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ATENÇÃO!

Nosso grupo traduz voluntariamente livros sem previsão de lançamento no Brasil com o
intuito de levar reconhecimento às obras para que futuramente sejam publicadas. O Tea &
Honey Books não aceita doações de nenhum tipo e proíbe que suas traduções sejam
vendidas. Também deixamos claro que, caso os livros sejam comprados por editoras no
Brasil, retiraremos de todos os nossos canais e proibiremos a circulação através de gds e
grupos, descumprindo, bloquearemos o responsável. Nosso intuito é que os livros sejam
reconhecidos no Brasil e fazer com que leitores que nunca comprariam as obras em inglês
passem a conhecer. Nunca diga que leu o livro em português, alguns autores (e eles estão
certos) não entendem o motivo de fazermos isso e o grupo pode ser prejudicado. Não
distribua os livros em grupos abertos ou blogs. Além disso, nós do grupo sempre
procuramos adquirir as obras dos autores que traduzimos e também reforçamos a
importância de apoiá-los, se você tem condições, por favor adquira as obras também.
Todos os créditos aos autores e editoras.
AVISO DE CONTEÚDO
POR THB

Tropes do livro:

☑ amor à primeira vista


☑ apenas uma cama
☑ caso de uma noite
☑ gravidez inesperada
☑ os opostos se atraem

Este conteúdo inclui representações de insegurança, personagens


enfrentando luto, hemorragia, quedas de pessoa grávida e variações
emocionais hormonais, além de conter cenas sexuais explícitas que
podem não ser adequadas para todos os públicos.

Por favor, considere estes elementos ao prosseguir com a leitura.


TABELA DE CONTEÚDOS

Página de título
Dedicatória
Playlist
Nota da autora
Epígrafe
I.
Capítulo um
Capítulo dois
II.
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
III.
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Capítulo trinta e quatro
Capítulo trinta e cinco
Capítulo trinta e seis
Epílogo
Epílogo bônus
Nota da autora
Agradecimentos
Sobre a autora
Dedicatória

Esta história vai para qualquer um que tente caminhar entre a


maternidade e a mulher, a sanidade e a luta. A maternidade é difícil,
então vamos estragar tudo e encontrar o final feliz que você merece.
Playlist

Encontre esta lista de reprodução aprovada por Tessie e Solomon no


Spotify!

Hotel Key | Old Dominion


Morgan Wallen | Sand in My Boots
Some Nights | Fun.
Stars | Grace Potter and the Nocturnals
At the Beach | The Avett Brothers
I Saw the Light | Hank Williams
Galway Girl | Steve Earl
Water Me | Lizzo
Waves | Luke Bryan
Toes | Zac Brown Band
Girl from the North Country | Bob Dylan & Johnny Cash
C Sections and Railway Trestles | The Avett Brothers
The Mother | Brandi Carlile
Nota da autora

Psst.
A próxima página contém avisos de gatilho.
Pule se quiser evitar conteúdo com spoilers.
Uma nota de Ava

Caro leitor,

Este livro contém uma cena descritiva de parto traumático, bem


como breves referências à morte passada de um cônjuge por
acidente e à morte passada de um dos pais por câncer.

Se você é sensível a assuntos como esses, use este aviso para tomar
uma decisão informada sobre prosseguir com a história.

Mas eu sempre prometo um final feliz e um homem da montanha


rosnando.

Com grande amor e todos os bons desejos,


Ava
ba·by·moon

bābēˌmo͞ on/
substantivo
INFORMAL
1. uma viagem relaxante ou romântica realizada por futuros pais
pouco antes do nascimento do seu bebê.
“na véspera do terceiro trimestre, dois estranhos ficam juntos entre
as palmeiras sussurrantes do México por uma torturante semana de
babymoon.”
um período crítico de tempo após o parto, no qual os novos pais
vivem à base de loucura e cafeína enquanto estabelecem um vínculo
com seu recém-nascido.
“uma babymoon é considerada um momento especial para a mãe e
o pai se apaixonarem pelo seu bebê... e um pelo outro.”
Capítulo um

Se anime, se solte, transe.


Tessie Truelove vive para riscar todos e cada um dos itens
delineados em sua agenda cuidadosamente planejada – três tarefas
prioritárias por dia. Mas esse pedido específico não entra na lista.
Por mais que ela queira.
Tess fecha seu plannerna extensa lista de afazeres de amanhã.
Exalando um suspiro determinado, ela gira em seu banco de bar
para examinar o bar sujo do Tennessee que os locais chamam de
Orelha do Urso. Ela pode apreciar um lugar simples. Caramba, ela
cresceu em um lugar assim. Bares desse tipo podem dar lições sobre
padrões ousados e pensamento fora da caixa. Automaticamente, sua
mente se volta para embelezar o espaço rabugento. Ela não pode
evitar. Está enraizado. As paredes poderiam usar uma nova camada
de tinta. Ela se livraria das galhadas. Pequenos animais de carga
peludos. Tiraria o refrigerador de cerveja de madeira. Adicionaria
cabines pretas de ferradura para linhas suaves. Manteria a música
alta. Country descontraído com um ritmo.
Locais e turistas pedem cervejas e cabines. Uma despedida de
solteiro, os homens tomando doses com exuberância masculina,
urram no canto. Um cantor na jukebox canta sobre uísque e a forma
como sua ex-mulher o encheu de chumbo duas vezes em cinquenta
e três. Tessie olha para a placa atrás do bar que proclama o Orelha
do Urso como um destino imperdível.
Bebida.
Ela precisa de uma bebida.
E talvez uma vacina antitetânica.
Empurrando-se em seu banquinho, ela levanta a mão para o
barman.
— Com licença. Você tem uma carta de vinhos?
Ele franze a testa, puxando rascunhos com abandono
imprudente.
— Cerveja ou licor, loirinha. Isso é tudo o que estamos servindo.
Ela mantém seu olhar duro.
— O nome é Tess, e o seu?
Ele suspira.
Ela pressiona as palmas das mãos em uma pose de oração.
— Eu realmente preciso de uma taça de vinho.
Outro suspiro.
— Tequila serve?
Inalando uma respiração, pronta para divagar, pronta para
trabalhar sua melhor mágica sem sentido, ela se inclina sobre o bar
e trava os olhos com o homem.
— Escute, eu não trabalhei dezessete horas por dia e me perdi
nessas estradas vicinais empoeiradas para tomar doses de tequila
em um bar com calendários questionáveis na parede e uma jukebox
de estilhaçar tímpanos. Sem ofensa. Depois do dia que tive, mereço
uma taça de vinho.
A mandíbula do barman se contrai.
— Por favor. — Ela levanta o queixo. Estreita o olhar.
Ele para. Limpa o trapo no balcão. Inclina a cabeça. Então um
suspiro de derrota.
— Tinto ou branco?
Ela sorri.
— Branco, por favor. Com gelo.
Seu lábio se curva.
— Não force.
Ele enfia uma mão no antigo refrigerador e tateia até encontrar
uma garrafa empoeirada. O vinho é translúcido, branco com tons de
pêssego. Ela não precisa pegar seu livro Pantone da bolsa para
saber que cor atribuiria à bebida.
Amostra 9180.
Ela vive de acordo com as cores Pantone. Elas são uma ordem
agradável. Quadrados arrumados que dizem a uma pessoa
exatamente o que esperar. Sem surpresas; sem caos.
Tess pula quando o bartender bate a garrafa de vinho na mesa
do bar na sua frente com um golpe duro de desaprovação.
— Obriga…
Tess está no meio da frase quando ele corre para clientes mais
grosseiros. Pelo menos ele deixou a garrafa para ela.
— Da — ela murmura, evitando a etiqueta e apoiando os dois
cotovelos na superfície envernizada à sua frente antes de deixar cair
o rosto nas mãos.
Até o barman a odeia. E por que não? Ela é terrível.
Terrível Tess.
Ela franze a testa. Porra de Atlas. Foi ele quem deu a ela o
apelido horrível depois de todo o desastre da parede acarpetada
anos atrás.
Normalmente, ela se contenta em usar o apelido de Terrível Tess
porque isso significa que ela faz o trabalho para seus clientes. E ao
invés de seus estagiários, ela assume a ira de Atlas.
Mas esta noite, isso significa que ela está comemorando.
Sozinha.
Como de costume.
Reunindo otimismo, Tess fecha os olhos e respira fundo, fazendo
o possível para se concentrar em sua grande conquista do dia.
O recém-inaugurado Gray & Grace Hotel em Nashville é o
destaque de seu portfólio. Uma popular cantora country abriu um
bar na Broadway e a escolheu como designer-chefe. Um projeto de
dois anos finalmente concluído. Se isso não garantir sua promoção
na Atlas Rose Interiors – uma empresa de design de interiores de
renome internacional – nada o fará.
Após a grande revelação e a apresentação do cliente, Tess se
ofereceu para comprar uma rodada de doses para sua equipe de
design júnior.
Eles olharam para ela como se ela estivesse louca.
— Tenha uma vida, senhora — um dos estagiários resmungou
antes que o grupo deles se afastasse.
Ela abriu a boca para dizer:
— Eu tenho uma vida — então, abruptamente, ela a fechou.
Sven, o estagiário, estava certo. Ela não tem vida. Ela tem um
emprego e um chefe zangado e seus quadros de humor e fichas
Pantone. Ela tem seus discos e um banho de espuma e uma taça de
vinho quando encontra tempo.
Quem poderia culpá-los?
Quem iria querer sair com ela depois de ela latir ordens o dia
todo?
Ela mal quer sair consigo mesma.
Foi aquela constatação de torcer o coração e dar um tapa no
rosto que a deixou em espiral. Isso a fez pegar as chaves do carro
alugado, pisar no acelerador e dirigir. Apenas dirija. Longe da cidade
e em estradas secundárias poeirentas.
Em busca de um alívio. Um segundo para ser a Tess não tão
rígida, tão não terrível como ela se tornou.
E ela encontrou um bar onde não precisa ser ela mesma. Uma
cidade onde ninguém a conhece. Uma noite em que não precisa se
esconder atrás de sua fachada profissional. Onde ninguém a
chamará de terrível.
Talvez as palavras sábias de sua prima Ash – se anime, se solte,
transe – sejam dignas de consideração.
Porque amanhã, ela volta para a corrida desenfreada que é Los
Angeles.
Amanhã, ela será a Terrível Tess mais uma vez.
Ela examina suas unhas com pontas douradas e esvazia o resto
de seu vinho. Enche o copo com uma generosa dose.
Ela ama o seu trabalho.
Mas por uma noite, ela quer esquecer.
Cometer erros.
Se divertir.
Tessie nunca esperou colocar toda a sua vida em um emprego.
Mas aqui está ela, com trinta e dois anos, e é exatamente o que fez
– é no que ela é boa. Dormindo sozinha. Trabalhando dezesseis
horas por dia. Mantendo conhecidos, não amigos. Passando todo o
seu tempo em showrooms, carregando pesados contêineres de
amostras de azulejos e tecidos, se esforçando para agradar seus
clientes. Arrancando as partes mais bonitas de casas antigas para
dar lugar a pisos cinzentos e planos de conceito aberto chatos e
iguais. Beijando o traseiro de Atlas e renovando sua receita de Xanax
em busca de uma chance de se tornar uma designer sênior.
Ela toma um gole de vinho.
Deus a ajude, se o hotel que ela projetou sozinha não conquistar
a conta Penny Pain, ela se jogará no rio Cumberland. Ela flutuará de
volta para LA, sua maquiagem perfeita arruinada. Um cadáver lindo,
mas um cadáver morto, desempregado e inchado, mesmo assim.
Mesmo assim.
Seu trabalho pode não amá-la de volta, mas não quebra o seu
coração.
O trabalho é a sua vida. Porque Tessie pode contar nos dedos de
uma mão o número de pessoas que a deixaram. E se ela dobrasse
todos esses dedos, faria um punho. E punhos machucam muito.
Seu próprio dinheiro. Sua própria vida.
Indestrutível.
Exceto hoje à noite.
Hoje à noite, talvez ela pudesse se permitir um pouco de
destruição.
Empolgação. Aquela eletricidade familiar percorre sua alma. A
antiga Tessie ressurge. A garota destemida que serviu mesas por
dois anos para sobreviver depois da faculdade, que caçava discos
antigos e frascos de remédio em lojas de antiguidades quando
começou a montar casas modelo. Não a Terrível Tess, que grita com
os estagiários quando esquecem de afofar as almofadas antes de
uma visita do cliente.
Tessie revira os olhos com os ruídos semelhantes a macacos
vindos da despedida de solteiro, depois olha para si mesma. Ela não
está no clima do bar o suficiente.
Ela tira o blazer, deixando-a com uma regata de seda preta e as
calças jeans rasgadas que colocou antes de sair para a noite. Um
rápido movimento de pulso, e ela solta seus cabelos dourados,
colocando o grampo de cabelo francês ao lado de sua taça de vinho.
Liberdade.
Ela observa a bebida em sua mão.
E álcool.
Se Ash estivesse aqui, ela daria um tapa rápido na bunda de
Tessie, e ela repetiria as ordens que lhe deu antes de embarcar no
voo em LAX.
Se anime, se solte, transe.
Tess morde o lábio inferior.
A ideia é tentadora. Há quanto tempo ela não se diverte na
cama? Pelo menos desde que conceitos de plano aberto se tornaram
uma coisa.
Mas antes que possa desistir da ideia, uma risada estrondosa
desvia seus pensamentos. Inclinando-se para a frente, Tessie olha
ao longo do balcão do bar. Seis lugares adiante, um homem com
cabelos loiros e arenosos ri como uma hiena, e ao lado dele...
Seus olhos se fixam no grandalhão sentado rigidamente em um
banco de bar. Seu rosto robusto parece dolorido, e ele olha para o
espaço com um olhar carrancudo, como se desejasse uma saída,
parecendo tão desconfortável quanto ela se sente.
Mas, além disso, ele é... gostoso.
Malditamente gostoso.
Ela estreita o olhar. Se concentra. Aprecia.
Seu cérebro entra em curto-circuito enquanto ela o observa. Ele
é alto, mesmo inclinado sobre o balcão do bar, seu corpo é
musculoso e amplo. Ele usa uma camisa xadrez preta, botas de
lenhador pretas e jeans desgastados. Seu cabelo preto está
bagunçado de forma insolente, mais comprido na frente e aparado
atrás. As mangas de sua camisa xadrez estão arregaçadas até os
cotovelos, expondo antebraços maciços, cobertos de pelos escuros e
tatuagens violentamente coloridas.
Enquanto ele balança a cabeça para seu amigo, ele marca o
ritmo da música country com os dedos.
Tessie se derrete por inteiro.
Sua mãe iria gostar dele.
Ela franze a testa para o pensamento intrusivo.
E então ela ri, lembrando do bar simples onde sua mãe
trabalhava.
Ela sentaria naquela cabine suja, suas pernas penduradas
enquanto fazia a lição de casa. Sua mãe limpava as mesas e servia
cerveja, cantando junto com o jukebox sobre vaqueiros em lugares
distantes. Ela trouxe um toca-discos para casa, para que pudessem
ouvir seus próprios vaqueiros em vinil. Tarde da noite, elas se
sentavam ao lado do toca-discos, e sua mãe puxava álbum após
álbum. Ela conhecia todos eles: George Jones. Waylon Jennings.
Merle Haggard. Hank Williams.Vaqueiros da velha guarda.
Mas esse homem. Ele não é um vaqueiro.
Ela o examina minuciosamente. A barba. Bem cortada, aparada.
Como um verdadeiro homem das montanhas. Áspero. Robusto. Ela
aposta que ele é do tipo que trabalha com as mãos. Que tem as
pontas dos dedos calejadas, mas um toque suave. E beija como um
sonho.
Uma fantasia.
Levantando o copo aos lábios, ela esvazia seu vinho. Ela poderia
se permitir uma fantasia.
Como é a voz dele?
Um trovão ronronante? Como uma lixa? Ela estremece com o
pensamento.
A música, o vinho, a visão do homem das montanhas fazem
Tessie relaxar, pronta para a diversão, pronta para dançar. Girar
como uma tola em seu banco de bar com a batida pulsante do rock
caipira que ecoa pelo bar.
Tudo dentro dela está brilhante e vibrante. Uma onda de
emoções. Ela não quer jogar pelo seguro. Apenas por uma noite.
Com um sorriso nos lábios, ela olha para o jukebox com
apreciação.
Ela pode fazer isso. Ela pode dançar. Se tornar uma mulher
selvagem na pista de dança. Ninguém a conhece aqui. O que é que
pode dar errado?
Ela esvazia sua taça.
Se anime.
Ela sorri enquanto tira seus sapatos vermelhos de sola vermelha.
Se solte.
Capítulo dois

A esposa morta de Solomon Wilder estava dizendo para ele transar.


Claro como o dia, a voz de Serena ressoa em sua mente. Após
sete anos, talvez ele não se lembre de cada ângulo bonito do rosto
dela ou do profundo tom de cobalto de suas íris, mas sua voz firme
nunca o deixou. Sempre incentivando quando ele precisa de um bom
empurrão. Instigando-o a seguir em frente. Mesmo quando ele não
quer.
— Você está assustando as garotas, Sol. — Um baixo sotaque
arrastado soa em seu ouvido. — Você está com essa carranca no
rosto, cara.
Ele resmunga quando Howler bate a mão em seu ombro. Seu
melhor amigo se aproxima, balançando as sobrancelhas lascivas.
— Se solte um pouco.
Torcendo a aliança de casamento na junta cicatrizada, Solomon
diz:
— Deveríamos estar fazendo pesquisas — Ele leva uma garrafa
âmbar aos lábios. Bebe. — Olhar para garotas não conta como
pesquisa.
Howler geme alto o suficiente para ser ouvido sobre a música.
— Por que você está assim? Eu finalmente tirei você de casa e
você me deixa voando sozinho aqui.
Solomon passa a mão no rosto. Seu amigo teve muita coragem
de pedir para ele deixar sua cabana, seu cachorro e sua montanha.
Convencê-lo a fazer um voo de oito horas para Nashville quando ele
não sai de sua pequena cidade de Chinook, no Alasca, há quinze
anos.
Reconhecimento,Howler o chamou.
Para o bar deles, decadente e arruinado.
Ninho do Howler.
Acomodado em um antigo silo, a dupla abriu o estabelecimento
quando estavam no início dos seus vinte anos. O bar parecia simples
por fora, mas por dentro, era diferente de qualquer outro lugar em
sua pequena cidade de Chinook. Comida e bebida de alta qualidade
para os locais. Ambos queriam demonstrar sua criatividade à
suamaneira. Howler fazia coquetéis artesanais. Solomon criava
comida de pub com ingredientes locais. E eles prosperaram... até
Serena falecer.
Originalmente, eles o tinham planejado como um ponto de
encontro para os moradores locais, mas uma vez que Howler
começou a comandar o bar e a experimentar coquetéis, os turistas
começaram a aparecer em massa. Chamavam-no de o segredo mais
bem guardado do Alasca.
Então, seis meses atrás, um famoso cantor country de Nashville
colocou Ninho do Howler no mapa. Ele ficou preso após um
concerto, e, quando voltou para casa, declarou à revista Food &
Wine que o bar tinha o melhor coquetel que já provou.
A atenção que receberam desde então só trouxe caos.
Transformou Ninho do Howler em um destino disputado pelas
pessoas. Elas pegam voos de Anchorage apenas para experimentar
o coquetel exclusivo, o Redheaded Stepchild. Isso fez Howler
acumular estoque para não ficar sem.
Após uma tempestade de neve danificar o telhado no ano
anterior, seu melhor amigo agarrou a chance de finalmente dar a
Ninho do Howler a tão necessária reforma.
É aí que entra essa viagem a Nashville. Procurando bares como
inspiração para sua própria reforma. O bar Orelha do Urso é uma
parada à beira da estrada conhecida por suas cervejas artesanais e
hambúrgueres.
Claro, Solomon esteve fora do ramo de restaurantes por um
tempo, mas deixar seu bar quebrar e queimar não era uma opção.
Mesmo que seja por isso que o bar tenha caído em desuso em
primeiro lugar.
Porque ele não estava lá. A história de sua maldita vida.
Howler solta um suspiro atormentado, quicando na banqueta.
— Você está me matando, cara. Eu tiro você da montanha pela
primeira vez em anos, e tudo o que você faz é ficar com esse olhar
furioso.
Solomon cruza os braços.
— Também fico com cara feia em Chinook.
— E eu não sei? — Howler acena para o prato de rolinhos entre
eles. — O que você achou da comida?
— Ótima.
— Não é a sua. — Ele circula um dedo, sinalizando para mais
duas doses de uísque. — Você está me fazendo um favor por estar
aqui. Podemos anotar isso como uma despesa comercial; um ex-chef
mal-humorado que precisa se divertir. — Empurrando o balcão, ele
se inclina para trás e examina a sala. — Que tal ela?
Sem virar a cabeça, Solomon diz:
— Não.
— Ela?
— Howler.
— Escute, eu sei que suas habilidades de flerte estão
enferrujadas…
Solomon pega seu uísque e o leva aos lábios.
— Morta e enterrada.
— Esta é uma excursão, uma celebração. O último chance do seu
pau. — Abaixando sua voz ensolarada, Howler se inclina. — Cara.
Você já evitou o suficiente.
Sim. Ele evitou o suficiente.
Ele passou os primeiros anos descobrindo quem ele era sem ela.
Agora, o que costumava ser amor é dever. Culpa. Obrigação. Uma
teimosia rabugenta de colocar Serena em primeiro lugar na morte,
porque não o fez em vida.
— Serena entenderia — diz Howler.
Ele range os molares e traça o grão de madeira do tampo do
balcão. Ele não veio aqui para uma transa rápida.
Ele está aqui para fazer pesquisas, para ajudar seu melhor amigo
a reconstruir o bar e depois voltar para Chinook.
— Que tal Cachinhos Dourados?
Com um grunhido, Solomon entorna seu uísque e olha para o
amigo, pronto para dizer-lhe para calar a boca, que eles estiveram
aqui a noite toda, que eles têm um dia amanhã. Mas o sorriso de
lobo no rosto de Howler o faz girar em seu banquinho.
Lá, no meio do bar, estava uma garota solitária que fez da pista
seu clube de dança pessoal.
Ele não pode deixar de olhar. Dançando ao som de George Strait,
ela não tinha ritmo. Ela batia palmas fora do ritmo, mas ainda assim,
ela estava balançando os quadris, balançando seus longos cabelos
loiros e rindo como uma linda dança selvagem.
Malditamente linda.
Sua boca fica seca. Parece que ele acabou de encontrar ouro. A
menina também parece.
Jogando a cabeça para trás, Howler cacareja e esfrega as mãos.
— Ela é uma piada.
— Não ria — Solomon ordena e olha para o amigo. — Ela está se
divertindo. Deixe ela. — A garota está em sintonia com a música,
balançando com abandono despreocupado. Taça de vidro na mão,
vinho espirrando sobre a borda e no chão, alheia às sobrancelhas
levantadas dirigidas a ela.
Ela não é alta, mas essas pernas. E aqueles malditos olhos.
Grandes, castanhos e contornados por uma franja de cílios longos e
escuros.
Ela está descalça, indiferente às tábuas empoeiradas abaixo dela,
à cerveja derramada, aos amendoins esmagados. Sua blusa preta
afunda, expondo a curva de seus seios. Seus jeans rasgados estão
praticamente pintados, mostrando sua bunda perfeitamente. Ela é
bronzeada, provavelmente uma turista. Mas de uma beleza maldita.
Ela é magnética, atraindo seu olhar e mantendo-o cativo. Ele não
olhava para uma mulher assim desde Serena. O rosto de sua esposa
é um borrão. Mas esta menina não é. Há algo sobre ela. Uma
atração divertida, sedutora e despreocupada que o deixa ansioso
para conhecê-la.
Mulheres. Interação. Além de sua mãe e irmãs, já se passaram
sete longos anos.
A voz de Serena sussurra: Está na hora, Solomon. Mexa sua
bunda, seu tolo barbudo.
Mas antes que ele possa se levantar, um garoto bonito da
despedida de solteiro no canto caminha em direção à garota.
Solomon o rastreia como um tubarão. Ele conhece esse olhar. Gola
estourada. Escárnio de lobo. À espreita. Ele está assustado o
suficiente com perdedores farejando suas irmãs para saber que esse
garoto só está interessado em tirar vantagem dela.
Em seguida, para os amigos, o solteiro faz um gesto obsceno
para o traseiro da moça. Sem tocá-la, ele traça sua figura com as
palmas das mãos, finge segurar seus quadris e depois empurra sua
virilha em sua direção.
Solomon suga uma respiração afiada, seu sangue fervendo. Seus
dedos se curvam em volta do copo de uísque e os nós dos dedos
ficam brancos.
— Calma, cara. — Howler geme.
Ele escorrega do banquinho.
Enterrando o rosto nas mãos, Howler gira em seu banquinho
para ficar de frente para o bar. Se os punhos voarem, ele tem
negação plausível.
Solomon se endireita e ergue uma sobrancelha para o menino.
Tudo o que é necessário. Um olhar que diz mais um passo e ele vai
arrancar a porra da cabeça dele. Engolindo em seco, o menino
coloca o rabo entre as pernas e se retira para sua despedida de
solteiro.
Alheia à retirada de seu pretendente, a garota espia Solomon
antes que ele possa recuar, sua atenção parando-o onde ele está.
Maçãs do rosto salientes, lábios carnudos, olhos castanhos bem
separados que brilham como terra orvalhada. Ele respira fundo na
esperança de diminuir o barulho do trem de carga de seu coração.
— Oi — diz ela, as palavras desprovidas de qualquer sotaque. Ela
pula na ponta dos pés, as unhas rosa brilhante contra a pele
bronzeada. Ela agarra seu antebraço, sua voz esperançosa. — Você
vem dançar, homem da montanha?
— Eu não danço — ele diz, as palavras saindo mais ásperas do
que ele queria dizer.
Atrás dele, Howler solta um suspiro exausto, seguido por cara.
Porra. Isso foi grosseiro como o inferno.
Seu lindo rosto se enruga em desapontamento, aqueles olhos
que antes brilhavam agora escurecem.
— Oh.
Ele geme por dentro e passa a mão pela barba. Qual é a porra
do problema dele? Ela quer uma jukebox e um two-step1, e ele com
certeza deveria ser o homem que deveria dar a ela.
— Você quer uma bebida? — ele pergunta, recuperando-se,
rezando para que ele possa mantê-la em sua órbita um pouco mais.
Não é natural. A voz dele. Sua oferta.
Ela o observa por baixo daqueles cílios escuros, o queixo caído.
— Sim, por favor. — Seu tom fica rouco. Flertante.
Cristo. Ele se fixa nos lábios dela. Rosa como um donut glaceado.
Cheios.
Com a garota seguindo atrás dele, Solomon vai até o bar,
ignorando o quão apertada a virilha de sua calça parece.
— Vinho? — ele pergunta por cima do ombro.
— O que você está bebendo?
— Uísque.
— Então quero o mesmo.
O barman limpa a superfície de madeira laqueada com um pano
e diz:
— Ei, chefe. O que você precisa?
A garota brilha.
— Ah, com certeza. Ele diz olá para você.
— Dois Blanton's —, diz ele. — Puro. — Enquanto esperam pelo
uísque, Solomon apoia a mão no balcão para pegar a conta antes
dela. Uma forte sucção de ar. Solomon vê isso no segundo momento
em que ela percebe. Seu bom tempo estagnou.
Seus olhos se arregalam, então se estreitam quando seu olhar se
ilumina em sua aliança de casamento.
— Você é casado?
Porra.
— Não. — É tudo o que ele diz. Tudo o que ele pode dizer.
Ela estica o pescoço para olhar para Howler do outro lado. Em
resposta, ele levanta seu uísque.
— Honra de escoteiro.
— Vamos — Solomon sugere, querendo explicar. — Você quer
um pouco de ar? Vamos lá atrás.
Depois de um segundo de hesitação e uma análise minuciosa, ela
assente.
— Ok. — Ela arqueia uma sobrancelha. — Mas eu tenho spray de
pimenta.
— Bom. — Ele luta contra o desejo de sorrir, gostando de sua
insolência.
Uísque na mão, ele estende o braço, gesticulando para ela ir
primeiro. Seu batimento cardíaco é um baque constante em seus
ouvidos enquanto ela caminha até seu banquinho, pega sua bolsa e
desliza sobre os calcanhares, ganhando 15 centímetros
instantaneamente.
Howler dá um polegar para cima e ele faz uma careta em troca.
Eles saem para a varanda dos fundos apagada e descem as
escadas. Dedos se aproximando, respirações suspensas, eles vagam
por uma floresta de altas perenes. A garota estremece e veste o
blazer para se proteger do vento cortante de março. À medida que
se aprofundam nas árvores, o barulho do tráfego é superado pelo
chilrear dos grilos. O bar Orelha do Urso pode estar nos arredores de
Nashville, mas ainda é uma cidade muito para o gosto de Solomon.
— Então — ela se esquiva, com as sobrancelhas franzidas e uma
pequena carranca brincando em seus lábios. — Você realmente não
é casado? Porque se for, não pretendo ser aquela garota. De forma
alguma.
A necessidade de ser honesto o preenche. Porque aqui, neste bar
desconhecido com esta garota estranha, ele sente que pode ser ele
mesmo.
Parece um novo começo.
— Não. Eu não sou. Ela se foi há muito tempo. — Ele abaixa o
queixo, gira a aliança de ouro no dedo. — Nunca pareceu o
momento certo para tirá-la.
Ela fica quieta por um momento. Considerando sua admissão,
avaliando se ele é um idiota que mentiria sobre uma esposa morta.
— Entendi. Seguir em frente é difícil. — Seu tom suave e triste
diz a ele que ela também perdeu alguém.
— De onde você é? — ele pergunta, procurando uma maneira de
preencher o silêncio.
No segundo em que as palavras saem de seus lábios, ele se
xinga. Bate-papo clichê que o faz estremecer.
Porra.
Howler está certo. Ele está enferrujado como o inferno.
— Não. — Ela levanta a mão, mantém a atenção no riacho
brilhando ao luar. — Vamos fazer um acordo. Sem detalhes. —
Quando ele ergue uma sobrancelha, ela elabora. — Esta noite, eu
não sou eu e você não é você.
Ele acena com a cabeça, apreciando a oferta dela. Gostando que
ele possa fingir ser outra pessoa. Um homem que não perdeu a
esposa há sete anos. Quem não é celibatário há tanto tempo. Eles
vão mantê-lo leve, mesmo que centenas de perguntas pessoais
passem por sua mente. Qual o nome dela? O que ela faz? Por que
ela está aqui? Como ela conseguiu ser tão linda?
Ele concorda. Bebe seu uísque.
— Parece bom para mim.
O sorriso dela deixa os joelhos dele fracos.
Cristo. Howler estava certo. Ele precisa sair mais. Um sorriso não
deveria mandá-lo para o túmulo.
Ela se apoia contra uma árvore e cutuca a casca. Ela toma um
longo gole de seu uísque, respirando facilmente através do ardor.
Então ela inclina a cabeça para trás, agita aqueles cílios lindos e
suspira.
— O que é? — ele pergunta, seguindo sua linha de visão.
— As estrelas. — Ela examina o céu. — Não consigo ver as
estrelas de onde venho. Não assim.
É o que ele pensou. Ela é de uma cidade grande.
— Sem poluição luminosa — explica Solomon, levando a bebida
aos lábios. — Eu conheço uma vista melhor.
Ela levanta uma sobrancelha, curiosa, mas permanece em
silêncio.
— Minha cidade natal é um dos melhores lugares do mundo para
observar as estrelas.
— Mesmo? — ela pergunta, virando a cabeça para observá-lo,
seu cabelo balançando, enviando uma lufada de seu perfume em
sua direção.
— Sim. — Ele se aproxima dela. Ela cheira como se tivesse sido
mergulhada na luz do sol e baunilha. — Uma pergunta pessoal. Mas
mantenha-a vaga e ligeiramente desinteressante. — Ele não pode
evitar. — Por que você está aqui esta noite?
Ela muda de posição para encará-lo, seu lindo rosto aberto e
vulnerável na escuridão. Com esse movimento, a estranheza entre
eles se dissipa. Deixando apenas o silêncio confortável de duas
pessoas que se conhecem desde sempre.
Ela solta um suspiro e se concentra em algo logo acima do
ombro dele.
— Fugir é uma resposta aceitável?
— Poderia ser. — Ele dá de ombros e toma outro gole de uísque.
— Eu trabalho demais — ela começa suavemente. — Eu não
tenho uma vida. — Ela desvia o olhar, como se estivesse
envergonhada com a admissão, então de volta para o céu. — Ou
amor. Eu não tenho estrelas. Minha mãe sempre dizia “encontre suas
estrelas”, mas eu não tenho nenhuma. Eu nunca tive.
A tristeza em sua voz abre seu peito.
— Você parece sozinha.
— Estou sempre sozinha — ela respira, voltando sua atenção
para ele novamente.
Seus olhos brilham, lacrimejantes, como se dissessem me salve.
Me leve.
E ele faz. Ele não pode evitar.
Solomon se aproxima, aperta-a em seus braços e pressiona sua
boca contra a dela. Ele quer o cheiro dela em sua pele. Em sua
barba.
Ela choraminga, deslizando suas pequenas mãos pelo peito dele
enquanto aprofunda o beijo.
A luxúria há muito enterrada se encaixa dentro dele, arranhando
as bordas de sua seca de sete anos. Sua mão foi sua única
companhia durante todo esse tempo. Como se o lembrasse de quão
idiota ele tem sido em sua devoção de monge, um gemido irregular
sai de sua boca. Porra, não há comparação com esses lábios doces
nos dele, uma linda garota em seus braços, suas curvas quentes e
suaves pressionadas contra ele nesta noite fria.
Ela é pequena e tão linda. Ele só pode estar enlouquecendo.
Esta garota. Dele.
O pensamento é um desastre de trem. Um soco de otário.
Apertando seu domínio sobre ela, ele move as mãos para o rosto
dela, seu cabelo emaranhado entre seus dedos grandes. É uma
tortura. Seu pau é uma barra de aço em suas calças, e ele quer
mais. Ele quer mais, mas ela…
Merda.
Ele se afasta dela. Dá um passo para trás, segurando-a firme
com as mãos em volta dos braços dela.
Um suspiro deixa seus lábios com a perda de sua boca na dela.
— O que está errado? — Ela pisca para ele, sua boca rosa
inchada aberta em confusão.
— Você está bêbada — ele resmunga. Ele não a trouxe aqui para
transar com ela. — Não posso fazer isso. — Mesmo que seu pau
grite o contrário. Ele tem três irmãs. Algum cara se aproveitou
delas? Ele os mataria.
Ela ri, uma cadência melódica que envia chamas de desejo
lambendo as paredes do peito dele.
— Oh, eu posso estar um pouco altinha de vinho, mas eu tenho
juízo sobre mim. Eu não estou bêbada. — Ela acaricia a bochecha
dele, o toque como um estalo de eletricidade. — Juro. Eu posso
dizer o ABC de trás para frente.
E ela diz.
Ele ri alto pelo que parece ser a primeira vez desde sempre.
— Você ainda não me convenceu.
— Não seja tão cavalheiro. — Ela funga. Seus lábios carnudos se
curvam enquanto ela fica na ponta dos pés e se pressiona contra
ele. — Beije-me, seu idiota bonito.
Com o maxilar cerrado, Solomon balança a cabeça, mesmo
quando a luxúria e a cautela lutam dentro dele.
É quando ele vê. Sua expressão. Olhos castanhos ardentes. O
bico de seus lábios. O rubor rosa manchando suas bochechas. Se ele
a mandar de volta para aquele bar, ela encontrará outra pessoa.
Inferno se ele está deixando isso acontecer. Ele quer beijá-la
mais do que querer ar.
Inclinando-se mais perto, ele desliza a mão em todo aquele
cabelo loiro sedoso e captura a boca dela com a dele. O beijo é
faminto e terno e rouba sua respiração.
Porra.
Ele corre o risco de enlouquecer. De ferver. Um gemido
embaraçoso como o inferno sai dele.
A garota interrompe o beijo, ofegante. O olhar em seu rosto é
selvagem, voraz, radiante.
— Você mora por aqui? — ela pergunta, com as pálpebras
pesadas.
— Eu tenho um quarto. No motel da esquina.
— Leve-me até lá. — Ela se lança para os lábios dele novamente.
— Mostre-me todas as estrelas.
A garota puxa o rosto dele para o dela, e ele a puxa para seus
braços, segurando-a com força contra ele. Como se ele a deixasse ir,
ela desapareceria.
Ele vai responder a esta mulher. Inferno, ele vai dar a ela tudo o
que ela quer e mais um pouco.
Uma noite, sem nomes, dois batimentos cardíacos e todas as
estrelas do universo.

1. O country/western two-step, muitas vezes chamado de Texas two-step ou


simplesmente two-step, é uma dança country/western geralmente dançada ao som de
música country em tempo comum.
Capítulo três

Seis meses depois

Se passaram nove milhões, cento e sessenta e nove dias desde que


Tess Truelove fez sexo pela última vez.
Ou pelo menos é o que parece.
Cento e oitenta e dois, aproximadamente.
O rugido do motor do guindaste abafa a agitação do tráfego de
LA enquanto o operador ergue uma gigantesca estátua de concreto
no jardim da cobertura de Penny Pain. Disseram a ela que é uma
escultura de três sátiros dançando alegremente – Tess estreita os
olhos e inclina a cabeça – mas para ela parece um falo.
Um pênis.
Um pinto.
Um pau grande.
Ela morde o lábio.
Um grande barbudo e duro–
O gemido do guindaste sacode seus pensamentos para fora da
sarjeta.
— Cuidado! — ela grita, jogando os braços no ar como se fosse
um árbitro de futebol. Ela lança um olhar para o operador
despreocupado. — Essa estátua custa mais do que o seu aluguel. —
Seu olhar fulminante se volta para um estagiário esguio. — Beba seu
café mais uma vez, Ian, e vou deslocar sua mandíbula.
Inalando uma respiração calmante para controlar sua pressão
sanguínea disparada, Tess espera enquanto ela supervisiona o
depósito seguro da estátua no jardim e então começa sua
caminhada final pela casa de seu cliente, uma cobertura
gloriosamente berrante no centro de Los Angeles. Seus saltos
estalam no ladrilho marroquino enquanto ela examina os retoques
finais. Ela inala. Seda. Luz solar. Poluição. Pausa no sofá para tocar a
textura aveludada de um travesseiro que diz MANTENHA A CALMA E
MORRA AQUI. Mergulhando o mais baixo que pode, ela ajusta o
pequeno crânio alado e a ampulheta usada como peça central da
mesa de centro.
Uma cacofonia de cima a faz olhar para a escada. Penny Pain,
cabelo rosa choque voando atrás dela, corre em sua direção.
— Eu amo a casa; Eu amo isso!
Tessie ri enquanto Penny a puxa para um rápido abraço lateral.
Ela pode estar exausta, mas o sorriso no rosto de sua cliente faz
todo o trabalho duro e a falta de sono valerem a pena.
Finalmente, ela conseguiu sua promoção. Ela tem a cliente,
Penny Pain. Uma rainha do grito de primeira linha que estrelou uma
variedade de filmes de terror de sucesso. O projeto é um sonho
literal que se torna realidade depois de anos trabalhando e beijando
a bunda de Atlas e sobrevivendo com contas lamentáveis que mal
pagavam as compras, muito menos o aluguel.
Penny move a mão em direção à janela saliente, onde uma
equipe de caminhões de TV estão.
— O Access Hollywood quer me filmar do meu lado direito, e
você sabe que esse é o meu lado ruim. Você aceita a entrevista,
Tessie. Você não tem um lado ruim. E você conhece a casa melhor
do que eu.
Ela conhece.
Ela despejou cada grama de si mesma para preservar a histórica
cobertura do Renascimento Colonial Espanhol, em vez de demolí-la
para abrir espaço para paredes cinzentas e luzes brancas. A casa é
toda colorida de caleidoscópio, extravagante e com linhas retas,
mantendo sua filosofia de design de que um espaço deve ser parte
realidade, parte fantasia, parte risco.
— Deixa comigo — diz Tessie, trocando beijos no ar com Penny.
Enquanto ela desfila pela cobertura, passando por sua pequena
equipe de design júnior, ela ignora os olhos críticos sobre ela. Ela
sabe o que todos estão pensando.
Ela é uma vadia.
Ela não pode fazer isso.
Ela passou toda a sua vida caminhando em uma linha segura e
rígida, mas ela sai uma noite e o resto é história.
Bem, o resto é dele.
Tessie pega sua bolsa e faz uma amostra na porta da frente.
Olhando para baixo, ela apalpa a alta protuberância de sua barriga.
Quando ela descobriu que estava grávida, ela gritou. Então ela
chorou. Então ela respirou em um saco de papel que cheirava
levemente a anjos de caranguejo de seu restaurante chinês favorito
e ligou para sua prima Ash.
Ela e o homem barbudo da montanha usaram camisinha. Eles
foram cuidadosos, mas, aparentemente, o cuidado não adiantou.
Duas linhas rosa bombardearam seu mundo cuidadosamente
elaborado. Poderia ter acabado. Mas não. Ela é Tess Truelove e não
perde o equilíbrio.
Ela pode fazer isso.
Ela precisa.
Ela e Ash discutiram suas opções. Não é como se ela fosse uma
garota de dezesseis anos olhando para um teste de gravidez no
banheiro do CVS. Ela tinha trinta e dois anos. Uma mulher com uma
carreira e um saldo de conta bancária decente e uma cabeça semi-
firme em seus ombros.
Uma família um dia? Ela quer. E claro, isso não é o que ela
esperava ou quando esperava, mas ser mãe solteira não a
incomoda. A mãe dela fez isso, e ela também fará. Qualquer outra
opção está fora de questão. Ela não vai fazer com este bebê o que
seu pai fez com ela – deixá-lo ou abandoná-lo.
Ela vai ficar com ele.
Não importa que ela seja uma maníaca por controle e isso é
exatamente o oposto de controle.
Ela quer. Com tudo o que ela tem.
— Encontre estrelas em tudo — sua mãe sempre dizia.
Este bebê, esta é a estrela dela.
Uma família só dela, um amor que fica por perto.
Além disso, um bebê é irrelevante para sua carreira. Ela não vai
deixar esse contratempo inesperado atrapalhar sua vida.
Ela pode conciliar uma carreira e um bebê. Ela é boa em
malabarismo.
Ou em quebrar.
O que vier primeiro.
— Truelove — vem um estalo agudo de uma voz anasalada. —
Detalhes. Preciso de detalhes, e preciso deles rápido.
Tessie se vira, avistando um homem baixo e atarracado
deslizando em sua direção. Cabelo grosso prateado. Cocaína em
sapatos de camurça azul. Seu microgerente hiperativo como chefe,
Atlas Rose. Quando ele se acomoda na frente dela, ela arranca a
mão de seu estômago. A última coisa que ela precisa é que Atlas
pense que ela tem um instinto maternal. Não quando ela planeja
continuar em sua carreira altamente exigente. Doenças, bebês,
cachorros são como o vírus Ebola para Atlas. Eles o fazem sangrar
por via retal.
Ela se lembra de quando estava no início da gravidez. Doente
como um cachorro, vomitando os miolos em um banheiro, depois
rastejando para uma reunião e colocando um sorriso no rosto. Ela
chegou tão longe, mas ainda tem muito a percorrer.
Uma onda lenta de pânico, apertando seu peito até que ela mal
consegue respirar, faz Tessie fechar os olhos por um momento.
Puxando uma respiração profunda.
Ela já ama este lindo bebezinho, mas ela está tão assustada.
E então ela está de volta, com um sorriso no rosto e abrindo os
olhos para se concentrar em Atlas.
— O espaço está pronto. — Sua voz é cortada. Profissional.
Gelado. — Estou participando da entrevista de Penny e depois ficarei
por perto para garantir que os empreiteiros limpem como
prometeram. — Tess joga seus longos cabelos dourados sobre o
ombro. — Isso coloca tudo dentro do cronograma e organizado
antes das minhas férias.
Esperando por isso, todo o seu corpo fica rígido. Se Atlas
reclamar sobre ela tirar uma folga, ela gritará um assassinato
sangrento aos céus.
A sobrancelha com botox de Atlas tenta enrugar. Mas sem
reclamar, ele acena com a mão.
— Arrase esta entrevista, Truelove. Lembre a Los Angeles por
que nós, e não a Nova Interiors, somos a principal empresa de
design.
Tessie mantém uma cara séria para a sede de sangue de Atlas e
acena com a cabeça. A Nova Interiors é a competição mais acirrada
no mercado de Los Angeles.
— Vou me certificar de mencionar pelo menos cinco vezes.
Atlas gira nos calcanhares sem dizer uma palavra e desaparece
no corredor, latindo ordens para estagiários exaustos.
Com um suspiro, Tessie carrega sua bolsa no ombro, pega seu
pesado livro de amostras e sai pela porta da frente, saindo para o
pátio ensolarado.
Por um longo segundo, ela fica tonta. Manchas escuras dançam
em sua visão, e ela balança em seus saltos altos como um cervo
recém-nascido, mas uma mão envolve seu braço, firmando-a.
— Você realmente tem que parar de usar salto, grávida.
— Não culpe os saltos, Ash — ela suspira. — Culpe o baixo nível
de açúcar no sangue.
— Você pelo menos deveria levantar dez quilos? — sua prima
atira de volta com ceticismo.
— O médico diz que está tudo bem.
— Está tudo bem, mas está te matando. — Ash gesticula para
um vaso. — Sente-se.
Seguindo as ordens de marcha de sua prima, ela exala um
suspiro cansado. Ela examina o pátio. A equipe de televisão se
instala na calçada. O barulho do tráfego de LA enche o ar. Ao longe,
os prédios altos do centro da cidade brilham sob o sol quente de
setembro.
Já vasculhando sua grande sacola, Ash se empoleira ao lado
dela.
— O que você precisa? Cheirar sais ou barras de granola? — Ela
segura os dois em uma mão.
Tessie franze a testa, olhando dos itens para a prima.
— Por que você tem sais aromáticos?
— As pessoas desmaiam em funerais e casamentos o tempo
todo.
Agradecida, Tessie pega a barra de granola, sua primeira refeição
do dia. Durante as primeiras seis semanas de gravidez, tudo o que
ela conseguiu engolir foi Sour Patch Kids e azeitonas. Curiosidade
despertada, ela inclina a cabeça.
— Por que casamentos?
— Nervos. Joelhos travados. A dama de honra dormiu com o
noivo. — Ela dá de ombros. — Merdas assim.
Tessie ri, seus nervos relaxando com a aparição de sua prima. O
oposto dela em todos os sentidos. Onde Tessie parece ter sido
atingida pelo sol, Ash foi raspado dos poços de alcatrão de LaBrea.
Com sua longa queda de cachos negros e franja sem corte, Ash se
assemelha a uma Cleópatra moderna em botas de combate.
Relaxada na tensão de Tessie. Bruto versus polido. Sua melhor má
influência e parceira no crime desde que Tess foi morar com Ash e
sua tia Bev depois que sua mãe morreu.
Ash cruza os tornozelos finos, as coxas tatuadas saindo de sua
saia.
— Como vai Bear?
Apalpando a barriga, ela sorri.
— Esmagando lentamente minha bexiga, mas prosperando. —
Ela morde a barra de granola, a doçura, dando-lhe um impulso de
energia muito necessário. — Quem morreu hoje?
— Um velho que namorou Marilyn Monroe. Na verdade, eu me
joguei no túmulo, a pedido dele. — Ela balança as sobrancelhas. —
Era uma Hollywood muito antiga.
Tendo abandonado a faculdade depois de descobrir que podia
chorar na hora, Ash lançou seu próprio negócio como “doula da
morte/interruptora de casamento”. Tessie ainda se surpreende com o
quanto as pessoas pagam por um estranho para causar o caos ou
para confortar a família. Mas ela não deveria estar surpresa; é LA,
afinal.
— Você está pronta para ir? — Ash pergunta.
— Não posso. Eu tenho que mostrar ao Access Hollywood a casa
de Penny.
— Certifique-se de mostrar a eles a estátua que parece um pênis
gigante. — Ash cutuca seu ombro. — Falando em pênis, você já
encontrou o Barbudo Gigante?
Tessie cora.
— Não. Parei de procurar meses atrás. — Ela volta sua atenção
para a rua ensolarada. — Você sabe disso.
Ela tentou encontrá-lo.
Ela realmente tentou.
Depois de descobrir que estava grávida, ela ligou para o bar
Orelha do Urso e perguntou pelo grande homem da montanha que a
engravidou. Talvez não nesses termos exatos, mas ela procurou. Ela
até colocou cartazes.
Ele precisava saber. Ela não podia esconder isso dele.
Mas ela não tinha nada para continuar. Sem nome. Nenhum
número. Tudo o que ela tinha era a camisa dele, que ela havia
roubado quando acordou naquela manhã e escapuliu como a
vergonha que ela era.
Mesmo agora, a memória daquela noite a envolve.
As estrelas. O homem barbudo da montanha. Suas divagações
filosóficas sobre seus pensamentos mais profundos e sombrios. Ela
disse a ele coisas que nunca admitiu para Ash. Admitiu para si
mesma. Era o luar. O álcool. O homem bonito fazendo coisas com o
cérebro dela.
Aquela noite, aquela noite perfeita no Tennessee, foi como uma
droga. Uma boa memória para a qual ela volta quando precisa de
paz e calma.
Ela se sente tão longe da Tessie que era naquela noite.
Selvagem.
Despreocupada.
Feliz.
Ash geme.
— Você deveria encontrá-lo, Tessie. Ele precisa saber.
Os nervos queimam em sua barriga e ela cruza os braços.
— Eu fiz o meu melhor. Além disso, estou fazendo um favor a
ele. Duvido que ele aproveitaria a chance de bancar o papai. — Ao
olhar que Ash dá a ela, a culpa inunda seu peito. — O que devo
fazer, postar um aviso no Craigslist?
Um encolher de ombros.
— Você poderia. Você gostou dele.
De repente, a boca de Tessie está seca como um osso.
— Gostei dele por uma noite — diz ela rigidamente, recusando-se
a dar munição a prima. Recusando-se a pensar no V de suas costas
musculosas. A barba escura que fazia cócegas nela quando ele
beijou uma linha na curva de sua espinha. O porto seguro de seus
braços musculosos e a maneira como sua voz era como um lento
mergulho no melaço.
— Puta merda. — Ash fica boquiaberto com ela.
Caramba.
Tessie fica vermelha, percebendo que disse a frase em voz alta.
Ela culpa o cérebro da gravidez.
— Cale a boca.
Ash cacareja e abre as mãos.
— Como a Grande Inundação do Melaço de 1919.
Tessie não pode deixar de rir.
— Deus, você é mórbida.
— E você está apaixonada.
Ela zomba.
— Eu não amo. Você sabe disso. — Ela apalpa a barriga, fazendo
círculos suaves na barriga e abaixa o queixo. — Só você — ela diz a
Bear. Ela se vira para Ash, bate de ombros. — E às vezesvocê.
Apesar de seu sobrenome, Tessie não acredita no amor
verdadeiro. Tudo o que ela sabe sobre o amor é decepção. Que vai
embora. O cachorro dela fugiu na terceira série. Sua mãe morreu de
câncer, rápido e doloroso. Seu pai foi embora quando ela ainda era
um bebê. Ele sabia que ela era dele, a segurou em seus braços, e
ainda assim ele se afastou dela e de sua mãe.
O único amor que Tessie mantém por perto é este doce bebê em
sua barriga.
O filho dela.
Ela nunca admitiria isso para Ash, mas no fundo, ela não pode
deixar de se sentir aliviada por nunca ter encontrado o homem
barbudo da montanha.
As pessoas vão embora. E deixar um homem aleatório se
aproximar de seu filho, apenas para vê-lo ir embora? Absolutamente
não.
É mais fácil ir sozinho. Ninguém se machuca.
Além disso, ela tem uma carreira para seguir e um bebê para
criar. Ela não está interessada no amor verdadeiro. Ela gosta daquela
parede de aço em volta do coração, muito obrigado.
— Truelove!
O grito de Atlas faz com que ambas as mulheres olhem. Ele está
acenando com um braço parecido com o de um T-Rex, fazendo sinal
para que ela vá até as câmeras que estão esperando.
— Mate aquele cara — murmura Ash, mordendo uma barra de
granola com intensidade violenta. Migalhas se espalham em seu
colo, mas, alheia à bagunça, ela balança a cabeça vigorosamente. —
Atlas está te fazendo trabalhar até morrer.
Endireitando-se, Tessie endireita os ombros.
— Ele está, mas estou apenas há quatro meses nesta nova
posição. Eu tenho que mostrar a ele que tenho as habilidades.
— Você está cuidando muito bem desse bebê e do seu trabalho,
mas e você? — Ash pergunta, levantando seus óculos escuros para
fixá-la com um olhar conhecedor. — Você precisa se preocupar com
Tessie. Vocêprecisa ser a primeira. — Ela rosna. — Atlas nem se
importa com o seu bem-estar. Você poderia entrar em trabalho de
parto e ele pediria para você arrumar um quarto antes de ir para o
hospital. Ele ao menos olhou na sua barriga?
Tessie franze a testa.
— Você sabe o que? Não posso com você. — Ela inala uma
respiração estóica. — Não se preocupe com Atlas. Preocupe-se com
as férias. E em fazer as malas. Porque Deus sabe que você ainda
não fez isso.
Ash resmunga.
Tessie sorri.
Em dois dias, ela e Ash estarão a caminho do ensolarado México.
Sua lua de bebê. Um que ela planejou e pagou por si mesma. Ela
pode não ser casada, pode ser uma desgraça fora do casamento,
mas ainda merece um último viva com sua melhor amiga.
Com vinte e oito semanas, ela finalmente tem um pouco de
energia. Ela está com tesão como o inferno. O cheiro dela é
supersônico. Tudo o que ela quer é uma massagem. E talvez uma
fatia de queijo brie, embora, de acordo com baby.com, isso a faça
entrar em trabalho de parto.
Ela precisa dessas férias. Uma praia. Luz do sol. Areia entre os
dedos dos pés. Um coquetel na mão. Sem Atlas. Nada de Terrível
Tess. Sem padrões ou amostras. Sem interrupções. Apenas um
sonho de champanhe de férias com Ash.
Paraíso.
— Truelove! — Atlas grita.
Tessie estremece, seu crânio batendo com a reverberação de seu
grito.
— Vamos ao vivo em um minuto!
Ash torce os lábios com desgosto.
— Deus, ele está praticamente espumando pela boca.
Férias, pensa Tessie, afastando a mente de pensamentos
assassinos e concentrando-se em coisas mais felizes, como drinques
de homem abacaxi, marcas de bronzeado e o reflexo da luz da lua
no oceano.
E estrelas.
Sempre estrelas.
Ash passa um braço em volta da cintura de Tessie, dando-lhe um
impulso.
— Vá antes que meu coração empático não resista ao desejo de
matar esse cara.
Ela balança um dedo.
— Sem assassinato. México, lembra?
Com uma oscilação, Tessie se vira. Ela inala uma respiração e
varre as palmas das mãos sobre o estômago de seu mini vestido de
seda.
— Tudo bem, você está pronta para isso? — ela pergunta a sua
barriga. Seu coração aperta quando há um chute contra a palma da
mão. Ela e Bear – eles estão nisso juntos.
Apenas os dois.
Capítulo quatro

Ele devia jantar e correr.


Esse é o primeiro pensamento de Solomon depois de se sentar
no bar do Ninho do Howler. Instantaneamente, ele é perseguido por
uma garçonete que não quer seu pedido de bebida, mas quer dizer
olá. Ela é substituída pelo melhor amigo de seu pai, Grant, que
começa a contar uma história sobre o urso que pegou atrás do bar
há duas semanas. Em seguida, o professor de arte de sua irmã Jo
de vinte anos atrás. Segundo ela, sua aura é verde e ele foi um
viking em uma vida passada.
Quando finalmente está sozinho, Solomon abaixa a mão,
deixando sua velha cachorra de caça, Peggy Sue, lamber sua palma.
Ele deveria ter ido direto para casa depois que deixou a casa da
irmã. Fazer a caminhada de trinta minutos até a cidade foi um erro.
Tudo o que ele queria era uma bebida, não um maldito
interrogatório.
Enquanto coça as orelhas de Peggy, ele toma um gole indiferente
de seu Maker's Mark e revira os ombros, deixando a tensão
desaparecer dele.
Mas ele consegue o que consegue. Ele fez isso consigo mesmo,
ficando enfurnado em sua cabana nos últimos sete anos. Por mais
irritante que seja, eles têm boas intenções. A cidade inteira de
Chinook quer ter certeza de que ele está bem, que está comendo o
suficiente. Eles querem dizer a ele que estão orgulhosos dele por
finalmente descer da montanha.
Ele vem ao Ninho do Howler uma vez por semana nos últimos
seis meses. Mergulhando um dedo do pé de volta na civilização.
Vida.
— Meus coquetéis artesanais colocam este lugar no mapa e você
pede um bourbon direto?
Ele resmunga, toma um gole de sua bebida, enquanto o rosto de
desaprovação de seu melhor amigo flutua em sua linha de visão.
— Inferno, eu vou relevar. — Howler tira um pano do ombro. —
A única hora que podemos tirar você da montanha é para uma
bebida.
— Isso e quando Melody tem um pneu furado.
— Ah, o velho truque da irmãzinha com o pneu furado. — Howler
pega um copo de cerveja e examina uma mancha, com os lábios
virados para baixo. — Você sabe que ela está fazendo isso de
propósito, certo? Para te tirar de casa. Para te ver.
Solomon coloca seu uísque no tampo do bar, aborrecimento
coagulando dentro dele. Ele não está com disposição para outro
sermão sobre por que deveria estar jantando na casa da mãe e não
no Ninho do Howler. Para mudar de assunto, ele aponta para a pilha
de madeira no canto da sala. Uma tábua quebrada que os servidores
precisam contornar. Decoração mishmash: placas de néon retrô e
notas de dólar presas à parede. Mesas de madeira frágeis em suas
últimas pernas literais, com caixas de fósforos sustentando-as.
— O lugar parece uma merda. — Ele considera a televisão
montada acima do bar. As notícias locais mudam para um programa
de tablóide desprezível que irrita seus nervos. — Eu pensei que você
fosse se livrar disso.
Howler cruza os braços e se apoia no balcão atrás dele, um
sorriso de menino brincando em seus lábios.
— Claro, vamos começar por aí.
— Quando você vai atualizar? — Solomon passa a mão na barba
escura. — O bar precisa de um tema. Fizemos todo um maldito
reconhecimento para isso. Você tem o dinheiro do seguro. Você
tinha projetos elaborados.
Howler espirra uísque em seu copo.
— Quando eu tiver meu braço direito de volta na cozinha.
— Eu te disse. Não. — Solomon luta contra a vontade de olhar
para a porta da cozinha. Tenta não olhar para os resquícios da
desculpa patética de uma pizza congelada que comeu no jantar.
Comida chata que não chega perto de comparar com as mordidas de
bar que ele costumava preparar. Comida tão local quanto ele. Ovos
escoceses. Bolinhos de alho-poró de batata. Nachos de Salmão.
Com um gemido, Howler se pendura no bar.
— Está na hora, Sol. Eu não tenho um bom chef. Estou
alimentando as pessoas com batatas fritas de saco.
— Eu gosto muito de batatas fritas de saco.
Mentiroso, diz o olhar duro de seu amigo.
Sentando-se em seu banquinho, Solomon franze a testa.
— Eu pensei que aquela viagem em que você me arrastou
acendeu um fogo sob sua bunda para deixar este lugar em forma.
Não há uma boa razão para a desordem. Não importa o quanto
ele diga a si mesmo que não se importa, ele não pode se importar,
ele com certeza se importa. A barra é dele. Deles juntos. Deixar
assim é uma maldita farsa. É típico de Howler ficar empolgado com
um projeto, fazer a pesquisa, fazer os planos e deixar para lá.
Depois de trinta anos de amizade, ele sabe que a bunda preguiçosa
do cara nunca foi de levar um projeto adiante.
Howler dá uma risada.
— Se você quer falar sobre essa viagem, pense que foi você
quem acendeu uma fogueira embaixo da sua bunda.
Solomon mantém sua atenção focada na TV acima do bar, sem
revelar nada. Nem um grama de munição para o filho da puta se
vangloriar.
Pegando as migalhas, Howler faz uma pausa para olhar para a
jukebox. Dois veteranos castigados pelo tempo batem as palmas das
mãos contra o vidro embaçado para tirar Johnny Cash da repetição.
Ele se inclina para Solomon.
— Pensando em Cachinhos Dourados? Eu também gostei dela.
Uma loira de olhos castanhos. — Ele sorri. — Gostosa.
Solomon cerra os dentes e lança um olhar penetrante para o
imbecil.
— Cale a boca.
Levantando as mãos em um gesto de não atire em mim, Howler
diz:
— Relaxe. Estou pensando em todas as maneiras de agradecê-la.
— Pelo que?
— Por te acordar. Incentivando você a se juntar à nossa boa
sociedade Chinook. — Ele pressiona as mãos contra o bar e se
aproxima, seu rosto, sua voz, suavizando. — Você tirou a aliança,
Sol.
Estudando suas mãos, seu dedo anelar nu, Solomon fecha o
punho. E depois abriu.
Ele tirou.
Seis meses atrás, na verdade.
O dia em que acordou com a cama vazia após a melhor noite de
sua vida.
Uma noite tão inesquecível quanto a garota com quem ele a
compartilhou.
Pelo menos uma vez por dia, seja em sua bancada de trabalho
ou em seu quintal, sua mente a evoca do nada. Atingindo-o com
uma dor agridoce que ele não consegue afugentar, não importa o
quanto tente. A mulher mais loira, brilhante e bonita que ele já viu.
A mais triste também.
Estou sempre sozinha.
Ele ainda se lembra do rosto dela quando ela disse isso.
Aberto, sincero, tão malditamente triste que ele nem sequer
tinha as palavras. Ele apenas a beijou. E foi o suficiente.
Ele estava enferrujado, caindo em todos os lugares para colocar
os movimentos nela, mas ela não parecia se importar. Eles rasgaram
aquela cama, o corpo dela queimando em seus braços. Solomon a
desejava tanto quanto ela o desejava. Tudo nela era bom demais
para ser verdade. Paraíso. Por uma noite, ele segurou a porra do céu
em seus braços.
Na manhã seguinte, ele acordou sozinho, sem camisa. Enquanto
ele esquadrinhava o quarto vazio procurando por ela, o antigo
sentimento de pânico rastejou sobre ele. Mesmo agora, ele odeia
que ela tenha escapado sem se despedir. Sem deixar o nome dela.
Sem uma maneira de ele garantir que ela chegasse sã e salva ao seu
destino.
Não era seu trabalho se preocupar, Howler o lembrava
repetidamente. Ela era uma aventura. A primeira transa que ele teve
em sete anos.
Um caso de uma noite? Uma porra de aventura? Não, ele queria
ela. Ele queria encontrá-la e agradecê-la por sacudi-lo para acordá-
lo, por arrancar o sombrio manto de escuridão que ele usou nos
últimos sete malditos anos.
Ele segurou uma estrela cadente em seus braços por uma noite.
Queimando, o sentimento tão intenso que ele faria qualquer coisa
para mantê-lo, mas antes que pudesse, queimou completamente.
Ele sente falta dela. E a paz que ela lhe deu.
Ainda assim, é melhor ela ter ido embora. Depois de Serena,
depois do que ele fez, amor, um relacionamento, não é algo que ele
mereça.
É algo que deve ficar longe, muito longe dele.
Com a cabeça erguida, Howler sorri.
— Ficou na sua cabeça, não é?
— Howler — ele diz, tomando um gole de seu uísque, então
dando um tapinha na cabeça de Peggy Sue. O basset hound lambe a
mão, solta um latido baixo de contentamento e volta a dormir. —
Quando eu quiser sua opinião, eu vou pedir, porra.
Seu melhor amigo vaia, fazendo malabarismos com uma garrafa
de Rittenhouse Rye em suas mãos.
— Você precisa de uma reinicialização — diz ele, despejando o
centeio em um copo de gelo. — Faça o que eu faço e fique com uma
turista. — Ele acena com a cabeça, destacando uma ruiva alegre
lendo um guia do Alasca. — Leve-as para cima, para minha casa,
agite o mundo delas e, pela manhã, elas vão embora.
Solomon balança a cabeça. Ame-as e deixe-as – essa é a
configuração padrão de seu melhor amigo.
Howler inclina a cabeça, faz uma cara contemplativa.
— Acho que você fez isso no Tennessee, não é?
Solomon rosna e planta as mãos no bar, pronto para mandar
Howler se foder, quando uma explosão brilhante de uma voz chama
sua atenção.
— Diga-me, Srta. Truelove, a vibe da Sra. Pain é muito eclética,
não é?
— Absolutamente. Se você me seguir, eu o levarei para a sala de
gritos dela.
— Gritos?
Solomon olha para cima, franzindo a testa para a TV torta. Uma
loira de pernas compridas em saltos altos como o inferno está dando
um passeio por uma cobertura de aparência gótica. Maldita LA. Tudo
naquela cidade parece falso como o inferno. Não como Chinook e
seu sal da terra. Pessoas que dariam a uma pessoa a camisa de suas
costas e o último dólar em suas contas se precisassem.
A mulher faz uma pausa para abrir uma porta. Atrás dela, uma
placa de neon rosa brilhante explode a palavra MORTE.
— Como você pode ver aqui, o espaço da Sra. Pain é inspirado
em um mausoléu de Nova Orleans, mas em uma escala de luxo. Sua
sala de gritos e estúdio foram acentuados com papel de parede
felino, um exemplo icônico de como animar um pequeno espaço. —
Então ela se vira para a câmera em um close-up e sorri.
Todo o ar sai do corpo de Solomon.
Cristo, é ela.
A garota do bar Orelha do Urso.
— Puta merda — diz Howler, embora sua voz soe nebulosa,
distante.
Peggy Sue levanta a cabeça, um latido baixo de preocupação
saindo dela.
O logo do Access Hollywood no canto da tela. O ticker na parte
inferior diz: Tess Truelove, Designer de Interiores para as Estrelas
Seus lábios se curvam. Ele finalmente sabe o nome dela. Tess.
Solomon fica boquiaberto com a TV como se a tivesse invocado.
Jesus, ela é linda. Mais bonita do que ele se lembra. E caramba, ele
se lembra. O corpo exuberante sobre o qual ele passou as mãos, a
maneira como ele agarrou a curva de seu quadril e a fez gemer.
Seus olhos viajam de seus lábios carnudos para seu sorriso branco
brilhante para seus seios para o vestido preto apertado que a
abraça…
A câmera diminui o zoom, o quadro focando em sua forma ágil e
uma sala que lembra uma masmorra.
Com a visão embaçada, Solomon agarra a borda da bancada.
Uma sensação horrível de que porra enche sua alma, e seu
estômago revira. Ele se concentra na pequena protuberância na
barriga dela. O pôr do sol atrás dela apenas acentua seu brilho
dourado.
Porra.
O mundo se agita.
Grávida.
É a garota do bar Orelha do Urso, e ela está grávida.
— Oh, inferno, não — murmura Howler. Ele pega o controle
remoto do balcão e desliga a TV.
Solomon se levanta.
— Ligue novamente. Agora. — Seu rosnado não deixa espaço
para refutação.
Com uma expressão de dor, Howler o faz.
Fim do segmento. Com a boca perto do microfone, a garota diz:
— Eu sou Tess Truelove com Atlas Rose Design. — E então ela
olha para a câmera. Olha diretamente para ele. Seu sorriso brilhante
o atinge no estômago quando ela diz: — Lembre-se de Atlas Rose
Design. A empresa de design de celebridades número um de Los
Angeles.
Um comercial aparece. Pasta de dentes.
— Merda — Howler sibila. — Eu sabia que ela era um problema
pra caralho quando ela tomou aquela shot com uma cara séria.
Solomon, congelado, só pode piscar.
— Talvez ela seja casada. — Howler fica boquiaberto,
boquiaberto, olhando para a TV, a coqueteleira esquecida em sua
mão. Este é o pior pesadelo de seu amigo. Arrumando um caso de
uma noite.
Ele fecha os punhos no topo da barra.
— Ela não é casada.
— Pensei que você tivesse usado camisinha.
— Nós usamos.
— Besteira.
Solomon solta um grunhido e Howler instintivamente dá dois
passos para trás.
Culpa e confusão torcem como um tornado em seu estômago.
Ele não vê ou fala com essa mulher há seis meses. Mas agora ele a
encontrou.
Linda.
Loira.
Grávida.
Vá buscá-la, Sol. A voz de Serena soa em sua cabeça. Vá.
Capítulo cinco

Solomon já odeia LA. Odeia com uma paixão ardente que costuma
reservar para turistas que não dão gorjeta ou para pessoas que
chutam seus cachorros. Desde que ele chegou, ele viu alguém
andando com um vibrador na rua na coleira e uma mulher
empurrando um furão em um carrinho. Ele quer voltar para Chinook,
para sua cabana com sua cachorra e suas ferramentas de
carpintaria. De volta à sua montanha.
Pela centésima vez desde que a viu no noticiário, ele pensa na
garota. Tess. Sofisticada. Afiada. Muito longe da garota pateta e
vulnerável que ele conheceu no bar Orelha do Urso.
Quem é Tess Truelove?
De uma coisa ele sabe: é a segunda vez que essa garota o tira
de sua vida tranquila no Alasca. É claro que eles vivem em lados
opostos do mundo.
Faça um teste de DNA, proclamou Howler. Pode ser de qualquer
um, cara. Não deixe que ela o prenda.
Suas irmãs – especialmente Evelyn, uma cruel advogada de
família – estão cagando tijolos. Seus pais lhe disseram para fazer a
coisa certa, e foi um sorriso que ele detectou na voz de seu pai?
Maldição. Ele tem trinta e cinco anos. Não é como se o tempo
passasse, mas e se o filho for dele? Como o mais velho de quatro
filhos, ele sempre quis uma família grande. Ele e Serena planejaram
isso, eventualmente, mas aos vinte e dois anos, parecia tão distante.
Como um sonho de um plano. Somente agora… ele não está ficando
mais jovem.
Mas um bebê? Um bebê explode sua vida. Mas, inferno, ele não
teve muito desde que Serena morreu.
Ele está aqui para obter respostas. Se ele é o pai? Ele não sabe o
que isso significará para ele e Tess. Ele se afastou de sua família.
Sua carreira. Mas se afastar de seu filho, ser um pai ausente –,
absolutamente não. Isso o assombraria para sempre se ele fosse
esse tipo de homem.
Parando na calçada, ele tira o telefone do bolso e verifica
novamente a mensagem de Evelyn, comparando o endereço com o
do prédio de apartamentos em ruínas à sua frente.
O sol do final da tarde cria sombras inclinadas semelhantes a
Rorschach na entrada fechada. Ele franze a testa, não gostando do
que vê. As latas de lixo transbordam. O grafite estraga a lateral do
prédio. É aqui que ela mora? Parece inseguro como o inferno.
Aproximando-se do teclado, ele passa o dedo sobre a campainha.
Um toque e ele obterá respostas.
Ele pode ser pai.
Ele verá Tess. A garota em quem ele pensou sem parar nos
últimos seis meses.
Os nervos se agitam no estômago de Solomon. Isso é real. Ele
está aqui, prestes a vê-la pessoalmente.
— Porra — ele murmura, rolando os ombros para aliviar sua
irritação. — Se controle, porra.
— Com licença. Eu só vou entrar aqui…
A voz, vindo de trás dele, faz Solomon se virar. Uma garota alta
de cabelos escuros com botas de combate e uma jaqueta de couro
preta desliza na frente dele. Um saco de comida chinesa apoiado em
seu quadril. Com o cheiro de lo mein flutuando entre eles, ela digita
um código no teclado. Ela inclina a cabeça enquanto o avalia,
olhando-o de cima a baixo com precisão de laser. E então ela suga
um suspiro sufocado que faz Solomon chamar a atenção.
— Puta merda. É você. — Seu olhar verde-acinzentado o
imobiliza. — O pai barbudo do bebê.
Ele franze a testa com o apelido.
— Você conhece Tess?
— Se a conheço? Ela é minha vida e sangue. Minha força. Minha
pizza de panela pessoal. — Antes que ele possa procurar uma
resposta, ela agita a mão. — Ela é minha prima. Como você a
encontrou?
— TV.
— Então você viu.
— Ah, eu vi.
A menina cruza os braços e se enrijece.
— E você está aqui para quê?
Ele se mexe, não gostando da forma como os olhos dela se
estreitaram em suspeita.
— Você é a segurança pessoal dela?
— Eu sou tudo para Tessie. Mas o mais importante, eu sou Ash.
Ele estende a mão.
— Solomon Wilder.
Ela inclina a cabeça, uma mecha de cabelo preto cortando seu
rosto enquanto ela corre o olhar para as botas pretas de lenhador e
para a camisa de flanela vermelha. Com a atenção voltada para o
rosto dele, ela ergue as sobrancelhas.
— Você é um lenhador?
Chef, diz Serena no ouvido dele. Você é um chef.
Mas ele não pode dizer isso. Não desde o dia em que ela morreu.
Ele solta um suspiro cansado.
— Não. Por que?
— Porque você é assim… Quero dizer. Assim tipo… grande. Como
um urso. — Seu sorriso é felino. — Largo.
Mandíbula estalando, ele passa a mão pelo comprimento de sua
barba escura.
— Olha. Estou aqui para falar com Tess para ver se… — Ele
pigarreia, a pedra dura que se instalou nela. — Como ela está?
Ash ri.
— Ah, ela está muito grávida. E você é o culpado. — Um arco de
uma sobrancelha escura. A marca de um dedo duro contra seu peito.
— Ela tem seu DNA nela, cara.
— Eu estou ciente disso — ele resmunga.
A primeira vez que faz sexo após uma seca de sete anos, ele
engravida a mulher.
Cristo.
Ash pega seu cotovelo e o puxa para o lado para ficar em um
leito de pedras e roseiras.
— Ouça — diz ela, levantando um dedo enquanto franze a testa.
— Estive com Tessie em todas as consultas médicas, vômitos e
sessões frenéticas de pesquisa no Google tarde da noite, e se você
está aqui apenas para fazê-la se sentir mal ou gritar com ela, pode
simplesmente voltar para a Ilha Hulk ou para onde diabos você é.
Ele se encolhe, odiando que esta mulher assume, logo de cara,
que ele é um idiota de classe mundial.
— Não estou aqui para isso — diz ele, inalando uma respiração
constante. Ele se mexe em suas botas, ignorando a transpiração que
corre por sua espinha. O sol do final de setembro não tem o direito
de ser tão quente. — Estou aqui porque, se o bebê é meu, quero
estar envolvido.
As sobrancelhas de Ash se erguem.
— Você quer?
— Eu quero.
Ela morde o lábio, considera-o com cuidado.
— Mesmo? Você não vai embora?
Ele franze a testa com a pergunta estranha.
— Não. Eu não faço isso.
Com o nariz enrugado, Ash se inclina. Todo o corpo de Solomon
fica tenso enquanto ela o olha de cima a baixo e então cheira todo o
tronco. Ela estremece. Sorrisos.
— Hum. Você passa na checagem do olfato.
Ele geme, cansado das técnicas de interrogatório. Tudo o que ele
quer fazer é ver Tessie.
— Posso apenas falar com ela? — ele pergunta, dando um passo
em direção ao portão.
A garota avança, agarrando seu braço. Com uma força
surpreendente e um aperto forte, ela o puxa de volta. Antes de
soltá-lo, ela aperta o bíceps dele, um guincho baixinho mal contido.
— Ah, não, não, não. Não entre lá. Ela vai arrancar sua cara.
Hormônios, você sabe.
Solomon franze a testa, olhando para a fachada em ruínas do
prédio.
— Você tem uma ideia melhor?
— Eu tenho, na verdade. — As sobrancelhas de Ash disparam. —
Eu tenho um plano. Eu tenho todos os planos, e este plano é o
plano. Você me entende?
— Não, na verdade não.
— Você tem que emboscá-la onde ela não pode se livrar de você.
Você tem que ser sorrateiro.
Sorrateiro. Ele nunca foi sorrateiro, nem uma vez em sua maldita
vida. Ele bate em sua velha cabana como uma matilha de lobos
saqueadores.
— O que você está falando? — Solomon resmunga, frustrado
como o inferno.
Ash lança um sorriso para ele.
— Estou falando de uma lua de bebê.
Ele recua.
— Uma lua o quê?
— Uma lua de bebê. É onde mães trabalhadoras e cansadas
escapam para uma ilha tropical paradisíaca para relaxar antes que
suas crias pagãs cheguem à terra.
Franzindo a testa, ele esclarece:
— Ainda estamos falando sobre Tess?
Com os olhos dançando de diversão, ela pula na ponta de suas
botas de combate.
— Sim. Ela parte para o México amanhã, e você deveria
surpreendê-la. — Ela pega o telefone. — Eu deveria ir, mas você
pode ficar com o meu lugar.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Parece que vai irritá-la.
— Tessie já está irritada — Ash diz, então suspira. — Olhe,
Solomon, há três coisas que você deve saber sobre ela.
— O que é isso?
— A primeira: ela está tensa. Firme. Ela não fica estressada. Ela
estala como a porra de um Kit Kat.
Ele franze a testa. Isso não combina com a garota descontraída
que ele conheceu no bar.
— E a segunda?
Seu rosto se suaviza e suas mãos se fecham contra seu coração.
— Ela realmente precisa disso. Não apenas as férias, mas…
disso. — Ela move a mão entre os dois. — Ela não acha que precisa,
mas precisa.
Embora Ash não tenha dito as palavras, ele as ouve de qualquer
maneira. Ela precisa de você. Um inchaço duro sob suas costelas faz
seu peito apertar. Um instinto primitivo de proteção causando um
curto-circuito em seu coração.
Ele limpa a garganta.
— E a terceira?
Os olhos de Ash se tornam assassinos.
— Não quebre o coração dela grávida, você me ouviu?
Solomon resmunga e levanta o queixo, tentando ignorar a
pequena fração de suavidade que o atinge no estômago.
— Só estou aqui para falar sobre o bebê.
— Então diga sim. — Ash o olha com uma expressão suplicante.
— Por favor.
Ele hesita. Pegar Tess desprevenida parece um movimento sujo,
mas ele está aqui para fazer exatamente isso, não é? A única
diferença é que ele a emboscaria em um país diferente. Presos
juntos para que eles possam resolver essa merda com seu filho.
— Cristo. Certo. — Solomon solta um suspiro. — Se você acha
que vai funcionar, eu vou.
Alívio pisca em seu rosto.
— Vou ver se consigo transferir minha passagem para você. —
Seus dedos voam pelo telefone.
Com um último olhar para o prédio de estuque monótono, ele se
pergunta em que diabos ele se meteu.

Ping. Ping. Ping.


O telefone dela está explodindo seu maldito cérebro.
Tessie fecha os olhos e respira através do som. Com a mão na
barriga inchada, ela cruza seu estúdio, deixando que os chutes
tranquilizadores de Bear a distraiam de seu trabalho.
Aparentemente, ela ainda não está fora do horário. Atlas está
determinado a espremer até o último pedaço de trabalho que puder
dela antes que ela deixe o país.
Ignore-o. Ela luta contra o impulso de chamar a atenção, de ser
a garota sim-senhor de Atlas.
Por sete dias, ela não trabalhará. Ela irá, como dizem em A Arte
De Criar Um Bebê, relaxar.
Com a camisa de flanela do homem da montanha na mão, ela
enterra o nariz no tecido macio e inala. Forte. Ela deixa o cheiro
chegar até Bear, como se ambos precisassem de um pouco de
calma.
Então, com um grunhido, Tessie coloca a camisa de volta no
criado-mudo. Não há tempo para relaxar. Ela está atrasada do jeito
que está. Com os lábios franzidos, ela escolhe entre uma pilha de
roupas em sua cama, imaginando se há uma oração de Ave Maria
que ela pode enviar para o universo que fará com que suas malas se
arrumem magicamente. Porque ela está cansada. Morta de cansaço.
Como um cachorro. A gravidez está causando estragos em seu sono
REM2.
Como se sua oração tivesse sido atendida, a porta da frente se
abre. Ash entra, agitando as unhas pintadas de preto como um olá.
— Que bom, você chegou — diz Tessie, jogando o laptop e a
agenda em cima da mala. — Estou levando o doppler3 de Bear, meu
toca-discos e fones de ouvido para quando você tomar aquela
quarta margarita, mesmo depois de me dizer para interrompê-la… —
Ela para, avaliando sua prima.
Ash parece o gato que comeu o canário.
Ela semicerra os olhos para a prima e coloca a mão no quadril.
— Onde você esteve?
Ash coloca um saco plástico no balcão e desempacota caixas de
comida chinesa, espiando por cima do ombro.
— Flertando com homens estranhos fora do seu apartamento.
Tessie esfrega a barriga ao sentir o cheiro de frango agridoce, os
chutes impacientes de Bear ecoando sua própria fome.
— Como está indo fazer as malas? — Ash pergunta, lambendo o
molho de ostra de seu dedo.
Tessie funga.
— Debilitante.
— É a praia — Ash diz, descendo para interceptar um quimono
vermelho-sangue. — Leve a menor merda que você possui e
prepare-se para ser atacada. — Seu rosto se ilumina quando ela
pega um tecido frágil com estampa de oncinha tão fino quanto um
pedaço de fio dental da pilha. — Que tal esse pequeno número
lindo?
— Você está brincando? — Tessie estremece e rouba o biquíni de
Ash. Uma dor oca se espalha por seu estômago. — Estou grávida.
Ninguém quer me ver nisso.
Mais como se ela não tivesse ninguém para vê-la.
Ash inclina a cabeça e pega o biquíni para trás.
— Você não está morta. Seu corpo está bonito. Leve ele. Você é
uma mamãe sexy.
— Não. Eu não sou. — Com o calor ardendo em seus olhos,
Tessie pisca rápido para afastar as lágrimas traiçoeiras. Hoje em dia,
basta um pequeno inconveniente ou uma palavra gentil para fazê-la
entrar em colapso.
— Você está linda. — Ash passa os braços em volta da cintura
dela e a puxa para um abraço. — De verdade.
Tessie enche os pulmões e acena com a cabeça, forçando seu
rosto em uma aparência de sorriso crível. Ela gostaria de ter a
confiança feroz de sua melhor amiga. Nada jamais causou estragos
em sua autoestima como a gravidez. Ser solteira e grávida é muito
pior do que ser solteira. É solitário como o inferno. Seu corpo anseia
por um toque carinhoso, por uma massagem nos pés, por sexo.
Deus, ela anseia por sexo. É como se no minuto em que ela
chegasse ao terceiro trimestre, seu corpo se lançasse em uma
velocidade hiperativa. Ela quer foder. Ela quer que alguém a queira.
Que diga que ela é sexy. Ela não foi tocada, segurada, desde aquela
noite no bar Orelha do Urso.
E os casais felizes comprando roupas para bebês ou passeando
no parque apenas aumentam a dor. Lembretes de que ela não tem
isso. Um parceiro. Alguém na merda com ela.
Uma pessoa com quem compartilhar.
Ela não precisa de um homem para ser feliz, e ela não precisa de
um homem para ter uma família, mas à noite…
As noites são as piores. As noites são quando a dura realidade de
sua situação a atinge com força na cara. Ela está sozinha. Solteira.
Grávida. O bebê dela está chegando em três meses. Um ser humano
real que será totalmente dependente dela. Ela pode fazer isso?
O trabalho dela sofrerá? Ela pode pagar pela creche? E se ela for
uma mãe de merda como seu próprio pai ausente? Ou pior, e se ela
ficar doente e deixar Bear como sua mãe a deixou?
Uma parte dela mal pode esperar para segurar o filho nos
braços, mas outra parte – aquela parte paranóica e em pânico –
quer que ele fique dentro de casa, seguro, para que ela possa
protegê-lo sempre.
As noites são quando ela deseja ter alguém para abraçá-la. Para
dizer a ela que tudo ficará bem.
Piscando para conter as lágrimas, sufocando suas emoções,
Tessie se desvencilha de Ash e pega o biquíni de volta. Seu cabo de
guerra terminou.
— Está bem. Eu vou levar. Vamos torcer para que ainda sirva.
Ping.
Agradecida pela interrupção, ela se deita na cama, apoiando a
barriga e verificando o telefone.
— Ugh, é Atlas. Ele quer uma revisão do painel de humor de
Jacobson.
Ash franze a testa.
— Você está de férias.
Digitando uma mensagem, ela garante ao chefe que a enviará
esta noite.
— Não até amanhã.
— Tesssieee. — Ash rasteja pela cama, amassando vestidos e
mantas de seda. — Prometa-me que não vai trabalhar esta viagem
inteira.
Ela quer prometer. Mas ela não pode. Desacelerar não é uma
opção. As pessoas estão confiando nela. O bebê dela. O trabalho
dela. Seus clientes.
— Acabei de conseguir esse novo cliente, Ash. A promoção. Não
posso deixar cair a bola.
— Cair a bola? Você está trabalhando dezoito horas por dia. Você
sempre coloca seu trabalho em primeiro lugar. Você coloca o Bear
em primeiro lugar. Mas e quanto a você?
Tessie ri sem humor.
— Quanto a mim?
Ash franze os lábios.
— Não é saudável correr como você está correndo. Você está
loucamente grávida. Você não pode empurrar um copo vazio. — Sua
prima coloca a mão sobre a dela, sua voz suavizando. — Você vai
bater e quebrar. Você só tem mais três meses.
Tessie balança a cabeça, não querendo lidar com suas
ansiedades sobre a paternidade agora. Ou a lição de vida
contundente que Ash está lidando. Sua prima tem essa habilidade
incrível de saber exatamente o que ela precisa. Normalmente, ela a
ama por isso. Mas agora, isso a assusta. Tudo sobre esta gravidez a
assusta.
Examinando seu pequeno apartamento, ela morde o lábio
inferior. Ela trabalhou duro para isso. Em qualquer outro lugar, ela
estaria bem. Não LA. A maior parte do dinheiro dela vai para o
aluguel. Em breve, creche. Que ela juntou o suficiente para estas
férias é um milagre.
Ainda assim, seu apartamento é seu santuário. Muito rosa. Uma
poltrona cor de esmeralda. Quadros funky da loja antiga. Um
console de gravação vintage embaixo da janela. Uma pilha de vinil
de um metro ao lado da cama. Um espaço feliz, harmonioso e
positivo.
É por isso que ela se tornou uma designer de interiores. Para que
ela pudesse dar às pessoas seus próprios espaços seguros. Mesmo
com um orçamento apertado, ela e sua mãe criaram seu próprio
espaço confortável em sua pequena casa, decorada com bugigangas
de brechó e latas de tinta spray. Tessie sempre teve um bom olho
para a pechincha, para o vibrante e único. Ela sabe como fazer um
quarto parecer especial e bonito. Todo mundo merece isso.
E Bear vai ter isso.
Só que ele não tem.
Ainda não.
Por estar tão ocupada com o trabalho que não tem tempo para o
filho.
Tudo o que ela fez até agora para se preparar para o bebê foi
limpar um local na parede onde ficará um berço. Inferno, ela ainda
precisa de um berço. Um monitor de bebê. E o que mais? Ela tem
uma longa lista, um planejador de bebê, e ela nem abriu desde que
conseguiu esta promoção. Mais evidências de que ela não está
pronta. Uma grande e esmagadora desesperança cresce em seu
peito, e ela tem que piscar para conter as lágrimas pela segunda vez
hoje.
Ela quase reconhece suas preocupações, seus medos, em voz
alta: E se eu não puder fazer isso? E se eu for uma mãe ruim?
Mas ela não precisa. Sua prima, sua melhor amiga, os conhece.
— Vamos fazer tudo. — Ash aperta a mão dela. — Não se
preocupe.
— É melhor. — Ela ri amargamente. — Ou Bear estará dormindo
em uma gaveta da cômoda.
— Que antiquado. — A cama range quando Ash pula e se
levanta. — O que você precisa fazer é terminar de fazer as malas,
então vamos comer. — Ela aponta para a barriga de Tessie. —
Alimentar o pequeno ouriço.
Isso mesmo. Férias.
Respirando fundo, Tessie pega sua agenda de dentro da mala.
— Você está pronta para ouvir o plano de amanhã? — ela
pergunta, marcando as caixas de seleção com a caneta. — Farei um
rápido passeio pelo Peloton pela manhã e depois nos encontraremos
para um brunch no El Diablo antes de irmos para o aeroporto… o
quê? O que é?
No balcão servindo Lo Mein, Ash balança uma colher no ar,
espalhando o molho de ostra pelo balcão.
— Talvez eu tenha que mudar meu voo.
Tessie esvazia.
— O que? Por que?
Ash pressiona os lábios em uma linha e se concentra na comida à
sua frente.
— Eu sinto muito. Um funeral de emergência surgiu. Eles estão
me pagando o dobro. Pense em quantas margaritas virgens isso
pode nos comprar. — Ela levanta a cabeça e oferece um sorriso de
desculpas. — Eu reservei o próximo voo. Estarei logo atrás de você.
Tessie suspira, deixando seu planejador de lado.
— Gostaria que pudéssemos voar juntas.
— Eu sei. — Os lábios de sua prima se contorcem em uma
expressão que Tessie não consegue identificar. — Você vai se divertir
muito.
Ela vai. Ela realmente vai.
Com uma manicure renovada, cinco biquínis novos e a melhor
suíte do resort esperando por ela, ela está pronta para as férias. Ela
economizou e economizou para isso. Finalmente, finalmente, ela
está se cuidando. Finalmente, ela está relaxando.
Sem estresse.
Sem interrupções.
Só ela e Ash.
Paraíso.

