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Table of Contents

FOLHA DE ROSTO
CRÉDITOS
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
CAPÍTULO 53
CAPÍTULO 54
CAPÍTULO 55
CAPÍTULO 56
CAPÍTULO 57
CAPÍTULO 58
CAPÍTULO 59
CAPÍTULO 60
PRÓXIMO LIVRO
ALLBOOK EDITORA
Todos os direitos reservados
Copyright © 2023 by AllBook Editora.

Direção Editorial:Beatriz Soares


Tradução:Clara Taveira
Preparação e Revisão:AllBook Editora e Raphael Pelosi Pellegrini
Adaptação de capa, diagramação Cristiane [Saavedra Edições]
e produção digital:

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro,
sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais
forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os
direitos morais do autor foram declarados.

Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são produto da
imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos ou
estabelecimentos é mera coincidência.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa


(Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

CIP - BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DA LIVROS, RJ
GABRIELA FARAY FERREIRA LOPES - BIBLIOTECÁRIA - CRB-7/6643
B86v
Brianne, Sarah
Vincent [recurso eletrônico] / Sarah Brianne ; tradução Clara Taveira. - 1. ed. - Rio de Janeiro :
Allbook, 2023
Recurso digital (Os mafiosos ; 2)

Tradução de: Vincent


Sequência de: Nero
Continua com: Chloe
Modo de acesso: word wide web

ISBN: 978-65-80455-69-0 (recurso eletrônico)

1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Taveira, Clara. II. Título. III. Série.

23-83943
CDD: 813
CDU: 82-31(73)
DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À ALLBOOK EDITORA
contato@allbookeditora.com
HTTPS://ALLBOOKEDITORA.COM
SUMÁRIO
CAPA
FOLHA DE ROSTO
CRÉDITOS
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
CAPÍTULO 53
CAPÍTULO 54
CAPÍTULO 55
CAPÍTULO 56
CAPÍTULO 57
CAPÍTULO 58
CAPÍTULO 59
CAPÍTULO 60
PRÓXIMO LIVRO
ALLBOOK EDITORA
Lake fechou os olhos enquanto ouvia o som de metal do escapamento do
carro raspando no asfalto. O carro de seu pai era um velho Cadillac que ela
tinha certeza ser dos anos oitenta; honestamente precisava de um trato. Uma
velharia e tanto.
Seu pai de alguma forma conseguiu mantê-lo funcionando ao fazer por
conta própria alguns consertos, para isso usou peças de vários carros,
inclusive criou algumas delas. Lake gostava de chamá-lo de Frankenlac.
Ela achou que o pai poderia ter comprado um carro novo em algum
momento entre 1981 e 2014, mas não comprou. Ele tinha maneiras melhores
de gastar seu dinheiro. Sim, como apostar em cavalos ou em fichas de
pôquer.
Embora o pai de Lake fosse um jogador de nível doze na escala Richter,
ela não o trocaria por nada nem ninguém no mundo, porque conhecia muito
bem o outro lado da moeda.
Ela balançou a cabeça, sem vontade de pensar no próximo fim de
semana. A maioria dos adolescentes ficaria feliz por ser sexta-feira, mas não
era seu caso. Não, seus fins de semana não eram nada além de torturantes.
Literalmente.
Seu pai finalmente chegou ao destino e estacionou o carro.
— Beleza, guria. Tenha um bom dia. Nos vemos na segunda-feira.
Lake desviou a atenção de todos que a encaravam fora do carro e olhou
para o sorriso do pai.
— Você também, pai. Até segunda-feira. — Ela conseguiu forçar um
sorriso ao final da frase.
Lake abriu a porta e saiu do carro, pegando sua bolsa.
— Te amo, guria.
Dessa vez, Lake não precisou forçar um sorriso.
— Te amo, pai.
Quando ela fechou a porta, ouviu mais uma vez o som de asfalto sendo
raspado. Depois de ver seu pai ir embora, finalmente conseguiu se virar e
encarar os olhares dos adolescentes. Honestamente, não era tão ruim quanto
parecia; eles sempre tinham coisas muito melhores para falar. Sem mencionar
que todos pareciam ter déficit de atenção.
Veja, Lake não era popular nem impopular; ela era apenas... bem, Lake.
Bum!
Depois de um momento de completo silêncio, risadas altas encheram o ar
enquanto fumaça preta subia do carro de seu pai. Lake abaixou a cabeça e
puxou o capuz do moletom, tentando esconder o rosto.
Excelente. Tem como piorar? Ela foi andando pelo estacionamento,
ziguezagueando entre as pessoas e os carros.
Assim que começou a ouvir música alta se aproximando, Lake virou a
cabeça e viu um grande jipe branco vindo em sua direção. Teve de pular para
trás para evitar que o veículo a atingisse enquanto os freios eram acionados.
Lake ficou em estado de choque com o fino que tiraram dela, o coração
começando a bater forte. Ela sabia exatamente quem estava dirigindo antes
que a garota saísse do jipe junto com três de suas amigas.
Ashley. Era difícil para ela até mesmo pensar naquele nome.
— Ai, meu Deus. Eu nem te vi aí — Ashley disse sarcasticamente, dando
uma risadinha.
Lake decidiu aproveitar a oportunidade de ouro de poder responder. Ela
não teve muitas chances até então.
— Ai, meu Deus. Sério? Talvez você precise de óculos. Rápido, quantos
dedos você vê aqui? — Ela ergueu o dedo médio, em seguida ouviu risos
abafados.
Ashley fez uma careta e falou o mais alto que podia.
— Desculpe, eu não falo a língua de quem vive no meio do lixo em
trailers.
Era assim que boa parte do mundo via Lake – nada além de um lixo. Lixo
de trailer, para ser exata.
Lake ficou parada, vendo as meninas rirem com suas vozes estridentes.
Instantaneamente, ela percebeu que tudo poderia, de fato, piorar.
Indo contra seus instintos, ela decidiu começar a andar novamente.
Esperava não se arrepender de sua pequena explosão com Ashley, mas,
naquele momento, ela se sentiu orgulhosa de si mesma e decidiu que
aproveitaria a sensação. Por enquanto, ao menos.
Quando ela se aproximou das portas da frente, olhou para a placa amarela
presa à fachada de tijolos da escola que dizia “Bem-vindo” logo acima das
palavras “Eastern Hills High”. Ela achou que deveria estar escrito algo mais
parecido com “Bem-vindo às entranhas do inferno”.
Finalmente o último ano naquele inferno havia chegado - graças a Deus.
Aquela era a primeira semana de volta às aulas após as férias de Natal.
Ao entrar na escola, foi saudada pelo calor quente. Estava frio em Kansas
City, Missouri, então o calor era bem-vindo, ajudava a descongelar o nariz e
as bochechas.
Quando chegou à sala de química do primeiro período, ela foi direto para
o seu lugar, e mal sua bunda encostou na cadeira, o sinal tocou para a aula
começar.
Lake olhou para o assento vazio ao seu lado, balançando a cabeça e
abrindo um sorriso. Todo santo dia.
Olhando para o relógio pelos próximos cinco minutos, sem escutar uma
palavra além do que o professor estava dizendo, ela finalmente ouviu a porta
se abrir e viu uma moça de cabelo escuro aparecer e tentar se sentar
silenciosamente, na esperança de passar despercebida.
Assim que se acomodou ao lado de Lake, a garota sussurrou:
— Você acha que ele percebeu?
— Você chega atrasada todos os dias, Adalyn — o professor falou,
mudando de assunto no meio da frase para deixar claro que sabia da questão
dos horários.
— Arram — Lake respondeu em voz baixa.
Adalyn soltou um grande suspiro antes de começar sua história.
— Peço desculpas, senhor Wade. Então, estou tendo uma semana terrível
porque Deus decidiu punir todas as mulheres desde que Eva comeu aquela
maçã. Agora, minha tia Flow veio nos visitar e...
— Tudo bem, eu já entendi. — Sr. Wade ergueu as mãos em derrota.
Lake tentou desesperadamente não rir. E é por isso que ela é minha
melhor amiga.
Adalyn e Lake eram amigas desde quando usavam fraldas. Como seus
pais atuavam na mesma área profissional, a mãe de Adalyn serviu de babá
para Lake quando seus pais queriam sair. Bem, antes de se separarem.
Quando os pais de Lake se divorciaram muitos anos antes, ela passou a
ficar uma semana com o pai e a seguinte com a mãe. Bem, até que sua mãe
arranjou um namorado e se casou apenas alguns meses depois. Depois disso,
Lake passava os dias da semana com o pai e os fins de semana com a mãe.
Ela esfregou as têmporas, tentando não pensar em seu próximo fim de
semana. Não pense nisso ou você vai estragar o seu dia.
Ela estava livre até o último sinal da escola tocar, e então poderia
começar a se lamentar.
TINNG.
— Uau, quando eles vão consertar aquele sino patético? — Adalyn disse
enquanto se levantava e se espreguiçava.
Lake mal podia acreditar que a aula já havia acabado.
— Adalyn, você sabe que estudamos em escola pública, certo?
Adalyn colocou a mão no quadril.
— E daí? Meus pais pagam impostos.
— Espere, o dinheiro dos impostos realmente vai para as escolas
públicas? — Lake questionou.
— E eu sei lá? O governo provavelmente fica com a grana.
Lake olhou em volta para a sala de aula suja.
— É, tem razão. — Ela finalmente se levantou, as duas saíram da sala e
foram para os corredores igualmente sujos.
Parando em seu armário, Lake colocou sua senha e abriu antes de
começar a esvaziar a bolsa, para em seguida enchê-la novamente com outras
coisas.
— Veja! A diaba em pessoa está vindo em nossa direção, e devo dizer
que sua expressão está mais infeliz do que o normal. — Adalyn fechou o
armário com força e se recostou nele, certificando-se de colocar no rosto sua
expressão mais desagradável possível.
Lake seguiu o exemplo e tentou fazer cara feia para combinar. Mesmo
que provavelmente tenha falhado.
— Provavelmente porque eu dei o dedo para ela de manhã, quando ela
tentou me atropelar.
Adalyn desatou a rir.
— De que porra você está rindo, puta? — Ashley disse enquanto afastava
o cabelo do ombro.
Adalyn mal conseguia falar enquanto dava uma risadinha.
— Eu estava apenas tentando imaginar sua cara feia quando Lake te
mandou ir tomar no rabo. — Quando a expressão de Ashley se transformou
em uma careta, ela continuou: — Ah, calma aí, cá está ela!
Não ria, não ria. Lake riu.
— Você tá pedindo, não é, mana? Eu não quero estragar a surpresa, mas
mamãe vai sair com uns amigos hoje à noite.
De alguma forma, Lake teve o maior azar do mundo: sua mãe se casou
com o pai da diaba, o que fez com que elas se tornassem irmãs postiças.
Com sua mãe fora durante a noite, isso significava... Merda, não, não,
não, não, não.
Olhando para o rosto sádico de Ashley, Lake teve de pensar rápido.
— Desculpe, mas Adalyn e eu já fizemos planos.
Ashley tentou não engasgar com a risada.
— Sim, como se vocês, vagabundas, fossem a qualquer lugar.
Lake já tinha lidado com tudo o suficiente naquele dia. Ashley ia ver só.
— Bem, espero que você se divirta esta noite em casa enquanto Adalyn e
eu vamos ao Poison.
Quando o queixo de Ashley caiu junto com o de suas amigas, Lake sorriu
largamente. Pela primeira vez em sua vida, deixou Ashley sem palavras.
Agora, hora de ir embora!
Lake não era estúpida; sabia quando fugir. Especialmente de algo ruim.
Ela agarrou o braço de Adalyn e passou ao lado do rosto chocado de Ashley.
— Uhh... Lake, quando decidimos ir para lá? — O rosto de Adalyn estava
igualmente em choque.
Lake imediatamente começou a se arrepender do que havia dito.
— Eu não pude evitar. Saiu tipo vômito! — Ela começou silenciosamente
a dar uma leve surtada quando a ficha caiu. — Nós temos que ir. Você sabe
que ela fica xeretando redes sociais e espera que a gente poste sobre essas
coisas.
Todas as garotas da escola queriam ir ao Poison, um lounge
escandalosamente caro para adolescentes, só para postar fotos no Facebook.
No entanto, a maioria das garotas não podia nem chegar perto do lugar, e
mesmo que tivessem autorização, elas não conseguiam encontrar um par para
ir. Os meninos da escola pública não podiam pagar ou não queriam gastar seu
dinheiro com uma garota, a menos que fossem transar até o final da noite.
— Ouça, você sabe que eu sou a favor de esfregar a Poison na cara dela,
mas como diabos vamos nos dar ao luxo de entrar lá? Você sabe que meus
pais acabaram de me comprar um novo celular e roupas para o início do
semestre, então eles não vão me dar outro adiantamento de mesada.
Ela estava começando a surtar tanto quanto Lake.
Existe uma maneira de entrar…
Lake parou de andar e agarrou os ombros da amiga.
— Adalyn, o quanto você me ama?
Levou um instante para os olhos de Lake se ajustarem à iluminação néon do
salão. Assim que se acostumou, ela entendeu por que achou que estava
sentindo o cheiro de sexo no ar. Havia adolescentes tarados se esfregando na
pista de dança inteirinha.
Ela nem tinha notado o local onde se poderia fazer uma boquinha. Os
olhos dela e de Adalyn só conseguiam ver uma coisa. E eu não chamaria isso
de dança.
Lake sentiu seu braço sendo agarrado por seu par.
— Vamos dançar.
— Espera, eu preciso usar o banheiro. Desculpa, já volto, Michael.
Lake puxou o braço de Adalyn e disparou o mais rápido que pôde.
Ela sabia exatamente como entrar no Poison. Dois garotos da escola
estavam implorando para sair com elas o ano todo, então naquele dia elas
finalmente concordaram – com uma condição, é claro.
Michael e Tim não se importavam com quanto dinheiro teriam de gastar,
porque eles seriam os primeiros garotos a saírem com Lake e Adalyn, o que
lhes daria o direito de se gabar. E isso é tudo com que os caras se importam
mesmo.
Bem, a pergunta era: por que elas nunca tinham saído com um cara
ainda? Bem, era complicado.
Elas finalmente conseguiram conversar assim que entraram no banheiro,
onde ainda podiam ouvir a batida da música através das paredes.
— Você viu a cara do Michael quando você disse que tinha que ir ao
banheiro? — Adalyn deu uma risadinha.
Lake imitou sua amiga.
— Sim, ele não parecia muito feliz.
— Vamos torcer para que nosso plano funcione e eles não nos encontrem.
Elas tinham bolado o plano durante a escola: o velho esquema “finja que
você tem que ir ao banheiro, espere dez minutos, e então aja como se você
tivesse se perdido”. E reze para que eles arrumem outras garotas para
dançar.
Lake caminhou até o espelho para ver sua transformação. Tudo bem, não
foi uma grande mudança; a única coisa diferente era um pouco mais de
maquiagem e um vestido. Elas compraram suas roupas na loja favorita de
Adalyn com um cartão-presente que ela ganhou de Natal. Lake insistiu que
tinha um vestido para usar, mas quando sua amiga viu o vestido preto na
prateleira, pediu a ela para experimentá-lo. É óbvio que Adalyn a convenceu.
O vestido mal cobria sua bunda de tão curto, enquanto a parte de cima era
mais solta e menos reveladora. Lake era um pouco mais alta que as outras
garotas, com pernas mais longas, mas o que ganhou em altura, faltou em
curvas. Não importava o que Lake comesse, sempre se perguntava, ao olhar o
corpo magro, para onde ia. Ela acreditava que esse look era o mais sexy que
conseguiria ter; não pensava em si mesma dessa forma, nem um pouco.
Lake se considerava mediana, uma menina normal. Ela tinha cabelos
lisos, em um tom de castanho-claro, e olhos castanhos. Quando passou
maquiagem, achou que ainda parecia uma criança. Mesmo uma franja lateral
não ajudava a fazê-la parecer mais velha.
Terminando de criticar a si mesma, ela olhou para o reflexo perfeito de
Adalyn.
— Você acha que já passaram dez minutos?
Adalyn agarrou a mão de Lake, pronta para deixar seu porto seguro.
— Passou o suficiente. Estou pronta para dançar!
A música ficou muito mais alta quando saíram do banheiro. Elas fizeram
questão de se agachar um pouco enquanto corriam para a pista de dança,
onde conseguiram abrir caminho entre os casais suados até chegarem ao
meio. Satisfeitas por não terem sido encontradas de primeira, as duas
pegaram seus celulares e tiraram algumas selfies..
— Acho que é o suficiente! — Lake gritou quando conseguiu uma boa
foto de si mesma, com um casal chupando a cara um do outro ao fundo.
Ela guardou o celular e decidiu que iria se divertir pelo menos uma vez
na vida. Droga, eu já estou aqui mesmo, posso muito bem aproveitar ao
máximo.
Estava tremendamente feliz quando ela e Adalyn começaram a dançar.
As duas amigas tinham participado de muitas festas juntas quando Lake
passava a noite com Adalyn, e agora finalmente estavam em uma balada de
verdade.

Quem raios, nesse mundão de meu Deus, é dona dessa belíssima raba?
Vincent não conseguia mover seu corpo enquanto olhava para a perfeição
diante dele. Ele estava vendo uma garota com as pernas mais longas e sexy
que já vira dançar em um vestido preto que deveria ser ilegal. Especialmente
com uma bunda maravilhosa assim.
— Quem é aquela ali? Eu preciso conhecer aquela garota, porra.
Vincent teria de agradecer a seus amigos Nero e Amo por terem
planejado tudo isso. Ele tinha vindo para Poison com outra garota, com
planos de pegar a menina que era para ser o par falso de Nero também, mas
isso não importava mais. Ele tinha certeza que a garota balançando a bunda
ao som da música seria muito melhor do que o ménage que ele poderia ter
feito.
Já fiz sexo a três antes, mas ela... eu quero essa garota.
Ele soube que teria competição quando viu a multidão de caras que
cercavam a ela e a sua amiga, mas logo a viu afastá-los. Eu quero só ver essa
garota me afastar.
Vincent estava preparado, pensando em todo o sexo rude e glorioso que
iriam...
— Espera, acho que conheço as duas. — O flash da luz de néon iluminou
seus rostos por meros segundos. Naquele momento, ele teve certeza que
conhecia a amiga de vestido roxo da garota gostosa.
Vincent continuou a observá-los até o momento perfeito em que outro
raio de luz brilhou. Foi quando ele desejou poder voltar no tempo.
— Puta merda, essa é a porra da minha irmã! — Eu vou matar Adalyn e
queimar aquela porra de vestido roxo.
— Sim, mas quem é a outra, que eu preciso que esteja já na porra da
minha cama? — Amo estava igualmente extasiado.
Algo dentro de Vincent não gostou do que Amo tinha acabado de dizer.
Suas palavras saíram mais como um grunhido enquanto ele observava a
garota gostosa empurrar seu longo e sedoso cabelo para trás.
— Lake, a melhor amiga da porra da minha irmã.
Os olhos de Amo não se afastaram da bunda da moça.
— Droga, você tem mantido a garota só para você?
— Não, cara. Eu conheço essa garota desde a pré-escola, então nem
pense nisso. — Vincent se certificou de que a última parte saísse como um
grunhido dessa vez.
Ele tentou não dar ouvidos à risada de Nero. O cara estava claramente se
divertindo com o fato de as duas cabeças de Vincent estarem brigando. Não
estou pensando nela dessa maneira. Não estou pensando nela dessa
maneira...
— Merda, cara, imagina só todos os anos que você perdeu quando podia
ter ficado com aquela ali — Amo brincou, ainda com o olhar focado, o que
fez Vincent querer arrancar os olhos do cara da porra daquela cabeçona.
Eu vou matar todo mundo.
— Elas estão fodidas. — Embora Vincent tentasse manter o corpo sob
controle, a risada de Nero estava dificultando o processo. Então, quando dois
caras apareceram e começaram a agarrar as meninas, ele decidiu mandar o
controle para a puta que pariu.
— Não, eles estão fodidos.

À medida que a noite avançava, Lake e Adalyn entraram em uma vibe boa, e
não haveria nada que pudesse as impedir. Muitos caras tentaram dançar com
elas, mas foram afastados. Elas apenas dançaram uma com a outra, o que
atraiu ainda mais os homens.
Quando um grupo de caras se juntou ao redor das duas, Lake percebeu
que seus acompanhantes finalmente as encontraram. Ela decidiu tratá-los da
mesma maneira que todos os outros homens que tentaram apalpá-la,
empurrando-os para trás. Felizmente eles não lutaram muito, parecendo estar
contentes simplesmente assistindo.
Foi quando Lake e Adalyn foram rapidamente agarradas por dois caras
cansados de serem rejeitados.
Me larga! Ela estava tentando empurrar o cara quando Lake pensou ter
ouvido Adalyn gritar:
— Vincent!
— Ahn? — Confusa, ela rapidamente usou toda a sua força para afastar o
cara. Quando se virou, viu Vincent indo em sua direção.
Ah, que merda. Ela já sabia que ia dar ruim. Lake e Adalyn correram em
direção a ele.
Vincent era irmão de Adalyn. Bem, tecnicamente, seu irmão postiço. Eles
eram crianças quando sua mãe se casou com o pai de Adalyn. Caramba, eles
nem sabiam que não eram irmãos de sangue até ficarem mais velhos. Com os
dois tendo a mesma idade, poderiam muito bem ser gêmeos.
Está tudo bem. Ele não sabe que viemos com uns caras para cá.
Porém sua cara de sai-daqui-filho-da-puta diz o contrário.
— Que porra vocês duas estão fazendo aqui? — Vincent rosnou.
Michael e Tim as puxaram de volta.
— Elas estão com a gente.
Bem, agora ele sabe.
Vincent apontou para os caras com quem Lake e Adalyn estavam
tentando lutar.
— Ok, então quem diabos são vocês dois?
De repente, Lake e Adalyn foram empurradas para trás novamente pelos
dois que não gostavam de ser rejeitados. Tem como parar com essa merda?
O cara que segurava a irmã de Vincent teve a coragem de falar.
— Nós somos os caras que vão trepar com elas até o final da noite. Então
vão encontrar as de vocês.
Lake sentiu uma boa lapa de sua bunda sendo apalpada.
— Ei, me larga! — ela disse, batendo nele freneticamente.
Adalyn, por outro lado, estava calma.
— Você realmente não deveria ter dito isso.
Os olhos de Lake foram atraídos para Vincent, quando ele começou a
arregaçar as mangas da camisa preta de botão. Por alguma razão, ela o viu de
forma diferente do que o costumeiro. Porém não entendia o porquê.
Vincent tinha tudo em cima e nunca foi nada menos que imaculado. O
rosto bonito, o cabelo loiro, claro, perfeito e os olhos sonhadores de um tom
azul-bebê. Ele era um deus. E a pior parte era que Vincent sabia disso.
Ele terminou de arregaçar a manga.
— Você entendeu tudo errado, filho da puta. Essa que você tá agarrando
é minha irmã e, infelizmente, ela será a última garota que você vai poder
agarrar.
Lake piscou algumas vezes. Puta que me…
— Esta piranha não é sua irmã. — O cara segurando Lake começou a rir.
Olhando para ela, terminou: — Parece que você é minha.
Ela viu algo mudar nos olhos de Vincent enquanto ele flexionava a
mandíbula.
— Esses filhos da puta são meus; vocês dois peguem os merdinhas que
trouxeram as duas.
Lake finalmente notou os dois caras ao lado de Vincent. Quando eles
começaram a arregaçar as mangas como Vincent, estavam com sorrisos em
seus rostos. Nesse momento ela entendeu que um era assustador e lindo,
enquanto o outro era grande e assustador.
Mais uma vez, as garotas se viram sendo puxadas em direções diferentes
quando seus acompanhantes tentaram agarrá-las de volta. Isso está realmente
começando a me emputecer!
— Cara, eu pensei que você nunca pediria — disse o lindo, agarrando o
ombro de Vincent.
— Vocês podem me agradecer mais tarde por trazê-los aqui — o
grandalhão zombou, o que o tornou de alguma forma mais assustador.
É, eu sabia que isso tudo ia dar ruim.
Lake não podia acreditar no que estava assistindo dentro do círculo, ouvindo
as pessoas gritando “Briga! Briga! Briga!” Ela se perguntou se não estava
assistindo a um filme de ação bem diante de seus olhos.
Seu olhar alternava entre os três amigos batendo nos caras. Esses idiotas
não têm a menor chance. O assustador bonitão estava apenas brincando com
Michael, fingindo deixá-lo ganhar uma chance de ficar de pé. Assim que
Michael chegou perto, ele rapidamente o atingiu no rosto. Isso aconteceu de
novo, e de novo, e Michael continuou caindo nessa. Que imbecil.
Ela viu Tim praticamente se borrar todo enquanto olhava para o grandão
e assustador. Ele tentou fugir, o que obviamente não ia funcionar. Uma vez
que o grandão pegou Tim, logo o levantou do chão em um estrangulamento.
Tim literalmente não tinha metade do seu tamanho.
Sobrou Vincent, que estava se certificando de que os caras que as
apalparam na pista de dança pagassem pelo que fizeram. Sério. PAGASSEM,
p-a-g-a-s-s-e-m. Quando os dois tentaram atacá-lo, ele se esquivou, e eles
acabaram batendo um no outro. Lake tentou não estremecer quando o que
agarrou sua bunda foi para cima de Vincent novamente, mas dessa vez o
pegou desprevenido e deu uma joelhada nas bolas dele, derrubando-o.
Não demorou muito para Vincent se recuperar e agarrar a cabeça do cara
e dar uma joelhada no rosto do garoto, fazendo-o cair de vez no chão.
Ele é louco?, ela pensou enquanto Vincent ria, caminhando em direção ao
cara que tinha tateado Adalyn e estava implorando de joelhos.
Abaixando-se, Vincent agarrou sua camisa com força, puxando-o para
cima.
— Seu merda — disse ele enquanto batia na cara do sujeito. — Filho da
puta! — Outro soco.
O desafortunado caiu de cara no chão.
Lake esperava que tivesse acabado, mas é claro que não teve tanta sorte.
Quando Vincent pisou na mão do cara, ela tentou desviar o olhar, mas não
conseguia. Por favor, não faça isso...
— Nunca mais toque na minha irmã. — Vincent parecia mortal.
Ele vai fazer isso! Lake tentou desesperadamente fechar os olhos rápido o
suficiente, mas antes que ela percebesse, o pé dele se ergueu e voltou ao
chão. Os olhos dela finalmente se fecharam quando Lake ouviu o som dos
ossos quebrando e o grito de dor.
Lake ouviu risadas, e quando abriu os olhos viu os três vencedores
literalmente se divertindo com o que tinham feito. Enquanto olhava para os
corpos ensanguentados no chão, ela mudou de ideia sobre o que acabara de
testemunhar.
Isso foi quase um filme de terror estrelado por Vincent, o assassino
psicopata.
Lake não esperava o que veio a seguir quando uma loira quase ruiva
apareceu na multidão. Ela devia estar saindo com o bonitão, mas claramente
não estava esperando por ele lá, e ela também não estava esperando quando
uma garota em um vestido brilhante apareceu e o agarrou.
Lake viu duas outras garotas aparecerem em vestidos brilhantes
praticamente combinando, agarrando Vincent e seu outro amigo. Eles estão
saindo em casais. Ela não pôde deixar de estudar a garota loira enrolada na
cintura de Vincent, dona de uma bunda e uns peitos enormes.
O completo e absoluto oposto de mim. Ela não sabia por que esse
pensamento entrou em sua cabeça ou por que se importava, mas no fundo era
verdade.
Não demorou muito para que a loira quase ruiva fosse embora, os caras a
seguindo logo depois.
Lake ficou parada, em choque com os acontecimentos.
Virando a cabeça, encontrou os olhos de Adalyn.
— O que diabos aconteceu?
Adalyn olhou para o cara chorando a seus pés enquanto segurava a mão.
— Muita testosterona, foi o que aconteceu. Vamos. Precisamos sair daqui
antes que a polícia apareça! — Adalyn gritou, e elas contornaram o sangue e
a destruição.
Quando chegaram à porta grande e pesada e a abriram, os olhos de Lake
se arregalaram, Vincent apareceu na frente das duas do nada.
— Por que diabos vocês estavam aqui?
Vai dar ruim de novo. Ela rapidamente começou a puxar o vestido para
baixo, para cobrir mais as pernas, em seguida agarrou a parte de cima para ter
certeza de que o decote estava escondido. Ela começou a corar quando os
olhos do amigo grandão de Vincent a analisaram de cima a baixo.
Lake notou Adalyn se arrumando antes de sua boca grande se abrir.
— Por que diabos você acha?
O rosto de Vincent começou a se contorcer.
Vai dar muito ruim! Ela levantou a mão e confessou:
— Eu pedi que ela viesse dançar comigo. É minha culpa. A única
maneira de entrarmos era trazendo aqueles caras. Mas não fizemos nada com
eles. — Lake baixou os olhos para a calçada, sem conseguir encarar os olhos
azuis.
Ela ouviu Vincent respirar fundo.
— Que bom. Ninguém aqui vai sair com nenhum garoto até se formar. Eu
não me importo se faltam só alguns meses até lá. Eu não vou dedurar
ninguém, mas é melhor eu não pegar vocês duas de novo em uma situação
dessas.
Lake sentiu algum alívio e começou a assentir. Graças a Deus. Vendo o
olhar desafiador de sua amiga, ela bateu em seu braço, fazendo-a concordar
também, derrotada.
Ouvindo o tilintar de metal, ela observou Vincent entregar suas chaves.
— Vão para o carro. Vou levar as duas para casa.
Assim que Adalyn arrancou as chaves da mão de Vincent, as duas saíram
correndo.
Lake não era burra; ela sabia quando diabos fugir. Especialmente de um
cara louco desse jeito. Ela sabia que Vincent tinha um lado sombrio, levando
em conta todos os anos que o encontrou quando ficava com Adalyn. Mas,
puta merda, ele é um lunático!
— E vão queimar essas porras desses vestidos quando chegarmos em
casa! — Vincent gritou enquanto os saltos das duas faziam barulho no
asfalto.
Lake imaginou que ele diria isso, visto que Adalyn estava tentando
desesperadamente puxar para baixo seu vestidinho roxo. Ela instintivamente
tentou fazer o mesmo, embora não tenha conseguido por causa da rapidez
com que estava correndo.
Ela ouviu a voz dele novamente, muito mais calma dessa vez.
— Na verdade, me deem os vestidos. Eu quero me livrar deles.
Lake e Adalyn se entreolharam, confusas. É o quê? Por quê?
Elas foram capazes de localizar o carro de Vincent rapidamente, e Adalyn
apertou o botão de destravar. Lake abriu a porta do banco traseiro, ao lado do
motorista, enquanto Adalyn ia para o banco do passageiro na frente.
— Espera, eu não deveria sentar na frente, deveria? — sussurrou Adalyn.
— Ahn, não? — Lake exasperou baixinho para sua amiga enquanto
entrava no carro.
Um segundo depois, ela estava no banco traseiro, grata por Adalyn ter
seguido seu conselho.
Quando se sentiram seguras, Lake se sentiu à vontade para falar.
— Adalyn, fica só de boca fechada, a menos que seja para pedir
desculpas. Nossos pais não podem descobrir sobre isso…
Adalyn revirou os olhos.
— Eu sei, eu sei. Deus, não temos permissão para sair com ninguém. Mas
fala sério: aquilo foi muito divertido!
Lake teve de admitir que ela não se divertia tanto há muito tempo. Ok,
nunca tinha me divertido assim. Então Vincent apareceu do nada e arruinou
tudo.
— Sim, até o seu irmão pancada das ideias...
A porta do banco do motorista se abriu...
Em literalmente vinte minutos, a noite inteira de Vincent foi arruinada. No
entanto, sua raiva estava finalmente cedendo - ou quase.
No que diabos Adalyn estava pensando?
Quando ele agarrou a maçaneta da porta do carro, ouviu a voz abafada de
Lake.
— Sim, até o seu irmão pancada das ideias...
NÃO, NO QUE DIABOS LAKE ESTAVA PENSANDO?
Bem, sua raiva estava começando a ceder.

Ah, merda. Ele me ouviu?


Vincent ligou o carro.
— O que você estava dizendo, Lake?
Ah, merda. Ele me ouviu.
Lake tentou firmar a voz.
— E-eu não estava dizendo nada.
— Sim, você estava — disse ele com naturalidade enquanto se afastava.
— N-não, eu não estava.
— Não, ela não estava — Adalyn concordou, tentando ajudar a amiga.
Vincent olhou para Lake pelo espelho retrovisor.
— Então, você não acabou de dizer “seu irmão pancada das ideias”?
Lake viu seus olhos assustadores pelo espelho, olhos que a desafiavam a
mentir.
Minta.
— N… — Não minta. — Sim.
Ela desejou poder mudar sua resposta enquanto olhava para ele.
Espere, ele queria que eu mentisse?
Estava escrito no rosto dele: não minta para mim.
Ela havia falado com ele inúmeras vezes durante a maior parte de sua
vida, mas não tinha ideia de como lidar com o novo Vincent. Jogar verdade
ou consequência com ele era algo que ela não era corajosa ou experiente o
suficiente para vencer.
— Bem, você meio que enlouqueceu quando quebrou a mão dele — disse
Adalyn.
E, assim, Lake o viu voltar ao normal.
— Exagerei? — Vincent riu.
Ai, meu Deus. Ele é louco.
— Sim, só um pouco tipo muito. Mas, ei, ele meio que merecia. —
Adalyn deu de ombros.
Ambos são loucos.
— Eu não posso acreditar que Nero estava com uma garota — disse
Adalyn em choque.
Lake olhou para ela.
— Qual deles era Nero?
Adalyn sorriu.
— O gostosão.
Eu deveria saber que o bonitão teria um nome assim. Lake não pôde
deixar de sorrir de volta.
— Ahhh. E o grandalhão era...?
Adalyn revirou os olhos.
— Amo.
Claro que era.
Lake viu a raiva de Vincent retornar quando seus olhos voaram para o
espelho. O que diabos há de errado com ele agora?
Ela decidiu ignorá-lo.
— Eles estão… — Lake baixou a voz para um sussurro — na máfia?
Vincent desatou a rir.
— Por que você acabou de sussurrar?
— Porque eu não achei que isso fosse algo que se pudesse dizer em voz
alta!
Ele está seriamente me sacaneando.
— Lake, não tem ninguém perto. Seu pai está na máfia, pelo amor de
Deus. — Vincent ainda parecia estar achando graça.
Ela virou a cabeça para olhar pela janela, sentindo-se um pouco
envergonhada. A verdade era que ela não sabia muito sobre a máfia. Mas eu
sei o suficiente para saber que não quero saber de mais nada.
Lake sabia que o suposto homem de família sempre se metia em
encrencas. Seu pai se tornou um viciado em jogo provavelmente pelas coisas
terríveis que precisou fazer. Quase todo homem da máfia era divorciado. Isso
se eles chegam a casar. A maioria das esposas da máfia ficam viúvas. Se elas
tiverem a sorte de não serem usadas como garantia. Então, sim, ela era
ignorante sobre o assunto porque nunca quis aprender nada sobre a máfia.
Felizmente, tive uma saída. E tenho certeza de que não vou me casar com
um mafioso.
— Bem, isso não é algo que eu gosto de anunciar — ela admitiu.
Seus olhos azuis encontraram os dela no espelho novamente.
— Mas é algo com o qual você tem que lidar.
— Não por muito tempo. — Sua conexão com a máfia era tão pequena,
que não valeria a pena se meter com ela assim que se formasse e fizesse
dezoito anos. Lake se mudaria e depois iria para a faculdade, deixando tudo
para trás.
Lake podia jurar que viu desapontamento no rosto de Vincent, mas suas
próximas palavras lhe disseram que ela tinha imaginado.
— A propósito, nossos pais estão na máfia; nós, não. Ainda não, ao
menos. — Ele não tinha dúvidas sobre o que seu futuro reservava para ele.
Lake sempre soube que Vincent seguiria os passos do pai. Este estava
muito mergulhado na máfia para que o rapaz não estivesse. Ela sabia que
Nero e Amo iriam também. Só pela forma como eles lutaram, dava para
imaginar que tudo aquilo estava no sangue. Eles tinham nascido para a máfia.
O resto do caminho para casa foi silencioso e poderia ser resumido a uma
palavra: constrangedor.
Vincent só quebrou o silêncio quando parou na garagem.
— Vocês duas fiquem atrás de mim e entrem no meu quarto enquanto
verifico se a barra está limpa. Se mamãe e Sam pegarem vocês assim, não
vou poder ajudar ninguém.
Lake e Adalyn concordaram e saíram do carro, ficando bem atrás dele.
Lake estava grata pelo quarto de Vincent, que era na verdade um quarto de
hóspedes, ficar no primeiro andar, perto da porta da frente.
Um suspiro de alívio se fez ouvido quando fecharam a porta. Tudo o que
tinham de fazer era esperar silenciosamente na escuridão até que Vincent
voltasse para dizer que a barra estava limpa.
Lake definitivamente havia tido um dia agitado e cheio de drama demais
para seu gosto.
Graças a Deus esta noite finalmente acabou.
Vincent caminhou lentamente pela casa, incapaz de se concentrar. Ele
precisava desesperadamente se controlar. Cada dia vinha sendo uma batalha
constante, e naquele momento, sua mente e corpo estavam em guerra.
Seu corpo estava em um sério estado de necessidade por ter cem por
cento de certeza de que iria comer a garota com quem ia sair e noventa e nove
vírgula nove por cento de certeza que iria comer a garota com quem Nero
saiu. Droga, a sua garota já o deixou meio de pau duro quando começou a
agarrar seu pau debaixo da mesa. No entanto, quando viu Lake dançar, o pau
ficou como uma rocha. Ele estava quase certo de que nunca tinha ficado tão
duro antes.
CARALHO!
Sentindo dor na virilha, ele teve certeza de que nunca esteve tão duro.
Significava muito mais do que você imagina, porque ele estava orgulhoso de
ter comido todas as garotas gostosas de sua escola particular. Sem mencionar
que, já que era a Legacy Prep, havia um monte de garotas ricas e gostosas
que tinham mães tesudas para cacete. Finalmente ele percebeu quão grave era
sua ereção, considerando que dormiu com MILF escandalosamente carentes e
EXPERIENTES. Se você não está no século XXI, MILF significa Mom-I-Wold-
Like-to-Fuck, mães que eu comeria sem dó!
Quando Vincent não viu ninguém, voltou para a sala e se sentou no sofá.
Se olhasse para Lake naquele momento – naquele maldito vestido – só a
imaginaria dançando. Mesmo sem olhar para ela, já estava difícil o suficiente.
Ok, presta atenção. Vincent respirou fundo. É na Lake que você está
pensando. Ele respirou fundo novamente. A melhor amiga da sua irmã. Outra
respiração profunda. Você estava apenas excitado e pronto para foder. Com
uma última respiração profunda, finalmente estava voltando à sanidade.
Vincent estava feliz por isso ter acabado. No dia seguinte, iria acordar e
não pensar em Lake enquanto traçava outra garota. Enquanto faço o ménage
que eu devia ter feito.
Levantando-se do sofá, seu pau estava finalmente quase sob controle. O
que foi? Uma ereção de proporções épicas não vai desaparecer assim tão
fácil.
Vincent estava pronto para enfrentar Lake novamente, já que estava
calmo, frio e cent...
Que diabo é isso?
Vincent olhou para a bolsa sobre a mesa de centro. Abaixando-se, pegou
algo circular que estava preso entre algumas pastas e papéis da escola. Ele
abriu a caixa redonda, sabendo muito bem o que estava dentro. Quando as
pequenas pílulas apareceram ao lado dos dias da semana, ele começou a
perder o controle novamente.
Se isso é de Adalyn, vou matar o filho da puta que tocou nela. Quando
pensou na outra opção, de ser de Lake, chegou à mesma conclusão.
Uma voz dentro dele lhe disse para respirar fundo. Cala a boca, caralho.

Lake olhou para o monstro na porta quando as luzes se acenderam de repente.


Sua respiração acelerou enquanto se perguntava o que poderia ter acontecido
nos cinco minutos que ela estava lá. Alguém morreu?
Adalyn parecia à beira das lágrimas quando ele fechou a porta atrás de si.
— O que houve? O que é isso?
Vincent revelou o que tinha em mãos, ainda em silêncio.
Adalyn e Lake soltaram a respiração que pareciam estar segurando por
uma eternidade.
Oh! Graças a Deus. Ninguém morreu.
— Jesus Cristo, Vincent! Você quase matou a gente de susto! — Adalyn
disse, tentando recuperar o fôlego.
A voz de Vincent estava fria quando guardou as pílulas no bolso.
— De quem é?
Finalmente, Lake e Adalyn perceberam que encontrar pílulas
anticoncepcionais era o mesmo que encontrar o cadáver de um membro da
família.
Adalyn ergueu as mãos.
— Ok, Vincent. Apenas tente se acalmar e ouvir por um segundo. — Ela
começou a fingir uma risada. — Vai por mim, todos nós vamos dar boas
risadas sobre isso mais tarde. — No entanto, sua risada morreu com a
expressão facial de Vincent.
Puta merda, alguém vai morrer, e essa sou eu.
— Existem duas porras de regras que toda garota da família deve seguir:
uma, você não pode namorar até se tornar adulta e se formar no ensino
médio. E dois, você só pode trepar depois de casar com a bênção da família.
— A voz de Vincent ficou baixa. — Você sabe que não tem permissão para
tomar anticoncepcionais, especialmente porque é menor de idade. Em uma
noite, todas as porras das regras foram quebradas.
Lake desejou correr e se esconder. Ela conhecia as regras, e elas foram
estabelecidas para a segurança das meninas, bem como para a sanidade da
família.
A voz de Vincent começou a aumentar, e seu olhar intercalar entre elas.
— ENTÃO, DE QUEM SÃO?
Adalyn olhou para o chão.
— Ahn...
Lake olhou Vincent diretamente nos olhos.
— São minhas.
Os olhos de Vincent capturaram os de Lake.
— Adalyn, fora.
Adalyn não se mexeu.
— No quarto. Agora! — Vincent rosnou.
Adalyn saiu solenemente, fechando a porta atrás de si enquanto deixava a
amiga se virar sozinha.
O peito de Lake começou a subir e descer rapidamente enquanto ele se
levantava em silêncio, observando-a. Ela tentou desviar os olhos, mas estava
com medo do que ele faria se fosse o caso.
Vincent esperou até que os passos de Adalyn desaparecessem.
— Você está trepando com aquele cara com quem saiu hoje à noite?
Ahn? O quê? Não! Quem diabos ele pensa que é? Lake ficou furiosa por
Vincent ter tido a audácia de dizer isso.
— Eu te disse que nós os usamos para entrar. Nós nem dançamos com
eles! Você é um cuzão. Já passou pela sua cabeça que estou tomando
anticoncepcional porque minha menstruação é toda errada?
— Perdão? — Vincent deu um passo à frente.
Lake chegou ao limite com ele tentando intimidá-la.
— Isso estava na minha bolsa, e você não tinha o direito de mexer nela.
Não é da sua conta se eu estava transando com ele!
Merda, merda, merda! Lake realmente queria retirar o que disse. Ela o
viu dar outro passo à frente enquanto se movia para trás.
Seus olhos azuis-bebê escanearam perigosamente o corpo de Lake.
— Querida, se torna da minha conta quando você usa um vestido assim.
Ela nunca tinha sentido olhos nela assim na vida, a fazendo ter certeza de
que deveria estar com medo dele. Lake realmente estava morrendo de medo,
embora não fosse Vincent quem a assustasse; era como o corpo dela, que
estava reagindo às palavras dele. O que ele está fazendo comigo?
Suas pernas começaram a tremer, e ela recuou outro passo, tentando
manter a distância. Suas pernas bateram na cama, fazendo-a cair, quando o
espaço para fugir acabou.
Lake começou a vê-lo de forma diferente pela segunda vez naquela noite
enquanto o observava eliminar a distância entre os dois. Seu peito ficou
pesado enquanto Vincent pairava sobre ela, as pernas tocando suas coxas.
Isto…? Isto é real?
Vincent parecia perfeito demais. Ela estava certa de que ninguém jamais
poderia ser mais perfeito do que ele.
A voz de Vincent estava calma quando ele disse:
— Lake, você ainda é virgem?
Lake não pôde deixar de umedecer os lábios de nervosismo. Lentamente,
ela assentiu.
— Sim.
Ele estendeu a mão e inclinou o queixo dela com a ponta do dedo.
— E algum cara já te beijou ou tocou em você?
— Não — confessou sussurrando.
Vincent passou o dedo no lábio inferior de Lake.
— Que bom. — Ele fez uma pausa. — Agora, vá a outro encontro de
novo, e eu corto a mão do cara. Transa com alguém, e corto o pau do cara. E
se eu te pegar dançando com roupas assim de novo, querida, seus dias de
virgem acabaram. Entendeu?
Lake piscou para ele. Ele disse isso mesmo?
Vincent rapidamente inclinou a cabeça na direção dela, em seguida
agarrou seu cabelo por trás, a fim de inclinar o rosto de Lake para cima.
— Você entendeu?
Ai, meu Deus. Ela tentou lutar contra o calor que crescia. Ela não
entendia como estava excitada quando ele estava sendo o oposto de um cara
doce.
— Sim.
— Boa garota. Agora, não se mova.
O qu? Por q...?
Lake de repente sentiu os lábios de Vincent colidindo com os seus. Ela
nunca teria imaginado, em um milhão de anos, que seu primeiro beijo seria
com Vincent.
Foi gentil no início, fazendo seu estômago dar cambalhotas, mas
rapidamente se tornou áspero quando ele começou a chupar seu lábio
inferior. Lake sentiu como se estivesse sendo transportada para o céu só pela
sensação de seus lábios e pela maneira como ele estava segurando sua
cabeça. Ela não sabia se o estava beijando de volta, mas isso ia mudar logo.
Com o calor que ela sentiu pedindo para tocá-lo, para beijá-lo de volta,
Lake o imitou, chupando o lábio inferior com firmeza. Então estendeu a mão
e agarrou o cabelo loiro com força. Ela nem estava ciente do que estava
fazendo até que ele acelerou e aprofundou o beijo.
Lake gemeu e puxou o cabelo de Vincent, trazendo-o para mais perto.
Foi quando Vincent parou de beijá-la tão rápido quanto começou.
— Você precisa ir embora.
Ela ainda estava um pouco atordoada, olhando para ele.
— Você precisa ir embora — ele disse, mais rude dessa vez.
O que diabos há de errado com ele?
Lake pulou da cama e o empurrou.
— Foi você quem me beijou! — Ela caminhou em direção à porta,
incapaz de ficar perto dele por mais um segundo.
Quando abriu a porta, ele disse:
— Diga a Adalyn para trazer a porra dos vestidos.
— Vai se foder, Vincent. — Lake bateu a porta atrás de si.
Lake estava irritada. Não, estava furiosa. Ele não precisava me tratar assim!
Ela abriu a porta do quarto de Adalyn e correu direto para o closet,
tirando o vestido.
— Lake, você está bem? — Adalyn gritou do outro lado da porta.
— Estou ótima — Lake murmurou.
— O que aconteceu?
Ela pensou por um momento.
— Nada. Absolutamente nada. — De jeito nenhum ia contar à melhor
amiga que tinha beijado seu irmão. Além disso, era sua maneira de mentir
para si mesma.
Lake abriu a porta quando terminou de vestir uma camiseta velha e short,
em seguida viu Adalyn já de pijama na cama.
— Seu irmão disse para levar os vestidos para ele — Lake resmungou,
jogando seu vestido na cama.
— Hm, tudo bem... — Adalyn começou a levantar.
— Não, na verdade, eu faço isso. — Lake pegou o vestido de volta e em
seguida o de Adalyn na cômoda. Ela então desceu os degraus e foi para o
quarto de Vincent.
Toc, toc, toc.
Vincent abriu a porta e viu um doce sorriso de Lake antes que ela jogasse
os vestidos bem na cara dele.
— O quê…?
— Boa noite. — Ela rapidamente girou nos calcanhares enquanto ele
ainda estava em choque. Lake não era burra; ela sabia quando fugir.
Especialmente depois de cutucar uma onça com vara curta.
Ela voltou a subir as escadas e entrou no quarto de Adalyn, que estava
deitada na cama. Ficou quieta por alguns minutos.
— Lake, você tem certeza que está bem?
Ela se virou de lado, não querendo encarar Adalyn.
— Sim, estou bem.
Lake ficou agradecida quando Adalyn desligou o abajur e decidiu não a
questionar mais. Nem sabia como poderia iniciar uma conversa sobre isso.
Oh, ei, seu irmão e eu acabamos de dar uns amassos. Não, era melhor levar
isso para o túmulo.
Ela ficou deitada na cama por horas. Imaginou que fosse a culpa que não
a deixava dormir, mas na verdade não era isso. Vincent acendeu um fogo
nela, mas não o apagou, fazendo com que a chama ardesse mais ainda. Lake
nunca se sentiu assim, e foi por causa disso que chegou à conclusão da culpa.
Ela não conseguia parar de repetir o momento de novo, e de novo, e de
novo em sua cabeça. A sensação de Vincent...
Para com isso!
Lake saiu da cama, tomando cuidado para não acordar Adalyn. Ela
precisava se esticar um pouco.
Ela se sentou na janela da sacada, olhando para a noite. Não sabia como
se sentir ou o que pensar sobre seu primeiro beijo. Lake tinha certeza de que
deveria estar feliz com isso.
Algo começou a chamar sua atenção no quintal. Ela não conseguia
distinguir nada além de algo muito brilhante se movendo. Quando chegou à
entrada iluminada, no entanto, seu coração pareceu despencar até o estômago.
Esse algo brilhante era um vestido dourado e brilhante. Ela conhecia o
vestido de mais cedo, porque a garota que o usava era a que Vincent tinha
levado para um encontro. Lake poderia ter pensado que o encontro deles
havia sido cancelado, mas pelo visto foi apenas adiado. A garota estava
levando os saltos nas mãos até o carro estacionado na rua, e apesar de ser
ingênua, Lake conhecia o infame caminho da vergonha quando via um.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto quando voltou para a cama. Eu sou
muito estúpida.
Lake sabia que só se tinha um primeiro beijo na vida, e o dela fora
desperdiçado. Finalmente entendeu o que sentia. Arrependimento total e
absoluto.
— Mamãe fez o café da manhã, então levanta logo!
Lake se sentiu grogue quando Adalyn a forçou a acordar. Ela não fazia
ideia de quanto tempo tinha dormido. Seus olhos estavam inchados pelas
lágrimas silenciosas que derramou durante a noite, então fez questão de lavar
o rosto antes de descer para o café da manhã. A única razão pela qual estava
indo era porque achava que Vincent não iria acordar até que fosse tarde.
Lake sentou-se à mesa, agradecida por estar certa sobre Vincent. Que
sorte ter esse livramento.
Ela começou a se servir de panquecas e bacon.
— Obrigada, Karla. Parece… — Sua atenção foi atraída para Vincent
arrastando os pés, vestindo nada além de um short.
Ou não.
Lake virou a cabeça para os pais de Adalyn.
— Delicioso.
Karla sorriu para ela.
— Obrigada.
Quando Vincent se sentou ao lado dela na cabeceira da mesa, Lake tentou
não olhar para ele. Foco no seu bacon.
— Então, o que vocês duas fizeram ontem à noite? — Vincent disse
enquanto olhava seu prato.
Lake e Adalyn rapidamente olharam para ele, que estava sorridente. Que
bosta é essa?
— Oh, nós fomos dar uma volta. Você sabe, shopping, comer alguma
coisa, depois ir ao cinema — disse Adalyn.
Lake notou que ele estava todo fodido. Bem, o máximo que um deus
pode ficar todo fodido. Hmm, dois podem jogar este jogo.
— Noite longa, hein? — Lake olhou para ele enquanto levava um pedaço
de bacon à boca.
Vincent começou a mastigar lentamente, olhando de volta para ela.
— Sim.
Lake não iria quebrar o contato visual; queria ver a reação dele.
— Você saiu no meio da noite? Porque eu poderia jurar que vi alguém
saindo quando olhei pela janela de Adalyn a caminho do banheiro.
Vincent recostou-se na cadeira.
— Não, não fui eu.
Ela viu um leve indício de raiva aparecer rapidamente em seus olhos
azuis.
— Você viu alguém no quintal? — Sam perguntou, preocupado.
— Ah, tenho certeza que ela... Quero dizer, não era nada. Provavelmente
ela se enganou.
Vincent começou a tossir após engasgar com o suco de laranja.
Lake tentou desesperadamente não rir, mas algumas risadas conseguiram
escapar. Ela orgulhosamente olhou para Vincent, provando que tinha
vencido.
— Você não se importa, né? — Ele roubou o último pedaço de bacon do
prato dela.
— Ah, de jeito nenhum. — Lake murmurou a próxima parte baixinho: —
Não seria a primeira coisa que você roubou de mim.
— Bem, se não parecesse tão gostoso, eu não teria feito isso.
Eita... Que merda. Ela não tinha ideia se isso era um elogio ou não.
Decidindo terminar com a discussão – bem, na verdade, decidindo que
não era capaz de pensar em uma resposta –, Lake finalmente notou Sam,
Carla e Adalyn olhando para ela e Vincent como se os dois estivessem
loucos.
Ela começou a se sentir envergonhada e rapidamente deu mais algumas
mordidas antes de largar o garfo.
— É melhor eu ligar para minha mãe e pedir para ela me buscar.
— Eu te levo para casa — Vincent falou.
— Não, tudo bem. — Lake deu a ele uma cara de nem-por-um-cacete. —
Não faz sentido você me levar.
Vincent sorriu.
— Eu vou voltar para a casa do papai de qualquer maneira.
— Mamãe não vai se im…
— Não faz sentido sua mãe vir te pegar. — Ele se levantou da mesa e se
encaminhou para fora do cômodo. — Vou tomar um banho rápido. Esteja
pronta em cinco minutos.
Ele estava ganhando de virada. Lake não teve opção a não ser evitar mais
uma cena.
Deus, eu odeio esse cara.
Lake respirou fundo quando parou em frente a porta do passageiro. Ela
desejou sentar-se no banco traseiro, mas isso a faria parecer infantil. Espere,
talvez não tanto. É, com certeza seria muito infantil. Ok, vai!
Ela foi em frente e abriu a porta, entrando no carro escuro de Vincent
rapidamente e afivelando o cinto de segurança. Lake olhou para frente, sem
vontade de sequer olhar para ele. Ele nunca pediu para me levar para casa
antes, e agora sentiu necessidade de fazer isso?
Quando notou que ainda estavam parados, Lake olhou pelo canto do olho.
Cinco segundos depois, virou a cabeça para encará-lo.
Vincent estava parado, olhando para ela. Lake se sentiu desconfortável.
— E aí, é para hoje a saída?
— Sim, mas eu meio que tenho que saber para onde ir primeiro.
Oh, merda, certo... Ela estava claramente nervosa.
— Hum, é... — Lake contemplou o que fazer. Ela não gostava de contar a
ninguém onde morava, por isso sempre acabava pedindo aos pais para buscá-
la.
Vincent parecia confuso.
— Você quer que eu te leve para a casa do seu pai em vez disso?
— Não! — Lake tentou rir. — Quero dizer, não, minha mãe
provavelmente já está chateada por eu não ter encontrado com ela ontem.
Você sabe onde fica a Magical Cupcakes?
Ele estava olhando para Lake como se ela fosse louca.
— Ah, sim.
— Ok, apenas dirija como se estivesse indo para lá. — Lake sorriu.
— Tudo bem então. — Vincent pôs o carro em movimento.
Lake afundou no banco, olhando pela janela. Ela sabia que Vincent
provavelmente pensava que ela era pirada, mas não se importava. Precisou
fazer uma escolha sobre qual casa queria que ele visse, e de jeito nenhum iria
escolher a casa de seu pai. Já era suficiente estar naquela situação odiosa.
Sim, e isso porque ele não conseguia manter seus lábios deliciosos para si
mesmo.
— Então, você divide o tempo igualmente com seus pais? — Vincent
perguntou.
Lake ficou um pouco surpresa. Ele nunca havia feito uma pergunta
pessoal antes.
— Hum, não. Passo a semana com meu pai e os fins de semana com a
minha mãe.
— Por que você passa mais tempo com seu pai?
Por que ele está me perguntando isso? Eu adoraria que não perguntasse
nada.
— Não sei. É assim que eu faço.
Vincent deu de ombros.
— Eu imaginei que você passaria mais tempo com sua mãe.
Lake olhou para ele.
— Por que você pensou isso?
Por que ele tem que ser tão bonito? A pior parte foi que, quando fez
aquelas perguntas, Vincent ficou ainda mais bonito, e ela não tinha ideia de
como isso era possível.
— Bem, porque você é uma garota — ele se virou para olhar para ela —,
e parece que você não se importa com o que seu pai faz.
Não olhe nos olhos dele! Lake virou a cabeça para frente, dizendo a si
mesma para pensar em algo. Ela sabia que Vincent estava tentando chegar a
algum lugar, e ela não gostou disso.
— Acho que não quero que meu pai fique sozinho agora que minha mãe
se casou. — Ela ficou feliz quando ele virou a cabeça de volta para a estrada
e aceitou sua mentira.
Lake estava começando a odiar ficar sozinha no carro com Vincent. Suas
narinas estavam cheias de seu cheiro glorioso, e como ele tinha acabado de
tomar banho, estava mais cheiroso ainda. Sem mencionar que seu cabelo
loiro claro e bem cortado ainda estava úmido, deixando-o sexy e aumentando
o aroma. Ugh! Ela apertou o botão para abrir a janela.
Ele rapidamente pressionou o de sua porta para fechar a janela.
— Que diabos está fazendo? Está congelando lá fora.
— Eu só queria um pouco de ar fresco. Não vai matar uma frestinha
aberta. — Lake apertou o botão novamente.
— Pois é, mas você não está de cabelo molhado. — Vincent a fechou de
novo.
Exatamente! Ela baixou a janela mais uma vez.
— Pare com isso. — Vincent agarrou a mão dela. — O que raios deu em
você?
Lake tentou libertar sua mão, mas foi inútil.
— Me solta!
— Você vai abrir a janela?
Por que a mão dele tem que ser tão gostosa de pegar?
Ela tentou lutar com Vincent de novo, e de novo. Não funcionou.
— Ok, tudo bem! Não, eu não vou abrir a janela.
Vincent soltou lentamente a mão dela, e quando Lake não fez nenhum
movimento, ele respondeu:
— Boa menina.
Meu Deus, me tira daqui!
Lake desabotoou o cinto de segurança e virou-se para o lado, para se
espremer entre seus assentos e ir para os bancos traseiros. Ela não se
importava se soava mais infantil com isso; ela estava ficando louca por estar
tão perto dele.
— Lake, pirou? Estou dirigindo! — Ele agarrou sua cintura com a mão
livre, mantendo o volante firme.
Sim! Ela continuou tentando se espremer.
— Me. Solta — ela ordenou, ofegante.
— Sente essa bunda aqui antes que eu pare essa porra de carro e dê uns
tapas nela! — Vincent rugiu.
Levou um total de dois segundos para sua bunda estar no banco
novamente. Lake odiava que uma parte dela se arrependesse da decisão só
porque queria ver se ele realmente faria isso. No entanto, sabia muito bem
que Vincent o faria, e foi exatamente por isso que ela se sentou.
Ela cruzou os braços sobre o peito e fez um humph.
— Coloca o cinto de segurança — Vincent exigiu, ainda furioso por Lake
colocar sua segurança em risco.
Lake manteve os braços cruzados.
Sua voz saiu baixa, quase em um rosnado.
— Querida, você tem três segundos antes que meu braço se torne seu
cinto de segurança.
Ela rapidamente pegou o cinto de segurança e o colocou no lugar com
alguns movimentos. Embora, pela forma como ele a chamou de “querida”,
uma parte dela quisesse que Vincent colocasse o braço em seu colo.
O que diabos está acontecendo comigo? Ela deveria estar dizendo a ele
que parasse de mandar nela.
— Você é tão mandão. — Bem, pelo menos ela conseguiu um meio-
termo.
Ele riu da escolha de palavras, voltando ao seu estado normal.
— Eu não seria se você parasse de me enfrentar.
— Desculpe, eu não sou obediente como a garota que vi saindo pela sua
janela. — Lake olhou para ele e pensou ter visto raiva nos olhos dele
novamente.
Eu não sei por que ele ficaria bravo com isso.
— Nós sabemos que você não é obediente porque não consegue apenas
seguir as drogas das regras.
— Fodam-se as regras, e foda-se a máfia! Eles são completamente
injustos e machistas. Quando eu fizer dezoito anos, não terão poder sobre
mim, porque eu terei ido embora. — Ela o viu apertar o volante com força, a
ponto de pensar que poderia quebrar.
Merda, vômito de palavras! Lake não quis dizer aquilo.
— Quem te deu as pílulas? — Vincent perguntou calmamente.
Ela respirou fundo.
— Minha mãe, e eu preciso delas de volta, Vincent.
— Seu pai sabe?
Ela sabia que Vincent entraria neste tópico.
— Devolve a cartela, e eu te digo.
Vincent enfiou a mão no bolso e mostrou a ela as pílulas.
— Não, ele não sabe. Você não vai contar a ele, vai?
— Estou cogitando — disse ele friamente.
Lake arrancou de sua mão os comprimidos depois de um pequeno
esforço. Ela engoliu em seco quando viu o Magical Cupcakes à frente.
Pensou seriamente em pedir a ele para deixá-la lá, mas pelo modo como a
viagem de carro estava indo, soube que ele não o faria. Portanto, rapidamente
deu a ele o resto do trajeto para sua casa, que, felizmente, não era muito mais
longe.
Quando o carro voltou ao silêncio, ela ouviu Vincent respirar fundo, o
que a fez virar a cabeça. Viu que ele queria lhe dizer alguma coisa, e isso só a
estava deixando nervosa.
— Hum, é essa da direita — ela instruiu, mordendo o lábio.
— Puta merda, você mora aqui? Eu não sabia que sua mãe tinha se
casado com um cara rico — ele disse, dirigindo pelo longo caminho privado.
Infelizmente.
Ela se virou para olhar a casa cara que ficava em uma área exclusiva da
cidade. Era exatamente por isso que ela não queria que Vincent visse a casa
de sua mãe, porque olhando para Lake, você não teria adivinhado. Para todos
os outros, ela parecia pobre. Tipo lixo de trailer.
Ela tentou dar uma risada falsa.
— Sim.
Vincent respirou fundo novamente.
— Ouça, Lake, eu cometi um erro ontem à noite beijando você.
O coração de Lake começou a bater com força no peito.
— É por isso que você queria me trazer em casa?
Ele não respondeu e ela teve sua resposta. Lake sentiu seu coração se
partir naquele momento. Não chore na frente dele. Não chore na frente dele.
— Lake, eu sinto muito…
— Não sinta. Sou eu quem deveria sentir muito por deixar você roubar
meu primeiro beijo. — Ela queria ter certeza de que Vincent entendia o que
isso significava para ela.
Ela estava pronta para dar o fora, então abriu a porta, pronta para pular.
— Espera. — Vincent agarrou seu braço antes que ela pudesse escapar.
Lake olhou para a mão ao redor dela, em seguida olhou para os olhos de
Vincent, rezando para que ele dissesse algo que consertasse a situação.
— Você não contou a Adalyn, contou?
Se seu coração não tinha sido partido antes, foi naquele momento.
Ela arrancou o braço de seu aperto e manteve o olhar firme.
— Não, porque no que me diz respeito, nada aconteceu, então não tinha o
que contar. — Lake saiu do carro e fechou a porta, chegando a uma
conclusão.
Vincent Vitale morreu para mim.
— Porra! — Vincent apertou o volante o mais forte que pôde para se lembrar
de ficar no carro e não ir atrás dela.
Assim que Lake entrou na casa, ele relutantemente começou a sair da
garagem com o carro. Algo dentro dele dizia que tinha acabado de cometer o
maior erro da sua vida. Ele só estava cometendo erro após erro ultimamente,
e todos envolviam Lake.
Vincent não sabia como diabos essa merda tinha acontecido. É, sei, sim.
Lake só precisou balançar a bunda. Isso, por sua vez, o fez querer trepar com
ela insanamente, mas ele lutou contra tudo até encontrar aquelas pílulas
anticoncepcionais. Então ficou furioso.
Ele deveria ter ficado tão bravo? Provavelmente não. No entanto, ficou
porque estava com inveja de que alguém poderia estar transando com ela em
vez dele. O quê? Cacete, não, eu não estava!
Enfim.
Quando ele a confrontou, só bastou que ela ficasse brava e mostrasse a
ele quem realmente era para seu pau endurecer ainda mais. Então ele a
beijou. E foi um erro.
Vincent disse a ela para não se mover porque ele tinha certeza de que se
ela o tocasse, não haveria retorno, e, caramba, se ela não tivesse puxado seu
cabelo... Cacete, ele nem imaginou que ela ia retribuir o beijo, e esse
pouquinho de nada que provou de alguma forma fez seu pau quase explodir.
É por isso que eu mandei a garota embora. E aí estava o seu verdadeiro
erro.
Vincent cometeu outro erro ao ligar para a outra garota, a da Poison, mas
ele estava ficando louco. Se alguém não tivesse aliviado sua tensão, ele teria
subido e mostrado a Lake como realmente o enfrentar.
Ela, claro, tinha que ver a menina indo embora. Isso o incomodou, o
deixou irritado e, novamente, não tinha certeza do motivo. Toda garota sabia
que ele era trepão, então por que ele se importava se ela soubesse?
A maneira como eles se provocaram durante o café da manhã trouxe de
volta o desejo de comer Lake. Ele não queria que a diversão acabasse;
portanto, decidiu levá-la para casa. Vincent sabia que o passeio de carro ia ser
muito divertido, embora não imaginasse que seria tão divertido. No entanto,
tudo isso foi por água abaixo quando Lake disse: “Quando eu fizer dezoito
anos, eles não terão poder sobre mim, porque eu terei ido embora”.
Foi quando ele entendeu que seja lá o que estivesse acontecendo entre
eles tinha de parar. Não só porque ele sabia que Lake era diferente e não
queria apenas foder, mas também porque ela não queria nada com a máfia,
enquanto Vincent queria se meter em tudo que tivesse a ver com esse
assunto. Os dois estavam em dois mundos diferentes, em duas galáxias
diferentes.
Aí o que ele foi lá e fez? Sim, ele cometeu outro erro ao dizer a Lake que
foi um erro beijá-la. Ah, a ironia. Quando Vincent agarrou o braço de Lake,
dizendo-lhe para esperar, quase, quase tentou consertar tudo de alguma
forma. No entanto, vendo a dor em seus olhos, soube que aquilo precisava
acabar. Vincent não ia de forma alguma se tornar um homem de uma mulher
só, especialmente aos dezoito anos. Nunca.
Ele ficou com uma sensação na cabeça, como uma voz lhe dizendo para
pegar a porra do primeiro retorno e voltar. Algo não parecia fazer sentido.
Seu intestino estava agitado e sua mente dava voltas, tentando entender o que
havia de errado.
— Por que ela não passa mais tempo com a mãe?
Vincent sabia como era ter os pais separados. Desde que ele conseguia se
lembrar, seus próprios pais haviam se separado. Quanto mais pensava sobre
isso, mais claro ficava que eles estavam na mesma situação, sua mãe se
casando com Sam, que já tinha Adalyn, e seu pai sozinho. Seu tempo foi
dividido meio a meio até o ensino médio, mas isso era por causa da máfia,
não porque ele se sentia mal por seu pai estar sozinho. Pensando bem, Lake
deveria querer ficar mais com a mãe por causa de toda a parada da máfia.
Vincent passou as mãos pelo cabelo quase seco, sabendo que estava
tentando inventar qualquer desculpa para dar a volta com o carro.
— Merda, eu cometi um erro?
Não, você fez a coisa certa.
Quanto mais se afastava de Lake, mais são se tornava. No momento em
que chegou à casa de seu pai, ele tinha apagado Lake da mente.
Sair do carro foi quase como se tivesse apertado um botão para formatar
sua memória.

