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Copyright © 2022 Kel Costa

Capa e diagramação
Kel Costa

Revisão
Geisa Brito e Raquel Moreno

Texto em conformidade com as normas do novo acordo ortográfico


da língua portuguesa (Decreto Legislativo Nº 54 de 1995).

1ª edição – 2022

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial,


de qualquer forma ou por qualquer meio, mecânico ou eletrônico,
incluindo fotocópia e gravação, sem a expressa permissão da
autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
ÍNDICE
PLAYLIST
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
EPÍLOGO
BÔNUS
CONVERSINHA
AGRADECIMENTOS
UM POUCO SOBRE MIM
LIVROS
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abaixo.

Em meu perfil do Instagram, no destaque destinado a este livro, você


poderá encontrar os links para as playlists da Amazon Music, Deezer
e Apple.
Uma aposta entre amigos e um namoro de mentirinha.
Logan Choi é descendente de coreanos, dono de um rostinho
que faz as garotas suspirarem, possui muitas medalhas
colecionadas com a natação e diversas amizades. Ele é popular,
veterano, atleta e tão fofo que parece ter saído de dentro de um
dorama. Também é um dos boys mais desejados da Universidade
de Princeton e está no TOP 1 da lista de crushes da HottestPrin,
um Instagrambadalado da região.
É por isso que Ryan, um de seus amigos ricos, lhe propõe uma
aposta. Ele precisa começar a sair com a garota mais estranha da
faculdade e colocá-la no TOP 1 feminino da mesma lista popular.
Choi nunca brincaria com os sentimentos de nenhuma menina
desse jeito, mas ele enxerga a oportunidade perfeita ao se lembrar
de Zoe Green, a melhor amiga de sua irmã caçula. As duas
acabaram de se mudar para seu apartamento, pois são calouras em
Princeton, e Logan conhece a garota desde que ela era uma
criança.
Zoe é tímida,tem cabelos extremamente coloridos e usa roupas
nada atrativas. Ela ouve com atenção quando Logan conta sobre a
aposta e implora para que finja um relacionamento com ele, tudo
para enganar Ryan e colocarem a mão no dinheiro. Como poderia
dizer não para aquele sorriso cativante e aqueles olhos que quase
se fecham ao sorrir para ela? Logan foi a estrela principal de seus
sonhos adolescentes e o motivo pelo qual Zoe passa suas noites
assistindo comédias românticas coreanas, sempre se iludindo à
espera do momento em que viveria o seu próprio romance.
Será que esse momento pelo qual ela tanto esperou, finalmente
chegou? Ou será que esse fake dating
dos dois vai estragar tudo de
uma vez?
Eu era do tipo de pessoa que torcia o nariz sempre que ouvia
falar em doramas, k-pop e qualquer outro assunto relacionado a
esta cultura. Costumava pensar, erroneamente, que era coisa de
criança e adolescente e eu já era “muito velha” para gostar disso.
Realmente não faço ideia de como e quando esse meu preconceito
foi gerado, mas ele existia.
Nos últimos meses eu tenho trabalhado muito e dado tudo de
mim para publicar livros novos o tempo todo para vocês, e isso vem
me sobrecarregando. Um dia, eu simplesmente sentei no sofá, liguei
a NETFLIX e procurei algo leve para assistir. Eu não queria
verdadeiramente prestar atenção em nada nem ocupar meu
cérebro, só precisava relaxar, passar um momento daqueles em que
não fazemos nada.
Foi quando escolhi um dorama qualquer para ficar rodando na
televisão enquanto eu mexia no celular e conversava com amigas.
Um olho na tela e outro no telefone, em algum momento minha
atenção foi capturada pela história que se desenrolava ali.
Resultado, maratonei o dorama em dois dias e comecei a procurar
pelo meu próximo escolhido.
Passei semanas assistindo apenas conteúdos coreanos que eu
encontrava na NETFLIX, porque seu formato e o que eles propõem
ao espectador eram tudo o que eu precisava. Queria histórias leves,
que me fizessem sorrir depois de um dia cansativo, e desse jeito, fui
sendo cada vez mais conquistada. Minha paixão por doramas se
alastrou para uma paixão pela Coréia do Sul e suas tradições, e eu
sou o tipo de pessoa que quando gosta de algo, faz questão de
saber tudo sobre aquilo. Quanto mais eu consumia conteúdos, mais
o desejo de trazer isso para a minha realidade profissional e fazer
com que mais pessoas se apaixonassem por esse estilo.
Quando PROJETO ZOE surgiu para mim e eu decidi que
trabalharia com essa cultura, confesso que senti medo de o livro não
ser muito aceito, considerando que o preconceito ainda é muito
grande, mesmo que doramas estejam tão em alta. Mas eu já amava
tanto tudo isso que não podia engavetar essa história, precisava
colocar meu amor no papel de qualquer jeito.
E aí, veio a segunda surpresa desse ano: eu comecei a
pesquisar mais sobre k-pop por causa da protagonista, corri atrás de
algumas informações sobre o BTS e, aconteceu. Um vídeoaqui, um
MV ali, uma live... Quando dei por mim, eu tinha me transformado
numa army. Passei madrugadas sugando todo tipo de conteúdo
possível que conseguisse encontrar sobre esses sete garotos,
sempre querendo mais. Sou uma pessoa muito eclética
musicalmente e tenho meus favoritos, mas nunca me senti tão
envolvida em tão pouco tempo por um artista, como Bangtan Boys
fez comigo. Posso dizer que amo cada um individualmente e como
um grupo, e sei que daqui pra frente, meu coração brilha na cor
roxa.
Vou carregar para sempre um amor enorme por Logan, Zoe e
Leslie, e ser muito agradecida por esses personagens terem me
trazido algo tão bom. Foi difícilcolocar o ponto final na última página
porque eu me sinto tão amiga deles, mas sei que precisam
conquistar o mundo e o coração de vocês. Cuidem dos meus bebês
com carinho.
Com amor, Kel.
A caixa produziu um som abafado quando a soltei no chão,
sentindo um grande alívio atingir meus músculos por ter me livrado
daquele peso. Não foi fácil subir os dois lances de escada repetidas
vezes, com a nossa mudança nos braços, principalmente quando eu
não era a pessoa mais atlética do universo, nem de longe.
Olhei à minha volta ao apoiar as mãos nos quadris e tentei me
familiarizar com o que seria meu quarto pelos próximos quatro anos.
Não era muito grande, mas tinha espaço suficiente para duas
pessoas. As paredes foram pintadas numa cor meio morta de cinza
claro, o que não me agradava tanto, e a janela entregava uma vista
para a rua dos fundos do prédio, tornando o ambiente mais calmo
porque ali atrás só havia uma pequena floresta. Eu podia me
imaginar trabalhando em alguns projetos da faculdade ali naquele
cantinho que, em breve, ficaria muito aconchegante.
— Essas são as últimas, Zoe! — Logan anunciou ao entrar no
quarto.
Ele carregava duas caixas, uma empilhada em cima da outra
como se pesassem apenas um quilo cada, e as colocou no chão
sem o menor esforço. Quando se ergueu de novo e sorriu para mim,
parecia que tinha acabado de posar para uma sessão de fotos da
Vogue e não que tinha passado a última hora subindo e descendo
lances de escadas. Às vezes, sua beleza e elegância chegavam a
ser insuportáveis.
Minha vontade de revirar os olhos foi enorme, mas então me
virei para a janela e evitei que Logan visse a careta em meu rosto
ou o meu sorriso todo deslumbrado que surgiu logo depois. Não que
fosse uma surpresa para mim, descobrir que o garoto de um metro e
oitenta e três conseguia fazer qualquer coisa sem desalinhar um
único fio de cabelo, afinal, eu o conhecia a minha vida toda e ele
sempre fora assim. Além disso, diferente de mim e de Leslie, Logan
era, de fato, uma pessoa atlética. Mesmo assim, quase sempre eu
ainda me pegava suspirando pelos cantos e precisaria aprender a
me controlar de agora em diante.
— Eu juro que parece que vou morrer — Leslie disse, entrando
no quarto com uma caixa pequena na mão onde, provavelmente,
estavam seus produtos de maquiagem.
Estava ofegante e descabelada, e Logan soltou uma
gargalhada, pegando a caixa de sua mão. Mordi os lábios, evitando
sorrir também. Não seria um pecado mortal rir da minha amiga,
mas, nesse caso, o meu sorriso poderia sair muito encantado
enquanto eu olhava para o garoto, e ficaria evidente que eu tinha
uma queda por ele, maior que o monte Everest.
— Vocês duas são muito fracas...
— Você é um nadador, pratica esportes desde criança e, em
breve, vai ser selecionado para as Olimpíadas. — Leslie revirou os
olhos e cruzou os braços. — Nós somos pobres mortais, não nos
julgue.
Murmurei em concordância e isso atraiu o olhar de Logan para
cima de mim, o que fez meu coração sofrer uma rápida acelerada.
Isso quase sempre acontecia e eu torcia muito para que agora,
morando sob o mesmo teto que ele e o vendo todos os dias, essa
obsessão fosse embora e eu pudesse viver em paz de uma vez por
todas.
Leslie era a minha melhor amiga desde sempre, porque
morávamos na mesma rua e estudamos na mesma escola em
Minnesota do primeiro dia de aula de nossas vidas até sairmos para
a faculdade. Era três anos e alguns meses mais nova do que seu
irmão Logan e, por algum tempo, ele foi apenas aquele garoto que
implicava com a gente quando nos sentávamos no jardim para
brincar com nossas bonecas, ou que ficava com raiva quando seus
pais o obrigavam a nos levar junto para pegar doces em noites de
Halloween
.
Entretanto, Leslie e eu sempre fomos as maiores admiradoras
de Logan. Ela, no caso, o amava por ser sua irmã, mas eu o
enxergava como o garoto mais incrível do mundo. Não demorei a
descobrir que ele havia se tornado a minha primeira paixão, mesmo
que eu não passasse da amiga pirralha de sua irmãzinha. Eu nunca
me culpei por isso porque sabia não ser a única menina da região
que enxergava naquele rapaz a referência de príncipe encantado.
De descendência coreana, os dois eram filhos de Choi Min Jun
e Kim Young Seo, um casal incrívelque eu considerava como minha
segunda família. A senhora Kim tinha se mudado para os Estados
Unidos com seus pais quando ainda era criança, enquanto o senhor
Choi veio da Coreia do Sul para fazer faculdade. Os dois se
conheceram há quase trinta anos, dentro de um mercado, então
namoraram, se casaram e tiveram um casal de filhos, aos quais
deram nomes americanos, mas não deixaram de ensiná-los sobre a
cultura e tradições do seu paísde origem. Era uma famíliaamorosa,
unida e perfeita, daquele tipo que reciclava todo o lixo que produzia
e nunca entrava com os sapatos da rua em casa.
— Vocês deveriam saber que, como o grande irmão que sou,
troquei de quarto para que ficassem com o maior. — Logan olhou
para Leslie com um sorriso presunçoso, como se ela devesse um
agradecimento a ele.

— Isso foi muito gentil da sua parte, oppa[1] — murmurei,


ansiosa para ver como era o quarto do rapaz.
No entanto, minha amiga estreitou os olhos para o irmão e deu
um tapa no braço dele, bufando e fazendo sua própria franja
esvoaçar.
— Não o agradeça, Zoe — disse, ainda encarando Logan. —
Meus pais o obrigaram a mudar de quarto para que a gente ficasse
mais confortável.
O mentiroso encolheu os ombros sem um pingo de remorso
por tentar nos enganar. Como era possívelficar bonito com qualquer
expressão que colocasse naquele rosto?
Ah, pelo amor de Deus, Zoe. É preciso parar com isso!
Suspirei, tentando me lembrar de que não seria assim por
muito tempo. Minha reação a Logan era só um efeito colateral por
ter ficado meses sem vê-lo, já que veio para a faculdade alguns
anos antes de nós e só voltava para casa em datas comemorativas.
Em breve, eu me acostumaria com a sua presença e passaria a
achar normal conviver com ele assim tão de perto.
Não seria fácil, claro. Aquele rosto perfeitamente simétrico, os
olhos escuros pequenos e puxadinhos, os traços delicados de seu
nariz e queixo, além da pele perfeita, tornavam minha situação
muito complicada. Ainda havia o plusque eram os cabelos escuros
e lisos que, vez ou outra, caíam sobre seus olhos, além dos lábios
mais perfeitos que existiam no mundo inteiro. Como se não
bastasse tudo isso, Logan ainda possuía uma altura invejável,
ombros largos, corpo atlético, era um gostoso dançando e tinha uma
voz aveludada que eu já tive o prazer de escutar em karaokês. Aos
meus olhos, não havia a menor dúvida de que ele era o homem
mais bonito do universo, mas não era um fato que eu saía
espalhando por aí.
— Nossos pais não estão aqui. — Logan piscou, aumentando
seu sorriso. — Então, eu fiz sim um favor de acatar o pedido deles e
ceder o meu quarto a vocês.
Leslie soltou uma risada de escárnio antes de balançar a
cabeça e sair do quarto. Minhas mãos começaram a suar
imediatamente, porque fazia algum tempo que eu não ficava
sozinha no mesmo ambiente que o garoto, e talvez, tenha perdido a
habilidade de interagir com ele sem ficar nervosa.
— Zoe, vou dar um conselho de amigo — disse, piscando e
tocando meu ombro ao se aproximar, sem saber como aquele gesto
fazia meu corpo reagir. — Fique com a cama da esquerda, pois a
outra está quebrada.
Leslie e eu sempre fizemos tudo juntas, nunca pensamos em
nenhuma possibilidade de nos separarmos durante a faculdade, por
isso, nos esforçamos ao máximo para que ambas pudessem vir
estudar em Princeton. Como Logan veio para cá antes, nossos pais
pareciam se sentir mais confiantes ao saberem que suas
menininhas estariam perto dele, portanto, chegaram à conclusão de
que deveríamos morar todos juntos.
Aquele seria o quarto que eu dividiria com Leslie durante os
próximos quatro anos, uma nova fase em nossas vidas, que nos
tornaria ainda mais íntimas. Eu sabia que não seria fácil, muito
menos tendo que conviver também com uma terceira pessoa, que
por sinal, me tratava como uma irmã mais nova, assim como fazia
com minha amiga.
— Agora que me contou isso, eu não posso simplesmente
escolher outra cama — respondi, encolhendo meus ombros. —
Seria uso de informação privilegiada.
Logan riu e eu fui obrigada a admitir que, talvez, demorasse
mais do que alguns dias até me acostumar com sua presença.
Algumas semanas... ou meses. Não muito mais do que isso, eu
esperava. Por mais que eu tenha passado dias inteiros com Leslie
quando era mais nova, nada era comparado àquilo. Agora, Logan
estaria por toda parte, o tempo todo.
— Será que minha irmãzinha faria o mesmo por você? —
perguntou o criador do caos, arqueando as sobrancelhas.
— Não sei, mas espero que sim. E eu posso ficar com a cama
ruim. — Encarei o móvel e me sentei na beira do colchão para
testar. — Ela não vai quebrar enquanto eu estiver dormindo, vai?
Logan sorriu de lado, meio safado, meio zombeteiro.
— Não, mas pode quebrar se estiver fazendo algo a mais do
que só dormir.
Eu o encarei sem conseguir dizer nada, porque ele não
costumava falar sacanagem na nossa frente. Pelo menos, não até
uns anos antes, quando era mais novo e ainda não tinha entrado
para a faculdade. Senti que meus olhos se arregalaram levemente e
minhas bochechas arderam, me fazendo praguejar mentalmente
enquanto procurava desesperadamente por algo para falar antes
que ficasse com tanta vergonha que viraria um pimentão.
— Eu não... hm... isso não vai acontecer — respondi, quase
perdendo a voz. — Principalmente com a sua irmã na cama ao lado.
Logan sorriu, parecendo não reparar que eu quase tinha
desmaiado, e eu suspirei de alívio sentindo meu rosto voltar à
temperatura normal aos poucos. Ele jogou a cabeça para trás e
cruzou os braços com uma pose de durão.
— Sua preocupação é com a Leslie? — Estalou a língua e se
curvou na minha direção. — Preocupe-se comigo, Zoe. Nossos pais
me deram autorização para ser o guardião desta casa. Nada de
trazer garotos pra cá.
O único para quem eu tinha olhos estava bem ali diante de
mim, quase me fazendo sufocar com sua proximidade, mas não
podia dizer nada daquilo para ele. De minha parte, Logan não teria
nenhum tipo de preocupação, pois eu não podia ser considerada
uma garota festeira ou paqueradora. No entanto, quis avisar que ele
teria trabalho com Leslie, mas fiquei quieta. Seria divertido assisti-la
deixar o irmão de cabelos em pé.
— Você é fofa demais. — Logan riu, estreitando seus olhos e
quase os fechando. — Por sinal, isso que fez nos cabelos deve ter
dado trabalho, mas ficou bem melhor do que aquele verde que
usava da última vez em que nos vimos.
Dito isso, levou sua mão enorme ao topo da minha cabeça e a
esfregou no local, bagunçando e embaraçando os fios que seus
próprios dedos soltaram do meu rabo de cavalo feito às pressas e
da forma mais desleixada possível.
Eu me levantei e me olhei no espelho do quarto quando ele me
deixou sozinha, sentindo meu coração acelerado por causa daquele
contato bobo. Encarei meus cabelos coloridos e desfiz o penteado
para arrumá-los com os dedos antes de voltar a prendê-los.
Desde que me lembrava de ter idade suficiente para fazer
meus pais entenderem que eu gostava de cores, comecei a pintar
meus cabelos. Aos quinze anos, fiz minha primeira mecha rosa, que
até o final do ano letivo, se transformou em cinco. Aos dezessete,
eu já tinha pintado a cabeça inteira de lilás e dali em diante nunca
mais parei. Azul, verde, roxo, amarelo, laranja, todas as cores
possíveis e existentes em frascos de tintas de cabelo já foram
experimentadas por mim.
Eu era, naturalmente, uma pessoa tímida. A mais tímida que
conhecia. Detestava conhecer novas pessoas e interagir com elas,
ficava vermelha por qualquer motivo que me tirasse da zona de
conforto, tinha pavor de falar em público e me sentia hiperventilar
quando um garoto me encarava por mais de cinco segundos. A
primeira vez em que beijei na boca, saí correndo quando Elliot
desceu os lábios até o meu pescoço. Leslie dizia não entender
como alguém que detestava ser o centro das atenções conseguia
gostar de ter os cabelos sempre em evidência, mas era
extravasando dessa forma, que eu conseguia me sentir confortável.
As pessoas concluíam que eu era diferente e estranha, então não
se aproximavam o suficiente para que eu fosse obrigada a interagir
com elas. Para mim, estava ótimo desse jeito. Eu tinha ao meu
redor só quem era importante para mim.
Quando abri a porta do banheiro pude ouvir as vozes de Logan
e Leslie indicando que tinham engatado em uma conversa animada,
com certeza com ela o enchendo de perguntas a respeito do
campus. Era fim de tarde quando finalmente demos um jeito no
nosso quarto e nos permitimos tomar um banho para relaxar.
Sozinha no quarto, me flagrei pensando no que usar em meu
primeiro dia morando sob o mesmo teto que Logan. Quer dizer, não
é como se ele nunca tivesse me visto com as mesmas roupas de
sempre ou com meus pijamas confortáveis, então por qual motivo
eu estava me preocupando com algo do tipo?
Sentei-me na cama enquanto desembaraçava os cabelos
úmidos e sorri, lembrando que Logie era o único garoto que já tinha
me visto de calcinha — mesmo que eu só tivesse uns nove anos
quando aconteceu. Tinha sido culpa da minha mãe, que o levou até
meu quarto para deixar que usasse meu computador bem no
momento em que eu estava trocando de roupa. Meus seios ainda
não tinham se desenvolvido direito, portanto, eu não usava sutiã
naquela idade, o que significava que Logan tinha visto meus peitos
inexistentes.
Ri sozinha com aquela lembrança pavorosa e agradeci
mentalmente, mais uma vez, por Logan sempre ter sido um garoto
legal. Ele não era do tipo que ficava tirando sarro de ninguém, pelo
contrário, sempre foi como um irmão mais velho e fofo para mim e
essa era uma das coisas que mais tornava difícil tirá-lo da cabeça.
— Zoe! — Ouvi o chamado de Leslie e soltei a escova sobre a
cama. — Não vai sobrar pizzapra você!
Deixei o quarto e fui me juntar a eles na sala, sentindo meu
rosto esquentar um pouco ao descobrir que Logan estava sem
camisa, sentado no tapete ao lado da irmã, relaxado com as costas
contra o sofá.
Enquanto minha melhor amiga se ocupava em encher a boca
com uma fatia de pizzade calabresa, Logan virou o rosto na minha
direção e me deu um de seus sorrisos. Eu chamava aquele de TOP
3, pois costumava me causar três tipos de reações diferentes:
sorriso, suspiro e arrepio. Tudo ao mesmo tempo, pois era um
sorriso que indicava que ele estava bem ali, me vendo de verdade,
como se eu fosse alguém muito importante.
A parte ruim era que Logan sorria daquele jeito para todo
mundo que merecesse seu sorriso, não apenas para mim. Ele era
uma pessoa séria na maior parte do tempo, gostava de fazer uma
linha misteriosa, mas quando queria esbanjar simpatia, fazia o
coração de qualquer garota parar por alguns segundos.
— Como você não come cebola, pedi para colocarem apenas
em metade da pizza — disse ele, se adiantando e pegando uma
fatia, para depois colocá-la em minha mão.
Tanto eu quanto Leslie o encaramos em silêncio, mas a
expressão facial dela indicava que estava prestes a dizer alguma
gracinha a respeito daquele gesto cavalheiro. E como eu conhecia a
minha amiga muito bem, senti meus olhos se arregalarem na
direção dela, quando abriu a boca.
— Não sabia que tinha se tornado ainda mais galanteador
depois que veio para a faculdade, Logie. — Leslie riu baixinho. —
Assim você vai dificultar a vida da...
Eu me curvei sobre a mesinha de centro e grudei minha mão
contra a boca da tagarela antes que ela proferisse o meu nome. Era
apenas o nosso primeiro dia morando todos juntos, pelo amor de
Deus, eu não queria começar meu ano letivo sendo humilhada
daquele jeito.
— Vocês continuam doidinhas, não é? — perguntou Logan,
estreitando os olhos e balançando a cabeça.
— Claro que não — respondi, voltando a me sentar direito ao
soltar Leslie e fuzilá-la com meu olhar. — Esse é só o jeito da sua
irmã dizer que a população feminina do campus deve adorar você.
Logan deu de ombros de forma despretensiosa e abaixou a
cabeça para esconder o sorriso.
— Não é bem assim. Estamos em Princeton, não é mais o
nosso antigo colégio.
Claro que ele tinha sido o garoto mais popular do ensino
médio, com direito à coroa de rei do baile e tudo mais. Com o k-
pop[2] e os doramas[3] cada vez ganhando mais fãs pelo mundo, não
era de se estranhar que Logan com aquele rostinho, fosse o ídolo
das meninas.
— Por falar nisso, preciso saber se corro o risco de acordar no
meio da madrugada e dar de cara com alguma garota saindo do seu
quarto. — Leslie franziu o nariz ao virar o rosto para o irmão. —
Mamãe pediu para que eu passasse um relatório semanal sobre as
possíveis pretendentes à nora dela.
Tossi com força bem no momento em que engolia um pedaço
de calabresa e os dois me encararam. Abanei minha mão para
indicar que não se preocupassem comigo, enquanto eu desejava
que um buraco se abrisse debaixo de mim, então peguei a garrafa
de refrigerante que estava aberta sobre a mesa e levei minha boca
com pressa ao gargalo.
Só depois de perceber que ambos ainda me observavam é
que me dei conta do que fiz ao dispensar o copo que estava bem do
meu lado.
— Ah... — pigarreei e abracei a garrafa. — Acho melhor vocês
abrirem outra. Eu fico... com essa.
— Não tem outra — respondeu Logan, pegando o refrigerante
das minhas mãos e servindo os três copos. — E é óbvio que não
vou trazer garotas pra casa, Leslie. Não com vocês duas dormindo
no quarto ao lado.
— Isso significa que eu também não vou poder trazer
ninguém?
Ele parou o gesto pela metade, com a fatia de pizzaa caminho
de sua boca, e encarou sua irmã. Um silêncio sepulcral recaiu sobre
todos nós, enquanto eu tentava compreender o que Leslie estava
aprontando.
— É claro que não pode trazer ninguém — enfatizou Logan,
estreitando os olhos e jogando a pizza no prato. — Precisa se
manter virgem até se casar. A não ser que deseje testemunhar a
mim lançando um idiota qualquer pela janela do segundo andar.
Leslie gargalhou e tapou a boca, arregalando os olhos.
— Você acha que eu ainda sou virgem? — Minha amiga louca
bateu palmas e apontou para mim. — Eu e Zoe transamos antes da
formatura!
Calma. O que ela disse?
— Não juntas, é claro — frisou Leslie, abanando as mãos. —
Cada uma com seu boyzinhogato.
Meus olhos quase pularam para fora das suas próprias órbitas
enquanto eu processava aquela mentira, sem entender o que minha
amiga pretendia com aquilo. O rosto de Logan ganhou uma
coloração muito avermelhada enquanto ele intercalava olhares entre
nós duas, provavelmente tentando se controlar para não enforcar a
irmã.
— É mentira — disse ele, cruzando os braços. — Eu até
acreditaria se falasse apenas por você mesma, pois sei que é
impulsiva. Mas a Zoe não faria isso. Ela tem juízo.
— E o que uma coisa tem a ver com a outra? — Leslie
retrucou, imitando o irmão e cruzando os braços como ele. — Pois
Zozo também foi impulsiva. Ela ficou com um cara mega gato e
gostoso de quase dois metros de altura e um pau enorme de...
Um pedaço de pizza foi enfiado na boca de Leslie quando
Logan se irritou e a obrigou a se calar.
— O que aconteceu com você durante esses anos em que
estive fora? — perguntou ele, fazendo uma careta. — Não preciso
ouvir minha irmãzinha falando sobre a genitália masculina. —
Sacodiu a cabeça e suspirou, passando os dedos pelos olhos. —
Melhor ainda, não fale sobre nenhuma genitália. Ou sobre sexo.
Não quero saber. Pra mim, vocês ainda são duas crianças.
Eu não entendia por qual motivo a Leslie estava dizendo
aquelas coisas, considerando que nós duas ainda éramos virgens.
Claro que como toda garota da nossa idade, a gente mal podia
esperar pelo momento em que finalmente rolaria a nossa primeira
vez, mas ambas continuavam aguardando a oportunidade certa. Ela
era um pouco mais afobada do que eu, mas compartilhava comigo a
mesma insegurança por querer esperar pelo cara certo.
Não tive a chance de retrucar a indireta sobre ser criança
porque meu celular tocou no quarto e eu me levantei com pressa
para atender. Vi o nome Isabella na tela e coloquei um sorriso no
rosto antes mesmo de ouvir sua voz.
— Oi, mãe — atendi, levando o aparelho à orelha.
— Querida! — ela praticamente gritou, animada demais. —
Como você está?
— Estou bem. A viagem foi tranquila e agora estamos
descansando um pouco.
— Coloque no viva-voz para eu poder falarcom as crianças,
ok? — Suspirei, porque meus pais adoravam incluir Leslie em
nossas conversas.
Eu obedeci enquanto me dirigia novamente à sala, colocando
a ligação no viva-voz e me sentando ao lado de Logan para poder
terminar minha pizza.
— Oi, Senhora Green! — minha amiga cumprimentou de boca
cheia. — Já está sentindo saudade das nossas bagunças?
— Com certeza, querida.A casa está muitovazia...Como foia
viagem? Já desempacotaram tudo? E a cidade? Saíram para
conhecer algum lugar? O apartamento do Logan é legal?
Como o esperado, minha mãe nos bombardeou de perguntas,
sem nem ao menos nos dar tempo de responder. Eu ri, sentindo
meu coração apertar um pouco. Aparentemente, saudades de casa
seria um problema, sim. Eu já estava sentindo falta dos meus pais e
não fazia nem um dia completo que tinha deixado eles.
— Uma coisa de cada vez, mãe — pedi.
Ela riu do outro lado.
— Seu pai quer saber se já visitaram a faculdade.
— Não tivemos tempo, Senhora Green — respondeu Leslie. —
Mas amanhã será o grande dia.
— Que ótimo!— Eu podia ouvir a animação na voz dela. — E
o Logan? Está cuidandode vocês? Eledeve estar cansado, não é?
Foimuito gentilda parte dele ter voado até aqui só para ajudá-las
com a bagagem.
Ao meu lado, o rostinho bonito apenas sorriu, todo orgulhoso.
— Fazia mais de um ano que eu não via esse menino. Ele
continua lindo, não é? Não sei como ainda me surpreendo.
— Mãe! — Achei melhor intervir na situação. — Saiba que o
Logan está aqui ao nosso lado, escutando a senhora falar.
— E qualo problemadisso?Eu estou velha,não morta. Se eu
ainda tivesse meus vintee poucos anos, vocês iam ver só... —
Minha mãe riu, ela sempre foi cara de pau. — Logan, querido,
espero que esteja bem.
— O meu pai está escutando a senhora dar em cima do
Logan? — questionei, sentindo meu rosto esquentar por vergonha
alheia.
— Sim— ouvi a resposta dele, o que arrancou uma risada de
Leslie e seu irmão. — E foibom a senhoritaperguntar por mim,pois
eu tenho uns recadinhospra dar. Nada de bebidasalcoólicas,
você
só tem dezoitoanos. Pode ir em algumas festas,afinal,está na
universidade,mas fiquelonge das drogas! E nada de garotos
também, primeiro você tem que ser formar
.
Ao meu lado, o objeto do meu desejo ergueu o polegar e o
balançou diante do meu rosto e do de Leslie, concordando com
cada frase do meu pai. Eu empurrei a mão dele e revirei meus
olhos.
— Se o garoto for o Logan, você tem a minhaaprovação, Zoe
— disse minha mãe, quase me fazendo infartar.
— Isabella!
— meu pai protestou.
— O que foi, Anthony?
O que dizer a respeito dos meus pais? Eles tinham gerado
uma filha apenas para esperar que ela crescesse e os dois
pudessem passar seus dias a envergonhando de todas as formas
possíveis. Formavam uma dupla engraçada e eu os amava, mas
esse jeito de falar tudo sem possuir nenhum filtro sempre me
deixava com vontade de me esconder. Para ambos, Leslie e Logan
eram uma extensão da família e eles achavam que não precisava
haver nenhum segredo entre nós. Bom, claramente, nenhum dos
dois entendia nada sobre paixões platônicas ou teriam alguma pena
de mim.
O filho da mãe do meu lado estava vermelho de tanto rir, com
um braço cruzado na frente do peito e o outro cotovelo apoiado na
mão, enquanto seu dedo indicador descansava sobre a bochecha.
— Pare de fogono rabo e não empurre minhafilha
pra cima de
um garoto.
— Não é um garoto qualquer, querido— retrucou minha mãe.
— É o Logan. Imagine os netos que a gente teria...
Ao longo dos anos eu havia suportado situações como aquela
diversas vezes, nem mesmo o pobre Logie escapara de ouvir a
torcida da minha progenitora para que nós dois ficássemos juntos.
Mas agora ela tinha ido longe demais ao tocar no assunto filhos.
Temia que começasse a discursar sobre sexo quando eu menos
esperasse, por isso, agarrei meu celular e o aproximei da boca,
fazendo um barulho de chiado perto do microfone.
— Mãe, pai, o sinal aqui é péssimo, vou ter que desligar —
avisei com pressa. — Amo vocês!
Meu coração estava agitado quando soltei o telefone sobre a
mesinha e encarei a caixa de pizzaquase vazia.
— Isso foi tenebroso — Leslie murmurou antes de cair na
gargalhada. — Os seus pais são muito piores do que os meus.
Como eu não tinha coragem de desviar meus olhos na direção
do objeto principal daquela trágica conversa, apenas deitei minha
cabeça sobre a mesa e lamentei ter obedecido minha mãe ao
colocar a ligação no viva-voz como havia pedido. Serviu como lição
para nunca mais fazer isso quando Logan estivesse presente, pois
aquela pessoa de trinta e nove anos havia perdido os modos
completamente.
Normalmente, eu não saía para beber em véspera de treino,
mas naquela noite precisava espairecer um pouco. A última semana
vinha sendo diferente e abalara a minha rotina, pois não tinha mais
o costume de morar com outras pessoas. Ter Leslie e Zoe em casa
estava sendo um pouco estranho e eu tentei ceder o meu tempo
livre a elas, para ajudá-las a se adaptarem melhor. Por isso, passei
dois dias inteiros mostrando todo o campus para que não se
perdessem quando as aulas começassem, e no final de semana, eu
as levei para dar uma volta pela cidade.
Naquela quarta-feira, semana de início do novo ano letivo,
aceitei me encontrar com alguns amigos, basicamente os mesmos
de sempre. Eu podia ser considerado o tipo de cara popular da
universidade, mas não curtia muito andar por diversos grupos e
fazer amizade com pessoas aleatórias. Sempre fui um pouco mais
reservado quanto a isso.
Consegui me livrar de Leslie, pois minha irmã estava ansiosa
para conhecer alguns amigos meus, e estacionei o carro na frente
do Oliver, um bar que não era grande coisa, mas era pointde muitos
universitários por ter uma boa localização em relação à maioria das
fraternidades.
Devido ao horário, estava bastante movimentado, mas não
demorei a encontrar os rostos de sempre sentados em uma mesa
mais ao fundo, perto de uma das janelas. Eles já tinham começado
a beber e depois de cumprimentá-los, fui até o balcão pegar uma
cerveja para mim.
Assim que me aproximei de volta, Dylan e Ryan sorriram com
uma animação que indicava o quanto a bebida vinha fazendo efeito.
Dei o primeiro gole quando recebi um tapinha no ombro e virei o
rosto para observar o mais loiro do grupo bater seu copo no meu e
sorrir.
— Quando vai nos apresentar a sua irmã?
— Considerando que eu amo a Leslie e quero o melhor para
ela, não pretendo fazer isso tão cedo — respondi, devolvendo o
sorriso e apontei para ele. — Principalmente a você, Ryan.
— Por que não? — perguntou Mike, que fazia parte da minha
equipe de natação.
— Porque eu sei exatamente tudo o que se passa dentro da
mente pervertida de cada um de vocês.
Olhei de um por um, avaliando-os cuidadosamente. Ryan,
Dylan, Mike e Edward eram os quatro que eu considerava como
amigos ali em Princeton, mas não nutria, necessariamente, o
mesmo tipo de amizade com cada um. O primeiro que conheci foi
Dylan porque ele era meu colega de quarto no dormitório em nosso
primeiro ano letivo. Era o mais tranquilo de todos e, talvez por isso,
aquele em quem eu mais confiava e com quem melhor me
relacionava.
Através de Dylan, conheci Edward, que agora estava em seu
último ano e era um cara muito gente boa. Sua namorada estava
grávida e Eddie vinha trabalhando intensamente, portanto, nossos
encontros com ele vinham se tornando cada vez mais esporádicos.
Mike era aquele que ninguém nunca levava a sério porque
estava sempre fazendo alguma piadinha e sendo irônico a cada
nova oportunidade. Recentemente, confessou a mim e Dylan que
era bissexual e eu torcia para que, em algum momento, se sentisse
preparado para se libertar de uma vez por todas e deixar todos os
receios de lado.
E tinha Ryan, que era uma pessoa complicada. Nossa
amizade era a mais volátil, pois tínhamos personalidades muito
diferentes. De todos do grupo, ele era o único rico, tinha nascido
numa família abastada que possuía tradição na política e parecia
sempre sentir necessidade de reforçar para todos a sua condição
financeira. Ryan jogava para o Tigers, a equipe de basquete de
Princeton, mas na última temporada ele permaneceu mais tempo no
banco do que em quadra.
— Você pode ter essa carinha de anjo, mas é tão pervertido
quanto qualquer um de nós, Logan — disse Edward, estreitando os
olhos e rindo. — De qualquer forma, eu nem ligo, pois já tenho a
minha gostosa.
— Nenhum de nós daria em cima da sua irmã... — Ryan sorriu
e ergueu o copo quase vazio. — Não existe um código moral pra
isso?
— E desde quando você segue códigos morais?
Ele riu e me deu outro tapa no ombro. Estava fazendo de
brincadeira, mas eu achava que não tinha noção da sua força,
principalmente quando estava bêbado.
— Estou apenas tirando onda com a sua cara, Logan —
completou. — Porque sei que você fica irritado e... bem, porque a
sua irmã é uma gracinha.
A culpa por eles estarem curiosos era totalmente minha, pois
sempre fui muito discreto com redes sociais, mas caí no erro de
postar uma foto com Leslie no dia do aniversário dela, três meses
antes. Desde então, ando ouvindo piadinhas sobre minha irmã,
ciente de que não vou conseguir mantê-la longe dos meus amigos
durante os próximos anos.
E sim, Leslie era linda, mas o tamanho de sua beleza condizia
com o tamanho do meu ciúme. Ela tinha os olhos da nossa mãe e o
sorriso mais doce do mundo, além de bochechas que eu adorava
apertar. Graças a Deus, sua melhor amiga era Zoe, uma menina
tranquila como minha irmã, então nunca precisei me preocupar
muito com a questão dos garotos, pois Leslie era muito inocente.
Pelo menos, ela era quando eu saí de casa e vim para a
faculdade. Ainda não tinha aceitado muito bem aquele papo
estranho sobre sexo e custava a acreditar que minha caçula tinha se
tornado uma pegadora.
Estremecendo de pavor, tomei um gole de cerveja e lancei
uma careta para Dylan, que tinha sussurrado, para que eu não
ouvisse, sobre Leslie ser apaixonante. Eu não me importava que
dissesse aquilo, na verdade. Dylan era meu melhor amigo desde o
início da faculdade e eu o conhecia melhor do que ninguém. Era
gentil, educado e tinha senso do ridículo. Mas eu já não podia dizer
a mesma coisa sobre os outros.
Ryan era muito bonito, aquele tipo padrão que encantava a
maioria das mulheres. Loiro de cabelos bem curtos, olhos azuis e
um exagero de músculos. Ainda era mais alto do que eu e se vestia
muito bem porque dinheiro não lhe faltava, além de dirigir um
Porsche azul que atraía olhares por si só.
Nós dois éramos os populares do nosso grupo e eu seria
hipócrita se dissesse que não usava isso ao meu favor. Minha
aparência me proporcionava ser o queridinho das garotas e nunca
me faltava contato para dar uma saída à noite e transar um pouco.
Porém, tirando a questão sobre popularidade do caminho, Ryan e
eu não tínhamos mais nada em comum. Achava bizarra a forma
como ele usava as mulheres com quem ficava, compartilhava
detalhes íntimos sobre o que fazia com elas na cama e as ignorava
no dia seguinte como se nunca as tivesse visto.
Claro que eu não era santo. Também não estava à procura de
um relacionamento sério, mas não possuía essa regra que parecia
implícita a muitos homens, de não repetir mulheres ou ser um
babaca total com elas. Se eu gostasse do sexo, não teria nenhum
problema em sair de novo com a pessoa. Apenas deixava claro que
não haveria nenhuma exclusividade.
Ryan parecia ter sua masculinidade ferida toda vez que me via
com a mesma garota duas ou três vezes seguidas, como se eu
fosse obrigado a seguir seu padrão. E por esse e muitos outros
motivos, eu queria minha irmã a quilômetros de distância dele.
— Não se preocupe, Logan — murmurou quando percebeu
que eu o observava. — Não vou chegar perto da Leslie. Afinal, tem
muitas mulheres no mundo, e nós dois sabemos que eu conseguiria
qualquer uma delas.
Eu dei um sorriso forçado.
— Você é um pouco presunçoso, não acha? — perguntei. —
Nem toda mulher gosta de idiotas, Ryan, e você, na maioria das
vezes, se esforça para ser um.
— Eu acho que elas podem até gostar desse estilo meio bad
boy dele, para uma noite selvagem e bem louca — disse Eddie,
balançando o dedo indicador. — Mas vamos concordar que, no
fundo, sonham em se casar com o Senhor Galã Perfeitinho aqui.
Aquele era um apelido que Edward tinha dado a mim um
tempo atrás e deixava Ryan um pouco irritado.
— Quem você acha que pega mais mulher, Eddie? —
perguntou o loiro, arqueando a sobrancelha. — Eu ou Logan?
— Você — quem respondeu foi Dylan, terminando sua cerveja
e se levantando para pegar outra, mas antes, virou o rosto para
Ryan. — Mas apenas porque as notas de Logan são melhores do
que as suas. Ele não gasta todo o tempo de sua vida correndo atrás
de bocetas aleatórias.
— Aposto que você não conseguiria pegar a top 1 da Hottest
Prin— Mike comentou, apontando para Ryan.
— Quem é a top 1? — perguntou o jogador de basquete.
— Jura que vocês ligam pra essa baboseira? — Dylan bufou
ao meu lado e ergueu uma sobrancelha. — A lista da HottestPriné
a coisa mais infantil que eu conheço.
Ryan fez um gesto de desfeita.
— Não importa. Agora eu quero pegar a top 1. — Ele sorriu,
desafiador. — Quem é?
— Uma tal de Liana Smith — disse Edward, encolhendo os
ombros. — Ela é uma princesa, mas inacessível. Acho que cursa
Medicina.
— Então é inteligente.
Vi uma ou duas vezes essa garota e, se eu não estivesse
enganado, ela tinha namorado. Mesmo assim, virei o rosto para
encarar Ryan ao meu lado e estalei a língua, sorrindo para ele.
— Garotas inteligentes não são o seu tipo, não é?
— Eu adoro as inteligentes — ele disse.
— Mas elasnão adoram você — retruquei, dando um tapa de
consolo em seu ombro.
Sabia que isso mexia bastante com o ego do garoto porque eu
quase nunca debochava dele nem o provocava. Depois que minhas
palavras fizeram todos da mesa rirem, senti que ele ficou ainda mais
tenso ao meu lado. O loiro estava acostumado a ser o maioral e eu,
realmente, pouco me importava com disputa de egos.
Por isso, achei que estava na hora de parar com a brincadeira
e mudar logo de assunto. Ou talvez o ideal fosse pedir mais uma
cerveja e me preparar para ir embora, pois não queria chegar ao
treino no dia seguinte curtindo uma ressaca.
— Você, Ryan, eu não acredito, mas acho que o Logan
conseguiria pegar a Liana — disse Eddie. — Ele é o TOP 1
masculino, afinal de contas.
— Não foi um título pelo qual eu pedi — respondi, revirando
meus olhos e me levantando. — Concordo com o Dylan, essa lista é
inútil.
Para mim, precisava ser muito desocupado para ficar
administrando algo como um ranking de pessoas mais bonitas e
populares do campus, baseado apenas em achismos e suposições.
— Qualquer um de nós dois chamaria a atenção da garota. —
Ryan estalou a língua. — Ela apenas não nos conhece ainda.
Ignorei seu devaneio e fui buscar mais uma cerveja. Uma
garota ruiva me encarou enquanto eu esperava debruçado no
balcão e sorriu para mim, deixando bem claro que estava
interessada.
— Eu amo BTS[4] — murmurou com uma voz forçadamente
sensual.
Era só o que me faltava. Segundos antes eu já estava
ponderando se valia a pena esticar um pouco a noite, mas aquela
frase foi suficiente para me fazer decidir. Acontecia muito de várias
garotas me enxergarem como um produto coreano e como uma
forma de se aproximarem de seus ídolos ao ficarem comigo.
Era um saco, de verdade. Já tinha perdido a conta de quantas
vezes precisei explicar que eu não tinha nascido na Coreia do Sul e
que não cantava nem fazia parte de nenhum grupo de k-pop. Anos
atrás quando o BTS estourou e a febre pelo gênero musical se
tornou ainda maior, sendo eu e Leslie os únicos com sangue
asiático no colégio, eu era constantemente assediado pelas
meninas, que me pediam pra cantar suas músicas favoritas,
queriam fotos comigo e um pedaço de mim.
— O que é isso? — questionei a ruiva, me fingindo de
desentendido. — Algum tipo de bebida?
— O quê?
— BLS? — reforcei, prendendo a risada. — BDS?
— BTS. — Ela piscou, boquiaberta. — Não sabe o que é?
— Eu deveria?
A garota passou os olhos pelo meu corpo antes de voltar a
encarar meu rosto, dando um sorriso meio sem-graça para mim.
— Você está brincando, não é? — indagou como se eu fosse
obrigado a saber o que era aquela sigla.
Claro que eu sabia, afinal, minha irmã e a melhor amiga dela
eram viciadas naquelas músicas, mas queria apenas dar uma lição
na garota, para que deixasse os estereótipos de lado.
Neguei, arregalando os olhos e balançando a cabeça. Então,
dei um sorriso sem abrir a boca e peguei a nova cerveja que foi
servida a mim, saindo do bar e a deixando para trás.
— Voltou na hora certa, Logan! — comentou Eddie, muito
animado. — O Ryan quer fazer uma aposta.
Sentei-me de novo ao lado do loiro e tomei um gole da minha
bebida, aguardando para ouvir o que ele tinha a dizer. Nosso amigo
era tão rico que achava bacana fazer apostas o tempo todo. A
última tinha sido tão ridícula que eu mesmo me culpava de não ter
participado, por ter sido um dinheiro muito fácil. Ele apostou mil
dólares que Dylan não conseguiria ganhar dele na bebida — Ryan
era o que mais bebia entre nós — e ser o último a resistir.
Claro que Dylan saiu carregado naquela noite e quase vomitou
as tripas, mas pelo menos, era um bêbado mil dólares mais rico.
— Qual a aposta? — perguntei, curioso. — Não coloquem a tal
da Liana no meio disso, porque eu tenho certeza de que a garota
possui namorado.
— Ah, não. — Ryan estalou a língua e soltou uma risadinha. —
Isso seria moleza pra você. O que eu quero mesmo, Logan, é
descobrir a sua capacidade de superar as dificuldades.
Olhei para os rapazes na mesa, mas eles pareciam aguardar
pela revelação, assim como eu. Nosso amigo era bastante
excêntrico, tudo podia acontecer dentro daquela cabeça alucinada.
— Então é comigo que você quer apostar? — perguntei,
vendo-o assentir.
— Se conseguir ter coragem para sair com a garota mais
estranha de Princeton e ainda colocá-la no TOP 1 da HottestPrin...
— Estou fora — eu o interrompi antes mesmo que terminasse
seu discurso. — Não vou sacanear ninguém. Não inclua terceiros
em suas apostas.
Uma coisa era ele querer gastar seu próprio dinheiro de
maneiras estúpidas, porém, inofensivas. Outra bem diferente era
envolver pessoas de fora do nosso grupo e brincar com sentimentos
alheios.
— Você não me deixou terminar — murmurou, suspirando. —
Eu pago vinte mil dólares.
Não fui o único a ficar em silêncio, pois Mike, Eddie e Dylan
também se calaram e encararam Ryan, que tinha aquela expressão
orgulhosa no rosto. Era assim que ele sempre ficava quando nos
fazia lembrar que estávamos todos os quatro num nível muito
abaixo do dele.
— O que você disse? — questionou Dylan. — Falou vinte mil?
Vinte mil dólares?
— Sim, claro. — Ryan sorriu, espalmando as duas mãos sobre
a mesa e me olhando. — Se Logan topar sair com a garota pelo
tempo necessário para colocá-la no TOP 1 da HottestPrin, eu pago
vinte mil a ele.
O clima parecia fúnebre enquanto meus amigos me
encaravam à espera de alguma resposta ou, pelo menos, uma
reação.
— Isso é muita idiotice — disse Edward, rindo. — Cara, vinte
mil é muita grana.
— Você não pode estar falando sério — comentei, balançando
minha cabeça e bebendo um gole longo de cerveja.
No entanto, eu sabia que era sério. Ryan era competitivo e
estava com o ego abalado pelas nossas brincadeiras minutos antes.
Ele fingia que isso não o afetava, mas claro que não gostava de
dividir o estrelato comigo, pois quando estávamos juntos, não
ganhava toda a atenção feminina como achava que merecia.
— Sei que vocês são duros, mas vinte mil dólares não é nada
pra mim. — Ele encolheu os ombros e me deu um tapa nas costas.
— Qual é, Logan! Você poderia finalmente trocar a sua lata velha
por outra. Não é sobre isso que vem falando desde que entrou na
faculdade?
Cerrei o maxilar porque Ryan estava jogando baixo e sabia
disso, todo mundo sabia. Há dois anos estava juntando dinheiro
para trocar meu carro. O que eu dirigia atualmente era simples e
tinha sido um presente dos meus pais quando vim morar aqui. No
entanto, eu gostava mesmo era das máquinas clássicas e antigas e
vinha sonhando com o momento em que conseguiria vender o meu,
pegar a grana que estava juntando, e comprar um Plymouth
Barracuda 1973. Só que com a rotina intensa de estudos mais os
treinos da natação, era muito difícil arrumar um emprego que
pagasse bem. Mesmo trabalhando nos últimos dois verões, não
tinha o suficiente para o que desejava. Com vinte mil dólares a mais
na conta, eu poderia comprar o automóvel e ainda sobrariam uns
trocados.
— O dinheiro seria muito bem-vindo — confessei porque não
tinha vergonha disso —, mas não é o bastante para me fazer
sacanear uma garota qualquer e usá-la para uma aposta.
— Quem falou em sacanear alguém? — questionou ele. — Se
você conseguir pegar uma garota feia e colocá-la na lista da Hottest
Prin, não acha que fará um favor a ela?
— Como vocês julgariam a beleza dela? — perguntou Mike. —
Ou melhor, a falta de beleza? Porque todo mundo vai achar suspeito
o Logan desfilando com uma garota horrorosa por aí.
— Eu não me refiro apenas à questão da beleza, porque
sabemos que uma boa maquiagem faz milagres. — Ryan apoiou os
cotovelos sobre a mesa, pensativo. — Mas uma pessoa
naturalmente estranha, sem muita habilidade social, isso sim seria
interessante.
— Eu não faria nada que não gostaria que fizessem à minha
irmã — comentei, querendo encerrar aquele assunto.
Imaginei logo Leslie sendo colocada numa situação como
aquela e sendo feita de boba, ou até mesmo a Zoe, que era uma
menina bem diferente da maioria. Se alguém fizesse algo parecido
com qualquer uma delas, eu...
Calma aí. A Zoe... Ela era estranha, mas não de um jeito ruim,
era algo peculiar da menina. A melhor amiga da minha irmã também
não era rica e poderia querer algum dinheiro. Eu tinha intimidade
suficiente para chegar nela e contar sobre a aposta, então, talvez
nós dois pudéssemos fingir tudo para enganar o Ryan e pegar a
grana.
Francamente, ele merecia. Pedia por algo assim.
— Eu topo — falei, surpreendendo a todos, principalmente
Dylan.
— Cara, o que você está fazendo? — ele sussurrou perto de
mim.
Imaginei que meu melhor amigo estivesse pensando que eu
tinha batido com a cabeça porque não parecia mesmo com algo que
eu aceitaria fazer, mas depois tiraria um tempo para explicar meu
plano a ele.
— Ótimo! — Ryan respondeu com um sorriso presunçoso no
rosto. — Você tem até o final do semestre pra namorar a garota
mais esquisita da faculdade e colocá-la no TOP 1 da lista.
— TOP 10 — falei, firme.
Eu não era tão idiota. Já tinha visto a lista feminina da Hottest
Prin e as garotas que ocupavam as cinco primeiras posições eram
todas deslumbrantes. Não que a Zoe não fosse bonita, pois ela era,
mas havia um caminho longo e árduo para ela percorrer até poder
desbancar algumas mulheres impressionantes.
Ryan estreitou os olhos para mim e pareceu ponderar por
alguns segundos. Eu conseguia até mesmo imaginar o que ele
estava pensando. O TOP 3 era praticamente impossível de ser
alcançado, e nem se ele me desse o dobro do tempo eu conseguiria
transformar completamente uma pessoa ao ponto de ela ir parar lá
em cima. Então, eu não aceitaria a aposta e a brincadeirinha dele
seria encerrada.
— Combinado — disse, finalmente. — Mas eu tenho que
aprovar a garota antes de você investir nela.
— Nem cogitei o contrário.
— Quando encontrá-la, me deixe saber.
Lancei um sorriso por cima do meu copo de cerveja, imitando o
mesmo olhar predatório que estava no rosto dele. Eu já tinha
encontrado a garota e ela seria perfeita, mas o filho da mãe riquinho
jamais saberia disso. Ia cair como um patinho na própria armadilha
e no final de tudo, minha única preocupação seria ir escolher meu
novo carro, bem preto e brilhante como a noite.
— Fechado. — Estiquei minha mão para ele e selei nossa
aposta.

— No que você estava pensando? — Dylan ainda não


acreditava que eu tinha mesmo aceitado e me lançou um olhar duro
assim que entramos no meu carro.
— Eu tenho um plano.
— Claramente, você tem — respondeu com seu humor ácido.
— Mas deve ser um plano bem idiota.
Sorri, girando a chave na ignição e dando partida no motor do
automóvel. Eu o deixaria na porta de seu dormitório antes de ir para
casa, como fazia todas as vezes em que saíamos juntos e não
pegávamos ninguém.
— Não é idiota, eu realmente parei pra pensar nisso antes de
aceitar e acho que pode dar muito certo. — Ergui meu indicador
depois de manobrar e sair da vaga. — Com o plusde não precisar
enganar nem humilhar nenhuma garota envolvida.
Era uma aposta infantil, bem nível de colegial? Sim, era. Eu
me sentia dentro de um filme teen, vivendo um daqueles clichês
absurdos, mas o valor que Ryan estava disposto a pagar não podia
ser ignorado.
— Tudo bem, cara. — Dylan suspirou, abrindo o vidro da
janela e apoiando o braço ali. — Me conte mais sobre o seu plano
brilhante.
— Zoe — respondi, sorrindo.
— Zoe? — Meu amigo franziu a testa ao me encarar,
inclinando o corpo um pouco para o lado. — Quem é Zoe?
— A amiga da minha irmã — respondi. — Já falei dela pra
você.
Dylan soltou uma risada, mas logo ficou sério e, mesmo
mantendo a atenção na direção, eu podia sentir seus olhos ainda
em cima de mim.
— Deixe-me ver se eu entendi direito. Você está dizendo que
vai usar a amiga da sua irmã nessa aposta ridícula? Então esse é o
seu plano? Usar uma conhecida em vez de uma garota qualquer?
Eu levei um tapa na nuca antes que pudesse reagir e me
defender, mas entendia a linha de raciocínio de Dylan e sabia que,
falando daquela maneira, parecia absurdo.
— Não vou simplesmente enganar a Zoe, não sou louco —
expliquei e desliguei o carro ao parar na porta do prédio de seu
dormitório. — Eu vou contar tudo a ela e propor que participe da
encenação comigo.
— Não acha que isso pode soar ofensivo? — perguntou Dylan,
então, ele mudou o tom de voz ao tentar me imitar, estufando o
peito. — Ei, Zoe, tudo bem? Como você é esquisita, o que acha de
me ajudar a ganhar uma aposta?
Dei um soco em seu braço e ignorei a gargalhada que o idiota
soltou.
— Ela não é esquisita, não fale assim.
— Se ela não é, então por qual motivo você acha que Ryan vai
aceitar que a escolha? — questionou, arqueando a sobrancelha. —
Me mostre uma foto da garota.
— Não tenho nenhuma aqui. — Suspirei, pensando em Zoe. —
Ela é... diferente, apenas. Tem os cabelos coloridos, sabe? Mas não
apenas do tipo que faz umas mechas discretas para mudar o visual.
É bem chamativo, então acho que isso, por si só, já vai ser um
ponto ao meu favor. Você vê alguma garota fora do padrão na lista
da HottestPrin?
Dylan ficou em silêncio por alguns segundos e eu não sabia se
estava apenas tentando pensar em alguém ou se continuava me
julgando.
— Ainda soa como uma ofensa à garota que ouvir isso —
murmurou, encolhendo os ombros. — Mas não sou eu no seu lugar,
então que seja.
— O que importa é que, primeiro, eu vou transformá-la numa
grande esquisitona, para não ter chance nenhuma do Ryan não dar
seu aval.
— Digamos que a menina seja louca e concorde em te ajudar.
E se o Ryan descobrir?
— Ele não vai — declarei.
Dylan me encarou, estreitando os olhos, antes de levar a mão
até a maçaneta da porta e abri-la.
— Você é louco e está esquecendo de que vai precisar ficar
com a melhor amiga da sua irmã.
— Não vou não, só preciso fingir na frente de Ryan.
Seria fácil, principalmente com o envolvimento da Zoe. Se
fosse qualquer outra garota, poderia querer tirar alguma vantagem e
realmente tentar estender nosso acordo indo um pouco mais além
da encenação. Com Zoe, tudo estava seguro. Ela me conhecia bem
o suficiente para não ter nenhum interesse a mais que não fosse
uma parte do dinheiro apostado. Era o melhor cenário de todos e
Leslie ainda poderia nos ajudar.
Dylan balançou a cabeça enquanto saltava do meu carro,
parecendo nada convencido de que eu teria êxito em meu plano.
— Toma cuidado, Logan. Não vai fazê-la se apaixonar e
magoar a garota.
— Zoe e eu somos praticamente irmãos — precisei explicar, já
que Dylan não tinha conhecimento da nossa proximidade. — Ela já
me viu de ressaca, já presenciou minhas brigas mais bestas com a
Leslie, testemunhou quase todas as minhas doenças e momentos
nada charmosos. Zoe não vai se apaixonar por mim por causa de
uma aposta.
Meu amigo revirou os olhos de forma dramática e ajeitou os
cabelos cacheados para afastá-los de cima dos olhos. Então, bateu
a porta e deu um tapa no teto do carro antes de se afastar.
— Adoraria estar presente para ver a reação dela quando você
contar sobre isso tudo.
— Ela vai achar genial, é claro — respondi, sorrindo para
Dylan e ligando o carro. — Em breve, eu te darei carona no meu
Barracuda. Aguarde e verá!
Passava das onze da noite quando entrei no meu apartamento
e decidi ir logo conversar com Zoe. Não podia perder tempo, pois a
qualquer momento Ryan podia querer escolher uma garota para
mim e meu plano iria por água abaixo. Portanto, parei diante da
porta do quarto das meninas e colei o rosto na madeira para tentar
descobrir se estavam acordadas. Como ouvi barulho do outro lado,
dei duas batidas e abri, apenas colocando a cabeça para olhar lá
dentro e esperar por uma autorização.
— Zoe, posso entrar? — perguntei para a garota que estava
sentada no meio de sua cama, com um creme verde no rosto, uma
dessas máscaras de hidratação que já vi minha irmã e ela usarem
tantas vezes.
A garota colorida assentiu, arregalando os olhos e se
levantando depressa para tirar as roupas que estavam jogadas
sobre sua cama... e jogá-las emboladas dentro do armário. Observei
quando tropeçou na mochila que estava no chão e bateu o cotovelo
nas costas da cadeira ao se abaixar para tirar o objeto do caminho.
Zoe era perfeita para o papel.
— Ah... A Leslie está no banho. — Pigarreou e se sentou de
novo na cama, tocando a máscara verde com as pontas dos dedos,
com muita delicadeza.
— Mas é com você que preciso falar. — Sorri, enfiando minhas
mãos nos bolsos do jeanse a encarando. — Como está?
— Bem — ela respondeu, cruzando as mãos sobre o colo. —
E você?
Abafei uma risada e observei o quarto delas, notando que já
tinham começado a dar seus toques pessoais ali no cômodo. A
mesinha que servia como escrivaninha estava quase abarrotada de
produtos para a pele e itens de maquiagem, que eu tinha certeza
serem da minha irmã, pois Zoe vivia de rosto limpo.
Não passou despercebido por mim — seria impossível — que
a roupa de cama da garota era do BTS e ela dormia com um
travesseiro que tinha o rosto de todos eles estampados na fronha.
— Tenho um convite pra fazer, Zoe — avisei, sorrindo para ela.
— Eu estou precisando de dinheiro pra trocar de carro e um amigo
fez uma aposta comigo. Preciso sair com uma garota e colocá-la no
TOP 10 de uma lista de mais bonitos e desejados do campus,
então, pensei em você.
— Hã? — Ela franziu a testa e eu percebi que expliquei rápido
demais.
Sentei-me na beira de seu colchão e a encarei, tentando sorrir
de um jeito doce e tranquilo para não assustá-la.
— Vou explicar melhor. Existe um perfil de notícias bem
famoso aqui em Princeton, e ele possui uma lista de beldades do
campus, tanto masculinas quanto femininas. Chama-se HottestPrin.
Essa lista muda constantemente, pois não julgam apenas a
aparência, mas também popularidade.
— Uma lista que objetifica as pessoas — murmurou ela,
sorrindo. — Uau, bacana.
— É patético, eu sei, mas essa não é a questão aqui. Eu tenho
um amigo bem rico que vai me dar vinte mil dólares se eu conseguir
fazer uma garota estranha chegar ao TOP 10 dessa lista. — Pisquei
para ela. — Entende?
Ela ficou séria demais e tocou o rosto de novo, puxando a
máscara pelas pontas até se livrar totalmente dela. Observei quando
a amassou com uma mão e usou a outra para massagear o rosto.
— Eu sou a garota estranha?
Baixei meus olhos, pensando em como falar sobre aquele
assunto sem magoar Zoe.
— Bem, você é um pouco fora dos padrões... — comentei,
voltando a encará-la. — Mas não é estranha. Essa parte, vai ficar
por conta da nossa transformação.
Zoe era uma menina simples, mas bonita. Seus olhos verdes
eram grandes, ela tinha uma pele lisa e aparentemente macia,
lábios bem desenhados e traços delicados no rosto. Era bem magra,
mas não era tão baixinha quanto Leslie, devia ter quase um metro e
setenta, o que significava que poderia ficar mais atraente com a
produção certa.
— Desculpa, Logan, não sei se entendi direito tudo isso... —
disse, pressionando um lábio no outro, com as bochechas ganhando
coloração avermelhada. — Mas devem ter outras garotas que sejam
mais adequadas pra essa lista. Não tenho a intenção de ser popular
nem nada.
Zoe se levantou e jogou a máscara amassada na cestinha de
lixo rosa que havia ao lado da escrivaninha. Depois pegou um
objeto que eu não conseguia identificar, mas que possuía uma
pedra rosa na extremidade, e começou a deslizá-lo pelo rosto.
Quando se virou e me encarou, dei uma boa olhada no look da
noite, porque eu quase não parava para reparar nela.
A menina estava vestida com uma camisa branca enorme,
com o símbolo da Mulher Maravilha, e por baixo devia existir algum
short muito curto, pois eu não conseguia vê-lo. Suas coxas eram
bonitas e ficariam ótimas dentro de um vestido sensual. Tinha tudo
para dar certo, bastava que aceitasse.
— Precisa ser você, Zozo. — Sorri enquanto ela puxava a
barra da camisa para baixo ao notar que eu encarava. — É a única
em quem eu posso confiar e contar sobre meu plano. Não posso
sair por aí fingindo namorar qualquer outra garota, porque não quero
tornar isso uma dor de cabeça pra mim, entende?
— Namorar?
— Sim — respondi. — Com você, eu posso fingir. Temos
intimidade pra isso sem que fique um clima estranho.
— Te-temos? — Pela forma chocada como perguntou, parecia
que eu sugerira termos um filho juntos.
Ela abriu e fechou a boca. Talvez eu tenha criado muitas
expectativas, achando que Zoe acharia o plano incrível e que
toparia a ideia na hora. No entanto, ela não estava empolgada como
eu havia imaginado e Dylan adoraria apontar o dedo na minha cara
e dizer que tinha razão.
Aguardei que sua mente trabalhasse e digerisse as
informações, pois não ganharia nada sendo afobado. Por fim, a
menina soltou um suspiro e umedeceu os lábios ao me encarar com
firmeza.
— Deixe-me ver se entendi direito... — murmurou, parando
diante de mim com os braços cruzados. — Você quer me
transformar na garota mais esquisita da universidade e fingir que
está saindo comigo, para então me transformar na mais desejada,
pra que eu entre em uma lista sexista e a gente ganhe uma aposta
maluca.
— Uma aposta que vale vinte mil dólares — frisei. — Além
disso, a HottestPrinnão é sexista. Também existe uma lista para os
homens.
Zoe revirou os olhos e depois bufou.
— Vou fingir que você não acabou de se justificar usando essa
desculpa.
Eu também me levantei e parei na frente dela, segurando seus
ombros e aproximando meu rosto ao me inclinar um pouco.
— Entenda que são vinte mil dólares e eu vou te dar uma parte
desse dinheiro.
Como eu sabia que Leslie podia sair do banho a qualquer
momento e eu ainda não queria envolvê-la — não sem antes a Zoe
concordar em participar —, decidi encerrar a conversa ali mesmo,
por enquanto, e deixar para conversarmos mais no dia seguinte.
Depositei um beijo delicado em sua testa, sentindo um
cheirinho de morango saindo dos cabelos coloridos que estavam
presos num coque no alto da cabeça, então recuei alguns passos.
— A gente termina essa conversa em outra hora, tudo bem? —
Pisquei, mas Zoe permaneceu imóvel. — Boa noite, Zozo. Pensa
direitinho na minha proposta.
Tinha acabado de sair do quarto quando a porta do banheiro
abriu e minha irmã passou por ela, vestindo um pijama xadrez e
usando a toalha enrolada na cabeça. Leslie me lançou aquele seu
sorriso fofo de sempre e eu torci para que Zoe não comentasse
nada com ela.
— Como foi seu dia? — perguntei, apertando sua bochecha
antes que conseguisse fugir de mim. — Gostou das aulas de hoje?
— Foi legal... Mas ainda estou meio perdida — disse,
suspirando e fazendo cara de choro. — É tão estranho não ter mais
a Zoe na mesa do lado... Sinto saudade do colégio.
— Faz parte da vida de adulto, Lee. Pelo menos, vocês ainda
vieram juntas, mas muita gente não tem essa sorte, não é?
Eu mesmo deixei várias amizades para trás quando vim para a
faculdade e sentia saudade de como tudo era mais simples na
adolescência. Ainda falava com um amigo ou outro daquela época,
mas não era a mesma coisa. Cada um tinha ido para um canto do
país, vivia rotinas diferentes e conhecera novas pessoas. Aos
poucos, fui entendendo que amigos chegam e se vão simplesmente
porque isso faz parte do ciclo da vida. É claro que um ou outro vai
marcar mais, talvez se torne aquela pessoa que manterá contato
para sempre, mas em cada fase da nossa vida, nós teremos
amizades que naturalmente serão renovadas.
Eu nunca possuí o que Leslie e Zoe têm, esse vínculo tão
estreito que as tornam melhores e únicas amigas uma da outra, mas
achava fofo que fossem assim e acreditava que ainda viveriam
muita coisa juntas.
— Eu tenho mesmo muita sorte, porque você também está
aqui! — Minha irmã me abraçou e beijei o topo da cabeça dela antes
que me soltasse. — Vou me arrumar pra dormir.
— Boa noite, Lee.
Fui para meu quarto, pois ainda queria tomar banho antes de
me deitar e tentar não dormir muito tarde, visto que eu tinha treino
logo cedo, antes das oito horas.
No dia seguinte, “My Hero”, de Foo Fighters
, tocava nos meus
fones de ouvido enquanto preparava meus ovos para um rápido
café da manhã. Estava batucando meu pé direito no ritmo
contagiante da música e mexendo a espátula na frigideira, quando
senti o perfume de Zoe e virei a cabeça para trás.
Tirei os fones e os guardei no bolso da minha calça porque
meu foco agora era falar com a menina.
— Bom dia! — cumprimentei quando a vi passar pelo balcão e
abrir a geladeira. — Pensou com carinho na minha proposta?
Ela não devia ter nenhuma aula tão cedo, pois ainda estava
com a mesma roupa que usou para dormir. Um short curto demais
que mostrava muita coisa quando se esticava para pegar um copo
no armário alto.
Pisquei algumas vezes, chocado por ter ficado mais tempo do
que o normal reparando nas pernas daquela que podia ser minha
irmã.
— Bom dia, Logan. — Seus olhos me fitaram quando segurou
a garrafa de leite numa mão e o copo na outra. — Acho que ainda
nem acordei direito.
Desliguei o fogo, joguei os ovos mexidos no prato que tinha
deixado separado e peguei talheres na gaveta antes de ir para a
mesa. Depois de deixar minha comida ali, voltei até Zoe e peguei o
leite, segurando a mão que ficou livre e trazendo-a até meu peito.
— Por favor — pedi, estava disposto a implorar se fosse
preciso. — Diga que vai aceitar.
— Você não tem nenhuma amiga pra pedir isso?
— Eu não... — pigarreei ao me dar conta daquilo — não
costumo ter amigas mulheres. Não dá muito certo...
— Jura? — Zoe estreitou os olhos e eu entendi que devia me
achar um grande cafajeste. — Vamos supor que eu aceite. Como
faço pra saber quem são as garotas que estão nessa lista?
Meu coração até acelerou brevemente com aquela pergunta
porque significava que Zoe estava cogitando a possibilidade de
entrar comigo na aposta. Voltei para a mesa, onde estava meu
celular, e ela me seguiu, sentando-se na cadeira ao lado e
enchendo um copo com leite.
— Vou te mostrar o TOP 10, mas não fique se comparando,
pois as garotas nas fotos estão com maquiagem, filtro, tudo aquilo
que a gente já sabe.
Acessei o perfil do Instagramda Hottest Prin
e desci um pouco
o feed até achar uma postagem em carrossel, com as dez primeiras
da lista. Entreguei o aparelho para Zoe, que em silêncio, deslizou o
dedo devagar pela tela, analisando cada imagem. Sua expressão
era impassívele eu não fazia ideia do que estava pensando naquele
momento, até que colocou o telefone sobre a mesa e soltou uma
risadinha baixa.
— Sem chance — disse, estalando a língua.— Acho que você
deve estar desesperado pra me fazer essa proposta.
— O quê? Claro que não, Zoe...
— Oppa, tá olhando bem pra minha cara? — Com aquele
jeitinho meio petulante e tímido de quando brigava comigo, ela
revirou os olhos e bebeu seu leite. — Se eu aceitar, você vai perder
a aposta.
— Não acha que já está grandinha pra me chamar assim? —
questionei, provocando e sorrindo.
Zoe suspirou e baixou os olhos, sem jeito, e eu senti vontade
de me chutar porque não era o melhor momento para lhe causar
alguma insegurança. Só achava engraçado, porque minha própria
irmã nunca me chamou desse jeito, no entanto, sua melhor amiga
usava o termo desde pequena.
— Você é bonita, Zoe. — Segurei uma mecha de seus cabelos
coloridos e sorri para ela. — Com a produção certa, vai abalar as
estruturas de Princeton.
Ela me encarou de forma muito descrente, observando o gesto
que fiz com a mão até soltar sua mecha e voltar a comer.
— Não sei, eu já flagrei várias pessoas aqui olhando de um
jeito estranho para os meus cabelos e...
— Com todas essas cores, você não pode esperar que vá
passar despercebida — falei ao interrompê-la. — Esse look atual
pode sim ser um problema para entrar na lista, mas também pode
ser justamente o seu diferencial.
Zoe parecia um verdadeiro arco-íris com os fios de várias
cores. Era um trabalho impressionante, na verdade, pois eu
imaginava a dificuldade que devia ser manter cada cor no seu
devido lugar na hora de pintar. Os cabelos lisos e longos, que
batiam um pouco abaixo dos seios, possuíam um misto de cinco ou
seis cores. Começava com o rosa pela raiz, depois passava para
algo como um lilás que emendava no verde água, até chegar num
amarelo esverdeado. Mas em cada transição acabava existindo
várias tonalidades daquela mesma cor. Eu realmente nunca tinha
visto nada igual, mas estava acostumado com a vibe de Zoe, que
pintava os cabelos desde mais nova.
Não sabia mesmo se isso seria um problema, considerando
que as garotas da lista eram todas do estilo padrãozinho de sempre,
mas sabia que nenhum dinheiro no mundo faria Zoe mexer em seus
cabelos, muito menos eu teria coragem de pedir uma coisa absurda
como essa.
Por um instante, quando acordei nesta manhã, pensei que
talvez a conversa com Logan pudesse ter sido um sonho, afinal de
contas, não teria sido o primeiro. Várias vezes ao longo dos anos eu
havia sonhado com um beijo dele, com um toque mais íntimo, ou
apenas com situações normais em que ele estava por perto como
se fôssemos um casal.
Quando entrei na cozinha e o vi de costas, preparando seu
café, senti meu coração acelerar imediatamente. E logo em seguida,
ouvir as palavras saindo de sua boca e sendo direcionadas a mim,
me fizeram voltar a sentir o mesmo frio na barriga da noite anterior.
Ele queria mesmo que eu aceitasse embarcar naquela aposta,
parecia muito surreal. Quando Logan chegou no quarto ontem e
começou a falar, num primeiro momento, pensei que pudesse ser
alguma pegadinha. Depois de tanta insistência, cheguei a cogitar
entrar naquela loucura, mas as fotos que vi das garotas da lista me
deixaram bastante preocupada. Será que ele tinha mesmo noção do
que estava me pedindo?
Confesso que meu coração entrou em colapso quando soube
que a aposta incluía um namoro de mentirinha e, mesmo ciente do
significado disso, eu não conseguia deixar de me sentir ansiosa. No
entanto, temia fazer papel de idiota ou, pior ainda, perder a aposta e
Logan me culpar por isso.
— O que te faz achar que conseguirá me colocar nessa lista?
Ele me lançou um sorriso contido e apoiou as mãos sobre a
mesa, parando de comer e me encarando com muita tranquilidade.
— Primeiro o Ryan precisa aceitar que eu a escolha — disse,
piscando para mim sem saber o efeito que causava. — Para isso,
eu tenho que torná-la realmente estranha. Vamos pensar numa
roupa brega, fazer uma maquiagem que a deixe com um aspecto
desleixado e pensar em algo pro cabelo. E seria bom se você
pudesse interpretar um pouco.
— E aí depois eu volto pra minha versão normal?
— Depois nós vamos produzi-la do jeito certo, Zozo. — Logan
estreitou os olhos. — Você não usa maquiagem, né? Pelo menos,
eu nunca vi. Isso faz diferença, assim como a roupa, a postura e até
mesmo a forma como você pensa. A lista da HottestPrin diz mais
sobre popularidade do que beleza. Aquelas garotas da lista não
nasceram perfeitas, não são tudo o que você imagina.
— Já saiu com todas elas? — perguntei, mas me arrependi no
segundo seguinte.
Mordi a parte interna da minha bochecha, me xingando, e
Logan me lançou um olhar estranho.
— Não — disse, abrindo um sorriso safado logo em seguida.
— Mas é interessante saber que você pensa isso de mim.
— Penso assim como? — perguntei, na defensiva. — Você
sempre foi muito popular no colégio e não duvido que seja aqui
também. — Logan sorriu como uma criança que é flagrada fazendo
arte. — Inclusive, quem é o TOP 1 da lista masculina?
Ele abriu e fechou a boca, um pouco sem-graça, então
pigarreou e desviou o olhar. No fundo, eu meio que já esperava a
resposta que tinha para dar.
— Sou eu — confessou.
— Claro que sim — resmunguei baixinho.
Eu me levantei da mesa quando Logan me devolveu o olhar
com uma sobrancelha arqueada. Guardei o leite na geladeira e
peguei o pacote de pão de forma para fazer um sanduíche. Estava
cortando as bordas que eu nunca comia, quando senti a presença
dele atrás de mim. Suas mãos vieram parar em meus ombros e seu
rosto logo surgiu ao lado do meu.
— Vai aceitar ou não?
— Eu quero dez mil dólares — declarei ao me decidir de uma
vez por todas, mas sem virar a cabeça para olhá-lo, pois estaria
muito perto de sua boca e aquilo era demais até mesmo para os
meus sonhos.
— Cinco — Logan tentou negociar.
— Oito — insisti, ainda sentindo suas mãos em meus ombros.
— Sete.
Respirei fundo, soltei a faca e me movi um pouco mais para
frente até conseguir espaço para me virar de frente para o garoto. O
sorriso TOP 3 estava ali em seu rosto perfeito e não consegui evitar
que o meu também surgisse.
— Fechado — declarei, esticando minha mão.
Logan me encarou e, por um momento, pareceu enxergar
minha alma, desvendando todos os meus segredos. Isso me fez
estremecer levemente e precisei puxar o ar devagar para não fazer
muito barulho.
Por fim, segurou meu rosto entre as mãos e beijou minha testa
sem avisar com antecedência, quase me fazendo desejar mover o
rosto só o suficiente para beijarmos na boca.
— Isso vai ser ótimo! — murmurou ao me soltar e enfiar as
mãos nos bolsos.
Encarei-o, sem fôlego. Eu não tinha certeza de que
conseguiria fazer aquilo, mas não podia ignorar o dinheiro, que viria
em boa hora, pois não nasci em família rica. Além disso, Logan
parecia tão confiante que eu gostaria muito de descobrir o que ele
faria comigo para que ganhasse a tal aposta.
— Quando a gente... hm... vai começar a fingir? — perguntei.
— Você disse que esse Ryan precisará me aceitar como sua
escolha, certo?
— Do que vocês estão falando? Vão fingir o quê?
Eu não sabia se Logan tinha intenção de esconder o plano de
Leslie, mas nós dois viramos nossas cabeças ao mesmo tempo
para encontrar minha melhor amiga parada na entrada da cozinha.
Ela ainda estava com cara de sono e de pijama, mas parecia atenta
à nossa conversa.
Meu futuro namorado fakese afastou de mim, passando a mão
pelos cabelos lindos e escuros ao se aproximar da irmã. Como eu
não sabia o que responder e não queria me meter entre os dois,
voltei a me ocupar com o sanduíche e o preparei com calma,
comendo-o ali mesmo em pé enquanto ouvia Logan contar tudo
para Leslie.
Conforme ele se estendia no assunto e nos detalhes de seu
plano, eu podia escutar minha amiga suspirar ou soltar sons que
deixavam claro o quanto ela desaprovava cada parte daquela
aposta. Era ridícula, realmente, e eu só tinha topado isso porque se
tratava de Logan.
— Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi — disse Leslie.
— É uma estupidez que vale vinte mil dólares.
— Mas você vai incluir a minha amiga nessa confusão...
— Ela está ciente de tudo, Lee — retrucou Logan. — Não é
como se eu fosse enganá-la nem nada do tipo. Na verdade, nós
dois iremos enganar o Ryan.
Eu não queria comentar sobre isso com o garoto, mas fiquei
pensando se eles eram mesmo amigos, porque não conseguia
visualizar um cenário em que eu mentisse dessa forma para Leslie,
principalmente com dinheiro envolvido. Será que Logan não
pensava que, se o amigo descobrisse, isso poderia colocar fim à
relação de ambos?
Não era da minha conta, mas o irmão de Leslie sempre foi um
garoto muito tranquilo, do tipo que se dava bem com todo mundo,
que tratava bem pessoas de todas as tribos na época do colégio.
Apesar de ter sido muito popular, nunca foi de andar apenas com
um grupo e ignorar outros. Não entendia muito bem por que um de
seus amigos proporia uma aposta tão questionável justo a ele.
— Você concordou mesmo com essa loucura? — Eu estava
mastigando quando Leslie parou ao meu lado, com a testa franzida.
— Sabe que seu nome vai parar na boca de todo mundo, né?
Encolhi meus ombros e engoli devagar antes, sentindo o bolo
na garganta:
— Eu vou ficar com sete mil, se ganharmos.
— Não sabia que estava precisando de dinheiro...
Leslie me observou com os olhos bem estreitos e eu a
conhecia muito bem para saber o que estava pensando. Devia
achar que eu tinha aceitado somente para ficar perto de Logan e
tirar uma casquinha da situação — e claro que não estava
totalmente errada. Mas era muito dinheiro envolvido, poxa. Não foi
fácil ignorar esse detalhe.
— Todo mundo precisa de dinheiro — disse Logan ao passar
um braço sobre os ombros da irmã. — E se você nos ajudar, como
eu sou um ótimo irmão mais velho, te dou mil dólares.
Leslie ficou nas pontas dos pés e apertou as bochechas de
Logan ao sorrir para ele.
— Eu já ajudaria de graça porque não deixaria minha melhor
amiga perder, mas que bom que está me oferecendo uma graninha.
— Então esquece os mil...
— Não — ela o interrompeu, se afastando e rindo. — Nada
disso, já foi oferecido e, como você mesmo acabou de dizer, todo
mundo precisa de dinheiro.
Logan revirou os olhos e passou a mão pelos cabelos,
voltando a me encarar. Então, sem que eu esperasse, ele se
aproximou com toda aquela sua altura e elegância opressora e se
curvou para beijar meu rosto antes de recuar e piscar. Era muita
coisa acontecendo ao mesmo tempo.
— Eu preciso ir treinar, mas hoje à noite a gente começa a
bolar o plano — avisou, pegando a mochila de cima do sofá. —
Quero que o Ryan veja você amanhã pra resolvermos logo isso.
Meu cérebro ainda estava processando o beijo, então não tive
tempo de responder nada, somente consegui balançar a cabeça
num gesto que indicava ter escutado tudo.
Antes de sair, Logan segurou a maçaneta da porta e se virou
mais uma vez na minha direção, com as sobrancelhas arqueadas.
— Ah, fique longe do ginásio da equipe de basquete — pediu
como se tivesse se lembrado de algo importante. — Ou melhor,
fique longe de qualquer um que se pareça um jogador. Não
podemos correr o risco de o Ryan te ver antes da hora.
— Como esse Ryan é? — perguntou Leslie, que eu nem sabia
que ainda estava ali, mas minha amiga parecia muito curiosa. —
Seria bom a Zoe saber como é o rosto dele.
Logan parou, olhando dela para mim, depois alternando os
olhares, então assentiu e tirou o celular do bolso do jeans.
— Tem razão. Lee, me passe o número da Zoe — pediu sem
olhar para a irmã, enquanto mexia no telefone. Em seguida, ergueu
os olhos para me encarar. — Vou enviar uma foto dele, ok?
Aproveite e salve meu contato como “melhor namorado do mundo”.
Logan soprou um beijo antes de passar pela porta e a fechar
em seguida. Eu ainda estava imóvel, com o último pedaço do
sanduíche quase caindo da minha mão, quando vislumbrei o
movimento de Leslie.
Minha amiga estava parada no início do corredor que ligava a
sala aos quartos e olhava na minha direção, com os braços
cruzados, já que a cozinha possuía aquele conceito aberto.
— E aí, melhor namorada do mundo? — zombou. — Quais os
seus planos para hoje?
Enfiei o último pedaço de pão na boca e saí da cozinha
correndo para me jogar no sofá da sala, fechando os olhos e
levando minhas mãos até eles. Sentia meu rosto quente por causa
da gracinha dita por Logan, assim como sentia a presença de Leslie
diante de mim.
— Você sabe mesmo onde acabou de se enfiar? — perguntou
ela. — O que vai fazer se tiver que beijá-lo em algum momento?
— Eu serei profissional — murmurei, querendo me esconder.
— Que eu saiba, você estuda arquitetura e não teatro. — Uma
almofada foi jogada sobre mim e eu abri meus olhos para ver Leslie
com os lábios franzidos. — Zoe, você vai se machucar. Vai se
apaixonar ainda mais e isso não vai ser bom.
— Não tem como eu me apaixonar mais — retruquei ao
suspirar. — Eu juro que minha reação inicial foi negar o convite. Fiz
isso algumas vezes, mas Logan continuou insistindo e o dinheiro...
Bem, é uma tentação.
Eu nunca escondi de Leslie os meus sentimentos pelo irmão
dela. No início,até tentei, mas minha amiga me conhecia muito bem
para ler minhas reações e expressões, então começou a perceber
que havia algo errado comigo lá pelos meus quatorze anos.
Com o passar do tempo, ela apoiou minha paixão platônica e
nunca me pressionou para que me declarasse porque sabia que eu
não faria isso. Eu tinha uma convicção muito forte em meu coração,
de que o garoto jamais nutriria qualquer sentimento amoroso por
mim, alguém que ele viu crescer e que tratava quase da mesma
forma como tratava sua irmã caçula.
Leslie suspirou, cruzando os braços e se jogando ao meu lado
no sofá. Sua cabeça veio parar em meu ombro e eu aproveitei para
apoiar também a minha sobre a dela.
— Esse plano tem tudo para dar errado. Você sabe, né?
— Sei — respondi. — Mas pelo menos, é o Logan. Não é
nenhum idiota como a maioria que existe por aí.
— Você coloca muita fé no meu irmão. Isso não é um dorama,
Zoe, e o Logan não é um daqueles mocinhos perfeitos que a gente
curte.
Claro que Leslie não o enxergava assim porque, afinal de
contas, estávamos falando do irmão dela. Para mim, a única coisa
que o diferenciava dos protagonistas das séries que eu assistia, era
o fato de que Logan era bem mais safado do que todos eles juntos.
Cheguei no vestiário um minuto antes do horário marcado para
o treino e troquei de roupa com pressa para ir encontrar com o
restante da equipe na sala de alongamento. Acenei para o treinador
Hutch quando parei ao lado de Mike e cumprimentei meu amigo
com o punho fechado.
— E aí? — perguntei, alongando meu pescoço.
— Tá com ressaca? Porque eu estou... um pouco.
Neguei num gesto de cabeça, rindo da expressão de derrota
no rosto de Mike, que tinha bebido muito mais do que eu na noite
anterior. Para a sorte dele, o treino de hoje seria mais tranquilo
porque era o primeiro e a temporada ainda ia começar, mas se
Hutch soubesse do seu estado, passaria um sermão interminável e
ainda o mandaria para casa.
— Quando mergulhar, a ressaca vai passar — comentei,
puxando meus braços para cima da cabeça.
— E aquela aposta, hein? Você vai encarar mesmo ou estava
zoando com a cara do Ryan?
— Vou sim — respondi, alongando minha musculatura. — Não
é uma aposta de mão dupla, então não tenho nada a perder se não
alcançar o objetivo.
Pela careta do meu amigo, ele não parecia concordar com a
minha linha de raciocínio.
— Acho que não está pensando na humilhação de ser visto
desfilando por Princeton com uma garota estranha — murmurou
Mike, rindo e me dando um tapinha nas costas ao passar por mim
em direção à porta. — Você acha que isso não vai ser motivo para
burburinho? Que as pessoas não vão falar?
Eu o acompanhei para a piscina, puxando a touca que estava
presa na minha cintura e a colocando na cabeça, enquanto meus
pés tocavam o piso mais áspero do ambiente. Inspirei
profundamente quando encarei a água azul, sentindo o cheiro
característico de cloro que eu amava e me fazia tão bem.
Meus pais me colocaram na natação quando eu tinha três
anos de idade porque diziam que eu entrava em crises de bronquite
com frequência e o médico sugeriu a atividade. Não tenho
lembranças claras daquela época, mas se um dia tive a doença, ela
foi curada. Nunca parei nem me afastei de uma piscina por muito
tempo desde aquela primeira vez, também nunca tive dúvida de que
era o esporte que eu amava e que me traria para a faculdade. Em
meu quarto na casa dos meus pais, havia uma coleção de troféus
das mais variadas competições que participei ainda garoto, mas
atualmente, meu maior sonho era colocar uma medalha olímpica de
ouro no peito.
— Nunca fui de me importar que falassem de mim, Mike —
respondi, apertando o ombro dele. — Na verdade, eu sempre fui o
diferente. O chinês, o japonês, o asiático, o pau pequeno... — Sorri,
encolhendo os ombros. — Já fui julgado tantas vezes, não seria a
primeira vez.
— É, mas isso, especificamente, pode impactar na sua
popularidade.
Dei de ombros e coloquei meus óculos de natação para
encerrar aquela conversa de uma vez por todas. Eu não estava
preocupado com isso, mas Mike não saberia o motivo. A única
pessoa para a qual eu me permiti contar sobre o plano era Dylan
porque eu sabia que podia confiar nele.
Subi no meu bloco de partida[5], me posicionei com o corpo
dobrado para a frente, então mergulhei, furando a superfície da
água e movendo os braços para iniciar meu aquecimento.

