estar preocupada com o que penso… só fiquei surpreso, na verdade.
Mas, quando foi isso?
— Bom… a primeira vez tem alguns anos, depois do segundo
tratamento. Mas aí as coisas ficaram um pouco… Deus! Não quero falar
sobre isso com você.
Eu rio e concordo.
— Obrigado por me poupar dos detalhes, mãe.
— Só que ele ficou sabendo que estou em tratamento novamente e
estamos trocando mensagens.
Ela sorri de um jeito bobo, feliz.
— Mãe, eu fico realmente feliz em saber que você está dando uma
chance ao amor novamente! E a casa também é sua, ok? Traga-o aqui se for
o que quer, sem se preocupar comigo, de verdade.
— É bom saber que me apoia, querido.
— Em tudo, mãe! — Faço um carinho na sua mão, que está apoiada
em minha perna. — Eu te apoio em absolutamente tudo.
Ela me abraça e faz carinho em meu rosto com o seu polegar.
— Eu quero que você viva, querido! E essa Juliana? Mande uma
mensagem, a convide para beber, dançar… qualquer coisa, apenas aproveite,
nem que seja só para descobrir que ela não é a sua pessoa.
Eu a encaro com atenção enquanto fala, vendo uma real preocupação
em seu olhar.
— Tudo bem, mãe! Eu irei convidá-la para sair. Satisfeita?
Ela levanta animada depois de me ouvir.
— Ótimo! Quem sabe eu não ganhe netos ano que vem? Ou um
milagre aconteça e um bebê apareça na nossa porta igual a Claire? — Ela
coloca as mãos no peito, toda sonhadora. — Eu amaria ter um netinho para
animar os meus dias.
Me levanto também e a seguro pelos ombros, olhando dentro dos
seus olhos.
— Isso não irá acontecer, Audrey Murphy! Vou marcar um encontro,
não um casamento.
Levanto o meu braço para ela cruzar o seu e voltamos para onde
todos estão.
Um encontro já é um ótimo primeiro passo! — sussurra, antes de se
afastar, toda animada com a pequena chance de eu talvez arrumar uma
namorada.
E era só o que me faltava, a essa altura do campeonato.
Mas eu realmente quero convidar a Julie para sair, quero muito. Só
que estou muito focado nessa reta final dos playoffs, não quero chamá-la
para fazer algo se eu não for capaz de dar 100% da minha atenção a ela.
Também não quero que ela pense que depois de ficarmos, perdi o
interesse.
Acho que mandarei uma mensagem sendo sincero sobre isso.
Mas e se ela me achar patético?
Em momentos como esses, eu gostaria de ter um pouco de
experiência em encontros… talvez a minha mãe esteja certa mesmo, para
variar.
— Isso não poderia ser mais a sua cara, Julie! — Mad fala depois de
conhecer e bisbilhotar cada cantinho da minha sala. — Mas não posso negar
que eu nunca vou entender porque você quer trabalhar.
Eu apenas sorrio ao ouvi-la.
Madison é a minha melhor amiga e eu a amo como se fosse a minha
irmã, mas nós somos opostas em tudo, inclusive, em relação a como usufruir
do dinheiro dos nossos pais.
Ela vive muito bem sendo herdeira e não tem intenção de mudar esse
status até o dia que casar com outro herdeiro também.
— Eu me achei, Mad. E eu amo isso aqui e o trabalho que tenho
feito! É a realização de um sonho, mesmo que pareça bobo para as demais
pessoas — digo ao me encostar na mesa.
— E eu acho isso lindo, amiga — diz. — Também estou correndo
atrás dos meus sonhos, mas está difícil, porque o sonho precisa ter mais de
um metro e noventa, dentes perfeitos, um maxilar marcado e mais dinheiro
que eu.
E o pior de tudo é que ela está falando sério.
Eu rio e ela suspira.
— Sabe que o Henry Cavill não está mais disponível, né?
— Infelizmente, eu sei… maldita hora que eu não fui naquele evento
em que ele estava e você conversou com ele.
Ainda me lembro daquele dia como se fosse hoje.
O evento estava chato, eu acabei ficando sozinha e ele foi supergentil
e educado ao me fazer companhia. Claro que também aproveitou para fugir
de outras conversas e pessoas que forçavam uma barra para ter a sua
atenção.
Mad sempre teve um crush nele e eu não poderia perder a
oportunidade de tirar uma foto e pedir para ele gravar um áudio para ela.
Minha mãe ficou desesperada, tentou até se arrumar e ir na festa, mas
a entrada já havia sido fechada e ninguém mais entrava, nem mesmo se a
Beyoncé aparecesse lá querendo entrar.
— Ele tem um abraço muito gostoso — implico e ela revira os olhos.
— Mas, sério… se você ficar procurando demais, os herdeiros vão acabar!
Fiquei sabendo que esses são os mais disputados.
Ela abre um sorriso sarcástico.
— A questão é que eu sou boa demais para qualquer herdeiro! — diz
e joga os cabelos para trás, com a sua postura de patricinha raiz. — Olha isso
tudo, amiga. Eu sou muito gata, fala sério.
— Você é mesmo, não posso negar.
Realmente ela é uma das mulheres mais bonitas que eu conheço, e
amo a forma que ela se valoriza. Mesmo com uma mãe insuportável que só
sabe ficar reclamando de tudo que ela faz. Em contrapartida, seu pai é ótimo
e ela é a luz da vida dele.
— Posso entrar? — Bonnie bate na porta e abre só o suficiente para
conseguir me ver e falar comigo. Na mesma hora, faço sinal para que ela
entre e me surpreendo ao vê-la com um buquê enorme. — Espero que você
não tenha alergia! — Estica o buquê na minha direção quando termina de
falar.
— É meu?
— O cartão está destinado a você, pelo menos.
Pego o buquê e tiro o cartão de dentro dele.
Tem um breve recado com uma letra bonita.
“Qual o maior clichê de homens cavalheiros? Flores! Não posso
perder esse posto, então achei que assim seria a melhor forma de te
convidar para sair. Sexta às 7 da noite, o que acha?”
Depois do recado, tem o número no telefone dele e também a sua
assinatura.
Releio o cartão algumas vezes, porque achei fofo e isso me
surpreende. Sempre que via alguém recebendo flores, achava meio brega.
Até mesmo das vezes que o Ken me deu, eu não achava nada de mais.
E agora eu não consigo parar de sorrir.
— Julie… quanto suspense! Quem te mandou?
Eu realmente havia esquecido que ela estava aqui comigo, e a Bonnie
também, com o seu olhar curioso.
— Foi o Asher!
Minha amiga fica com o rosto vermelho na mesma hora e arregala os
olhos.
— Saco, não tenho noção de quem seja — Bonnie diz e depois vai
até a porta para ir embora. — Vou deixar vocês à vontade!
Eu espero ela fechar a porta para encarar a minha melhor amiga
novamente.
— Julie, você sabe que eu sou super a favor de quebrar algumas
regras ou quase todas, entretanto, isso é muita loucura! — Ela pega o buquê
das minhas mãos e cheira as rosas. — Mas eu amei, foi bregamente fofo. O
que tem aí no bilhete?
Eu entrego a ela, que lê e depois solta uma risadinha.
— Ele tinha que ser tão interessante assim? — resmungo e sento no
sofá, cruzando os braços de frustração. — Eu já estava certa que ele não me
procuraria mais depois desses dias sem dar sinal de vida e estava feliz com
isso!
— Você acha que engana quem, Julie? — Minha amiga senta ao meu
lado, depois de colocar as rosas sobre a minha mesa. — Sei que você no
fundo queria sim que ele te procurasse, desde o primeiro dia que se viram e
depois do beijo você só ficou querendo ainda mais.
— Sim, amiga! O homem é gostoso demais, beija bem e sério… se
na cama ele tiver a mesma pegada do beijo, com certeza deve foder
incrivelmente.
Ela ri ao me ouvir e se abana.
— Mas seu pai o mataria se soubesse disso!
— Se ele souber, sim…
Madisson me olha com surpresa ao entender o que eu disse.
— Não acredito que você vai encontrar com ele, Juliana Fanning.
Me levanto e vou até próximo da janela, apenas para andar um pouco
e acalmar os meus pensamentos.
Ele é só mais um homem, eu deveria falar que é melhor não nos
vermos mais e dar um ponto final nisso, porque é a coisa certa a se fazer.
Mas parece tão errado quando eu chego a essa conclusão.
— Eu posso ir a esse encontro e explicar a ele o motivo do porque
não podemos nos ver mais. Depois de ter dado alguns beijos nele, claro.
Mad joga uma almofada na minha direção.
— Você é uma safada, sabia? Ainda fica falando de mim, sua
hipócrita.
Eu rio da reclamação dela, mas é verdade.
Por mais que eu tenha ficado interessada nele por causa da sua
aparência impecável, tem algo a mais que está me deixando curiosa para
conhecê-lo. E eu normalmente não crio esse interesse por alguém assim de
cara.
— É isso! Eu vou até lá, aproveito só mais um pouquinho daquela
boca gostosa e depois explico a situação… tenho certeza que ele vai
entender e concordar comigo.
Madison fica em silêncio por um tempo, eu sei que ela está pensando
em várias possibilidades de coisas que podem acontecer, ela sempre faz isso.
É quase um Dr. Estranho vendo todos os futuros possíveis.
— Eu faria o mesmo, ou pior. Não vou te julgar! Mas precisamos ir
ao shopping comprar uma roupa que te valorize ainda mais. — Ela entra no
seu aplicativo preferido, o Pinterest, e começa a procurar uma inspiração. —
Não é porque vocês não irão mais se ver, que ele tem que parar de te desejar.
— E qual o sentido disso?
— Sei lá, Julie. Mas que mal faz ser desejada pelo running back do
Gorillas? Que sempre pareceu ser o mais reservado do time, com um
jeitinho de misterioso, que carrega um grande segredo?
Eu rio alto do que ela fala e jogo de volta a almofada que havia
jogado em mim ainda há pouco.
— Você tem uma imaginação muito fértil, Mad! Deveria qualquer
dia tentar escrever um livro, eu pagaria muito dinheiro para ler.
Ela ignora totalmente o que eu digo e vem até mim para mostrar o
look que achou no celular.
— Um vestido como esse, uma maquiagem valorizando bem a sua
boca, com pouca informação nos olhos e um babyliss nesse cabelo! — dita
tudo o que eu preciso para a estratégia dela de fazê-lo me desejar
eternamente. — Esse homem vai ter indigestão de tanto desejo!
— Você não é deste mundo, garota! — rio.
Pego o meu celular que havia deixado guardado na gaveta, salvo o
número dele e em seguida abro o aplicativo de mensagem.
Não aparece nenhuma foto dele, mas imagino que seja proposital.
Fico pensando no que responder. Não quero aparecer animada
demais e nem muito menos soar como se fosse algo desinteressante.
Bato a minha unha no celular, pensando no que escrever.
Mad tira o celular da minha mão e começa a falar alto o que escreve.
— Oi, gostosão! Recebi as suas flores e amei. Pode contar comigo na
sexta, serei toda sua… por apenas uma noite.
— MADISON! — Tiro o celular da mão dela, que quase se joga no
sofá e começa a rir de mim. — Idiota — digo quando vejo que ela não
escreveu nada, apenas fingiu.
Eu: Oi, Asher, recebi as suas flores e preciso confessar que amei.
Mais uma vez você me surpreendeu, isso parece ser algo característico seu.
Eu: Vou adorar te ver na sexta! Onde nos encontramos?
Na hora que eu ia bloquear o celular e fingir que não mandei a
mensagem para não ficar ansiosa, a foto dele aparece e o digitando em cima
também.
Isso foi bem rápido.
Asher: Ufa, que bom que acertei.
Asher: De 0 à 100, o quanto isso foi brega?
Sorrio ao ler a mensagem.
Eu: 90%... faltou o chocolate!
Asher: Eu iria deixar o chocolate para a sexta, mas talvez seja
melhor tirá-lo de jogada?!
— Ai, meu Deus! Você está gostando de conversar com ele — Mad
diz. Por que eu sempre esqueço que ela presta atenção demais nas coisas? —
Isso vai ser tão interessante! Preciso preparar a pipoca e talvez uma
passagem para outro país.
— Uma passagem? — Dificilmente o raciocínio dela faz sentido para
mim.
— Claro! Para você fugir quando o seu pai descobrir que você não só
ficou com o Asher Murphy, como gostou e como também continuou o
encontrando escondido.
Reviro os olhos ao ouvi-la.
— Isso não vai acontecer! Pelo menos, não depois de sexta.
Ela murmura um “uhum” desacreditado, e a ignoro.
Eu: Mas quem disse que brega é ruim?
Asher: Ótimo! Não irei precisar cancelar a cascata de chocolate na
escultura do formato do meu corpo.
Eu: QUÊ?
Asher: KKKKKKKKK, brincadeira.
Asher: Ou não!
Asher: Realmente não poderá furar comigo se quiser descobrir,
Julie.
Que espertinho.
Eu: Não vou desmarcar, pode confiar em mim.
Asher: Posso pedir para que te busquem, se preferir.
Merda, não.
Não posso correr o risco que ele saiba de quem sou filha, antes de
conversar e explicar.
Eu: Me passa o endereço, eu te encontro lá!
Asher: Fechado! Agora eu preciso voltar para o campo… foi bom
falar com você, Julie.
Não respondo essa última mensagem e tombo a cabeça na minha
mão, batendo com a palma na minha testa repetidas vezes.
Eu não deveria ter aceitado, não deveria tê-lo respondido e ainda
assim, mesmo sabendo disso, eu estou animadíssima para esse encontro.
Outra pessoa bate à minha porta e como não abre logo em seguida, já
sei que é o Jonathan.
— Pode entrar, Jon.
Ele assim faz e como eu já sabia que aconteceria se um dia a Mad o
visse, ela o encara e praticamente nem pisca.
— Como sabia que era eu? — me pergunta e depois nota a minha
amiga sentada no sofá. — Jonathan, muito prazer. — Estica a mão para ela.
— Madison! — Ela aperta a mão dele e se levanta.
A cara de pau anda até a estante só para fingir que vai ver alguma
coisa, mas ela só quer que ele veja o mulherão que ela é.
Ela faz isso desde que temos 15 anos e ainda assim eu não consigo
superar.
É ridículo, mas normalmente dá certo.
— Eu só vim agradecer pelo feedback das cenas mais… elaboradas!
— Ele disfarça por conta da Mad. — Na verdade, eu não pensei que
pontuaria algo nessas cenas e realmente fez toda a diferença o que você
falou.
— Você é um ótimo escritor, Jon. Estou impressionada que ainda não
se tornou o Stephen King dos romances eróticos.
Ele ri com o seu jeito mais contido.
— Seria um sonho… estranho, mas um sonho!
— Stephen King é ótimo mesmo… — Mad diz.
Preciso segurar a risada, porque eu sei que ela não tem noção de
quem seja, mesmo já tendo assistido muitos filmes dele e adorado todos.
— Sim, ele é — Jon diz, mas acho que só para não deixá-la sem
graça. — Eu só vim agradecer mesmo, Juliana! Semana que vem eu devo te
entregar mais alguns capítulos e se quiser, posso mandar também os outros
capítulos com as alterações que indicou… só para conferir se o que eu mudei
era o que tinha em mente.
— Claro, vou esperar ansiosa.
Ele se despede de nós duas e depois sai da sala.
— Ele me ignorou mesmo? — minha amiga pergunta, chocada.
— Acho que ele é um homem mais contido, Mad… e também não é
um herdeiro!
— Poderia muito bem me divertir com um escritor supergostoso até
o meu herdeiro aparecer.
Pego as minhas coisas para irmos embora e a puxo para fora da sala
comigo.
— Deixe-o em paz! Você faz um estrago na vida dos homens…
Ela sorri, orgulhosa.
Mad é o tipo de mulher que magoa antes de ser magoada. E claro que
ela só faz isso quando percebe que o homem em questão tem a intenção de
sacaneá-la, aí ela vai lá e faz primeiro.
Só que o mais chocante de tudo é que os homens acabam se
apaixonando por ela e ficam tentando de tudo para conseguir a sua atenção
de novo. Mas ela é uma pessoa rancorosa, então não costuma dar segundas
chances a ninguém.
Se ela fosse um personagem de livro, seria igual a maioria dos
mocinhos que são aclamados pelas leitoras: moreno, sarcástico e com o
passado traumático.
— Vamos logo ao shopping, você está delirando e acho que é porque
está há tempo demais sem gastar o seu dinheiro.
Ela se anima e nós vamos em busca da roupa igual a do Pinterest,
que realmente vai me deixar lindíssima.
A clínica que a minha mãe faz tratamento é bem famosa por ser um
lugar discreto, normalmente atende pessoas famosas ou poderosas, que não
querem que outras pessoas saibam do estado dos pacientes.
Desde que eu me tornei famoso, minha mãe disse que não queria
expor a vida dela, em nenhum dos sentidos. E eu concordei totalmente com
isso, porque também mal exponho a minha.
Do Gorrilas, além do Christopher, Calleb, Jordan e da Hope, o
diretor também sabe, até porque eu preciso me ausentar de alguns treinos
para acompanhá-la.
Hoje foi um desses dias.
— Bom dia! O Dr. Jasper já espera por vocês — a recepcionista fala
e nos aponta o caminho que temos que seguir.
Infelizmente, eu conheço praticamente todos os cantos dessa clínica,
já que venho aqui muito mais do que gostaria. Mas, ao menos, é aqui que
estão os melhores médicos oncológicos.
— O Dr. Steven voltou a trabalhar aqui, né? — pergunto a minha
mãe quando eu a vejo olhando para todos os lados. — Mas agora ele não
pode mais ser seu médico! — concluo.
— Não, querido! Não pode, é antiético. Naquela época em que
saímos algumas vezes, ele já não era mais o meu médico e disse que não
seria mais, mas caso eu precisasse, me indicaria a alguém tão bom quanto
ele.
Realmente ele é um ótimo oncologista.
No momento em que comecei a pesquisar por um, quando ela estava
dando os sinais do segundo câncer, o indicaram muitas e muitas vezes.
Lembro que na época, eu estava começando a receber muito dinheiro pelo
Gorillas, totalmente perdido com o que fazer e ele além de me ajudar como
médico, me aconselhou muito quando percebeu que eu estava perdido.
Inclusive, foi ele quem me aconselhou a investir o meu dinheiro em
outras coisas. E na época, eu não tinha noção de como isso funcionava, mas
foi uma das coisas mais inteligentes que eu pude fazer com o meu dinheiro.
Sempre serei grato a ele por tudo isso e agora ainda existe uma
chance de ele se tornar o namorado da minha mãe. Eu fico feliz, de verdade.
Steven parece ser um bom homem, um que não abandonaria a mulher no
momento em que as coisas ficassem ruins.
Mas, ainda assim, preciso ficar atento. Não deixarei que nenhuma
outra pessoa a magoe como já aconteceu no passado.
— Sabe que ele terá que me pedir para namorar com você, né? —
digo para ela, sério.
Ela me olha, surpresa com o que eu falo, mas eu começo a rir da
expressão em seu rosto.
— Eu quase acreditei que estava falando sério! — Me dá um tapa
leve no antebraço. — O que você acha de nós três jantarmos juntos? Só para
ver se funcionaria bem…
Eu entendo o porquê de ela estar preocupada.
É a primeira vez depois de muitos anos que existe uma real
possibilidade da nossa rotina mudar, de uma nova pessoa entrar em nossas
vidas. Tudo bem que ele não é uma pessoa nova, mas no quesito namorado
da minha mãe, isso será novidade.
— Não sendo em dia de jogo, eu supertopo. — E ao falar disso,
lembro de algo. — Por que você não vai ao meu próximo jogo com ele e nós
três jantamos juntos depois, para comemorarmos mais uma vitória do
Gorillas?
Minha mãe abre o sorriso mais bonito que já vi e isso faz com que o
meu dia se torne melhor. Ela realmente quer que as coisas deem certo e eu
sei disso, então farei o que estiver ao meu alcance para que tudo se acerte.
— Irei falar com ele, filho. Obrigada por ser sempre ótimo comigo!
— Sra. Murphy? — o médico nos chama, assim que chegamos perto
da sala dele, interrompendo o nosso assunto. — Podem entrar, por favor.
Sinto minha mãe segurar a minha mão na hora em que entramos e sei
que ela ficará o resto da consulta assim.
De início, deixo que os dois conversem e apenas fico escutando tudo
bem atentamente, procurando qualquer falha em sua voz, que costuma
significar que está amenizando algo na conversa.
Dessa vez, para a nossa sorte, tudo está da forma que deveria estar.
Ainda não teve nenhuma melhora significativa, mas também não
houve piora. E para um câncer, isso é uma boa notícia.
— É a primeira vez que a senhora irá usar a touca de resfriamento,
correto? — pergunta enquanto nos encaminha até o quarto particular que
ficam todos os equipamentos para a quimioterapia.
Minha mãe aperta tanto a minha mão que eu sinto pouquíssima
circulação de sangue nela, mas não reclamo.
— Sim, será a primeira vez. Eu li que ajuda em torno de 60% da
queda, né?
— É, 60% é o máximo estimado — explica e liga a máquina em que
a touca fica conectada por uma serpentina. — Mas eu acredito que irá sentir
uma grande diferença se comparar com as últimas vezes.
Jasper sempre fala tudo de uma forma delicada e sempre se mostra
um médico positivo, o que é ótimo para pacientes com câncer, ainda mais
em dias ruins.
Minha mãe já teve muitos dias ruins e eu demorei a entender que isso
iria se repetir muitas vezes. E é sempre horrível, porque ela é uma mulher
feliz, que ama a vida, mas eu entendi que precisava deixá-la ter esses
momentos.
O médico nos explica detalhadamente como a touca vai funcionar e
em seguida a coloca em minha mãe. Pelo que eu entendi, ela usará uns 30
minutos antes, durante e depois da quimioterapia.
Me sento na cadeira ao lado dela e começamos a conversar, no
intuito de distraí-la.
Hoje é a primeira sessão e a infusão levará em torno de 2 horas, mais
os 120 minutos do resfriamento, antes e depois. Passaremos toda a manhã
aqui e provavelmente o início da tarde, caso o médico veja necessidade em
mantê-la aqui.
— Será que um dia conseguirei lhe pagar por tudo isso? — mamãe
pergunta, depois de ter ficado alguns minutos em silêncio.
— Eu não aceitaria nem um centavo, mãe.
— Não gosto de ser um peso para você!
Esse é um assunto que acaba rondando as nossas conversas, ainda
mais em momentos mais delicados.
— A senhora me paga com todo o amor que sempre me deu! Agora
para de falar besteira, vamos assistir um filme.
Eu me levanto para pegar o controle e depois volto, passando todo o
catálogo de filmes, sabendo que ela irá querer ver algum romance desses na
vibe do Nicholas Sparks, e que na metade do filme, já estará chorando
porque, ou o cara teve que ir embora por um motivo maior, ou a esposa dele
perdeu a memória e ele faz questão de contar a própria história deles para
ela, ou então um casal que se reencontra anos depois e ele acaba morrendo,
mas seu coração vai para o filho dela e isso o manterá vivo para ela.
— Podemos ver O Melhor de Mim?
— Claro, mãe.
Coloco o filme que já assisti algumas vezes e agradeço quando o
médico fecha as cortinas e diminui a intensidade da luz do quarto, antes de
sair e nos deixar a sós.
É um inferno passar por isso mais uma vez, só que ao menos, como
da última vez, sei que terei como fazer de tudo e rodar o mundo se for
necessário para que ela tenha o melhor tratamento e conforto possível.
Quando eu sugeri a data de hoje para encontrar com a Julie, não sabia
ainda que a primeira consulta da minha mãe havia sido remarcada de quinta
para hoje e eu quase furei o encontro. Mas a minha mãe não deixou e ela
realmente parecia estar bem.
Só que eu me conheço e sei que não ficaria em paz estando longe
sem ninguém por perto, então chamei a enfermeira que sempre a acompanha
e ajuda no tratamento quando é feito lá da nossa casa.
Mamãe reclamou, mas, no final, acabou aceitando porque sabia que
eu não iria se isso significasse que ela ficaria sozinha.
E ela não só ficou animada com o meu encontro como também me
ajudou na difícil escolha da roupa.
A Julie é uma mulher que, pelo que pude notar, se veste muito bem e
está sempre impecável. Até mesmo com a minha blusa ela deu um jeito de
ficar bonita, colocou o blazer por cima e parecia que tudo fazia parte do
conjunto.
Acabei optando por uma calça de alfaiataria preta e uma camisa
longa da mesma cor. Tive que colocar um sobretudo por causa da baixa
temperatura, e optei por um de tom terroso, puxado para o bege.
Fiquei muito satisfeito com o resultado e me senti uma criança de 10
anos quando minha mãe quis tirar umas fotos minhas.
Cheguei ao restaurante há pouco mais de 5 minutos.
Resolvi chegar um pouco mais cedo, porque estava surtando em casa,
nervoso de uma maneira que não ficava há muito tempo.
O que faz sentido, porque tem muito tempo que tive um encontro e
em toda a minha vida só tive dois que foram planejados.
Foi muito difícil escolher um restaurante que fosse reservado o
suficiente para que amanhã eu não aparecesse nas notícias desses sites
insuportáveis, inclusive do Gorillas News, que sempre acaba sabendo de
tudo.
Me lembrei uma vez que o Christopher havia falado de um
restaurante dos amigos da Kathllen. Obviamente, não lembrei o nome, mas a
Kath é influencer, então deduzi que ela com certeza devia ter feito algum
post no restaurante e eu estava certo.
Assim que a Julie confirmou o encontro, liguei e consegui uma
reserva. Fiquei ainda mais feliz quando descobri que tem uma parte ainda
mais restrita no restaurante, e é aqui onde estou, esperando pela mulher que
tem passado tempo demais na minha cabeça.
E falando nela…
O restaurante tem um clima bem aconchegante e é bem escuro, mas
ela parece iluminar tudo ao redor enquanto vem andando na minha direção,
de um jeito sexy, deixando que todos que a vejam saibam que é uma mulher
segura de si.
E isso é excitante.
Me levanto antes que ela chegue na mesa e não consigo evitar de
olhá-la dos pés à cabeça quando para na minha frente, com um sorriso
delicado.
— Uau! — É a primeira coisa que eu consigo falar. — Você está…
fascinante!
Ela deixa escapar uma risada gostosa ao ouvir o elogio.
— Obrigada, Asher. — Se aproxima, apoiando uma das mãos em
meu ombro e beija o meu rosto, perto demais da minha boca. — Que bom
que comecei a me arrumar umas duas horas atrás, acho que não conseguiria
estar à sua altura se não fosse por isso.
Tento disfarçar um sorriso envergonhado e aproveito para puxar a
cadeira para ela, que se senta em seguida e agradece. Logo depois, eu
também me sento, ainda sem acreditar na mulher lindíssima à minha frente.
O garçom se aproxima de nós e me oferece a carta de vinhos.
— Quer escolher? — pergunto a ela, antes de aceitar o cardápio.
— Hum, quero sim! — diz.
Ela olha por alguns minutos todas as opções e eu tenho certeza que
pela forma que destina a sua atenção a isso, Julie entende sobre o assunto.
O garçom anota o pedido assim que ela escolhe e depois nos deixa à
vontade.
— Confia na minha escolha? — me pergunta.
— Claro! Por que não confiaria?
Ela apoia as duas mãos na mesa, toda elegante e em uma postura sem
igual.
— Não sei… talvez você esperasse que eu pediria água com gás e
uma salada!
Rio do que ela fala, porque não faz nenhum sentido.
— Infelizmente não te conheço o suficiente para saber o que gosta de
comer ou beber, Julie — enfatizo bem a primeira palavra e ela percebe, mas
finge que não. — E esse encontro é todo voltado para te agradar…
— Você vai dificultar muito as coisas para mim! — diz baixinho e
suspira. Acho que foi mais um desabafo do que uma informação que ela
queria me passar.
E o que isso significa?
O garçom volta depois com o vinho e nos serve, informando que
deixará a garrafa refrigerada e nos servirá assim que a taça estiver
esvaziando. Nós aproveitamos para fazer os pedidos e eu opto por frutos do
mar, enquanto ela decide comer tomahawk com salada de legumes salteados.
— Como foi a sua semana? Você disse que trabalha em uma
editora… mas o que faz lá?
Ela abre um sorriso ao ouvir a minha pergunta e na mesma hora eu
entendo que é feliz com o que faz.
— Eu sou uma leitora crítica! — conta. — Basicamente, eu sou a
primeira pessoa a ler o livro e pontuo as partes que ficaram muito boas, as
partes que podem melhorar e também, se for o caso, o que, no meu ponto de
vista, não deveria estar no livro de jeito nenhum.
— Sério? — pergunto e ela confirma. — Nossa, deve ser incrível
participar da criação de um livro!
Ela segura a taça e dá um gole, me encarando enquanto faz isso.
— Você gosta de ler?
— Não posso falar que sou um leitor assíduo, mas eu já li alguns
livros.
— Deixa eu ver se adivinho… Harry Potter?
— Harry Potter? O que é isso?
Na mesma hora, ela coloca a taça na mesa e me olha em choque, com
os olhos bem abertos.
— Impossível você estar falando sério, Asher!
— Eu realmente não estou falando sério — confesso e ela faz uma
careta ao perceber que estava brincando, mas também parece aliviada. — Eu
adoro HP! E foi um dos primeiros livros que eu li. Também li Game Of
Thrones, Senhor dos Anéis, Divergente…
— Fantasia e distopia são o seu forte, então?
Paramos de falar novamente para recebermos nossos pratos e eu fico
com uma leve inveja da carne bonita que foi servida para ela, ainda no osso.
— Já li alguns romances também, mas de fato, eu gosto mais de
fantasia — digo, pego os meus talheres, espetando o garfo em um camarão
enorme, que parece estar incrível, e o como.
Realmente está sensacional.
— Você leu romances? — me pergunta, com a sobrancelha erguida.
— Lembra de um?
Faço que sim com a cabeça e tomo um gole do vinho.
— Uma amiga da faculdade adorava livros e sempre tentava me fazer
ler algum que ela gostasse. Algumas vezes eu topei e todos eram romance!
— Tento lembrar o nome de alguns. — De nome, eu só lembro de A Culpa é
das Estrelas, mas teve dois livros que, às vezes, do nada, lembro da história
deles.
— Quais? — pergunta animada, enquanto corta a sua carne e mastiga
devagar.
— Um era de um cara que sofreu um acidente na rua, ficou
tetraplégico, se não me engano. Aí uma menina muito alegre foi cuidar dele,
se apaixonou e se iludiu achando que ele não ia manter uma ideia bem…
dolorosa.
Julie respira fundo, com o olhar triste e olha para cima, abanando as
mãos na frente do rosto.
— Está tudo bem? — pergunto, preocupado.
— Sim! É que esse livro é muito triste e só de lembrar que o Will não
muda de ideia no final, já fico com vontade de chorar novamente — diz. —
O nome é Como Eu Era Antes de Você!
— Isso, exatamente esse! Também leu, né?
— Claro! E já assisti o filme umas 20x.
Filme?
Isso eu não sabia.
— Tem filme? — Ela concorda. — Deve ser ainda mais triste! Eu
chorei lendo, imagina assistindo.
— Você não assistiu? Meu Deus! Você precisa assistir e por favor,
grave a sua reação e me mande.
Eu rio e volto a comer.
— Alguma chance de você assistir pela vigésima primeira vez
comigo? — Não custa arriscar.
Ela me olha e eu percebo que realmente não sabe o que responder, o
que faz com que eu me arrependa na mesma hora.
Como ela não responde nada, eu também não falo mais.
— Mas e o outro livro?
Eu conto para ela e descubro que se chama E se Eu Ficar. E pelo
visto, a minha amiga ou só gostava de livros extremamente tristes ou
escolheu esses porque saberia que de alguma forma não esqueceria deles.
Julie fala um pouco mais do seu trabalho e menciona o seu pai, que
me lembro de ter deduzido que era um político pelo que ela me falou no
evento.
— Qual o seu segundo nome? — pergunto.
Novamente eu a vejo com aquele olhar de que não sabe o que
responder.
Eu estou estragando o encontro com essas perguntas erradas.
— Fanning! — diz e a sua voz demonstra uma certa insegurança.
Repito esse nome na minha cabeça, tentando lembrar de alguém, mas
além da atriz loirinha que fez o filme em que ela, ainda criança, dava lição
de moral na babá adulta, que era meio irresponsável, não lembro de mais
ninguém.
Nem mesmo um político.
O nosso jantar segue de um jeito tranquilo, divertido e tenho a sorte
de saber um pouco mais dela, que mesmo contida, fala sobre algumas coisas.
Pago a conta quando percebemos que somos os últimos clientes
ainda no restaurante e ofereço a minha mão para ajudá-la a levantar, mas eu
não solto a sua mão depois.
Ela parece não se importar, porque entrelaça os seus dedos aos meus.
Nós pegamos o elevador, que é todo de vidro, e descemos em
silêncio. Percebo que ela está meio tensa, então fico quieto e apenas aliso as
costas da sua mão com o meu polegar, tentando não olhá-la o tempo todo.
— Posso te deixar em casa? — pergunto quando o elevador chega ao
térreo.
— Sim, por favor!
Começo a achar que esse encontro foi um desastre pelo silêncio dela.
Julie não parece ser o tipo de pessoa que fica quieta e em silêncio assim, a
troco de nada.
O que só me faz pensar que talvez eu tenha falado algo errado.
O manobrista traz o meu carro, abro para que ela entre e depois entro
também.
Noto quando dá uma conferida ao redor e coloca a mão na lateral do
rosto, como se estivesse se escondendo.
Saio rápido ali da frente quando entendo que ela não quer ser vista
comigo e sigo em qualquer direção até que ela coloca no GPS do carro o
endereço onde mora.
É na mesma rua que eu moro, e se não me engano, é um condomínio
quase na frente do meu.
— Acho que não tinha nenhum paparazzi, pode ficar tranquila —
comento, me sentindo incomodado com o silêncio.
Pelo canto do olho, eu a vejo me olhando.
— Desculpa, não quis que parecesse que não quero ser vista com
você.
— Não precisa se justificar, Julie. Está tudo bem! — Encaro-a
rapidamente e sorrio para tranquilizá-la.
Não quero tornar o encontro desagradável para ela.
— Tem algum lugar que você possa parar o carro em segurança?
Com nós dois aqui dentro? — A sua pergunta me pega de surpresa, mas eu
apenas concordo e continuo dirigindo em direção a rua onde moramos.
Imagino que ela deve estar estranhando e essa estranheza deve
aumentar quando me vê entrando no condomínio quase de frente ao dela.
— Você mora aqui? — Sua voz quase nem sai por tamanha surpresa.
— Sim, há quase cinco anos. — Dirijo até a frente da minha casa e
depois desligo o carro. — Você mora há muito tempo aqui na frente?
— Há 24 anos!
Eu poderia dizer que é uma surpresa nunca termos nos visto, mas eu
mal conheço os meus vizinhos que moram no mesmo condomínio que eu,
quem dirá os demais.
Tiro o meu cinto para virar de frente para ela.
— Sinto muito que o encontro não tenha saído como queria.
— Você acha que eu… não gostei?
— Não tenho certeza, mas pareceu que em alguns momentos, ou eu
fiz a pergunta errada, ou falei algo que não deveria ter falado.
O sorriso da Julie vai se formando em seu rosto lentamente.
Ok, eu definitivamente não estou entendendo mais nada.
O que eu falei que a fez sorrir?
Sério… faz todo sentido eu não ter ido em muitos encontros mesmo.
— Asher, você não existe! Eu fiquei a noite inteira doida para
ficarmos a sós, reparando em cada detalhe do seu jeito, reconhecendo em
você uma timidez singela e até atraente… e você acha que eu não gostei do
nosso encontro?
Ah!
Agora eu estou entendendo… eu acho.
Julie também tira o seu cinto e se recosta de lado no banco do carro,
olhando diretamente para a minha boca.
— Agora é a parte que você me beija, As…
Antes que ela termine de falar, eu a beijo.
Ninguém deveria ter uma boca tão gostosa como ela, é impossível
não querer senti-la sempre.
Não sei em que momento do beijo aconteceu, mas Julie está sentada
em meu colo enquanto nos beijamos.
E tem mais batom por nossos rostos e pescoços do que na boca dela.
Sinto meu abdômen levemente ardido de tanto que ela já o arranhou
por dentro da camisa, e eu não poderia me importar menos com isso. Desde
que ela não pare de me beijar, o resto não importa.
A temperatura fria lá de fora com certeza não está sendo suficiente
para aplacar o calor que só vai aumentando aqui dentro.
Afasto o meu corpo do banco, apenas o suficiente para conseguir
tirar o meu sobretudo e ela faz o mesmo com o dela, deixando seus braços
livres e na mesma hora eu aliso ambos, sentindo a sua pele estremecer com o
toque da minha.

— Merda, você beija tão bem! — Julie resmunga quando afasta a sua
boca da minha.
— Isso é ruim? — pergunto sem conter uma risada da indignação
dela.

Ela apoia as mãos em meu peito e faz um biquinho. Eu não resisto e


dou uma mordida de leve.

— Na verdade não é ruim, mas vai se tornar por causa de uma


coisinha.

Sem tirá-la do meu colo, eu me estico até o porta-luvas e pego uma


caixinha de lenço umedecido que tem ali, tiro um e passo por todo o pescoço
dela, limpando onde espalhei o seu batom e ela ri ao ver a quantidade que sai
no papel.

Ofereço outro e ela pega o celular para ligar a câmera e limpar o seu
rosto.

— Fizemos um pouco de bagunça — digo, alisando uma das coxas


dela. — Mas o que é essa coisinha que pelo visto vai ser um banho de água
fria na nossa noite?

Julie volta para o banco em que estava e arruma a sua blusa. Eu pego
o meu sobretudo e coloco em cima da minha calça para disfarçar a ereção.

Não que ela não tenha sentido quando esteve em meu colo, mas a
calça está marcando demais.

— Você é um cara incrível e acho que merece o máximo de clareza


possível. — Parece discurso de início de término e olha que eu nunca nem
namorei para saber, mas tenho certeza que é assim na vida real tanto quanto
é nos filmes. — Mas não podemos continuar isso que nem começou direito.

Meu estômago embrulha quando ela fala, é uma sensação bem


desagradável.

— Não vou dizer que está tudo bem, porque eu realmente queria te
conhecer melhor, mas acredito que você tenha os seus motivos para isso.
— É o meu pai… ele é ótimo, sabe? Não quero que pense que é um
tipo possessivo, longe disso. Mas eu estar me envolvendo com um jogador
de futebol americano é um problema gigantesco para os negócios dele.

Pela forma que ela fala dele, realmente parece que as coisas são
complicadas demais e eu não quero me tornar um problema.

— Tudo bem, Julie. — Eu seguro na mão dela e faço um carinho


casto. — Não quero de jeito nenhum ser um problema na sua relação com o
seu pai e nem atrapalhar os negócios dele.

— Não, Ash! Não seja tão compreensivo, haja como um babaca,


como um hétero insuportável de ego frágil… assim pelo menos eu vou ficar
com a sensação de que foi melhor assim. — Ela tomba a cabeça para trás,
fazendo aquele biquinho novamente. — Que saco!

Eu entendo a reação dela, também é um saco para mim saber que em


29 anos, a primeira mulher que eu criei expectativa em conhecer melhor,
está fora do meu alcance.

— Eu estarei a uma mensagem de distância, tá bom? Podemos ser


amigos virtuais — brinco, para tentar aliviar o clima chato que se instaurou
dentro do carro.

Ela dá aquele sorriso sem vontade, de quem está chateada.

Acho que se eu fosse uma pessoa que costuma se envolver com


outras, estaria mais acostumado com isso e talvez não me importasse tanto.

Mas sempre tem uma primeira vez.

— Acho que não tem problema nos falarmos às vezes! Você é um


homem muito legal e eu gosto de ter pessoas como você por perto.

Afasto a minha mão da dela e ligo o carro novamente.

— Pretendo me aposentar em poucos anos, vai que assim o seu pai


não se importa de me ter como genro.
Ela ri, uma risada gostosa e alta.

— Eu vou me manter solteira até a sua aposentadoria então!

— Vou contar com isso. — Pisco para ela.

Dirijo para fora do meu condomínio e paro de frente ao dela, sabendo


que por mais que eu prefira deixá-la na porta de casa, isso não será muito
viável.

— Eu adorei o jantar, adorei a companhia e o beijo. — Ela tira o


cinto e vem na minha direção, apoiando a mão em uma das minhas pernas
para alcançar a minha boca e me dar um selinho. — Boa noite, Asher.

— Boa noite, Julie.

Ela sai do carro e entra no condomínio, mas antes de sumir, vira e me


dá um tchau. Eu retribuo, fecho a janela do carro e volto para casa.

A frustração dentro de mim chega a ser patética.

Estaciono o carro e, antes de sair, vejo que esqueci de dar a ela os


chocolates que havia comprado.

Pego a caixa, entro em casa e pelo silêncio, deduzo que a minha mãe
já dormiu e vou direto para o meu quarto.

Tiro a minha roupa e fico só de cueca, na intenção de ir tomar um


banho. Mas o meu telefone vibra e eu sento na beira da cama para dar uma
olhada.

Tem algumas mensagens no grupo com Calleb e Chris, Hope


mandou uma foto da parede que a Claire rabiscou todinha quando eles se
distraíram na cozinha e também tem uma da Julie, que acabou de chegar.

Julie: como eu tenho batom na minha nuca?

Ela mandou uma foto de costas no espelho, segurando o cabelo e


mostrando o batom ali. Mas eu me perco um pouco ao perceber que ela está
só de calcinha e sutiã. Não dá para ver a sua bunda, mas consigo ver as alças
da calcinha.

E meu pau fica duro no mesmo instante.

Eu: Nos empolgamos demais!

Pego a caixa de chocolate e tiro uma foto dela.

Eu: Até esqueci de te dar o chocolate.

Julie: Eu já tinha esquecido disso! Agora vou ter que caçar algum
chocolate nessa casa, fiquei com vontade.

Eu: Irei comê-los pensando em você!

Nem gosto de chocolate, mas falo isso para implicar.

Julie: Isso não se faz! Eu sei onde você mora… poderia ir aí e


roubá-los.

Eu: Já desarmei todos os alarmes, é só vir.

Ela não responde mais e eu largo o meu celular para ir tomar um


banho frio.

A minha intenção era só tomar banho, apenas isso, mas o meu pau
não quer a mesma coisa que eu e a imagem da Julie em cima de mim, o
gosto dela ainda na minha boca e seus suspiros entre o beijo não saem da
minha cabeça, me dando conteúdo demais para me aliviar.
— Chris! — grito para o meu amigo, antes de voltarmos para a
posição inicial de jogada. Faço um código para ele, que só quem é do nosso
time entende e na mesma hora ele sabe o que fazer.

O jogo está perto de acabar e nós estamos vencendo, mas o ataque do


outro time está vindo com tudo e eu já percebi que o Calleb está sentindo o
ombro doer novamente.

Christopher tem que pegar o lado contrário ao que estava indo,


porque a marcação será menor, e eu vou correr para o lado de sempre e
confundir os jogadores adversários, que não estão nem mais pensando,
apenas atacando.

Gavin passa a bola para o Chris assim que o juiz apita e, como eu
imaginei, eles se confundem.

Corro até o ponto que devo receber a bola e a seguro firme em meu
peito, corro o máximo que consigo, desviando dos jogadores que tentam me
segurar, e tento controlar a respiração, sentindo o cansaço da partida longa
demais.
Consigo chegar na endzone deles, marcando mais um touchdown e
garantindo mais uma vitória do nosso time.

O painel enorme anuncia o fim do jogo, segundos depois.

Todos vêm correndo até onde estou e a gente começa a comemorar


do nosso jeito bruto, chocando no peito um do outro, pulando em cima e
jogando o Chris para o alto por ter marcado quase todos os pontos.

O estádio todo vai à loucura conosco, alguns jogadores dos outros


times saem do campo na mesma hora e outros vêm nos cumprimentar.

Todos os Gorillas começam a bater no peito e fazer o grito de guerra


como o primata. O nosso mascote entra em quadra animando as pessoas que
estão nas arquibancadas pulando, gritando e também nos acompanhando no
grito de guerra.

A sensação da vitória é uma das melhores, não tem como negar.

Nós estamos apenas a dois jogos de ir para o Super Bowl.

Vou fazer cinco anos no Gorillas e ainda não ganhei um Super Bowl,
sempre chegamos perto, mas acabamos perdendo quando faltam poucos
jogos para irmos para o jogo final.

Tiro o meu capacete, dou tchau na direção dos nossos torcedores e


sinto a vibração boa em meu corpo, de dever cumprido, de saber que eu dei
o melhor de mim para o meu time.

Nós saímos em direção ao vestiário, todo mundo animado, marcando


várias comemorações, cada um falando o placar que acredita que teremos na
final.

— E vocês acham que iremos para o SB com que time? — pergunto.

Na NFL, tem duas conferências, a National Football Conference


(NFC) e a American Football Conference (AFC) e elas seguem em disputas
separadas até que o campeão de cada uma delas se encontrem no Super
Bowl para o embate final.
— Eu estou apostando no nosso adversário aqui de NY — Calleb
diz, enquanto gira o braço, conferindo se teve algum estrago no ombro ruim.

— Estou achando a mesma coisa! — digo. — Teremos que ir com


tudo se quisermos ganhar deles, o time está muito bom.

Todo mundo concorda com o que eu digo.

— Para o azar dele e a nossa sorte, só o Gorillas tem a gente! E


ninguém é melhor do que nós três no que fazemos — Christopher fala, muito
certo da sua opnião.

E dessa vez, eu preciso concordar com ele.

Calleb é um excelente guards, eu estou a poucas jardas de entrar para


história como o maior running back e o Christopher só perde para o Tom
Brady! E como ele se aposentou, agora o Chris é o melhor QB ainda em
atividade, e conhecendo o meu amigo, sei que ele vai querer ultrapassar o
Tom, que sempre foi a sua inspiração.

E falando nesse outro time… eu recebi algumas propostas deles no


ano passado.

Eles sabem que essa é a minha última temporada com contrato ativo,
eu poderia ir para outro time, se quisesse. Então eles mandaram propostas
surreais, com pagamentos absurdos.

Mas eu não tenho a intenção de ir para outro time e o Gorillas já


deixou claro que tem a intenção de renovar o meu contrato por mais alguns
anos. Eu estou pensando em fechar mais umas três ou quatro temporadas e
me aposentar ao final delas.

Eu amo o que eu faço, de verdade, mas prefiro sair de campo ainda


sendo um dos melhores. Não quero esperar o esgotamento físico me afastar,
não quero sair porque deixei de ser tão bom quanto sou agora.