Lake silenciosamente fechou a porta da frente, rezando para que pudesse


escapar para o quarto sem ser notada. Por favor, Deus, eu imploro, dentre
tantos dias, nesse especificamente eu não consigo nem…
— Lake, olha você aí!
— Ah. Oi, mãe. — Lake abraçou a mãe, que a agarrava com força.
— Para onde você foi ontem? Como foi sua primeira semana de volta à
escola? — Sua mãe falava a mil por hora.
— Ouvi dizer que você ia sair com amigos, então achei que não teria
problema se Adalyn e eu saíssemos também. — Lake teve de forçar um
sorriso. — A escola foi ótima.
Sua mãe sorriu largamente.
— Claro que não teria problema algum, querida. Fico feliz que sua
primeira semana tenha sido ótima. — Ela começou a olhá-la de cima a baixo.
— Lake, por que você precisa sempre estar com esses moletons e jeans
velhos? Eu sei que você tem muitas roupas.
— Eu acabei de…
— Isto me lembra; olha o que eu comprei para você! — A mãe a arrastou
para a sala e pegou sacolas ao lado do sofá. — Eu fui ao shopping esta
semana e tive que comprar isso para você.
Ótimo.
— Obrigada, mãe. Mal posso esperar para usar isso tudo. — O rosto de
Lake começou a ficar dolorido de fingir sorrir tanto.
— Bom, querida... Eu tenho que ir. John me deu um monte de tarefas.
Nos vemos à noite.
Não, não, não, não, não.
— Ah, você está indo embora? Já?
— Sim, me desculpa. Você sabe como John fica quando quer alguma
coisa.
Infelizmente, sei muito bem.
Sua mãe a beijou na bochecha.
— Até mais, querida. Eu te amo.
— Também te amo, mãe. — Infelizmente, Lake não precisava fingir isso.
Ela amava a mãe porque, no final das contas, ela era sua mãe.
Lake fechou os olhos com força e começou a orar novamente enquanto a
mãe saía pela porta da frente.
— Vem cá, caralho! — ela ouviu o homem gritar no outro quarto.
Corra. Corra enquanto pode.
— Eu disse “vem cá, caralho”! — Dessa vez, o grito foi mais alto.
Lake relutantemente se virou e se dirigiu para a cova. Você precisa fazer
isso. Você não tem escolha.
Ela entrou na sala e viu a enorme tela de TV passando futebol que, de
repente, foi pausada. Seus olhos se voltaram para a poltrona reclinável e para
o homem mais velho e sujo sentado.
— Você é retardada ou algo assim? Eu gritei por você duas vezes.
— D-desculpe, eu…
Ele começou a zombar dela.
— Uh-uh-uh-uh.
Ela ouviu risadinhas na porta e se virou, vendo Ashley.
— Pelo que entendi, você não voltou para casa ontem porque não queria
estar aqui enquanto sua mãe estivesse fora, então eu me certifiquei de que ela
passasse o dia todo fora hoje — ele disse.
Lake balançou a cabeça.
— Não, eu já tinha…
Ele se sentou em sua cadeira, prestes a se levantar.
— Não minta.
Lake assentiu, fechando a boca.
Ele apontou o dedo diretamente para ela, o rosto se tornando maligno.
— Sua mãe se foi, então agora você é minha. Limpe esta porra de casa de
cima a baixo e faça o que um lixo vindo de um trailer faz de melhor.
Economiza um pouco da porra do meu dinheiro que sua mãe gosta de gastar.
— Ele se recostou na cadeira.
— Papai? — Ashley disse docemente.
Ele voltou novamente a falar com Lake.
— E eu ouvi o que você fez com Ashley na escola, então quando minha
casa estiver limpa, você vai fazer o trabalho de inglês dela.
Lake engoliu o pouco de orgulho que lhe restava.
— Sim, John.
Lake pegou as sacolas do sofá da sala, segurando firmemente as roupas que
sua mãe havia comprado para ela. Ela estava pingando de suor, seu corpo ia
ceder a qualquer segundo. A parte mais difícil daquele dia horrível não foi
limpar os enormes cinco quartos, cinco banheiros e um lavabo. Não, foi
segurar as lágrimas. Se John ou Ashley as vissem, eles a chamariam de
“bebezona do caralho” e dariam mais trabalho. No entanto, a verdadeira
razão pela qual ela se recusou a deixá-los vê-la chorando era porque tinha
certeza de que eles gostavam disso, e Lake não iria deixá-los ganhar mais
essa.
Ela começou a subir a enorme escadaria e seguiu pelo corredor à direita.
No começo, pensou que não conseguiria passar por todas as portas até o fim,
mas quando o fez, quase caiu no choro.
— Onde diabos você pensa que vai com isso? — Ashley veio por trás
dela e arrancou as sacolas de sua mão com tanta força, que Lake acabou
caindo de quatro no chão.
Não chore. Não chore.
— Garotas inúteis não podem usar vestidos bonitos. Você sabe disso. —
Ashley começou a se afastar, gargalhando. — E não se esqueça do meu
trabalho, piranha.
Lake viu Ashley desaparecer no corredor, seus olhos finalmente
começando a lacrimejar. Ela olhou para o teto e viu a corda branca
pendurada. Parecia estar a um milhão de quilômetros de distância. Poderia
muito bem estar presa na lua, porque Lake não tinha mais forças.
Uma lágrima rolou por sua bochecha. Levante-se. Ela usou as costas da
mão para enxugar a lágrima do rosto. Levante-se. Agora.
Lake usou toda a força que restava em seu corpo para se erguer do chão.
Dessa vez, quando olhou para a corda pendurada no teto, não estava mais na
lua, mas na Terra. Ela sabia que tinha apenas uma chance de pular e agarrá-
la; caso contrário, a corda se tornaria um pêndulo, e ela não seria capaz de
ficar de pé por tempo suficiente para parar.
Ela fechou os olhos e respirou fundo antes de pular e agarrar a corda com
força, abrindo o espaço no teto. Ela continuou a puxar a corda até que as
escadas reclináveis de madeira apareceram. Então ela rapidamente as
desdobrou.
Lake olhou para as escadas íngremes. Ela estava tão perto.
Assim que ela subiu o primeiro degrau, seus olhos se encheram de
lágrimas novamente. Sobe! Mais lágrimas caíram a cada passo que ela dava.
Sobe! Sobe! Sobe!
Antes que ela percebesse, chegou ao sótão. Suas lágrimas continuaram
fluindo enquanto rastejava em direção ao colchão simples no chão.
No momento em que seu corpo bateu na cama, ela estava morta de
cansaço...

Lake colocou macarrão nos dois pratos e depois adicionou molho


marinara por cima. Pegando os pratos, foi em direção à mesa e os colocou
na frente de John e Ashley.
— Já não era hora, porra. Eu pensei que levaria apenas cinco segundos
para cozinhar comida de lixo de trailer. Não é só isso que vocês podem
pagar? — John disse.
Sabendo que era uma pergunta retórica, Lake manteve a boca fechada,
não importa o quanto quisesse abri-la. Então começou a sair para terminar
suas tarefas, mesmo que o estômago estivesse roncando. Ela só podia comer
o que John e Ashley não conseguiam consumir.
Quando chegou perto da porta, sua mãe entrou com um grande saco de
comida para viagem.
Sua mãe caminhou até a mesa e colocou a bolsa.
— John, eu liguei e disse a você uma hora atrás que eu ia trazer jantar.
Ele deu um sorriso.
— Ashley não sabia e decidiu fazer o jantar. Eu não queria incomodar,
mas você sabe que eu definitivamente posso comer os dois.
— Ah, Ashley, que gentil da sua parte! E você teve tempo de limpar a
casa também. Obrigada.
O sorriso de Ashley se alargou.
— De nada.
— Querida, não vai se sentar? — Sua mãe acenou.
Lake caminhou em direção à mesa e se sentou. Ela observou John e
Ashley empurrando seus pratos de espaguete quase intocados para longe
enquanto pegavam a sacola para viagem.
— Lix... — John tossiu, se corrigindo e apontando para Lake. — Ela tem
algo que queria falar com você. Eu não concordei no começo, mas ela me
convenceu.
— O que é, querida? — Sua mãe se virou para olhá-la.
Os olhos de Lake foram para o rosto insano de John.
— Vá em frente, diga à sua mãe. — Sua voz não combinava com a
aparência de seu rosto, mas isso era para o benefício de sua mãe.
— Bem, eu estava me perguntando se estaria tudo bem se eu pudesse
mudar meu quarto para o sótão.
— Por que você faria isso? — A mãe parecia confusa.
Lake deu de ombros.
— Não sei. Eu apenas pensei que seria muito legal.
— Como você vai conseguir botar alguma mobília lá em cima?
— Vou pagar cem dólares ao jardineiro para cuidar disso. Ela só precisa
de um colchão e uma mesa lá em cima. Pense nisso. Nós poderíamos
transformar o quarto dela em uma academia, e eu sei que você está querendo
que eu volte a ficar em forma — John disse enquanto batia no estômago.
— Bem, você tem certeza, querida?
Ela colocou um sorriso no rosto.
— Sim, mãe. Tenho certeza.
Sua mãe pegou o conteúdo restante na bolsa e entregou a Lake.
— Olha o que eu trouxe, o seu favorito!
O estômago de Lake roncou de felicidade por finalmente ser alimentada,
ainda por cima com sua comida favorita.
— Acho que ela não está mais com tanta fome. Você deveria ter visto o
grande prato de espaguete que ela comeu. Ela não precisa engordar. — John
riu, fingindo que queria fazer a última parte soar como uma piada.
— Tão cheia que você não consegue nem comer um pouquinho? — Sua
mãe sorriu.
Os olhos de Lake foram novamente para John, e seu rosto disse tudo:
“Não se atreva, porra.”
— Sim, estou cheia. Talvez eu aqueça mais tarde, depois de terminar
minha lição de casa.
Mais uma vez, Lake começou a sair da cozinha com nada além da
barriga roncando...
Lake finalmente acordou quando percebeu que o som de seu estômago
roncando não era parte de um sonho. Eu gostaria que fosse apenas um sonho.
Infelizmente, era a realidade.
Quando sentou na cama, não tinha ideia de quanto tempo passou apagada,
podia apenas olhar para a enorme janela para o céu escuro. Sabia que seu
corpo ainda estava dolorido, e a remela em seus olhos lhe dizia que ela tinha
adormecido chorando.
Ela enfiou a mão no bolso da calça jeans e tirou o celular para verificar a
hora, descobrindo que tinha dormido até o meio da noite. Ficou feliz com
isso, porque a irmã postiça e malvada e o velho revoltante estariam
dormindo.
Lake desceu as escadas e demorou no banho em um dos banheiros de
hóspedes; em seguida vestiu roupas limpas. Ela até preparou uma boa
refeição quente. Quando terminou, voltou para seu quarto para fazer o
trabalho de escola de Ashley.
Ela acendeu a luz para iluminar seu novo quarto, que na verdade era
melhor do que parecia. Claro, estava um pouco vazio, mas pelo menos era
seguro lá em cima. Não havia como alguém subir aquelas escadas; como
resultado, pelo menos ela poderia dormir profundamente.
Era um pouco escuro à noite, mas o quarto era realmente legal com sua
forma triangular. Cada centímetro era de madeira, do chão ao teto, e as vigas
de madeira expostas davam um toque agradável. Ela tinha seu colchão, uma
cadeira e uma pequena escrivaninha, que continha um computador antigo.
Ela também tinha um velho baú de couro onde guardava suas roupas. Lake
tinha certeza de que o baú tinha vindo com a casa. Mas, apesar de tudo, tinha
tudo o que ela precisava para dois dias de vida. Além disso, um monte de
gente estava transformando sótãos em quartos. É uma coisa muito hipster de
se fazer, não é?
Lake se sentou à mesa e ligou o computador. Levaria cinco minutos para
ele inicializar totalmente, mas eventualmente chegaria lá. O trabalho ia ser
um saco de escrever; no entanto, a melhor parte era que só precisava ter
certeza de que seria uma tarefa nota C, porque um C para Ashley era como
tirar um A.
Ainda esperando o computador inicializar completamente, ela não pôde
deixar de pensar em como o dia tinha de alguma forma conseguido ser pior
do que o anterior. John tinha dado a ela o dobro da carga de trabalho do que o
normal, e seu corpo mal aguentou fisicamente, tampouco sua mente. Fazia
um bom tempo que Lake não chorava ou reagia assim, e a única coisa que
queria culpar era o fato de que John a havia feito trabalhar até morrer de
cansada. Nem pense nisso. Ela não queria acreditar que possivelmente teve
um colapso mental por causa de Vincent.
Lake fechou os olhos com força, tentando afastar os pensamentos de
Vincent. Ela estava determinada a considerá-lo morto. Seria o fim de tudo o
que eles tiveram em menos de vinte e quatro horas.
Só mais seis meses...
O fim de seus problemas chegaria em junho, quando ela finalmente
pudesse se formar. Então ninguém – nem John, Ashley, ou mesmo a máfia –
poderia possuí-la. Lake finalmente seria uma mulher livre. Ela estava
determinada a não deixar ninguém mudar isso.
Por fim, Lake podia ver seu fim à vista, e nada, nada iria ficar entre ela e
sua liberdade.
Lake derramou uma lágrima feliz. Ela já podia ouvir os sinos da vitória
tocando.
DING, DONG. DING, DONG…
Os próximos meses pareceram quase como se alguém estivesse folheando as
páginas de um livro, uma por uma até o fim.
Cada Capítulo se tornou um mês. Então, antes que eles percebessem, seis
capítulos se passaram e, finalmente, chegou o mês de junho.
No entanto, a história de Vincent e Lake estava apenas começando.
Lake tamborilou o dedo na mesa enquanto olhava para o relógio.
— Terra para Lake, você está ouvindo? — Adalyn estalou os dedos na
frente dela.
— O quê? — Ela virou a cabeça para longe do relógio, mas logo voltou a
olhar para ele.
— Você sabe que ainda tem uma hora inteira, certo? E precisamos
discutir nossos planos para este fim de semana.
Quando Lake virou a cabeça de novo, manteve o foco em Adalyn.
— Ok. Desculpa. Então, quais são os planos para este fim de semana, os
quais eu tenho certeza que não terei voz?
— Ah, Lake, você me conhece muito bem. Então, amanhã nós temos
nossa formatura, é claro! — Adalyn começou a bater palmas com um sorriso
cafona no rosto. — Então vamos ver a formatura de Vincent e seguimos para
a festa de Nero. Ok, foi uma ótima conversa, tudo decidido. — A última frase
saiu rápida em uma tentativa de distrair Lake de suas palavras.
— Sim, não e não.
— Sério, Lake? O que diabos aconteceu entre você e Vincent? E não me
diga “nada” pela milionésima vez. Eu sei que algo aconteceu.
Demos uns amassos.
— Adalyn, eu te disse que não aconteceu nada. A razão pela qual eu não
quero assistir a formatura dele é porque vai ser difícil o suficiente ir à nossa.
Eu também não quero ir à festa de Nero porque nem conheço ele ou qualquer
outra pessoa que vai estar lá. Aliás, quando foi a última vez que fui a uma
festa?
— Eu vou estar lá, e é exatamente por isso que temos que ir. Não fomos a
nenhuma festa do tipo, e esta é a nossa última chance de ir a uma juntas. —
Adalyn fez uma careta.
Ugh!
— Vou pensar. — Lake viu Adalyn sorrir antes de voltar a olhar para o
relógio novamente.
Sua amiga começou a fazê-la se sentir culpada assim que recebeu sua
carta de admissão para a universidade, a duas horas de distância. Claro, havia
uma faculdade em Kansas City, mas ela havia decidido muito tempo antes
que não iria para lá. Escolher a segunda universidade mais próxima deixou
todos felizes e, mais importante, Lake ficou feliz.
Estar a apenas duas horas de distância lhe daria a chance de visitar a mãe
sem nunca mais ter de ficar na casa de John. Além disso, havia o bônus de
poder ver o pai e Adalyn sempre que quisesse. Ah, e estar longe o suficiente
da máfia.
Mas Adalyn estava tentando forçá-la a ir à formatura de Vincent. Ela
tinha certeza de que seria um pesadelo absoluto, já que as formaturas
demoravam um milhão de anos e eram absolutamente chatas. Ela fingiu que o
fato de que não tinha visto Vincent desde que saiu de seu carro não teve um
papel importante na razão de não querer vê-lo nem ir à festa de Nero. Lake
sabia, sem dúvida, que Vincent estaria lá, e o último lugar que ela queria vê-
lo era em uma festa.
Ela se saíra bem em fingir que Vincent havia morrido, escolhendo apenas
se lembrar dos momentos com ele até o dia em que a beijou. Na verdade,
Lake estava com receio de vê-lo novamente, e por isso planejava evitar estar
em sua presença para sempre. Ok, agora pare de pensar nele já.
Lake voltou sua atenção para o relógio, incapaz de acreditar que era real.
A qualquer segundo, ela ia ouvir...
TINING.
Era isso, o sino da vitória que estava esperando. Ela tinha imaginado que
o som seria muito melhor do que isso. Mas quem se importa?
— Então, Lake, como é ser oficialmente uma graduada do ensino médio?
— Adalyn perguntou, levantando-se de sua mesa.
Sorrindo, Lake se levantou.
— Bom para cacete
Lake estava determinada que seria um novo começo e um felizes para
sempre a partir daí.
Não tem como se apressar, caralho?
Vincent esperou no corredor da sala de artes com Amo e Chloe. Os dois
estavam discutindo sobre só Deus sabe o quê.
— Que lerdeza da porra — Vincent murmurou, sabendo que eles não
iriam ouvi-lo.
Ele começou a caminhar pelo corredor, imaginando como raios um
semestre poderia mudar tudo. Durante todo o ensino médio, tinha comido
quase todas as garotas na Legacy Prep, mas agora não comia uma havia
meses. Vincent tinha uma garota para culpar por tudo isso também: Elle
Buchanan.
Honestamente, era uma história totalmente diferente, mas a versão
resumida era que ela estava no lugar errado na hora errada. Então o chefe deu
a Nero a tarefa de descobrir o que ela sabia. Ao longo do processo, Nero
precisou da ajuda dele e de Amo, e para sorte deles, Elle veio com uma
melhor amiga: Chloe Masters. Eles descobriram que as duas amigas sofriam
um bullying insano na escola, e em vez de comer todas as garotas em seus
últimos meses no ensino médio, ele estava fazendo com que pagassem por
cada merda que tinham feito com as duas garotas. Ele admitia que tinha
gostado, e muito, de fazer aquilo.
Não era como se suas bolas estivessem azuis; ele simplesmente começou
a comer orgulhosamente meninas de escolas públicas em vez do que fazia
antes. Apesar disso, ele definitivamente não estava se divertindo como
costumava. Vincent trepou cada vez mais, com mais força, e ainda estava de
pau duro. Ele começou a comer cada vez mais garotas, tentando saciar seu
apetite, mas o cansaço vinha antes da satisfação. Então começou a preferir
comer todas por trás, para não ter que olhar para o rosto delas. Decidiu culpar
Elle por arruinar todas as garotas do ensino médio para ele. Uma coisa era
certa, seu último semestre havia lhe ensinado algo: garotas do ensino médio
são umas putas do caralho.
Vincent entrou na sala de artes e a encontrou vazia. Olhando para a porta
nos fundos, começou a sorrir. Ele silenciosamente começou a caminhar em
direção a ela, ouvindo ruídos vindos do outro lado da porta. Encostando em
uma mesa e de frente para a porta, ele decidiu esperar.
Não demorou muito para que a porta se abrisse.
— Estou chateado por não ter sido convidado — disse Vincent,
observando Nero sair do armário de material de arte fechando as calças
enquanto Elle abotoava a camisa.
A garota loira-quase-ruiva tentou correr de volta para dentro do armário,
mas Nero pegou sua mão e a puxou para si.
Vincent piscou para ela.
— Não precisa ficar tímida, querida.
Elle cobriu o rosto com a mão.
— Eu não acredito que você me convenceu disso, Nero. Não vou deixar
você fazer isso de novo.
— Juro por Deus, Vincent, vou te recompensar por esse timing cagado —
disse Nero.
Ele começou a rir.
— Fala sério, cara; é o último dia de aula. Vocês não vão ver aquele
armário novamente. Há um milhão de outros armários onde vocês dois
podem...
Nero ergueu a mão.
— Vincent, cale a boca. Agora.
— Eu vou se vocês dois terminarem, para que eu possa dar o fora daqui.
— Ai, meu Deus — Elle sussurrou no ombro de Nero enquanto ele a
puxava.
— Não se preocupe, querida; você não foi a primeira a usar o armário. Eu
estive lá no primeiro ano.
— Você não está ajudando — Nero sibilou.
Vincent riu, decidindo parar de pegar no pé de Elle. Ele não tinha
escolha. Se continuasse, Nero ia merendar ele na porrada.
Todos tinham gostado dela e de Chloe. Cacete, por causa delas, ele, Nero
e Amo se tornaram soldados. Ser um soldado da máfia Caruso foi a melhor e
última coisa a mudar naquele semestre.
Quando chegaram ao final do corredor, Elle correu para o lado de Chloe.
Vincent observou as duas garotas rirem lado a lado quando começaram a
caminhar em direção ao estacionamento da escola. Ele sabia que Nero e Amo
também não conseguiam parar de olhar para as duas. As meninas tinham
percorrido um longo caminho, e todos se sentiam responsáveis por elas. O
que diabos tá rolando com você? Parece um frutinha.
Ele interrompeu seu momento de contemplação.
— Vocês todos precisam vir para a formatura da minha irmã amanhã.
— Nem fodendo. Eu não vou ficar duas horas sem fazer nada — Amo
retrucou.
Nero manteve os olhos em Elle.
— Por mais que eu também não queira ir, todos nós temos que ir. Ela é
da família.
— Isso me faz lembrar, a amiga de Adalyn vai à festa de Nero? — Amo
perguntou a Vincent.
— Não sei. Talvez. — Ele encolheu os ombros.
— Porra, espero que aquele rabo maravilhoso esteja lá. Qual é o nome
dela mesmo?
As mãos de Vincent queriam rasgar sua garganta, embora ele não tivesse
sentimentos por ela.
— Lake. — Ele não estava preparado para o fato de que sua resposta ia
sair como um rosnado.
Lake examinou as arquibancadas ao redor de todo o ginásio. Onde diabos ela
está? Quando seus olhos encontraram os do pai, ele lhe deu um sorriso
reconfortante. Ela tentou desesperadamente não olhar para os capangas ao
lado dele, mas toda a horda de Carusos ocupava metade da droga das
arquibancadas daquele lado. Ela sabia disso porque não havia nada além de
um mar de ternos pretos.
Ela olhou para o telefone novamente para ver se tinha alguma mensagem.
Nada. Lake entrou em suas mensagens e digitou uma.
Cadê você?
Quando levantou a cabeça e voltou a olhar o homem falando no palco,
precisou afastar a borla que a atingiu no rosto. O homem estava prestes a
chamar os formandos pelos nomes a qualquer segundo, e isso estava
deixando Lake ainda mais nervosa. Ela realmente desejava que os assentos
não estivessem em ordem alfabética, para que ela e Adalyn pudessem se
sentar juntas.
Lake começou a se sentir quase deslocada enquanto olhava ao redor. Eu
nunca imaginei que ginásios de ensino médio como esse existiam, pensei que
fosse só na faculdade.
A cerimônia de formatura do ensino médio sempre foi realizada no
Legacy Prep High por questões de orçamento. As escolas públicas receberam
um local gratuito para realizar a cerimônia, e a Legacy Prep economizou
dinheiro ao fazer tudo em seu ginásio. O sistema escolar realmente sabe
como dar tudo de si…
Examinando as arquibancadas novamente, passou os olhos sobre o mar
negro mais uma vez, mas dessa vez seu olhar foi capturado por um par de
olhos azuis-claros que ela não via há seis meses.
Vincent parecia diferente, como naquele momento em que ele arregaçou
as mangas na Poison. Vincent tinha de alguma forma ficado mais bonito,
mais maduro, e ela não conseguia identificar o que o fazia parecer assim.
Seu corpo começou a responder a ele novamente enquanto seu olhar a
manteve prisioneira. Ela começou a desejar estar mais perto dele para ver
suas mudanças com mais detalhes.
BUZZZ.
Lake quase pulou da cadeira quando sua mão começou a vibrar. Ela não
achava que poderia ficar mais envergonhada, ou perturbada, por causa desse
assunto.
Por que, Deus? Por que você o fez tão perfeito? Ela sentiu como se toda
a coisa de ele ter morrido estivesse seriamente sendo jogada no lixo.
Olhando para o telefone, viu a mensagem nova.
John está passando mal. Sinto muito, querida. Eu vou te recompensar depois. Eu te amo.
Lake apertou o telefone com toda a força que pôde, tentando não chorar.
Ela soube quando sua mãe não apareceu nos primeiros cinco minutos que ela
não viria. Lake tinha a sensação de que era tudo culpa de John. Ele não tinha
nenhuma razão para estar lá, já que Ashley era mais nova, e com certeza não
iria ver sua enteada se formar.
Lake apertou o botão para responder.
Está bem. Eu também te amo, mãe.
Parecia que não importava o que acontecesse, Lake não podia evitar o
fato de que a amava. Sua mãe era da família. Não havia o que fazer.
Assim que ouviu o primeiro nome sendo chamado, ela guardou o celular.
À medida que os nomes iam passando, ela não conseguia deixar de pensar em
como John conseguira arruinar um dos momentos mais monumentais da sua
vida. De qualquer forma, decidiu tentar tirar isso da cabeça enquanto sua
melhor amiga em todo o mundo esperava nos degraus para ser chamada em
seguida. Lake já estava preparado para bater palmas e aplaudir.
— Adalyn Ricci.
Eba — espera, é o quê…?
A atenção de Lake foi atraída pelos homens de preto nas arquibancadas.
Eles estavam gritando, batendo palmas e assobiando tão alto, que ela pensou
que seus tímpanos fossem estourar. Ela não pôde deixar de rir dos capangas
por fazerem tal cena e bater palmas enquanto Adalyn pegava seu diploma.
Não demorou muito para Lake se encontrar esperando nos degraus para
que seu nome fosse chamado. Ela não estava mais tão nervosa. Seu pai era o
único que ia prestar atenção nela, então o nervosismo finalmente tinha ido
embora.
O homem falou ao microfone:
— Lake…
Ela deu o primeiro passo para o palco.
— Turner.
Chocada, Lake diminuiu a velocidade da caminhada quando ouviu outro
rugido vindo dos caras de terno, a tal ponto que precisou se lembrar que
deveria continuar andando.
Quando ela pegou o diploma, botou um sorriso no rosto para tirar a foto e
logo voltou com a expressão de confusão. Por que eles fizeram isso por mim?
Caminhando para o outro lado do palco, ela enfim conseguiu ver os
homens que estavam gritando por ela. Todos estavam de pé, e todos estavam
batendo palmas. Um sorriso começou a brotar em seus lábios enquanto
observava alguns deles baterem no ombro de seu pai, dando os parabéns.
Quando ela voltou ao lugar, percebeu que tinha esquecido completamente
que alguém importante estava faltando naquele momento.
Felizmente, a cerimônia não durou muito mais. Antes que Lake
percebesse, era sua vez de se sentar nas arquibancadas. No dia anterior, não
estava no clima, mas depois de ver todos torcendo por ela... Depois que todos
os outros abraçaram seus pais, Adalyn começou a conduzi-la até o meio das
arquibancadas. No caminho, as duas viram os homens as cumprimentando
com gestos de cabeça. Era a maneira deles de parabenizá-las. Porém um
desses gestos a fez congelar no lugar. Ela sabia exatamente quem era o
homem quando encontrou seus olhos de um tom frio de azul. Não havia
nenhuma dúvida sobre isso; ele era o chefe. Dante Caruso.
O homem tinha uma postura, uma vibração de não-tente-me-foder, mas
era elegante ao mesmo tempo. Ele era assustadoramente sombrio, mas ela
pensou que ele era muito bonito para um homem mais velho.
Lake rapidamente balançou a cabeça também, mas não por educação.
Não. Foi porque levar uma surra no dia da formatura seria realmente uma
droga.
Espremendo-se no meio da multidão, Adalyn finalmente parou na frente
de uma garota que quase tirou o fôlego de Lake. A garota era linda de morrer,
com cabelos dourados brilhantes, parecia um anjo ou uma deusa. Oh, meu
Deus, ela é como a versão feminina de Vincent.
— Parabéns, Adalyn! — A linda garota se levantou para dar um abraço
na amiga. Ela era alta, usava um vestido azul-claro que mostrava seu corpo
perfeito. Lake pensou que ela ia ficar cega a qualquer segundo por sua beleza.
— Obrigada — Adalyn respondeu, abraçando-a de volta. Em seguida, se
virou para Lake. — Lake, esta é a irmã de Nero…
— Oi, meu nome é Maria. Parabéns! — Ela puxou Lake para um abraço
também.
Jesus, ela é uma pessoa bacana também? Lake a abraçou de volta.
— Obrigada.
— Maria, quando você vai aprender que as pessoas não gostam de
abraçar? — uma voz masculina mais jovem disse.
— Desculpa, eu tenho tentado lembrar disso. — Maria se afastou.
Lake riu.
— Não, está tudo bem. Não deixe de ser bacana assim.
Todos ficaram quietos ao redor dela e começaram a encarar Lake.
A voz do jovem retornou.
— Ela disse bacana? Ninguém nunca chamou um Ca...
Maria bateu no ombro dele.
— Este é meu irmão mais novo, Leo, que gosta de me encher o saco.
Leo estendeu a mão.
— Prazer em conhecê-la, Lake.
De quem diabos essas pessoas descendem?
O menino louro já era encantador e bonito demais para sua idade. Ela
imaginou que ele estava no início do ensino médio, mas definitivamente era
muito mais bonito que os alunos do último ano de sua escola.
Lake sacudiu a mão de volta.
— Igualmente, Leo.
Todos eles rapidamente se sentaram quando a segunda cerimônia
começou. Lake ficou aliviada com a distração, porque não entendeu o que
dissera para fazer todos ficarem boquiabertos daquele jeito.
Com o canto do olho, Lake pensou que alguém ainda estava olhando para
ela. Estupidamente, olhou para a fila logo atrás e viu um homem que
realmente desejava não ter visto.
Virou rapidamente a cabeça enquanto calafrios se espalhavam por seu
corpo. Porra, porra, porra, olha aquele cara. Ela não sabia quem ele era nem
quis saber. Lake ia manter a cabeça virada para frente; sob nenhuma
circunstância queria ver seus olhos insanos novamente. Surpreendentemente,
não se atreveu a olhar para trás durante todo o início da cerimônia.
— Eu preciso ir ao banheiro — Maria sussurrou na direção de Adalyn e
Lake.
Quando Lake afastou as pernas junto de Adalyn para ela passar, viu
Maria se virar e sussurrar para o cara atrás dela, e, caramba, foi exatamente
com o cara que a assustou.
Quando Maria se levantou e começou a se espremer silenciosamente
entre as pessoas, Lake viu dois caras começarem a ir atrás dela. Um deles era
o cara assustador que a encarou.
Oh, meu Deus, Maria realmente tem guarda-costas?
Lake estava realmente começando a sentir que havia algo que não sabia,
então começou a refletir se uma garota realmente precisava de um guarda-
costas.
Pfff! Não, isso é loucura. Aposto que eles nem vão voltar com ela.
Se o fizessem, significava que eram seus guarda-costas. Mas eles não
são.
Esse pensamento não impediu Lake de se sentar na beirada da cadeira e
olhar para a porta por onde Maria tinha acabado de sair.
Abrindo a pequena bolsa, ela pegou seu batom Angel favorito. Olhando no
espelho, aplicou sobre os lábios carnudos, em seguida esfregou-os. Feliz com
o resultado, guardou de volta o batom.
Passou os dedos pelos cachos, dando mais tempo para as pernas se
alongarem. Aposto que ele quer terminar o cigarro, de qualquer forma. Ela
riu, pensando nele acendendo um cigarro pela metade antes de sair pela porta.
Mexeu no cabelo por mais um minuto e decidiu que era hora de sair antes
que o outro derrubasse a porta do banheiro feminino.
Ela pegou sua bolsa, em seguida caminhou rumo à saída do banheiro e
abriu a porta com tudo.
— Merda! Puta que pariu... — Um homem começou a murmurar para si
mesmo, diminuindo o tom dos xingamentos.
Ela rapidamente largou a bolsa e tocou no braço do cara, que estava com
a mão na lateral de seu rosto.
— Eu sinto muito. Você está bem? Eu esqueci completamente que essas
portas abrem desse jeito.
Quando ouviu um riso abafado, ela enxotou o guarda-costas para que
fosse dar risada em outro lugar.
— Sim, sim, estou bem — ele disse isso como se estivesse tentando
enxotá-la também.
Droga, eu bati nele com muita força.
— Você tem certeza de que está bem? Vem cá, deixa eu dar uma olhada.
— Ela agarrou seu pulso com a outra mão para poder avaliar a extensão do
dano que havia feito no rosto do homem.
— Eu já disse… — ele começou asperamente e tirou a mão do rosto para
olhar para quem quase o tinha nocauteado. Assim que olhou para ela, o
homem perdeu a linha de pensamento. Levou um momento antes que
conseguisse limpar a garganta e mudar o tom. — Estou bem, de verdade. —
Ele sorriu para ela.
Ela olhou para ele, seus olhos mostrando impotência e relutância em se
afastar. Vivia rodeada de inúmeros homens bonitos desde que nasceu, mas
ele era um tipo diferente de bonito. Ele tinha cabelos castanho-aloirados que
eram cortados quase rentes ao couro cabeludo e uma barba aparada. Os olhos,
porém, eram o que ela não conseguia parar de olhar. Pareciam ouro líquido.
Sentindo seu braço forte sob suas mãos, ela percebeu que seu corpo
definitivamente não era nada mal também.
Oh, Deus. Ela rapidamente afastou as mãos dele, tentando não sorrir de
vergonha por tocá-lo por mais tempo do que deveria.
Finalmente conseguiu desviar o olhar.
— E-eu sinto muito. Eu me sinto péssima por ter te batido assim.
Eu estou gaguejando? Ficar nervosa na frente de homens era algo que
nunca acontecia.
— Está tudo bem. Foi minha culpa. Eu costumo ficar mais longe da
porta, mas minha cabeça estava em outro lugar.
Ela sorriu de volta para ele. Sentiu-se instantaneamente melhor ao ouvir
seu pedido de desculpas genuíno.
— Ainda não deixou marca, espero que não fique roxo.
— Se isso acontecer, não seria o primeiro que ganhei. — Ele começou a
se inclinar para o chão. — Ah, deixe-me pegar isso para você.
Ela o viu pegar sua bolsa do chão e sentiu seu olhar nos novos sapatos
nude que ela havia tirado da caixa naquela manhã. Seu corpo formigava
levemente quando os olhos dele a escanearam de baixo para cima. Obrigada,
Christian Louboutin.
Ele estendeu a bolsa, e quando ela a agarrou, notou que a mão dele cobria
o acessório todo, a obrigando a tocar nela.
— Obrigada. — Sua mão também começou a formigar quando a afastou
da dele.
— Não há de quê…
Ela colocou o cabelo dourado atrás da orelha, sorrindo.
— Maria.
Suas cabeças se viraram quando as portas de vidro se abriram em um
baque.
Aqui vamos nós, ela pensou enquanto o homem que passava rapidamente
diminuía a distância entre eles.
— Esse é meu irmão. — Ela viu algo brilhar nos olhos dourados do
homem bonito.
— Lucca Caruso. — Seu irmão estendeu a mão.
— Kayne Evans. — Ele pegou a mão de Lucca, apertando-a. — Eu dou
aula de inglês aqui.
Ele é um professor? Por que eu nunca tive professores com essa
aparência?
Maria olhou para suas mãos. O aperto de Kayne combinava com o de
Lucca; além disso, ele apertava sua mão enquanto olhava Lucca diretamente
nos olhos. Ela notou que isso estava realmente começando a irritar Lucca,
considerando que poucos homens podiam fazer isso, menos ainda no caso de
professores de inglês.
Lucca finalmente soltou sua mão.
— Inglês, é? Você não parece fazer o tipo de professor.
— E você não parece do tipo que me ouviria quando eu dissesse que não
é permitido fumar na escola — disse Kayne.
Oh, não. Maria tentou se preparar.
Lucca enfiou a mão no bolso e tirou o maço de cigarros. Pegando um, ele
o colocou entre os lábios e começou a falar enquanto mantinha o cigarro na
boca.
— Considerando que eu nunca escutei anos atrás, quando eu estava
aqui… — Ele abriu seu Zippo e acendeu a ponta antes de dar uma longa e
profunda tragada, para em seguida, soprar a fumaça, certificando-se de que
atingiria Kayne no rosto. — Eu diria que você tá certo, profe.
— Bem, que bom que definimos nossos papéis aqui. Agora, se você me
dá licença, meus alunos estão prestes a se formar. — Kayne então sorriu para
Maria. — Foi um prazer conhecê-la, Maria.
— Igualmente. — Maria tentou evitar corar e olhar para o ouro derretido
de seus olhos.
— Lucca — Kayne disse enquanto passava por ele.
— Kayne — Lucca respondeu enquanto deixava cair as cinzas no chão,
pisando em cima.
Bem, poderia ter sido pior, ela pensou enquanto observava Kayne
andando pelo corredor. Porra, até a forma como ele caminhava é sexy de
alguma forma.
— Que porra foi essa, Sal? — Lucca rugiu quando Sal voltou ao virar a
esquina.
— Desculpa, ela sentou a porta na cara do homem. Eu não conseguia
parar de rir.
Enquanto Maria fechava os olhos, sentindo-se mal novamente, Sal
começou a rir mais uma vez, claramente repassando em seus pensamentos o
que havia acontecido.
Lucca passou o braço em torno do de sua irmã, os levando de volta para o
ginásio.
— Eu já não te falei sobre a importância de se bater com mais força?

Lake observou Maria passar pela porta novamente. Eu sabia. Um segundo


depois desse pensamento, os dois homens entraram pela porta, ficando logo
atrás dela. Puta merda, eles são guarda-costas.
Um milhão de pensamentos passaram por sua cabeça enquanto os
observava subir as arquibancadas. Ela não tinha ideia de quem estava sentado
por perto; Lake só sabia que não queria se sentar ao lado dela. Claramente,
qualquer um que precise de guarda-costas deve ser um alvo. Eu não quero
estar ao lado de uma droga de um alvo.
— Prepare-se para gritar. O próximo é Nero — sussurrou Adalyn para
ela.
Lake engoliu em seco ao pensar em Maria, sentindo como se a qualquer
segundo tiros pudessem ser disparados em sua direção. Ela olhou ao redor,
vendo todos se preparando para pular para cima e para baixo, e então ela
percebeu que eles estavam cercados pelo mar da multidão. Seja lá quem a
garota fosse, era muito importante.
Ela ouviu o homem voltar pelo microfone.
— Nero…
Lake fez menção de se levantar.
— Caruso.
Você só pode estar brincando com a minha cara. Ela piscou
repetidamente enquanto ouvia as palmas e gritos. Não conseguia ver nada na
sua frente, mal dava conta nem de se levantar.
Lake olhou para a loira alta que era praticamente da realeza. Tudo
finalmente fez sentido, e ela sabia exatamente quem era Maria. A princesa da
máfia de Kansas City.
Lake sentou-se desconfortavelmente nas arquibancadas, incapaz de parar de
se mexer. Adalyn ia ouvir poucas e boas quando estivessem sozinhas, já que
ela deliberadamente não disse quem eles eram. Ela deve estar me zoando se
acha que vou à festa de Nero.
Não demorou muito para que todos se levantassem para gritar pelo
grandalhão, Amo. Só faltava agora a gritaria por Vincent, e então ela poderia
dar o fora.
Lake não conseguia tirar os olhos de Vincent enquanto não chegava a
hora de seu nome ser chamado. Ela só queria estar mais perto do palco. Ele
estava tão diferente de antes, e ela queria desesperadamente vê-lo de perto.
Pare!
Os joelhos de Lake estavam balançando para cima e para baixo naquele
momento. Ela precisava sair do espaço confinado ao lado de todos aqueles
caras de terno. Mas também era de Vincent que ela precisava se afastar. Se
continuasse a observá-lo por muito mais tempo, com certeza perderia a porra
de suas defesas.
— Vincent Vitale — o cara falou ao microfone.
Lake ficou de pé, batendo palmas, enquanto os homens começavam a
fazer barulho. O som de mais assobios e gritos desviou sua atenção de
Vincent. Ela olhou ao redor do ginásio e viu inúmeras garotas berrando a
plenos pulmões, cada uma tentando gritar mais alto que a outra para chamar
sua atenção. Mas não era só elas; mulheres mais velhas até assobiavam e
gritavam também.
Incapaz de aguentar mais a tortura, Lake começou a se espremer entre os
homens e sair das arquibancadas. Ela tentou o seu melhor para sair
rapidamente do ginásio sem correr; no entanto, quando passou por uma mãe
loira com enormes peitos siliconados gritando e pulando por cima da sua
filha, ela correu.
Lake abriu as portas, deixando o ar fresco bater em seu rosto. Respirando
pesadamente, se sentou em um banco. Não tinha certeza por que estava sem
fôlego, mas decidiu culpar a fuga e não o fato de que poderia estar tendo um
ataque de pânico.
Ela começou a respirar fundo, tentando não imaginar todas aquelas
garotas entrando no cio depois de ouvir o nome de Vincent. Era difícil
compreender um único pensamento, já que tantos estavam voando em sua
cabeça.
Por que estavam agindo assim? Ele conhecia todas elas? Como ele as
conhecia? Por que eu me importo? Ai, meu D…
A cabeça de Lake se virou rapidamente em direção à entrada da escola
quando ouviu a porta sendo aberta. Ela respirou fundo rapidamente quando
voltou a olhar para frente.
Por favor, por favor, vá embora.
— Você se importa se eu me sentar? — uma voz sombria perguntou.
Lake engoliu em seco e encontrou o cara de olhar insano novamente. Sim,
me importo. Balançando a cabeça, ela se afastou o máximo que pôde no
banco. Olhando pelo canto dos olhos, o viu sentar e tirar um cigarro e um
isqueiro do bolso.
Ele rapidamente acendeu o cigarro com seu Zippo antes de dar uma longa
tragada.
— Por que você fugiu de lá?
Lake mordeu o lábio nervosamente.
— E-eu não fugi.
— Querida, eu realmente não tentaria negar se eu fosse a única garota
que estava correndo na direção oposta dele.
Merda.
Lake finalmente olhou para o sujeito, arrependendo-se imediatamente
quando viu o perigo nos olhos azul-esverdeados. Vendo-o tão de perto, ele
parecia muito diferente dos outros caras de terno. Cacete, ele nem estava
usando um termo. Estava vestido com calças escuras e uma camisa. A
propósito, ele não abotoou a camisa preta até o fim, era quase como se não
gostasse de usar as roupas. Além disso, tinha uma barba desalinhada e
cabelos desgrenhados que mantinha penteados para trás.
Finalmente, ela descobriu por que ele fez os pelos dos seus braços se
arrepiarem. Claro, ele era perigoso como os outros caras de terno, mas o
homem nem tentou esconder esse fato com ternos italianos caros e gravatas
como os outros. Homens da máfia eram bandidos com roupas de milionários,
todos exceto este. Ela só se perguntava exatamente quem ele era para ser
capaz de se safar daquele jeito. Eu provavelmente não quero saber.
Ela pensou em fugir dele também, mas achou melhor ficar quando
imaginou o que ele faria se ela ousasse.
Lake respirou fundo outra vez.
— Eu estava me sentindo claustrofóbica, só isso. — Apressadamente,
tentou desviar a atenção de si. — Você não quis ver a cerimônia até o fim?
— Nem fodendo. Eles têm sorte de eu ter visto isso tudo. Ele deu outra
tragada, em seguida deixou a fumaça escapar de seus lábios, sem se importar
se ia a atingir no rosto. — Agora, Lake, por que você realmente fugiu de lá?
Perdão?
— Eu te conheço? — Isso parecia soar melhor em sua cabeça.
— Talvez. — Ele deu um sorriso sinistro. — Lucca Caruso.
O subchefe.
Lake tentou evitar que seu queixo caísse no chão. Ela deveria saber quem
ele era, mas nunca teria pensado que alguém em um patamar tão alto - ainda
mais sendo filho de Dante - seria assim. Estava absolutamente claro por que
ele a fez gelar até os ossos.
— Então, você me conhece? — Lucca jogou a ponta do cigarro na
calçada. — Por que você nunca se aproximou da família?
Lake olhou para o colo dela, incapaz de mirá-lo. Claramente não havia
sentido em mentir.
— Hum, eu nunca quis. Eu não achei que faria diferença se eu me
aproximasse ou não.
— Por quê? — ele perguntou.
— Porque eu não sou importante. Meu pai é apenas um soldado e nunca
subiu de posto, mesmo depois de todos esses anos.
Lucca começou a rir dela.
— Você não sabe merda nenhuma, não é?
— Não, eu não quero saber porra nenhuma sobre a família — Lake
confessou. Ela realmente não gostava de ser ridicularizada, mas ver a ameaça
em seus olhos frios a fez desejar poder retirar o que disse.
Lucca se inclinou mais perto de seu rosto.
— Eu não preciso te lembrar quem eu sou, não é, querida?
Lake engoliu em seco, sentindo um nó na garganta, e balançou a cabeça
lentamente.
— Que bom. — Ele se inclinou para trás e tirou outro cigarro do bolso,
em seguida sacudiu seu Zippo, acendendo a ponta e prendendo a respiração.
— Então, você tem o chefe, que toma todas as decisões. Seu amigo e
confidente próximo e confiável é o consigliere. O subchefe é o segundo no
comando. Capos lideram uma equipe de soldados e, por último, você tem
associados, que não são membros da família, mas conhecidos de negócios.
Seu pai é e sempre será um soldado, e ele sabe disso desde o momento em
que se tornou um. Somente os homens italianos podem entrar para a máfia e
tomar a omerta. Aqueles que não são permanecerão soldados até morrerem.
— Lucca deu de ombros. — Isso é o que o Google diz, de qualquer maneira.
Lake pensou em suas palavras. Somente homens italianos podem entrar
para a máfia. Algo naquela “regra” começou a irritá-la, como se eles só
vissem as pessoas pela cor da pele e como se botar homem que não fosse
italiano na família fosse desonrar a máfia toda.
— Entendo — ela sussurrou. — Então não importa quão leal meu pai
tenha sido à sua família, ele nunca pode fazer parte oficialmente da família
porque, como é mesmo? Seu sobrenome é Turner, e não Caruso?
— Acho que você não entendeu, querida. — Lucca rapidamente agarrou
sua mandíbula para que ela o encarasse. — Você precisa pensar em que porra
de família estava presente quando seu nome foi chamado.
Naquele momento, Lake achou que estava olhando nos olhos de um
demônio. Enquanto ele a mantinha cativa, Lake começou a rezar para que ele
a libertasse, sem saber se ele o faria. Ela ultrapassou os limites com ele.
Afinal, aquele não era um homem comum; Lucca era possivelmente o
homem mais perigoso de toda a cidade de Kansas.
— Por que sua mãe não está aqui? — ele questionou.
— O-o marido dela está doente — ela conseguiu terminar a frase.
— Ele está com câncer?
Lake fechou os olhos, querendo chorar.
— Não.
Lucca finalmente a soltou.
— Talvez agora você possa entender um pouco o que a família significa
para nós. — Levantando-se, ele disse suas últimas palavras antes de ir
embora. — Mas é aquilo: por que isso me importaria, querida? Você e seu
pai são insignificantes para mim.
Lake não percebeu que ela estava prendendo a respiração até a porta
fechar e ele desaparecer. Ela conseguiu escapar do demônio com vida. Por
enquanto, na verdade…
Lake de alguma forma se viu sendo puxada pelas escadas até a porta da
frente.
— Eu não vou entrar lá, Adalyn! Você sabe quem mora aqui? — Ela
estava, de alguma forma, conseguindo gritar e sussurrar tudo isso ao mesmo
tempo.
— Sim. — Adalyn rapidamente ergueu os nós dos dedos para bater na
porta.
— Espere! — Lake rapidamente agarrou a mão dela. — Você me disse
que esta era uma festa de veteranos com muita bebida, não uma droga de uma
reunião do chefe da família criminosa de Kansas City! Vai por mim, essas
pessoas são loucas. Eu conheci um maluco hoje que só fez girar um isqueiro
— Lake tentou imitar o movimento com o pulso — e eu praticamente me
mij…
A porta da frente se abriu, e Nero apareceu.
Lake desejou que um buraco profundo e escuro pudesse se abrir e a
engolir e que ele não tivesse ouvido o que ela disse, mas o olhar divertido em
seu rosto lhe disse o contrário.
Adalyn tentou quebrar o silêncio constrangedor.
— Obrigada por nos convidar, Nero.
— De nada. — Nero sorriu enquanto abria mais a porta para elas
entrarem. — Prazer em finalmente conhecê-la apropriadamente, Lake.
Ela se esforçou para sorrir enquanto entravam na casa.
— O prazer é meu.
— Há um monte de pizza na cozinha, e não se preocupem, há veteranos
aqui também — Nero as informou enquanto saía pelo saguão, ainda sorrindo.
Ai, Deus.
Adalyn fez o possível para não rir.
— Bem, pelo menos isso foi melhor do que quando vocês se conheceram.
Ela realmente não sabia causar boas primeiras impressões. Felizmente,
Nero não era tão assustador quanto seu irmão mais velho, mas olhando para
seus olhos esmeralda, ela percebeu que ele só precisava de tempo para
mostrar seu lado perigoso.
— É, tá, você tem quinze minutos, lembra?
Adalyn baixou a voz.
— Sério, Lake, olhe para esta casa. Não podemos ver tudo em quinze
minutos.
Lake olhou ao redor para o enorme salão com uma grande escadaria. Não
havia como saber como era o resto da casa, e elas tinham acabado de entrar.
— Tudo bem, vinte. — À medida que avançava pela porta, não pôde
deixar de sentir como se tivesse sido levada para a cova dos leões.
Lake se distraiu facilmente com a casa extravagante. Este lugar é
definitivamente digno de um rei. A enorme cozinha era conectada à sala de
jantar, que se conectava à sala de estar, tornando-a ainda mais gigantesca,
com o teto abobadado. Havia um monte de gente lá, e ainda tinha espaço de
sobra.
— Estou tão feliz que vocês vieram! — Maria rapidamente deu um
abraço em cada uma. — Vem, vou apresentar meus amigos.
Lake seguiu Adalyn e Maria através das pessoas até o sofá na sala, que
era mais silenciosa e um pouco mais isolada do que o resto da casa. Ela notou
a loira-quase-ruiva que tinha visto naquela noite no Poison.
— Esta é a Elle. Elle, estas são Adalyn e Lake — Maria as apresentou.
— Oi. — Elle sorriu docemente, a voz combinando com sua aparência.
— E esta é a Chloe — Maria terminou, apontando para a garota de
cabelos escuros na ponta.
Chloe nervosamente sorriu de volta para elas.
— O-oi.
Lake não pôde deixar de notar as cicatrizes que marcavam o lado direito
do rosto de Chloe. Uma ficava alguns centímetros acima de sua sobrancelha e
ia até a bochecha, enquanto a outra seguia cerca de um centímetro acima e
abaixo de seus lábios. Lake quase podia ver a dor em seus olhos cinza
arregalados.
— Olá — Lake respondeu, e Chloe deixou seu cabelo preto cobrir o lado
direito do rosto. Ela instantaneamente se sentiu mal por olhar, mas não foram
as cicatrizes que a atraíram: foi como ela era bonita mesmo com as marcas.
— Você não era a garota que estava no Poison em janeiro? — Adalyn
perguntou.
Ela riu.
— Sim. Eu não acho que foi uma boa noite para ninguém.
Todas as garotas caíram na gargalhada. Lake e Adalyn sentaram-se no
enorme pufe de couro em frente ao sofá, sentindo-se à vontade para conversar
com as meninas.
— Você pegou o Nero de volta, hein? — Adalyn perguntou, querendo
mais fofocar do que falar.
Nero interrompeu e respondeu por ela.
— Foi preciso um pouco de persuasão, mas ela finalmente conseguiu.
— Sim, infelizmente, eu peguei — brincou Elle, e Nero se inclinou e
roçou os lábios sobre os dela.
— Qual pizza você quer? — Nero perguntou a Elle.
Lake virou a cabeça quando outra voz a cumprimentou, uma que ela não
ouvia há séculos.
Olhando para cima, ela viu o azul-bebê que de vez em quando aparecia
apenas em seus sonhos incontroláveis. Seus olhos o examinaram, absorvendo
todas as mudanças que tinha notado à distância. As feições de Vincent só
sofreram apenas pequenas mudanças; agora, ele se arrumava um pouco mais
imaculadamente, e suas roupas estavam um pouco mais impecáveis do que o
normal. No entanto, foram seus olhos que realmente mudaram. Ela podia ver
um homem diferente.
— Lake…? Lake? — As palavras interromperam seus pensamentos.
Hm? Lake piscou para ele, tentando se livrar do estupor.
— O quê?
— Qual pizza você quer?
Ela virou a cabeça, incapaz de olhar para Vincent e falar ao mesmo
tempo.
— Hum, nenhuma, obrigada. Eu não estou com fome. — Isso foi uma
mentira e tanto. Ela estava realmente morrendo de fome por não ter comido
muita coisa naquele dia.
— Pepperoni ou queijo? — Saiu como uma exigência dessa vez.
Lake o encarou novamente.
— Eu disse que não estou com fo…
— Adalyn acabou de dizer que você não comeu hoje — ele rosnou
baixinho.
— Elas são realmente sensíveis em relação à comida. — Elle riu,
tentando acalmar a situação. — É só escolher uma fatia.
Lake tinha esquecido que havia alguém por perto. Incrível.
Ela sorriu docemente para Vincent.
— Já que você nunca me deixa ter opções, escolhe. — Ela sabia que
Vincent entenderia que havia mais de um significado por trás disso.
Vincent estreitou os olhos antes de ir embora com Nero e Amo.
— O que Vincent fez depois da Poison, quando vocês foram para casa?
— Elle calmamente perguntou. — Nero me contou — acrescentou ela.
Roubou meu primeiro beijo, transou com outra garota e depois me levou
para casa, quando me disse que foi tudo um grande erro.
Lake sorriu.
— Aparentemente, ele queimou nossos vestidos.
— Por uma boa razão. — Vincent voltou, empurrando um prato para ela.
Lake o agarrou, olhando para as quatro enormes fatias de pizza de
pepperoni e muçarela e depois para o rosto sorridente de Vincent. Ela tinha
esquecido que ele também sabia jogar esse jogo.
Lake olhou ao redor, vendo Vincent entregar um prato a Adalyn, Nero
passou um para Elle e outro a Maria, e Amo colocou outro na frente de
Chloe. Algo lhe dizia que nenhuma das garotas tinha a opção de não comer;
todas pegaram sua primeira fatia de pizza.
Lake sentiu que não estava deslocada. Os caras começaram a conversar
entre si, o que permitiu que as meninas retomassem a conversa. Ela
continuava dizendo a si mesma para não olhar na direção de Vincent de vez
em quando. Merda, por que você olhou? Algumas vezes ela não obteve
sucesso.
Lake começou a notar que Chloe estava em silêncio. Depois de dar umas
risadinhas, ela sussurrou algo para Elle e então se levantou para ir embora.
Lake a observou caminhar até duas portas dos fundos e desaparecer.
Algo sobre Chloe a atraiu. Ela se sentiu quase responsável pela garota ter
ido embora.
Levantando-se, ela empurrou a pizza parcialmente comida para Vincent.
Eu venci. Rapidamente foi para as portas dos fundos que Chloe tinha acabado
de passar. Ao abri-las, Lake se surpreendeu com a beleza do quintal.
Era enorme, com muita grama verde, mas foi o jardim que chamou sua
atenção, havia um gazebo enfeitado com luzes brancas. Era impressionante.
— É tão lindo — disse Lake com admiração.
Chloe olhou para Lake e sorriu.
— S-sim...
Olhando para o rosto meio coberto de Chloe, seu coração doeu
levemente.
— Me desculpa. Eu não queria ter encarado você.
Chloe olhou para as mãos e começou a torcê-las.
— Tudo bem. Estou acostumada com isso.
Lake foi colocar a mão no ombro de Chloe, mas Chloe praticamente
pulou uns metros para trás.
— D-desculpe, eu tenho problema com germes. — Chloe agarrou o
ombro que ela quase tocou.
Ela ergueu as mãos.
— Eu que peço desculpas.
Lake finalmente entendeu por que Chloe chamou sua atenção. Embora
ela pudesse entender sua dor, Lake sabia que a dor por trás dos olhos de
Chloe era muito pior do que a dela. Nem em um milhão de anos eu gostaria
de conhecer seus pesadelos.
— Se você precisar de alguém para conversar, eu te escuto. Eu sei o que é
estar sozinha. — Lake fez menção de ir embora, para que Chloe pudesse ter
seu tempo sozinha, mas antes disso, se sentiu compelida a dizer outra coisa.
— Você não deveria esconder seu rosto. É lindo.
Chloe se viu no gazebo branco mais uma vez. Meses antes, ela estivera lá no
auge do inverno, quando havia neve e apenas uma promessa de flores. Ela
tinha achado lindo, mas agora era... De tirar o fôlego, de tão lindo.
Olhando pelas janelas para a festa, ela percebeu que não tinha mais
habilidades sociais do que da última vez. No entanto, desta vez foi um pouco
diferente. Ela não esperava que Lake se esforçasse para dizer aquelas coisas.
Você não deveria esconder seu rosto. É lindo.
Chloe estendeu a mão e colocou o cabelo atrás da orelha, lembrando-se
de suas palavras. Ela nunca pensou que talvez as pessoas não estivessem
olhando para suas cicatrizes, mas talvez para ela. Começou a se arrepender de
não ter conversado muito com a moça ou agradecido por ter sido tão gentil,
mas a verdade era que não tinha se acostumado a experimentar a gentileza
novamente. O bem tinha sido altamente superado pelo mal em sua vida.
Chloe sabia que se não esperasse gentileza, não sentiria dor novamente.
Ela sabia que assim que se acostumasse com a gentileza, isso a mataria
novamente. Da próxima vez, não vou sobreviver.
— Ei, querida — uma voz familiar e profunda a cumprimentou.
Chloe olhou para Lucca, imaginando como ele podia aparecer e
desaparecer sem fazer barulho. Ele era a última pessoa que alguém gostaria
de encontrar estando desprevenido, e ela definitivamente não queria ser
assustada por ninguém.
Lucca puxou um cigarro e segurou-o com os lábios enquanto falava.
— Ouvi dizer que você ainda está dizendo que é germofóbica. Você já
pensou em dizer a verdade, apenas uma vez? — Ele sacudiu seu Zippo com o
pulso e acendeu a ponta.
Chloe olhou para o colo e apertou as mãos.
— N-não é mentira.
Lucca precisou dar apenas alguns passos antes de ficar acima dela, onde
estendeu a mão.
— Vamos, querida; tenta uma vez só.
Olhando através de seus cílios, ela olhou para a mão dele. Tenta uma vez
só. Ela não sabia se era a verdade que ele queria ou se realmente desejava que
ela pegasse em sua mão. Qualquer opção seria inédita para ela, ambas seriam
assustadoras.
Chloe parou de apertar as mãos e sentiu vontade de tocar nas dele.
As dela tinham se movido apenas alguns centímetros antes que voltasse a
si.
— Eu n-não consigo.
— Por que não? — sua voz escura ordenou.
Ela olhou para cima sem erguer o rosto.
— Porque eu estou com medo — sussurrou uma confissão.
Eu acabei de dizer isso em voz alta? Para ele?
Depois de mais um momento, Lucca sentou-se na cadeira à sua frente.
— Não foi tão ruim, querida. — Dando outra tragada no cigarro, ele
continuou: — Estamos no verão agora, e você ainda está usando mangas
compridas.
Chloe rapidamente puxou as mangas de seu vestido preto para ter certeza
de que seus braços estavam cobertos. Como ele sempre sabe? Ela não
entendia se esse traço fazia parte do seu lado assustador ou do lado sexy. Era
muito difícil dizer naquele momento quando estava olhando para ele.
Sua aparência parecia ainda mais rude do que da última vez que o tinha
visto, já que seu cabelo e barba castanho-escuros cresceram um pouco. No
entanto, Lucca ainda mantinha a aparência de bad boy, vestindo jeans escuros
e uma camiseta preta que abraçava sua estrutura musculosa.
Lucca pegou seu Zippo prateado e começou a girá-lo entre os dedos.
Então esperou que ela ficasse em transe pela chama.
— Você vai para a faculdade?
— Sim, claro — ela respondeu sem pensar.
Ele acelerou o movimento do isqueiro por entre os dedos.
— Onde?
— Stanford, na Califórnia.
Rapidamente ele fechou o isqueiro.
— Isso é muito longe, querida. Pelo visto você vai continuar fugindo. —
Lucca parou na sua frente, olhando de cima, mais uma vez.
Chloe prendeu a respiração, esperando o que ele faria a seguir. Ela
começou a sentir um déjà-vu repentino, percebendo que esta vez tinha sido
muito parecida com a anterior.
— Ela tem razão, sabe. Essas cicatrizes são lindas.
Chloe podia sentir a mão dele querendo tocá-las, exatamente como sentiu
sua decepção por ela ir para a Califórnia.
Lucca se foi antes que ela percebesse, do mesmo jeito que apareceu.
Chloe estendeu a mão e passou o dedo sobre a cicatriz em sua bochecha.
Essas cicatrizes são lindas, ela repetiu as palavras dele em sua cabeça.
Nem um pouco.

Quando Lake fechou a porta do quintal atrás dela, se deparou com três rostos
confusos.
— O que foi? — ela disse depois que eles continuaram a olhar para ela.
— O que você disse a ela? — Vincent perguntou.
Lake olhou para ele e então para Nero e Amo, todos se perguntando a
mesma coisa.
É o quê?
— Hum, por quê?
Vincent tentou novamente:
— Porque eu quero saber.
Agora me lembro por que não gosto dele.
Lake decidiu simplesmente passar por ele, ignorando-o completamente.
Lake parou de tentar falar com ele porque seu comportamento só piorou com
o passar dos meses. Além disso, ouviu a música começando e não perderia a
chance de dançar novamente com Adalyn.
Quando deu um passo para passar por ele, Vincent agarrou seu braço,
parando-a. Ela tentou recuar sem sucesso.
— Me. Solta.
— Não até que você me responda, querida.
— Eu não fui má com ela, se é isso que você estava pensando! — Lake
finalmente conseguiu soltar o braço. Ela alisou o vestido para o acertar nas
pernas. — Agora, por favor, saia da frente? Eu vou dançar. — Ela se
certificou de que a parte do “por favor” fosse sarcástica.
Amo deu um passo à frente, insistindo rapidamente:
— Eu vou com você.
Vincent rapidamente colocou a mão no ombro de Amo, apertando com
tanta força, que fez seus dedos ficarem brancos.
Lake olhou para Amo. Que armário. Sim, ele a assustava com o jeito
como a olhava de cima a baixo, e não, ela não queria dançar com ele porque
Amo não perguntou se podia, mas sim disse que iria. Se bem que no fundo
não estava se importando, porque estava claramente deixando Vincent puto
da vida.
Ela sorriu com doçura.
— Oka…
Vincent rapidamente agarrou seus braços e começou a empurrá-la para
trás até que ela se viu grudada na parede de vidro. Seus olhos se arregalaram
e se voltaram para o rosto de Vincent, percebendo que provavelmente o
provocou demais.
— O que eu te disse da última vez? — ele gritou.
Lake baixou a voz para um sussurro enquanto tentava ver por cima dele.
— Vincent, tem gente…
Vincent empurrou seu corpo para mais perto do dela, a apertando mais
ainda contra o vidro. Gentilmente, ele colocou a mão sobre seu pescoço para
que ela não tivesse outra escolha a não ser olhar para ele.
— Quando eu lhe fizer uma pergunta, querida, você vai me responder.
Agora, não me faça perguntar de novo.
O peito de Lake só faltou explodir dentro do vestido, de tanto que ela
estava respirando com dificuldade.
Seu polegar deslizou para frente e para trás sobre o pulso em sua
garganta, avisando que Vincent estava completamente ciente de como ela se
sentia. Ela tinha forçado a barra e tinha esquecido até então exatamente que
tipo de homem ele era.
— Eu... eu não me lembro. — Sim, mas não posso dizer.
Independentemente do quanto tentou matar Vincent em sua cabeça, essas
palavras que ele falou ainda vinham até ela.
— Eu te ajudo. — Tomando a outra mão, ele levou o cabelo sedoso e
castanho-claro atrás da orelha. — Eu disse que se você fosse a um encontro
novamente, eu cortaria a mão dele. Se trepasse com alguém, eu cortaria o pau
dele fora. Preciso sair para fazer alguma dessas coisas?
Sua boca ficou seca, e ela conseguiu balançar levemente a cabeça sob seu
aperto.
— Boa menina. — Inclinando-se, Vincent aproximou a boca o máximo
que pôde, tomando cuidado para não encostar na sua orelha. — Eu também te
disse que se eu te pegasse dançando, e com certas roupas de novo, seus dias
de virgem terminariam.
Lake apertou os olhos a cada palavra que ele sussurrava em seu ouvido.
O calor de sua boca tão perto de sua pele fez o corpo responder aquecendo
cada centímetro de sua carne.
Vincent se inclinou para trás, olhando seu corpo com intensidade.
— Querida, esse vestido é meio caminho andado já. — Soltando seu
cabelo, ele passou o dedo no lábio inferior carnudo dela. — Eu te desafio a
tentar.
Quando Vincent afastou as mãos depois de uma última carícia com o
polegar, o corpo de Lake instantaneamente gritou para eles retornarem à
posição de antes.
Ela observou Nero e Amo saírem da posição de bloqueio em que
estavam, só então percebendo que estavam lá o tempo todo. Os dois estavam
de costas para eles para que o mundo não pudesse ver.
Lake foi forçada a ver Vincent se afastar dela novamente, tão facilmente
quanto da primeira vez.
Porra, eu odeio esse cara.
Lake percebeu que estava sendo observada.
— Vocês dois vão me empurrar contra a parede também?
— Nem fodendo. Eu gosto muito do meu pau, boneca — Amo disse antes
de sair.
Nero riu, chamando a atenção de Lake.
— Vincent não faria isso, faria?
O sorriso sumiu do rosto do rapaz.
— O que você acha?
Ele faria. Lake engoliu em seco, claramente ciente de que a pergunta de
Nero era retórica.
Nero a aliviou de seus pensamentos.
— A propósito, não achamos que você tinha sido má com a Chloe.
— Então por que ele me perguntou sobre o que eu falei com ela? — Lake
viu que Nero pensou cuidadosamente antes de falar.
— Ninguém nunca correu atrás dela antes desse jeito. Então, quando você
o fez, ficamos curiosos para saber o porquê. Não estamos exatamente
acostumados com garotas sendo gentis com ela.
Lake se virou para olhar pelo vidro, e seu coração parou de bater por uma
fração de segundo quando viu Lucca caminhar até a entrada do gazebo onde
Chloe estava sentada.
— Ela já o conhece? — Lake se sentiu mal pensando em um homem
como Lucca se aproximando de uma garota como Chloe.
— Sim — ele respondeu com naturalidade.
Ela virou a cabeça para olhar para Nero, em choque com sua resposta.
Mesmo?
Quando Lake virou a cabeça para Chloe, pegou Amo olhando pela janela
no canto da sala. Seus olhos eram escuros como a noite, mas ela ainda podia
ver aquele olhar. Ela poderia não ter percebido se ele estivesse apenas
olhando para a moça, mas naquele instante, suas profundezas negras estavam
com uma aparência completamente diferente.
Voltando-se totalmente para Chloe, ela viu Lucca caminhar até ela e
estender a mão, fazendo sua respiração parar. Voltando-se para Amo, ela viu
o rosto dele se contorcer.
Ela continuou a olhar entre as duas cenas. Puta merda.
— Puta merda. — Olhando para Nero, ela viu isso escrito em seu rosto.
— Então Lucca e Chloe... e Amo e... Chloe? — Como havia dito cada
nome, ela olhou entre eles. — Como isso poderia dar certo?
— Não pode. — Ele disse isso como se tivesse certeza, como se pudesse
ver isso acontecendo diante de seus olhos.
Ela teve de concordar que era um desastre iminente.
Não havia dúvida de que Lucca era um demônio, embora fosse
assustadoramente bonito. Acima de tudo, ele não tentava esconder sua
verdadeira natureza como o resto dos caras; pelo contrário, se deleitava com
isso.
Amo, por outro lado, era apenas um pouco menos aterrorizante. Ele era
enorme para sua idade e não era de falar muito, o que piorava a situação.
Seus olhos eram tão escuros quanto sua personalidade, e algo lhe dizia que
era melhor não desejar conhecer sua verdadeira personalidade.
— Aquela garota não combina com nenhum deles. — A pergunta a se
fazer era: quem era pior para ela? — Mas especialmente com ele — Lake
disse, olhando para Lucca, aquele cara tão aterrorizante.
Nero sorriu.
— É o que Elle diz.
— E o que você acha?
— Você quer dizer quem eu escolheria entre meu irmão e meu melhor
amigo?
Lake assentiu, esperando por sua resposta.
— Não importa o que qualquer um de nós pensa. Ela é quem decide.
Como se eles fossem deixá-la decidir. Ela sabia que um ia ganhar ao
derrotar o outro. Chloe nunca teria escolha sobre seu próprio destino.
Ao olhar para trás, ela viu Lucca parar na frente de Chloe, olhando de
cima, como se ela fosse sua presa.
— Você não acha que ele deveria estar com ela, acha?
— Você não sabe, mas ela curte aquele negócio de ficar girando o
isqueiro.
Os olhos de Lake se arregalaram. Ele ouviu o que ela havia dito antes.
— Desculpe, eu não...
Nero a deteve.
— Tranquilo.
Ah, graças a Deus. Ela ficou aliviada, sabendo que ele falou sério.
— Além disso, eu não me preocuparia com Chloe. Você precisa se
preocupar com você mesma. Eu não brigaria com ele se fosse você.
Lake olhou em seus olhos verdes brilhantes. Quem? Vincent?
A voz dele ficou fria, enviando calafrios pela espinha dela.
— Nós. Somos. Todos. Insanos.
Sim, é realmente hora de ir, ela pensou enquanto observava Nero ir
embora. Lake foi encontrar Adalyn, e é claro que ela não se moveu do sofá,
envolvida em uma conversa. A pior parte era que Vincent, Nero e Amo
tinham voltado para lá também.
Ela realmente desejou que todos eles não parassem de conversar quando
ela falou baixinho.
— Adalyn, hum, eu preciso voltar para casa.
Adalyn tentou puxar o cartão de pena.
— Ah, fala sério, Lake. Você vai me abandonar em breve, lembra?
— Para onde você vai? — perguntou Maria.
Lake realmente não queria que eles soubessem para qual faculdade ela
iria. Quanto menos a máfia soubesse sobre ela, melhor.
Ela tentou dar uma risada.
— Eu não vou abandonar a…
— Sim, você vai, sim, me abandonar. Você vai para uma faculdade a
duas horas daqui.
Merda, Adalyn! Ela quis tapar a boca de Adalyn. Incapaz de desviar o
olhar para Vincent, não viu nenhum indício de qualquer sentimento em seus
olhos azuis-bebê. Lake não sabia por que, mas isso a incomodava, de certa
forma.
Maria olhou para Nero, cruzando os braços.
— Como é que ela pode sair da cidade para fazer faculdade? Isso não é
justo.
Porque eu não sou da realeza da máfia.
Lake deu a Adalyn um olhar que dizia que realmente é hora de ir embora.
— Tá bom. — Adalyn suspirou, levantando-se do divã.
— V-você está indo embora? — Chloe perguntou, vindo atrás dela.
— Sim, eu tenho que ir para casa, mas foi muito bom te conhecer. —
Lake sorriu para ela.
Chloe colocou o cabelo atrás da orelha, sorrindo também.
— Igualmente.
— A gente devia sair antes de você viajar — Elle interrompeu.
— Sim, é uma boa — respondeu Lake, sem saber por que Elle estava
sorrindo tanto. Seu rosto parecia com o de uma criança na manhã de Natal.
Todo mundo estava daquele jeito, com exceção da própria Lake e de Adalyn.
— Poderíamos fazer compras! — Maria interveio alegremente.
— Lake odeia fazer compras — comentou Adalyn, fazendo uma cara de
eu-odeio-que-você-não-goste-de-fazer-compras.
O rosto de Maria ficou confuso.
— Hmm, jamais imaginaria.
Depois de um momento constrangedor, com todos olhando para ela, Lake
agarrou a mão de Adalyn enquanto acenava com a outra.
— Sim. Bem, hora de ir. Tchau, gente!
Adalyn esperou até que Lake a puxasse o suficiente.
— Ai, meu Deus, Lake; esta casa é muito foda! Como você pode querer
ir embora? Quer dizer, sério, quão gostosos são todos os caras? A propósito,
eu vi Lucca, e você é pirada. O fato de ele ser tão assustador o torna muito
mais gostoso.
Ela viu Adalyn praticamente se abanar e então murmurou:
— Vocês todos realmente são insanos.
— E Nero! Aqueles olhos... eu quero tocar naqueles olhos!
Ela realmente cobriu a boca da amiga desta vez.
— Shiu! Talvez você tenha esquecido que ele tem namorada, a Elle.
Adalyn tirou a mão de Lake de sua boca.
— Nossa, Lake, eu disse que queria tocar nos olhos dele, não lamber o
abdômen. — Quando a porta da frente se fechou atrás delas, ela continuou:
— Além disso, eu nunca sairia com o melhor amigo do meu irmão. Isso é
muito errado.
Pelo que parecia ser a centésima vez naquele dia, ela engoliu em seco,
sentindo um nó na garganta.
— É... É... claro.
Deus me ajude.
Vincent ouviu uma batida no vidro, chamando sua atenção. Do outro lado,
Lucca estava fumando um cigarro e fazendo um gesto de “vem cá” com dois
dedos.
— Desde quando ele se importa com fumar dentro de casa? — disse ele,
levantando-se.
— Desde agora, por algum motivo. Ele só fuma no escritório agora —
Nero respondeu enquanto ele e Amo o seguiam.
— Essa sua garota tem uma opinião forte — disse Lucca, apontando o
cigarro para Vincent quando a porta se fechou.
— Ela não é minha garota.
— Bem, claro, foi isso que pareceu quando ela saiu correndo da sua
formatura. Você realmente precisava foder todas as mães daquele pessoal?
Como se não houvesse boceta suficiente no ensino médio.
Vincent flexionou a mandíbula, pensando em Lake saindo correndo do
ginásio. Ele nunca teria pensado que todas aquelas mulheres iriam agir como
se estivessem em um show do One Cu-rection. A primeira coisa que ele fez
quando terminou de atravessar o palco foi olhar para onde Lake estava; em
vez de a encontrar sentada, a viu correndo porta afora. Ele se odiava pelo fato
de que seu instinto tinha sido olhar para ela. Por que eu deveria me sentir mal
por trepar por aí? Ela não é dona do meu pau.
Ele queria acabar com essa conversa.
— Então, qual é o seu ponto?
Lucca sacudiu as cinzas.
— Meu ponto é que o pai dela claramente fez uma merda de um trabalho
ensinando a ela sobre respeito ou qualquer coisa nesse sentido. Você precisa
domar essa boca bonita dela antes que ela se meta em encrenca.
— O que diabos você fez com ela? Eu a ouvi nos chamar de insanos,
chamou você de maluco, e ela não liga muito para seus truques de Zippo.
Nero claramente gostou de contar a Lucca a última parte.
Vincent e Amo tentaram não rir quando Lucca deu uma tragada mais
profunda e mais longa do que o normal no cigarro.
— Bem, então ela é mais inteligente do que eu pensava. — Lucca olhou
para Vincent. — Mas esse é o meu ponto. Eu fiz com que ela se borrasse toda
de medo, e mesmo assim ela continuou tagarelando. Ela tem uma sorte do
caralho que eu a peguei conversando com Chloe.
— O que ela disse? — perguntou Amo.
— Lake se desculpou por ficar encarando Chloe, disse que ela não
deveria esconder o rosto. Além disso, falou que se ela precisasse conversar
com alguém, sabia como era estar sozinha.
Sozinha?
— O que diabos ela quis dizer com isso?
Lucca deu de ombros.
— A mãe dela não veio hoje.
— Por que caralho não? — Cada maldito membro da família tinha ido,
então Vincent esperava e, mais ainda, precisava de uma boa desculpa para a
mãe dela não ter vindo.
— Aparentemente, o marido dela estar doente era mais importante.
Vincent ficou furioso.
— Puta que pariu.
— Merda — disse Nero, passando a mão pelo cabelo.
— Que puta do caralho — Amo cuspiu.
Por que ele sabe tudo isso? Por alguma razão, Vincent não gostava que
Lucca soubesse coisas sobre Lake que ele mesmo não sabia.
Lucca podia ler os pensamentos de Vincent em todo o seu rosto.
— Ela é sua garota, então você resolve tudo, inclusive essa boca dela. Eu
odiaria ter que ensinar a ela eu mesmo.
— Ela não é minha garota — Vincent silvou, apertando a ponte do nariz
o mais forte que podia para se controlar. — Nada dessa porra importa; ela vai
para a faculdade no final do verão.
— Ela não precisa ir. — Dando uma última tragada no cigarro, nuvens de
fumaça apareceram a cada palavra que Lucca falava. — Que se foda a
faculdade.
Vincent voltou para dentro, ainda furioso com o fato da mãe de Lake não
ter ido à formatura de sua própria filha. Amo está certo; ela é uma puta do
caralho. Ele ainda não queria que essa coisa com Lake virasse algo,
considerando o fato de que ela ia embora de Kansas City, e seu pau nunca
pertenceria a uma pessoa, não importa o quanto Vincent se divertisse em
brigar com ela. No entanto, ele ia fazer uma visitinha à porra da mãe dela,
assim que tirasse da cabeça o fato de ter encostado em Lake.
Vincent examinou a sala, seus olhos passando por todas as mulheres pela
primeira vez naquela noite. Eu só preciso de uma distração.