Depois de uma tarde de aulas exaustivas, finalmente


estacionei na vaga do meu prédio. Tinha sido difícil driblar Ryan o
dia inteiro, pois ele havia me enchido de mensagens para avisar que
queria logo escolher a garota da aposta. Precisei enrolar o jogador o
máximo possível, visto que ainda não tinha planejado nada com
Zoe.
E por falar na garota, quando abri a porta do meu apartamento,
a flagrei dançando. Na verdade, era mais como um espetáculo. Do
elevador eu já tinha conseguido escutar a música, e sabia que se
tratava de “Butter”, do BTS, porque mesmo que eu não fosse fã do
grupo, vivia num país onde aqueles rapazes eram um fenômeno.
Imaginei que meus vizinhos deviam querer me matar
naquele momento, pela música que Zoe ouvia no último volume em
plena quinta-feira. Ainda no hall
, tirei meus sapatos e os coloquei na
prateleira, pois ninguém na nossa família entrava com os calçados
da rua em casa. Meus pais nos educaram a seguir essa tradição
asiática e até mesmo Zoe, desde mais nova, seguia à risca a ordem.
Sempre havia uma estante ou sapateira destinada aos sapatos que
eram trocados por pantufas ou chinelos, antes de andarmos pela
casa. Então, enquanto eu me descalçava e guardava o par de tênis,
observava a cena diante de mim.
A cozinha do apartamento era em conceito aberto e ficava de
frente para a porta de entrada. Zoe estava mexendo no balcão, no
lado da sala, de costas para mim, cantando alto e dançando,
usando uma colher como microfone.
Procurei não fazer nenhum barulho para poder surpreendê-la,
rindo da forma horrorosa como cantava. De cabelos presos em um
coque bagunçado, vestindo um moletom rosa e roxo, Zoe
assassinava a melodia da música. Fui me aproximando devagar e
com cuidado, percebendo a zona que ela tinha feito na bancada da
ilha da cozinha, com comida espalhada para todos os lados, até que
me posicionei atrás de suas costas.
Quando ela parou de pular por um segundo, atenta ao que
preparava, eu estiquei meus braços ao redor de seu corpo até
apoiar minhas mãos na bancada e prendê-la ali. Então, aproximei
meu rosto por cima de seu ombro e beijei sua bochecha.
— Mwohaseyo?[6] — perguntei.
Zoe amoleceu e caiu para trás em cima de mim, me obrigando
a segurá-la quando seus joelhos falharam. Seus olhos se
arregalaram quando ela percebeu o que tinha acontecido, então foi
um acontecimento rápido, pois a garota logo se recuperou e se
afastou de mim.
— Droga, Logan! — ela resmungou quando recuei e cruzei os
braços.
O rosto de Zoe estava vermelhinho porque ficava daquele jeito
por qualquer coisa, mas a colorida passou as mãos pelas
bochechas até levá-las aos cabelos e suspirar.
— Como você consegue ser tão silencioso? Eu quase infartei!
Podia ser... um assaltante!
— E é assim que você reage a um assalto? — provoquei,
arqueando minha sobrancelha. — Desmaiando nos braços do
criminoso?
— Eu não... — pigarreou e olhou em volta. — Você me
segurou porque quis.
Zoe se virou de costas de novo e voltou a mexer na bancada,
até que me aproximei e parei ao seu lado, observando tudo. Ela
estava cozinhando comida coreana e o cheiro que aspirei me fez
lembrar de casa.
[7]
— Eu fiz tteokbokki , mas não sei se você merece — concluiu,
estalando a língua bem alto e arrumando as tigelas.
Aquela era uma grande novidade para mim porque eu nem
sabia que Zoe cozinhava. Leslie era do tipo que até para lavar uma
louça reclamava e tinha preguiça, nem um arroz decente ela sabia
fazer. Então, talvez eu tenha julgado sua amiga da mesma forma, o
que agora, estava me surpreendendo.
— Desde quando você sabe fazer tteokbokki
?
— Sua mãe me ensinou vários pratos típicos — respondeu,
encolhendo os ombros.
— Então, vou precisar provar pra saber se está de acordo com
a qualidade dos pratos da minha mãe.
Zoe revirou os olhos e segurou meus braços, me empurrando
gentilmente para fora da cozinha. Aproveitei para ir tomar banho e
trocar de roupa, deixaria para resolver as coisas com ela mais tarde,
para não atrapalhar a menina em sua arte, afinal de contas, eu
estava mesmo ansioso para provar a comida.
Quando joguei minha mochila sobre minha cama e puxei meu
celular do bolso para tirar a calça, vi as duas mensagens que Ryan
tinha me enviado. A primeira era apenas perguntando por onde eu
estava e se podíamosnos encontrar. A segunda, enviada três horas
depois, questionava se eu tinha me acovardado e desistido da
aposta com medo de não dar conta dela.
Sentei-me no colchão para enviar uma mensagem e digitei:

Logan: “Só estava ocupado porque foi meu primeiro dia de treino,
mas é claro que a aposta está de pé. Podemos nos encontrar
amanhã pra decidir a garota.”

Eu sabia que Ryan ia concordar, o que significava que eu


precisava preparar Zoe o mais rápido possível. Por isso, fui tomar
meu banho e alguns minutos depois, voltei para a sala e encontrei
minha irmã chegando em casa. Ela logo foi atraída pelo cheiro da
comida e parou ao lado da amiga, tagarelando sobre estar morta de
fome.
— Zoe, precisamos prepará-la para amanhã — avisei quando
a garota pareceu ter terminado sua função na cozinha. — Posso dar
uma olhada nas suas roupas antes de começarmos a comer?
— Nas minhas roupas? — perguntou, franzindo a testa.
— Sim. Preciso decidir o que você estará vestindo quando
aparecer diante de Ryan.
Leslie soltou uma risada e passou por mim, saltitando em
direção ao corredor.
— Isso fica cada vez mais estranho, mas confesso que vou
achar muito interessante. — Ela acenou para que eu a seguisse. —
Vamos escolher a roupa da Zoe.
Eu meio que já conhecia o estilo da menina e o tipo de roupa
que gostava de usar, mas queria me certificar de que ela estivesse
vestindo algo que nunca faria nenhum dos meus amigos achá-la
atraente.
Acompanhei Leslie até o quarto, sendo seguido por uma Zoe
que suspirava a cada segundo, e deixei que minha irmã fizesse as
honras e abrisse o guarda-roupas. Ela possuíamuita roupa colorida,
alguns vestidos florais e outros com estampas de bichinhos, além de
muitos moletons. Muitos mesmo.
— Vai ser mais difícil do que pensei — murmurei, encarando
minhas opções.
— Cuidado com o que você vai dizer sobre as minhas roupas
— avisou a garota atrás de mim. — Lembre-se que eu disse que
seu plano não daria certo.
Sem responder nada para não me comprometer, puxei alguns
daqueles moletons dobrados e os coloquei na cama. Um deles tinha
um Pororo[8] gigante estampado no centro da roupa e acabei
gargalhando de tão tosco que era. A gola do casaco de tecido bege
estava esgarçada e havia algumas manchas coloridas espalhadas
ao redor dela e pelos ombros.
— Gostei desse look.
— O quê? Eu uso isso pra dormir... — Zoe resmungou,
tentando tirar a peça da minha mão. — Também uso quando faço a
primeira lavagem depois de um retoque nos cabelos. Não posso
usar esse moletom pra sair na rua.
Eu me virei para ela, puxando de uma vez o casaco com mais
força e a impedindo de pegá-lo. Encarei os olhos verdes e sorri para
a garota, que parecia amedrontada.
— É exatamente por isso que você precisa usar — declarei,
arqueando a sobrancelha. — Esqueceu que primeiro, preciso deixá-
la perfeita para receber a aprovação do Ryan?
— Mas eu não entendi — murmurou Leslie, sentando-se na
sua própria cama. — Zoe precisa ficar feia ou brega?
— As duas coisas juntas.
A colorida agarrou um dos seus travesseiros e o lançou na
direção da minha irmã, que desviou e começou a rir. Enquanto elas
brigavam, voltei ao armário e vasculhei em seu interior, procurando
pela parte de baixo perfeita para a ocasião. Mas Zoe só tinha jeans
básico e moletons, nada muito diferente disso, nada que destoasse
do normal para incrementar aquele lookque precisava ser caótico.
— Você não tem nenhuma calça bem estranha? — perguntei.
— Bermuda, short, sei lá...
— A ideia é a Zozo ficar brega, né? — questionou Leslie,
estreitando os olhos, parecendo pensativa. — Acho que tenho uma
coisa.
Minha irmã se levantou para abrir o que devia ser o seu lado
do guarda-roupas e mexeu lá dentro por alguns segundos, até puxar
um colantda época em que fazia ginástica rítmica.
— O que seria desse plano falido de vocês se não fosse eu?
— Estalou a língua ao balançar a peça diante do meu rosto. — Que
sorte que eu guardo algumas belezinhas dessa como recordação.
— Isso... — Peguei o tecido em minha mão. — É perfeito. Vou
sair pra Zoe poder vestir.
— Isso não dá em mim! Olha o tamanho da Leslie e olha o
meu!
— Confia, amiga. — Minha irmã uniu as mãos. — Vai caber.
Considerando que Leslie era bons centímetros mais baixa do
que Zoe, eu também tinha algumas dúvidas, mas saí rápido do
quarto para que a garota pudesse se trocar. Me senti impaciente
enquanto esperava encostado contra a parede, até que a porta foi
aberta menos de cinco minutos depois.
— Entra, Logan! — Ouvi minha irmã gargalhando lá dentro.
Quando me virei e entrei, vi Zoe em pé com as mãos tapando
a região íntima e o rosto muito vermelho. O colanthavia ficado tão
justo que os seios pequenos pareciam enormes, as mangas longas
terminavam no meio do antebraço e a calça batia na altura dos
joelhos.
O tecido era vermelho de glittere aquilo no sol devia cegar
qualquer um que olhasse diretamente. Mas o que mais me chamou
a atenção foi saber que Zoe tinha crescido bastante nos últimos
anos. De onde tinha saído aquela curva em sua cintura? Eu me
lembrava bem da menininha magrela de quinze anos, tomando
banho em minha piscina.
— Não posso usar isso — resmungou, fechando os olhos. —
Não vou nem conseguir sentar, vai rasgar.
— Ele foi feito para acrobacias, amiga. Não vai rasgar com
uma sentada. — Leslie pigarreou ao meu lado. — Bem, claro...
depende do tipo de sentada.
Virei meu rosto para ela, sem esboçar reação, olhando bem
firme em seus olhos.
— Dá pra não fazer piadas sexuais perto de mim?
— Até parece que não gosta quando as garotas sentam em
você — retrucou a filha da mãe, revirando os olhos.
Então, como se falar não fosse suficiente para me deixar
enjoado, Leslie foi até sua cama e ajoelhou sobre o colchão,
reproduzindo movimentos de cavalgada enquanto fingia uma voz
fina demais e gritava meu nome.
— Ah, Logan! Ui, Logan Choi!
Se eu desejava que meus olhos queimassem para não ser
obrigada a ver aquela encenação de Leslie, imaginava que Logan
estivesse desejando morrer. Minha amiga era mesmo a criatura
mais peculiar que eu conhecia e não costumava ter vergonha de
quase nada.
Era muito engraçado ver como aqueles dois podiam ser tão
amorosos um com o outro, mas ao mesmo tempo, Leslie parecia
sempre ansiosa em irritar o irmão.
— Ai, Logan! Como você é malvado! — ela gemeu,
gargalhando, antes de se levantar e ajeitar os cabelos. — Pensa
que me engana? Tenho certeza de que, como todos os homens,
você adora isso.
— Você anda consumindo drogas? — perguntou ele, com uma
careta no rosto. — Leslie, isso foi grotesco de tantas maneiras que
eu nem consigo enumerar.
— Eu não teria gemido o nome do meu irmão — comentei.
— Você não tem irmãos — ela frisou, me dando a língua. —
Não sabe o quanto é delicioso tirar a paciência de um.
Logan usou a mão aberta para tocar o rosto de Leslie e a
empurrar para trás. Não o bastante para a garota cair, apenas para
implicar com ela.
— Vamos voltar ao que importa? — perguntou, pegando o
moletom do Pororo e o estendendo acima da minha cabeça. —
Vista isso, Zozo.
Bem, para vestir aquilo eu precisava levantar meus braços e
expor o que tentava esconder. O colantestava tão pequeno em mim
que a costura tinha dividido meus lábios vaginais com força e estava
extremamente indecente, pareciam prestes a explodir. Não podia
permitir que Logan tomasse conhecimento da situação, seria
humilhante.
— Fecha os olhos — pedi.
— Por quê?
— Porque a boceta dela tá marcada — gritou Leslie, rindo,
louca pra levar um soco meu.
Logan era perfeito, ou pelo menos, quase perfeito. Afinal, ele
era homem e seus olhos automaticamente fizeram o caminho que
não deveriam. Felizmente, minhas mãos ainda estavam no mesmo
lugar e eu aproveitei para pisar no pé direito dele.
— Ei! — chamei, sentindo meu rosto esquentar quando voltou
a me encarar. — Sério? Meus olhos estão aqui em cima, oppa!
Quis morrer quando vi um sorriso, aquele TOP 3, se desenhar
em seu rosto bonito antes de ele pigarrear e ficar levemente corado.
— Sinto muito — disse, fechando os olhos como eu tinha
pedido. — Foi puro reflexo.
Respirei fundo e arranquei o moletom das mãos dele,
querendo matar a minha amiga e desistir daquele plano maluco.
Nem tínhamos o colocado em ação ainda e eu já me sentia
arrependida, pois previa que passaria por muitas situações
embaraçosas.
— Se você olhar, será um homem morto.
O sorriso dele aumentou quando levou as duas mãos para trás
das costas e esperou. Terminei de me vestir, deixando que a barra
do casaco cobrisse minha intimidade pois ele batia no início das
coxas, ajeitei meus cabelos para fora da gola, então o cutuquei no
ombro para que olhasse.
Logan me avaliou em silêncio e assentiu, depois foi até o
armário e pegou um short jeans, jogando-o para mim. Queria
mesmo que eu ficasse ridícula, então vesti mais aquela peça.
Por fim, o filho da mãe começou a rir e alisou a nuca, recuando
alguns passos e cruzando os braços enquanto me avaliava.
— Você está pavorosa e isso é ótimo! — Ergueu o polegar. —
Lee, vai no meu quarto e pega uns óculos redondos que estão na
primeira gaveta da cômoda perto da janela.
Ela estreitou os olhos para o irmão.
— Desde quando você usa óculos?
— É de uma fantasia que usei no Halloweenpassado.
— Estamos em 2022, Logan — ponderei depois que Leslie
saiu do quarto. — Que lógica é essa de que óculos é sinônimo de
esquisitice? Tem pessoas que ficam até mais bonitas com eles do
que sem eles.
O garoto piscou para mim e quando minha amiga voltou, eu
observei o item em sua mão. Era daquele tipo muito fundo de
garrafa, muito mesmo, bem de fantasia, porque eu nunca tinha visto
um de perto. Aro redondo, preto e grande demais.
— Eu me fantasiei de Wally — explicou Logan, sorrindo. —
Onde está o Wally, sabe?
Sem que eu respondesse, Logan colocou a armação no meu
rosto e, por sorte, a lente de plástico não atrapalhou a minha visão.
— Qual outro clichê de filme de adolescente você vai usar?
Leslie perguntou. — Aparelho nos dentes?
Era estranho ter aqueles olhos escuros sobre mim por tanto
tempo. Acho que em toda a minha vida, Logan nunca reparou tanto
em mim como agora. Sua expressão era pensativa, mas indicava
que gostava do que estava vendo. E isso não era bom, afinal de
contas, eu estava mesmo estranha com aquela roupa.
— Acho que vocês duas podem investir numa maquiagem
amanhã, deixá-la com umas olheiras fundas... — Ele olhou para
Leslie. — Você consegue criar umas marcas de espinha na pele
dela?
— Eu não uso maquiagem — respondi para deixar claro. —
Não... não sei me maquiar, então não acho que vai dar certo...
— E que sorte a sua que sou sua amiga, não é? — Leslie
sorriu, se levantando e vindo na minha direção até segurar meus
ombros. — Posso te deixar bem feia com a make errada.
Agora sim tinha chegado a parte em que minha amiga estava
realmente feliz em ajudar. Leslie era a louca da maquiagem e
sempre insistiu para que eu me tornasse uma discípula. De vez em
quando, até permitia que usasse meu rosto como tela em branco
para testar suas ideias, mas tirava tudo logo em seguida porque
sempre me sentia estranha, com a pele pesada.
Se não fosse Leslie, certamente o plano de Logan não daria
certo, afinal, eu tinha certeza de que o garoto não saberia nem
aplicar um rímel em mim.
— Vem aqui — pediu ele ao segurar minha mão e me puxar
para a frente do espelho, parando atrás de mim. — Vamos tentar
uma coisa.
Logan puxou o elástico de cabelo que estava em meu pulso e
o prendeu entre os lábios, ao mesmo tempo em que usava as duas
mãos para separar algumas mechas minhas e puxá-las para o alto
da cabeça. Então, passou o elástico por elas, deixando algo como
um coque alto com o resto do cabelo solto.
— Hm... — Suspirou, com as mãos em meus ombros. — Você
fica fofa até assim. Que droga. Lee, me arranja outro elástico!
O nadador incrível desfez o penteado e eu só conseguia
pensar na estranheza de ter Logan Choi arrumando meus cabelos.
Observei-o em silêncio enquanto se empenhava para fazer marias-
chiquinhas em mim.
— Com a Zoe assim você vai parecer um pedófilo —
murmurou sua irmã.
Fiz uma careta para ela e considerei desistir daquela ideia
estúpida de aposta, mas Logan pareceu ignorar seu comentário.
— Amanhã, quando chegar o momento, quero que você
pareça bem desastrada. Se conseguir andar com os ombros caídos,
melhor ainda. — Ele estava passando os olhos pelo meu corpo,
quando arqueou uma sobrancelha e sorriu. — Tente cair, será ótimo.
— Eu diria que você está assistindo muitos doramas, Logan —
murmurou Leslie, zombando do irmão. — Não quer que Zoe
desmaie nos seus braços?
— Ela já fez isso mais cedo. — Ele piscou para mim e eu logo
senti o rosto esquentar, principalmente depois que Leslie me
encarou com um ponto de interrogação no meio da testa.
— Antes de dormir, vou marcar um local e um horário com o
Ryan. A minha ideia é a Zoe passar perto de nós no momento
combinado, chamara atenção de quem estiver por perto, e aíeu vou
sugeri-la como uma opção pra levar a aposta adiante.
— E se ele descobrir que a gente se conhece há anos? —
questionei porque só agora eu tinha parado para pensar nisso. —
Não acha que ele vai ficar com raiva?
— Claro que vai, mas vamos nos esforçar pra que Ryan nunca
descubra. — Logan encolheu os ombros. — Eles só viram a Leslie
por foto, não conhecem você.
Assenti, sem mais nada a dizer. O amigo não era meu e a
aposta não era minha. Se desse muito errado e o rapaz
descobrisse, eu mesma não sairia perdendo nada. Estava apenas
ajudando Logan e, de quebra, ganharia uns trocados — e passaria
mais tempo do lado dele, mas essa não era a razão principal.
— Bom, a roupa está escolhida, o cabelo também, a
maquiagem eu deixo nas mãos de vocês. — Ele puxou Leslie e
beijou o rosto dela, em seguida, olhou para mim. — Podemos comer
tteokbokki agora, Zoe brega?
Desliguei o motor do carro ao estacionar na vaga e virei meu
rosto para o lado. Durante o percurso da minha casa até ali, que
dava em torno de oito minutos, Zoe abriu e fechou o para-sol para
se olhar no espelho, umas vinte vezes. Eu sentia que ela não estava
só desconfortável como insegura, e antes de abrir a porta, estiquei
minha mão e toquei a dela.
— Tudo bem? — perguntei, atraindo seu olhar. — Zozo, não
acredito que vou dizer isso, mas eu me importo com você. Se for
difícil sair desse carro e colocar o plano em prática, fale agora.
A menina estava mesmo feia, minha irmã tinha caprichado na
maquiagem. Havia bolsas levemente escuras abaixo dos olhos
verdes, eu nunca tinha visto Zoe com olheiras como aquela. Pelo
rosto, na região da linha do maxilar, algumas pintinhas que pareciam
espinhas tinham sido desenhadas, além de sobrancelhas
extremamente grossas e horrorosas que não combinavam em nada
com a garota delicada.
Eu a conhecia há tanto tempo que já tinha perdido a conta,
mas me lembro que no aniversário de seis anos de Leslie, Zoe já
estava lá, ao lado dela na mesa do bolo, querendo apagar as velas
junto com minha irmã. Sempre a considerei como uma segunda
caçula, mesmo não tendo o contato que tinha com Lee. Tinha muito
carinho por ela, então não me parecia mais tão certo, fazê-la se
sentir mal só porque eu precisava de dinheiro e queria ganhar uma
aposta.
É, eu sei, tarde demais para pensar nisso depois de todo o
trabalho da noite anterior, mas minha consciência estava pesando
ao ver os olhos verdes arregalados e sentir a delicada palma da
mão suando contra a minha.
— Não vou desistir não — murmurou, baixinho, baixando os
olhos. — Só estou nervosa porque sei que vai todo mundo me achar
idiota.
— Mas nós dois sabemos que você é muito inteligente.
O rosto pequeno se ergueu e os olhos me encararam por um
instante até que ela os revirou com dramaticidade e riu.
— Eu sei que sou. — Zoe puxou a mão, alisando-a no
moletom ao suspirar. — Podemos ir, estou pronta.
— Ok. Você já sabe o que fazer.
Eu tinha estacionado o carro numa rua que era pouco
movimentada. Zoe ficaria por ali enrolando por uns minutos,
enquanto eu dobraria a esquina e iria encontrar com Ryan e
Edward, os únicos que estavam disponíveis. Marcamos em uma
lanchonete bem localizada, que ficava de frente para a biblioteca da
universidade, pois era preciso escolhermos um local com grande
movimento de alunos.
O estabelecimento possuíauns blocos de concreto espalhados
pela calçada, que servia como bancos para quem não quisesse
consumir em seu interior. Portanto, foi ali que nos sentamos depois
de comprarmos nossos cafés às nove horas da manhã. O
combinado era que Zoe marcasse dez minutos no relógio e
caminhasse na nossa direção, então eu estava bem ansioso.
Durante aquele tempo, precisei torcer para que não passasse
nenhuma garota em potencial que atraísse a atenção de Ryan e
colocasse tudo a perder.
— Será que avistaremos alguma criaturinha estranha por aqui?
— Ryan perguntou, olhando para todos os lados, assim como eu. —
Essa biblioteca deve ficar lotada de garotas nerds, não é?
— Todas as vezes em que entrei lá, só vi pessoas normais. —
Encolhi meus ombros. — Ser inteligente e gostar de estudar não é
sinônimo de estranheza.
— Ei! Aquela ali me parece bem esquisita — comentou Eddie,
então apontou para o lado.
Era Zoe. E aquela fala deveria ser minha, mas era ainda
melhor que tenha sido Edward a dizer aquilo, assim não haveria
nenhuma desconfiança de que eu a conhecia, já que não fui o
primeiro a sugerir que prestássemos atenção enquanto se
aproximava pela calçada.
Com um semblante analítico, Ryan olhou para a garota. Assim
como havíamos combinado, Zoe andava olhando para baixo, com
uma postura péssima ao segurar alguns livros contra o peito. Ela
ajeitava os óculos a cada dois passos e não havia uma pessoa que
não passasse ao seu lado e não a olhasse.
— Icônica — Ryan comentou, estalando a língua e me
lançando um olhar sacana. — O que acha de cabelos coloridos,
Logan?
Forcei uma risada, tentando entrar na dele.
— Esquisita o suficiente para a nossa aposta? — perguntei,
erguendo uma sobrancelha.
Ryan ficou em silêncio, observando enquanto Zoe passava
exatamente na nossa frente. Ele tinha um olhar tão concentrado
sobre a menina, que achei que negaria e acabaria com meus
planos. Mas então, Zoe tropeçou e caiu, assim como o planejado.
Ela soltou um gritinho quando os livros se espalharam pelo chão e,
por um segundo, eu esqueci que aquilo tinha sido combinado
previamente e quase corri ao seu encontro.
Precisei segurar minha gargalhada porque ela era uma ótima
atriz, e acho que Eddie notou isso, talvez pensando que eu
estivesse rindo da cara dela, pois era exatamente o que ele estava
fazendo.
Ryan deu um sorriso satisfeito.
— Ela é perfeita — declarou, virando-se para mim. — Eu te
desejo muita sorte e terapia para suportar todas aquelas cores
juntas.
Pigarreei, fingindo nervosismo, então me levantei e ajeitei
minha camisa, enquanto grudava meus olhos em Zoe que juntava
os livros lentamente. Calculamos até mesmo isso para que me
desse tempo de conseguir o aval de Ryan.
— Esse é o meu momento, então — concluí, sorrindo para
meus amigos. — Senhores, observem.
Caminhei na direção de Zoe, que estava a uns dez metros dos
bancos, em seguida, eu me abaixei ao seu lado, virando o rosto
para que Ryan não pudesse fazer leitura labial.
— Eu juro que se não ganharmos essa aposta... — ela
sussurrou — eu vou matar você.
Sorri como um bom rapaz educado e a ajudei com os livros,
empilhando todos os quatro em meus próprios braços. O ideal era
fazer todos acharem que eu estava sendo solidário e, ao mesmo
tempo, trocando algumas palavras com a menina.
— Vou me levantar agora e estender a mão para te ajudar. É
bom que você não esteja com um olhar assassino direcionado a
mim. — Pisquei. — Precisa parecer encantada e louca para sair
comigo.
Ouvi Zoe respirar fundo e forçar um sorriso no rosto.
— Assim está bom pra você? — perguntou.
— Está parecendo uma psicopata.
Ela fechou os olhos, nervosa, e eu sabia que não era
encenação, mas continuava sendo ótimo para o plano, pois tinha
certeza de que Ryan e Eddie estavam com os olhos grudados sobre
nós dois.
— É difícil, Logan — sussurrou ao me encarar. — Não sou
uma atriz pra controlar minhas emoções a hora que quiser.
— Tudo bem, eu posso improvisar — declarei, sorrindo para
tranquilizá-la.
— O que quer dizer com isso?
Ignorei a pergunta e o seu olhar assustado porque não
podíamos ficar discutindo eternamente naquela calçada. Fiquei de
pé e coloquei nos lábios o sorriso mais encantador que eu possuía,
então estendi a mão para Zoe. Ela ergueu o rosto e me encarou
com o semblante levemente desconfiado e inseguro. Com alguma
hesitação, segurou a minha mão, e eu a puxei com mais força do
que a garota podia esperar. Com o susto, seu corpo se chocou
contra o meu e ela se inclinou levemente para trás, ainda presa em
meus braços.
— Viu como deu certo? — comentei, baixinho. — Você só
precisa parecer que está caidinha por mim.
Lancei um sorriso e observei o movimento de sua garganta,
que indicava engolir com dificuldade. Seus olhos verdes piscaram
várias vezes enquanto eu sentia sua respiração sair por seus lábios.
— Está vendo como você é boa e não se dá os devidos
créditos? — Pisquei e apertei sua cintura por cima do casaco. —
Agora sim, parece que está encarando o amor da sua vida.
Passei os nós dos dedos de leve pela bochecha de Zoe e a
senti estremecer. Ela fechou os olhos por alguns segundos e
quando voltou a abri-los, existia um brilho neles que eu nunca tinha
visto antes. Tão intenso, que eu mesmo me perdi por um segundo,
admirando o verde profundo e encantador.
Para não perder o foco, foi preciso soltá-la porque me lembrei
de algo muito importante para dar continuidade ao teatrinho. Peguei
meu celular que estava no bolso do jeans e desbloqueei a tela do
aparelho.
— Por que você não salva o seu número aqui? — pedi, dessa
vez sem abaixar a voz, para que meus amigos observassem o
personagem que estava interpretando. — Acho que podemos sair
pra comer alguma coisa qualquer dia desses.
— Eu... — Zoe pigarreou. — Hm. Ok.
Respirando fundo, ela pegou o aparelho que ofereci e fingiu
anotar alguma coisa. O que nem Ryan nem Eddie sabiam era que
eu já possuía o número da menina, pois Leslie me passou no dia
anterior.
Zoe parou de digitar aleatoriamente por um segundo, levantou
a cabeça para mim e sorriu. Não aquele sorriso de psicopata que
tinha esboçado dentro do carro, dessa vez era encantador e bem
natural. Como a garota que eu conhecia há anos.
Teria sido perfeito se ela simplesmente me devolvesse o
celular, mas voltou a mover os dedos pela tela sem nem mesmo a
encarar.
— Está anotando o seu número ou redigindo uma carta? —
perguntei, congelando meu sorriso no rosto. — Entregue-me o
aparelho.
— Desculpa — a colorida sussurrou de volta quando me
devolveu o telefone, com o rosto muito vermelho.
Aproximei-me, tocando sua cintura e beijando seu rosto. Era
de se esperar que eu investisse em alguém que desejava levar para
sair.
— Estamos nos despedindo e você vai seguir seu caminho
quando eu me virar de costas.
Não esperei que respondesse, apenas a soltei e recuei,
enfiando as mãos nos bolsos e sorrindo mais uma vez.
— A gente se vê por aí — murmurei, finalmente me virando
para voltar aos meus amigos.
Torci para que Zoe fizesse uma boa saída e só quando me
sentei novamente ao lado de Ryan, pude ficar calmo. Ele me deu
um tapa nas costas, gargalhando e coçando a cabeça, enquanto
Edward me encarava com uma sobrancelha arqueada.
— Você não viu, mas a garota até saiu andando com mais
confiança — contou, balançando a cabeça. — O poder de Logan
Choi é impressionante.
— Não fiz nada de extraordinário, só a ajudei com os livros e
perguntei seu nome. — Espreguicei-me com um pouco de
ansiedade e o coração acelerado. — O que acharam da menina?
— Com sinceridade? — indagou Ryan, franzindo os lábios. —
Com aquele cabelo, acho que é caso perdido, mas depende de
você, se quer arriscar ou não.
Não respondi de imediato para criar algum suspense e fingir
que estava ponderando. Estiquei minhas pernas, dobrando meu
corpo para me alongar, enquanto suspirava e estalava a língua.
— Trocou o número com ela? — Eddie quis saber.
— Apenas peguei o dela — respondi. — Não vou sair
oferecendo meu contato por aí como se fosse caridade. — Por fim,
puxei o ar com força, ajeitei a postura e estiquei minha mão na
direção de Ryan. — Vamos lá, eu gosto de desafios. Aceito que seja
ela.
O loiro pareceu surpreso, mas não disse nada. Ele assentiu e
apertou minha mão, provavelmente rindo internamente, me
considerando otário por ter aceitado mesmo quando permitiu que eu
escolhesse outra garota.
Zoe e eu conseguimos completar a primeira parte do plano e
quando eu voltasse para casa naquele dia, teria que levar pizza e
sorvete para comemorar, de acordo com o pedido dela. Mas além
da parte da comida, havia algo mais importante a ser feito. Por isso,
depois das minhas aulas, peguei meu carro e fui rodar atrás de lojas
de roupas femininas.
Tinha percebido, na noite anterior, que não havia a menor
condição de transformar Zoe numa garota popular se ela
continuasse vestindo as mesmas coisas de sempre. Seu guarda-
roupas não possuíamuito a agregar ao plano, com exceção de uma
ou outra peça que ela poderia usar no dia a dia a partir de agora.
Caminhando por uma das mais movimentadas ruas perto do
campus, observei um vestido preto muito bonito exposto numa
vitrine. Entrei para perguntar o preço e como não era tão caro, tomei
a decisão de levá-lo.
— Qual o tamanho dela? — perguntou a vendedora, causando
uma pane no meu cérebro.
— Ah... Acho que... O seu?
Ela sorriu e assentiu, mas vi que tinha errado porque a loira
diante de mim tinha seios enormes. E uma cintura mais larga.
— Não, não. — Ergui minha mão. — Eu me enganei. Ela é
pequena.
— Então seria um P? Ou PP?
— Existe roupa PP?
A mulher sorriu como se achasse graça e se aproximou,
apoiando as mãos na cintura.
— Ela é uma garota de sorte — murmurou, muito sorridente.
— Tem mais ou menos seios do que eu?
— Menos.
— E o bumbum? É maior ou menor?
Encarei quando se virou de costas, jogando os cabelos para o
lado, até que percebi que estava me dando mole. Devia ter uns dez
anos a mais do que eu, mas apesar de eu não me importar com
essa questão de diferença de idade, a vendedora não fazia o meu
tipo.
— Ela é bem pequena mesmo, mas não consigo adivinhar o
tamanho certo — confessei, encolhendo meus ombros. — Acho que
deixarei para voltar quando puder trazê-la comigo.
Frustrei a vendedora que pensava que faria uma nova venda e
acabei me frustrando também, mas não queria arriscar dar um
presente que não coubesse em Zoe. Por isso, depois de pegar o
cartão que a loira fez questão de me entregar com seu celular
anotado no verso, dirigi para casa, passando para comprar o pote
de sorvete e a pizzano caminho.
Troquei meus sapatos no halle deixei minha chave sobre a
mesa, junto com a comida que comprei, vendo a menina colorida
toda encolhida no sofá, assistindo televisão. Só quando me
aproximei é que notei que Zoe estava enxugando algumas lágrimas
e, ao me virar, descobri que era um dorama que estava sendo
exibido na tela.
— Por que está chorando?
— Porque ele é louco por ela mesmo ela sendo feia. — A
garota usou a manga da camisa para enxugar os olhos de novo e
abanou as mãos em seguida. — Mas ela não é feia, sabe? Isso é só
o que as pessoas falam dela. Mas ela é linda, é fofa... E ele a ama
sem toda a maquiagem que ela usa pra tentar ser aceita.
— E é por isso que está chorando?
Não entendia porcaria nenhuma, mas parecia estranho que as
mulheres se emocionassem tanto com doramas. Eu os achava
bobos e fantasiosos. Mesmo assim, sentei-me ao lado de Zoe e
observei o que acontecia na televisão. Abri e fechei a boca, meio
apavorado, porque o cara que parecia ser o protagonista era muito
parecido comigo.
— Qual o título desse? — perguntei.
— True Beauty.
— Hm.
Três minutos gastos enquanto o casal trocava um olhar
simples, mais dois minutos com a câmera focando a garota
enquanto ela ponderava se mantinha a mão parada, visto que ele
estava prestes a tocá-la. E antes que os dedos conseguissem se
encontrar, o episódio chegou ao fim.
— Uau — murmurei, entediado. — Foi... emocionante.
Achei que Zoe fosse se levantar para comer, mas ela
simplesmente apertou o botão do controle e passou para o episódio
seguinte.
— Eu sei que está zoando com a minha cara, então prefiro
ignorar o comentário — declarou sem me encarar, com os olhos
fixos na cena que se desenrolava, que era a mesma que eu tinha
assistido segundos antes, já que nada de novo estava acontecendo.
— Leslie está em casa?
— Tomando banho — respondeu ela, puxando uma almofada
para abraçar. — A gente vai ver uma série nova. Estou só passando
o tempo e revendo essa aqui.
— Então você já assistiu isso e está vendo de novo?
— Claro! — Ela encolheu os ombros. — Eu amo esse ator, o
Cha Eun Woo[9] é o homem mais lindo da Coreia. Junto com o
Suga[10], o Jungkook [11]e o Taehyun[12].
Eu não conhecia nenhum dos nomes citados. Sorri, mas ela
não percebeu, então deslizei o corpo pelo sofá até passar meu
braço ao redor dos seus ombros e levar meu rosto até bem perto do
dela. Zoe notou minha presença, mas não se moveu.
— É por isso que você desmaia quando eu sussurro no seu
ouvido? — Levei uma mão até os cabelos coloridos e enrolei meu
dedo numa mecha para provocá-la.
A garota reagiu com bastante ímpeto, virando o rosto
depressa, com os olhos arregalados, me dando alguns tapas nos
braços. Nada que machucasse, ao contrário, era bem engraçado
porque nunca vi Zoe ter esse tipo de intimidade comigo.
— Eu não desmaiei por sua causa, oppa! — resmungou,
fazendo bico. — Sai daqui!
— O cara dessa série é a minha cópia! Fala sério! Olha bem
pra ele. — Ri, me defendendo dos tapas ao segurar ambas as mãos
dela. — Por acaso você é apaixonada por mim, Zozo?
Ela bufou, revirando os olhos, até que conseguiu se soltar
porque afrouxei meus dedos. Zoe se levantou depressa, emburrada
e com o rosto vermelho, mas antes que conseguisse fugir, segurei
de novo seu pulso e a puxei. Ela parou de pé entre minhas pernas
porque eu ainda estava sentado, portanto, evitei trazê-la para um
abraço ou cairia sentada no meu colo.
— Vai abandonar o seu... Como é o nome dele? — perguntei.
— Não tem graça.
Depois de olhar bem de perto para a Zoe da aposta, com
aquela maquiagem toda que Leslie tinha feito, era estranho encarar
a Zoe de cara lavada e bonita como sempre conheci. Ela tinha
rostinho de menina levada, porém inocente. Estava ansioso para vê-
la toda produzida.
— Tudo bem, já parei com a brincadeira — falei, erguendo a
mão livre em sinal de paz. — Sente-se aqui e dê o play porque
quero conhecer melhor o meu sósia.
— Logan está assistindo dorama?
A voz da minha irmã me desconcentrou e Zoe conseguiu fugir,
se refugiando perto dela na mesa, enquanto Leslie abria a caixa da
pizza e puxava uma cadeira.
Era uma droga não ter uma televisão no quarto. Teria que
passar por situações como essa sempre que quisesse assistir um
dorama e espelhar a imagem do celular para a televisão? Logan
estava claramente se divertindo às minhas custas e eu me
detestava por ser tão reativa a ele. A maioria das garotas
descoladas não ficava nervosa quando fazia contato com um crush,
então por que comigo tinha que ser tão difícil?
— Zoe está vendo True Beauty — respondeu ele para a irmã.
— Conhece? O ator é a minha cara.
Distraída, a filha da mãe se aproximou, usando uma toalha
para secar os cabelos.
— É claro que é — disse Leslie sem notar que eu a encarava.
— Por que você acha que a...
Sua frase foi interrompida quando ela finalmente moveu os
olhos na minha direção e viu que eu tinha colocado uma expressão
assassina em meu rosto, deixando bem claro que ela estaria
acabada se terminasse de falar o que tinha em mente.
Sim, o ator era muito parecido com Logan e a primeira vez em
que o vi nem foi em nenhuma série e sim, cantando com seu grupo
musical. Foi impossível não me tornar fã de alguém que era a cara
do garoto de quem eu gostava.
— Ah... — Leslie tossiu. — Por que você acha que faz tanto
sucesso entre as mulheres? Porque se parece com uma
celebridade.
— Sei — murmurou Logan, estreitando os olhos. — Confessa
que assistia isso pra matar a saudade de mim quando não podia me
ver.
Ele ainda segurava meu pulso e parecia que minha pele
estava queimando sob seu toque ao mesmo tempo em que eu me
sentia nua enquanto me olhava daquela maneira. Parecia fazer de
propósito, como se soubesse que me afetava. Mas, afinal, Logan
sabia? Em que momento ele tinha percebido isso?
— Eu? — Leslie riu e saltitou até a mesa da sala quando se
deu conta da comida. — Não assisto essas séries melosas, só gosto
das de ação. Isso é pizza? Como você adivinhou que eu queria
comer pizza?
Com um movimento brusco, Logan se levantou e colou o corpo
no meu, me encarando do alto de seus quase um metro e noventa.
Quase fiquei vesga ao acompanhar o movimento que sua mão fez
ao se aproximar do meu rosto, até que tocou meu nariz e o apertou
como se eu fosse uma criança.
— Fofa! Vamos comer!
Fiquei parada, contando meus batimentos cardíacos,enquanto
Logan se virava para o lado e dava alguns passos em direção à
mesa onde Leslie já estava sentada. Quis fechar os olhos e dar um
tapa na minha própria testa para deixar de ser idiota. Meu plano
inicial, quando comecei a digerir a ideia de vir morar aqui, era
superar Logan Choi e, pelo visto, eu seria reprovada nessa
disciplina.
— Agradeça a Zoe pela pizza — disse ele ao puxar uma
cadeira, ignorando meu estado catatônico. — Eu a comprei para
comemorar o sucesso de hoje. Você não estava lá pra ver, mas ela
foi incrível encenando esta manhã.
Devagar, eu me aproximei dos dois e me sentei ao lado de
Leslie, pegando uma fatia com a mão e a levando até a boca. Pelo
menos assim, me manteria calada e com a desculpa de não precisar
participar da conversa. Apenas observei enquanto Logan contava
em detalhes para a irmã, tudo o que aconteceu durante nosso
encontro armado diante de Ryan.
O que ele não imaginava era que grande parte do que fiz não
tinha sido atuação. Estava mesmo nervosa e meu cérebro sofreu
uma pequena pane quando percebi que aquilo estava realmente
acontecendo e não teria mais volta. Eu não poderia mais fugir da
aposta nem evitar fingir namorar Logan Choi.
— Lembre-se que Zoe não pode se transformar de gata
borralheira para princesa da noite para o dia — murmurou minha
amiga, pegando uma rodela de calabresa que caiu sobre a mesa e a
jogando na boca. — Essas coisas não acontecem na vida real. A
evolução dela precisa ser lenta para que seja notada aos poucos.
— Sei disso. Não pode parecer muito fácil ou Ryan vai
desconfiar. — Logan me encarou por um instante, pensativo. — Em
alguns dias, a gente se livra das espinhas.
Considerando que eu nunca sofri com elas nem durante a
adolescência, ele não tinha exatamente do que se livrar.
— Amanhã à noite, levarei Zoe em algum bar movimentado do
campus para que sejamos vistos juntos em público. — Logan
piscou, apoiando um cotovelo na mesa e o queixo na mão ao me
encarar. — Conforme ela for passando um tempo comigo, será
natural as pessoas pensarem que está se tornando mais vaidosa
para me conquistar.
— Seus amigos acham normal que uma garota mude
completamente seu estilo e personalidade só pra conquistar um
garoto? — perguntei porque era muito incômodo ter esse tipo de
pensamento em mente.
Eu nunca mudaria por outra pessoa. Gostava de quem eu era,
e claro, nem todos os dias me sentia completamente satisfeita, mas
ainda assim, gostava do que via no espelho. Sabia que não fazia o
tipo de garota que os populares chamariam para sair e que, mesmo
Logan, sempre me enxergaria como uma irmã mais nova. Mas no
fundo, não me importava. Eu esperaria a pessoa certa aparecer.
— Não estou me referindo apenas aos meus amigos, Zoe —
respondeu, franzindo os lábios. — Você será vista por todos.
— Pela quantidade de vezes em que eu já escutei o nome do
meu irmão na boca das mulheres dessa universidade, acredite,
amiga... — Leslie revirou os olhos. — É completamente possível
que muitas esqueçam a própria personalidade só pela oportunidade
de sair com ele.
— Parece que ele é o TOP 1 dessa lista doida — comentei.
— Não estou dizendo isso por implicância entre irmãos nem
nada, mas eu vi uma foto do tal do Ryan e ele é muito mais gato que
o Logan.
— Vocês estão cientes da minha presença bem aqui, certo? —
ele questionou, recostando na cadeira e cruzando os braços. — Fico
impressionado em saber que você fica catando fotos dos meus
amigos. Já disse pra ficar longe do Ryan, não foi?
— Não estava vendo foto de amigo nenhum — retrucou Leslie,
mostrando a língua para ele. — Apenas fui procurar a lista
masculina pra conhecer os gatos de Princeton. Não tenho culpa de
você ter feito amizade com o mais bonito da faculdade.
Eu só tinha visto a lista feminina naquele dia em que Logan me
mostrou, mas agora tinha ficado curiosa para ver quem eram os
garotos citados. Nesta manhã, estava tão nervosa e com medo de
alguma coisa dar errado, que sequer olhei na direção do grupo com
o qual Logan estava sentado quando me aproximei.
Sem entrar na discussão dos dois, peguei meu celular e
procurei pelo perfil no Instagram, rolando o feed da rede social até
encontrar uma postagem com a seleção dos mais bonitos. Logan
aparecia logo na primeira foto e quando vi a imagem do loiro com o
nome de Ryan identificado, olhei bem para ele.
Agora eu entendia a Leslie, porque o garoto era bem o tipo
dela. Bonito, claro, muito bonito, mas totalmente padrão.
Provavelmente, em todas as faculdades do país, havia pelo menos
uns cinco atletas loiros, fortes e de rostos quadrados, com cara de
bad boy.
— Logan é muito melhor...
Sabe quando você vive um momento em que parece que sua
alma sai do corpo e você consegue assistir a cena de fora? Nunca
tinha experimentado essa sensação até aquele instante, quando
percebi que tinha falado em voz alta o que devia ser apenas um
pensamento. Só me dei conta do que fiz quando a sala ficou
silenciosa demais e tanto Leslie quanto Logan me encararam.
Minha amiga prendia uma risada e eu queria dar um tapa nela,
enquanto seu irmão apenas me encarava sem esboçar nenhuma
expressão que me ajudasse a descobrir o que se passava em sua
cabeça.
— É... — Suspirei e peguei outra fatia de pizza. — Bem,
imagino que seja melhor, já que foi votado como o primeiro lugar. É
o que todo mundo deve pensar, que você é o melhor. Eu não
saberia dizer porque pra mim esse negócio de lista é bobeira e não
me interesso por garotos, eu...
— Agora você gosta de garotas?
— O quê? — Encarei Leslie, que estava claramente zombando
de mim. — Não.
— Mas acabou de falar que não se...
— Você entendeu errado — retruquei, fuzilando-a com o olhar.
— Eu quis dizer que... — Mordi meu lábio, encarando a madeira da
mesa e pensando numa saída. — Que não tenho tempo pra
perceber quem é bonito e quem não é.
— Mas considerando todos os anos que você conhece o
Loggie, acho que deu tempo de reparar nele.
Sem saber o que continuar usando como desculpa, achei que
o mais inteligente era me manter ocupada. Sendo assim, enfiei o
restante da fatia de pizza todo na boca, quase sentindo minhas
bochechas explodirem. Obviamente, minha ação deixou os dois
perplexos, mas pelo menos, me permitiu fugir daquele assunto.
— Enfim, só precisamos tomar cuidado para ninguém
descobrir que Zoe e eu moramos no mesmo apartamento e que nos
conhecemos a vida toda — declarou Logan, se levantando para ir
até um armário da cozinha. — Tanto eu quanto vocês duas não
podemos arriscar trazer outras pessoas aqui em casa sem avisar
aos outros com antecedência.
Ele pegou três colheres e retornou à mesa, então abriu o pote
de sorvete e se serviu primeiro, voltando a se sentar de forma
descontraída. Eu ainda estava lidando com toda a massa dentro da
minha boca, que tentava terminar de engolir.
— Estava pensando mais cedo que a Zoe não tem roupa para
a segunda fase do plano — murmurou ao encarar a irmã, passando
a ponta da língua pela lateral da colher. — Vai precisar de algumas
coisas mais sensuais, mostrando mais pele... E já descobrimos que
suas roupas não cabem perfeitamente nela.
— Eu tenho alguns vestidos no armário — falei, finalmente,
depois de me livrar da pizza. — Você viu.
— Eu vi. — Logan sorriu sem mostrar os dentes. — São
bonitos. Para uma menina de quinze anos que não beija na boca,
não para alguém que quer entrar numa lista de mulheres desejadas.
Vamos ter que comprar algumas peças, vou lidar com isso como se
fosse um investimento.
Desejei, por um segundo, que o rostinho perfeito diante de
mim se engasgasse com a colher. Era muito cruel falar aquilo sobre
as minhas roupas, mas não queria entrar numa discussão com
Logan porque devia sempre me lembrar de que tudo que estava
acontecendo era apenas por causa de uma aposta. Ele não se
preocupava realmente com o que eu vestia ou como usava meus
cabelos. Seu objetivo era apenas me transformar no tipo de garota
por quem se sentiria atraído. Alguém totalmente diferente de quem a
verdadeira Zoe Green era.
— Então você vai renovar o guarda-roupas da Zozo com seu
próprio dinheiro? — perguntou Leslie, parecendo muito mais
empolgada do que eu. — Por acaso, não tem nenhum amigo seu
querendo me usar também para uma aposta e comprar sapatos
novos pra mim?
— Acho que os que você tem já são suficientes — comentei,
inclinando meu corpo para o lado e batendo meu ombro no dela. —
Mal estão cabendo na sapateira do hall
.
— Aishh[13]! Que implicante!
— Zoe tem razão, Lee. — Logan encarou a irmã e arqueou a
sobrancelha. — Para que você quer tantos sapatos? Não usa nem a
metade deles!
Ao meu lado, minha amiga bufou e pegou uma colher para
levá-la até o sorvete. Ela se levantou logo depois, fazendo careta
para nós dois, em seguida, deixou a sala e sumiu pelo corredor.
Minha melhor amiga ficava muito engraçada quando saía batendo o
pé, contrariada e irritada, mas eu sabia que em poucos minutos
estaria normal novamente.
Encarei Logan à minha frente, percebendo que ele estava me
observando. Ele tinha um rosto tão perfeito e era tão elegante, que
eu podia imaginar o quanto as pessoas que não sabiam da aposta
achariam estranho vê-lo saindo com alguém como eu, na minha pior
versão.
— Como está sua grade curricular para amanhã? —
perguntou. — Estava pensando que você poderia ir me encontrar no
ginásio e depois do meu treino, a gente sai para ver umas lojas,
bem longe do campus. E quem flagrar você me assistindo nadar, já
vai começar a desenvolver as teorias.
— Minha primeira aula amanhã se inicia às dez horas.
— Hm. — Ele franziu os lábios, assentindo. — Meu treino
termina por volta das oito e meia, acho que dá tempo de fazermos
alguma coisa.
— Você vai mesmo sair comigo pra comprar roupas? —
questionei para ter certeza porque me parecia um pesadelo. —
Posso fazer isso sozinha.
Logan abafou uma risada e empurrou a cadeira para trás, se
levantando e andando até mim. Ele apoiou uma mão no braço da
minha e a outra sobre o tampo da mesa, aproximando o rosto e me
lançando um sorriso que mais parecia um pedido de desculpas.
— Você não sabe o que tenho em mente, Zozo. Além disso, de
acordo com o que vi no seu guarda-roupas, não sei se confio no seu
gosto para esse trabalho específico.
— Você não confia em mim, mas eu preciso confiar em você?
— O maior interessado pra que isso dê certo, sou eu, não sou?
— Logan me beijou na testa antes de se afastar. — Pode confiar de
olhos fechados.
Permaneci ali, encarando a caixa de pizza vazia e o pote de
sorvete pela metade. Não sabia o que esperar do que viria a seguir
e estava com um pouco de receio. Até então, não tinha realmente
parado para pensar que seria necessário mudar meu estilo se
quisesse ter chances de ganhar aquela aposta idiota. Minhas roupas
que eu tanto amava não serviriam para o plano e eu temia não me
sentir confortável com o que Logan tivesse em mente para mim.
— Não pode ser tão ruim — murmurei baixinho, sozinha na
sala, antes de fechar o pote de sorvete.

Era bem ruim sim porque agora eu estava aqui, sentada


sozinha na arquibancada, precisando ajeitar a droga do óculos o
tempo todo porque o acessório cismava em escorregar, e tentando
ignorar os olhares estranhos das outras garotas que vibravam a
cada volta completada por Logan naquela piscina.
Sempre fora assim no colégio, por onde ele andava, era
possível encontrar algumas fãs suspirando pelo caminho, mas eu
achava que na faculdade elas dispersariam um pouco. Afinal, não
tinham centenas de outros atletas, dos mais variados esportes, para
tietarem?
Suspirei mais uma vez ao olhar o horário na tela do meu
celular, torcendo para o treino terminar logo. Eu me sentia uma obra
de arte falsificada, andando daquele jeito pelo campus, como se a
qualquer momento a polícia pudesse aparecer e me acusar pelas
espinhas forjadas ou pelo óculos que era de brinquedo.
Assisti com alívioo treinador de Logan encerrar tudo e o rapaz
deixar a piscina sem pressa alguma. A água escorreu pelo corpo
atlético quando ficou de pé do lado de fora, retirando o óculos e a
touca e olhando na minha direção. Foi naquele momento que meu
coração sofreu uma paradinha de leve, enquanto os olhos escuros
focavam em mim e os pés muito brancos caminhavam pelo ginásio,
aproximando-se da arquibancada.
Era um momento único da minha vida, testemunhar Logan
Choi, vestindo apenas sunga preta, subir cinco degraus da
arquibancada e se curvar na minha direção para beijar meu rosto.
Algumas gotículas de água ainda caíram em meu rosto, escorrendo
de seus cabelos, e eu tinha certeza de que todas as outras garotas
desejavam que eu morresse agora.
— Que bom que veio me ver — murmurou Logan ao recuar o
rosto, completamente dentro do personagem. — Gostou do que
encontrou aqui?
Desci meus olhos pelo corpo dele, mesmo sabendo que não
devia. Era um ímpeto que eu não conseguia controlar e,
sinceramente, eu não me culpava por isso, visto que meus olhos
não eram os únicos que o observavam.
Logan tinha um corpo magro e esguio, com braços e pernas
tonificados, abdômen levemente definido, porém, sem aqueles
músculos que costumavam ser vistos na maioria dos atletas de
outros esportes. Nadadores acabavam desenvolvendo mais os
ombros e início das costas, conferindo-os uma estrutura mais larga,
porém, não deixavam nada a desejar para os trogloditas do futebol
ou basquete.
Além disso, as fãs de natação eram sempre presenteadas com
aquela visão do paraíso, ou seja, de seus atletas favoritos exibindo
o corpo enxuto dentro de uma sunga e nada mais.
Logan sempre fora um espetáculo, mas desde a última vez em
que o vi com aquele traje, anos atrás, até agora, parecia que muita
coisa tinha acontecido. Ele estava ainda mais gostoso.
— Meus olhos estão aqui em cima — murmurou, repetindo
uma frase que eu dissera a ele dias antes.
Depressa, encarei seu rosto, morrendo de vergonha por ter
olhado sua sunga por tempo demais.
— Perdeu alguma coisa mais pra baixo? — perguntou,
sorrindo e, provavelmente, se divertindo com a minha cara.
— Não — respondi, suspirando. — Mas você parece ter
acumulado muita bagagem nova nos últimos anos.
O sorrisinho logo sumiu de seu rosto e ele ficou vermelho,
parecendo chocado. Eu mesma estava, porque nunca tinha falado
com Logan daquele jeito tão direto, então eu entendia o choque que
o atingiu.
O garoto inclinou a cabeça, apoiando um pé no degrau onde
eu estava sentada e aproximando ainda mais o rosto do meu.
— O que você disse?
Pigarreei, olhando em volta rapidamente e notando que
algumas pessoas ainda prestavam atenção em nós dois. Então,
estiquei meu corpo e guiei minha boca até o ouvido de Logan,
sussurrando:
— Estou dando em cima de você pra ficar bem convincente.
Era a melhor desculpa de todas e me eximia de confessar ter
pensado uma coisa horrível em voz alta. Se Logan acreditou, eu não
saberia dizer, pois ele apenas estreitou os olhos, me observando em
silêncio por longos segundos, até finalmente me lançar um sorriso
encantador e endireitar a postura.
— Vou me trocar e encontro você do lado de fora em dez
minutos, ok?
Assenti, feliz por termos encerrado o assunto que me deixou
numa saia-justa e esperei que ele descesse a arquibancada para
voltar a respirar com mais alívio.
Foi interessante ver como as pessoas realmente prestavam
atenção nos detalhes, porque me senti com um alvo pintado no
meio da testa enquanto caminhava ao lado de Zoe até meu carro.
Como nós combinamos previamente, ela tinha se vestido de
moletom dos pés à cabeça, colocado os óculos e feito um penteado
estranho nos cabelos. Leslie tinha compromisso e não conseguiu
ajudar na maquiagem, mas fiquei orgulhoso em ver que a própria
Zoe deu um jeitinho de intensificar as olheiras.
Sabia que seria muito difícil encontrar com algum amigo meu
naquele dia, então não me preocupei tanto com isso. Eu fui até a
arquibancada falar com ela depois que Mike tinha se retirado para o
vestiário, e dei um jeito de encontrar com Zoe do lado de fora antes
que ele saísse.
Quando entramos no meu carro, ela tirou os óculos e
massageou os olhos, soltando um suspiro forte. Ela parecia um
pouco mais relaxada do que da última vez em que encenamos em
público para Ryan testemunhar. Inclusive, ao observar a garota se
ajeitar no banco, me lembrei da cantada abusada que soltou para
cima de mim na piscina e ri sozinho.
— O que foi? — Ouvi sua voz e senti que me encarava.
— Talvez seja melhor eu não responder.
— Como assim? Fiz alguma coisa errada?
Balancei a cabeça para negar, mas enquanto dirigia pelas ruas
para nos afastarmos do campus, pude perceber que Zoe ficou
calada de repente e parecia um pouco tensa ao meu lado. Logo
pensei que o fato de ter rido e não ter compartilhado com ela o
motivo, podia ser o que ocasionou aquela reação.
Quando estava estacionando no shopping para darmos uma
olhada em algumas roupas, decidi me explicar para ela.
— Que cantada foi aquela no ginásio? — perguntei, abafando
a risada. — Não tinha ninguém perto de nós pra ouvir.
Zoe abriu a boca e ficou com ela daquele jeito por uns dois ou
três segundos, lançando o olhar para todos os lados do carro,
menos para mim, até que levou a mão à maçaneta do automóvel e
desceu com pressa antes mesmo que eu conseguisse desligar o
motor.
Apesar de sua ansiedade, fiz tudo com calma porque sabia
que a garota só estava daquele jeito para fugir de mim e da minha
pergunta. Sendo assim, depois de trancar o carro e guardar a chave
no bolso, dei a volta até encontrá-la do outro lado e toquei suas
costas ao sorrir.
— Vamos esquecer essa bobeira e procurar roupas legais pra
você.
— Vai pagar com que dinheiro se ainda não ganhou a aposta?
— perguntou ela, caminhando ao meu lado. — Já pensou se a
gente perder? Você vai ter gastado comigo à toa.
— Aí não será investimento e sim, presente. — Encolhi os
ombros. — Pense dessa forma e tudo ficará bem.
Eu não era especialista em moda feminina, mas sabia o que
gostava de ver uma garota usando, então tentei me guiar pelo meu
próprio gosto. Afinal, era essa a intenção, vestir Zoe para que ela
ficasse atraente aos olhos do campus e não pelo que a menina
queria usar.
Era uma coisa horrível de se pensar e na vida real, eu jamais
ditaria a roupa que uma garota usaria ou deixaria de usar, mas Zoe
conhecia e entendia as necessidades do nosso plano.
— Existe algo que você não queira vestir de jeito nenhum? —
perguntei quando a puxei para dentro de uma loja de
departamentos.
— Hum... — Pensativa, Zoe conferiu ao nosso redor. — Nada
que mostre minha calcinha, por favor.
— Quem a senhorita acha que sou? — questionei, levando
uma mão ao meu peito e fazendo uma careta. — Eu mataria quem
tentasse ver sua calcinha, jamais a colocaria dentro de uma roupa
assim.
Ela soltou uma risadinha boba e se virou de costas para mim
ao começar a mexer em alguns cabides. Por fim, puxou um vestido
colorido de alcinhas e antes que dissesse qualquer coisa, eu o
peguei e o devolvi ao lugar.
— Nossa missão não é vestir a fofa da Zozo e sim a gostosa
da Zoe — declarei, passando um braço ao redor dos ombros finos e
a puxando pela loja. — Eu frequento muitas festas, então
precisamos de looksbonitos para esses momentos.
Mexi numa arara de roupas pretas e verifiquei um vestido
interessante, com um decote simples, mas cruzado nas costas e
com uma abertura delicada na altura das costelas.
— O que acha desse?
— Não se parece com nada que eu usaria — disse Zoe.
— Ótimo! Vamos experimentá-lo então.
Enquanto a garota colorida revirava os olhos e conferia a
etiqueta com o tamanho, eu me sentei numa poltrona de frente para
a entrada do provador e peguei meu celular para conferir as
mensagens.

Mike:“Por que saiu tão rápido? Tá tudo bem?”

Logan: “Tudo tranquilo, estou meio que... num encontro.”

Mike:“Fala sério. A essa hora?”

Logan: “Na verdade... lembra da aposta com o Ryan? Já começou,


em breve eu te apresento a garota.”

Mike:“Você é ligeiro.”
Ri sozinho porque ele nem fazia ideia. Claro que era tudo mais
fácil e rápido quando se tratava de alguém que eu já conhecia e
com quem eu havia armado toda a situação. Por mais que eu
confiasse no meu poder de sedução, não podia afirmar que teria
êxito total em convencer uma pessoa qualquer a sair comigo tão
rápido assim. O flerte levava um pouco mais de tempo e demandava
mais esforço do que eu realmente precisava ter com Zoe.
Por falar nela, fui obrigado a guardar o celular quando
apareceu diante de mim com o vestido no corpo. O tamanho era o
ideal e a roupa tinha ficado perfeita para Zoe. Não era um decote
que mostrava demais e não a deixaria desconfortável, o
comprimento também era bom, um palmo acima dos joelhos, e a
cintura ficava um pouco soltinha.
Era uma ótima roupa para usar em sua primeira aparição
pública comigo, que mostraria uma bela transformação, mas nada
tão radical a ponto de suspeitarem de algo. Era apenas um vestido
bonito e clássico, como toda mulher deveria ter em seu guarda-
roupas. Aquela peça preta coringa.
— Você gostou? — indaguei, notando que ela estava
passando as mãos pela cintura o tempo todo.
— Sim, dá pra usar. Não que eu tenha muitos lugares aonde ir
com algo assim, mas gostei.
— Então vamos levá-lo! — declarei, piscando e me
aproximando dela para beijar sua bochecha. — Vá se trocar
enquanto olho mais algumas coisas.
Já tinha visto o preço do vestido quando o peguei do cabide,
então sabia que estava de acordo com o que eu podia pagar.
Aproveitei para voltar às araras de roupas e tentar achar mais
alguma peça que valesse a pena ser experimentada. Peguei três
camisetas de cores neutras e modelagem básica, que estavam em
promoção, pois seria legal ela ter algo além de moletons e blusas
com estampas de grupos de k-pop para andar ao meu lado no dia a
dia.
Do lado de fora da loja, Zoe carregava a sacola com as
compras, em silêncio, quando notei algumas garotas caminhando na
direção contrária, me encarando por muito tempo e depois rindo ao
olhar para ela.
— Por que você está andando tão longe de mim? — Prendi
seu casaco entre meus dedos e a puxei com pressa, envolvendo
sua cintura.
— Estamos encenando aqui também? — perguntou,
sussurrando. — Não sabia...
— Você precisa encenar pra ficar perto de mim, Zozo? Lembro
perfeitamente de quando me seguia pra cima e pra baixo e pedia
pra tirar foto comigo.
Ri quando me deu uma cotovelada na cintura e tentou se soltar
de mim, sem sucesso.
— Eu tinha onze anos e foi na época em que comecei a gostar
da cultura coreana — defendeu-se, bufando. — É diferente.
— Da cultura
? É assim que se refere aos garotos coreanos?
Causei o efeito desejado ao perceber que Zoe parou de andar
e conseguiu se afastar de mim. Ela cruzou os braços, fazendo a
sacola da loja balançar toda torta, e franziu os lábios num bico que
demonstrava chateação.
— Que garotos, Logan? — perguntou, num tom de voz acima
do normal.
Eu me curvei para aproximar meu rosto e pisquei.
— Os magrelos que gosta de ver dançar.
— São cantores também — retrucou a coloridinha. —
Dançarinos, cantores, compositores, modelos... E sinto muito te
decepcionar, mas você é igual a eles.
— Sou muito melhor — respondi, dando um único passo à
frente para colar nossos corpos. — Você sabe disso, acabou de ver.
— Eu não vi nada. — A filha da mãe sustentou meu olhar.
— Mesmo? Preciso refrescar sua memória, Zoe Green?
A garota ficou vermelha quase que instantaneamente e soltou
uma risada sem-graça, baixando o rosto e empurrando meu peito
com a mão livre.
— Para de implicar comigo, oppa!
O grupinho que tinha acabado de passar pela gente parece ter
escutado a Zoe, pois uma das garotas reagiu com um gritinho
abafado e elas logo apressaram o passo. Eu levei minha mão até a
cabeça da colorida e baguncei os cabelos macios e cheirosos.
— Não é implicância, apenas constatação de fatos — declarei,
decidindo deixá-la em paz pelos próximos minutos. — Vamos
procurar agora algo bem incrível pra você vestir e deixar o Ryan
babando.
— Por que o Ryan?
— Porque ele duvidou da sua capacidade — respondi,
voltando a caminhar com Zoe pelo shopping e entrando numa loja.
— Vai ser revigorante vê-lo assumir que você é gostosa.
Quando pisei dentro do estabelecimento, percebi que aquela
frase não tinha soado muito bem. Estava me referindo à amiga da
minha irmã, então devia ter medido minhas palavras. Grosseiro,
para dizer o mínimo.
O barulho me fez olhar para trás e ver que Zoe tinha batido
com a cara no vidro ao tentar entrar pelo lado errado. Precisei
segurar minha risada enquanto a garota ajeitava os cabelos e
passava pela porta certa, desconcertada com os olhos arregalados
e o rosto vermelho.
— Você está bem? — perguntei, segurando-a pelo capuz do
moletom quando tentou se afastar.
— Uhum.
Puxei seu rosto para me certificar de que não tinha se
machucado e, ao perceber que Zoe estava sem-graça, peguei sua
mão para caminhar pela loja. Ela relaxou quando começamos a
passar alguns cabides e discutir sobre algumas peças que
encontrávamos pelo caminho.
Então, vi um vestido num tom lindo de verde água e o puxei
para fora da arara, aproximando-o do corpo de Zoe para ver o
quanto a cor combinava com ela.
— Por que não experimenta este? — perguntei e a vi franzir os
lábios. — Peça o seu tamanho para a vendedora.
Ela assentiu quando fiz sinal para uma moça que nos
observava de longe, deixando-nos à vontade, para só depois se
aproximar. Como estava ansioso, fui olhar mais algumas peças
enquanto Zoe era levada para o provador. Não foi difícil achar outros
vestidos que ficariam ótimos para o nosso plano, mas sabia que
precisava agir com controle para não sair gastando como um louco.
Meu orçamento não era infinito e ainda teria que arranjar uma ou
outra sandália para a garota.
— Ela entrou agora no provador e eu vim te buscar — disse a
vendedora, que parecia ter uns quarenta anos, quando se
aproximou. — Vocês fazem um casal bonito. Ela é uma gracinha.
Sorri, agradecendo com um gesto de cabeça, pois precisava
manter as aparências. Segui a mulher para a seção dos provadores,
mas ali não tinha onde sentar, então aguardei diante da cabine.
— O vestido tem algumas amarrações atrás, talvez você
queira ajudá-la a fechar — sussurrou, piscando para mim, no
momento exato em que Zoe colocou o rosto para fora da cortina. —
Quer ajuda, querida?
Quando a colorida assentiu, a vendedora sorriu e me encarou
com cumplicidade. Deixei a outra sacola no chão e me aproximei da
cabine, vendo os olhos verdes se arregalarem. As mãos pequenas
pareciam agarrar o tecido da cortina com força, como se sua vida
dependesse de manter aquele posto.
— Chega pra lá, pois vou entrar — avisei, fazendo Zoe se virar
com pressa.
Passei pela cortina e a fechei atrás de mim, percebendo que
aqueles provadores pareciam cada vez menores. Pelo espelho, vi a
garota segurar firme o decote com uma mão, enquanto usava a
outra para puxar seus cabelos por cima dos ombros.
— Por que a vendedora não veio?
— Porque ela pensa que somos namorados — expliquei,
observando suas costas e tentando entender o emaranhado de fios.
— Você gostou? Parece bem bonito.
Olhando para ela pelo espelho bem diante de nós, podia
reparar em como o vestido tinha caído com perfeição no corpo de
Zoe. Era um cetim bem macio, de alcinhas finas e decote em V, que
descia pelas costas apenas com uma tirinha sobre cada ombro, até
chegar um pouco acima da bunda e ter a amarração.
— É muito curto... — murmurou Zoe, baixinho. — E muito...
descoberto.
— É que você não está acostumada, mas eu juro que não está
indecente.
— Você fugia quando Lee e eu insistíamos pra que viesse
brincar de boneca com a gente — comentou Zoe, cruzando os
braços. — Mas parece que gosta muito de ser personal shopper[14].
— Realmente gosto de comprar roupas. E tenho bom gosto
pra isso. — Pisquei, vendo-a revirar os olhos, terminando de dar o
último laço na amarração. Sendo assim, eu me inclinei e passei
meus braços ao redor da cintura de Zoe, apoiando meu queixo no
ombro dela. — Mas gosto da ideia de brincar com bonecas mais
realistas.
Através do espelho, sorri para a garota que demorou a
entender a ambiguidade da minha frase, mas quando captou, ficou
vermelha e deu um tapa numa de minhas mãos. Por fim, antes de
soltá-la, lembrei-me de registrar alguns momentos e puxei meu
celular do bolso.
Sabia que Logan não falaria nada, mas eu tinha certeza de
que era possível ouvir os meus batimentos cardíacos. A vendedora,
do lado de fora do provador, devia conseguir escutá-los. Não era
possível que ele não percebesse o que causava em uma garota
quando agia daquela forma. Eu me sentia desnorteada enquanto o
encarava pelo espelho, tentando pensar em algo comum para dizer,
pois depois do episódio da sunga, estava com medo de soltar coisas
absurdas que não deveriam ser ditas em voz alta.
Não consegui evitar me arrepiar quando o garoto estava
amarrando o meu vestido nas costas e roçando os nós dos dedos
em minha pele. E agora, sentia meus joelhos moles por causa da
atenção que havia sobre mim no nosso reflexo do espelho. Logan
tinha ajeitado a postura e voltado a ficar ereto, todo elegante dentro
de um jeans escuro e uma jaqueta de couro.
— Vamos tirar uma foto? — perguntou, mantendo uma mão
ainda em minha cintura e usando a outra para erguer o celular.
Senti-me um pouco humilhada porque estava realmente feia,
com aquela maquiagem forçada, os cabelos despenteados, ao lado
do cara que parecia ter saído de um salão de beleza com aquele
rosto perfeito. Até pensei em discordar e pedir que abaixasse o
celular, mas então me lembrei de que estava tirando foto de casal
com Logan Choi. Quantas vezes na vida eu teria essa
oportunidade?
Por isso, engoli em seco, tentei corrigir minha postura e sorri
para a câmera apontada para o espelho.
— Está tudo bem aídentro? — Ouvimos a voz da vendedora e
Logan interrompeu as fotografias, voltando a guardar o telefone no
bolso da calça.
— Já vamos sair! — avisou ele, passando os olhos pelo meu
corpo como se quisesse conferir o resultado mais uma vez. — Ficou
muito bom, Zozo. A cor combina bastante com você.
Eu me virei de costas para o espelho, observando o decote
enorme que havia na região. Era estranho, não tinha o costume de
mostrar tanta pele, então me sentia quase nua com aquela roupa.
— Não é muito apelativo?
— É o que as garotas gostam de usar pra sair à noite. — De
frente para mim, Logan apoiou as mãos nos meus ombros. — Eu
tenho interesse em ganhar a aposta, lembra? Não deixaria que
vestisse nada feio, estranho ou vulgar.
Sim, nisso ele tinha razão e era, justamente, o motivo para se
empenhar tanto. Precisava sempre me lembrar bem disso, de que
nada daquilo, nem a interação, era cem por cento real. Logan
possuía um objetivo em mente e ele faria de tudo para ter êxito, até
mesmo parecer interessado em mim.
— Ok — respondi e pigarreei. — Vou me trocar então e
podemos levar o vestido.
Ele assentiu, saindo do provador e murmurando alguma coisa
para a vendedora. Com medo de que Logan simplesmente voltasse
sem avisar, tirei a roupa com pressa, me livrando logo do vestido e o
jogando num canto para voltar a colocar meu bom e velho moletom.
Eu adorava me sentir confortável com roupas bem largas e nunca
me importei que Leslie vivesse pedindo para eu começar a usar
peças mais sensuais. Agora, pelo visto, não teria como fugir disso.