2. Sono com movimento rápido dos olhos.


3. Monitor de batimentos cardíacos.
Capítulo seis

Luxo.
Santuário.
Ela está aqui, por sete dias gloriosos, pronta para aproveitar seu
sonho de férias com champanhe.
Com o coração acelerado, mãos sobre o peito, Tessie caminha
em passos firmes pelo lobby reluzente do Resort Corazón del
Paraíso. Ela aprova na hora. Realmente.
O resort é lindo. De luxo. Exuberante e tropical. Uma lição de
tudo que ela ama. Sotaques arejados e paisagens de sonhos
neutros. Moderno ainda esparso sem ser frio. Uma paleta agradável
de rosas suaves, dourados e cremes. Pisos de mármore. Uma
enorme tigela dourada com flores frescas está sobre uma mesa
circular no meio do saguão. Janelas do chão ao teto exibem a praia
lá fora. As palmeiras balançam com a brisa. Uma cachoeira
borbulhante atrás da área de recepção evoca uma sensação de paz
e tranquilidade. Não há nada que ela projetaria diferente aqui.
— Oh, olá — ela diz para um homem de uniforme de terracota
que apareceu ao lado dela carregando uma bandeja de bebidas
verdes brilhantes que parecem smoothies. — Estes são… — Ela
aponta, e o garçom acena com a cabeça para a bebida, em sua
barriga. — Obrigada — ela diz, pegando um mocktail. — Gracias.
Revigorada, com a bebida na mão, Tessie inala o cheiro do
oceano. Sal e mar. Uma recarga de sua alma.
Uma fuga.
Um chute.
Sorrindo, ela descansa a palma da mão contra o estômago.
— Você também gosta, hein? — ela murmura para Bear.
Enquanto ela toma um gole da bebida fresca de pepino, a
emoção invade o coração de Tessie. Uma excitação que ela
raramente se permite sentir. Quando foi a última vez que ela fez algo
assim? Escapou? Se divertiu? Ela mal pode esperar que Ash e sua
pele pálida e atitude grosseira apareçam. Ela está pronta para o sol.
Pronta para trabalhar em seu bronzeado e disputar uma daquelas
bebidas bizarramente extravagantes de abacaxi fantasiadas com um
pequeno guarda-chuva de néon e torres de guarnições de frutas. E o
quarto. Oh Deus, ela mal pode esperar para ver o quarto. Contra o
conselho de seu orçamento, ela esbanjou em uma suíte. Uma forma
de agradecer a Ash por tolerá-la, por ajudá-la com esta gravidez a
cada passo do caminho. Ela não poderia ter feito isso sem ela.
Tessie liga o telefone para ver a hora. Cansada por causa da
viagem de avião, seus quadris doem e tudo o que ela quer é uma
soneca revigorante. Ou duas.
O dispositivo apita imediatamente em sua mão. Ela geme. Ela é
louca? Ligá-lo é pedir que Atlas a assedie. Ainda assim, seus dedos
coçam. Trabalhar. Consertar. Quando ela vê o primeiro texto, um
peso pesado se instala em seus ombros.
De repente, o tempo não é importante.
Depois de uma batida, ela enfia o telefone em sua bolsa.
Fazendo malabarismos com as malas – o toca-discos de viagem
na mão, a mochila pendurada no ombro, a mala rolando atrás dela –
Tessie cambaleia nos calcanhares enquanto se dirige para a
recepção.
No meio da semana, o saguão está quase vazio, exceto por um
casal discutindo se as lagostas sentem dor quando são fervidas vivas
e um…
Tessie para, ela engasga.
Puta merda, tem um urso.
Um grande urso corpulento no saguão. E está virando. É enorme.
Está vindo em sua direção e…
É barbudo.
Tessie engole em seco.
Oh Deus.
É ele.
A princípio, sua visão não computa. Seu cérebro embaralha,
depois trava. E então grita alto.
Aqui, aqui, o homem da montanha do Tennessee está aqui.
— O que… por que… — Sua boca está permanentemente
desequilibrada, emitindo nada além de um fluxo constante de
balbuciando. — O que… é… você… como… o que…
Seus olhos se chocam quando ele se aproxima dela. Todos os
seus 1,80m em jeans azul e uma grossa flanela xadrez de búfalo
vermelha ajustada sobre os ombros largos.
— Você pegou minha camisa — ele resmunga.
— Eu não peguei. — Tessie leva a mão à boca, recua
cambaleando. Seu batimento cardíaco está fora dos gráficos. Está no
status estratosférico.. — Não se aproxime — ela adverte. Então,
percebendo a atenção dele em sua barriga, ela torce os quadris,
movendo a mochila na frente do estômago para bloquear a visão
dele.
— Você está me importunando. — Ela olha para o casal brigando
com lagostas em busca de ajuda. — Esse homem está me
importunando.
Eles a ignoram, ainda travada em uma batalha acalorada.
Ele resmunga, um olhar infeliz aparecendo em seu rosto áspero.
— Eu não estou.
— Olhe aqui em cima — diz ela, apontando uma unha neon para
ele para desviar o olhar de seu estômago. Ela não gosta do jeito que
ele olha para Bear. Como se ele estivesse aqui para reclamar dele. —
Aqui não.
— Onde mais você quer que eu olhe? — ele murmura.
Ela se empertiga e joga os ombros para trás, recusando-se a ser
arrepiada.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu vi você na TV.
Ela se encolhe. Oh Deus. Aquela maldita entrevista.
— Estou aqui para falar com você — diz ele, soando como se já
estivesse irritado com sua decisão.
Ela estremece com o timbre sombrio de sua voz. É como ela
imagina que uma floresta soaria se pudesse falar. Áspero. Baixo.
Rouca.
— Onde está minha prima? Onde está Ash? — Estreitando os
olhos em suspeita, Tessie estica o pescoço e fica na ponta dos pés,
espiando por trás do corpo do linebacker. Então ela engasga, um
pensamento terrível vindo a ela. — O que você fez com ela?
Ele franze a testa.
— Eu não fiz porra nenhuma. Ela me pediu para vir.
Tessie balança a cabeça como se tivesse água nos ouvidos.
Não. Não. Não. Isso não pode estar acontecendo.
Envergonhado, ele passa a mão pelo grosso cabelo preto e então
enfia a mão no bolso de trás. Ele estende um pedaço de papel
amassado.
— Ela, uh, deu-lhe uma nota.
Uma nota? Uma maldita nota?
Agarrando-a dele, ela abre.

Desculpe.
Eu te amo.
Você precisa disso.
Divirta-se.
Divirta-se?
Tess fica parada ali, congelada, balançando em seus saltos altos.
Furiosa, ela fecha a nota em seu punho, suas emoções tensas se
desfazendo.
— Eu vou matá-la. Vou acabar com ela. Ela é a pessoa que me
colocou nesta posição em primeiro lugar. Porque eu ouvi o conselho
idiota dela. Se anime, se solte, transe, ela disse. Bem, em nenhum
lugar isso dizia “engravide”.
Ela está muito ciente de que está murmurando para si mesma no
meio do saguão, jurando assassinato a sangue frio sob o escrutínio
de um completo estranho, mas ela está muito chateada para se
importar.
O homem abre as mãos, sua expressão desconfortável.
— Eu estava tentando fazer o check-in para você, mas eles, uh,
precisam da sua identidade.
Ela se irrita. Estas são as férias dela. Dela. Em nenhum lugar das
letras miúdas mencionou que ela teria que compartilhá-lo com este
homem da montanha que parece ter acabado de pular em um alce
para viajar para o México.
Ela atira-lhe um olhar.
— Vamos ver sobre isso.
Girando, ela gira sobre os calcanhares e marcha em direção à
recepção. O baque forte de botas a segue.
— Com licença — diz ela, parando na recepção. — Eu preciso
fazer o check-in, por favor. — Ela endurece quando o urso de um
homem se acomoda ao lado dela, seu cheiro flutuando entre eles.
Ele cheira a pinho fresco e ar gelado açoitado pelo vento.
Uma fungada, ela pensa, desejando que suas narinas se fechem.
Apenas uma. Para o bebê dela.
A recepcionista, uma garota usando óculos geométricos
descolados, sorri.
— Claro. Sobrenome?
— Truelove. Tessa.
Enquanto a recepcionista verifica o quarto, Tessie envia uma
mensagem de texto para a prima a ameaçando-a.
Tessie: Você. Está. Morta.
Ash: A verdadeira questão é: você vai ao meu funeral?
Tessie: Passo. Porque estarei na prisão pelo seu assassinato.
— Ah, sim. Você está na suíte Villa Bonita com vista para o mar.
No entanto, sinto muito, senhorita — a garota diz, fazendo com que
o olhar de Tessie se levante. — Seu quarto ainda não está pronto. —
Ela inclina a cabeça em direção às grandes janelas que exibem uma
varanda com vista para o oceano. — Talvez você e seu marido
possam esperar em nosso bar Cielo.
Tessie suspira e aperta a ponta do nariz.
— Ótimo. Já vai começar. — Outro suspiro. — Ele não é meu
marido. — Ela ousa olhar de relance para o homem cujo rosto é
sério e rígido. Muito carrancudo. — Como eu te chamo, de qualquer
maneira?
Uma luz cansada pisca em seus olhos.
— Solomon. Wilder.
Solomon Wilder. Solomon. Ela rola o nome dele na cabeça como
uma bola de gude. Ele parece um Salomon. Mais como um homem
solene. Com um suspiro, ela volta sua atenção para a recepcionista.
— Existe algo que você possa fazer?
— Eu sinto muito. Mas a espera não será longa. — Um sorriso de
desculpas. Outro toque no teclado. — Tenho seu número registrado
e enviarei uma mensagem assim que seu quarto estiver pronto. Se
quiser, pode deixar suas malas aqui e nós as levaremos.
— Okay.
Depois de deixar as malas e o toca-discos com o manobrista,
Tessie se vira e passa por Solomon, atravessa o saguão e sai para a
varanda. Ela escolhe um assento em uma mesa com vista para a
praia. O oceano é um rugido azul fresco contra o pano de fundo
escaldante do sol laranja brilhante. Por um segundo, ela está em
paz. Calma.
Em seguida, um assento próximo arranha o chão de concreto, o
som espetando seu cérebro.
Solomon se senta em frente a ela. Barbudo. Cara séria. Ela
fumega. Ela nem consegue aproveitar o momento porque tem um
homem corpulento e barbudo da montanha bloqueando sua vista
para o mar.
Estreitando os olhos, ela se inclina sobre a mesa.
— Você está suando.
Ele grunhe. Seu desconforto é óbvio.
— Eu sei.
— Você talvez trouxe alguma coisa além de flanela?
— Eu não estava exatamente planejando férias em uma praia
tropical — ele resmunga.
Bom. Ela se recosta na cadeira com um sorriso presunçoso.
Talvez ele abaixe o rabo quando perceber que o sol é quem manda
aqui embaixo.
Seu estrondo rouco de voz rola para fora.
— Tessie, escute. — Tessie. Droga, o nome dela na boca dele a
deixa suave. Como uma faca quente atravessando a manteiga. — Eu
não queria assustar você. Ou pegar você desprevenida.
Tessie alisa o cabelo loiro, tentando parecer mais sã do que se
sente.
— Bem, você fez os dois.
Seus dedos enormes afundam na borda da mesa, um claro
esforço para manter a calma.
— Eu vi você na TV. Vi… — Ele acena com a mão para cima e
para baixo em seu torso. — Eu fui para LA para falar com você e
encontrei Ash. E então–
— Olá. Você quer alguma coisa do bar, señor?
Um servidor espera, pronto para seu pedido.
— Cerveja — Solomon diz, e seus olhares se encontram.
— Coragem líquida?
— Não pode machucar.
— Talvez você tenha uma daquelas bebidas sem álcool de
abacaxi? — Tessie pergunta ao garçom esperançosa, ciente dos
olhos escuros de Solomon olhando para ela.
— Desculpas, señorita — diz ele. — Não neste bar. O bar na praia
tem.
— Refrigerante, então.
Deus, como ela deseja uma dose de tequila, uma taça de rosé,
qualquer coisa para amenizar essa conversa. Debaixo da mesa, ela
segura o estômago, sentindo o baque de pezinhos se afastando
impacientemente.
— Então... você está aqui — ela diz, examinando suas unhas de
praia rosa neon. — O que você quer?
— Você está grávida. — A atenção de Solomon se volta para a
barriga dela. Sua garganta trabalha as palavras. — E é… meu?
Seria tão fácil mentir. Para dizer não a ele, para tirá-lo do
caminho. Mas ela não é um monstro.
Ela levanta o queixo. Encontra seus olhos fixos e diz:
— Sim.
Ele agarra os braços da cadeira.
Sua reação de mundo fora do eixo é óbvia. Ela fica quieta por um
instante, deixando-a absorver.
Solomon se recosta na cadeira, o maxilar frouxo e o corpo rígido.
Expirando, ele passa a mão pela barba escura.
— Merda.
Ele fica sentado assim por um, talvez dois minutos, até que as
bebidas sejam servidas, e então ele engole metade de sua cerveja
de um só gole. Enquanto ele faz isso, Tessie leva um segundo para
avaliá-lo. Ela o vê pela primeira vez em seis meses. De perto. Muito
perto.
Perigoso demais.
Bonito demais.
Ela fica com água na boca. Seu coração palpita. Há uma pontada
distinta lá embaixo que vem de uma longa seca. De querer.
Seus olhos ainda são do mesmo azul profundo de que ela se
lembra. Cor Pantone 19-4045 TCX Lapis Blue. Um tom tão escuro
que poderia ter vindo das profundezas do mar. Sob as mangas de
sua flanela grossa, seus bíceps parecem tijolos. Sua barba preta é
cortada rente. Seus ombros têm seu próprio código postal. Grande.
Enorme. Tudo sobre ele é enorme. Ela poderia surfar em sua
clavícula. Suas mãos largas e calejadas poderiam engolfá-la.
Oh, Deus. Ela segura a barriga, estremecendo com o
pensamento. O bebê será explosivo. Isso vai rasgá-la ao meio.
— Jesus, porra, Cristo. — A maldição a faz focar em seu rosto.
Torcido em uma carranca mal-humorada. — Como isso aconteceu?
Usamos camisinha… — insiste ele, com a voz rouca, passando a mão
pelo cabelo grosso e preto.
— Falhou. Nem tudo é infalível. Hindenburg4, Titanic, MySpace.
— Seu telefone emite um ping melódico, mas ela o ignora, pegando
seu copo, absorvendo a condensação fria. — Podemos fazer um
teste de DNA se você não acredita em mim.
Aqui está. Ele vai embora. Ele só está aqui para garantir que não
vou processá-lo por pensão alimentícia.
Ele dá a ela um olhar como se ela fosse estúpida.
— Eu acredito em você.
Ela pisca. Seu coração bate contra suas costelas.
— Você acredita? Eu quis dizer… bom. Você deve. Porque eu não
faço sexo.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— O tempo todo, quero dizer — ela gagueja, correndo para
esclarecer. — Quero dizer, não com estranhos. Não com qualquer
um. Aquela noite, foi…
— Um erro? — Solomon pergunta em voz baixa.
Engolindo em seco, Tessie olha para seu estômago inchado.
— Não. — Ela volta sua atenção para ele. — Eu não chamaria
isso assim. Não mais.
Assentindo, ele leva a cerveja aos lábios e a termina. A
expressão dele é pensativa, os olhos no rosto dela daquele jeito
taciturno e carrancudo dele.
Ela franze os lábios.
— Se faz alguma diferença, eu tentei te encontrar. Liguei para o
bar. Até os mandei colocar cartazes.
Um sorriso, quase escondido atrás daquela barba escura,
contorce a borda de seus lábios.
— Como cartazes de procurado?
Ela cora, seu rosto fica quente.
— Como pessoas desaparecidas. — Ela limpa a garganta. — De
qualquer forma, o que estou dizendo é que achei que você deveria
saber sobre Bear.
Um grunhido.
— Bear?
— O bebê. É assim que eu o chamo.
— Ele? — Desta vez, os dedos de Solomon apertam seu copo de
cerveja vazio.
Ela tapa a boca com a mão.
— Merda. Desculpe. Eu não... eu…
Ele levanta uma mão.
— Tudo bem.
Um músculo se contrai em sua mandíbula barbuda. Um sorriso?
Careta? Uma combinação dos dois? Um sorrisocareta? Uma
caretasorriso?
Com as sobrancelhas franzidas, ele pergunta:
— Você descobriu?
— Claro que sim. Já tive surpresas suficientes para durar todos
os meus trinta anos. — Ela joga o cabelo para trás, pronta para
acabar com suas renúncias e tirar Solomon Wilder de sua ilha. —
Olha. Você não tem nenhuma obrigação com esta gravidez, ok? Eu
não quero nada de você. Não preciso de dinheiro nem de pensão
alimentícia. Estou preparada para fazer isso sozinha. Eu possofazer
isso sozinha.
Uma carranca profunda franze sua testa, suas íris são chamas
azuis gêmeas.
Ela espia por cima do ombro para se certificar de que é a fonte
daquela carranca de raiva.
— Vamos esclarecer uma coisa — Solomon diz em um tom
áspero que não tolera discussão. — Quero estar na vida do meu
filho.
— Oh. — Tessie se endireita, suas palavras decisivas fazendo
algo tortuoso e quente por dentro dela. — Ok. Bom, então. — Ela dá
um aceno firme, seu olhar marcando o dele. — Apesar do que as
pessoas possam pensar, não sou tão terrível assim. Eu nunca o
manteria longe de você.
— Terrível? — Ele franze a testa. — Quem diz isso sobre você?
— Ninguém. Todo mundo. — Ping. Desta vez, ela procura seu
telefone. — Oh, graças a Deus — ela respira. — O quarto está
pronto.
Ele ainda a está estudando. Ainda franzindo a testa.
Vendo que a conversa não acabou, ela murcha.
— O que você quer, Solomon?
Ela sabe o que ela quer. Uma cama. Um travesseiro para gritar.
Uma meia de compressão para grávidas para estrangular Solomon
Wilder.
— Olha, eu não sei de nada, exceto que este bebê é meu e eu
vou fazer a coisa certa. — Ele a imobiliza com um olhar. — Você está
aqui por uma semana, certo?
Um poço de pavor se forma em seu estômago.
— Eu estou.
— Vamos fazer um acordo, então. Vamos levar três dias para nos
conhecermos. — Ele a segura em seu olhar inabalável. —
Conversaremos. Resolveremos isso. Descobriremos como criar nosso
filho juntos em paz.
Momentaneamente pega de surpresa por sua oferta, Tessie se
fixa no rosto de Solomon. Seus olhos azuis sérios com rugas fracas
nos cantos. Sua expressão solene. Ele é realmente um cara tão bom
quanto afirma ser? Será que ele realmente vai ficar? Tentar ter um
relacionamento com seu filho? Parece bom demais para ser verdade.
Mas ele está aqui, não é? Ele a seguiu até o México para conversar.
Talvez ele seja um cara legal.
Talvez.
Mas ela não precisa saber. Não quer saber nada sobre ele. Ele é
um doador inadvertido de esperma que deu a ela uma das melhores
noites de sua vida. Eles não têm nada em comum, exceto um acordo
para descobrir como criar seu filho.
— Você está bem com isso? Três dias? — Solomon abre suas
grandes mãos sobre a mesa. — Então vou deixar você para o resto
de suas férias.
Ela não está muito bem com isso.
Por mais egoísta que seja, ela não quer ficar presa a Solomon
Wilder. Ou compartilhar.
Suas férias.
Seu bebê.
Ela fez essa coisa de gravidez sozinha nos últimos seis meses, e
ter esse estranho, esse homem, colocando seu corpo corpulento no
caminho de seus planos perfeitamente elaborados é um pé no saco.
Ainda assim, quanto mais cedo ela concordar, mais cedo ela pode
acabar com isso. Recupere as férias dela. Tire esse taciturno homem
da montanha vestido de xadrez de Buffalo de sua vida.
Três dias.
Ela aguenta três dias.
Tessie encolhe os ombros e joga seu longo cabelo loiro.
— Está bem.
Um grunhido.
— Bom.
Eles concordam com isso.

4. Hindenburg foi um dirigível construído pela empresa Luftschiffbau-Zeppelin GmbH, na


Alemanha. O dirigível, até os dias atuais, retém o título de a maior nave a voar.
Capítulo sete

Solomon segue atrás de Tessie enquanto eles são guiados para seu
quarto. Ao longo do caminho, o porteiro fala sobre as comodidades
do resort, como bares de champanhe e serviço de concierge
dedicado e festas temáticas noturnas. Tessie concorda com a
cabeça, mas o cérebro de Solomon parece que vai explodir. Todos os
tipos de pensamentos rolam em sua cabeça.
A primeira: Você pegou minha camisa.
Jesus Cristo. Essa observação idiota foi o que saiu de sua boca
depois de vê-la pela primeira vez em seis meses? Na época, era tudo
em que ele conseguia pensar. Ele a viu parada naquele saguão,
atordoada, e isso o desequilibrou. Cristo, ele rosnou para ela.
O segundo: um filho. Ele vai ter um filho. Ele vai ser pai. O
pensamento não o assusta tanto quanto ele pensou. Bear. Ele
repete o apelido silenciosamente. Ele gosta disso. Na verdade, ele
amaisso.
A terceira: Tessie e o que fazer com ela. Tensa. Defensiva. Muito
longe da garota selvagem e descontraída que desnudou sua alma
para ele do lado de fora do bar Orelha do Urso. O sorriso que o
atingiu direto no plexo solar naquela noite é substituído por uma
carranca que – ele ousa dizer – a deixa ainda mais bonita do que ele
se lembrava. Todos os longos cabelos loiros, lábios em tons de rubi e
delicadas feições de elfo. E o pior é que ele não consegue tirar os
olhos dela. Seu corpo é esguio e tonificado, sua barriga uma
pequena bola dura de bebê.
Seubebê.
O pensamento faz algo com seus sentidos. Substitui todo
pensamento racional e o substitui por um instinto primitivo
programado.
— E aqui estamos.
O anúncio animado o faz parar no meio do caminho. O porteiro
parou ao pé da escada que levava a uma suíte situada na beira da
praia de areia branca. O oceano se agita, agitado. Aquecendo-se na
calçada ao sol está uma iguana em coma. Ao longe, os gritos das
gaivotas. A música percussiva aumenta à distância.
É tudo muito claro e muito estranho. Não é um lar como
Chinook. Familiar. Estável. Ainda assim, ele está aqui e fará o melhor
possível. Se ele pode viver em uma cabana na floresta por sete
anos, ele pode ficar na praia por três dias.
Cada músculo do corpo de Solomon se contrai quando Tessie
escorrega ao dar o primeiro passo, seus calcanhares escorregando
no cimento molhado. Ele se move rápido, avançando para envolver
um braço protetor em volta da cintura dela. Ela fica tensa quando
ele a puxa para perto, mas se agarra a ele enquanto se orienta.
Perto. Tão perto que o cheiro dela flutua entre eles, uma mistura
de coco e sal marinho. Com ela perto em seus braços, é fácil
registrar o quão pequena ela é. Talvez um metro e sessenta e quatro
sem salto e só pernas e barriga.
— Você está bem? — ele pergunta rispidamente, fazendo o
possível para ignorar a curva do estômago dela contra o dele. O
piscar de seus cílios longos e escuros faz algo insano em seu
cérebro.
— Estou bem. Malditos saltos — ela diz, olhando para ele com
grandes olhos castanhos chocolate.
— Não deveria usar salto.
Ela zomba. Então ela está se afastando dele e subindo as
escadas.
Solomon balança a cabeça.
Teimosa. Bom saber.
O irrita que ela esteja irritada com a presença dele, mas ela terá
que lidar com isso. Absorver como toda aquela poluição de Los
Angeles com a qual ela vive diariamente.
Ele tem que se abaixar até a escada e, quando finalmente
consegue se espremer na esquina, o porteiro está acenando com a
chave do quarto contra o sensor.
— Existem dezesseis restaurantes gourmet na propriedade do
resort, refeições ilimitadas e bebidas premium.
— Espere — diz Solomon. — Está tudo incluso?
Tessie dá a ele um olhar fulminante.
— É isso que ‘tudo incluso’ significa, Solomon. É ilimitado.
Sem se impressionar, ele cruza os braços.
— Parece um desperdício.
— Não é um desperdício, é… — Ela para quando a porta se abre
para revelar o quarto com um floreio. — Cinco malditas estrelas —
Tessie engasga e então se joga para dentro.
O porteiro sorri.
— Ela é rápida, señor.
Solomon acena com a cabeça, lutando contra seu próprio sorriso.
— Ela é. Merda — diz ele, seguindo-a, esfregando as palmas das
mãos suadas de repente nas coxas de seus jeans.
Instantaneamente, ele está fora de seu elemento.
Assim como Tessie – o quarto é deslumbrante. Uma grande área
de estar luxuosa com um sofá em forma de L, uma mesa de centro
que parece uma laje de concreto e cadeiras de veludo. Um quarto
principal com uma cama king-size macia. Azulejo de mármore.
Impressões de palmeiras art déco estão penduradas na parede. Suas
malas já estão nas bandejas de bagagem no quarto.
Entretido, Solomon observa Tessie voar pela sala, passando os
dedos por todas as superfícies. Metal. Seda. Madeira. Ela é como
uma frase de salto alto. Ela gira em um círculo, praticamente
levitando enquanto contempla a sala. Mal consegue ficar em um
lugar antes de correr para examinar uma nova peça de decoração.
Ele prende a respiração enquanto a observa. As mãos puxadas para
o coração, a boca aberta de admiração enquanto ela admira a sala
brilhante.
Significa algo para ela. Estas férias.
Ela faz uma pausa no bar onde garrafas de Tito's5 acenam.
— Oh, você poderia olhar para esta laje com borda natural? —
Suas unhas rosa neon batem uma batida ao longo da bancada
folheada. E então ela sai e se move novamente, um coro de oohse
ahhsse arrastando em seu rastro.
— Você está… — Ele faz uma pausa. — Cheirando os
travesseiros?
Suas bochechas coradas, um travesseiro redondo em suas mãos.
— É coisa minha, ok?
Divertido, ele dá de ombros.
— Qualquer coisa que você diga. Faça o que quiser, Tessie. — Ele
pensa nisso. — Designer, certo?
— Isso mesmo.
Ele está enfiando a mão no bolso em busca de dinheiro para dar
uma gorjeta ao porteiro quando Tessie se lança na frente dele,
vencendo-o. Ela desliza de volta para a área de estar, flutuando em
direção a uma grande faixa de cortinas que Solomon só pode supor
que esconde o terraço da vista.
— Interiores — Um lance de seu longo cabelo loiro. —
Transformando espaços. Deixando-os bonitos.
Solomon observa o metrônomo de seus olhos castanhos do outro
lado da sala.
— O que você está fazendo?
— Estou pensando nas cores.
— Cores.
— Como combinar cores. — Ela faz uma pausa, explica. — No
designer de interiores, temos uma paleta. Tipo tem o azul, a cor
base, mas não para por aí. Há azul com tons de verde ou amarelo,
ou… — Ela estala a boca fechada. Sorrisos. — Estou confundindo
você.
— Um pouco.
— Existem essas coisas chamadas cores Pantone. Cores
padronizadas que garantem que a cor que você deseja seja a cor
que você obtém. Sem surpresas. — Um sorriso presunçoso cresce
em seu rosto. — Posso atribuir uma cor a qualquer coisa.
— Então o que é isso? — Ele aponta para um cobertor de pele
falsa cinza jogado sobre o sofá.
Sem perder o ritmo, ela diz:
— Fumaça de lava.
Ele não pode evitar.
— E os meus olhos?
Com as narinas ligeiramente dilatadas, Tessie joga o cabelo para
trás.
— Não pensei nisso. — Com um pequeno movimento, ela vai até
o botão na parede ao lado das cortinas de linho. — Devemos ver o
que isso faz? — Ela lança a ele um olhar animado por cima do
ombro e então o pressiona. Um grito sai dela quando as cortinas se
abrem para revelar um espaçoso terraço com vista para o Pacífico.
Com outro suspiro, Tessie abre as portas de vidro deslizantes,
uma rajada de ar salgado do mar passando.
Até Solomon tem que admitir: a vista é ótima.
O oceano está praticamente no quintal deles. Árvores de mangue
pendem de cada lado da varanda. O som das ondas quebrando
flutua sobre a praia. Jacuzzi. Uma área de estar com móveis de praia
e espreguiçadeiras.
Conforme Tessie se move para o corrimão de ferro forjado, cada
músculo de seu corpo entra em alerta vermelho. A visão dela e de
seu filho na beira da varanda, empoleirados ao lado da grade do
meio do quadril, o assusta pra caralho.
Ela está segura, Sol. A voz calma de Serena gira em torno dele.
Ela está segura.
Para acalmar seus nervos, ele se junta a ela. Alívio passa por ele
no segundo que ele está ao lado dela. Estabilizando seus batimentos
cardíacos, o pânico disparando em seu pulso.
— Boa vista.
— Ela é. — Ela levanta o telefone para tirar uma foto, depois o
abaixa e franze o nariz. — Nunca parece o mesmo nas fotos.
— É por isso que você deve aproveitar o momento.
Seus lábios se curvam.
— Isso é muito Buda vindo de você, Solomon.
Ele ri ironicamente.
— Você quer uma boa vista, deveria vir para Chinook.
Ela inclina a cabeça, seus longos cabelos loiros caindo em
cascata sobre os ombros.
— O que é Chinook?
— Uma pequena cidade fora de Anchorage. Onde eu vivo.
Chinook, Alasca.
— Alasca. — Olhando de soslaio para ele, ela finge um arrepio.
— Deus. Isso é, tipo, extremos opostos do espectro. O que, está
nevando lá agora?
— Poderia estar. — Setembro é cedo para neve, mas sabe que
isso acontece.
Ela arqueia uma sobrancelha, um leve sorriso nos lábios.
— Ainda é o melhor lugar para olhar as estrelas?
Seu coração se agita com a lembrança daquela noite.
— Malditamente certa.
Ping.
Ping.
Ping.
— Essa coisa nunca para? — Solomon resmunga. O telefone dela
está tocando desde que ele a encontrou, despertando nele um
desejo real de jogá-lo fora do terraço.
Com o peito arfando, ela dá um suspiro exagerado, quebrando o
contato visual com ele para examinar seu telefone.
— Quem dera.
A captura em sua voz fez com que ele a olhasse mais de perto.
Suas palavras são misturadas com o mesmo tom desanimado
que ela usou quando disse: “Não sou tão terrível assim”. E isso o faz
querer bater em alguma coisa. Provavelmente a pessoa do outro
lado do telefone.
Ela levanta o dispositivo, digita uma mensagem de texto
frenética, depois gira nos calcanhares e sai correndo.
Solomon rastreia seu movimento, observando seu pequeno corpo
desaparecer no quarto. Ele passa a mão pela nuca, um estranho
desamparo balançando dentro dele como uma bóia perdida. Ele se
perguntou sobre essa garota nos últimos seis meses – seu nome, de
onde ela era, por que ela fugiu dele na manhã seguinte – e agora
ela está aqui, mas tudo o que ele pode fazer é ter uma conversa
formal.
Tudo sobre isso é estranho. Ele está preso com ela por três
malditos dias. Uma parte dele quer se concentrar nos negócios,
descobrir como criar o filho e depois pegar o próximo avião de volta
para Chinook. Outra parte, a parte que não pode negar aquela noite
entre eles, quer saber mais sobre ela. Quer dizer a ela que ela
iluminou ele, e ele não tem sido o mesmo desde então.
Voltando-se para a água, Solomon inala profundamente, sentindo
o cheiro de sal e surf. O México não tem neve nem montanhas, mas
pelo menos não é uma cidade de cimento. Ele examina o horizonte.
Um catamarã flutua preguiçosamente pelo oceano. As ondas
quebram na praia.
Um grito estridente vindo do quarto.
O alarme o faz disparar, a adrenalina instantaneamente correndo
em suas veias.
— Tessie? — ele chama, entrando no quarto.
Ela está de pé ao lado da cama king-size macia, vestindo um
roupão felpudo sobre o macacão, um olhar aflito em seu rosto
bonito.
Ele agarra o braço dela, puxando-a para longe da ameaça
invisível.
— O que é? O que está errado? — Com o coração batendo forte,
ele procura o culpado. Um roedor ele pode enxotar; talvez um inseto
que ele possa bater com a bota.
— Isso. — Ela gesticula, seus braços girando freneticamente. —
Puta merda. Este é o meu pior pesadelo. Há apenas uma cama.
Umacama, Solomon.
— Cristo. É isso? — Ele respira com dificuldade, seu pulso
fazendo uma estranha batida irregular. Esta mulher está fazendo-o
suar, fazendo-o perder a cabeça, e ele só a conhece há algumas
horas. — Eu vou dormir no sofá, ok?
Sua expressão tensa relaxa um pouco e ela pisca.
— Você vai?
— Eu vou.
— Tudo bem — ela funga, movendo-se para sua mala. — Então
eu vou desfazer as malas.
— Deixe-me — diz ele, interceptando-a antes que ela possa
pegar a mochila superlotada. — Eu não quero que você levante nada
pesado.
A maneira como os olhos dela se arregalaram, o olhar de
surpresa em seu rosto o destrói. Como se ninguém nunca tivesse se
oferecido para cuidar dela antes.
Ele pega a mala do chão e a coloca no bagageiro ao lado da
cama.
— Jesus, o que tem aqui, tijolos?
Ela dá um passo ao redor dele, um pequeno sorriso nos lábios.
— Não. Coisas de bebê.
Solomon observa enquanto Tessie desempacota uma pilha grossa
de livros para bebês, todos com títulos que parecem filmes de terror
que fazem sua pressão arterial disparar: Trabalhando Do Seu Jeito,
Amamentando Como Um Chefe. Em seguida, vêm as vitaminas pré-
natais, leggings transparentes e uma engenhoca de aparência
estranha que tem uma varinha presa a um longo cordão.
— É um monitor de batimentos cardíacos fetais — ela oferece,
vendo seu olhar confuso. — Para que eu possa ouvir os batimentos
cardíacos de Bear. — As pontas de suas orelhas ficam com um
adorável tom de rosa. Sua mão cai para embalar sua barriga. —
Estamos em uma ilha, e como meu médico não está aqui… Eu
queria ter certeza de que ele está bem. Apenas por precaução, você
sabe.
A boca de Solomon fica seca. Há uma pontada de gratidão
esmagadora em seu peito ao pensar em Tessie cuidando tão bem de
seu filho antes mesmo de ele nascer.
— Você, uh, planejou tudo — ele diz, sua voz ainda mais áspera
enquanto ele força as palavras ao redor da pedra em sua garganta.
Ele é recompensado com um sorriso tímido. Assim como na noite
em que se conheceram. Uma referência à garota, à noite que mudou
o mundo dele.
— Eu tento. — Ela balança o cabelo, radiante. — É o meu
trabalho.
Antes que ele possa pensar em uma resposta, ela se afasta dele,
sua expressão se fechando, como se ela se arrependesse de ter
dado tanto a ele.
Enquanto ela se ocupa desempacotando e organizando suas
coisas com cuidado, como se estivesse se mudando para o quarto
pelos próximos dois meses, Solomon leva um segundo para estudá-
la, como se pudesse descascar as camadas e chegar ao fundo de
Tessie Truelove. A fadiga embota suas íris cor de chocolate. Sua
coluna está reta como uma vareta enquanto ela secretamente
verifica seu telefone.
Ela se vira. Um vestido longo e colorido em suas mãos.
— O que? — Seus olhos se estreitam em suspeita. — Você está
encarando.
Dominado pela vontade de afastar o cabelo do rosto dela, ele
enfia os punhos nos bolsos da calça jeans.
— Você está cansada?
Ela solta um suspiro aflito.
— Por que? Eu pareço tão horrível?
Horrível, não. Linda. Feroz. Exausta. Cada sim no maldito livro.
Solomon luta contra uma coceira para fazê-la se sentar. Tirar seus
saltos altíssimos. Colocá-la naquela cama macia e apoiá-la em
travesseiros de seda como uma rainha. Mas ele segura a língua. Não
é o lugar dele. Eles tiveram uma noite juntos há seis meses. Isso é
temporário, os dois no mesmo cômodo.
Eles não têm nada em comum, exceto um acordo para descobrir
como criar seu filho.
— Não — ele resmunga. — Você parece bem.
No minuto em que as palavras saem de sua boca, ele geme
interiormente.
Bem. Porra, bem.
Suave pra caralho.
Sua expressão se achata.
Ele suspira.
— Ouça, vamos jantar e depois cada um pode fazer o que quiser.
— Jantar — ela ecoa, sua expressão distante.
Ele examina sua barriga.
— Vocês dois deveriam comer. Serviço de quarto?
— De jeito nenhum — ela argumenta, endireitando os ombros. —
É meu primeiro dia de férias. Não vamos ficar no quarto. Nós vamos
sair.
A última coisa que ela parece querer é sair, mas ele se segura.
Ainda está remoendo as olheiras sob seus olhos. Sobre o telefone
que está agora no silencioso, mas pisca a cada minuto. Um lampejo
de irritação o faz cerrar a mandíbula. Quem diabos está
incomodando ela durante as férias?
Tessie procura seu planner. Uma caneta aparece em sua mão
como uma varinha.
— Vamos ver… — Com a língua saindo do canto da boca, ela
examina a página. — Esta noite, nós temos… — Um gemido
sobrenatural surge dentro dela. Jogando-se na beirada da cama, ela
equilibra os cotovelos nos joelhos. Com o queixo na palma da mão,
ela encontra o olhar dele e diz: — Temos reservas para o jantar.
Ele franze a testa para ela.
— Você diz isso como se fosse uma coisa ruim.
— E é. — Com um suspiro, ela deixa cair o rosto em suas mãos.
— Uma coisa muito ruim.

5. Vodka.
Capítulo oito

Um jantar à luz de velas sob as estrelas. Uma mesa decorada com


um deslumbrante arranjo floral tropical e velas cintilantes. O ar
fresco do oceano, o rugido das ondas, o céu iluminado pela lua
acima. Perfeição.
Nada poderia arruinar.
Nada, isto é, exceto Solomon – sentado em frente a Tessie, seus
ombros grandes e largos bloqueando sua visão do oceano pela
segunda vez hoje. Para adicionar insulto à injúria, ele ainda está
vestindo aquela maldita camisa de flanela. Claramente, o homem
não sabe nada sobre as vibrações relaxantes da praia e, em vez
disso, planeja encará-la a noite toda como um pé-grande mal-
humorado.
Já é ruim que eles compartilhem uma criança. Agora ela tem que
compartilhar um jantar cinco estrelas.
Tessie se mexe na cadeira, passando a mão pela barriga sobre o
vestido maxi azul neon que vestiu. Ela resiste à vontade de verificar
o telefone, aninhado discretamente perto da borda do prato.
Enquanto o garçom ajusta os talheres, a testa de Solomon
franziu em consternação.
Tessie respira fundo e levanta a mão, antecipando-se à crítica
dele.
— Antes que você diga qualquer coisa, os assentos são limitados,
ok? Paguei adiantado. Não consegui cancelar.
Seus lábios se contraem.
— Eu não disse nada.
Ela franze a testa. Ela já pode ver aqueles músculos gigantescos
estalando em uma risada silenciosa.
Um sussurro de aborrecimento passa por ela. Ash deveria estar
aqui com ela, não Solomon. Claro, é meio clichê – velas ao longo do
caminho e pétalas de rosa espalhadas na areia – mas quando ela
reservou isso, estava desejando um pouco de clichê. De romance.
Mesmo que estivesse planejando compartilhar isso com Ash.
Três dias, ela lembra a si mesma. Três malditos dias.
Tentando uma conversa casual, Tessie pergunta:
— Vê algo de que você gosta?
Solomon, avaliando o cardápio com escrutínio entediado,
resmunga:
— Pelo menos o peixe é fresco.
Ela revira os olhos para o céu estrelado. Está ali com o estraga-
prazeres do momento quando poderia estar com Ash. Ela aperta o
guardanapo com força. Ela vai estrangular sua prima.
Preferencialmente depois que o bebê nascer, porque ela precisa de
uma parteira, mas definitivamente vai acontecer um
estrangulamento.
Um garçom de luvas brancas de vinte e poucos anos aparece,
com uma garrafa de prosecco nas mãos. Louis, lê-se no crachá
banhado a ouro em sua camisa engomada.
Antes que ela possa dizer qualquer coisa, Solomon resmunga:
— Ela não pode beber isso.
Um arrepio a percorreu, os dedos dos pés de Tessie se curvando
em seus calcanhares com o tom autoritário de sua voz.
O garçom faz uma pausa no meio da garrafa, sacudindo a cabeça
para Solomon.
— Para você, señor?
Solomon cruza os braços, suas mangas xadrez apertando seus
bíceps.
— Eu vou beber o mesmo que ela.
Tessie respira surpresa com sua demonstração de solidariedade.
— Você não precisa fazer isso.
Ele dá a ela um longo olhar taciturno, sua expressão plana.
— Tess.
Tess. Firme.Grave. Ela meio que gosta disso.
Não. Absolutamente não. Porque gostar de qualquer coisa sobre
Solomon Wilder significa desenvolver um apego, e o único apego
que ela tem é por Bear, literalmente ligado a ela através do cordão
umbilical, e é assim que vai ficar. Pelo menos nos próximos três
meses.
— Oh, uh, ok. — Louis e Solomon a observam. — Você tem
aquelas bebidas de abacaxi? Com os óculos de sol e o lindo guarda-
chuva?
— Não, señorita. Sinto muito. Essas são apenas no…
— No bar, entendi. Um mocktail, então. — Aturdida, ela procura
uma lista de bebidas. — Eu não… você tem um cardápio ou…
— Ginger ale, suco de limão, folhas de hortelã, xarope simples —
Solomon diz a Louis. Mas ele está olhando para Tessie. — Tudo bem
para você?
Ela pisca.
— Sim. Espere! Vamos começar com os bolinhos de caranguejo
— ela deixa escapar antes que o jovem possa desaparecer. Antes
que ela possa murchar de fome. Ela não deveria ficar tanto tempo
sem comer. Esfregando a barriga, ela pede desculpas
silenciosamente a Bear enquanto o garçom se afasta.
Impressionada, Tessie olha para Solomon.
— Você conhece suas bebidas.
— Eu conheço.
Ela joga os ombros para trás, resistindo à vontade de revirar os
olhos pela segunda vez esta noite. Tudo nele é um grunhido? É
assim que ele se comunica? Em frases monossilábicas?
— Bem — ela fala lentamente, levantando uma sobrancelha. —
Como você conhece suas bebidas?
Outro grunhido. Deus, é como tentar arrancar uma confissão de
um condenado à morte.
Mexendo-se em seu assento, a montanha de um homem
pigarreia.
— Um amigo meu e eu… temos um bar.
— Mesmo? — Ela inclina a cabeça, tentando imaginar um bar no
Alasca. Iglus. Icebergs. Gordura de baleia. — Isso é… legal. Você é
barman?
— Um chef. — Um músculo se contrai em sua mandíbula
barbuda, seus frios olhos azuis caindo para o prato. — Eu era.
Ela franze a testa.
— Você não cozinha mais?
— Não. Eu não cozinho mais.
Que pena. Ela observa suas tatuagens coloridas. As mãos dele.
Largas e calejadas, grandes como patas de urso, parecem que
podem fazer estragos na cozinha.
E no quarto.
Não. Não. Não vou lá. Fui lá uma vez, não novamente.
Corando, Tessie toma um gole de água para afastar os
pensamentos inapropriados.
— O que você faz? — ela pergunta. — Você tem um emprego,
certo?
Não que ela queira o dinheiro dele, mas faria maravilhas para sua
auto-estima se o pai de seu bebê estivesse empregado.
— Faço móveis. Vendo quando posso.
— O que mais você faz no Alasca?
Solomon faz uma pausa no aparecimento do garçom. Uma vez
que as bebidas são servidas, coquetéis sem álcool coloridos em
copos coupé, ele fica em silêncio. É quando Tessie percebe que ele
está esperando que ela tome o primeiro gole.
Então ela toma.
— Mmm — diz ela. Leve e refrescante em sua língua. — Está
perfeito.
Está mesmo. Apenas o suficiente para fazê-la se sentir elegante.
Sentir-se normal.
Solomon abaixa o queixo, aquela barba se contorcendo
novamente. Ele parece satisfeito com a resposta dela e leva o
próprio copo aos lábios. Tessie tem que conter uma risadinha ao ver
esse homem corpulento e barbudo da montanha erguendo uma
bebida chamativa como se não fosse grande coisa.
— Então, no Alasca — diz ele, retomando a conversa
interrompida — eu pesco. Caço.
— Você come carne?
— Cristo. — Ele coloca sua bebida na mesa, seu belo rosto triste.
— Você é vegetariana?
— Só na lua cheia depois de sacrificar uma virgem.
Ele pisca.
— Estou brincando. — Ela lhe dá um sorriso provocador.
Apoiando os cotovelos na mesa, ela apoia o queixo nas mãos e o
avalia. — Você é um homem muito solene, sabe.
Um pouco da tensão deixa sua expressão. Um sorriso fraco, mas
real, surge no canto de seus lábios. A queimadura de seus olhos
azuis escuros nos dela fez seu estômago revirar. Tem sua mente
voltando para o bar Orelha do Urso. Solomon, bonito, bonito demais,
pelo jeito que ouvia, mostrou-lhe as estrelas. Suas mãos fortes, mas
gentis sobre o corpo dela, uma necessidade desesperada e bêbada
formando um arco entre eles enquanto eles se chocavam contra a
porta do quarto de motel.
Só que esta noite há algo diferente nele.
Ela aperta os olhos. Ele é como uma estranha cifra do zodíaco
carrancuda que ela não consegue decifrar. Cada pedaço de um
metro e oitenta, carrancudo e de ombros largos dele. Ela está
curiosa. Uma parte dela quer continuar cavando. Este é o pai de seu
filho. Ela deveria conhecê-lo. E ainda…
Outra parte dela não quer conhecer Solomon Wilder.
Claro, eles compartilharam uma noite… uma noite perfeita e
gloriosa, e agora eles compartilham um filho. Mas mais do que isso?
Fora da mesa. Aproximar-se, apegar-se, sentimentalizar? Não está
nas cartas dela. Toda a sua energia precisa ficar focada em como
manter sua vida em ordem. Como ser uma boa mãe para seu filho.
A última coisa que ela precisa é de um homem para bagunçar as
coisas.
E é aí que ela vê. O que é diferente.
— Sua aliança — ela deixa escapar.
Ele se encolhe.
Um batimento cardíaco de silêncio.
— Você tirou a aliança — diz ela novamente. Mais suave agora.
Um aceno apertado. As palavras saem de sua boca.
— Eu tirei.
— Nova namorada? — Tessie tenta ser indiferente. Embora ela
não devesse se importar. Não deveria estar prendendo a respiração
esperando por sua resposta.
— Não. Nenhuma namorada nova. — A dor vincando suas
feições, ele abre a boca, então a fecha tão abruptamente quanto o
garçom aparece com o aperitivo. Eles fazem seus pedidos, a mesa
caindo em um silêncio constrangedor com o desaparecimento do
garçom.
— Então não tem… ninguém?
Silêncio.
Tessie olha para o estômago, mordendo o lábio, querendo se
desculpar, procurando algo inócuo para dizer, para afastar o alívio
que de repente atingiu seu coração.
Anotado. Esposa morta. Assunto delicado.
Um resmungo de Solomon.
— O que está errado? — ela pergunta, pegando um pedaço
escamoso de caranguejo.
— Não consigo nem ver minha comida — ele resmunga,
cutucando um bolo de caranguejo.
— Aqui — diz ela, pegando o telefone para ligar a lanterna.
Ele estremece com a explosão brilhante da luz.
— Jesus. Você tem que fazer isso?
— Bem, você queria ver — ela argumenta, então se recosta na
cadeira com uma carranca.
Dane-se a conversa fiada e a atitude ranzinza de Solomon. É
hora de começar a trabalhar. Hora de acabar com isso. Hora de
sondar esse homem antes que ela concorde com qualquer coisa em
relação ao filho deles.
— Vamos falar sobre Bear — ela anuncia, com o queixo erguido.
Solomon olha para cima, parecendo surpreso.
Ela acena com o garfo, engolindo um caroço de caranguejo.
— É por isso que estamos aqui, certo?
— Certo.
— Eu tenho uma pergunta para você.
— Pergunta à vontade.
— E se você ficar com medo um dia e tentar ir embora?
— Eu não vou.
— As pessoas vão embora, Solomon.
— Estou ciente disso — vem sua resposta áspera —, mas não
vou.
Ela o considera por um longo momento, avaliando sua verdade.
Como ela pode acreditar nele?
Seu próprio pai não a queria. Ele foi embora, deixou ela e sua
mãe quando Tessie tinha dois anos. Como se fossem sacos de lixo
na estrada. Ela mal se lembra dele. O cheiro dos cigarros. Olhos
castanhos enrugados como se tivessem sido atingidos pela areia do
deserto.
Ele tinha uma esposa. Ele tinha uma criança, uma filha. E ele
ainda foi embora.
Mesmo as pessoas com laços os quebram.
É por isso que ela desconfia de Solomon. Se o pai de Bear
planeja ir embora um dia, é melhor ele fazer isso agora, porque não
terá outra chance.
— Eu tenho uma pergunta para você. — Solomon aponta seu
queixo barbudo para ela. — Onde você pretende criar Bear? Naquele
apartamento?
Ela zomba do desgosto em seu rosto. A casa dela não é muito,
mas ser insultada por um homem que usa flanela na praia é rica.
— Eu poderia. E onde você mora? Em uma caverna?
— Em uma cabana.
— Deixe-me adivinhar. Na floresta?
Um músculo se flexiona em seu maxilar barbudo.
— Isso mesmo.
— Bem — diz ela, dando outra mordida —, se você quer se
envolver na vida dele, terá que arranjar tempo para vir para LA.
— E o Alasca? — ele contesta.
— Eu tenho um emprego. Eu não posso ir embora. — Ela
esfaqueia um pedaço de caranguejo. O do Solomon permanece
intocado. — Tenho tudo planejado. — Ela marca uma lista nos
dedos. — Nascimento no hospital Cedars-Sinai. Cores de berçário,
barbatana de golfinho e banana. O nome dele–
O garfo de Solomon bate na mesa, seu rosto contraído como se
seu caranguejo tivesse estragado.
— Nome?
— Não. — Ela achata os lábios. — Eu não vou te dizer.
Seu olhar duro é um holofote de interrogatório.
— Tessie.
Ela se arrepia, de repente na defensiva.
A vida dela. O bebê dela. Sua sanidade.
Deixar alguém entrar para destruir seus melhores planos?
Absolutamente não. Ela não vai permitir isso. Ela está tentando
descobrir como fazer essa coisa de mãe trabalhadora, e agora esse
mal-humorado homem da montanha está aqui fazendo todas essas
exigências, jogando uma chave na vida dela, estressando-a. Este é o
mundo dela, e não inclui um lenhador corpulento que a desequilibra.
— Você não esteve por perto. Não me culpe por fazer planos.
Ele passa a mão pelo cabelo. Energia assassina emana dele,
olhos azuis iluminados com raiva.
— Eu não estive por aqui porque eu não sabia.
— Bem, eu não sabia onde te encontrar — ela responde.
Eles se encaram até que o garçom apareça.
— Pimenta ralada? — Louis pergunta, acotovelando-se entre eles
com um moinho de pimenta de um metro que parece um bongô
gigantesco. Ou um vibrador.
Tessie não pode ter certeza de qual é o mais apropriado para a
situação, porque ela e Solomon estão fodidos aqui. Como eles
chegaram aqui? Quando eles se desviaram de uma conversa
agradável e mergulharam de cabeça em um silêncio carrancudo?
Ainda de olho em Tessie, Solomon resmunga:
— Não — Suas mãos, apoiadas na mesa, estão fechadas em
punhos, os nós dos dedos brancos.
A tensão corta o ar como uma faca.
Rolando os ombros, Solomon tenta novamente depois que o
servidor os deixa em paz.
— E se… todo verão–
Ela engasga e apalpa o estômago.
— Não vou desistir do meu filho todo verão.
— Nossofilho — Solomon a corrige calmamente.
Envergonhada, Tessie pisca para conter as lágrimas quentes, a
preocupação gelando seu estômago. Seu lábio inferior treme.
— Tanto faz. Ele vai ser pequeno por muito tempo. Ele
simplesmente não pode ficar sem mim. — Suas mãos apertam a
barriga e ela olha para o bolo de caranguejo em seu prato. O pânico
rouba sua respiração, deixa seus joelhos fracos. A ideia de perder
Bear. De estar longe dele.
— Eu não quero que ele fique sem você, Tessie. Eu quero...
porra. — A explosão dura da maldição de Solomon a fez olhar para
cima. Ele passa a mão pelo cabelo preto novamente, sua reação
preferida quando está frustrado, ela supõe, e aperta aquela
mandíbula de aço. Com expressão desgostosa e zangada, ele
pergunta: — Como diabos as pessoas fazem isso?
Ela balança a cabeça.
— Não sei. Mas nós vamos, ok? — Inclinando-se, ela estende as
mãos. — Sem advogados. Por favor? Nós vamos descobrir alguma
coisa.
Os advogados querem dizer que eles brigam. Eles querem dizer
que Bear foi arrastado por uma batalha desagradável pela custódia.
Significa que alguém está tentando tirá-lo dela.
O pensamento revira seu estômago.
Este é o filho dela. Ela não consegue entender o amor que sente
por Bear. Talvez porque seja inato. Incondicional. Dela. Ele é dela.
Ela pode fazer melhor do que seu pai. Ela vai. Ninguém vai tirá-lo
dela. E ela com certeza nunca vai embora.
Um grunhido de afirmação de Solomon a fez exalar um longo
suspiro.
Lentamente, ela toma um gole de seu mocktail, analisando a
expressão facial dele. Ela não pode lê-lo. E por que ela iria? Ela mal
conhece o homem.
— Você está com raiva? — ela pergunta depois de um momento,
rapidamente colocando sua bebida na mesa. — Você parece com
raiva. Seu rosto… parece que está… derretendo.
Ele balança a cabeça, um músculo se contraindo em sua
mandíbula severa.
— Eu não estou com raiva, Tessie. Estou frustrado.
Um escárnio sai dela.
— Bem, eu também.
Solomon não responde. Ele está em silêncio. Estudando seu
rosto. Mas antes que ele possa dizer qualquer coisa, o telefone dela
toca.
Ela pula, assustada com a vibração alta de uma mensagem de
texto recebida.
Espiando o telefone ao lado de seu prato, Tessie pragueja. Ela
pediu a Atlas para dar a ela a noite antes de terminar seu quadro de
humor, mas aparentemente, ele não poderia fazer isso.
Calor atrás de seus olhos.
De repente, ela não está mais com fome. Dividir seu filho como
se fosse um aperitivo a deixou com uma dor amarga no estômago.
Pegando o guardanapo, ela o joga sobre a mesa e se levanta.
Trégua. Não mais. Não essa noite. Entre as exigências de seu chefe
e as de Solomon, ela está farta. Ela vai passar por cima de homens
mal-humorados que atrapalham suas boas vibrações na ilha. Ela
quer ir embora. Ela quer suas meias de compressão e seu toca-
discos e oito horas de sono ininterrupto.
— Vou voltar para o quarto.
Ela se vira, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
Mas de repente, Solomon está de pé. A eletricidade estala
quando ele passa a mão larga e calejada pelo braço nu dela para
agarrar seu pulso. Ele a interrompe, transformando-a nele.
— Tessie.
Ela funga. Levanta o queixo para que ela possa vê-lo.
— O que?
Seu olhar azul escuro percorre seu rosto, demorando-se em suas
lágrimas. Engolindo em seco, sua garganta balança com palavras
não ditas, um olhar conflituoso em seu rosto áspero.
— Sua comida.
Ela força um sorriso e controla as lágrimas.
— Embale para mim, ok? Vou comer depois.
Depois de dar uma última e longa olhada nela, Solomon solta seu
pulso e Tessie se vira. Com o telefone na mão, ela começa a
atravessar a praia, nem mesmo se preocupando em tentar conter as
lágrimas.
Eles conversaram, tentaram, mas e se for inútil?
E se eles não passarem de perfeitos estranhos que se odeiam?
Capítulo nove

Algo quente e cru fervilha no peito de Solomon enquanto Tessie


corre para longe dele.
Ela não o quer por perto.
Mas quem pode culpá-la? Ele a fez chorar. Ele fez uma mulher
grávidachorar. Cristo. Ele é um idiota.
Sim, ele estourou com ela, e a conversa ficou tensa. Ele rangeu
os dentes o tempo todo. Não furioso com Tessie, mas com a
maneira como eles não conseguiram tomar uma maldita decisão,
porque nada sobre a situação deles é normal.
E ele viu isso no rosto dela também.
Está bem claro que Tessie Truelove não quer nada com ele.
Para ela, ele é uma interrupção. Uma ameaça. Um bastardo mal-
humorado.
Pior, ela acha que ele vai tirar o bebê dela.
O pensamento faz com que ele se sinta um idiota da mais alta
variedade.
Nem por um maldito segundo ele pensaria em levar aquele bebê
embora. Ela é forte pra caramba e determinada a criar o bebê
sozinha. Ele a respeita por isso. Mas ele quer estar na vida do filho.
Como ele concilia isso? Como ele mescla sua vida descontraída no
Alasca com a corrida de ratos de Tessie em Los Angeles? Nada disso
é fácil, mas não há dúvida; eles têm que descobrir isso.
Ele tem dois dias restantes.
Ele se sente ainda pior quando o garçom passa por ele para
entregar as refeições. Ao ver o peixe fresco, a refeição não
consumida de Tessie, Solomon franze a testa. Ela deveria ter comido
mais. De repente, ele anseia por estar de volta em Chinook, em sua
própria maldita cozinha, cozinhando algo saudável e delicioso para
ela, em vez daquela salada de merda e aparência anêmica em seu
prato.
Ao longe, Tessie para perto de uma palmeira para tirar os saltos.
Ele pode distinguir sua forma, seus longos cabelos loiros, o vestido
azul brilhante abraçando a pequena protuberância de seu estômago.
Mesmo na penumbra da lua, ela brilha como ouro na noite em que
se conheceram. Lindo.
Solomon passa a mão no rosto e geme, meio tentado a ir atrás
dela. Ele não gosta dela vagando no escuro. Está muito perto
daquela noite. Aquela maldita noite que girou seu mundo fora de
seu eixo.
É um resort, Sol. É seguro. Sem neve. Sem gelo. Sem carros.
Ainda assim, ele não pode evitar. É da natureza seguir.
Amaldiçoando a si mesmo, sua superproteção, ele desce o calçadão
atrás dela, sentindo-se como uma trepadeira nas sombras. Seu
corpo é automaticamente atraído por ela; seu coração acelerado não
consegue descansar até que ela chegue ao seu destino com
segurança. Ele mantém seu ritmo suave e eficiente, mantendo o
controle sobre ela enquanto lhe dá distância.
Uma pontada de arrependimento tira o fôlego dele. Ele gostaria
de ter perguntado mais sobre ela. Queria ter grunhido menos. Que
ele não a tinha afugentado. Cristo, ele poderia ter parecido mais
rabugento? Ele quer conhecer a garota com quem estará criando
seu filho. O que coloca aquele sorriso triste em seu rosto. E quem
diabos está explodindo o telefone dela.
Ela não está brilhando. Mulheres grávidas não deveriam brilhar?
Solomon para ao lado de um mirante quando Tessie chega à
villa. Com o telefone praticamente colado à mão, ela sobe os
degraus graciosamente e, quando ele tem certeza de que ela
desapareceu em segurança lá dentro, ele se vira e volta para a praia.
A culpa corrói suas entranhas. Por que diabos ele a deixou ir
embora? Ele a havia parado. Quase. Sentiu o rápido martelar de seu
pulso em seu pulso enquanto ele passava a palma da mão sobre seu
braço esguio. Ele se viu querendo abraçá-la. Tocá-la. Faça com que
ela se sinta segura.
Beije-a.
Porra.
Não.
Essa é a última coisa que ele quer. Seu filho é seu foco, e nada e
ninguém mais. Mesmo que a pergunta anterior soe em seu crânio
como um sino.
Então há… ninguém?
Ninguém exceto você, ele quis dizer.
Uma maldita noção idiota. Ele mal a conhece. Mesmo que ela
tenha ocupado espaço na cabeça dele nos últimos seis meses.
Sua bunda está vibrando.
Solomon enfia a mão no bolso de trás e tira o telefone.
Evelyn. Sem dúvida ligando para verificar a situação. Inclinando a
cabeça para o céu, ele solta um suspiro forte. Ele não está de bom
humor, mas sabe que é melhor responder antes que sua irmã alerte
toda a família.
— Oi, Evy. — A praia de areia substitui a calçada enquanto
Solomon desce até a costa.
— Sol? — vem a voz divertida de Evelyn. Como se ela se
divertisse com o mundo. — Você está no México?
— Eu estou.
— Mmm. Boa recepção aí embaixo.
— Acabei de jantar com Tessie.
— Como ela é?
— Ela é rabugenta e me ignora. — Ele para na borda da
arrebentação. — Ela é perfeita.
— Ela está grávida.
Não é uma defesa. Apenas uma observação. Não há ninguém
mais pragmático do que sua irmã mais velha. Evelyn é a única
Wilder que trabalhou duro para sair de sua pequena cidade. Agora
uma advogada de família importante em Anchorage, Evelyn só volta
para casa algumas vezes por ano, como se fosse grande demais
para voltar à cidade que a criou.
— Você perguntou sobre um teste de DNA?
Ele arrasta uma mão cansada pelo rosto.
— É meu.
— Ela está brigando com você? — Evelyn adotou sua voz de
guerra, lembrando Solomon de como ela conseguiu seu apelido. Evil-
yn6. Ela fará qualquer coisa para ganhar um caso. — Porque se ela
está–
— Evelyn, é meu.
— Sol. Quantas vezes já passamos por isso? — ela pergunta,
exasperada. — É importante estabelecer a paternidade. Se não o
fizer, você abre mão de seus direitos. Você torna mais fácil para ela
mantê-lo fora da vida de seu filho.
Cristo. Ele deveria ter rastreado a ligação quando teve a chance.
Ele cerra os dentes.
— Ela não vai fazer isso.
— Como você sabe, Sol? Você mal a conhece.
Ele se irrita. Esse é o objetivo dessas férias.
— Eu só sei.
Um suspiro.
— Se você quer a custódia total…
Ele balança a cabeça, embora Evelyn não possa vê-lo.
— Pare aí mesmo. Não quero custódia total. Tessie e eu estamos
trabalhando para lidar com as coisas.
Ela zomba.
— Isso nunca funciona. Vocês moram em estados diferentes. E
se ela processar você por pensão alimentícia?
Com um grunhido, ele pressiona o telefone contra o ouvido para
ouvir sobre o barulho das ondas. Ele caminha por toda a extensão
da praia, praguejando enquanto a água escorre pelas pontas de
suas botas, encharcando a bainha de seu jeans.
— O que meu filho precisar, eu vou providenciar. Não estou
preocupado com dinheiro.
Embora ele tenha dito a ele para parar com isso, Howler ainda
lhe paga um salário. Isso, combinado com o que ele ganha
vendendo seus móveis, significa que Solomon tem seis dígitos
guardados no banco. Mais do que suficiente para seu filho.
— Eu sei que você não está. Mas não quero que se aproveitem
de você. Eu tinha um cliente…
Solomon geme interiormente e olha para o oceano. Contempla
jogando sua bunda para dentro.
— Ele pagou pensão alimentícia por dezoito anos. E então você
sabe o que aconteceu?
Uma bala se aloja em seu peito e ele balança a cabeça para
afastar o pensamento incômodo.
— Deixe-me adivinhar. Ele não era o pai.
— Isso mesmo, Sol. Ele não era o pai. — A voz de sua irmã falha.
— Depois de tudo que você passou, eu quero te proteger. Eu não
quero que você se machuque. Você perdeu uma esposa. Perder um
filho…
Mandíbula apertada, ele olha para o oceano. Uma sensação de
vazio toma conta dele.
Ele aprecia a proteção feroz de sua irmã. De todos, ela entende
melhor a dor dele. Serena era a melhor amiga de Evelyn. Quando
ela morreu, ele e Evelyn ficaram bêbados com uísque e vinho por
uma semana inteira, falando besteiras e contando histórias sobre
ela. Então ele vendeu sua casa e construiu sua cabana; Evelyn
canalizou aquela frieza gelada, e ele não viu a irmã que conhece
desde então.
— Neste momento, você não tem muitos direitos, mas vamos
lutar por todos que pudermos. — A voz de sua irmã chacoalha suas
têmporas como uma britadeira, trazendo-o de volta ao presente.
— Evy — ele range, balançando a cabeça como se houvesse
água em seus ouvidos. — Que diabos você está falando?
— Vou fazer uma pesquisa sobre o passado dela. Enquanto isso,
preste atenção em tudo enquanto estiver lá. Ela é uma bebedora?
Em débito? Irresponsável? Fuma? Traga-me um pouco de terra, Sol,
e eu vou correr com ela.
Uma onda de aborrecimento o percorre ao pensar em alguém –
inferno, sua própria irmã – cavando o passado de Tessie sem a
permissão dela. Evelyn pensando que Tessie não deu tudo de si pelo
filho deles é besteira. A única coisa que ele sabe que é mais
verdadeira do que o dia – Tessie ama aquele bebê mais do que tudo.
Ele se recusa a deixar qualquer pessoa – especialmente Evelyn –
pintá-la como inadequada ou sem amor.
— Evelyn, ouça-me, e ouça bem. Você não vai cavar nada — ele
rosna. — Você fica fora da sujeira e longe de Tessie. Você me
entende?
Um longo silêncio. Então:
— Eu entendo — A voz de Evelyn é contrita, mas não fraca. —
Eu só quero o melhor para você.
Solomon olha para o escuro, na direção da villa de Tessie.
— Eu também.

É o dia mais longo de todos.


E a Tessie ainda está acordada.
Trabalhando.
Na cama, ela descansa em um roupão de hotel, seu laptop
equilibrado precariamente em sua barriga. Cabelo preso em um nó
bagunçado. Saltos espalhados pelo chão.
Ela conseguiu adiar Atlas o dia todo alegando má recepção, mas
agora ela não tem escolha. Ela precisa atualizar a reforma da
cozinha de Penny Pain com novas especificações. Mudar a madeira
manchada para um mosaico de espinha de peixe tão sexy que lhe dá
arrepios. Dessa forma, os empreiteiros podem entrar lá amanhã e
destruir o espaço.
Mais um projeto, mais uma atualização. Isso é o que ela continua
dizendo a si mesma. Ela lutou tanto por essa promoção. Ela adora
inovar com seus designs, ama seus clientes. Mas Atlas e suas
besteiras tóxicas a estão deixando infeliz.
Mas ela não pode desistir. Não agora. A procura de um novo
emprego, especialmente durante a gravidez, faz com que sua
determinação desapareça. O tempo está passando. Ela tem muito a
realizar para si mesma, para Bear. Ela simplesmente não pode parar
agora.
Ela franze a testa para o ping Pavloviano de seu e-mail. Outro e-
mail da Atlas. Marcado como URGENTE.
Estas são as minhas férias. Minhas únicas férias em cinco
malditos anos porque fui seu cachorrinho, ela quer gritar.
Nem uma única mensagem de Atlas continha um pedido de
desculpas por fazê-la trabalhar nas férias. Ela fica furiosa por não
poder tirar essa folga para si mesma. Ela deveria dizer não. Dizer a
ele para se foder. Mas desacelerar, colocando em risco sua carreira,
não é uma opção. Como uma mulher grávida em uma indústria
cruel, ela precisa ser biônica para ter sucesso. Quanto mais ela
trabalha, mais aumenta seu portfólio, conquista novos clientes. Além
disso, este trabalho é a vida dela. Isso dá a ela um propósito.
Nada – sono, sexo, vida social – jamais se compara à maneira
como ela se sente em sua carreira. Talvez porque ela não deixe.
Talvez porque seja tudo o que ela já se permitiu ter. Talvez porque
seu trabalho a salvou.
Depois que sua mãe morreu, ela foi para a faculdade. Ela não
valia nada, frequentando as aulas durante o dia, trabalhando como
garçonete à noite, chorando muito na minivan barata que ela e Ash
dividiam durante os intervalos. Isso durou por dois longos anos.
Foi apenas quando ela se formou, conseguiu seu primeiro
emprego de design e começou a montar ambientes em casas que a
dor aguda do luto se transformou em uma dor surda. Reuniões com
clientes, arranjo de móveis, escolha de cores Pantone restauraram
seu ânimo.
Seu trabalho foi um presente e, mesmo depois de tantos anos,
ela ainda se apega a isso.
Clicando em uma caixa de resposta, Tessie suspira, pensando no
jantar romântico à luz de velas que ela deixou na praia. A refeição
gourmet cinco estrelas desperdiçada. Ela conseguiu matar a fome
com um pacote de homus e pretzels inexpressivos do minibar.
Deus, ela precisa dessas férias.
— Não é? — ela murmura para Bear, esfregando a curva de seu
estômago. Por dentro, sua barriga é salpicada de chutes suaves.
Socos. Ele está acordado até tarde, o açúcar do mocktail dando-lhe
um impulso de energia indesejável. — Precisamos de uma pausa.
Seu único consolo é que lhe restam seis dias. O que é um dia de
trabalho, quando amanhã ela estará naquela praia, um drink de
abacaxi empoleirado na barriga, um livro na mão?
Seu telefone vibra no criado-mudo. Quando ela vê que é uma
ligação que ela realmente deseja, ela atende.
— Sua cadela. Eu vou dar o que você merece de volta um dia.
Uma risada rouca.
— Apenas agradeça e me conte sobre aquele belo homem da
montanha.
Tessie franze a testa e coloca o laptop na cama.
— Contar o quê? O quanto ele me odeia?
Ela viu tudo em seu rosto bonito e mal-humorado. Ele acha que
ela é uma vadia. Muito longe da dançarina boba que ele conheceu
naquele bar. Sem mencionar que ela mencionou sua esposa morta.
Que esperança eles têm de ter uma conversa cordial sem que ela se
transforme em caos?
— Ele não te odeia — Ash diz. — Quero dizer, claro, você tem o
poder de assustá-lo com seus problemas de compromisso e iogurte
orgânico, mas ele veio te encontrar, Tess.
— Eu queria estar aqui com você, Ash. Não ele. — Ela olha para
a porta. Solomon voltou momentos atrás, andando pela sala como
um ogro que saiu de sua caverna.
— Acredite, eu queria estar aí. Mas você precisava disso. — Ela
pode praticamente ouvir a alegria na voz de Ash. Ela está flutuando
em uma nuvem traiçoeira de nove alturas. — Você tem que terminar
agora.
— Não há nada para terminar. Foi uma coisa de uma noite. Eu
estava bêbada.
— Você não estava tão bêbada. Você falou sobre ele. Até a cor
de seus olhos. Nunca ouvi você falar sobre um cara assim antes.
Tessie se encolhe, um rubor quente surgindo em seu corpo. Ash
está certo. Ela falou sobre ele. Por que qual era o mal? Ele era
gostoso, e ela estava a um milhão de quilômetros de distância dele.
Ele foi um impulso, um ponto de partida, uma memória para a qual
ela voltou quando seu ânimo baixou.
Solomon era o homem dos sonhos perfeito para um caso de uma
noite, mas agora ele está aqui na frente dela, e tudo o que ela quer
fazer é puxar a corda e evacuar. Esgueirar-se sobre ele como
naquela primeira noite. Porque é isso que ela faz quando as coisas
se aproximam demais. Ela corre, ela empurra.
Porque recusar o amor é poder.
Recusar o amor é seguro.
Além disso, ela teve seus três golpes no amor.
Seu cachorro.
Seu pai.
Sua mãe.
Perder mais alguém…
— Não há nada entre nós — ela insiste, torcendo uma mecha
rebelde de cabelo em volta do dedo. — Estamos lidando com
negócios. Negócios de bebê.
Um longo silêncio. Tanto tempo que Tessie afasta o telefone do
ouvido para se certificar de que a ligação não caiu.
Então um suspiro.
— Você não acha que deve a si mesma ver o que poderia ser?
— Somos estranhos.
— Não por muito tempo. Vocês estão tendo um bebê juntos.
Vocês não podem ser estranhos. — A voz de Ash fica suave.
Inspirador. — Talvez vocês possam ser alguma coisa.
O estômago de Tessie revira quando ela é repentinamente
atingida pelo desejo feminino de tomar o lábio de Solomon entre os
dentes e beijá-lo.
E beijá-lo.
E beijá-lo.
Sem chance. Absolutamente não.
Eles não podem ser alguma coisa. Algo está fora do comum,
ridículo. Porque ela e Solomon vivem em mundos opostos. Ele é
desajeitado e pesado e ainda apaixonado por sua esposa morta, e
ela é – ela é uma bagunça tensa viciada em trabalho.
Eles vão compartilhar uma criança e é isso.
— Nem todo mundo é seu pai, Tessie.
Ela geme enquanto luta para se sentar, sua barriga pesada é
uma barreira para o relaxamento.
— Não é isso. Solomon e eu não estamos no ritmo de vida um do
outro. Somos como neve e sol, ok?
Inclinando-se o máximo que sua barriga permite, ela abre
caminho para sair de seu e-mail, salvando seu design. O que é um
erro imediato. O clique-claque de suas unhas no teclado deixa Ash
ofegante.
— Você está trabalhando? Inacreditável. Posso ouvir você
trabalhando.
Ela morde o lábio, nem se preocupando em mentir.
— Estou quase terminando.
— Sua mãe queria que você visse estrelas. Não que trabalhasse
duro por elas.
Tessie se encolhe em uma bola apertada contra o travesseiro. A
repreensão dói.
Ela sabe.
Ela sabe o que sua mãe queria para ela.
Ouça mais músicas. Encontre suas estrelas. Quando você
encontrar aquele homem bom, é melhor beijá-lo. Então, fique com
ele.
Sua mãe mal estava lúcida, morrendo em uma cama de hospital
de um câncer que a consumiu rapidamente, mas suas palavras
assombraram Tessie desde então. Ela os manteve por perto, os
atendeu como um X que marca o local em um mapa. Como um
holofote para guiar sua vida. Sábias palavras da melhor mulher do
mundo. Ela teve sua mãe por dezessete anos maravilhosos.
E ainda não era o suficiente.
Tessie só pode esperar que ela seja o tipo de mãe que sua mãe
era. Feliz, quente e segura. A mãe dela sempre dizia eu te amo.
Nunca deixava um dia passar sem dizer. Foi o modelo de
independência. Era mãe e pai. Ensinou-a a trocar um pneu e a andar
com o mais alto dos saltos altos.
Se sua mãe ainda estivesse aqui, ela diria a Tessie para confiar
em Solomon. Porque ela era assim. Gentil, doce e confiante. Tudo o
que Tess ainda quer ser.
Tudo o que ela não é.
Oh, Deus. E se Solomon for um pai melhor do que ela jamais
poderia ser?
E se ela falhar como mãe?
O pensamento é como um furacão, atacando seu estômago com
os nervos.
— Esse é o ponto de tudo isso, Tess. — A voz de Ash a traz de
volta à conversa. — Você não precisa ficar sozinha nisso. Você pode
pedir ajuda a Solomon.
Nunca.
Porque pedir ajuda significa deixá-lo entrar. Uma vez que ele
entra, significa chegar perto. Significa depender dele, amá-lo,
apenas para vê-lo partir. Porque a vida é uma lavagem, e tudo acaba
em perda.
Ela apalpa a barriga.
Exceto por ela e Bear.
Seu e-mail toca.
Sua bexiga protesta.
— Eu tenho que fazer xixi — ela anuncia, saindo do colchão.
— Certo. — Ash bufa. — Mude o assunto. Divirta-se, sua grávida
rabugenta, divirta-se.
Após se arrastar até o banheiro, Tessie faz uma pausa perto da
porta do quarto. Inclinando-se o máximo que seu ventre permite,
ela espreita pela fresta da porta para ver Solomon espremendo seu
corpo grande e robusto no sofá. O cobertor sobre o colo dele
poderia ser usado como lenço.
Um tremor de preocupação passa por ela. E se eles não
chegarem a um acordo? Solomon não levaria Bear embora dela,
certo? Ele parece ser um cara legal, mas ela já esteve com caras
legais antes. Todos são bons até que não são mais.
Seus olhos estreitam para a jarra de água no balcão. Talvez ele
pegue uma infecção estomacal e decida voltar para casa.
Ela balança a cabeça, rola os ombros, lutando contra a crescente
preocupação. Suas emoções estão deixando-a louca. Ela precisa
dormir. Clareza pela manhã.
Tessie se enrosca na cama, apaga a luz e abraça o travesseiro,
seu filho, seu coração, um frenesi dentro dela.