— Vocês vão fazer o que agora? — Christopher pergunta, tirando


todo o equipamento e pegando sua roupa no armário. — Podíamos fazer
uma festa lá na minha casa.
— Cara, a Hope vai te matar! Endoidou? — Encaro o meu amigo,
esperando uma resposta.

— Você acha que eu daria essa ideia se não tivesse falado com ela
antes?

A gente ri ao ouvi-lo, porque é mesmo inacreditável a sua mudança.

— Ela deixou a coleira bem apertada mesmo, né? — Calleb zoa.

— Antes apertada como a minha do que solta como a sua!

— Ui! Essa foi pesada, Chris. — Quase não consigo falar de tanto
que eu rio.

Calleb fica com uma cara de quem comeu e não gostou e mostra o
dedo do meio para o nosso amigo.

— Para que inimigo, né? — o guards resmunga. — Mas, eu topo!


Até os jogos acabarem, a gente não deve pegar pesado com balada e nem
bebida, uma festa em casa acho que está de ótimo tamanho.

— Você lembra que as festas dele eram piores que qualquer balada
que já tenhamos ido, né? — relembro.

— Sim, Ash! Mas agora tem o lance da coleira bem presa que eu
acabei de falar.

Eu concordo, rindo dos dois.

Parecem irmãos, o tempo todo um perturbando o outro.

— Dessa vez eu estarei fora, vou jantar com a minha mãe e o


provável futuro namorado dela.

Os dois param o que estão fazendo e se viram para mim, me olhando


com surpresa.

— Isso é sério? — Chris pergunta, incrédulo.


— Sim!

— Sabe que estaremos aqui se precisar assustá-lo, né? — Calleb diz


e faz força com o braço, mostrando os bíceps do tamanho da minha coxa. —
Sua mãe é uma pessoa maravilhosa e não deixaremos que ninguém a magoe
sem sofrer…

— Eu com certeza contarei com vocês para isso!

Eu os deixo conversando e vou tomar um banho rápido, sabendo que


a minha mãe e o Steven estão me esperando para o bendito jantar. Havia
mandado uma mensagem para ela antes do jogo, falando para que fossem na
minha frente quando acabasse a partida e eu os encontraria uns 40 minutos
depois.

É bom que assim eles possam talvez tomar um vinho e ficarem mais
tranquilos para o jantar que provavelmente será meio constrangedor.

Tomo o banho, me arrumo, pego as minhas coisas e me despeço dos


meninos antes de ir até o meu carro para encontrá-los no restaurante que o
Steven marcou.

O manobrista pega o meu carro e me parabeniza pelo resultado do


jogo de hoje. Agradeço e autografo um guardanapo que ele arruma na hora
em que fala comigo.

— Boa noite, Sr. Murphy! — a hostess me atende de forma educada


e me leva até a mesa em que minha mãe está. — Tenham um bom jantar.

Agradeço e vou até a minha mãe para beijar a sua testa e


cumprimento o Steven.

Os dois estão nervosos e isso é bem óbvio para qualquer pessoa que
os observe.

— Foi um ótimo jogo, Asher — Steven diz, puxando assunto. —


Confiantes para o próximo?
Devo confessar que é uma ótima forma de iniciar uma conversa
comigo. Não há nada que eu goste mais de falar do que futebol.

Nós seguimos nesse assunto e aos poucos vamos falando de outras


coisas de acordo com os temas que vão surgindo em nossa conversa.

Percebo que pouco a pouco a minha mãe vai ficando mais tranquila e
ele também, se sentindo mais confiante a falar sem ter que medir as palavras.

— Já volto! — minha mãe diz ao se levantar e vai na direção dos


banheiros.

Não sei se ela realmente queria ir ao banheiro, mas com certeza vai
demorar mais do que o necessário para deixar que nós dois conversemos
sozinhos.

— Asher, eu espero que não tenha ficado chateado com a nossa


discrição até agora — ele começa a falar. — Da primeira vez que sua mãe e
eu nos aproximamos, ela tinha muito medo de se envolver com alguém. Na
época, eu sabia da história do seu pai por que você mesmo havia me
contado, então eu acabei deixando que ela se afastasse quando começou a se
assustar com a possibilidade de termos algo sério.

— Não estou chateado, eu entendo. Mas, o que diferencia de antes


para agora? Por que agora você quer se arriscar a fundo?

Ele abre um sorriso bem modesto, contido.

— Eu amo a sua mãe, Asher — fala, me olhando nos olhos. — Me


apaixonei por ela enquanto ainda era o médico dela! Sua mãe é única… eu
não tinha como não me apaixonar, foi impossível.

— Você sabe que ela sofreu muito, né? — Ele concorda. — Que teve
um único amor e ele a destruiu de um jeito que eu pensei que não seria capaz
de reparar! E saber que agora ela está se abrindo para alguém, ou melhor,
que ela já fez isso e agora está dando uma chance de verdade, me assusta no
mesmo nível que me deixa feliz. — Sou o mais sincero possível. — Eu
admiro muito você, Steven. E sempre te vi como um homem decente, e por
conta disso, eu acredito e vou confiar que fará o impossível para fazê-la
feliz.

— Eu farei, não tenha dúvidas — o homem diz, com os olhos


brilhando. — Nós voltamos a conversar há algum tempo e eu vi que a paixão
de antes nunca foi embora, só que agora se tornou algo ainda maior… Nós
não somos mais jovens, todo minuto que perdemos é como se fossem horas,
e eu quero mostrar a ela o que é ser amada de verdade.

Eu acredito nele.

Acredito que ele a ame de verdade.

— Minha mãe estava realmente preocupada em como eu reagiria,


né?

— Você não tem noção do quanto, Ash.

Ela volta para a mesa neste exato momento.

— Tudo bem por aqui? — pergunta, querendo nos sondar.

— Sim, Sra. Murphy! — digo, com os olhos semicerrados. — Já


deixei avisado que os dias de namorar são apenas sábado e domingo! E
também serão vigiados rigorosamente, nada de portas fechadas e música alta
dentro do quarto — brinco e os dois riem.

Eu vejo que minha mãe tira uma tonelada das suas costas quando tem
a certeza que eu estou feliz por ela, e seu olhar de agradecimento mexe
demais comigo.

Minha mãe é a minha vida, e eu só quero que ela seja feliz.


Papai resolveu fazer um grande almoço aqui em casa hoje e chamou
alguns amigos.

Ele está muito estressado nesses últimos dias por causa do trabalho.
Tanto na fábrica automotiva quanto no seu time, e eu não consigo entender
como ele dá conta das duas coisas, que são totalmente opostas.

— Se eu soubesse que era para vir nesse nível, teria ido ao salão ao
invés de fazer o meu cabelo sozinha — Madison diz ao entrar em meu
quarto e me abraçar, dando um beijo estalado na minha bochecha. — Como
está o seu humor hoje?

— Está ótimo e espero que continue assim! — digo, encarando-a


pelo reflexo, enquanto limpo o batom que acabou de depositar na minha
bochecha. — Por que essa pergunta, Mad?

Ela dá um sorriso amarelo, antes de responder.


— Kendrick está lá embaixo com os pais dele.

Ótimo.

Mas eu sabia que em algum momento ele voltaria a frequentar a


nossa casa.

— Tudo bem, Mad. Não se preocupe com isso, está tudo sob
controle. — Pelo menos, assim eu espero.

Termino de colocar os meus brincos, sento na beira da cama para


fechar a tira da minha sandália e desço com a minha amiga.

Papai contratou o buffet que sempre faz tanto os eventos dele de


trabalho como os nossos pessoais e eu amo, eles são incríveis e cozinham
muito bem. Sempre que rola esses eventos aqui em casa, ele libera os nossos
funcionários, contratando outros de fora que já são de sua confiança, e os
convida para se juntar a nós.

Eu adoro o fato do meu pai e minha mãe não serem aqueles patrões
que se acham inalcançáveis e tratam os funcionários da casa com
inferioridade.

Inclusive, eles não só tratam muito bem – como todos deveriam fazer
– como também fizeram questão de construir uma casa para eles aqui no
nosso terreno, custeando todos os gastos para eles e dando uma melhor
qualidade de vida também.

Perdi as contas de quantas vezes eu já fui e ainda vou até lá ficar com
eles, adoro todos, sem exceção.

— Que saudades da minha juventude! — Nelly diz assim que nos vê,
abraça a Mad e depois me dá um abraço apertado, fazendo um carinho em
meu braço. — Vocês estão lindas!

A mãe do Kendrick nos olha com admiração e carinho.

— Você consegue ser ainda mais bonita do que nós duas juntas,
Nelly! — digo e Madison concorda. — Como vão as coisas? Parece que não
te vejo há muito tempo.

Nós três seguimos juntas para a área externa, onde todos estão
espalhados pelo enorme jardim que recebeu uma singela decoração para
comportar bem todos os convidados.

— Na verdade, você não vai a nossa casa desde um dia antes do Ken
voltar!

Ah, é verdade.

— Eu prometo que voltarei a frequentar a sua casa, eu só preciso de


mais um tempo... e não quero que seu filho não se sinta à vontade no próprio
lar por causa de mim.

— Não vou superar o fim de vocês! — confessa. — Mas eu entendo


os seus motivos. É que é tão estranho não te ver na nossa casa todos os finais
de semana! Parece que a minha própria filha saiu e não voltou nem para nos
visitar.

Eu a entendo, também sinto algo parecido com isso.

— Quais as chances de a minha próxima sogra ser tão incrível quanto


você? — digo, fazendo uma careta de frustração e ela ri.

— Impossível, Julie! Impossível — brinca.

Aproveito que já estou em sua companhia e vou até a mesa onde


Elvis e Kendrick estão na companhia do meu pai, que conversa e ri de
alguma coisa que deve ter sido muito engraçada.

Ken é o primeiro a nos ver e percebo que ele fica um pouco tenso.

— Oi, meninos! — digo em um tom descontraído.

— Ah, como é bom ver alguém fingindo que somos jovens! — Elvis
se levanta e me abraça. — Como você está, querida? Seu pai me contou
sobre o seu emprego, isso é ótimo. Será que posso esperar que daqui a uns
anos você abrirá a sua própria editora?
Eu sorrio ao ouvi-lo.

— A ideia disso é incrível — respondo-o.

— Apenas diga quando e onde, querida! Quero ser o seu sócio —


meu pai diz e eu o abraço de lado, sem fazê-lo se levantar para falar comigo
e beijo o alto da sua cabeça.

Por mais que ele esteja falando da boca para fora, eu não duvidaria
nada de que ele seria meu sócio em qualquer coisa que eu quisesse, ou até
mesmo me daria tudo, sem esperar nenhum retorno.

Mas, por ora, eu estou bem onde estou e fazendo o que faço.

— Oi, Kendrick! — falo assim que o encaro. — Você está bem?

— Oi, Julie... melhor agora!

Sinto o corpo do meu pai ficar meio tenso, mas eu mantenho o meu
braço ao redor do seu corpo, tranquilizando-o.

Isso tudo é tão complicado, odeio que tenha chegado a esse ponto.

Minha mãe vem até nós, trazendo uma taça de champanhe para mim
e para a Mad.

— Julie, o Ken começou a trabalhar lá na empresa — Elvis diz,


orgulhoso do filho. — Finalmente o meu sucessor está começando a mostrar
que será tão bom quanto eu!

— Isso é ótimo, Elvis — respondo-o. — Fico feliz por você, Ken.


Tenho certeza de que não teria ninguém melhor para esse cargo.

Ele sorri para mim, e por alguns segundos, eu sinto a falta do meu
amigo.

— O excesso de trabalho tem me ajudo muito a manter as coisas... no


lugar, se assim posso dizer — ele fala e logo depois se levanta, colocando as
mãos dentro dos bolsos. — Sei que não é o lugar para isso, mas eu acho que
nunca pedi perdão a todos vocês juntos... e eu quero que saibam que me
arrependo de tudo! Espero que em algum momento vocês me perdoem.

— Eu acredito que você se arrependeu, Ken — digo. — Tenho


certeza de que em algum momento nós iremos aprender a lidar com a nova
dinâmica entre nós dois, é só questão de tempo.

Não sei se realmente acredito nisso, mas eu espero que em algum


momento o clima ao menos não fique tão estranho.

— Quem é aquele ali? — Madison pergunta alto e todos olhamos na


direção em que ela indica.

— O nosso dentista? — indago, vendo-o na direção em que ela


mostrou, totalmente confusa.

Minha amiga bufa ao meu lado.

— Não, né!? O homem atrás dele.

Assim que ela fala, o homem dá um passo para o lado e eu consigo


vê-lo.

— O mais velho é o enteado dele, Gregory — meu pai responde. —


E o de camisa branca é o Robin, o seu filho mais novo.

Gregory é bem bonito e o garotinho é uma gracinha, porém, sinto


uma familiaridade no rosto do menor, mas eu conheço muitas pessoas, devo
estar confundindo.

— Acho que vou lá dar as boas-vindas, fazer com que se sintam à


vontade! — Madison diz, toda animada em conhecê-los. — Vem comigo,
Julie?!

Ela é ótima em me deixar constrangida, é praticamente um dom.

— Alguém tem que te controlar, né? — Me afasto do meu pai e vejo


pelo canto dos olhos que Kendrick trinca o maxilar, mas não faz nada,
continua onde está.
— Você precisava mesmo falar desse jeito e me chamar logo depois?
— Seguro a mão da minha amiga, fazendo com que ela ande mais devagar.

— Eu não fiz de propósito, mas, é bom que o Kendrick comece a


aprender a lidar em estar em um mesmo lugar com você e ter outros homens
te desejando! — diz, me olhando séria. — Para de ficar se preocupando com
os sentimentos dele, Julie! Eu sei que você é uma mulher incrível, que
sempre coloca as pessoas acima de você, mas ele não merece mais ter esse
posto.

Ela está certa.

— Te amo! — digo e ela pisca para mim. — Agora, por favor, não os
assuste! — fala, antes de chegarmos até eles.

Madison já chega se apresentando para o mais velho e também


cumprimenta o garoto, que sorri envergonhado.

Acabamos os três indo até o bar que montaram perto da piscina e o


menino fica com o pai. Nós conversamos um pouco, mas eu deixo que a
Mad tenha a atenção do Gregory.

De qualquer forma, não tenho me sentido atraída por quase ninguém


que tenho conversado ultimamente.

Sempre penso que o Asher seria mais gentil, naturalmente engraçado


e não forçaria a barra para tentar me agradar.

Não estava acostumada com alguém que é cuidadoso em tudo, até no


que fala, mas aí eu o conheci e foi o suficiente para gostar desse traço e
querer conhecer alguém parecido, já que infelizmente com ele não posso ter
nada além de uma amizade a distância.

Os dois acabam ficando sem assunto e a Mad disfarça para sair de


cena, falando que tem que atender uma ligação.

— Você é a filha do Sr. Fanning, né? — ele puxa assunto comigo,


tentando ser simpático. Faço que sim com a cabeça, respondendo a sua
pergunta. — Acho que ele não sabe, mas fui contratado na semana passada
para trabalhar na fábrica.

Fico surpresa com essa informação.

— Jura? Isso é ótimo! Mas ele não sabe?

— Não... quando o meu pai falou da vaga, eu não quis que falasse
nada com o seu! Queria entrar por mérito próprio.

— Que bom que conseguiu. — Sorrio. — É você o novo engenheiro


industrial? — pergunto ao me lembrar do meu pai falando que estava
precisando urgente de um funcionário para esse cargo.

Ele concorda.

— Começo amanhã! Espero que não seja um problema para ele ao


descobrir que sou eu...

— Não será, tenho certeza disso… — Aponto para o meu pai e o


padrasto dele conversando animados, provavelmente devem estar falando
exatamente disso.

Meu telefone vibra dentro da minha bolsa e eu tiro só para ver se é


algo importante e o nome do Asher aparece na notificação.

Ele mandou uma foto de uma televisão enorme, passando Como Eu


Era Antes de Você.

Asher: A minha mãe já está chorando e nem chegou na parte triste!

Eu sorrio ao ver a mensagem.

Eu: Não esquece de gravar a sua reação quando chegar na parte da


despedida! E na carta também.

Asher: Minha mãe já está com o celular dela em mãos para me


gravar.
— Desculpa, que falta de educação a minha! — digo ao notar que o
ignorei para responder o Asher.

— Tudo bem, eu também ficava empolgado assim quando comecei a


trocar mensagens com a minha noiva.

Fico animada com a pequena possibilidade de ouvir uma história de


amor e guardo o celular na bolsa.

— Então você é noivo? — pergunto e ele concorda. Na mesma hora,


tira o celular do bolso da calça e me mostra a foto da tela de bloqueio.

— Débora! A conheci no primeiro dia da faculdade e já sabia que ela


era a mulher da minha vida — conta, com um sorriso apaixonado no rosto.

— Ela não pôde vir?

Acho que fiz uma pergunta errada.

No mesmo momento, a sua feição muda e seu olhar ganha um tom


frio, triste.

— Ela está em coma há 4 anos!

Coloco as duas mãos na frente da minha boca, negativamente


surpresa com essa informação.

— Meu Deus, Gregory... Eu sinto muito! Desculpa ter perguntado, eu


não fazia ideia.

— Tudo bem, não teria como saber.

Deus!

Isso deve ser tão triste.

— Sinto muito mesmo!

— Obrigado, Juliana.
Ele olha novamente para a foto e seu sorriso apaixonado volta para o
seu rosto.

Eu não consigo imaginar como deve ser para ele viver assim, com o
amor da sua vida fisicamente ali, mas ao mesmo tempo não. Não sei se eu
suportaria a dor da esperança e expectativa.

Gregory me conta mais sobre como a conheceu e eu vou me


apaixonando pela história dos dois. Tenho a sensação de que ele não tem
muitos amigos. Em alguns momentos, ele parecia estar desabafando, como
se não tivesse com quem contar e conversar.

— Minha noiva teria gostado de você! Ela sempre dizia que são boas
as pessoas que nos deixam livres para falar sobre a dor da alma.

Isso é tão profundo e triste.

— Sua noiva deve ser uma mulher incrível.

— Ela é!

Meu pai me chama alguns minutos depois, e eu peço licença para ir


até ele.

— Eu estou tentando trazer alguns nomes grandes para o time, Jay.


— Escuto o General Manager do Taurus falando com o meu pai. — Asher
Murphy e o Alex Santoro são os que você deixou o valor livre desde que
conseguíssemos trazê-los para nós! Alex está quase certo de vir, mas o Asher
está difícil demais.

Minhas pernas ficam fracas ao ouvir o nome do Asher.

Como assim o meu pai está tentando chamá-lo para o time?

— Asher é o melhor running back da história! Por mais que eu não


goste de assumir, porque ele não está no meu time, essa é a verdade.

Me aproximo quando consigo recuperar as forças e meu pai muda de


assunto pelo simples fato de saber que não me interesso por futebol.
Mas mal sabe ele do meu interesse por um jogador específico.
Hoje o treino foi todo voltado para a musculação. Não gostava muito,
até que com uns 16 anos comecei a malhar em uma academia que fizeram na
praça perto de onde eu morava.
Só podia ir na parte da manhã, porque no final da tarde e da noite, os
meninos ficavam vendendo droga e eu não queria me meter em problemas.
Os pesos lá eram feitos com concreto e várias coisas recicláveis, mas
funcionava muito bem. Só precisávamos ter muito cuidado porque eles
costumavam quebrar do nada por serem aparelhos e acessórios
improvisados.
E com o tempo, quando meu corpo começou a modificar, passei a
gostar do processo que me dava esses resultados.
— O ruim das notícias vazarem é que toda semana tem aparecido
uma mulher diferente lá na frente do apartamento falando que sou pai dos
filhos delas! — Christopher resmunga e eu volto a prestar a atenção nele.
Calleb ri e dá um tapa na nuca dele.
— Nisso que dá sair fodendo Nova York inteira!
— Eu sou um novo homem, Calleb — diz enquanto faz mais um
agachamento com mais de 120 quilos. — Agora eu sou um pai de família!
— Trava a barra na máquina e sai dela.
Limpo o suor dele na barra, aumento mais 10 quilos em cada lado e
começo os meus agachamentos.
— Calleb! — Hope aparece na sala de musculação e eu prendo uma
risada. Parece até que sente quando o assunto é a antiga vida de solteiro do
namorado. — Depois pode vir até a minha sala, por favor?
Christopher faz um coração com as mãos e sopra um beijo na direção
da namorada, que sorri e sopra um beijo de volta.
— Vocês são bregas! — Calleb resmunga e sai da sala, sumindo com
a Hope.
Assisto tudo do espelho enquanto termino as minhas repetições.
— Estou preocupado com o ombro dele! — comento, enquanto
arrumo o peso para fazer um supino. — Calleb não vai falar se estiver
sentindo dor até ser algo muito absurdo.
Christopher concorda.
— Tentei sondar com a Hope, mas ela fez graves ameaças à minha
integridade física se eu continuasse pedindo informações sigilosas.
Era óbvio que ela não falaria.
Christopher deita no aparelho e eu o ajudo a iniciar os movimentos.
— Você tem recebido ofertas de outros times? — pergunto e ele
murmura um “uhum”, enquanto faz os movimentos. — Acho que nunca
foram tão insistentes quanto tem sido esse último mês.
— O draft é pouco depois do Super Bowl! E você está em alta,
irmão — diz e levanta para que eu fique onde ele estava. — Seu nome saiu
na lista dos mais desejados pelos times grandes.
Empurro o ferro com dificuldade pelo excesso de peso, desço os
braços até a barra quase encostar em meu peito e empurro novamente.
Repito esses movimentos doze vezes.
— Saiu? Não fiquei sabendo. Na verdade, eu nem vejo mais essa
lista, mas de qualquer forma, os outros times têm sido bem agressivos nas
propostas — falo um pouco afobado pela respiração descontrolada após os
movimentos. — É muito dinheiro!
Christopher me olha com uma sobrancelha erguida.
— Deveria reconhecer o seu valor, Ash! Já viu o tempo que faz em
campo? Todos os pontos que marca? Você é incrível, com certeza vale todo
esse valor ou até mais.
— Você fica uma graça todo fofinho! — implico com ele e recebo o
seu dedo do meio em resposta, além de uma revirada de olhos. — Como a
Claire está? Saudades daquela garotinha.
Na mesma hora, o rosto do meu amigo se ilumina.
— Ela está ótima, Ash! Já aprendeu várias palavrinhas curtas, e para
o meu azar, Hope conseguiu transformá-la em uma fã de High School
Musical. Esses dias ela está bem enjoadinha, com febre e só dormiu quando
coloquei a bendita playlist no YouTube com todas as músicas.
Eu nunca tinha ouvido uma música sequer desse filme, mal sabia
algo sobre, além de ser um musical adolescente, mas todas as vezes que vou
na casa deles, ela sempre pede para ouvir.
— Se serve de consolo, esses dias eu estava assobiando uma das
músicas que ela gosta.
Ele ri de desgosto.
— Mas eu escutaria 24 horas por dia se isso significar que ela ficará
feliz. — Ele volta a fazer o exercício, se concentrando nos movimentos para
fazê-los com perfeição. — Todo dia quando a coloco para dormir, me
pergunto como vivi todo esse tempo sem tê-la.
— Ela ganhou o coração de todo mundo!
— Eu não consigo mais me imaginar sendo outra coisa que não pai…
e marido!
Eu quase deixo o peso que estava trocando da barra cair no meu pé
ao ouvi-lo e o encaro, chocado e muito surpreso.
— Marido? Como assim?
— Vou pedi-la em casamento!
— Sério? — Ele faz que sim e eu comemoro, batendo a minha mão
na dele e apertando-a. — Isso é foda demais, Chris. Vocês realmente
estavam destinados a se conhecerem.
Ele pega o celular e me mostra a aliança que já encomendou.
É linda, delicada e tem um belo diamante que deve custar uma boa
porcentagem do salário dele, mas eu duvido que Chris tenha sequer
perguntado o valor antes.
Ele vai me contando os seus planos para o pedido enquanto
terminamos de malhar, e dou alguns conselhos de como deixar tudo ainda
mais legal.
— Vocês já parecem mesmo uma família de comercial, faltava só
formalizar. Já moram juntos, ela se tornou a mãe da sua filha e te ama! Não é
qualquer mulher que aguentaria a mudança radical depois da chegada da
Claire.
— Isso foi uma das coisas que mais me surpreendeu nela, sabe? —
diz. — Eu já estava apaixonado, mas ver como ela aceitou bem a Claire foi a
confirmação de que o meu coração fez a escolha certa!
Pego uma toalha que fica disponível em um suporte com várias delas
e seco o suor do meu rosto e braços enquanto o escuto.
— Você deu muita sorte, Chris! A vida foi boa com você, apesar de
tudo que já passou.
Ele concorda com um olhar meio perdido, provavelmente resgatando
lembranças do passado.
— Passaria todo aquele inferno novamente se eu soubesse que hoje
estaria tão feliz! Eu não tenho do que reclamar mesmo. Minha filha é
perfeita, minha namorada é a melhor e meus pais são… porra, eles são tudo!
Outros jogadores chegam na sala, nós os cumprimentamos e saímos
para dar uma corrida no campo antes de finalizarmos os treinos de hoje.
— Seus pais já sabem que pretende se casar?
— Não, você é o primeiro a saber. Calleb ficaria animado demais
com isso e acabaria deixando transparecer para a Hope que algo acontecerá
— diz. — Quero pegá-la de surpresa mesmo!
Nós começamos a correr, dando tiros curtos e depois longos.
Eu acabo indo mais rápido do que o Chris, que reclama o tempo todo
e tenta me atrasar para chegar no final do campo primeiro.
Nós sentamos no chão, com a respiração acelerada.
— Recebeu o convite para a festa das gêmeas na Lótus?
— Recebi sim, mas não vou.
— Por que não? Vai ser uma ótima festa para solteiros… só leva suas
próprias camisinhas, não confio nas que elas distribuem.
As gêmeas eram duas modelos que o Christopher ficava de tempos
em tempos. Elas são pessoas legais, divertidas e sempre me dei muito bem
com as duas. Teve um tempo que elas flertavam comigo, mas acho que
entenderam que eu não me envolveria com uma pessoa que um dos meus
melhores amigos já se envolveu.
— Talvez se o Calleb for, eu vá também! Não gosto de ir nessas
festas sozinho, você sabe disso.
Ele ri e dá um chute de leve na minha perna.
— Estou começando a ficar preocupado, Ash. O que será da sua vida
sexual agora que o seu amigo, que te arrastava para as festas e baladas, está
comprometido?
— Vai continuar do mesmo jeito, Chris. Acredite, a sua influência
não mudou em nada nela.
— Falando assim até parece que você não tem uma vida sexual. —
Ele se levanta e eu também, mas permaneço em silêncio. Christopher cruza
os braços, esperando por alguma resposta, mas ela não vem. — Mas… você
realmente é muito discreto! Nunca acordou acompanhado na minha casa, eu
sei que não leva ninguém para a sua por causa da sua mãe, nunca sumiu nas
festas.
Esfrego as minhas sobrancelhas, irritado com essa enrolação dele.
— Me pergunta o que você quer saber logo, Christopher.
— Você já fodeu, né? Não, esquece… que pergunta ridícula! Claro
que você já fo…
— Eu nunca transei, Chris.
— O QUÊ? — ele grita e sua voz sai tão fina, que me arranca uma
risada. — Você tá me zoando, né?
— Não, estou falando sério.
Ele começa a rir, fica sério e depois ri de novo.
— É sério mesmo? Jura pela vida da minha filha?
— Juro, irmão!
Ele fica meio estático, depois anda de um lado para o outro e volta a
ficar de frente para mim.
— Eu não ri por isso, foi mal. Pensei que estava me zoando! Sei que
tem pessoas que são assexuadas, outras que só se envolvem fisicamente
depois de ter uma ligação emocional…
— Só nunca teve alguém que me fizesse ter vontade de ir até o fim,
só isso.
— Eu não imaginava mesmo… mas nem um boquetinho?
A curiosidade do meu amigo é ridícula, só não é mais do que a sua
cara querendo realmente saber.
— Já, Christopher! Quer uma lista do que já fiz?
— Uma lista não, mas… já viu uma mulher pelada pessoalmente? Já
bateu uma punh…
Saio andando, porque não consigo acreditar que realmente está
perguntando essas coisas, mas ele vem atrás de mim e suas perguntas
parecem não ter fim.
Por que eu fui contar essa merda?
— Me manda tudo por e-mail, eu te respondo por ordem cronológica
dos acontecimentos, tá bom? — falo com ironia.
— Só fiquei curioso, foi mal — diz e fica me olhando igual criança
que quer perguntar algo aos pais, mas está com medo da resposta. — Posso
perguntar só mais uma coisa? Prometo que nunca mais toco no assunto.
Respiro fundo, pedindo ao Universo que me ajude a não dar uma
cotovelada no queixo dele.
— Pergunta logo, caralho.
— Já assistiu filme pornô?
Eu o encaro, sem acreditar em como ele é um idiota. E o pior de tudo
é que ele não está me zoando, Christopher realmente está genuinamente
curioso sobre essas coisas.
Hope é uma santa mesmo, não tem outra explicação para alguém
aguentar ser namorada dele.
Eu amo NY e todas as diversas opções de coisas para se fazer.
Simplesmente tem entretenimento para todos os gostos e idades.

É incrível.

Mas com o tempo, fui me apegando a certos bares, restaurantes e


lojas.

E um dos meus bares favoritos, é a Lotus.

O dono é um ex ator de Hollywood, Jackson Frazer. Quando vim a


primeira vez, não sabia disso e me surpreendi ao vê-lo, porque era fã dos
filmes que fez e fiquei triste quando anunciou que se afastaria das telas.

De tanto vir aqui, acabei fazendo amizade com ele.