Minha melhor amiga ficou empolgadíssima ao ver minhas


compras — que foram todas pagas por Logan — e ficou até com um
pouco de ciúmes por não ter conseguido ir junto. Eu achava ótimo,
porque com Leslie por perto, eu tinha certeza de que o irmão dela
iria à falência antes de ganhar a aposta.
— Eu não sabia que precisava ver a Zoe de salto alto, até
finalmente vê-la sobre um — murmurou, batendo palminhas, quando
calcei o par de sandálias que ela tanto insistiu para ver.
— Logan não me ouviu quando eu disse que não sei andar de
salto. — Suspirei, me sentando na beira do sofá.
— Basta aprender, Zozo. Eu vou te ensinar.
— Conto com você pra isso, Lee. — Logan afagou os cabelos
da irmã ao passar por nós e ir até a cozinha.
— Não farei isso por sua causa, só pra que fique bem claro —
avisou Leslie, estalando a língua.— Só não quero que minha amiga
caia e quebre uma perna.
A confiança dela em mim era emocionante, então apenas sorri.
Não podia negar que não levava jeito mesmo para andar sobre
aquelas coisas altas e finas. Fiz até questão de intervir na escolha
de Logan e impedir que ele comprasse um par altíssimo, que faria
muito mais estrago. O modelo escolhido por mim tinha saltos de uns
cinco centímetros e não eram tão finos, mesmo assim, eram objetos
estranhos para mim.
— Lembra na formatura quando você usou aqueles saltos e
usou a oportunidade pra passar a noite toda abraçando o Jimy?
— Não foi uma oportunidade, Lee — retruquei, estreitando
meus olhos para ela. — Eu estava mesmo com medo de cair.
— Sei... E por que não segurava em mim? Toda vez que eu
olhava na sua direção, via esses braços de polvo ao redor da cintura
do J.
Ouvi, ao fundo, a risadinha de Logan, e tentei ignorar. Mas o
rapaz acabou se juntando a nós duas, com uma garrafa de cerveja
na mão. Ele se sentou no tapete e encostou as costas na mesinha
de centro, esticando as pernas e nos encarando no sofá.
— Quer dizer que a senhorita sabe tirar proveito das situações,
não é?
— Não! — Revirei meus olhos. — Olha o tamanho da sua
irmã! Ela não serve como apoio.
— Ei! — Leslie jogou uma almofada em cima de mim e esticou
a perna para me chutar. — Não sou eu que fico parecendo um
macarrão cozido quando uso salto alto.
— Aishh! — Levantei-me e comecei a recolher minhas coisas
para encerrar aquele assunto. — Vocês são chatos.
— Ainda bem que o Logan é beeeem alto, você pode ficar
agarradinha a noite toda quando for usar essas sandálias.
Por reflexo, eu agi mais rápido do que poderia imaginar e
acabei virando meu rosto para olhar o garoto sentado no chão. Eu já
estava de pé e precisava pular as pernas dele para passar, mas o
olhar que me lançou, mexendo as sobrancelhas como se me
seduzisse, acabou me desestabilizando.
Meu pé ficou preso entre seus tornozelos e como eu não tinha
onde me segurar, meu corpo pendeu para trás e me senti cair. Foi o
momento em que Logan rapidamente ergueu as pernas e as usou
para me segurar pela cintura, puxando-me de encontro ao seu corpo
num piscar de olhos.
A parte boa foi não ter me ferido, pois podia ter caído em cima
da mesinha, porém, em compensação, eu me estatelei no colo do
único cara de quem deveria manter distância.
— Desculpa! — pedi, tapando o rosto com as mãos e
querendo morrer.
— Eu a deixei nervosa, Zozo? — o filho da mãe perguntou,
alisando meus braços quando minhas costas se chocaram contra
seu peito. — Agora estou preocupado de como vai ser quando
estiver com as sandálias...
Para ele e Leslie, os segundos estavam contando
normalmente, mas para mim, parecia que tudo acontecia em
câmera lenta. Percebi o momento exato em que inspirei devagar,
sentindo nossos corpos em contato e a forma como meus pés
estavam embolados com os dele. Eu tinha tirado o casaco ao
chegar em casa e agora estava apenas de camiseta, então me
arrepiei ao menor toque de Logan nos meus braços e temi que ele
percebesse essa reação.
Encarei minha amiga que estava de frente para mim e
arregalei meus olhos, implorando por algum tipo de intervenção. A
safada sorriu, deixando bem claro que estava gostando de me ver
sofrer, mas finalmente esticou a mão na minha direção.
— Vem, amiga, eu te ajudo a levantar — falou, piscando como
se Logan não pudesse vê-la. — Lembra que comentamos sobre
meu irmão gostar das meninas sentando em seu colo? O destino é
incrível!
Sequer tive coragem de virar o rosto para olhar o garoto,
apenas aceitei a mão de Leslie e me levantei depressa, tentando
manter algum vestígio de dignidade, que desde o episódio da porta
de vidro da loja, já tinha ido quase toda embora.
Com cuidado, terminei de pular as pernas de Logan e me
curvei para abrir os fechos das malditas sandálias e deixá-las bem
longe de mim. Ao ficar descalça, suspirei com alívio e guardei o par
dentro da caixa para levar ao quarto.
— Vocês compraram roupas e sapato, mas e a lingerie
? —
questionou Leslie.
Eu me virei e a encarei, sem entender, vislumbrando também o
franzir de testa de seu irmão.
— Do que está falando? — perguntei.
— Não comprou um conjuntinho sensual? Nada, amiga? — Ela
virou o rosto para Logan. — Se você visse as calcinhas que Zoe
usa, iria me entender. Ela precisa de coisas melhores, sem
estampas fofinhas.
— Ei! — gritei, fuzilando a filha da mãe com meu olhar. —
Você quer morrer?
— Não acho que Ryan precise ver as calcinhas da Zoe —
declarou Logan, parecendo muito mais relaxado do que eu. — A
lingerie
dela estará segura.
— Sim, mas vocês dois precisam ser convincentes... — Leslie
sorriu como a boa safada que era dentro daquela cara de anjo. —
Se precisarem ser flagrados no meio de algum amasso? Tipo,
dentro do carro, a Zoe no seu colo e...
Sim, eu joguei uma garrafa de água vazia em cima dela,
porque era o único objeto que estava perto de mim e podia ser
lançado facilmente no ar — a outra opção era a caixa da sandália.
Ela soltou um gritinho ao mesmo tempo em que gargalhava
como uma louca. Logan riu ao se levantar e esfregar a mão nos
cabelos da irmã, balançando a própria cabeça e alisando a nuca.
— Você anda meio perturbada, Lee — comentou antes de me
encarar, de costas para ela. — Se algo assim tivesse que acontecer,
de forma alguma eu permitiria que vissem a lingerie
de uma garota
minha. — Prendi a respiração quando os olhos escuros que já eram
pequenos, se estreitaram ainda mais num tom de aviso, diretamente
para mim. — Sou ciumento, até mesmo na ficção.
Logan tinha mesmo acabado de dizer o que eu ouvi? Como ele
podia ter esse tipo de atitude? Será que não possuía mesmo
nenhuma consciência do que fazia ao seu redor?
Por sorte, eu estava bem perto da mesa de quatro lugares da
sala e pude me escorar nela quando chegou bem perto, me olhando
de cima, e usou as duas mãos para enfiar os dedos em meus
cabelos e afastá-los do rosto.
— Amanhã nós vamos sair, ok? Nosso primeiro encontro em
público, em algum lugar bem badalado do campus. — Tudo o que
consegui fazer foi balançar minha cabeça em concordância. — Meu
dia vai ser muito corrido, então vou só passar aqui na hora que for
pra te buscar.
— Sou eu que vou produzir a gata? — perguntou Leslie,
também se levantando e se aproximando. — O que tem em mente,
Logie?
— Jeans e uma das blusas que compramos hoje — respondeu
ele, parecendo um grande entendedor de moda. — É uma boa
opção para iniciarmos a transição da Zoe. E aí você pode deixar as
espinhas e olheiras de fora. Vamos fingir que ela descobriu a
maquiagem agora.
— Eu acho que talvez a Leslie deva me ensinar algumas
coisas, porque nem sempre ela poderá ficar à nossa disposição pra
me maquiar — comentei, ciente de que minha amiga não estaria
ganhando nada em troca.
— Eu ensino, mas estou curtindo participar dessa loucura. —
Ela passou um braço pela cintura do irmão e sorriu. — Podemos
tirar os óculos do disfarce? Eu fico com medo de que alguém
perceba que ele é de brinquedo.
Logan assentiu e eu fiquei feliz por mais aquele passo.
Realmente odiava os óculos porque eles eram de um plástico
vagabundo que além de pinicar meu rosto também não se
encaixava direito no meu nariz.
Aproveitei que o celular dele tocou e fugi para o quarto,
levando as sacolas e me jogando na cama assim que Leslie fechou
nossa porta. Ela se agitou de um lado para o outro, mexendo em
suas coisas, até que colocou música para tocar na nossa caixinha
de som via bluetooth
.
Respirei profundamente quando ouvi que ela tinha escolhido
“Euphoria”, do BTS, e fechei meus olhos para relaxar um pouco. Ao
meu lado, senti o colchão afundar e entendi que Lee estava se
deitando também, encostando a cabeça na minha.
— Já disse hoje que te amo? — murmurei, buscando pela mão
dela.
— Hoje, não. — Sorri e chutei seu pé. — Também te amo,
Zozo. Espero que você se case com o Logie.
— É um desejo complicado...
— Não sei, hoje em dia, acho que tenho esperanças de que
aconteça.
— Lee, você sabe que só estamos fingindo, né? — questionei
para aproveitar e lembrar isso a mim mesma. — É tudo por causa
de uma aposta.
— Você se dá pouco crédito. Por que não pode acreditar que o
Logan seja capaz de começar a gostar de você?
— Porque ele teve a vida toda pra isso — respondi, abrindo os
meus olhos e me virando de lado na cama. — Não vai ser agora, de
repente, que vai me enxergar diferente. Logan me considera irmã.
Foi a vez de Leslie me encarar, virando seu rosto e dando um
sorriso divertido. Então, ela se sentou na cama e apoiou as mãos no
colchão, enquanto mantinha aquele olhar debochado direcionado
para mim.
— Eu sei de tudo isso e sei também de tudo o que você já
viveu com a minha família. Mas não se engane. Logie não me trata
do jeito que te trata. — A maluca me deu um tapa na testa. —
Acorda pra vida, Zoe! Rolou uma bela tensão sexual lá na sala e
você nem se deu conta.
Eu preferia não enxergar a situação pelo mesmo ângulo que
Leslie, porque não queria me iludir ou o tombo seria grande demais.
Talvez essa brincadeira me tornasse mais próxima de Logan e não
seria ruim poder considerá-lo um amigo de verdade — e não apenas
o irmão da minha melhor amiga. Deixando os sentimentos bobos de
lado, ele era uma pessoa maravilhosa com quem qualquer um
gostaria de conviver e fazer amizade. E tudo bem, eu tinha muita
coisa para experimentar durante os próximos anos, não me abalaria
por uma paixonite adolescente que nunca foi curada.
Observei o sorriso de Leslie, ciente de que estava se divertindo
com tudo aquilo. Ela sempre precisou guardar meu segredo e
parecia que agora, finalmente, estava se permitindo extravasar sua
torcida. Isso, no entanto, me lembrou de que minha amiga vinha
focando muito em mim e deixando algo importante de lado.
— Por que você mentiu para Logan sobre termos transado? —
questionei e Leslie girou a cabeça na direção da porta, preocupada
que ele pudesse ouvir.
— Que mudança brusca de assunto!
— Eu queria ter comentado sobre isso naquele dia, mas
esqueci. — Encolhi os ombros e comecei a cantarolar “Love Shot”,
do EXO, morrendo de vontade de levantar e dançar um pouco. —
Você não apenas mentiu sobre a sua vida sexual, como ainda me
colocou na mesma mentira.
— Eu só não queria que meu irmão desse uma de macho
marcando território pra cima da gente — disse, franzindo os lábios e
piscando. — Se ele pensar que não somos mais virgens e já temos
uma vida sexual ativa, não vai ficar tão protetor.
— Acha que isso vai impedir Logan de afastar os rapazes que
tentarem chegar em você?
Eu tinha certeza de que não seria como Leslie estava
imaginando. O irmão sempre foi muito protetor e ele falou sério mais
cedo na sala, quando se referiu ao seu lado ciumento. Não comigo,
ele nunca foi desse jeito, porque afinal de contas, eu não era sua
família. Mas com Leslie, Logan vivia perturbando e marcando em
cima qualquer olhadinha diferente que ela desse na direção de
alguém.
— A gente veio pra faculdade, Zozo. Todo mundo vive altas
aventuras nessa fase da vida, mas eu vim morar com meu irmão. —
Ela fez uma careta e revirou os olhos. — Não mereço ficar sendo
controlada por ele, justo agora que estou longe dos meus pais.
— Ok, você fala como se fosse a maior pegadora de todas —
zombei, sentindo-a beliscar minha perna. — Estamos há dias aqui e
ainda nem fomos a nenhuma festa ou fizemos amizades.
Leslie se jogou em cima de mim de costas e eu a empurrei
para o lado quando senti que estava prestes a iniciar uma sessão de
cócegas.
— Fale por você, Zoe Green! — repreendeu-me ao se levantar,
com o rosto vermelho de tanto rir. — Já tenho duas novas amigas
do mesmo curso que eu e uma delas namora um jogador do time de
futebol americano. As festas vão chegar!
Eu me sentei na cama até apoiar as costas na cabeceira e
encarei a doida que agitava os braços no alto da cabeça, dançando
do seu jeito destrambelhado sem ritmo nenhum. Uma vez nós duas
nos inscrevemos num curso de dança k-pop e desistimos depois da
primeira aula porque Leslie era a pessoa mais dura e
descoordenada que eu conhecia. Não fazia sentido gastar dinheiro
para que ela balançasse o corpo como se estivesse empalada.
— Entendi. Então frequentaremos essas festas cheias de
atletas bombados?
— Claro! — respondeu, unindo as mãos. — Foi pra isso que
entrei na faculdade. — Arqueei minha sobrancelha para ela, que
suspirou. — Ok, não só pra isso, mas faz parte do pacote. Não vejo
a hora de dar uns amassos num loiro de bíceps enormes e poder
vestir a jaqueta do uniforme dele.
— E é assim que a gente percebe que você assiste muitos
filmes.
Ela encolheu os ombros.
— Se eu tiver sorte, pode até ser que pegue um boy virgem.
Um jogador que só pensa nos estudos, sabe? Tão focado, mas que
não vai resistir à minha beleza.
— Por acaso, esse enredo não é de um livro que você estava
lendo recentemente?
Minha amiga revirou os olhos, bufando e se afastando para
pegar um pijama dentro do armário.
— Me deixe sonhar, Zoe! — pediu, fazendo cara feia quando
me encarou. — Eu acredito que vou encontrar um Dominic Davis[15]
só pra mim.
Leslie estava se referindo ao personagem do último livro que
leu. Ela adorava histórias de romance com sexo e tinha me contado
de forma resumida sobre aquela leitura. Confesso que não era a
minha preferência, apesar de já ter lido um ou outro livro com essa
pegada mais erótica. No entanto, eu era uma eterna romântica que
preferia apenas imaginar o que acontecia depois que a porta se
fechasse. Os doramas já me iludiam o suficiente por uma vida
inteira, então tinha medo de ler as safadezas que Leslie costumava
ler, e aumentar ainda mais as minhas expectativas de
relacionamento perfeito.
— Depois que você terminar o banho, vamos assistir alguma
série?
— Só se for “Vincenzo”— respondeu ela, caminhando para a
porta.
— Ah, não... Queria algo mais leve. A gente parou “Romance
is a bonus book” na metade. — Fiz minha cara de pidona. —
Preciso saber quando o Jong-suk e a Na-young vão ficar juntos.
Conciliar os nossos gostos para filmes e séries era sempre um
problema, mas no fim, eu sempre acabava ganhando a disputa
porque Leslie não sabia me negar nada. Ela apenas suspirou, já
derrotada, e pediu que a esperasse tomar banho. Ainda estava cedo
e isso me deixava animadíssima, porque significava que
conseguiríamos assistir uns três episódios antes de nos cansarmos
e irmos dormir.
Tinha saído da piscina e me sentei um pouco no vestiário para
usar o telefone, aproveitando para conferir se havia recebido
resposta de um e-mail enviado para um professor, quando senti um
estalo nas costas. Era Mike batendo com sua toalha em mim antes
de se sentar ao meu lado e esticar as pernas à frente do corpo.
— Vai na festa da Kappa no sábado, né? Estou animado para
a primeira do semestre. — Apenas assenti porque estava ocupado
digitando uma mensagem. — Vai chamar alguém ou vai livre?
— Eu vou com a Zoe — declarei, sem prestar muita atenção
em todo o falatório.
— Quem?
Baixei o celular para encarar Mike, que me olhava com um
ponto de interrogação no meio da testa.
— Zoe, a menina da aposta — expliquei, notando a
compreensão que o tomou. — Ela é bem tímida, mas consegui
convencê-la a me acompanhar.
Pela expressão de Mike, ele não imaginava que eu fosse
mesmo levar a ideia adiante, assim como, provavelmente, todos os
outros deviam pensar. Só que eu era competitivo e queria muito
aquela grana, então não havia a menor chance de desistir.
— Então está dando certo mesmo? — perguntou meu amigo,
arqueando a sobrancelha. — Ela é gostosa?
Assenti em silêncio, porque me senti meio mal em falar de Zoe
por trás, mesmo que ela estivesse ciente de tudo. Era péssimo ter
que fingir estar sendo escroto com a garota, quando eu mesmo
detestava atitudes como aquela.
— Então, já testou o desempenho? — Mike me lançou um
sorriso que não me faltava interpretação. Ele queria saber se eu
tinha dormido com Zoe.
Essa pergunta me deixou bem preocupado, porque meus
amigos me conheciam, sabiam que eu levava uma vida sexual ativa.
A aposta não terminaria de um dia para o outro, Ryan me deu o
semestre todo para colocá-la no TOP 1, então eles estranhariam se
eu passasse semanas e meses saindo com a mesma garota e não a
levasse para a cama. Ao mesmo tempo, a partir do momento em
que mentisse e dissesse que transamos, o boato se espalharia pelo
campus.
Eu não sabia se Zoe ficaria tranquila com as fofocas, portanto,
aquele era um assunto que devia ser conversado entre nós o quanto
antes.
— Ela é bastante tímida, como eu disse — respondi ao Mike,
me levantando na intenção de ir tomar um banho e encerrar a pauta.
— Não posso ir muito rápido ou vou assustar a garota.
— Deve ser virgem.
Encolhi os ombros, pegando minha toalha.
— Não me importo — retruquei. — É apenas uma aposta,
Mike. Prefiro não envolver sexo nisso.
Meu amigo cruzou os braços e balançou a cabeça ao
concordar, então soltou um suspiro e esfregou o rosto. Não havia
ninguém por perto naquele momento, e ele parece ter feito questão
de se certificar disso, pois se curvou para a frente, esfregando o
pescoço, com uma careta.
— Sexo sempre fode tudo mesmo, né? — murmurou. — Ainda
não tinha te contado porque você anda meio escorregadio esses
dias, mas lembra do estudante do curso de Direito com quem eu
vinha flertando?
Sim, eu me lembrava de quando Mike contou que tinha quase
certeza de que um rapaz vinha dando mole para ele sempre que se
encontravam pela biblioteca. Ele também contou que trocaram
números de telefone e começaram a conversar, mas nunca soube
se chegou a acontecer um encontro real.
— A gente saiu e transou — murmurou, mais baixo, porque
ainda se sentia inseguro para falar sobre isso. — E acho que depois
disso ele deu meio que uma surtada.
— Como assim? — perguntei, voltando a me sentar.
Mike se esticou para pegar sua mochila no outro banco e
pegou seu celular de dentro do bolso externo, mexendo na tela até
virar o aparelho para mim. Pude ver uma troca de mensagens de
texto, onde uma delas, do remetente chamado Andrew, dizia que ele
era hétero e aquilo foi um erro.
Confesso que não sabia bem o que dizer, pois tinha medo de
julgar a outra pessoa. Eu não entendia esse tipo de sentimento ou
confusão porque não o sentia na própria pele, mas acreditava que
se assumir, não para os outros, mas para si mesmo, também levava
um tempo e necessitava de algum processo,
— Talvez ele ainda esteja inseguro? — questionei enquanto
observava a tela do celular e lia a troca de mensagens.
— Ele não parecia nada inseguro quando dormiu comigo.
— Mike, pode ser diferente pra cada pessoa. — Passei meu
braço pelos ombros dele e o puxei para perto. — Você mesmo me
contou que não acordou de um dia para o outro se descobrindo gay.
Eu imagino que deva ser frustrante passar por isso, mas se esse
Andrew vale a pena, seja paciente. Se acha que não vale seu
tempo, siga em frente.
— Ele é legal... E o sexo foi bom. Muito bom.
— Então vai levando para ver o que acontece. — Apertei a
nuca dele antes de me levantar, pois precisava tomar logo meu
banho e ir assistir aula. — Enquanto não encontra sua alma gêmea,
eu deixo que continue apertando a minha bunda.
O idiota me deu um tapa, porque adorava bater na bunda
alheia, e eu mostrei meu dedo do meio para ele antes de entrar na
área das duchas.

Levei algumas horas para esquematizar toda aquela noite, que


precisava ser impecável. Primeiro, joguei a isca para Ryan,
comentando por telefone que eu teria o primeiro encontro com Zoe
mais tarde. Eu sabia que ele daria um jeito de aparecer no local
escolhido por mim, mesmo que fosse para observar de longe, e eu
queria que isso acontecesse. Não falei sobre o horário do encontro
para não ficar tão nítidaa minha intenção, mas joguei algumas iscas
no ar, durante a ligação, e confiava no instinto do filho da mãe
fofoqueiro.
Como combinado com Leslie e Zoe, quando cheguei no nosso
prédio, apenas desliguei o carro para esperar que a colorida
descesse. Não levou mais do que dois minutos para ser
surpreendido por uma garota que eu conhecia bem, muito melhor do
que a confusão que ela vinha sendo nos últimos dias, criada por
mim.
Minha irmã fez um bom trabalho na maquiagem muito leve,
apenas para fazer parecer que o rosto de Zoe estava limpo. Seus
cabelos de várias cores estavam soltos e lisos, com uma tiara fina
no alto da cabeça, e sua roupa estava normal para uma
universitária.
Acabei descendo do carro e fui abrir a porta para ela. Essa
parte não chegava a ser encenação, porque eu realmente gostava
de tratar as garotas como elas mereciam.
— Sua pele está incrível, depois me passa os nomes dos
produtos de skincareque está usando — zombei quando Zoe parou
diante de mim.
— Ah, sim. Adeus, espinhas! — Ela riu. — Foi um milagre,
acordei assim hoje.
Apoiei meu braço no alto da porta enquanto a observava de
perto, satisfeito com o que estava vendo. Dali em diante, não
teríamos muita dificuldade em transformar Zoe, porque ela já era
muito bonita. O banho de loja e a maquiagem adequada a deixariam
muito atraente.
— Estou bem? — perguntou, franzindo os lábios e alisando a
blusa preta quando percebeu que eu encarava.
— Hum. — Assenti fechando os olhos brevemente e sorrindo.
— Está perfeita. Vamos?
Ri sozinho quando dei a volta no carro, percebendo que Zoe
estava de tênis e eu não precisaria me preocupar em vê-la levando
um tombo. Ainda me lembrava da sua queda aleatória na noite
anterior, que por sorte, eu consegui segurá-la e evitar que se
machucasse. Achei melhor não comentar, naquele momento, que
seu cotovelo bateu no meu pau e me fez ver algumas estrelas, achei
melhor disfarçar e não criar um clima pior.
Toda essa situação da aposta vinha me fazendo sentir uma
estranheza que nunca esteve presente, porque uma Zoe diferente
parecia se revelar diante dos meus olhos. A menina sempre esteve
por perto, sempre fez parte da minha vida, mas não posso dizer que
realmente reparava nela e em nossas interações.
Agora, com a proximidade, a impressão que eu tinha era de
que Zoe não ficava tão à vontade comigo quando estávamos
sozinhos. Compreendia sua timidez e seu jeito mais introvertido,
mas ela me conhecia quase a vida toda e eu nunca dei motivos para
que se sentisse insegura ou nada do tipo. Pelo menos, achava que
não. Em algum momento, pretendia questioná-la sobre isso.
— Acho que estou com taquicardia — disse ela, fazendo
barulho ao respirar fundo.
— É só nervosismo. — Toquei seu joelho antes de girar o
volante. — Vai dar tudo certo. Basta agir como se não houvesse
nenhuma aposta e você estivesse saindo pra beber com um cara
qualquer que está conhecendo.
— É... Não sei se você sabe, mas não costumo ir a
encontros...
— Basta ser você mesma, Zoe. — Notei que seus dedos
apertavam uns aos outros e levei minha mão até eles para separá-
los. — Você é uma garota incrível, divertida, simpática e amorosa.
Apenas relaxe.
Ela assentiu em silêncio e respirou fundo mais uma vez. Dirigi
com calma porque o local para onde iríamos era perto e eu queria
dar um tempo para que conseguisse se recompor.
Procurei uma vaga perto da entrada do Tatter, um bar bem
legal e descolado que reunia muita gente do campus nas noites de
quinta, pois era o dia em que aconteciam algumas apresentações
ao vivo e o preço da cerveja abaixava.
Antes de sair do carro, já com ele desligado, me virei um
pouco para Zoe, pois precisava acertar um detalhe importante com
a garota.
— Qual sua opinião sobre beijar na boca? — perguntei.
Esperei por alguma resposta, não pela gargalhada que ela
soltou imediatamente, logo levando a mão à boca e arregalando os
olhos para mim.
— Desculpa — pediu, desconcertada. — Foi sem querer.
Meu Deus, que vergonha. Parecia uma louca rindo de algo que
nem tinha nenhuma graça. Não consegui me controlar porque ouvir
aquela pergunta sendo direcionada a mim, direto de Logan, parecia
muito surreal. Então eu me lembrei de que foi por isso que esperei
tantos anos e um dos principais motivos para ter aceitado encenar
com ele a porcaria daquela aposta.
Quando me dei conta da gafe e tapei a boca, tentei colocar
uma expressão neutra no rosto para não ficar tão evidente o quanto
eu esperava pelo momento em que seríamos obrigados a encenar
um beijo.
— Desculpa. Foi sem querer.
— Vou torcer pra que não comece a rir se tivermos que nos
beijar — disse ele, arqueando a sobrancelha. — Não é essa a
reação que costumo causar.
— Ah, não. — Abanei minha mão diante do rosto dele e sorri.
— Eu apenas lembrei de uma coisa engraçada que Leslie disse, não
teve nada a ver com a sua pergunta.
Se Logan acreditou eu não fazia ideia, pois ficou uns cinco
segundos me encarando como se tentasse ler minha expressão. Até
que balançou a cabeça uma vez, puxou a chave da ignição e voltou
a me olhar, com o braço no encosto do meu banco.
— Vamos voltar ao assunto — pediu. — Pode ser que em
algum momento, na presença dos meus amigos, a gente precise se
beijar. Eu conheço o Ryan, ele acha que está me forçando a isso,
então pode querer me provocar.
Assenti, torcendo muito para que o tal do Ryan fosse mesmo
tão babaca a esse ponto. Internamente, a Zoe adolescente que
ficava de tarde na janela de casa, esperando o Logan chegar da
natação só pra vê-lo com aqueles cabelos molhados, estava
gritando com ansiedade. Por fora, eu apenas encolhi meus ombros
e suspirei com certo pesar.
— Se for preciso, a gente pode se beijar — declarei, franzindo
meu nariz para ele. — Não vai ser o fim do mundo.
Sinceramente, eu andava um pouco receosa de falar qualquer
coisa para Logan porque ele parecia sempre me estudar demais
ultimamente. Como agora, que continuou me olhando, sem dizer
nada, como se esperasse pegar alguma mentira minha. Não tinha
como saber que eu gostava dele. Tinha?
— Tudo bem — falou, abrindo sua porta. — Então, está
pronta?
Como resposta, eu saltei do carro, respirando fundo assim que
uma brisa me alcançou. Apertei a alça da bolsa no meu ombro e dei
a volta no carro para encontrar com Logan do outro lado, visto que
teríamos que atravessar a rua.
Imediatamente, ele esticou a mão para mim e quando a
segurei, temi que sentisse o quanto eu estava suando.
Olhei para baixo, analisando minhas roupas. O meu melhor
jeans, meu all star
rosa confortável e uma camiseta preta lisa e justa
no corpo. Estava bem básica, do jeito que Logan queria e tentei
imaginar se na vida real, ele seria assim também com alguma
garota com quem namorasse. Sempre soube que meu crush era
extremamente vaidoso, mas será que era do tipo que reclamava das
roupas alheias?
— Você está gato — comentei e acrescentei quando ele virou
o rosto e sorriu. — Imagino que seja o tipo de coisa que devo dizer
quando estivermos diante dos seus amigos.
Com uma expressão muito tranquila, de quem ouvia coisas
assim o tempo todo, Logan pareceu ficar momentaneamente tímido
e desviou o olhar.
— Não precisa ficar me elogiando perto deles.
— Ok.
Sorri de volta, observando sua bunda quando passou a minha
frente assim que entramos no estabelecimento. O lugar estava bem
cheio e Logan foi me guiando por entre as mesas, procurando por
algum espaço para nós dois.
Aproveitei para admirar sua nuca perfeita e o caimento da
jaqueta bomber preta e branca, que combinava com o jeanspreto e
contrastava com a camiseta branca. No pulso da mão que me
segurava, o relógio preto que ele sempre usava, além de alguns
anéis no dedo anelar e no polegar. Eu não era a única que estava
reparando, obviamente, porque era impossível não notar alguns
olhares femininos, a maioria de garotas que já deviam conhecê-lo
do campus. Se Logan era o tal do TOP 1 da lista masculina idiota,
então certamente ele era mais popular do que eu tinha imaginado.
Meu coração parecia querer sair pela boca quando finalmente
paramos numa mesa vazia e ele esperou que eu sentasse primeiro,
deslizando pelo banco ao meu lado e grudando o corpo no meu.
— Essa mesa é boa porque não estamos nem tão perto do
palco para não ficarmos surdos, nem tão longe de forma que seja
difícil ouvir a banda.
Sorri para ele ao virar meu rosto, sentindo que havia muita
gente de olho em nós dois desde que pisamos ali dentro. Mas
Logan riu e aproximou o rosto do meu até roçar os lábios na minha
orelha. O tipo de coisa que devia ser proibida entre duas pessoas
que não formavam um casal de verdade.
— Você está fazendo o sorriso de psicopata — avisou. —
Relaxa.
Desfiz a cara de felicidade que eu jurava estar arrasando e
apertei meus lábios, me sentindo derrotada. Esfreguei minhas mãos
sobre o jeanse puxei o ar com calma ao baixar os olhos.
— Às quintas isso aqui fica bem cheio, então é preciso ir até o
balcão pra ser atendido. O que quer que eu peça pra você?
— Uma cerveja seria incrível.
— Você não vai conseguir uma aqui, senhorita dezoito anos —
Logan respondeu, estreitando os olhos.
— Uma Coca — falei, frustrada.
— Ok. Vou pedir uma porção de batatas com queijo.
Concordei e fiquei observando-o levantar e se afastar da
mesa. Pelo caminho até o bar que era alguns metros adiante, pude
ver Logan falar com algumas pessoas que pareciam conhecê-lo, e
notei a aproximação de duas garotas quando ele debruçou no
balcão do bar.
Meu celular tocou com aviso de notificação e deslizei meu
dedo pela tela ao ver que tinha recebido uma mensagem de Leslie.
Ela estava em casa, comendo pipoca, vestindo algum pijama muito
confortável, com o sofá e o apartamento só para ela enquanto
assistia dorama. Enquanto isso, eu estava aqui, me sentindo como
se fosse ser devorada a qualquer momento e com medo de falar
qualquer coisa errada.

Lee: “Já encontrou os amigos tóxicos?”

Zoe: “Ainda não, nós acabamos de chegar e seu irmão foi pegar
comida e bebida.”

Lee: “Espero que não voltem antes de meia-noite e façam tudo que
eu gostaria de fazer
.”

Ao final da mensagem, ela me mandou uma figurinha de


putaria, já que era possuidora de uma vasta coleção. Na imagem,
havia um casal, com a mulher de quatro tendo seus cabelos
puxados pelo homem de pé atrás dela. Ambos pelados.
Quase deixei o celular cair de susto, porque não era o tipo de
coisa legal para abrir em público e Leslie adorava mandar essas
figurinhas em momentos aleatórios. Me apressei em deletar aquela
pornografia o mais rápido possível antes que Logan voltasse e
mandei um emojiraivoso em resposta.

Zoe: “Eu já estou nervosa por minha própria conta, então será
que dá pra você não piorar a situação?”

Lee: “Nada que um beijo não resolva.”

Zoe: “Você não tem nada melhor pra fazer? Não devia estar
assistindo “V
incenzo” na NETFLIX?”

Lee: “Fiz uma pausa. Ele é muitogostoso, meu coração é


fraco, então tenho que ver aos pouquinhos. Doses homeopáticas.”

Lee: “Avisa ao Logie que vou mandar uma mensagem


importante pra ele.”

Mandei um beijo para ela e deixei meu celular no cantinho da


mesa quando vi que meu encontro fake se aproximava. Ele
equilibrava uma garrafa de cerveja e o pager da espera numa mão e
na outra, trazia meu refrigerante. Quando se sentou de novo no
mesmo lugar, deixou algum espaço entre nós de forma que pudesse
virar levemente de frente para mim.
— Dez minutos para as batatas ficarem prontas — avisou. —
Não olhe, mas vislumbrei Ryan e Dylan lá na entrada.
Dito isso, Logan virou a cabeça discretamente na direção em
que tinha acabado de citar e eu o cutuquei.
— Quem está olhando é você mesmo!
— Não olhei — retrucou, sorrindo.
— Você acabou de virar a cabeça, nada discreto.
— Agora parece que estamos discutindo — disse ele,
aumentando o sorriso. — Dê uma risada.
— O quê?
Me pegando de surpresa, Logan começou a rir e tudo bem, era
engraçado ver aquele garoto sempre tão controlado, todo
desesperado como agora. Isso fez com que eu realmente risse, de
forma muito espontânea, o que deve ter parecido a quem olhasse
de fora, que éramos um casal se divertindo bastante.
— Logan! — Ouvi a voz grossa de alguém atrás de nós.
Meu date olhou para o lado quando o corpo grande parou
diante da mesa e eu me permiti levantar os olhos. Caramba, aquele
era o Ryan, estava óbvio porque tinha visto sua foto, porém, a
imagem da rede social não fazia jus ao que ele era. A calcinha de
Leslie derreteria em chamas quando ela o visse pessoalmente. Ao
seu lado havia outro rapaz, não tão alto, sem porte atlético, que
parecia gostar tanto de esportes quanto eu.
— Ei, Ryan — Logan o cumprimentou com suas mãos dando
soquinhos, em seguida, deu um tapa de leve no braço do outro. —
Fala, Dy.
O loiro me lançou um olhar predatório, enquanto o moreno me
olhou com muita curiosidade.
— Não sabia que o encontraria aqui esta noite — falou Ryan,
se curvando e apoiando as mãos em nossa mesa. — Não vai nos
apresentar à mocinha da vez?
Eu estava impressionada em ver o poder de atuação de
Logan, que intercalou olhares entre nós, fingindo surpresa, então
sorriu e tocou minha mão que estava em cima da mesa. Claro que
esse gesto não passou despercebido por Ryan, com seus olhos de
águia que seguiram o movimento.
— Esta é a Zoe — disse Logie, com muita simplicidade. —
Zoe, estes são alguns dos meus amigos. O loiro azedo é o Ryan, o
barbudo nerd é o Dylan.
Forcei um sorriso enquanto três pares de olhos me fitavam.
Por sorte, era bom para o nosso plano que eu parecesse bem
esquisita diante deles, então não me importei em me sentir
desconfortável e me atrapalhar um pouco ao quase perder a voz.
— Oi. — Pigarreei e sorri. — Tudo bem?
— Você está diferente, Zoe — declarou Ryan, olhando para
Logan e não para mim.
Pisquei duas vezes, me fazendo de desentendida.
— Nós nos conhecemos? — perguntei, afinal, precisava reagir
ao fato de que ele parecia ter me visto anteriormente.
— Estava presente no dia em que Logan te conheceu —
respondeu o loiro, piscando com uma sensualidade exagerada. —
Foi uma cena e tanto.
Não sabia o que dizer porque essa conversa não estava dentro
do script. Será que Ryan queria provocar o Logan, fingindo tentar
jogar iscas a respeito da aposta? Certamente, se qualquer garota
soubesse que estava sendo usada, ficaria com raiva. Acho que isso
foi um dos motivos que me fez aceitar embarcar nessa loucura, pois
Logie em nenhum momento cogitou enganar a mim ou a qualquer
outra.
— Parece que nosso amigo está fazendo bem a você —
continuou Ryan, dando dois tapinhas no ombro de Logan. — Estou
impressionado.
— Você é caloura, Zoe? — Dylan quis saber, sorrindo de um
jeito mais agradável do que o outro.
— Sim, estou cursando Arquitetura.
— Fiz um tour com ela ontem, vou apresentar alguns lugares
legais — disse Logan, passando um braço pelo meu ombro.
— Que gentil da sua parte! — Ryan pareceu debochado e
Dylan olhava de um jeito estranho para meu crush. — Não sabia
que você era tão atencioso, Logan.
— O que posso fazer? — Encolheu os ombros e virou o rosto
para piscar para mim. — Gostei da Zoe e seus cabelos coloridos.
Minutos antes ele tinha dito que eu não precisava ficar o
elogiando na frente dos amigos, então não soube se deveria
responder alguma coisa diante do que acabara de dizer.
Para a minha sorte e grande alívio, um outro rapaz surgiu,
envolvendo os ombros de Dylan e fazendo algazarra ao
cumprimentar os três que já estavam presentes. Não demorou para
que olhasse na minha direção, erguendo as sobrancelhas com cara
de espanto.
— Eddie, esta é a Zoe — disse Logan, sem muita disposição.
— Agora, caso vocês não tenham percebido, seria ótimo nos
deixarem em paz, pois estamos no meio de um encontro.
O garoto que chegou depois pegou minha mão e a levou aos
lábios, de um jeito muito teatral. Eu não sabia se ele estava mesmo
sendo simpático e educado ou se apenas tentava zombar da minha
cara. Pelo menos, seu olhar não era tão frio e intenso quanto o de
Ryan, que mais parecia avaliar cada suspiro meu.
Ao meu lado, Logan cruzou as pernas de forma elegante,
aproximando-se mais de mim e dando um tapa na mão de Eddie.
Em seguida, trouxe seu rosto até o meu, depositando um beijo na
minha bochecha e deslizando a boca até minha orelha. Aquilo era
muito pior do que se tivesse me dado um selinho, porque quase
gemi com o arrepio que dominou meu corpo inteiro.
Engoli com dificuldade, torcendo para que ninguém reparasse
nos meus pelinhos eriçados. A bolsa que eu tinha deixado ao meu
lado no banco, perto da parede, estava sendo esmagada pelos
meus dedos.
— Talvez seja mesmo melhor deixarmos os dois à vontade. —
Não soube quem falou porque não sabia diferenciar a voz de
nenhum deles e estava mais ocupada encarando o meu copo,
tentando me concentrar no que acontecia no meu corpo.
Os garotos balbuciaram despedidas e o próprio Logan
respondeu a eles, mas eu só consegui sair do casulo quando
ficamos novamente sozinhos. Senti dedos alisarem meu braço
arrepiado e uma voz sussurrar em meu ouvido:
— Tudo bem?
— Sim — respondi, agradecida por não ter travado. — Sei que
não reagi muito bem, mas não estava esperando por isso.
— Não tem problema. — Virei meu rosto na hora em que
Logan sorriu todo fofo. — Esse seu jeito tímidocasa muito bem com
a personagem.
Fomos interrompidos quando o pager começou a piscar,
indicando que estava na hora de buscar nossa porção de batatas
fritas. Aguardei meu date ir e voltar com a travessa cheia e a colocar
no meio da mesa antes de tomar seu lugar de antes. Agora, sem
que os seus amigos estivessem diante de nós ocupando um bom
espaço, parecia que estávamos expostos demais. Sempre flagrava
alguém nos observando e eu tinha certeza de que era por minha
causa. Eu era o indivíduodiferente naquele local, principalmente, ao
lado de Logan Choi.
— Enquanto combina com a personagem, tudo bem, mas e
quando eu precisar me transformar na garota descolada e cheia de
atitude pra entrar na tal lista?
Logan me encarou por um tempo, então deu de ombros
despretensiosamente, fazendo parecer sempre achar tudo muito
fácil.
— Vai acontecer naturalmente.
— Eu sou assim há dezoito anos, oppa!
Ao contrário do que eu esperava, Logan abriu um sorriso
enorme, até mais bonito do que o famoso sorriso TOP 3. Eu não
tinha dito nada engraçado, então por que ele estava reagindo
assim?
Cogitei questionar o motivo da sua alegria, quando o filho da
mãe quase me fez infartar ao grudar o rosto no meu, frente a frente,
com nossas testas se tocando. Só não rolou um beijo porque ele
evitou encostar a parte inferior do rosto em mim.
[16]
— Foram dezoito anos sem a minha ajuda, yeoja chingu .
Pisquei algumas vezes, esperando meu coração se estabilizar
e encarando muito de perto aquele par de olhos pretos hipnotizantes
que me atraíam como o mel atrai uma abelha. Eu deveria
simplesmente ter continuado com a monotonia da minha vida, talvez
virado o rosto e focado na comida que estava cheirando bem, mas
não. O que eu fiz? Justo o que não devia fazer.
Pensei, naquele momento, que a oportunidade perfeita estava
literalmente diante de mim. Se dependesse de Logan, eu não sabia
quando poderia acontecer, nem se um dia aconteceria. Portanto,
dependia apenas de mim. Foi por isso que reuni toda a coragem
que jamais pensei existir dentro de mim e movi meu rosto só alguns
milímetros, o suficiente para beijar a boca perfeita do meuoppa.
Sabe aquele selinho que chega a fazer barulho? Pois é, meu
beijo soltou um som tão alto que eu jurei que todo mundo ao nosso
redor tinha escutado. Não era para ter acontecido assim, devia ter
sido romântico e especial. No entanto, pareceu apenas uma atitude
afobada e descoordenada, que me fez voltar à minha posição inicial
rapidamente.
Esperei que Logan perguntasse quais as insanidades que se
passavam dentro da minha cabeça, mas tudo o que o garoto fez foi
arquear uma sobrancelha provocante e levar a línguaaté o canto do
lábio. O que isso significava? Ele tinha gostado? Tinha detestado e
estava me achando absurda?
— Eu vi o Ryan nos observar de longe — comentei,
agradecida por minha voz não ter falhado. — Achei melhor encenar
um pouco.
— Com um selinho? — perguntou, lançando o sorriso TOP 3 e
balançando a cabeça. — Você assiste muito dorama, Zozo. Mais
cedo, quando comentei sobre o assunto, não estava me referindo a
este tipo de beijo.
Minha vontade era ir ao banheiro e ficar lá dentro por alguns
minutos, porque na minha mente eu só conseguia pensar que tinha
beijado Logan Choi. Tipo, realmente beijei. Não importa que tenha
durado um segundo, mas aconteceu e eu nunca achei que seria
possível.
O melhor a fazer era encher a boca de batata frita de forma
que ficasse impedida de falar durante o resto da noite. O problema
era que até nisso tive dificuldade de me concentrar, já que mesmo
eu me virando para a frente, Logan permaneceu na mesma posição
enquanto me observava.
— Ryan olhou muito pra você — murmurou, mexendo nos
meus cabelos e expondo o rosto que tentei esconder. — Será que
suspeitou de alguma coisa ou só te achou bonita?
— Um cara como ele? — Soltei uma risada baixa enquanto
mastigava. — Certamente não foi interesse em mim.
— Um cara como ele? O que você quer dizer com isso? —
perguntou, debruçando-se na mesa e virando o rosto.
— Ryan parece ter saídode dentro de um desses filmes com o
protagonista gostoso e popular que todas as garotas desejam e que
se acha o maioral. Mas ele é realmente muito bonito. A Leslie vai
ficar empolgada e vai cadelar muito porque faz o estilo dela e... —
Pigarreei quando me dei conta do que falei bem na cara do irmão da
minha amiga. — Quer dizer...
Peguei meu copo, bebi um pouco de refrigerante e me
encostei no banco, preparada para encarar Logan. Ele não parecia
nada feliz, com a expressão fechada e a lateral do rosto apoiada na
mão, com o cotovelo sobre a mesa.
— Acredito que outras pessoas também se empolguem
bastante, não só a minha irmã — murmurou, estreitando os olhos.
— Zoe, eu compreendo a sua euforia, mas precisa ter em mente
que se ficar com Ryan, a gente perde a aposta.
Ficar com o Ryan? De onde Logan tinha tirado aquela ideia?
— Eu não estou interessada nele — respondi para me
defender. — Apesar de ser bonito, não faz o meu tipo porque eu
gosto de... — Parei, ainda bem, antes de falar besteira. — Hm,
gosto de homens morenos.
Francamente, eu ia mesmo dizer na frente de Logan, que
gostava de coreanos? Não bastavam todas as situações
embaraçosas daquela noite?
Além disso, eu não quis me estender no assunto, mas em que
mundo ele vivia para achar que Ryan se interessaria por mim? Justo
o cara que teve a ideia dessa aposta absurda e que parece tratar as
mulheres como meros objetos. Eu mesma queria distância de
pessoas assim, sendo ou não algum amigo de Logan.
— Só prometa que vai tomar cuidado em não demonstrar
interesse por outra pessoa, porque a ideia é que você esteja
comigo.
— Ok. — Muito fácil para mim, eu pensei, mas fiquei quieta. —
Que horas o show começa?
Logan olhou o relógio de pulso e depois encarou o pequeno
palco vazio. A casa estava bem cheia e não havia mais nenhuma
mesa disponível naquele momento, o que tornava tudo bastante
sufocante à nossa volta.
— Se não quiser ficar, podemos ir embora depois de
comermos — disse, beliscando uma batata. — O intuito de vir aqui
hoje era para sermos vistos em público e encontrar com Ryan.
— Tanto faz. — Encolhi os ombros, me sentindo curiosa. — O
que a banda toca? Eles cantam bem?
— Tocam um pouco de tudo, mas principalmente rock. —
Logan fez uma careta. — Sei que você não curte.
Não era mesmo um gênero musical que me comovia e, de
forma alguma, escutaria por conta própria. Só que eu não era uma
pessoa chata que desejava ter tudo somente do meu jeito. Sabia
que Logan ouvia muito rock e, se ele frequentava aquele lugar,
devia ser porque gostava do som que rolava ali.
Sendo assim, decidi que não me faria mal ficar mais um pouco,
esperar cantarem umas duas ou três músicas e depois ir embora.
Os dois terminariam a noite satisfeitos e isso me daria alguns
créditos com ele, como por exemplo, quando eu quisesse escutar k-
pop em seu carro.
— Podemos esperar, eu não me importo — avisei, me
esticando para pegar o ketchup e colocá-lo em cima de algumas
batatas.
Logan se surpreendeu, mas me mostrou um sorriso lindo e
virou o restante da sua cerveja de uma vez só. Por fim, pegou sua
carteira e jogou duas batatinhas na boca antes de se levantar.
— Vou pegar mais uma bebida. Quer alguma outra coisa?
Quando o show começar, vamos sair da mesa e ir lá pra frente.
Neguei, vendo-o se afastar e pensando que tinha me metido
numa enrascada. Ele pretendia ficar perto do palco? Achei que
fôssemos apenas ouvir as músicas de forma tranquila, não imaginei
que Logan quisesse ir bater cabeça ao som do rock ‘n rollem plena
quinta-feira à noite.

O show começou vinte minutos depois e eu fiquei chocada em


ver como grande parte das pessoas que estavam ali tinha realmente
ido para assisti-lo. Quando os primeiros acordes de “Sweet Child
O’Mine”, do Guns N’Roses, começaram a tocar, a maioria dos
presentes saiu em disparada para a área diante do palco.
Logan não parecia com tanta pressa, como se não fosse a
primeira vez que via aquilo acontecer. Ele simplesmente se levantou
e esticou a mão para que eu pegasse a sua, então me rebocou pelo
corredor cheio. Furamos a multidão, com meus dedos apertando os
dele, até que parei ao seu lado num ponto que não estava tão
tumultuado. Ainda.
— Quando sentir vontade de ir embora, me avisa que a gente
vai — sussurrou no meu ouvido e eu assenti.
Observei o palco com a banda de cinco pessoas, todos
vestidos como perfeitos roqueiros, arrebatando os assobios do
público. As pessoas mais à frente estavam bem animadas e eu
cogitei que fossem fãs de verdade, porque todo artista tinha seus
fãs especiais.
Bati meus dedos nas pernas, tentando acompanhar o ritmo de
um dos rocks mais famosos de todos os tempos, torcendo para que
todo o repertório fosse assim, de sons que eu conhecia. E estava
indo tudo bem até que o clima mudou. Eu conhecia a próxima
música, sabia que era do Queen, mas não sabia o nome. Foi Logan
que sussurrou “Bohemian Rhapsody” no meu ouvido quando eu o
perguntei.
Na metade da canção eu já me sentia cansada porque ela
possuía muitos altos e baixos e eu não fazia ideia de qual era a
letra, apesar de todos ao meu redor estarem aos berros. De
repente, quando o ritmo acelerou para um estilo de metal mais
pesado, meu corpo quase foi lançado para a frente. Senti a mão na
minha cintura e Logan me puxou, me colocando na frente dele, bem
no momento em que uma massa de corpos se deslocou ao nosso
redor, pulando como se não existisse amanhã.
O espaço ao nosso redor, que antes não estava tão cheio,
agora havia ficado lotado e eu estava com minhas costas
espremidas contra o peito do meu encontro de mentirinha.
Precisava focar nos cantores feios em cima do palco e esquecer
que era o corpo de Logan Choi colado ao meu para não ficar
sofrendo tanto. Não sei por quanto tempo permaneci imóvel,
tentando me equilibrar para não tombar em cima dele, mas vez ou
outra, sentia suas mãos apertarem meus ombros num gesto de
proteção para se certificar de que eu estava bem.
Prestei atenção nas músicas tenebrosas que foram tocadas,
mas uma delas me pegou de jeito. Era “Zombie” e tinha um
significado muito especial para mim, porque era a trilha de um livro
que li ano passado e amei. Meu coração chegou a acelerar quando
percebi que escutaria aquela maravilha ao vivo e desejei que Leslie
estivesse ali para curtir comigo.
Acabei me empolgando junto com o restante do público e até
me virei de frente para Logan enquanto cantávamos o refrão em
coro. Ele parecia surpreso, mas estava sorridente ao me ver sendo
vencida. Empolgado, Logie passou o braço pelo meu ombro e me
puxou de lado, movendo nossos corpos quando o som foi se
acalmando.
— Zoe Green é uma caixinha de surpresas — sussurrou em
meu ouvido. — Adorei!
— Não se anime muito — pedi ao apoiar uma mão em seu
ombro e me esticar até ele. — Essa, provavelmente, será a única
que cantarei a noite toda.
— Quer ir embora?
Podia dizer que sim, eu adoraria chegar em casa, tirar a
maquiagem, prender meus cabelos e colocar um pijama depois de
um banho quente. Mas estava abraçada com Logan, rindo com ele e
vivendo algo que nunca pensei em viver com aquele garoto. Eu
ficaria até o fim da noite sem dúvida alguma.
Distraída, eu permaneci ali, olhando para o amor da minha
vida, quando a próxima canção começou. Graças à cola que Logan
estava me dando, soube que era “Rise Up”, do Imagine Dragons,
mais uma que nunca ouvi. Tinha uma melodia gostosa, mas o que
me matou foi ter observado aquele homem lindo por muito tempo.
Logan sabia a letra toda e estava animado cantando, agitando
um braço no ar, mas eu logo descobri que encará-lo enquanto
cantava, esboçando caras e bocas, não fazia bem à saúde de forma
alguma. Por isso, preferi dar um passo à frente para dar as costas a
ele mais uma vez e só olhar para os feiosos em cima do palco.
Cantavam muito bem, de verdade, mas não eram muito atraentes.
Mais duas músicas se passaram e eu já me sentia cansada e
entediada, mas então, mais um rock bem pesado fez o público se
movimentar demais e acabei sendo envolvida pelos dois braços de
Logan, que evitava que saíssemos do lugar.
Senti que ele apoiou o queixo em meu ombro e avisou em meu
ouvido:
— Vamos embora depois dessa, ok? — Assenti enquanto o
filho da mãe me balançava de um lado para o outro. — Acho que
você já teve sua cota de rock por hoje.
Respirei com alívio porque estava doida para me sentar no
carro, quando as luzes do bar inteiro se apagaram e eu reconheci a
próxima música assim que o vocalista abriu a boca. Meu corpo
inteiro se arrepiou e levei as mãos à boca, chocada, jogando minha
cabeça para trás e um pouco de lado, de forma que pude olhar para
Logan.
— BTS!
— Quê?
— Isso é BTS!
— Não é não — retrucou Logan, o que me fez querer dar um
peteleco em sua testa.
— Se chama “My Universe”, do Coldplay em parceria com o
BTS! — frisei, dando dois pulinhos dentro do abraço dele. — Meu
Deus! Que lindo!
Meu crush parecia extremamente chocado diante de tal
revelação. De qualquer forma, não me importei, porque só queria
cantar, cantar e cantar. Aquele era o meu momento, então aproveitei
que Logan me segurava e fechei os olhos, balançando minhas mãos
no alto, estalando meus dedos no ritmo e acompanhando a banda
com precisão.
Sentia o corpo atrás de mim se mover junto com o meu,
lentamente, embalado pela canção, mas eu estava em transe para
me preocupar com qualquer coisa. Só abri os olhos quando o filho
da mãe de olhos puxados pareceu decorar um trecho em coreano
— ele falava fluentemente — e veio cantá-lo no meu ouvido. Era
demais para o meu coração, porque nem mesmo a banda estava
cantando essas partes, deixou apenas no playbackoriginal. Eu, no
entanto, ganhei um show ao vivo e em letra original bem ao pé do
ouvido.
Acabei me virando novamente de frente e aproveitei para
passar meus braços pelo pescoço de Logan, cantando junto com
ele. Fui hipnotizada pelos lábios delicados e atraentes que se
moviam de acordo com a letra, pelo sorriso cativante e pela
constatação de que o garoto estava se divertindo.
Se Ryan e os outros estivessem de olho em nós dois naquele
momento, eles não teriam a menor dúvida de que eu tinha ficado
caidinha por Logan. Também pensariam que seu amigo era um
ótimo ator, porque sem avisar, ele beijou minha bochecha e apertou
minha cintura, inclinando seu corpo para trás até que meus pés
saíssem do chão.
Estava sorrindo que nem uma idiota quando a música terminou
e Logan me desceu, mas pegou minha mão para passarmos pela
pequena multidão e irmos embora. Sentia minhas pernas fracas e
meu pobre coração com problemas de arritmia, mas sem dúvida, eu
teria repetido a noite, toda do mesmo jeito, só para reviver aqueles
poucos momentos.
Tinha adotado uma rotina de correr todo sábado de manhã
com Dylan, porque ele vinha querendo perder um pouco de peso e
aproveitava para me fazer companhia. Nossos ritmos não eram os
mesmos, mas eu não me importava de ir mais devagar para que ele
acompanhasse.
Como a gente não se encontrou no dia seguinte à minha ida
ao bar com Zoe, naquela manhã o meu amigo me encheu de
perguntas sobre o encontro e a aposta. Ele tinha achado Zoe linda e
a garota nem estava produzida, mas isso me fez perceber que
minha neurose de quinta-feira podia ter sentido. Talvez, Ryan
tivesse agido daquele jeito estranho por realmente ter se
interessado por Zoe, e isso não podia acontecer.
— E como você está lidando com essa situação? — perguntou
ele. — Não é estranho fingir que está com alguém?
— Não. A gente já convive em casa diariamente, a única
diferença é que agora tem mais contato rolando entre nós.
— E esse contato não está mudando as coisas? — Dylan
arqueou a sobrancelha depois de beber um gole de água.
Nós tínhamos chegado ao final do nosso treino e nos
sentamos nos degraus de uma escadaria que dava acesso ao
parque. Podíamos observar outras pessoas indo e vindo em suas
rotinas de exercícios matinais, vez ou outra, passando algum rosto
conhecido por ali.
Puxei o ar, alongando meu pescoço e pensando na pergunta
do meu amigo. Parecia bem natural a intimidade que eu e Zoe
desenvolvemos, principalmente, depois da nossa última saída. Ela
sempre foi uma menina bem tímida mesmo, então suas atitudes
introspectivas não me surpreendiam, mas na quinta-feira durante o
show parecia outra pessoa. Estava solta e animada cantando
comigo, fazia parecer que era um encontro de verdade e o ápice da
noite foi ter recebido um selinho da última garota que eu imaginaria
ter coragem de me beijar.
Eu nem mesmo tive reação de tão inesperada que foi a sua
atitude, apesar de fofa. E quando percebi que a coragem que a
abateu logo deu lugar ao constrangimento, achei melhor não insistir
em abordar o assunto para que Zoe voltasse a se sentir à vontade.
— Cara, está viajando? — Levei um soco no braço. — Estou
falando com você.
Encarei meu amigo e estava prestes a me explicar quando
uma sombra pairou bem acima de nossas cabeças. Ao me virar e
olhar para trás, vi Phoebe, uma garota com quem eu vinha saindo
ultimamente, de braços cruzados e uma expressão ofendida.
— Fiquei sabendo que você estava aos beijos e abraços com
uma caloura no Tatter— murmurou, demonstrando ciúmes. — É por
isso que não me ligou mais?
— Hum, sim... — respondi. — Estamos nos conhecendo.
Phoebe passou ao meu lado e desceu dois degraus até
simplesmente resolver se sentar em meu colo, passando os braços
pelo meu pescoço e me encarando com cara de choro.
— Já me esqueceu, Logan?
— Não somos namorados, não é? — Fiz questão de a
relembrar disso, sorrindo e envolvendo sua cintura. — Não existe
exclusividade, mas gosto de sair com você, Phoebe.
— Vamos juntos à festa da Kappa, então? — Ela tentou me
beijar na boca, mas virei o rosto para que o beijo pegasse na
bochecha.
— Já chamei outra pessoa, sinto muito.
— Eu estou livre... — Dylan murmurou ao meu lado e depois
pigarreou alto.
Isso me fez sorrir para ele, porque sabia que eu não me
importava se ficasse com alguém com quem eu já estive. De
qualquer forma, não costumava acontecer, pois meu amigo fazia
uma linha meio nerd e as garotas com quem eu me relacionava
quase nunca mostravam interesse pelo estilo dele.
Como era de se esperar, Phoebe o ignorou completamente e
eu odiava quando isso acontecia.
— Vai com a tal caloura, não é? — questionou, cruzando os
braços. — Você sabe que todo mundo presta atenção em tudo o
que faz, quando faz e com quem faz. E ouvi dizer que estava muito
atencioso na quinta-feira. Eu nunca recebi muito afeto em público...
— São situações diferentes, Phoebe — expliquei, obrigando-
me a levantar para tirá-la do meu colo quando tentou me beijar mais
uma vez. — Estou em outra vibe, ok?
Eu entendia que garotas como ela não gostavam de ser
dispensadas, mas geralmente eu não tinha problemas com isso. No
entanto, Phoebe parecia magoada e resistente a aceitar o meu
“não”. Ela era linda, popular, fazia parte da lista da HottestPrin há
algum tempo e, ainda por cima, era rica. Tinha tudo o que desejava
à sua disposição, inclusive, todos os homens que sentia vontade de
pegar.
Saímos por umas três semanas seguidas antes do verão e eu
me sentia à vontade porque ela não era do tipo grudenta ou
ciumenta. Nunca pareceu ser, até agora.
— É verdade que ela tem os cabelos coloridos?
Assenti enquanto me alongava, pronto para correr de volta até
minha casa e encerrar aquela conversa chata.
— Nunca pensei em ver Logan Choi ao lado de uma nerd
esquisita.
— Ela é gatíssima! — disse Dylan ao se levantar também e
apoiar uma mão no meu ombro. — Não tem absolutamente nada de
esquisita.
Toquei o braço de Phoebe e tentei sorrir de forma gentil para a
garota.
— Não sei se ela é nerd ou não, mas isso não é algo que me
impediria de ficar com alguém — declarei, franzindo minha testa ao
observá-la. — Achei que você tivesse conseguido me conhecer um
pouco durante esse tempo.
— Mas eu...
— Vamos ficar bem, ok? Que tal? — pedi, afagando os
cabelos dela. — Você é uma garota legal, não tem motivo para ficar
criando rivalidade feminina assim. Qualquer um desse campus
adoraria sair com você.
Phoebe se empertigou quando falei a última frase, parecendo
se lembrar de quem era e o poder que possuía. Sendo assim, ela
alisou um amassado invisível em sua blusa e nos deu as costas ao
descer o restante da escada e continuar seu caminho para longe de
mim.
— Ciumenta — murmurou Dylan atrás de mim.
— E você, pelo visto, reparou bastante em Zoe, né?
Nós dois voltamos à nossa caminhada para irmos embora,
mas só até certo trecho, porque alguns metros mais à frente nossas
direções se tornariam opostas.
Caminhando ao meu lado, eu ouvi Dylan abafar uma risada.
— Alguém consegue não reparar naquela garota? — indagou,
estalando a língua.— Ela é toda colorida. Não que isso seja ruim —
virou para mim balançando as mãos e tentando se explicar —, só
estou dizendo que ela chama atenção em qualquer lugar. O plus, é
claro, é ser linda. Como pode nunca ter rolado nada entre vocês
dois? Conhece ela a vida toda e nunca tentou nadinha?
— Conheço Zoe desde quando ela fazia xixi na cama, Dy.
Nunca romantizei nada entre nós.
Ri sozinho quando me lembrei de uma vez em que Zoe viajou
conosco quando fomos acampar e meus pais só levaram duas
barracas. Sendo assim, eu tive que dividir uma com ela e minha
irmã, muito a contragosto. Não me recordava com precisão, mas as
meninas deviam ter uns oito anos na época.
Então, na nossa segunda noite acampando, eu despertei no
meio da madrugada ao sentir meu corpo esquentar. Quando me
sentei para entender o que estava acontecendo, Zoe acordou aos
berros e levantou correndo, quase levando a barraca junto.
— Eu tô fazendo xixi! Me deixa sair daqui!
Ela gritou toda contorcida com a mão entre as pernas,
tentando abrir o zíper da barraca. Leslie também acordou e
começou a ajudar, enquanto eu descobria que a urina tinha
escorrido até mim, por isso me sentia quentinho. Foi um momento
icônico da viagem com meus pais acordando para dar um jeito de
trocar o que estava molhado.
Voltei à realidade quando Dylan me deu um tapa nas costas e
se despediu para pegar seu caminho. Tirei meu celular do bolso e
conferi as mensagens, caminhando sem pressa para casa e
olhando a conversa em nosso grupo de amigos, onde todos
estavam ansiosos para a primeira festa do semestre.
Confesso que também estava um pouco, mas o motivo se
dava mais por conta da minha situação com Zoe. Ao contrário da
quinta-feira onde nos sentamos numa mesa durante boa parte do
tempo e quase não interagimos com muitas pessoas, esta noite ela
sofreria um impacto maior. As festas da Kappa eram populares e
agitadas, além de que eu conhecia muita gente e teria que socializar
com a garota ao meu lado.
Minha ansiedade aumentou ainda mais porque não consegui
vê-la direito naquele sábado de dia, porque parece que Leslie a
arrastou até algum salão de beleza para pintar as unhas e fazer
alguma coisa nos cabelos. Somente por volta das três da tarde eu
ouvi as duas chegando em casa, mas não saí do quarto porque
estava jogando.
Às oito e meia em ponto, como havia marcado, bati na porta do
quarto das meninas e esperei que alguém abrisse. Quando Leslie
apareceu e me deixou entrar, observei Zoe de costas para mim. Os
cabelos estavam soltos e ondulados por baby-lisse o vestido verde
de cetim se moldava ao corpo magro, terminando o look com as
sandálias num tom de bege bem discreto.
Aprovei o que vi de imediato, mas só quando ela se virou de
frente para mim, é que me senti chocado. Zoe estava...
impressionante.
— Puta que pariu — murmurei, me aproximando da garota. —
Foi Leslie quem fez a maquiagem?
— Claro, eu sou incrível! — respondeu minha irmã, sentando-
se na cama. — Ela está perfeita, não está? Se eu gostasse de
garotas, daria em cima de você esta noite, Zozo.
— Eu não sei se ela devia estar tão bonita. — Sorri quando
Zoe estreitou os olhos. — Não que seja algo ruim, mas você vai
causar mais impacto do que eu imaginei.
Sua pele que já era boa tinha ganhado um brilho diferente com
muitos pontos iluminados. Os olhos tinham sido pintados com
sombras em dois tons diferentes de marrom, havia um delineador
preto bem fino e delicado rente aos cílios postiços discretos e, nos
lábios, um batom rosa que combinava muito com Zoe. Era uma
maquiagem com muitos contornos destacando o rosto que já era
bonito naturalmente.
— Eu só acho lamentável saber que minha amiga vai sair toda
produzida, parecendo uma princesa, e não vai dar nem um beijinho
gostoso na boca. — Ouvi minha irmã estalar a língua ao se
aproximar e mexer nos cabelos da colorida. — Se quiser, eu distraio
o Logan pra você dar uma escapadinha durante a festa, Zozo.
Neste momento, eu me dei conta da fala de Leslie e só então
percebi que minha irmã estava muito arrumada. De vestido
vermelho e maquiagem no rosto, encarando a mim com um sorriso
travesso.
— Aonde você vai?
— Ué, vou à festa da Kappa — respondeu ela.
— Com quem?
— Com meu querido irmão. — A abusada piscou e se virou
para ir até a escrivaninha e borrifar perfume no pescoço. — Você
não acha que todo o meu trabalho está sendo de graça, né? Há um
preço a se pagar pela minha ajuda que possui um valor inestimável.
Claro que me senti um pouco em pânico ao imaginar Leslie em
sua primeira festa de faculdade, com o fogo no rabo que ela parecia
ter adquirido nos últimos anos. Sabia que não podia impedi-la, mas
se pudesse escolher, optaria por trancá-la dentro de casa.
Mesmo assim, ela estava realmente sendo muito útil em nos
ajudar com a aposta e eu não podia me negar a ser um bom irmão.
— Temos que combinar direito como vai ser isso — avisei
quando a vi pegar sua bolsa. — Meus amigos não podem saber que
você e Zoe já se conheciam ou irá tudo por água abaixo.
— Eles não precisam saber. Basta fingirmos que só conheci a
Zoe hoje, no momento em que você passou na casa dela para
buscá-la.
— Eu acho uma ótima ideia — murmurou minha namorada
fake. — Vou me sentir mais relaxada se Leslie estiver por lá.
Revirei meus olhos e saí do quarto enquanto as meninas me
acompanhavam. Peguei minha carteira de cima da mesa e a chave
do carro que estava ao lado, preparando-me para sair.
— Vocês são uma bela dupla, até na hora de me enrolar.
As duas riram pelas minhas costas quando paramos para
esperar o elevador. Em silêncio, comecei a esquematizar na mente
o que diria exatamente se algum dos meus amigos me visse chegar
com Zoe e Leslie dentro do carro. Precisava ser bem convincente e
tinha medo de que cometessem alguma gafe, afinal, eram tão
íntimas que não seria difícil notar que tal amizade era antiga.
Quando entramos no elevador e encarei nossos reflexos no
espelho, dei um sorriso bobo sem querer.
— Hoje eu serei invejado. — Estiquei meu braço, posicionado
entre as duas, e as envolvi pelas cinturas. — Vou chegar
acompanhado das mais gatas da festa.
— Que sorte a sua que uma delas você pode beijar, não é
mesmo? — Leslie piscou para mim, batendo os quadris nos meus
para me empurrar em cima de Zoe.
A colorida ficou vermelha instantaneamente e soltou um
sorriso que indicava estar sem-graça.
— Não seria a primeira vez, já que Zoe me beijou na quinta-
feira.
— É mesmo? — Minha irmã se inclinou para trás e virou a
cabeça na direção da amiga. — Eu não sabia.
— Foi só um selinho — murmurou a garota, ainda vermelha
que nem a maquiagem conseguia disfarçar, tentando baixar a
cabeça.
Soltei a cintura de Leslie e girei meu corpo de frente para Zoe,
usando a mão que ainda a segurava para empurrá-la contra a
parede do elevador e colar nossos corpos. A mão livre, apoiei acima
de sua cabeça quando aproximei meu rosto e sussurrei:
— Acha que hoje eu vou manter as coisas tão simples assim?
— O qu-que vo-você quer dizer? — gaguejou Zoe com os
olhos muito abertos.
— Ai meu Deus, parece um dorama real!
Eu me virei quando ouvi a voz animada da minha irmã e a
flagrei de boca aberta e uma expressão apaixonada no rosto. Estalei
a língua e endireitei minha postura quando chegamos ao térreo,
abafando uma risada quando as portas se abriram.
— Vocês duas são muito bobas — declarei, dando passagem
para as meninas. — Eu não sou um oppa.
— É sim — falaram ao mesmo tempo quando passaram por
mim.
Revirei meus olhos e girei a chave do carro em meus dedos,
caminhando atrás delas para a saídado prédio. Eu não tinha nada a
ver com aqueles personagens de doramas, mas minha irmã sabia
que me irritava quando me comparava com essa galera que estava
na moda.
Quando pisei na calçada do nosso prédio e o vento me atingiu
foi que me dei conta de ter saído de casa sem nenhum casaco.
Fazia frio naquele outono em Princeton e meus pelinhos se
arrepiaram automaticamente. O vestido de Leslie possuía mangas
longas, mas o meu só tinha alças extremamente finas, além de ter
as costas muito decotadas.
Abracei meu corpo e me virei, preparada para entrar de novo e
ir buscar um agasalho que combinasse mais ou menos com o meu
look, mas a mão de Logan me parou quando o rapaz tocou minha
cintura.
Não precisei me explicar, visto que ele parecia saber
exatamente o que se passava em minha mente. Apenas tirou seu
sobretudo preto e se posicionou atrás de mim, me ajudando a vesti-
lo.
— Se subir pra buscar um casaco, não poderei parecer tão
cavalheiro ao emprestar o meu pra mocinha — comentou, sorrindo
ao me virar de frente para ele e ajeitar a gola da roupa que agora
me cobria.
Eu já tinha entendido que Logan calculava milimetricamente
cada uma de suas atitudes por causa da maldita aposta, mas isso
não era o suficiente para me impedir de me apaixonar ainda mais.
— Não vai sentir frio? — obriguei-me a perguntar, notando sua
camisa preta de gola alta, que alongava ainda mais sua silhueta
elegante.
Logan negou e caminhou em direção ao carro, enquanto eu
abaixava meus braços e percebia as mangas do sobretudo
engolirem minhas mãos. Antes de começar a segui-lo, Leslie se
pendurou em mim ao passar o braço por dentro do meu e me
acompanhar na caminhada — o que eu agradecia porque estava
com os saltos perigosos.
— Não pense que vai fugir de mim. Vou querer saber detalhes
sobre o tal selinho. — O irmão dela estava mais distante e não
podia ouvir, ainda bem. — Por que não me contou algo tão
importante?
— Porque não foi importante — respondi. — Eu agi por
impulso e foi um pouco... sei lá, estranho. Constrangedor.
— Pois eu acho que hoje vai sair algum beijo de verdade.
Eu preferia não pensar nisso porque estava me dando dor de
barriga desde o momento no elevador, quando Logan me imprensou
na parede daquele jeito que a gente vê nos filmes e séries. Acho
que se Leslie não estivesse presente no mesmo ambiente, eu teria
me iludido a ponto de pensar que ele fez com segundas intenções.
O assunto morreu assim que chegamos ao carro e, por um
instante, eu fiz menção de entrar na parte traseira, mas minha
amiga foi mais rápida e tomou o lugar. Acomodei-me no banco do
carona e pensei em usar aqueles próximos minutos para respirar
bem fundo, me acalmar e me preparar para o que viria a seguir.
— Meninas, é bom que tranquem seus perfis do Instagram
porque as duas tem fotos juntas e antigas.
— Podemos arquivar essas fotos — disse ao pegar meu
celular. — Acho que é a melhor solução.
— Que sorte que a gente não posta muita coisa — comentou
Leslie. — Vou fazer isso agora antes que esqueça, porque esta
noite vou beber.
— Não vai, não.
— Você não é meu pai, Logan.
— Sou seu irmão mais velho, responsável por você, que ainda
não tem idade legal para ingerir bebidas alcoólicas.
— Nós vamos à nossa primeira festa numa faculdade —
comentei, chamando a atenção dele. — Queremos tomar nosso
primeiro porre.
Ele riu, balançando a cabeça, mas percebi que sua expressão
abrandou um pouco.
— Eu sou um só, não consigo tomar conta de duas bêbadas.
— Quem disse que quero você tomando conta de mim? —
questionou Leslie, colocando ainda mais lenha na fogueira. — Vou
encontrar alguém bem gostoso pra essa função.
Ao meu lado, Logan moveu a cabeça para lançar um olhar
ameaçador para sua irmã, pelo espelho retrovisor do carro. Era
engraçado ver aquele homem fofo todo cheio de ciúmes, então
acabei soltando uma risada, sem conseguir me controlar. Isso fez
com que sua atenção fosse desviada para mim e seu olhar se
estreitou.
— Acha graça? Lembre-se que você está comigo e não vai à
festa na intenção de caçar nenhum homem.
Que sorte a minha que eu não precisaria me esforçar, já que
meu alvo estava bem ao meu lado, prometendo ficar de olho de mim
a noite toda de um jeito bastante possessivo.