BUZZZZ... BUZZZZ... BUZZZZ... BUZZZZZZ.


Lake pegou o telefone da velha cadeira de madeira que usava como mesa
de cabeceira. Deve ter esquecido de desligar o alarme da escola por ser seu
primeiro dia de férias de verão. Maldito seja você, alarme.
Olhando para a tela inicial, não viu a notificação de alarme como estava
acostumada; em vez disso, dizia: SETE CHAMADAS PERDIDAS DE PAPAI.
Rapidamente ligou de volta.
Seu pai atendeu tão rápido, que ela nem ouviu uma chamada completa.
— Lake, me escute com atenção…
— Pai, o que está acontecendo? — Lake ficou sentada, imediatamente
preocupada com a voz angustiada que ouvia.
— Eu não tenho muito tempo, Lake. Agora escute. Faça as malas, vá ao
banco e limpe sua poupança da faculdade, todos os vinte mil. Lembra
daquele apartamento que vimos há uma semana, a apenas um quilômetro e
meio da faculdade?
Ela apertou o telefone para as mãos não tremerem.
— Sim. O que está acontecendo?
— Ainda está para alugar. Vá até lá e assine o contrato. Meu carro está na
frente da casa. Pega ele e não volte até que eu te avise. Se eu não fizer isso,
tudo deve se resolver em alguns meses. Não conte a ninguém que você está
indo embora.
Lake fez o possível para não começar a chorar, pois queria falar
claramente.
— Pai, o que você fez?
— Não importa. Apenas faça o que eu pedi, ok? — Ela podia ouvir a voz
rouca de choro do pai.
Desistindo de lutar contra as lágrimas após ouvir as do pai, ela começou a
soluçar.
— Ok.
— Agora vá, faça isso, e rápido. — Ele parou por um momento para se
recompor. — Te amo, guria.
— Eu também te amo, pai.
Silêncio.
Após seu pai ter encerrado repentinamente a ligação, Lake se curvou em
posição fetal e deixou suas emoções percorrerem o corpo. Lake tinha a
impressão de que sabia o que estava acontecendo. Seu pai era viciado em
jogo e estava no vermelho com o chefe pelo que pareciam anos. A pequena
mesa da cozinha estava cheia de contas vencidas e, recentemente, Lake
percebeu que estava ficando cada vez pior.
Em vez de seu pai usar o dinheiro para pagar algumas contas, ele se metia
com jogatina na esperança de ganhar muito para pagar todas elas. Ele não
conseguiu se livrar da dívida, e seu vício prejudicou esse fato.
Era um ciclo insano terminando.
Agora vá, faça isso, e rápido, as palavras dele voltaram à sua mente. Ela
tinha de se levantar e fazer o que fazia de melhor, porque se havia alguma
coisa que Lake sabia era o momento certo de fugir. Especialmente da família.
Lake sempre soube como seria seu futuro até então. Ela enxugou as
lágrimas do rosto, finalmente abrindo os olhos.
Nesse momento, seu futuro se tornou sombrio.
Lake estacionou o Frankenlac no meio-fio. Saindo, ela pegou sua bolsa e a
jogou por cima do ombro. Tinha de continuar respirando fundo a cada passo,
sem saber se a decisão que havia tomado era a certa.
Olhando para a alta porta de vidro na sua frente, soube que uma vez que
passasse por ela, não havia como voltar atrás.
Ela colocou as palmas das mãos sobre a porta. Seja forte. Com um
empurrão, a porta se abriu, e Lake entrou.
Era seu dia de acerto de contas.
Os sentidos de Lake estavam à flor da pele quando a porta se fechou atrás
dela. Ela podia ouvir o som de metal estalando junto com o bipe das várias
máquinas. Olhando em volta, viu quão grande era, com um monte de pessoas,
mas não conseguiu encontrar quem estava procurando. Indo em direção às
escadas rolantes, subiu e se aproximou de um homem vestido com um terno
preto em um posto de segurança. Olhando para seus sapatos caros, ela foi até
ele.
— Chave do quarto? — ele disse.
Lake respirou fundo.
— Eu quero ver ele.
O guarda assustador piscou os olhos algumas vezes antes de olhar para
ela de cima a baixo.
— Quem é ele?
Ela olhou em volta para se certificar de que ninguém estava perto o
suficiente para ouvir.
— O ch…
O guarda agarrou-a pelo braço e arrastou-a para um elevador longe das
vistas alheias.
— Você é estúpida, caralho? Quem te meteu nessa pegadinha?
— Ninguém. Meu pai é Paul Turner. Eu preciso vê-lo — ela rapidamente
cuspiu as palavras.
Ela viu toda a fúria deixar seu rosto.
— Cacete — ele sussurrou.
Assim que fez um gesto com a mão, outro cara de terno surgiu e tomou
seu lugar no posto. Então ele apertou o botão de subir do elevador, e as portas
se abriram. Puxando-a para dentro, ele apertou uma série de botões quando as
portas se fecharam.
— Você não deveria ter vindo aqui. Você sabe o que acabou de fazer?
Lake olhou para o braço dela, que ele ainda estava segurando. As mãos
eram tão grandes, que parecia que ele a estava apertando, mas na verdade ele
a segurou com certa leveza assim que descobriu quem ela era. Seus olhos se
moveram para o rosto dele, que havia voltado à fúria. Sua voz não continha
mais ódio; em vez disso, ela sentiu que ele havia falado com ela com pena.
Lake apertou a alça de sua bolsa com força.
— Sim, eu sei.
— Eu não acho que você saiba.
A viagem de elevador pareceu durar para sempre enquanto subiam até o
último andar sem interrupções, e ela imaginou que aquele homem deveria ter
colocado um código específico para isso. Por favor, abra. Felizmente, as
portas finalmente se abriram quando ela começou a se sentir claustrofóbica,
pensava na repercussão de suas próximas ações.
— Espero que ele esteja de bom humor hoje, pelo seu bem.
Ela respirou fundo outra vez, pensando “eu também”, enquanto era
conduzida por um longo corredor.
Quando eles estavam prestes a chegar, a porta se abriu e uma mulher com
uma roupa sexy foi arrastada para fora.
— Por favor, me desculpe! Por favor! Por favor, me desculpe! — a
mulher lamentou, sua maquiagem manchando as bochechas.
Os pés de Lake pararam de se mover, a boca agora secando.
— Ah, meu Deus — ela sussurrou, à beira das lágrimas.
O guarda a empurrou para passar pela mulher que gritava.
— Se agir assim, ele não mostrará misericórdia. — Ele manteve a voz
baixa.
Ela recuperou o equilíbrio e dirigiu seus pensamentos para o pai, e não
para os gritos no corredor.
Seja forte.
O guarda abriu a porta e a puxou para dentro.
Seja forte.
Ele continuou a conduzi-la por uma sala escura cheia de TVs com
imagens de vigilância.
Seja forte.
Na próxima porta, em vez de entrar, ele bateu.
Seja forte.
— Entre. — Ela ouviu uma voz profunda do outro lado da porta.
Seja forte, seja forte, seja forte.
— Boa sorte — ele sussurrou e deixou cair a mão. Pela última vez, ele
abriu a porta para ela entrar.
Lake entrou no cômodo escuro e cheio de fumaça, seus olhos alternando
sobre os três homens ali presentes. O chefe estava atrás de uma mesa enorme,
fumando um charuto, seu olhar azul-gelo a imobilizando. Outro cara de terno
estava atrás dele, um que ela realmente desejava que não estivesse lá para
testemunhar aquilo tudo. Por fim, seus olhos se voltaram para as costas de
seu pai.
— Hoje deve ser meu dia de sorte. — Dante sorriu enquanto se recostava
na cadeira.
Seu pai rapidamente se virou no assento.
— Lake, o que diabos você está fazendo aqui? — Ficando de pé, ele foi
até a filha.
— Sente-se, Paul — Dante advertiu.
Paul lentamente se sentou, os olhos vidrados.
Desculpe, pai.
O chefe deu uma tragada no charuto.
— Por que você veio?
Lake pensou no conselho do guarda enquanto dava um passo à frente.
— Você sabe o motivo.
Dante a encarou por um momento, claramente não esperando que aquela
fosse sua resposta. Seu interesse foi despertado.
— Você sabe o que ele fez?
— Suponho que ele lhe deva muito dinheiro — ela disse, agarrando a
bolsa como se fosse uma bengala que a impediria de despencar no chão.
— Sim, ele deve, e há muitos anos. Ontem à noite, ele conseguiu uma
sequência de vitórias no pôquer, o suficiente para pagar sua dívida comigo,
mas o que você acha que ele fez?
Lake teve de desviar os olhos de seu olhar gelado.
— Ele apostou tudo, não foi?
— Apostou a porra toda e perdeu cada centavo. Agora, por favor, me
diga o que você espera conseguir aqui hoje, porque eu já terminei com ele.
Ele promete me pagar toda vez que sai do meu cassino, e toda vez eu acredito
nele. Eu entendo que ele tem um vício em jogos de azar, mas eu gosto de
manter meus homens felizes. Seu pai é leal a mim, então é por isso que ele se
safou por tanto tempo, mas ontem à noite, ele provou não ser mais leal. Eu
nunca descontei nada de seu trabalho, e nós dois vamos pagar por isso agora
— ele terminou solenemente, mostrando o que queria dizer com suas
palavras.
Não, por favor, Deus. Lake só podia esperar que ele não pudesse perceber
que ela estava parecendo a mulher gritando que tinha acabado de sair. A
única coisa que a mantinha controlada era que Dante tinha acabado de provar
que ela não tinha alternativa.
Lake buscou no fundo de si qualquer quantidade de coragem que lhe
restava.
— Espero que eu possa fazer você mudar de ideia.
— Como diabos você acha que pode fazer isso? — Dante se divertiu pela
primeira vez, confundindo Lake ao mostrar seu lado não tão sombrio. Se é
que há mesmo um.
Lake lentamente tirou a bolsa de seu ombro. Não há outra forma.
Caminhando até a mesa dele, ela despejou seu conteúdo junto com suas
esperanças e sonhos.
— Lake, não! O que deu em você? — o pai gritou.
Dante levantou a mão para silenciá-lo.
— Onde você conseguiu esse dinheiro?
— É minha... Bem, era minha poupança da faculdade — ela confessou.
Ela observou o homem loiro que estava atrás de Dante vir contar o
dinheiro.
— Vinte — ele disse depois que cada pacote foi empilhado com
perfeição.
Dante pegou uma pilha de notas e a folheou com o polegar, revelando
que cada nota era de cem dólares.
— Seu pai me deve cinquenta, desculpe.
Lake piscou rapidamente, incapaz de pensar.
— Cinquenta mil? — Ela não esperava que ele ficasse tão endividado
com o chefe, mas tinha de pensar em algo. Suas vidas dependiam disso. —
Ok... bem... Deve haver algo que eu possa fazer. Eu posso trabalhar para
você. Tenho certeza de que há um trabalho aqui no hotel cassino que posso
fazer. Eu posso cuidar da limpeza. — Olhando para o rosto não convencido
de Dante, ela rapidamente deixou escapar o resto. — Você pode ficar com
todo o meu salário. Eu vou trabalhar de graça até que seja pago.
Dante ficou em silêncio por alguns momentos.
— O que você acha, Viny?
O loiro deu de ombros.
— Estamos defasados agora, ela pode servir.
— Não, ela ainda tem dezessete anos. Ela não pode — o pai insistiu.
Os olhos de Lake se arregalaram. Dezessete?
— Quantos anos você tem, Lake? — perguntou Dante.
Lake olhou para o rosto suplicante de seu pai. Então, fechando os olhos,
ela respondeu à pergunta que temia que selaria seu destino.
— Dezoito.
Dante sorriu, fazendo seu corpo todo se arrepiar.
— Bom. Você trabalhará para mim como garçonete na parte de bebidas
até que a dívida de seu pai seja paga. Qualquer gorjeta que ganhar, eu
permito que você fique com ela. Vou aconselhá-la a ficar de boca fechada
sobre o que é ou não legal onde você vai trabalhar, mas tenho certeza que
você já sabe disso.
Paul começou a balançar a cabeça.
— Por favor, não a faça trabalhar lá...
— Calado. — Dante fez uma pausa, olhando para ele. — Quanto a você,
acredito que este será um castigo maior do que aquele que eu ia dar. Você vai
continuar trabalhando para mim, Paul, e eu vou me certificar de que você só
consiga os serviços de merda. Você ainda receberá seu salário, e qualquer
coisa que você me pagar também abaterá sua dívida. Quanto mais você
trabalhar para mim, mais você pode me pagar de volta e menos ela ficará
presa lá embaixo. Se eu pegar você botando uma moeda na porra das minhas
máquinas caça-níqueis, no entanto, eu vou te matar. O que acha disso,
Vinny?
Vinny deu um aceno rápido em concordância.
Dante olhou para Lake.
— Você vai precisar ser trabalhada, mas começará imediatamente.
Ser trabalhada? Ela não gostou do jeito que ele acabou de olhar para ela.
— Joe, entre. — A voz de Dante tinha subido de tom sem que precisasse
gritar, embora Lake imaginasse que um homem como Dante não precisava
gritar para transmitir seu ponto de vista. Um segundo depois, o guarda que a
havia trazido entrou na sala. — Leve-a para Sadie e diga que ela vai ocupar o
lugar daquela vagabunda.
Joe assentiu e abriu a porta para ela sair.
— Não me decepcione, Lake — Dante deu seu último aviso.
Lake olhou o chefe nos olhos uma última vez.
— Eu não vou. Obrigada, sr. Caruso. — Ela olhou para o loiro, que era o
consigliere do chefe. Seu amigo e confidente próximo e confiável, como
Lucca gostava de chamá-lo. O pai dela tinha ao menos lhe ensinado os nomes
daqueles de quem deveria ficar bem longe. — E obrigada, sr. Vitale.
Lake entrou no elevador mais uma vez com o guarda, em estado de choque
por ela e o pai terem escapado com vida. Quando as portas se fecharam, ela
percebeu que a única maneira que imaginou sair daquele elevador era em um
saco preto.
Ela viu o guarda apertar uma série diferente de botões, e o elevador se
moveu. Olhando para ele, viu a cautela em seus olhos.
— Obrigada — ela sussurrou para ele. Essa foi a terceira vez que
agradeceu a alguém naquele dia, mas foi a primeira vez que foi sincera. Se
não fosse por ele, ela não sabia se teria forças para continuar.
— Não me agradeça ainda — ele murmurou.
Lake olhou para os números descendo pelos andares do cassino até passar
pelo último andar, cujo número estava em cima de um botão no painel. Ela
achava que não havia mais nenhum outro andar.
Quando as portas se abriram, ela viu um corredor muito escuro; demorou
um pouco para seus olhos se ajustarem. À medida que se aproximavam da
porta no final, ela podia ouvir a música ficando mais alta. O guarda a
acompanhou até a porta e bateu, e um segundo depois, ela se abriu.
Lake não conseguia levantar o queixo do chão quando olhou para dentro.
Era o que parecia ser um cassino, exceto que era muito mais íntimo e
extravagante. Sem mencionar as garotas seminuas em todos os lugares.
Havia garotas vestidas com lingerie sexy, preta e rosa, como a garota que saiu
gritando do escritório de Dante. Quando a percepção de que todas
trabalhavam lá a atingiu, os olhos de Lake se moveram para as mesas, vendo
que as croupiers eram todas garotas vestidas com roupas sensuais também.
Várias outras também estavam dançando em postes.
O guarda a empurrou pela porta, e ela pôde ver quão grande era aquele
andar. Era do mesmo tamanho do cassino no andar de cima.
Por que ter dois cassinos? Ela também não entendia por que aquilo que
estava diante dela era um segredo.
Olhando ao redor, notou uma coisa: não há mulheres jogando. No
entanto, há muitas funcionárias.
Ah, porra, nem fodendo... ela pensou quando uma mulher passou por ela
com uma bandeja de bebidas na mão. A roupa que ela estava usando era uma
que Lake não usaria nem por um milhão de dólares. Provavelmente porque
não era uma roupa, mas sim uma lingerie.
Ela olhou para Joe, incapaz de formar palavras, e quando ele lhe deu um
olhar de compaixão, ela percebeu que o homem soube ler sua expressão.
Lake sentiu vontade de sair correndo, naquele exato momento tudo começou
a fazer sentido. Eu estou bem fodida.
Mais uma vez, ela foi arrastada para os fundos do cassino, e Joe puxou
algumas cortinas cor-de-rosa transparentes, revelando uma porta. Ele passou
sem nem bater na porta. Ao entrar em um vestiário feminino, ela foi recebida
por peitos literalmente em todos os lugares. De todas as portas que passamos
hoje, esta é a que ele mais deveria ter batido antes de entrar.
Joe levou Lake até uma mulher vestida com um manto de seda.
— Sadie, este é Lake. Ela vai ocupar o lugar de Amanda.
Lake observou Sadie colocar a mão no quadril, o movimento fazendo
seus seios enormes se moverem. Então ela girou o dedo para Lake.
O quê?
— Vira. — Sadie acenou novamente.
Ela teve de engolir a bile em sua garganta enquanto se virava lentamente.
Ela não tinha muita opção.
Olhando para Sadie enquanto voltava para sua posição original, Lake
podia vê-la refletindo calmamente enquanto a olhava de cima a baixo. Ela
sabia exatamente o que estava passando por sua mente também: sem peitos,
sem bunda, apenas um graveto. Não era preciso ter doutorado para descobrir
qual garota não se encaixa naquele andar.
Lake olhou para o chão, incapaz de encarar o olhar crítico.
— Ela é perfeita. Eles vão amá-la! — Sadie gritou.
Os olhos de Lake rapidamente saltaram de volta para Sadie, que estava
sorridente. O que foi que ela disse?
Sadie enxotou Joe com as mãos.
— Vá embora, eu preciso começar a trabalhar agora. — Ela agarrou a
mão de Lake, levando-a para uma cadeira, na frente de um enorme espelho
iluminado.
— Hum, como exatamente eu sou perfeita? — Lake não entendia como
sua aparência comum iria atrair alguém.
Sadie riu, pegando um pouco de base na mesa.
— Você nunca viu uma estrela pornô sem maquiagem? Você deveria
pesquisar no Google. — Ela apontou para seu rosto impecável. — Isso é o
que eu chamo de propaganda enganosa, querida, e você não vai precisar nem
da metade da maquiagem que eu uso. Sua pele é perfeita, a ponto de eu quase
querer te odiar.
Lake não pôde deixar de rir dela. Ela sabia que Sadie estava apenas
brincando, porque a mulher exalava sensualidade e confiança, não mostrando
nenhum sinal de inveja real. Sua personalidade combinava com seu visual
semi-roqueiro, com a sombra escura nos olhos e cabelos escuros com mechas
loiras pálidas e grossas por toda parte.
Ela decidiu fazer o máximo de perguntas que pudesse durante aquele tapa
no visual.
— Então, o que você faz?
— Eu sou a gerente de poço daqui — Sadie respondeu, começando a
aplicar mais maquiagem.
— O que isso significa? — Lake não era fluente em termos de cassino,
considerando que era ilegal ela estar em um até completar vinte e um anos.
— Estou encarregada de todas as mesas de jogo e me certifico de que
todos no salão estejam satisfeitos.
— Então, você é minha chefe? — ela perguntou.
— Sim, mas você vai se sair bem — Sadie assegurou a ela.
— Eu nunca servi mesas antes. Você não acha que eu preciso aprender a
fazer meu trabalho antes de me arrumar? — Ela estava definitivamente mais
preocupada em fazer o trabalho corretamente do que com sua aparência. Ela
precisava manter Dante o mais feliz possível.
Sadie riu.
— Querida, você pode derramar uma garrafa de uísque de mil dólares
neles, contanto que esteja sexy enquanto faz isso. Eles não dão a mínima. Eu
não espero que você seja perfeita no começo, apesar de que, você vai
entender, quanto melhor você se sair, melhores serão as gorjetas. Isso
geralmente é motivação suficiente para as meninas trabalharem duro.
— Como posso trabalhar aqui e servir álcool? Eu só tenho dezoito anos.
— Tudo o que você precisa saber é que aqui é só o filé. Só peixe grande
aposta, e não há registro de nada. Os homens aqui amam especialmente as
jovens que não têm permissão legal para servi-los, então você será uma
mercadoria badalada por aqui.
Ah, ótimo…
Enquanto Lake a deixava continuar seu trabalho, lentamente começou a
ver seu rosto e cabelo se transformarem nos de uma estrela pornô, como
Sadie gostava de chamar. Sadie até deu a ela um curso intensivo sobre como
fazer olhos esfumados e contorno – seja lá o que aquilo significasse – então a
ensinou mexer, mexer e mexer um pouco mais nos fios para conseguir o
famoso “cabelão sexy”. Sadie tinha um nome para tudo.
— Vou escolher algo para você usar — disse Sadie, virando-se para um
cabide que continha as menores roupas pretas e rosa imagináveis.
— Hum, você tem alguma coisa que cubra mais meu corpo? — Lake
cautelosamente perguntou quando ela a viu puxar um fio-dental.
Sadie olhou para trás, vendo Lake agora pálida.
— Virgem, hein? Tudo bem; os homens vão sentir o cheiro em você.
Vamos usar isso a seu favor.
“Vamos usar isso”? Ela está brincando?
— Essa é a maior quantidade de roupa que você pode conseguir por aqui.
Normalmente, não gostamos desse visual, mas para você, isso os deixará
mais insanos do que já são, já que você é a garota nova.
Ela pegou algumas coisas da prateleira e as mostrou a Lake.
Algo dizia a Lake que ela não queria ser a novata.
Enquanto olhava para as roupas, começou a balançar a cabeça.
— Eu não vou ficar bem nisso. Não tenho nada para preencher.
— Este espartilho vai levantar esses bebezinhos aí — Sadie disse,
levantando seus peitos enormes. — E você vai usar esse short porque
precisamos te depilar antes de te fazer usar algo menor.
Lake começou a corar.
— D-depilar?
— Todo mundo aqui é depilado da cabeça aos pés. Temos nossa própria
esteticista, e ela opera milagres. É realmente doloroso apenas nas primeiras
vezes; depois, você fica insensível à coisa toda. — Sadie deu de ombros.
Engolindo em seco, Lake pegou o projeto de roupa e foi para trás de uma
cortina para se trocar. Assim que pediu a ajuda de Sadie para amarrar as
costas do espartilho, se virou e se olhou no espelho.
Mas nem por um cacete.
— Eu não consigo fazer isso. — Lake queria colocar seu moletom e jeans
de volta e fugir até o infinito.
— Lake, me escute. Pelo que vejo, acho que você não tem escolha. E
sinto muito pelo que deve ter acontecido, mas olhe para si mesma. — Sadie
agarrou seus ombros e a empurrou de volta para a frente do espelho. — Você
já foi a uma piscina e vestiu um maiô?
— Sim, mas…
— Aposto que você está mais coberta agora do que estava na piscina. Só
porque tem rendas e babados, não é mais sexy do que um maiô minúsculo.
Lake olhou para si mesma no espelho. Seu cabelo castanho-claro, que
geralmente era liso e escorrido, estava com cachos soltos e bagunçados. Sua
maquiagem estava impecável e sensual, ainda mostrando quão jovem ela era,
mas agora não parecendo mais tão inocente.
A roupa era o que mais a assustava. O espartilho rosa a apertava,
dificultando a respiração. Seus quadris estavam expostos, e o minúsculo
short, que Lake achava que não deveria ser chamado de short, era cheio de
babados. Os toques finais foram meias altas, pretas, com grandes laços cor-
de-rosa na frente, e sapatos pretos para combinar. Ela só rezou que
conseguisse andar neles.
Precisou admitir que estava tecnicamente mais coberta do que se
estivesse na piscina, e Sadie realmente deu a ela uma roupa menos reveladora
do que a de todo mundo. Lake entendeu o que ela quis dizer sobre as roupas
trabalharem a seu favor. Era sexy e inocente ao mesmo tempo.
Não importa; você precisa fazer isso. Lake não teve outra opção a não ser
engolir o orgulho enquanto acenava para sua nova chefe.
Sadie a virou e deu um bom puxão no espartilho de Lake, para erguer
mais ainda seus seios.
— Eu não falei que o espartilho daria isso? Só porque você está no
Comitê das Tetinhas Pequeninas, não significa que você não tenha seios.
Todas as garotas aqui matariam por peitos assim, e não se esqueça disso. —
Sadie pegou um pouco de perfume da mesa e borrifou nela. — Os homens
vão sentir seu cheiro e te atacar como um leão caçando um coelhinho.
Lake descobriu naquele momento o que era o verdadeiro medo. Pois é.
Era esse incentivo que eu precisava.
— Obrigada, Sadie.
Lake puxou a cortina rosa transparente, incapaz de entrar no cassino. No
instante em que a cortina se abriu, todas as cabeças se viraram para ver quem
sairia em seguida. Não, não, não…
Sadie deu um tapinha de encorajamento em Lake.
— Vamos lá. Hora de faturar, querida.
Ai, meu Deus, minha vida poderia ficar pior?
Mantendo os olhos no chão, ela seguiu Sadie até o bar. De jeito nenhum
ela iria olhar os leões nos olhos.
— Ok, querida, é assim que o jogo funciona. — Sadie apontou para uma
seção mais próxima do bar. — É sua primeira noite de salto alto, então vou te
dar essas mesas. É fácil. Pergunte o que eles querem, anote, vá ao bar e dê o
pedido à bartender. Então traga a bebida para eles. Todo mundo tem sua
própria forma de fazer as coisas, e você eventualmente terá a sua. Quando
menos esperar, vai ser pá-pum. — Sadie entregou a ela um bloco e uma
caneta. — Se você errar, tudo bem. Apenas erga esses peitos e se faça de
burra. Lembre-se, piscar, flertar e balançar o cabelo são coisas que vão te
garantir pontos extras.
Lake assentiu nervosamente algumas vezes, tentando reter todas as
informações enquanto tentava não cair dos seus saltos altos.
Sadie mexeu no cabelo de Lake.
— Eles gostam do visual de “gatinha assustada”, então continue assim.
Se precisar de alguma coisa, me avise, e não se preocupe. Eles não têm
permissão para tocar em você, porque cobramos a mais por isso — ela
terminou com uma piscadela antes de se dirigir para as mesas.
Porque era com isso que eu estava totalmente preocupada.
Apertando o bloco de papel e caneta como se fosse seu moletom favorito,
ela caminhou até sua primeira mesa.
— O-oi. Posso aju…?
— Você é nova. — Um senhor ruivo mais velho de terno sorriu.
Olhando ao redor da mesa de cartas, ela notou que todos os homens
estavam dando uma boa olhada nela.
Ela tentou o seu melhor para sorrir.
— Sim, esta é minha primeira noite.
— Bem, então, vamos comemorar. Dê-nos a sua melhor garrafa de uísque
— ele disse, entregando-lhe um cartão dourado de plástico.
Lake sorriu, pegando o cartão antes de ir para o bar. Ela podia sentir os
olhares dos caras em sua bunda sem nem se virar.
Rapidamente, ela disse à bartender o pedido.
Ela ficou feliz pela mulher ter explicado como entregá-lo à mesa, mas
precisou admitir que era um pouco difícil se concentrar nas bebidas e não nos
enormes melões falsos que a mulher tinha. Ela não tinha ideia de que peitos
poderiam ser tão grandes.
Lake pegou a bandeja e caminhou muito devagar, tomando cuidado para
não tropeçar. Ela levou um tempo para conseguir colocar um copo na frente
deles enquanto equilibrava a bandeja. Então começou a encher cada copo
com o líquido da garrafa cara, e enquanto servia, eles ficavam a examinando.
Finalmente, ela colocou a garrafa na mesa mais próxima do homem que a
comprou.
— Qual o seu nome? — o homem ruivo perguntou com outro sorriso.
Ela podia sentir os pensamentos por trás de seus olhos, então deixou de
fazer contato visual.
— Lake.
O homem ergueu o copo no ar.
— Obrigada por trazer essa sua linda bunda para cá. À Lake!
— À Lake! — os outros homens gritaram, tilintando seus copos.
Ela literalmente mordeu a ponta da língua para se forçar a colocar um
sorriso no rosto antes de se afastar da mesa.
Lake seguiu trabalhando e servindo as bebidas. Ela estava um pouco
lenta, considerando que era sua primeira noite, mas Sadie estava certa sobre
ela conseguir uma grana fácil. Os homens claramente passavam por lá com
tanta frequência, que sabiam como tudo funcionava; portanto, tudo o que ela
tinha que fazer era seguir suas ordens.
A bartender foi muito amigável ao ensinar a Lake quais eram as bebidas e
como lidar com pedidos especiais. Lake até ganhou algumas gorjetas aqui e
ali. No início, não sabia onde colocar o dinheiro até que Sadie disse a ela:
— Nossos peitos são como bolsas. Essa é a melhor coisa sobre eles. —
Então começou a mostrar a ela como esconder o dinheiro usando as gorjetas
que também tinha ganhado. Sadie explicou que era como um mini-show para
os homens, e Lake percebeu que era por isso que elas mostravam – para
ganhar mais gorjetas. Me dê mais dinheiro, e eu enfio-o entre os meus peitos.
Pensando bem, ela finalmente entendeu as caras de decepção quando ela
apenas agradeceu a todos eles.
Ela também entendeu por que era um cassino subterrâneo à medida que a
noite avançava. Sem dúvida, ela sabia que Dante ganhava a maior parte de
seu dinheiro não com o hotel-cassino, mas sim com aquele lugar. Os valores
em circulação eram tão altos, que Lake poderia ter quitado a dívida de seu pai
mil vezes em uma noite.
Ela tinha certeza de que coisas muito ilegais aconteciam lá, mesmo após
apenas algumas horas, porque nem pensar que ela era a única garota com
menos de 21 anos ali. Havia também quartos nas laterais, de onde os homens
saíam durante a noite, a maioria deles drogados por alguma substância. Para
não mencionar que elas continuavam a servir álcool para algumas pessoas
muito embriagadas.
Dante claramente não estava declarando a maior parte da renda, se é que
estava declarando qualquer uma vinda dali, talvez estivesse canalizando parte
do dinheiro ilegal para o negócio legítimo no andar de cima. O chefe estava
claramente fazendo algumas transações muito ilegais de evasão fiscal e
lavagem de dinheiro, e Lake não precisava saber mais detalhes ou entender
como ele fazia isso.
Ela tinha de dar crédito a Dante, no entanto. A melhor maneira de
esconder um cassino clandestino é colocar um cassino legalizado em cima
dele.
Não foi tão ruim quanto ela pensou que seria quando começou a atender
sua primeira mesa. A maioria dos homens estava preocupada em ganhar
dinheiro ou conquistar suas colegas de trabalho que não eram tão tímidas
quanto ela.
Na verdade, o único cara que realmente a assombrou durante a noite foi o
ruivo. Felizmente, ele não tentou tocá-la, mas ela imaginou que seria
necessário um grande homem com muito culhão para tentar, levando em
conta a segurança do lugar. Havia homens de terno encostados nas paredes
em todos os lugares. Ela tinha visto alguns homens bêbados tentarem pegar
uma provinha, mas os engravatados sempre conseguiam escoltá-los para fora.
Como Sadie havia dito, tocar custava mais. O resto dos homens deve ter
ficado com muito medo de tentar, visto que todos eles teriam de sair se o
fizessem. Aparentemente, eles não queriam correr o risco de voltar para
casa para suas esposas e filhos.
Lake ficou feliz quando o ruivo pediu para pagar a conta. Indo para o bar,
ela pegou o cartão e o recibo e voltou para a mesa dele.
O homem rapidamente assinou o recibo.
— Quais são seus dias aqui?
— Não fui adicionada à escala ainda, mas provavelmente será a semana
toda. — Lake conseguiu dar outro sorriso.
— Mal posso esperar — disse ele, viscoso, entregando o livreto preto que
continha o recibo e a caneta.
Ela não sabia o que ele tinha, mas mexeu com ela de um jeito errado. A
maioria dos homens transitou entre outras seções e jogos; no entanto, aquele
homem permaneceu estritamente em sua área de trabalho, constantemente
olhando para ela.
Pegando o livro, ela torceu para que aquele fosse o último sorriso que ele
receberia.
— Obrigada.
Lake não se demorou, voltando rapidamente para o bar. Ela só esperava
que, a julgar pela aliança de casamento, ele não conseguisse voltar no resto
da semana. Porém, algo naquele “mal posso esperar” lhe disse o contrário.
Seus pés gritavam de dor durante todo o trabalho. Ela precisaria comprar
Band-Aids para todas as bolhas que com certeza teria.
Olhando para o relógio, percebeu que finalmente havia chegado ao fim de
seu turno. Rapidamente contou suas gorjetas, vendo que tinha ganhado
bastante dinheiro. Certamente mais do que ela esperava que uma garçonete
ganhasse. Sua maior gorjeta tinha sido do cara asqueroso, e embora a
quantidade fosse grande, ela se sentiu suja ao pegá-la.
Sadie veio por trás dela e lhe deu mais um tapinha de encorajamento.
— Eu disse que todos iriam te amar. Recebi muitos elogios sobre você.
Eles simplesmente não se cansam de uma nova garota. Além de seus pés
doerem para cacete, quão ruim foi?
No geral, Lake teve de admitir que não tinha sido tão ruim. Apenas um
cliente havia afetado sua noite e, na verdade, ela estava acostumada a receber
ordens. John a tratou muito pior do que todos os homens ali juntos.
— Ok, não foi tão ruim quanto eu pensei que seria — ela admitiu. — Mas
estou totalmente pronta para dar o fora daqui e capotar na minha cama. —
Tinha sido um dia difícil para ela, com todos os altos e baixos emocionais.
Ela estava praticamente sonhando com o travesseiro, colchão e cobertor...
— Você não esqueceu da depilação, não é? Confie em mim, você vai ter
um treco quando vir todos os cantos e recantos que escondem pelos, como se
você fosse um esquilo durante a hibernação.
Lake adquiriu um tom de branco fantasmagórico.
— Então... eu tenho que fazer isso... hoje?
Sadie tentou persuadi-la.
— Ah, querida, não se preocupe: eu te seguro.
Lake acordou no dia seguinte com o travesseiro colado no rosto. Ela chorou
até dormir na noite anterior, de vergonha e horror de seu dia difícil.
Alcançando seu telefone na cadeira de madeira desgastada, olhou para a
hora e ficou surpresa ao ver chamadas perdidas de Adalyn. Rapidamente,
discou seu número.
Adalyn atendeu o telefone imediatamente.
— Por que você não atendeu minhas ligações?
Lake bocejou.
— Porque eu estava dormindo.
— Sim, mas você acorda ao raiar do dia. Você fez alguma coisa ontem?
Você não acreditaria em mim se eu lhe contasse.
Ela decidiu que levaria o lance de ser garçonete de um cassino
subterrâneo aos dezoito anos para o túmulo.
— Não, mas me diz, o que é tão importante?
— Levante-se, lave esse seu lindo rosto e esteja na minha casa em trinta
minutos. Ok, obrigada. Tchau. Eu te amo! — Adalyn falou o mais rápido que
pôde antes de desligar na cara dela.
Não há como prever em que confusão ela vai me meter hoje.
Saindo da cama, ela deu um passo.
— Puta, caralho! — Ela imediatamente se lembrou de onde vieram
metade das lágrimas – da depilação. Literalmente a coisa toda tinha sido uma
tortura. Ela não tinha ideia de como faria para se acostumar com aquilo.
Tentar caminhar até o banheiro era o mesmo que mancar, e ela levou a mão
às virilhas enquanto andava que nem um pinguim.
Não demorou muito para ficar pronta; acabou de lavar o rosto, ainda
vermelho de chorar, depois de escovar os dentes. Lake decidiu prender o
cabelo em um coque bagunçado, considerando que ainda estava cheio de
cachos e laquê. Ficou preocupada que Adalyn questionasse por que o cabelo
estava daquele jeito. Foi uma pena colocá-lo para cima, porque os cachos do
segundo dia eram realmente incríveis. De qualquer forma, o coque ficou
muito elegante.
Ela podia sentir o calor do lado de fora enquanto ia até o closet.
Provavelmente porque não podemos nos dar ao luxo de ligar o ar-
condicionado. Ela decidiu pegar uma regata branca solta e um short jeans
azul-claro. O short era muito curto, mas isso realmente não importava porque
ela estava apenas indo para a casa de Adalyn.
Indo até a bolsa na pequena sala de estar, viu as chaves do carro de seu
pai exatamente onde ela as havia deixado na noite anterior.
— Pai? — ela gritou, caminhando para o quarto dele.
Lake bateu e abriu a porta quando não obteve resposta. Quando viu que
ele não estava no quarto, ficou um pouco preocupada. Agarrando o celular do
bolso traseiro, ligou para ele.
Só tocou uma vez antes de a chamada ser recusada. O quê...? Um
momento depois, ela recebeu uma mensagem.
Estou no trabalho. Te vejo mais tarde, guria.
O buraco em seu estômago deu uma trégua, ela guardou o telefone de
volta no bolso, pegou as chaves junto com sua bolsa e passou pela porta.
Os olhos de Lake se fecharam no momento em que o brilho do sol a
atingiu.
— Jesus Cristo! — Ela rapidamente voltou para dentro de casa. Passando
por uma gaveta de tranqueiras, pegou um grande par de óculos de sol. Então
é assim que deve ser estar de ressaca.
Na segunda tentativa de sair pela porta da frente, felizmente o sol não
estava tão forte. Entrando no Frankenlac, foi direto para a casa de Adalyn.
— Droga, Adalyn — disse Lake, diminuindo a velocidade do carro
quando viu vários Cadillacs estacionados na garagem, sabendo que um deles
pertencia a Vincent.
Lake tinha duas opções. Uma era estacionar o carro e ver em que merda
Adalyn estava se metendo. E a segunda era passar direto pela casa e ligar
para Adalyn para contar alguma história que ela inventaria no caminho de
volta. Claro, estaria mentindo, mas Adalyn propositalmente não contou o que
estava acontecendo, sabendo que Lake nunca concordaria com o que ela
havia planejado.
Lembrando-se do último encontro que teve com Vincent, tomou sua
decisão. Não, definitivamente não ficarei…
Bum!
Lake parou o carro no meio-fio e descansou a cabeça no volante. Deus
não estava lhe dando escolha. Deu para ouvir aquele barulho até na China,
então não tinha como Adalyn não ter escutado, e ela saberia exatamente do
que se tratava.
Gemendo, ela saiu do carro e bateu a porta o mais forte que pôde,
xingando e resmungando baixinho enquanto caminhava pela calçada.
— Carro idiota… Vou matar Adalyn... — No meio do caminho, ela teve
que começar a andar que nem pinguim novamente. — A Sadie que vá tomar
no rabo… Jamais volto a me depilar…
— Hum, Lake, o que você está fazendo? — Adalyn perguntou.
Lake olhou do chão para a porta da frente, onde viu Adalyn, Maria, Elle,
Chloe, Nero, Amo e Vincent olhando para ela como se ela fosse um show de
horrores.
Fechando rapidamente as pernas, Lake se endireitou.
— Nada... O que vocês estão fazendo?
— Bem, tínhamos certeza de que ouvimos uma bomba — disse Vincent,
olhando para o carro dela.
— Não, ele faz isso — respondeu Lake, rindo e esperando que fosse o
fim da conversa.
Amo cruzou os braços.
— Também faz isso?
Ela olhou de volta para a enorme nuvem de fumaça.
— Sim, totalmente normal.
Todos eles só continuaram a olhar para ela daquele jeito.
Adalyn se aproximou.
— Você está bem, Lake?
— Sim. O que você…? — Ela deu um tapa na mão de Adalyn para tirá-la
da testa. — Está fazendo…? Ai! Para com isso. — Lake fechou os olhos para
o sol brilhante e abaixou os óculos escuros enquanto batia com mais força na
mão de Adalyn.
Adalyn balançou a cabeça.
— Tem algo de errado com você. Por que seus pés estão cobertos de
Band-Aids?
Lake olhou para seus pés. Ela teve que dar um jeito em todas as bolhas da
noite anterior, e a única coisa que conseguiu colocar nos pés depois disso
foram chinelos.
— Seus pés vão se acostumar a usar salto alto — Maria entrou na
conversa.
Adalyn riu.
— Ela não usa salto alto.
— Foi um sapato velho meu que fez isso — Lake concordou.
Maria continuou:
— Tenho certeza de que essas bolhas são fruto de um salto altíssimo.
Nero bateu levemente no braço de sua irmã para calá-la.
Lake podia sentir todo mundo olhando para ela de cima a baixo
novamente, e a maneira como Vincent estava fazendo isso a lembrou dos
olhares que recebeu dos homens no cassino. Ela precisava desesperadamente
desviar a atenção de si.
— Alguém pode me dizer o que está acontecendo?
— Ah, sim, vamos fazer compras! — Adalyn revelou, sorrindo.
— Inclusive eles? — Lake disse, apontando para os três caras. Por favor,
diga que não. Por favor, diga que não.
Maria suspirou, revirando os olhos.
— Sim.
Lake se perguntou se seria escroto de sua parte simplesmente se virar e
começar a se afastar. Talvez eu possa mandar uma conversinha mole e fugir.
Ela sempre se sentia excluída quando ia fazer compras porque nunca tinha
dinheiro para comprar roupas, e quando comprava algumas peças novas que
tinham algum estilo, Ashley sempre as roubava.
— Vocês não precisam de mim. Já tem gente suficiente. — Ela fez
questão de sorrir antes de se virar.
— Não, você vai conosco, Lake. Por que você está agindo tão estranho?
— Adalyn disse, agarrando seu braço para detê-la.
Lake não sabia como responder.
— Você está agindo estranho!
— Não, você está agindo muito estranho!
— Não, você é muito estranha! — ela disse. As duas continuaram a
discutir, mas as duas estavam claramente brincando uma com a outra, rindo.

Vincent olhou para as duas garotas, balançando a cabeça.


— Elas são sempre assim? — Elle sussurrou.
— Elas não estão realmente bravas uma com a outra, estão? — Chloe
sussurrou ainda mais baixo.
Maria apertou os olhos.
— Não sei. Não consigo ver o que ela está sentindo com esses óculos de
sol imensos.
— Que se foda. Eu não vou. Vocês dois podem levá-las — disse Amo
para Nero e Vincent.
— Não, estaremos em menor número — Nero ordenou.
Vincent podia sentir sua raiva começando a brotar, embora a voz dentro
de sua cabeça estivesse tentando lhe dizer para se acalmar. Ele estava ficando
com dor de cabeça por causa de toda aquela discussão, e olhar para as longas
pernas de Lake não estava ajudando seus pensamentos.
— Vocês duas são estranhas para caralho. Agora podemos ir? — Vincent
rugiu.
— Caramba, Vincent, você não precisa ser tão malvado — disse Adalyn,
colocando a mão no quadril.
Ele teve de respirar longa e profundamente. Acalme-se, antes que acabe
matando sua irmã.

— Sim, Vincent, você não precisa ser tão malvado — Lake imitou a amiga,
sorrindo. Sabia que ele estava prestes a explodir, mas se era para ficar presa
com ele o dia todo, pelo menos iria se divertir.
Maria cobriu a orelha mais perto dele.
— Concordo. Você gritou bem no meu ouvido.
— No meu também — acrescentou Chloe.
Elle se virou para olhar para Vincent.
— Você deveria tentar respirar profunda…
Nero rapidamente agarrou Elle e começou a arrastá-la para o carro, longe
do alcance de Vincent.
— Hora de ir embora.
Esquece o que eu disse, isso pode ser divertido, Lake pensou enquanto
olhava para o rosto de Vincent. A criança dentro dela queria mostrar a língua
para ele só pela cara feia que ele estava fazendo. Todo mundo sabia que
Adalyn poderia se safar falando desse jeito com Vincent surtado. Mas isso só
acontecia com ela mesmo.
Nero abriu a porta traseira de um Cadillac Escalade preto para eles
entrarem. Parecia novo em folha e era enorme, com três fileiras de assentos.
— De quem é esse carro? — Adalyn perguntou com admiração.
— De Lucca — Maria respondeu.
A boca de Adalyn se abriu.
— Por que ele emprestou esse carro? Eu nem mesmo deixaria minha mãe
encostar nele. É tão bonito.
Vincent deu um empurrãozinho na irmã.
— Bom saber disso.
Lake olhou para o rosto de Amo, percebendo rapidamente o que achava
daquela conversa. Em seguida, foi a vez de Chloe entrar.
— Ele sabia que íamos sair e que seria útil usar um grande SUV, foi isso
— respondeu Nero.
Hum... certo. Ela achou que a forma como Nero tinha dito aquelas
palavras havia sido calculada para acalmar Amo.
Lake rapidamente fez as contas.
— Adalyn, vamos no seu carro, já que não há assentos suficientes, e eu
prefiro não ser esmagada.
— S-se Nero e Elle sentarem na frente, então Maria terá de sentar ao seu
lado — Chloe disse para Vincent e Amo. — Mas isso vai me deixar
esmagada ao lado da outra pessoa. — Ela nem tinha entrado no carro ainda,
claramente preocupada que alguém acabasse tocando nela.
— Foda-se. Vou no meu carro. — Amo partiu em direção ao seu veículo.
— Eu vou com você. — Vincent foi rapidamente atrás dele.
Ela rapidamente puxou Adalyn para que fossem até seu carro. Os olhos
de Adalyn se iluminaram, como se tivesse recebido a oportunidade de ir
naquele belo veículo, e Lake estava com medo de que ela pulasse ao lado de
Chloe, sem saber de seus problemas.
A voz alta de Vincent soou em seus ouvidos.
— Adalyn e Lake, vocês vêm com a gente.
— Diga não, diga não — Lake sussurrou para ela, segurando o braço de
sua amiga com força quando Adalyn começou a ir em direção ao carro de
Amo.
— Desculpe, Lake disse não! — Adalyn gritou para Vincent.
Lake revirou os olhos.
— Você quer que eu te mate hoje?
— Faça isso! — Vincent gritou antes de fechar a porta do carro.
Lake tinha de admitir, ela estava um pouco chocada por estar se divertindo
tanto no shopping. Os meninos ficaram para trás, de olho nelas, e ela não se
incomodou com a presença de Vincent. Porém, de vez em quando, olhava
para trás e o pegava olhando para sua bunda. Ela olhava feio, mas Vincent
não se importava. Nem estava disfarçando.
Em geral, as meninas estavam olhando vitrines sem realmente encontrar
nada que gostassem o suficiente para comprar. Lake imaginou que não devia
ter passado tanto tempo desde a última compra delas.
Desistindo das lojas, foram para a praça de alimentação e escolheram
uma mesa grande o suficiente para todas se sentarem. Os caras trouxeram um
monte de hambúrgueres e batatas fritas.
— Você sabe que eu odeio quando você faz isso — Nero disse a Elle,
colocando a comida na frente dela.
— Desculpe, mas não há espaço para você se sentar conosco. — Elle
sorriu docemente para ele.
— Você vai pagar por isso mais tarde — ele avisou antes que fossem
atrás de uma mesa próxima.
Lake olhou para o rosto corado de Elle.
— O que ele odeia?
Chloe riu.
— Ele ainda está um pouco magoado por ela ter dito não quando ele
pediu para se sentar ao lado dela pela primeira vez no refeitório da escola.
— Você disse não a Nero? — Adalyn perguntou, o queixo caindo.
— Sim, e ele me lembra disso todos os dias — disse Elle antes de dar
uma mordida em seu hambúrguer.
— O que te fez mudar de ideia? — Lake perguntou com curiosidade.
Algo nela queria saber o que havia alterado sua opinião sobre um homem
como Nero. Ou Vincent.
Elle falou alto para que ele pudesse ouvir.
— Ainda estou tentando descobrir.
Essa não era a resposta que ela estava procurando, mas certamente não a
decepcionou. A expressão de Nero fez com que todos caíssem na gargalhada;
no entanto, as risadas de Elle não duraram muito.
Depois que terminaram de comer, elas decidiram experimentar mais uma
loja antes de sair, não querendo sair de mãos vazias.
Após procurar nas prateleiras que nem loucas, Lake encontrou um vestido
leve e arejado que pensou ser perfeito para o verão quente. Segurando-o, ela
pensou em pelo menos experimentá-lo. Pela primeira vez, ela tinha dinheiro
em sua bolsa, graças à noite anterior, para o comprar.
Não, eu não preciso disso.
— Ahn, experimenta. É tão bonito — Maria perguntou.
Lake olhou para as garotas em volta dela.
— Não vai ficar bem em mim. — Lake deu de ombros. — Aqui, você
pode experimentar. Vai ficar melhor em você de qualquer maneira.
Maria apontou para o provador.
— Deixe de ser boba e vá.
Ela não esperava que Maria dissesse isso.
Sorrindo, Lake foi em direção ao provador, mas parou quando viu Ashley
e as amigas.
— Olha só quem eu encontrei. Sua mãe quer que você venha para casa
pegar seu presente de formatura. Tenho certeza que meu pai adoraria
parabenizá-la também.
Ashley claramente gostou de contar a ela a última parte.

Vincent, Nero e Amo seguiram as meninas e encontraram Lake.


Ele jurou que ouviu sua irmã dizer “uh-oh” quando a encontraram
conversando com algumas garotas. Sabendo muito bem onde isso poderia
dar, Vincent foi para o lado de Lake.
Estou farto de todas essas vadias...
Nero levantou a mão, parando-o.
— Maria pode causar muito mais danos do que nós.

Afaste-se, antes…
Era tarde demais quando as meninas vieram procurá-la.
— Ai, meu Deus! Minha irmã realmente tem mais de um amigo? —
Ashley perguntou, fingindo estar em choque.
— Ela não é sua irmã — Adalyn a lembrou.
Lake queria desaparecer, sabendo que todos estavam testemunhando sua
humilhação.
— Nos vemos mais tarde. Vamos, pessoal. — Ela voltou para o provador,
não querendo que aquela situação aumentasse de proporção.
Ashley agarrou com força o vestido de sua mão.
— Esse vestido ficaria muito melhor em mim. Você não acha, lixo de
trailer?
Maria soou estranhamente doce quando falou.
— Oh, querida, você não acredita de verdade que ficaria bem em você,
não é? — Ela educadamente subiu e pegou o vestido de Ashley, que estava
chocada. — Nenhuma de nós foi abençoada com o corpo de Lake.
Lake balançou a cabeça.
— E-está tudo bem. Eu não quero esse vestido.
— Tudo bem. Eu também não gostaria de nada que tenha passado pelas
mãos dela.
Maria deu de ombros, pendurando-o de volta em uma prateleira.
Ashley saiu com a boca escancarada, suas amigas seguindo logo atrás
dela.
— Obrigada. — Lake sorriu para Maria antes que seus olhos voltassem
ao chão com vergonha.
— De nada.
— Adalyn, eu, hum... realmente preciso ir para casa — Lake disse a
amiga.
Adalyn assentiu.
— Ok, claro.
A cabeça de Lake se ergueu, e nesse momento ela notou os meninos
parados ali. Desejou que pudesse pelo menos ter recuado vinte segundos
antes, para que seus olhos não lacrimejassem quando ela visse o rosto de
Vincent.
Lake foi direto para o carro e ficou grata por Adalyn ter vindo junto.
Viajaram em silêncio durante todo o caminho de volta para a casa. Lake
gostava de manter as coisas para si mesma a maior parte do tempo, e sua
melhor amiga sabia quando era melhor deixá-la quieta. Quando chegaram à
casa, ela saiu rapidamente, se despedindo de Adalyn.
Lake foi até seu carro velho, querendo escapar antes que Amo deixasse
Vincent. Ela conseguiu fechar a porta antes que eles entrassem na garagem,
rapidamente colocou a chave na ignição e a girou, apenas para o motor não
pegar.
— Fala sério. Não hoje! — Ela virou a chave novamente e a manteve
assim por mais tempo, na esperança de que o motor pegasse.
Lake bateu no volante a cada palavra que gritava.
— Vai se foder, sua lata velha do caralho. Por que você não funciona?
Ela ouviu uma batida na janela do lado do motorista.
Virando a cabeça, viu Vincent. Calmamente, abaixou o vidro da janela,
usando a maçaneta.
— Sim?
— Me deixa adivinhar, ele faz esse tipo de coisa também? — ele
perguntou com um sorriso no rosto.
— Sim, está apenas precisando esquentar. — Ela girou a chave de novo,
e de novo, e de novo, até que Vincent estendeu a mão e a deteve.
— Ok, querida, acho que tá bom. Abra o capô.
Lake sentiu fogos de artifício na mão por causa de seu breve toque. Ela
odiava se sentir afetada quando ele claramente não sentia nada. Vincent mal
havia tocado a mão dela, apenas para soltá-la um segundo depois e ir para o
capô do carro.
Quando ela olhou para o rapaz pelo para-brisa, ele pediu que se
apressasse, só com um olhar. Ela apertou o botão para abrir o capô, em
seguida saiu do carro. Nossa, eu não quero te segurar aqui e te impedir de ir
comer uma fila indiana de garotas.
— Tá tudo bem. Não preciso da sua ajuda.
Vincent levantou o capô, revelando o motor.
— Sim, tudo bem, querida.
Quem ele pensa que é? O tom sarcástico a irritou.
— Eu vejo meu pai fazer isso o tempo todo. — Ela colocou a mão no
peito dele e o empurrou para trás.
Ele começou a levantar a voz.
— Aposto que você nem…
Lake se inclinou sobre o capô, olhando lá para dentro.
— Você provavelmente sabe mais do que eu. — Seu tom baixou
enquanto ele recuava ainda mais para ter uma visão mais ampla de sua bunda.
— Acho que deve funcionar — comentou ela depois de alguns minutos
batendo e girando algumas coisas, tentando imitar o que o pai fazia.
— Bom, muito muito bom — concordou Vincent.
Sorrindo, Lake voltou para o carro e virou a chave novamente. Quando
ainda não deu partida, ela voltou para o capô, perplexa.
— Pareceu que quase funcionou. Acho que o que você estava fazendo
estava funcionando — ele a encorajou.
— Sim, você tem razão. Pareceu mesmo que quase deu a partida. — Ela
se inclinou sobre o capô e saiu mexendo em mais algumas coisas.
— Vê aquela coisa lá atrás? Tente mexer nelas.
— O que, nisso? — Lake se inclinou mais para tocar num cano.
Vincent se aproximou dela, e então apontou para algo ainda mais atrás.
— Não, isso.
Ela precisou ficar na ponta dos pés para alcançar o que ele estava
apontando.
— Deixe-me ajudá-la, querida — disse ele, inclinando-se sobre ela.
Lake prendeu a respiração quando o corpo de Vincent cobriu o dela.
Então ela ligeiramente empurrou seu corpo para mais perto dele, inconsciente
de suas próprias ações. Os fogos de artifício voltaram, e ela quis mais quando
pôde sentir a protuberância em seu traseiro. Um segundo depois, sentiu a mão
dele ir para o topo de sua coxa, fazendo seu coração acelerar. Quando sentiu a
mão na polpa da sua bunda, exposta pelo short curto, ela saiu dessa neblina.
— Vincent, no que diabos você está pensando? — Ela rapidamente se
virou e puxou o short para cobrir a bunda novamente.
A voz sombria e rouca envolveu seu corpo.
— Querida, você não quer saber o que estou pensando.
Eu quero.
Ela umedeceu os lábios repentinamente secos e recuou para o capô do
carro, tentando criar algum espaço entre eles. Lake não conseguia raciocinar
direito estando tão perto dele.
— Hum, Adalyn pode nos ver. — Finalmente tinha conseguido escapar
de seus pensamentos.
— Eu disse ao Amo para distraí-la. — Ele deu um passo em direção a
Lake, cobrindo a frente de seu corpo.
— Então você sabia que isso ia acontecer? — Saiu mais ofegante do que
pretendia, ainda querendo lutar contra o desejo de tocá-lo.
Vincent esfregou o polegar sobre o lábio inferior molhado.
— Querida, meus sonhos com você não foram tão bons quanto você se
inclinando sobre o carro.
Os olhos de Lake foram de suas profundezas azul-bebê para seus lábios.
Ela estava muito perto de beijá-lo novamente. Lake vinha sonhando com o
último beijo que deram e sabia que este só faria ser melhor o anterior. A
maneira como Vincent falava com ela fez sua feminilidade responder a cada
palavra. Assustou-a o quanto ela queria isso, precisava disso.
Lake precisou fechar os olhos enquanto virava a cabeça para longe do
beijo.
— Não — ela sussurrou.
Vincent gentilmente agarrou o queixo de Lake e virou o rosto para olhar
para ele.
— Por que não? Eu sei que você me quer também, querida.
Lake não queria contar a verdade, mas sabia que se não contasse, ele a
beijaria. Vincent também não era um homem a quem uma garota pudesse
dizer não.
Ela teve de olhar para o peito dele, incapaz de olhá-lo nos olhos.
— Porque você vai me dizer que é um erro e me deixar para trás de novo.
Vincent tirou as mãos dela e deu um passo para trás, passando a mão pelo
cabelo.
— Você tem razão; isso não é justo com você. Desculpa. — Ele foi até o
capô do carro e começou a mexer no interior do veículo.
Lake sabia que tinha tomado a decisão certa pela rapidez com que
Vincent mudou de postura, e não importa o quanto tenha doído. Ele
obviamente só queria uma foda rápida, nada mais. Era a mesma coisa que
fazia com todas as outras garotas, e Lake não seria apenas um número para
um cara, mesmo que ele fosse descendente dos deuses. Duvido que ele ainda
não tenha perdido a conta.
Observando-o, Lake notou que tinha visto seu pai fazer o que Vincent
estava fazendo.
— Você sabe exatamente o que há de errado no carro, não é?
— Sim.
Ah, meu Deus! Lake bateu em seu braço.
— Você é um idiota. Você fez isso para poder olhar minha bunda, não
foi?
Vincent olhou por baixo do capô do carro e abriu um sorriso.
— Querida, eu avisei duas vezes para não se vestir assim, e acredite em
mim, essa sua bundinha estava implorando por isso com esse short.
Ela não entendeu exatamente o que ele disse no início, visto que o achava
irresistível quando falava com ela dessa forma. Não, ele não é!
— Bem, sua irmã não me explicou exatamente que eu iria ao shopping
com todos vocês, e eu também não sabia exatamente que meu carro ia fazer
isso.
— É este o carro que você vai levar para a faculdade? — Vincent
perguntou, soando quase preocupado.
Lake olhou para a calçada quando a percepção de que ela não tinha mais
dinheiro para ir para a faculdade finalmente a atingiu. Ela não tinha ideia de
como iria contar a Adalyn — ou a qualquer um, aliás —, de tão
envergonhada que estava por não poder mais ir. Era por isso que não ia
contar a Vincent.
— Não, esse é o carro do meu pai. Estou planejando alugar um
apartamento a apenas um quilômetro e meio da faculdade, então não vou
precisar de um.
— Você quer dizer então que vai para uma porra de uma cidade nova
onde você não conhece ninguém e que planeja andar a pé para tudo?
Lake não gostou daquele tom de voz, e se não o conhecesse, teria achado
que Vincent estava quase preocupado com ela.
— Isso ou pegar um ônibus. Ou, sei lá, vou encontrar alguém para me dar
uma carona.
— É melhor você estar brincando, Lake — ele rosnou para ela.
— Não finja que se importa comigo. — Lake se virou para sentar em seu
carro. Poderia esperar lá enquanto ele consertava tudo.
Vincent rapidamente agarrou a mão dela para detê-la.
— Eu me importo com você, querida.
Lake ficou impressionada com a rapidez com que a voz dele podia passar
de furiosa para suave. Ao olhar em seus olhos azuis-bebê, acreditou em
Vincent.
— Sério? — ela perguntou baixinho, querendo ouvi-lo dizer isso de novo.
— É claro. Você é a melhor amiga da minha irmã.
Foi quando o momento morreu para ela. Vincent só se importava com ela
por causa de Adalyn. Claro que não seria por minha causa. Finalmente
entendeu a diferença entre eles. Ela se importava com Vincent porque
gostava dele, não porque ele era o irmão de sua melhor amiga.
Lake se sentiu estúpida, sabendo que Vincent nunca iria gostar dela por
causa dela. Lucca tinha deixado claro que apenas italianos podiam fazer parte
da máfia, e Vincent só sabia amar uma coisa: a máfia. Se ele sossegasse, seria
com alguma mulher italiana sexy, que aí, se eles tivessem filhos, seus
descendentes poderiam seguir seus passos. Eu só mancharia o nome da
família Vitale.
Ela afastou a mão dele.
— Consertou?
— Sim. O que você tem?
— Nada — disse ela, tentando puxar a vara em que o capô estava se
equilibrando.
Vincent rapidamente agarrou o capô do carro.
— Puta merda, você vai cortar os dedos fora! — ele gritou para ela.
— Se eu fizesse, você só se importaria por causa de Adalyn, certo?
Quando Vincent simplesmente olhou para ela sem dizer nada, Lake se
virou e entrou no carro, batendo a porta. Rapidamente ela girou a chave na
ignição e finalmente deu partida.
Vincent mal conseguiu fechar o capô e sair com segurança do caminho
antes que ela pudesse atropelá-lo.
Droga, Deus! Você não poderia ter me deixado ganhar uma vez hoje?
Felizmente, o olhar em seu rosto quando Vincent pulou para fora do
caminho deu a ela um pouco de paz.
Ela tentou me atropelar, não foi? Ela tentou, sim, caralho!
Vincent estava fazendo um favor àquela garota, e ela nem sabia disso. Ele
não gostava de dizer que só se importava com ela porque era a melhor amiga
de sua irmã. Porra, ele queria acreditar nisso.
“Porque você vai me dizer que é um erro e me deixar para trás de novo”.
Essa única frase quase arrancou seu coração, e ele tinha certeza de que nem
sequer tinha um. Ela já estava com um pé fora de Kansas City, e quando
chegasse a hora de ir para a faculdade, ele não podia ir com ela. Lake nunca
cogitaria ficar, e Vincent nunca cogitaria ir embora.
Claro, ele poderia brincar com ela, se divertir por um tempo, mas sabia
qual seria o resultado. Vincent a destruiria; destruiria totalmente algo
precioso que já estava à beira de se partir.
Quando viu aquela piranha falar com Lake daquele jeito no shopping,
finalmente entendeu por que ela disse que se identificava com Chloe. Seu
instinto lhe disse que ela talvez tenha ficado sozinha a vida toda, e ele tinha
sido muito estúpido para conseguir notar isso.
Vincent começou a se lembrar vagamente de querer dar a volta com o
carro quando a deixou na casa da mãe dela. Eu deveria ter dado a volta. Ele
estava enjoado só de pensar em toda a merda que ela poderia ter passado nos
últimos dois meses. Eu a deixei lá.
O lugar onde seu coração deveria estar começou a doer. Ele nunca tinha
experimentado isso antes. Com medo, bloqueou a consciência, incapaz de
ouvir a voz em sua cabeça que tentava explicar o novo sentimento. Ele a
substituiu por uma que conhecia muito bem, uma que sussurrava seus desejos
pecaminosos. Deixou o sentimento de raiva começar a tomar conta de seu
corpo. Foi claro; destruí-la apenas o quebraria, e ele era inquebrável.
Vincent ouviu a porta bater. Olhando para cima, viu o rosto furioso de
Amo saindo da casa.
— Sua irmã não cala a boca, não é? Não tem uma porra de um filtro. O
tempo todo, eu tive que ficar ouvindo sobre quão gostosos Nero e Lucca são.
Ela é toda fodida de cabeça, assim como você. Ela treparia com os olhos de
Nero e o Escalade de Lucca se pudesse. Enquanto eu estava ouvindo e
tentando não criar uma imagem mental das paradas insanas dela, olhei pela
janela para ver se eu poderia dar o fora de lá e vi Lake curvada sobre a porra
do carro. Você estava lá, provando do sonho molhado de todo homem, e lá
estava eu, tentando distrair sua irmã para que você pudesse aproveitar.
Quando dormir, você vai ter a imagem daquela bela raba na cabeça, enquanto
eu vou ter um monte de pesadelos com sua irmã trepando com um Escalade
verde!
Com toda aquela frustração, Amo finalmente conseguiu abrir a porta do
carro.
Vincent tentou não engasgar com uma risada.
— Ninguém é mais fodido da cabeça sexualmente do que você, Amo.
Você logo vai achar algo que te distraia.
— Você me deve uma por isso, Vince, então por que você não vai
encontrar alguém para mim? — Amo gritou antes de fechar a porta.
Caralho?! Pela segunda vez hoje, ele teve de se esquivar para não ser
atropelado.
Eu provavelmente mereci, ele pensou, sorrindo ao se lembrar de como
ficou de pau duro só de olhar para Lake naquele shortinho minúsculo.
Vincent sofreu quando ela se curvou sobre o carro apenas o suficiente para
que a parte inferior de suas nádegas saltasse, mas valeu cem por cento a pena.
Ele não podia mais resistir ao desejo de tocá-la, sua mão já coçando para
fazer isso novamente. Ele achava que a mão dela era macia. Mas, caramba,
as pernas e a bunda são as coisas mais suaves que eu já senti.
Vincent tocou em muitas mulheres, mas nenhuma daquele jeito, e ele não
tinha ideia de como isso era possível.
Talvez ela tenha uma doença em que só nasce pelos e cabelo na cabeça?
Imaginar se essa doença existia o deixou curioso, com vontade de conhecer
exatamente a maciez que poderia existir em outros lugares. Claro, isso o fez
imediatamente interromper tais pensamentos e xingar Lake, e olha que ele
tinha feito a mesma coisa uns cinco minutos antes. Claro, nós cairíamos no
abismo e queimaríamos juntos, mas seria bom pra caralho, sua voz sinistra
sussurrou para ele.
— Estou realmente fodido da cabeça — disse a si mesmo.