— E aí, Julie! — Jack diz quando me aproximo do bar, lugar onde
ele normalmente fica. — Deixa eu adivinhar… um drink bem docinho para
as duas?
— É por isso que eu nunca deixo de vir aqui, você é o melhor.
Ele sorri e começa a preparar a bebida. Nunca escolho uma
específica, deixo nas mãos dele ou de outro barman.
Antigamente, era certo encontrá-lo aqui todos os dias, sem exceção.
Mas depois que a sua filhinha nasceu, ele se ausenta bastante para ficar com
ela.
— Mad! Julie! — Escuto as aniversariantes falarem em uníssono
quando nos veem.
Nós nos cumprimentamos, fazemos toda aquela bajulação que ambas
amam, tiramos algumas fotos e depois elas dizem que vão falar com os
outros convidados, mas não deixam de pedir para que fiquemos para o pós-
festa.
Essa é a festa em que as coisas pegam fogo, super-restrita e com
algumas regras para que tudo aconteça tranquilamente.
E a regra mais importante é que é proibido o uso de celular e a
discrição é o convidado de honra. Ou seja, guarde para você o que acontecer
e tudo que ver. Dizem por aí que quem já contou sobre essa festinha para as
pessoas erradas, entrou para a lista de inimigos das gêmeas.
— Eu nunca vou me acostumar com as duas facetas delas! — Mad
diz, olhando na direção que elas foram.
— Ninguém seria capaz de se acostumar, Mad.
As duas são modelos internacionais, costumam ser bem sérias e têm
uma marca de biquíni muito famosa. Eu mesma praticamente só compro da
marca delas, são impecáveis. E ninguém imagina que duas irmãs tão sérias
se transformam em mulheres divertidas, que adoram falar besteira e fazem as
pós-festas mais concorridas de NY.
É muito comum ver pessoas querendo saber o que fazer para entrar
na lista de convidados delas.
— Pronto! — Jack nos entrega nossos drinks e nós pegamos. —
Qualquer coisa que precisarem, pode falar com a Bruna. Eu já devo ir
embora!
Nos despedimos dele e vamos dar uma volta pela Lótus.
O bar do Jackson é um dos mais famosos aqui em NY, mais
precisamente na Times Square. Ele abre no final da tarde e fica até de
madrugada. Normalmente lá pelas 10 da noite o clima muda e quase vira
uma balada mais organizada.
Ele também fecha a Lótus para eventos privados, como o de hoje.
— Você podia fazer seu aniversário aqui, Mad — falo perto do
ouvido dela quando paramos em uma mesa alta, que estava disponível.
— É uma boa ideia! Mas esse ano quero três comemorações
diferentes.
Lá vem ela com suas ideias mirabolantes.
— Três, Mad?
— Exato! Uma festa na piscina, uma festa aqui, provavelmente, e
uma festa em um cruzeiro.
— Me convide para todas! — digo e pisco para ela. — Em qual
dessas seus pais serão convidados?
— Vou chamar o meu pai para todas, exceto o cruzeiro e minha mãe
apenas para a da piscina, que farei lá em casa mesmo. Essa será a mais
tranquila, convidarei seus pais, os seus ex-sogros e meus pais também
devem levar os seus próprios convidados.
Eu olho os grupos de pessoas separadas em lugares mais distintos,
enquanto a escuto. E de longe, vou reconhecendo várias pessoas.
Quais delas irão para a pós?
— O que você quer dizer com mais tranquila, Mad? — Volto a
prestar atenção na minha amiga.
Ela abre um sorriso malicioso e joga o cabelo para o lado oposto que
está, fazendo um suspense, antes de me responder.
— A festa na minha casa será um almoço, teremos bebidas e todos
comportados. — Sim, já era de se esperar. — Aqui cada um se comporta da
forma que quiser, bebe o quanto quiser e também vai embora na hora que
decidir.
— E o cruzeiro?
— Bom… pretendo fazer duas noites no cruzeiro! A primeira noite
terá uma apresentação maravilhosa do Magic Mike e a outra um baile de
máscaras.
Ok, pensei que teria algo mais pesado.
— Vindo de você, achei até tranquilo. — Bebo um pouco do meu
drink, sentindo o maxilar trincar um pouco por causa do azedo do limão e
me surpreendendo com o frescor e docinho logo em seguida.
— Olha como será a decoração do baile de máscaras! — Ela procura
pela foto na galeria do celular e depois me mostra.
Sinto o álcool queimar muito, mas quando entendo o que está ali na
imagem.
— Você entende o que é um baile de máscaras?
— Sim! Não viu que todos terão que usar máscaras? — me pergunta
de um jeito inocente.
— Mas normalmente as pessoas usam roupas formais, de gala… não
roupas íntimas!
Ela ri, orgulhosa da ideia doida.
— E esse será o diferencial, amiga. Todos terão que ir com roupas
íntimas, lingeries, cuecas… Teremos vários quartos disponíveis para quem
quiser ir além nas comemorações! — Me mostra outra foto. — Terá também
itens de BDSM, homens e mulheres dançando sensualmente em cima de
pedestais e umas brincadeiras sensoriais.
Minha boca abre sozinha enquanto eu a escuto. Até espero um pouco
para ter certeza que ela não está brincando, mas pelo visto, é verdade.
Madison enlouqueceu de vez, só pode.
— Você vai estar morta depois desse cruzeiro se seus pais
descobrirem! Sabe disso, né?
Ela dá de ombros.
— Eu vou fazer 26 anos, amiga! Não posso viver me preocupando
com o que eles acham ou deixam de achar… e vou pegar algumas dicas com
as gêmeas para fazer de um jeito que essa festa não vaze.
Pego o meu celular de dentro da bolsa na intenção de entrar no
Pinterest e procurar máscaras que escondam bem o rosto, mas que ainda
sejam bonitas, porém, a notificação com o nome do Ash ganha toda a minha
atenção.
Asher: Espero que goste!
Hã?
Segundos depois de eu ler a mensagem, um garçom aparece e deixa
duas bebidas em minha mesa. Eu aviso que deve ter sido um engano, porque
ainda não pedimos outra, mas ele informa que alguém pediu para entregar a
mim.
Asher: Você parece ter recebido uma notícia da sua amiga do tipo
que precisa de algo forte para digerir… e é bem docinha!
Olho ao redor, tentando achá-lo entre as pessoas, mas só quando me
viro, o encontro sentado em um sofá de couro. Asher levanta o copo na
minha direção e eu fico alguns segundos sem saber o que fazer.
Ele está com um ar tão sexy, sentado de forma mais despojada, a
barba um pouco maior do que da última vez que o vi, a camisa aberta o
suficiente para ver o seu peito.
E o maldito sorriso de lado, de quem sabe que é um grande gostoso e
molhador de calcinhas alheias.
Pego o drink que ele me deu e tomo um gole, encarando-o.
Meu telefone vibra na minha mão e eu abaixo o olhar para ver.
Asher: Você está linda, inclusive!
— É o Asher? — Mad pergunta quando olha na mesma direção que
estou olhando. — É, amiga… que difícil ter que negar esse homem!
— Agora, neste exato momento, está beirando ao impossível. —
Bloqueio o celular e fico de costas para ele novamente, muito ciente que não
serei capaz de ficar apenas flertando com ele. — Eu devo estar pagando por
algum pecado que já cometi, porque é o único motivo daquilo tudo lá me
querer e eu simplesmente não poder.
Ela ri, mas balança a cabeça em concordância.
— Eu simplesmente não saberia falar não!
— Madison, assim você não me ajuda.
Ela levanta os dois braços e depois faz um gesto na frente dos lábios,
demonstrando que ficará quieta.
Tento me distrair com qualquer outra coisa, mas eu sinto o olhar dele
sobre mim e a minha pele queima, querendo qualquer tipo de contato,
querendo senti-lo, mesmo que de forma breve.
— Ele está vindo aqui! — Madison diz com os olhos arregalados,
quase enfiando a cara dentro da taça. — Meu Deus, Meu Deus, Meu Deus!
— Ela sufoca um gritinho, e pouco tempo depois, sinto o calor do corpo dele
atrás do meu.
Me viro devagar, sem coragem de encará-lo de tão perto.
— Desculpa, eu sei que não deveria ter vindo até você!
— É, não deveria… mas que bom que veio. — O sorriso dele quase
me derrete.
Que inferno!
Eu estou realmente muito a fim dele.
Ele olha em meus olhos por alguns segundos e depois desvia.
— Boa noite! — cumprimenta a Mad.
— Boa noite, querido… — Não preciso olhar para ela para saber que
vai aprontar uma comigo, conheço até o seu tom de voz que antecede tal
coisa. — Que bom que você chegou, estava querendo ir falar com alguns
amigos, mas eu não seria capaz de deixar a Julie sozinha aqui, com tantos
predadores prontos para atacá-la.
Asher sorri ao ouvir a minha amiga e cruza os seus braços.
Nossa, ele é muito forte.
Muito mesmo.
Talvez a camisa dele rasgue, porque parece que vai…
— Eu posso fazer companhia a ela até você voltar! — ele fala com a
minha amiga, mas está me encarando. — E eu acredito que a minha camisa
não vai rasgar, Julie.
Madison sai rindo, e eu sinto o meu rosto queimar.
— Eu falei isso em voz alta? — Ele concorda. — Acho que você está
perto demais, meus neurônios estão desaprendendo a funcionar.
Ele dá alguns passos para trás quando eu falo.
Por que ele fez isso? Era para fazer ao contrário.
— Então você também conhece as meninas?
— Sim, conheço há muitos anos. — Olho na direção delas, que estão
dançando juntas com mais algumas pessoas ao redor delas. — Você
também? Aliás… não me conte! Não quero sentir inveja delas por
provavelmente te conhecer melhor do que eu.
Asher passa por mim, quase encostando o braço no meu e fica onde a
Mad estava.
— Eu as conheci através do Christopher, somos apenas amigos.
— Então eu sinto por elas, deveriam ter te conhecido melhor.
— Elas não fazem o meu tipo… mas são ótimas pessoas!
Não faz essa pergunta, Julie. Não faz es…
— E qual o seu tipo? — Fiz a pergunta! Qual o meu problema?
— Morena, alta, cabelo bem preto, olhos verdes, uma boca muito
bonita e de preferência com uma pintinha em cima do lábio superior — ele
diz com a voz mais rouca.
Por que parece que o meu coração está batendo entre as minhas
pernas?
Isso não deveria estar acontecendo.
— Não fala essas coisas, Ash… temos que ser apenas amigos,
lembra?
— Infelizmente eu lembro, Julie.
Nós dois nos encaramos em silêncio e depois eu rio.
É uma risada de socorro, uma risada de quem sabe que isso vai dar
muita merda.
— Ah, parabéns pelo último jogo! Falta ganhar só mais um e vocês
vão para a final, né?
Ele concorda.
— Sim… está tudo muito tenso! Estamos tão perto, mas ainda assim
isso não significa nada — comenta. — Assistiu ao jogo?
— Sim, assisti. — Isso é verdade. Meu pai estava estudando as
jogadas dos jogadores do Gorillas junto com o treinador principal hoje mais
cedo, quando fui até o estádio convidá-lo para almoçar comigo. — Você é
muito bom!
— Se um dia quiser assistir algum jogo do Gorillas, será sempre
convidada!
Nossa, isso seria o fim.
Imagina as notícias no dia seguinte?
De jeito nenhum.
— Claro, pode deixar.
Uma confusão no meio da pista de dança chama a nossa atenção e
Asher parece agir no impulso e fica na minha frente, pronto para me proteger
do que quer que esteja acontecendo. Tombo a cabeça para o lado na intenção
de ver, e me arrependo de ter feito isso.
— É o seu ex? — Asher pergunta, reconhecendo-o.
— Sim, é ele — suspiro ao afirmar.
Asher sai da minha frente e fica ao meu lado.
Pelo visto, ele brigou com alguém e agora está com a boca e a
sobrancelha sangrando. E uma das aniversariantes o ajuda com os
machucados.
— Vocês viram? — Madison chega até a gente, superagitada.
— Só o final — Asher responde.
— Ele estava dançando com uma menina, mas parece que ela tem
namorado e ele não gostou nem um pouco.
Kendrick acaba de nos achar entre todas as pessoas o encarando e
abaixa o olhar, envergonhado.
É triste vê-lo nessa situação.
— Quer que eu vá ver se ele está bem? — Asher se vira para mim e
pergunta.
— Não, tudo bem! É melhor não nos metermos.
Na hora que eu ia me virar, vejo que o Ken tenta ficar em pé, mas
acaba caindo de tão bêbado. E é triste ver os olhares que ele recebe das
pessoas.
Asher se afasta de onde estamos e vai até ele.
Madison envolve o seu braço no meu e assistimos juntos quando o
running back levanta o Ken com cuidado, fala algo com ele, joga um dos
braços dele pelo seu ombro e começa a carregá-lo para fora.
Fico vendo até que sumam pela porta que leva até o estacionamento.
Aos poucos, as pessoas vão ignorando o que acabou de acontecer e
voltam a se divertir.
Meu telefone começa a vibrar constantemente, eu atendo e peço para
que espere que vou até um lugar mais tranquilo para ouvi-lo.
Peço para que Mad me espere e vou até o banheiro.
— Oi, pode falar.
— Vou levá-lo para casa, Julie. Ele não consegue ficar em pé sem
ajuda.
— Eu posso pedir que alguém venha buscá-lo!
— Não, tudo bem! Eu não bebi nada além de água e suco, estou bem
para dirigir.
— Tem certeza?
— Claro! Você pode me passar o endereço dele por mensagem? Fui
perguntar e ele respondeu que mora no coração da morte.
Ele realmente está muito bêbado, o que seria “no coração da morte”?
— Eu te passo sim!
Asher desliga a ligação, e na mesma hora, dou o endereço dos pais
dele.
Isso vai ser muito embaraçoso.
Eu me meto em cada furada que às vezes nem acredito na minha
capacidade para tal coisa.
Por algum motivo, que até agora eu não sei qual, decidi tirar o
Kendrick da humilhação que estava passando no meio da festa com várias
pessoas conhecidas e que com certeza já tem conteúdo suficiente para
falarem dele.
Sei que alguma coisa de errado aconteceu entre Julie e ele. Acredito
que muito provavelmente ele fez uma merda grande e espero não me
arrepender de estar o ajudando. Mas lembro que ela disse que era alguém
próximo da sua família, então provavelmente seus pais devem ser pessoas
queridas para ela.
Enfim, independente de tudo, estou aqui levando-o para casa.
Fica a uns 15 minutos depois de onde moro.
— E-eu estou morrrrrrrrrendo! — ele tenta falar ao meu lado. —
Acho que vou vom…
Jogo o carro no acostamento ao vê-lo com ânsia, tiro o meu cinto,
abro a porta por cima dele a tempo de empurrar um pouco a sua cabeça para
fora e escuto o barulho altíssimo que faz enquanto vomita.
Olho para o banco de trás, vendo se tem alguma roupa ou qualquer
coisa que ele possa se limpar, mas não tem nada.
Ah! Os lenços.
Pego a caixa no porta-luvas e jogo no colo dele quando termina de
vomitar.
— Obrig-gado!
Volto a dirigir e ele vai falando várias coisas, mas eu não entendo a
maioria delas.
— Julie é muito espe… espe… não lembro a palavra!
— Especial?
— Siiiiiim! — diz, agitado. — Eu acho que vou amá-la… — ele
soluça algumas vezes. — …até morrer. Você quer me matar? É muito ruim
isso.
— Eu não vou te matar, Kendrick.
Paro na frente do condomínio em que ele mora e abaixo o vidro do
lado do Ken, para eles verem que estou com ele.
O segurança olha preocupado e na mesma hora me explica o
caminho até a casa dele.
— Eu fiz burrada e perdi o a-amor da minha vida! AAAAAAH! —
Coloca a cabeça para fora da janela e começa a gritar. Eu o puxo pelo braço
e fecho rápido o vidro para que ele não acabe acordando as pessoas.
Olho no relógio e vejo que já passa das 11 horas.
— Você acha que consegue entrar em casa sozinho? — pergunto ao
virar na rua que dá para a casa dele.
— Sim, eu sou adulto!
Desacelero aos poucos, mas assim que paro na frente da casa, vejo
um casal abraçado, com roupão de dormir e um olhar preocupado. Quando
saio do carro e abro a porta, os dois vêm rápido em minha direção ao ver o
filho deles.
— Ken, meu filho… — A mãe dele chega primeiro e segura em seu
rosto, vendo o estrago que fizeram ali. — O que houve com ele? — Ela se
vira para mim e pergunta.
— Não sei muito bem, senhora. Mas alguém bateu nele, pelo visto!
A mãe dele pressiona um lábio no outro, segurando o choro.
— Asher, né? — O pai dele vem até mim e estica a mão para me
cumprimentar. — Julie avisou que você o traria! Tenho uma dívida eterna
com você, rapaz.
Eu aperto a sua mão respondendo o cumprimento.
— Não precisa se preocupar, eu faria isso por qualquer um.
Ajudo a tirar o Kendrick do carro junto com ele, mas para piorar a
situação, ele desmaia assim que conseguimos colocá-lo de pé. Se não
estivéssemos ainda o segurando, ele ganharia mais um belo hematoma no
rosto, porque iria cair de cara no chão.
— Seria demais pedir que me ajudasse a levá-lo até a sala?
— Eu o levo, pode deixar.
Eu o seguro firme pelo peito e o jogo em meu ombro.
Os pais dele vão na frente e abrem a porta da mansão para que eu
entre.
— Pode deixá-lo no sofá!
E assim eu faço.
Coloco Kendrick lá com o maior cuidado possível e sinto o meu
ombro aliviar na mesma hora por causa do excesso de peso.
Os dois olham para o filho com um misto de preocupação e
decepção.
Imagino que não deve ser nada fácil para os pais receberem o filho
assim, sem ter noção do que aconteceu.
— Querido, muito obrigada! — A mãe dele segura as minhas mãos e
dessa vez não consegue controlar as lágrimas teimosas. — Você quer algo?
Podemos fazer algo por você?
— Não precisam se preocupar comigo, de verdade — digo e ela
concorda, indo de encontro ao marido que a abraça e deixa que chore em seu
peito. — Precisam de mim para mais alguma coisa?
— Não, Asher! Muito obrigado mesmo — o pai dele fala e eu só
aceno com a cabeça antes de ir embora.
Tenho a sensação de que existe um problema muito maior do que só
o fato de ele estar bêbado e ter entrado em uma briga.
Entro no meu carro novamente, e antes de ir embora, pego o celular
para mandar uma mensagem para a Julie.
Eu: Ele já está em casa com os pais!
O digitando aparece no mesmo instante.
Julie: O Elvis acabou de me falar.
Julie: Obrigada, Asher. Kendrick é uma pessoa complicada, mas eu
amo os pais dele, não gosto que tenham que passar por isso.
Eu: Você está bem? Imagino que deve ter perdido o clima.
Julie: Sim! Vim embora.
Eu: O que você precisar, sabe que estou do outro lado da rua, né?
Julie: Sim, eu sei.
Saio da conversa com ela e mando uma mensagem para Calleb,
explicando tudo o que houve e o motivo do meu sumiço. Tinha outros
amigos nossos lá, então acredito que deva estar conversando e só vai ver a
mensagem quando notar a minha ausência.
Jogo o celular no banco do carona e dirijo para casa.
A intenção de sair hoje era para conseguir relaxar um pouco, mas
aconteceu tudo, menos isso.
Ter encontrado a Julie foi ótimo e também me serviu para saber que
não sei se conseguiria ser apenas amigo dela. Pelo menos, não enquanto o
meu corpo todo se agita quando a vejo.
Não tem como ser amigo de uma pessoa que eu desejo.
E acho que esse meu desejo está fazendo com que eu tenha
alucinações, porque estou vendo Julie na portaria do meu condomínio,
abraçando o próprio corpo e esfregando uma mão na outra.
Paro o carro na entrada e abro a porta para ela.
— Meu Deus, Julie! Está aqui há quanto tempo?
A morena entra no carro, eu aumento o aquecedor e ela olha no
relógio, conferindo as horas.
— Acabou de fazer 15 minutos que estava te esperando! Só não
imaginei que o sobretudo não seria suficiente para me esquentar…
Julie coloca as mãos na frente da saída do ar, tentando aquecê-las
mais rápido.
— Você quer que eu te deixe em algum lugar? — pergunto, antes de
entrar no condomínio. — Só me passa o endereço que eu te levo.
Ela morde a bochecha por dentro, antes de me responder.
— Eu só… sei lá! Eu só vim para cá sem pensar muito bem no
porquê.
Sem pensar muito, eu entro, vou até a minha casa, estaciono dentro
da garagem e saio do carro, abrindo a porta para ela em seguida.
— Vamos lá para dentro, vai ser melhor do que ficarmos no carro.
Ela pondera um pouco, mas concorda e desce, vindo atrás de mim.
Destravo o alarme assim que entro, espero que ela passe pela porta e
travo novamente.
— Sua casa é linda, Asher — ela diz, enquanto olha a sala e vai até
uma das enormes janelas que tem vista para o quintal. — E é a sua cara!
Uma casa moderna, bem clean e elegante.
Tiro o meu agasalho e o penduro no suporte que fica no hall de
entrada.
— É essa a visão que você tem de mim? — pergunto e ela se vira,
sorrindo.
— Sim! Eu iria estranhar se sua casa fosse ousada…
— Então eu não sou ousado?
Ela ri baixinho.
— Não leve como uma ofensa!
— Não levei, relaxa… você não falou nenhuma mentira!
Chamo-a para vir até a cozinha comigo e ela se senta em uma das
cadeiras de bistrô que fica ao redor da ilha.
Vou na despensa para pegar uma coisa e entrego a ela a caixa de
chocolate que havia comprado para o nosso encontro.
— Você ainda não sabe, mas… eu sou chocólatra! Não tem nada
melhor para me mimar do que me dar chocolate — ela diz enquanto abre a
caixa. Tira uma das trufas, desembrulha o papel e joga inteira na boca.
— Eu não gosto!
— Impossível — fala de boca cheia, sem acreditar em mim. Depois
mastiga e termina de comer para continuar falando. — Impossível mesmo!
Chocolate é a melhor coisa do mundo.
Ela já desembrulha outro para comer em seguida.
— Quer beber alguma coisa?
— Você não saberia fazer chocolate quente, né?
— Chocolate com chocolate? Sério?
Confirma com a cabeça, igual criança quando sabe que vai ganhar o
que quer.
— Ok, então!
Eu pego as coisas para poder fazer.
A receita me vem fácil na cabeça, porque eu sempre fazia para a
minha mãe. Era a única bebida capaz de confortá-la depois das crises de
choro quando o Daniel nos deixou, mas hoje em dia ela quase não bebe
mais.
— Você mora aqui sozinho?
Aponto para um porta-retrato perto da mesa de jantar e ela se vira
para olhar.
— Minha mãe mora comigo! Ela deve estar no quarto dela,
inclusive… ou com o namorado.
— Nossa, ela é linda! — Julie se levanta e vai até o porta-retrato,
olhando de perto. — Sério que ela é a sua mãe? Não parece ter nem 40!
Eu sorrio bobo ao ouvir o elogio.
Minha mãe realmente é uma mulher linda e sempre se cuidou muito.
— Ela me teve com 20 anos! Hoje ela tem 49.
— Você tem 29 anos? — me pergunta em total surpresa e me olha de
cima abaixo. — Uau! A genética de vocês é incrível.
— Você teria conquistado a minha mãe depois de tantos elogios —
brinco.
Despejo todo o chocolate cremoso e bem quente em uma caneca
grande e coloco na ilha, de frente para onde ela está sentada.
Abro a geladeira para procurar alguma coisa para comer e pego um
sanduíche natural. Minha mãe sempre deixa alguns separados, porque sabe
que eu os como quando estou sem tempo.
Pego também uma garrafa de suco e me sento na cadeira ao lado da
Julie.
— Você já foi casado alguma vez? — Ela senta novamente e me
pergunta.
Julie segura a caneca com cuidado, sopra o líquido e bebe um pouco,
fechando os olhos ao sentir o gosto e soltando um gemido baixinho.
— Não! Por que acha isso?
— Você parece ser o tipo de pessoa que cuida de quem gosta e não
consigo imaginar que ninguém nunca tenha tentado fisgar o seu coração.
Ela suja o cantinho da boca com o chocolate e eu fico com vontade
de limpar, mas me contenho.
— Eu nunca tive muito tempo de sobra para me relacionar e não
acho justo me envolver com alguém se eu não puder dar toda a atenção que a
pessoa merece — explico. — Hoje em dia eu tenho tempo, mas acho que me
acostumei a não ter alguém.
Ela vai bebendo aos poucos enquanto me ouve.
— Nunca teve uma namorada?
— Nunca!
— Eu só namorei o Kendrick! Dos meus 16 anos até os 22.
— Bastante tempo! — Ela concorda. — Acho que ele ainda gosta de
você, inclusive.
— Eu também acho, mas em algum momento, ele vai superar isso.
— Termina o chocolate e coloca a caneca em cima do mármore. — Então,
de onde vem esse instinto protetor?
Tento pensar em uma boa resposta, mas acabo decidindo por contar o
real motivo por trás disso.
— O ex-marido da minha mãe nos deixou alguns meses após ela
descobrir que tinha câncer.
— Que filho da puta! — diz no impulso e depois coloca a mão na
frente da boca. — Desculpa! Ele é o seu pai? — pergunta curiosa e eu
concordo. — Nossa, desculpa nada! Filho da puta demais. Quem é tão
monstruoso a ponto de fazer isso?
Ela balança a cabeça negativamente, indignada.
— Infelizmente é muito mais comum do que imaginamos! Conheci
muitas mulheres que os maridos ou namorados as deixaram durante o
tratamento. Mas, se você for ver o contrário, quando eles são diagnosticados
com a doença, suas esposas estão sempre lá, apoiando-os! — conto, me
lembrando de quantas vezes presenciei mulheres sozinhas, chorando ou
comemorando uma vitória sem ninguém ao seu lado.
Julie coloca a mão na minha perna e aperta de leve, querendo me
passar algum consolo com aquele gesto simples.
Acabo contando para ela toda a minha história e da minha mãe. Em
alguns momentos, a vejo chorar, em outros, ela sorri admirada, e por fim, sai
da cadeira e me abraça.
Não esperava por esse abraço.
Eu gosto de abraços, mas normalmente eles não se encaixam tão bem
quanto o nosso.
Aperto-a em mim e afundo o meu rosto em seu ombro, sentindo o
cheiro do seu perfume e do shampoo do seu cabelo.
— Eu definitivamente sou sua fã, Ash! E não é pelo mesmo motivo
que a maioria — diz quando se afasta o suficiente para conseguir me olhar.
— Você poderia ter tomado um caminho ruim por causa dessas coisas, mas
você preferiu dar a volta por cima e se tornou um filho que com certeza faz a
sua mãe ter muito orgulho!
Sua mão delicada encosta em meu rosto e eu me sinto bizarramente
confortável com o seu toque ali.
— Essa é a minha história do porquê nunca tive um relacionamento,
mas eu não me arrependo de jeito nenhum.
— E não deveria! Tudo que você fez, que abriu mão, e tudo que
ainda faz, te torna esse homem único!
Ela apoia a mão em minha coxa novamente e eu coloco a minha por
cima da dela. O calor que irradia da sua pele para minha é bom demais e eu
não tenho forças para me afastar.
Julie parece sentir a mesma coisa.
Nossos olhares se encontram novamente, sinto o meu coração errar
as batidas e a minha mão se encaixa em sua cintura sem que eu perceba até
estar puxando-a para mais perto.
— O que você vai fazer? — ela pergunta quando o seu rosto fica
mais próximo do meu.
— Nada! — sussurro, olhando para a sua boca.
— Ótimo… — diz com os lábios quase grudados nos meus e antes
de fechar os olhos, me encara por alguns segundos.
Juliana dá início a um beijo calmo, um que ainda não havíamos
experimentado juntos.
Sua boca é calma e ela dita o ritmo.
Eu encaixo a minha mão na lateral do seu pescoço e aproveito para
virar um pouco a sua cabeça para o lado oposto à minha.
Minha língua se enrosca na dela, seus lábios se esfregam aos meus e
eu tenho total certeza que não tem como existir beijo mais gostoso que o
dela.
Julie apoia os dois braços em meus ombros e eu abro mais as minhas
pernas para que fique mais confortável.
Seu peito encosta no meu e eu desço devagar a minha mão que
estava em seu pescoço até a sua lombar, mantendo-a perto de mim.
— Esse nada é um ótimo nada! — ela diz ainda de olhos fechados,
com a boca colada na minha e eu sorrio.
— Estou descobrindo que nada é uma das minhas coisas favoritas!
— respondo e ela morde o meu lábio inferior com cuidado, dando um beijo
ali em seguida.
Passo a ponta dos meus dedos em sua franja, jogando mais para o
lado como ela costuma deixar e também prendo uma mecha comprida atrás
da sua orelha.
Julie olha para o relógio em seu punho e suspira.
— Meus pais já devem estar sabendo o que aconteceu, melhor eu ir
para casa — diz e eu concordo.
Mas eu não queria que ela fosse agora.
Não tão cedo, não sem saber se nos veremos novamente.
— Eu te levo até a portaria do seu condomínio! Pode ser? — Ela
concorda. — Mas eu preciso de mais um beijo antes.
Ela sorri de lado e nós nos beijamos novamente.
E de novo.
E mais uma vez.
Coloco minha playlist com as músicas que mais gosto do Simple
Plan para tocar bem baixinho e começo a organizar as anotações dos três
livros que estou lendo.
Sometimes I wish I could save you
And there's so many things that I want you to know
I won't give up 'til it's over
If it takes you forever, I want you to know
Me empolgo cantando o refrão de Save You e volto a prestar atenção
no que estava fazendo.
O livro do Jonathan é o mais avançado, mas acho que ele deu uma
travada no desenvolvimento do casal junto.
Em três dias, ele me mandou um mesmo capítulo com cinco versões
diferentes e não tem gostado de nada que está escrevendo.
Li as cinco, anotei o que mais gostei nelas e tentei mostrar uma
forma que ele poderia talvez juntar tudo em uma única.
É claro que ele tem um olhar muito mais afiado para o
desenvolvimento da própria história, mas não está fluindo e ele está ficando
meio desesperado.
— Posso entrar? — Angel aparece na porta e eu sorrio, pedindo para
que entre. — Como estão as coisas? Tudo bem? Fiquei um pouco ausente
nessa semana porque está uma loucura a parte de marketing para esses
livros.
Pauso a música e espero que se sente para conversarmos.
— Esse primeiro mês foi incrível, Angel. — Ela sorri satisfeita com a
minha resposta. — O livro de romance policial da autora anônima também é
muito bom, eu só acho que ela esqueceu que o Nordeste brasileiro é um
lugar bem quente praticamente o ano todo.
— E é por isso que a sua função é tão importante! Porque mesmo que
ela faça muitas pesquisas, uma coisa ou outra pode acabar passando
despercebida.
Concordo.
— Sim! Quando aparece algo que eu não sei, também pesquiso para
saber se o que está ali é a informação correta. Sinto que os leitores estão
ficando cada vez mais exigentes, sabe? Temos que ter cuidado com os furos.
Ela pergunta se pode olhar as minhas anotações e fica alguns minutos
lendo.
Aproveito o tempo enquanto ela lê para mandar um e-mail para a
autora do livro policial. Como não nos falamos pessoalmente, nosso único
contato é diretamente pelo e-mail.
— Jonathan te elogiou muito! — Angel coloca o rascunho em cima
da mesa e volta a falar. — Se eu tinha alguma dúvida que você seria incrível,
essa dúvida foi embora depois de tudo que ele falou.
— Fico muito feliz em saber disso!
Ela pede licença e se levanta para atender o telefone.
Acabo a observando enquanto anda de um lado para o outro, rindo
com quem quer que seja do outro lado da linha.
Angel é uma mulher muito bonita, divertida e não parece ser muito
mais velha do que eu. Mas ela parece trabalhar muito.
Qualquer horário que eu chegue ou que eu vá embora, ela está aqui.
Teve uns dois dias que saí quase 9 horas da noite, porque me
empolguei na leitura e anotações, e ela ainda estava em seu escritório.
Como não vi nenhuma aliança em seu dedo, acho também que é
solteira.
— Desculpa! — Se senta novamente e guarda o telefone. — Meu ex-
marido está vindo para o meu aniversário com a mulher dele e eu estava
tentando convencê-los de ficar em minha casa.
Não consigo controlar uma careta ao ouvi-la.
— Você chamou o seu ex-marido para se hospedar na sua casa com a
atual dele?
Ela concorda, mas depois ri.
— Ah, eu esqueço que nem todo mundo sabe que o meu casamento
era de fachada — diz com a maior naturalidade do mundo e acho que minha
careta só piora, porque ela ri ainda mais alto. — É uma história muito longa,
mas o resumo é que casei com o meu melhor amigo para me salvar de pais
controladores e agressivos.
Pisco várias vezes, tentando digerir as informações.
— E durou quanto tempo?
Ela faz um cálculo rápido.
— Nosso relacionamento durou 10 anos!
— DEZ ANOS, ANGELINA? — Minha voz sai mais alta que o
normal. — E vocês mantiveram tudo só por aparência?
Ela ri novamente.
— Você quer saber se a gente se envolveu nesses 10 anos? — Faço
que sim com a cabeça. — Nós tentamos uma vez e foi horrível. — Ela se
arrepia de uma forma negativa só de lembrar. — Nick é o meu melhor
amigo, como se fosse um irmão que eu nunca tive. E é a pessoa que eu mais
amo na vida, sempre serei grata pelos anos que perdeu comigo, mas
realmente é só isso.
Uau.
É chocante quando conhecemos alguém que tem uma história tão
peculiar. Sou tão acostumada a ver essas situações em livros, mas na vida
real a proporção é milhões de vezes pior.
— Sinto muito que tenha que ter vivido um relacionamento falso por
causa dos seus pais.
— Eu também sinto! Por mim e pelo Nick, que quase perdeu o amor
da sua vida por medo de que algo pior acontecesse a mim — diz. — Mas,
pelo menos, agora ele está com ela, que é uma pessoa incrível e eu me livrei
dos meus pais.
Sorrio.
— Precisamos sair algum dia e brindar a isso!
— Vou te cobrar! Preciso urgentemente fazer amigos… — ela diz e
se levanta. — Agora, eu vou te deixar trabalhar, só vim mesmo saber se está
tudo bem.
Ela se despede e vai embora.
A energia dela é contagiante e eu me sinto ainda mais alegre do que
já estava antes.
A autora me responde o e-mail de volta e eu leio tudo com calma.
Ela me explica algo que eu não havia entendido, mas diz que irá mudar a
forma como colocou as coisas, porque já que eu não entendi, outras pessoas
podem não entender também.
Me dá um prazo de mais cinco dias para enviar outros 10 capítulos.
Me levanto e vou até o quadro semanal que fica na parede em cima
do sofá.
Anoto ali o que eu tenho que receber e cobrar deles na próxima
semana e percebo que o outro autor também está atrasado.
— Melhor mandar uma mensagem para ele!
Vou até a minha mesa novamente e tiro o meu celular da gaveta. Eu
sempre o coloco em modo avião quando estou lendo, para ninguém me
atrapalhar e eu acabar me distraindo com as redes sociais.
Assim que eu tiro do modo avião e o wi-fi conecta automaticamente,
recebo uma enxurrada de notificações e sms avisando que várias pessoas me
ligaram.
Meu coração começa a bater mais forte, com medo. Porque com
certeza alguma coisa aconteceu.
— Julie? — Ouço a voz da minha mãe, antes mesmo de ela abrir a
porta do meu escritório e a preocupação na sua cara me assusta ainda mais.
— Querida, você já viu as notícias que saíram há uma hora?
Eu nem consigo mais mexer no celular, porque as minhas mãos já
estão tremendo.
— Não, mãe! O papai está bem?
Ela aperta o osso entre os olhos e respira fundo.
— Se você quer saber no sentido físico, ele está ótimo! — Minha
mãe tira o celular da minha mão, coloca a senha que ela sabe qual é e
procura por alto. — Leia, meu amor.
“Juliana Fanning, filha única do empresário, Jayden Fanning, é
vista saindo do condomínio do jogador Asher Murphy, em sua companhia.
Parece que estão usando de outras formas para conseguir o tão disputado
running back do Gorillas."
Na mesma hora que eu leio, sinto vontade de chorar, meu rosto
começa a arder e minha respiração fica pesada.
Arrasto o dedo na tela para ver as fotos.
Na primeira, nós dois ainda estamos dentro do condomínio dele, e ele
fala algo perto do meu ouvido.
Em todas as outras, eu estou com um sorriso enorme, perto demais
dele, às vezes até roçando nossos braços.
Poderia não ser nada demais, apenas dois amigos conversando e
próximos. E eu até posso reverter essa situação na mídia, falar que somos
amigos e que não havíamos contado a ninguém, porque as pessoas não
entenderiam.
Mas o meu pai me conhece, ele vai saber que rolou algo além disso.
— Foi ele quem ajudou o Ken, né? — minha mãe pergunta, ligando
os pontos e eu concordo. — Que merda, Julie! Eu estava com o seu pai na
fábrica quando ligaram para ele perguntando sobre isso… ele está furioso,
meu bem.
Sento na cadeira atrás de mim e afundo o meu rosto em minhas
mãos.
Minha mãe vem até onde estou e se abaixa na minha frente,
levantando o meu rosto para me encarar.
— Você precisa conversar com o seu pai, Julie! Mas espera ele se
acalmar um pouco. Eu inventei que tinha dermatologista para vir aqui falar
com você e te preparar…
— Não foi por mal, mãe.
— Eu sei disso, amor. Você nunca faria nada propositalmente para
prejudicar o seu pai.
Esfrego as costas da mão no rosto ao sentir as lágrimas quentes
escorrendo.
Parece que tem um bolo sufocando a minha garganta e a angústia faz
com que eu me sinta pequena, faz com que eu me sinta uma péssima pessoa.
Minha mãe seca o meu rosto e ergue um pouco o corpo para beijar a
minha testa.
— Isso tem acontecido há muito tempo? E é verdade que ele é
praticamente o nosso vizinho?
Conto toda a história para a minha mãe e ela escuta atentamente, o
tempo todo me fazendo algum carinho para tentar me acalmar.
— E sim, ele mora no condomínio de frente para o nosso! Mas eu
não sabia até o nosso encontro, que foi quando tentei não dar continuidade
no que estávamos começando.
— E na sexta não foi planejado, né?
— Isso!
Minha mãe suspira, se levanta e me puxa para ficar de pé.
— Eu entendo o seu interesse! Dei uma pesquisada e ele é lindo,
nunca havia reparado muito bem, mesmo sabendo quem é, porque seu pai
tem falado muito dele… e também já tive a sua idade, o proibido sempre
acaba sendo ainda mais interessante.
— Não é isso, mãe… o Asher é um homem diferente, sabe? Ele é
gentil, educado… tem uma história sofrida, mas que o transformou em uma
pessoa com tanta luz! Acho que nunca conheci alguém desse jeito e isso me
despertou um interesse que ultrapassou a razão.
— Mas você gosta dele?
— Não! Pelo menos não no sentido amoroso, se é o que quer saber.
Eu me encantei pela pessoa que ele é, independente do resto.
Minha mãe abre um sorriso bem cauteloso.
— Eu já ouvi essa história antes…
Estou tão atordoada que nem me interesso em saber o que isso
significa.
Olho para o meu celular quando ele começa a tocar e vejo que é o
Asher, mas não tenho coragem de atender.
— Não vai atender, Julie? Se ele for esse homem que citou,
provavelmente está preocupado com você.
— Eu não contei para ele de quem era filha, mãe!
Minha mãe pega o telefone e atende por mim.
— Oi, Asher. Bom dia! Aqui é a Grace, mãe da Julie.
Ela faz silêncio e só murmura um uhum às vezes, enquanto o escuta e
fico me corroendo por dentro.
— Tudo bem! Eu falo com ela sim, obrigada por se preocupar.
Ela desliga e me entrega o telefone.
— O que ele falou?
— Ele queria saber como está, além de se apresentar formalmente
para mim. — Se aproxima de mim novamente e me abraça. — Vai dar tudo
certo, querida. Seu pai só está furioso porque você nunca fez algo do tipo, e
como ele não sabia de nada, foi pego de surpresa, sem nem saber o que
responder a quem perguntava.
Não estou conseguindo acreditar que isso realmente está
acontecendo. Como nós demos um mole desse? Era para termos ido de carro
até o meu condomínio, ou eu deveria ter ido sozinha.
Não, na verdade eu nem deveria estar lá.
Eu não deveria ter ficado com ele novamente! Eu que fui atrás dele,
eu que procurei por todo esse problema.
Preciso resolver isso tudo, só não sei como conseguirei realizar tal
coisa.
E a notícia foi tão maldosa!
Que caos!
Mas, se eu queria algo para me afastar dele, parece que agora eu
definitivamente consegui.
Termino os exercícios com os demais jogadores

Jordan está com sangue nos olhos, gritando o tempo todo e usando o
apito mais do que o normal. Não sei se é verdade, mas parece que ele tem
tido problemas com o divórcio.

Ele havia comentado que já estava tudo certo, que daria tudo que a
ex-esposa pedisse, exceto a casa de veraneio dele, que era dos seus pais e
que ele tem um apego muito grande por ela.

E pelo visto, isso está sendo um grande problema e nós estamos


sentindo na pele toda a irritação dele.

Mas por um lado até que é bom! Temos treinado mais que o normal e
de uma forma mais limpa com o auxílio da Hope, que sempre fica
observando para ter certeza que iremos fazer tudo com cuidado para não
sermos prejudicados em campo e depois.
— Asher! — Jordan grita o meu nome e eu corro até ele. — Heitor
está querendo que você vá até a sala dele.
— Eu só tenho que terminar os exercícios do cone e vou até ele! —
digo, me afastando.
— Asher, ele disse que tem que ser agora, imediatamente.
Isso não é um bom sinal.
Raras foram as vezes que Heitor e eu tivemos que tratar de algo.
Meu contrato é muito simples e claro, não temos muito o que
resolver fora, já que não me envolvo muito com a parte publicitária além do
que sou obrigado. E também nunca me envolvi em nenhum problema.
Então não consigo imaginar que toda essa pressa seja algo bom.
Tiro o equipamento de proteção, coloco-o no banco para quando
voltar já vesti-lo novamente e continuar o treino, e entro na parte interna do
estádio.
A cada passo que dou em direção a sala dele, vou sentindo uma
sensação ruim crescer dentro do meu peito.
Que merda deve ter acontecido?
— Entre! — Heitor fala, antes mesmo que eu bata na porta.
Eu entro, encosto a porta e fico de pé ao lado da cadeira na frente da
sua mesa.
— Mandou me chamar?
Ele fica me olhando de braços cruzados, com um olhar desconfiado e
depois se levanta. Fazendo um suspense absurdo enquanto anda até onde
ficam os sofás e me chama para sentar.
Não queria demorar tanto, mas também não quero ser grosseiro,
então me sento no sofá de frente para ele.
Heitor não é um homem que costuma demonstrar o que sente. Quem
o vê pelos corredores e campo, sempre acha que ele tem tudo muito
resolvido e que é muito calmo.
Mas vejo em seu olhar o quanto está se segurando para não explodir.
— Asher, você é um dos nossos melhores atletas! Vai parecer um
discurso pronto, mas você sabe disso… E sempre foi, de todos, o que eu
mais admiro porque nunca, em nenhum momento, tivemos algum problema
com você. Nem dentro e muito menos fora de campo.
— Certo.
— Mas, imagine a minha surpresa, quando em menos de cinco
meses, mais um atleta do Gorillas é visto em uma situação complicada.
Situação complicada?
Que porra ele está falando?
— Heitor, não tenho a mínima noção do que está falando.
Ele puxa o ar pelo nariz com tanta força que eu não duvido nada que
deva ter doído em seu cérebro.
— Não vamos por esse caminho, Asher. — Apoia os cotovelos na
perna, me encarando. — Eu tinha certeza que nada poderia ser pior do que o
Christopher sempre envolvido em polêmicas com a sua vida pessoal! Tinha
total certeza disso, total. Mas aí, há poucos minutos, eu recebo uma ligação
pedindo para que eu olhe todos os canais esportivos e me deparo com você e
a filha de um dos nossos rivais juntos.
— Olha, você realmente deve estar me conf…
Ele levanta em um rompante, pega um controle e liga todas as
televisões que tem dentro do escritório, e ao mesmo tempo, vejo as várias
fotos minhas com a Julie aparecendo em todas as telas.
Cada uma com uma manchete diferente, tento ler todas, para me
situar do que está acontecendo.
“Juliana Fanning, filha única do empresário, Jayden Fanning, é
vista saindo do condomínio do jogador Asher Murphy, em sua companhia.
Parece que estão usando de outras formas para conseguir o tão disputado
running back do Gorillas."
“Asher Murphy é flagrado com a filha do dono de um dos times que
tem tentado contratá-lo para a próxima temporada. Será que isso é uma
estratégia do Jayden Fanning para conquistá-lo ou um aviso de que
devemos esperar o running back vestindo outra camisa futuramente?”
Vou lendo uma por uma e a minha cabeça se confunde a cada
informação.
Presto atenção em uma das reportagens, que mostra fotos da Julie
sozinha, depois do Jayden e os dois juntos.
Pai e filha.
Fanning… como eu não associei quando ela falou?
Sinto o meu sangue esquentar e meu corpo todo ficar tenso quando
entendo tudo.
— Lembrou agora? — me pergunta em tom de ironia.
— Eu não sabia de quem ela era filha! — Me viro para ele. —
Acabei de descobrir, nesse exato momento.
Heitor solta uma risada sem humor.
— Que seja! Mas nós teremos que dar uma entrevista e você vai
negar qualquer envolvimento com ela. E deixe muito claro que nunca nem
falou com o Jayden! — exige. — Aliás, você já falou com ele?
Minhas sobrancelhas se unem, enquanto ele fala e eu cruzo os meus
braços, sentindo a irritação tomar conta de mim.
— Heitor, com todo respeito, mas você acha que está falando com
um moleque de 15 anos? — pergunto, tentando manter a minha voz
tranquila. — Você não exige nada aqui, vamos deixar isso claro.
— Eu só estou falando que essa é a coisa certa a se fazer! As pessoas
estão especulando coisas, os investidores estão preocupados e ain…
— Não me importo! — corto. — Eu não sou o Christopher, não me
confunda. Minha vida pessoal e o que eu faço fora de campo não está em
jogo para você decidir o que eu tenho que fazer.
Heitor me lança um olhar ousado, de quem vai falar alguma coisa em
um tom soberbo.
— Seu contrato encerra esse ano e já estava na pilha para ser
renovado com um bom aumento, mais um adicional de bônus! — diz, com
uma sobrancelha erguida. — Mas, para isso, você tem que fazer o que eu
estou falando.
Chego perto dele, no auge da irritação.
— Isso é uma ameaça, Heitor? Você está colocando a minha posição
em risco por causa de uma notícia sobre a minha vida pessoal? Meu contrato
deixa claro que vocês têm direitos sobre o Asher running back e o que eu
faço fora do campo é um problema meu!
— Garoto, escuta o que eu estou falando!
— Eu estou escutando bem demais! — disparo. — Você está
ameaçando não renovar o meu contrato se eu não fizer o que quer… mas
adivinha só?! Estou pouco me importando com isso. Não ficou sabendo que
estou recebendo várias propostas? Não me faltará time para jogar.
Saio da sala, bato a porta com força e o deixo falando sozinho.
Não lembro qual foi a última vez que senti tanta raiva assim. Meu
corpo todo parece tremer e eu aperto as minhas mãos com força, tentando
canalizá-la.
Vou andando em direção ao vestiário, respirando fundo e contando
até 100, 200, 300…
Abro o meu armário, pego o meu celular e vejo o estrago que já foi
feito e as várias ligações que já recebi.
Inclusive da minha mãe.
Mando uma mensagem rápida, dizendo que está tudo bem e que
estarei em casa no horário normal, para não se preocupar.
Depois eu ligo para Julie, mas está dando desligado.
— Eu acho que a gente precisa só pensar em fa… Asher! Está tudo
bem? — Christopher entra falando, mas para assim que me vê. — O que
houve? — Se aproxima, preocupado.
Calleb também me pergunta e eu conto rapidamente, resumindo toda
a história.
— Não acredito que ele falou isso, Ash! — Calleb diz, contrariado.
— Que imbecil!
Coloca imbecil nisso.
— E o que você vai fazer?
— Quero falar com a Julie! Ela havia falado que não podíamos
continuar nos vendo por causa do pai, mas não entrou em detalhes —
explico. — Se a situação está ruim para mim, imagina para ela.
Os dois concordam e eu me afasto para tentar ligar novamente.
— Oi, Asher. Bom dia! Aqui é a Grace, mãe da Julie.
Me surpreendo ao ouvir outra pessoa atendendo. E não é ninguém
menos que a mãe dela.
Com certeza as coisas lá devem estar péssimas mesmo.
— Bom dia, Sra. Fanning! Eu acabei de ver as notícias e fiquei
preocupado com a Julie. Não quero criar mais problemas, imagino que aí
deve estar tão caótico ou até mais do que aqui — falo um pouco rápido pelo
nervosismo, respiro fundo e continuo. — Se puder, avise que eu liguei e que
se ela precisar de algo, o que for, até mesmo um pronunciamento público,
estou disposto a fazer para resolver esse mal-entendido.
— Tudo bem! Eu falo com ela sim, obrigada por se preocupar.
Desligo o telefone depois e me encosto no armário, fechando os
olhos e tentando pensar em como reverter toda essa confusão.
— Melhor encerrar o seu treino hoje, Asher! Você não vai ter mais
cabeça para fazer nada, vai por mim… entendo disso melhor que qualquer
outro! — Chris diz, apoiando a mão em meu ombro. — Vocês vão dar um
jeito nisso e daqui a pouco as pessoas esquecem.
Ele está certo.
E até ter alguma notícia da Julie, irei ficar preocupado com isso.
Nunca me imaginei em uma situação em que eu iria sentir medo de
conversar com o meu pai.

Definitivamente não sei o que esperar dessa conversa e a forma fria


que ele falou comigo mais cedo, apenas informando que me esperaria antes
do jantar no seu escritório aqui em casa, congelou o meu coração.