Eu só conseguia rezar para não tropeçar no pé de ninguém, de


tão cheia que estava aquela festa. A mansão da Kappa — a maior
fraternidade de Princeton — era incrível e luxuosa e eu não entendia
como tinham coragem de fazer um evento daquele porte ali dentro,
com altas probabilidades de destruição.
Tocava “About Damn Time”, de Lizzo, no momento em que
chegamos e eu curtia muito aquele som. Apesar da minha paixão
por k-pop, não era o tipo de pessoa que só escutava um gênero
musical. Gostava de ficar antenada no que vinha bombando
atualmente e aquela música estava numa de minhas playlists
.
Depois de deixarmos o sobretudo que eu vestia no hallcom o
rapaz responsável por isso, caminhamos com calma pela multidão,
Logan na frente abrindo passagem e segurando firme em minha
mão, enquanto Leslie me seguia logo atrás, me beliscando toda vez
que avistava algum gato. Foi um roteiro demorado porque meu date
parava a todo instante para cumprimentar alguém, mostrando o
quanto era popular.
Minha dor de barriga tinha triplicado e logo nos primeiros
minutos ali dentro da casa, eu senti vontade de vomitar. Era muita
atenção em cima de mim, todo mundo que estava ao nosso redor
quando passávamos, acabava me encarando. Acontece que meu
cabelo costumava causar surpresa e muita curiosidade, e as
pessoas, infelizmente, não sabiam disfarçar suas expressões.
Eu tinha sido avisada de que seria mais intenso, nada parecido
com a vibe de quinta-feira, e havia realmente me preparado
psicologicamente para isso. Mas agora, me sentia muito deslocada,
mesmo sabendo que minha melhor amiga estava ali, afinal, Leslie
tinha uma personalidade completamente diferente da minha.
— O nosso galã chegou! — Vi e ouvi um garoto gritar e avistei
Ryan ao lado dele.
Os olhos do loiro se fixaram sobre mim quando nos
aproximamos e eu senti minhas pernas um pouco bambas. Não
porque ele era atraente, mas sim porque me deixava muito
desconfortável, parecendo um predador disposto a atacar a
qualquer momento.
Havia uma algazarra ao redor deles, outras pessoas que eu
não conhecia, mas pelo tipo de físico que exibiam, eu arriscaria
dizer que eram atletas, até porque a Kappa reunia uma grande
quantidade deles entre os seus membros.
— Zoe, você ainda não conhece o Mike — disse Logan ao
apoiar a mão na minha cintura e apontar para o amigo.
Dei um sorriso para o rapaz, mas senti meu rosto esquentar
quando o loiro forte murmurou o quanto eu estava impressionante.
— Essa é a sua irmã? — perguntou o garoto que se aproximou
e eu lembrei se chamar Edward.
Ele encarou um ponto atrás de mim e Logan logo se virou,
puxando Leslie para seu lado e a apresentando a todos eles. Como
eu imaginava, minha amiga não teve a menor dificuldade em
socializar com eles, além de ter olhado mais do que o normal para
Ryan.
— Então você é a famosa Leslie? — Ryan se aproximou e
esticou a mão para ela.
— E você, o famoso Ryan? — devolveu a minha amiga.
— Sabe quem eu sou? — ele perguntou, arqueando a
sobrancelha enquanto apertava sua mão.
— Sei sim. — Lee sorriu. — Logan me alertou sobre você e me
mandou ficar bem longe.
Ryan gargalhou, passando um braço pelos ombros do amigo.
Ele acabou se soltando de mim e eu dei um passo para o lado,
observando a cena que se seguia.
— E o que mais Logan disse? — Quis saber o atleta
musculoso.
— Que você é um tremendo babaca — disparou o meu crush,
dando um tapa na nuca de Ryan. — E que vou quebrar seus dentes
se sorrir muito pra minha irmã.
O loiro ergueu as mãos em sinal de rendição, rindo e recuando
até se escorar contra a bancada logo atrás. Naquele momento, pela
forma como ele se portou, acho que entendi que Ryan gostava de
desafios e provocação. O simples fato de Logan ter dado aquele
aviso ao garoto, fez com que encarasse Leslie de um jeito
esfomeado.
Virei meu rosto para observar minha amiga, mas ela não
prestava atenção nele. Por mais que o cara fosse um gato, sabia
que Lee esbanjava amor-próprio e não ficaria com alguém de quem
já tivesse ouvido tanta baboseira. Ela sabia que Ryan não prestava
porque confiava na opinião de Logie.
Por falar nele, finalmente se distanciou dos amigos e se virou
para mim depois que Leslie saiu de fininho e sumiu na multidão de
corpos.
— Vamos buscar alguma coisa pra beber — disse,
entrelaçando os dedos nos meus e me puxando pela casa.
Demoramos um pouco até encontrar o local onde estavam
servindo as bebidas e me surpreendi quando Logan surgiu com dois
copos vermelhos nas mãos. Ele me entregou um deles com certa
resistência, arqueando a sobrancelha.
— Seu único copo alcóolico da noite — murmurou. — Não faça
eu me arrepender disso.
Assenti em concordância porque era melhor do que nada.
Segurei meu copinho precioso com as duas mãos e provei a
cerveja, que estava um pouco quente, e movimentei meu pé ao som
do hip hop que tocava.
Sorri em agradecimento a Logan e me hipnotizei pelo caminho
que a ponta de sua língua fez ao redor do lábio inferior, recolhendo
as gotas de cerveja que tinham escorrido para fora de sua boca.
Nunca na minha vida eu desejei tanto ser um objeto inanimado,
como aquele copo, e pensei ter dito alguma besteira em voz alta
quando Logie me encarou, percorrendo meu corpo com os olhos,
até sorrir e dar dois passos à frente.
— Está com frio? — perguntou ao me abraçar e eu neguei
depressa, pressionando meu copinho entre nossos corpos. — Bem,
sinto informar, mas seu decote vai chamar bastante atenção desse
jeito.
Ele me soltou o suficiente para que eu pudesse baixar o rosto
e verificar que meus mamilos estavam duros. O problema era que
eu não conseguia controlar as reações do meu corpo diante de
Logan, visto que o garoto era o causador daquilo. Usei meus
antebraços para pressionar meus seios e aguardar que voltassem
ao natural, mas isso só chamou ainda mais a atenção do rapaz.
— O que está olhando, oppa?? — Pisei em seu pé e ele me
deu a droga do sorriso TOP 3 irritante.
— Sou homem, não consigo resistir. — O filho da mãe apertou
a minha bochecha e se virou de lado, parecendo envergonhado. —
Ok, ok, desculpa. — Enfiou a mão livre dentro do bolso e olhou na
direção do céu. — Você é a Zoe, preciso me lembrar disso.
Afastei meus braços, mas meu corpo parecia querer me
sacanear naquela festa, pois os mamilos ainda estavam levemente
enrijecidos. Muitas garotas não se incomodavam com aquilo, mas
eu estava acostumada a usar roupas largas e sutiã, não pretendia
ter várias pessoas na festa de olho nos meus peitos.
— Zoe. — Logan ganhou créditos por voltar a me encarar e
não desviar o olhar para baixo. — Não sei se deve ficar me
chamando de oppa. As pessoas não vão entender e isso é íntimo
demais para quem se conheceu há uns dias.
— Mas você é meu oppa.
Ele sorriu e chegou mais perto, quase encostando o rosto no
meu.
— Não estamos na Coreia do Sul. — Fiquei calada, olhando
com um pouco de frustração para ele, pois eu não conseguiria
bloquear um costume tão antigo. Logan revirou os olhos e jogou a
cabeça para trás depois de alguns segundos. — Aishh! Que
perturbação. Me chame como quiser, mas não faça mais essa cara
de choro.
Sorri para o rosto irritadinho, mas que eu sabia ser apenas
encenação. Estava pouco me importando se alguém ouviria e não
entenderia o significado, pois para mim, trazia uma sensação muito
gostosa.
Logan se virou de costas parecendo procurar por alguém no
instante em que eu, animada, fui de encontro a ele para passar meu
braço dentro do seu. Mas ele se virou nesse exato instante e
acabamos nos chocando, de forma que sua mão esbarrou com
tanta força no meu seio esquerdo, que até tirou o tecido do vestido
do lugar. Eu levantei meu copo e o afastei para não derramar
nenhuma gota, enquanto Logan me segurava para não cair.
— Isso é o destino me atraindo — zombou, rindo todo
desconcertado e fofo. — Que situação...
— Você quase me deixou nua em público — comentei,
enterrando meu rosto no peito dele e abafando uma risada nervosa.
— E se isso acontecesse, perderíamos a aposta.
— Hum. Acho que se arrancasse a sua roupa, você chegaria
facilmente no TOP 1. — Levantei a cabeça e o encarei, vendo-o
arquear as duas sobrancelhas numa expressão bem safada. —
Quer tentar?
— Posso tentar dar um tapa em você. Ou ligar para os meus
pais e contar o que pretende fazer.
Logan soltou uma gargalhada alta demais, chamando atenção
de algumas pessoas e apertando ao meu redor o braço que ainda
me mantinha presa a ele.
— Os senhores Green são meus maiores fãs — debochou de
mim, piscando. — Eles apenas me recomendariam a não esquecer
a camisinha.
Não consegui me manter séria porque concordava com Logan.
Meus pais eram extremamente sem-noção e seriam os primeiros a
torcer para algum envolvimento meu com o irmão de Leslie.
Enquanto eu ria, Logan mudou sua expressão divertida para
uma mais séria, aproximando a boca do meu ouvido e sussurrando:
— Vou apertar a sua bunda, pois estamos sendo o centro das
atenções.
O quê? Meus olhos se arregalaram diante do comunicado e
não tive tempo de responder porque ele me puxou com mais força e
realmente desceu a mão pelas minhas costas, até me apalpar de
leve e manter os dedos ali, sobre o tecido do vestido, parecendo me
queimar.
— Eu acho que agora você se aproveitou da situação —
resmunguei em seu ouvido, sentindo seu corpo estremecer com
uma risadinha.
— Claro que não.
— Então também devo apertar a sua?
O filho da mãe que se revelou um baita safado afastou o rosto
e me encarou, parecendo se divertir muito, com a droga do sorriso
hipnotizante.
— Se achar que deve, fique à vontade — concluiu antes de
ajeitar a postura e pegar minha mão. — Vamos voltar para os meus
amigos.
Se achar que devo? Sério? Como a gente sabe se deve ou
não apertar a bunda de alguém? Isso não era resposta decente!
Agora eu tinha certeza de que havia perdido o momento, pois não
podia simplesmente levar minha mão até o traseiro bonito, se o
clima fora interrompido. Francamente, eu não estava me
beneficiando muito nessa aposta idiota.
Tentei encontrar Leslie pela festa para poder ficar de olho nela,
com medo de que estivesse aprontando muito, mas não a encontrei
por perto. Acabei desistindo e voltando para onde meus amigos
estavam reunidos, ainda sentindo minha mão pesada depois de tê-
la usado para apalpar Zoe. Não era algo que estava em meus
planos, apenas senti vontade de fazer para encenar um pouco
diante daquelas pessoas. No entanto, agora me sentia estranho,
porque havia descoberto que a bunda da garota era macia, daquele
tipo gostoso de apertar.
Mais errado do que esse meu pensamento, só mesmo o fato
de achar que Zoe estava muito atraente aquela noite. O vestido
tinha sido uma escolha perfeita e combinou demais com a garota,
mas ao contrário do dia em que o experimentou na loja, esta noite
eu reparei de forma mais detalhada em como ele abraçou seu corpo
esbelto e alongou suas pernas.
Talvez devesse parar de beber porque, pelo visto, a cerveja
estava afetando meu raciocínio. Aquele era o meu quarto copo e
passaria o restante da noite só na água para evitar pensar ou fazer
besteira.
Havia me sentado no braço de um sofá, um dos poucos
lugares para fazer isso na festa, e puxei Zoe para meu colo, com
pena de ver a garota incomodada por ficar tanto tempo em pé
naqueles saltos. Coloquei-a sentada de lado, apoiando um braço em
suas pernas e a ouvindo falar sobre o curso de Arquitetura e as
aulas que vinha tendo.
Observei o copo de refrigerante quase vazio, pois depois da
cerveja — acabei deixando que tomasse duas vezes — foi apenas
aquilo que bebericou, e quando deu o último gole, eu o peguei de
sua mão e o coloquei no chão.
— Já fez alguma amizade no curso? — perguntei, continuando
a conversa.
— Algumas pessoas parecem legais, mas ainda não me
aproximei muito. — Ela encolheu os ombros, sem me olhar. — Sou
meio lenta pra essas coisas.
— Só se vive a faculdade uma vez, então tente aproveitar ao
máximo. — Ajeitei uma mecha de cabelos coloridos, que estava
embolada na alça do vestido. — Uma pena que eu tenha te
prendido comigo logo no primeiro semestre... Você devia estar
curtindo.
Ela encolheu os ombros e me surpreendeu ao pegar meu copo
e beber um grande gole da minha cerveja antes de me devolvê-lo.
— Não está sendo ruim.
— Hum. — Estalei a língua, olhando ao nosso redor por um
momento, observando alguns caras que eu conhecia. — Vejo uns
três ou quatro aqui na festa que se interessaram por você, mas
nenhum deles vai se aproximar por minha causa.
— Oppa!! — Zoe riu, escondendo o rosto com as mãos e o
virando para me encarar. — De que adiantaria? Eu sou péssima em
flertar. Além disso, meu coração já está ocupado.
Arqueei minha sobrancelha em resposta, admirado em ouvir
aquela confissão, mas sem imaginar a quem se referia. Era algum
garoto que deixou para trás antes de vir para a faculdade?
— Meus ídolos — disse, se justificando e sorrindo. — São
muitos.
— Ah, sim. — Sorri, apertando a bochecha dela. — Todos
muito acessíveis, obviamente.
— Coisa de fã — murmurou, encolhendo os ombros e
suspirando. — É um sentimento inexplicável. Que bom que um dos
meus ídolos mora comigo.
Zoe fechou os olhos ao terminar de falar e sorriu, se inclinando
e encostando a cabeça no meu peito. Tentei digerir aquela confissão
estranha, apesar de não me sentir totalmente surpreso. Ela era
viciada na cultura coreana, eu já devia ter desconfiado que
espelhava seus gostos em mim, mas não deixava de ser engraçado
ver a garota sempre tão tímida soltar a confissão daquele jeito.
— Bom, só me falta o dinheiro deles — concluí,suspirando. —
Acha que consigo ficar milionário se começar a cantar nas ruas do
campus?
Zoe gargalhou por dois segundos antes que entrasse em alerta
total ao ouvir o que começou a tocar nas caixas de som. Fechei os
olhos, rindo sozinho ao identificar “Dynamite”, do BTS. Era
certamente a música deles que mais parecia bombar entre o público
que não curtia k-pop, mas que nem devia saber que a canção era
de um grupo coreano, visto que toda a letra estava em inglês.
A expressão da garota em meu colo se iluminou e ela olhou
em volta com pressa. Sabia que estava procurando minha irmã, mas
fiquei aliviado por não a encontrar, pois temia que dessem algum
furo a respeito de sua amizade na frente dos meus amigos.
Sem consegui se controlar, Zoe começou a dançar
discretamente, mas acho que o álcool em seu organismo, mesmo
que tenha ingerido apenas dois copos, a incentivou a se agitar. A
menina colorida se levantou do meu colo, enfiando-se entre as
minhas pernas e cantando a letra com perfeita sintonia.
Lancei um olhar para Ryan e Eddie, que estavam um pouco
mais ao lado e vi que estavam com os olhos grudados nela. Aliás,
algumas outras pessoas não paravam de observá-la com muita
curiosidade.
Usando a mão fechada como microfone, Zoe fechou os olhos e
continuou a cantoria e eu precisei abrir mais minhas pernas para
que se movesse melhor. Não demorou para que duas garotas que
eu não conhecia surgissem perto de nós e passassem a
acompanhar a letra junto com ela. Só que essas eram ainda mais
desinibidas e ainda estavam reproduzindo uma coreografia.
Por fim, eu me tornei o alvo das três e quis matar uma por uma
quando mãos invadiram meu espaço pessoal, bagunçando meus
cabelos e alisando meus braços. Vislumbrei Dylan rindo da minha
cara com o polegar erguido e quando pensei que não podia ficar
pior, minha irmã apareceu. A mais louca de todas, atraiu toda a
atenção para si com aquele vestido vermelho curto demais, batendo
as mãos no alto da cabeça.
Nunca quis tanto me esconder em algum lugar, principalmente
quando vi Phoebe, mais afastada, me encarando com um olhar
mortal e perigoso. Era a primeira vez em que a via naquela noite,
tinha até esquecido de que estaria presente, mesmo assim, sorri em
sua direção antes que virasse de costas.
Quando a música finalmente chegou ao fim e as garotas
dispersaram, eu me levantei depressa para ir ao banheiro. Era a pior
parte de beber, a vontade incessante de urinar, visto que só naquela
noite, eu já tinha ido quatro vezes até lá. Não demorei porque fui ao
que ficava no segundo andar da casa, sem fila, e quando voltei para
o salão, fui interceptado por Phoebe.
A garota usava um vestido preto com decote profundo, que
deixava muito pouco para a imaginação, mas não me surpreendia
porque sempre foi o estilo dela. Quando passou suas mãos em
meus ombros, tentei me afastar, mas ela me segurou pelo pescoço,
quase se pendurando.
— Jura que não vai falar direito comigo? — perguntou com
uma expressão magoada.
— Estou sentindo o seu bafo de vodca e sei que vai fazer algo
pra se arrepender amanhã — respondi, segurando suas mãos. —
Então, prefiro me manter distante.
— Você já foi mais legal comigo, Logan... — murmurou,
fazendo bico e tentando me beijar. — Está com medo de que sua
nova garota nos veja?
Na verdade, minha preocupação não era exatamente com Zoe,
porque ela sabia que estávamos fingindo e que eu tinha uma vida
pessoal de antes da aposta. O problema eram as outras pessoas
que podiam me ver com ela, depois com Phoebe, e entender errado.
Eu não pretendia transformar Zoe em chacota e sabia que isso
aconteceria se pensassem que fiquei com as duas na mesma noite.
Decidido a dar um basta naquela saia-justa, usei um pouco de
força para me livrar das garras de Phoebe e a afastei com alguma
delicadeza, mas deixando evidente que não a desejava. A festa
estava lotada, portanto, o fora dado por mim não passou
despercebido por ninguém perto de nós. Alguns riram, outros
cochicharam em surpresa, também vi o choque num olhar ou outro,
porque parecia absurdo que uma garota como Phoebe fosse
rejeitada.
Alguns metros à frente, a colorida estava distraída,
conversando com Leslie e de costas para mim. Chegamos a
conversar sobre aquele assunto na quinta-feira antes de entrarmos
no Tatter, mas ainda não houvera nenhuma necessidade de colocar
a ação em prática. Até agora.
Ajeitei minha roupa enquanto caminhava até as meninas e,
quando parei bem atrás de Zoe, alisei suas costas e subi minha mão
até sua nuca, enfiando meus dedos por dentro dos cabelos macios.
Senti seu corpo inteiro estremecer e a puxei com cuidado, levando
minha boca até seu ouvido para dar o aviso:
— Vou te beijar.
Senti como se minha alma tivesse se separado do corpo
quando Logan chegou avisando que me beijaria. Que tipo de
pessoa fazia algo assim? Como se não bastasse o seu toque pelo
meu corpo, subindo rápido por minhas costas para agarrar minha
nuca, o que quase me fez desmaiar. Nos milésimos do segundo que
tive para raciocinar antes do ato, apenas baixei os olhos para focar
em sua boca e ficar completamente vesga quando ela chegou muito
perto da minha.
Meus ouvidos começaram a zumbir quando nossos lábios se
tocaram e logo sofri um daqueles arrepios cerebrais, quando dá pra
sentir até o fio de cabelo se eriçar. Meu corpo caiu para trás com o
impacto inesperado, porque Logan se agigantou sobre mim, mas ele
mesmo me manteve sustentada por sua mão que apoiava meu
pescoço.
Foi um beijo rápido, um pouco melhor do que um selinho, e
assim que nossas bocas se separaram, consegui suspirar antes de
ser novamente beijada. Dessa vez, pressionou meus lábios com
força e deslizou a língua neles para depois chupá-los. De olhos
fechados, eu sentia minha cabeça rodar e perder a percepção de
onde estava, porque beijar Logan Choi era muito mais
impressionante do que eu jamais imaginei em toda a minha breve
vida.
Ele brincou com a língua em minha boca por um instante bem
rápido, até que afastou o rosto e a mão em minha nuca foi parar na
minha cintura. Quando abri meus olhos e o encarei, sentia-me tonta,
meu rosto ardia e meu coração disputava uma maratona.
— Vou me despedir dos meus amigos e a gente vai embora,
ok? — murmurou, passando o polegar pelo canto de seus lábios
antes de me soltar.
Não me dei ao trabalho de responder porque ainda estava
processando o meu choque, mas felizmente, Leslie estava ali para
me amparar quando Logan saiu de perto. Senti sua presença ao
meu lado quando nossos braços roçaram um no outro e ouvi sua
voz carregada de surpresa.
— Não acredito que esse beijo aconteceu e ainda por cima,
em público — comentou, entrando em meu campo de visão com os
olhos arregalados. — Você está bem?
— Dormente.
Minha amiga e eu nos entendíamosbem demais, então eu não
precisava falar muita coisa para que ela compreendesse o quanto
me sentia perplexa. Girei sobre os calcanhares, olhando ao meu
redor quando tomei coragem e descobrindo muitos pares de olhos
voltados na minha direção. Respirei fundo, movimentando meus
dedos que também estavam dormentes, e experimentando afastar
meus pés para descobrir se conseguiria caminhar.
Por sorte — ou azar, eu já não sabia mais —, a mão de Logan
reapareceu em minha cintura e ele murmurou alguma coisa com sua
irmã. Entendi que estávamos caminhando para a saída da mansão
Kappa e paramos para que ele pegasse seu sobretudo, que logo
veio parar mais uma vez sobre os meus ombros.
Minhas pernas pareciam gelatinas quando pisei no primeiro
degrau da escadaria que nos levava à calçada e, por instinto,
estiquei a mão para me segurar em Leslie, que estava mais longe
de mim do que Logan.
— Precisa de ajuda? — ele perguntou, voltando a apertar
minha cintura ao pressionar meu corpo no seu.
— Uhum. — Engoli em seco, com o coração acelerado, vendo
Leslie apressar os passos e nos deixar para trás.
A filha da mãe estava fazendo de propósito para que
ficássemos a sós e ela me pagaria por isso.
Quando nos afastamos da casa o bastante para caminharmos
pela rua tranquila, Logan me soltou e enfiou as mãos nos bolsos da
calça. Eu podia sentir que me observava em silêncio e queria muito
ser daquelas pessoas descoladas que sempre tinha algo incrível a
dizer em momentos constrangedores.
— Caramba! Vocês vão precisar me esperar um pouco —
disse minha amiga quando chegamos ao carro e ela passou
depressa por nós. — Esqueci meu celular lá na festa.
— Está falando sério? — Logie revirou os olhos, já com a
chave do automóvel na mão. — Porra, Lee, eu vou buscar.
Ela arregalou os olhos e pressionou os lábios, o que era seu
sinal de que estava mentindo.
— Não! Acho que ficou dentro do banheiro, deixa que eu vou!
— E saiu correndo em disparada de volta para a mansão.
Suspirei em frustração, ciente do plano diabólico dela, e me
encostei na lateral do carro, esquentando meus dedos no sobretudo
macio. Talvez fosse melhor que eu tivesse corrido atrás dela, dessa
forma, Logan agora não estaria parado diante de mim, com os olhos
estreitos, as sobrancelhas retas e um olhar questionador.
— Está muito calada, Zozo. — Sorriu, me deixando confusa. —
Está com raiva de mim? Quer me bater?
— Deveria...
— Sabia que estava assim por causa do beijo — disse o filho
da mãe, pegando minha mão e a apoiando em seu peito. — Pode
bater.
Dei um soquinho nele, sabendo que nem faria cócegas, depois
cruzei meus braços e desviei o olhar. Onde estava Leslie quando eu
precisava da irreverência dela?
— Você me pegou de surpresa — falei. — Isso não se faz.
— Precisava ser uma surpresa para todo mundo.
— Você usou a língua.
A risada que ele deixou escapar me deixou irritada e quis pisar
em seu pé. No entanto, só respirei fundo e tomei coragem de
levantar os olhos para encarar um Logan que se divertia às minhas
custas. Daquele seu jeito todo charmoso de arrasar corações, ele
apoiou uma de suas mãos no teto do carro, ao meu lado, e se
aproximou mais.
— Eu disse milhões de vezes que não sou um personagem de
dorama — murmurou, pegando uma mecha dos meus cabelos. —
Aquilo que vocês assistem não é beijo de verdade. Mas vou fazer
uma anotação mental para não rolar mais nenhum beijo que tenha
língua envolvida.
Calma, não foi isso que pedi. Logan não podia me privar de ter
tudo o que eu pudesse dele, só estava reclamando porque me
sentia envergonhada e não sabia o que mais dizer. Precisava agir
rápido e esclarecer a confusão, mas pigarreei algumas vezes para
sentir minha voz firme.
— Não me referia a isso, oppa. — Encolhi meus ombros e os
deixei cair em seguida. — Só não tive tempo de me preparar, devo
ter parecido uma lesada que nem sabe beijar. Da próxima vez...
hm... tente avisar com um pouco mais de antecedência.
— Não posso ficar soltando avisos toda vez que precisar te
beijar, Zoe. — Logan riu, desencostando do carro para parar na
minha frente. — Você precisa se acostumar, afinal, estamos fingindo
um namoro falso. Casais se beijam.
— Eu sei, mas... — Parei de falar quando o rosto dele quase
encostou no meu.
Sua boca a centímetros de distância fez a minha secar e eu
sabia que estava me provocando. Cerrei meus punhos, esperando
pelo próximo gesto de Logan, mas ele não se moveu. O que
pretendia?
— Não precisa ser eu, sabe? — murmurou, sorrindo de um
jeito safado e lambendo os lábios. — A atitude também pode ser
sua.
Era impressionante o tamanho do meu azar. Conseguia ter
Logan Choi se oferecendo para mim, a uma língua de distância, do
jeito que eu sempre sonhei, ao mesmo tempo em que minha
consciência me lembrava, do jeito mais amargo possível, que tudo
fazia parte de uma encenação. Eu não teria a menor chance de
trocar beijos com ele se não fosse por causa da aposta.
Senti uma breve vontade de chorar pela frustração que encheu
meu peito e, por um momento, só quis ir para casa e me deitar na
cama, abraçada ao meu travesseiro com o rosto do Taehyung. Mas
Logan continuava me encarando e aguardando que eu fizesse
alguma coisa e como nada aconteceu, ele trouxe a boca para ainda
mais perto.
Agora, nossos lábios roçavam um no outro e seu olhar intenso
me queimava dos pés à cabeça. Acabei me entregando à vontade e
fechei meus olhos ao segurar o rosto dele em minhas mãos e
finalmente o beijar. Por um segundo, achei que fosse apenas ficar
imóvel e deixar que eu comandasse, mas logo pegou as rédeas do
espetáculo e abocanhou meus lábios com uma ferocidade que, aos
poucos, foi abrandando.
Graças a Deus havia o carro atrás de mim para me amparar,
porque Logan diminuiu todo o espaço existente entre nossos
corpos, levando as mãos ao teto do carro e me imprensando ali.
Estávamos tão grudados um no outro, que eu nem encontrei espaço
para descer minhas mãos até seu peito, portanto, deslizei-as por
suas costas e me abracei a ele como se não houvesse amanhã.
— Então... — Logan pigarreou ao parar o beijo, virando o rosto
de lado e rindo baixinho. — Agora conhecemos as línguas um do
outro. Ainda está chateada?
Neguei com um gesto, encostando minha testa no peito dele e
fechando meus olhos. Queria só poder ficar daquele jeito por longos
minutos e aproveitar o momento.
— Você está com o pescoço todo arrepiadinho — murmurou
para o meu desespero, porque ali estava algo que eu não podia
esconder.
— É frio — respondi, levantando meu rosto.
Logan sorriu com a boca e os olhos fechados, de um jeito que
deixava claro que sabia que eu estava mentindo, mas não me
preocupei em me defender melhor, porque preferi voltar ao lugar de
antes, o peito dele. Apertando meus braços ao redor de seu corpo,
mantive meu rosto colado em sua camisa macia, ouvindo seu
coração bater tranquilamente no silêncio daquela rua.
— Vamos tirar a prova se é mesmo por causa da temperatura
— falou, me dando um beijo no pescoço que me fez estremecer,
então soltou uma risada.
Dessa vez, não senti apenas o arrepio na pele, mas também a
pontada que me atingiu bem entre as pernas e me fez gemer.
Chocada com minha própria reação, tentei me soltar de Logan, mas
ele demonstrou ter se inspirado naquele som, porque ousou me
lamber no mesmo lugar. Senti meus dedos se enroscarem no tecido
da camisa dele quando minha cabeça pendeu para o lado e me
deixou totalmente entregue.
Sua boca trilhou um caminho para o alto, até a linha do meu
maxilar, deslizando pela minha pele até alcançar minha boca. Mas
Logan passou direto daquele ponto e desceu pela parte da frente do
meu pescoço até beijar bem em cima do ossinho do meu esterno.
— Oppa... — murmurei quando uma de suas pernas se
posicionou entre as minhas e um volume começou a se fazer
presente.
A palavra parece ter acionado algum gatilho em Logan, que
recuou imediatamente e passou a mão pelos cabelos ao me
encarar. Dava para ver que estava desconcertado e eu evitei olhar
para baixo quando ajeitou a roupa.
— Entre no carro, Zoe — pediu, destrancando a porta. — Vou
voltar para buscar Leslie ou ficaremos aqui o resto da noite.
Sentindo-me flutuar nas nuvens, achei melhor aceitar a
sugestão, afinal de contas, eu já quase não sentia mais os meus
pés, porque aquelas sandálias estavam me matando. Só quando
fechei a porta do carro e me vi sozinha ali dentro, permiti-me
repassar em detalhes na minha mente cada segundo do que tinha
acabado de acontecer.
O beijo dentro da Kappa tinha sido pura encenação, estava
ciente disso, mas aquele de minutos atrás, eu já não sabia como
interpretar. O fato de Logan ter começado a se excitar fazia parecer
que ele se deixou levar pelo momento e ficou tão afetado quanto eu.
Não era possível que estivesse interpretando, visto que não havia
ninguém por perto no momento do beijo.
Levei as mãos à boca, ainda chocada, pensando que havia
acabado de dar o primeiro amasso com Logan. Sendo real ou não,
foi incrível sentir sua pegada e experimentar como seria ter um
momento mais íntimo com ele. Isso poderia me estragar para todos
os outros homens? Talvez sim, mas não teria como me apaixonar
ainda mais pela mesma pessoa.
Acho que bebi um litro de água enquanto me escorava no
balcão da cozinha, pensativo demais a respeito dos últimos
acontecimentos daquela noite. O que tinha dado em mim, afinal?
Não conseguia entender que impulso foi aquele que me acometeu e
me fez beijar Zoe no meio da rua. Não havia ninguém por perto para
testemunhar, então eu nem podia usar a desculpa de ter sido
encenação. Não foi. Lembro-me perfeitamente do sentimento que
me abateu naquele momento, de querer simplesmente provocar a
garota que estava toda tímida.
Fechei os olhos e me xinguei mentalmente por ser tão
descuidado e brincar com a única pessoa que eu não devia brincar.
Era Zoe! Por que inventei de lamber o pescoço dela, para
início de conversa? Que diabos foi aquilo? Como tinha sido capaz
de me excitar com a melhor amiga da minha irmã, que eu conhecia
desde que era uma pirralha com dentes de leite?
— Você é um idiota... — murmurei ao esvaziar a garrafa de
água e perceber que exagerei na dose.
Abaixei a cabeça, respirando fundo e buscando pela vontade
de ir dormir, porque não conseguia parar de pensar naquela merda.
Culpa de Leslie, eu devia focar nisso. Afinal, Zoe estava
impressionante naquela noite. A maquiagem que usava não era
pesada, mas seus olhos pareciam maiores e mais azuis do que
nunca, e sua boca... Eu já tinha reparado que Zoe possuía lábios
bonitos, mas nunca os achei... sedutores. Não sabia se foi o efeito
do batom ou se eu acabei bebendo demais, nunca saberia.
Satisfeito por ter dado bastante trabalho para os meus rins, fui
para meu quarto e separei a roupa para me trocar. Pensei em tomar
um banho antes, mas me sentia cansado e queria aproveitar que o
sono finalmente estava chegando, então decidi que apenas
escovaria os dentes antes de me jogar na cama. Porém, quando fui
até o banheiro e toquei a maçaneta para abrir a porta, Zoe Green
saiu lá de dentro e me deu um susto. A garota estava enrolada na
toalha e com o rosto livre de toda a maquiagem, do jeito que eu
sempre a vi.
— Terminei aqui, pode usar — disse ela ao tentar passar por
mim, mas bloqueei o caminho.
— Como você está? — perguntei para alongar o momento,
porque ainda não entendia o que estava acontecendo.
Pelo menos, livre de toda a produção anterior, Zoe tinha
voltado a ser a mesma menina de sempre e essa versão antiga não
me deixava nada confuso. Era a garotinha com quem eu tinha
costume de implicar e tomar conta como se fosse minha própria
irmã. Apenas isso.
— Cansada — respondeu, com as bochechas coradas. — E
com os pés doloridos.
Abaixei minha cabeça e observei as pernas nuas que a toalha
não podia esconder, até focar nos dedos vermelhos e marcados
pelas sandálias. Novamente agindo por algum impulso estranho, eu
me agachei diante de Zoe e peguei seu pé direito em minhas mãos
para olhar de perto.
— O que você está fazendo? — ela perguntou num misto de
grito e gemido e senti que se apoiou na minha cabeça.
— Deu bolha, você já viu? — Estalei a língua, me sentindo
culpado por aquilo. — Da próxima vez que estiver machucada,
avise. Não precisávamos ter ficado tanto tempo na festa.
Com o pé delicado na palma da minha mão, toquei gentilmente
sobre a bolha na lateral do dedão para ver se corria o risco de
estourar ou não. Quando voltei a me levantar, sorri para a colorida
que parecia doida para sair correndo.
— Vá se trocar, mas antes de se deitar, venha até o meu
quarto, ok? — Afaguei o rosto dela e, pela cintura, a puxei para fora
do banheiro para que eu pudesse entrar.

Estava trocando mensagens com Dylan, que queria saber em


detalhes o que havia acontecido depois do beijo cinematográfico no
meio da festa, quando Zoe bateu em minha porta e a abriu devagar.
Eu me despedi do meu amigo e deixei o celular de lado, levantando
da cama para pegar o hidratante.
— Sente-se — pedi, apontando para o colchão antes de me
afastar. — Achei que não viesse mais, já que demorou meia hora
pra aparecer.
— Estava fazendo meu skincare.
Zoe subiu na cama, vestida com um pijama rosa de cetim, os
cabelos presos num coque e os lábios brilhando com algum
hidratante labial que devia ter passado. Com o frasco do hidratante
na mão, sentei-me no chão diante das pernas que estavam
penduradas para fora do colchão e peguei o pé esquerdo.
— O que você vai fazer? — Zoe tentou puxá-lo e seu tom de
voz afinou. — Pelo amor de Deus, Logie, não precisa disso tudo.
— Você se machucou por minha causa, ou melhor, por causa
da aposta em que eu a coloquei, então o mínimo que posso fazer, é
cuidar de você.
Sorri quando ela tapou o rosto inteiro com as mãos enquanto
eu passava o creme entre seus dedos pequenos e os massageava.
Tomei o máximo de cuidado possível com a bolha, notando como a
pele estava vermelha em alguns locais.
— Isso é muito constrangedor. — A voz de Zoe saiu abafada.
— Ainda bem que tomei banho...
— Por acaso tem chulé? — perguntei para brincar com ela,
levando a sola de seu pé até meu nariz.
Zoe arregalou os olhos e se jogou para trás, deitando-se na
minha cama e puxando um dos meus travesseiros para esconder o
rosto.
— Isso está acontecendo de acordo com seus doramas? —
zombei. — Devo desenhar um coração na minha bochecha?
— Cala a boca!
— Me diz o que aquele meu sósia faria agora pra eu me
certificar de estar agindo certo.
Ela voltou a se sentar na cama, com as mãos apoiadas atrás
das costas, e estreitou os olhos para mim, sem conseguir esconder
o rosto vermelho.
— Pra início de conversa, já está tudo errado — declarou. —
Um oppa de dorama nunca me traria para o quarto dele no meio da
noite e ficaria alisando meus pés.
— Esse oppa americano é mais esperto — comentei, sorrindo
para ela. — O beijo comigo nunca aconteceria nos últimos episódios
e sim no primeiro.
— E aí perderia toda avibede um dorama.
— Sim. — Assenti, pensando naquilo, enquanto a distraíapara
que não se intimidasse com a massagem. — Acho que combino
mais com um proibidão para menores.
— Está sujando a imagem que tenho de você — Zoe
resmungou, franzindo os lábios bonitos e cruzando os braços. —
Prefiro continuar iludida.
— Que nada! A realidade é muito melhor do que a ficção,
Zozo.
Dei um tapinha leve no pé direito quando finalizei meu
tratamento e a encarei, toda séria com os olhos grudados nos meus.
A impressão que tive era de que queria me dizer alguma coisa, mas
percebi que engoliu com dificuldade e desviou o olhar na direção da
cabeceira.
— Sobre o beijo no carro... — comecei, levantando-me e me
sentando ao lado dela.
— Ah, não! — Zoe se jogou de novo de costas no colchão e
voltou a tapar o rosto. — Jura que vai tocar nesse assunto?
— Bom, mas você agindo assim só me faz ter certeza de que
precisamos conversar sobre isso. — Inclinei-me para puxar as mãos
dela e poder olhar em seus olhos. — Zoe, você não é boba, sabe o
que aconteceu e que eu fui mais além do que deveria.
Os olhos verdes me encararam com atenção quando ela virou
o rosto, pressionando um lábio no outro. Percebi suas mãos
entrelaçadas e parecia que os dedos estavam tensos, sinal de que
estava se esforçando para manter um diálogo.
— Eu sei que você precisava provar um ponto naquele
momento — disse a colorida. — Está tudo bem.
— É, eu quis mesmo provar... — murmurei, sorrindo. — Você.
Prendi a risada quando Zoe abriu e fechou a boca porque eu
sabia exatamente a reação que causaria com o que tinha acabado
de declarar. E a conhecendo como conhecia, previ segundos antes
o momento em que ficou desconcertada e tentou se levantar.
— Ouvi a Leslie me chamar e eu v...
Ousando talvez muito mais do que deveria, movi meu corpo
até montar em cima do dela e a prendi no lugar, passando minhas
pernas para cada um dos lados e me sentando sobre meus
calcanhares.
— Você não vai fugir porque precisamos falar sobre esse
assunto. — Toquei a ponta do nariz arrebitado.
— Oppa!!! — Zoe gritou, fechando os olhos e batendo em meu
peito. — Isso é assédio sexual!
Gargalhei, me esticando para o lado e pegando meu celular
que tinha deixado perto dos travesseiros, então entreguei o aparelho
para a garota de cabelos coloridos e encolhi meus ombros.
— Vai lá, registra o momento — sugeri. — Joga nas redes
sociais, vai ser bom pra sua entrada na lista. Logan Choi
assediando caloura, uma ótima chamada.
Zoe suspirou, soltando o telefone no colchão e me encarando
de um jeito menos assustado. Passei meus olhos do seu rosto para
o corpo e notei que os seios estavam intumescidos por baixo da
camisa do pijama de tecido fino, mas achei melhor não comentar
sobre isso para que ela não reagisse mal.
De qualquer forma, aquela constatação me deixava ansioso,
porque ficava bem claro que Zoe possuía baixa resistência durante
nossas interações. Podia não ser apenas comigo, afinal, eu nunca vi
como se comportava com outro cara, mesmo assim, era difícil se
concentrar diante de algo que estava bem ali na minha cara.
Literalmente.
— Achei que fosse ser mais simples esse teatrinho que
estamos fazendo, sabe? — declarei para ela. — Só que não
coloquei alguns fatores na equação. Não somos atores, não
seguimos nenhuma técnica, então não dá pra separar muito bem o
que é mentira e o que não é. Gosto de mulher, tenho uma vida
sexual bem ativa, foi natural acabar sentindo atração no meio de
uma festa.
Zoe assentiu, mas ainda calada.
— Não quero que isso fique acontecendo, entende? Não acho
justo com você, mas não sei se vou perder o controle de novo em
algum outro momento. — Encolhi meus ombros, me sentindo mais
aliviado por falar. — Pode acontecer, então prefiro esclarecer isso e
te dar liberdade pra, a qualquer instante em que eu cruzar a linha,
me bater, furar meus olhos, chutar minhas bolas, qualquer coisa.
— Eu não me importo — declarou Zoe, me surpreendendo. —
Não é como se eu tivesse que dar satisfação pra algum namorado.
Posso fazer o que eu quiser.
— Poder, você pode. Mas não lida muito bem com o depois,
não é? Nós moramos juntos e você e Leslie possuem uma história,
então não há a opção de cortarmos relação se não quiser mais olhar
pra minha cara.
— É que eu fico com vergonha. — Ela deu um soquinho no
meu braço e mordeu o lábio inferior por uns segundos antes de
soltar um suspiro. — Não sou santa, Logie. Gosto de beijar na boca.
Que Deus me perdoasse, mas Zoe estava me atraindo
naquele exato instante e eu me sentia prestes a ignorar tudo que
tinha acabado de discursar. Um grande hipócrita.
— Sabia que uma palavra pode mudar completamente o
sentido de uma frase? — comentei, percebendo sua curiosidade. —
Você disse “gosto de beijar na boca”, mas se tivesse incluído uma
palavrinha só, mudaria todo o contexto. Poderia ter dito “gosto de
beijar a sua boca”. Ou melhor ainda se dissesse “gosto de beijar a
sua boca, oppa”.
A colorida riu, sacodindo o corpo debaixo do meu e fechando
os olhos. Devagar e delicadamente, eu me inclinei na direção de
seu rosto e fiquei parado.
— Não foi mesmo isso que eu quis dizer — respondeu,
sorrindo. — Você está querendo colocar palavras na minha boca.
— Ou a língua — confessei.
Zoe abriu os olhos rapidamente e me encontrou ali, a
centímetros de beijá-la. Os lábios bonitos se afastaram quando
soltou um suspiro e capturei o momento em que lambeu o inferior de
forma bem sutil. Perdi a noção de quanto tempo ficamos apenas nos
encarando, enquanto eu sentia a saliva se acumular depressa
dentro da minha boca.
Quando finalmente tomei coragem de ir em frente e a beijei,
senti o gosto de morango de seu hidratante labial me atingir em
cheio e enviar uma contração até meu pau. Não consegui ser
delicado dessa vez, precisava testar o quanto Zoe me atraíae o que
seu cheiro e seu toque faziam comigo.
Ouvi seu gemido baixinho quando prendi seu lábio entre meus
dentes e deslizei minhas mãos pelos seus braços, levando-os para
cima e os esticando sobre o colchão. A garota estava imobilizada
por mim, que tinha me deitado completamente sobre seu corpo, e a
única coisa que eu permitia que fizesse era continuar respirando.
Pressionei meus quadris contra os dela quando senti minha
ereção começar a aumentar e trouxe uma de minhas mãos até sua
cintura fina, tateando para descobrir onde estava a barra da camisa
do pijama. Mas quando finalmente consegui sentir sua pele quente e
arrepiada, e deslizei meus dedos à procura de seus seios, Zoe me
deu uma joelhada entre as pernas.
— Porra! — gemi, caindo para o lado e pressionando minhas
bolas doloridas.
Meu coração batia acelerado quando a vi se ajoelhar na cama
e me encarar com os olhos arregalados.
— Ah, droga. Desculpa. — Zoe franziu a testa enquanto me via
sofrer. — Não, não me desculpe. Você não presta. Jura que ia pegar
nos meus peitos, Logie? Assim tão rápido?
Com a dor diminuindo e a garota me estapeando no peito,
comecei a rir daquela situação caótica. Não podia reclamar porque
Zoe fez exatamente o que eu a mandei fazer caso avançasse
demais, então meio que merecia aquele chute.
— Fico feliz em saber que você sabe se defender — murmurei,
sorrindo para olhos verdes frustrados. — Estou orgulhoso!
— Aishh! — Levei mais um tapa antes de Zoe se arrastar pela
cama até levantar. — Vou dormir.
— Sonhe com os anjos.
Ela deu quatro passos pelo quarto, parou e olhou para trás.
Então, deu uma corridinha engraçada e subiu na cama de novo, se
aproximando e me dando um selinho antes de se afastar e passar
pela porta. Podia jurar que vi um sorrisinho safado naquele rosto
quando ela girou o corpo para apagar a luz.
Logan teve sua primeira competição de natação do semestre
na cidade vizinha e isso fez com que Leslie e eu tivéssemos a casa
só para nós durante dois dias. Achei ótimo porque ainda me sentia
muito confusa a respeito do que aconteceu entre nós no sábado e
não sabia mais como deveria agir com Logan.
Quando contei tudo para minha melhor amiga no domingo, ela
surtou de felicidade e me pediu muitos detalhes, mas achei melhor
deixar de fora o momento em que senti a ereção de seu irmão ser
pressionada contra os meus quadris. Eu mesma não conseguia
digerir isso muito bem, afinal, Logan deixou bem claro que queria
que eu sentisse o quanto estava excitado.
Naquela noite, fui me deitar com o coração batendo muito forte
e a calcinha toda molhada. Eu nunca tinha transado, mas sabia me
tocar para me dar prazer — precisei aprender quando passei a
acordar alucinada depois de sonhos quentes com Logan — porém,
desde que comecei a dividir o quarto com Leslie, não fiz mais isso.
Achava estranho me masturbar com minha amiga dormindo na
cama ao lado, tinha medo de soltar algum gemido incontrolável ou
de que ela acordasse e flagrasse algum movimento sob a coberta.
No entanto, acabei abrindo uma exceção para aquele sábado à
noite.
Foi o orgasmo mais rápido e gostoso que tive, porque era a
primeira vez que eu realmente possuía conteúdo real para
incrementar o momento. Só precisei relembrar os últimos minutos
dentro do quarto de Logan para chegar ao clímax total e pude
dormir um sono tranquilo.
No domingo a gente não se viu o dia inteiro porque quando
acordei ele não estava mais em casa. De tarde acabei saindo com
Leslie para passear pela cidade e ao chegarmos, fui direto para o
meu quarto enquanto minha amiga foi perturbar o irmão que estava
estudando.
Soube da viagem apenas na manhã de segunda-feira, quando
entrei na cozinha para preparar um café e o encontrei sentado à
mesa fazendo seu desjejum ao lado de Lee. Não nos falamos direito
e eu não sabia dizer se era porque Logan estava concentrado para
a competição, com a mente ocupada com outras questões, ou se
estava somente me evitando.
Depois de ter dado uma joelhada nele, eu não me
surpreenderia se fosse a segunda alternativa. O que fiz foi algo
impensado, aconteceu sem querer. Só reagi porque me assustei ao
perceber que me tocaria de uma forma que nunca fui tocada. O
problema nem era o toque em si, mas o momento. Não queria que
aquela primeira vez acontecesse daquele jeito porque me sentia
muito insegura e sabia que Logan só estava curtindo. Ele teria feito
o mesmo se fosse qualquer outra garota ali na cama, que estivesse
beijando.
Se algum dia a gente compartilhasse uma troca mais íntima,
eu gostaria que tivesse significado para os dois e não que fosse
uma pegação aleatória. Entendia que podia parecer um pensamento
careta, que outras garotas, até mesmo Leslie, achariam meu
posicionamento meio bobo, mas ninguém de fora sabia exatamente
a dimensão dos meus sentimentos por Logan. Sendo assim, tentava
não me deixar influenciar por pressão externa de ninguém, nem
mesmo de minha amiga quando disse que eu deveria ter
aproveitado o momento no quarto dele e perdido logo a virgindade.
Na terça à tarde, estava andando pelas ruas do campus um
pouco distraída a caminho de casa. Minha atenção estava focada
nos últimos storiesde Logan, então me assustei ao ouvir o som de
uma buzina e ver um carro conversível parar ao meu lado. Olhando
com atenção depois que o susto passou, notei que era o Ryan ao
volante, usando óculos escuros e jaqueta do time de basquete.
— E aí, Zoe? Tudo bem?
— Sim — respondi, sorrindo e tentando parecer simpática. —
E você?
— Estou ótimo. — O loiro meneou a cabeça e apoiou um braço
no encosto do banco ao seu lado. — Entre que eu dou uma carona
pra você.
Aquele carro era, sem dúvida alguma, o último lugar no qual eu
entraria sozinha. Eu não me sentia à vontade perto do amigo de
Logan, até mesmo o sorriso dele me parecia falso e perigoso.
Sendo assim, achei melhor despistá-lo e inventar uma desculpa que
não me fizesse soar grosseira ao recusar seu convite.
— Obrigada, mas não precisa, pois vou dar um pulo na
biblioteca.
Foi o mais rápido que consegui pensar, visto que o prédio em
questão ficava bem ali na esquina e podíamos avistá-lo de onde
estávamos. Não era minha intenção ir até lá, mas agora daria um
jeito de entrar e ficar alguns minutos caso Ryan não acreditasse em
mim e resolvesse me esperar.
Por sorte, o garoto balançou a cabeça, caindo na minha
mentira. Ele tirou os óculos e me encarou por um tempo, como se
quisesse fazer questão que eu visse seu olhar observador.
— Você estava bem bonita na festa de sábado — comentou,
sorrindo de um jeito sedutor. — Deveria usar vestidos mais vezes,
gostei das suas pernas.
— Obrigada.
— Tem falado com Logan desde aquele dia?
Eu fiz mais do que apenas falar com Logie, só que isso não
vinha ao caso. Então, assenti em silêncio, torcendo para que o
rapaz fosse embora e me deixasse em paz.
— Gosta de atletas? — Que tipo de pergunta era aquela? —
Ou Logan é o primeiro?
— Eu não... — pigarreei, me sentindo desconfortável. — Não
tenho preferência por atletas.
Eu temi que aquela conversa ficasse ainda pior, portanto, fingi
olhar com interesse para algo em meu celular e virei o rosto na
direção da biblioteca. Em seguida, voltei a encarar Ryan, que por
algum motivo que eu desconhecia, parecia tentar me comer com o
olhar.
— Preciso ir ou vou me atrasar — avisei, dando alguns passos
à frente. — Até mais, Ryan.
Ele murmurou uma despedida, mas senti que seu carro me
seguia lentamente como num filme de suspense. Será que o fato de
ser rico indicava que não tinha nada melhor para fazer do que
perturbar uma garota comum?
Tive que apressar meus passos para chegar logo na biblioteca,
pois só assim consegui me livrar dele, sem olhar para trás. Subi
para o segundo andar e me joguei numa das mesas, abaixando
minha cabeça sobre meus braços e relaxando um pouco. Era
reconfortante estar ali, naquele silêncio gostoso, cercada por livros e
pessoas que não estavam prestando atenção em mim, porque se
preocupavam mais em estudar.
Aproveitei para mandar mensagem para Leslie e contar o que
acabara de acontecer e ela me respondeu com vários emojisdo
bonequinho revirando os olhos. Por incrível que pareça, minha
amiga passou bem longe de Ryan na festa. Mesmo sendo muito
bonito, acho que ela ouviu os conselhos de Logan a respeito de seu
amigo e até eu ficava aliviada por isso.
Lee se ocupou de flertar com Mark, um garoto que jogava
hóquei, e me contou que tinha marcado encontro com ele para o
próximo final de semana. Eles vinham trocando algumas
mensagens nos últimos dias e ela estava ansiosa para vê-lo de
novo. Eu não tinha sido apresentada ainda, não me lembrava do
rapaz na festa, até porque o lugar estava lotado, mas babei na foto
que Leslie me mostrou ao entrar numa rede social e procurar pelo
perfil do jogador.
Preparava-me para deixar a biblioteca quando recebi uma
mensagem de texto e vi o apelido de Logan na notificação.

Oppa: “Acabei de ver um arco-íris e me lembrei de você. Como


está, Zozo?”

Para ser ainda mais perfeito, ele realmente encaminhou uma


selfie
que mostrava o clima chuvoso e um arco-íris ao fundo, bem
atrás da sua cabeça.

Zoe: “Que lindo e fofo!”

Oppa: “Fiquei confuso. Está falando de mim ou do arco-íris?”

Zoe: “Acho que dos dois...”

Zoe: “Talvez seja melhor avisar que vi o Ryan hoje. Ele me abordou
na rua e veio com um papo de me dar carona até em casa, mas
consegui despistá-lo. Acha que está desconfiado de alguma coisa?”

A resposta de Logan demorou um pouco mais para chegar,


mas eu podia ver que ele estava digitando de forma interminável.
Ou me mandaria um textão ou estava escrevendo e apagando. Por
fim, ela chegou.
Oppa: “Por um momento, pensei que poderia ser isso, mas acho
que ele está dando em cima de você.”

Zoe: “Ele deve querer muito que você perca a aposta.”

Oppa: “Não é por isso. Ryan realmente ficou impressionado com


sua transformação e sabe que não pode ter você porque não vou
permitir que interfira. Mas ele ama desafios e não aceita que uma
mulher pode não se interessar por ele.”

Zoe: “Eu não me interessaria mesmo que a aposta não existisse.”

Oppa: “Tenha cuidado com ele, ok? Hoje à noite estarei de volta.”

Dei uma olhada no relógio e conferi que Logan competiria dali


a duas horas. Tirei uma selfiefazendo coração com os dedos no
famoso estilo dorameiro de ser e enviei para ele, com a seguinte
mensagem:

Zoe: “Boa sorte, oppa! Traga uma medalha pra casa!”

Joguei o celular dentro da mochila e deixei a biblioteca quinze


minutos depois de ter entrado para fugir de Ryan. Para o meu alívio,
não havia nenhum vestígio do rapaz e pude ir embora com
tranquilidade e o coração transbordando de alegria por ter falado um
pouco com Logan.
Ao chegar em casa, aproveitei que Leslie não estava e fiz uma
faxina por todos os cômodos, inclusive o quarto do irmão dela. A
gente vinha se revezando para manter tudo limpo, mas com os
horários que divergiam, percebi que estávamos jogando a
responsabilidade um para cima do outro.
Coloquei minha playlist
favorita para tocar bem alto e comecei
os trabalhos pela sala. Cantei com vontade quando “FAKE LOVE”,
do BTS começou a tocar, dessa forma eu nem sentia o tempo
passar e nem parecia que estava fazendo algum esforço. Eu me
sentia incrível cantando as partes do J-Hope e do RM e era uma das
performances que eu mais gostaria de ver ao vivo.
Nunca tive a oportunidade de ir a um show deles, mas
sonhava e acreditava que esse dia chegaria. Meu coração de
army[17] dizia que eu conseguiria vê-los de perto uma vez na vida e
que poderia gritar com os pulmões bem cheios cada letra de suas
músicas.
Por volta das cinco da tarde, quando eu já tinha terminado tudo
e acabado de tomar um banho, minha melhor amiga entrou
correndo em casa, pedindo ajuda para escolher uma roupa, pois iria
se encontrar com Mark. Parece que ele resolveu convidá-la para
sair e comer alguma coisa, então Leslie estava toda louca e
apressada, pulando até o banheiro com a calça embolada nas
pernas.
— Preciso tomar banho, arrumar os cabelos, fazer make,
escolher a roupa ideal... E ele vai passar aqui em meia hora. Meia
hora, Zoe!
— Que tal ir pro banho enquanto eu separo os itens de
maquiagem que você mais usa e vejo alguns looksem potencial?
Ela assentiu, andando pelada pelo corredor até se trancar no
banheiro e começar a cantar. Fui abrir o guarda-roupas dela e dei
uma olhada pelos cabides, pois apesar de não termos o mesmo
estilo para nos vestir, eu conhecia bem minha amiga para saber o
que gostaria de usar em seu primeiro encontro com um boy gato.
Separei dois vestidos de tecidos mais grossos porque estava
frio lá fora. Um era de lã, preto de mangas longas e uma abertura
sexy na altura das costelas, o outro era de veludo, num tom lindo de
marsala, sem mangas mas com uma gola alta elegante. Leslie
ficava linda com qualquer coisa que vestia, mas adorava quando ela
usava cores fortes que contrastavam com sua pele muito mais
branca do que a minha.
Com qualquer um daqueles vestidos o seu sobretudo preto
com pelinhos nas mangas combinaria e, para incrementar o look,
um par de botas que minha amiga amava.
Ela saiu do banho em oito minutos, um tempo recorde para
Leslie Choi, e quando entrou no quarto, passou os olhos pelas
roupas sobre a cama e apontou para a opção de veludo. Em
seguida, já se sentou de frente para a escrivaninha que adaptamos
como penteadeira e começou a preparar a pele para se maquiar.
— Acho que estou com dor de barriga, Zozo.
— Acho que é normal — respondi ao me sentar na cama e
observá-la. — Eu me sinto assim toda vez que Logan chega muito
perto de mim.
— Ele é tão lindo!
— Seu irmão? É mais do que lindo.
— Quê? — Leslie me encarou pelo espelho, fazendo uma
careta. — Não, né? Estou falando de Mark.
Ah. Sim, entendi. Apenas sorri para ela e me deitei, encarando
o teto e pensando em como devia ser legal sair para um encontro de
verdade, com alguém de quem estivesse a fim.
— Você acha que me declarar pro Logan pode complicar muito
a minha vida? — perguntei, enrolando meus dedos em meus
cabelos. — Quase fiz isso no sábado, num momento de insanidade.
— Por mais que eu sempre torça por você, acho que meu
irmão pode não estar na mesma vibe. — Leslie encolheu os ombros,
passando corretivos de três cores diferentes no rosto. — O que vai
fazer se ele chegar com aquele papo de “você é como uma irmã pra
mim, Zoe”?
— Provavelmente me mudarei para Seul e nunca virei te
visitar.
Estava deitada na cama dela, então puxei um de seus
travesseiros e o abracei, me sentindo desolada. Queria tanto viver
um romance inesquecível durante a faculdade e fui me meter logo
numa confusão sobre apostas e namoros falsos, justo com o garoto
por quem arrastava meu corpo inteiro.
Fechei os olhos, cantarolando “AllNight
”, do ASTRO, feliz por
ter insistido anos atrás para meus pais me deixarem fazer aulas de
coreano. Quando iniciei minha febre pela cultura deles e por k-pop,
queria aprender o máximo que conseguisse. Conviver com a família
Choi me possibilitava entender muita coisa, mas fazer um curso de
idiomas era outro nível. Não me considerava fluente, mas Leslie e
Logan jamais poderiam me xingar em coreano sem que eu
escutasse e compreendesse.
Depois que fiquei sozinha em casa, tirei um tempinho para
pesquisar uns linkspara um trabalho que faria no final de semana e
fui para o sofá da sala, assistir alguns episódios de “Pousando no
Amor”, uma série que eu amava.
Eu não estava me sentindo cansada quando sentei para iniciar
minha maratona da noite, mas talvez o esforço causado pela faxina
tenha feito com que eu apagasse em algum momento, sem
perceber. Devo ter cochilado por bastante tempo e de forma muito
pesada, pois quando abri os olhos, minha cabeça estava em cima
de algo macio demais. E cheiroso.
— Sempre baba quando está dormindo?
Eu só conseguia enxergar tudo preto e bastou piscar um pouco
para a minha visão focar melhor e eu perceber que estava no colo
de alguém, com o rosto virado para a barriga da pessoa. Não
qualquer uma, mas simplesmente Logan. E antes que eu pudesse
dar um pulo e me afastar para recuperar meu orgulho, o filho da
mãe tocou o cantinho dos meus lábios e foi deslizando o dedo pela
minha pele. Acho que ele estava mesmo enxugando a minha saliva.
Não consegui evitar me aproximar quando vi Zoe dormindo
sentada no sofá com a cabeça caída para o lado e a boca aberta.
Passei as últimas três horas dentro do ônibus com a equipe de
natação, pensando se conseguiríamos conversar um pouco quando
eu chegasse, visto que desde sábado não tivemos tempo para isso.
Então, quando entrei em casa e a encontrei ali, fui atraído até
me sentar ao lado dela e puxá-la para deitar a cabeça em minhas
pernas. Passava um dorama qualquer na televisão e eu peguei o
controle para escolher algum filme quando recebi uma resposta de
Ryan.
Tinha ficado puto com ele mais cedo, quando Zoe me contou
sobre ter sido abordada naquela manhã e, antes de ir competir,
mandei mensagem perguntando por que estava atrás da garota. Eu
o conhecia e entendia seu joguinho, não era pela aposta, sabia que
o jogador de basquete adoraria acrescentar mais uma em sua lista
de conquistas, principalmente porque assim ele encontraria um jeito
de mostrar que conseguia pegar o que era meu.
Reli novamente a mensagem que enviei horas antes e, em
seguida, a resposta dele.

Logan: “Fiquei sabendo que encontrou Zoe no campus hoje e achei


bem curiosa essa coincidência. Não brinque com ela, Ryan!”

Ryan: “Eu só estava passando pela rua e foi impossível não


reconhecer a única pessoa que conheço, que possui cabelos tão
coloridos. Fui cavalheiro, só isso.”

Ryan: “Você está com ciúmes, Logan? Não era para ser apenas
uma aposta?”

Encarei o rosto tranquilo de Zoe, que dormia de lado e deixava


escorrer um filete de baba por sua boca, na direção da minha calça.
Nunca seria só uma aposta porque ela era alguém especial para
mim, coisa que meu amigo nunca saberia.

Logan: “Só acho que não é preciso sacanear com ninguém. A


garota é inocente nessa história e se você tentar fazer algo que a
magoe, vou cair fora da aposta.”

Ryan: “Como foi a competição?ocê V ganhou? Estou te achando


muito irritado. Eu não fiz nada! Não tenho culpa de ter achado Zoe
gostosa. Ela nos enganou no primeiro dia, com aquelas roupas
ridículas. Quem podia imaginar que tinha aqueles peitinhos?”
Respirei fundo, desliguei o celular e o joguei no sofá para não
me estressar ainda mais. Por mais que Zoe soubesse de tudo, ela
era mesmo inocente e Ryan, muito malicioso. Se ele tentasse
passar por cima de mim e eu precisasse escolher de qual lado ficar,
não tinha dúvidas de que acabaria com uma amizade.
Observei o semblante calmo e corri meus olhos pelo corpo
delicado, esticado no sofá, vestido com um de seus conjuntos de
moletom habituais. O da vez era lilás e devia ser uns três tamanhos
acima do dela, de tão enorme que ficava. Nos pés, meias com
estampa de bichinhos. Na cabeça, cabelos amarrados em um rabo
de cavalo que pedia socorro de tão semelhante a um ninho de
passarinho.
Podia ser loucura, mas senti saudade daquela garota. Estava
observando uma nova gotinha de baba escorrer de sua boca
quando os olhos verdes se abriram sonolentos. Levaram alguns
segundos para que se situasse, percebi que não tinha se dado
conta de onde estava nem com quem.
— Sempre baba quando está dormindo?
Minha pergunta foi suficiente para que Zoe virasse o rosto e
me enxergasse bem ali. Estiquei minha mão e sequei o filete de
saliva que tinha se acumulado, sentindo os lábios macios que eu
provara anteriormente.
Quando o choque finalmente passou, a colorida se sentou
depressa, tentando ajeitar os cabelos sem muito sucesso e se
virando de frente para mim.
— Por que não me acordou? — perguntou, franzindo a testa e
passando as costas da mão pela boca.
— Não quis perturbar seu sono — respondi, sorrindo
tranquilamente. — Estava até pensando em levá-la no colo até seu
quarto.
Zoe dobrou as pernas, parecendo se retrair com minha fala,
mas manteve o olhar sobre mim. Sua sobrancelha desenhou um
arco bonito quando a garota se curvou um pouco para a frente e
franziu os lábios.
— E então? Ganhou?
Encolhi meus ombros, me fingindo de desentendido.
— Hm, não sei. — Sorri em provocação. — Quer tentar
descobrir?
— O que isso significa? — Zoe perguntou com a testa franzida,
olhando para o meu corpo. — Ganhou alguma coisa ou não
ganhou?
Estiquei meus braços pelo encosto do sofá e suspirei
lentamente, erguendo meus olhos na direção do teto e mantendo
um sorriso no rosto.
— Só há uma maneira de descobrir se ganhei alguma coisa —
comentei e esperei que Zoe matasse a charada.
Ela gastou alguns segundos me encarando com um semblante
bem confuso e cheguei a cogitar que a brincadeira não daria em
nada. Mas então, de repente, a garota se ajoelhou no sofá e se
aproximou mais, trazendo as mãos pequenas até meu peito. Estava
vestindo uma blusa grossa de mangas compridas por cima de uma
camiseta de algodão, portanto, Zoe teve alguma dificuldade de
sentir a medalha, apesar de ter percebido que estava ali.
Ela proferiu um xingamento em coreano e guiou os dedos
gelados até a barra da primeira blusa, levantando-a para tatear até
encontrar a de baixo. Quando finalmente tocou meu abdômen, senti
um arrepio forte me atingir, mas ela nem percebeu, tamanha era a
ânsia de ver a medalha.
Permiti que levantasse toda a minha roupa até expor meu peito
para que pudesse verificar o metal dourado do primeiro lugar, e
testemunhei o sorriso orgulhoso aparecer em seu rosto.
— Que linda! — murmurou, passando os dedos pela medalha
e a segurando. — Parabéns por ganhar mais uma, oppa.
— Obrigado.
Zoe a soltou devagar ao mesmo tempo em que seus olhos
foram se desviando do prêmio e passeando pelo meu tórax. Ela até
que demorou a se dar conta do que estava fazendo, mas quando
percebeu, puxou as mãos com pressa e voltou a se sentar, se
virando de frente para a televisão.
Levantou-se, ajeitando a roupa e desfazendo o rabo de cavalo
para arrumá-lo enquanto se dirigia para a cozinha.
— Quer comer alguma coisa? — perguntou. — Ainda não
jantei, nem sei por quanto tempo dormi.
— Quero — respondi e segui Zoe, pensando no que podíamos
preparar que fosse rápido. Mas então, senti falta da presença da
minha irmã, porque era estranho que ela não quisesse saber se
ganhei ou não. — Onde está Leslie?
— Ah... — Zoe coçou o pescoço e desviou o olhar. — Ela saiu.
Foi a um encontro.
No meio da semana? A filha da mãe se aproveitou de eu não
estar presente.
— Com quem?
— Mark alguma coisa — disse, pegando uma panela no
armário e encolhendo os ombros. — Deixe que Lee conte isso pra
você, não quero me meter em problemas de irmãos.
— Você o conhece?
— Só por foto.
Encostei-me na bancada, prestando atenção nos itens que Zoe
pegava e colocava ao lado do fogão. Ela tinha ligado o modo
automático e mal prestava atenção em mim, então era um bom
momento para coletar algumas informações importantes.
— Leslie é muito pegadora? — indaguei, com medo da
resposta. — Ela... Nem sei como perguntar isso, mas... Você sabe
se ela se protege? Sexualmente, eu quero dizer. Com preservativos.
Zoe parou o que estava fazendo e congelou seus movimentos,
arregalando os olhos ao virar o rosto na minha direção. Isso era
ruim, certo? Era uma péssima reação. Significava que ela não tinha
respostas positivas para me dar.
— Não me olhe assim — pedi, suspirando e sentindo minha
cabeça doer. — Ela é muito nova, droga. Se não posso controlar
com quem dorme, pelo menos preciso ter certeza de que está se
cuidando. — A garota ao meu lado pressionou os lábios e alongou o
pescoço, parecendo incomodada. — Isso serve pra você também.
Não são só as doenças, mas uma gravidez indesejada não é legal
na sua idade.
— Ah, para com isso! — Zoe resmungou, apertando a testa e
se virando para mim com o rosto vermelho. — É mentira isso, ok?
Eu sou virgem, não preciso receber sermão sobre o uso de
camisinhas. Muito menos de você.
Abaixou a cabeça depois do rompante e suspirou, pegando
uma faca e começando a cortar uma cebola. Processei a informação
recebida, me sentindo meio surpreso e meio aliviado. Em parte, eu
sentia que havia muito mais naquela ingenuidade e timidez de Zoe
do que apenas uma questão de personalidade, mas não cogitei que
Leslie pudesse ter inventado coisas.
— Por que mentiu?
— Eu nunca menti — disse. — Só não desmenti sua irmã. Ela
inventou aquela história pra que você não ficasse pegando no nosso
pé.
Lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Zoe, que fungou
e usou a manga do casaco para tentar secar o rosto. Observei
enquanto continuava o corte preciso da cebola em pedaços bem
pequenos e me aproximei para usar minha própria blusa e ajudar no
processo de alívio dos olhos que queimavam.
— Agora talvez você entenda porque eu te chutei — murmurou
baixinho sem me olhar. — Desculpa de novo.
— Não tem problema. Agora eu sei quais são os seus limites.
— Alisei seus cabelos, tentando demonstrar que realmente não me
importava com o que tinha acontecido. — Vou tomar um banho e me
trocar, mas já aviso que vou querer comer o que quer que seja isso
que você pretende fazer.
Zoe assentiu e permaneceu em silêncio até que eu me
afastasse. Levei minhas coisas para o quarto, tirei minhas blusas e
peguei minha toalha para ir ao banheiro. Deixaria a preocupação
com Leslie de lado, tentaria dar a liberdade que queria, pois era
horrível descobrir que minha irmã precisou mentir para mim, por
medo de ser controlada. Eu era ciumento sim, admitia esse meu
defeito, mas não chegava ao ponto de ser insuportável, não era
minha intenção tornar difícil sua vida universitária.
Tomei um banho quente, vesti uma roupa confortável e voltei
para a sala, sentindo um cheiro muito bom de comida temperada.
Zoe estava cozinhando macarrão quando me aproximei do fogão
para espiar a panela e me lançou um olhar de aviso para que não
mexesse em sua obra de arte.
— Sexta-feira é aniversário do Mike, então devemos sair para
comemorar — falei para prepará-la. — Acho que pode ser um bom
momento para usar o vestido preto.
Peguei dois pratos no armário do alto e os deixei junto com os
talheres. Como estava passando por trás de Zoe naquela hora,
aproveitei e apertei sua cintura sem mal conseguir sentir alguma
coisa por baixo de tanto tecido.
A garota abafou uma risadinha discreta sem desviar a atenção
da panela onde mexia o molho de tomate, mas quando terminei de
dar a volta na bancada para ir até o outro lado, a flagrei me
observando.
— Não faça essas coisas enquanto eu estiver mexendo numa
panela quente — resmungou. — Posso me queimar.
— Por quê? Fica nervosa?
Ela revirou os olhos e empinou o queixo, virando o rosto para o
outro lado como se quisesse deixar claro que não me responderia.
— O seu amigo de quem mais gostei foi o Dylan — comentou
de repente, desligando o fogo. — Uma pena que deteste o Ryan.
Aliás, ele me dá medo.
Peguei a luva sobre a bancada e tirei a panela quente da mão
de Zoe antes que acontecesse algum acidente, despejando o
conteúdo na travessa que já estava separada para isso. Ela se
ocupou do macarrão e, alguns minutos depois, estávamos jantando
sua comida.
Sentados um de frente para o outro, não havia muita coisa
para fazer a não ser nos encararmos. Ou pelo menos, eu estava
encarando. Prestando mais atenção do que deveria na forma como
ela puxava a massa entre os lábios e na sujeira que, vez ou outra, o
molho fazia bem ali nos cantos de sua boca.
Engoli em seco ao me dar conta daquela idiotice, ciente de que
estava passando por problemas que precisavam ser resolvidos
urgentemente. Há quanto tempo eu não dormia com ninguém?
Desde que as meninas se mudaram?
— Preciso transar — declarei.
Não devia ter dito em voz alta, era só uma anotação mental a
ser feita. Zoe começou a tossir em desespero, batendo a mão
contra o peito e ficando cada vez mais vermelha, até que foi preciso
me levantar para socorrê-la. Primeiro, dei alguns tapas em suas
costas e, como não funcionou, coloquei em prática a manobra de
Heimlich até que finalmente se desengasgasse.
— Você está bem? — perguntei, inclinando-me ao seu lado e
alisando seu braço. — Me deu um baita susto agora, Zozo.
— Uhum — respondeu, quase sem voz, enxugando as
lágrimas que caíram. — Estou ótima.
Voltei a me sentar, receoso e preocupado, observando-a
mexer o garfo dentro do macarrão. Será que tinha entendido minha
frase como um aviso de que nós dois precisávamos transar? De que
forma eu poderia desfazer aquele mal-entendido?
Meus olhos ardiam enquanto eu encarava o teto por tempo
demais e me dava conta de que passei os últimos quarenta minutos
acordada. Era manhã de sexta-feira e estava muito ansiosa por ser
o dia de um novo encontro com os amigos de Logan, por isso, acho
que perdi meu sono antes do despertador tocar.
Até aquele momento, ainda ficava repetindo na minha mente
as lembranças da nossa conversa estranha na terça à noite. Aquele
papo sobre sexo, virgindade e camisinhas havia me deixado em
pânico e agora, toda vez que a gente se esbarrava pelo
apartamento, parecia que um letreiro acendia na minha testa porque
Logan ficava me olhando de um jeito muito estranho.
Ele tinha se explicado depois de soltar a informação de que
precisava transar, esclarecendo que não estava se referindo a mim.
Talvez tenha pensado que isso me deixasse aliviada, quando na
verdade, só me frustrava. Claro que Logan transava quando bem
entendesse, mas era decepcionante saber que mesmo com nosso
namorinho de mentira, ele ainda sentia vontade de estar com outra
garota além de mim.
Sem mover nada além da mão, apertei o botão do celular
quando o som irritante começou a tocar para me acordar e me
sentei na cama, desejando que aquele fosse um dia de final de
semana e eu pudesse ficar hibernando. Leslie ainda dormia quando
me levantei e me arrastei sem vontade até o banheiro para escovar
os dentes.
Em seguida, rumei até a cozinha, atraída pelo cheiro de café,
ainda esfregando meus olhos, quando estaquei ao encontrar uma
mesa bonita e um buquê de flores em cima dela. De costas para
mim estava Logan, de avental amarrado na cintura. Precisei me
beliscar para me certificar de que não estava sonhando e quando o
garoto se virou, o sorriso TOP 3 estava bem ali diante de mim.
— Bom dia para a nova garota HottestPrin! — disse, se
aproximando e pegando o buquê. — Você apareceu na posição 98
ontem à noite.
Demorei a processar o que ele dizia porque nunca na vida eu
recebi flores, e tinha um impacto ainda maior quando elas eram
dadas pelo cara de quem eu gostava. Segurei o buquê com os
dedos um pouco trêmulos e levantei o rosto para encarar Logan.
— Conseguimos o mais difícil, que é entrar na lista —
murmurou, alisando meus cabelos. — Daqui em diante é só
trabalhar sua popularidade.
— Ok. O-obrigada.
— Como está se sentindo? — perguntou, muito animado para
as sete horas da manhã.
— Com sono... — respondi, ouvindo a risada de Logan e
sentindo seu braço envolver minha cintura.
Eu ficava mole quando ele fazia isso e me grudava em seu
corpo de uma forma protetora. Fechei os olhos quando beijou minha
cabeça e fui surpreendida por dedos que resvalaram para dentro da
minha blusa e tocaram a pele em minhas costas. Eu não tinha
certeza de que Logie fazia de propósito ou se não se dava conta
disso, mas sua mão ficou ali, me alisando por uns segundos, até
que quando joguei meu rosto para o lado e o olhei, o doido me deu
um selinho.
— Não dormiu direito esta noite? — perguntou como se o que
acabara de fazer fosse muito rotineiro.
— Perdi o sono — respondi, com palpitações no peito.
Ele assentiu, sorrindo e observando meu rosto de um jeito
distraído, então me soltou e pegou o buquê que eu ainda segurava.
— Vou colocar as flores num vaso.
Murmurei um agradecimento e puxei uma cadeira para me
sentar à mesa e apreciar o café da manhã que ele havia preparado.
Coloquei duas torradas no prato e um pedaço generoso de bacon,
mas meus olhos foram atraídos mesmo para as panquecas lindas,
que eu comeria em breve. Eu poderia facilmente me acostumar com
aquele tratamento e fiquei pensando se Logan faria essas gentilezas
cada vez que eu subisse de posição na bendita lista. Se tivesse
essa confirmação, então me esforçaria o dobro para alcançar nosso
objetivo.
Quando Leslie se juntou a nós, ainda se espreguiçando, o
irmão dela não perdeu tempo antes de contar sobre a nossa
pequena vitória e minha amiga ficou muito empolgada. Me esmagou
dentro de um abraço ao me dar parabéns, mesmo que eu soubesse
que o mérito não era todo meu. O próprio Logan tinha explicado que
a lista levava alguns fatores em consideração, principalmente a
popularidade, e isso foi algo que adquiri simplesmente pelo fato de
ter beijado com o TOP 1 em público. Parecia ser quase implícitoque
a pessoa ao lado de Logan Choi fosse tão importante quanto ele, já
que o garoto perdia seu tempo dando atenção a ela.
— Você está arrasando! — disse Leslie ao se sentar do meu
lado. — Agora os caras vão cair aos seus pés.
— Não exagera — retruquei, prendendo o riso.
— Eu estou falando sério. Ontem mesmo, dois garotos vieram
me perguntar sobre você porque descobriram que eu era irmã do
Logie. — Minha amiga arqueou as duas sobrancelhas de um jeito
cômico. — E os dois eram gatos!
— Zoe não está disponível — declarou Logan com uma voz
áspera que não era comum a ele. — Temos que fingir estarmos
juntos para ganharmos a aposta.
Eu o observei se sentar na cadeira ao lado de Lee, com a
expressão dura, passando geleia numa torrada. Será que estava
com ciúmes? Nem que fosse só um pouquinho? Ou pensava
exclusivamente na aposta?
— Sei disso, Logie, mas quando tudo terminar, Zozo vai poder
aproveitar a popularidade e os boys que vão vir junto.
Ele suspirou e lançou um olhar de tédio em direção a sua irmã,
que não demonstrava se dar conta disso. Internamente, dei um
sorriso bem grande porque parecia mesmo que Logan estava
incomodado com aquele assunto. Uma garota podia sonhar, certo?
Não custava nada pensar que ele sentia um ciúme saudável e não
me queria perto de outros homens que poderiam ser concorrentes
em potencial.
Ok, Zoe, acorda pra vida. O objetivo do Logan é ganhar a
aposta e trocar de carro. Apenas isso.