6. Trocadilho com o nome da irmã dele, pois Evil traduzido ao português é mal.
Capítulo dez

Seis da manhã com um café na mão, Solomon abre a porta de vidro


corrediça para o terraço, uma apreciação relutante o inunda quando
ele vê o oceano. Embora se sinta um traidor de Chinook, ele tem
que admitir que este país quente e desconfortável é impressionante.
Porque maldita seja essa visão.
O nascer do sol é uma explosão brilhante de rosas e amarelos. O
ruído do oceano e das aves marinhas é uma sinfonia de ruído. O ar
salgado do mar cobre sua pele com um orvalho úmido enquanto ele
absorve o nascer da manhã. Apesar do sol, sente-se um friozinho no
ar.
Ele encolhe os ombros em sua flanela.
Quase tão pacífico quanto Chinook.
Quando era chef, Solomon contava com o tempo. Tempo com
sua esposa. Tempo em sua cozinha. Ele trabalhava longos dias e
longas noites, mas sempre se levantava com o nascer do sol e fazia
questão de ver as estrelas à noite. Acordar e dormir com a terra.
Uma forma de amar e apreciar a terra onde cresceu. Depois que
Serena morreu, ele manteve sua rotina. Acordando. Ascendente.
Respirando. Não morrendo. Um lembrete de que a vida ainda estava
lá. Rodando. Mesmo que ele não sentisse isso na hora.
E agora…
Agora ele não sabe o que sente.
Você sabe. Você sabe, Sol.
Jesus, tudo bem. Ele sacode a voz de Serena.
Ele está terminando a última gota de seu café quando a porta do
quarto se abre. Vestida com um vestido branco ombro a ombro que
acentua seu bronzeado e suas cunhas de cortiça, Tessie parece uma
deusa bronzeada do oceano grávida que acabou de sair de um iate
na Grécia. As únicas coisas fora do lugar são o laptop que ela
carrega e o telefone enfiado embaixo da orelha.
A boca de Solomon fica seca.
Ela é linda demais para se pôr palavras. Tudo o que ele pode
fazer é olhar como um tolo. Cristo. Essa mulher está mexendo com a
porra do ritmo cardíaco dele. Ela o tem de joelhos como um
cachorro com a língua de fora. Ela o tem desde o momento em que
a conheceu, seis meses atrás.
Tessie dá a ele um aceno de desdém. Então sua atenção é
desviada, seus olhos de volta para o laptop que ela está colocando
na divisória do quarto. Ao telefone, ela diz:
— Mas não tenho controle sobre a DHL, Atlas, e você sabe disso
— Ela exala forte e esfrega a ruga inexistente entre as sobrancelhas.
— Não, eu disse a você: não toque no design. Deixe a parede da
sala respirar. — Um murmúrio baixinho. — Jesus.
Uma explosão de palavras do outro lado da linha – tão alto que
Solomon pode ouvir de onde está no terraço – a faz estremecer.
— Entendo, Atlas, mas… — ela inala, com firmeza — estas são
minhas férias — diz ela. — Eu paguei por isso. — Sua voz cai. Menor
agora. — Eu economizei para isso.
Solomon franze a testa, uma surpreendente pontada de raiva em
seu peito. Uma vontade repentina de jogar seu laptop no mar.
Ela escuta por mais alguns segundos, depois desliga sem dizer
uma palavra.
Ele resmunga, apontando para o telefone.
— Quem era aquele?
Quando ela pisca, ele se chuta mentalmente. Ele se intrometeu
nos negócios dela. Bem ciente de que ele está rondando ao fundo,
meditando sobre quem continua a incomodando. Tanto para não se
importar.
Ela mastiga a resposta por um longo segundo. Então seus
ombros caem, as pontas de suas orelhas ficam rosadas como se ela
estivesse envergonhada.
— Meu chefe.
— Parece um idiota.
— Ele é. — Com um movimento de seu cabelo dourado, ela se
vira para ele, seus olhos chocolate claros novamente. — Ele é como
laxantes e Rivotril em um só. Ele não é meu favorito.
— Pensei que você estivesse de férias.
Ela acena com a cabeça, seu foco se voltando para o oceano.
— Também achei.
Seus dedos flexionam quando ela se aproxima dele. O perfume
dela o atinge como um bêbado na sexta à noite. O cheiro de coco e
flores exóticas lembram palmeiras e pequenos biquínis.
Maldição.
Mesmo com as olheiras, ela é a mulher mais bonita que ele já
viu. Tessie está toda de pernas e barriga compridas naquele
vestidinho branco de verão. De repente, Solomon é atingido por um
desejo insano de segurar a curva de seu estômago, de beijá-la até
que seus joelhos cedam.
Cristo, o que há de errado com ele? Ele está aqui para falar de
bebês. Não fazaer mais deles.
— Você é um galo.
— Eu sou o quê? — Solomon sai de seu torpor para se
concentrar na mulher à sua frente. Ela está olhando para ele com
uma carranca escrutinadora.
Ela sorri.
— Um galo. Eu costumo fazer um passeio matinal pelo Pelotão. É
assim que eles nos chamam. Galos. Porque a gente acorda cedo. —
Em seu silêncio, ela abre a boca novamente. — Um Pelotão. É um–
— Eu sei o que é um Pelotão, Tessie. Eu sou do Alasca, não da
Idade Média.
— Mm-hmm. — Ela o informa, agitando aqueles longos cílios. —
Uma piada, Homem Solene. Estou impressionada.
Ele resmunga e se vira, mas não antes de ser pego de surpresa
pelo fantasma de um sorriso piscando em seu rosto.
— Pedi café — diz ele, apontando para a cafeteira empoleirada
na mesinha de centro. — Você pode beber?
Seu rosto se ilumina.
— Eu posso. Exatamente uma xícara de café de 350ml por dia.
— Preto? — ele pergunta, movendo-se para interceptar antes
que ela possa.
— Sim, obrigada.
Ele passa para ela a caneca cheia, seus dedos se roçando
brevemente.
Com o copo na mão, ela volta para o laptop. Quando ela está
parada na frente dele mais uma vez, seus dedos voam furiosamente
sobre o teclado. Seu café está ao lado dela, esquecido. Sua boca
está franzida em um beicinho adorável, sua testa franzida.
Uma estranha irritação toma conta dele com os instintos
protetores cutucando-o nas costelas. Por que diabos ela ainda está
trabalhando? Onde está o café da manhã?
Ela deveria estar relaxando. As olheiras sob seus olhos o
incomodam muito.
As palavras de Ash inundam sua memória. Ela precisa disso,
Solomon.
Ela precisa disso, e ele cuidará para que ela consiga.
Mandíbula cerrada, mãos em punho em suas coxas, ele aponta o
queixo para Tessie.
— Você alguma vez já tomou café?
Sem tirar os olhos da tela do computador ou os dedos do
teclado, ela inclina a cabeça para o copo.
— Isso não é tomar café. — Ele pisa no terraço e puxa duas
cadeiras, o som é um guincho irritante no chão de mármore. Ele se
senta. — Isto é tomar o café.
Finalmente, ela olha para ele, um olhar descontente em seu
rosto bonito.
— Eu acordo cedo para trabalhar.
— Eu acordo para ver o nascer do sol.
Ela torce o nariz para a cadeira vazia como se fosse um desafio,
então joga os ombros para trás, pega o café e o telefone e sai para
o terraço. Cautelosamente, ela se abaixa na cadeira. Ela está tensa.
Ombros rígidos. Perna quicando a mil por hora. Ansiosa para voltar
ao computador.
Ele bebe de sua caneca. Espera que ela faça o mesmo e então
diz:
— Você está trabalhando demais.
Trabalhando demais para uma grávida, ele quer acrescentar, mas
para por aí, porque gosta das suas bolas onde elas estão.
Suas sobrancelhas se erguem e ela dá um suspiro exagerado.
— Você não me conhece, Solomon.
— Eu gostaria de conhecer. — Ele passa a mão na barba. —
Noite passada… Eu não gosto de como o jantar terminou. Eu sei que
é um assunto difícil. Não vou deixar as coisas ficarem tão tensas de
novo. Eu prometo.
Parte da luta sai dela, seus ombros flácidos.
— Tudo bem — ela diz cautelosamente. — O que você quer
saber? — Ao redor e ao redor, sua mão se move sobre sua barriga,
como se ela estivesse canalizando a calma.
Ele pensa nisso. Diz a primeira coisa que vem à mente.
— Você nunca relaxa?
Ah, Sol. Não.
Os olhos de Tessie piscam.
— Você nunca não usa flanela?
— Jesus, tudo bem. — Ele levanta as mãos em sinal de
apaziguamento. Isso provavelmente não foi o melhor começo de
conversa. O silêncio cai entre eles. Então: — Eu uso outras coisas —
ele resmunga, insultado. Ele nunca vai dizer a ela que está assando
no sol. Não é como se fosse da conta de alguém.
Ela bufa.
— Como o que? Macacões e bonés de caminhoneiro?
Porra. Seu atrevimento o excita. Ele está endurecendo. Ela não é
como Serena. Serena era…bem serena. Estável. Tessie é uma garota
em chamas. Ele quase ri, imaginando-a em Chinook. Voando pela
cidade em seus saltos altos, o cabelo loiro chicoteando atrás dela.
Feminina e ardente. Uma força com a qual ele quer lidar.
Se ao menos ela o deixasse.
Ping.
Incapaz de evitar, um rosnado sai dele.
— Seu chefe?
Ela segura o telefone. Seus olhos se iluminam enquanto ela
folheia a tela.
— Não. — Ela descansa a mão na barriga e dá a ele um brilhante
sorriso. — Estou com 29 semanas hoje.
Ele olha para a protuberância de seu estômago.
— Você está?
Seus lábios se curvam.
— Sim. Eu tenho um aplicativo que rastreia tudo relacionado a
bebês. — Ela examina a tela novamente. Risos. — Bear é mais ou
menos do tamanho de uma abóbora.
Ele ri.
— Merda. Eles te contam tudo isso? — Curioso, ele se inclina,
apoiando os cotovelos nos braços da cadeira.
Tessie oferece a ele seu telefone. Um rastreador de cor pastel é
puxado para cima, com uma fralda de bebê saltando na tela. Com o
coração batendo forte, ele lê a pequena sinopse: O bebê agora pesa
três quilos. O bebê pode piscar. O bebê tem cílios.
— Quanto, uh, quanto tempo dura? — ele pergunta, devolvendo
o telefone dela, esperando que ela tenha pena dele. Claro, ele tem
três irmãs, mas crianças e bebês são tão estranhos para ele quanto
relacionamentos de longo prazo são para Howler.
— Quarenta semanas. Nove meses — diz ela.
Ele faz as contas de cabeça.
— Estou no terceiro trimestre agora. Quase lá.
— Você vai ao médico?
Ela sufoca um sorriso.
— O tempo todo. É mais ou menos o que as mulheres grávidas
fazem. — Após uma breve hesitação, Tessie inclina a cabeça. Morde
o lábio. — Talvez você queira ver uma foto dele?
Cristo. A maneira como ela está mordendo o lábio inferior, sua
doce oferta, faz com que ele tenha um vislumbre da garota que
conheceu naquela noite. Vulnerável. Gentil. Aberta.
— Sim — ele murmura em torno do nó em sua garganta. — Eu
adoraria.
Ela se anima.
— Ok. — Ele espera enquanto ela pega o telefone, e então ela
aproxima a cadeira da dele. — Aqui — diz ela, colocando o telefone
em suas mãos grandes mais uma vez.
Solomon examina os borrões cinza e branco semelhantes ao
Rorschach, franzindo a testa para descobrir o que ele está olhando.
Mas então ele vê.
Ele vê seu filho.
Seu.
É real e está acontecendo.
O pensamento faz seu peito apertar. Ele quer isso. Com tudo que
ele tem. Quer ser pai, levar o filho de volta para Chinook, ensiná-lo a
pescar, a cozinhar, a ser um bom homem – diabos, uma boa pessoa
– tudo que seus próprios pais lhe ensinaram.
O dedo fino de Tessie traça a tela.
— Essa é a cabeça dele, e essa é a coluna dele, viu? E isso é
seu… — Seus olhos se movem para os dele, um leve sorriso em seu
rosto. — Você sabe. — Ela ri. — Pênis.
O coração de Solomon bate forte em seus ouvidos enquanto ele
absorve as fotos. Enquanto ele passa, ele é atingido por uma onda
de preocupação.
— E Bear está bem. Ele está saudável?
— Ele está. — Ela toca na tela, aproximando-se dele. Se ele
virasse o rosto, os lábios dela estariam a centímetros dos dele. Pare.
Droga.
— Ele é perfeito. Dez dedos nas mãos e pés.
A luz do sol cai sobre seu rosto, iluminando tudo de belo nela. A
felicidade sincera em sua expressão ele só vê quando ela fala sobre
seu filho. Seus olhares se fixam e se fixam. Ela embala sua barriga,
sua voz ficando suave.
— Agora tudo o que ele precisa fazer é ficar aqui dentro até
dezembro.
— E você? — ele pergunta rispidamente, o pensamento
rasgando-o.
Ela pisca, pega de surpresa, então seu rosto se redefine.
— Estou bem agora — ela insiste, tamborilando um dedo contra
a borda de sua xícara de café.
Ele engole.
— Agora?
Um levantamento casual de sua mão.
— Fiquei muito doente nos primeiros meses. Doente tipo
“vomitar em um saco plástico enquanto estou dirigindo”.
— Cristo — diz ele, franzindo a testa.
— Mas eu melhorei. Agora é fácil de dirigir.
Solomon olha.
Admirado por seu filho. Admirado por esta mulher.
Nos últimos seis meses, ela esteve sozinha, fazendo tudo
sozinha. Protegendo seu filho, colocando seu corpo em um inferno,
indo a consultas médicas, equilibrando tudo com uma carreira
exigente. O arrependimento o atormenta. Ele fez tanta falta. Perdeu
não por culpa própria, mas caramba. Ainda dói.
— Você tem família no Alasca? — Tessie pergunta, endireitando-
se na cadeira.
— Em Chinook — diz ele. — Pais. Três irmãs.
— Sério? — Então ela cobre a boca. Suas bochechas ficam
vermelhas como beterraba. — Oh, Deus, me desculpe. Eu apenas
pensei… que você vivia em uma montanha. Eu imaginei você…
nunca saindo. Como uma espécie de Yeti eremita.
Ele aperta os lábios para esconder um sorriso. Ela não está
errada.
— Por muito tempo, eu não saí.
— Por causa de sua esposa? — ela se aventura com cuidado.
— Serena.
— Serena. — Ela repete o nome como se quisesse acertar. Para
memorizá-lo.
Seu estômago aperta quando a consideração do gesto o atinge.
Com uma expressão contemplativa no rosto, Tessie inclina a
cabeça, estudando-o.
— Quanto tempo você foi casado?
— Seis anos.
— Oh.
Ele quer dizer mais, contar sobre Serena, mas as palavras travam
na garganta. Admitir o que aconteceu... ele ainda não está pronto
para isso. Ele não se orgulha.
— Então. Seus pais — ela pergunta, claramente lendo o silêncio
dele e decidindo mudar de assunto. — O que eles pensam sobre
essa bagunça?
Ele a olha severamente.
— Não é uma bagunça, Tessie. — Querendo que ela saiba onde
ele está, ele olha para ela. — Não para eles, e especialmente não
para mim.
Ela dá a ele um pequeno sorriso agradecido, suas mãos se
movendo automaticamente para sua barriga.
— Eu realmente aprecio isso, Solomon — ela diz suavemente.
Um silêncio que é fácil cai em torno deles. Ele toma um gole de
café, mexendo-se na cadeira enquanto os raios quentes do sol se
filtram sobre o terraço. No entanto, ele não diz nada, não faz
nenhum movimento para remover sua flanela. Ele não quer
interromper o momento deixando transparecer que é gostoso pra
caramba.
Eles finalmente estão chegando a algum lugar, e ele quer puxá-la
para mais perto.
Então eles se sentam, observando o oceano. Observando o sol
nascer cada vez mais alto no céu, até verem os estalos brancos dos
guarda-chuvas na areia. Os acordes fracos da música mariachi7
sinalizando que a praia acordou.
— Você estava certo. — Sua cadência suave de voz flutua entre
eles. Ela oferece a ele um sorriso deslumbrante. — Isso é legal. O
nascer do sol.
Sim, é. Embora ele faça isso todas as manhãs em Chinook, faz
muito tempo que ele não gosta. Ele gosta de sentar aqui com ela e
seu filho.
— Bom — diz ele, feliz por ela estar feliz. — Estou feliz.
Uma mão em seu braço.
Ele se vira para ela. Tenta ignorar o solavanco de seu coração.
Tessie está estudando-o com olhos de águia.
— Você está com calor?
— O que?
Ela gira um dedo em torno de seu rosto, sua testa úmida.
— Você está com calor?
Uma gota de suor escorre por sua têmpora. Ele limpa a
garganta.
— Não é tão ruim.
A diversão se instala em seu rosto.
— Deveríamos comprar algumas roupas para você. — Em seu
olhar vazio, ela arqueia uma sobrancelha. — Você sabe, ir às
compras.
Ele se contorce com a palavra.
— Não.
Ela ri.
— Você está na praia, Solomon. Você não deveria sofrer. Você
deveria estar se divertindo. Surfando uma onda.
Um sorriso espontâneo curva seus lábios.
— Eu não surfo.
— Estou bem ciente disso.
Com um bufo, ela apoia as duas mãos nos braços da cadeira,
pronta para se levantar, mas ele está lá, pegando a mão dela para
não ter que vê-la lutar.
Ela se levanta e ele se enrijece quando a mão dela envolve seu
bíceps. Seu pulso acelera ao toque dela. Ele paira sobre ela como
um enorme homem-fera. Ela pressiona a ponta dos pés para se
inclinar para ele, seus olhos castanhos aquecidos em seu rosto. A
protuberância de sua barriga, a pequenez, a proximidade dela, envia
um raio de desejo lambendo sua corrente sanguínea.
— Compras — diz ela novamente. — Nada muito doloroso, eu
prometo.
Diga não. Como todas as vezes que suas irmãs tentaram enfeitá-
lo quando ele era criança. Não quando Serena trouxe para casa
aquele falcão com a asa quebrada, porque se morresse ela choraria,
e Solomon nunca quis ver sua esposa chorar. Não quando Howler
achou uma boa ideia comprar um touro mecânico para o bar; não
era um rodeio, porra. Abaixe a bota e diga não.
Porra. Não.
Mas quando ele se perde em seus olhos grandes, castanhos e
suplicantes, ele se perde. Não há mais luta nele. Ele está no limite.
Esgotado.
Tessie deixa sua mão permanecer no braço dele antes de soltá-
la, e então ela sorri.
— Vamos, Homem Solene. Roupas.

7. Mariachi é um gênero musical popular do México.


Capítulo onze

Tessie lidera e Solomon segue.


Ao lado da loja de presentes do hotel fica a Seaside Escape, a
luxuosa loja de moda inspirada na praia. Enquanto ela serpenteia
pelos corredores, um arrepio de excitação a percorre. Faz anos que
ela não faz compras. Risca isso. Desde que ela tinha tempo para
fazer compras. Todas as suas roupas de gravidez foram
encomendadas online entre mordidas de comida enquanto ela
comprava móveis para seus clientes.
Olhando para cima, Tessie morde o lábio ao ver Solomon
vasculhando as prateleiras de roupas. Ele parece perdido, confuso.
Como se preferisse estar de volta ao Alasca, jogando ursos polares
por aí. Pegando cabides com suas mãos grandes. Fazendo cara feia
para os slogans alegres, mas cafonas, como Beach, Pleasee Life is
Better in Flip-Flops.
— Não se preocupe — diz ela, enviando-lhe um olhar
tranquilizador por cima do ombro. — Eu nunca faria você usar
slogans.
Solomon se afasta de um quimono de macramê como se
estivesse pegando fogo.
— Nunca estive em um lugar como este — ele resmunga.
Em vez de fazer uma observação provocativa, ela se aproxima.
Olha para ele.
— Você quer ajuda?
Lá fora, naquela varanda, ela o viu. Ele parecia deslocado e
desconfortável em sua flanela vermelha. Ocorreu-lhe então que ela
não era a única a sentir-se estranha com todo este arranjo. Ela
queria ajudá-lo.
Ah, merda. Isso significa que ela se importa?
Não. É um gesto gentil.
Roupas. Ele precisa deles, e ela pode ajudar. Ela está na moda e
ele claramente não está.
Ele dá um aceno quase imperceptível.
— O que você tiver pensando.
— Um guarda-roupa para a estação. — Ela puxa a lapela dele, o
tecido aveludado entre os dedos. — Porque Deus sabe que você só
tem um.
Ela aperta os olhos para os lábios dele. Existe um sorriso sob
essa barba? Ela não sabe dizer.
Enquanto ela vasculha silenciosamente as prateleiras de roupas,
Solomon aparece como um gigante quieto atrás dela, observando de
perto, com cuidado. Suas mãos se movem rapidamente. Procurando
o que ela gosta, o que vai ficar bem nele. Isto é, se eles tiverem o
tamanho dele.
Divertindo-se, ela coloca as roupas sobre o antebraço. Shorts de
linho, sungas, polos, camisetas sem mangas e, ainda por cima, uma
divertida camisa havaiana floral. Cada item curado com uma
verdadeira vibração de Solomon. Masculino, sério, resistente.
Ela se vira, satisfeita com suas descobertas, e seu estômago bate
no quadril de Solomon. Ele está tão perto que ela pode sentir o
cheiro dele. O desejo formiga em seu estômago.
Limpando a garganta, ela dá um passo para trás.
— O que você acha? — ela pergunta, levantando o cabide.
Suas sobrancelhas escuras disparam para o céu.
— Rosa?
— Rosa empoeirado. Cor Pantone 17-1718. Seria uma declaração
de moda ousada. Você poderia fazer isso. — De alguma forma,
apesar de seu CEP no Alasca, o homem é bronzeado. Tão injusto,
deveria ser ilegal.
Ele estende seus ombros largos.
— Bom — Ela funga. — Vou adicionar um preto também.
Um som descontente escapa dele.
— Como você pode ver — Tessie diz à vendedora que se
apresentou para ajudá-los —, ele precisa de roupas.
A jovem pega a pilha de roupas e acena para Solomon
acompanhá-la até um provador.
Ele franze a testa e olha para Tessie.
— Eu tenho que experimentá-las?
— Sim. — Ela ri do leve pânico em seus olhos. — Tem sim.
Ele grunhe infeliz, mas obedece.
Divertida, Tessie se empoleira no braço largo de um banco azul
escuro pintado com ondas azuis claras. Solomon é tão alto que a
parte de trás de sua cabeça escura aparece acima da cortina. Seu
estômago ronca enquanto ela espera.
— Sinto muito — ela sussurra, esfregando as mãos em seu
estômago apertado. Ela esqueceu tudo sobre o café da manhã. Ela
precisa alimentar Bear.
Mais uma vez, sua atenção se desvia para Solomon.
Ela bufa um suspiro. Ela gostou desta manhã. Se unindo pelo
bebê deles. Aprendendo mais sobre o pai. Convivendo pacificamente
sem aquela necessidade estranha de preencher o silêncio. Foi
estranho. Foi perfeito. Estranhamente perfeito.
Com um suspiro, Solomon empurra a cortina. Seu grande corpo
emerge do provador vestindo um calção de banho cinza quente e
uma regata preta.
— E aí? — Ele estende seus braços enormes. — O que você
acha?
Tessie se põe de pé. Sua boca cai.
Ela pensa muitas coisas.
Como se nenhum homem devesse ter uma aparência tão boa.
Tipo, é errado abanar-se abertamente?
Como se ela entrasse em trabalho de parto aqui e agora, ela não
poderia culpar ninguém além de Solomon Wilder.
Porque Solomon é o mais belo espécime de homem que ela já
viu. Ele é construído como uma parede de aço sólido. Seu peito
largo, a protuberância de seus bíceps na regata, os shorts grudados
em suas coxas musculosas fazem o centro de Tessie brilhar, e ela se
pergunta se o bebê pode sentir isso. A mecha de pelos escuros do
peito de Solomon mal é visível, mas Tessie sabe que está lá. Ela se
lembra de enrolar os dedos na noite em que se conheceram,
cheirando seu perfume masculino de madeira, passando a língua
pelas veias de seus antebraços.
Oh, Deus.
Com os joelhos fracos, ela cai contra a parede, apertando as
coxas. Ela pulsa lá embaixo. Puta merda, o que há de errado com
ela?
Tesão, sua mente diz. Você está com tesão pra caramba e ficar
olhando para um corpo grande e corpulento não está te ajudando
em nada.
— Tess? — Solomon franze o cenho.
Ela balança a cabeça, limpando seu torpor. Ela deveria estar
criticando; não objetificando.
Um movimento de seu cabelo.
— Parece… bom.
Sua carranca se aprofunda.
— Bom?
— Mais do que bom — opina uma voz sedutora.
Solomon e Tessie giram em direção à vendedora que vem em sua
direção.
— Parece um fenômeno. Exceto que você precisa usar um
tamanho maior nesses shorts.
Tessie fica furiosa. Observa enquanto a mulher praticamente
flutua em uma nuvem com nove de altura para entregar a Solomon
outro par de shorts.
De volta ao provador, Solomon vai.
Tessie caminha lentamente até uma prateleira, mexendo
distraidamente nas camisas.
— Onde você faz compras em Chinook?
Sua voz rouca é alta atrás da cortina.
— Eu não faço.
— Deixe-me adivinhar, você usa as mesmas roupas nos últimos
quatro anos?
— Algo parecido.
A cortina se abre. Lá está Solomon com uma camiseta e um
calção de banho maior.
— Perfeito — diz Tessie. — Experimente o resto das camisetas.
Solomon revira os olhos. Em seguida, ele agarra a camisa pela
nuca e a tira. A caixa suspira. Ele está no provador aberto, seminu.
Corpo, abdômen e carranca em exibição para todos verem.
Tessie fica boquiaberta.
— O que... o que você está fazendo?
— Economiza tempo — diz ele com sensatez, pegando outra
camiseta.
— Pare. Não. Apenas… — ela o empurra com as palmas das
mãos — guarde isso — ela sussurra.
— Guardar o quê? — Com a testa franzida, ele olha para si
mesmo. — A camiseta?
— O abdômen. — Ela se aproxima e bate com os nós dos dedos
em seu peito musculoso. Ela bufa. — Quero dizer, você tem que
exibir o fato de que seu corpo é apenas rocha sólida?
Ele suspira, aflito.
— Tessie.
A vendedora se aproxima, mais roupas nas mãos, o rosto tonto
enquanto os olhos pousam em um Solomon seminu.
Tessie estreita o olhar e pega a pilha empilhada dos braços da
garota. Grávida ou não, ela vai colocar essa vadia na linha.
— Obrigado. Vou levar isso.
Ela empurra as roupas para Solomon, empurra seu braço
enorme.
— Vai. Se trocar. Lá dentro.
Ele rosna e fecha a cortina.
Depois de uma segunda olhada no provador onde Solomon está
ocupado se trocando, Tessie verifica seu telefone. Mais cedo, ela
teve a sensação de que, se continuasse trabalhando, seu telefone
estaria no fundo do oceano.
Ao ver a tela em branco, ela dá um suspiro de alívio. Tudo
tranquilo no quesito Atlas.
Tessie relaxa. Hoje. Hoje é dia de ir para a praia e depois para o
almoço.
Oh, Deus, almoço.
Tacos. Definitivamente. Talvez outro mocktail. Solomon pode
escolher. Ela supõe que eles passarão o dia juntos. E por que não?
Eles ainda têm que falar sobre Bear. Pode não ser tão ruim. Ela
gostou de aprender mais sobre Solomon esta manhã. Parecia certo.
Como a noite deles no bar Orelha do Urso.
O empurrão da cortina a arranca de seus pensamentos.
Mãos cruzadas no peito, Tessie engasga. Um guincho agudo de
admiração sai de sua boca. Solomon usa uma camisa polo preta e
calça de linho, fazendo com que pareça casual e sexy. Se ele está
tão bem agora, como ficará com um bebê nos braços?
Pare.
Pare o pensamento.
— Oh. — Ela resiste à vontade de verificar o pulso, porque não
tem certeza de onde perdeu os batimentos cardíacos. — Oh, uau.
Isso parece… — Finalmente, ela desiste de lutar contra suas
emoções, escolhendo a honestidade, não importa o quão fraca isso a
faça parecer. — Está tão fantástico, Solomon. — Ela caminha até ele,
ajustando a gola com um movimento do pulso. — Pronto. Agora
você não parece um serial killer com uma vibe de fetiche pela
floresta.
Sua risada estrondosa a faz pular.
— Essa é a minha vibe, hein?
— Oh, é muito a sua vibe.
Ele a olha com um arqueamento cético de sua sobrancelha,
preocupação brilhando em seu belo rosto.
— Suponho que você queira que eu raspe a barba.
— Deus, não — ela diz sem pensar. — Eu amo a barba.
Ela não consegue resistir a ficar na ponta dos pés para passar a
palma da mão por sua espessa barba negra. Os fios ásperos fazem
cócegas em sua palma. Seu núcleo dispara, faíscas, enquanto ela
resiste ao desejo muito idiota de se inclinar para frente e cheirar.
Apenas inale Solomon como o melhor tipo de fumaça.
Ele olha para ela, sua expressão atormentada. Com uma mão
enorme, ele apalpa a parte inferior de suas costas para estabilizá-la.
Para mantê-la perto.
— Tess…
É quando ela os vê de relance no espelho de corpo inteiro. A
justaposição é impressionante. Fascinante. Ele é pelo menos um pé
mais alto. O epítome de alto, moreno e bonito. E ela – loira e
pequena. Mas eles não parecem incompatíveis. Eles parecem
perfeitamente compatíveis.
E então há a colisão entre eles. Seu pequeno link.
Seu único link.
Ela tira a mão do rosto dele e se abaixa.
Ancora a si mesma.
— Acho que terminamos — diz ela calmamente.
— Sim — ele concorda depois de um momento, estudando seu
rosto. — Eu acho que sim.
Lentamente, ele se retira para o provador. Segundos depois,
mudando tão rápido que ela não pode ter certeza de que ele não é o
Superman, ele surge de sunga e uma camiseta verde militar que
aperta seus bíceps como uma píton. A pilha restante de roupas
empilhadas em seus braços.
Tessie aponta para uma prateleira de sapatos de cores vivas.
— Precisamos de chinelos.
Ele recua um pouco.
— De jeito nenhum.
Ela franze os lábios.
— Solomon, você não pode usar essas botas na praia.
— Não consigo correr de chinelos.
— Você está planejando fugir?
— Ataque de gaivota.
Sua extrema seriedade a faz sorrir.
— Um ataque de gaivota, mesmo?
— Poderia acontecer.
Ela balança a cabeça.
— Óculos de sol, então. — Depois de caçar, Tessie pega um par
de Maui Jim's e um boné de beisebol e, de qualquer maneira,
adiciona um par de chinelos à pilha.
Tessie faz clique-claqueem seu caminho até o caixa. Ela está
prestes a tirar a carteira da bolsa de praia quando há uma mão em
seu braço.
— Você não está comprando roupas para mim — Solomon diz,
parando ao lado dela.
Ela franze a testa.
— Eu estou. Eu sugeri isso. Eu–
— Tess — Sua voz se aprofunda, cortando qualquer outro
protesto.
Ela estremece. Aqui está aquela repreensão severa novamente.
Por que ela gosta tanto disso?
— Agradeço a ajuda. Mas você não está pagando por essas
roupas.
Ela puxa os ombros para trás, pronta para discutir com ele, mas
a expressão dele – mandíbula cerrada, sem besteira, olhos azuis
tempestuosos – diz a ela que ele vai lutar contra ela. Firme. Fim da
história.
— Tudo bem — diz ela, jogando o cabelo sobre o ombro.
Ele paga e, quando terminam, entram no corredor chamativo que
leva de volta aos quartos. Peixes de cores vivas nadam em um
tanque que ocupa toda a parede em frente a eles.
Eles demoram na frente do elevador. Uma expressão de e
agoramarca o belo rosto de Solomon.
Claro, eles poderiam se separar e fazer suas próprias coisas, mas
ela quer continuar esse dia. Quer manter Solomon por perto. Para
falar sobre o bebê. É isso. Isso é tudo.
Reunindo coragem, ela umedece os lábios. Ergue os olhos para
ele, uma vibração quente enrolando seu estômago.
— Talvez você queira–
De dentro de sua bolsa de praia, seu telefone apreende,
anunciando uma enxurrada de mensagens de texto e chamadas
perdidas.
Não responda. Esse é o primeiro pensamento dela. Mas a ideia
de abrir mão do controle, de dizer não, a deixa pegajosa. O medo do
fracasso tem presas e a reprime. Não vai deixá-la solta.
Não vai deixá-la perder.
Ela procura seu telefone e desliza a tela. Empalidece com o texto
em letras maiúsculas de Atlas. EMERGÊNCIA COM CLIENTE.
— Merda.
— Tudo certo?
Ela olha para Solomon, que a observa atentamente.
— Eu tenho que ir — diz ela impotente. — Tenho que consertar
algo para um cliente.
Sua testa franze.
— Tem certeza? — ele pergunta, parecendo que está prestes a
dizer mais.
Não.
Ela não tem certeza.
De jeito nenhum.
— Vai ser rápido. Apenas… — Ela força um sorriso, indo para
reconfortante. Sossegada. Porque é isso que ela é, certo? Sobre
tudo isso.
Seu bebê, sua carreira, sua paternidade iminente –
imperturbável.
Ela o ataca como um mosquito, ansiosa para tirá-lo daqui antes
que entre em combustão.
— Vá almoçar no tiki bar. Encontro você quando terminar.
— Tess.
— Por favor, Solomon. Vá, ok? Eu estarei lá.
Então, sem olhar duas vezes na direção dele, ela se vira e entra
no elevador aberto, deixando o calor dos olhos azuis escuros de
Solomon nela e o resto de suas perguntas para trás.
Capítulo doze

Solomon tem que admitir isso. Ele está muito mais fresco.
Descansando as sacolas de compras no assento ao lado dele,
Solomon se acomoda em uma cadeira no restaurante com tema tiki
bar com vista para a água. O lugar é tranquilo. Uma placa
anunciando a famosa bebida de abacaxi do bar – aquela sobre a
qual Tessie tem falado nos últimos dois dias – está pendurada na
parede azul-turquesa. Uma brisa suave vem do oceano. O barman
prepara uma mistura de frutas tropicais que faria Howler estremecer.
Solomon pede uma cerveja e um hambúrguer, embora a fome
seja a última coisa em sua mente.
Arrependimento aperta seu peito enquanto ele inspeciona o
assento vazio ao lado dele.
Tessie.
Ela deveria estar aqui. Com ele.
Um sorriso surge em seus lábios antes que ele possa sufocá-lo.
Hoje foi muito divertido. Mais divertido do que ele merece.
Ele não queria gostar de suas pequenas compras, mas ele se
divertiu. Discutindo sobre chinelos, Tessie corou e gaguejou,
experimentando roupas que ele nunca teria tocado em um milhão de
anos em Chinook. Ele não se divertiu tanto desde, inferno, a noite
em que conheceu Tessie. A garota é uma lambida de fogo,
queimando sua corrente sanguínea. Atrapalhou todos os seus
planos, mudando a maneira como ele pensa sobre a vida e sobre si
mesmo.
E Cristo, o jeito que ela o tocou, passando a pequena palma por
sua barba, a suave curvatura de seu estômago pressionando contra
ele, o rubor de suas bochechas, o deixou com uma ereção do
tamanho do Texas.
Ele revira os ombros, irritado com o pensamento. Irritado com
sua atração.
Ela não é problema dele.
Então, por que ele se sente responsável por ela? Por que ele
quer mantê-la perto? Ele está aqui no México para descobrir o
melhor arranjo para seu filho, mas desde o dia em que conheceu
Tessie, ela tem sido como a luz do sol dançando em sua pele. Ele
quer se deliciar com ela.
Ela está relaxando? Seu chefe idiota está dando um tempo para
ela? Ela teve tempo para almoçar?
Franzindo a testa com o pensamento, Solomon verifica seu
relógio. Já passa da uma. Se o estômago dele está roncando, e
Tessie? Ele não gosta de pensar nela com fome. Ela está grávida. Ela
deveria estar comendo. Descansando também. As olheiras sob seus
olhos que a maquiagem não consegue esconder ainda estão lá. Ela
ficou acordada até às duas horas da noite passada, o brilho
revelador de uma lâmpada brilhando por baixo da porta do quarto.
Ele olha por cima do ombro, bem ciente de que está agindo
como um bastardo superprotetor, procurando por Tessie, querendo
vê-la passar pela porta, suas longas pernas avançando diretamente
para ele. Ele franze a testa, odiando a maldita resposta pavloviana
que tem ao clique-claque dos saltos altos dela.
— Una mas cerveza?
— Si. Gracias. — Ele acena para o garçom que está entregando
seu hambúrguer. — Posso pegar um desses para viagem? — ele
pergunta, apontando para o desenho de abacaxi. — Sem álcool.
— Si, señor.
Solomon pega seu hambúrguer e o coloca na mesa. Parece
injusto comer quando Tessie não está aqui para se divertir com ele.
Para passar o tempo, ele pega o telefone. Seus dedos grandes
deslizam pela tela e, minutos depois, ele está baixando o aplicativo
para bebês que Tessie lhe mostrou. Um aplicativo em tons pastéis
que floresce como uma rosa quando é carregado. Ele insere as
informações que conhece e se depara com uma variedade de sinos,
trinados e arrulhos irritantes.
— Cristo — ele murmura, abaixando a cabeça quando um
garçom franze a testa em sua direção.
Solomon continua deslizando, concentrando-se em um artigo
alegre sobre a preparação para o bebê. A quantidade esmagadora
de informações o faz esfregar uma dor repentina no peito. Ele não
sabe como fazer isso. Mas ele quer fazer isso. Já é ruim que ele
tenha perdido as consultas médicas e escolhido um nome. A ideia de
perder qualquer outra estreia o deixa com um gosto ruim na boca.
Mas agora ele está aqui, ele sabe, e caramba, ele quer apoiar Tessie.
Ele não aceitaria de outra maneira.
Enquanto ele está lendo um post sobre alimentos proibidos para
mulheres grávidas, sua tela se acende novamente.
Howler.
Após um segundo de hesitação, ele responde, agradecendo a
Cristo que seu melhor amigo não está aqui para vê-lo. Ele iria falar
merda por dias sobre as roupas que ele está vestindo. Mas valeria a
pena. Solomon luta contra um sorriso. A lembrança de Tessie rindo e
batendo palmas mexe com algo dentro dele.
Porra.
— O que? — ele diz, levando o telefone ao ouvido.
— Não vamos ficar de conversa fiada. Como está o estado do
sol?
— Isso é a Flórida. Como está Peggy?
Howler ri.
— Ainda um cão de caça. Tive que mantê-la dentro de casa nos
últimos dias, visto que estamos tendo um pequeno problema com a
vida selvagem.
Solomon inclina a cabeça para trás e geme.
— Você está com ursos de novo? Eu lhe disse para trancar essas
malditas lixeiras.
— Sim, sim, eu sei. Miller está nisso depois que terminar a
preparação.
— Miller?
— Novo contratado.
Solomon franze a testa. Sim, Howler precisa de um chef, mas
contratar Miller Fulton, um garoto que não sabe a diferença entre
margarina e manteiga, é apenas pedir problemas.
— Quando isto aconteceu?
— Não se preocupe com Miller, cara. Quando você volta pra
casa?
— Alguns dias. Ainda estamos falando sobre o bebê.
— Tem certeza que isso é seu?
Ele se enfurece. Com cada palavra. O "Isso". A implicação de que
Tessie está mentindo, o iludindo.
Solomon range os molares.
— Sim, meu. Um menino.
Aqui e agora, ele acaba com qualquer dúvida. E ele vai desligar
qualquer um que pense o contrário.
— Isso é ótimo cara. — Mas o comentário é duvidoso. Repleto de
dúvidas. — Reivindicar essa descendência, Sol, é uma coisa nobre
de se fazer.
Solomon aperta a ponta do nariz. Sem dúvida, isso faria seu
parceiro de negócios idiota fugir. A única coisa que o mantém sob
controle na vida é o bar.
— Você se entendeu com Cachinhos Dourados?
Ele passa a mão pelo rosto.
— Ainda não.
A voz de Howler cai uma oitava.
— Você acha que ela só quer dinheiro?
— Não diga isso sobre ela — ele late.
— O que? — A voz do outro lado da linha é tensa. — Você está
apaixonado pela mamãe do seu bebê?
Solomon abre a boca, procurando uma resposta. Porra. Mas o
que ele pode dizer? Que Tessie é mais do que uma mulher
carregando seu filho? Ela é... ela é Tessie. Impossível decifrar, mas
impossível de ignorar. Ele não conseguiria se tentasse.
— Isso não é da sua maldita conta — ele rosna.
— Como quiser. — Howler soa divertido. — Então descubra.
Depois volte para casa. Fácil.
Um buraco se abre na boca do estômago de Solomon.
Fácil.
Porra. Nada sobre isso é fácil.
Ele e Tessie não têm nada resolvido entre eles. Ele deveria estar
pronto para pegar o próximo avião de volta para Chinook, mas o
pensamento de deixar seu filho, aquele bebê, o faz levar a mão ao
peito para esfregar a pressão crescente.
E quanto a Tessie?
Pare.
Ele teve sua chance. Com Serena. E ele perdeu. Ele a perdeu.
Ferir outra pessoa... ele não pode deixar isso acontecer.
A única conexão entre Tessie e ele é o filho deles.
Fim da história.
Solomon tem que descobrir isso e depois ir embora. Ele tem
casa, família, amigos, mesmo que sua própria vida tenha estado em
pausa nos últimos sete anos. Mesmo que a ideia de deixar Tessie o
tenha deixado com mais frio do que o hambúrguer à sua frente.
Mexendo-se na cadeira, ele encerra a ligação. Seu batimento
cardíaco é instável. Assim como seus pensamentos.
O tempo está passando. Hora de falar sobre Bear. Para descobrir
onde eles estão.
Mais um dia.
E então ele vai dar o fora do México. Antes que ele faça algo
estúpido como se apaixonar por uma linda loira de salto alto.

Mais uma hora. Isso é o que ela disse a si mesma três horas atrás.
Tessie geme e esfrega a testa, seu olhar melancólico no oceano
além do terraço. O sol do final da tarde entra, como se a chamasse
para fora. Mas a praia terá que esperar. Por enquanto, ela tem um
escritório completo montado na suíte. Seu laptop está no sofá. Seu
bloco de desenho no colo. Celular e fone de ouvido empoleirados na
mesinha de centro.
Ela está quase terminando este projeto não anunciado. Quase
livre. Depois disso, ela vai guardar tudo e aproveitar as férias. Ela
precisa de comida. Exceto por uma barra de granola devorada às
pressas, ela e Bear não comeram muita coisa. Ela está morrendo de
fome. Ela poderia aspirar um prato inteiro de tacos.
Sua mente se move para Solomon. Para o que ele está fazendo.
Desejando estar com ele em vez de lidar com desastres de design.
Ela não pode deixar de sorrir ao pensar nele parado no meio da
boutique como um grande gigante que a deixou vesti-lo. A
lembrança de seu corpo obsceno. Impraticável. Distraindo.
Seu laptop soa. Uma chamada Zoom recebida de Atlas.
Ela suspira e puxa o laptop sobre as coxas.
— Oi, Atlas — ela diz, aceitando a ligação, pronta para sorrir em
outra de suas sessões de poder fúteis. — Acabei de enviar o esboço.
Ele torce o nariz com desgosto.
— Eu recebi ele. Cinco minutos atrasado.
Ela deixa a escavação ir.
— Bom. Então, se isso é tudo…
— Ouça, Truelove. Acabei de receber uma ligação de Ben
Moreno.
Ela franze o nariz enquanto pensa nisso.
— O dono do restaurante?
— Esse mesmo. Ele viu seu segmento no Access Hollywood e
quer que você projete seu mais novo hotel.
Seu queixo cai com a notícia, um sentimento de orgulho a
enchendo.
— Isso... isso é ótimo. Posso começar assim que voltar para LA.
— Isso não vai funcionar para ele. Ele quer começar ontem. —
Atlas estala os dedos, sinalizando para outro café. — Marquei uma
chamada de Zoom para as quatro da tarde. Quero que você faça
uma visita virtual com ele pelo espaço.
— Mas… mas isso vai levar o dia todo.
— E? — Seu olhar a desafia a dizer não. — Você está confusa,
Truelove? Este é o modo de crise. O modo crise não espera pelas
férias. Você sabe disso.
— Sim, Atlas. Mas isso foi aprovado. Isso está na programação
há meses. — A irritação pulsa através dela. Esta é sua última viagem
sem filho, antes de se tornar mãe. Além disso, ela e Solomon ainda
têm muito o que resolver.
— Eu preciso de você, Truelove. Preciso da minha melhor
designer nisso. Preciso que você faça isso. Se você não fizer isso…
— Uma sobrancelha bem feita se arqueia conscientemente.
Tessie cerrou os punhos. Visões de violência dançam em sua
cabeça. Visões de acertar Atlas em seu rosto presunçoso. Melhor
não. Contratar Solomon para socá-lo com seu punho de martelo.
Ainda assim, mesmo com Atlas agindo como um idiota, ela não é do
tipo que reclama do trabalho. Isso não é apenas sua profissão, é sua
personalidade.
Deixar ir...
Ela exala, cedendo.
— Tudo bem.
— Bom. Quatro da tarde, Truelove. Não se atrase — ele corta.
Por alguns minutos depois que ele desliga, Tessie fica sentada,
com as mãos sobre os joelhos, sabendo que deveria trabalhar, mas
seu corpo não se mexe.
Frustração e raiva fazem com que lágrimas quentes se formem
no fundo de seus olhos. Isso é besteira. Ela não pode nem fazer
uma pausa de sete dias para se concentrar em seu bebê e em si
mesma. Ela está no México, em um paraíso literal e, no entanto, é
praticamente um animal enjaulado. Incapaz de escapar de seu
trabalho, da pressão, da luta feroz para chegar ao topo, quando ela
realmente não tem certeza de que é o que ela quer mais.
O que ela quer mesmo é ficar do lado de fora curtindo a praia.
Mas em vez disso, ela está trabalhando duro para o idiota do século.
Um monstro tóxico que não aprecia seu trabalho duro. Que nunca
entenderá o que é preciso para ser uma mãe solteira trabalhadora.
Que a chama de Terrível Tess há anos, quando na realidade, ele é o
terrível.
Ela quase pode ver seu futuro evocado em uma bola de cristal. E
não é bom. Não é feliz.
O que vai acontecer quando Bear estiver doente? Quando ele
está na escola e ela precisa de folga para reuniões de pais e
professores ou férias de primavera? Quando ele tem um jogo da liga
infantil e ela está atrasada? O pensamento corta como uma lâmina
de barbear, fazendo-a embalar seu estômago. O pânico e o
desespero a dominam.
Ela está tão cansada de trabalhar duro e nunca progredir. De
fazer malabarismo. Da gravidez dela. Do trabalho dela. De suas
emoções. Ela está cansada de correr, de nunca viver o momento, de
fazer tudo sozinha. Tudo o que ela quer é aproveitar a gravidez, o
bebê e as férias.
Um fogo se enrola profundamente dentro dela. Em sua alma, ela
quer ser a mulher que era na noite em que conheceu Solomon.
Assumir riscos. Ser rebelde. Ver estrelas. E seu trabalho
definitivamente não é sua estrela.
Não mais.
O único que importa é Bear.
Com as palmas das mãos no estômago, ela olha para Bear. A
determinação a preenche.
— Foda-se esse cara — ela diz a sua barriga. — Estamos nos
arrumando e vamos comer.
É tão certo e tão errado ao mesmo tempo: fechar o laptop dela.
Ela está saindo. Ela está.
Ela colocará seu vestido mais caro, encontrará Solomon e depois
irá ao restaurante mais extravagante, comerá três lagostas – porque
é tudo incluído ou não, baby – e depois caminhar e caminhar pela
praia até a noite chegar e ela poderá ver suas estrelas.
Levantando-se, Tessie corre para o quarto para se trocar. Ela
chuta os chinelos do hotel como se estivesse fazendo cancã e pega
seu vestido, um vestido justo caro pelo qual ela economizou um mês
de salário, um vestido que a faz se sentir sexy como o inferno.
Ela entra nele.
Puxa para cima. E–
Suspiros.
Ela não consegue passar da barriga.
Não consegue respirar. Não consegue se mover.
Ela está presa.
— Merda — ela xinga, puxando o vestido que agora está preso
em seu estômago como um manguito de pressão arterial bombeado.
Ela sacode os braços. Mas é inútil. — Oh. Deus. Oh não, não, não,
não.
Uma sensação quente e de pânico a domina. Enquanto ela se
contorce para escapar da constrição do tecido, ela vê seu reflexo no
espelho que vai até o chão. Uma mulher desajeitada na luz nada
lisonjeira do hotel, uma salsicha recheada em um vestido. Olhos
selvagens, cabelos soltos caindo sobre os ombros.
O ronco de seu estômago a tira de seu torpor. Ela deixou cair o
queixo em consternação.
Se ela está com fome, seu bebê está morrendo de fome.
Oh, Deus.
Elaestá deixando ele morrer de fome.
Ela já trocou o trabalho pelo filho. A pequena fera raivosa dentro
dela precisa de uma refeição, e ela se esqueceu completamente
dele.
Lágrimas quentes brotam de seus olhos. Ela ainda nem
alimentou o bebê.
Que tipo de mãe ela é?
Desespero e dúvida bem dentro dela como uma inundação.
Meses e meses de medos e ansiedades que ela pisou profundamente
com a ponta de seu sapato de salto alto, abrindo caminho desde o
buraco em seu estômago.
Ela é terrível. Terrível Tess. E ela vai ser uma péssima mãe.
Como ela vai fazer isso sozinha?
Ela não consegue nem trocar de vestido sem ficar presa nele. Ela
nem tem o número de Solomon para ligar para ele pedindo ajuda.
Porque ela não tem amigos. Ela não tem pessoas que ficam por
perto. Ela nem faz mais sexo, e está tão, tão excitada que até dirigir
por uma velha estrada de terra poderia deixá-la excitada.
E se ela vivesse verdadeiramente no momento como Solomon? E
se ela amasse como Ash? E se ela deixasse a vida acontecer e
participasse em vez de seguir os movimentos? E se ela nunca
encontrar suas estrelas?
O choro a atinge como uma inundação. Lágrimas quentes
escorrem por suas bochechas enquanto ela entra em colapso em
Five-Mile Island.
Ela tenta se sentar na beirada da cama, mas seu vestido é tão
apertado que ela não consegue nem ter aquela pequenina
dignidade.
Em vez disso, Tessie cai no chão em uma pilha de tecido e solta
um gemido. Tudo o que ela quer fazer é chorar. Ela não se sente
radiante; ela não se sente pronta para este bebê; e ela certamente
não se sente sexy.
Ela quer descer do terraço, correr para a praia, pegar carona na
boia e ir para o mar. Navegar para longe.
Longe, bem longe.
Capítulo treze

Com o mocktail de abacaxi na mão, Solomon abre a porta da suíte e


entra, apenas para ser atingido pelo som mais aterrorizante do
mundo.
Choro.
Tessie está chorando.
Um gemido quebrado vem do quarto. O som fez o pulso de
Solomon disparar.
— Tessie? — ele grita, mal tendo tempo de colocar o homem
abacaxi no chão ao acaso antes de ir para o quarto.
Ele a encontra caída no chão como uma Cinderela murcha,
envolta em uma confusão de tecido preto.
— Tess? — Ele se ajoelha aos pés dela, com as mãos estendidas
porque não sabe onde colocá-las. — O que é? O que está errado?
— Vá embora, Solomon. — Mantendo a cabeça baixa, ainda
fungando, ela levanta a mão, enxotando-o.
— Você está chorando — diz ele, afirmando o óbvio de forma
idiota.
— E? — Ela enxuga os olhos molhados, ainda se recusando a
olhar para ele. — Eu sempre choro. Eu amo chorar.
Seu foco vai para o estômago dela, embalado em seus braços
enquanto soluços silenciosos atingem seus ombros. Uma pedra se
forma em sua garganta, e ele mal consegue pronunciar as palavras,
palavras que ameaçam estrangulá-lo.
— Há algo de errado com o bebê?
O medo o preenche, deixando-o perturbado com a noção de que
algo terrível já aconteceu com seu filho.
— Não — diz ela com um aceno de cabeça loira. — Sou eu. Eu
estou errada. Eu sou uma bagunça.
Ele franze a testa.
— Isso é exatamente o oposto do que você é.
— Como você sabe? Você nem me conhece. — Ela levanta o
rosto. Seus olhos estão inchados e avermelhados. — Tudo o que
faço é afastar as pessoas. Não sei deixar ninguém entrar. — Ela
abraça a barriga. — E se eu empurrar Bear para longe? E se eu fizer
tudo errado? E se ele me odiar?
— Ninguém poderia te odiar.
— Você me odeia.
Seu queixo cai. Jesus. Como uma faca em seu peito.
— Eu não te odeio. — Tentando, ele enfia uma mecha de seu
longo cabelo loiro atrás da orelha. Então ele se abaixa para sentar
ao lado dela. — Claro, ainda estamos descobrindo as coisas, mas…
Eu nunca poderia te odiar.
— Tudo o que fiz hoje foi trabalhar — diz ela. — Eu nem vi a
praia. Meus pés doem. — Em voz baixa: — Não consigo tirar meu
vestido. Estou presa. Eu me sinto como um hipopótamo.
Ele tenta não sorrir.
— Você não é um hipopótamo.
— Eu sou. Eu sou como uma… boneca babushkacambaleante. —
Um olhar desanimado cruza seu rosto. — Estou grávida e sozinha,
Solomon. Ninguém me quer. Ninguém quer me tocar.
Seu coração se parte com a angústia honesta em sua voz. Como
ela pode pensar que é outra coisa senão bonita? Qualquer homem
teria sorte de estar em sua órbita.
— Estou tentando ficar bem, mas estou sozinha todas as noites e
todas as manhãs, e simplesmente… é tão triste. — A voz dela falha
na palavra. — É tão solitário.
A dúvida na voz dela, o medo, a vulnerabilidade crua, o atingem
como uma marreta. Ela é solteira. Fazendo essa coisa de gravidez
sozinha. Cristo, quanto tempo se passou desde que ela foi tocada?
Desde que ela foi elogiada? Exceto por Ash, ninguém esteve por
perto para ajudá-la. Inferno se isso não custasse caro a uma pessoa.
Aproximando-se, ele cutuca o queixo dela com um dedo enorme
até que ela seja forçada a encontrar seu olhar.
— Você é linda, Tessie. A mulher mais linda que já vi.
Seus olhos castanhos se arregalam.
— Eu sou?
— Você é. E você pode fazer isso.
Lágrimas brilham em seus longos cílios.
— Mas e se eu não puder? — Ela funga. — Eu trabalho demais.
Não consigo nem manter uma planta aérea viva.
Ele fica quieto, deixando-a desabafar.
— Não sei o que estou fazendo. Eu finjo o tempo todo. Eu finjo
ser corajosa. Eu realmente não sou assim. Eu só… — Ela deixa cair a
cabeça nas mãos. — Eu estou assustada. Estou com medo de dar à
luz. Tenho medo de que tipo de mãe serei. Estou com medo de
perder Bear. Ou deixá-lo. E se… — um soluço sai dela e seu rosto se
contorce — — eu só estou com medo.
Há tanto que ele quer tirar, mas agora, não é sobre ele. Solomon
a envolve em seus braços e ela não resiste. Ela cede contra ele, o
calor de seu pequeno corpo, um conforto que ele não sabia que
precisava.
— Me escute — ele diz asperamente.
Ela olha para ele, seus grandes e lindos olhos castanhos cheios
de lágrimas.
— Tudo bem ter medo. Mas a única coisa que sei é que você vai
ser uma ótima mãe.
Ela sorri fracamente.
— Como você sabe disso?
— Porque eu passei dois dias com você, e já vejo isso. — Ele
apalpa o rosto dela, certificando-se de que ela o ouça. — Eu vejo
isso em todas as maneiras que você cuida de Bear. Inferno, ele nem
está no mundo real ainda, e você já está lá para ele.
Seu corpo fica macio contra ele, relaxando. Então ele continua
falando.
— E eu vou te dizer outra coisa também.
— O que é?
— Você não está sozinha. Estou bem aqui com você. Eu sei que
você pensa que vou embora, mas não vou. Eu vou ser um pai para o
meu filho e te ajudar no que você precisar. — Ele a puxa para mais
perto, alisando seu cabelo. — Diga-me o que você precisa, Tess, e
eu farei isso. Eu te dou qualquer coisa.
Ele perdeu todo o controle. Qualquer coisa que ela pedir, ele
estará à sua disposição. Ele pensa no homem do abacaxi derretendo
no balcão e sabe que fará todo tipo de merda para deixá-la feliz.
Ela considera, então sussurra:
— Eu preciso tirar este vestido.
Ele concorda.
— Sou bom em tirar mulheres de vestidos.
Ela ri, e o peito de Solomon aperta. Ele quer fazê-la rir pelo resto
da vida, se isso tirar aquele olhar triste de seu lindo rosto.
Ele se levanta do chão e a ajuda a ficar de pé. Ela faz isso com
uma oscilação e um gemido baixinho. Então ela está na frente dele,
seminua. Solomon tenta não olhar, mas é impossível. Mesmo presa
em um vestido, Tessie está linda. A metade superior do corpete cai
em sua barriga, expondo um sutiã de renda. Seus seios altos
ondulam de carne cremosa e exuberante.
Ele desliza um dedo entre o tecido e a barriga dela. É apertado,
cortando a circulação e fazendo-o franzir a testa. Está machucando
ela. Suas mãos vão para a parte inferior das costas dela, roçando
sua pele macia, procurando por um zíper, apenas para não encontrar
nenhum.
Ele limpa a garganta.
— Vou ter que rasgar.
Ela faz beicinho dramaticamente.
— Oh, Deus.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Vale mais do que a minha vida?
Ela abre um sorriso.
— Algo parecido. — Então ela fecha os olhos e inala uma
respiração tenaz. — Faça isso, Solomon.
Ele se aproxima, passando os braços ao redor do pequeno corpo
dela. Por um segundo, eles balançam, abraçados, o corpo dela tão
quente contra o dele. Então, segurando com cuidado o tecido justo,
ele o recolhe em suas mãos.
Então, com os músculos salientes, ele rasga.
Tessie grita. As mãos dela agarram os ombros dele enquanto ela
se dobra. Seu corpo inteiro estala. Mas ela não está chorando. Ela
está sorrindo. Um dos sons mais bonitos que Solomon já ouviu.
O vestido se divide nas costas, abrindo mão de seu aperto em
seu estômago. Ele a deixa cair no chão, onde o tecido forma uma
poça aos pés dela.
— Pronto — ele diz, se afastando. — Você está livre.
Ela levanta o rosto, os lábios carnudos puxados em um sorriso
vacilante.
— Por favor, nunca conte a ninguém sobre isso. Nunca.
— Seu segredo está seguro comigo.
Ela observa a pilha flácida de tecido no chão. Apenas Solomon
olha para Tessie. Quase nua. Lábios carnudos. Cabelo selvagem.
Água na boca. Com uma calcinha de renda preta e um sutiã preto
transparente, ela é uma mulher grávida deslumbrante. Não que ele
tenha visto muitas mulheres grávidas quase nuas, mas em Tessie
isso se encaixa. É fascinante. O mesmo corpo esguio que ele tocou
seis meses atrás, com apenas uma saliência de uma bela barriga.
Ela leva as mãos ao peito, algo cru e vulnerável se movendo em
suas feições.
— Obrigada, Solomon.
Ele avalia seu rosto manchado de lágrimas.
— Do que mais você precisa? — ele pergunta densamente.
Qualquer coisa. Qualquer coisa que ela quiser, ele dará.
Ela hesita.
— Um abraço?
— Eu posso te dar um abraço. — Ele odeia a aspereza em sua
voz, uma forte constrição que não revela nada, quando, na verdade,
é tudo o que ele queria fazer desde que a viu naquele saguão.
Abraçá-la. Por um longo maldito tempo.
Com o rosto tímido e suave, ela levanta uma perna tonificada
para sair do vestido e depois se arrasta na direção dele. Ele abre os
braços e ela se derrete em seu abraço com um suspiro satisfeito.
A respiração de Solomon fica presa ao senti-la. Pequena.
Perfeita. Ela se encaixa perfeitamente em seus braços. A curva de
sua bochecha pressionada contra o centro de seu peito. O inchaço
suave de seu estômago quente e pesado contra ele.
Eles balançam, e é como na noite em que dançaram sob as
estrelas no bar Orelha do Urso. Nada existia exceto eles. Nada
importava. Apenas a garota em seus braços e seus batimentos
cardíacos sincronizados com os dele.
Tessie mexe os quadris, afundando ainda mais no abraço. Ele
esconde um sorriso quando ela inala e enterra o rosto em sua
camisa. Cada grama frágil e vulnerável dela é pressionada em seu
grande corpo.
Instantaneamente, ele fica duro.
Cerrando os dentes, Solomon fecha os olhos, desejando afastar a
barra de aço em suas calças. Essa garota precisa de um abraço, não
de uma maldita ereção cutucando seu estômago.
— Mmm. — A voz de Tessie vem abafada contra seu peito. —
Você dá bons abraços.
Ele grunhe. Faz uma anotação.
— Bom.
Ela se afasta e olha para ele.
Incapaz de evitar, ele segura sua bochecha, acariciando com o
polegar o alto arco de sua bochecha.
— Do que mais você precisa?
Ela engole. Então diz:
— Eu preciso de sexo.
Seu cérebro entra em curto-circuito em uma confusão e depois
volta a ficar online.
— Cristo.
— Eu sei. Eu sou horrível por perguntar. — Duas lágrimas
escorrem pelo rosto de Tessie. Compreendendo mal o palavrão
esfarrapado, ela achata a mãozinha contra o peito dele. — Por favor.
Nós fizemos isso uma vez. Podemos fazer isso de novo. — Ela morde
o lábio. — Eu só… eu preciso disso.
Deus, ele quer. Leve-a para a cama, foda-a rápido e forte, e
então longo e suavemente. Sinta cada centímetro de seu corpo lindo
e brilhante contra o dele.
— Estou com tanto tesão. Eu não tive relações sexuais desde
então… bem, nós.
Aí está. Nos olhos dela.
Desejo selvagem.
Ela precisa de gentileza, precisa de força e precisa de alguém. E
caramba, se não é ele. Porra. Tem que ser ele. O pensamento dela
fazendo sexo com qualquer outra pessoa é como um balde de água
gelada encharcando sua ereção.
Ele segura o rosto dela em suas mãos, a curva de sua bochecha
se encaixando como uma chave na fechadura.
— Você precisa disso?
— Eu preciso. — Ela fica na ponta dos pés, a palma da mão na
barba dele. — Eu realmente, realmente preciso.
Seus olhos, grandes, castanhos, suplicantes. O jeito que ela está
olhando para ele, ele não tem escolha.
E então ele a está agarrando pelos cotovelos, puxando-a para
seu peito, beijando-a como se ela fosse o último suspiro de um
homem. Não hesitante ou tímido. Carente. Desesperado.
O beijo dela o inflama. Cada desejo masculino há muito
enterrado é iluminado com luxúria.
Ele gostou do beijo dela seis meses atrás, e porra, ele não ama
agora.
Um gemido sai dele, e ele aperta seu aperto. Ela enfia a língua
na boca dele, envolvendo os braços esguios em volta do pescoço
dele. As chamas dançam ao redor deles, o pôr do sol lá fora
lançando raios oblíquos pelas janelas.
— Solomon. — Tessie engasga, recuando. — Oh, Deus, oh,
obrigada — diz ela, com os olhos arregalados e úmidos, o sorriso
atordoado e extasiado.
Então ela grita e volta para a segunda rodada. Ela está com
fome. Mãos desesperadas em cima dele, subindo pela camisa,
deslizando pelo cós. Pressionando-se, seus seios fartos, contra ele
como se ela pudesse se moldar a seu corpo. Sugando o lábio inferior
em sua boca como uma linda criatura selvagem.
Ele está pronto para isso.
Ele a beija mais profundamente, rudemente, suas mãos
percorrendo suas costelas, a curva suave de seu estômago, seu
pescoço esguio. Ele treme enquanto inala seu perfume delicioso.
Coco e sol. Como se estivesse segurando o céu em seus braços.
Ouro. Poeira estelar.
Tessie.
Péssima ideia? Talvez. Mas ele quer que ela fique com isso. Quer
dar a ela algo que a faça se sentir melhor e, se for ele, não
reclamará.
Porque a verdade é que ele quer isso tanto quanto ela. É tudo
em que ele pensa desde Orelha do Urso. A memória dela o destruiu,
fazendo-o levar a mão para si mesmo no chuveiro mais vezes do que
ele pode contar. E agora ela está aqui, pedindo-lhe para agradá-la, e
inferno se não é isso que ele vai fazer.
Esqueça isso.
Adorá-la.
Porque ela precisa disso. Ele pode sentir o desejo no arco de seu
corpo esguio e nu se contorcendo contra ele. Todos os tipos de
fome. Morreu de fome.
— Tessie, bebê, espere — ele rosna, usando toda a força de
vontade do mundo para se afastar de sua doce boca. — Se estamos
fazendo isso, estamos fazendo certo. Estamos fazendo isso por você.
Ele quer mostrar a ela que ela é a mulher mais linda que ele já
viu. Mesmo grávida. Especialmentegrávida. Porque seu corpo é
como nada mais. Feminina, selvagem e exuberante.
Olhos castanhos atordoados encontram os dele, os lábios
carnudos e úmidos do beijo. Ela dá um passo à frente.
— Então, vamos lá — ela murmura, estendendo a mão para trás
para tirar o sutiã em um movimento suave, deixando os seios nus.
Sua garganta se fecha sobre ele, quebrada com a visão de seu
corpo quase nu.
Seus seios. Eles são perfeitos pra caralho. Mamilos escuros.
Cheio e rosa, como pêssegos doces em junho.
Ele dá dois passos rápidos até ela, soltando um grunhido que é
ao mesmo tempo primitivo e protetor.
Ele fica de joelhos. Na frente dela, onde ele pertence. Com mãos
gananciosas, ele agarra suas coxas ágeis. Ela faz um pequeno
gemido com o contato. Inclinando-se para frente, ele varre a boca
contra sua pele, pressionando um beijo contra o inchaço de seu
estômago. Tessie estremece, dando um gemido quebrado.
— Isso é bom. — Suas mãos vão para o cabelo dele, agarrando
as mechas escuras. — Tão bom.
Em sua voz áspera, seu pênis se contrai como um filho da puta.
Ele quer sair, quer mais, mas ele quer que ele jogue para baixo.
— Sente-se — ele ordena.
Sem discutir, ela o faz, com o rosto exultante.
Na beira da cama, ela se posiciona, toda elegância régia, linhas
esguias e barriga pequena. Seu longo cabelo loiro cai sobre os
ombros. Solomon se move entre suas pernas, segurando seus
quadris para empurrá-la para ele antes de tomar seu seio em sua
boca. Tessie arqueia sob seu toque, ficando mole, e ele apalpa a
parte inferior de suas costas para segurá-la. Seus olhos estão
fechados, um rubor rosa em suas bochechas enquanto ele traça seu
seio, a ponta dura de seu mamilo, com a boca.
Um gemido de consternação sai de seus lábios irritados quando
ele finalmente se afasta.
Colocando uma palma gentil no canal de seu peito, ele a deita na
cama.
— Fique — ele ordena.
Mais uma vez, ele fica entre as coxas dela, desta vez abrindo os
joelhos.
Ele planeja coçar cada coceira que ela tem. Começando por este.
Ele pressiona a mão contra a malha transparente de sua
calcinha. Ele sente a pulsação dela contra ele, sente sua umidade
escorregadia. Seus sucos escorrem por suas coxas. Mergulhando a
cabeça, Solomon lambe uma linha de sua doçura, um gemido suave
vindo da mulher na cama.
— Tudo bem? — ele pergunta, levantando a cabeça.
Tessie se apoia nos cotovelos e espia por cima da barriga, os
olhos brilhantes, a boca rosada pulsando sim, sim, sim.
O pênis de Solomon surge em suas calças enquanto ele
pressiona seus lábios em sua boceta macia. Jesus Cristo. Ela está
tão molhada. E caramba, ela tem um gosto bom. Ele treme
enquanto inala seu perfume feminino. Ele quer isso na barba. O
cheiro dela. O tipo de perfume que o marca, o prende.
Enganchando um dedo no cós da calcinha dela, ele a puxa para
fora e sobre suas pernas tonificadas, gemendo com o que vê. Uma
pista de pouso depilada. Cabelo loiro delicado. Deslizando suas mãos
largas sob sua bunda, ele brevemente se amaldiçoa pela aspereza
de seus calos em sua pele aveludada. Ele a puxa para mais perto
dele, e então cola sua boca em sua boceta. Enfiar a língua em sua
doce suavidade faz Tessie lamentar o nome dele. As mãos dela, as
unhas, rasgam o cabelo dele, e com a sensação áspera, Solomon
quase explode.
Ainda assim, ele mantém tudo junto. Ela é um sonho. O sonho
dele. E ele está determinado a fazê-la aproveitar cada maldito
minuto disso. Ela merece isso.
Tessie está com fome e ele vai alimentá-la.
Ele a trabalha com a língua, fazendo círculos concêntricos suaves
em seu clitóris. A ascensão de seu corpo o leva. Ele a leva mais alto,
leva-a até a borda e depois a puxa para trás. Ela grita, o som agudo
estalando-o como um chicote. Seus dedos estão brancos enquanto
ela segura a ponta do lençol, sua respiração saindo em pequenas
lufadas de ar, seus lábios um O rosa de desejo.
Solomon rosna, o prazer dela alimentando o dele, e então molda
sua boca em seu clitóris e chupa.
Um grito chocado sai da boca de Tessie. Seus quadris arqueiam,
seu corpo balança, e ela está se levantando da cama, levitando, sua
forma treme de êxtase, antes de cair mole na cama.
Ela fica ali por alguns longos segundos, os olhos fechados, um
sorriso no rosto.
Solomon se endireita e espera por ela.
Tessie, com expressão vidrada, se senta. Ela balança por um
longo minuto. O rubor que ela usa em suas bochechas se espalha
por sua clavícula e seus seios.
Um sorriso que Solomon não sentia há muito tempo toma conta
de seu rosto.
Então, parecendo um anjo carnívoro quente como o pecado,
Tessie levanta os braços e o alcança.
— Mais — ela ofega. — Mais.

Solomon vem para seus braços estendidos como um aceno.


Um começo.
A visão de sua estrutura de um metro e noventa pairando sobre
ela a faz sentir os mamilos se contraírem. Seus olhos são escuros e
famintos; ele é um homem focado em um alvo. As veias em seus
braços são fios tensos que ela quer sugar. Lamber. Ser eletrificada.
Ela já está quase lá.
Enquanto ele se aproxima, seu rosto é estoico, mas o volume em
seu calção é evidente.
Ela sorri. Ela ainda tem. Grávida ou não. E ela nunca se sentiu
tão sexy. A maneira como ele rasgou aquele vestido de seu corpo.
Como aquela Tessie que ela estava procurando no bar Orelha do
Urso. Sem inibições. Pronta para pedir o que ela queria – não
apenas em sua carreira, mas em sua vida.
Agora. Agora ela está grávida, esparramada nua na cama com o
maior e mais barbudo homem que ela já viu.
Solomon mergulha, apoiando as palmas das mãos na cama, os
braços envolvendo-a.
Ela estremece.
Ele é construído como um tanque. As palavras que saem dele são
ásperas.
— O que, agora?
Um gemido ímpio sai de sua boca.
— Nós nos beijamos. Eu preciso da dopamina — ela suspira
antes de atacar a boca dele. Os lábios que encontram os dela são
quentes e cheios e têm gosto de sal e cerveja e dela. Suas mãos
largas se enroscam em seu cabelo, gentis, sempre tão gentis.
Com o corpo fervendo de impaciência, Tessie agarra a camisa
dele como uma fera infernal grávida com tesão. Deus. Ela não
consegue o suficiente. Ele é como beber água.
Mas quente. Ele é tão quente e ela está queimando viva.
Ela geme, enfiando as mãos em seu cabelo escuro, deleitando-se
com a maneira como ele a beija até sua alma exausta e cansada.
Ele tem gosto de montanha. Pinho e ar gelado. O beijo dele
acendeu uma isca seca em seus ossos.
Deus. Ela não consegue envolver sua mente girando em torno
disso. Quem teria pensado que este homem das cavernas da
montanha seria todo movimentos suaves e dedos inteligentes?
Lágrimas quentes ameaçam encher seus olhos. Faz tanto tempo
desde que ela se sentiu sexy. Cuidada. Feliz. Ela quer quebrar e
chorar como um bebê. Mas ela não pode. Ainda não.
Porque ela está com tesão pra caramba.
Ela gozou uma vez, e porra se ela não vai gozar de novo.
Uma noite. Tirá-lo de seu sistema. Transar. Porque doce Senhor
com tesão, se ela não o fizer, ela vai entrar em combustão
espontânea.
Tessie se afasta e fica de joelhos.
— Sexo, Solomon. — Ela puxa o braço dele, se contorce na
cama, desesperada por ele. Faz mãos pegajosas. Sempre pegando
as mãos para Solomon. Seu corpo parece estar em um agitador de
tinta na velocidade máxima. — Sexo. Agora.
Uma risada sai dele.
— Calma, bebê. Vou cuidar de você.
Com os olhos fixos nela, ele se levanta, endireita os ombros
largos e depois arruma rapidamente as roupas.
Ele tira sua camisa. Sua estrutura robusta aparece na frente dela.
Tatuagens cobrem seus braços esculpidos, como videiras enroladas
em torno de músculos bronzeados e tensos. Brilhantemente
colorido, um estranho contraste com seu rosto bonito e sério.
Seu queixo cai ao mesmo tempo que seu olhar.
Os shorts dele sumiram. Uma ereção de aparência dolorosa está
em posição de sentido como um soldado sim-senhor. Seus olhos
esbugalhados. Ele é enorme.
Dela.
Ela sacode o pensamento.
Não é dela. Não.
Este é apenas um favor. Um favor muito, muito bom.
Suas mãos voam para sua barriga. Deus, ele vai dividi-la ao
meio.
Solomon amaldiçoa.
— Merda. Eu não tenho camisinha.
— Eu não posso engravidar. — Ela morde o lábio, esperando que
ele não mude de ideia. Se ele fizer isso, ela absolutamente
explodirá. — Estou limpa. Já fiz todos os exames.
Ele engole, ainda olhando para ela.
— Eu não estive com ninguém desde você, Tessie.
Ela estremece com o peso de suas palavras. São apenas
palavras. E, no entanto, eles são pesados. Com possibilidade.
Precisar. Reverência.
E contra todas as objeções anti-amor em seu corpo, ela os adora.
Intensificando-se, Solomon a agarra com força em seus braços.
— Isso vai te machucar? — ele murmura, seus olhos suaves
enquanto a observa com preocupação.
— Não. Não sei. — Ela pensa nisso, ri. — Eu nunca fiz sexo
grávida antes. — Balançando-se em seus braços, ela estende uma
perna como uma ginasta testando sua flexibilidade. — Eu nem sei
como…
Um raro meio sorriso divide seus lábios.
— Nós vamos descobrir isso.
E então a cama está se movendo e ela está balançando, mas ela
está firme, pega pelas grandes mãos de Solomon segurando suas
coxas e puxando-a para cima dele para escarranchar sua cintura.
— Está confortável, bebê?
Por cima?
Uma onda de respiração satisfeita sai dela.
— Sim — diz ela, deslizando para uma posição privilegiada. Ele
faz um som de dor no fundo da garganta enquanto ela corre a
umidade em sua coxa, como uma marca de seu território. Uma
reivindicação que quebra todas as regras, todos os limites.
Só essa noite. Apenas sexo.
Tessie se inclina para beijá-lo, mas é impedida por sua barriga.
Uma risada borbulha dela.
— Então, sem preliminares?
Solomon ri.
Alcançando para trás, ela acaricia o comprimento duro de seu
pênis. Com um rosnado estrangulado em erupção, ele cerra os
dentes e balança a cabeça.
— Isto é sobre você.
Sobre ela? Deus, esse homem poderia ser mais perfeito?
Uma casca escura de Salomão.
— Me pare se eu te machucar.
Ela encontra seus olhos preocupados.
— Você não vai.
Então, levantando-se, ela afunda em seu pênis, o comprimento
duro dele fazendo-a choramingar.
Um gemido gutural sai de Solomon. Seus olhos azuis escuros
escurecem de desejo, suas mãos tremem enquanto ele agarra os
quadris dela e a puxa com mais força contra ele. Ele a mantém
firme. Como se ele nunca fosse deixá-la ir.
— Cristo, você é linda — ele resmunga. — Maldição, mulher, o
que você faz comigo…
Seu corpo cantarolando, Tessie joga a cabeça para trás,
sugando-o, levando-o profundamente. Pequenas palmas
pressionadas contra seu peito largo, seu cabelo escuro, ela balança,
ondulando contra ele.
Solomon mantém seu olhar escuro fixo nela. A pura dor. Seu
rosto bonito, sua expressão terna… ele está faminto. Há tanto tempo
com fome. Ele precisa disso tanto quanto ela.
Ela abre as coxas e balança. Seus quadris moem e bombeiam em
solidariedade, suas estocadas lentas e medidas enviando choques de
prazer até o centro dela. Ele está tão profundo, acertando todos os
ângulos retos que fazem seu corpo cantar como uma canção.
— Oh, Deus, Solomon… sim. Assim. Continue. Não pare. Por
favor. Por favor.
Ela está implorando, gemendo como uma garota apaixonada,
mas ela não se importa. Ela quer tudo o que ele pode lhe dar, e ela
quer agora.
— Forte ou lento, Tessie? Você diz. Você me diz, querida. Me diga
o que você precisa.
Seus olhos praticamente reviram em seu crânio.
— Mais forte — ela exige. — Me fode com mais força, Solomon.
Ele quase rosna sua aprovação.
Bombeando fundo, ele a penetra, quase levantando-a da cama,
mas ele agarra suas coxas, mantendo-a segura. Ela empurra para
trás, moendo-se contra ele. Uma corrente incandescente se forma
entre eles enquanto seus movimentos se sincronizam.
Ela absorve a expressão no rosto dele. Olhos azuis acalorados,
um canto de sua boca barbuda erguendo-se em satisfação
presunçosa.
Ela está feliz. Ele está feliz.
Assim como a noite no bar Orelha do Urso. Duas pessoas
quebradas com machados para moer.
E ela o vê lutando contra sua liberação, segurando-a, e isso só a
excita mais. Tudo o que ele está fazendo é por ela. Ninguém nunca
a colocou em primeiro lugar.
Incapaz de se controlar, Tessie sussurra:
— Não espere. Eu vou gozar com você. Estou pronta.
Um rugido sai dele.
— Tessie.
— Solomon. — Ela sussurra.
É a ruína dele. Seu nome em seus lábios.
Quando soa o grito rouco de Solomon, ela se solta. Ela joga a
cabeça para trás, fecha os olhos e grita. Cada membro, cada órgão
treme. O calor aumenta dentro dela, rajadas de cores brilham em
sua visão. Uma deliciosa e gloriosa euforia toma conta de seu corpo.
Suga cada gota de sua energia.
Para baixo para a contagem, Tessie balança.
Solomon se move rapidamente, pegando-a em seus braços antes
que ela caia. Cada músculo em seu corpo tonificado flexiona quando
ele a rola, facilmente manobrando-a para uma posição mais
confortável encostada nos travesseiros.
Sua voz áspera a atinge.
— Eu volto já.
Tessie está deitada lá, com os olhos no teto, seu coração
batendo forte em sua jugular, enquanto ela desce de seu alto. Suas
emoções abandonam o barco. Diretamente ao mar. Lágrimas se
acumulam em seus cílios. Faz tanto tempo desde que ela se sentiu
sexy. Cuidada. Feliz. E Solomon fez isso. Ele continua acordando ela.
Fazendo-a viver.
Ela solta um soluço e depois começa a chorar.
Oh, Deus. Ah, merda. Ela está chorando de novo.
Solomon retorna com uma toalha quente, a cama se mexendo
quando ele se acomoda no colchão ao lado dela.
— Tess? — A preocupação mancha sua fala arrastada.
Mesmo a maneira gentil como ele a limpa faz com que lágrimas
quentes borrem seus olhos novamente.
— Estou bem — ela diz, enxugando o rosto, mas ela é uma
torneira pingando que não para. Ela se senta. Apanha a barba,
desgrenhada e selvagem. — Estou bem. Eu estou feliz. Você é a
primeira pessoa a me fazer sentir sexy em muito tempo. Eu
precisava disso. Obrigada. — Ela funga. — Sinto muito pelo colapso
do monstro hormonal.
— Não há nada para se desculpar — diz ele com firmeza. —
Venha aqui. — Voltando para a cama, ele puxa um cobertor de pele
falsa em torno dela e a recolhe contra seu peito largo. Ele a deixa
chorar e a abraça. Ele não diz a ela para parar ou tentar distraí-la.
Há quanto tempo ela não deixa alguém entrar? Deixou alguém
vê-la chorar. Dor. Querer. Ela já?
E ela não está envergonhada.
Porque aqui, nos braços fortes de Solomon, ela se sente mais
segura.
Ela deveria sair da cama. Sair de seus braços, sair dessa e voltar
ao trabalho. Ela quer se arrepender. Mas ela não sai. Ela não pode.
Tudo o que ela sente é incrivelmente grata a Solomon por sua…
ajuda? Entendimento? Entrando nela como um trem de carga? Sim.
Isso.
Amanhã.
Ela vai controlá-lo, puxá-lo de volta amanhã.
Um toque em sua barriga a faz pular.
— Merda — Solomon murmura, seu belo rosto envergonhado.
Sua mão se estendeu e se afastou de seu abdômen. — Desculpe, eu
não deveria–
— Não. Tudo bem. — Um estranho tipo de suavidade se abrindo
na boca do estômago, ela pega a mão grande dele e a pressiona
contra a barriga. — Você pode.
Uma respiração sai dele como se ele mal pudesse acreditar.
Nem falar. Eles esperam.
Tessie estuda com curiosidade a palma da mão aberta em seu
estômago. É enorme. Monstruosa. Como um gigante segurando o
mundo na mão.
Mas, pela primeira vez, Bear está quieto.
Ela também apalpa a barriga. Solomon de olhos de lado.
— Acha que nós o assustamos?
— Isso é um bom sinal. O garoto sabe quando ficar quieto.
Ela ri.
— Sim.
Apesar de seu tom fácil, ele parece cabisbaixo.
— Agora, o que você precisa?
Ela prende a respiração. Ela vira a cabeça para encontrá-lo
olhando para ela.
Ele continua perguntando isso a ela, e ela vai se transformar em
uma poça muito rápido.
Nada. Tudo. Ela deveria dizer isso? Ela hesita.
Mas então sua boca traidora deixa escapar:
— Você?
Ele acena com a cabeça, seu rosto ficando suave com uma
emoção que ela não consegue identificar.
— Você me tem. — Ele pressiona um beijo em sua testa, puxa
para trás. — Mas primeiro comida. Você está com fome?
Ela se senta sobre os cotovelos, o cobertor enrolado sobre ela
como uma roupa de toga colante.
— Faminta.
Solomon dá a ela um olhar severo de reprovação.
— Você deveria ter comido mais cedo. — Levantando-se
rapidamente, ele pega o telefone e anda pela sala enquanto recita
um pedido de serviço de quarto. Seu corpo grande era uma parede
sólida de músculos tensos. — Pronto — diz ele, desligando. — Pedi
tudo do maldito cardápio.
Ela sorri.
— Como deve ser.
Sua atenção se volta para o toca-discos. Ele levanta um dedo
grande.
— Posso?
Ela acena com a cabeça.
— Eles estão na bolsa.
Solomon vasculha os três discos que ela trouxe, finalmente
decidindo-se por Hank Williams. Música solitária e melódica
preenche a suíte. Um estranho contraste com o sol brilhante, a
atmosfera alegre da praia lá fora.
— Você é de Los Angeles — vem seu suave estrondo de voz. Ele
sobe de volta na cama e a puxa para seu ombro musculoso. Ela
suspira, sem lutar contra isso. Suas pernas não funcionariam de
qualquer maneira, graças à maneira como ele tirou a gravidade dela.
Uma noite.
Ela pode por uma noite.
— Então, por que country?
Ela se ajusta em seus braços. Em vez de sua defesa – paredes
levantadas – Tessie cede. Suaviza. Eles estão tendo um filho juntos.
Ele deveria saber um pouco sobre ela. É justo.
— Minha mãe trabalhava em um bar country quando eu era
criança. — Tessie sorri com a lembrança. — Nós cantávamos junto
com a jukebox no final do turno dela, e simplesmente pegava. —
Então ela ri e cobre o rosto. — Eu costumava ter uma fantasia de
que meu pai era George Straight. Quão assustador é isso?
— O que aconteceu com seu pai?
— Não me lembro dele. Ele nos deixou quando eu tinha dois
anos. Saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou. — Uma risada
triste sai dela. — Se isso não é uma música country, eu não sei o
que é.
Solomon franze a testa, traçando uma linha em seu braço.
— Droga. Sinto muito, Tess.
— Está tudo bem. Ele não queria minha mãe e não me queria. —
Ela se enterra em seu grande corpo, deixando que os fracos acordes
de “I Saw the Light” afugentem a pressão que se acumula atrás de
seus olhos. — Estávamos melhor sem ele.
A carranca não deixou o rosto de Solomon, as rodas em seu
cérebro girando.
— Sua mãe te criou sozinha.
— Isso mesmo. — Ela acena com a cabeça. — Ela era uma mãe
solteira e ela arrasou nisso. Ela realmente arrasou. Nunca perdi um
concurso de ortografia. Ou um recital. Sempre tivemos dinheiro
suficiente. Eu não sei como, mas nós tínhamos. Ela sempre cuidou
de mim. Sempre me senti segura. Eu quero fazer isso por Bear.
— Você irá.
— Você tem tanta certeza. — Ela segura sua barba rebelde. —
Tão solene.
Ele sorri, um pequeno sorriso, mas suaviza seu comportamento
rude. Ela gosta dos dois. O suave Solomon e o duro. Porque com
ele, de qualquer forma, ela se sente segura.
Ele está quieto, ouvindo. Esperando.
Tessie solta o ar, empurrando o buraco em seu estômago. Mesmo
depois de todos esses anos, não é fácil falar sobre isso. Mas ela quer
aprender, praticar, para contar ao filho sobre uma das melhores
pessoas do mundo.
— Minha mãe morreu quando eu tinha dezessete anos. Logo
antes de eu ir para a faculdade. Ela tinha câncer de mama. Ela não o
descobriu até que estivesse avançado. Um dia, ela estava lá, e então
ela se foi. Aconteceu tão rápido. Às vezes acho que ela aguentou até
eu ir para a faculdade, então ela sabia que eu estava pronta, e então
ela sentiu que poderia seguir em frente. Isso é estúpido?
— Não. Isso não é estúpido. — Ele acaricia o cabelo dela. — Hoje
mais cedo… — O corpo de Solomon ficou imóvel. — É por isso que
você disse que tem medo de deixar Bear?
Ela engole, com os olhos ardendo.
— As últimas palavras que minha mãe me disse foram: sempre
estarei aqui. E então ela não estava. Ela me deixou. Não é culpa
dela, mas… — Uma lágrima escorre por sua bochecha, e os braços
poderosos de Solomon a apertam, prendendo-a a ele. — Eu
simplesmente o amo muito. E se algo acontecer com ele? E se algo
acontecer comigo?
Ele beija o cabelo dela, seu estrondo tranquilizador vibrando
através dela. Há uma tensão em seu corpo que ela não consegue
decifrar.
— Nada vai acontecer com você, Tessie. Eu não vou deixar.
Por alguma razão, suas palavras a acalmam.
Por alguma razão, ela acredita neles.
— Suas tatuagens. — Com a atenção à deriva, querendo fugir do
assunto triste, Tessie dança com os dedos no topo de uma
montanha notavelmente gravada em seu enorme bíceps. Corvos
escuros sobre suaves picos brancos como a neve. Com uma unha,
ela traça sua tinta colorida e as veias de seus braços. — Esta é
Chinook?
— Sim. — Sua voz assume um tom orgulhoso. — Montanhas
alpinas. Há um cume logo atrás da minha cabana. Nós temos tudo.
Oceano, praia, geleiras. — Ele ri. — Uma estrada pavimentada.
Ela se aconchega em seu ombro. Seus dedos finos se enrolam
em seu cabelo escuro no peito. Ela adora que esse homem sério e
severo da montanha literalmente use seu coração na manga.
— Mmm. Parece bonito.
— É, sim. Quero levar Bear para Chinook. — Ele olha para ela de
perto e corrige sua declaração. — Um dia.
— Você pode — diz ela, lentamente considerando isso. Ela
suspira, a realidade caindo sobre ela como um peso de chumbo. —
Ainda temos muito o que conversar antes de você ir.
Um engasgo áspero na respiração de Solomon, e quando ela olha
para cima, aquele músculo está pulsando em sua mandíbula
novamente.
Ir.
Uma erva daninha rola em seu estômago. Mais um dia e ele se
foi. Mas era isso que ela queria, certo? Para descobrir isso, mande-o
embora e aproveite o resto de suas férias em paz.
E quando ele for... ela vai fazer o quê?
Vai ficar sozinha.
É melhor assim. Para não se apegar.
Um pingsuave chama sua atenção. Ela geme quando seu
telefone é atingido por uma explosão de luz.
Atlas.
Momento perfeito, idiota.
Ela empurra o peito dele, pronta para rolar para fora de seu
alcance protetor, mas ele agarra o pulso dela.
— Você não está atendendo isso.
Ela olha em seus olhos, suave, mas intenso.
— Você precisa descansar — ele ordena. — Isso pode esperar.
Ela abaixa a mão.
— Ok. — Ela gosta de ser mandada por Solomon. Há algo de
primitivo nisso.
Sem deixar de olhar para ela, ele diz:
— Nós vamos dar um jeito nisso. Seu trabalho e Bear.
— Vamos? — ela sussurra, tentando ignorar a batida forte de seu
coração com a maneira como ele torna isso um problema.
Ele passa o polegar pela bochecha dela.
— Vamos.
Uma batida na porta faz Solomon sair da cama, vestindo um
roupão que mal cabe em seu corpo maciço.
Tessie o observa partir, um calor revirando seu estômago.
São apenas seis horas. Cedo. Mas Deus. Ficar nua na cama,
assistindo ao pôr do sol com o rugido do oceano em seus ouvidos,
pronta para um banquete de serviço de quarto é a coisa mais
decadente que ela já experimentou.
Ela olha para o vestido rasgado no canto da sala e pressiona as
pontas dos dedos no sorriso que aparece em seus lábios.
Ela deve tudo a esse vestido.
Capítulo quatorze

Ele não a ouve. Ou a sente.