Já entrei há uns 10 minutos, mas travei na escada que dá para o


segundo andar, onde fica o escritório.
— Está tudo bem, Julie? — Penny, uma das nossas governantas, me
pergunta ao descer a escada. — Você está tão pálida, pequena! Aconteceu
algo?
Pelo visto ela não deve ter visto as notícias de hoje.
— Sim, Pen — respondo em um sussurro sem força. — Fiz uma
besteira muito grande e agora preciso me resolver com o meu pai.
Ela desce mais alguns degraus para ficar perto de mim e segura as
minhas mãos, apertando-as de leve.
— Vai dar tudo certo! Seu pai te ama e vocês vão se entender…
independente do que tenha acontecido.
Quero muito que ela esteja certa, porque a sensação que estou
sentindo dentro de mim, é de que fui uma grande traidora com uma das
poucas pessoas que sei que nunca me trairia.
— Tomara, Pen! — Ela faz um carinho no meu braço e depois desce,
informando que vai começar a arrumar a mesa do jantar.
Vou subindo um degrau por vez, bem devagar. Depois, praticamente
me arrasto até as portas duplas do escritório dele.
Preciso de mais um tempo para conseguir entrar sem chorar, respiro
fundo muitas vezes, tento acalmar o nervosismo no meu corpo e quando
acredito que consegui me controlar o suficiente para conseguir conversar
com ele, bato na porta duas vezes.
— Entra, Juliana.
Juliana.
Já começamos muito mal.
Empurro as duas portas e depois as fecho atrás de mim.
Meu pai está em pé, de frente para a janela e segurando um copo com
whisky.
Ele quase nunca bebe em dia de semana, mais um sinal que as coisas
estão muito ruins.
Me aproximo um pouco, totalmente sem jeito e sem saber se fico
mais perto, se me sento, se deito no chão e choro em posição fetal… são
muitas as opções para esse momento que está quase me causando uma crise
de ansiedade.
— Pai… eu sinto muito! — digo baixo, mas pelo reflexo dele no
vidro da janela, sei que me ouviu. Ele fecha os olhos e suspira antes de se
virar para mim.
— Filha, você melhor que qualquer outra pessoa, até mesmo a sua
mãe, sabe todo o sufoco que eu passo na fábrica tentando manter tudo certo!
O quanto eu trabalho muito até hoje, mesmo podendo já ter me aposentado,
para que tudo seja perfeito… — Balanço a cabeça, confirmando que sei. —
E eu tento manter tudo controlado no Taurus também! O contrato com os
jogadores é bem minucioso para não ter nenhuma brecha com eles e assim
evito os problemas.
— Eu sei, pai.
Ele leva o copo até a boca e toma um gole, deixando o gosto da
bebida, que eu não gosto nem um pouco, descer devagar pela garganta
enquanto olha para o chão, pensativo.
— E sabe o pior de tudo? É que não estou me importando nem um
pouco com o trabalho! Foi horrível me sentir em uma posição inferior,
porque fui pego de surpresa? Foi demais. Não me lembrava mais como era
ser pressionado como estou sendo hoje! — Ele se aproxima, descendo de
onde está para ficar na minha frente. — Mas o pior foi ver as pessoas
achando que você é uma peça no meu tabuleiro! Estão dizendo que eu estou
te usando como se você fosse uma… eu nem tenho coragem de repetir as
coisas que li.
Meu queixo começa a tremer e eu preciso morder com força o meu
lábio inferior para não chorar feito uma criança.
— Desculpa, pai. — Minha voz sai com dificuldade pelo bolo na
minha garganta. — Eu jamais imaginei que isso aconteceria! As pessoas não
costumam falar sobre com quem eu saio, mesmo eu estando sempre
acompanhada em festas e eventos, mas eu não contei com o interesse das
pessoas em alguma informação sobre o Asher.
Ele cruza os braços, balançando lentamente o copo em sua mão.
— E de todos os homens disponíveis, de todos que eu vejo babando
por você, tinha que ser logo um jogador do Gorillas, minha filha?
— Eu não sabia, pai! — respondo rápido. — Pelo menos não no dia
que o conheci e logo depois eu marquei de conversar com ele, falei que não
poderíamos nos ver mais…
— E foi nesse dia que tiraram as fotos de vocês? — Merda. Pergunta
errada. Eu faço que não com a cabeça e ele alisa o queixo, incrédulo. — Na
minha cabeça, o que eu te pedia, que era não se envolver com ninguém do
meu time ou de qualquer outro rival direto, não era nenhum absurdo! Nós
conversamos tantas vezes sobre isso e você sempre disse que estava tudo
bem, que não era um problema se manter afastada deles… por que não me
contou no momento em que isso mudou?
Por que eu não contei? Boa pergunta.
— Eu só achei que não tinha necessidade! — confesso, sendo a mais
sincera possível. — Me interessei por ele, ficamos uma vez e depois eu
estava decidida a me manter distante. Pelo menos, fisicamente!
— O que você quer dizer com: “Pelo menos, fisicamente”?
— Ele é um homem legal, pai. Trocar mensagens com ele não seria
nada demais! — explico. — Mas eu também estava enganada. As trocas de
mensagem mantiveram o meu interesse em alta! Só que eu achava que tudo
bem, porque não iríamos nos ver pessoalmente mesmo, mas nos vimos.
Meu pai volta para perto da janela, porém, senta na poltrona que tem
lá e coloca o copo já vazio na mesinha ao lado.
— As pessoas estão falando absurdos, Juliana! Eu estava tentando
trazê-lo para o meu time e isso já tinha vazado — diz calmamente,
calculando suas palavras. — Os patrocinadores estão me questionando, a
mídia está falando coisas maldosas e eu não sei como reverter essa situação
sem te expor ainda mais.
— Eu posso gravar um vídeo, explicar que foi só um mal-entendido,
que nós dois somos amigos.
— Não seja inocente, filha! Você acha que isso servirá de algo?
Tento pensar em alguma outra coisa que possa ajudar de alguma
maneira, mas nada parece ser o suficiente para resolver.
Nada.
— O que eu faço, pai? Eu não queria de jeito nenhum ter trazido esse
tipo de problema a você! Sei como se importa com a honra da família, com o
nosso nome…
— Julie, você não está entendendo, né? — me pergunta, juntando
uma mão na outra e apoiando em seu colo. — Você virou um alvo agora!
Provavelmente o nosso time e o dele vão se enfrentar na final e as pessoas
vão querer pegar qualquer coisa por fora, como por exemplo, você
acompanhada de outro alguém nas festas, coisa que nunca foi o foco, e usar
isso para aproveitar o engajamento do campeonato e terem visualizações
absurdas nas notícias.
Eu me sento no degrau da parte mais alta do escritório, onde ficam as
poltronas ao lado da janela, totalmente derrotada.
Nós dois ficamos em silêncio e perco a noção do tempo enquanto
estou ali sentada, olhando para o nada e querendo sentir o arrependimento de
ter ficado com o Asher.
Mas de todos os sentimentos que me sufocam, esse não é um deles.
Vejo pelo canto do olho quando o meu pai vem sentar comigo. Ele
coloca a mão na minha perna e dá umas batidinhas.
— Eu não estou bravo com você, querida — diz. — Na hora que a
notícia estourou, confesso que eu ponderei se te mandaria no jatinho para
uma ilha e te deixaria lá sozinha por um mês! — tenta brincar para aliviar o
clima. — Mas eu estou preocupado com você, em muitos sentidos.
Tombo a minha cabeça no ombro dele e aceito o carinho que faz em
minha mão quando coloco em cima da dele.
— Em muitos sentidos? Por quê?
— Não quero que as pessoas sejam cruéis com você, Julie… e acho
que o maior motivo de eu ter sempre pedido para não se envolver com
jogadores é que eles têm uma péssima fama, você sabe! Eu até acredito que
não seja o caso do Asher, porque ele tem ignorado todas as nossas propostas,
mas e se você se envolver com outro jogador que na verdade só queria te
usar por eu ser quem sou? Ou então se você se apaixonar e ele te mac…
— Pai, calma! — interrompo-o e me viro para ele, encarando-o. — A
gente não tem como prever essas coisas, qualquer pessoa que eu for me
envolver pode ser alguém mal-intencionado. E eu sei que se ficar muito mal,
terei seu ombro para chorar.
Ele sorri de lado e segura a minha mão, beijando as costas dela.
— Você falou com esse rapaz hoje?
— Não! Não tive coragem… ele também não sabia que você era o
meu pai e eu acho que ele pode estar chateado.
Meu pai coça a nuca, esfrega o rosto e puxa bastante ar para dentro
do peito.
— Sei que você é adulta e sabe o que faz da sua vida, mas, se eu
tivesse que aprovar ou não essa amizade, ou seja lá o que for, eu não
aprovaria. — Meu pai alisa o meu rosto e beija a minha testa, antes de
levantar. — Primeiro o óbvio: ele é jogador. Segundo: ele é misterioso
demais, sua vida é extremamente reservada e não sei se ele gosta da
discrição por um bom motivo. E terceiro: querendo ou não, ele é um rival.
Fora do trabalho não gosto de ter esse tipo de pessoa próximo a mim.
Meu pai foi extremamente sutil no seu conselho de eu não ver mais o
Asher, extremamente!
Ele vai até a sua mesa e se senta novamente, pronto para ter que
apagar o fogo que eu acabei acendendo de forma não intencional.
Saio do escritório e o deixo sozinho.
Sinto como se o meu coração tivesse ficado todo esse tempo sem
bater e só agora recuperado os movimentos.
Deixei o meu celular em modo avião desde que saí da editora, mas
não acho justo deixar o Asher sem notícias e também devo me desculpar
com ele, que entrou nessa confusão sem saber onde estava se metendo.
Quanta merda eu fiz de uma vez só.
Pego a outra escada para o terceiro andar, onde fica todos os quartos
e vou até o meu.
Me tranco assim que entro, ligo o meu celular e deixo-o carregando
um pouco enquanto vou tomar um banho.
Tiro toda a minha roupa, coloco no gavetão de roupas para lavar,
abro a ducha no mais quente possível e entro debaixo dela.
Meu corpo está todo tenso com o estresse do dia de hoje, e ainda nem
terminou. Tudo que eu precisava agora era uma massagem bem gostosa.
Lavo o meu cabelo, esfrego todo o meu corpo e depois saio, vestindo
o meu roupão e pegando outra toalha para tirar o excesso de água do cabelo.
Sento na beira da cama e pego o meu celular para ligar para o Asher.
Sem querer, clico na opção de videochamada, mas ele atende na
mesma hora.
— Oi, Julie! — Ash está deitado e acho que estava vendo TV. Ouvi
um barulho assim que atendeu, mas agora tudo está silencioso. — Como
você está?
— Mal o suficiente para não me importar em estar falando com você
nesse estado! — Sorrio sem humor. — Eu preciso me desculpar, Ash…
Asher levanta um pouco o corpo, colocando mais um travesseiro em
suas costas e eu consigo ver mais do seu peito nu.
Mas desvio rápido, não posso me atentar a algo que não posso ter.
Não posso tê-lo, não posso tê-lo.
Fico repetindo isso na minha cabeça enquanto ele se ajeita, ficando
mais confortável.
— Por não ter me contado que o seu pai é o dono de outro time de
futebol americano? — Concordo, sem jeito. — Eu confesso que preferia
descobrir de outra forma, porque assim teria tomado mais cuidado quando
estivesse com você.
Ué.
Como assim?
— Você está dizendo que… ainda teria tentado me conhecer melhor
mesmo sabendo que sou filha do Jayden?
— Sim, Julie — responde. — Na verdade, ainda quero e vou
continuar querendo por um bom tempo, mas em algum momento, eu me
acostumarei com a ideia de que não vai rolar.
Ele não está chateado comigo.
Não tem um pingo de chateação em seu rosto, muito pelo contrário.
Ele parece preocupado.
Deus… não tem como esse homem ser tão incrível assim, tem
alguma pegadinha que ainda não descobri.
Ah, claro que tem.
Não posso tê-lo!
Esqueci rápido demais o que estava repetindo há poucos segundos.
— Pensei que você estaria muito irritado comigo!
Ele discorda na mesma hora.
— Estou preocupado e pensando no que fazer para te ajudar a
amenizar as coisas.
— Não teve problema no Gorillas?
Asher suspira e coloca um braço atrás da nuca. E eu dou uma leve
espiadinha em seu bíceps forte e definido.
FOCO, JULIANA!
— Tive sim, na verdade! Só que eu tenho alguns limites que não
gosto que sejam ultrapassados, e o diretor fez isso hoje — fala mais sério.
— Minha vida pessoal não está aberta a discussão em âmbito profissional,
ainda mais por conta de suposições absurdas.
Asher fica diferente falando sério e consegue ficar ainda mais
atraente.
Eu choramingo e me levanto segurando o celular, indo até o banheiro
para pentear o cabelo.
Posiciono o aparelho na pia, em uma altura que dê para aparecer o
meu rosto.
Percebo que Asher olha para o meu corpo, mas seu jeito ligeiramente
tímido não permite que ele faça isso por tempo demais, mesmo que eu esteja
com um roupão que não marca nenhuma das minhas curvas.
— Sinto muito mesmo por ter arrumado esses problemas para você!
— Não sinta, não me arrependo — confessa. — Você se arrepende?
Seja sincera, por favor… eu irei entender.
E mais uma vez, tento achar esse sentimento dentro de mim, mas ele
não existe.
— Não! Não mesmo, Asher. — Começo a passar a escova em meu
cabelo, penteado-o. — Eu deveria sentir, sabe? Não deveria estar confortável
falando com você agora, nem muito menos me sentindo mal por ter que
cortar o vínculo… — rio de mim mesma. — Deve estar achando que sou
louca.
— Se você é louca, eu também sou — afirma. — Porque não é
normal que eu a queira tanto, mesmo sabendo que isso nos traria muitos
problemas. — A voz dele fica mais grossa e aquele calor no meio das pernas
seria capaz de me queimar a mão, se eu encostasse. — No momento, esses
problemas parecem valer muito a pena.
Deixo a escova de lado, apoio as mãos na pia e aproximo mais o
rosto da tela do celular.
— Para de falar essas coisas, Asher — suplico. — Eu preciso ter
foco e não te desejar mais! — O seu lábio superior se move ligeiramente, em
um sorriso muito contido. — Alguma chance de você ralar a cara no asfalto
quente? Seria ótimo se você ficasse feio! Me ajudaria muito.
Ele solta uma gargalhada alta, que ecoa no meu banheiro e também
me faz rir.
— Eu não me surpreenderia se eu acabasse fazendo isso só porque
você pediu, Julie.
— AAAAAAH! Pelo amor de Deus, Asher! Você não pode fingir ser
um babaca? Nem um pouquinho só? — Ele continua rindo.
E ele é lindo rindo.
Lindo! Sério.
Lindo de todos os malditos jeitos.
— Tudo bem, acho melhor encerrarmos essa ligação… amanhã
acordo bem cedo! Vou viajar para jogar em outra cidade.
Ótimo.
Graças a Deus!
Está sendo muito torturante olhar para esse homem lindo, todo à
vontade e charmoso, sem nem ao menos se esforçar para ser.
Movimento os meus ombros para trás, extremamente tensa.
— Está sentindo dor? — me pergunta.
— Não, estou tensa depois do dia de hoje! Precisando de um SPA ou
uma boa massagem.
Ele parece ponderar antes de falar algo.
— Eu te ajudaria com isso, se fosse possível.
— Nem venha com o papo de que sabe fazer massagem, não tem
como você ficar ainda mais interessante, então não invente — digo.
— Tudo bem, então não vou te contar que trabalhei quase 4 anos
como massagista.
— Nunca vou te perdoar por ter me contado isso, Asher. — Olho feio
para ele, mas acabo rindo. — Agora vou dormir querendo descobrir se você
é realmente bom.
Ele dá de ombros, como se não fosse nada importante.
— Espero que o SPA te ajude, Julie! — diz.
Impossível depois de tanta informação, mas terá que servir.
Nós nos despedimos e depois eu desligo.
Encaro o meu reflexo no espelho e eu não deveria estar com esse
sorriso no rosto. É errado, muito errado.
Meu pai estava certo quando falou que agora as pessoas iriam criar
um interesse a mais por mim. Não sou mais apenas a filha do Jayden
Fanning.
Agora também sou uma das poucas mulheres vista com o Asher, uma
possível namorada ou talvez um caso de uma noite só. Também sou a mulher
que saiu do condomínio dele de madrugada, a interesseira do meio dos
esportes… depende de onde as pessoas irão ler sobre mim!
Fiquei muito chateada no dia que a merda estourou, no dia seguinte
também, mas depois eu decidi que não adiantava ficar assim. As pessoas vão
falar o que quiserem e acreditar no que for mais interessante para elas.
Meu Instagram era aberto, eu tinha uma quantidade razoável de
seguidores, porque gosto de mostrar um pouco da minha rotina, minhas
viagens e qualquer outra coisa que me venha à cabeça, mas eu tive que
fechá-lo.
Estava impossível lidar com as mensagens e comentários maldosos
nas minhas próprias fotos.
Por que as pessoas são assim?
Parece que as fãs do Asher criaram umas teorias bem específicas,
como por exemplo, ele ser bom demais para qualquer mulher do mundo, e
por isso, nunca ter se relacionado.
Eu li aquilo e ri, porque pensei que era brincadeira, mas aí eu entrei
em algumas páginas de fã clube e vi que de fato é uma das teorias delas.
Tinha até umas pessoas dizendo que procuraram saber
cientificamente sobre isso.
Definitivamente, foi assustador.
De fato, o fanatismo em excesso é assustador.
E para piorar, aconteceu o que já esperávamos: o Taurus vai jogar a
final contra o Gorillas.
Ontem à noite viemos para Las Vegas, onde acontecerá a última
partida em alguns minutos.
Meus pais irão voltar hoje mesmo para casa, depois do jantar. Mas
Mad e eu decidimos que ficaremos aqui até amanhã, assim poderemos curtir
algo à noite.
O Super Bowl é um dos eventos mais esperados pelos americanos e
a cada ano que passa, também vem se tornado um evento admirado por
pessoas de outros países.
Os shows são sempre incríveis e é a parte que mais gosto. Ou melhor,
a única parte que eu realmente gosto.
Do outro lado da arquibancada, consigo ver a imensidão de azul, dos
torcedores com a camisa do Gorillas. Enquanto do nosso lado, tudo é muito
laranja.
Ambos os times estão confiantes e pela pesquisa que fiz na internet
essa madrugada – que não dormi nem 30 minutos – parece que todos estão
na dúvida, não há um preferido entre eles.
Os mascotes dos times já estão em campo. Eles interagem com a
plateia e entre si, simulando uma briga bem boba, mas que as pessoas amam
e riem em sintonia.
Deve ser tão quente dentro da fantasia!
— Nunca fiquei com um jogador de futebol! — Madison fala do meu
lado. Eu já havia até esquecido que ela também veio. — Me diga, é bom?
Porque eles são bem fortes, né… deve ter te jogado em todas as paredes.
Eu rio do seu comentário.
— Nós dois não transamos, Mad — falo baixo, sabendo que tem
algumas pessoas aqui que podem estar querendo ouvir qualquer coisinha e
vazar para alguém. — Foram só alguns beijos!
— Nem uns amassos?
— Não!
Ela revira os olhos e fica com uma cara entediada.
— Mas você não disse que ele tinha uma pegada ótima?
— E tem!
— E você descobriu isso com o poder da mente?
Eu a empurro de leve com o meu ombro.
— Isso é o mais impressionante da história — digo. — Ele não
precisou apertar minha bunda, meu peito ou ficar roçando em mim! Foi
diferente… ele sabe a forma certa de segurar em minha cintura, como alisar
os meus braços… cada toque parecia muito certeiro em pontos que me
deixavam extremamente quente.
Madison morde o canudo do seu drink enquanto me escuta.
— Isso parece ser muito bom! — diz. — Acho que deve ser até uma
excitação diferente quando o homem não vai no óbvio.
— Exatamente!
— E por que você não transou com ele, caralho? Ele deve ser
extraordinário! — Minha amiga se abana. — Saudades de um sexo no nível
que a minha deusa interior merece.
Saudades de sexo também.
Qual foi a última vez?
— Talvez eu mande mensagem para alguém hoje — confesso. —
Preciso de alguém me fazendo gozar! Sozinha já tenho feito quase todos os
dias.
— Pensando no gostosão que vai entrar em campo já, já! — fala,
movimentando as duas sobrancelhas juntas.
Sim.
Exatamente isso.
Asher e eu continuamos nos falando todos os dias.
Não deveríamos, eu sei. Mas parece muito mais certo ter esse contato
com ele do que simplesmente ignorá-lo e fingir que não nos conhecemos.
Ontem foi dia de tratamento da mãe dele e ficamos conversando todo
o tempo que a mãe dele dormiu enquanto estavam lá. É um momento muito
particular e ele fica bem sensível, preocupado e com medo.
Eu também ficaria se fosse com os meus pais ou alguém que eu amo.
É incrível a força dos dois e de como a mãe dele é uma guerreira, que
luta bravamente para continuar aqui.
Queria poder tê-la conhecido. Mas quem sabe um dia quando as
coisas forem diferentes?
Nós dois brincamos direto sobre o fato de ele querer se aposentar em
uns 4 anos, e eu esperá-lo por esse tempo, depois tentarmos novamente nos
conhecer melhor.
Sempre depois de falarmos isso, eu fico pensando que não seria
impossível esperar. Não quero e nem tenho a intenção de ter algo sério tão
cedo.
Asher faz com que eu me sinta uma adolescente sonhadora, que
imagina futuros impossíveis e até projeta toda a vida ao lado de uma pessoa
inalcançável.
Mas é gostoso imaginar conhecê-lo melhor e provavelmente
descobrir que ele é ainda mais incrível.
— O jogo vai começar! — Escuto o meu pai falando atrás de mim e
depois suas mãos seguram os meus ombros. — Cruzem os dedos, meninas.
Ele beija o alto da minha cabeça e vai para trás, onde todos estão
sentados.
Madison e eu ficamos mais para o lado, na intenção de não atrapalhar
a vista de ninguém. E pela primeira vez na vida, eu me interesso pelo jogo.
Não é difícil achar o Asher, mas tenho medo até de sorrir enquanto
olho em sua direção.
O jogo começa e eu fico sem entender quase nada do que está
acontecendo, mas sei que o propósito é que os jogadores cheguem na
endzone.
Tourus já ganhou um Super Bowl e isso fez com que o time do meu
pai ganhasse ainda mais visibilidade em todo o mundo. E agora ele quer essa
vitória novamente! Mas, diferente da vez que ganhamos, que meu pai estava
muito confiante, hoje ele está mais receoso.
Todos ao nosso redor ficam fazendo vários comentários, batem
palma, xingam e pulam. Mad e eu claramente destoamos de todos eles, mas
não dá para negar que o frio na barriga não tem fim.
O placar está mudando a todo instante, e isso deixa os torcedores
tensos e animados na mesma proporção.
Eu só consigo prestar atenção no Asher, e até mesmo contenho um
sorriso quando anunciam no telão que ele acabou de bater o recorde de 3 mil
jardas percorridas em uma temporada.
Dei uma pesquisada rápida e descobri que isso é muito.
E ainda aumentará um pouco mais até o final do jogo.
Fico muito feliz por ele, Asher é um cara que merece tudo de bom
que a vida tem para oferecer. Foi um baque conhecer toda a sua história.
Nossa realidade é totalmente diferente.
Eu nasci em uma família que se ama, tirando os parentes do meu pai,
sempre tive muito amor, tudo do bom e do melhor e se não fosse pelo meu
pai que sempre fez questão que eu entendesse o valor das coisas,
provavelmente nem saberia o valor de nada.
E isso me assusta em alguns momentos.
Tenho uma conta em que guardo boa parte do dinheiro que meu pai
me dá, mas ainda assim foi dinheiro que eu simplesmente ganhei.
Como será se um dia eu sair de casa? E se eu nunca casar e continuar
lá? Ou se eu me casar e não tiver nada com o que contribuir ao meu marido?
As possibilidades são assustadoras.
Assustador demais.
— Merda! — Na mesma hora que meu pai xinga, o outro time
comemora mais um ponto marcado por eles.
Faltando pouquíssimos segundos para o intervalo, o quarterback do
Tourus marca um touchdown e nós encerramos essa primeira etapa na
frente.
Todos se levantam, comemoram e já vão sonhando com o troféu
novamente. Mas o meu pai se mantém sentado, sério e encarando o campo,
que está recebendo uma repaginada para o show que acontecerá em seguida.
— Está tudo bem, pai? — Me aproximo e pergunto.
— Sim, querida. — Ele levanta o rosto para me olhar e sorri. — Mas
nós não iremos ganhar!
— Como sabe disso? Tem uma bola de cristal escondida no bolso, Sr.
Fanning?
Ele se levanta e passa o braço pelo meu ombro, andando comigo até
a parte da frente da área que estamos.
— Eu conheço bem os nossos jogadores, os pontos altos e baixos
deles! E eles não vão conseguir superar os meninos do Gorillas! Nós
sabíamos que eles estavam muito bem preparados, mas pensamos que
também estávamos à altura.
Meu pai fala sério, mas parece estar conformado com isso.
— Vamos esperar até o final, pai. É futebol! Tudo pode acontecer.
— Você está certa, meu bem — diz, mas sei que apenas concorda
para encerrar o assunto. — Tem certeza que não vai querer ir conosco? Não
gosto quando voa sem ser com o nosso jatinho.
— Conseguimos um voo de uma ótima linha aérea, pai. Vai dar tudo
certo e chegarei em casa viva! — Passo o meu braço pela cintura dele e
encosto a minha cabeça em seu ombro. — E a sua filha está precisando dar
uns bons beijos! — falo para implicar.
Ele respira fundo, fazendo uma careta de quem não queria ter ouvido
o que falei e eu rio da sua reação.
— Que saudades de quando você era uma menininha sem o dente da
frente, que falava que nunca ia namorar e que era nojento quando sua mãe e
eu nos beijávamos! — suspira, relembrando qualquer momento como esse.
— Você cresceu muito rápido, meu amor.
Alguém chama o meu pai e ele se afasta.
Aproveito para curtir o show que acabou de começar e procuro pela
Mad, que estava aqui até pouco tempo atrás. E para a minha surpresa, a
encontro conversando com o filho de um amigo do meu pai.
Ela não parece interessada nem nada do tipo, mas ele já tem um olhar
com segundas intenções.
Ele é muito bonito, não sei porque ela está parecendo desinteressada.
Será que conto para a minha amiga que o homem que está
conversando é herdeiro da marca de carros famosa por ser a mais segura do
mundo?
Melhor não! Vou contar depois, quando estivermos longe, para ela
ficar incrédula que não se interessou por um ótimo pretendente, que se
encaixa na lista absurda de requisitos dela.
Madison é uma figura! Mas ela sempre se interessa pelos que nunca
correspondem ao que ela quer. Talvez esse seja um sinal que essa lista dela
deveria ser rasgada, ignorada e esquecida.
Gravo um pouco do show, posto nos meus stories e depois vou até os
fundos, pegar alguma coisa para beliscar.
A partida volta, mas eu continuo assistindo daqui de trás, torcendo
para que acabe logo e essa tortura do meu pai tenha fim. Ele bate a perna no
chão incansavelmente e deve estar ansioso para saber se realmente está certo
em seu palpite da derrota.
E, pelo tanto de vezes que o jogo é parado por causa de um dos
nossos jogadores, começo a acreditar que ele está certo.
— Você sabia que um dos jogadores do Gorillas, um tal de Gavin,
foi pego no antidoping?
— Mentira?
Mad vira o celular, me mostrando a notícia.
Nós começamos a conversar sobre isso, entramos em uma pirâmide
de ficar vendo um jogador por um. Procuramos sobre fofocas, redes sociais e
família, apenas para passar o tempo.
Uma gritaria que não vem do lado do nosso time me assusta, e ao me
virar, vejo que o meu pai acertou.
Touros perdeu.
A decepção no olhar do meu pai é incontestável, mas ele realmente
parece conformado. E isso é um saco, porque todos que estão aqui, vão até
ele falar algumas dessas frases prontas de conforto.
“No próximo com certeza vocês ganham!”
“Foi por pouco!”
“Vocês estavam bem melhor, foi roubado!”
Deixo para falar com ele depois, é melhor assim.
Madison me puxa rápido lá para frente quando uma gritaria toma
conta do estádio novamente, e de longe, conseguimos ver o Christopher
correndo até a área vip deles. Não entendo o que está acontecendo até que
ele se ajoelha de frente para a namorada.
— Ai, meu DEUS! — Fico animada ao assistir, e quando ela se
abaixa para abraçá-lo, depois de um provável sim, também bato palmas
junto com quase todo o estádio. — Isso foi bem fofo, eu amei.
— Eu morreria de vergonha! — Madison diz.
Não é possível que isso seja verdade.
Não vindo dela, ao menos.
— Você? Com vergonha? — Coloco as costas da minha mão em sua
testa, fingindo que estou tentando aferir a sua temperatura.
Ela empurra a minha mão e ri.
— Ok, talvez eu não sentisse tanta vergonha assim…
Pego o meu celular e mando uma mensagem para o Asher, que
provavelmente só irá ver à noite.
Eu: Ei, parabéns! Por mais contraditório que soe, estou muito feliz
pelas suas vitórias de hoje. Comemore muito, você é merecedor de cada uma
delas.
Guardo o meu celular e, depois de um tempo, nós vamos embora.
Por mais que o resultado não tenha sido o que meu pai e todos os
torcedores esperavam, chegar até a Super Bowl é para poucos e isso por si
só já é uma grande vitória.
E agora eu estou animada para curtir o meu dia em Las Vegas!
Aqui é o lugar onde tudo acontece e eu estou precisando exatamente
disso.
Desde que o jogo terminou, não consigo tirar o sorriso do rosto. Fora
toda euforia em meu corpo, tanto pelo resultado do jogo quanto pelo meu
recorde.
O maior número de jardas percorridas por um running back na
história do futebol americano.
Por mais que eu tenha trabalhado duro para isso acontecer, ainda é
surreal.
Tenho medo de a qualquer momento acordar e todas as minhas
realizações terem sido só um sonho.
— Estou tão feliz por você, meu amor — minha mãe diz, sentada ao
meu lado na mesa enorme que fechamos em um restaurante aqui em Las
Vegas. — Você é merecedor de todas as coisas boas que tem acontecido em
nossas vidas!
— Não teria conseguido nada disso sem a senhora comigo!
Ela sorri.
— Nós dois sabemos que é mentira, mas eu vou aceitar o elogio
reconfortante.
Minha mãe não gosta muito de viajar, mas dessa vez ela veio comigo
e eu não poderia ter ficado mais feliz em vê-la me assistir.
Convidei também o Steven para vir. No início, ele ficou um pouco
sem graça, mas minha mãe o convenceu.
Acho que é importante para ela que ele faça parte desses momentos.
E eu estou bem com a relação deles, então não teria porquê me opor com a
sua presença, muito pelo contrário.
O restaurante que estamos é um dos mais badalados de Las Vegas e
fica dentro de um cassino. Não tenho nem noção de como o Heitor
conseguiu uma mesa para quase 60 pessoas.
Ocupamos praticamente todo um lado do restaurante. Os
funcionários até conseguiram deixar de um jeito que as outras pessoas não
consigam vir até nós.
— E o que vamos fazer de bom depois daqui? — Calleb pergunta,
toda animado. — Fiquei sabendo que tem ótimas boates.
— Depois daqui, eu vou ficar com a minha família! — Christopher
diz e Hope sorri, ficando com o rosto corado.
Os pais do Chris também vieram, então faz sentido quererem
aproveitar todos juntos no dia de hoje.
— Eu topo um bar ou uma balada, Calleb — digo.
— Eu também! — Bee responde em seguida.
Os dois se encaram e Calleb sorri de forma debochada para ela.
— Humm, eu preciso ficar até muito tarde se eu for? — Jordan
comenta do outro lado da mesa mais distante de nós e eu acho que não teve
uma única pessoa que não olhou para ele quando falou. — O que foi? —
pergunta ao ver a reação das pessoas.
— Nada… só nunca havia me imaginado curtindo a noite com o meu
treinador — Calleb responde. — Mas você pode ir embora a hora que quiser.
Ele concorda.
Heitor se levanta e bate o talher na taça que está segurando para
chamar a atenção de todos.
Eu ainda não estou querendo muito assunto com ele depois da nossa
última conversa e ele também não me procurou para tentar resolver nosso
mal-entendido. Ao menos não insistiu em querer se meter na minha vida.
— Gente, gente… — pede para que todos se acalmem para começar
o seu discurso. — Prometo que serei breve com vocês, não quero ser chato!
Primeiro: Quero agradecer pela temporada incrível em nome de toda a
diretoria do Gorillas. Nós já tivemos outros anos incríveis, mas com certeza
esse entrará para a história do time! — Todo mundo bate palma e alguns
assobiam. — E segundo: Parabéns pelo jogo foda de hoje! Não foi fácil, o
adversário era muito bom, mas nós fomos ainda melhores!
— Gorillas! — um dos jogadores grita, e todos nós respondemos
com o grito de guerra.
O gerente do restaurante já deve ter se arrependido de nos ter
arrumado essa reserva por causa de tanto barulho e bagunça que estamos
fazendo.
— E também um parabéns especial para o Asher! — diz e olha para
mim. — Seu recorde já é uma das coisas mais comentadas na internet e eu
acredito que levará anos até outro running conseguir ultrapassar o seu marco.
Todo mundo me aplaude.
— Obrigado, Heitor! — respondo, sabendo que ele está querendo
puxar o meu saco. — Obrigado, gente.
— E O AUMENTO? — alguém na mesa grita e a gente ri da cara
que o Heitor faz.
A mesa volta a ficar uma bagunça com todo mundo falando ao
mesmo tempo. E eu não sou muito bom em lidar com conversas desse jeito,
então pego o meu celular, que havia ignorado desde cedo.
Alguns conhecidos e amigos me mandaram mensagem. Vejo também
que saiu bastante notícia com o meu nome em destaque.
É estranho ver a minha foto estampada em tantos lugares.
Normalmente é o rosto do Christopher que vemos representando o Gorillas.
E eu prefiro que seja assim, mas já sabia que acabaria ficando em alta por
causa do recorde.
Entre as mensagens, vejo uma de Julie e respondo rapidinho.
Nós ficamos mais um tempo no restaurante e aos poucos as pessoas
vão indo embora.
— Bom, nós também já vamos, querido! — minha mãe diz e os dois
se levantam.
— Parabéns de novo, Ash! — Steven diz e eu agradeço.
Me despeço de ambos e fico olhando os dois saírem abraçados em
direção ao ponto de táxi.
Há muito tempo que não via a minha mãe feliz desse jeito.
— Vou dar uma volta no cassino! Me avisa quando estiver saindo?
— falo com o Calleb e ele confirma com um movimento de cabeça.
Peço licença a quem continua e me retiro.
Antes mesmo de sair do restaurante, algumas pessoas me param, eu
tiro foto com elas e autografo alguns braços e papéis que eles arrumam na
hora.
Vou até o cassino e vejo que está bem cheio.
Nunca joguei em nenhuma dessas máquinas e nem apostei em nada,
não é muito a minha praia. Só quero passar o tempo sem ficar entediado no
hotel até a hora de sair.
— Madison, você deveria se controlar um pouco! Ao menos já jogou
isso alguma vez na sua vida? — Ouço a voz da Julie assim que entro em um
corredor de caça-níqueis e eu quase nem acredito que o Universo está
fazendo isso. — Não deveria ter te trazido!
Vejo quando a Julie fica emburrada com a amiga, e é até fofo. Parece
uma criança quando está chateada com algo, faltou só cruzar os braços.
— Julie, você é muito cha… — a amiga dela se vira e me vê, e a sua
voz trava! — Oi, maior running back da história.
Não conheço a amiga dela direito, mas é notável que está um pouco
alterada.
Provavelmente por culpa do drink na sua mão, que não deve ser o
primeiro.
Julie demora um pouco para falar algo, é como se não estivesse
acreditando que estou na sua frente.
Olho ao redor para ver se tem alguém que vai tirar alguma foto
nossa. Mas para disfarçar, vou até a outra fileira de caça-níqueis e me sento
em uma das máquinas.
— Acho que é melhor que não nos vejam juntos! — explico sem
olhar para ela e finjo que estou mexendo na máquina. — Sua amiga está
bem?
— Está, ela só começou a beber cedo demais — me responde.
É horrível falar com ela sem poder olhá-la, mas é o que nos resta.
— Seu pai está bem? Sei que a derrota vem junto com um gosto
amargo e a sensação de que poderíamos ter feito mais.
— Ele está bem, na verdade. No intervalo, ele já sabia que vocês
ganhariam! Foi se conformando aos poucos.
Viro um pouco o meu rosto e a vejo pelo canto dos olhos.
— É bom te ver, Julie… mesmo que desse jeito esquisito.
— Meu Deus! Vocês dois são tão estranhos…
Madison sai andando em outra direção, acho que foi ao bar.
— Eu preciso ir atrás dela… nos falamos depois?
— Claro!
Espero que ela se afaste e me levanto.
Toda a vontade que eu tinha de sair acaba de se esvair depois desse
encontro que de fato foi bem estranho.
Entro no primeiro táxi que vejo e peço para me levar até o hotel onde
estou.
Não é muito longe daqui, mas ele pega um caminho que acaba
ficando distante demais e demora mais de 20 minutos para chegar.
Certeza que ele fez de maldade para a corrida ficar mais cara.
Eu o pago, entro no hotel e espero o elevador.
Enquanto subo, procuro pela chave magnética do meu quarto e não
encontro em nenhum dos meus bolsos e nem na minha carteira.
— Merda!
Já aperto o botão do térreo novamente para ir até a recepção e a
mulher na mesma hora bloqueia a chave anterior e me dá uma nova,
informando que pagarei uma taxa pela perda da anterior.
Vejo o elevador quase fechando e dou uma corridinha para conseguir
entrar nele, colocando a minha mão no pequeno espaço antes de fechar.
— Não acredito! Quais as chances de estarmos no mesmo hotel? —
Madison me vê e começa a rir, mas ela ri muito alto, ficando com o rosto
vermelho e se agachando. — Acho que eu vou fazer xixi nas calças.
Eu acabo rindo por causa da risada engraçada dela e Julie até tenta se
manter séria, mas é impossível.
— O Universo tem algo contra a gente! — Julie fala.
— Ou a favor! — Olho o painel para apertar o meu andar, mas vejo
que o número 17 é o único em vermelho, já acionado. — Com certeza,
estamos até no mesmo andar.
— AH, NÃO! — Madison abraça o próprio corpo, tentando muito se
controlar, mas sem sucesso nenhum.
Nós dois ficamos quietos e apenas a risada da amiga da Julie ecoa
pelo elevador.
Seguro a porta para elas passarem quando chegamos no andar e
viramos para o mesmo lado do corredor, mas as duas param duas portas
antes da minha.
— Salvos por um quarto entre nós! — Julie brinca.
— Boa noite, Julie!
— Boa noite, Ash!
Ela abre a porta e a amiga já entra, mas nós dois ficamos nos
encarando, parados no mesmo lugar.
A atmosfera entre nós começa a pesar, minha respiração parece que
vai ficando mais lenta e profunda a cada segundo.
Por que eu simplesmente não entro?
É só entrar, não é difícil.
Mas os olhos dela me prendem, a sua boca parece me chamar e
quando me dou conta, já andei até ela e paro alguns centímetros antes de nos
encostarmos.
— Não consigo acreditar que o destino esteja fazendo essas coisas só
para nos testar — sussurro. — Tem que ter um motivo a mais! Ou será que
eu estou tentando ver coisas onde não tem, Julie?
— Eu só quero que você me beije! O resto a gente descobre depois.
Porra.
Se ela não for a pessoa que vai acabar comigo, em todos os sentidos,
eu não sei então quem será.
Eu a encosto na parede ao lado da porta do seu quarto e sem muita
calma ou delicadeza, a beijo.
Julie também não parece estar muito disposta por um beijo suave, e a
sua língua tentando estar em todos os cantos da minha boca ao mesmo
tempo é a prova disso.
É a terceira vez que ficamos, e cada vez vai ficando mais gostoso.
Eu aperto a sua cintura fina com as minhas duas mãos, ela envolve
seus braços em meus ombros e puxa o meu corpo para colar no seu.
E eu sinto a minha recém-ereção encostar na barriga dela.
Julie solta um suspiro entre o beijo quando sente e eu desço a minha
mão até a sua coxa, apertando-a com vontade.
Ela enrosca essa perna ao redor do meu corpo e eu a levanto um
pouco, deixando que fique na minha altura e a mantenho no ar apenas com o
contato do meu corpo pressionado ao dela.
Minha boca desgruda da dela apenas para beijar o seu queixo e o
maxilar. Volto até a sua boca, sentindo a minha respiração entrecortada, mas
a necessidade de beijá-la nesse momento é maior do que a de respirar.
— Ash… — ela murmura entre o beijo.
Sinto as suas mãos entrarem pela minha camisa, nas minhas costas e
em seguida as suas unhas fazem um caminho lento e tortuoso, de baixo para
cima.
Meu pau começa a doer de tão duro.
Julie puxa a minha camisa um pouco mais para cima e sem pensar,
eu levanto os meus braços e deixo que a tire, jogando para longe.
Ela para de me beijar e olha para o meu peito nu, mordendo o lábio
inferior.
E instintivamente também olho para os seus mamilos marcando o seu
vestido de tecido fino.
Deve ser incrível senti-los e vê-los sem nada tapando.
O barulho alto da Madison vomitando dentro do quarto nos assusta e
a Julie faz um biquinho, derrotada porque terá que ajudar a amiga.
Me afasto aos poucos, sem de fato querer manter o meu corpo longe
do dela.
Julie olha na direção da minha calça sem nenhuma vergonha e depois
encosta a cabeça na parede, com um sorrisinho malicioso.
— O quão péssima amiga eu seria, se ao invés de entrar no quarto
que estou dividindo com a minha melhor amiga, que está passando mal
nesse exato momento, entrar no seu? O cara que eu não deveria nem estar
beijando, mas que eu quero muito mais que isso.
Muito mais…
Eu não me importaria em ter muito mais do que isso.
— Eu acho que estou morrendo… — Madison fala lá de dentro.
Nós dois rimos ao mesmo tempo ao ouvi-la.
Eu pego a minha camisa do chão e jogo em meu ombro, mas antes de
entrar no quarto, seguro o rosto delicado dela com as duas mãos e a beijo
mais uma vez.
— Se precisar de alguma ajuda com a sua amiga, pode me avisar! —
falo e a beijo mais uma vez.
— Uhum! — Ela me beija de novo. — Pode deixar. — E mais um
beijo.
A gente se afasta a contragosto e eu entro logo no meu quarto, antes
que eu acabe perdendo a cabeça de vez.
Depois de mais de um mês trabalhando na editora, decidi ver onde é
feita a parte da impressão dos livros.
Eu já tinha visto rapidamente, mas nunca entrei pra ver o processo e
estou encantada com o cuidado que os funcionários têm.
As máquinas são enormes e trabalham a todo vapor. Todas parecem
muito modernas, mas ainda assim em cada uma delas tem um funcionário
observando se tudo está correndo bem.
Depois dessa parte, vem a etapa manual.
Tem uma equipe com cinco pessoas separando todo o conteúdo de
cada livro, deixando em uma pilha, e do outro lado dessa pilha, alguém
inclui a capa e começa a passar folha por folha, garantindo que o livro estará
em perfeito estado, sem nenhum erro de impressão.
Todo o processo é incrível..
Falo com todos os funcionários que estão ali, querendo descobrir
ainda mais sobre como tudo funciona e depois os deixo trabalharem em paz,
ciente de que precisam de concentração.
— Ah! Estava procurando por você — Bonnie diz assim que volto
para o andar onde ficam as salas e a recepção, segurando uma sacola parda,
que estende para mim, balançando-a. — Acabaram de deixar para você.
Eu pego e agradeço.
Entro em minha sala e apoio a sacola na mesa para ver o que tem
dentro dela.
Tiro uma caixa de chocolate, depois mais uma e por fim um bilhete
escrito à mão.
“Impossível passar em alguma chocolateria e não lembrar que você
adora chocolate! Na dúvida de qual te dar, escolhi a linha nova. O
chocolatier disse que está sendo um sucesso, espero que goste.”
Sento na cadeira, abro as duas caixinhas com os chocolates que são
lindos e brilham. Pego um, sinto uma calda gostosa escorrer na minha boca
quando mordo e o outro é bem cremoso.
Isso é muito bom.
Nunca vou entender uma pessoa que não gosta de chocolate.
Pego o meu celular e tiro uma selfie comendo mais um chocolate e
mando para ele na mesma hora.
— Natalie, você não pode sair da minha sala sem falar comigo, filha!
— Escuto o Jon falando e na mesma hora vou até o corredor.
Eu já vi a filha dele em tantas fotos que fiquei curiosa para conhecê-
la pessoalmente.
— Eu só fui ao banheiro, pai! Estava apertada.
Encontro os dois conversando no corredor e ele sorri ao me ver, com
o seu jeitinho sempre simpático.
— Oi, Julie! — Ele coloca as mãos no ombro da filha quando ela se
vira para me olhar e os dois se aproximam. — Esse aqui é o meu bebê,
Natalie!
— Eu tenho 10 anos, pai — o repreende e balança a cabeça,
desaprovando a forma que o pai a chama. — Oi, qual o seu nome?
Natalie é ainda mais linda pessoalmente.
Ela é bem loira, o cabelo é comprido e o seu rosto é cheio de
sardinhas. E quando sorri, descubro que também tem covinhas bem fundas.
É uma obra de arte viva.
— Oi, Natalie, eu me chamo Julie!
— Julie… eu gostei do seu nome, combina com você.
— Obrigada, linda! — Ela sorri novamente. — Você gosta de
chocolate? — Natalie afirma com animação, já querendo comer. — Pode?
— pergunto ao Jon que levanta a mão fazendo um ok. — Vem cá!
Ela entra na sala comigo e ele fica na porta, olhando.
Digo para ela os sabores e deixo que coma à vontade.
Natalie começa a contar sobre as matérias que mais gosta na escola e
as que não gosta. Depois me fala de uma amiga com quem brigou, porque as
duas queriam ser a mesma personagem de uma peça da escola.
É engraçado ouvi-la, não costumo ter muito contato com crianças,
mas eu sempre amo passar o meu tempo com elas quando tenho
oportunidade.
— Tudo bem se ela ficar aqui? — Jonathan me pergunta quando vê
que a filha ficou à vontade comigo. — Ela gostou de você, pelo visto.
— Ela me deu chocolate, pai! Claro que gostei dela.
A gente ri da sua sinceridade e eu digo que não me importo que ela
fique.
Depois de uma longa conversa sobre tranças e a constante falha do
pai em fazê-las, eu a chamo para sentar de costas para mim na beira da
minha cadeira e faço uma trança embutida de lado, do jeito que ela me
mostrou na foto.
— Veja se ficou bom! — Tiro uma foto no meu celular e depois dou
a ela.
— Eu amei! — ela diz e depois me abraça, empolgada. — Será que
se eu pedir para o papai me trazer toda sexta, você faz uma trança em mim?
Eu arrumo uma parte da frente do cabelo dela que havia ficado um
pouco torta e depois concordo.
— Claro que sim! E se o seu pai deixar, nós podemos lanchar
também. O que acha?
— Eu vou pedir para ele! Tirei boas notas, acho que ele vai deixar…
Ela sai correndo da minha sala e eu fico com uma sensação gostosa
da inocência das crianças.
Espero que no dia que eu tiver filhos, eles sejam educados e gentis.
Tipo o Asher! Eu teria muito orgulho de ter um filho que fosse metade do
que ele é.
Asher…
Toda hora ele vem em minha cabeça, constantemente.
E novamente eu fiquei com ele, mesmo depois de tudo o que
aconteceu.
Não consigo entender qual é o meu problema com ele, eu não sou
assim. Nunca foi um problema me manter distante de alguém que fiquei uma
ou duas vezes.
Por que com ele é diferente?
Pego o meu celular quando começa a vibrar e atendo a minha mãe.
— Oi, meu amor. Como está o trabalho? Tudo bem?
— Oi, mãe. Tudo bem, sim! E aí?
— É muito estranho eu falar que está tudo bem como sempre e
depois te contar que a Salma faleceu?
Já estávamos esperando a notícia, na verdade.
E pelas condições da relação com a esposa do meu avô por parte de
pai, não temos como ficar tristes.
Não sinto nada, na verdade.
É indiferente.
— Os filhos legítimos dela devem estar péssimos — ironizo.
Por mais que ela tenha sido uma pessoa menos cruel com eles,
também nunca lhes deu amor. Apenas ensinou-lhes como serem sucessores
do pai no dia em que ele morresse.
— Nós iremos descobrir muito em breve se eles estão péssimos ou
não.
— A viagem vai acontecer, né?
— Sim, amor. Amanhã!
Merda.
Já?
— Ok, mãe. Pretende ficar quantos dias? Que eu me programo e levo
o trabalho para a viagem.
— Seu pai quer ficar 7 dias lá! Disse que é tempo o suficiente para
conseguir resolver qualquer burocracia que apareça.
Sete dias em Dubai.
A ideia não é ruim, caso eu não tenha que ficar vendo a família dele
todos os dias.
— Eu topo, mãe! Mas não vou precisar encontrar com a família do
papai todos os dias, né?
Ela sufoca uma risada do outro lado da linha.
— Não, meu amor. Teremos um almoço com eles no domingo e o
advogado da família estará lá para ler o testamento e também tentar
adiantar o máximo de coisas possíveis.
Isso com certeza não vai dar certo.
Aquelas pessoas são horríveis, esnobes e adoram diminuir todos que
não sejam eles mesmos.
Ainda não consigo entender como o vovô conseguiu ser uma boa
pessoa no meio de tanta cobra.
— Me espere para arrumarmos nossas malas juntas! — digo e depois
encerramos a ligação.
A ideia de viajar não é ruim, não mesmo.
E talvez assim eu consiga tirar aquele running back gostoso e que
agora eu sei que tem um pau enorme, da minha cabeça.
Quando ficamos em Las Vegas, foi a primeira vez que o senti
daquela forma. Ele estava muito excitado, muito mesmo.
Tive que dar uma espiadinha depois, para ver se não estava
imaginando coisas demais por causa do tesão.
E Deus sabe que eu teria ido para o quarto dele se não fosse pela
Madison vomitando até os órgãos.
Até hoje não sei se fico grata por ela ter passado mal ou não.
Na verdade, eu não sei o que fazer sobre tudo que é relacionado ao
Asher. E ficar no escuro em qualquer âmbito da minha vida me deixa louca.
— Essa viagem é o que preciso para tirá-lo da minha cabeça, tenho
certeza! — Falo sozinha.
Eu não tenho certeza, mas preciso acreditar nisso.
Coloco o celular de volta na gaveta para conseguir terminar as metas
de hoje.
Jonathan está realmente travado e eu não estou sabendo o que fazer
para ajudá-lo. Entendo que isso é uma coisa pessoal e que talvez ele precise
mesmo de um tempo para organizar as suas ideias.
Enquanto isso, vou lendo os demais livros.
Entrou mais uma autora para a editora e ela é um amor, mas eu não
sei como dizer a ela, sem soar maldosa, que o seu livro é praticamente uma
cópia de um outro, bem famoso, de uma autora muito conhecida, sobre
segundas chances.
Não sei se falar com a Angel seria uma boa ideia, porque também
não quero parecer que estou fazendo fofoca ou tentando prejudicá-la. Queria
apenas um conselho de como falar sobre isso com ela, sem acabar sendo
insensível ou criando um problema entre nós duas.
Plágio é crime e não sei se ela fez de propósito ou involuntariamente,
mas o livro que ela está supostamente escrevendo, já existe.
Coloco o rascunho dela de lado e leio os outros até o meu horário de
ir embora.
Na hora do almoço, falei com a Angel e perguntei se estava tudo bem
para ela que eu ficasse uma semana fora. Minha chefe disse que posso
trabalhar de onde quiser e quando quiser, desde que eu mantenha tudo em
dia.
Adoro uma chefe flexível.
Agora, eu só preciso buscar a Mad para ir lá em casa comigo. Tenho
certeza que irá me ajudar a escolher os melhores looks para essa viagem.
Eu gosto de estar de férias, é ótimo poder descansar. Mas depois de
alguns dias, eu já fico enjoado, me achando pouquíssimo produtivo e
entediado com tudo.
Hoje eu já corri, nadei, ajudei o jardineiro com a poda, fiz um pouco
de musculação, pesquisei sobre o draft e os possíveis jogadores que serão
chamados para o Gorillas e reli o e-mail que recebi deles com a minha nova
proposta.
Eles incluíram uma cláusula, e nela, caso eu assine, estarei aceitando
que o clube tenha um certo direito sobre a minha imagem.
Até aí tudo bem, isso é normal.
O problema começa no segundo ponto desta cláusula, em que eles
dizem que qualquer acontecimento na minha vida pessoal que prejudique o
time, eles terão total liberdade para resolver da melhor forma para o
Gorillas.
Eles estão malucos?
Isso me deixou tão irritado que eu lembrei que tenho um saco de
boxe na academia e soquei como se fosse o Heitor ali.
Sei que isso foi manipulação dele por causa da nossa discussão.
E pelo visto, ele acredita mesmo que eu vou aceitar qualquer
condição para me manter no time.
Mandei um e-mail para o meu advogado, passando tudo para ele e
deixando claro que não existe nada que me faça aceitar tal coisa.
Se essa for uma exigência para que eu permaneça no time, então eu
saio.
Eu sou uma pessoa que se adapta e faz de tudo para ter harmonia
com as pessoas ao meu redor, ainda mais no trabalho, mas não vou aceitar
isso.
Simples assim.
Continuo a minha caminhada pelo jardim, até que decido ir para o
meu balanço e me sento.
Ligo para o meu gerente de investimentos, apenas para ocupar o meu
tempo e a gente conversa sobre novos investimentos promissores e como o
meu rendimento tem melhorado nos últimos meses.
Eu tenho uma pequena fortuna que consegui investindo praticamente
todos os meus primeiros salários do Gorillas. Tinha medo de que algo me
acontecesse ou até mesmo que eu me deslumbrasse e acabasse ficando sem
ter como arcar com uma boa qualidade de vida para a minha mãe.
Esse é um dos motivos de não ficar desesperado se não continuar no
Gorillas.
É claro que eu amo estar lá, amo ser jogador e o Gorillas sempre foi
o meu time do coração. Quero ser respeitado como sempre fui, até acontecer
essa história com a Julie.
Ouvi por alto algumas pessoas falando, que talvez ela tenha me
passado o planejamento do jogo, para que a gente tivesse alguma vantagem.
As pessoas também só inventam merda, é impressionante como eles
têm uma ótima imaginação para esse tipo de coisa.
— Sua mãe disse que você estaria aqui! — Steven aparece com as
mãos no bolso. — Posso me sentar?
— Claro.
Ele se senta ao meu lado e fica olhando na mesma direção que eu.
— Então esse é o seu lugar especial?
— Sim, acho que é.
Não falamos mais nada por um tempo, até que ele suspira daquele
jeito de quando alguém tem algo para falar, mas está se preparando.
— Sua mãe está preocupada com você, Ash. Ela não queria que eu
falasse nada, mas algo me dizia que você iria gostar de saber.
— Ela tem o costume de tentar me poupar das coisas e no final eu
sempre acabo descobrindo quando já se desgastou sozinha, evitando de me
contar.
Steven encosta suas costas no banco e passa um braço por cima do
apoio dele, ficando um pouco mais relaxado.
— Audrey está com medo de que você tenha se acostumado tanto em
não fazer nada por causa dela, que agora acabe ficando muito sozinho,
porque ela está comigo — diz, bem direto.
Claro que ela se preocuparia com algo do tipo.
— Mas eu estou bem desse jeito, Stev.
— Eu falei que talvez você estivesse, mas ela não aceita que alguém
realmente goste de estar sozinho. Ainda mais com 29 anos, na flor da idade.
Eu acabo rindo do que ele fala.
— Minha mãe está querendo uma nora a essa altura do campeonato?
— Bem… acho que sim! É muito absurdo ela querer isso? —
pergunta, genuinamente curioso.
Não acho que seja, na verdade.
Faz sentido uma mãe querer ver o filho casado, criando sua família.
— Ela falou da Juliana Fanning, né? — Ele concorda. — Eu
estranhei que ela não falou absolutamente nada comigo sobre as notícias,
nada mesmo. Só me perguntou se estava tudo bem e nada mais.
Steven fica novamente em silêncio, abre a boca algumas vezes, mas
desiste. E por fim, acaba falando o que realmente veio conversar comigo.
— Não fique bravo com ela, mas você será convidado para um jantar
hoje.
— Como assim um jantar?
— Sua mãe marcou um encontro às cegas para você! Com a filha de
um amigo meu, que a apresentei na semana passada.
Não acredito nisso.
É sério mesmo?
Eu acabo rindo, porque é inacreditável.
— Tudo bem, eu vou!
Ele tomba um pouco a cabeça para o lado, surpreso com a minha
resposta.
— Então tá bom, eu acho — diz e se levanta, ainda me olhando sem
acreditar que lidei bem com o que me contou. — Você vai mesmo?
Eu rio e concordo.
— Não vou deixar que isso se repita, porque não é um tipo de
encontro que me agrade. Mas se ela já marcou, também não vou
simplesmente fingir que não vai ter alguém me esperando em algum
restaurante.
— Ok! Você pode fingi…
— Pode deixar, não irei contar a ela que você veio me preparar para a
notícia. — Ele sorri, agradecido. — Obrigado por ter vindo me contar,
inclusive.
Ele me dá uns tapinhas no ombro e depois volta para casa.
Bom, minha mãe já me colocou nessa furada, vamos ver o que
acontece.

Eu não deveria ter vindo!