Finalmente saí de dentro daquele automóvel que foi


contaminado com o perfume inebriante do meu oppa. Ele parecia ter
tirado a noite para ferrar de vez com o meu coração porque estava
mais lindo do que nunca, vestindo calça e blusa pretas com um
sobretudo branco que combinava com seus tênis.
Com minha sandália assassina, encarei com cuidado a
calçada à minha frente, que não era totalmente lisa, e suspirei com
pesar. Esperei Logan se aproximar e agarrei o braço dele para evitar
levar um tombo, caminhando sem pressa até o restaurante
escolhido por Mike. Eu me surpreendi quando soube que a
comemoração não seria num barzinho barulhento e fedido a cigarro
como os garotos costumavam se encontrar, mas sim num
restaurante.
Era um ambiente bonito e simples, não tinha nada de luxuoso,
mas sentia como uma evolução. Na mesa reservada, Eddie já
esperava com sua namorada, conforme Logan me contou, e ao lado
dele estava Mike e um rapaz que eu não conhecia. Para meu
desprazer, depois que cumprimentamos o aniversariante e nos
sentamos, o Ryan chegou, com seu sorriso petulante e olhar afiado,
escolhendo uma cadeira do meu lado.
— Então você é a Zoe. — A única outra garota da mesa sorriu
para mim de forma muito simpática, gostei dela imediatamente. — O
Eddie me contou sobre você e estava doida pra ver de perto esse
cabelo.
— Abby! — ele ralhou com ela e me direcionou um sorriso
sem-graça.
— O que foi? — A garota abanou a mão para o namorado. —
Não estou sendo grosseira, pelo contrário, eu amei o estilo dela. —
Então, virou o rosto para mim. — Você é linda e incrivelmente
estilosa. Queria ter coragem de fazer isso, porque sempre quis
pintar meus cabelos.
— Acho que não é algo que combine com qualquer pessoa —
disse Ryan ao meu lado, girando o corpo levemente para mim e
colocando um sorriso nos lábios. — Com Zoe, combina muito
mesmo. Nunca pensei que alguém pudesse ficar atraente com
cabelos coloridos.
Estava prestes a responder quando o rapaz se inclinou um
pouco e tocou minha coxa, dando dois tapinhas leves e muito
ousados para o meu gosto.
— Você é um exemplar único, Zoe.
Não consegui agradecer, nem mesmo contra a minha vontade,
porque algo nele não me deixava confortável. Mas pelo visto, nada
havia passado despercebido por Logan, pois a mão do meu oppa
veio direto para a minha outra coxa quando ele, de forma nada
discreta, puxou minha cadeira e a grudou ao lado da sua. Seus
dedos queimaram minha pele nua e ele realmente usou a mão como
uma garra, como se quisesse mostrar que não estava só a apoiando
ali.
Do outro lado, Ryan riu e voltou sua atenção às outras
pessoas na mesa. Engoli em seco, sentindo seu polegar fazer
movimentos circulares na minha coxa, me perguntando se ele
possuíaalguma noção do que aquele gesto causava em meu corpo.
Tentaria não pensar muito nisso e focar no jantar, pois a conversa
entre os amigos tinha engatado num assunto que eu desconhecia.
Logo chegou o Dylan, o mais fofo do grupo e com quem eu
mais tinha simpatizado, e não demorou para que eu notasse que ele
e Logan possuíam muito mais sintonia do que os outros.
Quando as bebidas chegaram e eu percebi que era a única,
além de Abby que estava grávida, a não poder acompanhá-los na
cerveja, me senti frustrada. Meu acompanhante demonstrou ter
ciência disso quando apertou minha coxa num gesto reconfortante e
sorriu, me oferecendo a garrafa dele por um instante.
— Quer um gole?
Aceitei, bebendo do gargalo e o devolvendo, quando se
inclinou e beijou o cantinho da minha boca. Respirei fundo, evitando
virar o rosto para a frente e ver vários olhos sobre nós, pois tinha
certeza de que ele fez aquilo para chamar atenção.
Em resposta, decidi devolver a provocação e levei minha mão
até sua perna, descansando-a da mesma forma como a sua estava.
Imediatamente, Logie se empertigou todo e mordeu o lábio,
desviando o olhar para os talheres sobre a mesa. Não levou mais do
que cinco segundos para que pegasse em meus dedos com
delicadeza e os afastasse de sua coxa.
Não entendi aquela reação, mas não desisti e voltei a apoiar
minha mão sobre a calça preta. Logan me encarou fixamente,
voltando a afastar meu toque que nem era tão ousado quanto o
dele. Quis perguntar por que estava fazendo aquilo, mas não era
assunto para ser discutido diante dos seus amigos. Até porque Ryan
estava bem ao meu lado e não podia desconfiar dos problemas no
nosso paraíso.
Sendo assim, abri minha bolsinha e peguei meu celular,
digitando uma mensagem e a enviando para o número de Logan.

Zoe: “Por que você pode apoiar a mão em mim e eu não posso
fazer o mesmo com você?”

Quando ouvi o barulho do celular de Logan bem ao meu lado,


prendi a risada, porque ele pegou o aparelho com a maior inocência
do mundo e, quando viu que se tratava de uma mensagem minha,
me olhou com a sobrancelha arqueada.

Oppa: “Se você ficar excitada, ninguém saberá. Não posso falar o
mesmo de mim.”

Quase caí da cadeira com aquela resposta tão direta e até


olhei para o outro lado, com medo de que Ryan estivesse prestando
atenção. Porém, tudo indicava que nós dois estávamos num
mundinho particular que apenas nos pertencia, porque a conversa
na mesa continuava rolando normalmente.

Zoe: “Isso não é nem um pouco justo. E eu não faria nada que o
deixasse assim porque não sou louca.”

Logan sorriu ao encarar o telefone e meu coração deu uma


cambalhota.

Oppa: “Bobinha.”

Mas o que aquela droga significava? Bobinha? Sério?


Controlei a vontade de jogar meu refrigerante na cabeça dele e
larguei meu celular sobre a mesa, tomando o cuidado de desligar a
tela. Ia ignorar Logan, era a melhor solução para o resto da noite,
porque ele não podia me chamar daquele jeito e achar que estava
tudo bem.
Entrei na conversa, aproveitando que Abby estava relatando
alguns sintomas de sua gravidez e perguntei como foi quando ela
descobriu. A garota estava me contando em detalhes, numa
conversa que rolava paralelamente a outra na mesa, a respeito de
jogos universitários, quando senti a mão de Logan apertar minha
coxa com um pouco mais de pressão do que antes.
Meus olhos traidores o buscaram imediatamente e o garoto
sorriu satisfeito, com uma pose elegante e um olhar desafiador,
gostoso demais. Tomando coragem, tirei seus dedinhos abusados
de cima da minha perna assim como havia feito comigo e descansei
minhas próprias mãos em meu colo.
— Então, preciso saber. Vocês estão só ficando ou
namorando? — questionou Mike, com um sorriso travesso,
mexendo as sobrancelhas. — Porque eu nunca vi o Logan tão
carinhoso com uma garota.
— Não chegamos a rotular nada — respondeu meu objeto de
desejo, provavelmente adorando aquele momento para usar suas
cartadas. — Mas, por que não começar isso esta noite? — Ele se
virou para mim e sorriu. — Vamos oficializar o namoro, Zoe?
Toda a atenção em cima de mim e um silêncio perturbador
naquela mesa que não tinha se calado desde que chegamos. Eu
sabia que precisava ser convincente e agradar olhos e ouvidos, por
isso, estufei o peito, coloquei um sorriso enorme no rosto e mordi
meu lábio inferior esperando que parecesse charmoso.
— Achei que nunca fosse perguntar isso — murmurei,
balançando a cabeça. — E é claro que a resposta é sim.
— Se um dia o namoro terminar, me procure, Zoe. — Eu me
arrepiei com desconforto quando Ryan soltou a brincadeirinha,
tocando meu ombro.
Por cima da minha cabeça, vi Logan mirar o amigo de um jeito
nada agradável, mas segundos depois sorriu para mim e levou
minha mão até os lábios para beijá-la. A mesma mão, ele direcionou
até sua coxa sem me soltar, deixando-a descansar ali. Parecia
querer fazer as pazes e eu nem tive coragem de me mover, porque
seria hipócrita se dissesse que não tinha gostado do gesto.
Correu tudo melhor do que eu esperava naquele jantar, porque
com exceção de Ryan, os amigos de Logan não tornaram o
momento desconfortável. Na verdade, eles nem sequer pareciam
preocupados comigo, apenas tiveram uma noite regada a muita
conversa, brincadeiras e piadas, nada diferente do que eu
imaginava ser um bate-papo de homens.
Na volta para o carro, estava me abraçando dentro do meu
casaco enquanto seguia Logan pela calçada, pois ventava muito.
Ele me apertou contra o seu corpo pelos ombros quando nos
paramos diante do automóvel, levando alguns segundos para
destrancar as portas e abrir a do carona para mim. No entanto, eu
não consegui me sentar porque ele fez isso primeiro, tomando o
meu lugar no banco de forma displicente e, em seguida, erguendo o
rosto na minha direção.
Foram segundos que antecederam um dos momentos mais
loucos e incríveis da minha vida. Logie sorriu de um jeito bem
safado e envolveu meus quadris com um braço, puxando-me até
que eu caísse em seu colo toda desajeitada. Suas mãos vieram
parar em meu rosto e ele me beijou. Quando senti sua língua contra
a minha, meu estômago se afundou, e o meu corpo inteiro tremeu
em êxtase.
Era um beijo diferente e urgente, e eu retribuí como se o tempo
tivesse parado e pudéssemos ficar ali para sempre. Minha pele
esquentou e esqueci, por um momento, que a porta do carro tinha
ficado aberta. Só quando uma mão pesada se ocupou em me livrar
do casaco, eu me dei conta de que estávamos dentro do carro e
minhas pernas, penduradas para fora.
Logan estava rindo quando eu me mexi e me contorci para tirar
meu sobretudo de uma vez, porque ele realmente atrapalhava
bastante, mas ficou imediatamente sério depois que joguei o
agasalho no banco traseiro e me ajeitei em seu colo, ajoelhando
com uma perna de cada lado do corpo dele. Nem eu sabia de onde
tinha tirado coragem para isso, só tinha consciência de que
precisava aproveitar o momento.
Numa visão geral, até que me comportei muito bem esse
tempo todo, considerando que Zoe estava usando um batom que
atraiu meu olhar desde que apareceu arrumada esta noite. Era
complicado controlar a vontade de beijar na boca, agora que
conhecia o gosto e a textura dos lábios dela e sabia exatamente
como seu corpo reagia ao meu toque mais delicado.
Se não fosse essa merda de aposta, nunca olharia desse jeito
pra melhor amiga da minha irmã. Nem esperava que isso
acontecesse um dia, mas era tarde para ficar me culpando. Uma
vez que acende a primeira faísca, é difícil ignorar o tesão.
Agi por impulso ao puxá-la, mas estava morto de vontade de
dar um beijo que matasse minha sede, só não esperava que Zoe
fosse me surpreender, sentando sobre mim daquele jeito. Não que
eu fosse santo e nunca tivesse vivenciado umas belas putarias
dentro do carro, mas com ela, isso não havia entrado nos meus
planos.
— Sabe que estamos na rua e meu carro não tem película nos
vidros, né? — comentei quando se livrou do casaco, esticando o
braço e puxando a porta para fechá-la.
O certo seria esperar que respondesse, deixando claro que
estava ciente de tudo e que eu podia continuar. Mas o Logan que
era um bom rapaz foi substituído pelo Logan que não fazia sexo há
vários dias e estava com tesão incubado, por isso, não dei tempo
para que Zoe pensasse em nada. Apenas segurei seu rosto e o
puxei, beijando a boca macia e carnuda, enquanto deslizava minha
mão pelo vestido que ficaria todo amarrotado.
Apertei a cintura fina, massageando as curvas delicadas que a
garota possuía, ao mesmo tempo em que descia meus lábios por
seu pescoço e lambia o ossinho de sua clavícula.
O gemido baixinho que soltou apenas contribuiu para
aumentar minha ereção que não dava mais para controlar e quando
minhas mãos passaram pela curva de sua bunda, respirei fundo e
puxei o vestido com cuidado.
Puxei Zoe para a frente de forma que tivesse mais acesso ao
traseiro gostoso, sentindo seus dedos apertarem o tecido da minha
camisa. Ela recuou o rosto e fechou os olhos, sorrindo toda tímida,
mas não me pediu para que parasse.
— Quero saber se Leslie tinha razão sobre suas calcinhas —
comentei, brincando com meu dedo contra o elástico da lingerie
.
Os olhos verdes me encararam no carro escuro e, por causa
da pouca iluminação, eu não conseguia identificar se o rosto de Zoe
estava vermelhinho como sempre ficava. A garota, no entanto,
mordeu o lábio e inclinou o corpo para trás ao erguer a barra do
vestido só um pouquinho e mostrar a lateral de sua calcinha. Era
preta com vários corações amarelos, bem menininha, o que me
deixou com mais tesão por saber que não tinha mudado seu jeito de
ser. A maquiagem, o salto e a roupa sensual, tudo isso fazia parte
de um pacote do nosso teatro. Por baixo daquela grande máscara, a
Zoe Green de sempre ainda resistia.
Claro, não apenas isso, mas o fato de seu movimento ter me
permitido ver também uma parte do triângulo carnudo entre suas
pernas, também contribuiu para meu pau quase explodir dentro das
calças. O que estava acontecendo comigo, afinal? Tinha voltado a
querer gozar como um adolescente?
— Linda — murmurei, engolindo em seco, para mostrar que
gostei da lingerie
. — Fofinha como a dona.
— Não sei se isso é um bom elogio pra esse momento. — Zoe
abafou uma risada. — Acho que eu deveria parecer mais sexy...
Apertei de novo sua bunda e a pressionei contra a minha
ereção, estrangulando um gemido que queria sair pela minha
garganta. Mas estávamos em público, eu precisava me controlar e
nos tirar dali para não termos nenhum problema.
— Não foram as suas roupas que me deixaram assim — avisei
quando Zoe arfou em choque e baixou o olhar na direção de onde
nossos corpos se encontravam. — Pouco me importo com o que
está vestindo agora.
Ela espalmou as mãos pequenas em meu peito e me encarou
devagar, com os lábios afastados e sua língua deslizando pelo
inferior. Olhei ao nosso redor por um instante, notando que a
calçada começava a ficar mais movimentada por causa do horário
de maior saída dos restaurantes.
— Vamos para casa, ok? — falei, beijando Zoe na testa e
abaixando o vestido dela. — Levante-se para que eu saia.
Levou algum tempo para que obedecesse e saltasse do carro,
então, quando seu rosto ficou sob a luz de um poste, pude ver o
quanto ela estava deliciosamente vermelha. Minha mente pervertida
logo me enviou imagens idealizadas de uma Zoe pelada e toda
vermelhinha em outras partes do corpo.
Ajeitei minha calça e tentei disfarçar a ereção enquanto dava a
volta por trás do carro e entrei com pressa no meu lugar, dando logo
a partida no motor para irmos embora. Por um lado, torci para que
Leslie já estivesse em casa — minha irmã tinha saído com o tal do
Mark de novo —, mas por outro, a parte do Logan que não era nada
parecido com os mocinhos de doramas, esperava encontrar o
apartamento vazio.
Discretamente, eu peguei meu celular e mandei uma
mensagem para Leslie.

Zoe: “Amiga, se você me ama e torce por mim, por favor


, não esteja
em casa quando chegarmos. Ou então se tranque no quarto e finja
que está dormindo.”

Lee: “O QUÊ? NÃO ME CONTA AS COISAS DESSE JEIT


O, ZOE!”

Lee: “Onde estão? Vai rolar sexo? Ah, meu Deus, você por acaso
está depilada? Amiga, eu me lembro de ter visto uma mata atlântica
entre as suas pernas semana passada.”

Lee: “Ainda estou na rua, estamos esperando a conta, mas vou dar
meu jeito. Boa sorte!e Tamo! Pega meu irmãoooooo! Ai meu Deus,
você vai dar!”
Lee: “Você está proibida de me falar sobre o pau dele. Eu não quero
saber!”

Gargalhei alto porque podia imaginar os gritos que Leslie daria


se estivéssemos conversando cara a cara. Isso chamou a atenção
de Logan, que ao parar num semáforo vermelho, virou o rosto e me
encarou com curiosidade.
— O que foi?
— Nada — respondi, apertando o celular contra o peito. —
Acabei de ler... uma piada.
— Quero ficar por dentro também. — Ele esticou a mão e eu
gritei, sentando em cima do aparelho. — O que a senhorita está
escondendo de mim?
— Se você ousar pegar meu telefone, tenha em mente que eu
nunca mais vou olhar na sua cara.
Logan franziu os lábios e fez uma careta engraçada antes de
erguer a mão direita, demonstrando desistir de seu plano. De forma
alguma eu permitiria que ele lesse aquela conversa constrangedora,
preferia me jogar para fora do carro em movimento. O garoto
apenas riu, voltando sua atenção para a direção, e eu peguei meu
celular de volta, fechando o aplicativo de mensagens.
Leslie tinha exagerado, pois em nenhum momento eu falei que
pretendia perder a virgindade naquela noite. Mesmo assim, se fosse
para acontecer, estava preparada porque tinha renovado minha
depilação dois dias antes. Eu nem fazia isso pensando em sexo,
mas porque detestava os meus pelos grossos e preferia sentir a
pele lisinha.
Guardando o aparelho na bolsa, virei o rosto e observei Logan
dirigir em silêncio, concentrado. Sempre o achei tão elegante com
aqueles traços perfeitos, a postura impecável, a forma contida como
costumava se portar, fazendo parecer que era a pessoa mais
controlada do mundo. Agora, conhecia um outro lado dele e de seu
corpo... A forma como fazia parecer que eu era fraca quando me
apertava nos braços, a línguasafada que me deixava arrepiada com
facilidade e o volume que senti dentro deste carro. Coisas que
nunca pensei que fosse experimentar com Logan estavam
acontecendo numa velocidade acelerada e eu nem sabia como
administrar tudo.
Ele me flagrou olhando em sua direção e sorriu, esticando a
mão até meus cabelos. Ajeitei-me no banco, sem saber como seria
quando chegássemos em casa. O clima tinha esfriado? Logan
pretendia continuar de onde paramos?
— Gostaria muito de saber o que tanto pensa — confessou,
voltando a mão para o volante.
— Eu digo se você disser primeiro.
— Eu? — Logan sorriu, prendendo o cantinho do lábio inferior.
— Estou pensando se devo te levar pro meu quarto ou isso é muito
errado.
Abri e fechei a boca em choque, porque não esperava que ele
dissesse nada tão direto assim. Achei que fôssemos fazer
joguinhos, flertar um pouco, mas não que havíamos passado dessa
fase.
Logan virou o rosto por um segundo na minha direção e
arqueou a sobrancelha ao voltar a encarar o para-brisa.
— Pela sua cara, acho que é errado — murmurou, estalando a
língua, mas parecendo se divertir.
— Minha vez... — falei, respirando fundo. — Estava pensando
se você ia continuar de onde parou quando chegarmos em casa.
— Quer que eu continue?
Eu nem tive tempo de responder porque entramos no
estacionamento do prédio assim que Logan me fez a pergunta. Sem
pressa, ele desligou o motor do carro, girou um pouco o corpo e
trouxe o braço até o encosto do meu banco. Seu olhar intenso foi
suficiente para me arrepiar da cabeça aos pés.
— Você sabe que o que aconteceu nesses últimos minutos
não tem nada a ver com a aposta — declarou, alisando meu queixo
com o dedo indicador. — Preciso que estipule seus limites, Zoe. Não
podemos tornar nossa relação desconfortável porque você é
importante pra mim.
Precisei desviar o olhar porque Logan era muito intenso.
Apertei minha bolsa em meus dedos, digerindo tudo o que ele
acabara de dizer e tentando montar as palavras da melhor forma
possível em minha cabeça, para poder responder suas dúvidas. O
frio na barriga me consumia, mas fui firme no que sentia e queria
passar.
— Acho que me sinto estranha tendo que dizer o que quero ou
não fazer. — Encolhi os ombros, encarando minhas pernas. — Não
consigo ser tão direta como você. Eu só... — pigarreei, sentindo-me
um pouco tosca. — Gostei do que aconteceu e queria repetir.
No estacionamento escuro, Logan se inclinou para bem perto e
trouxe a boca a alguns centímetros da minha, mantendo uma
expressão séria no rosto.
— Vou facilitar a sua vida — disse, piscando. — Beijos estão
liberados? — Assenti. — E o que acha de mãos examinando o
corpo? — Sorri, chegando minha cabeça um pouco para trás para
olhá-lo melhor.
— Ok.
— Inclusão de boca, língua e dentes?
— Depende... — Ele lançou um sorriso safado. — Como você
consegue ser tão cínico?
— Roupas no chão do meu quarto?
Minhas pernas amoleceram por um instante e senti meu corpo
inteiro esquentar com o olhar de Logan. Mas não consegui ficar
séria porque parecia muito louco discursar sobre um pré-amasso
como se existissem regras a seguir.
— Você está falando muito e fazendo pouco — soltei,
provocando-o, porque queria encerrar o assunto.
Logan, entretanto, deve ter encarado como um desafio, pois
arqueou uma sobrancelha bem no alto e assentiu, se afastando,
tirando a chave da ignição e pegando sua carteira no console do
carro.
— Vamos entrar — declarou, saltando do veículo depressa.
Eu o segui, com meu estômago se contorcendo, minha pele
queimando e minha calcinha ensopando. Ele mal esperou que eu
chegasse perto para pegar minha mão e me rebocar pelo caminho
até a entrada do prédio. Seus dedos se entrelaçaram aos meus e eu
me questionava se o que disse o chateou, quando falou, assim que
entramos no elevador:
— Estou ansioso pela sua performance. Deve ter muita
surpresa vindo por aí, senhorita ‘fale menos e faça mais’.
— Não foi isso que eu quis dizer. — Ri, apertando o braço
dele.
— Ah, mas foi o que eu entendi. E vou cobrar assim que
estivermos a sós.
Senti que minha mão começou a suar sem acreditar em todas
aquelas promessas que estavam sendo ditas, além das silenciosas.
Quando chegamos ao nosso andar e ele abriu a porta, entrei com
pernas leves e bambas. Nunca na vida fiquei mais nervosa do que
estava naquela noite e temi não aproveitar o momento como
merecia, por conta de toda a insegurança.
A fechadura foi trancada e Logan me soltou, conferindo o
apartamento e caminhando até meu quarto. Ele ficou parado de pé
diante da porta aberta, com um sorrisinho no rosto, ciente de que
estávamos a sós. Então, dali de onde estava no meio do corredor,
esticou a mão para mim.
Sonhei tanto com uma situação como aquela, várias noites
acordando suada depois de me iludir com um Logan apaixonado.
Ou até mesmo os sonhos que tive ainda acordada, observando o
garoto nadar, decorando seus sorrisos e me perguntando como era
seu toque. Agora que podia viver tudo aquilo de verdade, sentia-me
com os pés presos ao chão e um nó horrível na garganta.
Para ele seria apenas uma noite interessante e diferente, uma
experiência nova ao ficar com a amiga da sua irmã. Para mim,
envolvia sentimentos profundos e antigos e eu me vi amedrontada,
com receio de não saber lidar com nada daquilo no dia seguinte.
— O que foi? — perguntou ao vir me buscar no meio do
caminho e apertar meus dedos. — Estava brincando sobre o que
disse no elevador, Zozo. Não espero nada além de você mesma.
Eu me estiquei totalmente até alcançar a boca de Logan e o
beijei, sem pressa, deixando que esquentasse meu corpo e
envolvesse minha cintura. Meus pés se afastaram do chão quando
ele me puxou um pouco para cima ao ajeitar a postura, chupando
meu lábio inferior enquanto eu passava minha língua pelos seus.
Apesar de manter os olhos fechados, conseguia perceber que
estávamos nos movendo, o que significava que Logan andava de
costas na direção de seu quarto, visto que tinha deixado claro que
pretendia usar o lugar. Apertei meus braços em volta do pescoço
cheiroso e afundei meu rosto em seu peito quando me desceu ao
chão para fechar a porta.
— Estou com medo — admiti, percebendo minhas mãos
trêmulas.
— De mim? — perguntou ele, sem me soltar, mas me
inclinando para trás de forma que pudesse me encarar. — Zoe, não
precisa acontecer nada. Não é porque nos beijamos mais cedo, que
você é obrigada a continuar.
— Não é isso. — Espalmei minhas mãos no peito dele,
sentindo meus olhos arderem de repente. — Tenho medo de me
machucar porque... eu gosto de você, oppa. Há muito tempo. Não
do mesmo jeito que você gosta de mim, creio eu, porque você está
enxergando a Zoe da aposta. — Fechei meus olhos quando a
expressão de Logan se transformou em choque. — Não deveria
contar isso agora, mas estava me sufocando e esse é um passo
muito grande... Eu sou romântica...
Como se eu assistisse tudo em câmera lenta, os olhos de
Logan piscaram várias vezes e sua boca abriu para que ele
dissesse algo, mas rapidamente se fechou e o garoto engoliu em
seco. Suas mãos me soltaram quando as levou até o próprio
pescoço, esfregando-o devagar, sem desviar o olhar. Imaginei que
sua mente estivesse trabalhando numa boa resposta, algo que não
me magoasse, porque sabia que teria cuidado comigo.
— Por que você não toma um banho, troca de roupa e fica
mais confortável? Venha pra cá depois e então conversaremos.
Não era nem de longe o que eu esperava ouvir, mas não foi
tão ruim. Pelo menos, Logan não saiu correndo nem soltou
nenhuma risada da minha confissão. De qualquer forma, sentia meu
peito muito mais leve já que não havia mais nenhum segredo para
guardar. Eu contei e ele podia fazer o que quisesse com aquela
informação.
Por isso, recuei e concordei com o seu pedido, indo para o
meu quarto e pegando meu celular na bolsa. Digitei uma mensagem
rápida para Leslie antes de pegar minha toalha e ir para o banheiro.

Zoe:“Alarme falso, amiga. Pode vir pra casa, ok? Fiz besteira.”

Usei os minutos durante o banho para chorar só um


pouquinho, me sentindo um pouco frustrada ao mesmo tempo em
que meu coração ainda batia acelerado por conta de cada parte
daquela noite. Não podia reclamar, tinha vivido coisas legais e parei
a tempo de afundar muito na areia movediça e não conseguir me
salvar depois. Se minha relação com Logan continuasse a mesma
de antes da aposta, eu guardaria esses momentos na lembrança e
poderia revisitá-los sempre que quisesse. Um dia, conseguiria
superá-lo. Tinha fé nisso. Ele não era insubstituível,nenhum homem
devia ser.
Estava apavorado, era a verdade. O tempo em que Zoe se
ausentou para tomar banho quase me fez ir à caça de um saco
onde pudesse respirar e tentar me acalmar. Como assim ela
gostava de mim há algum tempo? Será que bebi demais no jantar e
estava imaginando coisas? Ela tinha mesmo acabado de se declarar
para mim?
Sentei-me na cama e encarei meus pés, sem saber o que
fazer a seguir. Por mais que tivesse suspeitado uma vez ou outra
nos últimos dias, de que Zoe agia de um jeito estranho, não cheguei
a cogitar que envolvesse sentimentos antigos. Sua timidez ajudou-a
a disfarçar bem porque realmente nunca percebi nada.
— Porra! — Deitei de costas na cama e fechei os olhos,
tentando relaxar.
Aquela confissão mudava absolutamente tudo. Não podia
correr o risco de magoá-la e partir seu coração porque eu mesmo
mataria qualquer filho da puta que brincasse com os sentimentos de
Zoe. Descobrir que o babaca em questão podia muito bem ser eu,
me causava muita confusão.
Queria curtir o momento, isso ficou óbvio para mim esta noite.
Gostei de ter a garota em meus braços, de sentir seu gosto e ser o
alvo daqueles olhos verdes curiosos, mas até onde estava disposto
a me arriscar? Não sabia se podia retribuir o que ela sentia, mesmo
que eu ainda não soubesse exatamente o que era e qual a
intensidade disso. Zoe era linda, a gente se dava bem, ela amava
minha famíliae eu amava seus pais, não seria nenhum esforço tê-la
ao meu lado, mas agora eu sabia que não estávamos mais na
mesma página.
Não me lembrava da última vez em que me apaixonei por
alguém, talvez tivesse sido no primeiro ano do colegial. Acho que eu
possuía uma certa dificuldade de desenvolver laços mais estreitos
com uma garota, pelo menos, nunca aconteceu e não era algo pelo
qual eu buscava.
Abri os olhos e virei o rosto para olhar pela porta, que tinha a
visão do corredor. Vi o momento em que ela saiu do banheiro e
cruzou o caminho para entrar em seu quarto, então me levantei e fui
tomar meu banho também. Tentei ser bem rápido e não demorei a
me vestir, aproveitando para mandar uma mensagem para minha
irmã, querendo saber onde estava. Passava das dez da noite e eu
não estava preparado para ver minha caçula dormindo fora de casa.
Tinha colocado meu telefone para carregar quando Zoe
apareceu na minha porta e se encostou nela.
— Quer mesmo conversar? — perguntou baixinho.
Agora a garota vestia uma calça de moletom branca e uma
camiseta da mesma cor, enorme e com o rosto de um coreano
estampado nela, em tamanho gigante. Os cabelos coloridos
estavam soltos, mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de
ainda estar maquiada.
— Tem que ser muito corajosa pra se declarar pra mim e vir
esfregar esse feioso na minha cara — murmurei ao tocar a barra de
sua blusa. — Quem é esse?
— Taehyung... — sussurrou. — Ou só V.
— E por que não lavou o rosto?
Zoe encolheu os ombros e deu um sorriso fofo.
— Queria manter um pouco da dignidade — respondeu,
tocando com delicadeza em suas bochechas para conferir a make.
— Leslie caprichou hoje.
Ela realmente ficava linda com os olhos maquiados, não dava
para ignorar esse fato, mas eu tinha um ponto a provar e precisava
agir. Portanto, peguei Zoe pela mão e a levei até o banheiro,
colocando a garota de frente para a pia e parando atrás dela.
Seus olhos procuraram pelos meus através do espelho e podia
perceber que tinha ficado confusa.
— Você está em casa, é quase hora de dormir e só estamos
nós dois aqui — falei, puxando o elástico que havia ao redor do seu
pulso e dando um jeito de prender seus cabelos, mesmo que um
pouco desajeitado. — Livre-se disso, Zoe.
Dei espaço para que pudesse se curvar e fui esperar na porta,
observando o processo. Era interessante acompanhá-lo, porque
geralmente o homem estava só acostumado a encontrar a mulher já
produzida ou já com a cara lavada. Não era comum ver o momento
em que tudo é retirado, a forma como a pele fica uma confusão só
com o sabonete espalhado e a dificuldade para limpar o rímel dos
cílios.Parecia tudo extremamente trabalhoso e me fez perceber que
devia valorizar ainda mais o tempo que perdiam se arrumando para
nós.
Dez minutos depois e muitos produtos de skincareutilizados
na pele de bebê que Zoe tinha, finalmente voltamos para o meu
quarto. Fechei minha porta e prestei atenção na forma cautelosa
que ela andava pelo cômodo, sem saber o que fazer com as mãos
nervosas.
Eu devia estar mesmo louco porque meu tesão estava ainda
mais forte agora, com a colorida vestindo roupas bem maiores que
ela, quando eu nem conseguia visualizar o formato de sua bunda.
Logo eu, que sempre gostei de roupas bem decotadas e sensuais,
coladas num corpo feminino cheio de curva.
— Pedi pra você se trocar e tirar a maquiagem porque queria
explicar uma coisa — falei ao me aproximar e levar minha mão à
sua nuca. — Você acha que enxergo apenas a Zoe da aposta e isso
não é verdade. Eu disse lá no carro que não me importo com o que
esteja usando.
— Mas quem te atraiu foi a outra Zoe...
— Sim. — Passei minhas mãos pelos ombros dela, desci por
seus braços e toquei sua cintura, apertando de leve ao pegá-la no
colo de surpresa. — Mas também quero esta Zoe aqui.
Sorri ao ver os olhos verdes se abrirem mais e as mãos
pequenas segurarem a gola da minha camisa. A garota envolveu
meu corpo com as pernas quando beijei sua boca com calma,
sentindo o gosto da pasta de dente misturada ao hidratante labial
que parecia ser de cereja. Os dedos delicados tocaram meu
pescoço conforme eu caminhava até a cama, e quando ajoelhei no
colchão, com Zoe ainda nos meus braços, parei para encará-la.
— Esta versão de Zoe é muito mais autêntica — comentei,
beijando a ponta do nariz fino. — Não sei há quanto tempo sente
isso por mim e seria muito hipócrita de minha parte se fingisse sentir
o mesmo. — Beijei sua testa. — Mas posso te afirmar que quero
viver este momento com você.
Inclinei-me para a frente, na intenção de soltá-la sobre o
colchão, mas Zoe não me largou e acabamos caindo os dois. Ela
abriu um sorriso contagiante e trouxe uma mão ao meu rosto, me
observando com muita concentração ao mesmo tempo em que
alisava minha pele.
— Isso é tão surreal — sussurrou. — Achei que me rejeitaria e
fosse surgir com um papo de não querer me magoar, de eu ser
amiga da Leslie e tal...
— Se eu tivesse juízo, faria isso — disse, arregalando meus
olhos e sorrindo. — Você era uma pirralha até ontem, Zozo.
Recebi um soquinho no peito.
— Posso te chutar de novo, ok?
— Ah, não faça isso — pedi, rolando para o lado e saindo da
direção de seus joelhos, só por via das dúvidas. — Pode prejudicar
a produção dos meus futuros filhos.
— A senhora Choi me mataria — concluiu, mordendo o lábio
de forma sensual. — Deus me livre mexer com os netos dela.
Poderiam ser meus filhos, inclusive.
Zoe riu e puxou um travesseiro para esconder o rosto,
enquanto seu corpo sacodia sobre o colchão.
— Você está muito soltinha — zombei, virando-me de lado ao
apoiar a cabeça numa mão e puxar meu travesseiro para expor a
colorida safada. — O que aconteceu? Se declarou e perdeu os
filtros?
— Acho que sim... — ela murmurou, encarando o teto,
contemplativa. — Parece que o pior passou e não há nada mais
humilhante que eu possa falar. Agora posso dizer que você é um
gostoso sem precisar me preocupar em encontrar uma justificativa.
— Entendi. — O sorriso dela tinha aumentado e a observando
de perto, parecia mesmo que estava mais relaxada. Passei meus
dedos por seus cabelos quando virou o rosto para mim. — E o que
mais você quer agora que não tem nada a esconder?
— Você. — Zoe pigarreou e se sentou na cama com o rosto
corando, mas um sorriso travesso direcionado a mim. — Quero tirar
todas as casquinhas possíveisantes que você acorde do seu delírio
momentâneo.
Soltei uma gargalhada alta, puxando um travesseiro para baixo
da minha cabeça e me acomodando melhor. Eu gostava daquela
Zoe tímida, mas corajosa.
— Então eu estou delirando?
— Certamente. — Ela revirou os olhos. — Você é o TOP 1 da
maldita lista.
— Mas você agora faz parte dela.
— Só por sua causa — rebateu a garota, encolhendo os
ombros antes de bocejar.
Eu havia perdido a noção do tempo e esperava que Leslie
estivesse prestes a chegar em casa, mas não senti vontade de me
levantar para conferir o celular, pois sabia que perderia aquele
momento entre nós.
Zoe desviou o olhar depois de alguns segundos de um silêncio
pesado. Eu levei meus braços para trás da cabeça e me ajeitei
melhor, cruzando meus tornozelos e sorrindo para a menina
colorida.
— Vem pegar o que você tanto quer — sugeri.
Por um instante, ela demonstrou não ter acreditado no que eu
falei, mas quando tomou coragem, engatinhou até subir em cima de
mim e se sentar sobre meus quadris. Fitei seu rosto sem desviar
minha atenção de seus olhos, enquanto sentia as mãos delicadas
tocarem minha camiseta.
— Posso colocar uma música?
— Se está perguntando se pode colocar k-pop, a resposta é
não — concluí. — Já basta ter que olhar pra esse cara feio na sua
blusa.
— Por favor...
Sabendo que podia me arrepender, revirei meus olhos e
abanei as mãos, desistindo daquela batalha, e Zoe saiu depressa de
cima de mim, correndo para fora do quarto e voltando segundos
depois com o celular na mão. A garota era ágil e logo colocou uma
música estranha para tocar, que eu não fazia questão de saber qual
era, então subiu novamente em cima de mim.
Seus dedos passaram por baixo da minha camisa quando
começou a erguer o tecido, espalmando as mãos bem abertas como
se não quisesse deixar de tocar nenhum pedaço de pele. Estremeci
conforme veio subindo, passando pelo meu abdômen, alcançando
meu peito e puxando minha roupa pelos braços.
Eu a ajudei a tirá-la e joguei a camisa no chão, testemunhando
o momento em que me observou com os olhos brilhando e tocou
meus mamilos. Sem querer, comecei a prestar atenção na letra da
música coreana e descobri que era bem intensa, quase como uma
declaração. Zoe sabia que eu era fluente e que se prestasse
atenção, entenderia o significado, então a escolha tinha sido
proposital?
— Qual o nome dessa canção? — perguntei.
— “Serendipity
”, do BTS — ela respondeu, procurando pelo
meu olhar.
— Você conhece a letra toda?
— Claro, é uma das minhas favoritas do mundo.
— Zoe... — A colorida pressionou os lábios sem desviar o
olhar do meu. — Isso é intenso...
Puxei o ar devagar, dando impulso para me sentar e passando
meus braços ao redor de sua cintura. A letra tinha grudado no meu
cérebro, principalmente uma parte do refrão, que era cantado em
inglês.

“Me ame agora


Me toque agora
Apenas deixe-me te amar”

Capturei sua boca com cuidado para poder degustar do


momento, sentindo sua respiração em minha pele e o deslizar de
seus dedos pelos meus braços. Zoe me abraçou com suas pernas,
se entregando àquele instante em que eu a devorava pelos lábios,
tentando dar meu melhor para que ela tivesse tudo de mim naquela
hora. Sua boca se livrou da minha para beijar meu pescoço em seu
primeiro ato como exploradora, pois sempre fui eu a tirar proveito de
seu corpo.
Fechei meus olhos, sentindo os lábios macios e úmidos
deslizarem pela minha pele, beijarem meu ombro ao mesmo tempo
em que seu toque em minhas costas me deixava completamente
arrepiado. Suas mãos, então, subiram e entraram pelos meus
cabelos, arranhando minha nuca com suas unhas curtas e me
obrigando a gemer.
— Que gostoso... — sussurrei, respirando devagar e
apertando sua cintura por baixo da roupa.
Zoe puxou minha cabeça de lado e colocou o lóbulo da minha
orelha na boca, arranhando os dentes nele antes de soltar e vir
procurar meus lábios. Alisei suas costas macias e arrepiadas,
testando puxar a camisa um pouco para o alto até descobrir seu
limite, mas não encontrei nenhuma resistência pelo caminho.
Pensei em parar e não cruzar aquela linha invisível, mas a
própria garota ergueu os braços e me incentivou a despi-la. Grudou
o corpo no meu no instante em que arranquei sua blusa e a senti
estremecer quando a abracei.
— Paramos quando você quiser — sussurrei, afastando os
cabelos de seu pescoço e a beijando com delicadeza. — Não vai
rolar nada que não queira.
Beijei o ombro nu que se movimentava para cima e para baixo
com a respiração ofegante que a tomou, dando tempo para que
relaxasse aos poucos. Eu, no entanto, estava bastante tenso, com
aquele carinho que não cessava porque Zoe queria me tocar em
vários lugares ao mesmo tempo. Fazia parecer que precisava disso,
que necessitava sentir cada pedaço meu, mas me fazia sofrer um
arrepio atrás do outro.
Depois de um tempo em silêncio, com meus braços ainda ao
redor dela, a garota colorida se afastou o suficiente para se mostrar
a mim. Encarei seus olhos ansiosos à espera da minha reação à
sua nudez, mas antes de desviar meu foco, usei minhas mãos para
sentir seus seios. Deslizei os nós dos meus dedos pelos contornos
macios e levei os polegares até as bolinhas intumescidas, por fim,
descendo meu olhar até a região e observando os volumes
pequenos.
Apertei seu corpo e ajeitei Zoe sobre meu colo de modo que
ficasse mais alta e eu tivesse os seios bem perto da minha boca.
Fitei seus olhos curiosos antes de abocanhar o esquerdo e sentir
todo o seu tamanho enchendo minha boca. Ela era cheirosa, macia
e delicada, eu simplesmente queria jogar no lixo todo o meu
autocontrole e transar com Zoe naquele instante, bem ali na minha
cama.
— Você é linda — falei, erguendo meus olhos de novo, entre
uma lambida e outra, mas ela já não prestava mais atenção em meu
rosto.
Seus dedos apertavam meus cabelos e sua boca emitia
gemidos gostosos conforme chupava os seios bonitos. Desci uma
de minhas mãos até sua bunda, mas não me contentei em senti-la
por cima do moletom grosso. Porém, quando passei do elástico para
desbravar a região, quase infartei.
— Está sem calcinha? — perguntei, fechando os olhos porque
a resposta era óbvia.
— Não uso pra dormir... — murmurou, inclinando o corpo para
trás e me encarando. — Mas posso colocar.
Sorri porque aquela sugestão deixava bem claro o que não
aconteceria naquela noite. Talvez Zoe nem tivesse reparado no
significado do que disse e eu acreditava mesmo que não, porque ela
era bem inocente, mas cabia a mim tomar vergonha na cara e levar
isso em consideração.
Meu pau não concordava com minha linha de raciocínio
porque estava sofrendo preso dentro da cueca, mas ele teria que
resistir por mais algum tempo. Não seria a primeira nem a última vez
que eu me masturbaria antes de dormir.
— Você está bem linda assim — murmurei, afastando os
cabelos coloridos da testa quente e olhando o cenário geral. — Toda
gostosa.
Zoe sorriu, baixando os olhos para verificar os seios,
mordendo o lábio quando voltou a me encarar.
— Mas não são muito grandes — disse ela, encolhendo os
ombros.
— São perfeitos.
— Espero que os outros pensem assim também. — Suspirou,
toda fofa, mas uma coisa não estava certa.
— Que outros?
— Hã? — Ela piscou, confusa.
— Que outros vão pensar assim? — insisti, incomodado com
aquela frase.
— Ah... Não sei. — A filha da mãe encolheu os ombros mais
uma vez. — No futuro. Outros caras. Não que eu pretenda ficar com
muitos aqui na faculdade e...
Gargalhei e tapei aquela boca petulante com a minha mão,
usando a que estava livre para dar um tapa de leve no seio
esquerdo.
— Que coragem é essa de falar isso na minha frente? —
provoquei, vendo-a ficar vermelha. — Eu acabei de chupá-los e
tenho que ouvir esse absurdo? Se você não fosse virgem, estaria
muito ferrada esta noite.
Zoe afastou minha mão, sem evitar sorrir, apertando meu
pescoço e colando o corpo no meu. Recebi um beijo perto da orelha
e fui arranhado nas costas pela milésima vez porque a garota
parecia uma gata.
— Nunca sabemos o dia de amanhã — murmurou e estalou a
língua. — E se eu encontrar um coreano legítimo dando mole pelo
campus? Muito melhor do que um descendente...
— Gosta tanto da nossa cultura e não aprendeu que deve
respeitar os mais velhos — ralhei, dando um tapa em sua bunda.
Então, para quebrar totalmente o clima descontraído, minha
porta foi escancarada e minha irmã esbaforida entrou correndo no
meu quarto, jogando algo parecido com um chinelo na nossa
direção, que por sorte, não nos atingiu.
— Ahhhhhh! — Ela gritou quando nos viu e eu apertei mais
Zoe nos braços para poupá-la da exposição.
— Sai daqui, Leslie! — gritei de volta. — Porra!
Ela continuou gritando e agora pulava alucinada, balançando
as mãos como se tivessem sido queimadas.
— Vocês dois! Vocês dois! Vocês dois! — gritou mais um
pouco, enquanto Zoe enterrava o rosto no meu peito, mas seu corpo
sacodia com suas risadas. — Ah, continuem. Continuem...
A louca correu para fora do quarto, esquecendo a porta aberta,
mas voltou para fechá-la. Antes que eu conseguisse piscar duas
vezes, Leslie reapareceu, segurando a maçaneta e me encarando
com os olhos arregalados, afinal, era eu quem estava de frente para
ela.
— Só invadi porque recebi uma mensagem estranha da Zozo e
pensei que você tivesse falado alguma merda pra ela. — Sorriu. —
Desculpa pelo chinelo, eu te perdoei. Te amo. Tchau. Vocês são
lindos. Quero sobrinhos. Fui!
Por fim, minha irmã soprou um beijo e fechou a porta,
finalmente nos deixando em paz. A música já tinha acabado de
tocar fazia tempo e a situação saído por completo do momento
romântico.
— Que mensagem você mandou pra ela? — questionei.
— Contei que me declarei e não deu certo — Zoe respondeu,
sorrindo com culpa. — Lembra que pensei que você me rejeitaria?
— Ela sabe? — Senti minha sobrancelha se arquear sem que
eu controlasse. — Sobre gostar de mim?
Nem precisei de resposta porque a expressão de Zoe, seguida
de seus olhos sendo revirados, esclareceu tudo. Foi muita inocência
achar que uma não saberia de tudo que se passa no coração da
outra, sendo tão cúmplices como eram. E agora eu estava mais
surpreso ainda, porque Zoe podia até ser boa em se controlar, mas
Leslie era a pior pessoa para guardar segredos e possuía uma
língua que não cabia dentro da boca. Não fazia ideia de como ela
conseguiu esconder isso de mim.
A garota saiu do meu colo e engatinhou até o outro lado da
cama, deitando a cabeça no travesseiro extra e usando o meu para
esconder os seios. Os cabelos se espalharam lindamente pela
fronha branca e o sorriso tímido me fez querer beijá-la de novo.
— Posso dormir aqui?
Eu estava mesmo arruinado.
Meu coração batia tão forte, mas tão forte, que eu pensei que
nem fosse conseguir dormir se não me acalmasse. Sentia-me
completamente extasiada com tudo o que aconteceu e minha
vontade de sair gritando era enorme. Foram tantas emoções num
curto espaço de tempo, que eu me esforçava para capturar todos os
pequenos momentos e não me esquecer de nenhum, pois parecia
que estava em transe.
Depois que Leslie entrou no quarto, eu temi que as coisas
esfriassem e chegasse a hora de deixar Logan e ir dormir, mas
quando ele permitiu que eu passasse a noite ao seu lado, nem
conseguia parar de sorrir.
Vesti minha camiseta de novo e o abracei quando se deitou.
Sempre quis fazer isso, passar minha perna por cima da dele como
um casal faria, e apoiar minha cabeça em seu peito. Para a minha
sorte, Logan continuava sem a blusa e eu tinha aquele monte de
pele à minha disposição, não conseguia parar de deslizar meus
dedos por seu abdômen.
— Obrigada por esta noite — agradeci, movendo meu rosto e
sorrindo para ele. — Nem sei dizer qual foi a melhor parte.
— Não me agradeça por isso — disse Logan, estalando a
línguae franzindo a testa. — Faz parecer que fiz apenas um favor e
não que agi por vontade própria.
Eu entendia o que ele queria dizer, mas é que realmente eu
me sentia presenteada por ter vivido uma experiência assim com
Logan. A primeira de todas da minha vida, então não podia ter
desejado nada mais significativo do que isso.
Ele me surpreendeu ao se virar e me empurrar para trás,
subindo em meu corpo e enfiando uma perna entre as minhas. Suas
mãos seguraram meus pulsos acima da cabeça e sua boca beijou
meu pescoço antes de deixar uma mordida no local. Quando achei
que tivesse me acalmado para descansar em paz, Logan vinha e
fazia aquilo comigo.
Tinha perdido a conta de quantas vezes me senti ensopar
entre as pernas, desejando ter colocado uma calcinha como uma
barreira a mais para proteger minha calça. Era um impacto atrás do
outro, principalmente, quando Logan fazia questão que eu sentisse
o quão duro estava.
— Você ser cheirosa desse jeito é um problema grave —
murmurou, puxando a gola da minha camisa para me beijar na
clavícula. — Como eu faço pra pegar no sono?
— É só não dormir — provoquei e ele me encarou com a
sobrancelha arqueada, começando a deslizar pelo meu corpo e me
deixando nervosa. — Estou brincando.
Agarrei seus cabelos quando Logan ergueu minha camisa e
beijou meu umbigo. Senti cócegas, arrepios e tesão concentrado
num lugar bem específico. O garoto se concentrou naquela região
por muito tempo, usando uma mão para tocar meu seio que doíade
tão duro.
— Quero te provar — murmurou, movendo apenas os olhos na
direção do meu rosto —, mas sei que é um passo grande pra você.
Comecei a sentir uma leve taquicardia quando Logan baixou
um pouquinho do elástico da minha calça e beijou a pele lisa. Se ele
puxasse uns dois ou três centímetros mais para baixo, me deixaria
nua e totalmente à sua mercê. Eu sequer sabia como me sentia em
relação a isso, pois estava excitadíssima, ao mesmo tempo em que
tinha vergonha que visse minha parte mais íntima.
Ousado, Logan me beijou por cima da calça antes de fazer o
caminho de volta para cima e chegar em minha boca. Apertei o
pescoço dele com meus braços e envolvi sua cintura com as minhas
pernas trêmulas. O contato de nossos corpos era delicioso e sua
ereção me deixava em transe. Ele se esfregou em mim para frente e
para trás, me fazendo gemer, usando as mãos para apertar minha
cintura, e de repente, sua mão pousou entre minhas pernas,
apertando o moletom com os dedos.
Ele soltou uma risadinha safada e se jogou para o lado,
cobrindo o rosto com os braços depois de apagar a luz do quarto.
— Droga! — murmurou, rindo. — Que tentação... Preciso me
controlar.
Ainda me sentia quente e trêmula quando me virei e o abracei
de novo, aproveitando o cômodo escuro para fechar os olhos e
tentar regular minha respiração que estava bastante caótica
segundos antes. Senti sua mão tocar meus cabelos e Logan se
mexer um pouco até trazer um cobertor para cima da gente.
— Você está bem? — perguntou ele, afagando minhas costas.
— Quer beber ou comer alguma coisa? Ou podemos tentar dormir?
— Não consigo sentir fome nesse momento — respondi,
sorrindo que nem uma idiota, mas por sorte ele não podia enxergar.

Não me surpreendi por não encontrar Logan na cama quando


acordei, pois ele sempre se levantava muito cedo em qualquer dia
da semana, até mesmo nos sábados, quando saía para correr.
Então, depois de me espreguiçar e me esfregar em seus lençóis por
alguns minutos, tomei coragem e saí do quarto em direção à
cozinha. Passava das nove e ele não estava mais em casa, porém,
encontrei Leslie sentada na mesa com uma xícara de café a
caminho da boca.
— Bom dia, bela adormecida.
Sorri, alongando meus braços e puxando uma cadeira ao lado
dela. Meu sono era pesado e eu realmente nem senti quando seu
irmão despertou. Creio que deve ter tomado cuidado para que eu
não acordasse, mas bem que eu gostaria de ter tido a oportunidade
de vê-lo esta manhã, só pra saber se continuaria me tratando igual
ou agiria estranho.
— Bom dia, Lee.
A comida na mesa perdeu a atenção dela, porque agora minha
amiga tinha os olhos grudados em mim, deixando bem claro que
esperava que eu iniciasse a história. Puxei uma xícarae me servi do
café que parecia bem fresco e suspirei, deixando que o aroma me
preenchesse, curtindo aquela manhã especial.
— Da próxima vez não me mande mensagens — murmurou
Leslie, me chutando por baixo da mesa. — Eu teria que arrancar
meus olhos se invadisse o quarto na hora do sexo real.
— Mas nós não transamos, ok? — comentei para o caso de
ela se iludir. — Aquilo que você viu foi o máximo que rolou.
— Ah, que seja. Quero saber como vocês saíramdo casal fake
para o casal que se pega à noite no quarto.
Encolhi meus ombros com o rosto ardido e quente, sem saber
exatamente como responder a pergunta de Leslie, pois eu também
não entendia em que momento as coisas foram mudando entre nós.
Por mais apaixonada e sonhadora que eu fosse, nunca nutri esse
tipo de esperança. Nem mesmo quando aceitei participar da aposta,
achando que o ápice de tudo seria tirar umas casquinhas de Logan,
como uns beijos de mentirinha e uns abraços fora de hora.
— Eu não sei como isso aconteceu — respondi, rindo e
tapando a boca. — Meu Deus, Lee. Ele chupou os meus peitos!
— Ah! Lalalalalalala informação demais! — Ela apertou as
mãos contra as orelhas e arregalou os olhos. — Não quero esses
detalhes sobre meu irmão!
Puxei seus braços à força e a filha da mãe tentou fugir de mim,
mas joguei meu peso sobre ela, gargalhando enquanto Leslie ficava
histérica e tentava me fazer cócegas.
— Você é minha única amiga, precisa ouvir minhas primeiras
experiências.
— Não quero!
— Mas vai ser obrigada! — Ri quando a soltei e ela bateu a
testa na mesa. — E nem vou falar do pau dele, fica tranquila. Ainda
não vi. Só sei que tem bastante volume.
Leslie se ajeitou na cadeira, fingindo ânsia de vômito e
estremecendo os ombros.
— Ele é tão gostoso, Lee... — murmurei, me lembrando das
minhas mãos em seu peito, explorando a região. — Ontem à noite
Logan fez jus a tudo que sempre pensei dele.
Ela estava arrancando pedaços pequenos de um pão de
forma, encarando a comida nas mãos, fingindo que não queria ouvir
nada daquilo, enquanto eu sabia como era curiosa.
— E como foi com o Mark? — perguntei ao me lembrar do seu
encontro.
— Bom e ruim — respondeu, encolhendo os ombros. — Foi
ótimo até o momento em que ele me trouxe e achou que transaria
comigo dentro do carro. Acho que não gostou de ter sido rejeitado
porque saiu com o carro cantando pneu.
— Que idiota. Preciso bater nele?
Leslie era a melhor pessoa que eu conhecia, dona do maior
coração de todos e, por isso, demorei a perceber que estava
chateada. Sua empolgação a respeito de mim e Logan acabou
mascarando a frustração do seu próprio encontro e só agora eu
notava isso. Aproximei minha cadeira mais para perto da dela e
passei um braço pelos seus ombros para tentar consolá-la.
— Não precisa se dar ao trabalho, não vou mais sair com ele
— comentou. — Acho que vou só focar nos meus bias[18] mesmo.
— Eles nunca nos decepcionam — concluí e ela assentiu. —
Você ainda manda mensagem pro Moon[19]?
— Todos os dias. — Minha amiga riu de sua piadinha interna.
Moon era integrante de um grupo k-pop, não tão grande como
BTS, mas também muito famoso. Eles estrearam há quatro anos e a
gente pôde acompanhar sua ascensão desde o comecinho, o que
era muito legal. Leslie era apaixonada por Moon, o amor da vida
dela, e todo dia quando acordava, a louca mandava um directno
perfil do Instagramdo rapaz.
Eu não a culpava por essa fantasia, pois só não me ocupava
dessa forma com o Taehyung porque já possuía uma outra paixão
platônica bem mais antiga e mais perto de mim. De qualquer forma,
Moon acumulava mais de vinte milhões de seguidores na rede
social e Leslie era só mais uma de tantas fãs.
— Enfim, você será minha cunhada oficialmente? — perguntou
ela, batendo palmas para espantar o clima ruim e se levantando. —
Eu espero que sim!
— Eu não me animaria tanto — respondi, esticando minhas
pernas sobre a cadeira que vagou. — Logie foi um fofo, mas deixou
claro que não pode retribuir o que eu sinto.
Leslie me encarou, pensativa, mordendo a unha do polegar
com a mania que tinha de roê-las. Achei melhor começar a comer
alguma coisa porque meu estômago estava doendo de fome e
preparei um sanduíche com calma.
— Sabe que acho estranho isso ter acontecido assim tão
rápido? — ela estava murmurando e eu não dei muita atenção,
focada na comida. — Como é que do nada o Logan quer pegar
você?
— Eu não estou reclamando.
— Não, Zoe. É sério. — Lee voltou a se sentar e apoiou os
cotovelos na mesa. — Ele querer te dar uns beijos eu até entendo,
porque tem rolado mais intimidade entre vocês, deve ser difícil
controlar a vontade quando ela surge. Mas você se declarar e ele
não surtar?
— Sim, ele foi incrível. — Assenti, lembrando de como foi fofo
quando insistiu para que eu tirasse a maquiagem.
— Acha que ele gostou de saber disso? — perguntou Leslie,
arqueando a sobrancelha. — Será que Logan está gostando de
você e não quer assumir?
— Eu não contaria com essa possibilidade.
Na verdade, preferia mesmo não pensar nisso para não ficar
me iludindo. Desde que aceitei participar com ele da aposta, havia
decidido viver o momento e não pensar tanto nas consequências.
Eu me declarei na noite passada, agora Logan sabia exatamente o
que se passava na minha cabeça e em meu coração. Claro que o
garoto não tinha noção da profundidade dos meus sentimentos, mas
como não existia nada tão sério entre nós, também não precisava
saber.
Sentia-me muito leve apenas por ter essa noção de não ser
obrigada a esconder nada dele. E se Logie tivesse qualquer coisa
boa para me oferecer, eu aceitaria. Eu o amava não somente como
o homem que queria para mim, mas como a pessoa que eu
conhecia desde pequena e que tinha sido minha referência para
tantas coisas. Achava impossível deixar de nutrir respeito e
admiração por ele e confiava que não me magoaria como se eu
fosse uma garota qualquer. Portanto, estava disposta a aproveitar
cada momento entre nós e me prepararia psicologicamente para
quando a aposta chegasse ao fim e ele fosse libertado de mim.
Depois da nossa corrida matinal, Dylan e eu paramos numa
lanchonete e pedimos dois chás gelados. Sorri com um pouco de
constrangimento pela forma como a menina que nos atendeu se
jogou para cima de mim e ainda deslizou o número de telefone dela
num guardanapo, ouvindo a risada baixa do meu amigo quando se
afastou.
— É impressionante — murmurou, suspirando. — Preciso
parar de andar com você porque sempre me sinto um bosta.
— Até parece. — Encostei-me na cadeira e alonguei meus
braços, olhando pela parede envidraçada e admirando a paisagem
de outono. — Cara, tenho uma novidade pra compartilhar.
Fiz uma pausa quando a garota se aproximou com nossas
bebidas, me lançando um olhar sensual mais uma vez, então
encarei Dylan quando ficamos a sós. Ele estava curioso e era o
único para quem eu podia contar sem colocar a aposta em risco.
— Fiquei com Zoe ontem, rolaram algumas coisas mais
quentes.
— Depois do jantar?
— Sim. — Assenti, sorrindo. — Começou dentro do carro e
terminou com a gente dormindo na minha cama.
Dylan apertou o punho cerrado contra a boca, abafando a
risada idiota, e eu o chutei por baixo da mesa.
— Quer dizer que perdeu a cabeça? — zombou, estalando a
língua. — E aquele papo todo sobre a menina ser como uma irmã e
que com ela você podia confiar de que não aconteceria nada além
de encenação e blá-blá-blá?
— Nunca disse que Zoe era como uma irmã.
Ou disse? Já não me lembrava mais. Talvez tivesse dito, talvez
em algum momento da minha vida eu realmente a considerasse
assim, mas preferia esquecer essa visão que tinha dela ou
enlouqueceria. Já bastava o peso na consciência que me atingiu
quando acordei esta manhã e vi seu rosto tranquilo enquanto
dormia.
Não me lembrava de quando pegamos no sono, mas sei que
passei uma ótima noite e acordei com muita disposição. Ao meu
lado, Zoe estava espalhada no colchão, com as pernas afastadas e
os cabelos bagunçados. Parecia muito relaxada e à vontade e isso
me atingiu de uma forma que eu não esperava. Quando eu havia
começado a gostar de observar seu rosto, afinal de contas? Porque
ela parecia um anjinho, mesmo com a boca aberta, o rosto
amassado, a blusa do pijama toda torta. Um pedacinho de barriga
aparecia devido ao cobertor que eu tirei do lugar quando acordei, e
não pude evitar lembrar de quando estive bem ali, beijando aquela
região, doido para abaixar sua calça e descobrir como era sua
bocetinha.
— Cara, você está viajando? — Dylan perguntou e sua voz me
fez voltar à realidade, encarando seu rosto sorridente. — Eu estava
falando sozinho porque você tinha o olhar vidrado. Pensando nela,
né?
— Não.
— Sei. — O filho da puta riu. — E agora? Vão aproveitar a
situação e transformar o namoro fakeem realidade?
— Hm. — Pressionei meus lábios, deslizando um pelo outro
com o gosto do chá ainda presente neles. — Não sei muito bem o
que vai acontecer de agora em diante. Zoe não está apenas
curtindo comigo, o lance com ela envolve sentimentos reais.
— Ela se apaixonou? — Dylan arqueou as sobrancelhas,
parecendo chocado. — Caralho, foi rápido.
— Não. Ela ontem se declarou e disse que gosta de mim há
algum tempo.
— Quanto tempo?
Encolhi os ombros sem ter resposta para dar, porque também
não sabia. Foi um detalhe que a garota colorida deixou de fora da
conversa, sendo proposital ou não, e eu também não vi necessidade
de arrancar dela essa resposta. Mudaria alguma coisa? Para mim,
não. Acredito que se fosse importante e ela se sentisse à vontade
para compartilhar mais comigo a respeito do que sentia, então
encontraria a hora certa para fazer isso.
— Que situação, meu amigo... — Dylan estalou a língua, com
uma expressão divertida no rosto. — Quem diria que esse plano
estúpido daria tão certo, não é? A Zoe levou tudo numa boa hoje de
manhã?
— Não nos falamos ainda, pois saí de casa e a deixei
dormindo.
— Você não fez isso!
— O quê?
— A garota vai acordar e encontrar a cama vazia — disse meu
amigo, balançando a cabeça. — Depois de ter se declarado. Vai
pensar que você fugiu.
— Acho que anda assistindo muito filme — retruquei, mas por
dentro, me senti pensativo. — Zoe sabe que eu não faria isso. Ela
conhece a minha rotina.
Não cheguei a pensar no que acharia quando não me
encontrasse em casa. Será que Dylan tinha razão? Será que
esperava acordar e me ver ao seu lado na cama? Eu sequer estava
acostumado com esse nível de intimidade, porque geralmente,
quando dormia com alguma garota, nem mesmo passava a noite
inteira com ela.
Peguei meu celular, deslizei a tela até encontrar o chat de
conversa com Zoe e digitei uma mensagem.

Logan: “Bom dia. Acordou bem?”

Esperei por uma resposta e percebi que Dylan me observava


com curiosidade. Ele colocou um sorriso no rosto e decidi deixar a
ansiedade de lado, guardando meu telefone. Podia muito bem falar
com Zoe quando chegasse em casa, não era nada de tão
importante saber como a garota tinha acordado naquela manhã.