Serena.
Só que não é Serena.
É Tessie.
Tessie.
Solomon acorda sobressaltado, com o coração batendo forte. O
quarto está iluminado por uma luz cinza fraca, aquele lugar estranho
que existe nas margens do tempo, dizendo a ele que ainda não é de
manhã, nem é noite.
Ao lado dele, lençóis amarrotados. Uma cama vazia.
Gemendo, ele passa a mão na barba.
Droga. É a segunda vez que ela faz isso. Fugiu dele.
Desapareceu.
Foi embora.
O medo vem, rastejando, percorrendo toda a extensão de sua
espinha como um fantasma.
Um medo com o qual ele lidou depois que Serena morreu. Que
ele não fez o suficiente. Isso é culpa dele. Ele era o idiota teimoso
que a deixou ir embora depois da briga.
Ele deveria protegê-la e falhou.
Ele a perdeu.
Depois que ela morreu, tudo de ruim se instalou. Solidão. Culpa.
Medo.
Foi por isso que ele se mudou para a cabana. Ele achava que
poderia se esconder do passado. Porque não conseguia suportar as
lembranças, a estrada onde aconteceu, aquela estrada que ele tinha
que percorrer malditamente todos os dias. Então ele arrumou um
cachorro, comprou um saco de pancadas, deixou a barba crescer,
bebeu bourbon direto da garrafa. Tentando encontrar uma saída
para sua dor. Se isolando. Se desligando. Trabalhando com madeira.
Preocupando-se com suas irmãs, seus pais. Inferno, até mesmo com
Howler. O cara ia levar uma facada de alguma paquera de uma noite
qualquer dia desses.
Tem sido sua muleta – preocupação.
E agora Tessie.
Esta menina, o bebê que está carregando, ativa seus instintos
protetores. Dá a ele um novo conjunto de preocupações.
Da cama, ele pode ver a luz da sala. Tessie acordada.
Uma estranha sensação de necessidade dela ao lado dele invade
seus ossos. Tornou-se ainda mais forte por sua conversa anterior. A
história de Tessie sobre sua mãe, sua preocupação com seu filho, a
dor desamparada em sua voz quando ela lhe contou sobre seu pai.
Ele entende. Ela estava ferida. Ela queima porque tem medo de se
queimar.
Há tantas camadas até ela. Os pequenos vislumbres que ela
continua deixando-o ver – ele se sente honrado e otário ao mesmo
tempo.
Foda-se o pai dela. Algum filho da puta lamentável se afastando
de sua própria filha – ele não a merece.
Solomon balança a cabeça. Ele não consegue descobrir o que
acontece a seguir. Por que estar com Tessie faz algo com ele. Ela
está em sua corrente sanguínea. Um raio de sol o acordando.
Dormir ao lado dela, estar com ela esta noite... ele não se
arrepende.
Com os dentes cerrados, ele exala e balança os pés para fora da
cama, respirando fundo para firmar o pulso. Ele passa a mão pelo
cabelo, olha para o relógio.
Três da manhã
Cristo.
Se ela estiver trabalhando…
Ele veste a calça de moletom cinza e entra na sala de estar,
apenas para encontrar Tessie sentada de pernas cruzadas no sofá.
Uma garrafa de óleo de coco ao seu lado, o olhar nas portas abertas
do terraço.
Linda. Tão linda.
Pare. Pare de olhar para ela como se ela fosse sua.
Mas por que não, Solomon? Por que ela não pode ser?
— Ei — diz ele, apertando os olhos contra a luz. — Tudo certo?
Seus grandes olhos castanhos se arregalam com a aparência
dele, ela sorri para ele e, por um minuto, o coração dele para. Ela
parece linda como o inferno sentada lá com a cabeça bagunçada e
vestindo nada além de uma camisola aberta na barriga.
— Oh sim. — Suas mãos fazem círculos em sua barriga,
espalhando o óleo de coco sobre sua pele. — Pensei em vir aqui
para fazer minhas contas.
Sua testa franze.
— Contas?
— Contas de chutes. — Ela faz uma pausa. — Você quer dez
chutes por dia para garantir que o bebê ainda esteja, sabe,
chutando lá.
Uma respiração sai de Solomon. Porra. Dia após dia, ele percebe
que sabe menos do que pensava. Tudo sobre a gravidez parece tão
hesitante. Frágil. Cristo, e se algo der errado?
Bear e Tessie – não são intocáveis. Qualquer coisa pode
acontecer com eles.
Medo. Maldito medo. Está fazendo algo em seu peito. Tem o
coração disparado como um carburador.
Por que isso o preocupa tanto? O garoto está lá, saudável, feliz e
seguro. Graças a esta linda mulher. Ele olha para ela, uma estranha
sensação de ternura tomando conta dele. Tudo o que ela fez por seu
filho; ele não pode agradecê-la o suficiente. Não sabe como dizer a
ela, mas vai tentar.
— Bem — ele pergunta, ciente de que está prendendo a
respiração. — Você os contou?
— Uma hora atrás. — Ela espia por cima do ombro e acena para
o mocktail de abacaxi. O lado de sua boca se contorce. — Tomei um
gole de suco. Isso sempre o acorda.
Ele acena com a cabeça e diz rispidamente:
— Pensei que você quisesse um.
— Eu queria. — Ela estuda o rosto dele. — Obrigada, Solomon.
Ele se mexe desajeitadamente.
— Você falou sobre isso o suficiente.
Ela revira os olhos, mas um sorriso brinca em seus lábios. Ela vê
através dele. Então, depois de um segundo, ela franze o rosto e
suspira.
— Isso dói? — ele pergunta, sentando-se ao lado dela. — Bear
chutando por aí?
Ele estuda a curva de sua barriga. Parece um donut glaceado,
brilhante com óleo de coco. Uma lembrança de hoje à noite,
plantando beijos em sua pele macia, passando a língua pelo arco de
seu estômago, fez seu coração bater forte em seu peito.
— Não. — Ela se senta ereta, com longos cabelos loiros caindo
sobre um ombro esbelto. — Na maioria das vezes está tudo bem.
Outras vezes, parece... bruto. — Ela puxa os lábios para um lado,
como se estivesse procurando uma explicação em seu cérebro,
então continua. — Quando ele rola ou mexe, é como se estivesse
arranhando minha espinha. — Ela ri, provavelmente da cara que ele
está fazendo. — Eu sei que é estranho. Tudo sobre estar grávida é
estranho. É como ter um parasita dentro de você. — Ela sorri e olha
para a barriga. — Um pequeno parasita maravilhoso. — Sob seus
cílios escuros, ela o observa. — Ele está se movendo agora. Você...
você quer senti-lo?
A oferta o desfaz.
Essa garota. Aquela maldita garota doce do bar ainda está aqui.
A garota chateada que reclamou com ele no saguão dois dias atrás
ainda está lá também. Ele está ficando mais familiarizado com os
dois lados de Tessie Truelove. E ele está gostando deles.
Sua garganta funciona, mas as palavras não saem. Em vez disso,
ele faz um som áspero de reconhecimento. Ele coloca a mão ao lado
de sua barriga lisa. Tessie o observa, esperando sua reação, e então
ele sente. Um solavanco, uma vibração. Inferno, um soco maldito
contra a palma da mão.
Ele ri, e ela pula, piscando como se nunca tivesse ouvido o som
dele antes.
— Puta merda. — Ele se inclina para frente, olhando com
admiração para o estômago dela. Ele observa, fascinado, como a
pele de Tessie ondula.
Seu filho.
O filho dele.
Há um pequeno milagre crescendo ali, chutando e se movendo.
Sem palavras, ele fica assim, segurando a bola dura de sua
barriga. A curva, a ondulação. Seu coração parece estar sendo
esmagado por uma bola de demolição.
Nesse instante, tudo parece diferente. Real. Destinado a ser. As
linhas de sua vida tranquila de cidade pequena foram reorganizadas.
E Solomon está encontrando a luz do outro lado do túnel e
perseguindo-a. Mas, em vez de sentir que esse estranho mundo
novo é um smoking ruim que ele quer se livrar, porque Solomon e
smoking não combinam, ele se sente bem. Para ele, está tudo bem.
Bear.
Tessie também.
— O garoto tem força. — Ele ri, sua atenção mudando do rosto
de Tessie para seu estômago quando Bear faz o que ele jura que são
três chutes circulares seguidos. — Você não acha?
Ela acena com a cabeça.
— Ele tem. Ele já tem seus músculos.
— Da próxima vez que você se levantar, me acorde — ele
resmunga, o mais perto que pode chegar de expressar seu medo de
ela fugir no meio da noite. — Estou sempre acordado.
Ela sorri.
— Você não dorme? O que, você é um vampiro?
Ele pigarreia, distraindo-se da imagem mental de sua boca na
garganta de Tessie.
Sentando-se no sofá, Tessie se espreguiça, a camisa levantando
para revelar ainda mais a barriga.
— Bem, tenho novidades para você, Homem Solene; Eu também
não durmo.
— É mesmo?
— Ah, é mesmo. — Como se ela tivesse conjurado, um bocejo
saiu de sua boca. — É a vida da gestante. Sem dormir, pés gordos,
fazendo xixi a cada dez minutos e muito choro.
Ele enfia uma mecha de cabelo dela atrás da orelha.
— Eu posso sobreviver a tudo isso, Mulher Grávida.
Tessie faz um pequeno zumbido e se aconchega em seu ombro.
— Amanhã — ela murmura, sonolenta. — Temos que falar sobre
Bear.
— Nós vamos — diz ele em voz baixa, envolvendo o braço em
volta dela. — Claro que vamos.
Os minutos passam e suas pálpebras se fecham. Sua respiração
suaviza, equilibra. Ele a puxa para mais perto. O oceano bate
continuamente na escuridão enquanto o cérebro de Solomon ganha
vida. Ele não sabe mais o que está fazendo. Tudo o que ele sabe é
que tem uma linda mulher em seus braços e amanhã chegará muito
cedo para o seu gosto.
Temporário, ele lembra a si mesmo.
Estas férias.
Tessie.
Tudo – com exceção de seu filho – é temporário.

Os sons da música mariachi e o caos que vem com um bufê de café


da manhã confundem os limites da realidade de Tessie.
Ela se senta em frente a Solomon em uma mesa coberta por
uma toalha branca. Primordial e adequado e ignorando
perfeitamente a noite passada.
Esta manhã, este café da manhã, é só negócios. Não a memória
de Solomon invadindo seu quarto, em pânico e sem fôlego,
pensando que ela estava em perigo. Especialmente não a memória
de dois orgasmos emocionantes.
Ela está em um cronograma bem planejado com sua carreira e
seu bebê, e não há espaço para escrever um homem da montanha
muito quente e protetor.
Não que ela tenha que se preocupar com ele por muito mais
tempo. Porque amanhã ele sai do México e vai para as montanhas.
Com o pensamento, seu coração torce. Ela franze a testa para o
prato vazio.
Coração traidor estúpido. Língua estúpida pulando na garganta
de Solomon.
Ainda assim. Ela se recusa a ficar envergonhada. Recusa-se a se
arrepender. Ela precisava de sexo. Como água. Como o ar. Uma
simples necessidade humana, e Solomon a ajudou.
Apenas duas pessoas trocando fluidos corporais sem
compromisso.
Mas antes de falar de bebê, fale de negócios.
— Pronto. — Ela estende o telefone sobre a mesa.
Solomon o pega em suas grandes mãos. Ele lê o e-mail. Uma
missiva educadamente redigida para Atlas afirmando que ela não
trabalhará nas férias, quando tudo o que ela realmente queria digitar
era VÁ SE FUDER estilo vermelho vibrante.
Enquanto Solomon lê, ela examina o restaurante, esperando ver
o garçom com as refeições. Ela está morrendo de fome. Bear
também. Ele chuta a barriga dela, tão impaciente por um croissant
de chocolate quanto ela.
— Você esqueceu algo.
Ao som da voz profunda de Solomon, Tessie arqueia uma
sobrancelha.
— O que? — ela pergunta, pegando de volta o telefone e
examinando as palavras novamente.
— A frase que diz que se ele te incomodar, eu quebro as pernas
dele.
Ela ri, incapaz de evitar o prazer que a envolve.
— O que você é, meu guarda-costas pessoal?
Solomon resmunga, mas não discorda.
Ainda assim, ela não pode deixar de verificar seu telefone uma
última vez.
Nada. Nenhuma mensagem de Atlas.
— Tess — Solomon diz, a carranca em seu belo rosto se
aprofundando.
— Está bem, está bem. — Ela acena com a mão, enfia o telefone
na bolsa. — Viu? O telefone está indo embora. Você não pode
resmungar o dia todo.
Nem mesmo esse homem das cavernas ranzinza consegue
derrubá-la.
O melhor sexo de sua vida mostrou a ela a luz do aleluia.
Mostrou a ela a luz por que diabos ela está trabalhando nas férias?.
Mostrou a ela que o Atlas precisa ser arremessado de um penhasco
muito alto.
Ela estava nervosa ao enviar o e-mail? Claro. É como detonar
uma bomba atômica na vida dela.
Mas Solomon está certo. É o que Ash tem tentado dizer a ela. Ela
não pode continuar assim. E agora é a hora de bater o pé.
E se Atlas ousar foder com ela, ela enviará ao LA Times um longo
manifesto sobre uma das firmas de design mais famosas de LA
demitindo uma mulher grávida.
Um estrondo de Solomon.
— Sem telefone. Sem trabalho. — Seu olhar de olhos azuis é tão
feroz que ela não ousa discutir com ele, ou então seu telefone estará
no oceano. — Só você e eu.
— E Bear — acrescenta ela sem fôlego.
— E Bear.
Seu belo rosto suaviza, Tessie já se arrependeu de sua promessa
de não beijar mais.
Endireitando-se, ela toma um gole de café e inala uma respiração
determinada.
— Agora que isso está feito — ela começa, determinada a fazer
isso. Determinados a trabalhar juntos para seu filho. — Você está
pronto para falar sobre Bear?
Os olhos de Solomon ficam escuros e escuros.
— Pronto.
— Ok. Pense comigo. Obviamente, teremos que descobrir as
coisas à medida que avançamos, mas... não precisamos complicar as
coisas. Você volta para o Alasca. Eu volto para Los Angeles. Eu
tenho o bebê. Ele mora comigo em LA. — Ela observa o rosto de
Solomon em busca de qualquer tipo de desacordo, mas não há
nenhum. Difícil de ler. Assim como o próprio homem.
— Quando viajo a trabalho, você pode vir e ficar com ele. E
quando ele for mais velho... você poderia levá-lo de volta para
Chinook. — Embora lhe doa desistir de Bear, mesmo que seja por
um pedacinho de tempo, Solomon é o pai dele. Ela não vai e não
pode tirar isso dele. — Você pode sair para vê-lo sempre que quiser.
Eu nunca vou impedir você de vê-lo. Compartilhamos aniversários e
feriados.
Ela olha para cima quando o garçom coloca a comida na mesa.
Pratos cheios de ovos e batatas fritas e frutas e croissants de
chocolate.
— Eu só tenho uma condição.
Suas sobrancelhas se juntam.
— Diga.
— Você não pode ir e vir — ela diz resolutamente. É o problema
dela. — Você não pode parar de ligar, perder aniversários ou sumir e
aparecer um dia sem avisar. — Ela projeta o queixo. — Ou você está
na vida dele ou está fora. Você tem que escolher um.
O homem fica olhando. Os músculos do maxilar e da garganta
funcionam. E Tessie espera. Espera ele ir embora, dizer que é muito
difícil, caramba, levantar e ir embora.
Em vez disso, depois de um longo silêncio, ele acena com a
cabeça.
— Estou dentro. Estou nisso a longo prazo.
Suas palavras a fizeram tremer. O olhar em seu rosto. Tão
malditamente intenso.
Deus, se for verdade…
Debaixo da mesa, ela segura o estômago. Seu filho poderia ter
tudo o que ela nunca teve. Significa muito.
Significa que Solomon Wilder é um bom homem.
E ela nunca teve um bom homem antes.
Ugh. Por que ele tem que ser um cara tão bom? Isso a deixa
nervosa. Saltitante como um Chihuahua agitado que não sabe o que
está pisando em seu caminho. Porque ela continua esperando que
ele vá embora como seu pai. Como todos os perdedores com quem
ela namorou.
Ela se pergunta, o que seria necessário para fazer esse homem ir
embora?
O que seria necessário para fazê-lo ficar?
Ficar para Bear, ela lembra a si mesma.
O filho dele.
Não ela.
— Quando ele nascer — Solomon diz, quebrando o feitiço
momentâneo que seus pensamentos colocaram sobre ela. — Eu
gostaria de estar lá.
Ela quase derrama o café. Deus. Oh, Deus. Imaginar Solomon
Wilder no final do trabalho de parto, observando-a cair em uma
mesa de exame dura, faz com que ela comece a suar frio.
Boca aberta, ela coloca o café na mesa. Pega um garfo.
— Sério? Você quer?
— Você vai precisar de ajuda, certo? Quando você o trouxer para
casa?
— Como é que você sabe tanto sobre bebês?
— Minhas irmãs — diz ele, abrindo um sorriso raro. — Eu era o
mais velho. Vi como meus pais lutavam para sobreviver toda vez que
traziam um novo bebê para casa. Elas não eram exatamente fáceis.
Especialmente Evelyn.
Tessie mantém uma cara séria, tentando se livrar da sensação
feminina e calorosa que se instalou lá embaixo. Indigestão, ela diz a
si mesma. Ela está doente. Ela bebeu a água. Só no México, certo?
Pegando uma garfada de ovos, ela lhe dá um sorriso provocador.
— Pode acontecer rápido, no entanto. Você pode não conseguir
vir.
— Eu vou.
— Ok — ela respira, e os dois compartilham um sorriso. — Se
você quer.
— Eu quero — diz Solomon com um aceno severo. — Estarei lá,
Tessie.
— Estou feliz que você queira estar na vida dele — ela admite. —
Isso é uma coisa boa. Realmente. Eu apenas....por que? Por que
você está fazendo isso? Ficando por aqui? — Ela não consegue
evitar a pergunta. Ela apoia o queixo na palma da mão e o
considera. — Você não precisa. Você poderia voltar para Chinook,
fácil e livre.
Com a testa franzida, ele fixa seus penetrantes olhos azuis no
rosto dela e não a solta.
— Eu não me afasto das coisas que são minhas.
— Oh. — Uma expiração suave e irregular. — Eu vejo.
Seu corpo inteiro está tremendo. Um pulso quente lá embaixo.
Uma imagem repentina de Solomon embalando seu filho em seus
braços corpulentos surge em sua cabeça, e Tessie derrete.
Depois de esmagar seus sentimentos pegajosos em uma caixa
rotulada Ignore-os, ela decide se concentrar em comer. Uma
atividade segura, neutra e sem tesão. Quando ela está prestes a
levar o garfo à boca, Solomon salta da cadeira. Ele agarra o pulso
dela, fazendo o garfo bater no prato, os ovos escorregando para a
toalha da mesa.
Comensais de cabeça erguida, a fila do bufê para.
— Solomon, o que… — Tessie fica boquiaberta com ele. A cara
dele. Ela nunca viu um rosto assim. Puto. Tão malditamente
chateado.
— Não coma isso — diz ele suavemente, deixando seu pulso
solto. — Os ovos estão crus.
Tessie examina a comida em seu prato, com o estômago
embrulhado. Oh, Deus. Ele tem razão. Os ovos são viscosos e
escorrendo, direto da casca.
Então Solomon está pegando seu prato. O chão troveja sob seus
pés enquanto ele corre para o servidor deles.
— Ouça. Eu sei que não é com você. — Ele acena com a cabeça,
em relação a Tess. Embora sua voz seja calma, ela está misturada
com uma ponta dura de raiva. — Mas diga ao chef que da próxima
vez que servir algo assim, para alguém, especialmente uma mulher
grávida, certifique-se de que esteja bem cozido.
O garçom gagueja um pedido de desculpas e sai apressado, com
o prato nas mãos.
— Você está bem? — Solomon pergunta, voltando para a mesa.
Ele se acomoda em frente a ela novamente, examinando seu rosto.
— Estou bem. Eu só estou... — Sua voz treme em uma oscilação.
— Aquilo me assustou.
— Eu sei — diz ele com a voz rouca. — Eu também.
Ela o examina com curiosidade.
— Como você sabe disso? Sobre os ovos? — Isso a deixa mal do
estômago pensando no que poderia ter acontecido. A bactéria pode
ter mandado ela e Bear para o hospital.
— Eu baixei aquele aplicativo — Solomon resmunga, não
parecendo muito feliz em admitir isso. Esticando os ombros largos,
ele passa a mão pela barba escura. — Li um pouco enquanto você
estava trabalhando ontem. — Seus olhos azuis queimam brilhantes.
— Eles não deveriam servir ovos crus para ninguém. Especialmente
a você.
— Oh — diz ela, atordoada. Com o coração trovejando no peito,
ela pressiona a mão no estômago para acalmar o frio na barriga. Ela
ama que ele se importa. Que ele se deu ao trabalho de baixar e
pesquisar. Diz muito sobre ele como homem. Um parceiro.
Porque eles são parceiros.
Quando se trata de seu filho.
— Acho que você poderia cozinhar algo melhor para mim,
Homem Solene — ela brinca, querendo tirar aquele olhar selvagem e
preocupado do rosto dele.
Ele arqueia uma sobrancelha confiante.
— Eu poderia. — O interesse ilumina sua expressão. — O que
você está desejando?
— Chocolate. Todo o chocolate possível. E molho picante.
— Molho picante, hein?
— Batatas com sal. Sanduíches de frango com picles. Oh, Deus,
estou babando. Estou babando? — Sua risada ecoa pelo restaurante.
— Parece que você deveria entrar na cozinha, Homem Solene.
Um músculo salta naquele maxilar quadrado cinzelado dele.
— Parece que eu deveria.
De repente, Tessie é atingida por um desejo de saber mais sobre
Solomon Wilder. Ela quer estar na cozinha dele, observando suas
mãos enormes trabalharem, observando-o preparar pratos lindos
que podem alimentar ela e Bear.
Seu olhar cai sobre o dela, atento.
— Aqui. Coma o meu — diz ele, empurrando o prato do café da
manhã para a frente. — Você está com fome.
— Você também está com fome.
Ele cruza os braços, os bíceps protuberantes, e se recosta na
cadeira.
— Vou sobreviver. — Seus lábios se contraem. — Eu não tenho
certeza que você vai. Eu vi como você devorou aquele sanduíche
ontem à noite.
Ela engasga e espeta uma lança de melão.
— Isso é um ato de guerra, e eu não vou permitir isso.
Ela mastiga a fruta, estudando o homem do outro lado da mesa.
Ele usa shorts cargo e camiseta que ela escolheu para ele. Bonito.
Mas…
Ela franze a testa.
Puta merda. É possível que ela realmente goste mais dele de
flanela?
Ela sacode o pensamento fútil.
— Então — Tessie diz, procurando um tópico para interceptar os
pensamentos ridículos dentro de sua cabeça — depois disso, eu
estava pensando... praia?
— Não.
— Por favor? — Largando o garfo, ela coloca as palmas das mãos
em oração, tentando não rir de sua expressão descontente. —
Vamos, temos que usar bem o seu calção de banho. E se eu for
arrastado para o mar e precisar de algo forte para me segurar?
Sua carranca se aprofunda.
— Tessie...
— Você pode ser minha âncora. Além disso, é seu último dia,
Solomon.
— Meu último dia — ele repete.
É só ela, ou um olhar de decepção cruzou seu rosto?
E por que ela sente decepção também?
Este era o acordo deles.
Encontre uma solução e depois siga em frente com suas vidas.
O estômago de Tessie revira.
Indigestão, ela diz a si mesma.
É apenas indigestão.
Capítulo quinze

Tessie está deitada em uma espreguiçadeira. Uma bebida de coco


equilibrada em sua barriga. Dois canudos, enganchados, alimentam
sua boca. Em sua mão, um livro de cor fúcsia com dois personagens
de desenhos animados se abraçando na capa.
Ela parece mais feliz do que Solomon já a viu.
Já está na hora. No café da manhã, ele decidiu que era sua
missão pessoal garantir que ela se divertisse. Para garantir que
aquele idiota que ela chama de chefe lhe dê espaço. No momento,
Tessie não tem nenhuma preocupação no mundo, e é assim que vai
continuar.
A verdade é que Solomon está acomodado e aproveitando as
férias também. Areia entre os dedos dos pés. Cervejas que se
reabastecem magicamente. O barulho suave das ondas em seus
ouvidos. Ele nunca esteve em um lugar como este antes, mas está
gostando.
Tessie vira a cabeça para olhar para ele. Eles estavam na praia o
dia inteiro, definhando sob o sol do final da tarde. Ela faz um som de
contentamento, sorvendo o resto de sua água de coco.
— Por que todas as bebidas têm um sabor melhor ao sol?
— Eu gosto de cerveja nas montanhas.
— Claro que você gosta. Eu, por exemplo, adoraria reencarnar
como um bar aquático na minha próxima vida.
Ele ri.
— Se divertindo? — ele pergunta, esperando como o inferno que
ela esteja.
Ela se senta, examinando a praia.
— Oh, sim. Definitivamente. — Com um menear de suas
sobrancelhas, ela abaixa seus óculos escuros. — Você deveria tentar.
Tire essa camisa. Mostre um pequeno peitoral ondulado. Eu sei que
você os tem.
— Tess.
— Homem solene — ela brinca, seu tom de flerte fazendo sinos
de alerta dispararem em sua cabeça. Cristo. Essa garota é perigosa.
Pela cabeça e pelo coração. E ainda... esse desejo furioso dentro
dele o faz enlouquecer perpetuamente.
Um raio de sorriso curva seus lábios.
— De qualquer forma. Está perfeito. As bebidas são perfeitas. O
tempo está perfeito. Tudo está perfeito, exceto meu cabelo, que está
uma bola frisada.
— Parece bom para mim.
Ela bufa.
— Bem, nem todos podemos ter sua barba perfeita.
Ele sorri.
— Perfeita, é?
Com um pequeno suspiro, Tessie examina o horizonte. Solomon
redireciona seu olhar para a revista em suas mãos, amaldiçoando a
flexão de seu pênis. Ele tem uma vista incrível e não está falando
sobre o oceano.
Tessie usa um biquíni fio dental que mostra suas longas pernas e
a pequena protuberância de sua barriga. O sol tem seu corpo ágil
brilhando. Seu cabelo úmido do mar derrete sobre os ombros como
mel. Seu nariz é tingido de rosa, pontilhado por uma constelação de
sardas em forma de W que surgiram com o sol. A mente de Solomon
pisca para a noite passada. Ontem à noite, ele a estava beijando,
com as mãos em seu cabelo emaranhado, ela…
O telefone dela.
O telefone dela está tocandopra caralho.
Cada músculo de seu corpo fica tenso.
Encolhendo-se, Tessie se apoia nos cotovelos para inspecionar o
celular ao lado.
— É Ash — ela diz enquanto digita uma resposta. — Relaxe,
Rambo.
Relaxar. Certo.
A tensão em seus ombros diminui – levemente. Ele ainda está no
limite do susto no café da manhã. Aqueles malditos ovos. Claro, ele
exagerou, levantando-se da mesa como um maldito louco, mas,
Cristo. Ele não estava se arriscando. A intoxicação alimentar pode
ser grave para qualquer pessoa, ainda mais para uma mulher
grávida. Ainda mais a sua–
Essa garota que lhe dá azia diariamente.
Sua mente volta para a conversa no café da manhã.
Eles elaboraram uma solução, mas não parece suficiente. No
entanto, quais são suas escolhas? Mudar para Los Angeles? Pedir a
Tessie para se mudar para Chinook? Ele não pode fazer isso. Ela tem
um emprego e uma vida. Ele nunca pediria a ela para desistir disso.
São duas pessoas de dois mundos diferentes, que precisam seguir
em frente.
Mas eles precisam? É isso que ele quer?
O tempo está passando. É seu último dia no México e, embora
deva ser um alívio que ele esteja de volta a Chinook amanhã à noite,
alívio é a última coisa que ele sente.
Deixar Tessie... ele não gosta disso.
O movimento ao lado dele clareou seus pensamentos. Tessie está
chutando os seus pés da espreguiçadeira e se levantando. Suas
mãos embalam sua barriga oleosa com protetor solar.
— Indo para um mergulho. Quer vir?
Claro que sim, ele quer ir. Quer segui-la pela praia e segurá-la se
houver uma onda.
— Recorde alto. É melhor assim. — Ele se levanta, finalmente
cedendo e estendendo a mão para trás para tirar sua camisa. Ele
pega uma cerveja do balde, ignorando a vaia de Tessie, e então,
juntos, eles caminham até a praia.
Enquanto eles trocam a areia pelo surf, Solomon tem que lutar
contra o desejo de colocar uma toalha em volta dos ombros de
Tessie.
Ela está grávida. Ela tem um homem ao seu lado e, ainda assim,
as cabeças estão girando, no estilo Exorcista. Isso o irrita e o deixa
orgulhoso ao mesmo tempo. Porque Tessie é gostosa pra caramba,
tão sexy pra caralho, e ela nem está tentando.
Porra, deixe-os ficar de boca aberta. Deixe suas línguas se
arrastarem na areia como lobos de desenho animado. Porque ele é o
único ao seu lado, e caramba, se isso não o deixa duro como o
inferno.
Ele observa seu belo perfil. Cada átomo em seu corpo quer beijá-
la novamente. Quer levá-la para a cama e mantê-la ali, gemendo em
seus braços. Ele fica tão excitado ao vê-la carregando seu filho.
Solomon pigarreia, arrastando sua mente para fora da sarjeta. Ela
deixou claro o que quer, e não é ele. E ela já tem problemas
suficientes sem adicionar um homem babando à mistura.
— Sabe, eu gosto de ter você aqui — diz ela, batendo o ombro
no braço dele enquanto caminham pela areia para surfar. — Você é
como meu escudo.
Seus olhos se movem para os dela.
— Como assim?
— Agora posso apontar para você quando as pessoas
perguntarem quem é o pai.
Ele se irrita com a ideia de idiotas intrometidos invadindo sua
privacidade.
— Quem pergunta isso?
Ela acena com uma mão.
— Ah, todo mundo. Completos estranhos. Eles até tentam sentir
meu estômago sem perguntar. Como se fosse um direito deles ou
algo assim. — As bordas de seus lábios se abaixam.
Solomon não gosta disso. Nem um pouco.
— Você não tem privacidade quando está grávida.
— Acho que vou ter que comprar para você uma camiseta que
diz papai do bebê com uma flecha — ele brinca, querendo tirar
aquele olhar sombrio de seu rosto. Querer quebrar a mão de quem
tenta tocar na barriga dela sem a permissão dela.
Um guincho borbulha dela.
— Você fez uma piada? Você está brincando sobre isso? — Ela ri,
uma expressão encantada cruzando seu rosto. — Piadas do Homem
Solene. Ele vive.
Ele para.
— Ok, é isso. Você vai entrar.
Rosnando, ele avança para ela, e ela grita, correndo para o mar.
Quando ele a alcança, ele engancha um braço em volta da cintura
dela e a pega em seus braços. Ela se contorce suavemente em suas
mãos, mas não tenta escapar. Ele se apega a isso. Para Tessie,
levando-a para o oceano aquecido pelo sol. Baixando-a na água, ele
a solta nas ondas. Não muito longe, porém; perder Tess no oceano
não está acontecendo hoje.
Com a cerveja erguida acima dele, Solomon mergulha a cabeça
na água fria.
— Porra — ele exala quando ele vem à tona, sacudindo a água
do rosto. — Está fria.
Tessie ri e mergulha. Ela faz um círculo e depois sai da água.
As ondas batem na praia, a música da cabine do DJ e as
conversas abafadas do bar aquático flutuam no ar. Mas para
Solomon, nada existe além deles dois. A água é tão clara que ele
pode ver suas pernas magras chutando.
Ela solta um suspiro satisfeito e estende os braços, as pernas.
Seu coração se acalma com a visão. Tessie balançando na água. Sua
barriga inchada como uma barbatana de tubarão cortando nas
ondas. Ele poderia observá-la o dia todo.
Ela nada em direção a ele, com a cabeça inclinada.
Flutuando como a lua em uma maré, ele a alcança. Depois de
um segundo de hesitação, ela estende a mão para ele também. Seus
dedos se unem sob as ondas, emaranhados.
E então, lentamente, ele a puxa para si.
Quando o corpo dela encontra o dele, eles se prendem, e tudo o
que Solomon pode fazer é apertar sua mão. Ela deveria estar aqui,
em seus braços. Impresso, derretido contra ele. A onda quente de
seu pequeno corpo no dele tem um instinto protetor e primitivo
acelerando dentro dele.
Tessie o observa por um longo minuto, então ela passa os braços
em volta do pescoço dele e se relaxa nele. Suas pernas nuas
enganchadas em torno de sua cintura. Seus olhos castanhos tem
todos os tipos de busca. Com dedos trêmulos, ela acaricia o rosto
dele, sua barba.
Então…
Seus lábios quentes pousam suavemente nos dele. Têm gosto de
água do mar, de água de coco. Solomon a absorve. Seu cheiro,
inebriante, faz seu pênis se flexionar com força contra o calção de
banho enquanto a realidade se afasta cada vez mais. O beijo se
desenvolve lentamente, uma dança suave de línguas, uma
sincronização de batimentos cardíacos.
Tessie choraminga e então se afasta.
— Sinto muito — ela respira.
— Não sinta — ele diz asperamente.
— Quero dizer... — Ela morde o lábio, sua atenção presa na boca
dele. — Deveríamos estar fazendo isso?
— O que estamos fazendo?
— Não sei. — Ela inclina a cabeça. Todos os tipos de perguntas
iluminando seus suaves olhos castanhos. — Solomon, o que–
— Oh, minha nossa, Rick. Esta não é a visão mais doce?
Lentamente, eles giram suas cabeças. Balançando ao lado deles
nas ondas está um casal usando viseiras com flores fluorescentes
brilhantes e óculos de sol grandes.
— Pombinhos, verdadeiros como podem ser.
A mulher, com óxido de zinco espalhado ao acaso no nariz,
balança um dedo.
— Deixe-me adivinhar. Lua de bebê? — Ela se concentra na
barriga de Tessie de uma forma que deixa Solomon carrancudo. —
Olhe para você. Em forma como um violino. Primeiro?
O sorriso de Tessie desaparece, recomeça.
— Isso mesmo.
Solomon resmunga, ajustando Tessie para que seu estômago
fique fora da linha de visão e se desloque mais para fora, mas o
casal segue. Tagarelando, alheio.
— Vigésimo aniversário aqui. Acredite em mim, precisávamos de
uma pausa dos pequenos moleques.
O homem levanta a mão. Um estalo de sotaque de Wisconsin.
— Rick e Roni Zebrowski.
Roni se aproxima mais.
— De onde vocês são?
Porra, não. Ser arrastado para uma conversa é a última coisa que
Solomon deseja. Não quando ele tem Tessie em seus braços e seu
nome em seus lábios. De jeito nenhum.
— Oh, uh, Alasca — Tessie diz, lançando um olhar para Solomon,
avisando-o para não oferecer mais informações.
— Estávamos em um cruzeiro no Alasca uma vez. — Rick balança
a cabeça. — Agora há um belo estado. — Ele dá um tapinha na
barriga cheia. — Deixe-me dizer a você, não consegui engolir a
comida, no entanto. Comi McDonald's o tempo todo.
Solomon fica furioso. Malditos turistas. Fazendo tudo, menos
experimentando o Alasca da maneira certa. Ele deseja um tubarão
agora. Um tsunami. Qualquer coisa para escapar dessa conversa e
voltar ao que Tessie ia dizer.
— Sol? — Uma mão em seu braço. Tessie pisca para ele. — Você
precisa de outra cerveja?
Ele franze a testa.
— Não, eu–
— Ah, você precisa. — Ela pega a lata cheia e olha para o casal.
— Ele as bebe como água. As engole direto. — Seus lábios se
contraem quando ela volta seu olhar para ele. — Eu já volto, ok?
Oh, inferno, não.
Ele agarra o pulso dela.
— Tess, acho que você precisa me deixar...
Ela sorri para ele, se desvencilhando gentilmente.
— Mulheres grávidas podem fazer coisas difíceis, Solomon. — Ela
olha para Roni, compartilhando um sorriso de camaradagem. — Eu
juro que ele tem um nervosismo de papai de primeira viagem. —
Uma risadinha nada parecida com a de Tessie surge dela quando ela
olha para Solomon. — Eu vou pegar, querido. Você apenas relaxa.
Aproveite os Zebrowskis.
Você é uma mulher fria pra caralho, ele pensa, observando
enquanto Tessie e seu biquíni saem dançando com sua cerveja
cheia, seus ombros estalando de tanto rir enquanto ela corre pela
praia até o bar. Mas ele está sorrindo.
Pela primeira vez em muito tempo.

Rindo para si mesma, Tessie pula na areia. O olhar de traição e


agonia no rosto de Solomon quando ela o deixou lá para se defender
sozinho viverá em sua mente pela próxima década. Ela o deixará
suar um pouco e depois voltará para resgatá-lo. Enquanto isso, vai
ser bom para ele sair de sua casca rabugenta de homem da
montanha.
Parando em sua cadeira de praia, a água pingando de seu cabelo
encharcado de sal, Tessie verifica seu telefone, lançando um olhar
culpado por cima do ombro, caso Solomon esteja observando.
Uma respiração solta em seu peito.
Até agora nada. Sem e-mails, sem mensagens de texto, sem
chamadas perdidas. Parece bom demais para ser verdade. Atlas
correndo em silêncio. Ela vai ter que aproveitar enquanto dura.
Hoje foi um pedaço perfeito do paraíso. Não é uma preocupação
do mundo, toda a água de coco que ela pode beber. Isso é o que ela
imaginou quando imaginou sua lua de bebê. Preguiça preguiçosa
que poderia envergonhar um gato. Talvez ela não imaginasse ter
Solomon por perto, mas ele não tem sido tão ruim.
Um calor lento rasteja sobre suas bochechas já coradas.
Ele tem sido maravilhoso, na verdade.
Mantendo-a sã.
Mantendo-a segura.
Mantendo-a sexualmente satisfeita.
Em seus braços fortes, balançando naquela água, indo contra
tudo gritando para ela que um relacionamento não está a dez milhas
de raio de seu coração, ela o beijou. Foi tão perfeito naquele
momento. Como se o beijo dele fosse o verdadeiro pedaço do
paraíso que ela queria.
Ela esteve perto, tão perto, de perguntar, o que nós somos? A
pergunta estava em seus lábios, pingando lentamente como melaço.
Porque ela achava que sabia. Ela e Solomon são os pais de Bear.
Mas ela também está começando a ter uma noção de quem é o
verdadeiro Solomon Wilder. Feroz. Protetor. Leal. Em sua presença,
ela encontrou um conforto. Com o nascimento que se aproxima,
com seu trabalho, ela não se sente tão insegura. Todos os seus
problemas desaparecem quando ele a segura em seus braços. Ela se
sente firme. Porque esse é Solomon. Aquele é seu–
Pai de seu filho.
É isso.
Isso é tudo.
Mas e se–
Não.
Seu peito se contrai.
Ela tem que parar. Ela tem que colocar a cabeça no lugar. Tudo o
que ela e Solomon são, e sempre serão, são amigos. Co-pais. Fim da
história.
Tentar ficar juntos por causa do filho seria ridículo. Eles
acabariam infelizes, ressentidos um com o outro. Além disso, ele
deixou claro que só está aqui por causa do Bear. Tessie quer um
homem que a deseje por ela. Não como se os homens estivessem
fazendo fila para namorar uma futura mãe solteira que trabalha
dezoito horas por dia. Não como se ela quisesse alguma coisa de
qualquer maneira. Desgosto e perda não estão em sua agenda.
É mais fácil assim.
Em breve, eles retornarão ao mundo real.
Mas por que ela se sente mal do estômago quando pensa na
partida dele?
Porque ela está com fome, é por isso.
Caminhando pela praia até a cabana tiki, Tessie joga a lata de
cerveja no lixo. Ela para ao lado de um carrinho de sorvete e pega
uma bola de baunilha em cima de uma casquinha de waffle.
Comida. Ela precisa de comida para se distrair da louca linha de
pensamentos que passa por sua mente.
Enquanto lambe o sorvete, ela vagueia pela praia. Vasculhando a
multidão, ela identifica Solomon saindo do oceano como um
Poseidon bonitão, riachos de água caindo dele. Seus músculos se
flexionam à luz do sol. As profundas linhas em V de seus quadris, a
camada escura de uma trilha feliz, a deixaram olhando.
Descaradamente.
Ela nunca pensou que gostaria de escalar uma montanha, mas
Solomon é uma que ela escalaria ansiosamente. Em forma e
esculpido. Terreno perigoso se a pessoa não sabe o que está
fazendo. Um desafio que Tessie quer superar. Na cama. De novo e
de novo e–
— Merda! — ela xinga enquanto tropeça em uma lata de lixo. A
chamuscada quente do metal em sua pele a faz pular para trás,
apenas para sentir uma dor penetrante esfaquear seu pé. Ela xinga
de novo.
Apoiando uma mão em uma estação de água, ela levanta o pé
esquerdo, apenas para acabar pulando em uma perna como um
flamingo muito grávido, tentando equilibrar a barriga e o sorvete na
mão. Enquanto ela se estica para examinar os danos, o sorvete sai
do cone como uma avalanche, atinge sua barriga com um estilhaço
e depois cai na areia.
— Droga — diz Tessie, olhando tristemente para a trilha branca
pegajosa em seu estômago.
— Senhora, você está bem? — Ela olha para os olhos piscando
do Cara do Carrinho de Sorvete.
— Estou bem. Eu só preciso sentar o-oh, uau, ok — ela diz
enquanto o Cara do Carrinho de Sorvete segura seu cotovelo e
acena para um casal ocupando um banco próximo. Estremecendo,
ela segura o estômago enquanto se abaixa. — Pisei em alguma
coisa, mas não consigo ver o que é.
— Aqui. Deixa-me ver. — O Cara do Carrinho de Sorvete se
agacha ao lado dela.
É quando ela ouve as vozes.
— Ela está bem?
— Ela precisa de um médico?
— Ela está em trabalho de parto?
Oh, Deus. Ela quer afundar na areia.
Isto é ridículo. Isso é mortificante. Uma multidão se formou ao
seu redor, pessoas passando água e olhares preocupados, tudo
porque ela é aparentemente uma frágil flor de mulher carregando
uma gigantesca bomba-relógio em seu corpo.
O Cara do Carrinho de Sorvete assobia. Ele abaixa a cabeça com
viseira, examinando o pé dela.
— É uma concha. Te pegou muito bem. — Ele se levanta e
segura o cotovelo de Tessie. Então, em um movimento ousado de
excesso de confiança, limpa o sorvete que escorria por sua barriga
inchada com uma pilha de guardanapos.
Ela se encolhe com o toque pegajoso e intrusivo das mãos dele.
— Não. Tudo bem. Você não tem que–
— Deixe-me limpar isso, então eu vou ajudá-la a voltar para o
seu quarto...
— Saia daí — uma voz profunda ressoa de algum lugar lá no alto.
— Agora.
Oh! Graças a deus.
Ela lança um olhar de alívio por cima do ombro.
É Solomon, aproximando-se com um passo tranquilo e perigoso.
Ele se ajoelha ao lado dela, um músculo saltando em sua mandíbula
barbuda enquanto ele encara o cara e diz em um rosnado frio de
autoridade:
— Eu cuido dela.
— Ele cuida. — Tessie agarra o bíceps duro de Solomon para
segurá-lo, seus lábios lutando contra um sorriso. Ele está
observando o cara como se fosse matá-lo se ele a tocasse
novamente. — Obrigada pela ajuda.
Enquanto o Cara do Carrinho de Sorvete foge, quase tropeçando
nos próprios pés na tentativa de fugir, Solomon volta sua atenção
para Tessie. As bolsas de praia pendem de seus ombros largos.
Preocupação queima em seus olhos azuis.
— O que aconteceu? — Sua voz é baixa e rouca.
— Cérebro de grávida — ela mente, mantendo o rosto sério.
Deus, ela não pode dizer a ele que estava sonhando em escalar seu
corpo como o Everest. — Eu bati em uma lata de lixo e acho que há
uma concha no meu pé.
Suas sobrancelhas escuras se juntam.
— Deixe-me ver se consigo tirá-la.
Ela joga um braço sobre o rosto, cobrindo os olhos
dramaticamente.
— Faça isso.
Com uma expressão determinada, Solomon levanta a perna de
Tessie para que sua panturrilha descanse em sua coxa enorme.
Depois de pegar uma garrafa de água de um vendedor próximo, ele
derrama sobre o pé dela e limpa a areia o melhor que pode. Ele
trabalha com cuidado, suas grandes mãos cuidadosamente enquanto
examina o ferimento.
Tessie sibila quando ele puxa o pedaço de concha de seu
calcanhar. Então Solomon tira sua camisa da bolsa de praia e a
envolve em torno de seu corte como uma espécie de bandagem
improvisada de homem da montanha.
— Pronto — diz ele, levantando os olhos para ela. Ele enfia uma
mecha de cabelo dela atrás da orelha. — Vamos encontrar um kit de
primeiros socorros no quarto. Eu não quero que isso seja infectado.
Ela balança a cabeça, sentindo-se tonta com a preocupação dele.
— Ok.
Levantando-se, ele se levanta. Ela estende a mão, esperando que
ele a puxe para perto dele. Em vez disso, ele simplesmente a pega
nos braços, um enganchado sob os joelhos e o outro atrás das
costas.
— Solomon. — Envergonhada, ela abaixa a cabeça contra o peito
dele, um calor quente em suas bochechas. — Todo mundo está
olhando.
— E? Você está ferida — Ele fala como se nada importasse.
Exceto ela.
— Não estou ferida. — Seu tom grave e mandão a faz sorrir. —
Além disso, essa camisa custou oitenta dólares.
— E?
— E você está me carregando. É meio redundante, sabe. Para
limpar e enfaixar o pé e depois me carregar.
Ele aperta seu aperto. Seu rosto brilha com proteção.
— Eu gosto de carregar você.
Descansando a cabeça em seu peito de um quilômetro de
largura, ela reprimiu um sorriso. Ela também gosta. Gosta da
aparência dela ao lado dele. Brilhante, loiro e pequeno ao lado deste
gigante de um homem sombrio e taciturno. Gosta da maneira como
os olhos se arregalam com a aparência de Solomon. As pessoas
praticamente se desviam de seu caminho enquanto ele desce a
calçada. Mas o melhor de tudo é que ela gosta da maneira como ele
a trata. Como se ela fosse preciosa. Como se ele fosse o guarda-
costas dela, e ela...
Ela é dele.
Pare.
Pare.
Tessie levanta a cabeça para olhar para ele.
— Você escapou dos Zebrowskis.
Seus olhos brilham com humor e outra coisa que ela não
consegue identificar.
— Não graças a você.
— Eu estava deixando você aprimorar suas habilidades de
comunicação.
Um grunhido.
— Viu? — Ela cutuca o peito dele. — Elas precisam de trabalho.
Quando chegam ao quarto, ele a coloca delicadamente de pé
para pegar a chave do hotel no bolso do short. Mas ele não a solta.
Ele a mantém aninhada protetoramente na curva de seu braço,
olhando para ela, a expressão em seu rosto de necessidade
primordial. Agonia.
Tessie pigarreia, girando para ele.
— Solomon, a chave…
Antes que ela possa processar o que está acontecendo, a boca
dele está colidindo com a dela. Ela choraminga, com as mãos, as
unhas arranhando os ombros dele, querendo mais. Seu corpo crepita
por toda parte, fogos de artifício faiscando enquanto a língua de
Solomon acaricia a dela, feroz, ansiosa e faminta.
Tessie dá um gemido quebrado.
Foda-se. É a última noite dele.
É melhor viver um pouco.
Viver.
Porque é isso que ela tem feito com Solomon.
Ficando na ponta dos pés, ela aprofunda o beijo. Abrindo a boca
e sugando a língua, porque o beijo desse homem é uma das
substâncias favoritas dela na face do planeta. Em resposta, um
rosnado sai de Solomon. Ele a agarra pela bunda e a desliza para
cima de seu corpo até que suas pernas trêmulas estejam em volta
de sua cintura e seus braços em volta de seu pescoço.
De volta em seus braços.
Onde ela pertence.
Desajeitado. Solomon está procurando a chave, xingando,
segurando-a com um braço. A visão seria hilária se ela não estivesse
tão quente e incomodada. Porque tudo em que ela consegue pensar
é: Entrar. Cama. Tempos sensuais.
— Encontre a chave — ela suspira contra seus lábios. Ela lambe a
lateral do rosto dele, sua barba eriçada, sentindo o gosto de sal em
sua pele. — Agora. Agora.
— Porra, estou tentando — ele sibila, sofrido.
Se o brilho em seus olhos, a rocha de uma ereção em seus
shorts são alguma indicação, ele está perigosamente perto de chutar
a porta do quarto de hotel. Mas, finalmente, ele encontra a chave,
passa o dedo no sensor e recebe a luz verde. Ele bate por dentro.
Ela se agarra a ele como um macaco no cio.
Seus beijos são frenéticos. Como se o tempo estivesse passando.
Como se estivessem famintos e selvagens e tudo fosse queimar no
final. Um gemido baixo sai da garganta de Solomon quando ela se
afasta e segura o rosto dele em suas mãos. A nuca dele faz cócegas
nas palmas das mãos dela.
— Maldição, Tessie — ele rosna, apertando seus quadris. — Não
consigo ficar longe de você. Aquele cara tocando em você... — Um
estremecimento sai dele. — Você está na porra da minha mente,
minhas veias, meu…
Ele não termina a frase.
Ele não precisa.
Meu coração.
Ele estava prestes a dizer meu coração.
Tessie o beija para abafar suas palavras. A dor em sua alma.
— Mais uma vez — ela engasga. — Por favor.
Dúvida, desacordo brilham em seus olhos, mas ele bate sua boca
na dela de qualquer maneira.
Com dedos frenéticos, Solomon tira seu maiô pegajoso de seu
corpo, emitindo um grunhido que fez seus dedos de seus pais se
curvarem. E então Tessie está nua, exceto por suas marcas de
bronzeamento, e Solomon avança para ela, feroz.
— Você é linda — ele resmunga. — Tão linda, Tessie. Perfeita.
Perfeita pra caralho.
Uma mão larga agarra seu quadril enquanto a outra desliza para
cima para segurar o volume pesado de seu seio. Sua cabeça cai para
trás com a sensação. Seu corpo inteiro está tremendo. Ela se sente
tão malditamente adorada. Sob o toque atento de Solomon, ela se
sente uma deusa.
Boca fundindo-se com a dela, ele a apoia contra a cama.
— Fique de joelhos — ele ordena.
Mandão. Ela adora.
— Ok — ela respira e vira-se de quatro. Olhando por cima do
ombro, ela o observa, fascinada, enquanto Solomon tira sua sunga.
Finalmente livre do tecido constritor, seu pênis surge e ganha vida.
Tessie saboreia a visão da torre de força que é Solomon Wilder. Ele é
uma parede de músculos esculpidos, abdômen tanquinho, pelos
escuros no peito, tatuagens coloridas se enrolando em torno de seus
bíceps e antebraços.
O pensamento vem a ela repentina e feroz – este homem da
montanha; ele é o único que ela vai querer.
Não. Esse é um pensamento horrível.
Um pensamento para sempre.
E então seus dedos enormes estão sobre ela, brincando.
Provocando. Descendo por suas curvas, batendo em sua bunda,
deslizando suavemente por suas dobras molhadas. Ele desliza um
dedo dentro dela, depois outro, e ao senti-lo dentro dela, ela quase
se desfaz.
— Solomon. — Fechando os olhos, ela treme com o toque dele.
Então sua boca quente beija uma trilha pela espinha dela, uma
mão acariciando a curva de sua barriga, e seu corpo derrete.
Este homem. Ele vai ser a morte dela.
— Por favor, Solomon — ela suspira, levantando a cabeça para
implorar a ele. — Eu não posso mais esperar. Por favor.
Os olhos dele brilham com as palavras dela.
A cama se move quando ele acomoda seu peso atrás dela. Seus
dedos cavam em suas curvas enquanto ele se certifica de que ela
está firme. Então, lentamente, ele entra nela. Tessie engasga, seu
corpo queimando com urgência. Seus dedos cavam nos lençóis. Ela
é tão apertada e ele é tão grande e duro, e é a sensação mais
avassaladora. A melhor sensação. Dois deles. Juntos. Essa noite.
Ela está fraca. Desmaiada por ter muito, por essa sensação
estranha e quente em seu peito, pela maneira como seus corpos-
cérebros-almas-corações são conectados um ao outro.
— Diga-me se eu te machucar — ele grita.
— Você não vai. Você não pode.
Juntos, eles arrasam. Solomon se move para dentro e para fora
enquanto Tessie afunda em seu comprimento, seu calor sugando-o.
Nada além de respirações difíceis, o profundo estrondo de
contentamento de Solomon, enchem a sala iluminada pelo sol. Cada
vez mais rápido, ele bombeia contra ela, seu corpo gigante cobrindo
o dela com ternura e cuidado. Uma deliciosa tensão toma conta de
Tessie quando ele acelera, empurra os quadris para a frente e
empurra com força.
Com o corpo zumbindo, Tessie grita quando a mão de Solomon
desliza entre suas pernas. Seu polegar calejado varre seu clitóris,
fazendo círculos lentos e suaves.
— Está bom, bebê? Você me diz o que precisa.
— Mais — diz ela com um gemido. — Mais. Oh, Deus. Ah,
Solomon. Sim. Aí.
Ele dirige mais fundo, sem mais provocações. A dura estaca de
sua sólida parede de músculos era um tambor contra sua própria
forma frágil. Com uma mão habilidosa, ele passa o polegar sobre o
clitóris dela e, dirigindo os quadris com força, bate no ponto certo
para fazer Tessie gritar.
O orgasmo a chuta nos dentes ao mesmo tempo em que um
estrondo explode no peito de Solomon. Ritmicamente, ela pulsa e se
aperta ao redor dele, seu orgasmo é uma explosão de cores
Pantone, e então ela está agarrando a ponta do lençol, clamando a
um Deus que ela nunca apreciou até agora, antes de ficar mole.
Antes que ela possa desmaiar, Solomon a tem em seus braços.
Segurando-a pelo abdômen, ele a puxa para baixo com ele na cama.
Eles se acomodam nos lençóis frios, seus corpos ainda unidos,
presos juntos, brilhando como estrelas cadentes que nunca cairão.

Solomon traça uma linha ao longo da curva do braço bronzeado de


Tessie. Areia na cama, areia nos lençóis, mas ele não liga. O fim do
mundo não poderia fazê-lo se mover agora. Não com Tessie
enrolada em seus braços como uma deusa do oceano que ele não
merece. Os lençóis finos cobrem a curva de seu quadril, a
protuberância de seu estômago. Ele não consegue tirar os malditos
olhos dela.
— Você pegou um pouco de sol — ele murmura, pressionando
um beijo em seu ombro rosa, pequenas sardas aparecendo em sua
pele macia. Ela tem gosto de protetor solar e sexo. Coco e sal.
Tessie, nua, grávida, se mexe preguiçosamente contra ele. Um
redemoinho de cabelo loiro, um zumbido de contentamento. Então,
com a voz sonolenta, os olhos semicerrados, ela passa os dedos
finos pela barba dele.
— A vida é uma praia8, não é?
— Merda. — Solomon se senta, chocado com o motivo de eles
estarem de volta ao quarto.
Ela se apoia no cotovelo. — O que é?
— Seu pé.
— Está tudo bem — diz ela, virando-se para alcançá-lo, mas ele
já está de pé e fora da cama, xingando a si mesmo. O chão troveja
enquanto ele caminha para o banheiro.
Ele volta com um kit de primeiros socorros. Senta na beirada da
cama e coloca o pé no colo dele. Tessie, apoiada em um monte de
travesseiros, parece pequena e parecida com uma raposa, seu
cabelo loiro enrolado atrás dela.
— Devíamos ter feito isso primeiro — ele resmunga, limpando o
pé dela com desinfetante. A culpa o atinge no estômago. Vergonha
por cuidar de si mesmo antes de Tessie. Ela está ferida, e tudo que
ele podia fazer era pensar com seu pau.
Tessie senta-se pacientemente, ambas as palmas das mãos no
estômago, sua expressão de divertida confusão.
Enquanto ele enrola um curativo no calcanhar dela, ela mexe os
dedos pintados de rosa.
— Viu? Está melhor. — Ela se inclina para a frente, com um
sorriso provocador no rosto. — Melhor do que o cara do sorvete,
com certeza.
Solomon franze a testa. Aquele cara, com as mãos na barriga
dela, puxando o braço dela, ligou um interruptor dentro dele,
chutando seus instintos protetores ao máximo. Naquele instante, ele
viu seu futuro de uma só vez. Ou, deveria ele dizer, de Tessie.
Namorando. Passando Bear para outro homem. Precisando de
alguém que não é ele. Um cara aleatório morando com seu filho,
vendo ele e Tessie todos os dias. A visão é como uma porra de uma
faca no peito.
— Homem Solene — A voz suave de Tessie flutua entre eles. —
Relaxe.
Ele se assusta, seus pensamentos clareando quando ele encontra
o olhar preocupado de Tessie sobre ele. Então, como se soubesse o
quanto ele precisa, ela pega a mão grande dele e a descansa contra
o estômago.
— Ele está chutando.
Ao sentir seu filho vibrando em sua barriga, Solomon relaxa. Ele
não sabe quando eles começaram a fazer isso, se tocando como se
isso significasse alguma coisa, mas ele gosta. Demais para o seu
próprio bem.
— Pronto — diz ele, deixando de lado o kit de primeiros socorros.
Ele dá uma olhada em seu pé enfaixado. — Isso deve resolver.
Tessie inclina a cabeça, o lençol caindo para revelar um flash de
mamilo rosa e atrevido.
— Você pode cozinhar, pode construir, pode enrolar um curativo
como um profissional. O que mais eu não sei sobre você?
Ele pensa nisso.
— Eu tenho uma cachorra.
Um sorriso enfeita seu rosto.
— Você tem?
— Eu tenho. — Ele se acomoda ao lado dela na cama, puxando a
mão dela na dele. — Peggy Sue. Ela é minha cachorrinha. Eu a
peguei depois… — Ele faz uma pausa e pigarreia. — Depois que
minha esposa morreu.
Ele não sabe por que parou por aí. Por que ele não diz mais.
Seria tão fácil contar a ela sobre Serena. Mas dizer a ela o quê? Que
ele se tornou um eremita depois que ela morreu? Que ele foi
celibatário por sete anos até conhecer Tessie? Que a morte dela foi
culpa dele? O que ela pensaria dele, sabendo o quanto ele havia
afundado?
— Eu amo cachorros — diz Tessie, retomando a conversa
interrompida. Sua expressão diz que ela não vai pressionar. — Você
sabe, eu costumava ter um cachorro. Sr. Bones. Ele era o melhor.
Um pequeno maltrapilho encrenqueiro que pegamos do canil.
Desalinhado, mais ou menos assim. — Ela solta uma risada,
inclinando-se para esfregar a barba desgrenhada de Solomon. —
Minha mãe confiou em mim para cuidar dele. E um dia, ele fugiu. Eu
fui tão legal com aquele cachorro. Quando criança, nunca entendi
por que ele foi embora. Agora, é claro, percebo que ele
provavelmente foi atropelado por um carro ou recolhido por outra
pessoa. — Olhando para os lençóis, ela molha os lábios. — Os
cachorros vão embora. As pessoas vão embora. E eles
especialmente me deixam.
Ela não diz isso de uma forma triste. Ela diz de uma maneira do
tipo "é assim que é".
Como um piscar de olhos, Solomon entendeu.
Isso.
É por isso que ela é uma parede. Porque ela está tão decidida
sobre ele estar totalmente dentro ou fora. Porque ela estava ferida.
Porque toda vez que ela confia, toda vez que ela traz alguém para
sua vida, eles mostram que ela está melhor sozinha.
O pensamento deixa Solomon com um buraco no coração.
— Eu não fujo, Tessie — ele diz, empurrando seu queixo para
cima para que ele possa olhar seus olhos castanhos suaves. — Eu
não vou embora. Especialmente, não vou deixar você.
Um pequeno encolher de ombros.
— Isso é verdade. Você não deixou.
Apenas Solomon ouve o não dito. Ainda.
Porque amanhã, ele tem que ir.
Com o olhar perdido, ele olha para a mala de viagem sobre a
cômoda.
Sem entender para onde sua mente foi, Tessie sai da cama, as
cobertas escorregando de seu corpo esguio. Todas as linhas
bronzeadas e carne bronzeada.
— Eu vou tomar banho. — O sorriso em seu rosto cai. — Você
deveria fazer as malas. — Sua voz é alta, tensa.
— Tess…
— Venha se juntar a mim quando terminar? — ela oferece, seu
sorriso morno.
Com um aceno de cabeça rígido, ele a observa ir para o chuveiro.
O movimento de sua bunda flexível, o balanço de seus quadris o
endureceu, a mão em sua barriga o amoleceu.
Cristo.
Ele está fodido.
Mais uma vez, o olhar de Solomon se desvia para sua mochila.
Quando o sol nascer, eles se separarão. Ele conseguiu o que veio
buscar no México. Um arranjo que funciona para os dois em relação
ao filho.
Seu coração bate na jugular.
Mas não é o que ele quer.
Quarenta e oito horas atrás, ele tinha tanta certeza de que tudo
– com exceção de seu filho – era temporário.
Só que ele não quer mais temporário.
Ele quer Tessie.

8. A frase que em inglês é Life's a beach, foi inventada para combater a frase negativa
"Life's a bitch" (A vida é uma merda).
Capítulo dezesseis

A luz do sol brilhante e as batidas fortes em sua barriga chamam


Tessie para acordar. Ela pisca, incapaz de se mover.
Ela procura a causa de seu estrangulamento, apenas para ver
que é Solomon. O braço dele envolveu a cintura dela em um abraço
protetor e reivindicativo, pressionando-a com força contra seu corpo
musculoso.
Um sorriso puxa seus lábios. É bom. Ser abraçada. Isso é muito
melhor do que se enrolar na camisa roubada de Solomon em casa,
aquela que ela esconde debaixo do travesseiro. Ela suspira e,
incapaz de evitar, se aconchega mais perto dele. Muito melhor. O
verdadeiro negócio.
É por isso que ele precisa ir.
Foi durante uma pausa para fazer xixi no meio da noite que ela
chegou a essa conclusão. Ela quer que ele fique, o que significa que
ele deve ir embora. Porque ela está se apegando. Está ficando cada
vez mais difícil para ela manter distância. A maneira como ele cuidou
dela ontem…
Seu corpo pega fogo toda vez que ela está a meio metro dele.
Ainda…
Ele é bonito de se olhar.
Silenciosamente, ela examina Solomon Wilder. No sono, ele
parece um gigante calmo e adormecido. Com dedos gentis, ela traça
o sol em sua pele bronzeada, o olhar de luz persistente em sua
testa. Ela se inclina para soprar sua barba preta e crespa. Então ela
levanta o lençol e olha. Óbvio, ela olha.
— Tem algo que você quer me dizer, Tess, ou você vai apenas
me encarar a manhã toda? — O estrondo profundo de sua voz a
sacode.
Ela pula e agarra seus ombros. Seu aperto sobre ela aumenta.
Ela zomba.
— Você dorme como um predador.
Ele abre um olho. Um sorriso.
Seu coração dispara.
Uma mão larga desliza sobre seu quadril nu enquanto ele diz:
— Você apenas me diga onde você quer que eu ronde.
Engolindo em seco, ela imagina Solomon rondando ao seu redor
como uma criatura da floresta rosnando. Seu olhar voa para o
relógio. Seu queixo cai. Ela engasga.
— Solomon.
— O que é? — Ele se inclina sobre um cotovelo, seu olhar
preocupado voando para o estômago dela. — Tessie?
— São dez horas. Nós dormimos.
Ele levanta o rosto atordoado, passando a mão nos olhos
cansados.
— Porra. Primeira vez em muito tempo.
Suspirando, ela se joga de costas e estica os membros,
aproveitando a liberdade, a fatia de sol quente. Uma decadência
preguiçosa que ela nunca se permitiu. Ela sorri para o teto.
Isso. Isto é o que ela veio fazer aqui.
Uma batida forte na porta faz o rosto de Solomon se contorcer.
— Você pediu comida?
— Não. Talvez seja café — ela diz esperançosa, saindo da cama.
Se há uma coisa que a move, é aquele pontapé brilhante de
esperança que é a cafeína.
Ele tenta alcançá-la.
— Fique. Eu vou.
Ela veste um roupão.
— Eu cuido disso.
Ansiedade é uma bolha brilhante em seu passo, ela se dirige
para a porta da frente. Mas o que ela vê pelo olho mágico a deixa
boquiaberta.
Puta merda.
O que diabos ele está fazendo aqui? A mil milhas de distância de
LA.
Com o coração batendo forte, Tessie ajusta o roupão sobre a
barriga e enxuga o rosto, desejando estar de salto alto e saia lápis.
Cumprimentar seu chefe com a cabeça na cama e baba seca no
canto da boca não é exatamente um momento de fazer carreira.
Outra batida na porta.
Ela o abre.
— Atlas, o que…
Sem esperar por um convite, ele entra.
— O que estou fazendo aqui? — Ele gira sobre os calcanhares da
maneira dramática típica. — Estou aqui, Truelove, porque depois do
seu pequeno e-mail de ontem, achei que precisaria falar um pouco
com você pessoalmente.
Ela franze a testa.
— Então você voou até aqui para quê? Me repreender?
— Eu voei para trazer você de volta. — Olhando por cima do
ombro, ele examina a sala. Seus lábios se curvam. — Fico feliz em
ver que pagamos demais.
Ela resiste à vontade de bufar. Para procurar um salto alto para
jogar em seu rosto estúpido e presunçoso. Essa é a maior mentira
do século. Pagam demais. Ela teve que implorar por um aumento,
mesmo com sua promoção.
— Truelove. — Atlas bate palmas, o som ecoando no espaço
silencioso. — Estamos atolados. Como eu disse, Ben Moreno quer
reformar seu restaurante em Beverly Hills. Ele solicitou você.
Pessoalmente.
Ela pisca. É uma honra, mas não vai acontecer. Ela inala,
endurece sua espinha.
— E como eu disse a você, isso é maravilhoso. E farei tudo isso
quando voltar para LA. No momento, estou de férias.
— Então considere seu pedido de férias negado. — O movimento
desdenhoso de sua mão fez o sangue dela ferver.
Ela range os dentes, pressiona as mãos na barriga para se firmar.
— Mas–
— O cliente não espera. Você sabe disso.
— Então ele não é meucliente — ela diz com uma risada amarga.
— Estas são minhas primeiras férias em anos, Atlas. Anos. Eu
preciso disso.
Ele zomba.
— Eu preciso de você, Truelove. Você é minha melhor designer.
Mesmo se você está… — E então ele acena com a mão nas
proximidades de seu estômago.
Oh.
Oh, porra, não.
A raiva abre caminho dentro dela. De repente, Tessie está vendo
seu futuro na Atlas Rose Design brilhante e claro. Expectativas
irrealistas. Horas tardias. Trabalhando todo final de semana. No
passado, ela estava disposta a ignorar as exigências do trabalho
para construir sua carreira, mas isso não é mais o que ela quer. De
forma alguma.
Se ele está pedindo isso a ela agora, o que ele vai perguntar
quando seu filho tiver um jogo de beisebol, quando ela tiver que
buscá-lo mais cedo na creche? Deus, e quando ela está de licença
maternidade e amamentando e chorando e vazando por todos os
orifícios? A resposta ressoa, alta e clara: um grande e gordo não.
Claro, ela pode trabalhar duro, ser mãe solteira e criar um filho.
Sua mãe fez isso; ela pode fazer isso. Mas se ela permanecer em
sua empresa, ela estará arruinada. Ela não quer apenas sobreviver a
um trabalho; ela quer prosperar. Ter uma vida com o filho. Para
colocá-lo em primeiro lugar.
Para se colocar em primeiro lugar.
Atlas passa um dedo curto por uma costeleta preta e eriçada.
— Não me faça me arrepender de ter dado a você este cliente,
Truelove.
— Então, não dê. — diz ela, endireitando os ombros. Ela
atravessa a sala para abrir as portas de vidro deslizantes para o
terraço. Quando ela abre uma, o som do oceano enche a sala. Ela
inala a calma, o surf e o sal. — Fique com Moreno para você.
Isso deixou Atlas carrancudo. Sua bravata derrubou duas
estacas.
— Truelove. Vamos lá. — Ele dá um passo em direção a ela,
mãos atarracadas estendidas em um gesto apaziguador. — Nós dois
sabemos que este trabalho é seu primeiro amor. Você trabalhou tão
duro nestes últimos anos. Odeio a ideia de você jogar fora todo o
seu trabalho duro. — Um sorriso de escárnio curva seus lábios. —
Tudo por um pouco de areia e sol.
Atlas passa o dedo por uma grande pilha de livros de mesa de
centro.
— Você come e respira essa merda, Truelove. Eu conheço você.
Você pode escolher uma cor Pantone no escuro, transformar uma
sala com os olhos vendados. Este trabalho é a sua vida.
Oh, Deus.
Oh, nojento.
Tessie murcha como um balão, apenas para ser preenchida por
um vazio épico.
Este trabalho é a vida dela. Colocar o cliente em primeiro lugar.
Voltar para casa para uma cama vazia. Sem tempo para nada além
do trabalho, nunca se permitindo ter diversão. Correr riscos. Viver.
Droga, viver, que no fim das contas, é o que a mãe dela realmente
queria que ela fizesse.
Encontre estrelas. Assumir riscos.
De repente, ela está tão cansada. Exausta. Ela se senta no braço
do sofá e olha fixamente para Atlas.
Tomando o silêncio dela como aquiescência, ele suaviza o tom.
— Escute, eu reconheço que você precisa de uma pausa, mas
isso virá. Mais tarde. No momento, o que precisamos fazer é apertar
o cinto.
Mentiroso, ela pensa. Ele não tem intenção de dar-lhe folga. Nem
agora, nem nunca.
Seu chefe levanta a palma da mão em súplica e avança para
dentro da sala.
— Eu trouxe seus esboços. Podemos sentar juntos e resolver
isso. Não deve demorar muito. Um ou dois dias. Não será um
problema.
— Definitivamente será um problema.
O estrondo profundo faz Atlas girar, faz o coração de Tessie
disparar. Seu estômago se contrai ao ver um Solomon sem camisa
parado no arco do quarto. Mangas de tinta e músculos. Sua barba
grisalha, postura superprotetora e grande estrutura de aço são o
melhor tipo de apoio que existe.
Atlas ri, então ele volta sua atenção para Tessie.
— Está se divertindo, pelo que vejo.
O fogo estala sua espinha, estalando-a para ficar de pé.
— Eu estive, obrigada. — Levantando o queixo, ela cruza os
braços, deixando-os descansar no alto arco de sua barriga.
Aproximando-se, Solomon coloca um braço protetor em volta do
ombro dela. Tessie se deleita em tê-lo ao seu lado. A maneira como
ele não diz nada, não tenta assumir o controle, simplesmente
deixando-a saber que ele está aqui, que eles são um time, é quente
como o inferno. Ela vê isso nos olhos dele. Ele não vai deixá-la cair.
Ignorando Solomon, Atlas coloca sua bolsa masculina na barra e
abre a trava.
— Agora, se você se lembrar do que eu disse sobre o…
— Não me lembre do seu último e-mail, Atlas — Tessie estala,
cansado de sua merda. O Bear chuta o estômago dela como se
dissesse faça um inferno, mãe. — Acho que você não me ouviu. Eu
não estou trabalhando.
Atlas zomba, um som presunçoso que a deixa arrepiada.
— Inacreditável. Aqui está aquela Terrível Tess que conhecemos
e odiamos.
Seus olhos se estreitam. Manipulador de merda.
— Foi você? — Um tom perigoso mancha a voz de Solomon. —
Você deu a ela esse nome? — Seus olhos brilham. Suas mãos se
fecham em punhos. — Agora sim nós temos um grande problema.
O profundo estrondo de advertência envia um sorriso aos lábios
de Tessie. Um superprotetor Solomon Wilder é uma visão da qual ela
nunca se cansa.
Tessie estica um braço, parando-o antes que ele possa se mover
para Atlas.
Ela consegue.
— Eu não sou terrível, Atlas — ela diz, dando um passo à frente,
mantendo a cabeça erguida. — Você é terrível, e eu não vou mais
aceitar as suas merdas. — Ela inala uma respiração. Firmando seus
nervos. Ela vai se preocupar com erros mais tarde. Porque agora ela
vai se preocupar com ela e com Bear.
— Eu me demito.
As palavras a deixaram tonta. Em êxtase.
Atlas fica boquiaberto com ela. Então ele balança a cabeça.
— Eu sabia que essa gravidez iria te deixar fraca.
Um rosnado de Solomon.
Ela zomba.
— Vai se foder, Atlas. E dê o fora do meu quarto. — Quando ele
se levanta, congelado em descrença, ela arremessa um braço. —
Saia.
— Agora — Solomon rosna, avançando. Seu grande corpo é uma
forte pisada de advertência. — Antes que eu jogue sua bunda
daquela sacada.
Tessie sorri quando seu convidado indesejado dá um passo para
trás, tropeçando nos próprios pés na pressa de desviar do olhar
inflamável de Solomon. Com o rosto vermelho, Atlas pega sua bolsa
masculina e sai rigidamente, fechando a porta atrás de si.
Tessie fica parada ali, incrédula, os nervos e a empolgação
caindo sobre ela como uma onda gigantesca.
Puta merda. Ela desistiu. Um trabalho pelo qual ela sangrou,
lutou e gritou com os estagiários. Bem, não mais.
— Tess?
Ela se vira.
Solomon está lá, segurando seus cotovelos para puxá-la para
perto.
— Você está bem?
— Sim. — Ela acena com a cabeça. — Surpreendentemente,
estou. — Ela olha para o rosto bonito dele, cheio de preocupação. —
Não sei o que diabos eu fiz, mas esse não era o trabalho certo para
nós. — Ela olha para baixo em sua barriga, alisa a palma da mão em
torno dela. — Foi isso?
— Estou orgulhoso de você.
Seu coração pula uma batida.
— Você está?
— Eu estou. — Um músculo trabalha na mandíbula de Solomon e
ele a puxa mais um centímetro para perto dele. — Eu queria socar
aquele idiota.
Ela ri.
— Eu também.
Solomon segura o rosto dela, seus olhos são águas azuis suaves,
mas o aço envolve sua voz calma.
— Ele desrespeita você assim de novo, e eu vou.
— Eu vou deixar.
Uma sensação de liberdade que ela nunca sentiu antes se instala
em seus ombros. Ela está de férias. Umas férias reais.
— Temos que comemorar — diz ela, agarrando-se aos ombros
largos de Solomon para pular na ponta dos pés. — Praia o dia todo,
almoço na barraca de tacos e depois temos que… ah. — Ela afunda
de volta nos calcanhares, seu estômago despencando, cabisbaixo,
quando a realidade se instala. Suas mãos caem para os lados. —
Você vai embora hoje.
Solomon engole em seco, seu pomo de Adão balançando.
— Tess, escute…
Seu rosto é tão intenso que ela recua.
— O que é?
— E se mudássemos nosso acordo? — Sua voz sai áspera. Seus
olhos azuis rapidamente endurecendo, perfurando os dela.
Sua respiração falha. Preocupação palpita em sua barriga.
— Mudar nosso acordo? — ela ecoa. — Sobre Bear?
— Não. — Ele passa a mão pelo cabelo dela, segura a nuca dela.
— Sobre nós.
— Nós? — De repente, seus joelhos estão fracos e ela tem que
pressionar ambas as palmas das mãos contra o peito largo de
Solomon para se manter de pé.
— E se eu ficar pelo resto das suas férias? Para ajudá-la a
relaxar? — ele pergunta, suas palavras uma estranha batida em
staccato. Como se ele estivesse tentando se controlar e falhando
épicamente.
— Relaxar. — Ela cantarola. — É assim que estamos chamando
agora?
Seus olhos se fixam nos dela e se fixam.
— Por Bear.
— Por Bear.
Ela inclina a cabeça, considerando as palavras dele. Enquanto
Solomon quiser estar aqui para Bear, por que ela deveria impedi-lo?
Bear é filho dele. Sua oferta para mudar o acordo não muda nada
entre eles.
Ela molha os lábios, algo quente e macio surgindo dentro dela.
— Tudo bem, então — ela sussurra. — Mais quatro dias.
As linhas duras de seu belo rosto suavizam.
— Mais quatro dias.
E então Solomon abaixa o rosto para beijá-la, seus braços se
fechando em volta dela como se ele nunca fosse deixá-la ir.
O estrondo dos batimentos cardíacos, da respiração pulsando
entre eles, fez com que cada célula da corrente sanguínea de Tessie
se acendesse.
Ela continua fazendo coisas não planejadas e improvisadas
enquanto esse homem da montanha está por perto, e ela meio que
gosta disso.
Na verdade, ela meio que adora isso.
Balançar as cercas, assumindo grandes riscos, improvisando.
Ela está improvisando.
Com Solomon Wilder.
Capítulo dezessete

— Qual é o seu nome do meio?


— Jack.
— Jack, é? Isso combina com você.
— E você?
— Anne. Tessie Anne Truelove. Truelove era o sobrenome da
minha mãe.
Sentando-se o melhor que pode, Tessie olha para Solomon. Os
dois estão empilhados preguiçosamente em uma rede na praia.
— Momento da verdade. Cor favorita?
— Verde. — Sua testa enruga. — Como o pinheiro.
Ela ri, encantada com a tentativa dele de descrever a cor, e bate
palmas. Ela nunca imaginou que estaria deitada em uma rede
fazendo vinte perguntas com um montanhês barbudo, mas aqui está
ela.
Ela gosta disso. Aprendendo mais sobre o homem que é Solomon
Wilder.
Ele não diz nada, apenas a puxa para seus braços e a beija na
têmpora. Ela se encolhe contra ele, jogando uma perna bronzeada
sobre seu quadril para acomodar sua barriga.
Ontem de manhã, a oferta dele de mudar os arranjos a fez
querer pisar nele com a ponta do sapato de salto alto... mas ela não
o fez. Ela não podia. Porque, contra tudo, ela queria que ele ficasse
também.
Agora, ela e Solomon estão em sincronia. Aconteceu sem
palavras, sem discussão, uma vinda a Jesus, um momento de união.
O jeito que ele a apoiou, o jeito que ele vai ficar. Ela nunca se sentiu
tão calma, tão confiante em sua decisão de apenas ser.
A única lista de verificação que ela deseja fazer é uma lista de
lugares onde a boca de Solomon precisa estar.
Ela deveria estar petrificada, apavorada, cagando em seus
miolos, navegando na internet em busca de um novo emprego, mas
tudo em que consegue pensar é em liberdade. Ela está livre. E
selvagem. Aquela garota que ela era seis meses atrás, que não dava
a mínima, que balançava como uma chefe e corria riscos. Isso a
emociona.
Sem Atlas respirando em seu pescoço, sem preocupações.
Desfrutando de seu bebê, seu corpo e sexo malditamente bom.
Mas deixar o emprego não significa que ela pode simplesmente
jogar a cautela ao vento e se esquivar de suas responsabilidades.
Claro, ela e Solomon têm um acordo perfeitamente bom e
perfeitamente fácil, mas é apenas por mais quatro dias.
Eles são amigos com benefícios de férias tropicais.
Isso, eles, seja o que for, está fora dos limites.
— E você?
Tessie se assusta e levanta a cabeça para encontrar Solomon
examinando-a, suas sobrancelhas levantadas em expectativa.
— O que tem eu?
— Cor favorita?
— Ugh. — Ela franze o nariz. — Quanto tempo você tem? Está
bem, está bem... se eu tivesse que escolher, seria... Não, não posso.
Eu não consigo escolher. — Lábio inferior esticado, ela faz beicinho
dramaticamente. — Pergunte-me outra coisa. Algo mais.
Um sorriso maligno aparece em seu rosto barbudo.
— Diga-me o nome de Bear.
— Não! — Ela cutuca o dedo na lateral dele, recebendo um
grunhido de protesto — Isso é para eu saber e você descobrir.
Ele revira os olhos.
— Bem madura.
— Bem, bem, bem. Se você quer que eu confesse alguma coisa,
eu vou. — Ela morde o lábio. — Mas você pode me odiar.
— Tess — ele rosna, observando-a com vários níveis de
preocupação e suspeita.
— Eu fiz. — Ela torce o nariz e depois ri. — Eu menti para você.
Eu roubei sua camisa.
Sua risada é explosiva, rouca, e sacode a rede.
— Tess, querida — ele diz, beijando sua testa. — Não tive
dúvidas quanto a isso.
Um arrepio percorreu sua espinha, ela acariciou sua bochecha,
admirando o raro sorriso enfeitando seu rosto.
— Eu gosto disto.
— Gosta do que?
— Do seu sorriso.
Com um grunhido, ele a beija novamente, passa o braço em
volta da cintura dela e diz:
— Espera aí.
Rapidamente, Solomon se move, mas antes que a rede possa
virar, ele a estabiliza. Com as mãos nos braços dela, ele a ajuda a se
sentar cuidadosamente em uma posição de balanço.
Tessie chuta areia na direção dele.
— Acrescente isso à lista de coisas que você faz certo. Sair de
uma rede sem derrubá-la.
— Carga preciosa — Solomon diz, dando a Tessie um olhar tão
intenso que seu coração se aperta. — Eu preciso.
— Oh — ela grita, uma sensação sonhadora preenchendo-a por
dentro. Esse homem pode ficar um único dia sem dizer algo que a
faça derreter?
Há um farfalhar de movimento quando um garçom aparece. Em
suas mãos, uma bandeja com sanduíches, batatas fritas e bebidas
geladas – cerveja para Solomon e um mojito virgem para Tessie.
Solomon dá uma gorjeta ao garçom e, em vez de pegar sua bebida,
pega a de Tessie.
Ela sorri para ele.
— Você é como um daqueles provadores da Idade Média?
Ele franze a testa, flagrado.
Ela se inclina para frente, divertida.
— E se estiver envenenado?
— Vou arriscar — ele diz e então toma um gole gigante. Depois
de um segundo, ele o entrega.
— Meu herói. — Ela toma um gole. Espumante e refrescante. Ela
apoia a mão na barriga enquanto a rede balança. — Bear gosta de
balançar.
Solomon descansa a palma da mão larga em seu estômago. Suas
sobrancelhas escuras se erguem.
— O garoto está chutando como um ninja.
— Ele é um pequenino Homem Selvagem — Tessie murmura,
traçando um dedo sobre o antebraço musculoso de Solomon. Sua
poeira de cabelo escuro a faz pensar.
— Você era loiro quando era bebê? — ela pergunta, olhando para
ele.
Ele ri. Seu rosto enrugado se abre em um sorriso.
— Não — diz ele, levantando uma batata frita no ar, oferecendo a
ela. — Todo mundo na minha família tem cabelos pretos e olhos
azuis.
— Como a garota de Galway9 — Tessie sorri e abre a boca,
aceitando a batata frita que ele lhe dá. Enquanto ela mastiga, seu
cérebro se agita, produzindo imagens de seu filho e Solomon. Um
lindo menino de cabelos escuros. Olhos castanhos ou azuis, ela não
liga. Apenas saudável, feliz e deles.
Seus dedos traçam os desenhos coloridos nos bíceps musculosos
de Solomon.
— Você vai deixar Bear fazer tatuagens? — ela pergunta.
Solomon acena com a cabeça lentamente.
— Quando ele tiver dezoito anos. Então ele pode enlouquecer
como eu.
Eles comem em silêncio por alguns minutos. O barulho do
oceano, o calor do sol, o balanço lento das palmeiras na brisa
salgada.
A mão forte de Solomon cai em seu quadril, acariciando a curva
baixa de seu estômago.
— Você está se sentindo bem? Sobre o seu trabalho?
Ela engole em seco, sufoca os nervos que a dominam.
— Oh, um surto é iminente, mas agora, estou pensando no
momento. — Ela joga o cabelo por cima do ombro. Ela teve outras
ofertas. Talvez encontrar um trabalho que ela ame seja difícil, mas
encontrar um menos tóxico do que o Atlas Rose Design deve ser
fácil. — Embora ser contratada grávida possa ser uma merda. — Ela
fica maravilhada com o estômago, apalpando o botão e sorri para
Bear. — Mas nós podemos fazer isso. Não podemos?
— Nós vamos descobrir algo.
Sua voz, feroz, áspera, faz com que ela olhe para cima. Aí está
nós de novo.
— Vamos?
Sem hesitar em sua resposta, ele diz:
— Sim. Claro que sim.
Nós.
Eles são um nós? Ela está pronta para nós?
Eles terminam suas refeições, suas bebidas e depois rastejam de
volta para a rede. Tessie se aconchega no peito de Solomon. Uma de
suas grandes mãos faz carícias preguiçosas pela espinha dela
enquanto a outra fica permanentemente colada em sua barriga.
A respiração dele faz cócegas no cabelo dela.
— Você quer ficar no quarto ou sair hoje à noite?
Ficar no quarto. A única atividade para a qual ela está disposta
envolve uma cama e Solomon. Com exceção da rede, eles não
saíram do quarto desde que Atlas colocou o rabo entre as pernas e
saiu correndo.
Ela se estende na montanha do corpo gigante de um homem,
enrolando-se como um gato ao sol.
— Ficar no quarto — ela boceja. — Mas devemos sair um dia,
certo?
Ele ri, deslizando a mão sob o queixo dela para trazer seus lábios
aos dele. Suas íris escurecem quando ele olha para ela. Luxúria
misturada com algo que ela não consegue identificar. Ela quer
identificar? Dar nome aos sentimentos dele daria voz a todos os seus
medos. Tudo o que ela tem tentado evitar desde que sua mãe
morreu. E ela não pode fazer isso. Ainda não.
— Qualquer coisa que você quiser — diz Solomon com tal
solenidade que, por um longo segundo, rouba sua respiração, seu
coração. — Você quem manda, Tessie.
E ela acredita nele. Realmente e verdadeiramente acredita nisso.
Se ela pedisse a Solomon para bater, matar, roubar por ela e por
Bear, ele o faria.
Ela inclina a cabeça para poder estudá-lo. Sua barriga se aquece.
Ela poderia estudar seu rosto esculpido o dia todo. Sobrancelhas
grossas. Cabelos escuros bagunçados. Mandíbula quadrada. Severo.
Solene. Bonito.
Ela dá de ombros casualmente.
— Eu vi algo sobre jantar e dançar. — Um anúncio na televisão
do quarto. Uma fiesta extravaganza!
Sua garganta treme.
— Dançar?
Ela molha os lábios.
— Amanhã à noite nos Pavilhões. Podemos ir — ela diz,
parecendo o mais desinteressada possível.
— Eu tenho dois pés esquerdos.
— Eu lembro. — Ela esfrega a barriga. — Eu não sou exatamente
um pilar de equilíbrio hoje em dia.
Ele sorri para ela, seus olhos azuis escuros se suavizando.
— O que você quiser, Tess. É só me dizer.
— Está bem então. Esta noite, vamos ficar em casa — ela diz,
balançando a cabeça decisivamente. — Amanhã a gente sai.
Um grunhido de afirmação. Então ele une seus dedos aos dela, e
Tessie se estica ao longo da solidez quente de seu corpo duro. Como
se estivessem criando raízes, alcançando as estrelas. Como se
estivessem vivendo apenas mais uma respiração. Como se tudo o
que é precioso para ela estivesse contido nesta rede. Este espaço de
nove por doze, semelhante a um casulo, de conforto e alegria.
Ela quer se lembrar desse momento. Este batimento cardíaco
perfeito no tempo. Ela, Solomon e Bear.
— Solomon — diz ela, levantando-se em seu cotovelo. A rede
balança. — Quero tirar uma foto. — Ela sorri. — Documentação para
provar que te peguei em uma praia.
Sua garganta se move.
— Claro. Por que não.
Alcançando atrás dela, ela pega seu telefone. Seus braços
disparam para o céu, a câmera apontada para eles. Tessie, brilhante
e ensolarada. Solomon, sombrio e taciturno. O pequenino bebê em
sua barriga inchada, preso perfeito e bem entre eles.