Zoe definitivamente não é o meu tipo de mulher e nem de pessoa
com quem eu costumo ter amizade.
Ela falou do ex-namorado, gravou vídeo enquanto conversávamos
para poder postar em suas redes sociais, falou mal de todas as pessoas que na
mesma conversa havia chamado de amigas.
E o pior de tudo: ela perguntou quanto eu ganho.
Quem faz esse tipo de pergunta?
Minha vontade era de deixar que uma rolha de vinho batesse com
força na minha cabeça a ponto de me desacordar e terem que me levar
embora daqui.
— Ai, foi horrível, Asher. Como que ele teve coragem de terminar
comigo com a justificativa de que eu sou fútil? — Ótimo, voltamos a esse
assunto. — Não foi horrível?
— Nossa, terrível! Desumano!
Ela está tão distraída com ela mesma que nem percebe meu total
desinteresse.
O jantar durou duas horas, mas para mim, pareceu um dia inteirinho.
Eu quase soltei fogos de felicidade quando ela disse que era melhor
irmos embora. Foi a única coisa que eu concordei com ela durante todo o
encontro.
— Posso te deixar em casa — falo, depois de pagar o jantar e ir até a
parte externa do restaurante. — Ou prefere ir de táxi?
— Pensei que iríamos para a sua casa… o jantar foi tão bom! — fala
com um tom de quem tem segundas intenções.
Não é possível que ela tenha gostado do nosso encontro.
Impossível mesmo!
Acho que é por encontros assim que muitas pessoas não gostam de
encontros às cegas.
Eu mesmo sei que nunca mais em minha vida vou em outro.
— Desculpa, Zoe… mas eu acho melhor cada um ir para a sua casa
mesmo!
Ela fica ofendida ao me ouvir, mas tenta disfarçar e sorri.
— Claro, melhor assim! Acho que não daria certo, de qualquer jeito.
Ela vira de costas, entra no táxi que estava disponível na nossa frente e
vai embora, sem nem me dar um tchau.
Rio sozinho, sem acreditar no tempo que perdi com esse encontro
horrível.
Minha mãe está me devendo uma travessa inteira de lasanha para me
recompensar por essa noite horrível.
Custava ser a Julie ao invés dessa mulher?
Tenho 100% de certeza que o encontro teria sido incrível e nesse
momento estaríamos em meu carro, nos controlando para não nos beijar e
falhando assim que eu estacionasse.
Por onde será que ela anda? Não nos falamos desde ontem, o que não é
muito tempo, mas acabei ficando mal-acostumado em falar todos os dias
com ela.
Será que mando uma mensagem?
Acho que sim, não custa nada. O máximo que pode acontecer é não
receber uma resposta.
Vou até o meu carro e entro, mas ao invés de ligá-lo para dirigir até em
casa, pego o celular para mandar uma mensagem para ela, mas vejo que ela
havia me mandando uma mais cedo e eu que não vi.
Julie: Ontem à noite fiquei tão ocupada que não consegui falar com
você e hoje fiquei derrotada por conta do fuso horário.
Julie: Vim para Dubai, lembra que te contei sobre a família do meu pai?
Então, tivemos que vir antes do que imaginávamos.
Julie: E sabe o que eu fiquei pensando durante toda a viagem? Que eu
adoraria que você viesse! Tenho certeza que ficaria muito mais interessante
com você aqui.
Julie: Loucura, né? Mas achei que precisava externar esse pensamento!
Talvez eu me arrependa, talvez não…
Pesquiso no Google a diferença de horário e em Dubai já passa das 3
horas da manhã, então é melhor mandar mensagem quando eu acordar que já
será a tarde lá.
Eu só quero saber como irei conseguir dormir sabendo que ela queria que
eu estivesse lá com ela.
A viagem de NY até Dubai acabou comigo e, quando chegamos, eu
só consegui tomar um banho e dormir.
Meu pai escolheu um hotel cinco estrelas na Palmeira Jumeirah, a ilha
artificial. E normalmente ele escolhe a suíte presidencial com quarto extra e
nós ficamos juntos.
Mas dessa vez, já estava ocupado e tivemos que ficar em andares
diferentes. Eles no andar acima do meu, então não nos importamos muito
com isso.
Todos os quartos são de luxo, tem hidromassagem, uma cama que
caberia tranquilamente três adultos, varanda e mais vários acessórios.
Apenas o presidencial que tinha coisas a mais.
Acordei mais cedo, com um sol gostoso entrando pela janela, mas não
aguentei nem 2 minutos dele quando fui até a varanda.
Ontem havia chovido pouco antes de termos aterrissado, mas hoje o dia
está bem quente, abafado e seco. Já perdi as contas de quantos litros de água
bebi.
— Tem certeza que quer fazer isso, amor? — Escuto a minha mãe falar
com o meu pai. — Nós podemos tentar de outra maneira! Sei o quanto te faz
mal ir até eles.
Papai contratou um motorista de uma empresa que ele já conhece para
ficar conosco durante a nossa viagem e no momento estamos no carro indo
para a casa da família dele.
Nosso café da manhã foi maravilhoso, demos uma volta na cidade para
comprar umas coisinhas e tentarmos ignorar o real motivo por estarmos aqui,
mas agora as coisas ficaram tensas.
— Não posso fugir disso, Grace! E eu não quero levar esse problema
para a nossa casa, então é o melhor a ser feito.
Eu o admiro tanto, é um homem tão forte e passou por muitas coisas. As
pessoas nos veem hoje e não têm noção de como batalhou para criar o seu
legado.
Avistamos a mansão a poucos quilômetros antes de chegarmos à entrada
dela. Vários guardas se aproximam do carro quando paramos na frente dos
portões de ferro enormes e meu pai se apresenta.
— Jayden Fanning! Estão me esperando — diz a um dos guardas, que se
vira e fala no idioma deles no rádio de comunicação.
— Seu nome não está na lista de liberados, senhor! Por favor, peça para
o motorista fazer a volta com o carro e…
— Omar Al-Abdulla! — meu pai o interrompe para falar o seu nome
recebido ao nascer.
Quando ele se mudou para NY, fez questão de usar um outro nome.
Além de não querer nada que o ligasse a vida que teve aqui, também não
queria o peso do sobrenome nas suas conquistas.
Depois de um tempo e ajuda do advogado dos pais da minha mãe, ele
conseguiu trocar na justiça para ser reconhecido apenas pelo nome que
queria.
Inclusive, o Fanning vem da mãe legítima dele, que antes mesmo de
descobrirem que era amante do meu avô, já era desprezada por ser uma
estrangeira.
— Pode entrar! — o segurança fala, em um inglês cheio de sotaque e um
pouco confuso.
Vejo a minha mãe apertar a perna do meu pai, acalmando-o com o seu
jeito sutil.
O caminho do portão até a casa leva mais uns 10 minutos de carro, e
quando chegamos na frente dela, um funcionário nos indica onde devemos
estacionar.
— Não devo demorar muito, mas fique à vontade para andar pela área
externa da propriedade — meu pai diz para o motorista, assim que saímos do
carro.
Minha mãe arruma o meu Hijab e eu vejo em seu olhar o quanto ela está
nervosa. Das vezes que veio aqui com o meu pai, não foi bem tratada.
Em Dubai não é obrigatório o uso dos véus, mas a Salma sempre usou e
exigia que todas as mulheres usassem dentro da sua casa, por conta da
cultura do país que ela e o vovô vieram.
Nós três subimos as escadas que leva até a porta principal, que deve ter
uns 4 metros pelo menos, e está aberta, provavelmente para nós.
Entrar nessa casa me dá uns arrepios ruins, e meu pai aperta a minha
mão, involuntariamente. Vejo que ele faz o mesmo com a mão da mamãe.
— Chegou quem faltava! — Khan, o irmão do meio do papai, fala assim
que nós entramos na sala de jantar, onde todos estão. — Quanto tempo,
Omar! — fala o nome cheio de vontade, sabendo que isso irrita o irmão.
— Bom dia a todos! — meu pai fala e olha cada um que está sentado à
mesa. — Acredito que podemos evitar o desconforto do almoço juntos e
fazer o que todos realmente queremos, não é?
O outro irmão dele, o mais novo, se levanta e vai para o lado de Khan.
Os dois sussurram algo em árabe e eu não faço noção do que seja, mas
papai entende e trinca o maxilar enquanto os escuta.
— Você sabe que eu te entendo perfeitamente, não sabe? — pergunta a
Samir, o mais novo.
— Sim, eu sei!
Que clima horrível.
Samir desvia o olhar do meu pai para mim e depois para a minha mãe,
nos olhando com repulsa.
— Bom dia, Sr. Fanning! — O advogado se levanta, fala com o meu pai
e cumprimenta minha mãe e eu. — Se vocês estiverem prontos, podemos
começar.
Todos concordamos e nós nos sentamos na ponta da mesa mais longe de
onde todos estão.
Sinto o olhar dos meus primos sobre mim, de forma maldosa e as minhas
primas encarando-me como se eu fosse uma aberração.
É extremamente incômodo, mas eu já sabia que seria assim.
— Como pedido pelo pai de vocês, a segunda parte do testamento só
seria lida quando a mãe de vocês falecesse! — ele fala e vai tirando os
documentos da maleta. — O que nós já sabemos é que o Jayden tem direito a
60% da empresa, mas só poderia usufruir de tal direito após o falecimento da
Salma.
— Isso deve ser algum engano! — Khan responde, com os olhos
parecendo duas labaredas. — Tenho certeza que nessa segunda parte terá a
explicação de que foi um erro — insiste.
O advogado pega o papel e antes de ler em voz alta, primeiro lê apenas
para ele, e eu vejo a surpresa em seu olhar.
Acho que não é uma boa coisa.
— Darei início a conclusão da leitura do testamento do Mustafá Al-
Abdulla, como assim exigido por ele, antes da sua morte — ele explica,
limpa a garganta e começa a ler. — “Quantos anos vocês devem ter esperado
para finalmente receberem o desfecho dessa história? Caso haja alguma
dúvida, o Omar Al-Abdulla receberá 60% da empresa, porém, para que os
40% sejam divididos entre Khan Al-Abdulla e Samir Al-Abdulla, os três
terão que entrar em um acordo de paz.”
— Isso é inaceitável! — Khan bate a mão na mesa com força,
inconformado. — Omar não se envolve mais na empresa desde que se
mudou! Isso é injusto, não posso aceitar.
O advogado olha para ele por cima do óculos, esperando que se cale para
continuar.
— Continuando… “Omar é o meu primogênito e nada mais justo do que
ele ser o sócio majoritário! Essa é a única forma que consegui de tentar
reparar o dano que essa família causou ao meu filho que nunca foi aceito
nem pelos irmãos! É a maior tristeza da minha vida, morrerei e não terei
paz, porque sei que o meu filho mais amado foi o mais injustiçado.”
— Não acredito que ele escreveu essas coisas! — Samir diz, apertando a
mão na mesa para controlar a raiva.
— Continue, Ali — meu pai pede ao advogado, sem muita paciência
com os irmãos.
— “Para finalizar e fazer com que entendam sem dificuldade, o Omar
não poderá passar sua porcentagem para os irmãos por boa vontade!
Apenas a venda estará disponível, e o advogado, Ali Al-Sabbah, ficará
responsável por essa transição, seguindo tudo de acordo com o meu desejo.
Aos meus outros filhos, espero que vocês agora aprendam o que eu nunca
consegui ensiná-los: sejam gentis e justos, Alá nos devolve o que
merecemos.”
Todo mundo fica em silêncio, e eu encaro o meu pai, preocupada.
— Quando ele escreveu esse testamento? — Khan pergunta. — Nos seus
últimos meses ele não estava bem! Não tinha condições de decidir suas
próprias coisas.
— Seu pai estava em ótimas condições quando escreveu o testamento
em… — ele procura pela data no documento. — …em 1994!
Tento fazer os cálculos rápido, e nessa época, o meu pai tinha 20 anos e
já não morava mais aqui.
— Como um testamento de tanto tempo ainda tem validade? — Samir
pergunta, ficando visivelmente alterado. — Ele deve ter feito outro, tenho
certeza.
O advogado tira da pasta várias cópias do testamento e entrega para cada
um de nós.
— Aí, vocês conseguem ver todo o testamento completo, a data que foi
escrito, e a sua última assinatura, 1 ano antes de falecer, confirmando que
ainda estava de acordo com o que escreveu há 30 anos.
Meu pai lê com muito cuidado, se atentando a cada vírgula e ponto final,
para ter certeza que tudo está realmente certo.
— Ali, qual a melhor maneira de resolver tudo isso? Eu não quero me
envolver com a empresa, isso é óbvio! Não quero nada que me ligue a vocês.
— Olha para os irmãos ao falar essa parte. — Eu posso vendê-la agora, por
um dólar.
Ali discorda ao movimentar a cabeça.
— Seu pai já sabia que faria isso, por isso me deixou responsável pela
questão da venda com você. — Ele tira outro documento da maleta e
também entrega a todos.
— Esse é o valor de venda? — Samir quase grita ao perguntar.
E eu entendo o porquê.
Quase 500 milhões de dólares.
Isso é muito dinheiro! Muito dinheiro mesmo.
— Exatamente! Inclusive fiquei sem dormir em contato com os
responsáveis das finanças da empresa para saber o valor exato, sem um
centavo a mais.
— Me recuso a pagar esse valor! — Khan fala alto e vem na direção do
meu pai, que se levanta antes que ele fique perto demais de nós três. — E
também me recuso a deixar que você tome conta da empresa! Você não tem
esse direito.
Ele fala quase cuspindo no meu pai, que se mantém controlado.

— Eu não pedi por nada disso, Khan! — responde. — Saí deste lugar
há muitos anos, abri mão da sucessão da empresa, porque não suportava a
vida com vocês! Por mim, eu assinava qualquer merda que desse tudo isso a
vocês.

Khan olha para o meu pai daquele jeito soberbo, como se fosse a
porra de um rei.

— Ali, não tem como fazermos isso?

Ele apenas sinaliza que não com a cabeça.

— Inclusive, tem uma observação aqui muito interessante! — Ele


ajeita o óculos na cabeça novamente antes de falar. — A herança em
dinheiro que havia sido dividida entre vocês, foi de 250 milhões para cada
um, mais a parte da mãe de vocês. — Nós três concordamos. — O Omar
abriu mão da parte dele, fazendo com que esse valor voltasse para vocês
dois! E agora que a Salma morreu, vocês também ganharam um bom
valor… o pai de vocês era um homem esperto! Ele sabia que vocês teriam
como comprar a parte do Omar, basta vocês quererem.

Não dá para negar que isso foi genial.

Meu avô era inteligente demais, tanto que fundou um império


sozinho, do zero. As joias Abdullah são as mais caras e únicas de todo o
mundo e ele sempre teve muito orgulho do que criou.

Mas a sua ausência na criação dos meus tios fez com que eles se
tornassem péssimas pessoas.

— Não tem mesmo como fazer isso de outra forma? — meu pai
pergunta mais uma vez, para ter certeza.

— Não, não tem como.

Ele concorda a contragosto.


— Onde eu assino? Já que isso é o que fará com que eu me livre de
todos eles, só quero assinar e depois você pode entrar em contato com o meu
advogado para fazer a transferência.

Ali pega o documento oficial que já havia separado, aponta para onde
o meu pai deve assinar, ele assina e devolve a ele.

— Assim que a transferência for feita, eles também assinarão e você


irá receber outro documento com a conclusão da venda da sua parte!

— Obrigado, Ali.

Mamãe e eu nos levantamos e saímos da sala junto com ele, sem


falar com mais ninguém.

Quase consigo ouvir o coração dele batendo rápido e forte. Sei o


quanto quer ir embora dessa casa para nunca mais ter que voltar.

— Omar! — Khan grita quando começamos a descer as escadas para


ir até o carro. — Conseguiu o que queria, né? Um dinheiro que nunca foi
seu!

Papai solta as nossas mãos e anda até o irmão, pisando duro enquanto
chega perto dele.

— Não cansa desse joguinho, né? — meu pai pergunta. — Foi


sempre assim! Você sempre teve todo o prestígio, toda a honra de ser um
filho legítimo junto com o Samir, mas nunca me deu paz e nem sossego!
Qual a porra do seu problema? Você não é mais um adolescente, Khan! Aja
como um adulto… Deveria estar feliz porque nunca mais me verá! Eu estou
feliz demais por isso.

Meu pai não espera que ele responda nada e vem até o nosso
encontro.

Sei que ele está abalado, o conheço o suficiente para saber que isso
tudo o machuca, mesmo que seja forte e se esforce para não demonstrar.
Eu o entendo! Como não se magoar quando toda uma família te
rejeita por algo que não é culpa sua? E ainda o afastaram da sua mãe
biológica, ele só a conheceu no dia do seu falecimento.

Entramos no carro e vamos embora, com um silêncio sufocante


dentro do veículo.
Depois que voltamos para o hotel, papai decidiu almoçar no quarto
mesmo e eu me juntei aos meus pais.

Ele ainda está incrédulo que o vovô planejou meticulosamente tudo


aquilo. O que só prova, que apesar dos pesares, ele conhecia muito bem os
três filhos.

Sabia exatamente o que meu pai faria e os irmãos dele também.

Obviamente ele não quer o dinheiro, mas eu também não acho justo
devolver para os irmãos.

É um dinheiro que virá com uma energia extremamente negativa.


Mas, depois de muito conversar comigo e com a mamãe, ele decidiu que aos
poucos irá destinar esse dinheiro para ajudar abrigos e causas importantes.

Inclusive, pediu a nossa ajuda com isso.


Fiquei muito feliz pela decisão dele.

Ele vai fazer de uma situação ruim, algo incrível para muitas pessoas
que serão ajudadas. É muito dinheiro, dá para ajudar muita gente.

E eu me animei em procurar algumas causas e talvez institutos


médicos, orfanatos.

Depois de almoçarmos, deixei os dois sozinhos e fui para o meu


quarto descansar. Mas a ideia de estar em um lugar que tem tanta coisa para
fazer, não deixou que a minha mente ficasse calma.

Acabei tomando banho e me arrumando para ir na rua, e aqui estou.

Vim em um shopping ver se tem algo interessante, mas nada além do


que vemos em qualquer outro.

Pelo menos achei uma cafeteria muito bonita, com enormes janelas
que dão para a parte da frente do shopping, que é um ponto turístico por si só
de tão bem planejado.

Fiquei em uma mesa ao lado da janela, em uma cadeira muito


confortável e pedi um chocolate quente com algumas especiarias.

A temperatura está bem alta, mas a cafeteria é fria, então na minha


cabeça faz sentido pedir o meu chocolate.

Tiro o notebook da minha bolsa e enquanto ele liga, pego o meu


celular para falar com a Mad.

Eu: Ainda não acredito que não quis vir para o lugar onde tem mais
herdeiros e homens riquíssimos por metro quadrado!

Aproveito e discretamente tiro a foto de um homem bonito que está


sentado a algumas mesas de distância da minha.

Eu: Certeza que você conquistaria o coração desse em dois minutos!


São quase 3 horas aqui, então lá deve ser umas 11 da noite.
Provavelmente ela já está dormindo ou sofrendo com os seus doramas.

Dou uma espiadinha também na conversa com o Asher, mas depois


que ele não respondeu o que falei, me arrependi amargamente por ter
assumido que queria que ele estivesse aqui.

O pior é que não era mentira, eu realmente imaginei que seria ótimo
passar uns dias com ele em um lugar distante, que talvez a gente tivesse um
pouco mais de privacidade.

Claro que não seria tão fácil, porque os meus pais estão aqui e tem
todo o problema do meu pai não querer que eu fique com ele por causa de
tudo que já rolou e também pela rivalidade profissional.

Mas foi só uma ideia que surgiu na minha cabeça e morreu logo
depois.

Madison me responde.

Mad: Que cafeteria é essa aí?

Tiro foto do cardápio, que tem o nome bem grande, e mando para
ela.

Eu: Fica no shopping pertinho do hotel onde estou!

Mad: Entendi!

Mad: Tô meio sonolenta, acordei com a sua mensagem. Está tudo


bem?

Eu: Sim! Mas a gente conversa amanhã, tudo bem? Me manda uma
mensagem assim que acordar, te amo.

Largo o celular e começo a ler o arquivo que Jonathan me mandou.


Ele disse que teve uma inspiração de madrugada e escreveu o capítulo na
correria.
Ainda não está finalizado, mas dá para saber o que ele quer passar,
então eu leio para tentar ajudá-lo.

Fico uma hora lendo, anotando algumas coisas e depois relendo com
a inclusão das anotações para ver se realmente faz sentido.

Vou tomando o meu chocolate aos poucos e também peço água. Não
esperava que viesse apimentado, foi uma surpresa um pouco desagradável.

Quando eu canso de ficar na cafeteira, pago minha conta, guardo


minhas coisas e volto andando para o hotel.

Talvez eu dê um mergulho na piscina! Também posso pesquisar uns


passeios.

Adoro passear de lancha! Sei que aqui é algo bem comum de se


fazer, vou dar uma procurada.

Entro no hotel mexendo no celular, totalmente distraída e só quando


sinto um perfume que passei a gostar recentemente, olho para o lado.

Asher.

Asher está escorado em uma das pilastras perto do elevador, me


encarando com um sorriso bobo no rosto.

Não pode ser!

Eu pisco algumas vezes e só acredito que o chocolate quente não


tinha algo a mais além de chocolate e pimenta porque ele se aproxima, me
engolindo sem nem encostar em mim, apenas com o calor do seu corpo.

— O que você está fazendo aqui?

— Vim ver você!

— Como assim, Asher? Nós moramos perto demais para você vir até
Dubai para me ver.
Ele coloca as mãos no bolso, ainda com o sorriso bobo no rosto.

— Mas você não estava lá do lado de casa! E ter lido que gostaria
que eu estivesse aqui nessa viagem, me fez agir sem pensar… Não comprei a
passagem de volta, porém, se isso tiver sido um erro, eu posso voltar no
próximo voo.

Como isso seria um erro?

Aliás, como além do erro óbvio, isso seria um outro erro?

— Eu não estou acreditando que você veio realmente por causa de


mim!

Asher joga o meu cabelo que estava no ombro para trás e o suave
toque dos seus dedos me causa arrepios.

— Você diz isso como se fosse um absurdo!

— E não é?

— Não quando é por alguém que vale a pena todos os riscos.

Meu coração dá cambalhotas dentro do meu peito quando ele fala


isso, na maior calma do mundo.

Ele realmente veio aqui por mim!

E se isso não é um gigantesco sinal de que o meu interesse por Asher


é porque ele realmente vale a pena, então não sei mais o que pode ser.

— Já se hospedou? — Ele confirma. — Que pena! Vai ter que


cancelar.

Na mesma hora que eu digo isso, ele fica meio sem graça.

— Tudo bem, Julie! Desculpe não te…


— O que você está falando? — pergunto, confusa. E aí me dou conta
que ele interpretou mal o que eu disse. — Você vai ter que cancelar o quarto
que pegou, porque ficará comigo no meu.

Não vou perder a chance de aproveitar cada segundo com ele.

Talvez essa seja a única oportunidade real de criarmos uma


intimidade maior, antes de ter que rompê-la de vez. Ou talvez as coisas
tomem um rumo que nenhum de nós dois espera, mas eu escolhi que irei
descobrir quando for a hora.

E acho que com a ajuda da minha mãe, consigo fazer com que o meu
pai não saiba.

Assim que ouço alguém batendo na porta do quarto, abro já sabendo


que é a minha mãe.

Ela entra sem acreditar no que leu na mensagem e arregala os olhos


quando vê o Asher sentado na varanda, conversando com a mãe no telefone.
Minha mãe segura o meu braço e me puxa para o lado, saindo da
linha de visão dele.

— Você está louca, minha filha? — fala baixo, de braços cruzados e


me olha séria. — Você só pode estar, nem precisa me responder.

Eu tive que contar para a minha mãe.

Não teria como manter o Asher aqui sem que pelo menos ela
soubesse, até porque, eu vou precisar de ajuda para que isso não chegue até o
meu pai.

— Sendo bem sincera, mãe… acho que estou!

Ela me olha preocupada, depois vai um pouco para o lado para


conseguir vê-lo e volta a me encarar.

— Ele veio aqui mesmo só para te ver? — Confirmo. — E vocês


nem transaram ainda? Só ficaram algumas vezes? — Confirmo novamente.
— Meu Deus! — Ela coloca a mão na boca, desacreditada.

Minha mãe senta na poltrona que está bem atrás dela, muito
pensativa.

— Por que você não quer que o seu pai saiba, Julie?

— Porque ele vai ficar chateado, mãe!

— E mesmo sabendo disso, o Asher está aqui… Seu pai vai colocar
nós duas naquela bendita ilha que sempre diz que nos desovará quando
fazemos algo que ele não gosta! — diz e solta uma risada meio desesperada.
— O que está acontecendo com você, Julie? Nunca te vi agindo desse jeito
por ninguém, nem pelo Kendrick.

Eu queria entender também.

— Não sei, mãe… mas sempre que eu penso que tenho que me
afastar dele, isso parece estranho e errado! E quando a gente conversa, eu
simplesmente esqueço de todo o resto.
— Então você vai arriscar mesmo tudo para conhecê-lo melhor? —
Afirmo. — Só fique ciente de tudo que virá junto com isso, Julie!

— Calma, mãe! Não é um casamento… só quero dar uma chance de


conhecê-lo melhor.

Minha mãe se levanta e novamente olha na direção dele.

— Quer que eu seja sincera?

— Por favor!

— Eu também daria uma chance a um homem que sai de NY e vem a


Dubai sem nem saber se ficará ou não. — Ela abre um sorriso ao falar. — E,
eu posso estar enganada, mas sinto uma energia muito boa vindo dele! Ele
foi ótimo ajudando o Kendrick, não tem nenhuma passagem pela polícia e
fiquei sabendo que é um homem muito família.

— Você procurou sobre ele?

Ela ri alto e coloca a mão na boca, contendo a risada.

— Claro, filha! Eu sabia que você acabaria o vendo novamente,


preferi conferir uma coisa ou outra… você é a minha única filha, Julie! Não
me olhe assim, meu dever é te manter segura.

Eu a abraço e beijo o seu rosto.

— Obrigada por ser incrível, mãe.

— Apenas tome cuidado, tá? — Coloca a mão em meu peito, em


cima do coração. — Esse lugarzinho aqui é muito especial, não deixe que
entre quem não merece estar aí.

Ela me abraça novamente e se despede.

— Boa noite, Sra. Fanning! — Asher fala com a minha mãe, antes
que ela saia. — Espero não trazer problemas para vocês com a minha vinda.
Minha mãe olha para ele com curiosidade, mas sorri educadamente.

— Apenas não faça com que eu me arrependa de apoiar vocês nisso!


E aproveitem Dubai, aqui é lindo demais. — Ela vira para mim, pisca e
depois sai.

Asher senta na beira da cama meio sem jeito e fica me olhando igual
a um cachorro querendo atenção.

— Esperei ter quase 30 anos para viver um romance às escondidas!


— ele diz, brincando.

— Era porque eu ainda não tinha aparecido em sua vida!

Ash estica a mão para que eu a segure e me puxa para sentar com ele
na cama.

E eu não lembro de já ter ficado tão ansiosa assim para ficar a sós
com alguém.
Quando eu comprei a passagem só de vinda para cá, não pensei em
nada, apenas comprei e contei com a sorte de que daria certo, porque existia
uma grande chance de ela ter falado aquilo da boca para fora.
Mas eu arrisquei.
Ela não sai da minha cabeça desde o dia do evento, há dois meses!
Não tem como isso não ser nada, meu cérebro não me pregaria uma peça
desse jeito.
Depois de ter comprado, fui conversar com minha mãe, que é a
minha melhor amiga e sempre me dá os melhores conselhos. E ela me
conhece melhor do que qualquer outra pessoa, saberia se eu estivesse vendo
coisa onde não tem.
Depois de ela ter falado que eu deveria mesmo me arriscar, porque
no amor isso é a coisa que mais fazemos, eu criei uma coragem gigantesca e
não desisti.
Até agora deu tudo certo!
Julie ficou surpresa e parece realmente ter gostado de me ver, tanto
que pediu para que eu ficasse direto em seu quarto ao invés de ficarmos
separados. Mas como não sei o que pode acontecer por causa do pai dela,
não cancelei a reserva, contudo, trouxe as minhas coisas para cá.
Não tenho como negar que estou ansioso e também nervoso para
dormir com ela.
Julie não sabe que nunca transei e na cabeça dela isso irá acontecer
hoje, porque normalmente é o que acontece.
E, pela primeira vez, eu não me incomodo com a ideia de ir além e
deixar rolar o que tiver que rolar, porém, estou sentindo o meu corpo tremer
por dentro com medo do que isso pode mudar entre nós dois.
Tenho 29 anos e não sou o estereótipo de homem que fica com todo
mundo, transa todos os dias, mas nunca com a mesma mulher. Como ela irá
reagir ao descobrir que não tenho nenhuma prática no sexo em si e poucas
vezes fiz outras coisas?
Será que vai rir?
Me achar patético?
Eu estou hiperventilando.

— Está tudo bem, Ash? — Julie me pergunta ao sair do banheiro,


penteando o cabelo.

Depois que a mãe dela saiu do quarto, decidimos ir dar uma volta na
rua, conhecemos várias coisas da cultura deles, experimentamos umas
comidas bem diferentes das que estamos acostumados e cada um comprou
um presente para o outro, mas não trocamos ainda.

— Sim! Porém, eu acho que a gente precisa conversar sobre uma


coisa.

Nunca, em hipótese alguma, pensei que precisaria ter uma conversa


dessa com uma mulher. Apenas achei que aconteceria e não haveria
necessidade de falar antes, entretanto, estou tentando disfarçar o meu
nervosismo, mas não estou conseguindo.

— Tá bom! — fala meio desconfiada e senta de frente para mim. —


O que houve?
— Eu não tenho noção de como falar sem soar muito… improvável.

Ela ergue uma sobrancelha, confusa.

— Só fala… não pensa muito!

— Ok… só falar e não pensar! — Mas eu estou pensando demais. —


Eu nunca… humm…

Eu travo, sentindo o meu coração bater forte demais.

Isso não deveria ser tão difícil de falar.

— Você nunca o que, Ash? — pergunta com a voz calma. — Nunca


veio a Dubai? Nunca esteve com uma mulher tão gata quanto eu? Nunca
esteve pronto para a melhor noite da sua vida? — Ela tenta aliviar o clima
quando percebe que eu estou nervoso.

E, por incrível que pareça, me sinto um pouco menos nervoso.

— Exatamente tudo isso que você falou e mais uma coisa! — Ela
fica me olhando, esperando que eu termine a frase. E acho que por algum
motivo, ela entende.

Seus olhos se estreitam, ela desce o olhar até as minhas calças e


depois volta a me olhar.

— Eu pensei em uma coisa, mas é impossível! Ou não? — Acho que


minha feição entrega tudo. — Você é virgem, Asher?

— Humm, sim.

Ela se levanta da cama ao me ouvir e coloca uma mão na cintura.

— Você está falando sério? — Confirmo. — Hum.

O que esse “hum” significa?


— Eu achei que seria interessante que você soubesse antes de algo
acontecer! Não quero que espere grandes coisas que eu, provavelmente, não
irei dar a você.

— Tem algum motivo especial por trás disso? Não precisa me


responder se eu estiver sendo invasiva.

— Não está, é uma dúvida justa! — Me levanto também e chego


perto dela. — Eu acredito muito em troca de energia, sabe? E sempre tive na
minha cabeça que o sexo é a forma mais intensa de ter essa troca! Como
nunca conheci alguém com quem tive uma conexão, não fui além. Sei que a
maioria das pessoas não pensa assim e está tudo bem, é uma coisa minha
mesmo.

Julie segura o meu rosto com as duas mãos e me dá um beijo rápido.

— Você é bom demais para ser verdade, Ash! Estou esperando o


momento em que você me conta que é tudo mentira, e apenas queria me
enganar.

Eu sorrio e a abraço pela cintura.

— Não é mentira, pode confiar.

Julie me beija novamente e depois apoia as mãos em meus ombros.

— Vou te dar o seu presente! — ela diz, animada e vai pegar a


sacola. Peço para que pegue a minha também e ela traz as duas. — O que
você acha que eu comprei para você?

Não faço a mínima ideia. Nós dois os colocamos em outras sacolas


que não eram da loja que compramos.

— Estou torcendo para que seja um helicóptero! Sempre quis ter um


— brinco.

Ela bufa.
— Assim não tem graça! Como você adivinhou? — Ela entra na
minha e ri. — Toma, espero que goste. — Julie me dá a sacola com o meu
presente e fica com a que tem o seu.

Abro, tirando-o da bolsa. Na mesma hora reconheço os dois GG da


Gucci em uma carteira de couro, toda preta.

É linda.

— Você por acaso viu que a minha carteira estava rasgada?

Ela tenta disfarçar, porém acaba rindo.

— Desculpa, mas eu vi! Pelo menos eu sei que será um presente útil.

Será mesmo.

— Obrigado, eu adorei. — De verdade.

Assisto enquanto ela vai tirando o presente dela do outro saco e


depois da caixinha.

— Meu Deus, Ash! — Tira o anel de dentro.

Ele é bem simples e tem uma pedrinha embutida.

Discreto, porém muito bonito.

— Não sei se faz o seu estilo, porque é simples, mas podemos ir na


loja amanhã e trocar, se preferir.

Ela se joga em mim e preciso segurá-la pela cintura para que não
caia.

— Sem querer você acabou de descobrir uma das coisas que eu mais
compro! Sou apaixonada por anéis.

Eu já havia reparado que ela sempre usa alguns, então deduzi que
seria algo que ela iria gostar.
Fico aliviado em saber que acertei.

Ela sai do meu colo e coloca na mão esquerda, depois afasta e


confere como ficou.

— Eu amei, Ash! Não poderia ter acertado mais! — diz enquanto


encara o anel e depois volta a me olhar. — Eu estava pensando aqui… se
você me contou tudo isso hoje, significa então que temos uma conexão? —
Volta ao assunto anterior.

Puxo-a pela cintura para ficar perto de mim novamente.

— Temos, e isso me assusta um pouco — confesso. — Por tudo que


aconteceu com a minha mãe, eu acabei me fechando para relacionamentos
em geral. Meus únicos amigos são o Calleb, Chris e agora a Hope! E com
mulheres era ainda mais difícil, ainda mais depois que me tornei uma figura
pública… sempre me parecia que o interesse de muitas delas não era apenas
no Asher pessoa, mas sim no running back do Gorillas.

— E muitos outros homens se aproveitariam disso, mas não você!

Abaixo um pouco a cabeça e esfrego de leve o meu nariz no dela,


antes de beijá-la novamente.

— Falando desse jeito, soa meio estranho, como se eu fosse um ser


superior aos meros homens patéticos que vemos por aí — digo ao afastar os
meus lábios dos seus e ela ri.

— Mas é quase isso! — Julie se afasta, entra no banheiro e depois de


um tempo, volta. — Agora, voltando ao assunto “sexo”… não precisa
acontecer se você não estiver confortável ou a fim. Não quero que se sinta na
obrigação, só porque iremos dormir juntos.

Deus, Julie é tão linda.

Às vezes fico com dificuldade de me concentrar no que ela fala.

— Eu com certeza quero, amor. Mas deixar rolar é uma boa opção!
Um sorriso vai crescendo gradualmente em seu rosto.

— Amor! Eu gostei de como essa palavra soa tão bem, vinda de


você. — Ela anda devagar até onde estou. — Você tem algum problema se
eu ficar à vontade? Com a roupa que costumo usar em casa?

— Claro que não!

Ela dá dois passos para trás, puxa a blusa pela cabeça, depois solta o
elástico do short e também o tira.

Meu corpo trava, porque não estava esperando que ela fosse ficar de
lingerie na minha frente do nada. E eu não consigo não olhar cada pedacinho
do seu corpo, que é todo perfeito e lindo.

Julie não parece que vai pegar leve comigo nesses dias, e seu sorriso
malicioso só confirma isso.

Ela dobra o seu conjuntinho de dormir e coloca na gaveta onde tem


outros.

— Eu trouxe uma coisa! — digo ao me lembrar. Vou até a minha


mala e procuro pelo vidrinho com óleo de massagem. — Vou te mostrar que
sei usar as minhas mãos de uma forma que poucos sabem. — Encontro o
oléo e o tiro da mala. Julie me olha com as pupilas dilatadas.

— Você sabe que isso é uma coisa que todos falam, né?

Rio da sua resposta.

— Claro que sei! Mas eu era um massagista com a agenda sempre


lotada… você pensou que eu estava falando de que, hein? — Ela pressiona
um lábio no outro, se dando conta do que de fato estou dizendo. — Que
safada, amor!

— É bom que você vai se acostumando!

Julie sobe na cama e engatinha nela até finalmente deitar.


E acho que isso foi totalmente proposital. Se ela queria me deixar
excitado ao ver a sua bunda redonda e linda empinada, ela conseguiu.

Dá para notar que Julie não terá nem um pouquinho de pena de mim.

— Me prove que você realmente era tão bom assim.

Vou até o banheiro, onde eu tinha visto uma bandeja com algumas
velinhas e pego todas elas, descobrindo inclusive que são aromáticas e as
acendo, deixando na mesa próxima da cama.

Apago a luz do quarto, abro bem as cortinas para aproveitarmos a


iluminação lá de fora, coloco uma playlist para tocar e subo na cama.

Julie leva as mãos até o fecho do sutiã, abre com muita facilidade e
depois tira os braços de dentro das alças, deixando as costas e ombros livres
de qualquer coisa que possa atrapalhar a massagem.

Pego o óleo que havia deixado na cama, deixo que caia um pouco nas
costas dela e também coloco em minha mão. Esfrego uma palma na outra,
aquecendo-o e fico de joelhos ao lado do seu corpo.

Primeiro, espalho todo o produto em suas costas, bem devagar vou


pressionando os meus dedos em movimento de vai e vem por todo o
comprimento dela, fazendo os movimentos lentamente, dando um pouco
mais de pressão nos pontos certos.

— Hummm, isso é tão bom!

Sorrio ao ouvir.

Subo as minhas mãos até os seus ombros e, em harmonia, aperto os


dois com um pouco mais de força do que eu coloquei nas costas.

— Esse foi o seu primeiro emprego?

— Na verdade, não! Eu trabalhei em um mercado com 16, ajudando


no estoque. Depois fui para uma lanchonete, onde eu era responsável pela
montagem dos lanches e demais refeições — conto. — Quando o Daniel nos
deixou, tive que procurar um que me desse mais dinheiro, mas que eu
também tivesse flexibilidade para estar com a minha mãe nas consultas dela.
Porém, as coisas que me ofereceram desse jeito não me agradaram. Até que
um dia eu vi um panfleto de uma massagista que ia em casa e pensei que
talvez fosse uma boa opção.

— E você já sabia fazer?

— Não! Fiz um curso com as gorjetas que ganhava na lanchonete.

Pressiono os meus polegares e faço movimentos circulares no cóccix


dela e vejo a sua pele se arrepiar bem de leve.

— E pagava bem?

— Massagem tradicional não! Mas a tântrica sim.

Na mesma hora ela levanta a cabeça que estava apoiada no


travesseiro e vira para mim, com aquela cara de surpresa que constantemente
vejo nela.

— Você sabe fazer massagem tântrica?

— Foi assim que eu consegui pagar uma dívida absurda do primeiro


tratamento da minha mãe e os remédios dela.

Ela morde o lábio inferior bem de leve.


— Me mostre o seu melhor, Asher! — diz e volta a deitar o rosto no
travesseiro.
Na melhor das hipóteses, eu achei que poderia acontecer de fazer
essa massagem nela, mas diferente de como era com as clientes, eu a desejo.
Desejo-a absurdamente.
— Vira de frente, por favor.
Aproveito também e falo com a assistente virtual do celular para
trocar de playlist, colocando uma com músicas sensuais.
Decido começar pela frente, mesmo que o certo seja iniciar pelas
costas, mas me arrependo muito rápido.
Como vou conseguir fazer olhando-a nos olhos?
Ela fecha o sutiã, vira rapidamente e arruma os travesseiros embaixo
da sua cabeça.
Vou para a frente dela e me encaixo entre as suas pernas, deixando
que elas fiquem por cima das minhas, para ficar mais confortável.
O corpo dela é incrível, perfeito.
Lambuzo a minha mão com o óleo, aqueço novamente e começo a
massagear uma das suas coxas.
De início, são apenas movimentos na coxa toda, sempre com o meu
polegar forçando mais a pele, dando intensidade.
Mas, aos poucos, vou guiando as minhas mãos para a parte de dentro,
que é bem mais sensível e com os dois polegares, faço um caminho da
lateral do joelho até próximo a sua virilha, bem devagar.
Um leve arrepio surge no corpo dela, o que é bem normal.
Repito a mesma coisa do outro lado, na intenção de começar a
estimulá-la lentamente.
Pego mais um pouco de óleo e passo em sua barriga, espalhando com
as duas mãos até próximo a base dos seus seios, e deixo que a ponta dos
meus dedos encostem ali, bem de leve.
Vejo-a engolir em seco e começo o contato visual.
Julie me encara, com os olhos cheios de curiosidade e ansiedade pelo
que ainda tem por vir.
Estico o meu corpo para a frente para conseguir passar as minhas
mãos entre os seus seios e chegar ao seu pescoço.
Minha mão quase o cobre por inteiro, e eu o aliso, subindo até o
queixo e voltando para perto dos seios.
Escorrego a mão até um dos seus braços, massageando-o com
delicadeza, deixando que sinta só o calor da minha mão perto dos seus peitos
e sem desviar o meu olhar do seu, vejo-a morder o lábio inferior.
Não me preocupo em esconder que estou excitado e quando ela
percebe, solta um suspiro entre os lábios semiabertos.
Coloco as minhas mãos bem em cima das suas costelas e desço
fazendo movimentos circulares com os dedos, depois subo novamente e
encaixo só os polegares na haste do seu sutiã, contornando toda a parte
inferior.
Julie abre novamente a peça que tampa os seus seios e depois a tira
do seu corpo, ficando apenas de calcinha.
Perco alguns segundos admirando-a com parte do corpo nu e meu
pau lateja com ainda mais força dentro da minha calça de moletom. E ela
parece gostar da atenção que recebe.
Tento lembrar o que estava fazendo e quando consigo, volto a
contornar os seus seios livres, que se arrepiam com o meu toque,
intumescendo os mamilos na mesma hora.
Julie fecha os olhos e segura o lençol da cama, excitada.
Repito o que havia feito em um braço e passo para o outro, desço
novamente para as suas coxas, mas agora coloco uma mão em cada uma
delas, bem próximo à virilha, e com um dedo, também contorno toda a sua
virilha na parte onde a calcinha não alcança.
Ela começa a ficar inquieta, mexendo as pernas e eu deixo.
Deixo que meus dedos passem levemente por cima da sua calcinha e
eu a sinto úmida. Abro um pouco as suas pernas, ela volta a me encarar,
mordendo o lábio inferior com força. Sem desviar os olhos dela, abro espaço
no tecido da sua calcinha, empurrando-o um pouco para cima e passo o meu
polegar pelos lábios da sua boceta, bem devagar, dando uma leve
pressionada em sua entrada e passando bem suavemente por cima do seu
clitóris.
Nunca foi tão difícil fazer isso e me manter calmo.
Ela aperta o lençol com mais força e um gemido baixinho escapa dos
seus lábios.
Dessa vez sou eu quem engulo em seco.
Passeio com a ponta dos meus dedos pela sua perna, propositalmente
para arrepiá-la e tiro o meu dedo de dentro da sua calcinha.
Julie tenta se mexer e sem querer o seu pé bate no meu pau duro.
E eu pensei que ela apenas ignoraria, mas além de me encarar como
quem quer vir com tudo para cima de mim, ela começa a esfregar o seu pé
no meu pau com força o suficiente para a fricção ser bem gostosa.

— Não vou conseguir me concentrar assim, amor…

— Nenhuma cliente nunca tentou nada? — pergunta com a voz


rouca, curiosa.

— Claro que sim!


Subo a minha mão até um dos seus seios e encaixo o seu mamilo
entre dois dedos, friccionando-o.

Julie levanta um pouco do tronco, sem conseguir se manter parada, e


geme um pouco mais alto.

— Eu não vou aguentar isso… — ela fala entre gemidos.

A sua voz sai pesada, cheia de tesão e eu preciso respirar fundo


incontáveis vezes.

Seguro a alça da calcinha nos dois lados e começo a tirá-la aos


poucos, deixando que o tecido da peça roce nela até passar pelos seus pés.

Julie abre novamente as pernas, deixando todo o seu corpo à mostra


para mim.

Meu pau já está todo melado e eu realmente não sei como estou
conseguindo me controlar.

Volto a massagear a virilha dela, massageio também o seu ventre,


desço até próximo do seu períneo, uma parte sensível, mas que muitas vezes
é ignorada.

Pressiono bem ali, fazendo movimentos circulares e firmes, próximo


de ambos os lugares que querem atenção.

Julie rebola sem nem perceber e tenta fazer com que o meu dedo
entre em sua boceta. Volto a alisar os lábios e penetro apenas uma parte do
dedo, deixando-a com ainda mais tesão.

Com a outra mão, utilizo dois dedos para continuar as carícias entre
os lábios.

Ela geme mais alto e eu sinto uma das suas pernas tremer bem de
leve, provavelmente perto de ter um orgasmo.

Me levanto rapidamente, deixando-a na cama por alguns segundos e


abro a gaveta perto de onde estamos.
— Se importa se eu usar o seu vibrador? — Ela fica com o rosto
corado. — Eu vi você guardando quando entrei.

— Apenas pegue-o e volte aqui!

O bullet é o que eu mais usava, então já me entendo bem com ele.

Volto para onde estava, ligo-o na velocidade mais intensa, afasto os


lábios dela e o esfrego ali, deixando que a vibração a estimule, mas sem
tocar no clitóris.

Ele é pequeno e escorrega com facilidade na boceta encharcada dela.

— Asher… — Ouvi-la me chamar assim é enlouquecedor. — Eu


vou…

Antes que ela diga que vai gozar, encosto o bullet em seu clitóris e
ela solta um gemido alto, gozando.

Mantenho o vibrador ligado por mais alguns segundos e depois o


desligo, colocando-o na cama.

A massagem não termina quando a pessoa goza, por isso eu continuo


massageando sua virilha, mas ela levanta rápido e monta em meu colo.

— Eu preciso te sentir… em mim! — Ela esfrega a boceta no meu


pau por cima da minha calça. — Se você quiser, claro.

Porra.

Como eu não iria querer?

Seguro a sua nuca e a puxo para um beijo sôfrego, desesperado e que


nos deixa sem fôlego rápido demais.

Faço com que ela cruze as pernas em meu quadril e me levanto para
tirar a minha calça, mas sem soltá-la.
Julie esfrega os seios em meu peito, eu aperto a sua bunda com força
e nós dois gememos juntos.

Fico só de cueca e ela se esfrega com ainda mais força, fazendo com
que o meu pau saia um pouco do tecido. A cabeça dele entra em contato com
a pele úmida e quente da sua boceta, e eu quase nos deixo cair ao sentir o
choque por esse contato.

— Tem camisinha no banheiro! — Ela afasta a boca para falar e


depois me beija novamente.

Vou com ela para o banheiro, pego o pacote que achei na gaveta e
volto para o quarto, deitando-a na cama.

Eu quase nem acredito que isso vai acontecer.

E que será com ela.

Começo a me sentir nervoso e minhas mãos tremem.

Julie percebe e coloca as mãos por cima da minha, me beija


novamente e pega a camisinha.

— Deita, amor! — ela fala para mim, com um tom mandão que faz o
meu pau bombear ainda mais sangue.

Faço o que ela pede, porque seria incapaz de negar algo a ela, ainda
mais agora e a vejo tirar a minha cueca com destreza.

Julie morde o canto da boca ao vê-lo extremamente duro por ela.

— Isso vai me fazer um estrago delicioso!

Não é possível que tudo que ela fale soe tão sensual.

Ela rasga o pacote da camisinha, escorrega a mão no meu pau, dando


uma leve apertada propositalmente e veste a camisinha com perfeição.
Julie senta na minha barriga e a sua bunda fica encostada no meu
pau.

— Tem certeza, né? Não quero que se sinta for…

— Eu tenho total certeza disso, amor! To-tal! — repito com bastante


ênfase e ela sorri com malícia.

Julie apoia os joelhos na lateral do meu corpo, pega as minhas mãos


e as coloca em seus seios, fixa os olhos nos meus e desce o quadril, roçando
a boceta na cabeça do meu pau.

Ela vai fazendo esse movimento, que me deixa louco, até que ele
entre só um pouquinho.

E só isso já me faz perder todo o ar do pulmão.

Aos poucos, ela vai descendo, preenchendo a boceta com o meu pau,
me engolindo milímetro por milímetro.

E a sensação é deliciosa.

Inexplicavelmente deliciosa.

— Porra!

— Porra pra caralho! — responde e eu reparo que ela também está


muito excitada apenas com esse primeiro contato.

Julie desce toda, sentando em mim e engolindo todo ele.

Ela espera um pouco, respira fundo e começa a se movimentar para a


frente e para trás, com ele todo dentro.

E isso se transforma em um rebolado que faz a bunda dela bater na


minha virilha o tempo todo.

Aperto os seus seios com cuidado, ela coloca a mão em cima,


mostrando o quão forte gosta de ser apertada e eu utilizo um pouco mais de
força.

— Hummm, isso!

Ela joga a cabeça para trás, rebolando mais rápido.

Meu cérebro parece ter virado gelatina, meu corpo está pegando fogo
e a vontade de gozar já toma conta do meu corpo.