Lake tentou reunir coragem para entrar pela porta da frente. Ela já havia
passado por muita coisa e não sabia quanto mais poderia aguentar.
Girando a maçaneta, ela entrou na casa dos horrores.
— Aí está meu bebê todo crescido! — Sua mãe correu até ela, dando-lhe
um abraço. — Sinto muito por não ter ido, mas eu tenho algo para você, para
compensar isso.
— Ah, obrigado, mãe. — Ela tentou soar tão entusiasmada quanto podia.
Quando sua mãe a arrastou para a cozinha, viu John e Ashley sentados à
mesa, comendo comida chinesa enquanto lançavam olhares de nojo pelas
costas de sua mãe.
Depois que sua mãe lhe deu uma grande sacola de presentes que pegou
no balcão da cozinha, Lake viu a mãe praticamente explodir de ansiedade,
esperando que ela abrisse.
Lake ia ter de fingir estar muito animada quando visse o que tinha na
sacola. Puxou o papel de seda de dentro e conseguiu ver o conteúdo. Quase a
matou ter de retirar o presente da sacola e mostrar a John e Ashley.
Agarrando as alças da bolsa de grife muito cara e grande, ela a puxou.
— Mãe, que demais. Obrigada. — Ela sorriu o máximo que pôde
enquanto lhe dava um abraço.
Olhando para o rosto deformado de John, ela temeu a tempestade que se
aproximava.
— De nada, querida. Eu sei que você não gosta de mochilas, e pensei que
você poderia colocar seus livros nela para a faculdade. Parabéns! — Sua mãe
lhe deu outro grande abraço.
— Bem, é perfeita. Obrigada. — Ela precisava encerrar aquele momento
e dar o fora dali. Ashley nem estava tentando esconder seu desgosto e inveja
naquele momento.
— John? — sua mãe cutucou.
— Parabéns. — Ele lambeu os dentes da frente. — Eles esqueceram as
costelas novamente. Eu preciso que você volte e pegue.
Merda, merda, merda. Ela tinha de pensar em algo.
— Ok, eu já volto, querida — sua mãe disse a ela.
— Na verdade, eu tenho que voltar. Papai voltou para casa, está
esperando por mim.
Ela tentou fazer com que John entendesse, enfatizando a parte do pai. Ele
não seria capaz de mantê-la e torturá-la naquela noite porque seu pai estava
esperando por ela, mas estava certa de que ele a faria pagar dez vezes por
isso, a julgar pelo olhar em seu rosto.
— Tudo bem, querida. Você pode me contar tudo sobre a formatura na
sexta-feira.
Lake soltou um suspiro de alívio imperceptível quando colocou a bolsa
de volta na sacola de presente.
— Lix… Por que você não vai levar isso para o seu quarto? Aí vai
proteger e mantê-lo novo para quando o semestre começar — John disse a
ela.
Ela engoliu o nó na garganta.
— O-Ok. Volto já, mãe. Podemos sair juntas…
Assim que Lake chegou à cozinha, andou o mais rápido que pôde sem
sair correndo. Rapidamente, subiu os degraus e correu pelo corredor. Pulou
para puxar a corda, mas apenas as pontas de seus dedos conseguiram alcançá-
la.
— Eu pensei que você precisava de um treino extra. Você estava ficando
muito boa nisso, pelo que eu vi da última vez — Ashley disse, vindo atrás
dela.
Ela se virou e estendeu a bolsa.
— Anda logo e pega.
— Não é tão divertido quando você só me dá.
Lake trouxe a bolsa de volta para o seu lado quando Ashley não quis
pegá-la. No momento em que o fez, Ashley a arrancou de suas mãos.
— Na verdade, é, piranha. — Ashley começou a rir. — Boa sorte para
entrar em seu quartinho de merda agora.
Lake a observou caminhar alegremente para seu próprio quarto com o
presente na mão. Ela sabia que não ficaria com ele, e a verdade é que nem
mesmo queria. Presentes deixavam todos tão felizes, mas, para ela, só
causavam medo. Quanto melhor o presente, mais assustada Lake ficava.
Dessa vez, ela decidiu correr, sem se importar se alguém iria ouvir. Ela
precisava descer antes que sua mãe saísse.
Quando Lake chegou ao topo da escada, sabia que era tarde demais. John
estava esperando por ela no final dos degraus. Se não tivesse que trabalhar,
ela teria se virado e se trancado em seu sótão.
Não tendo escolha, lentamente desceu os degraus. Cerca de quatro
degraus acima de John, ela parou e começou a rezar silenciosamente.
— Tenho planos para você neste fim de semana; grandes pilhas de merda
que só a escória de um lixo de trailer pode limpar. Você é minha, e vai
entender o quanto isso é verdade em poucos dias. Vou compensar todo o
tempo que vou perder quando você for para a faculdade. A única coisa que
vai ajudá-la a superar isso é pensar no que o merdinha do seu pai faria com
sua mãe se descobrisse como você é tratada aqui. O que você acha que
aqueles animais que pensam que cagam cheiroso fariam com ela? Eu sei que
você é retardada, mas tenho certeza que me entende, não é? — Ele disse a
última parte como se estivesse falando com um bebê.
Lake se lembrou de por que teve de aturar John torturando-a e por que
precisou manter isso em segredo todos esses anos. John estava certo; se ela
contasse a seu pai ou a Adalyn, a máfia viria atrás de sua mãe e a mataria.
Não havia dúvidas sobre isso. Sua mãe era sua família, seu sangue, e ela faria
o que precisasse para manter a família em segurança.
Ela olhou para o chão, derrotada.
— Sim, John. — Lake tinha tentado muitas vezes escapar daqueles fins
de semana de “A Hora do Pesadelo na Rua Quatro”, mas todas as suas
desculpas para não ir evaporavam sempre que sua mãe ligava para seu pai e
reclamava. Isso sempre levantava questões sobre por que ela não queria ir,
perguntas que nunca poderia responder.
Ele a encarou por mais um momento para incutir o medo do que estava
por vir antes de dar um passo para o lado.
Uma vez que ele se moveu, não levou dois segundos para Lake correr o
mais rápido que podia, descer os degraus e sair pela porta. Atrapalhando-se
com a maçaneta da porta do carro, ela finalmente conseguiu entrar e trancar
as portas.
Colocando o rosto nas mãos, ela começou a soluçar, perguntando a Deus,
por que eu? Por que eu…?
— Por que, Deus? — Lake chorou baixinho para si mesma enquanto
esfregava o vaso sanitário.
Ouvindo a porta do banheiro se abrir atrás dela, virou a cabeça para
trás e viu John.
— Porque você não é merda nenhuma, é por isso. Agora pare de chorar,
porra. Deus não vai te ajudar.
Ela cobriu a boca, tentando abafar o choro prestes a sair.
John foi até o balcão do banheiro e bateu as mãos o mais forte que pôde,
assustando Lake e a fazendo ficar em silêncio.
— Vá lá para cima. Foi exatamente por isso que fiz você se mudar para o
sótão. Estou farto de ouvir e olhar para nada além de um pedaço de merda.
Vai! — ele gritou com Lake.
Levantando-se e correndo o mais rápido que podia, ela atravessou o
corredor, parando apenas quando notou Ashley em uma escada da garagem.
Descendo lentamente, ela viu Ashley usar uma tesoura para cortar o fio
branco que foi usado para puxar as escadas do sótão para seu novo quarto.
Ashley finalmente a notou e estendeu a corda, mostrando-lhe o quanto
havia cortado.
— Achei um pouco longa. O que você acha?
Lake enxugou as lágrimas que escorriam por seu rosto sem lhe dar uma
resposta.
— Você está certa, piranha. Precisa cortar um pouco mais. Você é toda
boazuda, altona assim; Você consegue. — Ashley parecia ter pirado quando
disse “boazuda, altona assim” enquanto cortava mais um centímetro. —
Perfeito.
Ela observou Ashley descer a escada e tirá-la do caminho.
— Vá em frente, eu quero ver quão alto você pode pular. — Um sorriso
maligno apareceu em seu rosto.
Lake apenas ficou parada. Ela não ia deixar Ashley assistir.
— Você quer que eu chame meu pai, caralho? Tenho certeza de que ele
adoraria assistir a isso também. — Quando Lake não se moveu novamente,
ela começou a gritar. — PA…
Lake rapidamente se moveu em direção à corda, não querendo que John
viesse vê-la assim também.
Mais lágrimas fluíram quando ela pulou e tentou agarrar a corda. Ela
falhou nas primeiras vezes, tornando ainda mais difícil segurá-la depois que
começou a balançar para frente e para trás a cada tentativa fracassada.
A risada sádica de Ashley soou em seus ouvidos junto com as palavras:
— Mais alto. Pule mais alto, piranha…
Lake enxugou o rosto úmido de lágrimas usando as costas das mãos,
chegando à conclusão de que relembrar suas torturas passadas não a ajudaria
a parar de chorar, e chorar não resolveria nenhum de seus problemas.
Ela tinha de trabalhar naquela noite e se recompor se quisesse resolver
seu maior problema.
Para uma garota de dezoito anos, era triste pensar que a única maneira de
salvar a vida dela e de seu pai era trabalhar em um cassino hipersexualizado.
Às vezes, a vida simplesmente não era justa.
O segundo dia de trabalho não foi mais fácil que o primeiro. Seus pés ainda
estavam doloridos do dia anterior, e sair de trás da cortina vestida como uma
coelhinha da Playboy ainda a assustava. Levou a metade de seu turno para
que se acostumasse com tudo de novo.
Enquanto fazia suas rondas, ela foi para uma mesa de pôquer. Segurando
o bloco e a caneta, anotou os pedidos dos homens enquanto rapidamente dava
a volta na mesa.
— Quer que eu traga algo para você? — ela perguntou ao homem no
final da mesa enquanto anotava o pedido do último. Normalmente, ela não
precisava perguntar quando estava em uma mesa de pôquer; eles rapidamente
cuspiam o que queriam, e ela sequer precisava olhar para cima.
— Então é verdade. Devo dizer que, quando soube do que aconteceu, não
acreditei que você teria coragem de trabalhar aqui embaixo.
Ela nem precisou erguer os olhos do bloco para saber de quem era aquela
voz assustadora e sombria. Atordoada, ela não sabia o que dizer enquanto
olhava para os aterrorizantes olhos azul-esverdeados.
— Não se preocupe, querida. Estou tão chocado quanto você — Lucca
disse, olhando para sua transformação.
Sentindo-se envergonhada e constrangida com sua roupa reveladora,
Lake queria fugir.
— Q-quer que eu traga algo para você?
Lucca olhou para suas cartas, em seguida deslizou uma enorme pilha de
fichas para o meio da mesa.
— Quero um pouco de Jack, querida.
Ela foi até o bar, o coração começou a disparar enquanto se perguntava
quem sabia sobre sua dívida. Quem mais sabe? E se Adalyn descobrir?
Tentando acalmar os nervos, ela pegou a enorme bandeja de bebidas. Não
derrame! Ela estava tremendo tanto, que os líquidos derramavam
descontroladamente de seus copos.
Respirando profundamente, ela voltou para a mesa de pôquer e distribuiu
as bebidas. Quando pousou a bebida na frente de Lucca, ele nem sequer
ergueu os olhos de seu jogo. Obrigada. Saindo correndo, Lake foi para a
mesa ao lado.
A noite continuou, e toda vez que ela visitava o jogo de pôquer de Lucca,
ele não prestava atenção nela. As únicas palavras que disse a ela foram para
pedir um novo copo de Jack, mas nem uma vez olhou para ela. Lake estava
muito grata por isso, e depois das primeiras vezes, não prestou atenção nele
também, esquecendo o fato de que o conhecia como o subchefe. Caramba, ela
nunca teria pensado nisso, mas preferia servi-lo a todos os outros, já que ele
nunca olhava para sua bunda ou seus peitos.
Voltando mais uma vez para a mesa de pôquer, ela notou quão grande a
pilha de fichas de Lucca tinha ficado.
— Gostaria de beber algo mais?
— Não, obrigado, querida — disse ele, levantando-se. Enfiando a mão no
bolso traseiro da calça jeans escura, ele tirou um maço de dinheiro preso em
um clipe prateado.
Lake olhou para ele em choque enquanto Lucca tirava cinco notas de cem
dólares do clipe. Ela não sabia como aceitar. Ninguém tinha lhe dado uma
gorjeta tão grande assim, especialmente não alguém que só tinha bebido uma
garrafa de Jack.
— Pegue, querida — disse ele, empurrando as notas para mais perto dela.
Quando ela finalmente pegou a gorjeta, ele a impediu de guardar onde estava
prestes a fazer. — E você não precisa enfiar nos seus peitos. Não é por isso
que estou te dando o dinheiro.
— Obrigada — ela disse incrédula, e ele começou a juntar suas fichas.
Quando ele não disse mais nada, Lake voltou para o bar. O que diabos
aconteceu?

Vincent entrou no escritório de Lucca perguntando-se por que o havia


convidado para lá.
Assim que entrou, viu que Nero e Amo já estavam lá. Isso vai ser ou
muito bom ou muito ruim.
— Demorou pra caralho, hein? — Lucca comentou enquanto acendia um
cigarro.
— Desculpe, eu estava ocupado.
Lucca olhou para seu cabelo molhado.
— É, tô vendo. Foi mãe ou filha desta vez? Ou, caralho, foram as duas?
Vincent sentou-se e sorriu para ele.
— Essa não tinha nem mãe nem pai. Tinha uns problemas sérios
familiares.
Nero e Amo apenas balançaram a cabeça.
— Deixe-me adivinhar, você ajudou a resolver os problemas dela em dez
minutos? — Lucca bateu suas cinzas em um cinzeiro.
Na verdade, em uma hora.
— E os problemas de Lake? Você já resolveu? — ele continuou.
— Sim, ele consertou o carro dela, logo depois que ficou olhando a bunda
dela enquanto ela tentava consertar tudo sozinha. Você ainda me deve por
isso. — Amo claramente ainda estava bravo com ele.
— Eu te disse da última vez, Lucca; Lake não é nada minha. Ela vai
embora em alguns meses, e você não terá mais que ouvir a falta de filtro dela.
Não é como se você a encontrasse com frequência de qualquer forma.
Vincent estava ficando irritado, sem entender por que Lucca se importava
tanto.
— Porra, que pena. Eu esperava que o carro dela quebrasse novamente.
Você acha que poderia fazer com que Elle a convidasse para ir ao shopping
novamente? — Amo perguntou a Nero.
Nero olhou para ele com cara de bobo.
— Você acabou de me pedir para levar Elle para fazer compras na
esperança de que você tenha sorte de que o carro de Lake quebre novamente?
Amo deu de ombros.
— Quero dizer, com aquele carro não seria difícil, mas eu me certificaria
de que isso acontecesse.
Vincent apertou os braços da cadeira, fazendo seus dedos ficarem
brancos. Ele ficou mais irritado ainda ouvindo Amo; no entanto, não podia
torcer seu pescoço na frente de Lucca, não importa o quanto quisesse. Se o
fizesse, pareceria que nutria sentimentos por Lake. O único sentimento que
tenho por ela é querer comer ela toda.
Era quinta-feira à noite, e depois que ele consertou o carro dela, na
segunda-feira, conseguiu evitar ouvir sua consciência por dias. Vincent
também não planejava voltar atrás. Sabia o que a voz da razão em sua cabeça
iria dizer. Lake, Lake, Lake, Lake, e minha outra cabeça já está repetindo
isso o suficiente.
Uma vez que tivesse o pau sob controle, ele veria em que merda Lake
estava com sua família. Algo lá no fundo o assustou tanto, que decidiu
esperar, visto que, uma vez que descobrisse a verdade, tirá-la de sua cabeça
não seria mais possível. Ultimamente, Vincent estava com um fraco por
garotas indefesas, e culpou Nero por isso. Ele precisava fazer isso
estrategicamente, e por isso precisava manter Lake fora dos seus
pensamentos, para então cuidar de seus problemas por baixo dos panos. Ele
não precisava envolvê-la, vê-la ou falar com ela.
Lucca deu um último trago e apagou o cigarro.
— Eu vou dar a todos vocês um novo trabalho, já que vocês dois
claramente gostam de ficar olhando bunda o dia todo. — Ele acenou para
Vincent e Amo. — Considere isso um presente de formatura. Me encontrem
amanhã no cassino, e eu passo as informações lá.
Vincent, Nero e Amo saíram de seu escritório e foram para a sala de estar
da casa Caruso.
Quando olhou para Nero, Vincent sentiu sua angústia.
— Você não parece muito feliz.
Nero balançou a cabeça.
— Tem algo que não me parece certo. Meu irmão está planejando alguma
coisa.
— Acho que ele foi literal, e eu ficaria muito grato em passar o dia todo
olhando para uma bunda gostosa — disse Amo.
Vincent sorriu, ansioso pelo que estava por vir. Ele realmente gostava de
pegar novos trabalhos.
— Ele disse que é um presente de formatura, cara.
— Eu não gosto disso — Nero resmungou.
Vincent abriu a porta que levava ao próprio céu. Seu queixo caiu ao ver todas
as mulheres vestindo uma lingerie sexy. Não havia nada como garotas sexy e
milhares de dólares sendo jogados por aí.
— Puta merda, isso é real? — Amo disse com admiração.
— Acho que estou no céu. Você acha que é aqui que os homens de
família vão quando morrem? — Vincent perguntou, observando uma mulher
rodando em um pole.
— Isso é um inferno, isso sim. Eu ainda não gosto do rumo dessa prosa,
porra. — Nero parecia chateado.
Vincent e Amo olharam para ele como se Nero tivesse pirado por
completo.
— Elle vai me matar, porra. Eu não vou trabalhar aqui. Vou matar Lucca
por isso.
A raiva de Nero cresceu mais ainda quando se virou para voltar.
Amo rapidamente o agarrou.
— Reclame com Lucca sobre um trabalho e levará anos para você passar
para capo. Os trabalhos aqui não são dados a homens que entraram para a
máfia há um ano. Não estrague isso para a gente, cara. Você é filho do chefe
e irmão do subchefe. Ele vai descontar em todos nós se você for embora.
Nero afastou as mãos de Amo, concordando com a cabeça.
Obrigado, Deus. Vincent estava preocupado que seu amigo o
abandonasse, não tinha certeza se poderia perdoá-lo se Nero tirasse dele esse
pedaço do paraíso tão cedo assim.
Seus olhos foram atraídos para um ruído estridente quando uma mulher
deslizou lentamente pelo pole enquanto fazia aberturas.
— Não, porra, não posso fazer isso. — Nero se virou.
Dessa vez, Vincent o agarrou.
— Por favor, cara, eu estou te implorando. Este é o trabalho mais fácil e
mais bem pago que já tivemos. Tudo o que temos a fazer é ficar contra a
parede e garantir que ninguém passe a mão nas meninas, a menos que
paguem. Não é como se você contasse a Elle sobre os trabalhos que você faz
de qualquer maneira. Este não será diferente. — Quando Nero pareceu não
ceder, Vincent decidiu apelar para a culpa. — Quem te ajudou a foder com
todo mundo que olhou feio para a Elle? Nós. Agora, porra, cara, nos ajude.
Pelo menos me deixa foder algumas delas. Por favor.
— Porra! É melhor vocês, filhos da puta, rezarem para que ela não
descubra sobre isso.
Nero ainda não estava feliz.
Uma coisa é certa, Vincent pensou enquanto observava o ambiente, vou
precisar agradecer a Lucca e a Deus.
Querido Pai da Máfia, obrigado por me deixar entrar no Paraíso
Mafioso.
Nero olhou para Vincent enquanto ele sussurrava para si mesmo.
— Porra, Vincent; você está rezando de novo?

Lake desejou ter ido ao banheiro antes de se vestir com as roupas apertadas
que estavam cortando sua circulação. Ela estava trabalhando há quase uma
semana inteira, o que fez com que se sentisse um pouco orgulhosa. Bem, tão
orgulhosa quanto você pode ficar trabalhando aqui.
Felizmente, Sadie a manteve com o mesmo estilo de roupa, aproveitando
a vibe inocente que ela emanava. Naquele momento, usava um tom mais
claro de espartilho rosa que tinha um laço de seda preto entre os seios,
combinando com um short rosa-claro com babados, que pareciam encolher a
cada momento que passava, e meias pretas com laços de seda da mesma cor.
Ela ainda tinha de usar os mesmos sapatos pretos enormes, mas seus pés
finalmente estavam ficando dormentes e acostumados com a coisa toda,
como Maria havia dito que aconteceria.
A semana tinha sido muito difícil para Lake. Ela trabalhava até morrer
então ia direto para casa dormir, e repetiria tudo de novo no dia seguinte.
Parecia que a vida tinha sido sugada dela, e Lake não era mais capaz de
reconhecer seu reflexo no espelho.
A última vez que Lake viu o pai foi quando foi ao escritório de Dante.
Ela ligava para ele todos os dias, mas ele sempre mandava uma mensagem
dizendo que a veria mais tarde. Ela estava preocupada que pudesse haver algo
de errado acontecendo com ele, então decidiu ir até Dante depois de seu turno
para fazer algumas perguntas.
Ela também não gastou mais do que uns vinte dólares das gorjetas, então
planejava dar todo o dinheiro que recebera a Dante, para ajudar a pagar a
dívida de seu pai. Lake imaginou que se desse esse dinheiro além do salário,
ela não iria trabalhar para ele pelo resto da vida. Faria o que fosse preciso
para pagá-lo o mais rápido possível, mesmo que isso significasse viver
contando moedas no processo. Lake estava acostumada com isso, de qualquer
maneira.
Certificando-se de que sua maquiagem e seu cabelo grande estavam
adequados, ela foi para a frente do enorme vestiário, pois queria usar o
banheiro antes de seu turno.
Virando a esquina, deu de cara com dois corpos que estavam bloqueando
a porta do banheiro.
— Desculpa…
— Puta merda. Lake? — Amo olhou para tudo quanto é canto dela,
menos seu rosto.
Oh, não.
— Merda. — Nero deu uma batida na porta do banheiro.
Oh, não.
Lake precisava escapar. Ela tentou passar rapidamente por eles e entrar
no banheiro antes que vomitasse o pouco de comida que tinha na barriga.
— Boneca, você não vai querer entrar aí.
Amo moveu-se para bloquear completamente a porta.
Está vindo! Rapidamente, ela colocou a mão sobre a boca para não
vomitar.
— Ah, que se foda. — Amo se esquivou do caminho como se pesasse
cinquenta quilos.
— Entrando! — Nero gritou, dando-lhe um amplo espaço.
Lake rapidamente abriu a porta, sua mão ficando frouxa assim como seu
queixo.
— Vincent? — Ela piscou algumas vezes, esperando que aquilo fosse
apenas uma terrível ilusão.
Vincent afastou a boca da mulher que chupava seus lábios e fechou a
braguilha.
— Lake? — Ele se virou, revelando uma loira platinada com peitos
enormes, nus e perfeitos, com mamilos que poderiam arrancar seus olhos.
— Kim? — Ela desejou ter dito seu nome enquanto olhava para seu
rosto. De todas as garotas de lá, Kim era a mais escrota, não dizia nem as
horas quando Lake perguntava.
— Ela é sua namorada? — Kim perguntou a Vincent.
Vincent ficou parado, em estado de choque, claramente sem saber se
deveria ficar mais surpreso com a situação ou com o fato de Lake estar
vestida como uma estrela pornô enquanto a olhava de cima a baixo.
— Não, e eu duvido muito que um dia será depois disso — Amo
murmurou atrás deles.
— Eu tentei te avisar, porra — Nero disse a ele.
Lake sentiu o mundo começar a girar enquanto a bile subia mais uma vez.
— Acho que vou…
Kim caminhou em direção a ela, adorando o fato de que poderia mostrar
seus seios para três homens bonitos.
— Sai daqui, novata. Estamos ocupados.
Lake não conseguiu mais pensar ou conter o enjoo. O alvo infeliz? Dois
peitos enormes.
Um grito agudo encheu o ar.
Há coisas que você não consegue desver.
Kim continuou a gritar a plenos pulmões.
— Sinto muito, eu não... — Lake cobriu a boca novamente, com medo de
que não tivesse terminado, a sensação de tontura continuando.
Vincent correu para agarrar Lake e segurá-la. Ele a trouxe até a pia, onde
rapidamente abriu a água fria e colocou a mão dela debaixo da água corrente.
— Sua puta do caralho! — Kim continuou a gritar.
— Querida, você precisa se acalmar. — A voz de Vincent se tornou letal.
— O que diabos está acontecendo…? — Sadie se espremeu entre Amo e
Nero, que estavam rindo histericamente. — Ah, querida…
— Tá vendo o que aquela vagabunda fez? — Kim começou a tremer, sem
saber como limpar a sujeira.
Sadie caminhou até ela e deu um tapa na cara da mulher.
— Cale a boca, caralho, antes que eu enfie meu salto de stripper na sua
garganta. Essa não é a coisa mais nojenta que já caiu em seus peitos falsos, e
não será a última vez que acontecerá. É por isso que temos chuveiros. Sinta-
se à vontade para usar um, e, na próxima semana, você vai ter que trepar com
os homens mais sujos que entrarem pelas portas.
Kim botou a mão no rosto vermelho e saiu correndo.
Sadie virou-se para Amo.
— Você se importa de pegar um suco da geladeira? Obrigada, querido.
Amo balançou a cabeça lentamente por um momento, atordoado, antes de
sair.
Eu entendo toda a parada de gerenciar o cassino agora.
Sadie foi até Lake, ainda tonta – os saltos não estavam ajudando na
situação – e começou a esfregar suas costas.
— Você está bem?
Lake conseguiu assentir antes de Amo entrar para lhe dar um pouco de
suco. Ela tomou um gole do líquido e sentiu um pouco de sua força vital
retornar.
— Sinto muito, querida. Eu só posso te dar cinco minutos de folga antes
de você voltar.
Lake percebeu que Sadie não estava feliz de dizer aquilo.
— Eu sei. Tudo bem…
Vincent falou sobre ela.
— Não, não está nada bem, caralho. Ela não pode trabalhar assim. Vá
encontrar alguém para substituí-la.
Sadie balançou a cabeça.
— Eu realmente não posso. Não é minha função. Nenhuma das minhas
garotas vai trabalhar de graça. — Ela começou a se afastar. — Vou tentar te
dar dez minutos, querida.
Ela tomou um gole maior dessa vez. Ai, meu Deus. A ficha de tudo que
tinha acontecido finalmente estava caindo.
— Lake, o que diabos ela quer dizer com isso? E por que diabos você
está trabalhando aqui?
— Não importa. — Ela se afastou de Vincent, percebendo que ele a
estava segurando esse tempo todo.
Sua voz áspera a lembrou do que diabos ele estava fazendo lá com Kim
apenas alguns minutos antes.
— Sim, importa — ele rosnou, indo agarrá-la novamente.
Lake afastou a mão de Vincent como se ele estivesse com uma doença
contagiosa.
— Não me toque depois do que fez. O que você veio fazer aqui? Ou isso
é uma pergunta idiota?
— Acabamos de terminar a porra do nosso primeiro turno. Nós
trabalhamos aqui agora.
Primeiro turno?
— Quer dizer que você só começou a trabalhar aqui hoje e veio foi trepar
no banheiro? A Kim foi o que, a quinta do dia?
— Não, não foi, caralho! Acabamos de terminar nosso turno tem uns
cinco minutos!
Nero começou a tossir, dizendo um “cale a boca”.
Lake esperava que a dor estampada em seu rosto não fosse visível para
ele. Para ela, tudo havia terminado naquele momento. Você ganhou, Vincent;
de uma vez por todas.
— Você poderia, por favor, ir embora? Como se isso já não fosse
humilhante o suficiente para mim. — Ela pegou o enxaguante bucal que eles
mantinham no balcão e se esforçou para acabar tanto com o enjoo
remanescente quanto com o gosto horrível em sua boca após vê-lo com Kim.
Dessa vez, Vincent falou com mais calma, porque ela não conseguiu
esconder a dor em suas profundezas cor de avelã.
— Eu não vou embora até que você me diga por que está aqui embaixo.
Lake jogou fora a toalha de papel que usou para esfregar os lábios,
esperando que os germes do beijo de Vincent de meses atrás fossem
removidos desse jeito.
— Tudo bem, eu vou.
Nero e Amo bloquearam a porta com o comando de Vincent.
— Eu tenho que voltar ao trabalho, Vincent! — Ela estava cansada de
seus jogos. Vincent não dava a mínima para ela, e Lake perdeu todo o
sentimento por ele no momento em que passou pela porta do banheiro.
— Me diga por que, e você pode ir.
Eu o odeio tanto!
Sua dor e fúria a fizeram derramar.
— Porque Dante ia matar meu pai por uma dívida imensa de dinheiro. Eu
não tive escolha!
— Querida, por quê…?
— Não me chame assim nunca mais. Se você fizer isso, eu juro que será
a última palavra que você vai falar comigo.
Essa palavra fez sua pele arrepiar depois que ela o ouviu chamar Kim
assim.
Vincent passou a mão pelo cabelo, tentando manter a calma.
— Eu poderia ter ajudado você, Lake. Por que não me contou?
Lake balançou a cabeça, tentando não chorar.
— Não, você não poderia.
Ele tentou se aproximar novamente.
— Sim, eu poderia. E eu vou. Você não sabe quem é meu p…
Ela deu um grande passo para trás.
— Seu pai foi quem me colocou aqui, Vincent. Ninguém pode me ajudar
além de mim mesma.
Dessa vez, eles a deixaram passar, e pela primeira vez, Lake conseguiu se
afastar dele.

Vincent viu Lake fugir como um animal ferido.


Olhando para si mesmo no espelho, ele deu um soco em seu reflexo,
quebrando o vidro.
— Porra!
— Mudei completamente de ideia. Estou amando isso tudo. — Pela
primeira vez naquele dia, Nero não tinha uma carranca presa na cara.
— Depois de ver Lake vomitar naquela piranha e depois ver a cafetina
dando um tapa nela, posso dizer honestamente que minha vida está completa
pra caralho. — Amo estava se divertindo tanto quanto Nero.
— Estou feliz que os filhos da puta estejam adorando isso — Vincent
sussurrou.
— Sim, eu estou. Você me viu fazendo merda com a Elle. Se você quer
ficar com a Lake, resolve isso aí.
— Eu não sei se você notou, porra, mas Lake não é como Elle. Ela não é
submissa, a menos que você a arregace, e aí ela passa a te odiar por isso. Ela
é contra a família e esta cidade. Qualquer esperança que poderia restar se foi
quando seu pai tentou arregaçar o dela, e meu pai a empurrou para cá.
O que diabos papai estava pensando? Vincent precisava ir atrás dele e
enforcá-lo por ter feito isso com Lake.
Amo deu de ombros.
— Eu posso arregaçar a garota se você não...
— Lake é minha, porra! Toque nela, e eu vou quebrar teu pau com meu
taco de baseball.
— Bem, o primeiro passo é admitir que você a quer — Nero disse a
Vincent.
Essa foi a primeira vez que admitiu em voz alta que a queria. Cacete, era
a primeira vez que admitia isso para si mesmo. Vincent não via mais Lake
como a melhor amiga de sua irmã.
Ela havia mudado drasticamente em apenas alguns dias, e vê-la assim
matou algo dentro dele. Exceto pela roupa. No momento em que colocou os
olhos nela, toda sexy, seu pau ficou duro pra caralho. E naquele exato
momento, Lake estava lá fora, com todos os homens olhando para a sua
direção, tendo os mesmos pensamentos sacanas que Vincent tinha. Ele só a
queria em uma lingerie sexy quando ela estivesse trancada em seu quarto, não
em um cassino cheio de homens velhos e ricos excitados. Deus os ajude se
um deles encostar um dedo nela.
Vincent apertou a ponta do nariz, chegando a uma decisão.
— Ligue para Lucca e diga a ele que vamos trabalhar em turno duplo e
para dar a noite de folga para três filhos da puta de sorte.
Amo balançou a cabeça.
— Porra, não, eu não vou trabalhar em dobro.
— É, a Elle está me esperando…
— Sim, vocês dois vão. Eu preciso que me impeçam de matar esses
merdas esta noite, porque se um deles tocar nela, eu acabo com a raça de
todos eles.
— Eu posso ficar. — Amo parecia ansioso demais para quebrar algumas
caras.
— Vou ligar para Lucca agora. — Nero pegou o telefone.
— Diga a Lucca que eu disse que ele é um filho da puta insano por ter
feito isso. — A porra do Lucca tinha isso planejado. — E se ele puder nos
colocar para trabalhar quando ela estiver aqui até que eu possa tirá-la dessa
bagunça, isso seria ótimo. Mas xinga ele de escroto enquanto pede isso.
Que mané agradecer a Lucca e Deus.
Caro Pai da Máfia, vai se foder.
Lake tentou não ficar olhando por cima do ombro para Vincent a cada cinco
minutos, mas ela nunca o tinha visto assim antes. Seus olhos não desviavam
dos dela, nem mesmo uma vez, e sua intensidade a assustou. Ele estava
olhando para ela em um nível completamente diferente de todos os outros
homens.
Os homens que ela servia tinham uma expressão de luxúria que
costumava assustá-la, até aquele momento. Vincent olhava para Lake como
se a possuísse. Aos olhos dele, ela era sua propriedade, querendo ou não.
Havia fome sexual lá, como os outros homens, mas enquanto eles seriam
saciados com uma provinha, Vincent a queria como sua escrava.
Lake sentia como se tivesse sido possuída em toda a sua vida, pela escola,
por Ashley, John e, finalmente, Dante. Ela não seria propriedade de mais
ninguém. Especialmente de Vincent.
Em determinado momento, quando serviu um cliente, Lake viu que ele
engoliu o conteúdo e entregou a ela a primeira gorjeta da noite.
Merda. Lake engoliu em seco quando pegou o dinheiro. Ela forçou um
sorriso para o homem esperando ansiosamente o show.
Apressadamente, ela mexeu em seus seios, em seguida colocou a nota
dentro do espartilho. Seus olhos se ergueram para a parede dos fundos, vendo
Vincent sendo contido por Nero e Amo.
— Obrigada — ela disse antes de girar nos calcanhares e praticamente
correr. Foi direto para o bar dos fundos, tentando acalmar os nervos.
Sua vida dependia do trabalho, e Vincent ia arruiná-lo. Esse showzinho
de nada foi curto e apressado em comparação com a forma como ela agia
quando ganhava gorjetas. Todos aqueles homens voltavam depois, e se eles
não sentissem que tinham recebido o que mereciam, não dariam gorjeta a ela
novamente. Eles simplesmente dariam para outra garota que estivesse
disposta a se exibir. As gorjetas a tirariam de lá mais rápido.
Foda-se ele. Da próxima vez, vou fazer direito.
As próximas horas se passaram, e toda vez que alguém lhe dava uma
gorjeta, Lake estava determinada a dar um show até que realmente tirasse o
dinheiro das mãos dos clientes. Em seguida, ela pensava, Merda, eu não
posso fazer isso!
Seu showzinho era patético. Nas primeiras vezes, olhava para ver se
Vincent ia matar o cliente e via que seus amigos ainda o estavam segurando.
Portanto, ela continuou a diminuir o tom do rebolado, até parecer tolerável
para ele. Claro, ela viu o assassino psicopata nos olhos dele querendo matar
todos pelo caminho, mas pelo menos Vincent não precisava mais ser contido.
Por que importava para ela que Vincent conseguisse suportar tudo aquilo,
Lake não tinha a menor ideia.
Enquanto esperava que as bebidas ficassem prontas, ela notou Sadie indo
para o pequeno palco e colocando uma cadeira no meio. O que ela está
fazendo? Ela nunca a tinha visto fazer isso antes.
Sadie se aproximou do microfone.
— Temos um aniversariante em nossas mãos esta noite, meninas. Vem
cá, Alan.
Ela fez um sinal sexy para um senhor mais velho, o convidando para o
palco.
Pegando a mão de Alan, ela o fez sentar na cadeira.
— Alan, querido, qual garota de sorte você gostaria?
O queixo de Lake caiu no chão. Ela não sabia o que estava por vir. Ficou
um pouco nervosa quando ele olhou ao redor. Quando escolheu uma das
mulheres que trabalhavam nos poles de stripper, o nervosismo deu uma
trégua.
Por que eu pensaria que ele me escolheria? Foi bobagem dela ficar
nervosa com aquilo.
— Manda ver! — Sadie gritou, saindo do palco.
A sala ficou escura, deixando apenas o palco iluminado. A música
começou a tocar novamente, e a mulher começou a balançar a bunda na
frente do rosto de Alan. Alan manteve as mãos ao lado do corpo quando ela
começou a dançar sensualmente em seu colo.
Os olhos de Lake se arregalaram algumas vezes. Bem, eu entendo por que
ele a escolheu.
Quando a música acabou e as palmas começaram, ela foi pegar sua
bandeja de bebidas. Eu nunca vou precisar me preocupar em ser escolhida.
Ela mesma pagaria por uma lap dance daquela garota do pole, se gostasse
desse tipo de coisa.
Sadie pulou de volta no palco.
— Gostaria de apresentar oficialmente a todos nossa mais nova garota.
Lake, onde você está, querida?
A cabeça de Lake se virou na direção do palco, e ela viu Sadie
examinando a multidão.
Nãonãonãonãonãonãonãonão!
— Aí está você. Dá um tchauzinho. — Sadie sorriu para ela.
Lake umedeceu os lábios secos com nervosismo.
— Ela é um pouco tímida, pessoal. Dá um tchauzinho, querida.
Com um holofote encontrando-a, ela sorriu e cautelosamente ergueu a
mão e começou a acenar.
— Lake é a nossa mais jovem e definitivamente mais inocente — Sadie
disse com uma piscadela — dentre nossas meninas, e eu queria parabenizá-la
por sua primeira semana. Então não se esqueçam dela, futuros
aniversariantes!
Ela não ia…
— Agora, vamos dar um pouco de amor a ela!
Seus ouvidos começaram a se encher de assobios e gritos. Os olhos de
todos os homens estavam sobre ela.
Ela ia.
Felizmente, a música começou de novo, e a maioria dos olhos dos
homens pararam de olhar seu corpo. Ela podia sentir as bochechas
queimando enquanto pegava sua bandeja para entregar as bebidas.
Indo para a mesa, ela viu Vincent furioso. Praticamente podia ver a
fumaça saindo de suas narinas.
Ela serviu bebidas aos homens, e a última a quem entregou foi ao homem
ruivo que ela conhecia pelo nome — David. Ele esteve lá todas as noites
desde que ela começou a trabalhar. Sempre se sentava em sua área, não se
movendo até que seu turno terminasse. E, sim, ele ainda lhe dava arrepios,
mas ela teve de aprender a bloquear as sensações.
Quando David lhe deu uma gorjeta, ela rapidamente se moveu e colocou
a nota em seu espartilho.
— Você sabe que não precisa ser tímido comigo, Lake. — Ele lhe
entregou outra nota.
Lake olhou para o dinheiro, sabendo que David realmente queria que ela
se esforçasse por ele. Ela estendeu a mão para tirá-lo das mãos do sujeito,
mas antes mesmo de tocar o dinheiro, seu braço foi agarrado e ela foi
arrastada. Ela nem precisou olhar para seu captor.
— Vincent! Pare! O que você está fazendo?
Vincent continuou a arrastá-la para trás da cortina e para o vestiário.
— Vá se trocar. Acabou por hoje.
Lake bateu em seu peito.
— Que porra você não entende, Vincent? Eles vão matá-lo se eu não
trabalhar. Então eles vão ter que me matar, porque eles sabem que eu não vou
ficar calada sobre isso. É isso que você quer?
Sadie passou pela cortina.
— Que porra de problema temos agora?
— Você sabe o que você acabou de fazer, porra? Você praticamente disse
a eles que ela é virgem lá fora. Você vai matá-la ou coisa pior — ele rosnou
para Sadie.
Sadie começou a cheirar o ar.
— Você sente esse cheiro?
O quê…? Ela está bem?
— Eu sei que você sente o cheiro, playboy. É a virgindade de Lake. Eu
sinto o cheiro, você sente o cheiro, e todos os homens por aí também sentem.
Você está agindo como se fosse um grande segredo e que ninguém sabe dele,
mas adivinha só, querido? Se você colocar uma gatinha virgem em uma
droga de selva cheia de um bando de tarados, não demora muito para eles
farejarem o que há de diferente na praça.
— Isso não significa que você precisa anunciar que o selinho dela não foi
rompido ainda! — Vincent gritou.
Jesus!
— Estou literalmente aqui e posso ouvir tudo o que vocês estão dizendo
sobre mim.
— Estou tentando administrar um negócio aqui, playboy. Se você receber
um bilhete de loteria premiado, você não vai sacar o dinheiro? Se eu receber
uma virgem, quando todas as outras garotas que passam pela minha porta são
piranhas que dão para os homens no banheiro, pode ter certeza que vou avisar
aos meus clientes que eu tenho uma boa variedade de garotas. Eu não disse a
eles nada que já não soubessem. Além disso, eles não podem comprá-la; ela
está na lista de “sem toques”.
Finalmente, Sadie olhou para ela.
— Eu assumi que você queria estar nessa lista, mas se você estiver
querendo muito dinheiro...
Vincent interrompeu:
— Ela não está à venda.
— Ela pode falar por si mesma. Agora escute, nenhuma das minhas
garotas foi ferida ou se sentiu ameaçada de alguma forma, porque eu tenho
uma grande equipe de segurança. Ao menos eu tinha antes de você aparecer.
Você é namorado dela? Porque não permitimos que as meninas deixem seus
namorados entrarem ou permanecerem no cassino. Já demiti muitas garotas
por causa de idiotas ciumentos.
Lake colocou a mão em seu peito.
— Não, ele não é meu namorado. Ele é apenas um amigo preocupado. —
Ela o olhou nos olhos de Vincent, como se implorasse — Ele não vai causar
mais problemas, porque ele sabe que eu dependo deste trabalho, certo,
Vincent?
Levou um momento antes que ele concordasse ainda com relutância.
Sadie fez menção de sair do vestiário.
— Que bom. Agora eu quero que você tire uma folga e areje a cabeça, e
não volte até que garanta que não vai fazer isso de novo. Mantenha suas mãos
longe dela, playboy. É melhor eu não pegar você arrastando-a para longe de
um cliente novamente. Você vai arruinar as fantasias de ser o primeiro a tirar
o selinho dela que eles têm.
— Filha da puta…
Lake lutou para segurar Vincent, que estava pronto para briga.
Quando Lake voltou ao trabalho após a pequena reunião no vestiário, Vincent
subiu para falar com o pai.
Ele se sentou na cadeira de couro enorme na sala de vigilância escura. Eu
gostaria que eles se apressassem. Eu preciso voltar ao trabalho.
Quando a porta finalmente se abriu, ele se levantou rapidamente. Seu
rosto mostrava que não estava feliz em ver o homem na frente dele.
— O que achou do trabalho? — Lucca sorriu para ele quando passou.
Vai se foder.
— É ótimo. Obrigado — ele resmungou.
Vincent atravessou a porta do escritório e foi recebido por Dante e seu
pai, os dois homens que mais odiava no momento.
— O que você quer, filho? — perguntou Vinny.
— Eu preciso falar com você. — Ele deixou claro que era uma discussão
de família de sangue.
Dante se levantou.
— Podem conversar aqui. Há alguns negócios que preciso resolver. Vou
ficar fora por uma hora, então levem o tempo que for necessário.
— Obrigado — Vincent disse antes de Dante sair pela porta.
Ele continuou de pé, olhando para o pai.
Depois de um momento, seu pai ergueu uma sobrancelha.
— Você vai ficar só parado aí, porra?
— Por que caralhos Lake está trabalhando lá embaixo?
— Como você descobriu? — Vinny olhou para ele com curiosidade.
— Lucca nos colocou na segurança. — Vincent esfregou os olhos,
sentindo uma dor de cabeça chegando.
— Ele colocou, foi?
— Sim. Mas aqui: por que ela está lá embaixo? — Ele não tinha tempo
para enrolar.
— Porque Lake foi estúpida o suficiente para entrar por aquela porta. —
Vinny apontou a porta por onde Vincent tinha acabado de passar.
— Cacete — ele murmurou para si mesmo.
— Eu tinha acabado de chegar, porque Dante queria ter certeza de que
qualquer decisão que ele tomasse fosse justa. Então Dante, Paul e eu
estávamos aqui, e a porra da Lake apareceu. Ela literalmente foi até Joe e
pediu para ver o chefe. Essa garota não é muito inteligente.
Jesus Cristo. Lucca tinha avisado Vincent sobre a boca grande dela.
Vincent ia ter que ensinar a Lake umas coisinhas.
— E aí, o que aconteceu?
— Ela disse a Dante que trabalharia para ele para pagar a dívida do pai,
então sugeri que trabalhasse lá.
— Me fala por que diabos você pensou que não havia problema em fazer
isso? Ela é a melhor amiga da minha irmã. Você teria feito isso com Adalyn
também e nem mesmo teria me contado?
Ele odiava como o pai sempre estava calmo, nunca demonstrando
emoção ou se importando com nada em particular. Seu trabalho era ser a voz
da razão sem tomar partido ou ser parcial com nada nem ninguém. Dessa vez,
seu julgamento imparcial foi longe demais. Ele deveria ter se importado um
pouco com Lake.
O tom de Vinny mudou.
— O que você queria que eu fizesse, filho? Colocasse a vida dela nas
mãos de Dante? Paul vinha pedindo dinheiro emprestado há anos. Você sabe
que a família ama Paul como se ele fosse da máfia, mas era uma dívida de
cinquenta mil. Então, quando ele entra em um jogo de pôquer e ganha o
suficiente para pagar Dante, decide apostar tudo. Dante tinha o direito de
fazer o que quisesse com Paul, era a porra do dinheiro dele. A entrada dela
aqui piorou uma situação que já era ruim, então ela teve que ser colocada
onde seria mais benéfica para ele.
“Posso tirar qualquer garota da rua e a colocar para atender ligações ou
limpar manchas de mijo dos lençóis do hotel. Sem mencionar que esses
empregos são de salário mínimo, levaria muito tempo para que Dante
recebesse seu dinheiro. A única chance que aquela garota tinha era com
aquele emprego. Ela é jovem e bonita, o que manterá seus clientes felizes e
seus bolsos cheios. Lake tem muita sorte que o trabalho estava disponível e
eu estava aqui para sugerir que ele lhe desse uma chance.”
Vincent passou as mãos pelo cabelo e finalmente precisou se sentar.
— Ok, então ela deve a ele cinquenta paus.
— Não, ela deve trinta.
Vincent rapidamente virou a cabeça para olhar para ele.
— O quê?
Vinny balançou a cabeça.
— Ela jogou vinte mil na frente de Dante como se não fosse nada e disse
que era toda a poupança da faculdade.
— Porra! — Rapidamente, ele se levantou, indo até a porta. — Preciso ir.
— Você a quer, não é, filho?
Vincent apertou a maçaneta da porta, sem saber como responder a
pergunta do pai.
No ramo em que trabalhavam, eles costumavam pensar que era melhor e
mais seguro não ter alguém com quem se importar mais do que a família.
Vinny deu um aviso ao filho.
— Ela é o tipo bom de problema, o que é mais perigoso que o ruim.
Abrindo a porta, Vincent começou a passar antes de dizer:
— Obrigado pelo conselho. Vou manter isso em mente.
Vincent fechou a porta e foi direto para o elevador. Uma vez lá, digitou o
código para chegar ao cassino subterrâneo. Quando as portas se fecharam,
soltou um suspiro profundo.
Ela tem medo da família o suficiente para ir embora, mas não o
suficiente para se impedir de tentar salvar a vida de um homem morto.
Vincent não achava que Lake valorizava a própria vida, e ele ia garantir que
isso mudasse.
Seu pai estava certo; ela foi estúpida em pensar que poderia salvar o pai.
Não importava se ela queria ou não; o risco era alto demais para sequer
tentar.
Dante era um homem com quem você não deveria mexer. Seu código
moral havia morrido muito tempo antes, quando a esposa morreu. Se seu pai
não estivesse lá, Lake estaria a sete palmos do chão, em um caixão, não em
um cassino.
“Ela jogou vinte mil na frente de Dante como se não fosse nada e disse
que era toda a poupança da faculdade dela.” Descobrir que Lake não
planejava mais ir embora foi agridoce. Era egoísta e errado que uma parte
dele estivesse feliz por ela ficar, mas a outra parte odiava o fato de ela ter
tomado aquela decisão. Dar aquele dinheiro a Dante era como jogar sua vida
fora, e ele duvidava que ela tivesse pensado duas vezes no assunto. Não só
isso, ela devia trinta mil dólares a um homem perigoso. No minuto em que
concordou, ela se tornou propriedade do chefe Caruso.
Vincent desceu do elevador e seguiu pelo corredor. Bateu na porta e teve
seu acesso liberado um momento depois. Seus olhos vasculharam a sala até
que pousarem em um triste par de olhos castanhos. Lake estava sorrindo, mas
ele sabia como ela realmente se sentia.
Ninguém a possui, porra, além de mim.
Indo para a parede, ele ficou entre Nero e Amo.
— Alguém encostou nela, caralho?
Amo cruzou os braços enquanto se recostava na parede.
— Você acha que estaríamos aqui se eles tivessem tentado?
— Sim, eu acho que você nos ameaçou o suficiente antes de sair. O que
você descobriu? — perguntou Nero.
— O pai dela devia cinquenta mil ao seu, então seu pai queria matar o pai
dela. Ela decidiu, como a gênia que é, levar a poupança da faculdade, vinte
mil, para ele e trabalhar para pagar o resto. Então meu pai sugeriu que ela
trabalhasse aqui por vários motivos fodidos, tipo ela valer mais estando viva
do que morta, porque, vamos ser sinceros, seu pai teria matado Lake e o pai
dela se não o fizesse.
Nero pensou por um minuto, tentando digerir o que ouvira.
— Bem, Lake e Elle têm uma coisa em comum: meu pai querendo matá-
las.
— Droga, eu não acho que ela poderia ficar mais tesuda do que já é. Ela
realmente fez isso? — Amo continuou a olhar para Lake, sem se envolver
totalmente na conversa.
— Eu te disse para ficar de olho nos homens para ver se eles tentariam
fazer algo com ela, não para ficar olhando a bunda dela — Vincent rosnou.
Amo desviou o olhar.
— Exatamente como você planeja transar com ela depois que ela te
pegou no banheiro com aquela piranha?
Vincent ouviu uma pequena risada escapar de Nero.
— Você não acha que eu posso conquistá-la, porra?
Amo olhou para as longas pernas de Lake.
— Eu nunca pensei que diria isso, mas acho que ela pode ser muita areia
para o seu caminhão.
Vincent sentiu-se ofendido. Muita areia, sério? Ele era Vincent Vitale
III, caralho. Nenhuma garota — ou mulher, aliás — jamais foi muita areia
para o seu caminhão.
Ele observou Lake afastar a franja do rosto. Porra.
— Eu preciso que você dê um jeito de a porra do carro dela não funcionar
esta noite.
Nero começou a rir.
— Então, você está forçando a garota a ficar com você.
— Sim, e você não forçou Elle?
— Eu não disse que isso é errado — Nero concordou.
— Posso ficar de olho nela tentando consertar o carro? — Amo
perguntou sinceramente.
— Não! — Vincent estava começando a desejar a morte de um de seus
melhores amigos.
— E se ela consertasse naquela roupa, cara? Você também se beneficiaria
com isso.
Vincent decidiu dar um aviso a Amo.
— É melhor você parar de olhar para ela, porra.
Amo virou a cabeça para o lado novamente enquanto Lake se inclinava
sobre a mesa para servir a bebida de alguém.
— Você lembra que eu disse que você estava me devendo uma por eu ter
aturado a Adalyn? Não se preocupe com isso. Acho que me livrei de todos os
meus pesadelos.
Vincent começou a rir histericamente. De repente, como se alguém
desligasse um interruptor, ele ficou em silêncio.
Amo finalmente desviou a atenção de Lake.
— Você está bem…?
Logo os nós dos dedos bateram na carne.
— Estou agora.
Nero deu de ombros.
— Ele meio que mereceu.
Lake saiu do vestiário, sentindo-se normal mais uma vez. Ela limpou a
maquiagem, vestiu o jeans e o moletom e prendeu sua massa de cachos em
um coque. Afastando a cortina de seu caminho, Vincent, Amo e Nero a
estavam esperando.
— O quê…? — Lake cobriu a boca quando viu o horrível olho roxo de
Amo. — Puta merda, o que aconteceu com seu rosto?
Um grande sorriso de escárnio apareceu no rosto de Vincent.
— Jesus, você está bem? — Lake foi até Amo examinar o olho.
Como será que o cara que fez isso era? Ele devia ser enorme ou estar em
um hospital.
— Na verdade, não. — Amo abaixou a cabeça para que ela pudesse ver
melhor.
O sorriso de Vincent desapareceu.
— Você vai levar outro se continuar com essa palhaçada, caralho.
— Foi você, não foi? Por que diabos você fez isso? — Ela não achava
que seja lá o que Amo tivesse feito merecesse um ato tão brutal.
— Porque ele não parava de olhar para sua bunda.
— Bem, nesse caso — Ela olhou para Amo, que parecia culpado, e deu
um tapinha de leve em seu olho roxo. — Supera.
Amo agarrou o rosto.
— Ai!
Vincent e Nero caíram na gargalhada.
Lake rapidamente começou a caminhar até o elevador, esperando que eles
não a seguissem. Quando as portas finalmente se abriram e ela entrou, todos
vieram junto.
Olhando para eles e depois para os botões, ela congelou. Caramba.
Os caras a observavam com curiosidade, imaginando o que ela estava
fazendo.
Rapidamente, ela apertou o código para levá-la ao topo.
Vincent estendeu a mão e agarrou as mãos dela tarde demais, o elevador
começou a se mover.
— Que porra você está fazendo, Lake?
— Eu preciso ver Dante. — Ela tentou libertar as mãos as puxando para
trás.
— Ele é a última pessoa que você precisa ver! Como você sabe o código?
— Vincent gritou com ela.
— Eu memorizei.
Nero tossiu e apontou com a cabeça para a câmera antes que Vincent
pudesse fazer qualquer coisa.
Vincent soltou suas mãos e agarrou o cabelo dela enquanto pressionava
seu corpo contra o dela, prendendo-a na parede. Ele inclinou a cabeça para
sussurrar em seu ouvido.
— O que há com você? Você quer morrer, porra? O que você está
fazendo é basicamente colocar uma arma na sua cabeça e jogar roleta russa.
Você só pode ver o chefe quando ele pede sua presença, não quando quiser.
Você entendeu?
Lake tentou balançar a cabeça.
— Mas eu preciso…
Ele puxou o cabelo dela para baixo para que ela erguesse a cabeça e visse
seus olhos raivosos.
— Não, você vai me dizer o que você precisa, e eu cuidarei disso eu
mesmo ou lhe darei permissão para vê-lo. Agora você entendeu?
Ela olhou cegamente para ele e assentiu. Conseguiu ver, além de sua
raiva, o brilho de preocupação em seus olhos.
— Sim.
Vincent relaxou o corpo e descansou a testa na dela.
— Puta merda, Lake. Nunca mais faça isso. — Ele ainda manteve a voz
áspera, querendo que ela continuasse acreditando que ele estava apenas com
raiva.
Vincent relaxou o corpo e apoiou a testa na de Lake por um momento.
Quando as portas se abriram, ele rapidamente se afastou dela e saiu do
elevador, deixando-a atordoada. O que há de errado comigo?
Seu corpo a traiu querendo um beijo daquele homem prostituto.
— Agora, o que era tão importante para ver Dante? — Vincent perguntou
a ela quando Lake saiu do elevador.
Lake mordeu o lábio e tirou um maço de dinheiro da bolsa.
— Eu quero dar isso a ele.
— De onde veio isso? — ele perguntou, segurando-o.
— São minhas gorjetas da semana.
— Ele pediu esse dinheiro? — ele a questionou.
Ela balançou a cabeça.
— Não, mas pensei que se eu desse a ele todas as minhas gorjetas,
poderia pagá-lo mais rápido.
— Você está guardando algum dinheiro para você?
Que tipo de pergunta é essa?
Lake revirou os olhos.
— Sim, vinte dólares.
Amo apertou o botão para voltar ao elevador.
— Eu não posso lidar com essa merda agora.
— Ela está brincando? — perguntou Nero.
Vincent apertou a ponte do nariz.
— Porra. Amo, desça com ela e espere no saguão. Também não posso
lidar com isso.
O quê? O que há de errado?
— Não entendo.
— Não importa. Eu cuido disso — ele disse, segurando o dinheiro.
Amo entrou no elevador e colocou a mão sobre a porta para que não
pudesse fechar.
— Vá com Amo, e eu quero que você fique com ele. Não tente nada,
porque não vai funcionar — Vincent disse a ela.
— Espere, há outra coisa... — Ela olhou para seus tênis velhos. — M-
meu pai, ele não voltou para casa a semana toda, e quando eu ligo para ele,
ele não atende. Estou preocupada e…
Vincent respirou fundo e agarrou seu queixo.
— Eu cuidarei disso.
Lake se desvencilhou da mão dele depois de um momento, odiando-se
por gostar do toque do rapaz.
— Obrigada.
Entrou no elevador, mas não conseguia olhar para Vincent enquanto as
portas se fechavam. Você deveria odiá-lo. De algum jeito, de alguma forma,
Vincent conseguiu afetá-la novamente. Ele vai ser a minha morte.