9. Referência à música de Ed Sheeran, Galway Girl.


Capítulo dezoito

— Você recebeu a foto? — Solomon pergunta na noite seguinte


enquanto sai para o terraço para ver a praia ganhar vida. Ao longe,
notas fracas de música. As luzes do pavilhão abrem um sabre de luz
no céu, sinalizando o início do evento que está por vir.
— Recebemos — diz o pai, com a voz baixa no viva-voz.
Com um suspiro, ele descansa o quadril contra a grade. Se Tessie
tiver coragem de deixar o emprego, ele pode ligar para a família que
está examinando desde que chegou ao México.
— Então você vai ficar — Evelyn diz, sua voz monótona e seca.
— Você está sorrindo — Jo fala.
— Você está sorrindo muito — acrescenta Melody. Dez anos mais
nova que Solomon, Melody é a caçula da família. — Montes e
montes de sorrisos.
Solomon esfrega a testa. Cristo. Ele enviou para sua irmã do
meio, Jo, a foto dele e de Tessie na praia, e ela é passada para a
família como notícia. Ele xinga baixinho, imaginando toda a sua
família, menos Evelyn, amontoada em torno da ilha da cozinha, o
celular passando entre eles. É o jeito dos Wilders. Jantares em
família. Telefonemas em grupo. Textos do grupo. Coisas das quais
ele não faz parte há muito tempo.
Ele suspira.
— Você diz isso como se fosse uma coisa ruim.
— Não. É ótimo — diz Melody. — Eu não vejo esse sorriso
desde–
Sua voz se interrompe em um estrangulamento, mas ele sabe o
que ela ia dizer. Inferno, todos eles sabem. Desde Serena.
A voz de sua mãe agora, avançando, afugentando o silêncio
constrangedor.
— Então, é ela? Tess?
Solomon pigarreia.
— Sim. — Espontaneamente, um sorriso surge em seus lábios. —
Tessie.
Ao pensar nela, ele se endireita, olhando por cima do ombro para
procurá-la. O batimento cardíaco dele acelera quando ela sai do
quarto, seu próprio telefone pressionado contra o ouvido. Ela acabou
de sair do banho, enrolada em uma toalha branca e felpuda. Eles
passaram o dia todo na praia novamente, e esta noite, jantar e
dançar.
Antes de Tessie, é a última coisa que ele faria. Mas agora, ao
lado dela, é onde ele quer estar.
Alívio o preenche. Ele não tem que deixá-la ainda. Ele ainda tem
tempo.
Férias que ele não sabia que precisava com uma garota que ele
não sabia que precisava.
Tessie olha para cima e dá a ele um pequeno aceno antes de
desaparecer de volta no quarto.
— Estou vendo a barriguinha dela — murmura Melody, trazendo
Solomon de volta ao telefonema.
Evelyn funga, sem se impressionar.
— Ela está usando um biquíni quando está grávida.
Jo agora:
— Deus, você está ultrapassada, Evelyn.
— Eu gosto dela — anuncia Melody.
— Você nem a conheceu — Evelyn corta.
Jo diz: — Jesus, deixe o homem viver, ok, Evil?
Mamãe suspira.
— Garotas.
— Ouça — Solomon late. — Eu queria ligar e dizer que vou ficar
aqui por mais alguns dias.
— Quanto tempo são mais alguns dias? — seu pai pergunta.
Ele anda.
— Segunda-feira.
Um grito de Melody.
— Bem, filho. Se é isso que você precisa fazer, faça.
— Sim, Sol — diz Jo. — Mantenha esse sorriso no rosto.
Solomon aprecia como eles estão equilibrados sobre toda essa
situação. Mesmo depois do que ele os fez passar com seu ato de
desaparecimento e distanciamento, eles são leais como o inferno.
Esses são os Wilders também. Eles apoiam, não se intrometem.
Com exceção de Evelyn.
— E o bebê? — sua mãe pergunta.
— É meu. — Seu coração esquenta, esquenta como uma
fogueira. Limpando a garganta, ele passa a mão pelo cabelo. —
Inferno, eu esqueci de dizer. É um menino.
Um coro de suspiros e um pequeno grito de Melody o atacam.
Evelyn, a única opositora silenciosa.
— Oh, Sol — sua mãe diz, com lágrimas em sua voz. Ele
praticamente pode ouvi-la enxugando o canto do olho. — Isso é
maravilhoso.
— Um beeebê — Jo canta. — Ele vai ter uma barbinha.
— Claro que mal posso esperar para conhecer o garotinho — seu
pai resmunga.
— E depois? — Melody canta.
Solomon fica tenso, parando de andar pelo terraço.
Boa pergunta.
Ele não pensa em seu futuro desde Serena. Sua vida era
rotineira, mecânica, mas sem sentido ou propósito. Inferno, ele não
pensava muito no mundo além de sua porta da frente. Ele viveu em
suas memórias e um momento de cada vez. Café preto pela manhã.
Passeava com sua cachorra na floresta. Ganhou dinheiro trabalhando
com madeira. Bourbon à noite.
Enterrado na dor, ele se manteve fechado do mundo para que
não pudesse ter um futuro. Ele não queria um sem Serena.
Mas agora…
Estar aqui com Tessie abriu seus olhos. Há mais em sua vida.
Ele poderia ter mais.
Nos últimos seis meses, inferno, nos últimos cinco dias, ele tem
tirado pedaços dela de sua alma. Cabelo loiro na barba. O batom
dela no peito dele. Seu sorriso brilhante quando eles balançam ao
som do toca-discos todas as noites, ambos fingindo que o tempo
está a seu favor.
Nada importa, exceto acordar ao lado de Tessie. A mão na
barriga dela, sentindo a pequena contorção do filho por dentro. Ele
já ama aquele bebê ferozmente. Com tudo que ele tem.
— Você está trazendo ela para cá? — Melodia canta em seu
ouvido. — Vocês dois estão, tipo….juntos? — ela pergunta,
instantaneamente ganhando uma zombaria de Evelyn. — Ou você
vai para lá? Ou talvez–
— Melody, querida, acho que Sol está apenas tentando entender
esse negócio de bebê — sua mãe repreende.
Ele ri.
— Obrigado, mãe.
— Divirta-se, Solomon — seu pai diz, em tom esperançoso. —
Mantenha esse sorriso no rosto e traga-o de volta para casa, está
me ouvindo?
— Eu vou. — As palavras saem ásperas graças ao tijolo preso em
sua garganta. Ele colocou sua família no inferno depois que Serena
morreu. Fez com que se preocupassem com ele. Os fez pensar que
ele nunca mais seria o mesmo.
Um refrão de eu te amo e adeus, e então Evelyn dizendo:
— Sol, você pode ficar na linha?
Ele suspira e espera que o resto da família desligue, e então sua
irmã sibila:
— Por que você realmente está ficando?
Ele franze a testa com o tom acusatório dela.
— Foi ideia minha — diz ele, não querendo que Tessie sofresse o
impacto do mau humor de Evelyn.
— Você está se apegando.
Ele range os dentes.
— É meu filho. Acho que tenho o direito de me apegar. — Ele
passa a mão na barba. — Tessie precisava disso. Ela precisa relaxar.
Ela largou o emprego e…
— Espere. — Um estalido frenético no teclado. — Ela largou o
emprego? Quando ela tem um filho para alimentar? Inacreditável.
Porra. Ele não deveria ter dito nada.
— Ela vai encontrar um novo emprego. Ela é uma designer
sênior.
Mesmo agora, Solomon não pode deixar de se maravilhar com a
força feroz que é Tessie Truelove. Foi tão ousado largar o emprego
daquele jeito. Levou tudo o que tinha para ficar para trás, para não
agarrar o cara pelo pescoço e jogar sua bunda para fora do terraço.
Mas sua garota se manteve firme. E era muito sexy.
— Como ela vai encontrar um novo emprego? Ela está grávida de
sete meses. — Um gaguejar sobre a linha. — Eu não acredito nessa
garota.
— Ela encontrará um. Qualquer um teria sorte em tê-la.
— Isso inclui você? — Evelyn pergunta. — Sol, ela ainda é uma
estranha. Não há nada entre vocês além de uma criança. Você não
pode se comprometer por causa disso. Por causa de um caso de
uma noite que saiu do controle.
Ele se afasta do corrimão, abrindo a boca, pronto para dizer a
sua irmã para dar o fora, mas a calma do oceano quebrando
afugenta seu desejo. É claro que Evelyn está irritada, preocupada
com a possibilidade de ele seguir em frente. Ele quer dizer a ela que
conhece Tessie e que gosta de todos os lados que vê.
Muita coisa, na verdade.
Tirando os olhos da água, ele caminha em direção à suíte.
— Evy, não estou discutindo isso com você — ele murmura e
depois desliga.
Seus ombros se acomodam enquanto ele olha para a foto dele
com Tessie e Bear como tela de bloqueio do telefone.
Ele tem coisas mais importantes para se concentrar.

— Você não saiu da suíte, não é? — Ash canta enquanto Tessie, com
o telefone enfiado embaixo da orelha, puxa vestidos de festa do
armário. — Tudo o que você tem feito é sexo quente e gostoso com
aquela gaiola de aço nas pernas.
Ela tem. Ela e Solomon estão fazendo tanto sexo que, se ela já
não estivesse grávida, estaria agora.
— Nós saímos da suíte — ela argumenta. — Fomos à praia
ontem e hoje.
— Espere. É isso? Nenhuma atividade extravagante como
hidroginástica, ioga ou limbo na praia?
— Não. — Ela inclina a cabeça, franzindo a testa. — Isso é ruim?
— Tessie, você não planejou nada? — Ash dá um grito. — Você
está vivendo o caos! Eu me curvo a ti, rainha caótica.
Tessie revira os olhos, mas ri.
— Não vamos tão longe. Nós vamos sair hoje à noite. Para uma
dança. — Ela se avalia no espelho e sorri. Longas ondas sensuais
caem sobre seus ombros, sua maquiagem escura e esfumaçada. No
ponto, como sempre.
— Você parece caidinha — diz Ash, tirando Tessie de seu torpor
sonhador.
Ela bufa.
— Caidinha é a última coisa que eu estou. Qual é o sentido de se
apaixonar por ele? Ele vive no outro lado do mundo. Além disso, ele
está ficando por causa de Bear. Ele não me quer.
Mordendo o lábio, Tessie arruma uma infinidade de vestidos na
cama. Cores brilhantes e coloridos de fúcsia, limão e coral. Ignora o
batida de seu maldito coração idiota.
— Tem certeza? — Ash cutuca. — Você perguntou?
— Não posso me preocupar com isso. — Sacudindo seus nervos,
Tessie escolhe o vestido coral. Então, colocando o telefone no viva-
voz, ela entra no vestido, esperando que desta vez não precise ser
cortada.
— Preciso encontrar um novo emprego. — Sua voz sai abafada
enquanto ela desliza a roupa colante até seus quadris, sua barriga.
Seu único salva-vidas é que, graças a uma cláusula em seu contrato,
ela ainda tem seguro até o nascimento do bebê. — Tenho que me
concentrar em Bear.
— Bear ficará feliz quando sua mãe estiver feliz.
— Nós mal nos conhecemos.
— Não é isso que você está fazendo? Se conhecendo? Encare
isso, Tess. É como se você já tivesse cinco encontros. Pelos padrões
de LA, você já deveria estar se divorciando. — A voz saltitante de
Ash fica séria. — Você não gostaria de estar com o pai de Bear se
pudesse? Não é esse, tipo, o objetivo final de tudo isso?
— Não. — Não querendo que Solomon ouça, Tessie pega o
telefone, desligando o alto-falante. — O objetivo final era descobrir
como criamos Bear, e nós o fizemos. Não podemos deixar que se
transforme em mais do que é.
Um grunhido de frustração.
— Mas e se já for alguma coisa? E se for a ocasião mais
esplêndida do destino no universo? Você conheceu o cara por um
motivo. Você dormiu com ele por um motivo. Você voltou para LA
com ele em sua mente. E Bear aconteceu. Solomon viu você na TV,
a mil milhas de distância dele, quando vocês nunca trocaram nomes,
números. Quais são as chances? Você me conhece, sou cínica pra
caralho, mas se isso não é o universo, não é sua mãe dizendo para
você resolver isso, então temos que conseguir alguém novo lá em
cima.
A respiração de Tessie fica presa na garganta. Suas palavras de
refutação foram perdidas. Mesmo quando ela tenta negar o que sua
prima está dizendo, seu coração batendo forte grita em protesto.
Aquela garota que não acredita no amor, que nunca teve, talvez,
meio que, mais ou menos, quer mergulhar um dedo do pé nisso.
Porque não é esse o ponto? A assumir riscos? Viver?
Ela poderia tentar pela primeira vez na vida.
Ela poderia tentar com Solomon.
— Você pode criar Bear sozinho — diz Ash. — Eu sei que você
pode. Mas você quer?
A questão paira no espaço entre eles.
Ela quer fazer isso sozinha? Ela faria isso com mais alguém? A
resposta é não. Ela gosta de Solomon. Tão sério. Protetor. Seus
modos firmes. Ela e ele – eles parecem naturais. Bear é filho dele.
Eles se encaixam.
Tudo se encaixa.
Então por que é tão difícil se permitir ceder?
Ela procura sua voz.
— Não — ela admite. — Não quero fazer isso sozinha.
— Então não faça isso.
— Tess? — Uma batida com os nós dos dedos na porta. — Você
está pronta para ir?
Seu coração bate rápido com o estrondo profundo da voz de
Solomon.
— Ash — diz ela ao telefone —, tenho que ir.
Sorrindo, ela atravessa a sala, agarrando sua bolsa e chutando
os calcanhares. Ela escancara a porta, com uma piada nos lábios,
mas no segundo em que vê Solomon, sua voz morre rapidamente.
Uma parede sólida de músculos esculpidos está na frente dela. Com
seus olhos azuis escuros brilhando, Solomon usa uma camisa branca
com calça cinza claro. Seu cabelo preto e barba bem penteados.
Suave. Sexy como o inferno.
Ela o olha sem vergonha, contemplando-o.
Um chiado a atinge em seu núcleo, e ela pulsa lá embaixo. De
repente, sair parece uma péssima ideia.
Os olhos dele roçam o rosto dela.
— Tess, você está bem?
Em seu silêncio, Solomon se aproxima. Um enorme braço
envolve sua cintura, segurando-a. Seu estômago dá um mergulho.
Suas pernas imediatamente se transformam em macarrão gomoso.
Ok, agora ela está caidinha. Maldita Ash.
Ela balança a cabeça, limpando-a.
— Estou bem. Eu só... — Com a voz tensa, ela enfia uma mecha
de cabelo atrás da orelha. — É... quero dizer, você…
Sua boca achata. Em algum lugar por trás daquela barba escura,
há um sorriso escondido.
— Você parece gostar de mim, Tessie.
Ela funga.
— Estou apenas levemente obcecada.
— Levemente? — Ele passa a mão grande pelo cabelo escuro,
desarrumando-o, parecendo diabolicamente bonito. — Acho que vou
ter que aprimorar minhas habilidades.
— Oh? Para quem? — As palavras saem de seus lábios em uma
corrida ofegante. Ela sente uma pontada de ciúme ao pensar em
Solomon com outra mulher. Porque ele não é dela, não
permanentemente, e há uma possibilidade muito forte de ele
conhecer alguém no futuro.
Oh Deus. O pensamento a faz querer vomitar.
Um meio sorriso surge no canto de seus lábios.
— Para você, Tess.
Ela engole, forçando um sorriso vacilante, tentando ignorar a
maneira como seu coração galopante de repente bate no peito.
— Oh. Entendi.
O olhar penetrante de Solomon prende o dela. Ele oferece um
braço.
— Está pronta?
— Pronta — ela sussurra, seu estômago apertando.
Para isso, sim.
Para todo o resto, colocar um cofre em seus sentimentos, dizer
adeus em menos de setenta e duas horas?
Definitivamente não.
Ainda assim, ela liga o braço ao dele.
— Pronta.
Capítulo dezenove

Tessie para no topo da pirâmide de escadas que leva até a entrada


do pavilhão de praia ao ar livre e suspira. Cada centímetro é
iluminado em uma bola de luz brilhante. Um dossel de flores
coloridas e guirlandas pende de cada viga. Lanternas escarlates
piscam na noite, balançando e mergulhando no ar. Uma onda de
música de banda – clarinetes, trompetes e trombones – enche o ar
úmido da noite.
— É tão bonito — ela diz, com a boca aberta em uma espécie de
reverência alegre.
— É — Solomon murmura.
É tudo o que ele pode dizer. Porque a pedra em sua garganta o
estrangulou. A porra do dez perfeito ao seu lado o deixa quase de
joelhos.
Tessie é linda de morrer. Sua beleza branca quente e abrasadora.
Ele nunca a viu tão revigorada, tão radiante. Faixas de ouro brilham
em suas pálpebras, fazendo seus olhos castanhos brilharem. Seus
longos cabelos loiros se espalham pelos ombros como mel derretido.
Seu vestido ombro a ombro coral brilhante é praticamente pintado,
mostrando suas curvas de dar água na boca, sua pequena barriga,
aquele bebê perfeito em sua barriga.
O filho dele. Deles.
Ele nunca foi tão malditamente golpeado.
— Devemos entrar? — ela pergunta, olhando para ele. Uma
mecha de cabelo cai em seu rosto.
— Sim. — Ele ajusta a mãozinha dela na dele. Em algum lugar ao
longo do caminho até aqui, eles desvincularam os braços,
entrelaçaram os dedos.
— Se eu passar das dez, vou ficar surpresa — observa, olhando
para a lua.
Ele apalpa a barriga dela e murmura:
— Nós gostamos de surpresas, não é?
Suas bochechas coram e seus longos cílios abaixam.
— Sim — ela concorda, sorrindo brilhantemente, como se eles
tivessem o melhor segredo do mundo. — Nós gostamos.
Ele mantém o olhar dela por um longo momento. Seu coração vai
explodir no peito. Então ele limpa a pedra de sua garganta.
— Vamos, Mulher Grávida.
Segurando a mão dela com força, ele a leva até o estande da
recepcionista e, depois que Tessie confirma sua reserva, eles entram
no pavilhão. Na frente da sala, uma banda toca no pequeno palco.
Pisos altos decorados com vasos de flores, com letreiros reservados,
estão espalhados pelo chão. Os garçons servem coquetéis e tapas.
— Oh meu Deus — Tessie guincha, puxando seu braço. — Isso
está me dando uma vibe de baile milenar. Oh! Aqui está a nossa
mesa — ela diz, colocando sua bolsa em um cano alto com um sinal
de RESERVADO – TRUELOVE. — Oh meu Deus, olhe para aquele
lustre!
Ele ri quando ela solta um segundo suspiro e solta a mão dele
para observar a cena. Percorrendo pelos convidados com sua barriga
arredondada, ela brilha. Ela sorri enquanto observa a banda,
examina as flores, passa a mão pelas toalhas e rouba um canapé de
uma bandeja.
Esta é a garota que ele conheceu naquele bar. Engraçada, doce,
sempre pronta para se divertir. Mas o outro lado dela, aquele que ele
conheceu na última semana? Gelada, corajosa e descarada.
Corajosa. Uma lutadora. Para ela e seu filho. Ele ama esse lado
também. Essa casca dura dela é apenas isso – uma casca. Para se
proteger porque não suporta que mais uma coisa se afaste dela. E
Solomon sabe como é.
Um farfalhar de som o faz virar. Um garçom próximo admira
Tessie. E por que não? Sua beleza lança seu feitiço sobre todos em
sua órbita. Ao perceber os olhos de Solomon sobre ele, o homem
ajusta a bandeja em suas mãos. Fazendo uma pequena reverência
de reconhecimento, ele diz:
— Sua esposa é linda, señor.
Um nó se aperta em sua garganta. Apenas corrigido quando ele
diz:
— Ela é.
Pare. Pare de olhar para ela como se ela fosse sua.
Por que não, Sol? Ela é.
Isso o atinge e o atinge com força.
Ele quer que ela seja dele.
E ele não quer estar apenas na vida do filho. Ele quer ficar com a
Tessie. Quer ser de Tessie. Porque ela é dele. Ela e Bear, ambos são
dele.
A noite no bar Orelha do Urso cimentou isso.
Sua segunda vida começou na noite em que conheceu Tessie.
Ele só não sabia disso até agora.
O estômago de Solomon afunda, uma sensação familiar se
instalando em seu estômago enquanto a percepção o envolve e não
o deixa ir. Seu coração está batendo como uma bomba.
Porra.
Ele ama ela.
Ele ama esta mulher que está carregando seu filho. Não por isso,
mas apesar disso.
Ele sabia que estava se apaixonando por Tess, sabia que era
rápido, mas nada o preparou para isso.
Não fazia parte do plano.
E agora…
Agora ele vai fazer de tudo para mantê-la.
Movendo-se graciosamente, balançando perto do palco, Tessie
coloca a palma da mão na protuberância de seu estômago, e o
coração de Solomon dá um salto.
Ele não pode viver sem tudo o que está ali.
Dance com ela, Sol.
O espírito de Serena paira. Resmungando, xingando-o.
Dance com ela ou outra pessoa o fará.
Dance com ela ou eu vou.
Por um longo segundo, ele esfrega as mãos no rosto e pragueja,
atacado pela culpa. Culpado porque ele nunca dançou com Serena
naquela velha jukebox no Ninho do Howler. Como ele se sentava à
margem, braços cruzados, grunhindo, deixando-a se divertir sem
ele.
Segunda chance. Nova chance.
Ele pode fazer melhor do que fez com Serena.
Um tambor bate em seu peito enquanto ele caminha pelo espaço
aberto. Quando ele alcança Tess, ele segura seu cotovelo. Ela se
vira, seu lindo rosto surpreso – olhos brilhando, boca com um O –
então ela sorri.
— Dance comigo — diz ele.
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Pensei que você não dançasse.
— Com você, eu danço.
Então ele agarra a mão dela e a leva para a pista de dança, onde
eles se misturam em uma pequena multidão de dançarinos
dançando lentamente.
— Você não é tão ruim — ela murmura. A luz suave ilumina os
traços delicados de seu lindo perfil. — Acho que você mentiu sobre
ter dois pés esquerdos.
Ele olha para ela. Segurá-la em seus braços parece tão perfeito.
— Acho que fiquei nervoso com a bela mulher batizando o bar
com chardonnay — ele responde.
Ela dá um soco no braço dele e ri.
— Acho que nós dois estávamos fingindo ser pessoas que não
éramos — Tessie reflete depois de um segundo.
— Talvez. Mas gostei da garota que conheci naquela noite. Eu
ainda gosto.
Seus olhos se arregalam com sua admissão.
— Eu também gosto de você, Solomon. — Um rubor tímido toma
conta de suas bochechas. — Gosto da sua flanela. Gosto dos seus
grunhidos e da sua bela barba. Eu gosto de tudo em você.
Porra. Se ele pensou que estava acabado antes, ele realmente
está agora.
— Você está franzindo a testa ou está carrancudo? — Ela acaricia
sua bochecha. O toque dela canta. Uma onda de calor em suas
regiões inferiores o deixa se contorcendo. — É muito difícil dizer.
Ele ri.
— Estou sorrindo, Tessie.
— Você está? — Ela estende a mão para traçar a borda de seus
lábios, sua barba, com um dedo delicado. — Hum. Um sorriso. Devo
ter feito algo certo, Homem Solene.
Ele usa uma das mãos para tocar o estômago dela.
— Você está fazendo tudo certo. Você é perfeita.
— Às vezes eu não sei sobre isso — ela diz com uma risada sem
humor.
Ele balança a cabeça.
— Tess, estamos nisso juntos. Você não está fazendo isso
sozinha. E quer você acredite em mim ou não, eu vou te mostrar. Eu
vou provar isso.
Ela ergue um ombro esguio. Eles pararam no meio da pista de
dança.
— Tudo em que acredito é em Bear.
— É bom acreditar nisso.
— Não quero decepcioná-lo.
— Você não vai. Ei. — Ele toca o queixo dela, odiando o olhar
triste em seu rosto. — Não estou aqui para dificultar sua vida. Ou
levá-lo embora. Estou aqui para ajudar. Para ficar e ser um bom pai
para Bear.
Seu estômago dá um nó quando seus grandes olhos castanhos o
lançam. Lentamente, ela desliza a mão pelo peito dele para
descansar sobre o espaço do coração. O calor de sua mão irradiando
através de sua camisa. E ele queima. Solomon queima de todas as
melhores maneiras que um homem pode queimar. Cru. Vivo.
Apaixonado.
— Isso é...a única razão pela qual você está ficando?
É difícil respirar. Pensando em sua pergunta, o que ela realmente
está perguntando a ele.
Diz! Diga agora, porra.
Diga que Bear não é a única razão pela qual ele está ficando.
Que nada importa, exceto acordar na cama ao lado dela. Que ele
não sabe o que é isso entre eles, mas não está pronto para isso
acabar. Ainda não. Nunca.
Diga que ele a ama.
Sol, dê um tiro no escuro e diga a ela.
Ele se aproxima, capturando o rosto dela em suas mãos.
— Tess, escute…
— Sim? — ela sussurra, seus olhos derretidos fixos nele.
— Tessie, querida, eu…
— Bem, olá. Nós estamos tão felizes em ver vocês aqui!
O estômago de Solomon despenca, sua confissão de fim de noite
virou fumaça. Ele arrasta sua atenção da garota em seus braços
para a fonte intrusiva do sotaque nasal.
Porra.
Rick e Roni Zebrowski estão na frente deles, prontos para causar
o caos.

Tessie esconde um sorriso ao ver a expressão de merda de Solomon,


a maneira como um estrondo de um rosnado se forma em seu peito
e como ele move sua mandíbula para frente e para trás enquanto
Rick e Roni os seguem de volta ao seu cano alto.
— Tivemos a maior dificuldade em arrumar uma mesa. Se
importa se nos juntarmos a vocês? Sem esperar por uma resposta,
Roni deixa cair sua bolsa de lantejoulas na mesa com um estrondo.
— Você teve dificuldades — diz Solomon com os dentes cerrados
— porque Tessie planejou com antecedência e fez reservas.
Colocando a mão no braço de Solomon, Tessie evoca o sorriso
plácido que dá aos clientes quando eles pedem que ela projete
câmaras funerárias para seus animais de estimação.
— Sintam-se à vontade para se juntar a nós — ela oferece. —
Não vamos ficar muito tempo.
Não se ela puder evitar.
Ela quer voltar para aquela conversa. Solomon estava prestes a
dizer-lhe algo importante. Ela viu isso em seus olhos. O movimento
duro de sua garganta. Seu grande e duro homem da montanha
estava nervoso e ela quer chegar ao fundo disso. Porque talvez seja
o que ela espera que seja. Talvez ele sinta o mesmo que ela.
— Vocês querem bebidas? — ela pergunta à mesa. — Vamos
buscar bebidas — ela oferece, agarrando Solomon pelo bíceps e
arrastando-o para o pequeno bar.
— Podemos ir — ele resmunga depois que eles fazem seus
pedidos. Seu brilho poderia fritar o sol.
O comentário de Ash sobre ela sair da sala ressoa na mente de
Tessie. Ela não se vestiu apenas para ser emboscada por dois
estranhos perfeitamente irritantes. É para isso que servem as férias.
Conhecer pessoas. Expandir os horizontes mundanos. Embora,
depois de uma segunda olhada em Rick e Roni Zebrowski, ela esteja
começando a entender por que Solomon permaneceu em sua
montanha.
— Dez minutos — diz ela. — Então podemos fugir se ficar
doloroso. — Ela pressiona Solomon. — Além disso, admita, você está
levemente intrigado. Eles estão usando suspensórios neon; como
você não quer saber mais?
— Tudo bem — diz ele com uma risada plana. Ele se inclina para
pressionar um beijo em seus lábios.
Tessie enrijece, um arrepio de satisfação percorrendo sua
espinha. Oh, Deus. Eles estão se beijando agora.
Beijos aleatórios e espontâneos em público.
Se beijando como um casal.
De repente ela está sem fôlego, seu coração batendo forte, esse
sentimento adolescente pegajoso aquecendo-a por dentro. E ela
sabe – com cada osso cínico de amor-adverso em seu corpo vibrante
– ela está se apaixonando.
Muito forte. Cedo demais. Muito rápido.
Louca por Solomon Wilder.
Internamente, ela geme. Ugh. Coração e mente se alinham;
mesma página, por favor.
Ela tem que manter suas armas. Sem apego.
Mesmo que dizer adeus vá doer pra caramba.
— A palavra de segurança — diz Tessie, saindo de seus
pensamentos fúteis — é bananas — Ela vira o cabelo e pega duas
bebidas, observando o sorriso divertido nos lábios de Solomon. —
Aposto que na primeira troca de fraldas você diz primeiro.
Rick e Roni estão conversando profundamente quando voltam
para a mesa. Solomon dá uma bebida a Rick, toma um gole de
uísque e apoia os cotovelos largos na mesa.
Rick levanta sua cerveja em um brinde.
— Para novos amigos.
Roni gesticula para a taça de coquetel de Tessie, com o rosto
franzido.
— Eu não sabia que você podia beber álcool.
O corpo de Tessie é um arrepio. Aqui vão eles. Conselhos não
solicitados. Uma parte interminável de sua gravidez.
— É um mocktail — ela diz calmamente, então toma um longo
gole.
— Um o quê?
— Um mocktail. É sem álcool — Solomon diz, sua voz é tão letal
quanto uma injeção.
Roni se abana.
— As coisas chiques que eles têm hoje em dia… — ela fala
lentamente, pegando instantaneamente um menu do que ela podia
e não podia comer quando estava grávida de seu primogênito.
Enquanto Tess tenta não se desligar, ela se move nos saltos. Foi
um erro usá-los. Seus pés parecem estar em um torno. Mas antes
que ela consiga virar para procurar uma cadeira, Solomon coloca
suavemente a mão nas costas dela e pergunta:
— Você precisa se sentar?
— Sim — ela respira, olhando para ele. Como ele pode lê-la,
como ele está tão sintonizado com suas necessidades, faz seu
sangue esquentar. Ele vai até o bar e traz uma banqueta para ela.
Com uma mão na dela e a outra na cintura, ele a ajuda a sentar na
cadeira de espaldar alto.
Quando ela está acomodada, Tessie compartilha um sorriso
caloroso com Solomon. Sob a mesa, ela procura a mão dele. Seus
dedos grandes puxam a mão dela na dele. Oferecendo conforto.
Solidariedade.
Com um olhar estreito de atirador, Roni pergunta:
— Agora, para quando você disse que que o bebê está previsto
mesmo?
— Eu não disse — Tessie suspira, já cansada da inquisição. Já
querendo voltar para o quarto deles. Ela odeia que estar grávida
seja como uma estação aberta para interrogatórios, completos
estranhos morrendo de vontade de compartilhar suas impressões
sobre seu corpo, oferecendo críticas de merda e fazendo perguntas
pessoais que não são da conta deles.
Quando Roni espera por sua resposta, os lábios franzidos em
antecipação, Tessie suspira e cede.
— Vinte e três de dezembro.
— Ooh, um bebê do feriado — Roni ri.
— Nosso filho mais velho nasceu no Halloween — acrescenta
Rick com uma risada boba. — Nunca vi tantos zumbis na sala de
parto, e não estou falando só das grávidas.
Roni grita como se ele tivesse acabado de contar a melhor piada
do mundo.
Aflito, Solomon abaixa o uísque e esfrega a palma da mão no
queixo barbudo.
Roni suga o limão de seu copo de margarita e diz a Tessie:
— Você parece pequena para vinte e nove semanas. Tem
certeza–
— Ela tem certeza — Solomon retruca.
Tessie guincha e aperta a coxa musculosa dele debaixo da mesa.
Um aviso para manter a calma.
— Então, o que vocês estão achando do resort? — ela pergunta
a Roni, desesperada por uma mudança de assunto.
— Ah, é lindo. Seria ainda melhor sem todos aqueles pássaros
cantando todas as manhãs. — Ela acena com a mão. — Não me
interpretem mal; Eu amo a natureza, mas não quando ela
interrompe minhas férias.
Um ruído estrangulado sai da garganta de Solomon.
Tessie se inclina.
— Diga — ela sussurra tão baixo que só ele pode ouvir. — A
palavra de segurança.
— Nunca — ele resmunga, impassível. Cada parte dele era um
músculo tenso e ondulante. Ele está branco com os nós dos dedos
em seu copo de uísque fosco.
— É tão bom que vocês dois estejam fazendo isso. — Roni
engole sua margarita, deixando batom rosa choque manchado em
um lado do rosto. Ela gira o dedo entre Tessie e Solomon. — Vá a
todos os shows, concertos e férias que puder antes de o bebê
nascer, porque você nunca mais terá uma chance.
Um tremor de inquietação revira o estômago de Tessie. Com as
divagações de Roni, todas as suas inseguranças, medos e
ansiedades sobre o parto vieram à tona.
— Você já foi ao spa? — Tessie pergunta, esperando tirar os
holofotes de seu estômago. Ela se ajusta na cadeira, endurecendo a
coluna. — Está classificado como um dos melhores do mundo. Suas
massagens devem ser épicas. — Ela ri e olha para Solomon. — Eu
deveria agendar uma massagem nos pés.
Um pequeno sorriso aparece em seus lábios.
— Você devia parar de usar salto.
Arfando, ela o golpeia com sua bolsa.
— Vou usar saltos, Solomon, e você vai me adorar a cada passo
do caminho.
Olhos de águia, Roni se intromete.
— Sinceramente, Tessie, eu realmente não posso acreditar que
você ainda está usando salto alto. Não é de admirar que você esteja
cansada, usando sapatos assim. — Seus lábios franzem. — Eu ouvi
que eles podem causar abortos, você sabe.
Tessie recua como se tivesse levado um tapa. As palavras que
seu pior medo serviu em uma bandeja – tão cruéis, tão paralisantes
que seus olhos se encheram de lágrimas.
Ela vai deixar o bebê.
O bebê vai deixá-la.
Rick fecha os olhos.
— Merda. Roni.
— Pelo amor de Deus — Solomon rosna, sua mão se fechando
em um punho. — O que há de errado com você?
O casal dá um passo para trás da mesa, seus rostos pálidos.
Solomon olha para ela, os ossos de seu belo rosto rígidos de
raiva. A linha dura de sua mandíbula se movendo mais e mais.
— Você quer ir?
Lágrimas escorrem por suas bochechas. Ela acena com a cabeça.
Ela não pode lidar com isso com graça. Não mais.
— Sim — ela diz. Ela está tremendo, absolutamente um tremor.
Seu coração bate tão forte no peito que poderia perfurar as paredes
de suas costelas a qualquer momento.
Segurando firme a mão dela, Solomon a ajuda a sair da cadeira.
Então ele a aconchega ao seu lado enquanto troveja para fora do
pavilhão, andando tão rápido que ela tem que se apressar para
acompanhá-lo.
O céu está salpicado de estrelas quando eles saem.
Solomon se vira para ela, a preocupação estampada em seu belo
rosto.
— Tess…
Mas ela não escuta.
Ela não pode.
Em vez disso, ela corre.
Tudo o que ela quer fazer é fugir. Do conselho. De seus medos.
De preocupações que a acompanharam por toda a vida. Que esse
tipo de solidão triste nunca a deixará.
— Tessie, espere!
O grito de Solomon a segue, mas ela não para. O pânico e o
medo a impulsionam para a frente, seus saltos estalando nas ripas
de madeira do calçadão.
Ela continua correndo. Sobre o cimento, passando por palmeiras,
na areia fofa até chegar ao mar. Lá ela para, tira os saltos. A água
bate em seus tornozelos enquanto as lágrimas escorrem por seu
rosto para manchar seu estômago. Um soluço sai dela.
— Sinto muito — ela sussurra para Bear, embalando sua barriga.
— Eu sinto muito. As pessoas são estúpidas. E você vai ter que
tolerá-los. Mas eu vou te proteger. Enquanto eu puder, estarei lá,
ok?
Ela observa o oceano, querendo gritar para o céu, querendo sua
mãe, querendo voltar e dar um tapa na boca manchada de
margarita de Roni Zebrowski, quando há um estrondo atrás dela.
— Tess.
Ela se vira. De cabeça baixa, ela caminha direto para os braços
abertos de Solomon.
— Bananas — ela suspira contra o peito dele.
— Você não pode fazer isso comigo — diz ele com uma voz
áspera e cheia de pânico. Então seus dedos grandes estão contra
sua bochecha, em seu cabelo, levantando seu rosto para encontrar
seus olhos. — Você não pode correr. — Ele beija seus lábios, suas
têmporas, sua garganta com tanto desespero que por um segundo
ela se sente tonta. — Você me ouviu? Não corra. Não de mim. Por
favor. Por favor, Tess.
— Sinto muito — ela sussurra. Ela fecha os olhos. O toque
arrasador de Solomon, seu abraço, é como um cobertor quente. Ela
sente o cheiro de uísque em seu hálito, o cheiro de Solomon em sua
barba e quer viver ali para sempre.
— Não, me desculpe — diz ele em uma voz que quebra em todos
os ângulos. — E antes que você diga isso, você não exagerou. Eles
são uns idiotas. Foda-se essas pessoas. — Seus polegares calejados
deslizam sobre o alto arco de sua bochecha, enxugando suas
lágrimas. — Você usa seus saltos altos, Tess. Ninguém tem o direito
de dizer essas merdas para você. Você vai ser uma ótima mãe. E
Bear vai ficar bem. Você me entende? Nada vai acontecer com ele.
Eu não vou deixar. Não dê ouvidos a ela. Nem pense duas vezes
neles…
Com um grito selvagem, Tessie joga os braços em volta do
pescoço dele e cola a boca na dele. O nó apertado de medo dentro
dela se solta, e ela fica na ponta dos pés para se fundir no corpo de
aço de Solomon. Sua força.
Seu Homem Solene.
— Obrigada — ela sussurra contra sua boca. Ela se agarra a ele
como se estivesse se dissolvendo. — Ninguém nunca fez algo assim
por mim.
— Porra — ele morde, a intensidade fazendo-a tremer. Como se
ele fosse seu escudo, seu guarda-costas, e nada e ninguém nunca
iria machucá-la. — Você se acostuma, Tess. Você se acostuma
comigo. Porque, querida, eu estou aqui. — Ele a segura com força;
ele está tremendo assim como ela. — Qualquer coisa para você.
Uma risada soluçante irrompe dela.
— Isso inclui jogar Roni em águas infestadas de tubarões?
Ele a beija de volta, apertando-a com força contra ele, depois a
segura com o braço de distância.
— Você acabou de dizer a palavra. — Olhos azuis varrem para
sua barriga antes de passar para seu rosto. — Você está bem?
Ela acena com a cabeça. Funga.
— Eu estou. Nós estamos. Que noite foi essa.
Ele envolve a nuca dela com a palma da mão larga.
— Não acabou.
— Não?
Enquanto ela olha para ele, algo dentro dela ganha vida.
Faíscas. Chamas. Uma voz dizendo que ela está exatamente
onde deveria estar.
— Não, Tess, não acabou — ele rosna ferozmente, seu olhar
vagando para o céu escuro. — Porque, querida, nós temos estrelas.
Então ele está segurando o rosto dela em suas mãos grandes e
se inclinando para beijá-la ao luar.
O oceano bate em seus pés descalços, nas botas de Solomon,
mas tudo o que Tessie sente são os lábios dele nos dela, a
segurança quente de seu toque, suas vibrações de eu estou aqui por
você. Não há dúvida em seu beijo; apenas uma urgência. Uma
fome. Uma promessa.
Hoje à noite, todas as suas dúvidas, todas as linhas fortemente
controladas que ela traçou na areia entre eles, são lavadas por uma
única onda.
Por um único beijo que a fez perder seu coração para Solomon
Wilder.
Capítulo vinte

Solomon abre os olhos para a luz do sol, para o sussurro baixo do


toca-discos, para uma cama vazia.
Outra maldita cama vazia.
— Porra — ele geme, levantando-se em um cotovelo.
Uma manhã. Apenas uma manhã, ele gostaria de acordar e
descobrir que Tess não o abandonou. Para encontrá-la ao lado dele,
dormindo, macia e segura. Em repouso. Especialmente depois da
noite passada.
Ele cai de costas para estudar o teto. Seu estômago está
embrulhado desde que Tess saiu correndo do pavilhão com lágrimas
nos olhos. A aparência dela na noite passada: pálida, em pânico,
apavorada.
Ele podia vê-la, durante a conversa com aquelas pessoas, prestes
a quebrar. Ela precisava dele. E ele se recusou a decepcioná-la. Ele
poderia ter controlado melhor seu temperamento com Rick e Roni,
mas ele estava puto como o inferno, e todo o seu foco estava em
Tessie.
Tessie e Bear – eles são responsabilidade dele. É seu trabalho
protegê-los.
E então ela correu.
E todas as emoções há muito enterradas das quais ele estava se
escondendo aumentaram como uma inundação.
Ela fugiu dele. Como Serena. Isso o deixou fora de si, o deixou
em pânico, o fez persegui-la até a praia e segurá-la em seus braços
como se fosse o fim do mundo.
Até agora, ele deu migalhas sobre seu casamento, mas é isso.
Agora é hora de contar a ela a verdade sobre seu passado. Ele tem
que dar uma chance a ela antes de dar tudo a ela. Porque ele está
pronto. Pronto para fazer aquela mulher dele.
Onde ela está, afinal?
Franzindo a testa, Solomon se senta e verifica seu telefone. Uma
chamada perdida de Evelyn e de Howler. Então ele sai do quarto e
vai para a sala.
Sol em sua pele, Tessie está vestida com calças de ioga e uma
blusa preta que abraça seu estômago. Seu cabelo, em duas tranças
soltas, cai sobre os seios. Um lindo rubor de cor sobe em suas
bochechas.
— Bom dia — diz ele, aliviado por encontrá-la por perto.
— Oi — diz ela, puxando um tapete de ioga lavanda para fora do
armário. Vendo seu olhar curioso, ela levanta o tapete. — Exercício.
Não fiz nenhum desde que cheguei aqui. Há uma aula conjunta de
ioga pré-natal e pós-natal ao meio-dia. Pensei em dar uma olhada.
Ele faz o seu caminho em direção a ela.
— Você tomou café da manhã?
— Mm-hmm. Deixei um pouco de café para você.
— Generoso da sua parte.
Ela ri e esfrega a barriga.
— Bear estava com fome.
Segurando seus quadris, ele a puxa para ele. Descansa uma mão
em sua barriga.
— Culpe o bebê.
— Eu vou. Tenho onze semanas para fazer isso. — Ela mostra a
língua para ele e se afasta.
Mas ele a segura com força. Perto.
— Ouça, Tess. Precisamos conversar sobre a noite passada.
Ela se encolhe.
— Eu sei. Me desculpe por surtar assim.
— Você não surtou. — Segurando seu olhar, ele segura sua
bochecha. — Nunca se desculpe por isso.
Seus lábios se erguem como se ela não acreditasse nele.
— Ok. Obrigada.
— Espere — ele ordena quando ela se vira para fugir. — Traga
sua linda bunda de volta aqui.
Ela parece assustada com o tom dele, mas volta para os braços
dele.
— Eu preciso que você ouça uma coisa — diz ele, todo o seu foco
fixo nela. — Preciso de um favor seu.
— Que tipo de favor?
— Você não pode me abandonar. Você não pode fugir.
Os olhos dela se arregalam com as palavras dele, mas ele
continua.
— Eu entendo porque você faz isso. Mas você não precisa correr.
Não de mim. E se precisar...Você me diz. Não mais na calada da
noite escapando–
Ela zomba.
— Eu não fujo, Solomon…
— Chega de sair da cama, Tess.
É uma exigência, e ele não vai se desculpar por isso. Ele cutuca o
queixo dela com um dedo, fazendo-a encontrar seu olhar sério.
— Eu nunca quero não ser capaz de te encontrar. Você me
entende?
— Eu sou… — Ela abre a boca, pronta para discutir com ele,
então a fecha. — Ok. Eu não vou. — Ela inclina a cabeça para trás
enquanto o avalia, seus olhos castanhos suaves e curiosos. — Você
vai me dizer por quê?
— Eu vou. — Ele beija sua testa, passando as palmas das mãos
por seus ombros esguios. — Mais tarde. Não quero que você perca a
aula.
Seus lábios se contraem como se ela estivesse infeliz, como se
ela quisesse dizer alguma coisa.
Ele coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha dela.
— Vai, Tess.
Depois de um segundo de hesitação, ela se afasta dele e enfia o
colchonete debaixo do braço.
— Você poderia vir comigo — ela oferece, parando na porta. —
Fazer um pouco de cão de cabeça pra baixo.
Ele ri.
— Acho que não me curvo assim.
Ela dá um sorrisinho sedutor.
— Não é disso que me lembro.
Seu pau flexiona; o desejo de arrastar Tessie de volta para a
cama tem dentes reais.
— É o seguinte. Hoje à noite, você escolhe o que faremos. O que
você quiser.
— Eu escolhi ontem à noite.
— Sim, mas a noite passada foi uma merda. Sua escolha
novamente.
Sempre a sua escolha.
Ela estreita os olhos em suspeita.
— Mesmo? Qualquer coisa?
— Qualquer coisa.
Seu lindo rosto se ilumina, Tessie dá a ele um sorriso perverso.
— Você vai arrasar na hidroginástica. — Ela agita os dedos. —
Vejo você mais tarde, Homem Solene.
Homem Solene.
Seu coração dispara quando ela desaparece porta afora.
Jesus, ele tem que colocar a cabeça no lugar.
Ligar para Howler e Evelyn.
Então ele vai passar o dia com Tessie.
E ele vai contar tudo a ela.

O estúdio de ioga fica do outro lado do resort. Uma sala espaçosa


iluminada pela luz do sol com janelas do chão ao teto de um lado e
espelhos do outro. A instrutora, uma mulher com um corte pixie
amarelo elétrico, usa um fone de ouvido e conduz gentilmente os
alunos para seus espaços.
Quando ela avista Tessie, a instrutora bate palmas de alegria.
— Oh, temos outra mamãezinha na sala.
Um coro de oohs e ahhs faz Tessie lutar contra o desejo de
revirar os olhos.
— Eu sou Devon — diz a instrutora, fazendo uma espécie de
reverência. Pulseiras coloridas brilham em seu braço.
— Tessie.
— Tessie. Lindo. Você já fez ioga antes?
Ela sorri, ajustando o colchonete debaixo do braço.
— Eu fiz, mas não durante a gravidez.
— Perfeito. — Devon gesticula para a primeira fila. — Por favor,
sente-se. Vou oferecer modificações pré-natais para cada movimento
para você, mamãe. Então ignore o que todo mundo está fazendo e
apenas preste atenção em mim.
Ao estender o colchonete, Tessie lamenta a decisão de exercitar
o corpo. Suar pra caramba é a última coisa que ela quer fazer hoje.
Mas as palavras de Ash continuam incitando-a. Ela precisa aproveitar
essas férias ao máximo. Quando tudo o que ela realmente quer fazer
é ficar com Solomon na praia.
— Tudo bem, estamos prontos para começar? — A voz de Devon
crepita nos alto-falantes. Uma onda de flautas e coros de pássaros
enche a sala. Ela acena para Tessie. — Você deixa seu corpo fazer o
que ele precisa fazer.
Uma mulher enfeitada com Lululemon10 coloca seu tapete ao
lado de Tessie.
— Quando o seu vai nascer?
— Não estou grávida.
A mulher empalidece, gagueja um pedido de desculpas.
Tessie mantém o rosto tranquilo, mas por dentro ela está
sorrindo. Depois da noite passada, ela planeja adotar a estratégia de
Solomon de não aceitar nenhuma merda.
Que é o que ela precisa dar a si mesma. Uma conversa sem
rodeios.
A noite passada foi uma limpeza das nuvens em sua cabeça. Em
seu coração.
A noite passada abriu todos os sentimentos que ela mantinha
reprimidos.
A maneira como Solomon veio atrás dela, defendeu-a… ainda
está curvando os dedos dos pés.
Ontem à noite, ele mostrou a ela quem ele realmente era. Um
bom homem. Quem não a faz se sentir tão sozinha. Quem sempre
protegeria ela e Bear. Que não foge.
É por isso que o pensamento de ele partir em apenas alguns dias
a deixa enlouquecida. Ela pode fazer esse negócio de bebê sem ele,
mas não quer. Parece tão certo com ele. Eles são bons juntos. Bom
pra caramba. Ela pode lê-lo. Claro, eles estão apenas se
conhecendo, mas e se houver mais lá?
Ela costumava pensar que a única coisa que ela e Solomon
compartilhavam era Bear.
Mas e um coração?
A voz melódica de Devon varre os pensamentos de Tessie.
— Seu corpo, seu útero, está pesado agora. Nós vamos alinhá-
los. Mantenha uma linha reta enquanto estendemos. Limpe suas
mentes. Nenhum poder cerebral nos empregos, nos maridos, nos
bebês. Somos apenas nós e o momento. Palmas para o céu. —
Devon olha para ela. — Mamãe, siga-me e eu me ajustarei.
Assentindo, Tessie sai de seu torpor. Ela tenta se concentrar,
passando pelos movimentos lânguidos, observando Devon inalar e
exalar.
Tessie mergulha em uma versão de vaca-gato para grávidas,
aproveitando o alongamento. Sua mente vagueia.
Solomon.
A noite passada mostrou a ela que eles poderiam fazer isso. Eles
poderiam tentar.
Inferno, ela quer tentar.
O universo está gritando para ela tentar desde que a colocou
nessa confusão no bar Orelha do Urso.
Isso vai contra todos os ossos de seu corpo tipo A. Aproximar-se
de Solomon significa abrir-se para se machucar, significa que ele
pode ir embora a qualquer momento. Ela deveria deixar os dois
voltarem para suas respectivas vidas. Los Angeles. Chinook. Apegar-
se significa apenas desgosto.
Mas é tarde demais, não é? Durante toda a semana, ela assumiu
riscos.
Ela está pronta para levar outro com o seu coração?
Nenhum homem com quem ela esteve pode se comparar a
Solomon. Ele é mais áspero do que suave, como ninguém que ela
jamais imaginou ter. Todos aqueles idiotas de Los Angeles – ela os
deixava entrar, depois escapava, saindo antes que pudesse se
apegar. E ela ainda estava fazendo isso com Solomon. Até que ele a
questionou esta manhã. Ela gostou disso. Ser colocada em seu lugar
por um homem da montanha de fala severa é quente como o
inferno.
Ela está se apaixonando, ela está dentro, mas e ele? Por que ele
iria querer ela? Sua vida é uma bagunça quente. Ela está
desempregada. Mora em Los Angeles. Ela fica neurótica pra caramba
quando ele está tão relaxado quanto uma cadeira de balanço.
O que eles fariam?
Como eles fariam suas vidas diferentes se encaixarem no mesmo
futuro?
Mas, em vez de fugir dessas perguntas, ela quer descobrir.
Descobrir eles.
Porque ela gosta dele. Tanto. Ela gosta de suas calças de flanela
e sua barba e suas mãos enormes e sua atitude rabugenta de ódio
do mundo.
Oh, Deus. Ela está desesperada.
Ela está no fundo do poço.
Tessie suga o ar, bufando forte enquanto se apoia como um
cachorro virado para baixo modificado. Lululemon está grunhindo ao
lado dela, ruídos que deveriam ser proibidos em todos os espaços
públicos.
Devon tagarela, seu rosto arrebatador.
— Seu corpo é um anjo. Cantando seus louvores. Exaltando uma
virtude sem a qual você não pode viver…
Enquanto Tessie se levanta, ela olha para o relógio na parede.
Nesse momento, ela determina: exercício, ruim; Solomon, bom. Ela
anseia por chegar ao fundo da conversa prometida. O que Solomon
quis dizer quando disse que ela não pode ir embora. Ela queria ficar
e ouvir porque algo em seu olhar era triste. Sério.
Mais tarde, hoje, ela vai perguntar a ele o que eles são.
Jogue a cautela ao vento, use seu coração ardente na manga e
pergunte.
O que somos nós, Solomon?
Porque ela achava que sabia.
Mas agora...
É rápido; ela sabe que é. Apaixonar-se por um homem depois de
sete dias é caótico. Ela é como um animal. Talvez ela esteja
entrando em sua era de vilã, ou sejam os hormônios, mas ela tem
certeza de que é amor. Ela gostou dele naquela noite sob as estrelas
do Tennessee. Ela o manteve em seu coração e em seu cérebro nos
últimos seis meses, junto com sua camisa de flanela vermelha. E ela
o ama agora. Não há ninguém que queira mais do que Solomon
Wilder.
Tessie cai na prancha modificada, fazendo algumas séries de
flexões que a fazem amaldiçoar sua força patética na parte superior
do corpo. Como ninguém mais está suando? A linha do cabelo, o
peito, a barriga estão todos úmidos.
Uma vez que ela está de pé, ela traz as mãos para a posição de
oração e respira durante o movimento. Calma. Ela está calma,
inalando respirações curtas e superficiais. Um sorriso toca seus
lábios quando a imagem de Solomon surge em sua mente. Seu
homem grande e barbudo fazendo uma palma de oração a faz rir.
— Lembre-se, mamãe — Devon crepita pelo fone de ouvido; ela
está franzindo a testa —, você está respirando fundo. Não raso. Você
precisa expirar pelo nariz ou pela boca. Não segure isso.
Tessie abre um olho, sentindo-se exausta. O suor escorre por sua
testa.
— Espere, o que? — ela bufa antes de uma onda de tontura
tomar conta dela.
— Tessie? Mamãe, você está bem? — As palavras são distorcidas,
mingau de aveia em seus ouvidos. Manchas pretas dançam pela
sala.
— Eu estou… — Seu batimento cardíaco acelera, e ela balança
em seus pés.
Tessie tenta dizer alguma coisa, tenta se manter imóvel, mas a
cabeça dispara. Seus olhos reviram, suas pernas dobram, e então...
desmaia.

10. Loja varejista multinacional canadense-americana de roupas esportivas.


Capítulo vinte e um

Solomon se senta em um banquinho no bar da cabana ao ar livre,


pronto para contar a hora até que Tessie termine sua aula de ioga.
Ele pede uma cerveja, porque são cinco horas em algum lugar, e
observa o barman fazer os preparativos para o dia. Um músico toca
tambores de aço, o som brilhante envolvendo a praia nas vibrações
da ilha.
Enquanto ele toma seu primeiro gole de cerveja, a porta da
cozinha se abre e o chef põe a cabeça para fora. O barman se vira,
com um sorriso no rosto, e os dois homens começam uma conversa
fiada. É uma visão familiar, que deixa Solomon com um nó de
arrependimento no estômago.
É ele e Howler. Anos atrás, em seu bar. Um sonho que
construíram; um sonho que ele desistiu depois que Serena morreu.
Mas agora, com seu filho na foto, ele quer tudo de volta. A
camaradagem. A cozinha dele. Planejamento de cardápios. Escolher
produtos locais do mercado do fazendeiro. Criando pratos que ele
possa compartilhar com sua cidade, seus amigos, sua família.
Ele quer voltar ao trabalho. Ele quer um propósito, aquele fogo
em suas entranhas novamente. Ele quer seu sonho de volta.
Por que? Tessie. A maneira como ela olha para ele – ela o faz
querer ser um homem melhor.
Ela desestruturou seu mundo, e ele gosta disso.
Deus, ele anseia por isso.
Anseia por ela. Ele é obcecado por ela. Não consegue tirar a
garota da cabeça. A suave protuberância de sua barriga sob os
lençóis. A suavidade terrena de seus olhos castanhos escuros. Os
longos cabelos loiros caindo sobre o peito. Ela está assumindo cada
maldita parte dele. Ele iria para a guerra por esta mulher. Porque ele
a quer. Quer tê-la em sua cama todas as noites, quer preparar sua
refeição favorita, mostrar Chinook a ela. Quer construir um berço
para Bear com as próprias mãos. Ser um ótimo pai, mas além disso,
sempre, Tessie.
Se ela o quer é outra questão.
Inferno, pelo que ele sabe, ele é apenas um cara que a deixa
mole e satisfeita no final da noite.
Sem falar que ela é sofisticada, linda pra caramba. O champanhe
para sua lata de cerveja. Ela poderia se casar com um arquiteto. Não
um chef que mora no Alasca. Ela está indo a lugares e ele está preso
em Chinook.
Tudo o que ele pode oferecer a ela é um bar quebrado. Uma
montanha. Um cão de caça que peida enquanto dorme. Mas ele
quer. Porra, ele quer tentar. Ele ama esta mulher, e a ideia de deixá-
la daqui dois dias? É um soco no peito.
O que significa que ele tem que sentar e conversar com ela. Há
tanto ainda não dito. Sua tendência de não mostrar suas emoções,
de ficar calado, é o que o mordeu na bunda com Serena. Ele precisa
se comunicar melhor. Como ontem à noite.
Ele deveria ter dito a Tessie como se sente, não apenas sobre
Bear, mas sobre ela. Que ele ama ela. Quer mais do que a memória
do México – quer um futuro com ela.
Antes que seus pensamentos possam fugir com ele, Solomon é
puxado para a conversa acontecendo entre o barman e o chef. O
pozole11 é tão salgado que não é comestível.
Apoiando-se nos cotovelos, ele diz:
— Adicione batatas — Quando eles não dizem nada, suas
expressões confusas, ele pigarreia. — Elas vão absorver o sal.
O chef acena com a cabeça, um sorriso surgindo em seu rosto.
— Gracias, señor. — Com isso, ele entra na cozinha, uma
enxurrada de espanhol ecoando quando a porta se fecha.
Atingido por uma onda de determinação, Solomon pega seu
telefone.
Howler atende no décimo toque. Preguiçoso da porra.
— Quero voltar ao bar.
— O que? Porra, cara.
A voz de uma mulher, um farfalhar de cobertores, um latido de
Peggy e então uma porta se fecha.
— Não me provoque.
— Eu não estou — ele resmunga, observando o tique-taque do
relógio atrás do bar. Ele já está irritado consigo mesmo por verificar
mais do que deveria, sabendo que logo Tessie terminará sua aula de
ioga e estará de volta em seus braços.
Uma vaia triunfante.
— Caramba! Quando você estava pensando?
— Quando eu voltar para Chinook.
— Quando você volta?
Seu peito aperta.
— Em dois dias.
— Cara, isso é perfeito pra caralho. Você voltando. Vamos colocar
o bar de volta em forma, então…
— O que aconteceu com o bar?
A expiração de Howler é longa e dolorosa.
— Eu e Jimmy tentamos consertar uma parede de gesso.
Digamos que terminamos com mais alguns buracos do que quando
começamos.
Solomon franze a testa.
— Cristo. Eu deixo você sozinho–
— Por sete malditos anos.
Ele se encolhe.
Embora a voz de Howler seja tranquila, ela também é misturada
com uma forte tristeza. Solomon não apenas se distanciou de sua
família quando Serena morreu, mas também excluiu Howler. Seu
melhor amigo desde stickball e caixas de areia. Leal como o inferno,
Howler permaneceu por perto, não importa o quão merda Solomon
fosse com ele, mas seu amigo ainda carrega a dor do rescaldo da
morte de Serena.
Ele dá um grunhido de desculpas.
— Eu sei.
— Bem, você está voltando. Por fim.
— E se eu trouxesse Tessie? — A pergunta sai de sua língua.
Parece certo.
Uma batida de silêncio se passa. Então um suspiro.
— Cara, não tenho certeza. Se é isso que você acha que tem que
fazer...
Sua mandíbula se flexiona.
— Eu acho.
— Você não vai se casar com ela, vai? — A voz de Howler é
duvidosa. — Só porque você a engravidou.
— Não.
Sim.
Porra.
Apenas o pensamento fez suas costelas apertarem, seu coração
fazendo a dança rápida da palpitação.
Casar com Tess. Droga. Esse pensamento. Aquelas palavras.
Essa porra de mulher que o despedaça por dentro o faz querer
fazer votos, promessas, declarações que não fazia há anos.
Por que ele não se casaria com ela?
Ele seria louco se não o fizesse.
Não porque seja mais fácil assim. Não porque ele a engravidou.
Mas porque com Tessie, ele não é mais sonâmbulo.
Ele está apaixonado por esta mulher que explodiu toda a porra
do seu mundo. Que queimou cada parte de sua alma quebrada. Que
está prestes a dar a ele um filho, dar a ele uma vida que ele nunca
soube que queria.
Tessie – todas as estrelas do universo apontam para ela.
— Sol? — Howler assobia. — Você ainda está aí?
Ele engole o nó na garganta.
— Sim — ele engasga. — Ainda aqui.
— Volte para casa — diz seu melhor amigo, alegria genuína em
seu tom. — Sua cozinha está esperando.
Solomon encerra a ligação. Seu coração bate forte no peito.
Parece que ele está rolando a pedra da entrada de uma caverna
escura. Deixando a luz do sol brilhar. E essa luz do sol, esse raio
dourado de bondade, é Tessie. Sua Tessie.
Está de volta aos negócios, de volta a Chinook. Até este
momento, ele não tinha percebido o quanto ele realmente sentia
falta disso.
Sua maldita vida.
Com um sorriso tranquilo tomando conta de seu rosto, Solomon
inspeciona sua cerveja, esvazia o copo e depois esfrega as palmas
das mãos suadas nas coxas da calça jeans. Cristo, ele está nervoso,
e ele não fica nervoso, mas esta mulher tem uma coleira em seu
coração. E ele quer mantê-lo assim.
Para sempre.
Em sua periferia, há um flash de terracota e branco. O uniforme
de assinatura da equipe do resort. Um homem baixo e careca se
aproxima e oferece um sorriso tímido.
— Desculpe-me, Sr. Wilder?
Ele gira em seu banquinho para enfrentar o homem.
— Sinto muito incomodá-lo, mas tivemos um incidente na
academia com sua esposa.
— Que tipo de incidente? — ele exige, nem mesmo se
preocupando em corrigir o homem. Ele é dois por dois aqui, e é
assim que ele está se mantendo.
— Durante a aula de ioga, ela...ela desmaiou, señor.
As palavras empurram Solomon para fora da banqueta.
— Onde ela está?
O homem recua.
— Ela ainda está lá, senhor.
O pânico torce em sua garganta como uma faca. Ele sente que
não consegue respirar.
— Me leve até lá — ele finalmente consegue responder. — Agora.
Cinco minutos depois, Solomon está subindo os degraus da
academia. Seu pulso instável em seus ouvidos. A culpa é um registro
repetido em sua cabeça: ele deveria ter ido com ela. Ele deveria ter
ido com ela.
No segundo em que ele entra no estúdio, seu quadro trava. Um
círculo de mulheres vestidas com calças de ioga paira, com os
braços cruzados, sussurros suaves flutuando entre eles.
— Ah, coitadinha. Ela simplesmente caiu.
Uma mulher com cabelo amarelo neon balança a cabeça.
— Eu disse a ela: longas respirações. — Ela vira os olhos tristes
para Solomon. — Ela respirou fundo e rápido.
— O que? — As palavras são incompreensíveis para ele. O tempo
para enquanto ele examina a sala. Nenhum sinal de Tessie. Ele
precisa vê-la; ele precisa dela como o ar, e cada segundo que ele
está longe dela é como parte de sua vida passando.
— Onde ela está? — ele troveja, e quando há silêncio, ele dá um
passo à frente. — Onde diabos ela está?
Uma mulher vestindo leggings laranja-claro suspira. Ele abaixa a
voz, tentando não agir como um maldito lunático, mas seu coração é
um cavalo de corrida fora do portão. Desesperado para chegar até
Tess. Para encontrá-la. Para ter certeza de que ela está bem.
— Diga-me onde ela está. Por favor. Agora.
Um homem com uniforme de funcionário emerge do círculo.
— Nós a movemos.
— Onde? — Suas mãos se fecham em punhos. O pensamento de
algum Zé Ninguém manuseando uma Tessie grávida e inconsciente
faz seu sangue ferver.
— Aqui atrás — diz o homem, levando-o para trás de uma
cortina.
O coração de Solomon sai de seu peito, mergulhando em seu
estômago.
Tessie.
Ela está deitada no chão, um travesseiro sob sua cabeça loira.
Seus olhos estão fechados, seu rosto pálido, sua regata de ioga
subiu para expor a lua suave de sua barriga. Um segundo pequeno
círculo de mulheres envolve Tessie, murmurando sua preocupação,
pressionando um pano frio contra sua testa. Mas para Solomon, eles
mal se registram. Toda a sua preocupação, todo o seu foco está na
mulher inconsciente à sua frente.
— Saiam daqui. Agora — ele diz, abrindo caminho através da
multidão. — Afastem-se dela. Dê a ela um pouco de ar.
Ele cai de joelhos ao lado dela, passando os dedos sobre o
cabelo dourado preso em sua bochecha pálida, então olha para o
atendente pairando.
— Precisamos de um médico. Agora mesmo. — Ele não
reconhece sua voz. Está rouca. Arruinada.
Ele acena.
— Sim, señor. Ele está a caminho.
Voltando-se para Tessie, ele pousa a mão grande na barriga dura
dela. Deus, ele está morrendo. Morrendo, e ele não vai se recuperar
até ver o castanho de seus lindos olhos. Ela parece tão vulnerável,
tão imóvel que o assusta pra caralho. Ele fecha os olhos, raiva e
desamparo revirando suas entranhas.
Muito perto.
Assim como Serena quando ele a encontrou na beira da estrada.
Tão sem vida, tão frio.
O bebê. Tess.
Ele não estava aqui. Ele não estava aqui para protegê-los.
O pensamento é suficiente para acabar com um homem.
Gentilmente, ele segura o rosto dela e a cabeça dela cai na
palma da mão.
— Amor, acorde.
Ao seu toque, sua voz, ela se mexe. Seus cílios grossos
tremulam, um pequeno gemido escapando de seus lábios
entreabertos, e Solomon quase desmorona ali mesmo.
Obrigado, Senhor. Graças a Deus.
— Tessie, minha Tessie — ele murmura, abaixando a cabeça para
dar um beijo em sua testa. Seu coração parece estar em sua última
batida. — Acorde, Tess. Amor, volte. Volte para mim.

Tessie.
Minha Tessie.
Sussurros halo em torno de sua cabeça. Mãos fortes seguram
seu rosto. Os polegares calosos varrem suas bochechas. Uma voz
desesperada e abatida que diz:
— Acorde, Tess. Amor, volte. Volte para mim.
E ela volta.
Suas pálpebras se abrem. O rosto preocupado de Solomon, seus
olhos azuis escuros a encaram.
— Graças a Deus — ele murmura. Ele acaricia o polegar sobre
sua bochecha.
— Oi — ela sussurra, ainda em um estado de sonho.
Sua expiração é irregular.
— Oi.
Ela pisca as pálpebras pesadas.
— Eu respirei fundo.
— Sim — diz ele. Seu rosto está enrugado com alívio e outra
coisa que ela não consegue identificar.
Ele acaricia o cabelo dela e ela resiste à vontade de ronronar
como um gatinho. Seus dedos grandes contra a pele dela são frios.
Seu toque estável e firme, como uma âncora puxando-a de volta ao
presente.
— Sim, você fez isso.
Ela semicerra os olhos para ele, para a linha dura de sua
mandíbula, a intensidade de seus profundos olhos azuis. Ela nunca
viu o rosto dele assim.
— Você parece...estranho. — Ela tenta estender a mão, tocar
aquele sorriso ou carranca em seus lábios, sua barba escura. Mas,
em vez disso, ele captura a mão dela e a segura perto de seu
coração acelerado.
— Não sou eu que estou deitado no chão agora.
Ela sorri.
— Okay.
— Como você está se sentindo?
Ela pensa sobre isso e, em seguida, suspira quando tudo volta à
tona.
— Ai meu Deus. Bear.
— Calma — Solomon ordena enquanto ela se esforça para se
sentar. Rapidamente, ele coloca um braço protetor em volta da
cintura dela para mantê-la firme. Olhando para baixo, ela agarra a
barriga, doendo para sentir aquela pequena contorção por dentro.
Imediatamente, lágrimas quentes enchem seus olhos. Um medo,
afiado e espinhoso, cutuca ela.
Ela se segurou antes de cair, rolou para não bater na barriga,
mas e se for pior? E se não fosse a respiração dela? E se algo estiver
errado?
Ela agarra a camisa dele, agarra-se a ele.
— Solomon, temos que ter certeza de que o bebê está bem.
Ele empalidece. O medo dela ecoou em seus próprios olhos.
— Onde está aquele maldito médico? — seu homem da
montanha rosna, virando a cabeça em uma direção, depois na outra.
Quando ele vê o atendente, seu olhar se estreita. — Precisamos de
atenção médica imediatamente. Minha… — uma batida, Solomon
engole, então — Minha Tessie precisa de um médico.
Apesar da gravidade da situação, ela não consegue conter o
pequeno sorriso que surge em seus lábios.
— Minha Tessie?
Ele franze a testa, passa a mão pelo cabelo.
— Ok, essa mulher frustrante que me matou de susto precisa de
ajuda. Que tal?
O homem acima deles acena com a cabeça.
— Desculpe a demora, señor. Ele deve chegar a qualquer
momento.
Solomon pragueja, pálido e impassível, e a aperta mais contra
seu peito.
— Solomon — Tessie sussurra, agarrando seu braço. Um
pensamento repentino veio a ela. — Se formos para o quarto,
podemos usar o doppler.
Com suas palavras, ele já está de pé e se movendo.
— Mande o médico para o nosso quarto — ele ordena. — Vou
levá-la de volta para descansar.
Então Tessie está sendo erguida, apanhada nos braços fortes de
Solomon. O mundo se move ao seu redor tão rápido que ela mal
tem tempo de entender o que está acontecendo. Ela olha para o
rosto severo dele, seu maxilar quadrado e forte, enquanto ele passa
por um bando de mulheres sussurrantes, sai do estúdio e entra no
ar fresco e na luz do sol, e Tessie sente que está caindo.
Ela morde o lábio, passando um braço em volta do pescoço dele,
estudando-o através de cílios escuros. Ela cobiça o olhar sério de
Solomon como uma carta de amor.
— Você está me carregando de novo.
Ele resmunga, sua voz áspera manchada com uma ternura que
ela nunca ouviu de um homem.
— Eu sempre vou carregar você, Tessie — ele diz, dando um
beijo no alto da cabeça dela.
— Oh — ela sussurra.
Solomon pode muito bem estar carregando uma bagunça de
mulher derretida, porque ela é praticamente uma poça em seus
braços. Ela não tem o direito de se sentir cuidada, mas se sente.
Este homem está fazendo coisas com ela que ninguém fez. Suas
emoções acesas e conectadas.
Com um suspiro suave, ela abaixa a cabeça contra o peito largo
dele. Segura. Ela se sente segura. Ela quer Solomon Wilder sempre
perto dela.
Uma vez dentro do quarto, ele a coloca na cama com cuidado.
Sustenta-a com almofadas.
Sem palavras, Solomon traz o doppler para ela e se joga no
colchão ao lado dela. Tessie se reclina e abaixa o cós da calça de
ioga para mostrar a protuberância da barriga.
— É minha culpa — Tessie sussurra, seus olhos marejados
enquanto ela configura a máquina. — Esqueci minha água. Eu não
estava respirando direito…
Deus. Ela já está fodendo tudo, e Bear ainda nem saiu da
barriga.
— Não — diz Solomon, sua voz áspera. — Não faça isso.
Com as mãos trêmulas, ela passa a varinha sobre a lua de sua
barriga. Ela espera, a respiração, o coração parado. Então um som
como o de cem cavalos galopando enche a sala. Um som com o qual
ela está familiarizada. Forte. Estável.
Bear.
O ar sai de seus pulmões. Ela se recosta no travesseiro aliviada
enquanto Solomon olha para ela.
— Esse é o batimento cardíaco dele. — Tessie fecha os olhos
marejados. O pânico lentamente sai de suas veias e uma respiração
vacilante escapa dela. — Ele está bem.
— Graças a Deus. — O tom desesperado na voz de Solomon fez
seu coração bater forte no peito. Reverentemente, ele coloca a mão
em sua barriga e cola seus olhos preocupados em seu rosto. —
Agora vamos nos certificar de que você está.
Ela luta contra um sorriso.
— Parece que você está se preocupando, Homem Solene.
Ele dá uma olhada para ela.
— Parece que estou. — Entregando a ela uma garrafa de água,
ele observa enquanto ela bebe, depois vai buscar uma toalha fria.
Ele está colocando sobre a testa dela quando há uma batida na
porta.
— Já estava na hora. — Mandíbula apertada, ele caminha pela
suíte.
Segundos depois, um homem sorridente de pele morena
profunda e cabelos brancos entra na sala.
— Senhora Truelove, eu sou o Dr. Rodrigo. Sou o médico da
equipe local. — Ele toma seu lugar ao lado dela enquanto Solomon
fica com os braços cruzados na cabeceira da cama como um guarda-
costas super protetor. — Eu soube que você desmaiou.
— Sim — Ela apalpa a barriga. — Eu estava tendo respirações
curtas ao invés de longas, e esqueci minha água, e então eu… — Ela
fecha a boca, parando sua divagação idiota e exala. — Eu só quero
ter certeza de que meu bebê está bem.
— Tenho certeza que ele está. A respiração superficial pode
deixá-la tonta, especialmente durante a gravidez. — O médico abre
sua bolsa e sorri. — Mas vamos verificar você, apenas por
precaução.
Enquanto o Dr. Rodrigo se acomoda em sua rotina de exames,
tomando seus sinais vitais e fazendo perguntas gerais sobre sua
gravidez, Tessie observa Solomon divertida. Ele anda pela sala como
um animal enjaulado preocupado.
É só quando o médico fecha a bolsa que Solomon para.
— Eles estão bem, certo? — ele pergunta, seu corpo um tijolo,
suas mãos fechadas em seus lados.
O médico ri.
— Eles estão bem. — Para Tessie, ele diz: — Não há nada para
se preocupar em relação ao seu bebê. Parece que você se esforçou
demais. — Ele lhe dá um olhar de reprovação. — Férias são para
relaxar, não para se exercitar.
Ela ri.
— Eu sei disso agora. Muito obrigada.
Ele sorri e se levanta. Olha para Solomon.
— Certifique-se de que sua esposa receba bastante água e
descanse.
Solomon acena com a cabeça e estende a mão.
— Eu vou. Obrigado.
O médico vai até a porta e a fecha atrás de si.
Tessie encara Solomon.
Ele se vira, pega o olhar dela.
— O que?
Ela lambe os lábios.
— Você não disse a ele.
— Disse a ele o quê? — Ele se move para o lado da cama.
— Que não estamos juntos.
Ele limpa a garganta. Seus olhos azuis penetrantes queimam os
dela.
— Eu não queria.
— Oh.
A admissão contundente a pega desprevenida. Tem vontade de
desmaiar de novo, só que desta vez, da melhor maneira.
— Tessie?
— Eu só… — Ela toca a têmpora com a mão, esperando
recuperar algum tipo de controle de seu coração martelando. — Me
senti tonta de novo.
Sentado ao lado dela, ele a encara com um olhar sério e diz:
— Descanse. Agora.
Exalando pesadamente, ela arqueia uma sobrancelha.
— Ordens do médico.
— Minhas ordens — ele rosna.
Ela estremece com seu tom autoritário. Aquele que diz a ela que
vai cuidar dela e mais um pouco.
Sem palavras, ele a ajuda a se trocar. Depois de remover suas
roupas apertadas, ele desliza uma camiseta gasta sobre sua cabeça.
Ela sente o cheiro da cerveja em seu hálito, o cheiro dela em sua
barba. Ao se acomodar nos travesseiros, ela é atingida pela
exaustão e pelo alívio. Descendo da adrenalina, ela passa a mão
cansada no rosto, depois na barriga, sentindo o chute reconfortante
de Bear.
Solomon coloca a mão na testa dela, e ela se inclina em seu
toque frio e reconfortante, fechando os olhos. E ela sente isso, a
mão enorme dele se abrindo como uma flor para segurar sua
bochecha na palma da mão.
Quando ela abre os olhos, ele ainda está olhando para ela. Ainda
franzindo a testa.
— O que está errado? — ela pergunta.
Sua garganta funciona, então ele finalmente força as palavras
para fora.
— Eu estava com medo, Tessie.
Ela pisca.
— Você estava? — Ela não consegue imaginar nada assustando o
cara. Bem, talvez uma escassez na cadeia de suprimentos de
camisas de flanela. Mas não ela. Não é o alvo de sua carranca diária.
Com o dedo indicador, ele traça uma linha em sua bochecha.
— Eu estava.
Confusa, ela inclina a cabeça. Ela nunca viu o rosto dele assim.
— O bebê está bem. Eu estou bem.
— Eu deveria ter ido com você hoje — diz ele, com uma pontada
em sua voz.
Ela se apoia nos cotovelos.
— Solomon, você não gosta de ioga. Está tudo bem.
Ele olha para a janela, sua expressão distante, um músculo
contraindo em sua mandíbula.
— Não está bem.
— Sim, estátudo bem e não é sua culpa.
Ele esfrega o rosto e acena com a cabeça.
— Parece que é.
A conversa desta manhã amanhece, ela coloca a mão em seu
braço.
— Isso é sobre Serena?
Ele baixa o olhar para onde ela o está tocando, com uma
expressão de dor. Quando ele finalmente olha para ela, ele pega a
mão dela e engole.
— Quero contar como minha esposa morreu. Para que você
saiba.
Nisso, Tessie ouve suas palavras não ditas. Então você entende
porque eu sou assim.
— Tem certeza?
— Sim. É hora de eu te contar.
— Então eu quero saber — diz ela, apertando a mão dele.
Ela avança na cama, mais perto de Solomon. No fundo de sua
alma, ela sabe que não é algo sobre o qual ele fala. Ela quer que ele
saiba que pode se abrir com ela.
— Serena e eu nos casamos jovens. Eu te disse isso — ele diz
asperamente.
Ela acena com a cabeça.
— Vivemos em Chinook toda a nossa vida. Eu tinha o bar e ela
era guarda florestal. Trabalhávamos longas horas, turnos estranhos.
Por alguns meses, ela esteve distante, mais quieta do que o normal.
— Ele passa o polegar pelos nós dos dedos de Tessie, olha para a
janela novamente.
— Na noite em que ela morreu, nós brigamos. E Serena e eu não
brigávamos. Nosso casamento era... bom. Talvez nem sempre
perfeito, mas…
— O que é.
Ele se vira para ela, sua voz áspera.
— Certo. O que é. — Solomon passa a mão pela barba escura,
em silêncio por um longo momento. — Ela tinha esses grandes
planos para ver o mundo, e para mim era isso que eles eram.
Apenas planos. Mas naquela noite, ela levantou a possibilidade de se
mudar. Ela queria deixar Chinook. Ela estava entediada, queria viajar
e quem poderia culpá-la? Mas eu tinha meu bar, minha família. Eu
não podia sair. Eu não faria isso. — Ele engole em seco. — Ela me
disse que eu era egoísta. Eu disse a ela que se eu fosse tão egoísta,
então ela poderia ir sozinha. — Ele se encolhe. — E ela fez. Ela saiu.
Ela estava chateada comigo, e inferno, eu estava chateado com ela.
Tessie fica sentada em silêncio, ouvindo, deixando o homem à
sua frente tomar seu tempo para processar suas emoções.
— Eu não fui atrás dela. — Ele levanta os olhos assombrados
para os dela. — Ela era teimosa. Nós dois éramos. Parecia que ela
havia jogado uma bomba em mim. Sentei-me naquela maldita casa
e cozinhei. Mas então uma hora se passou. Estava muito escuro,
muito frio, e ela estava sem casaco. Então fui procurá-la.
Tessie prende a respiração, esperando.
— Eu a encontrei — diz ele, cerrando o punho. — Na beira da
estrada. Um carro a atingiu durante sua caminhada.
Tessie cobre a boca.
— Oh meu Deus.
— Eles partiram. Os filhos da puta foram embora e a deixaram lá.
— Uma onda de fúria percorre seu corpo, endurecendo sua postura.
— Eu a levei para o hospital, mas era tarde demais. — Sua garganta
trabalha as palavras. — Ela se foi.
Não parece o suficiente, mas ainda assim, ela diz.
— Sinto muito, Solomon.
Um músculo se flexiona em sua mandíbula. Sua voz era de dura
repreensão dirigida a si mesmo.
— Eu a deixei ir embora. Eu a deixei sair e ela se machucou.
Naquele momento, Tessie entendeu Solomon melhor do que
nunca. Sua natureza protetora. Sua cabana isolada na floresta. Por
que ele pediu a ela para não fugir, ou pelo menos dizer a ele para
onde ela está indo. O pânico em sua voz enquanto ele a perseguia
pela praia. Sua preocupação com ela hoje. Era muito parecido. Ela
era uma lembrança de sua esposa, uma lembrança de alguém se
afastando dele novamente.
— Não se culpe — Tessie diz, o olhar torturado no rosto de
Solomon queimando seu coração. — Por nada isso.
Ele abaixa o queixo barbudo.
— Não dei o melhor de mim para ela. Eu trabalhava demais. Eu
era um marido ruim.
Ela balança a cabeça, recusando-se a deixá-lo fazer isso consigo
mesmo.
— Você bateu nela? Você a traiu?
Ele levanta a cabeça, a dor brilhando em seus olhos.
— Não.
— Você a amou?
— Sim.
— Então isso soa como um bom marido para mim.
— Eu não estava lá quando ela precisou de mim. — Seus
grandes ombros caem. — Hoje... se você tivesse se machucado… —
Sua voz se torna irregular, carregada de emoção. — Me apavora
pensar em perder você.
Sua admissão faz seu coração bater como um peixe em terra.
— Eu? — ela respira.
Ele ri.
— Sim, você, Tess. — Ele coloca uma mecha de cabelo atrás da
orelha dela, seus dedos grandes roçando a linha de sua mandíbula.
— Nada é mais importante do que você e meu filho. Eu quero que
você ouça isso.
— Ok — ela sussurra. — Eu ouvi. Sinto muito por sua esposa,
Solomon. — Ela lhe dá um pequeno sorriso. — Pelo menos isso
explica seu rosto bonito e mal-humorado.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Bonito, você disse?
— E mal-humorado. — Ela sorri. — Mas principalmente triste.
— Inferno, eu não estou triste. — Seu olhar azul escuro pousa
em seu rosto. A mão enorme dele acaricia o estômago dela. — Eu
estive triste por tantos malditos anos. Mas aqui, com você, não
estou triste.
Suas palavras a deixam tonta.
— Então o que você está? — ela respira, fazendo o possível para
não prender a respiração depois do susto de hoje.
— Estou feliz, Tess. Vocême faz feliz.
— Eu faço?
— Você faz. — Com uma risada, ele a puxa para mais perto. —
Agora pare de me fazer perguntas, Mulher Grávida, e me beije.
Ele se inclina, selando seus lábios contra os dela.
Choramingando, ela agarra seus ombros largos com as unhas e se
segura. O beijo se aprofunda. As emoções aumentam entre eles.
Não paixão selvagem, mas algo mais suave. Solomon a beija como
se o ar dela fosse dele. Como se ele fosse um homem desesperado
que acabou de ser salvo.
Salvou. Ela o salvou.
Eles salvaram um ao outro.
Quando eles se afastam, eles estão sem fôlego. Tessie o observa
por baixo dos cílios escurecidos.
Muito. Muito mais a dizer.
— Solomon–
Ele embala o rosto dela em suas mãos grandes.
— Eu quero que você descanse.
Ela morde o lábio.
— Você vai descansar comigo? Eu não quero ficar… — ela
poderia mentir, ela poderia dizer sozinha, mas em vez disso ela diz o
que realmente está sentindo – sem você.
Por um segundo, ele fica quieto.
— Você nunca está sem mim — diz ele suavemente. — Você
nunca vai ficar sem mim.
O coração acelera.
Assentindo, ela pisca para conter as lágrimas enquanto Solomon
se acomoda atrás dela. Braços fortes se abraçam protetoramente ao
redor de sua barriga enquanto ele coloca seu pequeno corpo contra
seu grande corpo.
— Obrigada por me contar sobre Serena — ela sussurra.
Ele sorri contra a nuca dela, mas permanece em silêncio,
enterrando o rosto em seu cabelo. Então, lentamente, ele acaricia
seu estômago. Seu aperto quente a envolve, e parece uma
reivindicação.
O coração de Tessie bate forte. Ela não quer descanso.
Solomon.
Isso é o que ela quer.
11. O pozole é um tradicional prato da culinária do México, seus principais criadores
foram os Astecas, originado na era pré-colombiana. Consiste numa sopa ou guisado feito de
milho da variedade cacahuacintle nixtamalizado, com carne de porco ou galinha.
Capítulo vinte e dois