Antes mesmo de abrir a porta do apartamento, eu entendi o


motivo para não receber nenhuma resposta da minha mensagem. A
música alta naquele sábado de manhã podia ser ouvida pelo
corredor inteiro.
Quando entrei em casa, a cena do caos me atingiu. O sofá não
estava no lugar de sempre porque Zoe e Leslie estavam dançando
diante da televisão. Ou tentando dançar, porque aqueles
movimentos que as duas reproduziam não pareciam ser muito
naturais.
A colorida me lançou um olhar envergonhado enquanto eu
descalçava meus sapatos e colocava meu chinelo, então cruzei
meus braços ao me aproximar para entender o que estava
acontecendo. No televisor passava um vídeo do BTS e ambas
pareciam se esforçar para imitar a coreografia.
— Vocês pretendem dançar isso em público algum dia? —
questionei, me sentando na cadeira e apoiando um braço na mesa.
— Porque é bem estranho.
— Vamos dançar no show — respondeu minha irmã.
— Eles farão algum show no país?
Lembro que no último a Leslie entrou em depressão porque
meus pais não deixaram que ela fosse. Primeiro, porque envolvia
viajar para outro estado, segundo, porque o ingresso era bem caro,
terceiro, que ela era muito nova e não tinha juízo nenhum. Os pais
de Zoe alegaram que só permitiriam que ela viajasse se um
responsável fosse junto, então, podemos imaginar que nenhuma
das duas obteve sucesso.
Observei a colorida dentro de um conjuntinho fofo de short e
regata, num tecido atoalhado que devia ser bem macio ao toque e
eu gostaria de testar. Ela quase nunca colocava as pernas de fora,
então talvez fosse a hora de aproveitar a visão, porque ele era bem
curtinho.
Batuquei meus dedos na mesa ao ritmo da música, que de
acordo com o que aparecia no título do vídeo, se chamava “Blood
Sweat & Tears”, e não me incomodei se pareceria um tarado
olhando a bunda dela. Desde o instante em que a levei para meu
quarto na véspera, eu já podia me considerar assim.
Quando a música acabou, elas deram pause no vídeo. Leslie
se abanava enquanto Zoe se curvou para apoiar as mãos nos
joelhos, sem fôlego e suada. Então, ela caminhou na direção da
cozinha já que o sofá não estava mais no caminho, só que
precisava passar pela mesa para chegar aonde queria. Só precisei
esticar meu braço para segurar a mão pequena e a fiz parar e se
virar para mim.
— Te mandei mensagem — falei, vendo-a se surpreender e
olhar o celular em cima da mesa. — Não quis te acordar mais cedo.
Zoe abriu a boca e sorriu, parecia toda boba sem saber o que
dizer, então chegou mais perto e colocou as duas mãos nos meus
ombros. Os cabelos longos estavam presos num rabo de cavalo alto
e as pontinhas atingiram meu rosto quando se inclinou para a frente.
— Pare de ser fofo e ficar me iludindo, por favor? — pediu,
mordendo o lábio. — Não precisa se justificar, eu estou bem.
Eu nem soube o que responder ao vê-la tão confiante e
relaxada, tanto que Zoe se afastou para entrar na cozinha e eu
permaneci imóvel, sem acreditar que era ela quem estava me
tranquilizando. O idiota do Dylan me encheu de preocupação à toa,
obviamente, porque ele não conhecia nossa relação e nem sabia
nada sobre Zoe.
Levantei-me para ir atrás dela e aproveitar aquele lookatrativo.
Quando a garota pegou uma garrafa de suco da geladeira e a
colocou sobre a bancada, eu a abordei por trás, envolvendo-a em
meus braços e colando nossos corpos. Ela estremeceu com o
contato quando rocei meu nariz em sua nuca livre e depositei um
beijo ali.
— Por que não dança mais um pouquinho? — sugeri,
esmagando meus braços ao redor de sua cintura pequena. — Achei
bem interessante esse shortinho em você. Por que nunca o vi
antes?
— Porque nunca prestou atenção em mim — disse ela, rindo e
virando o rosto de lado para me olhar. — Ele é bem velho.
— Estou fora de casa há alguns anos, caso não se lembre. —
Pisquei, descendo uma mão pelos quadris até alcançar sua coxa
macia. — Você era muito pirralha quando vim pra faculdade.
Zoe ficou arrepiadinha com o meu toque e isso só me deixou
com mais tesão ainda. Não sabia o que estava acontecendo
comigo, mas não conseguia me controlar agora que tínhamos ido
tão longe na noite anterior. Eu a fiz se virar de frente para mim e
apoiei minhas mãos na bancada de granito, aproximando meu rosto
e sorrindo para ela.
Beijei-a na bochecha primeiro, depois na curva do maxilar, mas
a garota não aguentou esperar e procurou pela minha boca. Seus
lábios macios se encaixaram nos meus com perfeição e aprofundei
um pouco mais o beijo, massageando sua língua tímida e
pressionando nossos corpos.
Em determinado momento, abri os olhos ao mudar de posição
e flagrei minha irmã sentada à mesa, com os queixos apoiados nas
mãos, nos observando sem piscar.
— Não tem nada melhor pra fazer, Lee? — perguntei, me
afastando de Zoe e ajeitando minha calça porque meu amigo
começou a se animar.
— Não tenho — respondeu, encolhendo os ombros. — Estou
feliz em ver minha amiga beijar na boca, já que eu não sei quando
farei isso também. Ela esperou anos por esse dia, então e..
— Leslie! — Zoe gritou e jogou uma bolinha de guardanapo
em sua direção. — Cala a boca.
Intercalei olhares de minha irmã para a colorida, tentando
pescar alguma coisa, mas Lee se levantou correndo e se despediu
antes de se esconder dentro do quarto. Ali estava a língua bem
grande e incontrolável.
— Anos? — indaguei, segurando a mão de Zoe quando ela
tentou recuar. — Quantos, exatamente?
— Não interessa — respondeu, com os lábios franzidos,
irritadinha.
— Considerando que você tem dezoito agora, será que
gostava de mim quando ainda era pirralha? — Sorri, entrelaçando
nossos dedos e a prendendo junto ao meu corpo, enquanto se
inclinava para trás. — Vai, me conta.
— Nunca. — Ela virou o rosto e mordi sua bochecha para
provocar.
— Desde os quinze?
— Eu não vou dizer, Logan.
— Dezesseis? Quatorze? — Arqueei a sobrancelha,
preocupado. — Treze?
Zoe riu quando tentou se soltar e eu não deixei, então
começou a dar tapinhas inúteis em meu peito.
— Caramba, Zozo, você já gostava de mim quando me viu
pelado?
Os olhos dela se arregalaram e seu rosto ficou vermelho.
— Por que acha isso? — questionou com a voz fina. — Você
só tinha treze anos na época.
— Sim. Curioso é você se lembrar até da minha idade.
Ela vivia mais na nossa casa do que na dela, então era normal
que passasse algumas noites dormindo no quarto de Leslie. Meu
quarto e o de minha irmã eram do tipo que dividiam o mesmo
banheiro, sendo que eu tinha uma porta e ela, outra. Normalmente,
quem estava do lado de dentro sempre trancava a passagem oposta
para não ter o momento íntimo invadido. Quase sempre dava muito
certo, mas mesmo quando acontecia de um entrar enquanto o outro
usava o banheiro, não era um grande problema, pois nossos pais
nos criaram com muita liberdade em casa e ainda havia o detalhe
de sermos muito novos.
Um dia, porém, numa noite em que Zoe ia dormir lá em casa,
eu estava tomando banho quando um morcego entrou pela janela
que deixei aberta. Para um garoto de treze anos, pelado dentro do
banho, aquilo foi o auge do terror e a minha primeira reação foi sair
gritando pela casa. Só que eu usei a porta da minha irmã sem
querer e saí no quarto dela, encontrando uma Zoe de olhos
arregalados encarando meu pau que devia ter cinco centímetros na
época — e eu ainda estava com medo e com frio.
A garota só tinha dez anos, mesmo assim, passei mais de uma
semana sem querer ficar perto dela, de tão constrangido que me
sentia.
— Foi um episódio marcante demais pra mim, que era uma
criança — Zoe se justificou. — A primeira vez que vi um garoto
pelado.
— A primeira de muitas? — perguntei, vendo-a sorrir. —
Cuidado com sua resposta...
— A internet existe, você sabe. — Zoe riu, encostando o rosto
na minha camisa. — A gente acaba vendo coisas que nem está
realmente procurando.
Sem que eu esperasse, a filha da mãe beliscou meu mamilo e
minha reação foi me defender, levando minha mão até o peito e o
esfregando. Nessa hora, Zoe conseguiu fugir dos meus braços e se
afastou, dando a volta pela bancada e enchendo um copo com o
suco que tinha sido retirado da geladeira minutos antes e estava ali
esquentando.
— Lee, vem dançar! — gritou para ser ouvida por minha irmã.
— O Logan já parou de me agarrar!
Eu mal tinha começado, mas daria um intervalo para que ela
pudesse se divertir um pouco. Fui para o meu quarto separar uma
roupa e tomar um banho, pois estava suado da corrida, sendo
obrigado a ouvir k-pop num volume bem alto que afetava o meu
cérebro.
Levei Zoe e Leslie ao estádio para assistir o jogo dos Tigerse
aproveitar que Ryan não mofaria no banco esta noite. Encontramos
o restante da galera antes de entrar na arena e depois fomos tomar
nossos lugares. Coloquei a colorida sentada entre mim e minha
irmã, as duas estando cientes de que não podiam demonstrar tanta
intimidade, e apoiei minha mão em sua perna.
Para aquela noite, Leslie tinha usado apenas rímel, blush e
batom em Zoe, nada além disso, porque não havia necessidade de
aparecer tão produzida num jogo de basquete. Seus cabelos
estavam parcialmente presos com uma trança lateral que ficou linda
e ela se vestia de forma básica, com jeanse camiseta.
Não economizei nos toques e beijos, principalmente por
estarmos em público, deixando que qualquer uma daquelas
centenas de pessoas testemunhassem o que acontecia ali na
arquibancada. Para meus amigos, era tudo parte de um plano
diabólico para me beneficiar, mas a verdade é que não estava
sendo nem um pouco difícil fingir isso na cara deles. Vez ou outra eu
até me sentia culpado por mentir assim, mas então me lembrava
que todos, com exceção de Dylan, achavam engraçado que eu
estivesse enganando a garota.
— Vou ao banheiro, vocês querem que eu traga alguma coisa?
— Zoe perguntou para mim e Leslie ao se levantar.
Minha irmã pediu para que trouxesse uma água e eu avisei
que não precisava de nada, mas depois de quase quinze minutos
ausente, achei estranho que não tivesse retornado e decidi ir atrás
dela. Fiz o caminho até o banheiro e perguntei, para uma menina
que saía na hora, se havia alguém de cabelos coloridos lá dentro.
Como ela negou, me dirigi até a área onde ficavam as lanchonetes,
descobrindo filas enormes que indicavam o motivo da demora de
Zoe. Porém, ela também não estava ali.
Eu a avistei mais à frente, perto da entrada para as
arquibancadas, com uma garrafinha de água na mão, parada diante
de Stephen, um calouro da minha equipe de natação. Eles pareciam
conversar, ou melhor, ele falava bastante enquanto Zoe apenas
sorria de vez em quando, sendo assim, decidi que era hora de me
aproximar.
— Tudo bem? — perguntei ao tocar nas costas dela e encarar
o garoto. — E aí, calouro?
— Oi, Logan. — Ele sorriu. — Também veio assistir o jogo de
hoje?
— Não — respondi, passando o braço pelos ombros de Zoe.
— Gosto muito de passear por lugares cheios, então escolhi o
estádio esta noite.
Por um segundo, ele pareceu muito confuso com a minha
resposta, mas o cérebro logo funcionou e Stephen soltou uma
risada, dando dois tapinhas no meu ombro. Sem noção nenhuma da
vida, o garoto voltou sua atenção para Zoe, o sorriso aumentando
em seu rosto de nariz torto demais. Ele não era feio, mas deveria
tratar aquela pele ressecada e fazer alguma coisa para evitar que as
olheiras escurecessem.
— Estava comentando com a Zoe sobre os cabelos dela, que
são lindos — murmurou, esticando a mão e tocando uma mecha da
garota que, claramente, estava comigo. — Muito lindos.
— Ela sabe disso — retruquei.
— Vocês se conhecem, né?
— O que você acha? — devolvi a pergunta, arqueando a
minha sobrancelha.
— Ah, o Stephen disse que está na sua equipe de natação —
disse Zoe, soltando um pigarro e parecendo inquieta. — Ele... hm...
— Eu a chamei pra sair, pra gente tomar um sorvete qualquer
dia — O filho da puta sorriu com orgulho. — Mas aí você chegou e
Zoe ainda não me respondeu.
Só podia ser brincadeira e se Ryan não estivesse jogando
neste exato momento, eu pensaria que ele havia armado essa
palhaçada. Precisei soltar Zoe e me aproximei um pouco mais de
Stephen, olhando-o cara a cara, pois ele era da minha altura.
— Você possui algum distúrbio neurológico? — questionei,
tocando seu ombro.
— Logan! — Senti meu casaco ser puxado para trás. —
Vamos voltar?
— Se não quiser se afogar da próxima vez em que entrar na
piscina, fique longe de Zoe.
Nunca na minha vida eu bati em alguém ou me envolvi em
brigas, mas a vontade de dar uns tapas no idiota, para ele deixar de
ser abusado, foi enorme. O que levou a me controlar foi saber que
Zoe estava bem ali do meu lado e eu não queria parecer um maluco
ciumento, mas me senti desrespeitado por Stephen.
Eu me virei de costas, segurando a mão da garota e o
deixando para trás, ainda com a raiva me consumindo as entranhas.
— O que foi isso que acabou de acontecer, Logan? — Zoe
parecia irritada comigo e apertou meus dedos enquanto descíamos
as arquibancadas. — Ficou doido?
— Eu? — Bufei, chateado por ela fazer pouco caso da
situação. — Não tenho sangue de barata pra ver o cara dar em cima
de você e ainda ter a ousadia de me contar que te chamou pra sair.
Ele não viu a forma como eu a abracei?
— Você achou que Stephen estava dando em cima de mim?
Zoe parou de andar, puxando meu braço, e eu me virei para
encarar seu rosto que agora se transformava numa careta divertida.
Parecia prestes a cair na gargalhada, o que aumentou a minha
frustração.
— Vamos ver o que você vai sentir quando eu reunir umas
amiguinhas minhas — declarei.
A filha da mãe deu um pulinho e se pendurou no meu pescoço,
puxando-me para baixo e me dando um selinho.
— O Stephen é gay — declarou, mordendo o lábio. — Você
entendeu tudo errado.
— Gay? Ele disse isso?
Zoe revirou os olhos e sorriu.
— Ele não precisou dizer, eu entendi quando me parou para
elogiar meus cabelos e contar que isso o fazia lembrar de seu ex-
namorado, com quem ele terminou quando veio para Princeton.
Uma sensação de torpor dominou meu corpo e deixei minha
boca abrir, sem saber o que dizer. Agora tudo fazia sentido, até
mesmo o toque nos cabelos de Zoe. Ela, ainda em meus braços,
estreitou os olhos, jogando a cabeça para trás e soltando todo o seu
peso para que eu a segurasse.
— Que mundo invertido é esse em que entrei? — murmurou,
suspirando. — Agora Logan Choi sente ciúmes de quem chega
perto de mim?
— Não. — Balancei a cabeça. — Não é bem assim.
Zoe abriu um sorriso ainda maior deixando claro que não
acreditava em mim. Revirei meus olhos, sem conseguir manter a
seriedade por muito tempo, e a levei de volta aos nossos lugares,
pois estávamos parados atrapalhando a passagem, enquanto à
nossa volta o público vibrava com o jogo.
Eu não era o maior fã de basquete, gostava mais de futebol
americano, mesmo assim, quando o Tigers ganhava em casa, ia
com meus amigos para a beira do lago que ficava nos limites da
cidade, onde muitos universitários se amontoavam para beber e
comemorar.
Dessa vez, levava Zoe e Leslie comigo no carro, além de
Dylan, que ocupava o banco traseiro junto de minha irmã. No som
alto, “Sex On Fire”,do Kings Of Leon, enchia o ambiente numa vibe
deliciosa de adrenalina e liberdade. Não tinha deixado Zoe mexer no
rádio porque ela queria colocar k-pop e mais tarde meu amigo me
agradeceria por isso.
De janelas abertas na noite fria de Princeton, eu dirigia com
duas garotas com suas cabeças para fora do carro, rindo com as
mãos esticadas e cabelos voando ao vento. Atrás de mim, Dylan
observava as duas como se fossem seres alienígenas, porque o
coitado não estava acostumado com a intensidade daquelas duas
quando se juntavam. Pelo menos, ele sabia de toda a verdade,
então não precisávamos fingir.
Apertei a coxa de Zoe, que se ajeitou no banco e olhou para
mim, com um sorriso de criança fazendo arte.
— Está frio, vocês vão acordar gripadas.
— Que frio? — perguntou Leslie, se pendurando no encosto do
meu banco. — Zozo está quente, quente por você!
Empurrei o rosto da chata para que caíssede volta no banco
e me deixasse em paz, mas parece que as duas amigas tinham
tirado a noite para me infernizar, porque Zoe desafivelou o cinto de
segurança e se inclinou na minha direção. Ela beijou minha orelha,
mordiscando o lóbulo e o chupando, por fim.
— Caralho, Zoe. — Estremeci, puxando meu ombro para me
livrar daquela tentação. — Quer me fazer bater o carro? Sente-se
direito e coloque o cinto.
— Até porque... — Dylan pigarreou — têm outras pessoas aqui
dentro... Vocês não estão sozinhos, sabe?
— A gente fecha os olhos! — protestou minha irmã, dando um
tapa no braço do meu amigo. — Não seja estraga-prazer!
— Já parei, ok? — murmurou a garota, fazendo biquinho e
voltando ao seu lugar. — Que ranzinza!
Apertei a bochecha dela e voltei minha atenção à direção,
ainda sentindo a pele arrepiada no pescoço. Minha resistência com
esse tipo de carinho e contato era baixíssima,qualquer coisa do tipo
me deixava subindo pelas paredes e Zoe demonstrava ter percebido
esse detalhe.
Quando finalmente chegamos, estacionei sobre a grama perto
de outros carros que estavam jogados ali e saltamos do carro.
Alguns que tinham parado mais à frente sempre deixavam seus
faróis ligados para iluminar o lago, pois não havia nenhum tipo de
iluminação pública naquele local.
Ryan ainda não tinha chegado por lá, mas Eddie, Abby e Mike
estavam sentados no lugar de sempre na grama. Juntamo-nos a
eles e coloquei Zoe posicionada no meio das minhas pernas para
abraçá-la por trás. Leslie avisou que daria uma volta para fazer
reconhecimento, o que eu entendia como “vou andar por aí pra ver
se beijo na boca”,e sumiu de perto de nós num piscar de olhos.
Percebi que Zoe ficou um pouco cabisbaixa, ela não se
entrosava tanto em nossos assuntos, e passou boa parte do tempo
prestando atenção ao nosso redor. Até que apoiei meu queixo em
seu ombro e sussurrei:
— Você está bem? Estou te sentindo um pouco desanimada.
A garota apoiou as costas em meu corpo ao inclinar a cabeça
para trás, tocar meu rosto e trazer a boca até meu ouvido.
— Por causa da aposta, estou perdendo alguns momentos que
devia viver com a Lee. Você está com alguns amigos, ela é minha
única amiga.
Não cheguei a pensar nisso quando pedi para que fingissem
não se conhecer direito. Foi a minha vez de virar o rosto e procurar
pela minha irmã, até encontrá-la de pé na beira do lago, de braços
cruzados, sozinha. Senti um pouco de culpa por afastar as duas.
— Zoe, pode ir procurar pela Leslie e fazer companhia a ela?
— perguntei com um tom de voz alto para todos na roda ouvirem. —
Tenho medo de deixá-la sozinha por muito tempo e a espertinha
aprontar alguma coisa.
Ela me encarou com os olhos brilhando de felicidade e
assentiu, levantando com rapidez e batendo as mãos na bunda para
limpar a calça.
Devia ter sido mais inteligente, devia ter percebido que elas
iam aprontar. Mas não era sempre que todos nós nos reuníamose a
conversa acabou me distraindo, principalmente porque Mike havia
tirado aquela noite para se assumir diante de todos, quando nos
apresentou o cara com quem estava saindo pela segunda vez — a
primeira tinha sido no jantar de aniversário.
Matthew era o nome dele, tinha dois anos a mais do que eu,
não era mais universitário e trabalhava num escritório de
contabilidade. Pela conversa, demonstrava ser alguém que daria
certo com meu amigo e gostei de ver os dois juntos. Gostei ainda
mais de ver que Mike estava se sentindo confiante para sair do
armário de uma vez por todas. No entanto, fiquei incomodado com
umas brincadeiras toscas que Ryan fez. Eu já andava com um pé
atrás com ele ultimamente, por conta de Zoe, e parecia que o
jogador vinha se esforçando para causar um ranço coletivo. Ele
sempre foi idiota? Sim, mas era suportável. Agora, estava se
tornando chato de conviver.
Quarenta minutos se passaram sem que nem minha irmã nem
a sua amiga tivessem retornado à roda e eu decidi sair à procura
das duas. Estava preocupado, o lago reunia sempre bastante gente
em dias de jogo e costumava rolar muita bebida e drogas para todos
os lados.
Não as encontrei em lugar nenhum pela clareira, nem perto da
margem, então resolvi dar uma olhada no local usado como
estacionamento, até avistar as duas sentadas sobre o capô do meu
carro em meio a gargalhadas. Não precisei chegar tão perto para
descobrir que estavam bêbadas, os copos em suas mãos diziam
tudo.
— Muito bonito, né? — comentei, cruzando os meus braços. —
Ficaram esse tempo todo enchendo a cara?
— Leslie experimentou maconha!
— Zoe! — Minha irmã deu um tapa na perna da amiga. —
Você também, sua filha da mãe!
Puxei o ar devagar, retirei meu celular do bolso e digitei uma
mensagem para Dylan, avisando que estava indo embora porque
minhas companhias estavam chapadas. Quando voltei a prestar
atenção nas duas, vi Zoe com o rosto virado para o céu e a boca
aberta, admirando as estrelas.
— Vamos descer. — Aproximei-me do capô e peguei o braço
de Leslie, puxando-a para o chão, depois fazendo o mesmo com a
colorida. — Nunca mais as deixo sozinhas.
Zoe enfiou um dedo no meu ouvido antes de entrar no carro e
eu queria matá-la ao mesmo tempo em que acabei achando graça
daquela situação. Minha irmã entrou no banco traseiro e minha
namorada fakeno carona, mas quando dei a volta e entrei no carro,
Zoe estava se espremendo entre os bancos e se jogando lá atrás no
colo de Lee.
— Amiga, eu te amo tanto, você está rosa!
— Rosa? — Leslie olhou a própria mão. — Que legal!
Agora eu estava em dúvida se tinha sido apenas maconha que
experimentaram, porque eu já havia fumado uma vez e não me
lembrava de ter ficado tão maluco desse jeito.
— Amiga, eu também te amo — declarou minha irmã enquanto
eu manobrava o carro. — Casa comigo se eu não me casar?
— Caso! — Zoe riu, ambas deitadas no banco, com ela
abraçada à perna de Leslie. — Vou casar com o oppa e com você.
— Oppaaaaaa!
— Oppaaa! — repetiu Zoe.
E as duas ficaram gritando essa merda pelos próximos cinco
minutos enquanto eu dirigia para casa.
A primeira coisa que enxerguei ao abrir os olhos foi uma unha
cor de rosa encostada no meu nariz. Não levei muito tempo para
entender que estava dormindo abraçada ao pé de Leslie, pois
dividíamos a mesma cama. Pisquei algumas vezes e precisei
esfregar os olhos que ardiam por causa da maquiagem seca e
borrada, então empurrei as pernas da minha amiga e me sentei no
colchão, observando-a dormir.
Não me lembrava direito da noite anterior e nem de como
chegamos em casa, mas fiquei um pouco em pânico ao descobrir
que ambas estávamos vestidas com camisas grandes demais para
serem nossas.
— Lee, acorda! — Cutuquei o ombro dela, que resmungou e
se virou de costas para mim.
Levantei a camiseta dela para me certificar se também estava
sem nenhuma calcinha assim como eu e quando fiz a conferência,
precisei conter meu surto.
Que merda tinha acontecido?
— Leslie Choi! — gritei em seu ouvido e a sacodi. — Acorde,
agora!
— Por que você está fazendo escândalo, Zozo? — Ela tentou
me puxar para me deitar. — Vamos dormir...
— Nós estamos peladas.
Isso fez com que abrisse os olhos de verdade e me encarasse,
mas logo conferiu o próprio corpo e sorriu quando percebeu que
estava vestida. Começou a se espreguiçar e eu me levantei da
cama, procurando meus chinelos que nem estavam no quarto.
— Essas camisas são do Logan — murmurou minha amiga
enquanto eu prendia meus cabelos e pegava uma calcinha no
armário. — Fica calma, não fomos sequestradas. Estamos em casa,
Zozo.
— Ah, sim, agora estou muito mais tranquila, sabendo que seu
irmão trocou minha roupa toda.
Saí do quarto com receio, olhando na direção do quarto dele e
vendo que sua porta estava fechada. Daria para ir até a cozinha
beber água, pois parecia que eu tinha comido terra. No entanto, dei
de cara com Logan sentado à mesa, mexendo no celular e tomando
café. Ele nem se mexeu, ergueu apenas os olhos na minha direção
e observou enquanto eu me aproximava.
— Bom dia — murmurei quase me engasgando.
Logan não só não me respondeu como voltou a atenção para o
celular, mas seu semblante não demonstrava que estava tudo bem.
Enchi logo um copo com água para voltar ao quarto, mas no meio
do caminho a Leslie apareceu e já chegou abraçando o irmão por
trás e dando um beijo no rosto dele.
— Você cuidou da gente, Logie?
— Prefiro esquecer tudo que aconteceu ontem — murmurou,
se esquivando da minha amiga. — A próxima vez que as duas
fumarem maconha ou usarem qualquer outra substância, vão dormir
trancadas dentro do carro.
— O que a gente fez? — perguntei, com medo da resposta.
Logan arqueou a sobrancelha e cruzou os braços, parecendo
muito irritado. Então, levantou o primeiro dedo.
— Vocês passaram quase todo o caminho do lago até aqui em
casa gritando “oppa” no meu ouvido. Leslie beijou o espelho do
elevador, enquanto dizia que tinha encontrado sua alma gêmea,
depois deitou naquele chão sujo. — Minha amiga parecia orgulhosa,
sorrindo de orelha a orelha. — Mas achei que fossem se acalmar
em casa e as deixei sozinhas só por uns cinco minutos, que era o
tempo de trocar de roupa e ir ao banheiro.
Nossa, Logan estava bem irritado mesmo, eu nunca vi suas
sobrancelhas franzidas daquele jeito. Até assim o homem ficava
lindo.
— Ledo engano, claro — continuou, estreitando os olhos na
minha direção. — Alguém resolveu colocar k-pop pra tocar bem alto
quando já era quase uma hora da manhã e tive que me desculpar
com dois vizinhos que vieram bater na nossa porta. E sabe o que foi
pior? Eles podiam ter chamado a polícia, porque atrás de mim
tinham duas garotas chapadas e seminuas dançando em cima do
sofá.
Senti o sangue sumir aos poucos do meu corpo conforme eu
visualizava aquela cena. Acabei me aproximando da mesa e
puxando uma cadeira para não desmaiar ali mesmo e passar mais
vergonha diante de Logan.
— Ah, meu Deus! — Leslie tapou a boca, chocada. — Os
vizinhos eram bonitos? E a minha calcinha? Não lembro qual estava
usando.
— Você jura que é com isso que está preocupada? —
perguntou o irmão dela, fuzilando-a com o olhar pesado. — E se eu
não estivesse lá na fogueira? Não sei o que consumiram, qualquer
idiota poderia levá-las pra casa.
— Foi uma balinha que estava todo mundo tomando — minha
amiga comentou e no mesmo instante, eu me lembrei que um grupo
de meninas estava tomando e distribuindo.
— Então além de terem bebido e fumado maconha, também
tomaram bala. — Agora ele realmente estava puto. — Muito bacana.
Nossos pais ficariam orgulhosos.
Admitia que estava chocada por tudo o que aconteceu e tinha
pensado que seria algo inocente. As meninas que estavam tomando
deixaram bem claro que era uma pílula fraquinha, só pra dar uma
animada, e que usavam sempre. Eu nunca fui a favor de qualquer
tipo de droga, mas quando Leslie engoliu, meio que fui na onda dela
para não ficar sozinha. Agora sabia que tinha sido uma péssima
decisão.
— Já passou — disse ela, se levantando e afagando os
cabelos de Logan. — A gente está bem, foi só um efeito ruim.
— Não, Leslie! — Foi a vez dele também se levantar, mas sua
postura indicava que aquela conversa não tinha terminado. —
Prometa agora que nunca mais vai tomar essas merdas. — Seu tom
de voz se alterou como eu nunca vi. — Vocês estavam surtadas
ontem à noite, tem ideia de como foi perturbador ver minha irmã
tomando banho só de calcinha com a garota com quem estou
ficando? E Zoe ainda levou um tombo dentro do box, podia ter se
cortado toda. Eu não sou babá de vocês e fico apavorado em
pensar que podiam ter ido embora com algum maluco.
— Foi a primeira e última vez pra mim — declarei, me sentindo
meio mal. — Desculpa pelo trabalho.
Logan até me encarou por alguns segundos, mas a briga maior
era com sua irmã e eu o entendia. Com ela, havia toda uma questão
de responsabilidade envolvida e, de acordo com seus relatos, não
deve ter sido nada legal cuidar de nós duas.
— Prometo não fazer mais isso — disse ela, unindo as mãos e
fazendo beicinho. — Quer dizer, prometo não usar mais nenhuma
droga. Não posso prometer que não vou mais beber.
— Não vou contar para os nossos pais. — Ele ergueu o dedo
indicador. — Dessa vez.
Logan saiu da sala e nos deixou sozinhas com a nossa moral
lá no chão. Leslie me lançou um olhar culpado e se jogou na cadeira
ao meu lado, deitando a cabeça na mesa e soltando um suspiro
forte.
— Eu nunca vi o Logie tão irritado assim.
— Se você que é irmã dele nunca viu, quem dirá eu —
murmurei, tomando um gole bem grande de água. — Mas eu
concordo com ele, Lee. Não vale a pena ingerir essas coisas. Eu
não consigo me lembrar de quase nada.
— Nem eu... — Ela encolheu os ombros. — Mas eu só queria
experimentar, por pura curiosidade. Agora já sei que não é minha
vibe.Teve uma coisa que o Logan falou que me deixou mesmo com
peso na consciência, sobre a possibilidade de não ser ele trazendo
a gente pra casa.
— Eu nem me lembro de termos entrado no carro — confessei.
— Nem eu.
Um silêncio se abateu sobre nós por um tempo, acho que
nenhuma das duas tinha muito o que dizer sobre o acontecido. Eu
me sentia envergonhada por ter dado trabalho para Logan e ter feito
coisas que com certeza não faria se estivesse sóbria.
Quando minha amiga se levantou para preparar seu café da
manhã, aproveitei para ir até o quarto dele e descobrir se queria
falar comigo ou ainda estava com raiva. Bati na porta fechada e
esperei, não tive coragem de abrir sem autorização. Então, ele
apareceu diante de mim e me olhou da cabeça aos pés antes de dar
um passo para o lado e me deixar passar.
— A consciência está pesando muito? — perguntou, fechando
a porta atrás de mim.
Dei um sorriso tentando ser fofa para amolecer o coração dele
e enrolei meu rabo de cavalo no dedo para sensualizar. Nunca tinha
usado minhas habilidades e poder de sedução, mas para tudo na
vida existia uma primeira vez e eu torci para ter sucesso naquele
momento.
— O que é um dia ruim diante de tantos em que sou uma
santa, não é? — murmurei, mordendo meu lábio. — Tenho certeza
de que meus pecados podem ser perdoados.
Logan riu, passando as mãos pelo rosto perfeito e balançando
a cabeça para mim. Seus olhos pequenos ficaram mais estreitos
quando deu alguns passos na minha direção e segurou minha
camiseta. Ou melhor, a dele.
— Vocês me deixaram tão irritado ontem — falou, dando um
tapa abusado na minha bunda. — Tem noção de que nossos
vizinhos as viram quase peladas?
— Hum, por falar nisso... Como a minha calcinha saiu?
Logan arqueou uma sobrancelha e me largou para caminhar
até uma cômoda que havia em seu quarto e puxar a primeira
gaveta. Dali de dentro ele tirou a calcinha que eu estava vestindo na
noite anterior. Não me lembrava de como ela havia sido retirada,
mas tinha a lembrança perfeita de tê-la vestido antes de sair de
casa. Era branca de bolinhas coloridas e elástico rosa.
— Está se referindo a esta calcinha aqui? — ele perguntou,
quase me fazendo desmaiar ao girar a lingerie
em seu dedo.
Fechei os olhos, frustrada. Não era daquela forma que eu
imaginava que seria a primeira vez sendo despida por um homem.
— Depois que vesti você e Leslie e as deixei no quarto, você
entrou aqui correndo, com a calcinha nas mãos, parou do lado da
cama e a jogou na minha cara.
— Não fiz isso.
— Ah, você fez sim. — Ele sorriu. — E tenho certeza de que
ainda usou estas palavras exatas. — Logan ergueu as mãos no ar
como se anunciasse uma chamada de tabloide. — Toma isso aqui
pra você sentir meu cheirinho, oppa.
Quis rir e gritar ao mesmo tempo, também quis dar as costas a
ele e não encará-lo nunca mais.
— Uma pena que você tenha tomado banho com ela, então só
está com cheiro de sabonete.
Respirei fundo, engoli meu orgulho, sustentei o olhar dele e
estiquei minha mão.
— Pode me devolver agora — pedi.
— De jeito nenhum, foi um presente.
Logan jogou a calcinha de novo na gaveta e a fechou,
apoiando sua mão ali em cima e sorrindo para mim. Meu coração
acelerou diante daquela ousadia e pensei um pouco se valia a pena
enfrentar o garoto e tentar recuperar algo que me lembraria da
vergonha que passei. Sendo assim, cheguei à conclusão de que o
melhor a fazer era esquecer da última noite, e se Logan quisesse
tanto guardar minha calcinha como recordação, o problema era
dele.
Eu só precisava sair dali o quanto antes porque sentia meu
rosto queimar muito, imaginando o que ele devia ter pensado
quando atirei a peça em seu rosto. E eu sequer me lembrava de
nada disso.
— Hoje tenho um trabalho importante que precisa ser redigido,
então... talvez passe o dia todo no quarto — avisei, acenando de
forma contida e me virando para sair.
Por sorte, ele não veio atrás de mim. Minha humilhação deve
ter sido tão grande que o próprio Logan devia sentir pena e querer
me dar algum espaço. Sentindo o cheiro que vinha da cozinha, fui
até lá, roubei um sanduíche que estava pronto em cima da mesa e
ainda espetei um pedaço de bacon da frigideira com um garfo antes
de levar tudo para o quarto.
— Ei! Isso é meu! — gritou Leslie.
— Agora tem outra dona — respondi e fechei a porta para
nunca mais sair.
Eu terminava de calçar meus tênis quando Leslie entrou
pulando no quarto e balançando o celular na mão. Aquele sábado à
tarde era especial porque estávamos indo assistir à primeira
competição de Logan em casa naquele semestre. Eu sempre amei
vê-lo nadar, mas testemunhar o garoto vencendo tinha um gostinho
muito incrível.
— Adivinha quem está dentro do TOP 50 da HottestPrin? —
perguntou minha amiga, sentando-se ao meu lado e esfregando o
telefone na minha cara.
— Mentira!
Eu havia entrado em penúltimo lugar alguns dias atrás, parecia
surreal ter subido tantas posições em pouco mais de uma semana.
Como era possível eu estar chamando tanta atenção assim?
— Lembra do jogo de basquete? — Lee murmurou e só então
eu reparei que a foto postada tinha sido tirada naquele dia.
Capturaram minha imagem em algum momento em que eu
estava sentada ao lado de Logan com um sorrisão aberto. Lembrei-
me de nós dois protagonizando cenas de beijo na arquibancada e
isso também deve ter contado muitos pontos. Era incrível o quão
superficial aquela gente era, para estimar beleza e popularidade de
uma pessoa, baseada em outras com quem ela anda.
— Para a tarde ficar melhor, basta o Logie trazer uma medalha
pra casa — disse Leslie, se levantando e se olhando no espelho. —
Está pronta? Não quero me atrasar.
— Só vou escolher um casaco.
Fazia bastante frio naquele dia, então peguei meu moletom
preto mais quentinho e o passei pela cabeça, fazendo par com o
jeans preto que eu quase não usava porque achava justo demais.
Deixei os cabelos soltos com as pontas em baby-lissque eu tinha
aprendido e gostado muito de fazer, e retoquei meu glossantes de ir
encontrar com Leslie na sala.
Natação não era o esporte de mais sucesso em universidades,
não como futebol americano e basquete, mas ainda assim o centro
aquático estava bem cheio quando chegamos. A gente gostava de
sentar no alto para ter uma visão melhor, mas quando estávamos
entrando na arquibancada, ouvi o assobio forte de alguém e olhei
para baixo.
— Estamos aqui! — Vi Ryan e Eddie acenando na nossa
direção e empurrei gentilmente as costas da minha amiga.
— Não pare, continue subindo — murmurei para Lee,
enquanto acenava para eles. — De jeito nenhum vou aturar Ryan
hoje.
— O cara é gostoso, mas é insuportável.
Não podia concordar mais com minha amiga e, felizmente,
conseguimos um bom lugar bem longe dele. Eu não tinha
absolutamente nada contra os outros rapazes, inclusive gostava
muito da companhia do Dylan, mas o jogador de basquete não me
passava confiança alguma.
Para o meu desgosto, bastou eu e Leslie nos acomodarmos
que Ryan subiu a arquibancada na nossa direção, com um sorriso
cínico naquele rosto, até se jogar ao meu lado e passar o braço
pelos meus ombros.
— Você veio, Zoe!
— Logan me convidou — respondi, engolindo em seco.
— E vocês duas? Já estão amigas? — perguntou, inclinando-
se para sorrir para Leslie. — Está se dando bem com a sua
cunhadinha?
— Meu irmão gosta dela, então eu também gosto — disse
minha amiga, encolhendo os ombros. — Zoe é bem legal, temos
coisas em comum.
Ryan se ajeitou e aproximou o rosto do meu. Ele cheirava a
um perfume muito forte e a fragrância incomodava minhas narinas,
mas tentei ao máximo controlar a vontade de espirrar.
— Você sabia que entrou para a lista da HottestPrin? —
perguntou, estalando a língua. — Incrível, não é? Está sendo
considerada uma garota linda e popular.
— Fiquei sabendo esta manhã — respondi, encolhendo meus
ombros como se não fosse nada de importante. — Até pouco tempo
eu nem sabia da existência dessa lista.
O loiro me observou por uns segundos, examinando meu
rosto, então me lançou um sorriso estranho. Torci para que a
competição começasse logo e eu tivesse um bom motivo para não
conversar com ele.
— Você não sabia que estava saindo com o TOP 1 da lista? —
Neguei, em silêncio. — Nunca tinha visto Logan?
— É impossível não ver o Logan — ponderei, arqueando
minha sobrancelha e sorrindo apaixonada. — Ele é lindo, é estiloso,
é popular. Toda garota de Princeton sabe quem ele é. Eu só não
conhecia a lista.
— E não achou estranho que justo um cara tão popular tenha
se interessado por você?
Ali estava a cobra tentando me picar. Se Ryan acreditava na
aposta, então aquela era a forma dele de tentar virar o jogo ao seu
favor e estragar as coisas entre mim e Logan. O que o riquinho
esnobe não sabia, era que eu estava por dentro de tudo. Se fosse
outra garota no meu lugar, inocente a respeito do plano que eles
armaram, neste momento ficaria cismada com aquela pergunta.
Sabia que ao meu lado a Leslie podia ouvir o que o loiro dizia e
eu a senti ficar tensa e respirar fundo.
— Confesso que morri de vergonha quando ele me abordou.
— Dei um sorriso que demonstrava timidez. — Mas acho que ele viu
alguma coisa em mim que nem eu mesma conseguia enxergar.
— Com aqueles óculos, devia ser difícil mesmo — murmurou,
estreitando os olhos para mim. — Passou a usar lentes?
Meu coração deu uma paradinha rápida ao ouvir aquela
pergunta. Tínhamoscombinado que, para todos os efeitos, a gente
falaria que eu troquei o óculos por lentes de contato. O único
problema era que eu não estava usando nada e não sabia se
olhando fixamente dentro dos meus olhos era possível reparar a
ausência do material.
Para a minha sorte, as equipes foram anunciadas e
começaram a entrar no ginásio, então eu tive uma desculpa perfeita
para virar o rosto naquela direção e impedir que Ryan me encarasse
por mais tempo.
— Sim, agora uso lentes — respondi, encolhendo meus
ombros e mexendo nos meus cabelos. — Parece que me
transformei em outra pessoa desde que deixei os óculos de lado.
Avistei Logan todo lindo de touca na cabeça e sunga preta, e
aproveitei para acenar quando ele olhou na direção da
arquibancada. Vi que notou a presença de Ryan bem ali e eu
esperava que não se preocupasse com isso a ponto de se afetar na
performance.
Discretamente, fiz o gesto de coração com os dedos porque
sabia que ele entenderia o significado, ao contrário de Ryan e a
maioria das pessoas naquele lugar, e vi quando sorriu todo tímido
antes de voltar a atenção ao técnico da equipe. Mike estava
posicionado uma duas raias depois e parecia mais nervoso do que
Logan. Esperava que os dois tivessem bons desempenhos, mas
minha torcida só possuía um campeão.
Quando foi dada a largada e meu crush mergulhou na água,
meu coração foi junto com ele. Aproveitei que Leslie estava gritando
e me juntei a ela sem parecer tão doida, quicando na arquibancada
em expectativa, com os batimentos cardíacos acelerando a cada
braçada de Logie. Não precisei me conter muito porque logo tinham
outras pessoas gritando o nome dele e evidenciando sua torcida, o
que me deixou ainda mais orgulhosa.
Então, de repente, Ryan deu dois tapinhas na minha coxa,
apertando-a de um jeito desrespeitoso antes de se levantar e descer
até seus amigos. Leslie não percebeu o movimento dele, mas eu me
senti suja só com aquele toque. Deixava-me confusa não saber se
essas atitudes do rapaz eram uma tentativa de me espantar e fazer
Logan perder a aposta ou se havia outro tipo de intenção, o que
parecia ser bem pior. Eu não sentia nem um pingo de atração por
ele e me causava calafrios imaginá-lo me assediando.

Estava demorando mais do que o normal para Logan sair do


vestiário e Leslie acabou indo para casa, pois ela tinha um encontro
e queria se arrumar com calma. Eu fiquei para esperar por seu
irmão, ansiosa para parabenizá-lo pela vitória, mas também para
passarmos um tempo a sós, pelo menos durante o caminho até o
apartamento.
Desde o último domingo, quando acordei depois de uma noite
de muito vexame, a gente não se falou direito. Eu ainda não tinha
me curado da humilhação vivida e Logan havia se dedicado à
preparação para a competição desta tarde. Praticamente uma
semana sem receber sequer um selinho ou sentir um toque mais
íntimo dele.
Quando finalmente saiu, estava tão deslumbrante que foi
rapidamente abordado por várias garotas tagarelas. Estava todo
monocromático, de calça, camisa e sobretudos em tons de
caramelo, sapatos brancos e olhos intensos e escuros. Eu girei
sobre os calcanhares e virei de costas para não parecer que estava
tomando conta de sua conversa, tentei me distrair com meu celular,
mandando mensagem para Lee e perguntando se ela tinha
conseguido decidir a roupa do encontro.
Fui surpreendida com algo passando pela minha cabeça e ao
baixar o rosto, vi uma medalha de ouro sendo pendurada em meu
pescoço e pousando em meu peito.
— Demorei muito? — perguntou a voz em meu ouvido.
— Não — respondi, virando-me de frente para Logan e
tentando não parecer tão apaixonada. — Nem senti a hora passar,
estava no telefone com um amigo.
Ele sorriu de forma divertida e enfiou as mãos no bolso do
sobretudo, todo elegante, me encarando como se eu fosse tão
transparente.
— É mesmo? Eu conheço esse amigo?
— Acho que não.
Cruzei meus braços por um segundo, mas não resisti e acabei
tocando a medalha pesada. Elas eram tão lindas e deviam parecer
toscas para Logan, de tantas que já colecionava.
— Esse amigo também dá medalhas pra você? — perguntou,
arqueando a sobrancelha.
— Não, mas você também nunca me deu nenhuma.
Logie sorriu e olhou ao nosso redor, suspirando, parecendo
muito tranquilo e satisfeito. Como podia ser tão irritantemente
bonito? Como aquele rosto podia ser tão simétrico?
— Esta é sua — declarou e eu arregalei meus olhos. — Eu a
ganhei pra você.
— Pra mim? — Será que pareceu que gaguejei? Porque meu
coração estava quase explodindo. Ou entendi errado?
— Não houve uma única vez em que eu tenha nadado em
casa e você não estivesse na plateia — Logan concluiu, todo fofo,
me puxando pela medalha. — Você, meus pais e Leslie, sempre
estiveram lá.
Talvez os meus olhos estivessem ardendo por conta do
corretivo novo que estava experimentando — eu mesma passei e
talvez tivesse feito errado —, provavelmente esse era o motivo. Só
que Logan ia pensar que eu estava lacrimejando por causa dele, o
que era uma grande mentira.
— Ah... — Engoli em seco e sorri. — Eu gosto de natação. Ver
os garotos de sunga e tal... Nunca foi um sacrifício.
— Que cara de pau. — Ele passou os braços pela minha
cintura e quase encostou os lábios nos meus. — Achei que você
assistisse por minha causa. — Eu neguei rapidamente. — Talvez eu
deva dar a medalha pra Leslie.
Enfiei o item pesado por dentro do meu casaco só para
garantir que ele não tentaria tirar de mim e Logan gargalhou,
apertando-me no abraço gostoso. Ele me ergueu do chão e
caminhou comigo daquele jeito até seu carro, onde ouvi o
barulhinho do alarme sendo acionado antes de ser colocada
sentada sobre o capô.
— Quer sair pra comemorar comigo, TOP 50?
— Então você soube? — Ele assentiu, satisfeito. — Mas não
estou vestida de forma adequada. Você parece que saiu da capa da
VOGUE e eu estou de jeanse moletom.
— Não me importo — respondeu, beijando a ponta do meu
nariz. — Quero comemorar com a Zoe original porque o lugar onde
vamos é especial.
Eu não podia estar mais surpresa com Logan sendo todo fofo
e ainda arquitetando um encontro que eu nem sabia que teríamos.
Não pensei duas vezes antes de entrar no carro e deixar que me
levasse para onde quisesse, mas confesso que não esperava ver o
letreiro de onde paramos quando ele estacionou na porta do
estabelecimento.
Estávamos uns dez quilômetros longe do campus, de frente
para um restaurante coreano que aqueceu meu coração.
Morávamos numa cidade pequena de Minnesota e não era fácil
achar comida coreana realmente gostosa, por isso, podia contar nos
dedos de uma única mão quantas vezes eu havia comido da
culinária deles fora da casa da família Choi.
— Por acaso hoje é meu aniversário e eu esqueci? —
murmurei ao sair do carro e sentir Logan segurar minha mão. — Por
que estou ganhando tantos presentes?
— Acho que você merece ser um pouco mimada — disse,
beijando meu rosto. — E seu aniversário é daqui a dez dias, eu sei
bem disso, não precisa soltar indiretas.
— Hum, nem imagino qual será a surpresa que vou receber.
Você está jogando alto.
— Você não imagina mesmo.
Logan abafou uma risadinha antes de entrarmos no
restaurante e isso não passou despercebido por mim. Eu falei de
brincadeira só para provocá-lo, mas o garoto estava realmente
preparando algum presente legal para a data? Seria a primeira vez
que Logie me daria alguma coisa no meu aniversário — que por
acaso era a mesma data do Jimin do BTS e eu amava isso —, então
aquela possibilidade começou a me causar dor de barriga por
antecedência.
Fomos levados até uma mesinha simpática, o restaurante não
estava cheio, e Logan escolheu permanecer sentado lado a lado, de
forma que eu pude ser muito ousada e colocar uma perna em cima
do colo dele. Pedimos bibimbap , japchae e kimchi , sentindo-me
ansiosa para provar tudo, mas antes que a comida chegasse, fui ao
banheiro.
Na verdade, quando partiu de Logan o pedido para que eu me
levantasse e fosse até lá por alguns minutos, não entendi o que ele
estava aprontando. Só quando voltei para a mesa e vi a garrafa de
soju[20] sobre ela, com dois copinhos, é que controlei a risada e me
sentei de novo, apertadinha com ele.
— Não podia pedir isso com a sua cara de criança aqui —
sussurrou, rindo em meu ouvido. — Se eu for preso, pague a minha
fiança.
— Eu nunca o deixaria ser preso — falei, tocando sua nuca.
— É mesmo? — Ele franziu os lábios. — Vai mostrar sua
identidade infantil?
— Não é infantil. — Dei um tapa em seu peito e ele sorriu.
— Se não pode beber, não é adulta.
— Se é assim, você se considera um pedófilo? — provoquei,
vendo-o arregalar os olhos ao me encarar, chocado. — Pelas coisas
que já fez comigo, deveria mesmo ser preso.
Sem ter como se defender, Logan só manteve um sorriso
safado no rosto e serviu o soju nos dois copinhos próprios para ele.
Minha boca salivou porque eu só tinha provado aquela bebida uma
única vez na vida, num jantar com a família dele, quando seus pais
permitiram que Leslie e eu tomássemos meia dose. Era
extremamente forte e queimava tudo por dentro, mas diziam que
depois do primeiro copo, você se viciava no gosto.
Logie entregou o meu e suspendeu o dele, batendo um no
outro para um brinde e, em seguida, virando tudo na boca. Fez
parecer muito fácil e leve, então me encarou em expectativa.
Pigarreei, cheirei o conteúdo e bebi de uma vez só. Quando
engoli e senti queimar, enfiei meu rosto no peito dele para abafar a
tosse e não chamar tanta atenção. Senti seu corpo tremer com uma
risada e quis furar seus olhos para deixar de rir de mim, mas
consegui me recuperar rapidamente e recuei.
— Como se sente?
— Muito bem — falei, certa de que meu rosto estava muito
vermelho, porque eu podia sentir o calor. — Ótima.
Eu estava virada quase de frente, então ele apertou minha
perna e a colocou de volta em seu colo, alisando minha coxa com
delicadeza ao se inclinar e me beijar devagar. Podia cair um
meteoro naquele momento em cima da Terra e eu não me importaria
em morrer, porque tinha realizado tantos sonhos naquelas últimas
semanas que o medo de acordar para a realidade era grande
demais. Talvez fosse bom mesmo o mundo acabar enquanto estava
sendo feliz e iludida.
Eu juro que não estava me reconhecendo depois de passar
aqueles vários dias sem ter muito contato com Zoe. Meus treinos da
semana foram intensos e, além disso, ela tentou fugir de mim o
máximo possíveldepois daquele domingo e do episódio da calcinha.
Era normal, tínhamos rotinas diferentes, amigos diferentes e gostos
diferentes. Eu não devia me importar com isso, afinal, nunca fomos
tão próximos assim e essa nova intimidade tinha começado por
conta da aposta.
Mas passei os últimos dois dias com uma irritação incomum e
meu humor só melhorou naquela manhã, quando Leslie avisou que
iria com Zoe assistir à competição. Agora, com ela bem do meu
lado, rindo toda bobinha e fofa, eu me sentia tranquilo. Não estava
produzida além dos cílios carregados de rímel e um gloss labial
transparente, que eu tinha tirado quase todo com o beijo. No
entanto, fazendo uma rápida comparação de como eu me sentia e
me portava perto das duas versões de Zoe, cheguei à conclusão de
que preferia aquela ali.
A outra mexia com a minha libido por questões unicamente
visuais e me fazia pensar em sexo. Eu era homem, gostava de ver
uma mulher arrumada, sensual, um decote atraente, não podia
negar isso. Esta Zoe de agora trazia um outro lado meu à tona. O
instinto protetor aflorava e a necessidade de cuidar se tornava tão
latente que eu me sentia meio idiota. Não era, nem de longe, o que
eu sentia quando estava com minha irmã. Zoe me causava vontade
de tocar, mas ser gentil o tempo todo, de provar cada pedaço, mas
sem deixar o carinho e o romantismo de lado.
Não dava mais para usar de hipocrisia e fingir que não tinha
certeza do que estava acontecendo. Eu sabia que havia me
envolvido mais do que pretendia, que não era mais pela aposta,
nem fingimento nenhum. As intenções e os sentimentos tinham se
alterado no dia em que tive Zoe na minha cama, entregando suas
primeiras experiências para mim e me olhando como se eu fosse
tudo para ela.
Observei-a comer de tudo um pouco com um apetite incrível,
toda cheia de habilidade com os hashis. Servi mais um pouco de
soju e a vi beber com um pouco mais de facilidade dessa segunda
vez.
— Ontem minha mãe me mandou dinheiro de presente de
aniversário, então estou pensando em dar um pulo no shopping
durante a semana — comentou sem tirar o foco da comida. — Vou
precisar de mais alguns vestidos porque não posso ficar repetindo
os mesmos toda hora. — Abri a boca, mas ela tapou com a mão e
balançou a cabeça. — E não quero que você pague. Você pode ir
comigo, se quiser, pra escolher o que achar melhor, mas não posso
deixar que fique pagando minhas roupas.
— O que você usaria para ir a uma festa comigo se não
existisse a aposta?
Ela parou de comer, pensativa, e apoiou um braço no meu
enquanto alisava os meus dedos.
— Hm, que pergunta difícil — murmurou, fazendo biquinho. —
Vejamos, claro que eu não iria de moletom. Acho que um jeanse a
melhor blusa que eu tivesse no guarda-roupas. Ou um daqueles
meus vestidos. Não sei, Leslie e eu nunca fomos populares, não
frequentávamos esse tipo de festa. O que é um absurdo porque a
Lee é perfeita de linda.
— Você também é — declarei, flagrando seus olhos
procurarem os meus e ela sorrir. — Use o seu dinheiro para comprar
algo que realmente goste.
— Mas aí ficarei sem ter o que usar.
Beijei a bochecha macia e deslizei minha boca devagar até
seu queixo, para então, capturar seus lábios. Inspirei o cheiro de
morango característico de Zoe, satisfeito por sentir sua saliva tocar
minha língua, depois desci até seu pescoço e depositei um selinho
perto de sua orelha.
— Acho que meu cérebro acabou de derreter — a colorida
murmurou, apertando seus dedos em minha perna.
Seus olhos ainda estavam fechados quando a encarei e havia
uma fina mecha de cabelos grudada no cantinho de sua boca, que
afastei com o dedo.
— Estou desistindo da aposta — anunciei o que já vinha
pensando desde que acordei aquela manhã.
— Quê? — Ela arregalou os olhos verdes. — Como assim?
— Trocarei de carro quando puder, sem pressa — respondi,
encolhendo os ombros. — Estou meio de saco cheio do Ryan e todo
esse fingimento não vale tanto a pena assim.
Pela forma como a expressão de Zoe se alterou, talvez a
garota tenha entendido errado o que eu quis dizer. Vi quando se
virou de frente para a mesa e mexeu nos hashis, brincando com a
comida e mantendo um sorriso forçado no rosto.
— Tudo bem, faz sentido. Você devia ter escolhido uma garota
mais fácil de vencer a aposta, não alguém que desse todo esse
trabalho. — Quando me olhou, me deu um tapinha de consolo na
mão. — Tenho certeza de que vai conseguir o dinheiro pro carro.
— Eu não tenho a menor dúvida de que você é capaz de
alcançar a meta que colocamos, não é por isso que quero desistir. É
porque não posso mais vê-la fingir ser o que não é. — Toquei seu
queixo, limpando um pouco de molho no canto dos lábios. —
Percebi que é muita injustiça te forçar a mudar e não te deixar ser
livre pra viver seu momento de caloura. Você não tem que ficar se
preocupando com a aparência, com o que veste, muito menos ter
medo de encontrar Ryan na rua.
— Mas eu sabia de tudo isso quando aceitei. — Ela encolheu
os ombros.
— Zoe, você só aceitou porque gosta de mim. Eu não sabia
disso antes, mas agora que sei, consigo entender que era uma
oportunidade de passar um tempo comigo. — Quando ela desviou o
olhar, segurei firme seu rosto para que me encarasse. — Isso foi
bom, porque só assim as coisas evoluíram entre nós. Você foi
esperta e corajosa. Só que agora, eu quero curtir mais a Zoe original
sem ficar me preocupando com a aposta.
A garota se serviu mais uma dose de soju e virou
imediatamente, me encarando com os olhos lacrimejando por conta
da bebida e uma careta engraçada no rosto.
— Seja mais claro, por favor. Você quer continuar comigo
mesmo desistindo da aposta?
— O que acha que estamos fazendo aqui, longe do campus,
sem ninguém pra ver nossa encenação?
Zoe assentiu, quieta, baixando os olhos e parecendo
pensativa. Toquei os cabelos com as pontas onduladas, decorando
todas as cores existentes naqueles fios, até que ela soltou um
suspiro.
— Tudo bem, posso... aceitar isso. — Pigarreou, com as
bochechas vermelhas. — Farei um esforço de continuar saindo com
você.
— Obrigado. — Sorri, voltando a comer. — O que seria de mim
se você não me desse essa chance?
Passamos a próxima hora rindo e conversando sobre nossas
rotinas da semana e depois, não sei como, entramos no assunto
dorama. Zoe era muito boa em me enrolar e quando vi, ela não
parava mais de falar sobre seus favoritos.
Do outro lado da rua onde ficava o restaurante havia um
parque e acabamos dando um pulo até lá antes de entramos no
carro. Ainda era cedo, nem tinha dado oito horas, então foi gostoso
caminhar um pouco com Zoe, sem pressa, sentindo os dedos
delicados entrelaçados aos meus.
Paramos numa bifurcação com muitas árvores e eu aproveitei
que o lugar estava vazio para pegá-la do jeito que estava desejando
desde que entrei na piscina esta manhã. Deixei que suas costas
tocassem o tronco de uma árvore bem larga e segurei sua cintura,
passando minha línguapelo pescoço cheiroso e todo arrepiado. Zoe
suspirou incontáveis vezes enquanto eu a beijava devagar,
explorando cada pedacinho que me oferecia.
— Quando você acha que eu poderei dormir no seu quarto de
novo? — perguntou, enfiando as mãos pequenas dentro da minha
camisa.
— Quando você quiser — respondi, apertando sua bunda
macia. — A decisão é toda sua.
— Hoje? — Ri com meus lábios grudados nos dela. — Eu
quero fazer coisinhas...
Afastei meu rosto e a encarei, sem conseguir evitar sorrir
porque a garota estava me olhando de um jeito bem safado.
— Isso é você ou o soju falando?
— Juro que não estou bêbada — declarou e eu acreditei, ela
não aparentava embriaguez. — Mas, confesso que ele me deu
coragem. Sentir vergonha o tempo todo é muito incômodo.
Enfiei meus dedos por seus cabelos, jogando-os para trás e
liberando seu rosto completamente. Então, beijei o cantinho de sua
boca e deslizei minha língua por ela, introduzindo-a apenas o
suficiente para tocar seus dentes antes de recuar.
— E está com coragem para fazer o quê? — perguntei,
sussurrando, com nossas testas unidas.
— Namorar... — Ela fechou os olhos, jogando a cabeça para
trás e sorrindo.
— Como? — insisti, beijando o pescoço exposto para mim. —
Dê algum exemplo.
Zoe suspirou e franziu os lábios, deixando as mãos que
tocavam meu abdômen escorregarem até o cós da minha calça.
— Hm... Beijar, ser beijada... — murmurou, sem deixar de
sorrir. — Tocar e ser tocada...
— Você quer que eu a toque? — Peguei suas mãos imóveis e
as levei até minha bunda quando colei mais os nossos corpos. Zoe
assentiu, então continuei: — Onde? Onde devo tocá-la, Zozo?
A colorida abriu os olhos verdes e me encarou, o desejo
tomando conta de seu semblante, mas cedendo um pouco de
espaço também para a timidez. Alisei seu rosto e desci minhas
mãos pelas laterais de seu corpo até a cintura, mas depois apalpei
seu casaco até encontrar o volume da medalha que carregava. Movi
mais um pouco os meus dedos e toquei de leve seu seio esquerdo,
dando um selinho nela.
— Aqui? — perguntei, puxando-a de encontro a mim e
apertando sua bunda. — Ou aqui? — Ela ainda não tinha
respondido, por isso, fui adiante, descendo a mão até suas pernas e
roçando meus dedos no zíper dojeans. — Talvez, aqui?
— Você pode voltar e comprar mais uma garrafa de soju pra
eu responder a pergunta?
Ela soltou uma risada gostosa segundos antes que eu a
beijasse, apertando seu corpo delicado e deixando uma mordida em
seu pescoço antes de puxá-la para irmos embora. Coloquei Zoe no
chão e ia segurar a mão dela quando tive uma ideia boba. Virei-me
de costas para a garota, agachei-me um pouco e a olhei por cima do
ombro.
— Sobe que vou te dar uma carona.
— Nas costas? — Seu olhar se iluminou. — Mentira!
— Não faça eu me arrepender...
Zoe não pensou duas vezes e pulou em cima de mim, e eu
passei as mãos por trás de seus joelhos para agarrar suas pernas
conforme eu me reerguia. Seus braços contornaram meu pescoço e
recebi um beijo na bochecha quando comecei a caminhar
carregando a garota nas costas.
— É assim que os rapazes fazem...
— Nos doramas — eu a interrompi. — Eu sei disso.
— Você é incrível,oppa!
— Isso mesmo, continue pensando assim. Não há ninguém
mais incrível do que eu.
— Bem... — Zoe estalou a língua. — Ainda não conheci o
Taehyung pessoalmente.
— Ele é do BTS? Pois então não vai conhecer nunca.
— Aishh! Oppa, que coisa feia! Eu tenho esperanças de
realizar esse sonho.
Puxei a chave do bolso e acionei o alarme do carro para abrir a
porta, mas minha vontade era dar uns tapas na bunda de Zoe.
Quando a coloquei no chão para que entrasse no carro, a garota
beliscou meus mamilos.
— Nunca zombe do meu amor pelos sete — ameaçou ao
apontar o indicador para mim. — Você não tem a menor chance
contra eles.
— Que sete? — Ela revirou os olhos. — São sete homens? É
alguma versão de Branca de Neve?
Eu não havia reparado que eram sete integrantes, mesmo que
tenha assistido alguns vídeos recentemente. Era preocupante não
ter que lidar nem com dois ou três, mas com sete machos que
faziam as garotas se derreterem só com a porcaria de um olhar.
Como acabamos entrando naquele assunto, durante todo o
percurso até em casa Zoe veio me contando um pouco sobre o
grupo. Tentou fazer um tipo de lavagem cerebral em mim, dando
detalhes sobre o início da carreira deles, como era a personalidade
de cada um, suas conquistas pelo mundo e a forma como lidavam
com o sucesso.
Agradeci em silêncio por chegarmos no apartamento e
encerrarmos o culto de adoração por BTS. Ela ficou nas pontas dos
pés para me beijar e disse que tomaria um banho antes de ir para o
meu quarto. Por mim, nem desviaríamos do caminho e eu a levaria
direto para lá, mas preferia não pressioná-la a nada e deixar que
fizesse as coisas em seu próprio tempo.
Meia hora depois, Zoe apareceu com o conjuntinho que vi no
outro dia, com o short curto e a camisa de alcinha, pronta para me
provocar. Ela mesma estava com segundas intenções quando me
lançou um sorriso safado e mordeu o lábio, toda gostosa.
— Achei que fosse gostar da minha escolha — disse, parando
diante da minha cama com as mãos cruzadas na frente do corpo. —
Podemos dormir?
— Dormir é, provavelmente, a última coisa que vamos fazer
agora — declarei.
Estava tão nervosa que cheguei a sentir falta de ar quando
Logan ajoelhou na beira do colchão e me segurou ainda de pé, pela
cintura, passando os dedos por dentro da minha blusa. Queria ir
mais além naquela noite, passar mais tempo com ele e viver novas
experiências porque Logie era o único homem com quem eu
conseguia me enxergar fazendo isso.
Mesmo não conhecendo os sentimentos que habitavam o
coração dele, mesmo que ele nunca tenha feito essa promessa para
mim, mesmo assim, eu tinha certeza de que Logan faria eu me
sentir a pessoa mais importante do mundo durante todo o tempo em
que estivesse me tocando. Eu confiaria nele de olhos fechados e
mãos atadas se fosse preciso e naquela noite estava mais do que
disposta de usar essa confiança.
Nem conseguia expressar em palavras a emoção que me
tomou quando sugeriu que desistiria da aposta para que eu voltasse
a ser eu mesma. Sabia o quanto ele desejava ganhar e pegar o
dinheiro para trocar de carro e eu achava que não era possível me
apaixonar mais ainda pela mesma pessoa.
— Você é extremamente sensível ao meu toque — murmurou
Logan, depositando um beijo acima do meu umbigo depois de
enrolar minha blusa um pouco para cima. — Em qualquer lugar que
eu encoste, fica arrepiadinha na mesma hora.
— Não consigo controlar.
Ele rolou os olhos para me encarar, colocando a língua para
fora e lambendo meu umbigo, o que quase me fez gemer.
— Não quero que se controle — declarou, apertando minha
bunda. — Quero que relaxe e deixe seu corpo reagir do jeito que é
pra ser.
Esta noite, Logie estava vestindo apenas uma calça preta larga
e o seu peito nu se encontrava todo à minha disposição. Por isso,
quando ele me puxou para a cama e ficamos os dois ajoelhados
cara a cara, não perdi tempo e espalmei minhas mãos em seu
trapézio, escorregando até sentir os mamilos durinhos, pequenos e
rosados. Assim como tinha feito em mim da outra vez, me encorajei
a levar minha boca até eles e beijei primeiro o do lado esquerdo.
Passei minha língua pela bolinha dura, ouvindo Logan suspirar e,
em seguida, gemer, enterrando os dedos nos meus cabelos.
— Assim você me enlouquece antes da hora — murmurou,
meio que rindo meio que gemendo. — Preciso manter a calma...
Que Logan me perdoasse, mas naquele momento eu pouco
me importava para o que ele dizia. Se tivesse me pedido para parar,
eu teria feito, mas como isso não aconteceu, continuei minha
exploração até o próximo mamilo. Agora, mais ousada e confiante,
consegui fechar meus lábios ao redor dele e chupar devagar. Não
sabia se homens realmente gostavam daquilo, mas estava me
baseando no que Logan fez comigo.
— Porra, Zoe! — Ele jogou a cabeça para trás, fechando os
olhos e levando uma de suas mãos até a calça.
Meus olhos acompanharam o gesto e o viram apertar o pau
por um segundo, o que me deixou muito quente. Logan já exibia um
volume considerável por baixo do tecido e eu me sentia bastante
ansiosa para vê-lo só de cueca.
— Eu não tenho culpa se você é gostoso — confessei,
apertando o abdômen liso com alguma definição. — E eu sempre
quis tocar em você assim.
Ele abriu os olhos e usou uma mão para segurar meu rosto e
me beijar de forma urgente. Com a outra, foi puxando minha blusa
para cima até tirá-la por completo e lançar a peça ao chão. Quando
viu meus seios, desceu a boca até um deles, mas sua pegada foi
bem diferente da primeira vez. Não havia delicadeza agora, mas um
Logan faminto que me chupava de um jeito tão intenso que me fazia
sentir uma cascata descendo pelas minhas pernas.
— Sabe que pode me parar quando quiser, né? — perguntou
ao erguer os olhos para mim e eu assenti.
Em seguida, ele voltou a se ocupar do outro seio, enquanto
deslizava a mão pela minha barriga, passava pelo meu umbigo e
alcançava meu short. Por cima do tecido, Logan me tocou com
pressão e eu me derreti. Meu cérebro até enviou um comando para
que eu fechasse as pernas, mas meu corpo traidor permaneceu
imóvel conforme ele roçava a palma da mão na roupa e me deixava
ainda mais molhada.
Fechei os olhos com força e tudo o que consegui fazer foi
segurar firme em seus ombros. Ele parou de me beijar os seios e
não tinha certeza do que fazia agora, mas sua mão continuou no
mesmo lugar.
— Gosta disso, Zozo? — sussurrou com uma voz muito grave
e eu assenti, sentindo sua boca roçar minha orelha. — Você está
tão linda sentindo prazer...
Engoli em seco depois de suspirar, minha cabeça rodando,
meus mamilos doloridos e meu short melado. De repente, os dedos
de Logan já não se concentravam mais sobre o tecido e agora
estavam em contato direto com a minha pele. Ouvi o gemido dele
quando me sentiu ensopada, separando meus grandes lábios e
deslizando um dedo.
— Tão perfeita... — Recebi um selinho, depois um beijo no
pescoço. — Toda gostosa só pra mim.
Precisei abrir os olhos quando meu clitóris foi encontrado e
enxerguei tanto desejo em Logan que me surpreendi. Nunca
consegui imaginar, de verdade, como ele era durante o sexo, como
se comportava, se gemia ou não, se ficava ainda mais irresistível.
Preferia não pensar muito nisso para não imaginá-lo com outras
garotas, considerando que parecia meio impossível ser eu no lugar
de qualquer uma delas.
Ele voltou a chupar meus seios e se tornou muita informação
para processar, porque minhas pernas começavam a se transformar
em gelatinas, meu corpo tremia todo e os arrepios vinham um atrás
do outro. Eu me assustei quando trouxe um dedo para dentro de
mim porque não era daquele jeito que eu me masturbava, senti meu
coração acelerar de medo, mas Logan foi delicado enquanto
explorava meu corpo.
— Quer me tocar? — perguntou, pegando minha mão e a
levando para seu abdômen. — Não se envergonhe, ok?
— É o que mais quero — respondi sendo sincera, sentindo
meus dedos trêmulos conforme se aproximavam do elástico de sua
calça. — Mas parece irreal poder fazer isso com você.
Logan segurou meu queixo e me beijou devagar, alisando
meus cabelos e afastando a mão de dentro do meu short. Eu
também parei meus movimentos sem saber se ele tinha mudado de
ideia, mas logo seus dedos tocaram os meus e voltaram a me
incentivar.
— Não vou olhar pra não te deixar mais nervosa — murmurou,
chupando minha orelha. — Siga seus instintos, sou todo seu.
Sentindo-me mais encorajada, deitei minha cabeça no ombro
dele e toquei o elástico grosso da calça, passando a mão por dentro
dela e me surpreendendo por Logan estar sem cueca. O membro
duro estava solto e pesado, era quente, liso e a ponta melada me
deixou mais excitada ainda. Alisei todo o comprimento, sentindo
aquela textura diferente com a qual eu não estava acostumada, e
ouvindo Logan gemer baixinho.
Parecia que quanto mais eu deslizava minha mão por ele
inteiro, mais o tamanho se alterava e mais rígidoficava. Quando me
senti à vontade com a situação, recuei um pouco para poder olhar o
homem inteiro e pensei em abaixar logo sua calça, mas Logan
reagiu de supetão, segurando-me firme pela cintura e girando
nossos corpos para me deitar na cama.
— Como não sei até onde vamos, acho melhor eu manter a
calça, ok? — disse ele, sorrindo como um bobo e alisando a própria
nuca. — Fica mais fácil manter o controle.
— Quero ir até o fim — declarei, notando o brilho em seus
olhos aumentar. — Tenho certeza disso.
Logan lambeu o lábio inferior e direcionou o olhar até meus
seios, apertando-os algumas vezes antes de levar as mãos até meu
short e começar a puxá-lo pelas minhas pernas. Senti medo do que
estava prestes a acontecer, mas minha curiosidade era ainda maior,
então apenas esperei que ele terminasse de me despir e controlei
minha respiração acelerada.
— Ah, Zoe... — Estalou a língua, passando a mão na cabeça e
sorrindo de um jeito desconcertado. — Não achei que depilasse
tudo.
Era incrível notar que alguém mais naquele cômodo podia
enrubescer além de mim, porque foi exatamente isso que aconteceu
com Logan quando ele se deitou com o rosto próximo da minha
vagina.
— Eu já venci uma competição e ganhei uma medalha hoje.
Não achava que podia ser ainda mais sortudo. Sua boceta é
perfeita.
Sabia que a boca suja ia começar em algum momento, mesmo
assim, o impacto em ouvir era forte e me fez fechar os olhos. Logo
em seguida, senti os dedos de Logan me abrirem e a língua dele
percorrer toda a minha extensão, me causando espasmos pelo
corpo.
— Gosto de saber que ninguém nunca te lambeu assim —
murmurou com a cara mais safada possível ao me olhar. — Que
essa bocetinha rosa e melada é intacta e só eu vou provar.
— Logan! — Tapei o rosto prestes a infartar e o senti rir.
— Não adianta ficar assim — disse, enfiando um dedo dentro
de mim. — Na cama eu não sou o Logan que você conhece. Gosto
de falar sacanagem.
Gemi quando ele me chupou com vontade e urgência, usando
a boca inteira, levando a ponta da língua a cantos que nem eu
conhecia, brincando com o meu clitóris entre os lábios e me
penetrando com a ponta do dedo. Eu só conseguia me sentir cada
vez mais melada, percebia que minha lubrificação escorria para a
minha bunda, ou era a própria saliva de Logan.
Meu coração acelerou muito conforme meu corpo se contorcia
mais e mais, sem que eu parasse de ser chupada. Todas as vezes
em que me toquei para me satisfazer, tive orgasmos delicados,
silenciosos, controlados, mas sentia que o que se aproximava não
era nada parecido com o que eu já havia experimentado. Logan se
banhava entre minhas pernas e me levava ao limite quando meu
corpo inteiro retesou, para milésimos de segundos depois, ser
acometido pelos espasmos tão esperados.
Não controlei o gemido que soltei, precisava extravasar de
alguma forma. Senti o prazer de sempre com aquele contato do
clitóris, mas havia algo mais que me enlouqueceu. O dedo de
Logan, a forma como ele roçava na minha entrada para me mostrar
o que me esperava, aquele dedo eu quis sugar inteiro, quis senti-lo
me preencher e vir mais fundo como se fosse possível. Consegui
imaginar como seria quando ele fosse substituído pelo pau de
verdade e só podia esperar que acontecesse logo.
O peso sobre meu corpo me fez abrir os olhos e encarar um
Logan sorridente e atencioso. Ele me beijou nos seios até subir mais
e me dar um selinho. Minha reação imediata foi envolver seu
pescoço e o apertar contra mim, com braços e pernas, para evitar
que saísse dali pelos próximos minutos.
— Como você está? — perguntou, beijando meu nariz. — O
nervosismo passou?
— Um pouco — respondi, sorrindo. — Isso foi incrível.
— Você não faz ideia de como é deliciosa — disse ele,
apertando minha coxa e acelerando meu pobre coração que estava
se acalmando. — Foi muito gostoso te sentir gozando na minha
boca, ainda hoje quero repetir essa refeição.
Logan desceu o rosto até meu pescoço e me chupou com
força quando comecei a rir, morta de vergonha do que acabara de
confessar. No entanto, eu era corajosa o suficiente para repetir tudo
com ou sem timidez, porque era muito bom para recusar uma
oportunidade dessa.
Eu me sentia mais nervoso hoje do que no dia em que perdi
minha virgindade. Zoe não era a primeira menina virgem com quem
eu me deitava, mas era a Zoe e isso tinha um significado muito
grande. Precisava ser perfeito para ela, eu não desejava que tivesse
nenhum tipo de arrependimento ou frustração a respeito daquele
momento. E toda essa expectativa que eu mesmo estava colocando
sobre o ato, vinha me deixando tenso.
Até ali tudo tinha saído muito bem. O jantar foi ótimo,
conseguimos conversar, eu falei o que sentia necessidade de
desabafar e pude esclarecer que agora, estávamos na mesma
página. Eu a queria tanto quanto ela me queria. Não me importava
se seus sentimentos eram maiores e mais antigos, mas sim que eu
a desejava, que estava com ela ali, naquele momento, por opção.
O peito de Zoe ainda se movimentava de forma errática no
pós-orgasmo e eu tentava manter uma conversa descontraída para
que ela não se fechasse num casulo. Esfreguei nossos quadris,
deixando que sentisse como eu estava excitado, ainda mais do que
quando ela me tocou.
Lembrar da sensação me causava um calafrio gostoso, ter
sentido a mão pequena e leve segurando meu membro com tanta
delicadeza, ao mesmo tempo que não temia explorá-lo para matar a
curiosidade. Eu queria muito mais, queria sentir como era me
encaixar dentro de Zoe, conhecer seu calor e descobrir como me
receberia.
Ela me encarava com muita expectativa quando interrompi
nosso beijo e ergui o tronco para admirar sua nudez.
— Quer continuar? — perguntei e a vi passar a língua pelos
lábios, ansiosa.
— Sim.
— Tem certeza de que quer a mim como o primeiro? —
provoquei, abaixando o rosto e mordiscando seu seio durinho.
— Quem mais seria? — ela perguntou, aproveitando minha
distração para levar as mãos até minha calça. — Já pode tirar, né?
Ajoelhei-me sem pressa e comecei a me despir para que
apreciasse, baixando apenas o suficiente para que meu pau se
libertasse. Os olhos de Zoe falavam por si só quando ela os
arregalou e ficou corada, deixando um suspiro escapar. Eu o peguei
na mão e o alisei sem tirar meu foco da garota, que mordia o lábio
com força.
— É como imaginava? — questionei, passando meu dedo pela
glande molhada.
— Nunca... — pigarreou, sorrindo. — Nunca consegui imaginar
como era.
Dei um selinho em Zoe antes de puxar a calça de volta e me
levantar da cama. Fui até minha cômoda pegar um pacote de
preservativo e, no caminho, aproveitei para me despir de uma vez.
Ouvi um assobio ao ter minha bunda exposta para a garota e ri
enquanto me virava, voltando até ela e subindo no colchão com a
camisinha presa entre os dentes.
— Acho que morri e fui pro céu — disse Zoe, tapando o rosto e
fechando as pernas, toda fofa. — É muita coisa pra ser apreciada
numa única noite.
— Então basta dormir aqui e apreciar a madrugada toda —
falei, piscando e abrindo o pacote.
A colorida se sentou de frente para mim, tocando meu peito e
passando as unhas pela minha pele. Podia me imaginar chegando
no próximo treino com algumas marcas se dependesse de Zoe, mas
naquele momento, pouco me importava com isso. Ela desceu as
mãos até segurar de novo em meu pau, dessa vez com mais
confiança, me masturbando devagar.
Então, a danada se animou e se ajoelhou, jogando os braços
ao redor do meu pescoço e vindo para cima de mim. Segurei sua
bunda quando soltou seu peso e me envolveu com as pernas,
unindo nossos corpos e me levando à loucura com aquele atrito
entre nossos quadris.
— Assim não é bom pra uma primeira vez, Zozo — avisei já
que ela parecia empolgada. — Vamos com o básico, ok?
— Podemos testar depois? — perguntou, mordendo o lábio e
rebolando em cima de mim. — Parece tão sensual assim... Pelo
menos, nos vídeos.
— Podemos fazer tudo o que você quiser fazer, mas antes,
tem um hímen no caminho. — Pisquei para ela, que gargalhou,
apoiando a testa no meu ombro.
— Seja gentil.
Ah, eu quase não me sentia pressionado e ela ainda piorava a
situação. Eu só tinha vinte e dois anos, não dava para dizer que
tinha uma vasta experiência. Possuía sim uma vida sexual ativa,
mas não era o maior comedor da cidade. Não era do tipo que
achava bacana tirar a virgindade das menininhas para fazer
coleção.
Puxei o ar devagar e a coloquei deitada de costas, colando
meu corpo ao dela. Sua pele estava tão quente, tão macia... Aquilo
em si já era de fazer perder a cabeça, mas eu daria o meu melhor.
Levei minha mão até a bocetinha molhada que eu tinha amado
lamber e a estimulei mais um pouco, vendo Zoe aceitar o agrado e
se contorcer.
Quando me ajoelhei, brinquei com seu clitóris enquanto abria
bem seus pequenos lábios para conferir o visual que me esperava.
Zoe era fechadinha e vermelha, sentia meu membro babar só de
olhar para ela.
Finalmente coloquei o preservativo e puxei seus joelhos,
arrastando-a mais para baixo e me encaixando entre suas pernas.
Ela não parava de torturar seus lábios com os dentes,
transbordando ansiedade, com os olhos vidrados em todos os meus
gestos. Pincelei a cabeça pela virilha macia e fui me aproximando
até tocar o clitóris com ela e descer pela região molhada.
Zoe desistiu de tomar conta e fechou os olhos, apertando-os
com força, então eu me juntei a ela e insisti na fricção entre nossos
corpos.
— Não fique nervosa — pedi, beijando sua boca.
Deixei que se distraísse naquela nossa troca, nas línguas que
se encontravam e no movimento lento de nossos quadris. Aos
poucos, ela pareceu relaxar, seus dedos brincaram com meus
cabelos e seu sorriso surgiu entre meus lábios. O momento certo
chegou e me ergui um pouco, fazendo pressão no ponto devido,
deixando que minha glande empurrasse sua pele, recuando e
empurrando vez ou outra, sempre mantendo a cadência. Quando
percebi que Zoe se acostumava com aquela repetição, insisti um
pouco mais e rompi seu hímen.
Cada mulher sentia de um jeito, algumas diziam ter sido muito
dolorido, outras reclamavam do sangramento, as felizardas nem
mesmo notavam a dor. A minha garota apertou os olhos quando eu
a penetrei e soltou um gemido baixo, mas logo me encarou com o
semblante menos pesado.
Deitei-me com ela, tocando seus cabelos e a beijando
enquanto me mexia devagar para que se acostumasse. As mãos
pequenas tocaram minhas costas e os dentes prenderam os meus
lábios numa provocação gostosa. Foi um alíviovê-la sorrir enquanto
eu ainda me encaixava dentro de sua boceta, o que fazia parecer
que estava tudo bem.
— Como se sente? — perguntei. — Dói muito?
— É incômodo, mas não está me machucando.
Eu me movi um pouco mais para o fundo, unindo nossos
quadris até o fim, arrancando um suspiro pesado de Zoe. Ela
apertou as mãos em meus braços e as pernas ao redor da minha
cintura quando lambi a curvinha de seu pescoço, aumentando
gradativamente o ritmo das estocadas.
Era impossível controlar os gemidos que escapavam pela
minha boca porque a colorida era tão apertada que eu me sentia
enlouquecendo. Puxava e empurrava meus quadris ainda bem
devagar e minha vontade de ir mais além só aumentava. Tentei ser
o mais carinhoso que consegui, o mais paciente, esperando que
Zoe curtisse cada segundo daquele momento, se acostumando,
conhecendo o movimento, sentindo o contato de nossos corpos um
dentro do outro.
Então, eu a virei de lado e me posicionei por trás, sabendo que
ela gostaria daquela posição. Ali, pude envolver todo o seu corpo
em meus braços e a penetrei novamente, brincando com seus seios
enquanto estocava um pouco mais rápido. Por instinto, a própria
Zoe foi se acomodando e se movimentando, depois de levantar a
perna por cima da minha e rebolar devagar. Não havia ainda muita
desenvoltura, mas ela tentava me seguir e procurar pelo prazer
comigo.
Quando alcancei seu clitóris e a estimulei naquele ponto, ainda
dentro dela, sentindo-a me apertar demais, a garota começou a
choramingar. Enquanto eu massageava seu pontinho com
movimentos circulares, Zoe agitava mais os quadris contra os meus,
e não demorou para que gozasse comigo a preenchendo
completamente. Ela gritou, esticando todo o corpo e o contraindo
antes de rebolar mais rápido em meu pau.
Porra! Impossível não me afetar com tudo isso. Acabei
aumentando a velocidade e precisei abraçar Zoe com força,
sentindo minha pele suar e ela escorregar em meus braços. Quando
atingi o clímax, logo saí de dentro dela e a empurrei de costas no
colchão, montando sobre seu corpo e a beijando com calma.
— Nossa... — murmurou, os olhos fechados e um sorriso no
rosto. — Nossa!
— É isso mesmo. — Mordisquei a ponta de seu nariz antes de
soltá-la. — Sei bem o que você quer dizer.
Levantei-me para descartar a camisinha e voltei rápido para o
quarto, me deitando ao lado de uma Zoe ainda largada na mesma
posição. Acariciei os seios bonitos e a puxei para meus braços,
deslizando minha mão por sua barriga até encontrar sua intimidade
quente e melada. Ela ainda tinha a respiração acelerada e o rosto
vermelho, estava lindíssima com os cabelos de várias cores
espalhados pelo meu travesseiro e um sorriso bobinho no rosto.
— Ainda não acredito que aconteceu mesmo — sussurrou,
fechando um pouco os olhos e tocando meu peito. — Perdi a minha
virgindade com Logan Choi.
— Logan Choi é um cara importante pra merecer isso?
— Hm... — Zoe mordeu o lábio e se aconchegou mais perto,
com a cabeça em meu peito. — Vou te contar um segredo. Promete
não contar pro Logan?
— Claro. — Ri, fazendo carinho em seus cabelos. — Eu nem o
conheço, mas já sei que é um sortudo.
— Então... — Os braços finos envolveram minha cintura
quando ela escondeu totalmente o rosto. — Logan Choi é o cara
que eu amo.
Uau! Eu não percebi o que estava para acontecer, não
esperava mesmo aquela confissão, mas senti meu coração dar uma
breve parada que me deixou em alerta. Por um instante, me vi
perdido sem saber como responder aquelas palavras. Eu não seria
sincero se dissesse que a amava e não me considerava um babaca
por isso, pois era fiel aos meus sentimentos e ações. Assumia que
estava gostando de Zoe ou não teria ultrapassado essa linha entre
nós, mas amor era muito forte e o que eu vivia com ela ainda era
recente.
Mesmo assim, entendia como era difícil dizer aquelas palavras
para outra pessoa e o quanto ela foi corajosa por isso. Ainda estava
calada, agarrada ao meu corpo, quando beijei seus cabelos e
também a apertei em meus braços.
— Não sei se mereço esse amor, mas prometo retribuir o
quanto puder — falei, alisando suas costas suadas.
— Tudo bem. — Ela me soltou e não conseguiu me encarar
direito enquanto se sentava na cama. — Acho que preciso ir ao
banheiro.
— Zoe. — Segurei seu braço quando fez menção de se
levantar e a obriguei a me olhar. — Você entende que pra mim, isso
é tudo muito recente? O fato de eu não me declarar de volta, não
significa que esteja fechado para viver o sentimento se ele chegar.
Estou com você, ok?
O semblante dela se aliviou um pouco quando sorriu e se
inclinou para me dar um selinho. Deixei que tivesse seu tempo no
banheiro e aproveitei para vestir uma calça e buscar uma água na
cozinha.
Minha irmã chegou em casa quando eu estava prestes a voltar
ao quarto e eu cheguei a cogitar deixá-la descobrir o que aconteceu
quando Zoe resolvesse contar, mas meus planos foram pelo ralo
quando a porta do banheiro se abriu ao meu lado e a colorida saiu lá
de dentro, peladinha, então pulou no meu colo. Ela estava de costas
para a sala e não viu que Leslie assistia tudo.
— Acha que consigo transar de novo ainda hoje? —
perguntou, envolvendo minha cintura com as pernas finas. — Queria
tentar aquela posição sentada no seu...
— Ah, que nojo! — minha irmã gritou, levando a mão às
orelhas. — Eu vou vomitar!
Tapei a boca de Zoe e corri com ela para dentro do meu
quarto, enquanto ouvia Leslie choramingando do lado de fora e a
colorida gargalhando no meu pescoço. As duas juntas me fariam
envelhecer dez anos em apenas doze meses.
A primeira coisa que fiz quando saí de casa na segunda de
manhã foi mandar uma mensagem para Ryan, avisando que estava
desistindo da aposta. Podia esperar para falar com ele
pessoalmente, mas não queria mais alongar aquela situação.
Estava a caminho do meu treino quando ele começou a me ligar,
mas recusei todas as vezes. Quando finalmente desistiu, recebi uma
resposta por mensagem de texto.