Vincent bateu na porta do escritório pela segunda vez naquele dia. Dessa vez,
ele ouviu “Entre” em vez de “Espere”.
Abrindo a porta, ele entrou na sala enfumaçada e se sentou na frente do
chefe.
Dante deu uma tragada em seu charuto.
— Isso tem a ver com a garota?
— Como você sabe?
— Recebi uma ligação dizendo que você arrastou Lake para longe de um
cliente muito importante meu — disse Dante, recostando-se na cadeira.
Bem, isso está começando muito bem.
— Peço desculpas. Não vai acontecer de novo.
— Como caralhos eu posso ter certeza disso?
Vincent enfiou a mão em uma bolsa que trouxera e colocou pilhas de
dinheiro na frente dele.
— Trinta mil para quitar a dívida de Lake.
Dante recostou-se na cadeira, pensando por um momento.
— Lake trabalhando para mim traz muito mais dinheiro do que apenas o
valor da dívida. Meus clientes vão lá apenas para vê-la, então é melhor para
mim que ela trabalhe, mais do que você me dar o dinheiro e ela ir embora no
dia seguinte. Então é isso que vou fazer: vou aceitar seu dinheiro e quitar a
dívida de Lake, mas ela tem que continuar trabalhando para mim lá embaixo
por um mês.
“Aquele cliente de quem você a arrastou hoje, o David, tem uma queda
por Lake e está aqui a negócios pelo próximo mês. David é meu maior cliente
agora, então quando ele for embora, Lake pode ir também. Isso também
servirá como punição pelo que você fez. Agora, você vai ter que ficar
olhando para ela no meio daquela perversidade doentia todos os dias.”
Filho da puta.
Vincent deu um aceno de cabeça, incapaz de falar, até porque se o
fizesse, nada de bom sairia disso.
— Vou mandar que paguem as horas trabalhadas de Lake.
— É só adicionar ao meu salário, eu repasso para ela.
Dante fumou mais de seu charuto.
— Se você diz.
Vincent passou as mãos pelo cabelo, sem saber se queria a resposta para a
outra coisa em sua mente.
— O pai dela não voltou para casa nem falou com ela esta semana.
O chefe pegou seu telefone e discou um número, em seguida colocou-o
sobre a mesa no viva-voz.
O homem do outro lado atendeu.
— Olá?
— Eu preciso ver você em meu escritório — Dante respondeu.
— Chego aí assim que o trabalho terminar, chefe.
— Vejo você em breve, Paul. — Ele desligou o telefone, olhando para
Vincent. — Satisfeito?
Ele assentiu. Eu estaria satisfeito de verdade se Lake não precisasse
voltar a trabalhar.
— Bom. Vou avisar a Paul que a dívida está paga e sua filha está
preocupada com ele. Nenhum mal vai acontecer com ele enquanto ficar longe
de meu cassino — Dante prometeu a ele.
— Obrigado, chefe. — Vincent se levantou, indo até a porta.
O chefe tinha palavras de despedida para ele, assim como seu pai.
— Se eu fosse você, colocaria um pouco de juízo na porra da cabeça
daquela garota.
Aquele não era um conselho como o de seu pai; foi um aviso claro para
caralho.
Vincent conseguiu assentir uma última vez antes de fechar a porta.
Uma coisa era certa: ele ia colocar uma porra de juízo naquela cabeça de
formas distintas. Contanto que ela não me mate atolado na merda em que
continua chafurdando.
Lembrando da rapidez com que ela se atreveu a apertar o botão para subir
e ver o chefe, ele estava certo de que a morte viria antes que ele conseguisse
fazer o que prometeu.
Lake esperou nervosamente no saguão pelo retorno de Vincent. Ela estava
uma pilha de nervos, se perguntando se o pai estava bem enquanto
continuava a observar o elevador.
Quando ela finalmente viu Vincent aparecer, seu coração parou, e ela não
queria mais saber de nada. Ela se viu andando até o carro em vez disso.
Ouviu Vincent gritando seu nome, mas ainda assim começou a correr pelo
cassino até atravessar as portas. Precisou se esforçar para passar pela
multidão, e sabia que Vincent não ia lidar bem com isso.
Tateando a porta do carro, ela a abriu e enfiou a chave na ignição. Tentou
ligar o carro, que nem deu sinal de vida. Estava completamente silencioso.
Lake deitou a cabeça no volante, tentando respirar fundo. Então a porta
do lado do motorista se abriu um segundo depois, e ela nem levantou a
cabeça para olhar quem era.
— Por que diabos você fugiu de mim assim?
Ela continuou a manter a cabeça baixa após a pergunta dura de Vincent.
— Lake, olhe para mim — sua voz ordenou.
Olhando para Vincent, que estava furioso, seus olhos começaram a se
encher de lágrimas.
— Estou com medo do que você vai me dizer.
Vincent suavizou tanto a expressão quanto as palavras.
— Ele está bem. Acabei de falar com ele.
— Está? — Seus olhos pararam de lacrimejar.
Vincent começou a diminuir seus medos.
— Sim. Ele só está ocupado trabalhando, ao que parece, mas sabe que
você está preocupada com ele. Ele provavelmente vai para casa hoje à noite
para te ver.
Lake sentiu o peso em seu peito ceder só de saber que o pai estava vivo.
Graças a Deus.
— Eu tenho que ir para a casa da minha mãe hoje à noite para passar o
fim de semana. Estou feliz por ele estar bem.
— Olha, não havia necessidade de fugir de mim, Lake. Eu não quero que
você faça isso de novo. — Seu tom ficou um pouco mais áspero.
Os olhos dela desceram para o peito dele.
— Só fiquei com medo.
— Eu sei. Está tudo bem. Venha, eu vou te levar para a casa da sua mãe.
Ele abriu a porta do carro para ela.
— Não, tudo bem. Eu pego o ônibus. — Eu não vou entrar no carro dele
novamente.
— Você não vai pegar a porra de um ônibus — Vincent retrucou.
— Caramba, o que você tem contra o transporte público?
— Lake, você tem alguma ideia de onde você está e de quão perigoso é o
centro da cidade?
Merda, ele tem razão.
— Talvez Nero possa me levar?
Ele balançou a cabeça, ficando irritado.
— Não, ele está ocupado com Elle, depois que eu o fiz trabalhar turno
duplo para ficar de olho em você.
— Bem, que tal A…?
Vincent agarrou seu braço e começou a puxá-la para fora do carro.
— Não se atreva a dizer Amo. Aliás, eu deveria deixar que ele te levasse
para casa só por você dizer isso.
Sem outra opção, ela foi até o carro de Vincent. Por que meu carro não
deu partida exatamente hoje? Era como se toda vez que ele estivesse perto
dela, o carro magicamente não funcionasse.
Quando Vincent abriu a porta do carro para Lake, ela entrou e afivelou o
cinto de segurança enquanto ele ia para o lado do motorista.
— Amo é uma pessoa ruim? — ela perguntou quando ele ligou o carro.
Ele olhou para ela.
— De onde diabos isso veio?
Ela deu de ombros.
— Não sei. Você acabou de dizer “eu deveria deixar que ele te levasse
para casa”, e isso me faz pensar que ele é uma pessoa ruim.
— Nenhum de nós é bom, Lake. Acho que você não entende isso.
— Mas quão ruim é o Amo... comparado ao Lucca?
Vincent virou a cabeça para olhar para ela.
— Presta atenção. Fique fora dessa porra de situação. Isso é algo que
você com certeza não quer se meter. Você vai descobrir muito rápido quão
ruim Amo e Lucca realmente são. — Quando ela não respondeu, ele
perguntou: — Entendeu?
— Sim. Foi só uma pergunta. Por que você está todo mandão hoje? —
Ela cruzou os braços sobre o peito. Ele precisa se acalmar. Ficava mudando
de humor a cada cinco segundos.
— Porque você é um ímã de problemas. Você não pensa antes de falar,
ou de agir, porra. O que você fez foi suicídio. Meu pai me contou que você
foi pedir para ver o chefe e tacou vinte mil na frente dele. Ninguém, ninguém
se aproxima de Dante assim e sai vivo para contar a história. Você não faz
ideia de quão sortuda é. De agora em diante, você vem falar comigo, Nero e
Amo. É isso. Os homens da família não são homens; nós somos animais
insanos do caralho.
Lake olhou pela janela.
— Ele te disse?
Vincent entendeu o que ela queria dizer.
— Sim, ele me disse que você deu todo o dinheiro da faculdade. Por que
você fez isso?
— Era a única opção que eu tinha. Meu pai é minha família. Por favor,
não conte nada a Adalyn. Ainda não sei como dizer a ela que não vou para a
faculdade.
Vincent levou um momento antes de responder:
— Você não precisa se preocupar. Não vou contar nada a ela.
Lake acreditou nele, até porque ele provavelmente teria muitas
explicações a dar se o fizesse.
Ela descansou a cabeça na janela, tentando relaxar antes de ter de
enfrentar uma noite torturante com John e Ashley. Ela tinha certeza que ele
iria matá-la, já que ela já estava exausta de trabalhar. John estava lívido da
última vez que a viu, e ele teve uma semana inteira para planejar sua morte.
Quando Vincent parou na enorme casa, pela primeira vez ela pensou que
seria melhor ficar em seu carro.
— Como é que eu nunca conheci sua mãe? — Vincent perguntou.
— Ela e meu pai terminaram quando eu era jovem, e ela geralmente está
ocupada. — Lake foi abrir a porta.
— Ela trabalha?
— Não — ela respondeu rapidamente, indo abrir a porta novamente.
Vincent a deteve.
— Eu só acho estranho que eu nunca a tenha visto. Por que ela não estava
na sua formatura?
Lake balançou a cabeça.
— Obrigada pela carona e por me contar que meu pai está bem. — Ela
conseguiu abrir a porta dessa vez antes que ele agarrasse seu braço, parando-
a.
— De nada, mas você poderia me agradecer me convidando para jantar.
— Ele sorriu, mostrando um sorriso magnífico.
Ele sabe de alguma coisa?
— Hum, talvez da próxima vez, quando eu puder avisar minha mãe.
Tchau! — Lake rapidamente saiu do carro, pegando sua bolsa e fechando a
porta atrás de si.
Ela entrou apressadamente em casa, agradecida por ter conseguido sair
daquela situação. Vincent não era exatamente alguém que desistia, e ele
definitivamente estava escondendo em alguma coisa.
— Oi, querida! — Sua mãe a encontrou na porta e a puxou para um
grande abraço. — Então, você prometeu me contar tudo sobre a formatura,
mas vai ter que esperar até eu fazer essas tarefas para John. Eu acabei de
comprar uma comida chinesa del…
Diiing.
Lake se virou. Ele não fez isso.
— Quem será? — Sua mãe foi abrir a porta.
De jeito nenhum é ele.
Um deus loiro de olhos azuis-bebê em um terno estava na porta, sorrindo.
— Olá.
Ele fez, puta merda.
— Ora, olá. Quem é você? — a mãe de Lake disse, sorrindo de orelha a
orelha.
— Sou amigo de Lake. Vincent. Prazer em conhecê-la. — Quando ele
estendeu a mão, sua mãe a pegou.
— Eu sou Pam, a mãe dela. Muito prazer. — Ela continuou apertando a
mão dele, não querendo soltá-la.
Lake olhou para sua mãe, que estava com os olhos arregalados para
Vincent. Que porra é essa, mãe?
Vincent finalmente conseguiu sair de seu alcance para pegar o telefone de
Lake do bolso.
— Você deixou isso no carro.
Ela rapidamente conferiu o bolso do moletom onde ela sabia que tinha
guardado o celular e que estava com ela o tempo todo. Olhando para seu
rosto exultante, entendeu o que havia acontecido. Ele roubou meu celular!
Ela foi pegar o aparelho, mas sua mãe passou na frente, pegando-o de suas
mãos lentamente.
Pam sorriu.
— Você é um amor por fazer isso.
A boca de Lake se abriu com o flerte óbvio de sua mãe. Ela mal podia
acreditar que a mãe estava agindo daquela maneira na sua frente. Ela não
seria capaz de aguentar muito mais tempo.
— Bem, obrigada. Até logo. — Ela fez menção de fechar a porta.
— Que cheiro bom. O que está cozinhando? — Vincent perguntou,
parando-a.
Sua mãe riu.
— Comprei comida chinesa, só isso. Gostaria de ficar para o jantar? Eu
comprei muita.
— Eu pensei que você tinha algumas tarefas do John para fazer. — Lake
lembrou sua mãe.
— Ah, não seja boba. Aquilo pode esperar. Precisamos conversar sobre a
formatura, lembra?
Nunca pôde esperar enquanto eu era torturada. Lake olhou para Vincent,
implorando silenciosamente para que ele dissesse não.
— Obrigado. Eu adoraria. — Vincent entrou na casa, olhando ao redor.
— Sua casa é muito legal, Pam.
— Obrigada. Ashley, minha enteada, mantém tudo arrumado. — Pam
jogou o telefone de Lake em sua bolsa no chão. — Aqui, vou te mostrar a
cozinha.
Vincent passou o braço sobre Lake como se não visse Pam estendendo a
mão.
— Eu tenho certeza que é ela quem arruma tudo mesmo.
Lake forçou um sorriso nervoso para Vincent. O que diabos está
acontecendo?
Pam rapidamente soltou a mão, rindo enquanto o levava para a cozinha.
— John, Ashley, o amigo de Lake, Vincent, está aqui para jantar.
Lake e Vincent entraram na cozinha atrás de Pam, viram caixas de
comida chinesa espalhadas sobre a mesa e John e Ashley já comendo dois
pratos bem cheios.
John chupou os dentes, olhando Vincent de cima a baixo.
— Você não tinha que correr para fazer algumas tarefas?
— Pode esperar até amanhã. — Pam foi e pegou mais alguns pratos e
garfos do armário antes de colocá-los na mesa. Então pegou água na
geladeira. Finalmente, se sentou ao lado do marido. — Vincent, venha e
sente-se. — Ela deu um tapinha no assento vazio ao lado dela e de Ashley.
Vincent arrastou Lake para a cozinha com o braço ainda ao redor dela e
foi para o outro lado da mesa com dois assentos vazios. Então deixou cair o
braço e puxou o assento mais próximo de Ashley, gesticulando para Lake se
sentar.
Assim que o fez, ela olhou para Vincent com curiosidade. Quando o viu
tirar o casaco e começar a arregaçar as mangas, desviou o olhar e viu Ashley
e sua mãe praticamente babando por ele. Olhou para John e conseguiu
imaginá-lo assassinando Vincent de cinquenta milhões de maneiras em sua
mente.
Ele estendeu a mão enquanto enrolava as mangas.
— Prazer em conhecê-lo, senhor.
John teve que olhar para Vincent enquanto apertava sua mão.
— É, igualmente.
Vincent sentou-se ao lado de John e pegou dois pratos, garfos e águas da
mesa para colocar na frente de Lake, e em seguida na sua frente.
Ashley pousou o garfo, sorrindo.
— Que legal te conhecer. Meu nome é Ashley, sou meia-irmã de Lake.
Vincent nem sequer olhou para ela enquanto começava a se servir com a
comida.
— É, eu estava no shopping segunda-feira quando você veio falar com a
Lake.
Lake abriu sua garrafa de água, bebendo apressadamente o conteúdo. Isso
não está acontecendo, está?
Ashley soltou uma risada nervosa enquanto pegava o garfo e voltava a
comer.
— Você não vai comer, Lake? — Vincent perguntou a ela quando ele e
Pam tinham novamente enchido seus pratos.
Lake estava observando John ficar cada vez mais puto enquanto Vincent
pegava um pouco de comida. Assim que viu seu rosto depois da pergunta de
Vincent, notou que definitivamente não queria que ela tocasse em nada.
Eu nunca toquei na comida dele.
Ela mordeu o lábio, duvidando do que fazer. Ele certamente iria puni-la
se o fizesse.
— Eu não estou com fome. Acho que ainda estou um pouco enjoada.
— Você está enjoada porque não comeu. Coma.
Ela não tinha opção a não ser comer, se não quisesse fazer uma cena.
Lake pegou uma colherada de arroz e o item não ser o favorito de John,
frango e brócolis.
— Você precisa comer mais. — Vincent colocou mais arroz no prato dela
e pegou a última costela, acrescentando-a à sua porção.
Não, esse é o prato favorito dele!
Olhando rapidamente para John, ela viu que a fumaça estava
praticamente escapando de sua cabeça.
Vincent começou a comer enquanto voltava a atenção para Pam.
— O que foi mesmo que você precisava falar com Lake? Formatura ou
algo assim?
— Sim, eu não pude ir porque estava cuidando de John. Como foi? —
sua mãe finalmente se dirigiu a ela.
Lake foi falar, mas Vincent falou primeiro.
— O que houve? — ele perguntou, olhando para John.
John limpou a boca com as costas da mão.
— Eu peguei um resfriado.
Ela falou antes que qualquer outra coisa pudesse ser dita.
— Deu tudo certo no final. Vincent também se formou.
O rosto de Pam se iluminou.
— Mesmo? Sinto muito por ter perdido. Eu gostaria de ter visto você se
formar, Vincent.
Lake apertou o garfo enquanto beliscava a comida. Seu apetite havia
desaparecido completamente a essa altura, embora não tivesse comido o dia
todo. As palavras e ações de sua mãe continuaram a machucá-la. Ela teria
preferido os planos de John a essa situação.
— Você deveria ter ido ver sua filha. — Vincent sorriu para Lake e deu
um aperto na coxa dela por baixo da mesa.
Lake se viu sorrindo de volta para ele, pela tentativa de a confortar.
— Então, o que você vai fazer agora? — Sua mãe voltou o assunto para
Vincent.
Ele abriu a água e tomou um gole.
— Meu pai trabalha no centro da cidade, no hotel-cassino. Ele é amigo de
infância do proprietário, Dante Caruso. Mas você sabe disso, porque o pai de
Lake trabalha lá. Estou trabalhando lá há alguns meses.
Ai, Deus.
— Sim, nós sabemos tudo sobre o pai dela trabalhando lá — disse John,
apontando para Lake.
Vincent olhou John nos olhos.
— Que bom. Fico feliz que você saiba.
O resto da refeição se passou em silêncio. Vincent apreciou cada
pedacinho da comida, comendo com paixão enquanto John olhava para
Vincent toda vez que ele ia pegar mais. Sua mãe e Ashley não conseguiram
parar de olhar para Vincent. Lake mal conseguiu engolir algumas bocadas no
meio disso tudo.
Depois do jantar, Lake foi para a sala de estar com Vincent. Ok, hora de
ir.
Pam entrou um momento depois, indo até a bolsa de Lake, que ela havia
deixado na porta.
— Você sabe que nós não largamos nossas coisas por aí, querida. Anda,
vai levar a bolsa para o seu quarto.
Lake pegou a bolsa da mão de sua mãe, confusa.
Eu sempre deixo minhas coisas lá. Foda-se, eu nem me importo. Você
quer esse cara, fica com ele. Ela já estava cansada de ver a mãe flertar com
Vincent. Claramente, ela estava no caminho e ficaria feliz em escapar
daquela situação.
Ela subiu as escadas, tentando fingir que não estava realmente magoada
por sua mãe ter feito isso tudo com ela. Por que ela faria isso? Ela nunca
tinha feito nada assim antes. Mas Lake também nunca a apresentou a
ninguém, nem mesmo a Adalyn.
Caminhando pelo corredor em que seu quarto estava, ouviu alguém vir
atrás dela. Corre!
Lake saiu correndo, com medo de que John ou mesmo Ashley a tivessem
seguido. No final do corredor, ela sentiu alguém passar os braços ao redor
dela. Instantaneamente, soube quem era.
Lake estava sem fôlego quando sussurrou:
— Você quase me matou de susto, Vinc...
Vincent rapidamente a virou para que pudesse encará-la, ainda
segurando-a contra ele.
— Por que diabos você saiu correndo?
Ela virou a cabeça, incapaz de olhá-lo nos olhos.
— Você veio atrás de mim de um jeito suspeito. Isso me assustou.
Ele agarrou o rosto dela e a virou, a forçando a olhar para ele.
— Porra nenhuma! Ninguém sai correndo fugindo assim na própria casa.
Olhando para seu rosto predatório, ela teve de continuar mentindo.
Um mau pressentimento começou a se formar em sua mente: como a
noite poderia terminar. Esse pressentimento gritava em sua cabeça que a
merda estava prestes a bater no ventilador.
— Eu te disse, Vincent, você me assustou. Estou muito cansada. — Ela
se afastou dele, não querendo que ele continuasse a abraçá-la. — Agora, volte
para o andar de baixo. Te encontro assim que guardar minha bolsa.
Ela se abaixou para pegar a bolsa do chão.
— Eu não vou sem você. Eu disse a sua mãe que nós dois vamos ficar de
bobeira juntos.
— V-você quer entrar no meu quarto? — ela perguntou, sua boca
secando.
Vincent cruzou os braços sobre o peito.
— Sim. Tem algum problema nisso, porra?
— Bem, sim! Eu nem queria que você estivesse aqui, para início de
conversa. Eu sei que você roubou meu celular, e agora você quer entrar no
meu quarto? Vamos parar por aqui.
— Por que você está fazendo tanto caso de eu ver seu quarto? Se é tão
importante que eu não veja nada, fico esperando aqui enquanto você guarda
suas coisas. — Ele se encostou na parede.
Lake olhou para a corda dos degraus que levavam ao seu quarto no sótão.
Droga! Ela precisava tomar uma decisão. O quarto mais próximo ao dela era
o antigo, mas continha equipamentos de ginástica, e ela estava com medo que
Vincent desse uma olhada no interior. Se ela admitisse que seu quarto era no
sótão, com esperança tudo acabaria bem, porque não era tão estranho assim.
Certo? Hoje em dia isso é normal. Ela tinha um quarto no sótão. Se ela
fizesse disso algo grande, ele também ia achar que era importante.
Deu um pulo para pegar a corda, mas errou. Ashley tinha cortado muito
curto da última vez. Ela rapidamente pulou de novo, mas as pontas de seus
dedos mal roçaram a corda.
— O seu quarto é lá em cima? — ele perguntou, parecendo confuso.
— Sim. — Lake riu e fez menção de tentar de novo
Vincent se aproximou, impedindo-a de tentar pular novamente, e
facilmente agarrou a corda que balançava, a puxando para baixo e revelando
as escadas.
Ótimo, agora ele se tornou definitivamente um deus perfeito e alto.
— Obrigada. — Ela sorriu enquanto ele descia as escadas.
Lake se arrastou para cima, sentindo-se constrangida até pisar no sótão e
afastar sua bunda do ângulo de visão de Vincent. Ela apressadamente foi
colocar sua bolsa no colchão, que estava no chão, e tentou correr de volta
antes que ele aparecesse.
Virou o rosto para trás quando ouviu um rangido na escada e viu o rosto
de Vincent espiando do buraco no chão.
— É-é legal, não é?
Quando ele subiu completamente as escadas, fez um três-meia-zero, seu
rosto ficando mais horrorizado e desgostoso a cada segundo.
— Lake, olhe ao seu redor! Essa é a merda do seu quarto?
Seus olhos se arregalaram.
— Si…
— Pegue qualquer coisa aqui que seja importante, caralho. — Ele estava
começando a tremer.
— O quê? Por quê?
— Agora! — rosnou para ela.
Lake deu um pulo de susto e olhou ao redor do quarto escuro e vazio.
— I-isso é tudo que eu preciso. — Ela colocou a bolsa de volta no ombro.
— Porra! Isso é tudo o que é importante aqui? — Ele balançou a cabeça,
apontando para os degraus. — Desce logo. Eu não quero que você leve nada
dessa porra de lugar, de qualquer maneira. Provavelmente há mofo e merda
de rato por toda parte.
— Não entendo. Para onde eu vou? — Ela estava à beira das lágrimas
naquele momento.
Vincent se aproximou e agarrou a mão dela, levando-a para as escadas.
— Você está indo embora, Lake, e você não vai voltar, porra.
Lake ia discutir, mas o rosto de Vincent a fez mudar de ideia. Não havia
possibilidade de vitória contra o animal parado na frente dela naquele
momento.
Lágrimas caíram por suas bochechas enquanto ela descia os degraus, seu
estômago mais enjoado do que antes, dizendo-lhe que algo terrível estava
para acontecer.
Vincent desceu os degraus logo atrás dela e olhou para as lágrimas
silenciosas caindo em seu rosto. Estendendo a mão, ele pegou seu rosto e
enxugou as lágrimas com os polegares.
— Você não pode ficar aqui, baby. Eu sinto muito.
Lake fechou os olhos, tentando parar o choro.
— Eu não posso deixar minha mã…
— Ela não é mãe para você — ele disse enquanto continuava a enxugar
as lágrimas. — Você não percebe? O que ela está deixando John fazer com
você?
Lake não podia dizer nada, incapaz de mentir para Vincent por mais
tempo. Nem podia argumentar contra ele, pois sabia que tudo o que ele dizia
era verdade.
Quando ele viu a derrota em seus olhos torturados, deu um beijo
carinhoso em sua testa e pegou sua mão.
— Vamos.
— O que diabos você pensa que está fazendo? — John perguntou,
virando a esquina, Pam e Ashley atrás dele, curiosas.
— Ela está indo embora, é isso. — Vincent deu um passo à frente.
John começou a caminhar em direção a eles.
— Não, ela não está. Eu não sei o que te dá o direito de entrar na porra da
minha casa a e agir como se você fosse o dono. Saia daqui antes que eu
chame a polícia.
— Chame a porra da polícia. Vamos explicar por que ela está morando
em um sótão. Quantos quartos você tem aqui? — Vincent largou a mão de
Lake e abriu a porta mais próxima a ele, revelando uma grande sala cheia de
equipamentos de ginástica. — Bem, aqui está um quarto perfeitamente bom
em que ela poderia dormir. — Ele deu um passo à frente, dando uma boa
olhada em John. — Aposto que você não pôs um pé nessa porra de quarto.
O rosto de John se contorceu, sabendo que Vincent estava certo.
— Cai fora.
— Com prazer, caralho. — Vincent agarrou a mão de Lake e começou a
andar pelo corredor.
Deus, por favor, me ajude.
Lake pensou que seu coração ia parar a qualquer momento, ela mal
conseguia respirar. Só queria que Vincent saísse de lá antes que fizesse
qualquer coisa pela qual ela nunca pudesse perdoá-lo. Nesse ponto, precisou
sair com ele, porque se não o fizesse, de duas, uma: ou ele iria matá-los na
frente dela ou ia embora para trazer de volta toda a máfia Caruso e cumprir a
tarefa.
Quando Lake e Vincent começaram a passar por John, ele a alcançou.
— Você não vai levar a lix…
Vincent empurrou Lake para trás de si antes que John pudesse agarrá-la,
então jogou John contra a parede, prendendo-o com o braço sobre sua
garganta.
— De que nome você ia chamar ela, caralho?
Lake cobriu a boca, incapaz de permitir que os gritos escapassem de sua
garganta, assim como sua mãe e Ashley haviam feito.
Quando John não respondeu, Vincent pressionou o braço com mais força
em sua garganta, cortando mais sua circulação.
— Nem uma vez eu ouvi você se dirigir a ela pelo nome. Agora, diga.
De. Que. Nome. Você ia chamar ela, caralho?
— Lixo de trailer! — John engasgou como se estivesse feliz por
finalmente o apelido ser revelado.
Quando Pam cobriu a boca e resfolegou como se estivesse chocada,
Vincent olhou para ela.
— Não aja como se estivesse surpresa, porra. Você consegue se lembrar
da última vez que ele disse o nome dela?
— Eu não sabia…
— Sim, você sabia, sua vagabunda. Você só ignorava e fingia que nada
estava acontecendo.
Ao ouvir as palavras dele, Pam agiu como se Vincent a tivesse golpeado.
Vincent começou a cortar mais a circulação de John.
— O que mais você fez com ela, filho da puta?
— Vincent, por favor! — Lake chorou. Se ele continuasse, ela tinha
certeza que a cabeça de John iria explodir.
Ele deu mais um aperto na garganta de John antes de deixá-lo cair no
chão, tentando recuperar o fôlego.
— Se eu descobrir que você encostou um dedo nela, eu vou voltar aqui e
cortar sua maldita garganta.
Lake foi até Vincent e tocou levemente seu braço, um pouco com medo
de cutucar o animal raivoso.
— Vamos. Por favor, vamos.
— Eu disse que você não vai a lugar nenhum. Você é minha, sua
merdinha inútil — John disse sarcasticamente entre golfadas de ar ásperas.
Vincent o chutou na boca em um movimento rápido.
— É melhor você começar a rezar, filho da puta, porque a única razão
pela qual eu não te mando direto para o inferno agora é porque ela está aqui.
Você não a possui e nunca a possuirá. Lake é minha. Ela nunca mais vai te
ver. Tente se aproximar e você vai descobrir o que acontece com os filhos da
puta que mexem com a família Caruso.
Claramente satisfeito, ele agarrou a mão trêmula de Lake e seguiu pelo
corredor.
Ao passar por Pam e Ashley, ambas horrorizadas, ele deu um aviso.
— Isso vale para todo mundo aqui, caralho.
Aterrorizada, Lake deixou Vincent levá-la para o carro dele.
Quando ele entrou no lado do motorista e ligou o motor, ela estava quase
se mijando de medo. Ela não conseguia mais ver Vincent. Em seu lugar
estava um homem que a estava deixando petrificada. Lake sabia que ele tinha
algum transtorno de personalidade, mas aquele foi o mais extremo que ela já
tinha presenciado, e ele realmente admitiu que estava se segurando por causa
dela.
Se isso é ele se segurando, então... Uma coisa era certa, Lake precisava
ficar longe do assustador Vincent.
— P-para onde estamos indo?
Ele apertou o volante com força.
— Neste momento, estou pensando em voltar para lá.
Não!
— N-não. — Ela não conseguia conter o choro.
Ele cerrou os dentes.
— Por que não, caralho? Você já está com medo de mim, então eu
deveria pelo menos te dar algo para justificar esse pavor todo. — Vincent
saiu da estrada e estacionou o carro. — Ele merecia muito mais do que eu fiz,
Lake. Eu estou indo embora por você. Ele pediu por aquilo quando não calou
aquela boca imensa. Eu não sou idiota. Eu sei que você está tomando no cu
com eles há muito tempo, e, por mim, todos eles estariam mortos agora
mesmo!
— Eu-eu sei, mas ela é minha mãe, independentemente do que ela fez.
Ela é minha família. — Lake tentou evitar que seu corpo tremesse tanto
enquanto enxugava as lágrimas.
Lake entendeu que era a maneira insana dele de tentar salvá-la, mas ela
não gostava desse Vincent.
Eu nunca quis que ninguém me salvasse. Ela estava com muito medo de
que o preço dessa salvação fosse a cabeça de sua mãe.
Ele respirou longa e profundamente enquanto alisava o cabelo.
— Onde fica sua casa?
Lake rapidamente se voltou para ele, os olhos lacrimejantes.
— O que, a do meu pai?
— Sim, a do seu pai, a menos que você queira que eu volte para a casa da
sua mãe. — Ele botou o carro na estrada de novo.
Nem ferrando que Vincent iria para a casa do pai dela se o que tinha
acabado de acontecer fosse acontecer de novo, só que lá.
— Eu não quero que você vá lá — ela sussurrou.
— Por que diabos não? — Sua voz começou a subir novamente.
Porque você vai me deixar sem-teto.
— Você não pode.
Ele fez menção de entrar em um retorno.
— Tudo bem, eu vou te levar para a porra da minha casa.
— Espera! — Lake rapidamente agarrou o volante. Ela pensou por um
momento, tentando decidir se era pior ser sem-teto ou sem-virgindade. —
Nós podemos ir para a casa do meu pai.
Lake olhou pela janela do carro e viu o oposto da casa de sua mãe. Eles não
estavam mais nos subúrbios, mas em uma parte decadente da cidade. A única
coisa boa sobre a rua era que era praticamente segura à noite, já que a maioria
das pessoas que morava ali era de classe média baixa, trabalhadores.
— Você não vai embora sem antes entrar, né? — Ela pensou que ele pelo
menos pediria.
— O que você acha? — Vincent estacionou o carro e desligou o motor.
Lake respirou fundo. Imaginei.
Ela saiu do carro, subiu na varanda de aparência suja, em seguida tirou as
chaves da bolsa antes de abrir a fechadura.
Antes que pudesse destrancar a porta, se virou para Vincent.
— Não conte ao meu pai sobre minha mãe. Ele não sabe de nada, e se
soubesse, morreria.
— Entra logo — ele assobiou.
Imaginei que diria isso também.
Ela virou a chave e entrou na casa, permitindo que Vincent entrasse logo
atrás. Fechou a porta e garantiu que estivesse trancada antes de acender os
interruptores que mostrariam o lugar sombrio.
Era o mais limpo possível para algo tão antigo, precisava de melhorias e
reparos sérios. A pequena cozinha continha uma pequena mesa de jantar, que
se conectava à pequena sala de estar, com uma namoradeira e uma TV. Os
móveis não combinavam, eram velhos, assim como os eletrodomésticos, mas
para ela era um lar, e Lake se sentia mais segura lá do que em qualquer outro
lugar do planeta. O lugar sujo, velho e decadente era seu porto seguro, e ela
amava cada centímetro daquilo.
Ela não queria que Vincent visse, porque passaria a olhar para ela do jeito
que todo mundo olhava – como um lixo de trailer. Algo estúpido nela
realmente se importava com o que Vincent pensava. E agora ele finalmente
pode ver quem eu sou de verdade.
Incapaz de olhar para o rosto dele ainda, Lake caminhou pelo pequeno
corredor e bateu em uma das três portas, a que levava ao quarto do pai.
Quando ele não respondeu, ela abriu a porta e viu o cômodo vazio.
Por que ele não está aqui?
— Talvez ele apareça mais tarde — ela disse, voltando para a sala e
colocando a bolsa no chão.
Vincent olhou para Lake com compaixão.
— Tenho certeza que ele vai aparecer. Por que você não vem se sentar
enquanto eu vou preparar algo para você comer?
Ela balançou a cabeça.
— Acabamos de comer. Eu não estou...
Vincent a deteve, tirando o terno e a gravata, em seguida afrouxando os
botões de cima.
— Você não comeu porra nenhuma, estava preocupada em não tocar na
porra da comida preciosa dele. Agora vai sentar antes que desmaie.
O queixo dela caiu, mas Lake logo se recompôs, foi para a cozinha e se
sentou à mesa, que rangeu. Ela observou Vincent vasculhar os poucos
armários e a geladeira, se perguntando se ele sabia que coisas eram aquelas.
Ela não achava que Vincent passava muito tempo em uma cozinha.
— Pode ser cereal? — ele perguntou, pegando leite na geladeira.
Ela torceu o nariz.
— Hum, isso tá velho.
Vincent verificou a data de validade para ver se ela tinha razão e então o
jogou na pequena lixeira. Ele pegou um pequeno pacote de miojo, que era
praticamente a única coisa que restava, e procurou na embalagem a data de
validade.
— Eu não acho que miojo passe da validade — ela disse.
— Sério? — Ele olhou para ela como se não acreditasse em suas
palavras..
— Quero dizer, eles fazem isso para estudantes universitários e pessoas
pobres, então não pode estragar, porque nunca podemos jogar comida fora.
Vincent apertou a ponte do nariz.
— Puta que pariu... — ele murmurou para si mesmo.
O quê? É triste, mas é verdade.
Ele encontrou uma pequena panela no lado limpo da pia, encheu-a de
água e colocou-a no fogão. Então pegou o saco de pão e tirou as duas últimas
fatias, que eram as cascas do pão.
— Claro — disse ele, jogando-os de volta no saco e indo jogar fora.
— Opa, essa é a melhor parte! Eu acabei de dizer que não jogamos
comida fora. Meu pai te mataria se você jogasse essa parte fora.
Será que ele ouve alguma coisa que eu digo?
Vincent olhou para Lake como se ela tivesse vindo do espaço sideral.
— Isso é literalmente a casca, é feita da parte que você corta fora do
sanduíche. Ninguém come essa parte.
— Talvez no lugar de onde você venha, mas aqui é um crime cortar a
casca. Se ninguém come, por que se vende o pão com essas duas fatias? Ou
por que não vendem pão sem casca se todo mundo corta e joga fora? — Lake
ergueu as sobrancelhas, esperando uma resposta.
Eu acabei de dar um nó na cabeça dele.
— Por que diabos tudo o que você está dizendo faz sentido? O pior é que
não sei se devo ficar bravo ou triste com isso. — Vincent espalhou a
manteiga de amendoim na casca. — Quero dizer, como diabos as duas fatias
de casca são a melhor parte?
— Não rejeita antes de provar. É surpreendentemente delicioso.
Vincent abriu um sorrisinho enquanto lambia um pouco de manteiga de
amendoim do dedo.
Lake se pegou admirando Vincent preparando sua comida. Ela realmente
gostou de observá-lo daquele jeito, porque parecia que ele era humano. Ela
sempre o tinha visto como um deus. Claro, Vincent ainda parecia um deus na
cozinha dela, mas ele estava fazendo algo normal pela primeira vez.
Ela começou a sorrir quando notou que ele realmente sabia o que estava
fazendo e que estava fazendo isso por ela. Foi gentil. O que é realmente
muito estranho.
Ela tirou a correspondência e as contas do caminho quando ele veio
colocar o prato dela na mesa. Pegou o sanduíche de manteiga de amendoim e
começou a comer.
Ele procurou algo na geladeira.
— Você não tem nada para beber?
— Há copos naquele armário e há água na torneira. — Ela tentou não
engasgar com o sanduíche enquanto ria.
— Não sei por que perguntei.
Quando ele colocou dois copos com água na mesa, Lake ergueu o
sanduíche e sorriu para ele.
— Tá muito bom.
Vincent passou a mão em volta do pulso dela enquanto dava uma grande
mordida.
— Isso tá surpreendentemente delicioso. — Vincent conseguiu dar mais
uma pequena mordida antes que Lake puxasse a mão de volta.
— Eu te disse. — Ela riu para ele.
Quando ele se sentou, sorrindo na frente dela, seu estômago deu uma
cambalhota de felicidade. Lake tinha certeza de que deveria gostar disso, mas
ficou assustada. Ela não queria gostar dele; Vincent era louco e uma pessoa
terrível. Certo? Ela nunca pensou que diria isso, mas na verdade preferia o
Vincent versão malvada. Quando ele era malvado, ela não queria beijá-lo.
— Por que você está sendo tão legal? — Talvez a pergunta tenha saído
mais rude do que pretendia.
— Então você fica brava comigo por ser malvado, e agora que eu sou
legal, você não gosta? — ele retrucou.
Não, não. Eu gosto mais da versão legal.
— Desculpa, eu não queria que soasse assim. Só não estou acostumada
com isso. — Ela se sentiu mal. — Obrigada por me fazer o sanduíche.
— De nada.
Ela estava grata que a versão bondosa tinha voltado.
Ficou chocada quando viu que comeu toda a comida, não lembrava da
última vez em que comeu uma refeição completa, aproveitando cada bocada.
Mas é aquilo, estava praticamente faminta. Nesse ponto, qualquer coisa além
da comida chinesa de John teria um gosto bom.
Quando Lake bebeu o último gole de sua água, Vincent foi botar os
pratos na pia.
— Bom. Agora podemos conversar, cacete.
Ai, meu Deus. Ela sabia que o Vincent Bacana tinha finalmente ido
embora. Nada de bom viria da conversa que ele queria ter.
— Por que não conversamos enquanto eu comia pelo menos? Assim você
teria me deixado em paz de uma vez.
Vincent flexionou a mandíbula.
— Porque você não come quando está chateada, teria dado só algumas
mordidas. Você se lembra da última vez em que sentou e comeu uma refeição
inteira?
Merda, alguém me salva…
... deste psicopata.
— Acabei de comer, não foi?
Vincent balançou a cabeça.
— Você não teria comido se eu não te obrigasse.
Lake balançou a cabeça para ele.
Vincent estava prestes a perder a cabeça.
— Por que tudo tem que ser tão difícil com você? Em um dia — ele
levantou um dedo — descobri que você está trabalhando para Dante porque
te vi trabalhando lá embaixo. — Outro dedo sobe. — Soube das inúmeras
vezes que você quase foi morta no espaço de uma semana. — Outro dedo. —
Então, para completar, vou até a casa da sua mãe e descubro que ela é uma
fodida que está deixando um cara mais fodido ainda te machucar. Então, se
não for pedir muito, você poderia, por favor, se colocar no meu lugar e parar
de ser tão difícil?
Lake respirou fundo, percebendo que Vincent tinha um pouco de razão.
— Ele nunca me machucou.
— O quê?
Lake teve de desviar os olhos para a mesa enquanto falava.
— Ele nunca me machucou, porque ele tinha muito medo. Sabia que teria
cruzado a linha se me tocasse. Se deixasse uma marca, meu pai o teria
matado.
— Lake, você pode machucar as pessoas sem colocar a mão nelas. Não
vem com essa de que ele nunca te machucou. — Vincent manteve sua voz
entre calma e forte. — O que exatamente ele fez com você?
Não há como fugir.
Passando a unha no tampo da mesa, Lake mordeu o lábio. Ela realmente
não queria contar a ele, mas tinha certeza que Vincent sabia de tudo, só
queria ouvir dela.
— Desde que ele me conheceu, soube que não gostava de mim. Ele
sempre me ignorava ou me olhava feio pelas costas da minha mãe, então
comecei a passar mais dias com meu pai e menos com minha mãe. Lembro
que ela estava deprimida e vivia chorando antes de conhecê-lo, e ela
finalmente parecia estar muito feliz, então eu estava feliz. Eu não achava que
importava muito se John gostasse de mim ou não, porque eu só tinha que vê-
lo nos fins de semana, e ele me ignorou até a primeira vez em que minha mãe
saiu de casa e me deixou lá.
“Foi como se ele tivesse esperado por aquele dia. Finalmente, estava livre
para me chamar do que quisesse e me obrigar a fazer o que ele quisesse. Ele
passou a mandar minha mãe fazer mais tarefas na rua enquanto eu ficava lá
para limpar, cozinhar e servi-lo sempre que ele quisesse. Fiz tudo o que
ordenou e nunca disse nada ao meu pai, porque John me disse que se eu
fizesse, papai não só mataria ele e Ashley, mas iria atrás de minha mãe
também. Eu era jovem e estava com medo suficiente para acreditar nele, mas
velha o suficiente para entender o que meu pai fazia no trabalho. Quanto mais
eu limpava e o ouvia me xingar, mais eu sabia que John estava certo; ele os
mataria.
Vincent flexionou a mandíbula.
— Como seu pai não descobriu? Você está me dizendo que ele não sabe
de nada?
— Não, não sabe. — Ela olhou para Vincent como se ele fosse louco.
— Como vou acreditar nisso, Lake?
Ela não ia deixá-lo pensar isso de seu pai. Vincent poderia dizer o que
quisesse sobre a mãe dela, porque Deus sabia que ela não era perfeita, mas
Lake não iria deixá-lo culpar o pai quando ele sempre fez o melhor que podia
por ela, apesar de sua fraqueza. Meu pai é tudo que me resta. E ela não ia
deixar Vincent tirar isso dela.
Lake olhou para suas profundezas azuis, sabendo que o que diria a seguir
iria machucá-lo.
— Da mesma forma que Adalyn e você não sabiam. Não havia como
saber, a menos que você estivesse lá para presenciar, exatamente como você
fez esta noite. Meu pai nunca teve estômago para ir até aquela casa enorme e
lidar com o motivo pelo qual minha mãe o deixou: por dinheiro. Quando pedi
para passar apenas os fins de semana com minha mãe, disse a ele que era
porque ela não estava sozinha, e eu não queria que ele ficasse só. A mesma
coisa que eu te disse meses atrás, e você não se importou com isso.
“Minha mãe era uma boa mãe antes de John, independentemente de você
acreditar em mim ou não. Eu nunca teria acreditado que John e seu dinheiro a
mudariam, mas foi o que aconteceu. Eu sabia que seria difícil para meu pai
acreditar também, e foi por isso que nunca lhe dei nenhuma razão para pensar
o contrário.”
Vendo a raiva por trás de seus olhos quando ele começou a apertar a
mesa, Lake se sentiu mal por ter dito aquilo tudo, mas ela não tinha escolha –
viu que Vincent estava pensando em matar seu pai. Ainda assim, tentou
consertar a situação. Ela não queria que ele se culpasse.
— Vincent, não tinha como você saber o que aconteceu, assim como
Adalyn e meu pai também não podiam saber. Não há culpados…
Ele pulou da mesa, praticamente virando tudo.
— Há culpados! Esses filhos da puta precisam morrer só pela forma
como te trataram hoje à noite.
— Por favor, me escuta. Estou implorando, não os machuque. — Mais
uma vez, ela não ousou olhar para ele, voltando a olhar para a mesa.
Vincent estendeu a mão e agarrou seu queixo, inclinando a cabeça para
encontrar seus olhos.
— Você nunca mais vai encontrar com eles. Se você fizer isso, e eles
olharem para você da maneira errada, eu os matarei lenta e dolorosamente.
Você entendeu?
Lake engoliu em seco, em seguida assentiu em compreensão. Discutir
com Vincent quando ele estava assim não era uma opção. Ela teve sorte por
ele concordar em não machucá-los.
Vincent soltou o queixo dela e calmamente sentou-se depois de passar a
mão no cabelo.
— Não conte ao meu pai e, por favor, não o culpe. Não tinha como ele
saber. Ele faz o melhor que pode por mim, mas você sabe que ele não é
oficialmente da máfia e que ganha pouco. Ele trabalha duro para o Dante para
ganhar o máximo que puder e nos sustentar. Há um teto sobre minha cabeça,
comida na minha barriga e roupas para vestir. Se houver algo extra depois
disso, ele usa tudo na jogatina. Ele não consegue evitar, é um viciado em
jogos de azar.
“Todo mundo tem seu ponto fraco, e o dele é uma mesa de pôquer. Esse é
o prazer dele. Nunca me incomodou, e não me importo se não temos muito
dinheiro. Meu pai é a melhor pessoa que conheço. Ele adora entrar aqui e
dizer que ganhou no jogo. Sempre que isso acontece, ele me leva para comer,
e então vamos ao supermercado e ele me deixa encher o carrinho. Depois, ele
me dá dinheiro para comprar o que eu quiser. Isso é mais do que muitos pais
fazem por seus filhos. Se você contar a ele sobre minha mãe e John, nunca
vai se perdoar, e ele não merece isso.
Lake não pôde deixar de chorar enquanto suplicava a Vincent.
Levantando-se da mesa, ela correu para seu quarto, incapaz de parar os
soluços que escapavam de seu corpo.
Depois de alguns segundos, sentiu os braços de Vincent à sua volta.
— Eu não vou dizer a ele se você não quiser.
Lake tirou as mãos do rosto e chorou em seu peito.
— E-eu não quero que você conte.
— Então eu não vou contar. — Ele começou a acariciá-la de volta
enquanto a segurava mais perto de si.
— E-ele não vai voltar para casa de novo, né? Ele está com vergonha de
mim porque eu trabalho no cassino — ela sussurrou para Vincent em meio às
lágrimas.
Ele não consegue mais falar comigo ou olhar para mim. Esses
pensamentos tomaram conta de sua mente durante toda a semana.
— Não, baby, ele não está. Ele está com vergonha de si mesmo. Vai ser
difícil para ele se perdoar por colocar você em perigo e te fazer pagar a dívida
dele. Você vai ter que dar a ele algum tempo para que consiga te encarar de
novo.
Outro choro escapou de sua garganta quando percebeu que realmente
sentia falta do pai, que precisava dele.
— Baby, shh... — Vincent a apoiou na cama e a sentou na beirada do
colchão. — Você está exausta e vai se sentir melhor quando acordar amanhã.
— Ele se ajoelhou e começou a desamarrar seus velhos tênis.
Ai, ai, ai. Lake tentou não estremecer quando ele os tirou de seus pés.
Então, quando Lake se encolheu, ele foi até a meia para ver o que havia
causado isso. Ela não teve sucesso novamente enquanto tentava impedi-lo de
tirar a peça.
Vincent tirou lentamente a meia e examinou cuidadosamente o pé cheio
de bolhas antes de fazer o mesmo com o outro. Ele se levantou do chão.
— Deita.
Lake subiu na cama e se deitou enquanto o observava sair do quarto. Ela
enxugou as lágrimas restantes, tentando imaginar o que ele estava fazendo.
Ela estava tão exausta, que quase adormeceu antes que Vincent voltasse
ao seu quarto, vestindo um short de ginástica e uma camisa. Olhando para
suas roupas trocadas, percebeu que poderia ter cochilado.
— De onde você tirou isso? Espera, por que você trocou de roupa?
Ele se sentou na ponta da cama e colocou os pés dela em seu colo.
— Eu sempre deixo algumas mudas de roupa no carro, vou passar a noite
aqui.
— Não, você não vai. — Ela fez menção de se sentar e tirar os pés do
colo dele, mas Vincent segurou suas pernas.
— Você não vai ficar sozinha neste bairro a noite toda, especialmente
sem ter um carro na frente da sua casa se eu for embora. — Ele esguichou um
pouco de um gel transparente em suas mãos e começou a esfregá-lo nos pés
dela.
Seus pés estremeceram de frio, mas logo uma sensação boa se espalhou
quando Vincent os massageou.
— O que é isso?
— Babosa.
Lake apenas olhou para ele, atordoada.
— Liguei para Maria e perguntei o que ajudaria. Então fui andando até
uma loja bem rápido para pegar as coisas da lista que ela me deu — explicou
ele.
Andando?
— Por que você não foi de carro?
— Eu te disse que você não pode ficar sozinha neste bairro sem ter um
carro na frente da casa. Ninguém vai tentar entrar com meu Cadillac lá.
Agora deita.
Apreensiva, ela descansou a cabeça no travesseiro e o observou cuidar de
seus pés. Seu toque era leve e calmante, e ele foi cuidadoso com a região ao
redor das bolhas. Lake não conseguia tirar os olhos dele enquanto Vincent se
demorava nos cuidados. Ele estava sendo incrivelmente doce e gentil. Seu
coração vacilou por ele ter ligado para Maria e ido até a loja para resolver
algo tão bobo quanto bolhas em seus pés. Lake não queria que ele passasse a
noite, mas não teve coragem de argumentar depois disso tudo.
No momento em que Vincent cobriu suas bolhas em uma estranha fita
marrom e vestiu algum tipo de meia especial muito macia, seus olhos
começaram a se fechar. Ela sentiu as cobertas envolvê-la quando um corpo
deslizou ao seu lado.
— Você não pode dormir aqui, Vincent — ela sonolentamente disse a ele
enquanto se virava para lhe dar as costas.
— Por que não? — ele perguntou, puxando-a para seu peito e envolvendo
seu braço ao redor de Lake.
— Porque você vai tentar algo comigo, e eu não vou fazer sexo com
você. — Ela tentou se livrar de seu braço.
Vincent simplesmente puxou Lake contra seu corpo com mais força.
— Você não precisa se preocupar. Eu não te comeria na casa do seu pai.
Ah, bom. Agora me sinto bem.
Lake relaxou contra ele, muito cansada para lutar.
— Somos apenas amigos, Vincent. Eu poderia perder meu emprego se
Sadie pensasse o contrário.
— Tudo bem, nós somos amigos. Agora vá dormir — ele murmurou.
Ela deixou a exaustão tomar conta de seu corpo, seu último pensamento
retomava o que Vincent havia dito a John mais cedo. Lake é minha.
Vincent fez Lake voltar a dormir quando ela acordou no meio da noite. Para
uma garota que disse não desejar que ele dormisse ao lado dela, Lake
definitivamente gostava de ser abraçada com força.
Ele não conseguiu dormir enquanto os pensamentos de quão fodido
aquele dia tinha sido povoavam seu cérebro. Ele nunca quis tanto torcer o
pescoço de alguém quanto o de John. Aquele filho da puta a torturava sabe-se
lá há quanto tempo, e aquela vagabunda da Pam não deu a mínima e flertou
com ele na frente de Lake. Vincent pode ter comido um monte de mães, mas
nenhuma mostrou descaradamente que estava interessada nele na frente de
suas filhas, como ela tinha feito. Elas sempre tentaram ao máximo esconder
aquilo tudo.
Esse foi o jantar mais difícil que ele precisou participar na vida, com
Lake morrendo de medo de comer uma porção pequena da porra da comida
daquele idiota. Então, quando ele subiu as escadas e descobriu que o quarto
dela era o sótão, perdeu a cabeça. A porra do sótão? Em uma mansão,
caralho?
Ele a viu tentar pular e pegar a corda, e ficou enjoado só de pensar que
eles gostavam de vê-la se esforçando sem nem chegar perto de conseguir
abrir as escadas. Vincent sentiu a textura da ponta da porra da corda e soube
na hora que eles a tinham cortado. Considerando a altura, um deles precisaria
de uma escada e um caráter mínimo, o que significava que aquela piranha da
Ashley tinha feito isso.
Quando Lake disse “é legal” para ele, Vincent sinceramente acreditou
que uma parte dela realmente pensava isso, como se tivesse se forçado a
acreditar. Ele sabia que jamais a deixaria lá por mais cinco minutos.
Levá-la para a casa de seu pai foi uma experiência totalmente diferente. A
casa era velha e pequena. O bairro era uma merda, perigoso para uma garota
como Lake, mas ele viu como ela mudou ao chegar lá. Pôde ver que Lake
sentia como se estivesse em casa, em segurança, o que era tudo o que
importava para ele. Vincent não a julgou — ou ao seu pai, aliás — por não
ter muito dinheiro.
Era difícil para um homem estar na família e não ser da família. Todos os
melhores trabalhos, com os melhores pagamentos, iam para os homens
oficialmente da máfia — era assim que funcionava. Os outros carregavam a
maldição de serem soldados por toda a vida com base apenas no fato de não
terem nascido com sangue italiano. Era uma regra rígida da família, muito
antiga, e as regras raramente eram quebradas. Toda a existência de Vincent
era voltada para a família; no entanto, ele jamais gostaria de estar no lugar do
pai de Lake. Saber que ele sempre quis ser um homem de família, mas foi
forçado a estar na base de tudo era o pior pesadelo de Vincent.
Lake tinha razão. Ele não podia culpar o pai dela mais do que se culpava
por tê-la deixado naquela casa meses antes sem nunca ter percebido ao longo
dos anos que poderia haver algo de errado acontecendo com ela. Ele não
tinha uma única pista até que seu instinto gritou que algo estranho estava
acontecendo naquele dia. Mas eu a deixei lá, porra, mesmo assim.
Lake não precisava se preocupar com ele contar tudo a seu pai; Vincent
não o faria. Se o fizesse, seu pai teria o prazer de matá-los, e ele iria se
certificar de que essa satisfação fosse toda dele.
Vincent olhou para o rosto adormecido de Lake. “Ele não vai voltar para
casa de novo, né? Ele está com vergonha de mim porque eu trabalho no
cassino”. Uma parte dele se partiu em dois no momento em que essas
palavras saíram da boca de Lake. Vincent estava preocupado com a
possibilidade de machucá-la se eles ficassem juntos, mas o lance é que ela já
estava danificada. Ele ia consertar as partes quebradas de Lake, pedaço a
pedaço, e começaria afastando a escuridão que havia dentro dele.
Lake precisava que a consciência dele se reestabelecesse. Vincent não
daria conta de vê-la olhando com medo para ele nunca mais. Lake sentiu
medo por muito tempo, e ele ia fazer o que fosse necessário para que daquele
momento em diante ela pudesse ser feliz, mesmo que isso significasse perder
uma parte de si mesmo. Vincent havia excluído Lake de sua memória meses
antes, mas naquele momento disse a si mesmo que era hora de começar um
novo jogo.
“Somos apenas amigos, Vincent”. Ele entendeu que ela precisava de um
amigo naquele momento, então era isso que ele seria. Até aquele maluco
ruivo sair de cena, ou Vincent o matar. Então iria se certificar de que Lake
compreendesse que eles não seriam mais apenas amigos.
Ele não ia contar para ela sobre ter quitado sua dívida. Saber que
precisaria continuar trabalhando porque aquele filho da puta assustador tinha
uma queda por ela só a assustaria. Pelo menos, era isso que ele estava
dizendo a si mesmo. A verdade era que Lake planejava não ir mais para a
faculdade, e uma parte insana de sua mente não queria que ela fosse;
portanto, teve medo de lhe dizer que não precisava mais trabalhar, pensando
que ela poderia deixá-lo. Vincent tinha um mês para fazê-la querer ficar, e ele
iria se certificar de que assim fosse.
Ele gemeu quando Lake se mexeu mais perto dele, roçando a bunda em
seu pau.
Porra, vai ser um longo mês.

Lake franziu a testa quando acordou no dia seguinte com a cama vazia, assim
como tinha feito no mês passado. Ela nunca iria admitir isso, mas sempre
odiou o fato de que Vincent nunca estava lá de manhã.
Saiu de seu quarto e foi ao corredor rumo ao banheiro, quando sentiu um
cheiro delicioso. Mmmmm...
Ela rapidamente entrou no pequeno banheiro para se arrumar o mais
rápido que pôde. Assim que terminou de escovar os dentes, foi para a
pequena cozinha.
— Isso, minha comida preferida: bacon e panquecas! — Sua boca
praticamente encheu d’água quando viu a enorme pilha de comida.
Lake fez menção de ir pegar pratos no armário para colocar na mesa, mas
uma mão surgiu e agarrou sua cintura, a puxando contra um corpo duro e sem
camisa.
— Vá sentar. Eu trago para você. — Vincent deu um beijo em sua
cabeça.
Lake o empurrou, botando a mão em seu peito nu.
— Pare com isso, Vincent. Quantas vezes eu já disse que posso ajudar
também? Eu não sou um bebê. E quantas vezes eu te disse para colocar uma
camisa?
Vincent sorriu maliciosamente antes de deixá-la ir.
— Por que isso te incomoda tanto?
Lake foi se sentar à mesa, decidindo responder apenas em sua cabeça.
Porque você é perfeito, e ficar olhando para você me mata. É por isso.
Ela o observou colocar a comida na mesa junto com os pratos. Então
Vincent abriu a geladeira ridiculamente cheia e serviu um pouco de suco de
laranja. Lake o examinou quando ele começou a encher seu prato. Ele parece
diferente.
Vincent deu uma mordida em uma fatia de bacon.
— Baby, por mais que eu goste de você olhando para mim, você precisa
comer.
Lake disse ao seu corpo para ignorar o fato de que gostava quando ele a
chamava daquele jeito, e então franziu o nariz.
— Por que você parece tão feliz?
— O que, eu não posso ficar feliz nunca?
Ela balançou a cabeça.
— Você nunca fica feliz quando estou prestes a ir trabalhar, e você
acabou de fazer o café da manhã que eu mais gosto. Eu não sei... Parece que
você está comemorando.
Ele encolheu os ombros.
— Bem, hoje completa um mês que começou a trabalhar. Achei que você
merecia algo especial.
Droga. Ela de alguma forma sempre se fazia parecer uma idiota.
Lake começou a fazer seu prato com algumas delícias saborosas.
— Obrigada. Isso foi muito legal da sua parte.
— Eu sei como você pode realmente me agradecer. — Vincent piscou
para ela.
Lake riu.
— Você não desiste, não é?
— Nunca.
Lake sorriu para ele e começou a comer. Tinha sido um mês longo e
difícil no início, e ela não achava que teria sobrevivido sem ele. Ela ainda não
tinha visto o pai desde aquele dia no escritório de Dante, mas Vincent se
certificou de que ele estava bem. Para ser sincera, ele havia resolvido muitos
problemas para ela, problemas em que Lake se meteu sozinha.
Todos os dias ela trabalhava no cassino, sem tirar um dia de folga, e
todos os dias ele a levava para o trabalho. Vincent se certificou de que a
geladeira estivesse sempre cheia e ela comesse regularmente. Vincent a
mimou completamente, dos pés à cabeça. Literalmente.
Na primeira noite, ele conseguiu curar seus pés cheios de bolhas, e
seguindo as instruções de Maria, os pés continuaram dessa forma. Lake ficou
chocada no dia seguinte quando descobriu que seus saltos de trabalho
estavam cheios de algum tipo de gel amortecedor.
Ela tinha sacado Vincent muito rápido depois daquele primeiro dia e
passou a saber como lidar com ele. Vincent queria soar todo durão, mas
assim que a viu tão chateada, mudou completamente.
Ele não gostava de vê-la ferida, e Lake tinha certeza de que foi por isso
que ele não tentou ir atrás de sua mãe ou de John. Tinha sido um mês de
folga do Vincent Malvado, e ela estava tremendamente grata por isso.
Eles não passavam muito tempo separados, especialmente porque
Vincent sempre se recusava a sair da cama. Ela precisava admitir que não se
esforçou muito para que ele fosse embora. Lake tinha certeza de que, depois
de um mês, ela deveria se sentir sufocada, mas não se sentiu.
Vincent realmente se tornou meu amigo. Mesmo que seja difícil olhar
para ele ou estar tão perto e não querer…
Lake desviou os olhos do abdômen de Vincent e se levantou da mesa.
— Preciso me preparar para o trabalho.
Ele estendeu a mão e agarrou a dela quando Lake passou, arrastando-a
para seu colo.
— Você não vai me agradecer mesmo?
Lake olhou para seus lábios, lembrando-se do gosto da primeira e última
vez que se beijaram. Seus lábios se aproximaram dos dele até que estivessem
a poucos centímetros de distância.
— Vá vestir uma camisa — ela sussurrou antes de pular de seu colo.
— Isso foi cruel para caralho — Vincent disse antes que ela sumisse em
seu quarto.
Lake fechou os olhos com força enquanto apoiava a cabeça na porta
fechada. Foi cruel para mim também.
Um mês inteiro vendo e dormindo ao lado de um deus sem camisa estava
se tornando algo absolutamente doloroso. Não sei quanto tempo mais posso
aguentar.
— Sadie, você está falando sério? — Lake olhou para a calcinha preta que
substituiria o short de sempre.
Sadie arqueou a sobrancelha.
— Bem, quando eu falei, cinco segundos atrás, para você usar isso aí, eu
estava falando bem sério.
Mas… mas!
— Mas por quê? Você nunca me fez usar isso antes.
— Uns centímetros a mais de bunda aparecendo é algo tão grande assim?
— Ela colocou a mão no quadril, fazendo seus seios saltarem como de
costume.
Lake assentiu furiosamente.
— Sim, sim, para aqueles caras lá fora é.
— E é exatamente por isso que você vai usar isso aí, querida. Agora,
apresse-se e vista-se. Mal posso esperar para ver a porra do playbo... — A
voz de Sadie sumiu enquanto praticamente saltitava, indo se arrumar.
É fácil escapar de uma acusação de assassinato? Tenho certeza de que
Vincent me ajudaria a desovar o corpo. Talvez ele até me ajudasse no crime
em s...
Lake vestiu um espartilho de renda, rosa-choque, semitransparente até o
bojo nos peitos. Graças a Deus. Assim que vestiu a calcinha e as meias
pretas enfeitadas com renda, ela se olhou no espelho. Não achava que parecia
muito inocente naquele momento. Não havia laços ou babados, apenas renda
sexy fazendo com que Lake se sentisse tão constrangida quanto no primeiro
dia em que trabalhou lá.
Ela estava ficando confusa. Achei que Sadie queria que eu parecesse
inocente. Era o lance que ela mais queria, certo?
Sadie deu o tapinha de encorajamento de sempre quando ela estava
prestes a sair do vestiário.
— Eu sou totalmente hétera, mas trocaria de time por você na hora.
Isso é reconfortante.
— Por favor, não me obrigue a fazer isso. — Lake não se importava de
implorar.
— Hum, deixe-me pensar. — Sadie deu um tapinha no queixo. — Não.
Todo o ar saiu dela como se fosse uma bexiga.
— Eu nunca vou te perdoar por isso.
Sadie riu dela.
— Ah, querida, você vai.
Estamos na lua cheia? Todo mundo está agindo estranho. Lake mordeu o
lábio, e Sadie a empurrou pela cortina.
Nada está diferente. Você só está revelando mais um centímetro de pele,
só isso.
Ela se dirigiu para sua primeira mesa, que infelizmente tinha o assustador
David sentado lá, esperando por sua chegada.
Os olhos de David escanearam o corpo dela enquanto estendia seu cartão.
— Eu quero só a prateleira de cima, e não me faça esperar tanto tempo
por esse teu rabo.
Lake forçou um sorriso, pegou o cartão e rapidamente recebeu os pedidos
dos outros homens. Correndo até o bar, ela deu à bartender o pedido junto
com o cartão de David. Algo naquele homem a deixou nervosa. Ela não
gostou do olhar de David.
Levando as bebidas para a mesa, ela encheu seu copo com o melhor
uísque.
Ele deu a ela uma nota de cem dólares.
— Isso é só o começo.
Lake pegou o dinheiro das mãos dele e fez sua dancinha enquanto o
guardava no espartilho. Esta vai ser uma longa noite.
Foi para suas outras mesas assim que conseguiu escapar e anotou todos
os pedidos antes de voltar para o bar, quando sua mão foi agarrada ao passar
pelos banheiros. Ela foi puxada para dentro antes que a porta se fechasse
atrás dela. Ela se viu pressionada contra a parede, olhando para um homem
cujos olhos não paravam de rolar sobre seu corpo.
Ela empurrou seu peito.
— Jesus Cristo, Vincent! Você está tentando me ferrar?
Ele pegou suas mãos, que tentavam o afastar, e as colocou atrás das
costas, mantendo os pulsos bem presos.
— Você já está ferrada, baby.
O calor borbulhou em seu corpo quando ele conseguiu fazê-la arquear as
costas perfeitamente para exibir as polpas dos seios. Lake apertou as coxas
uma contra a outra, sentindo o formigamento passar por suas pernas.
— E-eu não fiz nada.
— Você fez quando decidiu usar isso. — Sua mão livre percorreu o corpo
dela e parou sobre a garganta, o polegar parado onde era possível sentir a
pulsação.
Ela apertou os olhos com a mesma força com que mantinha as coxas
unidas.
— Sadie me fez usar... — Abrindo os olhos depois de respirar fundo, ela
terminou sua explicação. — Ela vai me matar se eu não voltar para lá.
— Estou debatendo se devo deixar você voltar para lá.
Lake umedeceu os lábios secos.
— Por favor?
Ele nunca recusava quando ela pedia gentilmente.
Vincent deixou sua mão descer de seu pescoço e passar sobre os seios
antes de soltá-la.
— Lembre-me de agradecer a Sadie depois de matá-la.
Lake riu nervosamente e se dirigiu para fora do banheiro.
— Eu adoraria te ajudar nessa.
Respirando fundo ao sair, ela viu Nero e Amo protegendo o banheiro com
um sorriso no rosto.
— Eu vou me vingar de vocês dois, seus psicopatas, um dia — ela disse a
eles enquanto passava.
Eles adoram vê-lo tirar vantagem de mim.
Conseguindo chegar ao bar dessa vez, ela se abaixou e tentou acalmar o
corpo. Droga, eu o odeio pra caralho.
A tensão entre eles aumentava a cada dia que passavam juntos. Não sou
nenhuma cientista, mas tenho certeza de que está quase no ponto de
ebulição. Vincent nunca fez nenhuma tentativa de esconder seus sentimentos,
enquanto Lake lutou com unhas e dentes para mascarar os dela; conseguia se
sair bem, até que ele fazia aquele lance de botar o dedo e sentir sua pulsação.
Aí ela perdia sempre.
Lake não queria gostar de Vincent. Droga, ela deveria odiar até o chão
onde ele pisava. Ele era um galinha, um idiota e um assassino, ela tinha
certeza. Mas, cacete, o mês anterior mudou sua opinião sobre ele. Ela nunca o
pegou olhando para outra garota, mesmo quando as seminuas estavam
constantemente em seu campo de visão. Ela não achava que Vincent poderia
ter tido tempo para comer qualquer uma delas, levando em conta que estava
24 horas por dia de olho nela. Claro, ele ainda pode ser um idiota, mas não
era um idiota com ela. Pelo menos, não mais. Quanto à coisa de matar... Bem,
ela não achava que ele tivesse muito tempo para fazer isso também.
Ai, meu Deus. O que há de errado comigo?