Olhos fixos em seu reflexo no espelho, Tessie ajusta o brinco em


sua orelha, alisando então uma mão pela frente de seu vestido maxi
multicolorido. Ela se parece com um nascer do sol – vibrantes tons
de rosa, roxo e laranja – e se sente mais tranquila do que em muito
tempo.
Foi um dia perfeito de preguiça na praia, com toda a água de
coco que ela podia beber e os lábios de Solomon nos dela enquanto
brincavam na areia e nas ondas. Nas últimas horas, ela ficou
confinada ao quarto, Solomon dizendo que tem uma surpresa para
ela.
Ainda assim, por mais perfeito que tenha sido, pairava um ar de
peso.
E não era apenas porque era a última noite deles.
A mente de Tessie continuava girando com a confissão de
Solomon. Ele já amou antes. Teve uma esposa. Passou por uma
perda que ninguém deveria passar. Ele se culpou por tantos anos
por algo que não foi culpa dele. Ela se sente honrada por ele ter
compartilhado isso com ela. Não deve ter sido fácil.
Sua honestidade, seu calor, sua vulnerabilidade. Isso a faz gostar
cada vez mais do homem que ele é.
Sua atenção vagueia. Além das janelas, as palmeiras balançam
na brisa. Uma brilhante sinfonia de vermelhos, rosas e laranjas
ilumina o céu da noite, como se estivesse determinado a dar a
Tessie o melhor pôr do sol de sua vida em sua última noite no
México.
Última noite.
Oh Deus. A ideia de se afastar de Solomon faz seu estômago se
revirar.
Com um riso sem humor, ela volta ao momento em que chegou.
Como tudo o que ela queria fazer era tirá-lo do México, e agora...
agora ela quer fazer de tudo para mantê-lo.
Ela tem que dizer a ele como se sente. Antes que seja tarde
demais. Mas dizer o quê? E quem pode dizer se ele também sente o
mesmo? Pelo que ela sabe, ele está pronto para voltar a Chinook, e
tudo o que ela será é uma lembrança distante.
Mesmo assim, ela tem que tentar. Ela nunca se perdoará se este
for um risco que ela deixar passar.
Ela acaricia a barriga crescendo. Ela cresceu, maior do que
quando chegou.
— Certo? — ela pergunta a Bear. — Temos que dizer ao seu
papai que o queremos. Os dois.
Uma batida rápida com os nós dos dedos, e então a porta se
abre. Solomon se destaca, seu grande corpo bloqueando a suíte
atrás dele.
Ela se aproxima dele, magnetizada, e então ele a tem em seus
braços. Passando uma mão pela barriga dela e depois para segurar
seu rosto.
— Você está linda, Tess — ele murmura, mas seu rosto está
franzido de preocupação.
— Está tudo bem? — ela pergunta.
— Está sim. Só espero que você não estivesse planejando sair,
porque vamos ficar aqui.
Ela arqueia uma sobrancelha, impressionada.
— Você planejou algo?
— Sim. Jantar.
— Eu não preciso de comida — ela provoca, se aproximando na
ponta dos pés para roçar os lábios nos dele. Ela poderia sobreviver
apenas com o beijo de Solomon.
— Bem, você vai ter mesmo assim — ele rosnou, segurando-a
firme contra ele. — Você precisa comer mais.
— Eu gosto de você, Homem Solene. Você sabe o caminho para
o coração de uma mulher grávida: comida.
Ele ri.
— Tess, querida, tenho um pão inteiro com o seu nome.
Então ele se vai, seus passos pesados ecoando pelas paredes.
Ela calça sandálias pretas, dando um descanso para seus pés, de
uma vez por todas. Parando mais uma vez no espelho, ela passa os
dedos por entre suas ondas douradas de praia. Adiciona um toque
de gloss rosa nos lábios e sai do quarto. Lá fora, ela segue os tênues
acordes de Johnny Cash que flutuam pela suíte.
Quando ela pisa na varanda, ela congela.
Sua boca se abre com a configuração que a espera. Uma mesa
arrumada para dois. Elegante, com toalha branca. Velas alinhadas na
varanda. Flores da cor do fogo florescem em um vaso. Espumante
não alcoólico para ela e uma garrafa de cerveja mexicana para
Solomon.
Falando em Solomon...
Ele está em pé em uma mesa menor, um avental preto amarrado
em sua cintura. Um fogão e uma travessa quente na frente dele.
Pequenas tigelas de comida já cortadas cobertas com plástico.
Pegadores, espátulas e facas polidas limpas e brilhantes.
Ela suspira e aplaude em deleite.
— Você vai cozinhar para mim.
Um músculo treme em sua mandíbula. Ele está segurando aquele
sorriso que ela raramente vê.
— Pensei que poderíamos refazer nosso primeiro jantar aqui.
Você sabe, sem as farpas irritadas.
— Sim. Eu adoraria. — Ela mal consegue falar. Os esforços que
ele deve ter feito para organizar isso a surpreendem. Absolutamente
a deixam sem fôlego.
— Aqui. — Indo até ela, Solomon pega sua mão. Ele puxa a
cadeira para ela e a ajuda a se sentar.
E então ele começa a trabalhar.
Diante dos olhos de Tessie, Solomon ganha vida. Ágil, habilidoso,
sério. Suas grandes mãos calejadas trabalham com destreza
enquanto ele corta um pão. Seus antebraços se flexionam, com
tatuagens coloridas se destacando enquanto ele mistura uma tigela
de molho. Uma panela sibila quando ele adiciona as duas metades
do pão.
Ele está em seu elemento. Concentrado. Intenso. Vivo.
Ele olha para cima.
— Você gosta de pimenta?
Ela cora com a pergunta.
— Sim. Muito.
— Não vai te dar azia?
— Não, não vai. — Ela sorri com a insistência dele em se
certificar de que está tudo bem para ela. — Estômago de aço, aqui.
O que você está fazendo? — ela pergunta, inclinando-se para frente.
É emocionante assistir a ele. Viciante.
Seus olhos brilham quando ele pega uma faca.
— Você vai ver.
Ela sorri, imaginando seu corpo robusto movendo-se
graciosamente na cozinha. Seu homem selvagem e solene, dando
ordens, criando beleza nos pratos. Sua testa está franzida de
concentração enquanto ele arruma um pouco de molho branco em
um padrão bonito.
O calor se enrola no estômago de Tessie, um pulso suave lá
embaixo, pois ela é atingida pelo desejo irresistível de beijá-lo.
Simplesmente empurrá-lo contra as portas de vidro deslizantes e
esquecer desse jantar maravilhoso, esquecer que ambos partirão
amanhã. Tudo o que ela quer é sentir as mãos dele em seu corpo.
Uma última vez.
Meu Deus. Eles realmente vão embora? Este pedaço de paraíso
está realmente acabando? Ela está sem fôlego, fraca, tonta com o
conhecimento de que logo eles se separarão.
O tilintar de um prato chama sua atenção.
— Tess. — Solomon acena enquanto coloca um prato na frente
dela.
O que ela vê faz seu coração bater loucamente no peito. Todos
os desejos que ela teve nesta gravidez estão ali no prato. A refeição
mais aleatória, estilo gourmet – mini hambúrgueres de frango com
molho picante, batatas fritas salgadas, pão e ricota, limões
caramelizados e vegetais estranhos e creme de abacaxi sobre
merengue – mas é dela.
Com o coração na garganta, Tessie examina o prato com
reverência. Solomon cria um prato como ela desenha uma casa.
Com propósito. Com amor. Solomon cozinhando para ela é mais
íntimo do que sexo. Ele está deixando ela entrar em seu mundo. Ele
está dizendo algo para ela.
Naquele instante, ela quer, mais do que tudo, que Solomon seja
o único a alimentá-la para sempre.
Ela pega o garfo, e quando percebe que ele ainda está parado,
ela balança a cabeça. Estendendo a mão, ela diz:
— Você tem que comer comigo. Você não pode ficar me olhando
como se eu fosse um animal de zoológico, senão vou te cobrar
ingresso.
Com um riso rouco, ele se senta em frente a ela, mas não toca
em sua comida. Solomon espera por ela, sua expressão oscilando
entre nervosismo e uma vontade que ela nunca tinha visto nele
antes.
Então ela pega o garfo e começa a comer. Primeiro, uma batata
frita. Os sabores salgados e de ervas explodem em sua boca.
Crocante, não oleoso. Depois, o pão. Limões caramelizados
espalhados com ricota em cima de um pão de grãos macio. A massa
fofa tem uma mastigação perfeita, uma doçura suave, e ela luta para
não devorá-la.
— Oh meu Deus, Solomon.
Ele está sorrindo, observando sua reação.
— Eu retiro o que disse. Você não pode me assistir comer. Isso é
constrangedor. — Ela ri. Levanta o garfo e examina uma cenoura
roxa regada com mel. A cor mais estranhamente bela que ela já viu.
Solomon levanta uma sobrancelha.
— De que cor é?
— O quê?
Um movimento com o garfo.
— A cenoura.
Ela ri e avalia sua comida com a testa franzida.
— Roxo Paraquedas. — Seu nariz se enruga. — Ou poderia ser
Flor de Cacto.
— Derrotada por uma cenoura.
Ela protesta.
— Nunca. — Ela quebra um pedaço dela, dá uma mordida. Então
ela olha para ele. — Solomon… — ela começa, protegendo a boca
com a mão para manter alguma aparência de etiqueta. — O que te
fez querer ser um chef?
Ele passa a mão pelo rosto, a aspereza da sua barba fazendo um
som áspero sob sua palma.
— A comida sempre foi importante na minha casa. Minha mãe
tinha um jardim, e ela coordenava o programa de agricultura na
nossa escola local. Meu pai pescava e caçava. Nós vivíamos e
comíamos da terra. Meus pais nos ensinaram isso. — Ele pausa,
dando um longo gole na sua cerveja. — Eu meio que tropecei nisso.
Como tudo na minha vida. Eu não queria ir para a faculdade. Eu
queria ficar em Chinook. Fazer algo local. Eu e Howler, nosso sonho
sempre foi ter um bar. Mas quando compramos, eu percebi bem
rápido que eu era um péssimo bartender. Eu não conseguia me
movimentar rápido o suficiente. Deixava cair tudo. Howler era
melhor do que eu nisso. Ele quer conversar com as pessoas. Eu não.
— Você conversou comigo — ela diz.
Ele a encara nos olhos e diz calmamente:
— Eu queria você.
Sua franqueza faz o coração dela pulsar. Tessie dá um gole no
seu vinho espumante para se acalmar.
— Um dia, quando éramos jovens, estávamos por aí depois do
expediente, bêbados de cerveja. Estávamos com fome. Era tarde,
meia-noite, tudo em Chinook estava fechado, então eu voltei para a
cozinha e fiz o que pude com as ervas dos coquetéis e sobras que
tínhamos na geladeira. Eu tinha uns vinte anos, talvez vinte e um. A
comida ficou boa, e foi como se uma luz se acendesse. Ter um
trabalho onde eu pudesse ficar com meu melhor amigo todos os dias
e tentar coisas novas na cozinha parecia perfeito. Eu não me levava
muito a sério. Além disso, eu não precisava conversar com ninguém
se não quisesse.
Solomon dá um gole na sua cerveja e diz:
— Eu não tenho diploma. Nunca fui para uma escola de culinária.
Mas–
— Você é bom nisso — Tessie completa.
— Muito bom — ele diz, sem arrogância na sua voz, apenas
confiança. Isso a excita.
Ao longe, o canto de uma ave marinha. O som das ondas na
praia.
— Usar a terra para nos alimentar é importante. Fazer viagens
até a costa para coletar vieiras. Caçar javalis selvagens. Usar
produtos locais e pagar o fazendeiro. Se acabar, acabou. Nunca mais
haverá um prato igual.
— Eu amo isso, Solomon — ela diz, pegando um pouco de
creme.
Há tanta paixão na sua voz, tanto coração. Seu amor pela sua
casa é puro e tangível. Ao contrário de Los Angeles, Chinook não é
apenas uma cidade. É a alma de Solomon.
— Há quanto tempo você não cozinha? — ela pergunta após
terminar uma mordida do sanduíche de frango.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— É tão evidente assim?
Ela ri.
— Não. A comida está deliciosa. Está mesmo. Mas do jeito que
você falou… Parece que você não está na cozinha há muito tempo.
— Ela balança a cabeça. — Não que eu seja a pessoa certa para
falar. Eu como delivery na maioria das noites. — Ela põe a mão na
barriga. — Bear terá que se acostumar.
A expressão de Solomon se nubla, e um silêncio cai entre eles,
um lembrete desconfortável dos seus caminhos divergentes em
menos de vinte e quatro horas.
— Você está certa. — A voz rouca de Solomon ressoa enquanto
ele retoma a conversa interrompida. — Eu não estive na cozinha
desde que a Serena morreu.
— Você sente falta? De cozinhar?
— Eu tentei não sentir. — Ele pousa o garfo. — Vendi nossa casa.
Fui embora. De tudo. Do meu bar, dos meus amigos, da minha
família. Me fechei nessa cabana e fiz móveis. Era um ganha-pão.
Mas não era uma vida.
Os olhos de Tessie fixam nas mãos dele. Palmas largas, dedos
longos e calejados, veias salientes como linhas num mapa, pelos
escuros nos pulsos. Mãos fortes. Mãos de construtor. Mãos que
abriram suas coxas e a fizeram gemer.
— Eu não acordei por muito tempo. Mas tudo isso está mudando.
— Ele inspira fundo. — Estou voltando para o bar.
A cabeça de Tessie se vira.
Os olhos de Solomon estão fixos no rosto dela.
— Eu liguei para o Howler e disse que quero voltar a trabalhar. —
Um riso abafado. — Ele está na pior com o Ninho. Está
desmoronando e precisa de uma revitalização. Acho que a comida
ajudará. Acho que vai me ajudar também.
Seu coração se agita, tonto com a revelação dele. Porque ela
está feliz. Feliz porque ele está feliz.
— Oh, Solomon. Isso é incrível. O que te fez decidir–
— Voltar à vida? — ele pergunta. Com um balançar de cabeça,
ele diz: — Eu estive fora por muito tempo. Eu precisava acordar. —
Ele dá um suspiro fortalecedor antes de continuar. — Você fez isso.
Ela se imobiliza na cadeira, incerta se ouviu corretamente.
— Eu?
— Sim, você, Tess.
Ela se arrepia com seu nome em sua boca. Carregado de
gravidade, fogo e calor. Áspero e intenso.
— Você se lembra daquela noite em que nos conhecemos, eu
estava usando um anel?
Devagar, ela concorda.
— Eu tirei por sua causa, Tessie.
Suas palavras fazem o coração dela afundar. Mas ela espera.
Pronta para a explicação dele. Porque ela precisa saber.
— Eu mal te conhecia, mas você fez algo comigo naquela noite.
Mudou meu mundo, me abalou, abriu meus olhos. — Solomon passa
a mão pelo cabelo escuro, com uma expressão torturada. — Eu não
conseguia parar de pensar em você.
— Eu também — ela respira. — Eu pensava em você o tempo
todo.
A admissão a deixa dolorida, faz os olhos de Solomon fecharem,
e depois se abrirem.
— Você lembra do que eu disse para você naquela noite? Sobre
as estrelas?
Ela acena. Ela nunca esqueceria.
— Você disse que elas brilham mais forte na sua cidade natal.
— Não mais. Você é minha estrela, Tess. — Ele coloca a mão
sobre o peito. — Você brilha aqui. No meu coração.
Antes que ela possa processar o que está acontecendo, Solomon
está fora da cadeira e de joelhos aos pés dela. Sua expressão cheia
de tanto respeito que ela se sente tonta.
Envolvendo os braços musculosos em volta da cintura dela, ele a
puxa para a beirada da cadeira, em sua direção.
— E se fizéssemos um novo acordo? — ele ronrona.
— Um novo acordo?
— Sim. Nós tentamos.
— Tentamos o quê? — Ela olha ao redor da mesa, pega uma
colher. — A sobremesa?
— Não, Tessie. — Ele afasta o cabelo do rosto dela. — Nós
tentamos nós.
O mundo dela gira. Sua cabeça dá voltas.
— Espera — ela murmura. — O que isso significa?
— Significa que eu gosto de você, Tess. Significa que eu — Sua
expressão se nubla, se clareia. — Significa que se houver uma
chance, se houver a mínima possibilidade de que possamos resolver
isso, eu acho que nós devemos, porra, nos dar a chance.
Tessie o encara, cada linha do seu rosto. Ela quer. Quer tanto
que dói. Mas ainda assim…
Ela fecha os olhos, a dúvida atrapalhando a esperança.
— Tentar por causa do Bear, certo?
— Não. — Sua voz é alta e clara, captando a hesitação dela. —
Não só pelo Bear. Tentamos por nós. Porque, Tessie, querida, eu
quero você.
Num segundo, seu coração se foi, desaparecendo nas nuvens.
Ela olha fixamente para Solomon, para esse homem que fez mais
por ela em sete dias do que qualquer pessoa desde sua mãe. A
protegeu. A fez rir. A forçou a relaxar. Mostrou a ela o que é um
parceiro. Ele a faz melhor do que quando está sozinha, e ela é
incrível por conta própria.
— Volte comigo. — Ele se endireita, segurando o rosto dela nas
mãos. — Volte comigo para Chinook.
Bear se agita em sua barriga, como se gostasse da ideia.
Lágrimas enchem seus olhos.
É essa a vida real? É isso que o amor, o que um relacionamento
poderia ser? Ela não sabe. Nunca teve algo que durasse. Que
ficasse. Mas agora ela tem esse homem, aqui na frente dela,
pedindo para ela arriscar.
Um risco.
Se preparando, ela coloca uma mão no ombro de Solomon.
— Eu preciso…
Ela lambe os lábios secos. O que ela precisa? Ela não sabe, mas
com isso, ela se desvencilha de Solomon, se levanta da mesa e vai
para a beirada do terraço. Seu cérebro gira enquanto ela tenta
processar tudo o que ele acabou de dizer. A vista do oceano acalma
seu coração trêmulo. Ela olha para cima. O céu está escuro, nuvens
obscurecendo as estrelas, mas ela sabe que elas estão lá. Brilhando
forte como um mapa celestial para a sua vida.
E ela jura que ouve a voz da mãe, suas palavras de sabedoria.
Os solavancos no caminho são apenas solavancos, Tessie, não
buracos. Podemos superá-los.
E isso... isso é um solavanco que ela nunca esperava.
Agora.
Agora é hora de ceder, de desistir de seus medos, de jogá-los no
oceano. Ela não tem nada esperando por ela em LA. Então, o que
importa se ela arriscar mais uma vez?
Encontrar mais uma estrela.
Ela coloca as mãos na barriga. Um tremor e depois um turbilhão.
Seu filho dizendo para ela confiar em sua intuição.
— Tess?
De trás dela, a voz preocupada de Solomon se sobrepõe ao
barulho das ondas.
Ela se vira para encará-lo, apoiando os braços na grade. Ele está
de pé agora, seu corpo rígido como se suas próximas palavras
tivessem o poder de desfazê-lo.
Ela ergue o queixo.
— Você promete que nunca vai tentar tirar o Bear de mim?
— Eu prometo.
— Você estava falando sério quando disse que ia ficar por perto?
Um aceno.
— Estava.
— Bem. Então — ela dá um passo à frente, funga —, talvez
devêssemos.
Ele engole em seco, seguindo seu movimento.
— Devêssemos o quê?
— Tentar isso. Juntos. — Lágrimas escorrem por suas bochechas.
— Eu não quero fazer isso sozinha. Nem com mais ninguém. Só com
você. — O ar sai de seus pulmões, mas ela encontra sua voz. Pela
primeira vez.
Finalmente.
— Meu Homem Solene.
Porque é isso que ele é. É o que ele sempre foi.
Dela.
Por um longo segundo, ele fica congelado diante dela. Então ele
solta um rugido e se lança para a frente, praticamente empurrando a
mesa para chegar até ela. Agarrando-a em seu peito, ele a beija de
forma avassaladora, de tirar o fôlego, que muda a vida. Um arquejo
rouco agita seu corpo enquanto ele desliza as mãos até o pescoço
dela para se enroscar em seu cabelo.
— Eu não posso te deixar ir — ele diz rouco quando se afasta,
seus olhos marejados. — Eu não posso me afastar de você.
Ela responde beijando-o novamente, perdendo-se em seu aroma
amadeirado. Em sua própria agonia explosiva.
— Você tem certeza de que está pronto? — ela sussurra entre
beijos sem fôlego, pensando em Serena. Ela não quer pressioná-lo.
Ela não quer perdê-lo.
— Estou pronto — ele murmura, a voz tremendo. — Toda a
minha vida, eu estive pronto para você.
Seus olhos tremulam. Assim como seu coração.
— Você é minha, Tessie — promete Solomon roucamente ao
ouvido dela.
Sua cabeça gira, suas pernas ficam fracas, mas ele a ampara,
segurando-a.
— Você e esse bebê, ambos são meus.
Um soluço sai de sua boca. Aquelas palavras. Primitivas,
protetoras. Ah, meu Deus. Ela vai se despedaçar. Ela está
descongelando mais rápido do que a plataforma de gelo continental
superior.
Ela importa. Ela é o alguémde alguém.
Uma lágrima quente desce por sua bochecha. Seu pulso acelera,
percorrendo-a como uma trilha sonora.
Amor, amor, amor.
A palavra sussurra entre eles.
Amor.
Mas ela não vai dizer primeiro.
Há muito em jogo.
Bear.
Seu coração.
Melhor ver para onde isso vai antes de fazer qualquer declaração
imprudente.
— Você promete? — As palavras saem de seus lábios em um
jorro. — Nós somos seus?
Mandíbula cerrada, Solomon solta um fôlego constante. Seus
ombros tremem enquanto uma onda de emoção percorre seu
grande corpo.
— Eu vou te mostrar. Eu vou te mostrar o que somos.
Então ele a carrega nos braços, deslizando suas mãos largas
sobre sua bunda e a levantando até que ela enrole as pernas em
volta da cintura dele. E quando eles chegam ao quarto, ela sabe que
não há como voltar atrás.
Com o membro inchando em suas calças, Solomon leva Tessie para
a cama, determinado a mostrar a ela que ela é a única.
Ele viu em seu rosto. Ninguém jamais a escolheu antes.
Ele ouviu a preocupação em sua voz. Que ele não está pronto.
Que ela não é a certa. Bem, não há mais dúvidas. Esta noite, ele vai
deitá-la na cama e provar para ela o quanto ele a quer. O quanto ele
precisa dela.
Ela é a única. E é assim que vai ficar.
Para sempre.
— Sem dúvidas, Tessie. Você me entende? — ele fala enquanto a
coloca de pé. Então ele segura seu rosto com as mãos e olha nos
olhos dela. Ele precisa que ela saiba. Precisa que ela acredite nele.
— Coloque nessa bela cabeça loira. Você é minha. Você e esse bebê;
ambos são meus.
Em resposta, ela solta um gemido rouco. Sua cabeça cai para
trás para expor a linha graciosa de sua garganta corada. O pênis de
Solomon lateja dolorosamente em suas calças. Incapaz de aguentar
por mais tempo, ele a vira e, com uma mão ágil, rasga o vestido
dela tão rápido que suas curvas têm marcas de queimadura.
— Solomon — ela ofega, surpresa. Mas um sorriso encantado
toca seus lábios.
— Oh Jesus. — Ele derrete com a visão dela, seu peito apertado
de orgulho. Essa é sua garota, linda e radiante. Nua e grávida de
seu filho.
Dele.
Meu Deus.
Ele está queimando vivo.
— Vá para a cama — ele rosna.
Ofegante, Tessie sobe no colchão. De joelhos, ela enfrenta
Solomon. Com as mãos trêmulas, ele segura o rosto dela,
emoldurando-o, e então bate a boca na dela. O coração de Solomon
entra em combustão quando a língua dela passa sobre a dele. Ele
está em seu ponto de ebulição. Superaquecido, desfeito. Fodendo
com essa mulher. É uma loucura a maneira como ela o faz sentir.
Ele leva a mão até as pernas dela, deslizando-a entre a carne
doce entre as coxas. Então ele está gemendo.
Ela está encharcada, sua umidade escorrendo pelos dedos dele.
Doçura. Paraíso. Inclinando-se, ele traz um gosto de Tessie aos
lábios, depois passa o polegar calejado sobre seu clitóris inchado.
Sua boca rosada e inchada se abre, seu olhar fica nebuloso
enquanto ela o observa por baixo daqueles longos cílios. Ficando
mole, ela cai contra o peito dele, seu corpo delicado tremendo
contra ele enquanto ele circula um dedo sobre o botão.
— Oh, oh, oh. — Seus gemidos entrecortados e ofegantes de
satisfação, seus seios carnudos contra seu peito, suas unhas
cravadas em seus ombros, o deixaram endurecido.
Então mãos desesperadas puxam seu zíper, Tessie fazendo o
possível para tirá-lo da calça jeans. Solomon ri de sua ansiedade.
— Querida, não — ele diz. — Isso é tudo para você.
Ela faz beicinho, mas ele quer cuidar dela como ela cuidou do
filho dele. Mostrar a ela que ela é mais que uma mãe; ela é uma
mulher, a mulher dele, e ele com certeza lhe dará tudo o que ela
precisa.
Lágrimas se acumulam em seus olhos castanhos escuros.
— Então faça amor comigo, Solomon. — Ela morde o lábio
inferior inchado e apalpa a frente do peito dele. — Por favor. Eu
preciso de você.
Suas palavras enviam uma onda de fogo por sua espinha.
Colocando ele – e seu pau – em ação.
Um grunhido rouco sai dele, fazendo-o agarrá-la pela cintura
para puxá-la para a cama. Ancorando-a a ele. Tessie se contorce,
choramingando, com um pequeno gato selvagem nos braços.
Ele a puxa contra seu corpo, seu pequeno torso contra seu peito
arfante, sua bunda flexível contra seu abdômen. Ela engasga
quando ele desliza para dentro dela por trás. Chegando para trás,
seu braço esguio envolve seu pescoço, seus dedos mergulhando em
seu cabelo escuro.
Eles ondulam juntos, Solomon pegando o corpo dela no dele, e
ela praticamente levita em seus braços, a linda protuberância em
sua barriga subindo como uma lua pálida na noite.
— Me arruine — Tessie suspira, abrindo as pernas. Com um
pouco de contorção, ela se mexe, enterrando-o mais profundamente
dentro dela.
Cristo. Ele geme e fecha os olhos. Ela o está matando.
Absolutamente um caso perdido. Seus longos cabelos loiros ondulam
ao redor deles como uma auréola, como um maldito anjo.
É inacreditável. Que sorte ele tem pela segunda vez nesta terra.
Ele enterra o rosto no cabelo dela, inalando o cheiro de sal
marinho, esmagando-a contra ele. Tremendo. Pelo peso do que isso
significa para ele.
— Porra, mas o que eu não faria por você, Tessie.
— Diga-me. — Ela geme roucamente. — Diga-me o que você
faria por mim.
— Qualquer coisa — ele rosna. As palavras mais verdadeiras que
ele já pronunciou. Sabendo que ele pode não sobreviver a eles. —
Qualquer coisa por você e esse bebê. Matar por você, queimar a
terra, transar com você até perder os sentidos, o que quiser.
Qualquer coisa.
Suas palavras a fizeram gritar, fazendo-a bombear os quadris no
ritmo de suas fortes estocadas rítmicas.
Ele desliza a mão sobre o seio dela, o peso enchendo sua palma.
Um gemido áspero lhe escapa.
— Não pare, Solomon — Tessie ofega. — Não pare. — Sua voz se
quebra em um soluço. — Por favor.
— Nunca.
Ele se choca contra ela. Duro. Um grito silencioso parte de seus
lábios. Seus sucos escorrem pela parte interna de suas coxas.
Molhado. Revestindo suas coxas também. Ela está tão molhada para
ele, banhando seu pênis em calor e fogo. Isso só o deixa mais duro.
Faz com que ele avance com os quadris.
Tudo o que ela quiser, ela consegue.
— Deus, você é linda — ele geme, abraçando o corpo esguio
dela contra ele. Ele pontua sua declaração com um beijo na nuca
dela, no ombro, no pescoço. — Tão linda, Tessie.
Chorando, ela joga a cabeça para trás contra o ombro dele e
resiste. A contorção necessitada de seu corpo envia uma onda de
choque que o atravessa. Solomon ruge para se libertar,
estremecendo violentamente enquanto Tessie grita, suas pequenas
mãos agarrando seu cabelo, enquanto eles se juntam.
Cada pulsação de seu corpo o faz abraçá-la com mais força, até
que finalmente ela fica mole contra ele. Um sorriso satisfeito
transborda em seu rosto enquanto ela rola e cai para trás, rindo no
travesseiro, a mão cobrindo os lábios carnudos.
Depois de dar um beijo em sua bochecha, Solomon desaparece
no banheiro e retorna com uma toalha quente e úmida. Com
ternura, ele limpa as coxas dela e depois se acomoda ao lado dela
na cama mais uma vez.
Com um suspiro, Tessie rola em seus braços para receber seu
beijo. Satisfação gravada em seu lindo rosto – olhos semicerrados,
bochechas rosadas, sorriso delirante.
Por um segundo, Solomon não consegue respirar. Tessie se
aninhou em seu peito. Pequena, macia, dele. Cristo. Ele fecha os
olhos, deixando o momento assentar. Nunca em um milhão de anos
ele pensou que teria isso de novo.
Abrindo os olhos, ele observa seu perfil delicado.
Eu te amo.
Ele deveria dizer isso.
Mas as palavras estão congeladas em seus lábios. Ele está
pronto, mas e se ela não estiver? Ele já pediu muito. Um bastardo
egoísta que pediu que ela voltasse para Chinook com ele. Se essa
não é uma forma de aumentar a pressão, ele não sabe o que é.
Com um suspiro feliz, ela passa a mão pela barba dele e então
seu foco se volta para o rosto dele.
— Final perfeito para férias perfeitas.
— Sim. E ainda não acabou. — Apalpando o rosto dela, ele
murmura: — Você e esse bebê. Todo o meu coração. Minhas
estrelas. Você me tem pra caralho, Tess. Nunca duvide disso.
Ela enrola os dedos nos pelos escuros do peito dele.
— Eu não vou.
Ela o observa com as pálpebras pesadas. Seus longos cílios
tremulam com a onda lenta de um sono convidativo. Com uma mão,
ele acaricia seus cabelos dourados. Segura a barriga dela com a
outra. Uma onda de emoção o domina. Em menos de três meses,
eles estarão segurando o filho nos braços.
— Você vai me contar? — ele pergunta, e os olhos de Tessie
fixam-se nos dele. — O nome do Bear.
Um longo silêncio. Então um sorriso tranquilo aparece em seus
lábios.
— Por que não criamos um? Juntos.
— Tess. — Um profundo estrondo de desacordo. Ele não quer
que ela mude isso.
— Eu quero, Solomon. — Apoiando-se no cotovelo, ela segura a
lateral da barba eriçada dele. Seu olhar uniforme, honesto e
vulnerável, enquanto ela olha para suas profundezas escuras. —
Deve ser o nossonome.
Um inferno acende em seu peito. Maldição.
Se ele não a amasse agora…
— Obrigado — ele diz.
Seu olhar surpreso encontra o dele, cabelos loiros caindo sobre
seus ombros enquanto ela inclina a cabeça.
— Pelo que?
Sua garganta funciona.
— Por me fazer pai.
Lágrimas correm aos olhos de Tessie e um sorriso aguado surge
em seus lábios.
— Você vai ser o melhor pai, Solomon — ela sussurra, colocando
a mão dele sobre sua barriga. — Bear terá muita sorte de ter você.
Tentando controlar seu coração, porque parece que há uma
bomba atômica em suas costelas, Solomon puxa Tessie contra seu
peito. Seu pequeno corpo se encaixa perfeitamente ao seu lado. Não
demora muito, com a mão dele na barriga dela e a respiração dela
contra o ombro dele, e ela já está dormindo.
Bear chuta seu estômago, pequenas pulsações que o fazem
sorrir, e Solomon embala Tessie mais perto. Ele nunca se sentiu tão
satisfeito. Tessie sabe sobre Serena, seu passado, sua escuridão e
sua culpa. E amanhã de manhã ele levará suas estrelas de volta para
casa.
Capítulo vinte e três

Tessie pula ao lado de Solomon em sua caminhonete enquanto eles


percorrem a longa e sinuosa estrada através de bosques verde-
escuros do aeroporto de Anchorage até Chinook. Mão entrelaçada na
de Solomon, seu toca-discos Crosley seguro no banco de trás, o
cinto de segurança baixo e firme ao redor de sua barriga.
A atenção dela está focada nos pontos do lado de fora da janela,
incapaz de absorver tudo rapidamente o suficiente. É um mundo
completamente novo. Um universo bonito, gelado e estrangeiro.
Ela trocou sol por neve. Praia por montanhas. Sanidade por
surpresa. Porque o que está fazendo está completamente fora de
sua zona de conforto. Até Ash tinha ficado surpresa com a mudança
de planos dela.
Se há algo que Tessie não é, é confusa. Nervosa, claro. Exaltada,
sim. Com fome, sempre. Mas não confusa.
Solomon a reivindicou. Na última noite deles no México, aquelas
palavras sussurradas urgentemente, você é minha. Ninguém nunca
fez isso antes. A desejou, lutou por ela, fez promessas com tanta
convicção que partiu seu coração da melhor maneira possível.
Ela está abrindo mão do controle total para seguir o fluxo. Para
voar para o “meio do nada” do Alasca com esse homem, que está se
tornando como seu braço esquerdo. Ela não pode ficar sem ele. Não
vai.
A excitação se agita em sua barriga. É o tipo de liberdade
selvagem que vem ao ficar acordado a noite toda. A emoção de
prolongar uma pernoite. Ir para Chinook parece certo. Ver o mundo
de Solomon. Conhecer sua família.
A família de Bear.
Ela continua dizendo a si mesma que isso é apenas uma
extensão da lua de bebê. Para ver se ela e Solomon se encaixam no
mundo real. Ela deve isso a si mesma e, o mais importante, ela deve
isso a Bear para tentar. Se eles conseguirem sair disso juntos...
felizes, seria melhor do que ela já sonhou. Coisas de contos de
fadas. O terceiro ato de um romance. Aquelas capas de desenhos
animados felizes, coloridas e alegres, onde um beijo nunca é apenas
um beijo – é um para sempre, um felizes para sempre.
Ainda assim, ela não pode se entregar completamente. Ainda
não.
Por mais tentada que esteja em dizer aquelas três palavras, ela
tem que ser prática sobre isso. Ela e Solomon estão conversando;
não se comprometendo.
Além disso, ela precisa de um emprego. Embora seu seguro dure
até o final de sua gravidez e ela tenha uma reserva estável, a última
coisa que ela quer é depender financeiramente de Solomon. Aqui,
em Chinook, ela vai sondar em Los Angeles. Ela arqueia uma
sobrancelha para a floresta. Se ela conseguir sinal de Wi-Fi.
Tessie respira fundo com a súbita aparição do que parece ser um
pássaro gigante pairando sobre as copas das árvores.
Solomon olha para ela e depois volta para a estrada, um sorriso
em seus lábios barbudos.
— Águia careca.
No céu de outubro, nuvens escuras se formam.
— Quando começa a nevar? — ela pergunta.
Ele fica tenso, segurando firme a mão dela, mas mantém os
olhos na estrada.
— Se tivermos sorte, em novembro.
Tessie estremece e ajusta sua blusa, franzindo o cenho para sua
roupa nada lisonjeira. Finalmente, a piada caiu sobre ela. Ela está
envolta em uma das camisas de flanela de Solomon. Elas são
quentes, com certeza.
Aumentando o calor, ele passa o olhar sobre ela e depois o
desvia para os saltos altos em seus pés.
— Vamos arrumar roupas para você, Tess — ele diz com aquele
tom firme e ríspido que ela adora. Aquele que ele usa apenas com
ela. Um tom que diz a ela que ele se importa, que vai cuidar dela.
— Você tem o mesmo tamanho mais ou menos que a Melody,
tirando a barriga. — Ele solta o acelerador e aciona a seta. — Ela
está separando algumas coisas para você usar enquanto estiver
aqui. Podemos pegar amanhã no brunch.
O estômago de Tessie se revira, a sensação tranquila
desaparecendo ao pensar em conhecer a família de Solomon. E se
eles a detestarem?
Ao suspirar, Solomon aperta a mão dela.
— Está cansada?
— Estou. Estou funcionando com a animação. E esse bebê está
no meu pulmão. — Ela coloca uma mão sobre o inchaço alto de sua
barriga. Meu Deus, ela ficou muito maior nos últimos dias. Ela se
mexe no banco e arqueia uma sobrancelha. — Estou com trinta
semanas hoje.
Ele olha para ela, os olhos dançando com orgulho e afeto.
— Eu sei.
— Me sinto enorme.
— Você não está enorme. Você está linda, Tess.
Ela fica corada. Será que ela vai se cansar de ouvir ele dizer isso?
Tão rapidamente, ela se desanima. Ela tem tanto a fazer. Tanto
para manter uma mente contente e livre de preocupações. Não vai
demorar muito para ela começar a se coçar, aquela necessidade de
planejar, organizar, consertar.
— Preciso encontrar um médico também. — Ela olha de canto
para Solomon. — Dependendo de quanto tempo eu ficar.
Antes de sair do México, ela teve uma consulta por telemedicina
com sua obstetra, que disse que seria bom pular uma consulta, mas
recomendou que ela encontrasse um médico local se ficasse, ou
garantisse que voltasse para Los Angeles antes das trinta e seis
semanas devido às restrições de voo.
Solomon resmunga. Seu olhar sombrio diz que ele não quer falar
sobre ela indo embora.
— Encontrei uma médica para você.
Ela se endireita, seu coração se aquecendo.
— Você encontrou?
— Encontrei. — Ele é casual, como se o coração de Tessie não
estivesse transbordando. — Podemos ir na próxima semana. Ver se
você gosta dela.
Sorrindo, ela se aproxima, prendendo o cinto de segurança do
meio ao redor dela, amando a maneira como ele assume
responsabilidades com ela. Como se fosse o problema deles. Não só
dela. É um alívio. Não ter que carregar tudo sozinha dessa vez.
— O que mais você vai conseguir para mim? — ela pergunta,
dando um beijo no pulso dele. Ela desce a mão, passando os dedos
sob a barra da sua blusa preta Henley e subindo pelo estômago
quente e musculoso.
Ele se enrijece.
— Mulher — ele rosna, fazendo o máximo para não soltar o
volante enquanto passam por uma ponte estreita de pedra — Pare
com isso, ou vamos parar na vala.
Tessie solta uma risada e diminui os beijos, mas antes que possa
retomar sua posição de passageira, Solomon envolve um braço em
volta do ombro dela, mantendo-a perto.
— Você sabe o que tem, não sabe?
Aconchegando-se mais ao seu corpo grande e quente, ela
esfrega o nariz no pescoço dele.
— O quê?
— O poder de me destruir completamente.
Ela ri.
— Vou usar sabiamente.
— Relaxe, Tess. — Seu profundo murmúrio vibra através dela. —
Eu conheço sua mente. Sem listas. Sem preocupações.
Ela enruga o nariz, desejando ter um pouco da calma e
contentamento de Solomon.
— Como você sabe de tudo? Como consegue ser tão, tão...
estável?
Seus lábios se contorcem.
— Porque venho das montanhas — ele diz, apontando com um
dedo grande.
O olhar de Tessie se eleva e ela dá um gritinho.
Erguendo-se das nuvens estão picos escuros e recortados de
terra. Montanhas. Fortes, ferozes, sombrias. Como Solomon. Seus
domos brancos de neve, delicadamente moldados como sorvete, a
hipnotizam.
Tessie olha para o sul pela janela. Álamos tremedores balançam
na brisa ventosa. Um esquilo corre para a estrada, se arrepende de
sua decisão e mergulha nos arbustos.
Eles passam pela placa de “Bem-vindo a Chinook” população:
8.000. O alegre lema da cidade diz: Dê uma Olhada na Boa e Velha
Chinook.
Virando, Solomon segue por uma rua asfaltada em direção à
cidade. Finalmente, a paisagem é civilizada. Rua principal. Lojas de
boutique, restaurantes, bares, cafeterias, um açougue. Um homem
mexe em seu carro na beira da estrada e ergue a mão para
Solomon, que faz o mesmo em retorno.
— Seja bem-vinda a Chinook — seu homem da montanha diz
suavemente. O brilho em seus olhos azul-escuro diz tudo o que ela
precisa saber. Ele ama essa cidade, sua comunidade. E ela quer
amar também.
— Para onde estamos indo? — ela pergunta, deitando a cabeça
em seu ombro.
— Vamos passar no bar para pegar a Peggy e depois seguir para
a cabana.
— Mmm. Vou ver o bar, o cachorro e a cabana. Sou uma garota
sortuda.
O olhar dele se move para a maçã do pescoço, uma expressão
carinhosa atravessando seu rosto.
Aninhando-se contra Solomon, Tessie deixa seu coração aliviar
suas preocupações. É divino se entregar ao presente sem se
preocupar com o que vem depois.
Ela vai se preocupar.
Mais tarde.
Porque abraçada forte nos braços de Solomon, Bear seguro em
sua barriga, nada mais importa.
É como se as montanhas soubessem que ele estava trazendo ela
para casa.
Solomon, orgulhoso no peito e Tessie encolhida ao seu lado,
absorve o vasto céu do Alasca. Nuvens tão brancas quanto algodão
se destacam contra um grande bosque de árvores que se estende
até o horizonte. Estar de volta em Chinook é como beber de um
riacho alpino fresco. Tessie verá o que ele vê? Uma beleza
magnífica? A natureza selvagem que ele sempre amou? Ele espera
que sim.
Solomon estaciona na entrada de cascalho do Ninho do Howler e
deixa a caminhonete ligada.
— Fique aqui — diz ele. — Vou pegar a Peggy e nós vamos–
Mas ela já está desafivelando o cinto de segurança.
Praguejando, ele desliga o motor, depois sai correndo da
caminhonete em direção ao lado do passageiro. Ele segura a mão
dela antes que seus pés toquem o chão. Sim, ele está agindo como
um idiota superprotetor, mas o centro de gravidade dela mudou
completamente. Sem mencionar que ela está usando os saltos mais
altos que ele já viu na vida. Ele não está arriscando nada.
— Calma — ele acalma, suas mãos cercando seus ombros,
garantindo que ela esteja firme. Os olhos passam por ela e ele
segura um sorriso. Ela é tão adorável. Vestindo jeans pretos justos e
uma flanela preta e branca de búfalo oversized de Solomon. Mesmo
grávida, ela é pequena.
— Eu não vou ficar no carro, Solomon. — Tessie franze os olhos
para os celeiros vermelho-brilhantes que cercam o silo cinza opaco.
Muda o foco para o galo de tempo enferrujado empoleirado no topo.
— Eu quero ver esse lugar sobre o qual você vem falando. — Ela
inclina a cabeça e enruga o nariz. — Parece um silo.
Ele passa a mão pela barba.
— É um silo.
Diabos, ele está envergonhado de deixar Tess ver aquilo.
Envergonhado por deixar o bar chegar a esse ponto, por deixar
Howler responsável. Ainda assim, ele não pode mantê-la longe disso
para sempre. Pelo amor de Deus, é o trabalho dele. Se ela está
ficando por perto – o que, se depender dele, ela está – será parte da
vida dela.
— Só... — Segurando seu cotovelo, ele a guia cuidadosamente
pelo estacionamento de pedras. — Está uma bagunça. Saiba disso.
Seus olhos se fixam na placa de neon, falhando como se
estivesse em sua última vida.
— Eu me viro bem com bagunças.
— Você não pode julgar.
Seus lábios se apertam como se o pensamento fosse um limão.
Então–
— Tudo bem. Vou gritar internamente minhas objeções.
— Ótimo.
Ao se aproximarem da porta da frente, há um ruído nas moitas
ao lado das latas de lixo. Solomon congela e depois se move,
colocando-se na frente de Tessie.
Ela crava as unhas na carne dura do seu ombro.
— Meu Deus, é um urso, não é? — ela grita à medida que o
tumulto aumenta.
Ele quer dizer que ela está errada. Mas não pode.
Porra.
As palavras de Howler sobre ursos na área enviam uma onda de
pânico quente varrendo por ele.
Com um movimento rápido como um chicote, Solomon agarra
Tessie – uma mão em suas costas, a outra logo abaixo de seu
traseiro – e a levanta no ar. Empurra-a em direção à escada do lado
do silo.
— Suba — ele ordena. — Agora.
— Eu não subo escadas — ela grita, segurando seus ombros. —
Solomon, me coloque no chão. Eu posso correr até o carro.
— Você não pode correr — ele resmunga. — Não de salto alto,
Tess. O que eu te disse maldição–
O arbusto explode.
Tessie grita, uma torrente de cabelos loiros, enquanto desce pelo
corpo dele como uma gata selvagem.
Solomon se lança à frente dela, apenas para ser atingido por um
cão bobo e babão.
— Jesus — ele exala. O alívio quase o derruba.
Peggy dá um latido, e Solomon se agacha, passando as mãos
pelas orelhas longas e pelas mandíbulas caídas dela.
— Ei, garota — ele diz, dando um grunhido de afeto enquanto
seu coração retoma seu ritmo normal. Diabos, ele sentiu falta do seu
maldito cachorro.
De trás dele vem o som da risada de Tessie. Com as mãos no
estômago, ela está dobrada.
— Meu Deus. É a sua cachorra.
— Ótima primeira impressão — diz ele, com secura, para Peggy.
Tessie ri.
— Ela ia me atacar. Tão feroz. — Ela se abaixa e bagunça as
orelhas do cachorro. Peggy, aproveitando o carinho, coloca uma pata
na coxa de Tessie e tenta subir diretamente no colo dela, mas
Solomon coloca uma mão, segurando a parte inferior de suas costas
para que o cachorro não a derrube.
— Oh, ela é tão fofa.
O coração de Solomon se aperta enquanto Tessie abaixa a
cabeça para beijar o nariz preto carvão de Peggy.
Outro ruído, e então Howler sai pisando firme de trás do prédio,
saco de lixo nas mãos.
Ele para e olha fixamente para a cena, depois diz:
— Já era hora de você voltar pra casa, cacete.
Solomon se levanta.
— Estou de volta. Agora você pode parar de resmungar. — Ele
estende a mão para Tessie, ajudando-a a ficar de pé, e depois a
puxa para perto.
O largo sorriso no rosto de Howler desaparece quando ele a vê.
Solomon espera que seu amigo a cumprimente e franze a testa
quando ele não o faz. A atenção de Howler se desvia para a barriga
dela e depois volta para Solomon.
— Trouxe a Cachinhos Dourados de volta, huh?
Tessie ergue uma sobrancelha para o apelido, mas não diz nada.
Com um balanço de seus cabelos loiros sedosos, ela passa por
Howler e entra no bar. Peggy trota atrás dela, já apaixonada.
Solomon não a culpa.
Fazendo uma careta, ele as segue. Tessie é pequena no espaço
circular. Brilhante e ensolarada contrastando com a escuridão úmida
do bar. Ela observa a sala, inclinando a cabeça loira, lábios franzidos
e olhar estreito.
Ela vê o que Solomon vê.
Bar com tampo lascado. Uma placa de neon piscante. Duas
tábuas do chão faltando. O fogão a lenha com problemas.
Mãos entrelaçadas na barriga, Tessie se vira, sorri para Howler.
— Solomon disse que você faz um mocktail ótimo.
Howler cruza os braços.
— As torneiras de refrigerante estão quebradas.
— Ooook — diz Tessie. Seus olhos confusos se voltam para
Solomon. — Vou dar uma olhada na cozinha.
Solomon franze a testa. Não é típico de Howler ficar tão calado.
Um verdadeiro idiota, se ele tivesse que dizer. Felizmente, Tessie é
profissional, acostumada a lidar com pessoas difíceis como o Atlas, e
ela deixa a indelicadeza passar.
— Qual é o seu problema? — Solomon pergunta, com a voz
baixa para que Tessie não ouça. — Você está agindo como um
idiota.
— Nenhum — resmunga Howler. Depois revira os olhos. — Cara,
eu pensei que você ia lá, resolver suas coisas, e voltar pra casa. Não
trazer ela.
— Ela não é uma maldita pizza — diz Solomon.
Howler resmunga.
— O que ela vai fazer, se mudar pra cá?
Solomon engole em seco.
— Não conversamos sobre isso.
— Não conversaram sobre isso... — Howler resmunga. — Bem,
você devia, cara. Em breve também. Ela parece pronta para explodir.
Sério, Solomon esfrega a palma no rosto, o peito apertado de
preocupação. De realidade. Talvez ele tenha sido um egoísta
pedindo para Tessie voltar com ele, mas ele aprendeu a lição com a
Serena.
Não deixar ela ir embora. Ir atrás dela.
Tessie sai da cozinha, cutucando um esquilo empalhado
segurando uma caixa de gorjetas.
— Isso realmente tem um toque de taxidermia chique, não tem?
— Sem julgamentos — chama Solomon enquanto ela sorri para o
calendário de nudez atrás do bar.
— Eu não estou julgando. Estou observando criticamente.
Mudando sua atenção para Howler, ela pergunta:
— Que horas vocês abrem?
Howler se irrita.
— Estamos abertos agora.
— Não parece. — Ela passa um dedo sobre o balcão empoeirado,
fazendo o franzir de Howler se aprofundar. — Qual é o seu
orçamento para a reforma?
— Temos um orçamento saudável.
Solomon reprime um sorriso, vendo Tessie enfrentar seu amigo.
Ela sai de trás do balcão, parando na frente deles, ela acena com
a cabeça para o canto de trás da sala.
— O que vocês planejam fazer com o espaço?
Howler lança um olhar irritado para Solomon.
— O espaço?
— Só entra na onda — diz Solomon.
Um suspiro exasperado.
— Tá bom. Pensamos em torná-lo mais alinhado com o que
outros bares populares estão fazendo. Talvez acrescentar uma mesa
de sinuca.
Tessie resmunga.
Howler se enrijece, sua expressão rabugenta.
— Acha que pode fazer melhor?
Solomon massageia a testa, uma dor de cabeça já começando.
— Não. Não comece com ela.
Tessie se eleva como se fosse um desafio.
— Na verdade, eu poderia. — Terminando de falar com Howler,
ela perfura Solomon com o olhar. — Este espaço poderia ser
espetacular. — Ela estende um braço. — Vejo cabines de parede a
parede. Cabines escuras. A jukebox fica. Acrescente uma iluminação
ambiente. Talvez uma janela do chão ao teto? Ah! Portas de
garagem! — Parando no meio do bar, ela estende os braços como se
pudesse abraçar o espaço ao seu redor.
Solomon concorda.
— É um ótimo espaço. Planejamos fazer grande parte do
trabalho nós mesmos para economizar.
Olhos iluminados, Tessie levanta as sobrancelhas.
— Euposso fazer isso.
Ele já está balançando a cabeça. A última coisa que ele quer é
Tessie em uma escada. Tessie carregando objetos grandes por aí.
Tessie destruindo a parede com um martelo de dez quilos quando
estiver com sete meses de gravidez.
Já é ruim o suficiente que ela tenha feito um voo de oito horas,
ficado no carro por três horas. Ela precisa estar em casa, na casa
dele, sem saltos altos, descansando.
— Não — ele diz. — De jeito nenhum.
— Sim, Solomon. Com certeza. — Ela agarra o braço dele,
sacode-o e dança no lugar. — Por favor. Deixe-me ajudar. Posso
pedir tudo aos meus fornecedores a preço de custo. Tudo o que
você tem que fazer é dar uma de Hulk com seus grandes músculos.
Ele abre a boca para dizer não, mas não consegue. Porque está
lá. No rosto dela. Ela está fisgada. Cores Pantone já voando naquela
cabeça linda dela.
— Tudo bem, droga — ele rosna, ao mesmo tempo divertido e
irritado por como ela o fez ceder tão rapidamente.
Ela grita e pressiona um beijo em sua bochecha barbuda.
Caramba. É assim que o futuro maldito dele parece? Se
enredando em problemas, tropeçando para dar a ela tudo o que
quer? Caramba. Ele está uma bagunça.
Mesmo assim, ele fará o que for preciso para mantê-la em
Chinook.
Howler o encara com um olhar de traição.
— É o meu bar — resmunga.
— Nosso bar — retruca Solomon.
— Oh, claro, você usa essa carta depois de sete malditos anos.
Os olhos de Tessie brilham de excitação enquanto ela passa
carinhosamente as mãos pela parede de tijolos.
— Poderíamos dar uma nova cor Pantone nisso.
— Que diabos é Pantone? — resmunga Howler, passando a mão
incomodada pelo cabelo loiro-areia. — Você não vai pintar esse
tijolo. É uma instituição.
Solomon resmunga diante do teatro.
— Nós já mijamos nesse tijolo. — Ele acena com orgulho para
Tessie. — Quer fazer isso? Ela é sua garota. Ela faz isso para viver.
— E farei de graça — ela diz com um sorriso convencido. — É
pegar ou largar. Porque estou desempregada e gosto muito de um
bom projeto de história da Cinderela.
— Tudo bem. — Resmungando, Howler bate um cardápio
grudento no peito de Solomon. — Você vai ter que criar o melhor
cardápio da maldita Alasca.
— Com certeza farei. — Os olhos de Solomon se fixam em
Tessie.
Seu coração se aperta.
Droga, ele ama como ela fica no seu bar.
Hoje à noite, ele vai amar como ela fica na sua cama.
Capítulo vinte e quatro

Trinta minutos depois, Solomon está guiando a caminhonete por


uma estrada sinuosa de cascalho. Ao passarem por um bosque de
abetos escuros, uma cabana surge à vista. Tessie se endireita e olha
para ele.
— É aqui?
Ele entra na entrada e desliga o motor.
— É aqui.
Um rápido exame do amplo quintal a faz sorrir. A cabana de
Solomon não é exatamente a cabana escura e deteriorada que ela
imaginava. Em vez disso, é uma cabana em formato de V pitoresca,
aninhada na borda da floresta boreal. Como uma elegante cabana
de esqui no Colorado, com um toque inacabado. Lenha cortada está
empilhada em um monte em forma de pirâmide ao lado de um
machado. Um caminho de pedra serpenteia em direção à porta.
Móbiles de vidro soprado pendurados nas árvores ao redor do
quintal. Um grande deque de madeira, perfeito para leitura ou
observar as estrelas, recebe os visitantes.
O lar dela.
Pelo menos pelos próximos dias.
O barulho da porta da caminhonete chama sua atenção. Solomon
está saindo e contornando a frente do capô. Com um sorriso, ela
aproveita a oportunidade para admirar seu belo homem da
montanha. Ele está tão incrível. Tão no seu elemento, com sua
barba, seus músculos e seu cachorro de caça, que está uivando no
banco de trás.
Sua porta se abre. Então, segurando sua mão com intensidade
tranquila, Solomon a ajuda a descer.
Tessie fica parada na floresta selvagem, absorvendo tudo. Esse
lugar que Solomon ama. O pulso desse país selvagem e maravilhoso.
Uma brisa fresca sussurra entre as árvores, bagunçando as pontas
de seu cabelo. Ao longe, há o murmúrio leve de um riacho ou
córrego. Cantos de pássaros lá no alto das árvores. Montanhas
ásperas e rochosas pairam sobre a cabana como se fosse seu dever
solene protegê-la.
Certamente supera a vista do estacionamento do seu
apartamento.
— O que você acha? — Solomon pergunta, seu olhar expectante.
Nervoso.
Ela inclina a cabeça para olhar para cima para ele.
— Hmm — ela murmura. — Não é tão rabugento quanto eu
imaginei.
Ela é recompensada com um grunhido bem-humorado.
— Está me chamando de rabugento?
— Estou chamando você de meurabugento.
Seus olhos suavizam, e o sorriso que surge em seus lábios faz o
coração dela dar cambalhotas.
Ao longe, o uivo de um lobo. Tessie se aproxima, segurando o
reconfortante bíceps de Solomon.
Enquanto ele observa a cabana, Tessie vê a tensão em seu corpo
se dissipar. Ele parece relaxado. Confortável. Em casa.
— Sentiu falta disso? — ela pergunta suavemente.
Com um olhar intenso para ela, ele puxa sua mala da parte de
trás da caminhonete.
— Não tanto quanto eu pensei que sentiria.
Seu coração dá um pequeno salto.
— Vamos lá, Mulher Grávida. — Ele abre a tampa traseira da
caminhonete e ajuda Peggy a sair, então entrelaça os dedos com os
dela. — Por aqui.
Obedientemente, Tessie o segue até a casa. Ela faz uma pausa
no deque e acena na direção do que parece ser um galpão em
estacas, a uns quatro metros da casa.
— Por que está elevado?
— Para afastar animais selvagens — Solomon diz, procurando a
chave no bolso. Ele a encontra e a coloca na fechadura. — Melhor
entrarmos. — Ele levanta as sobrancelhas, seu tom sombrio. —
Provavelmente só temos alguns minutos até escurecer.
— Espera, o quê? — O medo arrepia a nuca de Tessie, e ela olha
para a linha das árvores. Os raios de sol ficam cada vez mais fracos
através da folhagem. — O que acontece quando escurece?
Virando-se para Solomon, ela pega seu sorriso malicioso e dá um
tapa em seu braço.
— Homem mau — ela sibila.
Seu sorriso se transforma em um raro sorriso completo, ele beija
sua testa e abre a porta da frente. Peggy corre para dentro com um
latido.
Cautelosa, curiosa, Tessie passa por Solomon. Instantaneamente,
o espaço é iluminado com um clique no interruptor.
— Oh, Solomon. — Ela coloca as palmas das mãos em seu
estômago e para em suas trilhas. — É tão bonito.
Nada do que ela imaginava fez justiça a isso. Ela esperava um
espaço austero e vazio, mas em vez disso, encontra... charme.
Beleza.
Solomon.
Ele continua surpreendendo todas as suas suposições sobre ele.
Roubando seu coração.
O interior da cabana é ainda melhor do que o exterior. A sala de
estar, cozinha e sala de jantar são de conceito aberto. Na sala de
estar elevada, dois sofás de couro estão aconchegantes diante de
uma lareira de pedra.
Rústico, mas chique. Algo que ela mesma projetaria.
Tessie anda pelo cômodo sem fôlego, pressionando as palmas
das mãos contra as paredes de madeira. Natural. Sem tinta ou
verniz. Apenas natureza selvagem. Ela cheira a parede. Olha para
Solomon, que a observa com um sorriso divertido.
— Pinheiro? — ela pergunta.
— Abeto — ele corrige, colocando sua bolsa no chão e fechando
a porta.
Ela se senta ao lado da longa mesa da cozinha. Quatro cadeiras
e um banco. Madeira tão suave quanto seda. Passando o dedo sobre
uma perna elaborada, ela olha por cima.
— Você fez isso?
Ele assente.
— Fiz.
— É lindo.
Outro suspiro, as engrenagens em sua mente girando com
possibilidades.
— Você deveria fazer os móveis para o Ninho do Howler na
reforma. Oh! O balcão do bar. Os bancos!
Ele ri.
— O Howler já está me pedindo para escrever um cardápio. Não
exagere.
Ela se levanta, dando uma mexida, e os olhos de Solomon
piscam em resposta.
— O que posso dizer? Chinook já está me inspirando. — Jogando
o cabelo sobre os ombros, ela arqueia a sobrancelha. — Exceto
talvez seu amigo.
O cara a ignorou completamente, isso ficou claro. Mas ela não
vai deixar isso afetá-la. Depois de sua passagem por LA, ela está
acostumada com o gelo e os olhares irritados.
O rosto de Solomon se fecha.
— Howler... ele só está…
— Com ciúmes?
— Não tenho certeza. — Ele passa a mão pelo cabelo escuro.
Sua mandíbula dura se firma. — Não se preocupe com ele. Foque no
bar e vamos fazer isso. — Seu olhar sério se volta para a barriga
dela. — Tem que ser rápido, Tess.
Ela levanta a mão.
— Será — ela promete. — Estou pronta para um desafio.
A empolgação borbulha em seu peito. Arrumar o bar de Solomon
é pura adrenalina. Ela teve uma visão detalhada do que o espaço
poderia ser quase que instantaneamente. Industrial, mas
aconchegante. Sombrio, mas divertido. A personalidade do Howler
mesclada com a de Solomon. Porque eles são a alma daquele bar, e
é importante refletir isso.
Esse design está ao seu alcance. Isso lhe dará algo para fazer,
ajudará a não se sentir tão perdida, canalizará sua ansiedade
inquieta para algo bom. Porque em pouco tempo, ela precisa
encontrar um emprego. Antes que aquela velha energia nervosa
volte a atacar.
Quando Tessie chega à escada profunda que corta a parede de
madeira e leva ao quarto loft, ela para. Não há corrimão.
— Essas escadas... — Solomon começa, parecendo
adoravelmente preocupado. — Não são seguras para você.
— Você não estava exatamente esperando uma mulher grávida
subindo nelas.
Quando ele não diz nada, sua expressão se transforma em um
olhar irritado, ela vai até ele, colocando a mão na frente de seu
peito. Seu coração bate rápido sob sua mão.
Ela lhe dá um pequeno sorriso.
— Solomon, está tudo bem. Vou ter cuidado.
Ele a observa, e então sua expressão se suaviza.
— Vou te ajudar.
Com Solomon atrás dela, com a palma da mão em suas costas,
guiando-a, ela sobe lentamente e com cuidado os degraus.
Ela dá um suspiro.
No meio do quarto loft está uma cama grande. Uma manta
coberta de pelo sintético está em uma das extremidades, um banco
de couro aos pés. De um lado do quarto, há uma cadeira de balanço
de madeira e uma pequena mesa de apoio. Uma banheira antiga
com pés de garra fica em frente, ao lado do banheiro.
Encantada, ela puxa Solomon pela mão.
— Homem Solene, você tem uma banheira.
Ele ri.
— Não estou tão afastado assim do mundo.
Avançando em direção ao centro do quarto, ela observa as
paredes inclinadas que dão ao espaço uma sensação extremamente
aconchegante. Ela não consegue evitar imaginar ela e o Bear neste
espaço. Porque é perfeito. Perfeito para um berço. Para uma família.
— Isto é lindo. — Ela contém um sorriso e prende seu olhar ao
dele. — Eu amo isso, Solomon. Isso é melhor do que o México.
Algo muda em sua expressão quando ela diz as palavras. Sua
garganta se move, seus olhos permanecem nela. Então ele levanta
uma mão.
— Tess. Olhe para cima.
Ela o faz. E, desta vez, ela não consegue segurar o suspiro. Nem
mesmo falar.
Um teto de vidro sobre a cama deixa o céu da noite entrar.
Deixa as estrelas entrarem.
No momento em que ela vê a janela, a primeira estrela cintilando
no majestoso céu do Alasca, as comportas se abrem e suas lágrimas
se libertam.
Tudo parece tão destinado. Como se os acontecimentos de sua
vida tivessem lentamente se encaixado. Como se ela tivesse seu
coração pulsante em suas mãos e estivesse mostrando a ele a vida
que ela deveria viver.
Porque ela deveria estar ali. Com Solomon. Com o filho deles.
Em dois passos rápidos, Solomon está ao lado dela, enxugando
as lágrimas de suas bochechas. Sua mão grande e forte segura seu
rosto, fazendo-a olhar para ele.
— Não chore — ele diz em voz baixa e rouca. — Você me destrói
quando chora, querida.
— Desculpe. — Ela funga.
— Não peça desculpas. O que há de errado?
— Nada está errado.
— Então por que está chorando?
— Porque tudo parece perfeito demais. Tão perfeito. — Ela
balança a cabeça, lágrimas quentes escorrendo por suas bochechas.
Pressionando as palmas contra seu ventre, ela olha para Bear. — E
estou grávida. E sou boba.
— Você não é boba. — Ele toca sua bochecha, direcionando seu
olhar para ele. — Eu também sinto.
— Você sente?
— Sinto. Algo tão malditamente certo que quero enlouquecer
diariamente. — Seus olhos de lápis-lazúli queimam nos dela. E ela
sabe. Pelo jeito que ele olha para ela, ele entende. Seus medos.
Suas dúvidas. Sua alegria. Ele entende e vai segurá-los. — Você,
estando aqui... significa tudo para mim, Tessie. — Ele coloca a mão
em sua barriga. — Vocêsignifica tudo.
Seus lábios se abrem, mas ela não diz.
Ainda não.
Em vez disso, ela se inclina para frente, e Solomon a pega como
ela sabia que ele faria, a trazendo para o peito dele. Seu corpo
grande – quente, sólido e seguro – a envolve enquanto ela se ergue
na ponta dos pés para encontrar seus lábios.
E o pulso de Tessie martela uma melodia em suas veias.
Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.
Capítulo vinte e cinco

Solomon e Tessie caminham pela calçada até a casa onde ele


passou a infância. Uma casa de dois andares em creme, com
varanda ao redor e um grande carvalho no quintal da frente.
Brunch de domingo.
O brunch lhes dá uma saída. Duas horas de conversa e então
podem ir embora.
Inspirando profundamente, Tessie alisa a frente do vestido.
— Ok — ela diz. — Vá em frente. Bata na porta.
O canto da boca de Solomon se contrai. Sua garota está pronta
para o jogo. Ele percebeu os sinais. A maneira como ela morde o
lábio inferior. A maneira como faz três círculos na barriga e depois
suspira.
— Você está nervosa.
Ela o soca no braço.
— Claro que estou nervosa. Vou conhecer sua família. — A
apreensão mancha sua voz. — E se eles me odiarem? E se acharem
que sou uma mulher de má reputação que engravidou de propósito?
Ele arqueia uma sobrancelha divertida.
— Mulher de má reputação?
Seu rosto bonito se enruga e ela apoia a mão na barriga.
— Esta é a família do Bear. Estou desempregada. Estou grávida.
Sou californiana. Não estou exatamente causando uma boa primeira
impressão.
— Tess, querida. — Ele segura suas mãos, acalmando-a. O olhar
triste que ela carrega tem o poder de destruí-lo. — Nada disso, ok?
Eles vão te amar.
Ninguém e nada vai machucá-la. Especialmente quando ele
estiver por perto.
Ela inclina o rosto para cima, a expressão suavizando.
— Você promete?
Ele beija sua testa.
— Eu prometo.
— Nervosismo?
— Sem nervosismo.
Inferno, ele é quem deveria estar nervoso. Ele não trouxe uma
mulher para casa desde Serena. Mas ele mal pode esperar para que
sua família conheça Tessie. Estar aqui em Chinook com ela fez seus
sentimentos crescerem dez vezes. Vê-la na cabana dele, amando-a
tanto quanto ele, tirou-lhe o fôlego.
Ele não está nervoso. Não hoje.
Não com Tessie.
Ele não quer mais escondê-la. Ele quer que todos vejam a força
que ela é. Saber que ela vai fazer parte da sua vida.
É assim que ele tem certeza sobre ela.
Na varanda da frente, Solomon para antes de bater na porta.
— Você me avisa se for demais e nós vamos embora. Entendeu?
É muito para ela; ele entende isso. Ela está fora do seu
elemento, fora de LA, grávida, no mundo dele e agora conhecendo
estranhos que vão querer saber tudo sobre seus planos, sobre o
bebê. Graças a Deus que o único membro da família com o poder de
assustar Tessie está em Anchorage.
Tessie joga o cabelo para trás do ombro esguio, ajustando sua
expressão para uma confiança tranquila.
— Eu vou ficar bem.
— Apenas seja você mesma.
Ela resmunga.
— Grávida e mal-humorada. Entendi.
Ele espera que ela concorde com um pequeno aceno, então pega
sua mão e, com a outra, bate na porta de madeira.
Em segundos, a porta da frente se abre rapidamente, como se
Melody estivesse esperando no olho mágico, pronta para atacar.
Ignorando-o, sua irmãzinha vai direto para Tessie. Olhos brilhantes,
calor genuíno em seu rosto.
— Oi! Eu sou a Melody.
Tessie sorri e estende a mão, relaxando.
— Tessie.
— É um prazer conhecê-la — sua irmã diz. Seus olhos caem para
a barriga de Tessie, então voltam para Solomon. — Meu Deus.
Ele ri.
— Você achou que eu estava inventando?
— Não, mas… — Seu lábio inferior treme.
Solomon inclina a cabeça para o céu. Lágrimas da família não
estão na agenda hoje.
— Sem chorar — diz à irmã, que imediatamente protesta. —
Você chora, lava a louça.
Um resmungo.
— Ok. — Ela estende o braço para Tessie. — Por favor, entre.
Todo mundo está muito animado para conhecê-la.
Tessie lhe envia um sorriso agradecido, e eles atravessam a
soleira da porta juntos.
Melody levanta a mão à boca.
— Pessoal, eles estão aqui! — Sua voz animada ecoa pelo
corredor. Então ela se volta para Tessie. — Eu pessoalmente gostaria
de agradecer por tirar nosso irmão de sua caverna.
Tessie ri.
— Foi um prazer.
— Com certeza. Você está aqui. — Jo desce o corredor, os braços
já estendidos. — É hora de todos os abraços. Espero que esteja
pronta.
Solomon abraça sua irmã, a do meio rebelde da família. Quando
ela se afasta, ela se concentra em Tessie. Barriga. Tessie.
Com um suspiro, ele diz:
— Esta é Tessie. E sim, esta é a barriga dela.
— Meu Deus — posso… — As mãos de Jo pairam a alguns
centímetros da barriga de Tessie, então ela se detém. — Não, isso é
estranho. Desculpe. Como se a primeira coisa que quiséssemos fazer
fosse apalpar você. Meu Deus, eu sou horrível. Estamos realmente
ultrapassando seus limites corporais agora.
Solomon desliza a mão pelo ombro de Tessie, querendo que ela
saiba que é a escolha dela.
— Você não precisa.
Com um sorriso nos lábios cheios, Tessie inclina o rosto para ele,
aceitando a estranheza de sua irmã.
— Vá em frente.
Uma erupção de risadinhas o faz rir. Quatro mãos pressionando a
barriga de Tessie. A imagem faz seu peito apertar. Faz ele imaginar
seu filho ali para os jantares em família, brincando com suas tias e
seus avós.
— Solomon Jack.
Uma voz suave o faz virar. Sua mãe, cabelos brancos longos
esvoaçando atrás dela, está saindo apressada da cozinha.
— Ah, é tão bom te ver, filho — ela diz, envolvendo-o em um
abraço desesperado.
A garganta apertada, Solomon a aperta contra si. Já faz muito
tempo desde que pisou dentro de sua própria casa. Nos anos após
Serena, ele só passava para ajudar a consertar alguma coisa ou para
deixar as travessas de caçarola que sua mãe deixava na varanda da
frente, nunca ficando ou aproveitando sua família. Um erro que
cometeu uma vez, mas não cometerá novamente.
— Ei, mãe — ele diz, recuando. — Onde está o pai?
Ela resmunga.
— Ah, você conhece aquele homem. Mexendo em alguma coisa
na churrasqueira. Pensei que poderíamos comer lá fora já que é o
último dia agradável que teremos por um tempo. — Ela se volta para
Tessie, seu olhar azul a encontrando. — E essa deve ser sua doce
garota. Olá, eu sou Grace.
Tessie cora e aperta a mão de sua mãe.
— Oi, eu sou a Tessie. É um prazer conhecê-la. — Ela sorri para
suas irmãs. — Todas vocês.
— Pare de ficar parada aí. — Sua mãe levanta as mãos e faz um
gesto de “vem”. — Temos bebidas e petiscos na varanda.
Num coro alto de vozes, eles seguem sua mãe. Mas a meio
caminho pelo corredor, Solomon percebe que Tessie não está mais
ao seu lado.
Ele se vira.
Porra.
Ela está observando a parede da galeria no corredor comprido.
Fotos da família de Solomon. Fotos dele e Serena.
— É ela? — ela pergunta, apontando para uma moldura dourada.
— Serena?
O olhar preocupado de sua mãe se volta para Solomon, então
para Tessie.
— É — ela diz.
— Crater Lake — ele diz em voz baixa, fechando a distância entre
eles para abraçar Tessie. — Foi nossa lua de mel.
— Ela é linda. — Entrelaçando seus dedos com os dele, Tessie
sorri. Sem vestígios de nervosismo em seu rosto. — Vamos comer?
Solomon solta um suspiro que não sabia que estava segurando.
Alívio o preenche. Tessie está lidando bem com tudo. Entendendo o
passado dele e nunca pedindo para escolher.
Lá fora na varanda, seu pai, ao ver Tessie, coloca na mesa a
bandeja com hambúrgueres prontos e se aproxima.
— Oi, Tess, eu sou o Jack. Prazer em conhecê-la. — Ele beija sua
bochecha, depois ergue as sobrancelhas grisalhas para Solomon. —
Já era hora, filho.
Ele revira os olhos com o comentário do pai. Mas gosta. Gosta de
estar de volta com sua família, trocando provocações bobas, fazendo
parte do clã Wilder novamente. Ele não percebeu o quanto sentia
falta disso.
— Você fez um banquete — ele comenta. Grandes bandejas de
comida estão dispostas na mesa. Vegetais frescos com molho.
Muffins. Frutas cortadas em formas de estrela.
— É uma ocasião especial — Jo diz, dando um gole na garrafa de
champanhe.
— Uma celebração — Melody acrescenta.
Depois de se acomodarem e fazerem um pouco de conversa
fiada, a conversa se volta para o óbvio.
Bebês.
— Então... — Jo esfrega as mãos ansiosamente. — Solomon tem
nos mantido no escuro. Queremos saber tudo sobre esse bebê e
seus planos.
Solomon lança um olhar duro para sua irmã, pedindo para ser
gentil com Tessie. Claro, sua família está animada, mas isso não
significa que têm o direito de atacá-la com perguntas. Além disso,
ela não precisa se preocupar. Ele está com ela. Mesmo que ela ainda
não saiba disso.
Tessie sorri na direção dele enquanto ele aperta a mão dela,
transmitindo confiança.
— Bem, é um menino. Ainda não decidimos o nome, e ele nasce
em vinte e três de dezembro.
— Quando o bebê nascer — sua mãe começa —, e depois?
Quanto tempo você fica em Chinook, Tessie?
— Oh, eu... — Seus olhos hesitantes piscam para Solomon e
depois para a mãe dele. — Eu não tenho certeza. Ainda não
planejamos com tanta antecedência.
Seu coração afunda com a resposta dela. Ele precisa contar a
ela. Que a ama. Que ela indo embora vai absolutamente destruí-lo.
Sua mãe se inclina para frente e sorri.
— Só estou perguntando porque adoraríamos fazer um chá de
bebê enquanto você estiver aqui.
O rosto de Tessie se ilumina.
— Sério?
— Claro.
Quase timidamente, ela concorda.
— Isso seria maravilhoso.
Jo se recosta na cadeira, seu olhar azul se volta para Solomon.
— Não são permitidos garotos.
Melody bate seus cílios.
— Mas você pode vir nos ajudar a preparar.
Solomon solta uma risada.
— Usado cruelmente.
— Pensamos em convidar a Evelyn — seu pai acrescenta.
Com a menção de sua irmã mais velha, ele se enrijece. A última
conversa que teve com ela foi no México. Sua reprimenda
injustificada sobre Tessie deixa um gosto ruim na boca.
— Se ela se comportar — diz.
Os lábios de Tessie se contorcem em uma pergunta.
— Se comportar?
Jo se inclina para trás na cadeira, roendo uma cenoura bebê
como se fosse um charuto.
— O truque com a Evelyn é não fazer contato visual, a menos
que queira ter suas pupilas arrancadas.
— Meninas — resmunga a mãe, rindo com a mão na boca.
Tessie arqueia uma sobrancelha irônica.
— Ela não é sua irmã?
Melody dá de ombros, pedindo desculpas.
— Ela é um pouco presunçosa.
Solomon quase se engasga de tanto rir, enquanto o pai coloca os
dedos nos ouvidos.
— Eu não estou ouvindo isso — ele diz.
Tessie se levanta da cadeira, indo para os legumes e o molho,
afastando-o quando ele se levanta para pegar para ela.
— Me conte sobre o Solomon quando era pequeno — ela diz,
olhando entre Jack e Grace. — Quero saber tudo sobre ele.
Uma rodada de gargalhadas explode, e Solomon geme. Isso é
exatamente o que ele precisa. Sua família contando segredos.
— Solomon era um menino selvagem — começa a mãe dele.
Tessie ouve atentamente, seus olhos castanhos brilhando com
travessura.
— Ele sempre gostou de ferramentas — acrescenta o pai. —
Dormia com elas à noite. Não conseguíamos as tirar dele.
Nesse ponto, todos, exceto Tessie, já tomaram algumas cervejas,
e a conversa está fluindo. O sol está alto no céu, aquecendo o ar frio
da tarde.
— Riam à vontade — diz Solomon para Jo, enquanto agarra o
pulso de Tessie. — Sou o mais velho. Conheço todos os seus
segredos desde que você nasceu. — Lentamente, ele puxa Tessie
para perto, acomodando-a em seu colo.
Instantaneamente, a mesa fica em silêncio. Jo tosse na mão.
Melody se vira, limpando uma lágrima do canto do olho. O canto da
boca com bigode de seu pai se mexe, esboçando um sorriso.
— Jesus — ele murmura, segurando Tessie mais firme nos
braços. — Vocês precisam parar com isso.
Tessie, com o rosto vermelho, esconde o rosto no peito dele
enquanto uma rodada de risadinhas preenche o ar.
— Oh! — Jo se anima. — E o oitavo ano?
— Não comece com o oitavo ano — Solomon lhe lança um olhar.
— Mamãe nem sabe sobre isso.
Jo ri.
A mãe dele arqueia uma sobrancelha.
— Sabe sobre o quê, Solomon Jack?
— Sim — diz Tessie, sorrindo. — Adoraria saber.
Ping.
Tessie fica alerta.
— Finalmente! Não tive um único sinal desde que cheguei aqui —
ela diz, alcançando sua bolsa enquanto Melody a passa pela mesa.
Sua rápida inspiração tem a atenção de Solomon descendo para
sua barriga.
— Está tudo bem?
Tessie olha para o telefone, uma expressão preocupada em seu
rosto.
— Está tudo bem. É só meu aplicativo. — Seu sorriso é fraco
enquanto olha ao redor da mesa. — Com licença, preciso usar o
banheiro.
— Terceira porta à esquerda. — Ele dá um impulso em Tessie
para tirá-la do colo e observa enquanto ela desaparece lá dentro.
Segundos se passam, e então sua família se volta para ele.
— Ah, nós a amamos — diz Melody, soltando um grito
entusiasmado. — Ela é tão…
— A cara de vadia12 em repouso dela é… — Jo levanta a mão e
estala os lábios. — Mwah, perfeita.
— Lavar os pratos — diz a mãe dele, apontando para Jo. Então
ela vira seu olhar lacrimoso para Solomon. — Você tem que ficar
com ela, Sol.
Ele engole o nó na garganta.
— Eu pretendo.
Uma facada atinge seu coração. Ele está tão agradecido por ter a
família mais solidária do mundo. Eles já amam Tessie. Seu filho. Eles
poderiam estar furiosos com ele por fazê-los passar por um inferno,
por fazê-los se preocupar. Em vez disso, estão felizes por ele.
Seus dois mundos se encontrando – sua cidade natal e seu
futuro.
Seu pai ri.
— Tenho que admitir, filho. Um bebê. Uma nova garota. É uma
maneira incrível de voltar para Chinook.
Solomon concorda e sorri. Ele entende. Porque ele se sente de
volta. E não apenas isso. Ele se sente encontrado.
— Há mais uma coisa que vocês devem saber — diz Solomon,
sorrindo mais largo. — Vou voltar a trabalhar no bar.
Jo ergue as mãos.
— Louvado seja o Senhor.
Com a voz tremida, seu pai limpa a garganta e ajusta seus
óculos de aro.
— Essa é a melhor notícia em muito tempo.
Sua mãe se levanta, contorna a mesa para beijar sua bochecha.
— Estou tão feliz por você.
Ele segura as mãos dela e engole em seco. Precisando dizer isso.
— Escute, mãe. Eu não estava lá–
— Silêncio — ela diz, apertando seus dedos. — Não há
necessidade disso. Você está aqui agora. Por causa desse bebê e
dessa garota.
— Estou — responde ele, sem dúvidas. Nunca mais.
— Isso é tudo que importa, Sol. — Grace sorri, orgulho e alívio
brilhando em seus olhos. — Você tem uma segunda chance com
uma mulher maravilhosa. Uma família.
Uma segunda chance.
As palavras de sua mãe quase o derrubam. E algo se desenrola
em seu peito. O nó duro de arrependimento, de culpa que ele
guardou todos esses longos anos desfazendo-se.
Ele tem uma segunda chance.
O futuro está aberto. Ele só precisa segurá-lo.