Ryan: “Como assim? Por que quer desistir de repente? Levou um


fora?”

Logan: “Não faço mais questão do dinheiro e estou envolvido com


Zoe. Não quero levar isso adiante.”

Ryan: “Não acredito que você se apaixonou, Logan. É sério?”


Logan: “Não importa o que seja, ok? Só quis te avisar que não vai
mais rolar.”

Não satisfeito, Ryan logo enviou uma mensagem para nosso


grupo de amigos sugerindo nos encontrarmos mais tarde. Minha
disposição para sair numa segunda-feira à noite era nula, mas como
todos concordaram, achei que seria ótimo aproveitar todos eles
reunidos no mesmo lugar e contar logo sobre a minha desistência.
Não me importava se Ryan quisesse me zoar, achando que
seria vergonhoso para mim estar com Zoe por vontade própria. Eu
tive um sábado incrível com ela e um domingo tranquilo com minha
irmã ao lado, quando nós três passamos o dia inteiro fazendo
maratona de filmes. Era muito bom estar com uma pessoa que era
quase como família para mim, ter intimidade para curtir um sossego
só nosso, sem precisar me preocupar se a pessoa se daria bem
com Leslie e vice-versa. Estava acostumado com o jeito das duas,
lidei com isso a vida inteira, e agora parecia que os laços entre nós
se estreitaram ainda mais.
Além disso, eu estava com a rotina muito corrida. Fora os
meus treinos diários e meu quadro de horário das aulas, ainda
inventei de acrescentar uns compromissos que estavam
relacionados ao aniversário de Zoe. Vinha preparando uma surpresa
com a ajuda de Lee, e por mais que no início eu tenha considerado
impossível tornar aquilo realidade, agora tinha certeza de que daria
muito certo e estava bem ansioso pra ver a reação da coloridinha.
No início da noite, passei para buscar Dylan e fomos nos
encontrar com o pessoal. Ele ainda não sabia sobre a minha
decisão e para que não descobrisse através do idiota do Ryan,
achei melhor já adiantar o assunto assim que entrou no meu carro.
Quando confessei estar gostando de Zoe e ter decidido encerrar a
aposta, a reação dele foi exatamente a que eu esperava.
— Faz muito bem — falou, dando um tapinha nas minhas
costas. — Finalmente você caiu em si, cara. Sabe que fui contra
desde o início.
— Sim, mas você sabia que eu não estava agindo pelas costas
da Zoe.
— Mesmo assim. — Dylan deu de ombros. — E se ela não
chegasse ao TOP 3 como combinado? Já pensou como se sentiria
mal sabendo que você perdeu a aposta por causa dela?
— Eu nunca pensei por esse lado porque sempre tive certeza
de que Zoe chegaria — comentei, sorrindo e apontando para o
celular dele que estava em sua mão. — Dá uma olhada no perfil da
Hottest Prin.
Aguardei que meu amigo acatasse minha sugestão porque,
obviamente, ficou curioso. Quando ele entrou no Instagram e
conferiu a postagem feita ontem à noite, virou o rosto para mim.
— Como ela subiu de 50 pra 22? — perguntou, chocado. —
Ryan já sabe disso?
Encolhi os ombros, sem me importar. A pessoa que deveria
saber, que era Zoe, descobriu ontem mesmo. Na verdade, a
primeira a saber da novidade foi Leslie, que vinha acompanhando
religiosamente o perfil para acompanhar o ranking. Ela ainda não
sabia sobre a minha decisão de sair da aposta, então começou a
comemorar enquanto eu fazia o jantar, gritando que sua melhor
amiga era popular.
Zoe ficou toda boba quando viu a postagem, porque a foto que
usaram foi tirada em algum momento seu sozinha, caminhando pelo
campus durante um dia de semana. Ela vestia um jeans e uma
camiseta branca simples e os cabelos estavam presos numa trança.
Não havia um pingo de maquiagem em seu rosto e isso não a
impediu de subir na seleta lista.
Fiquei feliz simplesmente por isso ser ótimo para sua
autoestima, mas não comemorei pensando no carro. Se a partir de
agora a posição da garota subisse ainda mais, seria por mérito
próprio, pelo seu jeito de ser, por sua personalidade. Eu não queria
mais interferir.
— Estou contente por vocês dois. — Dylan apertou meu
ombro. — Tomara que a relação dê certo. Estão namorando?
— Eu a pedi em namoro em público, lembra?
— Sim. Mas aquilo foi para a aposta. — Olhei para ele, que
arqueou os olhos. — O quê? Eu acho que não vale.
Eu considerava que estávamos namorando, afinal, foi o que
decidimos semanas atrás, mas será que Zoe também pensava igual
a Dylan? Será que ela achava que não éramos exclusivos? Porque
não havia a menor possibilidade de ficar com a garota e dividi-la
com qualquer outro cara. E considerando que agora fazia parte de
uma lista bem popular, eu precisaria ficar de olhos bem abertos com
os prováveis concorrentes.
Quando chegamos no Tatter, apesar de não ser noite de quinta
e não haver nenhum show programado, o local estava bem cheio.
Ryan já estava em uma mesa com Mike e Eddie, e aproveitei para
beliscar um hambúrguer deles enquanto esperava pelo meu pedido
ficar pronto, pois estava morrendo de fome.
— Então, agora que estamos todos aqui, qual é a novidade?
— perguntou Eddie, deixando o celular de lado.
— Logan se acovardou — declarou Ryan, me fazendo revirar
os olhos. — E aí? Quer contar ou eu conto?
Eu o encarei por alguns segundos, pensando o que tinha de
interessante para fazer na vida. Porque se ficava tão animado assim
para falar sobre uma coisa sem tanta importância, devia ter uma
rotina muito entediante.
— Pode contar — respondi, encolhendo os ombros. — Divirta-
se.
— Contar o que, gente? — Mike questionou, tão perdido
quanto Eddie. — Vão ficar fazendo mistério?
— O Logan desistiu da aposta. — Prendi a risada porque foi
Dylan quem soltou a notícia e deixou Ryan com cara de quem tinha
acabado de ter o pirulito roubado. — Pronto, falei.
O jogador de basquete tentou esconder a frustração por não
ter conseguido ser o portador da notícia e eu quase agradeci ao
Dylan por ter estragado o momento dele. Foi Mike quem quebrou o
silêncio na mesa e me encarou sem entender, debruçando-se para
perto de mim.
— O que aconteceu? Você estava empolgado com isso.
— Logan se apaixonou — anunciou Ryan. — Pelo patinho feio
de Princeton. — O babaca ergueu a garrafa de cerveja no ar e
sorriu. — Um brinde aos contos de fadas! Eles realmente existem!
Eu me mantive sério e Mike percebeu que não estava contente
com o discursinho do nosso amigo, que estava mesmo se
mostrando cada dia mais intolerável.
— Por que você está sendo escroto? — indaguei, causando
um silêncio na mesa. — Eu te contei que estou saindo com a garota
e quer me irritar falando dela desse jeito?
— Mas eu disse alguma mentira? — Ele me lançou um sorriso
nojento. — Ela era bizarra e se transformou numa gostosa. Não sei
como você operou esse milagre, juro, mas está de parabéns.
— Ryan, fala sério — Mike murmurou, franzindo sua testa. —
A garota é gente boa.
— Eu não disse que não é. — Ele encolheu os ombros. —
Beleza não tem nada a ver com personalidade.
— Não tem mesmo, porque você é bem babaca. — Empurrei
minha cadeira para trás e guardei meu celular no bolso. — Vou
embora antes que me estresse ainda mais.
Eu tinha feito o pedido do hambúrguer, mas preferia perder
dinheiro a esperar que ficasse pronto. Se permanecesse mais um
minuto ali dentro ouvindo Ryan falar idiotices sobre Zoe, não
responderia pelos meus atos.
— Ah, Logan! Deixe de ser um bebê chorão, fique aí! — ele
insistiu quando deixei o valor do meu pedido sobre a mesa. — Veja,
eu já tinha até separado os vinte mil. O que vou fazer com eles
agora? Dar de gorjeta?
— Enfia na porra do seu cu — respondi, fechando minha
jaqueta e me retirando do estabelecimento.
Talvez essa última cena tenha chamado a atenção de algumas
pessoas porque falei alto demais, mas estava pouco me importando
com fofocas.
Entrei no carro e dirigi de volta para casa, pensando nos meus
próximos passos. Depois desta noite, eu nem queria Zoe chegando
perto de Ryan, já que agora sabia perfeitamente o que ele pensava
dela. Não havia a menor empatia, para o filho da puta, a garota
sempre foi uma pária e alguém que despertava sua curiosidade.
Preferia que nem ficasse sabendo da conversa, porque era inocente
demais para se chatear com aquela merda.
A televisão estava ligada quando cheguei, mas minha irmã
dormia no sofá, enquanto Zoe estava em seu quarto. Como a porta
estava aberta, pude vê-la deitada de bruços e mergulhada em livros,
com seu notebook do lado, aparentando estar envolvida em algum
trabalho. Permaneci em silêncio por mais algum tempo para
observá-la no auge da concentração, então bati na porta e me
aproximei.
— Estudando? — perguntei ao me sentar na beira da cama,
bem em cima do rosto de um daqueles cantores.
— Pesquisando umas referências para uma apresentação na
semana que vem.
— Precisa de alguma ajuda? — Toquei seus cabelos que
estavam soltos e caíam sobre os ombros finos.
— Adoraria, mas aí vou me desconcentrar — ela respondeu
toda bobinha, engatinhando até apoiar as duas mãos em minhas
pernas e se esticar para me beijar.
— Tudo bem, vou te deixar em paz. — Sorri, inebriado pelo
seu cheiro. — Quer dormir comigo?
— Quero — respondeu, abrindo um sorriso enorme. — Mas só
pra dormir mesmo, porque minha menstruação veio hoje à tarde.
Eu poderia elencar alguns motivos para transarmos assim
mesmo, mas Zoe não estava preparada para isso. Depois da
primeira vez no sábado e da segunda rodada no mesmo dia, não
fizemos sexo de novo. Ela acordou reclamando de bastante dor no
domingo e eu a deixei em paz, e pelos próximos dias, pelo visto,
não haveria diversão.
Entretanto, cresci com uma garota dentro de casa e sabia
como minha irmã ficava insuportavelmente ranzinza e manhosa
quando estava menstruada. Lidar com esse tipo de situação tinha
sido rotina por muito tempo, então cuidaria também da colorida,
começando a mimá-la desde já.
— O que você acha de eu sair pra comprar uma pizza, um
pote de sorvete do seu sabor favorito e, quando você acabar de
estudar, ir pro meu quarto ganhar uma massagem nos pés?
Zoe piscou algumas vezes e se sentou sobre os calcanhares,
me encarando por um tempo em silêncio, até finalmente sorrir com
os olhos verdes brilhando intensamente.
— Você existe mesmo? — perguntou, tapando o rosto. — Se
eu puder ter tudo isso e mais uns beijos seus, vou ficar muito feliz.
— Eu estava considerando os beijos como pagamento, não
precisava pedir. — Levantei-me e beijei o topo da cabeça dela. —
Acorde a Leslie, eu não vou demorar.
Zoe fez o coraçãozinho de dedo para mim antes que eu
deixasse o quarto e eu retribuícom o mesmo gesto, me sentindo um
adolescente empolgado com o primeiro namoro.
Peguei minha carteira que tinha deixado sobre a mesa, a
chave do carro, troquei de sapatos e fui em busca dos itens para
agradar minha namorada. Não pude evitar sorrir ao murmurar
baixinho aquela palavra para ver como soava em minha boca. Será
que eu estava apaixonado?
Logo que acordei, mandei mensagem para o pessoal que
estava me ajudando com o presente de Zoe e conversei com eles a
respeito do que eu gostaria de alterar. A conversa de ontem com
Dylan e depois a idiotice do Ryan me fizeram mudar de ideia e fazer
a surpresa um pouco diferente.
Estava na cozinha, preparando um café da manhã depois de
ter passado os últimos quinze minutos conversando com eles,
quando a colorida apareceu. Eu não tinha treino naquele dia, por
isso ela me encontrou em casa, porque normalmente, eu sempre
saíamuito antes de Zoe ou Leslie acordarem. Minha irmã foi a única
que saiu mais cedo por conta de uma apresentação que tinha para
fazer na primeira aula.
— Bom dia — murmurou ela ao parar no meio da cozinha,
esfregando os olhos. — Quer me alimentar?
Sorri, abraçando sua cintura e beijando sua testa. Ainda estava
quentinha por ter saído de debaixo das cobertas há pouco tempo e
deixei que minhas mãos escorregassem para dentro de sua blusa.
Zoe havia dormido comigo ontem, mas por causa da menstruação,
eu preferi nem tocá-la direito para não cair em tentação, mas foi
bem gostoso ter seu corpo em meus braços a noite toda,
principalmente porque ela tinha o sono pesado e dormia toda fofa.
— O que você quer comer? — perguntei, alisando suas costas
e sentindo suas mãos apertarem minha bunda, o que a fez sorrir
como uma safada.
— Ah, eu poderia citar várias versões de Logan Choi.
— Eu nasci preparado, Zozo. — Pisquei, vendo-a sorrir. —
Estou à sua disposição. Basta querer e tomar pra você.
A garota gargalhou e estremeceu, se virando de costas e
fugindo de mim enquanto abria a geladeira.
— Isso é tão estranho... Nunca vou me acostumar.
Zoe pegou a garrafa de leite, mas parou para prestar atenção
em mim quando comecei a despejar a calda sobre minhas
panquecas. Percebi que tinha ficado interessada e empurrei meu
prato para oferecer a ela, não me importava de voltar para o fogão e
fazer mais.
A garota me deu um beijo na bochecha e puxou a cadeira para
se sentar, usando meus talheres para provar o primeiro pedaço e
gemer de satisfação.
— Não lembro quando foi a última vez que comi isso —
murmurou, passando as costas das mãos na boca. — A gente
sempre acorda com pressa pra sair de casa.
— Vida de universitário é assim mesmo.
— Que sorte que você gosta de cozinhar. — Ela riu. — Eu não
conseguiria alimentar a Leslie sozinha.
Sorri, sabendo muito bem a que Zoe se referia. Minha irmã
odiava ir para a cozinha, era um zero à esquerda porque mesmo
quando tentava fazer alguma coisa, mesmo simples, dava errado.
Então, ou ela fazia suas refeições na rua ou pedia comida pronta, ou
esperava que alguém cozinhasse para ela.
Eu me virei para falar alguma coisa com Zoe, mas perdi a linha
de raciocínio quando vi um filete de calda escorrer pelo canto de sua
boca. Lambi meu próprio lábio, na direção em que estava o dela, por
puro reflexo, sem conseguir desviar os olhos. A colorida não
percebeu, porque colocou ainda mais calda sobre as panquecas e
continuou comendo sem se limpar.
— Logie, você é perfeito — murmurou de boca cheia. — Isso
está muito bom!
Não satisfeita, a filha da mãe colocou a língua para fora e
lambeu o garfo devagar. Ela estava fazendo de propósito ou isso
tudo fazia parte de sua inocência?
— Se continuar comendo desse jeito, não respondo pelos
meus atos — avisei, esfregando minha nuca quente e arrepiada. —
Pelo amor de Deus, Zoe.
A garota arregalou os olhos e congelou, sem entender nada.
Então seu rosto foi tomado pelo esclarecimento quando viu o que
estava fazendo com o garfo e o pousou no prato. Levou a mão até a
boca e limpou, com o polegar, a calda que havia escorrido pelo
canto. Em seguida, lambeu a porra do dedo. Aquilo não melhorou
em nada a situação para mim, e deixei um grunhido rouco escapar
da minha garganta. Zoe me encarou, petrificada, com os seus
grandes olhos verdes, e tirou o dedo da boca assim que percebeu o
que estava fazendo. Ela tinha um olhar tão inocente que só me fez
querê-la ainda mais.
— Logan...
Eu a ouvi, mas estava muito concentrado fitando sua boca
fixamente, pensando em todas as coisas que eu faria com ela
naquele momento, se pudesse.
— Logan.
Como seria ver aquela boca tocando meu corpo e me dando
prazer? Zoe tinha lábios tão bonitos e suculentos, que era
impossível não imaginá-los ao redor...
— Logan! — Ouvi seu grito e voltei à realidade. — Pare de me
encarar desse jeito e faz logo o que você quer fazer.
Subi meu olhar de sua boca para os seus olhos e a encarei
fixamente. Zoe parecia não ter pensado no que tinha dito, porque
quando percebeu que eu estava prestando atenção, seu semblante
impaciente se desmanchou e ela arregalou os olhos levemente,
prendendo a respiração logo em seguida.
Aproximei meu rosto lentamente do dela, completamente
dominado pelo desejo. Quando já estava perto o suficiente, a ponto
de sentir a sua respiração contra os meus lábios, levei a mão até
seu queixo e ergui sua cabeça para que me encarasse.
— Você sabe o que eu quero fazer com você?
— Não tenho certeza... — respondeu, baixando os olhos e
brincando com os talheres no prato. — Mas eu tenho algumas ideias
do que quero experimentar.
Senti um espasmo direcionado bem ao meu pau e respirei
fundo, tentando me controlar. Não tinha certeza de que estávamos
na mesma vibe, porque minha vontade era pegar Zoe no colo e
levá-la para o quarto naquele instante. Ela, no entanto, tinha
deixado bem claro ontem à noite que não nos tocaríamos enquanto
estivesse menstruada.
Sendo assim, precisei respirar fundo e espantar para longe as
imagens pervertidas que estavam dançando na minha mente — e
quase todas envolviam uma Zoe ajoelhada diante de mim.
Apenas sorri para a garota e me virei para pegar mais
ingredientes e preparar panquecas para mim. Logo fui surpreendido
com um abraço pelas costas e suas mãos se fecharam sobre minha
barriga.
— Eu falei alguma coisa errada? — perguntou.
— Não, só estou tentando manter o controle — respondi,
afagando seus dedos, enquanto quebrava dois ovos. — Acho que
estou um pouco sensível...
Funguei, em tom de brincadeira, mas não tinha certeza de que
Zoe entendera exatamente assim, porque suas mãos deslizaram
pelo meu abdômen e desceram até a minha calça, me
surpreendendo bastante quando tocou meu membro que começava
a ficar ereto.
— O que está fazendo? — perguntei, rindo daquela sua
atitude, tentando misturar os ingredientes. — Gosta de brincar com
fogo?
— Oppa, você é tão bonito e gostoso...
Respirei fundo, desliguei a chama do fogão e me virei de frente
para a colorida maliciosa que tirou o dia para me infernizar. A cara
de santa fingida não me comoveu quando olhei em seus olhos e
estalei minha língua quando sorriu.
— Não são nem dez horas da manhã e você já quer me
enlouquecer? — perguntei, apertando sua bochecha. — Mudou de
opinião sobre transar?
Ela negou, mordendo a porra do lábio.
— Mas eu posso usar minha boca.
Era impactante ver Zoe sendo tão direta e eu nem me sentia
preparado para conhecer essa versão da garota. As bochechas
coradas ainda estavam presentes e nunca a abandonavam quando
o momento esquentava entre nós, mas ela merecia um troféu por
estar correndo atrás e deixando claras as suas vontades.
Ainda preso entre seu corpo e a bancada do fogão, toquei o
queixo dela, deslizando meu polegar pelo lábio bonito e o puxando
levemente para baixo.
— Você quer me chupar? — indaguei de uma vez por todas,
sem mais rodeios.
Os olhos verdes se desviaram em direção à minha calça, mas
eu sabia que era apenas uma atitude de fuga. Seus dedos
brincaram com a barra da minha camisa e eu contei três vezes em
que ela passou a língua pelos lábios.
— Eu quero... conhecer. Já o senti dentro de mim e nas
minhas mãos, agora quero saber qual o gosto...
Entrelacei meus dedos nos dela e a puxei para sairmos da
cozinha, sem pressa, sem acreditar que Zoe estava falando
deliberadamente sobre aquele assunto. Caminhei com ela até o sofá
e segurei seu rosto para beijá-la com calma. Nossas bocas se
encontraram facilmente e se reconheceram, enquanto disputávamos
quem dominava a língua de quem.
Trouxe suas mãos para o meu corpo, incentivando que me
explorasse, e fechei os olhos quando ela passou pelo meu umbigo e
continuou descendo até o elástico da calça.
— Sem dúvida alguma eu quero sentir sua boca — murmurei,
engolindo em seco quando seus dedos me tocaram. — Mas apenas
se você estiver bem certa disso...
— Eu sou novata — disse ela, beijando meu pescoço. —
Quero fazer, mas não sei se vai ser bom pra você.
Soltei Zoe por um instante, dando um passo pequeno para
trás. Primeiro, tirei minha camiseta, em seguida, levei as mãos até
minha calça e terminei de me despir, pois estava sem cueca. O
tempo todo, mantive os olhos na garota que parecia ansiosa. Ela se
sentou no sofá, com seus ombros se movimentando mais rápido
pela respiração acelerada, e encarou minha ereção.
Meu pau já estava duro, mas o tesão aumentou quando vi o
desejo refletido no semblante de Zoe. Ela tinha os olhos vidrados
em mim e mordia os lábios com força, quase como se não pudesse
se segurar.
Alguns passos à frente e eu me coloquei inteiramente à sua
disposição. Suas mãos pequenas primeiro tocaram minhas coxas e
vieram subindo até minha virilha, devagar, inseguras e trêmulas.
Toquei seus cabelos macios, vendo-a desviar os olhos para os meus
e dar seu sorriso bobo.
— Só faça se se sentir confiante.
— Eu vou fazer mesmo com vergonha. — A bobinha sorriu,
mordendo o lábio toda linda e segurando meu pau. Era a visão do
paraíso. — Você sabe como sou.
Assenti, sem conseguir evitar fechar os olhos quando Zoe
depositou um beijo tão casto na minha glande, quase como um
selinho. Se me dissessem ontem à noite, que eu ganharia um
boquete de café da manhã, chamaria a pessoa de louca, mas aqui
estava eu, prestes a ter a colorida linda me fazendo sexo oral. Podia
mesmo me considerar uma pessoa de muita sorte.
— Só não use os dentes — alertei, alisando os cabelos dela.
— Eles machucam. E lembre-se de que você não é experiente, está
tudo bem não saber direito o que fazer. Eu vou amar de qualquer
forma.
Cerrei o maxilar com força ao sentir a sua língua me tocar
antes de abrir mais a boca e começar a me chupar devagar. Ela
estava insegura e mal sabia o que estava fazendo, mas era
exatamente isso que me deixava ainda mais excitado. Eu era o
primeiro. O primeiro cara que esteve dentro dela. O primeiro cara
que sentiu o interior da sua boca. Me fazia querer ensinar tudo o
que eu sabia a ela.
Aos poucos, começou a se soltar, e eu me controlava para não
apertar meus dedos ao redor dos cabelos coloridos e tentar
empregar meu próprio ritmo àquele oral. Em algum momento, ela
lambeu da base à cabeça que latejava, como se eu fosse um
sorvete, até que decidiu me engolir quase por completo. Possuíaum
pênis de dezesseis centímetrosquando ereto, acima da média, e foi
surpreendente ver que Zoe não se amedrontou.
Os arrepios tomavam conta de mim conforme a garota me
experimentava, sem seguir alguma lógica. Ora ela me chupava, ora
me lambia, e quando não consegui mais aguentar aquela tortura,
enrolei seus cabelos da nuca em meus dedos e a segurei com um
pouco mais de controle.
— Posso ajudar um pouco? — perguntei, vendo-a assentir.
Zoe levantou os olhos para mim e eles estavam tão escuros de
prazer, que fui incapaz de segurar o grunhido que se formou no
fundo da minha garganta. Eu só queria que ela continuasse me
olhando daquele jeito para sempre, como se não houvesse mais
nada no mundo além de nós dois, bem ali.
Iniciei alguns movimentos um pouco mais rápidos, sentindo
que se segurava em meus quadris, nunca sem tirar os olhos de
cima dela. Senti a sensação do orgasmo pressionar, se
aproximando, então dei uma última estocada antes de recuar com
pressa para não gozar em sua boca.
A sujeira foi inevitável porque meu pau espirrou no ar, algumas
gotas atingindo o peito de Zoe, outras caindo em meus pés ao
escorrerem pela minha mão. E como se eu já não estivesse louco o
suficiente, a filha da mãe ainda me pegou de novo e lambeu o
membro melado, colocando a língua atrevida para fora e me
limpando. Ela não conseguiu esconder a careta ao sentir o gosto do
sêmen, mas quando a peguei pelas axilas e a levantei para beijá-la,
nossa saliva se misturou e ficou tudo bem.
— Eu não sei o que fiz pra merecer isso tudo — murmurei,
mordiscando o pescoço dela enquanto a carregava pelo corredor. —
Você foi incrível.
— Pode ser sincero — disse, abafando uma risada. — Fui
muito descoordenada?
— Um pouco, no início, mas eu estranharia bastante se você
se revelasse uma chupadora nata.
Recebi um beliscão no mamilo quando a coloquei no chão,
diante da porta do banheiro. Beijei sua testa e contemplei o rosto
bonito, as sobrancelhas atrevidas e a boca que dominaria meus
sonhos futuros.
— Logan Choi, seus pais sabem desse seu linguajar? —
resmungou, cruzando os braços e escondendo os peitinhos
excitados.
— Não faço a menor ideia. — Sorri, inclinando-me na direção
dela. — Mas não vou parar de falar porque você fica uma gracinha
constrangida com meus palavrões.
Zoe revirou os olhos e eu me preparei para deixá-la tomar seu
banho, virando-me de costas para voltar à realidade. Precisava me
vestir novamente, terminar meu café da manhã e me preparar para
meus compromissos do dia. Porém, seus dedos finos apertaram
meu pulso e me puxaram até que ela me abraçou de costas,
apertando os braços ao meu redor e ficando daquele jeito por
alguns segundos.
— Eu estou tão feliz — murmurou, baixinho mesmo. —
Obrigada por ser sempre carinhoso.
Curvei-me para beijar a palma de sua mão e esperei que me
soltasse antes de correr para dentro do banheiro, gritando que
precisava tomar banho porque estava toda melada.
— Está pronta, amor da minha vida? — perguntou Leslie ao
apertar minha cintura e apoiar o queixo no meu ombro.
Eu a encarei pelo espelho, pois estava sentada de frente para
nossa escrivaninha, terminando de passar o batom. Assenti,
colocando um sorriso no rosto e tentando não deixar transparecer a
minha frustração. Aquele era o dia do meu aniversário e Logan
simplesmente esquecera da minha existência.
Tudo bem, a culpa não era totalmente dele por ter precisado
viajar na véspera, com sua equipe de natação, para competir
naquele sábado. Mas podia ter pelo menos me mandado uma
mensagem hoje, me desejando parabéns. Ontem de dia quando
saiu de casa, tinha avisado que só retornaria no domingo, então ele
ficaria o sábado inteiro longe de mim.
— Já terminei — avisei quando Lee beijou meu rosto. — Só
vou passar perfume.
— Te espero na sala!
Ela saiu do quarto e respirei fundo. Que saco, viu? Meu
primeiro aniversário em que eu poderia comemorar com uns beijos
de Logan, e tudo dera errado. Agora, no lugar do meu coreano
favorito, eu estava sendo arrastada até o estádio de futebol
americano. Minha amiga estava saindo com outro jogador e ele a
presenteou com ingressos VIPs, então ela me implorou para lhe
fazer companhia.
Não era a minha ideia de comemoração ideal para os meus
dezenove anos, mas Leslie prometeu que depois do jogo, ela sairia
para jantar comigo no restaurante coreano onde Logan havia me
levado dias antes.
A tarde estava se despedindo quando chegamos ao estádio
lotado, pois aquele sim era o esporte de paixão nacional. Eu fiquei
surpresa quando descobri que nossos assentos eram pertinho do
campo e pensei que o rapaz devia estar mesmo muito interessado
em Leslie para descolar esses ingressos tão especiais.
— Dá pra ver tudo daqui, né? — murmurou ela ao meu lado,
passando o braço por dentro do meu. — Acho que esta é a melhor
visão de todo o estádio.
— Sim. — Assenti, observando os jogadores correrem pelo
campo e se empurrarem com toda aquela grosseria. — Consigo ver
até o suor deles.
— E as bundas...
— Eu prefiro a do seu irmão — retruquei e ela bufou.
Ao pensar em Logan, peguei meu celular de dentro do bolso
para conferir, discretamente, se não tinha chegado nenhuma
mensagem. Nada. Zero. Ele tinha mesmo esquecido da data e de
mim, completamente.
— O que foi? — Lee me cutucou. — Você está estranha desde
cedo.
— Seu irmão não me deu parabéns — confessei, deixando
meus ombros caírem. — Quer dizer, não é obrigação dele lembrar
disso nem nada, mas acho que criei expectativas. Ele havia
comentado sobre preparar algo pra mim e tudo mais...
Leslie beijou meu rosto e limpou a marca que deve ter deixado
de seu batom. Que sorte a minha de tê-la, pois era mesmo a única
pessoa que me entendia.
— Ele pode ter ficado sem bateria ou perdeu o celular —
comentou, mas eu duvidava de que acreditasse nisso. — Vamos
esperar até amanhã.
Assenti, porque esperar era a única coisa que eu realmente
podia fazer. Tentei prestar atenção no jogo e torcer por Princeton,
depois de alguns minutos, tinha deixado um pouco a frustração de
lado e vibrava por cada ponto conquistado. Até que chegou o
intervalo e, no lugar da tradicional banda da universidade, entraram
uns garotos vestidos de preto que se posicionaram no meio do
campo.
— Hum, oi. — Virei o rosto para ver Dylan do meu lado com
um celular na mão, sorrindo sem-graça para mim. — Parabéns e...
Bem, eu preciso filmar você. Com licença.
— Quê?
Encarei o garoto que apontou a câmera para o meu rosto no
instante em que “Fake Love”, do BTS, começou a tocar. Como eles
eram muito mais importantes do que Dylan, voltei minha atenção
para o campo e pulei do assento quando vi Logan caminhar pelo
gramado. Os outros estavam vestidos de camisa e calça pretas,
mas o irmão de Lee vestia apenas um blazer preto, curto e
entreaberto, e uma calça da mesma cor.
— Em que mundo paralelo eu vim parar? — perguntei, olhando
para Leslie. — Você está vendo a mesma coisa que eu?
— Sim. — Ela sorriu, em pé do meu lado, batendo palmas. —
Você vai ver muito mais do que isso.
O quê? A gente estava mesmo muito perto do campo, então
eu conseguia até mesmo notar que Logan tinha um daqueles
microfones acoplados ao redor da cabeça. Levei as mãos à boca
quando todos eles começaram a dançar a coreografia da música e
perdi a compostura quando vi Logan todo gostoso se movendo
como um ídolok-pop. Havia alguma coisa escrita nas costas de seu
blazer, mas não conseguia parar para ler.
— Eu vou infartar! — gritei, pulando com Leslie e ouvindo os
gritos femininos ecoarem pelo estádio, porque em todo lugar havia
armys.
Então, eu quase atropelei o pobre Dylan e corri pelos poucos
degraus que nos separavam da grade de separação do campo. A
coreografia estava incrível,apesar de Logan ser o único coreano do
grupo, e eu me perguntei em que tempo ele conseguiu aprender
todos aqueles passos. Mas me surpreendi mais ainda quando acima
do playback, pude ouvir sua voz cantando os trechos de rap.
Ao meu lado, vi algumas meninas pulando e cantando,
enlouquecidas, e nem consegui sentir ciúmes porque sabia que
Logan estava muito gostoso. Precisei olhar na direção do telão do
estádio para entender o que estava escrito no blazer dele e meu
coração sofreu uma parada quando consegui ler.
A letra desenhada com alguma tinta néon rosa dizia:

“Por você eu aprendo k-pop.”

Gargalhei, voltando a olhar para ele no campo e vendo que


estava me encarando. Devia ser proibido Logan dançar daquele
jeito, porque eu queria muito correr para agarrá-lo ali mesmo em
público. Leslie gritou ao meu lado quando a apresentação terminou.
O irmão dela correu na nossa direção, todo gostoso suado, e deu
seu golpe final ao abrir os braços na frente de toda aquela gente e
gritar:
— Namora comigo, Zoe Green!
Balancei a cabeça com muita força para ninguém que assistia
ficar com qualquer dúvida da minha resposta, mas havia uma altura
nos separando porque eu não estava no mesmo nível do campo,
então sequer podia correr e me jogar em cima dele.
Logan sorriu, erguendo os braços acima da cabeça e unindo
as mãos para formar um coração. Ele foi recuando daquele jeito,
sem tirar o sorriso do rosto, até que se virou e correu para fora de
campo junto com os outros rapazes, porque não podia atrasar o
jogo.
Meu corpo inteiro formigava, eu me sentia ainda em choque,
quando Leslie me puxou pela mão. Deixei que me guiasse para a
saída, com Dylan ao nosso lado, e só conseguia sentir as pessoas
nos observando e cochichando.
— Meu Deus, isso foi perfeito! — murmurou minha amiga. —
Cheguei a duvidar se Logie ia mesmo conseguir reproduzir a
coreografia, mas...
— Você sabia disso? — perguntei, dando um beliscão nela. —
Que safada!
— Claro que sabia! — Ela revirou os olhos. — Acha que ele
teria capacidade de te conhecer tão bem quanto eu? Eu sabia
exatamente qual música, coreografia e figurino te deixariam doida
pra agarrá-lo. Claro que Logan deu a palavra final, ele assistiu
vários vídeos dos meninos.
Virei o rosto para Dylan, que estava calado, assim que
conseguimos sair do estádio. Eu gostava dele e o garoto parecia ser
um bom amigo para meu crush. Ou melhor, meu namorado. De
verdade, agora.
— Foi Logan que mandou me filmar? — perguntei, batendo
meu braço no dele e sorrindo. — Vem cá, não existe nenhuma
viagem e nenhuma competição de natação?
— Talvez exista em algum lugar do mundo, mas nenhuma que
seja minha.
Olhei para trás ao ouvir sua voz e minhas pernas viraram
gelatina quando vi aquele homem lindo sorrir para mim, com as
mãos alisando os cabelos suados. Ele ainda estava vestido do jeito
que se apresentou e eu entendi perfeitamente o motivo da escolha
de Leslie.
Mordi meu lábio com força para não morder Logan em público
e pulei no colo dele, alisando seu pescoço enquanto o beijava.
Espremi sua cintura com as minhas pernas e depositei vários
selinhos em seu rosto antes de parar e o encarar.
— Meu Deus, você está extremamente gostoso. Tipo, um
pecado.
— Feliz aniversário — falou, rindo e corando. — Estou me
sentindo comestível com você me olhando assim.
— Façam filhos! — gritou minha cunhada, puxando a camisa
de Dylan para se afastarem. — Eu quero sobrinhos! Estou indo pra
qualquer lugar só pra deixar o apartamento vazio. Divirtam-se!
— Será que você pode manter essa roupa até a gente chegar
em casa? — perguntei, alisando o peito dele. — Talvez o microfone
também... Onde ele está?
— Depende. — Logan arqueou a sobrancelha, caminhando
comigo enquanto segurava minha bunda. — Você está fantasiando
comigo ou com o BTS?
— Está tudo muito misturado agora — confessei, rindo e
afundando o rosto em seu pescoço. — Você não sabe onde se
meteu.
— Então me conte, onde eu me meti?
— Na teia de uma garota com muito fogo pra apagar porque
tem um namorado gostoso que acabou de performar uma
coreografia que ela ama, do grupo que ela ama, vestido como os
garotos que ela ama. — Levantei meu rosto e apontei um dedo para
ele. — E é proibido ter ciúmes dos sete.
— Então esta é uma relação de nove pessoas? — perguntou
rindo e acionando o alarme do carro.
— Sim.
— Que sorte a minha que eles moram do outro lado do planeta
— zombou e eu esmaguei sua boca entre meus dedos, dando um
selinho nele.
— Que sorte a sua mesmo — declarei, suspirando. — Agora
podemos ir pra casa? Eu não estou mais naqueles dias sangrentos
e tenho uma army bomb[21] guardadinha, esperando pra ser agitada
enquanto você dança de novo pra mim.
— Eu não faço ideia do que seja isso, mas prometo performar
mais uma vez — disse ele, me colocando no chão e beijando minha
testa, todo fofo. Nem parecia que tinha destruído centenas de
calcinhas minutos antes.

Não consegui esperar muito tempo, porque era complicado


demais saber que Logan Choi era meu e ter que manter minhas
mãos longe dele. Por isso, não rolou uma segunda apresentação
em casa, visto que assim que a porta se fechou, eu apertei a bunda
do garoto e ainda dei um tapa nela.
Ele se virou, com a sobrancelha erguida e uma expressão de
surpresa, até que me puxou pela nuca e me pegou no colo. Fui
levada para o quarto e quando me colocou na cama, ajoelhei-me
rápido para levar meus dedos ansiosos até o blazer de Logan. Fiz
questão de despir sua roupa bem devagar e beijei seus mamilos
antes de alcançar sua boca.
Estava sedenta por ele e com muita vontade de fazer sexo de
novo, pois esperava que agora estaria mais acostumada e
aproveitaria melhor as sensações que experimentaria. Na primeira
vez, o nervosismo me dominava e mesmo tendo chegado ao
orgasmo, não conseguia me sentir totalmente entregue ao
momento.
— Achou que eu tinha esquecido do seu aniversário? —
perguntou o filho da mãe, sorrindo e brincando com a ponta da
língua.
— Sim.
— Achou mesmo que eu cometeria essa gafe? — Riu,
segurando meu rosto entre as mãos e mordendo meu queixo. —
Passei semanas arquitetando tudo, coloridinha.
— Como conseguiu ter acesso ao estádio?
Logan encolheu os ombros, deslizando uma das mãos pelas
minhas costas e, em seguida, usando as duas para puxar a minha
camiseta e jogá-la no chão.
— Eu ia fazer a apresentação em algum lugar aberto do
campus, era só pra ser um presente de aniversário — comentou,
abrindo meu sutiã com muita destreza em uma mão. — Mas
aconteceram umas coisas e decidi tentar o estádio, pra aproveitar e
fazer o pedido de namoro na frente de todo mundo. — Ele encolheu
os ombros e piscou. — Sou popular, todo mundo me adora. Foi fácil
conseguir.
Dei um tapa em seu peito para deixar a arrogância de lado e
caí de costas na cama quando ele me empurrou, subindo por cima
do meu corpo e abocanhando um dos meus seios. Fechei os olhos,
muito excitada, curtindo o seu toque e seu carinho por todo o meu
corpo, enquanto ia se ocupando de retirar o meu jeans.
Gemi quando se deitou ao meu lado e mordeu meu ombro com
força, ao mesmo tempo em que levava a mão até minha vagina e
começava a me masturbar. Começou de uma forma gentil,
afastando meus lábios e brincando com meu clitóris, até levar um
dedo para dentro de mim e aumentar o ritmo.
— Sua boceta está tão molhada... — sussurrou, lambendo
meu pescoço. — Você é tão linda, Zozo. Queria que pudesse ver
como fica deslumbrante quando eu te toco assim.
Meu corpo se contorceu ouvindo Logan me elogiar e ainda vir
capturar o meu beijo. Arranhei seus braços com as minhas unhas
conforme ele investia mais um dedo dentro de mim e esfregava a
palma da mão por dentro dos meus lábios, levando-me ao céu.
— Goze pra mim enquanto eu te beijo — pediu, tocando em
pontos que até eu desconhecia. — Está gostoso assim?
— Uhum... — gemi, fechando os meus olhos por um segundo,
mas voltando a abri-los porque precisava olhar Logan, que puxava o
ar entre os dentes, com a boca grudada na minha.
— Me chama de oppa? — pediu, me surpreendendo e
sorrindo.
Contraí meus pés, sentindo aqueles espasmos incríveis me
atingirem, com Logan aumentando a velocidade dos dedos que
enfiava e tirava de dentro de mim. Minhas costas se afastaram do
colchão e meu corpo convulsionou, enquanto eu apertava o braço
que estava próximo de mim.
— Te amo, oppa... — murmurei, recebendo um beijo urgente.
Senti a ausência de Logan quando ele levantou da cama com
pressa e quando retornou segundos depois, trazia uma embalagem
de camisinha na mão. Fez menção de montar em meu corpo de
novo, mas mesmo ainda sentindo os efeitos do orgasmo, eu
consegui reunir forças e o empurrei, obrigando-o a se deitar no meu
lugar e trocar de posição comigo.
— Tem certeza de que quer assim? — perguntou, lançando um
sorriso bem safado.
Balancei minha cabeça, alisando o abdômen dele e mexendo
no botão de sua calça. Também tinha meus desejos e fetiches, e
possuir Logan daquele jeito, como se ele estivesse inteiramente à
minha disposição, era algo que eu precisava experimentar.
— Eu quero — declarei, nervosa, mas confiante. — Podemos?
— Você pode tudo.
Isso sim era um belo presente de aniversário!
Animada, puxei a calça e a cueca dele até o deixar nu apenas
para meu deleite e admirei a paisagem um pouquinho antes de me
ocupar com a camisinha. Seria a primeira vez que colocaria uma e
minhas mãos tremiam muito, então fiquei agradecida quando o
próprio Logan tocou meus dedos e me ajudou a colocar em seu pau.
Ele era lindo, por inteiro, mas aquela parte do corpo era tão
surpreendente. O membro era bem branco com a ponta de um rosa
bem clarinho, levemente curvado para cima e sempre brilhante ao
redor do orifício. Não tinha experiência com nenhum outro, mas o
achei grande, o que parecia combinar com a altura do dono.
— Sente-se devagar — ordenou ao me segurar pelos quadris,
conforme eu me encaixava nele.
Soltei um arquejo pesado, deliciada com a sensação de ter
Logan mais uma vez dentro de mim. O aperto de suas mãos nos
meus quadris ficou mais forte e eu senti necessidade de deitar meu
corpo todo num primeiro momento. Sua boca me beijou de forma
carinhosa quando comecei a me movimentar, para frente e para
trás, fazendo Logan me preencher por completo, então quase sair
todo para, logo em seguida, voltar a me preencher.
— Que delícia, Zozo — murmurou, piscando, parecendo muito
satisfeito. — Está com dor?
Neguei com um gesto rápido, focando nos movimentos porque
não tinha a melhor coordenação de todas. Quando me sentia mais
confiante, ergui meu tronco e apoiei as mãos no peitoral de Logan.
Aquilo, sim, era uma visão do paraíso. Os músculos dos seus
braços estavam tensionados, fazendo-o parecer mais gostoso do
que nunca, e seus olhos me fitavam com intensidade enquanto
deixava a boca entreaberta.
Aumentei o ritmo dos meus movimentos, e Logan se agitou
embaixo de mim, movendo os próprios quadris para me
acompanhar, sempre mantendo o meu ritmo. A pressão do orgasmo
se acumulou entre as minhas pernas e eu me sentia uma cachoeira,
cada vez mais estimulada.
Ele levou uma das mãos até o meu clitóris e começou a
massageá-lo delicadamente, enquanto eu o montava sem pressa.
Aos poucos, Logie foi aumentando seu ritmo e me obrigando a
acompanhá-lo, e eu sentia que cada vez que o deixava deslizar
mais fundo dentro da minha vagina, mais eu o apertava lá dentro.
Senti o corpo de Logan se erguer até grudar nossos peitos e
ele me abraçou por inteira quando o orgasmo veio, avassalador.
Gememos juntos, um buscando pelo prazer com o outro, porque
gozamos praticamente ao mesmo tempo. Sua boca em meu
pescoço acompanhava a promessa de um belo chupão que ele
deixaria por uns dias, de tão intensa que foi a sensação que
compartilhamos.
Não me lembro por quantos minutos permanecemos naquela
posição, abraçados de frente e sentados no meio da cama, nos
beijando devagar, enquanto eu sentia meu corpo amolecer. Aquele
era, sem sombra nenhuma de dúvida, o melhor aniversário da
minha vida. Se a chegada dos meus dezenove anos estava sendo
dessa forma, já me sentia ansiosa pelos próximos.
Talvez eu estivesse há mais de dez minutos sentado em
silêncio na cama, observando Zoe dormir tranquilamente, mas
nunca admitiria isso em voz alta. Eu me sentia meio bobo, meio
apaixonado, sei lá, não eram sentimentos aos quais estava
acostumado, então não sabia lidar muito bem com eles.
A única certeza que tinha era de que gostava demais de ver o
sorriso fácil no rosto da colorida e saber que, de alguma forma,
correspondi às expectativas dela. Foi bem difícil organizar a
surpresa, precisei procurar estudantes do curso de dança e implorar
para que me ajudassem com a apresentação, sendo que eu nem
sabia dançar essas coisas. Aliás, eu nunca dançava nada.
Leslie foi fundamental para que tudo saísse do papel, porque
eu não saberia por onde começar. Na verdade, quando a procurei
dizendo que queria fazer alguma surpresa para Zoe, em seu
aniversário, eu ainda não sabia exatamente o que seria. Foi minha
irmã que sugeriu que eu imitasse o BTS porque sua amiga
certamente surtaria. Lee me apresentou algumas músicas e vídeos
para que eu conhecesse melhor o grupo, pensou na melhor roupa
para eu vestir, comprou tudo para mim e me vestiu na primeira vez,
alguns dias antes, para que eu soubesse como reproduzir a
produção no dia, quando estaria sozinho.
Quando alguns rapazes do curso de dança aceitaram me
ajudar, passamos a nos reunir quase todos os dias porque era uma
coreografia muito complexa para alguém como eu. Só que eles
tinham seus próprios compromissos e eu não podia exigir que se
adequassem aos meus horários, portanto, precisei me esforçar em
dobro para estar pronto sempre que estivessem disponíveis. Até
treino acabei faltando duas vezes para que essa apresentação
acontecesse.
Minutos antes do intervalo do jogo, eu estava quase
arrependido de ter planejado isso porque o estádio estava lotado. A
maioria do público era fã de futebol americano, um bando de
homem hétero que certamente torceria o nariz quando visse a
coreografia e ouvisse a histeria das meninas. Eu mesmo não
gostava do gênero musical e sempre zombava de Leslie e Zoe por
causa desses grupos, então sabia perfeitamente o que se passaria
na cabeça de muitos idiotas ali.
No entanto, eu perturbei muita gente para colocar meu plano
em prática, não podia simplesmente decidir que não entraria mais
no campo. Além disso, havia Zoe. Passei o dia inteiro sem falar com
ela de propósito, para que pensasse que tinha sido esquecida. Se
não me apresentasse, o que eu entregaria de bom para a garota?
Deu tudo certo, felizmente. Os minutos em que a música tocou
foram extremamente intensos e eu me sentia como numa
competição, com meu coração acelerado, ouvindo a gritaria, focado
em chegar ao fim do ato. Consegui prestar atenção algumas vezes
em Zoe e notar a felicidade naquele rostinho, fez eu me dedicar
ainda mais a cada segundo.
Agora, ali na cama, a colorida dormia de bruços, com o corpo
nu coberto pelo meu lençol e o rosto virado na minha direção.
Afastei um pouco seus cabelos para expor melhor o contorno de seu
nariz e queixo, então me inclinei e a beijei no ombro antes de me
levantar.
Acendi as luzes do quarto porque quando chegamos ainda não
estava totalmente escuro, vesti uma calça de moletom e saí para
beber uma água. Era por volta de oito horas da noite quando
cheguei na sala e encontrei minha irmã bagunçando toda a cozinha.
Estaquei, assustado, porque Leslie nunca cozinhava e agora... O
que ela estava fazendo?
— Eu estou sonhando? — perguntei ao me aproximar. — Você
está bem?
— Aham — respondeu sem me dar muita atenção, enquanto
mexia numa panela e olhava para o celular. — Não me distraia.
— Posso saber o que está cozinhando e por quê?
Leslie bufou, muito focada no que fazia, e eu precisei ir até lá
para olhar dentro da panela. Só que tudo ao redor dela estava
bagunçado, parecia ter acontecido uma batalha épica na cozinha,
porque havia até molho de tomate no chão.
— Estou reproduzindo a sopa que o Moon fez no café da
manhã, então vou mandar a foto do meu prato pra ele.
— Quem é Moon?
O único momento em que Lee tirou os olhos da panela e me
encarou, foi aquele.
— O homem da minha vida — declarou.
Ela não piscou, não riu, não teve nenhuma reação que me
indicasse alguma brincadeira. Senti-me levemente enciumado e
muito preocupado, porque em que mundo eu estive nas últimas
semanas, para não ter reparado que minha irmã estava
apaixonada?
Não me lembrava tampouco de Zoe ter comentado alguma
coisa, mas pelo visto, a relação era séria já que os dois
compartilhavam até fotos de café da manhã. E foi pensando nisso,
que eu dei a volta pelo balcão e me sentei à mesa, encarando uma
Leslie ocupada e tentando entender um pequeno detalhe.
— Por que você está cozinhando sopa pro café da manhã se
são oito horas da noite?
Ela revirou os olhos ao mesmo tempo em que desligava o
fogo. Acompanhei todo o processo cuidadoso, evitando rir quando
deixou cair mais sopa para fora do que para dentro da tigela.
— Porque já é de manhã em Seul — respondeu simplesmente,
como se não fosse nada estranho.
— Esse Moon está na Coréia? — Ela assentiu. — É um
namoro virtual?
— Exatamente! — Leslie sorriu e eu sorri também, muito mais
aliviado, pois não existia nenhum babaca querendo comer minha
irmãzinha. — Ele só não sabe ainda.
— O quê?
Lee trouxe a tigela para a mesa e começou a arrumar o
cenário, até que parou, tirou uma foto, excluiu, tirou mais duas, e
finalmente ficou satisfeita. Sentou-se ao meu lado, digitando
freneticamente no celular, e por fim, o soltou e pegou a colher.
Assim que experimentou sua criação, fez uma careta hilária,
colocando a língua para fora e gemendo de frustração. A filha da
mãe sorriu ao virar o rosto e empurrou a sopa para mim.
— Pode comer se quiser. — Ela se levantou e beijou meu rosto
antes de saltitar para o quarto, assobiando uma música qualquer.
Tomei coragem de provar a gororoba que cozinhou e quase
cuspi sobre a mesa, de tão nojento que estava. Era difícil acreditar
que ela conseguia ser tão ruim em algo que minha mãe fazia tão
bem e me ensinou com perfeição. Levantei-me para jogar aquela
desgraça fora e conferi o que havia na geladeira e nos armários,
pois estava com fome.
Como era aniversário de Zoe, pensei que talvez fosse uma boa
ideia pedir alguma comida, mas ao ouvir as vozes das duas garotas
no quarto, indicando que a colorida tinha acordado, tive uma ideia
melhor. Fui até elas, parando na porta e observando se abraçarem
na cama como se fossem gêmeas e inseparáveis, então pigarreei.
— Que tal se eu levar as madames para jantar?
— Você vai pagar? — perguntou Zoe, arqueando a
sobrancelha atrevida.
A garota tinha vestido uma camisa minha, que ficava enorme
nela, mas se esqueceu de colocar a calcinha e, de onde eu estava,
podia ter uma visão privilegiada.
— É claro que Logie vai pagar — disse Lee, se levantando e
puxando a amiga pela mão. — Ele é o provedor dessa família. Tem
que nos sustentar.
— Não sei onde isso está escrito. Seus pais estão em
Minnesota — falei, bagunçando os cabelos dela. — Eu não tenho
filhos.
— Mas vai ter cinco com a Zozo. — Minha irmã me empurrou
com o cotovelo.
Minha namorada riu, mordiscando o lábio, parecendo
animadinha demais para quem só tinha acabado de completar
dezenove anos. Eu não pensava em demorar a me casar, mas só
pretendia ter algum filho quando tivesse uma carreira estável e
pudesse ter condições de dar conforto à minha família. Meus pais
eram meus maiores exemplos de pessoas responsáveis, zelosas,
que possuíam maturidade financeira mesmo que não tivessem uma
vida de luxo.

A gente tinha acabado de escolher nossos pratos no


restaurante coreano que eu tinha ido com Zoe no outro dia, quando
o celular da minha irmã tocou e ela atendeu a ligação em vídeo dos
nossos pais.
— Annyeong[22]! — Ouvi a voz da minha mãe, mas Leslie
estava sentada do outro lado da mesa e não pude olhar a tela. —
Como você está, meu amor?
— Omma[23]! — Minha irmã sorriu. — Estamos bem, olha quem
está comigo hoje.
Lee se levantou e veio para o banco que eu dividia com Zoe,
sentando no meu colo e se espremendo conosco para aparecermos
todos no vídeo. Minha mãe abriu um sorriso e meu pai acenou para
a câmera, me fazendo matar um pouco a saudade dos dois.

— Annyeonghaseyo[24]! — disse Zoe, desencostando com


pressa de mim, pois estava me abraçando.
— Ah, Zoe, querida, parabéns pelo seu aniversário! Estão
comemorando?
— Sim, senhora Choi — respondeu a colorida, sorrindo. —
Logan trouxe nós duas pra jantarmos.
— E ele vai pagar! — Leslie endossou, beijando meu rosto. —
É um cavalheiro, não é mesmo?
— Foi pra isso que eu o criei — disse meu pai, piscando para
mim. — Um homem de verdade nunca deixa a mulher pagar a
conta.
— Isso é meio machista — murmurou Lee, estalando a língua.
— Mas no caso do Logan, eu concordo que ele sempre deve pagar
a minha.
— Eu posso fugir com a Zoe e te deixar lavando a louça do
restaurante — ameacei, cutucando sua bochecha. — Toma cuidado.
Seguiu-se uma conversa entre meus pais e minha irmã e eu
aproveitei para dar uma olhada em Zoe, que estava toda tensa ao
meu lado. Pensei que talvez não quisesse levantar nenhuma
suspeita ao nosso respeito, mas não entendia o motivo, já que ela
sempre se deu muito bem com os meus pais e eu tinha certeza de
que os dois adorariam saber das novidades.
— Vocês três voltarão juntos para o Ação de Graças, não é?
— perguntou a minha mãe.
Aquele feriado americano não era típico para os coreanos,
mas como o nosso chuseok[25] acontecia em outra época do
calendário e os Estados Unidos não o consideravam um feriado
nacional como na Coréia do Sul, ao longo dos anos os meus pais
acabaram adotando o americano como uma forma de poder
comemorar em família. Principalmente agora, comigo e Leslie em
outro estado, não era possível nos ausentarmos por alguns dias
sem que as aulas realmente parassem.
— Claro que sim — respondeu minha irmã. — O casal de
pombinhos não se desgruda mais.
Fez-se silêncio na chamada e eu fechei os olhos, sem
acreditar que ninguém pensou na língua grande de Leslie. Não que
eu me importasse, mas Zoe parecia não querer revelar nosso
namoro por enquanto. De qualquer forma, era tarde demais e meus
pais exibiam grandes pontos de interrogação em suas testas.
— Casal? — minha mãe indagou, olhando de mim para Zoe.
— Vocês dois? Logan?
— Estamos namorando — confessei, procurando a mão da
colorida e apertando os dedos dela.
— Você e Zoe? — meu pai insistiu, de olhos arregalados,
então gargalhou e bateu palmas. — Ouviu isso, querida? Você me
deve cem dólares!
— Zoe, meu amor, era para você ter resistido mais um pouco
— minha mãe resmungou, suspirando. — Ah, perdi dinheiro.
— Vocês fizeram apostas? — Encarei a tela onde os dois
espertinhos estavam se provocando. — Isso é sério?
— Ora, por que não? — Minha mãe encolheu os ombros e
sorriu. — Só um cego não enxergaria que essa menina é louca por
você e que você sempre foi tão protetor com ela.
— Eu apostei que vocês ficariam juntos antes do Natal. — Meu
pai estufou o peito, todo orgulhoso. — Sua mãe achou que levaria
mais tempo.
— Vocês sabiam que eu gostava do Logie porque a Leslie
contou?
— Ei! — Minha irmã beliscou a amiga. — Eu não sou
fofoqueira.
— Sempre esteve nos seus olhos, querida, mas a diferença de
idade atrapalhava, não é?
Zoe assentiu, se apoiando no meu braço para chegar mais
perto do celular, e sorriu para minha mãe. Beijei o rosto dela, vendo
que estava feliz por poder compartilhar a notícia, mesmo que tenha
sido sem querer.
Ainda conversamos com meus pais por mais alguns minutos
antes de desligarmos quando nossos pratos começaram a ser
servidos. Dessa vez, não pude comprar soju e deixá-las beberem
clandestinamente porque estávamos chamando muita atenção em
nossa mesa, já que Leslie e Zoe juntas eram capazes de fazer muita
algazarra. Mesmo assim, nada faltou para que tivéssemos um jantar
agradável e pudéssemos comemorar a nova idade da minha garota
colorida.
Quando aceitei participar da aposta com Logan lá no início do
semestre, em nenhum momento pensei na questão da
popularidade. Não posso ser hipócrita e dizer que sofria muito
bullying no colégio, pois seria mentira. Porém, Leslie e eu nunca
fomos da turma dos populares e nem fazíamos questão. Talvez
fosse uma coisa nossa de sermos ambas muito agarradas uma a
outra, então não sentíamos falta de mais ninguém.
Claro que a gente fazia amizades e se relacionava bem com
quase todos os grupinhos — com exceção dos atletas e líderes de
torcida, que sempre eram muito fechados —, mas do portão da
escola para fora, voltávamos a ter nosso próprio mundinho.
Eu não esperava que fosse diferente na faculdade, até porque
dessa vez estaríamos separadas. Cursos diferentes, alunos
diferentes, horários diferentes, tudo contribuindo para que cada uma
fosse em busca de novas experiências sem depender uma da outra.
No entanto, minha vida na última semana sofreu uma mudança
drástica que eu não cheguei a prever.
O fato de ter Logan Choi dançando k-pop e me pedindo em
namoro num estádio lotado fez com que eu disparasse para o
terceiro lugar da lista da HottestPrin. Parecia muito absurdo para
mim, mas nada naquela ideia de fazer uma lista enumerando
pessoas por conta de status e beleza era positivo, então tentei não
dar tanto valor a isso.
O problema era que eu sempre fui uma pessoa tímida e
reservada, e agora todo mundo queria interagir comigo. Garotas que
eu nunca vi na vida e que destoavam bastante de mim e Leslie me
procuravam durante as aulas para pedir dicas de cuidados com os
cabelos e com garotos. Outras me chamavam para sair com elas e
ir em festas, coisa que não estava nos meus planos. Mesmo
voltando a usar minhas roupas normais, as pessoas ainda pareciam
prestar atenção em mim.
A única coisa da Zoe fake que eu não deixei de lado foi o
processo de maquiagem. Ainda usava um rímelpara deixar os cílios
mais bonitos e passei a comprar alguns batons de cores variadas,
porque Logan ficava extremamente atraído quando eu pintava os
lábios. Meu rosto mudava bastante quando eu usava sombras e
brilhos, e como minha melhor amiga era a pessoa mais viciada em
cosméticos de todos os tipos, eu acabava deixando que ela ainda
me usasse como boneca.
— Zoe, tudo bem? — Parei com o canudo a caminho da boca
quando um garoto segurou meu braço enquanto eu saía de uma
lanchonete no campus. — Está sozinha?
Eu não o conhecia, tinha certeza disso, mas não era estranho
que soubesse o meu nome, já que Logan fez o favor de me anunciar
para toda a universidade. O rapaz era só um pouco mais alto do que
eu, com um físico sarado e dono de uma beleza mediana, e uma
rápida olhada para sua outra mão me fez enxergar o estojo de um
violão.
— Sim, estou — respondi, sem saber o que esperar.
— Vi você algumas vezes por aí e tomei coragem de falar que
seu estilo é incrível.
— E o que você acha de mim?
Arregalei os olhos para a voz em minhas costas e prendi a
risada, porque pelo tom usado, percebi que Logan Choi estava se
roendo de ciúmes. O rapaz à minha frente ergueu os olhos para o
ponto atrás da minha cabeça e afastou a mão que ainda me
segurava.
— Oi, Logan — murmurou com um sorriso sem-graça.
— Não vai dizer o que acha de mim? — insistiu, jogando os
braços ao redor do meu pescoço e puxando meu corpo para colar
ao dele.
— Bem, não o conheço realmente — respondeu o provável
músico —, mas deve ser um cara bacana.
— E namorado da Zoe — frisou Logie, beijando meu rosto.
Ele conseguiu espantar o garoto, que moveu a cabeça num
gesto de concordância e murmurou um “até logo” bem difícil de
ouvir, antes de se virar e ir embora. Só então o Logan girou o meu
corpo de frente para ele e sorriu como se tivesse acabado de vencer
uma prova. Os olhos pequenos quase se fecharam e as bochechas
ficaram coradas.
— Está feliz por marcar território? — Apertei seus braços,
rindo. — Oppa, você fica me iludindo.
— Iludindo? — Ele estalou a línguae revirou os olhos. — Você
é muito bobinha, preciso protegê-la e cuidar da sua integridade
física agora que está se tornando popular.
— Ah, tudo bem. — Encolhi meus ombros e ajeitei a gola alta
de sua camisa branca. — Por um instante, pensei que estivesse
agindo assim por gostar muito de mim, mas agora fico mais
tranquila em saber que é só preocupação com a amiga da sua irmã.
Meus olhos eram atraídos para qualquer mínimo movimento
que Logan fazia, como agora, em que mordiscava um pedacinho do
lábio inferior segundos antes de dar seu sorriso TOP 3. Eu ainda
não me considerava completamente à vontade com ele, nessa
questão de namoro, ainda existiam alguns momentos em que me
sentia tímida por alguma fala, algum gesto, muitas vezes, coisas
simples como ele me dar um selinho durante o café da manhã.
Depois de vários anos enxergando Logan como alguém que eu
nunca poderia ter, não era fácil virar a chave em meu cérebro e
entender que eu merecia estar ao lado dele.
Por isso, eu me aproveitava de qualquer fagulha entre nós,
qualquer provocação feita, todo e qualquer momento em que
pudesse tocá-lo com intimidade, de um jeito que nunca faria antes.
Minhas mãos, agora, passeavam por dentro da camisa dele, uma
forma de me esquentar e de tirar casquinha de seu corpo.
Ele me envolveu inteira com seus braços e beijou o topo da
minha cabeça, ficando assim por alguns segundos antes de
suspirar.
— Queria ter grana pra pagar passagem e hotel pra você
poder me ver nadar — murmurou. — Quem eu vou abraçar e beijar
quando ganhar uma medalha amanhã?
— O Mike — zombei, recebendo uma mordida na bochecha!
— Ei! Não me ataque. Estou dando uma solução para curar sua
carência.
— Queria atacar de outra forma, mas estamos em público e eu
preciso ir me arrumar pra viagem.
— Eu sei. — Fiquei nas pontas dos pés e dei um selinho nele,
passando minhas unhas por sua nuca. — Não posso ir pra casa
com você porque tenho que devolver dois livros na biblioteca.
— A gente se fala quando eu chegar no hotel? — perguntou,
me soltando e beijando minha mão.
Eu assenti e nos despedimos para que Logan pudesse ir
embora. Ele viajaria com a equipe para a competição de amanhã à
tarde e só voltaria no domingo de manhã. Essa rotina era bem chata
para mim, que era obrigada a sempre ficar alguns dias sem vê-lo,
mas não tinha nada que pudesse fazer para mudar isso, apenas
torcer e esperar pelas rodadas que aconteciam aqui no campus.
Gastei um tempo maior do que esperava na biblioteca porque
aproveitei minha ida até lá para dar uma olhada em outros livros de
arquitetura, e quando cheguei em casa, encontrei Leslie no sofá,
vendo dorama e comendo pipoca. Éramos o auge da derrota, duas
calouras vivendo num dos campus mais badalados do país,
trancadas em um apartamento numa sexta-feira à noite. Não que eu
realmente me importasse em socializar, afinal de contas, estava
namorando e só tinha olhos para Logan, mas Lee não andava com
muita sorte no quesito romance.
Minha melhor amiga beijou algumas bocas desde que
chegamos aqui, mas não curtiu nenhuma a ponto de se apegar.
Para quem estava doida para chegar à universidade e fazer muito
sexo, como ela mesma fez questão de dizer várias vezes nas férias,
estava tendo um péssimo desempenho. No fundo, eu meio que
ficava feliz por isso. Queria que ela tivesse uma experiência incrível
como eu tive e não que perdesse a virgindade com qualquer idiota,
igual aos caras com quem vinha saindo.
— Logan foi há muito tempo? — perguntei ao me jogar ao seu
lado e puxar o balde de pipoca.
— Quando cheguei ele nem estava mais aqui.
— Estou morrendo de saudade... — murmurei e vi seu olhar
entediado para mim. — É sério.
— Vocês estão muito cadelinhas um do outro. Tudo bem que
estou acostumada em te ver assim, mas é muito estranho
testemunhar o Logie todo apaixonado.
Estiquei minhas pernas e apoiei meus pés sobre a mesinha de
centro, encarando a televisão e vendo Cha Eun Woo delicioso
interpretando seu papel em “Gangnam Beauty”.
— Bem, se ele está apaixonado, ainda não se declarou assim
— comentei, pensando que era a única coisa que faltava para tudo
ficar perfeito.
Leslie suspirou em deboche e apertou a minha bochecha, se
jogando em cima de mim para me fazer cócegas, porque sabia que
eu odiava que mexessem nas minhas axilas. Graças a Deus, fomos
interrompidas pelo barulho do celular dela, que tocou com alguma
notificação.
Minha amiga se levantou para pegar o aparelho e tomou um
tempo mexendo nele, enquanto eu prestava atenção na televisão.
Aquele era um dorama que eu e Lee já tínhamos assistido algumas
vezes, mas tão bom que não dava para enjoar.
— Zozo! — ela me chamou e a encarei, vendo sua testa
franzida. — Recebi esse vídeo de uma menina do meu curso, que
sabe que eu te conheço.
Leslie se sentou do meu lado e deu playno que parecia ser um
story de Ryan, no perfil dele. O garoto estava apontando a câmera
para o rosto, em formato selfie , e caminhava enquanto conversava
com os seguidores.
— E aí, galera? Querem se divertir um pouco? Estava
apagando umas imagens da galeria do meu celular e encontrei um
vídeo antigo, dá só uma olhada.
O próximo story era no formato deitado, mostrando um vídeo
que foi filmado, aparentemente, de forma escondida, pois o ângulo
mostrava Logan e seus amigos de baixo para cima. Meu estômago
se contorceu quando a conversa se desenrolou com um assunto
que eu já conhecia, Ryan propondo uma aposta ao meu namorado,
com um valor muito alto envolvido, explicando tudo o que precisava
ser feito. Precisou de duas sequências de quatro stories para
mostrar tudo ou, pelo menos, o principal.
E aí depois, veio outro vídeo clandestino, com o zoom ativo
que não deixava a imagem tão nítida. Nele, dava para perceber
claramente o Logan me ajudando a pegar as coisas que deixei cair
no chão, no nosso primeiro dia de encenação. Em seguida, ele
retornando à mesa e combinando tudo com o loiro sobre me usar
como o alvo para vencer a aposta.
— Que filho da puta — murmurou Leslie, digitando um monte
de palavrão no directdele. — Esse babaca é tão covarde que
esperou o Logan viajar pra postar isso.
— Eu não me importo.
De verdade, eu estava bem. Sabia que a intenção de Ryan era
atingir a nós dois, mas ele não imaginava que eu conhecia todo o
plano, então, por um lado, seu objetivo não havia sido totalmente
alcançado. O que me preocupava mesmo era a imagem que fariam
de Logan, pois para o restante das pessoas, ele parecia apenas um
cafajeste que me usou em prol do dinheiro prometido. Eu seria
apenas a vítima que foi enganada por ele.
Peguei meu celular e disquei seu número, mas estava
desligado. Teria que esperar chegar no hotel e torcer para que não
ficasse sabendo de nada antes de falar comigo, pois desejava
tranquilizá-lo um pouco.
— Você tem o número do Mike? — perguntei para Lee, que
assistia os vídeos mais uma vez.
— Não, só o do Dylan porque foi preciso nos falarmos quando
o Logie estava preparando a sua surpresa.
— Serve — declarei. — Manda uma mensagem para ele e
pede o número do Mike.
Minha amiga fez isso e demorou apenas alguns minutos para
que o rapaz respondesse com a informação que a gente precisava.
Ele ainda disse que tinha acabado de ver os stories de Ryan e o
chamou de babaca duas vezes em seu texto.
Liguei logo para o telefone de Mike, que atendeu no segundo
toque.
— Oi?
— Oi, Mike, sou eu, Zoe — falei porque ele não tinha meu
número. — O Logan está perto de você?
— Oi,Zoe. Eleestá dormindo.Aconteceualgumacoisa?Quer
que o chame?
— Não precisa — respondi. — Você já viu os stories do Ryan?
— Hm... Não. Eu estava jogando quando você ligou.
— Pode pedir pra que o Logan me ligue assim que acordar?
— Claro— disse. — Mas o que tem o Ryan?
Eu falei que ele deveria entrar no perfil do amigo e assistir
tudo. Até porque, nas filmagens, Mike também aparecia. Tinha que
ser muito idiota para produzir provas contra si mesmo e ainda
envolver os próprios amigos. Eu não sabia em que mundo Ryan
achava que vivia, mas será que pensou que publicar aquela porcaria
o faria mais popular? Como mulher, se algum dia tivesse nutrido
qualquer interesse por ele, agora passaria bem longe.
— Espero que o pau dele caia — resmungou Leslie, largando
o celular no sofá. — Nossa, que ódio! Imagina se fosse verdade e o
Logan tivesse te enganado, como você estaria se sentindo agora?
Isso não se faz com ninguém.
— Eu sempre senti uma sensação ruim emanar dele quando
estava por perto. — Um tremor percorreu minha espinha. — Nunca
me inspirou confiança e, sinceramente, não consigo entender como
uma pessoa como o Logan consegue manter uma amizade dessa.
— Logie vai querer matá-lo.
Suspirei, chateada por ele. Era um péssimo momento para
isso, pois se ficasse muito estressado, poderia afetar seu
rendimento na competição e quebrar a temporada excelente que
vinha fazendo.
Eu tinha perfil no Instagrame desde que entrei para o TOP 20
da lista, meus seguidores triplicaram. Contava aproximadamente
com mais de sete mil pessoas que me acompanhavam, mesmo que
eu mal postasse alguma coisa ali na rede. Mesmo assim, sabia que
a maioria era de Princeton, porque antes de me mudar eu não
possuía nem trezentos seguidores.
Fiz questão de entrar no perfil de Ryan, printar a tela onde um
dos stories aparecia e compartilhar no meu, tirando uma selfie em
que revirava meus olhos e deixando uma frase logo abaixo:

“É esse tipo de coisa inútil que você faz quando não está beijando o
próprio bíceps na frente do espelho? Que bom que o titular do
Tigers tem mais neurônios que você, Ryan.”

Eu postei, mesmo sabendo que não mudaria nada e que ele


continuaria idiota. Só queria deixar claro que a brincadeirinha não
me afetou e não faria eu me esconder num canto qualquer para
chorar.
Mike estava tão calado quanto eu durante o trajeto de volta
para casa, depois de ninguém de nossa equipe ter vencido a
competição daquele final de semana. Fiquei bem chateado na hora,
mas depois acabei esquecendo porque minha raiva estava muito
direcionada para outra pessoa.
Quando cheguei no hotel na sexta à noite e descobri o que
Ryan fez, minha vontade era largar tudo para trás e ir até o
apartamento dele para encher aquele babaca de porrada. Eu estava
longe de ser uma pessoa agressiva e nem sabia se ganharia uma
briga com ele, mas só sentia uma necessidade enorme de fazê-lo se
sentir o verdadeiro merda que era.
Zoe alegava estar bem, Leslie me garantia que ela levou tudo
numa boa, mesmo assim, não via a hora de encontrá-la para tirar
minha própria conclusão a respeito disso. Ela era inocente, sensível,
tinha um coração enorme e estava em sua melhor fase,
desabrochando cada dia mais. O fato de Ryan ter tentado fazer dela
uma pária me deixava tão irritado, que eu só conseguia desejar o
mal para ele.
— O que você vai fazer? — Mike perguntou, mexendo no
celular, cabisbaixo.
Talvez o idiota não tenha pensado direito nisso, mas se ele
achou que postando aqueles vídeos sairia por cima de tudo, se
enganou bem feio. Nossas redes sociais explodiram de mensagens
nos criticando a respeito da aposta e o fato de ele ter envolvido
Dylan, Mike e Eddie só mostrava o quanto era escroto. Claro que os
três estiveram presentes quando o acordo entre nós dois foi feito,
mas não tinham influência nenhuma nisso. Se ele queria foder a
vida de alguém, que fosse a minha.
— Adoraria tocar a campainha do babaca, mas vou ver minha
garota — respondi, ansioso. — Eu me resolvo com o Ryan na
segunda-feira.
— Sei que ele foi idiota, mas cuidado com o que pretende
fazer. Os pais dele podem estalar os dedos e ferrar com a gente. Eu
não tenho dinheiro pra pagar processo por quebrar o nariz do filho
da puta.
Tudo bem, eu tinha prometido para minha irmã, para minha
namorada e para Dylan, que não sujaria as minhas mãos com a
cara azeda de Ryan. Meu melhor amigo, que era uma pessoa muito
mais pacífica do que eu, achava que eu devia apenas seguir minha
vida. De todos nós, ele era o que tinha menos intimidade com o
jogador de basquete, então não seria exatamente nenhum esforço
para Dy, riscar o outro de sua lista de contatos.
O ônibus nos deixou no estacionamento do centro de
treinamento às seis e meia da manhã e fui direto para casa,
encontrando as meninas ainda dormindo. Tirei um tempo para tomar
banho, separar a roupa suja para lavar e preparar uma vitamina,
então depois enviei uma mensagem para Dylan e perguntei se
queria correr um pouco.
Nos encontramos quinze minutos depois no lugar de sempre,
quando ainda nem eram oito horas e as ruas estavam com
pouquíssimo movimento.
— Sua cara está péssima — foi a primeira coisa que falou
quando me viu, batendo a mão no meu ombro. — Sinto muito pela
competição.
— Valeu. Precisei sair de casa pra extravasar, não tinha
ninguém pra conversar porque as garotas estavam dormindo.
— Soube que o Ryan apagou os stories
?
— Não — respondi, surpreso. — Tem certeza?
— Sim, quando fui olhar pela segunda vez, não estavam mais
lá. E nem tinha completado vinte e quatro horas ainda.
— Deve ter se acovardado por conta dos comentários —
concluí, porque eu tinha plena convicção de que ele só postou
porque achou que seria visto como o maioral.
— É, cara... — Dylan estalou a língua, terminando seu
aquecimento. — Você recebeu muitos?
— Alguns. — Assenti, começando a correr com ele me
acompanhando. — Não estou preocupado com isso, sabe?
Meu amigo murmurou em concordância ao meu lado, mas logo
encerramos o papo para nos concentrarmos no exercício. Como
Dylan aparentava cansaço e contou que tinha dormido mal na noite
anterior, fizemos um percurso de apenas cinco quilômetros para não
nos exigirmos muito.
Foi gratificante ter saído para treinar naquele domingo,
desobstruir a mente e voltar para casa um pouco mais energizado.
Pude encontrar Leslie acordada, cuidando de seu skincaremetódico
no espelho do banheiro, e quando ela me viu, pulou em meus
braços, fazendo careta ao notar que eu estava suado.
— Bom dia, Lee. — Beijei sua testa antes que fugisse de mim.
— Quer comer alguma coisa?
— Me surpreenda!
Ri da cara de pau folgada e fui até o quarto delas, vendo que
Zoe ainda estava toda enrolada no casulo que fazia com seu
cobertor. Eu não resisti e me deitei em cima de seu corpo,
esfregando meu nariz entre seus cabelos e dando alguns beijos pelo
rosto de pele tão macia.
Quando ela finalmente abriu os olhos, resmungando de sono,
e me encarou, seu sorriso me conquistou ainda mais. Tentei
capturar seus lábios, mas a garota me evitou, apertando um contra
o outro e tapando o rosto com as mãos de unhas pintadas de rosa.
— Sai, oppa! — choramingou, se mexendo embaixo de mim.
— Ainda não escovei os dentes.
— Me dá só um selinho — pedi e ela negou. — Nem precisa
abrir a boca.
— Você é nojento, Logan! — zombou Leslie ao entrar no
quarto e abrir seu armário. — Zoe deve estar com bafo de cavalo.
— E você já cheirou a boca de um?
— Não preciso, pois imagino que seja horrível.
— E se fosse o amor da sua vida? — perguntei, me sentando
na cama e a observando escolher uma roupa. — Qual o nome
daquele maluco lá da Coréia?
— Moon!
— Então, e se fosse um beijo do Moon?
Leslie puxou um cabide com um vestido e o levou para a frente
do espelho, vendo como ficaria o lookantes de descartá-lo de volta
no guarda-roupas e puxar um short jeans.
— O Moon é um ser humano perfeito, então ele deve ter
cheirinho de rosas.
— Claro que sim. — Sorri ao provar o meu ponto e revirei os
olhos. — Rosas podres.
Atrás de mim, Zoe soltou uma gargalhada e eu a acompanhei,
transformando o semblante de Leslie numa careta assassina por
estarmos zombando de seu amor platônico.
— Você sabia que a Lee manda mensagem pra ele quase
todos os dias? — minha namorada me confidenciou.
— Ele é famoso, por acaso?
Foi uma pergunta inocente, mas as duas me encararam como
se eu tivesse chifres no meio da testa. Então, como se não tivesse
paciência para me explicar, Leslie abanou a mão e voltou a sua
atenção para o armário.
Eu me virei para Zoe, que tinha se sentado e bocejava ao
mesmo tempo em que se espreguiçava. Depositei um beijo em seu
ombro já que estava proibido de chegar perto da boca, e me joguei
mais uma vez em cima dela. Porém, quando caímos os dois no
colchão, ouvi um estalo muito característico e, em seguida,
desabamos completamente junto com o estrondo.
— Lembra que o estrado estava quebrado? — perguntou Zoe,
sorrindo sem que o gesto alcançasse seus olhos. — Parabéns por
destruir minha cama, oppa!