— Caralho, amor! — quase grito quando ela aperta a boceta no meu


pau, mostrando que sabe muito bem fazer o pompoarismo.

Ela sorri, gostando de me ver desse jeito, todo descontrolado.

Eu seguro em sua cintura, ajudando a manter a velocidade dos


movimentos e depois levo minha mão até a sua bunda, dando um apertão
com força.

Sei que ela está se controlando um pouco, mas quero vê-la agir da
forma que gosta.

— Pode se soltar, amor. Não tenha pena de mim!

E ela não tem.

Julie ganha um brilho maldoso no olhar quando me escuta, espalma


as mãos em meu peito e começa a quicar.

E nada no mundo seria capaz de ter me preparado para isso.

Cada vez que ela deixa o corpo descer com força, eu vou ao inferno e
volto. E é uma viagem deliciosa!

Consigo sentir cada parte da boceta dela muito apertada, esmagando


o meu pau e indo fundo.

Cada vez que ela senta é melhor que a sentada anterior.


E Julie me olha com tanto tesão, sabendo que é muito gostosa e essa
segurança me deixa ainda mais louco.

Que mulher sensacional.

Ela começa a gemer gradativamente mais alto, e eu resolvo pegar o


bullet de novo. Coloco-o bem coladinho na boceta dela, em cima do clitóris
e Juliana perde um pouco o ritmo, voltando a rebolar, forçando-se contra ele
e meu pau ao mesmo tempo.

A vibração também chega no meu pênis, eu não consigo me controlar


e gozo dentro da camisinha.

Julie goza segundos depois e desaba com o corpo em cima do meu.

Ela deita a cabeça no meu peito que está se movimentando de forma


abrupta e eu passo o meu braço ao redor do corpo dela, não querendo que
saia de perto de mim.

Ficamos em silêncio, deixando apenas as nossas respirações fazerem


barulho e se unirem a música que eu nem mais era capaz de ouvir de tanta
excitação.

Eu não deveria perguntar se ela gostou, porque a resposta pode ser


péssima. Mas eu queria saber se foi ao menos… ok.

Mas não vou perguntar.

Ou pergunto?

Merda.

— Acho melhor desligar o vibrador, amor — diz e solta uma


risadinha.

Meu corpo ainda está tão cheio de adrenalina, que nem estava mais
sentindo o bullet entre nós.

Eu o desligo e o deixo em um canto qualquer da cama.


Julie levanta a cabeça e apoia o queixo em meu peito, me olhando
com um sorrisinho satisfeito.

— Precisamos urgentemente colocar massagem tântrica na nossa


rotina de sexo! — diz.

— Então você gostou?

— Se eu gostei? — bufa. — Eu amei, Ash! Faz todo sentido você ser


tão… sensorial. Você sabe tocar como ninguém, é delicado e presta atenção
nas pequenas coisas.

Me sinto um pouco menos preocupado em saber disso.

— E o seu pau é uma delícia, só a título de curiosidade mesmo!

Ela aproveita e sai de cima de mim, eu tiro a camisinha, dou um nó e


jogo no lixo ao lado da cama.

— Bom saber disso… — digo, sento na cama com as pernas abertas


e a puxo para sentar entre elas, com as costas encostadas no meu peito,
começando uma massagem em seus ombros. — Porque existem grandes
chances de eu me viciar em você!

Julie esfrega a bunda no meu pau e eu tenho certeza que o resto da


noite ainda vai ser bem animado.
Quando o Asher me contou que era virgem, eu fiquei sem saber o
que esperar quando a gente transasse, e também fiquei na dúvida se
aconteceria logo na primeira noite ou não.
Mas quando ele disse que estava aberto para que acontecesse a
qualquer momento desde que fosse natural, meu modo safado ficou ativo na
mesma hora.
Não consegui controlar, foi mais forte do que eu.
As expectativas que eu tinha a respeito dele pela sua pegada e seus
toques deixaram de existir no mesmo momento, mas depois da massagem
sensacional que me fez gozar, eu sabia que seria bom.
Só que foi muito bom.
E isso me deixou ansiosa para as nossas próximas vezes.
Tenho a sensação de que agora o Asher vai ficar mais à vontade
comigo e se tudo der certo, mais safado também.
Conhecer essa versão dele me deixou louca e eu quero mais.
Quero muito mais.
Ele acordou um pouco antes de mim e pelo barulho do chuveiro,
acredito que acabou de entrar no banho.
A cama está uma bagunça, o cheiro dele está por todo o meu corpo,
assim como os seus toques que ainda parecem queimar por muitas partes que
eu nunca imaginaria serem zonas erógenas.
Me levanto da cama, totalmente nua e entro no banheiro.
Ele está de costas, com a testa encostada na parede e deixando a água
cair sobre o seu corpo.
Seu corpo é todo lindo, parece ter sido esculpido com muito cuidado
para ser perfeito. E a sua bunda não foge disso, é de dar inveja em muitas
mulheres.
Para a minha sorte, a minha também é incrível e a mantenho assim
com muito agachamento.
— Tem espaço para mim nesse chuveiro? — pergunto e ele vira um
pouco o rosto para me ver.
A cena é sensacional.
A água cai pelo seu rosto e ele me encara com os olhos pegando
fogo, mas de um jeito muito bom. Vejo o seu olhar percorrer o meu corpo
nu.
— Sempre tem, amor!
Amor nunca tinha soado de forma tão sensual até ouvir a palavra
saindo da boca dele.
Entro no chuveiro e fecho o vidro que vai até o teto, mantendo o
vapor todo ali dentro, atrapalhando um pouco que consigamos ver o outro.
Asher vira de frente pra mim e não tem vapor suficiente que seria
capaz de tapar o seu pau duro, encostando em sua barriga.
É normal acharmos um pau bonito? Já vi muitos, mas nenhum era
tão… não sei! Acho que sou incapaz de não admirar algo que faça parte
dele.
— Não me olha assim, Julie! — Ele encaixa a mão na minha nuca e
me puxa com força o suficiente para fazer os nossos corpos se chocarem. —
Não sei se deveríamos ter transado… eu vou precisar estar dentro de você
sempre, amor. Como iremos resolver isso?
Asher fala com a boca quase colada na minha e eu mordo o seu lábio
inferior de leve.
— Que sorte a nossa que não moramos tão longe!
— Que sorte a nossa, então!
Ele me beija cheio de vontade, fazendo questão que eu o sinta duro.
E eu não consigo manter a minha mão longe do corpo dele, então arranho o
seu abdômen, fazendo-o contraí-lo e desço até as suas bolas.
Eu as seguro com cuidado e as massageio.
Isso faz com que ele se atrapalhe no beijo, mas eu não me importo.
Com a outra mão, seguro o seu pau e começo a subir e descer bem
devagar, deixando que sinta o aperto da minha mão em todo o comprimento
do seu pau grosso.
Asher para de me beijar, mas eu sigo beijando o seu queixo, fico na
ponta dos pés para alcançar a sua orelha e mordisco a ponta dela.
— Você é uma delícia! — sussurro em seu ouvido.
Ele me segura firme pela cintura, encosta as minhas costas na parede
gelada e me encara como se fosse capaz de me foder feito louco, bem aqui.
Faço com que a gente troque de posição e vou me abaixando aos
poucos, até que fico na altura do seu pau, que já está com a cabeça brilhosa
da excitação, e sem fazer nenhuma cerimônia encaixo a minha boca nele e
desço até o máximo que consigo, engolindo-o quase por inteiro.
— Puta que pariu!
Ele soca a parede sem muita força, apenas pelo desespero
momentâneo.
Começo a chupá-lo em um ritmo que sei que irá deixá-lo louco e
deixo que a sucção, ao voltar com a boca bem grudada em seu pau, excite-o
ainda mais.
Apoio uma mão em sua bunda e a outra deixo espalmada na parte
inferior da sua barriga.
Começo a fazer um movimento mais rápido, deixando que seu pau vá
fundo na minha garganta e ele segura o meu cabelo, fazendo com que eu vire
um pouco a cabeça para cima e o encare enquanto o chupo.
Seus olhos se fixam nos meus e a sua boca que está meio aberta
enquanto geme me deixa escorrendo de desejo.
Asher é a personificação da sensualidade em sua forma mais natural,
sem ter que forçar absolutamente nada.
É um looping.
Tiro a minha boca, mas volto a tocar uma punheta enquanto ele se
controla para não gozar.
Sua barriga contrai algumas vezes, ele tomba a cabeça para trás e
respira fundo, querendo prolongar esse momento ao máximo.
Eu diminuo a velocidade dos movimentos em seu pau, mas encaixo
só a cabeça na minha boca e a sugo, fazendo com que ele perca o controle
totalmente.
— Vou gozar, amor. — Ele tenta se afastar para gozar, mas eu
empurro a minha boca ainda mais, querendo que goze nela. Os seus olhos
ganham um tom ainda mais escuro quando ele entende o que estou pedindo.
— Porra, Julie! — ele fala e logo em seguida goza até a última gota.
Antes de me levantar, eu passo a língua na cabeça do pau dele,
limpando qualquer resquício que tenha ficado ali.
— Bom dia, amor — falo ao me levantar e ele ri sem força.
— É o melhor bom dia da história! — Ele me abraça e nos leva para
debaixo do chuveiro.
Nunca gostei muito de tomar banho com alguém, só mesmo para o
sexo. Mas a forma que ele faz carinho em mim enquanto lava o meu cabelo,
a preocupação em não me deixar fora do chuveiro muito tempo para não
sentir frio e os diversos beijos que me rouba enquanto conversamos, acaba
por mudar esse meu ponto de vista.
Eu amo tomar banho acompanhada.
Eu amo tomar banho com Asher.
Serão difíceis os banhos sozinha a partir de hoje.

Termino de amarrar a minha sandália para sair com o Asher quando


escuto a porta bater.
— Querida! Está aí?
É o meu pai.
Eu congelo na mesma hora e olho para o Asher.
Estranhamente, ele parece tranquilo.
— Quer que eu me esconda? — fala sem som e eu leio os seus
lábios.
Não pensei que me sentiria assim, mas ao fazer sim com a cabeça,
me sinto péssima em ter que escondê-lo.
— Já vou, pai.
Olho ao redor só para conferir que está tudo no lugar e abro a porta
para o meu pai, que sorri e me abraça rapidamente.
— Vai sair, meu bem? Ia te chamar para jantar conosco.
— Vou, pai! Podemos jantar amanhã?
Ele sorri e concorda, prestes a ir embora e evitar um desconforto.
Mas eu vejo o exato momento em que ele encontra algo no meu quarto, e
uma das suas sobrancelhas se levanta ligeiramente.
— Não quis atrapalhar, desculpa. — Ele fica um pouco sem graça,
mas novamente fixa o olhar no objeto que viu e eu me viro para verificar,
curiosa com o que chamou a sua atenção.
E não poderia ter sido algo pior.
A calça de moletom do Asher.
Poderia simplesmente ser só uma calça, mas tem um bordado
pequeno, que nem eu mesma havia visto, com o símbolo do Gorillas.
Merda!
Mil vezes merda!
— Pai… eu posso explicar.
— Você não precisa explicar nada, Juliana — fala, um pouco mais
sério. — A vida é sua e você faz o que achar que é melhor para você! Certo?
Boa noite.
Que raiva.
Ele saiu daqui magoado.
Preferia que estivesse com raiva.
Asher passa por mim do nada e para no meio do corredor para
chamar o meu pai.
O QUE ELE ESTÁ FAZENDO?
É hoje que eu infarto, meu Deus!
— Sr. Fanning!
Meu pai se vira, sem acreditar que Asher está o chamando.
Sua cara está tão séria que eu quase nem o reconheço.
— Asher Murphy… finalmente! — Meu pai caminha até ele,
devagar. Provavelmente pensando o que irá falar e observando a postura do
Ash. — Fico surpreso em te ver aqui, tão longe de onde moramos.
Daqui, eu consigo ver o Ash engolir a saliva com dificuldade.
— Eu devo desculpas ao senhor! Não queria ter criado problemas
com a mídia e nem muito menos esse desconforto agora.
— Mas ainda assim você criou ambas as coisas. — Meu pai olha
para mim por cima do ombro dele e eu abaixo o olhar. — Ao menos você
não se manteve escondido no banheiro, isso deve ser um bom sinal.
Volto a olhar na direção deles.
— Só quero que saiba que eu respeito muito a sua filha! Ela é uma
pessoa especial para mim e eu lamento muito que a nossa aproximação traga
problemas para vocês dois… não quero estar entre a relação de vocês!
O mais velho o observa como se ele estivesse em uma prova de fogo.
— Não gosto de você porque sei que isso entre vocês dois, seja lá o
que for, irá trazer dor de cabeça para a minha filha, que é a única coisa que
me importa além da minha esposa — ele diz, deixando bem claro. — Mas te
darei o benefício da dúvida! Quero deixar claro que não sou um homem de
dar segundas chances, então não faça merda com essa.
Asher apenas concorda e meu pai vai embora.
Sinto como se fôssemos dois adolescentes querendo namorar e não
tendo a aprovação dos pais.
Ele vem até mim e eu não esperava ver um sorriso em seu rosto, o
que é bem estranho devido aos fatos.
— Por que você está sorrindo?
— Eu admiro o cuidado que o seu pai tem com você, Julie! — Ele
envolve os braços na minha cintura, algo que percebi que gosta de fazer para
me manter perto dele. E eu não me oponho nem um pouco a isso. — Se
fosse a minha filha, eu teria subido no andar mais alto do Burj Al Arab e
jogado quem estivesse com ela lá de cima sem pensar duas vezes.
Eu rio da sua confissão.
— E o pior é que você realmente tem cara de que será um pai
ciumento!
— Claro! Imagina só? Melhor nem imaginar, nem filha eu tenho e já
me sinto irritado com a possibilidade.
Envolvo os meus braços em seu ombro e dou um selinho nele.
— Obrigada por ter ido falar com ele!
— Jamais deixaria as coisas pesarem só para você, amor. — Ele me
dá mais um selinho. — Pelo menos agora o seu pai sabe que estamos juntos
na viagem e você não precisa mais continuar tensa.
— Sim! Menos um problema.
Ele sorri e arruma o meu cabelo.
Cada pequeno carinho que ele faz em mim, sinto o meu coração
amolecer.
E eu estou começando a ficar com medo da intensidade das coisas
que ele está me fazendo sentir.
Depois que o pai da Julie ficou sabendo que eu estava lá, percebi que
ela ficou mais tranquila e curtimos o máximo que conseguimos.
Até mesmo saímos juntos nós quatro para um passeio no iate que a
Julie havia reservado.
O clima ficou estranho, não dá para negar.
Ele não confia em mim e fica me observando o tempo todo, mas não
é uma coisa que tenha me incomodado a fundo.
Nos momentos que eu achava que poderia ficar desconfortável, eu
via como ele tratava a filha e a esposa e fui criando uma admiração por ele
como pessoa.
Jantamos juntos duas vezes também.
Ele não poupou o interrogatório, porém, eu também não me importei
de responder, porque não tenho nada a esconder.
Só não quis me aprofundar no assunto sobre família, mas ele também
não foi indelicado quando percebeu que era um tópico pelo qual eu não
queria falar.
No geral, dá para perceber que ele é uma boa pessoa e talvez, em
algum momento, confie em mim e a gente se dê bem.
Isso contando que a Julie continue querendo ficar comigo aqui em
NY agora que voltamos.
E eu espero muito que ela queira, porque essa viagem me marcou de
várias formas. E a maior delas foi decidir que eu iria abrir o meu coração e
deixá-la entrar, se for o que deseja.
Os dias passaram rápido e a gente se dividiu entre transar, comer,
passear e voltar para o hotel e transar mais.
Claro que eu tinha noção de que sexo era algo incrível, sempre via os
meus amigos desesperados por isso. E se um dia eu os julguei, retiro todo o
julgamento.
Não sei se eles tiveram a oportunidade de conhecer alguém tão
gostosa quanto a Julie.
Ela é perfeita, atenciosa e foi extremamente cuidadosa em me
pontuar de forma gentil e descontraída o que eu poderia fazer para ficar
melhor.
De fato, o nosso instinto fala muito mais alto, não foi como se ela
estivesse me ensinado passo a passo. Mas eu me senti confortável com ela e
foi bom saber o que gostou e o que eu poderia melhorar.
Ainda usamos isso como desculpa para transarmos ainda mais.
Consegui ter certeza também da minha teoria sobre a energia.
A troca foi incrível e sei que não teria como ter sido tão bom se fosse
com outra pessoa.
Eu não quero que tudo isso fique apenas em Dubai. Por isso a
convidei para vir aqui em casa conhecer a minha mãe e conversarmos um
pouco.
E a minha mãe está muito empolgada.
Tem duas lasanhas no forno, salada, sobremesa e ela ainda preparou
uns biscoitinhos.
Ela não fazia biscoito desde… nossa! Desde que o Daniel nos
deixou.
Steven também está animado para conhecê-la. Os dois ficaram
acompanhando de longe a nossa viagem, com as coisas que eu ia contando.
E pela primeira vez na vida, desde que descobri que a minha mãe tem
câncer, eu fiquei tranquilo em ficar longe por muito tempo.
No ano passado, quando fui para a Grécia, deixei a enfermeira e
minha mãe ficou irritada porque não queria uma babá, mas eu não me
perdoaria se algo acontecesse a ela e ninguém tivesse como ajudá-la.
Steven, além de médico, tem demonstrado todos os dias que
realmente ama a minha mãe. Então não consigo imaginar alguém melhor
para estar ao lado dela.
Julie manda mensagem avisando que está chegando e eu aviso que
irei buscá-la lá na frente.
E hoje eu tive a certeza que nunca irei me acostumar com o quanto
ela é linda.
Julie me espera na porta com um sorriso doce, o cabelo um pouco
preso, com a franjinha bem arrumada e um vestido branco com várias
laranjas desenhadas nele.
— Veio no modo fofo para conquistar a sogra? — brinco e ela sorri
no exato momento em que dou um selinho nela. — Você está incrível, amor.
— Obrigada! Será que minha sogra vai aprovar? — Pisca para mim.
Meu coração não entende que isso é brincadeira, melhor eu não
começar mais com isso.
Seguro em sua mão, ela entrelaça os dedos nos meus e antes de ir
para a cozinha, mostro melhor a casa para ela.
Da última vez, ela só viu a parte térrea.
— Esse é o seu quarto? — me pergunta quando eu abro a porta para
que entre. — Eu gostei! — Senta na beira da cama, forçando o corpo para
ver se ela tem molas. — Humm, isso seria de ótima ajuda.
Ela me olha com malícia e eu a deito na cama, indo por cima em
seguida, prendendo os seus braços acima da sua cabeça.
— Podemos testar mais tarde! — digo antes de beijar o seu pescoço.
— Olha como você me deixa, amor. — Abro as pernas dela com a minha e
roço o meu pau em sua boceta.
Julie ergue o quadril para se esfregar mais em mim.
— Eu adoro que dentro da sua sutil timidez, existe um grande
safado! Não teria mesmo como ser mais perfeito do que já é.
Eu nunca me importei muito com elogios, mas agora eu amo os que
vêm dela.
Me sinto extremamente sortudo em recebê-los.
— Você está criando um monstro, Julie! — digo e ela ri.
— Melhor espécie de monstro. — Dou mais um selinho nela, me
levanto e a puxo para se levantar também. — E ainda tem tantas coisas que
podemos fazer, lugares em mim para você conhecer.
Meu corpo se arrepia tão forte que eu quase acho que é a minha
pressão baixando.
— Estou quase cancelando o almoço e me trancando nesse quarto
com você! — Ela ri alto e dá uma corridinha para fora do cômodo.
Desço com Julie antes que acabemos desistindo mesmo do almoço.
Escuto a risada da minha mãe e do Steven antes mesmo de
chegarmos à cozinha e os flagramos dançando juntos sem nenhuma música e
ela rindo da situação.
Nós assistimos e Julie passa o braço pela minha cintura, me
abraçando de lado enquanto esperamos ser notados.
— Eles são fofos! — ela sussurra e eu preciso concordar.
Steven gira a minha mãe e nesse movimento os dois nos veem.
— Ah, meu Deus! — Minha mãe vem em nossa direção, disfarçando
as bochechas vermelhas por ter sido pega no meio de uma dança com o
namorado. — Vocês nem fizeram barulho! — Ela vai direto falar com a
Julie, puxando-a para um abraço. — Como você é linda, querida.
Dessa vez é a Julie que fica envergonhada.
— Obrigada, Sra. Murphy! Posso dizer o mesmo sobre a senhora.
— Senhora não, só Audrey está ótimo.
Minha mãe a puxa e ela vai, ambas animadas e em sintonia.
Vou até onde o Steven está, ele se apresenta rapidamente para ela e
depois me olha.
— É muito cedo para falar que ela já conquistou a sua mãe?
Olho para as duas e minha mãe já está à vontade, com os álbuns de
fotografias antigos, pronta para me fazer passar vergonha com as minhas
fotos de quando era criança.
— Acho que não! — respondo-o.
Deixo que as duas conversem um pouco sozinhas e aproveito para
arrumar a mesa com o Steven. Também vou na adega e escolho um bom
vinho para esse almoço.
— Como assim você é formado em arquitetura e nunca me disse? —
Julie aparece na minha frente, segurando a foto da minha formatura.
Dou de ombros.
— Acredite, eu não seria um bom arquiteto. Mas como eu já estava
cursando e precisava disso para o futebol americano, dei o meu melhor para
conseguir concluir o curso.
Ela balança a cabeça, chocada.
— O que mais eu iria descobrir de você se passasse o dia todo aqui,
hein?
— Com certeza a minha mãe não te pouparia de nada, pelo visto.
Ela ri e volta para onde a minha mãe está.
Quando as lasanhas ficam prontas, todos nos juntamos na mesa para
almoçarmos juntos. E eu fico surpreso em como a ideia de mais almoços
como o de hoje, me agrada.
Ainda ficamos um bom tempo na mesa depois de comermos e eu me
ofereço para lavar as coisas enquanto os três continuam conversando.
Recolho tudo, levo para a pia, coloco algumas coisas na lavadora de
louças e as outras eu limpo manualmente, secando e guardando em seguida.
— Querida, está tudo bem? — Escuto o Steven perguntar e me viro
no mesmo instante, indo até a minha mãe.
— Sim, só uma pontada forte de dor de cabeça. — Ela se levanta
devagar, esfregando a testa. — Meu bem, eu adorei te conhecer e espero te
ver outros dias. Mas eu preciso me deitar um pouco agora, tudo bem?
Julie também se levanta e abraça a minha mãe.
— Sempre que seu filho me chamar, eu virei. — Espertinha, já jogou
a responsabilidade para cima de mim. — Tem certeza que está tudo bem?
Minha mãe confirma, vem até mim para me dar um beijo e depois
sobe com o Steven.
Eu não sei se foi só uma pontada de dor de cabeça, mas como nós
dois já tivemos algumas discussões por conta de eu não acreditar quando ela
fala do que está sentindo, prefiro deixar passar.
Agora eu tenho um bom aliado e sei que o Steven irá sondá-la e
depois me contar caso seja algo grave.
Assim que eu voltei de viagem, fiz questão de ir na consulta com ela
e o médico disse que estava indo tudo bem. Ele acreditava que já deveria ter
alguma resposta do tratamento, mas ainda está dentro do prazo estipulado
para essa primeira fase.
— Não deve ter sido nada além de dor de cabeça mesmo, amor —
Julie fala, enfiando os braços embaixo dos meus e me abraçando. — Por que
a gente não anda um pouco pelo jardim? Ele é lindíssimo e o dia está muito
bonito lá fora.
Eu aceito a ideia dela e caminhamos por quase uns 15 minutos até
que eu decido levá-la no meu lugar especial.
— Que lindo! Veio na casa? — ela pergunta assim que vê, já indo se
sentar nele.
Eu faço que não com a cabeça.
— É a única coisa que o Daniel me deu, que eu ainda guardo… mas
não porque foi ele quem me deu, e sim porque eu não queria deixar para trás
uma coisa que sempre foi especial e me trazia paz.
Ela sorri e me chama para sentar ao lado dela.
— Foi bom você ter feito isso, parece mesmo um bom lugar para
ficar sossegado, ler um livro… nossa! Eu preciso passar uma tarde aqui e
trazer um livro da Colleen Hoover para sofrer nessa delícia de lugar.
Rio da ideia dela, mas deixo claro que pode vir sempre que quiser.
Coloco a mão na coxa da Julie e fico fazendo carinho com as pontas
dos dedos.
— Amor…
— O que foi? — pergunto para ela.
Ela não me responde, mas já monta no meu colo, me olhando como a
boa safada que é.
— Seus toques… eles têm me deixado acesa demais!
Não perco tempo e coloco as minhas mãos por dentro do seu vestido,
indo de encontro com a sua bunda e a apertando.
— Isso é recíproco, amor. — Puxo-a pela bunda, para sentir o meu
pau ficando duro e ela solta um suspiro. — Você me deixa assim o tempo
todo!
— E se eu resolver para você agora…
Ela levanta o quadril, abre a minha bermuda e eu ajudo a puxá-la
para baixo com a minha cueca, liberando o meu pau e ela joga a calcinha
para o lado, encaixando a boceta nele e escorregando de uma vez só.
Puta que pariu.
Meu corpo se arrepia em um nível assustador, parecendo que as
erupções na pele por conta do arrepio vão estourar.
A boceta dela está molhada, quente e muito apertada.
Julie segura em meu ombro para ter um pouco mais de equilíbrio e
começa a rebolar.
A cadeira balança mais que o normal, mas nenhum de nós dois se
importa com isso.
— Vamos tentar de outro jeito! — sussurro.
— Como?
— Empina essa bunda gostosa para mim, amor.
As pupilas dela dilatam tanto, que seu olho fica praticamente todo
preto.
Quando nos levantamos, travo a cadeira para ela não balançar mais,
Julie se apoia nas costas dela, colocando os joelhos no assento e fica de
quatro para mim, com a cabeça virada o suficiente para conseguir me
encarar e enlouquecer.
Seguro-a pela cintura, encaixo o meu pau e me enfio devagar,
deixando que a boceta me engula bem aos poucos.
Essa sensação é sempre incrível.
Empurro o tecido do seu vestido para cima, tendo uma visão
privilegiada da sua bunda e a calcinha pequena que ainda está nela, e
começo a me movimentar.
Meu quadril vai de encontro a bunda dela, se chocando com força
toda vez que a penetro.
Julie geme alto e os seus gemidos fazem com que eu me arrepie.
— Me fode com força…
Caralho.
Ela não tem nem um pingo de pena de mim.
Seguro bem firme o seu quadril e de uma vez entro com força nela,
arrancando um grito da sua garganta.
— Isso… mais!
Repito o movimento outras vezes, sentindo-a me apertar
involuntariamente sempre que eu entro.
Julie é extremamente sensível ao sexo nessa posição e o seu corpo
fica todo rendido ao meu quanto mais eu a estoco.
As minhas bolas pesam de tanto desejo, e a adrenalina de talvez
alguém chegar aqui deixa tudo ainda mais quente.
Ela começa a jogar a bunda para trás, e a cena dela me fodendo desse
jeito é tão gostosa, que eu preciso fechar os olhos para não gozar.
Seguro no cabelo dela, do jeito que eu também já aprendi que ela
gosta e puxo com uma certa força, fazendo o seu corpo se erguer. Eu a
estoco rápido, com a boca quase colada na dela, e estamos gemendo juntos.
— Me toca, eu vou gozar…
Levo a minha mão até o seu clitóris, faço movimentos rápidos e
precisos, sem parar de fodê-la e sinto, pouco tempo depois, o aperto que ela
dá quando começa a gozar.
É diferente de todos os outros e sempre me deixa louco.
Espero um pouco e depois saio rápido, gozando na minha própria
mão.
Julie se arruma, ajeitando a calcinha e o vestido. E eu preciso tirar a
minha camisa para poder me limpar.
Visto a cueca e a bermuda que haviam caído nos meus pés.
— Quase nem acredito que até pouco tempo você era virgem! — ela
diz quando eu me sento. — Seu instinto é sensacional…
— Eu tenho a melhor professora! — Pisco e ela se aproxima para me
dar um beijo.
— Sou uma professora muito exigente, vou ter que pedir que fique
até depois do horário e me mostre tudo que já aprendeu — brinca, porém
cheia de malícia.
Meu pau, que havia acabado de ficar mole, endurece um pouco.
Nós ficamos um tempo ali, tomando um ar e nos recuperando do
sexo gostoso antes de voltarmos para a minha casa.
No caminho, ela puxa assunto.
— Como você acha que as coisas serão, Ash?
— Como assim?
— Entre nós dois, agora que voltamos e sabemos mais do que nunca
que queremos tentar fazer com que dê certo.
Eu estava evitando ao máximo pensar nisso, porque tenho medo do
rumo que essa conversa pode levar.
— Eu não sei, porque não quero ser um problema, mas também não
consigo me imaginar ficando longe de você, Julie.
Ela para na minha frente, segurando as minhas duas mãos.
— Também não quero, mas, por ora, talvez a gente tenha que manter
as coisas em segredo…
Essa opção não me agrada muito, porém parece que não temos
nenhuma outra. Entendo que ela não quer se arriscar por algo que não sabe
se é certo e depois ter um grande estresse a troco de nada, se o que temos
não for para a frente.
Darei o meu melhor para que não se arrependa, contudo, às vezes me
pergunto se serei o suficiente para ela, para o que ela merece.
— Eu prefiro isso a não ter você comigo!
Ela sorri sutilmente e fica nas pontas dos pés para me dar um beijo
suave.
Hoje é um daqueles dias que eu não queria levantar da cama e nem
muito menos ter que fazer algo. Mas fiquei muitos dias fora do escritório e
resolvi vir.
E aqui parece que o clima também não está muito bom.
Eu conversei com a autora sobre as diversas semelhanças do livro
dela com outra obra já publicada. E como eu já esperava, ela não lidou bem
com isso e acabei de descobrir que fez uma reunião com a Angelina
enquanto estive fora.
— Desculpa te esperar dentro da sua sala, é que recebi uma ligação e
acabei entrando para ter privacidade — Angel diz depois que me acomodo.
Ela se senta de frente para a minha mesa e percebo o seu semblante
mais sério.
— Não tem problema nenhum! A editora é sua, deve ficar à vontade.
— Mas aqui é um espaço seu… enfim, não vim aqui falar sobre isso.
— Ela coloca um rascunho na mesa que eu nem havia percebido que estava
segurando. — As suas anotações neste livro nos livrou de um provável
processo que acabaria com a editora que mal nasceu.
Ela não está chateada comigo!
Pensei que estivesse.
— Eu tentei conversar com a autora, mas ela se sentiu ofendida.
— Tirei o final de semana para ler o outro livro que você disse que
estava sendo plagiado e realmente estava! Juntei tudo que precisei, falei com
o advogado da editora e consegui rescindir o contrato com ela.
Eu fico aliviada em saber disso.
— Que bom que deu tudo certo, Angel. Infelizmente esse tipo de
coisa não tem como sabermos até que o livro seja escrito. E o livro anterior
dela, que foi um sucesso na Amazon, nos deu uma esperança de que ela seria
de fato uma boa autora.
Angel concorda.
— Recebi o convite do seu aniversário! Posso levar alguém comigo?
— Claro que sim! — respondo animada, curiosa para saber se ela
levará algum namorado ou alguém que esteja conhecendo. — E desculpe
não ter ido ao seu, a viagem foi totalmente em cima da hora.
Ela sorri e se levanta, se preparando para sair da sala.
— Não tem problema, imprevistos acontecem! Mas conte comigo no
seu!
Angelina sai da sala na hora que o Jon ia entrar e eles acabam se
esbarrando. Ambos ficam muito constrangidos e eu acho uma reação
exagerada para um simples esbarrão.
Isso me faz pensar que… com certeza aconteceu alguma coisa entre
eles!
O que eu perdi nessa semana que estive fora?
— Desculpa, Angel! — ele diz muito cauteloso.
O que diabos está acontecendo?
— Sem problemas!
Ele segura a porta para ela sair e depois fica olhando até que Angel
suma pelo corredor.
Tento me manter séria, mas ele repara no meu sorriso de quem sabe
que tem algo acontecendo e fica todo sem graça.
— Não é nada disso que você está pensando!
— Ué, mas eu não falei nada.
— Suas feições estão falando por você.
Deixo a minha risada escapar.
— Quem sou eu para julgar alguém! Estou me envolvendo com um
jogador do time rival ao do meu pai.
Jonathan se senta, cruzando os braços e esperando por mais
informações.
— Então você decidiu arriscar mesmo, né?
— Sim! E até agora não me arrependi nem um pouco. O Asher é
lindo de todas as maneiras, e eu vou a cada dia gostando mais dele e de estar
com ele.
Jon sorri.
— Você está apaixonada!
— Não sei, acho que sim — confesso. — Mas não é loucura? Não
tem nem três meses que nos conhecemos e quando estou com ele, sinto que
não teria nenhuma outra pessoa que me deixaria tão… bem! Eu me sinto
incrível.
— Não é loucura, Julie! Loucura é tentar medir sentimento pelo
tempo que conhece ou que está com uma pessoa — diz, muito certo da sua
teoria. — Conheci a mãe da minha filha um dia, e dois dias depois já sabia
que ela seria o meu grande amor.
É tão doloroso ouvi-lo falar dela.
É notável que ela faz muita falta na vida dele e que o sentimento
ainda está vivo nele.
— Acho que o medo acaba falando alto e eu fico me segurando de
falar algumas coisas para ele, ou de me permitir entrar a fundo nisso.
— Medo de quê? Seus pais já não sabem?
— Sim! Mas nós teremos que manter segredo por um bom tempo,
por causa dos times. As pessoas não vão conseguir entender de jeito nenhum
que ele pode namorar com uma rival e não misturar as coisas, vão sempre
ficar achando que existe uma troca de informações, ainda mais quando tiver
jogo deles juntos.
— As pessoas sempre irão encontrar algo para colocarem defeito! Se
por acaso ele não for o cara, mas você namorar outra figura pública, irão
procurar qualquer coisa, nem que seja o signo de vocês que não batem, e
usarão isso para tentar atrapalhá-los.
Eu sei que ele tem razão, só que na teoria é muito mais fácil assumir
esse risco.
E agora o meu problema não está mais na aceitação do meu pai, que
agora que sabe, irá se preparar para manter tudo sob controle.
A minha preocupação é com o Asher e a sua carreira.
Bonnie entra na minha sala do nada, com a cara bem assustada e nós
dois já ficamos em alerta.
— Julie, a Hope Donavan está lá na recepção querendo falar com
você urgente.
Comigo?
Não faz sen… será que aconteceu algo com o Asher?
Eu nem penso muito, só pego o meu celular e peço desculpas ao Jon
por ter que sair desse jeito.
Corro até a recepção e encontro a Hope com os olhos muito
vermelhos, abraçando o próprio corpo e andando de um lado para o outro.
— É a Audrey, nós precisamos ir.
Eu só concordo e me viro para falar com a Bonnie.
— Pode ir, se alguém procurar por você, eu falo que teve uma
emergência!
— Obrigada, Bonnie.
Saio atrás da Hope e vejo que o Christopher parou o carro de
qualquer jeito na frente da editora e pede para que a gente entre rápido.
Eu praticamente me jogo no banco de trás e sinto o meu coração feito
uma bateria de banda de rock.
— O que houve? — pergunto depois de criar coragem.
— Não sabemos muito bem, mas ela acordou com dores fortes no
peito e na cabeça. Acabou caindo da escada e saiu desacordada de casa.
Meu Deus!
Isso não pode estar acontecendo.
— E o Asher?
Christopher me olha pelo retrovisor e eu noto que ele também deve
ter chorado.
— Ele… ele está desesperado, Juliana! — Christopher responde,
quase sem voz. — E eu acho que desde que o conheço, é a primeira vez que
o vejo nesse nível de desespero. Então a coisa deve ter sido bem feia.
Sinto um nó na garganta e uma vontade de chorar absurda.
Deus, o senhor não pode levá-la ainda.
Repito essa frase pelo caminho todo, suplicando por ela.
Nós descemos do carro afobados e a recepcionista do hospital já sabe
por quem procuramos e nos informa onde o Asher está.
Pegamos o elevador até o quarto andar, vejo os números na tela
mudando devagar e vou ficando mais agoniada a cada segundo que passa.
Assim que as portas se abrem, nós três vemos o Asher ajoelhado de
frente para uma cadeira, se apoiando nela e com as mãos unidas.
Deixo que a Hope e o Christopher vão na frente falar com ele.
Não sei se eu sou a pessoa certa para fazer companhia pra ele agora,
não sei se consigo ser forte para ajudá-lo a se manter de pé.
Ele se levanta para falar com os amigos e é nesse momento que o
meu coração quase perde a força.
Asher está com os olhos tão vermelhos que parecem bolas de fogo,
ele chora ao abraçar o amigo e Hope tenta consolá-lo.
Depois de uma conversa breve com eles, Ash se vira e me vê.
Corro até ele quando tampa o rosto com as duas mãos e chora
copiosamente.
Tento passar os meus braços ao redor do seu corpo, mas pela posição
não consigo muito bem, porém, isso não importa.
Ele encosta a testa em meu ombro e chora por alguns minutos. E
nesse meio tempo, Calleb e outras pessoas que eu não reconheço chegam,
lotando a sala de espera.
— A cena foi horrível, Julie — ele diz depois de conseguir parar de
chorar. — Eu estava na cozinha e ouvi um barulho muito alto… e quando
cheguei já tinha muito sangue escorrendo pela escada e ela estv…
— Não precisa me contar, amor… — Aliso o seu rosto e depois
seguro as suas mãos. — Sua mãe é uma mulher muito forte, já passou por
coisas demais e tenho certeza que passará por mais essa.
Ele se recosta na cadeira e encosta a cabeça na parede atrás dele,
fechando os olhos e tentando recuperar a respiração.
Quando as pessoas se aproximam para falar com ele, eu digo que vou
ao banheiro, mas na verdade viro em qualquer lado do corredor e ligo para o
meu pai.
— Oi, meu amor. Eu est…
— Pai… — a minha voz sai embargada, por causa do choro. —
Preciso da sua ajuda!
— O que houve? Você está machucada? Me diz onde está que estou
indo para aí agora.
Ouço o barulho dele provavelmente pegando as coisas para sair de
onde está e vir ao meu encontro.
— Eu estou bem, pai! Foi a mãe do Asher.
Tento explicar rapidamente para que ele entenda um pouco o que está
acontecendo.
— E o que eu posso fazer para ajudar? Qual hospital vocês estão?
— No hospital do Louis.
Louis é um amigo de longa data do papai e também dono e médico
desse hospital. Reconheci o caminho antes mesmo de chegar.
É um dos melhores hospitais-escola do país, além de ser referência
em trauma, neurologia e cardiologia.
— Vou entrar em contato com ele, amor. Mas vai dar tudo certo,
confie em Deus e nos bons médicos que tem aí.
Desligo a ligação e volto para perto de onde o Asher está, me sento
ao seu lado e fico em silêncio apenas segurando a sua mão e esperando.
Steven chega minutos depois, ele havia viajado hoje bem cedo para
uma conferência e pelas malas que está carregando, veio direto para cá.
O desespero no olhar dele é doloroso, mas ele é médico e sabe como
as coisas funcionam, então se senta na fileira de cadeiras na nossa frente e
escuta enquanto Asher explica o que aconteceu.
A angústia da espera é sufocante.
Minha mãe entrou direto para a cirurgia quando a ambulância nos
deixou aqui, nem tive tempo de perguntar nada, nem de olhar para o rosto
dela antes de sumir ou segurar em sua mão.
E se o momento que eu a peguei na escada, desacordada e
ensanguentada, tenha sido a última vez que a toquei com vida?
Esses pensamentos me fazem sufocar e uma sensação muito ruim vai
crescendo dentro do meu peito a cada segundo que se passa e nenhum
médico vem aqui nos dar uma notícia.
Por que está demorando tanto?
Julie levanta ao ouvir a porta do elevador se abrir e eu olho na
direção dele, sem poder imaginar quem mais está vindo.
Calleb, Chris, Hope, Jordan e Bee já estão aqui.
São os pais dela saindo do elevador.
Não que eu tenha pensado sobre eles aparecerem aqui ou não, mas se
eu tivesse, não teria deduzido que viriam de jeito nenhum
Me levanto para falar com eles e a mãe dela me abraça, me deixando
um pouco sem reação pelo gesto inesperado.
— Sinto muito, Asher! — ela diz, com os olhos marejados. — Já
tiveram alguma notícia?
— Ainda não, Sra. Fanning.
— Vou tentar resolver isso, Asher! — Jayden fala e mais uma vez eu
fico sem entender.
Julie me explica que o dono do hospital é amigo do pai dela e que ele
está aqui hoje. Não sei se ele pode fazer algo pela minha mãe, mas saber que
o Jayden tentará algo já me dá esperança.
— Obrigado por terem vindo! — falo com a Grace.
— Faremos o que pudermos para ajudar a sua mãe, Asher!
Eu agradeço novamente e me afasto um pouco das pessoas.
Odeio hospitais. Em especial, a emergência.
A primeira vez que a minha mãe descobriu que tinha câncer, nós mal
conseguimos ter dinheiro para o táxi quando alguma emergência acontecia.
Nossa sorte é que tínhamos um vizinho que gostava muito de nós e acabava
nos levando na maioria das vezes.
Hoje eu tenho como trazê-la no melhor hospital, mas a sensação de
que posso perdê-la é a mesma, independente dos recursos que são melhores.
E se for a hora dela? Nada será capaz de reverter.
Minha mãe sempre foi uma mulher muito boa! Como Deus seria
capaz de levá-la nessas condições?
Eu não aceito isso!
— Asher! — Jayden aparece no corredor, me chama para segui-lo e
eu vou sem pensar. — Ela já saiu da cirurgia, mas eles queriam mantê-la um
pouco em observação até poderem te chamar.
Vamos andando pelos corredores, até que paramos ao encontrar com
um médico.
— Louis, esse é o Asher! Asher, Louis é o médico e o dono do
hospital.
Nós damos um rápido aperto de mão.
— A sua mãe já saiu da cirurgia e ela está sendo levada para o
quarto! Porém, o acidente foi bem feio e ela terá que ficar alguns dias no
hospital. Ainda não sabemos o que aconteceu para que ela tenha caído, só
sabemos o que foi informado por você, as dores de cabeça e no peito que ela
reclamou ao acordar. Como a sua mãe tem câncer, prec…
— Chamem o doutor Louis! — Alguém coloca a cabeça para fora de
dentro de um dos quartos mais à frente. — A paciente que saiu da cirurgia
está tendo uma parada cardíaca.
Ele corre em direção ao quarto e eu vou atrás.
Será que é a minha mãe? Outra pessoa também pode ter saído da
cirurgia agora.
Não é ela, tenho certeza.
Louis entra afobado junto com outros dois enfermeiros e eu vejo
quem está ali deitada na cama.
É a minha mãe.
Sua cabeça está enfaixada, seu rosto muito inchado e já ficando
arroxeado pela pancada. Ao lado dela, o monitor que marca os seus
batimentos cardíacos faz um barulho alto e contínuo, mostrando uma linha
fina que se repete.
Não.
Tento entrar na sala, mas sinto um braço me segurando com força.
Jayden me segura.
— Mãe, sou eu! Não vá embora, por favor! — grito, acreditando que
ela será capaz de me ouvir. — Ainda não é a sua hora… eu ainda não estou
preparado para isso!
Uma das enfermeiras me olha por meio segundo e eu vejo aquele
olhar nela. Aquele olhar de quem sabe que verá mais um parente
desesperado.
— AFASTEM! — Louis diz, esfregando os desfibriladores antes de
encostá-los na minha mãe e dar um choque que faz o seu corpo se mover
bruscamente. Todos olham para o monitor, mas ele continua com a linha
fina, sem nenhuma alteração. — DE NOVO!
— Por favor, mãe! — Eu quase não tenho mais forças para gritar.
Eu quase não consigo enxergar direito o que acontece na minha
frente pelo excesso de lágrimas transbordando dos meus olhos.
E a pior cena da minha vida acontece.
O médico desiste quando não vê nenhum resultado, os enfermeiros se
afastam e eu ouço alguém falar.
— Hora do óbito: 2 horas da tarde e 45 minutos.
Puxo o meu braço da mão do Jayden e caio de joelhos ao lado da
cama da minha mãe.
Tudo parece ter ficado em câmera lenta, eu escuto vozes falando
comigo, mas elas estão emboladas e misturadas, não consigo entender nada.
Seguro a mão da minha mãe, que está caída para fora da cama e fico
esperando que ela aperte a minha de volta, mas isso não acontece.
— Deus, mais uma vez eu preciso que o senhor se faça presente! —
falo entre os soluços, tentando não me afundar na tristeza que está tomando
conta do meu corpo. — Eu sei que o senhor escuta as minhas preces e os
meus agradecimentos, mas eu preciso de um milagre!
Um soluço alto me impede de continuar falando.
— E-eu suplico! — Encosto a minha testa nas nossas mãos, sentindo
o meu corpo ficar fraco. — Eu tive uma boa vida, não me importo de ir no
lugar dela! Não é o momento dela, Deus.
Alguém tenta me tirar dali, mas eu me movo bruscamente para me
soltar.
A mão dela continua sem vida.
Minha mãe continua desacordada.
O milagre não acontece.
Eu não aceito isso… não assim!
— VOLTA PARA MIM, MÃE! Eu te amo tanto e acho que ainda
não fui capaz de demonstrar todo o meu sentimento pela senhora. — Uso o
resto das forças que tenho para falar e depois desabo num choro que me dói
o peito de uma forma inexplicável.
Depois de tudo o que passamos, é assim que irei perder a minha mãe.
Isso não é justo!
Deus! O que eu farei agora? Como será a minha vida sem a minha
mãe?
Como eu vou conseguir suportar a d…
Sinto um movimento muito suave em um dos dedos dela e já me
levanto em um pulo.
— DOUTOR! — grito e o Louis aparece no mesmo segundo. — Eu
senti alguma coisa!
— Asher, já tem 2 minutos que a sua m…
— Eu senti um movimento, tenho certeza! — digo para ele e
aproximo o meu rosto do da minha mãe. — Mãe, não desiste de mim! Não
desista da sua vida, por favor. Temos o Steven agora, ele te ama e está lá fora
esperando para revê-la.
O médico, junto com uma enfermeira, religa o aparelho, e assim que
se conecta a ela novamente, aparece uma pequena alteração naquela linha
contínua e isso é o suficiente para eles voltarem a tentar reanimá-la.
Ninguém pede para que eu saia e eu continuo as minhas súplicas.
E finalmente os batimentos dela se estabilizam.
— Asher… — Louis vem até onde estou, tirando as suas luvas. —
Muitos médicos são céticos, porque é difícil lidar com a ciência e a religião,
mas eu estou há muitos anos dentro de um hospital para entender que às
vezes não somos nós quem salvamos uma vida! Hoje, por exemplo, Deus
ouviu o seu pedido e apenas nos usou para concedê-lo.
Volto a chorar, mas dessa vez é pelo peso da angústia que vai saindo
do meu peito aos poucos.
— Obrigado, Dr. Louis!
— É o meu trabalho, rapaz… agora eu preciso que você nos dê um
tempo! Sua mãe… morreu por quase 3 minutos, não sabemos o que isso
pode ter feito com o seu corpo. Teremos que fazer alguns exames básicos
agora e outros daqui a uns dois ou três dias, por causa da cirurgia. Então, já
tenha em mente que ela ficará um tempo aqui conosco!
Concordo com ele.
— O tempo que precisar, doutor.
Eu me abaixo e dou um beijo leve em seu rosto, onde parece não
estar machucado.
— Eu te amo, mãe! A senhora é a pessoa mais forte deste mundo.
Saio da sala com um misto de sensações, tentando equilibrar tudo o
que estou sentindo.
Jayden está sentado em uma cadeira, com as mãos juntas e
balançando as pernas incansavelmente.
— Deu tudo certo! — falo com ele assim que me aproximo e ele se
levanta.
Vejo o alívio genuíno tomar conta do corpo dele que estava tenso.
— Essa é a melhor notícia que poderíamos receber!
— Obrigado, Sr. Fanning! Sei que ligou mais cedo para o seu amigo
e ele ficou à frente para cuidar da minha mãe… acho que nunca poderei ser
grato o suficiente com o senhor.
— Me retribua sendo um bom homem para a minha filha, será mais
que o suficiente. E vá lá contar a todos que a sua mãe é mais forte que um
touro! — ele fala de forma amigável e sorri. — Estou feliz por você, Asher.
Independente das nossas diferenças, eu sei reconhecer um bom filho quando
vejo um.
— Não vou decepcioná-lo, senhor.
Vou correndo até a sala de espera e todos continuam lá.
Eles vêm em minha direção quando paro perto deles e o sorriso que
estampa o meu rosto é o suficiente para saberem que deu tudo certo.
Foram os momentos mais assustadores da minha vida, mas agora está
tudo bem.
Falo com todos eles, um por um, depois sento com a Julie para contar
o que aconteceu.
— Deus foi bondoso comigo mais uma vez, Julie! — concluo. — Ele
ouviu as minhas súplicas, trouxe a minha mãe de volta! Ele me deu o
milagre que eu pedi.
Julie sorri, mas há lágrimas transbordando em seus olhos.
— Sua mãe vai sair dessa mais forte do que nunca! — Ela segura o
meu rosto e me dá um selinho.
E depois de todo o desespero desse dia extremamente turbulento,
consigo sentir um pouco de paz ao lado dela.
Já tem uma semana desde o acidente da Audrey, mas ela vem se
recuperando muito bem.
Asher vai até o hospital todos os dias e dorme lá na maioria das
vezes. Eu tento passar lá rapidinho também, nem que seja para levar um café
para ele, ou deixá-lo ir em casa fazer algo e fico fazendo companhia pra ela.
A Audrey é uma mulher incrível e admirável.
Me apeguei a ela no mesmo dia que a conheci, e vê-la sendo tão
otimista e alegre, mesmo em momentos ruins, é uma inspiração.
— Vou ter que fazer outro caminho, Julie — Timothy, o nosso
motorista, me avisa enquanto faz o retorno.
— O que houve?
— Não sei, mas parece que cercaram a rua principal do hospital.
Que estranho!
Fico olhando pela janela enquanto ele pega outro caminho e me
deixa na lateral do local, porque só dá para ir até a entrada se for uma
emergência ou a ambulância deles.
Tem muita gente aqui, várias pessoas com a camisa do Gorillas,
outras com câmeras e microfones.
Nada disso faz sentido, a não ser q…
— Juliana Fanning! — alguém grita enquanto tento passar pelo canto
e chegar até a entrada.
Essa pessoa acaba alertando as outras, que me encontram no meio
delas e, em questão de segundos, alguns flashs e pessoas com microfones
chegam perto de mim, todas falando ao mesmo tempo e me deixando
confusa.
— Você sabia que a mãe do Asher Murphy está entre a vida e a
morte por causa do sétimo câncer? — uma mulher pergunta.
Ela não tem noção do que está falando.
— Você e o Asher estão juntos? — outra pessoa pergunta.
— Você está grávida mesmo?
Tento passar por todas essas pessoas, mas só consigo quando um
segurança, que parece ter quase 2 metros, afasta todo mundo, me segura
pelos ombros e me leva para dentro.
— Já a pegamos! — ele diz no rádio. — Os reforços estão vindo,
temos que afastar essas pessoas, estão atrapalhando a entrada e a saída dos
pacientes!
Olho lá para fora pelos vidros transparentes do hospital e não consigo
acreditar que as pessoas são tão sem noção a ponto de atrapalhar o
funcionamento de uma emergência para conseguir uma notícia.
Pego o meu celular e entro no Gorilla News.
Eles sempre postam tudo que sai por aí dos jogadores, inclusive até
falaram de mim e do Asher quando estourou aquela bomba.
E as primeiras notícias do perfil são dele.
“Mãe do nosso running back, Asher Murphy, é hospitalizada após
acidente doméstico. Ele é um dos nossos jogadores mais discretos quanto a
sua vida pessoal, mas uma foto do histórico dela foi vazada. Não iremos
mostrar por respeito a eles e desejamos melhoras a Audrey Murphy.”
Procuro também em outros perfis e lá eu vejo a tal foto.
Até onde a maldade do ser humano vai para conseguir engajamento?
E com a minha chegada aqui, as especulações ainda vão aumentar.
De onde tiraram que eu estou grávida? Meu Deus! Essas pessoas são
terríveis.
Me identifico na recepção para pegar o crachá. As meninas já estão
acostumadas a me ver aqui e nem pedem mais o meu documento, apenas me
entregam a permissão e eu pego o elevador para ir até o andar onde a Audrey
está.
Assim que eu entro, vejo o Asher de braços cruzados, olhando para
as pessoas lá fora pela janela. A irritação dele irradia por todo o quarto
mesmo que não esteja falando nem uma palavra sequer.
— Oi, querida! — Audrey sorri ao me ver e levanta um pouco a
cama com o controle. — Seus pais vieram de manhã aqui, adorei conhecê-
los. — Eu não sabia que eles viriam, mas minha mãe contou que eles
estavam passando por perto e meu pai deu a ideia de vir ver como ela está.
— Minha mãe me disse! Espero que não tenha sido um problema.
Ela me chama para sentar na beira da cama e eu vou.
— Eles foram ótimos comigo e eu pude agradecer ao seu pai pela
ajuda. Ash me contou que foi ele quem solicitou que o doutor Louis viesse
me atender.
— Meu pai pode ser um pouco difícil para algumas coisas, mas ele
tem um ótimo coração.
Ela concorda e depois desvia o olhar para o filho.
— Ele está irritado desde cedo! Não quis me contar o que houve, mas
eu liguei a televisão para me distrair e acabei vendo que estão falando sobre
mim em vários canais — diz e suspira. — Nunca gostei da exibição, sabe?
De ser o foco das pessoas, nada disso nunca me agradou. Por isso, Ash e eu
combinamos de manter a minha vida anônima, mesmo que a dele não se
tornasse mais. Mas nós sabíamos que algo como isso poderia acontecer.
— Eu vou falar com o Louis! Não poderiam ter vazado o seu
histórico médico, Audrey. A pessoa que fez isso tem que ser despedida e vir
ao menos pedir desculpas a vocês.
Asher se vira e vem até onde estamos.
É a primeira vez que o vejo sério assim, com o semblante muito
irritado.
— Por favor, não peça para que a pessoa venha aqui! Pelo menos não
quando eu estiver, porque não sei o que sou capaz de fazer.
Eu engulo em seco, mas concordo.
— Asher, você precisa se acalmar, meu filho! Não vai adiantar nada
ficar com raiva, isso não mudará o estrago que já foi feito — ela diz bem
calma e ele se aproxima dela, com a culpa lhe rondando.
— Desculpa, mãe! Tentei ao máximo fazer com que nada a respeito
da senhora vazasse.
— E você conseguiu, meu amor. O que aconteceu hoje não é culpa
sua! — Ele suspira e beija a testa dela.
Asher passa por mim, segura a minha mão e me chama para ir ao
corredor com ele.
Ele me olha com tanto carinho quando ficamos só nós dois que eu
sinto uma infinidade de borboletas fazendo uma bela bagunça no meu
estômago.
— Como você está, amor? — me pergunta, passando a mão por um
dos meus braços e depois me dando um beijo suave.
— Estou bem, só preocupada com você! — digo, sendo a mais
sincera possível. — As pessoas me viram entrando, eu não sabia da comoção
aqui na frente. Se já não saíram notícias nossas juntos novamente, vão sair
em breve.
— Não me importo com isso, Julie! Na verdade, depois do que
aconteceu com a minha mãe, depois de tê-la visto morrer na minha frente, eu
não poderia me importar menos. — Ele pede para que a gente se sente e
assim fazemos. — Pensei em conversar com você depois, porque tem
acontecido muita coisa na minha vida no momento, mas, exatamente por
causa dessas coisas que eu não posso mais perder tempo.
Meu coração começa a acelerar com a expectativa do que ele possa
falar.
— E o que você quer me falar? — pergunto, em um misto de medo e
ansiedade.
— Eu nunca tive nenhum outro relacionamento para ter um
parâmetro de quando é cedo para algo ou não, mas eu não vou perder a
oportunidade que a vida me deu de te ter comigo. E o que estamos vivendo,
para mim pelo menos, tem sido incrível. A gente se dá bem, o meu dia ganha
muito mais cor quando você está ao meu lado, e não poder te levar em um
bom restaurante para viajar ou simplesmente te fazer companhia no
shopping tem me deixado frustrado — explica. — Não quero ter que
esconder que estamos juntos! Não me importo com os problemas que isso
pode acarretar para mim, se você quiser o mesmo que eu, se quiser assumir
para o mundo que estamos juntos, eu vou ser a porra do homem mais
sortudo do mundo.
Eu seguro em seu rosto e o beijo.
— Você tem certeza disso? A mídia não terá pena de nós.
Ele abre um sorriso lindo quando entende que também estou disposta
a isso.
— A única certeza que eu tenho é que não posso ter medo do que as
pessoas irão falar e acabar te perdendo nesse processo! — A intensidade em
seu olhar me tira o ar. — Nós não sabemos no que isso vai dar, porém tudo
na vida é assim, não temos como saber. Mas te garanto que darei o melhor
de mim para que você não se arrependa.
Eu o abraço, e estar dentro dos seus braços parece que é o meu lugar.
— Dessa vez eu preciso preparar o meu pai antes! Não quero que
descubra igual das últimas vezes.
— Eu conversei com ele mais cedo.
— Como assim?
— Eu disse que iria falar com você sobre querer te assumir e levar
isso — aponta dele para mim — a um outro patamar.
E realmente o Asher é uma caixinha de surpresas.
— Quando você disse que sempre iria tentar me surpreender, não
levei a sério! Mas você está fazendo isso muito bem.