Vincent estava prestes a quebrar o nariz de tanto que o apertava. Ele não
podia acreditar que a tinha deixado sair do banheiro daquele jeito,
especialmente sem que ela ao menos o consolasse um pouco. A única razão
pela qual ele não a beijou foi porque não era a hora ou o lugar certos. Vincent
sabia que assim que a beijasse novamente, não haveria como parar, já que ele
tinha certeza de que iriam até o fim.
Ele passou um mês sem comer ninguém enquanto olhava para sua bunda
e corpo perfeitos em muitas roupas sensuais diferentes. Então, naquele dia
especificamente, ela saiu com a bunda coberta só com renda. Seu olhar usual
de garota sexy porém doce se foi. A única coisa que veio à mente de Vincent
foi como comê-la sem a machucar.
Três dias costumava ser o recorde sem trepar, mas um mês? Seu pau
estava constantemente atento, e ele não sabia exatamente como duraria mais
de trinta segundos com ela. Eu vou me machucar antes de machucá-la.
Vincent saiu do banheiro assim que ordenou que sua metade sombria
voltasse para o esconderijo, como ele tinha feito todos os dias no mês
passado.
— Você sabe o que caralhos ela acabou de dizer? — Amo disse quando a
porta do banheiro se abriu.
— O que caralhos ela disse para você dessa vez? — Vincent perguntou a
ele, que constantemente odiava as muitas coisas que Lake lhe dizia.
— Ela simplesmente passou sem nem olhar para nós dois e disse: “Eu
vou me vingar de vocês dois, seus psicopatas, um dia” — Amo tentou imitar
a voz dela, fazendo Vincent e Nero rirem de sua pobre tentativa.
— Porra, não a leve tão a sério, Amo — Nero disse, dando risada.
Amo cruzou os braços.
— Okay, certo. Eu nem sei por que me surpreendo. Se ela tem culhão
suficiente para enfrentar Dante e nos chamar de psicopatas, ela tem culhão
suficiente para fazer algo com a gente. Hoje é o último dia, certo? Eu não
posso continuar trabalhando todos os dias da porra da minha vida só para
você poder comer a garota.
Vincent não queria dizer a eles que Amo estava certo sobre Lake.
— Sim, hoje é o último dia que esses filhos da puta vão olhar para ela
vestida assim, e você também, seu puto — ele rosnou para Amo.
Amo sabia que era melhor não comentar sobre como ele iria sentir falta
de vê-la daquele jeito.
— Por favor, me diga que você finalmente a beijou lá dentro. — Quando
Vincent não respondeu, Amo balançou a cabeça. — Porra, cara, isso não é
saudável.
— Eu vou ter que concordar com ele — acrescentou Nero.
Ele olhou para as pernas e a bunda de Lake enquanto ela se inclinava
sobre o bar para pegar as bebidas.
— Não se preocupe. Depois de ter aparecido com aquela roupa, a
virgindade de Lake está com as horas contadas.
— Porra, estou chocado que você está deixando ela trabalhar assim —
disse Nero.
— Ambos deixam suas mulheres pisarem em vocês. — Amo olhou para
ele. — Você não vê, cara? Lake fez você comer na mão dela.
Vincent poderia admitir — apenas em sua cabeça — que estava deixando
ela fazer essas coisas, mas Lake era especial e valia a pena tentar conquistá-
la, não importa quão azuis suas bolas ficassem.
— Eu vou te lembrar disso um dia — Nero mandou para Amo.
— Eu vou também — Vincent jogou para ele, também.
Ele olhou para Sadie, exultante do outro lado da sala, e seu sangue
começou a ferver.
— Com licença. Eu preciso ver a arrombada que achou que seria
engraçado colocar Lake naquela roupa.
— Aquela puta é doida, vai sentar o cacete em você como a boa cafetina
que ela é. — Amo finalmente conseguiu rir com Nero dessa vez.
— O que você vai fazer? — Nero riu.
— Até segunda ordem, hoje é a porra do meu aniversário — Vincent
disse, se afastando.
Era hora de dar carteirada naquela vagabunda. Hoje é meu aniversário,
caralho.
Lake estava servindo as bebidas na mesa quando notou Sadie subindo no
palco. Caramba, eu vou ter de assistir a outra sessão de apalpação. Houve
dois aniversários no dia anterior, e ela tinha certeza de que as dançarinas de
pole estavam ficando cansadas disso.
— Temos um aniversariante. Suba aqui. — Sadie não colocou muito
entusiasmo e sensualidade no pedido, como costumava fazer.
Lake praticamente se borrou quando Vincent subiu no palco.
Ah, porra, não. Ah, porra, não. Ah, porra, não. Ah, porra, não. Ah,
porra, não. Ah, porra, não.
Sadie pegou o braço dele e quase o jogou na cadeira, praticamente
mordeu a língua enquanto falava.
— Ok, querido, quem vai ser?
Ela o observou examinar a sala até seus olhos pousarem nela. Ah, porra,
não.
Vincent acenou para ela.
Lake ficou imóvel. Não me fode.
Sadie voltou ao microfone.
— Lake, querida, venha aqui em cima.
Notou que Sadie não estava mais feliz do que ela nesse momento.
Tentando se lembrar de como se anda, ela foi em direção ao palco, mas
quando chegou ao primeiro degrau, teve certeza de que iria desmaiar.
Merda, eu não consigo fazer isso! Sadie lhe ensinara alguns truques caso
ela fosse escolhida. Mas eu nunca deveria ser escolhida!
— Deixe-me ajudá-la, boneca. — Amo agarrou o braço dela e a
empurrou escada acima para o palco.
Lake olhou de volta para a porra de seu rosto presunçoso e lhe deu um
olhar mortal, cheio de promessas malignas em um futuro próximo.
Caminhando lentamente em direção à cadeira, ela se perguntou se seria
infantil recusar, mas percebeu que seria demitida e a morte logo viria atrás
dela.
Quando parou na frente de Vincent, viu que os olhos deles estavam
cheios de fome, a devorando só com o olhar.
Sadie cobriu o microfone antes de sussurrar apressadamente para ele:
— Mantenha essas porras dessas mãos longe dela, playboy. — Saindo do
palco, ela gritou: — Manda ver!
A sala ficou escura como breu antes que um holofote se acendesse e a
música começasse a vibrar pela sala.
Lake umedeceu os lábios secos, percebendo que era hora do show,
querendo ou não. Ela se virou para o ambiente escuro, incapaz de encarar os
olhos sedentos até que, Lake esperava, conseguisse ficar mais confortável.
Ela tentou se concentrar na coreografia básica que Sadie havia mostrado,
em vez do fato de que todos estavam olhando para ela, e ela estava prestes a
se aproximar de Vincent.
O pensamento é apenas uma dança, e eu amo dançar foi o que fez com
que se obrigasse a mover os quadris.
Sacudindo-os, ela começou a se curvar lentamente até que sua bunda
estivesse perfeitamente posicionada no rosto dele. Voltando para cima, ela se
sentou em seu colo, rolando os quadris sobre ele enquanto se inclinava de
costas em seu peito. Virou a cabeça para o lado, para que pudesse olhar para
ele, em seguida levou o braço para trás para o passar na lateral de seu rosto.
Quando a expressão mais do que satisfeita de Vincent se aproximou de
seus lábios, Lake dançou em seu colo, sentindo-se mais confiante. Eu vou
pelo menos tornar a situação dolorosa para ele.
Lake se virou para Vincent e se agachou com o rosto entre os joelhos
dele. Sorrindo enquanto piscava, ela colocou as mãos em suas coxas e as
deixou seguir por seu corpo até se sentar em seu colo, encarando-o dessa vez.
Ela podia sentir quão duro Vincent estava quando moveu a bunda contra
o pau. Seu corpo queria explodir em chamas ao sentir e ver o quanto ele a
queria. A ardência em sua pele começou a irritá-la; ela deveria estar
torturando Vincent, não a si mesma.
— Não é seu aniversário — ela sussurrou em seu ouvido.
Ele gradualmente moveu uma de suas mãos do lado da cadeira e colocou-
a levemente em sua coxa nua, longe da visão da plateia.
— Não era, mas agora é.
Sua respiração ficou presa na garganta quando ele moveu a mão pela
parte interna de sua coxa. Ela se encontrou esfregando a bunda nele com mais
força. Via o quanto ele a queria em seus olhos azuis-bebê, e Lake
definitivamente podia sentir o quanto.
As pontas dos dedos dele roçaram sua coxa, a centímetros de distância de
seu sexo, fazendo um fluxo de umidade escapar dela. Olhando para seus
lábios muito próximos, ela esqueceu o mundo e se aproximou, querendo,
precisando prová-lo novamente...
As luzes de repente voltaram a se acender.
Lake deu um pulo, saindo do torpor. Ela só faltou sair correndo do palco.
Cacete! Seu corpo estava em chamas.
— A música ainda não acabou — Vincent sussurrou quando ela começou
a passar por Sadie.
— Acabou quando eu vi essa tua mão ninja se esfregando nela. — Sadie
agarrou a mão de Lake, fazendo-a ficar.
— E daí, caralho? Ninguém mais estava vendo! — Ele agarrou a outra
mão de Lake e tentou ir embora com ela.
— Nem ferrando, playboy. Você não vai a lugar nenhum com ela. O
turno de Lake não acabou, e se eu deixá-la ir com você, ela vai entregar a
virgindade para você contra a parede do banheiro.
O rosto de Lake ficou vermelho-vivo. Eu estou bem aqui!
Vincent deu a Sadie um olhar mortal antes de soltar a mão de Lake e ir
embora.
— Hum, como diabos você deixou isso acontecer? — Lake olhou para
Sadie, querendo sacudi-la. Estava finalmente caindo a ficha o que ela tinha
acabado de fazer lá na frente de todos.
Sadie olhou para ela estupidamente.
— Ah, droga, não sei. Quando aquele idiota veio me dizer que era seu
aniversário e que, se eu tivesse problema com isso, eu poderia ligar para o pai
dele, naturalmente eu disse: “Eu estou pouco me fodendo para quem é seu
pai”. Mas quando ele me disse que o sobrenome dele é Vitale, então eu, é
claro, passei a me importar muito com o assunto.
— Isso é tudo culpa sua porque você me colocou nessa porra de roupa —
Lake disse a ela, puxando a mão.
— Sim, bem, teria sido bom que você me avisasse que o playboy é filho
do sr. Vitale, não acha?
Lake não a deixaria ir embora dando a última palavra.
— Você sabe que não era o aniversário dele, certo?
— Vaca, eu sei disso! — Sadie foi embora.
— Que bom, só queria ter certeza! — Lake gritou de volta para ela,
concentrando-se em tentar não rir.
Enquanto ela voltava para suas mesas, viu que Amo estava de pé contra
uma parede, sorrindo.
— É meu aniversário hoje também, sabe?
Lake apontou o dedo para o rosto assustador dele.
— Você deveria ter muito, muito medo.
Mesmo depois que Lake saiu do palco com Vincent, ainda não conseguia
manter seu corpo sob controle. Ela se viu constantemente olhando para ele, o
que a manteve excitada. Pare de pensar nisso!
Lake foi conferir a mesa onde David estava. Quando seu turno começou,
ela sentiu que algo estava diferente nele, e à medida que a noite avançava, o
olhar do sujeito ficou cada vez mais insano, e mais insano. Quando ela se
aproximou, notou uma mudança ainda mais severa nele.
— Está satisfeito ou gostaria de beber mais um pouco? — ela perguntou,
esperando que ele não pedisse mais.
Ele e os homens ao redor da mesa, que estavam bebendo de graça na
conta dele, já estavam bem embriagados. Ali, naquele andar, porém, ninguém
era impedido de beber mais. Era uma das vantagens.
— Não, nós precisamos de outra porra de garrafa. Não é, senhores? —
David olhou ao redor da mesa para todos os homens, que concordaram com a
cabeça e gritaram. — Certo, então apresse esse teu belo rabo, e eu vou fazer
valer a pena.
Lake assentiu enquanto se afastava da mesa, incapaz de fingir um sorriso.
Ele estava realmente começando a assustá-la.
Enquanto ia para o bar e pegava o pedido, aproveitou para respirar e
acalmar seus nervos. Não importava quão bêbados esses homens ficassem,
eles ainda tinham muito medo de quebrar as regras, tinham receio de serem
impedidos de voltar.
Chegando à mesa, ela serviu as bebidas para os homens, em seguida
colocou a garrafa na frente de David, que estava segurando outra nota de cem
dólares. Pegando o dinheiro, ela fez sua dança e o colocou em seu espartilho
antes de se virar para sair. No entanto, alguém agarrou seu braço com força;
quando se voltou para David, notou que o sujeito estava com os olhos turvos.
— Eu não acho que tenha valido cem dólares. O que vocês acham? — ele
perguntou aos outros homens, que balançaram a cabeça em concordância. —
Que tal você tentar de novo?
— Que tal você tirar a porra da sua mão dela — a voz letal de Vincent
falou sobre ele.
Lake olhou e viu Vincent, Nero e Amo parados a meio metro de
distância. Isso não vai acabar bem, vai?
— Eu vou, assim que sentir que valeu a porra do meu dinheiro. — David
aplicou mais pressão no braço de Lake.
Vincent deu um passo à frente.
— Filho da puta, eu vou te dar cinco segundos. Cinco… Quatro…
— Ok, vamos todos nos acalmar. — Lake levantou a mão.
— Três…
— Sério, eu soltaria se fosse você — ela implorou a David.
A voz de Vincent ficou mais sombria.
— Dois…
David a soltou e levantou as mãos.
— Tudo bem. Tá bom, tá bom. — Ele se levantou, oscilando um pouco.
— Vou pegar a porra do meu dinheiro de volta.
Lake gritou e agarrou seus seios quando David tentou puxar seu
espartilho.
— Filho da puta! — Vincent deu-lhe um soco bem no rosto.
Amo rapidamente tirou Lake do caminho antes que Vincent pudesse
começar sua destruição.
Ela estremeceu quando viu a cabeça de David sendo esmagada na mesa
de pôquer, fazendo as fichas voarem no ar como confetes.
— Hum, cara, eles não parecem muito felizes — ela disse a Nero e Amo
quando viu um dos homens se levantar com uma garrafa de vidro.
Nero rapidamente tirou o terno.
— Eu estive esperando por isso o mês inteiro. Que se foda esse lugar.
Eles vão morrer!
Ela viu os outros homens começarem a se levantar, Nero pegou uma
garrafa e a esmagou na cabeça do primeiro cara.
— Ah, porra! Este foi o melhor trabalho que já tive. — Amo começou a
tirar o terno, sussurrando vários palavrões que Lake não sabia que existiam.
— Esses filhos da puta precisam arruinar tudo que há de bom na vida.
Mesmo que Vincent, Nero e Amo estivessem em menor número, eles
ainda estavam sentando o cacete naqueles homens. Finalmente, ela viu os
outros guardas começarem a se mover na direção deles.
— Esses merdinhas estão começando a realmente me irritar. — Sadie
veio para o lado dela, cruzando os braços.
Lake voltou-se para a luta e viu os guardas parados ali, observando.
— Por que eles não estão impedindo a briga?
Sadie começou a gritar com eles:
— Porque eles são um bando de cagões! Eu estou pouco me fodendo se
eles são filhos de Jesus, impeça-os!
Os caras de terno não se moveram.
— Puta merda. — Sadie foi até Amo e agarrou suas mãos, que estavam
ao redor da garganta de um cara. — Tudo bem, garotão. Pare com essa merda
antes que eu decida estapear tua fuça inteira.
Amo soltou a garganta do homem, deixando-o cair no chão como se fosse
um tijolo.
— Agora vai lá e controla a porra dos seus namorados — ela sussurrou
para ele.
— Que porra você acabou de dizer? — Amo olhou para ela, dando-lhe
um olhar intimidador.
Sadie esticou a mão para pegar seu enorme salto alto de stripper.
— Foi isso mesmo que você ouviu!
Amo rapidamente se afastou de seu alcance, em seguida puxou Nero de
cima de um cara que estava apanhando no chão. Então Lake viu Amo e Nero
tentarem tirar Vincent de cima de alguém, mas ele voltou a bater em David
novamente.
Ela correu e agarrou seu braço quando Vincent colocou o pé sobre a
garganta de David, que jazia indefeso no chão.
— Hum, eu acho que ele já recebeu o suficiente. — Ela tentou falar
calmamente na esperança de acalmá-lo.
Vincent olhou para Lake, começando a aplicar pressão na garganta do
infeliz.
Ela apertou o braço dele.
— Por favor?
Ele pressionou um pouco mais antes de tirar o pé. Enxugou as palmas das
mãos em sua camisa já ensanguentada, e em seguida agarrou a mão de Lake.
Para onde estamos indo?
“Para onde diabos você pensa que vai?” Sadie fez a pergunta silenciosa à
Lake, entrando na frente deles.
— Ela terminou por hoje — ele retrucou enquanto passava direto por
Sadie.
Lake tentou desvencilhar sua mão, mas isso só fez com ele apertasse com
mais força ainda.
Olhando para Sadie, ela a viu abrir a boca apenas para fechá-la
novamente, mordendo a língua.
Lake murmurou um “desculpa” para ela, já planejando como iria implorar
pelo perdão no dia seguinte. Ela sabia que Vincent tinha feito aquilo porque
seu turno já estava quase no fim, e definitivamente sabia que não deveria
discutir, já que tinha certeza de que ele não iria embora sem ela. Se Vincent
não fosse embora, seu pé voltaria a pisar a garganta de David.
Vincent pegou o terno da cadeira em que a havia colocado e continuou
arrastando Lake porta afora rumo ao elevador.
— Toma, veste — Vincent rosnou enquanto segurava o terno para Lake
passar os braços.
Ela obedeceu e fechou o paletó.
Olhando para seu rosto ainda descontente, percebeu que o terno não
cobria o alto de suas coxas o suficiente; portanto, suas meias de renda ainda
estavam aparecendo.
Ele a puxou pela cintura dela enquanto esperavam o elevador abrir, e o
olhar de Lake se voltou para a porta do cassino, de onde alguns homens
estavam saindo. Eles não pareciam muito animados pela festa ter acabado.
— Esqueci minha bolsa — ela falou baixinho quando percebeu que a
havia deixado em seu armário.
As portas se abriram, e Vincent a puxou para o fundo do elevador.
— Você não precisa dela hoje.
— Mas…
— Ela vai estar lá amanhã. — Vincent soltou o braço de sua cintura, em
seguida parou na frente dela.
Lake olhou para o ombro dele, que bloqueava a maior parte de sua visão.
Ahn, eu preciso dela, sim. Minhas chaves estão na bolsa!
Vincent estendeu o braço e encostou a mão na coxa de Lake.
Ela engoliu em seco quando as portas começaram a se fechar. Ele não vai
me levar para casa, vai?
Lake achava que ia sair do elevador assim como os outros homens, ou seja,
no primeiro andar do cassino oficial, mas quando Vincent não se mexeu, ela
se deu conta de que não tinha ideia de para onde estavam indo.
Algumas pessoas entraram no elevador logo antes de fechar e apertaram
botões de andares aleatórios do hotel. Ela conseguiu ver alguns deles,
principalmente os homens, dando uma olhada nela. Lake imaginou que foi
por isso que Vincent tinha permanecido na frente dela.
Quando o elevador fechou e começou a subir novamente, ela sentiu as
pontas dos dedos dele roçando a parte superior de sua coxa em um
movimento suave, para cima e para baixo. A sensação de estar em cima de
Vincent, dançando enquanto sua mão se aproximava tanto de sua
feminilidade, retornou. Era um toque terno e reconfortante, o que tornava
tudo ainda mais erótico para ela, especialmente porque estavam em um
espaço muito confinado e repleto de estranhos.
Incapaz de pensar em qualquer coisa, exceto na sensação da mão de
Vincent naquele momento, ela encostou nos dedos sobre sua coxa, em
seguida subiu até o bíceps, puxando-o um pouco mais para perto dela.
Vincent deu um leve aperto na coxa de Lake antes de retornar ao
movimento, dessa vez um pouco mais alto.
Lake apoiou a testa na parte traseira do ombro dele, ainda segurando seu
braço, querendo se aproximar mais. Eu tinha razão; chegamos ao nosso
ponto de ebulição.
Ela ouviu o elevador fechar novamente logo antes de Vincent puxá-la
pelas costas e depois empurrá-la contra a parede. Ela o viu digitar o código
até o topo, imaginando como raios não tinha notado ninguém saindo.
Seu peito começou a subir e descer pesadamente quando a atenção de
Vincent se voltou para ela. Lake já tinha visto aquele olhar, quando estava
dançando para Vincent.
A mão de Vincent foi até seu rosto, o polegar alisando o lábio inferior de
Lake.
— Tudo o que eu quis fazer foi beijar você desde o momento em que
afastei a boca da sua pela primeira vez, baby.
Eu também foi seu único pensamento quando os lábios dele finalmente
cobriram os dela. Vincent avidamente chupou seu lábio inferior enquanto
segurava o queixo de Lake para poder acessar sua boca completamente.
Os lábios de Lake derreteram contra os dele, permitindo que Vincent
explorasse sua boca como se fosse a primeira vez. A língua dele habilmente
separou seus lábios, e ela se pegou os abrindo mais. Quando ele encostou em
sua língua, Lake gemeu contra sua boca enquanto ele a chupava. Era do jeito
que ela lembrava, e muito mais.
Ela estendeu a mão e agarrou seu cabelo, querendo-o mais perto e
tentando aprofundar o beijo, mas Vincent de repente se afastou, passando a
mão pelo cabelo para alisar a parte que ela despenteou. Então as portas se
abriram, e ele pegou a mão dela, puxando-a para fora do elevador sem dizer
nada.
Lake poderia jurar que estava tendo um déjà-vu, pois tinha certeza de que
a mesma coisa aconteceu com seu primeiro beijo. Ela não entendia o que
continuava fazendo de errado. Ela pensou que querer tocá-lo e beijá-lo de
volta era a forma certa de se fazer aquilo, mas toda vez que fazia, ele
terminava o beijo abruptamente.
Enquanto enxugava os lábios, ela não pôde deixar de se sentir um pouco
magoada. Eu obviamente não sei beijar.
Ela foi rapidamente tirada da névoa de que Vincent não gostava de beijá-
la quando teve a percepção de que estavam no último andar. Ela não tinha
ideia de por que ele a estava levando ao escritório de Dante. Sua confusão só
aumentou quando ele a puxou pelo corredor em vez de ir direto ao escritório.
Naquele momento, ela não tinha ideia de onde eles estavam indo.
O nervosismo começou quando ele foi para a penúltima porta do lado
esquerdo do corredor. Ela o viu enfiar a mão no bolso e tirar um cartão-chave
do hotel.
Ela mordeu o lábio.
— Hum, por que estamos entrando aqui?
Vincent deslizou o cartão até que a luz piscou verde. Então ele abriu a
porta e a arrastou para dentro do quarto escuro.
Lake pulou quando a porta se fechou atrás dela.
— Vincent, o-onde estamos? — ela sussurrou.
Olhando em volta, mal conseguia distinguir alguma coisa, mas sua
atenção foi atraída para uma enorme janela panorâmica que dava para a
cidade. Era de tirar o fôlego.
Quando as luzes acenderam, ela piscou, ajustando-se à claridade, e sua
boca se abriu enquanto observava o enorme espaço. Caminhando mais para
dentro do lugar, percebeu que aquela era a cobertura de todas as coberturas.
Era um espaço muito escuro. As paredes eram pretas, como quase todo o
resto. Havia apenas indícios de cinza-escuro e prata que vinham de vários
objetos espelhados. Era quente, mas frio, convidativo, estruturado,
contemporâneo, e vitoriano, tudo ao mesmo tempo escuro e sem luz. Ela
nunca teria sonhado que gostaria de algo tão obscuro e livre de qualquer coisa
brilhante, mas achou completamente convidativo e atraente.
Sua mão correu sobre uma almofada de pele falsa preta sobre uma
enorme manta de couro.
— Você mora aqui, não é?
— Sim.
Lake olhou para ele.
— Desde quando?
Vincent encolheu os ombros.
— Há alguns meses. Ficou pronto um pouco antes da formatura.
Pouco antes de nos vermos novamente.
Ela não sabia o que tinha acontecido naqueles meses depois que eles se
beijaram pela primeira vez, mas seja lá o que fosse, não achava que a leveza
dele aparecesse com muita frequência. O lado sombrio de Vincent deu seu
toque principalmente na concepção de seu lar; no entanto, ela podia ver os
poucos espaços de seu lado bom. Olhando em volta, alguém pensaria que os
dois lados lutaram entre si. No entanto, eles não brigaram; eles deram as
mãos e criaram uma unidade no lugar.
Assim que olhou para ele, viu que Vincent estava esperando sua
aprovação, parado ali, com a camisa manchada de sangue.
— É perfeito, Vincent. — Assim como você.
Talvez Lake fosse louca e demente por pensar isso, mas a maneira como
ele sempre a tratava tornava mais fácil justificar seus sentimentos.
Lake caminhou em direção a ele, e quanto mais perto chegava, mais
torturado ele parecia.
— Eu preciso de um banho. — Ele começou a desabotoar a camisa
ensanguentada e se afastou quando ela se aproximou muito.
Ela o olhou fixamente enquanto ele subia as escadas de vidro. Os
sentimentos de mágoa e confusão voltaram, e ela enrolou a roupa dele em
volta de si com mais força, em uma tentativa de se abraçar. Lake não entendia
o que estava fazendo de errado, e os sentimentos que ela via emanando dele
eram tão contraditórios, que só faziam aumentar sua confusão.
Vincent flertou com ela sem parar por um mês inteiro, e pouco tempo
antes, ele basicamente a forçou a fazer uma lap dance. Então, depois de
meses e mais meses, eles se beijaram no elevador, apenas para ele rejeitá-la,
afastando-se quando ela tentou beijá-lo de volta e puxá-lo para mais perto.
Ela precisava admitir que o queria muito, sabia que Vincent a queria
também. Lake não sabia por quanto tempo mais conseguiria aguentar ter
Vincent se afastando dela.
Lake estava ficando com nojo de si mesma pelo quanto seu corpo queria
o dele depois de apenas pensar em Vincent desabotoando a camisa cheia de
manchas de sangue.
Eu pirei totalmente.
Lake lentamente subiu os degraus quando percebeu que não havia outro lugar
para ir. Vincent ia dar carona para ela, mas depois da noite que ele teve, Lake
sabia que fugir não o faria muito feliz. Por mais que gostasse de fugir, isso só
iria piorar as coisas para ela. Definitivamente não era sábio testar Vincent
depois de ele praticamente tentou matar um homem. Além disso, ela passara
um mês com ele, dia e noite, e aprendera a lidar com o jovem. Lake estava
um pouco nervosa pelo fato de que o relacionamento dos dois estava
mudando.
Eu tenho tudo sob controle. Nada vai acontecer mesmo.
Subindo o último degrau, um quarto enorme a recebeu, a fazendo parar
de andar. A cama grande chamou a atenção, parecia luxuosa, com os lençóis
de seda preta refletindo as luzes da cidade.
Subiu o último degrau e chegou ao segundo andar, sentindo como se
estivesse em uma varanda. Dava para ver o resto do apartamento de lá. Lake
gostou particularmente da cozinha gourmet. Um mês antes, ela poderia ter
ficado surpresa, mas ao conhecer Vincent melhor, descobriu que ele gostava
de cozinhar e era surpreendentemente bom nisso.
A decoração do segundo andar combinava com o restante da casa, mesmo
que fosse apenas um quarto enorme. Andando ao redor, pôde ouvir o
chuveiro ligado atrás de uma porta. Ela se perguntou que coisas mágicas não
haveria em seu banheiro, além do corpo lindo de Vincent. Ela tinha uma forte
sensação de que o banheiro era tão incrível quanto o resto da casa dele.
Vendo outra porta, ela avançou e a abriu, revelando um enorme closet.
Jesus Cristo, quanto terno.
Havia uma série de ternos perfeitos e alinhados. Ela jamais entenderia
como raios Vincent conseguia parecer tão imaculado. Não apenas mantinha a
aparência impecável, como sua casa e até mesmo a porcaria do closet eram
tão perfeitos quanto ele.
Ela se virou, tonta de tanta perfeição, e teve um vislumbre de si mesma
no espelho. Lake se sentia como uma fraude completa. Sua maquiagem
escondia um rosto imperfeito, e o penteado em seu cabelo grande e
encaracolado escondia o fato de que era na verdade fino e liso que nem
espaguete. Que droga, até mesmo os peitos pareciam maiores por causa do
espartilho.
Assim que viu um pedaço do dinheiro amassado que ela havia escondido
em seus peitos, o puxou e enfiou no bolso do terno de Vincent, que ela ainda
estava usando. De certa forma, isso a fazia se sentir uma mulher barata, e ela
tinha certeza de que o Vincent Perfeito só gostava dela pela mesma razão que
todos os homens no andar de baixo gostavam. Em sua mente, não havia como
um deus como ele querer um lixo de trailer sem graça como ela.
Seus olhos foram capturados por algo no espelho. Voltando-se para isso,
ela olhou para o final do closet. Tudo estava perfeitamente no lugar, mas
notou algo se destacando.
Caminhando naquela direção, ela pegou um cabide que sustentava uma
roupa preta. Por que ele ficou com isso? Ela não sabia o que pensar.
Os olhos de Lake se moveram para a entrada do closet e viram Vincent
de pé vestindo nada além de uma toalha enrolada nos quadris.
— Você guardou o vestido da Adalyn? — ela perguntou, lambendo os
lábios secos.
Ele começou a vasculhar suas roupas, procurando algo para vestir.
— Porra, não, eu queimei.
Lake olhou para o vestido preto que ela usou naquela noite na Poison.
— Então por que você guardou o meu?
— Eu não consegui queimar. Você tava muito gostosa nele.
— Ok, mas por que você guardou? — Lake perguntou novamente.
Ninguém guarda um vestido aleatório no closet por meses.
Quando Vincent não respondeu e simplesmente continuou escolhendo o
que vestir, ela jogou o vestido no chão e fez menção de ir embora. Foda-se
ele. Ele está sendo um completo idiota hoje!
Vincent rapidamente a agarrou quando ela passou por ele, segurando-a
perto de seu corpo nu. Em seguida, puxou o cabelo dela para forçá-la a olhar
para ele.
— Fiquei com o vestido porque queria ver você nele de novo. Você sabe
qual foi o outro motivo?
Ela balançou a cabeça suavemente enquanto se forçava a olhar para os
lábios dele em vez de mirar seus olhos azuis intensos.
Ele deu um leve puxão no cabelo dela, fazendo-a olhar de novo para seus
olhos.
— Porque eu também pretendo te comer com você dentro desse vestido
um dia.
— Somos apenas amigos, lembra? — Ela odiava que sua voz saísse mais
ofegante do que pretendia.
Um sorriso tocou os lábios de Vincent.
— Baby, você sabe muito bem que eu não quero ser só seu amigo. — Ele
lentamente botou a mão no quadril de Lake, subiu pelo peito e pelo pescoço,
deixando o polegar encostar em seu local favorito. Sentiu nesse momento o
coração dela bater com força. — É isso que você quer, ser apenas minha
amiga?
Lake estava sob o efeito do seu controle. Ele gostava de fazer isso quando
queria ouvir a verdade dela. Lake até podia mentir, mas ele saberia e a faria
pagar por isso, ou poderia dizer a verdade, o que faria mais um carinho no
seu já enorme ego. Não havia vitória para ela.
— S-sim, eu só quero ser sua amiga.
Ele roçou o polegar mais devagar na garganta dela enquanto movia o
rosto, a ponto de seus lábios ficarem quase unidos aos dela.
— Você tem certeza disso, querida? Eu vou parar, eu prometo.
Eu não disse que ele me faria pagar por isso?
Lake olhou para seus lábios, querendo que Vincent a beijasse novamente.
Seu corpo estava em chamas, desejoso que ele a tocasse mais. Lake sabia que
era tarde demais para voltar atrás. Não havia como impedir um trem
descarrilado depois que ele saía dos trilhos.
— Por favor, não pare — ela sussurrou em derrota.
Vincent mexeu a cabeça para sussurrar em seu ouvido:
— Eu não ia parar.
Lake estremeceu quando sentiu os lábios de Vincent em uma parte
sensível de seu pescoço, em seguida a sucção na sua pele.
Ela queria desesperadamente agarrá-lo e sentir seu corpo rígido, que
estava a centímetros do dela, mas temia que se o fizesse, ele pararia de beijá-
la como sempre fez.
Vincent agarrou seus ombros nus por baixo do terno e começou a deslizar
o paletó até que caísse no chão. Então se inclinou e deu um beijo no ombro
de Lake.
— Você é linda para caralho. — Ele colocou a mão no zíper preto na
frente de seu espartilho, entre os seios.
Ela começou a corar quando ele lentamente puxou o zíper. Lake tinha
certeza, se não fosse por seus beijos carinhosos e contínuos, ela o teria
impedido. O espartilho caiu no chão, e ela teve de desviar o olhar de Vincent,
que encarava seus seios. Lake não achava que ele os acharia bonitos sem o
espartilho.
Vincent acariciou levemente o seio direito enquanto a beijava.
— Perfeita — ele disse contra seus lábios enquanto seu polegar circulava
o mamilo, o intumescendo.
Lake choramingou sob seu toque, enquanto ele continuava a torturar seu
mamilo. Ela envolveu o pescoço dele com os braços, sem saber se suas
pernas iriam mantê-la de pé por muito mais tempo. Quando ele rapidamente a
pegou e começou a ir em direção à cama, Lake passou suas pernas pelos
quadris dele.
Retribuindo o beijo com força, ela chupou sua língua, querendo saboreá-
lo por conta própria.
Tão rápido quanto a pegou, Vincent a deitou na cama sem tirar os olhos
de Lake.
Por que ele não me deixa beijá-lo? Ela estava ficando sexualmente
frustrada por causa disso. Não era justo que ele pudesse fazer o que quisesse,
mas que ela não pudesse retribuir o favor.
Lake se inclinou para pegar a toalha, mas Vincent segurou sua mão antes
que ela pudesse chegar mais perto.
— Não se mova — ele rosnou para Lake.
Isso foi o mais próximo que ela viu de seu lado sombrio em um mês. Ela
não gostava quando Vincent ficava assim, principalmente quando estava
seminua em sua cama.
— Por que você continua me impedindo de te beijar ou fazer qualquer
outra coisa? Eu sou tão ruim assim nisso?
Vincent balançou a cabeça e parecia quase chocado que ela pensasse isso.
— Não, baby. Eu te quero demais. Eu te quero a meses para caralho.
Estou tentando ir devagar com você, mas você beija muito bem. Eu vou te
machucar se você não ficar parada, e então eu não vou me perdoar se eu
tornar isso mais doloroso para você do que já vai ser.
Enquanto ele falava, Lake começou a vê-lo de uma forma diferente. Ela
podia ver e sentir as mãos dele começando a tremer. Vincent não estava
oscilando à beira de seu lado sombrio; o Vincent na frente dela era a versão
mais pura dele. Ele estava se torturando fisicamente para não lhe causar
qualquer dor ou desconforto.
Ela entrelaçou os dedos nos dele.
— Você não poderia me machucar.
Ela realmente acreditava nisso também. Vincent só a machucou uma vez,
e foi naquele dia em que a deixou na casa de sua mãe, mas ela finalmente
pôde ver que o machucou também. Em seu coração, Lake sabia que ele nunca
iria querer fazer isso de novo, e foi por isso que Vincent se esforçou tanto
para deixá-la feliz.
— Sim, eu posso, Lake. Me promete que você vai ficar quieta. — Sua
respiração ficou pesada quando ele se inclinou para lhe dar um beijo.
— Prometo que vou tentar. — Ela sorriu antes de morder o lábio inferior.
As mãos de Vincent correram sobre suas meias e depois pelas coxas nuas.
— Eu tive que ver você andando por aí vestindo essas coisas e os saltos,
então eu mereço comer você vestida com isso. — Ele avançou e agarrou as
laterais da calcinha de seda preta. Ela levantou ligeiramente os quadris
quando ele começou a puxar a peça para baixo. Suas bochechas esquentaram
de nervoso quando Vincent deslizou a calcinha sobre suas meias e saltos.
Olhando para sua boceta perfeitamente lisa, seus olhos ficaram mais
escuros.
— Porra.
Os olhos de Lake se arregalaram quando ele rapidamente deixou cair a
toalha de seus quadris, libertando seu pau enorme e muito duro. Ai, puta que
me…
Todos os pensamentos foram perdidos quando ele a beijou loucamente, a
puxando para cima na cama. Seu peito ficou pesado quando Vincent beijou
seu pescoço, em seguida, rapidamente abocanhando um mamilo rosa ainda
mais sensível, o que a fez ofegar.
Então sua mão foi para a boceta, e o dedo médio pressionou suas dobras.
— Como você consegue ser tão sedosa? — A voz de Vincent soava
tortuosa, combinando com sua aparência.
Foi difícil para Lake se concentrar no que ele disse quando o dedo
mergulhou dentro dela. Ela teve de morder o lábio inferior para não gritar.
— Baby, você é tão apertada, e está tão molhada para mim. — Ele se
moveu para o mamilo negligenciado e o chupou até que se transformou em
uma pequena protuberância enquanto seu dedo deslizava mais fundo.
Lake estendeu a mão, agarrando o cabelo de Vincent, um gemido
escapando por seus lábios quando o polegar dele deslizou sobre seu clitóris.
Depois de mais alguns movimentos, ela sentiu outro dedo entrar nela,
Vincent começou um movimento dentro dela, como se comesse sua boceta
com os dedos.
Ela puxou o cabelo dele quando Vincent afastou o polegar do clitóris bem
quando ela tinha certeza de que estava prestes a gozar. Ele vai me matar.
— Vincent, por favor — Lake gemeu, esperando que ele fizesse algo para
a aliviar. Ela sentiu vontade de chorar quando ele, em vez disso, tirou
totalmente os dedos.
Vincent rapidamente moveu seu corpo sobre o dela, até que a cabeça de
seu pau estivesse pressionada em suas dobras.
Lake colocou a mão em seu peito, parando-o.
— Que tal um preservativo?
— Você está tomando pílula, e eu não pensaria em te comer se não
tivesse certeza de que não tenho nada. Eu sou o único que vai foder essa sua
boceta perfeita, e eu não vou fazer isso com um preservativo. Nem agora nem
nunca. — Ele se inclinou e mordeu a parte cheia de seu lábio enquanto a
ponta de seu pênis deslizou para dentro.
Instintivamente, ela passou as pernas ao redor da cintura dele, querendo
mais, as unhas arranhando as costas de Vincent.
Ele deslizou para dentro, rompendo sua barreira em um movimento
rápido.
— Droga, baby — ele gemeu. Rapidamente, voltou para o clitóris,
usando o polegar e o dedo indicador.
A dor foi dura e rápida, fazendo seus olhos se fecharem. Então começou a
diminuir, e a fome dentro dela mascarou a dor mais e mais a cada movimento
de seus dedos.
— Desculpa. — Ele roçou um beijo contra seus lábios.
Abrindo os olhos, ela viu a decepção no olhar dele.
— Está tudo bem — ela disse a Vincent antes de aprofundar o beijo,
deslizando a língua na boca dele.
Seus quadris finalmente começaram a se mover acima dela, começando
com um ritmo lento. Com cada golpe, o ritmo ia mudando. Vincent começou
a tirar mais o pau antes de mergulhar mais fundo em sua boceta.
Lake cravou os calcanhares na bunda dele tanto quanto suas unhas
estavam rasgando as costas de Vincent. Ela estava deixando que ele ditasse o
ritmo, mas de alguma forma era muito lento, ao mesmo tempo que era muito
rápido, no sentido de que estava pronta para gozar a qualquer segundo.
Sentindo o pau aumentando dentro dela e ouvindo sua respiração dolorosa,
Lake soube que Vincent estava prestes a explodir também.
— Eu preciso gozar — ela gemeu alto quando o pau deixou sua boceta
apenas para mergulhar de volta.
Dessa vez, seu ritmo mudou, fodendo-a com movimentos muito mais
rápidos e duros.
— Goza pra mim, querida. — A respiração estava irregular antes que ele
mais uma vez tivesse o pescoço de Lake preso à sua boca.
A mão dela abafou o grito alto prestes a escapar de seus lábios. Lake
gozou no pau dele enquanto Vincent fazia o mesmo dentro dela, a julgar
pelos movimentos intensos e profundos que realizava em sua boceta.
Ainda deitada, agora mole e sem fôlego, Lake o sentiu lamber seu
pescoço. Ela mal o sentiu mordê-la quando chegou ao clímax, mas agora,
sentindo a ardência na pele, assumiu que Vincent tinha dado uma bela
mordida. Mas estava tudo bem; em troca, ela havia navalhado as costas dele,
Vincent ficaria com marcas de arranhões por semanas.
Lake mal conseguiu abrir os olhos quando ele rolou de cima dela, tirou os
saltos de seus pés e, em seguida, puxou seu corpo para perto do dele. Todas
as noites Vincent a abraçava de costas para seu peito, mas era a primeira vez
que ela era abraçada estando nua, e, cara, aquilo era muito bom.
Vincent acariciou a coxa de Lake.
— Você não me disse por que está tão depilada e macia assim.
Ela sorriu suavemente.
— Sadie faz todas as garotas se depilarem regularmente.
— Droga, eu odeio essa vagabunda.
— Acho que ela sente o mesmo por você. — Lake riu, sonolenta.
Ele a puxou para mais perto ainda em seu peito, mudando o tom.
— Durma, querida.
Lake se sentiu parte de alguma coisa pela primeira vez na vida, ali, com
Vincent, quando ele deu um beijo leve em seu ombro. Lake nunca se sentiu
assim com sua mãe, com o pai, ou mesmo com Adalyn.
Adalyn... Ah, meu Deus. Como diabos ela poderia explicar isso para sua
melhor amiga, quando ela nem contara que o tinha beijado? Imagina dizer
que transou com o irmão dela e que tinha certeza de que ambos queriam que
aquilo se repetisse?
Lake acabou dormindo, exausta e cheia de culpa. Ela se sentiu ainda pior
pelo fato de que tinha gostado tanto e pela porra do fato de que Vincent a
deixou feliz pela primeira vez.
Perdoe-me, pai, pois eu pequei.
Lake voltou para a cama, tentando encontrar o corpo de Vincent. Ela ainda
estava praticamente sonâmbula, mas seu relógio interno estava lentamente lhe
dizendo que era hora de acordar.
Ela rolou, olhando para o outro lado da cama, mas não viu Vincent. Por
que ele sempre me deixa sozinha? De alguma forma, seu cérebro disse a ela
que entregar sua virgindade faria com que ele estivesse lá de manhã quando
ela acordasse.
Saindo da cama, pegou o cobertor e o envolveu em torno de seu corpo nu.
Em seguida, foi para o final da varanda, olhando para o primeiro andar,
apenas para conferir se ele não estava lá também.
Lake foi até o closet e descobriu que ele pegara seu vestido preto e o
pendurara de volta no lugar. Algo nesse gesto a fez sorrir. Vincent também
havia recuperado suas roupas da noite anterior e a bolsa que ela havia
deixado no closet e arrumado tudo, com seu espartilho e as gorjetas da noite.
Estavam em um banquinho de couro no meio de seu enorme closet.
Lake dirigiu-se ao banheiro com uma empolgação silenciosa por
finalmente poder ver o que havia atrás da porta.
Puta merda! Ela não ficou desapontada.
Lake nunca teria pensado que existissem banheiros pretos, mas, cara, ela
estava errada. Iria experimentar tudo e gastar com calma seu precioso tempo
tomando banho no enorme chuveiro, que mais tarde descobriu que soltava
água que nem um dilúvio. Então ela iria tomar o melhor banho de sua vida na
grande banheira de hidromassagem.
Lake estava praticamente salivando enquanto se livrava de sua roupa
improvisada. Como diabos ele conseguiu usar meu banheiro minúsculo e
patético?
Olhou para a banheira preta e acreditou que era de lá que o ditado “uma
vez que você vai no preto, não tem mais jeito” tinha se originado. A pobre
criança dentro dela já aos prantos, pensando que o relógio acabaria batendo à
meia-noite, e então a carruagem voltaria a ser uma abóbora. Porque por mais
que se sentisse em casa naquele lugar, em última análise, não era sua casa, e
Lake não estava planejando morar com Vincent tão cedo. Não é como se ele
quisesse que eu fizesse isso, de qualquer maneira.
Relaxar não foi o que ela fez. Muitos pensamentos ocupavam sua mente,
principalmente sobre perder a virgindade, Vincent, Adalyn, sua mãe, seu pai,
Dante – a lista era enorme. Lake rapidamente se vestiu com as roupas que
usara para trabalhar no dia anterior e até fez algo para comer na cozinha
glamourosa.
Sem ter nada para fazer, ela se perguntou para onde Vincent tinha ido.
Isso a fez se sentir como um cachorrinho esperando o dono voltar. Faltava
cerca de uma hora e meia até dar a hora de seu trabalho, mas ela não podia
mais ficar sentada ali, não queria se desesperar, aguardando o retorno de
Vincent.
Ela pegou suas coisas e desceu para o cassino, embora tivesse certeza de
que Vincent ficaria muito chateado com isso.
Lake estava colocando a bolsa na penteadeira quando notou Kim vindo
atrás dela pelo reflexo no espelho.
Kim olhou para o reflexo de Lake, vendo seu cabelo úmido e roupas da
noite anterior.
— Pelo visto ele finalmente rompeu teu selinho. Talvez agora que ele te
comeu e vai te largar, vai me deixar dar umazinha de novo. Porque, vamos
ser honestas, Vincent é como qualquer outro homem: eles querem um desafio
de vez em quando, mas, no final das contas, querem mesmo é alguém com
experiência chupando seu pau. — Seu sorriso se abriu. — Aposto que você
nem chupou o pau dele, não é?
Ela observou Kim rindo sem esperar pela resposta. Lake rapidamente se
afastou de seu reflexo, não querendo olhar para si mesma, e começou a se
sentir mal. Sabia que não deveria ouvir uma palavra que saísse da boca de
Kim, mas alguma coisa fez com que pensasse que tudo que Kim estava
dizendo era a mais pura verdade.
— Querida, o que você está fazendo aqui? — Sadie perguntou,
aproximando-se dela.
Lake fez o possível para deixar de lado as palavras de Kim.
— Decidi chegar um pouco mais cedo para me desculpar. Eu sinto muito,
muito, muito por tudo que acont…
Sadie ergueu a mão.
— Está tudo bem. Aqueles tarados do caralho mereciam. Mas você não
trabalha mais aqui. O playboy já não te contou?
— Contou o quê? — Lake olhou para ela, confusa.
— Claro que não contou. Ele me fez prometer não te contar que ontem à
noite foi sua última noite trabalhando aqui. Sua dívida está paga, querida!
A boca de Lake se abriu.
— Ahn? Como?
Sadie deu de ombros.
— Não sei. Ele não me contou essa parte. Você deveria estar feliz,
pulando e gritando por aí. Ou algo do tipo.
Virando-se, Lake rapidamente pegou sua bolsa e se dirigiu para a porta,
sua mente acelerada. Ela apertou o botão do elevador enquanto pensava.
Por que Vincent não queria que eu soubesse? Claramente, havia uma
razão para ele ter dito a Sadie que mantivesse o assunto em segredo e para ele
mesmo não ter contado. Apenas uma pessoa lhe contaria a verdade, toda a
verdade.
Assim que entrou no elevador, ela digitou o código para levá-la ao último
andar. Lake estava indo para o alto da porra da cadeia alimentar da máfia.
Havia outra visita surpresa reservada para Dante Caruso.

Vincent passou o dia limpando a merda que fizera na noite anterior. Com
toda a honestidade, ninguém gostava daquele filho da puta do David, nem
mesmo Dante, que estava acumulando uma tonelada de dinheiro com ele.
Depois que deixou David praticamente em coma, quando ele tinha um voo de
volta para o Canadá no dia seguinte, algumas das garotas que ele pagou para
o levar de volta ao seu quarto de hotel finalmente falaram sobre como o cara
tinha sido bastante abusivo e lhes dera uma quantia enorme para manter tudo
em segredo.
O dia foi ótimo. Ele só faltou mijar na porra do túmulo de David. Não só
isso, Vincent finalmente acordou ao lado do corpo quente e nu de Lake
naquela manhã, e suas bolas estavam com um tom menor de azul.
Ele se apressou a sair do elevador, pensando em como contar que ela não
trabalhava mais no andar de baixo. Vincent havia planejado contar a ela na
noite anterior, mas a briga com David e a frustração sexual colocaram o
assunto em segundo plano. Ele estava guardando para a manhã, mas um
telefonema de Dante dizendo-lhe para correr até seu escritório o impediu de
compartilhar a notícia.
Enquanto pegava seu cartão, ele se lembrou do jeito que Lake olhou para
ele deitada em sua cama, usando apenas a peça de renda, meias até a coxa e
salto alto. Dá para esperar mais vinte minutos.
Ele deslizou o cartão, destrancando a porta, sua necessidade de tê-la
passando por cima do momento de contar para Lake sobre sua dívida. Algo
lhe disse que provavelmente o tópico causaria uma discussão entre os dois.
Ele tinha certeza de que Lake diria que ele não podia ter feito algo tão louco.
Não que isso importasse, porque já estava feito. E de jeito nenhum ela ia
vestir minhas roupas na frente de outros homens.
Vincent passou a chamar as lingeries sensuais de Lake de “dele”, porque
ela as usaria somente em seu apartamento dali em diante. A porra da parte
ruim disso era que Vincent precisaria ser legal com Sadie, porque planejava
entregar seu cartão de crédito para que ela pudesse encher o closet com peças
daquele tipo. Ele também planejou que aquelas depilações que eram “só para
garotas que trabalhavam com ela” estivessem disponíveis para Lake. Quem
diabos estava depilando Lake era uma porra de uma pessoa com toque
mágico.
Abrindo a porta, ele esperava ver Lake no andar de baixo. Talvez ela
ainda esteja na cama. Aposto que ela finalmente encontrou o banheiro...
Vários pensamentos sacanas rodaram em sua mente quando descobriu que ela
não estava na cama. Hoje é um dia e tanto.
As fantasias sexuais de Vincent estouraram como um balão quando viu
que ela não estava lá tomando banho como havia imaginado. Vincent sentiu
como se todas as suas esperanças e sonhos estivessem morrendo de repente.
Ele sabia que ela só poderia estar em um lugar no hotel, e ele certamente não
ficava feliz com isso.
Assim que voltou para o elevador e digitou o código do andar correto,
torceu que Sadie tivesse mantido sua boca grande fechada. Ele meteu o dedo
no botão de fechar, tentando apressá-lo. Porra, anda logo! Vincent já sabia
que ia ter que costurar a boca de Sadie.
Uma vez no andar certo, Vincent rapidamente se moveu entre os corpos e
entrou no vestiário, indo direto para a penteadeira de Lake. Encontrou-a
vazia, assim como seu apartamento.
Uma mão alisou suas costas e apertou seu ombro.
— Ela não está aqui, e eu sei que ela não cuidou do seu pau, mas eu
posso ajudar com isso.
Ele olhou para Kim, que usava nada além de uma calcinha rosa. Ele na
hora agarrou sua garganta, dando-lhe um aperto firme.
— O que você disse a ela, porra? — Sua voz era letal.
Kim agarrou seu pulso, tentando conseguir mais espaço para respirar e
falar.
— Nada! Acabei de vê-la conversando com Sadie, e então ela foi embora
furiosa.
— Se me tocar de novo, sua puta, nunca mais vai ser paga para dar para
os homens mais ricos e bizarros daqui em um quartinho limpo e com
segurança. Vou garantir que teu rabo esteja trabalhando na esquina, dando
pros caras falidos, indo para quartos de motel nojentos e se perguntando se
você vai sair viva daquele programa. Entendeu? — Ele apertou a garganta
dela um pouco mais forte.
Kim acenou com a cabeça. Sadie apareceu ao lado deles.
Vincent finalmente a soltou.
— E fique longe de Lake.
Kim agarrou a garganta, ofegante, enquanto olhava para Sadie como que
pedindo que ela fizesse alguma coisa.
Sadie cruzou os braços e jogou a bomba:
— Eu não sei o que te faz pensar que eu dou a mínima, quenga. Você tem
sorte que eu não te dei uma coça antes. Não preciso saber o que você fez, já
sei que merecia até mais que isso. Agora saia da minha frente.
Vincent olhou para Sadie. Por que noventa e oito por cento de mim odeia
essa mulher, mas os outros dois por cento gostam dela ao mesmo tempo?
Porque ela é uma louca psicótica, e disso ele entendia.
— Você contou pra ela, não foi? — perguntou.
— Sim, claro que contei, caralho, já que você se esqueceu de contar que a
dívida dela foi paga.
Um por cento.
Ela revirou os olhos.
— Não se preocupe. Eu não disse a ela que você pagou, playboy.
Sua sobrancelha se ergueu.
— Eu não disse que fui eu.
— Eu pareço uma puta burra para você? — Ela começou a bater o
calcanhar novamente.
Vincent não ia responder a isso.
— Para onde ela foi?
— Não sei. Ela acabou de fugir daqui, depois que eu disse que você me
fez prometer não contar. Não vou deixar Lake brava comigo porque você não
teve coragem...
Vincent começou a correr na direção da porta.
— Sério? Vocês, seus putos, precisam aprender boas maneiras! — Sadie
gritou com ele.
Correndo pela multidão, ele rapidamente chegou ao elevador e apertou o
botão para cima. Porra, porra, porra, anda!
Seu instinto sabia exatamente para onde ela tinha ido, porque Lake era
louca o suficiente para aquilo. Finalmente a porta do elevador se abriu e ele
digitou o código para levá-lo ao topo.
Encare Dante Caruso uma vez, Deus te ajude.
Encare Dante Caruso duas vezes, torça para que Ele abra os portões para
você.
Lake lambeu os lábios muito secos quando seus dedos pousaram na porta
preta.
— Entre — uma voz sombria soou do outro lado da porta.
Entrando no quarto escuro, ela notou o sr. Vitale servindo dois copos de
uísque enquanto Dante estava sentado em seu trono.
Dante se recostou na cadeira.
— Bem, senhorita Turner, devo dizer que não achei que a veria
novamente.
Ela observou o sr. Vitale colocar uma bebida na frente de Dante, dando-
lhe um olhar de advertência pelas costas. Ela rapidamente olhou de volta para
Dante.
— E-eu sinto muito. Eu estava curiosa sobre algo que tem a ver com o
nosso acordo. Receio que Vincent não esteja me mantendo bem-informada,
então esperava poder conversar com você sobre isso, sr. Caruso.
Ele tomou um gole de seu uísque.
— Sente-se, então.
Lake respirou fundo e se sentou na cadeira ao lado do pai de Vincent. Por
que ele sempre tem que estar aqui nos piores momentos?
Tentando acalmar seus nervos, ela falou em um tom um tanto uniforme.
— Fui trabalhar hoje, mas Sadie me disse que não trabalho mais lá. Ela
me disse que minha dívida foi paga, mas não entendo como isso é possível.
— Ele não te contou? — Dante tomou outro gole de sua bebida,
parecendo achar graça. — Vincent veio aqui há um mês e pagou toda a sua
dívida.
Ele fez o quê? Ela balançou a cabeça, não acreditando.
— Se isso é verdade, então por que passei o mês trabalhando lá? Vincent
tem te dado dinheiro de todas as gorjetas que eu recebi, para que eu pudesse
quitar tudo mais rápido, não é?
— Não, não recebi esse dinheiro. Eu permiti que ele pagasse sua dívida
contanto que você continuasse trabalhando para mim por mais um mês.
Infelizmente para seu azar, você causou uma grande impressão em David, e
ele é – era – meu maior cliente. Eu tenho dado seus contracheques para
Vincent. Suponho que você também não os tenha recebido.
Ela estremeceu quando ele enfatizou a palavra era, sabendo que ele quis
dizer que o homem estava morto. Além disso, saber que ela tinha sido
forçada a trabalhar lá por causa da paixão de David por ela fez sua pele se
arrepiar ainda mais.
Ela balançou a cabeça.
— Não, ele não me deu nenhum salário. — Ela não podia acreditar que
Vincent estava mantendo isso em segredo e, ao mesmo tempo, retendo todo o
seu dinheiro.
Dante a olhou de cima a baixo.
— Para uma garota que descobriu que é uma mulher livre, você
certamente veio ao lugar errado.
Lake engoliu em seco, imóvel.
— Ela foi paga pelo trabalho da semana passada? — Vinny questionou.
Dante olhou para ele.
— Não, eu ainda não dei o dinheiro para Vincent.
— Toma. — O sr. Vitale colocou sua bebida na mesa e enfiou a mão no
bolso do paletó, tirando dinheiro e rapidamente contando as notas e
estendendo para ela pegar. — Isso deve cobrir. Aconselho que você pegue
esse dinheiro e se mande para a faculdade ou para qualquer lugar que não
seja aqui.
Ela teve que usar a cadeira para conseguir se levantar. Assim que pegou
as notas, foi até a porta enquanto ainda tinha chance.
— Senhorita Turner, eu não voltaria a passar pela minha porta novamente
se eu fosse você — a voz fria de Dante a advertiu.
Ela deu um aceno rápido antes de sair do quarto, fechando a porta atrás
de si. Fechando os olhos com força, ela tentou manter sua respiração sob
controle. Tudo o que ouvira a atingiu como se trombasse contra uma parede
de tijolos. Todas as coisas que Vincent tinha feito e não contou a ela, somado
ao aviso de que ela deveria ir embora.
Lake não era estúpida; ela sabia quando devia correr, quando devia fugir.
Especialmente de uma família inteira de psicopatas.
Enquanto esperava que a porta do elevador se abrisse, sua mente estava a
um milhão de quilômetros por hora, imaginando para onde diabos fugir. Uma
coisa era certa: ela ia direto para casa em um ônibus e arrumaria um saco com
suas merdas. Lake Turner finalmente ia fazer o que ela sempre sonhou, mas
ela nunca esperava ter sentimentos contraditórios em relação a tudo isso.
Lake se preparou por meses para deixar seu pai e Adalyn para trás, mas
deixar Vincent estava sendo pior. Ela não entendia por que se sentia tão mal,
uma vez que estava mais do que nunca claro que ele era um idiota mentiroso,
um galinha totalmente maluco.
Uma parte dela queria que Vincent aparecesse quando a porta do elevador
se abrisse, para convencê-la a desistir e de alguma forma consertar tudo que
estava errado enquanto seu julgamento sobre ele ainda estava nebuloso.
A porta do elevador se abriu com um ding.
Adeus, Kansas City.

Vincent esperou impacientemente que o elevador parasse, esperando que


Lake estivesse do outro lado da porta quando ela se abrisse.
No entanto, quando finalmente aconteceu, Lake não estava lá.
Rapidamente, ele se moveu pelo corredor, através da sala de segurança, e
bateu apressadamente na porta de Dante. Vincent a abriu antes que a palavra
“entre” surgisse.
Dante ergueu a sobrancelha.
— Você sabia que ela viria aqui, não é?
Vincent passou a mão pelo cabelo, rezando para que tivesse chegado a
tempo.
— Onde ela está?
Dante levou seu tempo acendendo um charuto antes de falar:
— Felizmente para você, seu pai estava aqui e deu dinheiro para ela fugir.
Vincent virou-se para tentar alcançá-la.
— Você está cerca de uma hora atrasado. Suponho que ela já esteja em
algum lugar que não vale a pena perder tempo para encontrá-la. — Ele tomou
um longo trago, pensando sobre o que queria dizer em seguida. — Lake é
como um gato: ela nasceu com sete vidas. Mais cedo ou mais tarde, no
entanto, ela vai chegar na sétima e última. Algo me diz que ela está mais do
que na metade do caminho, considerando que acabou de desperdiçar outra
vida comigo.
Porra, Lake. Vincent assentiu antes de sair. Precisava tentar pegá-la antes
que pudesse correr para muito longe.
— Se você a encontrar, é melhor eu não ver a porra da cara dela de novo.
Mete um pouco de bom senso na porra da cabeça daquela garota, ou então eu
mesmo vou meter.
Vincent rangeu os dentes.
— Sim, chefe.
Fechando a porta atrás de si, Vincent foi direto para o elevador, pegando
seu celular em uma tentativa desesperada de ligar para ela. Mas a ligação foi
direto para o correio de voz.
— Puta que pariu! — ele gritou quando o elevador se fechou atrás dele.
A ideia de perder Lake já era forte demais, mas Vincent estava decidido.
Ele iria até os confins do planeta por ela.
Vincent bateu na porta da frente. Foi estranho chegar lá pela primeira vez
sem Lake.
A porta se abriu, apenas para ser batida em seu rosto. Por sorte, sua mão
estava estendida, pronta para empurrar a porta antes que pudesse se fechar
completamente.
— Fale comigo por cinco minutos, por favor. — A última palavra foi
dura, mas carregada de vulnerabilidade ao mesmo tempo.
Finalmente, a pressão do outro lado da porta foi liberada, e ele conseguiu
entrar. Olhando ao redor, seu coração ficou pesado ao pensar em todo o
tempo que Lake e ele passaram juntos naquela casa.
Vincent entrou na cozinha, observando um homem servir suco de laranja
em um copo no meio da noite. Ele tinha visto Lake fazer isso várias vezes
durante o mês que passaram juntos.
— Eu já te disse uma vez que ela não me disse para onde estava indo, e
mesmo se eu soubesse, o que diabos faz você pensar que eu te contaria? —
Ele pegou seu suco de laranja e se sentou à pequena mesa rangente.
Vincent atravessou a sala e sentou-se na frente dele.
— Ela é a porra da sua filha, então você sabe exatamente para onde ela
iria.
Paul o encarou.
— Como eu disse, se eu soubesse, não diria a você. Acha que quero que
Lake fique com um homem como você? Cara, eu não quero que ela fique
com um homem fodido como eu. Ela merece muito mais do que um homem
da família.
Vincent bateu a mão na mesa.
— Você acha que eu não sei disso, porra? Parte de mim quer que eu não
consiga encontrar Lake, mas a parte insana não tem controle. Eu tenho que
encontrá-la. Não há mais nada de bom em mim sem ela.
— Somos todos amaldiçoados, Vincent. Um homem da família nunca
pode ser verdadeiramente feliz por causa da vida que escolhemos. Sempre
queremos algo a mais ou algo melhor. E isso vem com tanta intensidade, que
nos mata junto com quem amamos. É por isso que quase todos nós estamos
sozinhos. Quando amamos, ou enterramos as pessoas ou nos destruímos
quando elas finalmente nos deixam.
Paul tomou um gole de seu copo.
— Quando a mãe de Lake me deixou por dinheiro, tive de encontrar algo
para me distrair. Eu tinha uma filha, então não queria beber ou usar drogas,
porque Lake era a única coisa que me restava neste mundo. Se eu a tivesse
perdido, eu estaria tão fodido, que acho que teria me matado. Então comecei
a jogar. Eu não sei, talvez no começo eu tenha feito na esperança de ficar
rico, para que a mãe dela voltasse para mim, e então o ato se transformou em
ficar rico para Lake. Mas deixei o jogo me consumir, até que, anos depois,
finalmente atingiu Lake. Isso é o que sempre acontece com a gente. Eu tenho
sorte o suficiente que Lake saiu viva. Então não espere que eu diga onde ela
está, porque não vou enterrar minha filha. Eu sugiro que você encontre uma
porra de um hobby.
— Assim como acontece com você, Lake é a única coisa que tenho neste
mundo, e não vou perdê-la só porque agora sou um fodido. — Vincent
levantou-se abruptamente, a cadeira atrás dele quase caindo no chão.
Ele entendia que Paul tinha o direito de não lhe contar onde sua filha
estava, e o respeitava por isso. Vincent apenas mostrou seu respeito dizendo
que Lake seria dele.
— Dante gostaria de vê-la morta ou pior, Vincent. Se você trouxer Lake
de volta depois de apenas uma semana, você vai arriscar a vida dela. — Paul
estava suplicando e advertindo-o ao mesmo tempo.
Indo para a porta e se afastando de Paul, Vincent disse:
— Eu disse que sou um fodido. — Vincent não achou que deveria contar
ao pai dela a próxima parte: e eu vou fazer o que você não fez – ensinar a ela
uma lição sobre homens da família.

Vincent atendeu o telefone na manhã seguinte.


Uma voz veio da linha.
— Vem cá. — Em seguida, a chamada foi rapidamente desconectada.
Vestindo-se rapidamente, sentiu-se quase entorpecido até bater na porta
do escritório.
Fazia apenas sete dias desde que ele havia perdido Lake, mas poderia
muito bem ter sido sete meses. Ele havia perdido Lake uma vez quando se
afastou dela, meses antes, mas algo nele dizia que Lake era a pessoa certa.
Foi por isso que Vincent lutou tanto consigo mesmo, até que realmente fez
uma lavagem cerebral para acreditar nisso. Aquele mês que passaram juntos
solidificou seus sentimentos. Então, no momento em que ele realmente a
teve, Lake foi tirada dele. Perder algo pelo qual lutou tanto era uma dor tão
cruel, que ele não desejava ao seu pior inimigo.
Não esperando por uma resposta, ele caminhou pela porta e rapidamente
a fechou atrás de si.
— Seu pai não está aqui, está? — ele perguntou, virando-se.
— Não — uma voz profunda e áspera soou.
Virando-se completamente, ele viu Lucca sentado atrás de sua mesa,
inalando um cigarro.
— O que diabos deu em você?
Lucca parecia áspero, como se estivesse acordado há mais de quarenta e
oito horas. Seu cinzeiro estava transbordando, fazendo Vincent se perguntar
há quanto tempo ele estava sentado ali. Mas, a julgar pela força com a qual
ele estava tragando os cigarros, Vincent pensou que Lucca poderia ter
acabado de chegar. Para completar, ele não parecia estar de bom humor.
Lucca apontou o cigarro para ele.
— Sério, seu filho da puta? Eu poderia dizer o mesmo para você. Você
está uma merda. Agora sente-se.
Vincent entendeu isso como: “Não me pergunte isso de novo, filho da
puta, porque eu com certeza não vou te contar”.
Ele se sentou na frente de Lucca e ao lado de Sal, que estava em seu
laptop.
— Sal encontrou sua garota — disse Lucca, jogando as cinzas no cinzeiro
cheio.
— Encontrou? Onde ela está? — Vincent praticamente se levantou da
cadeira.
— Não, eu acho que a encontrei, porra — Sal o corrigiu. — Ainda estou
trabalhando nisso.
Vincent alisou o cabelo, tentando se acalmar.
— Ok, então ele quase a encontrou, mas por que eu deveria deixar Sal te
dizer onde ela está? Ela foi um pé no saco pelos cinco minutos que eu estive
perto dela e um pé no saco ainda maior para Dante. Essa garota não pertence
a esse lugar.
Ele sabia que Lucca ia dizer isso. Ela pertence a mim.
— Eu sei. Desta vez, vou ensiná-la como funciona a família, o que ela
pode e não pode fazer. Eu prometo a você, ela não vai te incomodar
novamente.
Lucca deu uma tragada forte no cigarro.
— O que eu faria é encarcerar essa guria. Manteria ela em casa ou no
quarto e não deixaria que saísse nunca mais.
Vincent olhou para Lucca como se ele estivesse louco.
— Isso é o que eu faria se eu fosse você, é claro. — Lucca conseguiu
apagar a guimba sem que muitas cinzas caíssem sobre a mesa.
Não parecia que ele estava falando sobre mim ou Lake...
— Quase consegui — Sal interrompeu seus pensamentos.
Lucca puxou outro cigarro e acendeu o isqueiro, demorando para queimar
a ponta.
— Eu te devolvo sua garota, e você fica me devendo uma.
Vincent pensou em suas palavras, entendendo o que ele queria dizer. A
última pessoa no mundo que alguém queria ficar devendo era Lucca Caruso,
porque um dia ele cobraria o favor, e só restava a esperança de ter vivido uma
vida plena e feliz antes que isso acontecesse. Não importava; ele estava morto
sem Lake de qualquer maneira.
Ele assentiu com a cabeça.
Lucca deu uma tragada.
— Pode contar.
Sal olhou para o laptop enquanto falava.
— Estou tentando encontrar o endereço dos pais de Paul. Por alguma
razão, eles sumiram da face da Terra. Coincidentemente, na mesma época,
Paul se tornou um soldado. Não estou garantindo que ela estará lá, mas é o
único lugar que você não procurou. O nome dela não está aparecendo no
sistema em nenhum lugar, então penso que ela deve estar com a família.
Vincent passou a semana procurando por Lake em todos os lugares. A
família dela, até onde Vincent sabia, era pequena, então ele começou indo
para a casa de sua mãe. Ele praticamente arrombou a porta daqueles idiotas,
perguntando se eles sabiam onde ela estava. Ele não esperava que Lake
estivesse lá nem esperava que eles se importassem, mas ele se divertiu muito
fazendo todos se cagarem de medo. Então ele foi para a faculdade que ela
queria frequentar. Nada. Esta foi a primeira vez que ele ouviu falar que ela
tinha avós.
— Ok, então onde está? — Ele estava ansioso e pronto para recuperá-la.
Sal clicou mais alguns botões antes de começar a rir.
— Eu sugiro que você vá para casa e troque essas roupas.
Vincent e Lucca olharam para ele, esperando que lhes dissesse onde ela
estava.
Sal acalmou seu riso para que ele pudesse finalmente contar:
— O endereço é em Treepoint, Kentucky.
— Kentucky? — Vincent sentou-se, atordoado. Ele tentou imaginar como
diabos Lake foi parar lá. Enfim. Desespero, foi assim.
— Bem, divirta-se pra caralho lá. — Lucca se recostou na cadeira,
sorrindo, claramente gostando de não ser ele quem tinha que ir.
Sal anotou o endereço para Vincent quando finalmente parou de rir.
Ele olhou para o pedaço de papel.
— Que porra eles usam lá?
Isso fez Sal rir de novo.
— Roupa camuflada. Muita roupa camuflada.
— Eu falaria o mínimo possível e disfarçaria seu sotaque italiano. Eles
provavelmente vão metralhar você lá.
Lucca realmente riu um pouco quando contou a última parte.
Vincent se levantou, saindo furioso.
— Vai se foder.
Lake entrou no restaurante atrás da casa de seus avós. Ela havia saído de
Kansas City na semana anterior, indo para o único lugar onde tinha família
— Treepoint, Kentucky.
Se ela fosse honesta, o pensamento de viver em Kentucky fez sua pele se
arrepiar no início. Ela não tinha certeza de como seria, mas tinha certeza que
não poderia permanecer em Kansas City. Lake era uma garota da cidade;
portanto, entrar em uma cidade muito rural era um pouco contrastante. Eu
acho que isso foi um eufemismo.
Lake ligou para o pai quando chegou em casa, mas caiu direto na caixa
postal. Ela chorou muito por ter que dizer ao pai que estava indo embora por
mensagem de voz. Essa foi a coisa mais difícil que já fez. Não disse a ele
para onde estava indo, com medo de que Dante pudesse usar isso contra ele.
Quanto menos soubesse, melhor.
Seu pai tinha guardado um velho pedaço de papel com um número em
uma caixa junto de umas coisas velhas. Ela se lembrava do pai mostrando o
conteúdo da caixa uma vez, quando ela era uma garotinha. Ele lhe mostrara
as fotos dele quando mais jovem, onde morou antes de sua família se mudar
para Kansas City, e até guardava fotos dos avós de Lake. Ela não saberia de
quem era o número se ele não tivesse escrito “mãe louca do caralho” acima
dele.
Felizmente, sua avó atendeu, e então Lake fez uma mala e pegou um
ônibus direto para lá. Na verdade, ela teve de implorar para que eles a
recebessem. Era nítido que estavam um pouco paranoicos com a máfia e a
vida em geral. Lake disse que estava tentando ter uma vida melhor longe da
máfia e garantiu que ninguém estava procurando por ela. Basicamente, eu
menti para cacete.
Ela estava sentada em uma poltrona no fundo dos ônibus, lágrimas
silenciosas rolando pelo rosto, Kansas City à distância. Não foi deixar para
trás a cidade em que nasceu e cresceu que a destruiu; foi deixar Vincent.
Por mais que ela quisesse odiá-lo, não conseguia. Lake gostava dele,
querendo ou não. Além do mais, ela havia compartilhado com ele algo muito
especial que só poderia experimentar uma vez. Não importa quanto tempo
passasse, ninguém nunca poderia esquecer o primeiro. Era uma coisa
impossível de fazer.
Felizmente, a garçonete veio e anotou o pedido, aliviando-a de seus
pensamentos sobre Vincent.
— Não, não, não, não! — sua avó gritou, olhando para a porta.
Lake virou a cabeça para ver uma enorme gangue de motoqueiros entrar
na lanchonete. Pelo que ela deduziu do discurso de sua avó, eles se
chamavam de “Os Últimos Cavaleiros” e eram um tipo de grupo de
motoqueiros. Só na porra do Kentucky você podia ouvir algo tão ridículo
quanto isso.
Quando eles juntaram um monte de mesas e cadeiras, sua avó se
levantou.
— Vamos dar o fora daqui.
Os olhos de Lake se arregalaram com quão alto ela disse isso.
Levantando-se, ela viu seus avós correrem para fora do restaurante tão rápido
que apenas o toque da campainha a fez perceber que eles já tinham saído.
Caminhando em direção à porta, ela não pôde deixar de olhar para a mesa
cheia de motoqueiros e suas mulheres, que claramente ouviram e viram tudo.
Havia uma loira, acompanhada de duas crianças gêmeas, na ponta da mesa
que parecia particularmente chateada.
Ela descobriu que seus pés haviam parado de se mover e sentiu-se
péssima pelas ações de sua avó.
— E-eu sinto muito. Minha avó é, bem... — Seus olhos se desviaram
ligeiramente da loira para alguns dos homens rudes e de aparência dura
vestindo couro antes de voltarem à bela mulher. — Ahn, velha.
— Eu entendo perfeitamente. — Ela sorriu suavemente, lançando olhares
irritados aos homens ao redor da mesa por causa de suas risadas. — Meu
nome é Bete.
— Oi, meu nome é Lake. — Ela sorriu de volta; o sorriso da mulher era
contagiante.
— Eu nunca te vi aqui antes. Você é nova na cidade?
— Vim passar o verão com meus avós. — Ela observou a garçonete se
aproximar e perguntar se eles estavam prontos para fazerem seus pedidos. —
Bem, eu vou deixar vocês em paz.
— Você é bem-vinda para ficar e se juntar a nós — disse Beth. — Se
você já fez o pedido, ela pode trazer junto com o nosso.
Lake mordeu o lábio, pensando se deveria ficar. Sentiu-se mal porque a
garçonete provavelmente já havia feito o pedido, e pelo menos sua comida
não seria desperdiçada. Mesmo que os motoqueiros parecessem assustadores,
eles poderiam não ser tão ruins, levando em conta que havia crianças na
mesa.
— Seria legal. — Obrigado, Deus. Posso ter um pouco de paz longe dos
meus avós.
Um homem ao lado de Beth se levantou da mesa, apressadamente
afastando uma cadeira da outra enquanto olhava para os ocupantes das mesas
antes que protestasse. Ele colocou a cadeira ao lado dele, entre ele e Beth.
— Você pode sentar aqui ao meu lado.
— Sossega, garoto. — Beth revirou os olhos. — Esse é o Rider. Ele
sempre gosta de conhecer pessoas novas.
Rider? Eu cometi um grande erro.
Indo para o outro lado da mesa, ela se espremeu entre eles, embora Rider
não estivesse facilitando para ela. Lake teria inventado uma desculpa e ido
embora, mas não quis ferir os sentimentos de Beth novamente.
Beth esperou até que ela se acomodasse antes de apresentá-la. Ela
começou com o gêmeo mais próximo a ela e deu a volta na mesa.
— Estes são meus garotinhos, Chance e Noah; Razer, meu marido; Lily,
minha irmã; seu marido, Shade; John, seu filho; Cash; Rachel; Train; e você
já conheceu Rider.
Lake sorriu para cada um deles. Ela achava que Rider era um nome ruim,
mas ouvir Razer seguido por meu marido a fez se perguntar se ela havia feito
uma escolha apropriada.
Todos os homens estavam cobertos de couro e tatuagens. Aquele
chamado Shade era definitivamente o durão do grupo, já que parecia ter mais
tatuagens que os outros, desenhos que pareciam ir do pescoço aos pés. Cash,
no entanto, foi o que mais chamou sua atenção; algo sobre ele a fez o encarar
por alguns segundos.
— É um prazer conhecer todos vocês. — Ela esperava que não tivesse
soado assustada.
— É um prazer conhecê-la também. — Rider cortou Beth quando ela
abriu a boca para responder. — De onde você é? Pelo seu sotaque, não parece
ser do Kentucky.
Lake lambeu os lábios, imaginando o que deveria dizer a eles. Não
achava que deveria dizer a verdade, considerando que Dante poderia vir atrás
dela.
— Arizona. — Ela disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça. Foi onde
seu pai cresceu.
— Sério? Você já conheceu algum vaqueiro? — Lily perguntou. —
Sempre quis conhecer um cowboy de verdade.
O coberto de tatuagens lançou-lhe um olhar sombrio.
— Você não disse que eu sou seu cowboy?
Lily roçou sua bochecha com um beijo breve.
— Você é. Eu só ia perguntar a ela se é verdade se eles bebem muito ou
se gostam de mulheres com cabelo curto.
Eu não tenho a menor ideia.
Ela olhou para o cabelo longo, lindo e preto de Lily.
— Eles gostam de muito suco de laranja e definitivamente preferem
cabelos compridos. Quanto mais longo, melhor. — Lake ficou bastante
chocada ao descobrir que os dois eram casados, e pais de um bebê bonitinho.
Lily era indiscutivelmente a garota mais bonita e tímida que ela já tinha visto,
enquanto Shade... bem, ele provavelmente poderia acabar com metade da
Máfia Caruso sozinho.
Lily virou-se para o marido, lançando um olhar desconfiado.
— Nós poderíamos ir ao Grand Canyon nas férias — ela sugeriu.
— Nem pensar — disse Shade, passando o braço sobre os ombros dela,
antes de sussurrar algo em seu ouvido, o que deixou seu rosto em chamas.
— Se você vai ficar na cidade por um tempo, dá um pulo no nosso clube
qualquer dia desses, venha beber alguma coisa — Rider sugeriu.
— Ela não tem idade para beber — Beth retrucou.
— Eu não quis dizer beber álcool — Rider disse a Beth antes de se voltar
para Lake, dando-lhe uma piscadela. — A menos que ela queira. Uma cerveja
não vai deixá-la bêbada, vai?
Nem fodendo.
Ela tomou um longo gole de água antes que pudesse responder, pensando
na coisa certa a dizer, não queria irritar um motoqueiro.
— Vou pensar nisso.
A comida chegou bem na hora, interrompendo a conversa embaraçosa.
Os olhos de Lake se voltaram para Cash novamente, parecia incapaz de evitar
olhar para ele de vez em quando. Ele era alto, loiro, perigoso e
escandalosamente bonito, com a quantidade certa de tatuagens. Quando ele
olhou nos olhos dela e sorriu, finalmente percebeu por que ela estava atraída
por ele. Cash era um deus loiro perfeito, exatamente como Vincent.
Finalmente percebeu a raiz de sua atração, o que não significava que não
gostasse de olhar para ele, apesar de Cash não ser Vincent. Ele estava
claramente muito feliz e muito apaixonado pela linda ruiva ao seu lado.
Ainda assim, era difícil não olhar para ele de vez em quando, afinal Lake não
via a perfeição de Vincent há uma semana.
Loiros são claramente minha kryptonita.
— Estávamos muito preocupados com você, Lake! Desapareceu o dia todo e
saiu com aqueles motoqueiros adoradores de Satanás, amantes do diabo!
Você disse que veio aqui para fugir da máfia, mas esses homens são tão
perigosos quanto, se não forem até mais. Pelo menos os italianos rezam em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo! — Sua avó começou a orar a
Jesus por seu perdão e para ajudar a se livrar de quaisquer demônios que ela
pudesse ter trazido dos motoqueiros.
Lake balançou a cabeça, perguntando-se por que ela pediu a Rider para
levá-la para casa em vez de para seu clube. Provavelmente porque ele queria
me comer. Honestamente, Rider e Train a olharam como se quisessem... Não,
isso é loucura!
— Eles são pessoas muito legais, vovó, e muitos deles vão à igreja. Um é
até mesmo um pastor, eu acho. Beth é enfermeira, é casada com Razer. Eles
têm dois meninos gêmeos que são adoráveis. Você não deve julgar um livro
pela capa. — Lake deu a ela um olhar como se a avó já tivesse usado essa
expressão antes.
O rosto de sua avó lentamente empalideceu.
— Razer? — Ela se virou para seu marido. — Precisamos nos mudar. Os
motociclistas só se multiplicam desde que chegaram aqui. Eu não fugi da
máfia para morar perto de uma gangue de motoqueiros perigosos que se
autodenominam Razer e Deus sabe o que mais.
Lake revirou os olhos, indo para o único quarto no pequeno trailer. Ela
estava dormindo no sofá dobrável, mas naquele momento preferiu ir para o
quarto deles se esconder enquanto os dois organizavam um plano de fuga.
Assim que fechou a porta, sua boca foi imediatamente coberta e ela foi
arrastada contra a parede. Encarando seu captor, seus olhos começaram a
brilhar.
— Shhh — ele disse antes de retirar a mão.
— Vincent, como você...?
Vincent pressionou o corpo contra o dela enquanto beijava sua boca, com
dureza, de forma áspera, como se estivesse faminto.
Lake empurrou seu peito e virou a cabeça antes que fosse tarde demais.
— Você precisa ir embora — ela sussurrou.
Ele agarrou seu queixo, forçando-a a encará-lo.
— A única razão pela qual eu não te contei sobre sua dívida foi porque eu
não queria que você se assustasse com David. Então não me diga para ir
embora quando você fugiu de mim sem dizer uma porra de uma palavra,
Lake. E agora você está saindo com motoqueiros? É melhor você não topar
com nenhum deles.
— Então você pode foder o quanto quiser, mas eu não posso? Na
verdade, eu e Cash temos um lance, então você pode voltar para casa agora!
— ela estava gritando e sussurrando ao mesmo tempo.
— Cash? Que nome estúpido do caralho. Você está falando sério, Lake?
Lake olhou para seus olhos azul-bebê, vendo que além de fúria, havia
mágoa, só de pensar que ela estava saindo com outra pessoa.
— Não — ela sussurrou. — Ele é casado com a Rachel, e eles são muito
felizes juntos.
Vincent soltou a respiração e apoiou a testa na dela.
— Por favor, querida, volte comigo. Você não faz parte desse lugar.
— Agora faz, Vincent. Dante quer que eu morra, então eu ficarei bem
aqui. Há um curso técnico não muito longe...
— Você não tem nada a ver com acampamento de trailers e cursos
técnicos.
— Não há nada de errado com isso! — Ela bateu nele.
Vincent agarrou a mão dela, impedindo-a de o atingir.
— Não, não há. Você não está me ouvindo, Lake. Estou falando de você.
É isso que você quer na vida? Morar em um trailer e ir para um curso
técnico?
Lake balançou a cabeça lentamente, lágrimas enchendo seus olhos
novamente. Certa vez, ela teve um sonho diferente, que desapareceu quando
entregou a Dante o dinheiro para salvar a vida de seu pai.
— Isso não importa mais, Vincent. Eu não posso vol…
— Eu te amo. — Ele pegou o rosto dela em suas mãos. — Eu te amo pra
caralho, Lake, e eu não quero que você diga o mesmo. Esta semana foi a pior
semana da minha vida sem você, sem saber onde você estava. Estou pedindo
para você voltar comigo. Volte comigo e fique comigo apenas pelo resto do
verão. Guardei todo o dinheiro que você ganhou e vou inteirar o resto para
permitir que você vá para onde quiser, para a faculdade que escolher. Só por
favor, baby, fique comigo durante o verão.
As lágrimas finalmente caíram em suas bochechas. Quando Vincent se
inclinou e começou a beijá-las com ternura, Lake o beijou de volta. Sua boca
se abriu para deixá-lo explorar, e ela o puxou para mais perto dela, agarrando
seu cabelo. O gosto e a sensação dele não haviam mudado; só aumentaram
por sua perda.
De repente, a porta do quarto se abriu, quebrando o beijo.
— Ahhh, a máfia finalmente nos encontrou! Eles vieram para nos matar!
— Sua avó saiu correndo e gritando pelo trailer.
Vincent olhou para Lake.
— Que porra ela está fazendo?
— Infelizmente, nada. — Ela apertou os olhos quando o Shih Tzu de seus
avós, Pippin, entrou na sala, latindo para Vincent.
— Ahhh! Ahhh! Pippin, meu bebê! — Sua avó rapidamente correu de
volta para a sala e pegou seu cachorrinho. Em seguida correu de volta
gritando, deixando Lake para se defender sozinha.
— Você está pronta para dar o fora daqui agora? — Vincent perguntou a
ela.
Porra, e como.
— Sim, vamos.
Vincent pegou sua mão e a levou para fora do quarto.
Ela quase teve um ataque cardíaco quando viu seu avô com uma
espingarda na mão apontada para ele, com a avó atrás dele, segurando Pippin
contra o peito.
Vovô, não!
— Abaixe a porra da arma. Eu entrei enquanto você estava fora e a
descarreguei. — Vincent foi vagarosamente até a porta e a manteve aberta
para Lake. — Vocês não precisam se preocupar com a porra da máfia vindo
atrás de vocês, seus malucos. A gente se mataria só para não te ouvir gritando
assim.
A porta se fechou, e Lake agradeceu a Deus por ser a última vez que ela
teria de ouvir aquele rangido horrível da porta batendo. Ela não sabia como
raios seu pai viveu em um trailer como aquele por anos antes dos pais se
mudarem para Kansas City para trabalhar. Uma semana com seus pais e
aquele trailer foi o suficiente para mim.
Vincent a acompanhou até um carro escondido na estrada. Ele dirigiu
rapidamente, indo para o aeroporto mais próximo como se quisesse sair de lá
o mais rápido possível.
No caminho até lá, Lake apontou para a gangue de motoqueiros que
passava por eles no caminho.
— Esses são Os Últimos Cavaleiros. E olhe, esse é o Cash.
— Otário do caralho — Vincent rosnou quando eles passaram por ele de
moto.
— Vincent, você já pensou em fazer uma tatuagem? — Seus olhos
dançaram entre os motoqueiros enquanto eles passavam.
— Se você mencionar Os Últimos Cavaleiros e aquele idiota do Cash de
novo, você não vai conseguir se sentar direito por uma semana.
Seus olhos ficaram grandes.
— D-desculpa. Prometo que nunca mais vou mencionar este lugar.
Olhando para as árvores que passavam, Lake percebeu que estava feliz
por ir embora. Com toda a honestidade, parecia que ela esteve vivendo uma
vida falsa, como se estivesse dentro de um livro, desde o instante em que
pisou em Treepoint, Kentucky. Ela estava pronta para voltar ao seu mundo
cheio de máfia.
Vincent claramente estava mais aliviado ainda por voltar para Kansas
City.
— Porra de Kentucky.
Eu te amo. Essas três pequenas palavras que Vincent disse a Lake não saíam
de sua cabeça. Foi muito inesperado. Vincent Vitale não nasceu para amar.
Ele disse que não era para responder, e ela não o fez porque seu corpo, mente
e coração estavam divididos sobre como se sentiam em relação a Vincent.
Ela observou Vincent deslizar o cartão pelo slot.
— Se você tem que ir direto para o trabalho, por que não posso ir para
casa?
— O acordo era você ficar comigo. — Ele mal abriu a porta para ela
entrar, fazendo-a se espremer para passar. — E eu quero você aqui quando eu
sair do trabalho.
O corpo de Lake se aqueceu, entendendo o que ele queria dizer. Ok,
talvez meu corpo esteja pronto.
— O que eu devo fazer, ficar esperando por você? Você nem tem uma
TV, e isso é muito estranho.
— Eu não cheguei nessa parte ainda, e eu tenho um computador, que é
perfeitamente bom para assistir o que quiser. Não importa. Eu tenho uma
surpresa para você. — Ele subiu as escadas para ir se vestir.
Surpresa? Lake o seguiu quando ele desapareceu, indo até a porta aberta
do closet.
— Você não pode me dizer que tem uma surpresa e depois ir embora... —
Seus olhos desviaram para o final do closet, onde estavam seu vestido preto e
alguns outros vestidos ao lado. — De quem são aqueles, da Kim? — Seus
olhos começaram a lacrimejar.
Vincent terminou de tirar a camisa.
— Do que você está falando?
— Aqueles vestidos. Você transou com Kim de novo, não foi? Não sou
experiente o suficiente para você, não é isso?
Ela enxugou a lágrima que deslizou por sua bochecha.
— Lake, esses são vestidos novos que eu comprei para você enquanto
você estava fora. As etiquetas ainda estão neles. — Vincent se aproximou e
enxugou as lágrimas de Lake com os polegares. — Eu nunca transei com a
Kim. Quando você entrou naquele banheiro naquele dia e eu entendi tudo que
estava acontecendo, eu juro para você, eu não quis comer ninguém além de
você, baby. Eu amo o fato de que a única experiência que você tem é comigo.
Querida, você é mais do que suficiente para mim. Quando eu disse que te
amo, falei sério. — Ele beijou levemente a testa dela. — Agora, por que você
disse isso? Kim falou essas coisas para você, não foi?
Ela desviou os olhos para o peito dele, sem vontade de contar, mas
incapaz de mentir.
— Foi por isso que você foi embora, não foi?
Vincent puxou o cabelo dela.
Parcialmente. Lake ainda não podia dizer a ele, mas não precisava;
estava escrito em todo o seu rosto.
Sua cabeça ligeiramente se inclinou para trás, e Vincent se inclinou para
beijá-la, dando-lhe uma posição melhor para reivindicá-la. Lake colocou as
mãos em seu peito nu, se derretendo toda. Eles passaram muito tempo
separados, seu corpo estava desejando o dele.
— Você tem que trabalhar, não é?
Vincent deu outro beijo em seus lábios.
— Sim, querida, mas prometo que voltarei.
Ela odiava a sensação de perda que teve quando Vincent voltou a se
vestir, mas também não se importou em vê-lo se despir. Porra, ele é perfeito.
Quando ele começou a vestir um terno bonito, ela se deu conta de para
onde ele estava indo.
— Por que você tem que trabalhar no cassino? Não há um milhão de
outros trabalhos que você poderia fazer? — Ela não conseguia acreditar que a
máfia não tinha outros trabalhos disponíveis, e pensar em Vincent lá com
mulheres seminuas quando ela não estava mais lá a deixou com um pouco de
ciúmes, o que Lake realmente odiava.
Vincent pegou a mão dela depois de ter ajeitado a gravata.
— Não há nada para você se preocupar.
Lake começou a segui-lo pela casa.
— Você fez da sua missão me impedir de trabalhar lá. — Eu não deveria
me sentir culpada por isso.
— Isso é totalmente diferente.
— Não, não é! — Ela empurrou a mão dele.
Vincent agarrou a mão dela de novo, segurando-a com mais força para
que Lake não pudesse puxá-la novamente.
— É, sim. Você estava vestindo lingerie perto de um bando de velhos.
— Sim, e você é um cara cercado por um monte de garotas vestindo
lingerie.
— A diferença é que ninguém vai tentar me comer, e confie em mim,
baby, eu vou ficar muito distraído pensando em como pretendo comer você
esta noite. — Ele abriu a porta da frente.
As bochechas de Lake começaram a arder. Ela ficou chocada quando ele
a levou para o corredor, fechando a porta atrás de si e seguindo para a
próxima porta.
— Onde... o que estamos fazendo?
Ele bateu.
— Sua surpresa, lembra?
Nero abriu a porta um segundo depois, e Elle veio atrás dele.
— Você e Elle podem sair enquanto Nero e eu vamos trabalhar.
Lake ergueu a sobrancelha para ele.
— É também para ter certeza de que eu não vou fugir de novo, não é?
— Claro que não. — Vincent se inclinou e lhe deu um beijo, passando a
língua sobre seu lábio inferior e deixando Lake de pernas bambas. — Elle,
me ligue se ela pensar em ir embora — disse ele, inclinando-se.
Elle, que estava beijando Nero, afastou o rosto, corando.
— Prometo.
— Ei! — Lake empurrou seu peito.
Vincent riu antes de roubar outro beijo, em seguida empurrou-a para o
apartamento de Nero.
— Tchau.
Lake cruzou os braços e torceu o nariz para Vincent antes de Nero fechar
a porta. Ainda estava chateada por ele ir trabalhar no cassino e por achar que
ela precisava de uma babá.
— Como você consegue? Vincent me deixa louca — ela disse, virando-se
para Elle. Os dois pareciam tão felizes juntos.
Ela deu uma risadinha.
— Você não descobriu o segredo, não é?
Lake balançou a cabeça, imaginando qual seria o segredo de todos os
homens da máfia.
As bochechas de Elle ficaram rosadas novamente.
— Você tem que deixá-lo dominar você.
Perdão?
— Perdão?
— Eles são, hum... muito agressivos, e você tem que aceitar isso. — O
tom de Elle mudou. — Aceitar ele por inteiro.
— Você sabe que Vincent é um psicopata, certo? Ele tem um lado muito,
muito ruim, o que francamente me assusta pra caralho.
Elle sorriu para ela.
— Você vai aprender a amá-lo.
Seus olhos estavam arregalados, perguntando-se como no mundo uma
garota tão doce como Elle diria essas coisas. Quando você pensa que conhece
uma pessoa...
No dia de São Nunca que ela ia deixar o lado escuro e psicótico de
Vincent dominá-la. Ela estremeceu só de pensar nisso...
Lake mal pôde acreditar que Nero e Elle moravam ao lado de Vincent. Ela
não entendeu por que isso a chocou, achou meio fofo que melhores amigos
de infância morassem um ao lado do outro. Isso também explica para onde
Nero sempre vai quando some.
Olhando para aquele belo espaço, Lake viu que se parecia com o de
Vincent, de certa forma. Ambos tinham um toque moderno, mas o de Vincent
era muito mais escuro. O de Nero era preto e branco, nem muito escuro nem
muito claro. Deu para ver que ele o projetou para acomodar não só a ele, mas
também a Elle. Muitas das coisas que foram colocadas lá eram para ela. Isso
deixou Lake com um pouco de inveja; o amor deles parecia tão perfeito…
Elle era uma ótima pessoa para se estar por perto, e as duas se davam
muito bem, logo ficaram amigas. Lake se conectava com Elle de maneiras
que ela honestamente não esperava. Elle não vinha de uma família rica,
frequentou a escola particular graças a uma bolsa de estudos, e pelo que Lake
percebeu, Dante também não gostava muito dela. Havia algo mais que Lake
viu nela que a lembrou de si mesma, mas não conseguia saber exatamente o
que era.
— Foi difícil para mim também, quando comecei a namorar Nero, lidar
com todas as garotas com quem ele andou. Eu tinha que vê-las todos os dias
na escola — Elle disse a ela.
Ai. Lake se perguntou como diabos a história deles tinha começado.
Ela ainda não gostava da ideia de Vincent trabalhando no cassino. Isso
realmente a irritava quanto mais ela pensava no assunto.
— Eu não acho que consigo superar o fato de que ele está trabalhando
perto de mulheres seminuas. Isso faz de mim uma pessoa má? Como você
lida com isso tão bem?
Elle piscou, olhando estupidamente para Lake.
— O que disse?
— Ah, merda. — Os olhos de Lake se arregalaram. — Você não sabe do
que estou falando, não é?
— Não... Ele está trabalhando perto de mulheres seminuas? — Elle
parecia magoada.
— Eu sinto muito. Eu assumi que você já sabia, já que disse que Nero
contou do meu trabalho para Dante. Eu era uma garçonete em seu cassino
subterrâneo. — Ela particularmente não queria contar a próxima parte. — Lá
embaixo as meninas têm que se vestir só com lingerie.
— Tudo o que ele me disse foi que você trabalhava para Dante e ele teve
que trabalhar todos os dias durante aquele mês para evitar que Vincent
matasse gente, o que fez com que parecesse o trabalho mais difícil do planeta.
Ele não mencionou nada sobre estar cercado por garotas de lingerie ou gente
seminua.
Lake ficou ainda mais furiosa ao ver a dor de Elle. Nero obviamente
manteve isso em segredo por um motivo, da mesma forma que Vincent
estava ansioso para voltar ao trabalho, quando ela queria que ele ficasse.
— Fodam-se eles. São uns babacas.
— Então, ele fica parado lá embaixo observando garotas de fio-dental?
— Elle ainda estava tentando compreender o que seu namorado chamava de
trabalho. — Isso é tão injusto. Ele me fez sair do restaurante porque não
gostava quando eu servia café para os homens de lá!
Ela achou melhor não dizer o que as garotas faziam enquanto usavam
aqueles fio-dentais.
— Vincent ficou chateado quando descobriu que eu estava trabalhando
lá, mas ele não dá a mínima para o fato de que eu não gosto que ele trabalhe
lá. Eu tenho um motivo para estar chateada. Uma delas está praticamente
obcecada por ele e se recusa a tapar os peitos!
Elle ofegou.
— Ele vai morrer!
Lake olhou para Elle, querendo empatar o jogo.
— Você quer se divertir?