Tessie se senta na beira da banheira dos Wilders, a perna tremendo


freneticamente, roendo uma unha. Pela quarta vez nos últimos vinte
segundos, ela relê a mensagem de Nova King. A mulher é dona da
maior firma de design de celebridades em Los Angeles. Um breve
“você pode me dar um minuto?” a deixa perto, ou talvez, cagando
nas calças.
E então seu telefone toca. Explode em suas mãos. Tessie quase
deixa cair no vaso sanitário.
Merda. É ela. Recusar a ligação dela provavelmente não é uma
jogada sábia, mesmo que sua carreira já esteja na lama.
Ela desliza para atender.
— Nova, oi.
— Tess Truelove, onde você esteve em toda a minha vida?
Claramente não na minha empresa. — Nova soa como uma atriz
clássica de Hollywood. Ao mesmo tempo entediada e sedutora.
— Estive fora do país. De férias.
— Entendo. — As palavras da designer são precisas, sem revelar
nada. — Ouvi dizer que você se separou da Atlas.
É uma forma educada de dizer que ela mandou seu chefe se
ferrar.
— Sim.
— Você está em todos os noticiários, Tess. A cabana que você fez
para Penny Pain está causando furor na comunidade. Segundo a
Architectural Digest, você é a designer mais requisitada desde que
R.M. Matlin projetou a vila Schumacher.
— Uau — ela respira, atordoada. — Eu não tinha ideia. Me
desliguei do mundo esses dias.
— Mulher inteligente. Escute, não estou ligando para fazer
conversa fiada. Quero te oferecer um emprego.
O cérebro de Tessie se agita. Ela se levanta e anda de um lado
para o outro no pequeno espaço.
— O quê?
— Um emprego. Eu sei que você está precisando.
— Estou. — Desesperadamente. — Mas…
É isso que ela realmente quer? Trabalhar para celebridades?
Claro, ela adora o glamour, a emoção e o desafio, mas ela quer
ajudar as pessoas a encontrarem sua beleza. Não ser comandada
por atores mimados ou destruir casas históricas para criar mais
planos abertos e sem graça. Voltar para aquele mesmo mundo
cansativo em que não era fã.
Ela não era nada. Especialmente feliz.
— Tess? Você está aí?
Ela inspira profundamente. É hora de tomar uma posição. De
fazer o que vem fazendo no último mês com Solomon. É hora de
viver.
— Nova, estou grávida. E embora ame o design, não farei o que
fazia quando trabalhava para a Atlas.
Um silêncio longo, tão longo que ela pensa que talvez a ligação
tenha caído, e então Nova diz:
— Eu entendo. Estou na mesma situação que você. Estamos
trabalhando para tornar a Nova Interiors um ambiente inclusivo,
especialmente para mães. No momento, oferecemos dezesseis
semanas de licença maternidade remunerada, mas esperamos
ajustar nossas políticas em breve.
A cabeça de Tessie gira. Licença maternidade remunerada?
Dezesseis semanas?
— Eu entendo que seu filho vem em primeiro lugar. Estabeleça
seus horários, esteja presente para seus clientes, mas defina limites.
Nosso ambiente não é perfeito, mas compreendemos um equilíbrio
saudável entre trabalho e vida pessoal. Não tenho problema em
contratá-la enquanto espera o bebê. — Um som de papéis sendo
embaralhados. — Se estiver pronta, posso enviar um contrato por e-
mail.
Tessie para de andar de um lado para o outro, deixando uma
mão cair sobre a barriga como se Bear fosse uma bola de cristal que
tem todas as respostas.
Porque esse emprego parece ser a resposta para seus sonhos.
Um emprego. Dinheiro. Seguro. Potencialmente um ambiente de
trabalho não tóxico. Mas...
Mas e Solomon? E Chinook?
Um mês atrás, ela teria aceitado de imediato, sem dúvida, sem
questionar.
Agora, ela está neste mundo congelado, longe de Los Angeles.
Tomando riscos. Mas são os riscos certos? Está sendo uma mulher
irresponsável e volátil, perseguindo um homem do outro lado do
mundo só porque viu estrelas?
A dúvida a preenche como um balão. Suas antigas preocupações
com medo e abandono a atingem como uma onda inesperada.
Ela e Solomon concordaram, quando deixaram o México, que
dariam se uma chance. Mas o que são um para o outro? Eles não se
comprometeram. Nem ela nem Solomon disseram aquelas três
palavrinhas.
Ela nunca fez isso antes. Namorar. Um relacionamento. Eu te
amos. E se ela for péssima nisso? Solomon já foi casado antes. E se
ele perceber depois que ela não é o que ele quer e ele se contentar
com ela por causa do bebê? E se tudo o que ela fez foi largar o
emprego, deixar sua vida, deixar seu apartamento ruim, deixar Ash,
e fugir para o Alasca para viver com um homem montanhês
carrancudo que talvez considere isso temporário? Que a expulse
assim que ela ficar muito neurótica.
Ela está tentando se manter calma, tentando não se importar,
mas por quanto tempo ela pode fazer isso? Por quanto tempo ela
pode apenas seguir o fluxo? Ela não quer viver em um limbo. Ela
quer viver no amor. Ela quer Solomon. Seu homem das montanhas
que cheira a bosques. Quer a acolhedora cabana dele com suas
montanhas selvagens e estrelas.
Meu Deus.
Como ela pode partir quando está desesperadamente apaixonada
por Solomon?
E ainda, se tudo der errado, se eles não funcionarem, se ela
recusar o emprego, ela estará escolhendo a si mesma em vez de seu
filho.
Mordendo o lábio, Tess olha para sua barriga inchada. Ela não
tem muito tempo. Ela tem que decidir logo.
Um tremor escapa dela.
— Eu só... Eu… posso pensar sobre isso?
Um toque na porta. Um ruído profundo.
— Tess? Tudo bem aí?
Merda. Solomon.
O ar prende na garganta de Nova. Como se ela não estivesse
esperando a recusa.
— Claro. Mas eu quero você na minha equipe, Tess. Farei de tudo
para te convencer. — Há um sorriso na voz rouca de Nova. — Nada
menos que um texto por semana. Eu prometo isso a você.
— Ok, ótimo, obrigada — sussurra Tessie, lisonjeada. —
Conversamos em breve. Tchau.
Tessie desliga e então abre a porta abruptamente. Antes que
Solomon consiga dizer uma palavra, ela o agarra pela frente do
casaco e o puxa para o banheiro, para seus lábios. Ela bate a porta e
o pressiona contra a parede com papel de parede floral.
Ela o beija. Com força. Profundamente. Como se pudesse gravar
seu corpo, suas tatuagens em sua alma como um lembrete do que
ela tem. De tudo o que ela quer manter.
Eles se separam, ofegantes. As grandes mãos de Solomon
acariciam o rosto dela.
— Você está bem? — ele pergunta, os olhos dele fixos nos dela
como um atirador. — Fiquei preocupado.
— Estou bem. — Ela o beija novamente, odiando mentir, mas
não pronta para contar a ele sobre a ligação telefônica. — Minha
bexiga está do tamanho de uma noz.
Ele arqueia uma sobrancelha escura, sem acreditar.
— Ou talvez você esteja se escondendo no banheiro?
Ela cora.
— Talvez.
Ele solta uma risada.
— Bem, você tem que me contar. Eu também não quero estar
aqui.
Controlando seus nervos, ela sorri para ele.
— Sim, você quer. Eu amo sua família. Grande, barulhenta e por
toda parte. Eu não tive isso. Você é sortudo.
— Eu sou.
— E o Bear será sortudo também.
— Ele será. — Solomon passa uma grande mão sobre o
estômago dela. — E adivinha?
— O quê?
— Eles também te amam.
Tessie pressiona uma mão no centro do peito, o alívio acalmando
o rápido palpitar do coração.
— Eles amam?
— Eles amam.
As palavras são um bálsamo. Tessie estava nervosa sobre
conhecer a família dele. Preocupada se eles a comparariam com
Serena. Mas ela não se sentiu assim de jeito nenhum com os
Wilders. Ela se sentiu bem-vinda, todos os seus medos acalmados.
Por enquanto.
Mais uma vez, Solomon a puxa para si, seus braços firmes a
abraçando forte, e Tessie se enterra em seu grande corpo, como se
pudesse esquecer o mundo real.
Como se ela não tivesse uma decisão muito, muito importante
para tomar em um período muito curto de tempo.

12. Uma expressão facial indelicada, irritada ou séria quando está relaxado, sem
intenção.
Capítulo vinte e seis

Mandona. Bonita. Grávida.


Tessie.
Tessie, segurando sua barriga de trinta e duas semanas,
apoiando um pé com salto alto em uma caixa de frutas para
conseguir segurar melhor uma lâmpada.
— Mulher — grita Solomon do topo do bar, encarando-a com um
olhar severo. — Não ouse fazer isso.
Ela congela, um olhar culpado em seu rosto. Então se acomoda
de volta no chão. Gesticulando para a equipe de caras instalando
cabines pretas no fundo do bar, ela chama:
— Ok, tudo bem. Vocês ouviram ele. Me ajudem ou ele vai gritar
comigo.
Solomon solta um riso abafado. A mulher ainda está usando
esses malditos saltos, mesmo depois dele ter comprado um par
perfeitamente bom de botas para ela. Teimosa.
E ele adora isso.
Desviando sua mente de Tessie, ele volta a se concentrar no que
está fazendo. Ao seu lado, em cima do balcão, há um hambúrguer
montado de qualquer jeito e um bloco de notas cheio de seus
desenhos de frango. Ingredientes locais. Dez itens para o cardápio.
Itens muito bons. Petiscos de bar sofisticados que vão impressionar
tanto os moradores quanto os turistas.
Isso é para o Howler. Um agradecimento por ter aguentado suas
bobagens nos últimos sete anos.
— Quem fez isso? — a voz impaciente de Tessie ressoa. Ela está
curvada sobre uma mesa, etiquetando novas músicas para a
jukebox. — Vocês bloquearam todo o meu sol. Como eu vou
trabalhar?
O resmungo seco de Howler.
— Podemos desacelerar, Cachinhos Dourados? 'Love Shack'?
— É um clássico.
Mesmo que a antipatia do seu melhor amigo pela sua garota o
irrite profundamente.
O Ninho do Howler está atualmente uma zona de demolição,
graças à Tessie. Ele nunca a viu tão feliz. Ou tão grávida.
Nas últimas duas semanas, a vida deles tem consistido em
trabalhar no bar e no bebê.
Eles foram a uma consulta médica, onde Tessie e Bear tiveram
uma avaliação perfeita. Ela está saudável, o bebê está saudável, e
Solomon consegue respirar mais aliviado.
Porque Tessie se jogou na reforma do bar na velocidade da luz.
Procurando móveis para o bar, elaborando painéis de inspiração,
implorando, pedindo emprestado e subornando seus contatos para
envios acelerados, contratando empreiteiros locais para ajudar onde
ele e Howler não podem.
O lado trabalhador de Tess deixa Solomon muito excitado. Ele
adorou vê-la tecer sua mágica de design. Ela é uma mulher teimosa,
que não leva desaforo. Trabalhando horas infernais que nenhuma
mulher grávida deveria trabalhar. E ela está fazendo isso por ele.
Altruísta pra caramba. Eles nunca teriam se recuperado se não
fosse por ela.
Tessie colocou sua vida em espera por ele. Ele não tinha o direito
de pedir a ela para vir para Chinook. Agora cabe a ele dar a ela tudo
o que ela precisa. Seu “eu te amo”. Todo o seu coração. Sua casa.
Um anel no dedo dela.
Balançando a cabeça para se concentrar na comida, ele coloca a
rúcula em cima do hambúrguer e franze a testa. Muito pretensioso?
Braços esguios se entrelaçam em volta de sua cintura.
— Eu gosto desse visual, Homem Solene. Você cozinhando para
nós. — A voz de Tessie, o clique-claque de seus saltos, são quase
Pavlovianos. O pênis dele dá um pulo nas calças.
— Quer experimentar? — ele pergunta.
Ela assente com entusiasmo.
— Me alimente.
Ele o faz, deslizando um pedaço do hambúrguer em sua boca.
Um sorriso se forma em seus lábios enquanto a observa mastigar,
seus olhos castanhos se fechando em satisfação.
— O que você acha?
Ela geme.
— De outro nível. — Ela espalha uma mão sobre sua barriga, o
que faz Solomon fazer o mesmo, absorvendo o movimento lento e
suave. — Bear é um fã.
— Você tem bom gosto, garoto — ele diz para a barriga dela.
Se aproximando rapidamente, Howler resmunga e então se
encolhe em um banco.
— Não consigo acreditar que fechei meu maldito bar.
— Nosso maldito bar. E é só por cinco semanas. — Solomon dá
um olhar para seu amigo. — Lide com isso.
— Deveríamos fazer uma festa — diz Tessie, inclinando-se para
digitar algo em seu laptop. — Para celebrar a reforma.
Howler se anima.
— Pode funcionar. — O leve movimento de sua boca diz que ele
quer a maior festa possível para atrair todas as garotas de fora da
cidade.
— Vai funcionar. — Tessie joga o cabelo. — Coquetéis pela
metade do preço.
Ficando rígido, Howler encara.
— Nunca.
— Estou farta de você — Tessie resmunga, saindo em um
rompante.
— Ela é mau-humorada — diz seu melhor amigo, erguendo as
sobrancelhas.
— Ela está grávida — Solomon responde com um tom que diz
para ele parar com isso, ou vai se ver com ele. Apoiando os
cotovelos no balcão, ele se inclina para baixo e esfrega o rosto. —
Olha, consegue tentar se dar bem com a Tess por cinco malditos
minutos? — Os dois trabalhando juntos têm sido como água
sanitária e amônia. Não se misturam.
Howler mexe em um canto do hambúrguer.
— Vocês estão criando uma criança juntos. Não é como se ela
fosse ficar. Certo?
Com a boca aberta, Solomon está pronto para dizer a Howler que
ele está agindo como um idiota, mas antes que ele consiga dizer
uma palavra, a porta da frente se abre com força e uma rajada de
vento gelado varre o bar.
Solomon se enrijece.
Lá, na entrada, está Evelyn, seu cabelo preto preso em um
coque apertado, sua maleta sem frescuras pendurada no ombro
coberto de neve. Mal movendo a cabeça, ela examina o bar. No
momento em que seus olhos pousam em Tessie, seu rosto escurece.
— Merda. — Solomon limpa as mãos em um pano e o joga sobre
o ombro. A expressão de sua irmã poderia congelar o fogo.
Howler se anima no banquinho do bar.
— O que a velha Evilyn está fazendo aqui?
— Chá de bebê — ele supõe. — Para Tess.
Uma risada.
— Isso vai ser interessante.
Solomon o ignora. Ele já tem preocupações suficientes com sua
irmã na cidade. A julgar por suas conversas telefônicas, ela não está
aqui para fazer amigos.
Ele se levanta do balcão e se aproxima rapidamente de sua irmã.
— Ei, Evy.
— Solomon. — Ela acena brevemente com a cabeça. Sem
abraços. É o jeito rígido e de manter distância de Evelyn. Em raras
ocasiões, ele e suas irmãs a viram baixar sua guarda cerrada graças
a algumas taças de chardonnay. Que isso aconteça nesta visita,
Solomon tem dúvidas.
— Você acabou de chegar?
— Primeira parada. — Ela mantém o olhar nele e depois se volta
para Tessie. — É ela? — O desprezo reveste sua voz. — A loira
grávida se balançando com a vassoura?
Seus punhos se cerram nas coxas da calça jeans.
— Seja simpática.
— Eu sou sempre simpática.
Howler, passando sorrateiramente com uma escada, tosse:
— Baboseira.
Evelyn estende a mão para interromper.
— Se você mencionar a quinta série de novo, eu pessoalmente
detono o seu bar.
Seu amigo ri baixinho e depois diz:
— Cachinhos Dourados se aproximando — antes de se dirigir a
um grupo de caras que estão colocando novas tábuas no chão.
Com um suspiro, Solomon olha por cima do ombro, abrindo os
braços para Tessie e a envolvendo enquanto ela chega ao seu lado.
— Tess, essa é minha irmã, Evelyn.
— Oi — diz Tessie, colocando uma mecha de cabelo atrás da
orelha. Suas bochechas estão coradas, perturbadas pela visita
surpresa. — É um prazer conhecê-la.
— Olá — diz Evelyn, evitando teimosamente olhar para a barriga
de Tessie. Uma linha clara foi traçada. Ela não é fã. E quer que
Tessie saiba disso.
É difícil para Solomon não sacudir sua irmã. Para crédito de
Tessie, ela percebe o desprezo. Colocando uma mão no peito dele,
ela olha para cima. Sua expressão calma e neutra diz a Solomon que
ela vai retribuir à altura.
— Eu vou voltar ao trabalho. Deixar vocês dois a sós.
Ele tenta segurar a mão dela.
— Você não–
Mas ela já está indo embora. Ele observa enquanto ela luta para
pegar uma lata de refrigerante deixada para trás. Mas como ela não
pode se curvar totalmente por causa da barriga, ela a empurra com
o salto alto, fazendo-a rolar para onde precisa.
Solomon olha para Howler.
— Vá ajudá-la — ele ordena. — Agora.
— Caramba. Tá bom — resmunga Howler, mostrando o dedo do
meio para Solomon antes de se afastar na direção de Tessie.
— Que fofo. Você a trouxe. — Evelyn franzia os lábios. — Como
uma lembrancinha.
A boca dele se fecha.
— Pare.
Ela ajusta a frente de seu elegante terno azul-marinho.
— Existe algum lugar menos 'Tessificado' onde possamos
conversar?
Com um franzir de testa, ele pega o cotovelo da irmã e a conduz
de volta para a cozinha. Quando estão sozinhos, ele bate com a mão
na estação de trabalho de aço.
— O que há de errado com você? Você está agindo como uma...
— Ele para, sem encontrar uma palavra inofensiva para chamá-la.
— Eu sei como estou agindo, Sol. Estou agindo como uma vadia.
E também sei como você está agindo. Você está sendo um idiota.
Você não sabe o que está fazendo com ela. É por isso que estou
aqui. Para ajudar.
Ela coloca sua pesada maleta sobre o balcão e solta um suspiro.
Então Evelyn retira um grosso monte de papéis.
— Pelo menos você fez uma coisa certa. Conseguir seu emprego
de volta. Isso nos ajudará no tribunal.
— Tribunal? — Ele passa a mão pelo cabelo. — O que você...
— Eu redigi documentos — diz ela, deslizando os documentos na
direção dele sobre o balcão de metal.
— Que porra são essas? — Um buraco ácido dilacera seu
estômago ao pegar os papéis. Folheando-os, ele vê um pedido de
DNA. Uma manchete grande e em negrito que diz Petição de
Guarda.
— Eu não pedi para você redigir documentos. — Sentindo-se
completamente entorpecido, ele examina os parágrafos legais. —
Negligência? Situação de vida instável?
A culpa torce seu coração.
Caramba, se Tessie visse isso...
Solomon exala com força, lutando contra o impulso de jogar sua
irmã na frente de um alce.
— Evelyn, você tem dois segundos, então fale rápido.
Com os olhos azuis faiscando, ela começa.
— Ela não tem emprego, Sol. Você está sustentando ela. Como
ela vai alimentar seu filho quando voltar para LA? Faça isso ter
sentido. Melhor ainda, tome uma decisão. Consiga a guarda;
mantenha seu filho aqui com sua família.
— Tessie é a mãe dele — ele rosna. — Nós somos a família dele.
Ela bufa.
— Só porque ela está tendo seu filho não significa que você
precisa se conformar.
Chega. Já passou do limite.
— Vou dizer uma vez, Evy, e quero que você ouça. Primeiro —
ele diz com calma forçada, erguendo-se para sua altura total para
que a irmã dê um passo para trás. — Você traz esses papéis à tona
novamente e vamos ter problemas.
Vasculhando a cozinha, querendo essa besteira o mais longe
possível antes que um buraco se abra em seu peito, Solomon pega
um livro de receitas no balcão e enfia os papéis entre as páginas.
Fecha o livro e o coloca na prateleira antes de voltar seu olhar, mais
uma vez, para sua irmã.
— Segundo–
Diga, Sol.
Diga.
Ele inspira, acalmando seu coração.
— Eu amo a Tess. Estou planejando pedir para ela ficar em
Chinook comigo. Eu quero casar com ela.
Caramba.
A admissão em voz alta torna tudo ainda mais real. O quanto ele
quer isso. O quanto ele não suporta ficar sem ela.
A dor atinge os olhos azuis de Evelyn, mas logo ela se recupera,
tão rapidamente que ele quase pensa ter imaginado. Então seu olhar
cai para seu dedo anelar vazio. E ele sabe. Sabe que é porque ele
está seguindo em frente de Serena. Isso machuca sua irmã. Mas
Solomon se recusa a se sentir culpado por mais tempo. Ele pagou
suas dívidas. Ele tem a bênção de Serena. Ele não precisa da de
Evelyn.
Recusando-se a ser influenciada, Evelyn cruza os braços. Empina
o queixo.
— Ela não deveria estar aqui. Ela não está preparada para o
Alasca. Olha para ela. Aposto que nem tem um par de botas ou um
traje de neve.
— Ela não precisa ter um maldito traje de neve — ele retruca.
Porque ela é Tessie. Ela é Tessie de salto alto, ela é sol, ela é a
mulher que ele ama, e ela nunca será Serena. Evelyn nunca a
aceitará. Mas ele não permitirá que ela machuque Tessie.
Sua irmã abaixa a voz.
— Já está nevando. Ela sabe dirigir na neve? Ela sabe que aqui é
escuridão total vinte e quatro horas por dia em janeiro? E se ela
entrar em trabalho de parto e tiver uma tempestade de neve? E se–
— Pare. Porra. — Raiva e pânico arranham seu coração. Ele bate
com a mão no balcão. — Pare.
Surpresa, Evelyn fecha a boca.
Mas é tarde demais. Suas palavras se enroscam em seu
estômago, rasgando um buraco negro de dor. De medo. Ele tem
uma segunda chance de ser um bom homem, um bom marido, um
bom pai. Mas ele merece? Ele merece eles? E se ele não puder
protegê-los?
Chinook é onde Serena morreu. Onde ele trouxe Tessie e seu
filho de volta. E se ela escorregar, ou eles não conseguirem chegar
ao hospital a tempo?
Caramba, se algo acontecesse com ela... ou com aquele bebê...
De repente, ele não consegue respirar. Seu pulso é um disco
arranhado.
— Solomon? — A porta da cozinha se abre, e Tessie está lá,
mordendo o lábio. — Desculpe interromper, mas, nós, hum, temos
um problema com o barril.
Do bar vêm os fracos gemidos de Howler praguejando.
— Eu já vou. — Evelyn vira nos calcanhares, acenando
displicentemente na direção de Tessie. — Nos vemos no chá de
bebê.
— Até logo — Tessie ecoa. Então ela se aproxima dele, olhando
para cima com preocupação. — Solomon?
— Vamos para casa — ele diz, abraçando-a firmemente sob o
braço, seu coração acelerado de maneira instável no peito.
Ela enruga o nariz.
— Tem certeza? E o cardápio?
— Eu termino amanhã.
— O que há de errado? — Uma mão no peito dele. — O que é?
Solomon se vira para a janela, onde uma nevasca pontilha o céu.
Seu aperto nela se intensifica.
— Eu não gosto da neve.

Às seis da tarde, eles chegam em casa vindo do bar. Uma leve


camada de neve caiu enquanto estavam na estrada, o que fez
Solomon dirigir sua velha caminhonete em uma velocidade
geriátrica. Quase estrangulando o volante ao navegar pelas curvas
até a cabana.
Ping.
Com um suspiro cansado, Tessie coloca sua bolsa no balcão e
afunda no sofá de couro. Depois de fazer um carinho em Peggy, ela
tira o celular.
Outra mensagem de Nova.
O tempo está passando, Truelove. Diga sim e me faça uma
mulher muito feliz.
A mulher está a matando. A oferta de emprego paira diante dela
como um irresistível balançar de uma cenoura.
Tessie se sente como a pior pessoa do mundo, mantendo isso em
segredo de Solomon. Como se tivesse uma saída pronta e tudo o
que precisasse fazer fosse apertar o botão de evacuação.
Ela sabe o que está fazendo. Sabe que é errado. Manter uma
saída caso isso dê errado. Para que ela possa partir primeiro.
Ela não pode esperar por Solomon. Ele não pediu para ela ficar. E
ela não vai pressionar. Ela quer que ele queira que ela esteja aqui.
Do outro lado da sala, seu Homem Solene está parado na janela
da sala, encarando a escuridão. Desde que voltaram para a cabana,
ele está fechado como Fort Knox13. Seja lá o que estiver fazendo seu
rosto parecer sombrio e tenso, ela aposta que tem a ver com sua
irmã. Julgando pelo jeito que Evelyn olhava fixamente para sua
barriga, a conversa deles na cozinha era sobre ela. O ar no bar
esfriou no segundo em que Evelyn entrou. O primeiro desconforto
que ela sentiu desde que chegou a Chinook.
— Solomon? — ela pergunta, observando os músculos se
moverem em suas costas quando ela chama seu nome. — O que há
de errado? Você está… — se arrependendo de nós? — bem?
— Estou bem, Tess — ele diz calmamente. Então ele se vira da
janela, atravessa o espaço entre eles e se ajoelha na frente dela.
Sem palavras, ele tira os sapatos dela e coloca os pés descalços no
colo dele. Pegando um pé, ele pressiona os polegares no seu arco.
— Sente-se bem? — ele pergunta.
— Hmm. — Ela deixa seu corpo se esticar e relaxar. Fechando os
olhos, ela encosta a cabeça no sofá, aproveitando a massagem firme
nos músculos. A força em suas mãos. Ela precisa parar de usar
saltos. Não que ela vá contar isso para Solomon.
— Hoje foi demais — a voz profunda e tranquila de Solomon
interrompe seus pensamentos.
Suas palavras a fazem abrir os olhos. Seu rosto está sombrio, seu
perfil esculpido e cortado pelo brilho do pôr do sol entrando pelas
janelas.
O coração de Tessie se agita com sua natureza superprotetora.
— Solomon, estou bem. Estou grávida. Não sou feita de vidro. —
Ela abaixa o queixo e esfrega a barriga. — O bar está parecendo
fenomenal. Não acha?
Ele senta, a observa, massageando seus pés com os polegares
calosos.
— Está. Não poderíamos ter feito isso sem você.
O orgulho cresce dentro dela. O elogio dele a aquece por dentro.
Apesar de estar empoeirada e exausta, ela amou seu tempo em
Chinook. Parece que ela está se preparando para algo que deveria
fazer a vida toda.
— Não se preocupe — ela diz quando a expressão dele não se
suaviza. — Assim que colocarmos o quadro-negro, deixarei vocês,
rapazes, fazerem o resto do trabalho.
— Eu me preocupo, Tessie — ele confessa, voz baixa e séria. —
Quero mantê-la segura. Proteger você e o Bear.
Ela inclina a cabeça, seus longos cabelos loiros caem sobre o
peito.
— E você vai. — Quando ele não diz nada, apenas olha para
baixo para os pés dela em suas mãos, ela o examina de perto. —
Isso é por causa de hoje? Sua irmã?
Um grunhido infeliz.
Determinada, Tessie vai direto ao ponto.
— Ela não gosta de mim.
Seu maxilar se contrai. Raiva e cautela em seu olhar enquanto
ele finalmente admite:
— Você está certa. Ela não gosta.
Ele continua a massagear seu pé, quase distraído, então suspira.
— Serena era a melhor amiga de Evelyn.
Tessie fica chocada com a explicação.
— Ver nós dois… não é fácil para ela, mas ela tem que aceitar. —
Ele coloca o pé dela no chão e se levanta para sentar ao lado dela
no sofá. Ele enrola uma manta sobre o colo dela, sua barriga. — Ela
vai aceitar. E se não aceitar, é problema dela.
As palavras dele acalmam Tessie. Um pouco.
— Esqueça a Evelyn — diz Solomon, inclinando-se para frente e
dando um beijo em seus lábios. — Eu não quero você ou o bebê
estressados quando chegarmos ao chá de bebê.
Ela pisca.
— Você vai? Eu pensei que fosse só para mulheres.
— Os homens estarão na garagem. Bebendo cerveja. Quebrando
coisas.
— Que homem das cavernas da sua parte.
Ele ri, mas ainda parece preocupado.
— Eu não vou te deixar sozinha com minhas irmãs sem um plano
de fuga.
Tessie franze o nariz para ele.
— Relaxe. É um chá de bebê, não um sacrifício maia. — Ela
acrescenta um sorriso, mesmo que seu estômago se revire de
nervoso. — Todos estarão se comportando bem.

13. Fort Knox é uma pequena cidade americana e base do Exército dos Estados Unidos.
Capítulo vinte e sete

O telhado da casa dos Wilder está coberto de neve. Fumaça sobe


pela chaminé. Apesar da fina camada de neve, as árvores perenes
estão enfeitadas com pompons felpudos. Uma placa de eucalipto
proclamando BEM-VINDO AO CHÁ DE BEBÊ DA TESSIE está
pendurada na porta da frente.
Tessie se endireita quando a fila de carros na entrada aparece à
vista. Seu estômago se agita com uma mistura de nervosismo e
empolgação. Um chá em sua honra. E de Bear. Um sentimento de
pertencimento, de alegria, faz seu coração bater forte.
— Você está animada? — Solomon pergunta, com a voz baixa e
áspera.
— Na verdade, estou. — Lágrimas de felicidade enchem seus
olhos. Malditos hormônios. — Ninguém nunca fez algo assim por
mim antes.
— Tess. — Ele coloca a picape no ponto morto e desliga o motor.
Seu olhar intenso a queima. — Você merece.
Ela funga.
— Não me faça chorar.
— Lembre-se. Venha me buscar se for demais para você.
Tessie ri e aperta a mão dele.
— Não será. Já trabalhei com celebridades, lembra? Consigo lidar
com sua irmã.
Solomon sai da picape e abre a porta para ela. Ele a ajuda a sair
do banco do passageiro e depois segura sua mão para mantê-la
firme na caminhada até a porta da frente. O que, na verdade, com
seu casaco fofo, se parece mais com um lento cambalear.
— Oh meu Deus, Solomon. Estou andando como um pinguim.
Estou realmente andando em camadas.
Ele ri, os olhos atentos procurando por partes de gelo no chão.
— Você está linda. Para um pinguim.
Franzindo a testa, ela observa sua barriga, envolta em um casaco
biónico que poderia servir como colete à prova de balas.
— Estou usando a roupa mais bonita por baixo disso, juro.
Enquanto sobem os degraus da varanda, um longo assobio
chama sua atenção. Ash está na entrada da casa dos Wilder, seus
braços tatuados estendidos para o céu nublado.
— Mulher, você está enorme.
A boca de Tessie se abre.
Atônita, ela fica paralisada no lugar enquanto seus dois mundos
– LA e Chinook – se chocam como trens de carga em sentido
contrário.
— Você — ela explode, apontando o dedo para o peito firme de
Solomon. Observando-a, ele sorri como se tivesse guardado o
melhor segredo do mundo. E para ela, ele guardou. Ela vira seu
olhar atordoado para sua prima. — E você?
— Oh, sim. — Ash se agita, saindo para a varanda. — Solomon
planejou tudo. Estou acampando aqui desde ontem.
Contrabandeada como um quilo de cocaína.
Tessie olha para seu homem das montanhas, suas mãos
agarradas ao coração.
Ele fez isso. Por ela.
— Você me deve — diz Ash. — Um voo e tanto.
Tessie arqueia a sobrancelha e encara sua prima com um olhar
sério.
— Eu devo a você? Caso tenha esquecido, você medeve. Tudo
isso é culpa sua. Eu nunca estaria aqui se não fosse por você.
Ash resmunga.
— E isso é um problema? — Sua atenção se desloca para a mão
de Tessie entrelaçada com a de Solomon. — Parece que funcionou
muito bem para você.
Tessie avança, tão rápido quanto pode com seus saltos, em
direção a Ash. Então, ferozmente, ela lança os braços ao redor do
pescoço de sua prima. Com um suspiro instável, ela enterra o rosto
na confusão de cabelos escuros de Ash.
— Obrigada — sussurra.
O que Ash fez por ela – o pensamento deixa Tessie emocionada.
Ela teria perdido todo o seu mundo se Solomon nunca tivesse vindo
na lua de bebê. Ash deu a ela esse impulso para mudar seu mundo.
Ela nunca foi tão grata.
Ash relaxa em seus braços, sorrindo contra seu pescoço.
— De nada. — Erguendo a cabeça, ela olha para Solomon. — Eu
sabia que você a faria relaxar.
Tessie resmunga.
Solomon ri e a abraça, guiando-a para dentro da casa.
Lá dentro, é uma confusão. A casa cheira a fogo, canela e
pinheiro.
— Sol? — A voz de Melody, e então ela se aproxima de Ash. —
Nós colocamos as cadeiras, mas você precisa nos ajudar a mover o
arco de balões.
— Quem é nós? — Howler surge do corredor, uma carranca no
rosto jovial. — Porque eu forcei pelo menos dez músculos
carregando aquele banco da fazenda para você.
— Aqui, eu pego seus casacos. — Jack bate no ombro de
Solomon e abraça Tessie. — Bem-vinda de volta, Tessie.
— Obrigada.
Melody joga uma faixa de seda azul bebê sobre o torso de
Tessie. Está estampada com as palavras MAMÃE DO BEBÊ.
— Vamos lá — diz Ash, enquanto Jo aparece com uma garrafa de
champanhe. — Vamos começar essa festa.
— Músculos. Agora. — Jo acena para Solomon enquanto dá um
empurrão em Howler, o que diz a Tessie que ele costumava puxar
suas tranças. — Então vocês, sumam.
Seu coração está leve demais para o corpo. Essa demonstração
de família faz seus olhos ameaçarem se encher de lágrimas
novamente. Mas Solomon está lá, envolvendo-a em seus braços e a
puxando para perto de seu corpo forte. Ele se inclina até que seus
lábios estejam perto de seu ouvido e diz:
— Divirta-se. E lembre-se, a palavra-código é Bananas.
Ela o beija, sorrindo contra a boca barbada dele.
— Nunca.

Solomon se inclina sobre o compartimento do motor na garagem do


seu pai, conectando e desconectando fios em um carburador.
Ele está se divertindo. Realmente se divertindo pra caramba.
Tessie está na casa, espero que se divertindo, e ele está aqui fora
com seu melhor amigo e seu pai, tomando uma cerveja gelada,
trabalhando em um Jeep que não vê uma estrada desde a Segunda
Guerra Mundial.
— Me passa aquela chave de fenda, filho?
Solomon entrega a ferramenta. Ele ajeita sua jaqueta, se
sacudindo o frio. Apesar da garagem isolada e do calor ligado, a
temperatura caiu dez graus na última hora.
— Uma frente fria está chegando — diz seu pai, como se lesse a
mente de Solomon. — Deve nevar em breve.
Solomon franze o cenho.
— É cedo. — Muito cedo.
— Acho que está acabado. — Howler recosta-se no banco, com
os braços cruzados sobre sua jaqueta de couro preta. — Jack, sua
melhor aposta é vender essa lata velha enferrujada.
Seu pai solta uma risada.
— Não está acabado — ele diz, acariciando o lado do Jeep com
carinho. — Vou colocar esse filhote na estrada até a próxima
primavera. — Ele dá um sorriso enrugado. — Talvez levemos Tess e
o bebê para ver as Cachoeiras Thunderbird.
Ele diz isso tão facilmente, mas faz a respiração de Solomon se
prender na garganta. No próximo ano, seu filho estará aqui. E é tão
simples. Ver seu futuro. Natal, jantares em família, viagens com seu
pai, cozinhando na cozinha com seu filho, beijando Tessie na
varanda sob as estrelas.
Bear é seu.
Tessie é sua.
Droga, mas ele precisa contar a ela. Dizer a ela que a quer em
seu mundo, quer ela em Chinook.
Para ficar. Para sempre.
Cristo. Ela vai causar estragos e caos em seu mundo tranquilo, e
ele mal pode esperar.
Caramba, ele já perdeu todo o controle.
A expressão de pura alegria no rosto dela quando eles chegaram
à festa feita para ela o deixou tonto, como se tudo estivesse em
jogo. A maneira como ela se iluminou, como ela ganhou vida – ele
quer ver essa expressão no rosto dela todo santo dia pelo resto de
sua vida.
Pensar em Tessie, em seu filho, faz Solomon se virar para Howler,
faz ele dizer:
— Quando abrirmos o bar, quero estabelecer um cronograma.
Especialmente quando o bebê nascer.
Ele está colocando o pé no chão agora. Tessie é sua prioridade.
Ele não cometerá o mesmo erro que cometeu com Serena.
O rosto de Howler se contorce.
— Ela já te tem na coleira — resmunga.
— Ela não tem — rosna Solomon, fazendo seu pai se ocupar do
outro lado da garagem.
— Tanto faz, cara.
Ele olha para o amigo, que parece irritado e inquieto.
— Você não gosta da Tess? — rosna ele, decidindo finalmente
perguntar.
Howler toma um gole da cerveja e joga a lata no lixo.
— Eu gosto da Cachinhos Dourados muito bem.
— Besteira. Você tem agido como um idiota desde que ela
chegou.
Hesitante, Howler passa a mão pelo cabelo loiro sujo. Então, ele
abre a boca.
— É cedo, cara. Olha, todos nós estamos felizes que você está
saindo da sua concha, mas não acha que está indo um pouco
rápido? O restaurante, a garota? — Ele faz uma careta. — Você não
deve nada a essa garota. Você a engravidou, e claro, é tarde demais
para fazer qualquer coisa a respeito…
Solomon fecha os olhos, seu coração apertado com o
pensamento.
— Não fala essa merda.
— Ela é só mais uma garota, cara — diz Howler, com raiva na
voz.
Ele aperta as mãos, as palavras o atingindo em cheio.
— A Tessie não é só mais uma garota.
Na sua periferia, a porta da garagem se abre, fecha. Jack
desaparece no frio para sair da discussão fervendo.
— Ela é sim. — Howler aponta o dedo. — Admita. Ela é a
primeira garota que você transou depois da Serena. Ela é um
maldito rebote.
Sua paciência se esgota nesse momento, a fúria acendendo em
suas veias.
— Howler, juro por Deus, fala dela desse jeito de novo e eu vou
socar a porra dos seus dentes.
Com as narinas dilatadas, Howler sai do banco, infla o peito.
— Então faça isso.
Então ele faz. Ele soca o punho no queixo do seu melhor amigo.
Xingando, Howler recua para um dos carros enferrujados. Antes que
Solomon possa avançar, ele está de pé, avançando nele, baixando o
ombro, o atingindo no estômago enquanto tenta empurrá-lo.
— Passos de bebê — Howler ofega. — Você devia dar passos de
malditos bebês.
— Vai se foder — grunhe Solomon. Ele empurra Howler com
força no peito, fazendo-o cair no chão.
A visão do seu melhor amigo no chão faz Solomon parar. Faz ele
cerrar o punho direito e xingar baixinho. O que diabos eles estão
fazendo? Brigando como idiotas na garagem do seu pai como se
tivessem treze anos de novo. Cristo. Isso não vai resolver nada.
Ofegante, ele passa a mão pelo cabelo. Encara Howler.
— Qual é o seu problema? — ele demanda.
— Quer saber qual é a porra do meu problema de verdade? —
Howler diz, se levantando. — Eu estou com medo, droga. Eu perdi
meu melhor amigo uma vez, entendeu? Você se fechou, cara. Nós
todos te perdemos.
A admissão, a dor que vem com ela, tira o fôlego de Solomon,
faz ele relaxar os punhos. Por sete longos anos, ele fez sua família,
seu melhor amigo, passarem pelo inferno. A preocupação deles é
justificada. Ele entende o ponto de vista de Howler, mesmo que não
seja fácil ouvir.
Fazendo careta, Howler passa a mão pelo rosto.
— Se isso não der certo com essa garota, e aí? Você volta para a
cabana? Vira um maldito eremita de novo? — Um suspiro cansado
escapa dele. — Eu acabei de te ter de volta, cara. Eu não posso te
perder de novo. Sua mãe não pode. Suas irmãs não podem.
— Você não vai — ele diz com voz baixa e firme. — Eu estou
aqui. E a Tessie está aqui, e é assim que vai ficar.
— Melhor que seja assim.
Seus olhares se encontram, caem.
Então Howler geme, se dobrando.
— Cristo. — Ele esfrega os dedos sobre a ponte do nariz. — Você
me socou na droga do meu rosto, Sol.
— Não foi a primeira vez — Solomon rebate. — E você me disse
para fazer isso.
E então eles riem. Risadas fortes que enchem a garagem e
dissipam a tensão.
— Escuta — ele começa, esfregando as mãos nas coxas do
jeans. — Já é ruim o suficiente eu estar brigando com a Evelyn por
causa da Tess. Eu não quero brigar com você também.
— O que a Evilyn fez?
— Ela preparou documentos pedindo a custódia exclusiva.
Fazendo uma careta, Howler solta um suspiro dolorido.
— Isso é fodido, cara.
— É. — Com um suspiro, Solomon balança a cabeça e senta em
uma caixa. Ele olha para o melhor amigo. — A Tess está aqui para
ficar. Ela prendeu meu coração desde a noite em que a conheci, e
você vai ter que se acostumar. Eu a amo.
Seu melhor amigo pisca, com o queixo caído.
— Você ama?
— Amo.
— Caralho, por que diabos você não disse isso antes?
— Porque eu ainda não disse a ela. — Ele faz uma careta e passa
a mão pela barba. — Eu sou um idiota.
— Você vai pedi-la em casamento ou algo do tipo?
— Sim. Eu vou fazer isso.
Howler se senta ao lado dele, atordoado.
— Bem, droga — ele diz, suave e chocado.
Solomon o encara firmemente.
— Você tem algum problema com isso?
— Não. — Ele ri, um sorriso surpreso se espalhando pelo rosto.
Ele bate nas costas de Solomon. — Nós vamos criar um bebê em um
bar, Sol.
Solomon sorri. Com certeza eles vão.

Quando Tessie imaginava seu chá de bebê, ela pensava em comer


bolo na banheira e chorar segurando uma garrafa de espumante não
alcoólico. Nunca algo assim. Uma casa alegre, cheia da família de
Solomon, Ash e alguns amigos próximos da família Wilder, que já
haviam partido há muito tempo. A sala de estar é aconchegante,
graças à lareira acesa. A mesa de centro está coberta de presentes
desembrulhados e papel de seda. Bandejas com petiscos delicados,
garrafas de champanhe e uma grande tigela de ponche não alcoólico
são dispostas num aparador. Fotos de bebê de Solomon e Tessie
estão penduradas em um longo arranjo de eucalipto.
Se ela tivesse que escolher um tema, seria vintage chique. E
ainda assim, ela nem consegue criticar o design. Porque não há
nada para criticar. Está perfeito.
Ela nunca pensou que queria isso. Os jogos bobos, as conversas
fiadas sobre bebês e chupetas, abrir presentes na frente de todos, a
questão de que ela está usando um colar feito apenas de
mamadeiras, mas ela quer. Ela quer tudo, e o mais importante, ela
quer a família de Solomon.
Ela os adora.
Estar perto dos Wilders mostrou a ela quem Solomon realmente
é. Seus pais o criaram para ser um bom homem. Um homem que
cuida das pessoas ao seu redor. Que ama profundamente e cuja
lealdade é feroz.
Bear não faz ideia do amor que está a caminho.
Talvez com exceção de sua tia Evelyn.
Evelyn está sentada no sofá, uma carranca permanente no rosto.
Sua postura indica que ela está ali como um favor à mãe e nada
mais. Ainda assim, a mulher não estragou o humor de Tessie. Ela
transformou seu nervosismo em gelo na presença da irmã mais
velha de Solomon. Ela pode ser educada, mas não precisa fingir.
— Acho que isso é tudo — declara Jo com um sorriso vitorioso.
Melody circula pela sala, recolhendo presentes, empilhando-os
ordenadamente. A maioria dos convidados já se despediu, deixando
apenas Tessie, Ash e as mulheres Wilder.
— Foi fabuloso. — Sorrindo, Tessie olha para Grace. — Muito
obrigada por organizar tudo para mim.
— É um prazer nosso — diz a mulher mais velha.
Precisando se esticar, ela se levanta da cadeira. Ela alisa a mão
ao redor de sua barriga, sentindo Bear se mexer enquanto ela
caminha lentamente pela sala.
Grace lhe dá um sorriso simpático.
— Fica apertado lá dentro, não é?
— Fica. Está. — Ela solta um suspiro, parando na janela para
observar a neve.
— O ligamento redondo está te incomodando? — pergunta Ash,
tirando um laço do cabelo.
Tessie sorri.
— Você sabe.
— Quantas semanas você está, de novo? — pergunta Melody.
— Quase trinta e três.
Melody grita de empolgação.
— Tão perto!
Enquanto as mulheres conversam, Tessie vagueia distraída pela
sala, admirando a decoração aconchegante. Na lareira, cinco ursos
esculpidos em madeira estão alinhados. Fotos de Grace e Jack no
Grand Canyon. Ao lado da lareira, pendurada na parede, um violão.
Sorrindo, pensando em todas as músicas country clássicas que
quer tocar para Bear em seu toca-discos, Tessie passa o dedo sobre
uma corda, fazendo um som suave preencher o ambiente.
— O que você está fazendo? — Um tom afiado de Evelyn faz
Tessie olhar para ela. — Esse é o violão da Serena.
Ela recua a mão, instantaneamente se sentindo mal. A parte de
trás de seu pescoço esquenta, um rubor de vergonha a envolve por
completo.
— Desculpe. Eu não sabia.
— Bem, não encoste nele.
— Evilyn — Jo sibila. — Pare com isso.
Um silêncio desconfortável se instala.
Tessie se mexe nos pés doloridos, ignorando o olhar preocupado
de Ash sobre ela. De repente, ela deseja ter um copo de álcool. Ela
está muito sóbria, muito grávida para essa situação. Para o olhar
julgador de Evelyn, que parece gritar claramente: Você não é a
Serena.
Ping.
— Você precisa atender, querida? — pergunta a mãe de
Solomon, dando-lhe uma saída, um respiro. Com um sorriso tenso
no rosto, Grace parece pronta para repreender sua filha mais velha.
Tessie assente.
— Preciso. Obrigada.
— Aqui, eu te ajudo — diz Ash, pegando o telefone de Tessie da
mesa de centro. Rápida como um raio, ela segura o cotovelo de
Tessie e a guia para longe das outras. Elas se afastam para o
corredor, onde Tessie se encosta na parede, olhando para baixo para
o telefone em suas mãos.
Lágrimas quentes enchem seus olhos, a tela um borrão de
palavras que ela não consegue ler. Mas ela sabe de quem é a
mensagem. Nova.
Ela limpa a umidade das bochechas com uma mão trêmula e
então geme.
— Ah, estou chorando. O que há de errado comigo? Por que
estou sempre chorando?
— São os hormônios — diz Ash, lançando um olhar furioso para a
sala. — Hormônios e uma mulher muito idiota. — Ela passa a mão
suavemente pelo braço de Tessie, sua expressão se suavizando. —
Não dê ouvidos a ela, está bem?
É mais fácil falar do que fazer, porque apesar dos tons baixos, as
vozes na sala de estar ecoam pelo corredor.
— Por que você está aqui se não vai apoiar o Solomon?
— Você está carrancuda — sussurra Melody. — Você não pode
fazer cara feia em um chá de bebê.
A voz tensa de Evelyn ecoa da sala de estar.
— Solomon não superou a Serena.
— Ele superou — argumenta Jo. — Você não quer que ele a
supere.
Um resmungo.
— A Serena era fácil e essa... ela é terrível.
O corpo de Tessie se enrijece. Suas bochechas estão em chamas,
suas pernas estão tão trêmulas que ela poderia cair onde está.
Oh, Deus. Aquela palavra.
— Tess. — Uma mão no ombro dela. Ash, empurrando-a,
tentando convencê-la a ir na direção do banheiro, tentando poupá-la
da conversa.
Mas Tessie permanece plantada, congelada no lugar. Uma
lágrima quente rola pela sua bochecha. Ela quer desaparecer. A
verdade das palavras de Evelyn é como um tapa ardente.
Ela ainda é a Terrível Tess. Não é fácil. Ela nunca foi fácil. Nunca
conseguiu escapar desse mundo frio e fechado que construiu para si
mesma.
Pela primeira vez desde que chegou a Chinook, uma forte onda
de dúvida e desespero cresce dentro dela. Aquela velha insegurança.
De nunca ser boa o suficiente, de nunca ser escolhida, de sempre
ser deixada para trás. De querer fugir antes que alguém mais possa
rejeitá-la.
— Ela é — continua Evelyn, ainda em seu ataque contra Tessie.
— Ela é muito extravagante para Solomon. O que ela vai fazer, usar
saltos altos no inverno? Ele precisa de alguém pé no chão. Como a
Serena era.
— Você está agindo como uma louca, Evy.
Um suspiro murchante.
— Ele não pediu para ela ficar, Jo. E você sabe disso.
E Tessie também sabe.
E se ela não estiver destinada a encontrar o amor porque é difícil
de amar? E se a razão pela qual Solomon não pediu para ela ficar é
porque ele percebeu que não se encaixam? E se for porque ela não
é a Serena?
Solomon assegurou que está pronto. Ele ficou viúvo há sete
anos, mas ainda assim... e se ele não estiver? E se ela não for boa o
suficiente para esse grandalhão rabugento?
Algo apertado e oco cresce no peito de Tessie. Talvez tudo o que
importe seja o seu bebê. Nada mais.
A voz de Evelyn, agora mais alta.
— Ele está se precipitando em algo para o qual não está pronto.
Isso é tudo temporário. Eu não entendo como você pode apoiar isso.
— Eu sei que você amava a Serena, Evy, mas você está sendo
egoísta — repreende Grace gentilmente. — Já se passaram sete
anos. Nós apoiamos Solomon porque ele vai ter um filho, e Tessie é
uma mulher adorável. E se não fizermos isso… — lágrimas enchem
sua voz — ele vai se isolar naquela cabana e nunca mais o veremos.
Silêncio. O suave som de soluços.
Então um grito alto. Um espirro de algo contra a parede. E então
Evelyn sai pela porta da frente sem nem ao menos olhar para trás.
Ping.
O telefone de Tessie ainda está apertado em suas mãos.
Decisão, Truelove? Não me faça implorar.
Seus olhos se enchem de lágrimas.
— O que você vai fazer? — A voz suave de Ash ressoa.
Ela se apoia contra a parede e admite a verdade aterrorizante.
— Eu não sei.
Capítulo vinte e oito

Solomon abre a porta da cabana, franzindo o cenho enquanto Tessie


tira seu casaco fofo e o pendura no gancho da parede antes de ir
para a ilha da cozinha para colocar a bolsa e tirar os sapatos de
salto.
Não há nada que ele odeie mais do que o olhar no rosto dela
agora.
Desde que saíram da casa dos pais dele, ela tem aqueles
mesmos olhos castanhos tristes que tinha quando se conheceram no
bar Orelha do Urso. Vulneráveis. Solitários.
Ele se sente preso pela necessidade de descobrir o que há de
errado. De consertar isso.
É o que ele não fez com Serena. Seu único erro. Ele a deixou
resolver sozinha, em vez de resolver com ela. Desta vez, ele está
determinado a estar presente, a estar aqui para Tessie. Se ela quiser
ficar furiosa enquanto ele observa, tudo bem. Ou se ela quiser gritar
com ele, ele aceitará de bom grado. Mas, de qualquer forma, ele
estará aqui.
Ele se aproxima dela e dá um beijo na parte de trás da cabeça
loira.
— Quer me contar o que aconteceu no chá de bebê? —
murmura, inspirando o perfume dela.
Seu corpo esguio se move contra o dele. Fica tenso.
— Sua irmã jogou um canapé do outro lado da sala.
— Jesus. — Maldita Evelyn.
Ele envolve um braço ao redor de sua cintura, virando-a para que
ela o encare.
— O que mais?
Ela fica em silêncio por um longo minuto, umedecendo os lábios,
e então diz:
— Eles não gostam de mim. Ninguém gosta de mim. — Antes
que ele possa contestar a afirmação, ela se desvencilha de seus
braços para caminhar pela sala. — Seu melhor amigo nem mesmo
quis fazer um coquetel sem álcool para mim.
Deus, ele odeia como a voz dela parece pequena. Como ela saiu
de seus braços. Ele tem que lutar contra o impulso de puxá-la de
volta para ele.
Atravessando a sala, ele diminui a crescente distância entre eles.
— Howler está agindo como um idiota. Mas nós resolvemos. E a
Evelyn precisa cuidar da própria vida.
— Ela disse…
Ela pressiona os lábios juntos, olha pela janela. O medo tem
Solomon agarrado pelas bolas. Cristo. Se sua irmã falou sobre a
guarda, ele nunca a perdoará.
— O que ela disse para você? — Estendendo a mão, ele a segura
pelos ombros e a sacode suavemente. Seu silêncio ameaça deixá-lo
de joelhos. — Tess.
Com o lábio inferior tremendo, Tessie inclina o queixo para cima.
— Ela disse que eu sou apenas temporária. Que não sou a
Serena.
Porra.
Se Solomon soubesse que estaria trazendo Tessie de volta para
lutar com o fantasma de Serena, ele a teria mantido longe de
Chinook. Deixá-la sozinha com sua família, com Evelyn, foi uma
decisão completamente fracassada. Ele deveria ter estado ao lado
dela hoje, garantindo que ela estivesse bem. Não há dúvida, da
próxima vez que ver sua irmã, eles terão uma conversa.
Se afastando dele, ela dá de ombros.
— Sua família a amava. Ela era sua esposa. Ela está por toda a
casa deles, o que eu entendo. — Ela se vira para ele, uma seriedade
feroz em sua voz. — Ela sempre será sua, Solomon. Eu nunca
pediria para você afastá-la.
Ele balança a cabeça.
— Não. Você nunca pediria isso.
— Mas e se… — sua voz treme, o som torcendo uma faca no
estômago de Solomon — — e se eu não sou a Serena?
— Você não precisa ser a Serena. — Seu olhar percorre Tessie
onde ela está, os braços agarrados em torno de sua barriga. Como
se ela tivesse que proteger Bear. Tanta dúvida e preocupação em
seus olhos que o deixa doente. — Eu não quero que você seja. Você
é Tessie. Você é minha Tessie.
Ele se move em sua direção, mas ela recua, e o buraco em seu
estômago cresce.
— Hoje... — Ela morde o lábio e coloca uma mecha longa de
cabelo atrás da orelha, sua atenção passando pela sala. — Eu me
senti deslocada. Me senti triste por você e Serena nunca terem tido
uma chance. Por ela ter morrido. Não parece justo. — Ela suspira. —
Não parece que eu pertenço aqui.
— Você pertence.
— Não. Eu não pertenço.
— O que você está querendo dizer, Tess?
Seus olhos brilham com lágrimas, mas finalmente ela olha para
ele novamente.
— Recebi uma oferta de emprego. Em Los Angeles.
Ele congela, seu coração parando no peito.
Maldição. Ele não pode estar atrasado. Não de novo.
Ele inspira fundo pelo nariz.
— O que você disse? — ele consegue dizer, sua voz um fio rouco.
Ela joga o cabelo, olhando fixamente para ele.
— Eu não sei. O que eu devo dizer?
Não a deixe ir, Sol. Não a deixe partir.
Interpretando seu silêncio como hesitação, Tessie ri secamente.
Um temperamento surge em seus olhos.
— O que estou fazendo aqui, Solomon? Eu gosto de planos e
ordem, e você é esse homem da montanha louco que leva a vida ao
vento. Você tem um bar, e eu tenho um bebê, e somos opostos em
todos os sentidos. Somos de mundos diferentes.
— Nós não somos. Este mundo — ele se aproxima dela e
pressiona uma grande mão em sua barriga — é nosso. Você
entende?
— Não. Sim. Eu não sei. — Ela levanta os braços, deixa-os cair.
Dá mais um passo para trás. Mais longe dessa vez. — Por quê? Por
que estou aqui, Solomon? Por quê?
Lá no fundo dos olhos castanhos escuros, suas preocupações
brilham alto e claro. Que ele os deixará. Que ele não a quer.
Caramba, ele não pode passar mais um minuto deixando-a
acreditar que qualquer uma duas coisas é verdade.
O chão retumbando sob seus pés, Solomon invade o quarto. Ele
envolve Tess em seus braços.
— Você está aqui porque eu te amo — ele diz. — Você me ouviu?
Eu te amo, Tessie. Eu te amei na noite em que nos conhecemos, e
eu te amo agora.
Tessie pisca para ele, parecendo atordoada, balançando em seus
braços. Sua expressão fica suave. E bem quando ele pensa que seu
silêncio atônito vai acabar com ele, ela abre a boca, põe as palmas
em seu peito, se ergue na ponta dos pés.
Então ela sorri o sorriso mais brilhante que ele já viu, e diz:
— Eu também te amo, Solomon.
O tempo para.
Já se passaram sete anos. Ele nunca pensou que estaria pronto
para ouvir essas palavras de outra mulher. Ele pensou que seguiria
Serena até a maldita sepultura. Mas aqui está ele. Apaixonado por
uma mulher que o ama de volta. Como se fosse tão fácil assim.
Como se ela fosse a melhor coisa que já lhe aconteceu.
— Diga de novo — ele ordena. Sua voz treme. Seu coração
parece ser uma estrela cadente em seu peito, guiando-o para casa.
Com os olhos lacrimejantes, ela pisca para conter as lágrimas.
— Eu te amo.
Com um rugido, ele a agarra em seu peito, a segurando forte,
esmagando sua boca em um beijo, provando suas lágrimas. Tessie
geme, enrolando seus braços esguios ao redor de seu pescoço.
— Eu te amo, Tessie — ele diz contra sua boca, tentando
normalizar sua respiração. Ele diz de novo. Ele tem que dizer. Ela
tem que saber. — Eu amo tudo em você. — Ele a segura
firmemente. Sua mão vai para sua barriga. — E eu amo esse bebê.
Seus lábios se encontram quando eles se chocam um contra mais
uma vez.
— O que isso significa? — Ela ri entre beijos sem fôlego.
Lágrimas escorrem por suas bochechas.
— Significa que eu quero nós todos juntos — ele diz roucamente.
— Sob o mesmo teto. Eu irei para LA se você precisar. Serei seu
onde quer que estejamos, Tessie, porque você está lá.
Ele está pronto. Pronto para dar tudo de si para essa mulher. Ela
tem sido tão altruísta; agora é a vez dele. Se isso significa deixar o
bar, sua família, que seja. Porque ela é muito mais do que uma
segunda chance.
Ela é sua eternidade.
— Não, Solomon. Eu não quero você em LA.
Com as palavras dela, seu coração dá um solavanco.
Ela morde o lábio, seus cílios escuros abaixando daquele jeito
tímido que ele ama.
— E se eu quiser ficar aqui? — ela sussurra.
Ele se recompõe e segura o rosto dela entre suas mãos.
— Você quer?
Diga sim. Cristo. Me livre dessa maldita agonia.
— Eu quero.
— Obrigado, porra — ele rosna, o alívio tecendo seu caminho
através de seu coração. Ele a puxa mais para perto, como se fosse
seu último suspiro de ar. Tessie molda seus lábios doces aos dele,
um calor suave e selvagem se construindo entre eles.
Ele ama cada parte dessa mulher. Teimosa, atrevida, sexy,
vulnerável. Ele quer tudo. Ela em sua cama, seu coração entre os
dentes dela. Ele não pode viver sem ela. Ela é sua alma. Sua estrela
no céu. Norte, sul, leste, oeste, até o inferno e de volta. Em
qualquer direção, ele seguirá a luz dela.
Quando se afastam, ela soluça rindo.
— Só tenho uma condição se eu ficar.
— Diga.
— Eu preciso dos meus discos.
— Vou comprar discos para você, Tess. Pilhas tão altas que você
nunca vai sair.
— Mmm, vai mesmo?
— Vou. Agora aqui está a minha condição — ele murmura contra
os lábios dela.
— E qual é?
— Eu vou me casar com você.
Seus olhos se arregalam. Luz irrompe em seu rosto, e ela
envolve os braços em volta de seu pescoço.
— Acho que vou deixar — ela diz. Um risinho borbulha. Alegre.
Surpresa.
O que ele daria para manter essa expressão em seu rosto para
sempre. Ele quer ser responsável por ela e seu filho, cuidar deles e
mantê-los seguros pelo resto de suas vidas.
— Eu te amo — Tessie diz, passando suas pequenas mãos por
sua barba, por seu rosto, seus lábios, como se não acreditasse que
ele seja dela. — Eu te amo, eu te amo, eu teamo.
— Em repetição — ele diz com um sorriso.
— Eu nunca disse isso. — Ela sorri, os olhos lacrimejantes. —
Você recebe em estilo toca-discos.
— Não há dúvida quando se trata de você — Solomon respira em
seu cabelo. Seu coração bate duas vezes mais rápido em seu peito.
— Estar sem você, sem nosso filho, eu não consigo lidar com isso.
Nem por um maldito segundo. Nós combinamos. Você é minha. É só
isso.
Ela suspira feliz.
— Nós combinamos.
— Nós combinamos. — Ele desliza a mão pela barra do vestido
dela. Seus lábios rosados se separam para ele enquanto ele passa a
boca sobre a concha fria da orelha dela. — Lembra de Tennessee?
Ela fica corada.
— Lembro das estrelas.
— Lembra do México? — Ele abaixa a mão, pegando a manga do
vestido dela e lentamente puxando-o para baixo do ombro para
desnudar os seios. Seu corpo é exuberante, cheio de curvas e pele
bronzeada, ainda mantendo o último bronzeado da praia, e seu
pênis incha ao vê-la. Segurando-a firmemente pela cintura, ele se
abaixa, sugando o volume pesado de seu seio em sua boca.
Tessie choraminga, mexendo-se inquieta contra ele.
— Oh. Oh.
Ele abre as pernas dela, deslizando um dedo ao longo da borda
da calcinha de renda para mergulhar lentamente dentro dela.
— E isto. Lembra disso?
— Muito bem. — Ela fareja afetadamente, geme. — Solomon.
Ele agarra sua bunda flexível, passando a palma áspera sobre a
carne lisa, e a puxa para ele. Ela dá um grito chocado e esfrega sua
doce boceta contra a coxa dele. A protuberância em suas calças
agora é dolorosa, mas Solomon persiste.
Aqui e agora, ele acaba com todas as suas dúvidas.
— Sua. — Um sussurro suave vindo de sua boca rosada. — Sou
sua.
— Você é. — Solomon solta um grunhido ao mesmo tempo
primordial e primitivo. — E se eu tiver que foder algum maldito bom
senso em você, eu farei isso.
Recuando, ela engasga.
— Estou grávida. — Mas seus lábios se curvam, felinos e
satisfeitos. Ela lateja lá embaixo. Seu pulso suave batendo contra as
pontas dos dedos.
— E você vai continuar assim pelos próximos vinte anos se eu
tiver alguma coisa a ver com isso.
Lágrimas brilham em suas pálpebras inferiores.
— Mostre-me. — A voz dela é firme, ansiosa enquanto as palmas
das mãos sobem em seu peito. Seus olhos famintos brilham. —
Mostre-me, Solomon.
— Com certeza, eu vou, bebê — ele grita. Esta mulher é uma
tortura lenta. Feroz e delicada ao mesmo tempo. Fogo e gelo. — Vou
deixar você molhada e vou fazer você gritar — ele rosna, preso pelo
feitiço dela. — Então vou deixar você se acalmar e fazer tudo de
novo. Até você acreditar em mim.
Tess ofega mais rápido.
Ele se inclina para beijar sua boca exuberante, facilitando seu
pequeno corpo pelo dele. Com um gemido, Tessie passa os braços
em volta do pescoço dele e passa as pernas em volta dos quadris
dele. Com ela cuidadosamente embalada em seus braços, ele a
apoia contra a parede. Inclinando-se para frente, tomando cuidado
com sua barriga, ele puxa sua calcinha para o lado, fazendo-a soltar
um gemido ofegante.
Então ele está entrando nela, essa mulher perfeita que o ama,
essa mulher da qual ele nunca se cansará.
Ele passa a mão pelos cabelos dourados dela, segura sua nuca e
puxa os quadris para trás antes de empurrar para dentro dela. Mais
fundo do que nunca.
Tessie grita, sua cabeça caindo para trás.
— Eu te amo, Solomon — ela sussurra, com os olhos grandes e
vidrados. Seus quadris fazendo pequenos círculos enquanto ele
desliza para dentro e para fora dela. Ela soluça. — Muito. Demais.
— Eu te amo pra caralho — ele diz entrecortado, deixando cair o
rosto no pescoço dela. Seus membros se enroscam, gemidos se
misturam na pequena cabana. — Desde aquela primeira noite em
que te conheci até o fim dos nossos dias, Tessie, eu vou te amar.
Capítulo vinte e nove

Com a confissão de Solomon ecoando em seus ouvidos, Tessie se


acomoda em Chinook.
Para ficar.
O “eu te amo” dele, o pedido para que ela ficasse, significa tudo.
Na voz engasgada dele, nos olhos assombrados, ela viu o futuro.
O futuro deles.
Um homem que a quer.
Que lutará por ela.
Que a ama.
Solomon a segurou em suas mãos calejadas e a deixou entrar
em seu coração terno. Dissipando suas dúvidas, colocando-a em um
caminho que ela não questiona.
Um risco. Uma estrela. Uma batida do coração.
A voz de sua mãe ecoa em seus ouvidos. Se você assumir riscos,
Tessie, faça com que valham a pena.
E isso? Esse risco vale tudo. O futuro do Bear. Seu coração. Sua
família.
Ela se entregou ao mundo dele. Rápido e profundamente.
Nas manhãs, ela acorda nos braços fortes de Solomon, sua barba
faz cócegas em sua barriga enquanto ele beija seu corpo. As tardes
são passadas no bar, dedicando-se a um trabalho que consome cada
gota de sua energia. As noites na cabana, com Solomon cozinhando
para ela, o toca-discos tocando música country enquanto dançam
devagar no chão de madeira.
Ela não se arrepende de ter recusado Nova, nem por um minuto.
Ela encontrará o caminho certo.
A barriga de Tessie fica grande e pesada. Trinta e três semanas.
Trinta e quatro. Bear está agitado em sua barriga, chutando e se
movendo. Ela planeja o quarto do bebê. Ela e Solomon fazem um
curso online de parto que a deixa simultaneamente animada e
aterrorizada. Eles discutem sobre nomes. Ele gosta de Leo; ela
prefere Lucas. À noite, Solomon segura sua barriga e conta a Bear
sobre o Alasca, e Tessie fica ali, imóvel e atenta, segurando a
respiração, sentindo um amor que nunca sentiu antes.
Esse pequeno bebê será o melhor dos dois. Metade dela, metade
de Solomon. E ela o amará com todas as fibras de seu ser.
Ela nunca soube que tanta alegria era possível.
No último dia da reforma do bar, Tessie caminha pelo espaço, seu
coração transbordando de orgulho.
O bar não parece mais desgastado e decrépito. Mas ainda é
Chinook; ainda está em um silo. Ainda é Solomon e Howler, mas
com um toque especial. Bancos longos e pretos alinham a parede
sul. Uma porta de garagem foi instalada na frente para abrir para
um novo pátio externo nos meses de verão. Um piso de azulejo que
parece madeira rústica. Recebendo os convidados está uma parede
de machados antigos, com os cabos pintados de várias cores
masculinas. Os cardápios adesivos se forame, em seu lugar, um
menu de quadro-negro com uma lista de comidas e coquetéis.
Ash, que ficou em Chinook para ajudar, está ao lado de Tessie,
observando Solomon montar um hambúrguer grelhado e batatas
fritas finas. As tatuagens em seus antebraços bronzeados se
flexionam e ondulam na luz do bar.
— Caramba — diz Ash, apontando para Solomon com uma fita
métrica retrátil. — Ele vai ficar muito bem no modo pai.
Tessie sorri. Ela já sabe que assistir Solomon se tornar pai será
um de seus passatempos favoritos.
— Ele vai. — Com as mãos apoiadas nos quadris, ela se vira para
a prima. — Você acha que estou fazendo a coisa certa? Ficando?
Ela não tem dúvidas, mas odeia deixar Ash. Ash é sua irmã de
alma sombria, e a ideia de ficar sem ela a deixa desorientada.
Ash balança a cabeça.
— Não importa o que eu acho. Importa o que você acha. — Um
sorriso lento e misterioso se espalha pelo rosto da prima. — Mas
sim. Acho que sim.
— Eu também.
Os olhos cinza-esverdeados se voltam para a barriga de Tessie,
ela diz:
— Sabe, gravidinha, ter um bebê é a coisa mais radical que você
já tentou. Você está pronta?
Tessie inspira.
— Estou. Realmente estou.
Ela está. Ela está longe da mulher ansiosa que era em Los
Angeles. Embora o parto, a maternidade ainda a deixem nervosa, ela
está calma. Firme. Ela consegue fazer isso. Ela sabe o que quer,
quem é e quem ama.
— Vou sentir sua falta — diz Ash.
Lágrimas ardendo em seus olhos, Tessie concorda. Nem se dá ao
trabalho de enxugá-las. Ela está com trinta e cinco semanas de
gravidez, merda, e chorará se quiser.
No balcão do bar, Howler desliga o telefone com um grito.
— Roni LaPorte, da Thrillist, está vindo.
Impressionado, Solomon levanta uma sobrancelha.
— Como você conseguiu isso?
O sorriso de Howler é astuto.
— Tenho meus métodos.
A grande reabertura do Ninho do Howler está marcada para este
fim de semana. Nada extravagante, apenas um coquetel exclusivo,
uma cerveja local e três aperitivos, cortesia de Solomon. Amigos,
familiares e moradores locais foram convidados.
Como sempre faz quando um espaço está completo, Tessie vai
para o centro da sala redonda para apreciar. Ela fecha os olhos,
inspira e depois solta o ar lentamente.
— Olha o que fizemos.
Howler faz um gesto de aprovação relutante.
— Tenho que admitir, Cachinhos Dourados. Ficou muito bom.
— Bom — ela responde à morna opinião. Fazer brincadeiras com
Howler tem sido a agonia de sua existência. Ela está realmente
gostando. — Que tal fabuloso? Que tal espetacular? — Ela estende a
mão para a única pessoa que sempre a apoia. — Solomon, você
poderia olhar isso? Poderia dizer ao seu amigo que ele precisa
melhorar nos adjetivos?
Um sorriso se forma nos lábios de Solomon. Um caloroso
sentimento de proteção aquece o olhar que ele mantém fixo nela e
em seu filho.
— Estou olhando. — Saindo de trás do balcão, ele passa um
braço ao redor de seus ombros, aconchegando-a contra si. — Mas
também estou olhando para uma mulher muito grávida que está
exausta.
Ash acena com o queixo para Tessie.
— Leve ela para casa. Amarre-a na cama.
— Nada de mais trabalho — diz Solomon com um tom sério que
não aceita argumentos. — Você já terminou de trabalhar. Ficou o dia
todo de pé.
Ela apalpa o peito musculoso dele. Olha para cima.
— Você também. — Entre preparar o bar e planejar o
lançamento do novo cardápio, Solomon tem se desgastado muito.
Ele resmunga, movendo sua enorme mão para o quadril dela.
— Eu não estou grávido.
Com as sobrancelhas escuras levantadas, Ash balança o dedo.
— Estamos oficialmente colocando você em licença maternidade.
Tessie limpa as palmas das mãos e as ergue como se estivesse
sendo rendida.
— Tudo bem. Terminei. — Entre Solomon e Ash, parecem dois
cães de guarda muito intensos. — Não gosto de vocês dois juntos.
Ash ri.
— Se acostume.
Girando, Tessie aponta para Howler e sorri.
— Sexta à noite. Vamos fazer uma festa.
Capítulo trinta

Solomon permanece em silêncio na escada enquanto Tessie


desempacota uma caixa com coisas de bebê. Eles tiveram entregas
durante toda a semana, se preparando para a chegada do Bear.
Vestida com um suéter aconchegante que abraça sua barriga,
leggings e pantufas de inverno, ela está de joelhos. Seus longos
cabelos loiros ondulam ao redor dos ombros enquanto ela tira
mantas felpudas, mamadeiras e pequenos porta-retratos com bordas
douradas.
Um sorriso desponta em seus lábios barbudos. Por mais sexy que
ela esteja grávida, ele mal pode esperar para vê-la como mãe. Ela
ensinará Bear a ser teimoso, lutará por ele, ficará firme quando as
coisas derem errado, transmitirá a ele seu bom gosto e amor por
cores Pantone. Solomon será a força, aquele que carregará Bear nos
ombros e o fará girar até que risadas encham sua cabana. Mas uma
coisa é certa: o pequeno nunca duvidará do amor de sua mãe por
ele.
Segurando a borda da caixa, Tessie se levanta, oscila uma vez
com aquela barriga dela e então se estabiliza. Ela vai até a parede e
martela, cantarolando junto com a música que o velho Crosley toca.
O balanço lento de seus quadris, o inchaço de sua barriga, fazem o
estômago de Solomon revirar.
Como ele a ama.
Ele nunca se acostumará à visão de Tessie em sua casa.
Na casa deles.
Aquela sensação de voltar para alguém, de ter alguém sempre
em seu espaço – ele não sabia o quanto sentia falta disso até ela
estar ali. Em apenas algumas semanas, eles se ajustaram a uma
rotina. Natural. Normal, como se fosse destinado. Como se as
estrelas soubessem algo naquela noite em Nashville. O colocaram
em um curso para Tessie, e ele nunca olhará para trás. Porque ele
quer isso. Todo santo dia pelo resto de sua vida. Ir trabalhar, voltar
para Tessie e seu filho.
Seu mundo inteiro.
Sentindo sua presença, Tessie se assusta e se vira.
— Você está em casa.
Casa. Seu peito se enche com essa palavra.
Ela inclina a cabeça dourada.
— Você gosta de ficar espreitando nas sombras, Homem Solene,
e me ver oscilar por aí?
Solomon ri suavemente.
— Você não oscila.
— Eu oscilo. Mas oscilo com estilo. — Ela sorri. — Como foi o
trabalho?
Ele tira o casaco, sacudindo a neve das mangas enquanto sobe
os últimos degraus.
— Terminei o cardápio. Howler teve um pequeno ataque quando
a entrega de sua bebida foi para o endereço errado, mas
sobrevivemos, e a bebida está guardada com segurança. — Ele se
aproxima e observa as fotos na parede.
Ela fica corada.
— Desculpe, espero que não se importe. Pensei em decorar.
Balançando a cabeça, ele se aproxima dela, se inclina para beijá-
la e então a puxa para seu lado.
— De jeito nenhum. — Ele engole em seco, olhando a foto deles
no México. Aquela que ela tirou quando estavam enfiados na rede.
— Eu amei.
Tessie aponta para o pequeno espaço que decorou. A cadeira de
balanço com uma manta de bebê tricotada sobre o encosto.
— Está tudo pronto. — Ela franze o nariz. — Agora só precisamos
do berço.
Solomon sorri quando percebe o pequeno bocejo que ela está
tentando esconder.
— Cansada? — ele pergunta, passando a mão por baixo de seus
cabelos e sobre o pescoço.
— Você é como os sais de cheiro de Ash. — Ela se aninha contra
ele. — Você me mantém viva. Acordada.
— Acha que consegue ficar acordada para uma surpresa?
Seus olhos castanhos-escuros se iluminam.
— Estou sempre disposta a uma surpresa.
Abaixando a cabeça, ele pressiona um beijo no canto de sua
boca.
— Fique aqui. Feche os olhos.
Com isso, Solomon desaparece no pequeno sótão inclinado e traz
o que ele tem trabalhado nas últimas duas semanas. Sua maneira de
relaxar nas noites escuras e silenciosas, com Tessie dormindo em
sua cama, as estrelas brilhando forte através do teto de vidro.
— Ok — ele diz quando sua surpresa está pronta. — Olhe.
Ela olha.
Um suspiro suave preenche o espaço entre eles. Lampejos de
prata inundam os olhos escuros de Tessie. À sua frente está um
berço simples de cor marrom-acinzentada com extremidades
arqueadas.
Lentamente, ela se aproxima, passando as mãos ao longo da
moldura de madeira lisa.
— Você fez isso? — Sua voz está sonhadora.
— Fiz. Eu queria que Bear tivesse um pedaço de Chinook. É
pinho azul — ele oferece. — Atende aos padrões de segurança para
berços. Eu garanti.
Ela sorri para ele, seus lábios rosados e cheios tremendo.
Lágrimas escorrem pelo rosto dela. Ele jura que ela está tentando
acabar com ele. As lágrimas de Tess são comuns nos dias de hoje,
mas ele ainda odeia vê-las. Suas lágrimas têm o poder de arruiná-lo
completamente.
— Podemos colocá-lo na parede? — Tessie funga.
Ele o levanta facilmente, movendo-o sob a inclinação do telhado.
A foto de Tessie e ele na rede fica acima. Quando ele levanta a
manta da cadeira de balanço para jogar sobre a grade, um sopro de
ar agudo de Tessie o faz se virar.
— Amor, o que foi?
— Você parece um pai.
Ele engole o nó na garganta, suas palavras ameaçando derrubá-
lo.
Ao seu silêncio, ela toca as pontas dos dedos nos lábios.
— Isso te assusta?
— Não. Isso me faz feliz.
— Ele dá um passo gigante para puxá-la para seus braços,
adorando como ela se encaixa facilmente. Ele limpa as lágrimas em
suas bochechas com os polegares. — Não chore, Tess. Você me
destrói quando chora.
Ela prende seus olhos brilhantes nos dele. Coloca uma mão sobre
seu coração.
— O berço é lindo, Solomon. Eu amei. Bear vai adorar.
— Pelo resto da minha vida, vou cuidar de você e desse bebê.
— Eu sei que você vai.
A crença dela, sua fé nele, é tudo. Ser o homem que ela precisa,
o homem que ela escolheu, o deixa orgulhoso.
Ele sorri para ela, deslizando uma mão em seus cabelos
dourados. No rosto dela, em seus olhos castanhos grandes, ele vê
seu futuro. Ele vê tudo.
E em seus braços, brilhando como o sol, seu mundo não perde o
brilho, sua eternidade – Tessie.