Consegui deixar o celular numa posição perfeita para o vídeo


que precisava ser gravado. Acendi as luzes indiretas do quarto, me
sentei na beira da cama e Zoe se acomodou de lado em meu colo, o
corpo virado levemente para a câmera. Tinha colocado uma música
ambiente para tocar, gostava muito daquele som, que era “There
For You”, de Martin Garrix & Troye Sivan. Inclinei-me na direção do
aparelho de telefone e cliquei no botão para iniciar a live
.
Eu possuía um pouco mais de trinta mil seguidores no meu
perfil do Instagram , colecionados ao longo do tempo, mas
principalmente, por conta da minha popularidade ali na
universidade. Por isso, a melhor ideia que tive para responder a
babaquice de Ryan, foi aparecer ao vivo com a minha namorada e
esclarecer toda aquela merda.
— Boa noite, pessoal. — Sorri, esperando que as pessoas
começassem a entrar, e olhei para Zoe, que estava mais relaxada
do que eu imaginei que fosse ficar. — Sei que deve ser uma
surpresa me ver fazendo uma live, acho que é a primeira vez que
faço isso, mas queria conversar rapidinho sobre um assunto
importante.
Cem, duzentas e oitenta, quatrocentas e vinte, quinhentas, o
número de espectadores foi aumentando rapidamente.
— Estou aqui com a Zoe, creio que muitos já saibam quem ela
é, e como podem ver, nós estamos juntos. Sexta-feira estava
rolando alguns vídeos no perfil de um cara que eu considerava
amigo, vocês devem conhecer, ele é o babaca que fica no banco de
reserva durante a maioria dos jogos do Tigers.
Tentava ler os comentários que subiam no chat, mas estava
tudo muito rápido e era difícilacompanhar. Alguns entraram para me
xingar, outros elogiavam Zoe, tinham os que mandavam só emojise
os que estavam escrevendo mensagens de apoio.
— Os vídeos publicados por Ryan mostravam uma aposta
sendo feita entre nós dois, que envolvia enganar uma garota,
fingindo interesse por ela, só para mostrar que eu era capaz de
transformá-la em alguém popular. — Olhei para Zoe, que sorriu toda
fofa. — Você ficou bem popular, né?
— Bastante — respondeu para a câmera e acenou. — Oi,
gente. Eu sou um pouco tímida e...
— Muito tímida — retruquei.
— Quer me deixar falar? — Ela estreitou os olhos para mim e
apertou meus lábios. — Enfim, sou tímida, mas estou me
esforçando pra aparecer aqui na frente de... nossa, oitocentas e
setenta e duas pessoas, pois é necessário. Eu me chamo Zoe
Green, nasci em Minnesota e cresci na mesma rua onde moram os
pais de Logan. Sou a melhor amiga da irmã dele a minha vida toda
e conheço esse coreano lindo desde criança.
— Só pra constar, eu sou americano — insisti, vendo-a revirar
os olhos. — Quem me conhece só um pouquinho sabe que eu
nunca aceitaria participar da aposta se tivesse que realmente
envolver alguém inocente nessa história toda, porque não fui criado
para ser um babaca. Eu só topei entrar na brincadeira do Ryan,
porque conhecia a Zoe e sabia que ela seria a garota perfeita pra
isso.
— O Logan basicamente me pediu para fingir tudo com ele,
porque o seu amiguinho não tem nada melhor pra fazer com o
dinheiro dos pais, então Logie, pelo menos, poderia usá-lo para
trocar de carro.
Enquanto ela falava, eu mexi no celular dela e abri a foto que
tínhamos deixado preparada. Horas antes de ligarmos a live , Leslie
fez toda aquela maquiagem antiga em Zoe, para deixá-la do mesmo
jeito de quando Ryan a conheceu. As olheiras, as espinhas, a pele
maltratada. Também adicionamos os óculos e batemos uma selfie ,
que eu estava abrindo neste exato momento e apontando bem perto
da câmera.
— Esta aqui foi a Zoe Green que meus amigos conheceram —
expliquei e afastei o telefone, apontando para a garota em meu colo.
— Como vocês podem ver, a verdadeira Zoe é uma gata. Nós
apenas criamos uma camuflagem para que o Ryan acreditasse em
toda a história.
— Eu sempre estive por dentro de tudo, Logan me contou todo
o plano quando me pediu para fazer isso com ele.
— E no meio do caminho, acabei apaixonado — declarei.
Foi algo bem natural de dizer, mas senti o rosto de Zoe se virar
rapidamente na minha direção e a encarei. Os olhos verdes
estavam arregalados e com um brilho intenso. De repente, eu me
dei conta de que ainda não tinha dito aquilo em voz alta para ela.
Foi a primeira vez e, ainda por cima, durante uma livenada íntima.

— Saranghaeyo[26] — sussurrei, tranquilo ao saber que mais


ninguém saberia o significado daquela palavra.
Bem, pelo menos, não a maioria dos espectadores, a não ser
quem soubesse coreano. Zoe não era fluente, mas falava e entendia
bastante coisa do idioma, então eu não tinha a menor dúvida de que
ela me escutaria e entenderia imediatamente a minha declaração.
Como previsto, a colorida levou a mão à boca e pareceu se
esquecer que estávamos diante de uma câmera, pois agarrou meu
pescoço e me beijou não com um selinho, mas um beijo que
certamente deixava nossas línguas bem explícitas. Precisei
interrompê-la e inclinar meu rosto para o lado, olhando o celular e
acenando para as quase mil pessoas online.
— Como vocês todos podem ver, nós dois estamos muito bem
e felizes — assumi, sorrindo. — O único babaca na história toda é o
Ryan, que não apenas tentou sujar a minha imagem, como quis
humilhar Zoe ao tentar mostrar que foi usada e enganada.
— Eu também queria deixar bem claro que acho a proposta
dessa lista da HottestPrin a coisa mais ridícula e sexista de todas
— Zoe declarou. — Parem de se basear no que um bando de
desocupados acha de uma determinada pessoa. Vocês não estão
mais no colégio, pelo amor de Deus!
— Boa noite, galera! Vamos ficando por aqui. Se cuidem!
Quando estiquei a mão para encerrar a live
, o chatexplodia de
emojisde coração e muitas mensagens nos apoiando e elogiando a
postura de falarmos abertamente sobre o assunto.
Eu mal desliguei a tela do celular e Zoe me jogou de costas na
cama ao lançar seu corpo todo sobre mim. Apertei sua bunda,
enfiando minhas mãos por dentro de sua calça e sentindo a pele
fina se arrepiar. Ela mordeu meu pescoço com força e deslizou os
lábios pelo meu maxilar até alcançar minha boca e me chupar ali
bem devagar, como se apreciasse meu gosto.
— Você quis dizer mesmo aquilo ou foi só pra fazer graça na
frente da câmera? — questionou, alisando meus ombros. — Porque
sabe que me iludo facilmente.
— Se eu quisesse fazer joguinhos, teria falado em inglês para
todos entenderem. — Toquei seus cabelos, colocando uma mecha
para trás da orelha pequena e sorrindo para Zoe. — Eu realmente
amo você.
— Tem certeza? — Assenti, notando seu semblante ansioso.
— Quando percebeu isso?
— Quando senti vontade de deixar minha equipe no hotel e
desistir de competir só pra vir pra casa e abraçar você. Por mais que
você e Leslie dissessem que estava tudo bem, eu tinha minhas
dúvidas — confessei, notando o brilho em seus olhos aumentar
conforme as lágrimas foram acumulando. — Doía em mim não
poder te olhar pessoalmente e me certificar de que Ryan não tinha
conseguido te machucar.
— Ah... — Ela suspirou e mordiscou o lábio. — Eu juro que
fiquei bem.
— Não sei o que vai acontecer agora e como as pessoas vão
reagir a nós dois, mas não quero que se retraia. Você é incrível,
Zoe, ninguém tem o direito de fazê-la se sentir menos do que é.
— Saranghaeyo — ela murmurou, sorrindo enquanto
enxugava uma lágrima que escorria pela bochecha.
— Saranghaeyo. — Segurei seu rosto entre as mãos e
encaixei os lábios dela entre os meus, jogando uma perna minha
por cima de seus quadris e a virando na cama.
Puxei o cobertor por cima das nossas cabeças quando a
safada levou a mão para dentro da minha calça e começou a me
masturbar de repente, usando a língua atrevida para lamber meu
pescoço e me deixar todo arrepiado.
Na quinta-feira, nós fomos a uma festa de aniversário de um
amigo de Eddie, porque era assim que as coisas funcionavam. Você
podia nunca ter visto a pessoa, mas um amigo de um amigo te
convidava e, quando menos se esperava, mal cabia tanta gente
dentro da casa. Confesso que de início eu não me senti empolgada
para ir, mas Leslie ficou insistindo, jogando na minha cara que
quase não estávamos fazendo programas juntas porque eu só
pensava em beijar na boca.
Ela fez um penteado com tranças lindas nos meus cabelos,
arrasou na minha maquiagem, e eu usei o vestido preto que tinha
usado no dia em que fui ao Tatter, com Logan. Para completar o
look, escolhi a bolsinha que Lee me deu de aniversário, com o logo
do álbum Proof, que cabia só o celular e os documentos de tão
pequena que era.
Meu namorado disse que eu não precisava me arrumar toda
daquele jeito, mas eu realmente queria me produzir para ele, então
não me incomodei. Seria a primeira vez que apareceríamos em
público juntos depois daquela live
, porque a semana foi bem corrida
e a gente só se via dentro de casa. Então, quando chegamos à
propriedade da fraternidade em questão, foi impossível não notar
muitos pares de olhos curiosos em cima de nós dois.
Algumas pessoas dançavam animadas ao som de “CUFF IT”,
de Beyoncé, enquanto passávamos pela sala e eu sentia os dedos
de Logan sempre acariciando os meus. Com a minha outra mão, eu
puxava a de Leslie para passarmos no meio daquela galera toda,
até que avistamos o Eddie e a Abby, que já exibia uma barriguinha
bem redonda. Eu a cumprimentei assim que paramos, ela era muito
simpática e divertida, também se entrosou facilmente com a minha
melhor amiga.
Dylan se aproximou com um copo de cerveja na mão e
abraçou Logan pelos ombros, sussurrando alguma coisa no ouvido
dele que o deixou tenso. Meu namorado assentiu, voltando a
procurar pela minha mão quase de forma automática ao mesmo
tempo em que conversava com Eddie.
— Vocês são muito fofos — disse Abby, alisando a barriga. —
Que bom que se conhecem há todo esse tempo.
— Graças a mim — disse Lee, se apoiando no meu ombro e
dando um sorriso orgulhoso. — Eu sou o elo especial entre os dois.
— Só por isso que eu te amo — comentei, cutucando a
bochecha dela. — Ser sua amiga foi um plano diabólico arquitetado
durante todos esses anos.
— É mesmo? E colecionar um monte de foto de gatinhos sem
camisa dançando sensualmente, fazia parte do seu disfarce?
— De que fotos Leslie está falando? — Logan se intrometeu,
interrompendo seu papo com os amigos e metendo a cara entre
nós. — Tem fotos minhas de sunga também?
— Não, só dos meus ídolos.— Sorri para ele, que estreitou os
olhos. — Você eu vejo sempre, se exibindo na piscina. Assim perde
a graça.
A forma intensa como Logan me olhou, quase colando nossos
rostos, parecia me enviar uma ameaça muito importante, que eu
adoraria vê-lo cumprir. Muitas promessas de que me faria pagar
pela língua atrevida e, o melhor de tudo, é que Logie era tão
discreto e tinha aquela cara de príncipe encantado, então ninguém
podia imaginar as sacanagens que se passavam na mente poluída.
Por mim, eu iria embora da festa naquele instante só para
aproveitar o que ele quisesse fazer comigo. Mas, tudo bem,
tínhamos acabado de chegar e eu ainda precisava me exibir
naquele vestido escolhido pelo próprio. Estava me sentindo muito
gata, pois Leslie havia caprichado nas sombras escuras que
destacavam o verde dos meus olhos e eu cheirava muito bem,
usando pela primeira vez o perfume que meus pais me enviaram de
presente de aniversário.
Minha amiga e eu saímosatrás de Logan quando ele foi pegar
bebidas e antes que negasse alguma coisa para nós duas, nos
adiantamos e agarramos dois copinhos com cerveja, sorrindo
angelicalmente para ele.
— Esqueceram do último vexame que deram? — perguntou,
tentando tirar o copo de Leslie.
— Deixa a gente ser feliz! — pediu ela, fugindo dele e me
usando como escudo. — Por favor, irmãozinho!
— Eu tomo conta dela — falei, batendo meus cílios
sensualmente. — Sou mais responsável.
— Jura? — Logan arqueou as sobrancelhas. — Não é disso
que me lembro.
— A diferença é que hoje não vamos consumir nada além da
cerveja — prometi, cruzando meus dedos diante de seu rosto. — Foi
só uma experiência, ruim por sinal, que não repetiremos.
Logan nos encarou por uns segundos, observando a irmã que
ainda se escondia em minhas costas, então suspirou. Estava tão
gato com aquele jeansclaro e apertadinho, e uma camisa rosa-bebê
por baixo de um blazeroff-white, que eu sentia vontade de despi-lo
ali mesmo. Ele conseguia destoar daquele mar de universitários
vestidos com jeans e camisetas sempre iguais, sem nenhum
diferencial no look, como se fosse um uniforme.
— Se eu notar que estão extrapolando, a festa se encerra e eu
as levo pra casa — declarou com o indicador erguido e um olhar
ameaçador. — Entenderam?
— Sim, papai — zombou Leslie.
Beberiquei minha cerveja, feliz da vida, tentando curtir o som
que rolava. Eu gostava de pop em geral, mas não tinha nenhum
artista favorito como acontecia quando o assunto abrangia o k-pop.
Leslie e eu começamos nosso vício por volta dos onze anos de
idade e nos interessamos por diversos grupos, o amor que
compartilhávamos por BTS não tinha explicação. Dava até vontade
de chorar só de pensar em quantos momentos incríveis assistimos
com os garotos e no quanto eles foram importantes durante nossa
adolescência, quando um vídeo de MV ou até mesmo um episódio
de Run BTS já nos fazia sorrir depois de um dia ruim.
Ok, senti meus olhos arderem e sabia que o lado emocional foi
ativado, então precisei arregalá-los para espantar as lágrimas e me
virei para Leslie, abraçando minha amiga e movendo nossos corpos
ao ritmo da música que eu não conhecia.
— Logan Choi e Zoe Green! — uma pessoa gritou nossos
nomes e empurrou outras para chegar até nós. — Virei fã de vocês
dois!
O cara que nos abraçou pelos ombros, tomando o espaço
entre nós dois, era mais alto do que Logan, tinha cabelos escuros e
um sorriso bonito que contrastava com a pele negra. Eu o conheci
de imediato, pois seu rosto estava em uma das postagens da
HottestPrin, se não me enganava, dentro do TOP 20 da lista
masculina.
— Valeu, Zyan. — Logie deu um tapinha no peito dele e sorriu.
— E parabéns! Ia te procurar, mas antes, vim garantir a bebida.
— Você é o aniversariante? — perguntei, surpresa. — Quer
dizer, sinto muito por ter vindo de penetra... E parabéns pelo seu
dia.
Me senti um pouco sem-graça por ter sido flagrada, afinal de
contas, eu nem conhecia o garoto e estava bebendo da cerveja que
ele havia comprado. Mas Zyan gargalhou e soltou Logan para se
virar na minha direção e segurar meus ombros ao se inclinar.
— Relaxa, Zoe. Eu mandei Eddie convidá-los. — Piscou para
mim e isso já me fez observar se Logan sentiria ciúmes, mas até
que ele estava tranquilo. — Adorei a forma como expuseram aquele
babaca do Ryan. Minha vibeé outra, eu jogo hóquei, mas nunca fui
com a cara daquele mauricinho.
— Dylan me disse que ele tentou entrar aqui e foi expulso —
comentou Logan, me surpreendendo. Então foi isso que ele e seu
amigo cochicharam? — Parabéns pela atitude.
— Cara, na verdade, nem posso colher os méritos por isso. A
galera da fraternidade não ia admitir que ele entrasse, estão todos
com ranço.
Para ser sincera, desde nossa liveno domingo eu não ouvia
falar de Ryan. Só o que fiquei sabendo através de Logan, foi que o
loiro estava sem falar com o restante do grupo deles. Suas ações
também repercutiram em sua vida acadêmica porque levou uma
suspensão do time de basquete. Não sabia por quanto tempo, mas
certamente isso afetaria bastante seu histórico para um futuro
profissional.
— Eu gostaria muito de ter presenciado a cena — comentou
Leslie, com o braço dentro do meu.
— Vocês mandaram bem na live— disse Zyan, estendendo a
mão para Logan e batendo na dele. — Plano executado de forma
genial e, no final, ainda conseguiu a garota.
— Sem dúvida, a melhor parte — meu namorado concluiu,
lançando um olhar fofo para mim.
— Saca só! — Zyan ergueu os braços, girando sobre os
calcanhares e procurando algo na multidão. — Vamos tocar um som
pra vocês! Zoe Green, pode pedir o que quiser que eu faço as
caixas de som estourarem.
— Ah, cara... — Logan murmurou, estalando a língua e
baixando a cabeça. — Você não sabe o que está fazendo...
Eu sorri e olhei para Leslie, que sorriu de volta. Então, passei
meu braço pelo de Zyan e o deixei me guiar pelo meio das pessoas
que dançavam, enquanto pensava nas minhas opções.
— Então, você conhece BTS?

Meu vestido estava colado nas costas de tanto que tinha


suado. Com o poder dado a mim pelo aniversariante da noite, eu
peguei o microfone que o DJ não estava usando e anunciei para a
festa:
— Tem alguma army aqui hoje? Se tiver, por favor, venha para
a pista!
Enquanto a icônica “Dionysus”, do BTS, estourava as caixas
de som, nós dançamos, pulamos e gritamos com toda a força de
nossos pulmões. No total, umas quinze garotas enlouquecidas
pararam a festa para curtir aquele momento especial e eu fiquei
incrivelmente feliz em encontrar outras armys por ali, já querendo
me tornar amiga de todas elas. Voltando à minha adolescência, das
horas e dias que passei com Lee em frente ao computador, tentando
reproduzir os movimentos daquela coreografia, repetindo a música
incansavelmente até decorar a letra, a nossa sinergia era incrível e
terminamos abraçadas e pulando juntas.
Quando “Make ItRight ”, do BTS, começou a tocar, eu me
arrepiei imediatamente e me virei à procura de Logan. Ele estava
um pouco distante, rindo da nossa belíssima atuação, conversando
com os amigos, alheio ao fato de que eu queria me esfregar em seu
corpinho.
Caminhei em sua direção, talvez chamando um pouco mais de
atenção do que desejava, porque algumas pessoas se afastaram
para abrir caminho até que eu o segurasse pela lapela do blazer.
— Vem comigo?
— Não... — respondeu, ficando corado. — Não faça isso.
Fiz um biquinho e segurei sua mão esquerda, esperando que
se compadecesse de mim, e deu certo porque Logan finalmente
amoleceu o corpo e se permitiu ser levado para o meio da pista.
Como eu estava com os saltos malditos, não foi tão difícil
envolver o pescoço dele sem que precisasse se curvar todo até
mim. Sorri para meu oppa, achando lindo que até o pescoço dele
estivesse vermelho.
— Desculpa se eu quero esfregar na cara de todas as garotas
a sorte que tenho — comentei, encolhendo meus ombros.
Logie soltou uma risadinha, fechando os olhos lindos e ficando
ainda mais irresistível ao grudar o sorriso TOP 3 no rosto perfeito.
Eu me transformei em gelatina quando suas mãos tocaram a minha
cintura e ele fez meu corpo girar, me abraçando ao colar minhas
costas em seu peito.
Nossos corpos se moveram ao ritmo gostoso da música e eu
fechei os meus olhos deixando que Logan me guiasse. Fiquei toda
arrepiada quando cantou um trecho em coreano ao pé do meu
ouvido, roçando os lábios em minha pele e transformando aquele
momento em algo muito mais especial para mim. Estava vivendo o
meu sonho, que parecia tão perfeito que até me deixava com medo
de acordar. Mas pelo menos eu sabia que com Logan tudo seria
sempre daquele jeito, fácil, simples, feliz, como se ele fosse o farol
que iluminava a minha vida
Desde que eu tinha dezessete anos a famíliaGreen se juntava
com a família Choi para comemorarmos o tradicional feriado
americano. A amizade dos nossos pais era um exemplo para nós
três, mostrando como culturas diferentes podiam conviver em
harmonia quando as partes eram interessadas.
No nosso jantar de Ação de Graças havia o famoso peru e
todos aqueles pratos servidos especialmente para aquela refeição,
mas também existia uma mesa farta com variadas comidas
coreanas. Todo mundo comia de tudo em meio às conversas
animadas, piadas sem-graça dos mais velhos e troca de carinho e
respeito mútuo entre nós sete.
Eu esperava ansioso durante os meses para voltar para minha
família, mas também amava estar com os pais de Zoe. Portanto,
naquele ano específico, a comemoração era ainda mais
significativa. A novidade sobre o namoro foi o assunto em pauta
durante toda a manhã do dia em que chegamos na cidade. Tanto na
minha casa quanto na da Zoe, nossos ouvidos foram alugados com
muitas perguntas a respeito de como tudo aconteceu.
Na hora do jantar, quando chegamos na casa dos Green,
encontrei Zoe vestida com uma calça de flanela estampada com
dizeres de agradecimentos, típico para o feriado, e segurei uma
risada. Ela me deu o maior sorriso do mundo que me puxou para
dentro e me arrastou pela escada.
— Zoe, deixe a porta do quarto aberta, hein mocinha! — Ouvi
o grito de seu pai quando subimos e me senti de volta à
adolescência, entrando escondido pela janela de algumas garotas.
— Pai! — ela gritou de volta, me soltando e debruçando sobre
o corrimão. — Você sabe que eu moro com o Logan, né? Isso não
tem lógica!
Congelei meus pés no último degrau quando meu sogro
apareceu com a cara fechada, um pano de prato pendurado no
ombro e o dedo em riste na direção da filha.
— Na minha casa, o objetivo é que nenhum marmanjo encoste
em você. — Então, me encarou e estreitou os olhos. — Não é
porque eu te amo, rapaz, que não vou cortar suas bolas se mexer
com a minha garotinha.
Pensei que tinha feito muito mais do que só mexer, mas engoli
em seco e sorri educadamente para o pai da colorida. Atrás dele,
sua mãe piscou para mim e fez o símbolo do coração com os dedos,
bem dorameira, o que me fez precisar prender uma gargalhada.
Zoe estalou a língua e bufou, voltando a segurar minha mão e
me carregando pelo corredor do segundo andar. Nunca na vida eu
havia pisado no quarto dela, portanto, quando parou diante da porta
branca com um quadro fofo com as letras de seu nome, sorriu toda
boba.
— Você vai finalmente conhecer meu mundinho, mas prometa
não rir.
— Aí você complica a situação pra mim — confessei, já
achando graça.
Levei um tapa no peito sem conseguir me defender, então Zoe
abriu a porta e me puxou, tratando de fechá-la assim que entramos,
para o desgosto do seu pai.
Fui rapidamente sugado para a Coréia do Sul ao ver a
decoração do cômodo com inúmeras referências aos doramas,
roupa de cama temática e paredes repletas dos mais diversos
pôsteres de homens do k-pop. Um bonequinho de pelúcia com a
cara de algum coreano estava em cima da cama e Zoe o apertou,
acionando o comando que repetia saranghaeyo umas cinco vezes.
— Eu amo meus pais porque eles não mexeram em nada —
disse, com um olhar nostálgico, parando em frente à mesa onde
ficava um computador mais antigo e pegando um porta-retrato.
Ela o mostrou para mim, uma foto sua com Leslie em algum
aniversário, mas logo abriu a parte traseira do objeto e puxou a
fotografia. Então, percebi que havia outra lá dentro, virada ao
contrário, e Zoe a tirou e me entregou.
— Você sempre esteve presente — declarou.
Era uma foto minha depois de vencer alguma competição.
Estava com a touca na cabeça e sorria com os olhos voltados para
outra direção, demonstrando estar muito feliz. Ela tinha desenhado
um coração ao redor do meu rosto com uma canetinha vermelha,
toda fofa.
— Esse é o seu sorriso TOP 3.
— Meu... o quê? — perguntei sem entender.
— É o sorriso mais bonito que você tem — explicou a colorida,
pegando a foto da minha mão e a colocando de volta no lugar.
Dessa vez, virada para o lado certo, sem que fosse escondida pela
outra. — Quando você sorri exatamente desse jeito da foto, eu
quase morro. Mexe com tudo dentro de mim.
Segurei seu pulso e a puxei para mais perto, tomando o rosto
delicado em minhas mãos e a olhando dentro dos olhos verdes
cristalinos. Zoe não parava de me surpreender e brincar com o meu
coração de um jeito que eu achava difícil me fazer acostumar.
— Como pode dizer isso pra mim, dessa forma, e achar que eu
não vou me emocionar? — questionei, fechando os olhos e roçando
a ponta do meu nariz em seu rosto. — Não sei se mereço toda essa
devoção, Zozo. Fico até com medo de não ser suficiente.
— Basta dizer que me ama todos os dias — ela murmurou,
encolhendo os ombros e piscando toda fofinha. — Eu consigo ser
feliz com bem pouco, se quer saber. Só preciso da minha família,do
BTS tocando na caixa de som, muitas tintas coloridas, minha melhor
amiga e Logan Choi pelado à minha inteira disposição.
Soltei uma risada e apertei a cintura da safada, tirando seus
pés do chão e a carregando até a cama, onde a joguei e pulei sobre
seu corpo. Zoe deu um grito baixinho e fechou os olhos quando
puxei a gola de sua camisa para deixar uma mordida em seu
pescoço, mas quando me lembrei onde estávamos, peguei leve
porque não podia deixar uma marca de chupão para o pai dela ver.
— Você já foi mais tímida, sabia? Perdeu a vergonha na cara
junto com a virgindade?
— Foi muito tempo me controlando perto de você — disse ela,
rindo. — Desculpa por ser tarada.
Prendi os braços de Zoe e mordisquei seus lábios, parando um
segundo para admirar aquele rostinho lindo. Quantas vezes olhei
para aquela garota e nem sequer imaginei que um dia estaria desse
jeito, em seu quarto, roçando meu corpo no dela e desejando um
beijo cinematográfico, ao mesmo tempo em que ela devia idealizar
tantas coisas comigo.
— Tem algum fetiche que você gostaria de realizar? —
perguntei, curioso. — Algo que você tenha pensado em fazer
comigo no passado?
Os olhos verdes se arregalaram e ela corou, assentindo
rapidamente.
— Já tive uns sonhos quentes com a gente dentro da piscina
do colégio — confessou, livrando uma de suas mãos que eu
segurava para tapar os olhos. — Aí eu assistia suas competições e
sonhava ainda mais.
— É mesmo? Tipo o quê? Nós dois fazendo sexo na piscina?
— Zoe assentiu e encolheu os ombros. — Que safadinha.
— Você perguntou. Não me julgue.
— Não julgarei — respondi, mordendo sua bochecha no
instante em que ouvimos sua mãe nos chamar para descer porque o
jantar estava pronto.
Eu esperava, do fundo do coração, não ser preso naquela
noite. Até porque a situação não seria nada honrada e meu sogro
me mataria.
Fiquei pensando no que Zoe disse durante todo o jantar de
Ação de Graças e fui para casa com isso entranhado na minha
mente. Sem conseguir dormir e olhando a hora no celular, decidi
colocar aquela ideia em prática. Não era impossível, por isso, vesti
um casaco e coloquei uma touca, e caminhei por entre nossos
jardins até a lateral da residência da colorida, parando embaixo de
sua janela e pegando meu celular.
Zoe atendeu no segundo toque e eu pedi que colocasse um
agasalho e descesse imediatamente, sem acordar seus pais. Essa
parte era muito importante.
— O que está fazendo? — perguntou quando fechou a porta
de casa com cuidado e enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta. —
Logan, já passou de meia-noite.
— Vamos dar um passeio? — perguntei, apontando para a
minha bicicleta parada na calçada.
O único carro disponível era o dos meus pais e eu não queria
correr o risco de ligar o motor e acordá-los com o barulho. Portanto,
precisei apelar para aquele velho meio de locomoção que eu não
usava há mais de quatro anos.
— Nesse frio? — Zoe franziu a testa. — O que está
aprontando?
Tirei uma touca e a coloquei na cabeça dela para protegê-la da
temperatura e estiquei a mão, esperando que viesse comigo. Claro
que aceitou, mesmo achando a minha atitude um pouco estranha.
Ela ria e resmungava enquanto eu pedalava até o nosso antigo
colégio, que ficava a pouco mais de dois quilômetros de nossa rua.
Quando entramos na propriedade do colégio e eu parei a bicicleta
diante do ginásio onde ficava a piscina, Zoe saltou e levou as mãos
à cintura.
— Não me diga que você vai se tornar um vândalo e arrombar
a nossa escola?
Passei meu braço pelos ombros dela, caminhando na direção
do prédio e estalando a minha língua.
— Posso ter essa carinha de anjo e um histórico escolar
impecável, mas não significa que eu não tenha curtido bastante a
minha adolescência, como um garoto da minha idade deveria fazer.
— O que isso quer dizer? — A colorida estreitou os olhos. —
Que vivia trazendo as garotas pra cá?
— Na verdade, algumas vezes eu vinha com meus amigos pra
beber e nadar — confessei, relembrando bons momentos. — De vez
em quando vinha só pra ficar treinando, em noites de insônia e
ansiedade. E tudo bem, talvez eu tenha trazido uma garota ou outra.
— Levei um beliscão e ri. — Mas não era apaixonado por nenhuma
delas.
Beijei a têmpora de Zoe, esfregando suas costas por baixo do
casaco e parando diante da porta do ginásio.
— Quer entrar? — perguntei.
— Você sabe abrir fechaduras, igual nos filmes?
— Não. — Sorri. — Mas se o velho Joe Magro ainda for o
zelador, eu sei que ele é preguiçoso e não gosta de entrar no
vestiário feminino, então nunca fecha as janelas daquele banheiro
antes de ir embora.
Zoe arregalou os olhos e eu a puxei pela mão para darmos a
volta no prédio até os fundos, onde ficavam as janelas dos
vestiários. Elas eram retangulares e estavam a mais ou menos dois
metros de distância do chão, o que era muita moleza para mim.
— Já viveu perigosamente, Zozo? — Pisquei para ela e
segurei em sua cintura, erguendo seu corpo para que conseguisse
se segurar. — Suba e sente-se, me espere.
Ela não teve muita dificuldade para uma primeira vez, então
cheguei um pouco para o lado, dei impulso e me pendurei no
parapeito, içando o meu corpo com força nos braços até passar a
perna para dentro da janela e pular para o vestiário.
Olhei ao redor, vendo que tudo continuava exatamente igual.
Apenas uma reforma foi feita, alterando o granito da bancada de
pias, nada mais. Virei-me para Zoe e toquei suas pernas,
encorajando-a a pular para que eu a segurasse.
— Então Logan Choi era um delinquente? — zombou
enquanto me seguia para a piscina. — Estou impressionada.
Fui até a casa de máquinas e acionei a bomba responsável por
deixar a água quente e me sentei na borda, enquanto esperava o
aquecimento fazer efeito. Dei um tapinha ao meu lado e Zoe me
acompanhou depois de tirar os tênis e testar a temperatura com a
pontinha dos pés.
— Nós vamos entrar?
— Se quisermos — respondi, alisando sua nuca.
— Sabe que não estou de biquíni,né? — Ela franziu os lábios,
sorrindo com timidez.
— Graças a Deus por isso. — Pisquei, apertando seu queixo.
— Hoje é realmente dia de agradecer.
Puxei meu celular do bolso da calça e mexi no player para
selecionar alguma playlist sem perder muito tempo com isso.
“Bridges”, de Calum Scott, começou a tocar enquanto eu puxava
Zoe para um beijo.
De olhos fechados, tentei decorar cada cantinho de seu rosto
com os meus lábios, sentindo a delicadeza dele em minhas mãos e
a forma como puxava o ar bem forte de vez em quando, soltando-o
devagar para logo repetir o processo. Desci a boca bem lentamente
até seu pescoço só para vê-la se arrepiar e sorri quando isso
aconteceu. Era muito fácil prever as reações de Zoe a mim.
— Amo você — sussurrei em seu ouvido, depositando um
beijo perto da orelha antes de recuar e me levantar para me despir.
— Tem certeza de que não vamos ser flagrados? — ela
perguntou com um semblante apreensivo.
— São quase uma hora da manhã e todo mundo está
dormindo com a barriga cheia de comida.
Tirei toda a minha roupa, inclusive a cueca, e mergulhei de
qualquer forma na água quente. Aproveitei para matar a saudade
daquela piscina onde comemorei tantas vitórias e nadei de crawlaté
o outro lado, dando a cambalhota contra a parede para retornar até
onde Zoe estava.
Ao emergir a cabeça, encontrei a garota peladinha, com as
mãos na frente da boceta que me deixava sedento. Ela correu e
tapou o nariz com os dedos antes de pular perto de mim e soltar um
grito. Mal consegui piscar antes que aquele polvo de cabelos
coloridos se enroscasse em mim com pernas e braços, me fazendo
rir com sua afobação.
— Você é muito graciosa mergulhando — zombei.
— Nos meus sonhos, você não ficava fazendo gracinha com a
minha cara, Logie.
— Desculpa, parei. — Dei um selinho nela, me afastando da
borda e a levando para a parte mais para o meio da piscina.
Era difícil pensar em qualquer outra coisa enquanto Zoe
roçava a intimidade em mim, deixando que eu a sentisse com meu
pau que acordava rapidamente. Seus dedos entraram pelos meus
cabelos quando tomou a minha boca e puxou meu lábio inferior
entre os dentes antes de chupá-lo, me causando muito tesão.
— Se acontecer, vai ser sem camisinha — avisei, deixando
que decidisse.
— Tudo bem. — Zoe sorriu, apertando-se mais ao meu redor.
— Eu quero de todas as formas com você.
Ela se apoiou em meus ombros ao erguer levemente o corpo e
eu me encaixei melhor, posicionando meu pau em sua entrada e
mergulhando dentro da bocetinha macia e apertada. Minha. Eu tinha
sido o primeiro e pretendia ser o único. Se dependesse de mim, pelo
menos, Zoe nunca mais conheceria outro sexo além do que fazia
comigo.
Ela gemeu, mordendo os lábios conforme eu a preenchia por
inteiro e aguardava que fosse se acostumando.
— Te amo, oppa! — sussurrou, beijando minha orelha.
Aumentei um pouco o ritmo das estocadas, mas na água não
dava para ser muito rápido. Preferia que ela tivesse uma experiência
legal, inesquecível, e não que saísse dali toda ardida.
Apertei a bunda que não era tão grande, mas se moldava
perfeitamente em minha mão com sua pele gostosa e macia,
controlando os seus movimentos enquanto esmagava o meu pau
dentro dela. Eu me sentia quente, pulsando no ritmo de Zoe,
desejando mais daquela garota.
Precisei nos levar de volta até a borda da piscina e a imprensei
contra a parede, puxando seus joelhos para o alto e a penetrando
mais fundo. Seu corpo ficou levemente inclinado e me deu um ótimo
acesso aos seios empinadinhos, que pude apertar com uma das
mãos, admirando enquanto pulavam à medida em que eu estocava.
Quando decidi que era hora de brincar um pouco mais, ergui o
corpo de Zoe até colocá-la sentada fora da piscina e também saída
água. Usei as toalhas que havia trazido do vestiário para forrar o
chão e deitei a colorida, subindo sobre ela e me enfiando entre as
pernas delicadas, que logo se fecharam ao meu redor. Nossos
abdomens se uniam à medida que eu me movimentava, sendo
acompanhado por ela, que se mostrava doida para alcançar o
orgasmo, rebolando e roçando os quadris nos meus. Chupei sua
orelha que pegava fogo, deixando escapar alguns gemidos
incontroláveis por causa da pressão alucinante que dominava o meu
membro. Zoe me apertava por inteiro, moendo toda a minha
extensão em seu interior, se abrindo cada vez mais para que eu me
enterrasse em sua carne melada.
— Logie... — ela choramingou, olhando-me nos olhos com a
testa franzida e a boca linda entreaberta. — Isso é tão bom...
Beijei seu queixo e, em seguida, o coloquei na minha boca,
ondulando meus quadris no ritmo em que Zoe melhor tinha
correspondido, sentindo o orgasmo querendo se aproximar. Quando
ela apertou mais as coxas ao meu redor e tensionou seus músculos,
eu soube que estava muito perto. Esperei que se desmanchasse
num gozo delicioso, aproveitando cada segundo com ela e deixando
que me sentisse preenchê-la completamente.
Por fim, precisei me retirar porque estávamos sem camisinha e
não queria correr o risco de gozar dentro. Ajoelhei-me sobre Zoe,
massageando meu pau à espera da sensação que vinha chegando,
quando a filha da mãe me surpreendeu e colocou a línguapara fora.
— Quer que eu goze na sua boca? — perguntei para ter
certeza de que tinha entendido direito e ela assentiu.
Meu tesão aumentou ainda mais conforme deslizei para cima e
me aproximei o suficiente para que Zoe fechasse os lábios lindos ao
redor da minha glande. Gemi sem me preocupar em controlar o
som, arrepiando-me com a sua chupada e deixando que minha
cabeça pendesse para trás.
Ela o engoliu por inteiro antes de recuar e começar a me
lamber, e quando o orgasmo chegou, abri os olhos imediatamente
para descobrir o que faria. Uma cena que me acompanharia nos
sonhos por muito tempo, porque aquela língua atrevida capturou
tudo o que eu tinha para liberar e levou para dentro da boca antes
de retornar e me limpar com afinco.
— Cacete, Zoe! — Alisei seus cabelos e os afastei do rosto
para que não se sujassem. — Precisa me avisar antes de fazer isso,
ou posso infartar de tanta emoção.
Ela riu, fechando os olhos e abrindo os braços pelo chão,
então me deitei ao seu lado, trazendo sua cabeça com cuidado para
o meu peito, enquanto a sensação do orgasmo ainda dominava o
meu corpo. Aos poucos, os meus batimentos cardíacos foram
voltando ao normal, e a minha respiração encontrou o seu ritmo
novamente.
Zoe se virou para mim com as bochechas vermelhas como o
inferno, e seus lábios, inchados e rosados, entreabertos enquanto
ainda respirava de forma ofegante.
— Podemos nadar mais um pouco antes de irmos embora?
— A partir de amanhã vou começar a juntar dinheiro para
comprar uma casa com piscina — declarei, amando a gargalhada
que ela soltou e o jeitinho delicioso que escalou meu corpo para me
beijar.
Leslie e eu encaramos nossos reflexos no espelho do banheiro
pela décima vez antes de sairmos. Eu vestia um short jeans largo,
estilo destroyer, uma camiseta branca com ARMY escrito em letras
pretas e uma jaqueta bomber de veludo rosa, completando o look
com um boné com orelhas de gatinho e, nos pés, meu par de all star
branco e guerreiro. Minha melhor amiga estava vestida num estilo
parecido, nossas camisetas eram iguais, mas ela tinha preferido
amarrar o casaco amarelo néon na cintura e seu boné era preto.
Sobre a cama do quarto, pegamos nossas army bombs que
estavam em suas bolsinhas e encaramos Logan Choi, que
terminava de guardar todos os nossos documentos na bolsa que
carregava com ele. Ele estava todo lindo com sua calça preta e a
blusa da mesma cor que exibia a frase mais linda de todas:

Namorado de uma ARMY


Para que entendam melhor, eu possuía o homem mais incrível
ao meu lado. Quando comemoramos seis meses de namoro, ele me
deu um presente que me tirou o chão por completo. Uma caixa
bonita e quadrada, e em seu interior, passagens de avião para a
Coréia do Sul e um ingresso premium para o show do BTS que
aconteceria em Seul dali a uma semana.
Não apenas isso, mas Logan ainda convenceu seus pais a
pagarem a viagem de Leslie, pois ele sabia que minha experiência
não seria a mesma sem a companhia da minha pessoa favorita.
Foram dias de muito choro e ansiedade e mesmo agora, de pé
no quarto de hotel, prestes a sair para o estádio, eu ainda não
conseguia acreditar no que estava acontecendo. Logan me trouxe
para o outro lado do mundo, gastando uma pequena fortuna, para
que eu pudesse estar nesse show, já que não havia previsão de
uma apresentação em solo americano. E de quebra, a gente estava
conhecendo a Coréia do Sul e todos os cenários legais dos doramas
que amávamos.
Chegamos dois dias antes e tentamos aproveitar o máximo
possívelda primavera no país, e meu namorado era tão perfeito que
entrou de cabeça nos nossos sonhos e fez o melhor cronograma de
todos. Só mesmo Logan para suportar a nós duas cantando k-pop
numa sala de karaokê por várias horas e explorar Hongdae e sua
vida noturna, nos levar até Gangnam e nos filmar fazendo a famosa
dancinha do Psy, e principalmente, apoiar nossa ida ao Palácio
Gyeongbokgung[27] para termos uma experiência completa vestindo
o hanbok[28] para nos sentirmos inserida na Dinastia de Joseon[29].
O garoto estava pronto para deixarmos o hotel, com as mãos
nos bolsos da calça, sorrindo para nós duas e exibindo a mecha
rosa que eu fiz em seus cabelos escuros. Tinha sido o meu pedido
especial, já que ele estava tão fofo e bonzinho satisfazendo todos os
nossos desejos.
— Desculpa, gente, acho que estou com dor de barriga! —
Leslie correu para o banheiro e se trancou lá dentro, enquanto eu
aproveitava a oportunidade para me agarrar a Logan.
— Já disse hoje que te amo?
— Logo que acordou, mas por tudo que estou fazendo, mereço
ouvir mais algumas vezes — respondeu, envolvendo a minha
cintura. — Você está bem engraçada com esse boné.
Ele deu um tapinha nas minhas orelhas de gato antes de se
inclinar para beijar minha boca. Quando meus pés saíram do chão,
soltei um gritinho, mas me deixei ser carregada pelo quarto porque
Logan podia tudo a partir de agora. Eu nunca saberia como
agradecê-lo o suficiente depois desse presente.
Felizmente, ele tinha sido esperto o bastante para reservar
uma suíte apenas para Leslie, de forma que toda as noites a gente
podia ficar junto na cama, com privacidade, sem termos que nos
preocupar com algum flagra. Não via a hora de voltarmos do show
para retribuir toda a sua perfeição dos últimos dias.
— Não consegui fazer nada, acho que é só nervosismo —
comentou Leslie ao surgir de repente, alisando a barriga. — Ai,
credo, não posso ter dor de barriga no estádio.
— Amiga, eu estou assim desde que pisamos no aeroporto. —
Soltei-me de Logan e apertei a mão dela. — É só ansiedade
mesmo.
Meu namorado nos cutucou, começando a nos empurrar na
direção da porta para irmos embora. E ele tinha razão de nos
apressarmos porque era certo de que o lugar estaria lotado mesmo
chegando horas antes.
Fomos de metrô, que estava abarrotado de armys sedentas
pelo show, pessoas que tinham sonhos parecidos com os nossos e
amavam os mesmos meninos. Por sorte, Leslie e Logan eram
fluentes em coreano e isso nos possibilitava fazer tudo com mais
facilidade, porque eu estava me sentindo um pouco perdida.
Sempre consegui ler e entender bem algumas coisas,
principalmente, quando estava com a família Choi, mas ali, na vida
real inserida naquele universo, era tudo falado muito rápido e o
cérebro nem sempre acompanhava.
Ao entrarmos no estádio, quase duas horas depois, minha
ansiedade triplicou. Nossa posição estava muito boa, quase de
frente para a passarela por onde os sete costumavam se
movimentar no meio do público e não podia reclamar da visão
privilegiada que teria.
Logan tinha se colocado atrás de mim, com os braços ao redor
da minha cintura, e eu virei o rosto de lado para sorrir para ele.
— Obrigada — murmurei, sentindo vontade de chorar. — Isso
é mais do que esperava.
Ele beijou o topo da minha cabeça, aquecendo o meu coração,
e se virou para falar algo com Leslie que estava bem do meu lado.
Nossos surtos eram intermináveis e a cada minuto que se passava,
mais ficávamos inquietas, assim como a grande maioria dos
milhares de fãs presentes no local.
Então, depois de tanta espera e ansiedade, o céu escureceu
sobre nossas cabeças, as luzes do palco se acenderam e os telões
gigantescos começaram a passar vídeos dos sete garotos.
Leslie procurou minha mão e apertou meus dedos, virando o
rosto para mim com as lágrimas escorrendo por ele. Eu não podia
falar muito dela, pois estava na mesma situação, tentando me
concentrar para aguardar a entrada do BTS. O som das armys era
quase ensurdecedor quando sete pessoas vestidas de roupas
brancas surgiram no palco. A emoção que me tomou foi tão forte
que precisei levar as mãos ao rosto para controlar meu choro
porque as lágrimas impediam a minha visão.
Logan me apertou em seus braços e beijou meu rosto,
movendo o corpo comigo ao ritmo de “ON”, ao mesmo tempo em
que afagou a cabeça da irmã quando ela me abraçou chorando e
começamos a pular.
— A gente está aqui, amiga! — gritou no meu ouvido.
Assenti, ainda anestesiada, olhando para o palco e tentando
me acalmar para poder cantar junto com todo mundo. Foi Logan que
levantou o meu braço para agitar a army bomb, me fazendo amá-lo
ainda mais, e não demorou muito para que eu estivesse berrando a
letra de “Go Go” junto com Leslie e outras milhares de pessoas.
Eu me sentia suar apertada naquela multidão, mas o melhor
ser humano do mundo estava bem ali, me protegendo e apoiando. E
quando RM, Jin, Taehyung, Jimin, Jungkook, J-Hope e Suga
entraram na passarela e se aproximaram de onde a gente estava,
meu namorado ainda me ergueu alguns centímetros do chão para
que eu visse tudo sem nenhuma cabeça na frente.
A playlist perfeita não podia ter me deixado mais feliz, ainda
mais quando começaram a cantar “MagicShop”, e eu curtia todas
as músicas de mãos dadas com a Lee, que entendia perfeitamente
cada sensação que transbordava em meu peito. Amar aqueles
garotos não era só uma fase, fazia parte de quem nós fomos e
quem nos tornamos. Carregaríamos para sempre cada música em
nossos corações e seríamos eternamente gratas por eles serem
pessoas incríveis que se encontraram neste mundo para fazer
tantas milhões de outras mais felizes. Não era apenas dança, não
eram apenas canções ao vento, não era apenas um grupo musical.
Nem todo mundo entenderia o poder de ter vivido cada um daqueles
anos acompanhando o crescimento pessoal e profissional deles,
diante de tantos obstáculos enfrentados.
Quanto mais o show se aproximava do fim, mais meu peito se
apertava de saudade. Era uma felicidade estranha, nostálgica, que
eu nunca tinha experimentado. Passei meu braço pela cintura da
minha amiga e deitei minha cabeça no ombro dela, olhando para o
palco que em breve se apagaria. Um dos melhores dias da minha
vida, porém, que passava tão depressa quanto um piscar de olhos.
Tornei-me introspectiva e fiquei quietinha enquanto os meninos
começavam a se despedir com discursos lindos e agitei minha army
bomb em sintonia com as outras, quando eles fizeram seus
corações e gritaram, quase em uníssono, primeiro em coreano,
depois em inglês:
— Thank you, armyyyy! I purple you!
Três anos depois
Eu era mesmo muito sensível, então não foi nenhuma surpresa
ter chorado quando subi no palco para pegar meu canudo durante a
minha formatura. Sabia que meus pais estavam na plateia e tirariam
duzentas e oitenta fotos minhas em menos de dez segundos,
mesmo assim, não consegui me controlar e só pude torcer para não
borrar a maquiagem.
Quando voltei para minha cadeira, Leslie deu um tapinha na
minha perna e sussurrou um parabéns. Minha melhor amiga
também carregava seu canudo do diploma e se emocionou tanto
quanto eu, mas eu sabia que grande parte de toda aquela felicidade
era porque embarcaria para Seul no dia seguinte, para passar
algumas semanas por lá.
Eu não a acompanharia dessa vez porque estava muito focada
juntando dinheiro para investir na minha carreira e ter minha
independência. Moramos juntas por todos esses anos e nos
amávamos muito, mas chegamos à conclusão de que era hora de
termos mais espaço e privacidade. O objetivo era continuarmos
perto uma da outra, em Nova York, para onde nos mudaríamos
depois que Lee voltasse de sua viagem.
A decisão de qual destino seguiríamos foi meio que baseada
em Logan, já que ele tinha se mudado para lá há pouco mais de um
ano e me esperava para morarmos juntos. Tinha sido muito
trabalhoso manter o relacionamento à distância, principalmente
porque ele vivia viajando para competir, mas a gente conseguiu dar
um jeito e fez o namoro sobreviver. Eu o amava demais e sabia que
seu sentimento era recíproco, então não havia nada capaz de
diminuir nossa vontade de ficar junto.
De qualquer forma, Logie sempre encontrava um tempo para
pegar o carro e cair na estrada para nos visitar, pois não era como
se estivéssemos do outro lado do mundo e sim, a menos de duas
horas de distância. Sentíamos muita falta de poder dividir a cama
todas as noites, mas esses últimos meses só serviram para nos
deixar ainda mais ansiosos pelo dia da minha mudança.
Ele foi a primeira pessoa a me abraçar quando a cerimônia de
colação chegou ao fim. Precisei segurar firme o meu capelo para
que não saísse voando quando Logan me girou no ar antes de me
encher de beijos.
— Você está tão linda! — elogiou, parecendo emocionado.
Então, me colocou no chão, deu um passo para trás, e fez o
que eu nunca imaginei:se ajoelhou. Minha mãe gritou antes mesmo
de mim e as pessoas ao nosso redor pararam para assistir quando
Logan levou a mão ao bolso interno do sobretudo e puxou uma
caixinha preta.
Levei meio segundo para reagir quando entendi o que estava
acontecendo e senti que minha maquiagem iria para o lixo, visto que
as lágrimas inundaram o meu rosto.
Meu oppa começou a fazer um discurso em coreano enquanto
eu chorava e tentava enxergar alguma coisa, até que acabei caindo
de joelhos diante dele e segurei seu rosto, sentindo meu coração
prestes a sofrer um colapso.
— Estou muito nervosa, não entendi nada, repete em inglês!
Ouvi risadas ao nosso redor e consegui ver o sorriso TOP 3
brotar em seu rosto quando trouxe os dedos até os meus olhos para
secá-los.
— Eu disse que meu peito dói quando estamos longe um do
outro e eu não quero que esse sentimento se torne constante, então
você só tem duas opções na vida: ou aceita se casar comigo ou vai
ser obrigada a viver em cativeiro. — Solucei, sentindo-o se levantar
comigo no colo e afundando o rosto em meus cabelos. — Não
existe a menor chance de eu querer viver essa vida sem ter meu
mundo colorido ao meu lado. Pode dizer sim para mim, futura
senhora Zoe Choi?
Apertei meus braços ao redor do pescoço de Logan, sem
conseguir parar de chorar, e precisei de alguns segundos para
reunir forças, desatar o nó na garganta e dar a resposta mais
importante da minha vida ao homem dos meus sonhos:
— Sim, oppa. Quero me casar com você.
Ele murmurou alguma coisa quando me beijou na boca e girou
comigo entre os braços, mas não consegui escutar tamanha era a
gritaria ao nosso redor. Enquanto girava, pude ver rostos muito
conhecidos como os de nossos pais, Leslie e alguns amigos
próximos que também estavam se formando naquele dia.
Senti a risada escapar pela minha garganta quando meus pés
tocaram novamente o chão e Logan suspirou, tirando o anel da
caixinha e encolhendo os ombros.
— Procurei um anel com logotipo do BTS, mas não achei —
declarou.
— E por isso eu amo ainda mais você.
Demos um selinho antes de nos separarmos porque as outras
pessoas estavam ansiosas para nos agarrar. Leslie chegou em mim
antes mesmo de meus pais e começamos a pular enlouquecidas,
apesar de eu ter certeza de que a filha da mãe deve ter sido avisada
com antecedência.
O senhor e a senhora Choi me abraçaram depois de
parabenizarem o próprio filho e me saudaram em seu idioma original
que, agora, passado o desespero, eu podia compreender.
— É uma honra fazer parte da sua família — falei, sem evitar
chorar. — Eu amo vocês.
— Ah, querida, a gente também sempre te amou.
— Lembre-se que eu até ganhei uma aposta — disse o pai de
Logie, piscando com cumplicidade.
Eu ri, me lembrando da aposta de Ryan e percebendo que era
coisa de família gostar de se meter nisso. Pelo menos, serviu para
que toda essa reviravolta acontecesse na minha vida e me
possibilitasse receber o amor de Logan.
Por fim, abracei papai e mamãe, que me beijaram e me
esmagaram dentro de seu ninho, com a certeza de que eles
também estavam muito felizes por mim. Não apenas pelo pedido de
casamento, mas pela formatura.
— Minha garotinha cresceu — murmurou meu pai, enxugando
os olhos. — Tenho muito orgulho de você, Zozo.
Apertei meus olhos, tentando enxugar com o dorso da mão o
meu nariz que escorria. Eles sempre fizeram tudo por mim e eu
sabia como tinha sido difícil pagar minha faculdade. Sempre foram
amorosos e parceiros, e senti tanta saudade durante esses anos,
que achava estranho ver outras pessoas aliviadas por finalmente
entrarem na faculdade e se livrarem de seus pais.
— Obrigada por serem os melhores — falei, sentindo um
carinho na minha cabeça.
— Amamos muito você, querida — murmurou minha mãe, me
segurando pelos ombros e enxugando meus olhos. — E vamos
torcer muito pra que seja ainda mais feliz nessa nova etapa da sua
vida. Você é a menininha mais especial desse mundo inteiro.
— Eu espero que torçam por mim também. — A voz ao meu
ouvido me fez suspirar e Logan me abraçou por trás. — Vocês
sabem como é difícil ter que disputar atenção com os ídolos dela.
— Você acostuma, Logan. — Minha mãe deu um tapinha no
braço dele. — O amor faz isso com a gente.
Ele me inclinou de lado e eu virei meu rosto para encarar seu
sorriso perfeito, o TOP 3 da minha vida. Mal sabia que eu estava
olhando, naquele instante, para o meu maior ídolo.

Encarei o céu escuro sobre a minha cabeça e me inclinei para


beijar o cantinho da boca de Logan. Eu estava sentada sobre o capô
de seu Barracuda, que ele conseguiu comprar com seu próprio
dinheiro — tinha se tornado um atleta olímpico, afinal de contas —,
e o carro preto era lindo e imponente como um verdadeiro clássico
americano deveria ser. Quando meus lábios tocaram sua pele, meu
oppa virou o rosto e fez o coração com os dedos, antes de balbuciar
que me amava.
Logie me pegou no colo e me colocou no chão, ajeitando meu
moletom branco com o logo do BTS e alisando meus cabelos. Enfiei
minha mão no bolso frontal de seu jeans, puxando a chave do carro
e a balançando diante de seus olhos, muito animada.
— Podemos ir? — perguntei.
— Para qualquer lugar, para a lua, para o espaço, tanto faz —
respondeu, beijando minha mão e pegando a chave. — Mas hoje,
tudo bem, eu vou te levar para nossa casa.
— Minha playlist
já está prontíssima para essa viagem!
Eram menos de duas horas até Nova York e eu estava muito
ansiosa para passarmos o final de semana no apartamento em que
Logan morava e que, em breve, também seria a minha casa.
— Não sei se confio na sua playlist
— resmungou quando
entramos no carro e deu a partida.
— Ela é incrível, eu garanto.
— Vamos ouvir algumas músicas mais gostosinhas primeiro?
— perguntou ele, ligando o som e conectando o bluetooth
.
Revirei meus olhos, mas aceitei, porque de jeito nenhum
Logan controlaria toda a trilha sonora até Nova York. Minha lista de
k-pop estava selecionada e ele seria obrigado a ouvir, pelo menos,
umas cinco faixas. Afinal de contas, tinha me pedido em casamento
no dia anterior e isso significava que me amaria de qualquer forma.
Abri a janela do carro e coloquei o braço para fora quando
Logan acelerou pela estrada, com “You’ve Got The Love”, de
Florence + The Machine, tocando pelos alto-falantes do Barracuda.
A noite estava belíssima para uma pequena viagem ao lado do amor
da minha vida, meu futuro marido e, certamente, pai dos meus três
filhos, porque eu gostava de número ímpar.
Dois anos antes da formatura
Eu assumia que era preguiçosa e não tinha a menor vergonha
disso, afinal, uma das coisas mais gratificantes da vida era poder
dormir até tarde, numa cama macia, quentinha, muito confortável.
Por isso, eu odiava acordar cedo, odiava até mesmo o café da
manhã, que era uma refeição que acabava fazendo por obrigação
só para não sentir fome o resto do dia.
A única coisa que mudava drasticamente meu humor quando
precisava me levantar antes das nove horas, era descobrir que
algum ídolo meu estava fazendo livelá do outro lado do mundo.
Devido aos fusos horários diferentes, não era sempre que eu dava a
sorte de abrir o aplicativo e ser presenteada com um rostinho
coreano lindo sorrindo e falando com a câmera.
Naquele domingo de manhã tinha acordado revoltadíssima
porque o vizinho decidiu usar uma furadeira antes das dez. Escovei
os dentes sem nem conseguir abrir os olhos direito e me arrastei até
a sala, encontrando uma Zoe muito disposta fazendo sanduíche e
trocando beijos melosos com meu irmão. Eu os odiava na mesma
proporção em que os amava, porque aquela paixão que
transbordava pelo apartamento quase afogava a minha alma
encalhada.
— Bom dia pra vocês, não pra mim — falei antes que me
cumprimentassem e me joguei no sofá, ligando a televisão.
— Teve pesadelo para estar tão ranzinza assim? — perguntou
minha melhor amiga ao se debruçar ao lado da minha cabeça.
— Devo ter tido — respondi, fechando os olhos. — Não sei.
Mas quero matar o vizinho.
Bocejei, ouvindo a narração de algum esporte que estava
sendo exibido na televisão.
— Bom, já que está com tanto sono, acho que nem vale a
pena avisar que o Moon está ao vivo neste instante.
Abri meus olhos imediatamente, sentindo o meu cérebro girar
em cento e oitenta graus, enquanto se reprogramava e selecionava
a prioridade do dia. Meus pelinhos se arrepiaram quando peguei o
celular e entrei com pressa na plataforma, nervosa com a demora
para carregar tudo.
Como eu não era a pessoa mais abençoada do mundo, meu
aparelho resolveu travar justo naquele momento e quando comecei
a choramingar, Zoe me emprestou o dela como a melhor amiga que
era.
Eu nem mesmo precisei ter trabalho, já estava conectado na
livee pude suspirar de amor pelo meu utt[30] lindo de morrer, que
conversava em coreano com um de seus amigos. Ah, meu Deus, eu
não me cansava de achar aquele homem impressionante. Era um
bebê e um deus gostoso ao mesmo tempo, porque conseguia ter
várias versões. Seu sorriso me tirava do sério e os olhares que
lançava para a câmera, mesmo quando não tentava sensualizar,
faziam o fogo subir rapidamente.
Zoe escorregou pelo braço do sofá e se sentou ao meu lado
para assistir comigo, enquanto os meninos conversavam sobre
lugares que já tinham visitado. Moon tinha uma vasta lista para citar,
considerando que fazia muitos shows pelo mundo. Eu mesma
possuía uma coleção de fotos suas em vários lugares, guardadas
com carinho no meu Drive. Quando ele viajava, eu costumava
mandar mensagens dando dicas de lugares que deveria conhecer
naquela cidade específica, mesmo sabendo que ele jamais veria
nada daquilo. E isso me tomava tempo, porque eu sentava na frente
do computador e ficava pesquisando os pontos turísticos, tudo para
agradar o meu bebê lindo.
Não me importava, de verdade. Meu relacionamento com
Moon era totalmente platônico, mas me fazia muito bem escrever as
mensagens e compartilhar alguns acontecimentos da minha vida.
Funcionava como um diário, talvez uma terapia, e eu já nem
lembrava mais quando isso tinha começado.
Em determinado momento, os dois rapazes começaram a
fazer alguns desafios, coisa boba entre amigos, até que entraram
numa discussão sobre as fãs do grupo e a forma como o Moon
lidava com todo o assédio que vivia diariamente. Ídolos do k-pop
eram, de fato, os melhores para se amar, porque sempre se
dedicavam ao fandom e eram tão amorosos que acabavam mesmo
nos iludindo.
— Ele está tão lindo ultimamente, né? — murmurou Zoe ao
meu lado, com a cabeça apoiada no meu ombro.
— Estou ouvindo isso, hein! — meu irmão gritou da cozinha. —
Não tem vergonha na cara não, Zoe?
— Fica tranquilo, oppa, ele mora bem longe — ela respondeu.
— E mesmo se morasse perto... — Dei um beliscão na perna
dela. — Pare de falar assim do meu marido.
Ela me mostrou a língua e calou a boca para ouvirmos a
conversa. O amigo de Moon estava o desafiando a abrir
aleatoriamente um de seus directsno seu perfil do Instagrame
mandar um oi para uma fã. Meu coração quase parou nesse
segundo e eu peguei meu celular depressa, abrindo a rede social
para conferir há quantos minutos tinha enviado minha mensagem do
dia para ele.
Cliquei no perfil, fui na caixinha de mensagens e conferi minha
selfietirada na frente do espelho, escovando os dentes. Escrevi
“bom dia” em coreano e enviei há exatos dezesseis minutos.
— Estou hiperventilando — murmurei, apertando a mão de
Zoe.
Minha amiga me encarou com ansiedade na hora em que a
televisão diante de nós desligou sozinha. Só percebemos que tinha
acabado a luz quando apareceu aquela bolinha irritante no meio do
vídeo, que indicava que o mesmo não conseguia mais carregar e
ser reproduzido. Estávamos sem wi-fi.
— Não acredito nisso, Deus! — gritei, me levantando do sofá e
caminhando pelo apartamento com o telefone na mão. — Vamos,
vamos, vamos.
— Logan, você tem sinal? — perguntou Zoe e meu irmão
negou, conferindo seu próprio celular. — Que saco!
Eu me sentei na cadeira e apoiei minha cabeça sobre a mesa,
frustrada. Claro que não teria a sorte de ser a escolhida, mas queria
pelo menos terminar de assistir a livee sentir inveja da garota que
deveria ser a favorita de Deus.
— Uma panqueca pra adoçar seu dia. — Logan beijou minha
cabeça ao colocar um prato diante de mim.
Suspirei, sentindo o cheiro agradável porque ele cozinhava
muito bem, e me animando a pegar os talheres. Quando comecei a
cortar a panqueca, meu celular se acendeu com a chegada de
algumas notificações, indicando que a internet tinha sido
restabelecida. Peguei o aparelho imediatamente para abrir de novo
o aplicativo da live
, mas antes, li uma das notificações recebidas,
avisando que eu tinha recebido uma chamada em vídeo de Moon.
Soltei um grito e apertei o celular contra o peito, sendo
socorrida por Zoe, que só foi entender o motivo do meu choro
quando conseguiu pegar o aparelho de mim.
— Puta merda, Lee!
Ela se sentou do meu lado, com a mão tapando a boca,
enquanto eu tentava pegar meu celular de volta em meus dedos
trêmulos.
— Eu perdi... — chorei, enxugando meus olhos com as costas
da mão, sentindo uma dor incomparável.
Minha amiga usou o próprio celular para acessar a livee a
conversa dos meninos já tinha mudado de assunto. Eu agora teria
que esperar acabar, torcer para que ela ficasse salva, e só então
poder descobrir o que aconteceu quando ele me ligou.
Funguei, muito frustrada, sentindo minha testa latejar, e
entrando no perfil de Moon para ver a carinha linda dele. Abri a
seção de mensagens, com medo de que ele tivesse visualizado
aquela selfieidiota, e meu coração travou quando descobri que
tinha me enviado um emojicom o bonequinho chorando.
Ele reagiu ao fato de eu não ter atendido a ligação.
— Acho que não estou me sentindo bem — falei, soltando o
celular sobre a mesa e me arrastando de volta ao sofá, destruída,
dilacerada e abandonada. — Não me acordem.
Vida de fã era a coisa mais complexa que existia nesse
mundo. Por que a gente gostava tanto de sofrer por pessoas que
nunca nos conheceriam? Eu não fazia ideia de qual a resposta mais
certa para esse questionamento e, talvez, se um dia descobrisse,
nem fizesse diferença alguma na minha vida, pois continuaria
alimentando minha paixão pelos meus ídolos e torcendo pelo
sucesso deles.
Que fosse Moon ou qualquer outro, a vida de uma autêntica
kpopeira era movida a grandes e intermináveis emoções.
Espero que tenha gostado o suficiente do livro para chegar até
aqui! Então, se gostou, que tal expor sua opinião para que outros
leitores possam se interessar pela história? É rapidinho, basta
deixar uma avaliação na Amazon em poucas palavras (ou muitas,
depende da sua inspiração) e eu vou ficar extremamente feliz
quando ler. Muita gente não sabe como a avaliação é importante
tanto para conquistar novos leitores como para incentivar a nós,
autores, escrevermos sempre mais.

Se você não curtiu o livro, tudo bem, acontece! Vou torcer para
que em outro momento encontre algum trabalho meu que te
conquiste para podermos mudar essa impressão ruim, ok?

Se encontrou algum erro de revisão durante a leitura, pode


reportar à Amazon que eles sinalizarão para que eu conserte. Ou
pode me procurar pelas redes sociais e falar diretamente comigo, eu
não mordo e sou muito tranquila com isso.
Obrigada!
Que livro delicioso de escrever! Por isso, eu agradeço muito a
Deus pelo dom que me concedeu e pela oportunidade de trabalhar
como o que amo. Não é um processo fácil e meu caminho foi longo
até aqui, mas sou grata por cada aprendizado pelo qual passei para
chegar onde estou hoje.
Estou me despedindo de Projeto Zoe com o coração apertadinho,
morrendo de saudade dessa casal, mas sei que eles estarão agora
em boas mãos. Meus leitores, meus calos fofos, obrigada por
sempre ficarem ao meu lado e me apoiarem tanto. Vocês são luz na
minha vida e peço sempre ao papai do céu que devolva em dobro
tudo que me dão.
Laryssa e Camila “Coriza”, minhas fofoqueiras, obrigada pelos
dias de risadas mesmo quando tudo é chato. Geisa, amor da minha
vida, obrigada por acreditar em mim mesmo quando eu mesma
estou de saco cheio da minha cara. Você e Lary também foram
fundamentais para esse livro sair, pois a empolgação das duas,
mesmo quando eu procrastinava, era deliciosa.
Minhas meninas do whatsapp, me perdoem pelo meu sumiço nas
últimas duas semanas. Era isso ou não ter livro para publicar, e
vocês já sabem como eu sou hahahahaha. De qualquer forma, fico
feliz em ver que vocês já são família, independente da minha
presença.
Vou deixar também um agradecimento especial às minhas
parceiras, com quem eu nem pude conversar direito por conta do
ritmo acelerado da escrita desse livro. Espero que gostem da
história, obrigada por embarcarem comigo nessa aventura!
Raquel, xará, obrigada por mais uma revisão ultra power rápida
para te deixar bem louca e histérica, como eu gosto hahaha. Não dá
tempo de você revisar esse trecho, então espero que não tenha
nada errado.
UM POUCO SOBRE MIM
Estou tentando descobrir até hoje. Incrível, não é? Mas a vida
é assim mesmo, uma constante evolução, mudanças e mais
mudanças, cicatrizes que vão formando nossa história e sonhos que
vão se renovando.
Eu comecei a escrever lá em 2008, quando me tornei uma fã
obcecada por Crepúsculo e passei a frequentar muitas comunidades
no Orkut (pois é, a idade não mente). Não demorou para que
decidisse me aventurar pelo universo das fanfics e tomei coragem
para criar as minhas, até que me vi ganhando certa relevância
naquela rede social e me animei a escrever as minhas próprias
histórias.
Foi daí que surgiu Fortaleza Negra, o primeiro livro que
publiquei por uma editora tradicional. Inicialmente era para ser uma
trilogia e só existia em formato físico, mas no meio do caminho eu
descobri o mundo dos livros digitais e me apaixonei. Passei algum
tempo trabalhando exclusivamente com literatura fantástica até que
decidi me arriscar a caminhar um pouco pelo mundo dos romances.
Foi um caminho sem volta e hoje não me vejo mais parando de
escrever o gênero, apesar de querer muito conciliá-lo com os
demais.
Nasci em 1983, faço aniversário dia 24 de agosto e sou uma
virginiana meio lá meio cá. Sabe? Aquele tipo de pessoa que se
adequa pela metade em seu signo. Por exemplo, sou muito
perfeccionista, neurótica com coisas desalinhadas, cores ou
padrões descombinados, excessivamente pontual e extremamente
analítica, meio chata com higiene e racional demais para
relacionamentos. No entanto, você seria capaz de se perder em
meu quarto de tão bagunçado que ele é, minhas roupas estão
sempre amarrotadas e sou uma das maiores procrastinadoras que
conheço.
Mas eu sou gente boa, juro que sou. Se me encontrar
pessoalmente, não pense que sou antipática, sou apenas tímida
num primeiro momento. Sou alguém que se for reconhecida na rua,
primeiro vai olhar para trás só para conferir se é comigo que estão
falando, depois vai ficar vermelha, e em seguida vai bater o maior
papo com a pessoa. Nas redes sociais tendo a me soltar muito
mais, então não estranhe se você acessar meu Instagram e achar
que sou louca, que ninguém mais ou menos normal pagaria metade
dos micos que eu pago. Sou bem aleatória e posso falar sobre
cachorros e gatos, sobre músicas antigas, mecânica de carro, soltar
minha afinação no seu ouvido ou sei lá, postar uma foto de alguma
comida bem gordurosa. E isso tudo pode acontecer só num único
dia. Ou eu posso simplesmente sumir por uma semana porque deu
vontade ou porque estava com a energia baixa. Todos nós temos os
nossos momentos bons e ruins.
Tenho tatuagens, moro no Rio de Janeiro, não sou muito fã de
praia, tenho certeza que sou um unicórnio e nunca passo muito
tempo com o mesmo corte ou cor de cabelo.
Acho que deu para me conhecer um pouquinho, mas se quiser
saber mais, eu estou sempre disponível nas redes sociais. É só
clicar e começar a me seguir!
Um beijo!


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Um new adult de clichê invertido com o mocinho virgem,
porém, popular? Temos aqui!

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Ele carrega um legado nas costas e cresceu se preparando para uma


carreira brilhante na NFL.
Ela é uma universitária comum que adora festas e nunca foi da turma dos
populares.
Ele é muito focado e não pretende perder a virgindade antes de se formar e
entrar para a liga profissional.
Ela acha irresistível o fato de que ele não dá abertura a nenhuma mulher e
decide seduzi-lo.
Ele é muito sério e fechado, não se envolve em polêmicas, é quase
inacessível.
Ela é caótica, barulhenta e o tipo de garota que deixaria sua família
horrorizada.
Dominic tentará fugir das jogadas dela, mas Norah não vai desistir até
marcar um towchdown.

Os dois são tipo sole chuva, fogo e gelo. O clichê invertido um do outro,
que deixará o controladíssimo quarterback caidinho mesmo contra sua
vontade.

ATENÇÃO: livro recomendado para MAIORES DE 18 ANOS.


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ZOMBIE

Garota de Aluguel

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[1]
Este é um termo muito utilizado, principalmente em doramas, por mulheres
quando querem se referir a um irmão mais velho, namorado ou até amigos mais
próximos.
[2]
Gênero musical originário da Coreia do Sul.
[3]
É como são chamadas as séries de TV de origem asiática.
[4] BTS, também conhecido como Bangtan Boys é um grupo sul-coreano

composto por sete membros:RM, Jin, SUGA, J-Hope, Jimin, V e Jungkook. BTS é
o grupo de k-pop mais famoso da atualidade.

[5]
Local onde o nadador se posiciona antes de mergulhar.
[6]
“O que está fazendo?” - em coreano.
[7]
O tteokbokkié bastante popular na Coreia do Sul e consiste em uma massa de
arroz (tteok) e bolinhos de peixe (eomuk) acompanhados de um molho picante,
chamado caldo dashi.
[8]
Pororo, o Pequeno Pinguim é uma série de animação computadorizada sul-
coreana.
[9]
Lee Dong-min, mais conhecido pelo seu nome artístico Cha Eun-woo, é um
cantor, dançarino, ator e modelo sul-coreano. Ele é integrante do grupo de kpop
ASTRO.
[10]
Min Yoon-gi, mais conhecido por seus nomes artísticos Suga e Agust D, é um
rapper, compositor e produtor musical sul-coreano. Tornou-se popularmente
conhecido por ser integrante do grupo BTS.
[11]
Jeon Jung-kook, mais frequentemente conhecido na carreira musical apenas
como Jungkook, é um cantor, compositor, dançarino e produtor musical sul-
coreano. Ganhou destaque mundial como membro do grupo masculino BTS e em
2018 foi premiado com a Ordem de Mérito Cultural Hwagwan da quinta classe
pelo Presidente da Coreia do Sul.
[12]
Kim Tae-Hyung, mais conhecido na carreira musical por seu nome artístico V, é
um cantor, ator e compositor sul-coreano. Tornou-se popularmente conhecido por
ser integrante do grupo sul-coreano BTS, formado pela Big Hit Entertainment em
2013.
[13]
Expressão coreana que pode significar frustração, raiva, desapontamento.
[14]
O personal shopper é um profissional que presta consultoria em compras, ou
seja, realiza e otimiza as compras dos clientes. Sendo assim, ele entende os
gostos e objetivos do cliente, faz pesquisas para encontrar melhores
oportunidades e efetiva as compras.
[15]
Dominic é personagem do livro “Meu Clichê Invertido”, de Kel Costa.
[16]
“Namorada” em coreano.
[17]
Nome dado ao “exército” de fãs do grupo BTS.
[18]
Termo usado entre os fãs de k-pop para se referir ao(s) seu(s) membro(s)
favorito(s) de um grupo.
[19]
Nome fictício, não é relacionado a nenhum membro de k-pop da vida real.
[20] Soju é uma bebida destilada transparente de origem coreana. Geralmente é

consumida pura e seu teor alcoólico varia de cerca de 16,8% a 53%.


Tradicionalmente é feita de arroz, trigo ou cevada.
[21]
É uma lanterna com a ponta arredonda, que o público costuma usar nos
shows, com suas luzes que podem mudar de cor.
[22]
“Olá” em coreano, dito numa forma mais informal.
[23]
“Mãe”, em coreano.
[24]
O mesmo “olá” de antes, só que no caso de Zoe, ela está demonstrando
respeito aos pais de Logan e Leslie.
[25]
Feriado coreano muito parecido com Ação de Graças, sendo que
normalmente, sua comemoração dura três dias.
[26]
“Eu te amo”, em coreano.
[27]
Palácio real localizado em Jongno-gu, ao norte de Seul, Coreia do Sul.
Construído originalmente em 1395, mais tarde queimado e abandonado por quase
três séculos e, em seguida, reconstruído em 1867. Era o principal e maior palácio
entre os "Cinco Grandes Palácios" construídos pela Dinastia Joseon. O complexo
do palácio rodeado de muralhas foi gradualmente restaurado de volta à sua forma
original.

[28]
Hanbok é um tradicional traje coreano. Muitas vezes, é caracterizado por
cores vibrantes, linhas simples e ausência de bolsos. Conhecido tradicionalmente
pela Dinastia Joseon, é usado como roupa formal durante as festas e celebrações
tradicionais.
[29]
A Dinastia Joseon foi um estado coreano fundado por Taejo Yi Seong-gye, que
existiu entre 1392 e 1897. Foi a última dinastia da história da Coreia e a mais
longa dinastia confucionista no domínio.
[30]
Termo muito usado no k-pop para se referir ao integrante favorito de todos.

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