— Como é que é? — Sadie afastou seus longos cachos do pescoço e


rapidamente os prendeu em um coque.
Vincent achou justo avisar Sadie que o jogo tinha acabado para Kim, só
não esperava que Sadie fosse atrás dela. Ele a seguiu enquanto ela corria para
um dos quartos nos fundos.
— Ih, cacete. A puta vai levar uns tabefes da cafetina! — Amo disse com
entusiasmo enquanto seguia atrás de Vincent.
— Eu não perco isso por nada, caralho. — Nero estava logo atrás dele.
Eu só queria – ele viu Sadie praticamente chutar a porta. Não importa,
assim é melhor.
Sadie agarrou a parte de trás do cabelo loiro falso de Kim, puxando-a
para trás e a desprendendo do boquete que estava dando em um cara gordo e
mais velho. Ela a puxou tão forte e rápido, que o homem gritou, agarrando
suas partes e saindo correndo dali.
Kim levantou os braços acima da cabeça, tentando agarrar as mãos que
puxavam seus cabelos.
— Aiii!
Sadie puxou com mais força, arrastando-a pelo chão e finalmente
arrancando um punhado de extensões.
— O que você disse para a Lake, sua putinha?!
Os olhos de Kim começaram a lacrimejar.
— Nad…
— Resposta errada, piranha! — Sadie começou a enfiar as extensões
loiras na boca de Kim.
Puta merda. Vincent sentiu como se estivesse assistindo a algum
programa no Discovery Channel onde uma fêmea matava outra em plena
natureza selvagem.
As expressões de Amo e Nero estavam iguais às dele, boca aberta e olhos
incapazes de piscar enquanto Kim começou a engasgar com seu próprio
cabelo.
Sadie continuou forçando-a até que o longo cabelo loiro sumisse.
— Não foi o suficiente que eu te rebaixasse para mamar porra, foi? —
Ela forçou a boca de Kim a se fechar, fazendo-a engasgar. — Eu não consigo
te ouvir, pensa só em todos os boquetes que você vai ser forçada a fazer atrás
de latas de lixo.
Assim que Sadie soltou a boca, Kim tossiu a maior parte do cabelo e
continuou engasgando enquanto chorava, tentando tirar o resto.
Vincent gostava de sufocar as pessoas, achava satisfatório, mas Sadie
levou isso a outro nível. Ouvir as terríveis ânsias de vômito acalmou sua
raiva, e ele acabou encontrando paz na violência. Não se sentiu nem um
pouco mal pela vagabunda, sabendo que ela disse palavras cruéis para Lake
que a fizeram fugir dele.
Amo deu um tapa nas costas de sua mão.
— Tapa de cafetina, por favor!
— Bem dado — Vincent concordou.
Nero ergueu a mão.
— Esperem…
Sadie chutou o peito de Kim com seu salto de stripper.
— Levante-se, vadia, antes que eu estoure o implante com meu salto.
Kim tentou ficar de pé enquanto ainda engasgava, as ânsias dificultando o
processo. Finalmente, ela foi capaz de se controlar e segurou a própria
garganta.
Sadie a encarou um momento antes de meter um tapa no rosto de Kim
com as costas da mão, um golpe final que a fez cair de volta no chão.
— Piranha!
Amo começou a bater palmas lentamente, mostrando quanto estava
apreciando a cena.
— Deusa do tapa de cafetina.
— Segunda maior porrada de piranha que eu já vi. — Nero aplaudiu.
Vincent começou a rezar, Pai do Céu, obrigado por poder ver piranhas
batendo em piranhas.

Lake puxou seu vestido preto um pouco para baixo. Ela estava feliz por Elle
ter dito que Nero guardava uma chave da casa de Vincent em caso de
emergência. Esta é uma emergência.
Ela colocou o vestido preto que Vincent guardou por meses, não
querendo tocar nos novos que ele havia comprado. Elle usava um de seus
muitos vestidos brancos e sensuais que Lake achava incríveis.
Elle não queria abrir a porta.
— Tem certeza que devemos fazer isso? Vincent me disse para não
deixar você sair, e Nero vai...
Ela colocou a mão no quadril.
— Você sabe que fazem pole dance lá embaixo, certo?
— Foda-se. — Elle abriu a porta.
Lake e Elle pararam quando viram Lucca saindo pela porta do outro lado
do corredor. Seu cabelo estava todo molhado e ele parecia um pouco sem
fôlego, mas sua reação a elas parecia ser a mesma das duas.
Ela passou a gostar mais de Lucca desde o último encontro deles,
enquanto a pontuação de Amo só caía quanto mais aquele idiota falava. No
entanto, os pontos de Lucca, conquistados por sua reação a Chloe, sofreram
baixas. Menos cinquenta pontos.
— Bem, onde acham que vão as duas vão vestidas assim? — Lucca se
inclinou contra a porta e as olhou de cima a baixo.
— Eu disse que isso era uma má ideia. — Elle lançou um olhar para
Lake. — Nós nem passamos pela porta!
Considerando que elas já estavam encrencadas, Lake não tinha nada a
perder.
— Queremos ir dançar no Poison porque estamos bravas com Nero e
Vincent. Existe alguma maneira de você fingir que não nos viu?
Lucca riu dela.
— Querida, o que diabos faz você pensar que eu faria isso?
Lake retribuiu o favor de olhar para ele de cima a baixo.
— Que tal fingirmos que não te vimos assim? — Ela se virou para Elle.
— Chloe não precisa saber sobre isso, precisa?
— Hmm, eu não sei... — Elle cruzou os braços, tentando de alguma
forma parecer intimidadora em um vestido sexy.
Lucca se afastou da parede e caminhou lentamente até elas, seus olhos
perfurando suas almas.
Ah, merda. Lake tentou manter sua postura, mas estava prestes a fazer
xixi na calcinha e sair correndo. Como eu sempre me meto nessas roubadas?
Ele finalmente parou a centímetros de distância, facilmente capaz de
pegá-las pelo braço e ensinar modos a elas.
— Eu dirijo — ele resmungou, virando no corredor.

Sadie soltou o cabelo do coque deixando os cachos caírem, agia como se


nada tivesse acontecido e Kim não estivesse deitada nua no chão, chorando.
Ela se virou para Vincent.
— Satisfeito?
Ele olhou para Kim, que estava puxando outra mecha de cabelo de sua
boca.
— Serve.
— O que eu perdi? — Lucca entrou na sala, observando a aparência de
Kim.
Amo sorriu.
— Sadie fazendo a vagabunda sufocar e apanhar.
— Me manda o vídeo de segurança? — Lucca perguntou a Sadie,
apontando para a câmera no canto.
— Pode deixar. — Sadie sorriu para ele enquanto saía da sala.
Amo a seguiu.
— Eu também quero uma cópia.
Eu também, pensou Vincent.
Lucca puxou um cigarro e acendeu a ponta.
— Vejo que você trouxe sua garota de volta de Kentucky. Todo mundo lá
realmente usa camuflagem?
— Eu não vi muita camuflagem, mas vi couro para cacete — disse ele
com um rosnado no fundo da garganta. — Como você sabe? Acabei de trazê-
la de volta.
— Lembra que eu te disse que não a queria de volta porque ela é um pé
no saco? Bem, ela literalmente me olhou nos olhos e me ameaçou. — Ele
apontou o cigarro para Nero. — E sua garota a apoiou, caralho.
Nero riu, achando divertido.
— Duas garotas te ameaçaram?
Vincent queria ficar bravo, mas com Lucca e Nero rindo, ele achou
difícil.
— Qual era a ameaça?
Lucca deu uma tragada no cigarro.
— Eles ameaçaram contar algo a Chloe.
Nero e Vincent quase morreram de rir histericamente, o que, eles sabiam,
ia ter troco depois.
— Desculpa. Eu vou falar com ela — Vincent disse a ele, tentando parar
de rir.
Nero tentou parar também.
— Sim, eu também. Você vai jogar pôquer?
— Não, eu só vim para dizer a vocês, filhos da puta, que acabei de deixar
Lake e Elle no Poison. — Lucca não parecia mais chateado.
— O quê? — Vincent e Nero gritaram em sincronia.
— Sim, elas estavam muito gostosas — Lucca provocou.
O nariz de Nero começou a arder.
— Seu merda, é melhor você torcer para que ninguém a tenha tocado.
Merda! Vincent se virou, saindo correndo, lembrando-se de todos os
caras que cercaram Lake na primeira vez que ela foi dançar.
— Filho da puta, eu te mataria se tivesse tempo!
Vincent e Nero atravessaram a multidão em busca de suas mulheres. Ele
percebeu que Lucca estava certo; Lake fugir e se meter em encrencas era uma
ocorrência cotidiana. Juro por Deus, vou trancar essa garota no quarto de
agora em diante.
— Lake é uma péssima influência. Ela não vai ficar perto de Elle! Ela
não pode ficar levando minha garota pro mau caminho assim! — Nero gritou
com Vincent sobre a música alta. Ambos estavam ficando agitados quando
não conseguiram encontrá-las imediatamente.
Ele gritou de volta para Nero:
— Como diabos isso é tudo culpa de Lake? Tenho certeza que Elle teve
algo a ver com isso!
Nero virou-se para Vincent, dando-lhe um olhar de “você é estúpido”.
Ele tem razão; é tudo culpa de Lake.
Nero empurrou um cara que tinha esbarrado nele porque estava muito
distraído se esfregando em uma garota qualquer.
— Eu vou marcar a bunda de Elle por isso, e você precisa colocar Lake
sob con…
Vincent seguiu os olhos de Nero para Lake e Elle dançando. As duas
estavam sexy para caralho juntas, e cada homem que olhava para elas com
certeza estava pensando algum tipo de sacanagem. Até Vincent pensou.
Quando Nero deu um passo à frente, Vincent colocou a mão em seu
ombro, parando-o.
— Sem pressa. — Ele queria ver as duas um pouco mais.
Nero não se moveu quando viu Lake ensinar Elle a mover a bunda, tinha
se posicionado atrás dela e colocado as mãos nos quadris.
Nero limpou a garganta.
— Você tem razão.
Droga. Vincent sabia por que gostava tanto daquele vestido preto. Se
Lake movesse sua bunda mais uma pouco, então nada seria deixado para a
imaginação. A peça acentuava suas pernas longas e a bunda durinha perfeita.
O vestido preto, o longo cabelo castanho-claro e os olhos castanhos, ao lado
de Elle, com seu cabelo loiro quase ruivo e olhos azuis, em um vestido
branco, eram a coisa mais sexy que Vincent já tinha visto. As duas eram
opostas, o diabo e o anjo, e ele só podia imaginar como elas ficariam ótimas
se estivessem juntas…
— Filhos da puta, saiam da frente! — Vincent gritou quando as viu ter
que empurrar um cara.

Lake empurrou o cara novamente quando ele as agarrou.


— Nós não queremos dançar com…
— Cai fora daqui — Vincent rosnou, agarrando o menino pela camisa,
em seguida empurrando-o no chão, fazendo com que todo mundo que estava
se assistindo se afastasse.
As bocas de Lake e Elle se abriram ao ver Nero e Vincent.
— O que você pensa que está fazendo? — Nero estendeu a mão para
Elle, claramente chateado.
Lake agarrou a mão de Elle, puxando-a para perto de si.
— Nós podemos fazer o que quisermos, já que vocês dois claramente
fazem, trabalhando no cassino com dançarinas e mulheres seminuas.
— Porra, pega essa garota antes que eu a mate — Nero rosnou para
Vincent enquanto ele pegava a outra mão de Elle.
Vincent agarrou os quadris de Lake, puxando-a para trás e fazendo-a
soltar a mão de Elle.
— Aguente firme! — Lake gritou com Elle quando Nero se inclinou para
sussurrar algo em seu ouvido.
Vincent agarrou a mandíbula de Lake, forçando-a a olhar para ele.
— Você é que vai precisar aguentar agora, baby.
Hm… Não, não olhe nos olhos dele!
— Não, Vincent. Estou com raiva de você. Você mal pôde esperar para
voltar a trabalhar com todas aquelas mulheres.
— Se você quer saber, eu estava ansioso para chegar lá e dar uma surra
na Kim pelo que ela fez com você.
Seus olhos se arregalaram.
— Diz pra mim que você não fez isso.
Ele balançou a cabeça.
— Não, mas a Sadie, sim.
Não sei qual é pior...
Ela olhou para Elle e a viu dançando e beijando Nero.
— Sério, Elle? Não passou nem um minuto.
Vincent riu.
— Sabe, Nero nem queria trabalhar lá. Eu tive que implorar a ele. Ele
amou se meter naquela briga porque esperava que eles o tirassem de lá.
— Gostaria de poder dizer que você fez o mesmo — Lake retrucou.
Ele puxou o queixo dela um pouco mais, para fazê-la olhar em seus
olhos.
— Lake, hoje seria meu último dia de trabalho se você não tivesse me
feito sair correndo de lá.
Ela mordeu o lábio, não querendo ceder.
Vincent esfregou o lábio inferior dela com o polegar.
— Sim. A única pessoa que eu quero olhar nessas roupas sensuais é você.
Lake abriu a boca quando a de Vincent pousou na dela. Foi um beijo
rápido e muito quente, sua língua mergulhando antes que ele parasse e
rapidamente a girasse, fazendo-a ofegar quando Vincent puxou seus quadris
para que sua bunda encostasse no pau duro.
Empurrando seu longo cabelo para trás sobre o ombro, ele falou perto do
ouvido de Lake:
— Esta é a última vez que serei legal com você se você fugir de mim
novamente. — Ele se inclinou para morder o lóbulo da orelha. — Você me
entendeu?
— Sim. — Lake gemeu quando Vincent agarrou seus quadris, puxando-a
para mais perto, e começou a se mover no ritmo da música. Ela dançou junto
dele, sentindo quão duro Vincent estava.
Ele beijou a leve marca de mordida que havia dado a ela na semana
anterior.
— Eu não gostei de você ter usado meu vestido sem mim.
— Seu vestido? — Lake inclinou a cabeça para trás, encostando em seu
peito, e as mãos dele deslizaram para o início de suas pernas nuas.
— Sim. Esta é a porra do meu vestido, e de agora em diante, você só pode
usá-lo comigo. — As pontas dos dedos dele foram para baixo do vestido, o
erguendo um pouco mais. — Eu disse que planejava comer você com este
vestido.
Sim, por favor. Lake podia sentir sua bunda se esfregando contra a calça
de Vincent. Inclinando-se um pouco para frente, ela pressionou a bunda com
mais firmeza, sentindo seu pau duro através de sua calcinha. Ela mexeu os
quadris ao som da música, se esfregando no pau dele.
As mãos de Vincent se moveram sobre suas nádegas tensas, apertando-as
levemente antes de envolverem sua cintura, uma mão indo entre suas pernas e
agarrando sua boceta. Ele podia sentir a leve umidade e calor vindo de sua
calcinha, revelando que estava tão excitada quanto ele.
Vincent sussurrou asperamente em seu ouvido:
— Faça isso de novo, e eu vou te foder bem no meio da pista de dança.
Um gemido escapou por seus lábios quando um dedo pressionou o
clitóris e logo se afastou, agarrando seu quadril. Lake olhou em volta para ver
se alguém havia notado, mas Elle e Nero eram os mais próximos e estavam
presos em seu próprio mundinho enquanto dançavam.
Lake não imaginava que Vincent não só gostasse de dançar, como
também fosse bom nisso. Ela deveria saber que seria o caso, considerando
que ele era perfeito em tudo.
Eles continuaram dançando na batida da música, ficando cada vez mais
excitados a cada segundo. Dançar um contra o outro, combinando seus ritmos
com as músicas, controlava o desejo de foder intensamente. Mas esse desejo
logo foi multiplicado por dez, considerando que eles não ficavam juntos há
uma semana.
Quando uma parte lenta da música tocou, Lake esfregou seus quadris
muito lentamente, movendo a bunda contra o pau de Vincent novamente. Ela
se arrepiou toda ao sentir sua dureza esmagada contra sua bunda.
Vincent estava beijando e chupando seu lugar favorito do pescoço de
Lake quando ela fez isso, o que o levou a morder a pele macia.
— Porra, baby, o que eu te disse? — Sua voz estava tensa, mesmo assim
a manteve agarrada nele.
Depois de um momento, Vincent conseguiu pegar a mão dela e começou
a bater no braço de Nero várias vezes, até que a língua do cara saísse da boca
de Elle.
— Nós precisamos ir. Agora. — Sua voz ainda soava tensa.
— Concordo. — Nero pegou a mão de Elle, puxando-a atrás de si.
Lake estava feliz por Vincent ainda ter bom senso; o dela estava um
pouco nebuloso. Eu teria dado para ele aqui mesmo.
Lake e Elle se entreolharam, corando, enquanto as portas do elevador se
fechavam. A tensão sexual entre eles permaneceu alta mesmo durante a longa
viagem de volta. Já que estavam finalmente perto de estar em casa, era óbvio
o que iria acontecer quando os casais se separassem e as portas se fechassem.
Vincent a trouxe para mais perto e puxou seu cabelo para que pudesse
morder seu lábio inferior, a outra mão indo para sua bunda, levantando
levemente seu vestido.
Lake mordeu o lábio dele de volta.
— Lucca disse a você onde estávamos?
Elle afastou sua boca da de Nero, querendo saber também.
Ele deu um tapa na bunda dela.
— Sim, e o que eu te disse sobre se meter entre ele e Chloe?
Lake olhou para Elle, ignorando totalmente o último comentário.
— Eu sou oficialmente do Time Amo.
— Cem por cento — Elle concordou.
— Mantenha Lake longe. Ela tá influenciando a Elle. — Nero disse,
fazendo um gesto como se estivesse a enxotando.
Ei!
Quando o elevador parou e as portas se abriram, Nero rapidamente puxou
Elle, sussurrando um “Graças a Deus” baixinho.
Vincent puxou Lake para fora do elevador, com a mão na bunda dela.
Caminhando para os quartos, Vincent e Nero apressadamente tentaram
destrancar suas respectivas portas.
Lake e Elle se entreolharam, corando novamente e tentando não rir dos
dois.
— Lembre-se do que eu disse sobre deixá-lo... você sabe — Elle
sussurrou para ela.
Não.
— Não vai rolar.
Nero foi o primeiro a finalmente conseguir abrir a porta.
— Te vejo amanhã, Elle. — Lake riu quando Nero agarrou a mão de Elle
e a puxou para dentro.
— Nem pensar. — Nero fechou a porta.
A mão de Lake foi rapidamente agarrada, e ela foi jogada para dentro, o
que a fez esquecer de gritar com Nero.
Vincent a empurrou contra a porta, sua boca sobre a dela a beijando com
força. Sua mão foi direto para sua boceta, esfregando-a por cima da calcinha
mais uma vez.
Lake agarrou seu paletó, puxando Vincent para mais perto e pressionando
seu corpo na mão dele, querendo mais. Imitando o que ele costumava fazer,
ela usou a língua para puxar a dele e a chupar com força.
Vincent gemeu antes de se afastar e se inclinar, colocando-a por cima do
ombro.
— Vincent, o que você está fazendo? — ela gritou quando ele se levantou
e rapidamente começou a andar pela casa. Ela tentou ficar quieta quando
Vincent começou a subir os degraus, com medo de que fosse derrubada.
— Estou indo te comer.
Ele deu um tapa em sua bunda exposta por cima do ombro.
Lake ofegou quando ele a jogou na cama antes de puxar sua calcinha e
rapidamente jogar a peça do outro lado do quarto. Ao vê-lo tirar a roupa
apressadamente, ela ficou um pouco desapontada. Ela queria fazer isso
enquanto se demorava beijando e explorando seu corpo. Vincent estava se
apressando demais, porém, pelo olhar quase insano em seu rosto, ela notou
que ele estava se segurando.
Vincent jogou a camisa no chão enquanto olhava para Lake.
— Você precisa me deixar provar essa sua doce boceta.
Lake tentou voltar para a cama.
— V-vincent, você está indo rápido demais.
— Baby, estou indo devagar. — Ele deu outro beijo em seus lábios, então
rapidamente abriu as pernas de Lake, fazendo o vestido subir até os quadris.
Afastando-se da boca quente de Lake, ele começou a beijar o interior de suas
coxas.
Olhando para Vincent se aproximando de seu sexo, Lake sentiu a
umidade começar a se acumular entre suas pernas. Ficou ofegante. A última
coisa que esperava era que ele fizesse aquilo – sua boca se abriu e todo
pensamento foi perdido quando a língua de Vincent percorreu suas dobras.
Depois de a provocar com lambidas e beijos leves, Vincent colocou a
língua no fundo de sua boceta e depois lambeu.
— Você tem um gosto bom para caralho.
As pernas de Lake instintivamente tentaram se fechar quando a língua
deslizou pela sua boceta, incapaz de aguentar a sensação erótica. No entanto,
ele forçou as coxas para baixo e as abriu mais, para que pudesse acariciar
mais profundamente. Os movimentos longos continuaram enquanto ele
trabalhava mais fundo em sua fenda. A cabeça de Lake pendeu para trás,
gemendo alto quando ele mexeu a língua dentro dela profundamente.
Sorrindo contra ela e satisfeito consigo mesmo, Vincent agarrou o clitóris
e chupou a pequena protuberância.
Lake estendeu a mão para ele, agarrando um punhado de seu cabelo e o
puxando.
— Vincent! — ela disse com um gemido. A sucção em seu clitóris faria
seu orgasmo brotar a qualquer segundo.
Ele a lambeu uma última vez antes de se levantar e tirar as calças,
gemendo quando o ar frio atingiu seu membro duro.
Quando Vincent estendeu a mão e agarrou os tornozelos de Lake, para
então lentamente começar a puxá-la para a beirada da cama, um pensamento
cruzou sua mente: Ele vai me acabar comigo, não é?
Agarrando em seus saltos agulha, ele os puxou no ar e beijou levemente o
pé direito, quando a bunda de Lake chegou ao final da cama.
— Você é tão gostosa.
— Porr…! — ela gritou, cobrindo a boca, quando ele abriu suas pernas e
então enterrou o pau dentro dela em um movimento rápido e preciso.
Ele manteve o pau lá por um momento, segurando-a ainda pelas coxas,
deixando-a se ajustar ao seu tamanho, antes de deslizar até a metade para fora
e depois para dentro, se sentindo no limite.
— Mais forte — ela gemeu, querendo-o de alguma forma mais fundo,
incapaz de igualar seus gestos naquela posição.
Uma das mãos de Vincent se moveu de sua coxa e puxou o vestido,
expondo os seios de Lake. Ele apertou um enquanto segurava a coxa com
mais força, aumentando a velocidade; empurrava cada vez mais forte em sua
boceta.
— Porra, baby, goza para mim — ele gemeu, beliscando o mamilo.
Isso era tudo que Lake precisava para perder o controle, o orgasmo
atormentando seu corpo e causando espasmos em sua boceta, o que o levou à
beira do clímax também.
Lake mordeu o dedo, tentando silenciar seus gemidos enquanto as
estocadas continuavam, ambos tremendo enquanto o orgasmo os atravessava.
Seus olhos se fecharam, nebulosos. Ele está tentando me matar.
Depois de um momento tentando recuperar o fôlego, Vincent foi em
direção ao vestido emaranhado em torno de seus quadris, fazendo-a se sentar
para que ele pudesse tirar a peça por completo. Então ele beijou a boca de
Lake, deslizando a língua para reivindicar outra parte dela.
— Eu te amo pra caralho.
O coração de Lake bateu com força quando Vincent falou essas palavras
novamente para ela. Ele se ajeitou no colchão, puxando-a para seu peito.
Algo ainda a impedia de dizer isso, sem saber se a luxúria e o sexo entre eles
a fizeram gostar de Vincent mais do que ela normalmente gostava.
Algo também a assustou, já que na primeira vez que foderam foi muito
mais calmo do que desta vez. O outro lado de Vincent estava lentamente
começando a surgir, mas ela via que o rapaz estava lutando e se torturando
para mantê-lo sob controle. Lake sabia que não queria que seu lado sombrio
aparecesse perto dela, o que mostrava o quanto Vincent realmente a amava e
se importava com ela. No entanto, levando em conta o quanto tudo estava
indo rápido desde a última vez, Lake não sabia quantas vezes mais eles
poderiam transar antes que as palavras de Elle se tornassem verdadeiras.
— Vincent... — Lake mordeu o lábio, virando-se de costas para olhar
para ele. Algo mais a estava incomodando, e não sabia como dizer além de
simplesmente falar do jeito que consegui. — Como você pode me amar? Eu
não sou italiana.
— E daí? O que diabos isso quer dizer? — Ele a olhou confuso.
— Eu pensei que você só gostaria de estar com alguém que tivesse
sangue italiano, por causa da família e sua regra de apenas italianos serem da
máfia. Foi estúpido perguntar. Quero dizer, nós nem estamos juntos... — Sua
voz sumiu, e ela fechou a boca e se virou de lado.
Não deveria ter perguntado isso a ele. Vincent havia dito que a amava,
não que queria se casar com ela. Ainda assim, não daria conta de ver Vincent
com ninguém além dos seus familiares, já que a família era tudo para ele. Ele
ia querer que seu filho fosse oficialmente da máfia, se ele tivesse algum no
futuro. Vincent virou as costas para olhar para ela, entendendo claramente
onde Lake queria chegar com isso.
— Você sabia que a mãe de Nero não é italiana? A regra de ser italiano
ficou mais branda na família. Antes a pessoa tinha que ser cem por cento
italiana para fazer parte da máfia, mas isso é meio irreal hoje em dia. Agora
você só precisa ser descendente de italianos.
— Sério? — ela perguntou, tentando fazer parecer que não era grande
coisa para ela.
— Sim. — Ele a beijou antes de colocá-la de lado. — Ter o sobrenome
Vitale faz de você italiana o suficiente.
Lake sorriu com essas palavras e começou a adormecer em seus braços, a
sonolência nublando seus pensamentos.
— Não me deixe de manhã. Eu odeio não acordar ao seu lado.
Vincent puxou seu corpo nu para mais perto dele.
— Eu não vou, querida. Não mais.
Quando a sonolência começou a passar, Lake fez menção de rolar para o
lado, mas se deparou com um corpo duro. Foi a primeira vez que acordou ao
lado de Vincent, provando que o relacionamento dos dois estava indo longe.
Lake engoliu em seco, olhando para o perfeito e adormecido Vincent.
Ah, merda.
Vincent a moveu sonolentamente para mais perto, puxando-a até a
metade para baixo de seu corpo nu.
Lake tentou escapar dos braços dele, seus pensamentos sobre o
relacionamento acelerando na mente, mas o corpo dele a segurou.
— Volte a dormir — Vincent resmungou quando Lake não desistiu de
tentar.
— Não, eu preciso — ela se esforçou tentando empurrá-lo — levantar.
Ele não se mexeu.
— Não, você não precisa.
— Preciso, sim.
— Não.
Lake suspirou.
— Vincent, preciso encontrar com a Adalyn e contar a ela que sou uma
péssima melhor amiga.
Inclinando-se, Vincent olhou para ela, ainda prendendo-a com seu corpo
para que Lake não pudesse se libertar.
— Então você é uma péssima melhor amiga só porque deu pro irmão
dela? Duas vezes?
— Ai, meu Deus. — Lake cobriu os olhos. Ouvir em voz alta tornou tudo
muito pior. Sou a pior melhor amiga de todos os tempos.
— Merdas acontecem. — Ele descobriu seus olhos, pegando suas mãos e
prendendo-as no colchão acima de sua cabeça. — E, Lake, eu não facilitei
para você quanto ao lance de não dar para mim, então bota a culpa em mim.
Ela olhou para Vincent, perguntando-se como no mundo não o
incomodava ter dormido com a melhor amiga de sua irmã.
— Então você não se sente mal pelo que aconteceu entre a gente?
— Me sentir mal porque te amo e amo te comer? Porra, claro que não.
Droga, pensando desse modo... Ok, talvez do ponto de vista de Vincent
não fosse tão ruim, porque, bem, ele é Vincent, e as coisas que ele fazia eram
duvidosas de qualquer maneira. Sem falar que ele era irmão de Adalyn, e ela
sempre o perdoaria.
Vincent se inclinou para baixo, mordendo o lábio de Lake.
— Nós podemos mudar de duas para três vezes rapidinho.
— Não! — Ela se espremeu debaixo dele o mais rápido que pôde antes
que mudasse de ideia. — Já tenho passagem comprada para o inferno e
gostaria que não fosse a Adalyn a me mandar para lá.
Vincent resmungou, saindo da cama.
— Bem, então anda logo e vai se vestir. Não quero que minha irmã seja
empata-foda. Se eu quiser comer você, vou comer você.
O fato de que sua declaração idiota a excitou provou que estava muito
envolvida com Vincent.
Estou tão fodida.

— Cadê a Adalyn? — Lake perguntou à mãe de Vincent e ao pai de Adalyn,


que estavam sentados na sala assistindo TV.
Karla sorriu.
— Ela está lá em cima, no quarto. É bom ver você, querida.
Ela sorriu de volta, sentindo-se ansiosa por enfrentar sua melhor amiga
pela primeira vez no que parecia uma eternidade.
— Você quer que eu vá com você? — Vincent perguntou, pegando a mão
de Lake com carinho.
Ela balançou a cabeça, olhando para o chão.
— Não, preciso fazer isso sozinha.
Subindo as escadas, ela ouviu o tom preocupado de Karla ao perguntar o
que havia de errado.
Vincent se jogou no sofá, colocando os pés sobre a mesa.
— Nada. Lake só vai contar que é minha namorada e que está morando
comigo.
Ela ficou imóvel quando ouviu os adultos ofegando. Porra, Vincent! Ele
não tinha vergonha.
Forçando-se a ir até a porta de Adalyn, já que voltar e encarar a mãe de
Vincent era tão assustador quanto, Lake bateu e entrou.
Adalyn praticamente gritou, em seguida pulou da cama, dando um abraço
de urso em Lake.
— Onde diabos você estava? — Ela deu um tapa em seu braço antes de
lhe dar outro abraço.
Lake a abraçou de volta uma última vez, certa de que sua amizade
terminaria ali mesmo.
— Hum, eu preciso te contar uma coisa.
— É, precisa mesmo! Você precisa me contar por que desapareceu por
mais de um mês sem retornar minhas ligações e mensagens.
Adalyn bateu em seu braço novamente.
— Vamos sentar. — Ela se sentou na cama, e Adalyn se sentou ao lado
de Lake, a olhando com curiosidade, mas ainda irritada.
Lake mordeu o lábio, sem saber por onde começar. O início. Ela precisa
ouvir tudo do começo.
— No dia seguinte à festa de formatura de Nero, descobri que meu pai
devia muito dinheiro a Dante, que iria fazer mal a ele. Então fiz a única coisa
que poderia fazer e me ofereci para pagar a dívida. Eu dei a ele todo o
dinheiro da faculdade, mas isso não foi suficiente, então fizemos um acordo
em que eu trabalharia para Dante.
Ela respirou fundo, sua visão começando a ficar embaçada.
— O trabalho não era exatamente legal, e eu não estava orgulhosa do que
estava fazendo. Eu estava envergonhada, e é por isso que eu não pude te
contar. — Ela enxugou uma lágrima que desceu por seu rosto. — Então
Vincent descobriu e me ajudou a quitar a dívida com Dante. Nós nos… — ela
não sabia como dizer as próximas palavras — aproximamos. Eu não queria
nem achei que isso aconteceria, mas aconteceu, e é por isso que me mantive
afastada de você. Eu não conseguia te encarar. Você é minha melhor amiga,
Adalyn, e sinto que te traí. Eu sinto muito.
— Então… — Adalyn ergueu a sobrancelha. — Isso significa que você
não vai para a faculdade agora?
— Adalyn, ouviu o que eu disse? Eu e Vincent estamos juntos. — Ela
queria sacudir a amiga. Me dá um soco na cara ou algo do tipo.
Adalyn deu de ombros.
— Bem, eu sabia que ia acontecer em algum momento.
Ahn?
— Você sabia?
— Sim, eu não sou idiota. Achei que algo tinha acontecido naquela noite
em que fomos ao Poison, mas você se recusou a me contar. — Adalyn
levantou a mão. — A propósito, não me conta nada agora. Eu não preciso
saber o que aconteceu.
Lake corou um pouco antes de a puxar para um abraço.
— Você é a melhor amiga que eu poderia pedir, eu não mereço você.
— Ah, para. — Adalyn a abraçou de volta. — Você não me respondeu.
Vai ou não para a faculdade?
Ela caiu de costas na cama, suspirando.
— Ainda não me decidi.
O acordo de Vincent com ela era que, se voltasse, ele a deixaria ir para
qualquer faculdade que ela quisesse, não importa quão longe fosse. O fato de
ele ter dito isso a Lake mostrou quão altruísta Vincent era, e isso fez o
coração dela doer de uma forma que a fez se borrar de medo.
Adalyn caiu de costas na cama. Lake sabia no que ela estava pensando —
eram amigas há tanto tempo, que não era difícil ler a amiga a essa altura.
— Você o ama?
— Eu não sei — Lake sussurrou.
Adalyn desviou o olhar do teto para encará-la.
— Acho que é algo difícil de acontecer. Ele é um idiota.
Lake começou a rir, e então Adalyn rapidamente a seguiu. Elas riram
tanto, que esqueceram o que estavam falando.
Adalyn era a manteiga de amendoim de sua geleia, a batatinha de seu
molho, o recheio de sua torta. É bom ver minha melhor amiga novamente.
As duas conversaram sobre tudo o que sentiram falta pelo que pareceram
horas, e Lake não estava pronta para que o dia acabasse tão cedo. Vincent e
Nero precisaram ir trabalhar novamente naquela noite no cassino, para
compensar a falta da noite anterior. Se ela não poderia se distrair desse fato
saindo para se divertir, se divertiria em casa mesmo.
Lake sorriu para Adalyn, suas engrenagens girando sobre o que fazer à
noite.
— Você não vai acreditar em quem vive ao lado de Vincent.
— Quem? — Adalyn perguntou.
— Elle. Você não quer passar um tempo comigo e com ela enquanto
Nero e Vincent vão trabalhar?
Nero não vai gostar muito disso.
Adalyn já estava animada.
— Ai, meu Deus, sim! Vamos convidar Maria e Chloe também.
— Você é um gênio, Adalyn. — Lake riu maliciosamente, passando por
sua lista de contatos e pressionando “ligar” sobre o nome de Elle.
Nero vai me odiar.
— Como diabos isso aconteceu? — Nero olhou para Elle quando Vincent
entrou com Lake e Adalyn.
— Puta merda, que foda! — Adalyn correu pelo ambiente, indo direto
para a parede de janelas de vidro, imediatamente colocando as mãos e o rosto
no vidro para olhar a cidade.
Lake sorriu para Nero.
— Não se preocupe. Chloe e Maria estão vindo também.
Elle deu um beijo na bochecha de Nero antes que ele começasse a fuzilar
Lake de verdade, não somente com os olhos.
— Eu te compenso mais tarde.
— Ah, com certeza, porra. — Nero olhou para ela, a compensação que
desejava estava nítida em seus olhos verdes.
Lake ouviu algo do outro lado da porta e observou Vincent abri-la. Amo
e Chloe estavam parados lá fora, rindo.
— A gente se vê mais tarde. — Amo sorriu para ela, deixando claro que
ele a levaria para casa depois.
Chloe olhou para Amo e sorriu.
— Que bom.
Lake nunca tinha visto Amo sorrir, tipo sorrir de verdade, antes daquele
momento. No pouco que conhecia Chloe, Lake honestamente não acreditava
que já tivesse visto um sorriso assim no rosto da garota. Vai, Time Amo!
Chloe entrou na sala, timidamente dizendo oi para todas antes de fugir
com Elle para ver onde diabos Adalyn tinha ido.
Lake foi com elas, mas sua mão foi agarrada por Vincent; ela foi puxada
para um beijo muito quente e rápido demais.
Vincent deu um leve tapa na bunda dela assim que afastou o rosto.
— Comporte-se
— Isso, e não encha mais a cabeça de Elle de ideias cagadas — Nero a
avisou.
Lake saiu correndo pelas escadas, garantindo uma distância segura antes
de gritar para os dois:
— Não prometi nada! — Ela riu e saiu correndo, entrando no banheiro e
vendo Adalyn sentada dentro da enorme banheira vazia.
Adalyn parecia prestes a chorar.
— Nunca mais vou conseguir tomar banho da mesma maneira.

Vincent observou Lake rir no andar de cima, o que o fez sorrir.


Nero apontou o dedo para ele.
— Essa é a merda. Você acha bonitinho quando ela faz merdas assim, e
isso a estimula.
Por mais que Vincent não gostasse de admitir…
— Mas é bonitinho demais.
Essa foi uma das muitas coisas que o atraíram nela, especialmente
quando Lake não tomava atitudes que poderiam matá-la. Pensando bem,
Nero estava prestes a matá-la, mas ele não poderia fazer isso, então aquela
brincadeira foi a cereja do bolo para Vincent.
— É mesmo — Amo concordou, ficando do lado de Vincent.
Nero revirou os olhos.
— Vamos antes que eu decida agir que nem um cuzão e ficar em casa
para garantir que Lake não meta as garotas em encrenca.
— Eu posso ficar — Amo foi rápido em oferecer seus serviços.
— Porra, não, você não pode. — Vincent empurrou o amigo pela porta
Nero fechou a porta atrás dele.
— De jeito nenhum. A gente voltaria para casa e encontraria Amo
comendo todas elas.
Amo manteve a boca fechada, não confirmando ou negando a declaração
de Nero.
E é por isso que Amo nunca poderá ficar sozinho com Lake.
Elas estavam se divertindo no andar de cima, comendo pizza e assistindo TV
na tela enorme que Elle tinha feito Nero botar no quarto para que ela pudesse
assistir a todos os seus filmes favoritos na cama. Bem, todas elas menos
Maria, que estava com um problema estomacal e não apareceu.
Lake engoliu o enorme pedaço de pizza que estava na boca.
— Então, Chloe, você gosta de Amo?
Chloe olhou para ela, seu rosto ficando vermelho.
— N-não, ele é apenas meu amigo.
— Vincent era apenas meu amigo no começo também.
— Não é desse jeito. — Ela olhou para o chão, o rosto ainda vermelho.
Lake deu outra grande mordida na pizza.
— Bem, e quanto a Lucca? Você gosta dele?
Chloe olhou de volta para ela, e seus olhos se arregalaram.
— De jeito nenhum. Ele me assusta.
Lake olhou para ela com pena. A pobre garota não sabia o que a
esperava. Mas sentiu que tinha pelo menos que a alertar.
— Vincent me assusta também.
Chloe engoliu ruidosamente sua pizza.
Pif.
Lake olhou em volta para ver se alguém tinha ouvido algum barulho, mas
ninguém parecia ter notado.
— Shh... — ela disse baixinho, pegando o controle remoto e abaixando o
volume.
Todos ficaram em silêncio.
Pif. Pif.
O barulho foi de tiros silenciosos seguidos pelo ranger da porta da frente.
Rostos horrorizados olharam para ela, os batimentos cardíacos
acelerados.
Seus instintos entraram em ação, e ela sabia que tinha de fazer algo além
de esperar que fossem assassinadas.
— Banheiro — Lake murmurou mais do que sussurrou, gesticulando para
que fossem abaixadas.
Chloe, chocada, não se mexeu, então Elle rastejou até ela, puxando sua
camisa. Finalmente, ela avançou, e Lake engatinhou atrás delas.
Ao passar pela cama, ela rapidamente estendeu a mão e pegou o celular
de Elle do colchão.
Adalyn foi a primeira a chegar ao banheiro. Abrindo a porta lentamente,
para evitar fazer qualquer som, ela se esgueirou, com Chloe logo atrás, Elle
seguindo e, finalmente, Lake entrando por último.
Enquanto ela entrava, sua mente rapidamente percorria os cenários
possíveis. Todos, exceto dois deles, terminaram em muito sangue derramado.
Ela fechou a porta atrás de si, olhando ao redor para ver se alguma coisa
poderia ser colocada na frente da porta. Nada. Restava apenas um cenário.
Ela entregou o telefone a Elle e sussurrou para todos:
— Ligue para Nero, entre na banheira e abaixe a cabeça.
Elle apertou os botões apressadamente, colocando-o na orelha ao mesmo
tempo em que tentava fazer Chloe, que estava paralisada, entrar na banheira.
Lake voltou-se para a porta.
— Onde você está indo? — Adalyn sussurrou asperamente enquanto se
esgueirava até o final da banheira.
Lake colocou a mão na maçaneta.
— Nero, tem alguém aqui. Eu acho que tem gente armada — Elle
sussurrou no telefone, tentando não chorar.
— Lake! — Adalyn tentou rastejar para fora, mas Elle estava quase em
cima dela, tentando dar mais espaço a Chloe.
Girando a maçaneta, ela abriu a porta e ativou a tranca, para que trancasse
quando ela a batesse. Ela se afastou da porta, virando-se para trás e vendo as
lágrimas escorrerem pelo rosto de Adalyn, assim como pelo de Elle, enquanto
ela tentava manter Adalyn imóvel. Finalmente percebeu naquele momento
por que conseguia se conectar com Elle.
Elle tinha sido torturada como ela. Por estar familiarizada com cenários
assustadores, seu instinto era proteger Chloe e agora Adalyn. Ela não notou
antes porque a felicidade de Elle com Nero acalmou suas cicatrizes do
passado.
Fechando a porta um centímetro, só conseguia ver Chloe. Ela se sentou
na banheira, segurando os joelhos contra o peito, com nada além de um olhar
imóvel e vazio em seu rosto marcado. Lake sabia que a tortura que ela e Elle
experimentaram nunca poderia ser comparada à dor e ao tormento que Chloe
foi forçada a sofrer. Não havia nada neste mundo que pudesse aliviar suas
cicatrizes.
Fazendo o sacrifício final, Lake fechou a porta, pois não ia deixar
ninguém machucar Chloe novamente.

Nero tirou o telefone do bolso.


— Aqui vamos nós, porra. Lake já…
Vincent viu um lampejo de terror cruzar os olhos de Nero. Sentindo que
havia algo terrivelmente errado acontecendo, ele correu em direção ao
elevador, empurrando todos para fora de seu caminho.
Ao ver dois homens entrando no elevador, ele se apressou para impedir
que as portas se fechassem.
— Cai fora! — ele rosnou para os dois homens, já se movendo para
digitar o código e subir.
Nero e Amo estavam logo atrás dele, jogando os homens atordoados para
fora do elevador e os deixando no chão.
As portas se fecharam enquanto sua respiração pesada enchia o ar.
Deus, não se atreva a tirá-la de mim.

Olhando ao redor do quarto, o alívio a inundou porque o atirador não havia


subido os degraus e não a tinha visto. Era tarde demais para Adalyn sair, o
risco de machucar Elle e Chloe era muito grande. A porta do banheiro
poderia ser facilmente arrombada com um disparo, mas ela tinha uma chance
de salvá-las. Se pudesse distrair o atirador até que a ajuda chegasse, ela
poderia salvar a vida de todas.
Só que teria um preço.
Pense, pense, pense!
Esgueirando-se pelo chão, foi direto para o enorme closet de Nero e Elle,
pegando uma luminária que estava em cima de um baú. Ela então se enfiou
atrás da porta do closet, deixando-a aberta.
O ranger das escadas soou em seus ouvidos. Lake agarrou a luminária, as
pontas dos dedos assumindo um tom branco fantasmagórico enquanto olhava
para a porta aberta na frente dela.
O rangido cessou.
Seja forte.
Passos fracos soaram no chão do quarto.
Ela respirou calmamente, e então seu pé fechou a porta do closet.
Então, passos pesados soaram do lado de fora da porta.
Você é forte.
A porta se abriu.
Lake encontrou paz com qualquer destino que viesse para ela. Sacrificar-
se por sua melhor amiga, uma protetora que merecia proteção e uma garota
danificada que não deveria ter passado por nada daquilo, tudo isso tornava a
situação uma boa maneira de partir.
Ela empurrou a porta para trás, erguendo a lâmpada com toda sua força
contra a figura escura que havia entrado no quarto.
Pif. Pif.

O elevador se moveu, chegando até o topo. Eles ficaram imóveis enquanto


subiam.
— Que porra aconteceu? — Vincent rosnou para Nero.
Nero apertou o celular enquanto digitava os números.
— Ela disse que alguém invadiu a porra do quarto e que estava armado,
depois desligou.
Vincent olhou para a fresta entre as portas, imaginando o momento em
que as portas se abririam.
— Lucca, onde você está? — Nero perguntou com esperança na voz.
Suas palavras então encheram o pequeno espaço novamente com aquela
esperança perdida. — As meninas. Alguém invadiu o quarto. Estamos no
elevador...
Ele afastou o celular do rosto.
Vincent apertou o maxilar a ponto de sentir dor.
Amo uniu as mãos, os dedos rígidos, querendo saber o que Vincent
preferia não ouvir.
— Onde ele está?
— Primeiro andar. — Nero esmagou o celular.
Lucca era sua última chance. Não fazia sentido chamar mais ninguém
naquele momento. Dante ou qualquer um que pudesse estar no escritório ou
na sala de segurança chegaria ao mesmo tempo que eles.
Ele se aproximou da porta, seu rosto a uma polegada de distância, cada
segundo parecendo uma eternidade.
Abra!
Abra!
Abra!
Abra!
Porra!
O elevador parou.
A porta começou a se abrir. Vincent se enfiou por entre a fresta,
apressado para sair o mais rápido possível. Um segundo pode significar a
diferença entre a vida e a morte.
Tudo lentamente começou a se embaralhar enquanto ele corria pelo
corredor, vendo o corpo sem vida de um cara da máfia no chão. Ele correu
pela porta arrombada e subiu as escadas.
No momento em que seus olhos pousaram em Lake, a raiva tomou conta
de seu corpo. A mente de Vincent perdeu todo o controle, e ele aceitou isso,
cumprimentando seu velho amigo novamente.

Lake havia atingido com sucesso o intruso, o suficiente para que a arma
caísse no chão, mas não sem disparar algumas vezes antes.
Corre! Ela aproveitou a oportunidade para abrir a porta enquanto o
sujeito olhava para a arma deslizando pelo chão. Se ela pudesse atraí-lo para
fora e possivelmente para os andares inferiores, então as vidas no banheiro
seriam salvas.
Ela tinha corrido apenas metade do caminho antes de cair no chão, um
corpo despencando em cima dela.
Tentou bater na cabeça dele novamente com a luminária, mas sentiu seu
corpo sendo rapidamente agarrado e virado. Encarando o intruso que a olhava
de cima, viu que ele era da máfia. Aquele olhar sempre denunciava aqueles
homens.
— Onde diabos ela está? — o homem enlouquecido perguntou.
Vai se foder! Lake lutou contra ele com unhas e dentes, chutando,
arranhando e até conseguindo mordê-lo quando seu braço chegou muito
perto.
— Sua puta do caralho! — ele rugiu, fechando as mãos sobre sua
garganta.
Nenhuma quantidade de chutes e arranhões poderia arrancar aquelas
mãos dela. Lake começou a sentir a vida se esvair de seu corpo...
Lentamente…
Lentamente…
Tudo estava embaçado, sua força vital quase havia desaparecido. Lake não
conseguia ver nada, mas podia sentir algo mudando. A pressão do homem em
seu abdômen se foi, o aperto ao redor de sua garganta foi liberado e a
dormência em seu corpo começou a desaparecer.
— Lake. — Amo balançou suavemente o queixo.
Lake piscou para ele e se sentou rapidamente, agarrando a garganta.
— Você está bem? Onde estão as meninas? — Amo perguntou,
ajudando-a a sentar.
— Sim, estou bem. Estou bem! Elas estão no banheiro — falou com a
voz rouca. Tudo o que ela queria era que Amo se certificasse de que as
meninas estavam bem.
Quando ele se afastou, Lake finalmente foi capaz de absorver o que
acontecia nos arredores. Nero já estava na porta do banheiro, chutando-a.
Amo estava bem atrás dele. Seus olhos se moveram, e o terror a preencheu ao
ver Vincent socar violentamente o homem até o rosto virar uma polpa, uma
pequena poça de sangue já se formando ao redor da cabeça.
Seu olhar se voltou para Lucca subindo as escadas.
— Não se atreva a matar esse filho da puta. — Lucca puxou Vincent, que
ainda estava em posição de combate.
Seus olhos selvagens finalmente encontraram os dela, a arrepiando toda.
Enquanto se aproximava dela, a aparência de Vincent lentamente suavizou.
Ele caiu de joelhos na frente dela.
— Baby, por favor, não tenha medo de mim.
Lágrimas inundaram seus olhos, o horror do que passou finalmente
cobrando seu preço.
Seu abraço quente a rodeou, e Lake relaxou contra sua pele. Ela estava
finalmente em segurança.
Ouvindo passos novamente, um homem de terno que ela não tinha visto
antes subiu as escadas segurando um bastão.
— Porra, cara. Ele pegou o Al. Eles deveriam estar fazendo a limpa,
não... — Sua voz sumiu quando ele viu a cena com todas as garotas.
Lucca tirou o taco de suas mãos.
— Obrigado, Sal. — Em seguida, ele bateu com tudo na perna do homem
caído no chão.
O som de osso sendo obliterado em milhares de pedacinhos foi o pior
som imaginável. Lake cobriu as orelhas com as mãos, tentando abafar o
barulho enquanto enfiava o rosto com mais força no peito de Vincent.
— Chega! — Vincent gritou.
Lucca esmagou a outra perna com o taco.
— Porra! Chega! — Amo foi quem gritou dessa vez.
Lucca puxou o bastão para trás mais uma vez, como se fosse bater, mas
parou no ar, sua atenção indo para a cena no banheiro.
Lake ergueu a cabeça, vendo Elle na mesma posição que ela, embora nos
braços de Nero. Adalyn estava de pé, lágrimas no rosto e o queixo quase no
chão. Chloe ainda estava na banheira, com um olhar vazio no rosto enquanto
observava Lucca com o taco nas mãos.
Lucca apertou o taco.
Ela mal conseguiu virar a cabeça para trás antes que o som de osso sendo
esmagado cumprimentasse seus ouvidos uma última vez. Só quando ouviu o
taco bater no chão Chloe ergueu a cabeça.
Lucca respirou fundo, usando ambas as mãos para puxar para trás os fios
soltos de seu longo cabelo escuro.
— Agora sim, chega.
Lake engoliu em seco, imaginando quantos pesadelos ela não teria com
ele. O Bicho-Papão. Lake tinha ouvido Elle se referir a Lucca assim,
tomando o apelido como uma piada no início; naquele momento ela entendeu
perfeitamente que, na verdade, não era uma piada.
Adalyn foi a primeira a se mexer. Ela deu passos pequenos e muito lentos
até que finalmente passou por Lucca e correu para Lake o mais rápido que
pôde. Ela se sentou ao lado deles, agarrando Lake em um de seus apertos
mortais.
Vincent as abraçou, dando um beijo na cabeça de cada uma.
Adalyn começou a chorar novamente, interrompendo o abraço para
sacudir suavemente Lake.
— Eu deveria te matar pelo que você fez!
Todos ficaram em silêncio, olhando para ela.
— O que ela fez? — Vincent perguntou o que estava na cabeça de todos.
Não diga a ele! ela implorou com os olhos.
— Ela nos fez entrar no banheiro, mas decidiu pagar de fodona, não vir
junto e nos trancar lá dentro. — Adalyn a abraçou com força novamente.
Droga, Adalyn.
Lake abraçou a amiga de volta. Ela estava feliz que a última lembrança
dela chorando, tentando escapar da banheira, não seria a última.
Elle, que estava tentando despertar Chloe do choque, levantou-se e foi
para o quarto, mas parou para olhar para Lucca, que estava fumando um
cigarro.
— Não pense em me dizer para apagá-lo. Você não tem ideia de quantos
lances de escada eu acabei de subir. — A voz de Lucca estava fria.
— Eu não ia falar nada. — Elle rapidamente passou por ele, exatamente
como Adalyn tinha feito. Então repetiu o mesmo gesto de Adalyn, sentando-
se para dar um abraço em Lake. — Obrigada — ela sussurrou.
Lake a abraçou de volta, sabendo que Elle estava agradecendo mais por
salvar a vida de Chloe do que a sua.
— De nada.
Depois que Elle se levantou para voltar ao banheiro, Lake olhou para
Vincent. Estava escrito em todo o seu rosto que ele não gostou de como ela
arriscou a vida.
Finalmente, Amo e Elle conseguiram tirar Chloe da banheira.
— Vem, vamos te levar para casa. — Amo tirou o casaco, colocando-o
sobre os ombros dela e tomando cuidado para não tocar nela.
Chloe apertou o casaco contra si enquanto começava a andar com Amo.
Lake viu o agradecimento silencioso que Amo tinha dado a ela. Ela viu o
olhar aterrorizado nos olhos de Chloe ao passar por Lucca. Ela viu a fúria de
Lucca olhando de volta.
Amo e Lucca eram duas pessoas diferentes lutando por uma garota
quebrada. Amo mudava quando estava perto de Chloe, tornando-se um
homem melhor. Lucca, no entanto, não mudava, mostrava a ela exatamente o
homem que ele era.
— Sal, leva Adalyn para casa? — Vincent perguntou, tentando quebrar a
tensão no ar.
— Claro — ele respondeu.
Adalyn deu um último abraço em Lake e Vincent antes de se levantar.
— Hum, ele tá morto? — ela perguntou, apontando para o elefante
branco na sala.
Lucca jogou a ponta do cigarro em cima dele.
— Não, eu preciso dele vivo.
Isso não é nem um pouco assustador…
Adalyn fez uma careta.
— Um “não” teria sido suficiente. — Então ela rapidamente se mandou.
Sal riu, indo atrás dela.
Vincent então se levantou do chão, ajudando Lake.
— Ele disse alguma coisa? — Lucca perguntou, mexendo em seu Zippo
para acender a ponta de outro cigarro entre os dentes.
Lake levou um momento, pensando.
— Ele só perguntou onde ela estava.
— Maria ia vir, mas ficou doente — Nero revelou a Lucca.
Era exatamente sobre isso que Lake pensava que o intruso estava falando.
Ela e Elle eram as novas namoradas dos soldados. Ninguém ousaria cagar no
pau da máfia por elas.
Lucca levou um longo golpe.
— Eu vou passar esse filho da puta.
— Ah, tem uma arma no closet — ela apontou.
Vincent rosnou, pegando sua mão.
— Me avisa se o filho da puta abrir a boca.
A fumaça encheu o ar enquanto Lucca exalava.
— Ele vai.
Lake tentou não pensar se o homem merecia o destino que o esperava
enquanto todos desciam os degraus. Ninguém merece a brutalidade de Lucca.
Saindo pela porta quebrada e indo rumo à de Vincent, logo ao lado, Lake
fez menção de entrar quando Nero a parou, puxando-a para um abraço
apertado.
— Obrigado por mantê-la segura.
— De nada, Nero. — Ela o abraçou de volta assim que o choque passou.
— Vejo você amanhã, Elle? — Lake sorriu para ela.
Elle sorriu de volta.
— Si…
— Não força a barra — Nero disse a Lake, pegando a mão de Elle e
voltando pelo corredor com pressa. — Ela vai estar ocupada.
O quê…? A mão de Lake foi agarrada enquanto ela observava Nero e Elle
descerem pelo corredor; nesse momento Lake foi puxada, a porta se fechando
logo atrás dela. Seu corpo foi então empurrado contra a parede enquanto
mãos trêmulas corriam para cima e para baixo em seu corpo.
— Por que diabos você fez aquilo? — Os lábios de Vincent pousaram
sobre os dela, beijando-a avidamente, como se estivesse morrendo de fome.
Eu só fui lá e fiz.
— E-eu... — Lake tentou falar através do beijo, mas não conseguiu. Não
sabia o que dizer, e Vincent não estava facilitando as coisas, mal dando
tempo suficiente para respirar.
Ele começou a beijar seu rosto e depois a descer até o pescoço, tomando
cuidado para não encostar no galo que já havia começado a se formar.
— Por quê?
Lake tentou não mostrar o susto que levou ao ouvir quão áspera a voz
dele estava em seu ouvido.
— Eu não podia deixar que elas se ferissem.
O grunhido baixo de Vincent a arrepiou enquanto suas mãos desciam
para sua calça jeans, desabotoando-a rapidamente e puxando-a para baixo
junto com a calcinha.
Olhando em seus olhos, ficou claro que Vincent estava tão assustado
quanto ela. Ela tinha certeza de que assistir alguém estrangular a pessoa que
você ama devia ser difícil, e Lake estava feliz por não ter sido o alvo disso.
No entanto, ela estava com medo dele, do lado perigoso de Vincent, que
nesse momento estava ali, na superfície.
— V-Vincent…
Ele a beijou novamente, dessa vez com mais ternura. Ainda era rude, mas
a beijou por ela dessa vez, não por ele, dando a Lake o que ela precisava no
momento.
A maioria de seus medos diminuiu quando o beijo se aprofundou, a
língua dele começou a fazer todas as coisas que faziam seu corpo arder como
louco. Lake o ajudou tirando os sapatos e as calças, o desejando também.
Abrindo o zíper de suas próprias calças, o pau duro foi liberado, e
Vincent não esperou mais um segundo para pegá-la e em seguida deslizá-la
rumo à sua ereção.
Lake agarrou seus ombros e passou suas pernas ao redor do corpo de
Vincent, gritando contra seu ombro, chocada com a velocidade com que ele
conseguiu a penetrar.
Ele só esperou um momento antes de encostar as costas dela contra a
parede e começar a bombar dentro e fora de sua boceta quente e molhada
com movimentos curtos e rápidos, segurando-a pela bunda.
Houve uma leve dor no início, Lake não estava acostumada com a
aspereza, mas seu corpo reagiu ao dele. Seus mamilos ficaram rígidos, e sua
boceta e sua bunda formigavam cada vez que ele se chocava contra ela. Lake
apertou suas paredes internas no pau dele e fincou os calcanhares na bunda
dele mais profundamente enquanto Vincent metia descontroladamente.
A voz áspera de Vincent voltou ao seu ouvido, soando ao mesmo tempo
cheia de prazer e de dor.
— Baby, você nunca mais faça isso.
Lake gemeu alto, deixando a cabeça cair para trás quando sentiu os
primeiros sinais de seu orgasmo. Não havia resistência ou duração. Ela nem
sabia se iria sobreviver a ele. Passar de quase ser assassinada para aquilo só
intensificou ainda mais a foda já intensa.
Vincent enfiou o pau em sua boceta mais rápido.
— Você entendeu? — ele questionou.
— Sim! — Seus sussurros se transformaram em gemidos, ela queria que
ele diminuísse a velocidade. No entanto, quando ele gozou dentro dela,
manteve o ritmo áspero. Vincent começou a assustá-la novamente, estando
mais perto do que nunca daquele lado muito sombrio de si mesmo.
Lake sentiu como se seu corpo a tivesse traído, desfrutando da aspereza
de Vincent contendo seu clímax até que o dele finalmente chegasse ao fim.
Sua respiração estava pesada, e ela pensou que seu coração fosse saltar para
fora do peito enquanto ele a segurava ali, tentando acalmá-la. Lake estava
com medo de se mexer ou mesmo pensar, sem saber se a versão boa ou ruim
de Vincent a estava segurando.
Vincent deixou a parede suportar a maior parte de seu peso. Dessa forma,
ele poderia puxar o cabelo dela para que olhasse para ele.
Ela engoliu em seco, com medo de encontrar aquele olhar novamente.
Lake não esperava ver olhos azul-bebê lacrimejantes olhando para ela.
Ela instantaneamente amoleceu novamente, incapaz de vê-lo ferido.
— Eu sei que sou um fodido do caralho, mas estou tentando tanto manter
essa parte minha longe de você — Vincent sussurrou para ela com a voz
rouca, segurando-a mais apertado contra si. — Lake, eu te amo. Você nunca
vai entender o quanto eu te amo.
O beijo suave em seus lábios combinado com suas palavras fez o coração
de Lake doer.
Acho que estou começando a entender.