Na noite em que a nevasca atinge Chinook, Tessie acorda com uma


dor na barriga. Ela está encolhida nos braços de Solomon, sua
estrutura firme sobre ela como uma daquelas mantas calmantes
para ansiedade. Uma mão larga cobre o topo de sua cabeça, um
braço enrolado protetoramente em sua cintura. Bear a golpeia por
dentro, e ela apoia a palma da mão na barriga, como se pudesse
acalmá-lo. Então, lentamente, ela se desvencilha da firme pegada de
Solomon. Não acostumada com o frio, ela coloca meias felpudas e
uma flanela e anda pelo piso de madeira até a cadeira de balanço.
Ela se senta, balança e olha para o teto de vidro.
Flocos de neve atravessam o céu preto e insondável. Ela sabe o
que está lá fora, as montanhas escarpadas, a floresta alpina, um
riacho onde Bear pescará, mas agora, tudo o que existe é a
escuridão. As estrelas. A imediatez. O aqui e agora. Talvez essa seja
a lição que sua mãe queria que ela aprendesse. Que em algum
lugar, as estrelas se alinham, e uma pessoa encontra seu lugar.
Uma lição que ela também quer que Bear aprenda.
Com um suspiro, Tessie desliza a mão sobre o inchaço de sua
barriga. Seus seios estão pesados; seus pés doem. Sua barriga está
dura como uma pedra.
Logo, ela pensa, e seu coração bate mais rápido. Ele estará aqui
em breve.
Toda essa esperança. Seu filho. Ela mal pode esperar para
conhecê-lo.
— Tess. — A voz urgente de Solomon flutua pelo quarto escuro.
Ele está procurando pelo quarto, mas ainda não a encontrou.
Sentada na cama, iluminada pela luz da lua, estão seus largos
ombros, a musculatura de suas costas.
— Eu ainda estou aqui — ela diz suavemente. — Eu não saí.
Com suas palavras, seus ombros tensos relaxam. E então há um
rápido movimento de lençóis.
A mão de Solomon pressiona seu ombro.
Sem falar, eles trocam de lugar. Ela se levanta, e Solomon se
acomoda na cadeira. Então ele puxa Tessie para o colo. Ela se
enrosca em seus braços, apoiando a cabeça entre seu pescoço e sua
mandíbula. Ela fecha os olhos, inalando o aroma amadeirado de sua
barba. Solomon balança. O movimento é reconfortante, como uma
onda suave passando sobre ela.
— Não consegue dormir? — ele pergunta, acariciando sua
barriga.
— Não. Esse bebê é um maníaco completo. — Ela suspira. —
Desculpe por te acordar.
— Você não me acordou.
Ele está certo. Ela não o acordou. Se ela não estiver ao lado dele,
ele acordará. Ele virá procurá-la. Ela aprendeu isso. Ela aprendeu
tantas coisas sobre seu Homem Solene neste último mês, e ela ama
todas elas.
Com a voz rouca de sono, ele pergunta:
— No que está pensando?
— Em muitas coisas.
— Me diga.
Ela sorri. Isso é Solomon. Sempre pronto para ouvir. Para
consertar. Um homem que está sempre presente, que nunca irá
embora. Dela ou de Bear.
Ela beija sua bochecha barbuda.
— Eu preciso arrumar um emprego.
Um resmungo de discordância.
— Você precisa relaxar.
— Mas eu tenho ideias.
— Até lá, eu ganho mais do que o suficiente.
— Como? — Ela puxa sua barba. — Você mora em uma cabana.
Você só tem uma camisa de flanela.
Uma risada estrondosa vibra em seu peito. Através do dela.
— Sou dono do bar com o Howler. Não são milhões, mas ganho
mais do que o suficiente para nossa família.
Nossa família.
Oh, Deus. Se ela já não estivesse completamente apaixonada por
Solomon, agora está.
Ele empurra o rosto dela para cima para encontrar o seu,
silenciando os protestos dela com um beijo.
— Eu quero te dar tudo, Tess. Então me deixe.
Ela sorri, encostando a cabeça em seu peito.
— Você faz parecer fácil.
— É fácil. Porque você é minha. — Ele a puxa para mais perto. —
Próximo?
— Eu estava pensando em comida.
Uma risada escapa dos lábios de Solomon.
— Primeira refeição?
Ela sorri.
— Hmm. Champanhe. Bife. Malpassado. Uma montanha de brie.
— Feito. E feito. Terceira coisa?
— Eu estava pensando em nomes — ela começa. — Não sei o
que acontecerá entre nós... se nos casarmos–
— Quando.
— Ok, quandonos casarmos, mas no entanto, quando
acontecer... eu quero que Bear tenha o meu sobrenome. Era o da
minha mãe.
Ela se senta. Seus olhos se fixam nos dele, incerta de como ele
reagirá.
Tudo o que Solomon faz é assentir. Determinado. Sério. Então ele
diz:
— Ele deveria ter.
Tessie suspira e se inclina em seu ombro largo. É possível ficar
embriagada por uma pessoa? Porque toda vez que esse homem abre
a boca, o mundo gira. Da melhor forma possível. Ela continua, uma
timidez repentina se instalando. Enroscando seus dedos finos nos
pelos do peito dele, ela murmura:
— Eu estava pensando que poderíamos chamá-lo de Wilder.
O balanço para.
— Wilder?
— Seu sobrenome.
Ele solta um longo suspiro. Na escuridão, tudo o que ela pode
ver são seus olhos. Brilhantes com lágrimas.
— Sim — é tudo o que ele diz, e então ele a beija.
Sem fôlego, eles se afastam.
Eu te amo, Tessie murmura no escuro do quarto.
Eu te amo, Solomon responde de volta.
O bebê chuta em sua barriga.
E então eles dormem.
Capítulo trinta e um

A música country corta o caos do Ninho do Howler. Os bancos estão


lotados com uma variedade de moradores experientes e turistas
curiosos. As pessoas pegam suas bebidas, pegam petiscos de
Solomon das bandejas. Atrás do balcão, Howler faz coquetéis com
uma precisão especializada.
Sobre a cabeça de Tessie, um lustre moderno de chifres lança
raios de luz ambiente.
O Ninho do Howler está animado.
O bar está lotado de amigos e família. A cidade inteira apareceu
para a grande reabertura. Um show de apoio para Solomon e Howler
que faz o coração dela bater devagar, espasmódico: tum-tum-tum. O
vestido preto que Tessie veste abraça sua barriga firmemente,
atraindo olhares curiosos. Ela cumprimentou pelo menos cinquenta
pessoas esta noite. Viu os moradores de Chinook passarem por
Solomon e apertarem seu braço, parabenizando-o.
Eles veem. Ele está de volta e está feliz, e para Tessie, é a coisa
mais linda que já testemunhou.
O que é apropriado, porque pelo menos a cada cinco minutos,
Solomon tem que parar o que está fazendo e fazer a mesma velha
introdução.
— Sim, esta é a Tessie. Sim, ela está grávida. Sim, estamos
tendo um bebê juntos. — Sem soltar sua mão nem uma vez, ele fica
ao lado dela como se tivesse sido enviado pessoalmente para atacar
se alguém tentasse tocar sua barriga.
Espalhada pela sala está a família de Solomon, incluindo Evelyn,
que está sentada no bar, mexendo no celular com seu habitual olhar
carrancudo. Tessie e Solomon circulam ao redor da multidão,
oferecendo cumprimentos calorosos.
— Saltos? — Melody pergunta, se aproximando deles, seus olhos
nos sapatos de Tessie. — Logo hoje à noite?
Solomon balança a cabeça.
— Eu disse a ela.
Tessie resmunga e dá um tapa nele com sua bolsa.
— Tenho usado botas o mês inteiro. Hoje à noite, uso saltos. É a
sua festa, Solomon. Eu tenho que estar bonita.
Um sorriso se insinua em seus lábios barbudos enquanto ele olha
para ela com uma expressão de pura admiração em seu rosto. Um
rubor quente cobre as bochechas dela ao ver a atenção devota.
— Você está linda — diz ele, puxando-a para perto.
Sorrindo, ela apoia a mão livre contra o lado da barriga. Ela se
sente especialmente mais rígida esta noite.
— Tessie está linda, mas este bar também está. — Melody passa
os olhos brilhantes pelo espaço. Ela coloca as mãos na cintura. —
Podemos falar sobre a parede de machados?
Solomon ergue a cerveja, orgulho em sua voz.
— Magia de design de Tessie no ambiente selvagem.
— A parte mais importante é que são reais — diz Ash, se
aproximando por trás deles. — E podem ser usados contra Howler
em uma emergência.
Solomon solta uma risada que faz virar cabeças em sua direção.
Incluindo a de Tessie. Ela não consegue deixar de dar uma espiada
em sua direção. Com jeans desbotados que se moldam às suas
coxas enormes, uma camisa de flanela forrada de lã e um queixo
barbudo tão esculpido quanto as montanhas sob as quais vivem, ele
parece exatamente o homem das montanhas rústicas por quem ela
se apaixonou.
— Caramba — diz Jo. Ainda em suas roupas de trabalho, seu
cabelo preto coberto de neve, ela se aproxima deles. — Lá fora, é o
centro da nevasca.
Do lado de fora, o vento uiva. Além das janelas de vidro das
portas da garagem, a neve cai.
Solomon parece preocupado.
— Ótimo — diz Ash. — É exatamente o que precisamos. Dar-lhes
bebida e colocá-los nos carros.
— Howler está pegando leve com a bebida — Melody os
tranquiliza. — Mas não tenho certeza sobre Mamãe e Papai. —
Rindo, ela acena com a cabeça para seus pais, que estão dançando
ao som suave de Tammy Wynette.
Quando não há resposta de Solomon além de um grunhido,
Tessie puxa seu braço.
— Você não está sorrindo.
— Estou franzindo a testa.
— Isso eu consigo ver. — Ela examina seu rosto. — O que há de
errado?
— Nada. — Ele espalha uma palma larga sobre a parte inferior
das costas dela. — Apenas contando as horas até te levar para casa,
para nossa cama.
— Mmm — ela murmura, tremendo quando a ampla mão dele
percorre a curva de seu quadril. O bar é agradável, mas as mãos de
Solomon em seu corpo são ainda mais agradáveis. — Prometa que
não vamos sair da cabana por dias e dias.
Isso, para seu alívio, traz um sorriso ao rosto dele.
— Tess, meu amor, eu posso te prometer isso.
A noite continua. Duas pessoas pedem cartões de visita de
Tessie. Uma pessoa tenta fazer um carinho na barriga, mas é
bloqueada pelo corpo grande de Solomon e é afastada com um
rosnado. Howler dá uma entrevista para a Thrillist, uma foto é
tirada, uma salva de palmas se espalha pela sala. Logo se fala de
um discurso quando a mãe e o pai de Solomon trazem um bolo em
forma de coquetel para ele e Howler.
— Eu vou pegar um isqueiro — diz Tessie sobre o barulho,
apertando o braço de Solomon para avisá-lo que está indo para a
cozinha.
Com as mãos apoiadas nos quadris, ela vasculha a cozinha em
busca de um isqueiro. Vendo uma caixa de fósforos em uma
prateleira cheia de livros de receitas, uma prateleira tão alta que só
pode ser para Solomon, ela procura uma solução.
Então, vitoriosa, ela avista um par de tenazes no balcão. Se ela
não pode usar um banco ou uma escada, pode ser engenhosa.
Na ponta dos pés e usando as tenazes como um braço extra-
longo, Tess agarra a caixa de fósforos e a arrasta para perto dela.
Mais perto e mais perto. Quando ela tem certeza de que conseguiu,
ela puxa. Mas junto com os fósforos vem um livro de receitas,
ambos caindo sobre a bancada de aço com um estrondo.
— Merda — ela xinga.
Papéis caem de um livro de receitas chamado Cozinhando no
Alasca. Não querendo que nenhuma das anotações de Solomon se
perca na bagunça, ela os pega, os embaralha em uma pilha. Ela os
dobra cuidadosamente para devolvê-los às páginas do livro quando
ela congela.
Seu nome. Seu nome está nestes papéis.
Franzindo a testa, ela lê.
Ao fazer isso, toda a respiração deixa seu corpo. Seus batimentos
cardíacos diminuem, caminhando na borda afiada do pânico. Suas
mãos tremem. Os papéis à sua frente parecem uma piada de mau
gosto. Mas eles realmente estão lá. E cortam.
Palavras como inadequadae petição para guardae estabelecer
paternidade a atingem.
— Oh meu Deus — sussurra Tessie, levando as pontas dos dedos
trêmulos aos lábios quando vê a linha para a assinatura de Solomon.
Lágrimas inundam seus olhos. A rejeição lhe dá um nó nas
entranhas.
Traição.
Como uma agulha caindo em um vinil, ela começa.
Virando-se rapidamente, ela sai da cozinha e dá de cara com
Howler. Ele a segura pelos ombros.
— Calma, devagar, Cachinhos Dourados. Aonde você vai?
Ela se afasta dele, franzindo a testa.
— Longe daqui.
— O que você... — Seus olhos azuis brilhantes caem sobre os
papéis em suas mãos. Ele empalidece. Engole em seco. Tenta um
sorriso. — Quer se sentar, Cachinhos? Vou fazer um drink para você.
— Você não quer fazer um drink para mim — ela sibila,
segurando os papéis junto ao peito. — Você nunca quis.
Com preocupação estampada em seu rosto, Howler levanta a
mão, gesticulando para Solomon na multidão. Mas Tessie já está
indo embora, furiosa em direção ao suporte de casacos. Ela puxa
seu casaco, enfia as mãos no bolso do casaco de Solomon e tira as
chaves da picape.
Ela precisa sair daqui. Longe de Solomon, longe de Chinook,
desta cidade. Porque dói demais. Perder tudo porque ela foi uma
idiota, uma tola. Porque ela acreditou em Solomon Wilder quando
ele disse que não envolveria os tribunais. Que eles poderiam
resolver juntos. Que eles compartilhariam Bear. Mas o que ele
realmente quer é tirá-lo dela.
No piloto automático, ela atravessa a multidão de pessoas, passa
por Evelyn, que finalmente está se animando em seu banco, e então
ela abre a pesada porta da frente e sai para o estacionamento.
Tessie respira fundo quando uma explosão de ar frio de
novembro a atinge com força.
Ela fica embaixo do céu cintilante, na escuridão fria e gélida.
Lágrimas geladas escorrem pelo seu rosto. As rajadas de neve
varrem a parte superior de seus pés. No alto, uma brilhante lua
cheia ilumina o estacionamento de cascalho.
Estrelas cintilam pelo universo como quando ela e Solomon se
conheceram pela primeira vez. Uma vida atrás, naquele bar do
Tennessee. Antes de Bear. Antes de tudo isso explodir na cara dela.
Com um estremecimento, ela ergue o colarinho ao redor do
pescoço e sai da calçada. Ela mal se afasta quando a porta se abre
atrás dela.
— Tess, querida — Solomon rosna, o som de sua voz faz o corpo
dela se virar, como se não tivesse vontade própria. Seu peito se
agita, suas mãos se fecham ao lado do corpo. Cinzas em seu ombro.
— Não é o que você está pensando. — Mas seu tom é culpado,
como se ele já soubesse o que ela descobriu.
Erguendo o queixo, ela avança e empurra os papéis contra o
peito dele.
— Então o que é, Solomon? Porque parece que você está
tentando tirar o Bear de mim.
— Eu não estou. Eu juro. — Ele respira fundo. — Eu sei que
agora parece imperdoável, mas posso explicar.
Balançando a cabeça e se afastando, Tessie cobre o estômago.
Solomon se encolhe. De repente, tudo que ela quer é que o
pequeno bebê dentro dela fique quieto.
— Você não me quer. Você só quer o Bear. — Sua voz quebra nas
palavras.
— Tessie, não — diz Ash, suas mãos agarradas ao coração.
O rosto bonito de Solomon se desmorona.
— Você não acredita nisso.
No que ela deveria acreditar? Ela está tão confusa. Mas ela
precisa de um plano. Uma saída. Ela precisa sair de perto de
Solomon. Agora.
Dirigir de volta para a cabana e fazer as malas. Pegar o próximo
avião para fora do Alasca. Levar seu bebê e seus planos ruins de
volta para a Califórnia e implorar por um emprego para Nova.
Tessie se vira e caminha com as pernas trêmulas em direção à
estrada. Cascalho e neve rangem sob seus saltos.
Ir embora, ir embora, ir embora.
Suas emoções e seus hormônios estão uma bagunça. Estão à
solta como um bando de mustangs trovejantes. Por causa da
gravidez. Dos papéis que descobriu. Dos olhos frenéticos de
Solomon encarando-a.
— Para onde você vai? — ele exige. Ele está ao lado dela, com a
mão no cotovelo dela. Tentando guiá-la de volta para dentro.
Ela o empurra.
— Longe de você. Eu não posso falar com você agora.
Seus passos pesados a seguem.
— Tess, volte aqui. Você vai congelar.
O comando severo de Solomon envia arrepios de fúria pela
espinha dela. Ela cruza os braços e desvia o olhar para a escuridão,
esperando que ele não veja seus dentes batendo.
Uma multidão está se reunindo na calçada. Os pais de Solomon
com olhos arregalados e suas irmãs. Ash. Howler. Eles olham como
se tivessem vindo assistir Tessie explodir. O pensamento só a faz
sentir pior. Mais sozinha.
— Tess…
Ela se volta para ele.
— Você mudou nosso acordo — ela grita. O medo, o pânico e a
perda embaçam sua voz.
— Amor — ele sussurra, se aproximando como se ela fosse um
animal preso numa armadilha.
— Você mudou nosso acordo. Comigo. Em nós. Você prometeu.
— Eu prometi — ele diz, soando instável. Apavorado. — E estou
te dizendo que não quebrei essa promessa.
Uma voz cortante os interrompe.
— Sol…
Os dentes de Solomon se trincam. Tão forte que é
impressionante que ele não quebre um.
— Volte para dentro, Evelyn — ele rosna, sem rodeios em seu
tom. — Agora.
Com vergonha, Evelyn se afasta.
Inalando uma respiração desafiadora, o frio picando seus
pulmões, Tessie caminha. O vento agita seu cabelo, misturando-o
com suas lágrimas. Seu rosto está congelado, mas a única sensação
que registra é o calor pulsante de sangue em suas veias, fazendo-a
se mover.
— Espere. Tess. Me escute. — A voz de Solomon se destaca no
ar noturno. Ele está ao lado dela. Agarrando seu pulso, gentil mas
firme, mas ela escapa de seu aperto. Solomon pragueja baixinho,
xingando-a, a si mesmo.
— Me deixe em paz, Solomon.
— Sem chance.
— Estou levando a caminhonete de volta para a cabana.
Ele resmunga.
— Boa sorte encontrando ela.
Ela para. Girando a cabeça, procura a caminhonete no
estacionamento. Então lembra que está estacionada a meio
quilômetro de distância. Merda.
Ainda assim, ela se move, deixando o bar para trás, a luz
brilhante da placa de neon piscando em seu campo de visão.
Um período silencioso de segundos, e então...
— Ande, então. — O som profundo e grave de Solomon ressoa
no ar da noite. Determinação em seu tom. — Ande se quiser.
— Eu vou — ela responde, segurando a barriga, sem olhar para
trás.
— Eu estarei bem atrás de você. Quando quiser conversar,
estarei pronto. Estarei bem aqui.
As palavras dele fazem o coração dela acelerar. Faz com que ela
pare.
Ela se vira.
— Você não está com um casaco.
Ela se enfurece consigo mesma. Maldita seja ela por se importar.
— Que se foda um casaco.
— Ah, sim, isso é uma ótima ideia. É exatamente o que nosso
filho precisa. Seu pai ficando doente e morrendo de pneumonia.
— Eu não me importo, Tess. Eu não vou te deixar. E quando você
estiver pronta para ouvir, eu vou te contar como não estive
envolvido na elaboração desses papéis. Nunca, em um milhão de
anos, eu a machucaria dessa maneira.
Com as pernas trêmulas, ela dá um passo à frente, para se
afastar. Só que o pequeno movimento de Bear em sua barriga, as
palavras de Solomon, a impedem.
Meu Deus. A realização a atinge como um soco no estômago.
O que ela está fazendo?
Ela está se afastando dele.
Tão preocupada com ele quebrar sua promessa, ela não
percebeu que estava quebrando a dela.
— Tess, por favor. — Um som sufocado de angústia explode na
garganta dele, forçando-a a se virar para ele de novo. — Eu não
quero você à beira da estrada, querida.
Solomon a encara com olhos assombrados. Seu rosto devastado,
absolutamente angustiado, e é aí que Tess percebe. Se ela se
afastar, se ela partir, vai matá-lo.
Aqui está ela, uma mulher grávida quase selvagem, tendo um
colapso por causa dos hormônios enquanto congela. Ela está
afastando ele, mas ele está ficando. Ele não está indo embora ou a
abandonando ou a deixando ir. Ele está ficando.
Então, a claridade se abriu dentro dela.
O amor fica.
Ela poderia ir embora, poderia terminar com isso, ou poderia
encarar e entender.
Sua mãe sempre disse para encontrar alguém que ficasse. Que
não fosse embora mesmo quando a vida fosse difícil. Mesmo quando
brigassem.
Isso é o que sua mãe teria desejado para ela. Não dinheiro. Ou
uma carreira. Mas amor. Um homem que lutasse por ela, lutasse
com ela e não a deixasse ir, que enchesse sua alma com paz, luz e
alegria.
E esse é Solomon.
Inalando uma respiração profunda, ela força seu cérebro a sair
de sua zona de fusão radioativa. E ela encontra os olhos de lápis-
lazúli de Solomon fixos nela de uma maneira que faz seu estômago
se aquecer e se magnetizar.
Ela se fortalece, deixando a esperança, o amor, quebrarem sua
armadura. Rezando para que haja uma explicação para os papéis
que ele segura que não vá quebrar seu coração.
Ela sibila, aponta um dedo para ele. Odiando-o, mas também
amando-o demais pelo estrangulamento que ele exerce em seu
coração.
— Estou furiosa com você.
Um leve sorriso aparece em seu rosto. Ela sabe agora. Sabe
quando Solomon está sorrindo, fazendo careta, fazendo cara feia ou
rindo. Todos os seus rostos barbados, ela os conhece.
Eles são dela.
O gigante expira o ar dos pulmões em um longo suspiro.
— Eu sei que você está. E você pode estar. — Ele analisa o
espaço que os separa e dá um passo à frente. — Venha comigo.
Vamos conversar, Tess. Grite comigo. Me bata. Jogue um sapato em
mim. Só faça isso lá dentro. Onde está quente.
Ela ri e chora ao mesmo tempo. Incapaz de evitar. Incapaz de
conter o amor selvagem e indefeso que sente por esse homem.
Mesmo quando ele a enfureceu além da conta.
— Está bem. Eu vou.
Seu corpo se alivia. Então, o sorriso mais bonito ilumina seu
rosto rude quando ele estende a mão para ela.
— Vamos lá, Mulher Grávida.
Tessie dá um passo à frente, estendendo a mão firme para ele, e
então a pior coisa acontece.
Ela escorrega.
As pernas saem de baixo dela e ela cai para frente. Embora seu
equilíbrio seja inexistente, ela consegue se contorcer, mas ainda
bate com força no cimento. A dor ricocheteia em seus quadris, no
cotovelo e em sua cabeça.
— Tessie! — A voz de pânico de Solomon soa como um tiro na
escuridão.
O mundo gira. Deus. Está doendo. Tudo dói. Como flechas
agulhando seu ombro, seu cóccix. Por um longo segundo, ela fica lá,
ofegando por ar. Então, com a cãibra abrindo caminho em sua
barriga, ela cobre o rosto e solta um gemido.
Num único movimento, ela está nos braços de Solomon,
apertada contra o peito dele, o rosto enterrado contra seu coração
acelerado. A única coisa que ela ouve é o vento soprando entre as
árvores e a voz profunda de Solomon vibrando através dela.
— Eu estou aqui. Você está bem. Vocês dois estão bem.
Capítulo trinta e dois

É o som favorito de Solomon.


O batimento cardíaco de Bear.
Ele está na cadeira ao lado da cama de hospital de Tessie, com
os punhos cerrados com força nas coxas. Lágrimas escorrem
silenciosamente pelo rosto de Tessie, mas ela encara a janela, vendo
a neve cair enquanto o médico a examina. Ela ainda não olha para
ele. Não desde que descobriu os papéis. Não desde que teve aquela
queda violenta que desestabilizou seu mundo.
Quando ela caiu, quase acabou com ele.
Dirigindo como um louco na neve, Solomon foi o mais rápido
possível para o hospital. O resto da família e amigos seguiram assim
que ele ligou para contar o que estava acontecendo.
Agora, com o cotovelo de Tessie enfaixado, ela está conectada a
uma série de máquinas que monitoram o bebê e ela. As linhas
saltam no monitor cardíaco, um pulso constante indicando que o
filho deles está bem. Ainda assim, o peso no peito, o nó na
garganta, não o deixam em paz. A preocupação pelo bebê, por Tess,
o consome.
A Dra. Banai se endireita no banco e diz:
— Neste momento, não há sinais de sofrimento fetal ou
descolamento de placenta. Nem hemorragia interna. — Ela olha para
Tess. — Você disse que teve uma cãibra?
— Sim — responde Tessie, fungando. — Depois que eu caí.
— Certo. — A médica lança um olhar perspicaz para a faixa presa
na barriga de Tessie. — Estamos monitorando suas contrações. Isso
pode ser o início do trabalho de parto.
O peito de Solomon se aperta, mal conseguindo forçar a próxima
respiração.
— É cedo demais.
Tessie pressiona a mão contra a boca para conter um soluço.
— A taxa de sobrevivência para bebês com trinta e cinco
semanas é a mesma que para bebês nascidos a termo completo. —
A Dra. Banai sorri e se levanta, os olhos escuros se enrugando nos
cantos. — Descansem, relaxem. Voltarei para verificar vocês.
Solomon fica paralisado, processando a notícia, quando a voz
dilacerante de Tess diz:
— A culpa é minha.
— Não — ele resmunga.
Lágrimas escorrem pelo rosto dela enquanto ela repousa uma
mão na barriga inchada, o olhar ainda fixo na janela.
— Não deveria ter usado saltos.
— Eu não vou fazer isso, Tess. Culpar você.
— Por que não? Eu mereço. — Outro soluço escapa dela,
abalando seu pequeno corpo. — Eu sou uma pessoa terrível. Bear
poderia ter se machucado.
Ele balança a cabeça, mas ela continua sem sequer olhar para
ele.
— Eu sei que exagerei. — Ela enxuga as lágrimas com raiva. —
Mas vi aqueles papéis e foi como se meu mundo explodisse. Tudo
que eu conseguia ver era você me deixando. Bear me deixando. Eu
via tudo que amava indo embora. De novo.
Ele sabe o que ela viu. E isso o destrói. Solomon não a culpa por
sua reação. Tudo que Tessie conhecia sobre amor durante toda a
vida foi decepção, e isso a desestabilizou.
Ela deveria estar furiosa. Deveria dar socos fortes e rápidos nele,
mirar direto nas partes baixas, bater com força, e ele não impediria.
Ele se culpa. Fez uma promessa a ela sobre Bear. Esteja Evelyn
envolvida ou não, ainda é culpa dele. Deveria ter sido sincero sobre
aqueles papéis. Queimado eles. Em vez disso, Tessie os encontrou, e
ela se machucou. Elea machucou.
Ele se aproxima.
— Foi erro meu — ele murmura. As palavras saem de sua
mandíbula cerrada. — Eu deveria ter te contado sobre os papéis.
Você nunca deveria tê-los encontrado desse jeito.
Finalmente, ela encara ele. Há medo em seus olhos.
Desconfiança. Ela ainda não confia nele.
Seu estômago revira, os nervos o dominando.
Ele precisa consertar isso. Se ele e Tessie não estiverem bem –
ele não sabe como vai sobreviver. Pensar em nunca mais abraçá-la,
vê-la partir, voltar para LA com seu filho, ameaça tirar o ar dele.
— Me escute — ele diz, ousando segurar sua mão frouxa na dele,
acariciando o polegar sobre seus nós dos dedos. — Isso é culpa
minha. E de Evelyn. Você tem que saber que eu nunca planejei tirar
o Bear de você. — Ele leva a mão dela à boca, pressionando um
beijo contra sua palma. — Sinto muito, Tessie. Sinto muito mesmo.
Quando ela finalmente fala, é como um copo de água gelada
após uma seca, e a tensão se dissipa de seu corpo.
— Isso me assustou — ela diz, derrotada e fungando. — Eu
voltei para o passado. Quando meu pai foi embora. Quando minha
mãe morreu. Ninguém me queria. Tudo que tenho é o Bear — ela
diz com uma voz baixa. — Ele é meu filho, meu bebê. Nada pode
acontecer com ele.
A garganta dele trava enquanto ele engole em seco.
— Você tem a mim — ele diz com a voz rouca.
Sem uma resposta, ela desvia o olhar.
Caramba, ela está o matando. Ele sai da cadeira, um homem
desesperado, de joelhos na frente dela. Mas para Tessie, é assim
que ele sempre será.
— Eu te amo, Tess. Eu quero você — ele promete, apertando
suas mãos. — Você é minha ruína, a porra do meu mundo inteiro.
Eu não vou a lugar nenhum. Amor, eu sou seu. — Ele fecha os
olhos. — Me diga que você ainda é minha. — Sua voz se quebra; ele
não consegue mais continuar.
Um silêncio prolongado enche o quarto do hospital.
Sua frequência cardíaca está fora do comum. Se ele estivesse
conectado àquele maldito monitor, os alarmes estariam tocando.
Caramba.
Se ela não olhar para ele, dizer algo agora mesmo, ele vai
morrer. Se transformar em um homem despedaçado.
Então a voz doce dela, sua salvação, diz suavemente:
— Eu sou sua.
Seu coração desaba aliviado.
— Você é?
— Sou. — Ela o encara, levantando o olhar para encontrar o
dele. — Eu quero a cabana. Quero Chinook. E quero você, meu
Homem Solene. — Seus lindos olhos castanhos transbordam de
lágrimas. — Eu preciso de você. Bear e eu, nós precisamos de você.
— Porra — ele respira, se levantando. Ele não consegue colocá-la
em seus braços rápido o suficiente.
Seus lábios se encontram, suas mãos passando pelos cabelos
sedosos dela. Tessie solta um suspiro e solta um gemido, e Solomon
aperta sua mão.
Obrigado Deus por essa mulher.
— Obrigado — ele murmura, beijando seu cabelo, sua bochecha,
seu pescoço. — Por não ter ido embora. Meu coração não
aguentaria.
Ela fecha os olhos, arranhando os dedos delicados por sua barba.
Seu toque atravessa ele como fogo.
— Eu sei. O meu também não.
Com cuidado, Solomon a deita de volta contra os travesseiros e
ajusta melhor o cobertor em seu colo. Espalmando a mão sobre sua
barriga, ele espera o chute de Bear. Forte. Poderoso.
Como Tessie.
Caramba. Pensar em quão perto ele chegou de arruinar tudo.
Ele nunca mais vai deixá-la ir, que Deus o ajude.
— Se isso te faz se sentir melhor — Solomon diz, apertando a
mão dela —, eu quase atropelei um bando inteiro de gansos
correndo para o hospital.
Ela ri e depois franze os lábios para ele.
— Querida, o que foi?
— Ainda estou chateada. — Seus lábios se enrugam. — Eu nunca
pude jogar um sapato em você.
Ele ri e traça um dedo sobre a maçã do rosto dela.
— Você pode jogar um sapato em mim depois.
— Eu vou. Um salto. E você não pode se esquivar.
— Combinado. — Sorrindo, ele se inclina e a beija. — Eu devo
contar para todo mundo o que está acontecendo. Você vai ficar bem
sem mim por alguns minutos? — Com seu aceno de assentimento,
ele se levanta da cama, pronto para voltar para ela.
Quando ele está quase na porta, Tessie solta um suspiro.
Ele se vira. Seu coração dispara contra suas costelas e despenca
para o estômago.
— Tess? O que foi?
Tessie olha para ele com olhos arregalados e horrorizados. Em
seu cobertor se espalha uma mancha escura.
— Minha bolsa estourou.
Capítulo trinta e três

A onda desaba, e Tessie se deixa levar. Deixa que a onda a domine


em longas e reconfortantes ondas de calor.
O nascimento é selvagem. E ela se entrega à jornada.
Ela quer se preocupar, mas está muito feliz. Eufórica com a
realização que está acontecendo, que Bear logo estará em seus
braços. Seu filho.
O filho deles.
Ela anda de um lado para o outro no quarto. As enfermeiras a
deixam caminhar, e onde ela vai, Solomon a segue.
Por horas.
Os batimentos cardíacos de Bear estão fortes no monitor. Tessie
tem um plano, e Solomon está lá para garantir que ela consiga o
que quer. Embora nada tenha saído como planejado esta noite, ela
vai dar à luz seu bebê do seu jeito, do melhor modo que puder.
Ela respira, concentrando-se. Se reajustando. Ela não está em
um hospital de cidade pequena. Ela está em Chinook, entre álamos
e pinheiros, respirando ar fresco e natureza. Seu corpo está se
abrindo, florescendo, se preparando para trazer seu filho ao mundo.
Ela pode fazer isso. Ela confia em seu corpo com todo o seu
coração.
Ela confia em Solomon.
— Você consegue. — Ele acaricia seus cabelos enquanto ela
respira. — Tess, minha garota corajosa.
Debruçada em seu amplo peito, ela sente seu coração batendo
no mesmo ritmo que o dela. Seus amplos e musculosos braços a
envolvem, segurando-a. Nunca a deixando desamparada.
— Eu te amo — diz Solomon. — Eu te amo. Eu te amo.
Tessie desfalece em seus braços, sua testa repousa em seu peito
protetor.
— Eu também te amo — ela sussurra. Repete isso várias vezes
até outra contração chegar e ela recomeçar a caminhar.
Ela se sente em êxtase. Alta como naquele momento em que ela
e Ash fumaram um baseado no armário de roupa de cama, comeram
um pacote inteiro de Cheetos e foram descobertas pela tia Bev.
Voando alto, gargalhando como duas bruxas.
Ela está flutuando.
Horas passam. Lá fora, o céu está claro, a neve continua caindo.
Agora a dor. Cólicas em sua barriga. Irradiando através de seus
quadris, sua coluna.
Suas pernas ficam fracas. Ela se curva com um gemido que
normalmente reserva para comer uma pizza inteira.
Solomon está lá. Sempre com aquela grande e ampla palma
guiando-a, ajudando-a quando ela não está forte o suficiente. Suas
enormes mãos massageiam seus quadris, seguram-na quando ela
precisa de apoio, soltam-na quando ela caminha.
Ela tenta diferentes posições.
— Essas não estão funcionando — ela diz, levantando-se da bola
de ioga.
— Bananeira? — Solomon sugere, sua barba escondendo seu
sorriso travesso.
— Vai à merda — ela ofega.
Como todas aquelas mulheres em todos aqueles programas de
TV, logo ela para de caminhar e está na cama. Ela se reclina no peito
de Solomon. Ele segura seu corpo exausto em seus braços. Ele lhe
dá sua força.
Ela mal ouve a Dra. Banai instruindo-a a empurrar. Tudo com que
ela se concentra é em Solomon. O pulo do batimento cardíaco de
seu bebê no monitor.
A concentração cede lugar à frustração.
Já se passaram horas. E ela está cansada. Muito cansada. Ela
não poderia fazer Bear sair mesmo que estivesse sendo cutucada
com um bastão de gado.
Sua cabeça cai para trás no peito de Solomon. Suor escorre de
sua testa.
— Eu não consigo — ela chora sem fôlego. — É muito difícil.
— Você consegue — diz Solomon ao seu lado. Beija sua têmpora
suada. — Você consegue, Tessie. Minha Tessie. Minha garota
corajosa.
Inalando a respiração mais longa, ela fecha os olhos. Então, ela
empurra.
Ela se desfaz.
Um peso lá embaixo, uma explosão aguda, um alívio.
Em algum lugar do quarto, alguém anuncia que vê a cabeça.
Ela soluça.
A voz profunda de Solomon ressoa em seus ouvidos enquanto
ele sussurra:
— Você é uma estrela do rock. Você é tão forte. Eu estou com
você.
Sua confiança nela a fortalece. Dá-lhe força. Com Solomon ali,
ela pode lidar com qualquer coisa.
A enfermeira ordena que ela dê mais uma última empurrada,
uma última empurrada e o ela faz.
Agarrando as mãos largas de Solomon, ela se esforça. Um longo
e último empurrão, um uivo como um animal selvagem, como Peggy
Sue, como o Wilder que seu filho será, e então há uma lenta
sensação de sucção e um vazio abençoado.
A Dra. Banai, com a cabeça abaixada entre suas pernas, anuncia
o que eles já sabem.
— É um menino!
Antes que ela possa perguntar se seu filho está bem, ouve-se um
choro agudo e brilhante. Firme e verdadeiro. Forte.
Bear.
Tessie irrompe em lágrimas.
O bebê é levado para ser examinado. Solomon beija sua
têmpora, alisa o cabelo de sua testa suada. Ele se agita ao lado
dela, sussurrando sua alegria, e então as enfermeiras colocam um
bebê, um bebê gordinho e rosado, em seus braços.
Amor.
É imediato e dilacerante. Como se sua alma estivesse em seus
braços e ela a segurasse, só que é uma parte melhor dela. O peso
do amor.
Tessie só soluça mais forte quando ele coloca um dedo em volta
do dela. Eles se encaram, o olhar atento de Bear nunca se afastando
do dela, como se ele já a conhecesse. Olhos escuros, pensa Tessie.
Azuis. Castanhos. Que cor Pantone eles são, ela não sabe dizer. Não
importa. É tudo lindo.
— Nosso — ela diz, tremendo. Ela vira o rosto para Solomon, que
está de pé sobre ela. — Ele é nosso.
A garganta do seu homem da montanha se contrai. Seus olhos
brilham de emoção, de lágrimas.
— Você se saiu tão bem, querida. Muito bem.
— Olha — ela ri. — Sem barba. — Gentilmente, ela traça a ponta
do dedo pela curva da doce bochecha rosada de Bear.
Solomon ri. Quase hesitante, ele passa um dedo grande pelo
ombro macio de Bear. O bebê está deitado calmamente em seus
braços, olhando para ela. O olhar de Tessie permanece nele,
absorvendo cada centímetro, e então se volta para Solomon.
Ela não consegue conter o fluxo de amor. Esse homem, que
esteve ao lado dela desde o começo, que nunca a abandonou. Que a
ensinou que está tudo bem ser aberta e vulnerável. Que ele vai
segurar sua raiva e tristeza e consertar ou simplesmente ficar com
ela. O que ela quiser. Escolha dela. Seu coração.
Isso a deixa sem fôlego, tonta. Nunca haverá tempo suficiente
para dizer a ele o quanto o ama.
O momento continua, enfermeiras cuidando dela enquanto ela e
Solomon se deleitam com seu filho.
E então há um puxão lá embaixo. Agudo. Estranho.
De repente, todos na sala estão se movendo, examinando os
monitores, conversando em sussurros.
— O quê? — Tessie pergunta, levantando a cabeça para ver a
Dra. Banai franzindo a testa entre suas pernas.
— O que está errado? — O som grave de Solomon a faz tentar
piscar, se concentrar.
O mundo está mais pesado do que estava apenas um momento
atrás. Desconectado. Sua cabeça parece que vai se soltar do corpo.
E ela está tremendo. Então, algo quente se esvai de dentro dela.
Como se ela estivesse vazando.
Ela está.
— Chame um Código Noelle — ordena a Dra. Banai. Um frenesi
de movimento, de comandos precisos, irrompe na sala. Ela olha para
Solomon, com a preocupação estampada em cada palavra. — Ela
está sangrando.
É horrível. A maneira como o rosto bonito de Solomon muda. Da
felicidade para a confusão e, então, para o medo.
Tessie lambe os lábios secos. O simples ato é exaustivo.
— Solomon — sussurra. Seu coração é um trem de carga em seu
peito. Os lençóis debaixo dela estão encharcados. O sangue corre
para as costas dela e para o cabelo.
Ele está tenso, de pé, seus olhos azuis preocupados olhando para
ela, depois para as enfermeiras.
— O que isso significa? O que há de errado com Tess?
— Solomon. — A cabeça de Tessie se inclina no travesseiro. Suas
pálpebras ficam mais pesadas. — Leve-o — ela sussurra, tentando
chamar sua atenção, reunindo todas as suas forças para dizer as
palavras. — Pegue o bebê.
E então Tessie fica mole, os olhos se fechando. Bear afrouxa em
seus braços, apenas para ser agarrado por Solomon antes que ela
perca completamente o controle.
Alguém está gritando, os monitores explodem em alarmes,
Solomon está a sacudindo, seu nome é um canto desesperado e
distorcido em seus lábios.
Mantenha-se acordada. Uma voz de mulher. Mantenha-se
acordada, Tess.
Um céu infinito de preto em sua visão turva.
Mas sem estrelas.
Capítulo trinta e quatro

Em uma cadeira de plástico dura, Solomon está sentado, todo o seu


vigor drenado do corpo. Sua cabeça está enterrada nas mãos. A sala
de espera está lotada. Sua família, Ash e Howler estão sentados em
um silêncio atordoado, mal se movendo. Ninguém fala.
Ele está assustado. Mais assustado do que já esteve em sua vida.
Não importa o quanto ele tente, não consegue se livrar da imagem
de Tessie naquela cama de hospital.
Lençóis ensanguentados. Seu rosto pálido. Seu sussurro suave
de advertência. Ela desmaiou antes que ele soubesse o que estava
acontecendo. Mal teve tempo de pegar seu filho antes que todas as
pessoas na sala entrassem em ação e o tirassem da sala de parto.
Agora ele espera. Fúria, preocupação fervilhando, sua cabeça e
seu coração já se foram. Ele quer bater em algo, matar alguém. Ele
não pode ver seu filho. Ele não tem a menor ideia de como Tessie
está.
Um chiado vindo de Melody o faz olhar para cima. A Doutora
Banai está na sala de espera.
Ele se levanta rapidamente da cadeira.
— Como está a minha… — Ele se interrompe. Se odeia. Odeia
que ela ainda não seja sua esposa. Superando o nó na garganta, ele
consegue dizer: — Como está a minha Tessie? Como está meu filho?
— O bebê está bem — diz a médica, com tom suave. — Nós o
levamos para a UTI neonatal para ser examinado, mas por enquanto
não há complicações. Você tem um menino saudável.
Solomon puxa o ar abruptamente, deixando a notícia se assentar.
— E Tessie? — Ele mal reconhece sua voz. Angustiada. Pronta
para o pior.
A Doutora Banai pigarreia e diz:
— Solomon, o útero de Tessie se rompeu após o parto. Ela teve
uma hemorragia. — Uma rodada de suspiros se espalha pela sal. —
A pressão sanguínea dela caiu. Ela está em estado de choque.
— Merda — diz Howler, soando em pânico.
O olhar assustado que Ash lhe dá faz Solomon querer sair de sua
própria pele.
— O que isso significa? — ele pergunta, passando
frustradamente a mão pelo cabelo.
— Precisamos levá-la para cirurgia de emergência para reparar a
hemorragia, mas isso significa que precisamos de sangue. Tessie é
A-positivo. — Com gravidade no rosto, a Doutora Banai olha ao
redor na sala de espera. — Estamos com pouco sangue. Com essa
tempestade, não sei se podemos esperar que ele seja transportado.
— Depois de listar os tipos de sangue que Tessie pode receber, ela
diz: — Podemos fazer o teste se você não souber, mas precisamos
fazer isso agora. Não temos muito tempo. Se não tratarmos dela
rapidamente…
O soluço de Melody quebra o silêncio atordoante do momento.
Meu Deus, não.
Não.
Solomon ouve o que não é dito – o que acontece se Tessie não
receber esse sangue. Se não conseguirem encontrá-lo. Se demorar
muito.
A sala de espera fica embaçada ao seu redor. Um terrível rugido
em seus ouvidos o impede de ouvir os sussurros baixos de seus
amigos e familiares, enquanto ele luta contra o impulso de
simplesmente surtar.
As pernas fraquejam, ele desaba novamente na cadeira, fecha os
olhos e tenta respirar.
Uma mão se aperta em seu ombro. Howler.
Meu Deus, ele não pode passar por isso de novo. Perder a
mulher que ama. Não pode acontecer.
— Eu sou A-positivo — uma voz firme diz.
Quando ele abre os olhos, Evelyn está se levantando da cadeira.
— Tem certeza? — Jo pergunta.
As sobrancelhas de sua mãe se erguem.
— Como você sabe disso?
— Porque nunca tirei menos que um A+ na escola — responde
Evelyn. Ela olha para Solomon e depois para a médica. — Tenho
meu cartão da Cruz Vermelha na bolsa. Eu vou. Vou doar.
Um alívio percorre Solomon.
— Vai — Ash incentiva, com a voz chorosa, com a cabeça
enterrada no peito de Howler. — Por favor, vá agora.
Evelyn passa por Solomon, parando apenas brevemente para
apertar sua mão.
— Vai ficar tudo bem — ela assegura, sua voz tranquila e calma.
Tudo o que ele consegue fazer é assentir, meio entorpecido.
— Me drene, doutora — diz Evelyn, e então ela desaparece ao
virar o corredor.
Ele não pode ficar aqui. Desamparado. Esperando. Ele
simplesmente não suporta.
Com isso, seu batimento cardíaco está perigosamente perto de
parar, Solomon se levanta da cadeira e se dirige para as portas de
saída e para o amanhecer que se aproxima.

Do lado de fora da entrada do hospital, a respiração de Solomon


forma nuvens brancas no ar à sua frente. Está congelante, mas ele
não se move para se aquecer. Não enfia as mãos nos bolsos, não se
esconde contra o vento gélido. Ele não merece calor, não quando
Tessie está lutando pela vida.
Com as mãos espalhadas pelo rosto, ele tenta respirar com
firmeza quando tudo dentro dele é uma bola apertada de medo.
Parece que está caindo da Terra, assistindo tudo que ele ama se
esvair.
Todas essas responsabilidades que ele nunca pensou que teria –
agora são tudo o que ele quer.
Tessie o fez acordar. Fez com que ele amasse novamente. Deu a
ele um filho.
Ele não pode existir sem ela.
O amanhecer está no horizonte. Apenas algumas estrelas brilham
na luz do início da manhã.
— Vá se ferrar — ele diz ao céu, seu rosto inclinado para a
imensidão vazia acima dele.
O universo está rindo dele. Ele não teve tempo com Serena, e
não terá tempo com Tessie.
Perdê-la, após tudo isso...
Inimaginável.
Maldita Chinook. Maldita neve e sua própria auto-indulgência por
pedir a Tessie para ficar. Maldito este hospital de cidade pequena,
quando ela poderia estar em Los Angeles, segura, saudável e
segurando seu filho.
Seu filho. A imagem mental de Tessie não acordando, de nunca
mais segurar Bear, de seu filho nunca conhecer a mãe…
Solomon fecha os olhos com força, tentando afastar os
pensamentos sombrios.
Um ruído atrás dele, mas ele não se dá ao trabalho de se virar.
— Tiramos na sorte. — Howler se acomoda ao lado dele,
levantando a gola de seu casaco forrado de lã para bloquear o
vento. — Para ver quem viria te irritar.
Solomon passa a mão pela barba.
— Entre, Howler.
— E deixar você se afundar sozinho? Não vai acontecer, cara.
Um longo silêncio passa enquanto eles encaram o céu. O nascer
do sol é uma explosão brilhante de rosas e roxos que deixaria o
México envergonhado.
— Eu não posso perdê-la. — Sua voz falha, dor permeando cada
palavra. — Eu não posso.
— Eu sei. — Howler enfia as mãos nos bolsos. — Você não vai.
— Eu deveria ter–
— Não — seu amigo interrompe. — Você está com essa mesma
expressão que tinha com a Serena. Você está se culpando. Se fizer
isso, eu te arrasto para fora e te jogo em um monte de neve. — Ele
bate no ombro de Solomon, e aperta. — Ela vai ficar bem. Você não
consegue manter a Cachinhos Dourados para baixo. Já a viu com
aquela furadeira e aqueles saltos?
Solomon ri e enxuga seus olhos molhados.
— Você tem um filho lá dentro. — Howler indica com a cabeça
em direção às portas automáticas. — Ele precisa de você. Tessie
também vai precisar. Vamos lá. Volte para dentro.
Solomon respira fundo, sugando o ar gelado para dentro de seus
pulmões.
— Eu preciso de um minuto.
Howler o observa, solta seu ombro e desaparece lá dentro.
— Por favor — implora Solomon para o céu. Serena. — Você me
meteu nessa enrascada. Conserte isso. Conserte ela. — Angustiado,
ele enterra o rosto nas mãos, sua respiração um pulsar quente
contra suas palmas. — Cristo. Por favor.
Abaixando as mãos, ele inclina a cabeça para trás mais uma vez.
— Você está aí em cima, e se tiver poder, salve-a. Salve minha
Tessie.
Ele solta um último suspiro. Diz adeus para Serena.
E volta para dentro.
Capítulo trinta e cinco

Um dia sem Tessie, e Solomon mal está vivendo. Está se


alimentando de fumaça. Café. Visitas de amigos e família. Seu filho.
A mão de Tessie está fria na dele. Ela está pálida demais,
pequena e frágil na cama do hospital. Essa mulher brilhante e
dourada que iluminou sua vida. Tubos alimentam suas veias. Seu
bronzeado do México se foi, seus lábios estão cinzentos. Cristo,
como ele deseja que estivessem de volta àquela praia, Tessie
fazendo piadas sobre sua flanela. Se soubesse naquela época o que
sabe agora, nunca a teria trazido para Chinook. Ele a manteria
segura e aquecida ao sol.
— Você precisa acordar, Tess — ele diz com um nó na garganta.
— Conhecer seu filho. Voltar para nós.
Recebendo apenas o chilrear dos monitores, Solomon suspira.
Ele levanta sua mão sem vida aos lábios e beija seus nós dos dedos.
— Querida, por favor — ele sussurra contra sua pele fria. — Por
favor, acorde. Eu te amo. Eu preciso de você.
Ele não está acima de implorar. Ajoelhando-se novamente como
fez tantas vezes nas últimas vinte e quatro horas. Ele quer contar a
Tessie sobre o filho deles. Como o bebê é forte e teimoso como ela.
Como, apesar de ser prematuro, ele está saudável pra caramba, não
precisa da UTI neonatal. Como ele chora tanto que seu pequeno
gemido é o mais forte no berçário. É porque ele quer sua mãe. O
bebê sabe disso, e Solomon também.
Eles precisam dela de volta.
O suave estalo da porta.
— Sol? — Evelyn entra na sala e se senta em uma cadeira ao
lado dele. — Ela acordou?
Ele limpa o bolo na garganta.
— Não.
Evelyn cruza as pernas.
— Você deveria ir para casa. Descansar.
Ele resmunga.
— Eu não vou deixá-la.
— Você tem um bebê, Solomon. Você precisa de todo descanso
que puder conseguir.
— Eu vou descansar quando Tessie estiver saudável e em casa.
— Desviando o olhar da mulher que ama, ele olha para a irmã. —
Obrigado. Por ajudá-la.
Ela dá um aceno breve.
— De nada.
— Sobre a Serena.
Ela balança a cabeça.
— Me deixe fazer isso, Evy.
A linha de seus lábios se estreita, ela cruza os braços e dá um
pequeno aceno.
— Você não quer que eu siga em frente, mas eu estou. Eu sei
que você não gosta. Mas você tem que lidar com isso. Eu amo Tess,
e ela não vai a lugar nenhum. — Ele se obriga a acreditar nas
palavras e as diz com convicção. Qualquer outra coisa? Não vai
acontecer.
O lábio inferior de Evelyn treme.
— Eu sei. — Um tremor percorre seu peito rígido. Lágrimas
escorrem silenciosamente por suas bochechas.
Solomon exala ruidosamente.
— Eu vou me casar com ela.
— Eu também sei disso.
— Todos os dias, vou fazer tudo o que posso para ser um marido
melhor para ela do que fui para a Serena.
Evelyn olha atentamente para ele.
— Quem disse que você foi um marido ruim? — Ela coloca a mão
no braço dele. — Serena te amava, Sol. E ela gostaria que você
seguisse em frente. Você deveriaseguir em frente. — Ela se
concentra em seu colo, mexendo na barra de sua saia. — Trazer
aqueles papéis para você, ser cruel com a Tessie... eu sou uma
péssima irmã. Eu só estava... é difícil. — Ela soluça uma respiração.
— Mesmo depois de todos esses anos, eu continuo pensando que
deveríamos estar saindo juntos, sentados juntos em jantares
familiares, você e Serena tendo um bebê. É difícil ver alguém ocupar
o lugar dela, mas... está na hora. Eu sei que está. — Seu olhar
desvia para Tessie. — Espero que não seja tarde demais para eu
dizer a ela que sinto muito.
— Não é. — Ele passa a mão pela barba. — Você gostaria dela —
ele diz para Evelyn. — Você deveria conhecê-la. Ela é muito parecida
com você.
Uma bufada.
— O quê, uma vaca?
— Não. — Ele sorri, fixando os olhos em Tessie. — Ela luta pelas
pessoas que ama.
— Serena teria gostado dela — diz Evelyn, sua expressão estóica.
O mais próximo de um pedido de desculpas que ela dará. Melhor do
que nada.
— Eu sei — ele diz roucamente.
Evelyn se levanta e pousa uma mão em seu ombro.
— Posso te trazer alguma coisa?
— Café. — Ele se acomoda na cadeira, a tensão no peito
diminuindo um pouco. — E meu filho.
Solomon fica com Tessie durante toda a noite e pela manhã. As
enfermeiras trazem Bear para ele balançar e dar mamadeira
enquanto espera. Por volta da meia-noite, as estrelas aparecem e a
neve para de cair. E Tessie escolhe aquele momento para abrir seus
belos olhos castanhos e salvá-lo.

Nadando na escuridão e nas estrelas, Tessie abre os olhos para o


borrão de ombros largos de Solomon Wilder. Ele está curvado numa
cadeira, cotovelos nos joelhos, seu olhar fixo nela.
Ela umedece os lábios secos, tenta se concentrar enquanto o
quarto do hospital entra em foco.
— Oi — ela respira, atordoada. Como se estivesse flutuando
numa nuvem prestes a se dissolver.
O tom grave de Solomon preenche o quarto.
— Tess. — Ele se aproxima e segura a mão dela na dele. Dor,
alívio transparecem em sua expressão. — Minha Tessie.
— O bebê — ela sussurra. Névoa turva sua mente. Tudo o que
ela lembra são imagens rápidas. Seu filho em seus braços. Sangue
nos lençóis. Uma mão firme na dela, apertando desesperadamente.
— Ele está bem?
— O bebê está bem — diz Solomon com uma voz que ela não
reconhece. — Ele está saudável.
— Ele está? — Lágrimas embaçam seus olhos, seu corpo relaxa
em alívio. — Ah, graças a Deus.
— É com você que temos que nos preocupar agora. — Sua mão
é levada aos lábios de Solomon, sua barba áspera roçando seus nós
dos dedos, uma sensação que ela aprecia. Uma sensação que diz a
ela que está completa e de volta a este mundo com Solomon e seu
filho.
— Tess — ele sussurra, beijando sua palma, o pulso dela.
Lágrimas molham sua pele. Seu corpo grande treme.
Seus olhos se arregalam. Solomon está chorando. Esse homem
grande e forte, que sempre a mantém segura e protegida, está
chorando.
— Não — murmura ela, estendendo a mão para acariciar sua
barba. — Meu Homem Solene. Eu estou aqui. Estou bem.
— Você perdeu muito sangue. — Sua voz treme. Inclinando-se,
ele a abraça. Como se precisasse inalá-la. Como se ele não a
tocasse, nada disso fosse real. Um soluço escapa dele enquanto a
segura em seus braços, abraçando-a da melhor maneira que pode.
— Eu estava tão assustado, Tessie.
— Shh. Eu sei.
Eles ficam assim por minutos, enlaçados um no outro como se
fosse o fim do mundo. Mas não para eles. Tess sabe disso. Sente
isso. O universo inteiro está em suas mãos, e é Solomon.
— Posso vê-lo? — ela pergunta quando se afastam. Seu olhar
busca o rosto bonito dele. — Posso ver Wilder?
Ao ouvir o nome do bebê, os olhos de Solomon ficam marejados.
— Sim — ele diz, levantando-se da cama. — Deus, sim.
Tessie observa enquanto ele se move para um canto escuro do
quarto. Então, alcançando um berço hospitalar, Solomon ergue um
pacote azul, segurando-o nos braços.
— Aqui — ele diz, colocando suavemente o bebê sobre ela. Ele a
ajuda a segurar Wilder, colocando um braço em volta do meio das
costas dela e levantando-a. Seu aperto firme a estabiliza. Ela está
tão fraca, todos os seus membros dormentes, ela não acha que
conseguiria segurar o bebê sozinha se tentasse.
— Oh, Solomon — Tessie guincha quando dá sua segunda olhada
em seu filho dormindo. Ele é lindo. Com o cabelo preto grosso e
bochechas rosadas e rechonchudas, seu rosto é tranquilo e firme
como o do pai. — Oi — sussurra para Wilder, contendo as lágrimas.
Ela nem sabia que estava destinada a isso, mas sabe agora. Este
momento. Este coração. Este bebê.
Este pequeno bebê que é a melhor parte deles dois. Este bebê
que os uniu, mas no fundo, ela sabe que ela e Solomon já estavam
destinados um ao outro de qualquer maneira.
Olhando para Solomon, ela sorri.
— O bebê dos meus sonhos, bem aqui. — Ela desliza a ponta do
dedo sobre a bochecha rechonchuda dele. — Meu pequeno
selvagem Bear.
Solomon se acomoda ao lado dela na cama, mantendo uma mão
firme em suas costas.
— Olha o que você me deu — ele murmura, com a voz rouca, um
músculo trabalhando em sua mandíbula.
— Ele é lindo. — Abaixando a cabeça, ela inala o doce cheiro de
Wilder, então beija seu ombro. É estranho, mágico, como o menor
ser humano desperta o maior amor. — Você acredita que nós o
fizemos?
Solomon acaricia sua bochecha.
— Ele é perfeito.
Tessie sorri, seu coração batendo uma melodia contente.
— Ele é nosso.
— Você está bem? — Solomon pergunta enquanto segura o
cotovelo dela e ajuda Tess a se sentar na cama. Seus olhos não
saem do rosto dela.
Ela ajusta Wilder no vão de seu braço.
— Melhor do que antes.
Com isso, ela traz seu filho para o peito. Depois de uma luta, o
bebê se agarra e começa a mamar. Uma enorme garrafa de água
está na mesa de cabeceira ao lado dela. A camisola do hospital está
pendurada em seu peito. Ash e Howler, sentados no sofá na
pequena sala, conversam baixinho.
Solomon aponta um dedo para Howler.
— Não fique olhando — ele ordena.
Tessie ri com entusiasmo, e Wilder salta com o movimento leve.
Howler ergue as palmas das mãos.
— Cara, eu não estou. — Ele dá uma cotovelada em Ash. — Você
viu Wilder sorrir para mim duas vezes esta manhã? Claramente,
status de tio favorito.
Ash zomba, mantendo a voz num sussurro agudo.
— Você está muito louco. Ele é meu. E eu vou lutar com você.
— Vocês dois podem calar a boca? — Solomon rosna
suavemente, ajudando Tessie com Wilder quando ele escorrega.
Ignorando os familiares briguentos, Tessie balança seu filho nos
braços, olhando para ele enquanto ele bebe ávido. Seu coração
derrete vendo seu pequeno humano segurar o dedo gigante de
Solomon. Mesmo que tenha chegado um pouco mais cedo, Wilder é
um menininho gordinho de quase quatro quilos. Até agora, ela
passou três dias no hospital se recuperando, recebendo os fluidos
necessários, e está pronta para ir para casa.
Se alguém tivesse dito a ela que ela projetaria um bar, planejaria
uma festa, teria um bebê e enfrentaria a morte tudo em cinco
semanas, ela teria rido na cara deles.
Mas aqui está ela. Seu filho. Seu homem da montanha. Sua vida.
A mulher mais sortuda do mundo.
— Como você acha que é o gosto?
Solomon se vira para Howler.
— Saia.
Sorrindo, Ash dá tapinhas no ombro de Howler.
— Estamos trabalhando no complexo de Édipo enraizado dele.
— Eu estava falando sobre a gelatina do hospital. — Howler
balança a cabeça, seu olhar divertido se voltando para Tessie. —
Jesus, Cachinhos Dourados, acalme ele, tá? — Seus olhos se
estreitam para Wilder. — Você acha que o garoto é jovem demais
para aprender a caçar com arco?
— Oh, Deus. — Um pensamento terrível ocorre a Tessie. Ela olha
para cima para Solomon. — Será ele quem comprará uma bateria
para nosso filho, não é?
A porta se abre. Melody, com o rosto esperançoso, olha para
dentro do quarto.
— Não — diz Solomon rispidamente, lançando um olhar de aviso
para sua irmã mais nova.
Tessie esconde um sorriso. Desde que acordou, Solomon tem
sido um guarda-costas superprotetor de flanela. Ele não saiu de seu
lado.
— Sem mais visitas. Tessie precisa descansar.
Melody arqueia uma sobrancelha divertida.
— Por mais que eu… a tia favorita — zombos de Ash e Howler —,
adoraria ver meu novo sobrinho, estou aqui para levar Ash para o
aeroporto.
Lágrimas instantâneas enchem os olhos de Tessie.
— Ah, não. Odeio que você tenha que ir.
— Eu sei. — Ash se senta na beirada da cama de Tessie,
inclinando-se para dar um beijo na cabeça felpuda de Wilder. Um
sorriso triste puxa sua boca. — Mas tenho um cliente que precisa de
mim. Sabe, esse lance de que a morte não espera por ninguém é
um saco. Eu volto. Juro.
Tessie ri.
— Você é quem precisa de férias tropicais em seguida.
Ash arqueia uma sobrancelha, estendendo a mão para pegar a
mão livre de Tessie.
— Eu e sol? Vamos ver sobre isso. Aproveite seu homem da
montanha. — Seus olhos brilham com lágrimas. — Sua mãe ficaria
tão orgulhosa de você, Tessie. Você encontrou suas estrelas.
— Encontrei — sussurra ela.
Ela olha para a prima, sua melhor amiga que fez tanto por ela. A
empurrou quando precisava ser empurrada, sabendo o que ela
precisava quando Tessie nem mesmo sabia. Quem fez ela tirar a
cabeça de dentro de sua bunda apertada e encontrar o homem do
seu coração.
Tessie respira fundo e aperta a mão de Ash.
— Eu te amo.
— Eu amo você. — Ash dá uma risada orgulhosa e emocionada.
— Você consegue.
Tessie sorri com isso.
Ela consegue.
Capítulo trinta e seis

Tessie dá um pulo quando abre a cortina do chuveiro. Solomon está


ali parado, com a toalha na mão e uma carranca no rosto.
— Sucesso — ela canta. Ela ergue as sobrancelhas para ele,
esperando transformar sua expressão carrancuda em um sorriso. —
A maior conquista que uma mãe pode ter. Um banho.
— Não gosto de você lá sozinha — diz Solomon, inclinando o
queixo barbudo para olhar para ela.
Ela fica quieta. Suspira e deixa ele se preocupar. Seu passatempo
favorito desde que ela e Wilder voltaram do hospital.
Solomon está com medo. Com medo de que ela caia. Com medo
de que ela não esteja descansando o suficiente.
Ela entende. Ela também está assustada.
O parto foi fácil, mas a perda de sangue e a hemorragia levaram
seu corpo aos limites físicos. Aquela noite deixou uma cicatriz em
ambos, nela e em Solomon.
Três unidades de seu sangue foram embora, duas foram
repostas. Ela esteve clinicamente morta por quatro minutos até que
os sangues e os fluidos necessários entrassem em ação. Por
semanas após o parto, seu corpo estava fraco e instável. Como se o
novo sangue em seu corpo ainda não tivesse surtido efeito. Quando
olhava no espelho, seu rosto não combinava com sua memória. Seu
sorriso era como um ovo mexido escorrendo que poderia escapar
facilmente da frigideira.
Agora, um mês após trazer Wilder para casa, finalmente se
recuperou. Ela e Solomon encontraram uma rotina. Nas primeiras
semanas, estavam como zumbis. Se olhavam e pensavam “meu
Deus, estamos realmente fazendo isso” e então riam. Hoje em dia, o
ritmo incerto deles muda com Wilder, mas é um fluxo, o mais
próximo que Tessie consegue chegar de um cronograma. O bebê
dorme o dia todo e fica acordado a noite inteira. Seus seios vazam
vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana. Toda a
modéstia vai embora. Ela tem certeza de que até Howler
testemunhou um ou dois deslizes de seio, mas isso é uma
preocupação para outro dia.
Tessie sempre ouviu o ditado: “Apoie-se em sua tribo”, mas
nunca soube o que isso realmente significava até ela e Solomon
trazerem Wilder para casa. Para sua surpresa, Howler organizou uma
corrente de refeições. Os pais e irmãs de Solomon estavam lá todos
os dias. Trazendo comida, passeando com Peggy Sue, balançando
Wilder por horas para que ela e Solomon pudessem dormir. Até o
simples ato de ter alguém segurando seu filho enquanto ela ia ao
banheiro foi um salva-vidas. A emoção dela é imensa com quantas
pessoas apareceram para ajudar. Até Evelyn mandou flores para eles
e contratou uma faxineira.
Passos de bebês. Todos estão dando passos de bebês.
Segurando seu cotovelo, Solomon a ajuda a sair do chuveiro. Ela
se seca e veste uma calça de moletom e uma blusa larga.
— Agora, comida — ele ordena.
Em vez de deixá-la andar, ele a pega no colo.
— Eu consigo andar — ela argumenta, passando as mãos pelo
cabelo escuro dele.
Com um grunhido de discordância. Contornando o bebê
dormindo no berço, Solomon carrega Tessie escada abaixo e a
coloca em pé.
A pequena cabana está tomada por flores, comida e fraldas. Um
bule de café velho está na bancada. O leve cheiro de leite materno
paira no ar. É uma bagunça. Mas é a bagunça dela. E é o lar dela.
Solomon enche uma panela de água e a coloca no fogão. Ele se
mantém ocupado, obstinadamente em silêncio, mas suas costas
estão tensas. Um tipo profundo de preocupação silenciosa em seus
olhos. Ela o observa na cozinha, parecendo perdido.
— Solomon — Tessie inclina a cabeça, cabelos loiros úmidos
caindo sobre o ombro. Ela estende a mão. — Venha aqui.
Quando ele não se move, não tira os olhos da panela, ela
suspira. Ele tem feito isso ultimamente. Mantendo distância. Como
se, se ele se aproximasse mais, a quebraria. Machucaria.
Então ela vai até ele.
Solomon franze a testa quando ela entra na cozinha.
— Você precisa descansar, Tess.
Ela precisa. Está exausta. Mas também quer normalidade. Uma
pequena fatia, mesmo que por alguns segundos. Eles têm que
agarrar esses momentos apressados de amor quando podem.
Porque logo Wilder vai acordar, chorando por leite, e ela estará em
sua cadeira de balanço. Mas ela é grata por isso. Sua vida. O
mundano. O novo. Wilder em seu peito. Solomon lá. Sempre lá.
Nunca saindo do seu lado.
Movendo a mão, ela aponta para o monitor de bebê na bancada.
Bear dorme tranquilamente em sua roupa de abacate.
— Pare de se preocupar. Me deixe viver, Solomon.
Ele empalidece. Uma fúria apertada faz seu maxilar se contrair.
— Merda — diz ela, percebendo seu erro. Ela olha para cima,
pressionando a palma contra o coração dele. — Não deveria ter dito
isso. Desculpe. Sinto muito.
Sem palavras, ele a abraça, apertando-a forte contra ele.
Suspirando, Tessie envolve os braços em volta da cintura dele,
descansando a cabeça em seu peito musculoso, inspirando seu
familiar cheiro de madeira. Um cheiro que evoca lembranças. Do
México e suas camisas de flanela. Praias de areia branca e ar
salgado do oceano. Sua rede. Nados no oceano. Pôr do sol. Nascer
do sol. Sexo à tarde. Solomon. Seu Homem Solene.
Ela inspira mais profundamente. Voltando mais ainda em sua
memória. No tempo.
O bar Orelha do Urso.
Eles chegaram tão longe. Como chegaram até aqui… é quase
celestial para Tessie.
— Você deveria comer — diz ele, tentando se afastar do abraço,
mas ela segura firme em seu grande corpo.
— Deveríamos ficar aqui. Assim.
Solomon suspira, profundo e baixo. Frustrado. Mas a tensão sai
de seu corpo, e ele abaixa o rosto para beijar a cabeça dela.
— Tessie — ele murmura. Suas mãos vão para os quadris dela.
— Minha Tessie.
Ela olha para cima para ele.
— Me diga o que está errado.
— Você deveria me deixar te levar de volta para LA.
Desde que voltaram do hospital, Solomon tem insistido em sair
de Chinook. Ele tem muitas más lembranças aqui. Foi traumático –
perder Serena, quase perder ela – mas ir embora não é a resposta.
Ela balança a cabeça.
— Não. Eu não quero isso. Nosso filho não pertence lá. Este é o
nosso lar. O lar de Wilder.
— Você está desistindo de tudo.
— Não estou. Estou tendo tudo.
Zero arrependimentos sobre o que deixou para trás na Califórnia.
Ela ganhou muito mais em troca. Não há nada que ela queira mais.
Ninguém em quem ela confie mais. Ninguém que ela ame mais.
Solomon só precisa entender isso.
— Além disso — ela diz, colocando a mão em sua bochecha
barbuda. — Isso não é o que realmente está errado.
Seu rosto bonito se nubla. Seu rosto, duro e controlado, a faz o
desejar. Ela vê tanto naqueles olhos azuis escuros. O que o
assombrará para sempre.
— E se você tivesse morrido? — Sua voz rouca treme de emoção.
Ela pensa sobre isso. Ela faz. E se ela tivesse morrido? E se seu
bebê tivesse morrido? O que Solomon teria feito? Foi seu medo por
tanto tempo, deixar seu filho do jeito que sua mãe a deixou. Mas
tudo o que ela pode fazer é viver.
Ela está aqui por Wilder. Ela está viva. E por isso, só tem seu
corpo para agradecer. A estranha voz dentro de sua cabeça, um
sussurro de mulher, dizendo para ela ficar acordada. Para resistir. Por
Solomon.
A vida é preciosa, e ela ainda a tem. Dar raízes a essas
preocupações não é saudável. Para nenhum dos dois.
— Eu não morri.
O corpo grande de Solomon afrouxa, e ele a abraça.
— E se–
— Não. — Ela segura o queixo forte dele em suas mãos e força o
olhar dele para o dela. — Nós não lidamos com e se. Lidamos com o
agora. Com o próximo passo.
Eles têm que fazer isso. Esta é a vida pela qual eles lutaram.
Seu destino todo nas estrelas desde a noite em que se
conheceram.
Assentindo, Solomon passa um braço em volta da cintura dela e
a abraça apertado. Seu rosto se suaviza.
— Então qual é o próximo passo, Tess?
— Esse.
Seus lábios se chocam, a barba de Solomon fazendo cócegas no
queixo dela. Meu Deus, aquela barba. Como ela a ama. Gemidos
urgentes saem dos dois, e então Solomon a pega em seus braços
largos, cuidadoso, mas com firmeza, sem deixá-la ir. Nunca mais.
Um rosnado sai dele, e finalmente ele a beija como ela precisava
ser beijada por tanto tempo. Primordial. Para sempre.
Tessie geme, passando a língua pelo lábio inferior dele. Seu
corpo se inclina para o toque dele. Se dissolve. Sua necessidade
ecoa a dela. Faminto. Gentil. Ele segura sua cintura, a ergue e a
coloca no balcão. Tessie envolve as pernas em torno de suas coxas,
puxando-o para mais perto. Então suas mãos estão se enrolando em
seu cabelo, suas grandes palmas segurando seu rosto.
— Deus, eu te amo — ele murmura entre beijos frenéticos, sua
mão subindo sob sua blusa para segurar seu seio, pesado com leite.
Tessie arfa com a sensação e não tem escolha a não ser fechar
os olhos.
— Eu amo você.
— Tanto, Tess — Solomon rosna, se inclinando para frente para
deixar beijos suaves e famintos em seu pescoço. Sua voz treme de
emoção. — Eu te amo para caramba.
Eles se separam, sem fôlego, enquanto um choro fraco soa pela
cabana.
Ela abaixa a testa para o peito dele e ri.
Solomon ri.
— Na hora certa.
Então ele a pega no colo e a leva para cima, até o filho deles.
Epílogo

Quatro meses depois

Com um suspiro, Tessie afasta sua cadeira da tela do computador.


Ela adiciona uma nota de última hora ao seu planejador, acrescenta
uma cor Pantone final ao quadro de inspiração e fecha seu laptop.
Desliga o som suave de sua Crosley.
Pronto. Ela terminou por hoje.
A primeira noite que teve desde que começou sua nova aventura.
Ao longo dos últimos quatro meses, enquanto cuidava de Wilder
nas longas e tardias noites, ela percebeu. O que ela queria fazer.
Realmente fazer com sua vida. Ser mãe e ter uma carreira. Mas do
jeito dela. Embora seja grata a Nova por permitir que ela assumisse
alguns projetos virtuais, Tessie deu outro grande salto. Ela começou
sua própria firma de design de interiores online. Truelove para o seu
Verdadeiro Lar. Para todos os orçamentos. Para todas as pessoas.
Não apenas celebridades.
Embora seu planejador ainda esteja em uso, ela fará a
maternidade do seu jeito. Arranjar tempo para uma vida, para o
amor. Sua família.
Tessie encontra Solomon e Wilder enrolados juntos no sofá de
couro em frente à lareira acesa. Uma mamadeira vazia está ao lado
deles. Peggy Sue está aos pés. Solomon está dormindo, seu filho
encaixado no abraço protetor de seu braço. Seria preciso uma
alavanca para separar o bebê dele. Com a natureza calma e estável
de Solomon, Wilder não poderia ser um bebê mais fácil. Já alto e
comprido como seu pai, Wilder tem o cabelo preto de Solomon e os
olhos castanhos chocolate escuro de Tessie.
As mais belas Pantones que ela já viu.
Observar Solomon se sentir confortável em seu papel como pai
nesses últimos meses — isso a excita e a faz querer chorar ao
mesmo tempo. Porque ele é um homem tão bom, um ser humano
bom, e seu filho também será.
Wilder terá o que ela nunca teve. Um lar com ambos os pais que
o amam. Um pai que nunca vai partir. E Tessie contará a Wilder
sobre sua mãe, como ela era incrível e corajosa, e o apresentará à
música country e a uma Crosley que tocará especialmente para ele.
Por um longo momento, Tessie os observa, seus batimentos
cardíacos, então sorri. Ela pega um casaco no gancho e sai para a
varanda da frente.
A noite de abril é extremamente fria. Embora o inverno devesse
ter acabado há muito tempo, há condições quase de nevasca graças
a um implacável despejo de neve fora de época. Cada flocos de neve
brilham prateados. A respiração de Tessie sai branca de sua boca, e
ela aperta seu casaco em volta dela. Ela se acostumou aos dias
curtos e noites longas. Porque ela sempre tem suas estrelas.
Ela foi feita para as estrelas.
Ela e Solomon são estrelas. Existindo silenciosamente juntos,
brilhando como um grupo, uma equipe, exatamente como fizeram
nesses últimos meses enquanto criavam Wilder. Aprender a ser mãe
não foi fácil. Muitas noites sem dormir. Muitas lágrimas. Aprender a
se sentir sexy em seu novo corpo. Mas Solomon está com ela. Nunca
a deixando duvidar de si mesma como mãe. Acreditando nela às
vezes mais do que ela mesma. Sempre permitindo que ela exploda
ou chore. Sempre mostrando o quanto ele precisa dela.
Ela poderia ter feito isso sem ele, mas nunca quis. Ela nunca
ficará sem seu Homem Solene.
A porta se abre. O tilintar de coleira de cachorro.
Braços fortes se enrolam em volta de sua cintura, e Solomon está
lá, puxando-a para ele enquanto Peggy Sue pula para o quintal.
— Você terminou seu projeto? — ele pergunta, sua voz profunda
ressoando contra o cabelo dela.
— Mm-Hmm. — Saboreando a sensação de Solomon ao seu
redor, ela inclina a cabeça para trás contra o peito largo dele. —
Como está seu pequeno sous chef?
— Dormindo. Finalmente. Bêbado de leite. — Um copo de líquido
cor de mel aparece na frente dela. — Pensei que poderíamos tomar
uma bebida antes do jantar.
Tessie sorri e gira para encarar o marido.
— Meu herói — ela diz, aceitando o copo de uísque. Ela dá um
gole, passa para ele, que faz o mesmo. Então ele encosta a boca na
dela.
Tessie o inala.
Calor, o murmúrio da floresta, se constrói ao redor deles.
Esta é a vida selvagem deles agora.
Durante o dia, Grace cuida de Wilder enquanto Tessie trabalha e
Solomon abre e prepara o Ninho do Howler. Nas noites tardias, eles
tomam uísque na varanda da frente, compartilhando conversas
sobre o dia deles, nada ao redor além do negro intenso do céu
noturno e as estrelas.
Dois meses depois do nascimento de Wilder, ela e Solomon se
casaram. Eles esperaram até que ela se recuperasse e então tiveram
uma cerimônia íntima no Ninho do Howler. Um casamento selvagem
e maravilhoso, onde Tessie usou um vestido branco curto e saltos
altos, e Solomon vestia sua flanela. Eles foram eles mesmos.
Estavam apaixonados. E não estavam esperando mais.
Isso é uma coisa que ela aprendeu no último ano. Esperar, adiar
a própria felicidade, nunca funciona. Ela é tão grata que o bebê
dentro dela a impulsionou a crescer. A empurrou direto para os
braços de Solomon. Seu coração gentil. Sua alma linda.
Ela quer mais bebês com ele. Quer aprender a vida juntos,
porque até agora, eles se encaixaram em um ritmo feliz que ela
nunca pensou ser possível.
— Isto me lembra de quando nos conhecemos. — Ela levanta o
queixo para encontrar os olhos azuis penetrantes do marido. — As
estrelas. O uísque.
Seus músculos se contraem ao redor dela.
— A linda mulher nos meus braços.
— Hmm. Toda aquela conversa sobre estrelas funcionou.
— Funcionou — ele diz, ficando sério. — Eu te amo, Tess.
Seu coração salta uma batida, se expande. Ele nunca deixa de
dizer isso.
— Eu sei. Eu te amo.
Ele encosta um dedo na ponta do nariz frio dela.
— Você está com frio?
— Talvez. — Ela ergue uma sobrancelha suspeita. — Por quê?
Solomon deixa ela terminar o uísque. Ele abaixa a voz.
— Porque eu poderia pensar em algumas maneiras de te
esquentar. — Suas palavras fazem o estômago dela se contrair e se
aquecer.
Um suspiro fingido.
— Homem Solene, você está tentando se aproveitar de mim?
Um sorriso leve aparece nos lábios barbudos dele.
— E se eu estiver?
Ela se levanta na ponta dos pés e sussurra contra a boca dele.
— Hmm. Acho que vou deixar.
Ele a puxa firme para seus braços, olhos azul escuro fixos nela,
nada além de devoção neles. E o amor transborda dentro dela como
uma inundação. Antes de Solomon, isso teria parecido demais para
ela. Ela teria se afastado, fugido, mas não mais. Ela nunca imaginou
que sua vida tomaria esse rumo. Assumindo riscos. Aprendendo a
amar. Construindo uma família a partir das circunstâncias mais
estranhas.
Solomon lhe dá um beijo suave nos lábios, caloroso, intenso, e é
como se ela estivesse de volta naquele bar do Tennessee, apenas
um ano atrás, conhecendo Solomon pela primeira vez. Então, com
um rápido rosnado e uma mão ainda mais rápida, Solomon a levanta
em seus braços. Ela encosta a cabeça em seu peito, sente o cheiro
da floresta em sua pele, vê o amor inabalável em seus olhos.
Seu marido.
Seu filho.
Sua vida.
Estendida diante dela para sempre, como o céu estrelado
selvagem do Alasca.
Epílogo bônus

Dois anos depois

Wilder segura sua mão e puxa.


— Aqui, papai?
— Isso mesmo, homenzinho.
Solomon se acomoda na areia ao lado de seu filho de dois anos.
Os olhos novos de Wilder absorvem a praia, amplos de espanto,
enquanto ele recolhe areia com sua pá de plástico.
Observando o horizonte, Solomon passa areia branca por entre
os dedos. O som das ondas ecoa na costa. O sol da tarde castiga.
Incrível demais. Ele nunca pensou que amaria a praia tanto quanto
ama as montanhas, mas ama. Ele agradece ao mar por tudo que lhe
deu.
Porque a praia é onde sua segunda vida começou.
Ele olha por cima do ombro para a casa de praia, atento à sua
esposa.
Mas a risada borbulhante de Wilder rouba sua atenção. Com
cabelos pretos como azeviche e olhos castanhos escuros, Wilder é a
melhor combinação de Solomon e Tessie. A criança conhece a letra
de todas as músicas de Hank Williams, cortesia de sua mãe. Ele tem
a mente feroz de Tessie e sua determinação. Ele é o pequeno sous
chef de Solomon na cozinha e o melhor explorador de Chinook e sua
vida selvagem.
— Conchas, papai, conchas. Para o castelo.
— É para já. — Com um grunhido, Solomon se levanta e começa
a trabalhar ao lado de seu filho. Seus dedos grandes recolhem
conchas creme, conchas de presas, tulipas listradas. Então ele e
Wilder constroem. Logo, o fosso do castelo de areia se transforma
em uma torre e depois em quatro.
— Não consigo. — Wilder larga a pá e cai sentado na areia. A
areia está empilhada muito alta para que ele possa escavar. Seu
lábio inferior faz um bico bem treinado. Sem dúvida aprendido com
Tessie. Sua esposa ainda o tem na palma da mão. — Não consigo.
— Você consegue, garotinho. Você é forte — diz a Wilder,
entregando-lhe a pá de plástico vermelha e fazendo-o tentar
novamente. — Como sua mãe. Você pode fazer qualquer coisa.
— Mamãe! — Wilder grita, largando a pá para apontar um dedo
rechonchudo sobre o ombro de Solomon.
Virando-se, ele segue o olhar jubiloso de Wilder.
Alegria. Essa tem sido sua vida nos últimos anos.
Tessie está saindo da casa de praia. A visão de sua esposa,
deslumbrante, radiante, com marcas de bronzeado e tonificada em
um biquíni minúsculo, o faz sorrir. Então, seus olhos se movem,
parando na pequena protuberância em sua barriga.
Eles têm estado ocupados. Fazendo mais surpresas. Construindo
sua família.
Entre os dois, eles mal têm tempo – administrando um
restaurante e uma pequena empresa e cuidando de um bebê –, mas
estão conseguindo. No meio de todo o caos, conseguiram escapar
para uma segunda lua de mel e deixar tudo para trás por uma
semana. A renovação do Ninho do Howler foi um divisor de águas.
Não só dobrou a renda do bar, mas rendeu a Tess um destaque na
Architectural Digest e a Solomon um perfil na Food & Wine. O
negócio de Tessie está indo de vento em popa. Ela deixa Chinook a
cada seis meses para se encontrar com seus clientes por todo
Estados Unidos. Sua vida é o que eles fizeram dela. Solomon nunca
poderia pedir por algo melhor.
Tudo o que ele sempre quis está bem na sua frente.
Se levantando, ele encontra Tess na praia. Segura seu rosto
entre as mãos.
— Você tirou sua soneca?
— Mm-Hmm — ela murmura sonolenta, erguendo-se na ponta
dos pés para beijar sua bochecha barbuda. Seu olhar atento vai para
Wilder e depois volta para Solomon. — Como está indo a construção
do castelo?
— É coisa séria. Ninguém vai passar por aquele fosso. — Ele
examina sua barriga. — Você está se sentindo bem?
Com os olhos castanhos chocolate brilhando, ela se aninha
contra ele.
— Estou bem. Só com sono. Você não sabia, estou na era do
gato doméstico? Dormindo mais, descansando ao sol, bufando com
interrupções.
— Tem certeza?
Tessie lhe dá um olhar sério.
— Solomon, vou te afogar no Pacífico se continuar me
perguntando.
Ele resmunga. Sem chances. Nenhuma com Tess. Sua esposa
está grávida de quatro meses e, depois do que aconteceu com
Wilder na sala de parto, ele está um caos. Sempre será uma
bagunça superprotetora quando se trata dela. Ele nunca esquecerá o
quão perto esteve de perdê-la.
— Tive um sonho sobre nomes — diz Tessie.
Ele espalma a mão sobre sua barriga.
— É mesmo?
— Que tal Vienna?
Solomon franze a testa.
— Como a salsicha?
Tessie apenas balança a cabeça e ri.
— Não dá pra te levar a sério. — Ela sorri para ele. — Chequei
como estão as coisas em casa. Peggy Sue está viva, não graças a
Howler. Ash finalmente está indo de férias em sua vida sombria.
— Ah é?
— De certa forma. É um trabalho, mas ei, ela está indo para o
Havaí. Ela vai se queimar.
Solomon levanta as sobrancelhas.
— É por isso que você usa flanela.
— Flanela é legal, mas isso é melhor — diz Tessie, traçando o
dedo sobre o peito musculoso dele antes de descer para acariciar
seu antebraço bronzeado e então passar para seu bíceps forte. Suas
novas tatuagens, três estrelas adicionadas ao céu negro de Chinook,
representam sua família, e em breve ele acrescentará outra. Para a
filha deles.
Ele a puxa para seus braços, beijando a ponta de seu nariz cheio
de sardas.
— Me apalpando, Mulher Grávida?
— É justo. — Tessie ri, a doce melodia sobrepondo-se ao som
das ondas. — Afinal, tudo é culpa sua. — Ela acaricia sua barriga
inchada. — Olha o que você fez comigo.
— Faço de novo se você deixar — ele rosna, mexendo na fina
corda do biquíni dela.
Tessie dá um grito.
— Não ouse.
Ele beija o topo de sua cabeça, mantendo um olho em Wilder
brincando na areia. Lentamente, ele e Tess se viram para o
horizonte. Um suave ohescapa de sua boca quando ela vê o pôr do
sol. Um caleidoscópio de tons de rosa e laranja. E então a mão de
Solomon encontra a dela, seus dedos se entrelaçando. Enquanto
segura sua esposa em seus braços, seu coração se agita em seu
peito como a onda mais alta. Eles ficam sob o sol, o céu azul
radiante acima, pensando no México, quase três anos atrás,
lembrando-se de quão incertos estavam sobre como harmonizar
suas vidas, mas eles fizeram isso.
Ele nunca terá o México com mais ninguém além de Tess.
Solomon abaixa a boca até o ouvido dela.
— Eu te amo, meu amor — diz ele, sua voz rouca de emoção.
Tessie se vira em seus braços, se aconchegando nele. Seus olhos
castanhos suavizam.
— Eu te amo.
Doce, caloroso, é o beijo. Suave e perfeito. Ele a saboreia como
uma promessa, essa mulher que mudou sua vida. Montanhas ou
praia, bom ou ruim, ela o tem, e ele a tem. Até o fim de seus dias.
— Mamãe, cima! — Tessie é lançada para a frente por um Wilder
gritando, que envolve seus braços ao redor dos joelhos dela. —
Cima! Cima! Cima!
Solomon ri, segurando gentilmente o cotovelo de Tess para
mantê-la firme.
— O que aconteceu com ficar na calma, pequeno?
Rindo, Tessie ergue Wilder em seus braços.
— Você construiu seu castelo, Bear?
— Oh, sim, mamãe. — Wilder segura o rosto dela entre as mãos.
Sua expressão séria, austera. — Nunca vai cair.
— Eu sei que não vai. — Sorrindo, Tessie dá um beijo estalado
em sua bochecha. Wilder se aproxima e enterra a cabeça no
pescoço dela. A forma como o amor dela irradia, a felicidade nos
olhos de seu filho, faz o coração de Solomon se abrir.
A melhor mãe.
Tão incrivelmente sortudo. Ele e Wilder.
Limpando a garganta de emoção, diz:
— Precisamos de mais uma foto.
Tessie ajeita Wilder em seus braços para que ele fique firme
entre os dois, seus braços pequenos entrelaçados em volta dos
pescoços de ambos. Solomon ergue o telefone, absorvendo o sorriso
no rosto de sua esposa. Seu filho e Tessie ali em seus braços, onde
eles deveriam estar. Então, na contagem até três, ele tira a foto.
Depois de colocar Wilder na areia, Tessie avalia a foto. Vira-se e
acaricia a barba escura dele.
— Se você quer saber, a praia combina com você, Homem
Solene.
Ele joga o telefone em uma toalha de praia e vira-se para Tess.
— Combina com você também, Mulher Grávida. — Ele olha para
Wilder. — O que acha, pequeno Homem Selvagem? Vamos levar sua
mamãe para um mergulho?
— Não se atreva! — Tess grita, já recuando.
Solomon sorri e tenta alcançá-la.
Com um rugido que faz Wilder entrar em um frenesi de risadas,
Solomon agarra Tess em seus braços e a leva correndo até a beira
do mar. Wilder corre atrás deles, agitando os braços. Com o riso de
Tessie ecoando em seus ouvidos, seu filho ao seu lado, amor tão
quente quanto o sol acima, Solomon os leva todos os três para o
oceano, suas risadas se misturando às ondas enquanto eles se
abraçam firmemente.
Nota da autora

Querido leitor,

Comecei a escrever esta história em março de 2022 enquanto


fazia exercícios para fortalecer o assoalho pélvico, para curar meus
músculos abdominais e me livrar daquela protuberância na barriga.
Acontece que só precisei parar de beber vinho. Enquanto respirava
profundamente, comecei a refletir sobre todas as coisas que nosso
corpo passa, o que nós, como mulheres, vivenciamos durante a
gravidez e após o parto. E como um grito estridente, Tessie e
Solomon voaram para minha mente. Discutindo. Brincando. Se
beijando. Os dois me faziam companhia em nossa pequena sala de
exercícios enquanto eu praticava os exercícios rápidos de Kegel e
permaneciam no fundo da minha mente até que eu os colocasse
para fora.
Escrever este romance foi uma experiência catártica. Sempre
quis escrever minha história de parto, mas nunca tive tempo e/ou
estava muito emocionada, então pareceu ser a próxima melhor
opção. Um pouco de ficção, um pouco de realidade. Reviver e
revisitar todas as emoções que vieram com o parto e a gravidez foi
como arrancar um pedaço da minha alma materna e colocá-la na
página. Segurança no emprego. Insegurança com o corpo.
Perguntando-se se você está destinada a ser mãe ou apenas um
recipiente de leite. Tentando ser uma guerreira quando tudo o que
você quer fazer é chorar. E assim, este livro tem um grande e
enorme pedaço do meu coração nele.
Espero que você tenha amado a doce e turbulenta história de
amor de Tessie e Solomon. Porque agora eles são seus.
Como sempre, obrigada por ler!
XOXO,
Ava
Agradecimentos

Um grande obrigada e muito amor para…

Leni Kauffman por criar uma capa incrível e dar vida a Solomon e
Tessie. Trabalhar com você foi um sonho absoluto.

Beth da VB Edits pelos seus editais incríveis e olhar super preciso.


Viu o que eu fiz aqui?
Chelsea, Tammie e Rachel por serem as melhores beta readers que
uma garota poderia pedir. Obrigada pelo apoio interminável e pelos
feedbacks.

Eve Kasey por ser uma líder de torcida de classe mundial. Suas
palavras gentis, feedback generoso e apoio incrível significam muito.
Você é uma joia na comunidade de escritores.

Ao grupo de Ficção Traumática no Facebook pela generosidade e


expertise em tudo relacionado a medicina e bebês.

Aos meus amigos e família que me aguentam com minhas angústias


de escrita.

E finalmente, à minha filha Scarlett por me tornar mãe. Obrigada por


me permitir usar seu nascimento como material de escrita
traumático. Nos vemos na terapia. Amo você, minha criança
selvagem.
Sobre a autora

Ava Hunter acredita fortemente em café preto, vinho tinto e no tropo


de que há apenas uma cama. Ela escreve romances
contemporâneos com quantidades saudáveis de angústia, onde as
donzelas nunca são donzelas, mas os homens que amam (bons,
maus e rudes) estão sempre lá para elas. Casada com seu namorado
do ensino médio, Ava adora criar mulheres fortes e teimosas que só
fazem seus homens se apaixonarem mais, adora tudo que é rosa e
nunca se cansa de romance protetor.

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