Madison inventa umas coisas e eu sempre caio em umas furadas por


causa dela.
Acabamos de chegar na Times Square porque ela disse que precisava
vir com urgência em uma loja que havia vendido algo falso pra ela. Só que
agora ela parou no meio da rua e está mexendo no celular.
Eu amo a minha amiga, mas ela gosta muito de testar a minha
paciência.
O dia está começando a escurecer e eu só quero ir para casa, tomar
um bom banho e descansar.
Alguns dos diversos telões que tem na TS apagam, ficando
totalmente pretos. E isso chama a atenção de muitas pessoas, inclusive a
minha. Nunca vi nenhum deles apresentar algum problema, mas o tempo
está passando e as telas continuam do mesmo jeito.
— Gostar de alguém vai muito além de apenas querê-la de forma
fácil. Muitas vezes é preciso ir na contramão, mas junto de quem se gosta.
— Christopher aparece em um telão, falando esse texto.
Será que é marketing de alguma coisa?
— Às vezes a gente não entende o porquê das coisas até que a
pessoa certa, aquela que faz o coração bater forte e fraco ao mesmo tempo,
aparece em nossa vida, enchendo-a de cor e risadas que ecoam em nossa
cabeça antes de dormirmos, fazendo com que deitemos com aquele sorriso
bobo no rosto. — Agora é a minha amiga falando.
Eu olho para ela, e os seus olhinhos brilhando me confundem.
O que está acontecendo?
— O amor dificilmente vai ser igual as histórias dos nossos livros
favoritos, mas quando ele nos deixa empolgados, ansiosos para saber o que
nos aguarda, igual quando lemos só mais um capítulo para descobrir o que
acontece com o casal, é sinal que você já está vivendo a sua própria história
de amor — Jonathan diz, com o seu característico sorriso gentil.
Meu corpo vai se arrepiando a cada pessoa que aparece nos telões.
— Na maioria das vezes, o amor não é fácil. Vão haver momentos
em que você ficará no meio de uma escolha difícil, mas acredite, o amor
sempre será a melhor escolha… o amor sempre vale a pena — o meu pai
fala com aquele jeito doce que sempre falou comigo e eu fico sem saber se
choro ou sorrio.
Na verdade, eu estou fazendo as duas coisas ao mesmo tempo.
— O amor é uma das coisas mais belas do mundo! Às vezes a gente
acha que já conheceu esse sentimento na sua forma mais pura, mas aí somos
pegos de surpresa e descobrimos que nada dele ainda conhecemos — a mãe
do Asher diz. E, diferente das outras gravações que o fundo é todo preto,
nesse eu reconheço a parede do hospital. — O amor não escolhe idade,
tempo e nem a pessoa… o amor escolhe o coração!
Eu começo a abanar o meu rosto, porque não consigo mais controlar
o choro.
— O amor é algo que não se explica! — Asher aparece, tão lindo
como sempre. — Destinamos esse sentimento a pessoas que não merecem,
mas tudo bem, a culpa não é nossa. Só que isso marca a alma, deixa um
rastro em nossas vidas que nos alerta que talvez não valha a pena apostar
nele de novo! Mas, como não dar uma segunda chance ao amor quando
você sente que a sua vida ganhou um novo sentido só por estar ao lado de
quem se ama? Bem, eu sei qu… quer saber, melhor eu falar essa parte só
para você ouvir.
Madison olha para algo atrás de mim e eu me viro, encontrando o
Asher com um buquê de rosas, uma caixa de chocolates e o sorriso mais
lindo que eu já vi em toda a minha vida.
Eu me aproximo dele, sentindo as minhas pernas fracas.
— Eu disse que queria te assumir para o mundo, calar a boca dessas
pessoas de uma vez por todas, ou dar mais munição a eles, tanto faz! — ele
diz quando chega bem pertinho, me olhando nos olhos. — Você merece um
mocinho como nos livros, que fazem coisas grandiosas, que se declaram, que
a todo momento deixa claro como a vida ficou mais bonita depois que o
amor chegou… hoje faz exatamente 100 dias que nos conhecemos! E eu
posso ter demorado todos esses dias para te falar, do fundo do meu coração,
que eu te amo, amor! Mas eu já sabia, desde o evento, quando nos vimos
pela primeira vez, que você seria a pessoa capaz de fazer com que eu me
sentisse seguro o suficiente para abrir o meu coração e deixá-la entrar!
— Asher… nenhum mocinho dos livros que eu leio poderia fazer
tudo isso! Nenhum deles teria o meu coração rendido como você o tem. —
Asher me puxa com cuidado pela cintura e eu vejo os seus olhos marejados.
— Eu também te amo, amor.
As pessoas ao redor começam a bater palmas, gritar e eu tenho
certeza que muitas estão com os celulares na mão, gravando esse momento.
— Você aceita ser minha namorada? — ele sussurra em meu ouvido
depois de me beijar.
— Eu já sou sua, amor. Sou sua desde o momento em que te vi no
bar daquele evento e você me conquistou com o seu jeito único!
Ele me beija novamente, e depois sentimos vários braços nos
envolvendo.
Todo mundo está aqui, tanto os amigos dele quanto os meus.
Até os meus pais vieram.
Asher é o presente mais lindo que a vida me deu.
Não acredito que a minha mãe está se casando novamente.
Isso era uma coisa que eu nunca pensei que veria depois de tudo, mas
eu estou tão feliz por ela, que já chorei umas cinco vezes antes mesmo da
cerimônia começar.
Steven a pediu em casamento assim que ela teve alta do hospital e
parece que ela ganhou ainda mais vida com esse pedido, ficou radiante.
Os dois nutriam um sentimento por muito tempo e acabaram
perdendo muito dele, porque a minha mãe tinha medo de se entregar. Mas,
depois desse susto que tomamos, ele não quis perder mais tempo.
Resolvemos tudo muito rápido com a ajuda da mãe do Christopher,
que conhece várias cerimonialistas e empresas de decoração.
Sete dias se passaram desde o pedido e hoje será o casamento.
Minha mãe ainda não viu como estão as coisas, mas eu olhei tudo e
sei que ela irá amar, ficou do jeitinho que ela queria.
— Você é o homem mais lindo desse casamento! — Julie diz
enquanto arruma a minha gravata. — E também de todos os outros lugares!
— Recebo um selinho suave porque ela está de batom vermelho. — Pronto,
meu amor.
— Ninguém no mundo seria mais linda que você, amor.
Ela sorri ao ouvir o elogio.
E minha namorada realmente está deslumbrante.
Julie está com um vestido coral longo, com a parte da saia bem
soltinha, o busto um pouco mais justo e não tem alças. O seu cabelo, que eu
amo, está todo solto e ondulado, caindo por cima dos seus ombros.
E tudo deixa o conjunto perfeito.
— Eu gosto quando você me olha assim! — ela sussurra. — Me sinto
uma deusa sendo admirada.
— E essa é a coisa que eu mais faço na vida, amor… te admirar!
Ela me dá mais um selinho e depois nós saímos do meu quarto.
Está na hora de ir buscar a minha mãe para levá-la até o altar.
Os convidados já chegaram e estão se acomodando para a cerimônia.
Julie me deixa na frente do quarto dela e depois desce para se juntar
com as demais pessoas.
Respiro fundo antes de abrir a porta e encontro a minha mãe de
frente para o espelho, sorrindo para o próprio reflexo.
Meu coração dá uma batida mais forte do que o normal ao vê-la
assim.
— Mãe… a senhora está tão linda! — Ela me olha pelo reflexo, com
os olhos marejados. — O Steven é um homem de muita sorte mesmo!
Ela se vira para mim, com um sorriso enorme e me dá um papel que
estava segurando e eu nem havia percebido.
— Leia, querido!
É um exame da clínica oncológica.
Uma mamografia, para ser mais exato.
Essa é a segunda vez que ela tem câncer de mama, das outras vezes
havia sido um no pulmão e o outro nos rins. Mas o pior de todos foi o
primeiro, o mais difícil e o que mais nos abalou.
Leio tudo o que está escrito, e no final da página, depois das
mamografias, tem a confirmação de que minha mãe está curada.
Eu olho para ela depois de ler umas cinco vezes.
— Isso é sério? Fez mais outros exames para ter certeza?
Ela confirma, mordendo o lábio inferior para segurar o choro e eu
dou um soco no ar de animação.
— PORRA! — Eu a pego no colo e a giro dentro do quarto, fazendo-
a rir. — Vencemos mais uma vez, mãe! — Coloco-a no chão de novo. —
Mais uma vez! — repito o que havia falado, olhando em seus olhos. — Esse
dia não tem como ficar melhor.
A maquiadora, que estava em outra sala, precisou vir aqui novamente
depois que nós comemoramos, porque minha mãe acabou chorando.
Mas é um choro de felicidade, por um motivo muito aguardado por
nós.
Minha mãe me explica que depois do que aconteceu com ela no
hospital, os exames começaram a não mostrar mais nada no seu seio e os
médicos estavam achando que era um problema nas máquinas.
Fizeram testes em outros hospitais, fizeram vários exames e todos
davam que ela estava curada. E eles não conseguiam entender, porque até
dois dias antes de ela ter se acidentado, o câncer estava lá.
Louis foi o único que chegou para ela e falou que o milagre dela ter
voltado, foi muito além do que esperávamos.
Deus é incrível, sabe de todas as coisas.
Ela esperou ter certeza mesmo para me contar, e hoje, depois do
Steven ter buscado o último exame para ela aceitar que realmente estava
curada, mamãe não esperou nem mais um dia para me contar.
Realmente não tem como esse dia ficar melhor.
Levar a minha mãe ao altar foi uma das coisas mais bonitas que eu já
fiz.
A cerimônia foi linda, quase todo mundo chorou e a festa também
está maravilhosa.
Pude apresentar oficialmente a minha namorada aos meus amigos e
ela se deu super bem com todos e isso é ótimo, porque eles são muito
presentes em minha vida e seria horrível se tivesse sido ao contrário.
Inclusive, a Claire também se encantou por ela, as duas ficaram
juntas quase a festa toda e a Julie não pareceu se importar nem um pouco.
— Ela parece levar jeito com as crianças! — Hope fala, abraçando o
Chris.
— Será que teremos finalmente uma outra criança para ser amiga da
minha filha? — Chris joga uma letra, erguendo as sobrancelhas em união. —
Alguma chance de ter acontecido algo para que talvez el…
— Meu Deus, Christopher! Você é sutil feito uma bala de canhão
vindo na nossa direção.
Ele ri e a Hope fica um pouco confusa, mas é melhor assim. Acho
que ela não precisa saber que eu era virgem até algumas semanas atrás.
— Então não existe a chance ainda? — Chris pergunta, curioso,
ignorando a minha reclamação anterior.
— Você é muito indelicado, amor — Hope diz, revirando os olhos.
— E se quer saber, a Julie estava me indicando o contraceptivo dela, que
disse ser muito bom. Então não espere crianças tão cedo vindo dos dois.
Inclusive, ela me deu uma aula sobre isso, me mostrou os
absorventes que gosta para quando eu precisar comprar e não comprar
errado, e me deixou apavorado me mostrando o quanto aquele interno incha
quando elas ficam menstruadas.
Me arrepio só de lembrar.
— Você poderia parar de usar o seu, amor… — Chris fala, tentando
seduzi-la com um sorriso.
— Eu vou deixá-los à vontade! — digo e me afasto.
Não preciso mesmo saber sobre essas questões pessoais e íntimas
deles, o Christopher é a pessoa mais sem noção que eu conheço.
Percebo que o meu celular descarregou quando o pego para tirar mais
algumas fotos e decido ir rapidinho até o meu quarto, deixá-lo carregando.
— Amor? — Ouço um barulho no banheiro e a chamo, deduzindo
que é a Julie lá dentro.
— Oi! Me dá uma mãozinha aqui?
Deixo o meu celular ao lado da cama carregando e vou até o
banheiro, encontro-a tentando costurar uma parte do vestido que mal
consegue alcançar.
— O que aconteceu?
— Acho que agarrou em um galho, eu puxei com força e rasgou…
consegue dar um pontinho?
— Não, mas eu vou tentar.
Ela ri, mas me entrega a agulha com a linha.
Olho para o que tem na minha mão e o pequeno rasgo no vestido
dela… não parece ser difícil.
Só que na primeira tentativa, eu a furo antes mesmo de conseguir
fazer qualquer outra coisa.
Peço desculpas, mas ela ri.
Tentamos arrumar uma posição melhor e ela se escora na pia, ficando
um pouco agachada. Fazendo isso, o tecido fica meio largo em suas costas e
eu consigo fazer o que pede.
Ficou bom? Claro que não.
Mas acho que resolveu o problema dela, por ora.
Porém, foi impossível vê-la nessa posição e não puxar todo o tecido
para cima, só para ver a sua bunda linda. Só não estava esperando por uma
lingerie rendada, toda preta.
— Gostou?
— Não sei, me diz você… — Roço o meu pau na sua bunda, ela
solta uma risada e empurra o quadril para trás, roçando de volta em mim.
— Será que vão dar falta da gente por 10 minutinhos? — me
pergunta, encarando-me pelo espelho.
Eu nem respondo, viro-a para mim, encostando-a na parede e peço
para que segure bem o vestido em sua cintura. Beijo-a com vontade
enquanto abro a minha calça no desespero.
Uma coisa que eu aprendi com a Julie: qualquer oportunidade pode
ser bem aproveitada.
E a gente sempre aproveita, sem exceção.
Julie me beija como se a vida dela dependesse disso.
Eu tento puxar a sua calcinha para o lado e acabo rasgando, mas
depois resolvo isso com ela.
Penetro fundo nela, deixando que a gravidade nos ajude e ela crava
as unhas em meu ombro, e só não me machuca por causa da camisa social e
paletó que estou usando.
Sinto o meu pau entrar com mais dificuldade que o normal, um
pouco mais apertado, ela percebe pelo meu olhar e dá um sorriso safado.
— Estou usando uma coisa que você me deu…
O plug.
Passo a mão na sua bunda e sinto só a parte do metal que fica para
fora, tapado pela calcinha que ainda está presa à sua bunda.
Julie adora sexo anal, mas, parece que o meu pau é um pouco demais
para que ela fique tão à vontade no início, por isso tivemos a ideia de
comprar um, mas acabamos esquecendo de fazer isso.
Ou pelo menos ela esqueceu, porque eu fiz questão de comprar
alguns pela internet e dar a ela.
Só que eu não esperava que ela usasse ele hoje, de jeito nenhum.
— Você é uma safada!
— E você ama isso…
— Porra, eu amo demais!
Intensifico as estocadas na sua boceta, e ao mesmo tempo começo a
puxar o plug e deixar que o cu dela o engula novamente, várias e várias
vezes.
Ela geme alto, me deixando louco e eu saio de dentro dela apenas
para colocá-la de quatro, escorada na bancada novamente.
Pego uma camisinha na caixinha que fica aqui no banheiro, visto o
meu pau e tiro o plug bem devagar, colocando-o na pia.
Seguro o meu pau, esfrego a cabeça dele na entrada, aos poucos
forçando para dentro, devagar e com calma, como das últimas vezes.
Julie já começa a gemer diferente, segurando a bancada com força.
Assisto-a pelo reflexo, sentindo o meu pau pulsar incontrolavelmente
enquanto eu entro no cu dela, e vou levando o meu quadril para a frente até
estar todo dentro.
Me abaixo um pouco e beijo as suas costas, ajudando-a a relaxar.
Aos poucos ela começa a rebolar devagar, e eu deixo que tenha o
controle para não acabar machucando-a.
Julie fica mais relaxada, rebolando mais rápido e com mais vontade.
Aperto a sua bunda gostosa e em seguida dou um tapa forte, fazendo-
a gemer mais alto.
— Adoro quando você me bate!
Eu bato de novo ao ouvi-la, vendo a sua pele ficar levemente
avermelhada na área onde bati.
Ela começa a empurrar o quadril para trás com força contra o meu e
eu vou me movimentando aos poucos, aumentando a intensidade das
estocadas dela contra o meu pau.
Preciso me controlar muito e fecho os olhos várias vezes, porque é
difícil sentir tudo isso e ainda assisti-la, é muito para mim.
Quando vou percebendo que ela fica à vontade, me movimento mais
rápido e com mais pressão e, poucos segundos depois, já estamos fodendo
com força, enquanto ela suplica por mais e esfrega o clitóris, cheia de tesão.
Julie é a personificação do tesão.
Nada é mais incrível do que ela cheia de desejo, pedindo por mais,
querendo me sentir ainda mais.
Bato novamente em sua bunda, seguro bem a sua cintura e a estoco
fundo, várias vezes, até que ela começa a gozar e eu só paro quando sinto a
camisinha ficar cheia com o meu gozo.
Preciso respirar alguns segundos antes de sair dela.
— Eu estou um caos! — Ela se olha no espelho e depois ri.
— Vou te ajudar, amor.
Pego outra calcinha dela no meu closet, ajudo-a a colocar o vestido
novamente e quando ela me dá o lenço para tirar todo o seu batom borrado,
eu limpo com muito cuidado.
Ela me dá vários selinhos enquanto eu a ajudo, e antes de arrumar a
sua maquiagem novamente, eu a beijo de novo.
— Vou descer primeiro, só para não ficar tão na cara assim!
Julie concorda, dá um tapa na minha bunda quando me viro, algo que
ela costuma fazer e eu sopro um beijo para ela antes de sair do banheiro.
Definitivamente eu sou viciado nessa mulher.
Ela brinca que criou um monstro, mas é a pura verdade.
Viciei em cada pedacinho dela.
O pedido de namoro que eu fiz para a Julie repercutiu muito mais do
que a gente imaginava, até mesmo em outros países.
E claro que isso foi parar na diretoria do Gorilas, e agora eu tenho
uma reunião marcada com o Heitor.
Não sei se a conversa vai ser agradável, mas eu vim preparado.
— Pode entrar, Asher — ele diz depois de me fazer esperar alguns
minutos do lado de fora.
Me sento de frente para a mesa dele e espero ele andar calmamente e
se sentar também.
Heitor apoia as duas mãos em cima da mesa e fica me olhando como
um professor que está prestes a falar que está desapontado com a nota que o
aluno tirou.
— Você então está namorando a filha do Fanning.
— Estou!
— Mesmo sabendo que isso poderia atrapalhar a sua carreira?
— Sim, Heitor.
Ele bate a ponta dos dedos na madeira cara da mesa.
— Não sei mesmo o que fazer com você! Isso não é bom para os
negócios e a tranquilidade do Jayden em relação a isso faz transparecer que
tem algo de errado. Como ele pôde aceitar que a filha namorasse um rival?
Eu pressiono o osso entre os meus olhos e depois esfrego a minha
testa, já me sentindo incomodado com o rumo dessa conversa que mal
começou.
— Ele é o pai dela, quer o melhor para a filha! Juliana é adulta, não
tem nenhuma relação com o Touros e nós somos rivais apenas em campo, da
forma que você fala, soa como se fôssemos duas famílias mafiosas que se
odeiam há gerações.
Ele solta uma risada debochada.
— Eu gosto de você, Asher. Inclusive porque nunca nos trouxe
problemas, mas na primeira oportunidade nos apunhala pelas costas.
Por que ele tem que ser tão dramático? Me deixa ainda mais irritado.
— Não apunhalei ninguém! Não aceitei a oferta que o Tourus fez
antes, não aceitei nenhuma outra e o Jayden ainda retirou a oferta para evitar
mais problemas. Meu envolvimento com ela não tem nenhuma ligação com
o time do pai dela — explico. — Não é difícil entender, Heitor. Me parece
que você está querendo ser extremamente radical sem nenhuma necessidade.
Ele me encara, em silêncio.
— Você está no auge da sua carreira, depois de tanto lutar, conseguiu
tudo o que queria. Vai desperdiçar isso por causa de uma mulher que
conheceu há pouco tempo?
Meu maxilar trinca ao ouvi-lo e eu me levanto, sem conseguir manter
a calma.
— Quando, em algum momento, te dei o direito de questionar a
minha vida e as minhas escolhas? Nós não somos amigos, nunca fomos e
nunca seremos! Você é o meu superior aqui dentro, apenas. E isso não te dá
essa liberdade que você pelo visto acha que tem. Eu não sou um garoto de 17
anos para você falar assim, reveja muito bem as suas próximas palavras.
Já haviam me falado que o Heitor tem um jeito muito soberbo, mas
eu nunca havia estado em uma situação dessa com ele até pouco tempo e ele
vem se revelando uma pessoa bem baixa.
— Sei, sei… você falou isso da última vez! — Ele também se
levanta. — Mas é o seguinte, a escolha é bem clara: ou você continua no
time, ou continua com ela. As duas coisas não poderão acontecer, não
deixarei que assine o contrato se não aceitar a cláusula que está lá.
Sinto a minha respiração sair quente pelo meu nariz enquanto o
escuto.
— Espero que vocês tenham uma boa temporada, Heitor! Adeus!
Me viro para sair da sua sala, mas ele vem atrás de mim e corre para
conseguir parar na minha frente.
— Isso é sério? Você vai preferir a garota?
— Sim, isso é muito sério.
A questão não é só pela Julie, é a minha vida.
Outra pessoa nunca terá o controle sobre o que eu faço ou deixo de
fazer, não é assim que as coisas funcionam para mim. Faço 30 anos em
menos de 2 meses. Quem ele pensa que é para tentar medir os meus passos?
E eu não serei jogador para sempre, pretendo me aposentar em pouco
tempo.
O dinheiro não será problema e eu já tenho planejado o que fazer
depois que me aposentar do campo, para não ficar parado. Eu apenas
adiantaria as coisas, não é o fim do mundo.
Claro que não é assim que eu queria que as coisas finalizassem com
o time do meu coração, mas não tem como eu aceitar as condições impostas
para assinar um novo contrato.
— Eu entendo quando as mulheres dizem que homens são burros,
que perdem a cabeça por qualquer um… — ele nem termina de falar e eu
acerto um soco no meio do seu rosto, fazendo sangue jorrar pelo seu nariz
imediatamente. — Você é maluco?
Minha mão dói, mas eu não dou o braço a torcer.
— Espero que agora você entenda quais são os limites entre nós!
Vou embora com uma sensação de angústia por estar saindo desse
jeito, mas sabendo que é a coisa certa a fazer.
— Asher, você não deveria ter feito isso! — Julie veio aqui para casa
e eu contei para ela sobre a minha decisão.
Estamos no jardim da minha casa, na cadeira de balanço, e ela me
olha em choque depois de me ouvir.
Esse balanço nunca mais foi o mesmo depois das coisas que já
fizemos aqui, e por isso eu a puxo para o meu colo, colocando-a sentada de
frente para mim.
— Amor, não existe nenhuma chance de você sair da minha vida! E
nem muito menos de alguém tentar me manipular.
Depois que eu saí de lá, o Heitor me mandou várias mensagens
oferecendo valores mais altos para que eu aceitasse renovar o contrato.
Eu não quero mais dinheiro, quero que respeitem as minhas escolhas
pessoais.
— Eu acho loucura, mas também é muito sexy o quanto você é
decidido! — Sorrio ao ouvi-la.
Puxo a Julie mais para cima do meu colo e ela senta em cima do meu
pau, o que é suficiente para ele acordar.
Encaixo uma mão no rosto dela e passo o meu polegar em cima da
sua pinta.
— Sua pinta é bem sexy! Igual todo o resto.
— Sabe onde mais eu tenho outra pinta dessa? — me pergunta.
Tento lembrar de onde já tenha visto.
— Eu sei que tem uma no lado direito da sua bunda gostosa, outra na
virilha, uma atrás do joelho e outra no vale entre os seus seios.
Ela morde o lábio ao ouvir.
— Não é possível que você lembre disso tudo!
Coloco a minha mão por dentro da camisa dela e vou subindo os
dedos devagar, até que encontro o seu seio nu.
Ela está sem sutiã… eu amo quando ela está sem sutiã!
— Eu amo te observar dormindo e você quase sempre dorme pelada,
então não é difícil de achá-las. — A minha mão tapa o seu seio por inteiro e
eu massageio o seu mamilo bem devagar. — Eu fico louco quando você não
usa sutiã.
Ela sorri de uma forma maliciosa.
— Eu sei disso, amor! — Pisca.
Julie começa a rebolar em meu colo, esmagando o meu pau, me
fazendo ficar ainda mais duro debaixo dela.
Mas o maldito do meu telefone toca, eu até tento ignorar, mas ele não
para.
— Atende, amor! — Ela tira a minha mão de dentro da sua blusa, me
dá um beijinho e sai do meu colo.
Faço um bico e ela dá uma mordida nele, depois diz para que eu
atenda logo.
É o corretor de imóveis.
— Oi, Emeth!
— Sr. Murphy, bom dia! Só para avisar que tudo já foi resolvido e a
casa já está pronta para quando quiser se mudar — diz. — Mandarei o
código das senhas das fechaduras e depois o senhor pode alterá-las. Os
documentos já foram enviados para o seu advogado!
— Muito obrigado, Emeth!
Desligo o telefone e me levanto.
— Vamos, precisamos ir em um lugar!
Julie me acompanha, eu chamo a minha mãe e o Steven, que estavam
assistindo a um filme juntos e dirijo com todos eles em direção ao outro
condomínio, que fica a uns 20 minutos de distância daqui.
Queria ter conseguido uma casa nova, mas infelizmente não
consegui. Porém, em compensação, a casa é perfeita.
É menor do que a nossa atual casa, mas com um jardim tão amplo
quanto, piscina e totalmente térrea, que eu sei que a minha mãe prefere.
Entramos no condomínio e eu só paro ao chegar na casa.
— Querido, para que tanto mistério? — minha mãe me pergunta
assim que saímos do carro.
Ela realmente não sabe o que estamos fazendo aqui, não contei para
ninguém, na verdade.
Seguro na mão da Julie e nós quatro entramos na casa linda, toda
moderna, com tons de madeira escura do jeito que a minha mãe gosta.
— O que você acha dessa casa, mãe? — pergunto.
— É lindíssima, amor… é um sonho uma casa em que eu não precise
subir tantas escadas! A nossa é perfeita, não me leve a mal. Mas os meus
joelhos já não são mais os mesmos!
— Que bom que gostou! Ela é de vocês.
Ela arregala os olhos na mesma hora e depois tampa a boca, sem
acreditar.
— Asher… deve ter sido muito cara! — Steven fala, olhando-a
ainda.
— É o meu presente de casamento para vocês! Quando você pediu a
minha mãe em casamento, eu entendi que, mesmo que seja difícil essa nova
adaptação para mim, é o momento de terem uma casa só para vocês, para
fazerem o que quiserem com ela, sem a preocupação se eu vou gostar ou
não!
Minha mãe vem até mim e me abraça. Envolvo os meus braços nela e
beijo o alto da sua cabeça.
— Tem certeza, meu amor? — Ele tomba a cabeça para trás para
conseguir me olhar.
— Claro que sim, mãe! Qual a graça de ter dinheiro e não poder
presentear as pessoas que eu amo?
Os dois vão andar pela casa para conhecer o novo lar deles e a Julie
fica encostada na parede, me olhando com os seus olhinhos apaixonados que
me deixam ainda mais maluco por ela.
Me aproximo lentamente, puxo-a pela cintura e beijo o seu pescoço
de leve.
— Por que está me olhando assim?
— Estou tentando procurar onde está o seu defeito, Asher Murphy!
Não tem como ser tão perfeito assim, é humanamente impossível.
Sorrio com o elogio.
— Eu tenho uma coisa para você também!
Ela fica ansiosa ao me ouvir e eu tiro uma chave de dentro do bolso.
— Essa chave é… da sua casa?
— Sim! Essa chave abre todas as fechaduras magnéticas, te dá acesso
aos alarmes, senhas… tudo! Quero que você chegue a hora que quiser, leve
coisas suas para lá ou não, troque a decoração, quero que se sinta em casa,
amor. Porque é assim que eu me sinto quando estou com você! Em casa!
— Você está me deixando muito mal-acostumada, amor — ela diz ao
envolver os braços em meu ombro. — E eu adoro ser mimada, isso não vai
dar certo.
— Como não? Você ama ser mimada e eu faço tudo para te mimar!
Melhor combinação que essa eu acho que não existe.
Ela me enche de beijos pelo rosto e finaliza com um em meus lábios.
O meu telefone começa a tocar mais uma vez e ela bufa.
— Hoje parece que todo mundo quer nos atrapalhar! Igual quando
nos conhecemos.
Julie tenta se afastar para me dar privacidade, mas eu a mantenho
perto de mim, sem me importar que ela escute, independente de quem seja.
— Alô?
— Asher? É o August, tudo bom?
August é o dono do Gorillas.
Mas ele nunca aparece, não vai aos jogos, não fala com ninguém.
Heitor que sempre tomou conta de tudo, então é bem estranho uma ligação
dele.
— Tudo! Posso ajudar em alguma coisa?
— Espero que sim! Eu fiquei sabendo sobre o que aconteceu entre
você e o Heitor. Queria dizer que não estou de acordo com isso e nem muito
menos com as alterações contratuais que ele fez. Inclusive, estou saindo do
Marrocos para ir até NY ver o que tem acontecido enquanto eu me mantenho
afastado. Não quero tomar muito do seu tempo, só espero que a gente
consiga reverter a situação e que você continue conosco! Segunda é um bom
dia para conversarmos?
Isso é inesperado.
Muito inesperado.
— Claro, segunda está bom para mim.
— Ótimo! Vou pedir para a minha secretária entrar em contato com
você e marcar tudo.
Eu desligo depois e não preciso contar nada a Julie porque ela ouviu
e me olha esperando que eu diga o que irei decidir.
— Bom, talvez o meu lugar ainda seja no Gorillas até o dia que eu
for me aposentar.
Ela comemora, dando uns pulinhos.
— Eu não poderia estar mais feliz com esse dia, amor.
— Tem certeza? Entregaram hoje a caixa com as coisas que você
comprou para nós dois… e eu refiz o meu estoque de óleos e velas!
Julie coloca as mãos em cima dos seios instintivamente.
— É só você falar essas coisas que me deixa excitada, e eu estou sem
sutiã!
— Acho que a gente pode encontrar um lugar pela casa para
resolvermos isso…
Eu a puxo sem saber para onde vamos, e ela vem sem se opor.
Alguém teria que inaugurar essa casa, por que não nós, né?
Eu simplesmente amo o dia do meu aniversário.
É uma das datas que eu mais fico ansiosa e sempre planejo festas
com temas diferentes para dar uma variada.
Esse ano, como tiveram alguns acontecimentos que me deixaram
com a cabeça ocupada, decidi fazer um tema de ilha paradisíaca.
A decoradora fez um trabalho lindo e até coqueiro eles trouxeram
para decorar a entrada.
Estou apaixonada pelo resultado.
A maioria dos convidados já chegou, mas eu acabei me atrasando
porque primeiro ganhei um belo presente quando fui tomar banho para me
arrumar.
Inclusive, o presente tem um cheiro muito bom e está a coisa mais
linda com uma bermuda de elástico florida, uma camisa de botão com
mangas curtas, aberta até o meio do peito, e um daqueles colares havaianos.
Como pode um homem ser tão bonito assim?
Eu balanço a cabeça, tentando desviar os pensamentos maldosos que
fizeram com que o quarto começasse a esquentar e termino de colocar os
meus acessórios.
Asher me espera sentado na minha cama.
Não é a primeira vez que ele vem aqui, mas eu percebo que ele ainda
não fica muito à vontade de sair andando pela casa sozinho.
A relação dele com o meu pai está começando a fluir, bem aos
poucos, mas está. Acho que é só questão de tempo para os dois ficarem mais
tranquilos um com o outro.
Mas eu entendo ambas as partes, eles são rivais.
Meu pai está com um jogador rival dentro da sua própria casa,
namorando a sua filha. E o Asher está namorando a filha do dono de um
time rival.
Mas eu só consigo amá-los ainda mais por estarem fazendo de tudo
para que isso dê certo por mim.
E daqui a 2 anos o Asher irá se afastar do campo.
Ele acabou renovando o contrato com o Gorillas depois que as coisas
foram resolvidas com o próprio dono do time, e eu fiquei muito feliz, porque
estava me sentindo culpada pelo que havia acontecido.
— Eu não resisto, desculpa! — Asher diz enquanto me puxa para ele,
me fazendo cair em seu colo. — Você está tão gostosa, amor. — As suas
mãos vêm com tudo na minha bunda e a apertam com força. — Tem certeza
que não podemos comemorar só nós dois aqui?
— É uma proposta tentadora, mas eu preciso ver os meus
convidados!
Ele me dá um beijo bem no espaço entre os meus seios, que o biquíni
não cobre, e depois dá um tapa forte na minha bunda.
Eu realmente criei um monstro e não poderia estar mais feliz com
isso.
Depois de esperar um pouco para a excitação dele passar, nós
descemos e vamos para onde a festa está acontecendo.
Eu faço questão de segurar firme na mão do Asher e o faço ir
comigo, assim eu o apresento formalmente às pessoas que ainda não o
conheciam.
— Ash, esse é o Gregory e o Robin! Eles são filhos do nosso
dentista.
Ele cumprimenta o Gregory e depois dá um soquinho na mão do
Robin.
— É verdade que você sabe jogar futebol americano? Meu irmão
disse que você é muito bom!
Asher sorri e confirma.
— Eu jogo, sim! Conhece o Gorillas?
O garoto bate no peito e imita o grito de guerra, é bem fofo, e eu vejo
que Asher fica todo encantado.
Como já o apresentei a quase todo mundo, deixo que fique
conversando ali com eles e vou até o Elvis e a Nelly.
— Parabéns, Julie! — Elvis me abraça e depois a Nelly também. —
A festa está linda, como sempre.
— Obrigada, fiquei muito feliz que conseguiram vir — digo e dou
uma olhada ao redor. — O Kendrick está bem?
Os dois se encaram rapidamente e depois voltam a me olhar.
— Não acho que seja o lugar para essa conversa, mas, ele não está
bem, Julie! — Nelly diz, com uma expressão triste. — Acho que o problema
do Ken é muito maior do que pensávamos!
Eu me sinto derrotada em saber disso, queria muito que ele
conseguisse voltar a ser o homem de antes. Alegre, divertido, bondoso com
todos ao seu redor e muito carinhoso, inclusive com os pais.
— Ele está em uma clínica, ficará lá por um tempo! Achamos que vai
ser melhor assim — Elvis explica, mas logo depois olha na direção do Asher
e sorri, tentando voltar ao clima leve. — Estamos felizes por você! Um
homem que se dispõe a levar o ex da mulher que está interessado para casa,
sem nem ao menos você ter pedido isso a ele, merece no mínimo o meu
respeito.
Asher causa esse efeito de surpresa em todo mundo, é inexplicável.
Estamos tão acostumados a receber o mínimo das pessoas, que
quando conhecemos uma que se esforça para dar aos outros muito mais que
isso, nos espantamos, porque de fato não é algo comum, infelizmente.
— O Ash é… único! — digo com toda a certeza disso. — E eu me
sinto transbordando de coisas boas quando estou com ele e as minhas
bochechas doem de tanto que eu sorrio.
— Isso é lindo, querida! — Nelly segura a minha mão, fazendo um
carinho casto nela. — Eu falei para o seu pai, quando ele me contou que
você estava com o Asher, que ele deveria dar uma chance para o rapaz e que
se essa chance não fosse bem utilizada, ele teria sérios problemas com a
gente.
Eu rio do que ela fala e os abraço rapidamente.
— Eu amo vocês, sempre os terei como um segundo pai e uma
segunda mãe! É muito importante para mim que vocês estejam felizes pelo
meu relacionamento.
— Nós sabemos separar as coisas! E da mesma forma que só
queremos o melhor para o nosso filho, também só queremos o melhor para
você.
Converso mais um pouco com eles e depois vou falar com mais
algumas pessoas, tiro algumas fotos, passo no bar para pegar um drink e vou
até a minha amiga.
— Por que nenhum dos amigos do Asher é solteiro? — ela pergunta,
olhando para eles de longe.
— O Calleb é solteiro!
Ela olha com atenção para ele e sorri.
— Ele pode até ser solteiro, mas a menina que está abraçada com a
Hope com certeza o tem na mão. — Eu paro e observo também.
Asher já me falou que houve algo entre os dois, mas não deu muito
certo e hoje eles vivem brigando, se desentendendo e não ficam mais.
Mas eu acho que o meu namorado errou na última coisa.
Eles com certeza ainda ficam, e provavelmente depois, voltam a
discutir e devem ficar com o discurso que não repetirão mais.
— Melhor mirar para outro lado, Mad.
— E o tal do Gregory? — pergunta.
Eu não irei contar sobre a noiva dele porque a história não é minha
para eu simplesmente espalhar por aí.
— Comprometido!
Ela bufa.
— Que festa chata, hein — diz, mas depois solta um risinho e aperta
a minha bochecha. — Você está gostosíssima!
Ela segura a minha mão e me faz girar.
Ganhei vários biquínis da nova coleção das gêmeas de presente de
aniversário. Escolhi um deles para usar e acabei passando em uma das lojas
delas para comprar uma sainha da mesma coleção para usar por cima.
— Depois dá uma passada no meu closet e pega alguns para você,
elas me deram muitos!
Madison dá um gritinho de animação e depois diz que vai pegar outra
bebida.
Olho ao redor e vejo que algumas pessoas estão na piscina, as
crianças brincando por todo canto e os convidados parecem estar se
divertindo.
Procuro pelo meu namorado, que ri enquanto joga.
Não sei como, mas ele conseguiu uma bola de futebol e está jogando
com os meninos do Gorillas, alguns jogadores do Touros e até o meu pai
também está lá.
Vou para mais perto, ficando ao lado da minha mãe e da Audrey, que
conversam animadas demais.
— Estávamos falando de você! — Audrey diz, sorridente. — Não
nos julgue, mas já estamos imaginando como você ficará linda dentro de um
vestido de noiva.
Eu havia acabado de pegar outro drink, que o garçom me entregou, e
quase cuspo o líquido que estava puxando pelo canudo de metal.
— Calma, gente! Daqui a pouco vocês vão falar que também querem
netos.
As duas tentam disfarçar, mas soltam uma risada em conjunto,
deixando claro que também já pensaram nisso.
— Somos sonhadoras, meu bem! — minha mãe diz. — E quem
sabe… né?
— Eu vou para outro lado! A conversa de vocês está me deixando
levemente apavorada.
Escuto as duas rindo quando me afasto e fico assistindo os meninos
jogando.
Eu nunca imaginei que um dia veria todas essas pessoas jogando
juntas, de forma amigável e se dando bem uns com os outros.
É surreal como a minha vida deu uma volta de 360 graus desde que
conheci o Ash.
Como não ser grata a tudo de bom que tem acontecido comigo?
Asher pede um tempo e diz que vai beber uma água, mas vem
correndo na minha direção e me dá um selinho, com cuidado para não
encostar o corpo suado no meu.
— Deixei o seu pai atrapalhar uma jogada minha de propósito, mas
não conte para ele! — Ele pisca e vai na direção oposta de onde estou.
Fico olhando de longe o seu corpo suado, lembrando de outras vezes
que já o vi com o corpo do mesmo jeito…
É muito errado querer que a festa acabe logo para poder ter mais uma
comemoração a sós com o meu namorado gostoso?
— Amor, o que foi? — Escuto o Steven falar com preocupação e já
procuro por ele, vendo se está tudo bem com a Audrey.
Ela não parece estar passando mal, mas o seu olhar de pavor me
assusta e eu olho na mesma direção que ela.
Não tem ninguém além do nosso dentista onde ela está olhando.
— É o meu ex-marido!
Puta que pariu!
Eu teria ficado jogando o resto do dia, mas o aniversário é da Julie, e
nada mais certo do que dar atenção a ela e de preferência não ficar todo
suado a festa toda.
Havia tirado a minha camisa e o colar antes de jogar e deixei na mesa
onde a minha mãe estava, vim pegá-los e volto a andar na direção da Julie,
distraído, e acabo esbarrando em alguém.
— Opa, desculpa! — Encosto em seu braço só para ter certeza que
não se desequilibrou e viro um pouco para vê-lo.
E o mundo abaixo de mim parece desmoronar ao ver o rosto do
homem que acabei de esbarrar.
Daniel.
O ex-marido da minha mãe.
O homem que nos deixou sem nem dar um adeus olhando em nossos
olhos.
O meu pai.
— Asher… — Ele me olha com surpresa e um pouco assustado.
Minha reação é me afastar, sem acreditar que ele realmente está aqui.
Por que ele está aqui?
Que brincadeira de mau gosto é essa?
— Pai! O senhor demorou, tudo bem lá na clínica?
Gregory, convidado que conheci há alguns minutos, chega perto do
Daniel, falando com ele.
Pai?
Mas ele deve ter a minha idade!
Olho confuso para a cena à minha frente e o Daniel parece que
congelou, ainda me encarando.
Gregory percebe que tem alguma coisa errada.
— O que está acontecendo?
— Nada, filho… apenas um conhecido!
Conhecido?
Claro!
— Amor… — Julie se aproxima de mim, com os olhos repletos de
preocupação. — Eu sinto muito, não sabia que o dentista da família era o seu
pai! — Ela segura em meu rosto, querendo ter a minha atenção toda para ela.
— Vamos emb…
— Como assim seu filho? — Gregory chega perto de nós dois,
totalmente confuso, provavelmente não tem noção mesmo de quem eu sou.
— O que está havendo aqui? Alguém pode me explicar?
Encaro o Daniel novamente, que parece não ter nenhuma intenção de
falar nada.
— O que o seu pai falou é verdade, nós somos apenas conhecidos! —
digo, sem desviar os olhos do homem que um dia tive como herói e melhor
amigo. — Um dia nós já fomos família, ele já foi marido da minha mãe e
também éramos pai e filho! Mas hoje, depois de todos esses anos, acho que
conhecidos é um bom rótulo — falo com a minha voz calma, mas a vontade
é de voar em cima dele, de despejar tudo que mantive guardado só para mim
por todos esses anos da ausência dele.
De deixá-lo entender o estrago que ele fez em nossas vidas e em
como eu tive que virar o homem da casa com 18 anos porque ele nos
abandonou.
Olho para a direção que a minha mãe está e a vejo ao lado do Steven.
Ela está surpresa, mas é uma mulher muito forte para se abalar tanto
com a presença dele, ainda mais com o seu marido ao lado.
Infelizmente eu não sou forte assim e acabei de descobrir isso.
— Amor, não quero atrapalhar a sua festa… — sussurro para ela. —
Mas eu não sou capaz de continuar aqui!
— Eu vou com você!
— Não, não precisa! Todos estão aqui para comemorar o seu dia com
você e nós ficaremos juntos à noite, prometo que te compenso depois.
Ela nega com a cabeça, repetidas vezes.
— Pai, isso é verdade? — Escuto o Gregory falar e a sua voz sai
tensa, com medo do que ele irá responder.
— Asher, podemos conversar? — Daniel o ignora e vem na minha
direção. — Lá fora, sem chamar a atenção das pessoas! Eu tenho uma
reputação e preciso mant…
— Vai para o caralho você e a sua reputação! — digo entredentes.
Eu abraço a Julie, dou um beijo rápido em seus lábios e saio de perto
deles, indo em direção à saída.
Minha cabeça parece que vai explodir.
As memórias parecem querer me pregar uma peça, embaralhando
momentos bons e ruins de quando eu era adolescente.
Meu peito sufoca e eu perco as forças enquanto ando, precisando me
apoiar em alguma coisa.
Nunca pensei que teria que vê-lo novamente.
Não me preparei para isso porque tinha certeza que não existia
nenhuma chance de isso acontecer. Eu me tornei um homem famoso, ele
poderia ter me procurado há muito tempo e mesmo assim continuou sumido,
então entendi que isso não aconteceria.
Mas é claro que ele tinha que ser amigo da família da Julie! Parece
que nem sempre o destino é tão generoso comigo.
— Asher, você não pode fugir de mim! — Escuto a voz do Daniel.
Ele só pode estar de sacanagem comigo.
— Ah, eu não posso? — Me viro para ele, mas mantenho a distância.
— Eu poderia dizer que aprendi com você, papai.
Daniel fecha os olhos, respira devagar e depois os reabre, me
olhando como se fosse uma pessoa com sentimentos, que sente de verdade
por algo que perdeu.
Ótimo ator.
— Faz muito tempo, filho! E sei que não vai adiantar falar nada, mas
não teve um dia que eu não me arrependi de ter feito aquilo. Eu voltei lá
outras vezes, mas não tive coragem de entrar e falar com você, não tive
coragem de pedir perdão e voltar a nossa vida…
— Vocês nos deixou no pior momento da minha mãe! — explodo. —
Simplesmente você a deixou, caralho! Que merda de homem faz isso? Quem
abandona o filho e a esposa porque as coisas ficaram difíceis?
— Eu sint…
— Sente porra nenhuma! Você acha que terá o meu perdão? Acha
que merece algo de mim? Realmente não me conhece, Daniel.
Ele tenta se aproximar, mas eu dou alguns passos para trás, mantendo
a distância.
— Você acha que foi fácil para mim assistir a mulher da minha vida
morrendo a cada dia? — pergunta, com os olhos marejados. — Eu tive
medo, Asher! Eu estava com medo o tempo todo, qualquer barulho que eu
ouvia já achava que tinha acontecido algo. Qualquer minuto a mais que ela
demorava no banho além do normal, eu já corria para ver se tinha acontecido
algo.
— E você acha que eu não? — pergunto, bem sério. — Você acha
que eu me sentia como, hein? Ainda mais depois que você foi embora! Eu
tive que me virar para manter a casa, meus estudos e o tratamento da minha
mãe, porra! COMO VOCÊ ACHA QUE EU ME SENTIA? — pergunto
pausadamente, sentindo a raiva me invadir. — Eu tive que me tornar homem
antes do tempo, tive que fazer o seu papel!
Daniel passa o antebraço no rosto, enxugando as lágrimas.
— Eu sei que o que eu fiz foi terrível, mas isso nunca significou que
eu não ame vocês.
Eu rio ao ouvi-lo, sem acreditar na audácia dele em falar algo desse
tipo.
Ele só pode estar de sacanagem.
— Realmente dizem que a gente só pode dar o que tem pra
oferecer… e você não tem nada de bom!
— Você fala como se eu não tivesse sido um bom pai antes disso!
— Do que valeu todos os anos anteriores, se quando tudo começou a
desmoronar, você saiu sem nem olhar para trás? E você ter sido bom antes,
só piorou as coisas! Eu me culpei, a minha mãe se culpou, mas na verdade o
único culpado era você.
Vejo pelo canto do olho que o Gregory se aproxima da gente.
— Eu quis ajudá-los depois que fiquei bem… Mas aí você foi
anunciado como jogador do Gorillas e eu acreditei que não precisavam mais.
— Você é inacreditável, Daniel… Como pode o mesmo homem que
deitava comigo quando eu tinha pesadelos e inventava histórias para me
distrair, também ser o homem covarde que está na minha frente? — O olho
dos pés à cabeça. — Mas, no final, talvez tenha sido a melhor coisa mesmo!
Seria horrível minha mãe descobrir ainda mais tarde a verdade sobre o
homem com quem era casada… pelo menos agora, depois de tudo que ela
passou, depois de ter lutado contra o câncer 4 vezes, ela encontrou alguém
que a ama e a escolheu sabendo da sua saúde!
— A Aud se casou?
— AUDREY! — respondo ao ficar irritado por ele chamá-la como
antes. — E sim, ela se casou e está muito feliz!
Ele balança a cabeça e olha para os lados, sem saber o que fazer.
— Eu não sabia que você estava com a Juliana, fiquei longe esses
dias… não teria vindo se soubesse!
Olho para o Gregory ainda sem entender em que momento ele
aconteceu na vida do Daniel, mas isso não me importa.
Eu só quero ir embora daqui, o mais longe possível desse homem.
— Não existe nada que eu possa fazer para mudar a nossa relação?
— Daniel me pergunta.
Dessa vez eu me aproximo dele.
— Daniel, você teve muitas chances de tentar fazer isso! E eu
confesso que até certo tempo, eu esperei que fizesse. Eu queria vê-lo
arrependido, se esforçando para tentar resolver as coisas entre nós dois, pelo
menos. Mas já passaram mais de 10 anos. E só estamos nos falando agora
porque o destino parece ter acordado irritado comigo… mas não existe
nenhuma chance de você estar na minha vida novamente! E essa culpa é
totalmente sua.
Me viro e vou embora logo, sem dar mais assunto para ele.
Pego a chave da minha moto, coloco o capacete e monto nela para ir
embora.
— Me espera! — Escuto Julie gritar, vestida com outra roupa e
segurando o seu capacete no braço. — Eu vou com você! Não faz nenhum
sentido ficar aqui se você não estiver, amor. Também não quero te deixar
chateado e sozinho.
— Tem certeza?
Ela sorri e faz que sim.
Ajudo-a a colocar o capacete, fecho a trava de segurança e espero
que monte na garupa para irmos em outro lugar.
Acabo não indo para casa, mas fomos até um lugar tranquilo, relaxar
um pouco e perto da casa dela, assim posso deixá-la novamente na sua festa
quando estiver perto do horário do parabéns.
— Eu te amo, meu amor! — Abraço-a por trás e beijo o seu ombro.
— Obrigado por ser a pessoa que eu preciso.
Eu a amo tanto, que nunca seria capaz de acreditar que o meu
coração seria todo de alguém em tão pouco tempo.
É o clichê dos clichês, mas o tempo do amor é realmente diferente do
nosso tempo.
01 mês depois.
Desde que descobri que o Daniel é o pai do Asher, aquele que ele
havia me contado que o deixou de forma tão dolorosa, perdi toda a
admiração que tinha por ele nesses anos em que esteve próximo da minha
família.
Como é possível o mundo ser tão pequeno assim?
Eu não consegui ter clima para continuar na minha própria festa
sabendo que ele estaria chateado e sozinho depois de reencontrar o pai. E foi
melhor eu não ter ficado mesmo!
Asher desabou quando fomos para uma área de camping que fica a
uns 15 minutos de distância da casa dos meus pais. Ele simplesmente ficou
em silêncio por muito tempo, depois começou a falar várias coisas,
desabafando os seus sentimentos e, por fim, chorou.
Fiquei arrasada em vê-lo assim!
Eu o amo e o meu instinto de querer que nada de ruim lhe aconteça
ligou há muito tempo, muito antes de assumirmos qualquer sentimento.
Mas eu acho que ele precisava disso. Parecia que ele guardava todo
esse choro em seu peito por todos esses anos.
Eu só voltei para a festa porque Asher insistiu e também porque
liguei para a minha mãe e conferi se o Daniel não estava mais lá.
Pelo visto ninguém viu o que aconteceu, mas a Audrey foi conversar
com ela, explicar a situação e também se desculpar. A mulher passou o
inferno com o homem que foi um grande filho da puta e ainda foi se
desculpar pelo clima ruim que só foi criado porque ele é um babaca.
Meus pais foram incríveis, como sempre, e depois de ouvirem toda a
história que ela se dispôs a contar, chamaram o Daniel e pediram para que
ele se retirasse, por mais que tivessem uma amizade com ele há muito
tempo, não há mais como ter admiração e nem como manter uma amizade
com alguém que fez tudo aquilo.
A semana seguinte ao meu aniversário foi um pouco difícil, porque o
Asher ficou realmente mal em ter visto o pai. Dormi praticamente todos os
dias na casa dele, que fazia questão de me deixar no trabalho e de me buscar
também, e à noite ficávamos juntos.
Depois, tudo voltou ao normal, e eu amo o nosso normal, mas sei que
terá momentos em que as coisas ficarão mais complicadas. Faz parte de um
relacionamento e está tudo bem.
— Amor? — Asher entra no quarto e me chama, bem baixinho. — Já
acordou! — afirma ao me ver de olhos abertos, agarrada a um travesseiro
grande. — Trouxe para você.
Ele vem até a cama com uma bandeja de café da manhã, além de
remédio para cólica, uma bolsa térmica bem quentinha e uma toalha
também.
Minha menstruação desceu essa madrugada e eu vivi algo inédito
com ele.
Como eu já sabia que a qualquer momento a menstruação desceria,
dormi com uma blusa dele e um shortinho, além da calcinha e um absorvente
diário, que acabou vazando e sujou o short.
Ele viu quando acordou de madrugada para fazer xixi e antes de me
acordar para falar, encheu a banheira com água bem quente, do jeito que eu
gosto, pegou outro short, calcinha e até absorvente para mim lá no closet e
me levou para o banheiro, me enchendo de beijos, fazendo uma massagem
gostosa nas minhas costas e depois me deixou à vontade.
Nunca vi ninguém ser tão sensível a esse momento nosso, sempre
parece que as pessoas não se importam, porque deduzem que o fato de já
estarmos acostumadas com isso, elimina de alguma forma o desconforto e a
dor.
Como se fôssemos obrigadas a lidar bem com esse período.
— Eu já disse que te amo hoje? — digo enquanto me arrasto para
cima, ficando sentada.
Asher arruma os travesseiros nas minhas costas, me deixando o mais
confortável possível.
E quando eu achava que não tinha como melhorar, ele tira de dentro
da gaveta uma caixa cheia de chocolates. O que na mesma hora faz o meu
humor ficar um pouco melhor.
— Desmarquei um compromisso que tinha hoje, serei todo seu para
mimá-la e fazer com que o seu dia seja o mais confortável possível.
Ele senta perto dos meus pés, coloca-os em seu colo e começa a
massagear um deles.
— Asher, você não deveria estar fazendo isso!
— Por que não?
— Porque vou criar uma expectativa nas próximas vezes!
Ele aperta um ponto em meu pé que eu nem sabia que era capaz de
relaxar outras partes do corpo.
— Amor, seu útero está descamando! Isso deve doer para caralho, o
absorvente deve ser muito desconfortável, as cólicas… credo, deve ser uma
das piores coisas do mundo! — Um homem inteligente é uma coisa bem
sexy. — O mínimo que eu posso fazer, como seu namorado, é tentar tornar
esses dias um pouco menos infernais!
Deus, eu não sei o que eu fiz para merecê-lo, mas eu sou muito grata
por tê-lo.
Que homem tem essa sensibilidade?
— Te machuquei? — me pergunta, preocupado.
— Não! Por quê?
— Você está chorando, amor.
Merda de hormônios.
Eu começo a rir porque estou chorando e ele ri também.
Hoje é a inauguração da clínica oncológica infantil em que o meu pai
investiu uma parte do dinheiro que recebeu com a venda da sua porcentagem
da empresa da família do pai dele.
Quando voltamos de Dubai, eu comecei a pesquisar várias causas
nobres e carentes que poderíamos ajudar! E eram tantas que foi difícil
escolher.
Meu pai já havia começado a ajudar alguns lugares que já conhecia e
a minha mãe está totalmente empenhada no projeto dela, que é um lar para
cães e gatos que são abandonados nas ruas.
E através da Audrey, que dá aula de pintura para crianças que se
recuperam ou passam pelo tratamento de câncer, descobri o quão caro é um
tratamento e como muitas dessas crianças acabam não conseguindo concluí-
lo pelo valor absurdo. Na mesma hora eu soube que queria ajudá-las.
Pesquisei muito sobre isso, entrei em contato com alguns médicos e
também pedi ajuda ao Steven, que trabalha nessa área. Ele foi de grande
importância para que hoje a clínica seja inaugurada.
Conseguimos achar uma antiga clínica de estética que estava à
venda.
Era um lugar enorme e com um bom dinheiro investido, muita obra e
dor de cabeça, ficou perfeita e com tudo da melhor qualidade.
E o melhor de tudo… totalmente gratuita para os pacientes!
Quando eu contei para o Asher, ele disse que queria ser um dos
doadores anônimos, ficou muito emocionado e falou que chamaria o
máximo de pessoas para a inauguração, na esperança de que também
gostariam de ser doadores.
A manutenção da clínica é cara, fora todos os gastos com
funcionários, medicação… enfim, é preciso muito dinheiro para fazer com
que isso dê certo.
— A clínica está incrível! — Angelina diz, depois de ter feito um
pequeno tour por ela.
Seu ex-marido, Nichollas Hill e a esposa dele, Diana Smith, também
estão na cidade e a Angel os chamou para vir.
Eles são o tipo de casal que emana luz.
— Está mesmo, Juliana! — Nichollas diz. — Eu vi que vocês tem
um sistema de segurança bem básico, caso seja do interesse de vocês, posso
oferecer total suporte pela minha empresa.
— Isso é sério? — Ele confirma. — Eu com certeza vou aceitar.
Ele sorri e diz que deixará os dados para que eu entre em contato o
mais breve possível.
— Isso que você está fazendo é muito especial e eu espero que a sua
vida seja tão bonita quanto a sua atitude — Diana fala, com os olhos
marejados.
Entendo porque a Angel gosta dela, é um amor.
Eu agradeço e depois vou falar com as outras pessoas.
— Vovó, vovô! — Vou até os meus avós assim que eles entram, e
recebo um abraço gostoso dos dois. — Quando vocês voltaram de viagem?
— Ontem, minha linda! — Minha avó segura o meu rosto e sorri. —
Você está ainda mais linda, reluzente…
— É o amor, meu bem! — vovô diz ao lado dela. — Veja nós dois,
brilhamos até hoje, mesmo com rugas e a pele mais ressecada. — Tento
prender a risada ao ouvi-lo, mas ela escapa entre os meus lábios.
— Minha pele não está ressecada, Don. Não fale besteira!
Ele pisca para mim e eu sei que falou de propósito, só para implicar
com ela.
Eu amo os dois e admiro demais como eles também se amam e se
olham como se fosse a primeira vez que se veem.
Meus avós vão até o Asher, que virou o neto preferido deles.
Desde que comecei a me envolver com Ash, os dois estavam
viajando, mas faço chamada de vídeo com eles praticamente todos os dias e
o Asher sempre participa. E é isso o que eles mais fazem desde que se
aposentaram. Viajam pelo mundo todo, conhecem várias culturas diferentes
e depois voltam, nos contando tudo, ficam um tempo e já começam um novo
tour por outro país.
Já viajei muito com os dois, é sempre divertido e único estar com
eles.
A inauguração está sendo um sucesso e eu fico surpresa em quantas
pessoas deixaram o contato para serem doadores ou ajudarem de alguma
outra forma.
Chris e Hope irão fazer uma campanha online, tanto para divulgar a
clínica quanto para conseguir doadores. Nós sabemos como as pessoas
gostam de se envolver nessas boas ações apenas para mostrar ao mundo que
fazem tal coisa, e não nos importa qual o motivo dos doadores, desde que
eles ajudem.
O pessoal do orfanato também veio, e o escritório de advocacia
Cooper&Barbieri fará parte da lista de doadores anônimos.
Precisei segurar o choro mais vezes do que sou capaz de contar.
Estava com tanto medo quando tive a ideia desse projeto.
Papai disse que bancaria todos os gastos da clínica por um ano, para
me dar bastante tempo para conseguir os doadores, mas a verdade é que
consegui muito mais do que almejava.
E tudo isso só hoje.
— Você ajudará tantas crianças, amor… — Asher aparece ao meu
lado, com um sorriso orgulhoso no rosto. — É uma das coisas mais lindas
que você poderia fazer!
Dessa vez não consigo controlar o meu choro e ele me abraça.
Suas mãos fazem um carinho suave nas minhas costas e eu tento
controlar o meu choro antes de me afastar dele.
Asher limpa a minha maquiagem que borrou e depois me dá um
beijinho.
— Obrigada por fazer parte disso comigo!
— Eu farei parte de tudo na sua vida, amor… você é a mulher dos
meus sonhos e não existe nada capaz de me fazer não querer te apoiar em
tudo!
Eu nunca achei que um dia viveria um romance como nos livros,
sempre pensei ser algo impossível, até porque, quais as chances de Asher ter
um pouco de todos os meus mocinhos preferidos?
Mas ele tem e supera qualquer personagem que já li até hoje.
Asher é o meu mocinho da vida real, que não foi inventado por mim,
mas com certeza foi destinado a mim.
E eu o amo… o amo com uma intensidade descomunal, como
nenhum autor até hoje foi capaz de escrever em nenhuma história e como
nenhum outro ser humano seria capaz de explicar!
Parte 01 - 2 anos depois.