Dante girou o líquido escuro em seu copo enquanto olhava para seu filho
Lucca abrindo e fechando o isqueiro.
— Por favor, me explica por que diabos acabei de recolher um dos meus
homens do chão e como esse filho da puta conseguiu chegar perto o
suficiente para possivelmente matar minha filha.
O elevador estava programado com dois códigos secretos: um para levá-
lo ao cassino no porão e outro para levá-lo ao topo, onde ficava o escritório e
os quartos para seus homens. Os botões daquele andar não existiam, porra,
então ninguém poderia simplesmente apertar um botão e, “puf”, brotar onde
não devia.
Lucca continuou a acender o isqueiro enquanto falava.
— Suponho que Al pensou que poderia lidar com isso sozinho, já que não
alarmou mais ninguém na sala de segurança. Quando alguém percebeu o que
estava acontecendo, eu já tinha chegado ao apartamento de Nero.
Dante tomou um gole. Estúpido filho da puta. Al sempre foi um idiota
arrogante, mas ele tinha sido um de seus melhores homens na sala de
segurança, e foi por isso que ele especificamente ficava de olho no elevador e
nos corredores no topo.
— Como o filho da puta conseguiu entrar no elevador?
— Ele tinha a chave do quarto, então Joe o deixou passar.
Dante sabia a resposta de Lucca antes de ouvi-la, mas precisava perguntar
de qualquer maneira.
Inclinando-se para trás em sua cadeira, olhou para seu confidente Vinny,
que ainda não havia falado uma palavra. Sabia o que estava em sua mente.
Estava em todas as suas mentes.
— Ele é da máfia, não é?
Lucca começou a enrolar o isqueiro entre os dedos.
— Pela aparência dele, sim.
Porra. O filho da puta não era um Caruso, então isso significava que ele
pertencia a uma família diferente.
— É a segunda vez que um Luciano veio atrás de mim.
Vinny finalmente quebrou o silêncio.
— Tenha cuidado, Dante. Temos mais a perder desta vez se uma guerra
acontecer.
Dante bateu as mãos na mesa.
— Ele foi atrás da porra da minha filha!
Ele respirou fundo, acalmando-se para tentar pensar no assunto
logicamente. Fazia muito tempo desde que sua família de sangue havia sido
atacada, e ele estava muito envolvido na situação para enxergar tudo
claramente. Independentemente disso, seu consigliere estava certo. Depois
que Dante se tornou o chefe, a família ficou mais rica, mais bem-sucedida.
Ele precisava de uma maneira de provar as acusações contra a família
Luciano. Se ele sequer mencionar a tentativa de dar um golpe nele, poderia
ser motivo de guerra por desonra de nome. Uma guerra que poderia matar
toda a sua família.
Eles estavam em paz há anos, mas era óbvio que os Luciano estavam
ficando zangados por terem pouco. A última guerra entre as famílias foi
brutal, até que os Luciano finalmente fizeram um acordo para viver
pacificamente com uma pequena porção de Kansas City. Quando Dante
assumiu sua parte da cidade, eles prosperaram muito, enquanto os Luciano
lentamente destruíram a deles.
Dante tomou outro gole.
— Como diabos eu devo provar alguma coisa se o cara morreu? — Ele
não podia provar nada quando os filhos da puta do Luciano que entravam em
seu hotel-cassino apareciam mortos todas as vezes.
Lucca fechou o isqueiro.
— Ele não morreu.
— Você não o matou dessa vez?
— Não, ainda não. — Lucca se levantou, indo até a porta.
Isso certamente mudaria as coisas. Ele iria responsabilizar Lucca pela
noite.
— Bom, limpe essa porra de bagunça.
Lucca assentiu enquanto passava pela porta, e Dante pôde ver que ele já
havia planejado fazer exatamente isso. Não importa o que fosse aquilo, não
era negócio para Lucca. Era algo totalmente pessoal. Isso não deveria tê-lo
chocado, considerando que Maria era sua irmã, mas Lucca não era de se
importar com nada depois de aprender que amar só causava dor.
Dante tinha visto aquele olhar em seu próprio rosto uma vez antes. Tipos
de vingança pareciam ser diferentes em pessoas diferentes, mas sempre havia
uma vingança que era igual às outras.

Uau...
Ao acordar no dia seguinte, a garganta de Lake estava dolorida, e Vincent
não estava ao lado dela, piorando a sensação. À medida que a sonolência
passava, ela se lembrava dele a beijando em algum momento antes de dizer
que precisava cuidar de algumas coisas. Lake entendia. Ela sabia que Vincent
precisava lidar com o que tinha acontecido no dia anterior. Quanto mais
pensava nisso, mais feliz ficava por estar sozinha.
O pensamento de Vincent transando com ela daquele jeito, a apenas um
passo da porta, ainda a deixava toda arrepiada. Enquanto alguns arrepios
eram de medo, outros eram de tesão. Lake estava certa; cada vez que eles
fodiam, tornava-se mais intenso, e o controle que Vincent tinha sobre seu
lado sombrio diminuía.
O que diabos aconteceu? Foi como se…
Lake honestamente nem conseguia comparar a situação com qualquer
outra, mas sabia que aquilo não era parecido com o que imaginava a respeito
de sexo.
Saindo da cama, ela levou seu tempo no banheiro, banhando-se
preguiçosamente na banheira para afastar a dor do corpo. Quando ela saiu, se
sentiu cem por cento melhor. Bem, quase.
Seus pensamentos sobre como Vincent a tinha comido ainda pesavam em
sua mente. Lake estava assustada, simples assim. Ela estava com medo de
amá-lo. Certamente estava com medo dele. Acima de tudo, Lake estava com
medo de transar com ele novamente.
Ela rapidamente vestiu um roupão que estava pendurado atrás da porta,
amarrando-o na cintura. Abrindo a porta do banheiro, não o viu a princípio,
mas quando o encontrou, Lake levou a mão ao peito, morrendo de medo.
Olhando para o homem sentado na cama, ela fechou mais o roupão com
as mãos trêmulas enquanto ele a olhava de cima a baixo.
— O-o que você…?
— Sente-se, querida — Lucca ordenou a ela.
Lambendo os lábios muito secos, ela se moveu lentamente, a voz dele a
obrigando a fazer o que era pedido. Depois do dia anterior, Lake realmente
não queria provocá-lo. Nunca mais, se ele me deixar viver.
Ela se sentou suavemente na cama, mantendo o rosto reto para a frente.
Lake tinha visto o suficiente de sua aparência esfarrapada para saber que a
noite dele deve ter sido longa. Cada palavra que saísse de sua boca teria que
ser precisa.
— Por mais que eu goste de você finalmente ter entendido que deve ter
medo de mim, pode relaxar. Eu nunca te machucaria.
Sua voz ainda soava fria, então Lake teve de olhar para ele para ver se
estava dizendo a verdade. Ele…
Lake balançou a cabeça.
— Não?
Algo lhe dizia que Lucca Caruso não riscava ninguém de sua lista de
“vou matar se me der na telha”. Ela tinha certeza de que até o nome de seu
irmão Nero não estava riscado.
Lucca agarrou seu queixo com o polegar e o dedo indicador, a impedindo
de se mover.
— Não, eu não machucaria. Eu te dou minha palavra.
Sendo forçada a olhar em seus olhos insanos, ela podia ver o sol das
janelas realçando mais o verde do que o azul.
— É por causa da Chloe, não é?
Lucca a encarou por um momento, ignorando sua pergunta.
— Por que você fez aquilo? Arriscar sua vida pela delas?
Lake viu que ele se esforçava para entender seus motivos. Os sentimentos
e emoções que ela possuía eram muito diferentes dos dele, mas Lake podia
ver além de sua máscara sem emoção o suficiente para entender que
compartilhavam os mesmos sentimentos sobre Chloe.
— Acho que nós dois sabemos por que eu não podia deixá-la se
machucar.
Lucca olhou para ela por mais um segundo antes que a pressão
aumentasse ligeiramente em seu queixo. Então a soltou.
— O que você fez foi estúpido. — Seu comportamento frio voltou.
Graças a Deus. Ela estava grata por finalmente poder desviar o olhar.
— Eu sei. Eu já ouvi esse discurso de Vincent, então pode poupar a
saliva.
Se voltasse no tempo, Lake com certeza faria de novo.
Lucca rapidamente se aproximou mais, olhando de cima, agarrando o
queixo de Lake com mais força desta vez e virando levemente a cabeça dela
de um lado para o outro.
— Ele tem sorte, mas sei que ele ainda não te danificou.
Lake estava com muito medo para que suas palavras fossem absorvidas.
— Se você sentir vontade de falar com Dante novamente, não vá até ele.
Venha falar comigo.
Lake assentiu, sabendo que era o que ele queria.
Lucca soltou o queixo dela uma última vez.
— Estou te devendo uma. Seja o que for ou quando for, basta me pedir, e
farei o que puder por você.
Ela mordeu o lábio inferior.
— Qualquer coisa?
— Qualquer coisa, querida. De matar uma pessoa a permitir que você
desapareça... — Sua voz arrepiante foi diminuindo enquanto ele descia as
escadas. Logo saiu pela porta.
Piscando, Lake se perguntou se o encontro deles foi mesmo real. Apenas
os leves calafrios que ainda formigavam em seu queixo, onde Lucca a havia
tocado, provavam sua existência. Sua leve caminhada pelo lado sombrio de
Vincent fez com que pensasse em Lucca de uma forma um pouco diferente.
Puta merda.
Ainda não me danificou? Lake finalmente conseguiu parar de pensar no
encontro como um todo quando as palavras de Lucca começaram a ressoar
em sua mente. Ainda não me danificou! Isso só a fez sentir mais medo de
Vincent, entendia que ele estava lentamente ganhando poder sobre seu corpo
e mente.
Ela tentou se concentrar nas outras partes do encontro. Sim, em como ele
está me devendo um favor! Pensar que Lucca se importava o suficiente para
lhe fazer algo assim a surpreendeu, assim como quando ele dissera para ir até
ele em vez de ir encontrar Dante. Lucca basicamente disse que sua porta
estava sempre aberta se ela precisasse, mas Lake não sabia se teria coragem
de fazer isso depois daquele dia.
De matar uma pessoa a permitir que você desapareça... Essas palavras
vieram à mente novamente. Ele estava lhe dando uma saída, e ela sabia disso.
Lake poderia virar de costas e nunca mais olhar para trás.
Mas sei que ele ainda não te danificou.
Lake gritou quando seu celular tocou, os pensamentos a deixando
constantemente assustada.
Ela pegou o telefone rapidamente sem olhar para o identificador de
chamadas e falou um “alô” trêmulo.
— Lake! Meu bebê... meu bebê... — sua mãe gritou ao telefone.
Ela segurou o telefone com mais força, com medo por sua mãe.
— Mãe, o que houve? Você está bem?
— Não, é John. Ele só... — Ela parou por um momento. — Você poderia
vir me buscar? Ele foi embora e pegou minhas chaves. Eu preciso sair e ir
para um quarto de hotel antes que ele... antes que ele me mate.
Sua mãe estava histérica.
Lake correu para o closet para se vestir.
— Estou indo, mãe. Chego aí em breve.
— Obrigada, bebê. Não conte ao seu pai, ao Vincent, ou a ninguém. Eles
vão matá-lo. Eu não quero que ele seja assassinado.
Ela mordeu o lábio, considerando o pedido.
— Ok, já chego aí.
A chamada terminou, e seu ouvido encontrou o silêncio.
Lake se vestiu o mais rápido que pôde, pegando a última roupa limpa da
pequena pilha que havia levado para Kentucky. Se ela ia ficar com Vincent,
precisaria ir à casa de seu pai para pegar algumas roupas. No entanto, isso
imediatamente foi deixado de lado, como sempre acontecia quando algo
importante surgia. Estas últimas semanas tinham sido realmente um absurdo.
Correndo escada abaixo, ela olhou para as chaves do carro de Vincent
sobre a mesa. A adrenalina estava a mil. O que devo fazer?
Primeiro, ela teve sorte de que eles não estivessem lá. Vincent claramente
ainda estava no hotel, ou então tinha saído acompanhado dos outros caras.
Lake entendia o receio da mãe. Foi por isso que nunca contou a ninguém
sobre John, com medo de que eles matassem a mãe também.
Olhando para as chaves do carro, ela sabia que Vincent ficaria puto por
ela ter ido embora. Ele a havia avisado para nunca mais fazer isso, mas ela
estava pensando em fazer exatamente isso.
Mas sei que ele ainda não te danificou.
Lake pegou as chaves do carro, determinada a provar que não seria
quebrada.

Vincent não foi capaz de passar o dia como queria — em sua cama com
Lake. Ele queria muito, ainda mais considerando que quase a tinha perdido
no dia anterior.
Ele não se lembrava de nada depois que subiu as escadas e viu um filho
da puta enforcando Lake. Tudo ficou preto, até que enxergou o rosto
assustado de Lake. Quando se aproximou dela lentamente, o bem que havia
nele lutou contra o mal.
Quando finalmente conseguiu ficar sozinho com ela, precisou senti-la.
Vincent precisava tê-la em volta dele, e foi quando a guerra interna começou.
Ele nunca tinha transado assim em toda a sua existência, precisando tanto de
alguém naquele instante a ponto de ambas as versões dele a desejarem
igualmente. A bondade a comeu, e a maldade finalmente teve sua chance de
fazer isso também. Uma vez que atingiu seu orgasmo, ele finalmente manteve
o controle necessário para afastar a escuridão novamente. A escuridão
finalmente teve seu gostinho, e queria mais, muito mais.
Eu não deveria ter feito isso.
Vincent estava com raiva de si mesmo por tê-la tratado daquela maneira,
sabendo que ela ficara assustada no final, mas não conseguiu parar. Não teve
como. Ele deveria ter se acalmado e se controlado antes de tocar nela. Foi aí
que eu fiz merda.
Lake merecia mais do que aquilo depois do que tinha feito. Ela não
merecia viver uma vida com medo. Vincent nem sequer a merecia, porra. Ele
sabia que deveria deixá-la ir ao final do verão. No entanto, como disse a ela
na noite anterior, sou todo fodido.
Vincent respirou fundo, alisando o cabelo. Realmente não era o dia para
ser um homem da máfia. Estava se questionando muito sobre como diabos
tudo aquilo tinha acontecido. Ele não sabia nada além do óbvio, já que Lucca
estava lidando com a situação. Quando ou se descobrissem todos os detalhes,
ele não saberia. Vincent ainda era apenas um soldado, independentemente de
quem fosse seu pai, e era por isso que ele tinha que passar o dia trabalhando
nos novos detalhes de segurança.
Os códigos foram todos alterados e entregues apenas a certos homens da
família. Havia também um novo guarda no último andar ao lado do elevador.
Eles nunca exigiram um guarda lá, já que havia vigilância. Além disso, para
chegar ao escritório de Dante, você tinha que seguir pelo longo corredor e
depois entrar na sala de segurança com as TVs e os guardas, e então você
poderia finalmente entrar no escritório dele. Isso para não mencionar que era
necessário ser um idiota completo por querer entrar no elevador dele e digitar
o código. No entanto, alguém ainda tinha feito isso e conseguiu afastar Al
dali.
Vincent deslizou seu cartão pela porta, ansioso para ver Lake novamente.
Ele tinha odiado deixá-la sozinha, não queria que algo como a noite anterior
acontecesse novamente. Se não fosse pelo trabalho e pelo novo guarda, ele
não teria saído.
Subindo rapidamente as escadas quando não a encontrou lá embaixo,
sentiu um déjà-vu quando viu que Lake não estava lá. Porra, não, não, não!
Era como se ele soubesse que ela não estaria no banheiro.
Vincent pegou o telefone, ligando para ela rapidamente. Assim como da
última vez, foi direto para o correio de voz. Correndo escada abaixo, notou
que suas chaves haviam sumido. Ela o havia deixado descaradamente.
Saindo pela porta e descendo o corredor, ele parou na frente do guarda.
— Uma garota de cabelo castanho-claro…
O guarda o interrompeu.
— Alta e gostosa? Sim, ela saiu daqui mais cedo hoje.
Vincent flexionou a mandíbula.
— Quando? Ela disse alguma coisa? Você notou alguma coisa?
— Acho que algumas horas atrás. Ela apenas parecia estar com uma
pressa do caralho…
Vincent já estava correndo pelo corredor em direção ao escritório de
Dante, rezando para que Sal estivesse na sala de segurança para ajudá-lo a
descobrir onde ela tinha ido.
Porra, Lake!
Ele sabia que tinha algo terrivelmente errado acontecendo. Vincent
simplesmente sabia disso, como sempre quando se tratava de Lake. Vincent
não aguentava mais. Ela estava literalmente o matando toda vez que fazia
algo assim.
Por que ela faz isso comigo? Chegou em um ponto em que ele acreditou
que a garota gostava de fazer aquilo.

Os nós dos dedos de Lake bateram na porta da frente de sua mãe. Algo
parecia estranho, mas ela não tinha exatamente tempo para se preocupar com
isso, estava com medo de que John pudesse voltar a qualquer momento.
Quando sua mãe abriu a porta, Lake cobriu a boca ao ver sua aparência.
Puta merda.
— Mãe, você está…?
— Sim, sim, depressa. Entre. — Enlouquecida, a mãe rapidamente
agarrou seu braço, arrastando-a para dentro e trancando a porta atrás dela. —
Minhas malas estão lá em cima.
Ela continuou andando com sua mãe pelas escadas enquanto segurava seu
braço com bastante força. Sua mãe parecia um pouco selvagem, e seu instinto
gritava que tudo isso estava muito errado.
Quando sua mãe a conduziu pelo corredor que continha seu antigo
quarto, e não o de sua mãe, ela ficou confusa.
— Seu quarto é do outro lado.
— Eu tenho dormido na sala de ginástica. — A mãe colocou a mão na
maçaneta da porta.
Lake foi empurrada para dentro por sua mãe assim que ela abriu a porta, e
um tapa forte em seu rosto a fez cair no chão.
— Sua putinha, lixo de trailer do caralho. — John cuspiu no corpo dela.
Lake, sentindo-se atordoada pelo golpe, olhou para a mãe, que estava
com lágrimas nos olhos.
— Mãe, vá! — Então ela começou a chutar John quando ele tentou
agarrá-la.
John conseguiu esbofeteá-la com força na mesma bochecha.
— Sua merdinha estúpida, sua mãe não te ama. — Ele a agarrou pelos
cabelos, arrastando-a pelo chão. — Não fique aí parada; abra o sótão, vadia!
Ele parecia sem fôlego.
Pam começou a chorar enquanto puxava a corda e começava a abrir as
escadas.
Lake tentou lutar com ele enquanto as lágrimas começavam a escorrer
pelo rosto. Ela estava conseguindo vencê-lo, mas Pam se juntou a ele,
ajudando-o a puxá-la pelas escadas desdobradas.
— Mãe, por que você está fazendo isso? — Lake chorou, esperando que a
mãe voltasse a si. Os dois claramente tinham ido para o fundo do poço desde
a última vez que os viu.
— Sinto muito, querida. Ele me fez te trazer aqui. Eu não sei limpar e
cozinhar para ele direito.
— Sobe logo, caralho! — John gritou, sem fôlego.
Lake começou a subir rapidamente as escadas assim que John bateu sua
cabeça em um dos degraus. Ele iria matá-la se ela não escapasse. John não
estava em forma o suficiente para subir os degraus, e se Lake pudesse fugir,
poderia aproveitar o tempo que ele precisaria para recuperar suas energias.
John gritou enquanto ela subia as escadas:
— Eu sou seu dono, lixo de trailer! Você é minha, sua puta arrombada!
Seu pé quase ficou preso quando eles fecharam as escadas atrás dela.
Ficou deitada no chão, chorando enquanto o ouvia prender a escada de
alguma forma.
Mãe, por que você fez isso comigo? Ela se curvou em posição fetal. Eu
sou sua filha. Eu sou sangue do teu sangue! Ela soluçou tanto, que uma poça
de lágrimas começou a se formar no chão.
Lake desejou que tudo isso fosse um sonho, desejou desesperadamente
estar em casa. Porém o local que lhe veio à mente não era onde ela se sentia
em casa há anos. Em vez disso, a casa de seu pai foi substituída pela de
Vincent.
Lake chorou ainda mais, seus verdadeiros sentimentos estão finalmente
vindo à tona. Eu prometo, nunca mais vou fugir de você. Por favor, me salve.
O fato de que ela orou para que Vincent a salvasse em vez de Deus provou
que seus sentimentos eram verdadeiros.
Ela apertou os olhos, fazendo outro fluxo de lágrimas cobrir seu rosto.
Eu te amo, Vincent.
A viagem de carro foi longa, e ele estava morrendo de vontade de sair
correndo quando Amo parou no longo caminho privado.
Sal rapidamente vasculhou seus registros telefônicos e viu que a mãe de
Lake havia ligado. Não foi preciso pensar muito para descobrir onde ela
estava.
Quando o sol começou a se pôr, Vincent esperou que não estivesse
atrasado. Eu não estou. Vincent estava se recusando a acreditar em outra
coisa além de que ia encontrar Lake sã e salva. Então ele iria levá-la para casa
e ter certeza de que Lake nunca mais ia fugir novamente. Ele tinha chegado
ao fim de sua paciência com ela, e Lake finalmente iria aprender o que era
preciso para amar um homem da máfia.
Amo estacionou o carro, e Vincent saltou, indo para o porta-malas. Ele
viu faróis aparecerem logo atrás, um carro estacionou atrás do de Amo.
Depois que ele e Amo tiraram alguns itens do porta-malas, ele o fechou e
se virou para ver Nero e Maria esperando. Ele falou rapidamente, doido para
entrar na casa.
— Eu não dou a mínima para o que eles fizeram, vocês não têm
permissão para matar esses dois filhos da puta. Eu tenho. Maria, eu preciso
que você cuide daquela vagabunda da Ashley se ela estiver aqui.
Ashley tinha apenas dezessete anos; portanto, a regra de não matar
menores de idade ainda estava de pé. Maria é a nossa porra de brecha.
Quando todos concordaram com a cabeça, Vincent seguiu para a casa
com eles no encalço. Esgueirando-se até a residência, se agachou perto dos
arbustos, olhando para a porta da frente. Seus olhos então seguiram os saltos
agulha de Maria enquanto eles faziam barulho na calçada até ela chegar à
porta da frente.
Maria acertou suas ondas loiras perfeitas um pouco antes de bater.
Vincent reconheceu alguém tentando sorrateiramente espiar pelo canto de
uma janela antes que as cortinas se fechassem rapidamente, e então ouviu um
farfalhar na porta. Idiota.
A porta se abriu apenas ligeiramente, a corrente visível.
— Posso ajudar? — uma voz viscosa falou através da porta.
— Olá. Desculpe incomodá-lo, senhor, mas usei sua entrada para dar a
volta e meu carro quebrou. Queria dizer que estou bloqueando sua entrada, e
vai levar algumas horas até que o guincho chegue aqui. Eu só queria que você
ficasse ciente e peço desculpas se isso for um incômodo. — Maria girou nos
calcanhares para se afastar.
— Espere — a voz do outro lado da porta chamou.
Maria parou e se virou para encará-lo, sorrindo.
— Alguém vai te dar carona de volta para casa? Uma garota bonita como
você não deveria ficar esperando. — A voz soava cada vez mais viscosa.
Maria corou, virando ligeiramente a cabeça.
— Meu namorado só sai do trabalho daqui a uma hora. Ele deve levar
apenas trinta minutos depois disso para me pegar.
— Você gostaria de esperar aqui dentro? — Ele sorriu pela fresta da
porta.
— Ah, eu odiaria a...
A porta se fechou rapidamente, e então o som da corrente pôde ser
ouvido antes que a porta reabrisse, desta vez totalmente, revelando o homem
que Vincent estava mais do que pronto para matar.
— Entre e espere aqui dentro — John disse a ela, lambendo os lábios.
Maria riu.
— Bem, se você insiste.
Vincent, Nero e Amo se prepararam.
Dando um passo para dentro, Maria sorriu para John antes de sua mão
quebrar o nariz do homem em um golpe rápido.
Vincent correu rapidamente quando ouviu o som de ossos sendo
esmagados. Nero e Amo seguiram logo atrás, fechando a porta.
— Onde ela tá, caralho? — Vincent chutou o filho da puta no estômago
enquanto John ainda estava de pé segurando o nariz, o sangue começava a
jorrar.
Ele caiu para trás com um baque forte no chão. Então começou a rir
maniacamente.
— Aquele lixo do trailer tá morto!
Algo dentro de Vincent se partiu.
— Filho da puta, onde ela está? — Vincent começou a chutá-lo com toda
a força que podia.
Nero trouxe Pam, que estava escondida na cozinha, histérica.
Amo empurrou Vincent para trás, tentando acalmá-lo.
— Vá procurá-la, certifique-se de que ela está bem, e então você mata
esse filho da puta.
Ele assentiu algumas vezes, se controlando.
— Você tem razão. — Ele se dirigiu para as escadas, tentando manter
seus demônios afastados por um pouco mais de tempo. — Maria, vamos.
Ele e Maria subiram as escadas e viram uma espécie de poste mantendo a
escada fechada no teto. Porra! Ele correu pelo corredor, gritando para Maria
verificar se Ashley estava lá.
Vincent rapidamente moveu o poste para fora do caminho, o coração
pulsando no peito. Puxando para baixo a corda, ele desdobrou as escadas e
rapidamente se arrastou o mais rápido que pôde. A cada passo que dava, ele
repetia em sua mente, Por favor, fique bem. Por favor, fique bem. Por favor,
fique bem
O mundo parou quando viu Lake no chão frio e duro enrolada feito uma
bola. Seu coração se apertou em um nó quando ele estendeu a mão para ela,
as pontas dos dedos acariciando levemente o hematoma em sua bochecha.
— Lake... baby...

Os olhos de Lake se abriram, mas logo se fecharam, já que era só um sonho.


O sonho começou a parecer mais real quando sentiu seu corpo lentamente
apoiando em algo macio.
Abrindo os olhos novamente, Lake viu o rosto de Vincent mais uma vez;
no entanto, dessa vez, ela estava em seu colchão velho e macio em vez de
largada no chão frio. Finalmente, ocorreu-lhe que poderia não ser um sonho.
— Vincent...?
Vincent tirou a franja do rosto dela.
— Eu estou aqui, baby. Vai ficar tudo bem.
Lágrimas inundaram seus olhos novamente quando ela percebeu que era
real. Inclinando-se, ela passou os braços em volta do pescoço dele,
abraçando-o tão forte quanto podia.
— Você veio — Lake sussurrou em seu pescoço.
— Claro que sim. Eu sempre virei atrás de você, baby. — Vincent puxou
o cabelo dela para o lado para que Lake olhasse para ele e, em seguida,
enxugou uma lágrima que descia pelo seu rosto. — Por que eu não iria atrás
de você? Eu não vim todas as vezes?
— Sim, eu... — Lake olhou para baixo, se afastando de seus olhos
intensos. — Eu só pensei que você poderia ter ficado cansado de vir atrás de
mim agora. — Seus instintos lhe diziam que desta vez era diferente. Lake
fugiu dele muitas vezes, o afastou muitas vezes. Achei que ele poderia não
me querer mais.
O polegar de Vincent pegou outra lágrima.
— Eu nunca vou me cansar de você, Lake. Eu te amo. — Sua voz mudou
ligeiramente para um tom mais escuro. — Mas vamos bater um papo sobre
você fugir de mim quando chegarmos em casa.
Lake assentiu, pensando que seus instintos estavam certos. Eu ultrapassei
o limite.
Quando os lábios de Vincent encostaram nos dela, não era como qualquer
outro beijo que ele tinha dado antes. Este beijo tinha uma promessa diferente,
de posse. Sua boca possuía a dela em uma carícia longa e quente. Seu corpo
estremeceu quando ele se afastou, e ela ficou cara a cara com a escuridão
dentro dele.
Lake umedeceu os lábios ressecados enquanto olhava para ele. Esse outro
Vincent não estava tentando se esconder, estava mostrando a ela que estava
ali para ficar.
Maria subiu suavemente as escadas, enquanto os olhos dela não
conseguiam desviar dos seus olhos azuis enlouquecidos.
— Eu quero que você fique aqui com Maria. — A voz de Vincent era tão
fria quanto seus olhos.
Ai, Deus.
Ela agarrou sua mão, impedindo-o de se levantar.
— Por quê?
Ele apenas olhou para ela, seus olhos dizendo tudo.
Lake piscou para conter as lágrimas, segurando sua mão com mais força.
— Vincent, por favor. Eu amo…
Seu polegar cobriu seus lábios, silenciando-a e começando a esfregar o
lábio inferior inchado pelos beijos.
— Você não vai me dizer isso agora. Se você ainda se sentir da mesma
forma amanhã, então você pode me dizer.
Ela olhou em choque enquanto ele se levantava e sussurrava algo para
Maria. Seus olhos se fecharam enquanto novas lágrimas corriam pelo seu
rosto, incapaz de vê-lo partir. Não havia como suplicar ou discutir com
alguém tão sombrio. Só pioraria a situação, e seus olhos prometiam isso a ela.
Maria sentou-se na cama, pegando em sua mão quando Vincent fechou a
porta do sótão mais uma vez.
— Maria, por favor, convença Vincent a desistir disso. Ele talvez te ouça.
— As lágrimas de Lake só se multiplicaram.
— Eu não posso — Maria sussurrou para ela enquanto deitava a cabeça
de Lake em seu colo, suavemente alisando seu cabelo.
— P-por que não?
Ela continuou a acariciar seu cabelo.
— Eles não merecem depois de tudo o que fizeram com você. Acabei de
vê-los, Lake. Eles enlouqueceram e perderam todo o senso de realidade.
Quando se nasce insano, é necessário algum tipo de controle para manter
ancorado, para se manter em contato com a realidade. No momento em que
você perde essa âncora, você perde sua humanidade. O problema que eles se
tornaram precisa ser resolvido pelo bem de outras pessoas e por eles mesmos.
Saber que se perdeu o controle assim, a ponto de não ter retorno, pode ser o
maior sofrimento que uma pessoa experimenta na vida.
Lake sabia que sua mãe e John tinham enlouquecido, e o que quer que
eles merecessem por machucá-la era algo que ela nunca faria com as próprias
mãos; a escolha não dependia dela. Mesmo assim…
Ela tentou se controlar, derramando lágrimas depois de lágrimas.
— Ela é minha mãe, minha família, meu sangue. — Lake não sabia se
estava tentando convencer Maria ou a si mesma.
— Família não pode ser definida pelo sangue. Família é definida por
ações. Ter uma família diz respeito à confiança. Aceitação. Família é amor. A
verdadeira família é aquela que se conquista, não aquela a qual se nasce. — A
voz de Maria era clara e forte, dando-lhe força a cada palavra.
As lágrimas lentamente começaram a parar enquanto Lake absorvia as
palavras de Maria…
Ter uma família diz respeito à confiança… Desculpe, querida. Ele me fez
te trazer aqui.
Diz respeito à aceitação… Sua puta, lixo de trailer.
Família é amor... Lake, eu te amo. Você nunca vai entender o quanto eu
te amo.
As lágrimas em seus olhos finalmente pararam. Tudo finalmente ficou
claro.
Vincent fechou a porta do sótão sem se sentir mal pelo que estava prestes a
fazer. Vê-la lá em cima assim, sem saber se ele viria salvá-la, o machucou
quase tanto quanto pensar que Lake poderia não estar viva. Ele não se
arrependeria do que estava prestes a fazer, não sentiria culpa alguma.
Descendo o outro corredor, ele entrou pela porta aberta do quarto. Maria
lhe dissera que Ashley não estava lá, mas também lhe avisou que ele deveria
dar uma olhada no quarto dela.
Assim que entrou e olhou ao redor, viu sacolas e mais sacolas cheias de
coisas novas, as etiquetas ainda visíveis. Ele soube imediatamente que eram
todas as coisas que sua mãe provavelmente tinha comprado para Lake, mas
Ashley pegou para si. Mesmo que Ashley não pudesse nem usar a maioria
dos itens, ela claramente não dava a mínima, simplesmente roubava o
máximo que podia de Lake.
Era inacreditável a quantidade de coisas que ela poderia ter devolvido,
mas não o fez. Ashley também poderia ter jogado as coisas fora, mas não o
fez. Em vez disso, ela guardou tudo enquanto admirava constantemente o
domínio que tinha sobre Lake. Era óbvio que os sentimentos de John por
Lake haviam distorcido a mente de Ashley também. Ambos queriam ter
controle sobre ela, mas essa merda do caralho finalmente ia acabar.
Depois de descer, Vincent viu que Nero e Amo tiveram o prazer de
amarrá-los nas cadeiras da cozinha.
— Porra, graças a Deus. Eu não aguento mais ficar perto desses estúpidos
do caralho — Amo disse, amarrando os pulsos de John atrás das costas com
mais força.
— Não tem como essa vagabunda ser a mãe de Lake. — Nero colocou as
chaves dos carros sobre a mesa.
John começou a rir.
— Eu disse que ela morr…
O punho de Vincent atingiu seu rosto bem sobre o nariz já quebrado,
causando um som terrível.
— Seu filho da puta, não vem com essa de novo. Ela não morreu, e você
sabe disso.
John nem ligou.
— Morreu, sim! Ela não é nada sem mim, assim como a merdinha da
mãe dela não era nada antes de mim! Você sabe por que eu a chamo de lixo
de trailer?
Pegando uma meia pesada da mesa, Vincent começou a sacudi-la,
ouvindo as moedas dentro do tecido.
— Porque a porra do pai dela veio de em um trailer. Os pais
provavelmente eram retardados de nascença. E a mãe dela é uma puta do
caralho que largou ele para dar para qualquer um que tivesse dinheiro. Você
sabe o que dá lixo somado com lixo? É igual a uma merda de um lixo! — Ele
começou a rir novamente. — Eles até a chamaram de Lake porque treparam
em um lago, e foi lá que ela foi concebida. Entende? Ela é uma retardada do
caralho como o pai dela e uma puta do caralho como…
Vincent imediatamente começou a bater com a meia cheia de moedas no
rosto de John. O som de pequenos pedaços de metal batendo em carne dura o
satisfez enquanto ouvia a mãe de Lake chorar.
Pam forçou o rosto na direção oposta, incapaz de olhar para a brutalidade
da situação.
— Por favor, ele me obrigou! Eu nunca machucaria meu bebê!
Parando a surra, Vincent deixou John de lado quando o infeliz começou a
tossir sangue. Vincent se concentrou na mãe, agarrando seu rosto e apertando
sua mandíbula.
— Ele te forçou te metendo a porrada? Não vejo nenhum hematoma.
Toda vez que ela vinha aqui, você fingia que não sabia o que ele e Ashley
estavam fazendo com Lake, mas você sabia. Você faz um showzinho para ela
toda vez, chamando-a de “querida” e “bebê” e comprando umas merdas para
ela. Era tudo para manter a boca dela fechada e fazer com que continuasse
vindo todo fim de semana, porque se ela não aparecesse eu aposto que ele
não deixaria você gastar um centavo do dinheiro dele.
Pam balançou a cabeça.
— Não, não é v…
A mão de Vincent fechou sobre a garganta de Pam.
— Fala a porra da verdade, sua vagabunda.
— Ok! — Ela sufocou. — Ele gostava de ver a Lake fazendo faxina e
chorando. Ele é meu marido. Eu devo fazê-lo feliz. Se eu o faço feliz, ele
retribui o favor. É assim que funciona!
Vincent a encarou enquanto absorvia a coisa mais doentia que já ouvira
em sua vida. Vincent ergueu a meia e a atingiu com força e rapidez na lateral
da cabeça de Pam várias vezes, oferecendo a ela uma morte praticamente
rápida. A vagabunda tinha lhe dado Lake, mas ele precisava
desesperadamente matar um dos dois se quisesse fazer o outro sofrer mais.
Ele estava perto de acabar com os dois de uma vez, mas precisava preparar a
morte do outro.
Virando-se para John e dando-lhe mais alguns golpes nas costelas, ele
enfiou a meia cheia de moedas em sua boca.
— Filho da puta, enquanto você fica aqui, sentado, agonizando até a
morte, eu quero que você pense em como nunca mais será capaz de chamar
Lake de outro nome, como nunca mais será capaz de dizer a ela o que fazer,
como nunca mais verá outra lágrima cair do rosto dela. Você se tortura por
nunca ter conseguido arruinar a garota depois de todos esses anos, não foi?
Você sabe muito bem que ela nunca foi sua, e então, quando ela foi embora e
não voltou, você percebeu que nunca seria capaz de terminar o que tentou
fazer por todos esses anos.
Vincent pegou um dos galões de gasolina da mesa e começou a encharcar
o homem.
— Lake é minha, filho da puta. Ela nunca foi sua e nunca será sua.
Largando o galão, ele olhou para Nero e Amo.
— Cuidem do resto da casa enquanto eu pego Lake e Maria.
Nero e Amo assentiram, pegaram a gasolina e começaram a trabalhar.
Vincent subiu as escadas, ainda sem sentir remorso. Os dois tinham
pirado completamente desde a última vez que ele esteve lá. Essas “pessoas”
não eram mais pessoas. Era por isso que ele não lidava com eles como se
fossem pessoas.
Ela é uma retardada do caralho como o pai dela e uma puta do
caralho…
Vincent passou a mão tranquilamente pelo cabelo, dizendo a si mesmo
que não demoraria muito.
É por isso que você vai queimar, filho da puta.

Lake deixou Vincent levá-la para fora da casa depois que ela prometeu
manter os olhos fechados. O normal de se pensar é que seria difícil não olhar,
mas foi bastante fácil quando ouviu o silêncio ensurdecedor e sentiu o cheiro
de gasolina. Uma vez que o ar frio da noite de verão atingiu seu rosto, Lake
sentiu como se fosse capaz de respirar novamente.
Nenhum deles disse nada ou olhou um para o outro até que ele a colocou
no banco traseiro do carro, dizendo que voltaria logo.
No momento em que ela começou a sentir o cheiro, as portas do carro
foram abertas. Amo e Vincent entraram, o cheiro de queimado entrando com
eles. Quando o carro começou a descer a longa entrada, Lake olhou pelo
espelho retrovisor para a fumaça e as chamas que cresciam.
Ver a casa onde sofreu diversas torturas pegando fogo deveria ser algo
difícil de não olhar. Ela imaginou que queimar junto da casa o que aconteceu
naquela noite era o melhor a se fazer. Pelo menos, quando ligasse o
noticiário, lesse o primeiro jornal ou ouvisse fofocas na cidade, ela nunca
saberia como eles tinham feito aquilo tudo.
Era por isso que era fácil para ela não olhar. Eu não quero saber como
eles morreram.
Lake caminhou pelo corredor atrás de Vincent. Durante todo o caminho de
volta, eles não trocaram uma palavra. Vincent nem uma vez chegou perto de
tocá-la ou mesmo de olhar para ela. Lake se pegou desejando ser tocada, ser
vista, a cada vez que olhava para Vincent, mas sabia que não deveria. Não
depois do que ele fez.
Quando ele abriu a porta, ela o seguiu, então ele os trancou. Vincent
caminhou até o sofá, sentando-se e colocando as mãos nas coxas, em silêncio
e olhando para o nada.
Lake ficou parada na porta, observando-o tomar seu lugar. O Vincent
sombrio sentado ali, daquele jeito, parecia assustador, mas ela não estava
com medo dele como costumava ficar. Não havia mais medo nela quando se
tratava de Vincent. Não há razão para existir. Ele mudou toda a sua vida por
ela, cuidou dela, salvou-a mais de uma vez, e por último, deu a ela múltiplas
oportunidades.
Lake sabia que ela não deveria ter saído por aquela porta sem dizer nada
a ele. Se eu tivesse feito, o dia de hoje teria sido muito diferente.
Lake caminhou até ficar perto da escada, sem desviar os olhos de
Vincent. Quando viu que ele não se moveu, ela continuou a entrar na sala.
Parou na frente dele, em seguida ficou de joelhos para poder encará-lo no
nível dos olhos. Olhando em seus olhos, era como se Vincent olhasse
diretamente além dela, como se Lake nem estivesse lá.
Mordendo o lábio, ela estendeu a mão, indo para o botão de cima da
camisa dele.
Vincent agarrou sua mão, segurando-a com força.
— Você não vai querer fazer isso agora — ele a avisou com um grunhido
baixo.
Ela moveu a outra mão para a camisa dele, apenas para ser agarrada
também.
— Estou tentando ser legal com você — ele grunhiu, afastando suas
mãos. — Vai. Para. A. Cama.
Olhando em seus olhos, Lake viu que estavam brilhando em um azul
feroz. Ela nunca os tinha visto brilhar assim antes, e isso só aumentou sua
aparência assustadora.
Você não me assusta mais.
Os olhos dela desceram até o peito dele. Vincent nunca a deixou tocá-lo,
explorar seu corpo, ou mesmo controlar o sexo. Ela sabia que era porque ele
não aguentava, tinha muito medo de que a escuridão saísse. Ela tinha
desistido de tocá-lo, com medo de encontrar esse lado também, não importa o
quanto ela quisesse. Mas naquele momento, Lake se sentou de joelhos na
frente daquela escuridão enquanto Vincent lhe dava a chance de fugir.
Mesmo a parte mais insana dele não queria tocá-la com as mãos sujas de
sangue. Ela podia ver o tormento disso escrito em toda sua expressão; Lake
queria que isso desaparecesse, para sempre.
Ela se aproximou, parando entre suas pernas, tomando cuidado para não
tocá-lo, embora suas mãos estivessem coçando para fazê-lo.
— Por favor, Vincent. Deixe-me tocar em você.
Vincent deu a ela um aviso final e frio:
— Encosta em mim e não vai ter como fugir até que eu termine.
Lake lambeu o lábio inferior, estendendo as mãos novamente. Dessa vez,
ela foi capaz de tocar no botão de cima dele, selando seu destino. Não tinha
como voltar atrás.
Ela soltou o primeiro e depois o seguinte, cada botão revelando mais e
mais dele. Buscando uma visão melhor, ela abriu a camisa, e seu olhar vagou
sobre o corpo duro e tonificado. Sua boca começou a encher d’água quando
suas mãos finalmente foram capazes de se espalmar em seu peito.
Ele é tão perfeito, que chega a doer.
Inclinando-se, seus lábios levemente beijaram sua pele, e então ela se
aproximou de um dos mamilos. Olhando para ele, Lake botou a língua para
fora. Quando Vincent não se mexeu, e apenas o menor indício de desejo
apareceu em seus olhos, ela se moveu mais para baixo, beijando e lambendo
seu abdômen. As mãos dela desceram pelo corpo dele até a parte de cima da
calça, abrindo o botão.
Vincent manteve as mãos nas coxas, sem tirar os olhos dela enquanto
Lake abria lentamente o zíper de suas calças. Quando seu pau duro saltou
livre, ela finalmente foi capaz de ver os sentimentos que ele estava
escondendo.
Agarrando levemente seu pau, ela quase esperou que Vincent finalmente
se mexesse. Quando ele não o fez, uma onda de desejo de agradá-lo percorreu
seu corpo, fazendo-a acariciá-lo para cima e para baixo.
Curvando-se, sua língua lambeu a ponta e girou em torno da cabeça do
pau. Tomando-o lentamente em sua boca, ela começou a chupar suavemente.
Foi quando pôde ouvir seu grunhido baixo em resposta. Ela começou a
chupar mais, e mais dele, os sons vindos de Vincent fazendo com que ela só
quisesse agradá-lo ainda mais.
Ao olhar para ele novamente, viu claramente o desejo em seus olhos, mas
ele ainda não havia movido um músculo. Lake o tirou de sua boca até que
apenas a cabeça estivesse entre seus lábios, esperando um momento antes de
encher a boca completamente.
Finalmente, as mãos de Vincent foram para o cabelo dela, fazendo-a
sorrir, e ela começou um movimento para cima e para baixo em seu pau.
Quando as mãos de Vincent começaram a apertar em seu cabelo, ela gemeu
em seu pênis, encontrando prazer em agradá-lo.
Segurando o cabelo com força, ele começou a mover os quadris, fodendo
sua boca.
Lake ficou atordoada no início, mas depois achou erótico enquanto ele se
movia para dentro e fora de sua boca. Ela relaxou a garganta, deixando-o
deslizar mais fundo, o que só o fez fodê-la mais rápido. Quando ele a soltou
para respirar, as chamas se espalharam por seu corpo. Lake olhou para ele e
lentamente começou a perder o controle. Isso foi apenas o começo, uma
amostra do que estava por vir, e seu corpo ardeu de ansiedade.
Lake ansiosamente o tomou de volta na boca, e ele começou a fodê-la
novamente. Ela sentiu o pênis pulsando e ficou surpresa quando ele a afastou.
— Tira as roupas e fica de quatro no chão — Vincent disse a ela
asperamente, agarrando seu cabelo mais apertado antes de soltá-lo.
Sua respiração estava pesada, seu peito subia e descia enquanto ela tirava
as roupas o mais rápido que podia. O calor e a necessidade entre suas pernas
eram quase dolorosos. Lake ficou de costas, fazendo o que Vincent pediu.
Por favor, anda logo. Ela sentiu como se fosse explodir enquanto aguardava
que ele finalmente a tocasse.
Ela o sentiu se mover, caindo de joelhos, o que tornou tudo ainda mais
torturante.
Vincent agarrou sua bunda.
— Eu esperei tanto tempo para foder você assim. — Passou a mão pelas
costas dela e empurrou sua cabeça contra o chão.
Com a bunda para cima, ela mexeu os quadris enquanto ele apenas
continuava a apertar sua bunda.
Curvando-se, ele deu uma mordida em uma das nádegas perfeitas,
fazendo-a levantar a cabeça em resposta.
— Mantenha a cabeça para baixo — ele ordenou.
Lake abaixou a cabeça, choramingando. Ela precisava de Vincent dentro
dela.
Sentir a cabeça de seu pau esfregando em sua boceta molhada fez com
que ela segurasse um grito, certa de que quase poderia ter um orgasmo se ele
fizesse isso de novo.
Ele parou de esfregá-la com seu pau, removendo-o completamente de sua
abertura.
— Não segure mais seus gritos ou gemidos. Eu quero ouvir você gritar
por mim. — Ele pressionou o pau contra sua abertura. — Entendeu?
— Sim! — Lake gritou quando voltou a seguir seu toque. Ela não
recebeu nenhum estímulo físico, mas sentiu como se pudesse atingir o
orgasmo a qualquer segundo.
— Boa menina. — Ele bateu em sua bunda antes de agarrá-la rudemente.
— Me fode, por favor — ela gemeu, as palavras escapando
inconscientemente enquanto mexia os quadris para trás, esperando que o
pênis entrasse.
Vincent dizendo aquele “boa menina” a deixou louca. Ele não a chamava
assim há muito tempo, e isso só acrescentava mais desejo à parte dentro dela
que queria desesperadamente agradá-lo.
Ele agarrou seus quadris, acalmando-a.
— Se você fugir de mim, arriscar sua vida ou fizer qualquer coisa
estúpida de novo, essa sensação que você tem agora, de querer que eu te foda,
será sua punição.
Lake quase levantou a cabeça e gritou de prazer quando ele deslizou o
pau rapidamente, com força, preenchendo-a completamente. Apenas o medo
de Vincent se afastar a manteve com o rosto para baixo.
— Faça isso de novo, e da próxima vez meu pau não vai entrar na sua
boceta apertada. Entendeu? — Vincent a manteve imóvel e não se mexeu
nem um pouco dentro dela.
— Sim! Sim! Sim! — Ela estava praticamente chorando, querendo trepar
com ele incontrolavelmente e obter o alívio que estava morrendo de vontade
de receber.
A mensagem foi alta e clara. Foi torturante o suficiente. De jeito nenhum
ela poderia sobreviver a Vincent não a comendo.
— Boa menina — ele murmurou, em seguida tirou o pau de dentro dela,
apenas para meter de novo, e de novo.
Era indescritível o prazer que ela sentia a cada entrada agressiva em sua
boceta. Lake acompanhou o ritmo dele, empurrando os quadris para trás,
sendo mais ativa pela primeira vez, o que tornou tudo mais prazeroso.
Ele agarrou seus quadris com ainda mais força, fodendo-a mais rápido e
não segurando nada desse seu lado como costumava fazer.
Uma nova onda de prazer se espalhou sobre o corpo de Lake por causa da
velocidade aumentada, levando-a mais perto do limite para seu clímax, mas
ele continuou a fodê-la, não lhe dando nenhum alívio. Toda vez que ela
estava prestes a atingir o orgasmo, ele se afastava e a penetrava duramente
algumas vezes, começando tudo de novo.
— Porra! Por favor, me deixa gozar! — Lake gritou, se pressionando
contra Vincent com mais força.
Vincent levou as mãos aos seios pequenos e a puxou para cima com
força, até que as costas dela estivessem contra seu peito. Uma de suas mãos
foi até o queixo dela, virando o rosto para o lado, para que ela pudesse
encontrar seus olhos.
Um grunhido baixo escapou de sua garganta.
— Você é minha, Lake.
Ao olhar nos olhos dele, Lake soube exatamente o que ele queria, mas em
vez de dizer, mexeu os quadris, fazendo o pau se mexer dentro de si.
— Diga — ele rosnou, mais alto dessa vez, segurando-a ainda e não
dando a ela o alívio que buscava.
Tantas pessoas possuíram Lake, e finalmente quando ninguém mais a
mantinha presa, Vincent pedia que ela se submetesse a ele. Era a única coisa
contra a qual ela havia lutado.
— Eu sou sua — Lake sussurrou para Vincent e para si mesma. Deixou
transparecer através de seus olhos para que ele acreditasse e não pensasse que
estava dizendo isso apenas para que ele terminasse de fodê-la. — Eu sou sua
— ela sussurrou para ele novamente com evidente necessidade em sua voz.
A boca de Vincent reivindicou a dela em um beijo possessivo antes que a
fizesse se curvar de novo.
— Você é minha — disse, agarrando seus ombros para meter nela com
mais força.
Com apenas algumas estocadas, ela gemeu livremente, seu corpo
oscilando com as ondas que a arrebentavam em um mar de prazer e alívio.
Sua cabeça tombou de volta ao chão, seu corpo finalmente ficando mole
por tudo que ela passou naquele dia.
Vincent prendeu a respiração e foi pegá-la, embalando-a em seus braços
enquanto subia as escadas.
Quando sua cabeça encostou no travesseiro, Lake estava tão exausta, que
não percebeu que Vincent não se deitou ao lado dela, até que ouviu o
chuveiro. Ela cochilou por algum tempo, mas acordou quando o colchão
afundou ao seu lado. Ela esperou que ele a abraçasse, e então se sentiu
magoada quando ele não o fez, assim como antes.
Virando-se, ela o encarou, vendo que a escuridão ainda reinava.
— Eu não gosto quando você não encosta em mim — ela confessou a
Vincent.
— Você ainda quer que eu encoste em você? — ele perguntou, parecendo
surpreso.
O coração de Lake se apertou com a percepção de que o pior lado dele
era um pouco inseguro.
Lake se aproximou um pouco mais dele para que Vincent pudesse abraçá-
la facilmente.
— Sim.
Quando ele ainda não a tocou, ela sussurrou outra confissão:
— Eu te amo, Vincent…
Ele se desmanchou, tocando seu rosto antes de trazê-la para perto de seu
corpo nu.
— Droga, baby, você não deveria.
— Eu amo. Eu amo tudo em você. — Ela relaxou debaixo dele,
entregando-se de corpo e alma.
Eu te amo tanto, que você nunca vai entender.
— Aonde você vai? — Lake passou os braços em volta do pescoço de
Vincent, impedindo-o de amarrar a gravata.
Ele agarrou sua bunda, levantando-a do chão e fazendo-a passar as pernas
em volta de sua cintura.
— Eu tenho que ir trabalhar. Você ainda não cansou de trepar comigo?
Lake tinha sido comida por Vincent impiedosamente por dois dias
seguidos. E, porra, não, eu não estou cansada disso ainda. Embora ela não
achasse que Vincent precisava saber disso.
Ela mordeu o lábio inferior dele.
— Um pouco.
Seus olhos brilharam para ela, mas o som de batidas o fez rosnar.
— Você tem sorte de ele estar aqui; caso contrário, eu iria te botar de
quatro e bater nessa tua bunda.
Ahn, por favor?
Depois que Vincent a colocou de volta no chão, agarrou a mão dela e
começou descer pelos degraus enquanto Lake afastava a imagem sexy da sua
mente.
— Quem é?
Vincent lhe deu um de seus beijos quentes que sempre faziam Lake
esquecer tudo o que estava pensando.
— Eu estarei de volta hoje à noite, e não pense que eu não vou te dar uns
tapas por isso quando eu voltar. — Ele a deixou toda acesa na sala de estar
enquanto ia abrir a porta.
— Espera, você não... — Lake virou a cabeça e viu seu pai parado na
porta. Lágrimas começaram a encher seus olhos. Ela não o via havia um
tempão.
Correndo em direção a ele, Lake começou a chorar quando finalmente
conseguiu abraçá-lo novamente.
— Eu senti tanto sua falta.
— Eu também senti, guria.

Vincent se aproximou da porta, pensando nos dois melhores dias de sua vida.
Ele nunca teria sonhado, em um milhão de anos, que uma garota poderia
extrair tudo dele. E, em seguida, trepar comigo ainda mais. No entanto, Lake
certamente o estava mimando, já que ele a comia avidamente toda vez que o
desejo surgia.
Deixá-la pela primeira vez em dois dias foi difícil, mas ele a deixou nas
mãos do pai. Lake o fizera prometer que não contaria ao pai dela nada do que
acontecera, não queria que ele se culpasse e caísse em outro fundo do poço.
Vincent havia concordado que não contaria a ele até que achasse que o
homem poderia lidar com isso. Vincent, ele mesmo, teria de lidar com o fato
de que a deixou naquele dia na casa de sua mãe, pelo resto de sua vida.
Portanto, mais cedo ou mais tarde, o homem precisava saber pelo que sua
filha havia passado.
Havia apenas uma coisa que o estava impedindo de começar o seu “para
sempre” com Lake – o filho da puta do Lucca.
Ele tinha oferecido a ela um favor que era literalmente um “cartão para
sair da prisão” na vida real. Lucca era um homem com tanto poder e
determinação, que poderia fazer o impossível acontecer. Sim, algo como
deixar Lake desaparecer para sempre.
Vincent bateu apressadamente na porta, sabendo que ia tentar o seu
melhor para evitar que isso acontecesse.
Quando a porta foi aberta, ele foi rapidamente puxado para dentro.
— Meus avós estão fazendo arranjos para uma porra de um funeral falso,
sem corpo. Eles devem voltar daqui a uma hora.
Ele ergueu a sobrancelha.
— Uma hora?
— Sim — ela respondeu, agarrando sua gravata. — O que você vai fazer
comigo por uma hora inteira?
Encarar Ashley diante dele o deixou enjoado. Ela é uma vagabunda
burra que não vê o que está na cara. Ela não tinha a menor ideia de que ele
havia matado seu pai; não que ele achasse que Ashley se importaria.
Ashley se mudou para a casa de seus avós quando o pai e a mãe de Lake
piraram de vez, e ela não dava a mínima para o pai, apenas queria a certeza
de que o dinheiro que ele deixou para trás fosse para o nome dela. Não só
isso, mesmo que Vincent lhe dissesse que tinha matado John na cara dela, ela
ainda o teria deixado entrar em sua casa. Ela queria dar para ele por uma
razão: Lake.
Ashley queria ter tudo que Lake tivesse, então a oportunidade de dar para
seu namorado a fez praticamente salivar.
Vincent agarrou seus pulsos, apertando-os com força antes de a jogar no
chão.
— Nada.
A porta da frente se abriu, e então o som de saltos no chão preencheu a
sala.
— Mas ela vai.
Ashley começou a chorar.
— O-o que está acontecendo? O que essa piranha está fazendo aqui?
— Estou tão feliz que você se lembra de mim. — Um sorriso doce se
abriu em seu rosto. — Mas você precisa me chamar de Maria.
Vincent riu enquanto se sentava.
A inveja ficou nítida no rosto de Ashley quando deu uma boa olhada na
loira usando um vestido que ela morreria para ter. Em seguida, seus olhos
desviaram para os sapatos nude, que custaram caro, mas estavam cobertos de
manchas vermelhas. Ela imediatamente começou a se erguer do chão.
— Vagabunda! Saia da minha casa…!
Atingindo-a no rosto com o salto, Maria a viu cair de volta no chão,
gemendo.
— Eu realmente insisto que você me chame de Maria.
— Não a mate. Apenas ensine a ela uma lição sobre como manter a boca
fechada.
Vincent não queria aumentar suas esperanças de que poderia ir mais
longe. Não que eu realmente me importe, de qualquer maneira.
Ashley estava gritando enquanto segurava o rosto ensanguentado.
Maria deu risadinhas enquanto ouvia os lamentos.
— Eu adoro quando elas gritam.
O próximo grito alto que irrompeu da garganta de Ashley deixou Vincent
quase em êxtase. Eu também.
Tinha sido uma semana sem nada mais agitado do que as sessões constantes
de sexo. Graças a Deus.
Foi bom não ser quase assassinada por uma semana inteira; no entanto,
Lake estava começando a sentir a necessidade de ser um pouco má. Ela tinha
aprendido que um pouco de maldade era bom. Ela gostava de sentir impacto
tanto pelo lado bom quanto pelo lado ruim de Vincent. Ok, talvez mais pelo
ruim.
Lake puxou as meias um pouco mais e, em seguida, ajustou de novo o
vestido, pensando em toda a diversão de fazer compras junto de Sadie com o
cartão de crédito de Vincent. Sadie, é claro, foi quem mais se divertiu
gastando o dinheiro dele. A mulher a fez comprar um armário inteiro cheio de
lingerie de várias sex shops. Mesmo quando olhou para a fatura do cartão de
crédito, Vincent disse que valeria completamente a pena.
Ele também passou a semana dizendo a ela que o acordo estava
cancelado, e ela ficaria por lá depois do verão. Vincent tinha até preenchido
um requerimento para ela ir à universidade em Kansas City. Porém, Lake não
disse nada em resposta e percebeu que o fato de não ter concordado o estava
deixando um pouco chateado. Mas tudo isso vai mudar esta noite.
— Nós realmente vamos fazer isso de novo? — Elle disse nervosamente
quando elas saíram pelo corredor e pararam na frente da porta.
Lake olhou para ela, a mão pairando e quase batendo na porta.
— Hum, como foi o sexo naquela noite?
Elle rapidamente bateu na porta.
Rindo de sua amiga, ela foi silenciada quando a porta se abriu.
— Uh... uh... Nós estávamos pensando se…
As duas engoliram em seco quando seus olhos passaram por um corpo
muito suado e muito musculoso, vestido apenas com jeans de cintura baixa.
— Sim, querida? — Lucca sorriu para ela, cruzando os braços enquanto
se apoiava no batente da porta, seu corpo bloqueando completamente a visão
das duas.
Lake se distraiu um momento antes que seus olhos se voltassem para o
rosto dele.
— Gostaria de saber se você poderia nos levar para Poison novamente —
ela conseguiu dizer.
Os olhos dele vagaram sobre seus corpos.
— Eu tenho uma maneira melhor de deixá-los com ciúmes, querida.
Vocês dois gostariam de entrar e descobrir?
Si…
Elle limpou a garganta.
— Não, obrigada. Nós queremos dançar, mas Vincent e Nero pagaram ao
guarda para garantir que não saíssemos.
Lake mordeu o lábio, balançando a cabeça quando Lucca a olhou em
busca de uma resposta, incapaz de falar. Ela temia que sua voz pudesse traí-
la.
Ele deu uma olhada nas duas uma última vez.
— Que péssimo. Me deem dez minutos.
Elle e Lake inclinaram a cabeça para o lado enquanto ele fechava a porta,
ambas querendo dar uma olhada lá dentro. Quando a porta se fechou,
soltaram um suspiro.
— Droga, é errado que eu quisesse entrar? — Lake começou a andar em
círculos, abanando-se.
— Nem um pouco. Eu queria ver o que havia lá também, e eu odeio ele
pra caralho. — Elle se encostou na parede, descansando a nuca.
Lake olhou para Elle.
— Team Lucca?
Elle olhou de volta.
— Talvez por uma hora... ou um dia...
Sim... um dia no máximo.
Ambas praticamente deram um salto quando a porta se abriu, e Lucca,
recém-banhado e vestido, apareceu.
— Tem certeza de que não estão tentando deixá-los com ciúmes? —
Lucca perguntou, andando pelo corredor.
Elle tentou explicar:
— Não, o objetivo não é deixá-los com ciúmes. Nós nem vamos dançar
com ninguém.
— Sim, é apenas para nos divertir e deixá-los um pouco bravos quando
chegarmos em casa — acrescentou Lake.
— Entendo. — Lucca passou pelo guarda, que parou Lake e Elle.
— As duas sabem muito bem que não posso deixar vocês descerem pelo
elevador, especialmente vestidas assim. Nero e Vincent vão botar meu rabo
no olho da rua.
Lucca apertou o botão e tirou algumas centenas de dólares do bolso.
— Você é um homem melhor do que eu. Eu teria pelo menos pedido para
comer as duas para deixá-los passar. — Ele colocou o dinheiro no bolso do
terno do guarda, em seguida, passou os braços ao redor dos ombros de Lake e
Elle. — Mas você tenta isso, e eu corto a porra da sua garganta.
— Não, senhor, eu não tentaria. — O guarda recuou, deixando-os passar.
— Vou dizer a eles que você lutou bravamente e merece mais dinheiro
pelo que faz. — Ele levou as meninas para o elevador.
O guarda assentiu para ele.
— Obrigado, senhor.
Lake e Elle estavam de queixo caído quando a porta se fechou.
Santo Jesus Cristo, Deus Todo-Poderoso, eu sinto muito por…
— Então, você não quer que eu conte ao Nero e ao Vincent que vocês
vão ao Poison? — Lucca quebrou o silêncio enquanto o elevador descia
alguns andares.
Lake revelou a ele a outra razão pela qual queriam que ele viesse junto.
— Não, nós queremos muito que você faça isso.

— Lá estão eles! Rápido, aja sexy como fizemos da última vez. — Lake se
moveu apressadamente atrás de Elle e colocou as mãos em seus quadris,
dançando atrás dela.
— Ai, merda, eles parecem putos da vida! — Elle gritou, olhando pelo
canto do olho com cuidado.
— É porque eles viram nossas roupas. Eles vão superar isso. — Lake
moveu o cabelo louro quase ruivo de Elle para um ombro sensualmente, o
que também exibiu seus seios incríveis.
Lake viu Nero se colocar na frente de Elle enquanto sentia mãos
circulando sua cintura e girando-a. Ela estava ansiosa para saber com qual
Vincent iria se encontrar. A melhor parte era ser capaz de trepar com dois
caras sem ser traição. Lake se intitulou a garota mais sortuda do mundo.
Seu cabelo foi agarrado, e ela foi forçada a olhar nos olhos brilhantes.
Mmm... Vincent malvado.
Praticamente lendo sua mente, Vincent agarrou o cabelo de Lake com
mais força, puxando para baixo, para que sua boca ficasse escancarada e a
língua dele deslizasse e a possuísse.
— Você sabe que não tem permissão para usar a porra das minhas roupas
sem mim, e você conhece a punição por fugir — ele rosnou para ela.
Lake já estava sem fôlego quando ele terminou de beijá-la.
— E-eu não fugi de você. Eu garanti que Lucca me trouxesse aqui em
segurança e disse a ele para te contar para onde eu estava indo. Achei que
você gostaria de me encontrar assim para você. — Ela levantou levemente a
frente de seu vestido, revelando as meias de renda até a coxa.
Girando-a de volta, suas mãos subiram até o topo de suas coxas, em
seguida agarrando seus quadris e puxando-a contra seu pau duro.
— Eu gosto, e essa é a prova, baby.
Lake moveu seus quadris da maneira que sempre acabava com Vincent,
rebolando até que seu pênis estivesse perfeitamente entre sua bunda.
— Boa menina — ele a avaliou antes de morder seu pescoço.
Eu adoro quando ele diz isso.
Ela continuou o movimento, sentindo-o ficar mais duro a cada
movimento de seus quadris. Lake o fez ficar totalmente ereto e gemendo em
questão de minutos. Mais algumas reboladas, e ele vai...
Vincent foi arrancado de seu paraíso quando Lake foi puxada de suas
mãos. Olhando para cima, Elle a levou para dançar na frente dela, enquanto
Nero dançava presunçosamente atrás de Elle. Eles estavam todos dançando
em um trenzinho sexy, do qual Vincent não fazia parte.
Lake riu quando ele tentou agarrá-la de volta, mas Elle e Nero seguraram
seus quadris, impedindo-a de sair.
— Eu te disse, filho da puta, que aquele teu timing merda ia ter volta —
Nero sibilou e riu dele ao mesmo tempo.
— Filho da puta, eu não te interrompi quando Elle estava chupando seu
pau no armário. — Ele pegou Lake de volta quando Elle deixou cair as mãos,
em estado de choque. — Esperei até o final.
Lake riu histericamente enquanto Vincent rapidamente a levava pela
multidão para longe de Nero. Vincent jogava tão sujo quanto falava, e ela não
achava que Nero faria aquilo de novo tão cedo.
Levando-a para um lugar mais calmo nos fundos, ele a empurrou contra
uma parede, botando a mão sobre sua garganta e passando o polegar em seu
pulso.
— Eu te amo.
— Eu também te amo — Lake disse a ele, mostrando que era verdade.
Ela não esperava essas palavras depois que ele a empurrou contra a parede.
Mmm... Eu amo o Vincent bonzinho.
— Você ama? — ele continuou a esfregar seu pulso.
Ela olhou para trás e mirou os olhos de um tom de azul-bebê.
— Cobrei meu favor a Lucca hoje.
O polegar parou de se mover.
— O que você pediu?
Ver o nervosismo em seus olhos fez seu coração doer.
— Pedi a ele que oficialmente colocasse meu pai na máfia.
Tirando a mão de seu pescoço, Vincent a colocou na lateral do rosto de
Lake.
— Pediu? — ele sussurrou asperamente, pressionando o corpo no dela.
— Sim — Lake sussurrou de volta, afirmando que era sua para sempre
em uma palavra.
Aquele favor de Lucca era a única coisa que poderia tê-la afastado de
Kansas City e de Vincent para sempre.
Lake seguiu o conselho de Lucca, jogou as regras da máfia no Google e
descobriu que apenas algumas vezes na história uma família famosa colocou
um homem sem raízes italianas oficialmente na máfia. Quando ela perguntou
a ele se seu pai poderia ser uma das exceções, Lucca disse a ela que daria seu
jeito. Ela selou seu destino para sempre no momento em que pediu para que o
pai fosse oficializado. Não havia como fugir da máfia sendo filha de um
membro dela. Não importava. Ela planejava ficar com Vincent até o fim dos
tempos.
Ele sempre vai me encontrar. Ele sempre me salvará. Ele é minha família
agora. Eu sou dele. Para todo sempre.
Quando Vincent a beijou rudemente e ela viu a paixão em seus olhos,
uma onda de prazer a percorreu por o ter agradado.
A mão de Vincent foi por baixo do vestido de Lake, descobrindo que ela
não estava usando calcinha. Ele apertou sua bunda nua.
— Boa menina.
O Sol Nascerá Amanhã

Todo mundo sofre por um dia ruim.


Outros sofrem por meses a fio.
Apenas saiba que o sol nascerá amanhã,
E então o vento pode soprar em seu cabelo novamente.
Desistir é fácil,
Mas viver vale a recompensa.
Então acorde amanhã.
É um dia a menos, mais um passo à frente para sentir o vento.
Vale a pena acordar amanhã para ver seu sofrimento acabar.
Sarah Brianne
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