A despedida do Asher no final do Super Bowl foi a coisa mais


emocionante que eu já assisti.

O estádio inteiro se levantou para aplaudi-lo, até o time adversário.


Foi mais de 3 minutos das pessoas o ovacionando, e foi lindo ver como ele
ficou todo emocionado, encerrando a sua carreira da forma que sempre
sonhou.
Sou tão orgulhosa do homem que ele é, do meu homem!

E hoje, estarei realizando mais um sonho com ele.

É o nosso casamento!

Quem diria que uma conversa com um estranho aleatório no bar de


um evento, se tornaria tudo isso?
— Eu não vou conseguir ficar com a maquiagem intacta! — Madison
limpa pela vigésima vez a área embaixo dos olhos. — Preciso parar de te
olhar, não consigo!
A minha melhor amiga é uma das nossas madrinhas e não teria como
ser diferente.
Madison, Hope, Angelina, Calleb, Christopher e Jonathan são os
nossos padrinhos e as pessoas mais próximas, que convivem conosco desde
o início, que nos apoiam e torcem pela nossa felicidade.
Eu me encaro no espelho, me esforçando muito para não chorar
também.
O meu vestido é lindo e foi feito exclusivamente para mim por uma
estilista famosa na área de vestidos de casamento.
Ele tem o corpete bem justo, com o decote arredondado e as mangas
são propositalmente caídas no braço. A saia é longa, tem uma fenda grande e
vários raminhos de folhas brancas desenhadas nela pelo comprimento.
O meu cabelo está solto, bem cheio com as ondas feitas no babyliss e
um véu que vai até abaixo da minha bunda.
Não teria como ser mais perfeito do que isso.
E eu já chorei outras vezes só de olhá-lo pendurado na casa dos meus
pais desde que ficou pronto.
— Preciso ir, amiga! Os padrinhos já vão entrar — Madison diz e
vem até mim, com o queixo tremendo, querendo chorar novamente. — Eu
não poderia ser mais feliz em ser sua amiga, Julie! Sei o quanto sempre
fomos diferentes, mas você nunca se importou com isso, sempre foi a maior
companheira que eu já tive… e te ver assim, casando com o homem dos seus
sonhos, é lindo! — Ela começa a abanar o rosto. — Que saco, não consigo
fazer o discurso sem chorar. — Nós duas rimos, e eu fico olhando para cima
toda hora. — Você merece tudo de bom, o marido incrível que estará te
esperando lá embaixo e uma família enorme!
Ela me abraça com força e eu sinto que uma lágrima escorre.
— Eu te amo, amiga! Obrigada por nunca ter deixado de ser você
mesma.
Ela sopra um beijo para mim e depois sai correndo, quase se
atrasando para a entrada dela com o Calleb.
Eu nem tenho tempo de respirar porque o meu pai logo entra, e
desaba na mesma hora.
— Não estava pronto para te ver assim… — diz enquanto enxuga as
lágrimas com o lenço que estava no bolso do seu paletó. — Desculpa, vou
me recompor.
Ele respira fundo algumas vezes e depois vem até mim.
— Gostou, pai?
— Meu amor… você é a noiva mais linda de todo o mundo! Só não
conte isso para a sua mãe, por favor. — Eu acabo rindo do que ele fala. —
Como eu sou sortudo, meu Deus! Como eu sou um homem feliz por ter a
família que tenho… até o meu genro não poderia ser melhor.
Fico tão feliz com a evolução da relação do meu pai com o Asher.
Os dois, hoje em dia, são muito amigos. É bem comum eles estarem
juntos sem que nem eu ou a mamãe estejamos.
Estão sempre assistindo futebol juntos, marcando almoços, que a
cada dia vão ficando maiores por conta de tantas pessoas que chamamos, e o
melhor de tudo, eles se respeitam e se admiram.
— Você é o melhor pai do mundo! Sabe disso, não é?
— Eu tento, amor.
Sorrio e aceito o braço dele quando levanta para que eu entrelace o
meu.
— Está preparada, filha? Estão nos esperando.
Olho para ele e confirmo, mas sinto o meu coração quase explodir de
tão rápido que está batendo.
Nós saímos do meu quarto logo depois que eu pego o buquê de rosas
brancas, descemos as escadas e vamos até o jardim, onde a decoração
rústica foi montada. E nós esperamos a minha música tocar para
aparecermos no final do tapete que vai até o altar.
O pianista começa a tocar Those Eyes, de New West e eu respiro
mais uma vez antes de ir com o meu pai até onde todos estão nos esperando.
Sinto as minhas pernas perderem as forças ao ver o Asher no altar.
E na hora que ele me vê e nossos olhos se encontram, meu futuro
marido coloca as mãos na frente da boca e deixa as lágrimas escorrerem.
São lágrimas lindas, de amor, paixão… lágrimas de quem sabe que
encontrou a sua pessoa no meio de milhões de outras.
Sei que todos se viraram para me ver entrar, mas eu não consigo
desviar os meus olhos dos dele e vou devagar até o altar, sentindo o meu
coração bater mais rápido a cada passo que dou para mais perto do meu
futuro marido.
— Estou te entregando o meu maior tesouro, Ash! E sei que não
existe ninguém no mundo que eu gostaria mais que estivesse com ela do que
você!
Asher abraça o meu pai ao ouvi-lo e vejo que ambos choram
novamente.
Aproveito para deixar o buquê com a Mad.
Meu pai estende as nossas mãos juntas e deposita a minha em cima
da do Asher, que me olha com tanto amor e admiração, que eu quase fico
sem ar.
Como eu o amo…
— Você está linda, meu amor.
— Você está perfeito!
Asher está com um terno branco, feito sob medida, abraçando
perfeitamente todo o seu corpo lindo e tem uma rosa igual a do meu buquê
no bolso do seu paletó.
Ele está lindo como sempre, mas com uma energia tão gostosa e
mágica, que eu acredito que seja a tão famosa magia do casamento que
envolve os noivos em uma bolha, mesmo que tenha diversas pessoas ao
redor.
O celebrante dá início a cerimônia e eu não consigo parar de sorrir
enquanto o escuto. E assim que ele nos dá o momento de dizer os nossos
votos, sinto que vou morrer ali mesmo.
Asher e eu ficamos frente a frente, e sei que ele se sente tímido
quando é o centro das atenções. Ele respira fundo e vejo que foca em prestar
atenção só em mim, antes de começar.
— Quando eu comecei a pensar no que escrever para os votos,
percebi que partes do que eu iria falar já vinham sendo escritas de acordo
com o que vêm acontecendo em nossas vidas. — Já estou sem ar e ele mal
começou. — A vida foi complicada por muito tempo, eu me fechei e duvidei
do amor por muitos anos, estava certo de que ele não era para mim. Mas aí
eu tive a sorte de ir em um evento do qual não queria participar e te
conheci… minha vida nunca mais foi a mesma, e essa é a melhor parte disso
tudo! — Asher segura as minhas mãos e me olha fundo nos olhos. — Você
veio trazer tudo o que faltava em mim, tudo que eu nem sabia que precisava
para ser um homem realmente feliz! Você me trouxe o amor na sua forma
mais crua e bruta, e juntos, lapidamos ele para que seja a melhor coisa das
nossas vidas! — ele respira fundo de novo. — Julie, você transformou o meu
coração terrivelmente machucado, em um que bate cheio de alegria, amor e
esperança… eu te amo por isso e por tantas outras coisas que nem mesmo se
eu tentasse, conseguiria colocar em palavras.
Ele passa a mão em meu rosto com cuidado, limpando a lágrima que
escorre.
É a minha vez e eu sinto um bolo na garganta.
— Quais eram as chances de eu me apaixonar logo por um rival? —
As pessoas riem e ele também. — Mas o amor é isso, né? A gente não
escolhe e talvez venha de um jeito difícil, como se fosse um teste, para
vermos se fazemos realmente por merecer termos esse sentimento tão
incrível e mágico. Me apaixonei pela sua pureza, bondade e gentileza. E
acho que essa paixão já estava em mim desde o dia que o conheci e fiquei
sem conseguir te esquecer! Eu sabia que tinha algo diferente em você, mas
foi uma surpresa descobrir que esse “algo” era o amor… E nossa, como eu te
amo, Asher! Como você é incrível em cada coisa que faz, em cada carinho
sutil quando estamos acompanhados de outras pessoas, nos nossos
momentos a sós, em como você pensa em mim em cada coisinha que vai
fazer! Uma vez me falaram que para saber se o homem realmente vale a
pena, deveríamos observar como ele trata a mãe… — Asher chora
novamente quando falo da minha sogra. — E mais uma vez eu fui
surpreendida ao descobrir que não existe no mundo um filho que mais ama
uma mãe do que você ama a sua! Como eu não me apaixonaria? Nada seria
capaz de fazer com que eu não me apaixonasse… e eu te amo mais a cada
dia!
Asher fala um “eu te amo” sem som quando eu termino, e o
celebrante dá continuidade e chega na parte que mais esperávamos.
— E eu vos declaro, marido e mulher! Asher, pode beijar a noiva.
Nós damos o beijo mais incrível de toda a nossa vida, na frente de
pessoas que nos amam e só nos desejam coisas boas.
Quando os nossos lábios se separam, eu seguro em uma das mãos
dele e coloco em cima da minha barriga, sem conseguir conter o sorriso.
— Vo-você está grávida?
— Sim!
Asher me pega no colo com cuidado e gira comigo, fazendo todo
mundo ir à loucura enquanto grita que será pai.
É o início da nossa família e a extensão do nosso amor.
Parte 02 - 4 anos depois.
Saio do estádio do Gorillas doido para chegar em casa e ficar com a
minha família.
Há dois anos, pouco depois do meu casamento, eu comprei o
Gorillas.
O antigo dono só via o time como um investimento e por isso não
dava a atenção que merecia, sempre colocando alguém para ficar resolvendo
as coisas para ele e se metia em pouquíssimas decisões.
Só que na nossa lua de mel, acabei o encontrando e nós conversamos
um pouco. Ele lamentou a minha saída mais uma vez e falou por alto sobre o
interesse de vender o time. E ali mesmo, no Havaí, eu fiz a compra
milionária, depois de ter falado com a Julie, obviamente.
E mais uma vez tomei uma decisão que mudou a minha vida e da
minha família, mas dessa vez para melhor.
Quando voltamos das férias, também nos mudamos!
O pai da Julie nos deu de presente um terreno quando completamos
um ano juntos. Ele sabia que nós queríamos comprar uma nova casa e eu
contei para ele que a pediria em casamento em breve.
A construção da casa levou pouco mais de 15 meses, mas ficou
perfeita, do jeito que a minha esposa queria. Não me importei com nada, a
única coisa que eu pedi era que tivesse a área de esportes e um lugar
tranquilo para colocar o meu balanço.
O motorista para o carro na frente do nosso lar, eu desço e depois ele
segue para a garagem. E como hoje é sábado e não pretendo sair, eu o libero
das suas funções e deixo que tenha o resto do dia de folga.
— PAAAAAAAI! — Sean vem correndo na minha direção assim
que eu entro em casa. — Esse é o seu presente! — Ele me dá uma folha com
vários desenhos que eu não consigo entender, mas que no instante que olho,
acho tudo lindo.
Eu o pego no colo e recebo um abraço gostoso que quase me enforca.
— Obrigado, filho! — Beijo a sua testa.
— Eu preciso te dar parabéns toda vez que te ver hoje, ou só de
manhã serve?
Eu rio da sua curiosidade e sinto vontade de esmagá-lo de tão fofo
que ele é.
— Só de manhã está bom!
Vou com ele para os fundos da casa, onde imagino que a Julie est…
— SURPRESA! — Levo um susto ao ouvir várias pessoas gritando
na mesma hora, e a risadinha do Sean no meu ouvido me faz rir também.
O quintal está cheio de convidados para essa festa surpresa que eu
realmente nem desconfiei e também a minha linda esposa, segurando o
Landon, nosso mais recente filho.
Adotamos o Landon há 3 meses.
Ele tem dois anos, foi abandonado na frente da nossa clínica e o
levamos na Open Arms, mas já era tarde demais, as horas que ficamos com
ele foram o suficiente para nos apaixonarmos e o adotamos.
Sean ficou tão apaixonado quanto nós e é lindo ver como ele o
recebeu muito bem.
As pessoas começam a vir falar comigo, me dão presentes e o Sean
faz questão de pegar todos e correr até a sala para guardar. Ele repete isso
várias vezes e ainda continua cheio de energia para repetir outras mais.
— Parabéns, irmão! — Gregory me entrega uma sacola, que o Sean
pega imediatamente e me abraça. — O Robin já está na piscina, mas em
algum momento ele vem falar com você.
— Obrigado, Greg. Fico feliz que tenha vindo.
Depois do péssimo encontro com o Daniel, o Greg me procurou para
conversarmos. Eu contei toda a história para ele, que ficou horrorizado com
tudo o que aconteceu. E ele também me contou como o Daniel parou em sua
vida.
Daniel se casou com a mãe dele, que infelizmente veio a falecer há
alguns anos. E me disse que a relação de pai e filho dos dois naturalmente
foi fluindo, por isso ele ficou tão apavorado ao saber que o Daniel nos
abandonou.
Robin e ele, que é meu irmão de sangue mesmo, ainda tem uma boa
relação com ele e eu respeito isso, nossas histórias são diferentes e eles não
precisavam tomar as minhas dores, até porque, pelo que me contou, Daniel é
um ótimo pai para eles.
Porém, eu preferi deixar a nossa como sempre esteve, sem tê-lo em
minha vida.
Mas com o Greg e o Robin foi diferente, criamos uma ligação muito
rápida e não tínhamos o porquê não mantermos contato. Aos poucos ficamos
muito próximos, e agora ele também é padrinho do Landon.
Tento falar com todo mundo e por fim vou até a minha esposa.
Acho que eu nunca vou me acostumar em como sou sortudo.
Ela está ainda mais radiante nos últimos dias, nem sei como isso é
possível.
— Gostou da surpresa, amor? — me pergunta, envolvendo os braços
em meus ombros e me dando um beijo.
— Eu amo tudo o que você faz, amor.
Ela sorri e me dá mais um beijo.
— Então vai amar muito mais o que eu preparei para a nossa noite…
Chris se ofereceu para ficar com o Sean e o Don, a Claire adora eles. E eu
preciso que você seja só meu!
— Não me faça ficar de pau duro na frente de todos, amor… —
sussurro e ela ri alto.
— Eu tenho outra surpresa também, que queria te contar mais tarde,
mas não vou conseguir me segurar.
Ela entrelaça os dedos aos meus e vai me puxando para longe das
pessoas, e paramos só quando chegamos no balanço.
Em cima dele tem uma caixa.
Eu me sento, coloco-a no meu colo e a abro devagar.
Dentro dela tem uma roupinha de bebê toda rosinha e uma chupeta
ao lado.
— Não brinca com isso, amor… — falo, sentindo a minha voz sair
com dificuldade. — É sério? Estamos grávidos de novo?
Ela faz que sim com a cabeça e os olhos transbordam algumas
lágrimas.
— Eu já estava desconfiada! Ontem fui à clínica com a sua mãe…
estou entrando no quinto mês da gestação… em algum momento a barriga
vai aparecer.
Puxo-a para perto de mim e beijo a sua barriga várias vezes.
Julie estava reclamando muito que algumas roupas estavam
apertadas, que estava se sentindo inchada, mas para mim ela só estava ainda
mais gostosa, perfeita demais. Nem havia pensado na possibilidade de estar
grávida de novo.
— Você sempre consegue me fazer ainda mais feliz do que eu já sou,
meu amor.
Abro as pernas e deixo que sente em uma das minhas coxas, passo o
braço ao redor do seu corpo e a beijo.
— Acho que teremos uma família bem grande!
Concordo.
— Quantos filhos você quiser, eu também quero.
Ela pensa um pouco e depois me olha de um jeito engraçado.
— Talvez mais uns… três ou quatro?
Eu rio e a beijo, sem conseguir conter a felicidade da notícia de que
seremos pais novamente.
— Mais quatro parece ser bem interessante!
Sean aparece correndo e pula em cima do meu colo também,
perguntando se pode entrar na piscina e volta correndo ainda mais rápido
quando a gente diz que sim.
— Talvez tenhamos mais um running back na família.
— Basta saber se ele entrará no time do pai ou do avô! — comento.
Nós dois nos levantamos para voltar para a festa.
— Vamos deixar esse problema para o futuro! — ela brinca e fica na
ponta dos pés para dar um beijo em meu rosto.
Pego o Don do colo da Mad assim que chego até onde eles estão, e
ele solta uma gargalhada alta quando o coloco em cima dos meus ombros.
Vai ser interessante ver a Madison e a Julie grávidas ao mesmo
tempo.
Deus ajude a mim e ao marido dela!
Minha esposa me abraça de lado quando eu coloco o Don no chão
para brincar perto de onde estamos, e eu olho como a minha casa está cheia e
repleta de pessoas que eu realmente gosto.
Deus é bom demais comigo.
Eu definitivamente sou o homem mais feliz desse mundo!
Finalizamos mais uma história juntos! E eu espero que a experiência
tenha sido ao menos divertida. Já vou pedir que não esqueça de avaliar na
Amazon e no Skoob, isso me ajuda muito e faz com que os meus livros
cheguem em mais pessoas!

Sua opinião é muito importante para mim e eu estou aberta a ouvi-la,


caso encontre algum erro gramatical ou algo que de alguma forma tenha
soado ofensivo. Todos somos passíveis de erros, mas estou sempre em busca
de corrigi-los para não se repetirem. Fique à vontade para falar comigo no
meu Instagram.
Que alegria ter você comigo até aqui, onde eu tiro um tempinho para
expressar minimamente a minha gratidão por pessoas que de alguma
maneira foram importantes para mim e também para a conclusão desse livro.
Vou começar agradecendo a você, leitor, que deu mais uma chance para
um livro meu e eu espero de coração ter suprido a sua expectativa. Mas caso
isso não tenha acontecido, tudo bem, faz parte. Ainda assim, sou grata a
vocês por terem lido uma obra minha.
Um agradecimento mega especial a Evelyn Fernandes, que é a minha
melhor amiga, beta, revisora e mais um monte de outras coisas, inclusive a
primeira pessoa que não me deixa desistir quando tudo está um caos.
Obrigada por ser quem é, amiga! Eu te amo!
Agradeço imensamente as minhas betas que ficaram até os 45 do
segundo tempo lendo o livro e me apontando coisas que poderiam melhorar!
Rawany e Isadora, vocês foram sensacionais, como sempre, e eu nunca
conseguirei ser grata o suficiente por tudo que fazem por mim.
Quero agradecer a mim também, acho que eu nunca tirei um tempinho
para fazer isso. Mesmo diante de dores diárias, mil coisas para resolver no
meu dia a dia e uma voz no fundo da minha cabeça que sempre quer me
fazer desistir, eu sigo aqui, tentando sempre evoluir profissionalmente, para
trazer bons livros a vocês.
Mais um livro concluído com muito trabalho, dedicação e desespero!
Espero reencontrá-los em uma próxima obra.
Um grande beijo.
K.A PEIXOTO!
Para Sempre Minha: A Redenção do CEO - (Livro único).
Sinopse
CHEFE X FUNCIONÁRIA + FAST BURN + AGE GAP + GRUMPY
X SUNSHINE.

Marcus Castelo é fundador e CEO da Imobiliária Castelo.

Ele é um homem fechado, sério e de poucos amigos. Depois de ter


passado por coisas muito difíceis, ele não se acha mais digno e nem
merecedor do amor das pessoas ao seu redor.

Frequentador assíduo de um clube de swing, ele se vê interessado demais


em uma mulher que ficou e se foi logo depois, sem dar chances para que ele
a conhecesse.

O que ele jamais imaginaria, é que a morena que ficou rondando os seus
pensamentos, é a sua nova estagiária.

Gabriela Paranhos acabou de fazer 20 anos e conseguiu o estágio dos


sonhos na maior e melhor imobiliária do Rio de Janeiro. Para comemorar,
foi ao clube de swing com a sua amiga e se envolveu com um homem que a
fez sentir coisas jamais experienciadas.

Sua primeira semana no trabalho novo é empolgante ao mesmo tempo


que é tensa, porque ela não entende a razão do seu chefe não gostar dela sem
motivo algum. E é quando ela volta à casa de swing e o encontra lá, que
descobre o porquê das atitudes dele.

O tesão entre os dois falará mais alto que a razão, e eles se verão em
situações difíceis sem conseguir separar o pessoal do profissional.
Série Gorillas - Livro 01
Sinopse
Comédia Romântica + Enemies to lovers + Vizinhos + Quarterback
x Fisioterapeuta + Slow burn

Hope Donavan tem 25 anos e é fisioterapeuta. Há pouco tempo recebeu


diversas propostas dos maiores times de futebol americano, depois da sua
clínica e seu trabalho ganharem relevância no mercado esportivo.

Christopher Galanis é o quarterback do Gorillas, um dos maiores times


da NFL. O QB é muito conhecido fora do campo por sua vida íntima estar
sempre envolvida em polêmicas e exposta em todos os veículos de notícias.

Os dois são vizinhos há dois anos e não se gostam.

Hope reclama que ele sempre faz festas barulhentas demais, tirando a
sua paz. E ele acha que ela reclama sem necessidade, apenas para atrapalhar
a sua vida.

Mas agora ela foi contratada pelo Gorillas e os dois trabalharão lado a
lado, tendo que suportar a presença um do outro todos os dias.

E para piorar o que já era ruim, uma foto comprometedora dos dois é
divulgada e eles precisam fingir que estão namorando para que suas
carreiras não sejam arruinadas.
Trilogia Opostos - Livro 01
Sinopse
Stranger to lovers + Found Family + Fast Burn
Noah Cooper é um advogado concorrido em Manhattan que virou o
queridinho das famosas. Por mais que ele lide com celebridades, sempre
tenta ter o mínimo possível de contato com a mídia e é extremamente
reservado.
Por conta do seu passado, ele vive para o trabalho e não quer um
relacionamento amoroso.
Kathllen Ibrahim é modelo e digital influencer muito famosa, tem a
vida dos sonhos, ama a mídia e a atenção que tem dos seus fãs. Ficou
extremamente conhecida depois de ter participado de um Reality Show e
por causa do seu noivado com um cantor mundialmente reconhecido.
O caminho dos dois se cruzam quando uma história sobre Kath cai
na boca do povo e isso afunda a sua carreira. Ela procura por muitos
advogados até que finalmente conhece Noah, que aceita ajudá-la.
O que era para ser totalmente profissional começa a tomar outro
rumo, mas eles estão em lados opostos nas preferências da vida e carreira.
Essas questões e outras pessoas aparecerão para mostrar a eles que não será
fácil ficarem juntos.
Instagram: @autorakapeixoto
Amazon: K.A. PEIXOTO

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